sábado, 7 de setembro de 2019 By: Fred

{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO: OS PERVERTIDOS - HAROLD ROBBINS - FORMATOS : PDF, EPUB E TXT

O S

PERVERTIDOS



T��tulo original norte-americano

DESCENT FROM XANADU

Copyright �� 1984 by Harold Robbins

O contrato celebrado com o autor pro��be a exporta����o deste livro

para Portugal, o resto da Europa e outros pa��ses de l��ngua portuguesa.

Direitos de publica����o exclusiva em l��ngua portuguesa no Brasil

adquiridos pela

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Rua Argentina 171 ��� 20921 Rio de Janeiro, RJ ��� Tel.: 580-3668

aue se reserva a propriedade liter��ria desta tradu����o

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Em Xanadu Kublai Khan


Um pal��cio ao prazer consagrou;

Onde corria Alfa, o rio sagrado,





Por cavernas ao homem infinitas


Descendo para um mar sem sol.

Por duas vezes 10 quil��metros de terreno f��rtil

Com muralhas e torres foram cercados.

O pal��cio do sol! as cavernas de gelo!

E todos que ouviram deviam ver,

E todos deviam clamar: Cuidado! Cuidado!

Seus olhos faiscantes, seus cabelos esvoa��antes!

Um c��rculo tecem tr��s vezes ao seu redor,

E os olhos fechem no temor sagrado,

Por ele que do n��ctar se alimentou

E bebeu o. leite do Para��so.

Sele����es

"Kublai Khan"

Samuel Taylor Coleridge



LIVRO UM





A BUSCA


1976-1980





1


A PEQUENA M��DICA, oculta por ��culos escuros europeus, levan-

tou-se de sua mesa e foi olhar pelas janelas. Gesticulou para ele.

Pairando muito acima, ele acompanhou a dire����o de sua m��o

para uma fonte enorme, na vasta extens��o de relva, com uma

tonalidade verde-azulada.

��� Sabe o que �� aquela fonte, Sr. Crane? ��� perguntou ela, em

seu sotaque meio europeu.

O homem assentiu.

��� Claro, Dra. Zabiski. �� a fonte de Ponce de Leon.

Ela levantou o rosto para fit��-lo.

��� Isso �� uma lenda, Sr. Crane. Uma alegoria. N��o �� uma

realidade. Nunca houve uma realidade assim.

Ele ficou em sil��ncio por um momento.

��� Sei disso tamb��m, Dra. Zabiski.

Ela voltou �� cadeira atr��s da mesa e se sentou; esperou que ele

se sentasse �� sua frente. Tirou os ��culos escuros com a m��o direita,

colocou-os sobre a mesa, comentando:

��� Voc�� tem olhos de um azul-cobalto.

Um t��nue sorriso insinuou-se nos l��bios do homem.

��� E os seus s��o fulvos, de um castanho-amarelado, quase

como os de um gato.

Ela fitou-o nos olhos e disse, em voz suave:

��� Se �� imortalidade que procura aqui, Sr. Crane, est��

perdendo seu tempo.

O olhar dele n��o se alterou.

��� N��o foi isso que ouvi dizer.

9

��� Pois ouviu incorretamente.

��� Vinte milh��es de d��lares incorretamente?

Os ��culos escuros tornaram a cobrir os olhos da Dra. Zabiski.

��� Creio que �� verdade o que ouvi dizer, Sr. Crane. �� um dos

homens mais ricos do mundo.

��� Foi a sua vez de ouvir incorretamente. Eu sou o homem

mais rico do mundo.

Ela inclinou a cabe��a.

��� Mais do que o rei saudita, Getty, Ludwig, Hughes?

��� Todos s��o como crian��as brincando. Com um estalar dos

dedos, posso lhes tirar todas as bolinhas de gude.

��� Ent��o s�� lhe resta um jogo. A imortalidade.

��� �� o ��ltimo jogo, doutora. Entramos no jogo espacial e

ganhamos. O jogo das profundezas do oceano... tamb��m ganhamos.

Velocidade, altitude, profundidade, indique qualquer um... ganha-

mos todos. E tamb��m me empenhei em outros jogos. Dinheiro,

poder, sexo. Adoro a todos e estou sempre jogando-os. Mas s��o

jogos de crian��as. Estou me lan��ando agora no maior de todos os

jogos. A imortalidade. Quero ser o primeiro homem a viver para

sempre.

��� N��o quer muita coisa... apenas uma coisa que nenhum

homem jamais conseguiu. ��� Ela observou-lhe os olhos atentamente.

Nunca mudavam de foco ou express��o. ��� Mas acreditaria em mim se

lhe dissesse que tamb��m nunca fui capaz de alcan����-la?

��� Claro que acredito.

A Dra. Zabiski hesitou.

��� Ent��o n��o compreendo. O que espera de mim?

��� Nada. E tudo. Chegou mais perto do que procuro que

qualquer outra pessoa no mundo.

��� Tive sucesso em alguns casos de retardamento geri��trico.

Mas nenhum em suspens��o geri��trica. Isso n��o �� imortalidade.

��� Mas ajudou muitas pessoas importantes.

Ela permitiu-se um sorriso de mod��stia.

��� �� verdade. E gosto de pensar que ajudei-as. Der Alte que

veio da Alemanha, o papa de Roma, at�� mesmo Sta��n de Moscou.

Mas, com o passar do tempo... todos morreram.

��� Mas vieram aqui. Todos eles. E conseguiram alguma coisa.

Ela acenou com a cabe��a, lentamente.

10

��� Em cada caso, a qualidade da vida melhorou, independente

da idade.

��� Mental e fisicamente?

Era quase mais uma declara����o do que uma pergunta.

��� Isso mesmo. Mas, ao final, todos morreram.

��� Em m��dia, quanto tempo acha que lhes deu?

Ela levantou as m��os.

��� N��o sei. Houve muitos fatores. N��o apenas a idade e o

momento em que procuraram para o tratamento. ��� A Dra. Zabiski

tornou a hesitar. ��� H�� pessoas que n��o reagem absolutamente ao

meu tratamento. N��o h�� garantias.

��� Se eu reagisse a seu tratamento, o que poderia esperar?

��� Em m��dia? ��� Ela pensou por um momento. ��� Est�� com 42

anos agora?

Ele assentiu.

��� Dentro de oito anos, em 1984, aos 50 anos de idade, estaria

geriatricamente com 45; aos 60, teria geriatricamente 52; aos 70,

talvez 60; e aos 80, possivelmente 64 a 66. ��� Ela fez uma breve

pausa. ��� Tudo isso, �� claro, presumindo que continue o programa

at�� a conclus��o.

��� O que significa at�� o fim da minha vida?

��� �� um programa para a vida inteira, Sr. Crane. Para

come��ar, precisar�� de uma perman��ncia de dois meses aqui, enquan-

to verificamos se reagir�� a nosso tratamento. Depois, se confirmar-

mos que h�� possibilidade de uma rea����o favor��vel, ter�� de passar

uma semana aqui, a cada tr��s meses, para o tratamento propriamente

dito.

- Ele sorriu, n��o desagradavelmente.

��� Presumindo que eu fa��a todo o tratamento, Dra. Zabiski, o

que lhe acontecer��?

Ela sorriu em retribui����o.

��� Estarei morta muito antes de chegar ao final. Mais isso n��o

�� importante. O tratamento continuar��.

Ele ficou em sil��ncio por um momento.

��� Al��m do tempo de tratamento, terei de providenciar mais

duas semanas para viajar at�� aqui. Ou seja, quase dois meses por ano

do meu tempo. N��o teria condi����es de cuidar dos meus neg��cios.

��� A decis��o �� toda sua, Sr. Crane.

��� H�� alguma possibilidade do tratamento ser levado at�� mim?

11

A Dra. Zabiski sacudiu a cabe��a.

��� Lamento muito, Sr. Crane. Levei 30 anos para formar este

complexo e �� o ��nico no mundo.

��� Aslam, Filatov e Niehans exportam seus tratamentos. E

inclui alguma coisa da metodologia deles em seu tratamento.

��� Tem raz��o.

��� Ent��o qual �� o ingrediente secreto que possui aqui e que n��o

pode se transferir para qualquer outro lugar do mundo?

Ela ofereceu-lhe um meio sorriso.

��� O ingrediente secreto, Sr. Crane, como diz, �� a sua pr��pria

pessoa.

��� N��o compreendo.

��� Acho que compreende, Sr. Crane.

��� Conhe��o todas as teorias ��� disse ele, francamente. ��� Sei

que incorporou a proca��na, magn��sio e minerais de Aslam, as

implanta����es de placenta fresca de Filatov e as c��lulas de ovelha n��o-

nascida injetadas por Niehans. ��s vezes, penso at�� que reuniu tudo

numa s�� f��rmula. Mas isso seria simples demais. �� por isso que penso

haver um ingrediente secreto.

��� N��o prestou aten����o ao que eu disse, Sr. Crane ���

murmurou ela, pacientemente. ��� J�� expliquei que o ingrediente

secreto �� a sua pr��pria pessoa.

Ele fitou-a nos olhos atentamente.

Ela permaneceu em sil��ncio.

A voz de Crane, quando ele voltou a falar, soou meio abafada:

��� Clonagem?

O sil��ncio da Dra. Zabiski persistiu.

��� Implanta����o de c��lulas clonadas vivas do reservat��rio do

pr��prio corpo. ��� Os olhos de azul-cobalto pareciam assumir a cor do

c��u noturno. ��� Isso nunca foi bem-sucedido com seres humanos.

Pela primeira vez em sua vida, a Dra. Zabiski sentiu medo,

como se um vento frio lhe soprasse pelo corpo. A voz soou quase

tr��mula:

��� Tenho outros pacientes para cuidar, Sr. Crane.

Ele ficou calado.

��� Mas talvez possamos marcar outro encontro para amanh��.

O tom dele era pensativo ao dizer:

��� Amanh�� estarei em Pequim.

��� Ent��o em outra ocasi��o.

12

Ele levantou-se.

��� Percebo agora que 20 milh��es de d��lares n��o s��o suficien-

tes. Cinq��enta milh��es de d��lares? Isso seria suficiente?

Ela inclinou a cabe��a para fit��-lo nos olhos.

��� N��o est�� compreendendo, Sr. Crane. Dinheiro n��o �� o

importante. Este �� um pa��s socialista. Tudo aqui pertence ao estado.

��� Ent��o esque��a a palavra "dinheiro" e ponha em seu lugar a

palavra "prioridades". Cada pa��s possui as suas prioridades e sua pr��pria ordem.

��� Confesso que sou eu quem n��o entende agora, Sr. Crane.

Ele sorriu.

��� �� m��dica e cientista, Dra. Zabiski, compreende a sua

profiss��o. Mas a minha profiss��o �� a de defini����o de prioridades. ���

Ele estendeu a m��o. ��� Obrigado por seu tempo, Dra. Zabiski.

A m��o dela era firme e quente.

��� Estarei sempre ao seu dispor, Sr. Crane.

Ela assentiu e sorriu, embora ele n��o esperasse por isso.

Acompanhou-o at�� a porta.

��� Adeus, Sr. Crane.

Ele parou por um momento na porta aberta.

��� �� uma grande mulher, Dra. Zabiski. Auf wiedersehen.

A outra porta da sala se abriu no instante em que Judd saiu. O russo

alto, rosto firme de autoridade, alcan��ou-a antes que ela tivesse

tempo de voltar para tr��s da mesa. Uma jovem atraente, de bata

branca profissional, entrou atr��s dele e fechou a porta. Zabiski arriou

na cadeira.

��� O que acha dele?

O russo alto praguejou.

��� Um porco egoc��ntrico! Acha que o dinheiro pode comprar

tudo.

A jovem olhou para a m��dica sentada.

��� Achei-o muito atraente. E tenho a impress��o d�� que ��

tamb��m muito inteligente.

A Dra. Zabiski observou atentamente o russo alto.

��� N��o o subestime, Camarada Nicolai. Ele �� muito esperto.

Veja como entendeu depressa partes de nossa metodologia.

��� Isso n��o tem a menor import��ncia, Camarada Doutora.

Deve cuidar apenas para que ele n��o nos escape.

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��� O que o faz t��o importante para n��s? Para mim, n��o passa

de outro homem que deseja prolongar sua vida. Exatamente como

muitos outros que passam por esta cl��nica.

Nicolai fitou-a em sil��ncio por algum tempo. Quando falou, foi

como se estivesse se dirigindo a uma crian��a:

��� As Ind��strias Crane n��o apenas formam o maior complexo

industrial do mundo, mas tamb��m s��o os maiores fornecedores de

uma s��rie de produtos ao governo americano. De material de

escrit��rio e suprimentos m��dicos a equipamentos aeroespaciais e

armamentos pesados. H�� muitos anos que tentamos nos infiltrar no

n��vel executivo da corpora����o. Mas tem sido imposs��vel, porque Judd

Crane a possui e opera sozinho. Ele toma todas as decis��es e os

assistentes se limitam a cumprir suas ordens. Qualquer pessoa que

chegue junto dele descobrir�� mais sobre as pol��ticas e planos dos

Estados Unidos do que talvez o pr��prio presidente americano.

A Dra. Zabiski sustentou o olhar do russo.

��� Se espera que eu seja essa pessoa, est�� cometendo um

grande engano. Se ele quiser que eu o acompanhe e trabalhe ao seu

lado, isso �� imposs��vel. Estou muito velha e n��o tenho condi����es de

acompanh��-lo fisicamente.

��� N��o esperamos q��e fa��a o trabalho f��sico. Queremos apenas

que o conven��a de que cooperar�� com ele. E depois designar�� Sofia

para atuar como sua representante. Ela possui todas as credenciais: ��

m��dica e professora-assistente de gerontologia e geriatria. �� perfeita-

mente competente para efetuar os exames e prepar��-lo para os

tratamentos que voc�� aplicar�� pessoalmente. ��� Nicolai fez uma

pausa, pensativo. ��� Quvi toda a conversa. Ele deseja tanto

acreditar, que aceitar�� todas as suas sugest��es.

Sofia virou-se para ele.

��� Crane pode pensar que sou jovem demais, Nicolai.

O russo sorriu.

��� N��o seja est��pida, Sofia. Trinta anos n��o �� ser t��o jovem

assim. Al��m do mais, voc�� �� uma linda mulher e sabe como tirar

proveito disso. J�� fez isso antes. Basta agarr��-lo pelo pau.

��� Ele n��o �� t��o est��pido assim ��� disse Sofia, obviamente

irritada.

��� O apartamento dele no hotel est�� cheio de microfones

ocultos. H�� tr��s prostitutas esperando-o na sala de seu secret��rio. ��

claro que todas trabalham para n��s, mas ele n��o sabe disso.

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��� Isso �� tudo o que pensa de mim? ��� indagou Sofia,

friamente. ��� Apenas mais uma de suas prostitutas?

Nicolai virou-se bruscamente e disse �� Dra. Zabiski:

��� Sugiro que torne a se encontrar com ele o mais depressa

poss��vel.

��� Est�� bem, Camarada Nicolai.

O russo tinha uma express��o pensativa.

��� Aquela id��ia absurda dele sobre clonagem... acha que isso

pode algum dia acontecer?

A pequena m��dica abriu os bra��os, num gesto de interroga����o.

��� Quem pode saber? Mas de uma coisa tenho certeza.

Podemos aprender muita coisa com ele. Alguns dos nossos colegas

que estiveram nos Estados Unidos me contaram que a Crane DNA

Engineering est�� anos-luz �� nossa frente em c��pia clonada e

fabrica����o de DNA.

Nicolai virou-se para Sofia.

��� Entende agora? Isso faz com que seja ainda mais importante

que voc�� se aproxime dele.

Sofia fitou o desdenhosamente e depois, em sil��ncio, saiu da

sala da Dra. Zabiski.

Sofia atravessou o corredor e subiu para o seu quarto. Ficou de p��,

olhando pela janela e fumando um cigarro. Contemplava a fonte

cintilante quando a porta se abriu ��s suas costas. N��o se virou. Sentiu

as m��os dele em seus ombros. E continuou a olhar pela janela.

��� Mas o que deu em voc��? ��� perguntou ele, furioso.

��� Oito anos ��� murmurou Sofia, amargurada. ��� Mas voc��

continua casado com Ekaterina.

��� J�� expliquei isso muitas vezes, Sofia ��� respondeu ele,

tentando apazigu��-la. ��� O pai dela ainda est�� no Politburo. Se eu

pedir o div��rcio, minha carreira est�� liquidada. Temos de esperar at��

que Andropov entre em a����o. Serei ent��o dono de mim mesmo e

poderemos ficar juntos.

Ela deu uma tragada no cigarro, permanecendo em sil��ncio.

As m��os dele deslocaram-se rapidamente por tr��s de Sofia.

Passando um bra��o pela cintura da mo��a, ele puxou-a contra seu

corpo, a outra m��o levantando a saia. As coxas e n��degas estavam

nuas por cima das meias. Ele comprimiu a m��o contra o p��bis,

murmurando, em voz rouca:

15

��� Voc�� est�� molhada.

Ela continuou im��vel, mas disse:

��� Estou sempre molhada.

Sofia ouviu os bot��es da braguilha abrirem. Pondo a m��o no

meio das costas da mo��a, ele debru��ou-a sobre o peitoril da janela.

Um momento depois, Sofia sentiu-o grande e duro dentro dela.

Soltou um ofego, o cigarro caiu pela janela, as m��os pousaram no

peitoril em busca de apoio. Tornou a ofegar. Um gemido como um

miado emergiu de sua garganta.

As m��os dele comprimiam-se como tornos contra os quadris de

Sofia, enquanto arremetia vigorosamente por tr��s, mexendo para a

frente e para tr��s dentro dela. Sua voz ressoava de triunfo:

��� Voc�� ainda gosta!

Ela n��o respondeu, a respira����o ofegante, os gemidos incontro-

l��veis. As unhas de Nicolai cravaram-se na pele de seus quadris. E ele

murmurou:

��� Vamos, diga logo que ainda adora!

��� Est�� bem! Est�� bem! ��� Sofia estava quase gritando, de dor

e prazer. ��� Eu adoro!

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2

E L E SAIU do elevador e encaminhou-se para a larga porta dupla do

apartamento de cobertura. Apertou o bot��o. O carrilh��o ressoou

atrav��s da porta fechada. Fast Eddie abriu-a um momento depois,

empunhando uma autom��tica Colt 45 de um preto azulado. Judd

olhou para o negro pequeno enquanto o seguia pelo interior do

apartamento.

��� Voc�� ainda vai ter uma h��rnia de tanto levantar esse

canh��o.

Fast Eddie puxou a trava de seguran��a e meteu a arma no cinto.

��� A Iugosl��via �� o cu do mundo. Tem at�� baratas debaixo do

tampo da latrina.

Judd balan��ou a cabe��a.

��� A vida �� assim. Algumas pessoas n��o t��m a menor classe.

Ele entrou na sala e parou diante da pasta que estava em cima

da mesa. Acionou as trancas de combina����o e abriu-a. A placa de

bronze l�� dentro estava coberta por diodos vermelhos e verdes.

��� Parece uma ��rvore de Natal.

Fast Eddie assentiu. Judd levantou uma alavanca na placa e

depois apertou tr��s bot��es. Subitamente, todos os diodos se torna-

ram amarelos. Judd sorriu.

��� Ser�� que as baratas tiveram seus t��mpanos rompidos?

Fast Eddie soltou uma risada.

��� Esse n��o �� o meu departamento, chefe. Lembre-se de que

SOU apenas o seu valete.

��� Pois ent��o me arrume um drinque.

��� O de sempre?

��� Coca-Cola �� moda de Atlanta, com muito gelo.

1 7

Judd observou o homenzinho encaminhar-se para o bar e

perguntou, ainda pensando na autom��tica:

��� Por que est�� t��o nervoso?

��� Servi��o demais. ��� O homenzinho encheu um copo com

cubos de gelo. ��� Tr��s criadas, um homem com o aspirador, dois

homens para lavarem as janelas, um eletricista, dois homens para

consertarem o telefone. Estava come��ando a parecer o Aeroporto

O'Hare. ��� Ele abriu uma garrafa de Coca-Cola, encheu o copo e

levou-o cuidadosamente. ��� Quer uma cheirada?

��� Ainda n��o. ��� Judd tomou um gole do copo, pensativo.

Tornou a olhar para Fast Eddie. ��� Quantos c��modos tem a su��te?

��� Cinco.

��� J�� verificou todos?

��� J��.

��� E os arm��rios?

��� N��o.

Judd p��s o copo na mesa e tirou da pasta uma caixa pequena,

parecendo um transformador. Apertou um bot��o no lado e levantou-

a na m��o.

��� Pegue o seu canh��o.

Fast Eddie tirou a autom��tica do cinto. Seguiu Judd pelos

c��modos. Judd levantava a caixa diante da porta de cada arm��rio.

��� Esse �� novo ��� murmurou Fast Eddie.

��� Novinho em folha. �� um medidor de calor, sintonizado na

temperatura do corpo. Saberemos se h�� alguma pessoa a�� dentro sem

precisar abrir a porta.

��� Voc�� �� louco por essas engenhocas. Parece at�� uma crian��a.

Foi no ��ltimo quarto. Judd olhou para a agulha que tremia e

murmurou:

��� A�� dentro.

��� O que fazemos agora?

��� Espere um instante. ��� Judd observou a agulha por um

momento. ��� N��o fazemos nada. O cara j�� est�� passando dos 37��.

Uma estupidez colocar um agente num espa��o t��o apertado quanto

um arm��rio embutido. E mais estupidez ainda escolher um agente

que tem problemas de cora����o e met��-lo num lugar em que o menor

choque sonar poderia mat��-lo.

Ele voltou para a sala e guardou o medidor de calor na pasta.

Tornou a apertar os bot��es do painel e desligou-o. Os diodos

1 8

amarelos voltaram a ficar vermelhos e verdes. Como uma ��rvore de

Natal. Ele fechou a pasta, ajeitou as trancas de combina����o. Virou-se

finalmente para Fast Eddie.

��� Agora.

Fast Eddie tirou a corrente de ouro do pesco��o e puxou-a de

dentro da camisa. Abriu o frasco de ouro, encheu a pequena colher

de ouro e estendeu para Judd, que pegou-a e aspirou duas vezes,

vigorosamente. Fast Eddie disse:

��� Bem que estou precisando disso. Ainda tremo todo.

��� Sirva-se �� vontade.

Fast Eddie correspondeu a seu apelido de veloz. Parecia muito

mais bem disposto um segundo depois. O frasco e a corrente

desapareceram prontamente.

��� Obrigado. ��� Ele sorriu para o patr��o. ��� Quer outra Coca-

Cola?

��� Quero, sim. Acho que esta ficou sem gosto.

O telefone tocou no momento em que o homenzinho voltava

para o bar.

��� Pode deixar que eu atendo ��� disse Judd. Ele tirou o fone do

gancho. ��� Crane falando.

��� Aqui �� a Dra. Zabiski, Sr. Crane. ��� A voz parecia ter um

sotaque mais acentuado ao telefone. ��� Estive pensando sobre a

nossa conversa...

��� Pois n��o, doutora?

��� Poderia encontr��-lo em seu hotel, ��s nove horas, se n��o for

inconveniente.

Judd olhou para o rel��gio. Eram seis horas da tarde.

��� N��o h�� qualquer inconveniente, doutora. Gostaria de jantar

comigo?

��� Levarei minha assistente.

��� N��o h�� problema para mim.

��� Ent��o est�� combinado, Sr. Crane. At�� l��. E obrigada.

��� Eu �� que agrade��o, doutora.

Judd desligou e olhou para Fast Eddie.

��� Em que quarto Merlin est��?

��� No 1009. O andar por baixo do nosso.

Judd ligou para o quarto. Seu assistente atendeu.

��� Pois n��o, Sr. Crane?

��� Poderia subir at�� aqui e trazer o portofone?

1 9

��� Ainda estou com tr��s secret��rias esperando para serem

entrevistadas.

��� N��o temos tempo para elas. Pague-as e livre-se delas.

��� Est�� bem, Sr. Crane. Cuidarei disso imediatamente.

Fast Eddie trouxe o novo drinque. Sacudiu a cabe��a ao se

aproximar.

��� �� uma pena, Sr. Crane. Aquelas iugoslavas pareciam de

primeira classe.

Judd tomou um gole da Coca-Cola gelada e riu.

��� N��o d�� para comer todas.

O portofone estava numa pasta de executivo igual �� que se

achava na mesa, diante de Judd. Merlin a trazia quando Fast Eddie

abriu-lhe a porta. O negro pequeno fechou a porta assim que ele

passou e gesticulou-lhe antes que tivesse tempo de falar. Levantou

um indicador aos l��bios e depois apontou para a luz no teto e para o

telefone. Merlin balan��ou a cabe��a para indicar que compreendera e

depois atravessou a sala at�� Judd.

��� Trouxe as suas mensagens, Sr. Crane.

��� Obrigado, Merlin.

Judd p��s o portofone na mesa e entregou a outra pasta a

Merlin. Pegou o ma��o de mensagens que o assistente lhe estendia.

��� Avise ao comandante que devemos estar prontos para partir

pouco depois de meia-noite.

��� Est�� bem, Sr. Crane.

Merlin abriu a pasta e pegou o portofone, enquanto Judd lia as

mensagens. Ele escutou o comandante por um momento e depois

informou a Judd:

��� O comandante diz que teremos de fazer uma escala para

reabastecimento no caminho.

��� Pergunte se ele n��o pode providenciar o reabastecimento

em v��o. Se pararmos, podemos perder duas horas, talvez tr��s.

Merlin transmitiu o recado e depois desligou.

��� O comandante disse que tentar�� dar um jeito.

��� ��timo. ��� Judd devolveu as mensagens a Merlin. ���

Cuidaremos disso amanh��, durante o v��o. Tenho um jantar marcado

com a Dra. Zabiski ��s nove horas. Poderia reservar uma mesa no

restaurante do Hotel para n��s? Tentarei tirar um chochilo e tomar

uma chuveirada antes do jantar.

20

��� Tem um encontro ��s sete horas com o subsecret��rio de

turismo ��� informou Merlin.

Judd exibiu um sorriso ir��nico.

��� L�� se vai meu cochilo. Acho que terei de me contentar com

a chuveirada.

��� Mais alguma coisa, senhor? ��� perguntou Merlin.

��� Creio que isso cobre tudo. Pode voltar para o avi��o com

Fast Eddie quando eu descer para o jantar.

��� Devo cuidar logo da conta, senhor?

��� Boa id��ia. Assim, poderei ir embora diretamente do restau-

rante.

��� Camisa branca, gravata preta e terno, Sr Crane? ��� pergun-

tou Fast Eddie.

��� Temos outra coisa? ��� respondeu Judd, sorrindo.

��� N��o, senhor. Mas sempre posso sonhar, n��o �� mesmo?

At�� mesmo Merlin sorriu. Judd chamava aquele traje de

uniforme de combate. Havia mais de uma centena de ternos escuros

id��nticos nos arm��rios de Judd, onde quer que ele estivesse, em

qualquer lugar do mundo.

Faltavam 10 minutos para as nove horas e eles estavam no

sagu��o, esperando pela Dra. Zabiski. Merlin e Fast Eddie observa-

vam o carregador que levava as malas para a limusine.

��� Ficarei com o portofone ��� disse Judd.

Merlin assentiu. A outra pasta estava em sua m��o. Fast Eddie

virou-se para o patr��o.

��� Estou preocupado com a su��te que deixamos. Acho que

deveria ir para o avi��o conosco.

��� Doze milh��es garantem que n��o haver�� problemas ��� disse

Judd. ��� O departamento de turismo ficou na maior satisfa����o com os

quatro Clubes Adri��ticos e os dois novos hot��is.

��� Talvez a festa n��o seja deles. Pode haver algum outro

departamento.

��� S�� h�� um departamento, que �� o pr��prio governo. Eles

est��o controlando tudo. Por que acha que Zabiski me telefonou t��o

depressa? Recebeu ordens superiores para negociar comigo. N��o

estou absolutamente preocupado. ��� Judd olhou para as portas

girat��rias e acrescentou: ��� Ela j�� est�� chegando. Eu me encontrarei

com voc��s no avi��o.

21

Os dois homens ficaram parados, enquanto ele se afastava ao

encontro da m��dica. Uma jovem alta, de cabelos louros-castanhos.

usando uma imita����o med��ocre de um Chanel, passou pelas portas

atr��s da Dra. Zabiski. Mas mesmo a c��pia horr��vel n��o era capaz de

esconder o corpo que havia por baixo. As palavras de Fast Eddie

afloraram �� mente de Crane ��� as iugoslavas s��o de primeira classe.

22





3


A DRA. ZABISKI entrou direto no assunto, assim que o maitre

acabou de anotar os pedidos:

��� A Dra. Ivancich tem sido a minha principal assistente nos

��ltimos dois anos. Antes disso, ela passou dois anos como

professora-assistente de gerontologia na Academia Georgiana de

Ci��ncias. Passou outros dois anos se especializando para tirar o

diploma de Doutora em Estudos Geri��tricos da Academia Sovi��tica

de Ci��ncias, em Moscou. Teve mais dois anos de estudos especiais no

Instituto Nacional de Idosos, em Baltimore, nos Estados Unidos. ��

formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Columbia,

em Nova York.

Judd olhou para a jovem e comentou, com toda sinceridade:

��� Estou impressionado. A Dra. Ivancich fez muita coisa para

algu��m t��o jovem.

Ela respondeu suavemente, num ingl��s com sotaque ameri-

cano:

��� N��o sou t��o jovem assim, Sr. Crane. Tenho 30 anos.

��� Isso �� ser jovem.

O gar��om serviu o consome. Judd esperou que o homem se

afastasse antes de voltar a falar. Olhou para a Dra. Zabiski e disse:

��� Falou que havia pensado um pouco a respeito de nossa

conversa.

A Dra. Zabiski assentiu.

��� Se est�� interessado em meu tratamento, talvez possamos

abreviar os dois meses iniciais para duas semanas.

��� Como?

2 3

��� Posso providenciar uma licen��a para a Dra. Ivancich viajar

em sua companhia. Assim, ela poderia realizar os exames e testes

preliminares, descobrindo se vai ou n��o reagir a nosso tratamento.

Enquanto falava, ela passou-lhe um pedacinho de papel. Judd

leu discretamente. Estava escrito a l��pis, as letras mi��das: "Destrua

depois de ler. A Dra. I. �� de absoluta confian��a. Estou muito

interessada na sua proposta."

Judd fitou-a sem dizer nada. Amassou o papel na palma da m��o

e depois meteu-o na boca. Mastigou devagar por um momento,

acrescentou diversas colheres do consome e engoliu. Sorriu e

murmurou:

��� Sempre gostei de peda��os de p��o no consome.

A Dra. Zabiski sorriu pela primeira vez. Balan��ou a cabe��a em

aprova����o, enquanto Judd acrescentava:

��� Estou partindo esta noite. Se me informar quando a Dra.

Ivancich estiver pronta, providenciarei para nos encontrarmos, onde

quer que eu esteja.

��� Esta noite mesmo, Sr. Crane, se assim desejar ��� disse a

Dra. Zabiski. ��� As malas delas est��o no meu carro. J�� tomei todas

as provid��ncias necess��rias.

Judd sorriu.

��� Percebi que era do meu tipo de m��dica assim que nos

conhecemos. ��� Ele virou-se para a Dra. Ivancich. ��� Espero que

goste de viajar, doutora.

��� Adoro, Sr. Crane.-

��� ��timo, pois vamos viajar muito. ��� Judd fez uma breve

pausa. ��� Dra. Ivancich �� um nome muito pomposo. Qual �� o seu

primeiro nome?

��� Sofia.

��� Eu sou Judd. �� muito americano as pessoas se tratarem

pelos primeiros nomes. Importa-se, doutora?

��� Absolutamente, Judd ��� respondeu ela, com um meio

sorriso. ��� Afinal, minha m��e era americana e fiz a maior parte dos

meus estudos nos Estados Unidos.

O maitre aproximou-se da mesa e fez uma mesura.

��� Est�� sendo chamada ao telefone, Dra. Zabiski.

A pequena m��dica virou-se para Judd.

��� Pode me dar licen��a?

24

Judd assentiu e levantou-se por um instante, enquanto ela

deixava a mesa. Tornando a sentar-se, ele virou-se para a Dra.

Ivancich.

��� Tem uma forma����o curiosa, Sofia. Am��rica e R��ssia.

��� N��o �� t��o estranho assim. Os dois pa��ses eram os ��nicos que

dispunham das instala����es e condi����es para pesquisa no campo em

que decidi me especializar. Se meu pai n��o tivesse passado quase 25

anos servindo na ONU, em Nova York, onde nasci, nada disso teria

acontecido. Foi somente depois de voltarmos �� Iugosl��via que fui

viver na R��ssia. E quando o trabalho da Dra. Zabiski foi reconhecido

por nosso governo, pude vir trabalhar com ela.

��� Isso aconteceu h�� dois anos? Como m��dica, poderia ganhar

mais dinheiro em qualquer lugar fora da Iugosl��via.

��� Provavelmente. Mas, neste caso, eu n��o teria a experi��ncia

de trabalhar com a Dra. Zabiski, que na minha opini��o �� um dos

verdadeiros g��nios em nosso campo.

��� �� um elogio e tanto.

��� E falo com toda sinceridade.

Pelo canto dos olhos, Judd observou a pequena m��dica

voltando. Levantou-se. Ela parecia um pouco p��lida. Judd puxou a

cadeira para ela, perguntando:

��� Est�� tudo bem?

A Dra. Zabiski fitou-o atrav��s da mesa, enquanto ele tornava a

se sentar.

��� Nada de importante.

Ela olhou fundo no azul-cobalto dos olhos de Judd e experi-

mentou outra vez o estranho calafrio que j�� sentira em sua sala. Era

como se Judd invadisse sua mente. A Dra. Zabiski baixou os olhos

para a toalha e ajeitou o guardanapo no colo, antes de tornar a fit��-

lo. E disse, suavemente:

��� N��o seria estranho se descobr��ssemos que a morte e a

imortalidade s��o uma ��nica e mesma coisa?

Morte e imortalidade. As palavras ecoaram nos recessos da

mente de Judd. Fazia mais de 20 anos que seu pai lhe expressara

quase que exatamente o mesmo pensamento.

Era o ano de 1956. Dois dias depois do Presidente Eisenhower ser

reeleito para um segundo mandato. Era um dia fresco e ensolarado

em Nova York. Judd viera de trem de Boston. Subiu a escada dos

25

fundos da Grand Central e saiu na Park Avenue. Nova York era

emocionante e viva, as pessoas ativas e apressadas. Era muito

diferente do ritmo quase indolente do campus de Harvard, em

Cambridge. Ele olhou para o rel��gio. Ainda n��o eram 11 horas.

Tinha tempo. O pai pedira que fosse encontr��-lo no escrit��rio ao

meio-dia.

Ainda tinha 20 minutos de sobra quando parou na frente do

novo pr��dio de escrit��rios e contemplou as letras de a��o inoxid��vel

por cima da entrada: CRANE INDUSTRIES. Subiu os degraus

entre as duas fontes e passou pelas portas de vidro. Como ainda tinha

tempo, encostou-se na parede de m��rmore e ficou observando as

pessoas que entravam e sa��am do pr��dio.

Um guarda uniformizado aproximou-se poucos minutos depois.

Era corpulento e presun��oso, com seu cintur��o de couro militar Sam

Browne e uma arma no coldre.

��� N��o �� permitido ficar fazendo hora por aqui, garoto ��� disse

ele, em tom r��spido.

��� N��o estou fazendo hora ��� respondeu Judd, polidamente.

��� Cheguei cedo para um encontro marcado e resolvi esperar aqui

��� Desculpe, garoto, mas n��o �� permitido. Se chegou cedo.

volte mais tarde.

Judd deu de ombros.

��� Nesse caso, �� melhor eu me apresentar logo mais cedo.

Ele encaminhou-se para os elevadores que subiam diretamente

para o 40�� andar. O guarda deteve-o.

��� Esses elevadores s��o para andares executivos.

��� Sei disso.

��� Com quem tem um encontro?

��� Com o Sr. Crane.

O guarda fitou-o com uma express��o c��tica. Gesticulou para

outro guarda, que estava parado ao lado dos elevadores e pronta-

mente se aproximou.

��� Este garoto diz que tem um encontro marcado com o Sr.

Crane.

O segundo guarda virou-se para Judd e indagou, polidamente:

��� Tem alguma identifica����o, senhor?

Judd abriu o palet��. A blusa marrom com o " H " , por baixo da

camisa branca, parecia escura na claridade entre os elevadores. Ele

tirou uma carteira de couro do bolso interno.

26

��� A carteira de motorista serve?

��� Claro.

O segundo guarda examinou a carteira e depois olhou para

Judd. Devolveu-a, murmurando:

��� Desculpe, Sr. Crane. Precisamos tomar muito cuidado.

Tivemos alguns problemas nas ��ltimas semanas com pessoas que n��o

tinham motivo para estar aqui.

��� Compreendo perfeitamente ��� disse Judd, tornando a

guardar a carteira no bolso.

O segundo guarda virou uma chave no painel de controle dos

elevadores privativos. As portas de um dos elevadores se abriram e

ele disse, recuando:

��� O andar �� o 45, Sr. Crane.

Judd entrou e apertou o bot��o. As portas come��aram a fechar,

enquanto a voz do segundo guarda chegava aos ouvidos de Judd.

��� Seu idiota! ��� disse ele ao primeiro guarda. ��� Aquele �� o

filho do patr��o e voc��...

Judd sorriu, enquanto a voz se perdia quando o elevador

come��ou a subir. Ele recostou-se e observou o mostrador. Faltavam

cinco minutos para o meio-dia quando saiu do elevador. A recepcio-

nista aguardava junto �� porta.

��� Bom dia, Sr. Crane. Seu pai o espera.

Ela abriu as portas do elevador que conduzia ao gabinete de seu

pai, o ��nico na cobertura. A secret��ria do pai recebeu-o quando ele

saiu do pequeno elevador.

��� Ol��, Judd ��� disse ela, sorrindo.

Ele inclinou-se para beij��-la no rosto.

��� Est�� parecendo mais jovem e mais linda do que nunca, Srta.

Barrett.

Ela riu, afetuosamente.

��� �� maravilhoso ouvir isso. Mas eu o conhe��o desde que

nasceu. N��o precisa me fazer o elogio padr��o de Harvard.

Judd riu.

��� Pode estar certa de que falo s��rio. N��o tem nada de

Harvard. ��� Ele seguiu-a pela sala externa das outras secret��rias at�� a

sala da Srta. Barrett, que ficava ao lado do gabinete do pai. ��� Como

est�� papai? Tem quase seis meses que n��o o vejo.

��� Voc�� conhece seu pai. ��� Havia um tom estranhamente

neutro em sua voz. ��� Ele sempre parece o mesmo.

27

Judd parou e virou-se para fit��-la.

��� Mas que resposta �� essa? H�� alguma coisa errada?

Ela n��o disse nada. Em vez disso, abriu a porta que dava para a

sala do pai. Ao passar, Judd teve a impress��o de ver um brilho ��mido

em seus olhos. Ela fechou a porta assim que ele passou. O pai estava

parado junto ��s janelas, olhando para fora, de costas para ele.

��� Judd?

��� Sou eu mesmo, pai.

��� Venha at�� aqui ��� disse o velho, ainda sem se virar.

Judd foi at�� a janela e postou-se ao lado do pai. Ainda n��o

haviam se fitado.

��� O dia est�� muito claro. Pode-se ver Battery, Staten Island

mais al��m, o Estreito de Long Island e Connecticut a nordeste.

��� �� verdade, o dia est�� muito claro.

O pai permaneceu em sil��ncio por um longo momento, depois

virou-se para ele, estendendo a m��o.

��� Est�� com um ��timo aspecto, Judd.

Judd apertou a m��o do pai. Ainda segurando-a, tentou

imprimir �� voz um tom jovial.

��� Ser�� que j�� fiquei velho demais para dar um beijo em meu

pai?

Subitamente, o pai abra��ou-o e beijou-o no rosto.

��� Espero que nunca fique velho demais para isso.

Judd retribuiu o beijo do pai.

��� Assim est�� melhor. ��� Ele sorriu. ��� Eu j�� come��ava a

pensar que n��o gostava mais de mim.

��� N��o diga essa bobagem. Eu o amo, meu filho.

��� Eu tamb��m o amo, pai.

O pai deu um passo para tr��s.

��� Pensei a princ��pio em almo��armos no " 2 1 " , mas depois

achei que seria melhor comermos aqui mesmo, no escrit��rio. H��

muito tempo que n��o conversamos e ficaremos mais �� vontade aqui.

��� O escrit��rio me parece uma boa pedida.

��� Est�� com fome?

Judd sorriu.

��� Estou sempre com fome.

O pai apertou um bot��o na mesa. Um conjunto de portas

corredi��as se abriu e apareceu uma pequena sala de jantar, com uma

28

mesa redonda, bastante grande para oito pessoas, mas posta apenas

para duas. Ele empurrou a alavanca do interfone e disse:

��� Estamos prontos para o almo��o. ��� Virando-se para Judd, o

pai acrescentou: ��� Vou tomar um scotch com ��gua. E voc��?

��� Pode ser dois.

Judd seguiu o pai para a sala de jantar. Um negro pequeno,

usando smoking, entrou na sala por outra porta.

��� Sr. Crane?

��� Dois como sempre, Fast Eddie.

O homenzinho correspondeu ao apelido. Os dois drinques

foram trazidos do pequeno bar quase que no mesmo instante em que

foram pedidos.

��� Fast Eddie, este �� meu filho, Judd ��� disse o pai, pegando

seu copo.

Fast Eddie entregou o copo de Judd.

��� Muito prazer, Sr. Crane.

��� Obrigado. ��� Judd observou Fast Eddie desaparecer pela

outra porta da sala. ��� A n��s, pai.

��� A n��s.

Tomaram um gole.

��� H�� quanto tempo Fast Eddie trabalha para voc��, pai?

��� H�� uns tr��s meses. Ele �� neto do velho Roscoe, que o vem

treinando h�� dois anos. O garoto �� muito bom. �� dif��cil acreditar que

tenha apenas 18 anos.

��� Ele parece muito simp��tico.

��� �� como o av��. Est�� sempre �� m��o. ��� O pai sentou-se ��

mesa, fitou Judd no outro lado. ��� Est�� surpreso por eu t��-lo

chamado?

Judd assentiu.

��� Temos muito o que conversar. ��� O pai hesitou por um

instante. ��� Como se costuma dizer, o que prefere primeiro, as boas

OU as m��s not��cias?

��� O que achar melhor, pai.

��� Pois ent��o vamos primeiro ��s boas not��cias. Vivo sozinho

desde que sua m��e morreu, h�� 15 anos. Claro que tive outras

mulheres, mas sempre foi diferente. Agora, vou casar de novo. E

acho que voc�� tamb��m gostar�� dela.

Judd fitou-o nos olhos.

2 9

��� Se gosta dela, pai, isso �� tudo o que importa. Ficarei feliz

por voc��.

O pai sorriu.

��� Ainda nem perguntou o nome dela. ��� Ele fez uma pausa,

antes de acrescentar: ��� Barbara.

A voz de Judd estava impregnada de surpresa quando mur-

murou:

��� A Srta. Barrett?

O pai riu.

��� �� t��o espantoso assim?

��� ��, sim. ��� Judd sorriu. ��� Mas uma surpresa agrad��vel. Sob

certos aspectos, n��o entendo por que n��o casou com ela mais cedo. ��

como se ela sempre fosse parte da fam��lia. Posso ir dizer a ela como

me sinto feliz por voc��s dois?

��� Ela se juntar�� a n��s para o almo��o, dentro de um minuto.

��� Quando ser�� o casamento?

��� ��s seis horas da tarde. O Juiz Gitlin celebrar�� a cerim��nia

em nosso apartamento.

��� Conhe��o Tio Paul. ��� Judd riu. ��� �� melhor eu tratar de

arrumar um traje a rigor.

��� N��o �� t��o importante assim, Judd. A cerim��nia ser�� ��ntima,

com apenas uns poucos amigos. ��� O sorriso do pai se desvaneceu, a

express��o tornou-se grave. ��� Agora, as m��s not��cias.

Judd permaneceu em sil��ncio.

��� Estou com a doen��a de Hodgkins.

��� N��o sei o que �� isso, pai.

��� Uma esp��cie de c��ncer do sangue. ��� O pai esperou um

instante para continuar: ��� Mas podia ser pior. Os m��dicos me dizem

que ainda posso ter cinco ou seis anos em relativo conforto... e quem

sabe o que se descobrir�� durante esse per��odo? Podem encontrar a

cura a qualquer momento.

Judd continuou em sil��ncio. Respirou fundo, reprimindo as

l��grimas. Finalmente, murmurou:

��� Espero que sim... n��o, tenho certeza de que encontrar��o a

cura.

��� E se n��o encontrarem, n��o me queixarei. Ainda terei levado

uma boa vida.

3 0

Judd n��o disse nada, limitando-se a fitar o pai, que acrescentou,

suavemente:

��� N��o tenho medo da morte. A morte e a imortalidade

sempre foram praticamente a mesma coisa para mim.

3 1





4


O JIPE com os inspetores alfandeg��rios conduziu a limusine pelos

port��es de carga para o campo. Passaram por uma longa fileira de

armaz��ns e pelos avi��es comerciais, estacionados na outra extre-

midade, seguindo para o setor militar do aeroporto. O B-747azul-

escuro parecia uma imensa abelha-rainha, sobressaindo junto aos

pequenos ca��as iugoslavos que o cercavam.

Judd saiu da limusine e estendeu a m��o para Sofia. Ela olhou

para o avi��o. A ins��gnia branca, um grou com as asas estendidas,

al��ando v��o, era seguida pelas palavras CRANE INDUSTRIES,

perfeitamente vis��vel �� claridade que vinha do terminal do aeroporto.

Havia uma bandeira americana pintada sobre a janela do piloto e

outra ainda maior na cauda gigantesca. Sofia olhou para Judd e

comentou:

��� Eu nunca tinha visto um Jumbo, a n��o ser em filmes. E

sempre tinham uma escada enorme.

Judd sorriu.

��� Geralmente �� encostada no avi��o em aeroporto que n��o tem

rampas rolantes. Mas este aparelho �� especial. Foi constru��do de

acordo com as minhas especifica����es.

Os inspetores alfandeg��rios se aproximaram e um deles disse:

��� Se fizerem a gentileza de nos entregarem seus passaportes,

vamos carimb��-los.

Judd tirou o passaporte do bolso interno do palet�� e entregou-

o. Sofia pegou o seu na bolsa. O inspetor voltou ao jipe e examinou

os passaportes �� luz de uma lanterna.

O motorista trouxe as tr��s malas do carro. Uma era de

32

alum��nio. Colocou-as ao lado de Sofia. Nesse momento, um elevador

sustentado por cabos de a��o inoxid��vel desceu da barriga do

aparelho, trazendo dois homens uniformizados, que saltaram e se

aproximaram deles. Judd apresentou-os:

��� Sofia, este �� o Comandante Peters e este o Comiss��rio de

Bordo Raoul. Senhores, a Dra. Ivancich.

O Comandante Peters apertou a m��o de Sofia.

��� Seja bem-vinda a bordo, doutora.

Raoul bateu de leve no quepe, �� guisa de sauda����o.

��� Tamb��m lhe dou as boas-vindas, Madame Doutora.

��� Obrigada, senhores.

O inspetor alfandeg��rio voltou.

��� Os passaportes est��o em ordem. Mas temos de examinar a

bagagem da Dra. Ivancich, a menos que haja uma licen��a especial de

exporta����o para o seu equipamento m��dico.

A voz de Sofia parecia um pouco irritada quando ela falou,

rapidamente, em s��rvio. O inspetor respondeu, como se pedisse

desculpas, as m��os expressivas. Ela virou-se para Judd e explicou:

��� Terei de voltar ao escrit��rio com eles. Todos os burocratas

s��o iguais. A licen��a de exporta����o j�� deveria estar pronta, mas,

como sempre...

O Comandante Peters interveio:

��� Irei junto, doutora. Preciso mesmo aprovar o plano de v��o.

��� Peguem a limusine ��� disse Judd. ��� Ficarei esperando a

bordo.

��� Desculpe o inc��modo ��� murmurou Sofia.

��� N��o h�� problema. Essas coisas est��o sempre acontecendo.

O inspetor levou as malas para o jipe e afastou-se, seguido pela

limusine. Judd encaminhou-se para o elevador, acompanhado por

Raoul, e apertou o bot��o. Passaram pelo compartimento de carga e o

andar da cozinha, chegaram �� cabine principal.

��� Ponha a doutora no primeiro camarote de h��spede ��� disse

J u d d ao comiss��rio.

��� Est�� certo, Sr. Crane.

Judd subiu a escada para o conv��s de v��o, no fundo do qual

estava localizado o seu camarote pessoal. Virou-se para o comiss��rio.

��� Pode pedir a Merlin para vir falar comigo?

��� Pois n��o, senhor.

L�� em cima, Judd passou pela porta que separava seu camarote

3 3

da tripula����o, no conv��s de v��o. Fast Eddie esperava com uma Coca-

Cola no gelo. Judd tirou o palet�� e pegou o copo. Merlin bateu na

porta no instante em que Judd tomava o primeiro gole. Fast Eddie

abriu-a.

��� O que deseja, Sr. Crane? ��� indagou Merlin, com o bloco de

anota����es em posi����o.

��� Dra. Ivancich, Sofia. Quero uma verifica����o de seguran��a

sobre ela. Tudo o que pudermos descobrir. ��� Judd acrescentou que

queria a confirma����o de tudo o que a Dra. Zabiski e Sofia tinham

dito. ��� N��o desejo ter nenhuma surpresa.

��� Mais alguma coisa, senhor?

��� Pergunte a Doc Sawyer, na Pesquisa M��dica, se j�� ouviu

alguma coisa sobre qualquer trabalho realizado na implanta����o de

c��lulas humanas pr��prias clonadas.

��� Cuidarei de tudo assim que decolarmos, senhor.

Judd olhou para Fast Eddie, enquanto Merlin deixava a cabine.

��� Uma garrafa de Cristale no gelo. ��� Pegando o interfone,

ele apertou o bot��o do comiss��rio de bordo e acrescentou: ���

Quando a doutora voltar, pergunte-lhe se n��o gostaria de se juntar a

mim no conv��s de v��o para a decolagem.

Fast Eddie j�� pusera a garrafa de Cristale num balde com gelo e

colocara dois copos de champanha gelados na prateleira ao lado da

poltrona. Judd encaminhou-se para seu quarto, nos fundos do

camarote, come��ou a tirar a camisa.

��� Pegue um macac��o de pel��cia.

Fast Eddie abriu um dos arm��rios, tirou o macac��o e estendeu

na cama. P��s no ch��o um par de chinelas de pel��cia e na cama uma

sunga francesa de seda. Judd entrou no pequeno boxe no banheiro,

apertou o bot��o que automaticamente misturava ��gua e sabonete,

enxaguou-se depois. O vapor saiu do boxe automaticamente, en-

quanto ele se enxugava com uma toalha enorme. Vestiu-se rapida-

mente, penteou os cabelos. Contemplou-se no espelho. Estava bem,

pensou ele, mas apenas isso. Ainda se sentia cansado. E isso n��o lhe

agradava. Ainda tinha muitas coisas para fazer.

Abriu uma gaveta e pegou um frasco de ouro. Tirou a tampa,

expondo um parafuso em formato de bala. Desatarraxou-o e uma

pequena abertura apareceu. Encostou-a numa narina e comprimiu o

fundo do frasco; a coca��na subiu, enquanto ele fungava. Repetiu o

processo, na outra narina. Sentiu que se recuperava no mesmo

34

instante. Tornou a p��r o frasco na gaveta, mas n��o a fechou. Tornou

a contemplar-se no espelho. N��o parecia t��o cansado agora. Sorriu

para si mesmo. Era uma das vantagens de se possuir uma ind��stria

qu��mica, pensou ele. N��o precisava se preocupar com a merda que se

vendia nas ruas. Fast Eddie estava esperando-o na cabine. Sorriu e

comentou:

��� Nada como um chuveiro quente e uma boa cheirada, chefe.

J�� est�� com uma cara melhor.

��� Est�� ficando esperto demais. ��� Judd sorriu. ��� Eles j��

embarcaram?

��� Est��o chegando neste momento, senhor.

Judd pegou o interfone e ligou para o comiss��rio.

��� Sugira �� doutora que ficar�� mais confort��vel num macac��o.

Creio que o tamanho oito deve servir.

��� J�� tinha pensado nisso, senhor. Mas deixei um tamanho sete

na cama. Acho que fica melhor nela.

��� Eu me submeto �� opini��o da costura francesa ��� disse Judd,

rindo e desligando em seguida.

A voz do comandante soou pelo sistema de alto-falantes:

��� Todos em seus lugares. A decolagem ser�� dentro de um

minuto.

Judd olhou para Sofia, na poltrona ao lado. Ela olhava pela

janela. Ele sentiu o ligeiro tremor quando o imenso avi��o come��ou a

se mover. Observou as m��os de Sofia. Estavam apertando os bra��os

da poltrona. Judd se manteve em sil��ncio enquanto se deslocavam

rapidamente pela pista. Um momento depois, subitamente, suave-

mente, o avi��o al��ou v��o. A voz de Sofia soou baixa:

��� Parece quase uma casa com asas.

Judd riu.

��� Acho que se pode mesmo pensar assim.

Ela contemplou as luzes de Dubrovnik l�� embaixo.

��� A que altitude n��s estamos?

Ele apertou um bot��o e uma luz se acendeu na antepara da

cabine �� frente.

��� Cerca de dois quil��metros. Vamos subir para 12 quil��me-

tros, que ser�� nossa altitude de cruzeiro. Estaremos ent��o voando a

uma velocidade de 920 quil��metros hor��rios.

Os avisos para n��o fumar e apertar os cintos se apagaram. Judd

35

abriu o cinto de seguran��a que lhe cruzava o peito e inclinou-se para

ajud��-la. Sofia hesitou por um instante. Judd sorriu.

��� Est�� tudo bem.

Fast Eddie apareceu, pondo uma bandeja com caviar e torradas

na mesa diante dela. Depois, encheu os copos com champanha e se

retirou prontamente. Judd levantou seu copo para ela.

��� Seja bem-vinda aos c��us cordiais da Am��rica.

��� L�� embaixo ainda �� a Iugosl��via.

��� Mas voc�� n��o est�� l�� embaixo, n��o �� mesmo?

��� Tem raz��o. ��� Sofia sorriu e tomou um gole do champanha.

��� Deliciosa. ��� Ela olhou para a bandeja e acrescentou: ��� �� mesmo

caviar russo?

Judd assentiu.

��� N��o conseguimos encontrar isso nem na Iugosl��via.

Judd p��s um pouco de caviar numa torrada e estendeu para ela.

��� A d��tente proporciona alguns benef��cios.

��� Gosto disso.

��� Eu tamb��m ��� disse Judd, servindo-se.

��� Tem vodca russa a bordo?

��� Claro.

��� Posso tomar um pouco? ��� perguntou Sofia, quase timida-

mente. ��� L�� embaixo tudo o que eu conseguia beber era slivovitz,

que me deixa enjoada.

��� Basta pedir.

Fast Eddie trouxe uma garrafa gelada. Encheu dois copos e

deixou-os ao lado da garrafa, na bandeja, desaparecendo em seguida.

Sofia pegou o copo com vodca, observou-o por um instante e depois

bebeu. Judd percebeu um leve rubor em suas faces.

��� Gosta?

��� J�� fazia muito tempo... ��� Sofia olhou para ele. ��� N��o est��

bebendo.

��� N��o sou de beber muito. Vinho e cerveja, uma pequena

dose de scotch com ��gua antes do jantar... esse �� praticamente o meu limite. O ��lcool me deixa deprimido e n��o gosto de ficar assim.

��� E os t��xicos?

��� Um pouco.

��� Marijuana, coca��na, estimulante, alucion��geno?

��� Judd sorriu.

��� ��s vezes.

36

��� Isso �� muito americano. Lembro que era a moda quando eu

estava na escola.

Sofia pegou o copo de vodca e esvaziou-o. A respira����o

pareceu sair como um suave suspiro.

��� Isto �� muito europeu.

��� Gostos diferentes para pessoas diferentes ��� comentou

Judd, sorrindo.

Sofia recostou-se na poltrona.

��� Estou me sentindo quente. Acho que fiquei um pouco

tonta.

��� Se est�� cansada, pode ir dormir.

��� Nada disso. Estou gostando muito. ��� Ela sorriu. ��� E me

divertindo como h�� muito n��o acontecia. L�� embaixo, todo mundo ��

sempre s��rio. ��� Sofia fechou os olhos por um momento, depois

fitou-o e perguntou: ��� Tem um pouco de coca��na?

Judd respondeu com um aceno de cabe��a afirmativo.

��� Posso tomar um pouco? ��� Ela percebeu a hesita����o de

Judd. ��� N��o precisa se preocupar. Vai servir para me animar. Ainda

n��o quero dormir.

Ele foi ao quarto e voltou com o frasco de ouro. Virou-o entre

os dedos e bateu no lado; o p�� branco encheu a tampa de pl��stico.

��� Isto �� um injetor. Coloque numa narina, aperte o fundo e

fungue.

��� Parece complicado. Pode fazer para mim?

Judd levou o frasco �� narina de Sofia.

��� Fungue agora ��� disse ele, comprimindo o fundo.

Ela prendeu a respira����o. Rapidamente, Judd passou o frasco

para a outra narina.

��� De novo!

Ela ficou im��vel por um instante, depois virou-se para ele, os

olhos alargados e brilhantes.

��� Senti que subiu at�� o c��rebro.

Judd riu.

��� Acontece de vez em quando.

��� Agora me sinto quente de verdade. At�� os mamilos est��o

quentes e duros.

Ele observou-a em sil��ncio.

��� N��o acredita em mim.

��� Claro que acredito ��� respondeu Judd, tornando a sorrir.

37

��� Est�� rindo de mim. ��� Sofia baixou o z��per do macac��o,

deixando os seios �� mostra. ��� Acredita agora?

Os seios eram cheios e firmes, os mamilos cor de ameixa, duros

como pedra, projetando-se para a frente. Judd fitou-a nos olhos.

��� S��o lindos.

��� Aperte-me ��� murmurou ela, a voz rouca. ��� Toque em

mim ou terei um orgasmo sozinha, como vem acontecendo nos

��ltimos cinco anos.

Judd puxou-a para o seu peito, mantendo sua cabe��a comprimi-

da contra ele, enquanto a outra m��o apertava e acariciava os seios.

Sentiu o corpo todo estremecer. Suavemente, afagou-lhe os cabelos

compridos. Depois de um momento, ela ficou quieta. Judd n��o se

mexeu. A voz de Sofia soou abafada contra o seu peito:

��� Esteve com as tr��s mulheres que mandaram �� sua su��te?

��� N��o. Mandei-as embora.

Ela ficou em sil��ncio por um momento.

��� Fico contente por isso. Havia c��maras escondidas por cima

da cama em seu quarto.

��� O que �� uma estupidez. O que poderiam ganhar com isso?

��� N��o sei. Havia microfones ocultos por toda a su��te.

��� �� o que sempre se faz. Eu j�� esperava por isso. ��� Judd riu.

��� Brincadeira de crian��a.

��� N��o foi brincadeira de crian��a para eles. Um homem

morreu e tr��s est��o no hospital porque houve algum problema com a

fonte de energia.

��� �� uma pena. Eu n��o sabia disso.

Sofia espirrou subitamente. Judd levantou-lhe a cabe��a e

estendeu um len��o de papel.

��� �� a coca. Limpe o nariz com ��gua.

Ele mostrou-lhe o banheiro e depois voltou �� sua poltrona.

Tomava champanha quando Sofia voltou. Contemplou-a. Ela lavara

o rosto e escovara os cabelos.

��� Acha que sou horr��vel, Judd?

��� N��o. �� apenas humana. Pode ser uma m��dica, mas ��

tamb��m uma mulher... e uma linda mulher, diga-se de passagem. As

duas coisas possuem necessidades que devem ser satisfeitas para que

possa se completar.

Sofia hesitou.

��� Acho que irei agora para a minha cabine.

38

Judd levantou-se.

��� Se �� isso o que voc�� quer... se est�� cansada...

Ela fitou-o nos olhos.

��� O que voc�� quer?

Ele sorriu.

��� Voc�� j�� sabe.

39





5


UM LIGEIRO som diferente na estrid��ncia dos motores a jato

despertou-o. Pegou o telefone ao lado da. cama e perguntou:

��� Como estamos?

��� Dentro do hor��rio, Sr. Crane ��� respondeu o Comandan-

te Peters, da cabine de comando. ��� Estamos com 10 horas e meia de

v��o, seis mil metros acima de Delhi, ��ndia, e nos reabastecendo.

Esperamos pousar em Pequim dentro de oito horas e vinte minutos.

Todos os sistemas em perfeito funcionamento.

��� Obrigado.

Judd desligou e virou-se. Ela estava estendida no outro lado da

cama, a cabe��a no travesseiro, os olhos abertos, a fit��-lo.

��� Bom dia ��� disse Judd.

��� Bom dia.

��� Dormiu bem?

��� N��o sei. Acho que sonhei durante todo o tempo.

Judd riu.

��� Estava dormindo. Tenho certeza.

��� O que �� uma pena ��� murmurou Sofia. ��� Preferia que o

sonho fosse verdade.

Ele inclinou-se para o rosto dela.

��� Eu tamb��m. ��� Judd beijou-a e depois sentou-se na cama.

��� Quer tomar um caf��?

��� Posso me lavar primeiro? Estou cheirando tanto a sexo que

ficaria envergonhada de andar assim pelo avi��o.

Judd tornou a rir.

40

��� N��o sei onde est�� a gra��a ��� disse ela, muito s��ria. ��� O

excitamento sexual me leva rapidamente a rea����es multiorg��sticas.

Ele tentou igualar a gravidade de Sofia.

��� Nunca ouvi ser explicado assim, doutora.

��� Mas �� a verdade. Por exemplo: enquanto voc�� falava ao

telefone, um momento atr��s, a simples vis��o de seu p��nis, mesmo

meio ereto de sono, fez com que meus sucos flu��ssem imediata-

mente.

��� �� de fato um problema ��� disse Judd, acenando com a

cabe��a, uma express��o solene. ��� Posso compreender tudo agora.

��� Sei que o problema �� psicol��gico. Mas tenho de resolv��-lo

sozinha.

Judd virou-se de lado, contemplando-a.

��� �� um problema que precisa resolver imediatamente, dou-

tora?

��� N��o estou entendendo ��� murmurou ela, aturdida. ��� E por

que est�� me chamando de "doutora"? Pensei que s�� fosse me chamar

de Sofia.

Judd empurrou o rosto da mo��a para o seu falo.

��� Sofia, Sofia... ��� Ele soltou uma meia risada. ��� Ser�� que

n��o sabe que meio ereto nunca �� suficiente?

Sofia levantou o rosto para fit��-lo.

��� Est�� agora se divertindo ��s minhas custas?

��� Sua puta est��pida! ��� Os dedos de Judd agarraram-na pelos

cabelos, enquanto com a outra m��o ele enfiava o p��nis em sua boca.

��� Chupe bem, se quer trepar!

Sofia desvencilhou-se furiosa.

��� Est�� me falando como se eu fosse uma puta! ��� exclamou

ela, as l��grimas aflorando aos olhos.

Judd fitou-a em sil��ncio por um instante, depois aproximou-lhe

o rosto do seu.

��� N��o, Sofia ��� disse ele, gentilmente, beijando-a na boca. ���

N��o como uma puta. Mas como uma mulher que foi negada demais e

por muito tempo.

Ela desceu atr��s dele pela escada em espiral at�� o conv��s principal.

Judd virou-se quando ela parou ��s suas costas.

��� Ali em frente fica o escrit��rio.

41

Ele abriu a cortina para que Sofia pudesse ver. Merlin estava ��

sua mesa e havia mais dois outros homens, sentados diante de telas

de computador. Merlin virou-se para Judd.

��� Estarei com voc�� dentro de um minuto ��� disse Judd,

largando a cortina e depois conduzindo-a para o outro lado da

escada. ��� Primeiro, �� o sal��o para h��spedes, depois os camarotes.

Em seguida, est��o as cabines dos tripulantes e empregados, com o

sal��o especial para eles. Os dois sal��es servem tamb��m como sala de

jantar.

Sofia falou em voz baixa, mas visivelmente impressionada:

��� Quantas pessoas tem neste avi��o?

��� O pessoal de v��o �� composto por 10 homens e mais o

comandante; o pessoal de cabine d�� um total de nove pessoas,

incluindo o cozinheiro e o comiss��rio de bordo; mais cinco emprega-

dos para cuidar dos neg��cios, meu assistente pessoal, meu valete, eu

e voc��. No total, s��o 29 pessoas a bordo. Mas d�� para viajar at�� 51

pessoas, se for necess��rio.

Sofia sacudiu a cabe��a.

��� Parece mesmo uma casa. Precisa realmente de tudo isso s��

para voc��?

Judd sorriu.

��� Acho que sim. Passo quase 35 por cento da minha vida neste

avi��o, viajando a neg��cios. Com os equipamentos que temos a

bordo, estou em permanente contato com meus escrit��rios e neg��cios

no mundo inteiro.

��� Todos os empres��rios americanos possuem avi��es assim?

��� N��o sei. ��� Judd tornou a sorrir. ��� Mas muitos possuem

avi��es e alguns chegam a ter dois ou tr��s.

��� �� demais.

��� �� tipicamente americano.

��� Era o que diz��amos quando eu estudava nos Estados Unidos.

��� Foi a vez de Sofia sorrir. ��� �� demais.

��� O almo��o dentro de meia hora tamb��m �� demais?

��� N��o, pois estou faminta.

Judd ficou observando-a atravessar o sal��o, a caminho de seu

camarote, depois voltou e passou pelas cortinas para entrar no

escrit��rio. Merlin levantou-se e Judd perguntou-lhe:

��� �� de manh�� ou de tarde?

42

��� S��o quatro horas da tarde na ��ndia, cerca de 12 horas de

v��o. Mas isto �� o dia seguinte.

��� Nunca vou conseguir entender direito.

��� J�� temos o relat��rio de hoje.

��� Pois vamos logo cuidar disso.

Judd sentou-se a uma pequena mesa de reuni��o. Merlin p��s

uma pasta de folhas soltas em cima da mesa. Judd abriu-a por um

instante, mas logo tornou a fech��-la, bruscamente.

��� Alguma coisa especial? Estou exausto.

��� N��o h�� muita coisa, pois �� fim de semana. S�� tem uma coisa

de maior import��ncia. A Mal��sia nos deu a empreitada, 55 milh��es

de d��lares pela ponte do Rio Pahang.

��� Mas que merda! ��� exclamou Judd. ��� Como fomos cair

nessa? Eu tinha certeza de que far��amos uma proposta acima dos

outros.

��� E foi o que aconteceu. Mas �� o pre��o que se tem de pagar

por uma boa reputa����o. Disseram que a nossa proposta podia ser

mais alta, mas se sentiriam mais seguros com a Crane Construction.

��� Vamos perder uns 12 a 14 milh��es nessa brincadeira. ���

Judd pensou por um instante. ��� Consulte os fabricantes de a��o

japoneses. Eles est��o nos sacaneando e embarcar o material de l��

sair�� mais barato do que mandar dos Estados Unidos ou Europa.

Talvez possamos salvar uns quatro ou cinco milh��es por esse lado.

��� Cuidarei disso. Mandarei Judson tomar as provid��ncias

necess��rias de San Francisco.

��� Mais alguma boa not��cia? ��� perguntou Judd, irritado.

��� Doc Sawyer. Ele disse que n��o tem a menor id��ia do que

voc�� est�� falando. S�� conhece as experi��ncias de engenharia gen��tica

e o projeto DNA do Departamento da Defesa. Precisa de mais

detalhes.

��� Conversaremos pessoalmente em Miami, no final da sema-

na. Alguma not��cia da Seguran��a sobre a doutora?

��� Ainda n��o. Mas deve chegar nas pr��ximas horas.

Judd levantou-se.

��� Est�� certo. Vamos verificar outra vez depois do almo��o. ���

Ele fez uma pausa, depois olhou para Merlin. ��� Por falar nisso,

gostaria que almo��asse comigo e com a doutora, se tiver tempo.

Quero saber o que pensa dela.

O almo��o foi simples. Uma tigela de consome, alcatra grelhada,

43

malpassada, com vagem e cenoura, uma salada temperada com azeite

e vinagre, uma bandeja de queijo. Foi servido um Ch��teau Margaux

para acompanhar a comida e um caf�� ao final, depois que todos os

pratos foram tirados. Sofia olhou para Judd.

��� Voc�� parece comer sensatamente.

��� Uma comida leve. Quando viajo assim, sempre fico tonto

com a diferen��a de fusos hor��rios. Se comer demais, n��o terei

condi����es de fazer muita coisa.

��� �� tamb��m o seu caso, Sr. Merlin?

��� De todos n��s, doutora. Nosso programa de refei����es foi

determinado pelos dietistas do Instituto de Pesquisa para proporcio-

nar um desenvolvimento m��ximo de energia. Dentro desse progra-

ma, cada um tem uma cota pessoal di��ria de vitaminas e complemen-

tos minerais.

��� Isso significa, por exemplo, que o Sr. Crane n��o toma

necessariamente as mesmas vitaminas e minerais que o senhor?

��� Cada pessoa no avi��o tem a sua pr��pria f��rmula.

��� E como isso �� determinado?

��� Fazemos um exame anual no Centro M��dico Crane, em

Boca Raton, Fl��rida. O exame completo leva geralmente tr��s dias.

��� E o Sr. Crane tamb��m o faz?

��� Claro.

Sofia virou-se para Judd.

��� Seria poss��vel mostrar-me os resultados do seu exame?

Judd assentiu, sorrindo.

��� N��o h�� problema. Est�� tudo computado. Ter�� os resultados

a bordo pela manh��.

��� Obrigada. Vai me ajudar muito.

��� Voc�� �� a m��dica. Basta pedir qualquer coisa que precisar.

��� Deve ser um bom come��o, antes de irmos adiante. ��� Sofia

largou a x��cara de caf��. ��� Importa-se se eu descansar um pouco,

Judd? Estou me sentindo muito cansada.

��� Claro que n��o. E acho que �� uma boa id��ia eu tamb��m

descansar um pouco. Tenho um banquete �� meia-noite em Pequim.

Ele inclinou-se para Merlin, depois que Sofia saiu.

��� O que acha?

��� N��o sei. Ela parece genu��na. Mas n��o tenho condi����es de

determinar se �� uma boa m��dica.

44

��� O relat��rio deve nos dizer alguma coisa sobre isso. Acorde-

me no momento em que chegar.

Merlin fitou-o atentamente.

��� Eu o conhe��o bem. E sei que alguma coisa o est�� incomo-

dando.

��� N��o tem nada a ver com a experi��ncia m��dica de Sofia. �� a

sua frieza. Alguma coisa al��m da profiss��o. Ela tem antenas. Est��

sempre alerta. Tenho certeza de que �� algo mais.

Merlin acompanhou-o at�� a escada.

��� Pode deixar que o avisarei assim que o relat��rio chegar.

O telefone de Judd despertou-o menos de duas horas depois.

��� Posso subir? ��� perguntou Merlin.

��� Estou acordado.

Judd levantou-se e foi para a sala da su��te, no momento em que

Merlin chegava. Judd pegou o relat��rio.

��� Todos os dados m��dicos conferem ��� disse Merlin. ��� S�� as

��ltimas linhas �� que s��o interessantes.

Judd leu rapidamente: "Fontes da CIA informam rumores n��o

confirmados, repito, n��o confirmados, que a pessoa em refer��ncia foi

recrutada pelo KGB, por ordem de Andropov. Consultaremos outras

fontes para mais informa����es."

��� Se isso �� verdade, o que ela quer de n��s? ��� indagou Merlin.

Judd sacudiu a cabe��a.

��� N��o �� em n��s que eles est��o interessados, mas em Zabiski.

��� N��o estou entendendo.

��� Zabiski �� muito esperta. N��o vai revelar como ou o que faz.

Nem mesmo os russos sabem. Foi por isso que ela jogou Sofia para

cima de mim. Vai confundir tudo por algum tempo.

��� S�� n��o sei de que isso nos adiantar��.

Judd sorriu.

��� Entraremos no jogo, como se estiv��ssemos inocentes.

Tenho o pressentimento de que Zabiski vai nos passar a bola quando

estiver preparada para isso.

��� Acredita realmente nessa possibilidade?

��� Claro. Fitei a velha nos olhos, toquei-lhe a m��o. Pude senti-

la. Est��vamos unidos.

45





6


��� Q U A A L U D E S E INTERFERON ��� disse Judd. ��� N��o estou

entendendo. Parece uma combina����o absurda.

��� N��o �� t��o absurdo quanto parece ��� respondeu Li Chaun,

inclinando-se sobre o encosto do banco da limusine. ��� E o

resultado �� um ��timo lucro.

Li Chaun era um chin��s nascido nos Estados Unidos, o gerente

de vendas para a ��sia das ind��strias farmac��uticas de Crane, baseado

em Hong Kong. Ele explicou:

��� Por volta de 1980, a produ����o de Quaaludes estar�� proibida

em quase todo o mundo ocidental. A Europa e a Am��rica Latina j��

suspenderam a produ����o. A press��o nos Estados Unidos vem

aumentando e Lemon j�� faz planos para tamb��m suspender a

produ����o. A maior parte das drogas j�� �� falsificada e de p��ssima

qualidade, vendida por traficantes.

��� Por que ent��o os chineses est��o querendo?

��� Os chineses parecem reagir mais aos antidepressivos do que

os americanos e a maioria dos caucasianos. A droga �� mais eficaz

neles porque t��m um metabolismo lento e por isso n��o ficam altos.

Assim, para os chineses, trata-se de uma pr��tica m��dica leg��tima. Li

Chaun fez uma breve pausa, antes de acrescentar: ��� O governo

chin��s est�� convencido de que �� melhor seu povo tomar Quaaludes

do que fumar ��pio. A verdade �� que ��pio e trabalho s��o duas coisas

que n��o combinam.

��� Eles conhecem a atitude do resto do mundo ��� disse Judd.

Li Chaun assentiu.

46

��� Em suma, a coisa �� simples: eles querem que n��s atuemos

como seus traficantes em torno do mundo.

��� Isso mesmo. Mas dar��o uma retribui����o de primeira. Talvez

200 por cento do suprimento mundial total de Interferon. E a Crane

seria a distribuidora exclusiva.

��� Mas que merda! ��� Judd olhou pela janela. ��� Estamos

fodidos se aceitarmos e fodidos se n��o aceitarmos.

��� Se bem conhe��o nossos amigos, eles v��o remeter os

Quaaludes de qualquer maneira, com ou sem a nossa participa����o ���

comentou Li Chaun. ��� Sempre farejam onde h�� dinheiro.

Judd tomou a decis��o, dizendo calmamente:

��� Eles que se fodam. Eu passo. ��� Ele olhou da limusine para

o avi��o esperando na pista. ��� Gostaria de saber se Sofia j�� acordou.

Merlin sorriu.

��� Ela deve estar acordada, se n��o lhe deu coisa nenhuma para

dormir.

��� Eu n��o faria uma coisa dessas. ��� Judd sorriu e virou-se para

Li Chaun. ��� Sofia �� a m��dica iugoslava de quem lhe falei.

Li Chaun acenou com a cabe��a gentilmente, embora sua

express��o se tivesse contra��do ao ouvir a decis��o de Judd sobre os

Quaaludes.

��� Tenho a impress��o de que ela se mostrar�� muito interes-

sante.

Sofia acordou lentamente, na escurid��o de seu camarote. Levou um

momento para perceber que o avi��o estava em terra, que a for��a dos

motores a jato n��o fazia sua cama vibrar gentilmente. Virou-se para

olhar o rel��gio digital a seu lado. O mostrador azulado indicava 0310.

Ela sentou-se na cama, surpresa por ter dormido durante o

pouso do avi��o. Levantou uma cortina e a claridade dos refletores em

torno do avi��o penetrou no camarote. Tornou a fechar a cortina e foi

para o pequeno banheiro. Havia um boxe de chuveiro no canto. Ela

entrou e fechou a porta de plexiglass, abriu o chuveiro. A ��gua estava quente e sedativa. Sofia deixou que escorresse pelos ombros e seios.

Um pequeno bot��o na parede tinha a indica����o de sabonete. Ela

apertou-o; o sabonete espumou, misturando-se com a ��gua. Depois

de ensaboar-se rapidamente, Sofia apontou o esguicho de ��gua pelos

quadris. Gozou quase que no mesmo instante. Prendeu a respira����o,

47

com receio de que algum som escapasse dos l��bios. Finalmente,

fechou o chuveiro, enrolou-se numa toalha e voltou ao quarto.

Uma aeromo��a arrumava sua cama, de costas para ela. Houve

um estalido na porta do banheiro e a mo��a virou-se.

��� Sou Ginny. Acabei de lhe trazer suco de laranja e caf��.

Sofia olhou para a bandeja na mesinha-de-cabeceira.

��� Obrigada. ��� Ela hesitou por um instante. ��� Estamos em

Pequim?

��� Estamos, doutora.

��� O Sr. Crane est�� a bordo?

��� N��o, doutora. Est�� sendo esperado de volta ��s quatro

horas.

��� Ser�� que terei tempo para dar uma olhada pela cidade?

Nunca estive em Pequim.

A aeromo��a riu.

��� �� um dos problemas desse trabalho. J�� fui a muitos lugares

em que nunca estive. Deveremos partir para Hong Kong assim que o

Sr. Crane voltar.

��� O Sr. Crane n��o tinha me falado a respeito.

��� Ele deixou o recado comigo. Pediu-lhe que sa��sse para fazer

compras comigo. Deve me dar o seu manequim e n��mero de sapatos,

a fim de enviarmos a Hong Kong. O Sr. Crane quer que providencie

um guarda-roupa completo antes de seguirmos para San Francisco,

amanh��.

Sofia ficou irritada.

��� J�� tenho roupas suficientes.

Ginny sorriu.

��� O Sr. Crane tem suas pr��prias id��ias. Diz que voc�� possui

um corpo de Paris e por isso deve ter um guarda-roupa de Paris.

��� Ele �� assim com todo mundo?

��� Somente com as pessoas de quem gosta.

Sofia ficou em sil��ncio por um momento.

��� N��o sei qual �� o meu manequim na medida ocidental.

Ginny estendeu a m��o.

��� D��-me a toalha. Tenho um bom olho e poderei determinar.

Sem dizer nada, Sofia estendeu a toalha. Ginny contemplou-a

com um ar critico e depois disse, em tom suave:

��� Altura l,70m, busto 37, cintura 25, quadris 36. Sapatos em

torno de sete.

48

��� Voc�� parece experiente ��� comentou Sofia.

��� Gosto de roupas. E de corpos bonitos.

Sofia observou a mo��a atentamente, mas n��o definiu qualquer

express��o em seu rosto. Tornou a pegar a toalha, sentindo-se

embara��ada.

��� Obrigada.

Ginny encaminhou-se para a porta do camarote.

��� Estarei no sal��o. Se precisar de alguma coisa, aperte o bot��o

na mesinha.

Sofia pensou por um instante.

��� Pode me avisar no momento em que o Sr. Crane voltar ao

avi��o?

��� Claro, doutora.

��� Obrigada.

Sofia observou a porta se fechar por tr��s da aeromo��a, depois

sentou-se na cama, pegou o copo de suco de laranja e levou-o aos

l��bios.

��� O Sr. Crane est�� a bordo ��� informou a aeromo��a, pelo

interfone.

��� Posso falar com ele?

��� Aperte o n��mero 11 no aparelho ��� disse Ginny. ��� Ele est��

no sal��o l�� em cima.

Sofia apertou o bot��o. Judd atendeu.

��� Eu gostaria de lhe falar ��� disse ela. ��� Est�� sozinho?

��� Estou, sim. Pode subir.

Fast Eddie abriu a porta quando ela chegou ao sal��o. Judd

tomava uma Coca-Cola.

��� Dormiu bem?

��� Muito bem ��� respondeu Sofia, em tom irritado. ��� Por que

continua a me tratar como uma puta?

��� N��o sei do que est�� falando.

��� N��o preciso de nenhum guarda-roupa. Minhas roupas s��o

bastante boas.

��� Talvez para o leste da Europa, mas n��o para onde vai. E

n��o quando estiver comigo. Tem de ser a melhor.

Sofia fitou-o nos olhos.

��� Sou uma m��dica e n��o uma modelo.

49

��� Pois ent��o volte �� Iugosl��via. Se n��o quer parecer a linda

mulher que ��, n��o preciso de voc��. Tenho certeza de que h�� outros

m��dicos que podem fazer o que a Dra. Zabiski quer.

Sofia permaneceu em sil��ncio. Judd pegou um pequeno frasco e

uma colher de ouro.

��� Cheire um pouco. Vai se sentir melhor.

Ela riu subitamente.

��� Quem est�� bancando o m��dico agora?

��� Voc�� �� a m��dica ��� disse Judd, levando a colher de ouro ��

narina de Sofia. ��� Mas perdoe-me se a vejo apenas como uma linda

mulher.

A coca��na prontamente animou-a.

��� J�� esqueci uma por����o de coisas.

��� Podemos agora tratar de neg��cios. Tenho as fichas m��dicas

que pediu.

Ele virou-se e pegou uma pasta em cima da mesa. Sofia olhou:

HIST��RIA M��DICA DE JUDD MARION CRANE. Dentro da

pasta, havia sete folhas impressas de computador.

