PERVERTIDOS
T��tulo original norte-americano
DESCENT FROM XANADU
Copyright �� 1984 by Harold Robbins
O contrato celebrado com o autor pro��be a exporta����o deste livro
para Portugal, o resto da Europa e outros pa��ses de l��ngua portuguesa.
Direitos de publica����o exclusiva em l��ngua portuguesa no Brasil
adquiridos pela
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Em Xanadu Kublai Khan
Um pal��cio ao prazer consagrou;
Onde corria Alfa, o rio sagrado,
Por cavernas ao homem infinitas
Descendo para um mar sem sol.
Por duas vezes 10 quil��metros de terreno f��rtil
Com muralhas e torres foram cercados.
O pal��cio do sol! as cavernas de gelo!
E todos que ouviram deviam ver,
E todos deviam clamar: Cuidado! Cuidado!
Seus olhos faiscantes, seus cabelos esvoa��antes!
Um c��rculo tecem tr��s vezes ao seu redor,
E os olhos fechem no temor sagrado,
Por ele que do n��ctar se alimentou
E bebeu o. leite do Para��so.
Sele����es
"Kublai Khan"
Samuel Taylor Coleridge
LIVRO UM
A BUSCA
1976-1980
1
A PEQUENA M��DICA, oculta por ��culos escuros europeus, levan-
tou-se de sua mesa e foi olhar pelas janelas. Gesticulou para ele.
Pairando muito acima, ele acompanhou a dire����o de sua m��o
para uma fonte enorme, na vasta extens��o de relva, com uma
tonalidade verde-azulada.
��� Sabe o que �� aquela fonte, Sr. Crane? ��� perguntou ela, em
seu sotaque meio europeu.
O homem assentiu.
��� Claro, Dra. Zabiski. �� a fonte de Ponce de Leon.
Ela levantou o rosto para fit��-lo.
��� Isso �� uma lenda, Sr. Crane. Uma alegoria. N��o �� uma
realidade. Nunca houve uma realidade assim.
Ele ficou em sil��ncio por um momento.
��� Sei disso tamb��m, Dra. Zabiski.
Ela voltou �� cadeira atr��s da mesa e se sentou; esperou que ele
se sentasse �� sua frente. Tirou os ��culos escuros com a m��o direita,
colocou-os sobre a mesa, comentando:
��� Voc�� tem olhos de um azul-cobalto.
Um t��nue sorriso insinuou-se nos l��bios do homem.
��� E os seus s��o fulvos, de um castanho-amarelado, quase
como os de um gato.
Ela fitou-o nos olhos e disse, em voz suave:
��� Se �� imortalidade que procura aqui, Sr. Crane, est��
perdendo seu tempo.
O olhar dele n��o se alterou.
��� N��o foi isso que ouvi dizer.
9
��� Pois ouviu incorretamente.
��� Vinte milh��es de d��lares incorretamente?
Os ��culos escuros tornaram a cobrir os olhos da Dra. Zabiski.
��� Creio que �� verdade o que ouvi dizer, Sr. Crane. �� um dos
homens mais ricos do mundo.
��� Foi a sua vez de ouvir incorretamente. Eu sou o homem
mais rico do mundo.
Ela inclinou a cabe��a.
��� Mais do que o rei saudita, Getty, Ludwig, Hughes?
��� Todos s��o como crian��as brincando. Com um estalar dos
dedos, posso lhes tirar todas as bolinhas de gude.
��� Ent��o s�� lhe resta um jogo. A imortalidade.
��� �� o ��ltimo jogo, doutora. Entramos no jogo espacial e
ganhamos. O jogo das profundezas do oceano... tamb��m ganhamos.
Velocidade, altitude, profundidade, indique qualquer um... ganha-
mos todos. E tamb��m me empenhei em outros jogos. Dinheiro,
poder, sexo. Adoro a todos e estou sempre jogando-os. Mas s��o
jogos de crian��as. Estou me lan��ando agora no maior de todos os
jogos. A imortalidade. Quero ser o primeiro homem a viver para
sempre.
��� N��o quer muita coisa... apenas uma coisa que nenhum
homem jamais conseguiu. ��� Ela observou-lhe os olhos atentamente.
Nunca mudavam de foco ou express��o. ��� Mas acreditaria em mim se
lhe dissesse que tamb��m nunca fui capaz de alcan����-la?
��� Claro que acredito.
A Dra. Zabiski hesitou.
��� Ent��o n��o compreendo. O que espera de mim?
��� Nada. E tudo. Chegou mais perto do que procuro que
qualquer outra pessoa no mundo.
��� Tive sucesso em alguns casos de retardamento geri��trico.
Mas nenhum em suspens��o geri��trica. Isso n��o �� imortalidade.
��� Mas ajudou muitas pessoas importantes.
Ela permitiu-se um sorriso de mod��stia.
��� �� verdade. E gosto de pensar que ajudei-as. Der Alte que
veio da Alemanha, o papa de Roma, at�� mesmo Sta��n de Moscou.
Mas, com o passar do tempo... todos morreram.
��� Mas vieram aqui. Todos eles. E conseguiram alguma coisa.
Ela acenou com a cabe��a, lentamente.
10
��� Em cada caso, a qualidade da vida melhorou, independente
da idade.
��� Mental e fisicamente?
Era quase mais uma declara����o do que uma pergunta.
��� Isso mesmo. Mas, ao final, todos morreram.
��� Em m��dia, quanto tempo acha que lhes deu?
Ela levantou as m��os.
��� N��o sei. Houve muitos fatores. N��o apenas a idade e o
momento em que procuraram para o tratamento. ��� A Dra. Zabiski
tornou a hesitar. ��� H�� pessoas que n��o reagem absolutamente ao
meu tratamento. N��o h�� garantias.
��� Se eu reagisse a seu tratamento, o que poderia esperar?
��� Em m��dia? ��� Ela pensou por um momento. ��� Est�� com 42
anos agora?
Ele assentiu.
��� Dentro de oito anos, em 1984, aos 50 anos de idade, estaria
geriatricamente com 45; aos 60, teria geriatricamente 52; aos 70,
talvez 60; e aos 80, possivelmente 64 a 66. ��� Ela fez uma breve
pausa. ��� Tudo isso, �� claro, presumindo que continue o programa
at�� a conclus��o.
��� O que significa at�� o fim da minha vida?
��� �� um programa para a vida inteira, Sr. Crane. Para
come��ar, precisar�� de uma perman��ncia de dois meses aqui, enquan-
to verificamos se reagir�� a nosso tratamento. Depois, se confirmar-
mos que h�� possibilidade de uma rea����o favor��vel, ter�� de passar
uma semana aqui, a cada tr��s meses, para o tratamento propriamente
dito.
- Ele sorriu, n��o desagradavelmente.
��� Presumindo que eu fa��a todo o tratamento, Dra. Zabiski, o
que lhe acontecer��?
Ela sorriu em retribui����o.
��� Estarei morta muito antes de chegar ao final. Mais isso n��o
�� importante. O tratamento continuar��.
Ele ficou em sil��ncio por um momento.
��� Al��m do tempo de tratamento, terei de providenciar mais
duas semanas para viajar at�� aqui. Ou seja, quase dois meses por ano
do meu tempo. N��o teria condi����es de cuidar dos meus neg��cios.
��� A decis��o �� toda sua, Sr. Crane.
��� H�� alguma possibilidade do tratamento ser levado at�� mim?
11
A Dra. Zabiski sacudiu a cabe��a.
��� Lamento muito, Sr. Crane. Levei 30 anos para formar este
complexo e �� o ��nico no mundo.
��� Aslam, Filatov e Niehans exportam seus tratamentos. E
inclui alguma coisa da metodologia deles em seu tratamento.
��� Tem raz��o.
��� Ent��o qual �� o ingrediente secreto que possui aqui e que n��o
pode se transferir para qualquer outro lugar do mundo?
Ela ofereceu-lhe um meio sorriso.
��� O ingrediente secreto, Sr. Crane, como diz, �� a sua pr��pria
pessoa.
��� N��o compreendo.
��� Acho que compreende, Sr. Crane.
��� Conhe��o todas as teorias ��� disse ele, francamente. ��� Sei
que incorporou a proca��na, magn��sio e minerais de Aslam, as
implanta����es de placenta fresca de Filatov e as c��lulas de ovelha n��o-
nascida injetadas por Niehans. ��s vezes, penso at�� que reuniu tudo
numa s�� f��rmula. Mas isso seria simples demais. �� por isso que penso
haver um ingrediente secreto.
��� N��o prestou aten����o ao que eu disse, Sr. Crane ���
murmurou ela, pacientemente. ��� J�� expliquei que o ingrediente
secreto �� a sua pr��pria pessoa.
Ele fitou-a nos olhos atentamente.
Ela permaneceu em sil��ncio.
A voz de Crane, quando ele voltou a falar, soou meio abafada:
��� Clonagem?
O sil��ncio da Dra. Zabiski persistiu.
��� Implanta����o de c��lulas clonadas vivas do reservat��rio do
pr��prio corpo. ��� Os olhos de azul-cobalto pareciam assumir a cor do
c��u noturno. ��� Isso nunca foi bem-sucedido com seres humanos.
Pela primeira vez em sua vida, a Dra. Zabiski sentiu medo,
como se um vento frio lhe soprasse pelo corpo. A voz soou quase
tr��mula:
��� Tenho outros pacientes para cuidar, Sr. Crane.
Ele ficou calado.
��� Mas talvez possamos marcar outro encontro para amanh��.
O tom dele era pensativo ao dizer:
��� Amanh�� estarei em Pequim.
��� Ent��o em outra ocasi��o.
12
Ele levantou-se.
��� Percebo agora que 20 milh��es de d��lares n��o s��o suficien-
tes. Cinq��enta milh��es de d��lares? Isso seria suficiente?
Ela inclinou a cabe��a para fit��-lo nos olhos.
��� N��o est�� compreendendo, Sr. Crane. Dinheiro n��o �� o
importante. Este �� um pa��s socialista. Tudo aqui pertence ao estado.
��� Ent��o esque��a a palavra "dinheiro" e ponha em seu lugar a
palavra "prioridades". Cada pa��s possui as suas prioridades e sua pr��pria ordem.
��� Confesso que sou eu quem n��o entende agora, Sr. Crane.
Ele sorriu.
��� �� m��dica e cientista, Dra. Zabiski, compreende a sua
profiss��o. Mas a minha profiss��o �� a de defini����o de prioridades. ���
Ele estendeu a m��o. ��� Obrigado por seu tempo, Dra. Zabiski.
A m��o dela era firme e quente.
��� Estarei sempre ao seu dispor, Sr. Crane.
Ela assentiu e sorriu, embora ele n��o esperasse por isso.
Acompanhou-o at�� a porta.
��� Adeus, Sr. Crane.
Ele parou por um momento na porta aberta.
��� �� uma grande mulher, Dra. Zabiski. Auf wiedersehen.
A outra porta da sala se abriu no instante em que Judd saiu. O russo
alto, rosto firme de autoridade, alcan��ou-a antes que ela tivesse
tempo de voltar para tr��s da mesa. Uma jovem atraente, de bata
branca profissional, entrou atr��s dele e fechou a porta. Zabiski arriou
na cadeira.
��� O que acha dele?
O russo alto praguejou.
��� Um porco egoc��ntrico! Acha que o dinheiro pode comprar
tudo.
A jovem olhou para a m��dica sentada.
��� Achei-o muito atraente. E tenho a impress��o d�� que ��
tamb��m muito inteligente.
A Dra. Zabiski observou atentamente o russo alto.
��� N��o o subestime, Camarada Nicolai. Ele �� muito esperto.
Veja como entendeu depressa partes de nossa metodologia.
��� Isso n��o tem a menor import��ncia, Camarada Doutora.
Deve cuidar apenas para que ele n��o nos escape.
13
��� O que o faz t��o importante para n��s? Para mim, n��o passa
de outro homem que deseja prolongar sua vida. Exatamente como
muitos outros que passam por esta cl��nica.
Nicolai fitou-a em sil��ncio por algum tempo. Quando falou, foi
como se estivesse se dirigindo a uma crian��a:
��� As Ind��strias Crane n��o apenas formam o maior complexo
industrial do mundo, mas tamb��m s��o os maiores fornecedores de
uma s��rie de produtos ao governo americano. De material de
escrit��rio e suprimentos m��dicos a equipamentos aeroespaciais e
armamentos pesados. H�� muitos anos que tentamos nos infiltrar no
n��vel executivo da corpora����o. Mas tem sido imposs��vel, porque Judd
Crane a possui e opera sozinho. Ele toma todas as decis��es e os
assistentes se limitam a cumprir suas ordens. Qualquer pessoa que
chegue junto dele descobrir�� mais sobre as pol��ticas e planos dos
Estados Unidos do que talvez o pr��prio presidente americano.
A Dra. Zabiski sustentou o olhar do russo.
��� Se espera que eu seja essa pessoa, est�� cometendo um
grande engano. Se ele quiser que eu o acompanhe e trabalhe ao seu
lado, isso �� imposs��vel. Estou muito velha e n��o tenho condi����es de
acompanh��-lo fisicamente.
��� N��o esperamos q��e fa��a o trabalho f��sico. Queremos apenas
que o conven��a de que cooperar�� com ele. E depois designar�� Sofia
para atuar como sua representante. Ela possui todas as credenciais: ��
m��dica e professora-assistente de gerontologia e geriatria. �� perfeita-
mente competente para efetuar os exames e prepar��-lo para os
tratamentos que voc�� aplicar�� pessoalmente. ��� Nicolai fez uma
pausa, pensativo. ��� Quvi toda a conversa. Ele deseja tanto
acreditar, que aceitar�� todas as suas sugest��es.
Sofia virou-se para ele.
��� Crane pode pensar que sou jovem demais, Nicolai.
O russo sorriu.
��� N��o seja est��pida, Sofia. Trinta anos n��o �� ser t��o jovem
assim. Al��m do mais, voc�� �� uma linda mulher e sabe como tirar
proveito disso. J�� fez isso antes. Basta agarr��-lo pelo pau.
��� Ele n��o �� t��o est��pido assim ��� disse Sofia, obviamente
irritada.
��� O apartamento dele no hotel est�� cheio de microfones
ocultos. H�� tr��s prostitutas esperando-o na sala de seu secret��rio. ��
claro que todas trabalham para n��s, mas ele n��o sabe disso.
14
��� Isso �� tudo o que pensa de mim? ��� indagou Sofia,
friamente. ��� Apenas mais uma de suas prostitutas?
Nicolai virou-se bruscamente e disse �� Dra. Zabiski:
��� Sugiro que torne a se encontrar com ele o mais depressa
poss��vel.
��� Est�� bem, Camarada Nicolai.
O russo tinha uma express��o pensativa.
��� Aquela id��ia absurda dele sobre clonagem... acha que isso
pode algum dia acontecer?
A pequena m��dica abriu os bra��os, num gesto de interroga����o.
��� Quem pode saber? Mas de uma coisa tenho certeza.
Podemos aprender muita coisa com ele. Alguns dos nossos colegas
que estiveram nos Estados Unidos me contaram que a Crane DNA
Engineering est�� anos-luz �� nossa frente em c��pia clonada e
fabrica����o de DNA.
Nicolai virou-se para Sofia.
��� Entende agora? Isso faz com que seja ainda mais importante
que voc�� se aproxime dele.
Sofia fitou o desdenhosamente e depois, em sil��ncio, saiu da
sala da Dra. Zabiski.
Sofia atravessou o corredor e subiu para o seu quarto. Ficou de p��,
olhando pela janela e fumando um cigarro. Contemplava a fonte
cintilante quando a porta se abriu ��s suas costas. N��o se virou. Sentiu
as m��os dele em seus ombros. E continuou a olhar pela janela.
��� Mas o que deu em voc��? ��� perguntou ele, furioso.
��� Oito anos ��� murmurou Sofia, amargurada. ��� Mas voc��
continua casado com Ekaterina.
��� J�� expliquei isso muitas vezes, Sofia ��� respondeu ele,
tentando apazigu��-la. ��� O pai dela ainda est�� no Politburo. Se eu
pedir o div��rcio, minha carreira est�� liquidada. Temos de esperar at��
que Andropov entre em a����o. Serei ent��o dono de mim mesmo e
poderemos ficar juntos.
Ela deu uma tragada no cigarro, permanecendo em sil��ncio.
As m��os dele deslocaram-se rapidamente por tr��s de Sofia.
Passando um bra��o pela cintura da mo��a, ele puxou-a contra seu
corpo, a outra m��o levantando a saia. As coxas e n��degas estavam
nuas por cima das meias. Ele comprimiu a m��o contra o p��bis,
murmurando, em voz rouca:
15
��� Voc�� est�� molhada.
Ela continuou im��vel, mas disse:
��� Estou sempre molhada.
Sofia ouviu os bot��es da braguilha abrirem. Pondo a m��o no
meio das costas da mo��a, ele debru��ou-a sobre o peitoril da janela.
Um momento depois, Sofia sentiu-o grande e duro dentro dela.
Soltou um ofego, o cigarro caiu pela janela, as m��os pousaram no
peitoril em busca de apoio. Tornou a ofegar. Um gemido como um
miado emergiu de sua garganta.
As m��os dele comprimiam-se como tornos contra os quadris de
Sofia, enquanto arremetia vigorosamente por tr��s, mexendo para a
frente e para tr��s dentro dela. Sua voz ressoava de triunfo:
��� Voc�� ainda gosta!
Ela n��o respondeu, a respira����o ofegante, os gemidos incontro-
l��veis. As unhas de Nicolai cravaram-se na pele de seus quadris. E ele
murmurou:
��� Vamos, diga logo que ainda adora!
��� Est�� bem! Est�� bem! ��� Sofia estava quase gritando, de dor
e prazer. ��� Eu adoro!
16
2
E L E SAIU do elevador e encaminhou-se para a larga porta dupla do
apartamento de cobertura. Apertou o bot��o. O carrilh��o ressoou
atrav��s da porta fechada. Fast Eddie abriu-a um momento depois,
empunhando uma autom��tica Colt 45 de um preto azulado. Judd
olhou para o negro pequeno enquanto o seguia pelo interior do
apartamento.
��� Voc�� ainda vai ter uma h��rnia de tanto levantar esse
canh��o.
Fast Eddie puxou a trava de seguran��a e meteu a arma no cinto.
��� A Iugosl��via �� o cu do mundo. Tem at�� baratas debaixo do
tampo da latrina.
Judd balan��ou a cabe��a.
��� A vida �� assim. Algumas pessoas n��o t��m a menor classe.
Ele entrou na sala e parou diante da pasta que estava em cima
da mesa. Acionou as trancas de combina����o e abriu-a. A placa de
bronze l�� dentro estava coberta por diodos vermelhos e verdes.
��� Parece uma ��rvore de Natal.
Fast Eddie assentiu. Judd levantou uma alavanca na placa e
depois apertou tr��s bot��es. Subitamente, todos os diodos se torna-
ram amarelos. Judd sorriu.
��� Ser�� que as baratas tiveram seus t��mpanos rompidos?
Fast Eddie soltou uma risada.
��� Esse n��o �� o meu departamento, chefe. Lembre-se de que
SOU apenas o seu valete.
��� Pois ent��o me arrume um drinque.
��� O de sempre?
��� Coca-Cola �� moda de Atlanta, com muito gelo.
1 7
Judd observou o homenzinho encaminhar-se para o bar e
perguntou, ainda pensando na autom��tica:
��� Por que est�� t��o nervoso?
��� Servi��o demais. ��� O homenzinho encheu um copo com
cubos de gelo. ��� Tr��s criadas, um homem com o aspirador, dois
homens para lavarem as janelas, um eletricista, dois homens para
consertarem o telefone. Estava come��ando a parecer o Aeroporto
O'Hare. ��� Ele abriu uma garrafa de Coca-Cola, encheu o copo e
levou-o cuidadosamente. ��� Quer uma cheirada?
��� Ainda n��o. ��� Judd tomou um gole do copo, pensativo.
Tornou a olhar para Fast Eddie. ��� Quantos c��modos tem a su��te?
��� Cinco.
��� J�� verificou todos?
��� J��.
��� E os arm��rios?
��� N��o.
Judd p��s o copo na mesa e tirou da pasta uma caixa pequena,
parecendo um transformador. Apertou um bot��o no lado e levantou-
a na m��o.
��� Pegue o seu canh��o.
Fast Eddie tirou a autom��tica do cinto. Seguiu Judd pelos
c��modos. Judd levantava a caixa diante da porta de cada arm��rio.
��� Esse �� novo ��� murmurou Fast Eddie.
��� Novinho em folha. �� um medidor de calor, sintonizado na
temperatura do corpo. Saberemos se h�� alguma pessoa a�� dentro sem
precisar abrir a porta.
��� Voc�� �� louco por essas engenhocas. Parece at�� uma crian��a.
Foi no ��ltimo quarto. Judd olhou para a agulha que tremia e
murmurou:
��� A�� dentro.
��� O que fazemos agora?
��� Espere um instante. ��� Judd observou a agulha por um
momento. ��� N��o fazemos nada. O cara j�� est�� passando dos 37��.
Uma estupidez colocar um agente num espa��o t��o apertado quanto
um arm��rio embutido. E mais estupidez ainda escolher um agente
que tem problemas de cora����o e met��-lo num lugar em que o menor
choque sonar poderia mat��-lo.
Ele voltou para a sala e guardou o medidor de calor na pasta.
Tornou a apertar os bot��es do painel e desligou-o. Os diodos
1 8
amarelos voltaram a ficar vermelhos e verdes. Como uma ��rvore de
Natal. Ele fechou a pasta, ajeitou as trancas de combina����o. Virou-se
finalmente para Fast Eddie.
��� Agora.
Fast Eddie tirou a corrente de ouro do pesco��o e puxou-a de
dentro da camisa. Abriu o frasco de ouro, encheu a pequena colher
de ouro e estendeu para Judd, que pegou-a e aspirou duas vezes,
vigorosamente. Fast Eddie disse:
��� Bem que estou precisando disso. Ainda tremo todo.
��� Sirva-se �� vontade.
Fast Eddie correspondeu a seu apelido de veloz. Parecia muito
mais bem disposto um segundo depois. O frasco e a corrente
desapareceram prontamente.
��� Obrigado. ��� Ele sorriu para o patr��o. ��� Quer outra Coca-
Cola?
��� Quero, sim. Acho que esta ficou sem gosto.
O telefone tocou no momento em que o homenzinho voltava
para o bar.
��� Pode deixar que eu atendo ��� disse Judd. Ele tirou o fone do
gancho. ��� Crane falando.
��� Aqui �� a Dra. Zabiski, Sr. Crane. ��� A voz parecia ter um
sotaque mais acentuado ao telefone. ��� Estive pensando sobre a
nossa conversa...
��� Pois n��o, doutora?
��� Poderia encontr��-lo em seu hotel, ��s nove horas, se n��o for
inconveniente.
Judd olhou para o rel��gio. Eram seis horas da tarde.
��� N��o h�� qualquer inconveniente, doutora. Gostaria de jantar
comigo?
��� Levarei minha assistente.
��� N��o h�� problema para mim.
��� Ent��o est�� combinado, Sr. Crane. At�� l��. E obrigada.
��� Eu �� que agrade��o, doutora.
Judd desligou e olhou para Fast Eddie.
��� Em que quarto Merlin est��?
��� No 1009. O andar por baixo do nosso.
Judd ligou para o quarto. Seu assistente atendeu.
��� Pois n��o, Sr. Crane?
��� Poderia subir at�� aqui e trazer o portofone?
1 9
��� Ainda estou com tr��s secret��rias esperando para serem
entrevistadas.
��� N��o temos tempo para elas. Pague-as e livre-se delas.
��� Est�� bem, Sr. Crane. Cuidarei disso imediatamente.
Fast Eddie trouxe o novo drinque. Sacudiu a cabe��a ao se
aproximar.
��� �� uma pena, Sr. Crane. Aquelas iugoslavas pareciam de
primeira classe.
Judd tomou um gole da Coca-Cola gelada e riu.
��� N��o d�� para comer todas.
O portofone estava numa pasta de executivo igual �� que se
achava na mesa, diante de Judd. Merlin a trazia quando Fast Eddie
abriu-lhe a porta. O negro pequeno fechou a porta assim que ele
passou e gesticulou-lhe antes que tivesse tempo de falar. Levantou
um indicador aos l��bios e depois apontou para a luz no teto e para o
telefone. Merlin balan��ou a cabe��a para indicar que compreendera e
depois atravessou a sala at�� Judd.
��� Trouxe as suas mensagens, Sr. Crane.
��� Obrigado, Merlin.
Judd p��s o portofone na mesa e entregou a outra pasta a
Merlin. Pegou o ma��o de mensagens que o assistente lhe estendia.
��� Avise ao comandante que devemos estar prontos para partir
pouco depois de meia-noite.
��� Est�� bem, Sr. Crane.
Merlin abriu a pasta e pegou o portofone, enquanto Judd lia as
mensagens. Ele escutou o comandante por um momento e depois
informou a Judd:
��� O comandante diz que teremos de fazer uma escala para
reabastecimento no caminho.
��� Pergunte se ele n��o pode providenciar o reabastecimento
em v��o. Se pararmos, podemos perder duas horas, talvez tr��s.
Merlin transmitiu o recado e depois desligou.
��� O comandante disse que tentar�� dar um jeito.
��� ��timo. ��� Judd devolveu as mensagens a Merlin. ���
Cuidaremos disso amanh��, durante o v��o. Tenho um jantar marcado
com a Dra. Zabiski ��s nove horas. Poderia reservar uma mesa no
restaurante do Hotel para n��s? Tentarei tirar um chochilo e tomar
uma chuveirada antes do jantar.
20
��� Tem um encontro ��s sete horas com o subsecret��rio de
turismo ��� informou Merlin.
Judd exibiu um sorriso ir��nico.
��� L�� se vai meu cochilo. Acho que terei de me contentar com
a chuveirada.
��� Mais alguma coisa, senhor? ��� perguntou Merlin.
��� Creio que isso cobre tudo. Pode voltar para o avi��o com
Fast Eddie quando eu descer para o jantar.
��� Devo cuidar logo da conta, senhor?
��� Boa id��ia. Assim, poderei ir embora diretamente do restau-
rante.
��� Camisa branca, gravata preta e terno, Sr Crane? ��� pergun-
tou Fast Eddie.
��� Temos outra coisa? ��� respondeu Judd, sorrindo.
��� N��o, senhor. Mas sempre posso sonhar, n��o �� mesmo?
At�� mesmo Merlin sorriu. Judd chamava aquele traje de
uniforme de combate. Havia mais de uma centena de ternos escuros
id��nticos nos arm��rios de Judd, onde quer que ele estivesse, em
qualquer lugar do mundo.
Faltavam 10 minutos para as nove horas e eles estavam no
sagu��o, esperando pela Dra. Zabiski. Merlin e Fast Eddie observa-
vam o carregador que levava as malas para a limusine.
��� Ficarei com o portofone ��� disse Judd.
Merlin assentiu. A outra pasta estava em sua m��o. Fast Eddie
virou-se para o patr��o.
��� Estou preocupado com a su��te que deixamos. Acho que
deveria ir para o avi��o conosco.
��� Doze milh��es garantem que n��o haver�� problemas ��� disse
Judd. ��� O departamento de turismo ficou na maior satisfa����o com os
quatro Clubes Adri��ticos e os dois novos hot��is.
��� Talvez a festa n��o seja deles. Pode haver algum outro
departamento.
��� S�� h�� um departamento, que �� o pr��prio governo. Eles
est��o controlando tudo. Por que acha que Zabiski me telefonou t��o
depressa? Recebeu ordens superiores para negociar comigo. N��o
estou absolutamente preocupado. ��� Judd olhou para as portas
girat��rias e acrescentou: ��� Ela j�� est�� chegando. Eu me encontrarei
com voc��s no avi��o.
21
Os dois homens ficaram parados, enquanto ele se afastava ao
encontro da m��dica. Uma jovem alta, de cabelos louros-castanhos.
usando uma imita����o med��ocre de um Chanel, passou pelas portas
atr��s da Dra. Zabiski. Mas mesmo a c��pia horr��vel n��o era capaz de
esconder o corpo que havia por baixo. As palavras de Fast Eddie
afloraram �� mente de Crane ��� as iugoslavas s��o de primeira classe.
22
3
A DRA. ZABISKI entrou direto no assunto, assim que o maitre
acabou de anotar os pedidos:
��� A Dra. Ivancich tem sido a minha principal assistente nos
��ltimos dois anos. Antes disso, ela passou dois anos como
professora-assistente de gerontologia na Academia Georgiana de
Ci��ncias. Passou outros dois anos se especializando para tirar o
diploma de Doutora em Estudos Geri��tricos da Academia Sovi��tica
de Ci��ncias, em Moscou. Teve mais dois anos de estudos especiais no
Instituto Nacional de Idosos, em Baltimore, nos Estados Unidos. ��
formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Columbia,
em Nova York.
Judd olhou para a jovem e comentou, com toda sinceridade:
��� Estou impressionado. A Dra. Ivancich fez muita coisa para
algu��m t��o jovem.
Ela respondeu suavemente, num ingl��s com sotaque ameri-
cano:
��� N��o sou t��o jovem assim, Sr. Crane. Tenho 30 anos.
��� Isso �� ser jovem.
O gar��om serviu o consome. Judd esperou que o homem se
afastasse antes de voltar a falar. Olhou para a Dra. Zabiski e disse:
��� Falou que havia pensado um pouco a respeito de nossa
conversa.
A Dra. Zabiski assentiu.
��� Se est�� interessado em meu tratamento, talvez possamos
abreviar os dois meses iniciais para duas semanas.
��� Como?
2 3
��� Posso providenciar uma licen��a para a Dra. Ivancich viajar
em sua companhia. Assim, ela poderia realizar os exames e testes
preliminares, descobrindo se vai ou n��o reagir a nosso tratamento.
Enquanto falava, ela passou-lhe um pedacinho de papel. Judd
leu discretamente. Estava escrito a l��pis, as letras mi��das: "Destrua
depois de ler. A Dra. I. �� de absoluta confian��a. Estou muito
interessada na sua proposta."
Judd fitou-a sem dizer nada. Amassou o papel na palma da m��o
e depois meteu-o na boca. Mastigou devagar por um momento,
acrescentou diversas colheres do consome e engoliu. Sorriu e
murmurou:
��� Sempre gostei de peda��os de p��o no consome.
A Dra. Zabiski sorriu pela primeira vez. Balan��ou a cabe��a em
aprova����o, enquanto Judd acrescentava:
��� Estou partindo esta noite. Se me informar quando a Dra.
Ivancich estiver pronta, providenciarei para nos encontrarmos, onde
quer que eu esteja.
��� Esta noite mesmo, Sr. Crane, se assim desejar ��� disse a
Dra. Zabiski. ��� As malas delas est��o no meu carro. J�� tomei todas
as provid��ncias necess��rias.
Judd sorriu.
��� Percebi que era do meu tipo de m��dica assim que nos
conhecemos. ��� Ele virou-se para a Dra. Ivancich. ��� Espero que
goste de viajar, doutora.
��� Adoro, Sr. Crane.-
��� ��timo, pois vamos viajar muito. ��� Judd fez uma breve
pausa. ��� Dra. Ivancich �� um nome muito pomposo. Qual �� o seu
primeiro nome?
��� Sofia.
��� Eu sou Judd. �� muito americano as pessoas se tratarem
pelos primeiros nomes. Importa-se, doutora?
��� Absolutamente, Judd ��� respondeu ela, com um meio
sorriso. ��� Afinal, minha m��e era americana e fiz a maior parte dos
meus estudos nos Estados Unidos.
O maitre aproximou-se da mesa e fez uma mesura.
��� Est�� sendo chamada ao telefone, Dra. Zabiski.
A pequena m��dica virou-se para Judd.
��� Pode me dar licen��a?
24
Judd assentiu e levantou-se por um instante, enquanto ela
deixava a mesa. Tornando a sentar-se, ele virou-se para a Dra.
Ivancich.
��� Tem uma forma����o curiosa, Sofia. Am��rica e R��ssia.
��� N��o �� t��o estranho assim. Os dois pa��ses eram os ��nicos que
dispunham das instala����es e condi����es para pesquisa no campo em
que decidi me especializar. Se meu pai n��o tivesse passado quase 25
anos servindo na ONU, em Nova York, onde nasci, nada disso teria
acontecido. Foi somente depois de voltarmos �� Iugosl��via que fui
viver na R��ssia. E quando o trabalho da Dra. Zabiski foi reconhecido
por nosso governo, pude vir trabalhar com ela.
��� Isso aconteceu h�� dois anos? Como m��dica, poderia ganhar
mais dinheiro em qualquer lugar fora da Iugosl��via.
��� Provavelmente. Mas, neste caso, eu n��o teria a experi��ncia
de trabalhar com a Dra. Zabiski, que na minha opini��o �� um dos
verdadeiros g��nios em nosso campo.
��� �� um elogio e tanto.
��� E falo com toda sinceridade.
Pelo canto dos olhos, Judd observou a pequena m��dica
voltando. Levantou-se. Ela parecia um pouco p��lida. Judd puxou a
cadeira para ela, perguntando:
��� Est�� tudo bem?
A Dra. Zabiski fitou-o atrav��s da mesa, enquanto ele tornava a
se sentar.
��� Nada de importante.
Ela olhou fundo no azul-cobalto dos olhos de Judd e experi-
mentou outra vez o estranho calafrio que j�� sentira em sua sala. Era
como se Judd invadisse sua mente. A Dra. Zabiski baixou os olhos
para a toalha e ajeitou o guardanapo no colo, antes de tornar a fit��-
lo. E disse, suavemente:
��� N��o seria estranho se descobr��ssemos que a morte e a
imortalidade s��o uma ��nica e mesma coisa?
Morte e imortalidade. As palavras ecoaram nos recessos da
mente de Judd. Fazia mais de 20 anos que seu pai lhe expressara
quase que exatamente o mesmo pensamento.
Era o ano de 1956. Dois dias depois do Presidente Eisenhower ser
reeleito para um segundo mandato. Era um dia fresco e ensolarado
em Nova York. Judd viera de trem de Boston. Subiu a escada dos
25
fundos da Grand Central e saiu na Park Avenue. Nova York era
emocionante e viva, as pessoas ativas e apressadas. Era muito
diferente do ritmo quase indolente do campus de Harvard, em
Cambridge. Ele olhou para o rel��gio. Ainda n��o eram 11 horas.
Tinha tempo. O pai pedira que fosse encontr��-lo no escrit��rio ao
meio-dia.
Ainda tinha 20 minutos de sobra quando parou na frente do
novo pr��dio de escrit��rios e contemplou as letras de a��o inoxid��vel
por cima da entrada: CRANE INDUSTRIES. Subiu os degraus
entre as duas fontes e passou pelas portas de vidro. Como ainda tinha
tempo, encostou-se na parede de m��rmore e ficou observando as
pessoas que entravam e sa��am do pr��dio.
Um guarda uniformizado aproximou-se poucos minutos depois.
Era corpulento e presun��oso, com seu cintur��o de couro militar Sam
Browne e uma arma no coldre.
��� N��o �� permitido ficar fazendo hora por aqui, garoto ��� disse
ele, em tom r��spido.
��� N��o estou fazendo hora ��� respondeu Judd, polidamente.
��� Cheguei cedo para um encontro marcado e resolvi esperar aqui
��� Desculpe, garoto, mas n��o �� permitido. Se chegou cedo.
volte mais tarde.
Judd deu de ombros.
��� Nesse caso, �� melhor eu me apresentar logo mais cedo.
Ele encaminhou-se para os elevadores que subiam diretamente
para o 40�� andar. O guarda deteve-o.
��� Esses elevadores s��o para andares executivos.
��� Sei disso.
��� Com quem tem um encontro?
��� Com o Sr. Crane.
O guarda fitou-o com uma express��o c��tica. Gesticulou para
outro guarda, que estava parado ao lado dos elevadores e pronta-
mente se aproximou.
��� Este garoto diz que tem um encontro marcado com o Sr.
Crane.
O segundo guarda virou-se para Judd e indagou, polidamente:
��� Tem alguma identifica����o, senhor?
Judd abriu o palet��. A blusa marrom com o " H " , por baixo da
camisa branca, parecia escura na claridade entre os elevadores. Ele
tirou uma carteira de couro do bolso interno.
26
��� A carteira de motorista serve?
��� Claro.
O segundo guarda examinou a carteira e depois olhou para
Judd. Devolveu-a, murmurando:
��� Desculpe, Sr. Crane. Precisamos tomar muito cuidado.
Tivemos alguns problemas nas ��ltimas semanas com pessoas que n��o
tinham motivo para estar aqui.
��� Compreendo perfeitamente ��� disse Judd, tornando a
guardar a carteira no bolso.
O segundo guarda virou uma chave no painel de controle dos
elevadores privativos. As portas de um dos elevadores se abriram e
ele disse, recuando:
��� O andar �� o 45, Sr. Crane.
Judd entrou e apertou o bot��o. As portas come��aram a fechar,
enquanto a voz do segundo guarda chegava aos ouvidos de Judd.
��� Seu idiota! ��� disse ele ao primeiro guarda. ��� Aquele �� o
filho do patr��o e voc��...
Judd sorriu, enquanto a voz se perdia quando o elevador
come��ou a subir. Ele recostou-se e observou o mostrador. Faltavam
cinco minutos para o meio-dia quando saiu do elevador. A recepcio-
nista aguardava junto �� porta.
��� Bom dia, Sr. Crane. Seu pai o espera.
Ela abriu as portas do elevador que conduzia ao gabinete de seu
pai, o ��nico na cobertura. A secret��ria do pai recebeu-o quando ele
saiu do pequeno elevador.
��� Ol��, Judd ��� disse ela, sorrindo.
Ele inclinou-se para beij��-la no rosto.
��� Est�� parecendo mais jovem e mais linda do que nunca, Srta.
Barrett.
Ela riu, afetuosamente.
��� �� maravilhoso ouvir isso. Mas eu o conhe��o desde que
nasceu. N��o precisa me fazer o elogio padr��o de Harvard.
Judd riu.
��� Pode estar certa de que falo s��rio. N��o tem nada de
Harvard. ��� Ele seguiu-a pela sala externa das outras secret��rias at�� a
sala da Srta. Barrett, que ficava ao lado do gabinete do pai. ��� Como
est�� papai? Tem quase seis meses que n��o o vejo.
��� Voc�� conhece seu pai. ��� Havia um tom estranhamente
neutro em sua voz. ��� Ele sempre parece o mesmo.
27
Judd parou e virou-se para fit��-la.
��� Mas que resposta �� essa? H�� alguma coisa errada?
Ela n��o disse nada. Em vez disso, abriu a porta que dava para a
sala do pai. Ao passar, Judd teve a impress��o de ver um brilho ��mido
em seus olhos. Ela fechou a porta assim que ele passou. O pai estava
parado junto ��s janelas, olhando para fora, de costas para ele.
��� Judd?
��� Sou eu mesmo, pai.
��� Venha at�� aqui ��� disse o velho, ainda sem se virar.
Judd foi at�� a janela e postou-se ao lado do pai. Ainda n��o
haviam se fitado.
��� O dia est�� muito claro. Pode-se ver Battery, Staten Island
mais al��m, o Estreito de Long Island e Connecticut a nordeste.
��� �� verdade, o dia est�� muito claro.
O pai permaneceu em sil��ncio por um longo momento, depois
virou-se para ele, estendendo a m��o.
��� Est�� com um ��timo aspecto, Judd.
Judd apertou a m��o do pai. Ainda segurando-a, tentou
imprimir �� voz um tom jovial.
��� Ser�� que j�� fiquei velho demais para dar um beijo em meu
pai?
Subitamente, o pai abra��ou-o e beijou-o no rosto.
��� Espero que nunca fique velho demais para isso.
Judd retribuiu o beijo do pai.
��� Assim est�� melhor. ��� Ele sorriu. ��� Eu j�� come��ava a
pensar que n��o gostava mais de mim.
��� N��o diga essa bobagem. Eu o amo, meu filho.
��� Eu tamb��m o amo, pai.
O pai deu um passo para tr��s.
��� Pensei a princ��pio em almo��armos no " 2 1 " , mas depois
achei que seria melhor comermos aqui mesmo, no escrit��rio. H��
muito tempo que n��o conversamos e ficaremos mais �� vontade aqui.
��� O escrit��rio me parece uma boa pedida.
��� Est�� com fome?
Judd sorriu.
��� Estou sempre com fome.
O pai apertou um bot��o na mesa. Um conjunto de portas
corredi��as se abriu e apareceu uma pequena sala de jantar, com uma
28
mesa redonda, bastante grande para oito pessoas, mas posta apenas
para duas. Ele empurrou a alavanca do interfone e disse:
��� Estamos prontos para o almo��o. ��� Virando-se para Judd, o
pai acrescentou: ��� Vou tomar um scotch com ��gua. E voc��?
��� Pode ser dois.
Judd seguiu o pai para a sala de jantar. Um negro pequeno,
usando smoking, entrou na sala por outra porta.
��� Sr. Crane?
��� Dois como sempre, Fast Eddie.
O homenzinho correspondeu ao apelido. Os dois drinques
foram trazidos do pequeno bar quase que no mesmo instante em que
foram pedidos.
��� Fast Eddie, este �� meu filho, Judd ��� disse o pai, pegando
seu copo.
Fast Eddie entregou o copo de Judd.
��� Muito prazer, Sr. Crane.
��� Obrigado. ��� Judd observou Fast Eddie desaparecer pela
outra porta da sala. ��� A n��s, pai.
��� A n��s.
Tomaram um gole.
��� H�� quanto tempo Fast Eddie trabalha para voc��, pai?
��� H�� uns tr��s meses. Ele �� neto do velho Roscoe, que o vem
treinando h�� dois anos. O garoto �� muito bom. �� dif��cil acreditar que
tenha apenas 18 anos.
��� Ele parece muito simp��tico.
��� �� como o av��. Est�� sempre �� m��o. ��� O pai sentou-se ��
mesa, fitou Judd no outro lado. ��� Est�� surpreso por eu t��-lo
chamado?
Judd assentiu.
��� Temos muito o que conversar. ��� O pai hesitou por um
instante. ��� Como se costuma dizer, o que prefere primeiro, as boas
OU as m��s not��cias?
��� O que achar melhor, pai.
��� Pois ent��o vamos primeiro ��s boas not��cias. Vivo sozinho
desde que sua m��e morreu, h�� 15 anos. Claro que tive outras
mulheres, mas sempre foi diferente. Agora, vou casar de novo. E
acho que voc�� tamb��m gostar�� dela.
Judd fitou-o nos olhos.
2 9
��� Se gosta dela, pai, isso �� tudo o que importa. Ficarei feliz
por voc��.
O pai sorriu.
��� Ainda nem perguntou o nome dela. ��� Ele fez uma pausa,
antes de acrescentar: ��� Barbara.
A voz de Judd estava impregnada de surpresa quando mur-
murou:
��� A Srta. Barrett?
O pai riu.
��� �� t��o espantoso assim?
��� ��, sim. ��� Judd sorriu. ��� Mas uma surpresa agrad��vel. Sob
certos aspectos, n��o entendo por que n��o casou com ela mais cedo. ��
como se ela sempre fosse parte da fam��lia. Posso ir dizer a ela como
me sinto feliz por voc��s dois?
��� Ela se juntar�� a n��s para o almo��o, dentro de um minuto.
��� Quando ser�� o casamento?
��� ��s seis horas da tarde. O Juiz Gitlin celebrar�� a cerim��nia
em nosso apartamento.
��� Conhe��o Tio Paul. ��� Judd riu. ��� �� melhor eu tratar de
arrumar um traje a rigor.
��� N��o �� t��o importante assim, Judd. A cerim��nia ser�� ��ntima,
com apenas uns poucos amigos. ��� O sorriso do pai se desvaneceu, a
express��o tornou-se grave. ��� Agora, as m��s not��cias.
Judd permaneceu em sil��ncio.
��� Estou com a doen��a de Hodgkins.
��� N��o sei o que �� isso, pai.
��� Uma esp��cie de c��ncer do sangue. ��� O pai esperou um
instante para continuar: ��� Mas podia ser pior. Os m��dicos me dizem
que ainda posso ter cinco ou seis anos em relativo conforto... e quem
sabe o que se descobrir�� durante esse per��odo? Podem encontrar a
cura a qualquer momento.
Judd continuou em sil��ncio. Respirou fundo, reprimindo as
l��grimas. Finalmente, murmurou:
��� Espero que sim... n��o, tenho certeza de que encontrar��o a
cura.
��� E se n��o encontrarem, n��o me queixarei. Ainda terei levado
uma boa vida.
3 0
Judd n��o disse nada, limitando-se a fitar o pai, que acrescentou,
suavemente:
��� N��o tenho medo da morte. A morte e a imortalidade
sempre foram praticamente a mesma coisa para mim.
3 1
4
O JIPE com os inspetores alfandeg��rios conduziu a limusine pelos
port��es de carga para o campo. Passaram por uma longa fileira de
armaz��ns e pelos avi��es comerciais, estacionados na outra extre-
midade, seguindo para o setor militar do aeroporto. O B-747azul-
escuro parecia uma imensa abelha-rainha, sobressaindo junto aos
pequenos ca��as iugoslavos que o cercavam.
Judd saiu da limusine e estendeu a m��o para Sofia. Ela olhou
para o avi��o. A ins��gnia branca, um grou com as asas estendidas,
al��ando v��o, era seguida pelas palavras CRANE INDUSTRIES,
perfeitamente vis��vel �� claridade que vinha do terminal do aeroporto.
Havia uma bandeira americana pintada sobre a janela do piloto e
outra ainda maior na cauda gigantesca. Sofia olhou para Judd e
comentou:
��� Eu nunca tinha visto um Jumbo, a n��o ser em filmes. E
sempre tinham uma escada enorme.
Judd sorriu.
��� Geralmente �� encostada no avi��o em aeroporto que n��o tem
rampas rolantes. Mas este aparelho �� especial. Foi constru��do de
acordo com as minhas especifica����es.
Os inspetores alfandeg��rios se aproximaram e um deles disse:
��� Se fizerem a gentileza de nos entregarem seus passaportes,
vamos carimb��-los.
Judd tirou o passaporte do bolso interno do palet�� e entregou-
o. Sofia pegou o seu na bolsa. O inspetor voltou ao jipe e examinou
os passaportes �� luz de uma lanterna.
O motorista trouxe as tr��s malas do carro. Uma era de
32
alum��nio. Colocou-as ao lado de Sofia. Nesse momento, um elevador
sustentado por cabos de a��o inoxid��vel desceu da barriga do
aparelho, trazendo dois homens uniformizados, que saltaram e se
aproximaram deles. Judd apresentou-os:
��� Sofia, este �� o Comandante Peters e este o Comiss��rio de
Bordo Raoul. Senhores, a Dra. Ivancich.
O Comandante Peters apertou a m��o de Sofia.
��� Seja bem-vinda a bordo, doutora.
Raoul bateu de leve no quepe, �� guisa de sauda����o.
��� Tamb��m lhe dou as boas-vindas, Madame Doutora.
��� Obrigada, senhores.
O inspetor alfandeg��rio voltou.
��� Os passaportes est��o em ordem. Mas temos de examinar a
bagagem da Dra. Ivancich, a menos que haja uma licen��a especial de
exporta����o para o seu equipamento m��dico.
A voz de Sofia parecia um pouco irritada quando ela falou,
rapidamente, em s��rvio. O inspetor respondeu, como se pedisse
desculpas, as m��os expressivas. Ela virou-se para Judd e explicou:
��� Terei de voltar ao escrit��rio com eles. Todos os burocratas
s��o iguais. A licen��a de exporta����o j�� deveria estar pronta, mas,
como sempre...
O Comandante Peters interveio:
��� Irei junto, doutora. Preciso mesmo aprovar o plano de v��o.
��� Peguem a limusine ��� disse Judd. ��� Ficarei esperando a
bordo.
��� Desculpe o inc��modo ��� murmurou Sofia.
��� N��o h�� problema. Essas coisas est��o sempre acontecendo.
O inspetor levou as malas para o jipe e afastou-se, seguido pela
limusine. Judd encaminhou-se para o elevador, acompanhado por
Raoul, e apertou o bot��o. Passaram pelo compartimento de carga e o
andar da cozinha, chegaram �� cabine principal.
��� Ponha a doutora no primeiro camarote de h��spede ��� disse
J u d d ao comiss��rio.
��� Est�� certo, Sr. Crane.
Judd subiu a escada para o conv��s de v��o, no fundo do qual
estava localizado o seu camarote pessoal. Virou-se para o comiss��rio.
��� Pode pedir a Merlin para vir falar comigo?
��� Pois n��o, senhor.
L�� em cima, Judd passou pela porta que separava seu camarote
3 3
da tripula����o, no conv��s de v��o. Fast Eddie esperava com uma Coca-
Cola no gelo. Judd tirou o palet�� e pegou o copo. Merlin bateu na
porta no instante em que Judd tomava o primeiro gole. Fast Eddie
abriu-a.
��� O que deseja, Sr. Crane? ��� indagou Merlin, com o bloco de
anota����es em posi����o.
��� Dra. Ivancich, Sofia. Quero uma verifica����o de seguran��a
sobre ela. Tudo o que pudermos descobrir. ��� Judd acrescentou que
queria a confirma����o de tudo o que a Dra. Zabiski e Sofia tinham
dito. ��� N��o desejo ter nenhuma surpresa.
��� Mais alguma coisa, senhor?
��� Pergunte a Doc Sawyer, na Pesquisa M��dica, se j�� ouviu
alguma coisa sobre qualquer trabalho realizado na implanta����o de
c��lulas humanas pr��prias clonadas.
��� Cuidarei de tudo assim que decolarmos, senhor.
Judd olhou para Fast Eddie, enquanto Merlin deixava a cabine.
��� Uma garrafa de Cristale no gelo. ��� Pegando o interfone,
ele apertou o bot��o do comiss��rio de bordo e acrescentou: ���
Quando a doutora voltar, pergunte-lhe se n��o gostaria de se juntar a
mim no conv��s de v��o para a decolagem.
Fast Eddie j�� pusera a garrafa de Cristale num balde com gelo e
colocara dois copos de champanha gelados na prateleira ao lado da
poltrona. Judd encaminhou-se para seu quarto, nos fundos do
camarote, come��ou a tirar a camisa.
��� Pegue um macac��o de pel��cia.
Fast Eddie abriu um dos arm��rios, tirou o macac��o e estendeu
na cama. P��s no ch��o um par de chinelas de pel��cia e na cama uma
sunga francesa de seda. Judd entrou no pequeno boxe no banheiro,
apertou o bot��o que automaticamente misturava ��gua e sabonete,
enxaguou-se depois. O vapor saiu do boxe automaticamente, en-
quanto ele se enxugava com uma toalha enorme. Vestiu-se rapida-
mente, penteou os cabelos. Contemplou-se no espelho. Estava bem,
pensou ele, mas apenas isso. Ainda se sentia cansado. E isso n��o lhe
agradava. Ainda tinha muitas coisas para fazer.
Abriu uma gaveta e pegou um frasco de ouro. Tirou a tampa,
expondo um parafuso em formato de bala. Desatarraxou-o e uma
pequena abertura apareceu. Encostou-a numa narina e comprimiu o
fundo do frasco; a coca��na subiu, enquanto ele fungava. Repetiu o
processo, na outra narina. Sentiu que se recuperava no mesmo
34
instante. Tornou a p��r o frasco na gaveta, mas n��o a fechou. Tornou
a contemplar-se no espelho. N��o parecia t��o cansado agora. Sorriu
para si mesmo. Era uma das vantagens de se possuir uma ind��stria
qu��mica, pensou ele. N��o precisava se preocupar com a merda que se
vendia nas ruas. Fast Eddie estava esperando-o na cabine. Sorriu e
comentou:
��� Nada como um chuveiro quente e uma boa cheirada, chefe.
J�� est�� com uma cara melhor.
��� Est�� ficando esperto demais. ��� Judd sorriu. ��� Eles j��
embarcaram?
��� Est��o chegando neste momento, senhor.
Judd pegou o interfone e ligou para o comiss��rio.
��� Sugira �� doutora que ficar�� mais confort��vel num macac��o.
Creio que o tamanho oito deve servir.
��� J�� tinha pensado nisso, senhor. Mas deixei um tamanho sete
na cama. Acho que fica melhor nela.
��� Eu me submeto �� opini��o da costura francesa ��� disse Judd,
rindo e desligando em seguida.
A voz do comandante soou pelo sistema de alto-falantes:
��� Todos em seus lugares. A decolagem ser�� dentro de um
minuto.
Judd olhou para Sofia, na poltrona ao lado. Ela olhava pela
janela. Ele sentiu o ligeiro tremor quando o imenso avi��o come��ou a
se mover. Observou as m��os de Sofia. Estavam apertando os bra��os
da poltrona. Judd se manteve em sil��ncio enquanto se deslocavam
rapidamente pela pista. Um momento depois, subitamente, suave-
mente, o avi��o al��ou v��o. A voz de Sofia soou baixa:
��� Parece quase uma casa com asas.
Judd riu.
��� Acho que se pode mesmo pensar assim.
Ela contemplou as luzes de Dubrovnik l�� embaixo.
��� A que altitude n��s estamos?
Ele apertou um bot��o e uma luz se acendeu na antepara da
cabine �� frente.
��� Cerca de dois quil��metros. Vamos subir para 12 quil��me-
tros, que ser�� nossa altitude de cruzeiro. Estaremos ent��o voando a
uma velocidade de 920 quil��metros hor��rios.
Os avisos para n��o fumar e apertar os cintos se apagaram. Judd
35
abriu o cinto de seguran��a que lhe cruzava o peito e inclinou-se para
ajud��-la. Sofia hesitou por um instante. Judd sorriu.
��� Est�� tudo bem.
Fast Eddie apareceu, pondo uma bandeja com caviar e torradas
na mesa diante dela. Depois, encheu os copos com champanha e se
retirou prontamente. Judd levantou seu copo para ela.
��� Seja bem-vinda aos c��us cordiais da Am��rica.
��� L�� embaixo ainda �� a Iugosl��via.
��� Mas voc�� n��o est�� l�� embaixo, n��o �� mesmo?
��� Tem raz��o. ��� Sofia sorriu e tomou um gole do champanha.
��� Deliciosa. ��� Ela olhou para a bandeja e acrescentou: ��� �� mesmo
caviar russo?
Judd assentiu.
��� N��o conseguimos encontrar isso nem na Iugosl��via.
Judd p��s um pouco de caviar numa torrada e estendeu para ela.
��� A d��tente proporciona alguns benef��cios.
��� Gosto disso.
��� Eu tamb��m ��� disse Judd, servindo-se.
��� Tem vodca russa a bordo?
��� Claro.
��� Posso tomar um pouco? ��� perguntou Sofia, quase timida-
mente. ��� L�� embaixo tudo o que eu conseguia beber era slivovitz,
que me deixa enjoada.
��� Basta pedir.
Fast Eddie trouxe uma garrafa gelada. Encheu dois copos e
deixou-os ao lado da garrafa, na bandeja, desaparecendo em seguida.
Sofia pegou o copo com vodca, observou-o por um instante e depois
bebeu. Judd percebeu um leve rubor em suas faces.
��� Gosta?
��� J�� fazia muito tempo... ��� Sofia olhou para ele. ��� N��o est��
bebendo.
��� N��o sou de beber muito. Vinho e cerveja, uma pequena
dose de scotch com ��gua antes do jantar... esse �� praticamente o meu limite. O ��lcool me deixa deprimido e n��o gosto de ficar assim.
��� E os t��xicos?
��� Um pouco.
��� Marijuana, coca��na, estimulante, alucion��geno?
��� Judd sorriu.
��� ��s vezes.
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��� Isso �� muito americano. Lembro que era a moda quando eu
estava na escola.
Sofia pegou o copo de vodca e esvaziou-o. A respira����o
pareceu sair como um suave suspiro.
��� Isto �� muito europeu.
��� Gostos diferentes para pessoas diferentes ��� comentou
Judd, sorrindo.
Sofia recostou-se na poltrona.
��� Estou me sentindo quente. Acho que fiquei um pouco
tonta.
��� Se est�� cansada, pode ir dormir.
��� Nada disso. Estou gostando muito. ��� Ela sorriu. ��� E me
divertindo como h�� muito n��o acontecia. L�� embaixo, todo mundo ��
sempre s��rio. ��� Sofia fechou os olhos por um momento, depois
fitou-o e perguntou: ��� Tem um pouco de coca��na?
Judd respondeu com um aceno de cabe��a afirmativo.
��� Posso tomar um pouco? ��� Ela percebeu a hesita����o de
Judd. ��� N��o precisa se preocupar. Vai servir para me animar. Ainda
n��o quero dormir.
Ele foi ao quarto e voltou com o frasco de ouro. Virou-o entre
os dedos e bateu no lado; o p�� branco encheu a tampa de pl��stico.
��� Isto �� um injetor. Coloque numa narina, aperte o fundo e
fungue.
��� Parece complicado. Pode fazer para mim?
Judd levou o frasco �� narina de Sofia.
��� Fungue agora ��� disse ele, comprimindo o fundo.
Ela prendeu a respira����o. Rapidamente, Judd passou o frasco
para a outra narina.
��� De novo!
Ela ficou im��vel por um instante, depois virou-se para ele, os
olhos alargados e brilhantes.
��� Senti que subiu at�� o c��rebro.
Judd riu.
��� Acontece de vez em quando.
��� Agora me sinto quente de verdade. At�� os mamilos est��o
quentes e duros.
Ele observou-a em sil��ncio.
��� N��o acredita em mim.
��� Claro que acredito ��� respondeu Judd, tornando a sorrir.
37
��� Est�� rindo de mim. ��� Sofia baixou o z��per do macac��o,
deixando os seios �� mostra. ��� Acredita agora?
Os seios eram cheios e firmes, os mamilos cor de ameixa, duros
como pedra, projetando-se para a frente. Judd fitou-a nos olhos.
��� S��o lindos.
��� Aperte-me ��� murmurou ela, a voz rouca. ��� Toque em
mim ou terei um orgasmo sozinha, como vem acontecendo nos
��ltimos cinco anos.
Judd puxou-a para o seu peito, mantendo sua cabe��a comprimi-
da contra ele, enquanto a outra m��o apertava e acariciava os seios.
Sentiu o corpo todo estremecer. Suavemente, afagou-lhe os cabelos
compridos. Depois de um momento, ela ficou quieta. Judd n��o se
mexeu. A voz de Sofia soou abafada contra o seu peito:
��� Esteve com as tr��s mulheres que mandaram �� sua su��te?
��� N��o. Mandei-as embora.
Ela ficou em sil��ncio por um momento.
��� Fico contente por isso. Havia c��maras escondidas por cima
da cama em seu quarto.
��� O que �� uma estupidez. O que poderiam ganhar com isso?
��� N��o sei. Havia microfones ocultos por toda a su��te.
��� �� o que sempre se faz. Eu j�� esperava por isso. ��� Judd riu.
��� Brincadeira de crian��a.
��� N��o foi brincadeira de crian��a para eles. Um homem
morreu e tr��s est��o no hospital porque houve algum problema com a
fonte de energia.
��� �� uma pena. Eu n��o sabia disso.
Sofia espirrou subitamente. Judd levantou-lhe a cabe��a e
estendeu um len��o de papel.
��� �� a coca. Limpe o nariz com ��gua.
Ele mostrou-lhe o banheiro e depois voltou �� sua poltrona.
Tomava champanha quando Sofia voltou. Contemplou-a. Ela lavara
o rosto e escovara os cabelos.
��� Acha que sou horr��vel, Judd?
��� N��o. �� apenas humana. Pode ser uma m��dica, mas ��
tamb��m uma mulher... e uma linda mulher, diga-se de passagem. As
duas coisas possuem necessidades que devem ser satisfeitas para que
possa se completar.
Sofia hesitou.
��� Acho que irei agora para a minha cabine.
38
Judd levantou-se.
��� Se �� isso o que voc�� quer... se est�� cansada...
Ela fitou-o nos olhos.
��� O que voc�� quer?
Ele sorriu.
��� Voc�� j�� sabe.
39
5
UM LIGEIRO som diferente na estrid��ncia dos motores a jato
despertou-o. Pegou o telefone ao lado da. cama e perguntou:
��� Como estamos?
��� Dentro do hor��rio, Sr. Crane ��� respondeu o Comandan-
te Peters, da cabine de comando. ��� Estamos com 10 horas e meia de
v��o, seis mil metros acima de Delhi, ��ndia, e nos reabastecendo.
Esperamos pousar em Pequim dentro de oito horas e vinte minutos.
Todos os sistemas em perfeito funcionamento.
��� Obrigado.
Judd desligou e virou-se. Ela estava estendida no outro lado da
cama, a cabe��a no travesseiro, os olhos abertos, a fit��-lo.
��� Bom dia ��� disse Judd.
��� Bom dia.
��� Dormiu bem?
��� N��o sei. Acho que sonhei durante todo o tempo.
Judd riu.
��� Estava dormindo. Tenho certeza.
��� O que �� uma pena ��� murmurou Sofia. ��� Preferia que o
sonho fosse verdade.
Ele inclinou-se para o rosto dela.
��� Eu tamb��m. ��� Judd beijou-a e depois sentou-se na cama.
��� Quer tomar um caf��?
��� Posso me lavar primeiro? Estou cheirando tanto a sexo que
ficaria envergonhada de andar assim pelo avi��o.
Judd tornou a rir.
40
��� N��o sei onde est�� a gra��a ��� disse ela, muito s��ria. ��� O
excitamento sexual me leva rapidamente a rea����es multiorg��sticas.
Ele tentou igualar a gravidade de Sofia.
��� Nunca ouvi ser explicado assim, doutora.
��� Mas �� a verdade. Por exemplo: enquanto voc�� falava ao
telefone, um momento atr��s, a simples vis��o de seu p��nis, mesmo
meio ereto de sono, fez com que meus sucos flu��ssem imediata-
mente.
��� �� de fato um problema ��� disse Judd, acenando com a
cabe��a, uma express��o solene. ��� Posso compreender tudo agora.
��� Sei que o problema �� psicol��gico. Mas tenho de resolv��-lo
sozinha.
Judd virou-se de lado, contemplando-a.
��� �� um problema que precisa resolver imediatamente, dou-
tora?
��� N��o estou entendendo ��� murmurou ela, aturdida. ��� E por
que est�� me chamando de "doutora"? Pensei que s�� fosse me chamar
de Sofia.
Judd empurrou o rosto da mo��a para o seu falo.
��� Sofia, Sofia... ��� Ele soltou uma meia risada. ��� Ser�� que
n��o sabe que meio ereto nunca �� suficiente?
Sofia levantou o rosto para fit��-lo.
��� Est�� agora se divertindo ��s minhas custas?
��� Sua puta est��pida! ��� Os dedos de Judd agarraram-na pelos
cabelos, enquanto com a outra m��o ele enfiava o p��nis em sua boca.
��� Chupe bem, se quer trepar!
Sofia desvencilhou-se furiosa.
��� Est�� me falando como se eu fosse uma puta! ��� exclamou
ela, as l��grimas aflorando aos olhos.
Judd fitou-a em sil��ncio por um instante, depois aproximou-lhe
o rosto do seu.
��� N��o, Sofia ��� disse ele, gentilmente, beijando-a na boca. ���
N��o como uma puta. Mas como uma mulher que foi negada demais e
por muito tempo.
Ela desceu atr��s dele pela escada em espiral at�� o conv��s principal.
Judd virou-se quando ela parou ��s suas costas.
��� Ali em frente fica o escrit��rio.
41
Ele abriu a cortina para que Sofia pudesse ver. Merlin estava ��
sua mesa e havia mais dois outros homens, sentados diante de telas
de computador. Merlin virou-se para Judd.
��� Estarei com voc�� dentro de um minuto ��� disse Judd,
largando a cortina e depois conduzindo-a para o outro lado da
escada. ��� Primeiro, �� o sal��o para h��spedes, depois os camarotes.
Em seguida, est��o as cabines dos tripulantes e empregados, com o
sal��o especial para eles. Os dois sal��es servem tamb��m como sala de
jantar.
Sofia falou em voz baixa, mas visivelmente impressionada:
��� Quantas pessoas tem neste avi��o?
��� O pessoal de v��o �� composto por 10 homens e mais o
comandante; o pessoal de cabine d�� um total de nove pessoas,
incluindo o cozinheiro e o comiss��rio de bordo; mais cinco emprega-
dos para cuidar dos neg��cios, meu assistente pessoal, meu valete, eu
e voc��. No total, s��o 29 pessoas a bordo. Mas d�� para viajar at�� 51
pessoas, se for necess��rio.
Sofia sacudiu a cabe��a.
��� Parece mesmo uma casa. Precisa realmente de tudo isso s��
para voc��?
Judd sorriu.
��� Acho que sim. Passo quase 35 por cento da minha vida neste
avi��o, viajando a neg��cios. Com os equipamentos que temos a
bordo, estou em permanente contato com meus escrit��rios e neg��cios
no mundo inteiro.
��� Todos os empres��rios americanos possuem avi��es assim?
��� N��o sei. ��� Judd tornou a sorrir. ��� Mas muitos possuem
avi��es e alguns chegam a ter dois ou tr��s.
��� �� demais.
��� �� tipicamente americano.
��� Era o que diz��amos quando eu estudava nos Estados Unidos.
��� Foi a vez de Sofia sorrir. ��� �� demais.
��� O almo��o dentro de meia hora tamb��m �� demais?
��� N��o, pois estou faminta.
Judd ficou observando-a atravessar o sal��o, a caminho de seu
camarote, depois voltou e passou pelas cortinas para entrar no
escrit��rio. Merlin levantou-se e Judd perguntou-lhe:
��� �� de manh�� ou de tarde?
42
��� S��o quatro horas da tarde na ��ndia, cerca de 12 horas de
v��o. Mas isto �� o dia seguinte.
��� Nunca vou conseguir entender direito.
��� J�� temos o relat��rio de hoje.
��� Pois vamos logo cuidar disso.
Judd sentou-se a uma pequena mesa de reuni��o. Merlin p��s
uma pasta de folhas soltas em cima da mesa. Judd abriu-a por um
instante, mas logo tornou a fech��-la, bruscamente.
��� Alguma coisa especial? Estou exausto.
��� N��o h�� muita coisa, pois �� fim de semana. S�� tem uma coisa
de maior import��ncia. A Mal��sia nos deu a empreitada, 55 milh��es
de d��lares pela ponte do Rio Pahang.
��� Mas que merda! ��� exclamou Judd. ��� Como fomos cair
nessa? Eu tinha certeza de que far��amos uma proposta acima dos
outros.
��� E foi o que aconteceu. Mas �� o pre��o que se tem de pagar
por uma boa reputa����o. Disseram que a nossa proposta podia ser
mais alta, mas se sentiriam mais seguros com a Crane Construction.
��� Vamos perder uns 12 a 14 milh��es nessa brincadeira. ���
Judd pensou por um instante. ��� Consulte os fabricantes de a��o
japoneses. Eles est��o nos sacaneando e embarcar o material de l��
sair�� mais barato do que mandar dos Estados Unidos ou Europa.
Talvez possamos salvar uns quatro ou cinco milh��es por esse lado.
��� Cuidarei disso. Mandarei Judson tomar as provid��ncias
necess��rias de San Francisco.
��� Mais alguma boa not��cia? ��� perguntou Judd, irritado.
��� Doc Sawyer. Ele disse que n��o tem a menor id��ia do que
voc�� est�� falando. S�� conhece as experi��ncias de engenharia gen��tica
e o projeto DNA do Departamento da Defesa. Precisa de mais
detalhes.
��� Conversaremos pessoalmente em Miami, no final da sema-
na. Alguma not��cia da Seguran��a sobre a doutora?
��� Ainda n��o. Mas deve chegar nas pr��ximas horas.
Judd levantou-se.
��� Est�� certo. Vamos verificar outra vez depois do almo��o. ���
Ele fez uma pausa, depois olhou para Merlin. ��� Por falar nisso,
gostaria que almo��asse comigo e com a doutora, se tiver tempo.
Quero saber o que pensa dela.
O almo��o foi simples. Uma tigela de consome, alcatra grelhada,
43
malpassada, com vagem e cenoura, uma salada temperada com azeite
e vinagre, uma bandeja de queijo. Foi servido um Ch��teau Margaux
para acompanhar a comida e um caf�� ao final, depois que todos os
pratos foram tirados. Sofia olhou para Judd.
��� Voc�� parece comer sensatamente.
��� Uma comida leve. Quando viajo assim, sempre fico tonto
com a diferen��a de fusos hor��rios. Se comer demais, n��o terei
condi����es de fazer muita coisa.
��� �� tamb��m o seu caso, Sr. Merlin?
��� De todos n��s, doutora. Nosso programa de refei����es foi
determinado pelos dietistas do Instituto de Pesquisa para proporcio-
nar um desenvolvimento m��ximo de energia. Dentro desse progra-
ma, cada um tem uma cota pessoal di��ria de vitaminas e complemen-
tos minerais.
��� Isso significa, por exemplo, que o Sr. Crane n��o toma
necessariamente as mesmas vitaminas e minerais que o senhor?
��� Cada pessoa no avi��o tem a sua pr��pria f��rmula.
��� E como isso �� determinado?
��� Fazemos um exame anual no Centro M��dico Crane, em
Boca Raton, Fl��rida. O exame completo leva geralmente tr��s dias.
��� E o Sr. Crane tamb��m o faz?
��� Claro.
Sofia virou-se para Judd.
��� Seria poss��vel mostrar-me os resultados do seu exame?
Judd assentiu, sorrindo.
��� N��o h�� problema. Est�� tudo computado. Ter�� os resultados
a bordo pela manh��.
��� Obrigada. Vai me ajudar muito.
��� Voc�� �� a m��dica. Basta pedir qualquer coisa que precisar.
��� Deve ser um bom come��o, antes de irmos adiante. ��� Sofia
largou a x��cara de caf��. ��� Importa-se se eu descansar um pouco,
Judd? Estou me sentindo muito cansada.
��� Claro que n��o. E acho que �� uma boa id��ia eu tamb��m
descansar um pouco. Tenho um banquete �� meia-noite em Pequim.
Ele inclinou-se para Merlin, depois que Sofia saiu.
��� O que acha?
��� N��o sei. Ela parece genu��na. Mas n��o tenho condi����es de
determinar se �� uma boa m��dica.
44
��� O relat��rio deve nos dizer alguma coisa sobre isso. Acorde-
me no momento em que chegar.
Merlin fitou-o atentamente.
��� Eu o conhe��o bem. E sei que alguma coisa o est�� incomo-
dando.
��� N��o tem nada a ver com a experi��ncia m��dica de Sofia. �� a
sua frieza. Alguma coisa al��m da profiss��o. Ela tem antenas. Est��
sempre alerta. Tenho certeza de que �� algo mais.
Merlin acompanhou-o at�� a escada.
��� Pode deixar que o avisarei assim que o relat��rio chegar.
O telefone de Judd despertou-o menos de duas horas depois.
��� Posso subir? ��� perguntou Merlin.
��� Estou acordado.
Judd levantou-se e foi para a sala da su��te, no momento em que
Merlin chegava. Judd pegou o relat��rio.
��� Todos os dados m��dicos conferem ��� disse Merlin. ��� S�� as
��ltimas linhas �� que s��o interessantes.
Judd leu rapidamente: "Fontes da CIA informam rumores n��o
confirmados, repito, n��o confirmados, que a pessoa em refer��ncia foi
recrutada pelo KGB, por ordem de Andropov. Consultaremos outras
fontes para mais informa����es."
��� Se isso �� verdade, o que ela quer de n��s? ��� indagou Merlin.
Judd sacudiu a cabe��a.
��� N��o �� em n��s que eles est��o interessados, mas em Zabiski.
��� N��o estou entendendo.
��� Zabiski �� muito esperta. N��o vai revelar como ou o que faz.
Nem mesmo os russos sabem. Foi por isso que ela jogou Sofia para
cima de mim. Vai confundir tudo por algum tempo.
��� S�� n��o sei de que isso nos adiantar��.
Judd sorriu.
��� Entraremos no jogo, como se estiv��ssemos inocentes.
Tenho o pressentimento de que Zabiski vai nos passar a bola quando
estiver preparada para isso.
��� Acredita realmente nessa possibilidade?
��� Claro. Fitei a velha nos olhos, toquei-lhe a m��o. Pude senti-
la. Est��vamos unidos.
45
6
��� Q U A A L U D E S E INTERFERON ��� disse Judd. ��� N��o estou
entendendo. Parece uma combina����o absurda.
��� N��o �� t��o absurdo quanto parece ��� respondeu Li Chaun,
inclinando-se sobre o encosto do banco da limusine. ��� E o
resultado �� um ��timo lucro.
Li Chaun era um chin��s nascido nos Estados Unidos, o gerente
de vendas para a ��sia das ind��strias farmac��uticas de Crane, baseado
em Hong Kong. Ele explicou:
��� Por volta de 1980, a produ����o de Quaaludes estar�� proibida
em quase todo o mundo ocidental. A Europa e a Am��rica Latina j��
suspenderam a produ����o. A press��o nos Estados Unidos vem
aumentando e Lemon j�� faz planos para tamb��m suspender a
produ����o. A maior parte das drogas j�� �� falsificada e de p��ssima
qualidade, vendida por traficantes.
��� Por que ent��o os chineses est��o querendo?
��� Os chineses parecem reagir mais aos antidepressivos do que
os americanos e a maioria dos caucasianos. A droga �� mais eficaz
neles porque t��m um metabolismo lento e por isso n��o ficam altos.
Assim, para os chineses, trata-se de uma pr��tica m��dica leg��tima. Li
Chaun fez uma breve pausa, antes de acrescentar: ��� O governo
chin��s est�� convencido de que �� melhor seu povo tomar Quaaludes
do que fumar ��pio. A verdade �� que ��pio e trabalho s��o duas coisas
que n��o combinam.
��� Eles conhecem a atitude do resto do mundo ��� disse Judd.
Li Chaun assentiu.
46
��� Em suma, a coisa �� simples: eles querem que n��s atuemos
como seus traficantes em torno do mundo.
��� Isso mesmo. Mas dar��o uma retribui����o de primeira. Talvez
200 por cento do suprimento mundial total de Interferon. E a Crane
seria a distribuidora exclusiva.
��� Mas que merda! ��� Judd olhou pela janela. ��� Estamos
fodidos se aceitarmos e fodidos se n��o aceitarmos.
��� Se bem conhe��o nossos amigos, eles v��o remeter os
Quaaludes de qualquer maneira, com ou sem a nossa participa����o ���
comentou Li Chaun. ��� Sempre farejam onde h�� dinheiro.
Judd tomou a decis��o, dizendo calmamente:
��� Eles que se fodam. Eu passo. ��� Ele olhou da limusine para
o avi��o esperando na pista. ��� Gostaria de saber se Sofia j�� acordou.
Merlin sorriu.
��� Ela deve estar acordada, se n��o lhe deu coisa nenhuma para
dormir.
��� Eu n��o faria uma coisa dessas. ��� Judd sorriu e virou-se para
Li Chaun. ��� Sofia �� a m��dica iugoslava de quem lhe falei.
Li Chaun acenou com a cabe��a gentilmente, embora sua
express��o se tivesse contra��do ao ouvir a decis��o de Judd sobre os
Quaaludes.
��� Tenho a impress��o de que ela se mostrar�� muito interes-
sante.
Sofia acordou lentamente, na escurid��o de seu camarote. Levou um
momento para perceber que o avi��o estava em terra, que a for��a dos
motores a jato n��o fazia sua cama vibrar gentilmente. Virou-se para
olhar o rel��gio digital a seu lado. O mostrador azulado indicava 0310.
Ela sentou-se na cama, surpresa por ter dormido durante o
pouso do avi��o. Levantou uma cortina e a claridade dos refletores em
torno do avi��o penetrou no camarote. Tornou a fechar a cortina e foi
para o pequeno banheiro. Havia um boxe de chuveiro no canto. Ela
entrou e fechou a porta de plexiglass, abriu o chuveiro. A ��gua estava quente e sedativa. Sofia deixou que escorresse pelos ombros e seios.
Um pequeno bot��o na parede tinha a indica����o de sabonete. Ela
apertou-o; o sabonete espumou, misturando-se com a ��gua. Depois
de ensaboar-se rapidamente, Sofia apontou o esguicho de ��gua pelos
quadris. Gozou quase que no mesmo instante. Prendeu a respira����o,
47
com receio de que algum som escapasse dos l��bios. Finalmente,
fechou o chuveiro, enrolou-se numa toalha e voltou ao quarto.
Uma aeromo��a arrumava sua cama, de costas para ela. Houve
um estalido na porta do banheiro e a mo��a virou-se.
��� Sou Ginny. Acabei de lhe trazer suco de laranja e caf��.
Sofia olhou para a bandeja na mesinha-de-cabeceira.
��� Obrigada. ��� Ela hesitou por um instante. ��� Estamos em
Pequim?
��� Estamos, doutora.
��� O Sr. Crane est�� a bordo?
��� N��o, doutora. Est�� sendo esperado de volta ��s quatro
horas.
��� Ser�� que terei tempo para dar uma olhada pela cidade?
Nunca estive em Pequim.
A aeromo��a riu.
��� �� um dos problemas desse trabalho. J�� fui a muitos lugares
em que nunca estive. Deveremos partir para Hong Kong assim que o
Sr. Crane voltar.
��� O Sr. Crane n��o tinha me falado a respeito.
��� Ele deixou o recado comigo. Pediu-lhe que sa��sse para fazer
compras comigo. Deve me dar o seu manequim e n��mero de sapatos,
a fim de enviarmos a Hong Kong. O Sr. Crane quer que providencie
um guarda-roupa completo antes de seguirmos para San Francisco,
amanh��.
Sofia ficou irritada.
��� J�� tenho roupas suficientes.
Ginny sorriu.
��� O Sr. Crane tem suas pr��prias id��ias. Diz que voc�� possui
um corpo de Paris e por isso deve ter um guarda-roupa de Paris.
��� Ele �� assim com todo mundo?
��� Somente com as pessoas de quem gosta.
Sofia ficou em sil��ncio por um momento.
��� N��o sei qual �� o meu manequim na medida ocidental.
Ginny estendeu a m��o.
��� D��-me a toalha. Tenho um bom olho e poderei determinar.
Sem dizer nada, Sofia estendeu a toalha. Ginny contemplou-a
com um ar critico e depois disse, em tom suave:
��� Altura l,70m, busto 37, cintura 25, quadris 36. Sapatos em
torno de sete.
48
��� Voc�� parece experiente ��� comentou Sofia.
��� Gosto de roupas. E de corpos bonitos.
Sofia observou a mo��a atentamente, mas n��o definiu qualquer
express��o em seu rosto. Tornou a pegar a toalha, sentindo-se
embara��ada.
��� Obrigada.
Ginny encaminhou-se para a porta do camarote.
��� Estarei no sal��o. Se precisar de alguma coisa, aperte o bot��o
na mesinha.
Sofia pensou por um instante.
��� Pode me avisar no momento em que o Sr. Crane voltar ao
avi��o?
��� Claro, doutora.
��� Obrigada.
Sofia observou a porta se fechar por tr��s da aeromo��a, depois
sentou-se na cama, pegou o copo de suco de laranja e levou-o aos
l��bios.
��� O Sr. Crane est�� a bordo ��� informou a aeromo��a, pelo
interfone.
��� Posso falar com ele?
��� Aperte o n��mero 11 no aparelho ��� disse Ginny. ��� Ele est��
no sal��o l�� em cima.
Sofia apertou o bot��o. Judd atendeu.
��� Eu gostaria de lhe falar ��� disse ela. ��� Est�� sozinho?
��� Estou, sim. Pode subir.
Fast Eddie abriu a porta quando ela chegou ao sal��o. Judd
tomava uma Coca-Cola.
��� Dormiu bem?
��� Muito bem ��� respondeu Sofia, em tom irritado. ��� Por que
continua a me tratar como uma puta?
��� N��o sei do que est�� falando.
��� N��o preciso de nenhum guarda-roupa. Minhas roupas s��o
bastante boas.
��� Talvez para o leste da Europa, mas n��o para onde vai. E
n��o quando estiver comigo. Tem de ser a melhor.
Sofia fitou-o nos olhos.
��� Sou uma m��dica e n��o uma modelo.
49
��� Pois ent��o volte �� Iugosl��via. Se n��o quer parecer a linda
mulher que ��, n��o preciso de voc��. Tenho certeza de que h�� outros
m��dicos que podem fazer o que a Dra. Zabiski quer.
Sofia permaneceu em sil��ncio. Judd pegou um pequeno frasco e
uma colher de ouro.
��� Cheire um pouco. Vai se sentir melhor.
Ela riu subitamente.
��� Quem est�� bancando o m��dico agora?
��� Voc�� �� a m��dica ��� disse Judd, levando a colher de ouro ��
narina de Sofia. ��� Mas perdoe-me se a vejo apenas como uma linda
mulher.
A coca��na prontamente animou-a.
��� J�� esqueci uma por����o de coisas.
��� Podemos agora tratar de neg��cios. Tenho as fichas m��dicas
que pediu.
Ele virou-se e pegou uma pasta em cima da mesa. Sofia olhou:
HIST��RIA M��DICA DE JUDD MARION CRANE. Dentro da
pasta, havia sete folhas impressas de computador.
NASCIDO: 25 DE J U N H O DE 1934 NOVA YORK ��� NOVA YORK
D O C T O R S HOSPITAL 5:01 DA MANH��
GENEALOGIA:
PAI ��� SAMUEL TAYLOR CRANE, MORTO A 18 DE FEVEREIRO DE 1962
50
7
B A R B A R A OLHOU atrav��s da janela para o tapete branco de neve
que cobria o Central Park.
