sexta-feira, 6 de dezembro de 2019 0 comentários By: Fred

{clube-do-e-livro} Documentário: Judaísmo



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De: Reginaldo Mendes <



 

4)JUDAÍSMO

Documentário : História do Judaísmo

Duração : 48 minutos

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{clube-do-e-livro} Documentário: Hinduísmo



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De: Reginaldo Mendes 



                                                                                             

3)HINDUÍSMO

Documentário: História do Hinduísmo

Duração : 48 minutos

Formato : Avi

Tamanho: 267,40

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{clube-do-e-livro} Documentário: Protestantismo



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De: Reginaldo Mendes 



2)PROTESTANTISMO

Documentário : História do Protestantismo

Duração : 48 minutos

Formato: Avi

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{clube-do-e-livro} Documentário : Catolismo



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De: Reginaldo Mendes <




 

1)CATOLICISMO

Documentário : História do Catolicismo.

Duração : 48 minutos

Formato: Avi

Tamanho : 267,40 mb

 

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{clube-do-e-livro} Lançamento: Não Leve a vida tão a sério - Hugh Prather - Formato: Epub, pdf e txt

N��o leve

vida

t��o a s��rio





H U G H P R A T H E R

N��o leve

a vida

t��o a s��rio

Pequenas mudan��as

para voc�� se livrar

de grandes problemas





4


S E X T A N T E





Copyright �� 2003 por Hugh Prather

T r a d u �� �� o

Beatriz Sidou





preparo de originais


D��bora Chaves





capa


Silvana Mattievich


projeto gr��fico e diagrama����o

Mareia Raed

revis��o

Antonio dos Prazeres

S��rgio Bellinello Soares

impress��o e acabamento

Cromosete e Editora Ltda.

C I P - B R A S I L . C A T A L O G A �� �� O - N A - F O N T E

S I N D I C A T O N A C I O N A L D O S E D I T O R E S D E L I V R O S , R J .

P92511 Prather, Hugh

N��o leve a vida t��o a s��rio

Hugh Prather; {tradu����o de Beatriz Sidou}.

Rio de Janeiro: Sextante, 2003

Tradu����o de: The little book of letting go

I S B N 85-7542-047-X

I. Paz de esp��rito. 2. Paz de esp��rito - Problemas, quest��es, exerc��cios.

I. T��tulo.

02-2213. C D D 1 5 8

C D U 159.98

Todos os direitos reservados, no Brasil, por

G M T Editores Ltda.

Rua Volunt��rios da P��tria, 45 - Gr. 1.404 - Botafogo

22270-000 - R i o de Janeiro - RJ

Tel.: (21) 2538-4100 - Fax: (21) 2286-9244

E-mail: atendimento@esextante.com.br

www.sextante.com.br

Para Gayle, com amor

(Este livro foi fruto de trabalho de equi-

pe. Gayle contribuiu com o t��tulo, o tema

e idealizou a maioria dos conceitos. Eu

escrevi.)

S u m �� r i o

O rio e o le��o, 9

Um Primeiros p a s s o s rumo ao desprendimento, 11

Deixando para tr��s os problemas

Sem medo de ser feliz

D o i s Livrando-se do lixo mental, 27

Atitudes provocadoras s�� atrapalham

Para cada a����o, uma rea����o

Usando a crise como motiva����o

T r �� s Abrindo m��o d a s emo����es in��teis, 51

Diga n��o ��s preocupa����es

Deixando fluir os sentimentos

Palavras n��o substituem convic����es

As emo����es n��o s��o todas iguais

Quatro Colocando a m��goa de lado, 65

N �� o queira controlar o mundo

O medo que impede a felicidade

Para compreender os pensamentos D

C i n c o

Aceitando a vida como ela ��, 87

Abrindo m��o do eu, do meu e do para mim

Sem dar import��ncia aos resultados

Seis Aprendendo a ficar livre do conflito interior, 97

Desvendando as motiva����es inconscientes

A consci��ncia �� a maior arma

Escapando dos bloqueios que atrapalham os

relacionamentos

Dizendo n��o aos "pensamentos-chiclete"

Deixando a tristeza para tr��s

Sete Abrindo m��o da "sinceridade", 115

O uso consciente da proje����o mental

A verdade sobre a "verdade"

Oito O desprendimento do ego, 121

C o m o se forma a primeira mente

Ficando livre dos pensamentos dispersos

Liberdade para o corpo

Eliminando os pensamentos D

Nove O caminho do conhecimento espiritual, 141

Em nome da paz e da plenitude

Em busca do status quo

Momentos de decis��o

Abrindo m��o da perfei����o

Dez

Sem levar os problemas t��o a s��rio, 155

��ndice de Liberta����es, 157

O rio e o le��o

Depois de uma grande enchente, o le��o viu-se cercado por

um rio e ficou sem saber como sair dali. Nadar n��o era de

sua natureza, mas s�� lhe restavam duas op����es: atravessar o rio

ou morrer. O le��o urrou, mergulhou na ��gua, quase se afogou,

mas n��o conseguiu atravessar. Exausto, deitou para descansar.

Foi quando escutou o rio dizer:

��� Jamais lute com o que n��o est�� presente.

Cautelosamente, o animal olhou em volta e perguntou:

��� O que n��o est�� aqui?

��� O seu inimigo n��o est�� aqui ��� respondeu o rio. ��� Assim

como voc�� �� um le��o, eu sou apenas um rio.

Ao ouvir isso, o le��o, muito sereno, come��ou a estudar as ca-

racter��sticas do rio. Logo identificou um certo ponto em que a

correnteza empurrava para a margem e, entrando na ��gua, con-

seguiu boiar at�� o outro lado.





Um


P r i m e i r o s p a s s o s rumo

ao d e s p r e n d i m e n t o

N a natureza humana, todos buscamos a simplicidade e a ver-

dade. Mas as mensagens que recebemos nos impelem �� guer-

ra: "Fique ressentido com o passado", "Seja ansioso em rela����o ao

futuro", "Tenha apetite pelo que voc�� n��o v��", "Sinta insatisfa����o

com o que v��", "Sinta culpa", "Seja correto", "Esquente a cabe��a".

No mundo animal, n��o h�� necessidade de conquistar mais do

que se tem. A simplicidade da chuva, a luz de uma estrela, a leve-

za de um p��ssaro, a persist��ncia de uma formiga ��� tudo isto

simplesmente ��.

Tudo �� uma quest��o de ponto de vista. Afinal, cuecas espalha-

das no ch��o podem acabar com um casamento... mas, aos olhos

dos cachorros, elas n��o seriam motivo para briga, e sim para brin-

cadeiras. A maioria dos animais desfruta uma enorme liberdade e

pureza, caracter��sticas que, acredito, n��s tamb��m podemos expe-

rimentar. Basta relaxar a mente e, aos poucos, reaprender a des-

frutar a integridade, felicidade e simplicidade perdidas.

Muitas vezes rejeitamos as pessoas que est��o em nossas vidas,

n��o sabemos se as queremos ao nosso lado, desejamos estar com

outras pessoas, imaginamos se e at�� quando esse relacionamento

vai durar ��� e por a�� vai. O resultado dessas inquieta����es �� que,

12 N��o leve a vida t��o a s��rio

quando nos preocupamos com o que queremos ou n��o de algu��m

ou com o que aprovamos ou n��o nessa pessoa, deixamos de ver sua

bondade, sua ast��cia, sua delicadeza, sua tristeza ou seja l�� o que

for que ela tenha a oferecer. Isso complica desnecessariamente as

nossas vidas e bloqueia a alegria de viver e a paz de esp��rito.

J O H N E O C A M I N H �� O

N o s s o filho, John, tinha dois anos quando fomos morar em

Santa F��, Novo M��xico. Um dia, est��vamos na cal��ada, esperan-

do o sinal abrir, quando um caminh��o enorme come��ou a virar a

esquina bem no instante em que o sinal ficou verde. Tive que

aguardar o caminh��o passar. Nesse momento, ouvi J o h n dizer:

��� Caminh��o grande!

Olhei para baixo e vi que seus olhinhos estavam brilhando de

prazer. Olhei novamente para aquele enorme caminh��o que pas-

sava t��o perto que poderia toc��-lo se desse um passo �� frente. E,

finalmente, vi o caminh��o em toda sua majestade. Parecia a nave

de um filme do tipo Guerra nas Estrelas.

N �� o havia percebido isso antes. Talvez porque estivesse pen-

sando que aquele caminh��o n��o deveria estar ali atrapalhando

meu caminho, ou que eu tinha algo bem mais importante a fazer

do que esper��-lo passar. Esses pensamentos impediram que eu

aproveitasse o prazer daquele momento, de p��, na cal��ada, ao

lado de meu filho, segurando sua m��ozinha. S��o o que chamo de

pensamentos desnecess��rios ��� o tipo que as criancinhas t��m

pouqu��ssimos, se �� que t��m algum, e, por isso, em geral, s��o obje-

tivas e felizes.

Uma mente tranq��ila v�� o que est�� aqui. Uma mente

ocupada v�� o que n��o est�� aqui. Aquele que est�� pre-

Primeiros passos rumo ao desprendimento 13

sente �� nada mais, nada menos, do que aquele que est��

presente. Portanto, voc�� pode pensar o que quiser sobre

as pessoas, mas saiba que isso n��o vai transform��-las.

N o s s a vida �� cheia de batalhas in��teis exatamente porque

nossa mente �� cheia de pensamentos in��teis. Sofremos por his-

t��rias infelizes do passado como se elas ainda estivessem aconte-

cendo e temos o h��bito de ficar ruminando sobre o que acaba-

mos de fazer. �� preciso esvaziar a mente. Quando n��o consegui-

mos nos desvencilhar dos pensamentos negativos, eles dimi-

nuem nossas chances de ser feliz.

�� o caso da sogra que n��o consegue aceitar seu genro porque

ele �� do tipo que usa uma por����o de brincos, um piercing no

nariz e algum escondido em outra parte do corpo. Ela est�� ape-

nas atacando sua pr��pria capacidade de amar. Sua rejei����o n��o

mudar�� o genro, nem o amor que sua filha sente por ele ��� ape-

nas a afastar�� do amor da filha.

C A C H O R R O Q U N T E

H�� mais ou menos uma hora, nosso filho J o r d a n me per-

guntou se eu poderia "fazer um cachorro-quente do jeito que

a mam��e faz?" Parei de escrever e fui at�� a cozinha onde J o h n ,

que est�� com vinte anos, me perguntou se eu poderia dar uma

olhadinha numa proposta de neg��cio que ele esbo��ara para

sua aula de contabilidade. Minha mulher, Gayle, n��o estava

em casa.

��� Assim que eu fizer o cachorro-quente do Jordan ��� disse eu.

��� Ah! ��timo! N �� o quer fazer um pra mim tamb��m? ��� disse John.

��� Est�� bem ��� respondi, secamente.

Aborrecido com a minha pr��pria atitude, levemente hesitante

14 N��o leve a vida t��o a s��rio

entre parar de escrever sobre paz e bondade e pratic��-las, colo-

quei as salsichas de frango para ferver no molho, enquanto pen-

sava no tremendo paradoxo que estava vivendo.

Ali estava eu pensando em como n��o conseguia fazer o que

queria fazer, me perguntando onde Gayle e eu hav��amos errado,

j�� que os nossos filhos n��o conseguiam fazer seus pr��prios ca-

chorros-quentes. Ao mesmo tempo, eu me sentia satisfeito pela

decis��o de deixarmos os meninos decidirem se queriam ou n��o

ser vegetarianos e me questionava se uma galinha criada em con-

finamento era mais saud��vel do que uma galinha caipira...

N u m certo sentido, n��s temos duas mentes: uma, ��ntegra e

tranq��ila; a outra, fragmentada e ocupada. Eu, com certeza,

tinha acionado a mente ocupada.

Se fosse poss��vel resumir todos os ensinamentos espi-

rituais numa ��nica frase, esta chegaria bem perto: "Fa��a

com que seu estado mental seja mais importante do que

o que voc�� estiver fazendo."

Tenho praticado o suficiente para saber que o ato de esvaziar

a mente e deixar os pensamentos flu��rem �� bem melhor e mais

saud��vel do que a sensa����o oposta. Embora j�� tivesse dado

alguns passos na dire����o certa, sentia que meu estado de esp��ri-

to ainda n��o estava completamente em paz. Por que eu tinha

que passar por essa pequena prova����o? Por que n��o se pode fazer

com alegria meia d��zia de pequenas tarefas?

Meu erro foi ter deixado as circunst��ncias serem mais impor-

tantes do que o meu estado de esp��rito. Agora, para reverter isso,

era preciso desbloquear minha mente. Para isso, era necess��rio

cumprir tr��s etapas:

Primeiros passos rumo ao desprendimento 15

Primeira: Para eliminar o que impede a experi��ncia de plenitude e paz,

voc�� precisa examinar o impedimento.

Para falar a verdade, eu n��o estava exatamente irritado por ter

interrompido meu trabalho para fazer os cachorros-quentes,

apenas me sentia um tanto chateado com a sensa����o de que esta-

va deixando de fazer coisas importantes e, claro, em conflito por

estar experimentando todos esses sentimentos.

Quando me aprofundei no que estava sentindo, encontrei o

pensamento que estava bloqueando tudo: "Eu n��o deveria ter de

fazer o que n��o quero fazer." Mas, logo me dei conta de que nem

mesmo eu acreditava nessa id��ia. Fa��o coisas que n��o quero

fazer o tempo todo e, neste caso espec��fico, eu queria fazer a

comida dos meus filhos e queria ler a proposta de John.

O.k. Etapa 1 resolvida.

Antes de entrar na etapa 2, quero destacar um aspecto essen-

cial dessa din��mica. Percebi que, na tentativa de entender o que

eu realmente queria fazer, eu teria sabotado todo o processo de

desprendimento se houvesse desejado que os meus filhos ou a

situa����o mudassem.

Sempre que desejamos que as pessoas mudem ou que as cir-

cunst��ncias nos sejam favor��veis, estamos, de alguma forma, nos

eximindo da responsabilidade por nosso estado mental. �� como

se assum��ssemos o papel de v��timas e fic��ssemos torcendo para

sermos poupados. C o m certeza, existem v��timas de verdade,

mas, em geral, nos colocamos desnecessariamente neste papel. E

fazemos isso todos os dias.

Quando o objetivo �� manter o senso de integridade, indepen-

dente do que acontecer �� nossa volta, n��o nos tornamos v��timas.

N a d a fica "fora de controle" se quisermos. Somos n��s que deixa-

mos as pessoas e as situa����es serem quem s��o e o que s��o. Isto

16 N��o leve a vida t��o a s��rio

n��o quer dizer que aprovamos a maneira como se comportam e

tamb��m n��o significa que deixamos de nos proteger das pessoas

destrutivas.

N �� o sei se voc�� j�� percebeu a freq����ncia com que os motoris-

tas se colocam em risco s�� para dar uma li����ozinha a um outro

motorista. �� comum acelerarem para mostrar ao outro que n��o

�� correto mudar de pista, ou grudarem atr��s de quem est�� indo

muito devagar ou mesmo n��o deixarem espa��o para aquele carro

que for��ou a entrada bem na sua frente depois de uma ultrapas-

sagem perigosa.

Esses "justiceiros do tr��nsito" s��o exemplos cl��ssicos de v��ti-

mas. S�� ficam satisfeitos se os outros motoristas demonstrarem

que entenderam o recado. O problema �� que pressionar os ou-

tros motoristas n��o muda seus cora����es. Apenas cria um confli-

to, que divide a mente e confunde as nossas emo����es. Ningu��m

em tempo algum se tornou mais sens��vel ou mais ponderado por

ser julgado, maltratado ou atemorizado.

Segunda: Para superar o bloqueio, voc�� precisa ter muita clareza do

que quer.

Esta etapa parecia f��cil. Afinal, eu queria fazer os cachorros-

quentes, atender o pedido de meus filhos e ser capaz de alterar

minha agenda de trabalho ��� tudo isso em paz.

Para falar a verdade, eu ansiava pela paz mais do que o pensa-

mento que a estava bloqueando. Refleti sobre minha sinceridade

a respeito de tudo isso. Achei que estava bem s��lida. O.k. Etapa

2 resolvida.

Terceira: Para atingir a plenitude, voc�� deve reagir a partir da mente

��ntegra, n��o da mente em conflito.

Esta etapa j�� soava mais dif��cil. Para come��ar, era preciso

descobrir a plenitude que existe dentro de cada um de n��s. Que

Primeiros passos rumo ao desprendimento 17

todos n��s a possu��mos �� fato, mas traz��-la �� tona �� outra

hist��ria. Em geral, nos sentimos em paz quando estabelecemos

uma liga����o amorosa com as outras pessoas. Mas, se a mente

arrisca um pensamento perturbador e se as duas primeiras eta-

pas desse processo n��o forem realizadas com sinceridade, corre-

se o risco de escorregar e cair novamente no velho estado men-

tal conflitante.

Para evitar esse risco �� preciso agir com pureza de alma. Ser��

que sinceramente desejamos a paz aos que est��o �� nossa volta?

Ser�� que sinceramente desejamos uma mente que conhe��a a

serenidade e que tenha uma profunda liga����o com nosso par-

ceiro(a), com nossos filhos, pais, irm��os e amigos? Ou seria me-

lhor resguardar nosso cora����o e permanecer em posi����o de jul-

gar e de estar sempre com a raz��o?

Neste ponto, a terceira etapa pode se tornar um tanto com-

plicada, especialmente se surgir a tenta����o de controlar nossas

emo����es mais destrutivas e impulsos mais sombrios. Esses sen-

timentos de fato exigem controle, mas a verdade �� que n��o se

est�� em guerra com as circunst��ncias ou comportamentos e pen-

samentos. �� exatamente o contr��rio. Quando se est�� numa bata-

lha in��til, o melhor a fazer �� abandonar o campo de batalha.

Uma boa ilustra����o de como isto funciona est�� na maneira

como sentimos o amor. Todos n��s j�� vimos exemplos desas-

trosos de pessoas que decidem ter ou adotar um filho porque

desejam algu��m que as ame. A raz��o pela qual n��o d�� certo �� que

a crian��a tem sua individualidade e, por isso, quase sempre age

de forma diferente da idealizada ��� assim come��a a guerra.

Quem decide ter um cachorro ou um gato pela mesma raz��o

termina criando a pr��pria infelicidade. Inevitavelmente, o ani-

mal de estima����o decepcionar��. N o s relacionamentos rom��nti-

18 N��o leve a vida t��o a s��rio

cos, todo mundo deseja encontrar algu��m carinhoso, que com-

partilhe seus interesses, que satisfa��a suas necessidades, que s��

tenha olhos para voc�� e o adore at�� a velhice. Infelizmente, isso

tamb��m n��o funciona, como demonstra a crescente taxa de

div��rcios.

A raz��o pela qual um bicho traz felicidade a seu dono, um filho a

seus pais e uma mulher a seu marido, �� que sentimos amor. Quando

n��o se ama, o mais dedicado bichinho, planta, filho ou amante n��o

tocar�� o nosso cora����o. Simplesmente n��o funciona assim.

Por milhares de anos, nos disseram que o amor �� mara-

vilhoso. A maioria das pessoas acredita que ser amado

�� uma sensa����o maravilhosa. E ��. Mas, antes de voc��

conhecer "o amor", �� preciso amar. Quando se ama, voc��

recebe mais do que a sensa����o de ser amado. O ap��s-

tolo Jo��o disse: "Amai-vos uns aos outros, porque o

amor �� Deus. E todos os que amam nasceram de Deus

e conhecem Deus. Os que n��o amam nada sabem de

Deus, pois Deus �� amor."

C o m o �� fato que, quando as pessoas amam, elas ficam com-

pletamente envolvidas na sensa����o do amor, h�� pais e m��es que

se sentem felizes por ser amados por seus filhos problem��ticos,

seus bichinhos complicados e seus parceiros obesos. Encontra-

mos casais muito idosos que, obviamente, n��o s��o mais atraentes

como eram, mas conseguem enxergar e sentir a beleza do amor.

Para que isto aconte��a, basta acessar sua mente amorosa e tran-

q��ila ��� n��o a mente ocupada e fragmentada.

Saiba que ningu��m passa diretamente de uma abordagem con-

flitante para uma de pura unidade e paz. Para ser realista, fazer

Primeiros passos rumo ao desprendimento 19

o melhor poss��vel hoje j�� �� ��timo. Basta um pequeno progresso

a cada dia, afinal, �� o rumo que importa. Este ��, sem d��vida, um

objetivo mais estimulante e mais produtivo do que tentar a reali-

za����o total e plena.

A hist��ria a seguir mostra o que acontece quando usamos a

mente tranq��ila ou a mente conflituosa.

C O R R E R I A N O C O R R E D O R

Gayle e eu est��vamos saindo de um gin��sio em que hav��amos

assistido a nosso filho, Jordan, jogar basquete. Segu��amos por um

comprido corredor quando tr��s meninas de uns oito anos pas-

saram correndo, conversando e rindo animadamente. Quando

cruzaram com o homem que estava �� nossa frente, ele gritou

com aspereza:

��� N �� o corram pelo corredor!

O grito fez as meninas andarem devagar, quase parando.

Quando passamos por elas, o sujeito estava quase fora de vista.

Gayle, ent��o, falou:

��� Ele n��o disse que voc��s n��o poderiam pular!

Imediatamente, as meninas come��aram a rir e a pular pelo

corredor.

��� N �� o , ele n��o disse que a gente n��o poderia saltar e pular!

O que Gayle fez? Apenas reagiu com sua mente aberta e fran-

ca, e mirou na ess��ncia da inoc��ncia e do divertimento das meni-

nas. Se ela tivesse criticado o homem, dizendo algo do tipo "Que

rabugento! Acho que voc��s deveriam correr se quiserem!", elas

at�� teriam recome��ado a correr, mas de uma forma desafiadora

ou amedrontada, n��o com a naturalidade de antes. Suas mentes

estariam em conflito e elas se sentiriam inseguras.

Reagir criativamente mostra que os problemas que s��o impor-

20 N��o leve a vida t��o a s��rio

tantes para os outros s��o importantes para n��s. N �� o se deve subes-

timar, ou menosprezar, o medo e a perturba����o que uma pessoa

sente. Reagir com desd��m ou irrita����o �� uma demonstra����o de

ego��smo. Para reverter isso, o primeiro passo �� admitir o fato e

refletir sobre ele. Depois, descobrir quais s��o realmente nossos

sentimentos e buscar nossa individualidade e felicidade. S�� ent��o

podemos demonstrar que alcan��amos a plenitude.

D e i x a n d o p a r a t r �� s o s p r o b l e m a s

Um exame r��pido e honesto dos nossos sentimentos muitas

vezes �� o que basta para nos lembrarmos que �� poss��vel ficar com

a mente livre de conflitos e preocupa����es. Normalmente, �� pre-

ciso bem mais do que isto, mas ficamos t��o presos a nossos sen-

timentos de corre����o, de certeza, de irrita����o, cinismo e afins,

que esquecemos que podemos sentir de modo diferente.

Essa "pris��o emocional" que n��s mesmos criamos nos leva a

perder inteiramente a f�� no amor duradouro, no comprometi-

mento e na paz. No in��cio, o desprendimento parece uma tarefa

temer��ria, at�� imposs��vel. A sensa����o �� de que passamos de um

problema para outro, e assim sucessivamente. Preste aten����o no

seu dia-a-dia: �� um problema atr��s do outro, do qual obviamente

desejar��amos nos livrar, mas raramente conseguimos.

As dificuldades s��o t��o importantes para a vida das pessoas que

acabamos definindo os que nos rodeiam a partir de seus proble-

mas. Preste aten����o quando estiver conversando com os amigos

sobre algu��m do grupo que n��o est�� presente. Quer de modo po-

sitivo, quer negativo, os problemas dessa pessoa ser��o real��ados.

Isto tamb��m acontece com nossa auto-imagem. Temos a ten-

d��ncia a pensar em n��s, at�� mesmo no significado da vida, do

ponto de vista das dificuldades que encontramos.

Primeiros passos rumo ao desprendimento 21

Um bom exemplo de como isso funciona �� a hist��ria de como

fomos adotados por dois gatos de rua. Eles tinham o h��bito de

trazer um peda��o de cada passarinho, rato ou lagarto que mata-

vam como demonstra����o de sua satisfa����o e confian��a. Para

mim, n��o era um problema limpar esses "presentes", mas, quan-

do eu viajava, virava um fardo para o resto de minha fam��lia. O

mesmo princ��pio se aplica quando me ocupo em responder

e-mails. Para mim, �� o tipo de trabalho que exige enorme con-

centra����o, enquanto para Gayle n��o exige grandes esfor��os.

N �� o tem nada a ver pensar que algumas pessoas t��m uma vida

realmente dif��cil, enquanto outras passam por ela inc��lumes.

Todos n��s j�� ouvimos falar de algu��m que enfrentou uma terr��-

vel trag��dia em relativa paz. No entanto, existem pessoas que

mal conseguem lidar com a rotina e se sentem massacradas pela

vida. Acontece tanta coisa num dia normal ��� ou melhor, no

cotidiano h�� tanta mat��ria-prima para a mente se ocupar ��� que

�� dif��cil achar uma justificativa para a infelicidade.

Os problemas nos atingem na medida da nossa preo-

cupa����o. A chave para se alcan��ar a fluidez, o repouso e

a liberdade interior n��o �� a elimina����o de todas as difi-

culdades externas, mas sim o desapego ao padr��o de

rea����o a essas dificuldades.

N o s ��ltimos vinte e cinco anos de experi��ncia com terapia de

fam��lia, Gayle e eu n��o cansamos de nos surpreender com a apa-

rente felicidade de muitas crian��as pequenas que vivem em lares

violentos. Em geral, s��o necess��rios muitos anos de trauma f��sico

ou emocional para que este sentimento seja realmente destru��do.

Pesquisas mostram que, mesmo em zonas de guerra, campos

22 N��o leve a vida t��o a s��rio

de refugiados ou ��reas de fome, grande parte das crian��as man-

t��m sua capacidade de brincar e ser feliz em meio a circunst��n-

cias de horror impens��vel.

Para perceber a diferen��a entre a maneira como adultos e

crian��as abordam a vida, n��o �� preciso ir muito longe ��� basta

observar uma festa.

F E S T A D E N A T A L

No final dos anos 70, Jerry Jampolsky ��� o psiquiatra especializa-

do em crian��as que fundou o Centro de Tratamento pela Atitude ���

me convidou para a primeira festa de Natal da institui����o.

Fiquei chocado com o que vi. Diante de mim estavam crian��as

em cadeiras de rodas e muletas, crian��as com distrofia muscular

e doen��a de Hodgkin, crian��as com pernas amputadas ou parali-

sadas, crian��as sem cabelo por causa da quimioterapia.

Ao mesmo tempo que olhava para aquela sala de horrores, senti

que havia algo diferente no ar. A sala estava cheia de suas gargalhadas

e risadas, as crian��as estavam felizes, conversando umas com as ou-

tras. E era exatamente isso ��� sua atitude ��� que sa��a do padr��o.

Logo me vi num grupo, conversando com uma adolescente

chamada Lisa, cujo sonho era ser modelo. Lisa se apoiava em

muletas de alum��nio e metade de seu corpo, inclusive o rosto,

estava paralisado por causa de um acidente de autom��vel. En-

quanto convers��vamos, Lisa, de repente, perdeu o equil��brio e

caiu de costas. Quando conseguimos levant��-la, havia l��grimas

de dor em seus olhos. Lisa deu um sorriso encabulado e disse:

��� Pelo menos eu estou conseguindo ficar com o bumbum

bem durinho...

"Ficar com o bumbum bem durinho" n��o �� exatamente o que

se espera ouvir numa situa����o dessas, mas qual rea����o seria mais

Primeiros passos rumo ao desprendimento 23

adequada? Para mim, foi especialmente instrutivo observar que

suas mentes sadias eram mais reais e mais importantes para elas

do que o peso de seus corpos.

Copiar a abordagem infantil da felicidade n��o �� se comportar

como uma delas, mas sim ver o mundo como elas v��em. �� aban-

donar as percep����es estreitas e as respostas prontas. �� admitir

sem restri����es que as pessoas �� nossa volta s��o o que s��o e que

estamos ali com elas para o que der e vier.

Transformar-se numa "crian��a" �� abrir m��o da responsabilidade

de julgar e de estar certo em todos os momentos. Isso elimina os

bloqueios e permite a amplia����o de nossa capacidade de apreciar

qualquer coisa ou, pelo menos, de estarmos serenos e em paz.

Existem tr��s coisas que voc�� precisa abrir m��o: julgar,

controlar e ser o dono da verdade. Livre-se das tr��s, e

voc�� ter�� a mente ��ntegra e vibrante de uma crian��a.

A principal caracter��stica das crian��as pequenas �� sua obje-

tividade: elas mostram o que sentem e sabem o que querem.

Claramente, elas est��o ligadas �� sua ess��ncia, seu instinto. Mas

as crian��as n��o s��o perfeitas ou invulner��veis. Na verdade, elas

captam as li����es positivas e as negativas que lhes s��o ensinadas

e parecem escolher, principalmente, os medos inconscientes e as

ansiedades dos adultos que estiverem a seu redor.

Mesmo que voc��, quando crian��a, n��o gostasse de determina-

da op����o de vida escolhida por seus pais e tenha at�� decidido

que n��o cometeria esse erro quando crescesse, certamente se fla-

grou, j�� adulto, dizendo as mesmas palavras ou agindo da manei-

ra que queria evitar. Isto mostra como somos vulner��veis quan-

do crian��as.

24 N��o leve a vida t��o a s��rio

Existem crian��as que aprendem a ter suas pr��prias opini��es e

at�� a sentir ��dio, numa idade surpreendentemente precoce. Se

voc�� j�� viu isto acontecer, sabe que elas j�� perderam contato com

sua felicidade e autoconfian��a natural. Elas aprenderam a duvi-

dar dos outros e aplicam essa li����o em si mesmas. Se elas n��o s��o

confi��veis, ningu��m mais o ��.

S�� quando crescemos nos tornamos conscientes do que sig-

nifica incorporar comportamentos e depois abrir m��o deles. �� a

��nica maneira de assumirmos a responsabilidade pela paz e pelo

bem-estar de nossas mentes.

S e m m e d o d e s e r f e l i z

Libertar-se de julgar e controlar n��o tem contra-indica����es. Que

mal poderia vir da simplicidade de n��o ter que ser outra pessoa e

de n��o exigir que nossos amigos e nossa fam��lia sejam diferentes

do que s��o? Precisamos apenas seguir nossa voca����o, agir com

naturalidade e liberdade, sem nenhum status ou atitude especial.

Que necessidade temos de erguer como bandeira da nossa

verdade o dinheiro, a educa����o, a religi��o ou a ra��a? Que neces-

sidade temos de nos mantermos isolados, fixados em traumas de

inf��ncia? Os traumas acumulados s��o como poeira sobre a pele.

Aqueles que nos deram as contribui����es mais significati-

vas e duradouras para sermos quem somos foram os que

ousaram assumir seu lugar como iguais. O mundo olha,

fascinado, para o brilho ofuscante do ego, mas somente

os que caminharem ao nosso lado, com amor e igualdade,

atingir��o nossos cora����es e nos transformar��o.

Primeiros passos rumo ao desprendimento 25

L i b e r t a �� �� o 1

Tempo s u g e r i d o : 1 dia ou mais

Da pr��xima vez em que estiver numa loja, num restaurante,

num shopping center, no trabalho ou apenas caminhando numa

cal��ada cheia de gente, escolha uma pessoa e experimente se

transformar nela por alguns instantes. C o m o seria vestir suas

roupas, ter aquele tipo de cabelo (ou n��o ter cabelo), caminhar

da maneira como ela caminha (ou n��o poder caminhar)? C o m o

seria fazer aqueles gestos? �� verdade que as pessoas olham de

lado ou em v��rias dire����es, como se estivessem um pouco inse-

guras, um tanto vulner��veis? O mundo l�� fora �� muito grande,

imprevis��vel... Sem an��lise, sem inferioridade, sem condescen-

d��ncia, sem perspectivas, como seria sentir-se como essas pes-

soas e pensar como elas?

Experimente fazer isto hoje e, se gostar, fa��a essa brincadeira

nos pr��ximos dias. Talvez voc�� se surpreenda ao perceber como

tudo �� banal. Talvez perceba que todos n��s somos bastante pare-

cidos e que estamos juntos nesse barco. Poder��, por outro lado,

sentir-se um pouco triste ao avistar algu��m que luta para se man-

ter �� parte somente para encontrar a solid��o e o isolamento.





Dois


L i v r a n d o - s e do lixo mental

Eliminar as toxinas do organismo e soltar a tens��o nos m��s-

culos s��o procedimentos conhecidos na medicina hol��stica.

A necessidade de purifica����o f��sica �� t��o forte que, como con-

ceito, tornou-se a principal meta tanto nos autotratamentos

quanto na medicina convencional. Um exemplo s��o as infinitas

marcas de vitaminas e suplementos nutricionais anunciados

como agentes de limpeza e purifica����o. Entre os adeptos de

tratamentos alternativos as op����es v��o do jejum a dietas ricas

em fibras e alimentos crus, at�� banhos de imers��o com ��gua sal-

gada, exerc��cios de respira����o, megadosagens de vitamina C e

terapias �� base de litros e mais litros de ��gua.