NASCIDO: 25 DE J U N H O DE 1934 NOVA YORK ��� NOVA YORK

D O C T O R S HOSPITAL 5:01 DA MANH��

GENEALOGIA:

PAI ��� SAMUEL TAYLOR CRANE, MORTO A 18 DE FEVEREIRO DE 1962

50





7


B A R B A R A OLHOU atrav��s da janela para o tapete branco de neve

que cobria o Central Park.

��� Seu pai dizia que esta era a vista mais linda de Nova

York, a neve pelo Central Park, com os contornos cinzas e de

vidro dos pr��dios por tr��s.

Judd estava ao lado dela.

��� Meu pai era um homem estranho.

��� Apenas para voc��. E apenas porque era seu pai. Todos os

filhos acham que seus pais s��o estranhos.

��� Voc�� o amava ��� murmurou Judd, menos uma pergunta e

mais uma afirmativa.

��� Amava mesmo.

A resposta foi simples.

��� Por que esperaram tanto tempo para casarem?

A resposta foi igualmente simples:

��� Ele nunca me pediu antes.

��� Mas continuou com ele assim mesmo?

��� Est�� querendo saber se dorm��amos juntos? ��� Barbara se

encarregou de responder. ��� N��o.

Judd observou-a atentamente.

��� Estranho. Sempre pensei que dormissem juntos.

��� Todo mundo pensava. Mas seu pai tinha id��ias muito

pessoais. Nunca misturava neg��cios com emo����es pessoais.

��� Ele era um tolo.

��� �� poss��vel. Mas est�� tudo acabado agora. De certa forma,

n��o tem mais import��ncia.

5 1

Judd ficou em sil��ncio por um momento.

��� Como est�� se sentido? ��� disse, por fim.

��� Estou bem. Mas um pouco atordoada, agora que aconteceu.

��� Ser�� um verdadeiro circo. Todo mundo estar�� presente.

Com exce����o de Kennedy. O presidente jamais gostou de papai.

Talvez n��o gostasse de pensar que papai tinha mais dinheiro do que o

seu pr��prio pai. Mas ele mandar�� o Vice-Presidente Johnson ao

funeral. Johnson gostava de papai. Sempre gostou de pessoas com

dinheiro e poder.

Barbara sorriu d��bilmente.

��� Seu pai n��o se importava com essas coisas antes e tenho

certeza de que n��o se importa agora.

Judd assentiu.

��� De certa forma, �� sobre isso que desejo lhe falar. Sei que o

corpo deve ser enviado para um cremat��rio depois dos servi��os em

St. Thomas.

��� Era o desejo de seu pai. Jamais gostou da id��ia de ser

enterrado num cemit��rio.

��� Tenho outra id��ia, Barbara. N��o quero que o corpo seja

cremado. Prefiro que seja mandado para o hospital de pesquisa em

Boca Raton.

��� De que adiantaria, Judd? J�� devem ter preparado o corpo

na ag��ncia funer��ria.

��� N��o, n��o prepararam. Menos de cinco minutos depois que

ele morreu, providenciei para que o corpo fosse congelado criog��ni-

camente.

��� Sei que voc�� n��o acredita nessas besteiras. Acha mesmo que

ele poderia ser ressuscitado daqui a um ano, quando se descobrir a

cura para a doen��a?

��� N��o �� isso que estou querendo. ��� Judd respirou fundo. ���

J�� temos a tecnologia que nos permite examinar as c��lulas em seu

corpo geneticamente e, com a metodologia DNA, descobrir as causas

da doen��a.

��� Parece meio macabro.

��� Mas n��o ��.

��� N��o sei... Os desejos de seu pai foram expressos.

��� Os desejos dele n��o s��o mais compuls��rios. Morto, ele n��o

possui mais o pr��prio corpo. Agora �� propriedade sua e voc�� pode

fazer o que quiser. Essa �� a lei.

5 2

Barbara virou o rosto para fit��-lo.

��� �� por isso que est�� me pedindo?

Judd assentiu.

��� Como esposa, o direito legal �� seu e n��o meu.

��� Que direito voc�� tem?

��� Nenhum. A n��o ser que voc�� tivesse morrido antes e eu

fosse o parente sobrevivente mais pr��ximo.

Barbara sentou, em sil��ncio por um momento.

��� Acho que preciso de um drinque.

Judd atravessou a sala e encheu dois copos com scotch e gelo.

Beberam sem dizer nada. Depois de um momento, Barbara fitou

Judd e indagou:

��� Acha que pode adiantar alguma coisa?

��� N��o sei. Mas estamos tentando descobrir mais coisas sobre

como prolongar a vida. Foi por isso que constru�� o centro de pesquisa

em Boca Raton. Se tiv��ssemos come��ado anos antes, talvez pud��sse-

mos prolongar a vida de papai.

��� E voc��, Judd... o que voc�� quer?

��� Quero viver eternamente.

Barbara terminou de tomar o u��sque.

��� Est�� bem, eu concordo.

Judd tirou um documento dobrado do bolso do palet��.

��� Ter�� de assinar isto.

Ela olhou para o papel.

��� J�� sabia que eu concordaria, n��o �� mesmo?

��� J��, sim.

��� E como soube?

��� Porque todos n��s o am��vamos ��� respondeu Judd, beijan-

do-a no rosto.

Ela levantou o rosto para contempl��-lo.

��� Voc�� �� muito parecido com seu pai, mas tamb��m �� muito

diferente. N��o possui os desejos aquisitivos que ele tinha. Seu pai

queria ter todos os neg��cios que pudesse. Voc�� se contenta em

manter as coisas.

��� Papai fez tudo. N��o havia mais nada na ��rea que eu pudesse

fazer. Ele construiu uma m��quina que funciona sozinha. Mesmo que

todos desaparec��ssemos, os neg��cios continuariam. De certa forma,

�� uma esp��cie de m��quina de movimento perp��tuo.

53

��� Foi por isso que tomou aquela iniciativa h�� tr��s anos? Como

uma esp��cie de experi��ncia? ��� Judd assentiu e Barbara acrescentou:

��� Seu pai ficou transtornado a princ��pio. Mas acho que, depois,

come��ou a compreender.

��� Espero que sim. Lembro nitidamente do dia em que ele me

entregou o escrit��rio. Foi na semana em que me formei no MIT e a

primeira vez em que lhe disse que abriria o centro de pesquisas em

Boca Raton.

��� Ele n��o podia perceber o sentido. N��o daria qualquer lucro.

��� E ele estava certo. Mas n��o me impediu.

��� Seu pai manteve a palavra. Disse que o neg��cio seria seu e

estava falando s��rio.

Ele foi a p�� para o escrit��rio naquele dia de junho. O pai estava �� sua

mesa de trabalho. Por um momento, Judd ficou chocado ao constatar

como o pai estava magro. Mas depois fitou os olhos e o brilho ainda

estava l��. Beijou o pai e depois Barbara, apertou a m��o do Juiz Gitlin

e dos tr��s advogados e contadores sentados no outro lado da mesa,

por tr��s de uma pilha de documentos.

Uma tela fora instalada na parede do outro lado. A primeira

imagem projetada foi a de um mapa da corpora����o, indicando as

companhias Crane e suas liga����es. Por baixo de cada companhia

estava o nome do diretor-executivo e seu primeiro assistente.

Havia duas cadeiras �� cabeceira da mesa de reuni��o. O pai

levantou-se de tr��s da mesa e, com a ajuda de uma bengala,

encaminhou-se para uma das cadeiras. Gesticulou para que Judd

ocupasse a outra. Barbara sentou-se na cadeira �� esquerda do velho,

enquanto o Juiz Gitlin se instalava �� direita de Judd.

Houve sil��ncio em torno da mesa. Todos olhavam solenemente

para o pai, que respirou fundo e disse:

��� O rei n��o est�� morto, apenas abdicou.

A sala continuou em sil��ncio.

��� Todos sabiam o que eu planejava. Talvez pensassem que eu

n��o tencionava realmente executar o plano. Mas sabem agora que

era s��rio.

As pessoas �� mesa de reuni��o n��o disseram nada.

��� Judd tamb��m cumpriu sua palavra para mim. Terminou o

��ltimo ano em Harvard, concluiu os estudos de p��s-gradua����o no

5 4

MIT. Nos intervalos entre os estudos, viajou e visitou todas as

companhias e f��bricas que possu��amos ao redor do mundo.

Ele fez uma pausa, tomando um gole da ��gua no copo �� sua

frente.

��� A transfer��ncia de poder �� sempre dif��cil. Nas companhias

tanto quanto nos governos. A ambi����o de meu pai era formar o

conglomerado mais eficaz e diversificado do mundo, estendendo-se

por todos os n��veis da economia americana. Essa era a ambi����o de

meu pai. Mas n��o era a minha. Tive como ambi����o expandir os

neg��cios para uma corpora����o multinacional que se estendesse por

todo o mundo. Com o poder e riqueza de que disp��e, influencia

governos no mundo inteiro... e se tornou a primeira na lista das 500

de Fortune. Mas minha vis��o n��o �� necessariamente a de meu filho.

Ele ter�� a sua pr��pria ambi����o. E toda a sabedoria que posso legar se

resume em poucas palavras.

Ele tomou outro gole de ��gua.

��� O poder �� ao mesmo tempo um mal e um bem. Sempre tive

consci��ncia disso. Pessoalmente, gosto de pensar que inclinei a

balan��a na dire����o do bem. Mas reconhe��o que o mal algumas vezes

se manifestou. Espero por��m que, ao final, o bem tenha prevalecido.

Outra pausa, mais um gole de ��gua.

��� N��o vou aborrec��-los com todos os detalhes t��cnicos

envolvidos na transfer��ncia de poder. As funda����es, todas as

provid��ncias necess��rias por causa das leis que protegem a heran��a,

tudo j�� foi resolvido. Mas, ao final, o resultado ser�� o mesmo. Meu

filho ter�� a responsabilidade, o poder e a riqueza que j�� foram meus e

pertenceram a meu pai antes de mim. ��� Ele virou-se para o Juiz

Gitlin e acrescentou: ��� Agora �� tudo com voc��, Paul.

O Juiz Gitlin levantou-se.

��� Simplifiquei tudo ao m��ximo poss��vel, mas ainda h�� 20

documentos para serem assinados, em seis vias. Voc��, Barbara e

Judd devem assin��-los e depois ser��o devidamente registrados. Pode

levar v��rias horas. Acha que pode ag��entar, Samuel?

��� Claro. Vamos come��ar logo.

Judd interveio nesse momento:

��� Pai, talvez seja melhor voc�� escutar o que tenho a propor.

O pai virou-se para ele.

��� Prefiro n��o escutar. Eu disse que era tudo seu. Fa��a o que

achar melhor.

55

��� Est�� bem, pai. ��� Judd olhou para o Juiz Gitlin. ��� Estou

pronto.

O advogado come��ou a entregar-lhes os documentos. O

processo de assinatura demorou quase tr��s horas. O velho estava

muito p��lido e cansado ao final.

Ele olhou para Judd quando o ��ltimo documento foi assinado.

Judd se manteve em sil��ncio. O pai inclinou-se e beijou-o no rosto.

��� Que Deus esteja com voc��, filho.

Barbara contornou a mesa e beijou Judd na outra face. O Juiz

Gitlin e os outros desataram num coro de congratula����es. Judd n��o

disse nada at�� que todos se calaram. Levantou-se ent��o e falou:

��� Muitos de voc��s n��o gostar��o do que planejo fazer. Mas,

como disse meu pai, posso fazer agora o que achar melhor. Tenciono

aposentar todos os atuais diretores-executivos de nossas companhias

e substitu��-los pelo sucessor imediato. E fa��o isso porque quero que

todos sejam leais somente a mim e a mais ningu��m.

O Juiz Gitlin balan��ou a cabe��a.

��� �� uma boa id��ia, Judd.

Judd fitou-o com um sorriso.

��� Fico contente que aprove, Tio Paul, porque o seu �� o

primeiro nome na lista.

5 6





8


��� UM MILH��O DE D��LARES por ano ��� disse Judd.

��� Para qu��? ��� perguntou Barbara. ��� N��o preciso. Seu pai

providenciou tudo com o fundo de investimentos que fez para

mim. Sou uma mulher rica. E ainda tenho o apartamento aqui e

casas em Connecticut e Palm Beach.

��� Tudo isso �� ninharia. Sua vida mudar��, agora que �� vi��va.

Tinha uma vida social concentrada em torno de papai. As pessoas

n��o valem nada. V��o desaparecer no momento em que descobrirem

que n��o pode fazer mais nada por elas.

��� N��o preciso de ningu��m. Estou acostumada a viver sozinha.

Judd fitou-a nos olhos.

��� Voc�� tinha 19 anos quando foi trabalhar na Crane Indus-

tries, 23 quando se tornou assistente pessoal de papai. A partir desse

instante, ingressou em outro mundo. O dele. E isso aconteceu muito

antes de casarem.

��� Continuei a voltar para casa depois do trabalho.

��� N��o �� disso que estou falando. Voc�� se encontrava perto do

centro de a����o. Agora... n��o tem mais nada.

Barbara ficou em sil��ncio por um momento.

��� O que sugere que eu fa��a?

��� Que desenvolva uma vida para voc��.

Ela olhou para os olhos de um azul-cobalto.

��� N��o sei como. ��� Barbara baixou os olhos para as pr��prias

m��os. ��� Desde o come��o que orientei minha vida de acordo com as

conveni��ncias de seu pai. Quando casamos, pensei que essa situa����o

mudaria. Mas n��o foi o que aconteceu. A ��nica mudan��a foi para a

57

casa dele, com outro t��tulo. Tomei-me a esposa, n��o apenas a sua

assistente. Mas os deveres continuaram os mesmos.

��� Mas voc�� o amava?

��� Claro. E creio que ele me amava tamb��m. Mas nada mais

era poss��vel. Seu pai se achava doente e estava tudo acabado. N��o

houve sexo, filhos ou momentos de prazer. Somente planos para um

futuro que n��o inclu��a a n��s dois, porque ele ia morrer.

Sentado no outro lado do sof��, Judd disse:

��� Voc�� ainda �� jovem. H�� muita felicidade que pode encon-

trar.

��� Estou com 48 anos ��� murmurou Barbara, amargamente. ���

Olhe para mim. O ��nico atrativo que posso oferecer �� o meu

dinheiro. Seria a ��ltima numa competi����o com mulheres mais jovens.

��� Est�� enganada, Barbara. Fisicamente, seu rosto e corpo

ainda s��o ��timos. Em dois minutos, podemos fazer o rel��gio voltar 15

anos, deixando-a como se estivesse com 30 anos.

Barbara riu.

��� Cirurgia cosm��tica?

��� N��o descarte a possibilidade. As t��cnicas atuais s��o incr��-

veis.

��� Vamos supor que eu fizesse. De que me adiantaria? Nada

conhe��o da vida. Acho que s�� fiz sexo uma vez na vida. Era

estudante e foi no banco traseiro de um carro. Detestei.

��� Isso tamb��m pode ser corrigido.

Ela sacudiu a cabe��a.

��� Judd, Judd... Voc�� n��o compreende realmente, n��o ��?

��� Talvez seja voc�� quem n��o compreende.

��� Est�� falando como seu pai. Era isso que ele costumava

dizer.

Judd sorriu.

��� Lembra-se quando eu tinha 12 anos e ca�� do salgueiro no

gramado de minha casa em Connecticut?

Barbara assentiu.

��� Claro. E tamb��m lembro que seu pai ficou furioso, pois

voc�� jamais explicou por que subiu no salgueiro, sabendo que os

galhos eram muito fracos.

��� Eu n��o podia contar a ele.

��� Por que n��o?

��� Subia naquela ��rvore para poder olhar pela janela do seu

58

quarto e v��-la nua. E no instante em que a via, come��ava a me

masturbar.

��� N��o acredito.

��� �� a pura verdade. E uma vez tive um orgasmo e tirei as

m��os do galho. Foi quando ca��.

Barbara come��ou a rir.

��� Ah, as crian��as...

��� Nunca mais esqueci. Ainda posso v��-la na minha imagina-

����o. Mesmo agora, em algumas ocasi��es, naquele instante entre a

vig��lia e o sono, eu me descubro pensando em voc��.

��� Nunca vi, isso jamais me passou pela cabe��a.

��� O que foi uma pena. Eu costumava pensar que seria ainda

mais excitante se voc�� pudesse me ver.

Barbara se manteve em sil��ncio. Judd acrescentou:

��� Pensar nisso, mesmo agora, me deixa com tes��o.

Barbara levantou-se.

��� Foi um dia longo e dif��cil, Judd. Acho melhor dormirmos

agora. O avi��o partir�� bem cedo.

Ele segurou-a pelo bra��o, murmurando:

��� Freud.

��� O que h�� com Freud?

��� Ele disse que as frustra����es acarretam a insanidade.

��� Est�� inventando. Nunca ouvi falar disso.

��� Quero que voc�� fique sentada e me observe.

��� N��o, Judd. Isso �� uma insanidade total. Voc�� n��o �� mais o

menino daquele tempo �� eu n��o sou a mocinha que voc�� via.

Judd sacudiu a cabe��a.

��� Voc�� n��o entende. Nada mudou. N��s dois ainda somos os

mesmos de antes.

��� Na sua imagina����o.

��� E o que mais existe? S�� o que est�� em nossa mente. E voc��

ainda �� linda.

Judd baixou o z��per da cal��a e segurou o p��nis. A voz soava

rouca quando disse:

��� N��o precisa fazer nada. Basta me observar.

J�� sentada no sof��, ela sentiu os dedos de Judd lhe apertando o

bra��o, enquanto o falo crescia na outra m��o. Sentiu a garganta se

contrair, quase n��o podia respirar. Viu a glande avermelhada se

projetar acima do prep��cio, enquanto a m��o de Judd se movia

5 9

rapidamente. Um momento depois, um grunhido emergiu da gargan-

ta de Judd e o s��men esguichou, derramando-se sobre a m��o e a

cal��a.

Barbara levantou a cabe��a para fit��-lo no rosto. Os olhos de

Judd n��o estavam mais enevoados, recuperavam a sua tonalidade

azul-cobalto habitual. Ele contemplou-a em sil��ncio por um instante

e depois sorriu, murmurando:

��� Quinze anos... ��� Barbara n��o disse nada e ele acrescentou:

��� Pegue uma caixa de len��os de papel. Estou todo molhado.

Em sil��ncio, ela foi buscar a caixa atr��s do bar.

��� Limpe-me ��� disse Judd.

Sem falar ainda, Barbara pegou diversos len��os de papel e

enxugou-o. Judd disse:

��� Voc�� �� linda.

��� Eu me sinto est��pida.

��� Nada tem de est��pida. Est�� livre agora. E eu tamb��m.

Ela levou a caixa de volta ao bar. Preparou dois copos de scotch

com gelo, foi entregar um a Judd. Tomou um gole do seu pr��prio

u��sque, antes de perguntar:

��� A tal cirurgia cosm��tica... vai funcionar como voc�� disse?

��� Claro que vai. Melhor ainda do que eu falei.

Barbara respirou fundo.

��� Est�� certo. O que devo fazer.

��� J�� est�� tudo providenciado. O avi��o para lev��-la a Boca

Raton e o m��dico est��o �� sua espera.

A voz do piloto ressoou pelo avi��o:

��� Aqui �� o comandante. Em primeiro lugar, quero agradecer-

lhes por voarem pela Pan American e espero que tenham achado

confort��vel o v��o de Londres a San Francisco. Dever��o estar em

terra dentro de aproximadamente 12 minutos. Neste momento,

podem ver �� esquerda a Ponte Golden Gate e �� direita a Ponte da

Ba��a de Oakland. Mais uma vez, obrigado por voarem pela Pan Am.

Barbara olhou pela janela por um momento, depois abriu o

estojo de maquilagem. Ainda sentia surpresa ao se contemplar no

espelho. Fazia dois anos que Judd a levara a Boca Raton para a

cirurgia pl��stica. O rosto no espelho parecia o de uma mulher de

trinta e poucos anos. E Judd tamb��m acertara ao insistir que ela

passasse os anos seguintes na Europa. Pela primeira vez na vida, ela

6 0

sentira-se uma mulher de verdade. Ajeitou rapidamente a maquila-

gem, pensando em Judd. Quanto ele teria mudado em dois anos?

Lera muitos artigos em jornais e revistas sobre a Crane

Industries, mas nunca encontrara em nenhuma uma fotografia de

Judd. Havia retratos do pai e de muitos executivos novos, nenhum

dos quais ela conhecia. Mas o nome de Judd era apenas mencionado,

jamais havendo uma fotografia. O telegrama a alcan��ara no Dorches-

ter Hotel, em Londres:

Adoraria se voc�� pudesse cortar a fita para inaugurar a nova

sede mundial da Crane Industries, em Crane City, nos arredo-

res de San Francisco, a 14 de setembro de 64. Ansioso em v��-la.

Amor, Judd

A primeira pessoa que ela reconheceu, ao sair do avi��o para o

passadi��o coberto, foi Fast Eddie. Ao seu lado estava um rapaz

esguio, de terno e gravata escuros, e um inspetor alfandeg��rio. Fast

Eddie se adiantara prontamente, estendendo um buqu�� grande de

rosas vermelhas.

��� Estou feliz em vela, Sr��. Crane.

��� Tamb��m me sinto feliz em v��-lo, Fast Eddie.

Barbara sorriu e abriu o envelope que acompanhava as flores.

O cart��o fora escrito pessoalmente por Judd: "Seja bem-vinda de

volta ao lar, Barbara. Amor, Judd."

Ela ajeitou as rosas nos bra��os. Fast Eddie apresentou-a ao

rapaz.

��� Este �� Marcus Merlin, o assistente pessoal de Judd.

��� Muito prazer, Sra. Crane.

Barbara apertou-lhe a m��o.

��� O prazer �� meu, Sr. Merlin.

��� J�� providenciamos toda a cortesia do aeroporto, Sra.Crane

��� disse Merlin. ��� Se me der seu passaporte e os tal��es da bagagem,

cuidarei para que tudo seja transferido diretamente para o helic��p-

tero.

Barbara atendeu. Merlin levou-a para uma entrada lateral e

desceram uma escada para a pista, onde uma limusine aguardava. O

inspetor alfandeg��rio ficou com o passaporte e os tal��es de bagagem,

61

afastando-se rapidamente. Um motorista abriu a porta do carro e

Barbara embarcou. Fast Eddie abriu uma garrafa de champanha,

encheu um copo e estendeu-lhe.

��� A sua marca predileta ��� disse ele. ��� Cristale.

��� Obrigada por se lembrar.

��� Foi o Sr. Crane quem lembrou. ��� Fast Eddie sorriu. ���

Est�� com uma ��tima apar��ncia, Sra. Crane.

Ela retribuiu o sorriso.

��� E me sinto muito bem, Fast Eddie. ��� Barbara tomou um

gole de champanha. ��� Como est�� Judd?

��� Ele est�� sempre bem, madame. Mas �� como o pai,

invariavelmente muito ocupado.

Merlin aproximou-se da porta aberta do carro.

��� Seis malas Louis Vuitton?

��� Isso mesmo.

Ele acenou para o inspetor da alf��ndega. O motorista e Fast

Eddie guardaram a bagagem na mala da limusine. Fast Eddie foi

depois sentar-se na frente, ao lado do motorista. Merlin olhou para

Barbara.

��� Posso acompanh��-la, Sra. Crane?

��� Claro.

O carro come��ou a andar.

��� O helic��ptero est�� no outro lado do aeroporto ��� disse

Merlin. ��� Acho que vai gostar. �� o nosso modelo de passageiros

mais novo. Transporta 24 passageiros e mais a tripula����o. O mais

novo modelo da Hughes leva apenas 14 pessoas. ��� Barbara limitou-

se a acenar com a cabe��a e Merlin acrescentou: ��� O v��o levar��

apenas 25 minutos. �� menos tempo do que se gasta para ir de carro

ao centro de San Francisco.

��� Pelo que ouvi dizer, Judd construiu uma cidade inteira ���

comentou Barbara.

��� �� verdade, Sra. Crane ��� confirmou Merlin. ��� S��o 600

apartamentos, 100 casas e 12 pr��dios de escrit��rios. E tamb��m, ��

claro, h�� escolas, centros comerciais e um hospital.

Barbara virou-se para fit��-lo.

��� Mas por que aqui? A sede da companhia sempre foi em

Nova York.

��� �� verdade ��� respondeu Merlin. ��� Mas deve estar lembra-

da de que, h�� 10 anos, 60 por cento da produ����o industrial se

62

localizavam no Leste e Sul. Agora, 45 por cento est��o no Oeste e

apenas 15 por cento no Leste e Sul. Os computadores crescem como

erva daninha em Silicon Valley. Produzimos mais vinho no norte da

Calif��rnia do que na It��lia e Fran��a. Toda a ind��stria aeroespacial se

encontra espalhada pelos estados de Washington, Calif��rnia, Nevada

e Colorado. E as proje����es indicam que o crescimento nos pr��ximos

10 anos ser�� de 500 por cento.

��� Mas por que uma cidade inteira?

��� Foi uma id��ia que o Sr. Crane copiou dos japoneses. Ele

constatou que todas as grandes empresas japonesas, como a Mitsubi-

shi, Nissan, Asahi, National, Panasonic e Sony, unem a produ����o ao

trabalho, garantindo seguran��a pela vida inteira, desde o ber��o.

��� Tenho minhas d��vidas se os americanos tamb��m se sentir��o

assim.

��� �� o que veremos. Mas, como o Sr. Crane diz, �� apenas uma

experi��ncia.

O carro parou. Merlin saltou e estendeu a m��o para Barbara. A

outra m��o gesticulou para o helic��ptero.

��� A�� est��. O Sr. Crane disse que o primeiro devia homenage��-

la.

Barbara ficou im��vel por um momento. As l��grimas afloraram

�� vis��o do helic��ptero prateado. As letras no flanco eram firmes.

BARBARA UM.

6 3





9


��� P A R E C E UM campus universit��rio ��� comentou Barbara. ��� E

todos parecem crian��as. Creio que ningu��m tem mais de 30 anos.

Judd sorriu.

��� Eu sou a exce����o.

Ela riu.

��� Desculpe. ��� Barbara pegou o cart��o de pl��stico que servia

como chave de sua su��te. ��� Entre para tomar um ��ltimo drinque.

Judd aceitou com um aceno de cabe��a. Ela abriu a porta e os

dois entraram. A porta fechou-se automaticamente. Barbara condu-

ziu-o ao bar na sala.

��� Scotch com gelo?

��� N��o, obrigado. Prefiro tomar uma Coca.

Barbara fitou-o com uma express��o surpresa.

��� Isso �� novidade.

��� ��lcool n��o me faz bem.

��� E Coca-Cola faz, com toda cafe��na e a����car?

��� E algo mais.

Ela fitou-o, �� espera. Judd explicou:

��� Coca��na.

��� N��o �� perigoso?

��� Viver �� perigoso para a sa��de. Mas a combina����o me

mant��m alerta.

��� Tenho minhas d��vidas. E �� algo que nunca experimentei.

��� N��o recomendo a ningu��m. Mas funciona para mim.

Conferi com meu m��dico e ele diz que n��o �� pior do que abusar de

��lcool. A id��ia �� usar com extremo cuidado.

64

��� Como sabe se est�� exagerando?

Judd riu.

��� O nariz cai.

Barbara fez uma careta.

��� Parece horr��vel.

Judd tornou a rir.

��� Est�� bem, est�� bem. Tomarei um scotch.

Ela p��s os cubos de gelo nos copos, derramou um pouco de

u��sque por cima. Judd pegou seu copo.

��� A n��s ��� disse Barbara.

��� A n��s.

��� J�� tomou outras drogas, Judd?

��� Claro. Voc�� precisa compreender. Esta �� a era dos t��xicos e

produtos qu��micos. Assim como a era de meu pai foi a cerveja e

outras bebidas alco��licas.

��� E vem fazendo isso h�� muito tempo?

��� Desde o curso preparat��rio e a universidade.

��� Estranho... Nunca soubemos de nada.

��� Eu n��o passava muito tempo em casa.

Judd atravessou a sala at�� uma poltrona e sentou-se.

��� Fale-me a seu respeito, Barbara. J�� se passaram dois anos.

��� E foram dois anos diferentes. ��� Ela sentou-se em frente a

Judd. ��� Eu estou diferente.

��� D�� para ver.

��� E gosta do que v��?

Ele assentiu.

��� Gosto, sim. Sinto agora que se tornou voc�� mesma. Antes,

era um sat��lite girando em torno de papai.

��� Eu n��o me importava, pois o amava.

��� Sei disso. ��� Judd tomou um gole de u��sque. Os olhos azuis-

escuros se fixaram nos dela. ��� Est�� querendo saber por que a

chamei, n��o �� mesmo?

Barbara balan��ou a cabe��a afirmativamente, sem dizer nada.

��� Est�� na hora de voltar ao trabalho, Barbara. Preciso de

voc��.

��� Precisa de mim? N��o estou um pouco al��m da idade para

voc��?

Judd riu.

��� Touch��.

6 5

��� Muito bem, Judd. O que est�� pensando?

��� A Guerra do Vietnam deixou Johnson acuado. Vai escalar

at�� explodir na sua cara. At�� l��, haver�� muito dinheiro para se

ganhar.

��� Ainda n��o sei o que isso tem a ver comigo.

��� General Connally.

Ela ficou em sil��ncio por um instante.

��� Willie?

��� Isso mesmo. Soube que o est��o trazendo de volta da OTAN

para p��-lo no comando de todas as compras do Departamento da

Defesa.

��� Ainda n��o entendo o que isso tem a ver comigo.

Subitamente, n��o havia qualquer express��o nos olhos de Judd.

��� Voc�� anda trepando com ele. E uma boa conversa na cama

vende mais armas do que suborno.

��� Ele quer se divorciar para casar comigo.

��� N��o o deixe fazer isso. Acabaria com a sua carreira.

��� E n��s n��o poder��amos ganhar nada assim.

��� Voc�� aprende depressa.

Barbara foi at�� o bar e tornou a encher os copos. Entregando o

copo de Judd, ela disse:

��� Apenas para sua informa����o. Nunca tive a inten����o de casar

com ele.

Judd se manteve em sil��ncio.

��� Exatamente em que tipo de material est�� interessado?

��� Helic��pteros de transporte de tropas armadas. A Hughes e

a Bell j�� est��o preparando suas propostas. Transportes de terra

blindados. A Chrysler e a General Motors trabalham neles. Embar-

ca����es para rios rasos impulsionadas por jatos, em vez de h��lice. A

Jacuzzi e a Piaggio est��o enviando algumas, em condi����es de teste.

��� E tudo isso pode valer muito dinheiro?

��� V��rios bilh��es de d��lares.

Barbara ficou calada por algum tempo. J�� estava quase

terminando o drinque quando voltou a falar:

��� V��rios bilh��es de d��lares... D�� um bom sal��rio para uma

prostituta.

Judd n��o disse nada.

��� O que aconteceu com seus ideais, Judd? Onde est��o os

sonhos de imortalidade?

66

��� Ainda os tenho. Mas tamb��m tenho um neg��cio que herdei

e ainda precisa ser alimentado.

Ela respirou fundo.

��� Se seu pai me pedisse, eu n��o teria hesitado, porque o

amava. E n��o me sentiria como uma prostituta.

��� Todos se prostituem, cada um �� sua maneira e por seus

pr��prios motivos. Poder, dinheiro, sexo, ideais. Os benef��cios da

vida.

��� Acredita mesmo nisso?

Judd assentiu.

��� Pois est�� enganado. Esqueceu o mais importante de tudo.

��� O que ��?

As l��grimas come��aram a se derramar dos olhos de Barbara.

��� Amor.

Sofia levantou os olhos das fichas m��dicas fornecidas por compu-

tador.

��� N��o h�� qualquer informa����o aqui sobre se voc�� j�� foi ou n��o

casado.

��� Nunca me casei.

Ela inclinou a cabe��a para um lado.

��� Eis algo excepcional. Geralmente, um homem da sua idade,

com 42 anos...

Judd interrompeu-a:

��� Voc�� disse que tinha 30 anos e jamais casou. Acha que isso

tamb��m �� excepcional?

��� Claro. Mas tive um motivo. Minha profiss��o �� muito

absorvente.

��� Talvez a minha tamb��m seja. ��� Judd sorriu. ��� Mas n��o me

sinto privado de muita coisa. E voc��?

Sofia fez uma pausa, antes de responder, com toda sinceridade:

��� ��s vezes me sinto. Deveria casar e ter filhos, mas as coisas

nunca se desenvolveram para esse lado.

��� Voc�� deveria mesmo ter casado. E n��o apenas porque adora

foder. Teria muito a dar a seus filhos.

Sofia baixou os olhos para o impresso de computador.

��� Pelo que est�� aqui, voc�� goza de excelente sa��de.

��� �� o resultado do desregramento e falta de sono ��� respon-

deu Judd, sorrindo.

6 7

��� ��, apesar disso. ��� Sofia estava s��ria e compenetrada.

Largou as fichas m��dicas. ��� Teremos de arrumar tempo para lev��-lo

a um hospital por tr��s dias.

��� O pr��ximo fim de semana, em Boca Raton. Estamos indo

para l�� de qualquer forma.

��� Enquanto isso, h�� diversos testes que preciso fazer. N��o

levar��o muito tempo.

��� Voc�� �� a m��dica.

O telefone ao lado da cadeira de Judd tocou. Ele escutou por

um momento e depois disse: .

��� Mande-o subir.

Desligando, ele virou-se para Sofia e informou:

��� �� Li Chaun, o gerente de vendas asi��tico das Ind��strias

Farmac��uticas Crane.

Ela se levantou.

��� Posso voltar a meu camarote, sedeseja ficar a s��s com ele.

��� Conhe��a-o primeiro. Ele forneceu a Ginny uma sele����o de

lojas para procurar quando pousarmos em Hong Kong.

Li Chaun entrou na cabine e Judd fez as apresenta����es. Sofia

sorriu.

��� Obrigada por sua cortesia.

��� O prazer �� meu.

Ele fez uma ligeira mesura. Sofia virou-se para Judd.

��� Eu o verei em terra?

��� Lamento, mas estarei muito ocupado.

��� Est�� certo.

Ela acenou com a cabe��a para Li Chaun e deixou a cabine. Os

avisos de proibido fumar e apertar o cinto de seguran��a estavam

acesos quando entrou em seu camarote. Acomodou-se em sua

poltrona. Ginny abriu a porta e entrou no camarote. Olhou para as

poltronas ao redor e perguntou:

��� Importa-se se eu lhe fizer companhia?

��� Claro que n��o.

Ginny sentou-se em frente a ela e apertou o cinto de seguran��a.

��� Li Chaun me forneceu uma rela����o de lojas que parecem

muito interessantes.

��� N��o estou realmente interessada em conhecer nenhuma

delas.

Ginny sorriu.

68

��� O Sr. Crane acha que voc�� deve providenciar um guarda-

roupa completo.

��� As id��ias dele e as minhas s��o muito diferentes. Roupas n��o

s��o t��o importantes assim para mim.

Ginny soltou uma risada.

��� Mas compre as roupas assim mesmo. Ele �� o tipo de homem

que sempre quer impor sua vontade.

��� Ele �� assim em tudo?

Ginny assentiu. Sofia olhou pela janela. As rodas estavam

quase encostando na pista. Um momento depois, o enorme avi��o

corria suavemente pelo pavimento.

��� N��o sei como o piloto consegue. A gente nem mesmo sabe

quando o avi��o pousa.

��� �� uma das regras do Sr. Crane ��� explicou Ginny. ��� Se ele

sente as rodas tocarem na pista, �� melhor o piloto ter uma desculpa

perfeita ou ent��o come��ar a procurar por outro emprego. ��� Ginny

levantou-se e acrescentou: ��� Acha que poderemos partir dentro de

15 minutos?

��� N��o h�� problema.

Li Chaun se aproximou assim que Sofia se retirou.

��� Sua Dra. Ivancich �� iugoslava?

��� ��, sim ��� respondeu Judd. ��� Como soube?

��� J�� ouvi o nome. Ela passou algum tempo com Mao Ts��-

tung, at�� sua morte. Houve at�� um rumor, espalhado pela esposa de

Mao e outros membros da Quadrilha dos Quatro, de que ela o

matou.

Judd n��o fez qualquer coment��rio. Olhou pela janela e, depois,

disse:

��� N��o t��nhamos nada a esse respeito em nossa ficha de

computador. ��� Ele tornou a olhar para Li Chaun. ��� Acha que pode

descobrir alguma coisa sobre isso para mim?

��� N��o sei. ��� O asi��tico riu. ��� Enquanto espera, n��o deixe

que ela lhe d�� qualquer p��lula.

Judd tamb��m riu.

��� Acho que n��o terei problemas com isso.

69





10


J U D D OLHOU pela janela. L�� embaixo, na pista, avistou Sofia e

Ginny embarcando na limusine. O telefone tornou a tocar. Era

Merlin.

��� Judson est�� ligando de San Francisco.

��� Ponha-o na linha. ��� Houve um estalido. ��� Como vai,

Judson?

��� Muito bem, Sr. Crane. Tenho algumas informa����es sobre o

a��o para a ponte na Mal��sia.

��� Pode falar.

��� Ind��strias Pesadas Mitsubishi fornecer�� o a��o por seis

milh��es a menos. Mas h�� uma condi����o. Querem que use a sua linha

de navega����o. Isso custar�� cerca de 800 mil.

��� �� passar de um bolso para outro ��� comentou Judd. ��� Tem

alguma outra id��ia?

��� J�� que est�� em Hong Kong, poderia arrumar um encontro

com S. Yuan Ling. Ele possui a maior empresa de transporte

mar��timo do mundo. E a maioria dos seus navios foi constru��da pela

Mitsubishi. Ele tem a influ��ncia necess��ria para nos poupar alguns

d��lares.

��� A ��ltima not��cia que tive dele era de sua presen��a no

M��xico, acertando o neg��cio dos seus petroleiros com a Pemex.

��� Ele j�� voltou a Hong Kong.

��� Muito bem, tentarei falar com ele. Mais alguma coisa?

��� Nada que n��o possa esperar.

Judd desligou e virou-se para Li Chaun:

7 0

��� Entre em contato com S. Yuan Ling e diga-lhe que quero

encontr��-lo esta tarde.

��� Ele s�� trabalha pela manh��. Almo��a em seu iate, nada por

uma hora e depois dorme at�� o jantar.

��� N��o me importo que ele passe uma hora sentado onde bem

quiser. Diga a ele que quero v��-lo.

��� Est�� bem, senhor. Nesse caso, �� melhor eu seguir imediata-

mente para a cidade.

��� Pode ir.

��� E a opera����o farmac��utica? ��� perguntou Li Chaun, antes

de sair, parecendo ansioso, apesar do impass��vel rosto oriental.

��� J�� ouviu minha decis��o. Se est�� vinculada aos Quaaludes,

n��o me interessa.

��� O dinheiro est�� com os Quaaludes.

��� Pode estar para eles, mas n��o para n��s. Mas pode dizer a

eles que triplico a oferta pelo Interferon.

��� Eu direi. E telefonarei da cidade assim que tiver alguma

not��cia de S. Yuan Ling.

��� Obrigado.

Judd observou o asi��tico deixar a cabine, depois apertou o

bot��o chamando Merlin. Fast Eddie apareceu antes que Merlin

chegasse.

��� Precisa levantar o ��nimo, chefe?

Judd balan��ou a cabe��a.

��� �� uma boa id��ia.

��� A Coca especial e todos os acess��rios?

��� Acertou em cheio.

O copo de Coca-Cola estava na mesa quando Merlin entrou.

Ele esperou at�� que Judd despejasse a coca��na no refrigerante. Judd

bebeu tudo.

��� �� assim que eles faziam em Atlanta quando come��aram a

fabricar a bebida.

Merlin j�� sabia. Ouvira a hist��ria muitas vezes. A cafe��na

substitu��ra a coca��na em 1903 ou 1912, por decis��o legislativa, com a

Lei dos Alimentos e Drogas.

��� Mande um telex para a seguran��a pedindo mais detalhes

sobre a Dra. Ivancich ��� disse Judd. ��� Indague por que eles n��o

tinham informa����es sobre o ano que ela passou com Mao Ts��-tung,

antes de sua morte. Mande tamb��m que vigiem Li Chaun. Tenho o

71

pressentimento de que ele pode tentar fazer sozinho a opera����o dos

Quaaludes.

��� Pois n��o, senhor. Mais alguma coisa?

Judd sacudiu a cabe��a.

��� Vou dormir um pouco. Acorde-me assim que Li Chaun

marcar o encontro com S. Yuan Ling.

A vendedora francesa fitou-as altivamente e falou, com um tom

esnobe:

��� Temos as ��ltimas revistas... L'Officiel, o Vogue franc��s e outras. Podemos providenciar qualquer coisa que escolha, em

qualquer fotografia, no prazo de 12 horas.

Sofia respondeu em franc��s. A vendedora balan��ou a cabe��a

por um instante, depois acenou para duas cadeiras e afastou-se.

��� O que disse a ela? ��� perguntou Ginny.

��� Falei que n��o estamos interessadas em haute couture. Tudo tem de ser pr��t-��-porter, pois s�� passaremos tr��s horas em Hong Kong.

A vendedora voltou com outra mulher, que parecia ser a

gerente.

��� Em que exatamente est�� interessada?

Sofia respondeu em ingl��s:

��� Dois conjuntos simples, um em l��, outro em tecido mais

leve. Tr��s vestidos para a tarde, um vestido de coquetel preto e um

longo, tamb��m preto. Acess��rios combinando e sapatos tamb��m.

Tr��s saias, branca, bege e preta. Seis blusas de seda, de cores

diversas. Dois slacks, um azul-marinho e outro preto. Tr��s jeans.

��� Pois n��o, madame ��� disse a gerente, respeitosamente. ���

Quer ter a gentileza de me acompanhar a um camarim?

Um momento depois, Sofia estava num camarim bastante

grande. Ginny sentou-se numa cadeira a um canto, enquanto Sofia

despia-se. A gerente fez uma careta quando viu que as roupas de

baixo de Sofia eram de algod��o.

��� Madame n��o gostaria de levar alguma coisa de nossa

lingerie'! Temos as ��ltimas modas, francesa e americana. Em seda ou





nylon.


Sofia sorriu.

��� Obrigada, madame. Talvez seja melhor eu levar uma

sele����o das duas.

72

A gerente pegou uma fita m��trica. Sofia tirou o soutien e a

calcinha. Profissionalmente, a vendedora tirou as medidas. Saiu em

seguida, deixando as duas mulheres no camarim. Ginny contemplou

Sofia.

��� Julgando pelas roupas, ningu��m poderia imaginar o corpo

fant��stico que voc�� tem.

��� Obrigada.

��� N��o �� de admirar que o Sr. Crane queira lhe providenciar

um novo guarda-roupa.

Sofia sorriu.

��� Pensei que ele fizesse isso por todas as suas namoradas.

Ginny riu.

��� Nem todas. Mas �� a primeira vez que ele faz para sua

m��dica.

Sofia contemplou-se no espelho de corpo inteiro. Viu Ginny de

p�� ��s suas costas.

��� J�� fez pl��stica nos seios? ��� perguntou Ginny.

Sofia fitou-a nos olhos.

��� Nunca.

��� N��o d�� para acreditar. Eles s��o absolutamente perfeitos.

Sofia ainda se contemplava no espelho.

��� Pode verificar, se n��o acredita em mim.

Ginny hesitou por um instante, depois passou os bra��os em

torno das costas de Sofia e segurou-lhe os seios. As m��os da

aeromo��a estavam quase quentes; Sofia sentiu os mamilos endurece-

rem. Os olhos das duas se encontraram no espelho.

��� Acredita em mim agora?

Relutante, devagar, Ginny retirou as m��os. Os olhos ainda se

encontravam no espelho. Ginny sussurrou, a voz rouca:

��� Acredito.

A porta do camarim abriu-se um momento depois. Ginny

voltou �� cadeira no canto, enquanto diversas mo��as entravam, com

pilhas de roupas.

O sol estava quente e o ar bastante ��mido sobre a ��gua, no outro lado

da ilha. Li Chaun e Judd estavam de p�� ao lado do marinheiro que

guiava a Riva de mogno. Li Chaun apontou para um iate quase um

quil��metro �� frente.

��� �� o barco dele. Sempre fica ancorado na Ba��a Repulse.

73

��� E ele est�� a bordo? ��� perguntou Judd.

��� N��o. De acordo com a sua programa����o, deve estar

nadando neste momento. Disse que s�� poderia marcar um encontro

daqui a tr��s dias.

A voz de Judd era incisiva:

��� Conversaremos com ele agora. Diminua a velocidade para

dois n��s e fique atento para encontr��-lo.

Os motores potentes se atenuaram para um sussurro suave.

Lentamente, a Riva come��ou a descrever um c��rculo largo. Dez

minutos depois avistaram a b��ia amarela balan��ando na ��gua, com

tr��s cabe��as pretas na frente. Judd come��ou a tirar as roupas.

��� Chegue o mais perto que puder, dentro dos limites de

seguran��a.

Ele tirou os sapatos e as meias quando a Riva estava a apenas

20 metros de dist��ncia. Passou por cima do p��ra-brisa na proa da

Riva e acenou com os bra��os, por cima da cabe��a. As cabe��as pretas

na ��gua adquiriram rostos subitamente, quando se viraram em sua

dire����o.

��� Desligue os motores ��� ordenou Judd.

Ele estava apenas com a sunga. Viu um dos homens levantar

uma submetralhadora Uzi, dentro de um saco pl��stico �� prova

d'��gua, que ele abriu eficientemente. Judd mergulhou e foi aflorar

perto do homem.

��� Tome cuidado com esse brinquedo ��� disse ele. ��� Use-o e

todos n��s explodiremos na ��gua.

Outro homem, ao lado do que empunhava a Uzi, falou

calmamente, sem qualquer vest��gio de medo na voz:

��� O que quer de n��s?

��� Sou Judd Crane.

O homem fitou-o nos olhos.

��� Seu assistente n��o lhe disse que nosso encontro est��

marcado para daqui a tr��s dias?

��� Disse. Mas achei melhor nos encontrarmos imediatamente.

��� Aqui? No meio do rio?

��� �� um lugar t��o bom quanto outro qualquer.

��� Devo reconhecer que �� bastante ins��lito. ��� O rosto do

homem se abriu num sorriso. ��� Costuma promover encontros assim?

��� Geralmente n��o. Mas tamb��m os neg��cios n��o me oferecem

74

muitas oportunidades para me encontrar com homens como S. Yuan

Ling.

Ling soltou uma risada.

��� �� mais jovem do que eu pensava, Sr. Crane.

��� Obrigado. Tenho a sua aten����o?

��� H�� um velho prov��rbio chin��s: um ouvido surdo n��o escuta

a voz da oportunidade.

Judd chegou mais perto, a ��gua escorrendo do rosto.

��� Tenho a informa����o de que possui um dep��sito de 20

milh��es de d��lares sobre seis navios que a Mitsubishi est�� lhe

construindo. E tamb��m que os tr��s primeiros navios far��o as viagens

inaugurais na pr��xima primavera.

��� As informa����es s��o corretas.

��� Tamb��m tenho a informa����o de que a Mitsubishi planeja

transportar o a��o para a minha ponte na Mal��sia nas viagens

inaugurais desses navios. E depois entregar�� os navios pelo restante

do custo que combinaram.

O chin��s ficou em sil��ncio por um momento.

��� Quanto eles pretendem cobrar para transportar o seu a��o?

��� Oitocentos mil d��lares.

S. Yuan Ling balan��ou a cabe��a.

��� Esses japoneses s��o muito espertos.

Judd tamb��m balan��ou a cabe��a.

��� Tem raz��o, s��o espertos at�� demais.

��� Concordaria com 400 mil d��lares?

��� Claro.

��� Neg��cio fechado. ��� O chin��s estendeu a m��o e Judd

apertou-a. ��� Posso convid��-lo para almo��ar em meu iate?

��� Pe��o desculpas, mas estou um pouco atrasado para outros

compromissos. Posso ter a honra de aceitar o convite em outra

ocasi��o?

��� Claro. A qualquer momento.

Judd nadou de volta para a Riva. Um marinheiro estendeu a

m��o e ajudou-o a subir. Judd virou-se para o chin��s, ainda nadando,

acenou com a m��o. E, depois, disse ao marinheiro:

��� Vamos embora.

Lentamente, a Riva afastou-se dos nadadores e descreveu um

largo c��rculo. O marinheiro acelerou ao m��ximo e a lancha disparou

de volta �� praia.

7 5





11


A LIMUSINE PAROU ao lado do avi��o. Sofia e Ginny saltaram.

��� Mandarei levar tudo para a sua cabine.

��� Obrigada. ��� Sofia sorriu e passou a m��o pela cabe��a, um

certo nervosismo se insinuando em sua voz quando acrescentou:

��� Acha que ele vai gostar?

Ginny riu.

��� Se n��o gostar, ent��o �� porque ficou louco.

��� Foi a primeira vez em que estive num sal��o de beleza, em

cinco anos. Nem mesmo me reconheci no espelho.

��� Voc�� est�� ��tima. Pare de se preocupar.

��� Custou uma fortuna.

��� N��o para ele. E agora trate de embarcar. Levarei suas

roupas e poder�� vestir uma delas. Ele ficar�� impressionado.

Li Chaun estava no sal��o quando Sofia entrou. Ele fez uma

ligeira mesura.

��� A excurs��o de compras foi bem-sucedida, doutora?

��� Foi, sim. Muito obrigada. O Sr. Crane est�� a bordo?

��� Est�� em sua cabine, recebendo uma massagem. ��� Ele

estendeu a m��o para Sofia. ��� Foi um prazer conhec��-la, doutora.

��� Est�� partindo?

��� Estou, sim. Tenho de voltar ao escrit��rio e o avi��o vai

decolar para os Estados Unidos ��s oito horas.

Sofia olhou para o rel��gio. Eram sete horas.

��� Mas �� daqui a uma hora! ��� exclamou ela, surpresa.

��� O Sr. Crane disse ao comandante que esperasse at�� sua

76

volta. ��� Li Chaun fez uma pausa; quando tornou a falar, foi em

chin��s. ��� N��o o informei que j�� nos encontramos antes.

Sofia fitou-o; os olhos do chin��s nada revelavam.

��� Obrigada, camarada ��� respondeu ela, tamb��m em chin��s.

Li Chaun falou depressa:

��� Acho que ele ficaria mais confiante se lhe contasse pessoal-

mente a respeito de seu trabalho com Mao, ao inv��s de esperar que

descubra por uma verifica����o de seguran��a.

Sofia acenou com a cabe��a, sem dizer nada.

��� E se por acaso ele mencionar a opera����o farmac��utica, eu

ficaria agradecido se me transmitisse os coment��rios.

��� Est�� certo, camarada.

Li Chaun voltou a falar em ingl��s:

��� Espero que tornemos a nos encontrar, doutora.

��� �� o que tamb��m espero, Sr. Li Chaun ��� respondeu Sofia,

igualmente em ingl��s. ��� E, mais uma vez, obrigada por sua ajuda.

Ela ficou observando-o se retirar. Ginny entrou um instante

depois, acompanhada por dois carregadores com os pacotes.

O telefone ao lado de sua cama tocou baixinho. Ela apertou o

reostato, diminuindo a luz.

��� Al��?

��� Desculpe ��� murmurou Judd. ��� Eu n��o queria acord��-la.

��� N��o h�� problema. Nunca imaginei que fazer compras fosse

t��o cansativo.

��� Mas foi divertido?

��� Para minha grande surpresa, foi. Por falar nisso, obrigada

por todas as coisas maravilhosas.

��� O prazer foi meu.

��� A massagem foi boa?

Ele pareceu hesitar.

��� Foi, sim. Gostaria de uma?

Sofia percebeu o barulho dos motores e olhou pela janela. As

estrelas piscavam.

��� Tem at�� um massagista a bordo?

Judd riu.

��� N��o um massagista. Duas massagistas. E s��o ��timas. V��o

apenas at�� Honolulu e depois para Hong Kong. ��� Ela ficou calada e

77

Judd acrescentou: ��� Pode pensar nisso mais tarde. Telefonei para

perguntar se n��o quer jantar comigo.

Sofia olhou para o mostrador azulado do rel��gio digital.

��� O convite �� tentador.

��� N��o precisa se apressar. Ficarei esperando.

Ela ouviu o estalido do telefone sendo desligado antes de poder

responder. Sentou-se na cama lentamente, tornou a pegar o telefone

e apertou o bot��o da copa. Ginny atendeu.

��� Pois n��o, doutora?

��� Pode me arrumar um caf�� bem forte?

��� Claro, doutora. Estarei a�� dentro de um minuto.

Sofia saiu da cama e foi para o chuveiro. Voltou ao quarto

alguns minutos depois, enrolada numa toalha. A aeromo��a j�� se

encontrava ali, �� sua espera. O caf�� estava quente e forte.

��� Est�� ��timo ��� murmurou Sofia.

Ginny continuou onde estava. Sofia fitou-a.

��� Algum problema?

A voz da aeromo��a soou muito tensa:

��� Vai subir para se encontrar com ele, n��o �� mesmo?

Sofia acenou com a cabe��a.

��� Vou, sim.

As l��grimas afloraram aos olhos de Ginny.

��� N��o v�� at�� l��, por favor. N��o esta noite, depois que tivemos

um dia juntas, um dia maravilhoso.

��� Ginny... ��� murmurou Sofia, compreensiva. ��� Ah, crian-

��a...

��� Por favor. ��� O tom da aeromo��a era suplicante. ��� N��o

quero que ele a use como faz com todas as outras. Eu a amo.

��� Voc�� alguma vez...

Ginny n��o a deixou continuar:

��� N��o temos qualquer op����o. Ele nos compra e possui a todos

n��s.

��� Crian��a, crian��a... ��� sussurrou Sofia. ��� Voc�� n��o com-

preende. Todos, sem exce����o, s��o possu��dos por algu��m ou alguma

coisa.

Ginny fitou-a nos olhos.

��� Ent��o n��o est�� apaixonada por ele?

��� N��o, n��o estou.

��� Mas vai com ele?

78

��� Claro.

��� Eu o odeio!

A aeromo��a estava furiosa. Sofia ficou calada.

��� Voc�� me ama? ��� perguntou Ginny.

Os olhos voltaram a se encontrar.

��� Talvez, com o tempo, eu venha a amar.

O sol entrando pela janela lhe ardia nos olhos. Fechando as

p��lpebras, conseguiu tapar o sol. Rolou na cama. Tinha uma

tremenda dor de cabe��a. Tornou a abrir os olhos. Sentou-se na cama.

Estava em sua pr��pria cabine. Respirou fundo. Era estranho. N��o se

lembrava de ter descido.

Saiu da cama e foi para o banheiro. Engoliu duas aspirinas e um

Valium de cinco miligramas. Tornou a respirar fundo e entrou no

boxe, abrindo a ��gua do chuveiro ao m��ximo. Primeiro a ��gua fria,

depois quente, fria de novo. A cabe��a come��ou a desanuviar um

pouco.

Saiu do chuveiro e estendeu a m��o para a toalha. E foi nesse

instante que ficou chocada com o que viu no espelho. O corpo nu

estava quase que inteiramente coberto por pequenas equimoses

pretas e roxas, descendo dos seios e atravessando a barriga at�� os

quadris. O p��bis fora raspado e o monte-de-v��nus estava inchado,

como o Monte Ves��vio, o clit��ris dolorido e vermelho, como lava

escorrendo dos l��bios do vulc��o.

Sofia respirou fundo e virou-se para contemplar as costas.

Verg��es vermelhos e finos lhe riscavam as costas, cobrindo as

n��degas. Apalpou as equimoses, hesitante. N��o havia qualquer dor.

Passou os dedos pelas n��degas, pegou os seios. Ainda n��o sentia dor.

Lentamente, envolveu-se com a toalha e voltou ao quarto.

Sentou-se na cama e tentou lembrar o que acontecera durante a

noite. Mas sua mente estava em branco.

Ela pegou o telefone e apertou o bot��o do servi��o. Raoul, o

comiss��rio de bordo, atendeu.

��� Pois n��o, doutora?

��� A que horas devemos pousar em Honolulu?

A voz de Raoul se manteve impass��vel:

��� Partimos de Honolulu h�� tr��s horas, doutora.

Sofia hesitou por um instante.

��� Pode pedir a Ginny para me trazer um caf��?

7 9

��� Lamento muito, doutora, mas Ginny deixou o avi��o em

Honolul��. Mandarei levar o caf��.

E foi ent��o que tudo lhe voltou �� mem��ria. No instante em que

rep��s o fone no gancho. Era quase como se fosse um pesadelo. As

pequenas chinesas, como duas ervilhas numa vagem. G��meas

id��nticas. Nuas e rolando a pasta de ��pio entre os dedos, acendendo

o cachimbo e levando a haste �� sua boca, com as m��os delicadas.

Depois, as nuvens deslumbrantes e a neblina prateada. Flu-

tuando dentro de seu corpo e depois sentindo por fora a beleza de seu

corpo, enquanto as g��meas o tocavam, sentindo o amor em todos os

seus nervos. E o orgasmo, que explodira como um milh��o de

fragmentos min��sculos, projetando seu corpo na escurid��o da noite.

Outra explos��o, na escurid��o, uma explos��o de dor. Lutou

contra a noite, no esfor��o de recuperar a consci��ncia. E depois a dor

recome��ou. Abriu os olhos e deparou com o rosto de Ginny,

contra��do em raiva e ��dio, os dentes, atacando-a, em seguida os

a��oites do pequeno chicote. Gritou e gritou e gritou...

A porta se abriu. Subitamente, Ginny desapareceu. Judd a

fitava. Ela tentou lhe falar, mas nenhum som saiu. E foi a voz dele

que finalmente p��de ouvir:

��� Gelo, proca��na e o ung��ento OCTH. Bastante. Duas

inje����es de Demerol.

��� Dor ��� balbuciou Sofia. ��� Dor.

��� Desaparecer�� dentro de um momento.

E ela tornou a mergulhar na escurid��o.

Houve uma batida na porta.

��� Entre ��� disse Sofia.

Judd abriu a porta.

��� Posso entrar?

Sofia assentiu. Ele ficou de lado, enquanto uma aeromo��a se

adiantava e punha o caf�� na mesinha-de-cabeceira. Judd esperou at��

que a aeromo��a se retirasse.

��� Como se sente?

��� Estou toda machucada. ��� Ela tomou um gole de caf��. ���

Talvez seja melhor m��dico do que eu. Nem sei o que aconteceu.

��� O ��pio deixou-a desacordada. Estava dormindo quando a

trouxemos para sua cabine.

��� Obrigada. Eu poderia morrer.

��� A garota estava louca. Ningu��m poderia imaginar. S��

80

compreendemos tudo depois que arrombamos a porta e a encon-

tramos.

��� Sinto muito, Judd. Eu n��o queria causar qualquer pro-

blema.

��� A culpa n��o foi sua. Al��m do mais, sinto-me feliz porque

voc�� est�� bem agora.

Sofia ficou em sil��ncio por um longo momento.

��� Mais uma vez, obrigada.

��� Estaremos em San Francisco dentro de quatro horas. Por

que n��o dorme at�� l��? Conhe��o um m��dico em San Francisco que

far�� com que as equimoses desapare��am em menos de um dia.

81





12


O HELIC��PTERO que os levou do aeroporto de San Francisco para

Crane City pousou exatamente ��s 11 horas. Dois autom��veis

estavam �� espera. Diversos homens ali estavam. Um deles, alto e

distinto, de cabelos grisalhos, estendeu a m��o.

��� Ol��, Judd.

Judd apertou-lhe a m��o.

��� Obrigado por ter vindo nos esperar, Jim. ��� Ele virou-se

para Sofia. ��� Este �� o Dr. Marlowe, Sofia. �� general reformado e

comandou o centro de queimaduras no hospital da NASA, em

Houston. Jim, esta �� a Dra. Ivancich, Sofia.

Os dois m��dicos trocaram um aperto de m��o. Jim perguntou:

��� Como se sente, doutora?

��� Estou bastante machucada. Mas acho que s��o contus��es

basicamente superficiais.

Jim sorriu.

��� Vamos fazer um exame. Eu a levarei direto para a cl��nica.

Sofia virou-se para Judd, com uma express��o inquisitiva. Ele

sorriu, tranquilizadoramente.

��� Estarei no escrit��rio. Jim a levar�� at�� l�� assim que acabar.

Ele ficou observando enquanto o carro do Dr. Marlowe se

afastava. Fast Eddie e Merlin acompanharam-no at�� o outro carro.

Judd levantou a divis��ria de vidro que separava o motorista dos

passageiros e olhou para Merlin.

��� Como �� poss��vel que o relat��rio psicom��dico de Ginny n��o

detectasse a sua psicose latente?

82

��� Ningu��m sabe ��� respondeu Merlin. ��� E j�� est��o reavalian-

do os testes.

��� Quero uma revis��o completa de todos os testes e procedi-

mentos. Basta uma doida para acabar com a gente.

Merlin sabia que era melhor n��o responder. A ira de Judd

nunca chegava a aflorar, mas era fatal. Ele n��o tinha toler��ncia para

com os erros. Judd mudou de assunto.

��� Comunicou a Judson o acordo com S. Yuan Ling?

��� Claro. Ele ficou muito satisfeito. E me pediu para inform��-

lo que est�� reformulando o m��todo de constru����o da ponte e acha

que pode nos poupar outro milh��o de d��lares.

��� ��timo. Barbara vai se encontrar comigo no escrit��rio?

��� Vai, sim, senhor.

Judd balan��ou a cabe��a e recostou-se no assento. Baixou a

divis��ria que os separava do banco da frente e estalou os dedos. Fast

Eddie virou-se. J�� sabia o que ele queria.

O pequeno frasco e a colher de ouro foram estendidos em sua

palma. Judd pegou-os e virou-se para o canto do carro. Sentiu-se

melhor depois de aspirar a coca��na. Devolveu o frasco e a colher a

Fast Eddie.

Ele beijou Barbara no rosto.

��� Voc�� est�� linda.

Ela sorriu.

��� N��o precisa ser t��o lisonjeiro. Sou uma mulher de 60 anos.

��� N��o contarei a ningu��m, se voc�� n��o quiser. Pode perfeita-

mente passar por 40 anos.

��� Obrigada. Voc�� parece cansado.

��� E estou mesmo. Mas darei um jeito. Terei um longo fim de

semana de descanso em Boca Raton.

��� Voc�� deveria me dar um t��tulo na corpora����o.

��� Pode escolher o que quiser.

Barbara riu.

��� Madrinha. ��� Ela voltou a ficar s��ria. ��� Estou preocupada

com voc��.

��� Vou me recuperar.

��� Espero que a tal m��dica que trouxe da Iugosl��via fa��a

alguma coisa por voc��. E tor��o para que n��o se envolva mais com

sapat��es meio rudes.

83

Judd ficou surpreso.

��� O que sabe a respeito?

��� J�� lhe disse que sou a fada-madrinha ��� Barbara fez uma

pausa. ��� Vi o telex que voc�� mandou para a cl��nica.

Ele sacudiu a cabe��a tristemente.

��� Que merda!

��� N��o fique t��o furioso. Lembre-se que tem uma fam��lia

unida.

��� �� o que estou come��ando a descobrir. A mesma coisa

acontecia com papai?

��� Mais at��. Voc�� viaja muito mais do que ele.

Judd virou-se para as janelas. Estava quase na hora do almo��o e

os escrit��rios come��avam a se esvaziar. Ele tornou a virar-se para

Barbara.

��� Jack Maloney me disse que a NASA n��o nos dar�� qualquer

coopera����o. A Hughes fechou o contrato para os seis sat��lites.

��� �� verdade. Confirmei com o General Stryker, na Hughes.

Ele �� um velho amigo. E me disse que o neg��cio est�� liquidado.

��� S�� quero dois dos seis sat��lites.

��� Eles n��o aceitar��o.

Judd pensou por um momento.

��� N��o fornecemos os semicondutores direcionais para a

Hughes?

��� Fornecemos.

��� E j�� foram remetidos?

��� N��o sei. Em que est�� pensando?

��� Se a Hughes n��o tiver os semicondutores, os sat��lites n��o

sobem. Certo?

��� N��o sou engenheira para responder.

Judd chamou Merlin.

��� Entre em contato com a Hughes e avise que n��o estamos

remetendo os semicondutores. Diga-lhes que ainda n��o ficaram

prontos e n��o sabemos quanto tempo ainda vai demorar.

��� Isso vai lhe custar uma a����o judicial de 40 milh��es de

d��lares ��� advertiu Merlin.

��� Foda-se!

��� Voc�� �� quem manda.

Merlin retirou-se. Judd virou-se para Barbara.

��� Pode agora representar o papel de fada-madrinha. Ligue

84

para seu amigo General Stryker, avise-o que, por causa de seu

relacionamento comigo, pode acelerar a remessa dos semiconduto-

res, se nos ceder dois sat��lites.

��� Isso �� chantagem.

��� Tem toda raz��o.

Barbara riu.

��� E eu adoro! ��� Ela encaminhou-se para a porta, mas virou-

se antes de sair e fitou-o. ��� Conhe��o a Hughes. Pode demorar algum

tempo. Tudo tem de passar pelos canais competentes.

��� Tenho tempo para esperar. Eles �� que est��o com pressa.

��� Terei a oportunidade de conhecer sua doutora?

��� No jantar.

��� ��timo.

Barbara saiu.

��� Eu n��o sabia que sua madrasta era casada com o Dr. Marlowe ���

comentou Sofia, enquanto Fast Eddie abria a porta do apartamento

de cobertura que Judd mantinha no Mark Hopkins.

��� J�� tem seis anos ��� disse Judd, entrando atr��s dela na su��te.

��� Ela ainda �� jovem.

Judd acenou com a cabe��a.

��� E o Dr. Marlowe �� um g��nio. Jamais conheci uma t��cnica

como a dele. Em algumas coisas, a medicina americana est�� anos-luz

�� nossa frente.

��� O que ele fez?

��� Inje����es de dispers��o subcut��neas, com uma combina����o de

ACTH, proca��na e colag��nio n��o-al��rgico. Seu toque �� t��o gentil que

nem senti.

��� Ele �� mesmo muito bom. A NASA n��o queria perd��-lo.

Mas ele j�� estava com 70 anos e achou que j�� era demais. Resolveu

ent��o aposentar-se.

��� Eles t��m uma linda casa em Nob Hill... n��o �� assim que se

chama o lugar? J�� a possuem h�� muito tempo?

��� A casa pertence �� fam��lia de Jim h�� gera����es. Ele �� de San

Francisco.

��� Sua madrasta deve ser uma mulher feliz.

��� E �� mesmo.

Judd conduziu-a para o quarto. Na outra extremidade, bem na

8 5

frente das janelas curvas, estendendo-se do ch��o ao teto, havia uma

banheira Jacuzzi oval. Judd fitou-a.

��� A ��gua tem problema para voc��?

��� Nenhum, se n��o estiver muito quente.

��� Uma temperatura de 31�� C �� demais?

��� Creio que n��o.

��� Pois ent��o vamos tomar um banho.

Judd se meteu na banheira primeiro. Virou-se quando Sofia se

aproximou, inteiramente nua.

��� Ele �� mesmo bom. As equimoses quase desapareceram.

��� Ele disse que n��o terei mais nada amanh��. ��� Cautelosa-

mente, ela p��s um p�� no degrau e experimentou a ��gua. ��� Est��

��tima.

Judd levantou a m��o para ampar��-la. Ela percebeu um sorriso

em seus l��bios.

��� Em que est�� pensando?

��� Sua cona. Parece de beb��.

��� Acha engra��ada?

Ele sacudiu a cabe��a.

��� Ao contr��rio. �� extremamente excitante. D�� o maior tes��o

a maneira como seu clit��ris sobressai.

Sofia fitou-o nos olhos.

��� Gostaria de dar uma chupada antes de eu entrar na ��gua e

me ensaboar?

��� Que pergunta mais tola...

Sofia passou as m��os pela cabe��a de Judd, em seguida p��s as

pernas por cima dele, estendendo-se sobre seu rosto.

86





13


O DR. LEE SAWYER, diretor do Centro de Pesquisa M��dica Crane,

em Boca Raton, Fl��rida, era um homem de estatura mediana, na

casa dos 40 anos, calvo, olhos azuis muito claros e uma express��o

tristonha de cachorro basset. Sentou-se numa cadeira ao lado do leito de hospital de Judd.

��� Quanto tempo faz que voc�� permaneceu num s�� lugar por

tr��s dias?

��� N��o sei. Onde est�� Sofia?

��� Ela quis acompanhar todos os seus exames. Providenciei-lhe

uma su��te ao lado da sua.

��� O que acha dela?

O Dr. Sawyer deu de ombros.

��� Ela est�� pedindo muitas informa����es. E, sinceramente, n��o

compreendo por que precisa de tanta coisa. ��� Ele baixou os olhos

para os pap��is que tinha na m��o. ��� De acordo com isto, voc�� deve

ter seis contagens e estudos de esperma no primeiro dia. A metade

ficar�� aqui e a outra metade ser�� congelada e remetida para a

Iugosl��via. Al��m disso, os intervalos devem ser de quatro horas.

��� Isso significa que devo ter uma ejacula����o a cada quatro

horas?

��� N��o conhe��o qualquer outro meio. E n��o �� s�� isso: devemos

espremer a pr��stata a cada vez, a fim de que os test��culos fiquem

inteiramente vazios.

Judd ficou aturdido e Doc Sawyer acrescentou:

��� N��o sei o que voc�� fez com a doutora, mas deve t��-la

convencido de que �� o pr��prio Tarz��.

87

��� O que mais tem na lista?

��� Ela quer uma tomografia computadorizada do c��rebro,

leitura de sonar e radiografias de todos os ��rg��os vitais, com bi��psias

dos mesmos, 24 an��lises de sangue, reten����o de oxig��nio, n��veis de

mon��xido de carbono e nitrog��nio, raspagens de pele, cabelos,

unhas, dos dedos das m��os e dos p��s. H�� muito mais. Quer que eu

leia tudo?

��� J�� estou cansado s�� por isso. Ela n��o lhe deu alguma id��ia

do motivo pelo qual quer todos esses testes?

��� Disse apenas que s��o as ordens da Dra. Zabiski.

��� Voc�� j�� fez mais alguns testes de autoclonagem humana?

��� Ainda n��o.

Sofia entrou no quarto nesse instante. Parecia diferente no

uniforme de m��dica.

��� Como se sente? ��� perguntou ela.

��� Muito bem. J�� fez alguma vez todos esses testes com alguma

outra pessoa?

��� S�� uma vez. Geralmente a Dra. Zabiski supervisiona tudo

na cl��nica. Mas voc�� �� a segunda pessoa a quem ela me encarrega de

examinar assim. A primeira foi Mao Ts��-tung.

��� Tamb��m trabalhou com ele?

��� Trabalhei. E passei um ano em sua companhia, at�� o dia em

que morreu. Ele insistiu que se fizesse tudo, embora a Dra. Zabiski

dissesse que n��o era um candidato conveniente para o seu trata-

mento.

��� O que fez por ele ent��o?

��� A Dra. Zabiski enviava um soro por avi��o todas as semanas.

Eu fazia a aplica����o intravenosa duas vezes por dia, pela manh�� e ��

noite.

��� Que tipo de soro era?

��� N��o sei. Ningu��m sabia, com exce����o da pr��pria Dra.

Zabiski. Houve diversas tentativas em laborat��rio para analis��-lo e

definir os componentes. Mas os chineses jamais conseguiam desco-

brir.

��� Parece uma coisa dif��cil de se acreditar ��� comentou Doc

Sawyer.

��� Experimentaram todos os tipos de an��lise. Espectro,

el��trica, radiol��gica, qu��mica. Nenhuma deu certo. A Dra. Zabiski ��

mesmo a ��nica pessoa que sabe do que se trata. Ela possui

88

provavelmente um sistema ��nico que desafia qualquer tentativa de

analisar o soro.

��� �� uma coisa que n��o me agrada. ��� Doe Sawyer virou-se

para Judd. ��� Quem pode saber o que ela est�� injetando em voc��?

Pode ser at�� alguma coisa capaz de mat��-lo.

Sofia fitou-o atentamente.

��� Conhe��o bem a Dra. Zabiski, doutor. Seu ��nico prop��sito ��

o prolongamento da vida. O seu grande sonho.

Judd virou o rosto para Doe Sawyer.

��� Neste momento, tudo o que estou fazendo �� me submeter a

uma s��rie de testes. N��o h�� nada que possa me causar qualquer mal,

por enquanto. ��� Doc Sawyer assentiu, sem fazer nenhum coment��-

rio. Judd acrescentou: ��� Pois ent��o vamos continuar. Mais tarde,

tomaremos uma decis��o definitiva.

Sofia fitou-o nos olhos.

��� A primeira coisa que deve fazer �� ter uma boa noite de

sono. Come��aremos �� seis horas da manh��.

��� Mas s��o apenas sete horas ��� protestou Judd. ��� Ainda nem

jantei.

��� Encomendei um jantar leve para voc�� ��� informou Sofia. ���

Dever�� estar dormindo ��s nove horas.

O telefone na mesinha-de-cabeceira tocou. Judd atendeu.

��� Al��?

Era Barbara.

��� Acabei de falar com o General Stryker. Ele disse que n��o

larga o telefone h�� tr��s dias, mas ainda n��o conseguiu obter uma resposta para a sua proposta sobre os sat��lites. Acrescentou que o

tempo est�� se esgotando depressa, pois o primeiro lan��amento foi

marcado para 5 de abril. O departamento jur��dico da Hughes j��

preparou a a����o judicial contra n��s se n��o entregarmos os semicon-

dutores a tempo.

��� Por que ele n��o consegue obter uma resposta?

��� S�� h�� duas pessoas que podem aprovar a troca, Bill Gay e o

pr��prio Howard Hughes. Nenhum dos dois �� encontrado. Gay

deixou o pa��s e ningu��m sabe onde se encontra. Hughes est�� em

Acapulco, mas se recusa a atender o telefone.

��� �� dif��cil de acreditar.

��� Mas �� verdade, Judd. Stryker diz que ningu��m fala direta-

mente com Hughes h�� anos. Toda a comunica����o com ele �� por

89

interm��dio de Gay ou dos homens de Gay, que se mant��m

permanentemente em torno de Hughes.

��� Pois ent��o teremos de falar com o pr��prio Hughes. Obriga-

do por me avisar. Ficarei em contato.

��� Boa sorte, Judd. Um beijo.

��� Outro para voc��.

Judd desligou e sentou-se na cama.

��� Pegue minhas roupas. Lamento, mas terei de adiar os

exames por alguns dias.

Sofia ficou consternada.

��� Mas j�� est�� tudo preparado!

��� Lamento muito. ��� Judd saiu da cama e virou-se para Doc

Sawyer. ��� Pode fazer o favor de chamar Merlin?

Merlin chegou ao quarto quase antes de Judd terminar de

abotoar a camisa.

��� O que deseja, senhor?

��� Ligue para o pessoal do avi��o e avise que partiremos para

Acapulco assim que eu chegar ao aeroporto. Telefone depois para o

General Mart��s, na Cidade do M��xico, e diga-lhe que preciso de 10

federdes da pol��cia secreta para esperar o avi��o em Acapulco. H�� 100

mil d��lares para ele e mil para cada homem. Quero que ele me

descubra tamb��m onde Hughes se encontra em Acapulco e providen-

cie um plano para penetrar pela seguran��a que o cerca. ��� Ele p��s as

meias e os sapatos, enquanto acrescentava: ��� Encontrarei com voc��

no carro l�� embaixo dentro de 10 minutos.

Merlin saiu do quarto. Judd virou-se para Sofia.

��� Fa��a de conta que est�� em casa. Deverei estar de volta em-

menos de dois dias.

��� Nunca estive em Acapulco.

��� Pois ent��o venha comigo.

��� Mas o que devo vestir?

Judd riu.

��� Tudo o que precisa em Acapulco �� de um biqu��ni.

90





14


UM JOVEM ALTO, em uniforme do ex��rcito, subiu a bordo assim

que o avi��o pousou em Acapulco. Bateu contin��ncia para Judd e

anunciou, em ingl��s:

��� Sou o Tenente-Coronel Ayala.

��� E eu sou Judd Crane.

Judd apertou a m��o do oficial.

��� Sou ajudante-de-ordens do General Mart��s. Tenho todas as

informa����es que solicitou. ��� O Coronel Ayala estendeu uma pasta

de arquivo. ��� N��o seria mais simples se eu lhe explicasse tudo, j��

que o relat��rio est�� em espanhol?

��� Obrigado, coronel.

Judd levou o oficial �� pequena mesa de reuni��o no sal��o

principal do avi��o. Ayala abriu a pasta.

��� O Se��or Hughes ocupa todo o ��ltimo andar do Acapulco

Princess Hotel. Aqui est�� a planta do andar. Como pode verificar, o

quarto do canto, o maior, d�� para o mar e �� ocupado pelo Se��or

Hughes. O do lado �� um pouco menor. Cont��m diversos telefones,

um telex, cadeiras e duas camas. H�� sempre um homem postado

nesse quarto.. A porta entre os dois quartos permanece invariavel-

mente aberta. H�� quatro outros quartos no andar, partilhados pelo

pessoal do Se��or Hughes. H�� geralmente 15 homens no grupo, mas o

n��mero exato �� indefinido neste momento. Sabemos que quatro dos

homens n��o est��o no M��xico, assim como tamb��m n��o se encontra

no pa��s o m��dico particular do Se��or Hughes. H�� alguns dias, o

m��dico do hotel foi chamado por um dos homens para examinar o

Se��or Hughes. Soubemos que el Se��or est�� muito doente e deve ser 91

hospitalizado. Mas soubemos tamb��m que nada ser�� feito at�� a volta

de seu m��dico particular, que deve acontecer amanh��.

Judd pensou por um instante.

��� O m��dico tinha alguma opini��o sobre a gravidade da doen��a

do Sr. Hughes?

��� N��o sabemos o que seu pr��prio m��dico decidiu. Fomos

informados de que houve um pedido para exames de sangue, mas

nem sequer sabemos se j�� foram feitos.

��� Os homens de Hughes est��o armados?

��� Alguns. N��o chegam a ser guarda-costas profissionais. S��o

mais secret��rios e assistentes. H�� um guarda profissional diante do

elevador no ��ltimo andar, mas �� o agente de seguran��a mexicano do

hotel. E, diga-se de passagem, n��o �� muito competente.

Judd estudou a planta do andar.

��� Acha que se pode ouvir barulho nos outros quartos?

��� Depende do volume.

��� Nada de armas e vozes baixas.

��� N��o deve haver problemas. Se subirmos pelo elevador de

carga, evitando o sagu��o, podemos pegar o guarda de surpresa, pois

ele est�� sempre virado para o elevador social. O mesmo elemento

surpresa pode permitir dominar quaisquer outros que estejam no

caminho para a su��te.

Judd tornou a examinar a planta.

��� N��o quero ningu��m ferido. Desejo simplesmente falar com

Hughes, mais nada.

��� Compreendo perfeitamente, se��or. Vai nos acompanhar

sozinho?

Judd pensou por um instante, depois virou-se para Sofia.

��� Poderia ir junto? Se ele est�� doente, pode precisar de ajuda.

��� Claro que irei.

Judd tornou a virar-se para o oficial mexicano.

��� Essa mulher �� minha m��dica. Ela nos acompanhar��.

Ayala exibiu uma express��o c��tica, mas sua voz soou respei-

tosa:

��� Como quiser, se��or.

Eram oito quil��metros do aeroporto ao hotel, depois mais um

quil��metro pela estrada do hotel, atravessando o campo de golfe.

9 2

Sentada no banco traseiro do carro de quatro portas, Sofia co-

mentou:

��� O lugar �� lindo. Gostaria de conhec��-lo melhor algum dia.

Judd sorriu.

��� Tenho um amigo que possui uma villa aqui perto. Talvez

possamos passar o fim de semana.

��� N��o desta vez, Judd. Primeiro, temos de voltar para os seus

exames.

O Coronel Ayala, sentado no banco da frente, ao lado do

motorista, virou-se para tr��s.

��� Daremos a volta at�� a entrada de servi��o.

Judd assentiu. Olhou pela janela traseira. Os soldados que os

acompanhavam, logo atr��s, estavam num furg��o fechado. Os dois

ve��culos contornaram o hotel at�� os fundos. Pararam no estaciona-

mento e todos saltaram.

O coronel falou rapidamente ao porteiro, que fez sinal para que

passassem. Atravessaram o corredor do por��o e pararam diante do

elevador de carga. Uma faxineira empurrava um carrinho para

dentro. O soldado falou-lhe rispidamente e a mulher, apavorada, se

apressou em tirar o carrinho cheio de roupa. Entraram no elevador e

o soldado apertou o bot��o. A porta fechou. O Coronel Ayala virou-

se para Judd e Sofia.

��� Ficar��o esperando at�� que eu diga que podem sair do

elevador.

Judd assentiu. Levantou os olhos para as luzes dos andares por

cima da porta. Os n��meros piscavam lentamente. Pareceu se passar

uma eternidade antes que se acendesse a luz do ��ltimo andar.

V��rios soldados sa��ram correndo quase antes mesmo que a

porta terminasse de se abrir. Outros se seguiram poucos segundos

depois. O Coronel Ayala gesticulou para que o restante sa��sse

tamb��m. E apertou um bot��o para prender o elevador no andar, com

a porta aberta.

O guarda estava deitado no ch��o, de barriga para baixo, as

m��os algemadas nas costas, diante do elevador social que deveria

proteger. O Coronel Ayala falou-lhe em voz baixa. O guarda

gesticulou com a cabe��a para uma das portas, os olhos se movendo

nervosamente.

O Coronel Ayala foi avan��ando com cautela, as costas contra a

parede, at�� alcan��ar a ma��aneta. A porta se abriu facilmente. N��o

9 3

estava trancada. Sem fazer barulho, ele passou pela porta, com Judd

logo atr��s. Um homem estava sentado, a cabe��a repousando sobre os

bra��os cruzados na mesa �� sua frente, profundamente adormecido.