��� Seu pai dizia que esta era a vista mais linda de Nova
York, a neve pelo Central Park, com os contornos cinzas e de
vidro dos pr��dios por tr��s.
Judd estava ao lado dela.
��� Meu pai era um homem estranho.
��� Apenas para voc��. E apenas porque era seu pai. Todos os
filhos acham que seus pais s��o estranhos.
��� Voc�� o amava ��� murmurou Judd, menos uma pergunta e
mais uma afirmativa.
��� Amava mesmo.
A resposta foi simples.
��� Por que esperaram tanto tempo para casarem?
A resposta foi igualmente simples:
��� Ele nunca me pediu antes.
��� Mas continuou com ele assim mesmo?
��� Est�� querendo saber se dorm��amos juntos? ��� Barbara se
encarregou de responder. ��� N��o.
Judd observou-a atentamente.
��� Estranho. Sempre pensei que dormissem juntos.
��� Todo mundo pensava. Mas seu pai tinha id��ias muito
pessoais. Nunca misturava neg��cios com emo����es pessoais.
��� Ele era um tolo.
��� �� poss��vel. Mas est�� tudo acabado agora. De certa forma,
n��o tem mais import��ncia.
5 1
Judd ficou em sil��ncio por um momento.
��� Como est�� se sentido? ��� disse, por fim.
��� Estou bem. Mas um pouco atordoada, agora que aconteceu.
��� Ser�� um verdadeiro circo. Todo mundo estar�� presente.
Com exce����o de Kennedy. O presidente jamais gostou de papai.
Talvez n��o gostasse de pensar que papai tinha mais dinheiro do que o
seu pr��prio pai. Mas ele mandar�� o Vice-Presidente Johnson ao
funeral. Johnson gostava de papai. Sempre gostou de pessoas com
dinheiro e poder.
Barbara sorriu d��bilmente.
��� Seu pai n��o se importava com essas coisas antes e tenho
certeza de que n��o se importa agora.
Judd assentiu.
��� De certa forma, �� sobre isso que desejo lhe falar. Sei que o
corpo deve ser enviado para um cremat��rio depois dos servi��os em
St. Thomas.
��� Era o desejo de seu pai. Jamais gostou da id��ia de ser
enterrado num cemit��rio.
��� Tenho outra id��ia, Barbara. N��o quero que o corpo seja
cremado. Prefiro que seja mandado para o hospital de pesquisa em
Boca Raton.
��� De que adiantaria, Judd? J�� devem ter preparado o corpo
na ag��ncia funer��ria.
��� N��o, n��o prepararam. Menos de cinco minutos depois que
ele morreu, providenciei para que o corpo fosse congelado criog��ni-
camente.
��� Sei que voc�� n��o acredita nessas besteiras. Acha mesmo que
ele poderia ser ressuscitado daqui a um ano, quando se descobrir a
cura para a doen��a?
��� N��o �� isso que estou querendo. ��� Judd respirou fundo. ���
J�� temos a tecnologia que nos permite examinar as c��lulas em seu
corpo geneticamente e, com a metodologia DNA, descobrir as causas
da doen��a.
��� Parece meio macabro.
��� Mas n��o ��.
��� N��o sei... Os desejos de seu pai foram expressos.
��� Os desejos dele n��o s��o mais compuls��rios. Morto, ele n��o
possui mais o pr��prio corpo. Agora �� propriedade sua e voc�� pode
fazer o que quiser. Essa �� a lei.
5 2
Barbara virou o rosto para fit��-lo.
��� �� por isso que est�� me pedindo?
Judd assentiu.
��� Como esposa, o direito legal �� seu e n��o meu.
��� Que direito voc�� tem?
��� Nenhum. A n��o ser que voc�� tivesse morrido antes e eu
fosse o parente sobrevivente mais pr��ximo.
Barbara sentou, em sil��ncio por um momento.
��� Acho que preciso de um drinque.
Judd atravessou a sala e encheu dois copos com scotch e gelo.
Beberam sem dizer nada. Depois de um momento, Barbara fitou
Judd e indagou:
��� Acha que pode adiantar alguma coisa?
��� N��o sei. Mas estamos tentando descobrir mais coisas sobre
como prolongar a vida. Foi por isso que constru�� o centro de pesquisa
em Boca Raton. Se tiv��ssemos come��ado anos antes, talvez pud��sse-
mos prolongar a vida de papai.
��� E voc��, Judd... o que voc�� quer?
��� Quero viver eternamente.
Barbara terminou de tomar o u��sque.
��� Est�� bem, eu concordo.
Judd tirou um documento dobrado do bolso do palet��.
��� Ter�� de assinar isto.
Ela olhou para o papel.
��� J�� sabia que eu concordaria, n��o �� mesmo?
��� J��, sim.
��� E como soube?
��� Porque todos n��s o am��vamos ��� respondeu Judd, beijan-
do-a no rosto.
Ela levantou o rosto para contempl��-lo.
��� Voc�� �� muito parecido com seu pai, mas tamb��m �� muito
diferente. N��o possui os desejos aquisitivos que ele tinha. Seu pai
queria ter todos os neg��cios que pudesse. Voc�� se contenta em
manter as coisas.
��� Papai fez tudo. N��o havia mais nada na ��rea que eu pudesse
fazer. Ele construiu uma m��quina que funciona sozinha. Mesmo que
todos desaparec��ssemos, os neg��cios continuariam. De certa forma,
�� uma esp��cie de m��quina de movimento perp��tuo.
53
��� Foi por isso que tomou aquela iniciativa h�� tr��s anos? Como
uma esp��cie de experi��ncia? ��� Judd assentiu e Barbara acrescentou:
��� Seu pai ficou transtornado a princ��pio. Mas acho que, depois,
come��ou a compreender.
��� Espero que sim. Lembro nitidamente do dia em que ele me
entregou o escrit��rio. Foi na semana em que me formei no MIT e a
primeira vez em que lhe disse que abriria o centro de pesquisas em
Boca Raton.
��� Ele n��o podia perceber o sentido. N��o daria qualquer lucro.
��� E ele estava certo. Mas n��o me impediu.
��� Seu pai manteve a palavra. Disse que o neg��cio seria seu e
estava falando s��rio.
Ele foi a p�� para o escrit��rio naquele dia de junho. O pai estava �� sua
mesa de trabalho. Por um momento, Judd ficou chocado ao constatar
como o pai estava magro. Mas depois fitou os olhos e o brilho ainda
estava l��. Beijou o pai e depois Barbara, apertou a m��o do Juiz Gitlin
e dos tr��s advogados e contadores sentados no outro lado da mesa,
por tr��s de uma pilha de documentos.
Uma tela fora instalada na parede do outro lado. A primeira
imagem projetada foi a de um mapa da corpora����o, indicando as
companhias Crane e suas liga����es. Por baixo de cada companhia
estava o nome do diretor-executivo e seu primeiro assistente.
Havia duas cadeiras �� cabeceira da mesa de reuni��o. O pai
levantou-se de tr��s da mesa e, com a ajuda de uma bengala,
encaminhou-se para uma das cadeiras. Gesticulou para que Judd
ocupasse a outra. Barbara sentou-se na cadeira �� esquerda do velho,
enquanto o Juiz Gitlin se instalava �� direita de Judd.
Houve sil��ncio em torno da mesa. Todos olhavam solenemente
para o pai, que respirou fundo e disse:
��� O rei n��o est�� morto, apenas abdicou.
A sala continuou em sil��ncio.
��� Todos sabiam o que eu planejava. Talvez pensassem que eu
n��o tencionava realmente executar o plano. Mas sabem agora que
era s��rio.
As pessoas �� mesa de reuni��o n��o disseram nada.
��� Judd tamb��m cumpriu sua palavra para mim. Terminou o
��ltimo ano em Harvard, concluiu os estudos de p��s-gradua����o no
5 4
MIT. Nos intervalos entre os estudos, viajou e visitou todas as
companhias e f��bricas que possu��amos ao redor do mundo.
Ele fez uma pausa, tomando um gole da ��gua no copo �� sua
frente.
��� A transfer��ncia de poder �� sempre dif��cil. Nas companhias
tanto quanto nos governos. A ambi����o de meu pai era formar o
conglomerado mais eficaz e diversificado do mundo, estendendo-se
por todos os n��veis da economia americana. Essa era a ambi����o de
meu pai. Mas n��o era a minha. Tive como ambi����o expandir os
neg��cios para uma corpora����o multinacional que se estendesse por
todo o mundo. Com o poder e riqueza de que disp��e, influencia
governos no mundo inteiro... e se tornou a primeira na lista das 500
de Fortune. Mas minha vis��o n��o �� necessariamente a de meu filho.
Ele ter�� a sua pr��pria ambi����o. E toda a sabedoria que posso legar se
resume em poucas palavras.
Ele tomou outro gole de ��gua.
��� O poder �� ao mesmo tempo um mal e um bem. Sempre tive
consci��ncia disso. Pessoalmente, gosto de pensar que inclinei a
balan��a na dire����o do bem. Mas reconhe��o que o mal algumas vezes
se manifestou. Espero por��m que, ao final, o bem tenha prevalecido.
Outra pausa, mais um gole de ��gua.
��� N��o vou aborrec��-los com todos os detalhes t��cnicos
envolvidos na transfer��ncia de poder. As funda����es, todas as
provid��ncias necess��rias por causa das leis que protegem a heran��a,
tudo j�� foi resolvido. Mas, ao final, o resultado ser�� o mesmo. Meu
filho ter�� a responsabilidade, o poder e a riqueza que j�� foram meus e
pertenceram a meu pai antes de mim. ��� Ele virou-se para o Juiz
Gitlin e acrescentou: ��� Agora �� tudo com voc��, Paul.
O Juiz Gitlin levantou-se.
��� Simplifiquei tudo ao m��ximo poss��vel, mas ainda h�� 20
documentos para serem assinados, em seis vias. Voc��, Barbara e
Judd devem assin��-los e depois ser��o devidamente registrados. Pode
levar v��rias horas. Acha que pode ag��entar, Samuel?
��� Claro. Vamos come��ar logo.
Judd interveio nesse momento:
��� Pai, talvez seja melhor voc�� escutar o que tenho a propor.
O pai virou-se para ele.
��� Prefiro n��o escutar. Eu disse que era tudo seu. Fa��a o que
achar melhor.
55
��� Est�� bem, pai. ��� Judd olhou para o Juiz Gitlin. ��� Estou
pronto.
O advogado come��ou a entregar-lhes os documentos. O
processo de assinatura demorou quase tr��s horas. O velho estava
muito p��lido e cansado ao final.
Ele olhou para Judd quando o ��ltimo documento foi assinado.
Judd se manteve em sil��ncio. O pai inclinou-se e beijou-o no rosto.
��� Que Deus esteja com voc��, filho.
Barbara contornou a mesa e beijou Judd na outra face. O Juiz
Gitlin e os outros desataram num coro de congratula����es. Judd n��o
disse nada at�� que todos se calaram. Levantou-se ent��o e falou:
��� Muitos de voc��s n��o gostar��o do que planejo fazer. Mas,
como disse meu pai, posso fazer agora o que achar melhor. Tenciono
aposentar todos os atuais diretores-executivos de nossas companhias
e substitu��-los pelo sucessor imediato. E fa��o isso porque quero que
todos sejam leais somente a mim e a mais ningu��m.
O Juiz Gitlin balan��ou a cabe��a.
��� �� uma boa id��ia, Judd.
Judd fitou-o com um sorriso.
��� Fico contente que aprove, Tio Paul, porque o seu �� o
primeiro nome na lista.
5 6
8
��� UM MILH��O DE D��LARES por ano ��� disse Judd.
��� Para qu��? ��� perguntou Barbara. ��� N��o preciso. Seu pai
providenciou tudo com o fundo de investimentos que fez para
mim. Sou uma mulher rica. E ainda tenho o apartamento aqui e
casas em Connecticut e Palm Beach.
��� Tudo isso �� ninharia. Sua vida mudar��, agora que �� vi��va.
Tinha uma vida social concentrada em torno de papai. As pessoas
n��o valem nada. V��o desaparecer no momento em que descobrirem
que n��o pode fazer mais nada por elas.
��� N��o preciso de ningu��m. Estou acostumada a viver sozinha.
Judd fitou-a nos olhos.
��� Voc�� tinha 19 anos quando foi trabalhar na Crane Indus-
tries, 23 quando se tornou assistente pessoal de papai. A partir desse
instante, ingressou em outro mundo. O dele. E isso aconteceu muito
antes de casarem.
��� Continuei a voltar para casa depois do trabalho.
��� N��o �� disso que estou falando. Voc�� se encontrava perto do
centro de a����o. Agora... n��o tem mais nada.
Barbara ficou em sil��ncio por um momento.
��� O que sugere que eu fa��a?
��� Que desenvolva uma vida para voc��.
Ela olhou para os olhos de um azul-cobalto.
��� N��o sei como. ��� Barbara baixou os olhos para as pr��prias
m��os. ��� Desde o come��o que orientei minha vida de acordo com as
conveni��ncias de seu pai. Quando casamos, pensei que essa situa����o
mudaria. Mas n��o foi o que aconteceu. A ��nica mudan��a foi para a
57
casa dele, com outro t��tulo. Tomei-me a esposa, n��o apenas a sua
assistente. Mas os deveres continuaram os mesmos.
��� Mas voc�� o amava?
��� Claro. E creio que ele me amava tamb��m. Mas nada mais
era poss��vel. Seu pai se achava doente e estava tudo acabado. N��o
houve sexo, filhos ou momentos de prazer. Somente planos para um
futuro que n��o inclu��a a n��s dois, porque ele ia morrer.
Sentado no outro lado do sof��, Judd disse:
��� Voc�� ainda �� jovem. H�� muita felicidade que pode encon-
trar.
��� Estou com 48 anos ��� murmurou Barbara, amargamente. ���
Olhe para mim. O ��nico atrativo que posso oferecer �� o meu
dinheiro. Seria a ��ltima numa competi����o com mulheres mais jovens.
��� Est�� enganada, Barbara. Fisicamente, seu rosto e corpo
ainda s��o ��timos. Em dois minutos, podemos fazer o rel��gio voltar 15
anos, deixando-a como se estivesse com 30 anos.
Barbara riu.
��� Cirurgia cosm��tica?
��� N��o descarte a possibilidade. As t��cnicas atuais s��o incr��-
veis.
��� Vamos supor que eu fizesse. De que me adiantaria? Nada
conhe��o da vida. Acho que s�� fiz sexo uma vez na vida. Era
estudante e foi no banco traseiro de um carro. Detestei.
��� Isso tamb��m pode ser corrigido.
Ela sacudiu a cabe��a.
��� Judd, Judd... Voc�� n��o compreende realmente, n��o ��?
��� Talvez seja voc�� quem n��o compreende.
��� Est�� falando como seu pai. Era isso que ele costumava
dizer.
Judd sorriu.
��� Lembra-se quando eu tinha 12 anos e ca�� do salgueiro no
gramado de minha casa em Connecticut?
Barbara assentiu.
��� Claro. E tamb��m lembro que seu pai ficou furioso, pois
voc�� jamais explicou por que subiu no salgueiro, sabendo que os
galhos eram muito fracos.
��� Eu n��o podia contar a ele.
��� Por que n��o?
��� Subia naquela ��rvore para poder olhar pela janela do seu
58
quarto e v��-la nua. E no instante em que a via, come��ava a me
masturbar.
��� N��o acredito.
��� �� a pura verdade. E uma vez tive um orgasmo e tirei as
m��os do galho. Foi quando ca��.
Barbara come��ou a rir.
��� Ah, as crian��as...
��� Nunca mais esqueci. Ainda posso v��-la na minha imagina-
����o. Mesmo agora, em algumas ocasi��es, naquele instante entre a
vig��lia e o sono, eu me descubro pensando em voc��.
��� Nunca vi, isso jamais me passou pela cabe��a.
��� O que foi uma pena. Eu costumava pensar que seria ainda
mais excitante se voc�� pudesse me ver.
Barbara se manteve em sil��ncio. Judd acrescentou:
��� Pensar nisso, mesmo agora, me deixa com tes��o.
Barbara levantou-se.
��� Foi um dia longo e dif��cil, Judd. Acho melhor dormirmos
agora. O avi��o partir�� bem cedo.
Ele segurou-a pelo bra��o, murmurando:
��� Freud.
��� O que h�� com Freud?
��� Ele disse que as frustra����es acarretam a insanidade.
��� Est�� inventando. Nunca ouvi falar disso.
��� Quero que voc�� fique sentada e me observe.
��� N��o, Judd. Isso �� uma insanidade total. Voc�� n��o �� mais o
menino daquele tempo �� eu n��o sou a mocinha que voc�� via.
Judd sacudiu a cabe��a.
��� Voc�� n��o entende. Nada mudou. N��s dois ainda somos os
mesmos de antes.
��� Na sua imagina����o.
��� E o que mais existe? S�� o que est�� em nossa mente. E voc��
ainda �� linda.
Judd baixou o z��per da cal��a e segurou o p��nis. A voz soava
rouca quando disse:
��� N��o precisa fazer nada. Basta me observar.
J�� sentada no sof��, ela sentiu os dedos de Judd lhe apertando o
bra��o, enquanto o falo crescia na outra m��o. Sentiu a garganta se
contrair, quase n��o podia respirar. Viu a glande avermelhada se
projetar acima do prep��cio, enquanto a m��o de Judd se movia
5 9
rapidamente. Um momento depois, um grunhido emergiu da gargan-
ta de Judd e o s��men esguichou, derramando-se sobre a m��o e a
cal��a.
Barbara levantou a cabe��a para fit��-lo no rosto. Os olhos de
Judd n��o estavam mais enevoados, recuperavam a sua tonalidade
azul-cobalto habitual. Ele contemplou-a em sil��ncio por um instante
e depois sorriu, murmurando:
��� Quinze anos... ��� Barbara n��o disse nada e ele acrescentou:
��� Pegue uma caixa de len��os de papel. Estou todo molhado.
Em sil��ncio, ela foi buscar a caixa atr��s do bar.
��� Limpe-me ��� disse Judd.
Sem falar ainda, Barbara pegou diversos len��os de papel e
enxugou-o. Judd disse:
��� Voc�� �� linda.
��� Eu me sinto est��pida.
��� Nada tem de est��pida. Est�� livre agora. E eu tamb��m.
Ela levou a caixa de volta ao bar. Preparou dois copos de scotch
com gelo, foi entregar um a Judd. Tomou um gole do seu pr��prio
u��sque, antes de perguntar:
��� A tal cirurgia cosm��tica... vai funcionar como voc�� disse?
��� Claro que vai. Melhor ainda do que eu falei.
Barbara respirou fundo.
��� Est�� certo. O que devo fazer.
��� J�� est�� tudo providenciado. O avi��o para lev��-la a Boca
Raton e o m��dico est��o �� sua espera.
A voz do piloto ressoou pelo avi��o:
��� Aqui �� o comandante. Em primeiro lugar, quero agradecer-
lhes por voarem pela Pan American e espero que tenham achado
confort��vel o v��o de Londres a San Francisco. Dever��o estar em
terra dentro de aproximadamente 12 minutos. Neste momento,
podem ver �� esquerda a Ponte Golden Gate e �� direita a Ponte da
Ba��a de Oakland. Mais uma vez, obrigado por voarem pela Pan Am.
Barbara olhou pela janela por um momento, depois abriu o
estojo de maquilagem. Ainda sentia surpresa ao se contemplar no
espelho. Fazia dois anos que Judd a levara a Boca Raton para a
cirurgia pl��stica. O rosto no espelho parecia o de uma mulher de
trinta e poucos anos. E Judd tamb��m acertara ao insistir que ela
passasse os anos seguintes na Europa. Pela primeira vez na vida, ela
6 0
sentira-se uma mulher de verdade. Ajeitou rapidamente a maquila-
gem, pensando em Judd. Quanto ele teria mudado em dois anos?
Lera muitos artigos em jornais e revistas sobre a Crane
Industries, mas nunca encontrara em nenhuma uma fotografia de
Judd. Havia retratos do pai e de muitos executivos novos, nenhum
dos quais ela conhecia. Mas o nome de Judd era apenas mencionado,
jamais havendo uma fotografia. O telegrama a alcan��ara no Dorches-
ter Hotel, em Londres:
Adoraria se voc�� pudesse cortar a fita para inaugurar a nova
sede mundial da Crane Industries, em Crane City, nos arredo-
res de San Francisco, a 14 de setembro de 64. Ansioso em v��-la.
Amor, Judd
A primeira pessoa que ela reconheceu, ao sair do avi��o para o
passadi��o coberto, foi Fast Eddie. Ao seu lado estava um rapaz
esguio, de terno e gravata escuros, e um inspetor alfandeg��rio. Fast
Eddie se adiantara prontamente, estendendo um buqu�� grande de
rosas vermelhas.
��� Estou feliz em vela, Sr��. Crane.
��� Tamb��m me sinto feliz em v��-lo, Fast Eddie.
Barbara sorriu e abriu o envelope que acompanhava as flores.
O cart��o fora escrito pessoalmente por Judd: "Seja bem-vinda de
volta ao lar, Barbara. Amor, Judd."
Ela ajeitou as rosas nos bra��os. Fast Eddie apresentou-a ao
rapaz.
��� Este �� Marcus Merlin, o assistente pessoal de Judd.
��� Muito prazer, Sra. Crane.
Barbara apertou-lhe a m��o.
��� O prazer �� meu, Sr. Merlin.
��� J�� providenciamos toda a cortesia do aeroporto, Sra.Crane
��� disse Merlin. ��� Se me der seu passaporte e os tal��es da bagagem,
cuidarei para que tudo seja transferido diretamente para o helic��p-
tero.
Barbara atendeu. Merlin levou-a para uma entrada lateral e
desceram uma escada para a pista, onde uma limusine aguardava. O
inspetor alfandeg��rio ficou com o passaporte e os tal��es de bagagem,
61
afastando-se rapidamente. Um motorista abriu a porta do carro e
Barbara embarcou. Fast Eddie abriu uma garrafa de champanha,
encheu um copo e estendeu-lhe.
��� A sua marca predileta ��� disse ele. ��� Cristale.
��� Obrigada por se lembrar.
��� Foi o Sr. Crane quem lembrou. ��� Fast Eddie sorriu. ���
Est�� com uma ��tima apar��ncia, Sra. Crane.
Ela retribuiu o sorriso.
��� E me sinto muito bem, Fast Eddie. ��� Barbara tomou um
gole de champanha. ��� Como est�� Judd?
��� Ele est�� sempre bem, madame. Mas �� como o pai,
invariavelmente muito ocupado.
Merlin aproximou-se da porta aberta do carro.
��� Seis malas Louis Vuitton?
��� Isso mesmo.
Ele acenou para o inspetor da alf��ndega. O motorista e Fast
Eddie guardaram a bagagem na mala da limusine. Fast Eddie foi
depois sentar-se na frente, ao lado do motorista. Merlin olhou para
Barbara.
��� Posso acompanh��-la, Sra. Crane?
��� Claro.
O carro come��ou a andar.
��� O helic��ptero est�� no outro lado do aeroporto ��� disse
Merlin. ��� Acho que vai gostar. �� o nosso modelo de passageiros
mais novo. Transporta 24 passageiros e mais a tripula����o. O mais
novo modelo da Hughes leva apenas 14 pessoas. ��� Barbara limitou-
se a acenar com a cabe��a e Merlin acrescentou: ��� O v��o levar��
apenas 25 minutos. �� menos tempo do que se gasta para ir de carro
ao centro de San Francisco.
��� Pelo que ouvi dizer, Judd construiu uma cidade inteira ���
comentou Barbara.
��� �� verdade, Sra. Crane ��� confirmou Merlin. ��� S��o 600
apartamentos, 100 casas e 12 pr��dios de escrit��rios. E tamb��m, ��
claro, h�� escolas, centros comerciais e um hospital.
Barbara virou-se para fit��-lo.
��� Mas por que aqui? A sede da companhia sempre foi em
Nova York.
��� �� verdade ��� respondeu Merlin. ��� Mas deve estar lembra-
da de que, h�� 10 anos, 60 por cento da produ����o industrial se
62
localizavam no Leste e Sul. Agora, 45 por cento est��o no Oeste e
apenas 15 por cento no Leste e Sul. Os computadores crescem como
erva daninha em Silicon Valley. Produzimos mais vinho no norte da
Calif��rnia do que na It��lia e Fran��a. Toda a ind��stria aeroespacial se
encontra espalhada pelos estados de Washington, Calif��rnia, Nevada
e Colorado. E as proje����es indicam que o crescimento nos pr��ximos
10 anos ser�� de 500 por cento.
��� Mas por que uma cidade inteira?
��� Foi uma id��ia que o Sr. Crane copiou dos japoneses. Ele
constatou que todas as grandes empresas japonesas, como a Mitsubi-
shi, Nissan, Asahi, National, Panasonic e Sony, unem a produ����o ao
trabalho, garantindo seguran��a pela vida inteira, desde o ber��o.
��� Tenho minhas d��vidas se os americanos tamb��m se sentir��o
assim.
��� �� o que veremos. Mas, como o Sr. Crane diz, �� apenas uma
experi��ncia.
O carro parou. Merlin saltou e estendeu a m��o para Barbara. A
outra m��o gesticulou para o helic��ptero.
��� A�� est��. O Sr. Crane disse que o primeiro devia homenage��-
la.
Barbara ficou im��vel por um momento. As l��grimas afloraram
�� vis��o do helic��ptero prateado. As letras no flanco eram firmes.
BARBARA UM.
6 3
9
��� P A R E C E UM campus universit��rio ��� comentou Barbara. ��� E
todos parecem crian��as. Creio que ningu��m tem mais de 30 anos.
Judd sorriu.
��� Eu sou a exce����o.
Ela riu.
��� Desculpe. ��� Barbara pegou o cart��o de pl��stico que servia
como chave de sua su��te. ��� Entre para tomar um ��ltimo drinque.
Judd aceitou com um aceno de cabe��a. Ela abriu a porta e os
dois entraram. A porta fechou-se automaticamente. Barbara condu-
ziu-o ao bar na sala.
��� Scotch com gelo?
��� N��o, obrigado. Prefiro tomar uma Coca.
Barbara fitou-o com uma express��o surpresa.
��� Isso �� novidade.
��� ��lcool n��o me faz bem.
��� E Coca-Cola faz, com toda cafe��na e a����car?
��� E algo mais.
Ela fitou-o, �� espera. Judd explicou:
��� Coca��na.
��� N��o �� perigoso?
��� Viver �� perigoso para a sa��de. Mas a combina����o me
mant��m alerta.
��� Tenho minhas d��vidas. E �� algo que nunca experimentei.
��� N��o recomendo a ningu��m. Mas funciona para mim.
Conferi com meu m��dico e ele diz que n��o �� pior do que abusar de
��lcool. A id��ia �� usar com extremo cuidado.
64
��� Como sabe se est�� exagerando?
Judd riu.
��� O nariz cai.
Barbara fez uma careta.
��� Parece horr��vel.
Judd tornou a rir.
��� Est�� bem, est�� bem. Tomarei um scotch.
Ela p��s os cubos de gelo nos copos, derramou um pouco de
u��sque por cima. Judd pegou seu copo.
��� A n��s ��� disse Barbara.
��� A n��s.
��� J�� tomou outras drogas, Judd?
��� Claro. Voc�� precisa compreender. Esta �� a era dos t��xicos e
produtos qu��micos. Assim como a era de meu pai foi a cerveja e
outras bebidas alco��licas.
��� E vem fazendo isso h�� muito tempo?
��� Desde o curso preparat��rio e a universidade.
��� Estranho... Nunca soubemos de nada.
��� Eu n��o passava muito tempo em casa.
Judd atravessou a sala at�� uma poltrona e sentou-se.
��� Fale-me a seu respeito, Barbara. J�� se passaram dois anos.
��� E foram dois anos diferentes. ��� Ela sentou-se em frente a
Judd. ��� Eu estou diferente.
��� D�� para ver.
��� E gosta do que v��?
Ele assentiu.
��� Gosto, sim. Sinto agora que se tornou voc�� mesma. Antes,
era um sat��lite girando em torno de papai.
��� Eu n��o me importava, pois o amava.
��� Sei disso. ��� Judd tomou um gole de u��sque. Os olhos azuis-
escuros se fixaram nos dela. ��� Est�� querendo saber por que a
chamei, n��o �� mesmo?
Barbara balan��ou a cabe��a afirmativamente, sem dizer nada.
��� Est�� na hora de voltar ao trabalho, Barbara. Preciso de
voc��.
��� Precisa de mim? N��o estou um pouco al��m da idade para
voc��?
Judd riu.
��� Touch��.
6 5
��� Muito bem, Judd. O que est�� pensando?
��� A Guerra do Vietnam deixou Johnson acuado. Vai escalar
at�� explodir na sua cara. At�� l��, haver�� muito dinheiro para se
ganhar.
��� Ainda n��o sei o que isso tem a ver comigo.
��� General Connally.
Ela ficou em sil��ncio por um instante.
��� Willie?
��� Isso mesmo. Soube que o est��o trazendo de volta da OTAN
para p��-lo no comando de todas as compras do Departamento da
Defesa.
��� Ainda n��o entendo o que isso tem a ver comigo.
Subitamente, n��o havia qualquer express��o nos olhos de Judd.
��� Voc�� anda trepando com ele. E uma boa conversa na cama
vende mais armas do que suborno.
��� Ele quer se divorciar para casar comigo.
��� N��o o deixe fazer isso. Acabaria com a sua carreira.
��� E n��s n��o poder��amos ganhar nada assim.
��� Voc�� aprende depressa.
Barbara foi at�� o bar e tornou a encher os copos. Entregando o
copo de Judd, ela disse:
��� Apenas para sua informa����o. Nunca tive a inten����o de casar
com ele.
Judd se manteve em sil��ncio.
��� Exatamente em que tipo de material est�� interessado?
��� Helic��pteros de transporte de tropas armadas. A Hughes e
a Bell j�� est��o preparando suas propostas. Transportes de terra
blindados. A Chrysler e a General Motors trabalham neles. Embar-
ca����es para rios rasos impulsionadas por jatos, em vez de h��lice. A
Jacuzzi e a Piaggio est��o enviando algumas, em condi����es de teste.
��� E tudo isso pode valer muito dinheiro?
��� V��rios bilh��es de d��lares.
Barbara ficou calada por algum tempo. J�� estava quase
terminando o drinque quando voltou a falar:
��� V��rios bilh��es de d��lares... D�� um bom sal��rio para uma
prostituta.
Judd n��o disse nada.
��� O que aconteceu com seus ideais, Judd? Onde est��o os
sonhos de imortalidade?
66
��� Ainda os tenho. Mas tamb��m tenho um neg��cio que herdei
e ainda precisa ser alimentado.
Ela respirou fundo.
��� Se seu pai me pedisse, eu n��o teria hesitado, porque o
amava. E n��o me sentiria como uma prostituta.
��� Todos se prostituem, cada um �� sua maneira e por seus
pr��prios motivos. Poder, dinheiro, sexo, ideais. Os benef��cios da
vida.
��� Acredita mesmo nisso?
Judd assentiu.
��� Pois est�� enganado. Esqueceu o mais importante de tudo.
��� O que ��?
As l��grimas come��aram a se derramar dos olhos de Barbara.
��� Amor.
Sofia levantou os olhos das fichas m��dicas fornecidas por compu-
tador.
��� N��o h�� qualquer informa����o aqui sobre se voc�� j�� foi ou n��o
casado.
��� Nunca me casei.
Ela inclinou a cabe��a para um lado.
��� Eis algo excepcional. Geralmente, um homem da sua idade,
com 42 anos...
Judd interrompeu-a:
��� Voc�� disse que tinha 30 anos e jamais casou. Acha que isso
tamb��m �� excepcional?
��� Claro. Mas tive um motivo. Minha profiss��o �� muito
absorvente.
��� Talvez a minha tamb��m seja. ��� Judd sorriu. ��� Mas n��o me
sinto privado de muita coisa. E voc��?
Sofia fez uma pausa, antes de responder, com toda sinceridade:
��� ��s vezes me sinto. Deveria casar e ter filhos, mas as coisas
nunca se desenvolveram para esse lado.
��� Voc�� deveria mesmo ter casado. E n��o apenas porque adora
foder. Teria muito a dar a seus filhos.
Sofia baixou os olhos para o impresso de computador.
��� Pelo que est�� aqui, voc�� goza de excelente sa��de.
��� �� o resultado do desregramento e falta de sono ��� respon-
deu Judd, sorrindo.
6 7
��� ��, apesar disso. ��� Sofia estava s��ria e compenetrada.
Largou as fichas m��dicas. ��� Teremos de arrumar tempo para lev��-lo
a um hospital por tr��s dias.
��� O pr��ximo fim de semana, em Boca Raton. Estamos indo
para l�� de qualquer forma.
��� Enquanto isso, h�� diversos testes que preciso fazer. N��o
levar��o muito tempo.
��� Voc�� �� a m��dica.
O telefone ao lado da cadeira de Judd tocou. Ele escutou por
um momento e depois disse: .
��� Mande-o subir.
Desligando, ele virou-se para Sofia e informou:
��� �� Li Chaun, o gerente de vendas asi��tico das Ind��strias
Farmac��uticas Crane.
Ela se levantou.
��� Posso voltar a meu camarote, sedeseja ficar a s��s com ele.
��� Conhe��a-o primeiro. Ele forneceu a Ginny uma sele����o de
lojas para procurar quando pousarmos em Hong Kong.
Li Chaun entrou na cabine e Judd fez as apresenta����es. Sofia
sorriu.
��� Obrigada por sua cortesia.
��� O prazer �� meu.
Ele fez uma ligeira mesura. Sofia virou-se para Judd.
��� Eu o verei em terra?
��� Lamento, mas estarei muito ocupado.
��� Est�� certo.
Ela acenou com a cabe��a para Li Chaun e deixou a cabine. Os
avisos de proibido fumar e apertar o cinto de seguran��a estavam
acesos quando entrou em seu camarote. Acomodou-se em sua
poltrona. Ginny abriu a porta e entrou no camarote. Olhou para as
poltronas ao redor e perguntou:
��� Importa-se se eu lhe fizer companhia?
��� Claro que n��o.
Ginny sentou-se em frente a ela e apertou o cinto de seguran��a.
��� Li Chaun me forneceu uma rela����o de lojas que parecem
muito interessantes.
��� N��o estou realmente interessada em conhecer nenhuma
delas.
Ginny sorriu.
68
��� O Sr. Crane acha que voc�� deve providenciar um guarda-
roupa completo.
��� As id��ias dele e as minhas s��o muito diferentes. Roupas n��o
s��o t��o importantes assim para mim.
Ginny soltou uma risada.
��� Mas compre as roupas assim mesmo. Ele �� o tipo de homem
que sempre quer impor sua vontade.
��� Ele �� assim em tudo?
Ginny assentiu. Sofia olhou pela janela. As rodas estavam
quase encostando na pista. Um momento depois, o enorme avi��o
corria suavemente pelo pavimento.
��� N��o sei como o piloto consegue. A gente nem mesmo sabe
quando o avi��o pousa.
��� �� uma das regras do Sr. Crane ��� explicou Ginny. ��� Se ele
sente as rodas tocarem na pista, �� melhor o piloto ter uma desculpa
perfeita ou ent��o come��ar a procurar por outro emprego. ��� Ginny
levantou-se e acrescentou: ��� Acha que poderemos partir dentro de
15 minutos?
��� N��o h�� problema.
Li Chaun se aproximou assim que Sofia se retirou.
��� Sua Dra. Ivancich �� iugoslava?
��� ��, sim ��� respondeu Judd. ��� Como soube?
��� J�� ouvi o nome. Ela passou algum tempo com Mao Ts��-
tung, at�� sua morte. Houve at�� um rumor, espalhado pela esposa de
Mao e outros membros da Quadrilha dos Quatro, de que ela o
matou.
Judd n��o fez qualquer coment��rio. Olhou pela janela e, depois,
disse:
��� N��o t��nhamos nada a esse respeito em nossa ficha de
computador. ��� Ele tornou a olhar para Li Chaun. ��� Acha que pode
descobrir alguma coisa sobre isso para mim?
��� N��o sei. ��� O asi��tico riu. ��� Enquanto espera, n��o deixe
que ela lhe d�� qualquer p��lula.
Judd tamb��m riu.
��� Acho que n��o terei problemas com isso.
69
10
J U D D OLHOU pela janela. L�� embaixo, na pista, avistou Sofia e
Ginny embarcando na limusine. O telefone tornou a tocar. Era
Merlin.
��� Judson est�� ligando de San Francisco.
��� Ponha-o na linha. ��� Houve um estalido. ��� Como vai,
Judson?
��� Muito bem, Sr. Crane. Tenho algumas informa����es sobre o
a��o para a ponte na Mal��sia.
��� Pode falar.
��� Ind��strias Pesadas Mitsubishi fornecer�� o a��o por seis
milh��es a menos. Mas h�� uma condi����o. Querem que use a sua linha
de navega����o. Isso custar�� cerca de 800 mil.
��� �� passar de um bolso para outro ��� comentou Judd. ��� Tem
alguma outra id��ia?
��� J�� que est�� em Hong Kong, poderia arrumar um encontro
com S. Yuan Ling. Ele possui a maior empresa de transporte
mar��timo do mundo. E a maioria dos seus navios foi constru��da pela
Mitsubishi. Ele tem a influ��ncia necess��ria para nos poupar alguns
d��lares.
��� A ��ltima not��cia que tive dele era de sua presen��a no
M��xico, acertando o neg��cio dos seus petroleiros com a Pemex.
��� Ele j�� voltou a Hong Kong.
��� Muito bem, tentarei falar com ele. Mais alguma coisa?
��� Nada que n��o possa esperar.
Judd desligou e virou-se para Li Chaun:
7 0
��� Entre em contato com S. Yuan Ling e diga-lhe que quero
encontr��-lo esta tarde.
��� Ele s�� trabalha pela manh��. Almo��a em seu iate, nada por
uma hora e depois dorme at�� o jantar.
��� N��o me importo que ele passe uma hora sentado onde bem
quiser. Diga a ele que quero v��-lo.
��� Est�� bem, senhor. Nesse caso, �� melhor eu seguir imediata-
mente para a cidade.
��� Pode ir.
��� E a opera����o farmac��utica? ��� perguntou Li Chaun, antes
de sair, parecendo ansioso, apesar do impass��vel rosto oriental.
��� J�� ouviu minha decis��o. Se est�� vinculada aos Quaaludes,
n��o me interessa.
��� O dinheiro est�� com os Quaaludes.
��� Pode estar para eles, mas n��o para n��s. Mas pode dizer a
eles que triplico a oferta pelo Interferon.
��� Eu direi. E telefonarei da cidade assim que tiver alguma
not��cia de S. Yuan Ling.
��� Obrigado.
Judd observou o asi��tico deixar a cabine, depois apertou o
bot��o chamando Merlin. Fast Eddie apareceu antes que Merlin
chegasse.
��� Precisa levantar o ��nimo, chefe?
Judd balan��ou a cabe��a.
��� �� uma boa id��ia.
��� A Coca especial e todos os acess��rios?
��� Acertou em cheio.
O copo de Coca-Cola estava na mesa quando Merlin entrou.
Ele esperou at�� que Judd despejasse a coca��na no refrigerante. Judd
bebeu tudo.
��� �� assim que eles faziam em Atlanta quando come��aram a
fabricar a bebida.
Merlin j�� sabia. Ouvira a hist��ria muitas vezes. A cafe��na
substitu��ra a coca��na em 1903 ou 1912, por decis��o legislativa, com a
Lei dos Alimentos e Drogas.
��� Mande um telex para a seguran��a pedindo mais detalhes
sobre a Dra. Ivancich ��� disse Judd. ��� Indague por que eles n��o
tinham informa����es sobre o ano que ela passou com Mao Ts��-tung,
antes de sua morte. Mande tamb��m que vigiem Li Chaun. Tenho o
71
pressentimento de que ele pode tentar fazer sozinho a opera����o dos
Quaaludes.
��� Pois n��o, senhor. Mais alguma coisa?
Judd sacudiu a cabe��a.
��� Vou dormir um pouco. Acorde-me assim que Li Chaun
marcar o encontro com S. Yuan Ling.
A vendedora francesa fitou-as altivamente e falou, com um tom
esnobe:
��� Temos as ��ltimas revistas... L'Officiel, o Vogue franc��s e outras. Podemos providenciar qualquer coisa que escolha, em
qualquer fotografia, no prazo de 12 horas.
Sofia respondeu em franc��s. A vendedora balan��ou a cabe��a
por um instante, depois acenou para duas cadeiras e afastou-se.
��� O que disse a ela? ��� perguntou Ginny.
��� Falei que n��o estamos interessadas em haute couture. Tudo tem de ser pr��t-��-porter, pois s�� passaremos tr��s horas em Hong Kong.
A vendedora voltou com outra mulher, que parecia ser a
gerente.
��� Em que exatamente est�� interessada?
Sofia respondeu em ingl��s:
��� Dois conjuntos simples, um em l��, outro em tecido mais
leve. Tr��s vestidos para a tarde, um vestido de coquetel preto e um
longo, tamb��m preto. Acess��rios combinando e sapatos tamb��m.
Tr��s saias, branca, bege e preta. Seis blusas de seda, de cores
diversas. Dois slacks, um azul-marinho e outro preto. Tr��s jeans.
��� Pois n��o, madame ��� disse a gerente, respeitosamente. ���
Quer ter a gentileza de me acompanhar a um camarim?
Um momento depois, Sofia estava num camarim bastante
grande. Ginny sentou-se numa cadeira a um canto, enquanto Sofia
despia-se. A gerente fez uma careta quando viu que as roupas de
baixo de Sofia eram de algod��o.
��� Madame n��o gostaria de levar alguma coisa de nossa
lingerie'! Temos as ��ltimas modas, francesa e americana. Em seda ou
nylon.
Sofia sorriu.
��� Obrigada, madame. Talvez seja melhor eu levar uma
sele����o das duas.
72
A gerente pegou uma fita m��trica. Sofia tirou o soutien e a
calcinha. Profissionalmente, a vendedora tirou as medidas. Saiu em
seguida, deixando as duas mulheres no camarim. Ginny contemplou
Sofia.
��� Julgando pelas roupas, ningu��m poderia imaginar o corpo
fant��stico que voc�� tem.
��� Obrigada.
��� N��o �� de admirar que o Sr. Crane queira lhe providenciar
um novo guarda-roupa.
Sofia sorriu.
��� Pensei que ele fizesse isso por todas as suas namoradas.
Ginny riu.
��� Nem todas. Mas �� a primeira vez que ele faz para sua
m��dica.
Sofia contemplou-se no espelho de corpo inteiro. Viu Ginny de
p�� ��s suas costas.
��� J�� fez pl��stica nos seios? ��� perguntou Ginny.
Sofia fitou-a nos olhos.
��� Nunca.
��� N��o d�� para acreditar. Eles s��o absolutamente perfeitos.
Sofia ainda se contemplava no espelho.
��� Pode verificar, se n��o acredita em mim.
Ginny hesitou por um instante, depois passou os bra��os em
torno das costas de Sofia e segurou-lhe os seios. As m��os da
aeromo��a estavam quase quentes; Sofia sentiu os mamilos endurece-
rem. Os olhos das duas se encontraram no espelho.
��� Acredita em mim agora?
Relutante, devagar, Ginny retirou as m��os. Os olhos ainda se
encontravam no espelho. Ginny sussurrou, a voz rouca:
��� Acredito.
A porta do camarim abriu-se um momento depois. Ginny
voltou �� cadeira no canto, enquanto diversas mo��as entravam, com
pilhas de roupas.
O sol estava quente e o ar bastante ��mido sobre a ��gua, no outro lado
da ilha. Li Chaun e Judd estavam de p�� ao lado do marinheiro que
guiava a Riva de mogno. Li Chaun apontou para um iate quase um
quil��metro �� frente.
��� �� o barco dele. Sempre fica ancorado na Ba��a Repulse.
73
��� E ele est�� a bordo? ��� perguntou Judd.
��� N��o. De acordo com a sua programa����o, deve estar
nadando neste momento. Disse que s�� poderia marcar um encontro
daqui a tr��s dias.
A voz de Judd era incisiva:
��� Conversaremos com ele agora. Diminua a velocidade para
dois n��s e fique atento para encontr��-lo.
Os motores potentes se atenuaram para um sussurro suave.
Lentamente, a Riva come��ou a descrever um c��rculo largo. Dez
minutos depois avistaram a b��ia amarela balan��ando na ��gua, com
tr��s cabe��as pretas na frente. Judd come��ou a tirar as roupas.
��� Chegue o mais perto que puder, dentro dos limites de
seguran��a.
Ele tirou os sapatos e as meias quando a Riva estava a apenas
20 metros de dist��ncia. Passou por cima do p��ra-brisa na proa da
Riva e acenou com os bra��os, por cima da cabe��a. As cabe��as pretas
na ��gua adquiriram rostos subitamente, quando se viraram em sua
dire����o.
��� Desligue os motores ��� ordenou Judd.
Ele estava apenas com a sunga. Viu um dos homens levantar
uma submetralhadora Uzi, dentro de um saco pl��stico �� prova
d'��gua, que ele abriu eficientemente. Judd mergulhou e foi aflorar
perto do homem.
��� Tome cuidado com esse brinquedo ��� disse ele. ��� Use-o e
todos n��s explodiremos na ��gua.
Outro homem, ao lado do que empunhava a Uzi, falou
calmamente, sem qualquer vest��gio de medo na voz:
��� O que quer de n��s?
��� Sou Judd Crane.
O homem fitou-o nos olhos.
��� Seu assistente n��o lhe disse que nosso encontro est��
marcado para daqui a tr��s dias?
��� Disse. Mas achei melhor nos encontrarmos imediatamente.
��� Aqui? No meio do rio?
��� �� um lugar t��o bom quanto outro qualquer.
��� Devo reconhecer que �� bastante ins��lito. ��� O rosto do
homem se abriu num sorriso. ��� Costuma promover encontros assim?
��� Geralmente n��o. Mas tamb��m os neg��cios n��o me oferecem
74
muitas oportunidades para me encontrar com homens como S. Yuan
Ling.
Ling soltou uma risada.
��� �� mais jovem do que eu pensava, Sr. Crane.
��� Obrigado. Tenho a sua aten����o?
��� H�� um velho prov��rbio chin��s: um ouvido surdo n��o escuta
a voz da oportunidade.
Judd chegou mais perto, a ��gua escorrendo do rosto.
��� Tenho a informa����o de que possui um dep��sito de 20
milh��es de d��lares sobre seis navios que a Mitsubishi est�� lhe
construindo. E tamb��m que os tr��s primeiros navios far��o as viagens
inaugurais na pr��xima primavera.
��� As informa����es s��o corretas.
��� Tamb��m tenho a informa����o de que a Mitsubishi planeja
transportar o a��o para a minha ponte na Mal��sia nas viagens
inaugurais desses navios. E depois entregar�� os navios pelo restante
do custo que combinaram.
O chin��s ficou em sil��ncio por um momento.
��� Quanto eles pretendem cobrar para transportar o seu a��o?
��� Oitocentos mil d��lares.
S. Yuan Ling balan��ou a cabe��a.
��� Esses japoneses s��o muito espertos.
Judd tamb��m balan��ou a cabe��a.
��� Tem raz��o, s��o espertos at�� demais.
��� Concordaria com 400 mil d��lares?
��� Claro.
��� Neg��cio fechado. ��� O chin��s estendeu a m��o e Judd
apertou-a. ��� Posso convid��-lo para almo��ar em meu iate?
��� Pe��o desculpas, mas estou um pouco atrasado para outros
compromissos. Posso ter a honra de aceitar o convite em outra
ocasi��o?
��� Claro. A qualquer momento.
Judd nadou de volta para a Riva. Um marinheiro estendeu a
m��o e ajudou-o a subir. Judd virou-se para o chin��s, ainda nadando,
acenou com a m��o. E, depois, disse ao marinheiro:
��� Vamos embora.
Lentamente, a Riva afastou-se dos nadadores e descreveu um
largo c��rculo. O marinheiro acelerou ao m��ximo e a lancha disparou
de volta �� praia.
7 5
11
A LIMUSINE PAROU ao lado do avi��o. Sofia e Ginny saltaram.
��� Mandarei levar tudo para a sua cabine.
��� Obrigada. ��� Sofia sorriu e passou a m��o pela cabe��a, um
certo nervosismo se insinuando em sua voz quando acrescentou:
��� Acha que ele vai gostar?
Ginny riu.
��� Se n��o gostar, ent��o �� porque ficou louco.
��� Foi a primeira vez em que estive num sal��o de beleza, em
cinco anos. Nem mesmo me reconheci no espelho.
��� Voc�� est�� ��tima. Pare de se preocupar.
��� Custou uma fortuna.
��� N��o para ele. E agora trate de embarcar. Levarei suas
roupas e poder�� vestir uma delas. Ele ficar�� impressionado.
Li Chaun estava no sal��o quando Sofia entrou. Ele fez uma
ligeira mesura.
��� A excurs��o de compras foi bem-sucedida, doutora?
��� Foi, sim. Muito obrigada. O Sr. Crane est�� a bordo?
��� Est�� em sua cabine, recebendo uma massagem. ��� Ele
estendeu a m��o para Sofia. ��� Foi um prazer conhec��-la, doutora.
��� Est�� partindo?
��� Estou, sim. Tenho de voltar ao escrit��rio e o avi��o vai
decolar para os Estados Unidos ��s oito horas.
Sofia olhou para o rel��gio. Eram sete horas.
��� Mas �� daqui a uma hora! ��� exclamou ela, surpresa.
��� O Sr. Crane disse ao comandante que esperasse at�� sua
76
volta. ��� Li Chaun fez uma pausa; quando tornou a falar, foi em
chin��s. ��� N��o o informei que j�� nos encontramos antes.
Sofia fitou-o; os olhos do chin��s nada revelavam.
��� Obrigada, camarada ��� respondeu ela, tamb��m em chin��s.
Li Chaun falou depressa:
��� Acho que ele ficaria mais confiante se lhe contasse pessoal-
mente a respeito de seu trabalho com Mao, ao inv��s de esperar que
descubra por uma verifica����o de seguran��a.
Sofia acenou com a cabe��a, sem dizer nada.
��� E se por acaso ele mencionar a opera����o farmac��utica, eu
ficaria agradecido se me transmitisse os coment��rios.
��� Est�� certo, camarada.
Li Chaun voltou a falar em ingl��s:
��� Espero que tornemos a nos encontrar, doutora.
��� �� o que tamb��m espero, Sr. Li Chaun ��� respondeu Sofia,
igualmente em ingl��s. ��� E, mais uma vez, obrigada por sua ajuda.
Ela ficou observando-o se retirar. Ginny entrou um instante
depois, acompanhada por dois carregadores com os pacotes.
O telefone ao lado de sua cama tocou baixinho. Ela apertou o
reostato, diminuindo a luz.
��� Al��?
��� Desculpe ��� murmurou Judd. ��� Eu n��o queria acord��-la.
��� N��o h�� problema. Nunca imaginei que fazer compras fosse
t��o cansativo.
��� Mas foi divertido?
��� Para minha grande surpresa, foi. Por falar nisso, obrigada
por todas as coisas maravilhosas.
��� O prazer foi meu.
��� A massagem foi boa?
Ele pareceu hesitar.
��� Foi, sim. Gostaria de uma?
Sofia percebeu o barulho dos motores e olhou pela janela. As
estrelas piscavam.
��� Tem at�� um massagista a bordo?
Judd riu.
��� N��o um massagista. Duas massagistas. E s��o ��timas. V��o
apenas at�� Honolulu e depois para Hong Kong. ��� Ela ficou calada e
77
Judd acrescentou: ��� Pode pensar nisso mais tarde. Telefonei para
perguntar se n��o quer jantar comigo.
Sofia olhou para o mostrador azulado do rel��gio digital.
��� O convite �� tentador.
��� N��o precisa se apressar. Ficarei esperando.
Ela ouviu o estalido do telefone sendo desligado antes de poder
responder. Sentou-se na cama lentamente, tornou a pegar o telefone
e apertou o bot��o da copa. Ginny atendeu.
��� Pois n��o, doutora?
��� Pode me arrumar um caf�� bem forte?
��� Claro, doutora. Estarei a�� dentro de um minuto.
Sofia saiu da cama e foi para o chuveiro. Voltou ao quarto
alguns minutos depois, enrolada numa toalha. A aeromo��a j�� se
encontrava ali, �� sua espera. O caf�� estava quente e forte.
��� Est�� ��timo ��� murmurou Sofia.
Ginny continuou onde estava. Sofia fitou-a.
��� Algum problema?
A voz da aeromo��a soou muito tensa:
��� Vai subir para se encontrar com ele, n��o �� mesmo?
Sofia acenou com a cabe��a.
��� Vou, sim.
As l��grimas afloraram aos olhos de Ginny.
��� N��o v�� at�� l��, por favor. N��o esta noite, depois que tivemos
um dia juntas, um dia maravilhoso.
��� Ginny... ��� murmurou Sofia, compreensiva. ��� Ah, crian-
��a...
��� Por favor. ��� O tom da aeromo��a era suplicante. ��� N��o
quero que ele a use como faz com todas as outras. Eu a amo.
��� Voc�� alguma vez...
Ginny n��o a deixou continuar:
��� N��o temos qualquer op����o. Ele nos compra e possui a todos
n��s.
��� Crian��a, crian��a... ��� sussurrou Sofia. ��� Voc�� n��o com-
preende. Todos, sem exce����o, s��o possu��dos por algu��m ou alguma
coisa.
Ginny fitou-a nos olhos.
��� Ent��o n��o est�� apaixonada por ele?
��� N��o, n��o estou.
��� Mas vai com ele?
78
��� Claro.
��� Eu o odeio!
A aeromo��a estava furiosa. Sofia ficou calada.
��� Voc�� me ama? ��� perguntou Ginny.
Os olhos voltaram a se encontrar.
��� Talvez, com o tempo, eu venha a amar.
O sol entrando pela janela lhe ardia nos olhos. Fechando as
p��lpebras, conseguiu tapar o sol. Rolou na cama. Tinha uma
tremenda dor de cabe��a. Tornou a abrir os olhos. Sentou-se na cama.
Estava em sua pr��pria cabine. Respirou fundo. Era estranho. N��o se
lembrava de ter descido.
Saiu da cama e foi para o banheiro. Engoliu duas aspirinas e um
Valium de cinco miligramas. Tornou a respirar fundo e entrou no
boxe, abrindo a ��gua do chuveiro ao m��ximo. Primeiro a ��gua fria,
depois quente, fria de novo. A cabe��a come��ou a desanuviar um
pouco.
Saiu do chuveiro e estendeu a m��o para a toalha. E foi nesse
instante que ficou chocada com o que viu no espelho. O corpo nu
estava quase que inteiramente coberto por pequenas equimoses
pretas e roxas, descendo dos seios e atravessando a barriga at�� os
quadris. O p��bis fora raspado e o monte-de-v��nus estava inchado,
como o Monte Ves��vio, o clit��ris dolorido e vermelho, como lava
escorrendo dos l��bios do vulc��o.
Sofia respirou fundo e virou-se para contemplar as costas.
Verg��es vermelhos e finos lhe riscavam as costas, cobrindo as
n��degas. Apalpou as equimoses, hesitante. N��o havia qualquer dor.
Passou os dedos pelas n��degas, pegou os seios. Ainda n��o sentia dor.
Lentamente, envolveu-se com a toalha e voltou ao quarto.
Sentou-se na cama e tentou lembrar o que acontecera durante a
noite. Mas sua mente estava em branco.
Ela pegou o telefone e apertou o bot��o do servi��o. Raoul, o
comiss��rio de bordo, atendeu.
��� Pois n��o, doutora?
��� A que horas devemos pousar em Honolulu?
A voz de Raoul se manteve impass��vel:
��� Partimos de Honolulu h�� tr��s horas, doutora.
Sofia hesitou por um instante.
��� Pode pedir a Ginny para me trazer um caf��?
7 9
��� Lamento muito, doutora, mas Ginny deixou o avi��o em
Honolul��. Mandarei levar o caf��.
E foi ent��o que tudo lhe voltou �� mem��ria. No instante em que
rep��s o fone no gancho. Era quase como se fosse um pesadelo. As
pequenas chinesas, como duas ervilhas numa vagem. G��meas
id��nticas. Nuas e rolando a pasta de ��pio entre os dedos, acendendo
o cachimbo e levando a haste �� sua boca, com as m��os delicadas.
Depois, as nuvens deslumbrantes e a neblina prateada. Flu-
tuando dentro de seu corpo e depois sentindo por fora a beleza de seu
corpo, enquanto as g��meas o tocavam, sentindo o amor em todos os
seus nervos. E o orgasmo, que explodira como um milh��o de
fragmentos min��sculos, projetando seu corpo na escurid��o da noite.
Outra explos��o, na escurid��o, uma explos��o de dor. Lutou
contra a noite, no esfor��o de recuperar a consci��ncia. E depois a dor
recome��ou. Abriu os olhos e deparou com o rosto de Ginny,
contra��do em raiva e ��dio, os dentes, atacando-a, em seguida os
a��oites do pequeno chicote. Gritou e gritou e gritou...
A porta se abriu. Subitamente, Ginny desapareceu. Judd a
fitava. Ela tentou lhe falar, mas nenhum som saiu. E foi a voz dele
que finalmente p��de ouvir:
��� Gelo, proca��na e o ung��ento OCTH. Bastante. Duas
inje����es de Demerol.
��� Dor ��� balbuciou Sofia. ��� Dor.
��� Desaparecer�� dentro de um momento.
E ela tornou a mergulhar na escurid��o.
Houve uma batida na porta.
��� Entre ��� disse Sofia.
Judd abriu a porta.
��� Posso entrar?
Sofia assentiu. Ele ficou de lado, enquanto uma aeromo��a se
adiantava e punha o caf�� na mesinha-de-cabeceira. Judd esperou at��
que a aeromo��a se retirasse.
��� Como se sente?
��� Estou toda machucada. ��� Ela tomou um gole de caf��. ���
Talvez seja melhor m��dico do que eu. Nem sei o que aconteceu.
��� O ��pio deixou-a desacordada. Estava dormindo quando a
trouxemos para sua cabine.
��� Obrigada. Eu poderia morrer.
��� A garota estava louca. Ningu��m poderia imaginar. S��
80
compreendemos tudo depois que arrombamos a porta e a encon-
tramos.
��� Sinto muito, Judd. Eu n��o queria causar qualquer pro-
blema.
��� A culpa n��o foi sua. Al��m do mais, sinto-me feliz porque
voc�� est�� bem agora.
Sofia ficou em sil��ncio por um longo momento.
��� Mais uma vez, obrigada.
��� Estaremos em San Francisco dentro de quatro horas. Por
que n��o dorme at�� l��? Conhe��o um m��dico em San Francisco que
far�� com que as equimoses desapare��am em menos de um dia.
81
12
O HELIC��PTERO que os levou do aeroporto de San Francisco para
Crane City pousou exatamente ��s 11 horas. Dois autom��veis
estavam �� espera. Diversos homens ali estavam. Um deles, alto e
distinto, de cabelos grisalhos, estendeu a m��o.
��� Ol��, Judd.
Judd apertou-lhe a m��o.
��� Obrigado por ter vindo nos esperar, Jim. ��� Ele virou-se
para Sofia. ��� Este �� o Dr. Marlowe, Sofia. �� general reformado e
comandou o centro de queimaduras no hospital da NASA, em
Houston. Jim, esta �� a Dra. Ivancich, Sofia.
Os dois m��dicos trocaram um aperto de m��o. Jim perguntou:
��� Como se sente, doutora?
��� Estou bastante machucada. Mas acho que s��o contus��es
basicamente superficiais.
Jim sorriu.
��� Vamos fazer um exame. Eu a levarei direto para a cl��nica.
Sofia virou-se para Judd, com uma express��o inquisitiva. Ele
sorriu, tranquilizadoramente.
��� Estarei no escrit��rio. Jim a levar�� at�� l�� assim que acabar.
Ele ficou observando enquanto o carro do Dr. Marlowe se
afastava. Fast Eddie e Merlin acompanharam-no at�� o outro carro.
Judd levantou a divis��ria de vidro que separava o motorista dos
passageiros e olhou para Merlin.
��� Como �� poss��vel que o relat��rio psicom��dico de Ginny n��o
detectasse a sua psicose latente?
82
��� Ningu��m sabe ��� respondeu Merlin. ��� E j�� est��o reavalian-
do os testes.
��� Quero uma revis��o completa de todos os testes e procedi-
mentos. Basta uma doida para acabar com a gente.
Merlin sabia que era melhor n��o responder. A ira de Judd
nunca chegava a aflorar, mas era fatal. Ele n��o tinha toler��ncia para
com os erros. Judd mudou de assunto.
��� Comunicou a Judson o acordo com S. Yuan Ling?
��� Claro. Ele ficou muito satisfeito. E me pediu para inform��-
lo que est�� reformulando o m��todo de constru����o da ponte e acha
que pode nos poupar outro milh��o de d��lares.
��� ��timo. Barbara vai se encontrar comigo no escrit��rio?
��� Vai, sim, senhor.
Judd balan��ou a cabe��a e recostou-se no assento. Baixou a
divis��ria que os separava do banco da frente e estalou os dedos. Fast
Eddie virou-se. J�� sabia o que ele queria.
O pequeno frasco e a colher de ouro foram estendidos em sua
palma. Judd pegou-os e virou-se para o canto do carro. Sentiu-se
melhor depois de aspirar a coca��na. Devolveu o frasco e a colher a
Fast Eddie.
Ele beijou Barbara no rosto.
��� Voc�� est�� linda.
Ela sorriu.
��� N��o precisa ser t��o lisonjeiro. Sou uma mulher de 60 anos.
��� N��o contarei a ningu��m, se voc�� n��o quiser. Pode perfeita-
mente passar por 40 anos.
��� Obrigada. Voc�� parece cansado.
��� E estou mesmo. Mas darei um jeito. Terei um longo fim de
semana de descanso em Boca Raton.
��� Voc�� deveria me dar um t��tulo na corpora����o.
��� Pode escolher o que quiser.
Barbara riu.
��� Madrinha. ��� Ela voltou a ficar s��ria. ��� Estou preocupada
com voc��.
��� Vou me recuperar.
��� Espero que a tal m��dica que trouxe da Iugosl��via fa��a
alguma coisa por voc��. E tor��o para que n��o se envolva mais com
sapat��es meio rudes.
83
Judd ficou surpreso.
��� O que sabe a respeito?
��� J�� lhe disse que sou a fada-madrinha ��� Barbara fez uma
pausa. ��� Vi o telex que voc�� mandou para a cl��nica.
Ele sacudiu a cabe��a tristemente.
��� Que merda!
��� N��o fique t��o furioso. Lembre-se que tem uma fam��lia
unida.
��� �� o que estou come��ando a descobrir. A mesma coisa
acontecia com papai?
��� Mais at��. Voc�� viaja muito mais do que ele.
Judd virou-se para as janelas. Estava quase na hora do almo��o e
os escrit��rios come��avam a se esvaziar. Ele tornou a virar-se para
Barbara.
��� Jack Maloney me disse que a NASA n��o nos dar�� qualquer
coopera����o. A Hughes fechou o contrato para os seis sat��lites.
��� �� verdade. Confirmei com o General Stryker, na Hughes.
Ele �� um velho amigo. E me disse que o neg��cio est�� liquidado.
��� S�� quero dois dos seis sat��lites.
��� Eles n��o aceitar��o.
Judd pensou por um momento.
��� N��o fornecemos os semicondutores direcionais para a
Hughes?
��� Fornecemos.
��� E j�� foram remetidos?
��� N��o sei. Em que est�� pensando?
��� Se a Hughes n��o tiver os semicondutores, os sat��lites n��o
sobem. Certo?
��� N��o sou engenheira para responder.
Judd chamou Merlin.
��� Entre em contato com a Hughes e avise que n��o estamos
remetendo os semicondutores. Diga-lhes que ainda n��o ficaram
prontos e n��o sabemos quanto tempo ainda vai demorar.
��� Isso vai lhe custar uma a����o judicial de 40 milh��es de
d��lares ��� advertiu Merlin.
��� Foda-se!
��� Voc�� �� quem manda.
Merlin retirou-se. Judd virou-se para Barbara.
��� Pode agora representar o papel de fada-madrinha. Ligue
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para seu amigo General Stryker, avise-o que, por causa de seu
relacionamento comigo, pode acelerar a remessa dos semiconduto-
res, se nos ceder dois sat��lites.
��� Isso �� chantagem.
��� Tem toda raz��o.
Barbara riu.
��� E eu adoro! ��� Ela encaminhou-se para a porta, mas virou-
se antes de sair e fitou-o. ��� Conhe��o a Hughes. Pode demorar algum
tempo. Tudo tem de passar pelos canais competentes.
��� Tenho tempo para esperar. Eles �� que est��o com pressa.
��� Terei a oportunidade de conhecer sua doutora?
��� No jantar.
��� ��timo.
Barbara saiu.
��� Eu n��o sabia que sua madrasta era casada com o Dr. Marlowe ���
comentou Sofia, enquanto Fast Eddie abria a porta do apartamento
de cobertura que Judd mantinha no Mark Hopkins.
��� J�� tem seis anos ��� disse Judd, entrando atr��s dela na su��te.
��� Ela ainda �� jovem.
Judd acenou com a cabe��a.
��� E o Dr. Marlowe �� um g��nio. Jamais conheci uma t��cnica
como a dele. Em algumas coisas, a medicina americana est�� anos-luz
�� nossa frente.
��� O que ele fez?
��� Inje����es de dispers��o subcut��neas, com uma combina����o de
ACTH, proca��na e colag��nio n��o-al��rgico. Seu toque �� t��o gentil que
nem senti.
��� Ele �� mesmo muito bom. A NASA n��o queria perd��-lo.
Mas ele j�� estava com 70 anos e achou que j�� era demais. Resolveu
ent��o aposentar-se.
��� Eles t��m uma linda casa em Nob Hill... n��o �� assim que se
chama o lugar? J�� a possuem h�� muito tempo?
��� A casa pertence �� fam��lia de Jim h�� gera����es. Ele �� de San
Francisco.
��� Sua madrasta deve ser uma mulher feliz.
��� E �� mesmo.
Judd conduziu-a para o quarto. Na outra extremidade, bem na
8 5
frente das janelas curvas, estendendo-se do ch��o ao teto, havia uma
banheira Jacuzzi oval. Judd fitou-a.
��� A ��gua tem problema para voc��?
��� Nenhum, se n��o estiver muito quente.
��� Uma temperatura de 31�� C �� demais?
��� Creio que n��o.
��� Pois ent��o vamos tomar um banho.
Judd se meteu na banheira primeiro. Virou-se quando Sofia se
aproximou, inteiramente nua.
��� Ele �� mesmo bom. As equimoses quase desapareceram.
��� Ele disse que n��o terei mais nada amanh��. ��� Cautelosa-
mente, ela p��s um p�� no degrau e experimentou a ��gua. ��� Est��
��tima.
Judd levantou a m��o para ampar��-la. Ela percebeu um sorriso
em seus l��bios.
��� Em que est�� pensando?
��� Sua cona. Parece de beb��.
��� Acha engra��ada?
Ele sacudiu a cabe��a.
��� Ao contr��rio. �� extremamente excitante. D�� o maior tes��o
a maneira como seu clit��ris sobressai.
Sofia fitou-o nos olhos.
��� Gostaria de dar uma chupada antes de eu entrar na ��gua e
me ensaboar?
��� Que pergunta mais tola...
Sofia passou as m��os pela cabe��a de Judd, em seguida p��s as
pernas por cima dele, estendendo-se sobre seu rosto.
86
13
O DR. LEE SAWYER, diretor do Centro de Pesquisa M��dica Crane,
em Boca Raton, Fl��rida, era um homem de estatura mediana, na
casa dos 40 anos, calvo, olhos azuis muito claros e uma express��o
tristonha de cachorro basset. Sentou-se numa cadeira ao lado do leito de hospital de Judd.
��� Quanto tempo faz que voc�� permaneceu num s�� lugar por
tr��s dias?
��� N��o sei. Onde est�� Sofia?
��� Ela quis acompanhar todos os seus exames. Providenciei-lhe
uma su��te ao lado da sua.
��� O que acha dela?
O Dr. Sawyer deu de ombros.
��� Ela est�� pedindo muitas informa����es. E, sinceramente, n��o
compreendo por que precisa de tanta coisa. ��� Ele baixou os olhos
para os pap��is que tinha na m��o. ��� De acordo com isto, voc�� deve
ter seis contagens e estudos de esperma no primeiro dia. A metade
ficar�� aqui e a outra metade ser�� congelada e remetida para a
Iugosl��via. Al��m disso, os intervalos devem ser de quatro horas.
��� Isso significa que devo ter uma ejacula����o a cada quatro
horas?
��� N��o conhe��o qualquer outro meio. E n��o �� s�� isso: devemos
espremer a pr��stata a cada vez, a fim de que os test��culos fiquem
inteiramente vazios.
Judd ficou aturdido e Doc Sawyer acrescentou:
��� N��o sei o que voc�� fez com a doutora, mas deve t��-la
convencido de que �� o pr��prio Tarz��.
87
��� O que mais tem na lista?
��� Ela quer uma tomografia computadorizada do c��rebro,
leitura de sonar e radiografias de todos os ��rg��os vitais, com bi��psias
dos mesmos, 24 an��lises de sangue, reten����o de oxig��nio, n��veis de
mon��xido de carbono e nitrog��nio, raspagens de pele, cabelos,
unhas, dos dedos das m��os e dos p��s. H�� muito mais. Quer que eu
leia tudo?
��� J�� estou cansado s�� por isso. Ela n��o lhe deu alguma id��ia
do motivo pelo qual quer todos esses testes?
��� Disse apenas que s��o as ordens da Dra. Zabiski.
��� Voc�� j�� fez mais alguns testes de autoclonagem humana?
��� Ainda n��o.
Sofia entrou no quarto nesse instante. Parecia diferente no
uniforme de m��dica.
��� Como se sente? ��� perguntou ela.
��� Muito bem. J�� fez alguma vez todos esses testes com alguma
outra pessoa?
��� S�� uma vez. Geralmente a Dra. Zabiski supervisiona tudo
na cl��nica. Mas voc�� �� a segunda pessoa a quem ela me encarrega de
examinar assim. A primeira foi Mao Ts��-tung.
��� Tamb��m trabalhou com ele?
��� Trabalhei. E passei um ano em sua companhia, at�� o dia em
que morreu. Ele insistiu que se fizesse tudo, embora a Dra. Zabiski
dissesse que n��o era um candidato conveniente para o seu trata-
mento.
��� O que fez por ele ent��o?
��� A Dra. Zabiski enviava um soro por avi��o todas as semanas.
Eu fazia a aplica����o intravenosa duas vezes por dia, pela manh�� e ��
noite.
��� Que tipo de soro era?
��� N��o sei. Ningu��m sabia, com exce����o da pr��pria Dra.
Zabiski. Houve diversas tentativas em laborat��rio para analis��-lo e
definir os componentes. Mas os chineses jamais conseguiam desco-
brir.
��� Parece uma coisa dif��cil de se acreditar ��� comentou Doc
Sawyer.
��� Experimentaram todos os tipos de an��lise. Espectro,
el��trica, radiol��gica, qu��mica. Nenhuma deu certo. A Dra. Zabiski ��
mesmo a ��nica pessoa que sabe do que se trata. Ela possui
88
provavelmente um sistema ��nico que desafia qualquer tentativa de
analisar o soro.
��� �� uma coisa que n��o me agrada. ��� Doe Sawyer virou-se
para Judd. ��� Quem pode saber o que ela est�� injetando em voc��?
Pode ser at�� alguma coisa capaz de mat��-lo.
Sofia fitou-o atentamente.
��� Conhe��o bem a Dra. Zabiski, doutor. Seu ��nico prop��sito ��
o prolongamento da vida. O seu grande sonho.
Judd virou o rosto para Doe Sawyer.
��� Neste momento, tudo o que estou fazendo �� me submeter a
uma s��rie de testes. N��o h�� nada que possa me causar qualquer mal,
por enquanto. ��� Doc Sawyer assentiu, sem fazer nenhum coment��-
rio. Judd acrescentou: ��� Pois ent��o vamos continuar. Mais tarde,
tomaremos uma decis��o definitiva.
Sofia fitou-o nos olhos.
��� A primeira coisa que deve fazer �� ter uma boa noite de
sono. Come��aremos �� seis horas da manh��.
��� Mas s��o apenas sete horas ��� protestou Judd. ��� Ainda nem
jantei.
��� Encomendei um jantar leve para voc�� ��� informou Sofia. ���
Dever�� estar dormindo ��s nove horas.
O telefone na mesinha-de-cabeceira tocou. Judd atendeu.
��� Al��?
Era Barbara.
��� Acabei de falar com o General Stryker. Ele disse que n��o
larga o telefone h�� tr��s dias, mas ainda n��o conseguiu obter uma resposta para a sua proposta sobre os sat��lites. Acrescentou que o
tempo est�� se esgotando depressa, pois o primeiro lan��amento foi
marcado para 5 de abril. O departamento jur��dico da Hughes j��
preparou a a����o judicial contra n��s se n��o entregarmos os semicon-
dutores a tempo.
��� Por que ele n��o consegue obter uma resposta?
��� S�� h�� duas pessoas que podem aprovar a troca, Bill Gay e o
pr��prio Howard Hughes. Nenhum dos dois �� encontrado. Gay
deixou o pa��s e ningu��m sabe onde se encontra. Hughes est�� em
Acapulco, mas se recusa a atender o telefone.
��� �� dif��cil de acreditar.
��� Mas �� verdade, Judd. Stryker diz que ningu��m fala direta-
mente com Hughes h�� anos. Toda a comunica����o com ele �� por
89
interm��dio de Gay ou dos homens de Gay, que se mant��m
permanentemente em torno de Hughes.
��� Pois ent��o teremos de falar com o pr��prio Hughes. Obriga-
do por me avisar. Ficarei em contato.
��� Boa sorte, Judd. Um beijo.
��� Outro para voc��.
Judd desligou e sentou-se na cama.
��� Pegue minhas roupas. Lamento, mas terei de adiar os
exames por alguns dias.
Sofia ficou consternada.
��� Mas j�� est�� tudo preparado!
��� Lamento muito. ��� Judd saiu da cama e virou-se para Doc
Sawyer. ��� Pode fazer o favor de chamar Merlin?
Merlin chegou ao quarto quase antes de Judd terminar de
abotoar a camisa.
��� O que deseja, senhor?
��� Ligue para o pessoal do avi��o e avise que partiremos para
Acapulco assim que eu chegar ao aeroporto. Telefone depois para o
General Mart��s, na Cidade do M��xico, e diga-lhe que preciso de 10
federdes da pol��cia secreta para esperar o avi��o em Acapulco. H�� 100
mil d��lares para ele e mil para cada homem. Quero que ele me
descubra tamb��m onde Hughes se encontra em Acapulco e providen-
cie um plano para penetrar pela seguran��a que o cerca. ��� Ele p��s as
meias e os sapatos, enquanto acrescentava: ��� Encontrarei com voc��
no carro l�� embaixo dentro de 10 minutos.
Merlin saiu do quarto. Judd virou-se para Sofia.
��� Fa��a de conta que est�� em casa. Deverei estar de volta em-
menos de dois dias.
��� Nunca estive em Acapulco.
��� Pois ent��o venha comigo.
��� Mas o que devo vestir?
Judd riu.
��� Tudo o que precisa em Acapulco �� de um biqu��ni.
90
14
UM JOVEM ALTO, em uniforme do ex��rcito, subiu a bordo assim
que o avi��o pousou em Acapulco. Bateu contin��ncia para Judd e
anunciou, em ingl��s:
��� Sou o Tenente-Coronel Ayala.
��� E eu sou Judd Crane.
Judd apertou a m��o do oficial.
��� Sou ajudante-de-ordens do General Mart��s. Tenho todas as
informa����es que solicitou. ��� O Coronel Ayala estendeu uma pasta
de arquivo. ��� N��o seria mais simples se eu lhe explicasse tudo, j��
que o relat��rio est�� em espanhol?
��� Obrigado, coronel.
Judd levou o oficial �� pequena mesa de reuni��o no sal��o
principal do avi��o. Ayala abriu a pasta.
��� O Se��or Hughes ocupa todo o ��ltimo andar do Acapulco
Princess Hotel. Aqui est�� a planta do andar. Como pode verificar, o
quarto do canto, o maior, d�� para o mar e �� ocupado pelo Se��or
Hughes. O do lado �� um pouco menor. Cont��m diversos telefones,
um telex, cadeiras e duas camas. H�� sempre um homem postado
nesse quarto.. A porta entre os dois quartos permanece invariavel-
mente aberta. H�� quatro outros quartos no andar, partilhados pelo
pessoal do Se��or Hughes. H�� geralmente 15 homens no grupo, mas o
n��mero exato �� indefinido neste momento. Sabemos que quatro dos
homens n��o est��o no M��xico, assim como tamb��m n��o se encontra
no pa��s o m��dico particular do Se��or Hughes. H�� alguns dias, o
m��dico do hotel foi chamado por um dos homens para examinar o
Se��or Hughes. Soubemos que el Se��or est�� muito doente e deve ser 91
hospitalizado. Mas soubemos tamb��m que nada ser�� feito at�� a volta
de seu m��dico particular, que deve acontecer amanh��.
Judd pensou por um instante.
��� O m��dico tinha alguma opini��o sobre a gravidade da doen��a
do Sr. Hughes?
��� N��o sabemos o que seu pr��prio m��dico decidiu. Fomos
informados de que houve um pedido para exames de sangue, mas
nem sequer sabemos se j�� foram feitos.
��� Os homens de Hughes est��o armados?
��� Alguns. N��o chegam a ser guarda-costas profissionais. S��o
mais secret��rios e assistentes. H�� um guarda profissional diante do
elevador no ��ltimo andar, mas �� o agente de seguran��a mexicano do
hotel. E, diga-se de passagem, n��o �� muito competente.
Judd estudou a planta do andar.
��� Acha que se pode ouvir barulho nos outros quartos?
��� Depende do volume.
��� Nada de armas e vozes baixas.
��� N��o deve haver problemas. Se subirmos pelo elevador de
carga, evitando o sagu��o, podemos pegar o guarda de surpresa, pois
ele est�� sempre virado para o elevador social. O mesmo elemento
surpresa pode permitir dominar quaisquer outros que estejam no
caminho para a su��te.
Judd tornou a examinar a planta.
��� N��o quero ningu��m ferido. Desejo simplesmente falar com
Hughes, mais nada.
��� Compreendo perfeitamente, se��or. Vai nos acompanhar
sozinho?
Judd pensou por um instante, depois virou-se para Sofia.
��� Poderia ir junto? Se ele est�� doente, pode precisar de ajuda.
��� Claro que irei.
Judd tornou a virar-se para o oficial mexicano.
��� Essa mulher �� minha m��dica. Ela nos acompanhar��.
Ayala exibiu uma express��o c��tica, mas sua voz soou respei-
tosa:
��� Como quiser, se��or.
Eram oito quil��metros do aeroporto ao hotel, depois mais um
quil��metro pela estrada do hotel, atravessando o campo de golfe.
9 2
Sentada no banco traseiro do carro de quatro portas, Sofia co-
mentou:
��� O lugar �� lindo. Gostaria de conhec��-lo melhor algum dia.
Judd sorriu.
��� Tenho um amigo que possui uma villa aqui perto. Talvez
possamos passar o fim de semana.
��� N��o desta vez, Judd. Primeiro, temos de voltar para os seus
exames.
O Coronel Ayala, sentado no banco da frente, ao lado do
motorista, virou-se para tr��s.
��� Daremos a volta at�� a entrada de servi��o.
Judd assentiu. Olhou pela janela traseira. Os soldados que os
acompanhavam, logo atr��s, estavam num furg��o fechado. Os dois
ve��culos contornaram o hotel at�� os fundos. Pararam no estaciona-
mento e todos saltaram.
O coronel falou rapidamente ao porteiro, que fez sinal para que
passassem. Atravessaram o corredor do por��o e pararam diante do
elevador de carga. Uma faxineira empurrava um carrinho para
dentro. O soldado falou-lhe rispidamente e a mulher, apavorada, se
apressou em tirar o carrinho cheio de roupa. Entraram no elevador e
o soldado apertou o bot��o. A porta fechou. O Coronel Ayala virou-
se para Judd e Sofia.
��� Ficar��o esperando at�� que eu diga que podem sair do
elevador.
Judd assentiu. Levantou os olhos para as luzes dos andares por
cima da porta. Os n��meros piscavam lentamente. Pareceu se passar
uma eternidade antes que se acendesse a luz do ��ltimo andar.
V��rios soldados sa��ram correndo quase antes mesmo que a
porta terminasse de se abrir. Outros se seguiram poucos segundos
depois. O Coronel Ayala gesticulou para que o restante sa��sse
tamb��m. E apertou um bot��o para prender o elevador no andar, com
a porta aberta.
O guarda estava deitado no ch��o, de barriga para baixo, as
m��os algemadas nas costas, diante do elevador social que deveria
proteger. O Coronel Ayala falou-lhe em voz baixa. O guarda
gesticulou com a cabe��a para uma das portas, os olhos se movendo
nervosamente.
O Coronel Ayala foi avan��ando com cautela, as costas contra a
parede, at�� alcan��ar a ma��aneta. A porta se abriu facilmente. N��o
9 3
estava trancada. Sem fazer barulho, ele passou pela porta, com Judd
logo atr��s. Um homem estava sentado, a cabe��a repousando sobre os
bra��os cruzados na mesa �� sua frente, profundamente adormecido.
