vida
t��o a s��rio
H U G H P R A T H E R
N��o leve
a vida
t��o a s��rio
Pequenas mudan��as
para voc�� se livrar
de grandes problemas
4
S E X T A N T E
Copyright �� 2003 por Hugh Prather
T r a d u �� �� o
Beatriz Sidou
preparo de originais
D��bora Chaves
capa
Silvana Mattievich
projeto gr��fico e diagrama����o
Mareia Raed
revis��o
Antonio dos Prazeres
S��rgio Bellinello Soares
impress��o e acabamento
Cromosete e Editora Ltda.
C I P - B R A S I L . C A T A L O G A �� �� O - N A - F O N T E
S I N D I C A T O N A C I O N A L D O S E D I T O R E S D E L I V R O S , R J .
P92511 Prather, Hugh
N��o leve a vida t��o a s��rio
Hugh Prather; {tradu����o de Beatriz Sidou}.
Rio de Janeiro: Sextante, 2003
Tradu����o de: The little book of letting go
I S B N 85-7542-047-X
I. Paz de esp��rito. 2. Paz de esp��rito - Problemas, quest��es, exerc��cios.
I. T��tulo.
02-2213. C D D 1 5 8
C D U 159.98
Todos os direitos reservados, no Brasil, por
G M T Editores Ltda.
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E-mail: atendimento@esextante.com.br
www.sextante.com.br
Para Gayle, com amor
(Este livro foi fruto de trabalho de equi-
pe. Gayle contribuiu com o t��tulo, o tema
e idealizou a maioria dos conceitos. Eu
escrevi.)
S u m �� r i o
O rio e o le��o, 9
Um Primeiros p a s s o s rumo ao desprendimento, 11
Deixando para tr��s os problemas
Sem medo de ser feliz
D o i s Livrando-se do lixo mental, 27
Atitudes provocadoras s�� atrapalham
Para cada a����o, uma rea����o
Usando a crise como motiva����o
T r �� s Abrindo m��o d a s emo����es in��teis, 51
Diga n��o ��s preocupa����es
Deixando fluir os sentimentos
Palavras n��o substituem convic����es
As emo����es n��o s��o todas iguais
Quatro Colocando a m��goa de lado, 65
N �� o queira controlar o mundo
O medo que impede a felicidade
Para compreender os pensamentos D
C i n c o
Aceitando a vida como ela ��, 87
Abrindo m��o do eu, do meu e do para mim
Sem dar import��ncia aos resultados
Seis Aprendendo a ficar livre do conflito interior, 97
Desvendando as motiva����es inconscientes
A consci��ncia �� a maior arma
Escapando dos bloqueios que atrapalham os
relacionamentos
Dizendo n��o aos "pensamentos-chiclete"
Deixando a tristeza para tr��s
Sete Abrindo m��o da "sinceridade", 115
O uso consciente da proje����o mental
A verdade sobre a "verdade"
Oito O desprendimento do ego, 121
C o m o se forma a primeira mente
Ficando livre dos pensamentos dispersos
Liberdade para o corpo
Eliminando os pensamentos D
Nove O caminho do conhecimento espiritual, 141
Em nome da paz e da plenitude
Em busca do status quo
Momentos de decis��o
Abrindo m��o da perfei����o
Dez
Sem levar os problemas t��o a s��rio, 155
��ndice de Liberta����es, 157
O rio e o le��o
Depois de uma grande enchente, o le��o viu-se cercado por
um rio e ficou sem saber como sair dali. Nadar n��o era de
sua natureza, mas s�� lhe restavam duas op����es: atravessar o rio
ou morrer. O le��o urrou, mergulhou na ��gua, quase se afogou,
mas n��o conseguiu atravessar. Exausto, deitou para descansar.
Foi quando escutou o rio dizer:
��� Jamais lute com o que n��o est�� presente.
Cautelosamente, o animal olhou em volta e perguntou:
��� O que n��o est�� aqui?
��� O seu inimigo n��o est�� aqui ��� respondeu o rio. ��� Assim
como voc�� �� um le��o, eu sou apenas um rio.
Ao ouvir isso, o le��o, muito sereno, come��ou a estudar as ca-
racter��sticas do rio. Logo identificou um certo ponto em que a
correnteza empurrava para a margem e, entrando na ��gua, con-
seguiu boiar at�� o outro lado.
Um
P r i m e i r o s p a s s o s rumo
ao d e s p r e n d i m e n t o
N a natureza humana, todos buscamos a simplicidade e a ver-
dade. Mas as mensagens que recebemos nos impelem �� guer-
ra: "Fique ressentido com o passado", "Seja ansioso em rela����o ao
futuro", "Tenha apetite pelo que voc�� n��o v��", "Sinta insatisfa����o
com o que v��", "Sinta culpa", "Seja correto", "Esquente a cabe��a".
No mundo animal, n��o h�� necessidade de conquistar mais do
que se tem. A simplicidade da chuva, a luz de uma estrela, a leve-
za de um p��ssaro, a persist��ncia de uma formiga ��� tudo isto
simplesmente ��.
Tudo �� uma quest��o de ponto de vista. Afinal, cuecas espalha-
das no ch��o podem acabar com um casamento... mas, aos olhos
dos cachorros, elas n��o seriam motivo para briga, e sim para brin-
cadeiras. A maioria dos animais desfruta uma enorme liberdade e
pureza, caracter��sticas que, acredito, n��s tamb��m podemos expe-
rimentar. Basta relaxar a mente e, aos poucos, reaprender a des-
frutar a integridade, felicidade e simplicidade perdidas.
Muitas vezes rejeitamos as pessoas que est��o em nossas vidas,
n��o sabemos se as queremos ao nosso lado, desejamos estar com
outras pessoas, imaginamos se e at�� quando esse relacionamento
vai durar ��� e por a�� vai. O resultado dessas inquieta����es �� que,
12 N��o leve a vida t��o a s��rio
quando nos preocupamos com o que queremos ou n��o de algu��m
ou com o que aprovamos ou n��o nessa pessoa, deixamos de ver sua
bondade, sua ast��cia, sua delicadeza, sua tristeza ou seja l�� o que
for que ela tenha a oferecer. Isso complica desnecessariamente as
nossas vidas e bloqueia a alegria de viver e a paz de esp��rito.
J O H N E O C A M I N H �� O
N o s s o filho, John, tinha dois anos quando fomos morar em
Santa F��, Novo M��xico. Um dia, est��vamos na cal��ada, esperan-
do o sinal abrir, quando um caminh��o enorme come��ou a virar a
esquina bem no instante em que o sinal ficou verde. Tive que
aguardar o caminh��o passar. Nesse momento, ouvi J o h n dizer:
��� Caminh��o grande!
Olhei para baixo e vi que seus olhinhos estavam brilhando de
prazer. Olhei novamente para aquele enorme caminh��o que pas-
sava t��o perto que poderia toc��-lo se desse um passo �� frente. E,
finalmente, vi o caminh��o em toda sua majestade. Parecia a nave
de um filme do tipo Guerra nas Estrelas.
N �� o havia percebido isso antes. Talvez porque estivesse pen-
sando que aquele caminh��o n��o deveria estar ali atrapalhando
meu caminho, ou que eu tinha algo bem mais importante a fazer
do que esper��-lo passar. Esses pensamentos impediram que eu
aproveitasse o prazer daquele momento, de p��, na cal��ada, ao
lado de meu filho, segurando sua m��ozinha. S��o o que chamo de
pensamentos desnecess��rios ��� o tipo que as criancinhas t��m
pouqu��ssimos, se �� que t��m algum, e, por isso, em geral, s��o obje-
tivas e felizes.
Uma mente tranq��ila v�� o que est�� aqui. Uma mente
ocupada v�� o que n��o est�� aqui. Aquele que est�� pre-
Primeiros passos rumo ao desprendimento 13
sente �� nada mais, nada menos, do que aquele que est��
presente. Portanto, voc�� pode pensar o que quiser sobre
as pessoas, mas saiba que isso n��o vai transform��-las.
N o s s a vida �� cheia de batalhas in��teis exatamente porque
nossa mente �� cheia de pensamentos in��teis. Sofremos por his-
t��rias infelizes do passado como se elas ainda estivessem aconte-
cendo e temos o h��bito de ficar ruminando sobre o que acaba-
mos de fazer. �� preciso esvaziar a mente. Quando n��o consegui-
mos nos desvencilhar dos pensamentos negativos, eles dimi-
nuem nossas chances de ser feliz.
�� o caso da sogra que n��o consegue aceitar seu genro porque
ele �� do tipo que usa uma por����o de brincos, um piercing no
nariz e algum escondido em outra parte do corpo. Ela est�� ape-
nas atacando sua pr��pria capacidade de amar. Sua rejei����o n��o
mudar�� o genro, nem o amor que sua filha sente por ele ��� ape-
nas a afastar�� do amor da filha.
C A C H O R R O Q U N T E
H�� mais ou menos uma hora, nosso filho J o r d a n me per-
guntou se eu poderia "fazer um cachorro-quente do jeito que
a mam��e faz?" Parei de escrever e fui at�� a cozinha onde J o h n ,
que est�� com vinte anos, me perguntou se eu poderia dar uma
olhadinha numa proposta de neg��cio que ele esbo��ara para
sua aula de contabilidade. Minha mulher, Gayle, n��o estava
em casa.
��� Assim que eu fizer o cachorro-quente do Jordan ��� disse eu.
��� Ah! ��timo! N �� o quer fazer um pra mim tamb��m? ��� disse John.
��� Est�� bem ��� respondi, secamente.
Aborrecido com a minha pr��pria atitude, levemente hesitante
14 N��o leve a vida t��o a s��rio
entre parar de escrever sobre paz e bondade e pratic��-las, colo-
quei as salsichas de frango para ferver no molho, enquanto pen-
sava no tremendo paradoxo que estava vivendo.
Ali estava eu pensando em como n��o conseguia fazer o que
queria fazer, me perguntando onde Gayle e eu hav��amos errado,
j�� que os nossos filhos n��o conseguiam fazer seus pr��prios ca-
chorros-quentes. Ao mesmo tempo, eu me sentia satisfeito pela
decis��o de deixarmos os meninos decidirem se queriam ou n��o
ser vegetarianos e me questionava se uma galinha criada em con-
finamento era mais saud��vel do que uma galinha caipira...