Um soldado avan��ou em sil��ncio at�� o vulto adormecido,

tocou-o de leve no ombro. O homem despertou, sobressaltado. Os

olhos se arregalaram, fixando-se no cano da autom��tica Colt 45.

Come��ou a abrir a boca. Judd se apressou em falar:

��� Fique quieto. Ningu��m vai machuc��-lo

O homem virou-se para ele. Judd mostrou-se tranq��ilizador:

��� N��o estamos aqui para machucar ningu��m ��� Ele fez uma

pausa.

��� Onde est��o os outros?

O homem respirou fundo.

��� Tr��s est��o em seus quartos, dormindo. Os outros foram ��

cidade. H�� hoje um filme falado em ingl��s.

Judd olhou para o quarto de Hughes.

��� Ele est�� l�� dentro?

O homem confirmou com um aceno de cabe��a.

��� Eu gostaria de falar com ele.

��� N��o pode. Ele est�� doente e dormindo.

��� Pois acorde-o.

��� N��o posso. Ele est�� completamente apagado. Acho que

tomou algumas p��lulas.

��� Ent��o nos leve at�� l��. A mulher que est�� conosco �� m��dica.

O homem fitou o rosto de Sofia por um momento, depois

baixou os olhos para a maleta de m��dico em sua m��o. Levantou-se.

Devagar, todos seguiram-no para o outro quarto.

Estava quase que totalmente escuro, as cortinas fechadas. A

��nica claridade provinha de uma luz fraca para a noite, ao lado da

mesinha-de-cabeceira. O carpete estava cuidadosamente coberto por

len��os de papel, colocados um ao lado do outro, de maneira

impec��vel. Havia um mau cheiro no ar que nem mesmo o ar-

condicionado parecia capaz de remover.

��� Abra as cortinas e as janelas ��� ordenou Judd. ��� Deixe um

pouco do fedor sair e tire tamb��m esses malditos len��os de papel. S��

servem para aumentar a confus��o.

��� N��o �� poss��vel. Tudo foi lacrado. E estamos proibidos de

recolher os len��os de papel. Ele acha que �� a ��nica coisa que mant��m

os germes a dist��ncia. As ordens do Sr. Hughes s��o expressas.

94

��� Ent��o acenda a luz.

O homem acendeu um abajur perto da porta. Judd olhou para o

vulto na cama. Hughes estava deitado de lado, o rosto comprimido

contra um travesseiro. Os olhos estavam fechados, a respira����o era

ofegante, atrav��s da boca aberta. Havia barba no rosto, os cabelos

grisalhos se espalhavam em mechas emaranhadas, alcan��ando quase

os ombros. Judd experimentou uma incredulidade chocada e murmu-

rou gentilmente:

��� Sr. Hughes...

Hughes n��o se mexeu. Judd tornou a chamar, mais alto.

��� Ele n��o vai responder ��� disse o homem. ��� J�� falei que est��

doente. E se manteve assim durante quase toda a semana. N��o

conseguimos fazer com que comesse coisa alguma.

Judd gesticulou para Sofia.

��� D�� uma olhada nele.

Sofia aproximou-se da cama. Abriu a maleta e tirou um

estetosc��pio. Escutou por um momento e depois procurou o pulso.

��� Ele est�� muito fraco.

Judd observava-a em sil��ncio. Ela levantou o len��ol e contem-

plou o corpo inteiro de Hughes. Largou o len��ol e inclinou-se para o

rosto, erguendo uma p��lpebra por um momento. Finalmente, se

empertigou.

��� Este homem deve ser levado para um hospital imediata-

mente.

��� O que h�� com ele? ��� perguntou Judd.

��� �� apenas um palpite, mas acho que come��a a apresentar

sinais de intoxica����o ur��mica.

��� E como isso pode acontecer?

��� Veja.

Judd foi postar-se ao seu lado. Sofia tornou a levantar o len��ol.

��� Ele est�� coberto por marcas de picadas. E repare no seu

estado emaciado. Est�� desidratado. Os ossos quase atravessam a pele

e h�� uma cicatriz aberta na cabe��a, como se fosse um tumor

arrancado acidentalmente.

��� H�� alguma coisa que possa fazer por ele aqui e agora?

Sofia sacudiu a cabe��a.

��� N��o sem todo o equipamento que ter��amos num hospital.

��� N��o h�� alguma inje����o que possa atenuar a dor?

��� Tenho a impress��o de que ele j�� se encharcou com todas as

9 5

inje����es contra dor que poderia tomar. Al��m disso, pelos olhos, eu

diria que ele est�� mais do que ligeiramente comatoso.

Judd balan��ou a cabe��a e depois virou-se para o homem de

Hughes. Gesticulou para o quarto ao lado. Seguiram o homem at�� l��.

��� O que est�� acontecendo por aqui? ��� perguntou Judd.

��� Apenas recebo ordens. E recebemos ordens para n��o mexer

nele at�� que seu m��dico volte dos Estados Unidos, o que acontecer��

amanh��.

��� Quem deu essas ordens?

��� O pr��prio velho, na semana passada, quando come��ou a

passar mal. E ningu��m... absolutamente ningu��m... desobedece as

suas ordens.

Judd fitou-o nos olhos.

��� N��o h�� ningu��m por aqui que compreenda que ele n��o ��

mais respons��vel por si mesmo? Algu��m que possa ordenar o

tratamento de que ele precisa?

��� Somente seu m��dico.

��� Voc�� tem um telex ��� disse Judd, bruscamente. ��� Entre em

contato com o escrit��rio de Hughes. Algu��m por l�� deve assumir a

responsabilidade.

��� O telex n��o est�� ligado.

��� Mas h�� os telefones.

��� J�� ligamos. �� por isso que seu m��dico est�� voltando.

Judd fitou-o em sil��ncio por um longo momento, depois virou-

se para o coronel.

��� Vamos embora.

Sofia interveio:

��� Se n��o o ajudarmos... e depressa... ele morrer��.

Judd fitou-a. Seus olhos azuis estavam frios como gelo.

��� Ele que se foda. �� a sua op����o. N��o h�� nada que ele possa

fazer por mim e nada que eu possa fazer por ele.

��� Essa �� a sua ��nica medida?

��� Conhece outra melhor? ��� O tom de Judd era sarc��stico. ���

Se eu n��o pagasse por aqueles malditos hot��is na Iugosl��via, acha

que lhe permitiriam sair do pa��s comigo?

Sofia permaneceu calada por algum tempo, fitando-o nos olhos,

depois saiu do quarto. Judd virou-se para o homem de Hughes e

colocou 10 notas de mil d��lares na mesa.

��� Isto �� para ajud��-lo a esquecer que nos viu.

9 6

O homem pegou o dinheiro e guardou no bolso.

��� Esquecer quem?

Voavam de volta �� Fl��rida, duas horas depois, quando Sofia subiu a

escada para a su��te de Judd.

��� Posso falar com voc�� por um momento?

��� Claro. ��� Ele estendeu-lhe uma mensagem do telex. ���

Toda a coisa foi desnecess��ria. Acabamos de ser informados por

Stryker de que aceitaram nossa proposta.

Ela largou o telex sem ler.

��� Pe��o desculpas. Sei que n��o �� da minha conta, mas aquele

homem vai morrer.

��� N��o precisava que voc�� me dissesse. Tenho olhos.

��� Mas por que um homem que tinha tudo no mundo que

pudesse desejar prefere viver daquela maneira? Sozinho. Encerrado

numa bolha de v��cuo, sem qualquer contato com a realidade?

��� Talvez ele pensasse que assim viveria para sempre. ��� Judd

ficou em sil��ncio por um instante. ��� Ou talvez ele realmente

quisesse morrer... e n��o tinha coragem suficiente para se matar

diretamente...

9 7





15


O PR��DIO ERA de vidro verde espelhado, refletindo o sol intenso

da Fl��rida. O telhado era completamente oculto pelos gigantescos

ciprestes da Fl��rida do Centro M��dico Crane, que ficava a um

quarteir��o de dist��ncia. Ao lado das portas de vidro esmeralda

havia uma pequena placa de lat��o:

PESQUISA CRANE

MEDICINA NUCLEAR

PARTICULAR

Dois agentes de seguran��a, armados e uniformizados, monta-

vam guarda diante das portas trancadas, como rob��s, com ��culos

escuros id��nticos, os vidros verdes espelhados escondendo os olhos.

Doc Sawyer estacionou seu convers��vel na passagem de carros e

subiu correndo os degraus para a entrada do pr��dio. Acenou com a

cabe��a para os guardas, enquanto comprimia a palma contra a placa

de identifica����o fotossens��vel. Seu nome apareceu por cima da placa

e as portas se abriram silenciosamente para lhe dar passagem.

O sagu��o estava vazio, com exce����o de outro guarda, sentado

atr��s de uma mesa, entre os dois bancos de elevadores. O guarda

olhou para ele e informou:

��� A Dra. Zabiski disse que o encontrar�� no quarto n��vel,

doutor.

��� Obrigado.

Doc Sawyer abriu as portas de um elevador, que se fecharam

um instante depois que ele passou, silenciosamente. Ele apertou o

98

bot��o e o elevador come��ou a descer, lentamente. Ele olhou para as

luzes indicativas. Os n��meros n��o indicavam andares superiores. Iam

de T, o andar t��rreo, at�� 9, o ��ltimo andar subterr��neo. Todo o

pr��dio fora constru��do para baixo da terra.

Doc Sawyer saiu do elevador. Tornou a acenar com a cabe��a

para mais um guarda, dos incont��veis onipresentes. Avan��ou r��pido

pelo corredor, a caminho da sala em que se encontrava a Dra.

Zabiski. Abriu a porta sem bater. A Dra. Zabiski estava sentada

atr��s de sua mesa.

��� Vim assim que recebi o seu chamado ��� disse ele, ansiosa-

mente. ��� Algum problema?

��� N��o, n��o h�� nenhum problema ��� respondeu a m��dica,

tranquilizadoramente. ��� N��s o transferimos para um centro de

tratamento intensivo. Achei que voc�� gostaria de estar presente

quando o acordarmos.

Doc Sawyer deixou escapar um suspiro de al��vio e arriou numa

cadeira diante dela.

��� �� demais! ��� Ele tirou um ma��o do bolso do palet��. As

m��os ainda tremiam quando acendeu o cigarro. ��� Isto �� uma

loucura. ��� Ele puxou uma tragada funda, enchendo os pulm��es de

fuma��a. ��� Passei a acreditar mais do que nunca, durante os ��ltimos

tr��s anos, que todos nos transformamos em Frankensteins.

��� Todos os m��dicos no fundo s��o Frankensteins. ��� Ela

sorriu. ��� H�� algum de n��s que n��o sonhe em bancar Deus?

��� Acho que tem raz��o. ��� Sawyer deu outra tragada. ��� Mas

todos sabemos quem �� Deus, n��o �� mesmo?

Ela riu. Mas n��o havia qualquer humor nos olhos amarelados,

como os de um gato.

��� Judd Crane?

Sawyer riu, tamb��m sem qualquer humor.

��� Ele tem de ser Deus. N��o conhe��o mais ningu��m que tenha

condi����es para isso.

A Dra. Zabiski manteve-se em sil��ncio por um longo momento,

depois balan��ou a cabe��a.

��� Provavelmente voc�� tem raz��o. Confesso que n��o acreditei

quando ele prop��s primeiro 20 milh��es e depois 50 milh��es de

d��lares. Achei que n��o havia tanto dinheiro no mundo. E foi ent��o

que fitei-o nos olhos. Passei a acreditar. N��o no dinheiro, mas no

99

homem. Ele tencionava mesmo reunir todo o conhecimento do

mundo para converter em realidade o seu sonho: a imortalidade.

Doc Sawyer largou o cigarro.

��� E qual �� o seu sonho? ��� perguntou ele, observando o

cigarro fumegar no cinzeiro em cima da mesa.

��� Eu gostaria de ser parte do sonho dele. ��� Sawyer percebeu

uma pontada de tristeza na voz da Dra. Zabiski, que logo acrescen-

tou, depois de uma breve pausa: ��� Mas n��o sei... juro que n��o sei.

Ser�� que temos condi����es de realizar o seu sonho? Talvez o

conhecimento e a ci��ncia n��o sejam suficientes. ��� Os olhos dos dois

se encontraram atrav��s da mesa. ��� Devemos compreender que

somos humanos, como ele, n��o como Deus.

Ele balan��ou a cabe��a, bem devagar.

��� Estou come��ando a pensar que gosto de voc��, Dra. Zabiski.

Ela sorriu.

��� Obrigada, Dr. Sawyer. ��� Ela interrompeu deliberadamen-

te o clima afetuoso entre os dois. ��� Vamos ver como ele est��

passando.

Sawyer se levantou e foi se postar ao lado da Dra. Zabiski,

enquanto ela comprimia as teclas do computador em sua mesa.

N��meros come��aram a desfilar pela tela, amarelo, vermelho, azul,

verde, p��rpura e branco.

��� Ter�� de me explicar tudo, doutora. N��o tenho o c��digo.

��� Desculpe. Pensei que estivesse informado. Mas n��o h��

problema, explicarei tudo. �� um c��digo em cores bem simples, com o

branco sendo o ideal ou o que esperamos alcan��ar. O resto �� normal,

as outras cores indicando porcentagens da normalidade. Todos os

sinais vitais e a patologia s��o permanentemente controlados. No

momento, estamos mais preocupados com a temperatura do corpo.

Nosso objetivo para esse procedimento �� estabilizar a temperatura

normal de seu corpo em 35�� C. Devemos lembrar que este �� o

terceiro processo a que ele �� submetido em tr��s anos. Os dois

primeiros reduziram a sua temperatura de 37 a 36,3 e depois a 35,7.

Mantivemos essas temperaturas firmes por um ano inteiro, antes de

passarmos para a etapa seguinte.

Sawyer desviou os olhos da tela para a Dra. Zabiski.

��� Se me lembro corretamente, de acordo com as tabelas de

sobreviv��ncia que me mostrou, manter a temperatura do corpo em

35�� C deve proporcionar-lhe uma expectativa de vida de 150 anos.

100

��� Correto. Mas esse n��o �� o ��nico fator. A implanta����o

celular, assim como a placenta e o processo romeno de proca��na

devem fortalecer a vitalidade de todo o corpo, fazendo com que

outro fator de envelhecimento seja consideravelmente desacelerado.

��� Ela levantou o rosto para fit��-lo, antes de acrescentar: ���

Devemos compreender que o corpo precisa resistir ao fator tempo

que lhe �� imposto.

Doc Sawyer ficou em sil��ncio por um momento.

��� Em torno de 150 anos... Isso deve ser suficiente para

qualquer um.

��� N��o para ele, pois falou em imortalidade. Temos mais

quatro etapas de redu����o de temperatura planejadas, ao longo de um

per��odo de quase cinco anos. Isso deve levar a temperatura de seu

corpo a 31�� C, a predi����o de sobreviv��ncia se prolongando a 280

anos. Mas, como eu disse antes, n��o sei. Neste momento, �� tudo

trabalho de adivinha����o do computador.

��� Merda! ��� exclamou Sawyer. ��� Estou com medo.

Ela desligou o computador.

��� Eu tamb��m. ��� A Dra. Zabiski encheu um copo com a ��gua

de uma garrafa t��rmica que estava em cima da mesa. Tomou um

gole. ��� Interferir com o hipot��lamo, mesmo com um laser nuclear, a fim de reduzir a temperatura de seu corpo, n��o nos oferece qualquer

garantia. Um microssegundo pode mat��-lo.

Doc Sawyer voltou �� sua cadeira.

��� Talvez possamos persuadi-lo a parar depois disso.

��� J�� conversei com ele sobre isso antes. E lhe asseguro que

tornarei a conversar. Mas j�� sei o que ele responder��.

Sawyer fitou-a nos olhos.

��� O qu��?

��� Ele diz: "Posso morrer num acidente a qualquer instante. E

prefiro morrer tentando."

A Dra. Zabiski tornou a apertar teclas do computador e depois

virou-se para ele.

��� Podemos descer. Ele ser�� acordado dentro de 15 minutos.

O elevador levou-os ao oitavo n��vel. Outro guarda acenou-lhes

de tr��s de sua mesa, quando passaram pelas portas de vidro para

entrar num corredor. Mais adiante, o corredor virava para a direita

em ��ngulo reto, ocultando-os da vista do guarda. Havia ali outras

portas de vidro, com um letreiro prateado: SALA DE CONTROLE.

101

A Dra. Zabiski comprimiu a palma contra a placa de identifica-

����o. As portas se abriram e os dois entraram na sala. Embora j�� a

tivesse visto muitas vezes, a sala de controle sempre parecia ao Dr.

Sawyer um centro de controle em miniatura da NASA, durante os

v��os espaciais. Entraram numa pequena platafprma e tr��s degraus os

levaram ao piso principal, com as paredes cobertas por compu-

tadores, as fitas em movimento, registrando as informa����es recebidas

nas telas cinza-prateadas. A parede do outro lado era toda de vidro e

no outro lado ficava o centro de tratamento intensivo em que Judd

repousava. Tr��s t��cnicos estavam sentados na sala de controle,

acompanhando pelos computadores todos os movimentos vitais

dentro e fora do corpo do paciente.

Sawyer seguiu a pequena m��dica at�� a parede de vidro e olhou

para o outro lado. Judd dormia, o corpo inteiramente nu coberto por

eletrodos sem fios, que transmitiam informa����es aos computadores.

Os ��nicos tubos ligados ao corpo eram os que levavam um fluxo de

oxig��nio ��s narinas.

A Dra. Zabiski virou-se para os monitores, enquanto Sawyer

ainda observava Judd. Ele teve a impress��o de perceber um s��bito

movimento. E, no instante seguinte, o movimento tornou-se mais

acentuado. Inconscientemente, Judd experimentava uma ere����o.

Sawyer virou-se para a m��dica e comentou:

��� Ele deve estar tendo sonhos lindos. ��� Sawyer sorriu. ���

Ficou excitado sozinho.

Zabiski empertigou-se e olhou para Judd. Uma express��o de

preocupa����o insinuou-se em seu rosto.

��� N��o gosto disso. Ainda �� muito cedo. ��� Ela inclinou-se

para o primeiro t��cnico. ��� D��-me uma leitura do EEG e chame o

neurologista imediatamente. Chame tamb��m o Dr. Ablon, o cardio-

logista.

A segunda t��cnica chamou-a nesse instante:

��� Dra. Zabiski, temos um registro de alta de temperatura.

Subiu para 35,3. ��� Uma pausa e ela se apressou em emendar: ���

N��o, est�� em 35,4.

��� Quero uma leitura da qu��mica do sangue e de todos os sinais

vitais. ��� Zabiski olhou por cima do ombro do primeiro t��cnico.

Observou as linhas que se contorciam pela tela. Virou-se para

Sawyer. ��� Ele est�� mesmo sonhando. H�� um movimento hiperativo

no setor alfa, bem definido, embora n��o muito intenso.

102

��� O que acha que est�� acontecendo?

��� Ainda n��o sei. Mas tenho um palpite.

Mas ela n��o disse qual era. Sawyer continuou a fit��-la firme-

mente, esperando. Ela explicou, por fim:

��� Tenho a impress��o de que o hipot��lamo est�� rejeitando

todos os procedimentos e voltando ao funcionamento normal.

��� E isso representa algum perigo para ele?

��� Acho que n��o. ��� Zabiski observava a tela. ��� Os sinais

vitais est��o em ordem. A qu��mica do sangue n��o indica qualquer

anormalidade ou infec����o.

Ela pegou o telefone e ligou para o anestesista, que se

encontrava em outra sala.

��� Mantenha o paciente adormecido por mais algum tempo.

Precisamos verificar umas poucas coisas antes de despert��-lo.

��� Onde est�� Sofia? ��� perguntou Sawyer. ��� Ela n��o deveria

ficar aqui?

��� Eu lhe dei alguns dias de folga. Depois de trabalhar por

quase tr��s anos sem qualquer descanso, achei que ela precisava.

Especialmente depois que se ofereceu para ser o controle. Estava

muito cansada ao terminar a ��ltima s��rie de testes.

��� E tiveram sucesso?

Zabiski tornou a virar a cabe��a para fit��-lo.

��� Est�� querendo saber se ela engravidou? ��� A pr��pria

Zabiski se encarregou de responder: ��� A resposta �� sim.

��� Para onde ela foi?

��� M��xico. Sofia passou a ter a maior curiosidade pelo M��xico

desde que esteve em Acapulco.

Sawyer se manteve em sil��ncio, pensando. O M��xico era uma

op����o curiosa para Sofia. Se era o sol que ela procurava, havia o

suficiente em Boca Raton. Talvez ela tivesse outro motivo. Sawyer

resolveu pedir a Merlin que mandasse a Seguran��a investigar a

viagem.

103





16


J U D D APERTOU O bot��o ao lado da cama, levantou a cabe��a e

pegou o telefone. Merlin atendeu prontamente e ele perguntou:

��� O que est�� acontecendo?

��� Recebemos dois telefonemas fren��ticos do comit�� de

posse. Reagan quer nos incluir em sua comitiva pessoal.

��� N��o ser�� na pr��xima semana?

��� Isso mesmo.

��� Pois avise que me sentirei honrado em estar presente. Diga

tamb��m que cuidarei diretamente da minha viagem e alojamento. ���

Judd olhou para o rel��gio na parede. ��� Mais alguma coisa?

��� O Ministro da Fazenda do Brasil quer marcar uma reuni��o

para descobrir se vamos ou n��o participar do projeto de Ludwig l��.

H�� rumores persistentes de que D. K. est�� querendo abandonar o

projeto.

Judd pensou por um instante.

��� Vamos primeiro obter mais informa����es a respeito. Diga

que marcaremos um encontro com ele assim que eu puder programar

o Brasil. Mas ressalve que planejamos apenas uma conversa a

respeito. Ainda n��o estamos interessados no projeto.

��� Sim, senhor. O governo aprovou a nossa proposta de fus��o

da South & Western Savings e da Loan Association no Crane

Financial Service. Isso nos proporciona 150 ag��ncias e um ativo de

um bilh��o. A liquidez �� de 800 milh��es de d��lares em 30 dias, se

quisermos, senhor.

��� ��timo. Alguma resposta �� proposta que apresentamos ao

governo mexicano? O peso n��o est�� valendo porra nenhuma. Se eles

104

n��o garantirem a constru����o de um laborat��rio e f��brica para os

produtos farmac��uticos Crane, por 30 milh��es de d��lares, n��o

iniciaremos a produ����o no M��xico.

��� Ainda n��o tivemos not��cias deles.

��� Pois assuste-os um pouco. Diga que o Brasil est�� interessado

em conversar conosco.

��� Est�� certo. ��� Merlin mudou de assunto abruptamente. ���

Como est�� se sentindo?

��� Uma merda. Mas n��o se preocupe com isso. Sairei daqui

dentro de poucos dias.

��� Fico contente por isso.

��� Obrigado.

Judd desligou e apertou o bot��o para chamar a enfermeira.

Apareceu uma jovem nova, que ele ainda n��o conhecia, cabelos

ruivos como uma chama por cima dos suaves olhos azuis.

��� Qual �� o seu nome?

��� Bridget O'Malley ��� respondeu a mo��a, com um vest��gio de

sotaque inconfund��vel.

��� Irlandesa? E acabando de saltar do navio?

��� Vim de avi��o, Sr. Crane. Fui contratada especialmente para

este trabalho.

��� Deve ter preenchido requisitos muito especiais para que

meu pessoal a contratasse. Quais s��o?

Um ligeiro rubor espalhou-se pelo rosto da mo��a.

��� Prefiro n��o discutir o assunto ��� respondeu ela, o sotaque

irland��s se acentuando.'

��� Estou com sede ��� disse Judd bruscamente. ��� Traga-me

uma Coca-Cola.

��� Lamento, Sr. Crane, mas s�� pode ser suco de laranja ou

��gua. �� tudo o que tem permiss��o.

��� Ent��o suco de laranja. ��� Judd observou o rubor ainda

vis��vel no rosto da mo��a. Ela come��ou a se v i r a r . ��� Bridget.

A mo��a tornou a se aproximar da cama.

��� Pois n��o, Sr. Crane.

Ele fitou-a nos olhos.

��� Eles lhe disseram que tenho um problema tempor��rio de

priapismo?

Ela baixou os olhos para o len��ol que lhe cobria as pernas.

��� Disseram, Sr. Crane.

105

��� Um dos requisitos especiais que voc�� preenchia era o de

cuidar de pacientes com priapismo?

Ela fez que sim com a cabe��a.

��� E onde foi que obteve a experi��ncia?

��� Passei quatro anos no Hospital dos Veteranos em Devon.

��� E quais eram os tratamentos receitados l��, Bridget?

Ela fitou-o nos olhos.

��� Determinadas drogas, acupress��o, eletromi��grafo (EMG),

relaxamento muscular...

Judd interrompeu-a:

��� Muito interessante... Obrigado pela informa����o, Bridget.

Pode me trazer o suco de laranja agora.

Ele esperou at�� que a jovem enfermeira voltasse com o copo de

suco de laranja. Estava ereto, duro como pedra, pulsando dolorosa-

mente. Tomou um gole.

��� Soube que h�� uma opera����o que pode corrigir esse proble-

ma.

��� �� verdade, Sr. Crane ��� disse a enfermeira, impessoalmen-

te. ��� Mas n��o vai querer isso, porque a opera����o n��o pode ser

revertida depois de efetuada. Nunca mais teria uma ere����o. S�� se

recorre �� opera����o no caso de uma ere����o pri��pica permanente e

dolorosa.

Judd observou-a atentamente.

��� Posso lhe garantir que neste momento �� extremamente

dolorosa. O que devo fazer, Bridget? Masturbar-me outra vez? Meu

p��nis come��a a doer e arder. Fico na maior agonia at�� chegar ao

orgasmo.

Ele n��o desviou os olhos dela. A mo��a pegou a carta ao p�� da

cama e fez uma anota����o.

��� Deixe-me consultar o m��dico.

��� Por que esperar pelo m��dico? Pensei que tivesse sido

contratada especialmente por sua experi��ncia, t��cnica e m��todo.

��� Sou apenas uma enfermeira, Sr. Crane. N��o posso fazer

coisa alguma sem ordens espec��ficas d�� m��dico.

��� Que se fodam todos os m��dicos! Sou dono deste maldito

hospital e de tudo que h�� nele, inclusive os m��dicos. E se voc�� pode

me ajudar, ent��o �� melhor cuidar disso logo de uma vez.

��� O m��dico vai me mandar embora.

��� N��o contaremos a ningu��m.

1 0 6

Ela apontou para o monitor de televis��o na parede, por tr��s da

cama.

��� �� observado pela tela e gravado durante as 24 horas do dia.

Judd jogou uma toalha no monitor. Cobriu inteiramente a lente

da c��mara.

��� Ningu��m nos ver�� agora ��� disse ele, bruscamente.

Judd empurrou o len��ol para o lado. O falo saltou, como uma

besta selvagem se libertando da jaula, vermelho e latejando.

��� Agora!

Ela hesitou por mais um instante, depois aproximou-se do lado

da cama. P��s um joelho na cama, ao lado de Judd; depois pegou o

falo firmemente com a m��o esquerda. Com os dedos da outra m��o,

come��ou a comprimir os nervos localizados no escroto, logo acima

dos test��culos. Fitou-o nos olhos e disse gentilmente:

��� Pode doer um pouco.

Os olhos de um azul-cobalto de Judd se mantiveram impass��-

veis. Ele se limitou a acenar com a cabe��a, sem dizer nada.

Lentamente, ela come��ou a fazer press��o sobre os nervos com

os dedos, ao mesmo tempo abrindo-os e fechando-os contra o falo,

for��ando o sangre a retornar �� base, na dire����o do escroto. Depois de

um momento, ela pareceu adquirir um ritmo certo. A m��o continuou

a empurrar para baixo, os dedos pressionando. Ela observou-o, ��

procura de qualquer sinal de que a dor se tornara insuport��vel. Mas

Judd manteve os l��bios firmemente contra��dos, resistindo �� agonia.

��� Sinto muito ��� murmurou ela. ��� Ser�� apenas mais um

momento.

Judd assentiu, compreendendo a situa����o, o suor come��ando a

brotar em sua testa. Subitamente, um ��mpeto como uma faca afiada

pareceu lhe rasgar a virilha. Um gemido involunt��rio escapou de seus

l��bios. A enfermeira ficou de p��.

��� Est�� acabado, Sr. Crane.

Ele respirou fundo por um instante, recuperando o f��lego,

depois se contemplou. O p��nis encolhera ao tamanho normal,

relaxado. Olhou para Bridget, murmurando, com um leve tom de

incredulidade:

��� Voc�� conseguiu.

��� Isso mesmo, Sr. Crane.

��� Estou profundamente grato. ��� Judd deixou escapar um

107

suspiro de satisfa����o. ��� Mas acho que jamais substituir�� chupar e

foder.

Ela sorriu pela primeira vez.

��� �� o que tamb��m penso, Sr. Crane.

Ele sentou-se na cama e olhou para a Dra. Zabiski.

��� O que saiu errado?

��� Nada demais ��� respondeu ela, secamente. ��� Apenas que

milh��es de anos de evolu����o n��o concordam com os nossos compu-

tadores. ��� A m��dica olhou para os impressos de computador que

tinha nas m��os, antes de acrescentar: ��� Mas obtivemos um pequeno

sucesso. Sua temperatura est�� agora fixada em 36,9, um d��cimo

abaixo do normal.

��� E de que isso me serve?

��� Representa 10 ou 15 anos de sobreviv��ncia, em circunst��n-

cias normais. E de acordo com as tomografias, o programa de

implanta����es foi bem tolerado por seu organismo. Se continuarmos

com o programa, isso deve acrescentar aproximadamente mais 25

anos de sobreviv��ncia. Com base na expectativa de vida m��dia de um

homem em sua classe social e econ��mica, que �� de 80 anos, voc�� j��

conseguiu prolongar a poss��vel sobreviv��ncia para 125 anos.

��� Isso n��o �� imortalidade ��� comentou Judd, em voz t��o seca

quanto a areia do deserto.

Ela ficou calada.

��� Acha que devemos tentar de novo o processo com o laser

nuclear?

��� N��o ��� respondeu a Dra. Zabiski, taxativa. ��� Tivemos

sorte desta vez. Na pr��xima, podemos destruir o hipot��lamo e voc��

se tornaria frio para sempre.

Os olhos de Judd estavam azuis como a noite.

��� Devemos ent��o recorrer �� engenharia gen��tica.

��� Levar�� muito tempo para conhecermos o suficiente do

c��digo gen��tico para tirar algum proveito... infelizmente.

Zabiski arrematou a resposta com um suspiro.

��� Tenho todo o tempo necess��rio. Afinal, n��o acabou de me

dizer que chegarei aos 125 anos? ��� Ele sorriu. ��� Muito bem. J��

posso deixar o hospital?

��� Amanh�� de manh��. Fisicamente, voc�� goza de sa��de

perfeita. At�� melhor do que na ocasi��o em que nos conhecemos. Se

108

quer avaliar em termos de anos, passou da idade de 42 anos para 40,

ao inv��s de subir para 46.

��� N��o �� melhor do que esper��vamos?

��� ��, sim. Mas ter�� de se cuidar melhor. Comida, bebida,

descanso, drogas. Deve experimentar outro estilo de vida.

��� Por que n��o mencionou sexo?

��� O priapismo deve ser tempor��rio. Depois disso, n��o exa-

gere.

��� Tenho minhas d��vidas ��� murmurou Judd, sorrindo. ���

Talvez eu devesse conserv��-lo. Acho excitante a id��ia de ter ��

disposi����o sempre que quero.

Ela n��o sorriu.

��� Se isso acontecesse, consumiria toda a sua vida atrav��s do

p��nis.

��� Como ent��o se prop��e controlar?

��� N��o serei eu. Voc�� mesmo aprender�� a se dominar.

Biofeedback EMG e ioga. O que acha?

��� Parece feiti��aria, doutora.

��� �� melhor do que nitrato de pot��ssio. ��� A Dra. Zabiski

levantou-se. ��� Quer saber de uma coisa, Judd? Estou come��ando a

gostar de voc�� e quero que cuide de si. Tamb��m partilho o seu sonho

e n��o quero que coisa alguma prejudique o homem que tem a

cust��dia desse sonho por n��s dois.

109





17


O TELEFONE scrambler na mesa de Merlin tocou duas vezes. Ele

atendeu.

��� Merlin falando.

��� John D . , Seguran��a.

��� O que ��, John?

��� Nosso agente seguiu-a no v��o para a Cidade do M��xico. Ela

transferiu-se para um v��o da Aeromexico para Havana. Ele perdeu-

a, porque n��o tinha visto para Cuba.

��� Temos agentes em Cuba?

��� Temos, sim, senhor. Seis homens.

��� Quero tr��s homens esperando a chegada da mulher em

Havana. E quero uma vigil��ncia de 24 horas. Com um relat��rio

meticuloso de tudo o que ela fizer. Entendido?

��� Entendido, senhor.

��� Apresente-me as ��ltimas informa����es a cada tr��s horas.

��� Est�� bem, senhor. Temos tamb��m a informa����o de que Li

Chaun est�� seguindo para Havana, pela Air Canada. Tudo indica que

ter��o um encontro l��.

��� Mande vigi��-lo tamb��m.

��� Certo. J�� recebeu o relat��rio lude de Hong Kong?

��� J��, sim. Tr��s milh��es de ludes por ano. Isso d�� uma por����o

de Quaaludes.

��� Quinze milh��es de d��lares ��� disse John D. ��� Transferidos

da Crane Pharmaceuticals para contas nas Bahamas e Su����a. Estamos

trabalhando neste momento para descobrir quem possui essas contas.

��� Tenho o pressentimento de que uma das contas �� do pr��prio

110

Li Chaun e a outra do governo vermelho chin��s. Nossa conta de

Interferon com eles est�� abaixo de um milh��o.

��� Descobriremos tudo. Mais alguma coisa, senhor?

��� N��o por enquanto. Obrigado.

Merlin olhou para o registro de computador em sua mesa. Tudo

estava completamente normal. Ele respirou fundo. S�� isso j�� lhe

parecia errado. Geralmente encontrava numerosos pequenos erros

de computador. Ao que podia se lembrar, era a primeira vez que o

computador se mostrava perfeito.

Ele pegou o telefone e ligou para a Central de Computa����o, na

Calif��rnia. Um momento depois, falava com o diretor:

��� Quero uma confer��ncia de todas as transa����es realizadas

nos ��ltimos tr��s anos. Verifique tamb��m se houve interfer��ncias nos

computadores e se algu��m pode ter tido acesso aos bancos de

mem��ria.

��� Efetuamos uma verifica����o de rotina todos os dias.

��� Sei disso ��� declarou Merlin, asperamente. ��� Mas desta vez

quero que realize uma confer��ncia diferente da rotineira. Projete-a e

passe pelo scrambler assim que ficar pronta.

��� A m��e n��o vai gostar ��� protestou o diretor. ��� Sabe como

ela fica contrariada quando sua rotina �� alterada.

Merlin aceitou o jarg��o do diretor, referindo-se ao computador

como se fosse uma pessoa.

��� Diga �� madame para deixar de nos aborrecer ou desligare-

mos alguns de seus micros prediletos.

Ele desligou e acendeu um cigarro. "Malditas m��es!", pensou.

Pegou o telefone, a fim de ligar para Judd, mas largou sem chegar a

us��-lo. Seja como for, ficaria no escrit��rio por mais um dia. At�� l��, j��

teriam mais informa����es para definir o problema, antes de apresent��-

lo a Judd. Merlin largou o cigarro. Mais um dia n��o poderia fazer mal

algum. Quaisquer que fossem os danos, concluiu Merlin, j�� estavam

consumados.

Havana estava quente e ��mida, apesar do sol j�� se aproximar do

horizonte, no final da tarde. Quando ela chegou ao hotel, provenien-

te do aeroporto, as roupas estavam grudadas no corpo. Seu quarto

fora reservado e o recepcionista chamou um empregado para lev��-la

at�� l�� imediatamente.

111

��� O ar-condicionado n��o est�� funcionando ��� informou o

rapaz, ao largar a bagagem no quarto. ��� Ele foi at�� as janelas

corredi��as que davam para a varanda e abriu-as para a fornalha que

era o dia l�� fora, acrescentando: ��� Ficar�� mais fresco assim que

escurecer.

Sofia deu-lhe uma nota de cinco d��lares, pelo que o rapaz

agradeceu-lhe profundamente e depois se retirou. Ela esperou que a

porta fosse fechada antes de sair para a varanda.

A larga avenida entre o hotel e a praia estava vazia de tr��fego.

O ar quente j�� come��ava a refrescar um pouco, com uma brisa que

soprava do mar. Um momento depois, enquanto ela continuava na

varanda, o passeio amplo ao lado da praia se enchia de pessoas,

distraindo-se com um passeio ao final da tarde.

Ela voltou ao quarto e abriu a mala. Rapidamente, pendurou

dois costumes de linho e dois vestidos no arm��rio, guardou a lingerie

numa gaveta. Fechou a mala e largou o peignoir na cama. Levou o

pequeno estojo de cosm��ticos para o banheiro e ajeitou-o ao lado da

pia. Abriu a torneira da banheira e espremeu o tubo de gel no fluxo

de ��gua. Esperou por um momento, at�� que o perfume lhe subiu ��s

narinas, voltou ao quarto e come��ou a despir-se. Pendurou o vestido

ao lado dos outros, meticulosamente, largou a lingerie em outra

gaveta da c��moda. Nua, virou-se para a cama e estendeu a m��o para

pegar o peignoir. Foi nesse instante que ouviu a chave girando na

fechadura. A porta foi aberta antes que pudesse vestir-se.

Ela deparou com Nicolai, alto, corpulento, os cabelos pretos

exibindo agora muitos fios brancos. Ele contemplou-a em sil��ncio,

enquanto fechava a porta ��s suas costas. O peignoir ainda na m��o,

Sofia n��o fez a menor tentativa de se cobrir.

��� Voc�� chegou cedo ��� disse ela, em russo.

��� Quatro anos, Sofia, foi tempo demais. Eu a vi quando

passou pelo sagu��o e descobri que n��o podia mais esperar.

��� Eu n��o queria encontr��-lo toda pegajosa e cheirando a suor.

Ia tomar um banho de banheira, com ��gua perfumada.

Ele abra��ou-a e beijou-a, sussurrando:

��� Tudo o que preciso �� de qualquer cheiro de voc��.

Ela permaneceu calada, sem reagir. Nicolai fitou-a nos olhos.

��� Algo errado, Sofia?

��� Quase quatro anos, Nicolai. Todo esse tempo n��o desapare-

ce num momento.

112

Ele baixou os bra��os.

��� Voc�� n��o me ama mais? H�� outro?

��� Preciso apenas de um pouco de tempo. Passei tempo demais

em outro mundo. ��� Ela vestiu o peignoir, esquivando-se �� pergunta

de Nicolai.

��� Minha pasta est�� aberta em cima da mesa. Por que n��o d��

uma olhada nos relat��rios enquanto tomo um banho?

��� J�� pedi uma garrafa de champanha.

��� ��timo. N��o vou demorar.

Nicolai observou a porta do banheiro fechar, no instante em

que tocava a campainha. O gar��om p��s o balde cheio de gelo com o

champanha na mesinha e depois se retirou. Nicolai olhou da porta

fechada do banheiro para a garrafa de champanha. Tirou o arame

rapidamente e empurrou a rolha.

Sofia encontrou a ��gua quente, espumante e perfumada,

recostou-se deliciada na banheira. Os vapores perfumados entraram

por suas narinas e ela fechou os olhos. A ��gua flu��a sensualmente por

seu corpo. Subitamente, uma lufada de ar frio rompeu o encantamen-

to. Ela olhou para a porta.

Nicolai estava parado ali, nu, a garrafa de champanha numa das

m��os, o falo de cabe��a vermelha ereto na outra, r��gido e se

destacando no emaranhado de cabelos pretos que lhe cobria a

barriga. Ele se aproximou da banheira e empurrou o falo para o rosto

de Sofia, despejando champanha em cima. Sua voz soou ��spera e

furiosa:

��� Voc�� adorava champanha e adorava meu pau. Vamos

descobrir se se lembra. Chupe os dois!

��� N��o! N��o! ��� gritou Sofia, as m��os tentando afastar o falo.

Ele puxou-lhe o rosto contra a sua ere����o, o orgasmo explodin-

do quase que no mesmo instante.

��� Sua puta!

Sofia estava tossindo, o s��men escorrendo pelas faces, pingan-

do do queixo. Ele saiu de sua boca e entrou na banheira. Ajoelhou-se

entre as pernas de Sofia e puxou-a, flutuando, para a frente. As

pernas de Sofia envolveram-no pela cintura, at�� que conseguiu

penetr��-la. Ele empurrou o corpo contra ela violentamente. As m��os

de Sofia tentavam empurr��-lo.

��� N��o! ��� sussurrou ela. ��� Por favor, n��o!

��� Sua puta louca por pau! O que mudou em voc��?

113

��� Por favor! ��� Sofia chorava agora. ��� Ser�� que n��o percebe

que estou gr��vida?

Nicolai ficou aturdido.

��� Gr��vida?

��� Isso mesmo. Dez semanas.

Sofia fitou-o nos olhos. E sentiu-o encolher dentro dela. Ele

ficou em sil��ncio por um momento e depois afastou-se. Saiu da

banheira, sem desviar os olhos dela.

��� Voc�� n��o �� apenas uma puta sem-vergonha, mas tamb��m

uma idiota ��� disse ele, desdenhosamente. ��� Quem �� o pai... ou ser��

que n��o sabe nem isso?

��� Sei, sim. �� Judd Crane.

Nicolai observou-a em sil��ncio por um momento, depois pegou

uma toalha e enrolou-se.

��� Vou me vestir. Gostaria de levar sua pasta para o escrit��rio

e tirar fotoc��pias de tudo. Devolverei quando vier busc��-la para

jantar.

��� Como achar melhor ��� respondeu Sofia, ap��tica.

��� Li Chaun jantar�� conosco.

��� Est�� bem.

Nicolai saiu e fechou a porta do banheiro. Subitamente, Sofia

sentiu um cansa��o intenso envolv��-la. Levantou-se, deixando a ��gua

na banheira escorrer. Abriu o chuveiro. O jato quente lavou a

ejacula����o de Nicolai de seu rosto.

Suas pernas pareciam ter-se transformado em borracha e

precisou se apoiar na parede para n��o cair. Fechou o chuveiro e saiu

da banheira. Enrolou uma toalha no corpo e passou para o quarto.

Nicolai j�� fora embora. Ela olhou para a mesa. A pasta n��o

estava mais ali. Foi sentar-se na beira da cama e ali ficou, im��vel, por

um momento. Depois, pegou a bolsa. Abriu-a e olhou para o frasco

de coca��na que Judd lhe dera. Rapidamente, aspirou duas doses.

O ��nimo esperado n��o aconteceu. Estava muito nervosa,

deprimida e cansada. Tornou a guardar o frasco na bolsa e estendeu-

se na cama. Os olhos fechados, n��o demorou a adormecer.

114





18


U M A LUFADA de ar fresco acordou-a. Sentou-se na cama, sentin-

do o corpo todo suado, depois de um sono profundo. O zumbido

do ar-condicionado se espalhava pelo quarto. Sofia levantou-se,

enrolou-se numa toalha e foi fechar a porta para a varanda. ��

noite, as luzes faiscavam pela avenida que acompanhava as praias em

torno da ba��a.

Ela olhou para o rel��gio. Oito e meia. Tinha de se vestir.

Voltou ao banheiro e tomou outro banho de chuveiro. P��s um

costume claro de linho. Conclu��a a maquilagem no instante em que o

telefone tocou. Era Nicolai.

��� Est�� acordada?

��� E vestida.

��� ��timo. Estarei a�� dentro de 15 minutos.

��� Espero no quarto ou prefere que eu o encontre no sagu��o?

��� No quarto. Vamos jantar num restaurante. Temos algum

tempo de sobra. Li Chaun vai se encontrar l�� conosco ��s 10 horas.

��� Est�� bem.

Sofia desligou. Contemplou-se no espelho. A maquilagem era o

verdadeiro milagre. As rugas de cansa��o haviam desaparecido. Mas

isso era a superf��cie, j�� que por dentro ela continuava deprimida.

Aborrecida consigo mesma, apesar do que via no espelho, ela foi

pegar a bolsa.

Abriu o bolso interno, fechado por um z��per, tirou uma

pequena caixa de prata e um frasco de coca��na. P��s na boca uma

p��lula verde e branca, engoliu-a sem ��gua, com a maior facilidade.

Depois, fungou duas doses de coca��na, uma em cada narina, usando a

115

colherzinha de ouro que Judd lhe dera, com suas iniciais gravadas no

cabo.

Sentiu o efeito quase imediatamente. A combina����o f��-la

recuperar o ��nimo. Respirou fundo. Come��ou a sentir-se revigorada,

mais forte, mais capaz de enfrentar o que fosse acontecer. Tornou a

guardar o frasco e a caixinha na bolsa, contemplou-se outra vez no

espelho. O rosto parecia ainda melhor. Os olhos brilhavam nova-

mente.

Nicolai esperou at�� que o empregado abrisse a garrafa de champa-

nha, enchesse os dois copos e sa��sse, fechando a porta. Entregou um

copo a Sofia e levantou o outro.

��� Pe��o desculpas.

��� N��o h�� necessidade.

��� Fui muito est��pido e insens��vel. E deveria tamb��m ter

compreendido tudo por que voc�� passou.

��� N��o tem import��ncia. Cada um de n��s tem o seu trabalho a

fazer e isso �� a ��nica coisa que importa.

Nicolai tocou com o seu copo o dela.

��� A voc��, Sofia. Nunca houve uma mulher como voc�� para

mim.

Ela tomou um gole, observando-o por cima do copo.

��� N��o me olhe assim, Nicolai. E n��o me fale assim.

��� Mas que droga! ��� Ele respirou fundo. ��� Sei que n��o

deveria, mas n��o consigo evitar. Ci��me. Ci��me de todo o tempo que

voc�� passa com ele e n��o comigo.

��� N��o deve se sentir assim, Nicky ��� disse ela, suavemente. ���

Estamos todos cumprindo os nossos deveres.

��� Isso foi tudo para voc��? N��o sentiu nada por ele?

��� N��o falei isso. Mas voc�� me conhece melhor do que

ningu��m. Naquela ocasi��o, eu pensava que precisava ter sexo a todo

instante, com ou sem sentimento. Cheguei a pensar que meu corpo

precisava mais de sexo do que de comida ou ar. Nos anos que passei

no Instituto, totalmente confinada, usava meus vibradores at�� tr��s ou

quatro vezes por dia. E pensava em voc�� sempre que os usava.

Ele tomou um gole de champanha e riu.

��� Lembra-se quando nos conhecemos? Pensei que voc�� fosse

ninfoman��aca. Parecia que nunca parava.

Sofia n��o riu.

116

��� Quando eu era jovem, tamb��m costumava pensar assim.

Era algo que n��o podia enfrentar, at�� que os m��dicos explicaram que

meus nervos sexuais s��o extraordinariamente sens��veis. As verdadei-

ras ninfoman��acas jamais encontram a satisfa����o e raramente experi-

mentam o orgasmo. Portanto, Nicky, eu n��o atendo ��s qualifica����es

exigidas. Mas s�� de falar com voc�� j�� sinto o clit��ris tremendo e fico

toda molhada.

��� Quero tocar em voc�� ��� murmurou ele.

��� N��o, Nicky. Estou diferente agora. N��o sou mais a garota

que voc�� conheceu. Eu cresci.

��� Nada mudou ��� disse ele, enfaticamente. ��� Eu ainda a

amo. At�� mais do que antes. E tenho certeza que voc�� tamb��m me

ama. Esse homem simplesmente lhe virou a cabe��a com seu dinheiro,

poder, t��xicos e estilo de vida. Alguma vez ele lhe disse, uma ��nica

vez que fosse, que a amava?

Sofia n��o respondeu.

��� Ele a pediu em casamento?

Ela sacudiu a cabe��a, ainda em sil��ncio.

��� Ele a est�� usando. Exatamente como usa todas as outras

pessoas, em proveito pr��prio, em sua busca de poder eterno. ��� Ele

balan��ou a cabe��a vigorosamente, fitando-a nos olhos. ��� Ele

acabar�� jogando-a fora, como faz com um brinquedo que n��o mais o

diverte. Ou se voc�� n��o lhe for mais ��til.

��� Ele n��o �� desse tipo ��� protestou Sofia, na defensiva. ��� ��

atencioso e sincero. Embora sua sinceridade pare��a ��s vezes cruel, na

franqueza absoluta.

��� Pensa que o est�� defendendo, mas na verdade est�� defen-

dendo a si mesma, num esfor��o de se convencer. Tenho certeza de

que n��o se sentiria assim se n��o se deixasse engravidar.

��� �� poss��vel ��� murmurou Sofia, pensativa. ��� Mas o que isso

representou? Uma experi��ncia, nada mais. N��o sou a primeira

cientista a usar o pr��prio corpo como campo de experi��ncia. A velha

estava preocupada com a possibilidade dos tratamentos deixarem-no

impotente.

��� Ent��o voc�� resolveu foder com ele para conferir?

��� N��o foi assim. Ela tirou o seu esperma e colocou nos ov��rios

de uma d��zia de mulheres.

��� E todas engravidaram?

��� Nem todas. Apenas 10.

117

��� Voc�� foi uma das afortunadas ��� comentou Nicolai, com

evidente amargura.

Sofia n��o disse nada.

��� O que acontecer�� agora?

��� A pr��xima semana ser�� a d��cima. E todas as gr��vidas

abortar��o.

��� Voc�� concordou com isso?

��� Concordei.

Nicolai observava-a fixamente.

��� Por que voc��? Era uma das m��dicas. Tenho certeza de que

n��o teriam qualquer dificuldade para arrumar outra mulher. Por que

voc�� preferiu se envolver pessoalmente?

��� Porque estava curiosa pelo meu pr��prio corpo, Nicky.

Nunca engravidei, embora jamais tenha usado qualquer tipo de

m��todo anticoncepcional. H�� algo din��mico nele. E imaginei...

��� Est�� agora admitindo a verdade! ��� exclamou Nicolai,

furioso. ��� Queria realmente um filho dele!

��� Queria sim! ��� confirmou Sofia, incisivamente. ��� Mas que

diferen��a isso faz? N��o haver�� mais nada na pr��xima semana.

��� Voc�� �� t��o est��pida quanto todas as outras mulheres ���

disse Nicolai, sarc��stico. ��� Passamos muitos anos juntos. Por que

n��o teve um filho comigo?

Sofia fitou-o nos olhos e respondeu, com a maior simplicidade:

��� Voc�� nunca me pediu.

A pasta estava aberta diante de Nicolai. Ele virava as p��ginas do

relat��rio de Sofia quando ela voltou ao quarto.

��� A velha �� muito esperta. Oito anos e ainda n��o sabemos se

descobrimos o m��todo que ela usa em sua impregna����o celular

clonada.

��� Conhecemos o m��todo de impregna����o celular. �� a pr��pria

f��rmula de clonagem, na qual ela trabalha sozinha no laborat��rio,

que ainda n��o fomos capazes de determinar.

��� J�� esteve alguma vez no laborat��rio com ela? ��� perguntou

Nicolai, no tom mais casual de que era capaz.

��� N��o. E n��o conhe��o ningu��m que j�� tenha estado. Estou

come��ando a pensar que ela nunca teve um processo de clonagem.

Apenas esperava que Crane, com todas as suas instala����es e

computadores, pudesse descobrir para ela.

118

Nicolai largou o relat��rio e mudou de assunto abruptamente:

��� Ela j�� a informou de que voc�� voltar�� �� R��ssia?

surpresa era patente na voz de Sofia:

��� N��o. Por qu��?

��� Porque dever�� cuidar de Brezhnev.

��� Ela n��o me disse nada a respeito.

Nicolai ficou em sil��ncio por um longo momento.

��� Talvez ela achasse que era melhor esperar at�� seu aborto.

��� �� poss��vel. Qual �� o problema com o presidente?

��� S�� sei dos rumores. Alguns dizem que �� c��ncer, outros

falam num aneurisma ou hemorragia cerebral... mas at�� agora s�� h��

rumores. Mas sei que ele se move com dificuldade e ��s vezes engrola

as palavras. Ela teve quatro consultas com ele durante o ano passado.

E depois veio a not��cia de que voc�� seria designada para cuidar dele.

��� E o trabalho que estou fazendo aqui?

��� �� uma quest��o de prioridades. Para n��s, Brezhnev �� mais

importante do que Crane.

Sofia acenou com a cabe��a, pensativa.

��� Ela est�� sendo muito esperta, Nicky. Conhe��o pelo menos

quatro assistentes de Zabiski que podem perfeitamente cuidar de

Brezhnev. Mas a minha transfer��ncia reduz a possibilidade de

descoberta de seu m��todo.

��� O que a faz pensar que pode ter uma chance?

��� Tudo o que se relaciona com o pr��prio Crane e com seus

neg��cios �� transmitido ao Computador Central, na Calif��rnia. Claro

que n��o espero que a f��rmula tenha sido transmitida ao computador,

mas tudo o que ela precisa, em termos de suprimentos e equipamen-

tos, encomendados e comprados, �� automaticamente registrado pelo

computador. Se consegu��ssemos descobrir essas informa����es, estar��a-

mos muito mais perto da descoberta do m��todo. Sofia fez uma pausa,

sacudindo a cabe��a com uma express��o pesarosa. ��� Para obter as

informa����es, no entanto, precisar��amos ter o c��digo de acesso ao

computador. E as ��nicas pessoas que sei possu��rem o c��digo s��o o

pr��prio Crane, seu assistente pessoal, Merlin, e o diretor do Compu-

tador Central.

Nicolai murmurou, lentamente:

��� Talvez haja outra pessoa que possa obt��-lo.

Sofia fitou-o, inquisitiva.

��� N��o estou entendendo.

119

��� Li Chaun. �� por isso que estamos nos encontrando aqui,

Sofia. O homem diz que tem o c��digo de acesso e pode coloc��-lo ��

nossa disposi����o.

��� N��o faz sentido. Mesmo que ele o tivesse, n��o posso

acreditar que seja t��o altru��sta para entreg��-lo a n��s.

��� O altru��smo nada tem a ver com isso. ��� Nicolai soltou uma

risada. ��� O pre��o �� de 20 milh��es de d��lares.

120





19


O CARRILH��O suave do telefone particular ao lado de sua cabe��a

soou acima do programa de televis��o que assistia. Ele atendeu.

��� Crane.

��� Est�� acordado? ��� perguntou Merlin.

��� Estou, sim. Assistia televis��o.

��� Eu gostaria de ir lhe falar pessoalmente.

��� Oito horas da manh�� est�� bem?

��� Agora seria melhor.

Judd pensou apenas por um momento. N��o precisava perguntar

a Merlin se era importante. O pedido era prova suficiente.

��� Quanto tempo vai demorar para chegar aqui?

��� Estou no escrit��rio em Boca Raton. Cerca de 30 a 40

minutos. N��o deve haver muito tr��fego a esta hora.

��� Pe��a a Fast Eddie para guiar e mande-o trazer uma muda de

roupa para mim.

��� Certo.

Merlin desligou. Judd apertou o bot��o ao lado da cama para

chamar a enfermeira e desligou a televis��o. Bridget entrou no quarto

um momento depois.

��� Pois n��o, Sr. Crane?

��� Tire essas agulhas dos meus bra��os e ajude-me a ir at�� o

chuveiro.

��� N��o posso fazer isso sem ordens da Dra. Zabiski.

��� Chame-a ent��o.

Ela fitou-o, hesitante.

��� Agora!

121

Ela saiu, fechando a porta. O telefone tocou pouco depois.

��� A enfermeira transmitiu seu pedido Sr. Crane ��� disse a

pequena m��dica. ��� �� mesmo importante?

��� ��, sim.

��� Est�� certo. Mas quero estar presente quando retirarem o

equipamento e me certificar de que se encontra em perfeita sa��de.

Vou me vestir e estarei em seu quarto dentro de 10 minutos.

Enquanto isso, a enfermeira o preparar��.

Bridget voltou ao quarto logo em seguida. Trazia uma bandeja

com uma seringa hipod��rmica, coberta por uma toalha.

��� Deite-se ao lado. Esta inje����o ser�� na bunda.

��� O que �� isto?

��� Sou apenas a enfermeira. N��o devo indagar do que se trata,

mas apenas cumprir as ordens m��dicas.

Judd deitou-se de lado, enquanto ela levantava o len��ol. Sentiu

o frio do algod��o embebido em ��lcool e depois a leve picada da

agulha.

��� Fique quieto, Sr. Crane. A inje����o �� demorada.

��� Merda!

Bridget riu.

��� S��dica. ��� Judd fez uma pausa. ��� Acho que estou ficando

de pau duro. N��o quer dar uma chupada?

Ela tornou a rir, retirando a agulha e pondo um Band-Aid

redondo em sua n��dega.

��� N��o h�� possibi��dade. A culpa �� sua. Estava com muita

pressa. Creio que a inje����o �� para resolver o seu problema.

Judd virou-se e ficou de costas, recostado nos travesseiros, a

contempl��-la.

��� Bridget, Bridget... ��� murmurou ele, sorrindo. ��� H��

sempre alguma coisa para nos tirar as alegrias da vida.

��� Fique quieto por um momento. Vou lhe buscar um copo de

suco de laranja.

��� Prefiro tomar uma Coca temperada.

��� Mas ter�� de se contentar com o suco de laranja.

Ela saiu, fechando a porta.

Judd sentou-se na beira da cama, as pernas pendendo para o lado. A

Dra. Zabiski terminou de verificar a press��o.

��� Est�� ��tima, 120 por 85.

122

Ela gesticulou para uma enfermeira de laborat��rio, que pronta-

mente prendeu um tubo de borracha no bra��o de Judd. Depois,

rapidamente, eficientemente, a enfermeira encheu quatro tubos com

sangue. Em seguida, ajeitou um espir��metro port��til. Levantou o

tubo pl��stico para Judd e disse:

��� Respire fundo, depois sopre. ��� Ele obedeceu. ��� Outra

vez, agora ainda mais fundo. ��� Ela esperou que Judd enchesse os

pulm��es e acrescentou: ��� Sopre com toda for��a que puder, por

favor.

Pelo canto dos olhos, Judd percebeu que ela observava a tela de

televis��o ao p�� da cama. Ele soprou at�� os pulm��es ficarem

completamente vazios. E caiu de costas na cama, sem f��lego.

��� ��timo ��� disse a Dra. Zabiski. ��� S�� mais um exame, por

gentileza.

Outro assistente empurrou o que parecia ser um aparelho

port��til de eletrocardiograma at�� a cama.

��� Deite de costas. Ser�� bem r��pido, pois o aparelho ��

eletr��nico.

O homem aplicou as pequenas ventosas em suas pernas e peito.

Apertou os bot��es de sempre e estudou a fita habitual, �� medida que

sa��a da m��quina. Judd levantou os olhos para descobrir a m��dica

lendo os mesmos registros na tela de televis��o. Depois que o exame

terminou e o assistente retirou as ventosas e foi embora, a pequena

m��dica ligou um controle remoto que tinha na m��o. Apertou os

bot��es; dois bancos de telas de televis��o se acenderam na parede.

S��mbolos faiscaram pelas telas, verticais e horizontais, dan��an-

do em un��ssono e se separando graciosamente, em padr��es de verde e

amarelo, num efeito de bal�� abstrato. Judd olhou para ela.

��� O que significa tudo isso?

��� An��lises do sangue. Toda a coisa, cada gota em voc��, como

atua em todo o corpo. ��� Ela fez uma pequena pausa e depois

balan��ou a cabe��a. ��� Est�� muito bem.

��� Ent��o posso agora tomar um banho de chuveiro r��pido?

��� N��o. Quero que fa��a tudo bem devagar. Bridget lhe dar��

um banho de esponja e depois o ajudaremos a levantar. Quero que

permane��a por algum tempo numa cadeira de rodas, antes de

come��ar a se movimentar. Lembre-se de que passou tr��s semanas na

cama e precisa se acostumar de novo a coisas simples como a

gravidade e ficar de p��. N��o quero que caia desnecessariamente.

123

��� Voc�� �� a m��dica.

��� E por isso devo dizer que gostaria de estar a seu lado

durante a reuni��o. N��o me agradaria se tivesse de enfrentar alguma

tens��o e descobrisse... a seu corpo... estar em crise.

��� O que pode acontecer?

��� Quem sabe? Estamos em territ��rio inteiramente desconhe-

dido, Sr. Crane. N��o se esque��a disso.

Judd contemplou-a em sil��ncio por algum tempo. Sabia que ela

devia imaginar o que impedia o seu assentimento. A Dra. Zabiski

tratou de acrescentar:

��� Pode estar certo de que n��o tenho o menor interesse em

seus neg��cios particulares.

��� Sei disso, doutora. Mas se todos os exames foram positivos,

como disse, o que poderia acontecer para que eu precisasse de sua

presen��a imediata?

��� Possivelmente nada. Mas sou sua m��dica e tenho uma

responsabilidade por voc��. Talvez eu esteja sendo excessivamente

cautelosa, mas prefiro continuar assim e evitar qualquer margem de

erro.

Judd pensou por mais um momento.

��� Est�� bem. Mas come��o a me sentir como um beb�� que

precisa de aten����o a cada minuto.

��� E como acha que me sinto, Judd? ��� indagou ela, suave-

mente. ��� De uma estranha maneira, voc�� �� mesmo o meu beb��.

Neste momento, n��o existe nenhuma outra m��e no mundo que possa

criar um filho como voc��.

��� Est�� com uma ��tima apar��ncia ��� comentou Merlin.

��� E tamb��m me sinto muito bem ��� disse Judd.

Ele rolou a cadeira de rodas para mais perto da mesa de

reuni��o, na sala ao lado do seu quarto no hospital. Fast Eddie sorriu.

��� A enfermeira irlandesa deixou-o em bom estado.

Judd riu.

��� A hist��ria da minha vida. As boas coisas est��o sempre ao

alcance da m��o quando n��o posso aproveitar.

Merlin olhou para a Dra. Zabiski, sentada num canto da sala,

longe da mesa de reuni��o. Judd apontou um dedo em sua dire����o.

��� N��o h�� problema. Podemos conversar.

124

Merlin abriu a pasta e tirou um impresso de computador.

Colocou-a na mesa, diante de Judd.

��� Ainda n��o tenho todas as informa����es, mas estou convenci-

do de que nosso c��digo de acesso foi violado.

Judd ficou surpreso.

��� O que o faz pensar assim?

��� Pequenas coisas. Os impressos est��o saindo sempre perfei-

tos. Nunca h�� qualquer erro. E geralmente sempre aparecem erros

pequenos.

��� Um pressentimento? ��� perguntou Judd.

��� Basicamente.

��� Pois eu o aceito. Mude o c��digo.

��� Fico contente que concorde. J�� pedi ao Computador

Central para providenciar, mas preciso de suas iniciais para que se

torne uma medida oficial.

��� Est�� bem.

Merlin entregou-lhe um papel e uma caneta. Judd assinou com

as iniciais. Havia duas c��pias em carbono. Ele ficou com uma c��pia,

Merlin guardou a outra em sua pasta, enquanto o original foi posto

num envelope, a ser guardado no cofre do diretor do Computador

Central.

��� O que mais?

Merlin apontou para o impresso na frente de Judd.

��� Esse �� o primeiro levantamento da South & Western

Savings e da Loan Association, depois da aprova����o da fus��o pelo

tribunal.

��� E o que tem?

��� Olhe na segunda p��gina. Dep��sitos �� vista, de pessoas

f��sicas. Um total de 200 milh��es de d��lares. Veja o suplemento dois,

p��gina dois, nomes e quantias de cada conta. H�� 11 nomes, com

valores diversos, espalhados entre as 115 ag��ncias. Mandei a

Seguran��a verificar todos os nomes. Quatro cubanos, cinco colom-

bianos e dois peruanos, todos considerados muito importantes no

tr��fico de narc��ticos.

Judd examinou os registros sem fazer qualquer coment��rio.

Levantou os olhos depois de um momento, fitando Merlin e

comentando:

��� Talvez dev��ssemos mudar o nome para Companhia de

125

Limpeza de Dinheiro. Merlin n��o sorriu e Judd acrescentou: ���

Quanto desse dinheiro �� garantido pelo governo federal?

��� A 100 mil d��lares em cada, em cada ag��ncia, d�� 115 milh��es

de d��lares.

��� Quem quer que eles sejam, n��o s��o est��pidos.

��� Concordo plenamente. Fizemos um levantamento dos dep��-

sitos individuais. Cada um foi em torno de nove mil d��lares ou

menos. Isso significa, �� claro, que o dep��sito n��o precisa ser

comunicado ao Departamento de Tesouro.

Judd assentiu.

��� Muito esperto. Mas uma rotina na pr��tica comercial, n��o ��

mesmo?

��� Uma opera����o normal. O que vamos fazer?

��� Comunicar ao Departamento do Tesouro ��� respondeu

Judd, sem a menor hesita����o. ��� Eles cuidar��o do resto.

��� A publicidade pode liquidar a empresa. Talvez percamos

400 milh��es de d��lares.

��� O que sugere ent��o? ��� indagou Judd, com um sorriso

ir��nico.

��� Podemos discretamente encerrar as contas e devolver os

dep��sitos.

��� Isso seria acobertar um crime. H�� uma coisa que aprendi

com meu pai e tamb��m com Tio Paul: jamais tente melhorar uma

situa����o que n��o pode ser melhorada, porque acabar�� se afogando na

merda mais cedo ou mais tarde. Aceite as porradas que tiver de levar

e procure se livrar do problema da melhor forma que puder.

Merlin ficou calado.

��� Quem estava controlando a situa����o? ��� perguntou Judd.

��� McLaren, que dirige a Divis��o Financeira Crane.

��� E ele n��o disse nada a respeito?

��� Nada que tenhamos ouvido.

��� N��o h�� nada nos arquivos?

��� Nada.

��� Despe��a-o. ��� Os olhos azuis de Judd estavam frios como

um gelo. Ele permaneceu em sil��ncio por um longo tempo. ��� H��

mais alguma coisa que eu deva saber?

��� Li Chaun. ��� Merlin hesitou, mas logo acrescentou, a um

aceno de cabe��a de Judd. ��� Ele entrou no neg��cio de Quaaludes por

conta pr��pria e operou atrav��s de nossas contas.

126

��� Disparar o canh��o n��mero dois ��� disse Judd, sem qualquer

emo����o. ��� Tem um terceiro?

Merlin parecia embara��ado. Olhou para a Dra. Zabiski, ainda

sentada em sua cadeira, no outro lado da sala. Hesitou bastante, mas

acabou acenando afirmativamente. A pequena m��dica levantou-se

nesse instante.

��� Parece que est�� reagindo muito bem ��� disse ela a Judd. ���

N��o me incomodarei se me pedir para sair agora.

Judd sacudiu a cabe��a.

��� N��o. Pode muito bem ir at�� o fim dessa confus��o ao meu

lado.

Merlin olhou de Zabiski para Judd e depois disse:

��� Sofia. Ela est�� em Havana. O mesmo acontece com Li

Chaun. E tamb��m com Nicolai Borovnik, o terceiro homem no

KGB. A Seguran��a vigia os tr��s, mas ainda n��o recebemos os

relat��rios.

Judd olhou para a m��dica e perguntou friamente:

��� Sabia alguma coisa sobre essa hist��ria de sua assistente e o

homem do KGB?

Ela sustentou o olhar dele.

��� N��o. Isso �� totalmente novo para mim. Mas sei que o

Borovnik e ela j�� foram amantes, que houve um momento em que

Borovnik tentou se divorciar da esposa para casar com Sofia. Depois

que o div��rcio foi recusado �� que ela se ofereceu para trabalhar

comigo.

Judd observou-a com uma estranha express��o.

��� Nesse caso, por que ela se daria a tanto trabalho para

encontr��-lo em Havana?

��� Estou apenas dando um palpite, mas acho que ele queria

falar sobre Brezhnev.

��� O pr��prio Leonid? O homem por cima dos homens por

cima?

Judd estava surpreso e n��o fez qualquer tentativa de disfar��ar.

��� Isso mesmo. Ele deveria ser o pr��ximo paciente de Sofia.

��� Quer dizer que ela n��o voltar��? ��� perguntou Judd,

secamente.

��� Ela voltar��.

��� Apesar do presidente?

��� Isso mesmo.

127

��� E do Politburo?

��� Tamb��m.

��� E do KGB?

��� Tamb��m.

��� Ela tem tanta influ��ncia assim?

��� Ser�� preciso mais do que simples influ��ncia. Mas ela dar��

um jeito.

��� Por que, doutora?

��� H�� um teste muito importante que somente ela pode

concluir.

��� E n��o pode transferi-lo para nenhuma outra pessoa?

��� N��o, n��o pode.

��� E que teste �� esse, doutora?

��� Um aborto. ��� A Dra. Zabiski fez uma breve pausa. ��� O

seu. Judd fitou-a aturdido.

��� Est�� querendo dizer que ela �� uma das...

��� Exatamente.

��� Por que ela n��o me contou nada?

��� N��o queria.

��� Mas por qu��? ��� Judd percebeu um brilho m��nimo no canto

dos olhos da Dra. Zabiski. ��� Conhece a resposta, n��o �� mesmo?

��� Conhe��o.

��� Ent��o me diga qual ��, doutora?

��� N��o posso, Sr. Crane.

��� Mesmo que eu lhe pergunte gentilmente, doutora?

��� Mesmo que ordenasse.

��� O sigilo m��dico?

��� Isso mesmo, senhor. Obrigada por sua compreens��o.

��� Aceito, mas n��o compreendo.

��� Posso lhe dizer uma coisa: foi por insist��ncia de Sofia. Ela

exigiu ser uma das volunt��rias.

Judd respirou fundo, um ind��cio de sorriso lhe contraindo os

cantos da boca. Mas, ao final, tudo o que p��de fazer foi exclamar:

��� Merda!

128





20


O RESTAURANTE ficava numa hacienda, localizada num antigo

bairro residencial nos arredores de Havana. A cozinha era

compar��vel a qualquer restaurante de Nova York ou Paris, mas

era desconhecido para 99,99 por cento do povo cubano. Era um

restaurante apenas para a elite do mundo de Castro, assim como para

os seus h��spedes. Mesas grandes e antiquadas, servi��o de mesa de

damasco branco, talheres de ouro e prata, cristal franc��s Baccarat e

porcelana inglesa de frisos de ouro cercavam os arranjos florais

baixos. Cada mesa era iluminada suavemente por velas. E, talvez o

mais importante, cada mesa redonda ficava devidamente distanciada

das outras. Quando havia necessidade de mais privacidade, a mesa

podia ficar inteiramente cercada por cortinas gren��s de veludo.

Sofia era a ��nica mulher numa mesa aberta de seis pessoas.

Nicky e Li Chaun a ladeavam. Junto a Nicky estava um homem

corpulento, Karpov, um dos agentes do KGB na embaixada russa.

No outro lado da mesa, em frente a Sofia, estava o anfitri��o, Santos

Gomez, um cubano alto e magro, na casa dos 30 anos, exibindo as

duas estrelas de um general de divis��o na gola aberta da t��nica do

uniforme de campanha. Entre ele e Li Chaun sentava-se um chin��s

pequeno, de terno cinza, Doy Sing, que era o representante extra-

oficial da Rep��blica Popular da China, que n��o tinha embaixada

oficial em Cuba.

O jantar come��ara �� meia-noite e agora j�� era quase uma e

meia da madrugada, enquanto os gar��ons traziam o caf��, conhaque

Napoleon e os charutos sempre oferecidos. Finalmente fecharam as

cortinas, para garantir a privacidade do grupo.

129

Li Chaun tomou apenas o caf��. Quando se levantou para falar,

n��o precisou esperar pela aten����o total do grupo.

��� Minhas palavras podem choc��-los, camaradas, mas estamos

aqui para falar de poder... n��o de poder te��rico, mas de poder

concreto, efetivo. E quero come��ar por dizer que o poder em nosso

mundo de hoje n��o �� pol��tico. Nem o comunismo nem o capitalismo

significam coisa alguma. O poder �� simplesmente dinheiro e o que

mais d�� dinheiro neste momento �� energia. Petr��leo e g��s. Esta �� a

fonte de toda a for��a dos pa��ses do Oriente M��dio e do bloco da

OPEP. E energia representa o poder dos Estados Unidos, porque

eles previram tudo isso e adquiriram o controle dos pa��ses produtores

de energia.

Li Chaun fez uma pausa, correndo os olhos pelo grupo.

��� Agora que outros pa��ses descobriram ainda mais fontes de

energia, a surpresa �� que o poder dos Estados Unidos tenha

continuado a crescer. Mas explicarei o motivo. Porque um pa��s

compete com outro, uma fonte de energia concorre com outra, todos

acabam se lan��ando uns contra os outros, a fim de controlar n��o

apenas a fonte de energia, mas tamb��m os sistemas de distribui����o

por todo o mundo. Infelizmente, n��o passamos de jogadores

insignificantes nesse jogo. Os imperialistas ianques possuem todos os

trunfos, s��o donos do pr��prio jogo. Contudo, esse �� apenas um jogo.

H�� outro jogo em que podemos venc��-los, se tivermos coragem

suficiente para isso.

Sua express��o era um desafio silencioso a todos os presentes.

Ningu��m disse nada. Ele continuou, com um t��nue sorriso, que logo

se desvaneceu:

��� N��o estou falando de confronta����o, campos de batalha ou

alian��as de pa��ses do Terceiro Mundo. Tudo isso �� xadrez pol��tico e

n��o leva em considera����o as realidades do dinheiro e do poder a que

estou me referindo. Falo de uma franqueza cancer��gena gerada pelas

pr��prias riquezas do mundo ocidental. Chamo a aten����o de todos

para a busca cr��nica da falsa satisfa����o proporcionada pelos narc��ti-

cos e agentes qu��micos. Come��ou nos anos 60, primeiro na Am��rica,

agora espalhou-se por todo o mundo ocidental... que inclui toda a

Europa e talvez outras economias altamente produtivas em outros

continentes. Quer gostemos ou n��o, devemos aceitar esse fato novo

de enorme potencial financeiro no mundo, que n��o pode e n��o

130

continuar�� a permanecer por muito mais tempo no lugar a que foi

outrora consignado.

Li Chaun fez uma pausa mais prolongada desta vez. Os outros ��

mesa, cientes tanto quanto ele da situa����o que os reunira ali,

permaneceram em sil��ncio, atentos ��s suas palavras seguintes:

��� Em termos simples e r��pidos, havia antes um mundo dos

narc��ticos controlado pelos gangsters da M��fia. Atrav��s da intimida-

����o, corrup����o e viol��ncia, uma ��nica fonte, que passava pela Sic��lia

e Fran��a, descobriu-se o alvo de outros homens empreendedores,

ousados e gananciosos, de muitos pa��ses. Os lucros que todos

procuravam e de que falarei dentro de um momento eram, para dizer

o m��nimo, assombrosos. O fluxo de dinheiro cresceu tanto que o

tr��fico deixou de interessar apenas aos antigos exploradores de

prostitutas, contrabando e jogo ilegal. Ind��strias qu��micas, especula-

dores do mercado financeiro e at�� mesmo l��deres pol��ticos necessita-

dos, em busca de uma sa��da para crises internas desesperadas, todos

os tipos de gananciosos come��aram a perceber as possibilidades do

tr��fico de narc��ticos, que podia at�� aliviar o sofrimento e agonia

pol��tica.

Ele tornou a ficar em sil��ncio por um longo momento, depois

contemplou cada rosto em torno da mesa, antes de recome��ar:

��� E eu lhes pergunto, camaradas, o que est��o fazendo em

rela����o a isso?

Li Chaun correu os olhos pela mesa outra vez, como se

esperasse uma resposta. N��o houve nenhuma.

��� Se querem levantar uma quest��o de moral, camaradas, n��o

percam seu tempo. Estamos lidando com fatos concretos. Em nossa

luta, n��o h�� lugar para problemas de ordem moral. Apenas resulta-

dos. Vida e morte. A for��a para realizar nosso prop��sito... ou um

s��culo de servid��o pol��tica, os joelhos curvados diante da grande

alian��a industrial que se op��e a n��s, uma vida de estados dependen-

tes, atendendo ao prazer do dono. Temos capacidade e recursos para

assumir totalmente o neg��cio de t��xicos em escala mundial. E que

melhor ocasi��o do que agora para entrar em a����o e desintegrar a

vontade do mundo ocidental de nos resistir? Qual o melhor meio de

se conseguir isso? Qual a melhor maneira de nossos pa��ses conquista-

rem o poder de que falo?

131

O General Santos Gomez levantou a divis��ria que os separava do

motorista e de seu assistente, sentados no banco da frente. Ligou o

ar-condicionado, a fim de abafar a conversa, depois virou-se para

Nicky e Sofia, sentados ao seu lado, e disse:

��� Li Chaun �� um idiota. Fala demais.

Sofia olhou para ele, mas n��o disse nada. Nicky sacudiu a

cabe��a, um sinal que ela entendeu.

��� Peguei-o sozinho pelo tempo suficiente para descobrir o que

precisava, general ��� disse ele.

��� Acha que �� t��o importante assim obter o c��digo de acesso

que ele nos oferece?

��� N��o. Provavelmente o c��digo ser�� mudado antes de termos

tempo de us��-lo.

��� Tamb��m pensei nisso. O homem est�� preocupado demais

com problemas a longo prazo, provavelmente porque �� ganancioso e

um tolo ainda por cima. ��� O general fez uma pausa. ��� Mas estou

preocupado com Doy Sing. Os chineses V��o querer tirar o m��ximo de

proveito.

Nicky olhou para a rua escura como breu.

��� Neste momento, n��o temos muitas op����es. Quando eles

descobrirem que Li Chaun possui o c��digo de acesso, n��o levar��o

muito tempo para compreenderem que j�� estamos trabalhando no

plano mestre.

��� Eu me sentiria melhor se pudesse comunicar tudo a Fidel.

��� Eu tamb��m me sentiria ��� disse Nicky. ��� Mas podemos nos

atrasar demais se esperarmos. Doy Sing certamente entrar�� em

contato com seu pessoal no momento em que chegar em casa. E as

primeiras pessoas no mercado terminam na posi����o forte. At��

mesmo bons amigos devem levar esse fato em considera����o.

O general balan��ou a cabe��a.

��� Tem raz��o.

Ele pegou o telefone ao lado do assento e apertou um bot��o.

Uma voz inintelig��vel crepitou em seu ouvido. O general disse apenas

uma palavra:

��� Agora.

Ele desligou e virou-se para os dois, com um suspiro e um

sorriso.

��� Antes da revolu����o, havia um show em Havana que era

muito apreciado pelos americanos ricos. At�� mesmo Hemingway

132

escreveu a respeito. �� claro que teve de ser cancelado legalmente

com a revolu����o. Mas sempre funciona para determinadas pessoas

importantes. Talvez gostem de assistir. Fica aberto durante toda a

noite. ��� Ele tirou um charuto do bolso e depois olhou para Sofia. ���

�� chocantemente pornogr��fico e n��o h�� nada igual no mundo, mas

pode ser fascinante, Camarada Doutora... ou ser�� que n��o est��

interessada em assistir?

Sofia olhou para Nicky e depois para o general, sem responder.

Acendendo o charuto, o general acrescentou:

��� �� claro que s�� o mantemos para lembrar a n��s mesmos e a

nossos amigos a decad��ncia do capitalismo em sua pior manifesta����o.

Sofia tornou a fitar o general. Tinha a impress��o de que ele

aguardava sua aprova����o.

��� Nesse caso, Camarada General, creio que seria proveitoso

para todos n��s assistirmos, quanto menos n��o seja como uma

pesquisa sobre a natureza da corrup����o burguesa.

��� Tenho certeza de que achar�� divertido, doutora ��� murmu-

rou o general, exibindo uma express��o inconfund��vel de satisfa����o.

O clube ficava num pr��dio sem caracter��sticas definidas, perto do

porto. O carro parou na rua estreita e eles saltaram, encaminhando-

se para uma porta de madeira, pequena e sem qualquer letreiro,

guardada por dois homens corpulentos. Eles acenaram com a cabe��a

para o general, sem dizer nada, abriram a porta para o grupo.

Entraram num vest��bulo pequeno, onde um candelabro proje-

tava alguma claridade. Um ma��tre fez uma mesura para o general e, sem falar nada, conduziu-os por outra porta para um corredor

comprido. Passaram por diversas portas fechadas, at�� a ��ltima. O

ma��tre abriu-a e deu um passo para o lado, a fim de deix��-los entrar.

A sala pequena era como um camarote particular num teatro.

Sof��s confort��veis estavam dispostos em torno de uma mesinha

baixa. Mais al��m, havia um pequeno palco, iluminado suavemente

por luzes rosadas.

Sofia olhou para a mesinha. Champanha, conhaque, u��sque

escoc��s, vodca e rum. Havia copos e um balde com gelo. Um odor

leve de haxixe ou marijuana flutuava no ar. Ningu��m ficou surpreso com a cigarreira de prata e com o prato cheio de coca��na branca, uma

pequena colher de ouro e canudos ao lado.

��� Champanha? ��� perguntou o general.

133

��� Obrigada ��� respondeu Sofia.

O general acenou com a cabe��a para o ma��tre. O homem recuou e dois rapazes e duas mo��as entraram no camarote. Estavam nus,

exceto por uma tanga cobrindo os ��rg��os genitais. Silenciosamente,

os rapazes abriram as garrafas de champanha e encheram os copos.

As mo��as ofereceram a cigarreira de prata e depois o prato com

coca��na.

