quarta-feira, 17 de novembro de 2010 By: Fred

<> livros-loureiro <> material sobre alfabetização de crianças cegas e também sobre surdocegueira e outros

A cegueira congênita e o desenvolvimento infantil


Desenvolvimento Motor
A - O Controle da Cabeça
Na criança com visão, o desenvolvimento físico começa na cabeça e se estende até os pés, e parte do tronco em direção às extremidades. A criança, portanto, deve desenvolver o equilíbrio da cabeça e o controle do tronco antes de aprender a sentar. Então ela aprende a levantar, andar, etc. De maneira geral, a criança obtém controle dos braços antes das pernas.
O bebê cego não conta com o estímulo visual para motivá-lo a levantar a cabeça e a desenvolver o controle da mesma. Portanto, ele deve ser ensinado a adquirir controle sobre os movimentos da cabeça e do corpo através de outros meios de estimulação. Embora a criança cega prefira deitar-se de costas, é essencial, para o fortalecimento do pescoço, que ela seja deitada sobre o estômago. Algumas maneiras de se conseguir isso:
s Pendure brinquedos sonoros e com diferentes texturas nos lados do berço;
s Pendure um espelho na lateral do berço;
s Mude regularmente a posição do bebê no berço;
s Alimente o bebê e mude suas roupas alternando os lados;
s Encoraje-o a levantar a cabeça e a movê-la em volta enquanto o segura pelos ombros.
B - A Aproximação
Permanência dos objetos é a consciência de que um objeto ou pessoa existe mesmo quando fora do campo visual, auditivo ou tátil. Nos bebês com visão, essa capacidade aparece em torno dos 3 ou 4 meses. Nos bebês cegos, tal faculdade sofre um grande atraso, e só se desenvolve através de um trabalho consciente de treinamento e estimulação. A percepção da permanência dos objetos é essencial para o desenvolvimento da coordenação ouvido-mão (tentar alcançar um objeto atraído por seu som), que se desenvolve na criança com visão em torno dos 8 a 9 meses. Na criança cega essa faculdade não se desenvolve até por volta dos 12 meses, ou mesmo mais tarde. Como a percepção da permanência dos objetos é aprendida principalmente através do tato, e subsidiariamente através da audição, um bebê cego precisa de muita estimulação tátil, especialmente em torno da 16ª semana, de maneira a estimular movimentos de extensão dos braços e mãos.
Por volta da 12ª a 16ª semana, a criança com visão acompanha com os olhos os objetos e começa a ter movimentos desordenados de extensão. Eis como ele começa a aprender a controlar seus braços, mãos e dedos. Uma boa coordenação olho-mão se desenvolve a partir das primeiras experiências visuais, o que não acontece com o bebê cego.
A criança cega, por não ter qualquer motivação visual, mostra pouca tendência espontânea a mover seus braços e mãos. Ela não estende os braços para ser pega no colo. O bebê cego movimenta seus pés e pernas mais que seus braços e mãos; por um bom tempo ainda mantém a posição de recém-nascido (braços flexionados com mãos na altura dos ombros). Suas mãos raramente são trazidas até a linha mediana do corpo, e ele geralmente não brinca com seus dedos. Portanto, ele precisa de estimulação e treino para desenvolver consciência de seus braços e mãos e de seu uso.
Algumas maneiras de se conseguir isso:
s Fixe sinos em seus pulsos e tornozelos;
s Coloque brinquedos com diferentes texturas em suas mãos;
s Disponha os brinquedos ao alcance do bebê dentro do berço (o tato é o principal sentido a ser estimulado nessa idade, mas brinquedos sonoros também ajudam);
s Encoraje-o a unir as mãos na altura da linha mediana do corpo;
s Quando der a mamadeira coloque as mãos do bebê na mesma;
s A partir da 16ª semana a criança começa a sentar. Motive-a a sentar, e faça jogos manuais quando ela estiver sentada (ex.: jogos que a faça bater palminhas ritmadamente).
C - Engatinhar e arrastar-se
Uma criança cega geralmente não engatinhará ou se arrastará até que tenha desenvolvido a percepção da permanência dos objetos ou a coordenação ouvido-mão. Até então, não há nada motivando-a a se deslocar pelo espaço.
Muitas vezes a criança cega pula o estágio do engatinhar/arrastar-se, porque, quando tiver desenvolvido a percepção da permanência dos objetos, pode também já ter desenvolvido a habilidade de ficar em pé e andar.
D - Andar
Uma criança cega pode começar a andar por volta da mesma idade que a criança que vê, mas normalmente demora mais a andar. Um cercado é muitas vezes bom para o bebê cego no início dessa fase, por dar a ele um espaço definido, permitir a exploração controlada do espaço, abrigar os brinquedos e permitir que ele se apóie para ficar de pé. No entanto, assim que a criança cega estiver se levantando, deve-se deixar que ela explore uma área maior.
Quando a criança começar a andar é mais conveniente manter os móveis, etc. no mesmo lugar até que ela conheça seu ambiente. Se você mudar os móveis de lugar, não esqueça de avisá-la e ande com ela pelo ambiente.
A coordenação e o ritmo de uma criança cega ao andar podem ser mais desordenados do que os de uma criança com visão. Se a criança não for encorajada a conduzir seu corpo de maneira adequada, pode ser que mantenha uma grande distância entre as pernas ao ficar ereta, desenvolva má postura e uma forma de andar incorreta. Um problema comum é o da criança que deixa cair a cabeça sobre o peito. A criança cega deve ser instada a manter a cabeça erguida, perpendicular em relação ao chão.
E - Correr, pular e saltitar
A maior parte de tais atividades motoras grossas são aprendidas através de estímulo visual e imitação. A criança cega precisa ser ensinada. É preciso fazer com que ela passe por essas atividades muitas vezes; ela deve ser encorajada a praticar esses movimentos de maneira independente. Isso é necessário para o desenvolvimento de um bom controle e coordenação muscular e corporal.
Desenvolvimento da linguagem
A - A Fala
Aprender a falar normalmente envolve a imitação visual da pessoa que fala. É, portanto, uma experiência bem diferente para a criança cega. A diferença nem sempre é óbvia antes da fala aparecer. Antes de serem usados para comunicação, os sons e palavras são brinquedos, e a fala é uma atividade que constitui-se num fim em si mesma. A criança cega pode balbuciar por muito tempo devido ao prazer oral que essa atividade proporciona. Por vezes, a fala ecolálica pode se desenvolver e persistir por períodos maiores do que em relação à criança com visão.
B - Comunicação
As crianças com visão estão continuamente enriquecendo e expandindo seu vocabulário, devido ao estímulo visual e à experiência. Seu vocabulário é normalmente limitado a palavras concretas que ela pode experimentar através dos sentidos.
Palavras descritivas ou conceitos são difíceis de serem aprendidos. A criança cega pode esquecer palavras mais facilmente. Muitas palavras não têm sentido para ela, a menos que a criança tenha uma experiência direta com as mesmas. Portanto, é necessário fazer com que as palavras se tornem significativas para a criança cega. Descreva pessoas e coisas continuamente. Fale sobre o que você está fazendo (lavando o rosto, bebendo seu suco, etc.).
Evite manter rádio e televisão constantemente ligados perto da criança cega, porque o estímulo auditivo sem significado tende a ser ignorado. Quando a criança cega já puder se mover dentro de seu ambiente e entrar em contato com os objetos, seu vocabulário se tornará mais rico. Permita que a criança faça escolhas verbalmente, que responda sim ou não, e que tenha oportunidades para o uso funcional de seu vocabulário.