N u m certo sentido, n��s temos duas mentes: uma, ��ntegra e
tranq��ila; a outra, fragmentada e ocupada. Eu, com certeza,
tinha acionado a mente ocupada.
Se fosse poss��vel resumir todos os ensinamentos espi-
rituais numa ��nica frase, esta chegaria bem perto: "Fa��a
com que seu estado mental seja mais importante do que
o que voc�� estiver fazendo."
Tenho praticado o suficiente para saber que o ato de esvaziar
a mente e deixar os pensamentos flu��rem �� bem melhor e mais
saud��vel do que a sensa����o oposta. Embora j�� tivesse dado
alguns passos na dire����o certa, sentia que meu estado de esp��ri-
to ainda n��o estava completamente em paz. Por que eu tinha
que passar por essa pequena prova����o? Por que n��o se pode fazer
com alegria meia d��zia de pequenas tarefas?
Meu erro foi ter deixado as circunst��ncias serem mais impor-
tantes do que o meu estado de esp��rito. Agora, para reverter isso,
era preciso desbloquear minha mente. Para isso, era necess��rio
cumprir tr��s etapas:
Primeiros passos rumo ao desprendimento 15
Primeira: Para eliminar o que impede a experi��ncia de plenitude e paz,
voc�� precisa examinar o impedimento.
Para falar a verdade, eu n��o estava exatamente irritado por ter
interrompido meu trabalho para fazer os cachorros-quentes,
apenas me sentia um tanto chateado com a sensa����o de que esta-
va deixando de fazer coisas importantes e, claro, em conflito por
estar experimentando todos esses sentimentos.
Quando me aprofundei no que estava sentindo, encontrei o
pensamento que estava bloqueando tudo: "Eu n��o deveria ter de
fazer o que n��o quero fazer." Mas, logo me dei conta de que nem
mesmo eu acreditava nessa id��ia. Fa��o coisas que n��o quero
fazer o tempo todo e, neste caso espec��fico, eu queria fazer a
comida dos meus filhos e queria ler a proposta de John.
O.k. Etapa 1 resolvida.
Antes de entrar na etapa 2, quero destacar um aspecto essen-
cial dessa din��mica. Percebi que, na tentativa de entender o que
eu realmente queria fazer, eu teria sabotado todo o processo de
desprendimento se houvesse desejado que os meus filhos ou a
situa����o mudassem.
Sempre que desejamos que as pessoas mudem ou que as cir-
cunst��ncias nos sejam favor��veis, estamos, de alguma forma, nos
eximindo da responsabilidade por nosso estado mental. �� como
se assum��ssemos o papel de v��timas e fic��ssemos torcendo para
sermos poupados. C o m certeza, existem v��timas de verdade,
mas, em geral, nos colocamos desnecessariamente neste papel. E
fazemos isso todos os dias.
Quando o objetivo �� manter o senso de integridade, indepen-
dente do que acontecer �� nossa volta, n��o nos tornamos v��timas.
N a d a fica "fora de controle" se quisermos. Somos n��s que deixa-
mos as pessoas e as situa����es serem quem s��o e o que s��o. Isto
16 N��o leve a vida t��o a s��rio
n��o quer dizer que aprovamos a maneira como se comportam e
tamb��m n��o significa que deixamos de nos proteger das pessoas
destrutivas.
N �� o sei se voc�� j�� percebeu a freq����ncia com que os motoris-
tas se colocam em risco s�� para dar uma li����ozinha a um outro
motorista. �� comum acelerarem para mostrar ao outro que n��o
�� correto mudar de pista, ou grudarem atr��s de quem est�� indo
muito devagar ou mesmo n��o deixarem espa��o para aquele carro
que for��ou a entrada bem na sua frente depois de uma ultrapas-
sagem perigosa.
Esses "justiceiros do tr��nsito" s��o exemplos cl��ssicos de v��ti-
mas. S�� ficam satisfeitos se os outros motoristas demonstrarem
que entenderam o recado. O problema �� que pressionar os ou-
tros motoristas n��o muda seus cora����es. Apenas cria um confli-
to, que divide a mente e confunde as nossas emo����es. Ningu��m
em tempo algum se tornou mais sens��vel ou mais ponderado por
ser julgado, maltratado ou atemorizado.
Segunda: Para superar o bloqueio, voc�� precisa ter muita clareza do
que quer.
Esta etapa parecia f��cil. Afinal, eu queria fazer os cachorros-
quentes, atender o pedido de meus filhos e ser capaz de alterar
minha agenda de trabalho ��� tudo isso em paz.
Para falar a verdade, eu ansiava pela paz mais do que o pensa-
mento que a estava bloqueando. Refleti sobre minha sinceridade
a respeito de tudo isso. Achei que estava bem s��lida. O.k. Etapa
2 resolvida.
Terceira: Para atingir a plenitude, voc�� deve reagir a partir da mente
��ntegra, n��o da mente em conflito.
Esta etapa j�� soava mais dif��cil. Para come��ar, era preciso
descobrir a plenitude que existe dentro de cada um de n��s. Que
Primeiros passos rumo ao desprendimento 17
todos n��s a possu��mos �� fato, mas traz��-la �� tona �� outra
hist��ria. Em geral, nos sentimos em paz quando estabelecemos
uma liga����o amorosa com as outras pessoas. Mas, se a mente
arrisca um pensamento perturbador e se as duas primeiras eta-
pas desse processo n��o forem realizadas com sinceridade, corre-
se o risco de escorregar e cair novamente no velho estado men-
tal conflitante.
Para evitar esse risco �� preciso agir com pureza de alma. Ser��
que sinceramente desejamos a paz aos que est��o �� nossa volta?
Ser�� que sinceramente desejamos uma mente que conhe��a a
serenidade e que tenha uma profunda liga����o com nosso par-
ceiro(a), com nossos filhos, pais, irm��os e amigos? Ou seria me-
lhor resguardar nosso cora����o e permanecer em posi����o de jul-
gar e de estar sempre com a raz��o?
Neste ponto, a terceira etapa pode se tornar um tanto com-
plicada, especialmente se surgir a tenta����o de controlar nossas
emo����es mais destrutivas e impulsos mais sombrios. Esses sen-
timentos de fato exigem controle, mas a verdade �� que n��o se
est�� em guerra com as circunst��ncias ou comportamentos e pen-
samentos. �� exatamente o contr��rio. Quando se est�� numa bata-
lha in��til, o melhor a fazer �� abandonar o campo de batalha.
Uma boa ilustra����o de como isto funciona est�� na maneira
como sentimos o amor. Todos n��s j�� vimos exemplos desas-
trosos de pessoas que decidem ter ou adotar um filho porque
desejam algu��m que as ame. A raz��o pela qual n��o d�� certo �� que
a crian��a tem sua individualidade e, por isso, quase sempre age
de forma diferente da idealizada ��� assim come��a a guerra.
Quem decide ter um cachorro ou um gato pela mesma raz��o
termina criando a pr��pria infelicidade. Inevitavelmente, o ani-
mal de estima����o decepcionar��. N o s relacionamentos rom��nti-
18 N��o leve a vida t��o a s��rio
cos, todo mundo deseja encontrar algu��m carinhoso, que com-
partilhe seus interesses, que satisfa��a suas necessidades, que s��
tenha olhos para voc�� e o adore at�� a velhice. Infelizmente, isso
tamb��m n��o funciona, como demonstra a crescente taxa de
div��rcios.
A raz��o pela qual um bicho traz felicidade a seu dono, um filho a
seus pais e uma mulher a seu marido, �� que sentimos amor. Quando
n��o se ama, o mais dedicado bichinho, planta, filho ou amante n��o
tocar�� o nosso cora����o. Simplesmente n��o funciona assim.
Por milhares de anos, nos disseram que o amor �� mara-
vilhoso. A maioria das pessoas acredita que ser amado
�� uma sensa����o maravilhosa. E ��. Mas, antes de voc��
conhecer "o amor", �� preciso amar. Quando se ama, voc��
recebe mais do que a sensa����o de ser amado. O ap��s-
tolo Jo��o disse: "Amai-vos uns aos outros, porque o
amor �� Deus. E todos os que amam nasceram de Deus
e conhecem Deus. Os que n��o amam nada sabem de
Deus, pois Deus �� amor."
C o m o �� fato que, quando as pessoas amam, elas ficam com-
pletamente envolvidas na sensa����o do amor, h�� pais e m��es que
se sentem felizes por ser amados por seus filhos problem��ticos,
seus bichinhos complicados e seus parceiros obesos. Encontra-
mos casais muito idosos que, obviamente, n��o s��o mais atraentes
como eram, mas conseguem enxergar e sentir a beleza do amor.
Para que isto aconte��a, basta acessar sua mente amorosa e tran-
q��ila ��� n��o a mente ocupada e fragmentada.
Saiba que ningu��m passa diretamente de uma abordagem con-
flitante para uma de pura unidade e paz. Para ser realista, fazer
Primeiros passos rumo ao desprendimento 19
o melhor poss��vel hoje j�� �� ��timo. Basta um pequeno progresso
a cada dia, afinal, �� o rumo que importa. Este ��, sem d��vida, um
objetivo mais estimulante e mais produtivo do que tentar a reali-
za����o total e plena.
A hist��ria a seguir mostra o que acontece quando usamos a
mente tranq��ila ou a mente conflituosa.
C O R R E R I A N O C O R R E D O R
Gayle e eu est��vamos saindo de um gin��sio em que hav��amos
assistido a nosso filho, Jordan, jogar basquete. Segu��amos por um
comprido corredor quando tr��s meninas de uns oito anos pas-
saram correndo, conversando e rindo animadamente. Quando
cruzaram com o homem que estava �� nossa frente, ele gritou
com aspereza:
��� N �� o corram pelo corredor!
O grito fez as meninas andarem devagar, quase parando.
Quando passamos por elas, o sujeito estava quase fora de vista.
Gayle, ent��o, falou:
��� Ele n��o disse que voc��s n��o poderiam pular!
Imediatamente, as meninas come��aram a rir e a pular pelo
corredor.
��� N �� o , ele n��o disse que a gente n��o poderia saltar e pular!
O que Gayle fez? Apenas reagiu com sua mente aberta e fran-
ca, e mirou na ess��ncia da inoc��ncia e do divertimento das meni-
nas. Se ela tivesse criticado o homem, dizendo algo do tipo "Que
rabugento! Acho que voc��s deveriam correr se quiserem!", elas
at�� teriam recome��ado a correr, mas de uma forma desafiadora
ou amedrontada, n��o com a naturalidade de antes. Suas mentes
estariam em conflito e elas se sentiriam inseguras.