��� Colher ou canudo? ��� perguntou o general. ��� Pessoalmen-

te, prefiro o canudo.

��� Nada para mim ��� disse Nicky.

Sofia fitou-o e depois ao general.

��� Aceitarei sua sugest��o.

Rapidamente, uma das mo��as ajeitou uma s��rie de linhas num

prato espelhado. Estendeu o canudo para Sofia. Ela aspirou uma

Unha em cada narina. A coca��na explodiu em seu c��rebro. O general

riu da sua express��o de surpresa e explicou:

��� �� pura. N��o se encontra em qualquer lugar al��m daqui. ���

Ele aspirou duas linhas em cada narina. Virou-se para Nicky. ��� N��o

sabe o que est�� perdendo.

��� N��o tem significado para mim, general. A verdade pura e

simples �� que nunca experimentei. Vodca �� suficiente para mim.

Santos Gomez levantou seu copo de champanha.

��� Uma bela combina����o. Sant��.

��� Sant�� ��� repetiram Sofia e Nicky, tomando em seguida um

gole de champanha.

��� O espet��culo come��ar�� daqui a pouco ��� disse o general. ���

Enquanto isso, se quiserem, nossos atendentes tentar��o diverti-los.

��� Estou bem assim ��� disse Sofia.

��� Como preferir.

O general sorriu. Acenou para um dos rapazes, que se virou em

sua dire����o. O general inclinou-se levantou-lhe a tanga.

��� N��o �� fant��stico? Cada um desses rapazes deve ter um falo

n��o inferior a 17 cent��metros para conseguir um emprego aqui.

Quanto isso d�� em polegadas?

Sofia podia sentir a coca��na esquentando seu c��rebro. Tentou

falar impassivelmente:

��� Sou p��ssima em n��meros, general.

��� E voc��, camarada, quanto calcula?

Nicky balan��ou a cabe��a.

134

��� Meu ��nico interesse �� cultural e n��o matem��tico. Camarada

General, estou fascinado pela demonstra����o t��o completa de deca-

d��ncia capitalista.

O general riu.

��� Mas n��o devemos ser dogm��ticos demais. Pode ser diver-

tido.

Ele mergulhou o canudo na coca��na e aspirou mais um pouco.

Apontou para uma das mo��as.

��� D�� um pouco de ��nimo a esse pobre rapaz, a fim de que

possamos ver o seu verdadeiro tamanho.

A mo��a ajoelhou-se diante do rapaz, pegou o p��nis com a m��o

e lambeu a glande. N��o havia qualquer express��o no rosto do rapaz,

mas seu falo come��ou a endurecer e crescer. Houve nesse momento

uma batida de leve na porta. O ma��tre entrou e sussurrou algumas

palavras ao ouvido de Gomez. O general assentiu e levantou-se.

��� Estarei de volta dentro de um momento. Tenho de atender

a uma liga����o urgente. Por favor, n��o parem por minha causa.

Ele saiu, fechando a porta. A mo��a e o rapaz continuaram,

como se o general ainda estivesse presente. Nicky tocou no bra��o de

Sofia, a fim de atrair-lhe a aten����o. E disse, em russo:

��� �� repulsivo. Parecem animais.

Sofia olhou para ele e respondeu com absoluta sinceridade:

��� N��o concordo. Acho fascinante o sexo sem qualquer

envolvimento emocional.

��� Voc�� �� uma puta ��� disse ele, furioso.

��� Sou honesta. Pelo menos digo o que sinto. E n��o venha me

dizer que n��o acha isto fascinante e excitante.

��� N��o sou de ferro.

��� Ainda n��o ��, mas isso n��o vai demorar. J�� est�� ficando de

pau duro.

��� Sua sem-vergonha!

��� Por qu��? Porque aceito meu corpo pelo que ��, o que voc��

n��o pode fazer? Talvez, no fundo, todos os homens sejam hip��critas.

Sofia virou-se depressa, quando a porta se abriu bruscamente.

Mesmo �� claridade m��nima, puderam perceber o p��nico no rosto do

general.

��� Ele est�� morto!

��� Quem?

1 3 5

Sofia j�� estava de p��.

��� Li Chaun! E os outros tamb��m!

Nicky foi se postar calmamente ao lado de Sofia e disse, sem

qualquer emo����o na voz:

��� Seus homens s��o muito eficientes, general.

��� Mas n��o os matamos! Meus homens nem mesmo estavam

perto quando aconteceu. Foram mortos ao sa��rem do restaurante.

��� Algu��m viu os assassinos? ��� perguntou Nicky.

Ningu��m sequer ouviu os tiros. As armas deviam estar equipa-

das com silenciadores. Os corpos s�� foram descobertos quando o

motorista se apresentou com o carro para busc��-los.

��� CIA ��� declarou Nicky. ��� Ouvimos rumores de que Li

Chaun vinha trabalhando nos dois lados da rua. ��� Ele deu de

ombros, antes de acrescentar: ��� Se �� verdade ou se descobriram que

ele trabalhava conosco... Seja como for, n��o tem import��ncia. Quem

quer que o matou, prestou-nos um favor. Pelo menos n��o precisamos

explicar.

��� Mas isso significa que os assassinos sabem tamb��m que

estivemos conversando com Li Chaun. E talvez queiram nos liquidar

tamb��m.

O tom do general era preocupado. Nicky sorriu, tranquilizado-

ramente.

��� Eles n��o nos querem. Sabem de que lado estamos.

Sofia virou-se para os dois e indagou:

��� E como eu fico nisso?

Nicky sacudiu a cabe��a.

��� Acho que n��o tem com que se preocupar. A CIA n��o tem o

menor interesse por voc��.

��� Voc�� n��o entendeu ��� murmurou Sofia. ��� N��o �� com a

CIA que estou me preocupando, mas com Judd Crane.

Nicky tornou a dar de ombros, desdenhosamente.

��� Ele �� apenas um homem. E um tolo ego��sta. O que pode

fazer?

��� Nicky, voc�� �� o tolo. Li Chaun pensava em Judd Crane

quando falou em poder. Judd Crane tem poder. E um poder al��m da

nossa compreens��o. Se foi a CIA quem matou Li Chaun, ent��o foi

Judd Crane quem assim ordenou.

Nicky ficou olhando para ela em sil��ncio.

136

��� Acho melhor pedir guarda-costas extras para nos levar de

volta ao hotel ��� disse Sofia. ��� Quero continuar viva at�� a hora de

embarcar no avi��o para a Cidade do M��xico, amanh�� de manh��.

137





21


J U D D ENCOSTOU-SE no travesseiro, a bandeja do desjejum por

cima das pernas. Tomou um gole do suco de laranja. Olhou para

Bridget, fazendo uma anota����o na carta ao p�� da cama.

��� Estou de pau duro.

Ela respondeu, em tom neutro:

��� Isso �� normal. Vai desaparecer depois que urinar.

��� Sua sacana ��� disse Judd, sem rancor. ��� Apenas por uma

vez, por que n��o se lembra que �� uma mulher e n��o somente uma

enfermeira? D��-me um presente, n��o fique s�� no tratamento.

��� N��o sei como trat��-lo, Sr. Crane ��� comentou ela, rindo. ���

�� um adolescente cheio de tes��o ou um velho obsceno?

��� Por que n��o as duas coisas? ��� respondeu Judd, sorrindo.

��� N��o �� profissional ��� declarou Bridget, sem qualquer

express��o. ��� �� preciso ter certeza sobre um paciente.

O telefone tocou e ele atendeu.

��� Al��?

��� Merlin. ��� O telefone crepitava audivelmente. ��� Como

passa esta manh��, senhor?

��� Estou pronto para sair daqui. Aquela m��dica disse que

poderei ir embora dentro de uma hora.

��� ��timo. Temos not��cias da Seguran��a.

��� Quais s��o?

��� Li Chaun est�� morto. A Seguran��a revistou-lhe o quarto

quando ele saiu para jantar. Descobriram diversas coisas. E uma

delas era o c��digo de acesso ao Computador Central. E tamb��m que

ele tencionava vend��-lo por 20 milh��es de d��lares.

138

��� Ele era muito est��pido. N��o h�� ningu��m em seu ju��zo

perfeito que pudesse pagar tanto assim. Qualquer t��cnico, por mais

retardado que fosse, saberia que os c��digos s��o feitos para serem

mudados.

��� Ele n��o era um t��cnico em quest��es pr��ticas. A Seguran��a

tamb��m examinou o conte��do de sua valise. Ao que parece, ele tinha

uma c��pia de nosso levantamento da South & Western Savings.

Portanto, sabemos pelo menos por que ele interferiu no computador.

Descobriremos em breve como transferiu o dinheiro de nossas contas

para a dele.

��� Quem o matou?

��� Interroguei a Seguran��a a respeito. Eles vivem num mundo

particular. Mas souberam que o antigo namorado de Sofia tramou

tudo com os assassinos.

Judd pensou por um momento.

��� O que tem sobre Sofia?

��� Ela andou muito ocupada. Tenho as grava����es do sat��lite.

Tocarei para voc�� assim que chegar ao escrit��rio.

Judd riu.

��� Ou seja, voc�� �� um velho mais obsceno do que eu

imaginava. Como est�� a miss��o dela de cuidar do enfermo Camarada

Brezhnev?

��� Isso �� verdade.

��� Quer dizer que ela vai diretamente de Havana para a

R��ssia?

��� N��o. Ela reservou uma passagem na Aeromexico para a

Cidade do M��xico. Deve chegar aqui esta noite.

��� Certo. Mais alguma coisa?

��� Nada que n��o possa esperar at�� sua chegada no escrit��rio.

Judd desligou e olhou para a enfermeira ao p�� da cama.

��� Ainda estou com aquele pau duro, madame.

Ela estendeu uma p��lula, num pequeno copo de pl��stico.

��� Tome isto com o resto do suco de laranja, depois urine e

entre no chuveiro frio. Deve resolver o problema.

Ele engoliu a p��lula, fitando-a com uma express��o furiosa.

��� Que mulher fria... ��� murmurou Judd, em tom zombeteiro,

mas tamb��m contrariado.

��� O ambiente total ��� disse a Dra. Zabiski.

139

Judd tirou a su��ter.

��� O que est�� querendo dizer com isso?

��� Exatamente o que falei. Se n��o podemos controlar o

ambiente total, n��o h�� qualquer possibilidade de podermos controlar

sua expectativa de vida. Tudo o que fizemos, em termos m��dicos e

tecnol��gicos, foi anulado por seu estilo de vida.

Judd desviou os olhos da m��dica.

��� N��o posso ficar neste hospital para sempre. Acabaria doido.

��� Sei disso.

��� E a vida numa esta����o espacial, com ambiente totalmente

controlado, tamb��m n��o seria melhor.

A Dra. Zabiski balan��ou a cabe��a.

��� Tem raz��o.

��� Ent��o o que sugere?

��� Construa o seu pr��prio ambiente. Tem condi����es para isso.

��� Ela fitou-o nos olhos. ��� De certa forma, j�� faz isso, em seu avi��o.

Mas n��o �� suficiente. Compreendo que precisa viajar pelo mundo,

cuidando de seus neg��cios. Isso significa que seus objetivos de sa��de

ficam em segundo lugar para outros problemas. Ela fez uma pausa,

sorrindo. ��� Pense a respeito. H�� alguma coisa neste mundo que n��o

possa trazer a voc��, ao inv��s de ir ao seu encontro? Se constru��sse um

ambiente total, tudo poderia estar l��, comunica����es, tecnologia,

alimenta����o. At�� mesmo os contatos pessoais necess��rios, t��o

importantes para o seu estilo de vida. Tudo poderia ir a voc��, se

assim exigisse.

Judd contemplou-a sem fazer qualquer coment��rio por um

momento.

��� Isso implicaria construir uma pequena cidade apenas para

mim.

Zabiski deu de ombros.

��� E da��? N��o est�� planejando viver eternamente? Por que n��o

teria o lugar onde possa viver exatamente como quer?

��� �� uma loucura.

��� N��o ��, n��o. Voc�� tem a oportunidade e o dinheiro para

realizar sua ambi����o... mais do que qualquer homem jamais sonhou

ou p��de ter. Tudo o que precisa agora �� da vontade.

Judd se manteve calado.

��� Pense bem. Aquela sua ilha ao largo da costa da Ge��rgia,

140

aqui nos Estados Unidos, �� usada apenas para um hotel de veraneio.

Seria perfeita para o que precisaria.

��� Terei de pensar a respeito, doutora.

��� Claro.

Ele respirou fundo.

��� N��o quero me tornar outro Howard Hughes.

��� Isso n��o aconteceria. Ele fugiu do mundo porque tinha

medo do mundo... e medo de morrer. Voc�� n��o �� assim, n��o tem

medo do mundo nem da morte. Pode alcan��ar o mundo trazendo-o

para voc��. E a morte, para voc��, �� apenas um fato da evolu����o que

deseja alterar. E, para alcan��ar a imortalidade que procura, pode ser

obrigado a aceitar o fato de que sua vida ter�� tamb��m de ser alterada.

Nicky estava ao telefone quando ela saiu do banheiro. Enrolada

numa toalha, Sofia foi at�� a c��moda, pegou um soutien e uma

calcinha. Ele largou o telefone e fitou-a.

��� N��o precisa ter pressa. Houve uma mudan��a nos planos.

Sofia olhou-o com uma express��o inquisitiva.

��� O v��o para o M��xico parte ��s 10 horas. O pr��ximo ser�� ��s

seis horas da tarde.

��� Voc�� n��o voltar�� ao M��xico. Temos reservas na Aeroflot

para Moscou, ao meio-dia. Queremos que volte para l��.

��� Mas o aborto est�� marcado para amanh��.

��� N��o vai mais acontecer. Eles querem que voc�� tenha o filho.

��� Isso �� um absurdo. N��o sabemos o que a crian��a pode ser.

Tantas coisas interferiram com os sistemas biol��gico e qu��mico de

Judd Crane que a crian��a pode ser um monstro.

��� �� um risco que devemos correr. Como n��s preferimos

pensar, a crian��a pode terminar se tornando a ��nica herdeira. E, por

seu interm��dio, poderemos controlar tudo o que ele possui, as

companhias, o dinheiro. Ter��amos um dos mais poderosos complexos

industriais do mundo ocidental.

��� Mas n��o passou de uma experi��ncia!

��� N��o �� mais. Tornou-se um fato da vida. Poder. Lembre-se

do que disse o chin��s morto.

��� Nada disso. Voltarei ao M��xico, conforme estava plane-

jado.

��� N��o h�� a menor possibilidade, Sofia. Tem suas ordens.

��� E se eu resolver n��o obedec��-las?

141

��� Seria trai����o. E voc�� conhece a penalidade por isso.

Sofia prendeu o soutien e p��s a calcinha de renda.

��� E quem vai me matar? ��� perguntou ela, casualmente. ���

Voc��, Nicky?

��� Tamb��m tenho minhas ordens.

��� Mas voc�� me ama ��� insistiu Sofia, gentilmente. ��� Sempre

disse isso.

��� E ainda �� verdade. Sempre a amarei.

��� Mas ama mais ��s suas ordens?

Ela n��o fez qualquer esfor��o para atenuar o tom sarc��stico.

Nicky n��o respondeu.

��� Ent��o n��o �� amor por mim que voc�� tem, Nicky. Tudo se

resume em sua ambi����o, seu pr��prio desejo de poder.

Ele continuou em sil��ncio.

��� Compreendo agora uma por����o de coisas, Nicky. Fui muito

mais tola do que imaginava. Voc�� jamais planejou realmente

divorciar-se de Ekaterina para casar comigo. Isso estragaria todos os

seus planos. Seu sogro est�� l�� no alto, muito perto do Politburo.

Ele fitou-a nos olhos.

��� N��o chegou a acertar em cheio no alvo, Sofia. Isso n��o ��

tudo. Resolvi us��-la para obter o que desejava porque o casamento

era simplesmente imposs��vel. Sabiam de tudo a seu respeito e sua

reputa����o. Nosso pessoal l�� de cima nunca a aceitaria.

Sem dizer nada, ela tirou a mala pequena do arm��rio, pareceu

mudar de id��ia e vestiu o costume de linho com que ele a vira ao

chegar a Havana. P��s a mala em cima da cama e abriu-a. Olhou por

cima da tampa aberta, antes de fech��-la bruscamente.

��� Ter�� de me matar ��� disse ela, decidida. ��� Vou voltar,

Nicky.

A express��o dele era de consterna����o.

��� N��o pode estar falando s��rio.

Ela fitou-o nos olhos.

��� Tamb��m n��o posso acreditar que voc�� seja capaz de me

matar.

Ele permaneceu r��gido na cadeira, ao lado do telefone.

��� Ordens. Sou um soldado. N��o tenho op����o. ��� A m��o se

enfiou por dentro do palet�� e saiu com uma Beretta preta-azulada. ���

E voc�� tamb��m n��o tem, se n��o voltar comigo.

Os olhos de Sofia se encontraram com os de Nicky por um

142

instante. Hesitaram, depois baixaram para a mala. Ele n��o chegou a

ouvir a tosse discreta do silenciador quando foi disparada a bala que

atravessou a mala e foi se cravar em seu peito. Tamb��m n��o ouviu o

segundo estalido, da bala que cortou seu rosto ao meio, como um

mel��o, do alto da cabe��a ao queixo. O impacto das explos��es

silenciosas lan��aram-no da cadeira para o ch��o.

Sofia permaneceu im��vel apenas pelo tempo suficiente para se

lembrar da arma em sua m��o. O sangue de Nicky estava espalhado

por toda parte, salpicando a parede e o teto. Ela contemplou-o por

um instante e murmurou:

��� Nicky, pobre Nicky... Voc�� era muito est��pido. Nunca

soube de uma coisa que Judd Crane me ensinou. Sempre h�� outra

op����o.

143





22


��� O PAI do ano ��� disse ele. ��� E nem mesmo trepei.

Doc Sawyer riu.

��� N��o se queixe. A id��ia foi sua. ��� Ele fez uma pausa. ���

Mas Zabiski est�� certa. �� melhor ir logo at�� o fim da linha.

��� Tio Paul e o departamento jur��dico v��o ficar loucos.

��� �� para isso que eles servem. Tenho certeza de que

encontrar��o uma solu����o.

Merlin entrou na cabine.

��� Chegaremos �� Cidade do M��xico dentro de 40 minutos.

��� ��timo. ��� Judd virou-se para ele. ��� Tem alguma not��cia de

Sofia?

��� Ela est�� relacionada no v��o da Aeromexico que deve pousar

mais ou menos uma hora depois de n��s. A lista de passageiros ainda

inclui o seu nome.

��� A Seguran��a est�� pronta para resgat��-la, se surgir algum

problema?

��� Estamos fazendo todo o poss��vel. Tivemos sorte de nossos

homens chegarem ao quarto um instante depois que ela saiu.

Encontraram o corpo antes da pol��cia e limparam tudo, na medida do

poss��vel. Mas n��o sabemos por quanto tempo poderemos pression��-

los a se manterem impass��veis.

��� Estamos garantidos no instante em que a tirarmos do avi��o

��� comentou Judd.

��� As grava����es da Seguran��a nos informam que ele tenciona-

va mat��-la. Ainda n��o sabemos como ela conseguiu engan��-lo.

144

��� Tenho um palpite ��� murmurou Judd. ��� Ela levou minha

valise.

Merlin teve um sobressalto.

��� O 38 de cano curto, com silenciador, dentro da tranca de

combina����o?

Judd balan��ou a cabe��a.

��� Pode fazer uma por����o de coisas, s�� falta andar. N��o estava

em meu quarto quando voltei do hospital.

Merlin assentiu, com uma express��o aprovadora.

��� A dama pensa. O que significa que �� tamb��m perigosa.

Judd riu.

��� Todas as mulheres que valem a pena s��o perigosas. ��� Ele

pegou uma folha de papel. ��� E as outras? As futuras m��es em

potencial. Estamos tomando todas as provid��ncias para distribu��-las

pelo pa��s?

��� A Seguran��a trabalha nisso agora. Devemos ter o plano

completo esta noite. ��� Merlin fez uma pausa, fitando Judd. ��� O que

decidiu sobre Sofia?

��� Estou pensando nisso. Quero conversar com ela mais um

pouco.

��� Estar�� no pal��cio presidencial na Cidade do M��xico quando

ela chegar ao aeroporto. Achamos que �� melhor que n��o esteja por

perto. Al��m disso, a reuni��o com o Secret��rio de Com��rcio sobre a

Crane Pharmaceuticals ser�� nessa ocasi��o. Depois, almo��ar�� com

Lopez Portillo, antes de voltar ao avi��o. Devemos partir para o Brasil

��s quatro horas da tarde.

Merlin hesitou por um instante e depois acrescentou, num tom

que era de gracejo apenas pela metade:

��� Isso deve lhe dar tempo para pensar, senhor.

Judd olhou para o rel��gio de pulso, depois observou as outras

pessoas em torno da mesa do almo��o. Eram 33 e o presidente j��

estava uma hora atrasado. Judd virou-se para o Ministro das

Finan��as, �� sua direita:

��� Talvez el presidente tenha assuntos mais importantes a tratar do que este almo��o. N��o me sentirei ofendido se ele quiser cancelar

este compromisso.

��� N��o h�� nada mais importante, Sr. Crane ��� garantiu

polidamente, num ingl��s perfeito, o bonito ministro das Finan��as.

145

��� Acontece apenas que el presidente nunca almo��a antes das quatro horas.

Judd virou-se para Merlin, depois tornou a fitar o ministro das

Finan��as. Levantou-se, dizendo:

��� Por favor, apresente minhas desculpas ao Se��or el Presiden-

te. Infelizmente, tamb��m tenho um programa a cumprir. Tenho reuni��es marcadas amanh�� no Brasil e minha partida est�� marcada

para as quatro horas. Falta apenas meia hora. Talvez possamos

marcar outro encontro para depois de amanh��, quando eu voltar aos

Estados Unidos.

O rosto do ministro expressava uma consterna����o chocada.

��� Mas el presidente ficar�� extremamente desapontado, Se��or

Crane. Aguardava ansiosamente a oportunidade de encontr��-lo.

��� E eu tamb��m. N��o pode imaginar o quanto eu gostaria de

conversar com el presidente.

��� Mas a opera����o que discutimos... tenho certeza de que ele

gostaria de lhe falar mais a respeito.

��� N��o h�� mais nada para conversar. Compreendemos a

posi����o de voc��s. Quero que construam o laborat��rio e a f��brica por

30 milh��es de d��lares. Por isso, ficariam com 50 por cento da Crane

Pharmaceuticals do M��xico. Oferecem apenas cinco milh��es de

d��lares e querem que eu entre com os restantes 15 milh��es dos meus

recursos pr��prios. Em americano simples, isso �� t��tica de galinha.

Sou um homem de neg��cios e n��o tenciono me transformar em outro

banco para aumentar ainda mais a d��vida externa do M��xico, que j�� ��

maior do que as condi����es para pagar.

��� Sua opini��o �� contr��ria �� de muitos bancos com que fazemos

neg��cios ��� respondeu o ministro, friamente. ��� Os campos petrol��-

feros do M��xico s��o os maiores do mundo. �� toda a garantia de que

precisamos, senhor, n��o importa qual seja o montante da d��vida.

��� �� bem poss��vel, excel��ncia. Mas acontece que n��o sou um

transportador de petr��leo nem me dedico ao refino. Tamb��m n��o

tenho qualquer interesse nesse tipo de energia. Estou interessado

apenas nas coisas j�� dispon��veis. Estamos chegando ao final de 1979 e

o M��xico j�� possui uma d��vida externa de 55 bilh��es de d��lares. No

ritmo em que continuam a tomar emprestado, nos dois anos que

restam ao presidente no cargo, essa d��vida subir�� para 80 bilh��es ou

mais. A esta altura, o mundo estar�� inundado de petr��leo. Deixar��o

146

de falar em escassez e economia, o problema se tornar�� a abund��n-

cia. E n��o sei como poder��o pagar a d��vida.

��� Mas suas previs��es significam que muitos outros pa��ses se

encontrar��o na mesma situa����o. E tamb��m significa que n��o ser��

somente aqui que se ter�� de efetuar ajustamentos ao problema.

��� Tem toda raz��o. S�� que n��o preciso me incomodar com

isso. Nenhum dos meus bancos ou empresas financeiras entrou em

cons��rcios de emprestadores a empreendimentos de produ����o de

petr��leo. O futuro, ao que posso prever, n��o ser�� mais dependente

de uma produ����o ou de uma era industrial tecnol��gica. Ser�� baseado

na informa����o, comunica����o e servi��os m��dicos.

Judd fez uma pausa, observando atentamente o ministro.

��� A primeira ind��stria que lhe ofere��o �� de natureza m��dica.

O investimento que proponho �� m��nimo, algo que n��o podem

conseguir com o petr��leo. Posso lhe garantir que em dois anos a

quantia que proponho para o investimento de voc��s, 30 milh��es de

d��lares, ser�� recuperada com um volume de neg��cios de 200 milh��es

de d��lares. E isso, meu caro ministro, apenas em transa����es com os

pa��ses da Am��rica Central e do norte da Am��rica do Sul. A segunda

ind��stria s�� seria oferecida depois de consolidada a primeira em

termos lucrativos. Isso significa que cuidar��amos para que a primeira

ind��stria ficasse a salvo da corrup����o e roubo, que lamentavelmente

prejudicam tanto dos muitos dos seus empreendimentos. Ofere��o

eletr��nica, comunica����es e informa����o, tudo constru��do e mantido

no M��xico... um empreendimento que pode se estender e controlar

todo o mundo de l��ngua espanhola. E esse mercado pode valer

incont��veis bilh��es de d��lares. Isso, Senor Ministro, �� o que lhe pe��o

para informar a el presidente.

��� Fala com muita franqueza, senor.

��� N��o conhe��o outra maneira, Senor Ministro. O progresso s��

pode ser constru��do sobre o granito da verdade, n��o sobre as vigas da

podrid��o.

A voz do ministro soou amarga:

��� Essa �� a atitude norte-americana habitual. Abaixo do Rio

Grande, somos primos pobres.

��� O Presidente C��rter veio �� Cidade do M��xico com um ramo

de oliveira. Prop��s uma compreens��o maior entre nossos pa��ses.

Imagino que se tratava de uma atitude simplista. Milagres n��o

acontecem entre na����es, pelo menos atualmente. O que ele encon-

147

trou foi insulto e menosprezo. Diga-me uma coisa, Se��or Ministro: o

que Castro ofereceu ao M��xico, que faz todos voc��s se sentirem

felizes por puxar-lhe o saco? Nada. Exceto subvers��o e disc��rdia,

ataques ao seu estilo de governo e princ��pios de democracia. E por

que voc��s n��o insultam Fidel?

O ministro permaneceu em sil��ncio.

��� O M��xico tinha uma lucrativa ind��stria a��ucareira. Agora, o

M��xico importa a����car. Tamb��m importa cacau, caf��, cereais. Todas

as colheitas lucrativas se foram na febre fren��tica por um produto que

se encontra no fundo do mar e leva muitos anos para tirar de l�� e que

pode perfeitamente ser substitu��do por outra forma de energia antes

de come��ar a aparecer lucrativamente em seus gr��ficos econ��micos.

O ministro respondeu, em voz desapontada:

��� Lamento descobrir, Se��or Crane, que tem uma opini��o t��o

desfavor��vel a respeito de n��s, mexicanos.

��� Isso n��o �� absolutamente verdade, Se��or Ministro. Adoro o

povo, seu esp��rito galante, natureza generosa. Nas minhas compa-

nhias, emprego mais de um milh��o e meio de trabalhadores

mexicanos, tanto imigrantes legais como ilegais. Acho que todos s��o

competentes e diligentes. Mas tenho pena do povo mexicano e mais

ainda das infelizes perspectivas de seus futuros l��deres. Porque,

dentro de dois anos, quando o novo governo assumir, estar��o t��o

ocupados a raspar a merda de suas botas que talvez nem possam

oferecer comida ao povo.

O ministro balan��ou a cabe��a.

��� Acredita mesmo nisso?

��� Sinto muito, mas acredito. E acredito que tamb��m respeita-

r�� minha franqueza e minha afei����o por seu pa��s e seu povo.

��� O que ent��o dever��amos fazer? ��� indagou o ministro,

suavemente.

Judd sustentou o olhar do mexicano sem piscar.

��� N��o sou um mexicano e tamb��m n��o sou um pol��tico. Sou

apenas um estrangeiro. N��o tenho as respostas. Apenas acredito na

grandeza do M��xico e creio que o pa��s deve liderar todo o mundo da

Am��rica Central... n��o ser o vassalo de algu��m que j�� �� um vassalo,

completamente dominado por pessoas que desprezam a todos voc��s.

O ministro rompeu seu sil��ncio com um longo suspiro.

��� N��o pode adiar sua partida?

148

��� Lamento profundamente, Se��or Ministro, mas n��o �� pos-

s��vel.

��� Mas voltar�� para outra reuni��o?

��� Se eu for convidado, Se��or Ministro, terei o maior prazer.

��� Farei tudo o que puder para promover esse encontro.

O telefone na mesa ao seu lado tocou. Ele atendeu, escutou por

um momento, depois falou em espanhol. Escutou por mais um

momento, cobriu o bocal com a m��o e disse a Judd:

��� A pol��cia de imigra����o no aeroporto deteve uma certa Dra.

Sofia Ivancich, a pedido da pol��cia cubana. Exigem que ela permane-

��a em cust��dia at�� ser poss��vel recambi��-la a Havana. Ela alega que ��

sua convidada, al��m de empregada, em tr��nsito para o seu avi��o,

com um visto correto de seu pr��prio pa��s para os Estados Unidos.

��� Onde ela est�� agora? ��� perguntou Judd.

��� No escrit��rio da imigra����o, na se����o de tr��nsito.

��� A pol��cia cubana tem alguma autoridade no caso?,

��� N��o oficialmente. Mas temos um acordo extra-oficial.

��� Mas n��o legal?

��� N��o legal.

Judd pensou por um instante.

��� A Dra. Ivancich �� uma pessoa muito importante em nossa

equipe de pesquisa m��dica. Agradeceria se pedisse �� sua pol��cia de

imigra����o para conduzi-la a meu avi��o e dissesse que tenho a sua

palavra de um salvo-conduto para ela.

��� A pol��cia cubana afirma que ela �� culpada de crimes graves.

��� Em Cuba ��� disse Judd. N��o no M��xico.

O ministro assentiu.

��� N��o no M��xico.

��� A se����o de tr��nsito ainda est�� sob jurisdi����o mexicana, n��o

�� mesmo? A pol��cia cubana tem algum poder legal l��?

��� Claro que n��o. O M��xico tem jurisdi����o exclusiva.

��� A Dra. Ivancich trabalha num contrato especial entre os

Estados Unidos e a Iugosl��via. Acho que sua deten����o pode causar

embara��os desnecess��rios ao governo mexicano, se renunciarem a

seus direitos de soberania em favor dos cubanos. Al��m disso, Se��or

Ministro, eu ficaria pessoalmente agradecido se pudesse usar toda a

sua influ��ncia para atender a meu pedido.

O ministro observou-o em sil��ncio por mais instante, antes de

tornar a falar ao telefone. Desligou um momento depois.

149

��� Est�� tudo resolvido, Se��or Crane. J�� ordenei �� imigra����o

que a conduzisse a seu avi��o, devidamente protegida.

��� Obrigado, Se��or Ministro.

��� Ela dever�� estar dentro de seu avi��o daqui a 10 minutos.

��� Mais uma vez obrigado.

O ministro sorriu.

��� S�� mais uma pergunta, Se��or Crane. N��o estudou na Escola

de Administra����o de Harvard?

��� Estudei.

��� Eu tamb��m. ��� O ministro sorriu mais largamente e

estendeu a m��o. ��� Meus parab��ns por sua capacidade de reunir os

fatos e encontrar solu����es. Espero que um dia possa estar atuando na

minha posi����o, enquanto eu estarei em seu lugar.

��� Isso j�� aconteceu, Se��or Ministro.

��� E tamb��m ganhou?

��� N��o ganhamos nem perdemos. Apenas aprendemos a fazer

o melhor que podemos. A verdade, Se��or Ministro, �� que eu �� que

lhe devo dar os parab��ns.

150





23


As LUZES sobre a Cidade do M��xico desapareceram na camada

intensa de nevoeiro marrom que a cobria. Um momento depois, o

avi��o subira o suficiente para encontrar o azul ensolarado por

cima.

��� A cidade est�� coberta por um len��ol de merda ��� murmurou

Judd, olhando pela janela.

��� Seu suco de laranja e a p��lula, Sr. Crane.

Bridget p��s os dois copos na frente da bandeja.

��� Voc�� nunca esquece, n��o �� mesmo?

��� �� para isso que me pagam. ��� Ela esperou at�� que Judd

engolisse a p��lula e tomasse o suco. ��� O jantar ser�� servido ��s sete e

meia. E uma refei����o ligeira, ��s nove horas.

��� N��o estou mais no hospital.

��� Ordens m��dicas. Continuar�� nessa rotina por mais duas

semanas.

��� Que tal uma trepada?

��� Esse n��o �� meu departamento. Mas est�� muito melhor.

Poder�� em breve cuidar desses problemas normalmente.

��� Muito obrigado. Mas n��o fique esperando para descobrir.

N��o esquecerei como me falhou no momento de necessidade.

Ele observou-a deixar a cabine e depois olhou para Fast Eddie,

que estava atr��s do bar.

��� S��o todas uma sacanas.

Fast Eddie exibiu todos os dentes.

��� Tem toda raz��o!

151

��� Suco de laranja tem gosto de qualquer merda. D��-me uma

Coca temperada.

��� Vamos com calma, chefe ��� protestou Fast Eddie. ���

Lembre-se das ordens da doutora.

��� Ela que se foda. Voc�� n��o trabalha para ela.

��� Mas...

��� Fa��a o que estou mandando.

Fast Eddie preparou o drinque rapidamente. Judd tomou um

gole.

��� Est�� ��timo. ��� Ele suspirou, sentindo que se recuperava. ���

Os m��dicos n��o sabem de tudo.

Doc Sawyer e Merlin entraram na cabine.

��� Tudo bem com voc��s? ��� perguntou Judd.

��� Tudo bem ��� respondeu Merlin.

��� Como est�� Sofia?

��� Muito bem ��� respondeu Doc Sawyer. Ele notou a expres-

s��o impass��vel de Judd e olhou para Merlin. ��� Contou a ele?

Merlin sacudiu a cabe��a.

��� Pensei que voc�� tivesse contado.

Judd olhava aturdido para os dois.

��� De que diabo est��o falando?

Doc Sawyer virou-se para ele.

��� Algu��m com um silenciador tentou liquid��-la quando passa-

va pelo sal��o de tr��nsito. Mas n��o devia ser muito bom, pois acertou

apenas na carne do bra��o esquerdo.

��� Pegaram o homem?

��� Ningu��m sequer o viu ��� respondeu Merlin. ��� A seguran��a

mexicana nem percebeu que ela foi baleada. A dona tem muita

coragem. Atravessou todo o sal��o sem dizer nada. Manteve a m��o

direita sobre o buraco da bala, totalmente fria e controlada, a fim de

que n��o se notasse o sangue at�� chegar ao avi��o.

��� Onde ela est�� agora? ��� perguntou Judd.

��� Dormindo em sua cabine ��� respondeu Doe Sawyer. ���

Perdeu algum sangue, �� claro. Dei-lhe plasma, fiz um curativo e a

botei para dormir. Ela est�� bem, mas n��o acordar�� por 10 ou 12

horas.

��� Bom trabalho ��� comentou Judd. ��� Mas eu gostaria de

saber o que exatamente aconteceu em Havana.

��� Sabemos de tudo ��� declarou Merlin. ��� Ela teve controle

152

suficiente para trazer de volta os pap��is de Borovnik. J�� examinei-os.

Todos aqueles dep��sitos no South & Western Savings eram parte de

uma opera����o do governo cubano. Os traficantes trabalhavam por

interm��dio deles.

��� Trope��amos em algo grande, n��o �� mesmo?

Merlin assentiu.

��� O que acontece agora?

��� Todo o nosso governo agora est�� metido na coisa ���

informou Merlin. ��� Al��m do Departamento do Tesouro, Comiss��o

Federal de Seguro Banc��rio, Servi��o da Receita Federal, Alf��ndega

e FBI, a CIA tamb��m est�� investigando.

��� E qual �� o resultado de tudo isso para n��s?

��� A liquida����o da South & Western. Poder��amos ag��entar

com uma retirada de 400 milh��es de d��lares, mas parece que, agora,

com todas as ag��ncias envolvidas, a coisa pode ir al��m dos 600

milh��es. S�� conseguir��amos ag��entar se injet��ssemos 300 milh��es dos

nossos pr��prios recursos.

N��o houve qualquer hesita����o de Judd.

��� Pois fa��a isso.

��� Pode perder tudo de qualquer maneira ��� avisou Merlin.

��� �� nosso nome e nosso dinheiro ��� Judd fez uma pausa, antes

de acrescentar: ��� O dinheiro n��o �� t��o importante. Mas n��o me

agrada a nossa estupidez.

Ficaram calados por algum tempo, at�� que Judd perguntou:

��� Mais alguma coisa?

��� Todas as mulheres conclu��ram os exames m��dicos e os

resultados foram os melhores poss��veis ��� disse Doc Sawyer. ��� O

departamento jur��dico est�� com os contratos devidamente assinados.

Assim, at�� os advogados se mostram satisfeitos. A Seguran��a

colocou-as em cidades diferentes, em estados por todo o pa��s.

Nenhuma delas tem conhecimento das outras, nenhuma tem a menor

no����o de sua liga����o com o projeto. �� desnecess��rio dizer que elas e

seus filhos ser��o amparados pelo resto de suas vidas por um fundo

irrevog��vel. Isso j�� foi acertado. Todas se acham perfeitamente

satisfeitas. Dentro de seis ou sete meses, deveremos ter uma colheita

recorde de m��es felizes e lindos beb��s, como nenhum outro homem

produziu desde Ibn Saud.

��� Ele teve mais de 900 filhos ��� comentou Judd. ��� E pelo

menos teve o prazer de fazer diretamente cada um.

153

��� Voc�� n��o pode ter tudo. ��� Doc Sawyer soltou uma risada.

��� E vive num mundo diferente.

Judd se manteve em sil��ncio por um instante.

��� H�� uma mulher que sabe, Doe. Sofia.

Doc Sawyer assentiu.

��� Zabiski e eu discutimos esse problema. O aborto dela

ocorrer�� conforme o planejado. E ela pensar�� que todos os outros

abortos tamb��m se consumaram.

Judd olhou pela janela. Havia uma fina linha alaranjada,

enquanto o sol mergulhava no horizonte para a noite. Ele n��o se

virou para os outros quando falou:

��� Parece que cobriram todos os ��ngulos.

��� Tentamos ��� murmurou Doe Sawyer.

��� Isso �� ��timo. ��� Judd virou-se para Merlin. ��� O que est��

acontecendo com a Ilha Crane?

��� A Crane Construction j�� p��s uma equipe para trabalhar no

projeto. O problema neste momento �� encontrar as pessoas certas

para compreender o que desejamos. Mas achanos que os trabalhos

preliminares estar��o conclu��dos em cerca de dois meses.

��� E quanto tempo mais para construir e rematar tudo?

��� Um ano para se iniciar a constru����o, mais um ano para

terminar. ��� Merlin fitou-o com uma express��o de d��vida. ��� Ainda

quer continuar? Calculo que gastaremos 40 milh��es de d��lares, talvez

mais.

Judd olhou para ele.

��� Repassaremos o estudo antes de tomarmos a decis��o. Ainda

temos tempo.

Bridget entrou na cabine nesse momento.

��� Desculpem, senhores, mas o tempo esgotou-se. Meu pa-

ciente precisa dormir um pouco antes do jantar.

��� Minha sacana doce e atenciosa ��� murmurou Judd.

Mas n��o havia rancor em sua voz. Come��ava a sentir-se

cansado.

O zumbido suave dos jatos espalhava-se por seu camarote. Ele abriu

os olhos, lentamente. Bridget se encontava de p�� ao lado da cama, o

uniforme branco de enfermeira parecendo um fantasma no escuro.

��� Est�� parada a�� h�� muito tempo?

154

��� H�� poucos minutos apenas. Dormia t��o profundamente que

fiquei sem saber se devia ou n��o acord��-lo para o jantar.

��� Jantar �� uma boa id��ia. O almo��o j�� era. Nem cheguei a

com��-lo.

��� Informarei ao cozinheiro.

Judd sentou-se na cama.

��� Vou fazer a barba e tomar um banho de chuveiro. Quando o

jantar estar�� pronto?

��� Quando quiser.

��� Meia hora est�� bem?

��� Claro.

Judd observou-a sair e fechar a porta, depois acendeu a luz. Viu

a luz vermelha do telefone piscando e atendeu.

��� Sua m��e ligou de San Francisco enquanto estava dormindo,

Sr. Crane ��� informou o oficial de comunica����es.

��� Pois ligue para ela.

Judd desligou e foi para o banheiro. O telefone tocou quando

ele ainda se encontrava l�� dentro. Atendeu no aparelho na parede,

ao lado do vaso.

��� A Sra. Marlowe est�� na linha, senhor.

��� Obrigado. ��� Ele ouviu o estalido da transfer��ncia. ��� Ol��,

Barbara.

��� J�� se passaram seis semanas desde que nos falamos pela

��ltima vez. Onde est��?

��� Neste momento, no vaso, dando uma mijada.

��� Idiota. ��� Barbara riu. ��� Em que lugar?

��� De acordo com o plano do v��o, devo estar sobrevoando

algum ponto do Amazonas. Mas n��o tenho certeza. Acabei de

acordar.

��� E como est��? Sente-se bem?

��� Nunca me senti melhor.

��� E os tais tratamentos?

��� Maravilhosos. Como est��o voc�� e Jim?

��� Muito bem. Soube que voc�� vai comparecer �� posse.

��� �� verdade.

��� Tamb��m recebemos um convite. Achei que seria ��timo se

pud��ssemos ir juntos.

��� Adorei a id��ia. Vamos cuidar disso.

155

��� ��timo. ��� Barbara hesitou por um instante. ��� Tem certeza

de que est�� bem?

��� Claro que estou, Barbara. Muito bem. D�� um abra��o em

Jim e receba um beij��o.

��� Um beij��o para voc�� tamb��m. Ficaremos esperando o

momento de encontr��-lo em Washington. At�� l��.

Judd desligou e continuou de p�� junto ao vaso de m��rmore.

Apertou o bot��o chamando a atendente. Bridget entrou no camarote

e foi parar na porta do banheiro.

��� Qual �� o problema?

��� Olhe s�� para isso ��� disse Judd, apontando. ��� Estou de pau

duro outra vez. N��o consigo mijar.

��� O que provocou isso?

��� Falei com minha madrasta pelo telefone. Ela costumava me

dar a maior tes��o. Acho que ainda d��.

Ela fitou-o, com um meio sorriso.

��� Voc�� �� um pervertido incestuoso. ��� Bridget soltou uma

risada. ��� Entre debaixo do chuveiro e abra a ��gua fria. E n��o ter��

mais qualquer dificuldade para mijar.

156





24


��� ESTAMOS AGORA a 15 quil��metros da costa ��� informou o

comandante, pelo sistema de alto-falantes.

Judd apertou o interfone.

��� Ponha na tela grande.

O comiss��rio de bordo, Raoul, ligou a tela prateada na parede

da cabine de Judd e fechou a cortina para vedar a claridade intensa

do sol tropical. Quase que no mesmo instante um mar azul se

projetou contra uma faixa comprida de areia branca. E come��ou a

desaparecer em quil��metros intermin��veis de selva verde.

��� O delta do rio est�� no centro da tela ��� disse o comandante.

Judd tornou a apertar o interfone.

��� D�� um zoom, por favor.

��� Estamos a 15 mil metros de altitude ��� informou o

comandante. ��� A imagem pode estar granulosa.

��� N��o tem import��ncia. �� o que estou querendo ver. E depois

mantenha um curso firme rio acima.

��� Est�� bem, senhor.

Judd observou a tela atentamente. A imagem foi aumentando,

ocupando toda a tela, de tal forma que at�� a cor lamacenta do vasto

fluxo do Amazonas tornou-se vis��vel. Poucos momentos depois, o

delta se perdia na base da tela e o enorme rio come��ava a ocupar

gradativamente a parte superior, at�� que esta parecia incapaz de

cont��-lo.

��� As f��bricas aparecer��o dentro de um minuto no alto da tela,

senhor ��� avisou o comandante.

��� Podemos baixar um pouco e sobrevo��-las?

157

��� Temos autoriza����o para voar a 15 mil metros de altitude,

senhor. Eles ficar��o furiosos se alterarmos o plano de v��o.

��� Eles que se fodam! Des��a para 10 mil metros. Assumirei

toda responsabilidde. ��� Judd virou-se para Merlin, sentado a seu

lado. ��� Por que isso? Afinal, �� o motivo para virmos at�� aqui.

Merlin se manteve em sil��ncio, os olhos fixados na tela. A

primeira f��brica come��ava a aparecer. Fuma��a de um cinza-escuro se

elevava de seis gigantescas chamin��s. Havia ancoradouros compridos

para os cargueiros. Uma esteira transportadora estendia-se do lado

da f��brica diretamente para o cais.

��� �� a f��brica de papel ��� disse Judd.

A imagem na tela se alterou e outra f��brica come��ou a

aparecer. A imagem era mais n��tida agora e ele p��de constatar que as

f��bricas eram constru��das na terra, mas ancoradas no rio.

��� Esta produz madeira ��� comentou Judd. ��� �� o refugo que

vai para a f��brica de papel.

��� Incr��vel! ��� murmurou Merlin. ��� F��bricas assim no meio da

selva mais primitiva do mundo!

��� D.K. �� um g��nio ��� disse Judd. ��� Foi id��ia dele. Sabia que

a constru����o n��o podia ser feita aqui. Assim, mandou construir as

f��bricas no Jap��o, rebocou-as pelos oceanos e instalou-as no lugar.

Entraram em opera����o quase da noite para o dia.

Uma terceira f��brica apareceu na tela. Mais al��m, o rio corria

implacavelmente, embora coberto por milhares de troncos, centenas

de milhares de troncos, comprimindo-se e saltando por cima uns dos

outros, como se nas mand��bulas de algum gigantesco monstro pr��-

hist��rico.

��� Deve ser a serraria, limpando e separando os troncos. ���

Judd apontou para o alto da tela. Uma enorme represa de concreto

come��ava a aparecer. ��� A�� est�� outro sinal do g��nio de Ludwig.

Nunca haver�� necessidade de petr��leo ou energia nuclear. Nada al��m

de ��gua. Energia hidrel��trica, proporcionada pela abund��ncia da

natureza. Ludwig n��o se limitou a pensar nisso, mas tamb��m previu

as pr��prias necessidades da natureza de um futuro suprimento de

mat��ria-prima. Criou um programa de reflorestamento que doma a

floresta para proporcionar uma colheita nova a cada 20 anos.

��� Ent��o n��o compreendo ��� disse Merlin. ��� Por que ele quer

sair?

��� Acho que por duas coisas. Primeiro, a selva o sacaneou.

158

Calculou uma renova����o de 20 anos para as florestas. Mas toda a

selva se move a uma velocidade vertiginosa. O homem jamais teve de

lidar com qualquer coisa parecida. Ludwig descobriu que precisa de

pelo menos 10 mil homens s�� para evitar que a selva cubra suas

instala����es.

��� E qual foi o outro problema? ��� indagou Merlin.

��� O pr��prio D.K. O homem est�� com mais de 80 anos e acho

que come��a a compreender que seu tempo pode estar se esgotando.

��� Judd manteve-se calado por um momento e depois virou-se para

Merlin. ��� Acha que ele haveria de querer cair fora se tivesse o dom

da imortalidade?

Merlin n��o respondeu. Judd tornou a apertar o interfone.

��� Pode retomar o curso, comandante. J�� acabei, por enquan-

to. Obrigado.

��� Est�� certo, senhor. Pousaremos em Bras��lia dentro de tr��s

horas e 35 minutos.

Bridget entrou na cabine enquanto Raoul abria as cortinas. A

luz do sol se espalhou pelo interior.

��� Est�� na hora outra vez ��� disse ela, estendendo a bandeja.

Judd pegou a p��lula, p��s na boca e engoliu com um gole do suco

de laranja.

��� N��o se cansa de fazer isso?

��� �� meu trabalho. ��� Bridget fez uma pausa. ��� A Dra.

Ivancich est�� acordada.

��� E como ela est��?

��� Muito bem. ��� A voz da enfermeira era fria. ��� Est�� se

vestindo. O Dr. Sawyer insistiu que mantivesse o bra��o numa tip��ia.

��� Descerei para v��-la.

��� N��o precisa. ��� A voz de Bridget continuava fria. ��� Ela

tenciona subir assim que acabar de se maquilar.

Judd observou-a atentamente.

��� Tenho a impress��o de ouvir uma pontada de ci��me em sua

voz.

��� N��o dela ��� respondeu Bridget, sarcasticamente. ��� Afinal,

ela tem praticamente idade suficiente para ser minha m��e.

Ela deixou a cabine com um meneio dos quadris que Judd

nunca notara antes. Ele virou-se para Merlin.

��� Tenho o pressentimento de que a nossa cara enfermeira

come��a a degelar.

159

Merlin riu.

��� �� poss��vel. Mas as cifras em que estou metido sobem e

descem, nunca se deslocam para os lados.

Judd sorriu.

��� Alguma novidade sobre a situa����o da South & Western?

��� Todas as ag��ncias do governo que possa imaginar est��o

plantadas l�� dentro com os dois p��s. A ��nica coisa que pode

interess��-lo �� que tudo indica que seu maior s��cio �� Castro.

��� Merda! ��� exclamou Judd, consternado. ��� Por que ser�� que

todos os pol��ticos querem virar homens de neg��cios?

Merlin levantou-se.

��� Incomoda-se se eu for dormir um pouco? Fiquei acordado

durante a maior parte da noite.

��� �� melhor aproveitar para dormir enquanto pode. Tenho o

pressentimento de que o dia de hoje n��o ser�� dos mais f��ceis.

Judd observou a porta se fechar atr��s de Merlin e depois virou-

se para Fast Eddie, que continuava de p�� atr��s do bar.

��� Arrume uma Coca temperada.

��� �� para j��, chefe.

Judd tomava o drinque quando Sofia entrou. Ela parou �� porta

por um instante, como se n��o tivesse certeza da acolhida.

��� Entre, Sofia ��� disse ele, gentilmente, largando o copo.

Ela avan��ou at�� sua cadeira e inclinou-se para beij��-lo no rosto.

��� Obrigada.

��� Voc�� est�� bem?

��� Estou, sim.

��� N��o sente qualquer dor?

��� N��o, Judd. Estou ��tima.

Ele fitou-a nos olhos.

��� N��o precisa pedir desculpas ou explicar qualquer coisa,

Sofia. N��o somos amigos?

��� Claro. Espero continuarmos assim.

Ele gesticulou para uma poltrona. Esperou at�� que ela sentasse.

��� Cada um faz o que acha que deve.

��� Eu receava que voc�� pudesse pensar que o tra��.

��� Acreditou realmente que eu poderia pensar assim?

Sofia n��o hesitou:

��� N��o.

��� Ent��o n��o tem problema.

160

��� �� uma hist��ria antiga. Quer que eu conte tudo?

Judd sacudiu a cabe��a.

��� N��o precisa. J�� sei de tudo.

��� E n��o est�� zangado.

Ele riu.

��� N��o. J�� vivi por tempo suficiente para saber que lealdades

antigas n��o morrem com facilidade.

Sofia n��o fez qualquer coment��rio a respeito. Olhou para o

copo diante de Judd.

��� Voc�� sabe muito bem que n��o deveria tomar isso.

��� Claro que sei. Mas isso tamb��m �� uma lealdade antiga.

Ela ficou calada.

��� E voc�� n��o est�� de servi��o agora, doutora.

��� Tem raz��o.

��� Parece cansada, doutora. Posso lhe oferecer uma dose?

��� Bem que estou precisando de algo para levantar o ��nimo.

Judd acenou com a cabe��a para Fast Eddie, que se adiantou

com o frasco de ouro. Sofia pegou o frasco, mas n��o conseguiu

encontrar um jeito com o bra��o na tip��ia. Fast Eddie levantou a

colher ��s suas narinas. Ela aspirou duas doses refor��adas. Fast Eddie

voltou ao bar.

��� Ajudou bastante. ��� Os olhos de Sofia se encontraram com

os dele. ��� Voc�� �� um homem estranho, Judd Crane.

Ele n��o respondeu.

��� Acha mesmo que viver�� eternamente?

��� Eu n��o disse eternamente. Imortalidade foi a palavra que

usei.

��� N��o �� a mesma coisa? Apenas uma quest��o de sem��ntica.

��� Nunca fui um estudioso de ling����stica. Mas �� o que espero,

qualquer que seja a maneira como voc�� diga.

��� E para o seu bem, �� o que tamb��m espero. ��� Ela fez uma

pausa. ��� Sua nova enfermeira n��o gosta de mim,

��� Isso n��o �� importante.

��� Voc�� est�� fodendo com ela, �� claro.

��� Para dizer a verdade, n��o.

��� E n��o quer?

��� Provavelmente quero. Mas isso tamb��m n��o �� importante.

��� Farei um aborto na pr��xima semana.

Judd assentiu.

161

��� J�� sei.

Os olhos de Sofia penetraram at�� o fundo de Judd.

��� Eu gostaria de manter o seu filho.

A voz dele soou incisiva:

��� Eu n��o quero. Todos sab��amos que n��o passava de outra

experi��ncia.

��� Uma em dez n��o seria uma pedra t��o grande para voc��.

��� Uma j�� seria demais. Foi uma experi��ncia e assim continua-

r��, Sofia.

��� Mas o que restar�� se voc�� morrer?

��� Eu n��o morrerei. E mesmo que isso venha a acontecer,

nada se perder��.

Ela ficou em sil��ncio por um momento.

��� Posso tomar outra dose?

Judd gesticulou para Fast Eddie, sem dizer nada. Ele tomou um

gole do drinque, observando-a aspirar mais duas doses de coca��na.

Ela virou-se para olhar pela janela do avi��o.

��� O c��u est�� t��o azul...

��� Sempre �� assim, a 15 mil metros de altitude.

Sofia tornou a fit��-lo.

��� Tenho medo. N��o quero morrer.

��� Voc�� n��o vai morrer.

��� Diz isso porque n��o os conhece. Eles n��o s��o como voc��.

Em seu mundo, est��o convencidos de que os tra��. E jamais

esquecem. V��o me matar, mais cedo ou mais tarde.

��� Voc�� sempre pode sumir. Na Am��rica, muitos j�� se

esconderam deles e nunca foram descobertos. Alguns dos seus

maiores cientistas foram esquecidos, at�� mesmo por eles.

��� �� poss��vel. Mas isso n��o acontecer�� no meu caso. O crime

que cometi n��o foi apenas trai����o, mas tamb��m o assassinato de um

homem que estava apenas a um passo do pr��prio Politburo.

Sofia pegou um cigarro na caixa em cima da mesa e acendeu-o.

Aspirou fundo a fuma��a, enchendo os pulm��es.

��� Nunca fui muito boa em fugir. Talvez seja melhor eu voltar.

��� Como quiser.

Ela virou-se para ele.

��� Quer dizer que n��o tem import��ncia se eu morrer?

��� N��o vai morrer. Est�� esquecendo uma coisa muito impor-

tante. Eles precisam de voc��.

162

��� Para qu��?

Judd sorriu.

��� Para Brezhnev. Seu pr��ximo paciente.

Ela ficou calada.

��� Acha mesmo que por��o sua vida em risco porque simples-

mente estourou os miolos de um idiota de terceira classe, que por

acaso �� genro de um burocrata do Politburo? Andropov, no KGB,

n��o �� t��o est��pido assim. Se voc�� puder prolongar a vida de

Brezhnev, mesmo que seja por apenas mais dois anos, ele ter�� todo o

tempo de que precisa para consolidar sua posi����o e conquistar o

poder.

Sofia tornou a fit��-lo nos olhos.

��� Acredita mesmo nisso?

��� Posso garantir. A Crane Industries tem importantes conta-

tos no Politburo.

163





25


BRAS��LIA era uma cidade totalmente nova, t��o nova que seu

cora����o ainda n��o come��ara a bater. As ruas eram largas e limpas,

os pr��dios modernos, de concreto e vidro. Nem mesmo os

autom��veis, em grande parte movidos por um ��lcool et��lico

especial, acrescentavam polui����o ao c��u de um azul muito claro por

cima da cidade.

A reuni��o se realizou numa sala enorme, de paredes de vidro,

22 andares acima das ruas da cidade. Todos se sentaram em torno de

uma mesa oval de carvalho, em cadeiras confort��veis de encosto alto,

com um couro macio da mesma cor que a mesa.

Judd ficou diante do presidente da delega����o brasileira, separa-

dos por toda a largura da mesa. Merlin e Doc Sawyer o ladeavam. O

brasileiro, por sua vez, tamb��m estava flanqueado por dois homens.

Todos falavam em ingl��s, mas Judd percebeu um ligeiro sotaque

alem��o na voz do homem.

��� Se entendi corretamente, Dr. Schoenbrun, o Sr. Ludwig

investiu meio bilh��o de d��lares nesse projeto.

O Dr. Schoenbrun assentiu. Judd observou-o atentamente,

atrav��s da mesa.

��� E o que espera de mim?

O sotaque germ��nico do Sr. Schoenbrun tornou-se um pouco

mais acentuado quando ele disse:

��� Neste projeto, Sr. Crane, n��o esperamos nada seu.

Judd disfar��ou a surpresa permanecendo em sil��ncio, apesar de

v��rias coisas lhe ocorrerem prontamente.

��� Nossas negocia����es com Sr. Ludwig foram conclu��das. O

164

governo brasileiro assumir�� inteiramente o projeto. O Sr. Ludwig

concordou com uma parcela justa dos lucros e um empr��stimo a

longo prazo, a juros baixos, com o retorno do capital principal de

acordo com diversos fatores econ��micos, a serem definidos na

ocasi��o oportuna.

��� Meus parab��ns, Dr. Schoenbrun. Na minha opini��o, conse-

guiu uma importante contribui����o �� economia de seu pa��s.

��� Obrigado, Sr. Crane.

O Dr. Schoenbrun permitiu-se um ligeiro sorriso de orgulho.

Judd balan��ou a cabe��a.

��� Mas deve ter outra proposta a me apresentar. Caso contr��-

rio, por que me convidaria a vir at�� aqui?

��� Tem toda raz��o, Sr. Crane. Antes, no entanto, quero pedir

desculpas por engan��-lo quanto ao verdadeiro motivo. O mundo tem

muitos ouvidos e achamos que era de vital import��ncia manter as

nossas conversa����es em absoluto sigilo.

��� Concordo plenamente.

��� Quero falar sobre a Crane Pharmaceuticals. A ind��stria

farmac��utica �� um dos setores mais fracos de nossa economia. Devo

dizer sinceramente que j�� mantivemos diversos contatos. Primeiro,

com a Hoffman-La Roche. Mas eles decidiram continuar baseados na

Costa Rica. Depois, com a Bayer Chemical Weltgeschaft. Mas eles s��

entram nos produtos de consumo dom��stico e preferem manter a

parte mais pesada da ind��stria pr��xima da matriz.

Judd n��o desviava os olhos dele.

��� Du Pont? Monsanto?

��� Eles poderiam se interessar, mas estavam preocupados com

a politica de direitos humanos do Presidente C��rter. Acharam que

acabariam com mais problemas do que poderiam arcar.

��� E foi ent��o que a Crane apareceu, no fundo de sua lista? ���

indagou Judd, secamente.

��� Fisicamente, �� verdade ��� respondeu o Dr. Schoenbrun,

com absoluta franqueza. ��� Mas, na realidade, n��o foi bem assim.

Numa ��rea especialmente, sempre estivemos mais pr��ximos do que

quaisquer outros.

��� A que ��rea se refere?

O Dr. Schoenbrun fitou-o nos olhos, atrav��s da mesa.

��� Medicina nuclear.

Depois de um momento, Judd disse apenas uma palavra:

165

��� Alemanha.

O Dr. Schoenbrun assentiu.

��� Depois da guerra, muitos cientistas alem��es fugiram para

c��, como sabe perfeitamente. Nos termos da rendi����o, a Alemanha

n��o tinha condi����es de desenvolver uma ind��stria nuclear, para

qualquer prop��sito. O Brasil n��o tem tais proibi����es. Por isso, os

alem��es vieram para c��... muitos alem��es. "A Ind��stria Silenciosa", como a chamamos. Ningu��m fala a respeito, mas existe. Hoje,

dispomos de duas instala����es absolutamente modernas j�� em ope-

ra����o.

��� Todas dirigidas por alem��es.

��� N��o apenas alem��es ��� disse o Dr. Schoenbrun prontamen-

te. ��� Temos muitos americanos e franceses.

��� E j�� possuem a bomba?

��� N��o. Mas �� claro que poder��amos ter, se quis��ssemos.

��� Mais bombas nucleares n��o me atraem.

��� Nem a mim. ��� Schoenbrun fez uma pausa. ��� Mas temos

outra instala����o que pode interess��-lo.

��� E qual ��?

��� No plat�� de um vulc��o extinto, a 650 quil��metros ao norte

do projeto de Ludwig, constru��mos um gerador nuclear 300 metros

abaixo da cratera. Ludwig teve a id��ia de que poder��amos fornecer

toda a energia necess��ria ao seu projeto. Mas depois ele saiu fora e

ficamos sem dinheiro, em decorr��ncia da crise financeira. Est�� tudo

l��, abandonado, esperando que a selva cubra.

��� O que quer que eu fa��a com isso?

��� Pensei que poderia aproveitar para construir uma instala����o

de medicina nuclear. J�� investimos tr��s bilh��es de d��lares. Entrega-

remos tudo a voc�� por um bilh��o. Outros dois bilh��es lhe proporcio-

nar��o a mais moderna usina do mundo. E o mais importante: ��

profundamente secreta e inacess��vel a intrusos. �� por isso que

recebeu o nome de Xanadu.

��� E como poder��amos arrumar o pessoal para constru��-la e

oper��-la?

��� J�� resolvemos esse problema. H�� uma equipe completa ��

disposi����o.

Judd pensou por um momento.

��� Isso pode representar uma possibilidade para mim. Quando

posso ver as instala����es?

166

��� No momento que lhe for mais conveniente.

Judd levantou-se.

��� Ficarei em contato. Ele estendeu a m��o. ��� Obrigado, Dr.

Schoenbrun.

��� �� incr��vel ��� disse Judd a Doe Sawyer, enquanto Bridget lhe

entregava o copo com suco de laranja e a p��lula, que ele engoliu

prontamente. ��� Eles s�� querem tr��s bilh��es de d��lares.

��� Uma verdadeira pechincha ��� comentou Doc Sawyer,

sarcasticamente.

Judd soltou uma risada.

��� Faz o M��xico parecer um para��so de integridade em

compara����o. Todos eles querem simplesmente uma fatia no mercado

da corrup����o.

��� Posso presumir ent��o que n��o fechar�� o neg��cio com eles?

��� Claro que fecharei. Talvez n��o exatamente como querem,

mas o suficiente para lev��-los a uma sensa����o de seguran��a em

rela����o a n��s. ��� Judd sorriu ironicamente. ��� A fim de se negar, ��

preciso ��s vezes integrar.

Doe Sawyer pensou por um instante.

��� De onde acha que saiu todo o equipamento deles? Todas as

instru����es e placas na maquinaria est��o em ingl��s. Mas n��o pode ter

vindo dos Estados Unidos. C��rter n��o permitiria.

��� Aposto qualquer coisa como veio da Fran��a. ��� Percebendo

a incredulidade no rosto de Doe, Judd acrescentou: ��� N��o seja

ing��nuo. Apesar do acordo de n��o-prolifera����o entre Fran��a,

Estados Unidos e outras pot��ncias nucleares ocidentais, os franceses

sempre encontram uma sa��da quando h�� dinheiro a ganhar.

��� Nossos amigos... ��� murmurou Doe, em tom sarc��stico.

��� Com amigos assim, n��o se precisa de inimigos. ��� Judd

olhou pela janela e apertou o interfone para falar com o comandante.

��� Estamos perto do Rio?

��� Est�� aproximadamente a 260 milhas n��uticas atr��s de n��s,

Sr. Crane.

��� Pois vamos voltar. Pe��a autoriza����o para o pouso. Passare-

mos a noite l��. ��� Judd virou-se para Doe Sawyer. ��� Est�� na hora de

nos divertirmos um pouco.

��� Voc�� deveria se deitar ��s nove e meia.

��� Apenas por uma vez, Doc, esque��a que �� meu m��dico.

167

Estou ficando maluco com todos esses tratamentos. Al��m do mais, as

garotas de Ipanema s��o realmente tudo o que a can����o diz. Pode

fazer algum bem at�� mesmo a voc��.

O som de risos despertou Bridget. Ela olhou ao redor, na escurid��o

total de sua cabine. O rel��gio luminoso indicava tr��s e meia. Pela

janela, ela avistou tr��s ou quatro garotas deixando duas limusines,

estacionadas ao lado do avi��o. Elas riram, enquanto seguiam Judd e

Doc Sawyer para o elevador.

Bridget virou-se na cama. Olhou para a escurid��o; n��o ouviu

mais qualquer barulho. Sua cabine ficava no fundo do avi��o. Ela

fechou os olhos e esfor��ou-se ao m��ximo para voltar a dormir.

Fast Eddie j�� tinha 12 linhas compridas de coca��na na extremi-

dade espelhada da mesa. As garotas riram ainda mais alto enquanto

pegavam os canudos e aspiravam.

��� Isso �� uma loucura ��� disse ele. ��� Nunca fiz nada parecido

antes. Qual delas voc�� vai querer?

��� Todas elas. ��� Judd riu. ��� Neste momento, com a tes��o

que estou, sinto que posso foder a todas at�� n��o ag��entar mais.

Doc Sawyer interveio:

��� Espere um pouco. N��o se esque��a de que deve ser

cauteloso.

��� Serei cauteloso amanh��. Agora, sou como uma crian��a

numa loja de balas.

��� Por que voc�� n��o goza, Judd? ��� balbuciou S��lvia. ��� Sua pica

est�� t��o dura que me deixou a cona toda dolorida.

Duas outras garotas balan��aram a cabe��a em concord��ncia.

��� Eu tamb��m fiquei assim. Nunca senti um pau t��o duro em

toda a minha vida.

A outra acrescentou:

��� E n��o fica mole em nenhum momento. Est�� sempre duro

como um cano de a��o. Tudo o que posso sentir �� a dor... e o prazer

divino!

Judd olhou para a terceira garota.

��� E voc��, menina?

Ela hesitou por um momento.

��� Mesmo quando penso sentir sangue, a alegria �� extasiante!

Ele sentou entre as garotas.

168

��� Desculpem. N��o tinha a inten����o de machuc��-las. Talvez eu

tenha tomado coca��na demais.

��� Coca��na demais geralmente deixa mole ��� comentou S��lvia.

��� As drogas fazem coisas diferentes com pessoas diferentes.

��� Judd levantou-se e vestiu um roup��o. ��� Est�� ficando tarde.

Talvez seja melhor voc��s todas irem agora. E vamos torcer para que

na pr��xima vez seja melhor para todos n��s.

S��lvia observou-o.

��� Mas voc�� ainda est�� de pau duro. Achamos que assim o

estamos trapaceando.

��� Voc��s todas s��o lindas... e n��o me trapacearam. Adorei a

companhia de voc��s.

��� Voltaremos a nos encontrar em breve? ��� perguntou S��lvia.

��� Assim que eu puder.

As garotas se vestiram depressa. Judd apertou o bot��o para

chamar Fast Eddie.

��� Cuide delas.

Judd beijou cada uma das garotas no rosto ao deixarem seu

camarote.

��� N��o se esque��a, Judd ��� disse S��lvia. ��� Voc�� falou em

breve.

��� N��o esquecerei.

Ele se encaminhou para a porta do seu quarto, lentamente.

Pelo canto dos olhos, viu Fast Eddie entregar uma nota de mil

d��lares a cada garota. Fechou a porta e largou o roup��o no ch��o. A

ere����o estava ainda mais dura e come��ava a doer intensamente. Ele

entrou depressa no boxe e abriu o chuveiro, a ��gua fria como gelo.

169





26


D o c SAWYER entrou no sal��o de Judd. Fast Eddie limpava o bar.

��� O Sr. Crane est�� em seu quarto?

��� Est��, sim.

��� Acha que ainda est�� acordado?

��� Acabei de ouvi-lo fechar o chuveiro.

Doc Sawyer foi bater na porta do quarto.

��� Posso entrar?

A voz de Judd soou abafada:

��� Pode.

Sawyer abriu a porta. A princ��pio, mal podia divisar qualquer

coisa; as luzes estavam diminu��das ao m��ximo. Depois, seus olhos se

ajustaram �� semi-escurid��o.

Judd estava sentado na cama, os p��s no ch��o, o corpo

encurvado, as m��os comprimindo a virilha. A cabe��a estava abaixa-

da, o queixo encostando no peito.

��� A garota... ��� Doc Sawyer n��o continuou a frase. ��� O que

houve?

Judd levantou a cabe��a para fit��-lo.

��� N��o sei. ��� A voz era tensa, parecia vir de muito longe, n��o

do pr��prio Judd. ��� Acho que estou com algum problema grave.

Doc estendeu a m��o para o reostato na parede. A luz inundou o

quarto. Ele viu o rosto de Judd, p��lido e coberto de suor, tipicamente

provocado pela dor. Os olhos azuis estavam quase que totalmente

pretos. Rapidamente, Sawyer aproximou-se do vulto encurvado de

Judd. P��s a m��o em sua testa. Estava fria por baixo do suor.

170

��� Pode ficar de p��? ��� perguntou ele, sem fazer qualquer

men����o de ajudar.

��� Acho que sim.

Lentamente, Judd come��ou a se empertigar. P��s as m��os na

cama cuidadosamente e deu impulso para se levantar. Os l��bios

estavam brancos e comprimidos em agonia; as narinas tremiam

enquanto sugava o ar sofregamente; o suor continuava a cair em

gotas. Ele conseguiu se levantar parcialmente, mas depois teve de

parar.

��� N��o tente ent��o, Judd. Eu o ajudarei. ��� Doc Sawyer

passou o bra��o sob os ombros de Judd. ��� Vamos devagar at�� a cama.

N��o entre em p��nico. Vai ficar bom.

��� N��o estou em p��nico. ��� Judd soltou uma risada rouca. ���

N��o sabe que sou imortal?

Doc estendeu-o na cama. Chamou Fast Eddie pela porta

aberta.

��� Mande a enfermeira trazer minha maleta e tamb��m o estojo

de primeiros socorros. Fale tamb��m com a Dra. Ivancich para vir

imediatamente. E diga a Raoul para trazer o aparelho de oxig��nio

port��til.

��� Certo.

Fast Eddie n��o perdeu tempo. Doe Sawyer ajoelhou-se ao lado

da cama.

��� Fale-me da dor. Onde ��?

Judd fitou-o nos olhos.

��� Come��ou no pau, depois os colh��es pareceram virar pedra.

O pau estava t��o duro que parecia comprimir os colh��es por dentro

do meu rabo. A dor come��ou ent��o a se espalhar por dentro de mim.

Estendeu-se da virilha para os lados, como se os rins e a bexiga se

convertessem em pedra. Eu queria mijar, mas nada conseguiu passar.

Tive a sensa����o de que o pau se transformara em rocha s��lida, a

uretra e tudo o mais.

��� Muito bem. Tente relaxar. J�� vamos cuidar disso.

Judd fez uma careta.

��� Acho que a festinha, no final das contas, n��o foi uma id��ia

t��o boa assim.

��� �� poss��vel. Mas at�� que foi uma id��ia divertida. Voc��

apenas exagerou, mais nada.

171

��� Pronto, Doc Sawyer ��� disse Bridget, parada atr��s do

m��dico.

��� Prepare um soro intravenoso ��� ordenou ele. ��� Vinte

miligramas de valium, cinco cent��metros c��bicos de morfina, numa

solu����o salina de 30 minutos.

Ela acenou com a cabe��a e abriu o estojo de primeiros socorros.

Montou rapidamente o suporte de metal para o vidro de soro, depois

acrescentou o valium e a morfina �� solu����o. Prendeu finalmente o

tubo ao vidro, ajustou a agulha na extremidade, pendurou o vidro no

suporte.

��� Vai injetar, doutor?

��� Vou, sim. -Segure o bra��o.

Um instante depois, Doc Sawyer enfiou a agulha na veia de

Judd. Prontamente, a enfermeira p��s um esparadrapo por cima. Ela

olhou para Doc Sawyer.

��� O aparelho de oxig��nio j�� est�� aqui.

��� Respira����o pelas narinas. Come��aremos com dois litros por

minuto, durante uma hora.

��� Pois n��o, senhor.

Ele virou-se para sua maleta, enquanto Bridget ajeitava o

oxig��nio. Abriu-a e tirou o term��metro eletr��nico. Constatou que a

temperatura era baixa, 36,6. Os n��meros digitais revelaram que a

press��o era de 102 por 70.

Judd viu o registro. O soro intravenoso j�� come��ava a ter

efeito. Ele sorriu d��bilmente.

��� O que esperava, Doc? Provavelmente todo o meu sangue

ficou retido no pau.

��� Posso verificar isso tamb��m, se voc�� quiser. ��� Doe Sawyer

riu. ��� Provavelmente est�� grande o suficiente para caber tudo.

Judd olhou para Bridget.

��� Somente se ela o fizer.

A enfermeira n��o disse nada.

��� Aposto que nunca viu um pau assim ��� acrescentou Judd. ���

Mesmo com toda a sua experi��ncia naquele hospital.

��� N��o se gabe tanto ��� falou ela, com um ligeiro sotaque

irland��s. ��� Vi alguns t��o grandes que fariam o seu parecer o de um

beb��.

Sofia entrou no quarto.

172

��� Desculpem eu ter demorado tanto. N��o consegui me vestir

direito por causa da tip��ia. O que aconteceu?

��� Priapismo agudo ��� informou Doe Sawyer.

Ela olhou por cima do seu ombro para Judd, que lhe sorriu.

��� Uma coisa e tanto, n��o acha?

Sofia soltou uma risada.

��� Fant��stico. Fiquei apaixonada.

Judd virou o rosto para ca��oar de Bridget:

��� Pelo menos algumas pessoas me apreciam.

Bridget n��o sorriu.

��� Eu j�� esperava por isso.

��� Como est�� se sentindo agora? ��� perguntou Sawyer, numa

tentativa de aliviar o antagonismo entre as duas mulheres.

��� Melhor, Doc. E sinto agora que tenho de urinar.

��� Pegue um vidro, enfermeira ��� pediu Doc Sawyer.

��� Uma bolsa de gelo ajudar�� ��� disse Bridget.

��� Voc�� tem experi��ncia. Est�� certo.

Bridget deixou o quarto. Judd virou-se para Sofia.

��� O m��nimo que voc�� pode fazer �� beij��-lo um pouco.

��� Eu ficaria com medo. E acho que voc�� j�� est�� com

problemas suficientes.

Judd olhou para Doc Sawyer. O soro intravenoso fazia um

efeito cada vez maior.

��� Est�� vendo agora como os poderosos caem...

Estavam sentados em torno da mesa, na sala de Judd, quando

Bridget saiu do quarto, fechando a porta.

��� Ele est�� dormindo ��� informou ela.

��� Isso �� ��timo ��� disse Doc Sawyer. ��� Alguma mudan��a

vis��vel em seu estado?

��� M��nima. Ele conseguiu passar um pouco de ��gua. Mesmo

dormindo, no entanto, foi doloroso.

��� Falei com o urologista no hospital na Fl��rida. Ele achou que

poderia ajudar se pression��ssemos a pr��stata.

��� J�� tive v��rios pacientes no mesmo estado em Devon ��� disse

Bridget. ��� Nada pod��amos fazer at�� que a turgidez se atenuasse um

pouco, a fim de podermos induzir a ejacula����o. E isso, por sua vez,

reduzia a press��o o suficiente para ajudar o paciente a alcan��ar a

flacidez normal.

173

Doc Sawyer olhou para Sofia, no outro lado da mesa.

��� O que acha de aplicarmos uma inje����o de compezina?

Sofia assentiu.

��� Deve ajud��-lo a relaxar. E, se n��o tiver efeito, pelo menos

n��o far�� mal algum.

��� Quanto tempo do intravenoso ainda resta?

��� Cerca de 15 minutos ��� respondeu Bridget.

��� Muito bem ��� disse Doc Sawyer. ��� Aplicaremos a compezi-

na assim que o soro acabar.

��� Quer que ele continue com o oxig��nio, doutor?

��� Quero, sim.

��� Obrigada, doutor.

Bridget voltou ao camarote de Judd. Sofia olhou para Sawyer e

comentou:

��� Ela �� uma mo��a estranha. O que a teria levado a especiali-

zar-se como enfermeira de pau?

Sawyer sorriu.

��� Talvez ela tenha passado a mocidade nos bancos traseiros de

carros, tocando punhetas em rapazes..

Merlin tamb��m sorriu, mas Sofia n��o entendeu. Merlin olhou

para Doc Sawyer e perguntou:

��� O que quer que fa��amos agora? Ficamos aqui ou seguimos

para casa?

��� Seguimos para casa. Eu me sentirei melhor quando o

entregarmos aos cuidados de especialistas.

��� Isso cria outro problema ��� disse Merlin. ��� Que envolve a

Dra. Ivancich.

��� Como assim? ��� perguntou Sofia.

��� A Seguran��a informou um s��bito fluxo de cubanos para a

nossa ��rea. S��o estranhos que ainda n��o pudemos identificar. S��

podemos presumir que est��o �� sua procura.

��� Era o que eu receava ��� murmurou Sofia. ��� J�� tinha falado

a respeito com Judd.

��� Sei disso. Judd me pedira para providenciar outro plano de

v��o para voc��.

��� E cuidou disso?

Merlin acenou com a cabe��a afirmativamente.

��� Claro. Novos documentos de identidade, passaporte, tudo

enfim. Viajar�� como a esposa de um dos agentes de seguran��a que se

174

encontram neste avi��o no momento. Seguir�� daqui pela Varig at��

Dallas, de onde viajar�� para Washington pela American Airlines.

Possu��mos um hospital particular nos arredores da cidade. Ser��

registrada l�� com um terceiro nome. Judd a encontrar�� na pr��xima

semana, quando for a Washington para a posse.

Sofia hesitou por um instante.

��� N��o tenho op����o, n��o �� mesmo?

��� N��o se quer continuar viva.

Ela balan��ou a cabe��a, lentamente.

��� Posso supor que providenciar��o o aborto nessa ocasi��o?

��� Correto.

Ela umedeceu os l��bios, subitamente ressequidos.

��� N��o h�� qualquer possibilidade de Judd me abandonar

agora?

��� Se ele quisesse abandon��-la, n��o a teria tirado do M��xico ���

respondeu Doc Sawyer. ��� Mas n��o �� assim que ele costuma jogar.

175





27


��� �� MICROCIRURGIA por laser ��� comentou o urologista, Dr.

Orrin. ��� A t��cnica �� adaptada do transplante de retina, s�� que

muito mais avan��ada, na mesma propor����o que o ��nibus espacial

Columbia em rela����o ao avi��o dos Irm��os Wright em Kitty Hawk.

Judd fitou-o nos olhos.

��� J�� foi testada antes?

��� N��o em seres humanos, nem mesmo em animais. Esta foi

desenvolvida especialmente para voc��. Mas foi conferida v��rias vezes

pelo computador. N��o h�� possibilidade de erro.

Judd ficou em sil��ncio por um momento e depois virou-se para

Doc Sawyer.

��� O que acha?

��� Tenho pensado muito a respeito e tamb��m conversei pelo

telefone com a Dra. Zabiski, na Iugosl��via. Ambos concordamos que

�� perfeitamente exeq����vel e n��o haveria resultados perniciosos ao

nosso outro programa.

��� Ainda tenho minhas d��vidas...

Doc Sawyer soltou uma risada.

��� Voc�� �� estranho. Arriscou a vida com todas as experi��ncias

perigosas que realizamos. Qualquer uma delas poderia mat��-lo, mas

agora voc�� hesita. Come��o a pensar que considera seu pau mais

importante do que a pr��pria vida.

Judd virou-se de novo para o urologista.

��� Qual �� a op����o alternativa?

��� Somente o m��todo antigo. Cortamos a veia que abastece de

sangue as capilares do p��nis. O problema acaba, de uma vez por

176

todas. Mas �� claro que voc�� fica impotente pelo resto da vida e o

estado n��o pode ser revertido. �� seu pau e sua op����o.

Judd olhou para o microaparelho, que era apenas um pouco

maior que uma cabe��a de alfinete.

��� Isto �� tudo? Nunca precisar�� ser trocado? N��o h�� bateria

para substituir?

O Dr. Orrin assentiu.

��� Isto �� tudo. A energia �� fornecida pela eletricidade de seu

pr��prio sistema nervoso. O microaparelho �� feito de tit��nio, com

uma toler��ncia total do organismo. Substitui as fun����es f��sicas da

pequena parte do nervo danificada pelo tratamento nuclear. E, o que

talvez seja ainda mais importante, durar�� para sempre.

��� E poderei ent��o ter um desempenho como se fosse normal?

��� N��o como se. Voc�� ser�� absolutamente normal. Estamos

simplesmente transplantando um nervo de fabrica����o artificial para

substituir o seu. Ere����o normal, orgasmo e ejacula����o normais,

retorno de sangue �� flacidez absolutamente normal.

��� E quanto tempo depois terei de esperar por outra ere����o?

O Dr. Orrin riu.