Desenvolvimento Sócio-Emocional
Possíveis obstáculos que podem afetar a relação dos pais com a criança:
1. O choque, raiva, depressão e culpa, que os pais podem sentir ao tomar conhecimento da deficiência visual de seu filho, podem colocar os laços naturais sob grande tensão.
2. Se o bebê cego precisar ficar algum tempo em incubadora (ou necessitar de longa hospitalização após o nascimento), pode acontecer uma demora no começo do desenvolvimento da relação dos pais com a criança.
3. A passividade da criança cega pode inadvertidamente desencadear uma falta de estimulação por parte dos pais. Os bebês cegos, por não possuírem a visão como fonte de auto-motivação e auto-estímulo, podem se apresentar quietos e passivos. Eles normalmente não solicitam muita atenção, embora haja grande necessidade de estimulação e atenção suplementares para seu desenvolvimento. A passividade do bebê cego, associada ao potencial afastamento dos pais devido à depressão ou à falta de consciência do problema, pode levar a um ciclo de não-interação que dificultará, ou mesmo impedirá, o desenvolvimento de uma relação saudável entre pais e filhos.
4. A dependência do bebê cego em relação aos pais para o atendimento de todas as suas necessidades, e para geração de estímulos, pode contribuir para uma atitude superprotetora por parte destes. Os pais devem aprender a encorajar a independência em seu filho cego, especialmente quando a criança começa a se dirigir para seu ambiente e a explorá-lo.

Adaptado de: Community Based Program Boston justify for Blind Children - Boston, Massachussets/EUA.
Tradução de "The Effects of Congenital Blindness on the Development of the Infant and Young Child".
Traduzido por André Oliveira.

Fonte: Extraído da revista Benjamin Constant número 04 - setembro de 1996 - publicação técnico científica do Centro de Pesquisa, Documentação e Informação do Instituto Benjamin Constant (IBCENTRO/MEC).