Na abordagem corpo-mente-esp��rito, vale tudo para eliminar

as for��as negativas. No ritual cotidiano, pela manh�� tomamos

uma chuveirada e escovamos os dentes e, ao longo do dia, lava-

mos as m��os depois de cada ida ao banheiro. Em vez de ��gua da

bica, tomamos preferencialmente ��gua mineral. Os sab��es em

p�� que lavam nossas roupas cont��m desinfetantes e usamos pro-

dutos antibacterianos para limpar a cozinha. Muitas casas e at��

alguns carros possuem sistemas de filtragem do ar.

Estamos aparentemente muito preocupados em limpar nos-

sos corpos e o ambiente em que vivemos de tudo que possa pre-

judicar a nossa sa��de e energia, mas, estranhamente, n��o senti-

mos a menor necessidade de esvaziar nossas mentes de tudo o

28 N��o leve a vida tao a s��rio

que possa azedar nossas atitudes, bloquear a nossa intui����o e

arruinar nossos relacionamentos.

Que diferen��a faz se o corpo est�� sempre limpinho, desintoxi-

cado e livre de germes, se nenhum ser vivo que este corpo encon-

tra �� confortado? Na verdade, acreditamos que nossos corpos

s��o mortais e nosso esp��rito �� eterno.

Nossas aten����es est��o voltadas para manter o exterior impe-

c��vel. Sa��mos todos os dias com roupas limpas, cabelos lavados,

dentes escovados, mas com a mente cheia de ansiedades mesqui-

nhas, ressentimentos sombrios, perspectivas deterioradas, pre-

conceitos venenosos e uma s��rie intermin��vel de auto-imagens

ensebadas e pu��das. Sequer nos incomodamos em varrer o lixo

mental que produzimos diariamente, para n��o falarmos no entu-

lho que acumulamos pela vida afora.

Vemos filmes e lemos hist��rias fant��sticas a respeito da

vastid��o da mente. Falamos para as crian��as sobre o "poder da

imagina����o". Participamos de semin��rios que falam sobre o

imenso potencial ainda n��o utilizado de nosso c��rebro. Trata-se

de um trabalho genial de auto-engano, no qual acreditamos que

tudo o que est�� em nosso espa��oso c��rebro �� ��til, vale a pena

guardar e est�� em bom estado.

Se observarmos de perto nossa mente por uma hora que seja,

veremos que, em vez de uma caixa m��gica, repleta de sonhos e

maravilhas, �� mais prov��vel que ela se pare��a com uma geladeira

atulhada. Uma r��pida incurs��o por uma prateleira qualquer reve-

lar�� coisas t��o velhas enfiadas l�� no fundo que nem conseguimos

lembrar o dia em que as adquirimos. De t��o cheios de mofo e

bolor, os recipientes com restos enfiados nos cantos parecem ter

vida pr��pria.

Para falar a verdade, os cantos de nossa geladeira mental cria-

Livrando-se do lixo mental 29

ram seus pr��prios reinos azedos e malcheirosos. C o m o o cen��rio

�� assustador, temos o impulso de colocar todas essas coisas bolo-

rentas bem depressa de volta em seus devidos lugares, para man-

ter a ilus��o de que bem ali, na nossa querida geladeira, s�� exis-

tem sucos de laranjas ensolarados, mangas suculentas e verduras

org��nicas bem fresquinhas.

Limpar mentes sobrecarregadas n��o �� tarefa pequena. Leva

um tempo e �� preciso coragem, at�� porque, com certeza, voc��

far�� algumas descobertas desagrad��veis. Em todo caso, quando

as prateleiras estiverem limpinhas e organizadas de novo, cheias

de alimentos frescos e nutritivos que deixam aromas delicados

no ar, saberemos que fizemos um sacrif��cio muito pequeno para

tanta riqueza.

Este livro pede que voc�� nade contra a mar�� da opini��o

dos outros: decida que a felicidade �� parte essencial de

uma vida bem vivida.

�� curioso que seja necess��rio um verdadeiro trabalho de con-

vencimento pessoal para obtermos a sensa����o de plenitude, paz

e realiza����o. Na verdade, �� aceit��vel ��� e at�� esperado ��� que as

pessoas dediquem muito tempo de suas vidas �� acumula����o, ao

status profissional, �� atra����o f��sica, �� aceita����o social e at�� a

pr��tica de seu esporte favorito.

Mencione a busca do prazer e da tranq��ilidade interior ��� e a

maioria das pessoas dir�� que s��o luxos e que n��o t��m tempo para

sair atr��s "dessas coisas". Para elas, basta torcer para que algum

dia a vida pare��a bem-sucedida.

Se quer saber como �� encher a sua geladeira com as coisas que

voc�� escolhe e n��o com as coisas escolhidas para voc�� pela cul-

30 N��o leve a vida t��o a s��rio

tura e pela din��mica da fam��lia, saiba que, em m��dia, uma

crian��a ri mais de 350 vezes por dia, contra dez vezes por dia

para um adulto. Por qu��? Porque as crian��as chegam ao mundo

com geladeiras limpas!

Sugiro que comecemos j��. A primeira provid��ncia �� avaliar

quanto lixo mental somos capazes de produzir num s�� dia. Para

isso, �� preciso considerar apenas o mais in��til dos itens: a preo-

cupa����o.

Atitudes provocadoras s�� atrapalham

Poucos est��o convencidos de que a preocupa����o �� um entulho

mental in��til. De alguma forma, parece certo se preocupar.

Afinal, j�� que todo mundo se preocupa, a preocupa����o deve

servir para alguma coisa. O mesmo racioc��nio se aplica para o

fato de que, se todos fazem pequenas trai����es uns aos outros, a

trai����o deve ser ben��fica para a esp��cie humana. Mas n��o �� ver-

dade que todos os impulsos humanos t��m um aspecto positivo.

Para progredir espiritualmente, temos de admitir que co-

metemos erros, ��s vezes erros graves, e que possu��mos

algumas tend��ncias que s��o perigosas e irracionais.

A "sabedoria do corpo" �� altamente question��vel, como qual-

quer pessoa que sofra de ins��nia ou de alergia pode atestar. A

sabedoria do c��rebro �� igualmente question��vel. Na verdade, o

corpo, incluindo o c��rebro, n��o reage a nada integralmente. O

que �� bom para uma parte do corpo muitas vezes �� ruim para

outra. O corpo se divide e subdivide de incont��veis maneiras e

as tens��es que essas partes mant��m entre si, em geral, s��o a

causa fundamental de sua pr��pria destrui����o.

Livrando-se do lixo mental 31

Da mesma forma, a mente tem muitas partes, cada uma com

seus pr��prios planos. Um exemplo: muitas vezes a mente anseia

por algo e �� repelida ��� seja dinheiro, doces, sexo ou lazer. N �� o

podemos afirmar que, pelo fato de muitas mentes se preocu-

parem, elas o fazem por uma boa raz��o.

N e m toda tend��ncia humana �� racional, como demonstra o

intrigante n��mero de pessoas pelo mundo afora que precisam

ser confinadas em pris��es, penitenci��rias e manic��mios. O me-

lhor �� examinar as atitudes "provocadoras" de preocupa����o em

nossa cultura para ver se h�� algum benef��cio em utilizarmos a

mente dessa maneira.

Sete atitudes que c a u s a m p r e o c u p a �� �� o

Atitude 1 : " �� natural preocupar-se"

Todos os dias constru��mos um santu��rio de preocupa����es e

cuidadosamente veneramos cada um desses preciosos objetos.

Existe sempre algo que est�� para acontecer ou uma quest��o rela-

cionada �� nossa sa��de, sem contar alguma situa����o embara��osa

que tenha acontecido no dia anterior, ou mesmo h�� dez anos,

mas que continua ocupando um lugar de honra no santu��rio.

�� como se a nossa mente focasse em problemas, n��o em solu-

����es; como se remo��ssemos as quest��es, n��o as respostas. N o t e

como somos r��pidos em atribuir uma falha em qualquer solu����o

que nos venha �� mente, ou que algu��m nos sugira, de forma que

possamos continuar preocupados. Ser�� que isto �� "natural"?

Certamente, mas isto n��o significa que se preocupar seja

ben��fico. A preocupa����o n��o nos faz sentir mais confort��veis

nem favorece melhores decis��es. Ela fragmenta a mente, tira a

concentra����o, distorce a perspectiva e destr��i o bem-estar inte-

rior. A preocupa����o �� um esp��cie de estresse auto-aplicado. A

32 N��o leve a vida t��o a s��rio

preocupa����o �� o caos mental, n��o �� nada agrad��vel ��� ou seja. ��

puro lixo, mas lixo que n��s acumulamos e aturamos todos os dias

de nossas vidas.

L i b e r t a �� �� o 2

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Basta um dia para voc�� provar a si mesmo a efic��cia deste exer-

c��cio ��� uma ferramenta que poder�� ser utilizada com grandes

resultados pelo resto de sua vida e que, na verdade, ilustra muitos

dos conceitos fundamentais deste livro. Entre eles, o de que nosso

ego �� nosso desejo de estarmos s��s, que a experi��ncia de estar

conectado ou em comunh��o com algu��m ou alguma coisa neutrali-

za o nosso ego. E de que a sinceridade (o foco, o compromisso) ��

a chave para nos desapegarmos com sucesso de qualquer coisa.

��� Identifique uma linha de pensamento que esteja atormen-

tando-o.

Isso �� f��cil. Talvez as duas preocupa����es mais comuns sejam

algo que vive nos incomodando ou algu��m com quem discutimos

at�� em pensamento. A primeira diz respeito ao futuro: um medo

do que pode acontecer. A segunda diz respeito ao passado:

ang��stia em rela����o ao comportamento de algu��m ou em rela����o

�� maneira como algum acontecimento se desdobrou.

�� importante observar que as rea����es dos outros s��o o centro

de nossa preocupa����o. N o s s a mente n��o se prende a situa����es. Se

fazemos algo realmente tolo enquanto caminhamos, podemos at��

rir disso, mas n��o vira uma id��ia fixa ��� a menos, �� claro, que o

erro fique evidente quando retornamos. Nosso ego funciona de

forma repetitiva, aumentando a dist��ncia entre n��s e os outros:

��� Da pr��xima vez que voc�� notar que est�� entrando na linha

Livrando-se do lixo mental 33

de pensamento que voc�� j�� identificou, interrompa-a (sim-

plesmente n��o a complete).

��� Na seq����ncia, pense em qualquer coisa que tenha a ver com

amor ou uni��o.

Pense no seu cachorro, no jardim, no parceiro(a), nos filhos,

nos amigos, num parente carinhoso ou mesmo em Deus. Aben-

��oar, rezar ou mentalizar na pessoa que �� objeto de sua preocu-

pa����o tamb��m �� uma energia muito forte. Contudo, se os seus

pensamentos estiverem muito perturbados, voc�� n��o ter�� for��as

para isso ��� neste caso, identifique o pensamento, interrompa-o

e desvie seu foco para alguma imagem amorosa. Fa��a isto e voc��

ver�� como �� f��cil desconectar uma linha de pensamento pertur-

badora. Em geral, um pensamento qualquer de uni��o tamb��m

resolve a quest��o.

Acreditamos que n��o �� poss��vel deixar de nos preocupar ou

de emitir julgamentos, como se fosse poss��vel combater essa

intensa atividade mental nos revoltando contra n��s mesmos

ou procurando reinterpretar a situa����o. Para muitas pessoas,

esta �� uma abordagem mais delicada e racional do tema, mas,

no fundo, o resultado �� o mesmo: introduzimos uma nova in-

terpreta����o para combater a primeira e assim dividir a nossa

mente.

A verdade �� que jamais acreditamos completamente nessa

reinterpreta����o ("Ele provavelmente n��o queria ferir meus sen-

timentos; apenas gritam muito com ele no trabalho" ou "Ela tal-

vez n��o estivesse tentando me tapear, apenas tem medo de n��o

conseguir fazer o que tem de fazer..."), o que obriga nossas

mentes a intensas idas e vindas, procurando decidir de que lado

examinar a quest��o.

Enquanto isso, a linha de pensamento ansiosa ou cr��tica con-

34 N��o leve a vida t��o a s��rio

tinua. A certa altura, desistimos dela e resolvemos simplesmente

ag��entar a perturba����o, na esperan��a de que logo ela terminar��.

E assim passamos horas ou dias infelizes. Mas a coisa n��o acaba

a��. Assim que uma preocupa����o se esgota, outra assume seu

lugar. Por isso, aprender a deixar para tr��s os problemas �� t��o

fundamental para nossa felicidade e paz de esp��rito.

Uma vez que voc�� j�� sabe que qualquer pensamento pertur-

bador pode ser dissipado, o problema ent��o se desloca para o

fato de que, daqui a tr��s minutos, uma hora ou um dia, o pensa-

mento obsessivo vai voltar. De onde ele vem? Ora... ele �� produ-

to de nossa mente polu��da, que daqui para a frente chamarei de

"ego". Seu objetivo �� colocar-se �� parte, ser diferente e parti-

cular ��� o ego considera a uni��o uma inimiga mortal.

Pensamentos de preocupa����o e/ou de agressividade levam ��

sensa����o de isolamento. Quanto mais os buscamos, mais isola-

dos nos sentimos, e assim saciamos o principal objetivo de nosso

ego. Portanto, para abandonar permanentemente um pensamen-

to negativo, temos de estabelecer um objetivo de uni��o e inte-

gridade mental.

��� Planeje a resposta para a pr��xima vez que o seu ego apre-

sentar essa linha de racioc��nio.

Sua resposta precisa ser breve e direta. Interrompa o pensa-

mento e inunde de luz a pessoa sobre a qual mantinha fantasias

de vingan��a... ou pense como o novo gatinho �� engra��ado. Qual-

quer pensamento que de alguma forma seja amoroso, feliz ou

pac��fico �� suficiente j�� que seu ego n��o quer que voc�� se dedique

a esse sentimento.

��� Repita silenciosamente: "N��o importa quantas vezes o meu ego

repetir este pensamento, resistirei. Se ele trouxer este pensa-

mento mil vezes, responderei mil e uma vezes como planejei."

Livrando-se do lixo mental 35

Quando o ego perceber que voc�� mentalizar�� a pessoa na luz

sempre que algum pensamento perturbador surgir, ele mudar�� a

linha de racioc��nio. Ele ainda vai testar a sua sinceridade algumas

vezes, mas vai acabar desistindo, acredite!

Quando percebo que n��o estou aplicando com firmeza as

etapas mencionadas (identificar o pensamento, interromp��-lo,

pensar num assunto ligado ao sentimento amoroso e de uni��o,

criar um plano para quando o pensamento retornar), tento me

dedicar a um momento de reflex��o e, conscientemente, parar

de me torturar, de abalar a minha paz e de me colocar numa

posi����o de confus��o mental em que n��o fa��o o bem para aque-

les a quem amo.

Acima de tudo, �� preciso considerar as pessoas envolvidas

com delicadeza e compreens��o, sem nenhuma censura. Talvez

n��o se atinja esse distanciamento, especialmente se estivermos

furiosos com elas. A quest��o que se coloca �� a mesma: ser�� que

realmente quero caminhar em dire����o �� paz ou me afastar dela?

Atitude 2: N��o se preocupar �� a r r i s c a d o , talvez perigoso

O velho ditado diz que um dia �� da ca��a... e o outro do ca��a-

dor. Dizer que algu��m �� feliz e tem sorte �� quase o mesmo que

dizer "como o diabo gosta" ��� e todo mundo sabe o que acon-

tece com aqueles que n��o est��o nem a�� para o diabo. A palavra

feliz, ��s vezes, �� usada no lugar de "despreocupado", "louco",

"desprovido de bom senso" ou "irrespons��vel". Muitas crian��as

foram criadas ouvindo esse tema em hist��rias como a f��bula da

cigarra, que passava o ver��o cantando, e a s��bia formiga, que pas-

sava o ver��o juntando o alimento para o inverno (e, mais tarde,

teve o prazer de recusar ajuda �� faminta cigarra, s�� para mostrar

o quanto estava certa!).

36 N��o leve a vida t��o a s��rio

Al��m disso, todos n��s crescemos vendo e, o que �� mais impor-

tante, sentindo que nossos pais se preocupam com coisas t��o

diferentes quanto a obesidade, as condi����es clim��ticas, o seguro

de vida, o casamento e os extratos do banco. Por essas e outras

raz��es, a maioria das pessoas entra na idade adulta com a sen-

sa����o de que nada �� confi��vel, nem mesmo o pr��prio lar.

Essa preocupa����o, infelizmente, �� alimentada pela insensibili-

dade dos pais. Muitos ensinam de forma nada sutil que seus fi-

lhos devem se preocupar com a quantidade de comida que con-

somem e com a possibilidade de tirar notas baixas ou de ficar

doentes. Mas, acima de tudo, eles ensinam as crian��as a descon-

fiar da pr��pria intui����o ou bom senso ("N��o posso deixar voc��

fora da minha vista!" ou "Voc�� n��o se preocupa com mais nin-

gu��m a n��o ser a sua pr��pria pessoazinha!") e deixam no ar um

sentimento indefinido quando perguntam:

��� Voc�� tem certeza de que quer mesmo comprar esta pistola

d'��gua? Aquela verde parece mais resistente...

��� Voc�� tem certeza de que quer convidar o Ian para sua festa

de anivers��rio? Lembre-se de que n��o foi convidado para a

festa dele...

��� Voc�� tem certeza de que n��o precisa estudar para a prova?

Voc�� n��o vai querer acabar como frentista de posto de ga-

solina...

��� Voc�� tem certeza de que ele �� a pessoa certa, querida? Voc�� n��o

vai querer procurar namorado depois que j�� estiver mais velha...

Mesmo que a nossa tend��ncia �� preocupa����o tenha origem

em nossas viv��ncias de inf��ncia, recebemos muitas outras con-

tribui����es. A id��ia de que �� bom se preocupar �� parte de toda a

nossa cultura crist�� ocidental. Todos os dias nos reunimos diante

da televis��o para ouvir intermin��veis reportagens sobre proble-

Livrando-se do lixo mental 37

mas da vizinhan��a e do mundo sem sequer nos lembrarmos de

procurar alguma solu����o. Absorver o problema j�� �� o bastante

para nos satisfazer ��� e a m��dia sabe muito bem disto.

A religi��o, que deveria promover conforto e amparo, pode

levar �� preocupa����o e, ��s vezes, ao terror. Padres, pastores e rabi-

nos muitas vezes usam o medo para ensinar a doutrina e ��� por

que n��o? ��� para aumentar as contribui����es dos fi��is.

At�� o sistema educacional promove a ansiedade, ao fixar

metas imposs��veis e amea��ar com penalidades quem ousa se

comportar de forma "impr��pria". Do primeiro ao ��ltimo ano da

escola, os objetivos s��o conflitantes: responsabilidade, socializa-

����o, auto-estima, consci��ncia ambiental, criatividade, orgulho

racial, consci��ncia das drogas, administra����o do tempo, etc. Os

pr��prios professores variam amplamente na maneira como

influenciam os alunos, at�� porque os livros e curr��culos escolares

que lhes s��o entregues tamb��m cont��m id��ias complexas e con-

tradit��rias: �� melhor ficar de olho, V�� devagar, Use a cabe��a, Olhe onde

pisa, Cuidado com as costas, Conhe��a os seus amigos, N��o confie em

ningu��m, Cuidado com o que voc�� est�� fazendo, Olhe para a frente. E a

minha preferida: Pense duas vezes.

�� claro que h�� mil maneiras de usar todos esses conselhos,

mas, a exemplo das preocupa����es espirituais de hoje (Tome cons-

ci��ncia, Olhe o que voc�� est�� dizendo, Os medos se auto-alimentam e o

mais assustador: Lembre-se de que voc�� cria a sua pr��pria realidade), a

mensagem mais importante ��: estamos mais alertas e mais bem

armados quando estamos ansiosos. O que, ali��s, n��o �� absoluta-

mente verdade. O contr��rio da mente preocupada n��o �� a mente

tola, mas sim a mente tranq��ila.

O que se pode observar �� que quando a mente est�� preocupa-

da, ela se torna lenta e dispersa, ao passo que a mente tranq��ila

38 N��o leve a vida t��o a s��rio

�� capaz de uma consci��ncia ampla e firme, no m��nimo, porque

est�� menos distra��da. Diante dessa perspectiva, pode-se dizer

que a mente preocupada est�� desprotegida, dominada pela an-

siedade, enquanto a mente tranq��ila pode avaliar a situa����o de

modo mais r��pido e preciso. Por isso mesmo tem mais chances

de impedir um perigo iminente.

Atitude 3: As preocupa����es s��o intuitivas ou previs��veis

Neste livro, estamos examinando o que limpa a mente, facili-

ta a concentra����o e a torna ��ntegra em rela����o ao que tira sua paz

e sua tranq��ilidade. �� pura tolice a id��ia de que se deve conviver

com a mente agitada porque isso facilitaria a realiza����o de algu-

ma premoni����o.

Pode at�� ser que, em algumas ocasi��es, a intui����o apare��a mis-

turada com a preocupa����o, mas n��o h�� uma maneira confi��vel de

verificar isso. E �� interessante observar que as pessoas preferem

simplesmente ignorar as "premoni����es" que n��o se confirma-

ram. Muitos pais tomam decis��es com base em preocupa����es.

Eles endurecem a respeito de determinados comportamentos

porque receiam o que possa acontecer a seus filhos. Embora aqui

e ali algumas previs��es se mostrem verdadeiras, em geral esse

tipo de disciplina tem resultados negativos.

Se o objetivo �� descobrir que estado mental �� mais intui-

tivo, a preocupa����o deve ser eliminada logo de in��cio,

por ser inconsistente.

C o m o muita gente j�� percebeu que os medos n��o s��o intui-

tivos, at�� mesmo essa constata����o se tornou motivo de preo-

cupa����o. Voc�� j�� deve ter ouvido falar que "s��o justamente as

Livrando-se do lixo mental 39

coisas que n��o nos preocupam que acontecem"? Tomar essas

palavras ao p�� da letra significa que, quanto mais preocupado

voc�� ��, menores s��o suas chances de que as coisas se tornem

realidade. A contrapartida aparece em outro ditado: "S�� porque

voc�� tem fobia de voar n��o quer dizer que seu avi��o v�� cair!" Ou

seja: a preocupa����o �� um jogo em que n��o h�� vencedores.

L i b e r t a �� �� o 5

Tempo sugerido: 1 dia

O medo de que um coment��rio infeliz seja mal interpretado

n��o existiria se tiv��ssemos a certeza de que a pessoa n��o o

guardaria na mem��ria. Se isso fosse verdade, nossas amizades

permaneceriam inc��lumes, apesar das observa����es inoportunas.

Portanto, nosso medo nada tem a ver com o que foi dito, mas

com suas conseq����ncias futuras. Quando estiver praticando esta

terceira Liberta����o, tenha sempre em mente que, embora com

ra��zes bem fincadas no passado, todas as formas do medo apon-

tam para o futuro.

��� Anote qualquer medo que passe pela sua cabe��a desde o

momento em que voc�� acorda at�� a hora de deitar. Anote

tudo, as vagas apreens��es, as suspeitas ou mesmo as fan-

tasias catastr��ficas que surgirem.

��� Antes de adormecer, assinale os medos mais assustadores,

ou, se preferir, classifique-os numa escala de um a dez. Sepa-

re tamb��m os medos que voc�� acha que s��o intuitivos e pre-

vis��veis daqueles que voc�� acha que se auto-alimentam por

causa da intensidade e freq����ncia com que pensa neles.

��� Coloque essa lista num lugar de f��cil acesso. �� importante

ficar atento e ver se alguma coisa acontece da maneira como

40 N��o leve a vida t��o a serio

voc�� imaginou. Anote tamb��m todos os acontecimentos

que, de alguma forma, terminaram sendo o oposto daquilo

que voc�� receava que fosse acontecer.

��� Se voc�� preferir n��o fazer esta etapa do processo de Liber-

ta����o, ter�� de renunciar para sempre ao direito de se preo-

cupar em voz alta!

Atitude 4: H�� um tempo e um lugar para se preocupar

Quando o carro derrapa e perdemos o controle de sua dire-

����o, ou quando falseamos o p�� e ca��mos, nossa mente, em geral,

est�� muito calma. S�� quando acontece �� que nos perturbamos e

come��amos a suar por causa do acidente. Que vantagem ter��a-

mos se fic��ssemos nos preocupando com o que poderia ter

acontecido, com as poss��veis conseq����ncias f��sicas ou mesmo

com a li����o que "o universo" estaria nos dando enquanto nos

contorcemos no ar para reduzir os efeitos de uma queda ou

enquanto lutamos para retomar o controle do carro? Se deix��s-

semos que nossa mente se ocupasse durante a emerg��ncia,

ser��amos incapazes de reagir instantaneamente. Ser�� que isto

significa que a preocupa����o �� ��til quando n��o estamos em si-

tua����o de emerg��ncia?

P A R E C E , M A S N �� O ��

Quando est��vamos no final da adolesc��ncia, meu irm��o e eu

fomos convidados para ir a uma fazenda nas montanhas do

Colorado. Um dia fizemos uma longa caminhada e chegamos a

uma cachoeira magn��fica, de mais de cinq��enta metros

de altura. Desafiei-o a subir comigo pelas pedras e ele topou

o desafio.

Livrando-se do lixo mental 41

N o s s o plano era subir paralelamente �� queda-d'��gua. C o m o

em geral acontece com pessoas inexperientes em escaladas, o

que n��o parece ��ngreme para quem est�� embaixo se agiganta

quando a subida come��a. Quando me dei conta de que seria bem

mais dif��cil e perigoso do que havia imaginado, percebi que seria

muito pior tentar descer.

Restavam apenas uns dez metros para chegar ao topo, quando

come��ou uma chuva de granizo que se transformou em uma

fort��ssima tempestade. Est��vamos logo abaixo de uma imensa

pedra que se projetava. Eu n��o conseguia ver o caminho para o

topo e, para piorar, de repente, o degrau sobre o qual nos apoi��-

vamos come��ou a se soltar.

Quando a base come��ou a rachar sob nossos p��s, me preocu-

pei. Meu irm��o escolheu exatamente aquele momento para me

dizer que em duas ocasi��es pessoas haviam morrido tentando

escalar a cachoeira. Gelei, mas como era o mais velho e o respon-

s��vel por estarmos ali, naquele sufoco, assumi a lideran��a. Ape-

sar de paralisado pelo medo, tranq��ilizei meu irm��o, dizendo

que de onde estava eu conseguia ver um caminho para o topo do

lado em que ele estava. Era mentira, mas foi a ��nica coisa que me

ocorreu. Por sorte, havia mesmo um caminho e, quando chegou

em cima, ele estendeu a m��o e me ajudou a subir.

A primeira rea����o a essa hist��ria �� dizer que me preocupei no

momento errado. Mas, para falar a verdade, n��o d�� para saber

qual �� o momento certo de se preocupar. Dever��amos ter nos

preocupado em identificar o exato ponto em que n��o havia

retorno? Se concord��ssemos ter alcan��ado este ponto (rara-

mente as pessoas concordam a respeito do momento de parar),

dever��amos ter feito uma pausa e nos preocuparmos ali? Ah...

Durante a escalada vimos uma cobra diferente e nos aproxi-

42 N��o leve a vida t��o a s��rio

mamos para examin��-la mais de perto. Dever��amos ter nos preo-

cupado tamb��m?

�� claro que n��o existe um momento ideal para se preocupar.

Talvez fosse poss��vel dizer que "uma pequena preocupa����o" ��

bom, ou, ainda, que o importante �� a quantidade e n��o o mo-

mento. Quem sabe, se eu tivesse me preocupado pelo menos um

pouquinho n��o ter��amos corrido risco de vida. Na verdade, ��

preciso admitir que foi justamente o fato de que a escalada pare-

cia preocupante que tornava a id��ia interessante.

Quem iria querer subir uma encosta de inclina����o suave,

coberta por um espesso tapete de grama? Se n��o fosse "um pou-

quinho preocupante", a escalada n��o teria sido um desafio.

Parece que eu teria de me preocupar mais do que me preocupei,

mas... quanto mais? �� claro que me preocupei "demais" quando

estava debaixo da pedra na chuva...

A id��ia de que h�� uma quantidade exata de preocupa����o ��

apenas algo a mais para nos preocuparmos. A preocupa����o sim-

plesmente n��o funciona.

Atitude 5: Preocupa����o �� sinal de intelig��ncia

Pensamos que a preocupa����o �� uma escolha inteligente da pes-

soa, em oposi����o a uma rea����o de massa, uma atitude da coletivi-

dade. A preocupa����o ��, na verdade, a emo����o que une o mundo.

Ela pode ultrapassar as diferen��as religiosas, pol��ticas, raciais e

sexuais. Notici��rios e document��rios s��o campe��es de audi��ncia

porque est��o sempre trazendo uma lista de m��s reportagens ao

vivo para que o espectador possa se preocupar. Reportagens inves-

tigativas que revelam perigos em lugares insuspeitos estimulam

nossa ansiedade, que, por sua vez, provoca as altera����es qu��micas

no organismo ��� e, assim, o v��cio da ansiedade se alimenta.

Livrando-se do lixo mental 43

�� senso comum em nossa cultura que a pessoa sem preocu-

pa����es �� uma ing��nua. Para n��s, o cinismo �� sinal de intelig��n-

cia e pragmatismo. C o m o o desastre �� comum a todos, tende-

mos a considerar a paz de esp��rito como uma emo����o irreal ou

falsa. Os fortes atacam os fracos. Todos os seres que conhece-

mos vivem �� custa da morte de algum outro ser.

A conclus��o �� inevit��vel: voc�� e eu murcharemos e morrere-

mos como tudo o que est�� vivo, seja o planeta, uma pessoa ou

uma planta. Este �� o cen��rio de nossas vidas e s�� n��o v�� quem

n��o quer. Partimos do princ��pio de que a preocupa����o �� a

emo����o "consciente", aquela que �� induzida pelos fatos.

Podemos nos concentrar nos fatos "inevit��veis" da vida ou no

ponto onde estamos e no que estamos fazendo. Quando relaxa-

mos, come��amos a nos abrir para uma realidade que vai muito

al��m daquele cen��rio preconcebido sobre o futuro que inventa-

mos. A preocupa����o est�� sempre relacionada ao futuro, mesmo

que o futuro seja o momento seguinte.

Atitude 6: Preocupa����o �� sinal de compaix��o

Acreditamos que aqueles que se preocupam se tornam social-

mente respons��veis. Outro mito �� de que a nossa ang��stia cor-

responde ao tamanho de nossa preocupa����o pelas pessoas so-

frendo no mundo. A preocupa����o ajuda algu��m? N �� o , mas como

a ansiedade �� uma sensa����o um tanto desagrad��vel e desgas-

tante, ela simula uma falsa impress��o de dever cumprido, de ter-

mos feito a nossa parte, quando, na verdade, apenas movimen-

tamos as nossas engrenagens mentais, ou a nossa boca.

Observe o quanto voc�� se sente afastado quando se aproxima

de uma pessoa apreensiva. Em geral, ela est�� t��o absorvida em

sua pr��pria preocupa����o que se torna uma esp��cie de lobo soli-

44 N��o leve a vida t��o a s��rio

t��rio. Seu foco pode ser at�� mesmo uma determinada pessoa,

mas ela n��o consegue demonstrar sua solidariedade. "Estou

preocupado com voc��" �� a frase t��pica de quem tem um ego com

tamanho potencial autodestrutivo.

As preces que as pessoas religiosas fazem antes de refei����es

s��o outro exemplo de mau uso da preocupa����o: "Lembremos de

todos os que t��m fome." Se, a cada bocado, realmente nos lem-

br��ssemos dos famintos, nos alimentar��amos em meio a um con-

flito imenso. N �� o haveria nenhuma sensa����o de comunh��o nessa

mesa. A generosidade �� um ato de felicidade, n��o uma conse-

q����ncia do medo.

Atitude 7: Quando as coisas v��o bem, �� melhor come��ar a se preocupar

Se um livro ou um filme come��a com cenas felizes e vozes ale-

gres, sabemos que algo de ruim est�� para acontecer. �� preciso

uma dose de alegria ��� mesmo que por pouco tempo. Observe

que quando as coisas come��am a acontecer do jeito que a gente

gosta, uma leve preocupa����o surge no horizonte. Por experi��n-

cia pr��pria, sabemos que aquilo que mais desejamos �� o que

pode nos ferir mais profundamente.

Um ditado muito popular diz que �� preciso "Tomar cuidado

com o que pede... voc�� pode conseguir!". Pense no que est�� im-

pl��cito nesta afirma����o: nas vantagens especiais com as quais

voc�� poder�� come��ar a sua vida ��� boa apar��ncia, bom sistema

imunol��gico, talento natural, riqueza de fam��lia e qualquer outra

coisa ��� nada disso �� confi��vel. Se voc�� come��ar a pensar nas

vantagens adicionais com que sempre sonhou, saiba que elas s��o

ainda menos confi��veis!

N o s s o problema n��o �� que n��o olhamos de frente para o peri-

go e a ironia. Olhamos para o mundo quase em transe, fascina-

Livrando-se do lixo mental 45

dos. O que n��o questionamos �� qual o valor desse olhar, qual o

verdadeiro benef��cio de ter uma percep����o preocupada.

P a r a c a d a a �� �� o , u m a r e a �� �� o

N �� o �� dif��cil examinar estas sete atitudes geradoras de preo-

cupa����o. Em geral, terminamos admitindo que a preocupa����o

reduz a nossa capacidade de adapta����o e de rea����o, de sermos

criativos, intuitivos e sens��veis ��� e, com certeza, de conhecer-

mos o prazer puro e simples e a paz de esp��rito. No entanto,

muita gente acredita ter pouqu��ssimo controle sobre a tend��ncia

da mente de manter o foco num ��nico problema. Um adesivo

muito comum nos vidros dos carros est�� escrito: "Se n��o estiver

preocupado, �� porque voc�� n��o est�� prestando aten����o."