��� Depender�� de voc��. N��o posso prever como e com quem vai

trepar.

Judd tamb��m riu.

��� Quanto tempo demora tudo?

��� A opera����o f��sica leva sete minutos, somente porque temos

de chegar perto da pr��stata. Dever�� estar completamente restabele-

cido e pronto para entrar em a����o num prazo de 24 a 36 horas.

Judd olhou de Doc Sawyer para o urologista.

��� Ent��o ser�� amanh�� de manh��. ��� Ele esperou que o

urologista deixasse o quarto e depois acrescentou para Sawyer. ���

N��o �� ir��nico que a primeira parte do meu corpo a alcan��ar a

imortalidade seja o pau?

��� Harlem! ��� Fast Eddie apontou pela janela do helic��ptero que os

levava do Aeroporto de Newark para Nova York. ��� Harlem!

Estamos em casa!

Judd riu. Sentia-se muito bem. E a opera����o fora efetuada

apenas tr��s dias antes. O m��dico estava certo. N��o havia dor.

��� Posso ver o Empire State Building ��� disse Bridget,

177

excitada. ��� N��o posso acreditar que seja de verdade e n��o apenas

um filme.

��� Nunca esteve antes em Nova York? ��� perguntou Judd.

��� Nunca.

��� Ter�� tempo suficiente para conhecer a cidade. Passaremos

dois dias aqui antes da viagem a Washington para a posse de Reagan.

��� Posso tamb��m tirar dois dias de folga, chefe? ��� perguntou

Fast Eddie. ��� Gostaria de visitar meu velho av�� e procurar alguns

amigos antigos.

��� Claro que pode. ��� Judd virou-se para Bridget. ��� Voc��

tamb��m tem dois dias de folga.

��� Tem certeza de que n��o vai precisar de mim?

��� Para qu��? ��� Judd sorriu. ��� Estou curado. E �� muito

melhor assim.

Merlin disse, do outro lado do corredor:

��� N��o se esque��a de que deveremos estar no escrit��rio dentro

de uma hora.

��� E estaremos l�� ��� disse Judd. ��� Fast Eddie levar�� Bridget

para o apartamento na segunda limusine:

O tr��fego de Nova York, como sempre, estava terr��vel.

Embora o escrit��rio ficasse a apenas 30 quarteir��es do heliporto, a

limusine levou 35 minutos para conseguir chegar.

A reuni��o estava marcada para 11 horas e ainda faltavam 15

minutos quando Judd entrou no escrit��rio, o mesmo que seu pai

ocupara. Ele fechou a porta da sala e olhou para o retrato do pai. Em

sua mente, ouviu a voz do pai.

��� Ol��, filho.

Suavemente, ele murmurou uma resposta:

��� Ol��, pai. Como est�� vendo, nada mudou. Exatamente como

desejava.

Nada mudou... As palavras ecoaram em sua mente. Mas ele

teve a impress��o de ouvir a voz do pai. Ao mesmo tempo, tudo





mudou.


Judd ficou de p��, im��vel, olhando para o retrato.

O eco continuou: Mas �� assim que deve ser, filho. �� um mundo

novo l�� fora, o seu mundo.

��� �� o seu mundo tamb��m, pai ��� sussurrou ele. ��� Ambos o

fizemos. Sem voc��, nunca teria acontecido.

O eco desapareceu. Judd foi para tr��s da escrivaninha e

178

contemplou a cidade das janelas. Virou-se um instante depois e

sentou. A cadeira antiquada e confort��vel, estofada em couro,

encosto alto, rangeu ao peso de seu corpo. Isso tamb��m pertencera a

seu pai. Lentamente, ele pegou o telefone e apertou o bot��o da

secret��ria.

��� Crane falando. Pe��o desculpas por n��o saber seu nome.

��� N��o h�� necessidade de desculpas, Sr. Crane.

A voz era incisiva, eficiente e totalmente familiar.

��� M��e!

Judd riu ao telefone.

��� Aqui �� um escrit��rio, Sr. Crane, n��o se tolera qualquer

familiaridade ��� disse ela, em tom pomposo. ��� Mas pode me chamar

de Barbara, se desejar.

Ele deixou o fone na mesa e atravessou a sala, abrindo a porta e

surpreendendo-a ainda com o aparelho na m��o.

��� Barbara! ��� exclamou Judd, levantando-a e abra��ando-a.

Ela riu enquanto era beijada.

��� Judd!

Ele levou-a para sua sala, murmurando:

��� Por um momento, eu me senti outra vez como um garo-

tinho.

Ele ocupou a cabeceira da pequena mesa de reuni��o, como seu pai

fazia. Barbara sentou-se �� sua direita, Tio Paul �� esquerda. Merlin

ficou ao lado de Barbara e dois advogados de aspecto pomposo

depois de Tio Paul; uma secret��ria com uma m��quina de estenografia

completava o grupo.

��� Est�� parecendo cada vez mais com Burl Ives ��� comentou

Judd para Tio Paul, sorrindo. ��� Por que n��o apara a barba e corta os

cachos que caem atr��s da cabe��a, ao inv��s de parecer um hippie

envelhecido?

��� Gosto assim. E j�� que estamos falando em coisas pessoais,

por que n��o se lembra de suas boas maneiras? Seu pai sempre

providenciava uma garrafa de Glenmarangie na mesa �� minha frente.

Judd tornou a sorrir, pegou uma garrafa no ch��o e colocou-a na

frente de Paul, junto com um copo antiquado.

��� N��o �� de admirar que n��o possamos mant��-lo afastado.

Ficar��amos engasgados com o maior suprimento de Glenmarangie do

mundo. Est�� melhor agora?

179

��� Muito melhor. ��� Tio Paul abriu a garrafa, derramou algum

u��sque no copo e tomou tudo. ��� Agora, j�� podemos falar de

neg��cios.

��� Estou escutando ��� disse Judd.

��� A hist��ria do South & Western nos cobriu de merda. Soube

por fontes fidedignas que o Comit�� Banc��rio da C��mara cair�� em

cima de mim com toda for��a, assim que terminar a posse e o

Congresso entrar em sess��o. J�� est��o preparando intima����es para

voc�� e todos os diretores, atuais e antigos, para comparecerem a uma

audi��ncia especial.

��� Era de se esperar ��� comentou Judd. ��� Mas n��o h�� nada

que possam nos fazer. O fato �� que chamamos o governo para

investigar o caso.

��� A verdade n��o tem a menor import��ncia nesta hist��ria. A

quest��o �� pol��tica e a pol��tica viceja com manchetes. A verdade fica

sepultada no fundo da ��ltima p��gina.

��� O que sugere?

��� Temos amigos. Vamos us��-los. Este �� o momento, para as

pessoas se levantarem e serem contadas.

��� Est�� certo ��� disse Judd. ��� Pode entrar em a����o.

��� Custar�� muito dinheiro.

��� �� para isso que dinheiro serve. ��� Judd fez uma pausa. ���

Quais s��o as outras boas not��cias que tem para mim?

Paul serviu-se de outra dose de u��sque.

��� N��o s��o not��cias nem boas nem m��s. ��� Ele esvaziou o

copo. ��� Voc�� estava certo. O Brasil obteve seu equipamento nuclear

de um dos nossos amigos nucleares. Sabemos tamb��m que a equipe

de transi����o presidencial est�� cagando e andando para isso. Os

militares sentem-se completamente seguros com o Brasil. Acham que

o pa��s ficar�� totalmente do nosso lado contra os sovi��ticos.

��� Isso me convence. Faremos o neg��cio com o Brasil.

��� E o M��xico, Judd?

��� Faremos esse neg��cio tamb��m. Mas de outra maneira. A

Am��rica Central ser�� convertida num mercado separado.

��� Faz sentido. S�� mais uma coisa e poderemos encerrar a

reuni��o.

��� O que ��?

��� A Ilha Crane para um investimento de 40 milh��es de d��lares

�� uma loucura total. Sou completa e irremediavelmente contra.

180

Especialmente porque nos diz que �� apenas um est��gio at�� que

Xanadu esteja pronta. Que diferen��a faz se esperamos mais um ou

dois anos? Nunca recuperar�� o dinheiro.

��� O tempo �� importante, n��o o dinheiro. Seguiremos com o

projeto na Ilha Crane. ��� Judd correu os olhos pela mesa. ��� Mais

alguma coisa?

��� Nada de maior import��ncia ��� respondeu Paul. ��� Apenas a

informa����o de que os russos concordaram com sua sugest��o em

rela����o �� m��dica iugoslava e expressam seus agradecimentos.

��� A reuni��o est�� encerrada. ��� Judd levantou-se e contornou

a mesa para dar um beijo no rosto de Tio Paul. ��� Obrigado.

��� �� uma maneira meio maluca de encerrar uma reuni��o,

Judd. Al��m do mais, ainda nem terminei a garrafa de u��sque.

��� Eu deixarei que a leve para casa numa sacola de sobras para

o cachorro, Tio Paul.

181





28


P A U L LEVOU-OS para almo��ar em sua mesa habitual, �� beira da

��gua, no restaurante The Four Seasons. Barbara e Judd sentaram-

se nas cadeiras de dentro, junto da ��gua borbulhando suavemente.

Jim, o marido de Barbara, sentou-se ao lado dela, enquanto Paul

ficava depois de Judd. Sem dizer nada, um gar��om p��s uma dose

dupla de scotch com gelo diante de Paul.

��� A n��s! ��� disse ele, tomando um gole.

S�� depois �� que ele perguntou o que os outros gostariam de

beber. Mas Paul Kovi e Tom Margittai apareceram com uma garrafa

gelada de champanha rose, Cristale 75, antes que tivessem a

oportunidade de pedir qualquer coisa.

��� O predileto de madame ��� disse Paul, inclinando-se gentil-

mente e beijando a m��o de Barbara.

��� Voc�� se lembrou. ��� Barbara sorriu. ��� Muito atencioso de

sua parte. Obrigada.

��� Quase n��o a vemos mais ��� disse Tom, virando-se em

seguida para Judd. ��� Nem voc��, meu rapaz.

��� Quase n��o venho mais �� cidade ��� respondeu Judd. ���

Preciso trabalhar para viver.

��� Eu compreendo ��� murmurou Tom, sem muita convic����o.

Paul olhou para Judd.

��� N��o sei como consegue, mas parece mais jovem agora do

que na ��ltima ocasi��o em que o vi, h�� tr��s anos. Qual �� o seu

segredo?

Judd riu.

��� Deitar cedo, levantar cedo... conhece o velho ditado.

182

Os dois restaurateurs sorriram, tornaram a fazer uma mesura e depois se afastaram, enquanto Oreste convertia numa cerim��nia a

abertura do champanha. Judd provou e acenou com a cabe��a em

aprova����o. Oreste encheu as tulipas finas.

��� Bon app��tit ��� murmurou ele, afastando-se em seguida.

Judd levantou seu copo.

��� A todos voc��s.

��� E a voc�� ��� disse Barbara, afetuosamente.

Paul olhou para ele.

��� Apesar de todos os nossos problemas, a m��quina continua a

funcionar. Somando tudo, a Funda����o Crane, os fundos de investi-

mentos, seus bens pessoais, teremos ao final deste ano fiscal mais de

500 bilh��es de d��lares.

��� S��o apenas n��meros ��� disse Judd. ��� N��o h�� tanto dinheiro

assim no mundo. ��� E se existe, ent��o n��o h�� motivo para se queixar

do investimento da Ilha Crane.

Paul gesticulou, pedindo outro scotch duplo.

��� Provavelmente est�� certo, Judd. Apesar das minhas d��vidas

pessimistas normais, voc�� sempre parece estar certo ao final.

��� Obrigado, Tio Paul. Nunca pensei que o ouviria algum dia

dizer isso.

Um dos atendentes de uniforme cinza aproximou-se com um

telefone.

��� Liga����o para o senhor, Sr. Crane.

A um aceno de Judd, ele ligou o fio numa tomada escondida na

��rvore por tr��s da cadeira de Judd. Tateando os bolsos, Judd

descobriu que se achavam vazios.

��� Tio Paul, cuide dele por mim.

Paul resmungou, entregando uma nota de cinco d��lares ao

rapaz.

��� Sei agora como voc�� conseguiu ganhar tanto dinheiro.

Judd disse ao telefone:

��� Crane falando.

��� Ol��, Judd ��� disse a voz familiar da Dra. Zabiski. ��� Merlin

informou-me onde poderia encontr��-lo.

��� Onde voc�� est��?

��� No aeroporto JFK. �� muito importante que nos encontre-

mos o mais depressa poss��vel.

��� Qual �� o seu terminal?

183

��� Pan American.

��� Espere a��. Estarei pegando-a dentro de 30 minutos. ��� Judd

levantou-se enquanto desligava. ��� Ter��o de me desculpar, mas n��o

poderei almo��ar com voc��s. Algo muito especial acaba de acontecer.

Todos sabiam que era melhor n��o lhe perguntar do que se

tratava.

��� Vamos v��-lo ao jantar? ��� perguntou Barbara.

��� N��o sei. Eu telefonarei.

Judd acenou para todos e afastou-se. Seu motorista j�� esperava

na limusine, estacionada na Park Avenue.

��� Pan Am no JFK ��� disse Judd. ��� O mais depressa que

puder chegar l��.

A limusine alcan��ou a rampa de chegada em 23 minutos. Judd saltou

e entrou correndo no pr��dio. Ela o esperava logo depois da porta.

Havia duas valises ao seu lado. Judd beijou-a nas faces, pegou as

valises e levou-a para o carro. O motorista abriu a porta e pegou as

valises para guard��-las na mala do carro.

��� N��o, por favor ��� disse a Dra. Zabiski. ��� Prefiro lev��-las

comigo.

��� Pois n��o, madame. ��� O motorista p��s as valises no ch��o do

carro, diante deles. Deu a volta e sentou-se ao volante, virando-se

para tr��s. ��� Para onde, senhor?

��� O apartamento da Quinta Avenida ��� respondeu Judd.

��� Talvez n��o tenhamos tempo ��� disse a Dra. Zabiski. ���

Estou encarregada de pegar Sofia e lev��-la comigo para Moscou, no

v��o da Aeroflot desta noite.

��� Ent��o leve-nos ao port��o de avi��es particulares em La

Guardia ��� ordenou Judd ao motorista.

Ele apertou o bot��o da divis��ria que os isolava do motorista.

Virou-se para a Dra. Zabiski.

��� Podemos conversar agora. N��o h�� microfones ocultos aqui,

ningu��m pode nos escutar.

Ela pegou um cigarro e acendeu-o, nervosamente.

��� H�� muitas coisas que preciso lhe dizer. Nem sei por onde

come��ar.

��� Pois conte uma coisa de cada vez.

Os olhos amarelos-acastanhados da Dra. Zabiski assumiram

uma express��o comovida.

184

��� Tenho c��ncer. Resta-me no m��ximo dois meses de vida.

Provavelmente menos.

Os olhos azuis-escuros de Judd esquadrinharam os dela.

��� �� irremedi��vel?

��� Absolutamente. ��� O tom era impass��vel, profissional. ��� J��

sei h�� algum tempo. Agora, o tempo se escoa depressa.

��� Sinto muito.

��� N��o precisa. Tive uma boa vida. Sei que pensava que eu

ainda estava na casa dos 60 anos. ��� Os olhos tornaram a se fixar nos

de Judd. ��� Mas, na verdade, estou com 72 anos.

Judd ficou calado. Ela deu uma tragada no cigarro.

��� O assunto seguinte. Meu trabalho e pesquisas. N��o quero

que tudo caia nas m��os dos russos. Deixei a maior parte nos meus

arquivos, a fim de que eles pensem que est�� tudo l��.

A Dra. Zabiski apontou para as valises.

��� O trabalho completo se encontra nestas valises. Grava����es,

microfilmes e anota����es. Talvez falte umas poucas coisas. Est�� tudo

em meu c��digo pessoal, amador��stico, mas tenho certeza de que seus

computadores decifrar��o com a maior facilidade. Tudo o que pe��o ��

que guarde com todo cuidado e use sabiamente... n��o exclusivamen-

te para prop��sitos ego��sticos, mas em benef��cio da humanidade.

Judd acenou com a cabe��a.

��� D��-me licen��a por um instante.

Ele pegou o telefone e bateu dois n��meros. Uma voz atendeu:

��� Crane Aviation.

��� Aqui �� Judd Crane. Estarei a�� dentro de 12 minutos

aproximadamente. Quero o jato Falcon. Com autoriza����o para

pousar no Campo Langley, em Washington. Dois passageiros na ida,

tr��s na volta.

��� Pois n��o, Sr. Crane.

Judd desligou e tornou a se virar para a Dra. Zabiski.

��� N��o ligarei antes para Sofia. Prefiro n��o correr o risco de

algu��m interceptar o telefonema.

��� Eu compreendo. ��� A Dra. Zabiski apagou o cigarro. ���

N��o sei como voc�� conseguiu, mas os russos cancelaram tudo o que

tinham contra ela. Tenho ordens para lev��-la pessoalmente a

Brezhnev.

��� O que acontecer�� com Sofia depois que ele morrer?

��� N��o sei. S�� espero que ela se conven��a de que conhece

185

bastante o meu trabalho para continu��-lo. Preferia que ela voltasse

para trabalhar com voc��, mas n��o temos controle sobre isso.

��� Voc�� voltar�� depois �� Iugosl��via?

��� N��o. Ficarei internada no hospital Maxim Gorki, em

Moscou.

��� E n��o poderei v��-la?

��� Creio que n��o.

Judd ficou calado por um instante.

��� Merda. Sentirei saudade de voc��.

��� Tamb��m sentirei saudade, Judd Crane. Jamais conheci

outro homem como voc��.

Ela p��s a m��o na dele. A sua era macia, pequena e fr��gil.

��� As velhas tamb��m se apaixonam, Judd.

Ele levou a m��o �� boca.

��� O que as mant��m eternamente lindas.

Havia outra limusine esperando no Campo Langley, assim como dois

agentes de seguran��a. Um deles ocupou o volante. Depois de

embarcarem, os seguran��as no banco da frente, Judd pegou o

telefone e ligou para a cl��nica. A mesa telef��nica o p��s em contato

com Sofia quase que no mesmo instante. Ele n��o anunciou seu nome

nem a chamou pelo dela.

��� Estou a 30 minutos da cl��nica. N��o fa��a as malas nem

qualquer coisa. Apenas ponha um casaco e saia como se fosse dar um

passeio. H�� um centro comercial a duas ruas da cl��nica, na esquina da

Langley com Arlington. Tem uma drogaria nessa esquina. Entre e

sente-se no balc��o de sorveteria, perto da vitrine, a fim de poder

observar a rua. Espere at�� eu entrar para peg��-la. Entendido?

��� Perfeitamente.

A liga����o foi cortada. Judd entrou na drogaria menos de meia

hora depois. Ela estava sentada ao balc��o. Judd sentou-se ao seu

lado.

��� A Dra. Zabiski espera no carro.

��� Acho que estou sendo seguida.

��� Onde?

��� Ali, parado na entrada da loja de presentes no outro lado.

Um homem corpulento, de casaco escuro. Acho que j�� o vi algumas

vezes na cl��nica.

186

Judd assentiu. Aproximou do ouvido o pequeno bot��o em sua

m��o.

��� Ouviu isso? ��� Ele esperou por um instante. ��� ��timo. Tire-

o do caminho.

Ele saiu do banco e jogou uma nota de cinco d��lares no balc��o.

A limusine se adiantou no instante em que se encaminharam para a

salda. Parou e a porta se abriu subitamente. Judd empurrou Sofia ��

sua frente. Ela entrou no carro quase voando, Judd logo atr��s,

puxando a porta. Ele empurrou-a para baixo no assento e levantou-se

o suficiente para olhar pela janela, enquanto o carro se afastava.

Viu o homem corpulento ca��do entre a vitrine da loja e a

cal��ada. O seguran��a j�� desaparecera. E logo a limusine deixou o

estacionamento, seguindo a toda velocidade para o aeroporto.

Estavam parados no sal��o de passageiros da Aeroflot, no terminal da

Pan Am. A luz vermelha na placa de embarque de passageiros

piscava. Judd virou-se para a pequena m��dica. Ficou im��vel por um

instante, depois beijou-a tr��s vezes. As duas primeiras nas faces e por

fim nos l��bios.

��� Voc�� �� a maior mulher que j�� conheci.

��� Boa sorte, Judd Crane. E que todos os seus sonhos se

convertam em realidade.

Ela virou-se para a porta e afastou-se. Judd observou-a at�� que

desaparecesse. Virou-se em seguida para Sofia. Ela fitou-o, os l��bios

tr��mulos, l��grimas se formando nos cantos dos olhos.

��� Sinto muito, Judd. Eu queria seu filho.

��� �� melhor assim.

Ela sacudiu a cabe��a.

��� N��o sei...

Judd n��o disse nada. Ela respirou fundo.

��� Algum dia tornarei a v��-lo?

��� Espero que sim.

��� Fala s��rio?

��� Claro. Voc�� representa algo muito especial para mim.

Espero realmente que possamos tornar a nos encontrar algum dia.

Ela abra��ou-o e beijou-o.

��� Eu o amo, Judd Crane. A minha maneira peculiar, eu o amo

muito.

187

Sofia virou-se e correu para a porta. Judd observou-a at�� que

sumiu; depois saiu do terminal e voltou ao carro. O motorista abriu-

lhe a porta.

��� A mo��a pediu que lhe entregasse isto, Sr. Crane ��� disse

ele, estendendo um pequeno bilhete dobrado.

Judd pegou o bilhete e sentou-se no carro. A limusine afastou-

se do meio-fio. Ele abriu o bilhete e leu rapidamente:

Para Judd:

Lembre-se.

A vida �� para viver.

A imortalidade, para a hist��ria.

Amor, Sofia

188



LIVRO DOIS





A DESCOBERTA


1983-1984





1

Os RAIOS refletidos pelos espelhos solares formavam uma coluna

radiante a se projetar para o c��u azul-claro.

��� Ali est��. ��� Doe Sawyer apontou pela janela do helic��p-

tero. ��� Ilha Crane.

Sofia contraiu os olhos, p��s os ��culos escuros.

��� �� bem grande ��� disse ela. ��� Maior do que eu pensava.

Sawyer assentiu.

��� A ilha tem 19 quil��metros de comprimento e 13 quil��metros

de largura perto do centro. O ambiente tempor��rio de Judd, como

ele o chama... n��o gosta de chamar de lar... �� um domo geod��sico,

constru��do inteiramente de espelhos solares com c��lulas de energia.

Tem meio quil��metro de di��metro, tr��s andares acima da superf��cie e

dois abaixo.

��� E ele planeja viver a��?

Sawyer tornou a assentir.

��� N��o por muito tempo, mas j�� tem nove meses que ele est��

a��. E, ao que eu saiba, n��o deixou a ilha uma s�� vez.

Sofia acendeu um cigarro, deixou a fuma��a sair pelas narinas e

murmurou, pensativa:

��� Alcatraz.

Sawyer fitou-a com uma express��o inquisitiva.

��� N��o �� a ilha em que voc��s, americanos, metiam seus presos,

a fim de que n��o pudessem escapar? Como a Ilha do Diabo era para

os franceses?

��� Eu n��o tinha pensado nisso.

��� Posso supor que a id��ia foi de Zabiski?

191

��� Come��ou assim. Mas acho que nem mesmo ela podia prever

a extens��o em que se transformaria numa realidade.

Sofia sacudiu a cabe��a.

��� A velha era louca. E, ao final, ficou ainda mais louca.

Visitei-a no dia em que morreu. Ela me olhou e disse: "Ele viver��

para sempre. Dei-lhe todo o conhecimento de que precisa." Pergun-

tei: "Que conhecimento, doutora?" E ela respondeu: "Tudo. Mas ele precisa fazer a montagem. Est�� fragmentado. Eu n��o pude reuni-lo. Mas ele tem agora os instrumentos. Computadores. Pensam um

milh��o de anos num segundo. Toda a minha vida n��o foi suficiente

para pensar tanto. Mas Judd tem os instrumentos. Ele alcan��ar�� o

sucesso, onde eu n��o fui capaz. Voc�� ver��!"

Sofia fez uma pausa, olhando pela janela do helic��ptero.

��� Perguntei: "Mas por que n��o partilhou seu conhecimento

com o mundo? Por que apenas ele?" Ela me olhou em sil��ncio por

um momento e depois disse: "Porque eu o amava. E ele �� o ��nico

homem a quem eu confiaria esse conhecimento. O mundo o usaria

por poder e ganho. Ele j�� tem tudo o que quer. Tudo o que precisa e

de tempo." Depois, ela fechou os olhos e dormiu.

��� Falou com ela de novo?

��� N��o. Tinha de voltar ao meu trabalho. O primeiro-ministro

estava partindo numa viagem e eu precisava acompanh��-lo. Soube

que ela morreu naquela noite.

��� Foi por isso que telefonou para Judd naquela noite?

Uma express��o perplexa se estampou no rosto de Sofia.

��� A ��nica pessoa a quem contei foi o primeiro-ministro. N��o

falei mais com Judd desde que nos despedimos no aeroporto em

Nova York. E isso foi h�� mais de tr��s anos.

��� Mas algu��m contou a ele.

��� N��o sei quem foi. Mas Judd me disse uma vez que tinha

liga����es importantes dentro do pr��prio Politburo.

��� Isso n��o me surpreende. Judd possui uma rede de liga����es

no mundo inteiro.

��� Acredito piamente. ��� Soou uma buzina e se acenderam os

avisos para n��o fumar e apertar os cintos. Sofia apagou o cigarro. ���

Eu estava em Bangladesh quando recebi seu recado.

��� Ficou surpresa?

Ela assentiu.

192

��� Pensei que Andropov e o pessoal do KGB fossem os ��nicos

que soubessem para onde fui depois que Brezhnev morreu.

��� Acha que eles j�� sabem que voc�� veio para c��?

��� Provavelmente. Acho que eles sabem de tudo o que eu fa��o.

��� Mas n��o a impediram de vir?

��� N��o. Mas entrar��o em contato quando me quiserem... ou

precisarem de mim.

A voz do piloto do helic��ptero saiu pelo alto-falante;

��� Estamos pousando no Heliporto Norte. Fast Eddie os

receber��.

Sofia sorriu.

��� Fast Eddie... Terei o maior prazer em rev��-lo.

��� A Corrente do Golfo passa a cerca de 15 quil��metros a leste da

ilha ��� disse Fast Eddie, ao volante do Land Rover com ar-

condicionado. ��� Mesmo no inverno, a ��gua est�� sempre quente. ��

pequena tribo de ��ndios semin��les que vivia aqui chamava-a de "Rio

Sagrado".

��� Muito interessante... ��� murmurou Sofia, ca��oando. ���

Como voc�� a chama?

Fast Eddie sorriu.

��� Um p�� no saco.

Sofia olhou pela estrada estreita.

��� N��o gosta daqui?

��� N��o.

��� E o que o Sr. Crane acha?

Fast Eddie olhou para ela.

��� Ele n��o diz. Portanto, n��o sei.

��� Ele ficou mesmo aqui por nove meses sem nunca sair?

��� At�� onde sei, �� isso mesmo. Mas n��o posso afirmar, pois

tiro uma semana de folga a cada m��s.

O carro entrou num caminho diante de uma casa pequena. Fast

Eddie parou e apontou.

��� A sua casa. H�� 12 chal��s de h��spedes na ilha.

Sofia n��o disse nada por um instante.

��� Tenho a sensa����o s��bita de que estou precisando de uma

cheirada. J�� faz muito tempo.

Ele fitou-a nos olhos.

��� Sei o que est�� querendo.

193

Fast Eddie tirou o frasco da corrente de ouro. Tirou a tampa e

entregou-o a Sofia, junto com a colher.

As m��os de Sofia tremiam ligeiramente, depois se firmaram

quando ela aspirou a coca��na. Duas vezes em cada narina. Ela olhou

para Fast Eddie.

��� Ajudou muito.

��� Isso �� ��timo ��� disse ele, pegando de volta o frasco e a

colher.

��� Estou com medo.

Fast Eddie n��o disse nada.

��� Ele mudou?

��� Ainda gosta de coca. ��� Fast Eddie sorriu. ��� Portanto,

acho que n��o mudou completamente. ��� Ele saiu do carro e deu a

volta para abrir-lhe a porta. ��� Vamos. Eu lhe mostrarei sua casa.

A porta da frente abriu quando se aproximaram. Um negro de

casaco branco segurou a porta para que passassem. Ao seu lado

estava uma negra atraente, usando blusa e saia cinzentas, por baixo

de um avental branco impec��vel.

��� Este �� Max, seu empregado, e a mulher, Mae, cozinheira e

arrumadeira. ��� Fast Eddie virou-se para o casal. ��� A h��spede que

devem cuidar, Dra. Ivancich.

��� Como vai? ��� disse o casal, quase em un��ssono. ��� Seja

bem-vinda.

��� Obrigada.

Sofia correu os olhos pelo vest��bulo. Havia uma sala de estar

grande num dos lados, uma sala de jantar no outro. Uma escada

levava aos quartos no segundo andar. Fast Eddie virou-se para ela.

��� Eles cuidar��o de voc��. Qualquer coisa que quiser, �� s��

pedir. ��� Ele sorriu. ��� A neve est�� na gaveta do meio de sua

c��moda.

��� Voc�� pensou em tudo.

��� N��o eu... o Sr. Crane. O jantar ser�� ��s nove horas. Traje

informal. Max a levar�� de carro.

��� Haver�� outros convidados?

��� N��o. Apenas o Sr. Crane e voc��.

��� E o Dr. Sawyer?

��� Ele voltar�� ao continente por volta das seis horas.

Sofia olhou para o rel��gio. Eram tr��s e meia. Ela ficou em

sil��ncio.

194

��� V�� com calma, doutora ��� disse Fast Eddie. ��� Relaxe.

Tome um bom banho. Durma um pouco. N��o se esque��a de que fez

uma longa viagem at�� aqui. Quando se levantar, ficar�� surpresa ao

descobrir como se sente melhor.

Sofia balan��ou a cabe��a.

��� Tem raz��o, Fast Eddie. Obrigada.

Ele gesticulou para Max.

��� Pegue as malas da doutora, por favor. ��� Tornando a se

virar para Sofia, ele sorriu e acrescentou: ��� Lembre-se de que estou

aqui.

195





2

J U D D USAVA um macac��o de gin��stica e sapatos de lona. Um

brilho de suor cobria o rosto bronzeado. Gesticulou para que Doc

Sawyer sentasse, enquanto falava ao telefone:

��� Livre-se da porra do banco. Diga ao Departamento de

Justi��a que assinaremos o termo de consentimento.

��� A voz de Merlin saiu pelo alto-falante, obviamente chocada:

��� Mas s��o 200 milh��es de d��lares!

��� Ainda �� barato. Quanto acha que me custar��, se tiver de

passar o resto da vida comparecendo a audi��ncias de comit��s do

Congresso para responder a perguntas est��pidas?

��� Mas podemos venc��-los!

��� N��o dou a menor import��ncia a isso. J�� perdi quatro anos

com esse problema. Se a Transatlantic est�� interessada, ent��o que

fique tamb��m com as dores de cabe��a.

��� Voc�� �� quem manda. ��� Merlin riu subitamente. ��� E

provavelmente est�� certo. Nostradamus disse que este seria um

p��ssimo ano para as institui����es financeiras.

Judd riu tamb��m.

��� S�� resta verificar se Nostradamus tamb��m incluiu David

Rockefeller na sua predi����o.

��� Sinto saudade de voc��, Judd ��� disse Merlin. ��� Quando

acha que sair�� da��?

��� Muito em breve. Prometi que experimentaria por um ano.

Mais dois meses devem ser suficientes.

��� Cuide-se bem.

��� Tentarei.

196

Judd desligou e olhou para Doc Sawyer, no outro lado da mesa.

��� Eu estava correndo quando vi o helic��ptero chegar. Vi-os

pela tela no escrit��rio no momento em que desciam os degraus.

Achei-a muito bem.

��� Um pouco mais magra.

��� N��o deu para eu perceber. ��� Judd pegou um cigarro, mas

n��o acendeu, limitando-se a rol��-lo entre os dedos. Baixou os olhos

para o cigarro antes de perguntar: ��� Sofia lhe disse alguma coisa

sobre o que estava fazendo em Bangladesh?

��� N��o, ela nada falou a respeito. Por que est�� curioso?

Judd jogou o cigarro numa cesta de papel, sem acend��-lo.

��� Estou adivinhando, mas acho que sei. Tenho a impress��o de

que a velha me deu apenas alguns dos seus pap��is. Deve ter entregue

o resto a Sofia. Nossos pap��is datam da ��poca em que ela come��ou as

Fontes de Ponce de Le��n, em 1953, e continuam at�� o final. Mas h��

muitas anota����es que se referem a estudos escritos antes disso.

��� Li as anota����es e n��o encontrei nada disso.

��� Porque ainda n��o hav��amos traduzido tudo. Ela escrevera

em urdu, a menos importante das l��nguas escritas da ��ndia. Ela citava

um swami que vivia ent��o na parte da ��ndia que depois se tornou o

Paquist��o e agora �� Bangladesh. Teve v��rias conversas com o

Maharishi Raj Naibuhr, de quem reproduziu uma frase: "A imortali-

dade do homem s�� pode ser alcan��ada quando sua paz interior se

integra com o ambiente f��sico." Foi provavelmente por isso que ela

queria que eu constru��sse o ref��gio nesta ilha.

��� Acha que Sofia encontrou os pap��is?

Judd sorriu.

��� Se encontrou-os em Bangladesh, foi um milagre. O mahari-

shi j�� se mudou para pastos mais verdes.

��� Quer dizer que ele morreu?

Judd soltou uma risada.

��� N��o. Ficou rico. �� o maharishi que criou uma universidade

com mais de dois mil adeptos, nas Montanhas San Bernardino. E

tamb��m comprou uma enorme gleba ao norte de Malibu, na

Calif��rnia.

��� Ei, espere um pouco! ��� interrompeu Sawyer. ��� �� o

mesmo que apareceu na televis��o?

��� O pr��prio. E pode estar certo de que �� t��o dif��cil encontr��-

197

lo pessoalmente quanto ao presidente dos Estados Unidos ou o

primeiro-ministro da R��ssia.

��� E acha que Sofia pode entrar em contato com ele?

��� Espero que sim. Talvez alguma coisa nos pap��is que a velha

deu a ela possa atra��-lo. Al��m disso, o maharishi sente uma atra����o especial por esposas... embora isso n��o seja do conhecimento

p��blico, nem mesmo de seus adeptos.

��� Acho que ele est�� na casa dos 70 anos, embora diga que tem

mais de mil anos em sua atual encarna����o.

��� Nada mal ��� comentou Sawyer, rindo.

��� Tenho tamb��m o pressentimento de que a velha tratou-o.

que ele foi um dos seus pacientes.

Ainda mais interessante. O que acha ent��o que Sofia fazia em

Bangladesh?

��� N��o tenho a menor id��ia. Perguntarei a ela. ��� Judd fez uma

pausa, olhando para o m��dico. ��� Gostaria de ficar para o jantar?

Sawyer sacudiu a cabe��a.

��� �� melhor eu voltar �� Fl��rida. Estou com problemas at�� o

pesco��o. Sou um m��dico e n��o um homem de neg��cios. A Pesquisa

M��dica Crane est�� com um vermelho de tr��s milh��es de d��lares por

m��s. Continuando assim por muito mais tempo, precisaremos de uma

grande inje����o de capital ou teremos de come��ar a reduzir os

custos... talvez mesmo vender algumas das companhias.

��� Tenho certeza de que voc�� poder�� dar um jeito.

��� Obrigado por sua confian��a, mas acontece que n��o sou

voc��. Minha cabe��a n��o funciona da mesma maneira.

��� Os computadores lhe fornecer��o todas as informa����es que

precisar. Deve ser f��cil.

��� Para voc��, Judd, n��o para mim. Os computadores s�� me

d��o as informa����es. Ainda tenho de tomar as decis��es. E como se

pode tir��-las de um impresso de computador?

Judd ficou calado por um momento.

��� Se realmente se sente assim, reduza as companhias, at��

achar que ficou apenas o que pode controlar.

��� Acho que n��o tenho o direito de fazer isso. A propriedade ��

sua e assim se torna o ��nico que pode assumir essa responsabilidade.

��� Eu o apoio cem por cento. Pode se livrar de tudo o que

quiser e n��o direi nada. N��o me importo.

198

��� Lamento que se sinta assim. Voc�� �� um homem muito

especial, Judd Crane. E pode dar muitas coisas ao mundo.

��� Sinto-me muito velho, Lee. J�� entrei em todos os jogos e me

cansei deles.

��� Tem apenas 50 anos, Judd. Se est�� se sentindo assim agora,

o que o faz pensar que a imortalidade que procura o far�� sentir-se

mais jovem e menos entediado? Acho que acontecer�� justamente o

inverso... vai se sentir ainda mais entediado e muito mais velho. A

vida n��o �� apenas sobreviver, mas tamb��m partilhar e dar.

��� Nunca pensei que fosse um fil��sofo ��� comentou Judd,

secamente.

��� Nem eu. Estou apenas come��ando a me sentir assim. Mas

sou um m��dico, n��o sei mais o que penso ou o que deveria ser.

Judd fitou-o nos olhos.

��� Est�� cansado. O que precisa �� de f��rias.

Sawyer riu, ironicamente.

��� N��o preciso de f��rias, Judd ��� murmurou ele. ��� Preciso de

voc��. Ao meu lado, atr��s de mim, partilhando comigo, inspir��ndo-

me. Sem voc��, n��o sou o homem que deveria ser.

Judd permaneceu calado.

��� E n��o sou o ��nico a me sentir assim ��� acrescentou Sawyer,

suavemente. ��� Barbara, Mer��n, muitos outros sentem como eu...

Judd interrompeu-o, o tom incisivo:

��� Mais dois meses. Preciso desse prazo para decidir que rumo

seguir. Podem me dar esse tempo?

��� Viemos juntos at�� aqui, posso aguentar mais dois meses.

��� N��o h�� qualquer mundo l�� fora ��� disse Sofia. ��� �� quase como se

estiv��ssemos em outro universo.

Sawyer estava parado ao p�� da cama, enquanto ela se recostava

nos travesseiros.

��� E �� mesmo outro universo. O universo de Judd Crane.

Ela observou-o em sil��ncio por um momento, depois empurrou

as cobertas para o lado e atravessou o quarto nua, a fim de pegar o

chambre de seda. Vestiu-o rapidamente e se aproximou dele.

��� Tem tempo para me acompanhar numa x��cara de ch��?

Sawyer assentiu. Ela pegou o telefone. Max atendeu.

��� Pois n��o, doutora?

��� Pode nos arrumar um ch��?

199

��� Claro, doutora. O Orange Pekoe Ceylon est�� bem?

��� Est��, sim.

��� Biscoitos ou petit fours?

��� Apenas o ch��.

��� Pois n��o, doutora.

O telefone foi desligado. Sofia virou-se para Lee.

��� Vamos para a varanda?

Em sil��ncio, ele seguiu-a para a varanda. Sofia fechou a porta.

��� Acha que h�� microfones no quarto? ��� perguntou o m��dico.

��� Acho, sim. Microfones e c��maras.

��� Viu algum? ��� Ela sacudiu a cabe��a. ��� Ent��o o que a faz

pensar assim?

��� Intui����o. Se eu fosse ele, agiria assim. Talvez at�� mesmo

esta varanda esteja sob vigil��ncia eletr��nica.

Lee contemplou-a em sil��ncio por um instante.

��� �� poss��vel. N��o o conhe��o mais.

��� Ele mudou.

��� Sim e n��o. N��o consigo definir direito. Por isso �� que queria

falar com voc��, antes de voltar ao continent��. �� m��dica. Gostaria

que o observasse e depois me transmitisse sua opini��o.

Max bateu na porta da varanda, entrou com uma bandeja em

que havia um bule de ch��, um jarro de ��gua, uma leiteira, um prato

com fatias de lim��o, um pote de mel e a����car. P��s na mesa de pl��stico

redondo que havia na varanda.

��� Mais alguma coisa, doutora?

��� Isso �� tudo, obrigada.

Sofia come��ou a servir o ch�� enquanto ele se retirava, tornando

a fechar a porta. Esperou que Max sa��sse do quarto antes de voltar a

falar. Entregou a x��cara de ch�� a Sawyer, dizendo:

��� Voc�� �� o m��dico dele. O que o faz pensar que eu poderia

descobrir mais alguma coisa al��m do que j�� sabe? Conhece-o h��

muitos mais anos do que eu.

��� Esta �� a primeira vez que o vejo desde que ele se mudou

para a ilha. Nosso ��nico contato tem sido pelo telefone e pela fita de

computador de seu exame m��dico semanal.

��� Quer dizer que ele tem um m��dico de plant��o aqui?

��� N��o. H�� diversas enfermeiras que supervisionam as m��qui-

nas que est��o ligadas a ele.

��� Aquela irlandesa, Bridget, ainda est�� com ele?

200

��� N��o. Ela deixou-o em Nova York, n��o muito tempo depois

que voc�� foi embora.

��� Conhece as enfermeiras?

��� N��o pessoalmente. Mas �� claro que contratei a todas.

Basicamente, s��o mais t��cnicas m��dicas e engenheiras do que

enfermeiras. Sabem mais sobre as m��quinas e o computador do que

sobre medicina.

��� Tem uma c��pia dos resultados dos ��ltimos exames?

Ele tirou um papel dobrado do bolso interno do palet�� e

entregou a Sofia. Ela examinou-o rapidamente. Depois de um

momento, levantou o rosto para fit��-lo.

��� Interessante... Todas as fun����es f��sicas foram reduzidas,

pulsa����o, press��o, temperatura do corpo. A capacidade dos pulm��es

aumentou, apesar da velocidade inferior da respira����o. Exames de

sangue e urina est��o normais. ��� Ela devolveu a c��pia dobrada. ���

Segundo isto, ele se acha em ��timo estado. O que o preocupa?

Sawyer olhou para ela enquanto tomava o ch��.

��� A cabe��a. Antes, ele nunca se sentia entediado. Agora,

nada o interessa.

��� Talvez ele precise de um psiquiatra e n��o de mim.

��� �� poss��vel. Mas voc�� �� a ��nica em quem posso confiar. ���

Lee fitou-a nos olhos. ��� Quer ajudar?

Sofia sustentou o olhar dele.

��� N��o sei se poderei prestar alguma ajuda, mas tentarei.

Sawyer balan��ou a cabe��a.

��� A ��nica coisa que sei com toda certeza �� que precisamos

traz��-lo de volta a este universo. Tenho um pressentimento que o

tipo de imortalidade que ele procura �� apenas outra forma de

desintegra����o.

201





3


H O U V E UMA batida de leve na porta poucos minutos depois que

Sawyer foi embora.

��� Entre ��� disse Sofia.

A criada entrou, trazendo nos bra��os uma enorme caixa de

vestido.

��� O Sr. Crane lhe mandou isto, doutora.

Sofia olhou para a caixa. Christian Dior. Virou-se para a criada.

��� Pode fazer o favor de abrir para mim?

��� Pois n��o, doutora. ��� Ela entregou um pequeno envelope.

��� O Sr. Crane tamb��m mandou isto.

Sofia abriu o envelope. O cart��o dentro tinha o nome de Judd

impresso e no verso ele escrevera: Comprei isto para voc��, mas foi

embora antes que eu pudesse dar. Espero que desta vez n��o seja tarde

demais. Judd.

A caixa j�� estava aberta. Sofia pegou o vestido. Era longo,

forro de seda branca, duas al��as finas no ombro esquerdo, uma

abertura no outro lado da bainha at�� quase as coxas.

��� �� lindo, mas acho que n��o conseguirei entrar. �� muito

pequeno.

��� Por que n��o experimenta, doutora? Se precisar de um

pequeno ajustamento, talvez Max possa fazer.

��� N��o sei... ��� murmurou Sofia, hesitante.

��� N��o far�� mal algum se tentar.

Sofia hesitou por mais um instante.

��� Espere por mim.

202

Ela entrou no banheiro, pendurou o chambre num gancho,

tentou descer o vestido pelos bra��os. Gritou pela porta aberta:

��� N��o consigo pass��-lo nem pelos ombros.

Mae estava parada na porta.

��� N��o �� assim que se faz. Fique por cima do vestido e levante-

o.

Sofia seguiu as instru����es de Mae. O vestido parecia uma

segunda pele. Ela se contemplou no espelho. Era mesmo uma

segunda pele. Os mamilos sobressa��am no tecido, os quadris e

n��degas pareciam moldados no vestido, quase rompendo o material.

Sofia olhou para a criada pelo espelho.

��� Est�� muito apertado. Um movimento e vai se rasgar todo.

��� N��o vai, n��o. O tecido cede.

��� Mesmo que isso aconte��a, n��o posso usar uma coisa assim.

Faz-me parecer completamente nua.

��� O Sr. Crane gostaria.

Sofia virou-se para ela.

��� O que a faz pensar assim?

��� N��o se trabalha por nove meses sem se descobrir o que o

patr��o gosta ou deixa de gostar.

��� Ele tem muitas garotas aqui?

Mae hesitou, mas acabou n��o respondendo.

��� Pode falar comigo ��� insistiu Sofia. ��� Sou uma das m��dicas

do Sr. Crane, apesar de ser mulher.

��� N��o sei...

Sofia adivinhou.

��� Sei que Fast Eddie lhe contou alguma coisa a meu respeito.

��� �� verdade.

��� Pode ent��o me contar o que preciso saber. N��o estou sendo

simplesmente curiosa. O Dr. Sawyer pediu-me que apresentasse uma

opini��o. Assim, quanto mais eu souber a respeito do Sr. Crane mais

poderei ajud��-lo.

Mae evitou os olhos de Sofia, fixando-se nos ladrilhos do ch��o

do banheiro.

��� O Sr. Crane tem tr��s garotas que v��m do continente todas as

semanas. Ficam geralmente uma ou duas noites e depois v��o embora.

��� Sempre as mesmas garotas?

��� N��o. S��o sempre diferentes. Nenhuma garota volta pela

segunda vez.

203

Sofia ficou em sil��ncio por um momento.

��� E ele d�� a cada uma esse tipo de vestido?

Mae assentiu.

��� A mesma cor?

��� Sempre branco. Os vestidos v��m de Paris. Duas d��zias de

cada vez.

Sofia se manteve calada.

��� N��o vai contar que falei tudo isso, n��o �� mesmo, madame?

��� N��o contarei a ningu��m.

Sofia tirou as al��as do ombro e come��ou a baixar o vestido para

o ch��o. Depois de tir��-lo, ela pegou-o e entregou a Mae.

��� N��o vai us��-lo, doutora?

Sofia pensou um pouco.

��� Pode pass��-lo. Decidirei depois de tomar um banho e

relaxar. Eu a chamarei.

��� Pois n��o, doutora.

Sofia p��s o chambre, enquanto a criada se retirava. Pensou por

um instante e foi abrir a gaveta do meio da c��moda. O frasco estava

exatamente onde Fast Eddie dissera. Sentiu a cabe��a se desanuviar

depois de aspirar a coca��na.

Pegou o cart��o que acompanhara o vestido. Contemplou o

bilhete de Judd. Era estranho. Por que ele lhe mentiria? N��o havia

motivo para dizer qualquer coisa sobre o vestido, exceto que gostaria

que ela o usasse. Sawyer tinha raz��o. Judd mudara. Antes, ele nunca

podia mentir... nem para ela nem para ningu��m.

Sofia sentou-se no lado da cama, pensativa. Lentamente,

repassou as etapas dos tratamentos a que Judd se submetera. Eram

muitas e qualquer uma poderia afetar-lhe a cabe��a. Ela pegou um

cigarro e acendeu-o. Soprou a fuma��a devagar. A verdade �� que n��o

sabia. E talvez ningu��m jamais viesse a saber. Nem mesmo o pr��prio

Judd.

A casa era um domo geod��sico facetado, como um enorme diamante,

refletindo a luz na escurid��o da noite. A limusine se adiantou

lentamente e parou, Max desligou o motor. Sofia disse, do banco

traseiro:

��� N��o estou vendo a entrada.

��� Mas est�� a�� mesmo, doutora ��� disse Max, respeitosamente.

��� J�� vai ver.

204

Um momento depois, soou o zumbido de um motor por baixo

do carro. Pela janela do motorista, ela observou duas enormes portas

de vidro deslizarem. Percebeu que o carro avan��ava lentamente para

as portas abertas.

��� Um caminho movido a eletricidade, Max?

��� Isso mesmo, doutora. Uma plataforma girat��ria. Assim, os

vapores dos autom��veis n��o entram no sistema de filtragem de ar.

Sofia observou as portas de vidro fecharem por tr��s do carro e a

plataforma girat��ria parar, diante de uma porta interna. Max saltou e

abriu-lhe a porta do carro. Ela saiu. A porta interna deslizou para o

lado e Fast Eddie desceu tr��s degraus para receb��-la. Sorriu para ela.

��� Descansou um pouco, doutora?

��� Um pouco.

��� ��timo. Eu a levarei agora aos aposentos do Sr. Crane.

��� A que horas Max deve voltar para me buscar?

��� Isso n��o �� problema ��� respondeu Fast Eddie. ��� Sempre

temos carros e motoristas de plant��o.

O sagu��o de entrada era enorme, redondo, de paredes brancas.

O ch��o era de m��rmore branco, a mesa do recepcionista se apoiava

em suportes de a��o inoxid��vel, com o tampo tamb��m de m��rmore

branco. O homem por tr��s da mesa usava um dinner-jacket todo

branco. Sofia notou o volume por baixo do ombro esquerdo, onde

estava o rev��lver. Teve a impress��o de perceber tamb��m uma

express��o curiosa nos olhos dele, antes que se virasse e apertasse um

bot��o no painel embutido na mesa. Ela ouviu a porta ��s suas costas

fechar.

Havia mais tr��s portas de vidro, uma .em cada lado do

recepcionista e outra diretamente atr��s. Eram todas opacas para

aquele lado e assim ela n��o podia ver o que havia al��m. Havia duas

est��tuas entre as portas. Quase em tamanho natural, de m��rmore

branco, sobre pedestais de a��o inoxid��vel, Apolo e V��nus ou talvez

Ad��o e Eva se contemplavam pela eternidade do tempo.

Fast Eddie guiou-a para a porta �� direita. Acenou com a cabe��a

para o recepcionista, que apertou outro bot��o. A porta se abriu para

um elevador. Fast Eddie entrou atr��s dela e apertou um bot��o no

interior. A porta fechou e o elevador come��ou a subir. Sofia podia

ver o recepcionista l�� embaixo, at�� que o elevador passou para o

outro andar. Ela virou-se para Fast Eddie.

205

��� Tenho alguma coisa esquisita? Tive a impress��o de que o

recepcionista me lan��ou um olhar extremamente curioso.

��� Foi o seu sari. Ele ficou surpreso com todas as cores. Todos

por aqui geralmente se vestem de branco.

Sofia ficou pensativa por um instante. At�� mesmo Fast Eddie

estava todo de branco.

��� Qual �� o motivo?

��� O Sr. Crane gosta. �� limpo e higi��nico. E ele acha tamb��m

que se todos usarmos a mesma cor e estilo, evita a competi����o de ego

entre o pessoal.

��� Os visitantes tamb��m? Foi por isso que ele me mandou o

vestido branco?

��� N��o sabia que ele tinha lhe mandado alguma coisa.

Mas Sofia sabia que ele n��o estava disposto a responder a todas

as perguntas. Olhou pela porta de vidro para o andar por que

passavam. Havia outro recepcionista sentado ali.

��� Que andar �� este?

��� Comunica����es, escrit��rios de administra����o e os compu-

tadores. ��� Fast Eddie fez uma pausa. ��� O andar t��rreo por onde

entrou tem os aposentos do pessoal. Os cinemas e salas de recrea����o

ficam no primeiro n��vel do por��o, o segundo n��vel aloja a cl��nica e o

terceiro todos os equipamentos de energia para manter o pr��dio em

funcionamento. Os aposentos do Sr. Crane ficam no ��ltimo andar, o

terceiro. Ele tem tudo ali. Quarto, banheiro, gin��sio, sala de estar,

sala de jantar, cozinha, bar, biblioteca e o seu pr��prio escrit��rio

particular.

Sofia permaneceu em sil��ncio por um momento.

��� De certa forma, �� como o avi��o, s�� que maior.

��� Tem raz��o, �� mais ou menos a mesma coisa. ��� Fast Eddie

fitou-a nos olhos. ��� Quer cheirar um pouco?

��� Acha que preciso?

��� N��o pode fazer mal. ��� Ele estendeu-lhe .o frasco e

observou-a levar a colher ao nariz. ��� Tome uma boa dose. �� um

mundo estranho em que est�� entrando.

Sofia devolveu o frasco no instante em que a porta se abria,

antes que tivesse tempo de perguntar a Fast Eddie o que estava

querendo dizer com isso.

206





4


O SOM DE UMA c��tara ressoava suavemente ao sa��rem do elevador.

Fast Eddie conduziu-a ao bar. Duas poltronas estavam separadas

por uma mesinha. Ele gesticulou para uma das poltronas e

encaminhou-se para o bar. Voltou um momento depois, com uma

bandeja grande de prata, que colocou na mesinha. Sofia olhou. Uma

lata de caviar de um quilo estava cercada por gelo picado. Ao lado do

caviar, havia uma garrafa de Cristale aberta e depois uma garrafa de

vodca Starka no gelo, tamb��m aberta; no outro, havia todos os

acess��rios, torradas, cebolas, ovos, creme azedo, manteiga. Fast

Eddie observou-a.

��� Vodca... ��� murmurou Sofia.

O copo fino estava tamb��m gelado. Ele encheu-o rapidamente.

P��s na mesa diante dela.

��� O Sr. Crane estar�� aqui dentro de um momento.

Fast Eddie deixou a sala, fechando a porta. Sofia olhou pela

janela �� sua frente. Uma lua cheia esbranqui��ada pintava uma trilha

cintilante pelo mar. Era lindo. T��o lindo que n��o parecia real. Ela

pegou o copo de vodca.

��� Nasdrovya.

A voz de Judd ressoou pelos alto-falantes.

��� Nasdrovya ��� respondeu Sofia, quase que automaticamen-

te, tomando um gole da vodca. Depois, ela correu os olhos pela sala.

Continuava vazia. ��� Est�� me ouvindo?

��� Estou.

��� J�� faz muito tempo. Eu gostaria de v��-lo.

��� Eu posso v��-la.

207

��� N��o �� justo, porque eu n��o vejo voc��.

��� Por que n��o p��s o vestido que lhe mandei?

��� Estava muito pequeno e n��o consegui entrar. Talvez

coubesse h�� tr��s anos, mas agora n��o d��.

Ele n��o disse nada.

��� Vai demorar?

��� N��o muito. H�� bot��es ao lado de sua cadeira para o

aparelho de televis��o.

��� N��o preciso. O luar no mar est�� t��o lindo que prefiro

contempl��-lo. Esperarei.

Um estalido soou pelos alto-falantes e a m��sica de c��tara

recome��ou. Sofia tornou a encher o copo e bebeu. Subitamente,

sentiu-se faminta e come��ou a servir-se de torrada e caviar. Comeu

quatro torradas e tomou mais tr��s vodcas antes que Judd entrasse na

sala. Ela levantou-se, um pouco tonta.

��� Acho que estou come��ando a ficar de porre.

Judd sorriu e beijou-a, depois segurou-a pelo cotovelo.

��� Neste caso, �� melhor tornar a sentar.

��� O que tem nesta vodca?

��� Nada. Vai se sentir melhor depois que comer alguma coisa.

��� Voc�� parece muito bem.

Os cabelos escuros de Judd exibiam alguns fios brancos, os

olhos de um azul-cobalto brilhavam no rosto bronzeado. Ele usava

uma camisa de seda aberta no peito, cal��a esporte e mocassins,

tudo branco.

��� Voc�� tamb��m est�� muito bem, Sofia.

��� Engordei um pouco. Mais carboidratos do que prote��nas em

minha dieta. Isso aconteceu porque n��o se encontra muita variedade

em Bangladesh. Tudo �� basicamente um prato de arroz. ��� Ela

passou caviar em mais uma torrada. ��� N��o �� como isto.

Judd sorriu, sentado em frente a ela.

��� Posso imaginar.

��� Quer que eu o sirva?

��� N��o, obrigado. Tem sal demais para mim.

��� Estou curiosa, Judd. Como me encontrou em Bangladesh?

��� Muito simples. Seu nome apareceu no pedido do hospital

em Bangladesh no qual trabalhava. Todos os pedidos de hospitais ��

Crane Pharmaceuticals s��o submetidos ao computador. Todos os

208

nomes s��o conferidos. E se existe alguma liga����o comigo, s��o

transferidos para os meus arquivos pessoais.

��� Pensei que tivesse verificado com o KGB.

��� N��o houve necessidade de algo t��o complicado.

��� Por que queria me ver?

��� Os arquivos. A Dra. Zabiski deu-me apenas uma parte. N��o

tenho nenhum dos seus registros anteriores a 1953.

Sofia ficou em sil��ncio por um instante.

��� N��o estou entendendo. Falei com ela no dia anterior �� sua

morte e me disse que havia lhe dado tudo.

��� Mas alguma coisa ficou de fora. Ainda n��o encontramos a

resposta.

��� Ela tamb��m me falou sobre isso. Disse que havia lhe dado

todos os instrumentos, mas' voc�� teria de encontrar as respostas.

��� J�� conferi tudo com os mais diversos especialistas. E n��o se

chegou a nenhuma conclus��o.

Sofia respirou fundo.

��� A velha miser��vel!

��� Por que fala assim?

��� Ela enganou a todos n��s. A voc��, a mim, at�� mesmo a

Andropov. Est�� rindo de n��s na sepultura. Ser�� que ainda n��o

percebeu? Ela queria que nos encontr��ssemos de novo. Afinal, sou a

��nica especialista que lhe resta para trabalhar.

Judd continuou calado.

��� N��o mandou me chamar? ��� Sofia n��o esperou por uma

resposta. ��� Estamos de volta ao ponto de partida. Temos de

come��ar tudo de novo.

��� Foi por isso que a mandaram para Bangladesh?

��� Em parte. Mas tamb��m porque Andropov queria que eu

deixasse a R��ssia e Iugosl��via.

��� Porque Brezhnev morreu assim como Mao?

Ela fitou-o nos olhos, calmamente.

��� N��o tive nada a ver com a morte de qualquer dos dois.

��� Mas ser�� que Andropov sabe disso? Mao morreu. Voc�� era

a m��dica que cuidava dele. Brezhnev morreu. Outra vez voc�� era a

m��dica. Agora, de acordo com as nossas informa����es, Andropov est��

doente. Mas n��o a chamou para tratar dele pr��prio, como fez para os

outros. Talvez tenha perdido a f�� em voc��.

Sofia ainda sustentava o olhar dele.

209

��� N��o sei o que Andropov pensa. Ele n��o me tomou em sua

confid��ncia.

��� H�� muito tempo, Zabiski me disse que todos acabam

morrendo, quando chega o seu tempo. Que n��o havia garantias. Que

tudo o que podia fazer era ajudar a qualidade de suas vidas.

��� Ela tamb��m me disse isso.

��� Contudo, ela me levou a acreditar...

Ele n��o continuou a frase. Sofia sorriu, gentilmente.

��� Talvez ela pensasse que voc�� pudesse ter sucesso onde n��o

conseguiu.

Houve uma batida na porta e Fast Eddie entrou no bar,

anunciando:

��� O jantar est�� servido.

A sala de jantar n��o era grande. Uma mesa de vidro grosso, apoiado

por pernas de lucite transparente, moldadas como finos blocos

retangulares de gelo. Um ��nico ponto de luz no teto, sobre o centro

da mesa, projetava facetas de cor pelo vidro. A mesa era redonda e

podia abrigar seis pessoas, mas apenas dois lugares estavam postos.

O servi��o americano era de espelhos retangulares, a prataria de lei,

assim como os talheres. Um guardanapo de linho branco estava

dentro de uma argola de prata, a lou��a era Baccarat, simples mas

elegante. �� direita de cada lugar havia uma vela branca e fina, num

casti��al Baccarat. As cadeiras tinham a estrutura de a��o inoxid��vel, o

assento e o encosto estofados em pano, bastante confort��veis.

Sofia sentou-se diante dele. Podia ver as janelas al��m de Judd e

o luar ainda se derramando pelo mar. Judd acionou um reostato ao

seu lado e as luzes em torno da sala diminu��ram, at�� que s�� restava

uma suave claridade na mesa, iluminando seus rostos. Sofia sorriu.

��� Parece um cen��rio de filme.

Judd riu.

��� Pois foi justamente um cen��grafo que projetou para mim.

Gosto da sensa����o de drama. As salas de jantar s��o geralmente

ins��pidas e ap��ticas, apenas cochos para se ingerir comida. Mas h��

tamb��m outros sentidos que precisam ser satisfeitos.

��� Nunca tinha pensado nisso. Mas o resultado �� maravilhoso.

��� Obrigado. Espero que o jantar lhe proporcione igual prazer.

��� Tenho certeza de que isso acontecer��.

Sofia ouviu uma porta se abrir ��s suas costas. Duas criadas

210

entraram, usando blusas brancas engomadas e minissaias tamb��m

brancas, criando um contraste com o preto das pernas compridas.

Pareciam t��o iguais que podiam ser g��meas: cabelos compridos

caindo pelos ombros, uma pequena touca triangular, olhos cintilantes

e dentes brancos brilhantes. Luvas brancas de renda cobriam as

m��os. No mesmo momento, as criadas colocaram o primeiro prato na

frente deles e depois se retiraram.

��� Bonitas mo��as ��� comentou Sofia.

��� Claro. Podia esperar outra coisa?

��� Americanas?

��� N��o. S��o da Ilha Maur��cia. Meu agente mandou-as para c��

com um contrato de dois anos. S��o seis.

��� Parecem muito jovens.

��� T��m 16 e 17 anos. Falam ingl��s e franc��s, est��o ansiosas em

aprender e agradar.

��� E o que acontece quando o contrato terminar?

��� Elas voltam e trazemos outras.

��� Parece ��timo para voc��. Mas as garotas ganham alguma

coisa?

��� Educa����o, conhecimentos e uma quantia respeit��vel para

seu dote. Est��o muito satisfeitas.

Sofia sorriu.

��� Como dizem na Am��rica, voc�� tem tudo organizado. ��� Ela

pegou o garfo e provou o coquetel de camar��o. ��� Est�� uma del��cia.

��� �� o camar��o pequeno, trazido de avi��o do Golfo do M��xico

esta manh��. S��o os melhores.

��� Tudo o que voc�� tem �� sempre o melhor.

��� Est�� sendo sarc��stica.

��� N��o, Judd, n��o estou. Juro que n��o estou. Eu me sinto

apenas impressionada.

Ele ficou calado.

��� Deve entender, Judd. Ontem, eu estava em Bangladesh.

Hoje, estou aqui. �� outro mundo.

O jantar foi tipicamente americano. Fatias de carne bem finas,

ao ponto, pur�� de batatas e molho, ervilhas e salada. O vinho era

franc��s. Montrachet com o camar��o, Ch��teau Margaux com a carne.

A sobremesa foi sorvete de baunilha, encimado por uma colherada

de creme de menthe. Sofia fitou-o.

211

��� Quase esqueci que as pessoas podiam apreciar tanto a

comida.

Mas ela tamb��m notou que Judd quase n��o comera; basicamen-

te, limitara-se a espalhar a comida pelos cantos do prato.

��� Obrigado ��� disse ele, levantando-se. ��� Tomaremos caf�� e

licores na biblioteca.

Contornando a mesa, Judd puxou a cadeira para que ela se

levantasse, murmurando:

��� Voc�� ainda �� uma mulher muito bonita.

��� Isso tamb��m eu tinha esquecido. J�� come��ava a me sentir

velha em compara����o com aquelas crian��as.

��� �� diferente. Voc�� �� uma mulher. Uma mulher de verdade,

excitante. Elas s��o crian��as fazendo jogos.

212





5


UM J O G O DE CAF�� de prata estava ao lado das x��caras na mesinha

na biblioteca. Uma garrafa fosca de conhaque com dois copos

tamb��m estava ali. Judd olhou para Sofia enquanto ela arriava no

sof��.

��� Caf��?

��� Obrigada.

Ele serviu uma x��cara.

��� Conhaque?

��� Importa-se se eu preferir o Starka?

��� Claro que n��o. ��� Judd estalou os dedos. Fast Eddie

apareceu no mesmo instante. ��� O Starka.

��� E as outras coisas? ��� perguntou Fast Eddie.

Judd virou-se para Sofia.

��� Temos maconha, coca��na, estimulantes, calmantes, alucin��-

genos e qualquer outra coisa que puder imaginar.

��� N��o consigo imaginar mais nada. A ��nica coisa que

t��nhamos em Bangladesh era haxixe.

��� Pensei que havia ��pio.

��� E havia. Mas era para sonhar e dormir. N��o me agradava

muito.

��� Temos maconha opiada, que pode lhe proporcionar uma

viagem e tanto. Expandir�� sua percep����o quase como o ��cido, mas

haver�� sonhos agrad��veis, n��o viagens desastrosas. Acima de tudo,

manter�� o controle e n��o dormir��.

��� Parece interessante. Quanto tempo dura?

213

��� O tempo que voc�� quiser. J�� disse que permanece no

controle. Pode desligar no momento em que quiser.

��� Onde consegue?

��� A erva �� sensimilla. E o tratamento especial �� feito no

laborat��rio l�� embaixo.

��� Voc�� tamb��m usa?

��� ��s vezes.

��� E as outras coisas?

��� Tamb��m ��s vezes. Depende de como me sinto.

��� Zabiski sempre foi contra qualquer tipo de droga. Estou

surpresa que n��o o tenha proibido de us��-las. Ela receava que

pudesse anular seu tratamento.

��� Ela me falou tudo isso. Mas tenho id��ias pr��prias. As

drogas sempre estiveram presentes em todas as civiliza����es. Acho

que h�� um motivo para sua exist��ncia.

Sofia ficou em sil��ncio por um momento.

��� Sente vontade de tomar alguma coisa agora?

Judd deu de ombros.

��� N��o sei. Sinto que ambos estamos um pouco constrangidos.

Quase como se estiv��ssemos esgrimindo e n��o nos comunicando,

como acontecia antigamente.

��� Mas isso n��o �� normal? Afinal, passamos um longo tempo

separados. As pessoas n��o reatam um relacionamento de um

momento para outro.

��� Tem raz��o. Mas, ��s vezes, as drogas ajudam.

��� Ainda n��o estou preparada para isso. Mas posso cheirar um

pouco. Isso me manter�� o ��nimo.

Judd acenou com a cabe��a para Fast Eddie.

��� D�� �� doutora o que ela est�� querendo e me traga duas

p��lulas XTC. Mande Amarinth prepar��-las para mim.

��� Pois n��o, senhor.

Sofia esperou que Fast Eddie sa��sse e fechasse a porta.

��� O que faz essa p��lula?

��� �� um elevador do ��nimo desenvolvido em nosso laborat��rio.

Algo parecido com um super Elavil ou Triavil. A pessoa entra em

alta suavemente, dominando os seus medos ��ntimos.

��� Voc�� tem tudo o que quer. O que ainda resta para temer?

Judd fitou-a nos olhos.

��� Voc��.

214

Sofia sustentou o olhar. Os olhos azuis-escuros pareciam se

tornar pretos. Ela n��o disse nada.

��� Tenho medo de voc�� ��� murmurou Judd. ��� Seu conheci-

mento, sua compreens��o de mim. De voc�� conhecer a resposta e eu

n��o.

Ela deixou escapar um suspiro.

��� Ainda n��o sabe que ningu��m tem a resposta? Absolutamen-

te qualquer pessoa neste mundo.

Judd levantou-se e virou-se para a janela, de costas para ela.

��� N��o posso acreditar nisso, Sofia. Voc�� passou muitos anos

com a velha. Provavelmente sabe, mas n��o �� capaz de reconhecer. ���

Ele virou-se de novo para ela e acrescentou, a voz agora ��spera. ���

Conhece um certo Maharishi Raj Naibuhr?

��� N��o.

��� N��o foi a Bangladesh para procur��-lo?

��� N��o. Nunca ouvi falar dele.

��� Mas Zabiski o conhecia. H�� muitas refer��ncias a ele em seus

arquivos.

��� Talvez ela o conhecesse, mas nunca me falou a respeito.

A porta se abriu atr��s dela. Passos suaves se aproximaram.

Sofia virou-se. Era outra mo��a, um pouco mais clara que as duas ao

jantar, cabelos castanhos compridos e olhos verdes. Acenou com a

cabe��a, sorrindo para Sofia e depois para Judd. Tinha nos bra��os

uma bandeja de prata. Ajoelhou-se no ch��o e p��s a bandeja na

mesinha. Continuou de joelhos, olhando para Judd. Quando falou,

foi quase como se cantasse:

��� Quer que eu prepare agora, Sr. Crane? Ou prefere esperar?

��� Atenda primeiro �� nossa h��spede ��� disse Judd, brusca-

mente.

A mo��a abaixou a cabe��a. Em sil��ncio, despejou Starka num

copo, depois estendeu o frasco para Sofia. Fitando-a nos olhos, Sofia

disse, gentilmente:

��� Eu tamb��m posso esperar, crian��a.

Judd voltou a sentar-se. Olhou para Sofia.

��� Frustra����o... Para todo o lado que me viro, s�� encontro

frustra����o.

Sofia n��o respondeu. Judd virou-se para a mo��a.

��� Levante-se.

A mo��a levantou-se. N��o estava vestida sequer t��o recatada-

215

mente quanto as mo��as ao jantar. Usava apenas um pequeno vestido

branco, decotado e sem al��as, revelando a nudez de seu corpo por

baixo.

��� Amarinth tem apenas 17 anos ��� disse Judd. ��� Possui um

dos corpos mais bonitos que j�� conheci.

Sofia tomou um gole da vodca.

��� Gostaria de conhec��-la?

Sofia observou os olhos dele. N��o apresentavam qualquer

express��o.

��� Se voc�� quiser.

Sem desviar os olhos de Sofia, Judd ordenou �� mo��a:

��� Deixe o vestido cair no ch��o, Amarinth.

A mo��a soltou o vestido por cima dos seios. O vestido

escorregou facilmente por seu corpo e caiu no ch��o. Ela ergueu os

bra��os, num movimento experiente, estendendo-os acima da cabe��a,

as palmas encostadas.

Sofia contemplou-a. Judd estava certo. A mo��a era mesmo

linda, como uma requintada estatueta de marfim.

��� Vire-se, Amarinth. Deixe a doutora ver como voc�� ��

realmente linda.

Sem qualquer inibi����o, a mo��a fez uma pirueta, olhando para

Sofia por cima do ombro. Passou a l��ngua de leve pelos l��bios, com

um sorriso insinuante.

��� Amarinth prefere as mulheres ��� acrescentou Judd. ���

Gostaria de ficar com ela durante a sua estada aqui?

Sofia desviou os olhos para Judd.

��� N��o entendo voc��, Judd.

��� Eu a conhe��o. E conhe��o o rubor que invade seu rosto ao

ficar excitada, com a cona molhada.

��� E acha que ela me deixou excitada?

Judd fitou-a em sil��ncio. Ela sustentou o olhar.

��� Claro que ela me deixou excitada. Mas n��o apenas ela.

Voc�� tamb��m est�� aqui, Judd. Vi o excitamento em sua express��o e

como a cal��a estufou de repente.

Sofia prendeu a respira����o subitamente. Rep��s o copo na

mesinha, a m��o tremendo um pouco. Levantou-se. Ergueu a m��o e

abriu o fecho do sari no ombro. Lentamente foi desenrolando a seda

e deixou-a cair no ch��o. Por baixo, usava o vestido branco, colado ao

216

corpo, os mamilos sobressaindo. P��s a m��o na pequena mancha de

umidade sobre o p��bis. Olhou para Judd.

��� J�� tive um orgasmo depois de outro desde que cheguei aqui

e ouvi sua voz pelos alto-falantes.

Judd continuou a fit��-la, sem dizer nada.

��� �� isso o que quer de mim, Judd? Ter certeza do poder que

ainda possui sobre mim?

Ele come��ou a sacudir a cabe��a, mas Sofia prontamente

acrescentou, n��o o deixando falar:

��� Precisa ter certeza disso, Judd, ou �� um tolo. Ser�� que n��o

sabe que, desde o momento em que nos conhecemos, eu me tornei

mais sua escrava do que qualquer das garotas que j�� comprou?

��� E espera que eu acredite nisso? Que pense que nunca andou

com outro homem?

��� N��o falei isso! ��� protestou Sofia, furiosa. ��� Melhor do que

qualquer outra pessoa, voc�� sabe o quanto eu preciso de sexo. Mas

com voc�� �� algo mais. N��o estou escravizada apenas ao sexo, mas ao

homem inteiro. N��o �� suficiente que eu tivesse matado Nicky a fim

de voltar para voc��? N��o �� suficiente que eu tenha vindo do outro

lado do mundo at�� aqui a seu pedido?

Judd percebeu as l��grimas que come��avam a aflorar nos olhos

dela. Pegou-lhe a m��o.

��� Desculpe.

Ela sacudiu a cabe��a, em sil��ncio.

��� Esque��a a coca��na ��� acrescentou Judd. ��� Talvez seja

melhor voc�� dormir um pouco.

��� N��o... a menos que eu durma com voc��.

��� Voc�� pode n��o gostar. Durmo com duas garotas ao meu

lado. �� um velho costume chin��s, Ying e Yang, a fim de que os seus

esp��ritos possam encontrar o equil��brio no corpo, enquanto dorme.

��� Podemos fazer amor primeiro?

��� Geralmente eu n��o fa��o. As garotas fazem amor entre si,

suas energias penetram e absorvem a minha.

��� E o que acontece depois?

��� Geralmente acordo revigorado.

��� E as garotas?

��� Elas dormem durante o dia inteiro, recuperando-se da

exaust��o.

Sofia riu subitamente.

217

��� Parece absurdo.

��� Talvez seja. Mas ningu��m sabe com certeza, n��o �� mesmo?

��� Tem raz��o. Mas quando voc�� trepa?

��� Antes de voc�� ir para a cama.

��� N��o estamos na cama agora.

Judd assentiu. Virou-se para Amarinth.

��� Prepare as p��lulas XTC para n��s.

A mo��a acenou com a cabe��a e tornou a se ajoelhar no ch��o, ao

lado da mesinha. Levantou o rosto para Judd.

��� Por favor, Sr. Crane, posso preparar uma para mim

tamb��m?

Judd olhou para Sofia com uma express��o inquisitiva. Sofia

contemplou a mo��a nua. Ela era linda. Ajoelhando-se ao lado dela,

Sofia olhou para Judd, murmurando:

��� Deixe-a tomar. Talvez n��s duas possamos descobrir um

novo tipo de Ying e Yang para voc��.

218





6


E L A DEVIA ter cochilado. Os olhos se abriram de repente e ela

sentou-se no sof��. Uma claridade cinzenta come��ava a se espalhar

pelo horizonte. Amarinth remexeu-se no ch��o ao lado do sof�� em

frente e olhou para ela. Levou um dedo aos l��bios, advertindo

Sofia a se manter em sil��ncio.

Sofia acenou com a cabe��a e correu os olhos pela sala. Judd n��o

estava ali. Ela tornou a olhar para a mo��a, depois pegou o sari no

ch��o e come��ou a levantar-se.

Ainda com o dedo nos l��bios para pedir sil��ncio, Amarinth

aproximou-se dela em sil��ncio, os p��s descal��os. Tocou suavemente

no bra��o de Sofia, guiando-a.

O sari ainda na m��o, ela deixou que a mo��a a conduzisse. Sem

fazer qualquer barulho, contornaram o canto do bar e entraram em

outro c��modo, escondido por tr��s do ��ngulo entre a janela e o bar.

Amarinth deteve-a gesticulando com a m��o.

Era um c��modo pequeno, obl��quo, as janelas no teto em forma

de pir��mide. Por baixo do ��pice da pir��mide, Judd estava sentado, na

posi����o l��tus, sobre uma plataforma redonda, a cerca de 10

cent��metros acima do ch��o.

Sofia observou-o atentamente. Ele estava im��vel, parecia nem

sequer respirar, os olhos abertos, mas sem tomar conhecimento da

claridade do amanhecer.

Amarinth puxou o bra��o de Sofia e levou-a de volta ��

biblioteca. Foram para outro c��modo e ela fechou a porta, tudo no

mais absoluto sil��ncio. Era um quarto de vestir, com arm��rios

espelhados nas paredes e no meio uma enorme banheira redonda,

219

com ��gua perfumada a borbulhar suavemente. Um banheiro de

ladrilhos de jade, reluzente, podia ser visto atrav��s da porta aberta.

��� Venha ��� sussurrou Amarinth. ��� Vamos nos lavar e

refrescar nas ��guas perfumadas.

Lentamente, Sofia acompanhou a mo��a.

��� Judd vir�� se juntar a n��s?

��� N��o. O mestre est�� viajando pelas estrelas. Quando o sol

fechar seus olhos, ele voltar�� �� cama e ao sono. Ying e Yang entrar��o

nele e expressar��o os fluidos de seu corpo, aliviando as tens��es

interiores e restaurando o equil��brio mental.

��� Mas fizemos amor com ele. Isso n��o o satisfez?

��� E muito. Mas n��o �� assim que ele se expressa.

Sofia ficou aturdida.

��� Est�� querendo dizer que ele n��o alcan��a o orgasmo?

A mo��a baixou os olhos.

��� Isso mesmo. N��o �� a sua maneira. ��� Sofia se manteve

calada e Amarinth apressou-se em acrescentar, ansiosamente: ���

Voc�� n��o compreende. Essa �� a maneira pela qual ele ganha for��as e

conserva suas ess��ncias.

��� Ent��o por que ele se d�� ao trabalho de fazer amor?

Sofia come��ava a sentir como se estivesse falando com uma

crian��a.

��� Ele absorve a nossa ess��ncia para se misturar com a sua.

��� �� assim com todas as mo��as, n��o importa quais sejam?

��� Isso mesmo. Ele s�� encontra express��o no sono. Desperta

imediatamente depois, toda a for��a recuperada.

��� Ele me disse que voc�� prefere as garotas... �� por isso?

Amarinth n��o respondeu.

��� Todas as outras se sentem como voc��?

A mo��a assentiu.

��� Mas nenhuma de voc��s jamais quer algo mais?

��� N��o ��� murmurou Amarinth, a voz quase sumida. ��� S��

estamos felizes quando servimos ao mestre.

Sofia ficou em sil��ncio por um momento.

��� Eu me sentiria melhor se pudesse voltar ao meu chal��.

Amarinth fitou-a nos olhos.

��� Como quiser.

Ela abriu um arm��rio e tirou um roup��o felpudo, estendendo-o

220

para Sofia vestir. Vestiu outro vestido curto de seda, exatamente

como o que usava antes. E murmurou:

��� Venha comigo. Eu a conduzirei at�� o carro.

Sofia acordou em sua pr��pria cama. A claridade intensa do sol era

vis��vel nos cantos das cortinas. Ela apertou o bot��o ao lado da cama.

As cortinas se abriram e o sol inundou o quarto. Sofia olhou para o

rel��gio. Eram duas e meia da tarde. Ela estendeu a m��o para o

telefone.

��� Pois n��o, doutora? ��� disse Max.

��� Pode me arrumar um suco de laranja e um caf��, por favor?

��� Claro, doutora. Alguma coisa para comer?

��� Ainda n��o.

��� H�� dois recados. O Sr. Crane gostaria que respondesse ao

seu chamado quando acordar e o Dr. Sawyer pede que ligue para o

seu gabinete no Centro de Pesquisas, ��s seis horas.

��� Obrigada, Max. Falarei com o Sr. Crane assim que tomar o

caf��.

��� Est�� bem, doutora. O n��mero do Sr. Crane �� 1.

O suco de laranja estava doce e revigorante, o caf�� quente e

forte. Estava de acordo com o seu paladar, muito diferente do caf��

americano habitual, fraco demais. Ela ainda n��o terminara de tomar

o caf�� quando ligou para Judd. Uma mulher atendeu:

��� Gabinete do Sr. Crane.

��� Aqui �� a Dra. Ivancich, respondendo ao chamado dele.

��� Um momento, por favor, doutora. Vou transferir a liga����o.

Houve um estalido no telefone quase no mesmo instante e depois

Judd disse:

��� Descansou bem, Sofia?

��� Muito bem.

��� ��timo. Estou providenciando os arquivos de Zabiski para

voc�� ler. Est�� tudo em fita. Voc�� tem a op����o de qualquer l��ngua que

preferir e ainda os originais, com a pr��pria letra de Zabiski.

��� Prefiro o original. E gostaria tamb��m de uma c��pia em

ingl��s.

��� Providenciaremos imediatamente. Ser�� posto num proces-

sador de tela dupla, a fim de que possa ler uma ou outra, como

quiser. E temos tamb��m as anota����es para voc�� revisar. Muitos

especialistas estudaram e interpretaram o que ela escreveu.

221

��� Isso seria bastante ��til.

��� Quando acha que pode come��ar?

��� Amanh�� de manh��, se n��o se incomoda. Prefiro estar

inteiramente revigorada quando come��ar a trabalhar.

��� N��o h�� problema. Ser�� providenciada uma sala especial

para voc��.

��� Obrigada. H�� uma outra coisa que eu gostaria de lhe pedir.

��� O que ��?

��� J�� se passaram tr��s anos desde que o examinei pela ��ltima

vez. E sou m��dica, se est�� lembrado. Gostaria de efetuar um exame

f��sico, a fim de poder avaliar o seu progresso.

��� Isso lhe mostraria algo diferente do que pode descobrir

pelas anota����es de Zabiski?