Reagir criativamente mostra que os problemas que s��o impor-
20 N��o leve a vida t��o a s��rio
tantes para os outros s��o importantes para n��s. N �� o se deve subes-
timar, ou menosprezar, o medo e a perturba����o que uma pessoa
sente. Reagir com desd��m ou irrita����o �� uma demonstra����o de
ego��smo. Para reverter isso, o primeiro passo �� admitir o fato e
refletir sobre ele. Depois, descobrir quais s��o realmente nossos
sentimentos e buscar nossa individualidade e felicidade. S�� ent��o
podemos demonstrar que alcan��amos a plenitude.
D e i x a n d o p a r a t r �� s o s p r o b l e m a s
Um exame r��pido e honesto dos nossos sentimentos muitas
vezes �� o que basta para nos lembrarmos que �� poss��vel ficar com
a mente livre de conflitos e preocupa����es. Normalmente, �� pre-
ciso bem mais do que isto, mas ficamos t��o presos a nossos sen-
timentos de corre����o, de certeza, de irrita����o, cinismo e afins,
que esquecemos que podemos sentir de modo diferente.
Essa "pris��o emocional" que n��s mesmos criamos nos leva a
perder inteiramente a f�� no amor duradouro, no comprometi-
mento e na paz. No in��cio, o desprendimento parece uma tarefa
temer��ria, at�� imposs��vel. A sensa����o �� de que passamos de um
problema para outro, e assim sucessivamente. Preste aten����o no
seu dia-a-dia: �� um problema atr��s do outro, do qual obviamente
desejar��amos nos livrar, mas raramente conseguimos.
As dificuldades s��o t��o importantes para a vida das pessoas que
acabamos definindo os que nos rodeiam a partir de seus proble-
mas. Preste aten����o quando estiver conversando com os amigos
sobre algu��m do grupo que n��o est�� presente. Quer de modo po-
sitivo, quer negativo, os problemas dessa pessoa ser��o real��ados.
Isto tamb��m acontece com nossa auto-imagem. Temos a ten-
d��ncia a pensar em n��s, at�� mesmo no significado da vida, do
ponto de vista das dificuldades que encontramos.
Primeiros passos rumo ao desprendimento 21
Um bom exemplo de como isso funciona �� a hist��ria de como
fomos adotados por dois gatos de rua. Eles tinham o h��bito de
trazer um peda��o de cada passarinho, rato ou lagarto que mata-
vam como demonstra����o de sua satisfa����o e confian��a. Para
mim, n��o era um problema limpar esses "presentes", mas, quan-
do eu viajava, virava um fardo para o resto de minha fam��lia. O
mesmo princ��pio se aplica quando me ocupo em responder
e-mails. Para mim, �� o tipo de trabalho que exige enorme con-
centra����o, enquanto para Gayle n��o exige grandes esfor��os.
N �� o tem nada a ver pensar que algumas pessoas t��m uma vida
realmente dif��cil, enquanto outras passam por ela inc��lumes.
Todos n��s j�� ouvimos falar de algu��m que enfrentou uma terr��-
vel trag��dia em relativa paz. No entanto, existem pessoas que
mal conseguem lidar com a rotina e se sentem massacradas pela
vida. Acontece tanta coisa num dia normal ��� ou melhor, no
cotidiano h�� tanta mat��ria-prima para a mente se ocupar ��� que
�� dif��cil achar uma justificativa para a infelicidade.
Os problemas nos atingem na medida da nossa preo-
cupa����o. A chave para se alcan��ar a fluidez, o repouso e
a liberdade interior n��o �� a elimina����o de todas as difi-
culdades externas, mas sim o desapego ao padr��o de
rea����o a essas dificuldades.
N o s ��ltimos vinte e cinco anos de experi��ncia com terapia de
fam��lia, Gayle e eu n��o cansamos de nos surpreender com a apa-
rente felicidade de muitas crian��as pequenas que vivem em lares
violentos. Em geral, s��o necess��rios muitos anos de trauma f��sico
ou emocional para que este sentimento seja realmente destru��do.
Pesquisas mostram que, mesmo em zonas de guerra, campos
22 N��o leve a vida t��o a s��rio
de refugiados ou ��reas de fome, grande parte das crian��as man-
t��m sua capacidade de brincar e ser feliz em meio a circunst��n-
cias de horror impens��vel.
Para perceber a diferen��a entre a maneira como adultos e
crian��as abordam a vida, n��o �� preciso ir muito longe ��� basta
observar uma festa.
F E S T A D E N A T A L
No final dos anos 70, Jerry Jampolsky ��� o psiquiatra especializa-
do em crian��as que fundou o Centro de Tratamento pela Atitude ���
me convidou para a primeira festa de Natal da institui����o.
Fiquei chocado com o que vi. Diante de mim estavam crian��as
em cadeiras de rodas e muletas, crian��as com distrofia muscular
e doen��a de Hodgkin, crian��as com pernas amputadas ou parali-
sadas, crian��as sem cabelo por causa da quimioterapia.
Ao mesmo tempo que olhava para aquela sala de horrores, senti
que havia algo diferente no ar. A sala estava cheia de suas gargalhadas
e risadas, as crian��as estavam felizes, conversando umas com as ou-
tras. E era exatamente isso ��� sua atitude ��� que sa��a do padr��o.
Logo me vi num grupo, conversando com uma adolescente
chamada Lisa, cujo sonho era ser modelo. Lisa se apoiava em
muletas de alum��nio e metade de seu corpo, inclusive o rosto,
estava paralisado por causa de um acidente de autom��vel. En-
quanto convers��vamos, Lisa, de repente, perdeu o equil��brio e
caiu de costas. Quando conseguimos levant��-la, havia l��grimas
de dor em seus olhos. Lisa deu um sorriso encabulado e disse:
��� Pelo menos eu estou conseguindo ficar com o bumbum
bem durinho...
"Ficar com o bumbum bem durinho" n��o �� exatamente o que
se espera ouvir numa situa����o dessas, mas qual rea����o seria mais
Primeiros passos rumo ao desprendimento 23
adequada? Para mim, foi especialmente instrutivo observar que
suas mentes sadias eram mais reais e mais importantes para elas
do que o peso de seus corpos.
Copiar a abordagem infantil da felicidade n��o �� se comportar
como uma delas, mas sim ver o mundo como elas v��em. �� aban-
donar as percep����es estreitas e as respostas prontas. �� admitir
sem restri����es que as pessoas �� nossa volta s��o o que s��o e que
estamos ali com elas para o que der e vier.
Transformar-se numa "crian��a" �� abrir m��o da responsabilidade
de julgar e de estar certo em todos os momentos. Isso elimina os
bloqueios e permite a amplia����o de nossa capacidade de apreciar
qualquer coisa ou, pelo menos, de estarmos serenos e em paz.
Existem tr��s coisas que voc�� precisa abrir m��o: julgar,
controlar e ser o dono da verdade. Livre-se das tr��s, e
voc�� ter�� a mente ��ntegra e vibrante de uma crian��a.
A principal caracter��stica das crian��as pequenas �� sua obje-
tividade: elas mostram o que sentem e sabem o que querem.
Claramente, elas est��o ligadas �� sua ess��ncia, seu instinto. Mas
as crian��as n��o s��o perfeitas ou invulner��veis. Na verdade, elas
captam as li����es positivas e as negativas que lhes s��o ensinadas
e parecem escolher, principalmente, os medos inconscientes e as
ansiedades dos adultos que estiverem a seu redor.
Mesmo que voc��, quando crian��a, n��o gostasse de determina-
da op����o de vida escolhida por seus pais e tenha at�� decidido
que n��o cometeria esse erro quando crescesse, certamente se fla-
grou, j�� adulto, dizendo as mesmas palavras ou agindo da manei-
ra que queria evitar. Isto mostra como somos vulner��veis quan-
do crian��as.
24 N��o leve a vida t��o a s��rio
Existem crian��as que aprendem a ter suas pr��prias opini��es e
at�� a sentir ��dio, numa idade surpreendentemente precoce. Se
voc�� j�� viu isto acontecer, sabe que elas j�� perderam contato com
sua felicidade e autoconfian��a natural. Elas aprenderam a duvi-
dar dos outros e aplicam essa li����o em si mesmas. Se elas n��o s��o
confi��veis, ningu��m mais o ��.
S�� quando crescemos nos tornamos conscientes do que sig-
nifica incorporar comportamentos e depois abrir m��o deles. �� a
��nica maneira de assumirmos a responsabilidade pela paz e pelo
bem-estar de nossas mentes.
S e m m e d o d e s e r f e l i z
Libertar-se de julgar e controlar n��o tem contra-indica����es. Que
mal poderia vir da simplicidade de n��o ter que ser outra pessoa e
de n��o exigir que nossos amigos e nossa fam��lia sejam diferentes
do que s��o? Precisamos apenas seguir nossa voca����o, agir com
naturalidade e liberdade, sem nenhum status ou atitude especial.
Que necessidade temos de erguer como bandeira da nossa
verdade o dinheiro, a educa����o, a religi��o ou a ra��a? Que neces-
sidade temos de nos mantermos isolados, fixados em traumas de
inf��ncia? Os traumas acumulados s��o como poeira sobre a pele.
Aqueles que nos deram as contribui����es mais significati-
vas e duradouras para sermos quem somos foram os que
ousaram assumir seu lugar como iguais. O mundo olha,
fascinado, para o brilho ofuscante do ego, mas somente
os que caminharem ao nosso lado, com amor e igualdade,
atingir��o nossos cora����es e nos transformar��o.
Primeiros passos rumo ao desprendimento 25
L i b e r t a �� �� o 1
Tempo s u g e r i d o : 1 dia ou mais
Da pr��xima vez em que estiver numa loja, num restaurante,
num shopping center, no trabalho ou apenas caminhando numa
cal��ada cheia de gente, escolha uma pessoa e experimente se
transformar nela por alguns instantes. C o m o seria vestir suas
roupas, ter aquele tipo de cabelo (ou n��o ter cabelo), caminhar
da maneira como ela caminha (ou n��o poder caminhar)? C o m o
seria fazer aqueles gestos? �� verdade que as pessoas olham de
lado ou em v��rias dire����es, como se estivessem um pouco inse-
guras, um tanto vulner��veis? O mundo l�� fora �� muito grande,
imprevis��vel... Sem an��lise, sem inferioridade, sem condescen-
d��ncia, sem perspectivas, como seria sentir-se como essas pes-
soas e pensar como elas?