ALFABETIZANDO A CRIANÇA DEFICIENTE VISUAL

INTRODUÇÃO

No momento em que nasce uma criança cega ou que uma criança perde a
visão, influências psicológicas dela própria e do meio ambiente começam
a moldar o seu desenvolvimento. É durante a infância e a adolescência
que o indivíduo assenta os padrões de comportamento (atitudes,
sentimentos, hábitos) que o acompanharão durante a vida. A sociedade é
em grande escala responsável pela integridade desses padrões.
A cegueira não representa mera ausência ou imperfeição de um único
sentido; ela muda e reorganiza inteiramente a vida mental do indivíduo,
pois ela traz uma série de limitações.
O mecanismo sensorial e o processo de observação são organizados de
maneira diferente do vidente.
Não é possível tratar uma criança cega como se ela possuísse o mesmo
potencial perceptivo da criança que vê, pois a organização perceptiva no
vidente é obtida através de todos os sentidos, ao passo que no
deficiente visual ela é obtida através dos sentidos remanescentes.
A forma mais objetiva de experiência humana é a visual; só ela dá
detalhes que nenhum outro sentido pode fornecer. Ao mesmo tempo traz
objetos em relações simultâneas de posição, tamanho e forma. Isso é
facilmente percebido pela criança vidente o que não acontece com a
criança cega, à qual falta a objetividade que a visão dá.
A visão é o primeiro sentido, pelo qual, forma, tamanho, altura e
largura são distinguidas e, na ausência, a percepção sofre um
conseqüente retardamento.
Sem a visão, inúmeros detalhes não são percebidos e a percepção da
forma, assim, como a extensão, só será obtida pelo desenvolvimento
motor. É importante que seja normal este desenvolvimento, pois nenhuma
criança é capaz de perceber o tamanho e reconhecer a verdadeira forma de
um objeto através do movimento de dedos insuficientemente controlados e
sem coordenação.
Visto que o objeto tocado é o único que a criança cega conhece, ela
deve ser suprida com abundância de material para manusear e explorar. A
falta de estimulação tátil pode ocorrer de duas maneiras:

- pela apresentação de objetos de padrões táteis demasiadamente
complexos;
- por objetos que oferecem pouca variedade de forma e solicitam
manipulação diminuta.

Uma simples bola de borracha, tem muito mais valor educativo para a
criança cega do que uma boneca. A forma de bola é cheia de significados
para a criança, ela a percebe e a aprecia totalmente ao passo que a
boneca nunca poderá, por si mesma, oferecer os significados típicos que
tem para criança que enxerga.
Primeiramente a criança cega deverá explorar formas simples e aos
poucos, gradativamente, outras mais complexas.
O reconhecimento de vozes e a repetição de rimas e melodias indicam
que audição é o caminho mais objetivo para a estimulação da criança
cega, embora ela, inicialmente, por um tempo relativamente longo, ouve
de maneira muito subjetiva, pois é muito demorado o processo pelo qual a
criança cega aprende as relações diretas entre o som ouvido e o objeto
sonoro. Este processo envolve explorações e identificações táteis de
objetos, só conseguidas quando a criança alcança leve locomoção.
O som que o adulto normal percebe é tão rico em relações espaciais e
tão invariavelmente atribuídos ao objeto sonoro, que é difícil para os
pais de crianças cegas compreenderem que a audição como tal, tem muito
valor objetivo e de orientação. A fim de possuir esta objetividade,
percepção do som deve sugerir seu lugar e sua origem. Portanto, uma bóia
sonora ou um chocalho tilintante, quando seguros pelas mãos, criam uma
realidade espacial e objetiva. São de imenso valor educativo.

PERÍODO PREPARATÓRIO

Para tornar a criança D.V. (cegos e portadores de V S N) pronta para
iniciar a alfabetização é necessário que se faça o "período
preparatório". (Qualquer aprendizado novo requer um período de
preparação. Isto não é diferente para os alunos D.V. quando vão aprender
a ler e escrever.) o Período preparatório é a fase que antecede a
alfabetização."
Neste período damos às crianças, um tratamento especial para que
adquiram experiências, técnicas e habilidades necessárias e
indispensáveis ao aprendizado sistemático da leitura e escrita Braille.
Esta é a fase em que o professor tem que trabalhar o autoconceito
dos alunos para que cresçam afetivamente.
Aprender a ler e a escrever exige preparo e por isso as atividades
oferecidas aos alunos D.V. devem atender aos fatores físicos,
intelectuais e sócio-econômicos.
A preparação antes da alfabetização é importante, tanto pelas
experiências que visam diretamente à correta aprendizagem de ler,
escrever e falar, quanto pelas atividades que permitam um conhecimento
global da criança.
É importante, também, propiciar o desenvolvimento da habilidade de
pensar dando à criança condições de enfrentar situações novas e usar
experiências que já possui, adquirindo informações que necessita. (Ao
professor cabe fazer um diagnóstico seguro das dificuldades de seus
alunos e prepará-los, planejando e realizando atividades que as
predisponham à necessária prontidão. (Para a percepção dos caracteres
Braille, que consistem em combinações variadas em relevo, existe uma
elaboração mental variável de indivíduo para indivíduo. Vimos então, que
além da necessidade de coordenação motora, é indispensável às atividades
da leitura e escrita Braille, o desenvolvimento da coordenação motora
fina e discriminada, que está diretamente relacionada aos pequenos
músculos das mãos e dos dedos.)
Prontidão refere-se essencialmente ao tempo, ao momento, à maneira
pela qual certas atividades podem ser ensinadas e não às capacidades
inatas da criança.

Objetivos do período preparatório:

- conhecer a base de experiências que a criança já possui;
- educar os sentidos;
- enriquecer suas experiências;
- desenvolver o pensamento e a linguagem;
- favorecer a formação de bons hábitos e atitudes.