E m outras palavras: a consci��ncia deve levar �� preocupa����o. A

ansiedade �� uma esp��cie de religi��o e, gostemos ou n��o, deve-

mos todos nos ajoelhar no altar da preocupa����o. N �� o d�� para

elimin��-la completamente, mas est�� provado que, por meio da

concentra����o e da for��a de vontade, �� poss��vel lutar contra o

quanto nos preocupamos.

Se �� verdade que sempre nos preocuparemos, deve ser igual-

mente verdade que a tranq��ilidade interior e a paz s��o objetivos

plenamente alcan����veis.

Antes de passarmos ��s pequenas mudan��as que eliminam

preocupa����es menores, examinemos como a mente funciona em

momentos de extrema necessidade. Exemplo: seu filho acaba de

receber o diagn��stico de uma doen��a possivelmente fatal e nin-

gu��m sabe dizer como o caso evoluir��. �� claro que voc�� se afli-

gir�� com o que pode acontecer. Em momentos dram��ticos como

esse, nada serve de conforto espiritual.

H�� uma hist��ria que ilustra bem esta situa����o: um guru disse

4 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

a uma mulher que chorava a morte de seu filho que ela n��o deve-

ria sentir-se triste, pois a morte n��o existe para Deus. Anos de-

pois, o filho do guru morreu e, ao ver a profunda tristeza do

guru, a mulher se lembrou do que ele havia dito.

��� Aquele era o seu filho ��� disse o guru. ��� Este �� o meu filho.

Quando estamos diante da trag��dia, choramos e nos indig-

namos. O que podemos e devemos nos perguntar �� se esta ��

a ��nica rea����o de que somos capazes. Continuar ocupando a men-

te com preocupa����es n��o trar�� benef��cio algum, enquanto a mente

em paz, ao contr��rio, se estende a todos. Um casal de amigos nos-

sos e sua filha deram um exemplo inspirador, que conto a seguir.





TOM E A N N


H�� poucos anos, Diana, a filha de 21 anos de Tom e Ann, teve

uma convuls��o e eles a levaram para a emerg��ncia. Exames indi-

caram um tumor no c��rebro. Nesse momento, come��ou o pesa-

delo da busca por segundas e terceiras opini��es, de aus��ncias do

trabalho, de provid��ncias para decidir hospital e cirurgi��o e

todos os outros problemas que uma crise desse tipo envolve.

N �� o apenas porque eles eram amigos, mas tamb��m porque

eram pais amorosos e profundamente espirituais, est��vamos

seriamente interessados no que enfrentavam e na maneira como

tratavam da situa����o. Tom �� m��dico e Ann sua auxiliar no con-

sult��rio. No in��cio, os dois s�� conseguiam pensar em descobrir

um tratamento para o tumor. Contudo, depois de alguns dias,

decidiram reexaminar seu objetivo. Em parte, porque percebe-

ram que seu p��nico e terror s�� pioravam o sofrimento de Diana.

Depois, porque fizeram o que chamaram de "um exame piedoso

de seus cora����es" e resolveram amar Diana com cada fibra de

seu ser, dedicando-se inteiramente �� paz e �� felicidade da filha.

Livrando-se do lixo mental 47

Embora tenham tomado todas as provid��ncias necess��rias

para que a filha fosse diagnosticada e tratada corretamente, sua

aten����o j�� n��o era mais a recupera����o de Diana. Eles sabiam que

muitos resultados eram poss��veis, entre os quais a morte, diver-

sos graus de incapacita����o ou uma completa recupera����o. Disse-

ram-me que haviam observado que algumas pessoas s�� se voltam

para Deus quando est��o muito doentes ou quando est��o mor-

rendo. Conheceram pessoas que agradeciam por suas defici��n-

cias ��� por tudo o que haviam aprendido com a experi��ncia. Em

outras palavras, Tom e Ann perceberam que n��o estavam em

posi����o de escolher o melhor tratamento para sua filha e, acima

de tudo, que n��o poderiam controlar os fatos.

�� muito dif��cil explicar esse tipo de situa����o para algu��m que

n��o passou pela experi��ncia. Pode parecer que a pessoa n��o est��

se importando, mas a verdade �� que Tom e Ann n��o hesitavam

em enfrentar m��dicos e enfermeiras se achassem que sua filha

n��o estivesse sendo bem-cuidada ou algu��m estivesse come-

tendo um erro.

Qualquer pai ou m��e normal se preocuparia seriamente com

um tumor no c��rebro da filha. A luta pela recupera����o de Diana

simbolizava seu amor mais do que qualquer outra poss��vel a����o.

Isto n��o significava que a meta de seu cora����o e o centro de seus

pensamentos alterasse o organismo da filha. Ao contr��rio, trazia

conforto ao esp��rito dela.

Recusar-se a fazer do controle a principal meta n��o sig-

nifica cumprir as tarefas e deveres com indiferen��a

ou descuido. Se o objetivo �� a consci��ncia, todas as coi-

sas devem ser feitas com aten����o. Se o objetivo �� a inte-

gridade, tudo deve ser feito meticulosamente. Se o obje-

48 N��o leve a vida t��o a s��rio

tivo �� o amor, tudo deve ser feito com cuidado, aten����o

e beleza.

A situa����o no in��cio era t��o apavorante que Tom e Ann

decidiram se concentrar na felicidade de Diana. Gradualmente,

come��aram a sentir sua uni��o com a filha e, em pouco tempo,

uma profunda paz que os conduziu pelas semanas de exames e,

enfim, �� opera����o, que foi bem-sucedida. Diana voltou �� univer-

sidade e ��s atividades desportivas.

U s a n d o a c r i s e c o m o m o t i v a �� �� o

Se voc�� j�� teve pessoas ansiosas �� sua volta, talvez entenda por

que a mudan��a da enfoque de Tom e Ann deixou Diana mais

feliz e mais relaxada. Eles conseguiram transformar suas mentes

radicalmente ��� de latas de lixo mental para floridos canteiros.

Se um n��mero maior de pessoas pudesse sentir como �� passar

um ��nico dia com a mente n��o-fragmentada e sem conflito, co-

nheceriam a vida como ela ��. C o m o isso �� raro, passamos a

maior parte do tempo agindo como crian��as apontando e gri-

tando para uma sombra, enquanto pais e m��es permanecem na

retaguarda, oferecendo seguran��a e apoio. Que os pais fun-

cionam como uma presen��a confortadora, isso �� fato, ainda mais

quando a mente est�� unificada ��� nesse caso, n��o h�� nada que

possa bloquear a beleza tranq��ila do cora����o.

Depois que Diana voltou �� universidade, Tom me disse que a

paz que havia sentido come��ou a desaparecer. Trata-se de uma rea-

����o comum: muitas pessoas enfrentam com bravura uma tempes-

tade, mas se sentem esmagadas diante dos fatos da vida. Tom op-

tou por orar com freq����ncia maior, mas a ora����o n��o funcionou.

Por fim, ele entendeu que, agora, sua prioridade era ele mesmo.

Livrando-se d o lixo mental 4 9

Ao perceber seu equ��voco, Tom come��ou a se dedicar mais ��

sua mulher, sua equipe e seus clientes, especialmente em seus

pensamentos e em suas preces.

��� Sempre que dou ��s pessoas a mesma aten����o que dei para

Diana, simplesmente me sinto melhor, trabalho melhor, gosto

mais de meus clientes. Ann e eu nos aproximamos e a vida vale

a pena... Sermos gentis �� simplesmente muito bom.

Primeiro ame, depois fa��a o que tem de fazer. Primeiro,

escolha a paz, depois diga o que tem a dizer. Perguntar

"O que devo fazer?" e "O que devo dizer?", na verdade,

significa: "Como obtenho o resultado que desejo?" Rara-

mente nos confundimos quando a paz e a integridade

s��o a nossa meta.

Se examinarmos o processo que permitiu que Tom e Ann se

livrassem da preocupa����o, da ang��stia e do medo, observaremos

que eles desviaram sua aten����o de algo que n��o podiam controlar

(encontrar a cura para um tumor no c��rebro) para algo que po-

diam controlar (amar sua filha e procurar a paz para ela). Sempre

que nosso desejo sincero �� melhorar nosso estado mental, n��o h��

falha poss��vel. Falhamos porque dividimos nossa mente.

L i b e r t a �� �� o 4

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Assuma duas ou tr��s pequenas tarefas: vestir-se, ir a um

supermercado, fazer uma refei����o qualquer, pagar algumas

contas ou qualquer outra atividade.

��� Antes de come��ar cada atividade, organize seus pensamen-

50 N��o leve a vida t��o a s��rio

tos e tranq��ilize-se interiormente. Experimente repetir pau-

sadamente estas palavras: "Tudo est�� liberado. Tudo �� paz."

��� Quando se sentir em paz, estabele��a a meta de n��o tomar

nenhuma decis��o enquanto estiver realizando esta atividade.

Cada vez que sua mente come��ar a decidir por uma a����o

(Devo usar este sapato ou aquele? Pago em dinheiro ou cart��o de cr��di-

to? Fa��o uma sopa ou um sandu��che?), corte o pensamento e fa��a

alguma coisa, mas fa��a com o m��ximo de tranq��ilidade e paz

interior que puder.

��� Depois de fazer seja l�� o que for, fa��a um pequeno teste.

Primeiro, pergunte-se se voc�� acredita que a qualidade, efic��-

cia ou sensatez de qualquer coisa que voc�� tenha feito foi

prejudicada por ter resolvido n��o tomar nenhuma decis��o.

Se a resposta for n��o, reexamine a atividade. Desta vez, per-

gunte a si mesmo se voc�� acha que agiu com naturalidade e com

maior pondera����o do que se houvesse tomado decis��es cons-

cientes como sempre. (Sim, estas s��o quest��es complicadas!)



Tr��s

A b r i n d o m��o das

emo����es i n �� t e i s

Desde os anos 6o, as emo����es das pessoas s��o usadas pela

psicologia e at�� pela sabedoria popular, como fonte de

informa����es sobre a sa��de mental da popula����o. A m��dia, ��

claro, percebeu o potencial e passou a se interessar cada vez mais

por hist��rias altamente dram��ticas, que provoquem a express��o

de sentimentos dos entrevistados ��� nunca de seus ideais ou

convic����es. Casos como o seq��estro do publicit��rio Washington

Olivetto ou o brutal assassinato do jornalista T i m Lopes s��o

exemplos de "boas hist��rias". Na esteira dessa tend��ncia surgi-

ram incont��veis grupos de auto-ajuda, todos usando as emo����es

dos participantes como agentes de mudan��a. Na verdade, as

emo����es se tornaram as j��ias de nossa cultura ��� n��o s�� por

revelarem a ess��ncia da sa��de mental como por serem agentes

de mudan��a comportamental.

A mudan��a de enfoque pode ser notada at�� em coisas banais

como o tema dos discursos de agradecimento em cerim��nias de

entregas de pr��mios. N o s anos 50, a pessoa agradeceria ter sido

escolhida, falaria do lugar em que seria pendurada a medalha ou

placa e no quanto e como a honra conferida afetaria o seu futuro.

Hoje, os discursos est��o centrados na id��ia de que a verdadeira

52 N��o leve a vida t��o a serio

recompensa �� a maneira como nos sentimos. Assim como os

rep��rteres sempre fazem a uma v��tima de uma trag��dia pergun-

tas sobre como ela se sente, as entrevistas com os ganhadores de

um pr��mio ou concurso invariavelmente come��am com a per-

gunta: "Como voc�� se sente?"

T �� o dominante �� o novo papel atribu��do ��s emo����es que a frase

"o sentimento acabou" �� uma justificativa, freq��entemente citada

para se divorciar do parceiro ou parceira de toda uma vida. Era con-

siderado um cumprimento chamar uma mulher de "meiga", ou um

homem de "tipo reservado", mas hoje os adultos calmos e os ado-

lescentes tranq��ilos s��o considerados suspeitos. Ser "um tipo reser-

vado" �� quase o mesmo que dizer que a pessoa talvez seja psic��tica.

"O que voc�� est�� sentindo?" �� uma das perguntas mais

comuns nas terapias e nos grupos de apoio. Ela faz com

que o sentimento da pessoa a respeito do que foi dito

seja mais importante do que o que foi dito.

A emo����o �� a linguagem que revela o funcionamento mais pro-

fundo de nossa mente. Se a escutarmos (em vez de reagirmos), tere-

mos acesso a valiosas percep����es intuitivas das pessoas a quem

amamos. Mas, cuidado: as emo����es n��o s��o um solu����o em si mes-

mas. Por tr��s de cada emo����o h�� um pensamento que gera senti-

mentos. �� um processo cont��nuo, j�� que ao pensarmos que um amigo

pode morrer, por exemplo, sentimos medo; ao pensarmos que

algu��m est�� nos desprezando, sentimos raiva, e assim por diante.

As emo����es nascem e morrem no ritmo de nossos pensamen-

tos. C o m o s��o subprodutos do pensamento, conseguimos sabo-

tar a carreira, a sa��de, a felicidade e os relacionamentos apenas

com a for��a do pensamento inconsciente, n��o do sentimento

Abrindo m��o das emo����es in��teis 53

inconsciente. D a �� a necessidade de identificar o pensamento

negativo no instante em que ele aparece.

Em geral, as pessoas t��m certa consci��ncia de estarem tristes,

irritadas, ansiosas ou descontentes ��� "sintomas" ineg��veis de

pensamentos negativos ���, mas pouqu��ssimas vezes elas identifi-

cam o que est�� por tr��s de suas emo����es. �� mais ou menos como

estar consciente de que h�� algo errado no organismo, mas sem

sintonizar exatamente o qu�� e onde. O mais prov��vel �� que jogue

a culpa nos outros.

Fomos treinados para lidar com as emo����es, especialmente

com as explos��es emocionais. Algumas t��cnicas s��o eficazes, at��

melhoram o estado emocional; outras n��o, s��o destrutivas. Tudo

vai depender de fatores t��o diversos como beber e comer de-

mais, desabafar, retaliar (ou "fazer justi��a"), acusar, curtir f��rias,

praticar a libera����o sexual, integrar grupos de apoio, usar drogas

e at�� ouvir m��sica.

Se nossa mente n��o est�� ��ntegra, em se tratando de emo����es,

nada funciona por muito tempo. Observe que o mesmo comen-

t��rio ou a mesma circunst��ncia pode nos atingir de uma maneira

diferente a cada vez. Tente lembrar como voc�� se sentia na

inf��ncia em rela����o aos pais e professores. N �� o �� verdade que

eles sempre reagiam com exagero ao que diz��amos ou faz��amos?

Voc��, por outro lado, n��o sabia o que esperar, nem calcular como

eles (os adultos) desejariam que se comportasse daquela vez. O

humor deles estava fora de controle ��� no fundo, porque estava

fora do controle deles.

Diga n��o ��s preocupa����es

Aprender a ficar livre de emo����es menores como a ansiedade,

o nervosismo e a apreens��o �� f��cil. Um exemplo: viajo com certa

54 N��o leve a vida t��o a s��rio

freq����ncia para dar workshops e, quando se aproxima o momen-

to de sair da cidade, invariavelmente come��o a me preocupar se

conseguirei fazer as conex��es de v��o necess��rias, se coloquei na

mala tudo de que preciso, se dormirei o suficiente, que tipo de

grupo estar�� presente e outros fatores fora de meu controle.

Aprendi a interromper essas preocupa����es ajustando o foco

em cada aspecto da viagem. Fa��o um check list de perguntas:

C o m o quero me preparar para a viagem? Em paz. C o m o quero

me despedir da minha fam��lia? Amorosamente. C o m o quero es-

perar no aeroporto? Relaxadamente e com prazer. C o m o quero

tratar as pessoas que encontrar? Generosamente. Que esp��cie

de workshop desejo dar? O mais ��til que puder... e assim por

diante. Ao ajustar o foco nas coisas que posso controlar, consigo

unificar a mente e dissipar o receio, porque a mente fragmenta-

da produz o medo e outras emo����es desintegradoras.

As preocupa����es com o dinheiro s��o outro exemplo de como

o problema pode ser menos grave do que aparenta ser. Vamos

supor que �� voc�� quem paga as contas, faz o malabarismo com os

juros do cart��o de cr��dito, poupa e investe a sobra de dinheiro.

Ou seja: voc�� est�� acostumado a enfrentar situa����es imprevis��veis

e escapar de armadilhas. Todo m��s �� a mesma ang��stia: todas as

contas chegaram? os valores est��o corretos? ser�� que a economia

do pa��s far�� de seu investimento uma op����o sensata?

�� normal que voc�� se preocupe, mas ser�� que isso vai resolver

alguma coisa? Certamente n��o. A sa��da �� estabelecer um objeti-

vo mental e torn��-lo mais importante do que as circunst��ncias

do momento ou as conseq����ncias futuras. Isto nos tranq��iliza e

restaura a integridade da nossa mente.

Mudar o enfoque interior, deixar a preocupa����o de lado e ficar

em paz ��, sem d��vida, um exerc��cio interessante para se fazer,

Abrindo m��o das emo����es in��teis 55

por exemplo, num momento de ansiedade. Nenhuma boa deci-

s��o financeira pode ser alcan��ada com medo e preocupa����o.

Tamb��m n��o adianta se punir mentalmente por erros que tenha

cometido no passado ou tentar saber qual �� o investimento "cer-

to", ou exatamente quanto deve ser poupado. A mente sempre

se fragmenta quando fazemos uma pergunta imposs��vel de ser

respondida. O ideal �� acalmar os pensamentos e relaxar os pro-

cessos mentais. Se pagar as contas deixa-o assim, feche os olhos,

acalme-se e mentalize a frase: "Lerei todos esses documentos e

assinarei os cheques em paz." Repita at�� sentir que alcan��ou seu

objetivo.

Seja qual for a quest��o com dinheiro, podemos sempre

ver qual op����o acreditamos ser a mais agrad��vel, a

menos prov��vel de dar errado e qual delas nos d�� a

perspectiva de menor risco e mais paz. Ningu��m pode

prever o que acontecer��, mas as perguntas dirigidas ��

nossa ��ndole pac��fica n��o ficar��o sem respostas - se nos

sentirmos serenos e examinarmos cuidadosamente o

desejo de nosso cora����o.

D e i x a n d o f l u i r o s s e n t i m e n t o s

Depois que o medo se instala, a mente corre para escolher um

tema unificador. Isto �� verdade para qualquer tipo de emo����o

desintegradora. N �� o �� nada saud��vel opor-se a sentimentos com

os quais voc�� acaba de tomar consci��ncia - ci��me, inveja, des��ni-

mo, vergonha, preocupa����o ou aborrecimento. Neste momento,

uma mente livre �� um objetivo irreal e imposs��vel de ser alcan��a-

do. Observe como �� dif��cil afastar as preocupa����es, os medos, o

desespero ou qualquer outra sensa����o do tipo. N �� o d�� para com-

56 N��o leve a vida t��o a s��rio

bat��-las depois de tomar consci��ncia delas. Quando negamos

uma emo����o destrutiva, corremos o risco de nos esconder, em

vez de ficarmos livres. Mesmo que invis��vel, o pensamento por

tr��s do sentimento continua existindo com for��a maior do que

antes.

Se a emo����o destrutiva fosse apenas um conjunto de sensa-

����es, talvez pud��ssemos ignor��-la ��� como, ��s vezes, fazemos

com uma dor de cabe��a ou uma gripe. Tentar bloque��-la �� igno-

rar o pensamento que est�� causando o sentimento. N �� o d�� para

negar os sintomas de um c��ncer ou uma perna quebrada, n��o

�� mesmo? �� preciso tratar a causa sob o risco de que o mal

se expanda.

Identificar o verdadeiro mal causado por sentimentos como

medo, f��ria, ��dio ou desprezo �� um passo fundamental rumo ��

liberdade. Mas �� igualmente importante desnudar o pensamen-

to que est�� produzindo a emo����o e explicitar o que est�� sendo

feito para refor��ar e reter esse mesmo pensamento.

Se quisermos encerrar o c��rculo vicioso de usar nossas mentes

para nos torturarmos, �� fundamental desvendarmos o pensa-

mento que est�� por tr��s de nossa primeira onda de emo����o.

E substitu��-lo por uma atividade mental mais natural, relaxante

e prazerosa.

A F �� R I A D O C A R R I N H O D E C O M P R A S

H�� poucas semanas, quando sa�� da fila do caixa num super-

mercado, vi dois carrinhos de compras, ambos cheios de sacolas.

Imaginando que o mais pr��ximo fosse o meu, empurrei-o at�� o

carro. Quando peguei as sacolas para colocar no porta-malas,

percebi que n��o continham minhas compras. Imediatamente

fechei o carro e comecei a empurrar o carrinho de volta para o

Abrindo m��o das emo����es in��teis 57

supermercado. No meio do caminho, encontrei uma senhora

enfurecida acompanhada pelo subgerente. Ao tentar dizer que

estava indo trocar o carrinho, ouvi um berro:

��� Esse �� o meu carrinho! ��� gritou a mulher.

��� Eu sei, eu devo ter...

��� �� o meu carrinho! ��� ela berrou de novo.

Cada vez que eu come��ava uma frase, ela interrompia com as

mesmas palavras. Acabei ficando enfurecido tamb��m.

��� A senhora poderia repetir isso mais uma vez? ��� perguntei.

��� �� o meu carrinho! ��� respondeu ela.

��� Obrigado ��� eu disse. ��� Isso �� muito bom.

Surpresa com a minha rea����o, a mulher arrancou o carrinho

da minha m��o, virou as costas e foi embora sem se despedir. S��

ent��o notei que o subgerente estava com as minhas compras. Ele

me pediu desculpas, eu agradeci e o incidente terminou ali.

Depois, ao pensar no que havia acontecido, eu me dei conta

de que n��o tivera nenhuma rea����o especial quando ela falou pela

primeira vez "�� o meu carrinho". S�� fiquei irritado uns vinte

segundos depois, quando o pensamento " N �� o tenho de escutar

isto!" entrou na minha mente. Examinando mais de perto a sen-

sa����o, tive outros pensamentos: "N��o sou obrigado a ser tratado

desta maneira" e " N �� o quero ser desrespeitado".

Era como se s�� agora eu enxergasse a mulher sob as lentes de

uma falsa dignidade, que veio em socorro do meu ego. Esse pen-

samento me transformou em v��tima ��� enfim, meu orgulho esta-

va vulner��vel �� f��ria dela. Comecei a imaginar a infinidade de

pensamentos que eu poderia ter tido enquanto ela gritava, como,

por exemplo, "Que mulher maluca!", ou "O que o subgerente de-

ve estar achando de tudo isso?", ou ainda "O que deve ter acon-

tecido na vida dessa mulher para algo t��o pequeno ser t��o im-

5 8 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

portante para ela?". Cada um desses pensamentos teria gerado

uma emo����o diferente no calor do momento.

Liberta����o 5

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Este exerc��cio nos leva a um insight ao qual voltaremos muitas

vezes. N o s s a mente est�� t��o cheia de vozes do passado que os

pensamentos entram em conflito. Sempre que sentimos uma

emo����o perturbadora, podemos estar certos de que cometemos

este erro. Os pensamentos destrutivos s�� nos afetam quando os

levamos a s��rio.

��� Identifique tantos pensamentos perturbadores quanto

puder. Anote-os e guarde a lista em seu bolso. Quando um

deles vier �� cabe��a, pegue a lista e a mentalize com fervor e

repita silenciosamente: "O pensamento em si n��o �� o proble-

ma. O problema �� concentrar minha mente em torno desse

pensamento." Em seguida, relaxe a mente.

P a l a v r a s n �� o s u b s t i t u e m c o n v i c �� �� e s

Mesma cena + pensamento diferente = emo����o diferente. ��

aqui que muita gente sai dos trilhos: elas acreditam que podem

apagar seu primeiro pensamento dizendo palavras que represen-

tam outro pensamento. Isto desconsidera um fato importante:

pensamentos s��o um reflexo do que acreditamos, ou, pelo me-

nos, do que pensamos acreditar naquele momento. Palavras sim-

plesmente n��o substituem convic����es. Para que os pensamentos

mudem, nossas convic����es devem mudar primeiro. Ficar repe-

tindo palavras ao vento n��o muda nada, s�� estabelece uma dis-

cuss��o em nossa mente, que fica dividida entre o que acredita-

A b r i n d o m �� o d a s e m o �� �� e s i n �� t e i s 5 9

mos e o que estamos dizendo para n��s mesmos que devemos

acreditar.

Uma amiga me contou a respeito de uma mulher que

vivia dizendo: "Amo meu corpo, amo meu corpo, amo

meu corpo." Um dia, minha amiga lhe perguntou: "Bom,

voc�� ama seu corpo... e da��?" E a mulher come��ou a

chorar. "N��o", disse ela, "n��o gosto de meu corpo." ��

claro que n��o! Palavras n��o s��o pensamentos. Palavras

s��o apenas as embalagens dos pensamentos.

No momento em que temos um pensamento, ele se transforma

na lente por meio da qual vemos o mundo. �� este pensamento que

determina o que selecionamos e o que deixamos de lado. Em certo

sentido, um pensamento �� uma op����o ��� peneiramos os dados que

temos diante de n��s e escolhemos os que refor��am nossa decis��o.

Gayle e eu conhecemos um sujeito que acha que "Hollywood

n��o tem nada de bom". Ele �� capaz de passar horas citando

exemplos para sustentar esta convic����o. At�� quando vamos jun-

tos ao cinema, ele v�� um filme radicalmente diferente do filme

que n��s vemos. Outro exemplo da maneira como os pensamen-

tos determinam a nossa experi��ncia dos acontecimentos �� quan-

do, mesmo gostando do trabalho de um determinado ator, ao

lermos uma cr��tica negativa sobre ele passamos a ter uma per-

cep����o diferente de sua atua����o. Se h�� uma centena de pessoas

no cinema, cada uma poder�� ver uma atua����o diferente porque

suas certezas na vida s��o diferentes.

No nosso trabalho de aconselhamento familiar, Gayle e eu

deparamos com muitas m��es e pais que realmente n��o enxergam o

filho, s�� os pensamentos que t��m sobre o car��ter dele. Essa pos-

6o N��o leve a vida t��o a s��rio

tura contamina tudo o que a crian��a faz e todas as suas palavras e

atos se tornam parte dessa convic����o sombria dos pais. As inter-

preta����es que escolhemos constituem indiscutivelmente uma

proje����o. Contudo, a paz que avistamos no cora����o de nosso

filho, a alegria que temos quando pensamos na pessoa amada s��o

eternas e n��o podem ser corrompidas pela parte de nossa mente

que formula as palavras, interpreta, julga e reage. Essa parte da

mente n��o pode chegar �� verdade porque n��o a conhece.

Temos uma profunda tend��ncia a confundir o que ve-

mos com o que estamos olhando. Os que permanecem

inconscientes de como seus pensamentos revelam a si

mesmos e ��s pessoas a quem amam simplesmente dei-

xam a vida passar totalmente em branco.

O maior risco �� deixar que as emo����es se baseiem em his-

t��rias idealizadas que as pessoas tecem sobre si mesmas e seus

relacionamentos. C o m certeza, j�� vimos isto acontecer a muitas

celebridades. N u m per��odo surpreendentemente curto, elas dei-

xam de existir. Tornam-se meros personagens de hist��rias feitas

sob medida para agradar. Em escala menor, isto tamb��m pode

acontecer com pessoas iguais a n��s. A dica �� n��o deixar que sua

vida pegue um atalho em dire����o ao irreal, nem que sua velhice

fique parecida com um museu de cera, em que as mesmas hist��-

rias s��o narradas sem cessar, repetidamente.

Abrir os olhos pela manh�� �� como abrir um velh��ssimo livro de

colorir em que as p��ginas est��o desbotadas e os contornos dos

personagens imprecisos. Os pensamentos s��o a tabela de cores

que aplicamos a cada cena, p��gina ap��s p��gina. Assim que perce-

bermos que as cores que usamos, e n��o os imprecisos contornos

Abrindo m��o das emo����es in��teis 61

das figuras, s��o os respons��veis pelos sentimentos e emo����es,

podemos nos concentrar na for��a de nossos pensamentos.

A s e m o �� �� e s n �� o s �� o t o d a s i g u a i s

Ao contr��rio de muitos livros de auto-ajuda, este n��o tenta

desvendar os pensamentos por tr��s de todas as emo����es ��� nossa

meta se limita aos pensamentos que destro��am nossas vidas. Se

n��o forem liberados, a raiva, a amargura, a arrog��ncia ou o dese-

jo de vingan��a ��� para dar nome a algumas dessas emo����es mais

venenosas ��� podem cavar um buraco t��o fundo na nossa mente

que ser�� preciso o tempo de toda uma vida para escalar e sair

dele. Sentimentos moment��neos de inoc��ncia, aborrecimento

ou tranq��ilidade pouco mal far��o aos outros.

M e s m o quando os efeitos das emo����es mais perturbadoras

n��o alteram a vida, eles sempre ferem algu��m ��� a voc�� ou ��s

pessoas a quem voc�� ama. As exce����es ficam para as opini��es

e as f��rias passageiras ati��adas pela leitura de uma carta, pelo

notici��rio da televis��o ou pelo modo como foi tratado o amigo

de um conhecido no escrit��rio. As m��goas que levamos a s��rio

e as decis��es sombrias que tomamos separam nossas fam��lias,

ferem a sa��de e prejudicam nossa capacidade de apreciar o que

�� simples.

Os que procuram um caminho "superior" e os que se esfor��am

por obter um grau incomum de autodisciplina, em geral, tentam

pensar, sentir e agir com perfei����o. �� muito comum tentarem

colocar-se �� parte da "multid��o", o que acaba levando ao afasta-

mento e �� nega����o da felicidade.

62 N��o leve a vida t��o a s��rio

L i b e r t a �� �� o 6

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

��� Identifique o sentimento perturbador dominante que voc��

teve nas ��ltimas horas, dias ou semanas. Da pr��xima vez que

sentir esta emo����o ��� medo, ��dio, desd��m, cinismo, desespero

ou qualquer outro sentimento destrutivo ���, instale-se calma-

mente dentro dela e anote todos os pensamentos que surgirem,

n��o importa se aparentemente n��o estiverem relacionados.

��� Mantenha a emo����o em alta rota����o, sempre anotando

todos os pensamentos que passarem pela sua mente, at�� que

ela comece a mudar. Depois, deixe a lista de lado e prossiga

em seu dia, como sempre.

Quando voc�� d�� um tempo e come��a a vasculhar sua mente

em busca de pensamentos, �� comum deparar, de repente, com a

mente vazia e os instintos mais b��sicos em baixa rota����o. Se isso

acontecer, comece a anotar mesmo as impress��es mais vagas de

pensamentos, disposi����es, humor ou atitudes. ("Sinto uma leve

ansiedade. Parece que eu estou na berlinda, possivelmente por

estar fazendo esta Liberta����o. N �� o , ela parece mais ampla...

Parece ter algo a ver com as coisas que est��o acontecendo em

minha vida neste exato momento...")

Se n��o conseguir estabelecer este di��logo mental, comece a

descrever o vazio mental em si. C o m o �� este vazio? ("Minha

mente parece uniforme e cinza, tenho consci��ncia dos sons e das

sensa����es em volta. O vazio parece conter uma esp��cie de tris-

teza, quase como se estivesse chorando. N o t o essa vibra����o de

choro tamb��m nas minhas m��os. Acabo de ter um pensamento:

'Sinto uma rejei����o maior do que deveria estar sentindo', 'Sinto

uma rejei����o maior do que as circunst��ncias da minha vida

Abrindo m��o das emo����es in��teis 63

merecem', ou ainda: 'Estou sentindo uma autopiedade grande

demais' ��� �� mais ou menos isso.")

Prosseguindo com o exerc��cio, em muito pouco tempo os pen-

samentos come��ar��o a aparecer. Tenha paci��ncia, descreva o que

puder e, em pouco tempo, o seu problema ser�� como anotar tudo.

Nas pr��ximas vezes em que fizer este exerc��cio, voc�� ter�� mais

rapidez e tranq��ilidade. Observe que a maioria dos conte��dos

mentais sequer �� sua. Eles n��o emanam de suas convic����es mais

profundas, da sua intui����o ou da sua experi��ncia. Se tentar separar

peda��os de mem��rias, fantasias, imagens e refer��ncias, vai encon-

trar um ou dois pensamentos que geram essa ou aquela emo����o.

�� mais ou menos como abrir a geladeira para procurar o que

est�� causando o cheiro. ��s vezes pensamos: "Ih, nossa, vou lim-

par tudo e come��ar de novo!" �� uma boa id��ia, mas est�� um

pouco al��m da capacidade de quem est�� ensaiando os primeiros

passos. Em geral, as pessoas tentam fazer uma limpeza geral

cedo demais e terminam reprimindo muitos pensamentos que

n��o deveriam ser reprimidos. Se voc�� reage exageradamente ou

se surpreende com o que acaba de dizer ou fazer, �� porque ainda

precisa fazer alguns esfor��os para alcan��ar a liberta����o. Esta

Libera����o mostrar�� o quanto nossa mente �� lotada.

��� �� claro que as nossas mentes s��o capazes de ter muitos pen-

samentos ao acaso, sem objetividade. Fa��a pelo menos duas

sess��es antes de examinar suas anota����es. Marque os pensa-

mentos em que n��o acredita ("Talvez meu cinismo tenha

sido causado por uma nova alergia alimentar", "Me sinto na

defensiva porque n��o tenho nenhuma queixa real sobre a

minha inf��ncia", "Acho que vou interromper este exerc��cio e

chamar algu��m para resolver aquele barulho da geladeira") e,

por enquanto, deixe-os de lado.