Experimente fazer isto hoje e, se gostar, fa��a essa brincadeira
nos pr��ximos dias. Talvez voc�� se surpreenda ao perceber como
tudo �� banal. Talvez perceba que todos n��s somos bastante pare-
cidos e que estamos juntos nesse barco. Poder��, por outro lado,
sentir-se um pouco triste ao avistar algu��m que luta para se man-
ter �� parte somente para encontrar a solid��o e o isolamento.
Dois
L i v r a n d o - s e do lixo mental
Eliminar as toxinas do organismo e soltar a tens��o nos m��s-
culos s��o procedimentos conhecidos na medicina hol��stica.
A necessidade de purifica����o f��sica �� t��o forte que, como con-
ceito, tornou-se a principal meta tanto nos autotratamentos
quanto na medicina convencional. Um exemplo s��o as infinitas
marcas de vitaminas e suplementos nutricionais anunciados
como agentes de limpeza e purifica����o. Entre os adeptos de
tratamentos alternativos as op����es v��o do jejum a dietas ricas
em fibras e alimentos crus, at�� banhos de imers��o com ��gua sal-
gada, exerc��cios de respira����o, megadosagens de vitamina C e
terapias �� base de litros e mais litros de ��gua.
Na abordagem corpo-mente-esp��rito, vale tudo para eliminar
as for��as negativas. No ritual cotidiano, pela manh�� tomamos
uma chuveirada e escovamos os dentes e, ao longo do dia, lava-
mos as m��os depois de cada ida ao banheiro. Em vez de ��gua da
bica, tomamos preferencialmente ��gua mineral. Os sab��es em
p�� que lavam nossas roupas cont��m desinfetantes e usamos pro-
dutos antibacterianos para limpar a cozinha. Muitas casas e at��
alguns carros possuem sistemas de filtragem do ar.
Estamos aparentemente muito preocupados em limpar nos-
sos corpos e o ambiente em que vivemos de tudo que possa pre-
judicar a nossa sa��de e energia, mas, estranhamente, n��o senti-
mos a menor necessidade de esvaziar nossas mentes de tudo o
28 N��o leve a vida tao a s��rio
que possa azedar nossas atitudes, bloquear a nossa intui����o e
arruinar nossos relacionamentos.
Que diferen��a faz se o corpo est�� sempre limpinho, desintoxi-
cado e livre de germes, se nenhum ser vivo que este corpo encon-
tra �� confortado? Na verdade, acreditamos que nossos corpos
s��o mortais e nosso esp��rito �� eterno.
Nossas aten����es est��o voltadas para manter o exterior impe-
c��vel. Sa��mos todos os dias com roupas limpas, cabelos lavados,
dentes escovados, mas com a mente cheia de ansiedades mesqui-
nhas, ressentimentos sombrios, perspectivas deterioradas, pre-
conceitos venenosos e uma s��rie intermin��vel de auto-imagens
ensebadas e pu��das. Sequer nos incomodamos em varrer o lixo
mental que produzimos diariamente, para n��o falarmos no entu-
lho que acumulamos pela vida afora.
Vemos filmes e lemos hist��rias fant��sticas a respeito da
vastid��o da mente. Falamos para as crian��as sobre o "poder da
imagina����o". Participamos de semin��rios que falam sobre o
imenso potencial ainda n��o utilizado de nosso c��rebro. Trata-se
de um trabalho genial de auto-engano, no qual acreditamos que
tudo o que est�� em nosso espa��oso c��rebro �� ��til, vale a pena
guardar e est�� em bom estado.
Se observarmos de perto nossa mente por uma hora que seja,
veremos que, em vez de uma caixa m��gica, repleta de sonhos e
maravilhas, �� mais prov��vel que ela se pare��a com uma geladeira
atulhada. Uma r��pida incurs��o por uma prateleira qualquer reve-
lar�� coisas t��o velhas enfiadas l�� no fundo que nem conseguimos
lembrar o dia em que as adquirimos. De t��o cheios de mofo e
bolor, os recipientes com restos enfiados nos cantos parecem ter
vida pr��pria.
Para falar a verdade, os cantos de nossa geladeira mental cria-
Livrando-se do lixo mental 29
ram seus pr��prios reinos azedos e malcheirosos. C o m o o cen��rio
�� assustador, temos o impulso de colocar todas essas coisas bolo-
rentas bem depressa de volta em seus devidos lugares, para man-
ter a ilus��o de que bem ali, na nossa querida geladeira, s�� exis-
tem sucos de laranjas ensolarados, mangas suculentas e verduras
org��nicas bem fresquinhas.
Limpar mentes sobrecarregadas n��o �� tarefa pequena. Leva
um tempo e �� preciso coragem, at�� porque, com certeza, voc��
far�� algumas descobertas desagrad��veis. Em todo caso, quando
as prateleiras estiverem limpinhas e organizadas de novo, cheias
de alimentos frescos e nutritivos que deixam aromas delicados
no ar, saberemos que fizemos um sacrif��cio muito pequeno para
tanta riqueza.
Este livro pede que voc�� nade contra a mar�� da opini��o
dos outros: decida que a felicidade �� parte essencial de
uma vida bem vivida.
�� curioso que seja necess��rio um verdadeiro trabalho de con-
vencimento pessoal para obtermos a sensa����o de plenitude, paz
e realiza����o. Na verdade, �� aceit��vel ��� e at�� esperado ��� que as
pessoas dediquem muito tempo de suas vidas �� acumula����o, ao
status profissional, �� atra����o f��sica, �� aceita����o social e at�� a
pr��tica de seu esporte favorito.
Mencione a busca do prazer e da tranq��ilidade interior ��� e a
maioria das pessoas dir�� que s��o luxos e que n��o t��m tempo para
sair atr��s "dessas coisas". Para elas, basta torcer para que algum
dia a vida pare��a bem-sucedida.
Se quer saber como �� encher a sua geladeira com as coisas que
voc�� escolhe e n��o com as coisas escolhidas para voc�� pela cul-
30 N��o leve a vida t��o a s��rio
tura e pela din��mica da fam��lia, saiba que, em m��dia, uma
crian��a ri mais de 350 vezes por dia, contra dez vezes por dia
para um adulto. Por qu��? Porque as crian��as chegam ao mundo
com geladeiras limpas!
Sugiro que comecemos j��. A primeira provid��ncia �� avaliar
quanto lixo mental somos capazes de produzir num s�� dia. Para
isso, �� preciso considerar apenas o mais in��til dos itens: a preo-
cupa����o.
Atitudes provocadoras s�� atrapalham
Poucos est��o convencidos de que a preocupa����o �� um entulho
mental in��til. De alguma forma, parece certo se preocupar.
Afinal, j�� que todo mundo se preocupa, a preocupa����o deve
servir para alguma coisa. O mesmo racioc��nio se aplica para o
fato de que, se todos fazem pequenas trai����es uns aos outros, a
trai����o deve ser ben��fica para a esp��cie humana. Mas n��o �� ver-
dade que todos os impulsos humanos t��m um aspecto positivo.
Para progredir espiritualmente, temos de admitir que co-
metemos erros, ��s vezes erros graves, e que possu��mos
algumas tend��ncias que s��o perigosas e irracionais.
A "sabedoria do corpo" �� altamente question��vel, como qual-
quer pessoa que sofra de ins��nia ou de alergia pode atestar. A
sabedoria do c��rebro �� igualmente question��vel. Na verdade, o
corpo, incluindo o c��rebro, n��o reage a nada integralmente. O
que �� bom para uma parte do corpo muitas vezes �� ruim para
outra. O corpo se divide e subdivide de incont��veis maneiras e
as tens��es que essas partes mant��m entre si, em geral, s��o a
causa fundamental de sua pr��pria destrui����o.
Livrando-se do lixo mental 31
Da mesma forma, a mente tem muitas partes, cada uma com
seus pr��prios planos. Um exemplo: muitas vezes a mente anseia
por algo e �� repelida ��� seja dinheiro, doces, sexo ou lazer. N �� o
podemos afirmar que, pelo fato de muitas mentes se preocu-
parem, elas o fazem por uma boa raz��o.
N e m toda tend��ncia humana �� racional, como demonstra o
intrigante n��mero de pessoas pelo mundo afora que precisam
ser confinadas em pris��es, penitenci��rias e manic��mios. O me-
lhor �� examinar as atitudes "provocadoras" de preocupa����o em
nossa cultura para ver se h�� algum benef��cio em utilizarmos a
mente dessa maneira.
Sete atitudes que c a u s a m p r e o c u p a �� �� o
Atitude 1 : " �� natural preocupar-se"
Todos os dias constru��mos um santu��rio de preocupa����es e
cuidadosamente veneramos cada um desses preciosos objetos.
Existe sempre algo que est�� para acontecer ou uma quest��o rela-
cionada �� nossa sa��de, sem contar alguma situa����o embara��osa
que tenha acontecido no dia anterior, ou mesmo h�� dez anos,
mas que continua ocupando um lugar de honra no santu��rio.
�� como se a nossa mente focasse em problemas, n��o em solu-
����es; como se remo��ssemos as quest��es, n��o as respostas. N o t e
como somos r��pidos em atribuir uma falha em qualquer solu����o
que nos venha �� mente, ou que algu��m nos sugira, de forma que
possamos continuar preocupados. Ser�� que isto �� "natural"?
Certamente, mas isto n��o significa que se preocupar seja
ben��fico. A preocupa����o n��o nos faz sentir mais confort��veis
nem favorece melhores decis��es. Ela fragmenta a mente, tira a
concentra����o, distorce a perspectiva e destr��i o bem-estar inte-
rior. A preocupa����o �� um esp��cie de estresse auto-aplicado. A
32 N��o leve a vida t��o a s��rio
preocupa����o �� o caos mental, n��o �� nada agrad��vel ��� ou seja. ��
puro lixo, mas lixo que n��s acumulamos e aturamos todos os dias
de nossas vidas.
