sábado, 11 de maio de 2019 By: Fred

{clube-do-e-livro} 3º LANÇAM DO DIA : SEXO E LOUCURA - CARLOS AQUINO - FORMATOS: PDF, EPUB, RTF ,TXT E MOBI

Estas s��o as cole����es "sexy" da CEDIBRA:

OLHO MAGICO (4 s��ries)

Amarela ��� autor: Ricardo Veronese

Azul ��� autor: Bruno Altman

Verde ��� autor: Eduardo Rosso

Vermelha ��� autor: Marcelo Francis

KARINA (4 s��ries)

Amarela ��� autor: Ricardo Veronese

Azul ��� autor: Eliane Guerreiro

Verde ��� autor: Vic Lester

Vermelha ��� autor: Marcelo Francis

CORAL (4 s��ries)

Amarela ��� autor: C��lio Santana

Azul ��� autor: Eliane Guerreiro

Verde ��� autor: Eduardo Rosso

Vermelha ��� autor: Bruno Altman



SEXO E LOUCURA





Carlos Aquino


Copyright �� MCMLXXIX CEDIBRA ��� Editora Brasileira Ltda.

Rua Filomena Nunes, 162 ��� CEP 21.021

Rio de Janeiro, RJ

Direitos exclusivos para o Brasil

Composto e impresso pela Cia. Gr��fica Lux

Estrada do Gabinal, 1.521 ��� Rio de Janeiro, RJ

O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em parte, nem regis-

trado, nem retransmitido, nem reproduzido, por qualquer melo

mec��nico, sem a expressa autoriza����o do detentor do copyright

CAPITULO 1

O MOTORISTA

Norma era uma mulher feia. De nada lhe adiantavam

todos os recursos modernos de embelezamento. Tratava-se

de um caso quase sem solu����o. No entanto, era milion��ria

e de bom grado daria tudo para ser t��o bonita quanto a

Elizabeth Taylor.

Por��m, agora aos quarenta anos de idade, estava bem

melhor do que na ��poca de sua mocidade. Sim, porque, na

adolesc��ncia, crescera demais, tinha muitas sardas, e n��o

se via sinal nem de seios nem de quadris. Isso numa ��poca

em que o tipo ideal de mulher era o de cintura fina, qua-

dris e bustos volumosos, coxas grossas, etc.

De fam��lia riqu��ssima, educada nos melhores col��gios,

sentia-se extremamente t��mida. Tinha vergonha at�� de sua

pr��pria sombra. E com raz��o, porque era motivo de de-

boche dos colegas, que n��o podiam conter os risinhos de

ironia quando a viam.

Tudo aquilo revoltava Norma. E ela come��ou ent��o a

lutar contra sua inibi����o e a desejar que lhe acontecesse

exatamente como na hist��ria do patinho feio que depois

se transformava num lindo cisne. Mas na vida real essas

coisas n��o acontecem, e Norma, quando muito, poderia

melhorar um pouco sua apar��ncia.

Ap��s o gin��sio, a idi��a de ficar menos feia tornou-se

uma obsess��o. E p��s m��os �� obra. Come��ou a freq��entar

aulas de gin��stica, academias de beleza, estudou postura,

modo de andar. Suas roupas eram escolhidas de modo a

lhe disfar��ar os in��meros defeitos.

5

Mas o pior de tudo era que o rosto tamb��m n��o aju-

dava. O nariz enorme, encurvado, parecia mais um bico

de papagaio. Ainda n��o estava t��o difundida a pr��tica de

opera����es pl��sticas e Norma foi uma das pioneiras.

Um dos melhores cirurgi��es do g��nero fez o que p��de

com seu nariz. E, de fato, ele melhorou um pouco. Uma

viagem �� Europa e v��rios m��todos para curar a timidez

fizeram com que ficasse mais desinibida.

Contudo, dentro de si, permaneceu um certo rancor

do mundo e da humanidade em geral, reflexo das humi-

lha����es por que passara na inf��ncia e adolesc��ncia devido

ao seu f��sico.

Apesar de toda a pureza da inf��ncia, ou talvez por

isso mesmo, ningu��m mais cruel do que uma crian��a. Tudo

porque ainda n��o aprendeu a dissimular e esconder a ver-

dade.

Assim, ela tivera uma grande quantidade de apelidos,

que ora se referiam a seu nariz monstruoso, ora ao seu

corpo desajeitado ou a algum outro de seus muitos de-

feitos.

Mas aos dezenove anos de idade, Norma ficou noiva.

Era seu primeiro namorado. Sim, porque antes nunca con-

seguira nenhum. Nessa idade, j�� estava com seu novo na-

riz, vestia-se muito bem com roupas compradas em Paris,

vivia coberta de j��ias.

Mesmo assim, quando Joel come��ou a querer namo-

r��-la, n��o acreditou que estivesse apaixonado. Tinha cer-

teza absoluta de que queria casar-se com ela apenas por

causa de seu dinheiro.

E durante os vinte anos seguintes, at�� o momento

atual portanto, nunca lhe passara pela cabe��a outra coisa.

Joel n��o era propriamente um rapaz pobre. Pertencia

�� classe m��dia. Mas, ambicioso, vira em Norma, sua ascen-

s��o social. Ele, tamb��m, era bastante bonito. Todas as mo-

��as s�� faltavam enlouquecer de paix��o com a sua simples

presen��a.

Alto, forte, moreno de olhos verdes. O homem ideal

6

para qualquer tipo de mulher. Mesmo a mais casta se en-

tregaria sem hesita����es, caso ele assim o quisesse.

Norma tamb��m n��o resistiu ao seu encanto. Embora

tendo certeza de que Joel n��o a amava, aceitou-o. Para

ela pouco importava que fosse ou n��o interesse da parte

do rapaz. O que importava era que seria dela. Iria usu-

fruir de uma coisa que a maioria de suas amigas n��o con-

seguiriam. Joel seria uma esp��cie de vingan��a. Por causa

do seu dinheiro ou n��o, pouco importava.

E assim, se casaram.

E podia-se dizer que fora um casamento muito, muito

feliz.

Pelo menos j�� estava durando vinte anos.

O pai de Norma deu-lhes como presente de casamento

uma mans��o em Santa Teresa, onde passaram a morar.

Tiveram uma ��nica filha, L��gia, agora com dezoito anos,

estudando na Inglaterra. Joel tornara-se um grande indus-

trial, vice-presidente de todas as empresas do pai de Norma.

Apesar de seus casos amorosos, era um bom marido.

Satisfazia plenamente a esposa na cama. Ali��s, sempre

fora conhecido entre os amigos de juventude como o cara

que topava tudo. Sa��a com qualquer mulher, por pior que

fosse o seu aspecto. Tinha um grande apetite sexual. N��o

lhe importava o inv��lucro. Contanto que ele gozasse, tudo

b e m . . .

Assim, n��o foi nenhum sacrif��cio ter-se casado com

Norma. Pelo contr��rio. Estava feliz da vida. Tinha uma

exist��ncia maravilhosa. Muito dinheiro, seguran��a, respei-

tado por todos, transava com as mulheres que queria, o

que n��o o impedia de tamb��m satisfazer a esposa. O que

podia querer mais na vida?

Tinha, evidentemente, o cuidado de que a esposa n��o

soubesse de suas aventuras fora do leito conjugal. Norma

n��o tinha do que reclamar. A qualquer hora da noite, ou

mesmo do dia, que tivesse vontade de ter Joel na cama,

ele vinha como um cachorrinho amoroso e fazia o ato per-

feito, sem nada reclamar.

7

A harmonia entre os dois era tanta, as ambi����es de

Joel haviam sido t��o bem satisfeitas, que ele apenas sentia

um certo t��dio.

Foi a�� que come��ou a se interessar pela literatura. Es-

creveu um conto er��tico. Que foi publicado numa revista.

Estimulado, passou a ler bastante e a escrever mais.

At�� que teve sua aten����o despertada por uma coisa

que at�� ent��o n��o se lembrara. Os antigos moradores

da mans��o onde residiam.

Ao atravessar certa vez o port��o que dava para o jar-

dim, ao ver a antiga fachada "art-nouveau", os grandes

sal��es, o por��o, uma esp��cie de torre que encimava o ca-

sar��o, tudo come��ou a agu��ar-lhe a curiosidade.

E iniciou suas pesquisas. Quando havia sido constru��-

da a mans��o, quem a constru��ra, os primeiros moradores,

etc. Cada vez mais fascinado, de pesquisa em pesquisa,

descobriu coisas incr��veis, muito mais interessantes do que

a princ��pio imaginara.

E come��ou o que achava que seria sua grande obra: um

romance. Os fatos mais nebulosos, ou o que n��o conseguira

descobrir, completava com a, imagina����o.

Norma n��o se interessava muito pelos escritos do ma-

rido. Mas, de certa forma, orgulhava-se deles. Afinal, tinha

em casa um escritor. E, na verdade, s�� podia mesmo orgu-

lhar-se.

Al��m de sua fortuna, de suas propriedades, de suas

j��ias, possu��a tamb��m um homem bonito e inteligente que

era seu h�� vinte anos. E que tamb��m tornara-se escritor.

Nos ��ltimos meses, Joel, mal chegava em casa, ia para

seu gabinete de trabalho e escrevia horas e horas, s�� in-

terrompendo o romance que estava elaborando quando Nor-

ma o chamava para a cama. A��, atendia o chamado e vi-

nha cumprir sua obriga����o.

A esposa num certo sentido, que n��o apenas o lite-

r��rio, estava contente com a nova ocupa����o do marido.

Escrevendo o tal livro com tanta dedica����o, era mais uma

prova de que, pelo menos, tinha menos tempo para tra��-la.

8

Por��m, at�� o momento, n��o lera nada do romance que

estava sendo escrito. Certa noite, dissera a Joel, apenas

para agrad��-lo:

��� Gostaria de ler algum trecho do livro que est�� fa-

zendo.

��� Deixe ficar mais adiantado.

��� N��o quer me mostrar?

��� N��o �� isso, Norma, quero que veja quando estiver

pronto.

��� J�� se decidiu pelo t��tulo?

��� Ainda n��o.

E a conversa ficara a��, mesmo porque Norma falara

por falar. E n��o insistiu.

Naquela tarde, Norma preparou-se com todo o cuida-

do, como de costume. Estava sempre impec��vel em suas

apari����es p��blicas. Muito bem maquilada e penteada, des-

ceu os poucos degraus at�� o jardim e encaminhou-se para

o carro. Sebasti��o, o velho motorista da fam��lia (traba-

lhava para eles desde que Norma e Joel haviam se casado),

j�� estava a postos.

��� Leve-me em Ipanema ��� disse Norma.

E entrou no autom��vel.

Sa��ram pelas ruas tortuosas de Santa Teresa. Ela ia

a Ipanema fazer compras. Nada que necessitasse realmen-

te. Mas de vez em quando tinha como obriga����o visitar

algumas butiques. Comprava um len��o aqui, uma cal��a

ali, uma quinquilharia acol��.

Enquanto o carro rodava pelas ruas, em vez de obser-

var as pessoas ou o que se passava fora do autom��vel, Nor-

ma tinha os olhos fixos na nuca de Sebasti��o. E por um

momento, odiou-o...

J�� n��o suportava mais a presen��a do motorista. Es-

tava velho, cansado. Por que n��o se aposentava logo? Por

que cumpria t��o religiosamente o dever sem faltar um dia

sequer?

Quando Norma desejava liberdade, dispensava-o e di-

9

zia que estava com vontade de dirigir. Era justamente

quando tinha algum encontro com um de seus amantes.

Naqueles ��ltimos vinte anos, Sebasti��o s�� faltara ao

servi��o durante dois meses. Assim mesmo porque estivera

seriamente doente. E foram justamente naqueles sessenta

dias que Norma teve a maior aventura de sua vida.

Olhando a nuca do velho motorista, recordou que tudo

come��ara quando ela, sentada naquele mesmo autom��vel,

h�� cerca de oito anos, olhava fixamente para a nuca do

jovem motorista que substitu��ra Sebasti��o.

Hamilton devia ter seus dezoito anos. Quando saiu pela

primeira vez com ele, sentada no banco traseiro do carro,

fixou Os olhos na nuca do rapaz e de repente soltou uma

gargalhada.

Ele virou-se assustado e quase perdeu a dire����o. De-

pois, tornou a prestar aten����o no seu trabalho. Encabu-

lado, n��o perguntara o porqu�� da gargalhada.

Norma naquele momento tivera um pensamento que

n��o podia confessar ao jovem motorista. Comparara-o com

o velho Sebasti��o e imaginara ir para a cama com seu

substituto. Mas n��o podia revelar isso a Hamilton, logo

em seu primeiro dia de trabalho.

��� N��o quer saber por que eu ri?

��� Se a senhora quiser c o n t a r . . .

��� Me lembrei de uma coisa muito engra��ada.

Sil��ncio.

��� Voc�� �� amigo de Sebasti��o, n��o ��? ��� perguntou

Norma, apenas para continuar a conversa (claro que sabia

a resposta, uma vez que Hamilton fora recomendado pelo

velho motorista).

��� Ele �� amigo de meus pais.

��� J�� trabalhou como chofer antes?

��� N��o.

��� Mas dirige muito bem.

��� Desde garoto que gosto de dirigir. Meu pai tra-

balha numa oficina de carros.

��� Quantos anos voc�� tem?

10

��� Dezoito.

��� Est�� estudando?

��� N��o.

��� Por qu��?

��� Tenho que trabalhar.

��� H�� muita gente que trabalha e estuda.

��� Eu sei.

��� E por que n��o faz assim tamb��m?

��� Acho que sou um pouco burro.

Norma voltou a rir:

��� Voc�� parece n��o fazer um bom conceito a respeito

de si mesmo.

Foi assim que come��ou uma certa cumplicidade entre

os dois. Diariamente, Norma sa��a com ele, por este ou

aquele motivo. Ao fim de quinze dias, j�� estavam menos

cerimoniosos.

��� Voc�� tem alguma garota?

��� Qual o rapaz que n��o tem?

��� Gosta dela?

��� N��o sei.

��� Como n��o sabe?

��� B e m . . . acho que ela �� bacana.

��� S�� isso?

��� S��.

��� Tem certeza de que n��o est�� apaixonado?

��� Nunca vou me apaixonar por ningu��m.

��� Como sabe disso?

��� N��o sou dessas coisas. N��o me apego a nada.

��� �� bom ser assim.

��� ��.

As sa��das di��rias continuavam. Ao voltar da casa de

uma amiga, a quem tinha ido visitar, Norma, em vez de

sentar no banco traseiro do autom��vel, entrou na frente

e ficou ao lado do chofer. Fez tudo com muita naturali-

dade.

Enquanto dirigia, Hamilton de vez em quando olha-

11

va-a com o canto dos olhos. Norma viu que n��o podia mais

adiar a sua inten����o de fazer sexo com o rapaz.

Andava nervosa, insatisfeita, e sabia que o motivo era

seu desejo irrealizado. Se n��o tomasse a iniciativa, nada

aconteceria entre os dois. E de repente, Sebasti��o poderia

ficar s��o e ela perderia aquela oportunidade.

Nada de ruim poderia lhe acontecer. Por que compli-

car as coisas? O rapaz n��o se negaria a satisfaze-la e n��o

teria coragem de contar a ningu��m. E se na pior das hi-

p��teses revelasse alguma coisa, ela diria que era mentira

e ele seria despedido. Simplesmente isso.

Chegou mais para perto. Come��ou a movimentar os

dedos na pr��pria coxa. Olhou-o sorridente.

��� Voc�� �� bonito.

Ele n��o disse nada.

��� N��o ouviu o que falei?

��� Ouvi, sim, senhora.

��� As garotas n��o costumam dizer que voc�� �� bonito?

��� ��s vezes.

��� Voc�� parece ser muito modesto.

Ela segurou-lhe a perna, num gesto repentino. Ele

continuou olhando firme para a frente, como se nada ti-

vesse acontecido.

��� Que horas s��o?

Hamilton olhou o rel��gio.

��� Quatro horas.

��� Ainda est�� c e d o . . .

Novamente ele ficou em sil��ncio. Claro que j�� com-

preendera tudo. Afinal, n��o era t��o burro assim. Norma

olhou para o rapaz e notou que estava excitado.

A resposta muda de Hamilton n��o podia ser mais elo-

q��ente. Se j�� estava excitado logo ap��s ela ter-lhe segurado

na perna, era porque a desejava. Podia seguir em frente.

E assim permaneceu por alguns instantes, com a maior

naturalidade, sem olh��-lo. Depois procurou abrir-lhe a bra-

guilha e colocou a m��o por dentro.

��� Acho que n��o vamos para casa.

12

��� Aonde a senhora quer ir?

��� A um hotel.

* * *

Entraram no hotel. Antes, Norma dera a Hamilton o

dinheiro suficiente para fazer o pagamento.

No quarto, ele tinha o ar meio deslumbrado. Nunca

freq��entara antes um lugar daqueles. Norma adivinhou-lhe

o pensamento:

��� Voc�� nunca esteve num hotel assim, n��o ��?

��� N��o.

��� Aonde costuma levar suas garotas?

��� A lugar nenhum.

��� N��o entendi.

��� A gente arruma um canto escuro, de madrugada.

��� Ah, j�� s e i ! . . . Deve ser bem excitante.

��� Aqui �� melhor.

��� Ser��?

Ela abra��ou-o. Beijou aquele rosto quase imberbe. Ha-

milton continuava meio encabulado.

��� Fa��a de conta que sou uma de suas garotas.

��� �� dif��cil.

Norma por um momento ficou sem saber se aquilo

era uma ofensa. O que o rapaz quisera dizer? Que ela era

velha? Que as mulheres com quem costumava fazer sexo

eram mais bonitas?

Mas viu, pela atitude do rapaz, que n��o era nada disso.

Ele permanecia t��mido. O que queria dizer, sem d��vida,

era que se tornava dif��cil trat��-la como uma mulher co-

mum, quando na verdade tratava-se de sua patroa.

Tirou-lhe a roupa. Deitou-se na cama, ainda, vestida,

e ficou observando-o nu, em p��, sem saber o que fazer.

Assim, sem roupa, Hamilton ainda lhe parecia mais bo-

nito.

Norma chamou:

��� N��o vem se deitar?

O jovem obedeceu.

13

Ela tirou a pr��pria blusa e beijou-o. Em seguida, le-

vantou-se e despiu o resto da roupa.

Voltou para a cama e come��ou a masturb��-lo. Hamil-

ton, excitado, perdeu a timidez e colou os l��bios em um

de seus seios. Norma sentiu uma imensa ternura.

Em breve ele a penetrava, cheio de ardor. Aquele ar-

dor t��o pr��prio da juventude. Norma sentiu-se contagiar

pelo mesmo sentimento. Imaginou-se t��o jovem quanto

Hamilton. Era como se tivesse voltado aos dezoito anos.

Mais um movimento dele dentro de sua carne.

O c l �� m a x . . .

* * *

��� Est�� muito cansada?

��� N��o. Por qu��?

��� Se importa se a gente fizer outra vez?

��� Claro que n��o.

E repetiram t u d o . . .

* * *

De volta para a velha mans��o de Santa Teresa, n��o

tocaram no assunto. A atitude dele permaneceu a mesma

de antes de t��-la possu��do. Fora daquele quarto de hotel,

Norma tornava a ser a patroa e ele o empregado.

Repetiram v��rias vezes as idas ao hotel. At�� que che-

gou a v��spera do dia em que Sebasti��o, recuperado, reassu-

miria seu posto. E Norma teve raiva de seu antigo moto-

rista.

Mas, pensando melhor, achou que era melhor assim.

Mais algum tempo e ela estaria enjoada daqueles encon-

tros. Viraria rotina. De rotina bastava o marido.

Era como um espet��culo que, por melhor que fosse,

sempre seria conveniente que terminasse deixando os es-

pectadores querendo mais. Se fosse muito demorado, ter-

minaria cansando.

14

��� Amanh�� vou embora.

��� �� uma pena.

��� Foi muito bom trabalhar para a senhora.

��� Voc�� �� um ��timo chofer. N��o vai ter dificuldades

em arranjar outro lugar.

��� Talvez a senhora nunca mais me v e j a . . .

��� Por qu��? Vai sair do Rio?

��� N��o.

Norma resolveu mudar de assunto:

��� Como �� mesmo o nome de sua garota?

��� Ana.

��� Ela �� bonita?

��� Mais ou menos.

��� Voc��s costumam fazer sexo sempre?

��� N��s n��o fazemos t u d o . . .

��� N��o?! ��� surpreendeu-se Norma.

��� Ela �� virgem.

��� Ah, entendo!... Ou melhor, n��o entendo. Como

compreender uma jovem ter voc�� �� disposi����o e continuar

virgem?

��� Pra senhora v e r . . .

��� Diga que ela �� uma tola.

��� J�� disse.

��� E ela?

��� N��o deixa eu botar de jeito nenhum.

��� O que voc��s fazem ent��o?

Hamilton co��ou a cabe��a, novamente encabulado:

��� Posso dizer?

��� N��o estou perguntando?

��� A gente se esfrega, ela deixa botar nas coxas e

t a m b �� m . . .

��� E tamb��m o qu��?

��� �� chato falar isso.

��� N��o tem confian��a em mim?

��� �� que �� dif��cil de explicar.

��� J�� sei. Ela deixa que voc�� fa��a tudo, menos o que

n��s fizemos, n��o �� isso?

15

Norma riu.

E Hamilton foi embora no dia seguinte.

Realmente, nunca mais o viu.

* * *

Norma permanecia olhando para a nuca de Sebasti��o.

Por que ele n��o adoecia de novo? Precisava arranjar outro

motorista legal como o Hamilton.

Achou a id��ia engra��ada. E deu uma gargalhada. O

velho chofer virou-se surpreso.

Ela continuou rindo.

Sebasti��o nada entendeu.

16

CAPITULO 2

O MARIDO

Ao chegar em casa, tinha uma carta de L��gia, que

estava estudando em Londres. Norma abriu-a sem muito

interesse. A filha anunciava sua volta para o fim do m��s.

Contava algumas coisas a respeito de seus estudos, man-

dava perguntar por alguns amigos.

Joel chegou do trabalho. Sentaram-se �� mesa para

jantar. Depois Norma ligou a televis��o. O marido ficou um

pouco ao seu lado.

��� Como est�� o livro?

��� Bastante adiantado.

��� Quando vai deixar que eu leia?

��� Est�� mesmo com vontade de ler?

��� Claro.

Ele ficou satisfeito com o interesse da mulher:

��� Voc�� n��o se interessa muito por literatura...

��� N��o sou fan��tica, mas sinto interesse como uma

pessoa comum.

��� Faltam duas p��ginas para acabar a primeira par-

te. Enquanto voc�� assiste ��s novelas, vou acabar de es-

crever e lhe entregar.

Joel retirou-se para seu escrit��rio.

Antes de come��ar a escrever, acendeu um cigarro e

caminhou at�� a janela.

Fora exatamente naquela janela que Ros��lia vira Os-

valdo pela primeira vez. Ele prestou aten����o no jardim,

procurando encontrar alguma coisa entre as sombras. Mas

n��o viu nada al��m das sombras.

17

R o s �� l i a . . .

C l �� u d i o . . .

O s v a l d o . . .

Os principais personagens da primeira parte de seu

romance. Ah, e tinha Esmeralda tamb��m! A bela Esme-

ralda, com sua pele escura e quente. Lembrou-se de uma

pretinha de quinze anos, que trabalhara em sua casa. Como

era mesmo seu nome? Marta.

Por��m Marta n��o tinha a sensualidade de Esmeralda.

Marta era apenas uma adolescente fogosa, com quem tinha

transado. N��o costumava dar muita aten����o ��s criadas.

Mas Marta fizera tudo para ir para a cama com ele. Quan-

do Norma viajara a Paris para passar um m��s l��, a cria-

dinha n��o podia se conter e tentava-o de todas as ma-

neiras.