64 N��o leve a vida t��o a s��rio

��� D o s pensamentos aprovados, pelo menos um ou dois devem

se destacar claramente por serem agressivos, defensivos, auto-

cr��ticos ou preconceituosos. Veja alguns exemplos t��picos:

"Isso n��o acaba nunca...", "Os homens s�� pensam em sexo",

'As mulheres s��o loucas", "Nada do que fa��o �� bom", "Mais

cedo ou mais tarde, eles sempre v��o embora". Escolha os que

voc�� acredita serem respons��veis pelas emo����es que voc�� est��

estudando nesta Liberta����o e anote-os com o m��ximo deta-

lhamento que conseguir. Chamaremos esses pensamentos de

"pensamentos D " ��� pensamentos desencadeadores. Eles ser��o

discutidos mais profundamente em outros cap��tulos.

��� N o s dias posteriores ao exerc��cio, fique alerta para identi-

ficar se surgir alguma emo����o inicial ou um dos pensamen-

tos D. Imediatamente, questione o grau de envolvimento ou

distanciamento que voc�� sente em rela����o a si e ��s pessoas ��

sua volta. Se n��o houver ningu��m presente, questione o

quanto voc�� est�� distante ou perto de qualquer pessoa que

passar pela sua mente. As respostas a essas perguntas devem

servir de alerta sobre os efeitos de se permitir que esse tipo

de lixo mental surja em sua mente.

��� Agarre-se a todas as listas de pensamentos e anota����es.





Quatro


Colocando a m��goa

d e l a d o

Afelicidade e a frustra����o s��o sentimentos que acompanham o

homem desde o in��cio da vida. �� surpreendente a freq����ncia

com que os beb��s choram e criancinhas de um, dois ou tr��s anos de

idade se frustram ou se irritam. N e m a objetividade de uma crian��a

altera a natureza do mundo, que, convenhamos, n��o funciona l��

muito bem. As crian��as s��o as primeiras a perceber esses "erros de

projeto", mas conseguem desfrutar novamente um per��odo tran-

q��ilo assim que recuperam a sensa����o felicidade ��� ao passo que os

adultos, em geral, permanecem frustrados.

Por que isto acontece? Pode-se alegar que a inexperi��ncia das

crian��as cria problemas imagin��rios e que, por isso, a frustra����o

�� uma conseq����ncia previs��vel. Poder-se-ia esperar que os adul-

tos tivessem mais facilidade para se movimentar pela vida, mas a

verdade �� que poucos resistem �� tenta����o de inventar crises sem

o menor fundamento.

N��o queira controlar o mundo

Costumamos dizer que as crian��as n��o t��m obriga����es a

cumprir, mas, se examinarmos mais atentamente o cotidiano de

qualquer uma, �� f��cil constatar que elas t��m objetivos t��o impor-

6 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

tantes quanto qualquer adulto. A diferen��a �� que os adultos n��o

levam a s��rio seus objetivos. Se uma crian��a se irrita com o c��u

porque est�� chovendo justamente no dia da sua festa de aniver-

s��rio no jardim, rimos, condescendentes, porque sabemos que

n��o se pode controlar as nuvens. Se o irm��ozinho de um ou dois

anos tenta fazer o beb�� entender os diferentes poderes de cada

super-her��i de brinquedo, nos divertimos com o fato de ele n��o

entender por que o beb�� de seis meses n��o pode ser o compa-

nheiro de brincadeiras.

O natural seria que, quando adultas, as pessoas aceitassem

melhor a vida como ela ��. A realidade, no entanto, �� quase opos-

ta. N �� o nos revoltamos com o c��u, que se recusa a fazer tempo

bom para nosso churrasco ao ar livre, mas, em compensa����o, nos

irritamos com oper��rios barulhentos, com os atrasos, com as re-

servas equivocadas no avi��o, com os maus motoristas que atra-

vancam o tr��nsito na via expressa, com as lojas que fecham dez

minutos mais cedo e at�� com os colegas que usam perfumes t��o

fortes que nos sufocam.

Embora comecemos a vida com integridade e bom humor,

quanto mais envelhecemos, mais nos tornamos inflex��veis, ame-

drontados e irritadi��os. C o m o a curiosidade natural e alegria ini-

cial diminuem, tudo fica mais dif��cil, inclusive fazer amizades.

Tamb��m ficamos menos generosos e mais infelizes. Fato �� que,

de modo geral, poucas pessoas "suavizam" com a idade.

Essa tend��ncia �� infelicidade n��o pode ser proporcional ��

capacidade de entender a natureza do mundo. A verdade �� que,

quanto mais se faz gols, mais se entende como a bola rola, quan-

to mais se usa um programa de computador, melhor se conhece

as suas limita����es, e assim por diante. No m��nimo, a idade traz

experi��ncia. Pena que o pacote inclua algumas imperfei����es co-

C o l o c a n d o a m �� g o a d e l a d o 6 7

laterais (teimosia, mau humor, impaci��ncia e infelicidade, entre

outras).

A raz��o desse descompasso �� que, com o passar dos anos, nos

descuidamos totalmente de nossas mentes. O curioso �� que em

todas as outras ��reas da vida (finan��as, sa��de, casa e carro) temos

a no����o exata de como o abandono �� nocivo e tratamos de evit��-

lo. No restante, n��o. N o s relacionamentos amorosos, por exem-

plo, todos nos arrependemos de algo que foi dito ou feito. Na

maior parte das vezes tentamos pedir desculpas ("Foi mal",

"Essas coisas acontecem", "Talvez eu consiga evitar a situa����o na

pr��xima vez, mas, se n��o conseguir, o melhor �� esquecer!", dize-

mos), mas o problema �� que nem n��s nem as outras pessoas

esquecem.

Se voc�� teve oportunidade de conversar com algu��m �� beira

da morte, �� prov��vel que tenha ficado impressionado com a

quantidade de m��goas que uma pessoa acumula ao longo da vida.

As maiores queixas est��o relacionadas �� maneira como magoa-

mos certas pessoas, raramente se referem a objetivos n��o alcan-

��ados, experi��ncias ou viagens n��o realizadas. �� comum passar a

vida carregando um caminh��o de m��goas e, mesmo no final,

achar que �� tarde demais para curar e ser curado.

Resumo da ��pera: deixar que sentimentos pesados contami-

nem o seu estado de esp��rito pode ser a diferen��a entre arruinar

ou n��o sua vida. E por que as pessoas deixam que isso aconte��a?

Simplesmente porque n��o acreditam que o estado de esp��rito

seja algo importante. Para o ego, a apar��ncia �� tudo o que impor-

ta. N �� o precisa ser bom, basta parecer bom.

�� verdade que os efeitos dos pensamentos das pessoas, ��s

vezes, podem se revelar na express��o de seu rosto ou no tom de

sua voz, mas, em geral, conseguimos disfar��ar. Perguntas como

68 N��o leve a vida t��o a s��rio

"Voc�� gosta dos meus sapatos novos?", ou "Voc�� acha que eu

emagreci?", ou, ainda, "Tem certeza de que voc�� n��o est�� mor-

rendo de inveja porque meu tio deixou para mim todo esse di-

nheiro?", merecem, em geral, respostas educadas, mas n��o ne-

cessariamente verdadeiras.

Dizer coisas como "Desembuche!", "Despeje!," 'Alivie o peito!"

ou "Lave a alma!", n��o purifica a mente de ningu��m, apenas fere

os sentimentos das pessoas. H�� quem use a sinceridade como

uma forma de aliviar sua pr��pria dor. Contar ��s pessoas como

voc�� as traiu e fazer duras autocr��ticas funciona de fato como

al��vio moment��neo ��� especialmente para quem est�� ouvindo o

desabafo. �� primeira vista, parece que quem errou est�� "assumin-

do a responsabilidade", mas, na pr��tica, �� o contr��rio. Ao con-

cordar com a pessoa que voc�� ama que ela est�� envelhecida, ou ao

inform��-la de que teve um caso extraconjugal, voc�� est�� falhando

como amigo e como pessoa, abrindo as portas para se autodes-

truir e, certamente, deixando de purificar a sua mente.

Quando desabafa em cima dos outros, observe que o proble-

ma ganha vida pr��pria e parece escapar de suas m��os. Se o seu

ego est�� em ebuli����o e voc�� percebe que est�� novamente a ponto

de menosprezar, criticar, trair, censurar ou reprimir algu��m,

mude o rumo da conversa. Deixar de prejudicar algu��m �� sem-

pre um ��timo primeiro passo.

L i b e r t a �� �� o 7

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Quando acordar, concentre-se num ��nico objetivo: "Passarei

o dia sem prejudicar ningu��m. N �� o magoarei ningu��m em

meus pensamentos ou em minhas a����es, nem a mim mesmo."

Colocando a m��goa de lado 69

Repetir esse "mantra" com pureza de alma, diversas vezes

durante o dia, funciona como uma afirma����o de sua inten����o, da

meta que decidiu alcan��ar. "N��o prejudicarei ningu��m em meus

pensamentos ou a����es" �� um objetivo que imediatamente unifi-

ca a mente e faz com que nos sintamos mais leves, mais livres e

mais felizes.

O pr��ximo passo �� saber se vale a pena entregar-se a pensa-

mentos de culpa, remorso ou arrependimento relacionados aos

erros que voc�� cometeu. Esses pensamentos s��o uma forma de

autopiedade ��� eles n��o ajudam, n��o curam e n��o confortam a

pessoa que voc�� pensa ter magoado. Examine-os com aten����o e

perceber�� que est��o relacionados a voc�� e n��o �� pessoa que voc��

pensa que maltratou. Na verdade, �� uma repeti����o do mesmo

equ��voco: voc�� atacou aquela pessoa, agora ataca a si mesmo. O

ataque �� o problema a ser resolvido, j�� que n��o passa de um pro-

cesso de autoflagela����o sem sinceridade, uma esp��cie de peni-

t��ncia sem amor, e, por isso mesmo, sem a menor utilidade. A

resposta est�� em fazer algo para ajudar aqueles a quem voc��

magoou ou feriu.

L i b e r t a �� �� o 8

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

O sucesso desta etapa est�� fortemente ligado �� sua inten����o.

Portanto, sinceridade e foco no seu objetivo �� tudo o que se pre-

cisa. Seja simples e direto: isole um ponto mental magoado de cada

vez e trabalhe at�� que ele esteja curado. Exemplo: o arrependimen-

to de algo que voc�� fez ou deixou de fazer a outra pessoa.

A. Examine tudo o que aconteceu, detalhadamente. N �� o per-

ca tempo criticando a si mesmo ou divagando sobre poss��veis

70 N��o leve a vida t��o a s��rio

remorsos ou vergonhas. Se, por acaso, voc�� n��o compareceu a

um compromisso que era muito importante para a outra pessoa

e sempre lamentou isto, examine o que impediu voc�� de estar

presente e as conseq����ncias disso. Na verdade, voc�� simples-

mente n��o estava a fim de sair de casa naquele dia, deu uma des-

culpa e ela foi aceita. Examine o pre��o emocional que voc��

pagou por agir assim.

B. Pergunte a si mesmo se h�� algo que voc�� pode fazer para se

desculpar. Confessar que voc�� simplesmente n��o estava interes-

sado, n��o funciona. Se voc�� acha que esta pessoa o conhece

muito bem, talvez fosse bom enviar-lhe uma desculpa cuida-

dosamente elaborada.

N �� o caia na armadilha de uma desculpa esfarrapada qualquer:

"Eu estava muito preocupado naquele momento", "Eu estava en-

rolado com meu trabalho". Apenas pe��a desculpas, d�� meia-

volta e n��o diga mais nada. Se voc�� quer realmente consertar a

situa����o, d�� um presente muito especial ou desculpe-se pessoal-

mente ��� ou as duas coisas. Peque pelo exagero, mande buqu��s

de flores (anonimamente, para parecer sincero) e, de prefer��n-

cia, fa��a de suas desculpas um ato p��blico (gestos exteriores t��m

mais for��a). Lembre-se que voc�� est�� tratando da sua mente e,

por isso, nenhum esfor��o �� exagerado.

Se voc�� optou por esse caminho, prepare-se para uma rea����o

igualmente exagerada, j�� que a pessoa aproveitar�� a oportuni-

dade para dar vaz��o ao ressentimento acumulado. Resumindo:

ela pode ficar mais furiosa do que estava antes do pedido de des-

culpas. �� como se dissesse, "Voc�� n��o quis escutar antes, por-

tanto, escute agora". N �� o se defenda ��� reagir com gentileza faz

parte do verdadeiro pedido de desculpas. O pior �� que nada dis-

so significa que as suas desculpas ser��o aceitas, mas esta f�� �� uma

Colocando a m��goa de lado 71

outra historia. Fazer as pazes com o seu cora����o e sua mente ��

seu objetivo primordial.

C. Se a p e s s o a n��o quer saber de qualquer contato com

voc��, tome a decis��o permanente de aben��o��-la sempre que

pensar nela, at�� mesmo depois de sua morte. N �� o esque��a:

estamos falando da cura da sua mente, nada do que voc�� fizer

ser�� em v��o.

D. Se voc�� pensa que o seu erro foi t��o grande que nada disso

�� suficiente para acabar com a m��goa que voc�� carrega, pergunte

a si mesmo o que mais poderia fazer. Quando minha m��e mor-

reu, percebi que n��o me senti feliz desde que me mudei da

cidade em que ela vivia. Era como se eu n��o tivesse me esfor��a-

do para explicar a ela por que a mudan��a era necess��ria. Rezar e

aben��oar minha m��e n��o estava me apaziguando. Descobri que

eu tamb��m precisava cumprir alguma penit��ncia. Quando a

cumpri, me senti curado.

0 poder da penit��ncia �� subestimado - n��o tanto a pe-

nit��ncia atribu��da por outro, mas a penit��ncia que vem

de nosso pr��prio cora����o. Esta penit��ncia do cora����o

deve dizer: "Depois que eu fizer tudo para reparar o mal

que fiz a voc��, farei mais isto... Darei ��s pessoas a quem

amo, �� minha comunidade ou ao mundo um presente

em seu nome." Este presente abranger�� o que for neces-

s��rio ��� seja tempo, dinheiro ou servi��o: "Eu gosto de

voc��, eu aben��oo voc��, para mim voc�� �� ��ntegro." Com

isso, eu tamb��m me torno ��ntegro.

E. O ��ltimo passo �� manter-se alerta e reagir rapidamente sem-

pre que qualquer pensamento de culpa passar pela sua cabe��a.

7 2 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

F. Depois de "curar" um arrependimento, localize outro e use

o mesmo procedimento e assim por diante. Naturalmente, o

tempo de dura����o varia para cada pessoa, mas a m��dia tem sido

de, no m��nimo, dois dias de trabalho de cura. O importante ��

n��o deixar nenhum arrependimento sem tratamento. Este �� um

dos maiores presentes que voc�� pode dar a si mesmo.

O m e d o q u e i m p e d e a f e l i c i d a d e

O arrependimento �� um dos melhores exemplos de como o

descuido com a nossa mente permite que a infelicidade entre em

nossa vida. Naturalmente, isto pode acontecer de diversas ma-

neiras, mas, antes de as explorarmos, �� preciso ir fundo nas resis-

t��ncias que criamos e examinar as raz��es por tr��s dos atos. Apa-

rentemente, os adultos t��m um medo profundo da felicidade.

Ter consci��ncia desse terror �� meio caminho andado para a con-

quista da mente ��ntegra e livre. Observe algumas raz��es mais

conscientes e acess��veis e voc�� perceber�� que, em geral, optamos

pela complexidade no lugar da simplicidade, pela rigidez em vez

da flexibilidade e, claro, pela infelicidade �� felicidade ��� numa

prova de como nossa mente joga contra ela mesma.

Oito justificativas para a infelicidade

1. N��o merecemos a felicidade

N �� o �� de admirar que acreditemos que n��o temos o direito de

ser felizes. As imagens que brotam da televis��o, as narrativas de jor-

nais e revistas, as conversas no escrit��rio, enfim, as cenas que

povoam a mem��ria e enchem os sonhos est��o constantemente nos

lembrando de que a infelicidade e a adversidade s��o componentes

normais da vida. No fundo de nossas mentes est�� a sombria

reflex��o de que se isto acontece conosco ��� e tamb��m com grandes

C o l o c a n d o a m �� g o a d e l a d o 7 3

l��deres espirituais, como Cristo e Gandhi ��� �� apenas porque mere-

cemos. Enxergamos as circunstancias como ve��culo da felicidade,

n��o da paz e da tranq��ilidade de nossas mentes. No fundo, quais-

quer circunstancias que nos favorecem s��o consideradas injustas.

2. O presente �� perigoso

C o m o o futuro guarda m��s noticias para todos, o presente de-

veria ser o nosso maior interesse. Concordamos que todos temos

o "direito inalien��vel" de buscar a felicidade, mas n��o damos a

ningu��m o direito de realmente encontr��-la. �� como se n��o con-

fi��ssemos nas pessoas alegres. Suspeitamos que atr��s de todo

bom humor h�� um motivo sinistro. �� aceit��vel que as pessoas

falem sobre um passado em que foram felizes ou que expressem

a esperan��a de que um dia ser��o felizes, n��o que estejam ou

sejam felizes no presente.

Chamamos de "querida" ou "gracinha" as pessoas que t��m

alegria de viver, e as desconsideramos nas quest��es intelec-

tuais realmente importantes. Reagimos da mesma forma em

rela����o a livros e filmes com finais felizes, assim como para

filosofias que despertam a auto-estima. A raz��o �� ��bvia: a boa

experi��ncia no passado n��o justifica o otimismo no presente.

O que o presente pode oferecer para algu��m, de qualquer

forma? At�� m e s m o um pr��mio n��o teria nenhum significado

se no dia seguinte lev��ssemos a mesma vidinha de sempre. A

expectativa do que poder�� resultar �� que dar�� o verdadeiro

significado ao pr��mio. A felicidade em geral �� sentida como

antecipa����o, ao p a s s o que o sofrimento nos leva ao presente.

Normalmente, nossas mentes s��o t��o barulhentas que poucos

escutam o sil��ncio da serenidade e da paz, ��nica possibilidade

de viver o presente e nada mais.

7 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

3. As mesmas circunst��ncias que garantem a sua felicidade

aumentam o peso que voc�� carrega

Durante a vida, muitas pessoas recebem algumas recompen-

sas, mas acabam percebendo que esses pr��mios inesperados

acabam complicando suas vidas. Quanto mais elevado o pr��mio

em dinheiro, por exemplo, maior o caos, a limita����o e a infelici-

dade que ele normalmente causa. Seria de imaginar que algu��m

que enriquece de repente diria: "Finalmente, meus problemas de

dinheiro acabaram. N �� o preciso me preocupar mais."

Mas o que acontece na verdade? A pessoa tende a ser menos

generosa e se irrita mais do que a maioria das pessoas com os

aborrecimentos do dia-a-dia, tipo atrasos, problemas mec��nicos,

mau atendimento, manchas e cheiros. Em geral, s��o tamb��m

mais paran��icas e desconfiadas em rela����o ��s motiva����es dos ou-

tros e, como se sentem superiores, acabam convivendo com pou-

qu��ssimos amigos e atividades.

A beleza f��sica �� outro exemplo de algo muito desejado e que

acaba se voltando contra quem a deseja. N e m quando a pessoa

sai de uma cirurgia pl��stica, de um longo regime ou de meses

num spa, e est�� inegavelmente linda, vai falar coisas do tipo:

"Agora estou muito bem e n��o preciso mais me preocupar com a

minha apar��ncia."

Que tipo de pessoa entra num restaurante olhando em volta

para verificar se est�� sendo observada ��� a linda ou a normal?

Quem �� que atrai o relacionamento mais superficial, se preocu-

pa obsessivamente com a roupa que veste, luta incessantemente

com o processo do envelhecimento e tende a julgar os outros

pela apar��ncia? A pessoa linda, �� claro.

Outra fantasia universal �� exibir objetos do consumo que

todos gostariam de ter. Quem tem posses, em geral, enche sua

Colocando a m��goa de lado 75

casa e sua vida de coisas que n��o deseja e n��o pode usar. Um

carro luxuoso, por exemplo, tem manuten����o mais cara, maior

probabilidade de ser roubado e exige cuidados na hora de esta-

cionar... ou seja, �� um carro que provoca inveja e faz com que os

comerciantes cobrem mais por qualquer coisa.

4. Um parceiro superbonito n��o �� recomend��vel

Embora dure mais tempo e provoque menos problemas, o

relacionamento amoroso com uma pessoa de alma pura e sim-

ples n��o �� t��o procurado quanto o relacionamento com algu��m

complicado. As expectativas se reduzem imediatamente quando

um namorado em potencial �� descrito como "legal". As pessoas

ambiciosas n��o hesitam em trocar quem as compreende e ama

por um "companheiro-trof��u", ou seja, algu��m que chame a

aten����o pela beleza ou por sua posi����o na sociedade. N �� o

esque��a que o efeito colateral de ter um "companheiro-trof��u" ��

a eterna vigil��ncia.

Ao contr��rio da id��ia que muita gente imagina, o sexo com

um parceiro deslumbrante n��o aumenta o prazer f��sico. Na ver-

dade, aumenta a tens��o e o nervosismo. Casais normais, que se

sentem confort��veis um com o outro, tendem a ter uma vida se-

xual muito mais satisfat��ria. Al��m disso, conforme sua apar��ncia

e import��ncia social come��am a diminuir, �� preciso redobrar os

esfor��os para continuar valendo alguma coisa, para n��o ser aban-

donado mais cedo do que imagina por alguma beldade ou algum

s��mbolo sexual.

5. Meio-termo na felicidade n��o funciona

A felicidade n��o �� muito confi��vel, nem mesmo dentro dos

alardeados "pequenos prazeres da vida". Quanto mais tentadora

76 N��o leve a vida t��o a s��rio

a comida, quanto mais er��tico o prazer, quanto mais longas as

f��rias, quanto mais fascinante a trai����o, quanto mais intensa a

paix��o... maior a queda. Segundo uma pesquisa, os ganhadores

de loterias se tornam pessoas obesas e 85% dos homens que

morreram durante uma rela����o sexual n��o estavam ao lado de

suas mulheres. Moral da hist��ria: a maioria dos bons momentos

tem sempre uma contrapartida t��o dram��tica que n��s acabamos

por come��ar a evit��-los.

Revelar uma confid��ncia interessante, criticar o parceiro pelas

costas, xingar um motorista, comer tudo o que nos d�� vontade,

dormir o tempo que desejamos, flertar inocentemente ��� tudo

isso pode ser engra��ado e prazeroso por um tempo, mas o arre-

pendimento ou o medo que essas op����es produzem, assim como

o caos que eventualmente possam promover, acabam por torn��-

las question��veis como op����o de vida.

6. Felicidade �� "fugir �� responsabilidade"

Acreditamos que a felicidade n��o �� um estado mental s��rio ou

importante e por isto a mantemos sob suspeita. Pressupomos

que ser feliz �� deixar de lado o que sentimos. Isso leva as pessoas

a se sentirem culpadas depois de um momento de felicidade.

Acreditamos que aproveitar a vida �� uma forma nada sutil de evi-

tar a responsabilidade. C o m o h�� muita coisa no mundo a ser fei-

ta e muitos erros a corrigir, arranjar tempo para ser feliz parece

que �� o mesmo que virarmos as costas ao mundo. Afinal, um

quarto da popula����o mundial est�� passando fome, um ter��o das

na����es est�� em guerra, como, ali��s, sempre esteve, ou seja, a s��rie

de problemas graves que o mundo enfrenta �� t��o avassaladora

quanto infind��vel. Podemos destacar mais alguns: a prolifera����o

das armas nucleares, invas��o de privacidade, crise econ��mica, a

Colocando a m��goa de lado 77

gravidez das adolescentes, os v��rus e bact��rias mutantes, a cor-

rup����o na pol��tica, o terrorismo, as drogas, a falta de moradias,

a tortura, as discrimina����es por sexo, ra��a e idade ��� tudo isso e

nem come��amos a falar da devasta����o do planeta.

Ao admitir a densidade do campo minado que atravessamos

todos os dias, em vez de felizes, dever��amos nos sentir... o qu��?

ultrajados? tristes? chocados? aterrorizados? c��nicos? desespera-

dos...? Raramente questionamos as atitudes que dever��amos

adotar no lugar da felicidade. Poucos perguntam o que coisas

como conforto e seguran��a, mudan��a para melhor, aturdimento,

irrita����o ou coisa parecida, traz de bom para algu��m. H�� quem

diga que estas s��o as grandes emo����es que nos levam para a

frente na vida. Se �� assim, a pergunta deveria ser: o que mais nos

motiva a sermos verdadeiramente ��teis ��� uma atitude pac��fica

ou irritada? H�� controv��rsias, mas sem d��vida eu preferiria estar

nas m��os delicadas de Gandhi, Buda, Jesus ou Madre Teresa.

Eles conseguiram fazer muita coisa sem nenhuma raiva.

7. Abrir m��o da infelicidade �� deixar de respeitar a si mesmo

A perturba����o interior que chamamos de infelicidade �� uma

emo����o, ou, mais precisamente, um conjunto de emo����es. ��

uma dor interior (sensa����o de ang��stia, medo, depress��o, tris-

teza, etc.) t��o desagrad��vel quanto a mudan��a que poderia nos

proporcionar al��vio. Questionar a raiva, a paix��o, a tristeza e

muitas outras emo����es �� questionar o que temos de mais

sagrado. N u m certo sentido, abrir m��o da infelicidade n��o ��

apenas desonesto... soa quase como uma trai����o a quem real-

mente somos. Hoje, quando dizemos a algu��m: "Preciso ser

fiel a mim mesmo", o significado ��: "Preciso trair voc��, segun-

do as minhas emo����es."

78 N��o leve a vida t��o a s��rio

As emo����es assumiram o lugar outrora ocupado pela alma,

pelo esp��rito ou pela consci��ncia. Por isso, o dilema ao perceber

que nossas emo����es s��o o verdadeiro ser. C o m o podemos ser

n��s mesmos, se o nosso ser muda a cada minuto, como invaria-

velmente acontece com as emo����es? C o m o boa parte das emo-

����es duram apenas dois a tr��s minutos, n��o d�� para defender

uma velha emo����o que j�� n��o existe e deixar de lado uma s��rie

de novas emo����es que passamos a sentir.

Existe um lugar dentro de n��s onde entramos em con-

tato com o eterno e o belo, um lugar em que realmente

sentimos nosso ser interior em paz. Este ser n��o precisa

ser periodicamente arejado, desfragmentado ou mesmo

definido. Com tranq��ilidade e generosidade, ele �� visto

claramente, e tudo em rela����o a ele �� conhecido e fami-

liar - porque este ser �� ��ntegro.

8. Pessoas felizes s��o suspeitas

A felicidade ocupa um papel incrivelmente pequeno na vida da

maioria dos adultos. Mais uma vez, a felicidade �� algo suspeito.

H�� pouco tempo, Gayle e eu est��vamos num shopping center e

vimos uma garotinha de uns tr��s anos andando em companhia

dos pais. Ela estava no auge da felicidade e cantava a plenos pul-

m��es. A m��e, no entanto, se inclinava e dizia entre dentes:

��� Voc�� n��o est�� se comportando direito!

A m��e estava certa. A felicidade pura e simples n��o �� nada

adequada em muitas circunst��ncias. Na verdade, pessoas felizes

demais muitas vezes s��o consideradas meio esquisitas, at��

perigosas. �� previsto que nos sintamos muito satisfeitos quando

nosso time ganha, e podemos at�� nos sentir realizados quando

Colocando a m��goa de lado 79

"devolvemos" uma desfeita que algu��m nos fez ��� mas, se voc��

sair cantando a plenos pulm��es por um shopping center sem

nenhuma raz��o aparente, �� bem prov��vel que seja interpelado

pela seguran��a.

Liberta����o 9

cr��dito extra, liberta����o extra

(Este exerc��cio �� inteiramente opcional, foi criado para

refor��ar e aprofundar o que j�� discutimos. Se voc�� acha que j�� sa-

be identificar corretamente os pensamentos que geram momen-

tos de perturba����o ou conflito, passe para a se����o seguinte: "Pa-

ra compreender os pensamentos D".)

A. N o s pr��ximos dois dias, escolha pelo menos dois momen-

tos em que sentir que est�� tendo, ou acaba de ter, uma sensa����o

de conflito, perturba����o ou irrita����o. Imediatamente, congele o

conte��do de sua mente e, cuidadosamente, examine os pensa-

mentos envolvidos. Leve sempre um caderninho ou um pequeno

gravador para anotar pelo menos o tema de cada pensamento.

B. �� noite, acrescente os detalhes que n��o teve tempo de ano-

tar durante o dia. Para desvendar os pensamentos vagos ou par-

cialmente escondidos, fa��a a si mesma as seguintes perguntas:

��� Que pessoa ou situa����o parece estar causando a emo����o ou

est�� no centro dela?

��� O que esta pessoa ou situa����o simboliza? O que me faz lembrar?

Digamos, por exemplo, que voc�� notou que boa parte das

ang��stias que sente giram em torno de sons desagrad��veis ��� al-

gu��m que mastiga ruidosamente �� mesa, um telefone ou uma

campainha que toca "na hora errada", c��es latindo ou crian��as

gritando. Talvez voc�� pense que esses ru��dos s��o inc��modos e

8o N��o leve a vida t��o a s��rio

ponto final. Insistindo, talvez lembre que na inf��ncia sempre lhe

diziam para se acalmar, n��o interromper as pessoas e falar baixo.

Essa lembran��a pode explicitar que, para voc��, esses ru��dos sim-

bolizam a falta de reconhecimento e de considera����o das pes-

soas ou, quem sabe, o desejo delas de controlar voc��.

Outro exemplo poderia ser que voc�� sente ang��stia e pertur-

ba����o quando algu��m perde ou quebra suas coisas. Ao tentar

descobrir o que isso simboliza, voc�� relembra a falta de conside-

ra����o de um antigo colega, que passava adiante fofocas das quais

tomava conhecimento em conversas, endere��ava erradamente as

cartas e os e-mails ou perdia as chaves... Refletindo mais fundo,

talvez voc�� lembre que as coisas que juntava em seu quarto

quando crian��a muitas vezes eram jogadas no lixo e seus brin-

quedos preferidos eram dados a outras crian��as. Ou seja: quan-

do algu��m perde ou danifica alguma coisa que lhe pertence, sig-

nifica que voc�� n��o est�� sendo visto com clareza ou compreen-

dido em profundidade.

��� O que eu imagino que torna estas circunst��ncias impor-

tantes o bastante para me perturbarem?

Usando o primeiro exemplo, talvez voc�� escreva algo assim:

"Ter meu tempo, minha concentra����o e minhas atividades res-

peitadas �� t��o importante que qualquer som me perturba."

Para o segundo exemplo, voc�� poderia escrever: "Minhas

coisas s��o importantes, algumas cont��m muitas lembran��as,

outras s��o parte de meus relacionamentos. Assim, quando al-

gu��m perde ou danifica alguma delas, sinto que me atacam."

��� Se imaginar esta situa����o se deteriorando ou o comporta-

mento dessa pessoa piorando, o que vejo acontecer comigo?

Esta pergunta implica imaginar que seja l�� o que tenha ocor-

rido, se repita com maior freq����ncia (cada vez mais coisas s��o

Colocando a m��goa de lado 81

perdidas ou danificadas, aumentam os epis��dios de barulho).

Enquanto imagina isto, o que acontece emocional, f��sica e men-

talmente com voc��? Est�� se vendo desaparecer? Entra em

depress��o, adoece ou pensa em se suicidar?

C. Fa��a as etapas A e B durante, no m��nimo, dois dias. No

final do segundo dia, leia todos os seus pensamentos e anota����es

sobre essas perturba����es. Leia essas listas com a maior impar-

cialidade poss��vel ��� ou seja, sem julgar a si ou aos outros.

Tente descobrir se h�� algum padr��o em seus pensamentos,

alguma id��ia principal ou apenas pensamentos associados. H��

um medo generalizado, "real" ou importante de perder a autori-

dade? Talvez muitos de seus pensamentos estejam ligados a di-

nheiro... Se �� assim, qual a sua atitude em rela����o ao dinheiro?

Responda com a maior honestidade poss��vel.

P a r a c o m p r e e n d e r o s p e n s a m e n t o s D

No processo de Liberta����o 9, voc�� procurou descobrir o pen-

samento que est�� por tr��s de seus momentos de ang��stia. Quer

tenha encontrado ou n��o algum padr��o, o objetivo do exerc��cio

era buscar associa����es entre seus pensamentos e emo����es. O

pr��ximo exerc��cio se concentra no que chamo de pensamentos

D ��� pensamentos desencadeadores ���, que liberam alguma emo-

����o. A id��ia ��, aos poucos, identificar a origem mais profunda de

sua ang��stia interior e a diferenciar dos pensamentos plenos e

desprovidos de conflitos, que s��o a fonte de nossa energia, inspi-

ra����o e capacidade de amar.

Os pensamentos verdadeiros permitem que vejamos a n��s, aos

outros e ��s situa����es como s��o, sem disfarces. J�� um pensamen-

to D �� a convic����o mais pura que desenvolvemos em algum

ponto de nossas vidas (geralmente, durante os anos de nossa for-

82 N��o leve a vida t��o a s��rio

ma����o) e que agora impede a conquista da unidade e da paz. Sem

saber como um pensamento D funciona, o conjunto de emo����es

que ele desencadeia acaba controlando as nossas decis��es e nos-

so modo de ver o mundo.