L i b e r t a �� �� o 2
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
Basta um dia para voc�� provar a si mesmo a efic��cia deste exer-
c��cio ��� uma ferramenta que poder�� ser utilizada com grandes
resultados pelo resto de sua vida e que, na verdade, ilustra muitos
dos conceitos fundamentais deste livro. Entre eles, o de que nosso
ego �� nosso desejo de estarmos s��s, que a experi��ncia de estar
conectado ou em comunh��o com algu��m ou alguma coisa neutrali-
za o nosso ego. E de que a sinceridade (o foco, o compromisso) ��
a chave para nos desapegarmos com sucesso de qualquer coisa.
��� Identifique uma linha de pensamento que esteja atormen-
tando-o.
Isso �� f��cil. Talvez as duas preocupa����es mais comuns sejam
algo que vive nos incomodando ou algu��m com quem discutimos
at�� em pensamento. A primeira diz respeito ao futuro: um medo
do que pode acontecer. A segunda diz respeito ao passado:
ang��stia em rela����o ao comportamento de algu��m ou em rela����o
�� maneira como algum acontecimento se desdobrou.
�� importante observar que as rea����es dos outros s��o o centro
de nossa preocupa����o. N o s s a mente n��o se prende a situa����es. Se
fazemos algo realmente tolo enquanto caminhamos, podemos at��
rir disso, mas n��o vira uma id��ia fixa ��� a menos, �� claro, que o
erro fique evidente quando retornamos. Nosso ego funciona de
forma repetitiva, aumentando a dist��ncia entre n��s e os outros:
��� Da pr��xima vez que voc�� notar que est�� entrando na linha
Livrando-se do lixo mental 33
de pensamento que voc�� j�� identificou, interrompa-a (sim-
plesmente n��o a complete).
��� Na seq����ncia, pense em qualquer coisa que tenha a ver com
amor ou uni��o.
Pense no seu cachorro, no jardim, no parceiro(a), nos filhos,
nos amigos, num parente carinhoso ou mesmo em Deus. Aben-
��oar, rezar ou mentalizar na pessoa que �� objeto de sua preocu-
pa����o tamb��m �� uma energia muito forte. Contudo, se os seus
pensamentos estiverem muito perturbados, voc�� n��o ter�� for��as
para isso ��� neste caso, identifique o pensamento, interrompa-o
e desvie seu foco para alguma imagem amorosa. Fa��a isto e voc��
ver�� como �� f��cil desconectar uma linha de pensamento pertur-
badora. Em geral, um pensamento qualquer de uni��o tamb��m
resolve a quest��o.
Acreditamos que n��o �� poss��vel deixar de nos preocupar ou
de emitir julgamentos, como se fosse poss��vel combater essa
intensa atividade mental nos revoltando contra n��s mesmos
ou procurando reinterpretar a situa����o. Para muitas pessoas,
esta �� uma abordagem mais delicada e racional do tema, mas,
no fundo, o resultado �� o mesmo: introduzimos uma nova in-
terpreta����o para combater a primeira e assim dividir a nossa
mente.
A verdade �� que jamais acreditamos completamente nessa
reinterpreta����o ("Ele provavelmente n��o queria ferir meus sen-
timentos; apenas gritam muito com ele no trabalho" ou "Ela tal-
vez n��o estivesse tentando me tapear, apenas tem medo de n��o
conseguir fazer o que tem de fazer..."), o que obriga nossas
mentes a intensas idas e vindas, procurando decidir de que lado
examinar a quest��o.
Enquanto isso, a linha de pensamento ansiosa ou cr��tica con-
34 N��o leve a vida t��o a s��rio
tinua. A certa altura, desistimos dela e resolvemos simplesmente
ag��entar a perturba����o, na esperan��a de que logo ela terminar��.
E assim passamos horas ou dias infelizes. Mas a coisa n��o acaba
a��. Assim que uma preocupa����o se esgota, outra assume seu
lugar. Por isso, aprender a deixar para tr��s os problemas �� t��o
fundamental para nossa felicidade e paz de esp��rito.
Uma vez que voc�� j�� sabe que qualquer pensamento pertur-
bador pode ser dissipado, o problema ent��o se desloca para o
fato de que, daqui a tr��s minutos, uma hora ou um dia, o pensa-
mento obsessivo vai voltar. De onde ele vem? Ora... ele �� produ-
to de nossa mente polu��da, que daqui para a frente chamarei de
"ego". Seu objetivo �� colocar-se �� parte, ser diferente e parti-
cular ��� o ego considera a uni��o uma inimiga mortal.
Pensamentos de preocupa����o e/ou de agressividade levam ��
sensa����o de isolamento. Quanto mais os buscamos, mais isola-
dos nos sentimos, e assim saciamos o principal objetivo de nosso
ego. Portanto, para abandonar permanentemente um pensamen-
to negativo, temos de estabelecer um objetivo de uni��o e inte-
gridade mental.
��� Planeje a resposta para a pr��xima vez que o seu ego apre-
sentar essa linha de racioc��nio.
Sua resposta precisa ser breve e direta. Interrompa o pensa-
mento e inunde de luz a pessoa sobre a qual mantinha fantasias
de vingan��a... ou pense como o novo gatinho �� engra��ado. Qual-
quer pensamento que de alguma forma seja amoroso, feliz ou
pac��fico �� suficiente j�� que seu ego n��o quer que voc�� se dedique
a esse sentimento.
��� Repita silenciosamente: "N��o importa quantas vezes o meu ego
repetir este pensamento, resistirei. Se ele trouxer este pensa-
mento mil vezes, responderei mil e uma vezes como planejei."
Livrando-se do lixo mental 35
Quando o ego perceber que voc�� mentalizar�� a pessoa na luz
sempre que algum pensamento perturbador surgir, ele mudar�� a
linha de racioc��nio. Ele ainda vai testar a sua sinceridade algumas
vezes, mas vai acabar desistindo, acredite!
Quando percebo que n��o estou aplicando com firmeza as
etapas mencionadas (identificar o pensamento, interromp��-lo,
pensar num assunto ligado ao sentimento amoroso e de uni��o,
criar um plano para quando o pensamento retornar), tento me
dedicar a um momento de reflex��o e, conscientemente, parar
de me torturar, de abalar a minha paz e de me colocar numa
posi����o de confus��o mental em que n��o fa��o o bem para aque-
les a quem amo.
Acima de tudo, �� preciso considerar as pessoas envolvidas
com delicadeza e compreens��o, sem nenhuma censura. Talvez
n��o se atinja esse distanciamento, especialmente se estivermos
furiosos com elas. A quest��o que se coloca �� a mesma: ser�� que
realmente quero caminhar em dire����o �� paz ou me afastar dela?
Atitude 2: N��o se preocupar �� a r r i s c a d o , talvez perigoso
O velho ditado diz que um dia �� da ca��a... e o outro do ca��a-
dor. Dizer que algu��m �� feliz e tem sorte �� quase o mesmo que
dizer "como o diabo gosta" ��� e todo mundo sabe o que acon-
tece com aqueles que n��o est��o nem a�� para o diabo. A palavra
feliz, ��s vezes, �� usada no lugar de "despreocupado", "louco",
"desprovido de bom senso" ou "irrespons��vel". Muitas crian��as
foram criadas ouvindo esse tema em hist��rias como a f��bula da
cigarra, que passava o ver��o cantando, e a s��bia formiga, que pas-
sava o ver��o juntando o alimento para o inverno (e, mais tarde,
teve o prazer de recusar ajuda �� faminta cigarra, s�� para mostrar
o quanto estava certa!).
36 N��o leve a vida t��o a s��rio
Al��m disso, todos n��s crescemos vendo e, o que �� mais impor-
tante, sentindo que nossos pais se preocupam com coisas t��o
diferentes quanto a obesidade, as condi����es clim��ticas, o seguro
de vida, o casamento e os extratos do banco. Por essas e outras
raz��es, a maioria das pessoas entra na idade adulta com a sen-
sa����o de que nada �� confi��vel, nem mesmo o pr��prio lar.
Essa preocupa����o, infelizmente, �� alimentada pela insensibili-
dade dos pais. Muitos ensinam de forma nada sutil que seus fi-
lhos devem se preocupar com a quantidade de comida que con-
somem e com a possibilidade de tirar notas baixas ou de ficar
doentes. Mas, acima de tudo, eles ensinam as crian��as a descon-
fiar da pr��pria intui����o ou bom senso ("N��o posso deixar voc��
fora da minha vista!" ou "Voc�� n��o se preocupa com mais nin-
gu��m a n��o ser a sua pr��pria pessoazinha!") e deixam no ar um
sentimento indefinido quando perguntam:
��� Voc�� tem certeza de que quer mesmo comprar esta pistola
d'��gua? Aquela verde parece mais resistente...
��� Voc�� tem certeza de que quer convidar o Ian para sua festa
de anivers��rio? Lembre-se de que n��o foi convidado para a
festa dele...
��� Voc�� tem certeza de que n��o precisa estudar para a prova?
Voc�� n��o vai querer acabar como frentista de posto de ga-
solina...
��� Voc�� tem certeza de que ele �� a pessoa certa, querida? Voc�� n��o
vai querer procurar namorado depois que j�� estiver mais velha...
Mesmo que a nossa tend��ncia �� preocupa����o tenha origem
em nossas viv��ncias de inf��ncia, recebemos muitas outras con-
tribui����es. A id��ia de que �� bom se preocupar �� parte de toda a
nossa cultura crist�� ocidental. Todos os dias nos reunimos diante
da televis��o para ouvir intermin��veis reportagens sobre proble-
Livrando-se do lixo mental 37
mas da vizinhan��a e do mundo sem sequer nos lembrarmos de
procurar alguma solu����o. Absorver o problema j�� �� o bastante
para nos satisfazer ��� e a m��dia sabe muito bem disto.
A religi��o, que deveria promover conforto e amparo, pode
levar �� preocupa����o e, ��s vezes, ao terror. Padres, pastores e rabi-
nos muitas vezes usam o medo para ensinar a doutrina e ��� por
que n��o? ��� para aumentar as contribui����es dos fi��is.