Andava rebolando pela casa, lan��ando-lhe olhares.

Uma noite estava dormindo e sentiu como se uma

m��o lhe alisasse o corpo. Julgou que estava sonhando. E

a m��o continuou a lhe alisar, apalpando-lhe todas as par-

tes do corpo.

Ele abriu os olhos.

N��o estava sonhando.

Marta, sentada na cama, abra��ava-se a ele.

Olhou-a.

Ela sorriu.

Como era ousada!

E se ele a despedisse?

Mas Marta arriscara.

E ele n��o a despedira.

Ela abaixou o rosto, abrindo a boca que parecia que-

rer devor��-lo.

Ficou im��vel, deixando que Marta completasse seu

ato.

E g o z o u . . .

Todas as noites, durante toda a temporada de Norma

em Paris, Marta foi ao seu quarto. Transaram muitas

vezes.

18

Norma voltou.

Marta n��o apareceu mais no quarto, evidentemente.

Pouco tempo depois, deixou de trabalhar em sua casa.

Encontrou-a uma vez na rua. Ele vinha de carro,

quando a avistou com um cara. Ela o viu e, sorridente,

acenou-lhe com a m��o. Usava muita maquilagem e se ves-

tia com espalhafato.

Depois, n��o a vira mais.

Joel permanecia na janela, olhando as sombras do

jardim. Pela sua mente passaram outros casos que tivera.

Muitos. Muitos mesmo. Sempre dera sorte com as mu-

lheres.

Tamb��m n��o costumava escolher muito. Ca��a na rede,

era peixe. Desde os tempos de gin��sio, ficara famoso por

seu apetite sexual desenfreado. Mulheres horr��veis. Cada

uma que levava para a cama era, para ele, como se fosse

a pr��pria Marilyn Monroe.

��� N��o sei como voc�� c o n s e g u e . . . ��� diziam-lhe os

amigos.

��� Comigo �� s�� abrir as pernas. Quando a cara ��

muito feia, eu apago a luz. Ou boto o travesseiro em c i m a . . .

Lembrava-se particularmente de Palmira, uma soltei-

rona. Muito religiosa, tinha a pele do rosto toda esbura-

cada e com espinhas, um horror. O corpo era despropor-

cional, sem seios, os quadris enormes, as pernas grossas'

demais. Vestia-se com muito pudor, sempre de mangas

compridas e gola alta.

Morava perto de sua casa.

Um vizinho, seu companheiro de inf��ncia, desafiou-o:

��� Duvido que voc�� consiga dormir com Palmira.

��� Quanto quer apostar?

��� Meu rel��gio. Se voc�� perder, me d�� o seu.

��� Combinado.

A partir deste dia, Joel come��ou a rondar a velha sol-

teirona. Palmira devia andar pela casa dos cinq��enta anos.

Joel estava com vinte. Quando ela passava, ficava olhan-





19


do-a firmemente. A mulher baixava a vista e fazia que n��o

tinha notado. Mas por dentro estremecia dos p��s �� ca-

be��a.

Joel tinha plena consci��ncia de que era um rapaz bo-

nito. Muito bonito mesmo. E irresist��vel. E bastante macho.

Aos poucos dava a entender com atitudes variadas que

estava interessado em Palmira. Todas as vezes que ela pas-

sava, de volta de seu emprego (era funcion��ria p��blica),

ele a provocava com gestos libidinosos, a princ��pio de leve,

como se fosse sem querer. Depois come��ou a fazer acin-

tosamente.

Palmira seguia seu caminho, trocando as pernas e

suando frio.

Pensava:

Que descarado!

N��o ag��ento mais este moleque!

�� o fim do mundo!

Um garoto dessa idade e j�� t��o sem-vergonha!

Em que mundo estamos!

Est��o todos perdidos.

O que ele est�� pensando?

E o que est�� querendo?

Os pensamentos e as perguntas ��ntimas se sucediam

na mente de Palmira vertiginosamente, deixando-a cada

vez mais confusa e aflita.

��� Se ao menos eu tivesse outro caminho para voltar

para casa! N��o suporto mais ver aquele sujeitinho fazendo

aqueles gestos obscenos. Vou terminar louca! Louca!

E durante a noite, pensava que realmente ia enlou-

quecer. Suava. Sentia-se mal. Um calor percorria-lhe o

corpo. N��o, n��o podia ser. Ela n��o tinha aquele tipo de

desejo. Ela era pura. Iria manter-se pura at�� o final de

sua exist��ncia.

N��o seria com aquela idade, depois de tanto preservar

20

sua dignidade (ela quase que pensava virgindade), que

ia cair, deixar-se levar pelo pecado. Sim, ela n��o podia

dizer "virgindade", pelo simples fato de que n��o era virgem. Quando lembrava-se disso, um violento arrependi-

mento tomava conta de todo o seu ser.

E agora vinha aquele jovem tentando-a, tentando-a

sem parar. Que horror!

Ca��ra uma vez, era verdade, mas n��o cairia de novo.

Naquela ��poca, quando conhecera S��lvio, era jovem. (Nem

tanto, pois j�� tinha feito trinta anos.)

Fora uma loucura. Ele abusara de sua fraqueza, de

sua confian��a, de sua fragilidade de mulher. S��lvio a en-

ganara. Haviam come��ado a namorar na reparti����o. Ele

sempre muito gentil, muito atencioso. Faziam lanche jun-

tos. Almo��avam juntos. E sa��am do trabalho juntos.

Ele a pedira em casamento.

Ficaram noivos oficialmente.

Ele passara a freq��entar-lhe o apartamento.

Ela era uma mulher sozinha. Relutara bastante que

fosse at�� sua casa. Mas S��lvio tinha tudo de um homem

honesto. Com quarenta anos, solteir��o, de ��culos, palet�� e

gravata.

Como duvidar das inten����es de um homem assim?

E ela n��o duvidara. Confiara. At�� certo ponto, �� ver-

dade, mas confiara. A ponto de t��-lo deixado entrar em

seu apartamento.

S��lvio passou a tomar ch�� com Palmira todos os dias.

N��o passava disso. Pegava-lhe na m��o. Beijava-a. Tam-

b��m nas m��os. Depois, um ligeiro beijo na face.

At�� que um d i a . . .

N��o, n��o suportava pensar naquele dia.

S��lvio beijou-a na boca.

Afinal, n��o tinha nada demais.

Eram noivos.

De alian��a e tudo.

Com o nome dele e a inscri����o da data do noivado.

21

Um simples beijo.

N��o podia fazer mal a ningu��m.

O simples beijo, da segunda vez, foi seguido de um

leve ro��ar da m��o do homem em seu seio.

Pensou que n��o fora proposital.

Na vez seguinte, ele apertara-lhe o seio.

Ela pensou que ia desmaiar.

Mas n��o desmaiou.

S��lvio continuou apertando-lhe os seios, agora com so-

freguid��o.

Ela perdeu o ju��zo. S�� podia admitir que fora um mo-

mento s��bito de loucura. N��o sabia direito como tinha

acontecido. E j�� estava em sua cama, de len����is alv��ssimos

e cheirosos. Com ele por cima.

Mas S��lvio n��o tirara a roupa.

Nem ela.

N��o havia um perigo maior.

Nem vira quando ele come��ou a tirar as cal��as.

Se tivesse visto, teria se defendido.

As m��os do homem em suas coxas, levantando-lhe a

saia.

Puxando-lhe as calcinhas.

Tudo aconteceu muito r��pido.

Contorceu-se. Quis evitar.

Mas era tarde demais.

S��lvio enfiava-se furiosamente.

Uma dor horr��vel.

Que dor!

N��o, S��lvio, n��o!

Mas ele j�� estava l�� dentro.

E ela tamb��m.

Arrumaram-se. Ela ajeitou o vestido. N��o ousava

olh��-lo.

Ele despediu-se.

No dia seguinte, no emprego, voltaram a se encontrar.

Palmira esperou ansiosamente a hora do almo��o.

Procurou falar-lhe a s��s.

22

��� Precisamos marcar o casamento.

��� Por que tanta pressa?

��� Depois do que aconteceu o n t e m . . .

��� Ora, Palmira, n��o tem confian��a em mim?

��� Se n��o tivesse, n��o teria deixado.

��� Ent��o?

��� Quando a gente vai se casar?

��� Quando voc�� menos esperar.

E S��lvio a possuiu mais uma vez.

E outra.

E outra.

Ela tinha contado.

Vinte vezes num m��s.

No m��s seguinte, foi diminuindo.

Tr��s vezes por semana.

Depois duas.

Depois uma.

E Silvio n��o mais falou em casamento.

��� Quando a gente vai se casar, S��lvio?

��� Por que voc�� s�� fala nisso?

��� H�� muito tempo que n��o falo.

Ele se fez de zangado:

��� Se est�� t��o chateada por que ainda n��o casamos,

ent��o se afaste de mim.

��� Eu n��o e s t o u . . .

��� Est�� bem, Palmira, chega de lenga-lenga. �� me-

lhor acabarmos tudo.

E assim terminou o noivado.

Ela fora enganada de maneira vil.

Perdera a honra e o futuro marido.

E agora, duas dezenas de anos depois (ela n��o esti-

vera na cama com nenhum outro homem), mais precisa-

mente vinte e dois anos depois, aquele jovem a acom-

panh��-la, a fazer aqueles gestos. Nunca mais queria ho-

mem algum. Tivera apenas o S��lvio. O que n��o queria di-

zer que fosse uma "qualquer".

Mas Joel precisava ganhar a aposta. N��o propriamen-

23

te por causa do rel��gio. O rel��gio pouco interessava. O

que importava era mostrar que ele era o "bom".

��� Como vai?

Palmira n��o respondeu.

��� Por que tanto orgulho?

Ela continuou calada.

��� Somos vizinhos h�� tanto t e m p o . . . N��o vejo ne-

nhum mal em falar comigo.

Ela finalmente respondeu:

��� O que est�� querendo?

��� Apenas lhe cumprimentar.

��� S�� isso?

��� Que mais eu poderia querer? ��� respondeu Joel, fa-

zendo gestos obscenos, que Palmira tanto odiava e que

tanto a atra��am ao mesmo tempo.

Ela virou-se e n��o lhe deu mais aten����o.

��� Ent��o, n��o conseguiu nada ainda? ��� perguntou-

lhe mais tarde, com ar de tro��a, o amigo com quem apos-

tara.

��� Preciso de um pouco de tempo.

��� Est�� dif��cil, n��o ��? Voc�� n��o vai conseguir.

��� Vou ��� disse Joel com determina����o.

Uma noite de s��bado, entrou no edif��cio onde Palmira

morava e tocou-lhe a campainha do apartamento (infor-

mara-se primeiro com o porteiro).

Ainda era cedo, Palmira abriu a porta julgando que

fosse o s��ndico que ��s vezes passava para contar alguma

novidade. N��o era. Era o jovem t��o temido.

��� Voc��?!

��� Em carne e osso.

��� O que veio fazer?

��� Bater um papo.

��� Eu tenho mais em que me ocupar.

��� Numa noite de s��bado?

(Palmira n��o tinha absolutamente nada para fazer,

a n��o ser ler um livro muito chato, intermin��vel.)

��� Por que est�� me perseguindo?

24

��� Eu?!

��� Voc��, sim.

��� N��o me convida para entrar?

Palmira bateu-lhe a porta na cara.

Ficou com o ouvido colado por tr��s da porta, a fim

de escutar os passos do jovem se afastando. Mas tal n��o

aconteceu. Tudo permanecia em sil��ncio. Ela ardia como

se tivessem riscado um f��sforo em seu vestido. O cora����o

parecia querer saltar-lhe pela boca.

Aquele rapaz era o pr��prio dem��nio. Tentando-a. De-

via ainda estar atr��s daquela porta. Apenas um peda��o,

de madeira separava os dois corpos.

Desistiu de esperar ouvir os seus passos afastando-se.

Encaminhou-se at�� a sala do apartamento. Tremia. Pegou

um copo e colocou um pouco de vinho. Ainda n��o jantara.

O vinho era para acompanhar o jantar. Mas precisava to-

mar alguma coisa para passar aquele tremor.

Bebeu o conte��do do copo. E encheu-o outra vez.

O est��mago vazio. O efeito do vinho foi r��pido. Sen-

tiu-se melhor. E com mais coragem.

Tomou outro copo de vinho.

Pensou que, se continuasse, beberia a garrafa inteira

antes do jantar.

Deviam ter passado uns cinco minutos. Certamente o

jovem tinha ido embora. Foi at�� a porta. Observou pelo

olho m��gico. N��o o viu. Abriu a porta. Com surpresa,

avistou-o mais adiante no corredor, esperando-a...

Hesitou.

O jovem tornou a aproximar-se.

��� Por que tem tanto medo de mim?

��� N��o tenho medo de ningu��m.

��� Ent��o?

��� Voc�� mora aqui perto, n��o ��?

��� Moro. J�� disse que sou quase seu vizinho.

Aquele rapaz a excitava. Palmira teve que se contro-

lar, a fim de que n��o fizesse o que realmente tinha von-

tade, ou seja, abra����-lo.

25

��� Por que voc�� se reprime tanto? Deixe-me entrar.

S�� um pouquinho...

E Joel n��o esperou que ela o convidasse. Como a porta

estava aberta, afastou-a e entrou no apartamento. Pal-

mira permanecia im��vel, sem a����o. Ele fechou a porta e

a envolveu num forte abra��o.

Tudo aconteceu com a rapidez de um rel��mpago, ou

de um del��rio. Nunca poderia explicar como foi parar na

cama, nua, com o rapaz tamb��m nu, por cima.

Palmira pensou que ia enlouquecer.

Aquele rapaz machucando-a.

A dor, o prazer, o del��rio.

Sentia como se estivesse no c��u e no inferno ao mes-

mo tempo.

Joel gozou e logo a seguir se desvencilhou da soltei-

rona extenuada. Levantou-se, vestiu-se rapidamente e saiu,

n��o se dando ao trabalho de fechar a porta do aparta-

mento.

Palmira deixou-se ficar na cama, em desespero. Quis

reanimar o corpo dolorido, mas n��o conseguiu. Teve uma

crise de choro. O choro aumentou e quase gritava. De re-

pente, tomou consci��ncia de que os vizinhos podiam ouvir.

Sufocou os solu��os quase imediatamente.

S�� ent��o raciocinou melhor. Estava nua em cima da

cama. O jovem demon��aco fora embora. A porta devia es-

tar aberta. Como se tivessem ligado nela um bot��o el��-

trico, pulou da cama e vestiu-se ��s pressas. Correu para

fechar a porta. Deu de cara, n��o com Joel, mas com dona

Alzira, a vizinha do lado.

��� Que horror, Palmira!

��� Por que esse espanto todo?

��� Voc�� foi assaltada?

��� N��o.

��� Acho que ouvi gemidos, gritos e choros.

��� Foi impress��o.

��� Parecia vir daqui do seu apartamento. Por isso

vim ver o que se passava.

26

Palmira olhou disfar��adamente para o corredor, com

receio de que o rapaz com quem acabara de ir para a cama

ainda estivesse por ali. Mas n��o estava. Suspirou aliviada.

��� Foi engano seu, Alzira.

��� Mas sua c a r a . . .

��� O que �� que tem minha cara?

��� E seu vestido?

Palmira olhou para si mesma e viu com terror que

sua roupa estava pelo avesso. A vizinha no m��nimo pen-

saria que ela ficara maluca.

��� Tive um pesadelo.

��� J�� sei. Comeu demais no jantar e foi logo se deitar.

Palmira esbo��ou um sorriso:

��� Isso mesmo.

��� N��o devia fazer isso, Palmira. Faz mal.

��� Eu sei.

��� Quando acabar de jantar, por que n��o vai at�� meu

apartamento? Pelo menos anda um pouco, conversa, faz

a digest��o.

��� Vou seguir seu conselho.

��� E por que a porta estava aberta? ��� perguntou a

vizinha novamente curiosa.

��� Eu tinha esquecido.

��� Outra coisa perigosa.

��� �� verdade.

��� Podia ter entrado um ladr��o.

��� �� . . .

��� Voc�� nunca deixou a porta aberta.

��� Nunca.

��� Voc�� est�� passando mal. Meu Deus, Palmira, voc��

est�� passando mal e n��o quer dizer.

��� N��o �� nada, Alzira. Pode ficar despreocupada. J��

estou melhor.

(A solteirona estava ansiosa que a vizinha sumisse.

Odiava sua solicitude. Mas n��o podia enxot��-la.)

��� Se precisar de alguma coisa durante a noite, �� s��

chamar.

27

��� Muito obrigada.

E a outra foi embora. Palmira fechou a porta. Suspi-

r o u . Estava livre da vizinha. Mas n��o estava livre da lem-

bran��a do que acontecera h�� poucos instantes. Encostou-se

na parede, procurando apoio.

Tinha sido terr��vel. Aquele animal, sim, porque n��o

era um homem, aquele animal a ferira mortalmente. Nun-

ca mais se recuperaria, nunca mais se recuperaria...

N��o jantou naquela noite. Tomou um comprimido para

dormir, mesmo sabendo que poderia fazer mal, misturado

com o vinho que bebera. Mas nada lhe importava. Talvez

a t �� . . . talvez at�� fosse melhor n��o acordar m a i s . . .

* * *

Joel correra at�� a esquina onde encontrara o amigo

com o qual apostara. Tinha ganho. Acabara de ir para

a cama com Palmira. O outro vira quando ele entrara no

apartamento da solteirona (fora at�� o corredor e escon-

dera-se perto da lixeira) e n��o podia duvidar. Al��m disso,

Joel trazia a calcinha da mulher como prova.

N��o havia como contestar que Joel era invenc��vel,

ningu��m, mas ningu��m mesmo, lhe resistia.

* * *

Por��m, no dia seguinte, Palmira acordou. Foi quando

deu por falta de sua calcinha. Procurou embaixo da cama,

do arm��rio, dos m��veis. Por todos os cantos e nada. Onde

estaria sua calcinha?

N��o costumava perder nada. Sem d��vida, fora aquele

bandido que a carregara.

Nas noites seguintes, no entanto, sonhava sempre com

Joel. Ele a agarrando, ele a penetrando, ele batendo-lhe.

E acordava louca de desejo.

"Ah, Joel, por que foi fazer isso comigo? E ainda por

cima me deixando com vontade de repetir tudo de novo?"

28

Esperava ansiosamente encontr��-lo outra vez. Mas Joel

sumira. Como todos os homens, ap��s conseguir o que

queria.

Deixava a porta apenas encostada, escutando atenta-

mente se vinham passos pelo corredor. Deixaria que Joel

entrasse. Mas o rapaz era mesmo ingrato.

Nunca mais apareceu.

* * *

Joel saiu da janela e sentou-se junto �� m��quina de

escrever. Sentia-se inspirado. Acabaria as duas p��ginas que

faltavam para terminar a primeira parte do romance em

pouco mais de meia hora.

Assim que terminou, chamou:

��� Norma!

A esposa apareceu alguns instantes depois.

Ele entregou-lhe os originais:

��� Est�� mesmo disposta a ler?

��� Mas claro, Joel.

E Norma pegou as p��ginas de papel datilografadas.

Voltou para a sala, recostou-se confortavelmente na pol-

trona e come��ou a ler.

29

CAP��TULO 3

O ROMANCE

"Cl��udio e Ros��lia transpuseram o port��o de ferro da

mans��o. Atravessaram o jardim at�� chegar junto aos de-

graus que levavam ao interior da casa. Ele parou de s��-

bito. Ros��lia olhou-o.

��� O que foi?

Cl��udio sorriu.

��� N��o quer entrar? ��� perguntou a jovem meio per-

turbada.

O rapaz abaixou-se e tomou-a nos bra��os. Ros��lia sor-

riu. Exatamente como nos filmes. Ela entrando na mans��o

nos bra��os do homem que ia amar pelo resto da vida.

Ele subiu os degraus, deu dois passos e teve que co-

loc��-la no ch��o outra vez. Tirou a chave do bolso e abriu

a porta. Tornou a bot��-la nos bra��os e entrou.

Beijaram-se longamente.

Ros��lia sentia-se indefesa, fr��gil. Tinha deixado para

tr��s a festa na casa dos pais, os convidados, a alegria, o

champanha estourando, as m��sicas, as vozes das pessoas

falando todas ao mesmo tempo.

Agora estava ali, sozinha com aquele que dentro de

alguns instantes seria o seu homem, seu primeiro e ��nico

homem. Tremia de curiosidade, de desejo.

��� Enfim, s��s!

Os conselhos da m��e, os risinhos maliciosos das ami-

gas, as longas tardes e noites esperando que aquele dia

chegasse logo. Os sonhos de mocinha que lia romances

��gua-com-a����car. O pr��ncipe encantado.

30

��� Enfim, s��s!

Tinha realmente encontrado um verdadeiro pr��ncipe

encantado. Cl��udio era bonito. Com seus enormes olhos

negros, pestanas compridas, e aquelas olheiras que lhe da-

vam um ar t��o misterioso.

��� Enfim, s��s!

Aquelas olheiras deviam ser resultado das noites em

claro que passava nos bord��is com mulheres. Ros��lia sen-

tiu um arrepio ao pensar. Aquelas mulheres. Estremeceu.

Como podia um homem dormir com qualquer mulher?

��� Enfim, s��s!

Os homens, ah, os homens! Sua m��e repetia: "Os ho-

mens n��o s��o como n��s mulheres, minha filha. Eles s��o

diferentes. V��o para a cama com qualquer uma. Eles n��o

t��m nojo de nada. N��s, n��o."

��� Enfim, s��s!

Ros��lia n��o poderia nem imaginar que pudesse ser

possu��da por um homem qualquer. Tinha que haver amor,

muito amor. Tudo muito suave, muito bonito. O para��so

na terra. Era isso que esperava de Cl��udio.

��� Enfim, s��s!

Sentiu a l��ngua dele procurando a sua. Nunca tinham

se beijado assim antes. Achou gostoso. A m��o de Cl��udio

procurando-lhe abrir o vestido para pegar em seus seios.

��� Cuidado, Cl��udio.

��� Cuidado por que? N��o estamos casados?

��� Os c r i a d o s . . .

��� Vamos para o quarto.

Foram para o quarto. Ele encostou a porta e deu a

volta na chave.

Ros��lia viu que tinha chegado o momento, a hora H.

Sentiu vergonha. Ficar nua na vista de Cl��udio. N��o te-

ria coragem. Mas era preciso. N��o poderia ficar com aque-

le vestido de noiva, imenso, v��u e tudo.

Ele come��ou a tirar-lhe a roupa.

Cl��udio pediu para fechar as cortinas, apesar das ja-

nelas j�� estarem fechadas.

31

Na semi-escurid��o era mais f��cil.

Cl��udio tirou a pr��pria roupa.

Ela n��o ousava olh��-lo e continuava ainda com o ves-

tido. S�� estava sem o v��u e a grinalda.

Ele aproximou-se completamente nu, com um sorriso.

Ros��lia n��o p��de evitar de olhar para ele. N��o, n��o ia

ag��entar. Sentiu p��nico.

��� Tenho medo.

��� Medo de que, minha pombinha?

E Cl��udio esfregou seu nariz no nariz da jovem es-

posa.

E come��ou a tirar-lhe o vestido, as an��guas, tudo.

Ros��lia cruzou os bra��os cobrindo os seios, ao mesmo

tempo que gostaria de ter outros dois bra��os, ou pelo me-

nos um, para esconder suas partes ��ntimas.

Cl��udio encostou-se nela. Ainda estavam em p��.

Foram para a cama.

Cl��udio alisava-lhe as coxas, acariciava-lhe os p��los.

(Que vergonha! Mas �� t��o gostoso!)

Ele procurou ser delicado. Foi fazendo tudo aos poucos,

devagarzinho.