Como os pensamentos D diferem de pessoa para pessoa, as

mesmas circunst��ncias que chateiam uma pessoa n��o atingem

outras. Outra caracter��stica �� a necessidade de t��-los todos os dias.

Funciona da seguinte forma: preparamos nossa mente no in��cio do

dia, logo depois de acordarmos. Este �� o momento em que faze-

mos o download ��� ou melhor, trazemos �� consci��ncia um ou dois

pensamentos D, que desencadeiam praticamente todas as pertur-

ba����es mentais que sentimos durante o resto do dia.

Ter consci��ncia desse download autom��tico matinal e duvidar de

sua natureza nos permite enfraquec��-los. Lembre-se de que s��

aceitamos um pensamento D se acreditamos nele. Se consegu��s-

semos bloquear esses pensamentos no momento em que surgem,

ser��amos totalmente livres. Por que ent��o decidimos aceitar os pen-

samentos D? Lembre-se de que o ego �� o seu desejo de se distinguir

e se separar das outras pessoas (pelo menos at�� certo ponto).

Uma das melhores oportunidades para chegar ao ponto que

realmente est�� bloqueando a nossa integridade, a nossa unidade,

o nosso amor, �� identificar o exato momento em que tomamos a

decis��o di��ria de nos entregarmos aos pensamentos D. Este �� o

objetivo, mas muita gente ainda n��o chegou l��.

L i b e r t a �� �� o 1 0

uma liberta����o fundamental | Tempo sugerido: 4 dias ou mais

��� No instante em que voc�� desperta, veja se a sua mente se

mant��m relativamente vazia pelo menos por alguns segundos.

Colocando a m��goa de lado 83

Observe e anote os pensamentos que voc�� tem nos primei-

ros cinco minutos. Se estiver com pressa, anote apenas o

tema central de cada um e, mais tarde, preencha os detalhes.

��� Descreva tamb��m a disposi����o ou o humor que esses pensa-

mentos projetam no seu dia.

Os pensamentos D, �� primeira vista, podem n��o estar rela-

cionados ao dia que come��a, mas d��o o tom a tudo o que acon-

tece. Se voc�� sentir uma raiva em rela����o a determinado grupo

de pessoas, ou lembrar uma velha opini��o a respeito de certo

conhecido, ou mesmo alguma tristeza relacionada a eventos h��

muito ocorridos, pode ter certeza de que h�� um pensamento

central por tr��s dessas emo����es ��� e este pensamento penetrou

em sua mente logo no in��cio daquele dia.

A seguir alguns pensamentos D que surgiram em nossas pales-

tras de aconselhamento. Veja se eles "dizem" alguma coisa a voc��:

Eu sempre tenho de fazer todo o trabalho.

Jamais me compreender��o.

Meu companheiro (irm��o, m��e, pai, etc.) est�� na raiz de

minhas dificuldades.

Nada funciona comigo.

Tenho uma miss��o especial neste mundo. (Sou mais

amado(a) por Deus, Conhe��o uma verdade que os ou-

tros n��o conhecem, tenho um papel a cumprir...)

Sempre serei uma pessoa solit��ria.

Tenho uma vida fascinante. (O destino est�� a meu lado,

tenho sorte, tenho um bom carma, as coisas fun-

cionam para mim.)

Se ao menos eu tivesse liberdade... (Sempre cortam a

liberdade da gente.)

8 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

Eu atrapalho a felicidade de todo mundo. (Fa��o todos

sofrerem.)

Nunca tenho tempo suficiente. (Tenho de fazer isto j��.)

Como sou uma pessoa superior, meus pensamentos

s��o sempre adequados.

Alguns pensamentos s��o positivos, o que leva �� falsa sensa����o

de que n��o h�� necessidade de tir��-los de sua mente ��� afinal, es-

sas pessoas se sentem especiais, com uma imensa auto-estima.

A�� �� que est�� a dificuldade. As pessoas com um pensamento D

do tipo "Sou otimista, sou alegre, sempre vejo as coisas de

maneira otimista", aos poucos se distanciam dos que est��o �� sua

volta. A insist��ncia em revidar a conversa negativa com uma

conversa positiva exige uma permanente gin��stica mental

enquanto lutamos para ver tudo de maneira otimista.

Qualquer pensamento "positivo" ou "espiritual" que nos

separe dos outros nos separa tamb��m da igualdade e

do companheirismo e invariavelmente nos torna cr��ticos

em rela����o ��queles que pensamos ser diferentes.

O ant��doto para o pensamento c��nico n��o �� o pensamento

otimista, porque isso significa que estamos reagindo, nos colo-

cando como v��tima do que os outros dizem, v��tima de nossa

pr��pria mente e al��m disso impondo uma interpreta����o pessoal

dos acontecimentos. C o m a mente calma e plena, somos capa-

zes de responder com empatia e de ver com clareza, de forma

intuitiva e livre. Reconhecemos o que �� destrutivo e o que n��o

��, mas n��o sentimos nenhuma necessidade de impor nossa vis��o

aos outros.

Colocando a m��goa de lado 85

No caso de um pensamento D do tipo "Nada funciona", a pes-

soa interpretar�� assim os eventos do dia e muitas vezes far�� o

necess��rio para garantir que as coisas n��o funcionem mesmo. Por

isso �� bom come��ar a vasculhar a mente no momento em que

voc�� acorda para ver a diferen��a entre a mente clara e aquela

dominada por uma determinada defini����o da realidade. A atitude

que se toma ao acordar a cada manh��, em geral, �� bastante sutil

porque �� autom��tica. Um jeito de identificar o momento em que

um pensamento D aparece na mente �� tentar perceber alguma

altera����o no n��vel de energia ou de humor logo no in��cio do dia.

��� �� importante monitorar a sua mente ao longo do dia para

ver se um ou dois dos pensamentos da manh�� continuam a

aparecer. Voc�� talvez tenha de trabalhar de tr��s para a frente

para detect��-los. Primeiro, observe uma disposi����o conheci-

da, depois busque em sua mente a linha de pensamento que

h�� por tr��s dela. N �� o �� necess��rio anotar essa parte, apenas

observe-as por alguns segundos, depois libere a sua mente e

deixe-a pensar da maneira habitual.

A Liberta����o 10 �� um exerc��cio importante e seria melhor

realiz��-lo na ��ntegra por um m��nimo de quatro dias. Lembre-se

de que descobrir seus momentos ego��stas, vingativos, mesqui-

nhos, arrogantes, fracos, ansiosos e afins, n��o ajudar�� a atingir o

objetivo de conquistar mente plena e desintoxicada. H�� uma

grande diferen��a entre desvendar pensamentos que voc�� j�� tem

e organizar esses pensamentos. O impacto de qualquer pensa-

mento fragmentado ser�� sempre negativo no que se refere ao

bem-estar e prazer na vida. Portanto, observe os efeitos de seus

pensamentos sobre voc�� e sobre os outros, mas n��o tire conclu-

s��es. Preocupar-se bastante �� diferente de se definir como pes-

soa ansiosa ou pessoa sem fibra.

86 N��o leve a vida t��o a s��rio

�� natural que, ao fazer o trabalho sugerido neste livro, voc��

talvez n��o goste do retrato em preto-e-branco de seu ego. N �� o

se trata de autoflagela����o ou uma vis��o endurecida do que voc��

�� realmente, mas sim a aceita����o clara e firme de que voc�� tem

pensamentos e impulsos que considera negativos. Esta autocr��ti-

ca leva-o exatamente ao processo de desprendimento, que �� o

objetivo deste livro.





Cinco


A c e i t a n d o a v i d a

como ela ��

Odia come��ou bem. At�� agora n��o xinguei nenhum

motorista, n��o comi doces nem coisas gordurosas, ne-

nhum membro da fam��lia discordou de mim e n��o aconteceu

nada desagrad��vel no trabalho. E s t �� tudo indo muito bem, a

n��o ser por pequeno detalhe: ainda n��o me levantei, o que sig-

nifica que ainda n��o enfrentei a avalanche de interfer��ncias

que surgem a todo momento sobre como "assumir o controle

de sua vida".

N �� s somos o primeiro fator com que teremos de lidar nessa

primeira decis��o do dia. Ser�� que voc�� decide o momento exato

em que levanta, a posi����o exata de suas pernas, as sensa����es nas

juntas e nos m��sculos, o p�� que pisar�� no ch��o primeiro, sua dis-

posi����o geral quando finalmente consegue levantar? Ser�� que

voc�� controla o que estar�� pensando?

Considere a hip��tese de seu parceiro ou parceira ter um pen-

samento de lux��ria e agarr��-lo para uma sess��ozinha matinal, ou

ainda de voc�� ser abatido por uma s��bita c��ibra ou por um filho

pulando em cima. Sejamos honestos: ser�� que algu��m controla o

mais b��sico de todos os atos: come��ar o dia? N �� o , �� claro que

n��o. Na verdade, n��o controlamos nada. �� por isso que ser solteiro

8 8 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

n��o nos d�� independ��ncia, ter sa��de n��o nos d�� prote����o e assim

por diante.

Fomos criados para acreditar que a ess��ncia do controle ��

confiarmos em n��s mesmos, antes de mais nada. No entanto,

quando pensamos em n��s mesmos em primeiro lugar, em que

estamos pensando?

A b r i n d o m �� o d o e u , d o m e u e d o p a r a m i m

Se fechamos os nossos olhos e procuramos aquele cantinho

dentro de nosso cora����o em que sentimos a serenidade e a paz,

sabemos que ela est�� ali, sempre �� espera. O que n��o controla-

mos �� ativado por outra parte de nossa consci��ncia: o ego, a

mente em conflito, aquele pedacinho da mente que identifi-

camos como o eu, o meu ou o para mim.

Quando nos perguntamos o que queremos, estamos consul-

tando apenas esta parte de n��s mesmos. Trabalhamos incan-

savelmente por ela, protegemos seus limites e verificamos minu-

ciosamente o respeito e reconhecimento que ela conquista.

Observamos, vigilantes, cada um de seus desejos para verificar

se "n��s" estamos precisando de algo. Ironicamente, ningu��m

controla a forma����o desse "eu" controlador. Trabalhamos para

um tirano que n��o elegemos.

Embora o conjunto das necessidades do ego seja diferente

para cada indiv��duo, cegamente estabelecemos a nossa pr��pria

prioridade sobre qualquer outra coisa. Este ego��smo nos leva a

uma vis��o de mundo t��o estreita, mesquinha e desprez��vel, que,

no limite, se torna uma morte emocional. No entanto, fazemos

isso sem questionar as raz��es que nos levam a querer controlar

o mundo.

D o s milhares de fatores que se combinaram para dar forma ao

A c e i t a n d o a v i d a c o m o e l a �� 8 9

nosso ego, uma coisa �� certa: n��s n��o tivemos nenhuma partici-

pa����o ou controle. Do estado emocional de nossos pais quando

nos conceberam �� maneira como nossos genes se combinaram, o

que nossas m��es comeram, beberam ou fizeram durante a ges-

ta����o, o momento em que sua placenta rompeu, o tempo que

levou para chegar ao hospital, os solavancos do carro no cami-

nho, quem estava no plant��o, o tempo que durou o parto, se,

quando e por quanto tempo fomos amamentados no peito... Ufa!

E ainda nem chegamos perto de nossos "anos de forma����o"!

Conforme-se: nem um s�� desses fatores foi escolha sua. Mas,

ainda assim, voc�� se dedicar�� de cora����o, alma e mente a realizar

todas as vontades desse "eu" tir��nico, mesmo que n��o queira.

L O V E S T O R Y

Pouco antes de meu terceiro encontro com Gayle, dois colegas da

universidade perguntaram se eu estava levando a s��rio o namoro

com ela. Fiquei estarrecido com a pergunta. Imaginem... expliquei

que mal nos conhec��amos ��� que hav��amos passado apenas oito

horas juntos! Falei que ela tinha posi����es com as quais eu n��o con-

cordava quando o assunto era pol��tica e religi��o e que, al��m disso, ela

fumava, bebia e comia porcarias. Resumindo, perguntei: "Ser�� que

se pode levar a s��rio uma pessoa que ouve m��sica country...?"

Algumas horas depois, Gayle e eu est��vamos estacionados na

frente de uma cafeteria tentando decidir se quer��amos entrar. A

conversa foi mais ou menos assim:

��� Voc�� quer fazer alguma outra coisa? (eu)

��� ��, acho que sim... (Gayle)

��� Voc�� quer se casar comigo? (eu)

��� ��, acho que sim... (Gayle)

N �� s mor��vamos em Dallas, no estado do Texas, onde era pre-

9 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

ciso esperar tr��s dias para se casar. Uma hora depois est��vamos

na estrada, indo para a fronteira do estado do Oklahoma, onde

se pode casar na hora.

Mais ou menos no meio do caminho, Gayle me perguntou:

��� Voc�� acha que isso vai funcionar?

��� N �� o ��� eu disse. ��� E voc��, acha que isso vai funcionar?

��� N �� o ��� disse ela.

Duas horas depois, est��vamos casados. No caminho de volta

para casa, Gayle disse:

��� Espero que voc�� entenda que nenhum peda��o de papel d��

a qualquer homem direito sobre o meu corpo...

E, com isso, ela entrou em seu apartamento e desapareceu.

Durante quinze dias, n��o a vi.

N o s tornamos escritores numa hist��ria semelhante.

Tivemos nosso primeiro filho com uma hist��ria semelhante.

N o s tornamos ministros de nossa igreja numa hist��ria seme-

lhante. J�� deu pra entender, n��o ��?

Trinta e cinco anos depois, temos tr��s filhos maravilhosos (um

de um casamento anterior) e cinco animais de estima����o. Este ��

o nosso d��cimo quinto livro. Vivemos numa cidade onde a tem-

peratura pode chegar a 46 graus cent��grados no ver��o e, nas ��lti-

mas quatro noites, matamos noventa e tr��s escorpi��es adultos

nos jardins ao redor de nossa casa.

N o s s a vida �� como a das outras pessoas: umas coisas boas,

umas ruins. Ou seja: sem nenhum controle, como a vida de todo

mundo.

Algumas coisas s��o simples - e aqui est�� uma: voc��

pode relaxar e viver a sua vida e, com isso, ter�� paz. Se

tentar controlar a sua vida, optar�� por viver em guerra...

A c e i t a n d o a v i d a c o m o e l a �� 9 1

L i b e r t a �� �� o 1 1

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

A. Assim que voc�� tomar consci��ncia de que est�� despertan-

do, observe a diferen��a entre o momento em que decide sair da

cama e o momento em que realmente se levanta.

B. Nesse mesmo dia, pense no que voc�� estar�� fazendo dentro

de cinco minutos. Fa��a perguntas bem espec��ficas:

Em que esp��cie de atividade me envolverei?

Que esp��cie de pensamento terei?

Como estar�� o meu humor e a minha disposi����o geral?

Quando os cinco minutos passarem, compare o que voc�� pen-

sou que estaria fazendo com o que est�� fazendo.

C. Recomendo que voc�� fa��a esse exerc��cio por dois dias

consecutivos.

L i b e r t a �� �� o 1 2

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

��� N o s pr��ximos dois dias, observe a freq����ncia com que situa-

����es rotineiras n��o funcionam conforme o esperado. Este

exerc��cio exige um enfoque diferente. Estamos t��o habitua-

dos ao caos que em geral nem reparamos que, ao prestar

aten����o nas pequenas coisas, podemos controlar situa����es e

outros egos.

Nesses dois dias, observe cuidadosamente como o seu corpo

realiza coisas que voc�� fez a vida inteira, como cal��ar um sapa-

to, acender uma l��mpada, pentear o cabelo, servir-se de um

copo de leite. Questione se tudo o que est�� acontecendo �� l��gi-

co e esperado.

9 2 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

L i b e r t a �� �� o 1 5

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

Antes de dormir, anote as seguintes palavras e coloque-as num

lugar em que possa v��-las quando acordar: Nada dar�� certo hoje. Por

isso, relaxarei e me divertirei.

Admito que se trata de um objetivo um tanto estranho, mas

ele p��e em pr��tica o que acabamos de discutir ��� ou seja: o

essencial para a liberdade mental �� ver o mundo exatamente

como ele �� e delicadamente recusar qualquer apelo interior ou

exterior para mudar nossa natureza b��sica. Isto n��o significa que

jamais implementaremos mudan��as que poderiam beneficiar as

pessoas a quem queremos bem e a n��s mesmos. A id��ia �� que as

mudan��as sejam feitas pacificamente.

N �� o se trata de uma declara����o pol��tica, um apelo ao pacifis-

mo ou ao ideal imposs��vel ��� �� uma simples observa����o de que

podemos optar entre caminhar calmamente para casa ou nos

arrastar com dificuldade at�� l��, chutando e gritando a cada

pequena dist��ncia que temos de atravessar.

Ultima recomenda����o: n��o fa��a mais do que um exerc��cio de

Liberta����o por dia. Cada etapa exige uma aten����o diferente e

mistur��-las reduz a percep����o do resultado de cada uma.

S e m d a r i m p o r t �� n c i a a o s r e s u l t a d o s

Como n��o podemos controlar nada, podemos pelo menos contro-

lar a decis��o de querer controlar. �� uma decis��o simples: podemos

nos desapegar e ser livres, ou lutar batalhas in��teis. N �� o podemos

fazer as duas coisas. Ou nossa aten����o est�� na forma ou est�� no con-

te��do. Abrir m��o do desejo de dominar o futuro, n��o sacrifica nada

real, mas liberta o cora����o e a mente para a sensa����o de plenitude.

A c e i t a n d o a v i d a c o m o e l a �� 9 3

Um exemplo de como o controle �� parecido com o amor, mas

acaba provocando a separa����o, �� a pol��tica que muitos pais e

m��es aplicam em casa, que �� o tal "jantar em fam��lia". Se todos

os envolvidos aceitam e desejam participar, ��timo, n��o s��o

exemplos de controle. Mas se o "jantar de fam��lia" se tornar um

acontecimento for��ado, podem aparentemente criar um quadro

de uni��o ��� todos agora est��o juntos �� mesa de jantar ���, mas,

no fundo, s��o realizados �� custa do verdadeiro amor e da ver-

dadeira uni��o.

Da mesma forma, quando um parceiro pressiona o outro para

terem rela����es sexuais com maior freq����ncia, ou para conversar

sobre "como foi o seu dia?", em vez de assistir a um programa na

televis��o, o resultado pode ser uma apar��ncia de maior afei����o,

mas no fundo est�� aumentando a dist��ncia e sentimento de se-

para����o. O controle cont��m elementos da guerra e, por isso, n��o

leva �� expans��o do amor.

P R O B L E M A D E C A S A L

H�� poucos anos, Gayle e eu aconselhamos Becka e Larry, um

casal que tinha um problema que cerca de 9 0 % dos casais costu-

mam ter: interesses sexuais diferentes. Larry queria ter rela����es

duas ou tr��s vezes por semana, Becka preferia uma ou duas vezes

por m��s. O casal havia chegado a um meio-termo: teriam rela-

����es sexuais todos os s��bados �� noite.

Larry achava que o fato de Becka n��o querer ter rela����es se-

xuais com a mesma freq����ncia que ele significava que ela n��o o

amava. E Becka acreditava que a necessidade que Larry tinha de

se masturbar era uma forma de infidelidade.

Primeiro, pedimos que cada um lembrasse de algo que aprecia-

va no outro, at�� completarem dez coisas. Este exerc��cio simples,

9 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

em geral, leva as pessoas a sa��rem de suas mentes conflitantes

para suas mentes pac��ficas, de sua separa����o para sua liga����o.

Em seguida, pedimos a Larry e Becka que fechassem seus

olhos e perguntassem a si mesmos qual era o objetivo do sexo no

casamento, que motivo teriam para manter rela����es sexuais e

qual seu papel no relacionamento.

Os dois essencialmente nos contaram a mesma coisa: queriam

que o sexo fosse um ato de amor e queriam que fosse algo que os

unisse mais.

Gayle, ent��o, se dirigiu a Larry:

��� Algum dia voc�� j�� fez uma refei����o t��o maravilhosa e comeu

tanto que simplesmente n��o podia dar mais uma ��nica garfada?

��� Muitas vezes... ��� disse Larry

��� Pense em como se sentiria se, toda vez que terminasse uma

refei����o como essa, Becka lhe dissesse: "Larry quero que voc��

coma outra refei����o do mesmo tamanho... e, se voc�� realmente

me ama, voc�� far�� isto agora mesmo." C o m o mulher, posso

garantir que essa �� a sensa����o que d�� ao pensar em ter rela����es

sexuais quando n��o se tem vontade.

De minha parte, tentei explicar para Becka a diferen��a entre

o desejo sexual da maioria dos homens e o das mulheres. Eu

disse a Becka que exigir que Larry tivesse apenas duas rela����es

sexuais por m��s sem direito nem mesmo ao seu prazer solit��rio

era como pedir que ele comesse apenas uma vez a cada dois ou

tr��s dias sem fazer um lanche...

O resultado da sess��o: Becka resolveu ser mais compreensiva e

deu uma semana de "passe livre", em que Larry poderia ter as

rela����es que desejasse com ela. Larry, por sua vez, concedeu a

Becka "cinco desejos" para que eles pudessem melhorar suas

rela����es sexuais. Os dois tamb��m decidiram pesquisar outras

Aceitando a vida como ela �� 95

experi��ncias er��ticas. Mais importante ainda, eles tentariam ou-

tras abordagens at�� encontrarem uma que funcionasse. Em outras

palavras: concordaram em resolver o problema de algum modo.

Meses depois, eles nos contaram que, ap��s uma s��rie de erros

e tentativas, chegaram a uma abordagem "bastante agrad��vel" e

que o sexo j�� n��o era mais problema. Eu bem gostaria de poder

dizer que eles tiveram uma fabulosa vida sexual para sempre ���

mas uma vida sexual agrad��vel, com apenas uma e outra dificul-

dade, j�� �� um sucesso...

Evidentemente, nem todos os casais resolver��o este tipo de

problema t��o rapidamente quanto Becka e Larry, mas �� instruti-

vo entender o que levou os dois a se acertarem:

1. Eles pararam de tentar controlar um ao outro.

2. Os dois mudaram o foco de suas necessidades individuais

para as de um casal.

3. Olhando-se com afeto, viram que cada um queria tornar

mais f��cil a vida do outro e decidiram escutar as necessi-

dades do outro.

4. Os dois fizeram um plano e experimentaram, compreendendo

que se partes desse plano n��o funcionassem, eles continuariam

tentando at�� encontrarem uma solu����o que agradasse aos dois.

Resumo: desistiram de tentar controlar e admitiram que s�� ��

poss��vel controlar a pr��pria aten����o. Se nos concentrarmos no

que une, conforta e tranq��iliza a nossa mente, e n��o deixarmos

nenhum pensamento bloquear essa concentra����o, saberemos

quando encontrarmos aquilo em que acreditamos mais profun-

damente porque nos sentiremos felizes. Este sentimento

mostrar�� a sua liga����o e a sua uni��o com as pessoas �� sua volta.





Seis


A p r e n d e n d o a f i c a r l i v r e

do c o n f l i t o i n t e r i o r

Sei muito bem que identificar e limpar a mente de pensa-

mentos perturbadores �� algo que vai contra os valores do

momento atual. Nossa cultura valoriza muito tudo o que �� per-

turbador, como algo pleno de significado e profundidade. Ban-

das de rock pauleira, apresentadores de programas tipo "mundo

c��o" e celebridades espalhafatosas n��o poupam esfor��os para

"sacudir a apatia da plat��ia". C o m ret��ricas cheias de antagonis-

mos, eles polarizam as opini��es e s��o muito bem recompensados

n��o s�� financeiramente, mas acima de tudo com os spots mais

brilhantes da m��dia.

Quando estamos perturbados, temos a ilus��o de estar fazen-

do algo importante, cheio de significado. �� como se a pertur-

ba����o fosse, por si, uma realiza����o. Um b o m exemplo s��o as

pessoas que l��em regularmente as se����es de editorial e opini��o

dos jornais ��� em geral, consideradas "mais profundas" do que

as que n��o l��em. C o m o raros s��o os jornais que oferecem uma

se����o de igual tamanho com os caminhos que o leitor pode to-

mar para ajudar a resolver os problemas suscitados nos artigos,

resta o jogo de cena. Id��ntico, ali��s, ao que acontece com aque-

les que saem do cinema, depois de assistirem a um filme insti-

gante, decididos a fazer alguma coisa em rela����o �� quest��o

9 8 N �� o leve a vida t �� o a s �� r i o

apresentada. Elas ficam animadas para falar sobre a tal quest��o,

mas n��o passa disso.

Estamos, de certa forma, viciados numa boa briga. Mas ficar

indignado, escolher um culpado e assumir uma posi����o forte j�� ��

mais do que satisfat��rio. Lembre-se que s�� a tranq��ilidade, e n��o a

perturba����o, alcan��a as profundezas de nossa mente. Para chegar a

nossas convic����es mais profundas, escutar nossas intui����es e lem-

brar nosso amor pelas pessoas, s�� mesmo apostando na paz interior

��� n��o em palavras suaves, atitudes t��midas e lealdades inst��veis.

A perturba����o mental impede que voc�� escute e sinta seus

verdadeiros pensamentos e sentimentos. C o m a mente livre, a

tranq��ilidade assume seu lugar ��� e voc�� conseguir��, enfim, per-

ceber o sol que delicadamente se ergue, enquanto folhas se

abrem e p��ssaros cantam.

Desvendando as motiva����es inconscientes

Talvez em nenhum outro setor da vida a convic����o de que

pensamentos perturbadores s��o nocivos fique mais evidente do

que nas rela����es amorosas. O tempo e a energia que despen-

demos tentando convencer nossos parceiros de que estamos cer-

tos �� impressionante. Poucas pessoas fazem algum tipo de esfor-

��o para superar um problema no relacionamento ��� a maioria

absoluta prefere defender seu ponto de vista.

Os problemas que afetam a maior parte dos casais que Gayle

e eu aconselhamos todos os anos s��o bem mais significativos do

que a amizade que os une. A maior queixa se resume a quanto

eles se sentem insatisfeitos e desrespeitados pelo parceiro (ou

parceira). O conflito, em geral, leva �� separa����o, que at�� �� bas-

tante eficiente no que se refere a filhos e finan��as, mas um fra-

casso no que se refere ao lado emocional.

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 99

A maioria monta uma hist��ria detalhada sobre o relaciona-

mento frustrado e sai contando para todo mundo, como se ali-

mentar opini��es alheias, m��goas e rabugices fosse um caminho

para a liberdade e a sa��de mental. O resultado �� um mergulho

profundo em pensamentos negativos. Este v��cio emocional faz

com que as pessoas levem para seu pr��ximo relacionamento,

pensamentos muito intensos do que passaram na rela����o anterior.

Elas agem como um "viciado", que �� v��tima de seu passado, n��o

do presente.

Assim como os drogados v��em a realidade se alterar diante de

seus olhos, quando um novo relacionamento �� visto sob as lentes

de um relacionamento antigo, a causa da distor����o n��o �� evi-

dente nem termina em minutos ou horas, como acontece quan-

do a droga desaparece e seu usu��rio v�� novamente a cena origi-

nal. Cada falha em um novo relacionamento refor��a essa dis-

tor����o e um belo dia o amor se esgota. N �� o importa que racio-

nalmente voc�� perceba que esses sentimentos s��o irracionais ���

sua impress��o imediata corre sempre o risco de ser distorcida

pelas influ��ncias recebidas no passado.

N �� o �� poss��vel experimentar o potencial do novo relaciona-

mento se voc�� ainda est�� vivendo o antigo de corpo e alma. A

boa not��cia �� que as pessoas que conseguem se livrar dessa "ba-

gagem" emocional, conquistam a liberdade. N �� o importa o

quanto tenham sido magoadas, se elas se conscientizarem desses

pensamentos, podem escolher como querem se sentir ou agir.

A c o n s c i �� n c i a �� a m a i o r a r m a

Sempre que sua mente achar que a hist��ria est�� se repetindo,

reagir�� destruindo o novo relacionamento. Por isso, identifique

logo se voc�� ainda est�� apegado a algum relacionamento frus-

1 0 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

trado e mude o seu modo de pensar: voc�� por acaso diz que n��o

"ag��enta" aquela pessoa, que ela deixa voc�� "doente", que "d��

arrepio s�� de pensar" nela, que tem "sorte" de ter sobrevivido ao

relacionamento, que ela "precisa de ajuda", que �� "realmente"

muito neur��tica, que aprendeu "a li����o", que �� uma "sorte" estar

"fora daquilo", que "nunca mais" cometer�� "aquele erro de

novo"?

O que podemos fazer com estes pensamentos destrutivos?

Examine-os friamente e solte-os. Isto funciona com qualquer

tipo de relacionamento que tenha dado errado.

Se voc�� n��o aprender mais nada com este livro, por favor

guarde isto: voc�� age com base no que acredita. Se con-

tinuar acreditando, agir�� da mesma forma repetidamente.

L i b e r t a �� �� o 1 4

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Este exerc��cio exige total honestidade e aten����o. Portanto,

arranje vinte minutos ou mais de seu tempo e v�� para um

lugar onde n��o haver�� nenhuma interrup����o. Leve papel e

l��pis para escrever e acomode-se confortavelmente.

��� Nesse per��odo de recolhimento, concentre-se apenas no

primeiro relacionamento que tenha dado errado na sua vida.

Comece por aquele que acredita ter sido o mais influente.

Sei que n��o �� muito agrad��vel pensar nas poss��veis falhas de

relacionamento com pessoas que voc�� ama. Na verdade, apren-

demos mais depressa e mais profundamente se examinarmos

com honestidade nossos pr��prios erros e os erros dos outros.

Encare essas experi��ncias como li����es.

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 101

��� Comece com a sua mem��ria mais antiga desse relacionamen-

to e prossiga em ordem cronol��gica at�� o presente. Se, a certa

altura, o relacionamento deu uma reviravolta e se tornou po-

sitivo, continue apenas at�� o final do per��odo negativo.

Examine cuidadosamente qualquer evento que ainda lhe seja

perturbador. Memorize as emo����es que sentiu e, se puder, os

pensamentos que teve durante a perturba����o. Passe ent��o ao

evento seguinte.

��� Seria melhor n��o ter mais de duas sess��es desse tipo por dia,

embora seja recomend��vel repeti-las quantas vezes forem

necess��rias para cobrir o per��odo deste ��nico relacionamento.

��� Quando chegar ao fim, resuma a atitude ou o pensamento cen-

tral que surgir em sua mente ao rever essa lista. Este ser�� um de

seus pensamentos D (desencadeadores de alguma emo����o).

L i b e r t a �� �� o 1 5

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Pense no relacionamento amoroso mais recente que deu

errado. Siga o mesmo procedimento usado na Liberta����o 14 .

��� Depois de ler e resumir sua lista de pensamentos sobre este

relacionamento, compare com o resumo que escreveu para a

Liberta����o 14. Selecione um pensamento que seja comum a

ambas. Exemplo: se o pensamento que resume a Liberta����o

14 foi "Sempre sou eu quem causa o problema" e o pensa-

mento que resume a Liberta����o 15 foi "N��o importa o que

eu fa��a, nunca �� o bastante", um pensamento que cobriria os

dois poderia ser: "Estou sempre causando problemas para

todo mundo, porque nunca vou at�� o fim das coisas." Natu-

ralmente, este seria o seu pensamento D mais detalhado.

1 0 2 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

As Liberta����es 14 e 15 s��o bons exerc��cios de intui����o. Tente

sentir qual foi a heran��a do antigo relacionamento que ressurgiu

no atual. Lembre-se: a consci��ncia �� o fator essencial para a

limpeza da mente e para sua integra����o.

A I M A G E M D E " P E R D E D O R A "

Gayle recebeu um e-mail de uma certa Maggie, contando que

h�� mais ou menos seis meses havia come��ado a notar que se sen-

tia triste depois de sua conversa semanal por telefone com a

m��e. Gayle perguntou se isso j�� acontecera antes. Maggie disse

que n��o, sua m��e era muito saud��vel e nada de incomum lhe

acontecera nos ��ltimos tempos.

Gayle disse a Maggie que, ap��s os telefonemas das pr��ximas duas

semanas, se concentrasse na tristeza que sentia e anotasse todos os

pensamentos que passassem pela sua cabe��a naquele instante.

Duas semanas depois, Maggie enviou um e-mail contando que

as palavras perdedora e voc�� �� uma perdedora n��o sa��am de sua

cabe��a, e dizia: "...mas minha m��e n��o �� uma perdedora. Ela ��

uma professora muito popular entre os alunos e at�� ganhou um

pr��mio. E eu tenho uma carreira maravilhosa como terapeuta

f��sica e tamb��m n��o me considero perdedora."

Gayle sugeriu que Maggie procurasse em sua mem��ria tudo o

que houvesse em torno da palavra perdedora e que anotasse os

pensamentos que lhe ocorressem depois de mais um telefonema

�� m��e. Na semana seguinte, Maggie enviou outro e-mail, desta

vez excitad��ssima com o que havia descoberto.

Seis meses antes, seu pai, que se divorciara quando Maggie

tinha dez anos, viera �� cidade e os dois haviam almo��ado juntos.

Naquele momento, o pai contara para Maggie que se divorciara

de sua m��e porque "ela era uma perdedora", que n��o tinha ne-

A p r e n d e n d o a f i c a r l i v r e d o c o n f l i t o i n t e r i o r 1 0 3

nhum objetivo maior do que ser professora de escola prim��ria. O

pai de Maggie era m��dico e tinha ido embora com uma m��dica.