At�� o sistema educacional promove a ansiedade, ao fixar
metas imposs��veis e amea��ar com penalidades quem ousa se
comportar de forma "impr��pria". Do primeiro ao ��ltimo ano da
escola, os objetivos s��o conflitantes: responsabilidade, socializa-
����o, auto-estima, consci��ncia ambiental, criatividade, orgulho
racial, consci��ncia das drogas, administra����o do tempo, etc. Os
pr��prios professores variam amplamente na maneira como
influenciam os alunos, at�� porque os livros e curr��culos escolares
que lhes s��o entregues tamb��m cont��m id��ias complexas e con-
tradit��rias: �� melhor ficar de olho, V�� devagar, Use a cabe��a, Olhe onde
pisa, Cuidado com as costas, Conhe��a os seus amigos, N��o confie em
ningu��m, Cuidado com o que voc�� est�� fazendo, Olhe para a frente. E a
minha preferida: Pense duas vezes.
�� claro que h�� mil maneiras de usar todos esses conselhos,
mas, a exemplo das preocupa����es espirituais de hoje (Tome cons-
ci��ncia, Olhe o que voc�� est�� dizendo, Os medos se auto-alimentam e o
mais assustador: Lembre-se de que voc�� cria a sua pr��pria realidade), a
mensagem mais importante ��: estamos mais alertas e mais bem
armados quando estamos ansiosos. O que, ali��s, n��o �� absoluta-
mente verdade. O contr��rio da mente preocupada n��o �� a mente
tola, mas sim a mente tranq��ila.
O que se pode observar �� que quando a mente est�� preocupa-
da, ela se torna lenta e dispersa, ao passo que a mente tranq��ila
38 N��o leve a vida t��o a s��rio
�� capaz de uma consci��ncia ampla e firme, no m��nimo, porque
est�� menos distra��da. Diante dessa perspectiva, pode-se dizer
que a mente preocupada est�� desprotegida, dominada pela an-
siedade, enquanto a mente tranq��ila pode avaliar a situa����o de
modo mais r��pido e preciso. Por isso mesmo tem mais chances
de impedir um perigo iminente.
Atitude 3: As preocupa����es s��o intuitivas ou previs��veis
Neste livro, estamos examinando o que limpa a mente, facili-
ta a concentra����o e a torna ��ntegra em rela����o ao que tira sua paz
e sua tranq��ilidade. �� pura tolice a id��ia de que se deve conviver
com a mente agitada porque isso facilitaria a realiza����o de algu-
ma premoni����o.
Pode at�� ser que, em algumas ocasi��es, a intui����o apare��a mis-
turada com a preocupa����o, mas n��o h�� uma maneira confi��vel de
verificar isso. E �� interessante observar que as pessoas preferem
simplesmente ignorar as "premoni����es" que n��o se confirma-
ram. Muitos pais tomam decis��es com base em preocupa����es.
Eles endurecem a respeito de determinados comportamentos
porque receiam o que possa acontecer a seus filhos. Embora aqui
e ali algumas previs��es se mostrem verdadeiras, em geral esse
tipo de disciplina tem resultados negativos.
Se o objetivo �� descobrir que estado mental �� mais intui-
tivo, a preocupa����o deve ser eliminada logo de in��cio,
por ser inconsistente.
C o m o muita gente j�� percebeu que os medos n��o s��o intui-
tivos, at�� mesmo essa constata����o se tornou motivo de preo-
cupa����o. Voc�� j�� deve ter ouvido falar que "s��o justamente as
Livrando-se do lixo mental 39
coisas que n��o nos preocupam que acontecem"? Tomar essas
palavras ao p�� da letra significa que, quanto mais preocupado
voc�� ��, menores s��o suas chances de que as coisas se tornem
realidade. A contrapartida aparece em outro ditado: "S�� porque
voc�� tem fobia de voar n��o quer dizer que seu avi��o v�� cair!" Ou
seja: a preocupa����o �� um jogo em que n��o h�� vencedores.
L i b e r t a �� �� o 5
Tempo sugerido: 1 dia
O medo de que um coment��rio infeliz seja mal interpretado
n��o existiria se tiv��ssemos a certeza de que a pessoa n��o o
guardaria na mem��ria. Se isso fosse verdade, nossas amizades
permaneceriam inc��lumes, apesar das observa����es inoportunas.
Portanto, nosso medo nada tem a ver com o que foi dito, mas
com suas conseq����ncias futuras. Quando estiver praticando esta
terceira Liberta����o, tenha sempre em mente que, embora com
ra��zes bem fincadas no passado, todas as formas do medo apon-
tam para o futuro.
��� Anote qualquer medo que passe pela sua cabe��a desde o
momento em que voc�� acorda at�� a hora de deitar. Anote
tudo, as vagas apreens��es, as suspeitas ou mesmo as fan-
tasias catastr��ficas que surgirem.
��� Antes de adormecer, assinale os medos mais assustadores,
ou, se preferir, classifique-os numa escala de um a dez. Sepa-
re tamb��m os medos que voc�� acha que s��o intuitivos e pre-
vis��veis daqueles que voc�� acha que se auto-alimentam por
causa da intensidade e freq����ncia com que pensa neles.
��� Coloque essa lista num lugar de f��cil acesso. �� importante
ficar atento e ver se alguma coisa acontece da maneira como
40 N��o leve a vida t��o a serio
voc�� imaginou. Anote tamb��m todos os acontecimentos
que, de alguma forma, terminaram sendo o oposto daquilo
que voc�� receava que fosse acontecer.
��� Se voc�� preferir n��o fazer esta etapa do processo de Liber-
ta����o, ter�� de renunciar para sempre ao direito de se preo-
cupar em voz alta!
Atitude 4: H�� um tempo e um lugar para se preocupar
Quando o carro derrapa e perdemos o controle de sua dire-
����o, ou quando falseamos o p�� e ca��mos, nossa mente, em geral,
est�� muito calma. S�� quando acontece �� que nos perturbamos e
come��amos a suar por causa do acidente. Que vantagem ter��a-
mos se fic��ssemos nos preocupando com o que poderia ter
acontecido, com as poss��veis conseq����ncias f��sicas ou mesmo
com a li����o que "o universo" estaria nos dando enquanto nos
contorcemos no ar para reduzir os efeitos de uma queda ou
enquanto lutamos para retomar o controle do carro? Se deix��s-
semos que nossa mente se ocupasse durante a emerg��ncia,
ser��amos incapazes de reagir instantaneamente. Ser�� que isto
significa que a preocupa����o �� ��til quando n��o estamos em si-
tua����o de emerg��ncia?
P A R E C E , M A S N �� O ��
Quando est��vamos no final da adolesc��ncia, meu irm��o e eu
fomos convidados para ir a uma fazenda nas montanhas do
Colorado. Um dia fizemos uma longa caminhada e chegamos a
uma cachoeira magn��fica, de mais de cinq��enta metros
de altura. Desafiei-o a subir comigo pelas pedras e ele topou
o desafio.
Livrando-se do lixo mental 41
N o s s o plano era subir paralelamente �� queda-d'��gua. C o m o
em geral acontece com pessoas inexperientes em escaladas, o
que n��o parece ��ngreme para quem est�� embaixo se agiganta
quando a subida come��a. Quando me dei conta de que seria bem
mais dif��cil e perigoso do que havia imaginado, percebi que seria
muito pior tentar descer.
Restavam apenas uns dez metros para chegar ao topo, quando
come��ou uma chuva de granizo que se transformou em uma
fort��ssima tempestade. Est��vamos logo abaixo de uma imensa
pedra que se projetava. Eu n��o conseguia ver o caminho para o
topo e, para piorar, de repente, o degrau sobre o qual nos apoi��-
vamos come��ou a se soltar.
Quando a base come��ou a rachar sob nossos p��s, me preocu-
pei. Meu irm��o escolheu exatamente aquele momento para me
dizer que em duas ocasi��es pessoas haviam morrido tentando
escalar a cachoeira. Gelei, mas como era o mais velho e o respon-
s��vel por estarmos ali, naquele sufoco, assumi a lideran��a. Ape-
sar de paralisado pelo medo, tranq��ilizei meu irm��o, dizendo
que de onde estava eu conseguia ver um caminho para o topo do
lado em que ele estava. Era mentira, mas foi a ��nica coisa que me
ocorreu. Por sorte, havia mesmo um caminho e, quando chegou
em cima, ele estendeu a m��o e me ajudou a subir.
A primeira rea����o a essa hist��ria �� dizer que me preocupei no
momento errado. Mas, para falar a verdade, n��o d�� para saber
qual �� o momento certo de se preocupar. Dever��amos ter nos
preocupado em identificar o exato ponto em que n��o havia
retorno? Se concord��ssemos ter alcan��ado este ponto (rara-
mente as pessoas concordam a respeito do momento de parar),
dever��amos ter feito uma pausa e nos preocuparmos ali? Ah...
Durante a escalada vimos uma cobra diferente e nos aproxi-
42 N��o leve a vida t��o a s��rio
mamos para examin��-la mais de perto. Dever��amos ter nos preo-
cupado tamb��m?
�� claro que n��o existe um momento ideal para se preocupar.
Talvez fosse poss��vel dizer que "uma pequena preocupa����o" ��
bom, ou, ainda, que o importante �� a quantidade e n��o o mo-
mento. Quem sabe, se eu tivesse me preocupado pelo menos um
pouquinho n��o ter��amos corrido risco de vida. Na verdade, ��
preciso admitir que foi justamente o fato de que a escalada pare-
cia preocupante que tornava a id��ia interessante.
Quem iria querer subir uma encosta de inclina����o suave,
coberta por um espesso tapete de grama? Se n��o fosse "um pou-
quinho preocupante", a escalada n��o teria sido um desafio.
Parece que eu teria de me preocupar mais do que me preocupei,
mas... quanto mais? �� claro que me preocupei "demais" quando
estava debaixo da pedra na chuva...
A id��ia de que h�� uma quantidade exata de preocupa����o ��
apenas algo a mais para nos preocuparmos. A preocupa����o sim-
plesmente n��o funciona.
Atitude 5: Preocupa����o �� sinal de intelig��ncia
Pensamos que a preocupa����o �� uma escolha inteligente da pes-
soa, em oposi����o a uma rea����o de massa, uma atitude da coletivi-
dade. A preocupa����o ��, na verdade, a emo����o que une o mundo.
Ela pode ultrapassar as diferen��as religiosas, pol��ticas, raciais e
sexuais. Notici��rios e document��rios s��o campe��es de audi��ncia
porque est��o sempre trazendo uma lista de m��s reportagens ao
vivo para que o espectador possa se preocupar. Reportagens inves-
tigativas que revelam perigos em lugares insuspeitos estimulam
nossa ansiedade, que, por sua vez, provoca as altera����es qu��micas
no organismo ��� e, assim, o v��cio da ansiedade se alimenta.