Um soldado avan��ou em sil��ncio at�� o vulto adormecido,
tocou-o de leve no ombro. O homem despertou, sobressaltado. Os
olhos se arregalaram, fixando-se no cano da autom��tica Colt 45.
Come��ou a abrir a boca. Judd se apressou em falar:
��� Fique quieto. Ningu��m vai machuc��-lo
O homem virou-se para ele. Judd mostrou-se tranq��ilizador:
��� N��o estamos aqui para machucar ningu��m ��� Ele fez uma
pausa.
��� Onde est��o os outros?
O homem respirou fundo.
��� Tr��s est��o em seus quartos, dormindo. Os outros foram ��
cidade. H�� hoje um filme falado em ingl��s.
Judd olhou para o quarto de Hughes.
��� Ele est�� l�� dentro?
O homem confirmou com um aceno de cabe��a.
��� Eu gostaria de falar com ele.
��� N��o pode. Ele est�� doente e dormindo.
��� Pois acorde-o.
��� N��o posso. Ele est�� completamente apagado. Acho que
tomou algumas p��lulas.
��� Ent��o nos leve at�� l��. A mulher que est�� conosco �� m��dica.
O homem fitou o rosto de Sofia por um momento, depois
baixou os olhos para a maleta de m��dico em sua m��o. Levantou-se.
Devagar, todos seguiram-no para o outro quarto.
Estava quase que totalmente escuro, as cortinas fechadas. A
��nica claridade provinha de uma luz fraca para a noite, ao lado da
mesinha-de-cabeceira. O carpete estava cuidadosamente coberto por
len��os de papel, colocados um ao lado do outro, de maneira
impec��vel. Havia um mau cheiro no ar que nem mesmo o ar-
condicionado parecia capaz de remover.
��� Abra as cortinas e as janelas ��� ordenou Judd. ��� Deixe um
pouco do fedor sair e tire tamb��m esses malditos len��os de papel. S��
servem para aumentar a confus��o.
��� N��o �� poss��vel. Tudo foi lacrado. E estamos proibidos de
recolher os len��os de papel. Ele acha que �� a ��nica coisa que mant��m
os germes a dist��ncia. As ordens do Sr. Hughes s��o expressas.
94
��� Ent��o acenda a luz.
O homem acendeu um abajur perto da porta. Judd olhou para o
vulto na cama. Hughes estava deitado de lado, o rosto comprimido
contra um travesseiro. Os olhos estavam fechados, a respira����o era
ofegante, atrav��s da boca aberta. Havia barba no rosto, os cabelos
grisalhos se espalhavam em mechas emaranhadas, alcan��ando quase
os ombros. Judd experimentou uma incredulidade chocada e murmu-
rou gentilmente:
��� Sr. Hughes...
Hughes n��o se mexeu. Judd tornou a chamar, mais alto.
��� Ele n��o vai responder ��� disse o homem. ��� J�� falei que est��
doente. E se manteve assim durante quase toda a semana. N��o
conseguimos fazer com que comesse coisa alguma.
Judd gesticulou para Sofia.
��� D�� uma olhada nele.
Sofia aproximou-se da cama. Abriu a maleta e tirou um
estetosc��pio. Escutou por um momento e depois procurou o pulso.
��� Ele est�� muito fraco.
Judd observava-a em sil��ncio. Ela levantou o len��ol e contem-
plou o corpo inteiro de Hughes. Largou o len��ol e inclinou-se para o
rosto, erguendo uma p��lpebra por um momento. Finalmente, se
empertigou.
��� Este homem deve ser levado para um hospital imediata-
mente.
��� O que h�� com ele? ��� perguntou Judd.
��� �� apenas um palpite, mas acho que come��a a apresentar
sinais de intoxica����o ur��mica.
��� E como isso pode acontecer?
��� Veja.
Judd foi postar-se ao seu lado. Sofia tornou a levantar o len��ol.
��� Ele est�� coberto por marcas de picadas. E repare no seu
estado emaciado. Est�� desidratado. Os ossos quase atravessam a pele
e h�� uma cicatriz aberta na cabe��a, como se fosse um tumor
arrancado acidentalmente.
��� H�� alguma coisa que possa fazer por ele aqui e agora?
Sofia sacudiu a cabe��a.
��� N��o sem todo o equipamento que ter��amos num hospital.
��� N��o h�� alguma inje����o que possa atenuar a dor?
��� Tenho a impress��o de que ele j�� se encharcou com todas as
9 5
inje����es contra dor que poderia tomar. Al��m disso, pelos olhos, eu
diria que ele est�� mais do que ligeiramente comatoso.
Judd balan��ou a cabe��a e depois virou-se para o homem de
Hughes. Gesticulou para o quarto ao lado. Seguiram o homem at�� l��.
��� O que est�� acontecendo por aqui? ��� perguntou Judd.
��� Apenas recebo ordens. E recebemos ordens para n��o mexer
nele at�� que seu m��dico volte dos Estados Unidos, o que acontecer��
amanh��.
��� Quem deu essas ordens?
��� O pr��prio velho, na semana passada, quando come��ou a
passar mal. E ningu��m... absolutamente ningu��m... desobedece as
suas ordens.
Judd fitou-o nos olhos.
��� N��o h�� ningu��m por aqui que compreenda que ele n��o ��
mais respons��vel por si mesmo? Algu��m que possa ordenar o
tratamento de que ele precisa?
��� Somente seu m��dico.
��� Voc�� tem um telex ��� disse Judd, bruscamente. ��� Entre em
contato com o escrit��rio de Hughes. Algu��m por l�� deve assumir a
responsabilidade.
��� O telex n��o est�� ligado.
��� Mas h�� os telefones.
��� J�� ligamos. �� por isso que seu m��dico est�� voltando.
Judd fitou-o em sil��ncio por um longo momento, depois virou-
se para o coronel.
��� Vamos embora.
Sofia interveio:
��� Se n��o o ajudarmos... e depressa... ele morrer��.
Judd fitou-a. Seus olhos azuis estavam frios como gelo.
��� Ele que se foda. �� a sua op����o. N��o h�� nada que ele possa
fazer por mim e nada que eu possa fazer por ele.
��� Essa �� a sua ��nica medida?
��� Conhece outra melhor? ��� O tom de Judd era sarc��stico. ���
Se eu n��o pagasse por aqueles malditos hot��is na Iugosl��via, acha
que lhe permitiriam sair do pa��s comigo?
Sofia permaneceu calada por algum tempo, fitando-o nos olhos,
depois saiu do quarto. Judd virou-se para o homem de Hughes e
colocou 10 notas de mil d��lares na mesa.
��� Isto �� para ajud��-lo a esquecer que nos viu.
9 6
O homem pegou o dinheiro e guardou no bolso.
��� Esquecer quem?
Voavam de volta �� Fl��rida, duas horas depois, quando Sofia subiu a
escada para a su��te de Judd.
��� Posso falar com voc�� por um momento?
��� Claro. ��� Ele estendeu-lhe uma mensagem do telex. ���
Toda a coisa foi desnecess��ria. Acabamos de ser informados por
Stryker de que aceitaram nossa proposta.
Ela largou o telex sem ler.
��� Pe��o desculpas. Sei que n��o �� da minha conta, mas aquele
homem vai morrer.
��� N��o precisava que voc�� me dissesse. Tenho olhos.
��� Mas por que um homem que tinha tudo no mundo que
pudesse desejar prefere viver daquela maneira? Sozinho. Encerrado
numa bolha de v��cuo, sem qualquer contato com a realidade?
��� Talvez ele pensasse que assim viveria para sempre. ��� Judd
ficou em sil��ncio por um instante. ��� Ou talvez ele realmente
quisesse morrer... e n��o tinha coragem suficiente para se matar
diretamente...
9 7
15
O PR��DIO ERA de vidro verde espelhado, refletindo o sol intenso
da Fl��rida. O telhado era completamente oculto pelos gigantescos
ciprestes da Fl��rida do Centro M��dico Crane, que ficava a um
quarteir��o de dist��ncia. Ao lado das portas de vidro esmeralda
havia uma pequena placa de lat��o:
PESQUISA CRANE
MEDICINA NUCLEAR
PARTICULAR
Dois agentes de seguran��a, armados e uniformizados, monta-
vam guarda diante das portas trancadas, como rob��s, com ��culos
escuros id��nticos, os vidros verdes espelhados escondendo os olhos.
Doc Sawyer estacionou seu convers��vel na passagem de carros e
subiu correndo os degraus para a entrada do pr��dio. Acenou com a
cabe��a para os guardas, enquanto comprimia a palma contra a placa
de identifica����o fotossens��vel. Seu nome apareceu por cima da placa
e as portas se abriram silenciosamente para lhe dar passagem.
O sagu��o estava vazio, com exce����o de outro guarda, sentado
atr��s de uma mesa, entre os dois bancos de elevadores. O guarda
olhou para ele e informou:
��� A Dra. Zabiski disse que o encontrar�� no quarto n��vel,
doutor.
��� Obrigado.
Doc Sawyer abriu as portas de um elevador, que se fecharam
um instante depois que ele passou, silenciosamente. Ele apertou o
98
bot��o e o elevador come��ou a descer, lentamente. Ele olhou para as
luzes indicativas. Os n��meros n��o indicavam andares superiores. Iam
de T, o andar t��rreo, at�� 9, o ��ltimo andar subterr��neo. Todo o
pr��dio fora constru��do para baixo da terra.
Doc Sawyer saiu do elevador. Tornou a acenar com a cabe��a
para mais um guarda, dos incont��veis onipresentes. Avan��ou r��pido
pelo corredor, a caminho da sala em que se encontrava a Dra.
Zabiski. Abriu a porta sem bater. A Dra. Zabiski estava sentada
atr��s de sua mesa.
��� Vim assim que recebi o seu chamado ��� disse ele, ansiosa-
mente. ��� Algum problema?
��� N��o, n��o h�� nenhum problema ��� respondeu a m��dica,
tranquilizadoramente. ��� N��s o transferimos para um centro de
tratamento intensivo. Achei que voc�� gostaria de estar presente
quando o acordarmos.
Doc Sawyer deixou escapar um suspiro de al��vio e arriou numa
cadeira diante dela.
��� �� demais! ��� Ele tirou um ma��o do bolso do palet��. As
m��os ainda tremiam quando acendeu o cigarro. ��� Isto �� uma
loucura. ��� Ele puxou uma tragada funda, enchendo os pulm��es de
fuma��a. ��� Passei a acreditar mais do que nunca, durante os ��ltimos
tr��s anos, que todos nos transformamos em Frankensteins.
��� Todos os m��dicos no fundo s��o Frankensteins. ��� Ela
sorriu. ��� H�� algum de n��s que n��o sonhe em bancar Deus?
��� Acho que tem raz��o. ��� Sawyer deu outra tragada. ��� Mas
todos sabemos quem �� Deus, n��o �� mesmo?
Ela riu. Mas n��o havia qualquer humor nos olhos amarelados,
como os de um gato.
��� Judd Crane?
Sawyer riu, tamb��m sem qualquer humor.
��� Ele tem de ser Deus. N��o conhe��o mais ningu��m que tenha
condi����es para isso.
A Dra. Zabiski manteve-se em sil��ncio por um longo momento,
depois balan��ou a cabe��a.
��� Provavelmente voc�� tem raz��o. Confesso que n��o acreditei
quando ele prop��s primeiro 20 milh��es e depois 50 milh��es de
d��lares. Achei que n��o havia tanto dinheiro no mundo. E foi ent��o
que fitei-o nos olhos. Passei a acreditar. N��o no dinheiro, mas no
99
homem. Ele tencionava mesmo reunir todo o conhecimento do
mundo para converter em realidade o seu sonho: a imortalidade.
Doc Sawyer largou o cigarro.
��� E qual �� o seu sonho? ��� perguntou ele, observando o
cigarro fumegar no cinzeiro em cima da mesa.
��� Eu gostaria de ser parte do sonho dele. ��� Sawyer percebeu
uma pontada de tristeza na voz da Dra. Zabiski, que logo acrescen-
tou, depois de uma breve pausa: ��� Mas n��o sei... juro que n��o sei.
Ser�� que temos condi����es de realizar o seu sonho? Talvez o
conhecimento e a ci��ncia n��o sejam suficientes. ��� Os olhos dos dois
se encontraram atrav��s da mesa. ��� Devemos compreender que
somos humanos, como ele, n��o como Deus.
Ele balan��ou a cabe��a, bem devagar.
��� Estou come��ando a pensar que gosto de voc��, Dra. Zabiski.
Ela sorriu.
��� Obrigada, Dr. Sawyer. ��� Ela interrompeu deliberadamen-
te o clima afetuoso entre os dois. ��� Vamos ver como ele est��
passando.
Sawyer se levantou e foi se postar ao lado da Dra. Zabiski,
enquanto ela comprimia as teclas do computador em sua mesa.
N��meros come��aram a desfilar pela tela, amarelo, vermelho, azul,
verde, p��rpura e branco.
��� Ter�� de me explicar tudo, doutora. N��o tenho o c��digo.
��� Desculpe. Pensei que estivesse informado. Mas n��o h��
problema, explicarei tudo. �� um c��digo em cores bem simples, com o
branco sendo o ideal ou o que esperamos alcan��ar. O resto �� normal,
as outras cores indicando porcentagens da normalidade. Todos os
sinais vitais e a patologia s��o permanentemente controlados. No
momento, estamos mais preocupados com a temperatura do corpo.
Nosso objetivo para esse procedimento �� estabilizar a temperatura
normal de seu corpo em 35�� C. Devemos lembrar que este �� o
terceiro processo a que ele �� submetido em tr��s anos. Os dois
primeiros reduziram a sua temperatura de 37 a 36,3 e depois a 35,7.
Mantivemos essas temperaturas firmes por um ano inteiro, antes de
passarmos para a etapa seguinte.
Sawyer desviou os olhos da tela para a Dra. Zabiski.
��� Se me lembro corretamente, de acordo com as tabelas de
sobreviv��ncia que me mostrou, manter a temperatura do corpo em
35�� C deve proporcionar-lhe uma expectativa de vida de 150 anos.
100
��� Correto. Mas esse n��o �� o ��nico fator. A implanta����o
celular, assim como a placenta e o processo romeno de proca��na
devem fortalecer a vitalidade de todo o corpo, fazendo com que
outro fator de envelhecimento seja consideravelmente desacelerado.
��� Ela levantou o rosto para fit��-lo, antes de acrescentar: ���
Devemos compreender que o corpo precisa resistir ao fator tempo
que lhe �� imposto.
Doc Sawyer ficou em sil��ncio por um momento.
��� Em torno de 150 anos... Isso deve ser suficiente para
qualquer um.
��� N��o para ele, pois falou em imortalidade. Temos mais
quatro etapas de redu����o de temperatura planejadas, ao longo de um
per��odo de quase cinco anos. Isso deve levar a temperatura de seu
corpo a 31�� C, a predi����o de sobreviv��ncia se prolongando a 280
anos. Mas, como eu disse antes, n��o sei. Neste momento, �� tudo
trabalho de adivinha����o do computador.
��� Merda! ��� exclamou Sawyer. ��� Estou com medo.
Ela desligou o computador.
��� Eu tamb��m. ��� A Dra. Zabiski encheu um copo com a ��gua
de uma garrafa t��rmica que estava em cima da mesa. Tomou um
gole. ��� Interferir com o hipot��lamo, mesmo com um laser nuclear, a fim de reduzir a temperatura de seu corpo, n��o nos oferece qualquer
garantia. Um microssegundo pode mat��-lo.
Doc Sawyer voltou �� sua cadeira.
��� Talvez possamos persuadi-lo a parar depois disso.
��� J�� conversei com ele sobre isso antes. E lhe asseguro que
tornarei a conversar. Mas j�� sei o que ele responder��.
Sawyer fitou-a nos olhos.
��� O qu��?
��� Ele diz: "Posso morrer num acidente a qualquer instante. E
prefiro morrer tentando."
A Dra. Zabiski tornou a apertar teclas do computador e depois
virou-se para ele.
��� Podemos descer. Ele ser�� acordado dentro de 15 minutos.
O elevador levou-os ao oitavo n��vel. Outro guarda acenou-lhes
de tr��s de sua mesa, quando passaram pelas portas de vidro para
entrar num corredor. Mais adiante, o corredor virava para a direita
em ��ngulo reto, ocultando-os da vista do guarda. Havia ali outras
portas de vidro, com um letreiro prateado: SALA DE CONTROLE.
101
A Dra. Zabiski comprimiu a palma contra a placa de identifica-
����o. As portas se abriram e os dois entraram na sala. Embora j�� a
tivesse visto muitas vezes, a sala de controle sempre parecia ao Dr.
Sawyer um centro de controle em miniatura da NASA, durante os
v��os espaciais. Entraram numa pequena platafprma e tr��s degraus os
levaram ao piso principal, com as paredes cobertas por compu-
tadores, as fitas em movimento, registrando as informa����es recebidas
nas telas cinza-prateadas. A parede do outro lado era toda de vidro e
no outro lado ficava o centro de tratamento intensivo em que Judd
repousava. Tr��s t��cnicos estavam sentados na sala de controle,
acompanhando pelos computadores todos os movimentos vitais
dentro e fora do corpo do paciente.
Sawyer seguiu a pequena m��dica at�� a parede de vidro e olhou
para o outro lado. Judd dormia, o corpo inteiramente nu coberto por
eletrodos sem fios, que transmitiam informa����es aos computadores.
Os ��nicos tubos ligados ao corpo eram os que levavam um fluxo de
oxig��nio ��s narinas.
A Dra. Zabiski virou-se para os monitores, enquanto Sawyer
ainda observava Judd. Ele teve a impress��o de perceber um s��bito
movimento. E, no instante seguinte, o movimento tornou-se mais
acentuado. Inconscientemente, Judd experimentava uma ere����o.
Sawyer virou-se para a m��dica e comentou:
��� Ele deve estar tendo sonhos lindos. ��� Sawyer sorriu. ���
Ficou excitado sozinho.
Zabiski empertigou-se e olhou para Judd. Uma express��o de
preocupa����o insinuou-se em seu rosto.
��� N��o gosto disso. Ainda �� muito cedo. ��� Ela inclinou-se
para o primeiro t��cnico. ��� D��-me uma leitura do EEG e chame o
neurologista imediatamente. Chame tamb��m o Dr. Ablon, o cardio-
logista.
A segunda t��cnica chamou-a nesse instante:
��� Dra. Zabiski, temos um registro de alta de temperatura.
Subiu para 35,3. ��� Uma pausa e ela se apressou em emendar: ���
N��o, est�� em 35,4.
��� Quero uma leitura da qu��mica do sangue e de todos os sinais
vitais. ��� Zabiski olhou por cima do ombro do primeiro t��cnico.
Observou as linhas que se contorciam pela tela. Virou-se para
Sawyer. ��� Ele est�� mesmo sonhando. H�� um movimento hiperativo
no setor alfa, bem definido, embora n��o muito intenso.
102
��� O que acha que est�� acontecendo?
��� Ainda n��o sei. Mas tenho um palpite.
Mas ela n��o disse qual era. Sawyer continuou a fit��-la firme-
mente, esperando. Ela explicou, por fim:
��� Tenho a impress��o de que o hipot��lamo est�� rejeitando
todos os procedimentos e voltando ao funcionamento normal.
��� E isso representa algum perigo para ele?
��� Acho que n��o. ��� Zabiski observava a tela. ��� Os sinais
vitais est��o em ordem. A qu��mica do sangue n��o indica qualquer
anormalidade ou infec����o.
Ela pegou o telefone e ligou para o anestesista, que se
encontrava em outra sala.
��� Mantenha o paciente adormecido por mais algum tempo.
Precisamos verificar umas poucas coisas antes de despert��-lo.
��� Onde est�� Sofia? ��� perguntou Sawyer. ��� Ela n��o deveria
ficar aqui?
��� Eu lhe dei alguns dias de folga. Depois de trabalhar por
quase tr��s anos sem qualquer descanso, achei que ela precisava.
Especialmente depois que se ofereceu para ser o controle. Estava
muito cansada ao terminar a ��ltima s��rie de testes.
��� E tiveram sucesso?
Zabiski tornou a virar a cabe��a para fit��-lo.
��� Est�� querendo saber se ela engravidou? ��� A pr��pria
Zabiski se encarregou de responder: ��� A resposta �� sim.
��� Para onde ela foi?
��� M��xico. Sofia passou a ter a maior curiosidade pelo M��xico
desde que esteve em Acapulco.
Sawyer se manteve em sil��ncio, pensando. O M��xico era uma
op����o curiosa para Sofia. Se era o sol que ela procurava, havia o
suficiente em Boca Raton. Talvez ela tivesse outro motivo. Sawyer
resolveu pedir a Merlin que mandasse a Seguran��a investigar a
viagem.
103
16
J U D D APERTOU O bot��o ao lado da cama, levantou a cabe��a e
pegou o telefone. Merlin atendeu prontamente e ele perguntou:
��� O que est�� acontecendo?
��� Recebemos dois telefonemas fren��ticos do comit�� de
posse. Reagan quer nos incluir em sua comitiva pessoal.
��� N��o ser�� na pr��xima semana?
��� Isso mesmo.
��� Pois avise que me sentirei honrado em estar presente. Diga
tamb��m que cuidarei diretamente da minha viagem e alojamento. ���
Judd olhou para o rel��gio na parede. ��� Mais alguma coisa?
��� O Ministro da Fazenda do Brasil quer marcar uma reuni��o
para descobrir se vamos ou n��o participar do projeto de Ludwig l��.
H�� rumores persistentes de que D. K. est�� querendo abandonar o
projeto.
Judd pensou por um instante.
��� Vamos primeiro obter mais informa����es a respeito. Diga
que marcaremos um encontro com ele assim que eu puder programar
o Brasil. Mas ressalve que planejamos apenas uma conversa a
respeito. Ainda n��o estamos interessados no projeto.
��� Sim, senhor. O governo aprovou a nossa proposta de fus��o
da South & Western Savings e da Loan Association no Crane
Financial Service. Isso nos proporciona 150 ag��ncias e um ativo de
um bilh��o. A liquidez �� de 800 milh��es de d��lares em 30 dias, se
quisermos, senhor.
��� ��timo. Alguma resposta �� proposta que apresentamos ao
governo mexicano? O peso n��o est�� valendo porra nenhuma. Se eles
104
n��o garantirem a constru����o de um laborat��rio e f��brica para os
produtos farmac��uticos Crane, por 30 milh��es de d��lares, n��o
iniciaremos a produ����o no M��xico.
��� Ainda n��o tivemos not��cias deles.
��� Pois assuste-os um pouco. Diga que o Brasil est�� interessado
em conversar conosco.
��� Est�� certo. ��� Merlin mudou de assunto abruptamente. ���
Como est�� se sentindo?
��� Uma merda. Mas n��o se preocupe com isso. Sairei daqui
dentro de poucos dias.
��� Fico contente por isso.
��� Obrigado.
Judd desligou e apertou o bot��o para chamar a enfermeira.
Apareceu uma jovem nova, que ele ainda n��o conhecia, cabelos
ruivos como uma chama por cima dos suaves olhos azuis.
��� Qual �� o seu nome?
��� Bridget O'Malley ��� respondeu a mo��a, com um vest��gio de
sotaque inconfund��vel.
��� Irlandesa? E acabando de saltar do navio?
��� Vim de avi��o, Sr. Crane. Fui contratada especialmente para
este trabalho.
��� Deve ter preenchido requisitos muito especiais para que
meu pessoal a contratasse. Quais s��o?
Um ligeiro rubor espalhou-se pelo rosto da mo��a.
��� Prefiro n��o discutir o assunto ��� respondeu ela, o sotaque
irland��s se acentuando.'
��� Estou com sede ��� disse Judd bruscamente. ��� Traga-me
uma Coca-Cola.
��� Lamento, Sr. Crane, mas s�� pode ser suco de laranja ou
��gua. �� tudo o que tem permiss��o.
��� Ent��o suco de laranja. ��� Judd observou o rubor ainda
vis��vel no rosto da mo��a. Ela come��ou a se v i r a r . ��� Bridget.
A mo��a tornou a se aproximar da cama.
��� Pois n��o, Sr. Crane.
Ele fitou-a nos olhos.
��� Eles lhe disseram que tenho um problema tempor��rio de
priapismo?
Ela baixou os olhos para o len��ol que lhe cobria as pernas.
��� Disseram, Sr. Crane.
105
��� Um dos requisitos especiais que voc�� preenchia era o de
cuidar de pacientes com priapismo?
Ela fez que sim com a cabe��a.
��� E onde foi que obteve a experi��ncia?
��� Passei quatro anos no Hospital dos Veteranos em Devon.
��� E quais eram os tratamentos receitados l��, Bridget?
Ela fitou-o nos olhos.
��� Determinadas drogas, acupress��o, eletromi��grafo (EMG),
relaxamento muscular...
Judd interrompeu-a:
��� Muito interessante... Obrigado pela informa����o, Bridget.
Pode me trazer o suco de laranja agora.
Ele esperou at�� que a jovem enfermeira voltasse com o copo de
suco de laranja. Estava ereto, duro como pedra, pulsando dolorosa-
mente. Tomou um gole.
��� Soube que h�� uma opera����o que pode corrigir esse proble-
ma.
��� �� verdade, Sr. Crane ��� disse a enfermeira, impessoalmen-
te. ��� Mas n��o vai querer isso, porque a opera����o n��o pode ser
revertida depois de efetuada. Nunca mais teria uma ere����o. S�� se
recorre �� opera����o no caso de uma ere����o pri��pica permanente e
dolorosa.
Judd observou-a atentamente.
��� Posso lhe garantir que neste momento �� extremamente
dolorosa. O que devo fazer, Bridget? Masturbar-me outra vez? Meu
p��nis come��a a doer e arder. Fico na maior agonia at�� chegar ao
orgasmo.
Ele n��o desviou os olhos dela. A mo��a pegou a carta ao p�� da
cama e fez uma anota����o.
��� Deixe-me consultar o m��dico.
��� Por que esperar pelo m��dico? Pensei que tivesse sido
contratada especialmente por sua experi��ncia, t��cnica e m��todo.
��� Sou apenas uma enfermeira, Sr. Crane. N��o posso fazer
coisa alguma sem ordens espec��ficas d�� m��dico.
��� Que se fodam todos os m��dicos! Sou dono deste maldito
hospital e de tudo que h�� nele, inclusive os m��dicos. E se voc�� pode
me ajudar, ent��o �� melhor cuidar disso logo de uma vez.
��� O m��dico vai me mandar embora.
��� N��o contaremos a ningu��m.
1 0 6
Ela apontou para o monitor de televis��o na parede, por tr��s da
cama.
��� �� observado pela tela e gravado durante as 24 horas do dia.
Judd jogou uma toalha no monitor. Cobriu inteiramente a lente
da c��mara.
��� Ningu��m nos ver�� agora ��� disse ele, bruscamente.
Judd empurrou o len��ol para o lado. O falo saltou, como uma
besta selvagem se libertando da jaula, vermelho e latejando.
��� Agora!
Ela hesitou por mais um instante, depois aproximou-se do lado
da cama. P��s um joelho na cama, ao lado de Judd; depois pegou o
falo firmemente com a m��o esquerda. Com os dedos da outra m��o,
come��ou a comprimir os nervos localizados no escroto, logo acima
dos test��culos. Fitou-o nos olhos e disse gentilmente:
��� Pode doer um pouco.
Os olhos de um azul-cobalto de Judd se mantiveram impass��-
veis. Ele se limitou a acenar com a cabe��a, sem dizer nada.
Lentamente, ela come��ou a fazer press��o sobre os nervos com
os dedos, ao mesmo tempo abrindo-os e fechando-os contra o falo,
for��ando o sangre a retornar �� base, na dire����o do escroto. Depois de
um momento, ela pareceu adquirir um ritmo certo. A m��o continuou
a empurrar para baixo, os dedos pressionando. Ela observou-o, ��
procura de qualquer sinal de que a dor se tornara insuport��vel. Mas
Judd manteve os l��bios firmemente contra��dos, resistindo �� agonia.
��� Sinto muito ��� murmurou ela. ��� Ser�� apenas mais um
momento.
Judd assentiu, compreendendo a situa����o, o suor come��ando a
brotar em sua testa. Subitamente, um ��mpeto como uma faca afiada
pareceu lhe rasgar a virilha. Um gemido involunt��rio escapou de seus
l��bios. A enfermeira ficou de p��.
��� Est�� acabado, Sr. Crane.
Ele respirou fundo por um instante, recuperando o f��lego,
depois se contemplou. O p��nis encolhera ao tamanho normal,
relaxado. Olhou para Bridget, murmurando, com um leve tom de
incredulidade:
��� Voc�� conseguiu.
��� Isso mesmo, Sr. Crane.
��� Estou profundamente grato. ��� Judd deixou escapar um
107
suspiro de satisfa����o. ��� Mas acho que jamais substituir�� chupar e
foder.
Ela sorriu pela primeira vez.
��� �� o que tamb��m penso, Sr. Crane.
Ele sentou-se na cama e olhou para a Dra. Zabiski.
��� O que saiu errado?
��� Nada demais ��� respondeu ela, secamente. ��� Apenas que
milh��es de anos de evolu����o n��o concordam com os nossos compu-
tadores. ��� A m��dica olhou para os impressos de computador que
tinha nas m��os, antes de acrescentar: ��� Mas obtivemos um pequeno
sucesso. Sua temperatura est�� agora fixada em 36,9, um d��cimo
abaixo do normal.
��� E de que isso me serve?
��� Representa 10 ou 15 anos de sobreviv��ncia, em circunst��n-
cias normais. E de acordo com as tomografias, o programa de
implanta����es foi bem tolerado por seu organismo. Se continuarmos
com o programa, isso deve acrescentar aproximadamente mais 25
anos de sobreviv��ncia. Com base na expectativa de vida m��dia de um
homem em sua classe social e econ��mica, que �� de 80 anos, voc�� j��
conseguiu prolongar a poss��vel sobreviv��ncia para 125 anos.
��� Isso n��o �� imortalidade ��� comentou Judd, em voz t��o seca
quanto a areia do deserto.
Ela ficou calada.
��� Acha que devemos tentar de novo o processo com o laser
nuclear?
��� N��o ��� respondeu a Dra. Zabiski, taxativa. ��� Tivemos
sorte desta vez. Na pr��xima, podemos destruir o hipot��lamo e voc��
se tornaria frio para sempre.
Os olhos de Judd estavam azuis como a noite.
��� Devemos ent��o recorrer �� engenharia gen��tica.
��� Levar�� muito tempo para conhecermos o suficiente do
c��digo gen��tico para tirar algum proveito... infelizmente.
Zabiski arrematou a resposta com um suspiro.
��� Tenho todo o tempo necess��rio. Afinal, n��o acabou de me
dizer que chegarei aos 125 anos? ��� Ele sorriu. ��� Muito bem. J��
posso deixar o hospital?
��� Amanh�� de manh��. Fisicamente, voc�� goza de sa��de
perfeita. At�� melhor do que na ocasi��o em que nos conhecemos. Se
108
quer avaliar em termos de anos, passou da idade de 42 anos para 40,
ao inv��s de subir para 46.
��� N��o �� melhor do que esper��vamos?
��� ��, sim. Mas ter�� de se cuidar melhor. Comida, bebida,
descanso, drogas. Deve experimentar outro estilo de vida.
��� Por que n��o mencionou sexo?
��� O priapismo deve ser tempor��rio. Depois disso, n��o exa-
gere.
��� Tenho minhas d��vidas ��� murmurou Judd, sorrindo. ���
Talvez eu devesse conserv��-lo. Acho excitante a id��ia de ter ��
disposi����o sempre que quero.
Ela n��o sorriu.
��� Se isso acontecesse, consumiria toda a sua vida atrav��s do
p��nis.
��� Como ent��o se prop��e controlar?
��� N��o serei eu. Voc�� mesmo aprender�� a se dominar.
Biofeedback EMG e ioga. O que acha?
��� Parece feiti��aria, doutora.
��� �� melhor do que nitrato de pot��ssio. ��� A Dra. Zabiski
levantou-se. ��� Quer saber de uma coisa, Judd? Estou come��ando a
gostar de voc�� e quero que cuide de si. Tamb��m partilho o seu sonho
e n��o quero que coisa alguma prejudique o homem que tem a
cust��dia desse sonho por n��s dois.
109
17
O TELEFONE scrambler na mesa de Merlin tocou duas vezes. Ele
atendeu.
��� Merlin falando.
��� John D . , Seguran��a.
��� O que ��, John?
��� Nosso agente seguiu-a no v��o para a Cidade do M��xico. Ela
transferiu-se para um v��o da Aeromexico para Havana. Ele perdeu-
a, porque n��o tinha visto para Cuba.
��� Temos agentes em Cuba?
��� Temos, sim, senhor. Seis homens.
��� Quero tr��s homens esperando a chegada da mulher em
Havana. E quero uma vigil��ncia de 24 horas. Com um relat��rio
meticuloso de tudo o que ela fizer. Entendido?
��� Entendido, senhor.
��� Apresente-me as ��ltimas informa����es a cada tr��s horas.
��� Est�� bem, senhor. Temos tamb��m a informa����o de que Li
Chaun est�� seguindo para Havana, pela Air Canada. Tudo indica que
ter��o um encontro l��.
��� Mande vigi��-lo tamb��m.
��� Certo. J�� recebeu o relat��rio lude de Hong Kong?
��� J��, sim. Tr��s milh��es de ludes por ano. Isso d�� uma por����o
de Quaaludes.
��� Quinze milh��es de d��lares ��� disse John D. ��� Transferidos
da Crane Pharmaceuticals para contas nas Bahamas e Su����a. Estamos
trabalhando neste momento para descobrir quem possui essas contas.
��� Tenho o pressentimento de que uma das contas �� do pr��prio
110
Li Chaun e a outra do governo vermelho chin��s. Nossa conta de
Interferon com eles est�� abaixo de um milh��o.
��� Descobriremos tudo. Mais alguma coisa, senhor?
��� N��o por enquanto. Obrigado.
Merlin olhou para o registro de computador em sua mesa. Tudo
estava completamente normal. Ele respirou fundo. S�� isso j�� lhe
parecia errado. Geralmente encontrava numerosos pequenos erros
de computador. Ao que podia se lembrar, era a primeira vez que o
computador se mostrava perfeito.
Ele pegou o telefone e ligou para a Central de Computa����o, na
Calif��rnia. Um momento depois, falava com o diretor:
��� Quero uma confer��ncia de todas as transa����es realizadas
nos ��ltimos tr��s anos. Verifique tamb��m se houve interfer��ncias nos
computadores e se algu��m pode ter tido acesso aos bancos de
mem��ria.
��� Efetuamos uma verifica����o de rotina todos os dias.
��� Sei disso ��� declarou Merlin, asperamente. ��� Mas desta vez
quero que realize uma confer��ncia diferente da rotineira. Projete-a e
passe pelo scrambler assim que ficar pronta.
��� A m��e n��o vai gostar ��� protestou o diretor. ��� Sabe como
ela fica contrariada quando sua rotina �� alterada.
Merlin aceitou o jarg��o do diretor, referindo-se ao computador
como se fosse uma pessoa.
��� Diga �� madame para deixar de nos aborrecer ou desligare-
mos alguns de seus micros prediletos.
Ele desligou e acendeu um cigarro. "Malditas m��es!", pensou.
Pegou o telefone, a fim de ligar para Judd, mas largou sem chegar a
us��-lo. Seja como for, ficaria no escrit��rio por mais um dia. At�� l��, j��
teriam mais informa����es para definir o problema, antes de apresent��-
lo a Judd. Merlin largou o cigarro. Mais um dia n��o poderia fazer mal
algum. Quaisquer que fossem os danos, concluiu Merlin, j�� estavam
consumados.
Havana estava quente e ��mida, apesar do sol j�� se aproximar do
horizonte, no final da tarde. Quando ela chegou ao hotel, provenien-
te do aeroporto, as roupas estavam grudadas no corpo. Seu quarto
fora reservado e o recepcionista chamou um empregado para lev��-la
at�� l�� imediatamente.
111
��� O ar-condicionado n��o est�� funcionando ��� informou o
rapaz, ao largar a bagagem no quarto. ��� Ele foi at�� as janelas
corredi��as que davam para a varanda e abriu-as para a fornalha que
era o dia l�� fora, acrescentando: ��� Ficar�� mais fresco assim que
escurecer.
Sofia deu-lhe uma nota de cinco d��lares, pelo que o rapaz
agradeceu-lhe profundamente e depois se retirou. Ela esperou que a
porta fosse fechada antes de sair para a varanda.
A larga avenida entre o hotel e a praia estava vazia de tr��fego.
O ar quente j�� come��ava a refrescar um pouco, com uma brisa que
soprava do mar. Um momento depois, enquanto ela continuava na
varanda, o passeio amplo ao lado da praia se enchia de pessoas,
distraindo-se com um passeio ao final da tarde.
Ela voltou ao quarto e abriu a mala. Rapidamente, pendurou
dois costumes de linho e dois vestidos no arm��rio, guardou a lingerie
numa gaveta. Fechou a mala e largou o peignoir na cama. Levou o
pequeno estojo de cosm��ticos para o banheiro e ajeitou-o ao lado da
pia. Abriu a torneira da banheira e espremeu o tubo de gel no fluxo
de ��gua. Esperou por um momento, at�� que o perfume lhe subiu ��s
narinas, voltou ao quarto e come��ou a despir-se. Pendurou o vestido
ao lado dos outros, meticulosamente, largou a lingerie em outra
gaveta da c��moda. Nua, virou-se para a cama e estendeu a m��o para
pegar o peignoir. Foi nesse instante que ouviu a chave girando na
fechadura. A porta foi aberta antes que pudesse vestir-se.
Ela deparou com Nicolai, alto, corpulento, os cabelos pretos
exibindo agora muitos fios brancos. Ele contemplou-a em sil��ncio,
enquanto fechava a porta ��s suas costas. O peignoir ainda na m��o,
Sofia n��o fez a menor tentativa de se cobrir.
��� Voc�� chegou cedo ��� disse ela, em russo.
��� Quatro anos, Sofia, foi tempo demais. Eu a vi quando
passou pelo sagu��o e descobri que n��o podia mais esperar.
��� Eu n��o queria encontr��-lo toda pegajosa e cheirando a suor.
Ia tomar um banho de banheira, com ��gua perfumada.
Ele abra��ou-a e beijou-a, sussurrando:
��� Tudo o que preciso �� de qualquer cheiro de voc��.
Ela permaneceu calada, sem reagir. Nicolai fitou-a nos olhos.
��� Algo errado, Sofia?
��� Quase quatro anos, Nicolai. Todo esse tempo n��o desapare-
ce num momento.
112
Ele baixou os bra��os.
��� Voc�� n��o me ama mais? H�� outro?
��� Preciso apenas de um pouco de tempo. Passei tempo demais
em outro mundo. ��� Ela vestiu o peignoir, esquivando-se �� pergunta
de Nicolai.
��� Minha pasta est�� aberta em cima da mesa. Por que n��o d��
uma olhada nos relat��rios enquanto tomo um banho?
��� J�� pedi uma garrafa de champanha.
��� ��timo. N��o vou demorar.
Nicolai observou a porta do banheiro fechar, no instante em
que tocava a campainha. O gar��om p��s o balde cheio de gelo com o
champanha na mesinha e depois se retirou. Nicolai olhou da porta
fechada do banheiro para a garrafa de champanha. Tirou o arame
rapidamente e empurrou a rolha.
Sofia encontrou a ��gua quente, espumante e perfumada,
recostou-se deliciada na banheira. Os vapores perfumados entraram
por suas narinas e ela fechou os olhos. A ��gua flu��a sensualmente por
seu corpo. Subitamente, uma lufada de ar frio rompeu o encantamen-
to. Ela olhou para a porta.
Nicolai estava parado ali, nu, a garrafa de champanha numa das
m��os, o falo de cabe��a vermelha ereto na outra, r��gido e se
destacando no emaranhado de cabelos pretos que lhe cobria a
barriga. Ele se aproximou da banheira e empurrou o falo para o rosto
de Sofia, despejando champanha em cima. Sua voz soou ��spera e
furiosa:
��� Voc�� adorava champanha e adorava meu pau. Vamos
descobrir se se lembra. Chupe os dois!
��� N��o! N��o! ��� gritou Sofia, as m��os tentando afastar o falo.
Ele puxou-lhe o rosto contra a sua ere����o, o orgasmo explodin-
do quase que no mesmo instante.
��� Sua puta!
Sofia estava tossindo, o s��men escorrendo pelas faces, pingan-
do do queixo. Ele saiu de sua boca e entrou na banheira. Ajoelhou-se
entre as pernas de Sofia e puxou-a, flutuando, para a frente. As
pernas de Sofia envolveram-no pela cintura, at�� que conseguiu
penetr��-la. Ele empurrou o corpo contra ela violentamente. As m��os
de Sofia tentavam empurr��-lo.
��� N��o! ��� sussurrou ela. ��� Por favor, n��o!
��� Sua puta louca por pau! O que mudou em voc��?
113
��� Por favor! ��� Sofia chorava agora. ��� Ser�� que n��o percebe
que estou gr��vida?
Nicolai ficou aturdido.
��� Gr��vida?
��� Isso mesmo. Dez semanas.
Sofia fitou-o nos olhos. E sentiu-o encolher dentro dela. Ele
ficou em sil��ncio por um momento e depois afastou-se. Saiu da
banheira, sem desviar os olhos dela.
��� Voc�� n��o �� apenas uma puta sem-vergonha, mas tamb��m
uma idiota ��� disse ele, desdenhosamente. ��� Quem �� o pai... ou ser��
que n��o sabe nem isso?
��� Sei, sim. �� Judd Crane.
Nicolai observou-a em sil��ncio por um momento, depois pegou
uma toalha e enrolou-se.
��� Vou me vestir. Gostaria de levar sua pasta para o escrit��rio
e tirar fotoc��pias de tudo. Devolverei quando vier busc��-la para
jantar.
��� Como achar melhor ��� respondeu Sofia, ap��tica.
��� Li Chaun jantar�� conosco.
��� Est�� bem.
Nicolai saiu e fechou a porta do banheiro. Subitamente, Sofia
sentiu um cansa��o intenso envolv��-la. Levantou-se, deixando a ��gua
na banheira escorrer. Abriu o chuveiro. O jato quente lavou a
ejacula����o de Nicolai de seu rosto.
Suas pernas pareciam ter-se transformado em borracha e
precisou se apoiar na parede para n��o cair. Fechou o chuveiro e saiu
da banheira. Enrolou uma toalha no corpo e passou para o quarto.
Nicolai j�� fora embora. Ela olhou para a mesa. A pasta n��o
estava mais ali. Foi sentar-se na beira da cama e ali ficou, im��vel, por
um momento. Depois, pegou a bolsa. Abriu-a e olhou para o frasco
de coca��na que Judd lhe dera. Rapidamente, aspirou duas doses.
O ��nimo esperado n��o aconteceu. Estava muito nervosa,
deprimida e cansada. Tornou a guardar o frasco na bolsa e estendeu-
se na cama. Os olhos fechados, n��o demorou a adormecer.
114
18
U M A LUFADA de ar fresco acordou-a. Sentou-se na cama, sentin-
do o corpo todo suado, depois de um sono profundo. O zumbido
do ar-condicionado se espalhava pelo quarto. Sofia levantou-se,
enrolou-se numa toalha e foi fechar a porta para a varanda. ��
noite, as luzes faiscavam pela avenida que acompanhava as praias em
torno da ba��a.
Ela olhou para o rel��gio. Oito e meia. Tinha de se vestir.
Voltou ao banheiro e tomou outro banho de chuveiro. P��s um
costume claro de linho. Conclu��a a maquilagem no instante em que o
telefone tocou. Era Nicolai.
��� Est�� acordada?
��� E vestida.
��� ��timo. Estarei a�� dentro de 15 minutos.
��� Espero no quarto ou prefere que eu o encontre no sagu��o?
��� No quarto. Vamos jantar num restaurante. Temos algum
tempo de sobra. Li Chaun vai se encontrar l�� conosco ��s 10 horas.
��� Est�� bem.
Sofia desligou. Contemplou-se no espelho. A maquilagem era o
verdadeiro milagre. As rugas de cansa��o haviam desaparecido. Mas
isso era a superf��cie, j�� que por dentro ela continuava deprimida.
Aborrecida consigo mesma, apesar do que via no espelho, ela foi
pegar a bolsa.
Abriu o bolso interno, fechado por um z��per, tirou uma
pequena caixa de prata e um frasco de coca��na. P��s na boca uma
p��lula verde e branca, engoliu-a sem ��gua, com a maior facilidade.
Depois, fungou duas doses de coca��na, uma em cada narina, usando a
115
colherzinha de ouro que Judd lhe dera, com suas iniciais gravadas no
cabo.
Sentiu o efeito quase imediatamente. A combina����o f��-la
recuperar o ��nimo. Respirou fundo. Come��ou a sentir-se revigorada,
mais forte, mais capaz de enfrentar o que fosse acontecer. Tornou a
guardar o frasco e a caixinha na bolsa, contemplou-se outra vez no
espelho. O rosto parecia ainda melhor. Os olhos brilhavam nova-
mente.
Nicolai esperou at�� que o empregado abrisse a garrafa de champa-
nha, enchesse os dois copos e sa��sse, fechando a porta. Entregou um
copo a Sofia e levantou o outro.
��� Pe��o desculpas.
��� N��o h�� necessidade.
��� Fui muito est��pido e insens��vel. E deveria tamb��m ter
compreendido tudo por que voc�� passou.
��� N��o tem import��ncia. Cada um de n��s tem o seu trabalho a
fazer e isso �� a ��nica coisa que importa.
Nicolai tocou com o seu copo o dela.
��� A voc��, Sofia. Nunca houve uma mulher como voc�� para
mim.
Ela tomou um gole, observando-o por cima do copo.
��� N��o me olhe assim, Nicolai. E n��o me fale assim.
��� Mas que droga! ��� Ele respirou fundo. ��� Sei que n��o
deveria, mas n��o consigo evitar. Ci��me. Ci��me de todo o tempo que
voc�� passa com ele e n��o comigo.
��� N��o deve se sentir assim, Nicky ��� disse ela, suavemente. ���
Estamos todos cumprindo os nossos deveres.
��� Isso foi tudo para voc��? N��o sentiu nada por ele?
��� N��o falei isso. Mas voc�� me conhece melhor do que
ningu��m. Naquela ocasi��o, eu pensava que precisava ter sexo a todo
instante, com ou sem sentimento. Cheguei a pensar que meu corpo
precisava mais de sexo do que de comida ou ar. Nos anos que passei
no Instituto, totalmente confinada, usava meus vibradores at�� tr��s ou
quatro vezes por dia. E pensava em voc�� sempre que os usava.
Ele tomou um gole de champanha e riu.
��� Lembra-se quando nos conhecemos? Pensei que voc�� fosse
ninfoman��aca. Parecia que nunca parava.
Sofia n��o riu.
116
��� Quando eu era jovem, tamb��m costumava pensar assim.
Era algo que n��o podia enfrentar, at�� que os m��dicos explicaram que
meus nervos sexuais s��o extraordinariamente sens��veis. As verdadei-
ras ninfoman��acas jamais encontram a satisfa����o e raramente experi-
mentam o orgasmo. Portanto, Nicky, eu n��o atendo ��s qualifica����es
exigidas. Mas s�� de falar com voc�� j�� sinto o clit��ris tremendo e fico
toda molhada.
��� Quero tocar em voc�� ��� murmurou ele.
��� N��o, Nicky. Estou diferente agora. N��o sou mais a garota
que voc�� conheceu. Eu cresci.
��� Nada mudou ��� disse ele, enfaticamente. ��� Eu ainda a
amo. At�� mais do que antes. E tenho certeza que voc�� tamb��m me
ama. Esse homem simplesmente lhe virou a cabe��a com seu dinheiro,
poder, t��xicos e estilo de vida. Alguma vez ele lhe disse, uma ��nica
vez que fosse, que a amava?
Sofia n��o respondeu.
��� Ele a pediu em casamento?
Ela sacudiu a cabe��a, ainda em sil��ncio.
��� Ele a est�� usando. Exatamente como usa todas as outras
pessoas, em proveito pr��prio, em sua busca de poder eterno. ��� Ele
balan��ou a cabe��a vigorosamente, fitando-a nos olhos. ��� Ele
acabar�� jogando-a fora, como faz com um brinquedo que n��o mais o
diverte. Ou se voc�� n��o lhe for mais ��til.
��� Ele n��o �� desse tipo ��� protestou Sofia, na defensiva. ��� ��
atencioso e sincero. Embora sua sinceridade pare��a ��s vezes cruel, na
franqueza absoluta.
��� Pensa que o est�� defendendo, mas na verdade est�� defen-
dendo a si mesma, num esfor��o de se convencer. Tenho certeza de
que n��o se sentiria assim se n��o se deixasse engravidar.
��� �� poss��vel ��� murmurou Sofia, pensativa. ��� Mas o que isso
representou? Uma experi��ncia, nada mais. N��o sou a primeira
cientista a usar o pr��prio corpo como campo de experi��ncia. A velha
estava preocupada com a possibilidade dos tratamentos deixarem-no
impotente.
��� Ent��o voc�� resolveu foder com ele para conferir?
��� N��o foi assim. Ela tirou o seu esperma e colocou nos ov��rios
de uma d��zia de mulheres.
��� E todas engravidaram?
��� Nem todas. Apenas 10.
117
��� Voc�� foi uma das afortunadas ��� comentou Nicolai, com
evidente amargura.
Sofia n��o disse nada.
��� O que acontecer�� agora?
��� A pr��xima semana ser�� a d��cima. E todas as gr��vidas
abortar��o.
��� Voc�� concordou com isso?
��� Concordei.
Nicolai observava-a fixamente.
��� Por que voc��? Era uma das m��dicas. Tenho certeza de que
n��o teriam qualquer dificuldade para arrumar outra mulher. Por que
voc�� preferiu se envolver pessoalmente?
��� Porque estava curiosa pelo meu pr��prio corpo, Nicky.
Nunca engravidei, embora jamais tenha usado qualquer tipo de
m��todo anticoncepcional. H�� algo din��mico nele. E imaginei...
��� Est�� agora admitindo a verdade! ��� exclamou Nicolai,
furioso. ��� Queria realmente um filho dele!
��� Queria sim! ��� confirmou Sofia, incisivamente. ��� Mas que
diferen��a isso faz? N��o haver�� mais nada na pr��xima semana.
��� Voc�� �� t��o est��pida quanto todas as outras mulheres ���
disse Nicolai, sarc��stico. ��� Passamos muitos anos juntos. Por que
n��o teve um filho comigo?
Sofia fitou-o nos olhos e respondeu, com a maior simplicidade:
��� Voc�� nunca me pediu.
A pasta estava aberta diante de Nicolai. Ele virava as p��ginas do
relat��rio de Sofia quando ela voltou ao quarto.
��� A velha �� muito esperta. Oito anos e ainda n��o sabemos se
descobrimos o m��todo que ela usa em sua impregna����o celular
clonada.
��� Conhecemos o m��todo de impregna����o celular. �� a pr��pria
f��rmula de clonagem, na qual ela trabalha sozinha no laborat��rio,
que ainda n��o fomos capazes de determinar.
��� J�� esteve alguma vez no laborat��rio com ela? ��� perguntou
Nicolai, no tom mais casual de que era capaz.
��� N��o. E n��o conhe��o ningu��m que j�� tenha estado. Estou
come��ando a pensar que ela nunca teve um processo de clonagem.
Apenas esperava que Crane, com todas as suas instala����es e
computadores, pudesse descobrir para ela.
118
Nicolai largou o relat��rio e mudou de assunto abruptamente:
��� Ela j�� a informou de que voc�� voltar�� �� R��ssia?
surpresa era patente na voz de Sofia:
��� N��o. Por qu��?
��� Porque dever�� cuidar de Brezhnev.
��� Ela n��o me disse nada a respeito.
Nicolai ficou em sil��ncio por um longo momento.
��� Talvez ela achasse que era melhor esperar at�� seu aborto.
��� �� poss��vel. Qual �� o problema com o presidente?
��� S�� sei dos rumores. Alguns dizem que �� c��ncer, outros
falam num aneurisma ou hemorragia cerebral... mas at�� agora s�� h��
rumores. Mas sei que ele se move com dificuldade e ��s vezes engrola
as palavras. Ela teve quatro consultas com ele durante o ano passado.
E depois veio a not��cia de que voc�� seria designada para cuidar dele.
��� E o trabalho que estou fazendo aqui?
��� �� uma quest��o de prioridades. Para n��s, Brezhnev �� mais
importante do que Crane.
Sofia acenou com a cabe��a, pensativa.
��� Ela est�� sendo muito esperta, Nicky. Conhe��o pelo menos
quatro assistentes de Zabiski que podem perfeitamente cuidar de
Brezhnev. Mas a minha transfer��ncia reduz a possibilidade de
descoberta de seu m��todo.
��� O que a faz pensar que pode ter uma chance?
��� Tudo o que se relaciona com o pr��prio Crane e com seus
neg��cios �� transmitido ao Computador Central, na Calif��rnia. Claro
que n��o espero que a f��rmula tenha sido transmitida ao computador,
mas tudo o que ela precisa, em termos de suprimentos e equipamen-
tos, encomendados e comprados, �� automaticamente registrado pelo
computador. Se consegu��ssemos descobrir essas informa����es, estar��a-
mos muito mais perto da descoberta do m��todo. Sofia fez uma pausa,
sacudindo a cabe��a com uma express��o pesarosa. ��� Para obter as
informa����es, no entanto, precisar��amos ter o c��digo de acesso ao
computador. E as ��nicas pessoas que sei possu��rem o c��digo s��o o
pr��prio Crane, seu assistente pessoal, Merlin, e o diretor do Compu-
tador Central.
Nicolai murmurou, lentamente:
��� Talvez haja outra pessoa que possa obt��-lo.
Sofia fitou-o, inquisitiva.
��� N��o estou entendendo.
119
��� Li Chaun. �� por isso que estamos nos encontrando aqui,
Sofia. O homem diz que tem o c��digo de acesso e pode coloc��-lo ��
nossa disposi����o.
��� N��o faz sentido. Mesmo que ele o tivesse, n��o posso
acreditar que seja t��o altru��sta para entreg��-lo a n��s.
��� O altru��smo nada tem a ver com isso. ��� Nicolai soltou uma
risada. ��� O pre��o �� de 20 milh��es de d��lares.
120
19
O CARRILH��O suave do telefone particular ao lado de sua cabe��a
soou acima do programa de televis��o que assistia. Ele atendeu.
��� Crane.
��� Est�� acordado? ��� perguntou Merlin.
��� Estou, sim. Assistia televis��o.
��� Eu gostaria de ir lhe falar pessoalmente.
��� Oito horas da manh�� est�� bem?
��� Agora seria melhor.
Judd pensou apenas por um momento. N��o precisava perguntar
a Merlin se era importante. O pedido era prova suficiente.
��� Quanto tempo vai demorar para chegar aqui?
��� Estou no escrit��rio em Boca Raton. Cerca de 30 a 40
minutos. N��o deve haver muito tr��fego a esta hora.
��� Pe��a a Fast Eddie para guiar e mande-o trazer uma muda de
roupa para mim.
��� Certo.
Merlin desligou. Judd apertou o bot��o ao lado da cama para
chamar a enfermeira e desligou a televis��o. Bridget entrou no quarto
um momento depois.
��� Pois n��o, Sr. Crane?
��� Tire essas agulhas dos meus bra��os e ajude-me a ir at�� o
chuveiro.
��� N��o posso fazer isso sem ordens da Dra. Zabiski.
��� Chame-a ent��o.
Ela fitou-o, hesitante.
��� Agora!
121
Ela saiu, fechando a porta. O telefone tocou pouco depois.
��� A enfermeira transmitiu seu pedido Sr. Crane ��� disse a
pequena m��dica. ��� �� mesmo importante?
��� ��, sim.
��� Est�� certo. Mas quero estar presente quando retirarem o
equipamento e me certificar de que se encontra em perfeita sa��de.
Vou me vestir e estarei em seu quarto dentro de 10 minutos.
Enquanto isso, a enfermeira o preparar��.
Bridget voltou ao quarto logo em seguida. Trazia uma bandeja
com uma seringa hipod��rmica, coberta por uma toalha.
��� Deite-se ao lado. Esta inje����o ser�� na bunda.
��� O que �� isto?
��� Sou apenas a enfermeira. N��o devo indagar do que se trata,
mas apenas cumprir as ordens m��dicas.
Judd deitou-se de lado, enquanto ela levantava o len��ol. Sentiu
o frio do algod��o embebido em ��lcool e depois a leve picada da
agulha.
��� Fique quieto, Sr. Crane. A inje����o �� demorada.
��� Merda!
Bridget riu.
��� S��dica. ��� Judd fez uma pausa. ��� Acho que estou ficando
de pau duro. N��o quer dar uma chupada?
Ela tornou a rir, retirando a agulha e pondo um Band-Aid
redondo em sua n��dega.
��� N��o h�� possibi��dade. A culpa �� sua. Estava com muita
pressa. Creio que a inje����o �� para resolver o seu problema.
Judd virou-se e ficou de costas, recostado nos travesseiros, a
contempl��-la.
��� Bridget, Bridget... ��� murmurou ele, sorrindo. ��� H��
sempre alguma coisa para nos tirar as alegrias da vida.
��� Fique quieto por um momento. Vou lhe buscar um copo de
suco de laranja.
��� Prefiro tomar uma Coca temperada.
��� Mas ter�� de se contentar com o suco de laranja.
Ela saiu, fechando a porta.
Judd sentou-se na beira da cama, as pernas pendendo para o lado. A
Dra. Zabiski terminou de verificar a press��o.
��� Est�� ��tima, 120 por 85.
122
Ela gesticulou para uma enfermeira de laborat��rio, que pronta-
mente prendeu um tubo de borracha no bra��o de Judd. Depois,
rapidamente, eficientemente, a enfermeira encheu quatro tubos com
sangue. Em seguida, ajeitou um espir��metro port��til. Levantou o
tubo pl��stico para Judd e disse:
��� Respire fundo, depois sopre. ��� Ele obedeceu. ��� Outra
vez, agora ainda mais fundo. ��� Ela esperou que Judd enchesse os
pulm��es e acrescentou: ��� Sopre com toda for��a que puder, por
favor.
Pelo canto dos olhos, Judd percebeu que ela observava a tela de
televis��o ao p�� da cama. Ele soprou at�� os pulm��es ficarem
completamente vazios. E caiu de costas na cama, sem f��lego.
��� ��timo ��� disse a Dra. Zabiski. ��� S�� mais um exame, por
gentileza.
Outro assistente empurrou o que parecia ser um aparelho
port��til de eletrocardiograma at�� a cama.
��� Deite de costas. Ser�� bem r��pido, pois o aparelho ��
eletr��nico.
O homem aplicou as pequenas ventosas em suas pernas e peito.
Apertou os bot��es de sempre e estudou a fita habitual, �� medida que
sa��a da m��quina. Judd levantou os olhos para descobrir a m��dica
lendo os mesmos registros na tela de televis��o. Depois que o exame
terminou e o assistente retirou as ventosas e foi embora, a pequena
m��dica ligou um controle remoto que tinha na m��o. Apertou os
bot��es; dois bancos de telas de televis��o se acenderam na parede.
S��mbolos faiscaram pelas telas, verticais e horizontais, dan��an-
do em un��ssono e se separando graciosamente, em padr��es de verde e
amarelo, num efeito de bal�� abstrato. Judd olhou para ela.
��� O que significa tudo isso?
��� An��lises do sangue. Toda a coisa, cada gota em voc��, como
atua em todo o corpo. ��� Ela fez uma pequena pausa e depois
balan��ou a cabe��a. ��� Est�� muito bem.
��� Ent��o posso agora tomar um banho de chuveiro r��pido?
��� N��o. Quero que fa��a tudo bem devagar. Bridget lhe dar��
um banho de esponja e depois o ajudaremos a levantar. Quero que
permane��a por algum tempo numa cadeira de rodas, antes de
come��ar a se movimentar. Lembre-se de que passou tr��s semanas na
cama e precisa se acostumar de novo a coisas simples como a
gravidade e ficar de p��. N��o quero que caia desnecessariamente.
123
��� Voc�� �� a m��dica.
��� E por isso devo dizer que gostaria de estar a seu lado
durante a reuni��o. N��o me agradaria se tivesse de enfrentar alguma
tens��o e descobrisse... a seu corpo... estar em crise.
��� O que pode acontecer?
��� Quem sabe? Estamos em territ��rio inteiramente desconhe-
dido, Sr. Crane. N��o se esque��a disso.
Judd contemplou-a em sil��ncio por algum tempo. Sabia que ela
devia imaginar o que impedia o seu assentimento. A Dra. Zabiski
tratou de acrescentar:
��� Pode estar certo de que n��o tenho o menor interesse em
seus neg��cios particulares.
��� Sei disso, doutora. Mas se todos os exames foram positivos,
como disse, o que poderia acontecer para que eu precisasse de sua
presen��a imediata?
��� Possivelmente nada. Mas sou sua m��dica e tenho uma
responsabilidade por voc��. Talvez eu esteja sendo excessivamente
cautelosa, mas prefiro continuar assim e evitar qualquer margem de
erro.
Judd pensou por mais um momento.
��� Est�� bem. Mas come��o a me sentir como um beb�� que
precisa de aten����o a cada minuto.
��� E como acha que me sinto, Judd? ��� indagou ela, suave-
mente. ��� De uma estranha maneira, voc�� �� mesmo o meu beb��.
Neste momento, n��o existe nenhuma outra m��e no mundo que possa
criar um filho como voc��.
��� Est�� com uma ��tima apar��ncia ��� comentou Merlin.
��� E tamb��m me sinto muito bem ��� disse Judd.
Ele rolou a cadeira de rodas para mais perto da mesa de
reuni��o, na sala ao lado do seu quarto no hospital. Fast Eddie sorriu.
��� A enfermeira irlandesa deixou-o em bom estado.
Judd riu.
��� A hist��ria da minha vida. As boas coisas est��o sempre ao
alcance da m��o quando n��o posso aproveitar.
Merlin olhou para a Dra. Zabiski, sentada num canto da sala,
longe da mesa de reuni��o. Judd apontou um dedo em sua dire����o.
��� N��o h�� problema. Podemos conversar.
124
Merlin abriu a pasta e tirou um impresso de computador.
Colocou-a na mesa, diante de Judd.
��� Ainda n��o tenho todas as informa����es, mas estou convenci-
do de que nosso c��digo de acesso foi violado.
Judd ficou surpreso.
��� O que o faz pensar assim?
��� Pequenas coisas. Os impressos est��o saindo sempre perfei-
tos. Nunca h�� qualquer erro. E geralmente sempre aparecem erros
pequenos.
��� Um pressentimento? ��� perguntou Judd.
��� Basicamente.
��� Pois eu o aceito. Mude o c��digo.
��� Fico contente que concorde. J�� pedi ao Computador
Central para providenciar, mas preciso de suas iniciais para que se
torne uma medida oficial.
��� Est�� bem.
Merlin entregou-lhe um papel e uma caneta. Judd assinou com
as iniciais. Havia duas c��pias em carbono. Ele ficou com uma c��pia,
Merlin guardou a outra em sua pasta, enquanto o original foi posto
num envelope, a ser guardado no cofre do diretor do Computador
Central.
��� O que mais?
Merlin apontou para o impresso na frente de Judd.
��� Esse �� o primeiro levantamento da South & Western
Savings e da Loan Association, depois da aprova����o da fus��o pelo
tribunal.
��� E o que tem?
��� Olhe na segunda p��gina. Dep��sitos �� vista, de pessoas
f��sicas. Um total de 200 milh��es de d��lares. Veja o suplemento dois,
p��gina dois, nomes e quantias de cada conta. H�� 11 nomes, com
valores diversos, espalhados entre as 115 ag��ncias. Mandei a
Seguran��a verificar todos os nomes. Quatro cubanos, cinco colom-
bianos e dois peruanos, todos considerados muito importantes no
tr��fico de narc��ticos.
Judd examinou os registros sem fazer qualquer coment��rio.
Levantou os olhos depois de um momento, fitando Merlin e
comentando:
��� Talvez dev��ssemos mudar o nome para Companhia de
125
Limpeza de Dinheiro. Merlin n��o sorriu e Judd acrescentou: ���
Quanto desse dinheiro �� garantido pelo governo federal?
��� A 100 mil d��lares em cada, em cada ag��ncia, d�� 115 milh��es
de d��lares.
��� Quem quer que eles sejam, n��o s��o est��pidos.
��� Concordo plenamente. Fizemos um levantamento dos dep��-
sitos individuais. Cada um foi em torno de nove mil d��lares ou
menos. Isso significa, �� claro, que o dep��sito n��o precisa ser
comunicado ao Departamento de Tesouro.
Judd assentiu.
��� Muito esperto. Mas uma rotina na pr��tica comercial, n��o ��
mesmo?
��� Uma opera����o normal. O que vamos fazer?
��� Comunicar ao Departamento do Tesouro ��� respondeu
Judd, sem a menor hesita����o. ��� Eles cuidar��o do resto.
��� A publicidade pode liquidar a empresa. Talvez percamos
400 milh��es de d��lares.
��� O que sugere ent��o? ��� indagou Judd, com um sorriso
ir��nico.
��� Podemos discretamente encerrar as contas e devolver os
dep��sitos.
��� Isso seria acobertar um crime. H�� uma coisa que aprendi
com meu pai e tamb��m com Tio Paul: jamais tente melhorar uma
situa����o que n��o pode ser melhorada, porque acabar�� se afogando na
merda mais cedo ou mais tarde. Aceite as porradas que tiver de levar
e procure se livrar do problema da melhor forma que puder.
Merlin ficou calado.
��� Quem estava controlando a situa����o? ��� perguntou Judd.
��� McLaren, que dirige a Divis��o Financeira Crane.
��� E ele n��o disse nada a respeito?
��� Nada que tenhamos ouvido.
��� N��o h�� nada nos arquivos?
��� Nada.
��� Despe��a-o. ��� Os olhos azuis de Judd estavam frios como
um gelo. Ele permaneceu em sil��ncio por um longo tempo. ��� H��
mais alguma coisa que eu deva saber?
��� Li Chaun. ��� Merlin hesitou, mas logo acrescentou, a um
aceno de cabe��a de Judd. ��� Ele entrou no neg��cio de Quaaludes por
conta pr��pria e operou atrav��s de nossas contas.
126
��� Disparar o canh��o n��mero dois ��� disse Judd, sem qualquer
emo����o. ��� Tem um terceiro?
Merlin parecia embara��ado. Olhou para a Dra. Zabiski, ainda
sentada em sua cadeira, no outro lado da sala. Hesitou bastante, mas
acabou acenando afirmativamente. A pequena m��dica levantou-se
nesse instante.
��� Parece que est�� reagindo muito bem ��� disse ela a Judd. ���
N��o me incomodarei se me pedir para sair agora.
Judd sacudiu a cabe��a.
��� N��o. Pode muito bem ir at�� o fim dessa confus��o ao meu
lado.
Merlin olhou de Zabiski para Judd e depois disse:
��� Sofia. Ela est�� em Havana. O mesmo acontece com Li
Chaun. E tamb��m com Nicolai Borovnik, o terceiro homem no
KGB. A Seguran��a vigia os tr��s, mas ainda n��o recebemos os
relat��rios.
Judd olhou para a m��dica e perguntou friamente:
��� Sabia alguma coisa sobre essa hist��ria de sua assistente e o
homem do KGB?
Ela sustentou o olhar dele.
��� N��o. Isso �� totalmente novo para mim. Mas sei que o
Borovnik e ela j�� foram amantes, que houve um momento em que
Borovnik tentou se divorciar da esposa para casar com Sofia. Depois
que o div��rcio foi recusado �� que ela se ofereceu para trabalhar
comigo.
Judd observou-a com uma estranha express��o.
��� Nesse caso, por que ela se daria a tanto trabalho para
encontr��-lo em Havana?
��� Estou apenas dando um palpite, mas acho que ele queria
falar sobre Brezhnev.
��� O pr��prio Leonid? O homem por cima dos homens por
cima?
Judd estava surpreso e n��o fez qualquer tentativa de disfar��ar.
��� Isso mesmo. Ele deveria ser o pr��ximo paciente de Sofia.
��� Quer dizer que ela n��o voltar��? ��� perguntou Judd,
secamente.
��� Ela voltar��.
��� Apesar do presidente?
��� Isso mesmo.
127
��� E do Politburo?
��� Tamb��m.
��� E do KGB?
��� Tamb��m.
��� Ela tem tanta influ��ncia assim?
��� Ser�� preciso mais do que simples influ��ncia. Mas ela dar��
um jeito.
��� Por que, doutora?
��� H�� um teste muito importante que somente ela pode
concluir.
��� E n��o pode transferi-lo para nenhuma outra pessoa?
��� N��o, n��o pode.
��� E que teste �� esse, doutora?
��� Um aborto. ��� A Dra. Zabiski fez uma breve pausa. ��� O
seu. Judd fitou-a aturdido.
��� Est�� querendo dizer que ela �� uma das...
��� Exatamente.
��� Por que ela n��o me contou nada?
��� N��o queria.
��� Mas por qu��? ��� Judd percebeu um brilho m��nimo no canto
dos olhos da Dra. Zabiski. ��� Conhece a resposta, n��o �� mesmo?
��� Conhe��o.
��� Ent��o me diga qual ��, doutora?
��� N��o posso, Sr. Crane.
��� Mesmo que eu lhe pergunte gentilmente, doutora?
��� Mesmo que ordenasse.
��� O sigilo m��dico?
��� Isso mesmo, senhor. Obrigada por sua compreens��o.
��� Aceito, mas n��o compreendo.
��� Posso lhe dizer uma coisa: foi por insist��ncia de Sofia. Ela
exigiu ser uma das volunt��rias.
Judd respirou fundo, um ind��cio de sorriso lhe contraindo os
cantos da boca. Mas, ao final, tudo o que p��de fazer foi exclamar:
��� Merda!
128
20
O RESTAURANTE ficava numa hacienda, localizada num antigo
bairro residencial nos arredores de Havana. A cozinha era
compar��vel a qualquer restaurante de Nova York ou Paris, mas
era desconhecido para 99,99 por cento do povo cubano. Era um
restaurante apenas para a elite do mundo de Castro, assim como para
os seus h��spedes. Mesas grandes e antiquadas, servi��o de mesa de
damasco branco, talheres de ouro e prata, cristal franc��s Baccarat e
porcelana inglesa de frisos de ouro cercavam os arranjos florais
baixos. Cada mesa era iluminada suavemente por velas. E, talvez o
mais importante, cada mesa redonda ficava devidamente distanciada
das outras. Quando havia necessidade de mais privacidade, a mesa
podia ficar inteiramente cercada por cortinas gren��s de veludo.
Sofia era a ��nica mulher numa mesa aberta de seis pessoas.
Nicky e Li Chaun a ladeavam. Junto a Nicky estava um homem
corpulento, Karpov, um dos agentes do KGB na embaixada russa.
No outro lado da mesa, em frente a Sofia, estava o anfitri��o, Santos
Gomez, um cubano alto e magro, na casa dos 30 anos, exibindo as
duas estrelas de um general de divis��o na gola aberta da t��nica do
uniforme de campanha. Entre ele e Li Chaun sentava-se um chin��s
pequeno, de terno cinza, Doy Sing, que era o representante extra-
oficial da Rep��blica Popular da China, que n��o tinha embaixada
oficial em Cuba.
O jantar come��ara �� meia-noite e agora j�� era quase uma e
meia da madrugada, enquanto os gar��ons traziam o caf��, conhaque
Napoleon e os charutos sempre oferecidos. Finalmente fecharam as
cortinas, para garantir a privacidade do grupo.
129
Li Chaun tomou apenas o caf��. Quando se levantou para falar,
n��o precisou esperar pela aten����o total do grupo.
��� Minhas palavras podem choc��-los, camaradas, mas estamos
aqui para falar de poder... n��o de poder te��rico, mas de poder
concreto, efetivo. E quero come��ar por dizer que o poder em nosso
mundo de hoje n��o �� pol��tico. Nem o comunismo nem o capitalismo
significam coisa alguma. O poder �� simplesmente dinheiro e o que
mais d�� dinheiro neste momento �� energia. Petr��leo e g��s. Esta �� a
fonte de toda a for��a dos pa��ses do Oriente M��dio e do bloco da
OPEP. E energia representa o poder dos Estados Unidos, porque
eles previram tudo isso e adquiriram o controle dos pa��ses produtores
de energia.
Li Chaun fez uma pausa, correndo os olhos pelo grupo.
��� Agora que outros pa��ses descobriram ainda mais fontes de
energia, a surpresa �� que o poder dos Estados Unidos tenha
continuado a crescer. Mas explicarei o motivo. Porque um pa��s
compete com outro, uma fonte de energia concorre com outra, todos
acabam se lan��ando uns contra os outros, a fim de controlar n��o
apenas a fonte de energia, mas tamb��m os sistemas de distribui����o
por todo o mundo. Infelizmente, n��o passamos de jogadores
insignificantes nesse jogo. Os imperialistas ianques possuem todos os
trunfos, s��o donos do pr��prio jogo. Contudo, esse �� apenas um jogo.
H�� outro jogo em que podemos venc��-los, se tivermos coragem
suficiente para isso.
Sua express��o era um desafio silencioso a todos os presentes.
Ningu��m disse nada. Ele continuou, com um t��nue sorriso, que logo
se desvaneceu:
��� N��o estou falando de confronta����o, campos de batalha ou
alian��as de pa��ses do Terceiro Mundo. Tudo isso �� xadrez pol��tico e
n��o leva em considera����o as realidades do dinheiro e do poder a que
estou me referindo. Falo de uma franqueza cancer��gena gerada pelas
pr��prias riquezas do mundo ocidental. Chamo a aten����o de todos
para a busca cr��nica da falsa satisfa����o proporcionada pelos narc��ti-
cos e agentes qu��micos. Come��ou nos anos 60, primeiro na Am��rica,
agora espalhou-se por todo o mundo ocidental... que inclui toda a
Europa e talvez outras economias altamente produtivas em outros
continentes. Quer gostemos ou n��o, devemos aceitar esse fato novo
de enorme potencial financeiro no mundo, que n��o pode e n��o
130
continuar�� a permanecer por muito mais tempo no lugar a que foi
outrora consignado.
Li Chaun fez uma pausa mais prolongada desta vez. Os outros ��
mesa, cientes tanto quanto ele da situa����o que os reunira ali,
permaneceram em sil��ncio, atentos ��s suas palavras seguintes:
��� Em termos simples e r��pidos, havia antes um mundo dos
narc��ticos controlado pelos gangsters da M��fia. Atrav��s da intimida-
����o, corrup����o e viol��ncia, uma ��nica fonte, que passava pela Sic��lia
e Fran��a, descobriu-se o alvo de outros homens empreendedores,
ousados e gananciosos, de muitos pa��ses. Os lucros que todos
procuravam e de que falarei dentro de um momento eram, para dizer
o m��nimo, assombrosos. O fluxo de dinheiro cresceu tanto que o
tr��fico deixou de interessar apenas aos antigos exploradores de
prostitutas, contrabando e jogo ilegal. Ind��strias qu��micas, especula-
dores do mercado financeiro e at�� mesmo l��deres pol��ticos necessita-
dos, em busca de uma sa��da para crises internas desesperadas, todos
os tipos de gananciosos come��aram a perceber as possibilidades do
tr��fico de narc��ticos, que podia at�� aliviar o sofrimento e agonia
pol��tica.
Ele tornou a ficar em sil��ncio por um longo momento, depois
contemplou cada rosto em torno da mesa, antes de recome��ar:
��� E eu lhes pergunto, camaradas, o que est��o fazendo em
rela����o a isso?
Li Chaun correu os olhos pela mesa outra vez, como se
esperasse uma resposta. N��o houve nenhuma.
��� Se querem levantar uma quest��o de moral, camaradas, n��o
percam seu tempo. Estamos lidando com fatos concretos. Em nossa
luta, n��o h�� lugar para problemas de ordem moral. Apenas resulta-
dos. Vida e morte. A for��a para realizar nosso prop��sito... ou um
s��culo de servid��o pol��tica, os joelhos curvados diante da grande
alian��a industrial que se op��e a n��s, uma vida de estados dependen-
tes, atendendo ao prazer do dono. Temos capacidade e recursos para
assumir totalmente o neg��cio de t��xicos em escala mundial. E que
melhor ocasi��o do que agora para entrar em a����o e desintegrar a
vontade do mundo ocidental de nos resistir? Qual o melhor meio de
se conseguir isso? Qual a melhor maneira de nossos pa��ses conquista-
rem o poder de que falo?
131
O General Santos Gomez levantou a divis��ria que os separava do
motorista e de seu assistente, sentados no banco da frente. Ligou o
ar-condicionado, a fim de abafar a conversa, depois virou-se para
Nicky e Sofia, sentados ao seu lado, e disse:
��� Li Chaun �� um idiota. Fala demais.
Sofia olhou para ele, mas n��o disse nada. Nicky sacudiu a
cabe��a, um sinal que ela entendeu.
��� Peguei-o sozinho pelo tempo suficiente para descobrir o que
precisava, general ��� disse ele.
��� Acha que �� t��o importante assim obter o c��digo de acesso
que ele nos oferece?
��� N��o. Provavelmente o c��digo ser�� mudado antes de termos
tempo de us��-lo.
��� Tamb��m pensei nisso. O homem est�� preocupado demais
com problemas a longo prazo, provavelmente porque �� ganancioso e
um tolo ainda por cima. ��� O general fez uma pausa. ��� Mas estou
preocupado com Doy Sing. Os chineses V��o querer tirar o m��ximo de
proveito.
Nicky olhou para a rua escura como breu.
��� Neste momento, n��o temos muitas op����es. Quando eles
descobrirem que Li Chaun possui o c��digo de acesso, n��o levar��o
muito tempo para compreenderem que j�� estamos trabalhando no
plano mestre.
��� Eu me sentiria melhor se pudesse comunicar tudo a Fidel.
��� Eu tamb��m me sentiria ��� disse Nicky. ��� Mas podemos nos
atrasar demais se esperarmos. Doy Sing certamente entrar�� em
contato com seu pessoal no momento em que chegar em casa. E as
primeiras pessoas no mercado terminam na posi����o forte. At��
mesmo bons amigos devem levar esse fato em considera����o.
O general balan��ou a cabe��a.
��� Tem raz��o.
Ele pegou o telefone ao lado do assento e apertou um bot��o.
Uma voz inintelig��vel crepitou em seu ouvido. O general disse apenas
uma palavra:
��� Agora.
Ele desligou e virou-se para os dois, com um suspiro e um
sorriso.
��� Antes da revolu����o, havia um show em Havana que era
muito apreciado pelos americanos ricos. At�� mesmo Hemingway
132
escreveu a respeito. �� claro que teve de ser cancelado legalmente
com a revolu����o. Mas sempre funciona para determinadas pessoas
importantes. Talvez gostem de assistir. Fica aberto durante toda a
noite. ��� Ele tirou um charuto do bolso e depois olhou para Sofia. ���
�� chocantemente pornogr��fico e n��o h�� nada igual no mundo, mas
pode ser fascinante, Camarada Doutora... ou ser�� que n��o est��
interessada em assistir?
Sofia olhou para Nicky e depois para o general, sem responder.
Acendendo o charuto, o general acrescentou:
��� �� claro que s�� o mantemos para lembrar a n��s mesmos e a
nossos amigos a decad��ncia do capitalismo em sua pior manifesta����o.
Sofia tornou a fitar o general. Tinha a impress��o de que ele
aguardava sua aprova����o.
��� Nesse caso, Camarada General, creio que seria proveitoso
para todos n��s assistirmos, quanto menos n��o seja como uma
pesquisa sobre a natureza da corrup����o burguesa.
��� Tenho certeza de que achar�� divertido, doutora ��� murmu-
rou o general, exibindo uma express��o inconfund��vel de satisfa����o.
O clube ficava num pr��dio sem caracter��sticas definidas, perto do
porto. O carro parou na rua estreita e eles saltaram, encaminhando-
se para uma porta de madeira, pequena e sem qualquer letreiro,
guardada por dois homens corpulentos. Eles acenaram com a cabe��a
para o general, sem dizer nada, abriram a porta para o grupo.
Entraram num vest��bulo pequeno, onde um candelabro proje-
tava alguma claridade. Um ma��tre fez uma mesura para o general e, sem falar nada, conduziu-os por outra porta para um corredor
comprido. Passaram por diversas portas fechadas, at�� a ��ltima. O
ma��tre abriu-a e deu um passo para o lado, a fim de deix��-los entrar.
A sala pequena era como um camarote particular num teatro.
Sof��s confort��veis estavam dispostos em torno de uma mesinha
baixa. Mais al��m, havia um pequeno palco, iluminado suavemente
por luzes rosadas.
Sofia olhou para a mesinha. Champanha, conhaque, u��sque
escoc��s, vodca e rum. Havia copos e um balde com gelo. Um odor
leve de haxixe ou marijuana flutuava no ar. Ningu��m ficou surpreso com a cigarreira de prata e com o prato cheio de coca��na branca, uma
pequena colher de ouro e canudos ao lado.
��� Champanha? ��� perguntou o general.
133
��� Obrigada ��� respondeu Sofia.
O general acenou com a cabe��a para o ma��tre. O homem recuou e dois rapazes e duas mo��as entraram no camarote. Estavam nus,
exceto por uma tanga cobrindo os ��rg��os genitais. Silenciosamente,
os rapazes abriram as garrafas de champanha e encheram os copos.
As mo��as ofereceram a cigarreira de prata e depois o prato com
coca��na.
��� Colher ou canudo? ��� perguntou o general. ��� Pessoalmen-
te, prefiro o canudo.