Gayle perguntou a Maggie se havia algum aspecto em sua vida

que n��o dera certo. Maggie respondeu que estava com trinta e sete

anos e jamais conseguira manter um relacionamento permanente.

Disse que o homem que estava namorando queria casar, mas algo a

impedia de aceitar. Ele era maravilhoso, mas ela se sentia relutante.

Mais uma vez Gayle sugeriu a Maggie que refletisse calmamente

sobre aquela emo����o e anotasse todos os seus pensamentos. Desta

vez, ela devia anotar tudo o que sentisse sobre essa relut��ncia.

No pen��ltimo e-mail, Maggie contou a Gayle que desvendara

um pensamento muito louco. "Era o seguinte: se eu me casar, me

tornarei uma perdedora. C o m o posso ter pensado uma coisa

dessas?" Gayle respondeu: "Porque voc�� viveu durante muitos

anos em uma casa onde seu pai tinha a profunda convic����o de

que a sua m��e era uma perdedora. Voc�� �� metade seu pai e me-

tade sua m��e, de modo que naturalmente internaliza esse pen-

samento da perdedora ��� que se mostrou forte o bastante para

romper o seu lar."

No ��ltimo e-mail, Maggie contou a Gayle que havia discutido

o assunto com o namorado e que ele a apoiara. Embora ainda

n��o houvesse decidido se casar, ela o convidara para se mudar

para sua casa. Os dois veriam como a coisa funcionaria...

C o m o na hist��ria de Maggie, a maioria das pessoas com quem

Gayle e eu trabalhamos identificam como origem de seu pensa-

mento D uma experi��ncia da inf��ncia. N �� o �� coincid��ncia que

esses pensamentos D ��� os pensamentos desencadeadores ��� se-

jam irracionais. Apenas uma compreens��o mais profunda de

suas origens pode tirar sua for��a. �� dif��cil acreditar que uma

id��ia t��o rid��cula como "Meu pai achava que a minha m��e era

I 0 4 N��o leve a vida t��o a s��rio

uma perdedora, portanto, eu me tornarei uma perdedora se me

casar" poderia ser respons��vel por quinze anos de incapacidade

de aceitar um compromisso. �� claro que n��o deveria ter aconte-

cido... mas aconteceu!

N��o perca seu tempo julgando seus pais. Eles tamb��m

tiveram pais...

As pessoas discutem o que seus pais fizeram em tom indigna-

do. Todos n��s cometemos este equ��voco, mas em algum mo-

mento temos de admitir que as ��nicas perguntas significativas a

fazer sobre o passado s��o as seguintes: "Quando aceitarei o fato

de que o que aconteceu, aconteceu?" e "Quando aceitarei a

responsabilidade pelo ego que tenho?".

L i b e r t a �� �� o 16

uma liberta����o de necessidades especiais

Este exerc��cio �� espec��fico para os que tiveram uma s��rie de

relacionamentos amorosos que n��o deram certo. Se voc�� repeti-

das vezes chegou a pensar que estava envolvida e esse relaciona-

mento terminou, �� bastante prov��vel que esteja ocorrendo algo

mais do que puro azar. Um ind��cio importante �� ver se existe

alguma semelhan��a na maneira como a maioria deles termina.

Por exemplo: se �� voc�� quem vai embora ou se �� a outra pessoa,

se a outra pessoa �� casada ou est�� envolvida em outro relaciona-

mento, se o rompimento �� por causa do dinheiro ou se �� porque

a outra pessoa n��o quer se comprometer.

Sua rea����o emocional pode ser o fator comum ��� alguma ca-

racter��stica da apar��ncia da outra pessoa (maneira de andar, falar,

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 1 0 5

comer, se vestir) que se torna um inc��modo a ponto de voc�� usar

aquilo como desculpa para o rompimento; algo que surge nas

conversas (a maneira como analisa ou deixa de analisar um as-

sunto, sua cultura, suas id��ias pol��ticas) se torna uma obsess��o

negativa, ou ent��o alguma emo����o bem conhecida (necessidade

de ir embora e sentir-se livre, crescente inquietude, nervosismo

ou perturba����o generalizada, inseguran��a ou paran��ia) faz voc��

enxergar cada vez mais "cart��es vermelhos".

Sempre haver�� um ou dois encerramentos que foram exce-

����es, mas, se a maioria tiver semelhan��as na a����o ou no senti-

mento, �� ind��cio da atua����o de um pensamento D.

O exerc��cio seguinte �� especialmente eficaz para desvendar

os pensamentos que tomam conta dos sentimentos e percep-

����es, assegurando o fim de cada relacionamento novo. Para que

esta Liberta����o funcione, �� essencial a sua disposi����o de realiz��-

lo por inteiro.

��� Come��ando pelo seu mais recente relacionamento amoroso

(a n��o ser que o tenha usado na Liberta����o 15), inicie com o

primeiro sentimento ou evento perturbador que tenha ocor-

rido e reexamine-o t��o detalhadamente quanto poss��vel.

Anote tudo o que lembrar sobre esse primeiro pequeno pro-

blema ou grande abalo, inclusive os pensamentos que pas-

saram pela sua cabe��a naquele momento.

��� Depois de reexaminar inteiramente essa primeira pertur-

ba����o, volte ��s origens de cada pensamento anotado. O que

aconteceu pouco antes da perturba����o que este pensamento

faz recordar? O que aconteceu antes disso? E assim por

diante, v�� ao passado mais distante que conseguir lembrar.

�� importante n��o analisar o significado de cada pensamento.

Preste aten����o apenas no que pode ver. Quando n��o estiver ven-

1 0 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

do mais nada, passe para o pr��ximo pensamento e continue at��

ter seguido a pista de todos.

��� Escolha agora o sentimento ou evento perturbador seguinte

ao primeiro relacionamento que deu errado e elabore da

mesma maneira. Depois, fa��a o mesmo exame em seu pen��l-

timo relacionamento falho. Continue com cada relaciona-

mento, at�� chegar ao primeiro que n��o deu certo.

��� Leia tudo o que escreveu, se poss��vel numa ��nica sess��o. Os

pensamentos inconscientes que assumiram o controle da sua

vontade estar��o claros como o dia.

E s c a p a n d o d o s b l o q u e i o s q u e a t r a p a l h a m o s

r e l a c i o n a m e n t o s

Para p��r em pr��tica as conquistas obtidas com a Liberta����o

16, escolha um parceiro adequado. N �� o �� l�� muito espiritual ou

"emocionalmente correto" utilizar-se de classificados, caixas

postais da Internet, freq��entar bares de solteiros ou lugares e

eventos onde �� prov��vel que esteja o tipo de pessoa por quem

voc�� procura. Mas n��o h�� mal algum em testar sua disposi����o

mental para um relacionamento permanente e feliz.

�� tolice afirmar que seja mais natural esperar que as coisas

importantes venham at�� n��s. Existem hist��rias de encontros

maravilhosas. H�� pessoas que pesquisam bastante quando est��o

procurando uma crian��a para adotar. Quando se trata de encon-

trar um bom parceiro, parece que ��� n��o se sabe l�� o motivo ���

se espera que de alguma forma o universo, ou Deus em pessoa,

providencie o servi��o. Se existem algumas batalhas in��teis das

quais podemos nos libertar, essa, com certeza, �� uma delas!

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 1 0 7

Dizendo n��o aos pensamentos chiclete'

Se voc�� observou direitinho seus pensamentos, deve ter nota-

do que um desfile de imagens e id��ias passa sem parar pela sua

mente. De vez em quando h�� um pensamento que prende a nos-

sa aten����o, e come��amos a rumin��-lo. �� o "pensamento-chi-

clete". Entender como esse tipo de pensamento funciona pode

ser muito ��til no processo de desprendimento de emo����es

menores. Veja por qu��:

��� Qualquer pensamento em que n��o acreditamos ou que n��o

consideramos importante n��o perturbar�� nossa integridade

e paz.

��� Qualquer pensamento que nos preocupa causa emo����es per-

turbadoras (medo, raiva, preocupa����o, ��dio, des��nimo, an-

siedade, inveja, ci��me e afins).

��� Pensamentos que produzem emo����es perturbadoras nos

fazem tomar decis��es conflitantes.

��� Todos os pensamentos que produzem emo����es perturbado-

ras cont��m amplos aspectos inconscientes ��� ou seja, vemos

apenas uma parte do pensamento.

��� O aspecto inconsciente do pensamento provoca fasc��nio e

muitas vezes nos vicia.

��� N �� o adianta acrescentar pensamentos positivos a uma

emo����o perturbadora. Isso apenas divide a mente ainda mais.

��� A parte inconsciente ��� e n��o a consciente ��� do pensamen-

to dita as emo����es que sentimos.

��� Fixar um pensamento �� uma escolha. Somos livres para in-

verter ou alterar essa escolha no momento desejado.

��� Uma forma de libertar um pensamento preocupante �� torn��-

lo consciente. Ao enxerg��-lo em sua plenitude, n��o acredita-

mos nele, n��o o desejamos e de b o m grado o libertamos.

1 0 8 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

L i b e r t a �� �� o 1 7

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Enquanto observamos calmamente o desfile de pensamentos

passar �� nossa frente, n��o causamos nenhum problema. Se sa��mos

atr��s de algum pensamento que acidentalmente atravessa nossa

cabe��a, imediatamente damos in��cio a tumultos mentais in��teis.

��� Pratique hoje, e amanh�� se puder, o que poder�� ser o in��cio

de um h��bito de toda a sua vida. Sempre que tiver um mo-

mento de calma, observe cada pensamento que surgir em sua

mente e a emo����o que vier atr��s dele. Seu ��nico objetivo ��

examinar com clareza cada pensamento e reagir com sere-

nidade. N �� o ataque, n��o julgue, n��o venere, apenas reconhe-

��a a sua presen��a e observe.

��� Enquanto estiver na posi����o de espectador, voc�� talvez note

um lugar na sua consci��ncia em que j�� sente calma e felici-

dade. Neste lugar, voc�� pode ignorar o desfile de pensamen-

tos com seguran��a.

D e i x a n d o a t r i s t e z a p a r a t r �� s

Um excelente maneira de se desapegar dos conflitos �� mer-

gulhar a mente na serenidade. N �� o importa se retiramos o lixo

mental por meio da consci��ncia ou inundando a mente com

pureza, pois o resultado ser�� o mesmo: a mente sem conflitos. ��

bom ter as duas op����es, limpeza e imers��o na consci��ncia. C o m

certeza haver�� momentos em que algum pensamento pertur-

bador v�� se agarrar com tal for��a em nossa mente que teremos

de solt��-lo antes que a imers��o seja poss��vel.

O problema n��o �� a incapacidade de limpar nossas mentes. Na

verdade, n��s as inundamos com muitas mem��rias e linhas de pen-

A p r e n d e n d o a f i c a r l i v r e d o c o n f l i t o i n t e r i o r 1 0 9

samento. Podemos escolher o caminho do divertimento para limpar

a mente em vez do caminho que a polui. O riso, a gargalhada que

aproxima as pessoas, tem a capacidade de nos libertar instantanea-

mente da ansiedade, do des��nimo e de todos os estados fragmenta-

dos. Muita gente pensa que s�� pode come��ar a rir se for surpreen-

dida, mas o riso ��, na verdade, uma forma de desprendimento.

C o m o j�� mencionei, as crian��as pequenas chegam ao mundo

exercendo naturalmente a capacidade do desapego por meio do

divertimento e do deleite. Elas sorriem trinta e cinco vezes mais do

que os adultos. Elas se divertem por antecipa����o e, por isso, con-

seguem evitar que pensamentos perturbadores se instalem em

suas mentes. Instintivamente, elas passam de um tema pertur-

bador para um tema prazeroso.

O C A �� A D O R D E P E S A D E L O S

H�� alguns meses recebemos a visita de um amigo. Ele com-

prou um "ca��ador de sonhos" numa loja que vende artefatos dos

��ndios norte-americanos. O objeto tem a forma de uma redezi-

nha redonda, feita com uma trama de couro cru e contas e penas

especiais para "limpeza". Colocada acima da cama, ele "ca��a" os

sonhos ruins antes que estes possam entrar no seu sono, mas

deixa os sonhos bons passarem.

N o s s o amigo nos disse que era um presente para a filha dele,

Sarah, de quatro anos, que nas ��ltimas semanas estava tendo

uma s��rie incomum de pesadelos. Ela adorou o presente e deu

um enorme abra��o no pai. Naquela mesma noite, Sarah saiu da

cama e foi at�� o quarto dos pais:

��� Papai, preciso do meu ca��ador de sonhos agora!

Nosso amigo foi at�� o quarto de Sarah e olhou em volta,

procurando um lugar para pendur��-lo. O ca��ador de sonhos n��o

1 1 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

apenas deve ser pendurado acima da pessoa que sonha, mas tam-

b��m num ponto em que os raios do sol caiam sobre ele. Os so-

nhos ruins se dissolvem como o nevoeiro que desaparece com a

luz e o calor do sol matinal. N �� o havia um lugar ideal, mas como

o tom da voz de Sarah era de emerg��ncia, ele decidiu prender o

artefato no ventilador do teto. Quando conversei com ele

muitos meses depois, soube que Sarah nunca mais tivera ne-

nhum pesadelo. O presente a deixara t��o feliz que ela rapida-

mente trocou a infelicidade pela felicidade.

Muita gente questiona essa abordagem, alegando que ela n��o

chegaria ao que estava causando os pesadelos. Em mentes cheias

de conflito como as dos adultos, talvez seja verdade, mas crian-

��as da idade de Sarah n��o possuem muita coisa oculta, como

demonstrou o fato de que os pesadelos nunca mais voltaram.

U M P A I J U S T O

Um indiv��duo ligou para minha casa e perguntou:

��� Quem est�� falando?

��� Hugh Prather ��� respondi.

��� O meu telefone registra uma liga����o feita da sua casa.

��� Que liga����o? ��� perguntei.

��� Um menino ligou para minha casa e pediu para falar com a

minha filha. Eu lhe disse que ela n��o estava e perguntei quem

estava falando. Ele disse: "N��o se preocupe, eu a encontrarei

daqui a uma hora no jogo" e desligou.

Pedi ao pai que aguardasse e perguntei a meu filho de quinze

anos e seu amigo se eles sabiam que hist��ria era aquela. Tinha

sido o amigo de meu filho. Quando voltei ao telefone e confirmei

que a chamada fora feita de minha casa, ele disse que havia grava-

do a liga����o e que eu poderia ir at�� l�� para escut��-la e ouvir com

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 111

meus pr��prios ouvidos que o menino n��o tinha dado seu nome.

Falou ainda que nada sabia sobre a minha casa, mas que na dele

esse tipo de comportamento n��o era tolerado. Perguntei-lhe se j��

recebera alguma outra liga����o do meu telefone. Ele me disse que

este n��o era o caso. A quest��o �� que dev��amos ensinar aos nossos

filhos um "comportamento moral" ��� e bateu o telefone.

Mais tarde, naquele mesmo dia, meu filho e o amigo voltaram

contando que o pai da garota fora ao jogo e se enfurecera com a

filha por ter "esse tipo de amigos". Disseram ainda que, assim

que o pai se afastou, contaram a ela o que havia acontecido.

��� Ela ficou furiosa porque o pai dela ligou pra c��! ��� infor-

maram os dois, exultantes.

Os adolescentes costumam n��o deixar seus nomes. Se esta

pequena caracter��stica do comportamento humano pode causar

esse tipo de enfrentamento, que chance tem esse indiv��duo de

algum dia experimentar um ��nico dia de paz e felicidade?

Dentro de suas mentes, os que se acham superiores

est��o em guerra com os outros.

N �� o foi a liga����o o que deixou esse pai t��o perturbado, mas

sim a imagem fragmentada que ele tem de si mesmo. Na sua

cabe��a, ele era um indiv��duo cheio de corre����o e virtudes... por-

tanto, algu��m com quem n��o se brinca. A aus��ncia de humor

desse pai bloqueou sua intui����o e experi��ncia. Fez com que

entendesse de maneira equivocada a motiva����o e presumisse que

a inten����o do menino que telefonou fosse desrespeit��-lo. Entre

se divertir e se sentir ofendido, ele s�� conseguiu se isolar e se

incomodar, principalmente consigo mesmo.

1 1 2 N �� o leve a vida t �� o a s �� r i o

U M C A S A L F L E X �� V E L

Duas semanas antes do incidente relatado, um casal me con-

tou que seu filho de nove anos fora brincar com algumas crian��as

do outro lado da rua e uma meninazinha de cinco anos, de

repente, lhe deu um pontap��. Numa rea����o, por reflexo, o meni-

no atingiu a boca da menina, fazendo cair um dente de leite que

j�� estava solto. Quando o pai e a m��e da menina viram a filha

chorando, com a boca sangrando e segurando o dente na m��o, o

menino j�� havia atravessado a rua. Furioso, o pai foi atr��s do

menino, levantou-o no ar pela gola e sacudiu-o. Depois arrastou-o

para seu lado da rua e gritou com ele durante muitos minutos.

O casal me contou que, ao descobrir o que havia acontecido,

primeiro examinou cuidadosamente o filho para ver se ele esta-

va bem f��sica e emocionalmente. Depois, o impulso dos dois foi

atravessar a rua e devolver o ataque ou, como eles disseram, ten-

tar sentirem-se melhor fazendo o outro sentir-se pior.

�� interessante que, em situa����es que envolvem nossos filhos,

quando o desejo de devolver um ataque �� examinado em min��-

cias, vemos que o que nos faz reagir �� principalmente indigna����o

pela maneira como a crian��a foi tratada. E n��o necessariamente

um desejo de melhorar o bem-estar dela. De alguma forma, os

pais do menino conseguiram parar e refletir sobre como pode-

riam realmente ajudar seu filho. Em primeiro lugar, fizeram-no

saber que, embora ele houvesse cometido um erro, o pai da me-

nina cometera outro. Resumindo, disseram que estavam a seu

lado. Foi preciso mais de uma hora para os tr��s decidirem tran-

q��ilamente o que desejavam fazer. Depois de algum tempo,

chegaram a um plano com que todos concordaram.

A fam��lia atravessou a rua e tocou a campainha. A m��e abriu

a porta pronta para uma briga. Eles apenas disseram o quanto

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 1 1 3

gostavam da menina, o quanto apreciavam aqueles vizinhos e o

quanto lamentavam o incidente. Conforme haviam planejado,

n��o disseram uma palavra sobre o que seu marido fizera. De

repente, a m��e da menina come��ou a chorar e a pedir desculpas

pela maneira como seu marido tratara o menino. Evidentemen-

te, a rea����o da m��e depois de abrir a porta poderia ter sido com-

pletamente diferente. Ela poderia ter recusado as desculpas,

poderia ter batido a porta na cara dos vizinhos, poderia tentar

process��-los ou chamar a pol��cia.

Os pais do menino uniram suas mentes em torno do amor pelo

filho para fazerem o melhor. Conseguiram acalmar o que poderia

evoluir e se transformar numa situa����o extremamente problem��tica.

L i b e r t a �� �� o 1 8

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

A. Uma ou duas vezes por dia, fa��a o seguinte exerc��cio: deter-

mine dois pontos e enquanto caminha de um para o outro, repi-

ta silenciosamente:

��� Enquanto caminho de para (desta cadeira at�� a

porta, do quarto para a cozinha), olharei com bom humor

para tudo o que estiver na minha frente.

B. No mesmo dia em que fizer o exerc��cio A, separe tamb��m

uma ou duas tarefas que exigem pouco tempo e, antes de

come��ar, repita:

��� Enquanto eu estiver (largando isto na loja, dando

comida para o gato, lavando esses pratos), olharei com bom

humor para tudo o que acontecer.

At�� mesmo se voc�� fizer A e B com certo des��nimo, come��ar��

a lembrar como era olhar o mundo com olhos cintilantes.

1 1 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

Para praticar o bom humor por antecipa����o:

��� Observe que a mente em conflito �� temporariamente deixada

de lado em favor de uma disposi����o mais simples e tranq��ila.

��� Observe como esta sua nova disposi����o permite que voc��

veja mais detalhes e nuances das situa����es nas quais voc�� se

envolve.

��� Observe como esta sua nova disposi����o lhe permite relaxar

mais e aceitar as pessoas e as situa����es como elas s��o.

��� Observe que sempre que opta por se divertir, voc�� �� mais

��til para si e tamb��m para os outros ��� e sem sequer ter de

pensar nisso...





Sete


A b r i n d o m��o

da " s i n c e r i d a d e "

Em nome da simplicidade, vou chamar nossa capacidade de

ver e sentir o que acreditamos ser real, mesmo quando n��o

�� o caso, de "proje����o". C o m o a maioria das pessoas projeta

inconscientemente, �� dif��cil reconhecer as oportunidades em

que essa habilidade mental se torna uma vantagem. Uma, no

entanto, �� inequ��voca ��� tem a ver com as pessoas com quem

temos dificuldade de lidar.

Pessoas "dif��ceis" de ag��entar, que "for��am a barra", que "n��o conseguimos suportar" despertam fortes emo����es na vida de

cada um de n��s. Elas, sem d��vida, representam alguma coisa

sobre n��s mesmos de que n��o temos plena consci��ncia. Sei que

�� dif��cil acreditar, mas n��o deixa de ser ��til t��-las por perto, para

nos lembrar de que ainda h�� muito trabalho a fazer.

Ningu��m �� obrigado a correr riscos, nem a conviver com

algu��m perturbador. Al��m disso, �� bom ficar claro que descarto

a verdade de nossa percep����o intuitiva, que nos permite ver a

desonestidade nos desonestos, o preconceito nos preconceituo-

sos e a crueldade nas pessoas cru��is. �� bom deixar claro que nem

todo indiv��duo arrogante ou perverso �� uma proje����o ��� eles

existem, infelizmente.

Me refiro principalmente ��quele tipo de pessoa que nos irrita,

116 N��o leve a vida t��o a s��rio

que nos deixa desconcertado, que nos coloca contra a parede. A

proje����o, nesse caso, est�� na nossa rea����o, acrescida ao que in-

tu��mos. Podemos sentir que determinado indiv��duo tem "um to-

que" de mesquinharia, sem acrescentar nenhum ju��zo de valor.

No momento em que pensamos, sentimos e julgamos, estamos

fazendo uma proje����o. A condena����o pode parecer muito ho-

nesta, mas este �� o tipo de honestidade que �� melhor dispensar.

Desfazer uma proje����o exige que tenhamos a exata percep����o

do que representam para n��s as pessoas em rela����o ��s quais rea-

gimos. Qual �� a import��ncia e o simbolismo de seu comporta-

mento? De que anseios, pensamentos ou motivos nos fazem

lembrar? O desafio �� desvendar a parte de nosso ego que n��o es-

tamos conseguindo enxergar, ainda que, "sinceramente", acredi-

temos estar vendo em outras pessoas.

Um exemplo de como funciona esse tipo de proje����o incons-

ciente �� a hist��ria do menininho que espanca seus bichinhos de

pel��cia numa reprodu����o do que acontece com ele. O menino

faz serm��es ao elefante, diz que ele foi mau, diz que o que ter��

de fazer ir�� machucar mais a si mesmo do que ao elefante. A��,

bate no elefante, dizendo: "N��o! N �� o ! N �� o ! N��o!" Naquele mo-

mento, o menininho n��o tem a menor d��vida de que o elefante

�� mau. Na realidade, ele, inconscientemente, acredita ser um

garoto mau.

O u s o consciente da p r o j e �� �� o mental

Uma vez que descobrimos a parte em n��s que essas pessoas

representam, n��o devemos rejeit��-la. Ao contr��rio, temos que

aceit��-la como um aspecto ineg��vel de nosso ego. Neste contex-

to, aceitar significa admitir ser como somos. A partir da��, fica-

mos em posi����o de escolher n��o ampliar essa parte de nossa per-

A b r i n d o m �� o d a " s i n c e r i d a d e "





1 1 7


sonalidade ��� mas sim uma outra parte, mais profunda, livre e

cheia de amor.

Um forte sentimento cr��tico sobre algu��m, especialmente

uma pessoa que faz parte da sua vida, indica que voc�� est�� com

dificuldade em assumir responsabilidades sobre um aspecto do

seu ego. Se o seu discurso sobre a raz��o pela qual a pessoa a inco-

moda tem alguma semelhan��a com as frases a seguir, tome

cuidado: "Ela �� pretensiosa e jamais gostei disso", "Ele me lem-

bra meu pai, que n��o passava de uma grande canalha de fala

mansa", "Ela �� realmente perigosa para os neg��cios, porque se

faz de boazinha".

Em geral, as proje����es negativas s��o vers��es de n��s mesmos

nos outros, com forte sentido de rejei����o ao que vemos. Mesmo

quando desconhecemos nossa capacidade de proje����o mental,

ela entra em a����o, produzindo efeitos que atribu��mos ��s circuns-

t��ncias, aos outros ou a anseios internos. Jamais devemos duvi-

dar do poder que a nossa mente tem de sentir o que n��o est��

acontecendo. Para mudar isso, s�� quando conseguir ficar imune

��s pessoas que o irritavam ��� ainda que estejam se comportando

como sempre. Isto significa que voc�� passou a aceitar em si as

imperfei����es que via nelas.

A v e r d a d e s o b r e a " v e r d a d e "

O caminho para a verdade �� "estreito" - no sentido de que

�� puro, n��o no sentido de que suas op����es s��o limitadas.

De vez em quando, nos deparamos com situa����es potencial-

mente desagrad��veis ou mesmo perigosas. O exemplo cl��ssico ��

convidar um alco��latra em recupera����o a se juntar com pessoas

118 N��o leve a vida t��o a s��rio

que bebem muito. Naturalmente, ��s vezes somos obrigados a

freq��entar reuni��es de colegas de trabalho, mas uma boa des-

culpa pode nos tirar de praticamente qualquer situa����o. Mesmo

assim, muita gente n��o se permite utilizar essa op����o porque

tem uma defini����o radical de honestidade.

Qual seria a resposta "honesta" a um convite desse tipo: "N��o,

n��o irei porque voc�� e seus amigos se embebedam e se tornam

t��o chatos que eu poderia voltar a beber de novo. Caso voc��s

n��o saibam, sou um alco��latra em recupera����o." Ser�� que esse

tipo de sinceridade aumenta a consci��ncia de algu��m? A fran-

queza total pode ser considerada uma qualidade nos dias de hoje,

mas, na verdade, quando as pessoas dizem "Preciso ser honesto

com voc��", em geral prosseguem com um discurso de ataque,

abandono ou trai����o.

Os defensores da "honestidade" n��o deixam nada intocado.

Muitos relacionamentos naufragam antes mesmo de come��ar

porque os dois parceiros pensam que devem confessar todos os

atos sexuais que tiveram ou pensaram ter na vida. Observe que

essas confiss��es levam a um desentendimento maior. Elas ilu-

dem, n��o esclarecem.

A honestidade que vale a pena cultivar diz respeito ao que

dizemos, n��o ao que comunicamos ��� e, como tal, �� mais uma

vers��o da id��ia de que a apar��ncia �� tudo o que importa. �� me-

lhor sermos verdadeiros em rela����o ao nosso cora����o do que ho-

nestos em rela����o �� nossa disposi����o. N �� o passa pela cabe��a dos

pais serem "honestos" quando o filhinho de tr��s anos traz uma

folha de papel e diz:

��� Olha o que eu desenhei!!!

Eles consultam seu cora����o, seus sentimentos mais profun-

dos, e dizem:

A b r i n d o m �� o d a " s i n c e r i d a d e " 1 1 9

��� Ah! Que lindo! Que desenho maravilhoso! Vamos pendurar

na parede!

Esta �� a verdade. Os pais est��o sendo verdadeiros em rela����o ao

que a crian��a est�� realmente pedindo. N �� o devemos nos prender

a um uso muito estreito das palavras. A l��ngua pode espalhar o

desentendimento e n��o a compreens��o. Ela fornece o calor, mas

n��o d�� a luz.

Tenho o h��bito de fazer uma caminhada ao anoitecer que me

leva at�� a beira de um riacho onde vive h�� muitos anos um sem-

teto. Se ele estiver por ali, costuma caminhar ao meu lado. N o s -

sas conversas n��o fazem muito sentido, mas h�� uma troca de

calor humano, interesse e preocupa����o que faz com que sejam

t��o satisfat��rias quanto qualquer conversa "inteligente":

��� Est�� vendo aquele coelho? Ele est�� perto de n��s porque h��

um coiote por a��... Terei de me mudar daqui a pouco... Os pro-

fessores descobriram onde moro, o que significa que a m��fia

tamb��m descobriu...!

Os pais que se concentram no conte��do literal da comunica����o

que t��m nos dois ou tr��s primeiros anos da vida de seus filhos acabam

tendo "conversas" maravilhosas, cheias de guinchos, gemidos, gar-

garejos, tartamudeios, respira����es ofegantes e bolhas de cuspe. Idem

para dois jovens apaixonados que se abra��am e olham para as estre-

las: o tema de sua conversa pode girar ao redor de qualquer coisa, mas

eles sabem que toda a comunica����o se resume em: "Eu te amo! Eu te

adoro! Estou muito feliz porque voc�� faz parte da minha vida!"

Quando conversamos com algu��m, h�� o tema das palavras que

s��o ditas ��� mas raramente este consiste na verdadeira impor-

t��ncia da conversa para quaisquer das partes.

120 N��o leve a vida t��o a s��rio

L i b e r t a �� �� o 1 9

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Escute a conversa entre o seu cora����o e suas necessidades e o

cora����o e as necessidades de seu interlocutor. Se olhar direta-

mente nos olhos dessa pessoa, voc�� "escutar��" claramente o que

ela est�� realmente dizendo para voc��. Repita bem devagar:

��� Esta conversa �� sobre algo mais do que o tema principal...

O que esta pessoa est�� realmente me perguntando ou me pedin-

do e o que realmente estou dando em troca?

Em vez de ser "honesto" em rela����o ao tema da conversa,

experimente us��-lo apenas como meio para obter uma ver-

dadeira troca. C o m o queremos sentir a nossa unidade com as

pessoas �� nossa volta, seja cauteloso e n��o fa��a nada que as deixe

na defensiva ou que as intimide.





Oito


O d e s p r e n d i m e n t o do ego

Temos duas mentes, n��o apenas uma. �� mais ou menos

como ter dois est��magos ��� ningu��m fala disso na escola.

Dizem que s�� as vacas t��m dois est��magos (na verdade, s��o qua-

tro!) e fazem recomenda����es do tipo: "Quando seu est��mago

estiver cheio, pare de comer!" No entanto, voc�� acaba desco-

brindo que, mesmo de barriga cheia, sempre haver�� lugar para a

sobremesa (especialmente de chocolate), e come��ar�� a suspeitar

desse alerta. Depois de se empanturrar de doces centenas de

vezes, mesmo estando com a barriga cheia, voc�� se d�� conta:

todos n��s temos dois est��magos, um deles s�� para os doces!

Da mesma forma, para acreditar na exist��ncia de duas mentes

�� preciso sentir os seus efeitos na pr��pria pele. Aprender a dei-

xar fluir o lado conturbado da mente �� a chave para ampliar o

conhecimento da parte tranq��ila da mente. Assim que conhece-

mos a segunda mente, percebemos que a primeira, que eu chamo

de mente do ego, �� uma esp��cie de fantasia.

A id��ia de "deixar fluir" pressup��e assumir o que somos, sem

desejos de mudan��a. Para muitas crian��as, o primeiro amigo ��

imagin��rio, enquanto o segundo �� real. Elas precisam constatar

as limita����es de se relacionar com algu��m que s�� existe em sua

pr��pria imagina����o, para conseguir ter amizades de carne e osso.

Digamos que voc�� �� uma crian��a pequena e que tem como vizi-

nho um menino chamado Burt, de quem voc�� gosta muito. Burt

1 2 2 N��o leve a vida t��o a s��rio

tem uma amiguinha imagin��ria chamada Lubertha. Um dia voc��

diz para Burt:

��� Voc�� acha que a sua verdadeira amiga �� a Lubertha, mas um

dia voc�� ver�� que a Lubertha n��o existe. Voc�� inventou a Lu-

bertha... mas eu sou real e estou pronto para ser seu verdadeiro

amigo. Se n��s pudermos brincar junto s�� um pouquinho, voc��

come��ar�� a ver o que eu significo.

E assim, Burt come��a a brincar com voc�� ��� no in��cio �� um

tanto assustador, mas logo Burt percebe que n��o h�� nada a te-

mer, voc�� n��o ir�� machuc��-lo. At�� que finalmente chega um dia

em que Burt diz:

��� Sabe de uma coisa? Acho melhor o amigo de verdade!

Parece muito simples? Conquistar uma mente clara e desfrag-

mentada �� simples porque a segunda mente ��� a mente real, pro-

funda ��� j�� est�� no seu lugar e pronta para funcionar. Se voc�� ��

como a maioria, tem usado a mente ocupada, infeliz e fragmen-

tada por tanto tempo que esqueceu que existe a outra mente.

Voc�� pode tentar a vida inteira melhorar uma mente fraca,

hiperativa e conflituosa. Mas at�� perceber que sua verdadeira

mente �� a ��nica de que voc�� precisa ser�� dif��cil atingir uma sen-

sa����o permanente de paz, relaxamento e integridade.