Duração:

alterna de acordo com as necessidades das crianças; (as atividades
devem ser planejadas de modo que os objetivos sejam atingidos).
Considerando o aspecto mecânico da leitura e da escrita Braille
vemos a necessidade de desenvolver essencialmente a coordenação motora
fina, estabelecendo liberdade e ritmo destes movimentos.
A escrita exige ritmo, precisão de movimentos, firmeza de punhos,
destreza na manipulação do material, posição correta para escrever e
qualidade. Para isso, três pontos importantes devem ser trabalhados:
legibilidade, rapidez e estética.
O material específico reglete e punção, devem ser introduzidos neste
período para que o D.V. se familiarize com eles e aprenda a manipula-los
com habilidade. Este material deve ser usado como um recurso para
treinar a coordenação motora.

Habilidades indispensáveis à alfabetização:

A aquisição das habilidades essenciais ao ensino da leitura e da
escrita se faz gradualmente, em ordem crescente de dificuldades.

1) Treinamento da percepção e discriminação visual:
Os exercícios relacionados a esses aspectos devem ser elaborados,
primeiramente, com objetos, depois com desenhos e figuras e, finalmente,
com palavras obedecendo às fases do concreto, semiconcreto e
semi-abstrato. Tem como finalidade desenvolver as habilidades de
perceber semelhanças e diferenças em tamanho, forma, cor, posição,
detalhes e conceitos básicos.

2) Treinamento da percepção e discriminação auditiva visando as três
fases:
Sons não vocais (ruídos, instrumentos musicais, sons graves e agudos
produzidos por objetos); Sons vocais (de animais e de pessoas); Sons em
palavras (rimas palavras que começam e terminam com o mesmo som);

3) Percepção e discriminação tátil:
O sentido tátil é mencionado como o sentido da pele. As mãos e
outras partes do corpo podem pegar, apalpar, sentir, puxar e empurrar
para obter informações. Este sentido está muito presente na vivência da
criança D.V.. É através dele que ela reconhece, localiza e discrimina
seu corpo e os objetos que a cercam, pela forma, tamanho, textura,
volume temperatura, etc. Sem o treinamento tátil a criança D.V. terá
dificuldade para interpretar os caracteres Braille.

4) Coordenação motora:
Desenvolvimento dos grandes e pequenos músculos do corpo através de
exercícios livres e sistematizados, procurando incentivar a criança a
descobrir as possibilidades do seu corpo (consciência do esquema
corporal)
Pedir à criança que passe o dedo nos orifícios da reglete da direita
para a esquerda. (Observar para que ela perceba todos os orifícios.)
Reconhecer formas de letras Braille feitas em tamanho grande, em
espuma. Para o controle motor da escrita Braille:
- Os pontos serão dados na ordem de dificuldade.
- Repetir muitas vezes cada ponto do conjunto, até a automatização.
- O movimento da escrita é feito da DIREITA para a ESQUERDA
PONTOS: ESCRITA LEITURA

- Depois de um treinamento intensivo poderá ser dado um ditado de
pontos. Mais tarde ela associará o conjunto de pontos às letras e
algarismos.

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alfabetizando a criança cega parte2

5) A orientação temporal-espacial:
O movimento é a base para a percepção do espaço e do tempo. Ao lado
da percepção é, igualmente importante a percepção do tempo. Estas duas
noções estão intimamente ligadas. Para à criança D.V. o tempo é o espaço
vivido, cada movimento no espaço tem um ponto de partida e um ponto de
chegada, implicando numa duração. As noções de velocidade, de duração e
de sucessão (passado, presente e futuro -- antes, agora e depois), em
cima, embaixo, à direita, à esquerda.
Formar figuras com palitos de fósforos, observando os exemplos:
Reconhecer formas iguais.
Mostrar um cartão como modelo e pedir a criança que identifique a
forma numa série.
Dominó com símbolos em Braille feitos em espuma.

6) Classificação:
Operação que consiste agrupar objetos em classes ou categorias (de
acordo com a espécie, forma, função, tamanho, cor).

7) Seqüenciação:
Solução de problemas que envolvem a identificação do próximo
elemento (numa série, identificar o elemento que continua).

8) Ordenação temporal:
Operação que serve para organizar as ações que se sucedem no tempo,
e estabelecer relações de causa e efeito. Saber o começo, meio e fim de
uma história. Ordenação de cenas que se sucedem no tempo utilizando
cartões.

9) Análise e síntese:
Operação que compõe objetos, figuras e palavras.

10) Memorização:
Operação que consiste em treinar a memória.
Exemplo: Decorar poesias, músicas, recados, etc.

11) Concentração, observação e atenção:
Os exercícios indicados para o desenvolvimento da percepção,
discriminação, memória visual e auditiva servem também para desenvolver
a capacidade de observação da criança. Transmitir recados; Executar
jogos que tenham regras; Obedecer a ordens e instruções.

12) Capacidade de estabelecer relações (associação das idéias):
Essa habilidade é necessária à criança mesmo no início da
aprendizagem. Se a criança tiver iniciativa na solução de pequenos
problemas, certamente caberá estabelecer relações entre os fatos e isto
lhe facilitará a interpretação dos textos de leitura.
Exemplos: concluir histórias inacabadas.
Agrupar figuras que relacionem (punção, reglete – sapato, pé –
chapéu, cabeça).