Ros��lia sentiu-se transportada para um outro mundo

que ainda n��o conhecia. Um mundo em que o prazer se

misturava com a dor, em que os dois corpos eram como

um s �� . . .

(Muito melhor do que eu imaginava. Ai, como �� bom...)

E Cl��udio l�� dentro, fazendo movimentos ritmados.

(Ai, n��o aguento mais! O que �� isso?! Ai, ai...)

Gemia. Gemia. Gemia.

Tinha vergonha de seus gemidos. Mas n��o podia con-

t��-los.

��� Ai, Cl��udio, C l �� u d i o . . .

E gozou.

Ele tamb��m.

* * *

32

Corria o ano de 1925. Os dias passavam r��pidos: A

lua-de-mel parecia que duraria indefinidamente. E Ros��lia

sentia-se feliz. Nem por um instante pensaria que aquela

felicidade pudesse terminar algum dia.

As semanas, os meses passaram. A vida escorria tran-

q��ila. Eram ricos. Cl��udio sa��a para trabalhar. Os criados

cuidavam de tudo. Ros��lia gastava suas longas manh��s e

tardes vazias lendo romances.

Quase nada mudara em sua vida. Residia em outro

lugar. As noites eram diferentes. S�� isso. O resto, conti-

nuava como antes.

Visitava os pais. Estes a visitavam. Os pais de Cl��udio

tamb��m eram visitados e tamb��m os visitavam. As amigas

apareciam de vez em quando. E nos fins de semana ela ia

com Cl��udio ao cinema ou ao teatro ou fazia algum pas-

seio.

Durante dez meses nada se modificara. A m��e, a so-

gra, as amigas perguntavam:

��� Alguma novidade?

��� N��o.

N��o, ela ainda n��o estava gr��vida. Tamb��m n��o que-

ria logo um filho. Para qu��? Eram muito jovens. Os filhos

deviam vir mais tarde. Estava muito contente em n��o ter

concebido ainda. Era muito melhor assim.

* * *

Uma das empregadas foi embora. E foi "admitida outra

em seu lugar. Esmeralda. Uma mulata muito bonita, de

formas exuberantes. Ros��lia teve receio, muito receio mes-

mo e lembrava-se das palavras da m��e. "Os homens n��o

s��o como n��s mulheres, minha filha. Eles s��o diferentes.

(E como eram!) V��o para a cama com qualquer uma. Eles

n��o t��m nojo de nada. N��s, n��o."

Ela nunca dormiria com outro homem. Mas Cl��udio

tinha aquelas olheiras que denunciavam as farras. (�� bem

verdade que depois de casado, as olheiras haviam ficado

33

menos intensas. Uma prova de sua fidelidade. N��o mais

se entregava aos prazeres da carne com qualquer uma,

como antes.)

Mas Esmeralda era uma amea��a. Agora Ros��lia sen-

tia que fora um erro t��-la admitido. No entanto, n��o tinha

o que dizer da empregada. Cumpria suas obriga����es, n��o

havia o que reclamar.

Os temores de Ros��lia eram infundados. Cl��udio nota-

ra a beleza da mulata, era ��bvio, mas nem de longe pen-

sara em trair a esposa dentro de sua pr��pria casa.

(Quando queria variar, ia a uma das casas de mu-

lheres que freq��entava quando solteiro. Inventava um tra-

balho at�� mais tarde no escrit��rio. Ia l��, satisfazia-se. Vol-

tava para casa leve. E se Ros��lia tamb��m queria, ele es-

tava firme, pronto a gozar de novo. Afinal, era bastante

jovem. For��as n��o lhe faltavam.)

Esmeralda, por seu lado, tamb��m n��o dava a m��nima

para o patr��o. Sabia que os dois tinham se casado recen-

temente. Depois, n��o estava a fim de perder o emprego,

de se meter em complica����es.

E em ��ltima an��lise, e a�� vinha o argumento mais

forte, n��o sentia atra����o por aquele branco desenxabido,

uma vez que era muito bem servida por seu amante, Os-

valdo, um estivador, negro como um escravo, alto como

uma est��tua, forte como um touro.

O ��nico problema que enfrentava era n��o poder se

encontrar com Osvaldo todas as noites. Ele era casado. S��

podia v��-lo tr��s vezes por semana. Mas este problema era

antigo. De antes mesmo de se empregar ali. Tinha que se

conformar.

Como a mans��o era enorme, os quartos dos emprega-

dos ficavam em outra ala. Havia mais quartos do que o

necess��rio para a quantidade de criados, uma vez que Ro-

s��lia e Cl��udio, vivendo sozinhos, sem filhos, n��o preci-

savam de muitos empregados.

Assim, Esmeralda, logo que come��ara a trabalhar, pre-

feriu ficar no ��ltimo dos quartos, desocupado. N��o havia

34

ningu��m dormindo no aposento ao lado. Pelo jardim, Os-

valdo poderia entrar sorrateiramente ��s altas horas, ir para

sua cama, sem que ningu��m descobrisse. Claro que n��o

fez isso logo. Deixou passar uns dois meses.

E quando viu que n��o tinha mais perigo, que havia

adquirido a confian��a dos patr��es e dos outros empre-

gados, Esmeralda fez com que Osvaldo viesse v��-la nos dias

pares (como sempre acontecera: segunda, quarta e sexta).

Era bem melhor e bem mais c��modo do que ter que

sair para encontr��-lo e voltar de madrugada para Santa

Teresa, perdendo o ��ltimo bonde e tendo que subir v��rias

ladeiras a p�� e chegar morta de cansa��o.

Osvaldo passou ent��o a freq��entar o quartinho dia

sim, dia n��o. Nunca aos domingos (por causa da mulher

com quem era casado).

Ningu��m desconfiou de nada. Tudo tamb��m transcor-

ria muito tranq��ilamente para Esmeralda.

* * *

Ros��lia virou-se na cama mais uma vez. Olhou para

o lado e viu o marido dormindo como um anjo. No entan-

to, ela estava com ins��nia. N��o conseguia adormecer de

jeito nenhum. Talvez tivesse dificuldade de conciliar o sono

por causa de sua vida muito sedent��ria.

Precisava fazer exerc��cios, movimentar-se mais duran-

te o dia, arrumar alguma coisa, despender esfor��o f��sico.

Assim, �� noite, com o corpo cansado, n��o teria tanta di-

ficuldade em dormir.

Levantou-se para tomar um copo de ��gua. Foi at�� a

sala. Tomou a ��gua. Voltou para o quarto. Dirigiu-se ��

janela. Abriu-a. Uma leve brisa soprava, fazendo com que

a cortina ondulasse.

Sentiu-se bem. Respirou o ar puro. Ouviu os ru��dos dos

insetos, que faziam o sil��ncio parecer mais silencioso. Uma

calma absoluta. E Ros��lia tornou a pensar em como era

feliz (apesar da ins��nia). E bocejou. Estaria j�� com sono?

35

Foi a�� que viu. Ou pensou ver. N��o, n��o poderia ter

visto. Era impress��o. Esfregou os olhos. Abriu-os de novo.

E tornou a ver.

Um vulto.

Um vulto na escurid��o do jardim.

Deviam ser apenas as sombras das ��rvores, das plantas.

Mas n��o eram sombras.

Podia-se perceber que tinha a forma de um homem.

Um homem enorme. Mas um homem.

Ele passou correndo, com passos largos e silenciosos.

Dirigiu-se ao port��o.

Escalou as grades de ferro.

E pulou para o lado de fora.

O grito que Ros��lia pensara em dar ficou preso na

garganta.

Um ladr��o?

Talvez.

Acordaria o marido e lhe contaria o que vira?

Ficou em d��vida.

O vulto h�� muito desaparecera na escurid��o da rua

mais adiante.

Ros��lia fechou a janela.

Deitou-se.

Chegou a fazer um gesto para acordar o marido.

Mas ele dormia como um anjo.

Desistiu.

Tentou dormir.

* * *

Comentou com Cl��udio no outro dia:

��� Tenho a impress��o de que vi um ladr��o no nosso

jardim ontem �� noite.

��� Ladr��o?

��� Sim. S�� podia ser.

E Ros��lia contou-lhe sobre a ins��nia, que abrira a ja-

nela e o vulto que avistara.

36

��� Foi impress��o.

��� Espero que sim.

��� Dev��amos ter um cachorro aqui.

��� Tenho muito medo de cachorros. Voc�� sabe que

quando era menina, um avan��ou para mim e me mordeu

no rosto. Quase ficava desfigurada.

E Ros��lia mostrou uma pequena marca na face es-

querda. Lembran��a da antiga mordida. Agora, quase im-

percept��vel.

��� Desde ent��o fiquei com pavor de cachorro.

��� De qualquer jeito n��o tem perigo. Todas as nossas

portas e janelas t��m ferrolhos de seguran��a. Al��m disso,

n��o acredito que voc�� tenha visto nada. Foi apenas uma

sombra.

(Uma sombra que se movia? ��� pensou Ros��lia).

Cl��udio adivinhou-lhe o pensamento:

��� O vento. N��o estava ventando?

��� Estava.

��� Ent��o? O vento nas ��rvores, as folhas balan��ando.

Voc�� com ins��nia. Cansada. Com um temperamento im-

pression��vel. Pensou que viu um vulto, mas n��o viu.

E Cl��udio a beijou.

E foi trabalhar.

* * *

Na noite seguinte, com o cora����o batendo forte, Ro-

s��lia aproximou-se da janela. Hesitou. Abriu-a um pouco,

apenas o suficiente para que pudesse ver o jardim. A luz

do quarto apagada. Esperou. Esperou bastante. E n��o viu

nada.

Fora mesmo impress��o. Cl��udio estava certo.

Mas na outra noite, novamente foi olhar. Na mesma

hora em que duas noites antes pensara ter visto o vulto.

E o viu de novo.

O cora����o aos pulos. O vulto fez o mesmo itiner��rio.

37

Passou entre ��rvores e plantas. Depressa. Alcan��ou o por-

t��o, pulou para o lado de fora e desapareceu na rua.

O mesmo tamanho. Enorme. Um homem alto, muito

alto.

Mas o que faria aquele ladr��o ali, se n��o roubava

nada? Ent��o n��o era um ladr��o.

N��o contou nada a Cl��udio, desta vez.

E decidiu observar, continuar observando.

Um dia, o vulto aparecia. No outro, n��o. Mas sempre

�� mesma hora.

Foi ent��o que uma luz acendeu em seu c��rebro.

Esmeralda.

Sim, era isso. S�� podia ser isso.

Durante o dia observava tamb��m a copeira, para ver

se descobria alguma atitude suspeita. Mas a mulata per-

manecia a mesma. Deduziu que prestar aten����o ��s atitudes

de Esmeralda n��o lhe levaria a nada. Tinha era que obser-

var o misterioso vulto.

Foi quando resolveu colocar-se em seu posto de obser-

va����o mais cedo. Alguma coisa lhe agu��ava a curiosidade

de maneira anormal. Tinha que descobrir tudo.

Assim que Cl��udio adormeceu, foi para junto da ja-

nela. Ficaria ali o tempo que fosse necess��rio. E viu ent��o

o homem entrando e dirigindo-se para o lado de onde sem-

pre aparecia de volta, pela madrugada. E aquele lado do

jardim era o que dava acesso aos quartos dos empregados.

N��o tinha d��vidas. Aquele homem era o amante de

Esmeralda.

Devia revelar a descoberta a Cl��udio?

Preferiu calar-se.

Duas semanas depois, fez outra descoberta. Que o ho-

mem aparecia sistematicamente ��s segundas, quartas e

sextas-feiras.

* * *

38

Ros��lia viu o homem entrar no jardim. Deu um tem-

po. Estava decidida. N��o era um ladr��o. Nada podia temer.

Saiu do quarto sorrateiramente. Atravessou a sala sem

fazer o menor ru��do. Desceu pela porta dos fundos e diri-

giu-se �� ala onde ficavam os quartos dos criados. Foi di-

reto para o de Esmeralda.

Notou pelas frestas da porta que a luz estava acesa

l�� dentro. Tr��mula, olhou pelo buraco da fechadura. Ficou

im��vel. E o que viu surgiu como um espet��culo magn��fico

a seus olhos.

Esmeralda, com seu corpo maravilhoso, deitada na

cama, de pernas abertas e nua. O homem ainda em p��,

estava nu tamb��m. Era bem negro, fort��ssimo, um ver-

dadeiro touro.

Ele sorriu e mostrou os dentes muito alvos.

E deitou-se por cima.

Ros��lia n��o podia descrever o que sentia naquele mo-

mento.

Mas o fato foi que n��o despregou os olhos do que es-

tava vendo.

O possante negro entrando em Esmeralda. Os dois for-

mando como que um s�� bloco, apenas com uma ligeira di-

feren��a de cor. Ele mais escuro, ela mais clara.

Dois belos animais fogosos, interpenetrando-se.

E sorrindo, fazendo amor com uma alegria como ela

nunca vira.

Inveja?

Ci��me?

Desejo?

Prazer?

Podia ser qualquer uma destas coisas, ou todas elas

Juntas. Mas o fato era que Ros��lia n��o sentia nojo. N��o,

isso n��o. Muito pelo contr��rio.

Viu o ato inteirinho. Os dois gozando, procurando n��o

fazer barulho.

E alegres e sorridentes.

Quando eles terminaram, Ros��lia retirou-se imediata-

39

mente, com receio de ser surpreendida. Correu at�� o inte-

rior da casa. Trancou a porta por dentro. Correu de novo

at�� seu quarto, foi para tr��s da janela e a entreabriu.

E em poucos instantes, viu o vulto saindo, correndo

entre as ��rvores, chegando ao port��o, pulando para fora.

* * *

Ros��lia passou o dia seguinte nervosa. Estranhamente

nervosa. E o outro dia tamb��m. Esperava ansiosamente

que chegasse a hora do homem aparecer.

E novamente foi observ��-lo fazendo sexo com Esme-

ralda.

Aquilo virou uma obsess��o. Ela n��o sabia bem por qu��.

Mas tinha uma necessidade vital de ir ver os dois na cama.

E assim fez, dia sim, dia n��o.

N��o revelou nada a Cl��udio.

Um m��s depois, este lhe disse:

��� Vou ter que ir �� fazenda que meus pais possuem

em Mato Grosso.

��� Detesto vida de fazenda.

��� Eu sei disso. Voc�� n��o precisa ir.

��� Vai me deixar sozinha?

��� O que posso fazer? As coisas n��o est��o indo bem

por l��. O homem que cuidava da fazenda est�� muito doen-

te. Meus pais receberam a not��cia esta semana. Eles j��

est��o velhos. Meu irm��o n��o �� de nada. Eu tenho que ir

para botar as coisas em ordem.

��� Quanto tempo vai demorar?

��� N��o sei. D e p e n d e . . .

��� Que chato!

��� Garanto que n��o vou passar mais de um m��s.

��� Se n��o tem outro j e i t o . . .

Cl��udio viajou.

* * *

40

Atrav��s do buraco da fechadura, Ros��lia mais uma

vez via Esmeralda e seu amante. Correu para dentro de

casa, como sempre fazia e foi observar a sa��da do homem

por tr��s da janela entreaberta.

Alguma coisa estava tomando forma dentro de sua

mente. Ela n��o sabia precisar o que era. Ou sabia. Mas n��o

queria admitir.

Viu o homem ganhar a rua e voltou para o seu leito,

sozinha.

Mais nervosa e ansiosa do que nunca, esperou que

passasse o dia seguinte e o outro, quando o amante de

Esmeralda voltaria. Como de costume os viu atrav��s da

fechadura. Voltou para seu quarto. Mas mudou um pouco

seu ritual.

Em vez de deixar o quarto ��s escuras, Ros��lia acendeu

a luz e abriu a janela. E foi para l�� onde ficou esperando.

Atra��do pela luz da janela, o negro olhou para o ret��n-

gulo iluminado, quando ia atravessar o jardim. E viu a mu-

lher. Olhou-a de relance. Parou atr��s de uma ��rvore e ficou

escondido. N��o sabia se esperava ou n��o que ela se reti-

rasse da janela para poder fugir.

Alguns instantes depois, tornou a mulher. E a mulher

continuava l��. S�� que teve a impress��o de que agora estava

nua. (Com efeito, Ros��lia despira a camisola de dormir

e deixara-se ficar na janela com os seios de fora.)

Osvaldo sentiu o desejo domin��-lo. "S�� podia ser de

prop��sito" ��� pensou. N��o era homem de ter medo. Saiu

de seu esconderijo e come��ou a andar em dire����o �� janela,

devagar.

Ros��lia permanecia im��vel, como uma est��tua, em seu

pedestal. Ele olhou a carne alva como o m��rmore das es-

t��tuas. E quase hipnotizado postou-se diante da janela.

Ela n��o baixou a vista. Parecia nem sequer pestanejar.

O negro encarou-a.

Mas ela tamb��m n��o teve medo. O olhar dele n��o

transmitia outra coisa a n��o ser desejo.

41

E Ros��lia movimentou-se, adquirindo uma atitude hu-

mana. Sua express��o tamb��m n��o escondia o desejo.

Osvaldo galgou a janela e pulou para dentro do quar-

to. Ros��lia fechou a janela e o negro a abra��ou. Era aque-

le o momento que ela h�� muito vinha desejando.

Apesar de ter acabado de possuir Esmeralda, todo o

corpo do homem latejava. Ele tamb��m despiu-se.

Ros��lia queria que ele a penetrasse, lhe rasgasse as

entranhas, a queimasse por dentro.

Deitou-se no leito imaculado, no qual s�� se entregara

at�� ent��o ao marido. Abriu as pernas despudoradamente,

tal e qual Esmeralda. E o negro penetrou-lhe com viol��ncia.

N��o podia deixar de reconhecer. Era melhor do que

Cl��udio, muito melhor do que Cl��udio. Onde estava o nojo

de que lhe falara a m��e?

N��o trocaram uma ��nica palavra.

Quando acabaram, Osvaldo sorriu. E mostrou os den-

tes alv��ssimos. "�� um homem muito bonito" ��� pensou Ro-

s��lia.

O negro vestiu-se e dirigiu-se para a janela. Antes de

ir embora, virou-se e perguntou quase sussurrando, com

sua voz muito grossa e rouca:

��� Quer que venha de novo?

��� Quero.

* * *

N��o podia deixar de ver em Esmeralda uma rival. Ro-

s��lia passou mesmo a odi��-la. Tinha ci��mes da outra.

Quando o negro viesse para sua cama (ainda n��o sabia

o nome dele), j�� vinha da cama de Esmeralda.

Isso a atormentava e a fazia ficar possessa. Exigiria

que s�� viesse encontr��-la, que deixasse a empregada...

Mas pensou que seria perigoso. Esmeralda poderia des-

cobrir. E Cl��udio, quando voltasse? Desejou que n��o vol-

tasse nunca, que ficasse na sua fazenda, no meio de seu

gado.

42

Passou o dia e o outro, irritada, nervosa, brigando

com tudo e com todos, por causa de qualquer coisa.

At�� que chegou a noite e Osvaldo apareceu, como sem-

pre, de volta do quarto da empregada. Ros��lia de novo en-

tregou-se a ele com ardor. Tinha certeza agora de que n��o

mais podia viver sem aquele homem.

Mas ao mesmo tempo sabia que isso era imposs��vel.

Cl��udio regressaria e ela teria que acabar com aqueles en-

contros. N��o havia outra solu����o. A ��nica coisa a fazer

seria aproveitar o m��ximo enquanto o marido estivesse

longe.

Procurou acalmar o ci��me que sentia de Esmeralda e

julgava-se infeliz por estar presa a Cl��udio.

Gostaria de ser livre.

As noites se sucederam, com Osvaldo visitando sua

cama em dias alternados. Usufruiu o mais que p��de aque-

las noites, que acabariam muito breve.

Cl��udio voltou. Ros��lia n��o mais p��de abrir sua ja-

nela para o negro pular. Um t��dio mortal tomou conta de

todo o seu ser. Ardia de desejo de voltar a ser possu��da por

Osvaldo.

Ficava as noites em claro, vendo as horas passarem,

enquanto sabia que seu amante estava no quarto de Esme-

ralda.

N��o mais foi espi��-los pelo buraco da fechadura, pois

temia n��o suportar o sofrimento.

Cada vez mais nervosa, Ros��lia teve um momento

de alegria quando o marido lhe avisou que naquela noite

voltaria para casa bastante tarde. Jantaria com um dos

s��cios da firma. Tinham muitos neg��cios a resolver.

(O que n��o correspondia �� verdade. Ele iria a uma

das casas de mulheres que costumava freq��entar de vez

em quando.)

Era uma quarta-feira.

Dia em que Osvaldo viria encontrar Esmeralda. Ros��-

lia ficou contente. Aproveitaria aquela oportunidade. Sa-

43

bia que era arriscado. E se Cl��udio chegasse a tempo de

surpreend��-la com o homem?

Mas nada podia impedi-la. N��o suportava mais a

aus��ncia t��o prolongada de Osvaldo.

Assim, colocou-se na janela desde cedo, mais ou me-

nos na hora em que ele ia para o quarto da empregada.

Quando Osvaldo pulou o port��o do jardim, viu a janela

aberta e iluminada. Ros��lia fez um sinal com a m��o, cha-

mando-o. O homem obedeceu. Tamb��m sentia falta do cor-

po de Ros��lia.

Pulou a janela. Perguntou:

��� E seu marido?

��� Vai chegar mais tarde.

��� N��o tem perigo?

��� N��o.

��� Tem certeza?

Ela n��o respondeu mais. N��o queria perder um mi-

nuto sequer. Levou-o para a cama. Mais excitado do que

nunca, Osvaldo apertava o corpo da mulher.

Todo aquele tempo sem terem rela����es tinha aumen-

tado o desejo de Ros��lia. N��o lhe importava mais nada a

n��o ser que ele a penetrasse com viol��ncia, a fizesse gozar.

O marido que se danasse. Esmeralda tamb��m.

Foi nesse instante que Cl��udio abriu a porta, sem que

nenhum dos dois, absorvidos em seu ato de amor, escutasse

o barulho.

Ao ver o quadro, sua mulher com outro na cama, Cl��u-

dio teve a impress��o de que ia vomitar.

Os dois n��o se deram conta de sua presen��a, e ele

ent��o dirigiu-se vagarosamente at�� uma gaveta e pegou

o rev��lver. Come��ou a atirar furiosamente na dire����o dos

dois amantes.

Os estampidos, os gritos, o len��ol sujando-se de sangue.

Os empregados da casa acordaram.

Esmeralda que ainda esperava por Osvaldo tamb��m

saiu do seu quarto.

44

Todos se dirigiram para o local de onde tinham vindo

os gritos e os tiros.

Encontraram Cl��udio cabisbaixo, com o rev��lver ain-

da na m��o, Ros��lia e Osvaldo mortos, na cama.

Esmeralda deu um grito.

45

CAP��TULO 4

O CASTELO DE AREIA

Norma acabou de ler o primeiro cap��tulo do romance

do marido. Joel, que se sentara numa outra poltrona, fo-

lheando uma revista, olhou-a:

��� O que est�� achando?

��� Bem, eu n��o sou especialista em literatura. Sou

uma leitora comum. Para mim est�� muito bom. Apesar

de odiar trag��dias.

��� Verdade?

��� Voc�� consegue prender a aten����o. A gente fica que-

rendo saber o aue vai acontecer a seguir. Al��m disso, seu

estilo �� muito fluente.

��� Fico lisonjeado com sua opini��o. Onde voc�� parou?

��� Quando Cl��udio assassina a esposa e o amante. S��

que hoje em dia as coisas n��o se passariam assim. Quase

ningu��m mais se surpreende em encontrar a mulher nos

bra��os de outro.

��� Mas na d��cada de 20 n��o poderia ser outra a rea-

����o de um homem tra��do. Mesmo atualmente, ainda acon-

tece muito esse tipo de trag��dia. Basta dar uma olhada

nos jornais.