��� Nada para mim ��� disse Nicky.
Sofia fitou-o e depois ao general.
��� Aceitarei sua sugest��o.
Rapidamente, uma das mo��as ajeitou uma s��rie de linhas num
prato espelhado. Estendeu o canudo para Sofia. Ela aspirou uma
Unha em cada narina. A coca��na explodiu em seu c��rebro. O general
riu da sua express��o de surpresa e explicou:
��� �� pura. N��o se encontra em qualquer lugar al��m daqui. ���
Ele aspirou duas linhas em cada narina. Virou-se para Nicky. ��� N��o
sabe o que est�� perdendo.
��� N��o tem significado para mim, general. A verdade pura e
simples �� que nunca experimentei. Vodca �� suficiente para mim.
Santos Gomez levantou seu copo de champanha.
��� Uma bela combina����o. Sant��.
��� Sant�� ��� repetiram Sofia e Nicky, tomando em seguida um
gole de champanha.
��� O espet��culo come��ar�� daqui a pouco ��� disse o general. ���
Enquanto isso, se quiserem, nossos atendentes tentar��o diverti-los.
��� Estou bem assim ��� disse Sofia.
��� Como preferir.
O general sorriu. Acenou para um dos rapazes, que se virou em
sua dire����o. O general inclinou-se levantou-lhe a tanga.
��� N��o �� fant��stico? Cada um desses rapazes deve ter um falo
n��o inferior a 17 cent��metros para conseguir um emprego aqui.
Quanto isso d�� em polegadas?
Sofia podia sentir a coca��na esquentando seu c��rebro. Tentou
falar impassivelmente:
��� Sou p��ssima em n��meros, general.
��� E voc��, camarada, quanto calcula?
Nicky balan��ou a cabe��a.
134
��� Meu ��nico interesse �� cultural e n��o matem��tico. Camarada
General, estou fascinado pela demonstra����o t��o completa de deca-
d��ncia capitalista.
O general riu.
��� Mas n��o devemos ser dogm��ticos demais. Pode ser diver-
tido.
Ele mergulhou o canudo na coca��na e aspirou mais um pouco.
Apontou para uma das mo��as.
��� D�� um pouco de ��nimo a esse pobre rapaz, a fim de que
possamos ver o seu verdadeiro tamanho.
A mo��a ajoelhou-se diante do rapaz, pegou o p��nis com a m��o
e lambeu a glande. N��o havia qualquer express��o no rosto do rapaz,
mas seu falo come��ou a endurecer e crescer. Houve nesse momento
uma batida de leve na porta. O ma��tre entrou e sussurrou algumas
palavras ao ouvido de Gomez. O general assentiu e levantou-se.
��� Estarei de volta dentro de um momento. Tenho de atender
a uma liga����o urgente. Por favor, n��o parem por minha causa.
Ele saiu, fechando a porta. A mo��a e o rapaz continuaram,
como se o general ainda estivesse presente. Nicky tocou no bra��o de
Sofia, a fim de atrair-lhe a aten����o. E disse, em russo:
��� �� repulsivo. Parecem animais.
Sofia olhou para ele e respondeu com absoluta sinceridade:
��� N��o concordo. Acho fascinante o sexo sem qualquer
envolvimento emocional.
��� Voc�� �� uma puta ��� disse ele, furioso.
��� Sou honesta. Pelo menos digo o que sinto. E n��o venha me
dizer que n��o acha isto fascinante e excitante.
��� N��o sou de ferro.
��� Ainda n��o ��, mas isso n��o vai demorar. J�� est�� ficando de
pau duro.
��� Sua sem-vergonha!
��� Por qu��? Porque aceito meu corpo pelo que ��, o que voc��
n��o pode fazer? Talvez, no fundo, todos os homens sejam hip��critas.
Sofia virou-se depressa, quando a porta se abriu bruscamente.
Mesmo �� claridade m��nima, puderam perceber o p��nico no rosto do
general.
��� Ele est�� morto!
��� Quem?
1 3 5
Sofia j�� estava de p��.
��� Li Chaun! E os outros tamb��m!
Nicky foi se postar calmamente ao lado de Sofia e disse, sem
qualquer emo����o na voz:
��� Seus homens s��o muito eficientes, general.
��� Mas n��o os matamos! Meus homens nem mesmo estavam
perto quando aconteceu. Foram mortos ao sa��rem do restaurante.
��� Algu��m viu os assassinos? ��� perguntou Nicky.
Ningu��m sequer ouviu os tiros. As armas deviam estar equipa-
das com silenciadores. Os corpos s�� foram descobertos quando o
motorista se apresentou com o carro para busc��-los.
��� CIA ��� declarou Nicky. ��� Ouvimos rumores de que Li
Chaun vinha trabalhando nos dois lados da rua. ��� Ele deu de
ombros, antes de acrescentar: ��� Se �� verdade ou se descobriram que
ele trabalhava conosco... Seja como for, n��o tem import��ncia. Quem
quer que o matou, prestou-nos um favor. Pelo menos n��o precisamos
explicar.
��� Mas isso significa que os assassinos sabem tamb��m que
estivemos conversando com Li Chaun. E talvez queiram nos liquidar
tamb��m.
O tom do general era preocupado. Nicky sorriu, tranquilizado-
ramente.
��� Eles n��o nos querem. Sabem de que lado estamos.
Sofia virou-se para os dois e indagou:
��� E como eu fico nisso?
Nicky sacudiu a cabe��a.
��� Acho que n��o tem com que se preocupar. A CIA n��o tem o
menor interesse por voc��.
��� Voc�� n��o entendeu ��� murmurou Sofia. ��� N��o �� com a
CIA que estou me preocupando, mas com Judd Crane.
Nicky tornou a dar de ombros, desdenhosamente.
��� Ele �� apenas um homem. E um tolo ego��sta. O que pode
fazer?
��� Nicky, voc�� �� o tolo. Li Chaun pensava em Judd Crane
quando falou em poder. Judd Crane tem poder. E um poder al��m da
nossa compreens��o. Se foi a CIA quem matou Li Chaun, ent��o foi
Judd Crane quem assim ordenou.
Nicky ficou olhando para ela em sil��ncio.
136
��� Acho melhor pedir guarda-costas extras para nos levar de
volta ao hotel ��� disse Sofia. ��� Quero continuar viva at�� a hora de
embarcar no avi��o para a Cidade do M��xico, amanh�� de manh��.
137
21
J U D D ENCOSTOU-SE no travesseiro, a bandeja do desjejum por
cima das pernas. Tomou um gole do suco de laranja. Olhou para
Bridget, fazendo uma anota����o na carta ao p�� da cama.
��� Estou de pau duro.
Ela respondeu, em tom neutro:
��� Isso �� normal. Vai desaparecer depois que urinar.
��� Sua sacana ��� disse Judd, sem rancor. ��� Apenas por uma
vez, por que n��o se lembra que �� uma mulher e n��o somente uma
enfermeira? D��-me um presente, n��o fique s�� no tratamento.
��� N��o sei como trat��-lo, Sr. Crane ��� comentou ela, rindo. ���
�� um adolescente cheio de tes��o ou um velho obsceno?
��� Por que n��o as duas coisas? ��� respondeu Judd, sorrindo.
��� N��o �� profissional ��� declarou Bridget, sem qualquer
express��o. ��� �� preciso ter certeza sobre um paciente.
O telefone tocou e ele atendeu.
��� Al��?
��� Merlin. ��� O telefone crepitava audivelmente. ��� Como
passa esta manh��, senhor?
��� Estou pronto para sair daqui. Aquela m��dica disse que
poderei ir embora dentro de uma hora.
��� ��timo. Temos not��cias da Seguran��a.
��� Quais s��o?
��� Li Chaun est�� morto. A Seguran��a revistou-lhe o quarto
quando ele saiu para jantar. Descobriram diversas coisas. E uma
delas era o c��digo de acesso ao Computador Central. E tamb��m que
ele tencionava vend��-lo por 20 milh��es de d��lares.
138
��� Ele era muito est��pido. N��o h�� ningu��m em seu ju��zo
perfeito que pudesse pagar tanto assim. Qualquer t��cnico, por mais
retardado que fosse, saberia que os c��digos s��o feitos para serem
mudados.
��� Ele n��o era um t��cnico em quest��es pr��ticas. A Seguran��a
tamb��m examinou o conte��do de sua valise. Ao que parece, ele tinha
uma c��pia de nosso levantamento da South & Western Savings.
Portanto, sabemos pelo menos por que ele interferiu no computador.
Descobriremos em breve como transferiu o dinheiro de nossas contas
para a dele.
��� Quem o matou?
��� Interroguei a Seguran��a a respeito. Eles vivem num mundo
particular. Mas souberam que o antigo namorado de Sofia tramou
tudo com os assassinos.
Judd pensou por um momento.
��� O que tem sobre Sofia?
��� Ela andou muito ocupada. Tenho as grava����es do sat��lite.
Tocarei para voc�� assim que chegar ao escrit��rio.
Judd riu.
��� Ou seja, voc�� �� um velho mais obsceno do que eu
imaginava. Como est�� a miss��o dela de cuidar do enfermo Camarada
Brezhnev?
��� Isso �� verdade.
��� Quer dizer que ela vai diretamente de Havana para a
R��ssia?
��� N��o. Ela reservou uma passagem na Aeromexico para a
Cidade do M��xico. Deve chegar aqui esta noite.
��� Certo. Mais alguma coisa?
��� Nada que n��o possa esperar at�� sua chegada no escrit��rio.
Judd desligou e olhou para a enfermeira ao p�� da cama.
��� Ainda estou com aquele pau duro, madame.
Ela estendeu uma p��lula, num pequeno copo de pl��stico.
��� Tome isto com o resto do suco de laranja, depois urine e
entre no chuveiro frio. Deve resolver o problema.
Ele engoliu a p��lula, fitando-a com uma express��o furiosa.
��� Que mulher fria... ��� murmurou Judd, em tom zombeteiro,
mas tamb��m contrariado.
��� O ambiente total ��� disse a Dra. Zabiski.
139
Judd tirou a su��ter.
��� O que est�� querendo dizer com isso?
��� Exatamente o que falei. Se n��o podemos controlar o
ambiente total, n��o h�� qualquer possibilidade de podermos controlar
sua expectativa de vida. Tudo o que fizemos, em termos m��dicos e
tecnol��gicos, foi anulado por seu estilo de vida.
Judd desviou os olhos da m��dica.
��� N��o posso ficar neste hospital para sempre. Acabaria doido.
��� Sei disso.
��� E a vida numa esta����o espacial, com ambiente totalmente
controlado, tamb��m n��o seria melhor.
A Dra. Zabiski balan��ou a cabe��a.
��� Tem raz��o.
��� Ent��o o que sugere?
��� Construa o seu pr��prio ambiente. Tem condi����es para isso.
��� Ela fitou-o nos olhos. ��� De certa forma, j�� faz isso, em seu avi��o.
Mas n��o �� suficiente. Compreendo que precisa viajar pelo mundo,
cuidando de seus neg��cios. Isso significa que seus objetivos de sa��de
ficam em segundo lugar para outros problemas. Ela fez uma pausa,
sorrindo. ��� Pense a respeito. H�� alguma coisa neste mundo que n��o
possa trazer a voc��, ao inv��s de ir ao seu encontro? Se constru��sse um
ambiente total, tudo poderia estar l��, comunica����es, tecnologia,
alimenta����o. At�� mesmo os contatos pessoais necess��rios, t��o
importantes para o seu estilo de vida. Tudo poderia ir a voc��, se
assim exigisse.
Judd contemplou-a sem fazer qualquer coment��rio por um
momento.
��� Isso implicaria construir uma pequena cidade apenas para
mim.
Zabiski deu de ombros.
��� E da��? N��o est�� planejando viver eternamente? Por que n��o
teria o lugar onde possa viver exatamente como quer?
��� �� uma loucura.
��� N��o ��, n��o. Voc�� tem a oportunidade e o dinheiro para
realizar sua ambi����o... mais do que qualquer homem jamais sonhou
ou p��de ter. Tudo o que precisa agora �� da vontade.
Judd se manteve calado.
��� Pense bem. Aquela sua ilha ao largo da costa da Ge��rgia,
140
aqui nos Estados Unidos, �� usada apenas para um hotel de veraneio.
Seria perfeita para o que precisaria.
��� Terei de pensar a respeito, doutora.
��� Claro.
Ele respirou fundo.
��� N��o quero me tornar outro Howard Hughes.
��� Isso n��o aconteceria. Ele fugiu do mundo porque tinha
medo do mundo... e medo de morrer. Voc�� n��o �� assim, n��o tem
medo do mundo nem da morte. Pode alcan��ar o mundo trazendo-o
para voc��. E a morte, para voc��, �� apenas um fato da evolu����o que
deseja alterar. E, para alcan��ar a imortalidade que procura, pode ser
obrigado a aceitar o fato de que sua vida ter�� tamb��m de ser alterada.
Nicky estava ao telefone quando ela saiu do banheiro. Enrolada
numa toalha, Sofia foi at�� a c��moda, pegou um soutien e uma
calcinha. Ele largou o telefone e fitou-a.
��� N��o precisa ter pressa. Houve uma mudan��a nos planos.
Sofia olhou-o com uma express��o inquisitiva.
��� O v��o para o M��xico parte ��s 10 horas. O pr��ximo ser�� ��s
seis horas da tarde.
��� Voc�� n��o voltar�� ao M��xico. Temos reservas na Aeroflot
para Moscou, ao meio-dia. Queremos que volte para l��.
��� Mas o aborto est�� marcado para amanh��.
��� N��o vai mais acontecer. Eles querem que voc�� tenha o filho.
��� Isso �� um absurdo. N��o sabemos o que a crian��a pode ser.
Tantas coisas interferiram com os sistemas biol��gico e qu��mico de
Judd Crane que a crian��a pode ser um monstro.
��� �� um risco que devemos correr. Como n��s preferimos
pensar, a crian��a pode terminar se tornando a ��nica herdeira. E, por
seu interm��dio, poderemos controlar tudo o que ele possui, as
companhias, o dinheiro. Ter��amos um dos mais poderosos complexos
industriais do mundo ocidental.
��� Mas n��o passou de uma experi��ncia!
��� N��o �� mais. Tornou-se um fato da vida. Poder. Lembre-se
do que disse o chin��s morto.
��� Nada disso. Voltarei ao M��xico, conforme estava plane-
jado.
��� N��o h�� a menor possibilidade, Sofia. Tem suas ordens.
��� E se eu resolver n��o obedec��-las?
141
��� Seria trai����o. E voc�� conhece a penalidade por isso.
Sofia prendeu o soutien e p��s a calcinha de renda.
��� E quem vai me matar? ��� perguntou ela, casualmente. ���
Voc��, Nicky?
��� Tamb��m tenho minhas ordens.
��� Mas voc�� me ama ��� insistiu Sofia, gentilmente. ��� Sempre
disse isso.
��� E ainda �� verdade. Sempre a amarei.
��� Mas ama mais ��s suas ordens?
Ela n��o fez qualquer esfor��o para atenuar o tom sarc��stico.
Nicky n��o respondeu.
��� Ent��o n��o �� amor por mim que voc�� tem, Nicky. Tudo se
resume em sua ambi����o, seu pr��prio desejo de poder.
Ele continuou em sil��ncio.
��� Compreendo agora uma por����o de coisas, Nicky. Fui muito
mais tola do que imaginava. Voc�� jamais planejou realmente
divorciar-se de Ekaterina para casar comigo. Isso estragaria todos os
seus planos. Seu sogro est�� l�� no alto, muito perto do Politburo.
Ele fitou-a nos olhos.
��� N��o chegou a acertar em cheio no alvo, Sofia. Isso n��o ��
tudo. Resolvi us��-la para obter o que desejava porque o casamento
era simplesmente imposs��vel. Sabiam de tudo a seu respeito e sua
reputa����o. Nosso pessoal l�� de cima nunca a aceitaria.
Sem dizer nada, ela tirou a mala pequena do arm��rio, pareceu
mudar de id��ia e vestiu o costume de linho com que ele a vira ao
chegar a Havana. P��s a mala em cima da cama e abriu-a. Olhou por
cima da tampa aberta, antes de fech��-la bruscamente.
��� Ter�� de me matar ��� disse ela, decidida. ��� Vou voltar,
Nicky.
A express��o dele era de consterna����o.
��� N��o pode estar falando s��rio.
Ela fitou-o nos olhos.
��� Tamb��m n��o posso acreditar que voc�� seja capaz de me
matar.
Ele permaneceu r��gido na cadeira, ao lado do telefone.
��� Ordens. Sou um soldado. N��o tenho op����o. ��� A m��o se
enfiou por dentro do palet�� e saiu com uma Beretta preta-azulada. ���
E voc�� tamb��m n��o tem, se n��o voltar comigo.
Os olhos de Sofia se encontraram com os de Nicky por um
142
instante. Hesitaram, depois baixaram para a mala. Ele n��o chegou a
ouvir a tosse discreta do silenciador quando foi disparada a bala que
atravessou a mala e foi se cravar em seu peito. Tamb��m n��o ouviu o
segundo estalido, da bala que cortou seu rosto ao meio, como um
mel��o, do alto da cabe��a ao queixo. O impacto das explos��es
silenciosas lan��aram-no da cadeira para o ch��o.
Sofia permaneceu im��vel apenas pelo tempo suficiente para se
lembrar da arma em sua m��o. O sangue de Nicky estava espalhado
por toda parte, salpicando a parede e o teto. Ela contemplou-o por
um instante e murmurou:
��� Nicky, pobre Nicky... Voc�� era muito est��pido. Nunca
soube de uma coisa que Judd Crane me ensinou. Sempre h�� outra
op����o.
143
22
��� O PAI do ano ��� disse ele. ��� E nem mesmo trepei.
Doc Sawyer riu.
��� N��o se queixe. A id��ia foi sua. ��� Ele fez uma pausa. ���
Mas Zabiski est�� certa. �� melhor ir logo at�� o fim da linha.
��� Tio Paul e o departamento jur��dico v��o ficar loucos.
��� �� para isso que eles servem. Tenho certeza de que
encontrar��o uma solu����o.
Merlin entrou na cabine.
��� Chegaremos �� Cidade do M��xico dentro de 40 minutos.
��� ��timo. ��� Judd virou-se para ele. ��� Tem alguma not��cia de
Sofia?
��� Ela est�� relacionada no v��o da Aeromexico que deve pousar
mais ou menos uma hora depois de n��s. A lista de passageiros ainda
inclui o seu nome.
��� A Seguran��a est�� pronta para resgat��-la, se surgir algum
problema?
��� Estamos fazendo todo o poss��vel. Tivemos sorte de nossos
homens chegarem ao quarto um instante depois que ela saiu.
Encontraram o corpo antes da pol��cia e limparam tudo, na medida do
poss��vel. Mas n��o sabemos por quanto tempo poderemos pression��-
los a se manterem impass��veis.
��� Estamos garantidos no instante em que a tirarmos do avi��o
��� comentou Judd.
��� As grava����es da Seguran��a nos informam que ele tenciona-
va mat��-la. Ainda n��o sabemos como ela conseguiu engan��-lo.
144
��� Tenho um palpite ��� murmurou Judd. ��� Ela levou minha
valise.
Merlin teve um sobressalto.
��� O 38 de cano curto, com silenciador, dentro da tranca de
combina����o?
Judd balan��ou a cabe��a.
��� Pode fazer uma por����o de coisas, s�� falta andar. N��o estava
em meu quarto quando voltei do hospital.
Merlin assentiu, com uma express��o aprovadora.
��� A dama pensa. O que significa que �� tamb��m perigosa.
Judd riu.
��� Todas as mulheres que valem a pena s��o perigosas. ��� Ele
pegou uma folha de papel. ��� E as outras? As futuras m��es em
potencial. Estamos tomando todas as provid��ncias para distribu��-las
pelo pa��s?
��� A Seguran��a trabalha nisso agora. Devemos ter o plano
completo esta noite. ��� Merlin fez uma pausa, fitando Judd. ��� O que
decidiu sobre Sofia?
��� Estou pensando nisso. Quero conversar com ela mais um
pouco.
��� Estar�� no pal��cio presidencial na Cidade do M��xico quando
ela chegar ao aeroporto. Achamos que �� melhor que n��o esteja por
perto. Al��m disso, a reuni��o com o Secret��rio de Com��rcio sobre a
Crane Pharmaceuticals ser�� nessa ocasi��o. Depois, almo��ar�� com
Lopez Portillo, antes de voltar ao avi��o. Devemos partir para o Brasil
��s quatro horas da tarde.
Merlin hesitou por um instante e depois acrescentou, num tom
que era de gracejo apenas pela metade:
��� Isso deve lhe dar tempo para pensar, senhor.
Judd olhou para o rel��gio de pulso, depois observou as outras
pessoas em torno da mesa do almo��o. Eram 33 e o presidente j��
estava uma hora atrasado. Judd virou-se para o Ministro das
Finan��as, �� sua direita:
��� Talvez el presidente tenha assuntos mais importantes a tratar do que este almo��o. N��o me sentirei ofendido se ele quiser cancelar
este compromisso.
��� N��o h�� nada mais importante, Sr. Crane ��� garantiu
polidamente, num ingl��s perfeito, o bonito ministro das Finan��as.
145
��� Acontece apenas que el presidente nunca almo��a antes das quatro horas.
Judd virou-se para Merlin, depois tornou a fitar o ministro das
Finan��as. Levantou-se, dizendo:
��� Por favor, apresente minhas desculpas ao Se��or el Presiden-
te. Infelizmente, tamb��m tenho um programa a cumprir. Tenho reuni��es marcadas amanh�� no Brasil e minha partida est�� marcada
para as quatro horas. Falta apenas meia hora. Talvez possamos
marcar outro encontro para depois de amanh��, quando eu voltar aos
Estados Unidos.
O rosto do ministro expressava uma consterna����o chocada.
��� Mas el presidente ficar�� extremamente desapontado, Se��or
Crane. Aguardava ansiosamente a oportunidade de encontr��-lo.
��� E eu tamb��m. N��o pode imaginar o quanto eu gostaria de
conversar com el presidente.
��� Mas a opera����o que discutimos... tenho certeza de que ele
gostaria de lhe falar mais a respeito.
��� N��o h�� mais nada para conversar. Compreendemos a
posi����o de voc��s. Quero que construam o laborat��rio e a f��brica por
30 milh��es de d��lares. Por isso, ficariam com 50 por cento da Crane
Pharmaceuticals do M��xico. Oferecem apenas cinco milh��es de
d��lares e querem que eu entre com os restantes 15 milh��es dos meus
recursos pr��prios. Em americano simples, isso �� t��tica de galinha.
Sou um homem de neg��cios e n��o tenciono me transformar em outro
banco para aumentar ainda mais a d��vida externa do M��xico, que j�� ��
maior do que as condi����es para pagar.
��� Sua opini��o �� contr��ria �� de muitos bancos com que fazemos
neg��cios ��� respondeu o ministro, friamente. ��� Os campos petrol��-
feros do M��xico s��o os maiores do mundo. �� toda a garantia de que
precisamos, senhor, n��o importa qual seja o montante da d��vida.
��� �� bem poss��vel, excel��ncia. Mas acontece que n��o sou um
transportador de petr��leo nem me dedico ao refino. Tamb��m n��o
tenho qualquer interesse nesse tipo de energia. Estou interessado
apenas nas coisas j�� dispon��veis. Estamos chegando ao final de 1979 e
o M��xico j�� possui uma d��vida externa de 55 bilh��es de d��lares. No
ritmo em que continuam a tomar emprestado, nos dois anos que
restam ao presidente no cargo, essa d��vida subir�� para 80 bilh��es ou
mais. A esta altura, o mundo estar�� inundado de petr��leo. Deixar��o
146
de falar em escassez e economia, o problema se tornar�� a abund��n-
cia. E n��o sei como poder��o pagar a d��vida.
��� Mas suas previs��es significam que muitos outros pa��ses se
encontrar��o na mesma situa����o. E tamb��m significa que n��o ser��
somente aqui que se ter�� de efetuar ajustamentos ao problema.
��� Tem toda raz��o. S�� que n��o preciso me incomodar com
isso. Nenhum dos meus bancos ou empresas financeiras entrou em
cons��rcios de emprestadores a empreendimentos de produ����o de
petr��leo. O futuro, ao que posso prever, n��o ser�� mais dependente
de uma produ����o ou de uma era industrial tecnol��gica. Ser�� baseado
na informa����o, comunica����o e servi��os m��dicos.
Judd fez uma pausa, observando atentamente o ministro.
��� A primeira ind��stria que lhe ofere��o �� de natureza m��dica.
O investimento que proponho �� m��nimo, algo que n��o podem
conseguir com o petr��leo. Posso lhe garantir que em dois anos a
quantia que proponho para o investimento de voc��s, 30 milh��es de
d��lares, ser�� recuperada com um volume de neg��cios de 200 milh��es
de d��lares. E isso, meu caro ministro, apenas em transa����es com os
pa��ses da Am��rica Central e do norte da Am��rica do Sul. A segunda
ind��stria s�� seria oferecida depois de consolidada a primeira em
termos lucrativos. Isso significa que cuidar��amos para que a primeira
ind��stria ficasse a salvo da corrup����o e roubo, que lamentavelmente
prejudicam tanto dos muitos dos seus empreendimentos. Ofere��o
eletr��nica, comunica����es e informa����o, tudo constru��do e mantido
no M��xico... um empreendimento que pode se estender e controlar
todo o mundo de l��ngua espanhola. E esse mercado pode valer
incont��veis bilh��es de d��lares. Isso, Senor Ministro, �� o que lhe pe��o
para informar a el presidente.
��� Fala com muita franqueza, senor.
��� N��o conhe��o outra maneira, Senor Ministro. O progresso s��
pode ser constru��do sobre o granito da verdade, n��o sobre as vigas da
podrid��o.
A voz do ministro soou amarga:
��� Essa �� a atitude norte-americana habitual. Abaixo do Rio
Grande, somos primos pobres.
��� O Presidente C��rter veio �� Cidade do M��xico com um ramo
de oliveira. Prop��s uma compreens��o maior entre nossos pa��ses.
Imagino que se tratava de uma atitude simplista. Milagres n��o
acontecem entre na����es, pelo menos atualmente. O que ele encon-
147
trou foi insulto e menosprezo. Diga-me uma coisa, Se��or Ministro: o
que Castro ofereceu ao M��xico, que faz todos voc��s se sentirem
felizes por puxar-lhe o saco? Nada. Exceto subvers��o e disc��rdia,
ataques ao seu estilo de governo e princ��pios de democracia. E por
que voc��s n��o insultam Fidel?
O ministro permaneceu em sil��ncio.
��� O M��xico tinha uma lucrativa ind��stria a��ucareira. Agora, o
M��xico importa a����car. Tamb��m importa cacau, caf��, cereais. Todas
as colheitas lucrativas se foram na febre fren��tica por um produto que
se encontra no fundo do mar e leva muitos anos para tirar de l�� e que
pode perfeitamente ser substitu��do por outra forma de energia antes
de come��ar a aparecer lucrativamente em seus gr��ficos econ��micos.
O ministro respondeu, em voz desapontada:
��� Lamento descobrir, Se��or Crane, que tem uma opini��o t��o
desfavor��vel a respeito de n��s, mexicanos.
��� Isso n��o �� absolutamente verdade, Se��or Ministro. Adoro o
povo, seu esp��rito galante, natureza generosa. Nas minhas compa-
nhias, emprego mais de um milh��o e meio de trabalhadores
mexicanos, tanto imigrantes legais como ilegais. Acho que todos s��o
competentes e diligentes. Mas tenho pena do povo mexicano e mais
ainda das infelizes perspectivas de seus futuros l��deres. Porque,
dentro de dois anos, quando o novo governo assumir, estar��o t��o
ocupados a raspar a merda de suas botas que talvez nem possam
oferecer comida ao povo.
O ministro balan��ou a cabe��a.
��� Acredita mesmo nisso?
��� Sinto muito, mas acredito. E acredito que tamb��m respeita-
r�� minha franqueza e minha afei����o por seu pa��s e seu povo.
��� O que ent��o dever��amos fazer? ��� indagou o ministro,
suavemente.
Judd sustentou o olhar do mexicano sem piscar.
��� N��o sou um mexicano e tamb��m n��o sou um pol��tico. Sou
apenas um estrangeiro. N��o tenho as respostas. Apenas acredito na
grandeza do M��xico e creio que o pa��s deve liderar todo o mundo da
Am��rica Central... n��o ser o vassalo de algu��m que j�� �� um vassalo,
completamente dominado por pessoas que desprezam a todos voc��s.
O ministro rompeu seu sil��ncio com um longo suspiro.
��� N��o pode adiar sua partida?
148
��� Lamento profundamente, Se��or Ministro, mas n��o �� pos-
s��vel.
��� Mas voltar�� para outra reuni��o?
��� Se eu for convidado, Se��or Ministro, terei o maior prazer.
��� Farei tudo o que puder para promover esse encontro.
O telefone na mesa ao seu lado tocou. Ele atendeu, escutou por
um momento, depois falou em espanhol. Escutou por mais um
momento, cobriu o bocal com a m��o e disse a Judd:
��� A pol��cia de imigra����o no aeroporto deteve uma certa Dra.
Sofia Ivancich, a pedido da pol��cia cubana. Exigem que ela permane-
��a em cust��dia at�� ser poss��vel recambi��-la a Havana. Ela alega que ��
sua convidada, al��m de empregada, em tr��nsito para o seu avi��o,
com um visto correto de seu pr��prio pa��s para os Estados Unidos.
��� Onde ela est�� agora? ��� perguntou Judd.
��� No escrit��rio da imigra����o, na se����o de tr��nsito.
��� A pol��cia cubana tem alguma autoridade no caso?,
��� N��o oficialmente. Mas temos um acordo extra-oficial.
��� Mas n��o legal?
��� N��o legal.
Judd pensou por um instante.
��� A Dra. Ivancich �� uma pessoa muito importante em nossa
equipe de pesquisa m��dica. Agradeceria se pedisse �� sua pol��cia de
imigra����o para conduzi-la a meu avi��o e dissesse que tenho a sua
palavra de um salvo-conduto para ela.
��� A pol��cia cubana afirma que ela �� culpada de crimes graves.
��� Em Cuba ��� disse Judd. N��o no M��xico.
O ministro assentiu.
��� N��o no M��xico.
��� A se����o de tr��nsito ainda est�� sob jurisdi����o mexicana, n��o
�� mesmo? A pol��cia cubana tem algum poder legal l��?
��� Claro que n��o. O M��xico tem jurisdi����o exclusiva.
��� A Dra. Ivancich trabalha num contrato especial entre os
Estados Unidos e a Iugosl��via. Acho que sua deten����o pode causar
embara��os desnecess��rios ao governo mexicano, se renunciarem a
seus direitos de soberania em favor dos cubanos. Al��m disso, Se��or
Ministro, eu ficaria pessoalmente agradecido se pudesse usar toda a
sua influ��ncia para atender a meu pedido.
O ministro observou-o em sil��ncio por mais instante, antes de
tornar a falar ao telefone. Desligou um momento depois.
149
��� Est�� tudo resolvido, Se��or Crane. J�� ordenei �� imigra����o
que a conduzisse a seu avi��o, devidamente protegida.
��� Obrigado, Se��or Ministro.
��� Ela dever�� estar dentro de seu avi��o daqui a 10 minutos.
��� Mais uma vez obrigado.
O ministro sorriu.
��� S�� mais uma pergunta, Se��or Crane. N��o estudou na Escola
de Administra����o de Harvard?
��� Estudei.
��� Eu tamb��m. ��� O ministro sorriu mais largamente e
estendeu a m��o. ��� Meus parab��ns por sua capacidade de reunir os
fatos e encontrar solu����es. Espero que um dia possa estar atuando na
minha posi����o, enquanto eu estarei em seu lugar.
��� Isso j�� aconteceu, Se��or Ministro.
��� E tamb��m ganhou?
��� N��o ganhamos nem perdemos. Apenas aprendemos a fazer
o melhor que podemos. A verdade, Se��or Ministro, �� que eu �� que
lhe devo dar os parab��ns.
150
23
As LUZES sobre a Cidade do M��xico desapareceram na camada
intensa de nevoeiro marrom que a cobria. Um momento depois, o
avi��o subira o suficiente para encontrar o azul ensolarado por
cima.
��� A cidade est�� coberta por um len��ol de merda ��� murmurou
Judd, olhando pela janela.
��� Seu suco de laranja e a p��lula, Sr. Crane.
Bridget p��s os dois copos na frente da bandeja.
��� Voc�� nunca esquece, n��o �� mesmo?
��� �� para isso que me pagam. ��� Ela esperou at�� que Judd
engolisse a p��lula e tomasse o suco. ��� O jantar ser�� servido ��s sete e
meia. E uma refei����o ligeira, ��s nove horas.
��� N��o estou mais no hospital.
��� Ordens m��dicas. Continuar�� nessa rotina por mais duas
semanas.
��� Que tal uma trepada?
��� Esse n��o �� meu departamento. Mas est�� muito melhor.
Poder�� em breve cuidar desses problemas normalmente.
��� Muito obrigado. Mas n��o fique esperando para descobrir.
N��o esquecerei como me falhou no momento de necessidade.
Ele observou-a deixar a cabine e depois olhou para Fast Eddie,
que estava atr��s do bar.
��� S��o todas uma sacanas.
Fast Eddie exibiu todos os dentes.
��� Tem toda raz��o!
151
��� Suco de laranja tem gosto de qualquer merda. D��-me uma
Coca temperada.
��� Vamos com calma, chefe ��� protestou Fast Eddie. ���
Lembre-se das ordens da doutora.
��� Ela que se foda. Voc�� n��o trabalha para ela.
��� Mas...
��� Fa��a o que estou mandando.
Fast Eddie preparou o drinque rapidamente. Judd tomou um
gole.
��� Est�� ��timo. ��� Ele suspirou, sentindo que se recuperava. ���
Os m��dicos n��o sabem de tudo.
Doc Sawyer e Merlin entraram na cabine.
��� Tudo bem com voc��s? ��� perguntou Judd.
��� Tudo bem ��� respondeu Merlin.
��� Como est�� Sofia?
��� Muito bem ��� respondeu Doc Sawyer. Ele notou a expres-
s��o impass��vel de Judd e olhou para Merlin. ��� Contou a ele?
Merlin sacudiu a cabe��a.
��� Pensei que voc�� tivesse contado.
Judd olhava aturdido para os dois.
��� De que diabo est��o falando?
Doc Sawyer virou-se para ele.
��� Algu��m com um silenciador tentou liquid��-la quando passa-
va pelo sal��o de tr��nsito. Mas n��o devia ser muito bom, pois acertou
apenas na carne do bra��o esquerdo.
��� Pegaram o homem?
��� Ningu��m sequer o viu ��� respondeu Merlin. ��� A seguran��a
mexicana nem percebeu que ela foi baleada. A dona tem muita
coragem. Atravessou todo o sal��o sem dizer nada. Manteve a m��o
direita sobre o buraco da bala, totalmente fria e controlada, a fim de
que n��o se notasse o sangue at�� chegar ao avi��o.
��� Onde ela est�� agora? ��� perguntou Judd.
��� Dormindo em sua cabine ��� respondeu Doe Sawyer. ���
Perdeu algum sangue, �� claro. Dei-lhe plasma, fiz um curativo e a
botei para dormir. Ela est�� bem, mas n��o acordar�� por 10 ou 12
horas.
��� Bom trabalho ��� comentou Judd. ��� Mas eu gostaria de
saber o que exatamente aconteceu em Havana.
��� Sabemos de tudo ��� declarou Merlin. ��� Ela teve controle
152
suficiente para trazer de volta os pap��is de Borovnik. J�� examinei-os.
Todos aqueles dep��sitos no South & Western Savings eram parte de
uma opera����o do governo cubano. Os traficantes trabalhavam por
interm��dio deles.
��� Trope��amos em algo grande, n��o �� mesmo?
Merlin assentiu.
��� O que acontece agora?
��� Todo o nosso governo agora est�� metido na coisa ���
informou Merlin. ��� Al��m do Departamento do Tesouro, Comiss��o
Federal de Seguro Banc��rio, Servi��o da Receita Federal, Alf��ndega
e FBI, a CIA tamb��m est�� investigando.
��� E qual �� o resultado de tudo isso para n��s?
��� A liquida����o da South & Western. Poder��amos ag��entar
com uma retirada de 400 milh��es de d��lares, mas parece que, agora,
com todas as ag��ncias envolvidas, a coisa pode ir al��m dos 600
milh��es. S�� conseguir��amos ag��entar se injet��ssemos 300 milh��es dos
nossos pr��prios recursos.
N��o houve qualquer hesita����o de Judd.
��� Pois fa��a isso.
��� Pode perder tudo de qualquer maneira ��� avisou Merlin.
��� �� nosso nome e nosso dinheiro ��� Judd fez uma pausa, antes
de acrescentar: ��� O dinheiro n��o �� t��o importante. Mas n��o me
agrada a nossa estupidez.
Ficaram calados por algum tempo, at�� que Judd perguntou:
��� Mais alguma coisa?
��� Todas as mulheres conclu��ram os exames m��dicos e os
resultados foram os melhores poss��veis ��� disse Doc Sawyer. ��� O
departamento jur��dico est�� com os contratos devidamente assinados.
Assim, at�� os advogados se mostram satisfeitos. A Seguran��a
colocou-as em cidades diferentes, em estados por todo o pa��s.
Nenhuma delas tem conhecimento das outras, nenhuma tem a menor
no����o de sua liga����o com o projeto. �� desnecess��rio dizer que elas e
seus filhos ser��o amparados pelo resto de suas vidas por um fundo
irrevog��vel. Isso j�� foi acertado. Todas se acham perfeitamente
satisfeitas. Dentro de seis ou sete meses, deveremos ter uma colheita
recorde de m��es felizes e lindos beb��s, como nenhum outro homem
produziu desde Ibn Saud.
��� Ele teve mais de 900 filhos ��� comentou Judd. ��� E pelo
menos teve o prazer de fazer diretamente cada um.
153
��� Voc�� n��o pode ter tudo. ��� Doc Sawyer soltou uma risada.
��� E vive num mundo diferente.
Judd se manteve em sil��ncio por um instante.
��� H�� uma mulher que sabe, Doe. Sofia.
Doc Sawyer assentiu.
��� Zabiski e eu discutimos esse problema. O aborto dela
ocorrer�� conforme o planejado. E ela pensar�� que todos os outros
abortos tamb��m se consumaram.
Judd olhou pela janela. Havia uma fina linha alaranjada,
enquanto o sol mergulhava no horizonte para a noite. Ele n��o se
virou para os outros quando falou:
��� Parece que cobriram todos os ��ngulos.
��� Tentamos ��� murmurou Doe Sawyer.
��� Isso �� ��timo. ��� Judd virou-se para Merlin. ��� O que est��
acontecendo com a Ilha Crane?
��� A Crane Construction j�� p��s uma equipe para trabalhar no
projeto. O problema neste momento �� encontrar as pessoas certas
para compreender o que desejamos. Mas achanos que os trabalhos
preliminares estar��o conclu��dos em cerca de dois meses.
��� E quanto tempo mais para construir e rematar tudo?
��� Um ano para se iniciar a constru����o, mais um ano para
terminar. ��� Merlin fitou-o com uma express��o de d��vida. ��� Ainda
quer continuar? Calculo que gastaremos 40 milh��es de d��lares, talvez
mais.
Judd olhou para ele.
��� Repassaremos o estudo antes de tomarmos a decis��o. Ainda
temos tempo.
Bridget entrou na cabine nesse momento.
��� Desculpem, senhores, mas o tempo esgotou-se. Meu pa-
ciente precisa dormir um pouco antes do jantar.
��� Minha sacana doce e atenciosa ��� murmurou Judd.
Mas n��o havia rancor em sua voz. Come��ava a sentir-se
cansado.
O zumbido suave dos jatos espalhava-se por seu camarote. Ele abriu
os olhos, lentamente. Bridget se encontava de p�� ao lado da cama, o
uniforme branco de enfermeira parecendo um fantasma no escuro.
��� Est�� parada a�� h�� muito tempo?
154
��� H�� poucos minutos apenas. Dormia t��o profundamente que
fiquei sem saber se devia ou n��o acord��-lo para o jantar.
��� Jantar �� uma boa id��ia. O almo��o j�� era. Nem cheguei a
com��-lo.
��� Informarei ao cozinheiro.
Judd sentou-se na cama.
��� Vou fazer a barba e tomar um banho de chuveiro. Quando o
jantar estar�� pronto?
��� Quando quiser.
��� Meia hora est�� bem?
��� Claro.
Judd observou-a sair e fechar a porta, depois acendeu a luz. Viu
a luz vermelha do telefone piscando e atendeu.
��� Sua m��e ligou de San Francisco enquanto estava dormindo,
Sr. Crane ��� informou o oficial de comunica����es.
��� Pois ligue para ela.
Judd desligou e foi para o banheiro. O telefone tocou quando
ele ainda se encontrava l�� dentro. Atendeu no aparelho na parede,
ao lado do vaso.
��� A Sra. Marlowe est�� na linha, senhor.
��� Obrigado. ��� Ele ouviu o estalido da transfer��ncia. ��� Ol��,
Barbara.
��� J�� se passaram seis semanas desde que nos falamos pela
��ltima vez. Onde est��?
��� Neste momento, no vaso, dando uma mijada.
��� Idiota. ��� Barbara riu. ��� Em que lugar?
��� De acordo com o plano do v��o, devo estar sobrevoando
algum ponto do Amazonas. Mas n��o tenho certeza. Acabei de
acordar.
��� E como est��? Sente-se bem?
��� Nunca me senti melhor.
��� E os tais tratamentos?
��� Maravilhosos. Como est��o voc�� e Jim?
��� Muito bem. Soube que voc�� vai comparecer �� posse.
��� �� verdade.
��� Tamb��m recebemos um convite. Achei que seria ��timo se
pud��ssemos ir juntos.
��� Adorei a id��ia. Vamos cuidar disso.
155
��� ��timo. ��� Barbara hesitou por um instante. ��� Tem certeza
de que est�� bem?
��� Claro que estou, Barbara. Muito bem. D�� um abra��o em
Jim e receba um beij��o.
��� Um beij��o para voc�� tamb��m. Ficaremos esperando o
momento de encontr��-lo em Washington. At�� l��.
Judd desligou e continuou de p�� junto ao vaso de m��rmore.
Apertou o bot��o chamando a atendente. Bridget entrou no camarote
e foi parar na porta do banheiro.
��� Qual �� o problema?
��� Olhe s�� para isso ��� disse Judd, apontando. ��� Estou de pau
duro outra vez. N��o consigo mijar.
��� O que provocou isso?
��� Falei com minha madrasta pelo telefone. Ela costumava me
dar a maior tes��o. Acho que ainda d��.
Ela fitou-o, com um meio sorriso.
��� Voc�� �� um pervertido incestuoso. ��� Bridget soltou uma
risada. ��� Entre debaixo do chuveiro e abra a ��gua fria. E n��o ter��
mais qualquer dificuldade para mijar.
156
24
��� ESTAMOS AGORA a 15 quil��metros da costa ��� informou o
comandante, pelo sistema de alto-falantes.
Judd apertou o interfone.
��� Ponha na tela grande.
O comiss��rio de bordo, Raoul, ligou a tela prateada na parede
da cabine de Judd e fechou a cortina para vedar a claridade intensa
do sol tropical. Quase que no mesmo instante um mar azul se
projetou contra uma faixa comprida de areia branca. E come��ou a
desaparecer em quil��metros intermin��veis de selva verde.
��� O delta do rio est�� no centro da tela ��� disse o comandante.
Judd tornou a apertar o interfone.
��� D�� um zoom, por favor.
��� Estamos a 15 mil metros de altitude ��� informou o
comandante. ��� A imagem pode estar granulosa.
��� N��o tem import��ncia. �� o que estou querendo ver. E depois
mantenha um curso firme rio acima.
��� Est�� bem, senhor.
Judd observou a tela atentamente. A imagem foi aumentando,
ocupando toda a tela, de tal forma que at�� a cor lamacenta do vasto
fluxo do Amazonas tornou-se vis��vel. Poucos momentos depois, o
delta se perdia na base da tela e o enorme rio come��ava a ocupar
gradativamente a parte superior, at�� que esta parecia incapaz de
cont��-lo.
��� As f��bricas aparecer��o dentro de um minuto no alto da tela,
senhor ��� avisou o comandante.
��� Podemos baixar um pouco e sobrevo��-las?
157
��� Temos autoriza����o para voar a 15 mil metros de altitude,
senhor. Eles ficar��o furiosos se alterarmos o plano de v��o.
��� Eles que se fodam! Des��a para 10 mil metros. Assumirei
toda responsabilidde. ��� Judd virou-se para Merlin, sentado a seu
lado. ��� Por que isso? Afinal, �� o motivo para virmos at�� aqui.
Merlin se manteve em sil��ncio, os olhos fixados na tela. A
primeira f��brica come��ava a aparecer. Fuma��a de um cinza-escuro se
elevava de seis gigantescas chamin��s. Havia ancoradouros compridos
para os cargueiros. Uma esteira transportadora estendia-se do lado
da f��brica diretamente para o cais.
��� �� a f��brica de papel ��� disse Judd.
A imagem na tela se alterou e outra f��brica come��ou a
aparecer. A imagem era mais n��tida agora e ele p��de constatar que as
f��bricas eram constru��das na terra, mas ancoradas no rio.
��� Esta produz madeira ��� comentou Judd. ��� �� o refugo que
vai para a f��brica de papel.
��� Incr��vel! ��� murmurou Merlin. ��� F��bricas assim no meio da
selva mais primitiva do mundo!
��� D.K. �� um g��nio ��� disse Judd. ��� Foi id��ia dele. Sabia que
a constru����o n��o podia ser feita aqui. Assim, mandou construir as
f��bricas no Jap��o, rebocou-as pelos oceanos e instalou-as no lugar.
Entraram em opera����o quase da noite para o dia.
Uma terceira f��brica apareceu na tela. Mais al��m, o rio corria
implacavelmente, embora coberto por milhares de troncos, centenas
de milhares de troncos, comprimindo-se e saltando por cima uns dos
outros, como se nas mand��bulas de algum gigantesco monstro pr��-
hist��rico.
��� Deve ser a serraria, limpando e separando os troncos. ���
Judd apontou para o alto da tela. Uma enorme represa de concreto
come��ava a aparecer. ��� A�� est�� outro sinal do g��nio de Ludwig.
Nunca haver�� necessidade de petr��leo ou energia nuclear. Nada al��m
de ��gua. Energia hidrel��trica, proporcionada pela abund��ncia da
natureza. Ludwig n��o se limitou a pensar nisso, mas tamb��m previu
as pr��prias necessidades da natureza de um futuro suprimento de
mat��ria-prima. Criou um programa de reflorestamento que doma a
floresta para proporcionar uma colheita nova a cada 20 anos.
��� Ent��o n��o compreendo ��� disse Merlin. ��� Por que ele quer
sair?
��� Acho que por duas coisas. Primeiro, a selva o sacaneou.
158
Calculou uma renova����o de 20 anos para as florestas. Mas toda a
selva se move a uma velocidade vertiginosa. O homem jamais teve de
lidar com qualquer coisa parecida. Ludwig descobriu que precisa de
pelo menos 10 mil homens s�� para evitar que a selva cubra suas
instala����es.
��� E qual foi o outro problema? ��� indagou Merlin.
��� O pr��prio D.K. O homem est�� com mais de 80 anos e acho
que come��a a compreender que seu tempo pode estar se esgotando.
��� Judd manteve-se calado por um momento e depois virou-se para
Merlin. ��� Acha que ele haveria de querer cair fora se tivesse o dom
da imortalidade?
Merlin n��o respondeu. Judd tornou a apertar o interfone.
��� Pode retomar o curso, comandante. J�� acabei, por enquan-
to. Obrigado.
��� Est�� certo, senhor. Pousaremos em Bras��lia dentro de tr��s
horas e 35 minutos.
Bridget entrou na cabine enquanto Raoul abria as cortinas. A
luz do sol se espalhou pelo interior.
��� Est�� na hora outra vez ��� disse ela, estendendo a bandeja.
Judd pegou a p��lula, p��s na boca e engoliu com um gole do suco
de laranja.
��� N��o se cansa de fazer isso?
��� �� meu trabalho. ��� Bridget fez uma pausa. ��� A Dra.
Ivancich est�� acordada.
��� E como ela est��?
��� Muito bem. ��� A voz da enfermeira era fria. ��� Est�� se
vestindo. O Dr. Sawyer insistiu que mantivesse o bra��o numa tip��ia.
��� Descerei para v��-la.
��� N��o precisa. ��� A voz de Bridget continuava fria. ��� Ela
tenciona subir assim que acabar de se maquilar.
Judd observou-a atentamente.
��� Tenho a impress��o de ouvir uma pontada de ci��me em sua
voz.
��� N��o dela ��� respondeu Bridget, sarcasticamente. ��� Afinal,
ela tem praticamente idade suficiente para ser minha m��e.
Ela deixou a cabine com um meneio dos quadris que Judd
nunca notara antes. Ele virou-se para Merlin.
��� Tenho o pressentimento de que a nossa cara enfermeira
come��a a degelar.
159
Merlin riu.
��� �� poss��vel. Mas as cifras em que estou metido sobem e
descem, nunca se deslocam para os lados.
Judd sorriu.
��� Alguma novidade sobre a situa����o da South & Western?
��� Todas as ag��ncias do governo que possa imaginar est��o
plantadas l�� dentro com os dois p��s. A ��nica coisa que pode
interess��-lo �� que tudo indica que seu maior s��cio �� Castro.
��� Merda! ��� exclamou Judd, consternado. ��� Por que ser�� que
todos os pol��ticos querem virar homens de neg��cios?
Merlin levantou-se.
��� Incomoda-se se eu for dormir um pouco? Fiquei acordado
durante a maior parte da noite.
��� �� melhor aproveitar para dormir enquanto pode. Tenho o
pressentimento de que o dia de hoje n��o ser�� dos mais f��ceis.
Judd observou a porta se fechar atr��s de Merlin e depois virou-
se para Fast Eddie, que continuava de p�� atr��s do bar.
��� Arrume uma Coca temperada.
��� �� para j��, chefe.
Judd tomava o drinque quando Sofia entrou. Ela parou �� porta
por um instante, como se n��o tivesse certeza da acolhida.
��� Entre, Sofia ��� disse ele, gentilmente, largando o copo.
Ela avan��ou at�� sua cadeira e inclinou-se para beij��-lo no rosto.
��� Obrigada.
��� Voc�� est�� bem?
��� Estou, sim.
��� N��o sente qualquer dor?
��� N��o, Judd. Estou ��tima.
Ele fitou-a nos olhos.
��� N��o precisa pedir desculpas ou explicar qualquer coisa,
Sofia. N��o somos amigos?
��� Claro. Espero continuarmos assim.
Ele gesticulou para uma poltrona. Esperou at�� que ela sentasse.
��� Cada um faz o que acha que deve.
��� Eu receava que voc�� pudesse pensar que o tra��.
��� Acreditou realmente que eu poderia pensar assim?
Sofia n��o hesitou:
��� N��o.
��� Ent��o n��o tem problema.
160
��� �� uma hist��ria antiga. Quer que eu conte tudo?
Judd sacudiu a cabe��a.
��� N��o precisa. J�� sei de tudo.
��� E n��o est�� zangado.
Ele riu.
��� N��o. J�� vivi por tempo suficiente para saber que lealdades
antigas n��o morrem com facilidade.
Sofia n��o fez qualquer coment��rio a respeito. Olhou para o
copo diante de Judd.
��� Voc�� sabe muito bem que n��o deveria tomar isso.
��� Claro que sei. Mas isso tamb��m �� uma lealdade antiga.
Ela ficou calada.
��� E voc�� n��o est�� de servi��o agora, doutora.
��� Tem raz��o.
��� Parece cansada, doutora. Posso lhe oferecer uma dose?
��� Bem que estou precisando de algo para levantar o ��nimo.
Judd acenou com a cabe��a para Fast Eddie, que se adiantou
com o frasco de ouro. Sofia pegou o frasco, mas n��o conseguiu
encontrar um jeito com o bra��o na tip��ia. Fast Eddie levantou a
colher ��s suas narinas. Ela aspirou duas doses refor��adas. Fast Eddie
voltou ao bar.
��� Ajudou bastante. ��� Os olhos de Sofia se encontraram com
os dele. ��� Voc�� �� um homem estranho, Judd Crane.
Ele n��o respondeu.
��� Acha mesmo que viver�� eternamente?
��� Eu n��o disse eternamente. Imortalidade foi a palavra que
usei.
��� N��o �� a mesma coisa? Apenas uma quest��o de sem��ntica.
��� Nunca fui um estudioso de ling����stica. Mas �� o que espero,
qualquer que seja a maneira como voc�� diga.
��� E para o seu bem, �� o que tamb��m espero. ��� Ela fez uma
pausa. ��� Sua nova enfermeira n��o gosta de mim,
��� Isso n��o �� importante.
��� Voc�� est�� fodendo com ela, �� claro.
��� Para dizer a verdade, n��o.
��� E n��o quer?
��� Provavelmente quero. Mas isso tamb��m n��o �� importante.
��� Farei um aborto na pr��xima semana.
Judd assentiu.
161
��� J�� sei.
Os olhos de Sofia penetraram at�� o fundo de Judd.
��� Eu gostaria de manter o seu filho.
A voz dele soou incisiva:
��� Eu n��o quero. Todos sab��amos que n��o passava de outra
experi��ncia.
��� Uma em dez n��o seria uma pedra t��o grande para voc��.
��� Uma j�� seria demais. Foi uma experi��ncia e assim continua-
r��, Sofia.
��� Mas o que restar�� se voc�� morrer?
��� Eu n��o morrerei. E mesmo que isso venha a acontecer,
nada se perder��.
Ela ficou em sil��ncio por um momento.
��� Posso tomar outra dose?
Judd gesticulou para Fast Eddie, sem dizer nada. Ele tomou um
gole do drinque, observando-a aspirar mais duas doses de coca��na.
Ela virou-se para olhar pela janela do avi��o.
��� O c��u est�� t��o azul...
��� Sempre �� assim, a 15 mil metros de altitude.
Sofia tornou a fit��-lo.
��� Tenho medo. N��o quero morrer.
��� Voc�� n��o vai morrer.
��� Diz isso porque n��o os conhece. Eles n��o s��o como voc��.
Em seu mundo, est��o convencidos de que os tra��. E jamais
esquecem. V��o me matar, mais cedo ou mais tarde.
��� Voc�� sempre pode sumir. Na Am��rica, muitos j�� se
esconderam deles e nunca foram descobertos. Alguns dos seus
maiores cientistas foram esquecidos, at�� mesmo por eles.
��� �� poss��vel. Mas isso n��o acontecer�� no meu caso. O crime
que cometi n��o foi apenas trai����o, mas tamb��m o assassinato de um
homem que estava apenas a um passo do pr��prio Politburo.
Sofia pegou um cigarro na caixa em cima da mesa e acendeu-o.
Aspirou fundo a fuma��a, enchendo os pulm��es.
��� Nunca fui muito boa em fugir. Talvez seja melhor eu voltar.
��� Como quiser.
Ela virou-se para ele.
��� Quer dizer que n��o tem import��ncia se eu morrer?
��� N��o vai morrer. Est�� esquecendo uma coisa muito impor-
tante. Eles precisam de voc��.
162
��� Para qu��?
Judd sorriu.
��� Para Brezhnev. Seu pr��ximo paciente.
Ela ficou calada.
��� Acha mesmo que por��o sua vida em risco porque simples-
mente estourou os miolos de um idiota de terceira classe, que por
acaso �� genro de um burocrata do Politburo? Andropov, no KGB,
n��o �� t��o est��pido assim. Se voc�� puder prolongar a vida de
Brezhnev, mesmo que seja por apenas mais dois anos, ele ter�� todo o
tempo de que precisa para consolidar sua posi����o e conquistar o
poder.
Sofia tornou a fit��-lo nos olhos.
��� Acredita mesmo nisso?
��� Posso garantir. A Crane Industries tem importantes conta-
tos no Politburo.
163
25
BRAS��LIA era uma cidade totalmente nova, t��o nova que seu
cora����o ainda n��o come��ara a bater. As ruas eram largas e limpas,
os pr��dios modernos, de concreto e vidro. Nem mesmo os
autom��veis, em grande parte movidos por um ��lcool et��lico
especial, acrescentavam polui����o ao c��u de um azul muito claro por
cima da cidade.
A reuni��o se realizou numa sala enorme, de paredes de vidro,
22 andares acima das ruas da cidade. Todos se sentaram em torno de
uma mesa oval de carvalho, em cadeiras confort��veis de encosto alto,
com um couro macio da mesma cor que a mesa.
Judd ficou diante do presidente da delega����o brasileira, separa-
dos por toda a largura da mesa. Merlin e Doc Sawyer o ladeavam. O
brasileiro, por sua vez, tamb��m estava flanqueado por dois homens.
Todos falavam em ingl��s, mas Judd percebeu um ligeiro sotaque
alem��o na voz do homem.
��� Se entendi corretamente, Dr. Schoenbrun, o Sr. Ludwig
investiu meio bilh��o de d��lares nesse projeto.
O Dr. Schoenbrun assentiu. Judd observou-o atentamente,
atrav��s da mesa.
��� E o que espera de mim?
O sotaque germ��nico do Sr. Schoenbrun tornou-se um pouco
mais acentuado quando ele disse:
��� Neste projeto, Sr. Crane, n��o esperamos nada seu.
Judd disfar��ou a surpresa permanecendo em sil��ncio, apesar de
v��rias coisas lhe ocorrerem prontamente.
��� Nossas negocia����es com Sr. Ludwig foram conclu��das. O
164
governo brasileiro assumir�� inteiramente o projeto. O Sr. Ludwig
concordou com uma parcela justa dos lucros e um empr��stimo a
longo prazo, a juros baixos, com o retorno do capital principal de
acordo com diversos fatores econ��micos, a serem definidos na
ocasi��o oportuna.
��� Meus parab��ns, Dr. Schoenbrun. Na minha opini��o, conse-
guiu uma importante contribui����o �� economia de seu pa��s.
��� Obrigado, Sr. Crane.
O Dr. Schoenbrun permitiu-se um ligeiro sorriso de orgulho.
Judd balan��ou a cabe��a.
��� Mas deve ter outra proposta a me apresentar. Caso contr��-
rio, por que me convidaria a vir at�� aqui?
��� Tem toda raz��o, Sr. Crane. Antes, no entanto, quero pedir
desculpas por engan��-lo quanto ao verdadeiro motivo. O mundo tem
muitos ouvidos e achamos que era de vital import��ncia manter as
nossas conversa����es em absoluto sigilo.
��� Concordo plenamente.
��� Quero falar sobre a Crane Pharmaceuticals. A ind��stria
farmac��utica �� um dos setores mais fracos de nossa economia. Devo
dizer sinceramente que j�� mantivemos diversos contatos. Primeiro,
com a Hoffman-La Roche. Mas eles decidiram continuar baseados na
Costa Rica. Depois, com a Bayer Chemical Weltgeschaft. Mas eles s��
entram nos produtos de consumo dom��stico e preferem manter a
parte mais pesada da ind��stria pr��xima da matriz.
Judd n��o desviava os olhos dele.
��� Du Pont? Monsanto?
��� Eles poderiam se interessar, mas estavam preocupados com
a politica de direitos humanos do Presidente C��rter. Acharam que
acabariam com mais problemas do que poderiam arcar.
��� E foi ent��o que a Crane apareceu, no fundo de sua lista? ���
indagou Judd, secamente.
��� Fisicamente, �� verdade ��� respondeu o Dr. Schoenbrun,
com absoluta franqueza. ��� Mas, na realidade, n��o foi bem assim.
Numa ��rea especialmente, sempre estivemos mais pr��ximos do que
quaisquer outros.
��� A que ��rea se refere?
O Dr. Schoenbrun fitou-o nos olhos, atrav��s da mesa.
��� Medicina nuclear.
Depois de um momento, Judd disse apenas uma palavra:
165
��� Alemanha.
O Dr. Schoenbrun assentiu.
��� Depois da guerra, muitos cientistas alem��es fugiram para
c��, como sabe perfeitamente. Nos termos da rendi����o, a Alemanha
n��o tinha condi����es de desenvolver uma ind��stria nuclear, para
qualquer prop��sito. O Brasil n��o tem tais proibi����es. Por isso, os
alem��es vieram para c��... muitos alem��es. "A Ind��stria Silenciosa", como a chamamos. Ningu��m fala a respeito, mas existe. Hoje,
dispomos de duas instala����es absolutamente modernas j�� em ope-
ra����o.
��� Todas dirigidas por alem��es.
��� N��o apenas alem��es ��� disse o Dr. Schoenbrun prontamen-
te. ��� Temos muitos americanos e franceses.
��� E j�� possuem a bomba?
��� N��o. Mas �� claro que poder��amos ter, se quis��ssemos.
��� Mais bombas nucleares n��o me atraem.
��� Nem a mim. ��� Schoenbrun fez uma pausa. ��� Mas temos
outra instala����o que pode interess��-lo.
��� E qual ��?
��� No plat�� de um vulc��o extinto, a 650 quil��metros ao norte
do projeto de Ludwig, constru��mos um gerador nuclear 300 metros
abaixo da cratera. Ludwig teve a id��ia de que poder��amos fornecer
toda a energia necess��ria ao seu projeto. Mas depois ele saiu fora e
ficamos sem dinheiro, em decorr��ncia da crise financeira. Est�� tudo
l��, abandonado, esperando que a selva cubra.
��� O que quer que eu fa��a com isso?
��� Pensei que poderia aproveitar para construir uma instala����o
de medicina nuclear. J�� investimos tr��s bilh��es de d��lares. Entrega-
remos tudo a voc�� por um bilh��o. Outros dois bilh��es lhe proporcio-
nar��o a mais moderna usina do mundo. E o mais importante: ��
profundamente secreta e inacess��vel a intrusos. �� por isso que
recebeu o nome de Xanadu.
��� E como poder��amos arrumar o pessoal para constru��-la e
oper��-la?
��� J�� resolvemos esse problema. H�� uma equipe completa ��
disposi����o.
Judd pensou por um momento.
��� Isso pode representar uma possibilidade para mim. Quando
posso ver as instala����es?
166
��� No momento que lhe for mais conveniente.
Judd levantou-se.
��� Ficarei em contato. Ele estendeu a m��o. ��� Obrigado, Dr.
Schoenbrun.
��� �� incr��vel ��� disse Judd a Doe Sawyer, enquanto Bridget lhe
entregava o copo com suco de laranja e a p��lula, que ele engoliu
prontamente. ��� Eles s�� querem tr��s bilh��es de d��lares.
��� Uma verdadeira pechincha ��� comentou Doc Sawyer,
sarcasticamente.
Judd soltou uma risada.
��� Faz o M��xico parecer um para��so de integridade em
compara����o. Todos eles querem simplesmente uma fatia no mercado
da corrup����o.
��� Posso presumir ent��o que n��o fechar�� o neg��cio com eles?
��� Claro que fecharei. Talvez n��o exatamente como querem,
mas o suficiente para lev��-los a uma sensa����o de seguran��a em
rela����o a n��s. ��� Judd sorriu ironicamente. ��� A fim de se negar, ��
preciso ��s vezes integrar.
Doe Sawyer pensou por um instante.
��� De onde acha que saiu todo o equipamento deles? Todas as
instru����es e placas na maquinaria est��o em ingl��s. Mas n��o pode ter
vindo dos Estados Unidos. C��rter n��o permitiria.
��� Aposto qualquer coisa como veio da Fran��a. ��� Percebendo
a incredulidade no rosto de Doe, Judd acrescentou: ��� N��o seja
ing��nuo. Apesar do acordo de n��o-prolifera����o entre Fran��a,
Estados Unidos e outras pot��ncias nucleares ocidentais, os franceses
sempre encontram uma sa��da quando h�� dinheiro a ganhar.
��� Nossos amigos... ��� murmurou Doe, em tom sarc��stico.
��� Com amigos assim, n��o se precisa de inimigos. ��� Judd
olhou pela janela e apertou o interfone para falar com o comandante.
��� Estamos perto do Rio?
��� Est�� aproximadamente a 260 milhas n��uticas atr��s de n��s,
Sr. Crane.
��� Pois vamos voltar. Pe��a autoriza����o para o pouso. Passare-
mos a noite l��. ��� Judd virou-se para Doe Sawyer. ��� Est�� na hora de
nos divertirmos um pouco.
��� Voc�� deveria se deitar ��s nove e meia.
��� Apenas por uma vez, Doc, esque��a que �� meu m��dico.
167
Estou ficando maluco com todos esses tratamentos. Al��m do mais, as
garotas de Ipanema s��o realmente tudo o que a can����o diz. Pode
fazer algum bem at�� mesmo a voc��.
O som de risos despertou Bridget. Ela olhou ao redor, na escurid��o
total de sua cabine. O rel��gio luminoso indicava tr��s e meia. Pela
janela, ela avistou tr��s ou quatro garotas deixando duas limusines,
estacionadas ao lado do avi��o. Elas riram, enquanto seguiam Judd e
Doc Sawyer para o elevador.
Bridget virou-se na cama. Olhou para a escurid��o; n��o ouviu
mais qualquer barulho. Sua cabine ficava no fundo do avi��o. Ela
fechou os olhos e esfor��ou-se ao m��ximo para voltar a dormir.
Fast Eddie j�� tinha 12 linhas compridas de coca��na na extremi-
dade espelhada da mesa. As garotas riram ainda mais alto enquanto
pegavam os canudos e aspiravam.
��� Isso �� uma loucura ��� disse ele. ��� Nunca fiz nada parecido
antes. Qual delas voc�� vai querer?
��� Todas elas. ��� Judd riu. ��� Neste momento, com a tes��o
que estou, sinto que posso foder a todas at�� n��o ag��entar mais.
Doc Sawyer interveio:
��� Espere um pouco. N��o se esque��a de que deve ser
cauteloso.
��� Serei cauteloso amanh��. Agora, sou como uma crian��a
numa loja de balas.
��� Por que voc�� n��o goza, Judd? ��� balbuciou S��lvia. ��� Sua pica
est�� t��o dura que me deixou a cona toda dolorida.
Duas outras garotas balan��aram a cabe��a em concord��ncia.
��� Eu tamb��m fiquei assim. Nunca senti um pau t��o duro em
toda a minha vida.
A outra acrescentou:
��� E n��o fica mole em nenhum momento. Est�� sempre duro
como um cano de a��o. Tudo o que posso sentir �� a dor... e o prazer
divino!
Judd olhou para a terceira garota.
��� E voc��, menina?
Ela hesitou por um momento.
��� Mesmo quando penso sentir sangue, a alegria �� extasiante!
Ele sentou entre as garotas.
168
��� Desculpem. N��o tinha a inten����o de machuc��-las. Talvez eu
tenha tomado coca��na demais.
��� Coca��na demais geralmente deixa mole ��� comentou S��lvia.
��� As drogas fazem coisas diferentes com pessoas diferentes.
��� Judd levantou-se e vestiu um roup��o. ��� Est�� ficando tarde.
Talvez seja melhor voc��s todas irem agora. E vamos torcer para que
na pr��xima vez seja melhor para todos n��s.
S��lvia observou-o.
��� Mas voc�� ainda est�� de pau duro. Achamos que assim o
estamos trapaceando.
��� Voc��s todas s��o lindas... e n��o me trapacearam. Adorei a
companhia de voc��s.
��� Voltaremos a nos encontrar em breve? ��� perguntou S��lvia.
��� Assim que eu puder.
As garotas se vestiram depressa. Judd apertou o bot��o para
chamar Fast Eddie.
��� Cuide delas.
Judd beijou cada uma das garotas no rosto ao deixarem seu
camarote.
��� N��o se esque��a, Judd ��� disse S��lvia. ��� Voc�� falou em
breve.
��� N��o esquecerei.
Ele se encaminhou para a porta do seu quarto, lentamente.
Pelo canto dos olhos, viu Fast Eddie entregar uma nota de mil
d��lares a cada garota. Fechou a porta e largou o roup��o no ch��o. A
ere����o estava ainda mais dura e come��ava a doer intensamente. Ele
entrou depressa no boxe e abriu o chuveiro, a ��gua fria como gelo.
169
26
D o c SAWYER entrou no sal��o de Judd. Fast Eddie limpava o bar.
��� O Sr. Crane est�� em seu quarto?
��� Est��, sim.
��� Acha que ainda est�� acordado?
��� Acabei de ouvi-lo fechar o chuveiro.
Doc Sawyer foi bater na porta do quarto.
��� Posso entrar?
A voz de Judd soou abafada:
��� Pode.
Sawyer abriu a porta. A princ��pio, mal podia divisar qualquer
coisa; as luzes estavam diminu��das ao m��ximo. Depois, seus olhos se
ajustaram �� semi-escurid��o.
Judd estava sentado na cama, os p��s no ch��o, o corpo
encurvado, as m��os comprimindo a virilha. A cabe��a estava abaixa-
da, o queixo encostando no peito.
��� A garota... ��� Doc Sawyer n��o continuou a frase. ��� O que
houve?
Judd levantou a cabe��a para fit��-lo.
��� N��o sei. ��� A voz era tensa, parecia vir de muito longe, n��o
do pr��prio Judd. ��� Acho que estou com algum problema grave.
Doc estendeu a m��o para o reostato na parede. A luz inundou o
quarto. Ele viu o rosto de Judd, p��lido e coberto de suor, tipicamente
provocado pela dor. Os olhos azuis estavam quase que totalmente
pretos. Rapidamente, Sawyer aproximou-se do vulto encurvado de
Judd. P��s a m��o em sua testa. Estava fria por baixo do suor.
170
��� Pode ficar de p��? ��� perguntou ele, sem fazer qualquer
men����o de ajudar.
��� Acho que sim.
Lentamente, Judd come��ou a se empertigar. P��s as m��os na
cama cuidadosamente e deu impulso para se levantar. Os l��bios
estavam brancos e comprimidos em agonia; as narinas tremiam
enquanto sugava o ar sofregamente; o suor continuava a cair em
gotas. Ele conseguiu se levantar parcialmente, mas depois teve de
parar.
��� N��o tente ent��o, Judd. Eu o ajudarei. ��� Doc Sawyer
passou o bra��o sob os ombros de Judd. ��� Vamos devagar at�� a cama.
N��o entre em p��nico. Vai ficar bom.
��� N��o estou em p��nico. ��� Judd soltou uma risada rouca. ���
N��o sabe que sou imortal?
Doc estendeu-o na cama. Chamou Fast Eddie pela porta
aberta.
��� Mande a enfermeira trazer minha maleta e tamb��m o estojo
de primeiros socorros. Fale tamb��m com a Dra. Ivancich para vir
imediatamente. E diga a Raoul para trazer o aparelho de oxig��nio
port��til.
��� Certo.
Fast Eddie n��o perdeu tempo. Doe Sawyer ajoelhou-se ao lado
da cama.
��� Fale-me da dor. Onde ��?
Judd fitou-o nos olhos.
��� Come��ou no pau, depois os colh��es pareceram virar pedra.
O pau estava t��o duro que parecia comprimir os colh��es por dentro
do meu rabo. A dor come��ou ent��o a se espalhar por dentro de mim.
Estendeu-se da virilha para os lados, como se os rins e a bexiga se
convertessem em pedra. Eu queria mijar, mas nada conseguiu passar.
Tive a sensa����o de que o pau se transformara em rocha s��lida, a
uretra e tudo o mais.
��� Muito bem. Tente relaxar. J�� vamos cuidar disso.
Judd fez uma careta.
��� Acho que a festinha, no final das contas, n��o foi uma id��ia
t��o boa assim.
��� �� poss��vel. Mas at�� que foi uma id��ia divertida. Voc��
apenas exagerou, mais nada.
171
��� Pronto, Doc Sawyer ��� disse Bridget, parada atr��s do
m��dico.
��� Prepare um soro intravenoso ��� ordenou ele. ��� Vinte
miligramas de valium, cinco cent��metros c��bicos de morfina, numa
solu����o salina de 30 minutos.
Ela acenou com a cabe��a e abriu o estojo de primeiros socorros.
Montou rapidamente o suporte de metal para o vidro de soro, depois
acrescentou o valium e a morfina �� solu����o. Prendeu finalmente o
tubo ao vidro, ajustou a agulha na extremidade, pendurou o vidro no
suporte.
��� Vai injetar, doutor?
��� Vou, sim. -Segure o bra��o.
Um instante depois, Doc Sawyer enfiou a agulha na veia de
Judd. Prontamente, a enfermeira p��s um esparadrapo por cima. Ela
olhou para Doc Sawyer.
��� O aparelho de oxig��nio j�� est�� aqui.
��� Respira����o pelas narinas. Come��aremos com dois litros por
minuto, durante uma hora.
��� Pois n��o, senhor.
Ele virou-se para sua maleta, enquanto Bridget ajeitava o
oxig��nio. Abriu-a e tirou o term��metro eletr��nico. Constatou que a
temperatura era baixa, 36,6. Os n��meros digitais revelaram que a
press��o era de 102 por 70.
Judd viu o registro. O soro intravenoso j�� come��ava a ter
efeito. Ele sorriu d��bilmente.
��� O que esperava, Doc? Provavelmente todo o meu sangue
ficou retido no pau.
��� Posso verificar isso tamb��m, se voc�� quiser. ��� Doe Sawyer
riu. ��� Provavelmente est�� grande o suficiente para caber tudo.
Judd olhou para Bridget.
��� Somente se ela o fizer.
A enfermeira n��o disse nada.
��� Aposto que nunca viu um pau assim ��� acrescentou Judd. ���
Mesmo com toda a sua experi��ncia naquele hospital.
��� N��o se gabe tanto ��� falou ela, com um ligeiro sotaque
irland��s. ��� Vi alguns t��o grandes que fariam o seu parecer o de um
beb��.
Sofia entrou no quarto.
172
��� Desculpem eu ter demorado tanto. N��o consegui me vestir
direito por causa da tip��ia. O que aconteceu?
��� Priapismo agudo ��� informou Doe Sawyer.
Ela olhou por cima do seu ombro para Judd, que lhe sorriu.
��� Uma coisa e tanto, n��o acha?
Sofia soltou uma risada.
��� Fant��stico. Fiquei apaixonada.
Judd virou o rosto para ca��oar de Bridget:
��� Pelo menos algumas pessoas me apreciam.
Bridget n��o sorriu.
��� Eu j�� esperava por isso.
��� Como est�� se sentindo agora? ��� perguntou Sawyer, numa
tentativa de aliviar o antagonismo entre as duas mulheres.
��� Melhor, Doc. E sinto agora que tenho de urinar.
��� Pegue um vidro, enfermeira ��� pediu Doc Sawyer.
��� Uma bolsa de gelo ajudar�� ��� disse Bridget.
��� Voc�� tem experi��ncia. Est�� certo.
Bridget deixou o quarto. Judd virou-se para Sofia.
��� O m��nimo que voc�� pode fazer �� beij��-lo um pouco.
��� Eu ficaria com medo. E acho que voc�� j�� est�� com
problemas suficientes.
Judd olhou para Doc Sawyer. O soro intravenoso fazia um
efeito cada vez maior.
��� Est�� vendo agora como os poderosos caem...
Estavam sentados em torno da mesa, na sala de Judd, quando
Bridget saiu do quarto, fechando a porta.
��� Ele est�� dormindo ��� informou ela.
��� Isso �� ��timo ��� disse Doc Sawyer. ��� Alguma mudan��a
vis��vel em seu estado?
��� M��nima. Ele conseguiu passar um pouco de ��gua. Mesmo
dormindo, no entanto, foi doloroso.
��� Falei com o urologista no hospital na Fl��rida. Ele achou que
poderia ajudar se pression��ssemos a pr��stata.
��� J�� tive v��rios pacientes no mesmo estado em Devon ��� disse
Bridget. ��� Nada pod��amos fazer at�� que a turgidez se atenuasse um
pouco, a fim de podermos induzir a ejacula����o. E isso, por sua vez,
reduzia a press��o o suficiente para ajudar o paciente a alcan��ar a
flacidez normal.
173
Doc Sawyer olhou para Sofia, no outro lado da mesa.
��� O que acha de aplicarmos uma inje����o de compezina?
Sofia assentiu.
��� Deve ajud��-lo a relaxar. E, se n��o tiver efeito, pelo menos
n��o far�� mal algum.
��� Quanto tempo do intravenoso ainda resta?
��� Cerca de 15 minutos ��� respondeu Bridget.
��� Muito bem ��� disse Doc Sawyer. ��� Aplicaremos a compezi-
na assim que o soro acabar.
��� Quer que ele continue com o oxig��nio, doutor?
��� Quero, sim.
��� Obrigada, doutor.
Bridget voltou ao camarote de Judd. Sofia olhou para Sawyer e
comentou:
��� Ela �� uma mo��a estranha. O que a teria levado a especiali-
zar-se como enfermeira de pau?
Sawyer sorriu.
��� Talvez ela tenha passado a mocidade nos bancos traseiros de
carros, tocando punhetas em rapazes..
Merlin tamb��m sorriu, mas Sofia n��o entendeu. Merlin olhou
para Doc Sawyer e perguntou:
��� O que quer que fa��amos agora? Ficamos aqui ou seguimos
para casa?
��� Seguimos para casa. Eu me sentirei melhor quando o
entregarmos aos cuidados de especialistas.
��� Isso cria outro problema ��� disse Merlin. ��� Que envolve a
Dra. Ivancich.
��� Como assim? ��� perguntou Sofia.
��� A Seguran��a informou um s��bito fluxo de cubanos para a
nossa ��rea. S��o estranhos que ainda n��o pudemos identificar. S��
podemos presumir que est��o �� sua procura.
��� Era o que eu receava ��� murmurou Sofia. ��� J�� tinha falado
a respeito com Judd.
��� Sei disso. Judd me pedira para providenciar outro plano de
v��o para voc��.
��� E cuidou disso?
Merlin acenou com a cabe��a afirmativamente.
��� Claro. Novos documentos de identidade, passaporte, tudo
enfim. Viajar�� como a esposa de um dos agentes de seguran��a que se
174
encontram neste avi��o no momento. Seguir�� daqui pela Varig at��
Dallas, de onde viajar�� para Washington pela American Airlines.
Possu��mos um hospital particular nos arredores da cidade. Ser��
registrada l�� com um terceiro nome. Judd a encontrar�� na pr��xima
semana, quando for a Washington para a posse.
Sofia hesitou por um instante.
��� N��o tenho op����o, n��o �� mesmo?
��� N��o se quer continuar viva.
Ela balan��ou a cabe��a, lentamente.
��� Posso supor que providenciar��o o aborto nessa ocasi��o?
��� Correto.
Ela umedeceu os l��bios, subitamente ressequidos.
��� N��o h�� qualquer possibilidade de Judd me abandonar
agora?
��� Se ele quisesse abandon��-la, n��o a teria tirado do M��xico ���
respondeu Doc Sawyer. ��� Mas n��o �� assim que ele costuma jogar.
175
27
��� �� MICROCIRURGIA por laser ��� comentou o urologista, Dr.
Orrin. ��� A t��cnica �� adaptada do transplante de retina, s�� que
muito mais avan��ada, na mesma propor����o que o ��nibus espacial
Columbia em rela����o ao avi��o dos Irm��os Wright em Kitty Hawk.
Judd fitou-o nos olhos.
��� J�� foi testada antes?
��� N��o em seres humanos, nem mesmo em animais. Esta foi
desenvolvida especialmente para voc��. Mas foi conferida v��rias vezes
pelo computador. N��o h�� possibilidade de erro.
Judd ficou em sil��ncio por um momento e depois virou-se para
Doc Sawyer.
��� O que acha?
��� Tenho pensado muito a respeito e tamb��m conversei pelo
telefone com a Dra. Zabiski, na Iugosl��via. Ambos concordamos que
�� perfeitamente exeq����vel e n��o haveria resultados perniciosos ao
nosso outro programa.
��� Ainda tenho minhas d��vidas...
Doc Sawyer soltou uma risada.
��� Voc�� �� estranho. Arriscou a vida com todas as experi��ncias
perigosas que realizamos. Qualquer uma delas poderia mat��-lo, mas
agora voc�� hesita. Come��o a pensar que considera seu pau mais
importante do que a pr��pria vida.
Judd virou-se de novo para o urologista.
��� Qual �� a op����o alternativa?
��� Somente o m��todo antigo. Cortamos a veia que abastece de
sangue as capilares do p��nis. O problema acaba, de uma vez por
176
todas. Mas �� claro que voc�� fica impotente pelo resto da vida e o
estado n��o pode ser revertido. �� seu pau e sua op����o.
Judd olhou para o microaparelho, que era apenas um pouco
maior que uma cabe��a de alfinete.
��� Isto �� tudo? Nunca precisar�� ser trocado? N��o h�� bateria
para substituir?
O Dr. Orrin assentiu.
��� Isto �� tudo. A energia �� fornecida pela eletricidade de seu
pr��prio sistema nervoso. O microaparelho �� feito de tit��nio, com
uma toler��ncia total do organismo. Substitui as fun����es f��sicas da
pequena parte do nervo danificada pelo tratamento nuclear. E, o que
talvez seja ainda mais importante, durar�� para sempre.
��� E poderei ent��o ter um desempenho como se fosse normal?
��� N��o como se. Voc�� ser�� absolutamente normal. Estamos
simplesmente transplantando um nervo de fabrica����o artificial para
substituir o seu. Ere����o normal, orgasmo e ejacula����o normais,
retorno de sangue �� flacidez absolutamente normal.
��� E quanto tempo depois terei de esperar por outra ere����o?
O Dr. Orrin riu.
��� Depender�� de voc��. N��o posso prever como e com quem vai
trepar.