Livrando-se do lixo mental 43
�� senso comum em nossa cultura que a pessoa sem preocu-
pa����es �� uma ing��nua. Para n��s, o cinismo �� sinal de intelig��n-
cia e pragmatismo. C o m o o desastre �� comum a todos, tende-
mos a considerar a paz de esp��rito como uma emo����o irreal ou
falsa. Os fortes atacam os fracos. Todos os seres que conhece-
mos vivem �� custa da morte de algum outro ser.
A conclus��o �� inevit��vel: voc�� e eu murcharemos e morrere-
mos como tudo o que est�� vivo, seja o planeta, uma pessoa ou
uma planta. Este �� o cen��rio de nossas vidas e s�� n��o v�� quem
n��o quer. Partimos do princ��pio de que a preocupa����o �� a
emo����o "consciente", aquela que �� induzida pelos fatos.
Podemos nos concentrar nos fatos "inevit��veis" da vida ou no
ponto onde estamos e no que estamos fazendo. Quando relaxa-
mos, come��amos a nos abrir para uma realidade que vai muito
al��m daquele cen��rio preconcebido sobre o futuro que inventa-
mos. A preocupa����o est�� sempre relacionada ao futuro, mesmo
que o futuro seja o momento seguinte.
Atitude 6: Preocupa����o �� sinal de compaix��o
Acreditamos que aqueles que se preocupam se tornam social-
mente respons��veis. Outro mito �� de que a nossa ang��stia cor-
responde ao tamanho de nossa preocupa����o pelas pessoas so-
frendo no mundo. A preocupa����o ajuda algu��m? N �� o , mas como
a ansiedade �� uma sensa����o um tanto desagrad��vel e desgas-
tante, ela simula uma falsa impress��o de dever cumprido, de ter-
mos feito a nossa parte, quando, na verdade, apenas movimen-
tamos as nossas engrenagens mentais, ou a nossa boca.
Observe o quanto voc�� se sente afastado quando se aproxima
de uma pessoa apreensiva. Em geral, ela est�� t��o absorvida em
sua pr��pria preocupa����o que se torna uma esp��cie de lobo soli-
44 N��o leve a vida t��o a s��rio
t��rio. Seu foco pode ser at�� mesmo uma determinada pessoa,
mas ela n��o consegue demonstrar sua solidariedade. "Estou
preocupado com voc��" �� a frase t��pica de quem tem um ego com
tamanho potencial autodestrutivo.
As preces que as pessoas religiosas fazem antes de refei����es
s��o outro exemplo de mau uso da preocupa����o: "Lembremos de
todos os que t��m fome." Se, a cada bocado, realmente nos lem-
br��ssemos dos famintos, nos alimentar��amos em meio a um con-
flito imenso. N �� o haveria nenhuma sensa����o de comunh��o nessa
mesa. A generosidade �� um ato de felicidade, n��o uma conse-
q����ncia do medo.
Atitude 7: Quando as coisas v��o bem, �� melhor come��ar a se preocupar
Se um livro ou um filme come��a com cenas felizes e vozes ale-
gres, sabemos que algo de ruim est�� para acontecer. �� preciso
uma dose de alegria ��� mesmo que por pouco tempo. Observe
que quando as coisas come��am a acontecer do jeito que a gente
gosta, uma leve preocupa����o surge no horizonte. Por experi��n-
cia pr��pria, sabemos que aquilo que mais desejamos �� o que
pode nos ferir mais profundamente.
Um ditado muito popular diz que �� preciso "Tomar cuidado
com o que pede... voc�� pode conseguir!". Pense no que est�� im-
pl��cito nesta afirma����o: nas vantagens especiais com as quais
voc�� poder�� come��ar a sua vida ��� boa apar��ncia, bom sistema
imunol��gico, talento natural, riqueza de fam��lia e qualquer outra
coisa ��� nada disso �� confi��vel. Se voc�� come��ar a pensar nas
vantagens adicionais com que sempre sonhou, saiba que elas s��o
ainda menos confi��veis!
N o s s o problema n��o �� que n��o olhamos de frente para o peri-
go e a ironia. Olhamos para o mundo quase em transe, fascina-
Livrando-se do lixo mental 45
dos. O que n��o questionamos �� qual o valor desse olhar, qual o
verdadeiro benef��cio de ter uma percep����o preocupada.
P a r a c a d a a �� �� o , u m a r e a �� �� o
N �� o �� dif��cil examinar estas sete atitudes geradoras de preo-
cupa����o. Em geral, terminamos admitindo que a preocupa����o
reduz a nossa capacidade de adapta����o e de rea����o, de sermos
criativos, intuitivos e sens��veis ��� e, com certeza, de conhecer-
mos o prazer puro e simples e a paz de esp��rito. No entanto,
muita gente acredita ter pouqu��ssimo controle sobre a tend��ncia
da mente de manter o foco num ��nico problema. Um adesivo
muito comum nos vidros dos carros est�� escrito: "Se n��o estiver
preocupado, �� porque voc�� n��o est�� prestando aten����o."
E m outras palavras: a consci��ncia deve levar �� preocupa����o. A
ansiedade �� uma esp��cie de religi��o e, gostemos ou n��o, deve-
mos todos nos ajoelhar no altar da preocupa����o. N �� o d�� para
elimin��-la completamente, mas est�� provado que, por meio da
concentra����o e da for��a de vontade, �� poss��vel lutar contra o
quanto nos preocupamos.
Se �� verdade que sempre nos preocuparemos, deve ser igual-
mente verdade que a tranq��ilidade interior e a paz s��o objetivos
plenamente alcan����veis.
Antes de passarmos ��s pequenas mudan��as que eliminam
preocupa����es menores, examinemos como a mente funciona em
momentos de extrema necessidade. Exemplo: seu filho acaba de
receber o diagn��stico de uma doen��a possivelmente fatal e nin-
gu��m sabe dizer como o caso evoluir��. �� claro que voc�� se afli-
gir�� com o que pode acontecer. Em momentos dram��ticos como
esse, nada serve de conforto espiritual.
H�� uma hist��ria que ilustra bem esta situa����o: um guru disse
4 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
a uma mulher que chorava a morte de seu filho que ela n��o deve-
ria sentir-se triste, pois a morte n��o existe para Deus. Anos de-
pois, o filho do guru morreu e, ao ver a profunda tristeza do
guru, a mulher se lembrou do que ele havia dito.
��� Aquele era o seu filho ��� disse o guru. ��� Este �� o meu filho.
Quando estamos diante da trag��dia, choramos e nos indig-
namos. O que podemos e devemos nos perguntar �� se esta ��
a ��nica rea����o de que somos capazes. Continuar ocupando a men-
te com preocupa����es n��o trar�� benef��cio algum, enquanto a mente
em paz, ao contr��rio, se estende a todos. Um casal de amigos nos-
sos e sua filha deram um exemplo inspirador, que conto a seguir.
TOM E A N N
H�� poucos anos, Diana, a filha de 21 anos de Tom e Ann, teve
uma convuls��o e eles a levaram para a emerg��ncia. Exames indi-
caram um tumor no c��rebro. Nesse momento, come��ou o pesa-
delo da busca por segundas e terceiras opini��es, de aus��ncias do
trabalho, de provid��ncias para decidir hospital e cirurgi��o e
todos os outros problemas que uma crise desse tipo envolve.
N �� o apenas porque eles eram amigos, mas tamb��m porque
eram pais amorosos e profundamente espirituais, est��vamos
seriamente interessados no que enfrentavam e na maneira como
tratavam da situa����o. Tom �� m��dico e Ann sua auxiliar no con-
sult��rio. No in��cio, os dois s�� conseguiam pensar em descobrir
um tratamento para o tumor. Contudo, depois de alguns dias,
decidiram reexaminar seu objetivo. Em parte, porque percebe-
ram que seu p��nico e terror s�� pioravam o sofrimento de Diana.
Depois, porque fizeram o que chamaram de "um exame piedoso
de seus cora����es" e resolveram amar Diana com cada fibra de
seu ser, dedicando-se inteiramente �� paz e �� felicidade da filha.
Livrando-se do lixo mental 47
Embora tenham tomado todas as provid��ncias necess��rias
para que a filha fosse diagnosticada e tratada corretamente, sua
aten����o j�� n��o era mais a recupera����o de Diana. Eles sabiam que
muitos resultados eram poss��veis, entre os quais a morte, diver-
sos graus de incapacita����o ou uma completa recupera����o. Disse-
ram-me que haviam observado que algumas pessoas s�� se voltam
para Deus quando est��o muito doentes ou quando est��o mor-
rendo. Conheceram pessoas que agradeciam por suas defici��n-
cias ��� por tudo o que haviam aprendido com a experi��ncia. Em
outras palavras, Tom e Ann perceberam que n��o estavam em
posi����o de escolher o melhor tratamento para sua filha e, acima
de tudo, que n��o poderiam controlar os fatos.
�� muito dif��cil explicar esse tipo de situa����o para algu��m que
n��o passou pela experi��ncia. Pode parecer que a pessoa n��o est��
se importando, mas a verdade �� que Tom e Ann n��o hesitavam
em enfrentar m��dicos e enfermeiras se achassem que sua filha
n��o estivesse sendo bem-cuidada ou algu��m estivesse come-
tendo um erro.
Qualquer pai ou m��e normal se preocuparia seriamente com
um tumor no c��rebro da filha. A luta pela recupera����o de Diana
simbolizava seu amor mais do que qualquer outra poss��vel a����o.
Isto n��o significava que a meta de seu cora����o e o centro de seus
pensamentos alterasse o organismo da filha. Ao contr��rio, trazia
conforto ao esp��rito dela.
Recusar-se a fazer do controle a principal meta n��o sig-
nifica cumprir as tarefas e deveres com indiferen��a
ou descuido. Se o objetivo �� a consci��ncia, todas as coi-
sas devem ser feitas com aten����o. Se o objetivo �� a inte-
gridade, tudo deve ser feito meticulosamente. Se o obje-
48 N��o leve a vida t��o a s��rio
tivo �� o amor, tudo deve ser feito com cuidado, aten����o
e beleza.