��� N��o costumo ler jornais.

��� Por isso que est�� por fora da realidade.

��� E o que acontece depois no romance?

��� N��o vai continuar lendo?

��� Mas gostaria que voc�� me dissesse logo.

��� Bem, eu conto o que aconteceu ap��s a morte de

Ros��lia e Osvaldo, a rea����o de Esmeralda, o que sucedeu

46

a Cl��udio. Seus remorsos, o processo, a venda da mans��o.

Ent��o relato os fatos acontecidos com os novos moradores.

N��o �� a hist��ria de um personagem ou um grupo de per-

sonagens. �� a hist��ria da mans��o, dos moradores que atra-

v��s das d��cadas vieram residir aqui, at�� chegar aos nossos

dias.

��� N��o v�� me dizer que eu e voc�� tamb��m vamos ser

personagens. Afinal, somos os atuais moradores da casa.

��� Talvez. Ainda n��o tenho nada definido.

��� Gostaria de ver como voc�� me retrataria.

Joel riu:

��� Por qu��?

��� Talvez o que voc�� escrever a meu respeito n��o seja

muito lisonjeiro.

��� Voc�� se importaria com isso?

��� Em absoluto.

��� �� por isso que admiro voc��.

��� N��o se importe se colocar em letra de forma os

meus defeitos, a futilidade, o c i n i s m o . . .

��� N��o sei at�� que ponto isso pode ser considerado

defeito. A futilidade �� necess��ria. Quem n��o �� f��til sofre

muito. Quanto ao cinismo �� quase indispens��vel no mun-

do em que a gente vive.

��� Ent��o voc�� v�� meus defeitos como se fossem vir-

tudes?

��� Simplesmente n��o acho defeito aquilo que voc��

diz que ��.

��� Mas, voltando ao romance. Acho a id��ia muito in-

teressante. E o melhor �� que voc�� est�� conseguindo comu-

nicar exatamente o que pretende. Amanh�� eu termino de

ler o que j�� est�� escrito.

* * *

A partir da��, Norma passou a ter um interesse real

pela carreira liter��ria do marido. Acabou de ler toda a

primeira parte, discutiu tudo em detalhes, estimulou Joel

47

E era realmente sincera. Estava mesmo gostando do ro-

mance.

E quando sa��a pelas ruas de Santa Teresa e via os

casar��es, divertia-se em imaginar as vidas de todas as pes-

soas que tinham em alguma ��poca habitado aquelas ve-

lhas casas. A maioria delas muito mais antigas do que a

sua.

Quantas trag��dias, com��dias e experi��ncias aquelas

pessoas tinham passado! E ficava a pensar sobre a transi-

toriedade dos seres humanos. As pessoas desapareciam, en-

quanto as casas permaneciam, como testemunhas mudas

de vidas esquecidas. E via como as coisas eram mais du-

radouras do que os seres vivos.

Enquanto isso, continuava a levar sua exist��ncia tran-

q��ila e sem problemas, numa rotina agrad��vel, mas que

n��o deixava de ser rotina.

At�� que Sebasti��o, o velho motorista, adoeceu.

Norma lembrou-se do que tinha desejado algumas se-

manas antes, quando olhando a nuca do fiel Sebasti��o re-

cordara sua aventura com o outro jovem motorista alguns

anos passados.

Teve um leve sentimento de culpa. Ser�� que o velho

chofer ficara doente porque ela havia desejado isso? Mas

logo percebeu que estava pensando uma bobagem.

Sem Sebasti��o, precisavam procurar um novo moto-

rista para ficar em seu lugar durante o per��odo em que

estivesse afastado.

Colocaram um an��ncio no jornal. Dos que aparece-

ram, Norma escolheu o mais bonito, claro. Joel estava tra-

balhando e deixara que ela resolvesse o assunto.

Pela manh�� se apresentaram tr��s candidatos, e ela,

sem titubear, admitiu Alberto. Afinal, era apenas por pouco

tempo. N��o lhe importava pedir refer��ncias, nem mesmo

que fosse um excelente chofer.

Precisava de algu��m que pudesse lhe proporcionar

48

uma aventura semelhante �� que tivera com Hamilton. Al-

berto possu��a f��sico ideal para o papel.

Assim, Alberto come��ou a trabalhar naquele mesmo

dia. Tinha porte atl��tico, muito musculoso, moreno escuro,

quase mulato.

Teria sido influ��ncia do romance que Joel estava es-

crevendo? E achara Alberto uma esp��cie de vers��o mais

clara de Osvaldo, o amante negro de Ros��lia, uma das

hero��nas do livro do marido?

De qualquer maneira, achou excitante que talvez isso

tivesse influenciado na escolha. N��o tinha do que ter me-

do, pois sabia que se a hist��ria se repetisse, ou seja, 'se

Joel a surpreendesse fazendo amor com Alberto, o des-

fecho logicamente n��o seria o mesmo. N��o haveria uma

trag��dia.

O marido jamais seria capaz de um gesto t��o desati-

nado. Por v��rios motivos: primeiro porque era um homem

excessivamente racional, segundo porque devia saber que

ela o tra��a, terceiro porque n��o dava muita import��ncia ao

fato, quarto porque n��o iria prejudicar a situa����o exce-

lente que desfrutava por causa de uma tolice.

E depois, n��o estavam mais na d��cada de 20, nem

eram rec��m-casados. J�� viviam juntos h�� vinte anos. A

��poca das grandes paix��es j�� havia passado, e no caso de-

les, n��o havia nem existido.

Tinha plena consci��ncia de que o casamento para Joel

fora de conveni��ncia. Como tamb��m para ela, que tinha

o marido como se fosse um trof��u que gostava de exibir

para as amigas (e inimigas tamb��m, principalmente).

No primeiro dia de trabalho, Alberto teve que lev��-la

a um ch�� em Copacabana com as "patronesses" de uma

festa de caridade. Durante todo o percurso, Norma pro-

curou puxar conversa com o rapaz, mas para sua decep����o

ele n��o era do tipo que gostava de falar.

��� O dia est�� lindo, n��o acha?

��� Est��, sim, senhora.

Mais adiante, ela perguntou:

49

��� Ser�� que o tr��nsito est�� ruim em Copacabana?

��� N��o sei.

"��", "Sim", "N��o", "N��o sei". E Alberto dava por en-cerrado o assunto. "Ele �� do tipo calad��o" ��� pensou Nor-ma. ��� "Vai ser dif��cil uma aproxima����o maior."

Esta dificuldade, em vez de aborrec��-la, deixou-a mais

interessada. Se tudo corresse muito f��cil, perderia a gra��a.

A gra��a estava justamente nisso. No fato de ter que con-

quist��-lo sem saber como.

O ch�� foi terrivelmente tedioso. Um verdadeiro su-

pl��cio. "Como castigo n��o poderia haver pior" ��� pensava Norma, enquanto sorria para as amigas organizadoras,

como ela, da festa de caridade.

��� Como voc�� est�� linda! ��� admirou-se Jurema assim

que ela chegou.

E Norma pensou: "No m��nimo est�� dizendo para si

mesma que eu pare��o uma macaca. Como posso suportar

tanta falsidade?"

Mas respondeu na mesma moeda:

��� E voc�� cada vez mais jovem, Jurema. Talvez seja

a inicial de seu nome, J, de jovem. Por isso voc�� conserva

esta mocidade radiante. N��o �� este o seu segredo?

E olhou nos olhos da amiga, que parecia um perga-

minho de tanta ruga, apesar de todas as cirurgias pl��sti-

cas a que se submetera. A maquilagem do rosto de Jurema,

muito carregada, fazia com que ela parecesse uma carica-

tura.

Norma tinha autocr��tica suficiente para saber que tam-

b��m ela n��o era uma figura muito agrad��vel �� vista.

Como as outras. Um bando de mulheres de idade inde-

finida, por causa dos cosm��ticos e outros artif��cios, feias,

cobertas de j��ias e vestidos car��ssimos.

O pior de tudo eram as conversas, sempre as mesmas.

N��o acontecia nada, mas absolutamente nada de novo.

Saiu do ch�� totalmente exausta, como se tivesse partici-

pado de uma luta livre.

(O que n��o estava muito longe da verdade, tinha sido

50

mesmo uma luta livre de vaidades tolas e conversas idio-

tas.)

Saiu do ch�� e procurou pelo motorista. Encontrou o

seu carro estacionado na Avenida Atl��ntica, mas Alberto

n��o estava em seu posto.

��� Ter�� fugido? ��� perguntou Norma para si mesma,

entre apreensiva e divertida.

Olhou em torno. Descobriu-o bem mais adiante, aco-

corado, brincando com uma crian��a. Ela sorriu. Achou po��-

tico o quadro.

Aquele homem imenso, abrutalhado, junto �� crian��a,

naquele fim de tarde, tendo como pano de fundo o mar

de COPACABANA.

Andou calmamente em dire����o a Alberto. Ele n��o se

deu conta quando ela chegou perto. Continuou brincando

com o menino, completamente alheio a tudo.

��� O ch�� j�� terminou.

Alberto n��o ouviu.

Norma ficou olhando-o. O motorista e o menino cons-

tru��am um castelo na areia. Ela achou melhor n��o inter-

romper o trabalho dos dois.

Sentou-se num banco da calcada e ficou observando.

Era bem mais divertido do que o ch�� de que tinha partici-

pado.

Quando o castelo estava quase pronto, ele, levantan-

do a vista, a viu. Levantou-se imediatamente e veio ao seu

encontro:

��� D e s c u l p e . . .

��� Pode voltar a fazer o castelo.

��� N �� o . . .

��� Eu quero que voc�� volte. Quero ver o castelo pronto.

Alberto sorriu e voltou para o lado do menino. Perma-

neceram trabalhando em sua constru����o.

Era um bonito castelo.

Com suas torres e alamedas.

Norma come��ou a dar asas �� imagina����o. Quem te-

riam sido os habitantes anteriores daquele castelo de areia?

Mas como poderiam ter existido habitantes anteriores se

51

o castelo estava acabando de ser constru��do? Mas, quem

sabe? Poderia haver habitantes de um castelo que ainda

estava na cabe��a do construtor. Por que n��o?

Finalmente, o menino e o motorista deram por encer-

rado o trabalho. Despediram-se. O chofer veio para junto

de Norma, que permaneceu sentada no banco, olhando o

castelo que agora parecia abandonado. Quando o mar se

aproximasse, viria uma onda, outra onda, e o castelo seria

destru��do. Seus habitantes morreriam afogados?

��� A senhora n��o quer ir embora agora?

Desta vez foi Norma quem n��o escutou o que Alberto

falou.

S�� alguns instantes depois acordou de seu devaneio.

��� Estava pensando nos moradores do castelo.

��� A senhora conhece eles?

��� Penso que sim.

��� Quem s��o?

��� Um homem muito grande e um menino bem pe-

queno.

O motorista riu. Norma riu:

��� Est�� na hora. Vamos voltar.

A viagem de volta transcorreu da mesma maneira que

a outra. Norma puxando conversa e o motorista novamen-

te em seu mutismo, respondendo por monoss��labos.

Ela o desejava. E como o desejava!

Lembrou-se dos olhos de crian��a de Alberto, seu ar

52

de quem parecia n��o pertencer a este mundo. Talvez ele

fosse mesmo um dos habitantes do castelo de areia que

constru��ra.

Chegaram em Santa Teresa.

J�� escurecera.

Norma desceu do carro.

Entrou em casa.

Pouco depois, Joel tamb��m chegou.

Jantaram, como de costume.





53


CAP��TULO 5

A DOR DE CABE��A

Norma acordou mal-humorada. E com dor de cabe��a.

Uma coisa era conseq����ncia da outra, ou vice-versa. E

justamente no dia em que sua filha chegaria de Londres.

Pensava em ir receb��-la no aeroporto, mas j�� tinha resol-

vido que n��o iria mais.

Gozando de ��tima sa��de, qualquer indisposi����o f��sica,

mal-estar ou qualquer dorzinha, deixava-lhe angustiada,

chateada, imprest��vel para cumprir qualquer obriga����o.

Seria um sacrif��cio terr��vel ter que sair com aquela

maldita dor de cabe��a. J�� tomara um comprimido, mas

pouco adiantara. N��o, o melhor seria mandar o chofer

apanhar L��gia.

Alberto n��o conhecia sua filha, por isso mandou cha-

m��-lo. O rapaz apresentou-se. Norma disse-lhe:

��� Quero que v�� buscar minha filha no aeroporto. Ela

chega hoje da Europa.

��� A que horas?

��� ��s dez.

��� A senhora n��o vai?

��� N��o, estou meio indisposta.

Norma pegou uma foto de L��gia e mostrou a Alberto,

a fim de que este a reconhecesse. O jovem motorista quan-

do viu o retrato, teve um leve tremor.

Aquele r o s t o . . . aquele r o s t o . . . n��o lhe era estra-n h o . . . parecia emergir de um tempo que nunca existira.

Mas ele conhecia aquele rosto. Ou n��o? Conhecia, sim.

Era-lhe muito familiar. Quando? Onde? Em algum tempo

54

e em algum lugar. N��o era o mesmo rosto, mas parecia

demais. N��o podia ser. Claro que n��o era. Havia uma di-

feren��a, uma pequena diferen��a. O nariz? A boca? Os olhos?

Alguma coisa era diferente. N��o era o mesmo. M a s . . .

Enquanto Alberto estava parado com a fotografia nas

m��os, Norma observava-o. Por que ele demorava tanto tem-

po olhando a foto? "Talvez para grav��-la melhor na me-

m��ria" ��� pensou.

Mas o motorista parecia alheio a tudo. Norma pediu-

lhe o retrato de volta:

��� Voc�� �� capaz de reconhec��-la pessoalmente?

��� Claro.

��� Quando encontr��-la, diga que �� nosso novo chofer

e que eu n��o fui esper��-la porque estou com uma dor de

cabe��a horr��vel.

��� Sim, senhora.

Alberto retirou-se da sala. Norma olhou-o andando em

dire����o �� porta. Como era estranho aquele homem! Sem-

pre muito calado, parecendo que n��o pertencia a este

mundo.

Achava-o misterioso e por isso mesmo fasciante no

seu quase mutismo absoluto, no seu ar a��reo, como se flu-

tuasse. N��o seu corpo, evidentemente, que era bastante s��-

lido (e como!). Mas sua express��o fazia denotar que seu

c��rebro era f l u t u a n t e . . .

Riu de si mesma. Nos ��ltimos tempos estava sempre

pensando al��m do que via. Estaria influenciada pelo livro

do marido? Talvez. Depois que come��ara a ler o romance

de Joel, ficara com aquela impress��o de ver coisas onde

nada existia, adivinhar nas entrelinhas, interpretar atitu-

des muito al��m das apar��ncias.

Voltou para o quarto e deitou-se.

Ah, aquela dor de cabe��a infernal!

Lembrou-se do que lera uma vez. Teria sido Oscar

Wilde? Achava que sim. Ele escrevera que Deus devia li-

vr��-lo das dores f��sicas, porque das morais ele mesmo

55

cuidaria. Sim, uma grande verdade, tivesse sido ou n��o

Wilde quem dissera.

O fato era que as dores morais (ou emocionais ou

qualquer coisa ligada com o sentimento), ela tirava de le-

tra. Talvez porque n��o fosse uma pessoa que se ligasse

muito em coisas do esp��rito. N��o tinha remorsos, culpas,

nem qualquer outro tipo de grilo.

Mas as dores f��sicas, estas lhe eram insuport��veis. Ver-

dadeiramente insuport��veis. Tinha a sorte de ter uma sa��-

de excelente. N��o se lembrava de ter tido nenhuma doen��a

grave.

As ��nicas opera����es a que se submetera, tinham sido

as pl��sticas. Mas fora uma op����o. No caso, a vaidade fa-

lara mais forte. O fato de querer se livrar de seu mons-

truoso nariz dera-lhe coragem suficiente para suportar

qualquer dor. A vontade de melhorar de aspecto fora maior

do que tudo.

E depois tamb��m fizera uma outra para tirar as ru-

gas. Somente por causa da beleza suportaria qualquer sa-

crif��cio, apesar de saber que n��o conseguiria se tornar uma

mulher propriamente bela. Mas que melhorara bastante,

n��o tinha d��vidas.

* * *

Alberto dirigia tranq��ilamente o carro em dire����o ao

Gale��o.

HELENA.

O nome da mulher parecia escrito em letras de fogo,

como se queimasse sua cabe��a.

HELENA.

Por que n��o conseguia deixar de pensar nesse nome?

Como era mesmo que a filha de sua patroa se chamava?

L��gia.

L��GIA, HELENA, HELENA, L��GIA.

Os dois nomes se misturavam. T��o diferentes, mas era

como se fossem um s��.

56

Tinha tempo de sobra para chegar ao aeroporto. N��o

precisava correr. Mesmo assim, teve vontade de aumentar

a velocidade do autom��vel. E foi aumentando cada vez

mais, fazendo verdadeiros malabarismos no tr��nsito, aque-,

la hora j�� engarrafado em certos trechos da cidade.

Na Avenida Brasil, o neg��cio piorou. A contragosto,

teve que ir devagar, quase parando. Andava um pouqui-

nho, parava. Mais um pouquinho e parava novamente.

Alguma coisa devia ter acontecido. S�� podia ter a c o n -

tecido. Afinal, passavam poucos minutos das nove da ma-

nh��. Na dire����o cidade-aeroporto n��o havia motivo para

aquele congestionamento.

Devia ter acontecido algum desastre. S�� podia.

Os minutos passavam. Ele nervoso. N��o por causa da

hora. N��o. Estava nervoso porque queria correr, correr,

como vinha fazendo antes. Correr para n��o pensar. N��o

pensar em HELENA, L��GIA, L��GIA, HELENA. Agora, qua-

se parado, os nomes e as imagens se confundiam em sua

cabe��a.

O retrato.

Quando Norma lhe mostrara o retrato dizendo que

era sua filha. E certamente s�� podia ser. Era como se ti-

vesse visto Helena em sua frente.

(As pessoas gritando. Como gritavam. E ele amarra-

do. Dois homens o tinham segurado. Teve vontade de ma-

t��-los. Por que o seguravam com tanta for��a? Dera vio-

lentos pontap��s. Mas de nada adiantara. Tinham-no do-

minado. E ele preso, depois jogado num quarto. Gritou.

Gritou. A d o r m e c e u . . . )

As buzinas dos carros. As pessoas irritadas. Aquele

tr��nsito infernal.

Passou finalmente pelo local do desastre. Um carro

quase completamente destro��ado. Uma carreta o havia

atingido em cheio. Sangue no asfalto.

Ele olhou. N��o gostou do que viu. Mas olhou. Mesmo

assim olhou. Era como se algu��m lhe virasse o rosto em

dire����o ao local do acidente. Os carros andando vagarosa-

57

mente. E ele viu. Viu o c��rebro de uma pessoa totalmente

esmagado.

Levou as m��os �� cabe��a, largando por um instante o

volante, num gesto de desespero. Ouviu uma buzina mais

forte atr��s de si. Retomou o volante. Continuou dirigindo,

sem se virar de novo para o lugar onde estavam as v��timas.

Dali em diante o tr��nsito estava normal. Pisou no ace-

lerador. Recome��ou a correr. O tormento diminuiu. Gos-

tava de velocidade. N��o dava tempo para pensar.

Em poucos minutos estava no aeroporto.

O avi��o ainda n��o tinha chegado.

Olhou o rel��gio. Faltavam quinze minutos para as dez.

Se o avi��o chegasse no hor��rio, ainda assim teria tempo

suficiente para tomar um cafezinho.

Dirigiu-se para tomar seu caf��. Depois encaminhou-se

vagarosamente para uma banca de revistas e acendeu um

cigarro.

Gostava de ficar olhando aquela imensidade de revis-

tas coloridas, livros de bolso, mulheres lindas, nuas, semi-

nuas. Tudo muito colorido. Mais colorido do que se cos-

tuma ver ao vivo.

Fixou os olhos numa revista estrangeira. Tentou ler

o nome da revista. N��o conseguiu. Que diabo de l��ngua era

aquela? Alem��o? Ingl��s? Franc��s?

Desistiu de ler e ficou admirando os belos seios pon-

tudos da mulher da capa. Nem notou seu rosto, bonito,

sorrindo como em an��ncio de pasta de dentes.

O que lhe importava eram os seios. Aqueles seios lin-

dos. Precisava de uma mulher. Com urg��ncia. Uma mu-

lher bonita. Como aquela da capa da revista.

Foi at�� o jornaleiro:

��� Quanto custa aquela revista?

Diante da resposta achou muito caro. N��o podia com-

prar. Teve vontade de roubar a revista e sair correndo.

Era como se raptasse a linda garota de seios de fora e a

levasse para seu quarto. E transaria com e l a . . .

58

Mas o jornaleiro estava de olho. N��o podia fazer isso.

Seria preso.

(Os homens agarrando-lhe. Os pontap��s. Os gritos. A

confus��o.)

Afastou-se da banca de revistas e sentou-se num banco

qualquer. J�� tinham se passado dez minutos, e mais cinco,

L��gia-Helena chegaria.

Os cinco minutos tamb��m se foram. Ele se dirigiu para

o local onde deveria esperar por Helena-L��gia.

Conhecia bem o aeroporto. J�� estivera ali v��rias ve-

zes. Fora motorista de pra��a e tamb��m trabalhara na casa

d e . . . como era mesmo o nome de seu ��ltimo patr��o? N��o

recordava. Fez um esfor��o de mem��ria. Mas n��o conseguiu

se lembrar.

Desistiu. N��o podia esquentar muito a cabe��a. Ficava

confuso.

O avi��o esperado chegou.

Os passageiros desembarcaram.

Olhou-os com curiosidade cada vez maior. Viu uma

mo��a entre eles que s�� podia ser L��gia-Helena, Helena-

L��gia.

Quando ela passou perto, chamou:

��� Helena.

A jovem n��o se virou.

Repetiu:

��� Helena.

A mo��a seguiu seu caminho, sem dar a m��nima

aten����o.

Quase gritou:

��� Helena!

Mas n��o houve a menor rea����o por parte dela, que

sem d��vida o ouvira, mas fingiu como se n��o fosse com

ela.

Seguiu-a. Alcan��ou-a.

Lado a lado, falou:

��� Helena.

L��gia virou-se e olhou com ar surpreso.

59

��� Eu sou o novo motorista.

��� O senhor est�� falando comigo?

��� E s t o u . . . sou o novo motorista de seus pais. Dona

Norma mandou que viesse lhe apanhar.

L��gia achou tudo muito estranho. O nome de sua m��e

era Norma, mas ela nunca se chamara Helena.

��� O senhor est�� enganado.

��� N��o estou n��o. Vi seu retrato.

��� Meu retrato?

��� Sim, sua m��e me mostrou.

��� O senhor deve estar me confundindo com outra

pessoa.

��� N��o.

��� Eu n��o me chamo Helena.

��� Eu sei.

��� Mas o senhor se dirigiu a mim dizendo este nome.

Ele n��o se lembrava de que a tinha chamado de He-

lena.

��� Eu?!

��� Sim.

��� N��o, chamei L��gia.

Ela compreendeu que era ela mesma que o rapaz es-

tava procurando. Era coincid��ncia demais. Ele sabia que

seu nome era L��gia e o de sua m��e Norma. Mas por que

se dirigira antes chamando-a de Helena?

��� Tenho certeza de que o senhor falou Helena.

��� Foi engano. Eu queria dizer L��gia.

��� Nosso motorista �� um velho senhor, cujo nome ��

Sebasti��o.

��� Isso mesmo. Eu estou no lugar dele.

��� Sebasti��o morreu? ��� perguntou L��gia assustada.

��� E por que mam��e n��o me mandou dizer?