��� Ainda n��o sei. Talvez n��o mostre nada. Mas, por outro

lado, alguma coisa em voc�� pode esclarecer o que ela tentou me

dizer.

��� O Dr. Sawyer j�� tem no computador todas as informa����es

que voc�� pode precisar a meu respeito.

��� �� o que est�� no computador. Com o devido respeito ao Dr.

Sawyer, seriam informa����es de segunda m��o para mim. Eu me

sentiria melhor se pudesse examinar e compreender pessoalmente.

A voz de Judd era incisiva:

��� N��o creio que seja necess��rio.

��� Desculpe, Judd, mas eu acho que ��.

��� N��o.

Ele desligou bruscamente. Sofia esperou um instante e depois

tornou a ligar. A secret��ria atendeu e ela disse:

��� Quero falar de novo com o Sr. Crane.

��� Lamento, doutora, mas n��o �� poss��vel entrar em contato

com ele neste momento.

��� Pode lhe transmitir um recado?

��� Claro, doutora.

��� Diga-lhe que estou convencida de que n��o posso ser ��til nas

circunst��ncias e que gostaria que providenciasse o meu retorno.

Judd ligou para ela logo em seguida.

��� Voc�� �� uma escrota.

��� �� poss��vel, mas sou tamb��m m��dica e acho que devo fazer

as coisas da maneira que considero certa.

Ele ficou calado e Sofia acrescentou:

222

��� Pense um pouco a respeito. Enquanto isso, ligarei para Doc

Sawyer e pedirei que venha me ajudar.

��� Acha que �� a ��nica coisa que ele tem para fazer?

��� N��o compete a mim julgar isso. Ele �� seu amigo. E seu

m��dico. Cabe a voc�� decidir.

Judd demorou a responder:

��� Ele estar�� aqui amanh�� de manh��.

��� ��timo. Eu poderia examin��-lo ent��o esta tarde, durante

cerca de uma hora?

��� Para qu��?

��� Seria ��til se fiz��ssemos exames de sangue e urina antes de

come��armos. Poderia nos poupar bastante tempo.

��� Mais alguma coisa? ��� perguntou ele, sarcasticamente.

��� Posso pensar em v��rias outras coisas, mas por enquanto me

contentarei com isso.

��� Obrigado. Seis horas est�� bom para voc��?

��� Perfeito.

��� Muito bem. Na ocasi��o, eu lhe mostrarei a sua sala.

��� Certo. S�� mais uma coisa. N��o quero usar outro daqueles

estidos brancos.

��� Se voc�� prometer n��o usar um sari.

��� Prometo.

��� Voc�� ainda �� uma escrota.

��� Eu o amo de qualquer maneira ��� murmurou Sofia,

desligando em Seguida.

223





7


S O F I A VIROU-SE para Sawyer:

��� Voc�� tinha raz��o. Fisicamente, ele est�� perfeito. S�� uma

pequena coisa me incomoda: o registro das energias el��tricas no

E E G parece mais baixo que o do ano passado.

Sawyer fitou-a atentamente.

��� Mas a diferen��a �� m��nima. Pode ser uma decorr��ncia do

momento em que se fez o registro.

��� Fiz tr��s vezes o E E G , a intervalos de quatro horas. N��o tem

nada a ver com o momento. A produ����o de energia do c��rebro est��

sistematicamente mais baixa. Poder��amos persuadi-lo a se submeter a

uma tomografia?

��� Acho que n��o. Ele teria de deixar a ilha e voltar a Boca

Raton. E me disse que n��o deixaria a ilha antes do final do seu

primeiro ano. Ou seja, daqui a dois meses.

Sofia n��o disse nada, enquanto apertava as teclas do compu-

tador. Focalizou o registro do E E G do ano anterior e superp��s o

novo. Apertou outra tecla e uma parte do registro entrou em zoom

na tela.

��� O problema est�� no registro Alfa. Oscila sobre a linha

principal. N��o entendo.

��� Transferiremos para o computador na Pesquisa M��dica e

veremos o que os neurologistas pensam a respeito.

��� Pode ajudar, mas eu me sentiria mais segura com uma

tomografia.

��� O que est�� exatamente procurando?

��� �� mais intui����o do que conhecimento. Deve estar lembrado

224

que me disse que ele mencionou seu t��dio e crescente senso de

isolamento... e testemunhei sua falta de intera����o pessoal com todos

ao redor, at�� mesmo em circunst��ncias de contato f��sico mais ��ntimo.

��� Sexo?

��� Isso mesmo. Fisicamente, ele funciona. Por dentro, por��m,

nada sente. Mesmo quando toma drogas para ajudar.

��� ��s vezes as drogas causam justamente o efeito oposto,

doutora.

��� O problema n��o est�� nas drogas. Por isso �� que falei em

intui����o. Sou uma mulher. Sei quando um homem est�� trepando por

trepar e trepando para valer. �� o mesmo ato, mas h�� uma diferen��a.

��� Pode ser o fator de esterilidade. Varia no caso dele. Uma de

suas experi��ncias foi controlar a esterilidade pela mente e mostrar

que pode separar a impot��ncia da esterilidade... que pode at�� reter o

esperma da ejacula����o org��stica. Ele est�� tentando tocar em todas as

bases: m��dica, f��sica, tecnol��gica e metaf��sica, ioga, al��m do controle

da mente t��ntrico

��� O que �� ��timo ��� comentou Sofia. ��� O prazer est�� na

cabe��a de um homem, n��o em seu p��nis. Quero saber o que est��

acontecendo em seu c��rebro e acho que a tomografia pode nos dar

algumas pistas.

��� N��o h�� nada que possamos fazer neste momento. Temos de

esperar por ele.

Sofia desviou os olhos da tela do computador.

��� Se isso serve de algum consolo, fisicamente ele n��o envelhe-

ceu um dia sequer desde a ��ltima vez em que o encontrei. Portanto,

alguma coisa est�� dando certo, embora n��o saibamos exatamente o

qu��.

Judd entrou na sala. Olhou para os dois e disse:

��� Satisfeitos?

��� Acho que sim ��� respondeu Sofia. ��� N��o descobrimos nada

errado fisicamente.

��� Eu poderia lhe dizer isso sem precisar de todos os exames ���

murmurou Judd, sem qualquer express��o.

��� Mesmo assim, eu gostaria de saber mais a respeito de sua

cabe��a. Tanto f��sica como psicologicamente.

��� N��o estou entendendo.

��� O E E G indica uma queda m��nima na eletricidade da onda

cerebral.

225

��� E isso n��o deve ser normal? Afinal, houve uma redu����o em

todas as minhas fun����es f��sicas.

��� N��o sei se deveria mesmo ser. ��� Sofia fitou-o nos olhos. ���

Como se sente? Continua t��o alerta como antes? Na minha opini��o,

parece j�� n��o estar mais t��o interessado em certas coisas.

��� �� que n��o estou mais interessado nessas coisas. Antes, eu

me divertia com jogos. Neg��cios, dinheiro, pessoas. Agora, tudo isso

me entedia. Acho que estou fazendo algo muito mais importante e

interessante. Qualquer um pode ganhar dinheiro, se assim quiser. Foi

o que eu fiz e tenho mais dinheiro do que qualquer outra pessoa.

Portanto, n��o preciso mais provar que sou capaz. Mulheres, sexo, a

mesma coisa. J�� fiz tudo. Agora, �� necess��rio apenas manter o

mecanismo f��sico em funcionamento.

Sofia olhou para Sawyer e depois outra vez para Judd.

��� E amor?

��� Emocionalmente?

Sofia assentiu.

��� Isso mesmo. Acho que �� importante para voc��, f��sica e

mentalmente.

��� Pensa que sou um idiota? ��� perguntou Judd, calmamente.

��� Que n��o sinto as coisas?

Sofia sustentou-lhe o olhar.

��� N��o sei dizer.

Judd virou-se para Sawyer.

��� O que voc�� acha?

Sawyer levantou as m��os.

��� N��o posso responder. Voc��s dois est��o acima da minha

capacidade.

Judd sorriu para Sofia.

��� Eu sinto diferente. Creio que n��o sinto t��o profundamente

quanto voc��. Mas sinto, �� minha maneira. Tente compreender. Eu

viverei eternamente. Se isso for verdade, tenho de pensar em todos

voc��s como tempor��rios. N��o devo me tornar muito afei��oado a

ningu��m, porque daqui a 20 anos ou um s��culo todo mundo j�� ter��

desaparecido e estarei vivendo com outras pessoas, em outros

tempos.

��� Por isso, voc�� reprime seus sentimentos, com medo de

perder as pessoas a quem ama? Tem medo de magoar a si mesmo?

Sofia podia sentir um aperto em sua garganta.

226

��� �� poss��vel ��� respondeu Judd, pensativo. Ele respirou

fundo. ��� Talvez amar seja parte tamb��m da mortalidade. Morre-se

um pouco com cada pessoa que se ama e se perde.

Ela conteve as l��grimas.

��� Se voc�� tivesse filhos, continuaria a viver neles.

��� Mas eu pr��prio n��o viveria. Assim como meu pai n��o viveu.

Quero estar vivo, n��o ser uma mem��ria.

Sofia tornou a virar-se para o computador e apertou diversas

teclas. N��meros faiscaram na tela. Ela apertou mais duas teclas e a

imagem transformou-se numa curva demogr��fica. Virando a cabe��a

para tr��s, mas sem olhar para Judd, ela disse.

��� De acordo com o computador, voc�� possui neste momento

uma expectativa de vida de 130 anos. Isso significa que sua atual

idade f��sica de 49 anos �� igual a um homem m��dio de 31 anos. ���

Sofia fitou-o nos olhos e acrescentou: ��� As tabelas atuariais de hoje

d��o uma E.L. de 74. Voc�� tem quase o dobro.

Judd desviou os olhos da tela para Sofia.

��� O que est�� tentando me dizer?

��� Em determinado momento, a Dra. Zabiski levou-o a uma

E.L. de 150 aproximadamente. Enquanto tentava aument��-la, quase

o matou. N��o seria melhor contentar-se com o que j�� possui agora,

ao inv��s de continuar a se submeter a experi��ncias e possivelmente se

destruir?

��� Se eu tenho de morrer, n��o importa quanto tempo ainda

durarei ou quando acontecer��. Um momento ou outro, tanto faz. O

que procuro �� o infinito.

��� N��o existe o infinito ��� murmurou Sofia. ��� Nem mesmo

al��m das estrelas.

Ele ficou pensativo por um instante, olhando de Sawyer para

Sofia.

��� Fiz os exames f��sicos, como pediu. Come��ar�� a estudar as

anota����es de Zabiski amanh��?

��� Amanh�� de manh��.

��� ��timo. Jantar ��s nove horas esta noite?

��� Certo. Obrigada.

Judd virou-se para Sawyer.

��� E voc��, Lee?

Sawyer sacudiu a cabe��a.

227

��� N��o, obrigado. Preciso voltar. Mas aceito o convite para

outra ocasi��o.

��� Combinado. Mas, agora, vamos todos subir e tomar um

drinque.

Judd tomava um suco de laranja, Doc Sawyer um scotch com gelo e Sofia um copo pequeno de vodca Starka, quase congelado, tirado do

freezer. O telefone soou ao lado da cadeira de Judd. Ele atendeu, escutou por um momento, depois estendeu o fone para Sawyer:

��� �� do seu gabinete.

Sawyer pegou o fone.

��� Pronto?

A secret��ria falou, meio contrafeita:

��� Desculpe incomod��-lo, doutor, mas achei que era importan-

te. Acabamos de receber um telefonema de Washington, de algu��m

do Departamento de Estado, perguntando se a Dra. Ivancich estava

conosco. Eu disse que n��o.

��� Fez muito bem. Al��m do mais, �� a pura verdade.

��� Tamb��m perguntaram se eu poderia entrar em contato com

ela. Respondi que n��o era poss��vel, pois n��o podia saber onde

encontr��-la. Pediram ent��o para lhe falar e informei que estava em

viagem e s�� voltaria aqui amanh�� de manh��.

��� Muito bem. ��� Sawyer desligou e olhou para Judd. ��� O

Departamento de Estado est�� procurando Sofia.

��� Estranho... ��� Judd virou-se para Sofia. ��� Tem alguma

id��ia do motivo pelo qual o Departamento de Estado poderia estar

interessado por voc��?

Sofia deu de ombros.

��� O governo �� o seu, n��o o meu. N��o sei como funciona. E na

maioria das ocasi��es, nem mesmo sei como o meu pr��prio governo

funciona.

��� Obteve o visto em Bangladesh para entrar nos Estados

Unidos?

��� N��o. Usei o visto de entrada de prazo ilimitado que voc��

obteve para mim h�� anos. ��� Ela ficou em sil��ncio por um instante.

��� Mas quando passei pela imigra����o, no JFK, indiquei o meu

endere��o de visita nos Estados Unidos como Centro M��dico Crane,

Boca Raton, Fl��rida.

228

��� O que foi correto. ��� Judd pensou por um momento. ���

Geralmente �� a imigra����o que verifica os visitantes.

��� Foi o que disse a secret��ria.

��� Ligue para ela e pergunte se tem o nome da pessoa que

telefonou. Se tivermos um nome, posso mandar a Seguran��a efetuar

um levantamento. Se �� mesmo o Departamento de Estado, alguma

coisa est�� acontecendo e quero saber do que se trata.

229





8


O JANTAR estava posto numa mesinha redonda numa alcova com

janela da biblioteca. Judd virou-se quando ela entrou na sala.

��� Voc�� p��s o vestido branco.

Sofia sorriu.

��� Fiz algumas altera����es.

��� N��o precisava. Eu teria lhe mandado outro.

��� Tenho uma afei����o sentimental por este.

Judd entregou-lhe um copo gelado de vodca, depois pegou seu

pr��prio copo.

��� Sant��.

��� Sant��. ��� Sofia olhou para o copo dele. ��� Uma Coca

temperada? Judd riu.

��� Tamb��m tenho minhas fidelidades sentimentais. ��� Ele

ajudou-a a sentar-se e foi ocupar a cadeira no outro lado da mesa. ���

N��o sou t��o desprovido de emo����es como voc�� pensa.

��� Desculpe. N��o tive a inten����o de magoar seus sentimentos.

��� N��o precisa pedir desculpas. Lembre-se apenas que o fato

de eu ter um sonho n��o significa que n��o seja humano.

��� N��o seria com isso que eu me preocuparia. Voc�� �� mesmo

humano, talvez at�� demais.

��� N��o a compreendo absolutamente.

Sofia sorriu.

��� Nem tente. Ponha toda a culpa no fato de eu ser mulher.

��� Est�� bem. Pensei em jantarmos alguma coisa leve e irmos

cedo para a cama. Tivemos um dia cansativo e amanh�� ser�� bastante

��rduo para voc��.

230

O jantar consistiu de peito de galinha em fatias com um molho,

cenouras defumadas cortadas al dente, ervilhas, uma salada e queijo

brie. Judd bebeu ��gua e Sofia um Chablis seco. Nenhum dos dois tomou caf��.

��� Estava ��timo ��� disse ela, empurrando a cadeira para tr��s.

��� E j�� estou plenamente satisfeita.

��� Acha que pode dormir?

��� Tentarei. E se n��o conseguir, tomarei uma p��lula.

��� Desapontada?

Sofia deu de ombros.

��� N��o muito. J�� o conhe��o bastante agora para saber que n��o

se interessa por todos os detalhes do assunto.

��� N��o est�� zangada?

��� N��o ��� respondeu Sofia, levantando-se. ��� O que foi mesmo

que voc�� me disse uma vez? Um americanismo... golpes diferentes

para pessoas diferentes.

��� Essa n��o �� a minha linha. �� coisa de Fast Eddie.

Sofia riu.

��� N��o importa quem disse. ��� Ela fitou-o nos olhos. ���

Continuo como antes. Ainda adoro foder. E preciso muito.

��� Amarinth...

Sofia n��o o deixou continuar:

��� N��o quero ela, mas voc��.

��� Amarinth �� muito talentosa. Tem as m��os pequenas e

macias, com o punho pode ench��-la mais e mais fundo do que

qualquer homem.

��� N��o, obrigada. Eu poderia fazer t��o bem com o meu

vibrador. Mas prefiro me contentar com a minha p��lula.

Judd suspirou e levantou-se tamb��m. Beijou-a no rosto e

pegou-lhe a m��o.

��� Vamos. Eu a levarei at�� o carro.

O telefone soou no instante em que ele entrou no quarto. Judd

apertou um bot��o no painel de controle e os alto-falantes na parede,

com microfones embutidos, entraram em funcionamento.

��� Crane falando ��� disse ele, em tom natural.

��� Espero n��o t��-lo acordado ��� disse Merlin.

��� N��o acordou. �� pouco mais de 11 horas aqui.

231

��� Fechamos o neg��cio no banco. A Transatlantic transferir��

500 milh��es amanh��. Assumem as opera����es no dia seguinte.

��� O Departamento de Justi��a aprovou?

��� Tudo. Estamos enviando 400 milh��es para a funda����o. O

que vai querer que fa��amos com os seus 100 milh��es?

��� Quanto terei de pagar de impostos?

��� Nada. Ainda tem um preju��zo pessoal de 200 milh��es para

deduzir.

Juddy pensou por um momento.

��� Transfira 25 milh��es para o Centro M��dico como um

empr��stimo pessoal e mande os restantes 75 milh��es para serem

divididos em partes iguais entre minhas contas pessoais na Su����a e

Bahamas.

Merlin disse, sem qualquer entona����o:

��� O Centro M��dico Crane vai consumir tudo rapidamente,

mas o dinheiro �� seu.

��� Tem raz��o ��� declarou Judd, secamente. ��� O dinheiro ��

meu.

Merlin ficou em sil��ncio e Judd acrescentou:

��� Mais alguma coisa?

��� A Mitsubishi nos fez uma oferta de um bilh��o e meio de

d��lares pela Crane Engineering and Construction ��� respondeu

Merlin, relutante.

��� Qual �� o nosso ativo atual?

��� Temos um patrim��nio l��quido duas vezes maior. Tr��s

bilh��es.

Judd pensou por um momento.

��� Diga a eles que podem ficar por dois bilh��es.

��� N��o quero comentar essa decis��o. Come��o a pensar que

deseja se livrar de tudo.

��� Talvez seja isso mesmo. Dinheiro n��o �� mais importante

para mim. J�� tenho mais do que preciso.

��� Mas aceitar a oferta da Mitsubishi representaria um preju��zo

de um bilh��o .

A voz de Merlin era chocada. Judd mostrou-se paciente:

��� Se vend��ssemos por tr��s bilh��es de d��lares, quanto ter��a-

mos de pagar de impostos?

Ele quase que podia ouvir Merlin fazendo os c��lculos em seu

computador. A resposta veio um momento depois:

232

��� Entre 700 e 800 milh��es de d��lares.

��� Ent��o quanto nos vale mais um bilh��o de d��lares no pre��o?

N��o �� o bastante para enfrentar toda a verifica����o a que ser��amos

submetidos pela Receita Federal. E eles poderiam manter o dinheiro

retido durante cinco anos, enquanto estudam a transa����o. Dessa

maneira, o preju��zo aparece patente, eles n��o t��m argumentos e o

preju��zo l��quido �� apenas de 160 milh��es para a funda����o e 40

milh��es para mim.

Merlin n��o disse nada.

��� N��o fique desanimado ��� exortou Judd, gentilmente. ���

Est�� na hora de come��armos a nos livrar de algumas responsabilida-

des. Talvez assim todos possamos gozar a vida um pouco mais.

Merlin suspirou atrav��s dos alto-falantes.

��� Acho que seu pai n��o concordaria com isso.

A voz de Judd soou incisiva:

��� Meu pai est�� morto. E acho que j�� participei desse jogo por

tempo demais. Ainda estou vivo e espero desfrutar a vida um pouco

mais.

��� Est�� bem ��� murmurou Merlin, desolado. ��� Apresentarei

sua proposta �� Mitsubishi.

��� Obrigado, Merlin. Boa noite.

��� Boa noite.

Judd cortou a liga����o e atravessou o quarto at�� a janela.

Contemplou o mar noturno. A lua subia pelo c��u e sua claridade

come��ava a dan��ar pela ��gua. Judd iniciou os exerc��cios de respira-

����o. E foi sentindo que tudo dentro de seu corpo funcionava a um

ritmo mais lento.

Sentiu mais do que ouviu passos leves entrarem no quarto. E

depois estavam, a seu lado. Dedos macios come��aram a despi-lo. A

camisa e a cal��a pareceram deixar seu corpo flutuando. M��os

pequenas o conduziram a uma enxerga redonda e dura, cerca de meio

metro acima do ch��o. Sem ver as m��os que o ajudavam, ele assumiu

a posi����o l��tus, de frente para as janelas pintadas pela noite. As luzes

do quarto foram diminuindo, at�� se igualarem ao c��u noturno. Uma

vela, quase ao n��vel dos olhos, come��ou a bruxulear �� sua frente.

Ele olhou fixamente para a luz, at�� que a t��nue claridade

come��ou a pesar em suas p��lpebras. Dedos pequenos lhe fecharam os

olhos, mas a luz da vela permaneceu gravada dentro das p��lpebras.

233

Os passos se afastaram um momento depois. Ele ficou silencioso e

sozinho.

A mente vagueou por seu corpo. Sentiu os dedos dos p��s, os

p��s, depois as pernas. Os test��tulos e p��nis estavam macios e quentes,

a virilha e a barriga relaxadas. O peito movia-se gentilmente por cima

dos pulm��es, o bombeamento f��cil do cora����o ecoava na audi����o de

sua mente.

N��o demorou muito para que estivesse longe, a percep����o

deixando-o para tr��s. Sentiu-se plenamente integrado com a cons-

ci��ncia do universo. O poder dentro dele era o poder que havia fora.

Em sua mente e com sua mente, ele se elevou. E dormiu na noite

intermin��vel de sua alma. Outra estrela, outra estrela, outra es-

trela...

234





9


A LUZ na mesa marcava seis e meia. Sofia apertou o bot��o ao lado

e as cortinas se abriram. O sol da manh�� j�� se elevara acima do

mar. Ela pegou o telefone. Max atendeu prontamente:

��� Bom dia, doutora.

��� Toronja, caf��, ovos mexidos com bacon. Um bule de caf��

bem grande.

��� Obrigado, doutora. Levarei imediatamente.

Ela desligou e foi para o banheiro. Tomou um banho de

chuveiro r��pido para se livrar do resto de sono. Ainda se sentia meio

lerda quando saiu de baixo da chuveirada quente e fria. Enrolou a

toalha no corpo e foi para o quarto. A mesa com o caf�� da manh�� j��

estava posta.

Serviu-se de uma x��cara de caf�� antes de se sentar. Estava bem

forte. Ela tomou tudo, serviu-se de mais, sentou-se e pegou a

toronja. O telefone tocou. Ela n��o precisou levantar para atender:

��� Dra. Ivancich falando.

��� Espero n��o t��-la acordado, Sofia ��� disse Sawyer.

��� J�� estou tomando o caf�� da manh��.

��� Experimentei uma coisa interessante ��� disse ele, ansiosa-

mente. ��� Comparei os EEGs dos ��ltimos cinco anos com as

tomografias feitas nas mesmas ocasi��es. Convertemos as tomografias

em termos matem��ticos e depois as reconstitu��mos. Em seguida,

projetamos em gr��ficos de computador. E pareciam demais com as

tomografias originais. Fiz o mesmo processo com os EEGs que

tiramos ontem. S��o terrivelmente interessantes, Sofia.

��� Eu gostaria muito de ver isso.

235

��� E pode ver agora mesmo. Ligue a televis��o em seu quarto.

Est�� ligada ao computador central. Aperte os seguintes n��meros:

748, 61, 011, 953. Anotou?

Ele esperou at�� que Sofia voltasse a falar.

��� J�� bati os n��meros, mas n��o apareceu nada na tela.

��� Acrescente a palavra Computrac.

A tela adquiriu vida. A imagem tinha movimento e cores.

��� J�� tenho a imagem ��� disse Sofia. ��� O que devo procurar

agora?

��� Vou superpor o material novo sobre as antigas tomografias.

Observe o pequeno rastro de luz azul na ��ltima faixa.

��� Estou vendo.

��� Esse �� o n��vel el��trico atual. Observe agora a mesma coisa

nas faixas superpostas. Parecem estar se movendo mais depressa. A

nova tomografia tamb��m indica que o c��rebro total est�� uma fra����o

maior.

��� Est�� querendo dizer que o c��rebro dele talvez esteja

crescendo?

Sofia estava totalmente incr��dula.

��� N��o tenho certeza, mas �� poss��vel que o peso do c��rebro

tenha aumentado at�� dois gramas. Se for verdade, isso explica a

redu����o do ritmo dos impulsos. Ele est�� na verdade usando mais

c��lulas do c��rebro e por necessidade foram produzidas mais c��lulas

para ag��entar a carga.

��� Ainda estou tentando compreender.

��� Devemos ser cautelosos. Isso �� um gr��fico de computador,

n��o a coisa real. Mas h�� um pensamento que me ocorreu. Sabe se

Zabiski injetou algumas de suas pr��prias c��lulas cerebrais na

combina����o de terapia celular quando trabalhou nele?

��� N��o, n��o sei. Ela guardou s�� para si essa parte do processo.

Nunca permitiu que ningu��m a observasse.

��� Foi apenas uma id��ia ��� murmurou Sawyer, quase que para

si mesmo. ��� Eu ainda gostaria de fazer uma tomografia nele o mais

cedo poss��vel.

��� Vamos mostrar-lhe isto. Talvez ele concorde.

��� Espera encontr��-lo mais tarde?

��� Claro. Come��arei a trabalhar no material de Zabiski esta

manh��. Levarei isso a ele quando o encontrar.

A tela se apagou.

236

��� Boa sorte ��� disse Sawyer.

��� Boa sorte para voc�� tamb��m.

A luz do sol atravessou as p��lpebras de Judd. Sem se mexer na cama

dura, ele abriu os olhos. O quarto parecia todo enevoado; sua vis��o

logo se desanuviou. Ele virou a cabe��a e olhou para as mo��as

sentadas ao lado da cama, no ch��o. Elas falaram quase em un��ssono:

��� Bom dia, mestre.

��� Bom dia ��� respondeu Judd, lentamente.

��� Viajou longe?

��� Muito longe.

��� Maravilhoso. N��s ficamos muito felizes. Obrigada, mestre.

Os corpos nus, dourados dos raios do sol, rebrilhavam quando

elas sa��ram correndo do quarto.

Judd continuou im��vel na cama. Um momento depois, sentiu o

corpo estremecer. N��o se mexeu. Tornou a sentir um calafrio. Ouviu

a porta se abrir. N��o virou os olhos.

Amarinth, no pequeno vestido branco sem al��as, fitou-o, os

olhos escuros e ��midos. Judd estremeceu mais uma vez e contem-

plou-lhe os olhos.

��� Viajou muito longe e est�� frio com o gelo da viagem ���

murmurou Amarinth. ��� Deixe o meu fogo interior aquec��-lo.

Judd permaneceu em sil��ncio. Fitou os olhos dela e depois o

tronco inclinado. Viu as m��os da mo��a pegarem sua ere����o, as pontas

dos dedos contornarem os test��culos. Ele respirou fundo. E conti-

nuou em sil��ncio, os olhos nos dela.

��� Sua for��a �� o cume duro da palmeira, abrindo-se para

derramar um regato de amor sobre meus dedos. ��� Os olhos de

Amarinth n��o se desviavam dos olhos de um azul-cobalto de Judd. ���

Por favor, mestre, permita que eu o sirva.

Ele n��o disse nada. A mo��a levantou o vestido at�� a cintura e

postou-se na cama, as pernas por cima e guiou-o para dentro do seu

corpo. As n��degas come��aram a rebolar num frenesi de prazer.

��� Mestre! Mestre! ��� gritou Amarinth. ��� Fa��a-me um filho!

Por favor, fa��a-me um filho!

E depois ela observou os olhos de Judd. Estavam distantes,

nada viam, por tr��s de uma pel��cula que ela n��o podia penetrar.

��� Mestre... ��� murmurou Amarinth, as l��grimas escorrendo

pelas faces.

237

Lentamente, ela se afastou de Judd. Ele estava mole, a ere����o

acabara. Ela ficou de joelhos na cama, ao seu lado. Suas l��grimas

eram quentes na m��o de Judd.

��� Desculpe, mestre. Desculpe n��o ser capaz de agrad��-lo.

Ele virou-se para fit��-la e beijou-a na cabe��a.

��� N��o precisa se desculpar, crian��a ��� disse Judd, gentilmen-

te. ��� Voc�� me agradou. Sou eu que n��o posso agrad��-la.

Ele sentou-se na cama.

��� Por favor, crian��a, apronte meu banho. E brincaremos

como crian��as na ��gua.

��� Mas eu n��o compreendo, mestre. Nunca entrou em mim.

��� Isso n��o tem import��ncia, crian��a. A morte s�� vir�� se eu

permitir que venha.

��� Na minha terra, mestre, acreditamos que os filhos prolon-

gam a vida.

��� Aqui �� outra terra, outro pa��s.

O copo de suco de laranja habitual estava em sua mesa quando ele

entrou no escrit��rio particular. Eram 11 horas e o rosto bronzeado se

achava coberto de suor, que tamb��m manchava o uniforme branco de

gin��stica. Ele tomou o suco de laranja, enquanto apertava o bot��o

que ativava as mensagens registradas no Computador Central. Havia

algumas: Merlin; diretor da Seguran��a; Doc Sawyer; sua m��e,

Barbara; Dr. Schoenbrun, do Brasil.

Judd apertou dois outros n��meros. O primeiro chamado foi

para Schoenbrun. Era o mais importante da lista. A liga����o foi

completada prontamente atrav��s do sat��lite Crane. Ele ligou a tela e

o rosto do Dr. Schoenbrun apareceu.

��� Como vai, Dr. Schoenbrun?

O alem��o sorriu, satisfeito.

��� Vou bem, obrigado. Tenho boas not��cias, Sr. Crane.

��� Isso �� ��timo. Estou sempre precisando de boas not��cias.

��� O reator nuclear est�� instalado. Duas semanas antes do

prazo previsto.

��� Meus cumprimentos, doutor. Quando posso esperar a

conclus��o das obras?

��� Dois meses, 10 semanas no m��ximo. At�� l��, as tubula����es

devem ficar prontas e o domo devidamente instalado. E assim que

isso acabar, os tratores cobrir��o tudo com 10 metros de terra.

238

��rvores e arbustos ser��o plantados em menos de uma semana, de tal

forma que nem mesmo os sat��lites mais sofisticados poder��o detectar

qualquer coisa. Parecer�� exatamente como a floresta ao redor.

��� ��timo. E quando poderemos acionar o reator nuclear?

��� Dentro de tr��s meses, talvez menos. Todos os testes estar��o

conclu��dos at�� l��.

��� Somente eu devo acionar o reator.

��� Claro, Sr. Crane. A id��ia foi sua e deve ter a honra de

apertar o bot��o.

Judd pensou por um momento.

��� O Projeto Xanadu ��� murmurou ele, quase para si mesmo.

��� J�� se passaram tr��s anos.

��� Isso mesmo, Sr. Crane. A princ��pio, n��o entendi o significa-

do do nome Xanadu. Depois li o poema e compreendi. Mas seu

sonho �� maior que o de Kublai Khan.

��� Quero relat��rios semanais, daqui por diante.

��� N��o h�� problema, Sr. Crane. ��� Schoenbrun sorriu afetada-

mente para si mesmo. ��� Ningu��m poderia acreditar. �� a mais

potente usina de energia nuclear do mundo, enterrada no fundo da

terra, a mil e 500 quil��metros pela selva amaz��nica.

��� Sem o trabalho pioneiro de Ludwig, o nosso talvez nunca

fosse tentado ��� comentou Judd.

��� Seu g��nio tornou tudo poss��vel, Sr. Crane. Mesmo que eu

mal possa acreditar que temos uma usina t��o automatizada que basta

um ��nico homem para oper��-la.

��� N��o subestime o seu pr��prio g��nio e trabalho, Dr. Schoen-

brun. Talvez o mundo algum dia venha a apreci��-lo. Como eu fa��o

agora.

��� Obrigado, Sr. Crane.

Schoenbrun hesitou por um instante. Judd apressou-se em

falar, pois podia prever o que o cientista diria:

��� Cinco milh��es de d��lares ser��o transferidos para sua conta

na Su����a esta manh��. N��o se esque��a de que outros cinco milh��es de

d��lares ser��o depositados no momento em que eu apertar o bot��o

que aciona o reator.

��� Obrigado, Sr. Crane ��� disse Schoenbrun, quase fazendo

uma rever��ncia na tela.

��� At�� a pr��xima, Dr. Schoenbrun.

Judd apertou uma tecla do computador e a liga����o foi cortada.

239

Passou as outras mensagens rotineiramente e chamou o Controle de

Seguran��a. O diretor entrou na linha.

��� John? Aqui �� Judd Crane.

��� Pois n��o, Crane. ��� O diretor de Seguran��a era sempre

cauteloso. ��� Estamos numa linha segura, senhor?

��� Estamos, sim. Pode falar.

��� Nossa doutora est�� outra vez numa encrenca.

��� Explique.

��� Ela est�� sendo alvo de quatro contratos. R��ssia, Jugosl��via,

China e a M��fia, contratada pelos cubanos. �� uma combina����o dif��cil

de vencer.

��� N��o estou entendendo, John. Por que logo agora? Ela

passou tr��s anos em Bangladesh, onde poderiam liquid��-la facil-

mente.

��� Ao que parece, est��o convencidos de que ela roubou alguns

documentos ultra-secretos, cuja falta s�� descobriram recentemente.

Pelo que posso calcular, os documentos tinham alguma rela����o com

as experi��ncias da falecida Dra. Zabiski.

��� Devem saber dos arquivos que Zabiski me deu.

��� N��o, n��o foi isso. Eles j�� sabem dessa parte. Eu diria que

somente uma parte dos arquivos est�� em seu poder. Permitiram que

Zabiski lhe desse isso a fim de que concordasse em lhe devolver

Ivancich.

Judd ficou em sil��ncio por um momento.

��� E onde est�� o resto dos documentos?

��� Creio que com Ivancich. Caso contr��rio, por que eles

estariam querendo peg��-la agora? ��� O diretor da Seguran��a fez uma

pausa. ��� Acho melhor refor��armos as medidas de seguran��a em

torno da Ilha Crane. Eles n��o levar��o muito tempo para descobrirem

onde ela se encontra.

��� Sawyer j�� sabe disso?

��� Ainda n��o. Voc�� �� o chefe, o primeiro a receber as not��cias.

��� N��o diga nada a ele por enquanto. N��o quero deix��-lo

nervoso. Mas providencie uma prote����o completa para ele. N��o

quero que ningu��m o desmonte numa tentativa de arrancar informa-

����es.

��� Pois n��o, senhor. E a Ilha Crane?

��� Quatro helic��pteros blindados no c��u sobre a ilha durante

24 horas por dia. Oito lanchas blindadas de alta velocidade na ��gua,

240

tamb��m 24 horas por dia. E 20 dos nossos melhores atiradores

espalhados pela ilha, tamb��m dia e noite.

��� Precisaremos de seis horas para providenciar tudo isso,

senhor.

��� Tem duas horas. Podemos n��o dispor de seis horas.

241





10


A v o z DE SOFIA ao telefone era furiosa:

��� Aquela cadela velha! Ela sacaneou todos n��s!

A voz de Judd soou impass��vel no fone em seu ouvido:

��� E o que h�� de novidade nisso?

��� Voc�� n��o parece excitado. Talvez n��o tenha entendido o

que eu falei. Ela nunca planejou que voc�� tivesse todas as respostas.

��� N��o sou est��pido. J�� sabia disso. Por que acha que lhe pedi

para vir at�� aqui? Pensei que tivesse algumas das respostas. N��o foi o

que roubou dos arquivos dos russos?

��� Como soube disso?

��� N��o importa agora. Metade do mundo oriental est�� atr��s de

voc��. N��o tem onde se esconder, a n��o ser comigo.

��� Foi isso que o Departamento de Estado lhe informou?

��� Em parte. O que me diz dos seus arquivos?

��� Vou us��-los. Mas n��o ser�� suficiente. H�� uma terceira

parte. Mas acho que sei onde se encontra.

��� Pois ent��o me diga. ��� A voz de Judd era- incisiva. ��� Com

quem est��?

��� O indiano mencionado em seus arquivos. N��o havia qual-

quer refer��ncia a ele nos documentos que ficaram com os russos.

Seus arquivos cobrem tudo, desde o in��cio de 1953 em diante. Os

russos t��m as mesmas informa����es que voc��, menos a alus��o ao

indiano. Os arquivos deles remontam a 1944, quando capturaram um

laborat��rio experimental alem��o em que a Dra. Zabiski trabalhava.

��� Ela trabalhava com os alem��es? ��� indagou Judd, surpreso.

��� Isso mesmo ��� respondeu Sofia, calmamente. ��� Por que

242

isso o surpreende? Os americanos n��o capturaram todos os cientistas

alem��es especializados em foguetes e os trouxeram para os Estados

Unidos?

��� Est�� bem, est�� bem... ��� murmurou Judd, impaciente. ���

Mas, afinal, o que voc�� est�� tentando me dizer?

��� Os russos capturaram a Dra. Zabiski e alguns outros

cientistas, mas os arquivos de 1941 a 1943 jamais foram encontrados.

Ela disse que foram queimados, juntamente com um cientista indiano

que os nazistas consideraram n��o-ariano. Mas acho que ela deu jeito

para que o indiano escapasse, levando os arquivos, antes de os russos

chegarem.

��� Ent��o como ela conseguiu fazer alus��o ao indiano nos meus

arquivos?

��� Examine o seu original. As anota����es sobre o indiano foram

escritas por ela com uma caneta esferogr��fica. O resto est�� datilogra-

fado ou escrito com uma caneta-tinteiro. Meu palpite �� de que ela

acrescentou as anota����es no avi��o, quando vinha encontr��-lo. E

tamb��m tenho a impress��o de que o indiano n��o era um dos m��dicos

da equipe. De alguma forma, ele garantiu o sucesso das experi��ncias

da Dra. Zabiski. E foi por isso que ela quis salv��-lo.

��� O que aconteceu com os outros?

��� Encontrei nos arquivos russos alus��es a muitas experi��ncias

que foram sepultadas com os cientistas que as realizaram. ��� Sofia

pensou por um momento. ��� Voc�� tinha raz��o quando disse que ela

era uma mulher forte e dura.

��� E era mesmo.

��� Mas era tamb��m um g��nio. E voc�� foi o ��nico em quem ela

mais confiou.

��� Mas calculo que n��o o suficiente para me entregar tudo.

��� Talvez ela n��o fosse capaz de p��r todas as informa����es num

s�� lugar. Se o fizesse, os russos poderiam se apoderar e ela n��o sabia

como as usariam. Voc�� era o ��nico homem no mundo a quem ela

achava que podia confiar esse poder. ��� Sofia fez uma pausa. ��� O

que vamos fazer agora?

��� Por que n��o tentou entrar em contato comigo antes?

��� Tentei uma vez. Mas n��o dispunha de tempo suficiente e

n��o consegui localiz��-lo. Tive de voltar logo, pois ainda era a m��dica

de Brezhnev. Depois que ele morreu, fui enviada a Bangladesh, a fim

de trabalhar em experi��ncias nutricionais numa cl��nica infantil.

243

Quando recebi sua mensagem, larguei tudo de madrugada. Se

esperasse at�� o dia seguinte, estaria tudo acabado para mim. Eles

interceptariam a sua mensagem e me matariam. Por mais ��til que eu

lhes fosse, ainda sabia demais.

Judd ficou calado. Sofia sentia-se agora extremamente cansada.

��� Acho que est�� acabado agora. Talvez seja melhor eu voltar.

Voc�� pode ficar com os arquivos. Iria obt��-los de qualquer maneira,

se eu morresse.

��� Prefiro v��-los com voc�� ainda viva. N��o pretendo perd��-la

agora.

��� Fala s��rio?

��� N��o ouviu o que acabei de dizer? ��� respondeu Judd,

bruscamente. ��� Agora, tranque a porta de sua sala e n��o a abra at��

ouvir minha voz do lado de fora.

O telefone estalou em seu ouvido. Lentamente, Sofia rep��s o fone no

lugar e come��ou a se levantar. Houve uma batida suave na porta. Ela

abriu a bolsa e tirou a Magnum especial, de cano curto, estendendo-a

para a frente, segurando-a com as duas m��os.

��� Quem ��?

��� Max, doutora. ��� A voz soou abafada atrav��s da porta. O

Sr. Crane pediu que viesse lhe trazer o almo��o.

��� Entre ��� disse Sofia, calmamente. ��� A porta est�� aberta.

A porta se abriu e ela viu-o, uma das m��os se estendendo para

alguma coisa no bolso interno do casaco. Uma express��o de surpresa

estampou-se em seu rosto ao avistar a arma nas m��os de Sofia. Foi a

��ltima coisa que ele viu.

A bala de grosso calibre arremessou-o pela porta aberta de

volta ao corredor, o sangue se derramando pelo peito do casaco

branco. Ele girou, apoiando-se na parede do outro lado, depois

escorregou lentamente para o ch��o, diante das portas do elevador. O

tiro ressoou pelos corredores como uma explos��o.

Sofia permaneceu na sala, ainda segurando a arma rigidamente.

Ouviu passos r��pidos se aproximando pelo corredor. As portas do

elevador se abriram um instante depois.

Fast Eddie, empunhando a sua enorme autom��tica Colt, saiu

rapidamente, passando por cima do corpo de Max. Ajoelhou-se ao

lado, no corredor, enquanto os guardas se aproximavam correndo.

Judd, logo atr��s deles, correu para as portas do elevador. Ele sentiu

244

mais do que viu a porta no canto do corredor se abrir e gritou para

Fast Eddie:

��� Atr��s de voc��!

Fast Eddie virou-se, mas Sofia foi ainda mais r��pida. Puxou o

gatilho da Magnum no instante em que Mae apareceu na porta, a

pistola-metralhadora Uzi se levantando em suas m��os j�� mortas. O

tiro novamente ressoou como uma explos��o pelos corredores. Mae

cambaleou de volta ao interior da sala, a Uzi caindo ao ch��o

ruidosamente. Fast Eddie olhou para Mae e depois virou-se para os

outros, anunciando:

��� Ele tamb��m se apagou.

Judd passou por cima do corpo de Max e aproximou-se de

Sofia. Podia perceber a palidez extrema em seu rosto, a tens��o r��gida

do corpo. Ele estendeu a m��o e pegou a Magnum, murmurando:

��� E pensei que n��s ter��amos de proteg��-la...

A tens��o se desvaneceu do corpo de Sofia, o medo desapareceu

de seus olhos. Ela deixou escapar um suspiro e disse, com uma

tentativa de sorriso:

��� Calculei que essa �� a ��nica maneira, se voc�� quer viver

eternamente, Judd.

��� Eles n��o estavam atr��s de mim.

��� As balas sempre encontram um meio de alterar a expectativa

de vida. �� preciso ter o m��ximo de cuidado.

Ele olhou para a Magnum. Puxou a trava e abriu o cilindro.

Virou o cano para cima e deixou as balas ca��rem em sua palma. Havia

quatro balas n��o disparadas e dois cartuchos vazios. Ele examinou as

balas e depois levantou os olhos para Sofia.

��� Muito eficiente. Balas explosivas. Tudo nesta arma ��

especial. Onde a conseguiu?

��� No KGB. Eles t��m um homem que se especializa em

brinquedos assim.

��� J�� a tem h�� muito tempo?

��� Dez anos. Mas �� a primeira vez que a uso, a n��o ser em

exerc��cios.

Judd largou a arma e as balas no bolso do seu macac��o. Virou-

se para o corredor. Estava repleto de guardas. Ele gesticulou para

Fast Eddie e disse, pegando a m��o de Sofia:

��� Vamos para a minha sala.

245

Ela seguiu-o para o elevador. Fast Eddie entrou atr��s deles.

Judd p��s a m��o sobre o bot��o, sem apert��-lo.

��� Qual de voc��s �� o encarregado deste turno?

��� Sou eu, Sr. Crane ��� disse um homem alto e forte, de

cabelos grisalhos. ��� Agente Carlin.

��� Limpe toda essa confus��o, Agente Carlin. E depois envie um

grupo ao chal��. Revistem tudo l�� e tragam as coisas da Dra. Ivancich

para o meu apartamento.

��� Pois n��o, senhor. Lamento profundamente o que aconteceu,

mas n��o havia como prever. Eles tinham os passes de seguran��a.

��� A culpa n��o �� sua, Agente Carlin. Falarei com o Controle de

Seguran��a.

Judd finalmente apertou o bot��o e as portas do elevador

fecharam.

246





11


��� L A M E N T O MUITO, Sr. Crane ��� disse John, calmamente. ���

Receio que ter�� de se livrar da ilha. N��o h�� a menor possibilidade

de podermos defend��-la.

Judd correu os olhos pela biblioteca. Merlin sentava-se ao

lado de John, o diretor da Seguran��a, em cadeiras diante de sua

mesa, Sofia e Doc Sawyer estavam no sof��. Fast Eddie estava de p��,

encostado no bar. Judd virou-se para as janelas e contemplou o c��u

noturno. O mar estava escuro e amea��ador, nuvens cobriam a lua.

��� N��o sei como os dois passaram pela rede de seguran��a, mas

a verdade �� que conseguiram ��� continuou John. ��� N��o se

encontrou nada que lhes pertencesse no chal��. Temos de presumir

que fizeram contato com seu pessoal em Havana. As impress��es

digitais que conferimos nos arquivos do FBI identificaram-nos como

integrantes da primeira leva de refugiados que Castro despachou

para os Estados Unidos, ao longo de um per��odo de 10 anos.

John fez uma pausa. Estava visivelmente constrangido.

��� N��o sei como eles conseguiram passar por nossa investiga-

����o. Mas o fato �� que erramos nessa e tudo o que posso dizer �� que

lamento muito, senhor.

Judd fitou-o sem qualquer express��o.

��� Preciso de mais dois meses aqui.

��� Poder��amos colocar um ex��rcito aqui que de nada adianta-

ria, senhor. Eles poderiam p��r mais de uma centena de homens na

ilha da noite para o dia. A ��nica maneira que tenho de garantir a sua

prote����o �� mant��-lo em movimento.

Sofia levantou-se e olhou para Judd.

247

��� Deixe-me voltar. Sou a pessoa que eles querem. Poder��

ent��o cuidar do que lhe interessa sem qualquer interfer��ncia.

Judd sorriu para ela.

��� Est�� enganada. Se isso fosse verdade, por que eles coloca-

riam agentes na ilha muito antes de desconfiarem que voc�� viria para

c��? Tenho o pressentimento de que querem n��s dois, separadamente

ou juntos... mas ambos.

��� Concordo plenamente com o Sr. Crane ��� disse John. ��� O

objetivo deles vai muito al��m de sua pessoa, doutora.

��� Mesmo que eu levasse para eles todos os arquivos? ���

perguntou Sofia.

��� N��o sei o que h�� nesses arquivos ��� disse John. ��� Mas n��o

importa o que lhes entregue, eles continuar��o a pensar que n��o

receberam tudo.

Sofia virou-se para Judd.

��� Sinto muito.

��� N��o precisa. Lembre-se de que fui eu quem a convidou a vir

para c��. ��� Judd virou-se para Doc Sawyer. ��� Quando acha que

podemos transferir todo o equipamento para Xanadu?

��� Xanadu? J�� est�� pronto?

��� N��o completamente. Mas podemos apressar os planos.

Talvez n��o seja poss��vel ligar tudo imediatamente, mas podemos nos

instalar l��.

Sawyer pensou por um momento.

��� Duas semanas para desmontar tudo aqui, talvez uma

semana para transferir tudo, depois umas duas ou tr��s semanas para

remontar em Xanadu.

��� Um m��s e meio?

��� Por a��.

��� Xanadu? ��� interveio Sofia perplexa.

��� Eu lhe contarei tudo no momento oportuno ��� disse Judd.

��� Mas descobri, quando ainda constru��amos as instala����es na ilha,

que Zabiski n��o estava inteiramente correta em suas suposi����es. Ela

pensava apenas em termos dos seus pr��prios par��metros. A Ilha

Crane ficaria exposta ao mundo, assim como era a sua cl��nica. Ela

achava que cinco quil��metros ao largo da costa proporcionariam

prote����o e privacidade suficientes. Estava enganada. E eu tamb��m.

Pelo menos a princ��pio.

248

��� E come��ou ent��o a construir outro complexo para substituir

este?

Judd confirmou com um aceno de cabe��a, depois virou-se para

John.

��� Acha que podemos continuar aqui por mais seis semanas?

��� N��o. ��� O tom era categ��rico. ��� Voc�� precisa se manter em

movimento. E ningu��m deve saber para onde vai, como ou quando

vai partir.

��� Mas o que me diz do equipamento? ��� indagou Judd. ���

Mesmo que eu fosse embora, eles viriam aqui, se pensassem que

continuo na ilha.

��� Deixar��amos que constatassem que j�� foi embora. E depois

ter��amos de ser r��pidos e furtivos. Num momento eles o v��em, no

instante seguinte j�� n��o encontram. Move-se mais depressa que a luz.

Judd n��o fez qualquer coment��rio. Merlin levantou as m��os e

interveio na conversa:

��� E o que acontecer�� com os neg��cios... as empresas?

��� Teremos de encontrar um meio de nos mantermos em

contato. Enquanto isso, tentamos descobrir um meio de descarregar-

mos tudo o que for poss��vel, exceto as empresas m��dicas e de

comunica����es.

��� Estar�� perdendo mais de quatro bilh��es de d��lares ���

protestou Merlin.

��� Qual a diferen��a entre quatro bilh��es de d��lares e quatro

centavos para um morto? ��� Judd virou-se para John. ��� Comece a

tomar todas as provid��ncias. Quero estar fora da ilha amanh��.

��� E qual ser�� a primeira escala?

��� Washington. Qual a maior visibilidade que eu poderia

alcan��ar do que um encontro com o presidente dos Estados Unidos

na Casa Branca?

��� Eu gostaria de fazer em voc�� uma tomografia cerebral

computadorizada ��� disse Sawyer. ��� Posso dar um jeito para se fazer

em Washington. Levar�� apenas 10 minutos e pode ser feita a caminho

da Casa Branca ou quando voltar ao aeroporto.

Judd olhou para John.

��� Acha que podemos dispor desse tempo?

John assentiu.

��� D��-se um jeito.

249

��� Muito bem. ��� Judd tornou a olhar para Sawyer. ��� J�� est��o

prontos os testes sobre a reconstru����o celular qu��mica?

��� Est��o, sim. O departamento de engenharia DNA informou

que sa��ram perfeitos. N��o h�� como se distinguir as c��lulas naturais

das artificiais.

Sofia olhou de um para outro.

��� Come��o a sentir que estou por fora das coisas aqui. Est��o

muito �� minha frente.

��� Nem tanto ��� disse Sawyer. ��� Moscou tem um projeto

similar em andamento.

��� Nada sei a respeito.

��� Talvez seja por isso que a despacharam para Bangladesh ���

comentou Judd. ��� Mas se ficar conosco, pegar�� tudo num instante.

��� S�� h�� uma coisa a lembrar ��� acrescentou Sawyer. ��� Trata-

se simplesmente de testes de laborat��rio. As c��lulas nunca foram

usadas clinicamente em seres humanos. Somente em camundongos

em laborat��rio.

��� E planeja usar em voc�� mesmo? ��� perguntou Sofia a Judd.

��� No momento, n��o. �� apenas um recurso se n��o pudermos

conseguir a coisa genu��na.

��� Ainda bem. Acho que j�� fez experi��ncias demais com voc��

mesmo.

Judd olhou para o rel��gio.

��� Uma hora da madrugada. Acho melhor todos dormirmos

um pouco. Voltaremos a nos encontrar ��s sete da manh��.

Os outros se despediram e apenas Sofia e Fast Eddie permane-

ceram na biblioteca com Judd. Ele olhou para Sofia.

��� Fast Eddie a levar�� a seu quarto.

Ela se levantou, seguiu para a porta, parou e virou-se para Judd

antes de sair.

��� O que acontecer�� com as garotas?

��� Elas voltar��o para casa.

��� Mas Amarinth... ��� Sofia respirou fundo. ��� Ela o ama.

Judd fitou-a nos olhos.

��� N��o temos alternativa. J�� estamos com problemas suficien-

tes para nos mantermos vivos. N��o h�� possibilidade de levarmos

excesso de bagagem.

��� Excesso de bagagem, Judd? Ela �� um ser humano.

��� Sei disso ��� respondeu Judd, gentilmente. ��� Mas prefiro

250

que ela esteja em casa e viva do que se arriscando a morrer aqui. Se

tivermos algum problema, ela pode ser a primeira a tombar. ��

inocente demais, n��o tem qualquer defesa.

Sofia tornou a respirar fundo.

��� Ela ficar�� magoada. N��o entender��. E chorar�� muito.

Os olhos azuis de Judd se tornaram muito escuros.

��� Eu choraria ainda mais se fosse a causa de sua morte.

251





12


��� E L E PARECE muito bem ��� comentou Barbara, olhando para a

tela da televis��o. ��� O tempo p��ra no seu caso. Sei que ele est��

com 49 anos, mas continua o mesmo que aos 40 anos.

Os olhos de Sofia permaneceram fixados na tela.

��� Fisicamente, ele parece o mesmo, mas por dentro est��

diferente. Psicol��gica e mentalmente. Parece ter-se abstra��do emo-

cionalmente.

Barbara observou Judd trocar um aperto de m��o com o

presidente. Depois que o presidente acenou em despedida e tornou a

entrar na Casa Branca, Judd desceu os degraus para enfrentar o

batalh��o de rep��rteres e cinegrafistas.

��� Foi uma visita de car��ter pessoal ao presidente ��� respondeu

Judd ��s diversas perguntas. ��� N��o falamos de neg��cios.

��� N��o pediu a opini��o do presidente sobre a venda das

empresas Crane de engenharia e constru����o aos japoneses? ���

perguntou um rep��rter.

��� N��o. E o presidente tamb��m n��o ofereceu qualquer opi-

ni��o. Esses assuntos s��o sempre tratados pelos meus advogados e o

Departamento de Justi��a.

��� Parece-me que est�� se livrando das empresas de seu

imp��rio, Sr. Crane ��� disse outro rep��rter. ��� A comunidade

financeira est�� muito preocupada com isso.

��� N��o vejo motivo para preocupa����o. A decis��o �� apenas uma

entre v��rias outras que venho tomando. E como as companhias s��o

de minha inteira propriedade, isso n��o afeta o mercado de a����es ou

qualquer outro setor da comunidade financeira.

252

��� Mas as suas companhias est��o consideradas entre as mais

lucrativas do mundo ��� disse o rep��rter do Wall Street Journal. ��� Por que est�� querendo se livrar delas?

Judd virou-se para o rep��rter.

��� Seria demais se eu lhe dissesse que come��o a sentir a

responsabilidade por todas essas companhias... que o peso se tornou

excessivo para mim? Que n��o tenho tempo suficiente para viver a

minha pr��pria vida? Que somente se me afastar das atividades

empresariais �� que poderei viver de acordo com as minhas inclina����es

pessoais?

��� E tem muitos planos para o futuro?

��� Muitos. Mas uma coisa de cada vez. H�� quest��es mais

imediatas. Mais tarde, cuidarei de meus planos.

��� Conversou com o presidente sobre tudo isso?

��� Como j�� falei antes, foi uma visita pessoal. Nada mais. ���

Judd fez uma pausa. ��� Isso �� tudo o que tenho a dizer, senhores.

Obrigado.

Ele passou pelos rep��rteres, entrou na limusine �� espera e

desapareceu por tr��s das janelas escuras. O carro come��ou a se

afastar. Barbara desligou a televis��o.

��� �� sempre assim ��� comentou ela. ��� Judd n��o diz nada.

��� Ele n��o conta nada a ningu��m ��� disse Sofia. ��� Nem

mesmo a Merlin e Doe Sawyer.

Barbara foi at�� a caixa na mesa onde estavam os cassetes e

cadernos de anota����es.

��� Isso �� tudo que ele queria que voc�� pegasse?

Sofia assentiu. Barbara fitou-a nos olhos.

��� N��o acha que deveria lhe contar sobre a crian��a?

Sofia sacudiu a cabe��a.

��� Tenho medo dele. Tenho medo do que ele poder�� pensar se

descobrir. Ningu��m sabe o que se passa dentro de sua cabe��a. Ele

pode estar vivendo �� beira da sanidade.

��� Talvez a crian��a o traga de volta ��� sugeriu Barbara.

��� Tenho medo de correr o risco. Voc�� contaria?

Barbara suspirou.

��� �� triste, muito triste. Ele foi um menino lindo. Os olhos s��o

do mesmo azul-cobalto do pai.

Os olhos de Sofia ficaram enevoados.

��� Eu gostaria de v��-lo. Mas sei que n��o devo. Se o visse,

253

tenho certeza de que n��o seria capaz de deix��-lo. ��� Ela respirou

fundo. ��� Talvez com o tempo... talvez Judd venha a compreender.

Barbara balan��ou a cabe��a.

��� Judd lhe disse para onde voc�� vai?

��� N��o me falou nada. S�� sei que a Seguran��a me levar�� ao seu

encontro.

Barbara olhou pela janela da sala. As luzes pareciam uma fieira

de p��rolas pela Ponte Golden Gate. Ela virou-se para Sofia.

��� Onde est�� Judd agora?

��� N��o sei. A ��nica coisa que posso dizer �� que ele ia fazer uma

tomografia cerebral. N��o me falou para onde iria depois disso. ���

Sofia pensou por um momento. ��� Xanadu? Ele alguma vez lhe falou

sobre Xanadu?

��� Xanadu? ��� repetiu Barbara. ��� N��o �� um daqueles hot��is

que a empresa de turismo est�� construindo? Creio que fica em

Bras��lia.

��� N��o se trata de um hotel. Pelas conversas com Sawyer,

pareceu mais um laborat��rio. Alguns dos equipamentos da Ilha

Crane deveriam ser enviados para l��.

��� Ent��o n��o sei. Perguntou a ele?

��� Perguntei, mas ele sempre disse que eu saberia na ocasi��o

oportuna.

��� Ent��o acho que ter�� de esperar. J�� me acostumei a esperar.

Mesmo quando ele era garoto, nada podia abrir-lhe a boca se n��o

queria falar sobre alguma coisa.

O telefone tocou. Uma voz soou pelo interfone:

��� A limusine da doutora chegou.

��� Obrigada ��� disse Barbara. ��� Ela j�� vai descer.

Sofia fitou-a, hesitante.

��� Tem uma fotografia do meu filho?

Barbara acenou com a cabe��a. Abriu uma gaveta da escrivani-

nha. A fotografia estava numa moldura de prata. Ela entregou a

Sofia, que estudou atentamente. E sussurrou:

��� Ele �� grande...

��� Lembre-se que ele est�� com quase tr��s anos. Mas �� mesmo

grande para sua idade. E muito inteligente.

��� Parece muito com Judd.

��� Deve dizer isso ao pai.

254

��� Ele nunca me perdoaria. Especialmente porque tudo foi

feito ��s escondidas.

Ela devolveu a fotografia a Barbara, que lhe disse:

��� Pode ficar. Tenho outras.

Sofia sacudiu a cabe��a.

��� N��o tenho privacidade. N��o haveria qualquer lugar em que

pudesse escond��-la que n��o fosse parar nas m��os de Judd. Em algum

momento, talvez muito em breve, poderei contar a Judd. Mas n��o

agora.

Impulsivamente, Barbara abra��ou Sofia. Beijou-a no rosto. Por

um momento, as duas partilharam l��grimas. Sofia finalmente pegou a

caixa que continha as anota����es e cassetes. Esfor��ou-se ao m��ximo

para controlar a voz:

��� Nunca serei capaz de agradecer-lhe o suficiente.

Barbara n��o foi capaz de responder. Ela observou Sofia sair da

sala antes de tornar a guardar a fotografia na gaveta. Contemplou-a

por um instante e depois cobriu o rosto com as m��os.

��� Deus, por favor, Deus, ajude-os... ajude a todos n��s.

Os dois homens da Seguran��a aguardavam Sofia quando ela saiu da

casa. Acompanharam-na, um de cada lado, descendo os degraus.

Outro homem abriu a porta da limusine. Ao entrar no carro, Sofia

percebeu que mais dois carros acompanhavam a limusine, um na

frente e outro atr��s. Havia quatro homens em cada um.

Ela recostou-se no assento. Os dois homens que desceram a

escada acompanhando-a tamb��m embarcaram, sentando-se um de

cada lado. O seguran��a que abrira a porta fechou-a com presteza e foi

sentar-se na frente, ao lado do motorista. Todos os carros come��aram

a se deslocar lentamente pela rua.

��� Sou Brad, doutora ��� anunciou o seguran��a �� sua direita. ���

Meu companheiro �� Lance. Iremos juntos no avi��o para Los

Angeles.

��� �� para l�� que vamos? Eu n��o sabia.

��� Na verdade, pousaremos em Ont��rio. O aeroporto de Los

Angeles �� muito movimentado, tem tr��fego demais. ��� O seguran��a

puxou o assento lateral, a fim de poder fitar Sofia e olhar pela janela

traseira. ��� Ficar�� mais confort��vel assim.

Ele gesticulou para a caixa.

��� S��o os arquivos?

255

Sofia assentiu.

��� Deixe no carro quando formos para o avi��o. Ser��o entre-

gues no escrit��rio.

��� Est�� bem. ��� Ela viu o cartaz que indicava o caminho para a

Bay Bridge. ��� Estamos indo para o aeroporto de Oakland?

��� Isso mesmo. Temos um avi��o �� nossa espera ali.

Vinte minutos depois, o carro passou pelo port��o de entrada da

se����o de avi��es particulares. Contornou diversos hangares e foi parar

ao lado de um Lear Jet. Sofia estendeu a m��o para a porta. Brad

segurou-lhe a m��o.

��� Espere um momento, por favor.

Ela olhou pela janela do carro. Diversos seguran��as estavam

parados nas proximidades do avi��o, observando-os. Dois homens dos

carros de escolta saltaram primeiro e falaram com os outros. Um

deles subiu a escada do avi��o. Desapareceu no interior por um

momento, depois voltou e fez sinal a Brad.

��� Podemos saltar agora ��� disse Brad, abrindo a porta e

saindo na frente.

Ele ajudou-a a saltar e seguiu-a rapidamente pela escada,

entrando no avi��o. Ele virou-se e bateu no ombro do homem ainda

parado junto �� porta. O homem desceu a escada e Lance subiu. A

escada foi recolhida, a porta do avi��o fechada e trancada.

Sofia ocupou a primeira poltrona da pequena cabine e olhou

pela janela. Dois seguran��as dos carros de escolta sentaram-se no

banco traseiro da limusine. O carro come��ou a se afastar, enquanto o

motor a jato era ligado. Um momento depois, o avi��o come��ou a se

encaminhar para a pista.

Ela olhou para seu rel��gio. Faltavam 10 minutos para 10 horas.

O aviso para prender os cintos de seguran��a acendeu. Sofia assim o

fez. Logo o avi��o estava na cabeceira da pista, come��ou a correr,

adquirir velocidade e decolou. As luzes de San Francisco ficaram

para tr��s. Ela recostou-se na poltrona; sentia-se cansada.

��� Quanto tempo vamos levar?

��� Cerca de uma hora ��� respondeu Brad.

��� E para onde iremos depois?

��� N��o sei. Nossas ordens s��o para entreg��-la a outra equipe

da Seguran��a.

Sofia virou-se para a janela. Fechou os olhos e cochilou. Sentiu

256

uma picada na parte superior do bra��o. Abriu os olhos, aturdida.

Fitou Brad.

��� Mas o que...

��� N��o tenha medo ��� disse ele, gentilmente. ��� �� apenas uma

inje����o para ajud��-la a dormir.

E, um momento depois, Sofia estava adormecida.

257





13


Os OLHOS se abriram, devagar. A vis��o estava nublada a

princ��pio, depois se desanuviou rapidamente. Sofia contemplou o

azul suave do c��u, depois a claridade intensa do sol l�� fora. Antes

de ver a enfermeira se aproximar, um odor a que estava

acostumada lhe revelou que se encontrava num hospital.

A enfermeira era uma japonesa esguia num uniforme branco,

os cabelos pretos compridos descendo pelos ombros. A enfermeira

sorriu-lhe do lado da cama. Um bot��o vermelho pequeno brilhava na

touca branca.

��� Bom dia ��� disse ela, numa voz americana suave, sem

qualquer sotaque.

Ela pegou o telefone na mesinha-de-cabeceira e informou:

��� Dr. Walton, sua paciente j�� acordou.

Ela foi at�� o p�� da cama e apertou um bot��o. A cabeceira da

cama levantou-se.

��� Est�� mais confort��vel assim? ��� Uma pausa. ��� N��o tenha

medo. Est�� entre amigos.

A enfermeira tornou a sorrir e acrescentou:

��� Um copo de suco de abacaxi gelado vai anim��-la.

Sofia observou-a se retirar para uma pequena alcova. Ela tirou

da geladeira uma tigela de fatias de abacaxi. Jogou-as num centrifu-

gador e, um momento depois, levou o copo de suco a Sofia.

O suco foi revigorante. Sofia recebeu com a maior satisfa����o o

l��quido doce e gelado e esvaziou o copo. N��o imaginara que estivesse

t��o desidratada. Como se pudesse ler os pensamentos de Sofia, a

258

enfermeira repetiu todo o processo e entregou a Sofia outro copo de

suco.

Sofia bebeu mais devagar desta vez. Ao mesmo tempo, correu

os olhos pelo quarto. N��o era um quarto de hospital convencional:

paredes de um azul-claro, suaves quadros tropicais, mesa e cadeiras

de lucite, uma poltrona confort��vel para se ler. Ela tornou a olhar

para a enfermeira:

��� Onde �� o banheiro?

A enfermeira abriu uma porta. Sofia viu os ladrilhos em padr��o

tropical. Tentou sentar-se na cama.

��� Se estiver tonta ��� avisou a enfermeira ��� deixe-me ajud��-

la.

Sofia sacudiu a cabe��a por um momento.

��� Acho que n��o terei problemas. ��� Ela se sentou, apoiando-

se na beira da cama por um instante. ��� Estou bem.

��� Tem tempo para tomar um banho de chuveiro, se quiser. O

Dr. Walton ainda ficar�� na cirurgia por mais 10 minutos.

Ainda um pouco tr��pega, Sofia encaminhou-se para o banhei-

ro, virando a cabe��a a fim de olhar pela janela. Avistou uma praia de

areia branca, palmeiras margeando o caminho ao longo, pr��dios altos

pela curva.

��� Onde estamos? ��� perguntou ela, em tom meio de gracejo.

��� Isto �� Santa M��nica?

A voz da enfermeira era americana, mas o riso foi tipicamente

japon��s.

��� Est�� muito longe de Santa Monica ��� disse ela, gesticulando

para a janela. ��� Acha que parece com Santa Monica?

��� N��o sei. Nunca estive em Santa Monica.

A enfermeira sorriu, apontando.

��� Aquela colina que desce para o mar �� Diamond Head.

��� Hava��?

A surpresa era patente na voz de Sofia.

��� Honolulu. Seu quarto est�� praticamente no centro da praia

de Waikiki.

Sofia contemplou a praia por um momento, depois tornou a

olhar para a enfermeira.

��� H�� quanto tempo estou aqui?

��� Entrei em servi��o ��s sete horas da manh�� e voc�� ainda

259

dormia. ��� A enfermeira riu. ��� Segundo a carta, voc�� foi internada

��s duas horas da madrugada.

��� N��o me lembro de nada.

��� A enfermeira do plant��o noturno disse que voc�� estava

dormindo quando foi internada. ��� A enfermeira tornou a rir. ���

Deve ter tido a maior festa de despedida que j�� houve por aqui, Sra.

Evans.

Sofia fitou aturdida. Sra. Evans? O som era parecido: Ivancich.

��� Acho que preciso de um banho de chuveiro.

��� Certamente vai reanim��-la. Enquanto isso, pedirei o caf�� da

manh��. Ovos mexicos com bacon, torradas e caf�� est�� bom?

��� Muito caf��. E bem forte.

A japonesinha tornou a rir.

��� N��s nos especializamos em caf�� forte, Sra. Evans. �� o caf��

Kona, o mais forte do mundo, cultivado aqui no Hava��.

��� Terei tempo antes do m��dico chegar?

��� O suficiente. Dez minutos para o Dr. Walton �� mais para

meia hora. Encontrar�� toalhas limpas e um lindo roup��o de seda ��

sua espera no banheiro.

Sofia estava na terceira x��cara de caf�� quando soou a batida do

m��dico na porta. A enfermeira abriu-a. Ele ainda estava al��m da

porta quando Sofia ouviu sua voz meio familiar:

��� Pode tirar uma folga por alguns minutos, Jane. Eu a

chamarei depois que acabar de conversar com a Sra. Evans.

O m��dico entrou no quarto e fechou a porta, indagando com

um sorriso:

��� Teve uma boa noite de sono, Sra. Evans?

��� Brad? ��� perguntou Sofia, surpresa.

��� Dr. Walton.

��� Isso n��o se faz. N��o sou mais uma crian��a. Poderia ter sido

informada.

��� Achamos que seria mais seguro se a mantiv��ssemos imobili-

zada, ao inv��s de andando normalmente, quando um reconhecimen-

to acidental poderia criar problemas. Depois de ser invis��vel, a

melhor coisa �� ser paciente numa maca bem coberta.

��� Ningu��m estava nos incomodando.

��� Gra��as a seu amigo. Ele �� o chamariz. Havia alguns agentes

260

seguindo-o, na esperan��a de que ele os levasse a voc��. Felizmente,

ele n��o era o alvo, mas sim voc��.

��� �� realmente um m��dico ou um agente de seguran��a?

��� Sou de fato um m��dico. ��� Ele sorriu. ��� Agindo tamb��m

como agente de seguran��a.

��� O que acontece agora?

��� Tentarei explicar com toda a simplicidade poss��vel. O

governo dos Estados Unidos tem um programa especial administrado

em conjunto pelos departamentos de Estado, Defesa e Justi��a. Cada

departamento, por motivos pr��prios, precisa freq��entemente de urna

troca de identidades antigas por novas. Seja bem-vinda a esse

programa, Sra. Marissa Evans.

Sofia fitou-o espantada.

��� E foi nosso amigo quem providenciou isso?

��� Exatamente.

��� Mas como? Afinal, �� um programa do governo.

��� Ele tem muitos amigos. E o governo concorda que voc��

precisa dos servi��os do programa.

��� Quer dizer que voc�� �� um agente do governo?

��� N��o �� bem assim. Digamos que se trata apenas de mais uma

atividade secund��ria.

Sofia permaneceu em sil��ncio por um momento, depois levan-

tou-se e foi at�� a janela. Sem se virar, ela disse:

��� Fale-me mais a respeito dessa identidade que planejou para

mim.

��� N��s a mudamos completamente... fisicamente, a personali-

dade, os antecedentes. N��o �� suficiente mud��-la cosm��ticamente.

Um gesto da m��o, a maneira como anda ou fala, qualquer coisa assim

pode denunci��-la a um perito. Assim, ensinamos outras maneiras de

substituir os h��bitos antigos. E, finalmente, a projetamos em outro

ambiente, onde formar�� outra vida. Poder�� assim viver em seguran-

��a. Longe dos perigos que agora a amea��am.

Sofia continuou olhando pela janela.

��� Isso significa que nunca poderei voltar? Nem para ningu��m

nem para qualquer coisa de que j�� gostei?

��� Exatamente.

Ela finalmente virou-se, fitando-o nos olhos.

��� E se eu n��o quiser ser outra pessoa? E se eu gostar de mim

do jeito que sou?

261

��� N��o �� uma prisioneira. Pode passar pela porta no momento

em que quiser. Mas lembre-se de que garantimos sua seguran��a,

onde outros amea��am sua vida.

Sofia ficou calada, observando-o.

��� E �� claro que ficaria entregue �� sua pr��pria sorte. N��o h��

nada ou ningu��m que possamos providenciar para ajud��-la.

��� Nem mesmo nosso amigo? �� o que ele tamb��m diz?

��� N��o posso falar por ele. S�� falo pelo programa.

Sofia fixou outra vez os olhos dele.

��� Tamb��m sou m��dica. Trabalhei como m��dica por toda a

minha vida, tentei alargar as fronteiras da exist��ncia do homem por

toda a minha vida. Se o seu programa n��o me permite trabalhar em

meus sonhos, ent��o a seguran��a nada significa para mim. Minha vida

nada significa para mim.

��� Seu trabalho �� uma das primeiras coisas a que ter�� de

renunciar. �� revelador demais. ��� Ele fez uma pausa. A voz era

suave quando tornou a falar: ��� Posso compreend��-la, doutora. Mas,

por favor, pense um pouco no programa, antes de rejeit��-lo. H��

muitas outras coisas bonitas na vida.

A voz de Sofia soou decidida:

��� N��o para mim.

��� Muito bem, a decis��o �� sua. Mas pelo menos deixe-me

ajud��-la. Talvez eu possa lhe oferecer uma pequena vantagem.

��� Como?

��� Parecendo como est�� agora, eles a pegariam tr��s dias depois

que aparecesse em p��blico. Sugiro que efetuemos algumas ligeiras

altera����es cosm��ticas. Um pequeno lift facial, uma mexida nos olhos e nariz. Os dentes da frente ser��o diminu��dos e encapados. Depois

disso, disfar��aremos os olhos com lentes de contato castanhas,

cortaremos os cabelos louros compridos e lisos para curtos e

cacheados, pintaremos de castanhos. Ensinaremos a usar uma

maquilagem completamente diferente para complementar os cabelos

e os olhos mais escuros. ��� Ele fez uma pausa, sorrindo. ��� N��o ��

perfeito, mas constitui uma vantagem para voc��. Pelo menos eles

ter��o de olhar mais de uma vez para reconhec��-la. Especialmente na

medida que se acostumar �� nova identidade. Todos os documentos

novos que lhe providenciaremos tamb��m ajudar��o. Passaporte, uma

linha de cr��dito antiga num banco tradicional, cart��es de cr��dito em

lojas, carteira de motorista, todas essas coisas.

262

��� Tem permiss��o para fazer isso por mim, mesmo que eu n��o

concorde em aceitar o programa?

Ele hesitou por um instante.

��� N��o oficialmente.

��� Ent��o por qu��?

��� Conhe��o alguma coisa do trabalho que realizou. E respei-

to-a. �� uma m��dica de verdade. Seria lament��vel se fosse desperdi��a-

do todo o conhecimento que adquiriu.

Sofia baixou os olhos para suas m��os.

��� Obrigada, Brad. Quanto tempo tudo isso vai demorar?

��� Dez dias. Talvez menos. Depende da rapidez de sua

recupera����o.

Sofia respirou fundo.

��� Muito bem. Quando come��amos?

��� Amanh�� de manh��.

263





14


EXISTE UMA pequena praia chamada Paradise Cove, ao norte de

Malibu, na Estrada da Costa do Pac��fico. Nos fins de semana e

feriados, a pequena estrada de terra que leva �� praia fica atulhada

de carros, levando pessoas em busca do mar e do sol. Um pequeno

restaurante atende aos mais pr��speros e por isso a maioria de seus

fregueses �� de meia-idade. O maior n��mero de banhistas �� constitu��-

do por jovens, mais interessados nas ondas do que em comida.

Levam cestos com sua pr��pria comida ou procuram as barracas de

cachorro-quente e pizza nas proximidades do estacionamento extra-oficial.

Eram tr��s horas da tarde de s��bado e o sol come��ava a se

deslocar para oeste, incidindo forte sobre a praia e cozinhando os

corpos estendidos. N��o havia muitos surfistas porque as ondas

desciam suavemente no mar sereno. Ao norte, numa pequena

forma����o rochosa que levava a um penhasco, 60 metros acima das

��guas, em perpendicular, homossexuais e amantes encontravam

pequenos ref��gios para criar seus pr��prios mundos. Ocasionalmente,

os gritos estridentes das gaivotas, sobrevoando em busca de comida,

elevavam-se acima dos zumbidos das conversas e do barulho das

ondas.

Outro som veio do c��u. Os rotores de um helic��ptero. As

mulheres nuas pegaram seus biqu��nis, as de topless se cobriram apressadamente. Olhos se elevaram para o c��u. Um murm��rio de

desapontamento ergueu-se da praia quando o letreiro no lado do

helic��ptero se tornou vis��vel: IGREJA DA VIDA ETERNA. Alto-

264

falantes trovejaram a mensagem para a praia, enquanto o helic��ptero

se deslocava para o penhasco rochoso de 60 metros:

��� A IGREJA DA VIDA ETERNA LHES DESEJA PAZ!

E o helic��ptero deslizou para al��m do penhasco. A praia voltou

ao normal. Os nudistas voltaram a ficar nus, as garotas do topless

expuseram os seios jovens ao sol. Uma voz invis��vel soou estridente-

mente de um dos abrigos rochosos, um rapaz se queixando:

��� Mas que droga! Voc�� gozou na minha cara!

��� Idiota! ��� exclamou uma voz mais profunda. ��� N��o deveria

ter virado a cabe��a.

��� Mas pensei que fosse o helic��ptero da pol��cia!

Um tapa ecoou no penhasco.

��� Cale a boca!

Assim, a praia retornou aos sons normais. O que ningu��m na

praia notou nem ouviu foi um pequeno dirig��vel flutuando no c��u,

oculto pelo sol quente da tarde, a brilhar ardentemente por tr��s.

Judd, Fast Eddie e John sentavam num semic��rculo diante de uma

tela de televis��o de 50 polegadas. Por baixo de seus p��s estavam os

cabos da c��mera, com teleobjetivas de zoom, havendo ao lado um microfone direcional, coordenado com a imagem. O operador de

v��deo, mais �� frente, virou a cabe��a para tr��s e disse:

��� O helic��ptero est�� pousando. Devo focaliz��-lo?

��� Claro ��� respondeu Judd.

Todos observaram a tela. O som dos rotores saiu pelos alto-

falantes, enquanto o helic��ptero baixava lentamente para o alvo, 30

metros al��m do penhasco. A ventania das h��lices quase n��o levantou

areia. O aparelho pousou, o motor foi desligado, os rotores

lentamente pararam de girar. O som de vozes, cantando, alcan��ou o

microfone, enquanto a escada pequena descia da cabine para o ch��o.

Dois jovens altos, em t��nicas cinzentas compridas, desceram os

degraus. Eles se viraram e ajoelharam, as testas encostando no ch��o,

de frente para a porta do helic��ptero. O maharishi apareceu um momento depois. Ainda mais alto que os dois jovens, barba e cabelos

grisalhos agitados pela brisa em torno do rosto imponente, ele parou

em sil��ncio, escutando o canto das vozes jovens.

��� D�� uma panor��mica ��� disse Judd. ��� Quero ver as garotas.

A imagem se alargou na tela enorme. Havia 14 garotas, todas

usando saris de chiffon violeta. Todas tinham flores brancas presas 265

nos cabelos compridos. Cada uma segurava uma cesta de flores. As

palavras entoadas pelas vozes maviosas elevavam-se gentilmente pelo

ar:

��� Hare Krishna, Hare Krishna.

O maharishi, ainda emoldurado na porta do helic��ptero, olhou para as garotas, estendendo os bra��os em sua dire����o. Sua voz era

suave e rica:

��� Eu lhes desejo paz, minhas crian��as.

Em un��ssono, as mo��as se ajoelharam, viradas para ele, as

testas encostando no ch��o.

��� Toda paz vem do Pai. Todo amor vem do Pai.

O maharishi agradeceu ao cumprimento e fez sinal para que se levantassem. Ele come��ou a descer os degraus. As mo��as correram

em sua dire����o, jogando flores dos cestos em seu caminho. Os dois

jovens seguiram-no.

��� Ela est�� l��? ��� perguntou Judd a John.

��� Est�� sim. ��� John ordenou ao operador: ��� D�� um zoom na

garota do meio, na fila da direita.

Uma mo��a come��ou a preencher toda a tela. Era bonita, mas

muito parecida com as outras.

��� Como pode ter certeza? ��� indagou Judd. ��� Todas parecem

iguais para mim.

��� Observe.

Eles ficaram olhando e, um instante depois, a mo��a pareceu

cambalear ligeiramente. Uma das flores caiu dos cabelos. Enquanto

se ajoelhava para peg��-la e tornar a ajeit��-la nos cabelos, ela virou-se

parcialmente, como se procurasse deliberadamente ficar de frente

para a c��mera.

��� A�� est�� ela ��� confirmou John, sem qualquer express��o. ���

Eu sabia que a encontrar��amos. Alana �� provavelmente a melhor

garota que j�� tivemos.

Judd n��o desviava os olhos da mo��a.

��� Onde a encontrou?

��� Ela trabalhava no Departamento de Pol��cia de Nova York,

como agente secreta nas ruas. Quiseram que ela aceitasse um cargo

burocr��tico. Ela n��o quis. Gosta de a����o e veio trabalhar conosco.

��� Ela �� jovem ��� comentou Judd.

��� N��o t��o jovem quanto parece. Tem 25 anos.

266

��� Isso �� jovem. ��� Judd pegou o telefone e disse ao piloto: ���

Vamos voltar �� base.

John olhou para ele.

��� N��o quer dar uma olhada em toda a propriedade?

��� N��o temos isso filmado?

��� Temos.

��� Ent��o vamos ver no escrit��rio. L�� �� mais confort��vel do que

nesta lata de sardinhas.