13) Linguagem oral:
Objetivo:
Realizando qualquer atividade, do "período preparatório", a criança
encontra oportunidade para ouvir e se expressar. No entanto,
determinadas atividades poderão favorecer particularmente o
desenvolvimento da linguagem oral.
Proporcionar a socialização da criança e estimulação da linguagem
oral:

Atividades sugeridas:

Conversa informal, hora da história, dramatização, declamação,
relato de ocorrências, recados e avisos, ouvir sons mecânicos (fitaas,
cd, etc), coro falado, canto, visita às diversas dependências da escola
e leitura incidental.

14) Vivências e experiências:
Contribui para o desenvolvimento da capacidade intelectual, das
possibilidades de expressão e do conhecimento das crianças.

Atividades sugeridas:

Excursões, organização de coleções, cuidados com plantas e animais,
participação em festas cívicas e sociais, atividades criadoras.

15) Hábitos de classe:
Para que a criança D.V. adquira esses hábitos o professor deve
incentivá-lo a trabalhar em grupo, a ter senso de responsabilidade e o
respeito pelo próximo.

Atividades sugeridas:

Cooperar com os colegas, guardar sempre o material, aguardar a vez
na fila, usar formas de cortesia: por favor, com licença, obrigado.

16) Desejo de ler:
Para desenvolver na criança o desejo de ler, é aconselhável que o
professor lhe ofereça oportunidades para que encontre sentido em todo
material de leitura.
Exemplo: Colocar etiquetas no material da classe.

17) Esquema corporal
A criança orienta-se em relação a posição que seu corpo toma no
espaço. Fazendo-a ter consciência das diferentes posições que seu corpo
pode tomar, ela adquire a sensação de estabilidade corporal. Colocando a
criança de pé, deitada ou inclinada ela facilmente compreenderá os
planos verticais, horizontais e oblíquos.
Muito usados, também, deverão ser os exercícios de esquema corporal
sem movimentos, afim de que seja despertada na criança a sensibilidade
articular, fazendo-a adquirir uma correta imagem do seu próprio corpo.
Isto irá facilitar a mobilidade e postura do deficiente visual.

- Conhecimento das partes do corpo e localização dessas partes.
- A criança mostra seus membros, movendo-os ao mesmo tempo em que toca
as próprias articulações, assim;
- "Mexa com o seu ombro... com o seu cotovelo ... com o seu pulso." A
criança coloca a mão na articulação para sentir o movimento.
- Mandar executar movimentos simples. (Coloque a mão na cabeça) Os
exercícios de Gnosia Digital (Conhecimento dos dedos) devem ser feitos
quando se desenvolve o esquema corporal, assim:
- Opor o polegar a todos os dedos;
- Pegar objetos pequenos, colocar na mesa, com o polegar e o indicador
em movimento, de pinça.

Montar as partes do corpo de um boneco feito de papelão ou de
madeira. (Modelo anexo) Durante este período o professor já percebeu as
diferenças que os alunos apresentam quanto aos interesses, habilidades,
meio social e experiências anteriores, saberá portanto, o momento
oportuno de como e quando iniciar o ensino sistemático, da leitura e
escrita, seja qual for o método e processo escolhidos. Cabe ao professor
especializado adaptar-se ao processo, preparando o aluno e o material a
ser utilizado.

PREPARO PARA LEITURA

Para o aluno cego adquirir bons hábitos de leitura, o professor
especializado deve, além dos exercícios para coordenação motora fina,
usar material com pontilhos braille.
Podemos dar uma folha de papel com linhas cheias para exercitar a
técnica da leitura, linhas constituídas de combinações iguais de pontos,
intercalados com outras diferentes para que o aluno as identifique.
Exemplos: l l l l x l l l l x l l l l x llll

Exercícios com versos, frases ou palavras conhecidas da criança.
Exemplo: -- Parabéns para você", escrito várias vezes, uma em cada
linha.

Dar uma folha de papel com vários nomes escritos, entre os quais o
nome da criança para que ele o encontre.

OBSERVAÇÃO:

No Jardim da infância ou no Período Preparatório, todos os objetos
da criança deverão conter o seu nome em Braille e mesmo em cima de sua
carteira. Os brinquedos como boneca, bola, carro deverão Ter etiquetas
em Braille assim como os diversos objetos da sala de aula: carteira,
quadro de giz, mesa, etc.
A sala deverá ser ornamentada com objetos e gravuras em relevo de
conhecimento das crianças penduradas à altura delas e com os respectivos
nomes colocados em Braille.
A criança cega só terá oportunidade de se familiarizar com seu
material de leitura se isto for fornecido pelo professor especializado,
o que é muito restrito. Por isso faz-se necessário que ela se
familiarize com o sistema de pontos logo que tiver condições.

TÉCNICA DE LEITURA

Faça com que o aluno use as mãos corretamente, para que não adquira
hábitos errôneos que depois de instalados será difícil corrigir.

OBSERVE BEM A POSIÇÃO DAS MÃOS.

As duas mãos juntas na linha, com os dedos indicadores deslizando
sobre linhas pontilhadas ou sobre as letras das palavras.
Seguir até dois terços da linha, Depois a mão esquerda volta pela mesma
linha até o início. Passe para a linha seguinte enquanto a mão direita
continua lendo até o fim. A mão direita volta ao encontro da esquerda na
linha seguinte, repetindo os movimentos.