��� N��o, ele n��o morreu. Est�� doente.

L��gia suspirou com al��vio.

��� E voc�� o est�� substituindo.

��� I s s o . . . estou substituindo, enquanto ele n��o fica

bom.

60

��� E minha m��e lhe mandou buscar-me?

��� Foi.

��� Por que ela n��o veio?

��� Mandou dizer que est�� doente.

��� Ela tamb��m est�� doente?

��� Mas n��o �� nada grave.

��� Desde quando?

��� Desde hoje. Amanheceu com dor de cabe��a.

N��o. Era inacredit��vel. L��gia n��o podia conceber. En-

t��o sua m��e n��o tinha vindo esper��-la porque estava com

uma simples dor de cabe��a. Era demais. Depois de todos

aqueles meses longe de casa.

O pai, no escrit��rio, como se realmente trabalhasse tan-

to e n��o dispusesse de tempo para ir esper��-la no aero-

porto. Quando, na verdade, podia muito bem sair �� hora

que quisesse e ir busc��-la.

A m��e, sem nada, absolutamente nada para fazer, e

tamb��m n��o viera. Tudo por causa de uma dor de cabe��a.

N��o conseguiu esconder seu aborrecimento:

��� Ela devia ter vindo assim mesmo.

O motorista n��o comentou nada.

��� Passei quase um ano em Londres e ningu��m tem

pressa em me v e r . . .

Os dois se dirigiram para a Alf��ndega, a fim de libe-

rar a bagagem. L��gia, chateada, por causa da aus��ncia

dos pais. Alberto, sem querer olh��-la direito, desviando a

vista.

Enquanto esperava a libera����o da bagagem, L��gia co-

me��ou a observ��-lo. Aproveitou o fato dele n��o olh��-la,

para reparar bem o seu aspecto. Era um homem bonito.

Quase mulato, os cabelos ruins. Os olhos meio esver-

deados. Um tipo estranho, muito estranho. Principalmente

para ela que acabava de passar muito tempo vendo quase

que somente pessoas brancas, muito brancas, de peles ro-

sadas.

Perguntou o nome do rapaz:

��� Como voc�� se chama?

61

��� Alberto.

��� H�� quanto tempo est�� trabalhando com meus pais?

��� Quase uma semana.

O chofer respondia as perguntas sem encar��-la. L��gia

achou engra��ado, aquele homem t��o m��sculo, t��o firme

na terra, t��o forte, e t��o t��mido. T��o bonito.

A bagagem foi liberada.

Encaminharam-se para o carro.

Se L��gia ainda tinha d��vidas se o motorista estava

mesmo trabalhando em sua casa, ao ver o autom��vel, toda

e qualquer d��vida desapareceu. Era o mesmo carro de sua

m��e.

��� Que milagre!

��� O qu��? ��� perguntou Alberto.

��� O carro.

��� O que tem o carro?

��� Ainda �� o mesmo.

��� N��o entendi.

��� �� que mam��e, uma vez que n��o tem nada para

fazer, vive trocando de autom��vel. N��o sei como ainda

permanece com o mesmo de quando eu viajei.

E entraram no autom��vel.

��� Ela devia ter vindo me esperar.

Alberto ficou em sil��ncio.

L��gia passou a pensar em voz alta:

��� �� realmente uma prova de considera����o que tanto

minha m��e como meu pai me d��o. Ningu��m apareceu. Eles

est��o muito preocupados consigo mesmos. Os outros que

se danem. N��o sentem a m��nima falta de mim. Ou melhor,

�� como se eu nem mesmo existisse.

Alberto ouvia aquela voz que vinha do banco de tr��s,

como que repetindo indefinidamente a mesma coisa.

L��gia estava ferida em seu amor-pr��prio. Em sua ca-

r��ncia de afeto. N��o significava nada para ningu��m. Con-

tinuava falando, em c��rculos:

��� Por causa de uma dorzinha �� toa. Simplesmente

porque est�� com dor de cabe��a. Ela n��o pode ter uma, dor

62

de cabe��a. �� uma trag��dia. Ah, como eu detesto pessoas

ego��stas! E comodistas.

Calou-se. Mergulhou em seus pr��prios pensamentos.

Enfrentaram o caminho de volta pela Avenida Brasil

que, naquela dire����o, n��o estava t��o congestionada. O de-

sastre havia sido na outra pista. Passaram pelo local do

acidente, com muita gente em volta.

��� O que foi aquilo?

Alberto respondeu:

��� Um desastre.

��� O Rio de Janeiro continua o mesmo.

L��gia n��o olhou. N��o teve coragem. Mesmo um pouco

distante, poderia ver as v��timas. N��o queria ver sangue,

nem gente morta, logo no dia de sua chegada. Subita-

mente, teve medo.

Ser�� que aquilo representava alguma coisa? Ser�� que

algum mal iria lhe acontecer? N��o, claro que n��o. O ��nico

mal j�� tinha sucedido. Os pais n��o terem dado a menor

import��ncia ao seu regresso.

��� Teve v��timas?

��� Quando ia para o aeroporto, vi um corpo com a

cabe��a esmagada.

L��gia fez uma careta. N��o sabia mesmo por que per-

guntou :

��� Homem ou mulher?

��� Mulher.

Ela novamente pensou num mau press��gio. Logo no

dia de sua chegada. Alberto ainda disse:

��� Estava vestida de vermelho.

Automaticamente, L��gia olhou para a pr��pria roupa,

como para se certificar de que estava vestida de azul.

A voz de Alberto continuava:

��� Vestida de vermelho, da mesma cor do sangue.

E a cabe��a e s m a g a d a . . .

��� N��o fale mais ��� ordenou L��gia com voz autori-

t��ria.

63

Ele calou-se. Mas sentiu raiva. N��o gostou do tom com

que ela falara. Mesmo assim, calou-se.

Passaram pela esta����o da Leopoldina. Alcan��aram a

Rodovi��ria. Seguiram em dire����o �� Pra��a Mau��.

L��gia procurava dispersar seus pensamentos, olhando

as ruas. Gostava do Rio. Daquele calor. Daquele colorido.

T��o diferente da cinzenta Londres. Estava cansada de cin-

zentos e meios-tons.

O sol.

O sol magn��fico, de doer na vista.

E aquela gente toda, respirando vida.

A Pra��a Mau�� ficou para tr��s. Foi quando L��gia disse:

��� N��o vou para Santa Teresa.

��� N��o?!

��� N��o. Se nem minha m��e nem meu pai t��m pressa

de me ver, eu tamb��m n��o tenho a menor inten����o de

v��-los agora.

��� Para onde quer ir?

��� Niter��i.

��� Niter��i?!

��� Sim.

Alberto desviou e seguiu em dire����o �� Ponte Rio���Ni-

ter��i.

��� O que vai fazer l��? ��� s�� depois que perguntou ��

que compreendeu que n��o tinha direito de faz��-lo.

��� Passear.

Atravessaram a ponte. Chegaram em Niter��i. O auto-

m��vel corria as ruas sem destino. Rodaram durante algum

tempo.

��� Por que me chamou de Helena?

��� N��o s e i . . .

��� Confundiu?

��� Foi.

��� Mas Helena �� muito diferente de L��gia.

��� �� . . .

Novamente ficaram calados.

Ent��o, desta vez foi ele quem quebrou o sil��ncio.

64

��� Conheci uma vez uma mo��a que se parecia muito

com a senhora.

L��gia decifrou a charada:

��� E ela se chamava Helena.

��� Como adivinhou?

��� Muito s i m p l e s . . .

65

CAPITULO 6

UMA HIST��RIA DE AMOR

Sete anos antes, Alberto era um rapaz mais ou me-

nos ing��nuo. Criado no sub��rbio, tivera uma educa����o r��-

gida, extremamente religiosa. Estudava, depois passou a

trabalhar para ajudar a fam��lia.

Tivera sua inicia����o sexual com uma empregada do-

m��stica, que praticamente o seduziu. Ela deu em cima dele

e levou-o para um terreno baldio, uma vez que n��o tinham

para onde ir. Assim, Alberto, cheio de medo pelo pecado,

provou do que lhe diziam ser um fruto proibido.

Relutou bastante, antes de ir. At�� o momento em que

ela dissera:

��� Estou at�� duvidando que voc�� seja homem.

"Antes pecar do que passar por bicha", pensou Alber-

to. E assim, acompanhou-a. Marlene fizera de prop��sito.

Tinha certeza de que o rapaz n��o tinha nada de afemina-

do, muito pelo contr��rio. Mas vira que s�� assim o levaria

a fazer o que queria.

Deitada no ch��o, ela levantou a saia e baixou as cal-

cinhas. Alberto quase enlouqueceu ao ver pela primeira

vez um ��rg��o sexual feminino ao vivo. J�� estava sem sa-

ber como se controlar, quando Marlene o chamou:

��� Vem.

66

E ele foi.

Alberto n��o levava muito jeito para o ato. Desajei-

tado, Marlene ajudou que encontrasse o caminho. Ele ex-

perimentou uma sensa����o de prazer enorme. Marlene en-

la��ou-o com as pernas e logo gozaram.

Em casa, n��o tinha coragem de olhar os pais cara a

cara, certo de que cometera um ato abomin��vel. Mas o

repetiu in��meras vezes, at�� que Marlene deixou de tra-

balhar naquele bairro e sumiu.

Teve outras experi��ncias sexuais, com v��rias mulhe-

res, como qualquer rapaz normal. No entanto, se fisica-

mente n��o apresentava nenhuma defici��ncia, o mesmo n��o

se podia dizer mentalmente. No col��gio, ��s vezes, esquecia

completamente o que estudara e ficava atoleimado, quase

sem ter consci��ncia de onde se encontrava.

Por isso era um pouco atrasado nos estudos. Atribu��a

isso ao fato de n��o ser inteligente. Considerava-se mesmo

muito burro. Apesar de tudo, havia coisas que aprendia

com facilidade.

Dirigir autom��vel, por exemplo. O vizinho comprara

um carro de terceira ou quinta m��o. Caindo aos peda��os.

Foi assim que aprendeu a dirigir. Ent��o, seu objetivo pas-

sou a ser: tornar-se chofer de pra��a. Trabalhar num t��xi

era sua ambi����o m��xima.

Mesmo assim, continuou os estudos. E trabalhava

numa padaria. Bom rapaz, por��m muito calado. Mas nin-

gu��m ligava para isso. Apenas tinha um g��nio esquisito,

diziam os conhecidos, amigos e parentes.

Foi quando conheceu Helena.

Ele estava com dezoito anos.

Ela tinha a mesma idade.

67

Foi um caso de amor �� primeira vista (pelo menos

da parte dele).

Helena era uma mo��a muito bonita. A mais bonita

que j�� vira em toda a sua vida. Parecia uma artista de ci-

nema. Tamb��m de fam��lia humilde.

Come��aram a namorar. E Alberto tinha medo at�� de

abra����-la, tal o respeito com que a tratava. Enla��ava-a

ternamente. Beijava-a de leve. Isso, mesmo ap��s v��rios me-

ses de namoro.

Decidiu noivar oficialmente. Comprou com sacrif��cio

as alian��as e pediu-a em casamento. Tudo �� maneira an-

tiga, como lhe haviam ensinado os pais.

E sonhava melhorar de vida. Trabalhar cada vez mais.

Para poder casar. E largar de vez as mulheres da rua,

aquelas que procurava para satisfazer o instinto, como cos-

tumava dizer.

Seria a felicidade plena. Ter sua pr��pria mulher. Fa-

zer amor com ela sem remorsos nem culpas. Terem filhos.

Uma vida s��.

Helena partilhava da mesma opini��o.

O noivado durou quase dois anos.

Alberto trabalhava na padaria. Abandonara os estudos

e conseguira um emprego como chofer numa empresa de

t��xi para rodar durante a noite.

��� �� perigoso ��� disse Helena.

��� �� s�� a gente ter cuidado.

��� Tem muito assaltante por a��.

��� Voc�� pensa que sou bobo? N��o vou deixar qual-

quer um entrar no meu carro de madrugada. Al��m disso,

sou muito forte. �� dif��cil algu��m ter coragem de me en-

frentar.

68

E exibia, orgulhoso e brincalh��o, os seus m��sculos.

Helena ria:

��� Mas voc�� quase n��o vai ter tempo para me ver.

��� Isso �� que �� ruim. Mas s�� assim a gente pode ca-

sar. Depois que juntar algum dinheiro, eu largo a padaria

e fico s�� como chofer durante o dia. A�� a gente se casa.

E faziam planos.

Realmente, quase n��o tinha tempo de encontrar He-

lena. Via-a rapidamente no intervalo entre os dois traba-

lhos, trocavam meia d��zia de palavras. At�� nos fins de se-

mana trabalhava, uma vez que padaria n��o fecha nem aos

s��bados, nem domingos, nem feriados. Mas no t��xi, folgava

aos s��bados �� noite.

E ia com Helena ao cinema.

Justamente querendo construir honestamente sua fe-

licidade, Alberto, em vez disso, a perdeu.

Helena tinha muito tempo livre.

E era muito bonita.

E muito paquerada.

Apareceu um sujeito chamado M��rio.

Bonit��o, atl��tico, bem mais velho do que ela, mas com

apar��ncia jovem.

Queimado de praia, paquerador, mau-car��ter.

Um boa-vida.

Come��ou a querer conquistar Helena.

Quando a abordou pela primeira vez, ela disse:

��� Sou noiva.

��� E o que tem isso?

��� N��o est�� vendo minha alian��a?

��� E da��?

��� Eu sou uma mo��a direita.

69

��� Se fosse torta eu n��o estaria atr��s de voc��.

��� Nunca vou trair meu noivo.

��� Ele n��o precisa saber.

E M��rio continuou firme. N��o deixava Helena em paz.

��� Nunca vi voc�� com seu noivo.

��� Ele trabalha em dois lugares. �� muito ocupado.

��� E por que a gente n��o aproveita isso? Caiu a sopa

no mel. Assim n��o tem perigo dele descobrir nada entre

n��s dois.

��� N��o existe nada entre n��s dois.

��� Mas vai existir.

��� �� o que voc�� pensa.

Mas M��rio n��o desistia.

A fidelidade e for��a de vontade de Helena come��aram

a balan��ar.

O pior de tudo era que cada vez mais se sentia atra��da

por M��rio.

��� Eu quero casar.

��� N��o vou empatar seu casamento.

��� C��nico!

��� Voc�� fica linda quando se zanga.

��� Nunca mais me dirija a palavra.

��� O que foi que eu fiz?

��� Nada. Mas est�� querendo f a z e r . . .

��� Voc�� disse tudo. E vai ver como �� gostoso.

E Helena passou a achar muito chato passar a semana

toda quase sem ver Alberto. S�� aos s��bados. Sentia-se mui-

to sozinha. E aos s��bados, quando ia ao cinema com o noi-

vo, n��o tinha o mesmo prazer de antes. Chateava-se.

Um domingo aceitou o convite de M��rio para irem ��

praia juntos. Alberto n��o ia saber. Estava na padaria tra-





70


balhando. Tomaram o ��nibus cheio para Copacabana. Em

casa disse que ia �� praia com umas amigas.

N��o via nenhum perigo. Na praia cheia de gente, M��-

rio n��o lhe podia fazer nenhum mal.

Desceram no Posto Seis.

A praia estava lotada.

Deslumbrou-se. Nunca tinha estado ali. N��o conhe-

cia Copacabana ainda. Sentiu uma sensa����o de liberdade.

Como se o seu mundinho t��o pequeno tivesse deixado su-

bitamente de existir.

As garotas de biqu��ni (ficou envergonhada do seu mai��

antiquado, fora de moda), os rapazes com sungas peque-

n��ssimas.

Quando tirou o vestido e ficou de mai��, M��rio asso-

biou e exclamou:

��� Que coxas!

Ela teve vergonha e sentou-se na areia.

Ele tirou a bermuda e ficou com uma sunga bastante

pequena.

Helena desviou a vista. O rapaz sentou-se ao seu lado.

Come��ou a alisar-lhe o bra��o. Ela sentiu um arrepio.

Logo em seguida, ele alisou-lhe a coxa. Helena tirou-

lhe a m��o. O rapaz tornou a botar.

��� Est��o vendo.

��� Ningu��m est�� prestando aten����o.

E continuou com a m��o na coxa da garota.

��� Estou com vergonha.

��� Quer ir para um lugar mais deserto?

��� N��o.

��� Ent��o?

Helena estava distra��da, quando ele lhe beijou na boca,

71

�� queima-roupa. Um beijo com l��ngua. Coisa in��dita para

Helena, que correspondeu, apesar de sua luta ��ntima.

��� Sabe que nunca passei tanto tempo cantando uma

garota?

��� Voc�� �� muito apressado.

��� At�� que n��o. Com as outras, chamo logo para o meu

quarto.

��� C��nico!

��� Como voc�� gosta desta palavra!

Foram tomar banho de mar. M��rio deu um mergu-

lho e por baixo da ��gua segurou nas coxas de Helena. Ela

gritou. Todo mundo pensou que fosse por causa de uma

onda mais forte.

Sa��ram da ��gua. Ela, com cara aborrecida:

��� Voc�� n��o devia ter feito aquilo.

��� Mas voc�� gostou, n��o gostou?

��� C��nico!

No domingo seguinte foi de novo para a praia com

M��rio.

S�� que, na volta, ele se desviou do caminho de casa.

Fez sinal para o ��nibus parar na cidade.

Helena surpreendeu-se:

��� Vai descer aqui?

��� Vou.

��� N��o vai comigo at�� Olaria?

��� Depois.

��� Depois, como?

��� Voc�� vai descer comigo.

_ Eu?!

��� Tenho um neg��cio para resolver com um amigo

��� Ent��o, eu sigo sozinha.

72

��� Por qu��? N��o vai demorar.

Ela desceu com M��rio.

Encaminharam-se para o lado da Cinel��ndia. Segui-

ram pela rua do Passeio. Fazia um calor enorme. Alcan-

��aram a Lapa. Ele entrou numa casa velha, um sobrado.

��� Seu amigo mora em pens��o?

��� ��.

Tinha um homem na portaria. Helena, t��mida, ficou

um pouco afastada.

M��rio veio com uma chave na m��o:

��� Vamos?

��� Pra onde?

��� Meu amigo est�� l�� dentro.

Ela o acompanhou.

M��rio abriu a porta do quarto.

��� Voc�� est�� me enganando, M��rio.

Mas ele j�� a puxava para o interior do quarto, fechan-

do a porta a seguir. Beijou-a na boca, fazendo a sua m��o

"trabalhar por baixo da saia de Helena.

��� Deixe-me ir embora.

��� Isso nunca.

��� O que voc�� quer fazer comigo?

��� Ora, Helena, n��o se fa��a de boba.

��� Eu n��o quero, M��rio.

��� Quer, sim. Desde o come��o que voc�� est�� querendo.

E vai ser para j��.

Ele atirou-a na cama, caindo por cima. Ela relutou

um pouco. Enquanto tirava a pr��pria roupa, M��rio falou:

��� N��o v�� me dizer que voc�� �� caba��o ainda.

Ela escondeu o rosto no travesseiro, depois de ter afir-

mado com a cabe��a.

73

��� Ent��o seu noivo �� um boboca.

Ele arrancou-lhe o vestido:

��� J�� que ele n��o fez, eu vou fazer a voc�� este favor.

Helena nua.

M��rio tamb��m.

Por cima dela.

A jovem n��o tinha mentido.

Era mesmo virgem.

��� Voc�� n��o �� a primeira que eu pego assim. Sabe

que gosto de fazer isso? �� minha especialidade.

M��rio mordia-lhe os seios, enquanto se movimentava

por cima da mo��a que, com as pernas abertas, se contorcia

de p r a z e r . . .

Helena gozou.

* * *

Sa��ram do quarto.

Foram para suas respectivas casas.

As idas com M��rio para a hospedaria se sucederam.

Depois passou a freq��entar o quarto que ele dividia com

um colega. M��rio n��o estava a fim de continuar gastando

dinheiro.





74


Helena ficou gr��vida.

Alberto come��ou a notar que a noiva estava engor-

dando. Depois percebeu que engordava apenas na cintura.

A barriga n��o podia mais ser disfar��ada.

A mo��a resolveu acabar o noivado, antes que a bar-

riga assumisse propor����es maiores.

��� Tome sua alian��a.

��� Helena, voc�� tem outro?

��� Procure outra mo��a para casar, Alberto.

��� Mas eu gosto �� de voc��.

��� Eu n��o sirvo para casar com voc��.

��� Helena, quer dizer q u e . . . ?

Mas Alberto n��o conseguiu terminar a pergunta. Mes-

mo porque n��o queria ouvir a resposta. Passou a noite toda

no botequim, bebendo. N��o foi trabalhar no t��xi.

Completamente embriagado, de madrugada, foi para

a porta da casa de Helena e come��ou a gritar palavr��es

e atirar pedras. O pai da mo��a veio �� janela. Uma pedra

atingiu-o no rosto. O sangue espirrou.

O esc��ndalo foi grande. Os vizinhos acordaram. A po-

l��cia foi chamada. Alberto passou a noite no xadrez.

Nunca mais viu Helena.

75

Esta saiu da casa dos pais, depois do esc��ndalo.

Alberto, durante muito tempo, teve uma id��ia fixa.

Encontrar Helena. Mas n��o para am��-la. Arrependia-se de

n��o ter tido coragem de fazer o que pensara, quando des-

cobrira que ela o tra��ra. Sua primeira vontade fora ma-

t��-la . . .

Se encontrasse Helena um dia, a mataria.





76


CAP��TULO 7

O DESAPARECIDO

��� Por que n��o me conta quem era Helena? ��� per-

guntou L��gia.

��� A senhora n��o vai ter interesse por meus proble-

mas.

��� Se n��o tivesse, n��o estaria perguntando.

��� Foi minha noiva.

��� E n��o �� mais?

��� N��o. Isso foi h�� muito tempo.

��� Quando?

��� Seis, sete anos.

��� E ainda gosta dela?

��� N��o.

��� Pelo jeito voc�� ainda gosta.

��� Tenho raiva dela.

��� Sinal de que ainda gosta. Sen��o, tinha esquecido.

��� N��o posso esquecer.

��� E o que ela lhe fez? Foi t��o grave assim?

Por um momento, Alberto virou-se para L��gia e olhou-a.,

Como era parecida com H e l e n a . . .

��� �� melhor a gente parar com esta conversa.

��� Desculpe. N��o quis lhe chatear.

��� N��o tem import��ncia.

77

De volta, quando atravessavam a Ponte Rio���Niter��i,

L��gia tirou uma m��quina fotogr��fica de dentro de uma

maleta. Notou que tinha tocado numa ferida ainda n��o

cicatrizada e teve pena de Alberto. Resolveu distra��-lo e

tamb��m distrair-se um pouco.

��� Vamos dar uma parada no meio da ponte?

��� N��o �� proibido?

��� E o que tem isso?

��� Para qu��?

��� Quero que voc�� tire uma fotografia minha na amu-

rada. �� f��cil. Em um minuto eu subo, voc�� tira a foto e

entramos no carro de volta ��� e L��gia mostrou-lhe a m��-

quina. ��� �� s�� apertar este bot��o.

Alberto parou o carro. Desceram. L��gia encostou-se na

amurada. Ele apertou o bot��o indicado. L��gia sorriu.

Sorrindo, ficava mais parecida com Helena.

Alberto aproximou-se de L��gia.

(E pela sua cabe��a passou um pensamento. Um pen-

samento terr��vel! Coisa de segundos. E se a atirasse no

mar?)

Mas L��gia voltou correndo para o carro. Ele tamb��m

retornou ao volante. Seguiram em frente.

��� E agora, para onde vamos?

��� Zona Sul.

��� Ainda n��o quer ir para casa?

��� N��o.