Judd tamb��m riu.
��� Quanto tempo demora tudo?
��� A opera����o f��sica leva sete minutos, somente porque temos
de chegar perto da pr��stata. Dever�� estar completamente restabele-
cido e pronto para entrar em a����o num prazo de 24 a 36 horas.
Judd olhou de Doc Sawyer para o urologista.
��� Ent��o ser�� amanh�� de manh��. ��� Ele esperou que o
urologista deixasse o quarto e depois acrescentou para Sawyer. ���
N��o �� ir��nico que a primeira parte do meu corpo a alcan��ar a
imortalidade seja o pau?
��� Harlem! ��� Fast Eddie apontou pela janela do helic��ptero que os
levava do Aeroporto de Newark para Nova York. ��� Harlem!
Estamos em casa!
Judd riu. Sentia-se muito bem. E a opera����o fora efetuada
apenas tr��s dias antes. O m��dico estava certo. N��o havia dor.
��� Posso ver o Empire State Building ��� disse Bridget,
177
excitada. ��� N��o posso acreditar que seja de verdade e n��o apenas
um filme.
��� Nunca esteve antes em Nova York? ��� perguntou Judd.
��� Nunca.
��� Ter�� tempo suficiente para conhecer a cidade. Passaremos
dois dias aqui antes da viagem a Washington para a posse de Reagan.
��� Posso tamb��m tirar dois dias de folga, chefe? ��� perguntou
Fast Eddie. ��� Gostaria de visitar meu velho av�� e procurar alguns
amigos antigos.
��� Claro que pode. ��� Judd virou-se para Bridget. ��� Voc��
tamb��m tem dois dias de folga.
��� Tem certeza de que n��o vai precisar de mim?
��� Para qu��? ��� Judd sorriu. ��� Estou curado. E �� muito
melhor assim.
Merlin disse, do outro lado do corredor:
��� N��o se esque��a de que deveremos estar no escrit��rio dentro
de uma hora.
��� E estaremos l�� ��� disse Judd. ��� Fast Eddie levar�� Bridget
para o apartamento na segunda limusine:
O tr��fego de Nova York, como sempre, estava terr��vel.
Embora o escrit��rio ficasse a apenas 30 quarteir��es do heliporto, a
limusine levou 35 minutos para conseguir chegar.
A reuni��o estava marcada para 11 horas e ainda faltavam 15
minutos quando Judd entrou no escrit��rio, o mesmo que seu pai
ocupara. Ele fechou a porta da sala e olhou para o retrato do pai. Em
sua mente, ouviu a voz do pai.
��� Ol��, filho.
Suavemente, ele murmurou uma resposta:
��� Ol��, pai. Como est�� vendo, nada mudou. Exatamente como
desejava.
Nada mudou... As palavras ecoaram em sua mente. Mas ele
teve a impress��o de ouvir a voz do pai. Ao mesmo tempo, tudo
mudou.
Judd ficou de p��, im��vel, olhando para o retrato.
O eco continuou: Mas �� assim que deve ser, filho. �� um mundo
novo l�� fora, o seu mundo.
��� �� o seu mundo tamb��m, pai ��� sussurrou ele. ��� Ambos o
fizemos. Sem voc��, nunca teria acontecido.
O eco desapareceu. Judd foi para tr��s da escrivaninha e
178
contemplou a cidade das janelas. Virou-se um instante depois e
sentou. A cadeira antiquada e confort��vel, estofada em couro,
encosto alto, rangeu ao peso de seu corpo. Isso tamb��m pertencera a
seu pai. Lentamente, ele pegou o telefone e apertou o bot��o da
secret��ria.
��� Crane falando. Pe��o desculpas por n��o saber seu nome.
��� N��o h�� necessidade de desculpas, Sr. Crane.
A voz era incisiva, eficiente e totalmente familiar.
��� M��e!
Judd riu ao telefone.
��� Aqui �� um escrit��rio, Sr. Crane, n��o se tolera qualquer
familiaridade ��� disse ela, em tom pomposo. ��� Mas pode me chamar
de Barbara, se desejar.
Ele deixou o fone na mesa e atravessou a sala, abrindo a porta e
surpreendendo-a ainda com o aparelho na m��o.
��� Barbara! ��� exclamou Judd, levantando-a e abra��ando-a.
Ela riu enquanto era beijada.
��� Judd!
Ele levou-a para sua sala, murmurando:
��� Por um momento, eu me senti outra vez como um garo-
tinho.
Ele ocupou a cabeceira da pequena mesa de reuni��o, como seu pai
fazia. Barbara sentou-se �� sua direita, Tio Paul �� esquerda. Merlin
ficou ao lado de Barbara e dois advogados de aspecto pomposo
depois de Tio Paul; uma secret��ria com uma m��quina de estenografia
completava o grupo.
��� Est�� parecendo cada vez mais com Burl Ives ��� comentou
Judd para Tio Paul, sorrindo. ��� Por que n��o apara a barba e corta os
cachos que caem atr��s da cabe��a, ao inv��s de parecer um hippie
envelhecido?
��� Gosto assim. E j�� que estamos falando em coisas pessoais,
por que n��o se lembra de suas boas maneiras? Seu pai sempre
providenciava uma garrafa de Glenmarangie na mesa �� minha frente.
Judd tornou a sorrir, pegou uma garrafa no ch��o e colocou-a na
frente de Paul, junto com um copo antiquado.
��� N��o �� de admirar que n��o possamos mant��-lo afastado.
Ficar��amos engasgados com o maior suprimento de Glenmarangie do
mundo. Est�� melhor agora?
179
��� Muito melhor. ��� Tio Paul abriu a garrafa, derramou algum
u��sque no copo e tomou tudo. ��� Agora, j�� podemos falar de
neg��cios.
��� Estou escutando ��� disse Judd.
��� A hist��ria do South & Western nos cobriu de merda. Soube
por fontes fidedignas que o Comit�� Banc��rio da C��mara cair�� em
cima de mim com toda for��a, assim que terminar a posse e o
Congresso entrar em sess��o. J�� est��o preparando intima����es para
voc�� e todos os diretores, atuais e antigos, para comparecerem a uma
audi��ncia especial.
��� Era de se esperar ��� comentou Judd. ��� Mas n��o h�� nada
que possam nos fazer. O fato �� que chamamos o governo para
investigar o caso.
��� A verdade n��o tem a menor import��ncia nesta hist��ria. A
quest��o �� pol��tica e a pol��tica viceja com manchetes. A verdade fica
sepultada no fundo da ��ltima p��gina.
��� O que sugere?
��� Temos amigos. Vamos us��-los. Este �� o momento, para as
pessoas se levantarem e serem contadas.
��� Est�� certo ��� disse Judd. ��� Pode entrar em a����o.
��� Custar�� muito dinheiro.
��� �� para isso que dinheiro serve. ��� Judd fez uma pausa. ���
Quais s��o as outras boas not��cias que tem para mim?
Paul serviu-se de outra dose de u��sque.
��� N��o s��o not��cias nem boas nem m��s. ��� Ele esvaziou o
copo. ��� Voc�� estava certo. O Brasil obteve seu equipamento nuclear
de um dos nossos amigos nucleares. Sabemos tamb��m que a equipe
de transi����o presidencial est�� cagando e andando para isso. Os
militares sentem-se completamente seguros com o Brasil. Acham que
o pa��s ficar�� totalmente do nosso lado contra os sovi��ticos.
��� Isso me convence. Faremos o neg��cio com o Brasil.
��� E o M��xico, Judd?
��� Faremos esse neg��cio tamb��m. Mas de outra maneira. A
Am��rica Central ser�� convertida num mercado separado.
��� Faz sentido. S�� mais uma coisa e poderemos encerrar a
reuni��o.
��� O que ��?
��� A Ilha Crane para um investimento de 40 milh��es de d��lares
�� uma loucura total. Sou completa e irremediavelmente contra.
180
Especialmente porque nos diz que �� apenas um est��gio at�� que
Xanadu esteja pronta. Que diferen��a faz se esperamos mais um ou
dois anos? Nunca recuperar�� o dinheiro.
��� O tempo �� importante, n��o o dinheiro. Seguiremos com o
projeto na Ilha Crane. ��� Judd correu os olhos pela mesa. ��� Mais
alguma coisa?
��� Nada de maior import��ncia ��� respondeu Paul. ��� Apenas a
informa����o de que os russos concordaram com sua sugest��o em
rela����o �� m��dica iugoslava e expressam seus agradecimentos.
��� A reuni��o est�� encerrada. ��� Judd levantou-se e contornou
a mesa para dar um beijo no rosto de Tio Paul. ��� Obrigado.
��� �� uma maneira meio maluca de encerrar uma reuni��o,
Judd. Al��m do mais, ainda nem terminei a garrafa de u��sque.
��� Eu deixarei que a leve para casa numa sacola de sobras para
o cachorro, Tio Paul.
181
28
P A U L LEVOU-OS para almo��ar em sua mesa habitual, �� beira da
��gua, no restaurante The Four Seasons. Barbara e Judd sentaram-
se nas cadeiras de dentro, junto da ��gua borbulhando suavemente.
Jim, o marido de Barbara, sentou-se ao lado dela, enquanto Paul
ficava depois de Judd. Sem dizer nada, um gar��om p��s uma dose
dupla de scotch com gelo diante de Paul.
��� A n��s! ��� disse ele, tomando um gole.
S�� depois �� que ele perguntou o que os outros gostariam de
beber. Mas Paul Kovi e Tom Margittai apareceram com uma garrafa
gelada de champanha rose, Cristale 75, antes que tivessem a
oportunidade de pedir qualquer coisa.
��� O predileto de madame ��� disse Paul, inclinando-se gentil-
mente e beijando a m��o de Barbara.
��� Voc�� se lembrou. ��� Barbara sorriu. ��� Muito atencioso de
sua parte. Obrigada.
��� Quase n��o a vemos mais ��� disse Tom, virando-se em
seguida para Judd. ��� Nem voc��, meu rapaz.
��� Quase n��o venho mais �� cidade ��� respondeu Judd. ���
Preciso trabalhar para viver.
��� Eu compreendo ��� murmurou Tom, sem muita convic����o.
Paul olhou para Judd.
��� N��o sei como consegue, mas parece mais jovem agora do
que na ��ltima ocasi��o em que o vi, h�� tr��s anos. Qual �� o seu
segredo?
Judd riu.
��� Deitar cedo, levantar cedo... conhece o velho ditado.
182
Os dois restaurateurs sorriram, tornaram a fazer uma mesura e depois se afastaram, enquanto Oreste convertia numa cerim��nia a
abertura do champanha. Judd provou e acenou com a cabe��a em
aprova����o. Oreste encheu as tulipas finas.
��� Bon app��tit ��� murmurou ele, afastando-se em seguida.
Judd levantou seu copo.
��� A todos voc��s.
��� E a voc�� ��� disse Barbara, afetuosamente.
Paul olhou para ele.
��� Apesar de todos os nossos problemas, a m��quina continua a
funcionar. Somando tudo, a Funda����o Crane, os fundos de investi-
mentos, seus bens pessoais, teremos ao final deste ano fiscal mais de
500 bilh��es de d��lares.
��� S��o apenas n��meros ��� disse Judd. ��� N��o h�� tanto dinheiro
assim no mundo. ��� E se existe, ent��o n��o h�� motivo para se queixar
do investimento da Ilha Crane.
Paul gesticulou, pedindo outro scotch duplo.
��� Provavelmente est�� certo, Judd. Apesar das minhas d��vidas
pessimistas normais, voc�� sempre parece estar certo ao final.
��� Obrigado, Tio Paul. Nunca pensei que o ouviria algum dia
dizer isso.
Um dos atendentes de uniforme cinza aproximou-se com um
telefone.
��� Liga����o para o senhor, Sr. Crane.
A um aceno de Judd, ele ligou o fio numa tomada escondida na
��rvore por tr��s da cadeira de Judd. Tateando os bolsos, Judd
descobriu que se achavam vazios.
��� Tio Paul, cuide dele por mim.
Paul resmungou, entregando uma nota de cinco d��lares ao
rapaz.
��� Sei agora como voc�� conseguiu ganhar tanto dinheiro.
Judd disse ao telefone:
��� Crane falando.
��� Ol��, Judd ��� disse a voz familiar da Dra. Zabiski. ��� Merlin
informou-me onde poderia encontr��-lo.
��� Onde voc�� est��?
��� No aeroporto JFK. �� muito importante que nos encontre-
mos o mais depressa poss��vel.
��� Qual �� o seu terminal?
183
��� Pan American.
��� Espere a��. Estarei pegando-a dentro de 30 minutos. ��� Judd
levantou-se enquanto desligava. ��� Ter��o de me desculpar, mas n��o
poderei almo��ar com voc��s. Algo muito especial acaba de acontecer.
Todos sabiam que era melhor n��o lhe perguntar do que se
tratava.
��� Vamos v��-lo ao jantar? ��� perguntou Barbara.
��� N��o sei. Eu telefonarei.
Judd acenou para todos e afastou-se. Seu motorista j�� esperava
na limusine, estacionada na Park Avenue.
��� Pan Am no JFK ��� disse Judd. ��� O mais depressa que
puder chegar l��.
A limusine alcan��ou a rampa de chegada em 23 minutos. Judd saltou
e entrou correndo no pr��dio. Ela o esperava logo depois da porta.
Havia duas valises ao seu lado. Judd beijou-a nas faces, pegou as
valises e levou-a para o carro. O motorista abriu a porta e pegou as
valises para guard��-las na mala do carro.
��� N��o, por favor ��� disse a Dra. Zabiski. ��� Prefiro lev��-las
comigo.
��� Pois n��o, madame. ��� O motorista p��s as valises no ch��o do
carro, diante deles. Deu a volta e sentou-se ao volante, virando-se
para tr��s. ��� Para onde, senhor?
��� O apartamento da Quinta Avenida ��� respondeu Judd.
��� Talvez n��o tenhamos tempo ��� disse a Dra. Zabiski. ���
Estou encarregada de pegar Sofia e lev��-la comigo para Moscou, no
v��o da Aeroflot desta noite.
��� Ent��o leve-nos ao port��o de avi��es particulares em La
Guardia ��� ordenou Judd ao motorista.
Ele apertou o bot��o da divis��ria que os isolava do motorista.
Virou-se para a Dra. Zabiski.
��� Podemos conversar agora. N��o h�� microfones ocultos aqui,
ningu��m pode nos escutar.
Ela pegou um cigarro e acendeu-o, nervosamente.
��� H�� muitas coisas que preciso lhe dizer. Nem sei por onde
come��ar.
��� Pois conte uma coisa de cada vez.
Os olhos amarelos-acastanhados da Dra. Zabiski assumiram
uma express��o comovida.
184
��� Tenho c��ncer. Resta-me no m��ximo dois meses de vida.
Provavelmente menos.
Os olhos azuis-escuros de Judd esquadrinharam os dela.
��� �� irremedi��vel?
��� Absolutamente. ��� O tom era impass��vel, profissional. ��� J��
sei h�� algum tempo. Agora, o tempo se escoa depressa.
��� Sinto muito.
��� N��o precisa. Tive uma boa vida. Sei que pensava que eu
ainda estava na casa dos 60 anos. ��� Os olhos tornaram a se fixar nos
de Judd. ��� Mas, na verdade, estou com 72 anos.
Judd ficou calado. Ela deu uma tragada no cigarro.
��� O assunto seguinte. Meu trabalho e pesquisas. N��o quero
que tudo caia nas m��os dos russos. Deixei a maior parte nos meus
arquivos, a fim de que eles pensem que est�� tudo l��.
A Dra. Zabiski apontou para as valises.
��� O trabalho completo se encontra nestas valises. Grava����es,
microfilmes e anota����es. Talvez falte umas poucas coisas. Est�� tudo
em meu c��digo pessoal, amador��stico, mas tenho certeza de que seus
computadores decifrar��o com a maior facilidade. Tudo o que pe��o ��
que guarde com todo cuidado e use sabiamente... n��o exclusivamen-
te para prop��sitos ego��sticos, mas em benef��cio da humanidade.
Judd acenou com a cabe��a.
��� D��-me licen��a por um instante.
Ele pegou o telefone e bateu dois n��meros. Uma voz atendeu:
��� Crane Aviation.
��� Aqui �� Judd Crane. Estarei a�� dentro de 12 minutos
aproximadamente. Quero o jato Falcon. Com autoriza����o para
pousar no Campo Langley, em Washington. Dois passageiros na ida,
tr��s na volta.
��� Pois n��o, Sr. Crane.
Judd desligou e tornou a se virar para a Dra. Zabiski.
��� N��o ligarei antes para Sofia. Prefiro n��o correr o risco de
algu��m interceptar o telefonema.
��� Eu compreendo. ��� A Dra. Zabiski apagou o cigarro. ���
N��o sei como voc�� conseguiu, mas os russos cancelaram tudo o que
tinham contra ela. Tenho ordens para lev��-la pessoalmente a
Brezhnev.
��� O que acontecer�� com Sofia depois que ele morrer?
��� N��o sei. S�� espero que ela se conven��a de que conhece
185
bastante o meu trabalho para continu��-lo. Preferia que ela voltasse
para trabalhar com voc��, mas n��o temos controle sobre isso.
��� Voc�� voltar�� depois �� Iugosl��via?
��� N��o. Ficarei internada no hospital Maxim Gorki, em
Moscou.
��� E n��o poderei v��-la?
��� Creio que n��o.
Judd ficou calado por um instante.
��� Merda. Sentirei saudade de voc��.
��� Tamb��m sentirei saudade, Judd Crane. Jamais conheci
outro homem como voc��.
Ela p��s a m��o na dele. A sua era macia, pequena e fr��gil.
��� As velhas tamb��m se apaixonam, Judd.
Ele levou a m��o �� boca.
��� O que as mant��m eternamente lindas.
Havia outra limusine esperando no Campo Langley, assim como dois
agentes de seguran��a. Um deles ocupou o volante. Depois de
embarcarem, os seguran��as no banco da frente, Judd pegou o
telefone e ligou para a cl��nica. A mesa telef��nica o p��s em contato
com Sofia quase que no mesmo instante. Ele n��o anunciou seu nome
nem a chamou pelo dela.
��� Estou a 30 minutos da cl��nica. N��o fa��a as malas nem
qualquer coisa. Apenas ponha um casaco e saia como se fosse dar um
passeio. H�� um centro comercial a duas ruas da cl��nica, na esquina da
Langley com Arlington. Tem uma drogaria nessa esquina. Entre e
sente-se no balc��o de sorveteria, perto da vitrine, a fim de poder
observar a rua. Espere at�� eu entrar para peg��-la. Entendido?
��� Perfeitamente.
A liga����o foi cortada. Judd entrou na drogaria menos de meia
hora depois. Ela estava sentada ao balc��o. Judd sentou-se ao seu
lado.
��� A Dra. Zabiski espera no carro.
��� Acho que estou sendo seguida.
��� Onde?
��� Ali, parado na entrada da loja de presentes no outro lado.
Um homem corpulento, de casaco escuro. Acho que j�� o vi algumas
vezes na cl��nica.
186
Judd assentiu. Aproximou do ouvido o pequeno bot��o em sua
m��o.
��� Ouviu isso? ��� Ele esperou por um instante. ��� ��timo. Tire-
o do caminho.
Ele saiu do banco e jogou uma nota de cinco d��lares no balc��o.
A limusine se adiantou no instante em que se encaminharam para a
salda. Parou e a porta se abriu subitamente. Judd empurrou Sofia ��
sua frente. Ela entrou no carro quase voando, Judd logo atr��s,
puxando a porta. Ele empurrou-a para baixo no assento e levantou-se
o suficiente para olhar pela janela, enquanto o carro se afastava.
Viu o homem corpulento ca��do entre a vitrine da loja e a
cal��ada. O seguran��a j�� desaparecera. E logo a limusine deixou o
estacionamento, seguindo a toda velocidade para o aeroporto.
Estavam parados no sal��o de passageiros da Aeroflot, no terminal da
Pan Am. A luz vermelha na placa de embarque de passageiros
piscava. Judd virou-se para a pequena m��dica. Ficou im��vel por um
instante, depois beijou-a tr��s vezes. As duas primeiras nas faces e por
fim nos l��bios.
��� Voc�� �� a maior mulher que j�� conheci.
��� Boa sorte, Judd Crane. E que todos os seus sonhos se
convertam em realidade.
Ela virou-se para a porta e afastou-se. Judd observou-a at�� que
desaparecesse. Virou-se em seguida para Sofia. Ela fitou-o, os l��bios
tr��mulos, l��grimas se formando nos cantos dos olhos.
��� Sinto muito, Judd. Eu queria seu filho.
��� �� melhor assim.
Ela sacudiu a cabe��a.
��� N��o sei...
Judd n��o disse nada. Ela respirou fundo.
��� Algum dia tornarei a v��-lo?
��� Espero que sim.
��� Fala s��rio?
��� Claro. Voc�� representa algo muito especial para mim.
Espero realmente que possamos tornar a nos encontrar algum dia.
Ela abra��ou-o e beijou-o.
��� Eu o amo, Judd Crane. A minha maneira peculiar, eu o amo
muito.
187
Sofia virou-se e correu para a porta. Judd observou-a at�� que
sumiu; depois saiu do terminal e voltou ao carro. O motorista abriu-
lhe a porta.
��� A mo��a pediu que lhe entregasse isto, Sr. Crane ��� disse
ele, estendendo um pequeno bilhete dobrado.
Judd pegou o bilhete e sentou-se no carro. A limusine afastou-
se do meio-fio. Ele abriu o bilhete e leu rapidamente:
Para Judd:
Lembre-se.
A vida �� para viver.
A imortalidade, para a hist��ria.
Amor, Sofia
188
LIVRO DOIS
A DESCOBERTA
1983-1984
1
Os RAIOS refletidos pelos espelhos solares formavam uma coluna
radiante a se projetar para o c��u azul-claro.
��� Ali est��. ��� Doe Sawyer apontou pela janela do helic��p-
tero. ��� Ilha Crane.
Sofia contraiu os olhos, p��s os ��culos escuros.
��� �� bem grande ��� disse ela. ��� Maior do que eu pensava.
Sawyer assentiu.
��� A ilha tem 19 quil��metros de comprimento e 13 quil��metros
de largura perto do centro. O ambiente tempor��rio de Judd, como
ele o chama... n��o gosta de chamar de lar... �� um domo geod��sico,
constru��do inteiramente de espelhos solares com c��lulas de energia.
Tem meio quil��metro de di��metro, tr��s andares acima da superf��cie e
dois abaixo.
��� E ele planeja viver a��?
Sawyer tornou a assentir.
��� N��o por muito tempo, mas j�� tem nove meses que ele est��
a��. E, ao que eu saiba, n��o deixou a ilha uma s�� vez.
Sofia acendeu um cigarro, deixou a fuma��a sair pelas narinas e
murmurou, pensativa:
��� Alcatraz.
Sawyer fitou-a com uma express��o inquisitiva.
��� N��o �� a ilha em que voc��s, americanos, metiam seus presos,
a fim de que n��o pudessem escapar? Como a Ilha do Diabo era para
os franceses?
��� Eu n��o tinha pensado nisso.
��� Posso supor que a id��ia foi de Zabiski?
191
��� Come��ou assim. Mas acho que nem mesmo ela podia prever
a extens��o em que se transformaria numa realidade.
Sofia sacudiu a cabe��a.
��� A velha era louca. E, ao final, ficou ainda mais louca.
Visitei-a no dia em que morreu. Ela me olhou e disse: "Ele viver��
para sempre. Dei-lhe todo o conhecimento de que precisa." Pergun-
tei: "Que conhecimento, doutora?" E ela respondeu: "Tudo. Mas ele precisa fazer a montagem. Est�� fragmentado. Eu n��o pude reuni-lo. Mas ele tem agora os instrumentos. Computadores. Pensam um
milh��o de anos num segundo. Toda a minha vida n��o foi suficiente
para pensar tanto. Mas Judd tem os instrumentos. Ele alcan��ar�� o
sucesso, onde eu n��o fui capaz. Voc�� ver��!"
Sofia fez uma pausa, olhando pela janela do helic��ptero.
��� Perguntei: "Mas por que n��o partilhou seu conhecimento
com o mundo? Por que apenas ele?" Ela me olhou em sil��ncio por
um momento e depois disse: "Porque eu o amava. E ele �� o ��nico
homem a quem eu confiaria esse conhecimento. O mundo o usaria
por poder e ganho. Ele j�� tem tudo o que quer. Tudo o que precisa e
de tempo." Depois, ela fechou os olhos e dormiu.
��� Falou com ela de novo?
��� N��o. Tinha de voltar ao meu trabalho. O primeiro-ministro
estava partindo numa viagem e eu precisava acompanh��-lo. Soube
que ela morreu naquela noite.
��� Foi por isso que telefonou para Judd naquela noite?
Uma express��o perplexa se estampou no rosto de Sofia.
��� A ��nica pessoa a quem contei foi o primeiro-ministro. N��o
falei mais com Judd desde que nos despedimos no aeroporto em
Nova York. E isso foi h�� mais de tr��s anos.
��� Mas algu��m contou a ele.
��� N��o sei quem foi. Mas Judd me disse uma vez que tinha
liga����es importantes dentro do pr��prio Politburo.
��� Isso n��o me surpreende. Judd possui uma rede de liga����es
no mundo inteiro.
��� Acredito piamente. ��� Soou uma buzina e se acenderam os
avisos para n��o fumar e apertar os cintos. Sofia apagou o cigarro. ���
Eu estava em Bangladesh quando recebi seu recado.
��� Ficou surpresa?
Ela assentiu.
192
��� Pensei que Andropov e o pessoal do KGB fossem os ��nicos
que soubessem para onde fui depois que Brezhnev morreu.
��� Acha que eles j�� sabem que voc�� veio para c��?
��� Provavelmente. Acho que eles sabem de tudo o que eu fa��o.
��� Mas n��o a impediram de vir?
��� N��o. Mas entrar��o em contato quando me quiserem... ou
precisarem de mim.
A voz do piloto do helic��ptero saiu pelo alto-falante;
��� Estamos pousando no Heliporto Norte. Fast Eddie os
receber��.
Sofia sorriu.
��� Fast Eddie... Terei o maior prazer em rev��-lo.
��� A Corrente do Golfo passa a cerca de 15 quil��metros a leste da
ilha ��� disse Fast Eddie, ao volante do Land Rover com ar-
condicionado. ��� Mesmo no inverno, a ��gua est�� sempre quente. ��
pequena tribo de ��ndios semin��les que vivia aqui chamava-a de "Rio
Sagrado".
��� Muito interessante... ��� murmurou Sofia, ca��oando. ���
Como voc�� a chama?
Fast Eddie sorriu.
��� Um p�� no saco.
Sofia olhou pela estrada estreita.
��� N��o gosta daqui?
��� N��o.
��� E o que o Sr. Crane acha?
Fast Eddie olhou para ela.
��� Ele n��o diz. Portanto, n��o sei.
��� Ele ficou mesmo aqui por nove meses sem nunca sair?
��� At�� onde sei, �� isso mesmo. Mas n��o posso afirmar, pois
tiro uma semana de folga a cada m��s.
O carro entrou num caminho diante de uma casa pequena. Fast
Eddie parou e apontou.
��� A sua casa. H�� 12 chal��s de h��spedes na ilha.
Sofia n��o disse nada por um instante.
��� Tenho a sensa����o s��bita de que estou precisando de uma
cheirada. J�� faz muito tempo.
Ele fitou-a nos olhos.
��� Sei o que est�� querendo.
193
Fast Eddie tirou o frasco da corrente de ouro. Tirou a tampa e
entregou-o a Sofia, junto com a colher.
As m��os de Sofia tremiam ligeiramente, depois se firmaram
quando ela aspirou a coca��na. Duas vezes em cada narina. Ela olhou
para Fast Eddie.
��� Ajudou muito.
��� Isso �� ��timo ��� disse ele, pegando de volta o frasco e a
colher.
��� Estou com medo.
Fast Eddie n��o disse nada.
��� Ele mudou?
��� Ainda gosta de coca. ��� Fast Eddie sorriu. ��� Portanto,
acho que n��o mudou completamente. ��� Ele saiu do carro e deu a
volta para abrir-lhe a porta. ��� Vamos. Eu lhe mostrarei sua casa.
A porta da frente abriu quando se aproximaram. Um negro de
casaco branco segurou a porta para que passassem. Ao seu lado
estava uma negra atraente, usando blusa e saia cinzentas, por baixo
de um avental branco impec��vel.
��� Este �� Max, seu empregado, e a mulher, Mae, cozinheira e
arrumadeira. ��� Fast Eddie virou-se para o casal. ��� A h��spede que
devem cuidar, Dra. Ivancich.
��� Como vai? ��� disse o casal, quase em un��ssono. ��� Seja
bem-vinda.
��� Obrigada.
Sofia correu os olhos pelo vest��bulo. Havia uma sala de estar
grande num dos lados, uma sala de jantar no outro. Uma escada
levava aos quartos no segundo andar. Fast Eddie virou-se para ela.
��� Eles cuidar��o de voc��. Qualquer coisa que quiser, �� s��
pedir. ��� Ele sorriu. ��� A neve est�� na gaveta do meio de sua
c��moda.
��� Voc�� pensou em tudo.
��� N��o eu... o Sr. Crane. O jantar ser�� ��s nove horas. Traje
informal. Max a levar�� de carro.
��� Haver�� outros convidados?
��� N��o. Apenas o Sr. Crane e voc��.
��� E o Dr. Sawyer?
��� Ele voltar�� ao continente por volta das seis horas.
Sofia olhou para o rel��gio. Eram tr��s e meia. Ela ficou em
sil��ncio.
194
��� V�� com calma, doutora ��� disse Fast Eddie. ��� Relaxe.
Tome um bom banho. Durma um pouco. N��o se esque��a de que fez
uma longa viagem at�� aqui. Quando se levantar, ficar�� surpresa ao
descobrir como se sente melhor.
Sofia balan��ou a cabe��a.
��� Tem raz��o, Fast Eddie. Obrigada.
Ele gesticulou para Max.
��� Pegue as malas da doutora, por favor. ��� Tornando a se
virar para Sofia, ele sorriu e acrescentou: ��� Lembre-se de que estou
aqui.
195
2
J U D D USAVA um macac��o de gin��stica e sapatos de lona. Um
brilho de suor cobria o rosto bronzeado. Gesticulou para que Doc
Sawyer sentasse, enquanto falava ao telefone:
��� Livre-se da porra do banco. Diga ao Departamento de
Justi��a que assinaremos o termo de consentimento.
��� A voz de Merlin saiu pelo alto-falante, obviamente chocada:
��� Mas s��o 200 milh��es de d��lares!
��� Ainda �� barato. Quanto acha que me custar��, se tiver de
passar o resto da vida comparecendo a audi��ncias de comit��s do
Congresso para responder a perguntas est��pidas?
��� Mas podemos venc��-los!
��� N��o dou a menor import��ncia a isso. J�� perdi quatro anos
com esse problema. Se a Transatlantic est�� interessada, ent��o que
fique tamb��m com as dores de cabe��a.
��� Voc�� �� quem manda. ��� Merlin riu subitamente. ��� E
provavelmente est�� certo. Nostradamus disse que este seria um
p��ssimo ano para as institui����es financeiras.
Judd riu tamb��m.
��� S�� resta verificar se Nostradamus tamb��m incluiu David
Rockefeller na sua predi����o.
��� Sinto saudade de voc��, Judd ��� disse Merlin. ��� Quando
acha que sair�� da��?
��� Muito em breve. Prometi que experimentaria por um ano.
Mais dois meses devem ser suficientes.
��� Cuide-se bem.
��� Tentarei.
196
Judd desligou e olhou para Doc Sawyer, no outro lado da mesa.
��� Eu estava correndo quando vi o helic��ptero chegar. Vi-os
pela tela no escrit��rio no momento em que desciam os degraus.
Achei-a muito bem.
��� Um pouco mais magra.
��� N��o deu para eu perceber. ��� Judd pegou um cigarro, mas
n��o acendeu, limitando-se a rol��-lo entre os dedos. Baixou os olhos
para o cigarro antes de perguntar: ��� Sofia lhe disse alguma coisa
sobre o que estava fazendo em Bangladesh?
��� N��o, ela nada falou a respeito. Por que est�� curioso?
Judd jogou o cigarro numa cesta de papel, sem acend��-lo.
��� Estou adivinhando, mas acho que sei. Tenho a impress��o de
que a velha me deu apenas alguns dos seus pap��is. Deve ter entregue
o resto a Sofia. Nossos pap��is datam da ��poca em que ela come��ou as
Fontes de Ponce de Le��n, em 1953, e continuam at�� o final. Mas h��
muitas anota����es que se referem a estudos escritos antes disso.
��� Li as anota����es e n��o encontrei nada disso.
��� Porque ainda n��o hav��amos traduzido tudo. Ela escrevera
em urdu, a menos importante das l��nguas escritas da ��ndia. Ela citava
um swami que vivia ent��o na parte da ��ndia que depois se tornou o
Paquist��o e agora �� Bangladesh. Teve v��rias conversas com o
Maharishi Raj Naibuhr, de quem reproduziu uma frase: "A imortali-
dade do homem s�� pode ser alcan��ada quando sua paz interior se
integra com o ambiente f��sico." Foi provavelmente por isso que ela
queria que eu constru��sse o ref��gio nesta ilha.
��� Acha que Sofia encontrou os pap��is?
Judd sorriu.
��� Se encontrou-os em Bangladesh, foi um milagre. O mahari-
shi j�� se mudou para pastos mais verdes.
��� Quer dizer que ele morreu?
Judd soltou uma risada.
��� N��o. Ficou rico. �� o maharishi que criou uma universidade
com mais de dois mil adeptos, nas Montanhas San Bernardino. E
tamb��m comprou uma enorme gleba ao norte de Malibu, na
Calif��rnia.
��� Ei, espere um pouco! ��� interrompeu Sawyer. ��� �� o
mesmo que apareceu na televis��o?
��� O pr��prio. E pode estar certo de que �� t��o dif��cil encontr��-
197
lo pessoalmente quanto ao presidente dos Estados Unidos ou o
primeiro-ministro da R��ssia.
��� E acha que Sofia pode entrar em contato com ele?
��� Espero que sim. Talvez alguma coisa nos pap��is que a velha
deu a ela possa atra��-lo. Al��m disso, o maharishi sente uma atra����o especial por esposas... embora isso n��o seja do conhecimento
p��blico, nem mesmo de seus adeptos.
��� Acho que ele est�� na casa dos 70 anos, embora diga que tem
mais de mil anos em sua atual encarna����o.
��� Nada mal ��� comentou Sawyer, rindo.
��� Tenho tamb��m o pressentimento de que a velha tratou-o.
que ele foi um dos seus pacientes.
Ainda mais interessante. O que acha ent��o que Sofia fazia em
Bangladesh?
��� N��o tenho a menor id��ia. Perguntarei a ela. ��� Judd fez uma
pausa, olhando para o m��dico. ��� Gostaria de ficar para o jantar?
Sawyer sacudiu a cabe��a.
��� �� melhor eu voltar �� Fl��rida. Estou com problemas at�� o
pesco��o. Sou um m��dico e n��o um homem de neg��cios. A Pesquisa
M��dica Crane est�� com um vermelho de tr��s milh��es de d��lares por
m��s. Continuando assim por muito mais tempo, precisaremos de uma
grande inje����o de capital ou teremos de come��ar a reduzir os
custos... talvez mesmo vender algumas das companhias.
��� Tenho certeza de que voc�� poder�� dar um jeito.
��� Obrigado por sua confian��a, mas acontece que n��o sou
voc��. Minha cabe��a n��o funciona da mesma maneira.
��� Os computadores lhe fornecer��o todas as informa����es que
precisar. Deve ser f��cil.
��� Para voc��, Judd, n��o para mim. Os computadores s�� me
d��o as informa����es. Ainda tenho de tomar as decis��es. E como se
pode tir��-las de um impresso de computador?
Judd ficou calado por um momento.
��� Se realmente se sente assim, reduza as companhias, at��
achar que ficou apenas o que pode controlar.
��� Acho que n��o tenho o direito de fazer isso. A propriedade ��
sua e assim se torna o ��nico que pode assumir essa responsabilidade.
��� Eu o apoio cem por cento. Pode se livrar de tudo o que
quiser e n��o direi nada. N��o me importo.
198
��� Lamento que se sinta assim. Voc�� �� um homem muito
especial, Judd Crane. E pode dar muitas coisas ao mundo.
��� Sinto-me muito velho, Lee. J�� entrei em todos os jogos e me
cansei deles.
��� Tem apenas 50 anos, Judd. Se est�� se sentindo assim agora,
o que o faz pensar que a imortalidade que procura o far�� sentir-se
mais jovem e menos entediado? Acho que acontecer�� justamente o
inverso... vai se sentir ainda mais entediado e muito mais velho. A
vida n��o �� apenas sobreviver, mas tamb��m partilhar e dar.
��� Nunca pensei que fosse um fil��sofo ��� comentou Judd,
secamente.
��� Nem eu. Estou apenas come��ando a me sentir assim. Mas
sou um m��dico, n��o sei mais o que penso ou o que deveria ser.
Judd fitou-o nos olhos.
��� Est�� cansado. O que precisa �� de f��rias.
Sawyer riu, ironicamente.
��� N��o preciso de f��rias, Judd ��� murmurou ele. ��� Preciso de
voc��. Ao meu lado, atr��s de mim, partilhando comigo, inspir��ndo-
me. Sem voc��, n��o sou o homem que deveria ser.
Judd permaneceu calado.
��� E n��o sou o ��nico a me sentir assim ��� acrescentou Sawyer,
suavemente. ��� Barbara, Mer��n, muitos outros sentem como eu...
Judd interrompeu-o, o tom incisivo:
��� Mais dois meses. Preciso desse prazo para decidir que rumo
seguir. Podem me dar esse tempo?
��� Viemos juntos at�� aqui, posso aguentar mais dois meses.
��� N��o h�� qualquer mundo l�� fora ��� disse Sofia. ��� �� quase como se
estiv��ssemos em outro universo.
Sawyer estava parado ao p�� da cama, enquanto ela se recostava
nos travesseiros.
��� E �� mesmo outro universo. O universo de Judd Crane.
Ela observou-o em sil��ncio por um momento, depois empurrou
as cobertas para o lado e atravessou o quarto nua, a fim de pegar o
chambre de seda. Vestiu-o rapidamente e se aproximou dele.
��� Tem tempo para me acompanhar numa x��cara de ch��?
Sawyer assentiu. Ela pegou o telefone. Max atendeu.
��� Pois n��o, doutora?
��� Pode nos arrumar um ch��?
199
��� Claro, doutora. O Orange Pekoe Ceylon est�� bem?
��� Est��, sim.
��� Biscoitos ou petit fours?
��� Apenas o ch��.
��� Pois n��o, doutora.
O telefone foi desligado. Sofia virou-se para Lee.
��� Vamos para a varanda?
Em sil��ncio, ele seguiu-a para a varanda. Sofia fechou a porta.
��� Acha que h�� microfones no quarto? ��� perguntou o m��dico.
��� Acho, sim. Microfones e c��maras.
��� Viu algum? ��� Ela sacudiu a cabe��a. ��� Ent��o o que a faz
pensar assim?
��� Intui����o. Se eu fosse ele, agiria assim. Talvez at�� mesmo
esta varanda esteja sob vigil��ncia eletr��nica.
Lee contemplou-a em sil��ncio por um instante.
��� �� poss��vel. N��o o conhe��o mais.
��� Ele mudou.
��� Sim e n��o. N��o consigo definir direito. Por isso �� que queria
falar com voc��, antes de voltar ao continent��. �� m��dica. Gostaria
que o observasse e depois me transmitisse sua opini��o.
Max bateu na porta da varanda, entrou com uma bandeja em
que havia um bule de ch��, um jarro de ��gua, uma leiteira, um prato
com fatias de lim��o, um pote de mel e a����car. P��s na mesa de pl��stico
redondo que havia na varanda.
��� Mais alguma coisa, doutora?
��� Isso �� tudo, obrigada.
Sofia come��ou a servir o ch�� enquanto ele se retirava, tornando
a fechar a porta. Esperou que Max sa��sse do quarto antes de voltar a
falar. Entregou a x��cara de ch�� a Sawyer, dizendo:
��� Voc�� �� o m��dico dele. O que o faz pensar que eu poderia
descobrir mais alguma coisa al��m do que j�� sabe? Conhece-o h��
muitos mais anos do que eu.
��� Esta �� a primeira vez que o vejo desde que ele se mudou
para a ilha. Nosso ��nico contato tem sido pelo telefone e pela fita de
computador de seu exame m��dico semanal.
��� Quer dizer que ele tem um m��dico de plant��o aqui?
��� N��o. H�� diversas enfermeiras que supervisionam as m��qui-
nas que est��o ligadas a ele.
��� Aquela irlandesa, Bridget, ainda est�� com ele?
200
��� N��o. Ela deixou-o em Nova York, n��o muito tempo depois
que voc�� foi embora.
��� Conhece as enfermeiras?
��� N��o pessoalmente. Mas �� claro que contratei a todas.
Basicamente, s��o mais t��cnicas m��dicas e engenheiras do que
enfermeiras. Sabem mais sobre as m��quinas e o computador do que
sobre medicina.
��� Tem uma c��pia dos resultados dos ��ltimos exames?
Ele tirou um papel dobrado do bolso interno do palet�� e
entregou a Sofia. Ela examinou-o rapidamente. Depois de um
momento, levantou o rosto para fit��-lo.
��� Interessante... Todas as fun����es f��sicas foram reduzidas,
pulsa����o, press��o, temperatura do corpo. A capacidade dos pulm��es
aumentou, apesar da velocidade inferior da respira����o. Exames de
sangue e urina est��o normais. ��� Ela devolveu a c��pia dobrada. ���
Segundo isto, ele se acha em ��timo estado. O que o preocupa?
Sawyer olhou para ela enquanto tomava o ch��.
��� A cabe��a. Antes, ele nunca se sentia entediado. Agora,
nada o interessa.
��� Talvez ele precise de um psiquiatra e n��o de mim.
��� �� poss��vel. Mas voc�� �� a ��nica em quem posso confiar. ���
Lee fitou-a nos olhos. ��� Quer ajudar?
Sofia sustentou o olhar dele.
��� N��o sei se poderei prestar alguma ajuda, mas tentarei.
Sawyer balan��ou a cabe��a.
��� A ��nica coisa que sei com toda certeza �� que precisamos
traz��-lo de volta a este universo. Tenho um pressentimento que o
tipo de imortalidade que ele procura �� apenas outra forma de
desintegra����o.
201
3
H O U V E UMA batida de leve na porta poucos minutos depois que
Sawyer foi embora.
��� Entre ��� disse Sofia.
A criada entrou, trazendo nos bra��os uma enorme caixa de
vestido.
��� O Sr. Crane lhe mandou isto, doutora.
Sofia olhou para a caixa. Christian Dior. Virou-se para a criada.
��� Pode fazer o favor de abrir para mim?
��� Pois n��o, doutora. ��� Ela entregou um pequeno envelope.
��� O Sr. Crane tamb��m mandou isto.
Sofia abriu o envelope. O cart��o dentro tinha o nome de Judd
impresso e no verso ele escrevera: Comprei isto para voc��, mas foi
embora antes que eu pudesse dar. Espero que desta vez n��o seja tarde
demais. Judd.
A caixa j�� estava aberta. Sofia pegou o vestido. Era longo,
forro de seda branca, duas al��as finas no ombro esquerdo, uma
abertura no outro lado da bainha at�� quase as coxas.
��� �� lindo, mas acho que n��o conseguirei entrar. �� muito
pequeno.
��� Por que n��o experimenta, doutora? Se precisar de um
pequeno ajustamento, talvez Max possa fazer.
��� N��o sei... ��� murmurou Sofia, hesitante.
��� N��o far�� mal algum se tentar.
Sofia hesitou por mais um instante.
��� Espere por mim.
202
Ela entrou no banheiro, pendurou o chambre num gancho,
tentou descer o vestido pelos bra��os. Gritou pela porta aberta:
��� N��o consigo pass��-lo nem pelos ombros.
Mae estava parada na porta.
��� N��o �� assim que se faz. Fique por cima do vestido e levante-
o.
Sofia seguiu as instru����es de Mae. O vestido parecia uma
segunda pele. Ela se contemplou no espelho. Era mesmo uma
segunda pele. Os mamilos sobressa��am no tecido, os quadris e
n��degas pareciam moldados no vestido, quase rompendo o material.
Sofia olhou para a criada pelo espelho.
��� Est�� muito apertado. Um movimento e vai se rasgar todo.
��� N��o vai, n��o. O tecido cede.
��� Mesmo que isso aconte��a, n��o posso usar uma coisa assim.
Faz-me parecer completamente nua.
��� O Sr. Crane gostaria.
Sofia virou-se para ela.
��� O que a faz pensar assim?
��� N��o se trabalha por nove meses sem se descobrir o que o
patr��o gosta ou deixa de gostar.
��� Ele tem muitas garotas aqui?
Mae hesitou, mas acabou n��o respondendo.
��� Pode falar comigo ��� insistiu Sofia. ��� Sou uma das m��dicas
do Sr. Crane, apesar de ser mulher.
��� N��o sei...
Sofia adivinhou.
��� Sei que Fast Eddie lhe contou alguma coisa a meu respeito.
��� �� verdade.
��� Pode ent��o me contar o que preciso saber. N��o estou sendo
simplesmente curiosa. O Dr. Sawyer pediu-me que apresentasse uma
opini��o. Assim, quanto mais eu souber a respeito do Sr. Crane mais
poderei ajud��-lo.
Mae evitou os olhos de Sofia, fixando-se nos ladrilhos do ch��o
do banheiro.
��� O Sr. Crane tem tr��s garotas que v��m do continente todas as
semanas. Ficam geralmente uma ou duas noites e depois v��o embora.
��� Sempre as mesmas garotas?
��� N��o. S��o sempre diferentes. Nenhuma garota volta pela
segunda vez.
203
Sofia ficou em sil��ncio por um momento.
��� E ele d�� a cada uma esse tipo de vestido?
Mae assentiu.
��� A mesma cor?
��� Sempre branco. Os vestidos v��m de Paris. Duas d��zias de
cada vez.
Sofia se manteve calada.
��� N��o vai contar que falei tudo isso, n��o �� mesmo, madame?
��� N��o contarei a ningu��m.
Sofia tirou as al��as do ombro e come��ou a baixar o vestido para
o ch��o. Depois de tir��-lo, ela pegou-o e entregou a Mae.
��� N��o vai us��-lo, doutora?
Sofia pensou um pouco.
��� Pode pass��-lo. Decidirei depois de tomar um banho e
relaxar. Eu a chamarei.
��� Pois n��o, doutora.
Sofia p��s o chambre, enquanto a criada se retirava. Pensou por
um instante e foi abrir a gaveta do meio da c��moda. O frasco estava
exatamente onde Fast Eddie dissera. Sentiu a cabe��a se desanuviar
depois de aspirar a coca��na.
Pegou o cart��o que acompanhara o vestido. Contemplou o
bilhete de Judd. Era estranho. Por que ele lhe mentiria? N��o havia
motivo para dizer qualquer coisa sobre o vestido, exceto que gostaria
que ela o usasse. Sawyer tinha raz��o. Judd mudara. Antes, ele nunca
podia mentir... nem para ela nem para ningu��m.
Sofia sentou-se no lado da cama, pensativa. Lentamente,
repassou as etapas dos tratamentos a que Judd se submetera. Eram
muitas e qualquer uma poderia afetar-lhe a cabe��a. Ela pegou um
cigarro e acendeu-o. Soprou a fuma��a devagar. A verdade �� que n��o
sabia. E talvez ningu��m jamais viesse a saber. Nem mesmo o pr��prio
Judd.
A casa era um domo geod��sico facetado, como um enorme diamante,
refletindo a luz na escurid��o da noite. A limusine se adiantou
lentamente e parou, Max desligou o motor. Sofia disse, do banco
traseiro:
��� N��o estou vendo a entrada.
��� Mas est�� a�� mesmo, doutora ��� disse Max, respeitosamente.
��� J�� vai ver.
204
Um momento depois, soou o zumbido de um motor por baixo
do carro. Pela janela do motorista, ela observou duas enormes portas
de vidro deslizarem. Percebeu que o carro avan��ava lentamente para
as portas abertas.
��� Um caminho movido a eletricidade, Max?
��� Isso mesmo, doutora. Uma plataforma girat��ria. Assim, os
vapores dos autom��veis n��o entram no sistema de filtragem de ar.
Sofia observou as portas de vidro fecharem por tr��s do carro e a
plataforma girat��ria parar, diante de uma porta interna. Max saltou e
abriu-lhe a porta do carro. Ela saiu. A porta interna deslizou para o
lado e Fast Eddie desceu tr��s degraus para receb��-la. Sorriu para ela.
��� Descansou um pouco, doutora?
��� Um pouco.
��� ��timo. Eu a levarei agora aos aposentos do Sr. Crane.
��� A que horas Max deve voltar para me buscar?
��� Isso n��o �� problema ��� respondeu Fast Eddie. ��� Sempre
temos carros e motoristas de plant��o.
O sagu��o de entrada era enorme, redondo, de paredes brancas.
O ch��o era de m��rmore branco, a mesa do recepcionista se apoiava
em suportes de a��o inoxid��vel, com o tampo tamb��m de m��rmore
branco. O homem por tr��s da mesa usava um dinner-jacket todo
branco. Sofia notou o volume por baixo do ombro esquerdo, onde
estava o rev��lver. Teve a impress��o de perceber tamb��m uma
express��o curiosa nos olhos dele, antes que se virasse e apertasse um
bot��o no painel embutido na mesa. Ela ouviu a porta ��s suas costas
fechar.
Havia mais tr��s portas de vidro, uma .em cada lado do
recepcionista e outra diretamente atr��s. Eram todas opacas para
aquele lado e assim ela n��o podia ver o que havia al��m. Havia duas
est��tuas entre as portas. Quase em tamanho natural, de m��rmore
branco, sobre pedestais de a��o inoxid��vel, Apolo e V��nus ou talvez
Ad��o e Eva se contemplavam pela eternidade do tempo.
Fast Eddie guiou-a para a porta �� direita. Acenou com a cabe��a
para o recepcionista, que apertou outro bot��o. A porta se abriu para
um elevador. Fast Eddie entrou atr��s dela e apertou um bot��o no
interior. A porta fechou e o elevador come��ou a subir. Sofia podia
ver o recepcionista l�� embaixo, at�� que o elevador passou para o
outro andar. Ela virou-se para Fast Eddie.
205
��� Tenho alguma coisa esquisita? Tive a impress��o de que o
recepcionista me lan��ou um olhar extremamente curioso.
��� Foi o seu sari. Ele ficou surpreso com todas as cores. Todos
por aqui geralmente se vestem de branco.
Sofia ficou pensativa por um instante. At�� mesmo Fast Eddie
estava todo de branco.
��� Qual �� o motivo?
��� O Sr. Crane gosta. �� limpo e higi��nico. E ele acha tamb��m
que se todos usarmos a mesma cor e estilo, evita a competi����o de ego
entre o pessoal.
��� Os visitantes tamb��m? Foi por isso que ele me mandou o
vestido branco?
��� N��o sabia que ele tinha lhe mandado alguma coisa.
Mas Sofia sabia que ele n��o estava disposto a responder a todas
as perguntas. Olhou pela porta de vidro para o andar por que
passavam. Havia outro recepcionista sentado ali.
��� Que andar �� este?
��� Comunica����es, escrit��rios de administra����o e os compu-
tadores. ��� Fast Eddie fez uma pausa. ��� O andar t��rreo por onde
entrou tem os aposentos do pessoal. Os cinemas e salas de recrea����o
ficam no primeiro n��vel do por��o, o segundo n��vel aloja a cl��nica e o
terceiro todos os equipamentos de energia para manter o pr��dio em
funcionamento. Os aposentos do Sr. Crane ficam no ��ltimo andar, o
terceiro. Ele tem tudo ali. Quarto, banheiro, gin��sio, sala de estar,
sala de jantar, cozinha, bar, biblioteca e o seu pr��prio escrit��rio
particular.
Sofia permaneceu em sil��ncio por um momento.
��� De certa forma, �� como o avi��o, s�� que maior.
��� Tem raz��o, �� mais ou menos a mesma coisa. ��� Fast Eddie
fitou-a nos olhos. ��� Quer cheirar um pouco?
��� Acha que preciso?
��� N��o pode fazer mal. ��� Ele estendeu-lhe .o frasco e
observou-a levar a colher ao nariz. ��� Tome uma boa dose. �� um
mundo estranho em que est�� entrando.
Sofia devolveu o frasco no instante em que a porta se abria,
antes que tivesse tempo de perguntar a Fast Eddie o que estava
querendo dizer com isso.
206
4
O SOM DE UMA c��tara ressoava suavemente ao sa��rem do elevador.
Fast Eddie conduziu-a ao bar. Duas poltronas estavam separadas
por uma mesinha. Ele gesticulou para uma das poltronas e
encaminhou-se para o bar. Voltou um momento depois, com uma
bandeja grande de prata, que colocou na mesinha. Sofia olhou. Uma
lata de caviar de um quilo estava cercada por gelo picado. Ao lado do
caviar, havia uma garrafa de Cristale aberta e depois uma garrafa de
vodca Starka no gelo, tamb��m aberta; no outro, havia todos os
acess��rios, torradas, cebolas, ovos, creme azedo, manteiga. Fast
Eddie observou-a.
��� Vodca... ��� murmurou Sofia.
O copo fino estava tamb��m gelado. Ele encheu-o rapidamente.
P��s na mesa diante dela.
��� O Sr. Crane estar�� aqui dentro de um momento.
Fast Eddie deixou a sala, fechando a porta. Sofia olhou pela
janela �� sua frente. Uma lua cheia esbranqui��ada pintava uma trilha
cintilante pelo mar. Era lindo. T��o lindo que n��o parecia real. Ela
pegou o copo de vodca.
��� Nasdrovya.
A voz de Judd ressoou pelos alto-falantes.
��� Nasdrovya ��� respondeu Sofia, quase que automaticamen-
te, tomando um gole da vodca. Depois, ela correu os olhos pela sala.
Continuava vazia. ��� Est�� me ouvindo?
��� Estou.
��� J�� faz muito tempo. Eu gostaria de v��-lo.
��� Eu posso v��-la.
207
��� N��o �� justo, porque eu n��o vejo voc��.
��� Por que n��o p��s o vestido que lhe mandei?
��� Estava muito pequeno e n��o consegui entrar. Talvez
coubesse h�� tr��s anos, mas agora n��o d��.
Ele n��o disse nada.
��� Vai demorar?
��� N��o muito. H�� bot��es ao lado de sua cadeira para o
aparelho de televis��o.
��� N��o preciso. O luar no mar est�� t��o lindo que prefiro
contempl��-lo. Esperarei.
Um estalido soou pelos alto-falantes e a m��sica de c��tara
recome��ou. Sofia tornou a encher o copo e bebeu. Subitamente,
sentiu-se faminta e come��ou a servir-se de torrada e caviar. Comeu
quatro torradas e tomou mais tr��s vodcas antes que Judd entrasse na
sala. Ela levantou-se, um pouco tonta.
��� Acho que estou come��ando a ficar de porre.
Judd sorriu e beijou-a, depois segurou-a pelo cotovelo.
��� Neste caso, �� melhor tornar a sentar.
��� O que tem nesta vodca?
��� Nada. Vai se sentir melhor depois que comer alguma coisa.
��� Voc�� parece muito bem.
Os cabelos escuros de Judd exibiam alguns fios brancos, os
olhos de um azul-cobalto brilhavam no rosto bronzeado. Ele usava
uma camisa de seda aberta no peito, cal��a esporte e mocassins,
tudo branco.
��� Voc�� tamb��m est�� muito bem, Sofia.
��� Engordei um pouco. Mais carboidratos do que prote��nas em
minha dieta. Isso aconteceu porque n��o se encontra muita variedade
em Bangladesh. Tudo �� basicamente um prato de arroz. ��� Ela
passou caviar em mais uma torrada. ��� N��o �� como isto.
Judd sorriu, sentado em frente a ela.
��� Posso imaginar.
��� Quer que eu o sirva?
��� N��o, obrigado. Tem sal demais para mim.
��� Estou curiosa, Judd. Como me encontrou em Bangladesh?
��� Muito simples. Seu nome apareceu no pedido do hospital
em Bangladesh no qual trabalhava. Todos os pedidos de hospitais ��
Crane Pharmaceuticals s��o submetidos ao computador. Todos os
208
nomes s��o conferidos. E se existe alguma liga����o comigo, s��o
transferidos para os meus arquivos pessoais.
��� Pensei que tivesse verificado com o KGB.
��� N��o houve necessidade de algo t��o complicado.
��� Por que queria me ver?
��� Os arquivos. A Dra. Zabiski deu-me apenas uma parte. N��o
tenho nenhum dos seus registros anteriores a 1953.
Sofia ficou em sil��ncio por um instante.
��� N��o estou entendendo. Falei com ela no dia anterior �� sua
morte e me disse que havia lhe dado tudo.
��� Mas alguma coisa ficou de fora. Ainda n��o encontramos a
resposta.
��� Ela tamb��m me falou sobre isso. Disse que havia lhe dado
todos os instrumentos, mas' voc�� teria de encontrar as respostas.
��� J�� conferi tudo com os mais diversos especialistas. E n��o se
chegou a nenhuma conclus��o.
Sofia respirou fundo.
��� A velha miser��vel!
��� Por que fala assim?
��� Ela enganou a todos n��s. A voc��, a mim, at�� mesmo a
Andropov. Est�� rindo de n��s na sepultura. Ser�� que ainda n��o
percebeu? Ela queria que nos encontr��ssemos de novo. Afinal, sou a
��nica especialista que lhe resta para trabalhar.
Judd continuou calado.
��� N��o mandou me chamar? ��� Sofia n��o esperou por uma
resposta. ��� Estamos de volta ao ponto de partida. Temos de
come��ar tudo de novo.
��� Foi por isso que a mandaram para Bangladesh?
��� Em parte. Mas tamb��m porque Andropov queria que eu
deixasse a R��ssia e Iugosl��via.
��� Porque Brezhnev morreu assim como Mao?
Ela fitou-o nos olhos, calmamente.
��� N��o tive nada a ver com a morte de qualquer dos dois.
��� Mas ser�� que Andropov sabe disso? Mao morreu. Voc�� era
a m��dica que cuidava dele. Brezhnev morreu. Outra vez voc�� era a
m��dica. Agora, de acordo com as nossas informa����es, Andropov est��
doente. Mas n��o a chamou para tratar dele pr��prio, como fez para os
outros. Talvez tenha perdido a f�� em voc��.
Sofia ainda sustentava o olhar dele.
209
��� N��o sei o que Andropov pensa. Ele n��o me tomou em sua
confid��ncia.
��� H�� muito tempo, Zabiski me disse que todos acabam
morrendo, quando chega o seu tempo. Que n��o havia garantias. Que
tudo o que podia fazer era ajudar a qualidade de suas vidas.
��� Ela tamb��m me disse isso.
��� Contudo, ela me levou a acreditar...
Ele n��o continuou a frase. Sofia sorriu, gentilmente.
��� Talvez ela pensasse que voc�� pudesse ter sucesso onde n��o
conseguiu.
Houve uma batida na porta e Fast Eddie entrou no bar,
anunciando:
��� O jantar est�� servido.
A sala de jantar n��o era grande. Uma mesa de vidro grosso, apoiado
por pernas de lucite transparente, moldadas como finos blocos
retangulares de gelo. Um ��nico ponto de luz no teto, sobre o centro
da mesa, projetava facetas de cor pelo vidro. A mesa era redonda e
podia abrigar seis pessoas, mas apenas dois lugares estavam postos.
O servi��o americano era de espelhos retangulares, a prataria de lei,
assim como os talheres. Um guardanapo de linho branco estava
dentro de uma argola de prata, a lou��a era Baccarat, simples mas
elegante. �� direita de cada lugar havia uma vela branca e fina, num
casti��al Baccarat. As cadeiras tinham a estrutura de a��o inoxid��vel, o
assento e o encosto estofados em pano, bastante confort��veis.
Sofia sentou-se diante dele. Podia ver as janelas al��m de Judd e
o luar ainda se derramando pelo mar. Judd acionou um reostato ao
seu lado e as luzes em torno da sala diminu��ram, at�� que s�� restava
uma suave claridade na mesa, iluminando seus rostos. Sofia sorriu.
��� Parece um cen��rio de filme.
Judd riu.
��� Pois foi justamente um cen��grafo que projetou para mim.
Gosto da sensa����o de drama. As salas de jantar s��o geralmente
ins��pidas e ap��ticas, apenas cochos para se ingerir comida. Mas h��
tamb��m outros sentidos que precisam ser satisfeitos.
��� Nunca tinha pensado nisso. Mas o resultado �� maravilhoso.
��� Obrigado. Espero que o jantar lhe proporcione igual prazer.
��� Tenho certeza de que isso acontecer��.
Sofia ouviu uma porta se abrir ��s suas costas. Duas criadas
210
entraram, usando blusas brancas engomadas e minissaias tamb��m
brancas, criando um contraste com o preto das pernas compridas.
Pareciam t��o iguais que podiam ser g��meas: cabelos compridos
caindo pelos ombros, uma pequena touca triangular, olhos cintilantes
e dentes brancos brilhantes. Luvas brancas de renda cobriam as
m��os. No mesmo momento, as criadas colocaram o primeiro prato na
frente deles e depois se retiraram.
��� Bonitas mo��as ��� comentou Sofia.
��� Claro. Podia esperar outra coisa?
��� Americanas?
��� N��o. S��o da Ilha Maur��cia. Meu agente mandou-as para c��
com um contrato de dois anos. S��o seis.
��� Parecem muito jovens.
��� T��m 16 e 17 anos. Falam ingl��s e franc��s, est��o ansiosas em
aprender e agradar.
��� E o que acontece quando o contrato terminar?
��� Elas voltam e trazemos outras.
��� Parece ��timo para voc��. Mas as garotas ganham alguma
coisa?
��� Educa����o, conhecimentos e uma quantia respeit��vel para
seu dote. Est��o muito satisfeitas.
Sofia sorriu.
��� Como dizem na Am��rica, voc�� tem tudo organizado. ��� Ela
pegou o garfo e provou o coquetel de camar��o. ��� Est�� uma del��cia.
��� �� o camar��o pequeno, trazido de avi��o do Golfo do M��xico
esta manh��. S��o os melhores.
��� Tudo o que voc�� tem �� sempre o melhor.
��� Est�� sendo sarc��stica.
��� N��o, Judd, n��o estou. Juro que n��o estou. Eu me sinto
apenas impressionada.
Ele ficou calado.
��� Deve entender, Judd. Ontem, eu estava em Bangladesh.
Hoje, estou aqui. �� outro mundo.
O jantar foi tipicamente americano. Fatias de carne bem finas,
ao ponto, pur�� de batatas e molho, ervilhas e salada. O vinho era
franc��s. Montrachet com o camar��o, Ch��teau Margaux com a carne.
A sobremesa foi sorvete de baunilha, encimado por uma colherada
de creme de menthe. Sofia fitou-o.
211
��� Quase esqueci que as pessoas podiam apreciar tanto a
comida.
Mas ela tamb��m notou que Judd quase n��o comera; basicamen-
te, limitara-se a espalhar a comida pelos cantos do prato.
��� Obrigado ��� disse ele, levantando-se. ��� Tomaremos caf�� e
licores na biblioteca.
Contornando a mesa, Judd puxou a cadeira para que ela se
levantasse, murmurando:
��� Voc�� ainda �� uma mulher muito bonita.
��� Isso tamb��m eu tinha esquecido. J�� come��ava a me sentir
velha em compara����o com aquelas crian��as.
��� �� diferente. Voc�� �� uma mulher. Uma mulher de verdade,
excitante. Elas s��o crian��as fazendo jogos.
212
5
UM J O G O DE CAF�� de prata estava ao lado das x��caras na mesinha
na biblioteca. Uma garrafa fosca de conhaque com dois copos
tamb��m estava ali. Judd olhou para Sofia enquanto ela arriava no
sof��.
��� Caf��?
��� Obrigada.
Ele serviu uma x��cara.
��� Conhaque?
��� Importa-se se eu preferir o Starka?
��� Claro que n��o. ��� Judd estalou os dedos. Fast Eddie
apareceu no mesmo instante. ��� O Starka.
��� E as outras coisas? ��� perguntou Fast Eddie.
Judd virou-se para Sofia.
��� Temos maconha, coca��na, estimulantes, calmantes, alucin��-
genos e qualquer outra coisa que puder imaginar.
��� N��o consigo imaginar mais nada. A ��nica coisa que
t��nhamos em Bangladesh era haxixe.
��� Pensei que havia ��pio.
��� E havia. Mas era para sonhar e dormir. N��o me agradava
muito.
��� Temos maconha opiada, que pode lhe proporcionar uma
viagem e tanto. Expandir�� sua percep����o quase como o ��cido, mas
haver�� sonhos agrad��veis, n��o viagens desastrosas. Acima de tudo,
manter�� o controle e n��o dormir��.
��� Parece interessante. Quanto tempo dura?
213
��� O tempo que voc�� quiser. J�� disse que permanece no
controle. Pode desligar no momento em que quiser.
��� Onde consegue?
��� A erva �� sensimilla. E o tratamento especial �� feito no
laborat��rio l�� embaixo.
��� Voc�� tamb��m usa?
��� ��s vezes.
��� E as outras coisas?
��� Tamb��m ��s vezes. Depende de como me sinto.
��� Zabiski sempre foi contra qualquer tipo de droga. Estou
surpresa que n��o o tenha proibido de us��-las. Ela receava que
pudesse anular seu tratamento.
��� Ela me falou tudo isso. Mas tenho id��ias pr��prias. As
drogas sempre estiveram presentes em todas as civiliza����es. Acho
que h�� um motivo para sua exist��ncia.
Sofia ficou em sil��ncio por um momento.
��� Sente vontade de tomar alguma coisa agora?
Judd deu de ombros.
��� N��o sei. Sinto que ambos estamos um pouco constrangidos.
Quase como se estiv��ssemos esgrimindo e n��o nos comunicando,
como acontecia antigamente.
��� Mas isso n��o �� normal? Afinal, passamos um longo tempo
separados. As pessoas n��o reatam um relacionamento de um
momento para outro.
��� Tem raz��o. Mas, ��s vezes, as drogas ajudam.
��� Ainda n��o estou preparada para isso. Mas posso cheirar um
pouco. Isso me manter�� o ��nimo.
Judd acenou com a cabe��a para Fast Eddie.
��� D�� �� doutora o que ela est�� querendo e me traga duas
p��lulas XTC. Mande Amarinth prepar��-las para mim.
��� Pois n��o, senhor.
Sofia esperou que Fast Eddie sa��sse e fechasse a porta.
��� O que faz essa p��lula?
��� �� um elevador do ��nimo desenvolvido em nosso laborat��rio.
Algo parecido com um super Elavil ou Triavil. A pessoa entra em
alta suavemente, dominando os seus medos ��ntimos.
��� Voc�� tem tudo o que quer. O que ainda resta para temer?
Judd fitou-a nos olhos.
��� Voc��.
214
Sofia sustentou o olhar. Os olhos azuis-escuros pareciam se
tornar pretos. Ela n��o disse nada.
��� Tenho medo de voc�� ��� murmurou Judd. ��� Seu conheci-
mento, sua compreens��o de mim. De voc�� conhecer a resposta e eu
n��o.
Ela deixou escapar um suspiro.
��� Ainda n��o sabe que ningu��m tem a resposta? Absolutamen-
te qualquer pessoa neste mundo.
Judd levantou-se e virou-se para a janela, de costas para ela.
��� N��o posso acreditar nisso, Sofia. Voc�� passou muitos anos
com a velha. Provavelmente sabe, mas n��o �� capaz de reconhecer. ���
Ele virou-se de novo para ela e acrescentou, a voz agora ��spera. ���
Conhece um certo Maharishi Raj Naibuhr?
��� N��o.
��� N��o foi a Bangladesh para procur��-lo?
��� N��o. Nunca ouvi falar dele.
��� Mas Zabiski o conhecia. H�� muitas refer��ncias a ele em seus
arquivos.
��� Talvez ela o conhecesse, mas nunca me falou a respeito.
A porta se abriu atr��s dela. Passos suaves se aproximaram.
Sofia virou-se. Era outra mo��a, um pouco mais clara que as duas ao
jantar, cabelos castanhos compridos e olhos verdes. Acenou com a
cabe��a, sorrindo para Sofia e depois para Judd. Tinha nos bra��os
uma bandeja de prata. Ajoelhou-se no ch��o e p��s a bandeja na
mesinha. Continuou de joelhos, olhando para Judd. Quando falou,
foi quase como se cantasse:
��� Quer que eu prepare agora, Sr. Crane? Ou prefere esperar?
��� Atenda primeiro �� nossa h��spede ��� disse Judd, brusca-
mente.
A mo��a abaixou a cabe��a. Em sil��ncio, despejou Starka num
copo, depois estendeu o frasco para Sofia. Fitando-a nos olhos, Sofia
disse, gentilmente:
��� Eu tamb��m posso esperar, crian��a.
Judd voltou a sentar-se. Olhou para Sofia.
��� Frustra����o... Para todo o lado que me viro, s�� encontro
frustra����o.
Sofia n��o respondeu. Judd virou-se para a mo��a.
��� Levante-se.
A mo��a levantou-se. N��o estava vestida sequer t��o recatada-
215
mente quanto as mo��as ao jantar. Usava apenas um pequeno vestido
branco, decotado e sem al��as, revelando a nudez de seu corpo por
baixo.
��� Amarinth tem apenas 17 anos ��� disse Judd. ��� Possui um
dos corpos mais bonitos que j�� conheci.
Sofia tomou um gole da vodca.
��� Gostaria de conhec��-la?
Sofia observou os olhos dele. N��o apresentavam qualquer
express��o.
��� Se voc�� quiser.
Sem desviar os olhos de Sofia, Judd ordenou �� mo��a:
��� Deixe o vestido cair no ch��o, Amarinth.
A mo��a soltou o vestido por cima dos seios. O vestido
escorregou facilmente por seu corpo e caiu no ch��o. Ela ergueu os
bra��os, num movimento experiente, estendendo-os acima da cabe��a,
as palmas encostadas.
Sofia contemplou-a. Judd estava certo. A mo��a era mesmo
linda, como uma requintada estatueta de marfim.
��� Vire-se, Amarinth. Deixe a doutora ver como voc�� ��
realmente linda.
Sem qualquer inibi����o, a mo��a fez uma pirueta, olhando para
Sofia por cima do ombro. Passou a l��ngua de leve pelos l��bios, com
um sorriso insinuante.
��� Amarinth prefere as mulheres ��� acrescentou Judd. ���
Gostaria de ficar com ela durante a sua estada aqui?
Sofia desviou os olhos para Judd.
��� N��o entendo voc��, Judd.
��� Eu a conhe��o. E conhe��o o rubor que invade seu rosto ao
ficar excitada, com a cona molhada.
��� E acha que ela me deixou excitada?
Judd fitou-a em sil��ncio. Ela sustentou o olhar.
��� Claro que ela me deixou excitada. Mas n��o apenas ela.
Voc�� tamb��m est�� aqui, Judd. Vi o excitamento em sua express��o e
como a cal��a estufou de repente.
Sofia prendeu a respira����o subitamente. Rep��s o copo na
mesinha, a m��o tremendo um pouco. Levantou-se. Ergueu a m��o e
abriu o fecho do sari no ombro. Lentamente foi desenrolando a seda
e deixou-a cair no ch��o. Por baixo, usava o vestido branco, colado ao
216
corpo, os mamilos sobressaindo. P��s a m��o na pequena mancha de
umidade sobre o p��bis. Olhou para Judd.
��� J�� tive um orgasmo depois de outro desde que cheguei aqui
e ouvi sua voz pelos alto-falantes.
Judd continuou a fit��-la, sem dizer nada.
��� �� isso o que quer de mim, Judd? Ter certeza do poder que
ainda possui sobre mim?
Ele come��ou a sacudir a cabe��a, mas Sofia prontamente
acrescentou, n��o o deixando falar:
��� Precisa ter certeza disso, Judd, ou �� um tolo. Ser�� que n��o
sabe que, desde o momento em que nos conhecemos, eu me tornei
mais sua escrava do que qualquer das garotas que j�� comprou?
��� E espera que eu acredite nisso? Que pense que nunca andou
com outro homem?
��� N��o falei isso! ��� protestou Sofia, furiosa. ��� Melhor do que
qualquer outra pessoa, voc�� sabe o quanto eu preciso de sexo. Mas
com voc�� �� algo mais. N��o estou escravizada apenas ao sexo, mas ao
homem inteiro. N��o �� suficiente que eu tivesse matado Nicky a fim
de voltar para voc��? N��o �� suficiente que eu tenha vindo do outro
lado do mundo at�� aqui a seu pedido?
Judd percebeu as l��grimas que come��avam a aflorar nos olhos
dela. Pegou-lhe a m��o.
��� Desculpe.
Ela sacudiu a cabe��a, em sil��ncio.
��� Esque��a a coca��na ��� acrescentou Judd. ��� Talvez seja
melhor voc�� dormir um pouco.
��� N��o... a menos que eu durma com voc��.
��� Voc�� pode n��o gostar. Durmo com duas garotas ao meu
lado. �� um velho costume chin��s, Ying e Yang, a fim de que os seus
esp��ritos possam encontrar o equil��brio no corpo, enquanto dorme.
��� Podemos fazer amor primeiro?
��� Geralmente eu n��o fa��o. As garotas fazem amor entre si,
suas energias penetram e absorvem a minha.
��� E o que acontece depois?
��� Geralmente acordo revigorado.
��� E as garotas?
��� Elas dormem durante o dia inteiro, recuperando-se da
exaust��o.
Sofia riu subitamente.
217
��� Parece absurdo.
��� Talvez seja. Mas ningu��m sabe com certeza, n��o �� mesmo?
��� Tem raz��o. Mas quando voc�� trepa?
��� Antes de voc�� ir para a cama.
��� N��o estamos na cama agora.
Judd assentiu. Virou-se para Amarinth.
��� Prepare as p��lulas XTC para n��s.
A mo��a acenou com a cabe��a e tornou a se ajoelhar no ch��o, ao
lado da mesinha. Levantou o rosto para Judd.
��� Por favor, Sr. Crane, posso preparar uma para mim
tamb��m?
Judd olhou para Sofia com uma express��o inquisitiva. Sofia
contemplou a mo��a nua. Ela era linda. Ajoelhando-se ao lado dela,
Sofia olhou para Judd, murmurando:
��� Deixe-a tomar. Talvez n��s duas possamos descobrir um
novo tipo de Ying e Yang para voc��.
218
6
E L A DEVIA ter cochilado. Os olhos se abriram de repente e ela
sentou-se no sof��. Uma claridade cinzenta come��ava a se espalhar
pelo horizonte. Amarinth remexeu-se no ch��o ao lado do sof�� em
frente e olhou para ela. Levou um dedo aos l��bios, advertindo
Sofia a se manter em sil��ncio.
Sofia acenou com a cabe��a e correu os olhos pela sala. Judd n��o
estava ali. Ela tornou a olhar para a mo��a, depois pegou o sari no
ch��o e come��ou a levantar-se.
Ainda com o dedo nos l��bios para pedir sil��ncio, Amarinth
aproximou-se dela em sil��ncio, os p��s descal��os. Tocou suavemente
no bra��o de Sofia, guiando-a.
O sari ainda na m��o, ela deixou que a mo��a a conduzisse. Sem
fazer qualquer barulho, contornaram o canto do bar e entraram em
outro c��modo, escondido por tr��s do ��ngulo entre a janela e o bar.
Amarinth deteve-a gesticulando com a m��o.
Era um c��modo pequeno, obl��quo, as janelas no teto em forma
de pir��mide. Por baixo do ��pice da pir��mide, Judd estava sentado, na
posi����o l��tus, sobre uma plataforma redonda, a cerca de 10
cent��metros acima do ch��o.
Sofia observou-o atentamente. Ele estava im��vel, parecia nem
sequer respirar, os olhos abertos, mas sem tomar conhecimento da
claridade do amanhecer.
Amarinth puxou o bra��o de Sofia e levou-a de volta ��
biblioteca. Foram para outro c��modo e ela fechou a porta, tudo no
mais absoluto sil��ncio. Era um quarto de vestir, com arm��rios
espelhados nas paredes e no meio uma enorme banheira redonda,
219
com ��gua perfumada a borbulhar suavemente. Um banheiro de
ladrilhos de jade, reluzente, podia ser visto atrav��s da porta aberta.
��� Venha ��� sussurrou Amarinth. ��� Vamos nos lavar e
refrescar nas ��guas perfumadas.
Lentamente, Sofia acompanhou a mo��a.
��� Judd vir�� se juntar a n��s?
��� N��o. O mestre est�� viajando pelas estrelas. Quando o sol
fechar seus olhos, ele voltar�� �� cama e ao sono. Ying e Yang entrar��o
nele e expressar��o os fluidos de seu corpo, aliviando as tens��es
interiores e restaurando o equil��brio mental.
��� Mas fizemos amor com ele. Isso n��o o satisfez?
��� E muito. Mas n��o �� assim que ele se expressa.
Sofia ficou aturdida.
��� Est�� querendo dizer que ele n��o alcan��a o orgasmo?
A mo��a baixou os olhos.
��� Isso mesmo. N��o �� a sua maneira. ��� Sofia se manteve
calada e Amarinth apressou-se em acrescentar, ansiosamente: ���
Voc�� n��o compreende. Essa �� a maneira pela qual ele ganha for��as e
conserva suas ess��ncias.
��� Ent��o por que ele se d�� ao trabalho de fazer amor?
Sofia come��ava a sentir como se estivesse falando com uma
crian��a.
��� Ele absorve a nossa ess��ncia para se misturar com a sua.
��� �� assim com todas as mo��as, n��o importa quais sejam?
��� Isso mesmo. Ele s�� encontra express��o no sono. Desperta
imediatamente depois, toda a for��a recuperada.
��� Ele me disse que voc�� prefere as garotas... �� por isso?
Amarinth n��o respondeu.
��� Todas as outras se sentem como voc��?
A mo��a assentiu.
��� Mas nenhuma de voc��s jamais quer algo mais?
��� N��o ��� murmurou Amarinth, a voz quase sumida. ��� S��
estamos felizes quando servimos ao mestre.
Sofia ficou em sil��ncio por um momento.
��� Eu me sentiria melhor se pudesse voltar ao meu chal��.
Amarinth fitou-a nos olhos.
��� Como quiser.
Ela abriu um arm��rio e tirou um roup��o felpudo, estendendo-o
220
para Sofia vestir. Vestiu outro vestido curto de seda, exatamente
como o que usava antes. E murmurou:
��� Venha comigo. Eu a conduzirei at�� o carro.
Sofia acordou em sua pr��pria cama. A claridade intensa do sol era
vis��vel nos cantos das cortinas. Ela apertou o bot��o ao lado da cama.
As cortinas se abriram e o sol inundou o quarto. Sofia olhou para o
rel��gio. Eram duas e meia da tarde. Ela estendeu a m��o para o
telefone.
��� Pois n��o, doutora? ��� disse Max.
��� Pode me arrumar um suco de laranja e um caf��, por favor?
��� Claro, doutora. Alguma coisa para comer?
��� Ainda n��o.
��� H�� dois recados. O Sr. Crane gostaria que respondesse ao
seu chamado quando acordar e o Dr. Sawyer pede que ligue para o
seu gabinete no Centro de Pesquisas, ��s seis horas.
��� Obrigada, Max. Falarei com o Sr. Crane assim que tomar o
caf��.
��� Est�� bem, doutora. O n��mero do Sr. Crane �� 1.
O suco de laranja estava doce e revigorante, o caf�� quente e
forte. Estava de acordo com o seu paladar, muito diferente do caf��
americano habitual, fraco demais. Ela ainda n��o terminara de tomar
o caf�� quando ligou para Judd. Uma mulher atendeu:
��� Gabinete do Sr. Crane.
��� Aqui �� a Dra. Ivancich, respondendo ao chamado dele.
��� Um momento, por favor, doutora. Vou transferir a liga����o.
Houve um estalido no telefone quase no mesmo instante e depois
Judd disse:
��� Descansou bem, Sofia?
��� Muito bem.
��� ��timo. Estou providenciando os arquivos de Zabiski para
voc�� ler. Est�� tudo em fita. Voc�� tem a op����o de qualquer l��ngua que
preferir e ainda os originais, com a pr��pria letra de Zabiski.
��� Prefiro o original. E gostaria tamb��m de uma c��pia em
ingl��s.
��� Providenciaremos imediatamente. Ser�� posto num proces-
sador de tela dupla, a fim de que possa ler uma ou outra, como
quiser. E temos tamb��m as anota����es para voc�� revisar. Muitos
especialistas estudaram e interpretaram o que ela escreveu.
221
��� Isso seria bastante ��til.
��� Quando acha que pode come��ar?
��� Amanh�� de manh��, se n��o se incomoda. Prefiro estar
inteiramente revigorada quando come��ar a trabalhar.
��� N��o h�� problema. Ser�� providenciada uma sala especial
para voc��.
��� Obrigada. H�� uma outra coisa que eu gostaria de lhe pedir.
��� O que ��?
��� J�� se passaram tr��s anos desde que o examinei pela ��ltima
vez. E sou m��dica, se est�� lembrado. Gostaria de efetuar um exame
f��sico, a fim de poder avaliar o seu progresso.
��� Isso lhe mostraria algo diferente do que pode descobrir
pelas anota����es de Zabiski?
��� Ainda n��o sei. Talvez n��o mostre nada. Mas, por outro
lado, alguma coisa em voc�� pode esclarecer o que ela tentou me
dizer.