Os exercícios de leitura deverão ter uma duração de 15 a 20 minutos.

PREPARAÇÃO DE EXERCÍCIOS

Os exercícios da fase de alfabetização, precisam ser variados e
devem obedecer uma gradação no nível de dificuldades que vão surgindo.
Os exercícios devem favorecer a autonomia do alfabetizando.
O professor, deve mesclar no decurso do processo da alfabetização,
atividades escritas e leituras.
NO começo da realização das tarefas, o professor deverá deixar uma
linha em branco entre os exercícios.


BIBLIOGRAFIA

- Edições Melhoramentos – DÉCOURT, Paulo – Anatomia e Fisiologia
Humana
- Editorial Verbo. A Visão. Texto de Jannet Raiinwater, Tradução de
Tomé Santos Júnior. Lisboa – Portugal
- MAY, CHARLES H. - Manual de Doenças dos Olhos
- Revista – Olho no Olho – Ribeirão Preto – Hospital das Clínicas -
2000
- Revista Braille – Fundação Hilton Rocha – 1985
- GUIA PARA OS PAIS E EDUCADORES DE CRIANÇAS CEGAS EM IDADE
PRÉ-ESCOLAR – por Gertrude Van Den Brock, Tradução por: Syomara Cajado –
Tradução Autorizada pela COMISSION FOR THE BLIND OF THE NEW YORK STATE
DEPARTAMENT OF SOCIAL WELFARE – FUNDAÇÃO PARA O LIVRO DO CEGO NO BRASIL
– SÃO PAULO
- Ensaio Sobre a Problemática da Cegueira – Fundação Hilton Rocha –
Prevenção – Recuperação e Reabilitação – 1985
- EUCAÇÃO – INFORMATIVO DA APPMG – ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES PÚBLICOS
DE MINAS GERAIS – JUNHO/JULHO -2001
De: Augusto Hortas <acho@netcabo.pt>
Para: <livresco@yahoogroups.com>
Assunto: [livresco] Artigo da Nova Gente
Data: sábado, 23 de Novembro de 2002 23:47

Penso que, pelo facto de se tratar de um serviço que tem a ver com livros e leituras em Portugal e, a sua importância ser tão cara a tantos utentes deficientes visuais, este artigo merece ser divulgado nesta lista. Alguma coisa tem de mudar, para que asautoridades portuguesas respeitem a dignidad dos deficientes visuais portugueses.

Os cegos e os que não querem vê-los

Ainda há "cidadãos de 2ª"

Por cá, e segundo o resultado dos Censos 2001, há 163 515 deficientes visuais, 6879 em Lisboa e 5 159 no Porto - mesmo cegos não se sabe quantos são, mas calcula-se o seu número para cima dos 30 000. Num país que até tem um Nobel que escreveu um Ensaio Sobre a Cegueira, qual a relação das cegos com a Cultura, em Portugal? E a da Cultura portuguesa com eles?

Há muito que se desconfia que, em Portugal, Cultura é coisa "para inglês ver". Quando o "inglês" não vê, que é o caso dos cegos, as coisas mudam de figura, e parece que o alto-funcionalismo responsável só se torna militante quando aparece um jornalista bisbilhoteiro - ou um político à cata de... visibilidade! Por exemplo: quem entra na Biblioteca Nacional de Lisboa e olha em volta, fica admirado com o aparato daquelas salas e daqueles serviços, a começar pela linda e educadíssima funcionária de segurança que nos recebe. É tudo muito limpinho, as solas dos sapatos chiam com tanta cera num chão que se pode lamber, vêm aos olhos os terminais de computador, as impecáveis mesas de leitura cheias de estudantes ávidos de saber, professores pródigos de ensinança e intelectuais abertos a todas as tendências. Tudo muito aprumado e cultural, com uma cantina e um bar todos limpinhos e higiénicos, onde até nem se come mal. Até parece que, em Portugal, a Cultura é um caso muito sério. Depois, se se entrar onde a maioria das pessoas não está interessada em entrar, a chamada Área de Leitura Especial, que é o nome politicamente correcto para "livros p'ós cegos"... aí é que as coisas mudam. É que quem vê não entra lá, e quem entra lá... ou não vê ou não interessa! Quando se vê e se entra, a "química" é entristecedora. Quem vê, tende a achar que o mundo dos cegos é triste, sombrio, o que Emmanuel Kant se encarregou de nos explicar que é certamente falso, e já lá vão uns séculos. E pergunta-se: porque razão quem aqui trabalha, trabalha nestas condições? É porque uns são invisuais e outros voluntários? Há quantos anos é que estas paredes não vêem uma demão de tinta? Quantos anos têm estes computadores, obsoletos numa era em que a Internet é uma das maiores e mais bem fornecidas ferramentas ao serviço dos cegos? Depois, quando descemos para as bafientas e insalubres "catacumbas" onde alguns trabalham e onde estão as impressoras de Braille, vemos os corredores a servir de depósitos de tralha, ideal para que os cegos fiquem também coxos. E vemos também que, no depósito de livros em Braille, a maioria das lâmpadas estão fundidas. Em suma... vemos! Parece que ali o problema é mesmo esse. Parece que os cegos não ocupam um papel de grande destaque nas políticas "colunáveis" por que parece ter optado o Ministério da Cultura. Afinal, eles não vêem as "tias", não cobiçam os seus make-up's rosa-choque e verde-eléctrico! Será que nos cabe providenciar para que o mundo dos cegos seja mesmo o mais sombrio possível, tal como nós o imaginamos?