* * *

Norma, recostada na cama, achou que L��gia estava

demorando muito. Mas n��o se preocupou. Atribuiu o atra-

78

so ao avi��o. Finalmente, depois de mais um comprimido,

a dor de cabe��a estava passando. Pegou um jornal para

ler, a fim de passar o tempo.

Foi direto para a p��gina de televis��o. Leu sobre as

novelas, depois viu os filmes que estavam passando, as co-

lunas sociais. Uma reportagem sobre um artista de cinema.

Em seguida pegou o outro caderno. Lembrou-se do

que Joel lhe dissera. Que ela estava desatualizada quanto

�� realidade da vida. Assim, foi direta �� p��gina sobre os

crimes, desastres e coisas do g��nero.

N��o era uma leitura muito indicada para quem es-

tava com dor de cabe��a. Mas Norma n��o se preocupou

com isso, porque n��o ficava impressionada com essas coi-

sas, principalmente quando n��o lhe diziam respeito, quan-

do n��o a atingiam diretamente.

Numa das p��ginas viu uma fotografia, tipo tr��s por

quatro, de uma pessoa que conhecia. Quem era mesmo

aquele homem? Ora, como n��o lembrara logo? Era Alber-

to, seu novo motorista. Mas surpreendeu-se porque a foto

vinha logo abaixo de um t��tulo que dizia em letras grandes:





DESAPARECIDO


Tratava-se de um an��ncio. E �� medida que lia, sua

surpresa aumentava. Nunca imaginara uma coisa daque-

las. O an��ncio simplesmente dizia que a fam��lia de Alber-

to estava �� sua procura. Ele havia fugido de uma casa

de sa��de para doentes mentais. Aparentemente dava a im-

press��o de ser uma pessoa normal. Pediam para quem sou-

besse de seu paradeiro, dar not��cias para os telefones...

Norma deixou cair o jornal de lado. Bem que ela o

79

achara estranho. Tinha admitido como seu empregado um

louco. Mas sempre sentira atra����o pelas pessoas meio ma-

lucas. Achava-as deliciosas.

Mas logo se deu conta de que n��o se tratava de uma

pessoa meio maluca, mas sim de um louco real, com todas

as implica����es que da�� decorriam.

E lembrou-se de que Alberto tinha ido apanhar L��gia

h�� v��rias horas e n��o voltara ainda.

Teria acontecido alguma c o i s a . . . ?

N��o, n��o acontecera nada. Afinal, Alberto estava ali

h�� quase uma semana. Era meio esquisito, mas sem d��-

vida tratava-se de um louco manso. N��o havia o que te-

mer. E depois L��gia j�� estava bem crescidinha. N��o tinha

motivo para maiores preocupa����es.

Precisava apenas tomar provid��ncias no sentido de

avisar a fam��lia de Alberto e o hospital onde ele estivera

internado. Era uma p e n a . . . Desta vez n��o tivera sorte.

N��o chegara a ir para a cama com Alberto.

Mas como a esperan��a �� a ��ltima que morre, Sebas-

ti��o ainda encontrava-se doente e talvez escolhesse me-

lhor outro motorista que ficaria a seu servi��o at�� a recupe-

ra����o do velho.

Levantou-se e dirigiu-se ao telefone. Hesitou se devia

primeiro ligar para o hospital e a fam��lia de Alberto ou

para o aeroporto, a fim de saber se o avi��o procedente de

Londres havia chegado no hor��rio normal.

Afinal, L��gia j�� devia estar em casa h�� mais de duas

horas.

Ligou primeiro para o aeroporto. Foi informada de

que o avi��o n��o atrasara. Come��ou ent��o a ficar realmen-

te preocupada. Telefonou em seguida para o h o s p i t a l . . .

80

Teve vontade de ligar tamb��m para o marido e para

a pol��cia. Mas depois decidiu que era melhor n��o faz��-lo.

Joel no m��nimo diria que louca era ela.

Ser�� que ele tamb��m lera o jornal? Mas lembrou que

o marido s�� costumava fazer isso depois que voltava para

casa, �� noite.

Talvez tudo n��o passasse de um pequeno susto. Den-

tro em pouco, L��gia entraria em seu quarto, s�� e salva.

Voltou para a cama. Trocou o jornal por uma revista

de moda. Depois pegou uma de fotonovelas. O que estava

precisando era apenas de uma boa higiene mental. Aquela

aborrecida dor de cabe��a estava fazendo com que tivesse

pensamentos m��rbidos.

Concentrou-se na leitura de uma a��ucarada fotonove-

la, em que o mocinho e a mocinha, depois de alguns em-

pecilhos, terminam no melhor dos mundos.

Duas horas da tarde e L��gia n��o aparecera.

* * *

O autom��vel atravessou o t��nel e entrou em Copa-

cabana.

��� V�� pela Avenida Atl��ntica.

Alberto obedeceu.

L��gia perguntou:

��� N��o est�� com fome?

��� Um pouco.

��� Vamos comer alguma coisa?

L��gia n��o tinha moeda brasileira. Mas havia um res-

taurante, ali��s um ��timo restaurante, cujo propriet��rio a

81

conhecia, uma vez que costumava freq��ent��-lo quando es-

tava no Rio. O gerente e o propriet��rio, inclusive, eram

amigos pessoais de seu pai.

A jovem indicou o caminho do restaurante a Alberto.

Ao chegarem, ele estacionou o carro e ela convidou:

��� Vamos almo��ar?

Entraram. Sentaram numa mesa. O gar��om veio aten-

d��-los. L��gia mandou chamar o gerente da casa, que veio

prontamente com um sorriso. Ela explicou que acabara de

chegar de Londres. Estava vindo diretamente do aeropor-

to. O gerente, claro, disse que n��o havia nenhum proble-

ma, poderia pagar com moeda estrangeira, ou deixar a

conta para ser paga depois.

L��gia entregou o card��pio a Alberto. Este sentia-se

meio sem jeito.

��� O que vai querer?

��� Qualquer coisa.

A mo��a ent��o fez o mesmo pedido para os dois.

O almo��o foi acompanhado de um vinho que Alberto

achou uma maravilha. Nunca tinha estado num lugar como

aquele, nem tomara um vinho igual.

Ela estava alegre, descontra��da.



* * *

Tr��s horas da tarde e nem sinal de L��gia. Norma sen-

tiu que sua dor de cabe��a estava amea��ando piorar de

novo. Ent��o, reagiu. N��o, n��o ia ficar ali, naquele quarto,

enchendo a cabe��a com pensamentos negativos. O que fa-

zer ent��o?

82

Tomou mais um comprimido com suco de p��ssego.

Trocou de roupa e fez a maquilagem.

Para onde iria?

Ainda n��o sabia.

Telefonou para Sandra:

��� Sandra, minha querida, o que vai fazer hoje ��

tarde?

��� Nada.

��� Estou com um problema e gostaria de ir at�� sua

casa.

��� Ent��o venha. Podemos dar uma volta, tomar um

drinque na Barra ou olhar os garot��es na praia.

��� ��timo!

Norma desligou. Novamente animada, estava quase es-

quecida de seu problema. Mesmo porque j�� estava pensan-

do num outro. Conseguir um t��xi. Em Santa Teresa eles

eram muito raros. Mandou um dos empregados para a

porta esperar que passasse algum.

Conseguido o t��xi, rumou para o Leblon.

Sandra era uma mulher alegre, cheia de vida. Morava

na rua Delfim Moreira, numa cobertura.

��� Foi maravilhoso voc�� ter vindo. Por que demorou

tanto?

Norma ent��o lembrou-se de seus problemas. E contou

rapidamente �� outra a hist��ria do chofer maluco que con-

tratara, que fora buscar L��gia no aeroporto e que at�� aque-

la hora n��o havia aparecido com a filha.

��� Ora, Norma, mas voc�� se preocupar com uma coisa

dessas? V��-se logo que n��o est�� num de seus bons dias.

Talvez seja mesmo resultado de ter acordado com dor de

83

cabe��a. Eu tamb��m fico deprimida com qualquer tipo de

dor. Por que n��o faz an��lise?

E a outra come��ou a contar as vantagens da an��lise.

��� Voc�� tem algum problema de inf��ncia. N��o resta

d��vida. Por isso qualquer dorzinha a deixa angustiada

e pensando em trag��dias. L��gia deve estar curtindo uma

boa a esta hora. Aproveitou que voc�� n��o foi apanh��-la no

aeroporto e foi rever algum namorado do qual estava mor-

rendo de saudades.

��� �� m e s m o . . . Como n��o me lembrei disso antes?

��� Ora, Norma, estou estranhando voc��. Como, com

sua experi��ncia de vida, p��de ficar preocupada com uma

bobagem? Al��m disso, L��gia n��o �� mais um beb�� de colo.

Estuda na Europa, passa meses em pa��ses estranhos, sozi-

nha, e voc�� n��o se preocupa. Agora se perturba por causa

de uma coisa �� toa.

��� Mas acho que ela acabou com o tal namorado da-

qui.

��� Foi fazer as pazes pessoalmente.

Norma riu.

Sandra continuou:

��� A melhor maneira de fazer as pazes �� pessoalmen-

te, como voc�� sabe. E quanto ao seu motorista louco, estou

morrendo de vontade de conhec��-lo. Voc�� n��o devia ter

avisado aos parentes dele nem ao hospital. Eu o admitiria

aqui em casa com muito gosto. N��o tenho medo dos loucos

que est��o ou estiveram no hosp��cio. Tenho, sim, dos outros

que vivem soltos por a�� e a gente pensa que s��o bons da

cuca. Esses s��o os mais perigosos.

* * *

84

Terminado o almo��o, Alberto e L��gia sa��ram do res-

taurante. O vinho subira um pouco �� cabe��a do motorista.

A jovem estava alegre. E lembrou-se de Ant��nio, Tony,

como ela o chamava.

Estavam perto do apartamento de Tony, seu ex-namo-

rado, com quem terminara o romance por carta h�� cerca

de dois meses. Talvez fosse uma boa rev��-lo. Pediu a Al-

berto para lev��-la �� rua Francisco Otaviano. Desceu na

porta do edif��cio de Tony.

��� Talvez eu demore um pouco.

��� Sim, senhora ��� respondeu Alberto.

Ela entrou no pr��dio. Tomou o elevador. Tocou a cam-

painha. Pouco depois Tony abriu a porta.

��� L��gia! ��� exclamou alegre.

��� Tony!

E os dois se abra��aram como se ainda estivessem n a -

morando.

��� Chegou hoje?

��� Pela manh��.

��� E lembrou-se de vir me v e r . . .

��� Tive saudades.

Ele a beijou na boca.

��� Lembre-se de que n��o temos mais nada um com o

outro ��� advertiu L��gia. ��� Somos apenas bons amigos.

��� Uma situa����o muito legal. Como simples amigos,

podemos fazer o que quisermos, sem compromissos.

Ela observou a cor bronzeada do rapaz, em contraste

com sua pele muito branca, devido aos meses passados em

Londres, onde o sol n��o era verdadeiro, apenas uma imi-

ta����o.

85

��� O que voc�� fez por l��? ��� quis saber o rapaz.

��� Estudei.

��� S��?

��� Bem, conheci algumas pessoas interessantes.

��� E me t r a i u . . .

��� Trai����o �� dist��ncia n��o �� trai����o. Aposto que voc��

tamb��m n��o deixou de ter suas gatinhas.

��� Mas eu sou homem.

��� N��o me venha com seu machismo.

��� Vamos, conta. Como �� o nome dele?

��� Michael.

��� E voc�� o chamava carinhosamente de Mike.

��� Claro.

��� Um ingl��s branco, sem sal e sem a����car.

��� �� o que voc�� pensa. Uma das pessoas mais fasci-

nantes que conheci.

��� A ponto de fazer com que terminasse comigo.

��� Ele n��o foi propriamente o motivo.

��� Mas contribuiu para isso.

��� De uma certa forma. Foi quando compreendi que

n��o amava voc��.

��� E amava Mike.

��� Tamb��m n��o. Era apenas uma companhia agrad��-

vel, exatamente como voc��.

��� S�� transou com ele durante todos estes meses em

que esteve l��?

��� Por que tanta curiosidade em torno de minha vida

amorosa?

��� Os amigos s��o sempre muito curiosos.

��� Tive algumas aventuras. Mas que n��o significaram





86


nada. At�� encontrar Mike. Voc�� precisava conhec��-lo. Ali��s,

ele est�� louco para vir ao Brasil.

* * *

Recostado no autom��vel, Alberto sentia ci��mes de L��-

gia. Era como se ela o estivesse traindo. O que teria ido

fazer naquele apartamento?

Sem d��vida encontrar com algum homem. E deviam

estar transando, enquanto ele estava ali, esperando-a, feito

um bobo.

O edif��cio ficava no final da rua, perto da esquina que

dava para a praia. Alberto achou melhor andar um pouco.

Alcan��ou a Avenida Vieira Souto e ficou olhando o mar.

Recordou-se do castelo de areia que constru��ra dias

atr��s na praia de Copacabana, junto com um menino des-

conhecido. O castelo n��o existia mais. Tinha sido destru��-

do pelo mar, ou por alguma pessoa.



* * *

Sandra e Norma decidiram sair. Tomaram o autom��-

vel da primeira e seguiram para a Barra.

��� Voc�� devia aprender a dirigir ��� disse Sandra.

��� Tentei uma vez e n��o consegui.

��� Todo mundo sabe dirigir.

��� Menos eu. E n��o pretendo tentar novamente. Sou

uma nega����o ao volante. Morro de medo de tudo. De atro-

pelar algu��m, de levar uma batida. N��o dou pra isso.

��� Voc�� desiste muito depressa das coisas. N��o �� �� toa

que acho que deve fazer an��lise.

��� N��o preciso de psicanalista.

87

��� Mas claro que precisa, Norma. Todas as pessoas

precisam.

Ao chegarem �� Barra, escolheram um barzinho a fim

de tomarem chope:

��� Estamos fazendo um programa t��o suburbano! ���

disse Sandra. ��� Mas sabe que estou cansada das coisas

sofisticadas? Principalmente das pseudo-sofisticadas. De-

vemos descobrir os sub��rbios, as pessoas simples, aut��n-

ticas. A falsidade de nosso meio j�� me deixou absolutamente

saturada.

��� Voc�� tem r a z �� o . . .

��� Mas claro que tenho. Estou farta do brilho artifi-

cial, dos sentimentos falsificados. Depois que comecei a fa-

zer an��lise, estou me descobrindo.

"Ela n��o perde nunca a oportunidade de falar na tal

an��lise" ��� pensou Norma. Mas, apesar de Sandra n��o

deixar os outros falarem e querer sempre impor seus pon-

tos de vista, era uma criatura agrad��vel, das mais agra-

d��veis que Norma conhecia. Contestou a amiga:

��� Mas voc�� n��o trocaria seu apartamento no Leblon

por uma casa no sub��rbio.

��� Talvez trocasse... Na verdade, s�� continuo naque-

le apartamento por causa de Frederico. Ele morreria se ti-

vesse que ir para a Zona Norte. E como n��o tenho a menor

inten����o de me separar do meu marido, o jeito �� perma-

necer no Leblon.

Entre os poucos fregueses que estavam no bar, ��quela

hora, havia um homem, de cal����o de banho, sentado mais

adiante, em frente a elas.

Era um tipo meio cafajeste, muito queimado de praia,





88


rugas pronunciadas devido ao sol intenso sob o qual devia

ficar diariamente, um bigode caindo nos cantos da boca.

N��o restava d��vida de que fora um homem bonito.

E ainda era. Devia mesmo ser mais ou menos jovem, n��o

tendo atingido os quarenta anos. Apenas tinha precoce-

mente envelhecido. Seu corpo, entretanto, era esbelto,

musculoso, jovem.

Parecia um misto de pescador com marinheiro. Tanto

Sandra como Norma j�� o tinham examinado nos m��nimos

detalhes, inclusive as tatuagens que tinha num dos bra��os

e na coxa direita.

Ele, por sua vez, tamb��m olhava para as duas mulhe-

res. Notava-se flagrantemente que estava mais interessado

em Sandra, por ser mais bonita. Via nelas tamb��m a opor-

tunidade de ganhar algum dinheiro.

As duas terminaram n��o suportando mais aquela pre-

sen��a, sem comentarem. Sandra, como sempre, foi quem

se referiu primeiro ao desconhecido:

��� J�� notou aquele cara?

��� Claro, n��o ��, Sandra? Ou voc�� pensa que sou cega?

��� Daria um bom programa.

��� Ele est�� olhando pra voc��.

��� Deixe de mod��stia.

��� Ora, est�� na cara.

��� Vamos ser honestas. N��s duas estamos interessa-

das nele. Mas acho que voc�� hoje est�� necessitando mais

de uma aventura do que eu. Nada melhor do que uma dis-

tra����ozinha deste tipo para fazer com que esque��a qual-

quer problema.

��� N��o precisa ter pena de mim.

��� Desde quando eu tenho pena das pessoas, Norma?

89 -

Voc�� j�� me conhece h�� tantos a n o s . . . E depois, voc�� ��

uma pessoa que n��o provoca piedade e sim inveja. Voc��

tem tudo. Muito mais dinheiro do que eu, al��m de ser ca-

sada com um homem lindo.

Norma sabia que a amiga j�� transara com Joel, mas

fingia n��o saber. Ela n��o ligava para o fato. Afinal, Joel

andava com tantas, que mais uma menos uma, n��o fazia

diferen��a.

��� Ele n��o tira os olhos da gente.

��� O campo est�� livre. Pode aproveitar. �� como lhe

disse, n��o existe melhor rem��dio para depress��o. Apesar

de dar muito valor ao meu analista, uma aventura com um

homem destes vale mais do que v��rias sess��es de an��lise.

* * *

��� N��o, Tony ��� recusou L��gia.

��� Porque n��o?

��� J�� repeti muitas vezes que agora somos apenas

bons amigos.

��� O que n��o impede que a gente transe de vez em

quando.

��� N��o estou a fim.

��� Mas eu estou. Puxa, L��gia, parece at�� que nunca

gostou de mim. Este tempo todo afastada e agora fazendo

tanto d o c e . . .

��� Acabei de almo��ar h�� pouco.

��� Garanto que n��o vai fazer nenhum mal.

Ela lembrou-se do motorista que a esperava na porta:

��� Deixei o chofer me esperando.

��� E o que tem isso? �� a obriga����o dele.

90

��� J�� que insiste t a n t o . . .

��� Eu sabia que voc�� terminaria concordando.

��� Mas tem que ser r��pido. N��o quero demorar.

��� Voc�� sabe que n��o sou de perder tempo.

Ali mesmo, no sof�� da sala, ele puxou-lhe a calcinha

e deitou-se por cima. L��gia deixou que a penetrasse, segu-

rando-lhe os cabelos e beijando-o carinhosamente. Fechou

os olhos e lembrou-se de Alberto, o motorista, ao mesmo

tempo que pensava em Mike.

Por que pensara no chofer? Lembrar de Mike, era

��bvio, mas quanto a Alberto, n��o tinha o menor sentido.

* * *

Rodrigo, o homem que era objeto do desejo de Sandra

e Norma, continuava sentado no mesmo lugar, s�� que assu-

mira uma posi����o mais acintosa, com as pernas abertas,

e encarando-as.

Pela maneira como elas o olhavam, compreendeu que

estava sendo o motivo da conversa entre as duas mulhe-

res. Pegou seu copo e chope e aproximou-se:

��� Oi!

��� Oi! ��� responderam as duas a um s�� tempo, como

se tivessem ensaiado.

��� Posso sentar aqui?

��� Claro ��� respondeu Sandra.

��� Nada mais chato do que beber sozinho.

��� Tamb��m acho ��� confirmou Norma.

Ele sentou-se ao lado das duas mulheres. De perto,

suas rugas eram mais pronunciadas, mas s�� ent��o podia-se

91

perceber que seus olhos, apesar de pequenos, eram muito

azuis.

��� "Que homem fascinante!" ��� pensou Norma.

��� "Um barato!" ��� disse Sandra para si mesma.

��� "Na cama, deve ser o m��ximo".

��� "Ele faz exatamente o meu g��nero, apesar do meu

g��nero ser um tanto ou quanto variado".

Enquanto as duas o observavam, Rodrigo compreen-

deu que estava sendo analisado em todos os detalhes e deu

um sorriso c��nico. Sabia que aquele tipo de mulher n��o

lhe resistia.

A conversa foi se encaminhando para o ponto que os

tr��s queriam. Quinze minutos depois, estimulados pelos

chopes que bebiam em abund��ncia, j�� pareciam se conhe-

cer h�� muito tempo.

Elas n��o descobriram se ele era marinheiro ou pes-

cador. Tamb��m pouco se importavam com isso. Talvez

fosse melhor n��o saberem nada a seu respeito. Era melhor

n��o decifrar o mist��rio.

Seria uma decep����o se n��o fosse nem uma coisa nem

outra, e sim um simples funcion��rio p��blico de f��rias que

estava indo �� praia todos os dias.

��� Voc��s est��o de carro?

��� Estamos.

��� N��o seria uma boa sairmos por a��?

��� Este seu "por a��" �� muito vago ��� disse Sandra,

com seu esp��rito objetivo.

��� Bem, a gente podia ir para algum lugar em espe-

cial ��� falou Rodrigo de novo com seu sorriso c��nico.

��� Um lugar mais ��ntimo, onde pud��ssemos ficar mais

�� vontade?

92

��� Acertou. Tem um hotelzinho, mais adiante, do qual

sou fregu��s. Vou sempre l��. Todo mundo me conhece.

��� Isso �� uma proposta? ��� perguntou Sandra rindo.

��� �� ��� respondeu o homem.

��� N��o vou deixar minha amiga sozinha ��� afirmou

Sandra, uma vez que Rodrigo dirigia-se quase que somen-

te a ela.

��� Mas quem foi que disse que ela vai ficar? Estou

falando com voc��, porque ela �� muito calada. Vamos os

tr��s.

��� Que legal! ��� exclamou Sandra no auge do entu-

siasmo.

Chamaram o gar��om. Sandra fez quest��o de pagar a

conta. Tomaram o carro e foram para o hotel.

��� Como est��o vendo, estou s�� de cal����o, n��o trouxe

nem carteira.

��� N��o se preocupe com dinheiro.

Rodrigo sorriu mais uma vez.

Entraram no quarto do hotel. Ele agarrou as duas

sem a menor cerim��nia:

��� A gente vai se divertir um bocado.

��� N��o duvido.

��� Nem eu.

Norma j�� esquecera todos os seus problemas. At�� a

dor de cabe��a sumira definitivamente. Rodrigo tirou logo

a sunga, para mostrar ��s duas os seus, predicados.

��� Voc��s v��o gostar.

��� N��o estamos duvidando.

��� Vai ser uma ��tima brincadeira...

Deitaram-se na cama, Norma e Sandra j�� despidas

93

tamb��m. Ele acariciava as duas, dividindo exatamente em

partes iguais as aten����es entre uma e outra.

Um verdadeiro profissional.

Enquanto chupava os seios de Sandra, pegava nos de

Norma, e vice-versa. E assim continuou, ora com uma, ora

com outra.

Gozou primeiro em Norma.

Algum tempo depois, procurou se excitar de novo, para

transar com Sandra.

Pelo visto, a brincadeira levaria todo o resto da tarde,

pois sa��de era o que n��o faltava a Rodrigo, que estava

tamb��m estimulado com a quantia que receberia depois

pelo trabalho. Certamente um pagamento em d o b r o . . .

* * *

Alberto estava impaciente. Era sempre o enganado.

Com Helena fora a mesma coisa. Ele trabalhando, cons-

truindo honestamente sua felicidade, enquanto ela se di-

vertia com outro. E tudo fora destru��do de repente. Exata-

mente como o castelo de areia.

Agora, enquanto esperava, L��gia transava com outro.

Mas L��gia era L��gia, n��o era Helena. N��o tinha nada a ver

uma coisa com a outra.