��� O Dr. Sawyer j�� tem no computador todas as informa����es
que voc�� pode precisar a meu respeito.
��� �� o que est�� no computador. Com o devido respeito ao Dr.
Sawyer, seriam informa����es de segunda m��o para mim. Eu me
sentiria melhor se pudesse examinar e compreender pessoalmente.
A voz de Judd era incisiva:
��� N��o creio que seja necess��rio.
��� Desculpe, Judd, mas eu acho que ��.
��� N��o.
Ele desligou bruscamente. Sofia esperou um instante e depois
tornou a ligar. A secret��ria atendeu e ela disse:
��� Quero falar de novo com o Sr. Crane.
��� Lamento, doutora, mas n��o �� poss��vel entrar em contato
com ele neste momento.
��� Pode lhe transmitir um recado?
��� Claro, doutora.
��� Diga-lhe que estou convencida de que n��o posso ser ��til nas
circunst��ncias e que gostaria que providenciasse o meu retorno.
Judd ligou para ela logo em seguida.
��� Voc�� �� uma escrota.
��� �� poss��vel, mas sou tamb��m m��dica e acho que devo fazer
as coisas da maneira que considero certa.
Ele ficou calado e Sofia acrescentou:
222
��� Pense um pouco a respeito. Enquanto isso, ligarei para Doc
Sawyer e pedirei que venha me ajudar.
��� Acha que �� a ��nica coisa que ele tem para fazer?
��� N��o compete a mim julgar isso. Ele �� seu amigo. E seu
m��dico. Cabe a voc�� decidir.
Judd demorou a responder:
��� Ele estar�� aqui amanh�� de manh��.
��� ��timo. Eu poderia examin��-lo ent��o esta tarde, durante
cerca de uma hora?
��� Para qu��?
��� Seria ��til se fiz��ssemos exames de sangue e urina antes de
come��armos. Poderia nos poupar bastante tempo.
��� Mais alguma coisa? ��� perguntou ele, sarcasticamente.
��� Posso pensar em v��rias outras coisas, mas por enquanto me
contentarei com isso.
��� Obrigado. Seis horas est�� bom para voc��?
��� Perfeito.
��� Muito bem. Na ocasi��o, eu lhe mostrarei a sua sala.
��� Certo. S�� mais uma coisa. N��o quero usar outro daqueles
estidos brancos.
��� Se voc�� prometer n��o usar um sari.
��� Prometo.
��� Voc�� ainda �� uma escrota.
��� Eu o amo de qualquer maneira ��� murmurou Sofia,
desligando em Seguida.
223
7
S O F I A VIROU-SE para Sawyer:
��� Voc�� tinha raz��o. Fisicamente, ele est�� perfeito. S�� uma
pequena coisa me incomoda: o registro das energias el��tricas no
E E G parece mais baixo que o do ano passado.
Sawyer fitou-a atentamente.
��� Mas a diferen��a �� m��nima. Pode ser uma decorr��ncia do
momento em que se fez o registro.
��� Fiz tr��s vezes o E E G , a intervalos de quatro horas. N��o tem
nada a ver com o momento. A produ����o de energia do c��rebro est��
sistematicamente mais baixa. Poder��amos persuadi-lo a se submeter a
uma tomografia?
��� Acho que n��o. Ele teria de deixar a ilha e voltar a Boca
Raton. E me disse que n��o deixaria a ilha antes do final do seu
primeiro ano. Ou seja, daqui a dois meses.
Sofia n��o disse nada, enquanto apertava as teclas do compu-
tador. Focalizou o registro do E E G do ano anterior e superp��s o
novo. Apertou outra tecla e uma parte do registro entrou em zoom
na tela.
��� O problema est�� no registro Alfa. Oscila sobre a linha
principal. N��o entendo.
��� Transferiremos para o computador na Pesquisa M��dica e
veremos o que os neurologistas pensam a respeito.
��� Pode ajudar, mas eu me sentiria mais segura com uma
tomografia.
��� O que est�� exatamente procurando?
��� �� mais intui����o do que conhecimento. Deve estar lembrado
224
que me disse que ele mencionou seu t��dio e crescente senso de
isolamento... e testemunhei sua falta de intera����o pessoal com todos
ao redor, at�� mesmo em circunst��ncias de contato f��sico mais ��ntimo.
��� Sexo?
��� Isso mesmo. Fisicamente, ele funciona. Por dentro, por��m,
nada sente. Mesmo quando toma drogas para ajudar.
��� ��s vezes as drogas causam justamente o efeito oposto,
doutora.
��� O problema n��o est�� nas drogas. Por isso �� que falei em
intui����o. Sou uma mulher. Sei quando um homem est�� trepando por
trepar e trepando para valer. �� o mesmo ato, mas h�� uma diferen��a.
��� Pode ser o fator de esterilidade. Varia no caso dele. Uma de
suas experi��ncias foi controlar a esterilidade pela mente e mostrar
que pode separar a impot��ncia da esterilidade... que pode at�� reter o
esperma da ejacula����o org��stica. Ele est�� tentando tocar em todas as
bases: m��dica, f��sica, tecnol��gica e metaf��sica, ioga, al��m do controle
da mente t��ntrico
��� O que �� ��timo ��� comentou Sofia. ��� O prazer est�� na
cabe��a de um homem, n��o em seu p��nis. Quero saber o que est��
acontecendo em seu c��rebro e acho que a tomografia pode nos dar
algumas pistas.
��� N��o h�� nada que possamos fazer neste momento. Temos de
esperar por ele.
Sofia desviou os olhos da tela do computador.
��� Se isso serve de algum consolo, fisicamente ele n��o envelhe-
ceu um dia sequer desde a ��ltima vez em que o encontrei. Portanto,
alguma coisa est�� dando certo, embora n��o saibamos exatamente o
qu��.
Judd entrou na sala. Olhou para os dois e disse:
��� Satisfeitos?
��� Acho que sim ��� respondeu Sofia. ��� N��o descobrimos nada
errado fisicamente.
��� Eu poderia lhe dizer isso sem precisar de todos os exames ���
murmurou Judd, sem qualquer express��o.
��� Mesmo assim, eu gostaria de saber mais a respeito de sua
cabe��a. Tanto f��sica como psicologicamente.
��� N��o estou entendendo.
��� O E E G indica uma queda m��nima na eletricidade da onda
cerebral.
225
��� E isso n��o deve ser normal? Afinal, houve uma redu����o em
todas as minhas fun����es f��sicas.
��� N��o sei se deveria mesmo ser. ��� Sofia fitou-o nos olhos. ���
Como se sente? Continua t��o alerta como antes? Na minha opini��o,
parece j�� n��o estar mais t��o interessado em certas coisas.
��� �� que n��o estou mais interessado nessas coisas. Antes, eu
me divertia com jogos. Neg��cios, dinheiro, pessoas. Agora, tudo isso
me entedia. Acho que estou fazendo algo muito mais importante e
interessante. Qualquer um pode ganhar dinheiro, se assim quiser. Foi
o que eu fiz e tenho mais dinheiro do que qualquer outra pessoa.
Portanto, n��o preciso mais provar que sou capaz. Mulheres, sexo, a
mesma coisa. J�� fiz tudo. Agora, �� necess��rio apenas manter o
mecanismo f��sico em funcionamento.
Sofia olhou para Sawyer e depois outra vez para Judd.
��� E amor?
��� Emocionalmente?
Sofia assentiu.
��� Isso mesmo. Acho que �� importante para voc��, f��sica e
mentalmente.
��� Pensa que sou um idiota? ��� perguntou Judd, calmamente.
��� Que n��o sinto as coisas?
Sofia sustentou-lhe o olhar.
��� N��o sei dizer.
Judd virou-se para Sawyer.
��� O que voc�� acha?
Sawyer levantou as m��os.
��� N��o posso responder. Voc��s dois est��o acima da minha
capacidade.
Judd sorriu para Sofia.
��� Eu sinto diferente. Creio que n��o sinto t��o profundamente
quanto voc��. Mas sinto, �� minha maneira. Tente compreender. Eu
viverei eternamente. Se isso for verdade, tenho de pensar em todos
voc��s como tempor��rios. N��o devo me tornar muito afei��oado a
ningu��m, porque daqui a 20 anos ou um s��culo todo mundo j�� ter��
desaparecido e estarei vivendo com outras pessoas, em outros
tempos.
��� Por isso, voc�� reprime seus sentimentos, com medo de
perder as pessoas a quem ama? Tem medo de magoar a si mesmo?
Sofia podia sentir um aperto em sua garganta.
226
��� �� poss��vel ��� respondeu Judd, pensativo. Ele respirou
fundo. ��� Talvez amar seja parte tamb��m da mortalidade. Morre-se
um pouco com cada pessoa que se ama e se perde.
Ela conteve as l��grimas.
��� Se voc�� tivesse filhos, continuaria a viver neles.
��� Mas eu pr��prio n��o viveria. Assim como meu pai n��o viveu.
Quero estar vivo, n��o ser uma mem��ria.
Sofia tornou a virar-se para o computador e apertou diversas
teclas. N��meros faiscaram na tela. Ela apertou mais duas teclas e a
imagem transformou-se numa curva demogr��fica. Virando a cabe��a
para tr��s, mas sem olhar para Judd, ela disse.
��� De acordo com o computador, voc�� possui neste momento
uma expectativa de vida de 130 anos. Isso significa que sua atual
idade f��sica de 49 anos �� igual a um homem m��dio de 31 anos. ���
Sofia fitou-o nos olhos e acrescentou: ��� As tabelas atuariais de hoje
d��o uma E.L. de 74. Voc�� tem quase o dobro.
Judd desviou os olhos da tela para Sofia.
��� O que est�� tentando me dizer?
��� Em determinado momento, a Dra. Zabiski levou-o a uma
E.L. de 150 aproximadamente. Enquanto tentava aument��-la, quase
o matou. N��o seria melhor contentar-se com o que j�� possui agora,
ao inv��s de continuar a se submeter a experi��ncias e possivelmente se
destruir?
��� Se eu tenho de morrer, n��o importa quanto tempo ainda
durarei ou quando acontecer��. Um momento ou outro, tanto faz. O
que procuro �� o infinito.
��� N��o existe o infinito ��� murmurou Sofia. ��� Nem mesmo
al��m das estrelas.
Ele ficou pensativo por um instante, olhando de Sawyer para
Sofia.
��� Fiz os exames f��sicos, como pediu. Come��ar�� a estudar as
anota����es de Zabiski amanh��?
��� Amanh�� de manh��.
��� ��timo. Jantar ��s nove horas esta noite?
��� Certo. Obrigada.
Judd virou-se para Sawyer.
��� E voc��, Lee?
Sawyer sacudiu a cabe��a.
227
��� N��o, obrigado. Preciso voltar. Mas aceito o convite para
outra ocasi��o.
��� Combinado. Mas, agora, vamos todos subir e tomar um
drinque.
Judd tomava um suco de laranja, Doc Sawyer um scotch com gelo e Sofia um copo pequeno de vodca Starka, quase congelado, tirado do
freezer. O telefone soou ao lado da cadeira de Judd. Ele atendeu, escutou por um momento, depois estendeu o fone para Sawyer:
��� �� do seu gabinete.
Sawyer pegou o fone.
��� Pronto?
A secret��ria falou, meio contrafeita:
��� Desculpe incomod��-lo, doutor, mas achei que era importan-
te. Acabamos de receber um telefonema de Washington, de algu��m
do Departamento de Estado, perguntando se a Dra. Ivancich estava
conosco. Eu disse que n��o.
��� Fez muito bem. Al��m do mais, �� a pura verdade.
��� Tamb��m perguntaram se eu poderia entrar em contato com
ela. Respondi que n��o era poss��vel, pois n��o podia saber onde
encontr��-la. Pediram ent��o para lhe falar e informei que estava em
viagem e s�� voltaria aqui amanh�� de manh��.
��� Muito bem. ��� Sawyer desligou e olhou para Judd. ��� O
Departamento de Estado est�� procurando Sofia.
��� Estranho... ��� Judd virou-se para Sofia. ��� Tem alguma
id��ia do motivo pelo qual o Departamento de Estado poderia estar
interessado por voc��?
Sofia deu de ombros.
��� O governo �� o seu, n��o o meu. N��o sei como funciona. E na
maioria das ocasi��es, nem mesmo sei como o meu pr��prio governo
funciona.
��� Obteve o visto em Bangladesh para entrar nos Estados
Unidos?
��� N��o. Usei o visto de entrada de prazo ilimitado que voc��
obteve para mim h�� anos. ��� Ela ficou em sil��ncio por um instante.
��� Mas quando passei pela imigra����o, no JFK, indiquei o meu
endere��o de visita nos Estados Unidos como Centro M��dico Crane,
Boca Raton, Fl��rida.
228
��� O que foi correto. ��� Judd pensou por um momento. ���
Geralmente �� a imigra����o que verifica os visitantes.
��� Foi o que disse a secret��ria.
��� Ligue para ela e pergunte se tem o nome da pessoa que
telefonou. Se tivermos um nome, posso mandar a Seguran��a efetuar
um levantamento. Se �� mesmo o Departamento de Estado, alguma
coisa est�� acontecendo e quero saber do que se trata.
229
8
O JANTAR estava posto numa mesinha redonda numa alcova com
janela da biblioteca. Judd virou-se quando ela entrou na sala.
��� Voc�� p��s o vestido branco.
Sofia sorriu.
��� Fiz algumas altera����es.
��� N��o precisava. Eu teria lhe mandado outro.
��� Tenho uma afei����o sentimental por este.
Judd entregou-lhe um copo gelado de vodca, depois pegou seu
pr��prio copo.
��� Sant��.
��� Sant��. ��� Sofia olhou para o copo dele. ��� Uma Coca
temperada? Judd riu.
��� Tamb��m tenho minhas fidelidades sentimentais. ��� Ele
ajudou-a a sentar-se e foi ocupar a cadeira no outro lado da mesa. ���
N��o sou t��o desprovido de emo����es como voc�� pensa.
��� Desculpe. N��o tive a inten����o de magoar seus sentimentos.
��� N��o precisa pedir desculpas. Lembre-se apenas que o fato
de eu ter um sonho n��o significa que n��o seja humano.
��� N��o seria com isso que eu me preocuparia. Voc�� �� mesmo
humano, talvez at�� demais.
��� N��o a compreendo absolutamente.
Sofia sorriu.
��� Nem tente. Ponha toda a culpa no fato de eu ser mulher.
��� Est�� bem. Pensei em jantarmos alguma coisa leve e irmos
cedo para a cama. Tivemos um dia cansativo e amanh�� ser�� bastante
��rduo para voc��.
230
O jantar consistiu de peito de galinha em fatias com um molho,
cenouras defumadas cortadas al dente, ervilhas, uma salada e queijo
brie. Judd bebeu ��gua e Sofia um Chablis seco. Nenhum dos dois tomou caf��.
��� Estava ��timo ��� disse ela, empurrando a cadeira para tr��s.
��� E j�� estou plenamente satisfeita.
��� Acha que pode dormir?
��� Tentarei. E se n��o conseguir, tomarei uma p��lula.
��� Desapontada?
Sofia deu de ombros.
��� N��o muito. J�� o conhe��o bastante agora para saber que n��o
se interessa por todos os detalhes do assunto.
��� N��o est�� zangada?
��� N��o ��� respondeu Sofia, levantando-se. ��� O que foi mesmo
que voc�� me disse uma vez? Um americanismo... golpes diferentes
para pessoas diferentes.
��� Essa n��o �� a minha linha. �� coisa de Fast Eddie.
Sofia riu.
��� N��o importa quem disse. ��� Ela fitou-o nos olhos. ���
Continuo como antes. Ainda adoro foder. E preciso muito.
��� Amarinth...
Sofia n��o o deixou continuar:
��� N��o quero ela, mas voc��.
��� Amarinth �� muito talentosa. Tem as m��os pequenas e
macias, com o punho pode ench��-la mais e mais fundo do que
qualquer homem.
��� N��o, obrigada. Eu poderia fazer t��o bem com o meu
vibrador. Mas prefiro me contentar com a minha p��lula.
Judd suspirou e levantou-se tamb��m. Beijou-a no rosto e
pegou-lhe a m��o.
��� Vamos. Eu a levarei at�� o carro.
O telefone soou no instante em que ele entrou no quarto. Judd
apertou um bot��o no painel de controle e os alto-falantes na parede,
com microfones embutidos, entraram em funcionamento.
��� Crane falando ��� disse ele, em tom natural.
��� Espero n��o t��-lo acordado ��� disse Merlin.
��� N��o acordou. �� pouco mais de 11 horas aqui.
231
��� Fechamos o neg��cio no banco. A Transatlantic transferir��
500 milh��es amanh��. Assumem as opera����es no dia seguinte.
��� O Departamento de Justi��a aprovou?
��� Tudo. Estamos enviando 400 milh��es para a funda����o. O
que vai querer que fa��amos com os seus 100 milh��es?
��� Quanto terei de pagar de impostos?
��� Nada. Ainda tem um preju��zo pessoal de 200 milh��es para
deduzir.
Juddy pensou por um momento.
��� Transfira 25 milh��es para o Centro M��dico como um
empr��stimo pessoal e mande os restantes 75 milh��es para serem
divididos em partes iguais entre minhas contas pessoais na Su����a e
Bahamas.
Merlin disse, sem qualquer entona����o:
��� O Centro M��dico Crane vai consumir tudo rapidamente,
mas o dinheiro �� seu.
��� Tem raz��o ��� declarou Judd, secamente. ��� O dinheiro ��
meu.
Merlin ficou em sil��ncio e Judd acrescentou:
��� Mais alguma coisa?
��� A Mitsubishi nos fez uma oferta de um bilh��o e meio de
d��lares pela Crane Engineering and Construction ��� respondeu
Merlin, relutante.
��� Qual �� o nosso ativo atual?
��� Temos um patrim��nio l��quido duas vezes maior. Tr��s
bilh��es.
Judd pensou por um momento.
��� Diga a eles que podem ficar por dois bilh��es.
��� N��o quero comentar essa decis��o. Come��o a pensar que
deseja se livrar de tudo.
��� Talvez seja isso mesmo. Dinheiro n��o �� mais importante
para mim. J�� tenho mais do que preciso.
��� Mas aceitar a oferta da Mitsubishi representaria um preju��zo
de um bilh��o .
A voz de Merlin era chocada. Judd mostrou-se paciente:
��� Se vend��ssemos por tr��s bilh��es de d��lares, quanto ter��a-
mos de pagar de impostos?
Ele quase que podia ouvir Merlin fazendo os c��lculos em seu
computador. A resposta veio um momento depois:
232
��� Entre 700 e 800 milh��es de d��lares.
��� Ent��o quanto nos vale mais um bilh��o de d��lares no pre��o?
N��o �� o bastante para enfrentar toda a verifica����o a que ser��amos
submetidos pela Receita Federal. E eles poderiam manter o dinheiro
retido durante cinco anos, enquanto estudam a transa����o. Dessa
maneira, o preju��zo aparece patente, eles n��o t��m argumentos e o
preju��zo l��quido �� apenas de 160 milh��es para a funda����o e 40
milh��es para mim.
Merlin n��o disse nada.
��� N��o fique desanimado ��� exortou Judd, gentilmente. ���
Est�� na hora de come��armos a nos livrar de algumas responsabilida-
des. Talvez assim todos possamos gozar a vida um pouco mais.
Merlin suspirou atrav��s dos alto-falantes.
��� Acho que seu pai n��o concordaria com isso.
A voz de Judd soou incisiva:
��� Meu pai est�� morto. E acho que j�� participei desse jogo por
tempo demais. Ainda estou vivo e espero desfrutar a vida um pouco
mais.
��� Est�� bem ��� murmurou Merlin, desolado. ��� Apresentarei
sua proposta �� Mitsubishi.
��� Obrigado, Merlin. Boa noite.
��� Boa noite.
Judd cortou a liga����o e atravessou o quarto at�� a janela.
Contemplou o mar noturno. A lua subia pelo c��u e sua claridade
come��ava a dan��ar pela ��gua. Judd iniciou os exerc��cios de respira-
����o. E foi sentindo que tudo dentro de seu corpo funcionava a um
ritmo mais lento.
Sentiu mais do que ouviu passos leves entrarem no quarto. E
depois estavam, a seu lado. Dedos macios come��aram a despi-lo. A
camisa e a cal��a pareceram deixar seu corpo flutuando. M��os
pequenas o conduziram a uma enxerga redonda e dura, cerca de meio
metro acima do ch��o. Sem ver as m��os que o ajudavam, ele assumiu
a posi����o l��tus, de frente para as janelas pintadas pela noite. As luzes
do quarto foram diminuindo, at�� se igualarem ao c��u noturno. Uma
vela, quase ao n��vel dos olhos, come��ou a bruxulear �� sua frente.
Ele olhou fixamente para a luz, at�� que a t��nue claridade
come��ou a pesar em suas p��lpebras. Dedos pequenos lhe fecharam os
olhos, mas a luz da vela permaneceu gravada dentro das p��lpebras.
233
Os passos se afastaram um momento depois. Ele ficou silencioso e
sozinho.
A mente vagueou por seu corpo. Sentiu os dedos dos p��s, os
p��s, depois as pernas. Os test��tulos e p��nis estavam macios e quentes,
a virilha e a barriga relaxadas. O peito movia-se gentilmente por cima
dos pulm��es, o bombeamento f��cil do cora����o ecoava na audi����o de
sua mente.
N��o demorou muito para que estivesse longe, a percep����o
deixando-o para tr��s. Sentiu-se plenamente integrado com a cons-
ci��ncia do universo. O poder dentro dele era o poder que havia fora.
Em sua mente e com sua mente, ele se elevou. E dormiu na noite
intermin��vel de sua alma. Outra estrela, outra estrela, outra es-
trela...
234
9
A LUZ na mesa marcava seis e meia. Sofia apertou o bot��o ao lado
e as cortinas se abriram. O sol da manh�� j�� se elevara acima do
mar. Ela pegou o telefone. Max atendeu prontamente:
��� Bom dia, doutora.
��� Toronja, caf��, ovos mexidos com bacon. Um bule de caf��
bem grande.
��� Obrigado, doutora. Levarei imediatamente.
Ela desligou e foi para o banheiro. Tomou um banho de
chuveiro r��pido para se livrar do resto de sono. Ainda se sentia meio
lerda quando saiu de baixo da chuveirada quente e fria. Enrolou a
toalha no corpo e foi para o quarto. A mesa com o caf�� da manh�� j��
estava posta.
Serviu-se de uma x��cara de caf�� antes de se sentar. Estava bem
forte. Ela tomou tudo, serviu-se de mais, sentou-se e pegou a
toronja. O telefone tocou. Ela n��o precisou levantar para atender:
��� Dra. Ivancich falando.
��� Espero n��o t��-la acordado, Sofia ��� disse Sawyer.
��� J�� estou tomando o caf�� da manh��.
��� Experimentei uma coisa interessante ��� disse ele, ansiosa-
mente. ��� Comparei os EEGs dos ��ltimos cinco anos com as
tomografias feitas nas mesmas ocasi��es. Convertemos as tomografias
em termos matem��ticos e depois as reconstitu��mos. Em seguida,
projetamos em gr��ficos de computador. E pareciam demais com as
tomografias originais. Fiz o mesmo processo com os EEGs que
tiramos ontem. S��o terrivelmente interessantes, Sofia.
��� Eu gostaria muito de ver isso.
235
��� E pode ver agora mesmo. Ligue a televis��o em seu quarto.
Est�� ligada ao computador central. Aperte os seguintes n��meros:
748, 61, 011, 953. Anotou?
Ele esperou at�� que Sofia voltasse a falar.
��� J�� bati os n��meros, mas n��o apareceu nada na tela.
��� Acrescente a palavra Computrac.
A tela adquiriu vida. A imagem tinha movimento e cores.
��� J�� tenho a imagem ��� disse Sofia. ��� O que devo procurar
agora?
��� Vou superpor o material novo sobre as antigas tomografias.
Observe o pequeno rastro de luz azul na ��ltima faixa.
��� Estou vendo.
��� Esse �� o n��vel el��trico atual. Observe agora a mesma coisa
nas faixas superpostas. Parecem estar se movendo mais depressa. A
nova tomografia tamb��m indica que o c��rebro total est�� uma fra����o
maior.
��� Est�� querendo dizer que o c��rebro dele talvez esteja
crescendo?
Sofia estava totalmente incr��dula.
��� N��o tenho certeza, mas �� poss��vel que o peso do c��rebro
tenha aumentado at�� dois gramas. Se for verdade, isso explica a
redu����o do ritmo dos impulsos. Ele est�� na verdade usando mais
c��lulas do c��rebro e por necessidade foram produzidas mais c��lulas
para ag��entar a carga.
��� Ainda estou tentando compreender.
��� Devemos ser cautelosos. Isso �� um gr��fico de computador,
n��o a coisa real. Mas h�� um pensamento que me ocorreu. Sabe se
Zabiski injetou algumas de suas pr��prias c��lulas cerebrais na
combina����o de terapia celular quando trabalhou nele?
��� N��o, n��o sei. Ela guardou s�� para si essa parte do processo.
Nunca permitiu que ningu��m a observasse.
��� Foi apenas uma id��ia ��� murmurou Sawyer, quase que para
si mesmo. ��� Eu ainda gostaria de fazer uma tomografia nele o mais
cedo poss��vel.
��� Vamos mostrar-lhe isto. Talvez ele concorde.
��� Espera encontr��-lo mais tarde?
��� Claro. Come��arei a trabalhar no material de Zabiski esta
manh��. Levarei isso a ele quando o encontrar.
A tela se apagou.
236
��� Boa sorte ��� disse Sawyer.
��� Boa sorte para voc�� tamb��m.
A luz do sol atravessou as p��lpebras de Judd. Sem se mexer na cama
dura, ele abriu os olhos. O quarto parecia todo enevoado; sua vis��o
logo se desanuviou. Ele virou a cabe��a e olhou para as mo��as
sentadas ao lado da cama, no ch��o. Elas falaram quase em un��ssono:
��� Bom dia, mestre.
��� Bom dia ��� respondeu Judd, lentamente.
��� Viajou longe?
��� Muito longe.
��� Maravilhoso. N��s ficamos muito felizes. Obrigada, mestre.
Os corpos nus, dourados dos raios do sol, rebrilhavam quando
elas sa��ram correndo do quarto.
Judd continuou im��vel na cama. Um momento depois, sentiu o
corpo estremecer. N��o se mexeu. Tornou a sentir um calafrio. Ouviu
a porta se abrir. N��o virou os olhos.
Amarinth, no pequeno vestido branco sem al��as, fitou-o, os
olhos escuros e ��midos. Judd estremeceu mais uma vez e contem-
plou-lhe os olhos.
��� Viajou muito longe e est�� frio com o gelo da viagem ���
murmurou Amarinth. ��� Deixe o meu fogo interior aquec��-lo.
Judd permaneceu em sil��ncio. Fitou os olhos dela e depois o
tronco inclinado. Viu as m��os da mo��a pegarem sua ere����o, as pontas
dos dedos contornarem os test��culos. Ele respirou fundo. E conti-
nuou em sil��ncio, os olhos nos dela.
��� Sua for��a �� o cume duro da palmeira, abrindo-se para
derramar um regato de amor sobre meus dedos. ��� Os olhos de
Amarinth n��o se desviavam dos olhos de um azul-cobalto de Judd. ���
Por favor, mestre, permita que eu o sirva.
Ele n��o disse nada. A mo��a levantou o vestido at�� a cintura e
postou-se na cama, as pernas por cima e guiou-o para dentro do seu
corpo. As n��degas come��aram a rebolar num frenesi de prazer.
��� Mestre! Mestre! ��� gritou Amarinth. ��� Fa��a-me um filho!
Por favor, fa��a-me um filho!
E depois ela observou os olhos de Judd. Estavam distantes,
nada viam, por tr��s de uma pel��cula que ela n��o podia penetrar.
��� Mestre... ��� murmurou Amarinth, as l��grimas escorrendo
pelas faces.
237
Lentamente, ela se afastou de Judd. Ele estava mole, a ere����o
acabara. Ela ficou de joelhos na cama, ao seu lado. Suas l��grimas
eram quentes na m��o de Judd.
��� Desculpe, mestre. Desculpe n��o ser capaz de agrad��-lo.
Ele virou-se para fit��-la e beijou-a na cabe��a.
��� N��o precisa se desculpar, crian��a ��� disse Judd, gentilmen-
te. ��� Voc�� me agradou. Sou eu que n��o posso agrad��-la.
Ele sentou-se na cama.
��� Por favor, crian��a, apronte meu banho. E brincaremos
como crian��as na ��gua.
��� Mas eu n��o compreendo, mestre. Nunca entrou em mim.
��� Isso n��o tem import��ncia, crian��a. A morte s�� vir�� se eu
permitir que venha.
��� Na minha terra, mestre, acreditamos que os filhos prolon-
gam a vida.
��� Aqui �� outra terra, outro pa��s.
O copo de suco de laranja habitual estava em sua mesa quando ele
entrou no escrit��rio particular. Eram 11 horas e o rosto bronzeado se
achava coberto de suor, que tamb��m manchava o uniforme branco de
gin��stica. Ele tomou o suco de laranja, enquanto apertava o bot��o
que ativava as mensagens registradas no Computador Central. Havia
algumas: Merlin; diretor da Seguran��a; Doc Sawyer; sua m��e,
Barbara; Dr. Schoenbrun, do Brasil.
Judd apertou dois outros n��meros. O primeiro chamado foi
para Schoenbrun. Era o mais importante da lista. A liga����o foi
completada prontamente atrav��s do sat��lite Crane. Ele ligou a tela e
o rosto do Dr. Schoenbrun apareceu.
��� Como vai, Dr. Schoenbrun?
O alem��o sorriu, satisfeito.
��� Vou bem, obrigado. Tenho boas not��cias, Sr. Crane.
��� Isso �� ��timo. Estou sempre precisando de boas not��cias.
��� O reator nuclear est�� instalado. Duas semanas antes do
prazo previsto.
��� Meus cumprimentos, doutor. Quando posso esperar a
conclus��o das obras?
��� Dois meses, 10 semanas no m��ximo. At�� l��, as tubula����es
devem ficar prontas e o domo devidamente instalado. E assim que
isso acabar, os tratores cobrir��o tudo com 10 metros de terra.
238
��rvores e arbustos ser��o plantados em menos de uma semana, de tal
forma que nem mesmo os sat��lites mais sofisticados poder��o detectar
qualquer coisa. Parecer�� exatamente como a floresta ao redor.
��� ��timo. E quando poderemos acionar o reator nuclear?
��� Dentro de tr��s meses, talvez menos. Todos os testes estar��o
conclu��dos at�� l��.
��� Somente eu devo acionar o reator.
��� Claro, Sr. Crane. A id��ia foi sua e deve ter a honra de
apertar o bot��o.
Judd pensou por um momento.
��� O Projeto Xanadu ��� murmurou ele, quase para si mesmo.
��� J�� se passaram tr��s anos.
��� Isso mesmo, Sr. Crane. A princ��pio, n��o entendi o significa-
do do nome Xanadu. Depois li o poema e compreendi. Mas seu
sonho �� maior que o de Kublai Khan.
��� Quero relat��rios semanais, daqui por diante.
��� N��o h�� problema, Sr. Crane. ��� Schoenbrun sorriu afetada-
mente para si mesmo. ��� Ningu��m poderia acreditar. �� a mais
potente usina de energia nuclear do mundo, enterrada no fundo da
terra, a mil e 500 quil��metros pela selva amaz��nica.
��� Sem o trabalho pioneiro de Ludwig, o nosso talvez nunca
fosse tentado ��� comentou Judd.
��� Seu g��nio tornou tudo poss��vel, Sr. Crane. Mesmo que eu
mal possa acreditar que temos uma usina t��o automatizada que basta
um ��nico homem para oper��-la.
��� N��o subestime o seu pr��prio g��nio e trabalho, Dr. Schoen-
brun. Talvez o mundo algum dia venha a apreci��-lo. Como eu fa��o
agora.
��� Obrigado, Sr. Crane.
Schoenbrun hesitou por um instante. Judd apressou-se em
falar, pois podia prever o que o cientista diria:
��� Cinco milh��es de d��lares ser��o transferidos para sua conta
na Su����a esta manh��. N��o se esque��a de que outros cinco milh��es de
d��lares ser��o depositados no momento em que eu apertar o bot��o
que aciona o reator.
��� Obrigado, Sr. Crane ��� disse Schoenbrun, quase fazendo
uma rever��ncia na tela.
��� At�� a pr��xima, Dr. Schoenbrun.
Judd apertou uma tecla do computador e a liga����o foi cortada.
239
Passou as outras mensagens rotineiramente e chamou o Controle de
Seguran��a. O diretor entrou na linha.
��� John? Aqui �� Judd Crane.
��� Pois n��o, Crane. ��� O diretor de Seguran��a era sempre
cauteloso. ��� Estamos numa linha segura, senhor?
��� Estamos, sim. Pode falar.
��� Nossa doutora est�� outra vez numa encrenca.
��� Explique.
��� Ela est�� sendo alvo de quatro contratos. R��ssia, Jugosl��via,
China e a M��fia, contratada pelos cubanos. �� uma combina����o dif��cil
de vencer.
��� N��o estou entendendo, John. Por que logo agora? Ela
passou tr��s anos em Bangladesh, onde poderiam liquid��-la facil-
mente.
��� Ao que parece, est��o convencidos de que ela roubou alguns
documentos ultra-secretos, cuja falta s�� descobriram recentemente.
Pelo que posso calcular, os documentos tinham alguma rela����o com
as experi��ncias da falecida Dra. Zabiski.
��� Devem saber dos arquivos que Zabiski me deu.
��� N��o, n��o foi isso. Eles j�� sabem dessa parte. Eu diria que
somente uma parte dos arquivos est�� em seu poder. Permitiram que
Zabiski lhe desse isso a fim de que concordasse em lhe devolver
Ivancich.
Judd ficou em sil��ncio por um momento.
��� E onde est�� o resto dos documentos?
��� Creio que com Ivancich. Caso contr��rio, por que eles
estariam querendo peg��-la agora? ��� O diretor da Seguran��a fez uma
pausa. ��� Acho melhor refor��armos as medidas de seguran��a em
torno da Ilha Crane. Eles n��o levar��o muito tempo para descobrirem
onde ela se encontra.
��� Sawyer j�� sabe disso?
��� Ainda n��o. Voc�� �� o chefe, o primeiro a receber as not��cias.
��� N��o diga nada a ele por enquanto. N��o quero deix��-lo
nervoso. Mas providencie uma prote����o completa para ele. N��o
quero que ningu��m o desmonte numa tentativa de arrancar informa-
����es.
��� Pois n��o, senhor. E a Ilha Crane?
��� Quatro helic��pteros blindados no c��u sobre a ilha durante
24 horas por dia. Oito lanchas blindadas de alta velocidade na ��gua,
240
tamb��m 24 horas por dia. E 20 dos nossos melhores atiradores
espalhados pela ilha, tamb��m dia e noite.
��� Precisaremos de seis horas para providenciar tudo isso,
senhor.
��� Tem duas horas. Podemos n��o dispor de seis horas.
241
10
A v o z DE SOFIA ao telefone era furiosa:
��� Aquela cadela velha! Ela sacaneou todos n��s!
A voz de Judd soou impass��vel no fone em seu ouvido:
��� E o que h�� de novidade nisso?
��� Voc�� n��o parece excitado. Talvez n��o tenha entendido o
que eu falei. Ela nunca planejou que voc�� tivesse todas as respostas.
��� N��o sou est��pido. J�� sabia disso. Por que acha que lhe pedi
para vir at�� aqui? Pensei que tivesse algumas das respostas. N��o foi o
que roubou dos arquivos dos russos?
��� Como soube disso?
��� N��o importa agora. Metade do mundo oriental est�� atr��s de
voc��. N��o tem onde se esconder, a n��o ser comigo.
��� Foi isso que o Departamento de Estado lhe informou?
��� Em parte. O que me diz dos seus arquivos?
��� Vou us��-los. Mas n��o ser�� suficiente. H�� uma terceira
parte. Mas acho que sei onde se encontra.
��� Pois ent��o me diga. ��� A voz de Judd era- incisiva. ��� Com
quem est��?
��� O indiano mencionado em seus arquivos. N��o havia qual-
quer refer��ncia a ele nos documentos que ficaram com os russos.
Seus arquivos cobrem tudo, desde o in��cio de 1953 em diante. Os
russos t��m as mesmas informa����es que voc��, menos a alus��o ao
indiano. Os arquivos deles remontam a 1944, quando capturaram um
laborat��rio experimental alem��o em que a Dra. Zabiski trabalhava.
��� Ela trabalhava com os alem��es? ��� indagou Judd, surpreso.
��� Isso mesmo ��� respondeu Sofia, calmamente. ��� Por que
242
isso o surpreende? Os americanos n��o capturaram todos os cientistas
alem��es especializados em foguetes e os trouxeram para os Estados
Unidos?
��� Est�� bem, est�� bem... ��� murmurou Judd, impaciente. ���
Mas, afinal, o que voc�� est�� tentando me dizer?
��� Os russos capturaram a Dra. Zabiski e alguns outros
cientistas, mas os arquivos de 1941 a 1943 jamais foram encontrados.
Ela disse que foram queimados, juntamente com um cientista indiano
que os nazistas consideraram n��o-ariano. Mas acho que ela deu jeito
para que o indiano escapasse, levando os arquivos, antes de os russos
chegarem.
��� Ent��o como ela conseguiu fazer alus��o ao indiano nos meus
arquivos?
��� Examine o seu original. As anota����es sobre o indiano foram
escritas por ela com uma caneta esferogr��fica. O resto est�� datilogra-
fado ou escrito com uma caneta-tinteiro. Meu palpite �� de que ela
acrescentou as anota����es no avi��o, quando vinha encontr��-lo. E
tamb��m tenho a impress��o de que o indiano n��o era um dos m��dicos
da equipe. De alguma forma, ele garantiu o sucesso das experi��ncias
da Dra. Zabiski. E foi por isso que ela quis salv��-lo.
��� O que aconteceu com os outros?
��� Encontrei nos arquivos russos alus��es a muitas experi��ncias
que foram sepultadas com os cientistas que as realizaram. ��� Sofia
pensou por um momento. ��� Voc�� tinha raz��o quando disse que ela
era uma mulher forte e dura.
��� E era mesmo.
��� Mas era tamb��m um g��nio. E voc�� foi o ��nico em quem ela
mais confiou.
��� Mas calculo que n��o o suficiente para me entregar tudo.
��� Talvez ela n��o fosse capaz de p��r todas as informa����es num
s�� lugar. Se o fizesse, os russos poderiam se apoderar e ela n��o sabia
como as usariam. Voc�� era o ��nico homem no mundo a quem ela
achava que podia confiar esse poder. ��� Sofia fez uma pausa. ��� O
que vamos fazer agora?
��� Por que n��o tentou entrar em contato comigo antes?
��� Tentei uma vez. Mas n��o dispunha de tempo suficiente e
n��o consegui localiz��-lo. Tive de voltar logo, pois ainda era a m��dica
de Brezhnev. Depois que ele morreu, fui enviada a Bangladesh, a fim
de trabalhar em experi��ncias nutricionais numa cl��nica infantil.
243
Quando recebi sua mensagem, larguei tudo de madrugada. Se
esperasse at�� o dia seguinte, estaria tudo acabado para mim. Eles
interceptariam a sua mensagem e me matariam. Por mais ��til que eu
lhes fosse, ainda sabia demais.
Judd ficou calado. Sofia sentia-se agora extremamente cansada.
��� Acho que est�� acabado agora. Talvez seja melhor eu voltar.
Voc�� pode ficar com os arquivos. Iria obt��-los de qualquer maneira,
se eu morresse.
��� Prefiro v��-los com voc�� ainda viva. N��o pretendo perd��-la
agora.
��� Fala s��rio?
��� N��o ouviu o que acabei de dizer? ��� respondeu Judd,
bruscamente. ��� Agora, tranque a porta de sua sala e n��o a abra at��
ouvir minha voz do lado de fora.
O telefone estalou em seu ouvido. Lentamente, Sofia rep��s o fone no
lugar e come��ou a se levantar. Houve uma batida suave na porta. Ela
abriu a bolsa e tirou a Magnum especial, de cano curto, estendendo-a
para a frente, segurando-a com as duas m��os.
��� Quem ��?
��� Max, doutora. ��� A voz soou abafada atrav��s da porta. O
Sr. Crane pediu que viesse lhe trazer o almo��o.
��� Entre ��� disse Sofia, calmamente. ��� A porta est�� aberta.
A porta se abriu e ela viu-o, uma das m��os se estendendo para
alguma coisa no bolso interno do casaco. Uma express��o de surpresa
estampou-se em seu rosto ao avistar a arma nas m��os de Sofia. Foi a
��ltima coisa que ele viu.
A bala de grosso calibre arremessou-o pela porta aberta de
volta ao corredor, o sangue se derramando pelo peito do casaco
branco. Ele girou, apoiando-se na parede do outro lado, depois
escorregou lentamente para o ch��o, diante das portas do elevador. O
tiro ressoou pelos corredores como uma explos��o.
Sofia permaneceu na sala, ainda segurando a arma rigidamente.
Ouviu passos r��pidos se aproximando pelo corredor. As portas do
elevador se abriram um instante depois.
Fast Eddie, empunhando a sua enorme autom��tica Colt, saiu
rapidamente, passando por cima do corpo de Max. Ajoelhou-se ao
lado, no corredor, enquanto os guardas se aproximavam correndo.
Judd, logo atr��s deles, correu para as portas do elevador. Ele sentiu
244
mais do que viu a porta no canto do corredor se abrir e gritou para
Fast Eddie:
��� Atr��s de voc��!
Fast Eddie virou-se, mas Sofia foi ainda mais r��pida. Puxou o
gatilho da Magnum no instante em que Mae apareceu na porta, a
pistola-metralhadora Uzi se levantando em suas m��os j�� mortas. O
tiro novamente ressoou como uma explos��o pelos corredores. Mae
cambaleou de volta ao interior da sala, a Uzi caindo ao ch��o
ruidosamente. Fast Eddie olhou para Mae e depois virou-se para os
outros, anunciando:
��� Ele tamb��m se apagou.
Judd passou por cima do corpo de Max e aproximou-se de
Sofia. Podia perceber a palidez extrema em seu rosto, a tens��o r��gida
do corpo. Ele estendeu a m��o e pegou a Magnum, murmurando:
��� E pensei que n��s ter��amos de proteg��-la...
A tens��o se desvaneceu do corpo de Sofia, o medo desapareceu
de seus olhos. Ela deixou escapar um suspiro e disse, com uma
tentativa de sorriso:
��� Calculei que essa �� a ��nica maneira, se voc�� quer viver
eternamente, Judd.
��� Eles n��o estavam atr��s de mim.
��� As balas sempre encontram um meio de alterar a expectativa
de vida. �� preciso ter o m��ximo de cuidado.
Ele olhou para a Magnum. Puxou a trava e abriu o cilindro.
Virou o cano para cima e deixou as balas ca��rem em sua palma. Havia
quatro balas n��o disparadas e dois cartuchos vazios. Ele examinou as
balas e depois levantou os olhos para Sofia.
��� Muito eficiente. Balas explosivas. Tudo nesta arma ��
especial. Onde a conseguiu?
��� No KGB. Eles t��m um homem que se especializa em
brinquedos assim.
��� J�� a tem h�� muito tempo?
��� Dez anos. Mas �� a primeira vez que a uso, a n��o ser em
exerc��cios.
Judd largou a arma e as balas no bolso do seu macac��o. Virou-
se para o corredor. Estava repleto de guardas. Ele gesticulou para
Fast Eddie e disse, pegando a m��o de Sofia:
��� Vamos para a minha sala.
245
Ela seguiu-o para o elevador. Fast Eddie entrou atr��s deles.
Judd p��s a m��o sobre o bot��o, sem apert��-lo.
��� Qual de voc��s �� o encarregado deste turno?
��� Sou eu, Sr. Crane ��� disse um homem alto e forte, de
cabelos grisalhos. ��� Agente Carlin.
��� Limpe toda essa confus��o, Agente Carlin. E depois envie um
grupo ao chal��. Revistem tudo l�� e tragam as coisas da Dra. Ivancich
para o meu apartamento.
��� Pois n��o, senhor. Lamento profundamente o que aconteceu,
mas n��o havia como prever. Eles tinham os passes de seguran��a.
��� A culpa n��o �� sua, Agente Carlin. Falarei com o Controle de
Seguran��a.
Judd finalmente apertou o bot��o e as portas do elevador
fecharam.
246
11
��� L A M E N T O MUITO, Sr. Crane ��� disse John, calmamente. ���
Receio que ter�� de se livrar da ilha. N��o h�� a menor possibilidade
de podermos defend��-la.
Judd correu os olhos pela biblioteca. Merlin sentava-se ao
lado de John, o diretor da Seguran��a, em cadeiras diante de sua
mesa, Sofia e Doc Sawyer estavam no sof��. Fast Eddie estava de p��,
encostado no bar. Judd virou-se para as janelas e contemplou o c��u
noturno. O mar estava escuro e amea��ador, nuvens cobriam a lua.
��� N��o sei como os dois passaram pela rede de seguran��a, mas
a verdade �� que conseguiram ��� continuou John. ��� N��o se
encontrou nada que lhes pertencesse no chal��. Temos de presumir
que fizeram contato com seu pessoal em Havana. As impress��es
digitais que conferimos nos arquivos do FBI identificaram-nos como
integrantes da primeira leva de refugiados que Castro despachou
para os Estados Unidos, ao longo de um per��odo de 10 anos.
John fez uma pausa. Estava visivelmente constrangido.
��� N��o sei como eles conseguiram passar por nossa investiga-
����o. Mas o fato �� que erramos nessa e tudo o que posso dizer �� que
lamento muito, senhor.
Judd fitou-o sem qualquer express��o.
��� Preciso de mais dois meses aqui.
��� Poder��amos colocar um ex��rcito aqui que de nada adianta-
ria, senhor. Eles poderiam p��r mais de uma centena de homens na
ilha da noite para o dia. A ��nica maneira que tenho de garantir a sua
prote����o �� mant��-lo em movimento.
Sofia levantou-se e olhou para Judd.
247
��� Deixe-me voltar. Sou a pessoa que eles querem. Poder��
ent��o cuidar do que lhe interessa sem qualquer interfer��ncia.
Judd sorriu para ela.
��� Est�� enganada. Se isso fosse verdade, por que eles coloca-
riam agentes na ilha muito antes de desconfiarem que voc�� viria para
c��? Tenho o pressentimento de que querem n��s dois, separadamente
ou juntos... mas ambos.
��� Concordo plenamente com o Sr. Crane ��� disse John. ��� O
objetivo deles vai muito al��m de sua pessoa, doutora.
��� Mesmo que eu levasse para eles todos os arquivos? ���
perguntou Sofia.
��� N��o sei o que h�� nesses arquivos ��� disse John. ��� Mas n��o
importa o que lhes entregue, eles continuar��o a pensar que n��o
receberam tudo.
Sofia virou-se para Judd.
��� Sinto muito.
��� N��o precisa. Lembre-se de que fui eu quem a convidou a vir
para c��. ��� Judd virou-se para Doc Sawyer. ��� Quando acha que
podemos transferir todo o equipamento para Xanadu?
��� Xanadu? J�� est�� pronto?
��� N��o completamente. Mas podemos apressar os planos.
Talvez n��o seja poss��vel ligar tudo imediatamente, mas podemos nos
instalar l��.
Sawyer pensou por um momento.
��� Duas semanas para desmontar tudo aqui, talvez uma
semana para transferir tudo, depois umas duas ou tr��s semanas para
remontar em Xanadu.
��� Um m��s e meio?
��� Por a��.
��� Xanadu? ��� interveio Sofia perplexa.
��� Eu lhe contarei tudo no momento oportuno ��� disse Judd.
��� Mas descobri, quando ainda constru��amos as instala����es na ilha,
que Zabiski n��o estava inteiramente correta em suas suposi����es. Ela
pensava apenas em termos dos seus pr��prios par��metros. A Ilha
Crane ficaria exposta ao mundo, assim como era a sua cl��nica. Ela
achava que cinco quil��metros ao largo da costa proporcionariam
prote����o e privacidade suficientes. Estava enganada. E eu tamb��m.
Pelo menos a princ��pio.
248
��� E come��ou ent��o a construir outro complexo para substituir
este?
Judd confirmou com um aceno de cabe��a, depois virou-se para
John.
��� Acha que podemos continuar aqui por mais seis semanas?
��� N��o. ��� O tom era categ��rico. ��� Voc�� precisa se manter em
movimento. E ningu��m deve saber para onde vai, como ou quando
vai partir.
��� Mas o que me diz do equipamento? ��� indagou Judd. ���
Mesmo que eu fosse embora, eles viriam aqui, se pensassem que
continuo na ilha.
��� Deixar��amos que constatassem que j�� foi embora. E depois
ter��amos de ser r��pidos e furtivos. Num momento eles o v��em, no
instante seguinte j�� n��o encontram. Move-se mais depressa que a luz.
Judd n��o fez qualquer coment��rio. Merlin levantou as m��os e
interveio na conversa:
��� E o que acontecer�� com os neg��cios... as empresas?
��� Teremos de encontrar um meio de nos mantermos em
contato. Enquanto isso, tentamos descobrir um meio de descarregar-
mos tudo o que for poss��vel, exceto as empresas m��dicas e de
comunica����es.
��� Estar�� perdendo mais de quatro bilh��es de d��lares ���
protestou Merlin.
��� Qual a diferen��a entre quatro bilh��es de d��lares e quatro
centavos para um morto? ��� Judd virou-se para John. ��� Comece a
tomar todas as provid��ncias. Quero estar fora da ilha amanh��.
��� E qual ser�� a primeira escala?
��� Washington. Qual a maior visibilidade que eu poderia
alcan��ar do que um encontro com o presidente dos Estados Unidos
na Casa Branca?
��� Eu gostaria de fazer em voc�� uma tomografia cerebral
computadorizada ��� disse Sawyer. ��� Posso dar um jeito para se fazer
em Washington. Levar�� apenas 10 minutos e pode ser feita a caminho
da Casa Branca ou quando voltar ao aeroporto.
Judd olhou para John.
��� Acha que podemos dispor desse tempo?
John assentiu.
��� D��-se um jeito.
249
��� Muito bem. ��� Judd tornou a olhar para Sawyer. ��� J�� est��o
prontos os testes sobre a reconstru����o celular qu��mica?
��� Est��o, sim. O departamento de engenharia DNA informou
que sa��ram perfeitos. N��o h�� como se distinguir as c��lulas naturais
das artificiais.
Sofia olhou de um para outro.
��� Come��o a sentir que estou por fora das coisas aqui. Est��o
muito �� minha frente.
��� Nem tanto ��� disse Sawyer. ��� Moscou tem um projeto
similar em andamento.
��� Nada sei a respeito.
��� Talvez seja por isso que a despacharam para Bangladesh ���
comentou Judd. ��� Mas se ficar conosco, pegar�� tudo num instante.
��� S�� h�� uma coisa a lembrar ��� acrescentou Sawyer. ��� Trata-
se simplesmente de testes de laborat��rio. As c��lulas nunca foram
usadas clinicamente em seres humanos. Somente em camundongos
em laborat��rio.
��� E planeja usar em voc�� mesmo? ��� perguntou Sofia a Judd.
��� No momento, n��o. �� apenas um recurso se n��o pudermos
conseguir a coisa genu��na.
��� Ainda bem. Acho que j�� fez experi��ncias demais com voc��
mesmo.
Judd olhou para o rel��gio.
��� Uma hora da madrugada. Acho melhor todos dormirmos
um pouco. Voltaremos a nos encontrar ��s sete da manh��.
Os outros se despediram e apenas Sofia e Fast Eddie permane-
ceram na biblioteca com Judd. Ele olhou para Sofia.
��� Fast Eddie a levar�� a seu quarto.
Ela se levantou, seguiu para a porta, parou e virou-se para Judd
antes de sair.
��� O que acontecer�� com as garotas?
��� Elas voltar��o para casa.
��� Mas Amarinth... ��� Sofia respirou fundo. ��� Ela o ama.
Judd fitou-a nos olhos.
��� N��o temos alternativa. J�� estamos com problemas suficien-
tes para nos mantermos vivos. N��o h�� possibilidade de levarmos
excesso de bagagem.
��� Excesso de bagagem, Judd? Ela �� um ser humano.
��� Sei disso ��� respondeu Judd, gentilmente. ��� Mas prefiro
250
que ela esteja em casa e viva do que se arriscando a morrer aqui. Se
tivermos algum problema, ela pode ser a primeira a tombar. ��
inocente demais, n��o tem qualquer defesa.
Sofia tornou a respirar fundo.
��� Ela ficar�� magoada. N��o entender��. E chorar�� muito.
Os olhos azuis de Judd se tornaram muito escuros.
��� Eu choraria ainda mais se fosse a causa de sua morte.
251
12
��� E L E PARECE muito bem ��� comentou Barbara, olhando para a
tela da televis��o. ��� O tempo p��ra no seu caso. Sei que ele est��
com 49 anos, mas continua o mesmo que aos 40 anos.
Os olhos de Sofia permaneceram fixados na tela.
��� Fisicamente, ele parece o mesmo, mas por dentro est��
diferente. Psicol��gica e mentalmente. Parece ter-se abstra��do emo-
cionalmente.
Barbara observou Judd trocar um aperto de m��o com o
presidente. Depois que o presidente acenou em despedida e tornou a
entrar na Casa Branca, Judd desceu os degraus para enfrentar o
batalh��o de rep��rteres e cinegrafistas.
��� Foi uma visita de car��ter pessoal ao presidente ��� respondeu
Judd ��s diversas perguntas. ��� N��o falamos de neg��cios.
��� N��o pediu a opini��o do presidente sobre a venda das
empresas Crane de engenharia e constru����o aos japoneses? ���
perguntou um rep��rter.
��� N��o. E o presidente tamb��m n��o ofereceu qualquer opi-
ni��o. Esses assuntos s��o sempre tratados pelos meus advogados e o
Departamento de Justi��a.
��� Parece-me que est�� se livrando das empresas de seu
imp��rio, Sr. Crane ��� disse outro rep��rter. ��� A comunidade
financeira est�� muito preocupada com isso.
��� N��o vejo motivo para preocupa����o. A decis��o �� apenas uma
entre v��rias outras que venho tomando. E como as companhias s��o
de minha inteira propriedade, isso n��o afeta o mercado de a����es ou
qualquer outro setor da comunidade financeira.
252
��� Mas as suas companhias est��o consideradas entre as mais
lucrativas do mundo ��� disse o rep��rter do Wall Street Journal. ��� Por que est�� querendo se livrar delas?
Judd virou-se para o rep��rter.
��� Seria demais se eu lhe dissesse que come��o a sentir a
responsabilidade por todas essas companhias... que o peso se tornou
excessivo para mim? Que n��o tenho tempo suficiente para viver a
minha pr��pria vida? Que somente se me afastar das atividades
empresariais �� que poderei viver de acordo com as minhas inclina����es
pessoais?
��� E tem muitos planos para o futuro?
��� Muitos. Mas uma coisa de cada vez. H�� quest��es mais
imediatas. Mais tarde, cuidarei de meus planos.
��� Conversou com o presidente sobre tudo isso?
��� Como j�� falei antes, foi uma visita pessoal. Nada mais. ���
Judd fez uma pausa. ��� Isso �� tudo o que tenho a dizer, senhores.
Obrigado.
Ele passou pelos rep��rteres, entrou na limusine �� espera e
desapareceu por tr��s das janelas escuras. O carro come��ou a se
afastar. Barbara desligou a televis��o.
��� �� sempre assim ��� comentou ela. ��� Judd n��o diz nada.
��� Ele n��o conta nada a ningu��m ��� disse Sofia. ��� Nem
mesmo a Merlin e Doe Sawyer.
Barbara foi at�� a caixa na mesa onde estavam os cassetes e
cadernos de anota����es.
��� Isso �� tudo que ele queria que voc�� pegasse?
Sofia assentiu. Barbara fitou-a nos olhos.
��� N��o acha que deveria lhe contar sobre a crian��a?
Sofia sacudiu a cabe��a.
��� Tenho medo dele. Tenho medo do que ele poder�� pensar se
descobrir. Ningu��m sabe o que se passa dentro de sua cabe��a. Ele
pode estar vivendo �� beira da sanidade.
��� Talvez a crian��a o traga de volta ��� sugeriu Barbara.
��� Tenho medo de correr o risco. Voc�� contaria?
Barbara suspirou.
��� �� triste, muito triste. Ele foi um menino lindo. Os olhos s��o
do mesmo azul-cobalto do pai.
Os olhos de Sofia ficaram enevoados.
��� Eu gostaria de v��-lo. Mas sei que n��o devo. Se o visse,
253
tenho certeza de que n��o seria capaz de deix��-lo. ��� Ela respirou
fundo. ��� Talvez com o tempo... talvez Judd venha a compreender.
Barbara balan��ou a cabe��a.
��� Judd lhe disse para onde voc�� vai?
��� N��o me falou nada. S�� sei que a Seguran��a me levar�� ao seu
encontro.
Barbara olhou pela janela da sala. As luzes pareciam uma fieira
de p��rolas pela Ponte Golden Gate. Ela virou-se para Sofia.
��� Onde est�� Judd agora?
��� N��o sei. A ��nica coisa que posso dizer �� que ele ia fazer uma
tomografia cerebral. N��o me falou para onde iria depois disso. ���
Sofia pensou por um momento. ��� Xanadu? Ele alguma vez lhe falou
sobre Xanadu?
��� Xanadu? ��� repetiu Barbara. ��� N��o �� um daqueles hot��is
que a empresa de turismo est�� construindo? Creio que fica em
Bras��lia.
��� N��o se trata de um hotel. Pelas conversas com Sawyer,
pareceu mais um laborat��rio. Alguns dos equipamentos da Ilha
Crane deveriam ser enviados para l��.
��� Ent��o n��o sei. Perguntou a ele?
��� Perguntei, mas ele sempre disse que eu saberia na ocasi��o
oportuna.
��� Ent��o acho que ter�� de esperar. J�� me acostumei a esperar.
Mesmo quando ele era garoto, nada podia abrir-lhe a boca se n��o
queria falar sobre alguma coisa.
O telefone tocou. Uma voz soou pelo interfone:
��� A limusine da doutora chegou.
��� Obrigada ��� disse Barbara. ��� Ela j�� vai descer.
Sofia fitou-a, hesitante.
��� Tem uma fotografia do meu filho?
Barbara acenou com a cabe��a. Abriu uma gaveta da escrivani-
nha. A fotografia estava numa moldura de prata. Ela entregou a
Sofia, que estudou atentamente. E sussurrou:
��� Ele �� grande...
��� Lembre-se que ele est�� com quase tr��s anos. Mas �� mesmo
grande para sua idade. E muito inteligente.
��� Parece muito com Judd.
��� Deve dizer isso ao pai.
254
��� Ele nunca me perdoaria. Especialmente porque tudo foi
feito ��s escondidas.
Ela devolveu a fotografia a Barbara, que lhe disse:
��� Pode ficar. Tenho outras.
Sofia sacudiu a cabe��a.
��� N��o tenho privacidade. N��o haveria qualquer lugar em que
pudesse escond��-la que n��o fosse parar nas m��os de Judd. Em algum
momento, talvez muito em breve, poderei contar a Judd. Mas n��o
agora.
Impulsivamente, Barbara abra��ou Sofia. Beijou-a no rosto. Por
um momento, as duas partilharam l��grimas. Sofia finalmente pegou a
caixa que continha as anota����es e cassetes. Esfor��ou-se ao m��ximo
para controlar a voz:
��� Nunca serei capaz de agradecer-lhe o suficiente.
Barbara n��o foi capaz de responder. Ela observou Sofia sair da
sala antes de tornar a guardar a fotografia na gaveta. Contemplou-a
por um instante e depois cobriu o rosto com as m��os.
��� Deus, por favor, Deus, ajude-os... ajude a todos n��s.
Os dois homens da Seguran��a aguardavam Sofia quando ela saiu da
casa. Acompanharam-na, um de cada lado, descendo os degraus.
Outro homem abriu a porta da limusine. Ao entrar no carro, Sofia
percebeu que mais dois carros acompanhavam a limusine, um na
frente e outro atr��s. Havia quatro homens em cada um.
Ela recostou-se no assento. Os dois homens que desceram a
escada acompanhando-a tamb��m embarcaram, sentando-se um de
cada lado. O seguran��a que abrira a porta fechou-a com presteza e foi
sentar-se na frente, ao lado do motorista. Todos os carros come��aram
a se deslocar lentamente pela rua.
��� Sou Brad, doutora ��� anunciou o seguran��a �� sua direita. ���
Meu companheiro �� Lance. Iremos juntos no avi��o para Los
Angeles.
��� �� para l�� que vamos? Eu n��o sabia.
��� Na verdade, pousaremos em Ont��rio. O aeroporto de Los
Angeles �� muito movimentado, tem tr��fego demais. ��� O seguran��a
puxou o assento lateral, a fim de poder fitar Sofia e olhar pela janela
traseira. ��� Ficar�� mais confort��vel assim.
Ele gesticulou para a caixa.
��� S��o os arquivos?
255
Sofia assentiu.
��� Deixe no carro quando formos para o avi��o. Ser��o entre-
gues no escrit��rio.
��� Est�� bem. ��� Ela viu o cartaz que indicava o caminho para a
Bay Bridge. ��� Estamos indo para o aeroporto de Oakland?
��� Isso mesmo. Temos um avi��o �� nossa espera ali.
Vinte minutos depois, o carro passou pelo port��o de entrada da
se����o de avi��es particulares. Contornou diversos hangares e foi parar
ao lado de um Lear Jet. Sofia estendeu a m��o para a porta. Brad
segurou-lhe a m��o.
��� Espere um momento, por favor.
Ela olhou pela janela do carro. Diversos seguran��as estavam
parados nas proximidades do avi��o, observando-os. Dois homens dos
carros de escolta saltaram primeiro e falaram com os outros. Um
deles subiu a escada do avi��o. Desapareceu no interior por um
momento, depois voltou e fez sinal a Brad.
��� Podemos saltar agora ��� disse Brad, abrindo a porta e
saindo na frente.
Ele ajudou-a a saltar e seguiu-a rapidamente pela escada,
entrando no avi��o. Ele virou-se e bateu no ombro do homem ainda
parado junto �� porta. O homem desceu a escada e Lance subiu. A
escada foi recolhida, a porta do avi��o fechada e trancada.
Sofia ocupou a primeira poltrona da pequena cabine e olhou
pela janela. Dois seguran��as dos carros de escolta sentaram-se no
banco traseiro da limusine. O carro come��ou a se afastar, enquanto o
motor a jato era ligado. Um momento depois, o avi��o come��ou a se
encaminhar para a pista.
Ela olhou para seu rel��gio. Faltavam 10 minutos para 10 horas.
O aviso para prender os cintos de seguran��a acendeu. Sofia assim o
fez. Logo o avi��o estava na cabeceira da pista, come��ou a correr,
adquirir velocidade e decolou. As luzes de San Francisco ficaram
para tr��s. Ela recostou-se na poltrona; sentia-se cansada.
��� Quanto tempo vamos levar?
��� Cerca de uma hora ��� respondeu Brad.
��� E para onde iremos depois?
��� N��o sei. Nossas ordens s��o para entreg��-la a outra equipe
da Seguran��a.
Sofia virou-se para a janela. Fechou os olhos e cochilou. Sentiu
256
uma picada na parte superior do bra��o. Abriu os olhos, aturdida.
Fitou Brad.
��� Mas o que...
��� N��o tenha medo ��� disse ele, gentilmente. ��� �� apenas uma
inje����o para ajud��-la a dormir.
E, um momento depois, Sofia estava adormecida.
257
13
Os OLHOS se abriram, devagar. A vis��o estava nublada a
princ��pio, depois se desanuviou rapidamente. Sofia contemplou o
azul suave do c��u, depois a claridade intensa do sol l�� fora. Antes
de ver a enfermeira se aproximar, um odor a que estava
acostumada lhe revelou que se encontrava num hospital.
A enfermeira era uma japonesa esguia num uniforme branco,
os cabelos pretos compridos descendo pelos ombros. A enfermeira
sorriu-lhe do lado da cama. Um bot��o vermelho pequeno brilhava na
touca branca.
��� Bom dia ��� disse ela, numa voz americana suave, sem
qualquer sotaque.
Ela pegou o telefone na mesinha-de-cabeceira e informou:
��� Dr. Walton, sua paciente j�� acordou.
Ela foi at�� o p�� da cama e apertou um bot��o. A cabeceira da
cama levantou-se.
��� Est�� mais confort��vel assim? ��� Uma pausa. ��� N��o tenha
medo. Est�� entre amigos.
A enfermeira tornou a sorrir e acrescentou:
��� Um copo de suco de abacaxi gelado vai anim��-la.
Sofia observou-a se retirar para uma pequena alcova. Ela tirou
da geladeira uma tigela de fatias de abacaxi. Jogou-as num centrifu-
gador e, um momento depois, levou o copo de suco a Sofia.
O suco foi revigorante. Sofia recebeu com a maior satisfa����o o
l��quido doce e gelado e esvaziou o copo. N��o imaginara que estivesse
t��o desidratada. Como se pudesse ler os pensamentos de Sofia, a
258
enfermeira repetiu todo o processo e entregou a Sofia outro copo de
suco.
Sofia bebeu mais devagar desta vez. Ao mesmo tempo, correu
os olhos pelo quarto. N��o era um quarto de hospital convencional:
paredes de um azul-claro, suaves quadros tropicais, mesa e cadeiras
de lucite, uma poltrona confort��vel para se ler. Ela tornou a olhar
para a enfermeira:
��� Onde �� o banheiro?
A enfermeira abriu uma porta. Sofia viu os ladrilhos em padr��o
tropical. Tentou sentar-se na cama.
��� Se estiver tonta ��� avisou a enfermeira ��� deixe-me ajud��-
la.
Sofia sacudiu a cabe��a por um momento.
��� Acho que n��o terei problemas. ��� Ela se sentou, apoiando-
se na beira da cama por um instante. ��� Estou bem.
��� Tem tempo para tomar um banho de chuveiro, se quiser. O
Dr. Walton ainda ficar�� na cirurgia por mais 10 minutos.
Ainda um pouco tr��pega, Sofia encaminhou-se para o banhei-
ro, virando a cabe��a a fim de olhar pela janela. Avistou uma praia de
areia branca, palmeiras margeando o caminho ao longo, pr��dios altos
pela curva.
��� Onde estamos? ��� perguntou ela, em tom meio de gracejo.
��� Isto �� Santa M��nica?
A voz da enfermeira era americana, mas o riso foi tipicamente
japon��s.
��� Est�� muito longe de Santa Monica ��� disse ela, gesticulando
para a janela. ��� Acha que parece com Santa Monica?
��� N��o sei. Nunca estive em Santa Monica.
A enfermeira sorriu, apontando.
��� Aquela colina que desce para o mar �� Diamond Head.
��� Hava��?
A surpresa era patente na voz de Sofia.
��� Honolulu. Seu quarto est�� praticamente no centro da praia
de Waikiki.
Sofia contemplou a praia por um momento, depois tornou a
olhar para a enfermeira.
��� H�� quanto tempo estou aqui?
��� Entrei em servi��o ��s sete horas da manh�� e voc�� ainda
259
dormia. ��� A enfermeira riu. ��� Segundo a carta, voc�� foi internada
��s duas horas da madrugada.
��� N��o me lembro de nada.
��� A enfermeira do plant��o noturno disse que voc�� estava
dormindo quando foi internada. ��� A enfermeira tornou a rir. ���
Deve ter tido a maior festa de despedida que j�� houve por aqui, Sra.
Evans.
Sofia fitou aturdida. Sra. Evans? O som era parecido: Ivancich.
��� Acho que preciso de um banho de chuveiro.
��� Certamente vai reanim��-la. Enquanto isso, pedirei o caf�� da
manh��. Ovos mexicos com bacon, torradas e caf�� est�� bom?
��� Muito caf��. E bem forte.
A japonesinha tornou a rir.
��� N��s nos especializamos em caf�� forte, Sra. Evans. �� o caf��
Kona, o mais forte do mundo, cultivado aqui no Hava��.
��� Terei tempo antes do m��dico chegar?
��� O suficiente. Dez minutos para o Dr. Walton �� mais para
meia hora. Encontrar�� toalhas limpas e um lindo roup��o de seda ��
sua espera no banheiro.
Sofia estava na terceira x��cara de caf�� quando soou a batida do
m��dico na porta. A enfermeira abriu-a. Ele ainda estava al��m da
porta quando Sofia ouviu sua voz meio familiar:
��� Pode tirar uma folga por alguns minutos, Jane. Eu a
chamarei depois que acabar de conversar com a Sra. Evans.
O m��dico entrou no quarto e fechou a porta, indagando com
um sorriso:
��� Teve uma boa noite de sono, Sra. Evans?
��� Brad? ��� perguntou Sofia, surpresa.
��� Dr. Walton.
��� Isso n��o se faz. N��o sou mais uma crian��a. Poderia ter sido
informada.
��� Achamos que seria mais seguro se a mantiv��ssemos imobili-
zada, ao inv��s de andando normalmente, quando um reconhecimen-
to acidental poderia criar problemas. Depois de ser invis��vel, a
melhor coisa �� ser paciente numa maca bem coberta.
��� Ningu��m estava nos incomodando.
��� Gra��as a seu amigo. Ele �� o chamariz. Havia alguns agentes
260
seguindo-o, na esperan��a de que ele os levasse a voc��. Felizmente,
ele n��o era o alvo, mas sim voc��.
��� �� realmente um m��dico ou um agente de seguran��a?
��� Sou de fato um m��dico. ��� Ele sorriu. ��� Agindo tamb��m
como agente de seguran��a.
��� O que acontece agora?
��� Tentarei explicar com toda a simplicidade poss��vel. O
governo dos Estados Unidos tem um programa especial administrado
em conjunto pelos departamentos de Estado, Defesa e Justi��a. Cada
departamento, por motivos pr��prios, precisa freq��entemente de urna
troca de identidades antigas por novas. Seja bem-vinda a esse
programa, Sra. Marissa Evans.
Sofia fitou-o espantada.
��� E foi nosso amigo quem providenciou isso?
��� Exatamente.
��� Mas como? Afinal, �� um programa do governo.
��� Ele tem muitos amigos. E o governo concorda que voc��
precisa dos servi��os do programa.
��� Quer dizer que voc�� �� um agente do governo?
��� N��o �� bem assim. Digamos que se trata apenas de mais uma
atividade secund��ria.
Sofia permaneceu em sil��ncio por um momento, depois levan-
tou-se e foi at�� a janela. Sem se virar, ela disse:
��� Fale-me mais a respeito dessa identidade que planejou para
mim.
��� N��s a mudamos completamente... fisicamente, a personali-
dade, os antecedentes. N��o �� suficiente mud��-la cosm��ticamente.
Um gesto da m��o, a maneira como anda ou fala, qualquer coisa assim
pode denunci��-la a um perito. Assim, ensinamos outras maneiras de
substituir os h��bitos antigos. E, finalmente, a projetamos em outro
ambiente, onde formar�� outra vida. Poder�� assim viver em seguran-
��a. Longe dos perigos que agora a amea��am.
Sofia continuou olhando pela janela.
��� Isso significa que nunca poderei voltar? Nem para ningu��m
nem para qualquer coisa de que j�� gostei?
��� Exatamente.
Ela finalmente virou-se, fitando-o nos olhos.
��� E se eu n��o quiser ser outra pessoa? E se eu gostar de mim
do jeito que sou?
261
��� N��o �� uma prisioneira. Pode passar pela porta no momento
em que quiser. Mas lembre-se de que garantimos sua seguran��a,
onde outros amea��am sua vida.
Sofia ficou calada, observando-o.
��� E �� claro que ficaria entregue �� sua pr��pria sorte. N��o h��
nada ou ningu��m que possamos providenciar para ajud��-la.
��� Nem mesmo nosso amigo? �� o que ele tamb��m diz?
��� N��o posso falar por ele. S�� falo pelo programa.
Sofia fixou outra vez os olhos dele.
��� Tamb��m sou m��dica. Trabalhei como m��dica por toda a
minha vida, tentei alargar as fronteiras da exist��ncia do homem por
toda a minha vida. Se o seu programa n��o me permite trabalhar em
meus sonhos, ent��o a seguran��a nada significa para mim. Minha vida
nada significa para mim.
��� Seu trabalho �� uma das primeiras coisas a que ter�� de
renunciar. �� revelador demais. ��� Ele fez uma pausa. A voz era
suave quando tornou a falar: ��� Posso compreend��-la, doutora. Mas,
por favor, pense um pouco no programa, antes de rejeit��-lo. H��
muitas outras coisas bonitas na vida.
A voz de Sofia soou decidida:
��� N��o para mim.
��� Muito bem, a decis��o �� sua. Mas pelo menos deixe-me
ajud��-la. Talvez eu possa lhe oferecer uma pequena vantagem.
��� Como?
��� Parecendo como est�� agora, eles a pegariam tr��s dias depois
que aparecesse em p��blico. Sugiro que efetuemos algumas ligeiras
altera����es cosm��ticas. Um pequeno lift facial, uma mexida nos olhos e nariz. Os dentes da frente ser��o diminu��dos e encapados. Depois
disso, disfar��aremos os olhos com lentes de contato castanhas,
cortaremos os cabelos louros compridos e lisos para curtos e
cacheados, pintaremos de castanhos. Ensinaremos a usar uma
maquilagem completamente diferente para complementar os cabelos
e os olhos mais escuros. ��� Ele fez uma pausa, sorrindo. ��� N��o ��
perfeito, mas constitui uma vantagem para voc��. Pelo menos eles
ter��o de olhar mais de uma vez para reconhec��-la. Especialmente na
medida que se acostumar �� nova identidade. Todos os documentos
novos que lhe providenciaremos tamb��m ajudar��o. Passaporte, uma
linha de cr��dito antiga num banco tradicional, cart��es de cr��dito em
lojas, carteira de motorista, todas essas coisas.
262
��� Tem permiss��o para fazer isso por mim, mesmo que eu n��o
concorde em aceitar o programa?
Ele hesitou por um instante.
��� N��o oficialmente.
��� Ent��o por qu��?
��� Conhe��o alguma coisa do trabalho que realizou. E respei-
to-a. �� uma m��dica de verdade. Seria lament��vel se fosse desperdi��a-
do todo o conhecimento que adquiriu.
Sofia baixou os olhos para suas m��os.
��� Obrigada, Brad. Quanto tempo tudo isso vai demorar?
��� Dez dias. Talvez menos. Depende da rapidez de sua
recupera����o.
Sofia respirou fundo.
��� Muito bem. Quando come��amos?
��� Amanh�� de manh��.
263
14
EXISTE UMA pequena praia chamada Paradise Cove, ao norte de
Malibu, na Estrada da Costa do Pac��fico. Nos fins de semana e
feriados, a pequena estrada de terra que leva �� praia fica atulhada
de carros, levando pessoas em busca do mar e do sol. Um pequeno
restaurante atende aos mais pr��speros e por isso a maioria de seus
fregueses �� de meia-idade. O maior n��mero de banhistas �� constitu��-
do por jovens, mais interessados nas ondas do que em comida.
Levam cestos com sua pr��pria comida ou procuram as barracas de
cachorro-quente e pizza nas proximidades do estacionamento extra-oficial.
Eram tr��s horas da tarde de s��bado e o sol come��ava a se
deslocar para oeste, incidindo forte sobre a praia e cozinhando os
corpos estendidos. N��o havia muitos surfistas porque as ondas
desciam suavemente no mar sereno. Ao norte, numa pequena
forma����o rochosa que levava a um penhasco, 60 metros acima das
��guas, em perpendicular, homossexuais e amantes encontravam
pequenos ref��gios para criar seus pr��prios mundos. Ocasionalmente,
os gritos estridentes das gaivotas, sobrevoando em busca de comida,
elevavam-se acima dos zumbidos das conversas e do barulho das
ondas.
Outro som veio do c��u. Os rotores de um helic��ptero. As
mulheres nuas pegaram seus biqu��nis, as de topless se cobriram apressadamente. Olhos se elevaram para o c��u. Um murm��rio de
desapontamento ergueu-se da praia quando o letreiro no lado do
helic��ptero se tornou vis��vel: IGREJA DA VIDA ETERNA. Alto-
264
falantes trovejaram a mensagem para a praia, enquanto o helic��ptero
se deslocava para o penhasco rochoso de 60 metros:
��� A IGREJA DA VIDA ETERNA LHES DESEJA PAZ!
E o helic��ptero deslizou para al��m do penhasco. A praia voltou
ao normal. Os nudistas voltaram a ficar nus, as garotas do topless
expuseram os seios jovens ao sol. Uma voz invis��vel soou estridente-
mente de um dos abrigos rochosos, um rapaz se queixando:
��� Mas que droga! Voc�� gozou na minha cara!
��� Idiota! ��� exclamou uma voz mais profunda. ��� N��o deveria
ter virado a cabe��a.
��� Mas pensei que fosse o helic��ptero da pol��cia!
Um tapa ecoou no penhasco.
��� Cale a boca!
Assim, a praia retornou aos sons normais. O que ningu��m na
praia notou nem ouviu foi um pequeno dirig��vel flutuando no c��u,
oculto pelo sol quente da tarde, a brilhar ardentemente por tr��s.
Judd, Fast Eddie e John sentavam num semic��rculo diante de uma
tela de televis��o de 50 polegadas. Por baixo de seus p��s estavam os
cabos da c��mera, com teleobjetivas de zoom, havendo ao lado um microfone direcional, coordenado com a imagem. O operador de
v��deo, mais �� frente, virou a cabe��a para tr��s e disse:
��� O helic��ptero est�� pousando. Devo focaliz��-lo?
��� Claro ��� respondeu Judd.
Todos observaram a tela. O som dos rotores saiu pelos alto-
falantes, enquanto o helic��ptero baixava lentamente para o alvo, 30
metros al��m do penhasco. A ventania das h��lices quase n��o levantou
areia. O aparelho pousou, o motor foi desligado, os rotores
lentamente pararam de girar. O som de vozes, cantando, alcan��ou o
microfone, enquanto a escada pequena descia da cabine para o ch��o.
Dois jovens altos, em t��nicas cinzentas compridas, desceram os
degraus. Eles se viraram e ajoelharam, as testas encostando no ch��o,
de frente para a porta do helic��ptero. O maharishi apareceu um momento depois. Ainda mais alto que os dois jovens, barba e cabelos
grisalhos agitados pela brisa em torno do rosto imponente, ele parou
em sil��ncio, escutando o canto das vozes jovens.
��� D�� uma panor��mica ��� disse Judd. ��� Quero ver as garotas.
A imagem se alargou na tela enorme. Havia 14 garotas, todas
usando saris de chiffon violeta. Todas tinham flores brancas presas 265
nos cabelos compridos. Cada uma segurava uma cesta de flores. As
palavras entoadas pelas vozes maviosas elevavam-se gentilmente pelo
ar:
��� Hare Krishna, Hare Krishna.
O maharishi, ainda emoldurado na porta do helic��ptero, olhou para as garotas, estendendo os bra��os em sua dire����o. Sua voz era
suave e rica:
��� Eu lhes desejo paz, minhas crian��as.
Em un��ssono, as mo��as se ajoelharam, viradas para ele, as
testas encostando no ch��o.
��� Toda paz vem do Pai. Todo amor vem do Pai.
O maharishi agradeceu ao cumprimento e fez sinal para que se levantassem. Ele come��ou a descer os degraus. As mo��as correram
em sua dire����o, jogando flores dos cestos em seu caminho. Os dois
jovens seguiram-no.
��� Ela est�� l��? ��� perguntou Judd a John.
��� Est�� sim. ��� John ordenou ao operador: ��� D�� um zoom na
garota do meio, na fila da direita.
Uma mo��a come��ou a preencher toda a tela. Era bonita, mas
muito parecida com as outras.
��� Como pode ter certeza? ��� indagou Judd. ��� Todas parecem
iguais para mim.
��� Observe.
Eles ficaram olhando e, um instante depois, a mo��a pareceu
cambalear ligeiramente. Uma das flores caiu dos cabelos. Enquanto
se ajoelhava para peg��-la e tornar a ajeit��-la nos cabelos, ela virou-se
parcialmente, como se procurasse deliberadamente ficar de frente
para a c��mera.
��� A�� est�� ela ��� confirmou John, sem qualquer express��o. ���
Eu sabia que a encontrar��amos. Alana �� provavelmente a melhor
garota que j�� tivemos.
Judd n��o desviava os olhos da mo��a.
��� Onde a encontrou?
��� Ela trabalhava no Departamento de Pol��cia de Nova York,
como agente secreta nas ruas. Quiseram que ela aceitasse um cargo
burocr��tico. Ela n��o quis. Gosta de a����o e veio trabalhar conosco.
��� Ela �� jovem ��� comentou Judd.
��� N��o t��o jovem quanto parece. Tem 25 anos.
266
��� Isso �� jovem. ��� Judd pegou o telefone e disse ao piloto: ���
Vamos voltar �� base.
John olhou para ele.
��� N��o quer dar uma olhada em toda a propriedade?
��� N��o temos isso filmado?
��� Temos.
��� Ent��o vamos ver no escrit��rio. L�� �� mais confort��vel do que
nesta lata de sardinhas.