O problema do (des)reconhecimento e do (des)respeito pelos cegos é antigo, diga-se, mas por cá a coisa parece ir de mal a pior. Vejamos a Internet, por exemplo. Faz-se uma pesquisa no Google e surgem 4 720 000 ocorrências. Vai-se ao Sapo, e são 6 apontadores e 31 ocorrências no portal. "Clica-se" no site da APEC e surge uma coisa pobrezinha, encabeçada por um hino que canta "a miséria e o horror do passado para nós felizmente acabou"... quando parece que o que está para acabar é o site, senão a própria APEC! Vai-se ao da ACAPO, e também é "pobrezinho mas honrado", está "em aperfeiçoamento", que é a metáfora que se usa na Net para significar que um site não tem recursos. Ou seja, apesar do tremendo desenvolvimento tecnológico que fez da Internet uma ferramenta de eleição para os cegos, o cego português que não tenha dinheiro e não saiba línguas estrangeiras está tramado. Retomando o exemplo da BN, o (excelente) catálogo de livros digitalizados disponíveis na net de nada serve para o leitor cego: estão fotografados, ou seja, não podem ser lidos por meio de um computador com conversor Braille.

Vai para 200 anos que Louis Braille inventou essa ferramenta extraordinária que foi, para os cegos, o alfabeto que ficou com o seu nome, e que lhes permitiu sair do ghetto em que sempre tinham vivido: mendigando, tocando e cantando, roubando, fazendo feitiços e indo, uma vez por outra, parar às fogueiras da Inquisição católica e das Witch Hunts protestantes. Luís IX, rei de França entre 1226 e 1270, participante activo da 7ª e 8ª Cruzadas, fulminado pela febre, pela peste ou pela disenteria quando se preparava para entrar em Tunis e canonizado em 1297, regressou derrotado da 7ª Cruzada convencido de que Deus lhe queria dar uma lição de humildade. Virando-se para a caridade, fundou o hospital Quinze-Vingts - Quinze Vintes, ou seja, 15 x 20 = 300, o número de cavaleiros que tinham ficado cegos durante a Cruzada. Foi o primeiro hospício para cegos de que há memória. Muitos anos mais tarde, em 1771, um tal Valentin Haüy visitou a feira parisiense de Sto. Ovídio, uma espécie de Feira Popular da época, e assistiu a um espectáculo de cegos que achou degradante e o convenceu de que a única forma de os tirar da situação social em que se encontravam era através da educação. A Educação era o leitmotiv do século XVIII, claro, mas... como levar as Luzes àqueles que não as vêem? Haüy começou por estudar as formas como os cegos se desenvencilhavam na vida e, em 1784, deu esmola a um cego de 12 anos que reconheceu logo o valor facial da moeda. Foi a revelação: o segredo estava no desenvolvimento do tacto. O miúdo, François Lesueur, tornou-se o primeiro aluno de Haüy, que fundou, na Rue St. Victor, o Real Instituto para as Crianças Cegas.

A 4 de Janeiro de 1809 nascia em Coupvray, França, um tal Louis Braille, filho de um seleiro. Aos 3 anos, ao manipular uma das ferramentas do pai, cegou um olho, a infecção alastrou ao outro e o jovem ficou completamente cego. Aos 10 anos, Braille é admitido no Instituto de Haüy, onde aprende o sistema de letras de Imprensa em alto-relevo desenvolvido pelo fundador. O jovem considera o sistema desadequado, apesar de bem-intencionado.