Como se forma a primeira mente

Para os casais, os beb��s s��o uma imensa fonte de preocupa-

����es. Tudo pode come��ar com uma assadura no bumbum, uma

crosta de leite na cabe��a ou um ciclo de sono curto. �� como se

m��es e pais desconstru��ssem a integridade da crian��a. Depois de

um tempo, o processo de fragmenta����o faz com que os pais n��o

vejam mais um beb��, mas sim um atirador de comida, um g��nio

musical, um molhador de cama ou um p��ssimo aluno. Eles se

O d e s p r e n d i m e n t o d o e g o 123

preocupam com um aspecto espec��fico da crian��a e acabam des-

cuidando de sua felicidade e bem-estar geral.

Do ponto de vista das crian��as, a menos que tenha ocorrido

algum trauma incomum durante a gesta����o ou o parto, elas che-

gam ao mundo zeradas no que se refere a expectativas e ansie-

dades. Suas mentes s��o simples, unificadas e sintonizadas. Elas

se sentem ligadas aos pais e querem pouco mais do que estar per-

to deles e se divertir com eles. O dif��cil �� permanecerem imunes

�� maneira fragmentada como os pais as v��em.

P A R A L I S I A " E M O C I O N A L " O U D A N O N E U R O L �� G I C O ?

H�� muitos anos, a m��e de um menininho de quatro anos veio

nos perguntar como poder��amos ajud��-lo a mudar de atitude em

rela����o a seu corpo. Aos dois anos, Sammy teve uma doen��a que

o deixou com uma leve paralisia na metade do corpo. A m��e de

Sammy acreditava que era preciso usar meios espirituais para

tratar o filho. Disse que sabia que sua paralisia desapareceria se

ele pensasse em si mesmo como uma pessoa normal. O pai de

Sammy concordava com sua teoria.

Acompanhamos o caso durante tr��s anos, tempo que preci-

samos para convencer os pais do menino a lev��-lo a um neurolo-

gista e, talvez o mais importante, a se relacionarem com ele com

certo grau de prazer, valorizando a crian��a. Sammy sempre havia

sido tratado como um projeto que dera errado, n��o como um

filho amado. Era obrigado a andar sem muletas, a experimentar

todos os esportes e a afetar uma pose de "tudo bem" junto aos

colegas. Os pais acreditavam sinceramente que, com o tempo,

essa abordagem seria ben��fica...

N o s tr��s anos em que estivemos em contato, vimos Sammy se

tornar cada vez mais t��mido, frustrado e furioso. Em outras pala-

1 2 4 N��o l e v e a v i d a t��o a s��rio

vras, sua atitude em rela����o a si mesmo e aos outros come��ou a

se fragmentar.

N �� s compartilhamos a certeza de seus pais no potencial da

cura espiritual ��� mas essa abordagem em crian��as pequenas, que

n��o compreendem conceitos metaf��sicos, nem sempre funciona.

A leve paralisia de Sammy criou uma divis��o entre ele e seus pais,

que lhe disseram que a cura era um problema dele. Sammy era

muito pequeno para ver a falha nesta abordagem e se defender.

Quando, enfim, Sammy foi examinado por uma equipe de es-

pecialistas, estes convenceram os pais de que o problema era

conseq����ncia de um dano neurol��gico e nada tinha a ver com

sua atitude. De uma hora para outra, seus pais deixaram de fazer

press��o e come��aram a procurar meios de trazer conforto e feli-

cidade para Sammy em cada pequena tarefa que ele tinha de

enfrentar.

A seus olhos, o filho agora n��o tinha nenhuma culpa e eles

estavam livres para am��-lo por inteiro. No nosso ��ltimo conta-

to, Sammy tinha nove anos. Seus pais come��avam a se preocupar

um tanto exageradamente com a possibilidade de o menino cor-

responder ou n��o a seu potencial acad��mico...

Qualquer coisa, at�� mesmo um conceito espiritual, deve

ser posto de lado quando esconder o amor.

Embora a gente aprenda desde o in��cio a triste li����o de que so-

mos partes espalhadas e n��o um todo unido, resta sempre um

lugar que permanece intocado em nosso cora����o ��� algo seme-

lhante �� fase do sono em que estamos sonhando. Assim que

adormecemos, nossa mente se divide em muitos personagens,

cada qual com seus pr��prios planos. A parte que n��o �� afetada

O desprendimento do ego 125

pelos sonhos nos mant��m respirando, nos impede de cair da ca-

ma, puxa as cobertas quando sentimos frio ��� e assim por diante.

De manh��, quando acordamos e nos percebemos unos, a mente

liberta sua preocupa����o com os personagens conflitantes dos

sonhos e sente sua plenitude.

Apesar de cada sonho ter suas pr��prias leis, no momento em

que acordamos n��s acreditamos na realidade do sonho. Nas fan-

tasias que temos durante o dia ocorre algo parecido. De vez em

quando ouvimos uma pessoa dizendo a outra: "Ei! Onde voc��

est��? Voc�� escutou o que acabo de dizer?" C o m isto, na verdade,

estamos dizendo: "Onde estava a sua mente consciente quando

eu estava falando com voc�� agora mesmo?" Provavelmente esta-

va mergulhada em fantasias.

Se criamos companheiros imagin��rios e nos divertimos em so-

nhos e fantasias, tamb��m podemos criar uma identidade imagi-

n��ria e acreditar que �� isso que somos. Essa identidade ima-

gin��ria que chamamos de ego �� uma realidade t��o diferente do

nosso verdadeiro "ser" que n��o pode ser comparada com ele nem

mesmo definida claramente.

Uma crian��a pode ser surpreendida e at�� sentir-se chocada

pelo que dizem seus amigos imagin��rios ��� embora ela mesma

esteja criando e pronunciando cada palavra. Da mesma forma, os

personagens dos sonhos nos surpreendem, embora sejamos n��s

que os fazemos se comportarem como tal. Esses personagens do

ego imagin��rio t��m um forte sentimento de autodefesa. Um

sonho, por exemplo, se defender�� criando outro sonho em que

I -ramos despertando e nos levantando, quando na verdade ainda

estamos adormecidos.

O sonho pode inclusive incorporar o som de um alarme ou

qualquer perturba����o externa. Quando nosso filho John tinha

1 2 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

quatro anos, foi atirado fora da cama por um terremoto de 5,7

pontos, n��s o colocamos de volta sem que ele acordasse. As

crian��as que molham a cama muitas vezes alegam que n��o s��o

culpadas (�� claro que n��o s��o) porque sonharam que haviam

sa��do da cama e foram ao banheiro. Todos os sonhos s��o prepa-

rados pela mente para parecerem reais e usam uma esp��cie de

prestidigita����o mental para sustentar a ilus��o.

N o s s o ego tamb��m se defende. Ele cria uma s��rie de "resis-

t��ncias" a qualquer experi��ncia de unidade, amor ou comunh��o

(a ess��ncia de nosso "ser" real, ou segunda mente). Cada vez que

conhecemos a plenitude, a primeira mente, ou ego, perde a

for��a. Mas como foi programado para defender o seu senso de

realidade, o ego sempre contra-ataca.

Observe que sempre que voc�� e seu parceiro t��m um dia de

uni��o e paz, o dia seguinte �� desastroso. S��o os egos tentando

retomar o terreno que perderam. Se voc�� e seu parceiro perce-

berem a tentativa, ficar��o imunes. Afinal, o ego n��o �� uma

for��a exterior. Voc�� o cria e o mant��m. Se n��o quiser, n��o pre-

cisa t��-lo.

Sua experi��ncia de comunh��o com outra pessoa �� a

��nica inimiga do seu ego.

O ego, ou "identidade aut��noma", s�� pode ser sustentado na

mente por meio da compara����o constante. �� por isso que a sorte

do outro nos afeta. N �� s nos sentimos literalmente atacados

quando, por exemplo, algu��m que conhecemos ganha na loteria

ou recebe um grande elogio. Da mesma forma, nos sentimos ani-

mados com qualquer sinal de fraqueza e perda dos que nos cir-

cundam. De que outra maneira poderia reagir o nosso ego? Na

O desprendimento do ego 127

experi��ncia do amor e da unidade, n��o temos nenhuma necessi-

dade de nos comparar com outras pessoas. N �� o precisamos estar

a toda hora perguntando quem somos, porque agora podemos

sentir quem somos.

A mente coleta muito lixo mental durante nossos anos de for-

ma����o, mas seu n��cleo continua puro. Embora corramos o risco

de us��-la de maneira conflitante, nenhuma realidade tem mais

unidade b��sica do que a mente. Buscar nossa natureza essencial

�� uma tarefa que pode ser realizada com simplicidade e tranq��i-

lidade se damos alguns passos a cada dia. A hist��ria seguinte ilus-

tra um desses passos.

Q U E S T �� O D E F �� O U R E A L I D A D E ?

D o s seis anos at�� a adolesc��ncia, eu adorava visitar minha av��,

a quem chamava de Meemo. Quando pequeno, jog��vamos pa-

ci��ncia e convers��vamos sobre Deus e, quando eu baixava a

guarda, ela ainda me dava algumas aulas de costura e tric��.

C o m o passar dos anos, eu via Meemo atravessar crises que

teriam sido devastadoras para a maioria das pessoas. Quando seu

marido morreu num acidente de avi��o, quando seus filhos, um

por um, beberam at�� morrer, ou quando ela ficava doente, sem-

pre tratava de tudo da mesma maneira. J�� aconteceu de encon-

tr��-la arrasada e, quando eu voltava, uma semana depois, perce-

bia que ela estava muit��ssimo melhor. Eu sempre dizia:

��� Meemo, voc�� est�� indo muito bem!

E ela sempre respondia:

��� Entreguei a Deus...

Minha av�� nunca explicou o que ela queria dizer com isso,

nem me aconselhou a usar essa abordagem em rela����o a qual-

quer problema que tivesse, mas eu a vi fazer isso tantas vezes e

128 N��o leve a vida t��o a s��rio

durante tantos anos que comecei a perceber como aquele m��to-

do era simples e forte.

Talvez essa particular capacidade mental n��o seja mais ampla-

mente usada porque muitas pessoas acham que �� uma quest��o de

f�� religiosa. C o m o n��o t��m f�� ou talvez nem queiram essa f��, acre-

ditam que "entregar a Deus" �� algo que n��o est�� �� sua disposi����o.

A certeza de que existe algo ��� uma for��a, um poder, uma rea-

lidade, uma intelig��ncia, uma presen��a ��� que entende as nossas

quest��es, o nosso turbilh��o interior, e sabe como nos conduzir

para fora dele, faz com que o ato de relaxar e esvaziar a preocu-

pa����o de nossas mentes seja bem mais simples do que enfrentar

todo o problema sozinhos. N �� o �� uma quest��o de f��, e sim uma

realidade.

A hist��ria seguinte �� sobre um homem que n��o tinha nenhuma

f�� religiosa, mas usou sua pr��pria consci��ncia para salvar sua vida.

E X E R C �� C I O D E V I D A

Um dia um indiv��duo me ligou e disse que seu amigo Lloyd ia

tirar a pr��pria vida. Ele explicou que n��o se tratava de um impul-

so ��� Lloyd havia levado muitas semanas para chegar a essa de-

cis��o. O amigo conseguira obter uma concess��o: eu poderia ir ��

casa de Lloyd para uma conversa.

Embora fosse meio-dia, entrei numa casa t��o escura que n��o

conseguia ver onde pisava. As cortinas estavam cerradas e s��

uma luz bem fraquinha estava acesa. Lloyd aparentava uns qua-

renta anos ��� e n��o levantou quando entrei. Estava sentado num

sof�� na sala.

Lloyd me agradeceu por ter vindo e logo come��ou a explicar

por que decidira cometer suic��dio. Contou como havia perdido

o emprego e h�� mais ou menos um ano sua esposa o deixara.

O desprendimento do ego 1 2 9

levando a filha de dez anos. Havia envenenado tanto a menina

contra ele que ela j�� n��o queria falar com o pai.

Os suicidas s��o muito retra��dos; descobrir a maneira de ajud��-

los �� um jogo de adivinha����o em que as probabilidades de dar

certo ou errado s��o meio a meio. Tive sorte porque Lloyd falava

espontaneamente. Enquanto Lloyd explicava por que iria se ma-

tar: sua fam��lia era tudo o que importava, e agora estava destru��-

da, notei que ele sempre voltava ��s mesmas hist��rias e lem-

bran��as dolorosas.

Uma avalia����o recorrente que tinha de si mesmo era que

nunca tinha sido uma pessoa "muito gost��vel". Enquanto escuta-

va, eu ia anotando uma lista desses pensamentos. Por fim, ele fez

uma pausa e eu disse:

��� N �� o tentarei convenc��-lo a n��o fazer isso, mas n��o h�� ne-

nhuma necessidade de sofrer tanto. Voc�� n��o gostaria de se sen-

tir mais confort��vel e em paz agora mesmo?

Ele disse que sim. Fui at�� a cozinha e voltei com um saco pl��s-

tico de lixo. Rasguei a lista que havia feito e coloquei os peda��os

no saco.

��� Lloyd, eu quero que voc�� pense que tudo o que est�� neste

saco �� lixo. Para se livrar da dor, voc�� s�� tem de seguir uma regra.

Voc�� pode pensar sobre qualquer assunto que estiver no saco de

lixo, mas, para fazer isto, ter�� de pegar a tira com esse assunto e

segur��-la em sua m��o enquanto estiver pensando. Quando achar

que pensou o suficiente sobre o que estava escrito naquela tira,

coloque-a de novo no saco.

A hist��ria teve um final feliz. O ato de apanhar consciente-

mente um pensamento e recoloc��-lo no saco permitiu a Lloyd

sentir momentos de reflex��o. Ele percebeu que os sentimentos

de desola����o desapareciam e se deu conta de que ele era o ��nico

1 3 0 N��o leve a vida t��o a s��rio

respons��vel por suas dores. Foi o empenho em fazer consciente-

mente o exerc��cio que o salvou.

N��o se preocupe com a maneira certa de procurar orien-

ta����o ou pedir ajuda. Quando um pedido de paz vem do

fundo do cora����o, a paz sempre ser�� providenciada.

Para se livrar do impulso suicida, Lloyd tinha de estar cons-

ciente de seus sentimentos autodestrutivos. C o m o falava aberta-

mente de sua inten����o suicida e aceitou que algu��m o ajudasse,

Lloyd tinha perfeita consci��ncia de seus sentimentos. Ele con-

seguiu identificar os pensamentos por tr��s de suas emo����es e,

com isso, conquistou a op����o de liberar ao mesmo tempo pensa-

mento e sentimento. Lloyd aprendeu a "mudar de canal," passan-

do da camada superficial dos pensamentos para a camada mais

profunda e serena, da primeira mente para a segunda mente.

Nessa viagem em dire����o �� integridade, o perigo �� subesti-

marmos a capacidade de destrui����o de nossa mente. Muitas coi-

sas que acreditamos ser ben��ficas ou n��o fazerem nenhum mal

real mais tarde se mostram p��ssimas decis��es, como os julga-

mentos sobre nossos parceiros ou filhos. Da mesma forma,

jamais devemos combater o nosso ego. Fazer isso �� provocar

ainda mais confus��o e caos em nossas mentes. Confrontar nosso

ego s�� o torna mais real, quando, na verdade, ele s�� existe por-

que permitimos. Repito e torno e repetir: devemos esclarecer o

que queremos at�� eliminarmos totalmente os conflitos.

F i c a n d o l i v r e d o s p e n s a m e n t o s d i s p e r s o s

Despertar n��o �� morrer, muito menos atingir um estado espi-

ritual exaltado. Trata-se de um processo gradual, no qual aos

O desprendimento do ego 1 3 1

poucos passamos a pensar e agir por meio da parte da mente

tranq��ila, suave e profundamente conectada a tudo e a todos.

Nossos pensamentos se tornam mais naturais, a percep����o mais

reconfortante, as a����es menos impactantes ��� enfim, nos senti-

mos e nos tornamos cada vez mais reais.

Conforme este processo continua, at�� mesmo o quadro de

fragmenta����o que nos circunda come��a a refletir a unidade.

Agora, ele cont��m prazer, n��o mais um castigo. Voc�� estar�� cada

vez mais consciente, saber�� se os seus pensamentos est��o dis-

persos ou inteiros, ou se est��o na primeira ou na segunda mente.

Este �� um objetivo bastante modesto, que permite claras

op����es: conhecer a inoc��ncia ou a culpa, a felicidade ou o medo,

a unidade ou a solid��o, a flexibilidade ou a rigidez, a paz ou o

caos do ego? Se a resposta for a integridade, restar�� apenas uma

quest��o: "Estarei preparado para escolher a integridade neste

instante ��� nesta situa����o, durante esta atividade, diante deste

problema, tarefa, trag��dia ou distra����o menor?"

J O G O S M E N T A I S

A mais poderosa de todas as for��as do ser humano ��� a mente

de uma crian��a de dois anos ��� prova o que pode realizar um

enfoque ��nico, exercido no presente. As crian��as de dois anos

vencem as batalhas de vontade com os pais porque est��o con-

centradas, enquanto os pais n��o se prendem a um determinado

objetivo por mais de alguns momentos.

Muitos adultos se surpreendem que as crian��as pequenas

sejam persistentes e consigam o que querem. A diferen��a b��sica

�� que os adultos est��o sempre em conflito, as crian��as pequenas

n��o. At�� mesmo id��ias que podem unir a mente das pessoas em

torno de alguma quest��o da vizinhan��a, da escola ou mesmo

1 3 2 N��o leve a vida t��o a s��rio

id��ias que podem levar uma na����o �� guerra nunca duram muito.

Assim que aparece um aliado melhor, uma quest��o mais

"quente" ou um inimigo mais formid��vel, os sentimentos de

uni��o se evaporam rapidamente. Somente uma id��ia espiritual

une a mente de modo permanente, porque s�� ela est�� baseada

numa verdade duradoura.

O D E S A F I O O U O P R �� M I O ?

N o s s o filho Jordan resolveu jogar t��nis quando estava com

doze anos. Teve bons professores, se esfor��ava duramente e pro-

grediu muito depressa. Um dia Mark, o professor, teve de can-

celar uma aula. Consegui um profissional chamado Benny para

substitu��-lo. Benny queria que Jordan desse trinta saques con-

secutivos sem que nenhum batesse na rede. A meta era dif��cil

para um menino que estava jogando havia apenas dois meses.

Enquanto fazia a primeira s��rie de trinta saques, Benny

comentava e mostrava os erros a cada vez que a bola batia na re-

de. Jordan n��o conseguia dar trinta saques sem que cinco bates-

sem na rede. Por fim, Benny parou o treino, puxou uma nota de

dinheiro, colocou-a na linha de saque com uma caixa de bolas

em cima, e disse:

��� Se voc�� acertar as pr��ximas trinta bolas entre a linha de

saque e a linha de fundo ��� sem deixar uma ��nica bater na rede,

a nota que est�� debaixo da lata �� sua.

Jordan acertou os trinta saques sem um ��nico erro. Benny

apanhou a nota e foi at�� Jordan:

��� C o m o voc�� pode ver, est�� �� uma nota de um d��lar. �� sua,

mas n��o pense que voc�� acertou s�� porque pensou que ia ganhar

uma boa grana. Voc�� acertou porque tinha um objetivo em

mente.

O desprendimento do ego 133

Nossa tend��ncia �� pensar que o cerne de um problema �� uma

situa����o espec��fica ou nossa rela����o com uma pessoa, mas a ver-

dadeira dificuldade s��o as nossas convic����es. N �� o importa a forma

que venha a assumir, esta certeza bloqueia a nossa liberdade.

Liberdade para o corpo

Vivemos em batalha constante com nosso cabelo, nossos

dentes, pele, unhas, c��lulas de gordura, tamanho do nariz, altura,

forma e idade. Quanto mais nos aprofundamos no corpo, mais

reclama����es surgem: seios horr��veis, intestinos que se compor-

tam mal, costas doloridas, joelhos trai��oeiros e juntas mal-ajam-

bradas. Sem contar as lutas de vida e morte com nossos ��rg��os

vitais, sistemas imunol��gicos e qu��mica do sangue. Eu poderia ir

em frente, mas �� uma hist��ria que come��a a ficar assustadora.

As pessoas t��m medo e desconfiam de seu corpo, sentem-se

tra��das por ele e ��s vezes at�� o odeiam. Abrir m��o desses pensa-

mentos perturbadores �� o ��nico caminho para uma mente pac��-

fica. Muitas pessoas s�� ficam em paz com seus corpos no mo-

mento em que est��o morrendo ��� mas por que esperar at�� l��?

L i b e r t a �� �� o 2 0

Tempo sugerido: 1 dia

A. Tire as suas roupas e fique de p�� na frente de um espelho,

se poss��vel um espelho de corpo inteiro.

Observe como �� dif��cil fazer isto. Quais s��o as suas emo����es?

Voc�� tem medo do que v��? Culpa? Vergonha? A sua mente est��

agitada, tentando pensar por que esta sugest��o �� equivocada,

ruim ou perigosa? Uma crian��a pequena seguiria esta sugest��o

sem hesitar.

1 3 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

B. Come��ando pelo alto de sua cabe��a, passe para a testa, as

sobrancelhas, olhos ��� e assim por diante at�� os dedos dos p��s.

Olhe bem para o seu cabelo (ou sua careca) at�� sua mente se acal-

mar. Se ajudar, diga algo como: "Isto �� s�� cabelo. �� o meu cabelo

de hoje. N �� o tenho o mesmo cabelo de dez anos atr��s. As pessoas

em geral t��m cabelo, por acaso este �� o meu." Enquanto isso,

preste aten����o ��s ansiedades, associa����es ou quaisquer outras

id��ias e convic����es negativas que voc�� tenha sobre o seu cabelo.

Fale em voz alta, se isto ajudar a identificar os pensamentos.

C. Diga ent��o para si mesmo: "Estes s��o os meus pensamen-

tos. Ser�� que desejo andar por a�� com todos esses pensamentos

sobre o meu cabelo."

D. Repita B e C com as outras partes de seu corpo.

E. Agora que os pensamentos fragmentadores sobre o seu

corpo foram desvendados, comece novamente do alto da cabe��a

e v�� at�� os p��s e, como antes, resgate pensamentos de gratid��o e

aprecia����o para cada parte que olha. "Obrigado, cabelo, por me

aquecer, por ag��entar pacientemente todos os produtos qu��mi-

cos que sem pensar despejo em voc��...", "Obrigado, testa, por

proteger o meu c��rebro, por mostrar surpresa ou preocupa����o

quando necess��rio...", "Obrigado, sobrancelhas, por evitar que a

��gua escorra nos meus olhos, ou por me dar um olhar s��rio...".

Voc�� quer ver sinceramente o quanto seu corpo sofreu por voc��:

como ele tem sido um bom amigo, o quanto ele n��o tem culpa

dos genes que herdou, dos acidentes que ag��entou, assim como

de todas as outras for��as externas, da gravidade aos raios do sol,

que suportou. Voc�� tem todos os motivos para sentir afeto pelo

seu corpo e trat��-lo com delicadeza. Por que, ent��o, dizer que n��o

�� "espiritual" pensar no corpo? Ter uma rela����o saud��vel com seu

corpo n��o prejudicar�� em nada a sua espiritualidade.

O d e s p r e n d i m e n t o d o e g o 135

F. Decida que daqui para a frente voc�� tratar�� muito bem o

seu corpo e, acima de tudo, pensar�� nele com alegria.

E l i m i n a n d o o s p e n s a m e n t o s D

No contexto deste cap��tulo, mostramos como eliminar os

pensamentos D e permitir que nossas mentes se tornem ��nte-

gras. J�� aprendemos a trocar da primeira para a segunda mente,

eliminando a resist��ncia �� unifica����o da mente. C o m o sabemos

que a origem de nossa resist��ncia s��o os pensamentos D, os

chamados pensamentos desencadeadores, agora �� partir para a

etapa final de liberta����o.

Todos os pensamentos D podem ser comparados a plantas

com profundas ra��zes e brotos verdes promissores. Imagine que

as ra��zes se estendem pelo passado e os brotos verdes remetem aos

benef��cios que imaginamos receber, se acreditarmos nisso, ��

claro. ��s vezes �� particularmente desagrad��vel reconhecer ou

admitir esses pensamentos pelo que eles revelam sobre n��s.

Digamos que voc�� �� uma dona-de-casa e est�� ouvindo seu mari-

do falar sobre como seria bom estar em seu pr��prio barco. Subi-

tamente, voc�� �� inundada com pensamentos irritados sobre co-

mo seu marido �� irrespons��vel. C o m o ele poderia estar pensan-

do em gastar tanto dinheiro, quando voc��s dois acabaram de dis-

cutir a d��vida do cart��o de cr��dito? Voc�� tem algumas op����es:

��� Pode gritar com ele e logo se meter numa longa discuss��o.

��� Pode pedir explica����es sobre como poderia estar pensando

em comprar um barco num momento como esse, o que per-

mitiria que ele dissesse que n��o estava pensando em com-

prar nenhum barco.

��� Pode repetir um mantra de prote����o: "Deus me proteger�� de

meu marido. Deus me proteger�� de meu marido..." ��� ou

1 3 6 N��o leve a vida t��o a s��rio

"No fundo, o meu marido �� uma boa pessoa. No fundo, meu

marido �� uma boa pessoa..."

��� Ou... voc�� pode examinar minuciosamente o pensamento

em si.

Comece perguntando a si mesma: "De onde tirei a id��ia de

que meu marido �� irrespons��vel?" Pense no que ele j�� fez no pas-

sado, no que a levou a acreditar que ele compraria um barco sem

sua concord��ncia. Voc�� na verdade n��o acredita realmente que

ele fa��a algo assim. O que pode ter acontecido �� que voc�� n��o

levou em considera����o a tend��ncia a devaneios de seu marido.

Ele est�� sempre construindo castelos no ar e esperando que a

varinha m��gica os transforme em realidade. �� dif��cil admitir

mas, na verdade, os devaneios s��o parte do que adora nele.

O que voc�� n��o suporta �� a distra����o que esses sonhos provo-

cam. Muitas vezes essa distra����o impede que ele escute o que

voc�� diz ou perceba as suas necessidades. Alas como voc�� mesma

j�� se flagrou fazendo a mesma coisa, talvez esteja vendo em seu

marido uma vers��o da sua pr��pria distra����o.

Ao ir mais fundo na quest��o, voc�� lembra de uma hist��ria que

escutou na inf��ncia, de que a fam��lia perdeu tudo com a fal��ncia

da empresa de seu pai. A id��ia de que voc�� poderia estar com

raiva por ter perdido um estilo de vida que jamais experimentou

parece muito improv��vel, mas algo faz voc�� reagir exagerada-

mente a quest��es de dinheiro.

Pergunte a si mesma que influ��ncia a desconfian��a em seu mari-

do tem fisicamente sobre voc��. Voc�� observa que se sente mais

ansiosa, que sente uma certa dorzinha de barriga e que seus ombros

est��o bastante tensos? V�� al��m e investigue como isso influenciou

seu casamento e o relacionamento com seus filhos. Volte agora sua

aten����o para os brotos verdes promissores e questione que recom-

O desprendimento do ego 137

pensas, benef��cios e resultados obt��m continuando a desconfiar de

seu marido. De cara voc�� percebe que suas demonstra����es de

desconfian��a deixaram seu marido t��o enfurecido que ele chegou a

tomar decis��es erradas, algumas relativas a finan��as.

Examinando mais detalhadamente suas emo����es, voc�� obser-

va que uma parte de voc�� na verdade gosta quando ele faz algo

irrespons��vel. Ser�� que voc�� se sente superior porque ele agora

lhe "deve uma", ou porque isto lhe proporcione carta-branca

para sair do casamento?

No final desse processo (que poder�� levar horas ou at�� sema-

nas), talvez voc�� chegue �� conclus��o de que sua desconfian��a

indica um profundo empenho em perdoar seu pai e tamb��m um

boicote a uma pessoa que significa tudo para voc��. Agora que o

pensamento veio �� tona, resta-lhe assumir uma posi����o firme e

consistente em rela����o ao seu amor e aprecia����o por seu marido.

Veja como funciona:

��� O pensamento D vir�� �� tona repetidas vezes, porque �� um

alicerce do seu ego particular. Contudo, se voc�� realmente fez

o seu trabalho de conscientiza����o, ele n��o mais assustar��,

confundir�� ou perturbar�� voc��. Ao contr��rio, voc�� achar�� o

pensamento D bastante engra��ado.

N��o existem os egos perfeitos. Nem h�� uma raz��o para

isso. Por que voc�� desejaria aperfei��oar um compa-

nheiro imagin��rio? Gostaria de livrar-se dele? Certamen-

te n��o. Da mesma forma, n��o h�� necessidade de fazer

um projeto de seu ego e tentar aperfei��oar uma identi-

dade imagin��ria. Bastar�� enxerg��-lo claramente, para

ver que voc�� n��o o quer, n��o precisa dele, mas tamb��m

n��o precisa tem��-lo.

138 N��o leve a vida t��o a s��rio

��� Sempre que o pensamento D vier �� tona, examine-o at�� iden-

tific��-lo. Depois se pergunte: "Quero ferir (seja l�� quem esti-

ver em seu pensamento) agindo segundo este pensamento?"

Ao fazer essa pergunta, voc�� estar�� se ligando aos seus ver-

dadeiros sentimentos, sua verdadeira mente. Sentir�� compaix��o

pela pessoa e saber�� que n��o deseja nenhum mal. Ou seja, o pen-

samento foi descartado.

��� Se em algumas ocasi��es voc�� sente tanta raiva da pessoa que

a ��nica resposta sincera �� que realmente quer feri-la, ent��o

pergunte a si mesmo se esse pensamento D �� a parte que

voc�� deseja ampliar, alimentar, desenvolver. N �� o hesite: repi-

ta mentalmente que n��o deseja que essa parte se desenvolva

e que n��o agir�� segundo o que ela diz.

C o m o todo mundo sabe, a teoria, na pr��tica, �� bem outra.

Encarar um pensamento D sem sentir algum medo ou confus��o

�� tarefa para poucos. Essa confus��o pode durar muitas semanas

ou meses, dependendo do quanto o pensamento estiver enraiza-

do. No entanto, a cada vez que voc�� se recusar a obedecer a um

pensamento D, reduzir�� o seu medo. Este processo gradual �� a

maneira mais comum de se livrar deles.

Contudo, se voc�� identificar o mal que o pensamento D cau-

sou, mas decidir conscientemente encen��-lo repetidas vezes, ele

ganhar�� imenso poder. N �� o caia na tenta����o de prejudicar os

outros ou voc�� mesmo "s�� um pouquinho". O pre��o a ser pago

�� um imenso retrocesso. A esta altura, depois de ter se dedicado

a v��rias liberta����es, voc�� j�� tem uma boa id��ia dos seus pensa-

mentos D. Tamb��m j�� deve ter percebido que, no fundo, eles

est��o relacionados ao medo e �� dificuldade de perdoar. A medi-

ta����o guiada �� mais uma maneira de liberar esses medos, m��goas

e amarguras que se acumulam em nossas mentes.

O desprendimento do ego 1 3 9

L i b e r t a �� �� o 2 1

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Escolha uma pessoa sobre a qual voc�� freq��entemente pensa

com sofrimento ou raiva. Imagine essa pessoa de p�� na sua

frente. Fa��a-a parecer o mais "real" que puder, imaginando a

maneira como ela habitualmente se veste, caminha, seus

gestos, etc. Enquanto examina essa pessoa, lembre-se das

coisas negativas que ela fez e de seus pontos fracos e caracte-

r��sticas destrutivas. Certifique-se de incluir qualquer peque-

na trai����o ou qualquer outro aspecto negativo que ela tenha

feito diretamente a voc��.

��� Em vez de brigar, julgar ou rebaixar seus pensamentos nega-

tivos, primeiro d��-lhes toda a r��dea para conseguir enxerg��-

los claramente. Pergunte ao seu ego o que ele gostaria de

fazer ou o que aconteceu a esta pessoa. Procure quais s��o

suas fantasias de "justi��a" ou compensa����o. Diga a essa pes-

soa: "Voc�� merece..." ou "Se estivesse nas minhas m��os,

voc��..." Pense em todos os detalhes que puder sobre todos

os castigos que puder imaginar. Se conseguir expandir a sua

fantasia de vingan��a at�� se tornarem divertidas, melhor. Se

n��o for poss��vel, continue elaborando os detalhes at�� ter a

sensa����o de que explorou por inteiro tudo o que sente.

��� Continue examinando esta pessoa at�� entrar num estado de calma.

Imagine uma pessoa que represente o amor, a paz e a coloque de

p�� diante desta pessoa. Inunde-a com uma luz brilhante.

��� Termine o exerc��cio estabelecendo um objetivo ��nico: pensar

sobre esta pessoa em paz. Isto n��o significa gostar ou compreender

a pessoa, nem fazer com que ela goste de voc��. �� apenas per-

manecer em paz sempre que esta pessoa vier a sua mente.

1 4 0 N��o leve a vida t��o a s��rio

L i b e r t a �� �� o 2 2

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Todos n��s exercitamos e alimentamos a nossa infelicidade por

meio de incont��veis pensamentos ao longo do dia. Basta ter cons-

ci��ncia de como e quando fazemos isto para que a porta da liber-

dade se abra. O texto a seguir ajuda a fixar as id��ias principais:

Eu, somente eu, escolherei o que corr��i minha atitude e

complica a minha vida. Vivo com as decis��es que tomo

a respeito de tudo e de todos �� minha volta. Eles signifi-

cam muito para mim. Um dia nublado n��o �� mais do

que um dia nublado at�� que eu resolva o que ele

esconde e decida que humor terei. Um pouco de di-

nheiro a mais �� apenas um pouco de dinheiro a mais at��

eu decidir que devo mostrar sinais de t��-lo. O adoles-

cente que tenho dentro de mim �� apenas uma crian��a

at�� que eu o interprete como "manipulador". Agora meu

lar mental est�� decorado com os mesmos tons infelizes.