O escrit��rio era no 18? andar de um edif��cio novo, todo de vidro,
verde, no Century Boulevard, perto da entrada do aeroporto de Los
Angeles. A sala de reuni��o ficava no meio do andar, n��o tinha
janelas. No centro da sala havia uma mesa grande, inteiramente
coberta por um mapa em baixo-relevo, feito de papier m��ch��, da Igreja da Vida Eterna e da ��rea ao redor. John foi apontando com
uma vareta de madeira:
��� A escala do mapa �� de 1 por 200. A linha vermelha mostra
os limites da propriedade, do penhasco se projetando pelo mar at�� os
port��es do caminho particular que sai da estrada. Notar��o dois
c��rculos amarelos. O maior indica o limite do penhasco em que o
helic��ptero pousou. O menor �� o limite da ��rea aberta em torno dos
port��es. As linhas amarelas s��o nossos alvos.
��� Por que n��o podemos simplesmente explodir os port��es? ���
perguntou Judd.
��� N��o �� t��o f��cil assim. H�� tr��s port��es com barras de a��o
refor��adas, seis metros de altura, cada um se abrindo na dire����o
oposta do seguinte, o primeiro para a direita o outro para a esquerda
e o terceiro novamente para a direita. S��o todos eletrificados, ligados
ao arame farpado no alto do muro de pedra que cerca a propriedade.
Est��o tamb��m ligados �� pol��cia de Malibu e aos corpos de bombeiros
de Malibu e Trancas. O maharishi cuidou para que tudo estivesse perfeitamente legalizado no ref��gio. �� desnecess��rio dizer que suas
rela����es com as autoridades locais s��o cordiais.
��� Como ent��o planeja entrar? ��� indagou Judd. ��� De p��ra-
quedas?
��� N��o. Primeiro, porque os avi��es seriam ouvidos, segundo,
porque precisar��amos de uma queda de pelo menos 60 metros para
manobrar os p��ra-quedas para os alvos. Temos de entrar em v��o
baixo e silenciosamente.
267
��� De que maneira se pode fazer isso?
��� Asa delta.
��� Boa id��ia.
O indicador encostou num pico no outro lado da Estrada do
Pac��fico, um pouco ao norte do refugio.
��� H�� um plat�� aqui, a cerca de 250 metros acima do penhasco
��� continuou John. ��� Tenho 10 homens que acham que podem
conseguir.
��� Mas eles precisam do vento certo ��� objetou Judd. ���
Cair��o inicialmente, mas n��o poder��o subir em seguida se n��o
encontrarem o vento apropriado.
��� J�� tenho duas catapultas armadas ali. Eles ser��o lan��ados
como as aeronaves de um porta-avi��es. E poder��o subir. ��� John
balan��ou a cabe��a, satisfeito. ��� O problema seguinte �� a seguran��a
do maharishi. Temos sorte numa coisa. Ele n��o permite armas de fogo ou de qualquer outro tipo. Mas todos os seus homens s��o faixas-pretas e mestres nas artes marciais. Al��m disso, ele tem aproximada-
mente de 12 a 15 dobermans patrulhando a ��rea durante a noite. Mas at�� mesmo os cachorros s��o ensinados a n��o matar, apenas deter e
imobilizar.
��� Esses s��o os pontos favor��veis ��� insistiu Judd. ��� E quais
s��o os desfavor��veis?
��� Um c��u claro. Poder��amos ser avistados facilmente. O que
precisamos �� de um nevoeiro denso ou da cobertura de nuvens
baixas. Um vento soprando do mar com for��a superior a quatro os
levaria muito al��m dos alvos. E, finalmente, se n��o silenciarmos os
cachorros e os guardas no primeiro momento, eles dar��o o alarme e
estaremos perdidos.
��� E como espera silenci��-los t��o depressa?
John mostrou uma pistola estranha, de cano comprido.
��� Isto dispara 12 dardos automaticamente. Cada dardo apaga
homem ou animal ao contato. Dormir��o por quatro horas e
acordar��o com uma ressaca que se prolongar�� por mais duas horas.
Judd fitou fixamente o diretor da Seguran��a.
��� Vamos supor que tudo corra bem. O que acontecer��
depois?
��� Voc�� estar�� no carro esperando, na estrada, a uns 100
metros de dist��ncia. Abriremos os port��es e poder�� entrar como o
pr��prio presidente dos Estados Unidos.
268
��� E quando planeja realizar a opera����o?
��� Depender�� do tempo. A previs��o de cinco dias �� ��tima para
n��s. No momento, h�� c��u claro por toda parte. Mas estamos no
Pac��fico. Qualquer coisa pode acontecer. E a qualquer momento.
��� Pode me avisar com um dia de anteced��ncia?
��� Provavelmente. Por qu��?
��� J�� se passaram 10 dias desde que Sofia entrou de f��rias.
Pensei em ir visit��-la.
��� Ela n��o aceitou o programa ��� comentou John.
��� Sei disso. Declarou que n��o quer ser qualquer outra pessoa.
Gosta de ser ela mesma.
��� Uma coisa a gente tem de admitir: a dona tem peito.
Judd riu.
��� N��o �� tudo que ela tem.
��� Teremos de reformular a seguran��a.
��� Pois ent��o fa��a isso. �� assim que se joga.
269
15
H O U V E UMA batida na porta.
��� Sra. Evans?
Sofia reconheceu a voz de Judd.
��� Um momento por favor.
Ela virou-se para o espelho por cima da c��moda. Ajeitou a
maquilagem. Um pouco de batom nos l��bios para dar brilho, o p��-
de-arroz escuro nas faces para acentuar o castanho dos cabelos,
curtos e cacheados. Foi at�� a porta e abriu-a, n��o se permitindo
qualquer express��o facial.
��� Pois n��o?
Judd fitou-a em sil��ncio por um instante, depois sorriu zombe-
teiramente.
��� Sra. Evans? Devo ter cometido um engano. Por acaso a
conhe��o?
��� Judd! ��� Sofia riu e abra��ou-o, comprimindo-se contra ele e
beijando-o. ��� Est�� me reconhecendo agora?
��� N��o pode mais haver qualquer engano. ��� Ele sorriu,
contemplando-a com evidente admira����o. ��� Voc�� est�� mesmo linda.
N��o importa o que tenham feito, n��o conseguiram acabar com sua
beleza.
��� Gosta mesmo?
��� Claro. E estava certa ao n��o permitir que encapassem seus
dentes. Tudo funciona.
��� N��o me fa��a chorar ��� murmurou Sofia, tentando rir. ���
Perderei as lentes de contato, pois ainda n��o estou acostumada.
Judd sorriu.
270
��� Antes de mais nada, voc�� �� uma mulher.
Sofia assentiu, em sil��ncio. Sabia o que ele estava querendo
dizer.
��� Est�� com vontade de ter uma conversa de doutora?
Sofia conduziu-o �� mesa perto da janela e sentaram-se.
��� Quer algum suco, Judd? O suco de abacaxi que fazem aqui ��
delicioso.
��� Quero, sim.
Sofia foi �� geladeira e encheu dois copos de uma garrafa de
pl��stico. Suspendeu seu copo para ele, sorrindo.
��� N��o �� Cristale, mas mesmo assim... a n��s.
��� A n��s.
��� Muito bem, vamos conversar.
A express��o de Judd era s��ria.
��� Sawyer quer que eu pare com todos os tratamentos agora.
��� Ele disse por qu��?
��� As tomografias mostram uma amplia����o min��scula do
c��rebro. Menos de meio mil��metro em rela����o �� ��rea total. Portanto,
n��o �� um tumor ou qualquer coisa que o preocupa ou aos
neurologistas. A minha ��ltima tomografia anterior foi h�� 10 meses. A
amplia����o ocorreu desde ent��o.
��� Tem sentido press��es fora do normal ou dores de cabe��a?
��� N��o.
��� Algum problema de locomo����o, orienta����o, audi����o ou
vis��o?
��� N��o.
��� Problemas sexuais, urin��rios ou digestivos?
��� N��o.
��� Emagreceu ou engordou?
��� Continuo a mesma coisa. Em torno de 72 quilos.
��� Perda de altura?
Judd riu.
��� �� uma pergunta estranha. Ainda estou com l,85m. Por
qu��?
��� O processo de envelhecimento. A partir de determinado
momento, o esqueleto come��a a encolher.
��� N��o estou t��o velho assim.
��� Concordo. Mas estou apenas perguntando.
Em sil��ncio, Sofia tomou outro gole do suco de abacaxi. Fitou-o
271
nos olhos. A cor era o mesmo azul-cobalto, contra a claridade intensa
que entrava pela janela.
��� Sente alguma redu����o em seus processos de pensamento?
��� Muito ao contr��rio. Parecem at�� mais r��pidos. Os pensa-
mentos passam ��s vezes t��o depressa pela cabe��a que preciso
conscientemente reduzir a velocidade, a fim de ret��-los. Ou ent��o os
pensamentos parecem j�� pertencer ao passado.
��� Como agora?
��� N��o estou entendendo.
��� Est�� me vendo como sou agora? Ou como era antes das
altera����es cosm��ticas?
Judd observou-a atentamente.
��� Voc�� sempre parece a mesma.
��� Feche os olhos. ��� Sofia esperou que as p��lpebras baixas-
sem. ��� Descreva-me.
��� Voc�� tem mais ou menos l,72m de altura, em torno de 60
quilos, cabelos louros compridos, olhos cinzentos, seios cheios,
mamilos salientes, cintura fina, quadris arredondados...
Sofia interrompeu-o:
��� J�� chega. Agora, abra os olhos e descreva-me.
Uma express��o de surpresa estampou-se nos olhos de Judd.
��� Voc�� n��o parece absolutamente como falei. Tem cabelos
castanhos e curtos. E olhos castanhos. ��� Um tom de perplexidade
insinuou-se em sua voz. ��� Por que pensei de outra maneira?
��� Estava descrevendo suas mem��rias. N��o o que via.
Judd ficou em sil��ncio por um momento.
��� Isso �� ruim?
��� N��o. Perfeitamente normal. Todos vemos dentro de nossas
cabe��as o que lembramos. Leva algum tempo para se substituir a
realidade pela mem��ria.
��� Mas pensei que meus processos de pensamento estivessem
mais r��pidos do que antes.
��� E provavelmente est�� certo. Mas sua nova vis��o de mim
ainda �� t��o recente na mem��ria que passou por cima e foi buscar a
mem��ria mais antiga. Se fechasse os olhos de novo, possivelmente
veria a nova realidade.
Judd tornou a fechar os olhos e ficou im��vel por um instante.
��� Tem raz��o. ��� Ele abriu os olhos para fit��-la. ��� E pensei
que fazia alguma coisa especial.
272
��� Parece desapontado.
��� E estou. Pensei que estava muito �� frente de todas as outras
pessoas.
��� Est�� e n��o est��. Lembre-se de que ainda �� um ser humano.
��� Serei sempre assim, vivendo nas mem��rias?
��� Provavelmente. ��� Sofia fez uma pausa e depois acrescen-
tou: ��� A menos que viva eternamente. Ter�� ent��o de descobrir uma
maneira de perder muitas de suas mem��rias ou sobrecarregar�� o
c��rebro.
��� Poderia ser esse o motivo para o qual meu c��rebro esteja
aumentando? A fim de poder acumular e manipular mais bancos de
mem��ria?
Sofia sustentou o olhar dele.
��� N��o sei. Mas acho que n��o. Biol��gica e antropol��gicamen-
te, o c��rebro humano �� o resultado de milh��es de anos de evolu����o.
Nunca se teve conhecimento de um c��rebro humano normal resultar
de muta����o. ��� Ela ficou em sil��ncio por um momento. ��� Mas deve
se lembrar de uma coisa. O c��rebro funciona dentro das limita����es do
cr��nio humano que o cont��m. E os ossos n��o esticam.
Judd olhou do rosto de Sofia para a parede por tr��s.
��� Lembre-se tamb��m, Judd, que o tamanho do c��rebro nada
significa em rela����o aos poderes mentais. O c��rebro de uma vaca ��
muito maior que o c��rebro humano.
Ele fitou-a nos olhos.
��� O que sugere ent��o?
��� Concordo com Sawyer. Vamos suspender os tratamentos.
Pelo menos at�� sabermos mais sobre a causa dessa condi����o.
��� Sawyer quer que eu volte ao hospital em Boca Raton.
��� Seria ��timo.
��� N��o tenho tempo para isso.
Sofia assumiu uma express��o ir��nica.
��� Que diferen��a faz o tempo para um homem que planeja
viver eternamente? ��� Ele ficou im��vel, pensando, sem responder.
Ela acrescentou: ��� Tenho a impress��o de que voc�� sabe alguma
coisa que n��o partilhou com Sawyer ou comigo.
Judd persistiu no sil��ncio. Sofia deu um palpite:
��� Xanadu e o projeto DNA de engenharia celular qu��mica
est��o de alguma forma relacionados?
273
��� N��o seja idiota. ��� Judd falou incisivamente, mas sem
qualquer raiva. ��� J�� lhe disse que contarei tudo na ocasi��o oportuna.
Sofia deu de ombros, em aceita����o.
��� Mas n��o pretende voltar a Boca Raton?
��� Exatamente.
��� O que far�� ent��o?
��� Planejo ter um encontro com o maharishi.
��� J�� marcou?
��� N��o. Vamos simplesmente cair em cima dele.
��� Eu gostaria de estar presente quando se encontrar com ele.
��� Se o fizer, poder�� revelar seu disfarce.
��� Que disfarce? J�� disse a eles que n��o estou interessada no
programa.
��� Nesse caso, mais cedo ou mais tarde eles a descobrir��o.
Sofia fitou-o nos olhos mais uma vez.
��� N��o estou muito preocupada com isso. Minha curiosidade
profissional �� mais importante. Talvez o homem tenha algum dos
conhecimentos que procuramos.
��� E isso vale a sua vida?
Os olhos de Sofia n��o vacilaram.
��� N��o tenho o menor desejo de viver eternamente, Judd.
Ele se manteve impass��vel.
��� Come��o a sentir que fui ego��sta ao vir procur��-la.
��� N��o precisa se sentir assim, Judd. Eu o amo. E se voc�� n��o
viesse, eu partiria ao seu encontro.
274
16
O TELEFONE na mesa entre os dois tocou abruptamente. Sofia
atendeu.
��� Sra. Evans.
��� Dr. Walton. Nosso amigo ainda est�� a��?
��� Est��, sim.
��� Posso falar com ele?
��� Claro. ��� Sofia fez uma pausa. ��� Algum problema?
��� N��o sei. Mas Fast Eddie acaba de entrar em minha sala. Ele
acha que descobriram uma sombra.
��� Passarei o telefone para ele.
Judd pegou o fone.
��� O que aconteceu? ��� Ele escutou por um momento, depois
levantou os olhos para Sofia. ��� V�� at�� a janela e veja se avista um
furg��o branco a cerca de cinco carros atr��s da limusine.
Sofia foi observar.
��� Est�� l��, sim.
��� H�� algum letreiro no lado?
��� Lavanderia Ilha?
��� Mais alguma coisa? Um telefone?
��� N��o vejo mais nada.
��� Saia da janela. Embora quem esteja l�� fora n��o possa ver,
prefiro n��o correr qualquer risco. ��� Judd voltou a falar ao telefone:
��� Lavanderia Ilha. Conhece?
��� Nunca ouvi falar ��� respondeu Brad. ��� Usamos a Waikiki.
Fast Eddie tamb��m me disse que dois homens entraram no sagu��o no
instante em que voc�� subiu no elevador e que ainda est��o por l��.
275
��� Mas que merda!
��� Devemos agarr��-los?
��� Isso s�� serviria para nos denunciar. ��� Judd pensou por um
momento. ��� Usaremos o velho truque do chap��u. S�� que o chap��u
ser�� um paciente.
��� Certo.
��� Quanto tempo precisar�� para providenciar tudo?
��� D��-me 15 minutos.
Brad desligou e Judd virou-se para Sofia.
��� Desculpe.
��� Desculpar o qu��?
��� Violei minhas pr��prias ordens. Determinei que ningu��m a
aproximasse de mim, para sua pr��pria prote����o, mas fui o primeiro a
estragar tudo.
��� N��o precisa pedir desculpas, Judd. Isso tamb��m teria
acontecido, mais cedo ou mais tarde.
A pequena enfermeira japonesa se inclinava ao lado de Brad,
enquanto ele ajeitava uma atadura no rosto de Judd, puxando-a
gentil mas firmemente.
��� Ponha o esparadrapo, Jane.
Habilmente, a enfermeira estendeu o esparadrapo cir��rgico,
cobrindo o nariz de Judd at�� os malares. O centro do rosto ficou
inteiramente oculto.
��� Est�� bom assim, doutor?
Brad perguntou a Judd:
��� Como se sente?
��� Tenho a sensa����o de que o nariz est�� entupido.
��� �� por causa dessas porcarias que voc�� tem cheirado ���
comentou Fast Eddie, rindo. ��� Eu disse que acabaria com um nariz
de pl��stico.
��� N��o tem nada de engra��ado!
Judd falou em tom sarc��stico, mas tamb��m sorria. Jane virou-
se.
��� �� a sua vez, Sra. Evans.
Sofia olhou para ela.
��� Pensei que j�� tivesse acabado tudo.
��� E acabou mesmo, em termos cir��rgicos. ��� A enfermeira
276
sorriu. ��� Mas ainda restam alguns retoques. Como suas m��os e os
bra��os, por exemplo. Ou o d��colletage.
Sofia contemplou as pr��prias m��os.
��� Elas me parecem perfeitas.
��� Levante as m��os para o rosto ��� disse Brad. ��� Est��o
completamente brancas, n��o combinam com o tono da pele do seu
rosto. Certamente a denunciariam a quem estivesse �� sua procura.
Sofia fitou-o, em sil��ncio. O m��dico acrescentou:
��� Jane tem um creme para escurecer a pele. �� uma especialis-
ta nisso. N��o vai demorar.
��� Duas aplica����es devem ser suficientes, Sra. Evans ��� disse a
enfermeira. ��� A primeira fica por 10 minutos, depois toma um
banho de chuveiro e se enxuga. Faremos ent��o uma segunda
aplica����o e enxugaremos com um secador de cabelos. A cor dever��
permanecer em sua pele pelo menos por dois meses, mesmo que
tome 20 banhos de chuveiro por dia.
Sofia olhou para Judd.
��� Temos tempo?
��� N��o nos resta alternativa.
Ela acenou com a cabe��a para a enfermeira e encaminhou-se
para o banheiro.
��� Vamos come��ar.
A enfermeira pegou uma maleta de m��dico e entrou no
banheiro atr��s delas, fechando a porta.
��� Por favor, Sra. Evans, tire todas as roupas. E depois remova
toda a maquilagem.
Sofia despiu-se rapidamente e removeu a maquilagem com um
pote de creme. Lavou o rosto com um pano ��mido e enxugou-se.
Virou-se para a enfermeira.
��� E agora?
��� Est�� ��timo. ��� A japonesinha sorriu. ��� Entre no boxe do
chuveiro. Ponha uma touca para cobrir os cabelos e feche bem os
olhos. ��� Ela levantou uma lata de spray e acrescentou: ��� Pode
arder um pouco, mas ser�� apenas por um instante. N��o vire as costas
at�� eu mandar.
��� Est�� bem.
Sofia fechou os olhos. Ouviu o zunido do spray e depois uma
ligeira ard��ncia quando o fluido tocou em sua pele. A ard��ncia
277
desceu lentamente at�� os p��s. A sensa����o cessou depois de um
momento. Ela sentiu a m��o da enfermeira em seu bra��o.
��� Continue com os olhos fechados. Eu a guiarei a fim de que
possa se virar.
Sofia sentiu a mo��a se mexendo enquanto se virava.
��� Fique agora com as pernas ligeiramente entreabertas. Pode
p��r as palmas das m��os na parede do boxe, a fim de se apoiar.
��� Estou bem assim.
A sensa����o de ard��ncia recome��ou, desta vez descendo do
pesco��o, espalhando-se pelos ombros e costas, alcan��ando por fim as
pernas. Sofia sentiu o spray nas partes posteriores das pernas, depois nos lados internos das coxas, envolvendo as panturrilhas. Ouviu uma
risadinha da enfermeira.
��� Desculpe, Sra. Evans, mas devo lhe pedir que abra um
pouco as n��degas, porque sua pele a�� �� branca demais.
��� N��o posso fazer isso empertigada do jeito que estou.
��� N��o h�� problema se se inclinar um pouco para a frente.
��� Ei! ��� exclamou Sofia, quando o jato de spray a atingiu. ���
Isso d��i para valer.
��� Mil perd��es, mas �� absolutamente necess��rio. Temos tempo
agora. Pode relaxar.
Sofia sorriu do constrangimento da enfermeira, que a levara a
falar ao estilo japon��s. Empertigou-se, virou-se para a mo��a e saiu do
boxe. Contemplou-se no espelho.
��� Mas estou amarela!
A enfermeira riu.
��� Completamente japonesa. Mas n��o se preocupe. A pr��xima
aplica����o lhe proporcionar�� uma pele morena normal.
Judd estava sozinho quando ela deixou o banheiro, acompanha-
da pela enfermeira, que trazia a maleta de m��dico.
��� Estarei de volta dentro de um momento, Sra. Evans. Trarei
suas roupas e ajudarei na maquilagem, se precisar de mim.
��� Creio que n��o ser�� necess��rio.
Sofia foi postar-se diante do espelho de maquilagem na
c��moda. Come��ou a aplicar o batom. Pele espelho, percebeu que
Judd a estudava com uma express��o estranha. Virou-se para ele.
��� Alguma coisa errada?
Ele sacudiu a cabe��a.
278
��� Cada vez que olho para voc��, tenho a impress��o de que se
parece com outra pessoa.
��� �� a cor. Ainda n��o se acostumou. Estou dourada agora. ���
Ele ficou calado. ��� Fez-me lembrar um pouco da cor de Amarinth.
��� Sofia afrouxou um pouco o chambre de seda branca. ��� S�� que
est�� mais escura do que a dela.
Judd desviou os olhos e disse, quase asperamente:
��� Termine a maquilagem. Estamos quase prontos para partir.
��� Ele pegou o telefone e discou para a sala de Brad. ��� Valerie Ann
j�� chegou?
A voz de Brad crepitou pelo fone:
��� Fast Eddie acaba de traz��-la para o sagu��o. Quer que os
dois observadores d��em uma boa olhada nela, antes de subirem no
elevador. Eu os levarei at�� a�� assim que chegarem �� minha sala.
��� Quem �� Valerie Ann? ��� perguntou Sofia, assim que Judd
desligou.
��� Uma das aeromo��as do meu avi��o. Voc�� tomar�� o lugar
dela. N��o quero correr riscos, pois �� sempre poss��vel que algu��m
note que levei uma mulher a mais para bordo.
��� E o que acontecer�� com ela?
��� Ficar�� aqui por alguns dias e depois embarcar�� num v��o
comercial e voltar�� para casa. ��� Judd foi at�� a janela. ��� O furg��o
ainda est�� l�� embaixo.
��� N��o acha que pode ser uma coincid��ncia?
��� Tenho certeza de que n��o ��. Enquanto voc�� estava no
banheiro, mandamos verificar a placa. �� falsa.
Houve uma batida na porta e a pequena enfermeira japonesa
entrou, carregando uma pequena valise e uma bolsa. Aproximou-se
de Sofia.
��� As roupas que usava ao chegar est��o na valise. E aqui est��
sua bolsa.
��� Deixe na cama ��� disse Judd. ��� Ela n��o vai usar essas
coisas.
��� Pois n��o, senhor. ��� Jane p��s a valise e a bolsa na cama,
depois olhou para Sofia. ��� Posso ajud��-la, Sra. Evans?
��� Acho que estou indo muito bem.
Judd interveio:
2 7 9
��� E agradeceria se ficasse, mo��a. Talvez precisemos fazer
mais algumas mudan��as.
Brad entrou na sala um momento depois, acompanhado por
Fast Eddie e uma mo��a negra de pele reluzente, usando um uniforme
de aeromo��a. Os olhos da mo��a eram animados e inteligentes, o nariz
aquilino, os l��bios ligeiramente grossos e largos. Ela notou a atadura
no nariz de Judd, mas n��o fez qualquer coment��rio.
��� Obrigado por vir imediatamente, Valerie Ann ��� disse
Judd. ��� Preciso lhe pedir um favor muito importante.
��� �� o patr��o, Sr. Crane.
Judd gesticulou.
��� Valerie Ann, essa �� a Sra. Evans.
A mo��a negra olhou para Sofia, murmurando polidamente:
��� Muito prazer, Sra. Evans.
��� O prazer �� meu, Valerie Ann.
��� Eu gostaria que desse o seu uniforme a ela ��� disse Judd ��� a
fim de que a Sra. Evans possa voltar ao avi��o comigo.
A aeromo��a olhou de Sofia para Judd.
��� N��o haver�� problema com o uniforme, Sr. Crane. Mas ela
jamais passar�� por uma irm��.
��� Como assim?
��� As negras s��o diferentes das brancas. Primeiro, ela precisa
de um tom um pouco mais escuro no rosto, pesco��o e garganta, onde
mais aparece. Depois, os l��bios devem ser mais grossos e largos. E
talvez o mais importante seja o andar. Os traseiros das negras s��o
mais projetados, o que faz com que andem de um jeito diferente. Ela
precisa de um traseiro falso. Como Fredericks de Hollywood
apresenta em seus an��ncios.
Judd virou-se para Brad.
��� Acha que pode cuidar disso?
Brad estava aturdido.
��� Podemos cuidar da maquilagem, mas o traseiro �� outro
problema.
��� Acho que posso resolver esse caso ��� interveio a enfermei-
ra, corando ligeiramente. ��� As japonesas geralmente t��m traseiros
arriados. H�� diversas lojas de T��quio especializadas em traseiros
falsos.
��� �� mesmo? ��� murmurou Judd.
280
Jane corou ainda mais.
��� �� mesmo, Sr. Crane. Eu os uso quando me arrumo toda.
��� Um viva ��s Na����es Unidas! ��� Fast Eddie riu. ��� Nem
sempre se pega o que se v��. Vive la diff��rence!
281
17
A I N D A USANDO o chambre de seda que Sofia lhe dera, Valerie
Ann foi at�� a janela e olhou para baixo.
��� Eles devem sair a qualquer momento.
Jane tamb��m se aproximou da janela.
��� L�� est��o eles!
Elas viram Fast Eddie abrir a porta da limusine. Atravessando a
cal��ada rapidamente, Judd entrou primeiro no carro, seguido por
Sofia e Brad. Fast Eddie tamb��m embarcou, batendo a porta. O
carro partiu no instante seguinte, entrando no fluxo de tr��fego.
��� Eles se foram ��� murmurou Jane.
Valerie Ann virou-se para ela.
��� O que est�� acontecendo?
��� N��o sei. Mas essas coisas n��o s��o excepcionais por aqui. O
Dr. Walton �� um dos melhores cirurgi��es pl��sticos do pa��s e muitos
pacientes insistem em n��o serem vistos.
Valerie Ann voltou �� mesa e sentou-se.
��� Tem alguma coisa para se beber por aqui, al��m de suco de
abacaxi?
��� H�� uma garrafa de vinho branco na geladeira.
��� Ent��o, o que estamos esperando?
Jane pegou a garrafa na geladeira e levou-a para a mesa, junto
com os copos.
��� N��o �� um vinho dos melhores ��� desculpou-se ela, abrindo a
garrafa.
��� N��o estou me queixando. ��� Valerie Ann sorriu. ��� S��
282
precisamos agora de cigarro e mais alguma coisa para levantar o
moral.
Jane encheu os copos, depois tirou um ma��o de cigarros de um
bolso e um pequeno frasco do outro. Uma colher pequena estava
presa �� tampa por uma corrente. Ela p��s tudo na mesa, entre as duas.
��� Isso �� farmac��utico, sa��do diretamente do dispens��rio.
��� Ent��o ser�� uma festa para valer ��� comentou Valerie Ann,
rindo.
Poucos minutos depois, as duas estavam inteiramente relaxa-
das. Jane estendeu o isqueiro para a aeromo��a, murmurando:
��� Foi sensacional.
Valerie Ann soprou a fuma��a e tomou um gole do vinho.
��� Seu m��dico �� muito atraente. Ele tem algum preconceito
contra negras?
Jane soltou a sua risadinha japonesa.
��� Absolutamente nenhum. Mas n��o vai adiantar.
��� Talvez eu possa convenc��-lo.
��� Praticamente metade das enfermeiras daqui gostaria de
conseguir. Mas n��o h�� a menor possibilidade.
��� Ele �� do tipo ��ntegro? S�� pensa em trabalho?
A enfermeira tornou a rir.
��� N��o �� por causa do trabalho. Ele simplesmente �� bicha.
��� Mas que merda! ��� exclamou Valerie Ann, desapontada. ���
�� a minha sina. Todo cara em quem ponho os olhos se revela bicha.
��� Seu patr��o parece estranho.
��� E �� mesmo estranho.
��� J�� trepou com ele alguma vez?
��� N��o. Ele �� gelo. ��� A aeromo��a fitou a enfermeira nos
olhos. ��� N��o sei o que ele v�� na Sra. Evans. Ela n��o �� mais uma
crian��a.
��� Talvez ele goste de mulheres mais velhas ��� comentou Jane,
rindo outra vez.
Valerie Ann sorriu.
��� Tenho esse nariz encurvado. Acha que o seu patr��o toparia
me fazer um trabalhinho? N��o precisaria ser uma reforma total.
Jane riu. Subitamente, Valerie Ann bateu com a m��o na testa e
acrescentou:
��� Mas que diabo! Acabo de lembrar que prometi �� minha
irm�� que a encontraria neste fim de semana num retiro da Igreja da
283
Vida Eterna. E agora estou presa no Hava��. Haveria problema se eu
ligasse para Los Angeles e a informasse que n��o poderei ir?
��� Claro que n��o. Pode fazer a liga����o direta.
Brad e Fast Eddie ocupavam os bancos laterais, nos dois lados do
painel que continha o bar, tela de televis��o e r��dio. Em cima do
painel havia um telefone. Brad gesticulou para Sofia e Judd.
��� Sentem-se nos cantos, longe da janela traseira, por favor.
Brad olhou pela janela traseira e depois inclinou-se para o
motorista, dizendo:
��� Pegue a estrada velha para o aeroporto, por tr��s do centro
comercial.
��� Est�� certo.
Brad tornou a virar-se para eles.
��� Est��o logo atr��s de n��s. ��� Ele olhou para o controle junto
ao telefone e apertou um bot��o. Luzes vermelhas come��aram a
piscar. ��� Est��o usando um telefone m��vel. Vamos ver se consegui-
mos interceptar.
Ele acionou o sistema de freq����ncia autom��tica. Fast Eddie
disse ao motorista:
��� Passe-me a caixa de trompete que deixei no banco ao seu
lado.
O motorista levantou a caixa preta. Fast Eddie pegou-a, p��s em
seu colo e come��ou a abrir os fechos. Brad fitou-o, aturdido.
��� N��o me diga que vai tocar trompete num momento como
este.
Fast Eddie sorriu-lhe.
��� Nunca ouviu dizer que a m��sica acalma as feras selvagens?
Ele abriu a caixa e tirou um cilindro preto com cerca de meio
metro de comprimento e 10 cent��metros de di��metro. Prendeu dois
grampos, um em cada lado do cilindro; ajustou uma caixa de metal
retangular por baixo do cilindro.
��� N��o �� uma beleza?
Sem esperar por uma resposta, ele apertou o bot��o para abrir o
teto solar do compartimento de passageiros da limusine. Levantou o
cilindro e prendeu-o no teto com os grampos, firmemente. Olhou por
um visor direcional na caixa de metal. Ajustou os grampos ligeira-
mente. Virou-se finalmente para Brad, sorrindo.
��� D�� uma olhada.
284
Brad olhou pela pequena abertura. O furg��o branco que os
seguia apareceu nas linhas cruzadas de um visor telesc��pio. Brad
tornou a se recostar.
��� �� um perisc��pio ��� disse ele. ��� Mas para que precisamos,
se podemos ver perfeitamente pela janela?
��� N��o �� apenas um perisc��pio ��� protestou Fast Eddie, em
tom magoado. ��� Acha que eu perderia tempo com um brinquedinho
assim?
��� Ent��o o que ��?
��� �� uma vers��o miniaturizada da arma antitanque sueca,
usada pelo ex��rcito dos Estados Unidos. Este pequeno foguete ��
acionado por ar comprimido e possui toda precis��o at�� uma dist��ncia
de 150 metros. Possui explosivo incendi��rio em quantidade suficiente
para transformar aquele furg��o numa bola de fogo, s�� restando
cinzas depois. Ele olhou com uma express��o sarc��stica para Brad e
acrescentou: ��� Ainda acha que �� um brinquedinho?
Brad fitou-o em sil��ncio por um momento e depois sorriu.
��� Acho que voc�� �� um grande sacana, Fast Eddie.
��� N��o gosto de ningu��m querendo nos sacanear. ��� Fast
Eddie pegou o frasco com a corrente de ouro. ��� Algu��m quer dar
uma cheirada?
��� N��o �� o meu departamento ��� respondeu Brad, olhando
para o controle.
��� Eu bem que estou precisando ��� disse Sofia.
��� Sirva-se. ��� Fast Eddie entregou-lhe o frasco. ��� Mas tome
cuidado, porque tem uma ventania entrando pelo teto solar.
Sofia virou-se para o canto, as m��os em concha, aspirou fundo.
Virou-se de novo, murmurando:
��� Que beleza...
A voz de Brad soou excitada nesse instante:
��� Encontrei o canal deles!
Ele ligou o alto-falante. Ouviram uma voz de homem em meio
�� est��tica, mas perfeitamente n��tida:
��� Estou lhe dizendo que n��o h�� qualquer mulher extra
naquele carro, apenas a aeromo��a negra que veio do avi��o.
Outra voz se manifestou, mas as palavras foram inintelig��veis,
por causa de uma s��bita intensifica����o da est��tica. A voz do primeiro
homem tornou a soar:
��� N��o sei por que ele mandou cham��-la. Talvez quisesse que
285
ela chupasse seu pau a caminho do aeroporto. Como vou saber?
Talvez quisesse apenas que ela lhe segurasse a m��o. Ele estava com
aquela atadura enorme no nariz. Talvez tenha feito uma opera����o l��
no hospital. Todo mundo sabe que o cara cheira coca��na pra valer.
��� Filho da puta! ��� exclamou Fast Eddie, furioso. ��� Vamos
acabar logo com essa gente.
Judd levantou a m��o.
��� Vamos escutar mais um pouco.
��� Muito bem ��� disse a voz do homem. ��� J�� estou indo.
C��mbio e desligo.
A luz vermelha no controle apagou. Brad olhou para tr��s, pela
janela. O furg��o branco diminuiu a velocidade, fez uma curva em U e
voltou para a cidade.
��� Eles se foram ��� murmurou Judd, deixando escapar um
suspiro de al��vio.
Ele virou-se para olhar pela janela. O furg��o se afastava em alta
velocidade.
��� Aceito aquela oferta agora ��� disse ele a Fast Eddie. ��� E
baixe seu brinquedinho... mas com todo cuidado.
��� Deixe comigo. Mas nunca vai conseguir aspirar na colher
com essa coisa na cara. Ter�� de usar um canudo.
��� Que se foda! ��� exclamou Brad, irritado.
Ele come��ou �� retirar a atadura, mas Brad se apressou em
intervir:
��� �� melhor deixar. Eles podem ter algu��m para nos observar
no aeroporto.
Sentado �� mesa, Judd permaneceu em sil��ncio, enquanto o avi��o
decolava. Sofia olhava pela janela, enquanto circulavam sobre a ilha,
ganhando altitude. Era o final da tarde, o sol transformava tudo em
dourado l�� embaixo, at�� mesmo as ondas espumantes que deslizavam
pela praia.
��� Lindo... ��� murmurou ela.
Judd fitou-a. Ele parecia muito deprimido. A campainha soou,
o aviso de prender os cintos de seguran��a se apagou. Judd abriu o seu
cinto e levantou-se.
��� Vou para a minha cabine. Avisem a Raoul quando estive-
rem com vontade de jantar.
��� E voc��? ��� perguntou Sofia.
286
��� N��o estou com fome.
Judd atravessou o sal��o a caminho de sua cabine. N��o olhou
para tr��s quando abriu-a e entrou, fechando-a em seguida. Fast
Eddie saiu de tr��s do bar e aproximou-se de Sofia. Ela tornou a olhar
pela janela, murmurando:
��� Est�� anoitecendo depressa.
��� Estamos voando na dire����o da noite ��� disse Fast Eddie. ���
Chegaremos a San Francisco ��s nove da manh��.
��� �� l�� que vamos desembarcar?
Ele sacudiu a cabe��a.
��� N��o, n��s vamos continuar. Mas voc�� desembarcar�� porque
estamos trocando a tripula����o. O chefe calcula que lhe proporciona-
r��o uma boa cobertura.
Fast Eddie pegou uma bolsa de couro com um z��per e p��s na
mesa, na frente de Sofia.
��� Tudo o que est�� aqui dentro �� para voc��. O chefe pediu-me
para explicar.
Ele abriu a bolsa e esvaziou o conte��do na mesa. Sofia deu uma
olhada. Passaporte, cart��es de cr��dito, tal��o de cheques, carteira de
motorista. Tudo em seu nome. Marissa Evans. Havia tamb��m uma
carteira de dinheiro, estufada de notas de 100 d��lares.
��� Tem cinco mil a�� ��� informou Fast Eddie.
��� Mas o que eu fa��o agora?
��� Muito simples. O ��nibus da tripula����o a deixa no centro de
San Francisco. Ande alguns quarteir��es, o suficiente para certificar-
se de que n��o est�� sendo seguida. Se pensar que algu��m est�� atr��s de
voc��, h�� um n��mero de telefone na primeira p��gina do passaporte.
Ligue para l�� e informe onde est��. A Seguran��a ir�� busc��-la. N��o se
preocupe com isso. Eles a reconhecer��o e a chamar��o pelo nome.
��� Marissa Evans?
��� Exatamente.
��� E se n��o forem me buscar... ou n��o puderem?
Fast Eddie p��s na mesa uma pequena autom��tica preta, calibre
25.
As balas s��o explosivas. Acabe com eles e saia de l�� o mais
depressa poss��vel. E depois torne a ligar para a Seguran��a.
��� E se eu n��o conseguir escapar?
��� J�� a vi em a����o ��� comentou Fast Eddie, confiante. ��� N��o
ter�� problemas.
287
Sofia ficou em sil��ncio por um momento.
��� O que fa��o em seguida, se n��o houver problemas?
��� Entre numa loja de departamentos, compre algumas roupas
e uma valise. Pague em dinheiro. Largue o uniforme de aeromo��a
numa lata de lixo com tampa, entre na primeira ag��ncia de aluguel de
carros que encontrar. Alugue um bom carro de tamanho m��dio.
Pegue a estrada para Los Angeles, a US 5. Passe por todas as
entradas de Los Angeles at�� chegar �� rampa da Marina dei Rey. Siga
por esse caminho at�� o Marina City Club Hotel. Encontrar�� um
quarto reservado para voc��.
��� E se eu me perder? N��o conhe��o Los Angeles.
Fast Eddie riu.
��� Pergunte o caminho a um guarda.
Sofia sorriu.
��� Quanto tempo a viagem deve demorar?
��� Dentro do limite de velocidade de 90 quil��metros, de sete a
oito horas. Se tudo correr de acordo com o planejado, dever�� estar
na estrada por volta de meio-dia. Mesmo que pare para encher o
tanque e comer alguma coisa, chegar�� ao hotel por volta das oito e
meia ou nove horas. Jante em seu quarto e fique esperando l��.
Entraremos em contato.
Sofia permaneceu calada por um instante, depois tornou a
guardar as coisas na bolsa de couro. Olhou para Fast Eddie.
��� Acho que preciso de alguma ajuda.
Ele sorriu.
��� Claro. ��� Uma pausa. ��� Mas n��o tome demais ou n��o
conseguir�� dormir.
Sofia lembrou-se do conselho quando estava na cabine, de olhos bem
abertos, no escuro. Contrafeita, ela acendeu a luz ao lado da cama e
se sentou. Pegou um cigarro e acendeu-o, aspirando a fuma��a.
��� Mas que droga! ��� exclamou, soprando a fuma��a.
Ela olhou para o rel��gio na parede. Quase tr��s horas de v��o.
H�� mais de uma hora que tentava inutilmente dormir. Deu outra
tragada no cigarro e finalmente pegou o telefone, ligando para o
sal��o. Depois de um momento, uma aeromo��a atendeu, a voz
sonolenta:
��� Al��?
��� O Sr. Crane por acaso est�� a��?
288
��� N��o, Sra. Evans. Ele ainda n��o saiu de seu camarote.
��� Obrigada.
Sofia desligou. Olhou para a pequena porta que levava �� escada
em espiral e ao camarote de Judd. Acabou se levantando, enrolou-se
numa toalha de banho e subiu a escada. Bateu na porta de Judd,
sussurrando:
��� Est�� acordado?
A voz de Judd soou com um eco muito fraco:
��� Entre.
Ela abriu a porta, devagar. Levou um momento para que seus
olhos se ajustassem �� claridade vermelha. Divisou Judd na posi����o
l��tus, no outro lado da cama, de costas para ela.
��� Deite-se ��� disse ele, sem se virar, a voz ainda um estranho
eco.
Sofia foi at�� a cama e estendeu-se por tr��s dele. Ficou
observando-o, mas Judd era mais uma sombra do que uma realidade
que pudesse ver. Gentilmente, ela tocou em seu ombro.
��� Voc�� est�� bem?
A voz de Judd tornou-se subitamente ��spera:
��� Quero fod��-la.
Ela se manteve em sil��ncio. Judd levantou-se abruptamente ao
lado da cama. Sofia fitou-o. Na suave claridade avermelhada, sua
ere����o parecia grotescamente imensa e inchada. A voz estava quase
furiosa:
��� �� isso o que voc�� quer, n��o �� mesmo?
Sofia fechou os olhos, sacudindo a cabe��a e murmurando:
��� N��o.
Mas sua voz foi abafada quando Judd se jogou em cima dela.
Sofia teve a sensa����o de que estava sendo dilacerada quando ele a
penetrou. E depois, quase que no mesmo instante, ele explodiu num
orgasmo que desencadeou uma vasta ejacula����o. Judd gritou em
agonia, depois arriou em cima dela, tentando recuperar o f��lego.
Depois de um momento, Sofia tocou-lhe o rosto com as pontas
dos dedos. Sentiu as l��grimas em suas faces e sussurrou:
��� Judd...
A voz soou abafada contra o ombro de Sofia, enrouquecida
pela dor:
��� Amarinth est�� morta. Voc�� disse que ela morreria. Ama-
rinth cometeu suic��dio.
289
Sofia ficou calada por um instante; depois, comprimiu o rosto
dele contra seu peito.
��� Sinto muito, meu bem. ��� Ela chorou com Judd. ��� Por
favor, querido, n��o fique assim...
290
18
SOFIA ACORDOU no escuro e virou-se para ele. Judd desaparece-
ra. Ela sentou-se e acendeu a luz. O rel��gio na parede marcava
nove e meia da manh��, hor��rio da Costa do Pac��fico. Ela saiu da
cama e foi at�� a janela, abriu as cortinas. O sol entrou forte,
fazendo-a piscar os olhos.
Ela olhou para baixo e avistou Fast Eddie encaminhando-se
rapidamente para um helic��ptero, a cerca de 100 metros de dist��ncia.
Observou-o entrar no aparelho junto com Judd, a porta se fechando
no instante seguinte. Os rotores come��aram a girar imediatamente e,
poucos minutos depois, o helic��ptero levantava v��o. Sofia ficou
olhando pela janela at�� o aparelho desaparecer. Usou depois a
estreita escada particular para voltar �� cabine.
Sentia-se deprimida, curiosamente desapontada. Percebera
alguma coisa em Judd na noite anterior, algo que jamais conhecera
antes. Talvez fosse apenas uma impress��o. N��o tinha certeza do que
sentia exatamente ��� se Judd lhe transmitira ou se o sentimento era
seu. Entrou no chuveiro. Devia estar na hora de partir. Raoul a
esperava no sal��o.
��� Bom dia, Sra. Evans.
��� Bom dia.
��� Tem tempo para tomar o caf�� da manh��, se quiser.
��� Obrigada. Quero apenas caf��.
Ele come��ou a afastar-se, mas Sofia chamou-o de volta.
��� O Sr. Crane deixou algum recado para mim?
Ele sacudiu a cabe��a.
��� Lamento, madame, mas n��o h�� qualquer recado.
291
��� N��o tem problema. ��� Sofia tentou sorrir. ��� Eu n��o
esperava mesmo qualquer recado.
��� Mas Fast Eddie lhe deixou uma coisa.
Sofia fitou-o com uma express��o de curiosidade. Raoul entre-
gou-lhe um pequeno envelope branco e depois encaminhou-se para a
copa. Ela abriu o envelope. Continha um frasco de coca��na e uma
colher de prata, junto com um pequeno bilhete.
Ela leu rapidamente: "Apenas para mant��-la de moral elevado.
F . E . "
Sofia sorriu para si mesma e sentou-se para esperar o caf��.
O escrit��rio de Judd no pr��dio executivo no centro de Crane City era
muito diferente do escrit��rio que ele herdara do pai em Nova York.
Este era simples, uma decora����o quase espartana, m��veis modernos,
principalmente em pl��stico e f��rmica preto e branco. Era um
escrit��rio funcional, n��o para exibi����o. Persianas do teto ao ch��o
escondiam a sala do mundo al��m das janelas.
Ele disfar��ou a surpresa quando encontrou Barbara, Paul
Gitlin, Doc Sawyer e Merlin �� sua espera. Olhou para Merlin com
uma express��o contrariada e disse:
��� N��o sabia que tinha convocado uma reuni��o dos diretores.
��� Desculpe ��� disse Merlin, nervoso ��� mas acho que ��
importante.
Judd foi para tr��s da mesa e sentou-se.
��� O que �� t��o importante assim?
Merlin olhou para ele e depois para Paul.
��� Talvez possa explicar, Sr. Gitlin.
��� E ent��o, Tio Paul? ��� indagou Judd.
Por uma vez, Paul n��o estava com a tradicional garrafa de
scotch na mesa �� sua frente.
��� Serei o mais simples poss��vel. N��o pode se livrar da Crane
Industries como gostaria. A estrutura �� muito complexa e interligada.
N��o h�� a menor possibilidade.
Judd fitou-o atentamente por um momento.
��� Eu n��o sou o dono?
��� Claro que ��. Mas tem responsabilidades. H��, por exemplo,
acordos e contratos de boa f�� com o governo. N��o lhe permitem
vender qualquer companhia a partes que n��o sejam devidamente
aprovadas, sob os mais rigorosos termos de seguran��a. Est��o
292
inclu��das nisso a Crane Aerospace and Aircraft, Crane Compucrafts,
Crane Microcraft and Microconductors, Crane Lasercraft...
Judd interrompeu-o bruscamente:
��� O que tenho permiss��o para vender?
��� As ind��strias de lazer ��� respondeu Paul, secamente. ���
Hot��is, sistemas de entretenimento, televis��o em cabo para resid��n-
cias ou teatros, produ����o cinematogr��fica.
��� Ou seja, basicamente as empresas que n��o d��o bons lucros.
As mais dif��ceis de vender.
��� N��o �� bem assim. O governo n��o o impediria de vender
Crane Land and Development, Crane Financial Services e outras.
Tenho as duas listas e posso lhe dar.
Judd ficou em sil��ncio. Olhou de um para outro, antes de
finalmente voltar a falar:
��� S�� estou interessado em manter o grupo de engenharia
biol��gica e m��dica.
��� N��o h�� problema quanto a isso. ��� Paul sorriu. ��� Meu
palpite �� de que o governo n��o lhe permitiria de qualquer maneira
vender essas empresas.
��� O que sugere ent��o?
��� Continue. Tem se sa��do muito bem. Por que entornar o
caldo logo agora?
Judd fitou-o nos olhos.
��� Estou cansado de tudo isso. Quero sair.
��� N��o tem op����o, Judd. O filho �� seu e n��o tem condi����o de
se livrar.
Judd ficou calado por um instante, pensando.
��� N��o podemos designar um s��ndico?
��� Quem, por exemplo? N��o h�� ningu��m que conhe��a as
empresas Crane tanto quanto voc��. Seria um desastre total.
��� Merda! Eu estava planejando me instalar em Xanadu.
��� Esse �� outro sonho que voc�� teve ��� disse Paul. ��� Primeiro,
foi a Ilha Crane. Depois, quase antes mesmo de iniciar a constru����o,
mudou para Xanadu. Sabe quanto a Ilha Crane nos custou. Xanadu
ter�� um custo 20 vezes maior.
��� O dinheiro era meu. Jamais gastei coisa alguma da funda-
����o. �� sempre o meu pr��prio dinheiro.
��� N��o estou me queixando disso. Simplesmente ressaltei que
293
foi um desperd��cio, quer o dinheiro seja seu ou de outros. E digo
agora a mesma coisa a respeito de Xanadu.
Judd fitou-o friamente.
��� Tem mais alguma coisa a dizer?
Paul balan��ou a cabe��a negativamente, baixando os olhos para
a mesa. Judd virou-se para Merlin.
��� Venda tudo que temos permiss��o de nos desfazer.
��� Isso dar�� um preju��zo de 30 a 50 bilh��es de d��lares.
��� L��quido depois dos impostos?
��� N��o. O preju��zo l��quido, ficar�� em torno de quatro bilh��es.
O que ainda �� muito alto.
��� Reembolsarei a funda����o ��� declarou Judd. ��� Arcarei
pessoalmente com todos os preju��zos.
��� Isso reduzir�� o seu ativo l��quido a menos da metade ���
advertiu Merlin.
��� Ainda terei mais do que suficiente. ��� Judd correu os olhos
pela mesa. ��� Mais alguma coisa?
��� Uma pergunta ��� disse Paul, ainda olhando para a mesa. ���
Quem dirige o espet��culo se voc�� sair de cena?
��� Sawyer pode cuidar das empresas m��dicas. E Merlin pode
cuidar de todo o resto. Os dois juntos provavelmente sabem mais
sobre as empresas do que eu.
��� E se eles n��o quiserem aceitar?
��� N��o lhes resta muita op����o ��� disse Judd, em tom meio de
gracejo. ��� Voc�� cuidou disso. Os contratos que tenho com eles os
mant��m presos a mim de corpo e alma.
��� N��o h�� nenhum contrato no mundo que possa obrigar um
homem a trabalhar se ele n��o quiser. O que faria se isso acontecesse
Iria process��-los?
Judd sorriu, depois olhou para os outros.
��� Voc��s dois pretendem largar tudo?
Merlin e Sawyer ficaram calados. Judd tornou a olhar para
Paul.
��� Isso nunca acontecer��. Eles n��o s��o apenas empregados.,
s��o amigos.
Barbara levantou-se.
��� Desculpe, Judd, mas acho que est�� fazendo uma coisa
errada. E, de certa forma, injusta tamb��m. Est�� transferindo para os
294
amigos suas pr��prias responsabilidades. Pessoalmente, n��o gosto
disso... e acho que seu pai tamb��m n��o aprovaria.
��� Meu pai est�� morto. O que ele pensava era importante
quando estava vivo. Mas n��o agora. O que importa agora �� a minha
vida, as minhas decis��es.
Ela fitou-o em sil��ncio por um momento, depois pegou suas
coisas, empurrou a cadeira para tr��s e saiu da sala. Judd olhou para
os outros.
��� Algu��m mais quer se retirar?
N��o houve resposta alguma. Judd virou-se para o advogado.
��� Converse com ela. N��o quero que fique furiosa.
��� Por que voc�� n��o conversa pessoalmente, Judd? Ela �� sua
m��e e n��o minha.
Ele foi encontrar Barbara sentada num canto da sala de
recep����o, um lencinho nos olhos. Sentou-se ao lado e disse:
��� Desculpe, Barbara. N��o tive a inten����o de deix��-la assim.
Ela fez um esfor��o para se controlar. Mas continuou em
sil��ncio. Pela primeira vez, Judd percebeu como ela se tornara fr��gil
com o passar do tempo.
��� Barbara ��� disse ele, gentilmente, virando-lhe o rosto ���
lamento de verdade.
Havia m��goa e sofrimento se misturando na voz enrouquecida
de Barbara:
��� N��o estou zangada, Judd. Juro que n��o estou. Apenas
come��o a descobrir o tolo que voc�� ��.
��� Porque n��o quero mais cuidar dos neg��cios?
��� N��o �� absolutamente por isso. Digo isso por v��-lo desperdi-
��ar todas as suas chances de felicidade na busca desse sonho absurdo.
��� N��o �� um sonho absurdo. Estou chegando mais perto, a
cada dia que passa.
��� E perde mais a cada dia. N��o apenas dinheiro. Ou poder.
Tamb��m todas as coisas que voc�� possui, todas as pessoas que o
amam.
Judd n��o disse nada. Barbara esquadrinhou-lhe os olhos.
��� Voc�� nem mesmo compreende o que estou falando.
��� Sei o que quero.
��� N��o, Judd, n��o sabe. Tornou-se completamente egoc��ntri-
co. Seu pai era ego��sta nos neg��cios, mas encontrava tempo dentro
295
dele para amar a voc�� e sua m��e, depois a mim. Mas voc�� n��o tem
tempo em seu ��ntimo para amar qualquer pessoa.
��� N��o sou meu pai. N��o tenho de me sentir como ele.
��� Talvez devesse, Judd ��� disse ela, suavemente. ��� Por que
n��o d�� uma chance a si mesmo?
��� N��o pense que isso n��o aconteceu. Mas o que recebi em
troca dos outros? Nada para mim mesmo. O que mais eu poderia
fazer?
��� Alguma vez j�� pediu a a l g u �� m qualquer coisa para si
mesmo? A Sofia, por exemplo?
��� Tudo o que sempre signifiquei para ela foi mais uma
experi��ncia, outra descoberta.
��� Est�� enganado, Judd. Talvez tenha come��ado assim, mas
mudou depois. Ela o ama.
Judd n��o disse nada.
��� Se ela n��o o amasse, n��o teria gerado seu filho e escondido
isso de voc��.
Barbara desviou os olhos dele, deixando as palavras pairando
no ar. Judd for��ou os olhos da madrasta a se encontrarem com os
seus e perguntou, asperamente:
��� Sofia teve um filho?
Barbara n��o respondeu.
��� Meu filho? Por que n��o fui informado?
��� Porque Sofia tinha medo de voc��. N��o queria o filho usado
como uma arma.
��� N��o acredito ��� disse ele, furioso. ��� Se �� verdade, onde ela
o escondeu durante todo esse tempo?
Barbara fitou-o nos olhos e respondeu, falando bem devagar:
��� Comigo. E ele �� mesmo seu filho, Judd, n��o pode haver
qualquer d��vida. �� muito parecido com voc��. Tem at�� os seus olhos.
O mesrno azul-cobalto.
Os l��bios de Judd se contra��ram.
��� N��o �� meu filho. Foi uma das experi��ncias de insemina����o
artificial de Zabiski. E todas fracassaram. Sawyer me disse que
providenciou para que todas abortassem. E tamb��m providenciamos
um aborto para Sofia.
��� Sei de tudo isso, pois ela me contou. E tamb��m me disse que
n��o se submeteu ao aborto. Como n��o fazia parte da experi��ncia.
296
Zabiski concordou que ela seria o controle, que voc�� e Sofia teriam
uma fecunda����o normal.
��� Ela mentiu para mim ��� murmurou Judd, amargamente. ���
At�� o momento em que nos encontramos no aeroporto, quando
voltou �� R��ssia com a velha. Provavelmente queriam manter a
crian��a na R��ssia.
��� Mas isso n��o aconteceu. N��o sei como ela conseguiu, mas
um dia apareceu em minha casa em San Francisco. E no dia seguinte
foi para uma cl��nica particular e teve o filho. Voltou �� R��ssia cinco
dias depois.
��� E o que voc�� fez com o beb��?
Barbara tornou a fit��-lo nos olhos.
��� Ele era seu filho. Fizemos o que era certo. N��s o adotamos,
criamos e amamos.
��� E nunca me disse nada?
��� N��o. Voc�� se importaria se soubesse?
Judd n��o respondeu.
��� Acho que n��o, Judd.
��� Quem mais sabe? Paul e Sawyer est��o informados?
��� Ningu��m mais sabe. Somente Sofia, Jim e eu. O registro
oficial de nascimento foi escondido num lugar em que ningu��m
poder�� encontrar.
��� N��o mudar�� nada ��� disse Judd finalmente, sem qualquer
express��o. ��� Para mim, �� como se nunca tivesse nascido. Ainda
planejo minha vida como quero.
Barbara levantou-se e arrematou, em tom suave, mas firme:
��� Sinto muita pena de voc��, Judd.
Depois, ela se virou e saiu, sem olhar para tr��s, deixando-o
sozinho na sala de recep����o.
297
19
��� ESTAMOS TR��S semanas adiantados na programa����o ��� disse
Sawyer. ��� A unidade de refrigera����o da cultura de clone est��
sendo embarcada no avi��o neste momento. Irei junto quando o
avi��o decolar de Atlanta.
��� Pensei que fosse se encontrar comigo em Boca Raton ���
comentou Judd. ��� E de l�� seguir��amos juntos.
��� Eu me sentiria melhor se acompanhasse as culturas pessoal-
mente.
Judd observou-o com aten����o.
��� Est�� certo. J�� nos conhecemos h�� muito tempo. Qual �� o
problema que o est�� incomodando?
��� Aquele alem��o desgra��ado ��� respondeu Sawyer. ��� Ele
est�� se metendo onde n��o deveria. Deveria apenas concluir a
instala����o do reator nuclear e deixar a usina de energia pronta para
entrar em funcionamento. Mas soube que ele anda se intrometendo
nos laborat��rios m��dicos. E fazendo perguntas sobre as unidades de
refrigera����o de terapia celular.
��� Ele est�� encarregado de providenciar para que haja energia
suficiente que nos permita operar.
��� �� verdade... s�� que ele est�� fazendo mais perguntas do que
o necess��rio. Quer saber para que servem as unidades. N��o confio
nele.
��� Voc�� est�� no comando, Doe. Fa��a o que achar melhor. S��
pe��o que se mantenha em contato comigo.
��� Eu me sentiria mais tranq��ilo se a Seguran��a o investigasse
298
de novo. Talvez haja alguma coisa que ignoramos. Ainda n��o posso
esquecer aqueles dois que se infiltraram na ilha.
��� Est�� certo, Doc. Mandarei a Seguran��a cuidar disso.
Judd olhou pela janela ao seu lado. A nove mil metros de
altitude, s�� podia ver abaixo a capa de nuvens. Ele pegou o telefone e
ligou para a cabine de comando.
��� Quais s��o as condi����es do tempo na costa em torno de Los
Angeles?
A voz do comandante saiu pelo fone:
��� Toda a regi��o est�� nublada neste momento, a cerca de 2.700
metros de altitude. Prev��em um teto mais baixo e nevoeiro vindo do
mar por volta das 10 horas. Calculam que ter��o de fechar o aeroporto
de Los Angeles �� meia-noite.
��� Obrigado.
Judd tornou a apertar um bot��o do telefone. Uma voz
prontamente atendeu:
��� Seguran��a.
��� Aqui �� o Sr. Crane. Quero falar com o diretor. ��� John
atendeu um instante depois e Judd disse: ��� Tem o relat��rio do
tempo?
��� J�� o recebemos. Estamos apenas esperando um aviso seu.
Creio que podemos realizar a opera����o esta noite.
��� Estaremos pousando no aeroporto de Los Angeles dentro
de 40 minutos.
��� Estaremos prontos, �� sua espera, senhor.
��� No caminho, peguem a Sra. Evans.
��� Est�� certo, senhor.
��� Mais uma coisa. Lance outra rede em torno do Dr.
Schoenbrun. N��o estamos muito satisfeitos com a maneira como ele
vem se comportando.
��� Providenciaremos imediatamente, senhor.
��� ��timo. At�� daqui a meia hora.
Judd desligou e olhou para Sawyer, sentado no outro lado da
mesa.
��� Qual a conex��o que vai pegar para Atlanta?
Sawyer sorriu.
��� N��o sou agora o presidente da Crane Medicai?
��� ��, sim.
299
��� Os presidentes n��o viajam em v��os comerciais. O Cl 2 est��
me esperando no aeroporto.
Judd soltou uma risada.
��� Est�� aprendendo depressa. �� o mais novo 707 que pos-
su��mos.
Sawyer balan��ou a cabe��a, rindo tamb��m.
��� Tive um bom professor.
As nuvens cinzentas come��aram a se tornar negras �� medida que o
dia se aproximava do fim. A limusine saiu da estrada, entrando pelo
campo junto �� base do plat�� que serviria como rampa de lan��amento
do pessoal da asa delta. Judd saltou do carro. Viu John e um homem
que n��o conhecia se aproximarem.
��� Sr. Crane ��� disse John ��� este �� Mark Davidson, o diretor
da escola de planadores e p��ra-quedismo.
Davidson n��o era muito alto, mas tinha os ombros largos, o
corpo atarracado e forte. O aperto de m��o combinava.
��� Parece que essa vai ser a coisa mais divertida que fazemos
desde o tempo em que salt��vamos no Vietnam.
��� Quero que seja divertido, mas n��o quero que se transforme
numa guerra ��� declarou Judd. ��� Deve compreender que n��o quero
mortes, nem mesmo em leg��tima defesa.
��� N��o haver�� nenhuma, Sr. Crane. Sabemos o que temos de
fazer. E fizemos todo o treinamento espec��fico para a miss��o.
��� ��timo. ��� Judd olhou para o c��u. ��� O que acha?
Davidson tamb��m olhou para o c��u, na dire����o do mar.
��� Temos uma boa chance. Se n��o aparecer nenhum vento
inesperado, poderemos saltar ��s 22 horas.
Judd estendeu a m��o, com os dedos cruzados.
��� Para dar sorte.
��� Vamos para o galp��o ��� convidou Davidson. ��� Quero lhe
mostrar como planejamos tudo.
Judd virou-se para John.
��� O que aconteceu com a Sra. Evans?
��� Um carro a est�� pegando neste momento, senhor. Ela
dever�� estar aqui dentro de meia hora.
��� ��timo.
Judd acompanhou Davidson at�� o galp��o de opera����es. Parou
na porta, virando-se para observar um homem em asa delta descendo
300
contra o vento. O piloto esticou os p��s para o ch��o e tocou-o.
Inclinou os joelhos por um instante, depois se desvencilhou das asas e
empertigou-se. Judd olhou para Davidson.
��� Fascinante. Parece o pouso de um p��ssaro.
��� �� justamente essa a t��cnica, senhor.
��� Eu gostaria de experimentar.
��� Eu teria o maior prazer em lev��-lo, senhor. Talvez possa-
mos combinar, depois que esta opera����o for conclu��da.
��� N��o estou pensando em deixar para depois. N��o poderia ser
agora?
Davidson ficou aturdido.
��� N��o pode estar falando s��rio, senhor. N��o teria tempo para
aprender a t��cnica.
��� Quanto ainda resta da claridade do dia?
��� Talvez uma hora e meia.
��� Pois ent��o vamos tentar.
Davidson virou-se para John, com uma express��o consternada.
John disse a Judd:
��� Sou respons��vel por sua seguran��a. Meu trabalho �� lev��-lo
ao interior daquela propriedade s��o e salvo. N��o poderei fazer isso se
estiver voando pelo c��u como um p��ssaro, senhor.
Judd deu de ombros, virou-se sem dizer nada, contornou o
galp��o de opera����es e encaminhou-se para um hangar Quonset. As
asas deltas estavam encostadas na parede, brilhando escuras, como
gigantescos morcegos prontos para entrarem em a����o a um sinal. Um
grupo de pilotos estava sentado perto, num c��rculo, todos de macac��o
preto, segurando canecas de caf��. Judd n��o lhes falou. John
aproximou-se por tr��s dele.
��� O patr��o n��o pode ter ��s vezes todas as divers��es, senhor. ��
uma conseq����ncia das responsabilidades.
Judd tornou a dar de ombros e voltou para junto de Davidson.
��� Como voc�� disse, depois de acabar ��� murmurou ele,
pesaroso.
��� Ser�� uma honra, senhor. E agora vamos entrar, para que eu
possa lhe mostrar como planejamos a opera����o.
Havia um mapa em baixo-relevo, feito de papier m��ch��,
cobrindo uma mesa grande. Davidson pegou um indicador de
madeira.
��� Esta colina, o ponto mais alto no mapa, �� o lugar em que
301
estamos. Esta outra colina, mais baixo e perto do oceano, �� o nosso
objetivo. Entre as duas colinas, atravessamos a Estrada da Costa do
Pac��fico. A dist��ncia entre elas �� de 4.200 metros. A altura de nossa
rampa de lan��amento �� de 2.600 metros, a altura do alvo �� de 200
metros. Temos de nos lan��ar ao c��u e cair quase 2.400 metros nessa
dist��ncia. Ser�� uma queda dif��cil, mas tenho bons homens e podemos
conseguir.
O olhos de Judd estavam fixados nos mapa.
��� Como poder��o ver alguma coisa do ar, se o ch��o est�� oculto
pelo nevoeiro?
��� Tamb��m previmos isso.
Davidson estendeu uma capa de plexiglass sobre o mapa. Era
opaca e Judd n��o p��de ver coisa alguma atrav��s. Davidson estendeu-
lhe um par de ��culos.
��� Ponha isto, senhor.
Judd ajeitou os ��culos. Quando tornou a olhar para o mapa,
p��de divisar flechas vermelhas brilhantes apontando para o alvo.
��� ��culos infravermelhos de vis��o noturna ��� explicou David-
son. ��� Pintamos flechas nos tetos de 20 carros espalhados pelo
caminho.
Judd tirou os ��culos e olhou para Davidson.
��� Meus parab��ns. Eu diria que voc�� pensou em tudo.
��� Obrigado, senhor.
��� Exceto uma coisa.
Davidson ficou desconcertado.
��� Quem est�� comandando a opera����o?
��� Sou eu senhor. Saltarei primeiro.
Judd acenou com a cabe��a, pensativo, depois sorriu.
��� Ent��o talvez seja melhor pintar seu rabo de vermelho, para
o caso de algum dos seus homens se perder.
Davidson sorriu e logo desatava numa gargalhada.
��� Eles n��o esqueceriam meu rabo. Eu estaria peidando fogo
em cima deles se o fizessem.
Judd foi at�� a beira da colina. Um nevoeiro denso se aproximava
rapidamente. Era mais intenso perto do mar, mas come��ava a
rastejar pela estrada, convertendo os far��is dos carros em luzes
difusas. Ele olhou para o rel��gio. Eram 21 horas. Davidson
aproximou-se.
302
��� Ao que parece, senhor, saltaremos no hor��rio previsto. Os
homens j�� est��o se aprontando.
Judd acenou com a cabe��a, virou-se para John.
��� Onde est�� a Sra. Evans? Voc�� disse meia hora h�� muito
tempo, John.
��� N��o se preocupe, senhor. Fast Eddie levou dois dos meus
melhores homens. Ela estar�� aqui a tempo.
Eles voltaram ao galp��o. John apontou para uma casa com o
formato de uma estrela de cinco pontas no mapa e depois para as
outras, num c��rculo ao redor.
��� Alana disse que o maharishi vive no quarto central da casa-estrela. Cada ponta da estrela tem uma cortina de cor diferente
dando para o c��modo central, sendo aberta quando ele concede
audi��ncias. Ele sempre senta-se de frente para o centro do c��modo,
de costas para a cortina fechada de onde emerge. Nunca �� a mesma
cortina, cada cor possui um significado diferente, indicando outro
plano da vida. A cor desta noite �� vermelho, o plano colorido do
sangue.
��� H�� uma vantagem ��� comentou Judd. ��� Pelo menos
saberemos onde encontr��-lo.
��� H�� sempre dois guardas por tr��s de cada cortina ���
informou John. ��� Isso significa que, al��m dos guardas l�� fora, ainda
teremos de cuidar dos que encontraremos l�� dentro. N��o correrei
riscos. Tenho dois carros que entrar��o antes de voc��, cada um
levando sete especialistas.
Judd assentiu.
��� E onde fica sua garota, enquanto tudo isso est�� aconte-
cendo?
��� Ela estar�� nos port��es, abrindo-os para n��s.
��� H�� dois homens ali ��� disse Judd. ��� Como ela conseguir��
domin��-los?
John sorriu.
��� Eu lhe disse que ela era muito inteligente. Ir�� at�� os port��es
completamente nua. E dar�� a impress��o de estar drogada. N��o h�� um
��nico homem que n��o abra a porta para descobrir o que est��
acontecendo ao ver um corpo como o dela. E no instante em que se
abrir o port��o da casa da guarda, ela joga dois frascos l�� dentro e os
guardas se apagam em dois segundos. Ela precisa de mais cinco
303
segundos para o g��s se evaporar e poder apertar o bot��o que abre os
port��es. Os dois primeiros homens a saltarem do carro da frente s��o
t��cnicos em eletr��nica. Cuidar��o do sistema de alarme. A esta altura,
j�� estaremos bem adiantados pelo retiro. Alana nos levar�� direta-
mente para a ponta da estrela por tr��s da qual nosso homem se
encontra.
Judd sorriu.
��� Posso esperar que ela continue completamente pelada?
John n��o sorriu.
��� N��o, senhor. Temos um macac��o pronto para ela.
Um carro parou na frente do galp��o. Fast Eddie entrou,
acompanhado por Sofia.
��� Por que demoraram tanto? ��� indagou Judd.
Fast Eddie abriu os bra��os, num gesto de desamparo.
��� Ah, as mulheres... Nunca serei capaz de compreend��-las.
Sabe onde finalmente a encontrei, chefe? No sal��o de beleza.
Judd fitou-a com uma express��o severa. N��o disse nada. Sofia
sorriu-lhe.
��� Descobri uma peruca de cabelos compridos fabulosa. Lin-
dos cabelos pretos lustrosos. Gosta?
Por um momento, Judd ficou engasgado, mas logo conseguiu se
recuperar o suficiente para dizer:
��� Voc�� parece exatamente com qualquer mulher que se
encontra nos bares de paquera em Marina del Rey.
��� �� muito americana.
Judd balan��ou a cabe��a.
��� Tem toda raz��o. Agora, vamos nos aprontar. Deveremos
partir a qualquer momento. ��� Ele segurou-a pelo bra��o. ���
Voltemos ao carro.
Judd ficou parado jundo �� porta aberta do carro. Davidson
aproximou-se.
��� Est�� na hora, senhor. S��o 22 horas.
��� Boa sorte.
Ele observou Davidson encaminhar-se para a catapulta, pren-
dendo o corpo nas correias da asa delta, parecendo um morcego.
Davidson p��s os p��s em posi����o na catapulta. Houve um s��bito
zunido e ele desapareceu no nevoeiro que pairava �� beira do plat��.
304
Depois de David, um ap��s outro, seus homens foram lan��ados pelo
denso nevoeiro. Assim que o ��ltimo piloto sumiu no nevoeiro
impenetr��vel, Judd entrou no carro e disse aos outros:
��� Vamos embora. O encontro ser�� daqui a 25 minutos.
305
20
Dois CARROS j�� estavam parados na frente dos port��es parcial-
mente abertos quando a limusine se aproximou. Judd abriu sua
porta e saltou.
��� O que est�� nos retendo? ��� perguntou ele, quando John
se aproximou.
��� Estamos com um problema, senhor: Nunca imaginamos que
houvesse uma combina����o para abrir os port��es. O do centro se
abriu, mas o exterior prendeu depois de pouco mais de meio metro.
Os t��cnicos em eletr��nica est��o tentando resolver o problema.
��� Estamos perdendo tempo ��� disse Judd bruscamente. ���
Exploda os port��es.
��� Fa��a isso e teremos todos os guardas da Calif��rnia em cima
da gente ��� sussurrou um dos t��cnicos em eletr��nica.
Os dois conversaram por um instante e depois John virou-se
para Judd.
��� N��o h�� a menor possibilidade de abrirmos os outros
port��es, H�� uma tranca de seguran��a neles que �� acionada no
instante em que se desliga o sistema de alarme.
��� Podemos nos espremer pela abertura ��� sugeriu Judd. ���
Vamos come��ar a andar.
��� �� mais de um quil��metro at�� a casa. E n��o temos certeza se
dominamos todos os guardas e os dobermans.
��� Iremos assim mesmo.
��� Talvez seja melhor esperar no carro, Sr Crane. N��s o
chamaremos quando o caminho estiver limpo.
��� E talvez, a esta altura, o maharishi j�� tenha desaparecido.
306
Se ele �� t��o esperto, quanto penso, ter�� de reserva um refugio
inviol��vel e um caminho de fuga. Nossa ��nica possibilidade �� chegar
l�� t��o depressa quanto pudermos. Temos de correr.
John assentiu e virou-se para os homens �� espera no port��o.
Acenou com a m��o.
��� Vamos embora!
Os homens passaram pelo port��o e come��aram a correr pelo
caminho. Fast Eddie e Sofia seguiram imediatamente atr��s de Judd.
John gesticulou ao passarem pela casa da guarda. Alana chegou,
ainda levantando o z��per do macac��o.
��� Mas que merda! ��� disse ela a Judd. ��� Desculpe, senhor,
mas fico furiosa quando estrago uma situa����o. Eu deveria ter
calculado que eram trancas de combina����o.
��� J�� est�� feito ��� interveio John. ��� Agora, tratemos de tirar o
melhor proveito. ��� Ele virou-se para dois dos homens e acrescentou:
��� Fiquem perto do Sr. Crane. N��o quero que lhe aconte��a coisa
alguma.
Todos come��aram a correr pelo caminho, Alana na frente.
Depois de alguns metros, puderam divisar as asas deltas espalhadas
pelo ch��o. Perto deles, dois homens estavam estendidos no ch��o,
junto a tr��s dobermans, todos profundamente adormecidos. Sofia olhou para eles e tocou no bra��o de Judd.
��� Est�� tudo bem ��� tranq��ilizou ele. ��� Cuidamos deles com
dardos narcotizantes. Ficar��o desacordados por quatro horas e a
��nica conseq����ncia depois ser�� uma tremenda dor de cabe��a.
��� Deveria ter-me avisado para usar sapatos de corrida ��� disse
Sofia. ��� Saltos altos n��o s��o muito apropriados para correr.
��� Pare de reclamar. Pode correr descal��a.
Sofia tirou os sapatos, podendo assim acompanhar o ritmo da
corrida. Passaram por outros guardas e cachorros, todos desacorda-
dos. Mais al��m, no ch��o, havia diversas asas deltas completamente
destru��das. Sofia estava ofegante, sem f��lego, poucos minutos
depois.
��� Tenho de parar ��� disse ela. ��� Preciso recuperar o f��lego.
Nunca fiz o treinamento para esse tipo de coisa.
��� Estale isto debaixo do nariz ��� disse Fast Eddie, estendendo
duas c��psulas brancas.
��� Para que vou querer agora duas pipocas de amilo de nitrato?
Eu cairia e teria 20 orgasmos.
307
��� N��o s��o pipocas, mas sim estimulantes especiais fabricados
em nosso laborat��rio ��� explicou Fast Eddie. ��� Liberam oxig��nio
sob press��o, com um pouco de coca.
Ele estalou uma c��psula sob o pr��prio nariz.
��� Virei super-homem!
Sofia imitou-o. Um fluxo de energia invadiu-lhe o corpo.
Subitamente, ela n��o estava mais ofegante. Tinha a sensa����o de que
poderia correr os cinco mil metros nos Jogos Ol��mpicos.
Ela olhou para Judd, correndo depressa, com a maior facilida-
de, sem qualquer problema aparente de respira����o. Perguntou-se se
ele agia assim naturalmente ou se tamb��m usara algumas p��lulas. Fez
o registro mental de perguntar depois que tudo acabasse. Ao
chegarem no final do caminho, diversos homens de macac��o preto
emergiram da escurid��o. Davidson correu para eles, dizendo a John:
��� Est��o atrasados. O que aconteceu?
��� Tivemos problemas nos port��es. Como foram as coisas?
��� Tudo bem. Acho que pegamos todos os que se encontravam
aqui fora. �� claro que pode haver outros l�� dentro, mas recebemos
ordens de esper��-los.
��� Muito bem. ��� John virou-se para Alana. ��� Por que
entrada passamos?
Alana apontou para a segunda ponta da estrela.
��� Temos de pensar numa coisa. No momento em que pisar-
mos nos degraus de concreto, em torno da casa, todos os refletores se
acender��o.
��� Certo. ��� John virou-se para os seus homens. ��� Quero dois
homens na entrada de cada ponta. Tr��s homens nas entradas das
casas na circunfer��ncia. Quatro homens nos port��es dos canis. N��o
quero que ningu��m saia das casas.
Ele virou-se para Judd.
��� Levarei tr��s homens conosco. Entramos primeiro. No
momento em que o fizermos, os outros ocupar��o suas posi����es. ���
John correu os olhos ao redor. ��� Entendido?
Ningu��m falou nada. Ele tornou a se virar para Judd.
��� O espet��culo agora �� todo seu, senhor.
Judd acenou com a cabe��a.
��� Muito bem, vamos em frente.
Antes mesmo de come��arem a correr para a casa, no entanto,
os refletores se acenderam, transformando a noite em dia.
308
��� Mas que merda! ��� praguejou Judd. ��� O que aconteceu?
Alana apontou para um enorme doberman, parado, as orelhas
levantadas, alerta. No instante seguinte, ouviram um ligeiro zunido.
O cachorro cambaleou para o canto da casa, parou de repente,
levantou uma pata, mijou na maior felicidade em cima de um
canteiro de ger��nios, depois deitou-se gentilmente e caiu no sono.
Alana foi a primeira a chegar �� porta. Abriu-a. Judd foi atr��s,
seguido por John e os outros. Pisando o mais suavemente que podiam
no ch��o de m��rmore, eles foram conduzidos por Alana para uma
cortina larga, de contas vermelhas. Ela entreabriu um canto da
cortina.
Judd espiou, vendo as costas do maharishi. Mais al��m, estavam sentadas 16 ou 20 mo��as, todas na posi����o l��tus, os olhos fixados em
adora����o no guru.
Em sil��ncio, Judd acenou com as m��os para os homens,
informando como se posicionarem para a captura do maharishi.
Depois que todos estavam em seus lugares, Judd passou pela cortina.
N��o chegara a dar dois passos quando se descobriu agarrado
pelo peito, por tr��s, bra��os com cintas de a��o levantando-o do ch��o.
Uma voz disse em seu ouvido:
��� Relaxe. Se resistir, n��o ser�� morto, mas pode ficar aleijado
pelo resto da vida.
Judd debateu-se apenas para recuperar o f��lego, enquanto era
arremessado ao ch��o. Ouviu um pequeno zunido e os bra��os que o
encontraram se abriram, como se o a��o derretesse. Outra voz chegou
a seu ouvido, profunda e calma:
��� Ol��, Sr. Crane. ��� Ele viu o vulto do maharishi se virar
lentamente. ��� Eu o esperava h�� muito tempo. Talvez h�� mais tempo
do que pode imaginar.
Judd olhou aturdido para o maharishi, enquanto ele se levantava. Era mais alto do que parecera, talvez porque estivesse numa
plataforma ou por causa da magreza asc��tica e a t��nica que pendia
dos ombros at�� as sand��lias.
Ele virou-se para as mo��as, que come��avam a se levantar
tamb��m, nervosamente conscientes da intromiss��o inesperada. Pare-
ciam ansiosas em fugir, embora dessem a impress��o de que n��o
sabiam para que lado correr. O guru se mantinha perfeitamente
calmo.
��� N��o fiquem assustadas, minhas crian��as. Recuperem a
309
serenidade interior. Nenhum mal lhes vir�� desses homens. Eles
vieram a mim como amigos, procurando conhecimento.
Tranq��ilizadas, as mo��as tornaram a se sentar na plataforma,
retomando a posi����o l��tus. O guru virou-se para Judd.
��� Seria mais prop��cio para a nossa conversa se providenciasse
a partida de seus homens. A presen��a de tantos estranhos perturba
nossa serenidade e medita����o. Todos aqui compreendemos que a
vida se prolonga de um passado intermin��vel ao infinito.
Ele desceu da plataforma e aproximou-se de Judd. Os olhos
eram de um castanho-amarelado e penetrantes.
��� Temos muitas coisas a conversar, meu filho.
��� Tem raz��o ��� murmurou Judd.
O guru acenou com a cabe��a.
��� Mas agora preciso descansar. N��o sou mais t��o jovem. Sem
dormir, n��o funciono t��o bem quanto deveria. Creio que haver��
necessidade de seis horas para que o seu grupo se retire e as coisas
por aqui voltem ao normal. Eu agradeceria se me permitisse
repousar, a fim de iniciarmos a nossa conversa no instante preciso em
que o sol raiar. Judd ficou calado, indeciso quanto ��s inten����es do
homem. O maharishi acrescentou:
��� Eu dou a minha palavra de que n��o o enganarei. Haveremos
de nos encontrar como prometi.
Judd sentiu alguma coisa familiar na presen��a do maharishi.
N��o foi capaz de disfar��ar a surpresa. Contemplou os olhos de um
amarelo-top��zio �� sua frente e disse, sem qualquer entona����o:
��� Eu o conhe��o.
��� �� muito observador. Conheceu minha irm��.
��� Mas �� claro! Zabiski!
��� Ela era minha irm�� mais velha.
��� Isso explica tudo. Mas o que...
��� Tudo ser�� explicado. Minha irm�� era um g��nio. Mas
conversaremos a respeito quando tornarmos a nos encontrar, ao
nascer do sol. Agora, preciso descansar.
O guru levantou-se.
��� Sinto-me mais repousado com duas garotas junto de mim.
Equilibra o Yin e Yang dentro de mim.
Judd n��o disse nada.
��� Soube que voc�� tamb��m encontrou o mesmo equil��brio. Se
assim desejar, podemos lhe oferecer a mesma ajuda.