No decorrer de um encontro sobre Métodos de Comunicação no Museu da Ciência e da Indústria, os cegos do Instituto ouvem falar de um tal Charles Barbier da la Serre, especialista em criptografia, veterano das Revoluções Francesa e Americana, e das Guerras Napoleónicas. No decorrer destas últimas, tinha visto um grupo de artilheiros ser despedaçado por um obus durante a noite, por ter acendido uma luz para ler uma mensagem. Barbier desenvolveu então um sistema táctil para recepção e envio de mensagens entre os artilheiros - a Sonografia -, inventando um aparelho que lhes permitia escrevê-las no escuro. Braille fica fascinado com o invento de Barbier, a célula de 12 pontos, apesar de lhe encontrar dois defeitos: ser demasiado extensa para a polpa de um dedo e representar sons em vez de letras. Em Outubro de 1824, com 15 anos, apresenta o seu próprio aperfeiçoamento. Tinha reduzido o "dominó" de 12 pontos de Barbier para um "meio-dominó" de seis pontos, com 63 possibilidades combinatórias. Não-obstante o entusiasmo dos cegos, contudo, o invento veio criar celeuma entre os professores do Instituto, que não eram cegos e o sentiram como uma ameaça aos seus "tachos" e carreiras. Queixaram-se de que o barulho que os alunos faziam a escrever com o novo sistema gerava indisciplina. Aos 17 anos, contudo, Braille tornou-se o primeiro professor cego da escola: Álgebra, Gramática, Música e Geografia. Em 1828, adaptou o seu sistema à notação musical. Em 1829, Braille tem 20 anos e apresenta-se à inspecção militar. Fica "livre", segundo os inspectores militares, por "não poder ler nem escrever". É assim, ironicamente, que o homem que inventou na adolescência a forma de os cegos lerem e escreverem fica "catalogado" pela Pedagogia de caserna da Armée Française! Tuberculoso e generoso ao ponto de se privar amiúde a favor dos outros, os tempos difíceis em que viveu e as inúmeras dificuldades, invejas e obstáculos que o seu invento conheceu acabariam por matá-lo aos 43 anos de idade, a 6 de Janeiro de 1852. Toda a Imprensa parisiense ignorou a sua morte, e só em 1854 é que o Estado francês adoptaria o Braille como forma de comunicação oficial para os cegos. Mas ainda demoraria muito a ser reconhecido em países como a América, a Suíça, a Inglaterra, pela sua opacidade para os que não são cegos. Os poderes e funcionários instalados na Educação tardaram a compreender que os cegos querem ler porque querem aprender e querem escrever porque têm coisas a dizer. Por terem uma escrita ilegível para os visuais, pareciam surgir como uma ameaça, e os seus textos como uma sinistra e subversiva criptografia. Num século como o XIX, em que os revolucionários e niilistas aterrorizavam as casas reais e os Governos, a ideia de que os cegos pudessem querer dominar o Mundo comunicando entre si por meio de uma escrita incompreensível pode não ser tão ridícula como parece (ver caixa). E ninguém se lembrou de que, com as suas bengalas, pudessem ter antecipado o telégrafo!

Texto: E. Leão Maia; Fotos: Carlos Didelet e arquivo; Agradecimentos: Biblioteca Nacional de Lisboa

Cuidado com as aparências

A Literatura "de autor" começa com um cego, Homero, suposto pai da Ilíada e da Odisseia, e há quem ache que acaba com outro, o argentino Jorge Luís Borges. Pelo meio, passaram nomes como Dídimo de Alexandria (séc. IV), Baltasar Dias, Luís de Camões (que era só zarolho), John Milton, António Feliciano de Castilho (que recomendava em 1844, ao Administrador da Iluminação e Limpeza da CML, que deixasse o luar para os poetas e tratasse mas era de acender a horas os candeeiros nos lugares mais desvantajosos de Lisboa), Aldous Huxley, que era quase cego, etc.. Em Heróis e Túmulos, Ernesto Sábato fala-nos de uma conspiração dos cegos para dominar o Mundo (diz-se que os de Buenos Aires são extraordinariamente arrogantes e malcriados, chegando a agredir à bengalada quem não lhes dá chorudas esmolas)! A Psicanálise tem o seu imago paterno numa figura mítica que vasou os olhos, Édipo. Na Música, a Stevie Wonder, Ray Charles, José Feliciano, Andrea Bocelli, sobra-lhes em output musical o que lhes falta em input visual. E diz-se que, como com Beethoven, que era músico e acabou surdo, quis a Divina Providência (!) que Rembrandt, um dos maiores pintores de sempre, acabasse cego. Na Póvoa do Varzim há a história do Cego do Maio, um tal José Rodrigues Maio, que salvou náufragos no século XIX e teve direito a estátua em 1909. E ainda há a história do cego da "feira da Ponte", em Ponte de Sôr, que devia tocar pior que o que cantava e ficou como epíteto para qualquer cego que desafine. Vem depois um tal "Simão, anacoreta, ceguinho que nunca viu", que terá feito o doce Jesus himself perder as estribeiras e mandá-lo ir "tocar corneta para a p... que o pariu!", mas era anedota. Maomé comparava os descrentes aos cegos, e terá ficado incomodado ao ser interpelado por um quando tentava converter os coraixitas, o que lhe valeu uma lição de Alá sobre os perigos de avaliar as pessoas pelas aparências (Corão, LXXX). O mesmo fez Cristo em Mateus, XV, 14 ("são cegos a conduzir outros cegos"), mas cura-os em imensas situações, numa época em que a cegueira era vista como o castigo por um pecado: "Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele ou os seus pais?" (João, IX, 2). A parábola dos três cegos e das suas três ideias do elefante, conforme lhe sentiam a tromba, os flancos ou as patas, é académica no Budismo, e, para acabarmos onde começámos, Ulisses só conseguiu não ser devorado vivo e levar a bom termo a sua odisseia depois de vazar o único olho ao ciclope Polifemo.


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Paz e Luz

"No momento, nosso mundo de humanos é baseado no sofrimento e na destruição de milhões de não-humanos. Aperceber-se disso e fazer algo para mudar essa situação por meios pessoais e públicos, requer uma mudança de percepção, equivalente a uma conversão religiosa. Nada poderá jamais ser visto da mesma maneira, pois uma vez reconhecido o terror e a dor de outras espécies, você irá, a menos que resista à conversão, ter consciência das permutações de sofrimento interminável, em que se apóia a nossa sociedade." --Arthur Conan Doyle

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