O escrit��rio era no 18? andar de um edif��cio novo, todo de vidro,

verde, no Century Boulevard, perto da entrada do aeroporto de Los

Angeles. A sala de reuni��o ficava no meio do andar, n��o tinha

janelas. No centro da sala havia uma mesa grande, inteiramente

coberta por um mapa em baixo-relevo, feito de papier m��ch��, da Igreja da Vida Eterna e da ��rea ao redor. John foi apontando com

uma vareta de madeira:

��� A escala do mapa �� de 1 por 200. A linha vermelha mostra

os limites da propriedade, do penhasco se projetando pelo mar at�� os

port��es do caminho particular que sai da estrada. Notar��o dois

c��rculos amarelos. O maior indica o limite do penhasco em que o

helic��ptero pousou. O menor �� o limite da ��rea aberta em torno dos

port��es. As linhas amarelas s��o nossos alvos.

��� Por que n��o podemos simplesmente explodir os port��es? ���

perguntou Judd.

��� N��o �� t��o f��cil assim. H�� tr��s port��es com barras de a��o

refor��adas, seis metros de altura, cada um se abrindo na dire����o

oposta do seguinte, o primeiro para a direita o outro para a esquerda

e o terceiro novamente para a direita. S��o todos eletrificados, ligados

ao arame farpado no alto do muro de pedra que cerca a propriedade.

Est��o tamb��m ligados �� pol��cia de Malibu e aos corpos de bombeiros

de Malibu e Trancas. O maharishi cuidou para que tudo estivesse perfeitamente legalizado no ref��gio. �� desnecess��rio dizer que suas

rela����es com as autoridades locais s��o cordiais.

��� Como ent��o planeja entrar? ��� indagou Judd. ��� De p��ra-

quedas?

��� N��o. Primeiro, porque os avi��es seriam ouvidos, segundo,

porque precisar��amos de uma queda de pelo menos 60 metros para

manobrar os p��ra-quedas para os alvos. Temos de entrar em v��o

baixo e silenciosamente.

267

��� De que maneira se pode fazer isso?

��� Asa delta.

��� Boa id��ia.

O indicador encostou num pico no outro lado da Estrada do

Pac��fico, um pouco ao norte do refugio.

��� H�� um plat�� aqui, a cerca de 250 metros acima do penhasco

��� continuou John. ��� Tenho 10 homens que acham que podem

conseguir.

��� Mas eles precisam do vento certo ��� objetou Judd. ���

Cair��o inicialmente, mas n��o poder��o subir em seguida se n��o

encontrarem o vento apropriado.

��� J�� tenho duas catapultas armadas ali. Eles ser��o lan��ados

como as aeronaves de um porta-avi��es. E poder��o subir. ��� John

balan��ou a cabe��a, satisfeito. ��� O problema seguinte �� a seguran��a

do maharishi. Temos sorte numa coisa. Ele n��o permite armas de fogo ou de qualquer outro tipo. Mas todos os seus homens s��o faixas-pretas e mestres nas artes marciais. Al��m disso, ele tem aproximada-

mente de 12 a 15 dobermans patrulhando a ��rea durante a noite. Mas at�� mesmo os cachorros s��o ensinados a n��o matar, apenas deter e

imobilizar.

��� Esses s��o os pontos favor��veis ��� insistiu Judd. ��� E quais

s��o os desfavor��veis?

��� Um c��u claro. Poder��amos ser avistados facilmente. O que

precisamos �� de um nevoeiro denso ou da cobertura de nuvens

baixas. Um vento soprando do mar com for��a superior a quatro os

levaria muito al��m dos alvos. E, finalmente, se n��o silenciarmos os

cachorros e os guardas no primeiro momento, eles dar��o o alarme e

estaremos perdidos.

��� E como espera silenci��-los t��o depressa?

John mostrou uma pistola estranha, de cano comprido.

��� Isto dispara 12 dardos automaticamente. Cada dardo apaga

homem ou animal ao contato. Dormir��o por quatro horas e

acordar��o com uma ressaca que se prolongar�� por mais duas horas.

Judd fitou fixamente o diretor da Seguran��a.

��� Vamos supor que tudo corra bem. O que acontecer��

depois?

��� Voc�� estar�� no carro esperando, na estrada, a uns 100

metros de dist��ncia. Abriremos os port��es e poder�� entrar como o

pr��prio presidente dos Estados Unidos.

268

��� E quando planeja realizar a opera����o?

��� Depender�� do tempo. A previs��o de cinco dias �� ��tima para

n��s. No momento, h�� c��u claro por toda parte. Mas estamos no

Pac��fico. Qualquer coisa pode acontecer. E a qualquer momento.

��� Pode me avisar com um dia de anteced��ncia?

��� Provavelmente. Por qu��?

��� J�� se passaram 10 dias desde que Sofia entrou de f��rias.

Pensei em ir visit��-la.

��� Ela n��o aceitou o programa ��� comentou John.

��� Sei disso. Declarou que n��o quer ser qualquer outra pessoa.

Gosta de ser ela mesma.

��� Uma coisa a gente tem de admitir: a dona tem peito.

Judd riu.

��� N��o �� tudo que ela tem.

��� Teremos de reformular a seguran��a.

��� Pois ent��o fa��a isso. �� assim que se joga.

269





15


H O U V E UMA batida na porta.

��� Sra. Evans?

Sofia reconheceu a voz de Judd.

��� Um momento por favor.

Ela virou-se para o espelho por cima da c��moda. Ajeitou a

maquilagem. Um pouco de batom nos l��bios para dar brilho, o p��-

de-arroz escuro nas faces para acentuar o castanho dos cabelos,

curtos e cacheados. Foi at�� a porta e abriu-a, n��o se permitindo

qualquer express��o facial.

��� Pois n��o?

Judd fitou-a em sil��ncio por um instante, depois sorriu zombe-

teiramente.

��� Sra. Evans? Devo ter cometido um engano. Por acaso a

conhe��o?

��� Judd! ��� Sofia riu e abra��ou-o, comprimindo-se contra ele e

beijando-o. ��� Est�� me reconhecendo agora?

��� N��o pode mais haver qualquer engano. ��� Ele sorriu,

contemplando-a com evidente admira����o. ��� Voc�� est�� mesmo linda.

N��o importa o que tenham feito, n��o conseguiram acabar com sua

beleza.

��� Gosta mesmo?

��� Claro. E estava certa ao n��o permitir que encapassem seus

dentes. Tudo funciona.

��� N��o me fa��a chorar ��� murmurou Sofia, tentando rir. ���

Perderei as lentes de contato, pois ainda n��o estou acostumada.

Judd sorriu.

270

��� Antes de mais nada, voc�� �� uma mulher.

Sofia assentiu, em sil��ncio. Sabia o que ele estava querendo

dizer.

��� Est�� com vontade de ter uma conversa de doutora?

Sofia conduziu-o �� mesa perto da janela e sentaram-se.

��� Quer algum suco, Judd? O suco de abacaxi que fazem aqui ��

delicioso.

��� Quero, sim.

Sofia foi �� geladeira e encheu dois copos de uma garrafa de

pl��stico. Suspendeu seu copo para ele, sorrindo.

��� N��o �� Cristale, mas mesmo assim... a n��s.

��� A n��s.

��� Muito bem, vamos conversar.

A express��o de Judd era s��ria.

��� Sawyer quer que eu pare com todos os tratamentos agora.

��� Ele disse por qu��?

��� As tomografias mostram uma amplia����o min��scula do

c��rebro. Menos de meio mil��metro em rela����o �� ��rea total. Portanto,

n��o �� um tumor ou qualquer coisa que o preocupa ou aos

neurologistas. A minha ��ltima tomografia anterior foi h�� 10 meses. A

amplia����o ocorreu desde ent��o.

��� Tem sentido press��es fora do normal ou dores de cabe��a?

��� N��o.

��� Algum problema de locomo����o, orienta����o, audi����o ou

vis��o?

��� N��o.

��� Problemas sexuais, urin��rios ou digestivos?

��� N��o.

��� Emagreceu ou engordou?

��� Continuo a mesma coisa. Em torno de 72 quilos.

��� Perda de altura?

Judd riu.

��� �� uma pergunta estranha. Ainda estou com l,85m. Por

qu��?

��� O processo de envelhecimento. A partir de determinado

momento, o esqueleto come��a a encolher.

��� N��o estou t��o velho assim.

��� Concordo. Mas estou apenas perguntando.

Em sil��ncio, Sofia tomou outro gole do suco de abacaxi. Fitou-o

271

nos olhos. A cor era o mesmo azul-cobalto, contra a claridade intensa

que entrava pela janela.

��� Sente alguma redu����o em seus processos de pensamento?

��� Muito ao contr��rio. Parecem at�� mais r��pidos. Os pensa-

mentos passam ��s vezes t��o depressa pela cabe��a que preciso

conscientemente reduzir a velocidade, a fim de ret��-los. Ou ent��o os

pensamentos parecem j�� pertencer ao passado.

��� Como agora?

��� N��o estou entendendo.

��� Est�� me vendo como sou agora? Ou como era antes das

altera����es cosm��ticas?

Judd observou-a atentamente.

��� Voc�� sempre parece a mesma.

��� Feche os olhos. ��� Sofia esperou que as p��lpebras baixas-

sem. ��� Descreva-me.

��� Voc�� tem mais ou menos l,72m de altura, em torno de 60

quilos, cabelos louros compridos, olhos cinzentos, seios cheios,

mamilos salientes, cintura fina, quadris arredondados...

Sofia interrompeu-o:

��� J�� chega. Agora, abra os olhos e descreva-me.

Uma express��o de surpresa estampou-se nos olhos de Judd.

��� Voc�� n��o parece absolutamente como falei. Tem cabelos

castanhos e curtos. E olhos castanhos. ��� Um tom de perplexidade

insinuou-se em sua voz. ��� Por que pensei de outra maneira?

��� Estava descrevendo suas mem��rias. N��o o que via.

Judd ficou em sil��ncio por um momento.

��� Isso �� ruim?

��� N��o. Perfeitamente normal. Todos vemos dentro de nossas

cabe��as o que lembramos. Leva algum tempo para se substituir a

realidade pela mem��ria.

��� Mas pensei que meus processos de pensamento estivessem

mais r��pidos do que antes.

��� E provavelmente est�� certo. Mas sua nova vis��o de mim

ainda �� t��o recente na mem��ria que passou por cima e foi buscar a

mem��ria mais antiga. Se fechasse os olhos de novo, possivelmente

veria a nova realidade.

Judd tornou a fechar os olhos e ficou im��vel por um instante.

��� Tem raz��o. ��� Ele abriu os olhos para fit��-la. ��� E pensei

que fazia alguma coisa especial.

272

��� Parece desapontado.

��� E estou. Pensei que estava muito �� frente de todas as outras

pessoas.

��� Est�� e n��o est��. Lembre-se de que ainda �� um ser humano.

��� Serei sempre assim, vivendo nas mem��rias?

��� Provavelmente. ��� Sofia fez uma pausa e depois acrescen-

tou: ��� A menos que viva eternamente. Ter�� ent��o de descobrir uma

maneira de perder muitas de suas mem��rias ou sobrecarregar�� o

c��rebro.

��� Poderia ser esse o motivo para o qual meu c��rebro esteja

aumentando? A fim de poder acumular e manipular mais bancos de

mem��ria?

Sofia sustentou o olhar dele.

��� N��o sei. Mas acho que n��o. Biol��gica e antropol��gicamen-

te, o c��rebro humano �� o resultado de milh��es de anos de evolu����o.

Nunca se teve conhecimento de um c��rebro humano normal resultar

de muta����o. ��� Ela ficou em sil��ncio por um momento. ��� Mas deve

se lembrar de uma coisa. O c��rebro funciona dentro das limita����es do

cr��nio humano que o cont��m. E os ossos n��o esticam.

Judd olhou do rosto de Sofia para a parede por tr��s.

��� Lembre-se tamb��m, Judd, que o tamanho do c��rebro nada

significa em rela����o aos poderes mentais. O c��rebro de uma vaca ��

muito maior que o c��rebro humano.

Ele fitou-a nos olhos.

��� O que sugere ent��o?

��� Concordo com Sawyer. Vamos suspender os tratamentos.

Pelo menos at�� sabermos mais sobre a causa dessa condi����o.

��� Sawyer quer que eu volte ao hospital em Boca Raton.

��� Seria ��timo.

��� N��o tenho tempo para isso.

Sofia assumiu uma express��o ir��nica.

��� Que diferen��a faz o tempo para um homem que planeja

viver eternamente? ��� Ele ficou im��vel, pensando, sem responder.

Ela acrescentou: ��� Tenho a impress��o de que voc�� sabe alguma

coisa que n��o partilhou com Sawyer ou comigo.

Judd persistiu no sil��ncio. Sofia deu um palpite:

��� Xanadu e o projeto DNA de engenharia celular qu��mica

est��o de alguma forma relacionados?

273

��� N��o seja idiota. ��� Judd falou incisivamente, mas sem

qualquer raiva. ��� J�� lhe disse que contarei tudo na ocasi��o oportuna.

Sofia deu de ombros, em aceita����o.

��� Mas n��o pretende voltar a Boca Raton?

��� Exatamente.

��� O que far�� ent��o?

��� Planejo ter um encontro com o maharishi.

��� J�� marcou?

��� N��o. Vamos simplesmente cair em cima dele.

��� Eu gostaria de estar presente quando se encontrar com ele.

��� Se o fizer, poder�� revelar seu disfarce.

��� Que disfarce? J�� disse a eles que n��o estou interessada no

programa.

��� Nesse caso, mais cedo ou mais tarde eles a descobrir��o.

Sofia fitou-o nos olhos mais uma vez.

��� N��o estou muito preocupada com isso. Minha curiosidade

profissional �� mais importante. Talvez o homem tenha algum dos

conhecimentos que procuramos.

��� E isso vale a sua vida?

Os olhos de Sofia n��o vacilaram.

��� N��o tenho o menor desejo de viver eternamente, Judd.

Ele se manteve impass��vel.

��� Come��o a sentir que fui ego��sta ao vir procur��-la.

��� N��o precisa se sentir assim, Judd. Eu o amo. E se voc�� n��o

viesse, eu partiria ao seu encontro.

274





16


O TELEFONE na mesa entre os dois tocou abruptamente. Sofia

atendeu.

��� Sra. Evans.

��� Dr. Walton. Nosso amigo ainda est�� a��?

��� Est��, sim.

��� Posso falar com ele?

��� Claro. ��� Sofia fez uma pausa. ��� Algum problema?

��� N��o sei. Mas Fast Eddie acaba de entrar em minha sala. Ele

acha que descobriram uma sombra.

��� Passarei o telefone para ele.

Judd pegou o fone.

��� O que aconteceu? ��� Ele escutou por um momento, depois

levantou os olhos para Sofia. ��� V�� at�� a janela e veja se avista um

furg��o branco a cerca de cinco carros atr��s da limusine.

Sofia foi observar.

��� Est�� l��, sim.

��� H�� algum letreiro no lado?

��� Lavanderia Ilha?

��� Mais alguma coisa? Um telefone?

��� N��o vejo mais nada.

��� Saia da janela. Embora quem esteja l�� fora n��o possa ver,

prefiro n��o correr qualquer risco. ��� Judd voltou a falar ao telefone:

��� Lavanderia Ilha. Conhece?

��� Nunca ouvi falar ��� respondeu Brad. ��� Usamos a Waikiki.

Fast Eddie tamb��m me disse que dois homens entraram no sagu��o no

instante em que voc�� subiu no elevador e que ainda est��o por l��.

275

��� Mas que merda!

��� Devemos agarr��-los?

��� Isso s�� serviria para nos denunciar. ��� Judd pensou por um

momento. ��� Usaremos o velho truque do chap��u. S�� que o chap��u

ser�� um paciente.

��� Certo.

��� Quanto tempo precisar�� para providenciar tudo?

��� D��-me 15 minutos.

Brad desligou e Judd virou-se para Sofia.

��� Desculpe.

��� Desculpar o qu��?

��� Violei minhas pr��prias ordens. Determinei que ningu��m a

aproximasse de mim, para sua pr��pria prote����o, mas fui o primeiro a

estragar tudo.

��� N��o precisa pedir desculpas, Judd. Isso tamb��m teria

acontecido, mais cedo ou mais tarde.

A pequena enfermeira japonesa se inclinava ao lado de Brad,

enquanto ele ajeitava uma atadura no rosto de Judd, puxando-a

gentil mas firmemente.

��� Ponha o esparadrapo, Jane.

Habilmente, a enfermeira estendeu o esparadrapo cir��rgico,

cobrindo o nariz de Judd at�� os malares. O centro do rosto ficou

inteiramente oculto.

��� Est�� bom assim, doutor?

Brad perguntou a Judd:

��� Como se sente?

��� Tenho a sensa����o de que o nariz est�� entupido.

��� �� por causa dessas porcarias que voc�� tem cheirado ���

comentou Fast Eddie, rindo. ��� Eu disse que acabaria com um nariz

de pl��stico.

��� N��o tem nada de engra��ado!

Judd falou em tom sarc��stico, mas tamb��m sorria. Jane virou-

se.

��� �� a sua vez, Sra. Evans.

Sofia olhou para ela.

��� Pensei que j�� tivesse acabado tudo.

��� E acabou mesmo, em termos cir��rgicos. ��� A enfermeira

276

sorriu. ��� Mas ainda restam alguns retoques. Como suas m��os e os

bra��os, por exemplo. Ou o d��colletage.

Sofia contemplou as pr��prias m��os.

��� Elas me parecem perfeitas.

��� Levante as m��os para o rosto ��� disse Brad. ��� Est��o

completamente brancas, n��o combinam com o tono da pele do seu

rosto. Certamente a denunciariam a quem estivesse �� sua procura.

Sofia fitou-o, em sil��ncio. O m��dico acrescentou:

��� Jane tem um creme para escurecer a pele. �� uma especialis-

ta nisso. N��o vai demorar.

��� Duas aplica����es devem ser suficientes, Sra. Evans ��� disse a

enfermeira. ��� A primeira fica por 10 minutos, depois toma um

banho de chuveiro e se enxuga. Faremos ent��o uma segunda

aplica����o e enxugaremos com um secador de cabelos. A cor dever��

permanecer em sua pele pelo menos por dois meses, mesmo que

tome 20 banhos de chuveiro por dia.

Sofia olhou para Judd.

��� Temos tempo?

��� N��o nos resta alternativa.

Ela acenou com a cabe��a para a enfermeira e encaminhou-se

para o banheiro.

��� Vamos come��ar.

A enfermeira pegou uma maleta de m��dico e entrou no

banheiro atr��s delas, fechando a porta.

��� Por favor, Sra. Evans, tire todas as roupas. E depois remova

toda a maquilagem.

Sofia despiu-se rapidamente e removeu a maquilagem com um

pote de creme. Lavou o rosto com um pano ��mido e enxugou-se.

Virou-se para a enfermeira.

��� E agora?

��� Est�� ��timo. ��� A japonesinha sorriu. ��� Entre no boxe do

chuveiro. Ponha uma touca para cobrir os cabelos e feche bem os

olhos. ��� Ela levantou uma lata de spray e acrescentou: ��� Pode

arder um pouco, mas ser�� apenas por um instante. N��o vire as costas

at�� eu mandar.

��� Est�� bem.

Sofia fechou os olhos. Ouviu o zunido do spray e depois uma

ligeira ard��ncia quando o fluido tocou em sua pele. A ard��ncia

277

desceu lentamente at�� os p��s. A sensa����o cessou depois de um

momento. Ela sentiu a m��o da enfermeira em seu bra��o.

��� Continue com os olhos fechados. Eu a guiarei a fim de que

possa se virar.

Sofia sentiu a mo��a se mexendo enquanto se virava.

��� Fique agora com as pernas ligeiramente entreabertas. Pode

p��r as palmas das m��os na parede do boxe, a fim de se apoiar.

��� Estou bem assim.

A sensa����o de ard��ncia recome��ou, desta vez descendo do

pesco��o, espalhando-se pelos ombros e costas, alcan��ando por fim as

pernas. Sofia sentiu o spray nas partes posteriores das pernas, depois nos lados internos das coxas, envolvendo as panturrilhas. Ouviu uma

risadinha da enfermeira.

��� Desculpe, Sra. Evans, mas devo lhe pedir que abra um

pouco as n��degas, porque sua pele a�� �� branca demais.

��� N��o posso fazer isso empertigada do jeito que estou.

��� N��o h�� problema se se inclinar um pouco para a frente.

��� Ei! ��� exclamou Sofia, quando o jato de spray a atingiu. ���

Isso d��i para valer.

��� Mil perd��es, mas �� absolutamente necess��rio. Temos tempo

agora. Pode relaxar.

Sofia sorriu do constrangimento da enfermeira, que a levara a

falar ao estilo japon��s. Empertigou-se, virou-se para a mo��a e saiu do

boxe. Contemplou-se no espelho.

��� Mas estou amarela!

A enfermeira riu.

��� Completamente japonesa. Mas n��o se preocupe. A pr��xima

aplica����o lhe proporcionar�� uma pele morena normal.

Judd estava sozinho quando ela deixou o banheiro, acompanha-

da pela enfermeira, que trazia a maleta de m��dico.

��� Estarei de volta dentro de um momento, Sra. Evans. Trarei

suas roupas e ajudarei na maquilagem, se precisar de mim.

��� Creio que n��o ser�� necess��rio.

Sofia foi postar-se diante do espelho de maquilagem na

c��moda. Come��ou a aplicar o batom. Pele espelho, percebeu que

Judd a estudava com uma express��o estranha. Virou-se para ele.

��� Alguma coisa errada?

Ele sacudiu a cabe��a.

278

��� Cada vez que olho para voc��, tenho a impress��o de que se

parece com outra pessoa.

��� �� a cor. Ainda n��o se acostumou. Estou dourada agora. ���

Ele ficou calado. ��� Fez-me lembrar um pouco da cor de Amarinth.

��� Sofia afrouxou um pouco o chambre de seda branca. ��� S�� que

est�� mais escura do que a dela.

Judd desviou os olhos e disse, quase asperamente:

��� Termine a maquilagem. Estamos quase prontos para partir.

��� Ele pegou o telefone e discou para a sala de Brad. ��� Valerie Ann

j�� chegou?

A voz de Brad crepitou pelo fone:

��� Fast Eddie acaba de traz��-la para o sagu��o. Quer que os

dois observadores d��em uma boa olhada nela, antes de subirem no

elevador. Eu os levarei at�� a�� assim que chegarem �� minha sala.

��� Quem �� Valerie Ann? ��� perguntou Sofia, assim que Judd

desligou.

��� Uma das aeromo��as do meu avi��o. Voc�� tomar�� o lugar

dela. N��o quero correr riscos, pois �� sempre poss��vel que algu��m

note que levei uma mulher a mais para bordo.

��� E o que acontecer�� com ela?

��� Ficar�� aqui por alguns dias e depois embarcar�� num v��o

comercial e voltar�� para casa. ��� Judd foi at�� a janela. ��� O furg��o

ainda est�� l�� embaixo.

��� N��o acha que pode ser uma coincid��ncia?

��� Tenho certeza de que n��o ��. Enquanto voc�� estava no

banheiro, mandamos verificar a placa. �� falsa.

Houve uma batida na porta e a pequena enfermeira japonesa

entrou, carregando uma pequena valise e uma bolsa. Aproximou-se

de Sofia.

��� As roupas que usava ao chegar est��o na valise. E aqui est��

sua bolsa.

��� Deixe na cama ��� disse Judd. ��� Ela n��o vai usar essas

coisas.

��� Pois n��o, senhor. ��� Jane p��s a valise e a bolsa na cama,

depois olhou para Sofia. ��� Posso ajud��-la, Sra. Evans?

��� Acho que estou indo muito bem.

Judd interveio:

2 7 9

��� E agradeceria se ficasse, mo��a. Talvez precisemos fazer

mais algumas mudan��as.

Brad entrou na sala um momento depois, acompanhado por

Fast Eddie e uma mo��a negra de pele reluzente, usando um uniforme

de aeromo��a. Os olhos da mo��a eram animados e inteligentes, o nariz

aquilino, os l��bios ligeiramente grossos e largos. Ela notou a atadura

no nariz de Judd, mas n��o fez qualquer coment��rio.

��� Obrigado por vir imediatamente, Valerie Ann ��� disse

Judd. ��� Preciso lhe pedir um favor muito importante.

��� �� o patr��o, Sr. Crane.

Judd gesticulou.

��� Valerie Ann, essa �� a Sra. Evans.

A mo��a negra olhou para Sofia, murmurando polidamente:

��� Muito prazer, Sra. Evans.

��� O prazer �� meu, Valerie Ann.

��� Eu gostaria que desse o seu uniforme a ela ��� disse Judd ��� a

fim de que a Sra. Evans possa voltar ao avi��o comigo.

A aeromo��a olhou de Sofia para Judd.

��� N��o haver�� problema com o uniforme, Sr. Crane. Mas ela

jamais passar�� por uma irm��.

��� Como assim?

��� As negras s��o diferentes das brancas. Primeiro, ela precisa

de um tom um pouco mais escuro no rosto, pesco��o e garganta, onde

mais aparece. Depois, os l��bios devem ser mais grossos e largos. E

talvez o mais importante seja o andar. Os traseiros das negras s��o

mais projetados, o que faz com que andem de um jeito diferente. Ela

precisa de um traseiro falso. Como Fredericks de Hollywood

apresenta em seus an��ncios.

Judd virou-se para Brad.

��� Acha que pode cuidar disso?

Brad estava aturdido.

��� Podemos cuidar da maquilagem, mas o traseiro �� outro

problema.

��� Acho que posso resolver esse caso ��� interveio a enfermei-

ra, corando ligeiramente. ��� As japonesas geralmente t��m traseiros

arriados. H�� diversas lojas de T��quio especializadas em traseiros

falsos.

��� �� mesmo? ��� murmurou Judd.

280

Jane corou ainda mais.

��� �� mesmo, Sr. Crane. Eu os uso quando me arrumo toda.

��� Um viva ��s Na����es Unidas! ��� Fast Eddie riu. ��� Nem

sempre se pega o que se v��. Vive la diff��rence!

281





17


A I N D A USANDO o chambre de seda que Sofia lhe dera, Valerie

Ann foi at�� a janela e olhou para baixo.

��� Eles devem sair a qualquer momento.

Jane tamb��m se aproximou da janela.

��� L�� est��o eles!

Elas viram Fast Eddie abrir a porta da limusine. Atravessando a

cal��ada rapidamente, Judd entrou primeiro no carro, seguido por

Sofia e Brad. Fast Eddie tamb��m embarcou, batendo a porta. O

carro partiu no instante seguinte, entrando no fluxo de tr��fego.

��� Eles se foram ��� murmurou Jane.

Valerie Ann virou-se para ela.

��� O que est�� acontecendo?

��� N��o sei. Mas essas coisas n��o s��o excepcionais por aqui. O

Dr. Walton �� um dos melhores cirurgi��es pl��sticos do pa��s e muitos

pacientes insistem em n��o serem vistos.

Valerie Ann voltou �� mesa e sentou-se.

��� Tem alguma coisa para se beber por aqui, al��m de suco de

abacaxi?

��� H�� uma garrafa de vinho branco na geladeira.

��� Ent��o, o que estamos esperando?

Jane pegou a garrafa na geladeira e levou-a para a mesa, junto

com os copos.

��� N��o �� um vinho dos melhores ��� desculpou-se ela, abrindo a

garrafa.

��� N��o estou me queixando. ��� Valerie Ann sorriu. ��� S��

282

precisamos agora de cigarro e mais alguma coisa para levantar o

moral.

Jane encheu os copos, depois tirou um ma��o de cigarros de um

bolso e um pequeno frasco do outro. Uma colher pequena estava

presa �� tampa por uma corrente. Ela p��s tudo na mesa, entre as duas.

��� Isso �� farmac��utico, sa��do diretamente do dispens��rio.

��� Ent��o ser�� uma festa para valer ��� comentou Valerie Ann,

rindo.

Poucos minutos depois, as duas estavam inteiramente relaxa-

das. Jane estendeu o isqueiro para a aeromo��a, murmurando:

��� Foi sensacional.

Valerie Ann soprou a fuma��a e tomou um gole do vinho.

��� Seu m��dico �� muito atraente. Ele tem algum preconceito

contra negras?

Jane soltou a sua risadinha japonesa.

��� Absolutamente nenhum. Mas n��o vai adiantar.

��� Talvez eu possa convenc��-lo.

��� Praticamente metade das enfermeiras daqui gostaria de

conseguir. Mas n��o h�� a menor possibilidade.

��� Ele �� do tipo ��ntegro? S�� pensa em trabalho?

A enfermeira tornou a rir.

��� N��o �� por causa do trabalho. Ele simplesmente �� bicha.

��� Mas que merda! ��� exclamou Valerie Ann, desapontada. ���

�� a minha sina. Todo cara em quem ponho os olhos se revela bicha.

��� Seu patr��o parece estranho.

��� E �� mesmo estranho.

��� J�� trepou com ele alguma vez?

��� N��o. Ele �� gelo. ��� A aeromo��a fitou a enfermeira nos

olhos. ��� N��o sei o que ele v�� na Sra. Evans. Ela n��o �� mais uma

crian��a.

��� Talvez ele goste de mulheres mais velhas ��� comentou Jane,

rindo outra vez.

Valerie Ann sorriu.

��� Tenho esse nariz encurvado. Acha que o seu patr��o toparia

me fazer um trabalhinho? N��o precisaria ser uma reforma total.

Jane riu. Subitamente, Valerie Ann bateu com a m��o na testa e

acrescentou:

��� Mas que diabo! Acabo de lembrar que prometi �� minha

irm�� que a encontraria neste fim de semana num retiro da Igreja da

283

Vida Eterna. E agora estou presa no Hava��. Haveria problema se eu

ligasse para Los Angeles e a informasse que n��o poderei ir?

��� Claro que n��o. Pode fazer a liga����o direta.

Brad e Fast Eddie ocupavam os bancos laterais, nos dois lados do

painel que continha o bar, tela de televis��o e r��dio. Em cima do

painel havia um telefone. Brad gesticulou para Sofia e Judd.

��� Sentem-se nos cantos, longe da janela traseira, por favor.

Brad olhou pela janela traseira e depois inclinou-se para o

motorista, dizendo:

��� Pegue a estrada velha para o aeroporto, por tr��s do centro

comercial.

��� Est�� certo.

Brad tornou a virar-se para eles.

��� Est��o logo atr��s de n��s. ��� Ele olhou para o controle junto

ao telefone e apertou um bot��o. Luzes vermelhas come��aram a

piscar. ��� Est��o usando um telefone m��vel. Vamos ver se consegui-

mos interceptar.

Ele acionou o sistema de freq����ncia autom��tica. Fast Eddie

disse ao motorista:

��� Passe-me a caixa de trompete que deixei no banco ao seu

lado.

O motorista levantou a caixa preta. Fast Eddie pegou-a, p��s em

seu colo e come��ou a abrir os fechos. Brad fitou-o, aturdido.

��� N��o me diga que vai tocar trompete num momento como

este.

Fast Eddie sorriu-lhe.

��� Nunca ouviu dizer que a m��sica acalma as feras selvagens?

Ele abriu a caixa e tirou um cilindro preto com cerca de meio

metro de comprimento e 10 cent��metros de di��metro. Prendeu dois

grampos, um em cada lado do cilindro; ajustou uma caixa de metal

retangular por baixo do cilindro.

��� N��o �� uma beleza?

Sem esperar por uma resposta, ele apertou o bot��o para abrir o

teto solar do compartimento de passageiros da limusine. Levantou o

cilindro e prendeu-o no teto com os grampos, firmemente. Olhou por

um visor direcional na caixa de metal. Ajustou os grampos ligeira-

mente. Virou-se finalmente para Brad, sorrindo.

��� D�� uma olhada.

284

Brad olhou pela pequena abertura. O furg��o branco que os

seguia apareceu nas linhas cruzadas de um visor telesc��pio. Brad

tornou a se recostar.

��� �� um perisc��pio ��� disse ele. ��� Mas para que precisamos,

se podemos ver perfeitamente pela janela?

��� N��o �� apenas um perisc��pio ��� protestou Fast Eddie, em

tom magoado. ��� Acha que eu perderia tempo com um brinquedinho

assim?

��� Ent��o o que ��?

��� �� uma vers��o miniaturizada da arma antitanque sueca,

usada pelo ex��rcito dos Estados Unidos. Este pequeno foguete ��

acionado por ar comprimido e possui toda precis��o at�� uma dist��ncia

de 150 metros. Possui explosivo incendi��rio em quantidade suficiente

para transformar aquele furg��o numa bola de fogo, s�� restando

cinzas depois. Ele olhou com uma express��o sarc��stica para Brad e

acrescentou: ��� Ainda acha que �� um brinquedinho?

Brad fitou-o em sil��ncio por um momento e depois sorriu.

��� Acho que voc�� �� um grande sacana, Fast Eddie.

��� N��o gosto de ningu��m querendo nos sacanear. ��� Fast

Eddie pegou o frasco com a corrente de ouro. ��� Algu��m quer dar

uma cheirada?

��� N��o �� o meu departamento ��� respondeu Brad, olhando

para o controle.

��� Eu bem que estou precisando ��� disse Sofia.

��� Sirva-se. ��� Fast Eddie entregou-lhe o frasco. ��� Mas tome

cuidado, porque tem uma ventania entrando pelo teto solar.

Sofia virou-se para o canto, as m��os em concha, aspirou fundo.

Virou-se de novo, murmurando:

��� Que beleza...

A voz de Brad soou excitada nesse instante:

��� Encontrei o canal deles!

Ele ligou o alto-falante. Ouviram uma voz de homem em meio

�� est��tica, mas perfeitamente n��tida:

��� Estou lhe dizendo que n��o h�� qualquer mulher extra

naquele carro, apenas a aeromo��a negra que veio do avi��o.

Outra voz se manifestou, mas as palavras foram inintelig��veis,

por causa de uma s��bita intensifica����o da est��tica. A voz do primeiro

homem tornou a soar:

��� N��o sei por que ele mandou cham��-la. Talvez quisesse que

285

ela chupasse seu pau a caminho do aeroporto. Como vou saber?

Talvez quisesse apenas que ela lhe segurasse a m��o. Ele estava com

aquela atadura enorme no nariz. Talvez tenha feito uma opera����o l��

no hospital. Todo mundo sabe que o cara cheira coca��na pra valer.

��� Filho da puta! ��� exclamou Fast Eddie, furioso. ��� Vamos

acabar logo com essa gente.

Judd levantou a m��o.

��� Vamos escutar mais um pouco.

��� Muito bem ��� disse a voz do homem. ��� J�� estou indo.

C��mbio e desligo.

A luz vermelha no controle apagou. Brad olhou para tr��s, pela

janela. O furg��o branco diminuiu a velocidade, fez uma curva em U e

voltou para a cidade.

��� Eles se foram ��� murmurou Judd, deixando escapar um

suspiro de al��vio.

Ele virou-se para olhar pela janela. O furg��o se afastava em alta

velocidade.

��� Aceito aquela oferta agora ��� disse ele a Fast Eddie. ��� E

baixe seu brinquedinho... mas com todo cuidado.

��� Deixe comigo. Mas nunca vai conseguir aspirar na colher

com essa coisa na cara. Ter�� de usar um canudo.

��� Que se foda! ��� exclamou Brad, irritado.

Ele come��ou �� retirar a atadura, mas Brad se apressou em

intervir:

��� �� melhor deixar. Eles podem ter algu��m para nos observar

no aeroporto.

Sentado �� mesa, Judd permaneceu em sil��ncio, enquanto o avi��o

decolava. Sofia olhava pela janela, enquanto circulavam sobre a ilha,

ganhando altitude. Era o final da tarde, o sol transformava tudo em

dourado l�� embaixo, at�� mesmo as ondas espumantes que deslizavam

pela praia.

��� Lindo... ��� murmurou ela.

Judd fitou-a. Ele parecia muito deprimido. A campainha soou,

o aviso de prender os cintos de seguran��a se apagou. Judd abriu o seu

cinto e levantou-se.

��� Vou para a minha cabine. Avisem a Raoul quando estive-

rem com vontade de jantar.

��� E voc��? ��� perguntou Sofia.

286

��� N��o estou com fome.

Judd atravessou o sal��o a caminho de sua cabine. N��o olhou

para tr��s quando abriu-a e entrou, fechando-a em seguida. Fast

Eddie saiu de tr��s do bar e aproximou-se de Sofia. Ela tornou a olhar

pela janela, murmurando:

��� Est�� anoitecendo depressa.

��� Estamos voando na dire����o da noite ��� disse Fast Eddie. ���

Chegaremos a San Francisco ��s nove da manh��.

��� �� l�� que vamos desembarcar?

Ele sacudiu a cabe��a.

��� N��o, n��s vamos continuar. Mas voc�� desembarcar�� porque

estamos trocando a tripula����o. O chefe calcula que lhe proporciona-

r��o uma boa cobertura.

Fast Eddie pegou uma bolsa de couro com um z��per e p��s na

mesa, na frente de Sofia.

��� Tudo o que est�� aqui dentro �� para voc��. O chefe pediu-me

para explicar.

Ele abriu a bolsa e esvaziou o conte��do na mesa. Sofia deu uma

olhada. Passaporte, cart��es de cr��dito, tal��o de cheques, carteira de

motorista. Tudo em seu nome. Marissa Evans. Havia tamb��m uma

carteira de dinheiro, estufada de notas de 100 d��lares.

��� Tem cinco mil a�� ��� informou Fast Eddie.

��� Mas o que eu fa��o agora?

��� Muito simples. O ��nibus da tripula����o a deixa no centro de

San Francisco. Ande alguns quarteir��es, o suficiente para certificar-

se de que n��o est�� sendo seguida. Se pensar que algu��m est�� atr��s de

voc��, h�� um n��mero de telefone na primeira p��gina do passaporte.

Ligue para l�� e informe onde est��. A Seguran��a ir�� busc��-la. N��o se

preocupe com isso. Eles a reconhecer��o e a chamar��o pelo nome.

��� Marissa Evans?

��� Exatamente.

��� E se n��o forem me buscar... ou n��o puderem?

Fast Eddie p��s na mesa uma pequena autom��tica preta, calibre

25.

As balas s��o explosivas. Acabe com eles e saia de l�� o mais

depressa poss��vel. E depois torne a ligar para a Seguran��a.

��� E se eu n��o conseguir escapar?

��� J�� a vi em a����o ��� comentou Fast Eddie, confiante. ��� N��o

ter�� problemas.

287

Sofia ficou em sil��ncio por um momento.

��� O que fa��o em seguida, se n��o houver problemas?

��� Entre numa loja de departamentos, compre algumas roupas

e uma valise. Pague em dinheiro. Largue o uniforme de aeromo��a

numa lata de lixo com tampa, entre na primeira ag��ncia de aluguel de

carros que encontrar. Alugue um bom carro de tamanho m��dio.

Pegue a estrada para Los Angeles, a US 5. Passe por todas as

entradas de Los Angeles at�� chegar �� rampa da Marina dei Rey. Siga

por esse caminho at�� o Marina City Club Hotel. Encontrar�� um

quarto reservado para voc��.

��� E se eu me perder? N��o conhe��o Los Angeles.

Fast Eddie riu.

��� Pergunte o caminho a um guarda.

Sofia sorriu.

��� Quanto tempo a viagem deve demorar?

��� Dentro do limite de velocidade de 90 quil��metros, de sete a

oito horas. Se tudo correr de acordo com o planejado, dever�� estar

na estrada por volta de meio-dia. Mesmo que pare para encher o

tanque e comer alguma coisa, chegar�� ao hotel por volta das oito e

meia ou nove horas. Jante em seu quarto e fique esperando l��.

Entraremos em contato.

Sofia permaneceu calada por um instante, depois tornou a

guardar as coisas na bolsa de couro. Olhou para Fast Eddie.

��� Acho que preciso de alguma ajuda.

Ele sorriu.

��� Claro. ��� Uma pausa. ��� Mas n��o tome demais ou n��o

conseguir�� dormir.

Sofia lembrou-se do conselho quando estava na cabine, de olhos bem

abertos, no escuro. Contrafeita, ela acendeu a luz ao lado da cama e

se sentou. Pegou um cigarro e acendeu-o, aspirando a fuma��a.

��� Mas que droga! ��� exclamou, soprando a fuma��a.

Ela olhou para o rel��gio na parede. Quase tr��s horas de v��o.

H�� mais de uma hora que tentava inutilmente dormir. Deu outra

tragada no cigarro e finalmente pegou o telefone, ligando para o

sal��o. Depois de um momento, uma aeromo��a atendeu, a voz

sonolenta:

��� Al��?

��� O Sr. Crane por acaso est�� a��?

288

��� N��o, Sra. Evans. Ele ainda n��o saiu de seu camarote.

��� Obrigada.

Sofia desligou. Olhou para a pequena porta que levava �� escada

em espiral e ao camarote de Judd. Acabou se levantando, enrolou-se

numa toalha de banho e subiu a escada. Bateu na porta de Judd,

sussurrando:

��� Est�� acordado?

A voz de Judd soou com um eco muito fraco:

��� Entre.

Ela abriu a porta, devagar. Levou um momento para que seus

olhos se ajustassem �� claridade vermelha. Divisou Judd na posi����o

l��tus, no outro lado da cama, de costas para ela.

��� Deite-se ��� disse ele, sem se virar, a voz ainda um estranho

eco.

Sofia foi at�� a cama e estendeu-se por tr��s dele. Ficou

observando-o, mas Judd era mais uma sombra do que uma realidade

que pudesse ver. Gentilmente, ela tocou em seu ombro.

��� Voc�� est�� bem?

A voz de Judd tornou-se subitamente ��spera:

��� Quero fod��-la.

Ela se manteve em sil��ncio. Judd levantou-se abruptamente ao

lado da cama. Sofia fitou-o. Na suave claridade avermelhada, sua

ere����o parecia grotescamente imensa e inchada. A voz estava quase

furiosa:

��� �� isso o que voc�� quer, n��o �� mesmo?

Sofia fechou os olhos, sacudindo a cabe��a e murmurando:

��� N��o.

Mas sua voz foi abafada quando Judd se jogou em cima dela.

Sofia teve a sensa����o de que estava sendo dilacerada quando ele a

penetrou. E depois, quase que no mesmo instante, ele explodiu num

orgasmo que desencadeou uma vasta ejacula����o. Judd gritou em

agonia, depois arriou em cima dela, tentando recuperar o f��lego.

Depois de um momento, Sofia tocou-lhe o rosto com as pontas

dos dedos. Sentiu as l��grimas em suas faces e sussurrou:

��� Judd...

A voz soou abafada contra o ombro de Sofia, enrouquecida

pela dor:

��� Amarinth est�� morta. Voc�� disse que ela morreria. Ama-

rinth cometeu suic��dio.

289

Sofia ficou calada por um instante; depois, comprimiu o rosto

dele contra seu peito.

��� Sinto muito, meu bem. ��� Ela chorou com Judd. ��� Por

favor, querido, n��o fique assim...

290





18


SOFIA ACORDOU no escuro e virou-se para ele. Judd desaparece-

ra. Ela sentou-se e acendeu a luz. O rel��gio na parede marcava

nove e meia da manh��, hor��rio da Costa do Pac��fico. Ela saiu da

cama e foi at�� a janela, abriu as cortinas. O sol entrou forte,

fazendo-a piscar os olhos.

Ela olhou para baixo e avistou Fast Eddie encaminhando-se

rapidamente para um helic��ptero, a cerca de 100 metros de dist��ncia.

Observou-o entrar no aparelho junto com Judd, a porta se fechando

no instante seguinte. Os rotores come��aram a girar imediatamente e,

poucos minutos depois, o helic��ptero levantava v��o. Sofia ficou

olhando pela janela at�� o aparelho desaparecer. Usou depois a

estreita escada particular para voltar �� cabine.

Sentia-se deprimida, curiosamente desapontada. Percebera

alguma coisa em Judd na noite anterior, algo que jamais conhecera

antes. Talvez fosse apenas uma impress��o. N��o tinha certeza do que

sentia exatamente ��� se Judd lhe transmitira ou se o sentimento era

seu. Entrou no chuveiro. Devia estar na hora de partir. Raoul a

esperava no sal��o.

��� Bom dia, Sra. Evans.

��� Bom dia.

��� Tem tempo para tomar o caf�� da manh��, se quiser.

��� Obrigada. Quero apenas caf��.

Ele come��ou a afastar-se, mas Sofia chamou-o de volta.

��� O Sr. Crane deixou algum recado para mim?

Ele sacudiu a cabe��a.

��� Lamento, madame, mas n��o h�� qualquer recado.

291

��� N��o tem problema. ��� Sofia tentou sorrir. ��� Eu n��o

esperava mesmo qualquer recado.

��� Mas Fast Eddie lhe deixou uma coisa.

Sofia fitou-o com uma express��o de curiosidade. Raoul entre-

gou-lhe um pequeno envelope branco e depois encaminhou-se para a

copa. Ela abriu o envelope. Continha um frasco de coca��na e uma

colher de prata, junto com um pequeno bilhete.

Ela leu rapidamente: "Apenas para mant��-la de moral elevado.

F . E . "

Sofia sorriu para si mesma e sentou-se para esperar o caf��.

O escrit��rio de Judd no pr��dio executivo no centro de Crane City era

muito diferente do escrit��rio que ele herdara do pai em Nova York.

Este era simples, uma decora����o quase espartana, m��veis modernos,

principalmente em pl��stico e f��rmica preto e branco. Era um

escrit��rio funcional, n��o para exibi����o. Persianas do teto ao ch��o

escondiam a sala do mundo al��m das janelas.

Ele disfar��ou a surpresa quando encontrou Barbara, Paul

Gitlin, Doc Sawyer e Merlin �� sua espera. Olhou para Merlin com

uma express��o contrariada e disse:

��� N��o sabia que tinha convocado uma reuni��o dos diretores.

��� Desculpe ��� disse Merlin, nervoso ��� mas acho que ��

importante.

Judd foi para tr��s da mesa e sentou-se.

��� O que �� t��o importante assim?

Merlin olhou para ele e depois para Paul.

��� Talvez possa explicar, Sr. Gitlin.

��� E ent��o, Tio Paul? ��� indagou Judd.

Por uma vez, Paul n��o estava com a tradicional garrafa de

scotch na mesa �� sua frente.

��� Serei o mais simples poss��vel. N��o pode se livrar da Crane

Industries como gostaria. A estrutura �� muito complexa e interligada.

N��o h�� a menor possibilidade.

Judd fitou-o atentamente por um momento.

��� Eu n��o sou o dono?

��� Claro que ��. Mas tem responsabilidades. H��, por exemplo,

acordos e contratos de boa f�� com o governo. N��o lhe permitem

vender qualquer companhia a partes que n��o sejam devidamente

aprovadas, sob os mais rigorosos termos de seguran��a. Est��o

292

inclu��das nisso a Crane Aerospace and Aircraft, Crane Compucrafts,

Crane Microcraft and Microconductors, Crane Lasercraft...

Judd interrompeu-o bruscamente:

��� O que tenho permiss��o para vender?

��� As ind��strias de lazer ��� respondeu Paul, secamente. ���

Hot��is, sistemas de entretenimento, televis��o em cabo para resid��n-

cias ou teatros, produ����o cinematogr��fica.

��� Ou seja, basicamente as empresas que n��o d��o bons lucros.

As mais dif��ceis de vender.

��� N��o �� bem assim. O governo n��o o impediria de vender

Crane Land and Development, Crane Financial Services e outras.

Tenho as duas listas e posso lhe dar.

Judd ficou em sil��ncio. Olhou de um para outro, antes de

finalmente voltar a falar:

��� S�� estou interessado em manter o grupo de engenharia

biol��gica e m��dica.

��� N��o h�� problema quanto a isso. ��� Paul sorriu. ��� Meu

palpite �� de que o governo n��o lhe permitiria de qualquer maneira

vender essas empresas.

��� O que sugere ent��o?

��� Continue. Tem se sa��do muito bem. Por que entornar o

caldo logo agora?

Judd fitou-o nos olhos.

��� Estou cansado de tudo isso. Quero sair.

��� N��o tem op����o, Judd. O filho �� seu e n��o tem condi����o de

se livrar.

Judd ficou calado por um instante, pensando.

��� N��o podemos designar um s��ndico?

��� Quem, por exemplo? N��o h�� ningu��m que conhe��a as

empresas Crane tanto quanto voc��. Seria um desastre total.

��� Merda! Eu estava planejando me instalar em Xanadu.

��� Esse �� outro sonho que voc�� teve ��� disse Paul. ��� Primeiro,

foi a Ilha Crane. Depois, quase antes mesmo de iniciar a constru����o,

mudou para Xanadu. Sabe quanto a Ilha Crane nos custou. Xanadu

ter�� um custo 20 vezes maior.

��� O dinheiro era meu. Jamais gastei coisa alguma da funda-

����o. �� sempre o meu pr��prio dinheiro.

��� N��o estou me queixando disso. Simplesmente ressaltei que

293

foi um desperd��cio, quer o dinheiro seja seu ou de outros. E digo

agora a mesma coisa a respeito de Xanadu.

Judd fitou-o friamente.

��� Tem mais alguma coisa a dizer?

Paul balan��ou a cabe��a negativamente, baixando os olhos para

a mesa. Judd virou-se para Merlin.

��� Venda tudo que temos permiss��o de nos desfazer.

��� Isso dar�� um preju��zo de 30 a 50 bilh��es de d��lares.

��� L��quido depois dos impostos?

��� N��o. O preju��zo l��quido, ficar�� em torno de quatro bilh��es.

O que ainda �� muito alto.

��� Reembolsarei a funda����o ��� declarou Judd. ��� Arcarei

pessoalmente com todos os preju��zos.

��� Isso reduzir�� o seu ativo l��quido a menos da metade ���

advertiu Merlin.

��� Ainda terei mais do que suficiente. ��� Judd correu os olhos

pela mesa. ��� Mais alguma coisa?

��� Uma pergunta ��� disse Paul, ainda olhando para a mesa. ���

Quem dirige o espet��culo se voc�� sair de cena?

��� Sawyer pode cuidar das empresas m��dicas. E Merlin pode

cuidar de todo o resto. Os dois juntos provavelmente sabem mais

sobre as empresas do que eu.

��� E se eles n��o quiserem aceitar?

��� N��o lhes resta muita op����o ��� disse Judd, em tom meio de

gracejo. ��� Voc�� cuidou disso. Os contratos que tenho com eles os

mant��m presos a mim de corpo e alma.

��� N��o h�� nenhum contrato no mundo que possa obrigar um

homem a trabalhar se ele n��o quiser. O que faria se isso acontecesse

Iria process��-los?

Judd sorriu, depois olhou para os outros.

��� Voc��s dois pretendem largar tudo?

Merlin e Sawyer ficaram calados. Judd tornou a olhar para

Paul.

��� Isso nunca acontecer��. Eles n��o s��o apenas empregados.,

s��o amigos.

Barbara levantou-se.

��� Desculpe, Judd, mas acho que est�� fazendo uma coisa

errada. E, de certa forma, injusta tamb��m. Est�� transferindo para os

294

amigos suas pr��prias responsabilidades. Pessoalmente, n��o gosto

disso... e acho que seu pai tamb��m n��o aprovaria.

��� Meu pai est�� morto. O que ele pensava era importante

quando estava vivo. Mas n��o agora. O que importa agora �� a minha

vida, as minhas decis��es.

Ela fitou-o em sil��ncio por um momento, depois pegou suas

coisas, empurrou a cadeira para tr��s e saiu da sala. Judd olhou para

os outros.

��� Algu��m mais quer se retirar?

N��o houve resposta alguma. Judd virou-se para o advogado.

��� Converse com ela. N��o quero que fique furiosa.

��� Por que voc�� n��o conversa pessoalmente, Judd? Ela �� sua

m��e e n��o minha.

Ele foi encontrar Barbara sentada num canto da sala de

recep����o, um lencinho nos olhos. Sentou-se ao lado e disse:

��� Desculpe, Barbara. N��o tive a inten����o de deix��-la assim.

Ela fez um esfor��o para se controlar. Mas continuou em

sil��ncio. Pela primeira vez, Judd percebeu como ela se tornara fr��gil

com o passar do tempo.

��� Barbara ��� disse ele, gentilmente, virando-lhe o rosto ���

lamento de verdade.

Havia m��goa e sofrimento se misturando na voz enrouquecida

de Barbara:

��� N��o estou zangada, Judd. Juro que n��o estou. Apenas

come��o a descobrir o tolo que voc�� ��.

��� Porque n��o quero mais cuidar dos neg��cios?

��� N��o �� absolutamente por isso. Digo isso por v��-lo desperdi-

��ar todas as suas chances de felicidade na busca desse sonho absurdo.

��� N��o �� um sonho absurdo. Estou chegando mais perto, a

cada dia que passa.

��� E perde mais a cada dia. N��o apenas dinheiro. Ou poder.

Tamb��m todas as coisas que voc�� possui, todas as pessoas que o

amam.

Judd n��o disse nada. Barbara esquadrinhou-lhe os olhos.

��� Voc�� nem mesmo compreende o que estou falando.

��� Sei o que quero.

��� N��o, Judd, n��o sabe. Tornou-se completamente egoc��ntri-

co. Seu pai era ego��sta nos neg��cios, mas encontrava tempo dentro

295

dele para amar a voc�� e sua m��e, depois a mim. Mas voc�� n��o tem

tempo em seu ��ntimo para amar qualquer pessoa.

��� N��o sou meu pai. N��o tenho de me sentir como ele.

��� Talvez devesse, Judd ��� disse ela, suavemente. ��� Por que

n��o d�� uma chance a si mesmo?

��� N��o pense que isso n��o aconteceu. Mas o que recebi em

troca dos outros? Nada para mim mesmo. O que mais eu poderia

fazer?

��� Alguma vez j�� pediu a a l g u �� m qualquer coisa para si

mesmo? A Sofia, por exemplo?

��� Tudo o que sempre signifiquei para ela foi mais uma

experi��ncia, outra descoberta.

��� Est�� enganado, Judd. Talvez tenha come��ado assim, mas

mudou depois. Ela o ama.

Judd n��o disse nada.

��� Se ela n��o o amasse, n��o teria gerado seu filho e escondido

isso de voc��.

Barbara desviou os olhos dele, deixando as palavras pairando

no ar. Judd for��ou os olhos da madrasta a se encontrarem com os

seus e perguntou, asperamente:

��� Sofia teve um filho?

Barbara n��o respondeu.

��� Meu filho? Por que n��o fui informado?

��� Porque Sofia tinha medo de voc��. N��o queria o filho usado

como uma arma.

��� N��o acredito ��� disse ele, furioso. ��� Se �� verdade, onde ela

o escondeu durante todo esse tempo?

Barbara fitou-o nos olhos e respondeu, falando bem devagar:

��� Comigo. E ele �� mesmo seu filho, Judd, n��o pode haver

qualquer d��vida. �� muito parecido com voc��. Tem at�� os seus olhos.

O mesrno azul-cobalto.

Os l��bios de Judd se contra��ram.

��� N��o �� meu filho. Foi uma das experi��ncias de insemina����o

artificial de Zabiski. E todas fracassaram. Sawyer me disse que

providenciou para que todas abortassem. E tamb��m providenciamos

um aborto para Sofia.

��� Sei de tudo isso, pois ela me contou. E tamb��m me disse que

n��o se submeteu ao aborto. Como n��o fazia parte da experi��ncia.

296

Zabiski concordou que ela seria o controle, que voc�� e Sofia teriam

uma fecunda����o normal.

��� Ela mentiu para mim ��� murmurou Judd, amargamente. ���

At�� o momento em que nos encontramos no aeroporto, quando

voltou �� R��ssia com a velha. Provavelmente queriam manter a

crian��a na R��ssia.

��� Mas isso n��o aconteceu. N��o sei como ela conseguiu, mas

um dia apareceu em minha casa em San Francisco. E no dia seguinte

foi para uma cl��nica particular e teve o filho. Voltou �� R��ssia cinco

dias depois.

��� E o que voc�� fez com o beb��?

Barbara tornou a fit��-lo nos olhos.

��� Ele era seu filho. Fizemos o que era certo. N��s o adotamos,

criamos e amamos.

��� E nunca me disse nada?

��� N��o. Voc�� se importaria se soubesse?

Judd n��o respondeu.

��� Acho que n��o, Judd.

��� Quem mais sabe? Paul e Sawyer est��o informados?

��� Ningu��m mais sabe. Somente Sofia, Jim e eu. O registro

oficial de nascimento foi escondido num lugar em que ningu��m

poder�� encontrar.

��� N��o mudar�� nada ��� disse Judd finalmente, sem qualquer

express��o. ��� Para mim, �� como se nunca tivesse nascido. Ainda

planejo minha vida como quero.

Barbara levantou-se e arrematou, em tom suave, mas firme:

��� Sinto muita pena de voc��, Judd.

Depois, ela se virou e saiu, sem olhar para tr��s, deixando-o

sozinho na sala de recep����o.

297





19


��� ESTAMOS TR��S semanas adiantados na programa����o ��� disse

Sawyer. ��� A unidade de refrigera����o da cultura de clone est��

sendo embarcada no avi��o neste momento. Irei junto quando o

avi��o decolar de Atlanta.

��� Pensei que fosse se encontrar comigo em Boca Raton ���

comentou Judd. ��� E de l�� seguir��amos juntos.

��� Eu me sentiria melhor se acompanhasse as culturas pessoal-

mente.

Judd observou-o com aten����o.

��� Est�� certo. J�� nos conhecemos h�� muito tempo. Qual �� o

problema que o est�� incomodando?

��� Aquele alem��o desgra��ado ��� respondeu Sawyer. ��� Ele

est�� se metendo onde n��o deveria. Deveria apenas concluir a

instala����o do reator nuclear e deixar a usina de energia pronta para

entrar em funcionamento. Mas soube que ele anda se intrometendo

nos laborat��rios m��dicos. E fazendo perguntas sobre as unidades de

refrigera����o de terapia celular.

��� Ele est�� encarregado de providenciar para que haja energia

suficiente que nos permita operar.

��� �� verdade... s�� que ele est�� fazendo mais perguntas do que

o necess��rio. Quer saber para que servem as unidades. N��o confio

nele.

��� Voc�� est�� no comando, Doe. Fa��a o que achar melhor. S��

pe��o que se mantenha em contato comigo.

��� Eu me sentiria mais tranq��ilo se a Seguran��a o investigasse

298

de novo. Talvez haja alguma coisa que ignoramos. Ainda n��o posso

esquecer aqueles dois que se infiltraram na ilha.

��� Est�� certo, Doc. Mandarei a Seguran��a cuidar disso.

Judd olhou pela janela ao seu lado. A nove mil metros de

altitude, s�� podia ver abaixo a capa de nuvens. Ele pegou o telefone e

ligou para a cabine de comando.

��� Quais s��o as condi����es do tempo na costa em torno de Los

Angeles?

A voz do comandante saiu pelo fone:

��� Toda a regi��o est�� nublada neste momento, a cerca de 2.700

metros de altitude. Prev��em um teto mais baixo e nevoeiro vindo do

mar por volta das 10 horas. Calculam que ter��o de fechar o aeroporto

de Los Angeles �� meia-noite.

��� Obrigado.

Judd tornou a apertar um bot��o do telefone. Uma voz

prontamente atendeu:

��� Seguran��a.

��� Aqui �� o Sr. Crane. Quero falar com o diretor. ��� John

atendeu um instante depois e Judd disse: ��� Tem o relat��rio do

tempo?

��� J�� o recebemos. Estamos apenas esperando um aviso seu.

Creio que podemos realizar a opera����o esta noite.

��� Estaremos pousando no aeroporto de Los Angeles dentro

de 40 minutos.

��� Estaremos prontos, �� sua espera, senhor.

��� No caminho, peguem a Sra. Evans.

��� Est�� certo, senhor.

��� Mais uma coisa. Lance outra rede em torno do Dr.

Schoenbrun. N��o estamos muito satisfeitos com a maneira como ele

vem se comportando.

��� Providenciaremos imediatamente, senhor.

��� ��timo. At�� daqui a meia hora.

Judd desligou e olhou para Sawyer, sentado no outro lado da

mesa.

��� Qual a conex��o que vai pegar para Atlanta?

Sawyer sorriu.

��� N��o sou agora o presidente da Crane Medicai?

��� ��, sim.

299

��� Os presidentes n��o viajam em v��os comerciais. O Cl 2 est��

me esperando no aeroporto.

Judd soltou uma risada.

��� Est�� aprendendo depressa. �� o mais novo 707 que pos-

su��mos.

Sawyer balan��ou a cabe��a, rindo tamb��m.

��� Tive um bom professor.

As nuvens cinzentas come��aram a se tornar negras �� medida que o

dia se aproximava do fim. A limusine saiu da estrada, entrando pelo

campo junto �� base do plat�� que serviria como rampa de lan��amento

do pessoal da asa delta. Judd saltou do carro. Viu John e um homem

que n��o conhecia se aproximarem.

��� Sr. Crane ��� disse John ��� este �� Mark Davidson, o diretor

da escola de planadores e p��ra-quedismo.

Davidson n��o era muito alto, mas tinha os ombros largos, o

corpo atarracado e forte. O aperto de m��o combinava.

��� Parece que essa vai ser a coisa mais divertida que fazemos

desde o tempo em que salt��vamos no Vietnam.

��� Quero que seja divertido, mas n��o quero que se transforme

numa guerra ��� declarou Judd. ��� Deve compreender que n��o quero

mortes, nem mesmo em leg��tima defesa.

��� N��o haver�� nenhuma, Sr. Crane. Sabemos o que temos de

fazer. E fizemos todo o treinamento espec��fico para a miss��o.

��� ��timo. ��� Judd olhou para o c��u. ��� O que acha?

Davidson tamb��m olhou para o c��u, na dire����o do mar.

��� Temos uma boa chance. Se n��o aparecer nenhum vento

inesperado, poderemos saltar ��s 22 horas.

Judd estendeu a m��o, com os dedos cruzados.

��� Para dar sorte.

��� Vamos para o galp��o ��� convidou Davidson. ��� Quero lhe

mostrar como planejamos tudo.

Judd virou-se para John.

��� O que aconteceu com a Sra. Evans?

��� Um carro a est�� pegando neste momento, senhor. Ela

dever�� estar aqui dentro de meia hora.

��� ��timo.

Judd acompanhou Davidson at�� o galp��o de opera����es. Parou

na porta, virando-se para observar um homem em asa delta descendo

300

contra o vento. O piloto esticou os p��s para o ch��o e tocou-o.

Inclinou os joelhos por um instante, depois se desvencilhou das asas e

empertigou-se. Judd olhou para Davidson.

��� Fascinante. Parece o pouso de um p��ssaro.

��� �� justamente essa a t��cnica, senhor.

��� Eu gostaria de experimentar.

��� Eu teria o maior prazer em lev��-lo, senhor. Talvez possa-

mos combinar, depois que esta opera����o for conclu��da.

��� N��o estou pensando em deixar para depois. N��o poderia ser

agora?

Davidson ficou aturdido.

��� N��o pode estar falando s��rio, senhor. N��o teria tempo para

aprender a t��cnica.

��� Quanto ainda resta da claridade do dia?

��� Talvez uma hora e meia.

��� Pois ent��o vamos tentar.

Davidson virou-se para John, com uma express��o consternada.

John disse a Judd:

��� Sou respons��vel por sua seguran��a. Meu trabalho �� lev��-lo

ao interior daquela propriedade s��o e salvo. N��o poderei fazer isso se

estiver voando pelo c��u como um p��ssaro, senhor.

Judd deu de ombros, virou-se sem dizer nada, contornou o

galp��o de opera����es e encaminhou-se para um hangar Quonset. As

asas deltas estavam encostadas na parede, brilhando escuras, como

gigantescos morcegos prontos para entrarem em a����o a um sinal. Um

grupo de pilotos estava sentado perto, num c��rculo, todos de macac��o

preto, segurando canecas de caf��. Judd n��o lhes falou. John

aproximou-se por tr��s dele.

��� O patr��o n��o pode ter ��s vezes todas as divers��es, senhor. ��

uma conseq����ncia das responsabilidades.

Judd tornou a dar de ombros e voltou para junto de Davidson.

��� Como voc�� disse, depois de acabar ��� murmurou ele,

pesaroso.

��� Ser�� uma honra, senhor. E agora vamos entrar, para que eu

possa lhe mostrar como planejamos a opera����o.

Havia um mapa em baixo-relevo, feito de papier m��ch��,

cobrindo uma mesa grande. Davidson pegou um indicador de

madeira.

��� Esta colina, o ponto mais alto no mapa, �� o lugar em que

301

estamos. Esta outra colina, mais baixo e perto do oceano, �� o nosso

objetivo. Entre as duas colinas, atravessamos a Estrada da Costa do

Pac��fico. A dist��ncia entre elas �� de 4.200 metros. A altura de nossa

rampa de lan��amento �� de 2.600 metros, a altura do alvo �� de 200

metros. Temos de nos lan��ar ao c��u e cair quase 2.400 metros nessa

dist��ncia. Ser�� uma queda dif��cil, mas tenho bons homens e podemos

conseguir.

O olhos de Judd estavam fixados nos mapa.

��� Como poder��o ver alguma coisa do ar, se o ch��o est�� oculto

pelo nevoeiro?

��� Tamb��m previmos isso.

Davidson estendeu uma capa de plexiglass sobre o mapa. Era

opaca e Judd n��o p��de ver coisa alguma atrav��s. Davidson estendeu-

lhe um par de ��culos.

��� Ponha isto, senhor.

Judd ajeitou os ��culos. Quando tornou a olhar para o mapa,

p��de divisar flechas vermelhas brilhantes apontando para o alvo.

��� ��culos infravermelhos de vis��o noturna ��� explicou David-

son. ��� Pintamos flechas nos tetos de 20 carros espalhados pelo

caminho.

Judd tirou os ��culos e olhou para Davidson.

��� Meus parab��ns. Eu diria que voc�� pensou em tudo.

��� Obrigado, senhor.

��� Exceto uma coisa.

Davidson ficou desconcertado.

��� Quem est�� comandando a opera����o?

��� Sou eu senhor. Saltarei primeiro.

Judd acenou com a cabe��a, pensativo, depois sorriu.

��� Ent��o talvez seja melhor pintar seu rabo de vermelho, para

o caso de algum dos seus homens se perder.

Davidson sorriu e logo desatava numa gargalhada.

��� Eles n��o esqueceriam meu rabo. Eu estaria peidando fogo

em cima deles se o fizessem.

Judd foi at�� a beira da colina. Um nevoeiro denso se aproximava

rapidamente. Era mais intenso perto do mar, mas come��ava a

rastejar pela estrada, convertendo os far��is dos carros em luzes

difusas. Ele olhou para o rel��gio. Eram 21 horas. Davidson

aproximou-se.

302

��� Ao que parece, senhor, saltaremos no hor��rio previsto. Os

homens j�� est��o se aprontando.

Judd acenou com a cabe��a, virou-se para John.

��� Onde est�� a Sra. Evans? Voc�� disse meia hora h�� muito

tempo, John.

��� N��o se preocupe, senhor. Fast Eddie levou dois dos meus

melhores homens. Ela estar�� aqui a tempo.

Eles voltaram ao galp��o. John apontou para uma casa com o

formato de uma estrela de cinco pontas no mapa e depois para as

outras, num c��rculo ao redor.

��� Alana disse que o maharishi vive no quarto central da casa-estrela. Cada ponta da estrela tem uma cortina de cor diferente

dando para o c��modo central, sendo aberta quando ele concede

audi��ncias. Ele sempre senta-se de frente para o centro do c��modo,

de costas para a cortina fechada de onde emerge. Nunca �� a mesma

cortina, cada cor possui um significado diferente, indicando outro

plano da vida. A cor desta noite �� vermelho, o plano colorido do

sangue.

��� H�� uma vantagem ��� comentou Judd. ��� Pelo menos

saberemos onde encontr��-lo.

��� H�� sempre dois guardas por tr��s de cada cortina ���

informou John. ��� Isso significa que, al��m dos guardas l�� fora, ainda

teremos de cuidar dos que encontraremos l�� dentro. N��o correrei

riscos. Tenho dois carros que entrar��o antes de voc��, cada um

levando sete especialistas.

Judd assentiu.

��� E onde fica sua garota, enquanto tudo isso est�� aconte-

cendo?

��� Ela estar�� nos port��es, abrindo-os para n��s.

��� H�� dois homens ali ��� disse Judd. ��� Como ela conseguir��

domin��-los?

John sorriu.

��� Eu lhe disse que ela era muito inteligente. Ir�� at�� os port��es

completamente nua. E dar�� a impress��o de estar drogada. N��o h�� um

��nico homem que n��o abra a porta para descobrir o que est��

acontecendo ao ver um corpo como o dela. E no instante em que se

abrir o port��o da casa da guarda, ela joga dois frascos l�� dentro e os

guardas se apagam em dois segundos. Ela precisa de mais cinco

303

segundos para o g��s se evaporar e poder apertar o bot��o que abre os

port��es. Os dois primeiros homens a saltarem do carro da frente s��o

t��cnicos em eletr��nica. Cuidar��o do sistema de alarme. A esta altura,

j�� estaremos bem adiantados pelo retiro. Alana nos levar�� direta-

mente para a ponta da estrela por tr��s da qual nosso homem se

encontra.

Judd sorriu.

��� Posso esperar que ela continue completamente pelada?

John n��o sorriu.

��� N��o, senhor. Temos um macac��o pronto para ela.

Um carro parou na frente do galp��o. Fast Eddie entrou,

acompanhado por Sofia.

��� Por que demoraram tanto? ��� indagou Judd.

Fast Eddie abriu os bra��os, num gesto de desamparo.

��� Ah, as mulheres... Nunca serei capaz de compreend��-las.

Sabe onde finalmente a encontrei, chefe? No sal��o de beleza.

Judd fitou-a com uma express��o severa. N��o disse nada. Sofia

sorriu-lhe.

��� Descobri uma peruca de cabelos compridos fabulosa. Lin-

dos cabelos pretos lustrosos. Gosta?

Por um momento, Judd ficou engasgado, mas logo conseguiu se

recuperar o suficiente para dizer:

��� Voc�� parece exatamente com qualquer mulher que se

encontra nos bares de paquera em Marina del Rey.

��� �� muito americana.

Judd balan��ou a cabe��a.

��� Tem toda raz��o. Agora, vamos nos aprontar. Deveremos

partir a qualquer momento. ��� Ele segurou-a pelo bra��o. ���

Voltemos ao carro.

Judd ficou parado jundo �� porta aberta do carro. Davidson

aproximou-se.

��� Est�� na hora, senhor. S��o 22 horas.

��� Boa sorte.

Ele observou Davidson encaminhar-se para a catapulta, pren-

dendo o corpo nas correias da asa delta, parecendo um morcego.

Davidson p��s os p��s em posi����o na catapulta. Houve um s��bito

zunido e ele desapareceu no nevoeiro que pairava �� beira do plat��.

304

Depois de David, um ap��s outro, seus homens foram lan��ados pelo

denso nevoeiro. Assim que o ��ltimo piloto sumiu no nevoeiro

impenetr��vel, Judd entrou no carro e disse aos outros:

��� Vamos embora. O encontro ser�� daqui a 25 minutos.

305





20


Dois CARROS j�� estavam parados na frente dos port��es parcial-

mente abertos quando a limusine se aproximou. Judd abriu sua

porta e saltou.

��� O que est�� nos retendo? ��� perguntou ele, quando John

se aproximou.

��� Estamos com um problema, senhor: Nunca imaginamos que

houvesse uma combina����o para abrir os port��es. O do centro se

abriu, mas o exterior prendeu depois de pouco mais de meio metro.

Os t��cnicos em eletr��nica est��o tentando resolver o problema.

��� Estamos perdendo tempo ��� disse Judd bruscamente. ���

Exploda os port��es.

��� Fa��a isso e teremos todos os guardas da Calif��rnia em cima

da gente ��� sussurrou um dos t��cnicos em eletr��nica.

Os dois conversaram por um instante e depois John virou-se

para Judd.

��� N��o h�� a menor possibilidade de abrirmos os outros

port��es, H�� uma tranca de seguran��a neles que �� acionada no

instante em que se desliga o sistema de alarme.

��� Podemos nos espremer pela abertura ��� sugeriu Judd. ���

Vamos come��ar a andar.

��� �� mais de um quil��metro at�� a casa. E n��o temos certeza se

dominamos todos os guardas e os dobermans.

��� Iremos assim mesmo.

��� Talvez seja melhor esperar no carro, Sr Crane. N��s o

chamaremos quando o caminho estiver limpo.

��� E talvez, a esta altura, o maharishi j�� tenha desaparecido.

306

Se ele �� t��o esperto, quanto penso, ter�� de reserva um refugio

inviol��vel e um caminho de fuga. Nossa ��nica possibilidade �� chegar

l�� t��o depressa quanto pudermos. Temos de correr.

John assentiu e virou-se para os homens �� espera no port��o.

Acenou com a m��o.

��� Vamos embora!

Os homens passaram pelo port��o e come��aram a correr pelo

caminho. Fast Eddie e Sofia seguiram imediatamente atr��s de Judd.

John gesticulou ao passarem pela casa da guarda. Alana chegou,

ainda levantando o z��per do macac��o.

��� Mas que merda! ��� disse ela a Judd. ��� Desculpe, senhor,

mas fico furiosa quando estrago uma situa����o. Eu deveria ter

calculado que eram trancas de combina����o.

��� J�� est�� feito ��� interveio John. ��� Agora, tratemos de tirar o

melhor proveito. ��� Ele virou-se para dois dos homens e acrescentou:

��� Fiquem perto do Sr. Crane. N��o quero que lhe aconte��a coisa

alguma.

Todos come��aram a correr pelo caminho, Alana na frente.

Depois de alguns metros, puderam divisar as asas deltas espalhadas

pelo ch��o. Perto deles, dois homens estavam estendidos no ch��o,

junto a tr��s dobermans, todos profundamente adormecidos. Sofia olhou para eles e tocou no bra��o de Judd.

��� Est�� tudo bem ��� tranq��ilizou ele. ��� Cuidamos deles com

dardos narcotizantes. Ficar��o desacordados por quatro horas e a

��nica conseq����ncia depois ser�� uma tremenda dor de cabe��a.

��� Deveria ter-me avisado para usar sapatos de corrida ��� disse

Sofia. ��� Saltos altos n��o s��o muito apropriados para correr.

��� Pare de reclamar. Pode correr descal��a.

Sofia tirou os sapatos, podendo assim acompanhar o ritmo da

corrida. Passaram por outros guardas e cachorros, todos desacorda-

dos. Mais al��m, no ch��o, havia diversas asas deltas completamente

destru��das. Sofia estava ofegante, sem f��lego, poucos minutos

depois.

��� Tenho de parar ��� disse ela. ��� Preciso recuperar o f��lego.

Nunca fiz o treinamento para esse tipo de coisa.

��� Estale isto debaixo do nariz ��� disse Fast Eddie, estendendo

duas c��psulas brancas.

��� Para que vou querer agora duas pipocas de amilo de nitrato?

Eu cairia e teria 20 orgasmos.

307

��� N��o s��o pipocas, mas sim estimulantes especiais fabricados

em nosso laborat��rio ��� explicou Fast Eddie. ��� Liberam oxig��nio

sob press��o, com um pouco de coca.

Ele estalou uma c��psula sob o pr��prio nariz.

��� Virei super-homem!

Sofia imitou-o. Um fluxo de energia invadiu-lhe o corpo.

Subitamente, ela n��o estava mais ofegante. Tinha a sensa����o de que

poderia correr os cinco mil metros nos Jogos Ol��mpicos.

Ela olhou para Judd, correndo depressa, com a maior facilida-

de, sem qualquer problema aparente de respira����o. Perguntou-se se

ele agia assim naturalmente ou se tamb��m usara algumas p��lulas. Fez

o registro mental de perguntar depois que tudo acabasse. Ao

chegarem no final do caminho, diversos homens de macac��o preto

emergiram da escurid��o. Davidson correu para eles, dizendo a John:

��� Est��o atrasados. O que aconteceu?

��� Tivemos problemas nos port��es. Como foram as coisas?

��� Tudo bem. Acho que pegamos todos os que se encontravam

aqui fora. �� claro que pode haver outros l�� dentro, mas recebemos

ordens de esper��-los.

��� Muito bem. ��� John virou-se para Alana. ��� Por que

entrada passamos?

Alana apontou para a segunda ponta da estrela.

��� Temos de pensar numa coisa. No momento em que pisar-

mos nos degraus de concreto, em torno da casa, todos os refletores se

acender��o.

��� Certo. ��� John virou-se para os seus homens. ��� Quero dois

homens na entrada de cada ponta. Tr��s homens nas entradas das

casas na circunfer��ncia. Quatro homens nos port��es dos canis. N��o

quero que ningu��m saia das casas.

Ele virou-se para Judd.

��� Levarei tr��s homens conosco. Entramos primeiro. No

momento em que o fizermos, os outros ocupar��o suas posi����es. ���

John correu os olhos ao redor. ��� Entendido?

Ningu��m falou nada. Ele tornou a se virar para Judd.

��� O espet��culo agora �� todo seu, senhor.

Judd acenou com a cabe��a.

��� Muito bem, vamos em frente.

Antes mesmo de come��arem a correr para a casa, no entanto,

os refletores se acenderam, transformando a noite em dia.

308

��� Mas que merda! ��� praguejou Judd. ��� O que aconteceu?

Alana apontou para um enorme doberman, parado, as orelhas

levantadas, alerta. No instante seguinte, ouviram um ligeiro zunido.

O cachorro cambaleou para o canto da casa, parou de repente,

levantou uma pata, mijou na maior felicidade em cima de um

canteiro de ger��nios, depois deitou-se gentilmente e caiu no sono.

Alana foi a primeira a chegar �� porta. Abriu-a. Judd foi atr��s,

seguido por John e os outros. Pisando o mais suavemente que podiam

no ch��o de m��rmore, eles foram conduzidos por Alana para uma

cortina larga, de contas vermelhas. Ela entreabriu um canto da

cortina.

Judd espiou, vendo as costas do maharishi. Mais al��m, estavam sentadas 16 ou 20 mo��as, todas na posi����o l��tus, os olhos fixados em

adora����o no guru.

Em sil��ncio, Judd acenou com as m��os para os homens,

informando como se posicionarem para a captura do maharishi.

Depois que todos estavam em seus lugares, Judd passou pela cortina.

N��o chegara a dar dois passos quando se descobriu agarrado

pelo peito, por tr��s, bra��os com cintas de a��o levantando-o do ch��o.

Uma voz disse em seu ouvido:

��� Relaxe. Se resistir, n��o ser�� morto, mas pode ficar aleijado

pelo resto da vida.

Judd debateu-se apenas para recuperar o f��lego, enquanto era

arremessado ao ch��o. Ouviu um pequeno zunido e os bra��os que o

encontraram se abriram, como se o a��o derretesse. Outra voz chegou

a seu ouvido, profunda e calma:

��� Ol��, Sr. Crane. ��� Ele viu o vulto do maharishi se virar

lentamente. ��� Eu o esperava h�� muito tempo. Talvez h�� mais tempo

do que pode imaginar.

Judd olhou aturdido para o maharishi, enquanto ele se levantava. Era mais alto do que parecera, talvez porque estivesse numa

plataforma ou por causa da magreza asc��tica e a t��nica que pendia

dos ombros at�� as sand��lias.

Ele virou-se para as mo��as, que come��avam a se levantar

tamb��m, nervosamente conscientes da intromiss��o inesperada. Pare-

ciam ansiosas em fugir, embora dessem a impress��o de que n��o

sabiam para que lado correr. O guru se mantinha perfeitamente

calmo.

��� N��o fiquem assustadas, minhas crian��as. Recuperem a

309

serenidade interior. Nenhum mal lhes vir�� desses homens. Eles

vieram a mim como amigos, procurando conhecimento.

Tranq��ilizadas, as mo��as tornaram a se sentar na plataforma,

retomando a posi����o l��tus. O guru virou-se para Judd.

��� Seria mais prop��cio para a nossa conversa se providenciasse

a partida de seus homens. A presen��a de tantos estranhos perturba

nossa serenidade e medita����o. Todos aqui compreendemos que a

vida se prolonga de um passado intermin��vel ao infinito.

Ele desceu da plataforma e aproximou-se de Judd. Os olhos

eram de um castanho-amarelado e penetrantes.

��� Temos muitas coisas a conversar, meu filho.

��� Tem raz��o ��� murmurou Judd.

O guru acenou com a cabe��a.

��� Mas agora preciso descansar. N��o sou mais t��o jovem. Sem

dormir, n��o funciono t��o bem quanto deveria. Creio que haver��

necessidade de seis horas para que o seu grupo se retire e as coisas

por aqui voltem ao normal. Eu agradeceria se me permitisse

repousar, a fim de iniciarmos a nossa conversa no instante preciso em

que o sol raiar. Judd ficou calado, indeciso quanto ��s inten����es do

homem. O maharishi acrescentou:

��� Eu dou a minha palavra de que n��o o enganarei. Haveremos

de nos encontrar como prometi.

Judd sentiu alguma coisa familiar na presen��a do maharishi.

N��o foi capaz de disfar��ar a surpresa. Contemplou os olhos de um

amarelo-top��zio �� sua frente e disse, sem qualquer entona����o:

��� Eu o conhe��o.

��� �� muito observador. Conheceu minha irm��.

��� Mas �� claro! Zabiski!

��� Ela era minha irm�� mais velha.

��� Isso explica tudo. Mas o que...

��� Tudo ser�� explicado. Minha irm�� era um g��nio. Mas

conversaremos a respeito quando tornarmos a nos encontrar, ao

nascer do sol. Agora, preciso descansar.

O guru levantou-se.

��� Sinto-me mais repousado com duas garotas junto de mim.

Equilibra o Yin e Yang dentro de mim.

Judd n��o disse nada.

��� Soube que voc�� tamb��m encontrou o mesmo equil��brio. Se

assim desejar, podemos lhe oferecer a mesma ajuda.

310

Judd respirou fundo.