310
Judd respirou fundo.
��� Obrigado, mas acho que n��o aceitarei desta vez. Ficarei
comigo apenas esta noite.
��� Como quiser ��� respondeu o maharishi. ��� Meus amigos os
conduzir��o a seus aposentos.
Os quartos de h��spedes ficavam numa casa pequena, no per��metro da
maior. Os quartos eram pequenos como a casa. Uma cama de
solteiro estreita e uma cadeira. Uma pequena c��moda com quatro
gavetas. O banheiro tinha apenas o boxe do chuveiro e um arm��rio
de madeira pintado para as roupas. O vaso, sem tampa, ficava por
baixo de uma janela no alto da parede. As paredes do quarto estavam
pintadas de branco, n��o havia quadros ou qualquer outra decora����o.
N��o havia telefone nem r��dio.
��� No compartimento traseiro de seu carro tem mais espa��o ���
comentou Fast Eddie para Judd.
��� N��o se queixe. Daremos um jeito.
��� Como? Fiquei de olho em algumas daquelas garotas, mas
n��o h�� espa��o suficiente para esprem��-las tamb��m nestes quartos
m��nimos.
��� Se houver boa vontade, sempre se encontrar�� um jeito ���
disse Judd, rindo. ��� Talvez uma das garotas concorde em lev��-lo
para o quarto dela.
��� Isso seria pedir demais ��� murmurou Fast Eddie, desapon-
tado. ��� Com todos aqueles guardas monstruosos e cachorros
malucos, n��o vou sequer me arriscar a meter o nariz fora da porta.
Muito menos o pau. J�� sou bastante pequeno e n��o quero ficar ainda
menor.
��� Ent��o v�� se deitar. Temos de levantar cedo amanh��.
Fast Eddie passou de lado pela porta, a fim de permitir que
Sofia entrasse no quarto ao mesmo tempo.
��� O que voc�� acha? ��� ela foi logo perguntando a Judd.
��� Sobre o qu��?
��� O irm��o de Zabiski. Acredita nisso?
��� N��o tenho motivo para n��o acreditar.
��� �� estranho... Nunca ouvimos falar de tal pessoa, mas ele
parece saber tudo a nosso respeito.
��� No que est�� pensando, Sofia?
��� A ��nica outra pessoa que sabe tanto sobre n��s �� Andropov.
311
Judd ficou surpreso.
��� Acha que ele pode estar trabalhando com os russos?
Sofia deu de ombros.
��� N��o sei. A ��nica coisa de que tenho certeza �� que n��o confio
em mais ningu��m. Talvez ele trabalhe diretamente para o Comit��
Central do Politburo. Todos s��o velhos, at�� Andropov. E todos
gostariam de prolongar suas vidas e seus poderes.
��� N��o sei o que lhe dizer, Sofia. A Seguran��a me informou
que todo mundo, inclusive o FBI e a Receita Federal, estava
investigando-o.
��� Tenho medo.
Fast Eddie voltou apressadamente ao quarto.
��� Consegui!
Judd olhou para ele.
��� Lembra daquela aeromo��a que temos no avi��o, Valerie
Ann? Acabei de conhecer sua irm��. �� uma das garotas daqui e
parece cem vezes melhor do que Valerie Ann.
Ele saiu do quarto antes que qualquer dos dois pudesse lhe
dizer alguma coisa. Judd olhou para Sofia.
��� Isso pode ser a nossa resposta.
��� �� poss��vel, Judd. Mas ainda estou com medo.
Judd fez uma pausa.
��� Nada vai acontecer at�� amanh�� de manh��. Eu a aconselho a
tentar dormir um pouco.
Sofia fitou-o nos olhos.
��� Importa-se se eu ficar com voc��?
Ele apontou para a cama estreita.
��� Aqui?
Sofia assentiu.
��� N��o me importo de dormir no ch��o.
312
21
E L A A C O R D O U subitamente na cama estreita. Virou-se. Judd
sentava-se no ch��o, im��vel, as pernas cruzadas, na posi����o l��tus.
Os olhos se abriram.
��� Bom dia ��� disse ele.
��� Ficou sentado assim durante toda a noite?
Ele assentiu.
��� N��o precisava. Dei espa��o na cama.
Judd sorriu.
��� Achei que voc�� ficaria mais confort��vel sozinha na cama.
Al��m do mais, estou acostumado a esta posi����o. ��� Ele levantou-se.
��� Quer se juntar a mim no chuveiro?
��� Se houver espa��o suficiente para n��s dois, eu adoraria.
��� Pois ent��o vamos descobrir.
A ��gua do chuveiro estava gelada. Sofia ofegou e exclamou,
tremendo toda:
��� Puxa vida!
Judd abra��ou-a.
��� Assim est�� melhor?
��� Muito melhor. ��� Ela fitou-o nos olhos. ��� N��o o compreen-
do, Judd.
Ele sorriu.
��� N��o h�� nada para compreender. Simplesmente estou com
tes��o.
Sofia sentiu o falo ereto se comprimindo contra o seu corpo e
sussurrou:
��� Lindo...
313
Judd passou os bra��os por baixo dos joelhos dela e levantou-a.
Sofia passou os bra��os por seu pesco��o, pendurando-se.
��� Oh, Deus! ��� exclamou ela, quando foi penetrada. ��� Voc��
est�� t��o duro!
Judd sussurrou em voz rouca:
��� N��o �� assim que voc�� gosta?
��� Adoro ��� balbuciou Sofia. ��� Adoro voc��. E quero mant��-
lo dentro de mim para sempre. ��� Ela come��ou a tremer, pr��xima do
orgasmo. ��� Oh, Deus, j�� estou gozando!
As m��os de Judd comprimiam suas n��degas com tanta for��a,
puxando-a de encontro a seu corpo, que ela n��o era capaz de se
mexer.
��� Mais devagar ��� ordenou Judd, asperamente. ��� N��o tenho
o mesmo controle de antes e n��o quero gozar muito depressa.
Sofia manteve-se im��vel, inclinando-se para beij��-lo na boca e
sussurrando:
��� Meu amor... meu lindo amor...
��� Sofia! ��� A voz de Judd estava impregnada de espanto. ���
N��o sei o que est�� acontecendo comigo!
Ela sentiu as l��grimas aflorando a seus olhos e disse, gentil-
mente:
��� Talvez, Judd... talvez voc�� esteja se apaixonando.
Ele comprimiu-se contra ela, quase furioso.
��� N��o! N��o! N��o posso me apaixonar! N��o tenho permiss��o!
Sofia sentiu o orgasmo de Judd explodir dentro de seu corpo e
acompanhou-o com o seu. E murmurou, os l��bios comprimidos
contra os dele:
��� O amor n��o aceita as regras de ningu��m.
Ficaram abra��ados at�� que as for��as se esgotaram e escorrega-
ram juntos para o ch��o do boxe. A ��gua gelada continuava a se
derramar por cima.
A biblioteca do maharishi tinha prateleiras cheias de livros do ch��o ao teto, mas n��o possu��a uma s�� cadeira, uma mesa ou um sof��.
Havia almofadas espalhadas pelo tapete que cobria o ch��o. Seus
cabelos compridos estavam presos atr��s, caindo pelos ombros do
cafet�� p��rpura. A barba estava impecavelmente escovada. Ele
sentava de pernas cruzadas numa almofada e gesticulou para que
entrassem.
314
Observou-os atentamente. Fast Eddie acompanhava-os. O
maharishi olhou para Judd e disse suavemente:
��� Suplico mil perd��es, mas eu me sentiria mais �� vontade se
apenas voc�� e a mulher participassem da conversa.
Judd assentiu e virou a cabe��a para Fast Eddie, que hesitou por
um momento.
��� N��o se preocupe, Fast Eddie. Estarei perfeitamente seguro
aqui.
Fast Eddie acenou com a cabe��a e saiu da sala. O maharishi
apertou um bot��o ao lado da almofada. A porta fechou e ouviram o
estalido quando ficou trancada. Ele olhou para Judd.
��� Obrigado.
Judd sentou numa almofada perto do maharishi. Virou-se para Sofia, enquanto ela sentava, antes de se concentrar no guru.
��� F��ni x r e n a s c e u das cinzas de F��nix, assim como o dalai lama
nasce no momento da morte do dalai lama.
O maharishi n��o disse nada. Judd fitou-o nos olhos.
��� Voc�� n��o �� o mesmo homem com quem falei ontem �� noite.
O guru balan��ou a cabe��a, lentamente.
��� �� verdade. Meu pai me avisou que voc�� �� um homem muito
observador.
��� Com o devido respeito, s�� falarei com seu pai.
O guru assentiu.
��� Meu pai estar�� aqui dentro de um instante.
Ele apertou outro bot��o ao lado da almofada. Uma parede
completa de estante deslizou para o lado, revelando outra sala. Esta
se achava mobiliada num estilo mais convencional. O maharishi
sentava-se por tr��s de uma mesa de s��ndalo, enfeitada em rosa e
marfim. Ele se vestia tamb��m de maneira mais convencional, terno
branco, camisa e gravata tamb��m brancas, um turbante branco de
seda na cabe��a. Levantou-se e fez uma rever��ncia.
��� Sr. Crane, Dra. Ivancich.
Judd levantou-se e acenou com a cabe��a.
��� Seu filho, maharishi? Ou seu clone?
��� Meu filho e meu clone. Ele �� apenas um de meus muitos
filhos. Ou clones, como voc�� os chama. ��� O maharishi sorriu. ���
Mas o que s��o os filhos de um homem se n��o os clones de sua
semente?
315
��� Vim em busca do seu conhecimento, senhor ��� disse Judd.
��� N��o de uma disserta����o filos��fica.
��� S��o a ��nica e mesma coisa, meu filho ��� disse o maharishi.
��� Vejo que �� muito parecido com minha irm��. Ela tamb��m s��
acreditava na ci��ncia, n��o na verdade dentro da alma do homem.
��� Mas permitiu que ela fizesse a experi��ncia em voc��? ���
indagou Judd, astutamente.
��� Fui o primeiro. E, portanto, fui tamb��m o primeiro a
aprender que a ci��ncia por si s�� n��o �� suficiente.
��� Ela confiou a voc�� muitos de seus pensamentos, que jamais
foram transmitidos a qualquer outra pessoa ��� comentou Judd,
polidamente.
��� Mas mesmo assim estivemos separados em nossas convic-
����es. Ao final, ela me disse que voc�� era o herdeiro de todo o seu
conhecimento. ��� O maharishi pegou um caderno de anota����es
encadernado em couro e estendeu para Judd. ��� Aqui est��o as
anota����es de minha irm��, de 1935 a 1944.
Judd abriu o caderno e folheou diversas p��ginas. Algumas
estavam escritas a tinta, a maioria a l��pis. Ele levantou os olhos para
o maharishi.
��� Em alem��o?
��� Isso mesmo. Foram escritas secretamente �� noite, no
laborat��rio do campo de concentra����o nazista.
��� Quer dizer que ela trabalhou para os nazistas?
��� Todos n��s trabalhamos ��� respondeu o maharishi, sem a
menor hesita����o. ��� N��o havia op����o. Ou trabalh��vamos ou ��ramos
mortos.
Em sil��ncio, Judd entregou o caderno a Sofia. Tornou a virar-se
para o velho.
��� Que trabalho faziam l��?
��� Estudos de longevidade. As ordens vinham diretamente do
Fuehrer. Assim como o Terceiro Reich, ele tamb��m deveria viver por mil anos. ��� O maharishi suspirou e desviou os olhos de Judd. ��� Ao final do ver��o de 1944, todos sab��amos que a Alemanha perdera a
guerra. Havia p��nico por toda parte, entre os prisioneiros e tamb��m
entre os guardas. Vieram ent��o as ordens para que todos os registros
fossem destru��dos. E todas as pessoas ligadas ��s experi��ncias
deveriam ser mortas.
O velho fez uma pausa, o olhar perdido no tempo.
316
��� Mas minha irm�� resistiu. Aproveitando a minha pele escura,
herdada da segunda esposa de meu pai, que era indiana, ela mandou-
me seguir pela estrada por onde o ex��rcito brit��nico avan��ava.
Vestindo roupas de camponesa, ela pr��pria seguiu para o norte, na
dire����o das linhas russas. Levava o cart��o de identidade de sua m��e
russa. E assim nos separamos. Dessa forma, pelo menos um
sobreviveria.
��� Que experi��ncias ela realizou em voc��? ��� indagou Judd.
��� As mesmas experi��ncias que fez em si mesma. Era uma
forma de terapia celular.
��� Como Niehans? ��� perguntou Judd. ��� Mas onde foi
poss��vel encontrar as ovelhas n��o-nascidas na quantidade suficiente
que se precisa?
O velho fitou-o em cheio nos olhos.
��� N��o havia nenhuma.
Judd continuou a fit��-lo. Por um momento ele nada falou.
Finalmente murmurou:
��� Foi sobre essas experi��ncias que ela escreveu aqui?
��� Exatamente.
��� Mas pensei que ela tivesse descoberto alguma forma de
autoclonagem. E n��o usando fetos humanos.
��� Isso tamb��m. Mas era apenas uma parte do todo. ��� O
maharishi respirou fundo. ��� A vontade humana de sobreviver �� mais forte do que a aceita����o da morte, mais forte at�� do que qualquer
senso de moral.
Judd continuou a olhar para ele, sem fazer qualquer coment��-
rio. O velho n��o vacilou.
��� N��o sinta choque ou repulsa. Muito em breve, voc�� tamb��m
ter�� de fazer essa op����o.
��� Acho que n��o ��� declarou Judd, determinado. ��� Os
avan��os espetaculares na engenharia gen��tica DNA fazem com que
todos os m��todos de sua irm�� se tornem obsoletos. J�� desenvolvemos
diversas c��lulas humanas em laborat��rios que n��o podem ser
diferenciadas das originais. At�� mesmo c��lulas que podem reparar a
si mesmas. Algumas podem inclusive se reproduzir, quando os danos
s��o irrepar��veis.
��� Est�� querendo me dizer que descobriu o segredo da vida?
��� Ainda n��o ��� respondeu Judd. ��� Mas isso pode acontecer
algum dia.
317
O velho ficou calado por um momento, depois sacudiu a cabe��a
em d��vida.
��� Estou triste. O segredo da vida s�� deve pertencer ao
Criador.
��� E se o pr��prio homem for o criador?
O maharishi fitou-o nos olhos.
��� Agora �� voc�� quem se torna filos��fico.
��� �� mais dif��cil de pensar nisso do que nos m��todos de sua
irm��?
��� J�� disse antes que nem sempre concordei com muitas das
id��ias e m��todos de minha irm��.
��� Mas permitiu que ela o tratasse como se fosse uma cobaia.
��� Ela tamb��m realizou as mesmas experi��ncias em si mesma.
��� Ele fez uma pausa, cansado. ��� Mas tudo isso ocorreu h�� muitos
anos. �� no agora que devemos pensar.
��� Concordo.
��� H�� muitas coisas nas anota����es de minha irm�� que s��o
dif��ceis de compreender e obscuras, at�� mesmo em sua l��ngua. Mas
com as anota����es que j�� possui, �� poss��vel formar um todo. Talvez,
ent��o, seremos capazes de compreender seus pensamentos e desco-
bertas. ��� O maharishi inclinou-se atrav��s da mesa. Sou um velho.
Gostaria de ajud��-lo nesse trabalho, se puder. Meu desejo ��
compreender um pouco do trabalho e sonhos de minha irm��.
Judd virou-se para Sofia.
��� Acha poss��vel que esse homem seja capaz de ajud��-la a
descobrir mais do que conseguiria se trabalhasse sozinha?
��� Claro ��� respondeu Sofia. ��� Ele �� parte singular de uma
hist��ria que nunca poder��amos conhecer na totalidade sem sua
participa����o.
Judd tornou a olhar para o velho.
��� Objetaria a que realiz��ssemos nosso trabalho aqui? Ter��a-
mos de instalar todos os sistemas necess��rios a um estudo mais
complexo. E ligaremos terminais que entram em contato diretamente
com o nosso Computador Central.
��� N��o tenho qualquer obje����o.
��� Pois ent��o faremos isso. ��� Judd olhou para Sofia ��� �� o
melhor. E voc�� estar�� mais segura aqui do que em qualquer outro
lugar pr��ximo de nossas unidades.
��� E onde voc�� estar��?
318
��� Tenho outras coisas a fazer. Mas ficaremos em contato
permanente. E tornaremos a nos encontrar assim que o trabalho aqui
for conclu��do.
O maharishi levantou-se.
��� Obrigado, meu filho. E que a paz possa emergir de suas
descobertas. ��� Ele fez uma pausa e depois acrescentou: ��� Estou
cansado agora e preciso repousar novamente.
��� Obrigado, mestre ��� murmurou Judd.
O maharishi sorriu.
��� Vejo que conhece algumas palavras de hindi, meu filho. A
palavra "guru" significa mestre em ingl��s. ��� Ele ergueu a m��o,
numa esp��cie de b��n����o. ��� Paz e verdade.
O velho passou pela porta e desapareceu. Judd virou-se para o
homem mais jovem, ainda sentado na almofada.
��� Seu pai �� um homem extraordin��rio. Posso perguntar qual ��
a idade dele?
��� Claro, Sr. Crane. Ele �� eterno.
319
22
EM LOCAL T �� O acima do n��vel do mar, um manto de neve cobria
os cumes das montanhas. Judd, sentado no assento do co-piloto do
novo Crane VTOL, com suas estranhas asas em formato de X,
observava a cruz negra feita por sua sombra pela neve branca
refulgente, com o sol mergulhando por tr��s.
��� �� muito bonito, Sr. Crane ��� comentou o piloto.
��� Tem raz��o, Tim. N��o se encontra uma neve assim na
Fl��rida.
��� Estou falando do avi��o, Sr. Crane. Voa como se tivesse
nascido para ser ��guia. Nunca houve um avi��o como este.
��� Sei disso.
��� Se o Departamento de Defesa n��o encomendar pelo menos
600 avi��es destes, ent��o �� porque todo mundo por l�� ficou doido. J��
voei em incont��veis aparelhos. Desde o primeiro Harrier at�� o
��ltimo. E este �� muito superior a tudo.
��� Pode estar certo de que eles ir��o compr��-lo. ��� Judd olhou
para a encosta da montanha que subia para o plat��. ��� Estamos quase
chegando.
��� S�� mais cinco minutos.
Judd virou-se para a parte posterior da cabine. Fast Eddie
sentava-se sozinho entre as seis poltronas de passageiros.
��� O que acha?
��� Se pud��ssemos levar toda essa neve para os Estados Unidos
��� comentou Fast Eddie, sorrindo ��� ganhar��amos um bilh��o de
d��lares.
��� Sempre pensando em algo para comer ��� disse Judd, rindo.
320
��� Aposto que est�� bastante frio l�� fora ��� disse Fast Eddie.
��� Cinco graus abaixo de zero.
��� O que �� frio demais.
Judd tornou a se virar para o piloto.
��� Avise a eles que estamos chegando. Quero entrar na cratera
e n��o pousar no plat��.
��� Pois n��o, Sr. Crane. ��� O piloto ligou o painel digital do
r��dio. Houve um rangido e depois ele falou: ��� Chamando r��dio
Xanadu. Chamando r��dio Xanadu.
Uma voz soou pelo alto-falante:
��� R��dio Xanadu na escuta. J�� o temos no radar. Est�� a 7.100
metros no curso nordeste. Seu coeficiente �� 21, 21, zero, 93, 21.
Acuse o recebimento. C��mbio.
��� Mensagem recebida, Xanadu. Estamos efetuando o conta-
to. ��� O piloto ligou o sistema direcional autom��tico. ��� Sr. Crane
est�� a bordo do Crane VTOL Seis. Solicitamos pouso na cratera.
��� Parece grande demais, Crane VTOL Seis. Acho que n��o
temos espa��o suficiente aqui.
Judd falou pelo microfone em sua garganta:
��� Talvez n��o tenha ouvido direito, controle. Sou Judd Crane e
vai arrumar espa��o para n��s de qualquer maneira. E n��o quero saber
como conseguir��.
A voz pelo alto-falante tornou-se respeitosamente suave no
mesmo instante:
��� Desculpe, senhor. Basta nos dar um pequeno prazo para
transferirmos alguns dos helic��pteros para o plat��.
��� Obrigado, controle. ��� Judd desligou seu microfone. ��� Mas
que idiota! v
��� Dez minutos depois, o VTOL descia diretamente para a
cratera, como se fosse um elevador sustentado por cabos. Dentro do
aparelho, eles se agasalharam em capotes de pele e ficaram aguar-
dando o sinal para abrirem as portas. Uma lufada de ar gelado
informou-os de que podiam desembarcar. O piloto apertou um bot��o
e a escada abriu-se para eles. Judd foi o primeiro a descer. Doc
Sawyer sorriu-lhe sob o seu parka de pele.
��� Seja bem-vindo a Xanadu, o teto do mundo.
Judd apertou-lhe a m��o efusivamente. Por tr��s de Sawyer, ele
viu o Dr. Schoenbrun. Inclinou-se para tamb��m apertar a m��o do
alem��o.
321
��� Seja bem-vindo, Sr. Crane.
��� Vamos sair logo do frio ��� disse Sawyer, afastando-se.
Os outros o seguiram. Judd absorveu tudo prontamente:
homens em helic��pteros sendo levados para o plat��, outros subindo
no elevador coberto na encosta da cratera. As bolsas indicavam que
embarcariam nos enormes C-5 que ele vira esperando para decola-
rem. Sawyer abriu uma enorme porta de a��o e entraram no interior
aquecido do pr��dio.
��� Duas semanas ��� disse Sawyer, sem qualquer tentativa de
esconder sua satisfa����o. ��� Fizemos tudo em duas semanas.
��� �� isso mesmo, Sr. Crane ��� acrescentou o alem��o. ��� Est��
tudo pronto �� sua espera. Pela manh��, poder�� apertar o bot��o e o
reator nuclear come��a a acumular calor.
��� Quanto tempo vai demorar para ficar totalmente operacio-
nal? ��� perguntou Judd.
��� Uma semana ��� respondeu o Dr. Schoenbrun. ��� Assim que
alcan��ar a pot��ncia m��xima, o reator se desliga e passa a funcionar
automaticamente. Vigia a si mesmo pela rob��tica e a dura����o deve
ser infinita.
��� E se houver algum defeito?
��� N��o haver�� ��� garantiu o alem��o, pomposamente. ���
Primeiro, n��o h�� partes m��veis. N��o h�� absolutamente nada al��m de
pura energia at��mica. Segundo, se houver algum defeito, o reator
tem a capacidade de reparar a si mesmo. Posso lhe assegurar, Sr.
Crane, que esta �� a mais perfeita m��quina de movimento perp��tuo
que o homem j�� inventou.
��� S�� quero ter certeza ��� disse Judd. ��� Afinal, �� a minha
pr��pria vida que estou apostando.
��� A m��quina funcionar�� ��� declarou o Dr. Schoenbrun,
formalmente. ��� Mas n��o posso garantir sua vida.
��� Amanh�� de manh��, ��s sete horas ��� disse Judd brusca-
mente.
O alem��o ficou aturdido.
��� Como, Sr. Crane?
��� Apertaremos o bot��o. ��� Judd virou-se para Sawyer. ���
Vou ao meu apartamento tomar um banho de chuveiro. O jantar
pode ser ��s nove horas?
Lee assentiu. Judd virou-se novamente para Schoenbrun.
��� Jantar�� conosco, doutor?
322
��� Com todo prazer, Sr. Crane ��� respondeu o alem��o,
batendo os calcanhares.
Lee sentava-se num sof��, tomando um scotch com gelo, quando
Judd saiu do banheiro, depois da chuveirada. Ele esperou at�� que
Judd amarrasse a cinta do roup��o.
Sente-se melhor?
��� Muito bem ��� respondeu Judd. ��� Por que pergunta?
��� N��o tem dores de cabe��a?
��� Nenhuma. O que est�� pensando?
��� Estou curioso com o aumento das c��lulas cerebrais. O que
Sofia achou?
��� Ela disse que �� melhor esperar para ver o que acontece.
Tamb��m n��o compreendeu.
��� Eu gostaria de fazer uma nova s��rie de exames. Tomogra-
fias, EEGs, tudo enfim. Eu ficaria mais tranq��ilo se a tomografia
mostrasse que n��o houve qualquer atividade adicional.
��� De que est�� com medo, Lee?
Sawyer fitou-o nos olhos.
��� De que voc�� n��o tenha me contado toda a hist��ria. Acho
que injetou em voc�� algumas daquelas c��dulas clonadas.
��� E se isso aconteceu, qual �� o problema? Estou bem, n��o
sinto qualquer efeito pernicioso.
��� O aumento das c��lulas cerebrais pode ter um efeito perni-
cioso. C��lulas em crescimento desordenado se desenvolvem em
c��ncer ou num tumor. N��o sabemos o que pode acontecer.
��� Eu me sinto bem ��� insistiu Judd, contrariado. ��� Vamos
mudar de assunto.
��� A n��s. ��� Lee tomou um gole do u��sque. ��� Depois de duas
semanas aqui, eu me sinto por fora das coisas. Conseguiu finalmente
encontrar-se com o maharishil
��� Consegui.
��� Arrancou dele o que queria?
��� Alguma coisa. Ele tinha as anota����es que procur��vamos. E
descobrimos que era o irm��o de Zabiski. Trabalharam juntos num
laborat��rio alem��o quase at�� o final da guerra. Realizando um
estudo sobre longevidade.
Lee manteve-se calado e Judd acrescentou:
��� A velha fazia experi��ncias com terapia celular muito antes
de qualquer outra pessoa. Mas pode imaginar que c��lulas ela usava?
323
Lee assentiu.
��� Tenho um pressentimento. De fetos humanos.
��� O que o levou a essa conclus��o?
��� Sua insist��ncia na fecunda����o artificial daquelas mulheres.
Afinal, somente uma j�� seria suficiente para verificar a sua capacida-
de de produzir um filho normal. Uma d��zia de mulheres era um
exagero.
��� Mas todas elas abortaram.
��� Isso n��o aconteceu por culpa sua. Providenciei tudo. N��o
tinha um est��mago bastante forte para o que a velha queria fazer.
Seres humanos ainda n��o est��o prontos para substituir animais de
laborat��rio, n��o importa o que tantos anos com os nazistas fizeram ��
nossa boa doutora.
��� Sabia que tive um filho? ��� disse Judd, procurando manter
um tom casual.
A surpresa de Lee foi genu��na.
��� N��o, n��o sabia.
��� De Sofia. N��o sei como ela conseguiu, mas o fato �� que se
esquivou ao aborto. E veio da R��ssia para os Estados Unidos na
ocasi��o do parto.
Lee fitava-o fixamente.
��� J�� sabia disso h�� muito tempo?
��� S�� descobri quando Barbara me contou, logo depois que ela
se retirou de nossa ��ltima reuni��o, em San Francisco.
��� Conversou com Sofia a respeito?
Judd sacudiu a cabe��a.
��� O que h�� para conversar? N��o �� responsabilidade minha e
n��o vou alterar minha vida.
��� Mas o que far�� com a crian��a?
��� Barbara adotou-a, o que �� ��timo para mim.
��� N��o sente qualquer curiosidade? N��o apenas em ver o
menino, mas saber se parece com voc��...
Judd interrompeu-o bruscamente:
��� Barbara j�� me disse tudo o que preciso saber. Ele tem olhos
azuis como os meus. Mas n��o ligo.
Lee levantou-se para servir-se de outro scotch.
��� Voc�� �� um homem estranho, Judd. Acho que nunca o
compreenderei. E provavelmente ningu��m jamais ser�� capaz de
compreend��-lo.
324
��� Isso tamb��m n��o tem a menor import��ncia. ��� Judd sorriu.
��� Depois do jantar, acha que haveria tempo para visitar o
laborat��rio em que est��o as culturas?
��� Se voc�� quiser.
��� Quero e muito.
��� Antes de descermos para o jantar, importa-se que eu
verifique seu cora����o e press��o? Coisas esquisitas costumam aconte-
cer nesta altitude.
��� Claro que n��o me importo.
Lee pegou uma valise pequena e abriu-a.
��� Trouxe minha unidade port��til de ECG. ��� Ele olhou para
Judd. ��� Tomou algum t��xico hoje?
��� N��o. Estou limpo.
��� Deite-se no sof��.
Lee ligou os eletrodos, analisou cuidadosamente a fita, depois
desligou o aparelho. Come��ou a tomar a press��o de Judd, nos bra��os
e panturrilhas.
��� Deveria verificar no meu pau, Lee ��� disse Judd, ao se
levantar.
��� N��o h�� a menor possibilidade. A agulha pularia fora. ��� Ele
sorriu para Judd e balan��ou a cabe��a com uma express��o de
admira����o. ��� Voc�� parece em excelente forma. Press��o de 140 por
80, cora����o normal, nada de extraordin��rio em qualquer parte.
��� Sente-se melhor agora, doutor?
Lee tamb��m se levantou.
��� Vou deix��-lo se vestir agora. At�� a hora do jantar.
O jantar foi simples. Fil�� malpassado com molho de cogumelos,
batatas cozidas, vagens e cenouras. Depois, uma salada verde simples
e um brie franc��s. O vinho foi Bordeaux, Ch��teau Mouton Roths-
child 76. O caf�� para arrematar. O sorriso do Dr. Schoenbrun
revelava sua satisfa����o.
��� Um bom cozinheiro �� a ep��tome da civiliza����o.
Judd sorriu.
��� Nunca imaginei que fosse um fil��sofo, doutor.
��� A filosofia come��a no est��mago e n��o na cabe��a ���
comentou o alem��o.
Judd tomou um gole do caf��.
��� Est�� satisfeito com o seu progresso, doutor?
325
��� Muito, Sr. Crane. At�� amanh��, o ��ltimo homem das
equipes de constru����o j�� ter�� ido embora. S�� ficar��o ent��o os
t��cnicos essenciais. Talvez n��o mais do que sete homens sejam
necess��rios para uma prote����o adequada. Depois de mais tr��s meses,
nem mesmo eles ser��o necess��rios.
��� Isso �� ��timo. Devo cumpriment��-lo, doutor. N��o posso
pensar em mais ningu��m que fosse capaz de executar este projeto t��o
depressa e t��o bem.
O alem��o sorriu orgulhosamente.
��� Aguardo ansiosamente pela manh��.
��� Eu tamb��m ��� disse Judd. ��� E agora, se me d��o licen��a,
vou me recolher. Tive um dia longo e cansativo.
Eram 11 horas quando Judd se encontrou com Sawyer no elevador,
descendo para o laborat��rio. Entraram na pequena sala de recep����o,
onde um guarda se sentava atr��s de uma mesa, na frente do elevador.
Sawyer levou Judd para um pequeno vesti��rio. Tirou as roupas
e foi para baixo de um chuveiro, gesticulando para que Judd fizesse a
mesma coisa. Depois, vestiram um macac��o esterilizado, puseram
toucas cir��rgicas e luvas de borracha compridas.
Havia outra ante-sala entre o vesti��rio e o laborat��rio. Sawyer
fechou a porta do vesti��rio e depois apertou um bot��o na parede. Um
t��nue cheiro de oz��nio passava pelo tubo de ventila����o. Depois de
um momento, a porta do laborat��rio abriu-se automaticamente. Dois
t��cnicos os aguardavam. Sawyer acenou-lhes com a cabe��a, infor-
mando:
��� Este �� o Sr. Judd Crane.
Os uniformes eram unissex. Judd n��o podia saber se eram
homens ou mulheres. Sawyer completou a apresenta����o:
��� Sr. Bourne e Srta. Payson.
Eles se limitaram a acenar com a cabe��a, sem trocar um aperto
de m��o. Sawyer conduziu Judd ao banco de gavetas de plexiglass que
cobriam as paredes. Cada gaveta era numerada. Havia tr��s mesas
diante das paredes, em trilhos de a��o. Em cima de cada mesa havia
um bra��o robotizado, que podia abrir qualquer gaveta ao comando
de um teclado de computador. Ao lado de cada bra��o rob��tico havia
um microsc��pio eletr��nico de tr��s lentes, pronto para projetar a
imagem numa tela grande de computador. Sawyer virou-se para
Judd.
326
��� No momento, usamos a energia de 624 baterias, funcionan-
do em turnos de quatro horas. Quando o gerador for ligado, as
baterias ser��o automaticamente desligadas. Gostaria de dar uma
olhada em alguma coisa espec��fica?
Judd assentiu.
��� As c��lulas do c��rtex.
Sawyer gesticulou para os t��cnicos. Eles apertaram prontamen-
te as teclas do computador. Uma das mesas come��ou a se deslocar ao
longo de uma parede; parou subitamente. O bra��o rob��tico esten-
deu-se para o banco de c��lulas, fez uma breve pausa, puxou uma
gaveta e colocou-a sob o microsc��pio. Um dos t��cnicos ligou a tela
grande.
Simultaneamente, todas as luzes no laborat��rio se apagaram.
Judd ficou olhando fixamente para a tela. Mostrava uma imagem
dividida. N��meros piscaram depressa no alto da tela. Um dos
n��meros era antecedido pela letra " C " . Sawyer explicou a Judd:
��� " C " �� clone, a outra �� genu��na.
Judd observou atentamente por um longo momento e depois
comentou:
��� N��o posso perceber qualquer diferen��a entre as duas.
��� N��o h�� nenhuma, Judd. Pelo menos nenhuma que possa-
mos perceber. Mas isso �� externamente. N��o sabemos se funcionam
exatamente da mesma maneira.
��� S�� podem funcionar. S��o totalmente id��nticas.
��� N��o totalmente.
Judd virou-se para ele com uma express��o inquisitiva.
��� Sabemos o que Deus criou ��� murmurou Sawyer, suave-
mente. ��� O que o homem criou ainda �� conjectura.
327
23
J U D D DESCEU da m��quina Nautilus no gin��sio, o macac��o de
gin��stica completamente encharcado de suor. Respirou fundo,
enquanto Fast Eddie enchia um copo com suco de laranja. Ele
bebeu aos goles, murmurando:
��� Eu estava mesmo precisando. Sentia-me inteiramente resse-
quido.
��� Tome outro, chefe.
��� Espere um pouco ��� disse Judd, arriando numa cadeira.
��� H�� duas coisas erradas neste lugar ��� continuou Fast Eddie.
��� A primeira �� que n��o se pode sair. N��o h�� saco que ag��ente. A
segunda �� que n��o h�� absolutamente qualquer cona dando sopa.
Judd riu.
��� N��o tem nada de engra��ado ��� acrescentou Fast Eddie,
muito s��rio. ��� Nunca imaginei que pudesse levar uma vida de
monge, chefe. Sempre achei que poderia me dar bem com as suas
sobras.
��� Lamento muito. ��� Judd sorriu. ��� Acho que estou ficando
velho.
��� N��o tem nada de velho, Sr. Crane. Est�� apenas se entedian-
do. Sua cabe��a paira em outras coisas.
��� S�� faz uma semana que estamos aqui.
��� Mas parece muito mais.
Fast Eddie sacudiu a cabe��a, pesaroso.
��� De qualquer maneira, a estiagem acabar�� amanh��, Fast
Eddie. Sofia chegar�� com o maharishi, que trar�� uma d��zia de suas garotas. Ele nunca viaja sem o s��quito.
328
��� Espero que tenham roupas mais quentes do que usavam na
Calif��rnia, caso contr��rio ficar��o roxos de frio antes de entrarem em
casa.
��� Temos abrigos de pele no avi��o para todo mundo.
��� Pensa em tudo, chefe ��� comentou Fast Eddie, com genu��na
admira����o. ��� Quem mais vir��?
��� Sawyer e Merlin, da Fl��rida. O Dr. Schoenbrun, de volta do
Rio. O reator dever�� entrar em plena opera����o amanh��.
��� Ser�� um grande dia.
��� Assim espero.
��� Come��o a pensar que est�� sentindo alguma coisa especial
pela Dra. Ivancich ��� comentou Fast Eddie, insinuante.
��� �� apenas um relacionamento de trabalho ��� respondeu
Judd, ainda repudiando os pr��prios sentimentos.
��� Um pequeno relacionamento sexual de quebra n��o faz mal
nenhum. ��� Fast Eddie sorriu. ��� Talvez seja melhor cheirarmos uma
dosezinha como treinamento.
��� Cheire voc��. Estou tentando me limpar um pouco. Os
m��dicos planejam fazer outro checkup completo.
Fast Eddie estendeu outro copo com suco de laranja.
��� Ent��o �� melhor tomar isto agora. Vai precisar de alguma
ajuda.
��� O que o faz pensar assim?
��� Conhe��o aquela doutora. Ela tem a maior tes��o por voc��. ��
capaz de lhe comer at�� os ovos.
Fast Eddie ria ao se afastar. Judd sacudiu a cabe��a em
discord��ncia, mas Fast Eddie j�� sa��ra do gin��sio e fechara a porta.
Judd tomou um gole do suco de laranja, pensou por algum tempo e
finalmente foi para o chuveiro.
O telefone tocou enquanto Judd se enxugava. Ele atendeu.
��� Sua m��e est�� na linha, senhor.
Judd apertou o bot��o da linha direta.
��� Ol��, Barbara.
A voz revelava que ela estava bastante nervosa.
��� Onde voc�� est��, Judd?
��� Em Xanadu. Qual �� o problema?
��� O menino foi seq��estrado ��� disse ela, a voz tr��mula,
enquanto for��ava as palavras a sa��rem o mais depressa poss��vel. ��� A
329
bab�� trazia-o do parque quando dois homens saltaram de um carro,
derrubaram-na e levaram o menino. Deixaram um bilhete.
Barbara estava obviamente desesperada. Judd perguntou cal-
mamente:
��� Est�� com o bilhete?
��� Estou, sim.
��� Pois ent��o leia-o, Barbara ��� ordenou Judd, o mais gentil-
mente que podia.
��� Sabemos quem �� este menino. ��� Ela lia cada palavra com a
maior dificuldade. ��� Tamb��m sabemos quem s��o o pai e a m��e.
Nenhum mal acontecer�� ao menino se eles concordarem com as nossas
condi����es.
��� Isso �� tudo o que tem no bilhete?
��� ��, sim.
��� Lembra-se que me disse que ningu��m sabia do menino?
Barbara chorava ao telefone.
��� Era o que eu pensava, Judd.
��� H�� quanto tempo aconteceu?
��� H�� cerca de duas horas.
��� Que horas s��o em San Francisco neste momento?
��� Quatro da tarde. Levei quase duas horas para conseguir
falar com voc��. ��� Barbara recome��ou a chorar. ��� O que vamos
fazer?
��� J�� ligou para John, na Seguran��a?
��� Ainda n��o.
��� Pois ent��o fale com ele imediatamente. Ele levar�� alguns
homens at�� a�� e come��ar��o a trabalhar. ��� Judd fez uma pausa. ��� Se
a bab�� tem alguma informa����o sobre os seq��estradores, como eles
pareciam, providencie para que conte tudo aos homens.
��� E Sofia? Eu me sinto na obriga����o de inform��-la.
��� Cuidarei disso. Por enquanto, Barbara, o que voc�� deve
fazer �� se manter calma. Eles disseram que querem entrar num
acordo comigo. Portanto, o menino nada sofrer��. Eu prometo.
��� Vai telefonar para mim no momento em que souber de
alguma coisa?
��� Claro. E se voc�� souber de alguma coisa, tamb��m deve me
avisar imediatamente.
Barbara respirou fundo.
��� Est�� certo.
330
��� Tome agora um tranq��ilizante e trate de relaxar, Barbara.
Tudo acabar�� bem. At�� logo.
Judd desligou e telefonou para Seguran��a. John estava na linha
um instante depois.
��� Sofia e o maharishi j�� deixaram Los Angeles?
��� H�� cinco horas.
��� Minha m��e lhe telefonar�� a qualquer momento. Ela dar�� os
detalhes. Cuide para que seja tudo investigado. Comece por falar
com seus contatos na CIA. Tente descobrir se est�� acontecendo
alguma coisa especial entre os agentes russos. Como um seq��estro.
N��o de um espi��o desta vez, mas de um menino de tr��s anos.
��� Entendido, senhor ��� disse John, sem qualquer emo����o.
��� J�� descobriu mais alguma coisa sobre o Dr. Schoenbrun?
Tenho a impress��o de que ele est�� envolvido nisso de alguma forma.
��� Nada consta de especial em nossos registros, senhor.
Apenas as coisas normais. Compareceu a simp��sios sobre f��sica
nuclear em pa��ses escandinavos, Alemanha, Jap��o. Nada fora do
comum... reuniram cientistas do mundo inteiro, inclusive da R��ssia.
��� Sabe se ele alguma vez cruzou os limites para Berlim
Oriental?
��� Duas vezes. Mas num ��nibus apinhado de turistas.
��� Merda! ��� Judd pensou por um momento. ��� Consulte a
Mossad. Os filhos da puta do servi��o secreto israelense s��o muito
espertos... e partilham informa����es com seus aliados, se tiverem
algum proveito a ganhar.
��� Boa id��ia, senhor. Cuidarei disso imediatamente. Como se
sente em rela����o �� seguran��a por a��? Acha que �� suficiente?
��� Estamos bem, John. No momento, s�� quero que descubra
tudo o que puder a respeito do garoto.
Judd desligou e chamou Fast Eddie.
��� O que ��, chefe?
��� Primeiro, quero aquele cheiro que voc�� me ofereceu e
depois uma Coca temperada.
��� Os dias felizes voltaram. ��� O negro sorriu, providenciando
rapidamente o que lhe fora pedido. ��� Adoro os seus olhos
brilhantes, chefe.
Judd aspirou as duas doses de coca��na e depois tomou um gole
da Coca temperada. Olhou para Fast Eddie.
��� Quantos tem daquele ATW sueco?
331
Fast Eddie ficou surpreso.
��� Uma d��zia. Espera algum problema?
Judd deu de ombros.
��� Nunca se sabe. Mantenha as armas por perto.
��� Est�� certo. Mais alguma coisa?
��� As armas pequenas, as autom��ticas de calibre 25?
��� Tenho duas. Uma para cada um.
��� Certo. ��� Judd tomou outro gole de Coca temperada. ���
Daqui por diante, assim que nossos h��spedes chegarem, voc�� fica
sempre perto de mim.
��� Ficarei t��o perto de voc��, chefe, que todos pensar��o que
estou grudado em seu rabo.
Era quase meia-noite quando tocou o telefone da Seguran��a, ao lado
de sua cama.
��� Aqui �� John, Sr. Crane. Temos algumas informa����es.
��� Estou acordado. Pode falar.
��� N��o sabemos quem s��o os seq��estradores, mas descobrimos
que dois homens e um garoto de tr��s anos embarcaram num avi��o da
Canadian Pacific do aeroporto de San Francisco para Montreal.
Chegando l��, o grupo embarcou num avi��o cubano para Havana.
Entramos em contato com um dos nossos agentes em Havana. A
informa����o �� que o aeroporto de l�� foi cercado. H�� rumores de que
algum russo importante est�� para chegar.
��� Acha que podemos intercept��-lo l��?
��� Duvido muito. �� arriscado demais. Mas descobrimos uma
coisa espantosa com a Mossad. Nosso Dr. Schoenbrun, supostamente
no Rio, est�� na verdade em Caracas. A informa����o �� de que ele
comprou duas passagens, de Caracas para o Rio. O filho da puta ��
muito est��pido. Uma das passagens �� para ele pr��prio e a outra para
uma crian��a de menos de cinco anos.
��� Podemos agarr��-los no Rio?
��� N��o dispomos do pessoal necess��rio. A pr��pria Mossad,
que gostaria de ajudar, s�� tem duas mulheres em seu escrit��rio.
��� Ent��o teremos de cuidar de tudo sozinhos. Tenho certeza
absoluta de que trar��o a crian��a para c��.
��� Posso ter um batalh��o de agentes a�� por volta de meia-noite
de amanh��.
��� Ser�� tarde demais. Mas n��o se preocupe. Daremos um jeito.
332
��� Sinto muito, Sr. Crane. Perdemos esta.
��� Voc�� n��o pode vencer todas, John.
Judd desligou. Ficou sentado na cama por um longo tempo,
pensando. Finalmente ligou para a torre de controle.
��� Aqui �� o Sr. Crane. Quero todos os helic��pteros transferi-
dos da cratera para o plat��. O ��nico avi��o que deve permanecer na
cratera �� o VTOL. Entendido?
��� Entendido, Sr. Crane.
��� Qualquer avi��o que pedir instru����es para o pouso deve ir
para o plat��. Nenhum desce para a cratera. Isso se aplica a todo
mundo. Inclusive ao Dr. Schoenbrun.
��� Entendido, senhor.
��� Quero tamb��m ser informado no instante em que qualquer
avi��o fizer contato pelo r��dio. Quero saber quem e quantas pessoas
se encontram em cada aparelho. Entendido?
��� Perfeitamente, senhor.
��� E a partir das oito horas da manh��, informem-me de hora
em hora se detectamos algum avi��o se aproximando. N��o quero que
avi��o algum chegue aqui furtivamente. Entendido?
��� Entendido, Sr. Crane. Se nada acontecer at�� l��, come��are-
mos a inform��-lo de hora em hora, a partir das oito da manh��. At�� l��,
senhor.
Judd desligou o telefone e apagou a luz. Nada estava dando
certo. Ele n��o dormiu. Ficou se revirando na cama at�� que a
claridade cinzenta do amanhecer se infiltrou pelas janelas.
333
24
��� O N D E EST��O as garotas? ��� perguntou Fast Eddie, olhando
para a tela de televis��o, que mostrava os passageiros descendo
pela escada encostada no 707, estacionado �� beira da pista no
plat��.
��� Espere mais um pouco.
Judd tamb��m estava curioso. Sofia j�� passara pela porta.
Olhava pela escada, por tr��s dos dois homens que ajudavam o
maharishi. Tr��s homens emergiram na plataforma um instante
depois. Umas poucas garotas finalmente apareceram. No total, sete
garotas desceram a escada.
��� N��o falaram coisa alguma sobre os guarda-costas ��� comen-
tou Fast Eddie.
��� Ele �� um velho ��� disse Judd. ��� Provavelmente precisava
da ajuda deles.
Fast Eddie continuou a olhar para a tela e demorou um pouco
para voltar a falar:
��� A doutora n��o parece muito bem. D�� a impress��o de estar
bastante tensa.
��� Provavelmente sente frio.
Judd observou-a com aten����o. Fast Eddie talvez estivesse
certo. Alguma coisa na maneira como ela andava n��o estava certa.
Ele virou-se para Fast Eddie.
��� Leve a todos para os seus aposentos. E me avise depois que
Sofia estiver instalada.
��� Onde voc�� estar��?
��� Vou descer para o gerador nuclear. O Dr. Schoenbrun est��
334
l�� embaixo, com Sawyer e Merlin. O gerador deve entrar em
opera����o a qualquer momento e eu gostaria de estar presente.
��� Disse para eu ficar grudado em seu rabo, chefe.
��� Ser�� apenas por alguns minutos. Nada acontecer�� por
enquanto.
��� Voc�� �� quem manda. Est�� com a sua arma na manga?
Judd esticou o bra��o. A pequena autom��tica apareceu em sua
m��o.
��� Est�� bom assim?
��� Nada mal, chefe. Voltarei a encontr��-lo o mais depressa
poss��vel.
Judd saiu do elevador para a plataforma de observa����o que
circulava o gerador, 300 metros abaixo da superf��cie da cratera.
Schoenbrun sentava-se num banco alto, os olhos fixados no painel de
instrumentos. Merlin e Sawyer estavam de p�� ao seu lado, observan-
do com uma fascina����o extasiada. O alem��o ouviu a porta do
elevador abrir e os passos de Judd na plataforma. E disse, sem
desviar os olhos do painel:
��� Chegou bem a tempo, Sr. Crane. O gerador entra em
funcionamento autom��tico dentro de 30 segundos.
Em sil��ncio, Judd foi postar-se ao seu lado. O segundo
mostrador de contagem digital estava baixando: 25, 24, 23. As luzes
do circuito indicando a transfer��ncia para a for��a autom��tica conti-
nuavam vermelhas. Ele olhou para o gerador pelas janelas de vidro.
Os t��cnicos de uniforme branco deixavam o piso do gerador,
passando por uma porta que dava para a escada que levava ��
plataforma. A porta foi trancada depois que todos passaram. A
contagem digital continuava a baixar: 15, 14, 13, 12.
Outra porta na plataforma, no lado oposto, abriu-se para dar
passagem aos t��cnicos. Em sil��ncio, todos se aproximaram da beira
da plataforma e ficaram olhando para o gerador. Ningu��m falava.
N��o se ouvia qualquer barulho de m��quina. Somente os pequenos
estalidos da contagem digital.
Sawyer virou-se para Judd e levantou as m��os, os dedos
cruzados. Merlin percebeu o gesto e imitou-o. Judd sorriu-lhes e
levantou o polegar.
Cinco, quatro, tr��s. Todos respiraram fundo e prenderam a
respira����o. Dois, um, zero. As luzes do circuito passaram de
335
vermelho para verde. Subitamente, os t��cnicos come��aram a gritar e
bater palmas. Judd juntou-se aos aplausos. Sorriu para o alem��o.
��� Meus parab��ns, Dr. Schoenbrun.
Ele estendeu a m��o. O alem��o apertou-a, batendo os calcanha-
res automaticamente.
��� Estou muito satisfeito ��� disse ele, sorrindo. ��� Meus
parab��ns e meus agradecimentos, Sr. Crane.
��� Merlin estava com uma express��o espantada.
��� Mas n��o ouvi nada! Nem motores nem engrenagens,
absolutamente nada!
��� Sinta-se feliz, Sr. Merlin ��� disse Schoenbrun, sorrindo. ���
Se ouvisse qualquer barulho, provavelmente seria o ��ltimo.
��� Vamos ao meu escrit��rio para tomar um drinque em
comemora����o ��� convidou Judd.
��� Permite que eu fique aqui por mais algum tempo, Sr.
Crane? ��� disse o alem��o. ��� Quero contemplar minha crian��a.
��� N��o h�� problema. Mais uma vez, meus parab��ns.
Judd virou-se para o elevador. Sawyer e Merlin seguiram-no.
��� Tr��s bilh��es de d��lares ��� murmurou Merlin.
��� �� barato ��� disse Judd. ��� Custaria duas vezes mais se a
usina nuclear j�� n��o estivesse conclu��da e paga, a metade por Ludwig
e a metade pelo governo.
��� Ainda n��o entendi por que eles pararam no meio ���
comentou Merlin.
��� �� muito simples. Ludwig saiu fora porque n��o via perspecti-
va de lucro e o governo ficou sem dinheiro. O Brasil j�� tinha uma
d��vida de 80 bilh��es de d��lares e nenhuma possibilidade de tomar
mais empr��stimos. Os bancos e o FMI empurraram-lhe um programa
de austeridade goela abaixo. Ficaram felizes em aceitar minha oferta
de um bilh��o de d��lares e assim reduzir os preju��zos.
��� E planeja ficar aqui? ��� indagou Merlin.
��� Isso mesmo.
Merlin virou-se para Sawyer.
��� Diga-lhe que n��o vai dar certo. N��o h�� a menor possibilida-
de de ele viver para sempre.
��� Mas n��o posso dizer isso ��� protestou Sawyer. ��� Ningu��m
sabe se vai ou n��o dar certo.
��� Somente o tempo dir�� ��� acrescentou Judd.
Fast Eddie entrou no escrit��rio e disse a Judd:
336
��� J�� est��o todos acomodados. Mas tem uma coisa que n��o
entendi. Pensei que o maharishi n��o permitisse que seus guardas andassem armados.
��� E n��o permite mesmo.
��� Ent��o tem alguma coisa errada. Seus homens est��o carrega-
dos. Cada um possui uma autom��tica Uzi.
��� Falou com Sofia?
��� N��o pude. Uma das garotas disse que ela n��o se sentia bem
e tinha de se deitar imediatamente. Mas isso tamb��m n��o faz sentido.
Ela olhou para mim e deu a impress��o de que n��o me reconhecia.
Calculei que estava drogado ou algo assim.
Judd pensou por um momento.
��� Talvez ela esteja doente. Ligarei para o maharishi e
perguntarei se quer que Sawyer a examine.
Ele pegou no telefone no instante em que o Dr. Schoenbrun
entrava na sala. O maharishi atendeu.
��� Al��?
��� Aqui �� Crane. Soube que Sofia est�� doente. Posso mandar
um m��dico examin��-la.
A voz do maharishi era tranquilizadora:
��� N��o creio que seja necess��rio. Ela est�� pegando um
resfriado. Acho que o v��o foi cansativo demais.
��� Talvez um antibi��tico ajude.
Judd ligou a tela Intertel. O rosto do maharishi apareceu. Judd acionou o foco autom��tico. Sofia estava sentada na cama por tr��s
dele, um guarda em cada lado.
��� Acho que ela ficar�� boa com um pouco de repouso ���
respondeu o maharishi. ��� Todas as anota����es foram transcritas e transmitidas ao computador. Podemos come��ar no instante em que
voc�� quiser.
��� Vamos esperar at�� que Sofia esteja melhor. Avise-me assim
que isso acontecer.
Judd desligou. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, o
alem��o falou, em tom chocado:
��� Sabe quem �� esse homem?
Judd olhou para ele, aturdido.
��� Quem ��?
��� Ele �� do KGB. N��s o conhecemos h�� muito tempo, mas
nunca estive t��o perto dele.
337
��� Voc�� disse "n��s o conhecemos". Quem s��o esses n��s?
��� A Mossad. N��o sou um agente deles, mas j�� trabalhamos
juntos em diversas ocasi��es. At�� mesmo no caso de Eichman. O
K G B tentou peg��-lo, mas n��s chegamos primeiro.
��� Porra! ��� explodiu Judd. ��� Acha que Sofia est�� trabalhan-
do com o maharishi?
��� N��o conhe��o a mo��a.
Fast Eddie olhou para Judd.
��� N��o acredito que ela esteja. Acho que a doparam at�� as
orelhas. Sawyer aproximou-se de Judd.
��� O que faremos agora?
��� A primeira provid��ncia �� tirar voc�� e Merlin daqui.
��� Uma ova que vamos sair! ��� protestou Merlin.
��� N��o h�� alternativa ��� insistiu Judd. ��� Sem voc�� e Sawyer as
empresas Crane afundam irremediavelmente.
Judd ligou para a torre de controle.
��� O Cl 2 est�� reabastecido?
��� Est��, sim, Sr. Crane.
��� Apronte-o para partida imediata.
Ele desligou e. olhou para os dois homens.
��� Muito bem, podem ir.
Sawyer e Merlin continuaram parados, olhando para ele.
��� V��o logo! ��� gritou Judd. ��� Voc��s j�� t��m responsabilidades
demais. Eu cuidarei de tudo aqui.
Ele virou-se para Schoenbrun.
��� V�� embora tamb��m, doutor. Esta n��o �� sua luta.
��� Est�� enganado. Tenho parentes que tentam escapar da
R��ssia h�� mais de 20 anos.
��� Quem foi a pessoa com quem se encontrou em Caracas?
��� Minha esposa e filho vieram da Su����a. O garoto precisava de
uma opera����o que n��o podia ser realizada aqui. N��o disp��nhamos da
t��cnica nem do equipamento. ��� Judd continuou a fit��-lo em sil��ncio
e Schoenbrun acrescentou: ��� Al��m do mais, este projeto �� meu
tanto quanto seu. Lembre-se de que constru�� o reator.
Judd tornou a se virar para Merlin e Sawyer.
��� Muito bem, voc��s v��o agora. Depois que estiverem no ar,
manteremos contato a cada duas horas.
338
Em sil��ncio, os dois homens apertaram a m��o de Judd e depois
se retiraram. Judd virou-se para Fast Eddie.
��� Escolte-os at�� o avi��o. Cuide para que embarquem mesmo.
N��o quero que se escondam em algum corredor.
339
25
J U D D LIGOU a tela Intertel e sintonizou na c��mara que esquadri-
nhava o plat�� da torre de controle. O Cl 2 virou na pista. Um
|momento depois, o aparelho levantava v��o. Judd observou-o por
um instante e depois notou outro aparelho na pista. Chamou a
torre de controle.
��� Que avi��o �� aquele?
Antes que o controlador pudesse falar, o Dr. Schoenbrun
respondeu:
��� �� o meu avi��o. Est�� levando os t��cnicos de volta ao Rio.
Agora que o reator est�� em opera����o autom��tica, dei-lhes permiss��o
para irem embora.
O controlador informou pelo fone no ouvido de Judd:
��� B-737 para o Rio, senhor.
��� Est�� bem, controlador. Algum outro avi��o no campo l�� em
cima?
��� Apenas dois helic��pteros e o 707 que acaba de chegar com o
��ltimo grupo.
��� Onde est��o as tripula����es?
��� Na casa de servi��o no campo, senhor.
��� Providencie para que todos os aparelhos estejam completa-
mente reabastecidos.
��� Pois n��o, senhor.
Judd desligou, no instante em que Fast Eddie voltava �� sala.
��� Eles j�� foram.
��� Muito bem. ��� Judd ��gou para o diretor de pessoal. ��� Aqui
�� o Sr. Crane. Quantos homens temos aqui neste momento?
340
��� A rela����o est�� no computador, senhor. Quatro guardas,
oito na faxina, dez na cozinha, tr��s na manuten����o, quatro no
controle a��reo, oito tripulantes, tr��s t��cnicos de laborat��rio e dois no
pessoal, incluindo a mim.
��� Os guardas est��o armados?
��� N��o, senhor. Suas ��nicas fun����es s��o observar os movimen-
tos do pessoal e dos convidados. N��o s��o guardas de seguran��a.
��� Est�� certo. Discretamente, ponha todo o pessoal em alerta
de evacua����o.
��� Certo, Sr. Crane. Meu nome �� Jack Somer. Sou da Central
de Seguran��a e estou armado, se precisar de minha ajuda, senhor.
��� Por enquanto, Jack, continue �� sua mesa. Mas obrigado.
Ficaremos em contato.
Judd desligou, virando-se para Fast Eddie e o Dr. Schoenbrun.
��� Tenho a impress��o de que, se Sofia est�� mesmo dopada, o
Maharishi n��o entrar�� em contato conosco at�� que ela esteja de cabe��a desanuviada.
Os dois fitavam-no em sil��ncio. Ele respirou fundo.
��� Tenho um pressentimento. ��� Judd ligou para a Central de
Seguran��a e falou com John. ��� Fomos enganados durante todo o
tempo. O maharishi mostrou as garras. Est��vamos atr��s de um
chamariz. Quantos homens voc�� pode mandar imediatamente para o
retiro dele em Malibu?
��� Em torno de 22 ou 23 homens.
��� Acho que o garoto est�� l��. �� a ��nica maneira pela qual ele
poderia levar Sofia a entrar em seu jogo.
��� Quer que saltemos l��?
��� Mande os helic��pteros. E podem liquidar qualquer um que
tentar se opor. E me informe assim que constatar se estou certo ou
errado.
��� J�� estamos a caminho.
Judd desligou, tornando a levantar os olhos para Fast Eddie e
Schoenbrun.
��� �� melhor tratarmos de almo��ar, enquanto esperamos.
Mas de uma hora transcorreu antes que o maharishi ligasse:
��� Sofia j�� se sente muito melhor agora, Sr. Crane. N��o
poder��amos ter o nosso encontro logo?
��� Claro. Posso encontr��-lo em sua su��te e depois lhe propor-
341
cionarei a excurs��o tur��stica por Xanadu. N��o est�� interessado em
conhecer o gerador nuclear e o laborat��rio de c��lulas clonadas
artificiais?
��� Terei o maior prazer,. Sr. Crane.
��� ��timo. Estarei a�� dentro de um minuto. E levarei o Dr.
Schoenbrun. Foi ele quem desenvolveu as instala����es e poder��
responder a quaisquer perguntas que desejar fazer.
Judd desligou e virou-se para Fast Eddie.
��� V�� at�� a torre de controle. Arme pelo menos quatro ATW
carregadas e fique esperando por meu chamado.
��� N��o gosto da id��ia de deix��-lo, chefe.
��� N��o vai me deixar. ��� Judd virou-se para o Dr. Schoenbrun.
��� Sabe usar uma arma?
��� Sei.
��� D��-lhe a sua autom��tica de manga, Fast Eddie. E mostre
como funciona.
Enquanto Fast Eddie ensinava o alem��o a usar a arma, Judd
ligou para o diretor de pessoal.
��� Jack, vou me encontrar com o maharishi em sua su��te, de l��
seguiremos para a plataforma do gerador e depois para o laborat��rio.
Provavelmente acabaremos em meu escrit��rio. Tente nos manter na
tela pelo m��ximo que for poss��vel. Se achar que alguma coisa
represente risco de vida para o pessoal, ordene a evacua����o
imediatamente. Se o perigo for para mim ou para o Dr. Schoenbrun,
n��o fa��a nada. No momento, n��o somos pessoalmente importantes.
Entendido?
��� Entendido, senhor. Ficarei observando-os.
Judd virou-se para Fast Eddie.
��� Pronto?
Fast Eddie assentiu.
��� Muito bem, vamos embora ��� arrematou Judd.
Sa��ram para o corredor. Judd observou Fast Eddie subir em um
dos elevadores, enquanto ele e o alem��o desciam por outro. Saltaram
no andar de h��spedes e encaminharam-se para os aposentos do
maharishi. Um dos homens do maharishi abriu a porta. Judd entrou, seguido pelo Dr. Schoenbrun. O maharishi gesticulou e disse:
��� A paz esteja com voc��, meu filho.
Judd sorriu.
��� E tamb��m com voc��, meu mestre.
342
Sofia veio do c��modo ao lado. Judd aproximou-se dela e
abra��ou-a, beijando-a no rosto. Ela parecia gelada.
��� Sente-se melhor, Sofia?
��� Muito melhor ��� murmurou ela, num fio de voz. ��� Acho
que peguei uma gripe ou algum v��rus.
��� Talvez seja melhor voc�� continuar de cama. N��o h�� pressa.
Podemos deixar a reuni��o para amanh��.
Ele teve a impress��o de perceber um brilho de medo nos olhos
de Sofia quando ela fitou o maharishi.
��� N��o h�� necessidade. Juro que j�� me sinto melhor agora.
Muito melhor.
Judd assentiu. Apontou para o alem��o.
��� Este �� o Dr. Schoenbrun. Sem ele, esta instala����o n��o seria
poss��vel.
O Dr. Schoenbrun fez uma rever��ncia formal. Apertou a m��o
de Sofia e depois do maharishi.
��� �� uma honra.
Judd virou-se para o maharishi.
��� Se j�� est�� pronto, podemos acompanhar o Dr. Schoenbrun.
��� Se n��o se importa, Sr. Crane ��� disse o maharishi ���
poder��amos deixar para ver o gerador nuclear em outra ocasi��o?
Estamos mais interessados no laborat��rio. E acho que muita
movimenta����o deixaria Sofia excessivamente cansada.
Judd disfar��ou um sorriso, enquanto Schoenbrun tinha dificul-
dade em evitar que seu desapontamento transparecesse. O gerador
era sua cria����o. Mas o alem��o mostrou-se �� altura da situa����o.
��� Mas �� claro!
Em sil��ncio, ele conduziu-os ao elevador, que ficou lotado
quando dois guardas do maharishi se juntaram ao grupo. Judd pegou a m��o de Sofia. Estava gelada e suada. Ainda lhe segurava a m��o
quando a porta do elevador abriu. O guarda por tr��s da mesa, diante
do laborat��rio, acenou com a cabe��a para Judd.
��� Pode entrar, Sr. Crane.
Passaram para o vesti��rio.
��� O laborat��rio �� completamente isolado ��� explicou Judd. ���
Temos de trocar as roupas, entrar debaixo do chuveiro, vestir
uniformes, toucas e luvas de borracha cir��rgicos.
O maharishi virou-se para ele.
��� N��o �� poss��vel observarmos tudo atrav��s de uma janela?
343
O Dr. Schoenbrun olhou para Judd, que assentiu. E o alem��o
respondeu:
��� Temos uma janela de vidro duplo no corredor l�� fora.
��� Pedirei aos t��cnicos que mostrem uma cultura de c��lulas
pela tela ��� sugeriu Judd. ��� Poder��o ver da janela.
��� Creio que �� melhor assim ��� comentou o maharishi.
Em sil��ncio, eles ficaram olhando pela janela enquanto as
culturas eram projetadas na tela. Judd observou o maharishi por um instante, depois olhou para Sofia. Explicou tudo, enquanto a tela
mostrava as c��lulas genu��nas ao lado das artificiais. O moharishi
acompanhava tudo atentamente, mas Judd teve a impress��o de que
Sofia n��o estava absolutamente interessada.
��� Podemos agora voltar ao escrit��rio e verificar o que
descobrimos das ��ltimas anota����es de sua irm�� ��� sugeriu Judd
finalmente.
Voltaram ao elevador em sil��ncio. Depois que a porta fechou,
Judd virou-se para Sofia.
��� Tem certeza de que est�� em condi����es de ag��entar?
Podemos deixar o resto para amanh��.
��� N��o! ��� exclamou ela, quase em desespero. ��� Estou bem.
Juro que estou bem.
Judd balan��ou a cabe��a, sem fazer qualquer coment��rio.
Seguiram do elevador para seu escrit��rio. Ele apontou para uma
confort��vel sala a um canto. O maharishi e Sofia sentaram-se no sof��, com os dois guardas por tr��s. Schoenbrun sentou-se numa
poltrona �� direita, enquanto Judd ocupava a poltrona na frente do
sof��, separados p��la mesinha baixa.
��� Aceitam um ch��? ��� perguntou ele.
��� N��o, obrigado ��� respondeu o maharishi. ��� Estamos muito
bem assim.
��� Posso ir ao banheiro? ��� perguntou Sofia.
��� A porta atr��s de voc�� ��� disse Judd, levantando-se. ��� Eu
lhe mostrarei.
Ela seguiu-o. Judd abriu a porta e, na passagem, p��s dois
tabletes de oxig��nio e coca na m��o de Sofia.
��� �� aqui.
Ele voltou e tornou a sentar-se na poltrona, indagando, em tom
de conversa����o:
��� O que acha de Xanadu?
344
��� Uma realiza����o extraordin��ria ��� respondeu o maharishi.
��� E isto �� apenas uma parte. Quanto tudo estiver pronto, ser��
totalmente automatizado. Eu poderia viver aqui inteiramente sozi-
nho, sem qualquer pessoal. Todas as minhas necessidades estariam
atendidas, em termos de alimenta����o, repouso, exerc��cios, comunica-
����es. Enfim, tudo o que se possa querer.
��� Espantoso ��� disse o maharishi, balan��ando a cabe��a.
Sofia voltou do banheiro. Judd fitou-a. Os olhos dela estavam
agora desanuviados e alertas. Ela sentou-se ao lado do maharishi.
��� Agora, vamos ao que interessa ��� disse Judd. ��� O que
descobrimos nas anota����es?
O maharishi virou-se para Sofia.
��� Acho que Sofia pode explicar melhor do que eu.
Sofia olhou para Judd.
��� N��o houve realmente muita coisa que j�� n��o soub��ssemos
ou teoriz��ssemos. Pela primeira vez, temos a confirma����o que ela
realizou experi��ncias de terapia celular com fetos humanos. Poste-
riormente, ela come��ou a combinar c��lulas humanas com as c��lulas
de v��rios animais em gesta����o, principalmente ovelhas. Parece que o
principal problema que ela enfrentou foi uma quantidade excessiva
de pacientes que n��o podiam tolerar as inje����es de c��lulas. Muitos
morreram de choque anafil��tico, apesar da aplica����o maci��a de anti-
histaminas e cortisona.
��� Mas como isso acrescenta alguma coisa ao nosso conheci-
mento? J�� hav��amos adquirido essas informa����es.
��� �� por isso que voc�� estava sendo instado a aprofundar o
processo de engenharia gen��tica DNA para criar uma c��lula humana
artificial clonada.
Judd olhou para ela e depois para o maharishi.
��� �� o que acabaram de ver. Isso j�� foi realizado. Estamos no
limiar da imortalidade. O homem pode agora viver para sempre.
��� Estou mais interessado na f��rmula que voc�� desenvolveu
para chegar a isso ��� comentou o maharishi, polidamente.
Judd sorriu.
��� �� somente para o meu conhecimento. Nunca pensei em
partilh��-la com ningu��m.
��� Discordo, meu filho. A vida de seu filho depende disso.
��� N��o tenho filho.
��� O filho que Sofia gerou ��� insistiu o velho.
345
��� Ela teve o filho por sua pr��pria conta. N��o tenho qualquer
responsabilidade.
O maharishi fitou-o nos olhos.
��� Vamos parar de jogar.
Judd sustentou-lhe o olhar.
��� N��o estou jogando.
O maharishi ficou em sil��ncio por um momento.
��� Um telefonema e o garoto morre.
Judd pegou um telefone e colocou-o na mesinha diante dele.
��� Sirva-se.
Os guardas prontamente sacaram suas autom��ticas. O mahari-
shi tornou a falar:
��� Estamos dispostos tamb��m a matar Sofia... e o filho que ela
tem em seu ventre.
Judd olhou para ela.
��� Isso �� verdade?
L��grimas afloraram aos olhos de Sofia.
��� ��, sim.
��� Voc�� �� muito est��pida.
��� Por favor, Judd, entregue-lhe a f��rmula. N��o �� t��o impor-
tante assim.
��� �� para mim.
��� Mesmo que eles a obtivessem, voc�� ainda a teria. E
conquistar�� a imortalidade que procura.
Judd riu.
��� N��o h�� a menor possibilidade. Agora voc�� est�� sendo
est��pida al��m de todos os limites. Ser�� que n��o entende que
morreremos todos no instante em que ele obtiver a f��rmula? Ele
tamb��m n��o est�� planejando partilh��-la.
O telefone tocou e Judd atendeu. O maharishi levantou a m��o.
��� Quero ouvir a conversa.
Judd assentiu, apertou um bot��o e a voz saiu pelo alto-falante.
��� Sr. Crane? ��� disse John, bastante excitado.
��� Pode falar, John.
��� Estava certo. J�� temos o garoto. Ele est�� bem. Apenas
chorando, querendo voltar para a av��.
��� Pois levem-no.
��� Mais alguma coisa, senhor?
��� N��o, John. Nada mais por enquanto. Obrigado.
346
Judd desligou e olhou para o maharishi.
��� Perdeu uma amea��a.
O velho n��o desviava os olhos dele.
��� Ainda temos outras.
Ele gesticulou para seus guardas. Os dois homens se moveram
ligeiramente. Os estampidos das armas ecoaram pela sala. Schoen-
brun foi arremessado contra o encosto da cadeira pelo impacto das
balas, depois caiu ao ch��o. O maharishi manteve-se frio.
��� Isso pode convenc��-lo de que estamos determinados a
cumprir as amea��as. As pr��ximas balas ser��o para Sofia, a menos que
nos entregue a f��rmula.
Judd olhou para Sofia. Ela estava muito p��lida, os l��bios
contra��dos de pavor. Ele tornou a se virar para o maharishi.
��� Tenho a f��rmula. Mas �� muito complexa e est�� no Compu-
tador Central.
��� Pode transferi-la para c��?
��� Posso.
As armas apontaram para Sofia, enquanto o maharishi orde-
nava:
��� Fa��a-o ent��o.
Judd deixou escapar um suspiro.
��� Est�� bem.
Ele foi at�� o computador em sua mesa. O velho seguiu-o, com
um dos guardas. O outro ficou com Sofia. Judd ligou o computador e
come��ou a fazer a conex��o com o Computador Central. A luz
esverdeada espalhou-se pela tela.
Judd bateu o c��digo de acesso: DNA HCC ENG PROJ
FORM.
��� O que isso significa? ��� perguntou o maharishi.
��� DNA C��lula Humana Clonada Projeto F��rmula.
A resposta apareceu escrita na tela: "Este c��digo �� reservado.
Registro seu n��mero de autoriza����o."
��� Pode fazer uma c��pia aqui? ��� perguntou o maharishi.
��� Posso. ��� Judd apontou para a m��quina encostada na
parede. ��� Aperte o bot��o de ligar em cima e depois o bot��o de
c��pia.
O maharishi virou-se para o guarda.
��� Ligue a m��quina.
No instante em que o velho se virou, Judd entrou em a����o
347
rapidamente. Apertou a barra. Transmitir e apagar, para frente e
para tr��s. E depois come��ou a bater seu c��digo de autoriza����o: JC-1-
02-102-JC1.
"Recebido", informou a tela. Um momento depois, as letras
come��aram a se formar: COME��ANDO TRANSM DNA HCC
ENG PROJ FORM. O maharishi perguntou a seu guarda:
��� O copiador est�� funcionando?
��� Est��, sim, senhor. Vejo as palavras na tela.
O maharishi observou a tela por cima do ombro de Judd. Os
n��meros e letras que constitu��am a f��rmula come��aram a aparecer na
linha, logo se deslocando para a linha seguinte.
��� Quanto tempo vai demorar?
��� Cerca de tr��s horas e 45 minutos.
��� N��o pode acelerar?
��� Posso, mas vai aparecer t��o depressa que n��o ser�� capaz de
ler. Ver�� apenas um borr��o.
��� Mas quanto tempo levaria assim?
��� De 12 a 14 minutos.
��� Pois ent��o acelere.
Judd prontamente apertou o bot��o para acelerar a transmiss��o.
A imagem na tela reagiu no mesmo instante e se transformou num
borr��o indefin��vel, figuras e n��meros disparando freneticamente. Ele
olhou por cima da tela do computador para Sofia. O outro guarda
continuava parado atr��s dela, apontando a autom��tica para suas
costas. Fitando Judd nos olhos, ela perguntou:
��� O menino est�� realmente bem?
Judd assentiu.
��� Est��, sim. Ouviu o que John disse. Neste momento, ele est��
provavelmente a caminho de San Francisco e de Barbara.
Ela deixou escapar um suspiro, murmurando:
��� Gra��as a Deus!
Judd ficou calado. Olhou de novo para a tela, as linhas
indefinidas ainda em movimento. Virou-se para o maharishi.
��� N��o sei se ser�� capaz de compreender.
��� Talvez eu n��o possa ��� respondeu o velho. ��� Mas temos
cientistas que compreender��o.
��� �� poss��vel. ��� Judd olhou para o cad��ver do alem��o. ��� O
que ganhou com isso?
��� Est�� falando do judeu? N��s o conhecemos h�� muito tempo.
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Ele estava na lista. E talvez isso o tenha convencido de que n��o
estamos para brincadeiras.
Judd se manteve em sil��ncio por algum tempo. Olhou para a
tela.
��� Suponho que cuidaram do verdadeiro maharishi da mesma
maneira.
��� Isso foi h�� seis anos. A irm�� nunca soube que se comunicava
com um morto. ��� Ele olhou para o rel��gio. ��� Quanto tempo mais?
Judd olhou para o medidor.
��� Cerca de quatro minutos.
��� Chame a torre de controle e mande levar nosso avi��o para a
cabeceira da pista, com a porta aberta e a escada autom��tica
abaixada. Ordene tamb��m que levem um Land Rover para a porta
do elevador, esperando ali, com o motor ligado. O motorista deve se
afastar.
Judd fitou-o por um instante, depois chamou a torre e
transmitiu as ordens exatamente como o maharishi mandara.
��� Mande a torre chamar de volta quando tudo estiver pronto
��� acrescentou o maharishi.
��� Avisem-me quando as provid��ncias estiverem tomadas.
Judd rep��s o fone no gancho. Subitamente, a m��quina de c��pia
come��ou a estalar. Logo soou uma campainha e um tipo diferente de
letra surgiu na tela: "Grava����o conclu��da. Transmiss��o encerrada."
Judd desligou o computador. O maharishi gesticulou em sua dire����o.
��� Tire a fita.
Judd foi at�� o gravador, tirou o rolo de fita e estendeu-o. O
maharishi pegou-o. Observou o velho abrir a caixa e guardar a grava����o.
��� Abra a porta ��� ordenou o maharishi.
Judd foi at�� a porta e abriu-a. Mais tr��s guardas aguardavam do
outro lado.
��� Muito bem, saiam ��� disse o velho. ��� A mulher primeiro e
depois voc��.
Em sil��ncio, Judd observou Sofia encaminhar-se para a porta.
Fitou-a atentamente.
��� Espero que Deus esteja velando por n��s ��� disse ele, em voz
firme. ��� Tudo o que podemos fazer agora �� manter o controle.
O telefone tocou. Judd atendeu. Era a torre.
��� Est�� tudo pronto, senhor.
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��� Est�� tudo pronto ��� repetiu Judd, desligando em seguida.
��� Ent��o siga a mo��a ��� disse o maharishi. ��� Vamos subir
todos juntos no elevador.
��� Precisaremos de capotes se vamos sair l�� em cima ���
advertiu Judd.
��� Voc��s n��o precisar��o de capotes por muito tempo.
Em sil��ncio, eles entraram no elevador e subiram para o plat��.
Uma lufada de ar gelado envolveu-os no momento que a porta do
elevador abriu. O maharishi gesticulou para um dos seus homens, que empurrou Judd e Sofia para a frente do grupo. Os outros foram
atr��s, cautelosamente.
O Land Rover estava parado perto do elevador, com o motor
ligado. O 707 se encontrava na cabeceira da pista, no outro lado do
plat��, a porta aberta, a escada autom��tica baixada. Dois guardas
passaram por Judd e Sofia, olhando ao redor.
��� Ningu��m �� vista ��� informou um deles ao maharishi.
O velho adiantou-se.
��� Voc��s dois mantenham as m��os levantadas se querem
continuar vivos. Comecem a caminhar devagar �� nossa frente, at�� o
carro.
Eles foram andando lentamente, o frio intenso deixando-os
entorpecidos. Quando chegaram junto do carro, o maharishi prontamente embarcou. Um guarda ocupou o volante. Os demais empurra-
ram Judd e Sofia para o ch��o e depois embarcaram.
O Land Rover come��ou a se mover. Judd rolou para o lado,
observando dois guardas, que come��avam a levantar suas autom��ti-
cas. Ele jogou-se para cima de Sofia, levantando a arma da manga e
atirando. Um dos guardas pareceu cambalear para tr��s, desajeitada-
mente.
O Land Rover estava quase a cem metros de dist��ncia e outro
guarda apontou-lhes sua autom��tica. Judd prendeu a respira����o e
tentou se esticar num escudo protetor para defender Sofia.
E foi nesse instante que ouviram um estranho zunido por cima
de suas cabe��as. E no momento seguinte houve uma tremenda
explos��o. Judd comprimiu-se ainda mais contra Sofia, olhando para o
Land Rover. Era agora uma bola de fogo a se afastar. E houve outro
zunido, que atingiu a bola de fogo e rompeu-a em fragmentos
incont��veis, projetados pelo ar.
Judd ajudou Sofia a se levantar e come��ou a correr com ela
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para o elevador. Um momento depois, Fast Eddie estava ao lado
deles, acompanhado por diversos homens.
��� Ponham algum agasalho em Sofia! ��� gritou Judd.
Os homens come��aram a ajud��-la. Fast Eddie virou-se para
fit��-lo.
��� Est�� bem, chefe?
��� Estou ��� balbuciou Judd.
��� N��o tente me enganar. ��� Fast Eddie sorriu. ��� �� com Deus
que est�� falando.
Na manh�� seguinte, Judd e Fast Eddie observaram as garotas do
maharishi embarcarem no avi��o. Fast Eddie n��o desviava os olhos da tela Intertel.
��� Mas que merda! ��� murmurou ele. ��� Tanta cona bonita e
n��o tive a oportunidade de experimentar nenhuma.
��� Cest la vie ��� disse Judd.
Houve uma batida na porta. Fast Eddie foi abrir.
��� Posso entrar?
Era Sofia, com um casaco forrado de pele no bra��o. Sem
esperar por uma resposta, ela aproximou-se de Judd.
��� Sinto muito.
��� N��o h�� motivo. Tudo correu muito bem.
��� N��o, n��o ocorreu.
��� N��o estou entendendo.
Sofia tirou uma caixa de len��os de papel de sob o casaco e
estendeu para ele.
��� N��o vai dar certo. Assim como n��o deu para Hughes.
��� Ainda n��o entendi.
��� Tudo o que voc�� tem aqui, tudo o que fez, �� como len��o de
papel. N��o funcionar�� para voc��. Mesmo que queira ficar aqui
sozinho, n��o viver�� eternamente, por mais que tente. Tudo o que
conseguir�� ser�� morrer sozinho.
Judd ficou calado. Sofia fitou-o nos olhos.
��� Adeus, Judd Crane. Contarei a seus filhos tudo sobre voc��.
Ele ficou aturdido.
��� Por que est�� se despedindo?
��� N��o partirei com as outras?
��� Eu n��o disse isso. Apaguei as fitas por voc��. Desliguei a
energia no laborat��rio por voc��. E depois transferi Xanadu para a
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empresa de pesquisa de medicina nuclear da Crane Industries, uma
instala����o a ser batizada com o nome do Dr. Schoenbrun. E agora
voc�� quer me deixar?
��� Eu n��o disso isso ��� murmurou Sofia, um vest��gio de
l��grimas se insinuando em seus olhos.
��� Ent��o espere. ��� Judd pegou-lhe a m��o. ��� Espere mais um
pouco e iremos juntos para casa.
* * *
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O Grupo Bons Amigos tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais.
Os Pervertidos - Harold Robbins
Livro doado por Leandro e digitalizado por Fernando Santos
Sinopse:
Este livro conta a história de um magnata que controla o destino de milhões de pessoas.
Grupo Parceiro:
https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses
Lançamento Grupo Bons Amigos:
https://groups.google.com/forum/#!forum/bons_amigos
Blog:
Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais
e como forma de acesso e divulgação para todos.
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros.
Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .
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