Anote qualquer conclus��o pessoal que passar pela sua cabe��a.

Agarre-se a uma ��nica id��ia:

Eu vejo o que decido e reajo como prefiro.





Nove


O c a m i n h o do

c o n h e c i m e n t o e s p i r i t u a l

Todos os dias aceitamos as sensa����es e os pensamentos do

ego como se fossem nossos ��nicos pensamentos e sensa-

����es. Embora nosso ego seja a representa����o das li����es que acu-

mulamos durante os anos de forma����o, reagimos a elas com a

for��a de nossa ess��ncia e individualidade ��� da maneira como

nos "sentimos" em rela����o ��s coisas. Se usamos de sinceridade,

admitiremos que esta parte de n��s �� nossa professora e guia.

N �� o se trata de um caminho espiritual, mas sim de uma trilha

exclusiva para o ego. Evidentemente, n��o somos exatamente o

que nosso ego representa ��� nossos dem��nios interiores, o "ser"

mortal, a mente sonhadora e a mente ocupada ���, mas a cada dia

fica mais claro que vivemos por e para nossa identidade.

As pessoas, ��s vezes, optam por um caminho espiritual e con-

seguem isolar os sentimentos que chamam de "ego". Uma situa-

����o t��pica �� a de quando somos promovidos no trabalho. N o s

sentimos euf��ricos por um ou dois dias e nem por um instante

nos preocupamos se a euforia �� ou n��o uma rea����o do ego.

Quando, por��m, sentimos inveja ou ci��me de algu��m que foi

promovido e entramos em depress��o por um ou dois dias, rapi-

damente dizemos que "estas s��o emo����es do meu ego". Quando

as pessoas alegam que "isso �� coisa do ego", "isso �� coisa do

1 4 2 N �� o leve a vida t �� o a s �� r i o

dem��nio" ou "isso �� conversa de b��bado", na verdade, o que elas

est��o dizendo realmente ��: isso n��o sou eu.

N o s s a tend��ncia �� ficar orgulhosos quando temos padr��es que

nos diferenciam dos outros: "Sou uma pessoal matinal", "Sou

osso duro de roer", "Acredito em ouvir a minha intui����o", " N �� o

ag��ento idiotas", "Sou muito espont��neo", "Pago o pre��o, mas

fa��o quest��o de um bom servi��o". Convic����es deste tipo s��o t��o

poderosas que colorem o mundo em que vivemos. Literalmente,

n��s vemos aquilo em que acreditamos.

N �� o h�� nada de errado em usarmos a palavra ego ou expres-

s��es como impulsos sombrios, fantasmas interiores. O risco �� jogar a

culpa nos outros pelo que sentimos, ou atribuir nossos senti-

mentos ao ego ou ao dem��nio. �� bem melhor pensar "tenho

impulsos sexuais destrutivos" ou "meus receios em rela����o a di-

nheiro n��o ajudam a ningu��m" do que pedir a Deus para acabar

com esses impulsos ou medos, como se n��o houv��ssemos n��s

mesmos escolhido esses impulsos e medos.

Quando convocamos as nossas convic����es espirituais,

ou a nossa for��a de vontade, para combater nossos

impulsos mais sombrios, n��s lhes damos vida nova.

Atribuir as nossas tend��ncias destrutivas a algo que n��o somos

nos leva a interromper as provid��ncias necess��rias para torn��-las

inofensivas. Lembre-se de que qualquer pensamento destrutivo

levado �� plena consci��ncia n��o tem mais o poder de nos assustar

ou controlar. Repetir frases negativas como "Detesto as mulhe-

res", "Desprezo os homens", "Me sinto superior ao meu melhor

amigo", "N��o ag��ento essas pestes nos veloc��pedes", em vez

de "Meu ego est�� cheio de ��dio (desprezo, superioridade, res-

O caminho do conhecimento espiritual 1 4 3

sentimento e afins)", n��o ajuda no trabalho de conscientiza����o.

Se f��ssemos espiritualmente mais avan��ados, apenas dar��amos

de ombros ��s situa����es perturbadoras que surgem diariamente:

um motorista buzina, um amigo faz uma cr��tica, descobrimos

cupim no por��o, algu��m se esquece de nos agradecer, etc. Mas ��

preciso admitir que nossa mente oscila entre tirar proveito da si-

tua����o e, quem sabe, ter algumas fantasias de vingan��a e admitir

que estamos envergonhados, ressentidos, ansiosos e ofendidos.

Descobrir o que provoca esses sentimentos ��� e depois pro-

curar eliminar os sentimentos com id��ias puras em cima de

id��ias impuras ��� �� a ��nica sa��da quando se tem certeza de que

n��o dever��amos nos sentir assim.

Nosso desejo de desviar o olhar de nossos impulsos

mesquinhos n��o �� um desejo de maior unifica����o,

igualdade ou amor. A realidade que nos perturba nos

deixa apreensivos. O fato de que isto acontece a muitos

nos leva a negar que isto aconte��a conosco. Em suma,

n��o desejamos ser comuns, estamos sempre entre os

poucos escolhidos que n��o se sentem perturbados. On-

de estar�� a integridade e a igualdade nisso?

Complicamos ainda mais a nossa tarefa acreditando que, se

consegu��ssemos chegar �� interpreta����o correta, n��o nos sentir��a-

mos assim. Quando um gar��om �� grosseiro, por exemplo, nos irri-

tamos. Mas, se descobrimos que sua mulher e seus oito filhos

morreram num inc��ndio, o fato serve como atenuante de seu

comportamento. O que ningu��m considera �� que talvez o gar��om

seja grosseiro porque �� uma pessoa rude. O fato �� que as formigas

picam, os touros s��o bravos ��� e n��s perdoamos umas e outros.

1 4 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

Se consegu��ssemos perceber que todos n��s cometemos

praticamente os mesmos erros, talvez ajud��ssemos uns





aos outros. Mas duvido...


As abordagens mencionadas n��o funcionariam se algu��m

percebesse o valor do perd��o e realmente se dispusesse a ser

generoso. Mas l�� no fundo as pessoas gostam de deixar as outras

pessoas com sentimento de culpa e, para isso, reviram a mente ��

procura do pensamento m��gico que far�� com que esse impulso

se torne inconsciente. Se pergunt��ssemos a n��s mesmos: "Como

poderei reagir ao que acaba de acontecer?", nossa mente teria a

oportunidade de identificar a fonte de nossa perturba����o e

chegar �� camada mais profunda de pensamentos por interm��dio

dela. Mas se dizemos: "N��o quero esses pensamentos" ��� o que

na verdade significa "Quero ser espiritualmente especial" ���,

nossa mente se afasta de nosso ego como a m��o se afasta de uma

superf��cie quente. E jamais temos a oportunidade de chegar a

nosso ��mago.

O melhor �� enfeitar a nossa m�� vontade, sondar as profun-

dezas de nossa arbitrariedade ��� fazer isso at�� nos darmos conta

de que n��o somos melhores do que ningu��m. Seria a situa����o

ideal, sem medo de se sentir normal e igual a todo mundo. Nor-

mal, neste caso, n��o significa ser um "pecador culpado". N �� o ��

verdade que, uma vez que tenhamos admitido nossas falhas,

come��amos a mudar para melhor. N �� o funciona assim. A culpa

�� apenas mais uma forma de nos sentirmos especiais. Em vez de

pensarmos que somos melhores do que outros, pensamos que

somos piores ��� mas ainda assim diferentes.

Dizer que fomos prejudicados na inf��ncia ou que temos uma

natureza corrupta e que, por isso, jamais alcan��aremos aquele

O caminho do conhecimento espiritual 145

ponto de liberta����o, �� apenas uma maneira de atribuir carac-

ter��sticas m��gicas a palavras e negar a for��a de nossas pr��prias

escolhas.

E m n o m e d a p a z e d a p l e n i t u d e

Acredite, at�� Gayle e eu duvidamos do valor de uma via espiri-

tual da maneira como em geral �� praticada. E m nossa opini��o, se o

seu objetivo �� sentir a integra����o com Deus, ser verdadeira-

mente ��til para as pessoas a seu redor e ter uma crescente sen-

sa����o de paz e unidade, uma abordagem religiosa, metaf��sica ou

espiritual para a vida muitas vezes funciona contra esses obje-

tivos. N �� o deveria ser assim, mas em geral ��...

�� ir��nico pensar que pessoas com fortes convic����es espiri-

tuais muitas vezes t��m egos maiores, s��o mais rigorosas e n��o se

sentem t��o bem quanto as pessoas que n��o se interessam por

ensinamentos m��sticos. Aqueles que vestem o manto da integri-

dade muitas vezes n��o t��m a menor vontade de sentir a integri-

dade com qualquer pessoa. O nosso ego n��o atua independente

dos nossos desejos, porque o ego de cada um �� aquela pessoa. ��

interessante observar quantas vezes alardeamos o que deixamos

de fazer e criticamos em outros o que fazemos normalmente.

Voc�� j�� notou que, em geral, as pessoas que costumam

dizer "...finalmente aprendi a dizer n��o" jamais tiveram

grandes problemas em dizer um n��o logo de cara?

Quando pessoas de boa ��ndole se dedicam a ensinamentos

positivos, o resultado s�� pode ser ��timo. Isso acontece porque

mesmo as pessoas cheias de boas inten����es t��m egos e o objeti-

vo do ego sempre �� alguma forma de engrandecimento pessoal.

1 4 6 N��o leve a vida t��o a s��rio

Embora entrem na via espiritual pelo desejo de se tornarem

boas, �� comum que essas pessoas comecem paulatinamente a

movimentar-se na dire����o oposta. A raz��o �� que, inconsciente-

mente, elas t��m a superioridade como projeto pessoal e invaria-

velmente terminam se convencendo de que a atingiram.

Quanto mais tempo dedicam a conversar, estudar e discutir seu

caminho espiritual, mais autocentradas se tornam. Na verdade,

elas ficam at�� menos flex��veis e generosas do que eram antes de

come��ar a busca pela "verdade". Em vez de experimentar a pleni-

tude, elas aprendem como ocultar sua mente doentia, a represen-

tar o papel de espiritualizadas. Em lugar de atingir a verdadeira ilu-

mina����o, elas se tornam pessoas "espiritualmente corretas".

Os que se consideram normais e iguais, conscientes de suas

in��meras limita����es, simplesmente n��o se permitem acreditar

que um dia descobrir��o verdades espirituais que ningu��m mais

conhece. O ego prevalece em rela����o aos esfor��os espirituais

como num c��rculo vicioso: no mesmo dia em que voc�� busca um

caminho espiritual, o seu ego tamb��m se engaja, e para cada

motivo espiritual que voc�� tem, tamb��m existe um motivo do

ego. N �� o �� raz��o para ter medo, mas para estar muito alerta.

Pessoas com egos j�� pacificados n��o parecem ter qualquer

interesse em se comparar com outras pessoas. De modo geral,

t��m vidas simples, comuns, sentem-se bem em qualquer lugar e,

no cotidiano, emanam bem-estar e paz. Seu tempo normalmente

�� dedicado a coisas sem import��ncia e seus cora����es a pessoas

"sem import��ncia". N �� o t��m nenhum conceito inflex��vel ou h��-

bitos r��gidos, nem h�� nada de extraordin��rio nos assuntos de

suas conversas. �� f��cil agrad��-las e, em geral, est��o felizes por

nenhuma raz��o aparente. Na verdade, elas acham divertidos e

cativantes os egos dos outros.

O caminho do conhecimento espiritual 1 4 7

E m b u s c a d o s t a t u s q u o

At�� os anos 60 as pessoas n��o acreditavam tanto em leis

metaf��sicas ou "princ��pios universais", mas sim no fluxo natural da

vida. Se voc�� fez o que �� certo; se n��o questionou a autoridade, o

seu lugar na sociedade ou a situa����o vigente; se n��o mentiu, n��o

disse palavr��es, n��o trapaceou, nem bebeu demais; se trabalhou

muitas horas e poupou o seu dinheiro para poder transmiti-lo a

seus filhos; se foi leal a seu pa��s, �� companhia para a qual trabalha,

ao partido pol��tico, �� universidade em que estudou; se cumpriu

seus deveres conjugais... Ent��o, tudo dar�� certo e em determinado

momento voc�� caminhar�� em dire����o ao p��r-do-sol.

Esta abordagem estendia-se ��s escolhas pessoais, como a

marca do autom��vel, o estilo de roupa e at�� o gosto em quest��es

de m��sica e estrelas de cinema. O essencial era manter-se afina-

do com o status quo, que todos mais ou menos compreendiam e

com o qual mais ou menos concordavam. Culturalmente, ��ramos

bastante coerentes. Cont��vamos uns aos outros hist��rias das

recompensas recebidas pelas pessoas que "trabalharam duro" e

viviam "segundo as regras" e gost��vamos dos exemplos do que

acontecia a quem n��o vivia assim.

N o s s a sociedade acreditava que as pessoas sabiam como se

comportar de modo que a vida funcionasse muito bem. Agora,

neste in��cio do s��culo X X I , acreditamos que renegar "a maneira

como se faz as coisas" proporciona uma oportunidade melhor

para a felicidade. �� preciso sentir-se livre para experimentar

diferentes "estilos de vida" e formas "ex��ticas" de divertimento,

al��m de estar aberto para mudar de amigos e familiares assim

como se troca de trabalho, resid��ncia ou penteado.

N �� o apenas questionamos os valores como passamos a der-

rub��-los obsessivamente. J�� n��o sabemos olhar para qualquer

1 4 8 N��o leve a vida t��o a s��rio

coisa sem ansiedade, incerteza e cinismo. Todos querem saber

quais s��o as for��as e os fatos essenciais. Ansiamos por conhecer

as regras e queremos que elas nos sejam explicadas e numeradas.

Felizmente, isto jamais acontecer��. O mundo simplesmente n��o

�� regido por uma filosofia, doutrina ou conjunto de regras.

Admitir essa verdade tira um peso enorme e totalmente

desnecess��rio de nossos ombros.

O essencial para a liberdade �� admitir que mundo n��o fun-

ciona, em vez de continuar em busca da f��rmula m��gica.

H�� quem tenha descoberto as leis da felicidade e do sucesso

��� mas por que, afinal, desejar��amos essas leis? A ��nica regra da

vida mais ou menos estabelecida �� que, estando relaxados e

flex��veis, somos felizes ��� sendo r��gidos e controladores, somos

infelizes. Portanto, �� importante nos desapegarmos de nosso

anseio em fazer as pessoas se comportarem �� nossa imagem e

semelhan��a.

Observe que o momento em que voc�� se torna infeliz

normalmente �� o momento em que voc�� tenta controlar

a outra pessoa.

Em geral as pessoas t��m a ilus��o de que conhecem as pe��as

que constituem o quebra-cabe��a de sua vida. Elas acreditam que

algumas est��o tranq��ilamente no lugar, mas at�� mesmo as que

pareciam estar mudam de forma e j�� n��o cabem mais. Outras

flutuam fora do alcance e, al��m disso, est��o sempre surgindo

novas pe��as. Uma das muitas raz��es pelas quais jamais alcan-

��amos o lugar onde tudo est�� exatamente como desejamos �� que

O caminho do conhecimento espiritual 1 4 9

todas as realiza����es existem por compara����o. Cada n��vel de rea-

liza����o se apaga diante do desfile ininterrupto de novas com-

para����es.

Voc�� poupa o seu dinheiro e consegue um carro melhor - mas

por quanto tempo este ser�� o "melhor" carro? Voc�� troca o seu

marido ou mulher por um(a) melhor ��� mas por quanto tempo

ser�� o(a) "melhor"? Voc�� se esfor��a loucamente no spa e entra em

melhor forma, mas n��o permanece na "melhor" forma na sua

mente nem na mente de ningu��m...

M o m e n t o s d e d e c i s �� o

Se a nossa mente n��o fosse flex��vel, estar��amos limitados aos

velhos medos e anseios. Se j�� decidimos quem merece ser amado

e quem n��o merece o nosso amor, �� porque bloqueamos a expe-

ri��ncia de uma paz abrangente. A mente �� a porta para o cora-

����o. Ela pode fazer com que a entrada seja complicada ou sim-

ples. Depende de como a usamos.

Somos livres para mudar a nossa Unha de pensamento, a nossa

orienta����o mental, a nossa percep����o da realidade ��� basta que-

rer. �� t��o simples quanto agarrar com firmeza o volante do carro

e olhar para a estrada, ou pousar a m��o no volante e olhar para a

estrada. A estrada continua sendo a mesma, mas podemos diri-

gir com esfor��o ou sem esfor��o.

Os pensamentos que criticam cada caracter��stica superficial

de nossa personalidade, ou da personalidade dos outros, se mo-

vimentam lentamente, como se estivessem pouco �� vontade. Por

outro lado, os pensamentos que assimilam cada pessoa em sua

integridade e as compreendem rapidamente s��o ��geis e leves. A

mente aberta promove a paz, seu objetivo �� pensar qualquer

assunto com desembara��o.

1 5 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

Podemos escolher o que dizemos e fazemos. Voc�� talvez tenha

chegado a um ponto em sua vida em que pode achar engra��ado

observar esses momentos de decis��o: levantar agora ou desligar o

despertador, o que vestir, o que comer no caf�� da manh��, como

reagir ao motorista que n��o viu o sinal mudar de cor... mas voc��

j�� conhece o caos do mundo e sabe que aguardar em paz e obser-

var com interesse o que vir�� a seguir �� a decis��o mais s��bia.

As escolhas s��o determinadas mais por nossos desejos pro-

fundos e menos pela decis��o consciente. Quando o cora����o tem

como prop��sito a integridade e a uni��o, as escolhas exigem

menos esfor��o, s��o mais autom��ticas. Isto se torna especial-

mente vis��vel quando come��amos a sentir uma integra����o espiri-

tual mais profunda com as pessoas que nos rodeiam. Os pais, por

exemplo, talvez se perguntem por que continuam a fazer sacrif��-

cios intermin��veis pelos filhos. Talvez at�� se censurem por se-

rem t��o condescendentes, mas continuam se sacrificando. A

simples hesita����o lan��a-os imediatamente no conflito e no sofri-

mento emocional.

Naturalmente, a psicologia despreza esse tipo de sacrif��cio ���

que �� classificado como doen��a. Diante desta perspectiva, Jesus,

Gandhi, Martin Luther King Jr., hoje, seriam tachados de psi-

c��ticos. No entanto, esses homens n��o eram ing��nuos e, com

certeza, n��o eram loucos. Eles seguiam uma via espiritual, n��o

uma trilha mundana.

Nosso progresso espiritual �� indicado por nossa von-

tade de parar de perder tempo com as futilidades de

nossa vida pessoal. Isto nos permite enxergar o rela-

cionamento que, ali��s, sempre esteve ali ��� n��s �� que

n��o percebemos.

O caminho do conhecimento espiritual 1 5 1

Quest��es como as seguintes podem ajudar a nos concentrar-

mos no item "Mudar n��o �� menos espiritual do que n��o mudar":

O que complicar�� menos a minha vida?

Qual �� a minha id��ia de tranq��ilidade?

Isto me ajudar�� a apreciar mais as pessoas a quem amo?

Sinto algum conflito em rela����o ao que fazer? Ent��o... ��

melhor esperar.

Que decis��o provocar�� menos questionamentos no futuro?

S E M P R E C O N C E I T O S

Quando o encontrei, Poppie tinha quatro anos e ainda n��o

falava. Um ano antes, ele fizera uma opera����o para soltar a l��n-

gua presa e, embora seus olhos brilhassem com intelig��ncia, ele

ainda estava na fase pr��-verbal de uma crian��a de um ano.

Tagarelava sem parar, mas numa algaravia sem sentido.

Seus pais, ambos preocupados com as carreiras profissionais,

o mantinham em quartos cheios de brinquedo, mas sem a pre-

sen��a de outros seres humanos. C o m o Poppie se aproximava da

idade de entrar na escola, de repente passaram a se preocupar

com a id��ia de que o filho n��o fosse uma crian��a normal.

O pai era um "ca��ador de petr��leo" ��� ele fazia sondagens de

po��os de petr��leo, o que ��s vezes exigia passar dias sem dormir.

Quando voltava para casa, em geral dormia dois ou tr��s dias

seguidos. Ao acordar, agredia verbalmente a mulher e logo volta-

va para os campos de petr��leo.

Eles me perguntaram se Poppie era normal e respondi de um

ponto de vista espiritual. Mostrei que o menino brincava nor-

malmente e ria com freq����ncia. Destaquei especialmente a liga-

����o dele com o cachorro. Os pais lhe deram de presente um fi-

152 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

lhote de pastor alem��o e logo descobriram que Poppie ficava

muito calmo quando o cachorro estava no quarto com ele. A

empregada s�� tinha de limpar a sujeira do cachorro.

Embora vivesse trancado com o cachorro, Poppie escutava o

pai gritando com a m��e e, mais tarde, quando conseguiu falar,

me contou que h�� muito tinha o h��bito de sair do quarto "bem

quietinho" para "ver as brigas". Ele me disse que a m��e "pro-

vavelmente merecia aqueles berros". Sabendo que as poucas

vezes em que ela se dirigia ao menino era para gritar com ele, eu

podia compreender o senso de justi��a infantil...

Poppie entrara na fam��lia de maneira fora do comum. O pai o

encontrara abandonado numa cabana, dentro de um cercado im-

provisado. Descobriu que era o filho de uma prostituta, que

todos os dias trazia comida e ��gua para o beb�� e sa��a. Con-

trataram um advogado, deram algum dinheiro para a m��e e

Poppie foi adotado legalmente. Do ponto de vista do garoto, ele

apenas mudou de uma forma de isolamento para outra.

Um dia resolvi pegar Poppie para um dia de brincadeiras. A

esta altura ele j�� estava com cinco anos e falava muito bem.

Primeiro fomos a um parque com escorregas, balan��os e outros

brinquedos. Poppie viu uma enorme caixa de areia e correu para

ela. Quando me aproximei, percebi que o que �� dist��ncia eu pen-

sara serem crian��as brincando era um grupo de jovens adultos

com a s��ndrome de Down.

Eles apresentavam o rosto caracter��stico, a fala indistinta,

alguns at�� babavam ou estavam com nariz escorrendo. Quase

todos sabem que os portadores da s��ndrome de Down n��o repre-

sentam nenhum risco para as outras pessoas. Na verdade, eles

tendem a ser menos violentos e notavelmente mais alegres do

que outros grupos. No entanto, percebi que nenhum dos pais ou

O c a m i n h o d o c o n h e c i m e n t o e s p i r i t u a l 153

bab��s deixavam outras crian��as se aproximarem da caixa de

areia, embora algumas crian��as menores mostrassem o desejo de

ir at�� eles.

Poppie brincou com esse grupo de gente barulhenta e exu-

berante at�� que eles tiveram de ir para casa. Embora tenhamos

ido a muitos outros lugares considerados at�� mais interessantes

��� fomos �� praia e a um parque marinho ���, no final do dia,

Poppie me perguntou quando poderia voltar para "brincar com

aqueles caras engra��ados".

A b r i n d o m �� o d a p e r f e i �� �� o

Atravessar um ��nico dia �� como estar numa espa��onave pas-

sando entre corpos celestes. Cada massa, pequena ou grande, tem

sua for��a de atra����o gravitacional, e os viajantes mudam de dire����o

continuamente. Observe como �� preciso muito pouco para nos

desviarmos do rumo. No entanto, h�� uma enorme diferen��a entre

desviar-se ocasionalmente do rumo interior que estabelecemos

para n��s mesmos e escolher o caminho apontado pelos outros.

Se fiz��ssemos tudo de maneira diferente, mais ou menos as

mesmas pessoas concordariam que tamb��m estar��amos errados.

Fazer o qu��? Nada? N �� o , isto tamb��m seria um erro ��� porque

seria uma rea����o, n��o um objetivo. Continuar��amos sendo v��ti-

ma das vozes dissonantes. Se agirmos sem nenhum senso de

dire����o interior, o resultado n��o ter�� nenhum valor duradouro.

N �� o poder�� ajudar uma pessoa querida nem alimentar nossa

alma. Jamais podemos "consertar" ou "fazer alguma coisa acon-

tecer". Quando este �� o nosso objetivo, estamos valorizando o

resultado errado. A perfei����o n��o est�� na maneira como as

coisas acontecem. Mas podemos atuar a partir da paz, fazendo

da paz o nosso objetivo.

154 N��o leve a vida t��o a s��rio

E se f��ssemos coerentes sobre o que somos, mas cheios de

d��vida em rela����o ao que vemos? E se olh��ssemos para tudo com

interesse de marinheiro de primeira viagem? Dir��amos para n��s

mesmos: "Hoje terei olhos flex��veis. Estou decidido a olhar para

tudo com suavidade. N �� o farei nenhum julgamento antes do

tempo. A cada momento me lembrarei do fato de que jamais vivi

este dia antes, que jamais tive esta conversa por telefone antes,

jamais estive no meio desta multid��o, jamais olhei para este c��u,

jamais tive esta sensa����o. Todas as circunst��ncias s��o um pou-

quinho diferentes hoje do que jamais foram antes. Cada dife-

ren��a ser�� um pr��mio que juntarei ��� e no final do dia serei rico

em novidades."

L i b e r t a �� �� o 2 5

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Durante todo o dia, repita:

Debaixo das minhas rea����es habituais est�� a tranq��ili-

dade do meu cora����o. Debaixo do caos do mundo est��

a plenitude da paz.





Dez


Sem levar os


p r o b l e m a s t��o a s �� r i o

Para a maioria das pessoas, a palavra unidade �� apenas

um conceito bonito, mas n��o se refere a nada real. O afeto

que sentimos uns pelos outros nos remete �� id��ia de comunh��o,

mas quem, entre aqueles que voc�� conhece, conseguiu chegar

l��? Lutamos por uma sensa����o, um ind��cio qualquer que dimi-

nua o prec��rio equil��brio dos relacionamentos. Para experimen-

tarmos uma pequena medida de amor e da emo����o de fazer

parte, de ser bem recebido e aceito, �� preciso ponderar cuida-

dosamente a pequena margem de terreno comum que temos

com cada pessoa.

Tentamos enfeitar essa realidade dizendo que a diversidade ��

o tempero da vida, mas a verdade �� que a solid��o continua sendo

a emo����o que domina o mundo. Chegamos a este mundo sozi-

nhos, deixaremos o mundo sozinhos e, enquanto estamos por

aqui, �� por nossa conta e risco.

Muitas pessoas come��aram a se sentir arrasadas e sufocadas

com os efeitos da globaliza����o, que trazem para dentro de nossa

casa, por meio da televis��o e outros meios de comunica����o de

massa, a imensid��o da infelicidade e da pobreza do mundo.

Essas sensa����es negativas agora povoam nossas noites, fins de

semanas e f��rias. Por esta raz��o, come��amos a ressaltar, e at�� a

156 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

apreciar, as nossas diferen��as ��� �� o meio que encontramos de

reafirmar nossas individualidades.

Aparentemente, podemos escolher entre ser mais ou menos

diferentes ��� o amor n��o �� uma op����o. N �� o , porque duvidamos

dele. Ao contr��rio. O amor �� vivido nos encontros ao acaso, nas

perambula����es e nas tarefas que preenchem cada um de nossos

dias. Quando amamos, despertamos para o amor. Quando esten-

demos a paz, despertamos para a Paz. Existe, na verdade, uma

crescente nostalgia no cora����o de muita gente. O caminho ��

abrir m��o de seus medos, suas esperan��as e suas vidas al��m dos

limites do ego. C o m o se faz isto? C o m os pequenos milagres da

compreens��o, do apoio, da paci��ncia e da felicidade.

Nesta viagem em busca do autoconhecimento, voc�� avaliou

muitas coisas ��� agora est�� na hora do seu cora����o e de sua

mente se tornarem um s��. N �� o duvide: a sinceridade �� a for��a

que est�� por tr��s da busca da felicidade e da paz. Convido meus

leitores a darem um salto de f��.

�� n d i c e d e L i b e r t a �� �� e s

Trinta dias de exerc��cio para voc�� aprender a n��o levar a vida t��o

a s��rio. N o s s a sugest��o �� que voc�� fa��a os exerc��cios um por um

e na ordem em que aparecem.

Liberta����o 1

1 dia

P �� g - 2 5

Liberta����o 2

1 dia

p �� g - 3 2

Liberta����o 3

1 dia

P �� g - 3 9

Liberta����o 4

1 dia

P �� g - 4 9

Liberta����o 5

1 dia

P �� g - 5 8

Liberta����o 6

2 dias

P �� g - 6 2

Liberta����o 7

1 dia

P �� g - 6 8

Liberta����o 8

2 dias

P �� g - 6 9

Liberta����o 9

Cr��dito extra, liberta����o extra

p��g. 79

158 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

L i b e r t a �� �� o 1 0

(liberta����o fundamental) 4 dias

p��g. 82

L i b e r t a �� �� o 1 1

2 dias

p��g. 91

L i b e r t a �� �� o 1 2

2 dias

p��g. 91

L i b e r t a �� �� o 1 3

2 dias

p��g. 92

L i b e r t a �� �� o 1 4

1 dia

p��g. 100

L i b e r t a �� �� o 1 5

1 dia

p��g. 101

L i b e r t a �� �� o 1 6

(liberta����o para necessidades especiais)

p��g. 104

L i b e r t a �� �� o 1 7

1 dia

p��g. 108

L i b e r t a �� �� o 1 8

2 dias

p��g. 113

L i b e r t a �� �� o 1 9

1 dia

p��g. 120

L i b e r t a �� �� o 2 0

1 dia

p��g. 133

L i b e r t a �� �� o 2 1

1 dia

p��g. 139

L i b e r t a �� �� o 2 2

1 dia

p��g. 140

L i b e r t a �� �� o 2 5

1 dia

p��g. 154

C O N H E �� A O U T R O S T �� T U L O S D A E D I T O R A S E X T A N T E

1.000 lugares para conhecer antes de morrer, de Patr��cia Schultz

A Hist��ria - A B��blia contada como uma s�� hist��ria do come��o ao

fim, de The Zondervan Corporation

A ��ltima grande li����o, de Mitch Albom

Conversando com os esp��ritos e Esp��ritos entre n��s, de James Van

Praagh

Desvendando os segredos da linguagem corporal e Por que os homens

fazem sexo e as mulheres fazem amor?, de Allan e Barbara Pease

Enquanto o amor n��o vem, de lyanla Vanzant

Fa��a o que tem de ser feito, de Bob Nelson

Fora de s��rie - Outliers, de Malcolm Gladwell

Jesus, o maior psic��logo que j�� existiu, de Mark W. Baker

Mantenha o seu c��rebro vivo, de Laurence Katz e Manning Rubin

Mil dias em Veneza, de Marlena de Blasi

Muitas vidas, muitos mestres, de Brian Weiss

N��o tenha medo de ser chefe, de Bruce Tulgan

Nunca desista de seus sonhos e Pais brilhantes, professores fasci-

nantes, de Augusto Cury

0 monge e o executivo, de James C. Hunter

0 poder do Agora, de Eckhart Tolle

O que toda mulher inteligente deve saber, de Steven C��rter e Julia

Sokol

Os segredos da mente milion��ria, de T. Harv Ecker

Por que os homens amam as mulheres poderosas?, de Sherry Argov

Salom��o, o homem mais rico que j�� existiu, de Steven K. Scott

Transformando suor em ouro, de Bernardinho

I N F O R M A �� �� E S SOBRE OS

PR��XIMOS L A N �� A M E N T O S

Para saber mais sobre os t��tulos e autores

d a E D I T O R A S E X T A N T E ,

visite o site www.sextante.com.br

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Al��m de informa����es sobre os pr��ximos lan��amentos,

voc�� ter�� acesso a conte��dos exclusivos e poder�� participar

de promo����es e sorteios.

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basta cadastrar-se diretamente no nosso site.

Para enviar seus coment��rios sobre este livro,

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Editora Sextante

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---------- Forwarded message ---------
De: Reginaldo Mendes 


Olá, pessoal:

                   Este é mais um livro de nossa campanha de doação de livros espíritas e não espíritas para atender aos deficientes visuais.

                   Agradecemos ao irmão Fernando pela  doação e  digitalização.

Pedimos não divulgar em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos

"A  MAIOR CARIDADE QUE SE PODE FAZER É A DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA. EMMANUEL"


O Grupo de Livros Mente Aberta lança hoje mais um livro digital !
Desejamos a todos uma boa leitura !

Não Leve a vida tão a sério -Hugh Prather

Sinopse:
A vida não precisa ser tão complicada quanto insistimos em torná-la. A simples decisão de não se agarrar aos problemas pode melhorar - e muito - nossas vidas. É isso o que Hugh Prather nos mostra, com humor e clareza, neste livro. Ele escreve sobre as dificuldades do dia-a-dia e nos dá ferramentas para contorná-las, mudando o que há de mais importante na vida: nossa atitude mental e a forma de reagir aos inevitáveis contratempos. Seus ensinamentos são baseados em histórias reais que nos deixam com a sensação de já ter passado por aquela situação ou testemunhado algo parecido. Você aprenderá soluções práticas para dar um basta às preocupações e ao medo, e se libertar de tudo aquilo que impede sua felicidade.

Mais uma vez pedimos não divulgar esta obra  em canais públicos ou Facebook. Esta distribuição exclusiva para canais específicos de deficientes visuais. 

https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec

Nosso grupo parceiro:

https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta



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