L��gia era filha de seus patr��es, nada mais do que isso.

N��o podia sentir ci��mes de algu��m que n��o tinha nada

com ele. No entanto, sentia-se tra��do.

Via as ondas que quebravam na praia. Olhou para

mais longe, onde o mar se confundia com o c��u. Apenas

uma linha os dividia, Sentia-se cada vez mais triste e re-

94

solveu voltar para junto do autom��vel, em frente ao edi-

f��cio onde L��gia estava.

No apartamento, a jovem despedia-se de Tony:

��� Foi estimulante.

��� Eu n��o disse?

Ela ajeitou o vestido, foi para diante de um espelho

e retocou a maquilagem.

��� Est�� na hora de ir embora.

��� Telefonar�� para mim?

��� Claro.

Beijaram-Se e L��gia saiu.

Ele ficou na porta do apartamento, at�� a jovem tomar

o elevador. Este chegou:

��� Tchau!

��� Tchau!

Embaixo, L��gia encontrou Alberto recostado no carro.

Falou sorridente:

��� Demorei muito?

��� Um pouco.

��� Desculpe-me.

Entraram no autom��vel.

��� Para onde quer ir agora?

��� Para casa �� que n��o vou. Quero chegar bem tarde.

S�� assim meus pais v��o se lembrar de mim.

Num certo sentido, ela estava achando um pouco in-

fantil sua atitude, mas agora levaria seu capricho at�� o

fim.

Ele seguiu pela Avenida Vieira Souto. O carro corria

a uma velocidade que ia aumentando cada vez mais. L��gia

sentia o vento em seus cabelos.

As casas passando rapidamente diante de seus olhos.

95

Assim como as pessoas. Mike, Tony, e todos os outros na-

morados. Quantos homens s��o necess��rios para preencher

a vida de uma mulher?

Talvez um ��nico fosse o suficiente. No entanto, no

mundo atual, era quase imposs��vel, uma verdadeira uto-

pia, uma mulher ter apenas um homem durante toda a

sua exist��ncia.

Atravessaram o Leblon e tomaram o caminho da Bar-

ra. Alberto n��o perguntara para onde ela queria ir. L��gia

n��o ligou. Desejava ir para qualquer lugar menos para

casa.

-Perto do mesmo barzinho onde sua m��e momentos

antes estivera, L��gia pediu a Alberto para parar.

��� Vamos tomar um chope?

Desceram do autom��vel. Sentaram-se numa mesa

qualquer.

��� Sinto-me bem ao seu lado.

Alberto levou o copo aos l��bios, em sil��ncio, olhando

o vazio.

* * *

Rodrigo, que havia bebido bastante, depois de pos-

suir Sandra e Norma, come��ou a se tornar inconveniente.

Mandou buscar umas garrafas de cerveja e come��ou a can-

tar e fazer a maior baderna no quarto do hotel onde se en-

contravam.

Neste sentido, Rodrigo as decepcionou. N��o era um

verdadeiro profissional, como haviam julgado. Bebia de-

mais em servi��o.

Quanto �� profiss��o dele, n��o ficaram sabendo e ago-

96

ra n��o tinham mais curiosidade a respeito. Afinal, j�� ha-

viam feito o principal.

As duas amigas compreenderam que estava na hora

de sa��rem. Se permanecessem ali e o homem continuasse

bebendo, terminariam ��s voltas com a pol��cia, o que seria

muito desagrad��vel.

Ent��o, como se tivessem feito um mudo acordo, co-

me��aram a se vestir ao mesmo tempo.

��� Voc��s j�� v��o? ��� perguntou o homem.

��� J�� ��� respondeu Sandra.

��� Mas agora �� que a festa vai come��ar.

��� Pelo contr��rio, a festa terminou.

��� A gente pode se divertir muito ainda.

��� S��o cinco horas da tarde. Est�� na hora de voltar-

mos. Voc�� pode ficar aqui, se quiser.

��� Sozinho?

��� Problema seu.

��� V�� l�� como fala, sua vagabunda ��� falou Rodrigo,

subitamente agressivo.

Sandra n��o gostou de ser chamada de vagabunda, cla-

ro. Ia responder �� altura, mas Norma a impediu de come-

ter a imprud��ncia, tomando-lhe a palavra e procurando

contornar a situa����o:

��� N��o fique aborrecido, Rodrigo. N��s n��o podemos

voltar tarde para casa.

��� Os maridinhos est��o esperando voc��s daqui a

p o u c o . . .

��� Eu sabia que voc�� era um rapaz inteligente.

��� E bom de cama ��� acrescentou Rodrigo.

��� Isso n��o precisa mais dizer, est�� mais do que pro-

vado.





97


Ele melhorou .o humor. Norma, quase pronta (havia

se vestido o mais rapidamente poss��vel), pegou a bolsa e

tirou mil cruzeiros que entregou a Rodrigo.

O homem reclamou:

��� S�� isso?

��� Lembre-se de que pagamos o hotel e sua conta no

bar ��� argumentou Sandra, que ainda estava aborrecida

por ter sido chamada de vagabunda.

Norma, por��m, n��o queria barulho. Apenas livrar-se de

Rodrigo e sair daquele quarto o quanto antes. Pegou mais

duas notas de quinhentos cruzeiros e entregou-lhe:

��� Acho que agora est�� satisfeito.

��� T�� legal ��� concordou Rodrigo. ��� Quando quise-

rem me ver de novo podem dar um pulo naquele bar. Es-

tou sempre por l��.

���O que voc�� faz na vida? ��� perguntou Sandra, inso-

lente.

��� Para que quer saber?

��� Vamos embora, Sandra ��� chamou Norma.

��� Espere um pouquinho que j�� vou d i z e r . . .

��� N��o precisa ��� disse Norma puxando a amiga.

As mulheres sa��ram e deixaram-no no quarto. O ho-

mem beijou as c��dulas que ganhara por pouco mais de

Uma hora de "trabalho". N��o tinha sido t��o mau pago as-

sim. Se desse esta sorte todos os d i a s . . .

E continuou bebendo sua cerveja.

J�� no autom��vel, fazendo o percurso de volta ao Le-

blon, Sandra e Norma comentavam a aventura.

��� Voc�� n��o devia ter provocado o cara ��� falou

Norma.

98

��� Ora, ele estava se metendo a besta. Al��m disso, n��o

vale dois mil cruzeiros.

��� Este dinheiro n��o vai me fazer falta. De qualquer

modo nos divertimos.

99

CAPITULO 8

SEM SA��DA

Num quarto miser��vel da Lapa, Helena fez dois san-

du��ches de p��o com um resto de mortadela. Um para si

e outro para o filho de cinco anos.

Era o almo��o dos dois. Sentou-se na cama e ficou mas-

tigando o sandu��che, enquanto olhava para Carlinhos.

Seus olhos eram tristes e ficaram mais ainda ao olhar

o corpo franzino do menino, que mastigava tamb��m o p��o

duro.

Ela acordara tarde, uma vez que passara a noite "tra-

balhando" pelas ruas da Lapa. Tinha o rosto envelhecido

para a idade e parecia ter trinta e cinco anos, quando na

realidade tinha dez menos.

Olheiras profundas, dentes cariados, pele macilenta.

O corpo magro, rugas em volta dos olhos e da boca. Quem

a tivesse conhecido seis anos antes e a visse agora, n��o a

reconheceria. Nada restava da beleza saud��vel daquela

��poca.

Se arrependimento matasse, certamente Helena j�� te-

ria morrido. Maldizia sua sorte continuamente e ainda n��o

se" conformara com o grande erro de sua vida, ao se deixar

seduzir por um cafajeste, perdendo Alberto para sempre.

Tudo teria sido completamente diferente, se n��o tives-

100

se aparecido aquele "desgra��ado" (ela nunca se referia ao nome de M��rio, seu sedutor, nem em pensamento).

Mas n��o o culpava por tudo. N��o se cansava de se

martirizar, apesar de tanto tempo j�� ter decorrido. Tinha

sido tamb��m culpada pelo que lhe acontecera.

Nunca poderia ter tra��do Alberto, um rapaz s��rio, tra-

balhador, que a adorava. Ainda tinha pesadelos referentes

�� noite em que ele, b��bado, fora para a porta de sua casa

e come��ara a fazer esc��ndalo, atirando pedras e atingindo

seu pai.

Fugira da casa da fam��lia, envergonhada. E nunca

mais procurara ningu��m. Nem mesmo seu sedutor. Traba-

lhara numa lanchonete at�� quase o filho nascer.

Depois, suas dificuldades, que n��o eram poucas, au-

mentaram. Tinha que cuidar do menino rec��m-nascido.

Uma colega de trabalho, com quem fizera amizade, a aju-

dara.

N��o sabia mesmo como sobrevivera (e achava que te-

ria sido muito melhor se tal n��o tivesse acontecido).

Vivia na maior mis��ria e, no momento, estava desem-

pregada. Nesses per��odos em que ficava sem trabalho, con-

seguia algum dinheiro praticando a prostitui����o.

No in��cio, custou a adaptar-se a essa situa����o, mas

depois n��o ligava muito para o fato. Nada lhe importava

mais. Precisava dar comida ao filho, cri��-lo, de um jeito

ou de outro.

Acabou de engolir seu sandu��che, levantou-se e saiu

para comprar alguma coisa para comer �� noite e no dia

seguinte, com o dinheiro que arrumara na noite anterior.

Andou pelas ruas vagarosamente. N��o tinha pressa.

101

Entrou num supermercado, comprou uma lata de leite em

p�� para Carlinhos e alguns outros mantimentos.

Ao sair do supermercado, viu um jornal jogado no

ch��o. Apanhou e levou junto com as compras.

Assim que chegou ao seu quarto, colocou o que com-

prara no pequeno arm��rio. Carlinhos brincava num canto.

Helena deitou-se e come��ou a ler o jornal.

Pouco depois encontrou o an��ncio que falava no desa-

parecimento de Alberto. Antes de ler, ficou alguns momen-

tos olhando a fotografia do rapaz.

E sentiu uma saudade muito profunda, uma tristeza

muito grande. Tudo teria sido t��o diferente se tivesse ca-

sado com e l e . . .

Desaparecido. Por que ele desaparecera? Leu o que

dizia o an��ncio e sua tristeza aumentou. Nunca mais ti-

vera not��cias de Alberto, nem da fam��lia, nem de ningu��m,

desde que fora embora de casa.

A not��cia do jornal dizia que ele fugira de um hos-

p��cio. Alberto enlouquecera. Mais uma culpa em suas cos-

tas. Sua dor aumentou e teve vontade de morrer naquele

instante.

Lembrou-se de uma s��rie de pequenos fatos.

Ela e Alberto andando pela rua sem cal��amento onde

ele morava, logo no in��cio do namoro. De repente, o rapaz

apanhou uma pequena pedra, que ao sol brilhava, e en-

tregou-lhe.

��� O que �� isso?

��� Um presente.

���O que vou fazer com esta pedrinha?

��� Um anel. Faz de conta que �� um brilhante.

102

E ela guardou a pequena pedra, que esqueceu na sua

fuga.

(Ser�� que desde aquela ��poca Alberto n��o j�� era pro-

penso �� loucura? Na sua imagina����o aquela pedrinha tal-

vez fosse um brilhante de verdade.)

Voltavam do cinema uma noite de s��bado.

O c��u escuro n��o mostrava nenhuma estrela. O tempo

estava carregado e dentro em pouco deveria cair um tem-

poral.

Alberto olhou para cima. Por entre os galhos e folhas

de uma ��rvore muito alta, via-se a luz de um poste.

��� Olhe a lua! ��� exclamou Alberto.

��� Aquilo n��o �� a lua. �� a luz de um poste.

(Realmente ele n��o era muito bom da cabe��a. Agora

relembrando esses pequenos epis��dios, via como a amava.

Ao seu lado transformava qualquer coisa em alguma coisa

valiosa.)

A chuva come��ou a cair. Um pingo grosso aqui, outro

ali.

��� Temos que andar depressa ��� disse Helena.

��� Para qu��?

��� Para n��o pegar chuva.

A tempestade caiu antes que chegassem na casa de

Helena, para grande alegria de Alberto, que come��ou a

rir, a correr e a cantar como um garoto.

��� Eu vi um filme em que o cara cantava e dan��ava

na chuva. Vamos dan��ar juntos?

��� Se algu��m passar, vai pensar que somos malucos.

��� E da��?

Ela n��o dan��ara com ele naquela noite na chuva,

(Agora arrependia-se de n��o t��-lo feito.) Mesmo porque n��o

103

havia m��sica tocando. Mas Alberto parecia escutar um

ritmo tocado, sem d��vida, pelos anjos, ao qual somente

seus ouvidos eram sens��veis.

Ela andando depressa, ele correndo, pulando e dan-

��ando ao seu redor.

Alcan��aram a casa completamente encharcados. Al-

berto despediu-se, dando-lhe um beijo molhado na face.

(Helena alisou a face direita, como se ainda sentisse

o beijo. Ele a respeitava tanto! Como se ela fosse de vidro,

de um vidro muito fr��gil, que ao menor toque pudesse

quebrar.)

O mais curioso �� que Alberto s�� fazia estas coisas

quando estavam juntos, sem a presen��a de estranhos.

Quando ele estava sozinho ou em companhia de outras

pessoas, quase n��o falava, trancado dentro de si mesmo.

Ao lado de Helena mudava completamente, expandia-se,

dava vaz��o a todas as suas fantasias.

Tudo aquilo passara. Teria mesmo existido? Seria que

ela tamb��m ficara louca e estava imaginando aquelas

coisas?

Olhou as paredes manchadas do quarto em que vivia

atualmente, testemunhas de sua mis��ria.

H�� mesmo pessoas para as quais a vida n��o apresenta

nenhuma sa��da.

Era o caso de Helena agora.

Carlinhos continuava brincando.

Helena come��ou a chorar.

O filho perguntou:

��� Por que est�� chorando?

��� Por nada.

��� Est�� sentindo dor?

104

Teve vontade de correr e abra��ar-se com o filho, mas

conteve o gesto. Se o fizesse, choraria mais ainda.

O menino permaneceu brincando.

Helena enxugou as l��grimas e assoou o nariz na barra

do vestido.

105

CAP��TULO 9

A FURIA

Nesse mesmo instante, Alberto disse para L��gia:

��� N��o quer ir embora?

��� Vamos tomar mais um chopinho.

A tarde estava acabando. Come��ava a escurecer. Ha-

via Uma certa tristeza no ar. Ele viu uma pedrinha no

ch��o, mas a pedra n��o brilhava. (S�� ao lado de Helena

as coisas pareciam se transformar. Dera-lhe uma vez uma

pedrinha que brilhava ao sol para que ela fizesse um

anel.)

Acabaram de beber o outro chope pedido. L��gia pagou

a conta. Sa��ram do bar em dire����o ao carro.

* * *

Norma despediu-se de Sandra e esperou um t��xi. Como

demorasse a passar, decidiu ir at�� a Avenida Ataulfo

de Paiva. L�� encontraria um com mais facilidade.

Fez sinal para um t��xi vazio. Entrou e seguiu para

Santa Teresa. Voltou a pensar na filha. Com certeza, j��

devia ter chegado em casa. Rememorou os acontecimentos

do dia.

Fora realmente um dia muito movimentado, cheio de

lances emocionantes. Estava ansiosa para chegar em San-

106

ta Teresa, tomar um banho, trocar de roupa, jantar e des-

cansar. Conversaria com a filha, que lhe falaria sobre sua

vida em Londres.

Mas uma nova surpresa aguardava Norma. L��gia ain-

da n��o aparecera. "E agora?" ��� pensou. Telefonou para

o escrit��rio do marido, preocupada.

��� Al��, Joel?

��� Oi, Norma, tudo bem?

��� N��o.

��� O que aconteceu?

��� Como estava com muita dor de cabe��a mandei Al-

berto, o novo motorista, apanhar L��gia no aeroporto pela

manh�� e at�� agora eles n��o chegaram. Estou numa afli����o

terr��vel, principalmente por causa de um an��ncio que vi

no jornal.

��� O que tem a ver o an��ncio com isso?

��� Ainda n��o leu os jornais de hoje?

��� Voc�� sabe muito bem que s�� leio quando volto para

casa, �� noite.

E Norma revelou ao marido o que lera sobre o chofer

que estava substituindo Sebasti��o h�� poucos dias.

��� E por que n��o ligou logo para mim?

��� Para n��o lhe perturbar.

��� N��o tomou nenhuma provid��ncia?

��� Claro que tomei. Telefonei para a fam��lia dele e

tamb��m para o hospital. Disseram-me para ligar assim

que Alberto retornar, a fim de que eles venham apanh��-lo.

N��o vieram logo porque, vendo uma assist��ncia na porta

de nossa casa, Alberto poderia fugir. Como tive que sair

107

�� tarde, deixei uma das empregadas a Jandira, encarre-

gada de avisar.

��� E n��o ligaram do hospital, uma vez que voc�� n��o

tornou a telefonar?

��� N��o sei. Vou perguntar �� Jandira.

Joel perdeu a paci��ncia:

��� N��o perguntou nada a ela quando chegou?

��� Voc�� sabe como eu sou, Joel. Nestas situa����es, nun-

ca sei como agir. Fico confusa e fa��o tudo ao contr��rio.

Assim que cheguei e n��o vi L��gia, corri e liguei para voc��.

Foi a primeira coisa em que pensei. Espere um pouco que vou falar com Jandira.

Chamou a empregada.

��� Ligaram do hospital, enquanto estive fora?

��� V��rias vezes.

��� E por que n��o me disse?

��� A senhora trancou-se logo no quarto. N��o deu

tempo.

��� E o que voc�� falou para eles?

��� Que o chofer ainda n��o tinha voltado.

Norma tornou a falar com o marido:

��� J�� telefonaram do hospital v��rias vezes.

��� Voc�� devia ter ligado para mim de manh��, Norma.

Temos �� que botar a pol��cia atr��s desse cara. Pela marca

e o n��mero do autom��vel, n��o vai ser dif��cil localiz��-lo.

Vou tomar as provid��ncias. Um abra��o. Tchau!

��� Tchau!

Joel desligou. Ele tamb��m n��o teria tomado nenhuma

provid��ncia, se tivesse sabido do fato pela manh��. Como

Norma, tamb��m pensaria que Alberto voltaria logo junto

com L��gia, sem maiores conseq����ncias.

108

Norma sentia-se arrasada.

N��o tomou banho, n��o trocou de roupa, nem descan-

sou, conforme seu prop��sito. Em vez disso, foi preparar

um drinque. Encheu o copo de u��sque, colocou algumas

pedras de gelo.

Ficou olhando um quadro na parede, deitada no sof��,

com o copo na m��o. Era um quadro abstrato, que ela n��o

tinha a menor id��ia do que representava. Sabia que tinha

custado uma fortuna. N��o entendia nada de pintura.

Odiou o quadro. Sem nenhuma raz��o.

N��o suportava ter que enfrentar um problema por

menor que fosse. Depois de alguns goles da bebida, sen-

tiu-se mais segura.

N��o, n��o acontecera nada a L��gia. Ela estava curtin-

do uma boa com Tony, como Sandra havia dito. Alberto

n��o fizera nenhum mal �� sua filha, que afinal de contas

n��o era nenhuma menina inexperiente. "Estas coisas s��

acontecem com os outros" ��� pensou.

Mas L��gia n��o escrevera dizendo que terminara com

Tony? Teriam feito as pazes, tamb��m por correspond��n-

cia? Ou, como lembrara Sandra, fora fazer as pazes pes-

soalmente, assim que chegara de Londres?

Tony.

Ora, por que n��o ligava para ele? Em vez de ficar en-

redada em tantas d��vidas, era s�� telefonar. Como n��o se

lembrara disso?

Levantou-se entusiasmada. Procurou o telefone do ra-

paz no caderno de endere��os.

Discou.

��� Al��! Tony est��?

��� Um momento ��� respondeu uma voz de mulher.

109

N��o tinha sido L��gia. Norma conhecia bem a voz da

filha. Pelo menos isso. Devia ter sido a empregada, uma

vez que Tony morava sozinho. Ou alguma outra namo-

rada.

Tony atendeu:

��� Al��!

��� Aqui �� Norma, m��e de L��gia.

��� Oi, como vai?

��� A L��gia est�� a�� com voc��?

��� J�� saiu.

��� Mas ela esteve em seu apartamento hoje?

��� Esteve, sim. Deve ter sa��do daqui pouco depois das

quatro. N��o me lembro da hora exata. Por qu��? N��o che-

gou em casa ainda?

��� N��o. Por isso me lembrei de ligar para voc��, ape-

sar de saber que voc��s tinham brigado.

��� Fizemos as pazes.

("Exatamente como Sandra dissera", pensou Norma.)

��� Estava muito preocupada, porque o avi��o chegou

��s d��z da manh�� e at�� agora nem sinal de L��gia. J�� estava

pensando em alguma desgra��a. Mas se ela saiu da�� depois

das quatro, ent��o est�� tudo bem. Sem d��vida deu uma

passada na casa de alguma amiga.

��� Deve ter sido. Daqui a pouco ela pinta por a��.

��� Um abra��o, Tony.

Norma largou o telefone aliviada. N��o havia motivo

para dramas. Arrependeu-se de ter ligado antes para Joel,

que j�� devia ter avisado �� pol��cia.

* * *

110

Alberto rodou com o carro pela Barra em. todas as di-

re����es, voltando pelas mesmas ruas, indo de um lado para

outro.

L��gia resolveu dar um fim ��quele passeio sem sentido.

Mesmo porque estava muito cansada.

��� Vamos voltar para casa ��� ordenou.

Mas desta vez, Alberto n��o obedeceu.

J�� escurecera.

Ele procurou o lugar mais deserto poss��vel.

��� Pra onde est�� indo?

O chofer n��o respondeu.

��� Quer me dizer para onde est�� me levando? N��o

me ouviu dizer para ir para casa? ��� perguntou L��gia irri-

tada.

Ele acelerou o carro e parou muito mais adiante, num

local onde n��o havia casas nem ningu��m.

��� Por que me trouxe aqui? ��� perguntou L��gia, ago-

ra com um certo receio.

Alberto saltou e abriu a porta de tr��s, puxando-a para

fora.

��� Voc�� enlouqueceu?

Alberto n��o deu a menor aten����o �� pergunta e, segu-

rando firme o pulso da jovem, a conduziu para. o mato.

��� Me largue.

��� N��o.

��� Est�� me machucando.

��� O que estava fazendo naquele apartamento?

��� Que apartamento?

��� Aquele da rua Francisco Otaviano onde ficou uma

por����o de tempo.

��� N��o �� de sua conta.

111

��� Quem era o cara?

��� Est�� bem, vou responder, mas s�� se me soltar.

Ele apertou com mais for��a o pulso da mo��a. Ela

resolveu falar:

��� �� um namorado meu e voc�� n��o tem nada com

isso.

��� O que fizeram no apartamento?

��� Ora, Alberto, chega de brincadeira. Vamos embora.

Num gesto mais violento, ele atirou-a no ch��o, caindo

por cima:

��� Voc�� vai fazer comigo tamb��m a mesma coisa.

L��gia resolveu mudar sua atitude. Procurou fazer um

acordo:

��� Por que isso, Alberto? Eu fui t��o legal com v o c �� . . .

Mas o motorista n��o queria acordo nenhum. Cara a

cara com L��gia, era como se visse Helena depois de ter

sido possu��da pelo outro.

Beijou-a furiosamente.

L��gia debatia-se.

��� N��o adianta for��ar. Eu n��o quero.

��� Voc�� vai fazer tudo que eu quiser.

L��gia deu-lhe um pontap��. Furioso, Alberto come��ou

a bater-lhe no rosto. O sangue espirrou e escorreu pela

boca.

(A pedrada. A pedra atingira o rosto do pai de Hele-

na, que tamb��m sangrara.)