��� Obrigado, mas acho que n��o aceitarei desta vez. Ficarei

comigo apenas esta noite.

��� Como quiser ��� respondeu o maharishi. ��� Meus amigos os

conduzir��o a seus aposentos.

Os quartos de h��spedes ficavam numa casa pequena, no per��metro da

maior. Os quartos eram pequenos como a casa. Uma cama de

solteiro estreita e uma cadeira. Uma pequena c��moda com quatro

gavetas. O banheiro tinha apenas o boxe do chuveiro e um arm��rio

de madeira pintado para as roupas. O vaso, sem tampa, ficava por

baixo de uma janela no alto da parede. As paredes do quarto estavam

pintadas de branco, n��o havia quadros ou qualquer outra decora����o.

N��o havia telefone nem r��dio.

��� No compartimento traseiro de seu carro tem mais espa��o ���

comentou Fast Eddie para Judd.

��� N��o se queixe. Daremos um jeito.

��� Como? Fiquei de olho em algumas daquelas garotas, mas

n��o h�� espa��o suficiente para esprem��-las tamb��m nestes quartos

m��nimos.

��� Se houver boa vontade, sempre se encontrar�� um jeito ���

disse Judd, rindo. ��� Talvez uma das garotas concorde em lev��-lo

para o quarto dela.

��� Isso seria pedir demais ��� murmurou Fast Eddie, desapon-

tado. ��� Com todos aqueles guardas monstruosos e cachorros

malucos, n��o vou sequer me arriscar a meter o nariz fora da porta.

Muito menos o pau. J�� sou bastante pequeno e n��o quero ficar ainda

menor.

��� Ent��o v�� se deitar. Temos de levantar cedo amanh��.

Fast Eddie passou de lado pela porta, a fim de permitir que

Sofia entrasse no quarto ao mesmo tempo.

��� O que voc�� acha? ��� ela foi logo perguntando a Judd.

��� Sobre o qu��?

��� O irm��o de Zabiski. Acredita nisso?

��� N��o tenho motivo para n��o acreditar.

��� �� estranho... Nunca ouvimos falar de tal pessoa, mas ele

parece saber tudo a nosso respeito.

��� No que est�� pensando, Sofia?

��� A ��nica outra pessoa que sabe tanto sobre n��s �� Andropov.

311

Judd ficou surpreso.

��� Acha que ele pode estar trabalhando com os russos?

Sofia deu de ombros.

��� N��o sei. A ��nica coisa de que tenho certeza �� que n��o confio

em mais ningu��m. Talvez ele trabalhe diretamente para o Comit��

Central do Politburo. Todos s��o velhos, at�� Andropov. E todos

gostariam de prolongar suas vidas e seus poderes.

��� N��o sei o que lhe dizer, Sofia. A Seguran��a me informou

que todo mundo, inclusive o FBI e a Receita Federal, estava

investigando-o.

��� Tenho medo.

Fast Eddie voltou apressadamente ao quarto.

��� Consegui!

Judd olhou para ele.

��� Lembra daquela aeromo��a que temos no avi��o, Valerie

Ann? Acabei de conhecer sua irm��. �� uma das garotas daqui e

parece cem vezes melhor do que Valerie Ann.

Ele saiu do quarto antes que qualquer dos dois pudesse lhe

dizer alguma coisa. Judd olhou para Sofia.

��� Isso pode ser a nossa resposta.

��� �� poss��vel, Judd. Mas ainda estou com medo.

Judd fez uma pausa.

��� Nada vai acontecer at�� amanh�� de manh��. Eu a aconselho a

tentar dormir um pouco.

Sofia fitou-o nos olhos.

��� Importa-se se eu ficar com voc��?

Ele apontou para a cama estreita.

��� Aqui?

Sofia assentiu.

��� N��o me importo de dormir no ch��o.

312





21


E L A A C O R D O U subitamente na cama estreita. Virou-se. Judd

sentava-se no ch��o, im��vel, as pernas cruzadas, na posi����o l��tus.

Os olhos se abriram.

��� Bom dia ��� disse ele.

��� Ficou sentado assim durante toda a noite?

Ele assentiu.

��� N��o precisava. Dei espa��o na cama.

Judd sorriu.

��� Achei que voc�� ficaria mais confort��vel sozinha na cama.

Al��m do mais, estou acostumado a esta posi����o. ��� Ele levantou-se.

��� Quer se juntar a mim no chuveiro?

��� Se houver espa��o suficiente para n��s dois, eu adoraria.

��� Pois ent��o vamos descobrir.

A ��gua do chuveiro estava gelada. Sofia ofegou e exclamou,

tremendo toda:

��� Puxa vida!

Judd abra��ou-a.

��� Assim est�� melhor?

��� Muito melhor. ��� Ela fitou-o nos olhos. ��� N��o o compreen-

do, Judd.

Ele sorriu.

��� N��o h�� nada para compreender. Simplesmente estou com

tes��o.

Sofia sentiu o falo ereto se comprimindo contra o seu corpo e

sussurrou:

��� Lindo...

313

Judd passou os bra��os por baixo dos joelhos dela e levantou-a.

Sofia passou os bra��os por seu pesco��o, pendurando-se.

��� Oh, Deus! ��� exclamou ela, quando foi penetrada. ��� Voc��

est�� t��o duro!

Judd sussurrou em voz rouca:

��� N��o �� assim que voc�� gosta?

��� Adoro ��� balbuciou Sofia. ��� Adoro voc��. E quero mant��-

lo dentro de mim para sempre. ��� Ela come��ou a tremer, pr��xima do

orgasmo. ��� Oh, Deus, j�� estou gozando!

As m��os de Judd comprimiam suas n��degas com tanta for��a,

puxando-a de encontro a seu corpo, que ela n��o era capaz de se

mexer.

��� Mais devagar ��� ordenou Judd, asperamente. ��� N��o tenho

o mesmo controle de antes e n��o quero gozar muito depressa.

Sofia manteve-se im��vel, inclinando-se para beij��-lo na boca e

sussurrando:

��� Meu amor... meu lindo amor...

��� Sofia! ��� A voz de Judd estava impregnada de espanto. ���

N��o sei o que est�� acontecendo comigo!

Ela sentiu as l��grimas aflorando a seus olhos e disse, gentil-

mente:

��� Talvez, Judd... talvez voc�� esteja se apaixonando.

Ele comprimiu-se contra ela, quase furioso.

��� N��o! N��o! N��o posso me apaixonar! N��o tenho permiss��o!

Sofia sentiu o orgasmo de Judd explodir dentro de seu corpo e

acompanhou-o com o seu. E murmurou, os l��bios comprimidos

contra os dele:

��� O amor n��o aceita as regras de ningu��m.

Ficaram abra��ados at�� que as for��as se esgotaram e escorrega-

ram juntos para o ch��o do boxe. A ��gua gelada continuava a se

derramar por cima.

A biblioteca do maharishi tinha prateleiras cheias de livros do ch��o ao teto, mas n��o possu��a uma s�� cadeira, uma mesa ou um sof��.

Havia almofadas espalhadas pelo tapete que cobria o ch��o. Seus

cabelos compridos estavam presos atr��s, caindo pelos ombros do

cafet�� p��rpura. A barba estava impecavelmente escovada. Ele

sentava de pernas cruzadas numa almofada e gesticulou para que

entrassem.

314

Observou-os atentamente. Fast Eddie acompanhava-os. O

maharishi olhou para Judd e disse suavemente:

��� Suplico mil perd��es, mas eu me sentiria mais �� vontade se

apenas voc�� e a mulher participassem da conversa.

Judd assentiu e virou a cabe��a para Fast Eddie, que hesitou por

um momento.

��� N��o se preocupe, Fast Eddie. Estarei perfeitamente seguro

aqui.

Fast Eddie acenou com a cabe��a e saiu da sala. O maharishi

apertou um bot��o ao lado da almofada. A porta fechou e ouviram o

estalido quando ficou trancada. Ele olhou para Judd.

��� Obrigado.

Judd sentou numa almofada perto do maharishi. Virou-se para Sofia, enquanto ela sentava, antes de se concentrar no guru.

��� F��ni x r e n a s c e u das cinzas de F��nix, assim como o dalai lama

nasce no momento da morte do dalai lama.

O maharishi n��o disse nada. Judd fitou-o nos olhos.

��� Voc�� n��o �� o mesmo homem com quem falei ontem �� noite.

O guru balan��ou a cabe��a, lentamente.

��� �� verdade. Meu pai me avisou que voc�� �� um homem muito

observador.

��� Com o devido respeito, s�� falarei com seu pai.

O guru assentiu.

��� Meu pai estar�� aqui dentro de um instante.

Ele apertou outro bot��o ao lado da almofada. Uma parede

completa de estante deslizou para o lado, revelando outra sala. Esta

se achava mobiliada num estilo mais convencional. O maharishi

sentava-se por tr��s de uma mesa de s��ndalo, enfeitada em rosa e

marfim. Ele se vestia tamb��m de maneira mais convencional, terno

branco, camisa e gravata tamb��m brancas, um turbante branco de

seda na cabe��a. Levantou-se e fez uma rever��ncia.

��� Sr. Crane, Dra. Ivancich.

Judd levantou-se e acenou com a cabe��a.

��� Seu filho, maharishi? Ou seu clone?

��� Meu filho e meu clone. Ele �� apenas um de meus muitos

filhos. Ou clones, como voc�� os chama. ��� O maharishi sorriu. ���

Mas o que s��o os filhos de um homem se n��o os clones de sua

semente?

315

��� Vim em busca do seu conhecimento, senhor ��� disse Judd.

��� N��o de uma disserta����o filos��fica.

��� S��o a ��nica e mesma coisa, meu filho ��� disse o maharishi.

��� Vejo que �� muito parecido com minha irm��. Ela tamb��m s��

acreditava na ci��ncia, n��o na verdade dentro da alma do homem.

��� Mas permitiu que ela fizesse a experi��ncia em voc��? ���

indagou Judd, astutamente.

��� Fui o primeiro. E, portanto, fui tamb��m o primeiro a

aprender que a ci��ncia por si s�� n��o �� suficiente.

��� Ela confiou a voc�� muitos de seus pensamentos, que jamais

foram transmitidos a qualquer outra pessoa ��� comentou Judd,

polidamente.

��� Mas mesmo assim estivemos separados em nossas convic-

����es. Ao final, ela me disse que voc�� era o herdeiro de todo o seu

conhecimento. ��� O maharishi pegou um caderno de anota����es

encadernado em couro e estendeu para Judd. ��� Aqui est��o as

anota����es de minha irm��, de 1935 a 1944.

Judd abriu o caderno e folheou diversas p��ginas. Algumas

estavam escritas a tinta, a maioria a l��pis. Ele levantou os olhos para

o maharishi.

��� Em alem��o?

��� Isso mesmo. Foram escritas secretamente �� noite, no

laborat��rio do campo de concentra����o nazista.

��� Quer dizer que ela trabalhou para os nazistas?

��� Todos n��s trabalhamos ��� respondeu o maharishi, sem a

menor hesita����o. ��� N��o havia op����o. Ou trabalh��vamos ou ��ramos

mortos.

Em sil��ncio, Judd entregou o caderno a Sofia. Tornou a virar-se

para o velho.

��� Que trabalho faziam l��?

��� Estudos de longevidade. As ordens vinham diretamente do

Fuehrer. Assim como o Terceiro Reich, ele tamb��m deveria viver por mil anos. ��� O maharishi suspirou e desviou os olhos de Judd. ��� Ao final do ver��o de 1944, todos sab��amos que a Alemanha perdera a

guerra. Havia p��nico por toda parte, entre os prisioneiros e tamb��m

entre os guardas. Vieram ent��o as ordens para que todos os registros

fossem destru��dos. E todas as pessoas ligadas ��s experi��ncias

deveriam ser mortas.

O velho fez uma pausa, o olhar perdido no tempo.

316

��� Mas minha irm�� resistiu. Aproveitando a minha pele escura,

herdada da segunda esposa de meu pai, que era indiana, ela mandou-

me seguir pela estrada por onde o ex��rcito brit��nico avan��ava.

Vestindo roupas de camponesa, ela pr��pria seguiu para o norte, na

dire����o das linhas russas. Levava o cart��o de identidade de sua m��e

russa. E assim nos separamos. Dessa forma, pelo menos um

sobreviveria.

��� Que experi��ncias ela realizou em voc��? ��� indagou Judd.

��� As mesmas experi��ncias que fez em si mesma. Era uma

forma de terapia celular.

��� Como Niehans? ��� perguntou Judd. ��� Mas onde foi

poss��vel encontrar as ovelhas n��o-nascidas na quantidade suficiente

que se precisa?

O velho fitou-o em cheio nos olhos.

��� N��o havia nenhuma.

Judd continuou a fit��-lo. Por um momento ele nada falou.

Finalmente murmurou:

��� Foi sobre essas experi��ncias que ela escreveu aqui?

��� Exatamente.

��� Mas pensei que ela tivesse descoberto alguma forma de

autoclonagem. E n��o usando fetos humanos.

��� Isso tamb��m. Mas era apenas uma parte do todo. ��� O

maharishi respirou fundo. ��� A vontade humana de sobreviver �� mais forte do que a aceita����o da morte, mais forte at�� do que qualquer

senso de moral.

Judd continuou a olhar para ele, sem fazer qualquer coment��-

rio. O velho n��o vacilou.

��� N��o sinta choque ou repulsa. Muito em breve, voc�� tamb��m

ter�� de fazer essa op����o.

��� Acho que n��o ��� declarou Judd, determinado. ��� Os

avan��os espetaculares na engenharia gen��tica DNA fazem com que

todos os m��todos de sua irm�� se tornem obsoletos. J�� desenvolvemos

diversas c��lulas humanas em laborat��rios que n��o podem ser

diferenciadas das originais. At�� mesmo c��lulas que podem reparar a

si mesmas. Algumas podem inclusive se reproduzir, quando os danos

s��o irrepar��veis.

��� Est�� querendo me dizer que descobriu o segredo da vida?

��� Ainda n��o ��� respondeu Judd. ��� Mas isso pode acontecer

algum dia.

317

O velho ficou calado por um momento, depois sacudiu a cabe��a

em d��vida.

��� Estou triste. O segredo da vida s�� deve pertencer ao

Criador.

��� E se o pr��prio homem for o criador?

O maharishi fitou-o nos olhos.

��� Agora �� voc�� quem se torna filos��fico.

��� �� mais dif��cil de pensar nisso do que nos m��todos de sua

irm��?

��� J�� disse antes que nem sempre concordei com muitas das

id��ias e m��todos de minha irm��.

��� Mas permitiu que ela o tratasse como se fosse uma cobaia.

��� Ela tamb��m realizou as mesmas experi��ncias em si mesma.

��� Ele fez uma pausa, cansado. ��� Mas tudo isso ocorreu h�� muitos

anos. �� no agora que devemos pensar.

��� Concordo.

��� H�� muitas coisas nas anota����es de minha irm�� que s��o

dif��ceis de compreender e obscuras, at�� mesmo em sua l��ngua. Mas

com as anota����es que j�� possui, �� poss��vel formar um todo. Talvez,

ent��o, seremos capazes de compreender seus pensamentos e desco-

bertas. ��� O maharishi inclinou-se atrav��s da mesa. Sou um velho.

Gostaria de ajud��-lo nesse trabalho, se puder. Meu desejo ��

compreender um pouco do trabalho e sonhos de minha irm��.

Judd virou-se para Sofia.

��� Acha poss��vel que esse homem seja capaz de ajud��-la a

descobrir mais do que conseguiria se trabalhasse sozinha?

��� Claro ��� respondeu Sofia. ��� Ele �� parte singular de uma

hist��ria que nunca poder��amos conhecer na totalidade sem sua

participa����o.

Judd tornou a olhar para o velho.

��� Objetaria a que realiz��ssemos nosso trabalho aqui? Ter��a-

mos de instalar todos os sistemas necess��rios a um estudo mais

complexo. E ligaremos terminais que entram em contato diretamente

com o nosso Computador Central.

��� N��o tenho qualquer obje����o.

��� Pois ent��o faremos isso. ��� Judd olhou para Sofia ��� �� o

melhor. E voc�� estar�� mais segura aqui do que em qualquer outro

lugar pr��ximo de nossas unidades.

��� E onde voc�� estar��?

318

��� Tenho outras coisas a fazer. Mas ficaremos em contato

permanente. E tornaremos a nos encontrar assim que o trabalho aqui

for conclu��do.

O maharishi levantou-se.

��� Obrigado, meu filho. E que a paz possa emergir de suas

descobertas. ��� Ele fez uma pausa e depois acrescentou: ��� Estou

cansado agora e preciso repousar novamente.

��� Obrigado, mestre ��� murmurou Judd.

O maharishi sorriu.

��� Vejo que conhece algumas palavras de hindi, meu filho. A

palavra "guru" significa mestre em ingl��s. ��� Ele ergueu a m��o,

numa esp��cie de b��n����o. ��� Paz e verdade.

O velho passou pela porta e desapareceu. Judd virou-se para o

homem mais jovem, ainda sentado na almofada.

��� Seu pai �� um homem extraordin��rio. Posso perguntar qual ��

a idade dele?

��� Claro, Sr. Crane. Ele �� eterno.

319





22


EM LOCAL T �� O acima do n��vel do mar, um manto de neve cobria

os cumes das montanhas. Judd, sentado no assento do co-piloto do

novo Crane VTOL, com suas estranhas asas em formato de X,

observava a cruz negra feita por sua sombra pela neve branca

refulgente, com o sol mergulhando por tr��s.

��� �� muito bonito, Sr. Crane ��� comentou o piloto.

��� Tem raz��o, Tim. N��o se encontra uma neve assim na

Fl��rida.

��� Estou falando do avi��o, Sr. Crane. Voa como se tivesse

nascido para ser ��guia. Nunca houve um avi��o como este.

��� Sei disso.

��� Se o Departamento de Defesa n��o encomendar pelo menos

600 avi��es destes, ent��o �� porque todo mundo por l�� ficou doido. J��

voei em incont��veis aparelhos. Desde o primeiro Harrier at�� o

��ltimo. E este �� muito superior a tudo.

��� Pode estar certo de que eles ir��o compr��-lo. ��� Judd olhou

para a encosta da montanha que subia para o plat��. ��� Estamos quase

chegando.

��� S�� mais cinco minutos.

Judd virou-se para a parte posterior da cabine. Fast Eddie

sentava-se sozinho entre as seis poltronas de passageiros.

��� O que acha?

��� Se pud��ssemos levar toda essa neve para os Estados Unidos

��� comentou Fast Eddie, sorrindo ��� ganhar��amos um bilh��o de

d��lares.

��� Sempre pensando em algo para comer ��� disse Judd, rindo.

320

��� Aposto que est�� bastante frio l�� fora ��� disse Fast Eddie.

��� Cinco graus abaixo de zero.

��� O que �� frio demais.

Judd tornou a se virar para o piloto.

��� Avise a eles que estamos chegando. Quero entrar na cratera

e n��o pousar no plat��.

��� Pois n��o, Sr. Crane. ��� O piloto ligou o painel digital do

r��dio. Houve um rangido e depois ele falou: ��� Chamando r��dio

Xanadu. Chamando r��dio Xanadu.

Uma voz soou pelo alto-falante:

��� R��dio Xanadu na escuta. J�� o temos no radar. Est�� a 7.100

metros no curso nordeste. Seu coeficiente �� 21, 21, zero, 93, 21.

Acuse o recebimento. C��mbio.

��� Mensagem recebida, Xanadu. Estamos efetuando o conta-

to. ��� O piloto ligou o sistema direcional autom��tico. ��� Sr. Crane

est�� a bordo do Crane VTOL Seis. Solicitamos pouso na cratera.

��� Parece grande demais, Crane VTOL Seis. Acho que n��o

temos espa��o suficiente aqui.

Judd falou pelo microfone em sua garganta:

��� Talvez n��o tenha ouvido direito, controle. Sou Judd Crane e

vai arrumar espa��o para n��s de qualquer maneira. E n��o quero saber

como conseguir��.

A voz pelo alto-falante tornou-se respeitosamente suave no

mesmo instante:

��� Desculpe, senhor. Basta nos dar um pequeno prazo para

transferirmos alguns dos helic��pteros para o plat��.

��� Obrigado, controle. ��� Judd desligou seu microfone. ��� Mas

que idiota! v

��� Dez minutos depois, o VTOL descia diretamente para a

cratera, como se fosse um elevador sustentado por cabos. Dentro do

aparelho, eles se agasalharam em capotes de pele e ficaram aguar-

dando o sinal para abrirem as portas. Uma lufada de ar gelado

informou-os de que podiam desembarcar. O piloto apertou um bot��o

e a escada abriu-se para eles. Judd foi o primeiro a descer. Doc

Sawyer sorriu-lhe sob o seu parka de pele.

��� Seja bem-vindo a Xanadu, o teto do mundo.

Judd apertou-lhe a m��o efusivamente. Por tr��s de Sawyer, ele

viu o Dr. Schoenbrun. Inclinou-se para tamb��m apertar a m��o do

alem��o.

321

��� Seja bem-vindo, Sr. Crane.

��� Vamos sair logo do frio ��� disse Sawyer, afastando-se.

Os outros o seguiram. Judd absorveu tudo prontamente:

homens em helic��pteros sendo levados para o plat��, outros subindo

no elevador coberto na encosta da cratera. As bolsas indicavam que

embarcariam nos enormes C-5 que ele vira esperando para decola-

rem. Sawyer abriu uma enorme porta de a��o e entraram no interior

aquecido do pr��dio.

��� Duas semanas ��� disse Sawyer, sem qualquer tentativa de

esconder sua satisfa����o. ��� Fizemos tudo em duas semanas.

��� �� isso mesmo, Sr. Crane ��� acrescentou o alem��o. ��� Est��

tudo pronto �� sua espera. Pela manh��, poder�� apertar o bot��o e o

reator nuclear come��a a acumular calor.

��� Quanto tempo vai demorar para ficar totalmente operacio-

nal? ��� perguntou Judd.

��� Uma semana ��� respondeu o Dr. Schoenbrun. ��� Assim que

alcan��ar a pot��ncia m��xima, o reator se desliga e passa a funcionar

automaticamente. Vigia a si mesmo pela rob��tica e a dura����o deve

ser infinita.

��� E se houver algum defeito?

��� N��o haver�� ��� garantiu o alem��o, pomposamente. ���

Primeiro, n��o h�� partes m��veis. N��o h�� absolutamente nada al��m de

pura energia at��mica. Segundo, se houver algum defeito, o reator

tem a capacidade de reparar a si mesmo. Posso lhe assegurar, Sr.

Crane, que esta �� a mais perfeita m��quina de movimento perp��tuo

que o homem j�� inventou.

��� S�� quero ter certeza ��� disse Judd. ��� Afinal, �� a minha

pr��pria vida que estou apostando.

��� A m��quina funcionar�� ��� declarou o Dr. Schoenbrun,

formalmente. ��� Mas n��o posso garantir sua vida.

��� Amanh�� de manh��, ��s sete horas ��� disse Judd brusca-

mente.

O alem��o ficou aturdido.

��� Como, Sr. Crane?

��� Apertaremos o bot��o. ��� Judd virou-se para Sawyer. ���

Vou ao meu apartamento tomar um banho de chuveiro. O jantar

pode ser ��s nove horas?

Lee assentiu. Judd virou-se novamente para Schoenbrun.

��� Jantar�� conosco, doutor?

322

��� Com todo prazer, Sr. Crane ��� respondeu o alem��o,

batendo os calcanhares.

Lee sentava-se num sof��, tomando um scotch com gelo, quando

Judd saiu do banheiro, depois da chuveirada. Ele esperou at�� que

Judd amarrasse a cinta do roup��o.

Sente-se melhor?

��� Muito bem ��� respondeu Judd. ��� Por que pergunta?

��� N��o tem dores de cabe��a?

��� Nenhuma. O que est�� pensando?

��� Estou curioso com o aumento das c��lulas cerebrais. O que

Sofia achou?

��� Ela disse que �� melhor esperar para ver o que acontece.

Tamb��m n��o compreendeu.

��� Eu gostaria de fazer uma nova s��rie de exames. Tomogra-

fias, EEGs, tudo enfim. Eu ficaria mais tranq��ilo se a tomografia

mostrasse que n��o houve qualquer atividade adicional.

��� De que est�� com medo, Lee?

Sawyer fitou-o nos olhos.

��� De que voc�� n��o tenha me contado toda a hist��ria. Acho

que injetou em voc�� algumas daquelas c��dulas clonadas.

��� E se isso aconteceu, qual �� o problema? Estou bem, n��o

sinto qualquer efeito pernicioso.

��� O aumento das c��lulas cerebrais pode ter um efeito perni-

cioso. C��lulas em crescimento desordenado se desenvolvem em

c��ncer ou num tumor. N��o sabemos o que pode acontecer.

��� Eu me sinto bem ��� insistiu Judd, contrariado. ��� Vamos

mudar de assunto.

��� A n��s. ��� Lee tomou um gole do u��sque. ��� Depois de duas

semanas aqui, eu me sinto por fora das coisas. Conseguiu finalmente

encontrar-se com o maharishil

��� Consegui.

��� Arrancou dele o que queria?

��� Alguma coisa. Ele tinha as anota����es que procur��vamos. E

descobrimos que era o irm��o de Zabiski. Trabalharam juntos num

laborat��rio alem��o quase at�� o final da guerra. Realizando um

estudo sobre longevidade.

Lee manteve-se calado e Judd acrescentou:

��� A velha fazia experi��ncias com terapia celular muito antes

de qualquer outra pessoa. Mas pode imaginar que c��lulas ela usava?

323

Lee assentiu.

��� Tenho um pressentimento. De fetos humanos.

��� O que o levou a essa conclus��o?

��� Sua insist��ncia na fecunda����o artificial daquelas mulheres.

Afinal, somente uma j�� seria suficiente para verificar a sua capacida-

de de produzir um filho normal. Uma d��zia de mulheres era um

exagero.

��� Mas todas elas abortaram.

��� Isso n��o aconteceu por culpa sua. Providenciei tudo. N��o

tinha um est��mago bastante forte para o que a velha queria fazer.

Seres humanos ainda n��o est��o prontos para substituir animais de

laborat��rio, n��o importa o que tantos anos com os nazistas fizeram ��

nossa boa doutora.

��� Sabia que tive um filho? ��� disse Judd, procurando manter

um tom casual.

A surpresa de Lee foi genu��na.

��� N��o, n��o sabia.

��� De Sofia. N��o sei como ela conseguiu, mas o fato �� que se

esquivou ao aborto. E veio da R��ssia para os Estados Unidos na

ocasi��o do parto.

Lee fitava-o fixamente.

��� J�� sabia disso h�� muito tempo?

��� S�� descobri quando Barbara me contou, logo depois que ela

se retirou de nossa ��ltima reuni��o, em San Francisco.

��� Conversou com Sofia a respeito?

Judd sacudiu a cabe��a.

��� O que h�� para conversar? N��o �� responsabilidade minha e

n��o vou alterar minha vida.

��� Mas o que far�� com a crian��a?

��� Barbara adotou-a, o que �� ��timo para mim.

��� N��o sente qualquer curiosidade? N��o apenas em ver o

menino, mas saber se parece com voc��...

Judd interrompeu-o bruscamente:

��� Barbara j�� me disse tudo o que preciso saber. Ele tem olhos

azuis como os meus. Mas n��o ligo.

Lee levantou-se para servir-se de outro scotch.

��� Voc�� �� um homem estranho, Judd. Acho que nunca o

compreenderei. E provavelmente ningu��m jamais ser�� capaz de

compreend��-lo.

324

��� Isso tamb��m n��o tem a menor import��ncia. ��� Judd sorriu.

��� Depois do jantar, acha que haveria tempo para visitar o

laborat��rio em que est��o as culturas?

��� Se voc�� quiser.

��� Quero e muito.

��� Antes de descermos para o jantar, importa-se que eu

verifique seu cora����o e press��o? Coisas esquisitas costumam aconte-

cer nesta altitude.

��� Claro que n��o me importo.

Lee pegou uma valise pequena e abriu-a.

��� Trouxe minha unidade port��til de ECG. ��� Ele olhou para

Judd. ��� Tomou algum t��xico hoje?

��� N��o. Estou limpo.

��� Deite-se no sof��.

Lee ligou os eletrodos, analisou cuidadosamente a fita, depois

desligou o aparelho. Come��ou a tomar a press��o de Judd, nos bra��os

e panturrilhas.

��� Deveria verificar no meu pau, Lee ��� disse Judd, ao se

levantar.

��� N��o h�� a menor possibilidade. A agulha pularia fora. ��� Ele

sorriu para Judd e balan��ou a cabe��a com uma express��o de

admira����o. ��� Voc�� parece em excelente forma. Press��o de 140 por

80, cora����o normal, nada de extraordin��rio em qualquer parte.

��� Sente-se melhor agora, doutor?

Lee tamb��m se levantou.

��� Vou deix��-lo se vestir agora. At�� a hora do jantar.

O jantar foi simples. Fil�� malpassado com molho de cogumelos,

batatas cozidas, vagens e cenouras. Depois, uma salada verde simples

e um brie franc��s. O vinho foi Bordeaux, Ch��teau Mouton Roths-

child 76. O caf�� para arrematar. O sorriso do Dr. Schoenbrun

revelava sua satisfa����o.

��� Um bom cozinheiro �� a ep��tome da civiliza����o.

Judd sorriu.

��� Nunca imaginei que fosse um fil��sofo, doutor.

��� A filosofia come��a no est��mago e n��o na cabe��a ���

comentou o alem��o.

Judd tomou um gole do caf��.

��� Est�� satisfeito com o seu progresso, doutor?

325

��� Muito, Sr. Crane. At�� amanh��, o ��ltimo homem das

equipes de constru����o j�� ter�� ido embora. S�� ficar��o ent��o os

t��cnicos essenciais. Talvez n��o mais do que sete homens sejam

necess��rios para uma prote����o adequada. Depois de mais tr��s meses,

nem mesmo eles ser��o necess��rios.

��� Isso �� ��timo. Devo cumpriment��-lo, doutor. N��o posso

pensar em mais ningu��m que fosse capaz de executar este projeto t��o

depressa e t��o bem.

O alem��o sorriu orgulhosamente.

��� Aguardo ansiosamente pela manh��.

��� Eu tamb��m ��� disse Judd. ��� E agora, se me d��o licen��a,

vou me recolher. Tive um dia longo e cansativo.

Eram 11 horas quando Judd se encontrou com Sawyer no elevador,

descendo para o laborat��rio. Entraram na pequena sala de recep����o,

onde um guarda se sentava atr��s de uma mesa, na frente do elevador.

Sawyer levou Judd para um pequeno vesti��rio. Tirou as roupas

e foi para baixo de um chuveiro, gesticulando para que Judd fizesse a

mesma coisa. Depois, vestiram um macac��o esterilizado, puseram

toucas cir��rgicas e luvas de borracha compridas.

Havia outra ante-sala entre o vesti��rio e o laborat��rio. Sawyer

fechou a porta do vesti��rio e depois apertou um bot��o na parede. Um

t��nue cheiro de oz��nio passava pelo tubo de ventila����o. Depois de

um momento, a porta do laborat��rio abriu-se automaticamente. Dois

t��cnicos os aguardavam. Sawyer acenou-lhes com a cabe��a, infor-

mando:

��� Este �� o Sr. Judd Crane.

Os uniformes eram unissex. Judd n��o podia saber se eram

homens ou mulheres. Sawyer completou a apresenta����o:

��� Sr. Bourne e Srta. Payson.

Eles se limitaram a acenar com a cabe��a, sem trocar um aperto

de m��o. Sawyer conduziu Judd ao banco de gavetas de plexiglass que

cobriam as paredes. Cada gaveta era numerada. Havia tr��s mesas

diante das paredes, em trilhos de a��o. Em cima de cada mesa havia

um bra��o robotizado, que podia abrir qualquer gaveta ao comando

de um teclado de computador. Ao lado de cada bra��o rob��tico havia

um microsc��pio eletr��nico de tr��s lentes, pronto para projetar a

imagem numa tela grande de computador. Sawyer virou-se para

Judd.

326

��� No momento, usamos a energia de 624 baterias, funcionan-

do em turnos de quatro horas. Quando o gerador for ligado, as

baterias ser��o automaticamente desligadas. Gostaria de dar uma

olhada em alguma coisa espec��fica?

Judd assentiu.

��� As c��lulas do c��rtex.

Sawyer gesticulou para os t��cnicos. Eles apertaram prontamen-

te as teclas do computador. Uma das mesas come��ou a se deslocar ao

longo de uma parede; parou subitamente. O bra��o rob��tico esten-

deu-se para o banco de c��lulas, fez uma breve pausa, puxou uma

gaveta e colocou-a sob o microsc��pio. Um dos t��cnicos ligou a tela

grande.

Simultaneamente, todas as luzes no laborat��rio se apagaram.

Judd ficou olhando fixamente para a tela. Mostrava uma imagem

dividida. N��meros piscaram depressa no alto da tela. Um dos

n��meros era antecedido pela letra " C " . Sawyer explicou a Judd:

��� " C " �� clone, a outra �� genu��na.

Judd observou atentamente por um longo momento e depois

comentou:

��� N��o posso perceber qualquer diferen��a entre as duas.

��� N��o h�� nenhuma, Judd. Pelo menos nenhuma que possa-

mos perceber. Mas isso �� externamente. N��o sabemos se funcionam

exatamente da mesma maneira.

��� S�� podem funcionar. S��o totalmente id��nticas.

��� N��o totalmente.

Judd virou-se para ele com uma express��o inquisitiva.

��� Sabemos o que Deus criou ��� murmurou Sawyer, suave-

mente. ��� O que o homem criou ainda �� conjectura.

327





23


J U D D DESCEU da m��quina Nautilus no gin��sio, o macac��o de

gin��stica completamente encharcado de suor. Respirou fundo,

enquanto Fast Eddie enchia um copo com suco de laranja. Ele

bebeu aos goles, murmurando:

��� Eu estava mesmo precisando. Sentia-me inteiramente resse-

quido.

��� Tome outro, chefe.

��� Espere um pouco ��� disse Judd, arriando numa cadeira.

��� H�� duas coisas erradas neste lugar ��� continuou Fast Eddie.

��� A primeira �� que n��o se pode sair. N��o h�� saco que ag��ente. A

segunda �� que n��o h�� absolutamente qualquer cona dando sopa.

Judd riu.

��� N��o tem nada de engra��ado ��� acrescentou Fast Eddie,

muito s��rio. ��� Nunca imaginei que pudesse levar uma vida de

monge, chefe. Sempre achei que poderia me dar bem com as suas

sobras.

��� Lamento muito. ��� Judd sorriu. ��� Acho que estou ficando

velho.

��� N��o tem nada de velho, Sr. Crane. Est�� apenas se entedian-

do. Sua cabe��a paira em outras coisas.

��� S�� faz uma semana que estamos aqui.

��� Mas parece muito mais.

Fast Eddie sacudiu a cabe��a, pesaroso.

��� De qualquer maneira, a estiagem acabar�� amanh��, Fast

Eddie. Sofia chegar�� com o maharishi, que trar�� uma d��zia de suas garotas. Ele nunca viaja sem o s��quito.

328

��� Espero que tenham roupas mais quentes do que usavam na

Calif��rnia, caso contr��rio ficar��o roxos de frio antes de entrarem em

casa.

��� Temos abrigos de pele no avi��o para todo mundo.

��� Pensa em tudo, chefe ��� comentou Fast Eddie, com genu��na

admira����o. ��� Quem mais vir��?

��� Sawyer e Merlin, da Fl��rida. O Dr. Schoenbrun, de volta do

Rio. O reator dever�� entrar em plena opera����o amanh��.

��� Ser�� um grande dia.

��� Assim espero.

��� Come��o a pensar que est�� sentindo alguma coisa especial

pela Dra. Ivancich ��� comentou Fast Eddie, insinuante.

��� �� apenas um relacionamento de trabalho ��� respondeu

Judd, ainda repudiando os pr��prios sentimentos.

��� Um pequeno relacionamento sexual de quebra n��o faz mal

nenhum. ��� Fast Eddie sorriu. ��� Talvez seja melhor cheirarmos uma

dosezinha como treinamento.

��� Cheire voc��. Estou tentando me limpar um pouco. Os

m��dicos planejam fazer outro checkup completo.

Fast Eddie estendeu outro copo com suco de laranja.

��� Ent��o �� melhor tomar isto agora. Vai precisar de alguma

ajuda.

��� O que o faz pensar assim?

��� Conhe��o aquela doutora. Ela tem a maior tes��o por voc��. ��

capaz de lhe comer at�� os ovos.

Fast Eddie ria ao se afastar. Judd sacudiu a cabe��a em

discord��ncia, mas Fast Eddie j�� sa��ra do gin��sio e fechara a porta.

Judd tomou um gole do suco de laranja, pensou por algum tempo e

finalmente foi para o chuveiro.

O telefone tocou enquanto Judd se enxugava. Ele atendeu.

��� Sua m��e est�� na linha, senhor.

Judd apertou o bot��o da linha direta.

��� Ol��, Barbara.

A voz revelava que ela estava bastante nervosa.

��� Onde voc�� est��, Judd?

��� Em Xanadu. Qual �� o problema?

��� O menino foi seq��estrado ��� disse ela, a voz tr��mula,

enquanto for��ava as palavras a sa��rem o mais depressa poss��vel. ��� A

329

bab�� trazia-o do parque quando dois homens saltaram de um carro,

derrubaram-na e levaram o menino. Deixaram um bilhete.

Barbara estava obviamente desesperada. Judd perguntou cal-

mamente:

��� Est�� com o bilhete?

��� Estou, sim.

��� Pois ent��o leia-o, Barbara ��� ordenou Judd, o mais gentil-

mente que podia.

��� Sabemos quem �� este menino. ��� Ela lia cada palavra com a

maior dificuldade. ��� Tamb��m sabemos quem s��o o pai e a m��e.

Nenhum mal acontecer�� ao menino se eles concordarem com as nossas

condi����es.

��� Isso �� tudo o que tem no bilhete?

��� ��, sim.

��� Lembra-se que me disse que ningu��m sabia do menino?

Barbara chorava ao telefone.

��� Era o que eu pensava, Judd.

��� H�� quanto tempo aconteceu?

��� H�� cerca de duas horas.

��� Que horas s��o em San Francisco neste momento?

��� Quatro da tarde. Levei quase duas horas para conseguir

falar com voc��. ��� Barbara recome��ou a chorar. ��� O que vamos

fazer?

��� J�� ligou para John, na Seguran��a?

��� Ainda n��o.

��� Pois ent��o fale com ele imediatamente. Ele levar�� alguns

homens at�� a�� e come��ar��o a trabalhar. ��� Judd fez uma pausa. ��� Se

a bab�� tem alguma informa����o sobre os seq��estradores, como eles

pareciam, providencie para que conte tudo aos homens.

��� E Sofia? Eu me sinto na obriga����o de inform��-la.

��� Cuidarei disso. Por enquanto, Barbara, o que voc�� deve

fazer �� se manter calma. Eles disseram que querem entrar num

acordo comigo. Portanto, o menino nada sofrer��. Eu prometo.

��� Vai telefonar para mim no momento em que souber de

alguma coisa?

��� Claro. E se voc�� souber de alguma coisa, tamb��m deve me

avisar imediatamente.

Barbara respirou fundo.

��� Est�� certo.

330

��� Tome agora um tranq��ilizante e trate de relaxar, Barbara.

Tudo acabar�� bem. At�� logo.

Judd desligou e telefonou para Seguran��a. John estava na linha

um instante depois.

��� Sofia e o maharishi j�� deixaram Los Angeles?

��� H�� cinco horas.

��� Minha m��e lhe telefonar�� a qualquer momento. Ela dar�� os

detalhes. Cuide para que seja tudo investigado. Comece por falar

com seus contatos na CIA. Tente descobrir se est�� acontecendo

alguma coisa especial entre os agentes russos. Como um seq��estro.

N��o de um espi��o desta vez, mas de um menino de tr��s anos.

��� Entendido, senhor ��� disse John, sem qualquer emo����o.

��� J�� descobriu mais alguma coisa sobre o Dr. Schoenbrun?

Tenho a impress��o de que ele est�� envolvido nisso de alguma forma.

��� Nada consta de especial em nossos registros, senhor.

Apenas as coisas normais. Compareceu a simp��sios sobre f��sica

nuclear em pa��ses escandinavos, Alemanha, Jap��o. Nada fora do

comum... reuniram cientistas do mundo inteiro, inclusive da R��ssia.

��� Sabe se ele alguma vez cruzou os limites para Berlim

Oriental?

��� Duas vezes. Mas num ��nibus apinhado de turistas.

��� Merda! ��� Judd pensou por um momento. ��� Consulte a

Mossad. Os filhos da puta do servi��o secreto israelense s��o muito

espertos... e partilham informa����es com seus aliados, se tiverem

algum proveito a ganhar.

��� Boa id��ia, senhor. Cuidarei disso imediatamente. Como se

sente em rela����o �� seguran��a por a��? Acha que �� suficiente?

��� Estamos bem, John. No momento, s�� quero que descubra

tudo o que puder a respeito do garoto.

Judd desligou e chamou Fast Eddie.

��� O que ��, chefe?

��� Primeiro, quero aquele cheiro que voc�� me ofereceu e

depois uma Coca temperada.

��� Os dias felizes voltaram. ��� O negro sorriu, providenciando

rapidamente o que lhe fora pedido. ��� Adoro os seus olhos

brilhantes, chefe.

Judd aspirou as duas doses de coca��na e depois tomou um gole

da Coca temperada. Olhou para Fast Eddie.

��� Quantos tem daquele ATW sueco?

331

Fast Eddie ficou surpreso.

��� Uma d��zia. Espera algum problema?

Judd deu de ombros.

��� Nunca se sabe. Mantenha as armas por perto.

��� Est�� certo. Mais alguma coisa?

��� As armas pequenas, as autom��ticas de calibre 25?

��� Tenho duas. Uma para cada um.

��� Certo. ��� Judd tomou outro gole de Coca temperada. ���

Daqui por diante, assim que nossos h��spedes chegarem, voc�� fica

sempre perto de mim.

��� Ficarei t��o perto de voc��, chefe, que todos pensar��o que

estou grudado em seu rabo.

Era quase meia-noite quando tocou o telefone da Seguran��a, ao lado

de sua cama.

��� Aqui �� John, Sr. Crane. Temos algumas informa����es.

��� Estou acordado. Pode falar.

��� N��o sabemos quem s��o os seq��estradores, mas descobrimos

que dois homens e um garoto de tr��s anos embarcaram num avi��o da

Canadian Pacific do aeroporto de San Francisco para Montreal.

Chegando l��, o grupo embarcou num avi��o cubano para Havana.

Entramos em contato com um dos nossos agentes em Havana. A

informa����o �� que o aeroporto de l�� foi cercado. H�� rumores de que

algum russo importante est�� para chegar.

��� Acha que podemos intercept��-lo l��?

��� Duvido muito. �� arriscado demais. Mas descobrimos uma

coisa espantosa com a Mossad. Nosso Dr. Schoenbrun, supostamente

no Rio, est�� na verdade em Caracas. A informa����o �� de que ele

comprou duas passagens, de Caracas para o Rio. O filho da puta ��

muito est��pido. Uma das passagens �� para ele pr��prio e a outra para

uma crian��a de menos de cinco anos.

��� Podemos agarr��-los no Rio?

��� N��o dispomos do pessoal necess��rio. A pr��pria Mossad,

que gostaria de ajudar, s�� tem duas mulheres em seu escrit��rio.

��� Ent��o teremos de cuidar de tudo sozinhos. Tenho certeza

absoluta de que trar��o a crian��a para c��.

��� Posso ter um batalh��o de agentes a�� por volta de meia-noite

de amanh��.

��� Ser�� tarde demais. Mas n��o se preocupe. Daremos um jeito.

332

��� Sinto muito, Sr. Crane. Perdemos esta.

��� Voc�� n��o pode vencer todas, John.

Judd desligou. Ficou sentado na cama por um longo tempo,

pensando. Finalmente ligou para a torre de controle.

��� Aqui �� o Sr. Crane. Quero todos os helic��pteros transferi-

dos da cratera para o plat��. O ��nico avi��o que deve permanecer na

cratera �� o VTOL. Entendido?

��� Entendido, Sr. Crane.

��� Qualquer avi��o que pedir instru����es para o pouso deve ir

para o plat��. Nenhum desce para a cratera. Isso se aplica a todo

mundo. Inclusive ao Dr. Schoenbrun.

��� Entendido, senhor.

��� Quero tamb��m ser informado no instante em que qualquer

avi��o fizer contato pelo r��dio. Quero saber quem e quantas pessoas

se encontram em cada aparelho. Entendido?

��� Perfeitamente, senhor.

��� E a partir das oito horas da manh��, informem-me de hora

em hora se detectamos algum avi��o se aproximando. N��o quero que

avi��o algum chegue aqui furtivamente. Entendido?

��� Entendido, Sr. Crane. Se nada acontecer at�� l��, come��are-

mos a inform��-lo de hora em hora, a partir das oito da manh��. At�� l��,

senhor.

Judd desligou o telefone e apagou a luz. Nada estava dando

certo. Ele n��o dormiu. Ficou se revirando na cama at�� que a

claridade cinzenta do amanhecer se infiltrou pelas janelas.

333





24


��� O N D E EST��O as garotas? ��� perguntou Fast Eddie, olhando

para a tela de televis��o, que mostrava os passageiros descendo

pela escada encostada no 707, estacionado �� beira da pista no

plat��.

��� Espere mais um pouco.

Judd tamb��m estava curioso. Sofia j�� passara pela porta.

Olhava pela escada, por tr��s dos dois homens que ajudavam o

maharishi. Tr��s homens emergiram na plataforma um instante

depois. Umas poucas garotas finalmente apareceram. No total, sete

garotas desceram a escada.

��� N��o falaram coisa alguma sobre os guarda-costas ��� comen-

tou Fast Eddie.

��� Ele �� um velho ��� disse Judd. ��� Provavelmente precisava

da ajuda deles.

Fast Eddie continuou a olhar para a tela e demorou um pouco

para voltar a falar:

��� A doutora n��o parece muito bem. D�� a impress��o de estar

bastante tensa.

��� Provavelmente sente frio.

Judd observou-a com aten����o. Fast Eddie talvez estivesse

certo. Alguma coisa na maneira como ela andava n��o estava certa.

Ele virou-se para Fast Eddie.

��� Leve a todos para os seus aposentos. E me avise depois que

Sofia estiver instalada.

��� Onde voc�� estar��?

��� Vou descer para o gerador nuclear. O Dr. Schoenbrun est��

334

l�� embaixo, com Sawyer e Merlin. O gerador deve entrar em

opera����o a qualquer momento e eu gostaria de estar presente.

��� Disse para eu ficar grudado em seu rabo, chefe.

��� Ser�� apenas por alguns minutos. Nada acontecer�� por

enquanto.

��� Voc�� �� quem manda. Est�� com a sua arma na manga?

Judd esticou o bra��o. A pequena autom��tica apareceu em sua

m��o.

��� Est�� bom assim?

��� Nada mal, chefe. Voltarei a encontr��-lo o mais depressa

poss��vel.

Judd saiu do elevador para a plataforma de observa����o que

circulava o gerador, 300 metros abaixo da superf��cie da cratera.

Schoenbrun sentava-se num banco alto, os olhos fixados no painel de

instrumentos. Merlin e Sawyer estavam de p�� ao seu lado, observan-

do com uma fascina����o extasiada. O alem��o ouviu a porta do

elevador abrir e os passos de Judd na plataforma. E disse, sem

desviar os olhos do painel:

��� Chegou bem a tempo, Sr. Crane. O gerador entra em

funcionamento autom��tico dentro de 30 segundos.

Em sil��ncio, Judd foi postar-se ao seu lado. O segundo

mostrador de contagem digital estava baixando: 25, 24, 23. As luzes

do circuito indicando a transfer��ncia para a for��a autom��tica conti-

nuavam vermelhas. Ele olhou para o gerador pelas janelas de vidro.

Os t��cnicos de uniforme branco deixavam o piso do gerador,

passando por uma porta que dava para a escada que levava ��

plataforma. A porta foi trancada depois que todos passaram. A

contagem digital continuava a baixar: 15, 14, 13, 12.

Outra porta na plataforma, no lado oposto, abriu-se para dar

passagem aos t��cnicos. Em sil��ncio, todos se aproximaram da beira

da plataforma e ficaram olhando para o gerador. Ningu��m falava.

N��o se ouvia qualquer barulho de m��quina. Somente os pequenos

estalidos da contagem digital.

Sawyer virou-se para Judd e levantou as m��os, os dedos

cruzados. Merlin percebeu o gesto e imitou-o. Judd sorriu-lhes e

levantou o polegar.

Cinco, quatro, tr��s. Todos respiraram fundo e prenderam a

respira����o. Dois, um, zero. As luzes do circuito passaram de

335

vermelho para verde. Subitamente, os t��cnicos come��aram a gritar e

bater palmas. Judd juntou-se aos aplausos. Sorriu para o alem��o.

��� Meus parab��ns, Dr. Schoenbrun.

Ele estendeu a m��o. O alem��o apertou-a, batendo os calcanha-

res automaticamente.

��� Estou muito satisfeito ��� disse ele, sorrindo. ��� Meus

parab��ns e meus agradecimentos, Sr. Crane.

��� Merlin estava com uma express��o espantada.

��� Mas n��o ouvi nada! Nem motores nem engrenagens,

absolutamente nada!

��� Sinta-se feliz, Sr. Merlin ��� disse Schoenbrun, sorrindo. ���

Se ouvisse qualquer barulho, provavelmente seria o ��ltimo.

��� Vamos ao meu escrit��rio para tomar um drinque em

comemora����o ��� convidou Judd.

��� Permite que eu fique aqui por mais algum tempo, Sr.

Crane? ��� disse o alem��o. ��� Quero contemplar minha crian��a.

��� N��o h�� problema. Mais uma vez, meus parab��ns.

Judd virou-se para o elevador. Sawyer e Merlin seguiram-no.

��� Tr��s bilh��es de d��lares ��� murmurou Merlin.

��� �� barato ��� disse Judd. ��� Custaria duas vezes mais se a

usina nuclear j�� n��o estivesse conclu��da e paga, a metade por Ludwig

e a metade pelo governo.

��� Ainda n��o entendi por que eles pararam no meio ���

comentou Merlin.

��� �� muito simples. Ludwig saiu fora porque n��o via perspecti-

va de lucro e o governo ficou sem dinheiro. O Brasil j�� tinha uma

d��vida de 80 bilh��es de d��lares e nenhuma possibilidade de tomar

mais empr��stimos. Os bancos e o FMI empurraram-lhe um programa

de austeridade goela abaixo. Ficaram felizes em aceitar minha oferta

de um bilh��o de d��lares e assim reduzir os preju��zos.

��� E planeja ficar aqui? ��� indagou Merlin.

��� Isso mesmo.

Merlin virou-se para Sawyer.

��� Diga-lhe que n��o vai dar certo. N��o h�� a menor possibilida-

de de ele viver para sempre.

��� Mas n��o posso dizer isso ��� protestou Sawyer. ��� Ningu��m

sabe se vai ou n��o dar certo.

��� Somente o tempo dir�� ��� acrescentou Judd.

Fast Eddie entrou no escrit��rio e disse a Judd:

336

��� J�� est��o todos acomodados. Mas tem uma coisa que n��o

entendi. Pensei que o maharishi n��o permitisse que seus guardas andassem armados.

��� E n��o permite mesmo.

��� Ent��o tem alguma coisa errada. Seus homens est��o carrega-

dos. Cada um possui uma autom��tica Uzi.

��� Falou com Sofia?

��� N��o pude. Uma das garotas disse que ela n��o se sentia bem

e tinha de se deitar imediatamente. Mas isso tamb��m n��o faz sentido.

Ela olhou para mim e deu a impress��o de que n��o me reconhecia.

Calculei que estava drogado ou algo assim.

Judd pensou por um momento.

��� Talvez ela esteja doente. Ligarei para o maharishi e

perguntarei se quer que Sawyer a examine.

Ele pegou no telefone no instante em que o Dr. Schoenbrun

entrava na sala. O maharishi atendeu.

��� Al��?

��� Aqui �� Crane. Soube que Sofia est�� doente. Posso mandar

um m��dico examin��-la.

A voz do maharishi era tranquilizadora:

��� N��o creio que seja necess��rio. Ela est�� pegando um

resfriado. Acho que o v��o foi cansativo demais.

��� Talvez um antibi��tico ajude.

Judd ligou a tela Intertel. O rosto do maharishi apareceu. Judd acionou o foco autom��tico. Sofia estava sentada na cama por tr��s

dele, um guarda em cada lado.

��� Acho que ela ficar�� boa com um pouco de repouso ���

respondeu o maharishi. ��� Todas as anota����es foram transcritas e transmitidas ao computador. Podemos come��ar no instante em que

voc�� quiser.

��� Vamos esperar at�� que Sofia esteja melhor. Avise-me assim

que isso acontecer.

Judd desligou. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, o

alem��o falou, em tom chocado:

��� Sabe quem �� esse homem?

Judd olhou para ele, aturdido.

��� Quem ��?

��� Ele �� do KGB. N��s o conhecemos h�� muito tempo, mas

nunca estive t��o perto dele.

337

��� Voc�� disse "n��s o conhecemos". Quem s��o esses n��s?

��� A Mossad. N��o sou um agente deles, mas j�� trabalhamos

juntos em diversas ocasi��es. At�� mesmo no caso de Eichman. O

K G B tentou peg��-lo, mas n��s chegamos primeiro.

��� Porra! ��� explodiu Judd. ��� Acha que Sofia est�� trabalhan-

do com o maharishi?

��� N��o conhe��o a mo��a.

Fast Eddie olhou para Judd.

��� N��o acredito que ela esteja. Acho que a doparam at�� as

orelhas. Sawyer aproximou-se de Judd.

��� O que faremos agora?

��� A primeira provid��ncia �� tirar voc�� e Merlin daqui.

��� Uma ova que vamos sair! ��� protestou Merlin.

��� N��o h�� alternativa ��� insistiu Judd. ��� Sem voc�� e Sawyer as

empresas Crane afundam irremediavelmente.

Judd ligou para a torre de controle.

��� O Cl 2 est�� reabastecido?

��� Est��, sim, Sr. Crane.

��� Apronte-o para partida imediata.

Ele desligou e. olhou para os dois homens.

��� Muito bem, podem ir.

Sawyer e Merlin continuaram parados, olhando para ele.

��� V��o logo! ��� gritou Judd. ��� Voc��s j�� t��m responsabilidades

demais. Eu cuidarei de tudo aqui.

Ele virou-se para Schoenbrun.

��� V�� embora tamb��m, doutor. Esta n��o �� sua luta.

��� Est�� enganado. Tenho parentes que tentam escapar da

R��ssia h�� mais de 20 anos.

��� Quem foi a pessoa com quem se encontrou em Caracas?

��� Minha esposa e filho vieram da Su����a. O garoto precisava de

uma opera����o que n��o podia ser realizada aqui. N��o disp��nhamos da

t��cnica nem do equipamento. ��� Judd continuou a fit��-lo em sil��ncio

e Schoenbrun acrescentou: ��� Al��m do mais, este projeto �� meu

tanto quanto seu. Lembre-se de que constru�� o reator.

Judd tornou a se virar para Merlin e Sawyer.

��� Muito bem, voc��s v��o agora. Depois que estiverem no ar,

manteremos contato a cada duas horas.

338

Em sil��ncio, os dois homens apertaram a m��o de Judd e depois

se retiraram. Judd virou-se para Fast Eddie.

��� Escolte-os at�� o avi��o. Cuide para que embarquem mesmo.

N��o quero que se escondam em algum corredor.

339





25


J U D D LIGOU a tela Intertel e sintonizou na c��mara que esquadri-

nhava o plat�� da torre de controle. O Cl 2 virou na pista. Um

|momento depois, o aparelho levantava v��o. Judd observou-o por

um instante e depois notou outro aparelho na pista. Chamou a

torre de controle.

��� Que avi��o �� aquele?

Antes que o controlador pudesse falar, o Dr. Schoenbrun

respondeu:

��� �� o meu avi��o. Est�� levando os t��cnicos de volta ao Rio.

Agora que o reator est�� em opera����o autom��tica, dei-lhes permiss��o

para irem embora.

O controlador informou pelo fone no ouvido de Judd:

��� B-737 para o Rio, senhor.

��� Est�� bem, controlador. Algum outro avi��o no campo l�� em

cima?

��� Apenas dois helic��pteros e o 707 que acaba de chegar com o

��ltimo grupo.

��� Onde est��o as tripula����es?

��� Na casa de servi��o no campo, senhor.

��� Providencie para que todos os aparelhos estejam completa-

mente reabastecidos.

��� Pois n��o, senhor.

Judd desligou, no instante em que Fast Eddie voltava �� sala.

��� Eles j�� foram.

��� Muito bem. ��� Judd ��gou para o diretor de pessoal. ��� Aqui

�� o Sr. Crane. Quantos homens temos aqui neste momento?

340

��� A rela����o est�� no computador, senhor. Quatro guardas,

oito na faxina, dez na cozinha, tr��s na manuten����o, quatro no

controle a��reo, oito tripulantes, tr��s t��cnicos de laborat��rio e dois no

pessoal, incluindo a mim.

��� Os guardas est��o armados?

��� N��o, senhor. Suas ��nicas fun����es s��o observar os movimen-

tos do pessoal e dos convidados. N��o s��o guardas de seguran��a.

��� Est�� certo. Discretamente, ponha todo o pessoal em alerta

de evacua����o.

��� Certo, Sr. Crane. Meu nome �� Jack Somer. Sou da Central

de Seguran��a e estou armado, se precisar de minha ajuda, senhor.

��� Por enquanto, Jack, continue �� sua mesa. Mas obrigado.

Ficaremos em contato.

Judd desligou, virando-se para Fast Eddie e o Dr. Schoenbrun.

��� Tenho a impress��o de que, se Sofia est�� mesmo dopada, o

Maharishi n��o entrar�� em contato conosco at�� que ela esteja de cabe��a desanuviada.

Os dois fitavam-no em sil��ncio. Ele respirou fundo.

��� Tenho um pressentimento. ��� Judd ligou para a Central de

Seguran��a e falou com John. ��� Fomos enganados durante todo o

tempo. O maharishi mostrou as garras. Est��vamos atr��s de um

chamariz. Quantos homens voc�� pode mandar imediatamente para o

retiro dele em Malibu?

��� Em torno de 22 ou 23 homens.

��� Acho que o garoto est�� l��. �� a ��nica maneira pela qual ele

poderia levar Sofia a entrar em seu jogo.

��� Quer que saltemos l��?

��� Mande os helic��pteros. E podem liquidar qualquer um que

tentar se opor. E me informe assim que constatar se estou certo ou

errado.

��� J�� estamos a caminho.

Judd desligou, tornando a levantar os olhos para Fast Eddie e

Schoenbrun.

��� �� melhor tratarmos de almo��ar, enquanto esperamos.

Mas de uma hora transcorreu antes que o maharishi ligasse:

��� Sofia j�� se sente muito melhor agora, Sr. Crane. N��o

poder��amos ter o nosso encontro logo?

��� Claro. Posso encontr��-lo em sua su��te e depois lhe propor-

341

cionarei a excurs��o tur��stica por Xanadu. N��o est�� interessado em

conhecer o gerador nuclear e o laborat��rio de c��lulas clonadas

artificiais?

��� Terei o maior prazer,. Sr. Crane.

��� ��timo. Estarei a�� dentro de um minuto. E levarei o Dr.

Schoenbrun. Foi ele quem desenvolveu as instala����es e poder��

responder a quaisquer perguntas que desejar fazer.

Judd desligou e virou-se para Fast Eddie.

��� V�� at�� a torre de controle. Arme pelo menos quatro ATW

carregadas e fique esperando por meu chamado.

��� N��o gosto da id��ia de deix��-lo, chefe.

��� N��o vai me deixar. ��� Judd virou-se para o Dr. Schoenbrun.

��� Sabe usar uma arma?

��� Sei.

��� D��-lhe a sua autom��tica de manga, Fast Eddie. E mostre

como funciona.

Enquanto Fast Eddie ensinava o alem��o a usar a arma, Judd

ligou para o diretor de pessoal.

��� Jack, vou me encontrar com o maharishi em sua su��te, de l��

seguiremos para a plataforma do gerador e depois para o laborat��rio.

Provavelmente acabaremos em meu escrit��rio. Tente nos manter na

tela pelo m��ximo que for poss��vel. Se achar que alguma coisa

represente risco de vida para o pessoal, ordene a evacua����o

imediatamente. Se o perigo for para mim ou para o Dr. Schoenbrun,

n��o fa��a nada. No momento, n��o somos pessoalmente importantes.

Entendido?

��� Entendido, senhor. Ficarei observando-os.

Judd virou-se para Fast Eddie.

��� Pronto?

Fast Eddie assentiu.

��� Muito bem, vamos embora ��� arrematou Judd.

Sa��ram para o corredor. Judd observou Fast Eddie subir em um

dos elevadores, enquanto ele e o alem��o desciam por outro. Saltaram

no andar de h��spedes e encaminharam-se para os aposentos do

maharishi. Um dos homens do maharishi abriu a porta. Judd entrou, seguido pelo Dr. Schoenbrun. O maharishi gesticulou e disse:

��� A paz esteja com voc��, meu filho.

Judd sorriu.

��� E tamb��m com voc��, meu mestre.

342

Sofia veio do c��modo ao lado. Judd aproximou-se dela e

abra��ou-a, beijando-a no rosto. Ela parecia gelada.

��� Sente-se melhor, Sofia?

��� Muito melhor ��� murmurou ela, num fio de voz. ��� Acho

que peguei uma gripe ou algum v��rus.

��� Talvez seja melhor voc�� continuar de cama. N��o h�� pressa.

Podemos deixar a reuni��o para amanh��.

Ele teve a impress��o de perceber um brilho de medo nos olhos

de Sofia quando ela fitou o maharishi.

��� N��o h�� necessidade. Juro que j�� me sinto melhor agora.

Muito melhor.

Judd assentiu. Apontou para o alem��o.

��� Este �� o Dr. Schoenbrun. Sem ele, esta instala����o n��o seria

poss��vel.

O Dr. Schoenbrun fez uma rever��ncia formal. Apertou a m��o

de Sofia e depois do maharishi.

��� �� uma honra.

Judd virou-se para o maharishi.

��� Se j�� est�� pronto, podemos acompanhar o Dr. Schoenbrun.

��� Se n��o se importa, Sr. Crane ��� disse o maharishi ���

poder��amos deixar para ver o gerador nuclear em outra ocasi��o?

Estamos mais interessados no laborat��rio. E acho que muita

movimenta����o deixaria Sofia excessivamente cansada.

Judd disfar��ou um sorriso, enquanto Schoenbrun tinha dificul-

dade em evitar que seu desapontamento transparecesse. O gerador

era sua cria����o. Mas o alem��o mostrou-se �� altura da situa����o.

��� Mas �� claro!

Em sil��ncio, ele conduziu-os ao elevador, que ficou lotado

quando dois guardas do maharishi se juntaram ao grupo. Judd pegou a m��o de Sofia. Estava gelada e suada. Ainda lhe segurava a m��o

quando a porta do elevador abriu. O guarda por tr��s da mesa, diante

do laborat��rio, acenou com a cabe��a para Judd.

��� Pode entrar, Sr. Crane.

Passaram para o vesti��rio.

��� O laborat��rio �� completamente isolado ��� explicou Judd. ���

Temos de trocar as roupas, entrar debaixo do chuveiro, vestir

uniformes, toucas e luvas de borracha cir��rgicos.

O maharishi virou-se para ele.

��� N��o �� poss��vel observarmos tudo atrav��s de uma janela?

343

O Dr. Schoenbrun olhou para Judd, que assentiu. E o alem��o

respondeu:

��� Temos uma janela de vidro duplo no corredor l�� fora.

��� Pedirei aos t��cnicos que mostrem uma cultura de c��lulas

pela tela ��� sugeriu Judd. ��� Poder��o ver da janela.

��� Creio que �� melhor assim ��� comentou o maharishi.

Em sil��ncio, eles ficaram olhando pela janela enquanto as

culturas eram projetadas na tela. Judd observou o maharishi por um instante, depois olhou para Sofia. Explicou tudo, enquanto a tela

mostrava as c��lulas genu��nas ao lado das artificiais. O moharishi

acompanhava tudo atentamente, mas Judd teve a impress��o de que

Sofia n��o estava absolutamente interessada.

��� Podemos agora voltar ao escrit��rio e verificar o que

descobrimos das ��ltimas anota����es de sua irm�� ��� sugeriu Judd

finalmente.

Voltaram ao elevador em sil��ncio. Depois que a porta fechou,

Judd virou-se para Sofia.

��� Tem certeza de que est�� em condi����es de ag��entar?

Podemos deixar o resto para amanh��.

��� N��o! ��� exclamou ela, quase em desespero. ��� Estou bem.

Juro que estou bem.

Judd balan��ou a cabe��a, sem fazer qualquer coment��rio.

Seguiram do elevador para seu escrit��rio. Ele apontou para uma

confort��vel sala a um canto. O maharishi e Sofia sentaram-se no sof��, com os dois guardas por tr��s. Schoenbrun sentou-se numa

poltrona �� direita, enquanto Judd ocupava a poltrona na frente do

sof��, separados p��la mesinha baixa.

��� Aceitam um ch��? ��� perguntou ele.

��� N��o, obrigado ��� respondeu o maharishi. ��� Estamos muito

bem assim.

��� Posso ir ao banheiro? ��� perguntou Sofia.

��� A porta atr��s de voc�� ��� disse Judd, levantando-se. ��� Eu

lhe mostrarei.

Ela seguiu-o. Judd abriu a porta e, na passagem, p��s dois

tabletes de oxig��nio e coca na m��o de Sofia.

��� �� aqui.

Ele voltou e tornou a sentar-se na poltrona, indagando, em tom

de conversa����o:

��� O que acha de Xanadu?

344

��� Uma realiza����o extraordin��ria ��� respondeu o maharishi.

��� E isto �� apenas uma parte. Quanto tudo estiver pronto, ser��

totalmente automatizado. Eu poderia viver aqui inteiramente sozi-

nho, sem qualquer pessoal. Todas as minhas necessidades estariam

atendidas, em termos de alimenta����o, repouso, exerc��cios, comunica-

����es. Enfim, tudo o que se possa querer.

��� Espantoso ��� disse o maharishi, balan��ando a cabe��a.

Sofia voltou do banheiro. Judd fitou-a. Os olhos dela estavam

agora desanuviados e alertas. Ela sentou-se ao lado do maharishi.

��� Agora, vamos ao que interessa ��� disse Judd. ��� O que

descobrimos nas anota����es?

O maharishi virou-se para Sofia.

��� Acho que Sofia pode explicar melhor do que eu.

Sofia olhou para Judd.

��� N��o houve realmente muita coisa que j�� n��o soub��ssemos

ou teoriz��ssemos. Pela primeira vez, temos a confirma����o que ela

realizou experi��ncias de terapia celular com fetos humanos. Poste-

riormente, ela come��ou a combinar c��lulas humanas com as c��lulas

de v��rios animais em gesta����o, principalmente ovelhas. Parece que o

principal problema que ela enfrentou foi uma quantidade excessiva

de pacientes que n��o podiam tolerar as inje����es de c��lulas. Muitos

morreram de choque anafil��tico, apesar da aplica����o maci��a de anti-

histaminas e cortisona.

��� Mas como isso acrescenta alguma coisa ao nosso conheci-

mento? J�� hav��amos adquirido essas informa����es.

��� �� por isso que voc�� estava sendo instado a aprofundar o

processo de engenharia gen��tica DNA para criar uma c��lula humana

artificial clonada.

Judd olhou para ela e depois para o maharishi.

��� �� o que acabaram de ver. Isso j�� foi realizado. Estamos no

limiar da imortalidade. O homem pode agora viver para sempre.

��� Estou mais interessado na f��rmula que voc�� desenvolveu

para chegar a isso ��� comentou o maharishi, polidamente.

Judd sorriu.

��� �� somente para o meu conhecimento. Nunca pensei em

partilh��-la com ningu��m.

��� Discordo, meu filho. A vida de seu filho depende disso.

��� N��o tenho filho.

��� O filho que Sofia gerou ��� insistiu o velho.

345

��� Ela teve o filho por sua pr��pria conta. N��o tenho qualquer

responsabilidade.

O maharishi fitou-o nos olhos.

��� Vamos parar de jogar.

Judd sustentou-lhe o olhar.

��� N��o estou jogando.

O maharishi ficou em sil��ncio por um momento.

��� Um telefonema e o garoto morre.

Judd pegou um telefone e colocou-o na mesinha diante dele.

��� Sirva-se.

Os guardas prontamente sacaram suas autom��ticas. O mahari-

shi tornou a falar:

��� Estamos dispostos tamb��m a matar Sofia... e o filho que ela

tem em seu ventre.

Judd olhou para ela.

��� Isso �� verdade?

L��grimas afloraram aos olhos de Sofia.

��� ��, sim.

��� Voc�� �� muito est��pida.

��� Por favor, Judd, entregue-lhe a f��rmula. N��o �� t��o impor-

tante assim.

��� �� para mim.

��� Mesmo que eles a obtivessem, voc�� ainda a teria. E

conquistar�� a imortalidade que procura.

Judd riu.

��� N��o h�� a menor possibilidade. Agora voc�� est�� sendo

est��pida al��m de todos os limites. Ser�� que n��o entende que

morreremos todos no instante em que ele obtiver a f��rmula? Ele

tamb��m n��o est�� planejando partilh��-la.

O telefone tocou e Judd atendeu. O maharishi levantou a m��o.

��� Quero ouvir a conversa.

Judd assentiu, apertou um bot��o e a voz saiu pelo alto-falante.

��� Sr. Crane? ��� disse John, bastante excitado.

��� Pode falar, John.

��� Estava certo. J�� temos o garoto. Ele est�� bem. Apenas

chorando, querendo voltar para a av��.

��� Pois levem-no.

��� Mais alguma coisa, senhor?

��� N��o, John. Nada mais por enquanto. Obrigado.

346

Judd desligou e olhou para o maharishi.

��� Perdeu uma amea��a.

O velho n��o desviava os olhos dele.

��� Ainda temos outras.

Ele gesticulou para seus guardas. Os dois homens se moveram

ligeiramente. Os estampidos das armas ecoaram pela sala. Schoen-

brun foi arremessado contra o encosto da cadeira pelo impacto das

balas, depois caiu ao ch��o. O maharishi manteve-se frio.

��� Isso pode convenc��-lo de que estamos determinados a

cumprir as amea��as. As pr��ximas balas ser��o para Sofia, a menos que

nos entregue a f��rmula.

Judd olhou para Sofia. Ela estava muito p��lida, os l��bios

contra��dos de pavor. Ele tornou a se virar para o maharishi.

��� Tenho a f��rmula. Mas �� muito complexa e est�� no Compu-

tador Central.

��� Pode transferi-la para c��?

��� Posso.

As armas apontaram para Sofia, enquanto o maharishi orde-

nava:

��� Fa��a-o ent��o.

Judd deixou escapar um suspiro.

��� Est�� bem.

Ele foi at�� o computador em sua mesa. O velho seguiu-o, com

um dos guardas. O outro ficou com Sofia. Judd ligou o computador e

come��ou a fazer a conex��o com o Computador Central. A luz

esverdeada espalhou-se pela tela.

Judd bateu o c��digo de acesso: DNA HCC ENG PROJ

FORM.

��� O que isso significa? ��� perguntou o maharishi.

��� DNA C��lula Humana Clonada Projeto F��rmula.

A resposta apareceu escrita na tela: "Este c��digo �� reservado.

Registro seu n��mero de autoriza����o."

��� Pode fazer uma c��pia aqui? ��� perguntou o maharishi.

��� Posso. ��� Judd apontou para a m��quina encostada na

parede. ��� Aperte o bot��o de ligar em cima e depois o bot��o de

c��pia.

O maharishi virou-se para o guarda.

��� Ligue a m��quina.

No instante em que o velho se virou, Judd entrou em a����o

347

rapidamente. Apertou a barra. Transmitir e apagar, para frente e

para tr��s. E depois come��ou a bater seu c��digo de autoriza����o: JC-1-

02-102-JC1.

"Recebido", informou a tela. Um momento depois, as letras

come��aram a se formar: COME��ANDO TRANSM DNA HCC

ENG PROJ FORM. O maharishi perguntou a seu guarda:

��� O copiador est�� funcionando?

��� Est��, sim, senhor. Vejo as palavras na tela.

O maharishi observou a tela por cima do ombro de Judd. Os

n��meros e letras que constitu��am a f��rmula come��aram a aparecer na

linha, logo se deslocando para a linha seguinte.

��� Quanto tempo vai demorar?

��� Cerca de tr��s horas e 45 minutos.

��� N��o pode acelerar?

��� Posso, mas vai aparecer t��o depressa que n��o ser�� capaz de

ler. Ver�� apenas um borr��o.

��� Mas quanto tempo levaria assim?

��� De 12 a 14 minutos.

��� Pois ent��o acelere.

Judd prontamente apertou o bot��o para acelerar a transmiss��o.

A imagem na tela reagiu no mesmo instante e se transformou num

borr��o indefin��vel, figuras e n��meros disparando freneticamente. Ele

olhou por cima da tela do computador para Sofia. O outro guarda

continuava parado atr��s dela, apontando a autom��tica para suas

costas. Fitando Judd nos olhos, ela perguntou:

��� O menino est�� realmente bem?

Judd assentiu.

��� Est��, sim. Ouviu o que John disse. Neste momento, ele est��

provavelmente a caminho de San Francisco e de Barbara.

Ela deixou escapar um suspiro, murmurando:

��� Gra��as a Deus!

Judd ficou calado. Olhou de novo para a tela, as linhas

indefinidas ainda em movimento. Virou-se para o maharishi.

��� N��o sei se ser�� capaz de compreender.

��� Talvez eu n��o possa ��� respondeu o velho. ��� Mas temos

cientistas que compreender��o.

��� �� poss��vel. ��� Judd olhou para o cad��ver do alem��o. ��� O

que ganhou com isso?

��� Est�� falando do judeu? N��s o conhecemos h�� muito tempo.

348

Ele estava na lista. E talvez isso o tenha convencido de que n��o

estamos para brincadeiras.

Judd se manteve em sil��ncio por algum tempo. Olhou para a

tela.

��� Suponho que cuidaram do verdadeiro maharishi da mesma

maneira.

��� Isso foi h�� seis anos. A irm�� nunca soube que se comunicava

com um morto. ��� Ele olhou para o rel��gio. ��� Quanto tempo mais?

Judd olhou para o medidor.

��� Cerca de quatro minutos.

��� Chame a torre de controle e mande levar nosso avi��o para a

cabeceira da pista, com a porta aberta e a escada autom��tica

abaixada. Ordene tamb��m que levem um Land Rover para a porta

do elevador, esperando ali, com o motor ligado. O motorista deve se

afastar.

Judd fitou-o por um instante, depois chamou a torre e

transmitiu as ordens exatamente como o maharishi mandara.

��� Mande a torre chamar de volta quando tudo estiver pronto

��� acrescentou o maharishi.

��� Avisem-me quando as provid��ncias estiverem tomadas.

Judd rep��s o fone no gancho. Subitamente, a m��quina de c��pia

come��ou a estalar. Logo soou uma campainha e um tipo diferente de

letra surgiu na tela: "Grava����o conclu��da. Transmiss��o encerrada."

Judd desligou o computador. O maharishi gesticulou em sua dire����o.

��� Tire a fita.

Judd foi at�� o gravador, tirou o rolo de fita e estendeu-o. O

maharishi pegou-o. Observou o velho abrir a caixa e guardar a grava����o.

��� Abra a porta ��� ordenou o maharishi.

Judd foi at�� a porta e abriu-a. Mais tr��s guardas aguardavam do

outro lado.

��� Muito bem, saiam ��� disse o velho. ��� A mulher primeiro e

depois voc��.

Em sil��ncio, Judd observou Sofia encaminhar-se para a porta.

Fitou-a atentamente.

��� Espero que Deus esteja velando por n��s ��� disse ele, em voz

firme. ��� Tudo o que podemos fazer agora �� manter o controle.

O telefone tocou. Judd atendeu. Era a torre.

��� Est�� tudo pronto, senhor.

349

��� Est�� tudo pronto ��� repetiu Judd, desligando em seguida.

��� Ent��o siga a mo��a ��� disse o maharishi. ��� Vamos subir

todos juntos no elevador.

��� Precisaremos de capotes se vamos sair l�� em cima ���

advertiu Judd.

��� Voc��s n��o precisar��o de capotes por muito tempo.

Em sil��ncio, eles entraram no elevador e subiram para o plat��.

Uma lufada de ar gelado envolveu-os no momento que a porta do

elevador abriu. O maharishi gesticulou para um dos seus homens, que empurrou Judd e Sofia para a frente do grupo. Os outros foram

atr��s, cautelosamente.

O Land Rover estava parado perto do elevador, com o motor

ligado. O 707 se encontrava na cabeceira da pista, no outro lado do

plat��, a porta aberta, a escada autom��tica baixada. Dois guardas

passaram por Judd e Sofia, olhando ao redor.

��� Ningu��m �� vista ��� informou um deles ao maharishi.

O velho adiantou-se.

��� Voc��s dois mantenham as m��os levantadas se querem

continuar vivos. Comecem a caminhar devagar �� nossa frente, at�� o

carro.

Eles foram andando lentamente, o frio intenso deixando-os

entorpecidos. Quando chegaram junto do carro, o maharishi prontamente embarcou. Um guarda ocupou o volante. Os demais empurra-

ram Judd e Sofia para o ch��o e depois embarcaram.

O Land Rover come��ou a se mover. Judd rolou para o lado,

observando dois guardas, que come��avam a levantar suas autom��ti-

cas. Ele jogou-se para cima de Sofia, levantando a arma da manga e

atirando. Um dos guardas pareceu cambalear para tr��s, desajeitada-

mente.

O Land Rover estava quase a cem metros de dist��ncia e outro

guarda apontou-lhes sua autom��tica. Judd prendeu a respira����o e

tentou se esticar num escudo protetor para defender Sofia.

E foi nesse instante que ouviram um estranho zunido por cima

de suas cabe��as. E no momento seguinte houve uma tremenda

explos��o. Judd comprimiu-se ainda mais contra Sofia, olhando para o

Land Rover. Era agora uma bola de fogo a se afastar. E houve outro

zunido, que atingiu a bola de fogo e rompeu-a em fragmentos

incont��veis, projetados pelo ar.

Judd ajudou Sofia a se levantar e come��ou a correr com ela

350

para o elevador. Um momento depois, Fast Eddie estava ao lado

deles, acompanhado por diversos homens.

��� Ponham algum agasalho em Sofia! ��� gritou Judd.

Os homens come��aram a ajud��-la. Fast Eddie virou-se para

fit��-lo.

��� Est�� bem, chefe?

��� Estou ��� balbuciou Judd.

��� N��o tente me enganar. ��� Fast Eddie sorriu. ��� �� com Deus

que est�� falando.

Na manh�� seguinte, Judd e Fast Eddie observaram as garotas do

maharishi embarcarem no avi��o. Fast Eddie n��o desviava os olhos da tela Intertel.

��� Mas que merda! ��� murmurou ele. ��� Tanta cona bonita e

n��o tive a oportunidade de experimentar nenhuma.

��� Cest la vie ��� disse Judd.

Houve uma batida na porta. Fast Eddie foi abrir.

��� Posso entrar?

Era Sofia, com um casaco forrado de pele no bra��o. Sem

esperar por uma resposta, ela aproximou-se de Judd.

��� Sinto muito.

��� N��o h�� motivo. Tudo correu muito bem.

��� N��o, n��o ocorreu.

��� N��o estou entendendo.

Sofia tirou uma caixa de len��os de papel de sob o casaco e

estendeu para ele.

��� N��o vai dar certo. Assim como n��o deu para Hughes.

��� Ainda n��o entendi.

��� Tudo o que voc�� tem aqui, tudo o que fez, �� como len��o de

papel. N��o funcionar�� para voc��. Mesmo que queira ficar aqui

sozinho, n��o viver�� eternamente, por mais que tente. Tudo o que

conseguir�� ser�� morrer sozinho.

Judd ficou calado. Sofia fitou-o nos olhos.

��� Adeus, Judd Crane. Contarei a seus filhos tudo sobre voc��.

Ele ficou aturdido.

��� Por que est�� se despedindo?

��� N��o partirei com as outras?

��� Eu n��o disse isso. Apaguei as fitas por voc��. Desliguei a

energia no laborat��rio por voc��. E depois transferi Xanadu para a

351

empresa de pesquisa de medicina nuclear da Crane Industries, uma

instala����o a ser batizada com o nome do Dr. Schoenbrun. E agora

voc�� quer me deixar?

��� Eu n��o disso isso ��� murmurou Sofia, um vest��gio de

l��grimas se insinuando em seus olhos.

��� Ent��o espere. ��� Judd pegou-lhe a m��o. ��� Espere mais um

pouco e iremos juntos para casa.

* * *

352








De: Bons Amigos lançamentos <bonsamigos.lancamentos@gmail.com>
Date: dom, 25 de ago de 2019 às 12:22






O Grupo Bons Amigos  tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais. 

Os Pervertidos - Harold Robbins

Livro doado por Leandro e digitalizado por Fernando Santos
Sinopse:
Este livro conta a história de um magnata que controla o destino de milhões de pessoas.

Grupo Parceiro:

https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses  



Lançamento  Grupo Bons Amigos:

https://groups.google.com/forum/#!forum/bons_amigos  



Blog:




Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais 

e como forma de acesso e divulgação para todos. 
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .

 


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Livros:

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