A jovem viu que de nada adiantava resistir. Lem-

brou-se de uma frase que tinha lido ou ouvido em algum

lugar: "Se o estupro �� inevit��vel, relaxe e goze."

E assim fez.

112

Deixou que Alberto fizesse tudo que desejava, mesmo

porque n��o tinha como impedir. Ele rasgou-lhe a roupa.

Arrancou-lhe a calcinha. Abra��ou-se ao corpo e por um

instante pareceu acalmar-se.

O que diria Mike, seu namorado ingl��s, se a visse na-

quela situa����o? Ele, t��o brit��nico, t��o certinho? Sem d��-

vida acharia que os brasileiros, por causa do clima tropi-

cal, eram muito violentos. Selvagens.

Mas existem ingleses violentos, assim como suecos,

italianos, dinamarqueses, noruegueses, franceses, escandi-

navos, norte-americanos, mexicanos, espanh��is, russos, ja-

poneses, chineses, portugueses, belgas, tchecos, etc., etc.,

e t c . . .

A viol��ncia n��o era exclusividade de ningu��m, de ne-

nhum povo. Pertencia a todos. No mundo atual, a n��o-vio-

l��ncia �� que seria a exce����o.

Milhares e milhares de mulheres s��o estupradas, vio-

lentadas, se viciadas. Por que ela seria uma privilegiada?

Sairia daquela situa����o, com uma experi��ncia a mais.

Depois da pausa, em que parecia ter-se acalmado, Al-

berto recome��ou sua f��ria.

Ao mesmo tempo em que penetrava em L��gia, espan-

cava-a sem parar. Os gritos da mo��a n��o eram ouvidos a

n��o ser pelos insetos e pequenos bichos das redondezas,

que provavelmente j�� tinham presenciado alguma cena se-

melhante, sem entenderem bem por que os seres humanos

eram t��o irracionais.

L��gia terminou perdendo os sentidos, enquanto Alber-

to gozava.

Ele saiu de cima da jovem e ficou olhando o corpo-

113

Inerte e ensang��entado. Colocou-a nos bra��os e deitou-a

no banco de tras do autom��vel. Entrou tamb��m no carro

e saiu daquele lugar.

A escurid��o era quase completa.

Dirigiu-se para a praia.

Procurou um local onde n��o pudesse ser visto por

ningu��m.

N��o queria que interrompessem sua miss��o.

L��GIA, HELENA

HELENA-LIGIA.

Parou o autom��vel.

Olhou em torno.

Ningu��m.

Desceu e retirou o corpo de L��gia, que ainda respirava.

N��o, ela n��o morrera.

Seguiu com sua estranha carga nos bra��os.

Uma mulher nua, com manchas de sangue pelo corpo.

Encaminhou-se para o mar.

Agora n��o dava para ver a linha que dividia l�� longe

o mar do c �� u . .

O castelo de areia.

Sentiu a ��gua fria, molhando-lhe os p��s.

Uma sensa����o agrad��vel.

Parou.

Olhou o rosto da mo��a desacordada.

HELENA-L��GIA.

L��GIA-HELENA.

Quanto tempo ficou ali, im��vel, olhando o rosto, n��o

sabia.

Depois, recome��ou a andar.

114

Devagar.

Sempre em dire����o ��s ��guas.

Foi entrando, e n t r a n d o . . .

At�� desaparecer.

115

EPILOGO

Joel chegou em casa por volta das seis e meia da tar-

de. Perguntou �� esposa:

��� L��gia j�� chegou?

��� N��o.

��� E voc�� est�� assim t��o tranq��ila?

��� Me lembrei de telefonar para o Tony, um dos na-

morados de L��gia, aquele que mora na Francisco Otavia-

no. Ele disse que ela esteve l�� �� tarde. Acho que n��o acon-

teceu nada demais e estamos nos preocupando sem ne-

cessidade

��� A que horas ela saiu da casa do namorado?

��� Depois das quatro.

��� J�� era tempo de ter chegado aqui.

��� Foi �� casa de alguma amiga.

��� Mas podia pelo menos ter telefonado pra voc�� ou

pra mim.

��� Voc�� est�� levando a coisa muito a s��rio, Joel. Den-

tro de mais alguns minutos, L��gia estar�� de volta.

Ele n��o disse mais nada. Tamb��m se sentia um pouco

calmo com aquela ��ltima not��cia. Al��m disso, o que po-

deria fazer j�� fizera, avisando a pol��cia. Mas continuava

inquieto.

Surpreendeu-se consigo mesmo. N��o era pessoa de an-

116

g��stias nem grilos gratuitos. No entanto, n��o conseguia

se tranq��ilizar.

Na hora do jantar, L��gia n��o dera ainda o menor

sinal de vida. Ele sentou-se �� mesa, agitado, e n��o comeu

direito. Norma observou:

��� Voc�� tem andado muito nervoso ultimamente.

(Ela tamb��m voltara a ficar preocupada, mas pro-

curava reanimar o marido.)

��� �� muito estranho L��gia estar demorando tanto,

mesmo tendo ido �� casa de Tony e de alguma amiga.

��� Creio que este livro que est�� escrevendo �� que lhe

deixa assim tenso. Antes, voc�� era muito mais descon-

tra��do.

��� Talvez.

��� Tem trabalhado demais.

Terminado o jantar, Joel sugeriu que n��o podiam ficar

parados, sem fazer alguma coisa objetiva no sentido de lo-

calizar L��gia.

��� Mas voc�� n��o j�� avisou a pol��cia? Que mais se pode

fazer? ��� perguntou Norma.

��� Pegar o caderno de endere��os e come��ar a telefo-

nar para todas as amigas de nossa filha.

��� N��o tenho os telefones de todas elas.

��� Ligue para as que constam do seu caderno.

��� �� . . . n��o deixa de ser uma boa id��ia.

Norma ligou primeiro para Ana.

��� Oi, Aninha, aqui �� Norma, m��e de L��gia.

��� Como vai, tudo bem?

��� Mais ou menos. L��gia esteve em sua casa hoje?

��� Ela n��o est�� na Inglaterra?

117

Chegou no avi��o das dez da manh�� e at�� agora

n��o apareceu em casa. Pensei que pudesse estar a��.

��� N��o. Por que n��o telefona para o Tony?

��� J�� me comuniquei com ele. L��gia esteve em seu

apartamento, mas saiu �� tarde. De qualquer maneira, mui-

to obrigada.

Norma desligou e continuou sua maratona de telefo-

nemas. Falou com mais de uma d��zia de amigas da filha,

da letra A at�� Z, e n��o teve nenhuma not��cia. L��gia n��o

aparecera em lugar algum e n��o havia mais para quem

telefonar.

��� E agora? ��� perguntou ao marido.

��� Bem, n��o nos resta mais nada a n��o ser esperar.

Joel foi para o quarto e tentou escrever. Mas por mais

que se concentrasse, n��o conseguiu. Sol��cita, Norma foi

para o seu lado. Nunca estivera numa situa����o t��o dra-

m��tica.

A mulher acendeu um cigarro e acompanhou Joel at��

a janela, para onde ele se dirigira. Soprava um vento mais

ou menos forte, que fazia com que as cortinas esvoa��assem.

Ela sentiu um medo estranho.

��� Era daqui desta janela que Ros��lia via o homem

que ia para o quarto da empregada e depois tornou-se seu

amante?

��� Deve ter sido ��� respondeu Joel.

Ela olhou as sombras do jardim e teve receio de avis-

tar um vulto correndo. Estremeceu:

��� Seu romance �� muito m��rbido.

��� Voc�� disse que tinha gostado.

��� Claro que gostei. Tanto, que fiquei impressionada.

118

Lado a lado, em sil��ncio, continuaram olhando as

sombras. Angustiados. Com estranhos pressentimentos.

��� Alguma coisa aconteceu a L��gia, tenho certeza.

��� N��o fale assim, Joel.

��� N��o h�� outra explica����o. Sabe que horas s��o?

Norma mentiu:

��� N��o.

��� J�� passam das d e z . . .

��� E se L��gia n��o chegar?

Os dois procuraram adquirir for��as para passarem a

noite em claro. O telefone tocou. Correram para atender.

Joel pegou no telefone primeiro.

��� Ser�� da pol��cia? ��� gritou Norma.

Era do hospital.

Joel informou que n��o havia not��cias da filha e do

motorista, e que a pol��cia j�� estava �� procura dos dois.

* * *

Helena colocava batom diante do espelho quebrado.

Carlinhos j�� dormia. Ela passara o dia inteiro pensando

em Alberto e em seu passado. Agora, aprontava-se para

dar uma volta pelas ruas da Lapa e da Cinel��ndia.

Acabou de se arrumar o melhor que p��de. Olhou mais

uma vez para o filho antes de sair. Apagou a luz e fechou

a porta do quarto. Atravessou o l��gubre corredor da casa

de c��modos. Alcan��ou a porta de sa��da.

A casa ficava no fim de uma ladeira, numa das ruas

da Lapa. Portanto n��o muito longe de Santa Teresa, onde

Alberto arranjara o emprego de motorista ao fugir do hos-

p��cio. N��o sabia que tinha estado t��o pr��ximo do noivo

que perdera h�� alguns anos.

119

Desceu a ladeira com seu sapato de saltos tortos. Tor-

ceu o p�� num buraco da cal��ada e soltou um palavr��o. O

tornozelo ficou doendo.

Chegou �� rua Riachuelo.

Seguiu pela Evaristo da Veiga em dire����o �� Cinel��n-

dia. Os bares estavam cheios. Perambulou por entre as me-

sas, passeou pela cal��ada, olhou os cartazes dos cinemas.

Diante de um, ficou olhando as fotos expostas do fil-

me que estava passando. Aqueles artistas t��o bonitos, que

nem pareciam gente de verdade. Por que uns tinham uma

vida t��o boa e outros viviam como ela?

O destino.

S�� podia ser o destino. Desta vez, na rua, em vez de

se culpar do que lhe acontecera, como o fizera durante o

dia, culpava o destino.

Quem, sen��o o destino, teria colocado em seu cami-

nho aquele "desgra��ado" que a seduzira?

Se seu sedutor n��o a tivesse conhecido, sua vida n��o

teria sofrido aquela reviravolta.

Na rua, sempre ficava um pouco menos triste. As lu-

zes, as pessoas que passavam. Distra��a-se, olhando um e

outro.

O destino fora o grande culpado.

As pessoas nascem com seu caminho tra��ado.

N��o se pode fugir disso.

Pelo menos, com toda sua ignor��ncia, na cabe��a de

Helena, como na de muita gente, o destino servia de bode

expiat��rio. Era mais simples, mais c��modo. Tirava todo um

peso de seus ombros cansados.

(Mas sabia que, ao voltar para o quarto, seu ponto

de vista mudava totalmente. Destino coisa nenhuma. Fal-

120

ta de vergonha. Isso sim. Se ela tivesse tido vergonha na

cara, n��o se entregaria ao primeiro que passasse. Poderia

ser cantada por dezenas de homens e resistir.)

Deu mais alguns passos.

Parou na porta de outro cinema.

(Os filmes que via aos s��bados �� noite, junto com Al-

berto. Agora mal tinha dinheiro para comer uma vez por

dia, quanto mais comprar o ingresso de um cinema.)

Atravessou a pra��a e foi para perto de um ponto de

��nibus. N��o que quisesse tomar alguma condu����o. Apenas

ningu��m a tinha olhado nas imedia����es dos bares e dos

cinemas e ela ia tentar a sorte no ponto de ��nibus, onde

havia v��rias pessoas.

Parou, como se tamb��m esperasse condu����o.

Um homem come��ou a olh��-la de cima a baixo.

Aproximou-se e pediu um cigarro. Ele tirou o ma��o do

bolso e deu-lhe um. Puxou conversa. Finalmente encon-

trar�� um "fregu��s". Poderia ganhar alguns trocados.

Mas o desconhecido a olhara por acaso, n��o estava a

fim de fazer nenhum programa. Um ��nibus parou e ele

despediu-se, tomando-o e seguindo seu caminho.

Helena voltou a andar sem destino. Subiu a Avenida

Rio Branco, parou em outros pontos de ��nibus. Tinha sem-

pre dificuldade de arranjar "fregueses". -

Talvez por causa de seu aspecto, que n��o era dos me-

lhores. Juntava-se a isso, o resto de timidez que ainda

mantinha, e tamb��m sua pouca sorte.

Tornou a pensar no destino e na sorte. Uns tinham

sorte. Ou n��o tinham? Por que tinha gente que s�� com

um cart��o da Loteria Esportiva fazia os treze pontos e fi-

121

cava milion��ria, enquanto outros jogaram a vida inteira

e n��o ganhavam nada?

A sorte existia.

O destino existia.

Ali estava ela, como um exemplo vivo.

E se de repente encontrasse Alberto? Se ele a visse

pelas ruas, procurando homem? Teve medo de que isso

fosse mesmo poss��vel. Afinal, Alberto fugira de um hos-

p��cio e andava �� solta por a��. Poderia dar de cara com ele

a qualquer momento.

Viu um homem de costas.

Estava a v��rios passos dela.

Achou parecid��ssimo com Alberto.

Voltou sobre seus pr��prios passos.

Tudo, menos encontrar Alberto de novo.

Ele seria capaz de mat��-la.

Parou um pouco adiante. Alguma coisa a puxava para

tr��s.

Virou-se e olhou.

O homem, ainda de costas, permanecia no mesmo

lugar.

E se fosse mesmo Alberto?

Uma for��a superior a fez voltar e seguir em dire����o

a ele;

Passaria e olharia para se certificar.

Alberto, se a visse, n��o a reconheceria.

Ela mudara muito.

Pelo menos, o veria outra vez.

Mas por que queria v��-lo?

Estava apenas a dois passos do homem.

O cora����o disparou.

122

Alcan��ou-o, passou e olhou com o canto dos olhos,

disfar��adamente.

Teve uma decep����o.

N��o era Alberto.

Ao mesmo tempo, sentiu-se aliviada.

Encaminhou-se para o Largo da Carioca, pegou a rua

Senador Dantas, novamente a Evaristo da Veiga e estava

na Lapa outra vez. Passou por baixo dos Arcos e em frente

a uma boate de travestis.

Viu alguns na cal��ada, figuras grotescas, caras muito

pintadas. A vida era realmente uma coisa muito depri-

mente.

Sentiu uma certa identifica����o com eles. Eram cole-

gas de infort��nio, tamb��m tinham uma vida sem sa��da.

Como ela.

No entanto, os "alegres" rapazes n��o pareciam ser

infelizes. Riam, davam gritinhos, corriam, gesticulavam.

Ela decidiu ir at�� uma boate na Avenida Mem de S��,

onde poderia achar finalmente algu��m com quem fazer

um programa e ganhar algum dinheiro.

Encontrou outras mulheres da mesma profiss��o. To-

das velhas conhecidas. Mara estava na porta da boate.

��� Hoje �� noite est�� fraca.

��� J�� esteve l�� dentro?

��� Tem meia d��zia de gatos pingados.

��� Ainda �� cedo.

��� Dia de semana �� assim mesmo.

Entrou na boate. Mara a acompanhou. Dois homens,

parecendo oper��rios, estavam sentados a uma mesa.

��� Vamos para junto deles ��� disse Mara.

123

��� Aproximaram-se com o sorriso profissional. Senta-

ram-se depois de uma troca de palavras.

Os dois pediram mais uma cerveja para elas.

* * *

Pela primeira vez em sua vida, Norma passou uma

noite em claro, sem ser numa festa ou divertindo-se.

Ela e Joel j�� haviam consumido muitas doses de u��s-

que e alguns ma��os de cigarros.

��� N��o tem como deixar de reconhecer. Aconteceu al-

guma coisa muito grave com L��gia.

��� E por que a pol��cia ainda n��o os encontrou?

Voltaram a ficar em sil��ncio.

Apenas o rel��gio repetia:

Tic-tac-tic-tac-tic-tac...

O ru��do do rel��gio enervava mais ainda Norma. Aque-

le tic-tac assumia propor����es enormes. Ela colocou as m��os

nos ouvidos num gesto de desespero.

��� N��o ag��ento mais.

��� Calma, Norma, temos que ter calma ��� falou Joel

tamborilando os dedos na pr��pria perna.

O dia amanheceu.

A pol��cia encontrou o autom��vel procurado, num pon-

to qualquer da Barra, perto da praia.

N��o havia ningu��m no carro.

As buscas continuaram.

Joel e Norma pensavam em duas hip��teses.

��� Ser�� que L��gia ainda est�� viva?

��� Talvez ele a tenha apenas raptado.

��� Mas por qu��?

124

��� Como se pode saber o que se passa na cabe��a de

um louco?

��� E se ele a matou?

��� N��o vamos pensar no pior.

Tony telefonou:

��� L��gia est��?

��� Quem est�� falando? ��� perguntou Joel.

��� �� o Tony.

��� Oi, Tony, como vai? L��gia desapareceu.

��� Desapareceu?

E Joel contou todo o drama.

Mais dois dias sem not��cias de L��gia. Nem do moto-

rista.

Norma olhou-se no espelho e viu que estava uma fi-

gura execr��vel. Dois dias quase sem dormir. Precisava rea-

gir. Terminaria enlouquecendo tamb��m, se continuasse da-

quele jeito.

Tomou tranq��ilizantes. Passou o resto do dia dormin-

do. Comeu qualquer coisa �� noite. Tomou mais tranq��ili-

zantes e adormeceu novamente.

Na manh�� seguinte, a situa����o continuava a mesma.

Ela tinha a impress��o de que tudo n��o passara de um

sonho. Ou melhor, de um pesadelo.

Se permanecesse trancada em casa, ao lado do tele-

fone, �� espera de alguma not��cia, iria direto para o Pinel.

O marido, pelo menos, distra��a-se no escrit��rio.

Tomou um banho demorado. Almo��ou. Foi at�� o ar-

m��rio e escolheu o vestido de que mais gostava. Vestiu-o.

Maquilou-se cuidadosamente. Seu aspecto melhorou bas-

tante.

125

N��o poderia entregar-se �� autodestrui����o. Mesmo por-

que isso! de nada adiantaria. Necessitava urgentemente de

uma v��lvula de escape.

Como estava sem motorista, saiu de casa e tomou um

t��xi. Disse ao chofer:

��� Leve-me na Barra.

Desta vez ia sozinha. N��o queria testemunhas. Todos

certamente a condenariam. At�� mesmo Sandra, que acon-

selharia logo uma consulta ao analista.

Mandou o t��xi parar no mesmo bar onde estivera com

a amiga no dia do desaparecimento de L��gia.

Olhou e n��o viu quem procurava.

Um pouco decepcionada, sentou-se em uma das mesas.

Se ao menos visse algum outro homem interessante

por a l i . . .

Mas havia apenas alguns garot��es, acompanhados com

suas respectivas gatinhas. Um senhor idoso com uma mu-

lher mais velha ainda.

O gar��om que a atendeu era um tipo interessante. Jo-

vem, com um ar honesto, simples, saud��vel. Mas estava

trabalhando, n��o poderia largar o servi��o e ir para um

hotel com ela.

Levou um susto, quando, minutos depois, ouviu uma

voz falando quase ao seu ouvido, por tr��s:

��� Est�� sozinha hoje?

Virou-se. Era justamente quem procurava. Rodrigo.

��� Oi!

Ele sentou-se sem cerim��nia. Vestia a mesma sunga.

��� Beber sozinho �� muito chato.

��� Eu sei.

126

��� Veio �� minha procura?

��� Vim.

��� Quem experimenta uma vez, n��o esquece mais.

Todas adoram repetir. Eu sabia que voc�� ia voltar. S u a

amiga n��o quis aparecer?

��� Sandra n��o sabe que eu vim.

��� E por que dividir com ela, o que pode ser s�� seu,

n��o ��?

Foram para o mesmo hotel. Por incr��vel que possa pa-

recer, Norma n��o se sentia desprez��vel.

��� Quanto vai me dar?

��� O que voc�� quiser.

Rodrigo viu que podia explorar �� vontade. Arriscou:

��� Cinco mil.

Como ela n��o concordasse imediatamente, ele acres-

centou:

��� Vou fazer voc�� gozar como nunca, de todas as mar

neiras que quiser.

��� Dinheiro n��o �� problema.

Rodrigo sorriu.

Norma j�� estava nua em cima da cama. O homem

come��ou a beijar-lhe os seios.

Passaram muitas horas no quarto. Rodrigo era quase

um rob�� er��tico. Penetrava em Norma disposto a gozar

quantas vezes ela desejasse...

* * *

Ao chegar em casa, Joel deu-lhe a not��cia com voz so-

turna:

��� Encontraram os corpos.

127

��� L��gia- est�� morta?

��� Est��. E o motorista tamb��m. Morreram afogados.

Ela apresentava sinais de viol��ncia. Foram encontrados

numa praia distante.

FIM

128







---------- Forwarded message ---------
De: Bons Amigos lançamentos <





O Grupo Bons Amigos em parceria  com o grupo  Solivros com sinopses  tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais.

Sexo e Loucura - Carlos Aquino


Livro doado por Leandro e digitalizado por Fernando José
Sinopse:
Sexo e Loucura. Até que ponto as duas coisas se entrelaçam e se confundem ?Carlos Aquino com sua imaginação prodigiosa, penetra  nos labirintos da mente humana.

Sobre o autor:   

 Escritor, jornalista e ator, Carlos Aquino nasceu em Sergipe, mas foi para o Rio de Janeiro ainda adolescente.Trabalhou em filmes e peças de teatro, mas finalmente descobriu que sua verdadeira vocação era escrever, passando a dedicar-se à literatura. Sua estréia foi com o romance: Verão no Rio em 1973. Com seu.estilo vigoroso e moderno, colocando sempre uma dose de verdade em seus personagens, ele  foi no século passado na década de 70 e 80  um dos escritores de mais prestigio junto ao público.  Detalhes sobre sua morte leia em : https://www.terra.com.br/istoegente/79/tributo/index.htm

 Lançamento  :

a)https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/solivroscomsinopses

b)http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br

Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais e como forma de acesso e divulgação para todos. 

É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .

-- 

--

Livros:

http://bezerralivroseoutros.blogspot.com/

                                       

Áudios diversos:

http://bezerravideoseaudios.blogspot.com/

 

--
--
Seja bem vindo ao Clube do e-livro
 
Não esqueça de mandar seus links para lista .
Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.
==========================================================
Conheça nosso grupo Cotidiano:
http://groups.google.com.br/group/cotidiano
 
Muitos arquivos e filmes.
==========================================================
 
 
Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.
Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com
Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com
Para ver mais opções, visite este grupo em http://groups.google.com.br/group/clube-do-e-
---
Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.
Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com.
Para ver essa discussão na Web, acesse https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhkgCuLtoKiWoGQG9Jwn8BSwu-J5ty_54z%2BkTGK70xns%2BQ%40mail.gmail.com.
Para mais opções, acesse https://groups.google.com/d/optout.

0 comentários:

Postar um comentário

Vida de bombeiro Recipes Informatica Humor Jokes Mensagens Curiosity Saude Video Games Car Blog Animals Diario das Mensagens Eletronica Rei Jesus News Noticias da TV Artesanato Esportes Noticias Atuais Games Pets Career Religion Recreation Business Education Autos Academics Style Television Programming Motosport Humor News The Games Home Downs World News Internet Car Design Entertaimment Celebrities 1001 Games Doctor Pets Net Downs World Enter Jesus Variedade Mensagensr Android Rub Letras Dialogue cosmetics Genexus Car net Só Humor Curiosity Gifs Medical Female American Health Madeira Designer PPS Divertidas Estate Travel Estate Writing Computer Matilde Ocultos Matilde futebolcomnoticias girassol lettheworldturn topdigitalnet Bem amado enjohnny produceideas foodasticos cronicasdoimaginario downloadsdegraca compactandoletras newcuriosidades blogdoarmario arrozinhoii