A situa����o no in��cio era t��o apavorante que Tom e Ann
decidiram se concentrar na felicidade de Diana. Gradualmente,
come��aram a sentir sua uni��o com a filha e, em pouco tempo,
uma profunda paz que os conduziu pelas semanas de exames e,
enfim, �� opera����o, que foi bem-sucedida. Diana voltou �� univer-
sidade e ��s atividades desportivas.
U s a n d o a c r i s e c o m o m o t i v a �� �� o
Se voc�� j�� teve pessoas ansiosas �� sua volta, talvez entenda por
que a mudan��a da enfoque de Tom e Ann deixou Diana mais
feliz e mais relaxada. Eles conseguiram transformar suas mentes
radicalmente ��� de latas de lixo mental para floridos canteiros.
Se um n��mero maior de pessoas pudesse sentir como �� passar
um ��nico dia com a mente n��o-fragmentada e sem conflito, co-
nheceriam a vida como ela ��. C o m o isso �� raro, passamos a
maior parte do tempo agindo como crian��as apontando e gri-
tando para uma sombra, enquanto pais e m��es permanecem na
retaguarda, oferecendo seguran��a e apoio. Que os pais fun-
cionam como uma presen��a confortadora, isso �� fato, ainda mais
quando a mente est�� unificada ��� nesse caso, n��o h�� nada que
possa bloquear a beleza tranq��ila do cora����o.
Depois que Diana voltou �� universidade, Tom me disse que a
paz que havia sentido come��ou a desaparecer. Trata-se de uma rea-
����o comum: muitas pessoas enfrentam com bravura uma tempes-
tade, mas se sentem esmagadas diante dos fatos da vida. Tom op-
tou por orar com freq����ncia maior, mas a ora����o n��o funcionou.
Por fim, ele entendeu que, agora, sua prioridade era ele mesmo.
Livrando-se d o lixo mental 4 9
Ao perceber seu equ��voco, Tom come��ou a se dedicar mais ��
sua mulher, sua equipe e seus clientes, especialmente em seus
pensamentos e em suas preces.
��� Sempre que dou ��s pessoas a mesma aten����o que dei para
Diana, simplesmente me sinto melhor, trabalho melhor, gosto
mais de meus clientes. Ann e eu nos aproximamos e a vida vale
a pena... Sermos gentis �� simplesmente muito bom.
Primeiro ame, depois fa��a o que tem de fazer. Primeiro,
escolha a paz, depois diga o que tem a dizer. Perguntar
"O que devo fazer?" e "O que devo dizer?", na verdade,
significa: "Como obtenho o resultado que desejo?" Rara-
mente nos confundimos quando a paz e a integridade
s��o a nossa meta.
Se examinarmos o processo que permitiu que Tom e Ann se
livrassem da preocupa����o, da ang��stia e do medo, observaremos
que eles desviaram sua aten����o de algo que n��o podiam controlar
(encontrar a cura para um tumor no c��rebro) para algo que po-
diam controlar (amar sua filha e procurar a paz para ela). Sempre
que nosso desejo sincero �� melhorar nosso estado mental, n��o h��
falha poss��vel. Falhamos porque dividimos nossa mente.
L i b e r t a �� �� o 4
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
��� Assuma duas ou tr��s pequenas tarefas: vestir-se, ir a um
supermercado, fazer uma refei����o qualquer, pagar algumas
contas ou qualquer outra atividade.
��� Antes de come��ar cada atividade, organize seus pensamen-
50 N��o leve a vida t��o a s��rio
tos e tranq��ilize-se interiormente. Experimente repetir pau-
sadamente estas palavras: "Tudo est�� liberado. Tudo �� paz."
��� Quando se sentir em paz, estabele��a a meta de n��o tomar
nenhuma decis��o enquanto estiver realizando esta atividade.
Cada vez que sua mente come��ar a decidir por uma a����o
(Devo usar este sapato ou aquele? Pago em dinheiro ou cart��o de cr��di-
to? Fa��o uma sopa ou um sandu��che?), corte o pensamento e fa��a
alguma coisa, mas fa��a com o m��ximo de tranq��ilidade e paz
interior que puder.
��� Depois de fazer seja l�� o que for, fa��a um pequeno teste.
Primeiro, pergunte-se se voc�� acredita que a qualidade, efic��-
cia ou sensatez de qualquer coisa que voc�� tenha feito foi
prejudicada por ter resolvido n��o tomar nenhuma decis��o.
Se a resposta for n��o, reexamine a atividade. Desta vez, per-
gunte a si mesmo se voc�� acha que agiu com naturalidade e com
maior pondera����o do que se houvesse tomado decis��es cons-
cientes como sempre. (Sim, estas s��o quest��es complicadas!)
Tr��s
A b r i n d o m��o das
emo����es i n �� t e i s
Desde os anos 6o, as emo����es das pessoas s��o usadas pela
psicologia e at�� pela sabedoria popular, como fonte de
informa����es sobre a sa��de mental da popula����o. A m��dia, ��
claro, percebeu o potencial e passou a se interessar cada vez mais
por hist��rias altamente dram��ticas, que provoquem a express��o
de sentimentos dos entrevistados ��� nunca de seus ideais ou
convic����es. Casos como o seq��estro do publicit��rio Washington
Olivetto ou o brutal assassinato do jornalista T i m Lopes s��o
exemplos de "boas hist��rias". Na esteira dessa tend��ncia surgi-
ram incont��veis grupos de auto-ajuda, todos usando as emo����es
dos participantes como agentes de mudan��a. Na verdade, as
emo����es se tornaram as j��ias de nossa cultura ��� n��o s�� por
revelarem a ess��ncia da sa��de mental como por serem agentes
de mudan��a comportamental.
A mudan��a de enfoque pode ser notada at�� em coisas banais
como o tema dos discursos de agradecimento em cerim��nias de
entregas de pr��mios. N o s anos 50, a pessoa agradeceria ter sido
escolhida, falaria do lugar em que seria pendurada a medalha ou
placa e no quanto e como a honra conferida afetaria o seu futuro.
Hoje, os discursos est��o centrados na id��ia de que a verdadeira
52 N��o leve a vida t��o a serio
recompensa �� a maneira como nos sentimos. Assim como os
rep��rteres sempre fazem a uma v��tima de uma trag��dia pergun-
tas sobre como ela se sente, as entrevistas com os ganhadores de
um pr��mio ou concurso invariavelmente come��am com a per-
gunta: "Como voc�� se sente?"
T �� o dominante �� o novo papel atribu��do ��s emo����es que a frase
"o sentimento acabou" �� uma justificativa, freq��entemente citada
para se divorciar do parceiro ou parceira de toda uma vida. Era con-
siderado um cumprimento chamar uma mulher de "meiga", ou um
homem de "tipo reservado", mas hoje os adultos calmos e os ado-
lescentes tranq��ilos s��o considerados suspeitos. Ser "um tipo reser-
vado" �� quase o mesmo que dizer que a pessoa talvez seja psic��tica.
"O que voc�� est�� sentindo?" �� uma das perguntas mais
comuns nas terapias e nos grupos de apoio. Ela faz com
que o sentimento da pessoa a respeito do que foi dito
seja mais importante do que o que foi dito.
A emo����o �� a linguagem que revela o funcionamento mais pro-
fundo de nossa mente. Se a escutarmos (em vez de reagirmos), tere-
mos acesso a valiosas percep����es intuitivas das pessoas a quem
amamos. Mas, cuidado: as emo����es n��o s��o um solu����o em si mes-
mas. Por tr��s de cada emo����o h�� um pensamento que gera senti-
mentos. �� um processo cont��nuo, j�� que ao pensarmos que um amigo
pode morrer, por exemplo, sentimos medo; ao pensarmos que
algu��m est�� nos desprezando, sentimos raiva, e assim por diante.
As emo����es nascem e morrem no ritmo de nossos pensamen-
tos. C o m o s��o subprodutos do pensamento, conseguimos sabo-
tar a carreira, a sa��de, a felicidade e os relacionamentos apenas
com a for��a do pensamento inconsciente, n��o do sentimento
Abrindo m��o das emo����es in��teis 53
inconsciente. D a �� a necessidade de identificar o pensamento
negativo no instante em que ele aparece.
Em geral, as pessoas t��m certa consci��ncia de estarem tristes,
irritadas, ansiosas ou descontentes ��� "sintomas" ineg��veis de
pensamentos negativos ���, mas pouqu��ssimas vezes elas identifi-
cam o que est�� por tr��s de suas emo����es. �� mais ou menos como
estar consciente de que h�� algo errado no organismo, mas sem
sintonizar exatamente o qu�� e onde. O mais prov��vel �� que jogue
a culpa nos outros.
Fomos treinados para lidar com as emo����es, especialmente
com as explos��es emocionais. Algumas t��cnicas s��o eficazes, at��
melhoram o estado emocional; outras n��o, s��o destrutivas. Tudo
vai depender de fatores t��o diversos como beber e comer de-
mais, desabafar, retaliar (ou "fazer justi��a"), acusar, curtir f��rias,
praticar a libera����o sexual, integrar grupos de apoio, usar drogas
e at�� ouvir m��sica.
Se nossa mente n��o est�� ��ntegra, em se tratando de emo����es,
nada funciona por muito tempo. Observe que o mesmo comen-
t��rio ou a mesma circunst��ncia pode nos atingir de uma maneira
diferente a cada vez. Tente lembrar como voc�� se sentia na
inf��ncia em rela����o aos pais e professores. N �� o �� verdade que
eles sempre reagiam com exagero ao que diz��amos ou faz��amos?
Voc��, por outro lado, n��o sabia o que esperar, nem calcular como
eles (os adultos) desejariam que se comportasse daquela vez. O
humor deles estava fora de controle ��� no fundo, porque estava
fora do controle deles.
Diga n��o ��s preocupa����es
Aprender a ficar livre de emo����es menores como a ansiedade,
o nervosismo e a apreens��o �� f��cil. Um exemplo: viajo com certa
54 N��o leve a vida t��o a s��rio
freq����ncia para dar workshops e, quando se aproxima o momen-
to de sair da cidade, invariavelmente come��o a me preocupar se
conseguirei fazer as conex��es de v��o necess��rias, se coloquei na
mala tudo de que preciso, se dormirei o suficiente, que tipo de
grupo estar�� presente e outros fatores fora de meu controle.
Aprendi a interromper essas preocupa����es ajustando o foco
em cada aspecto da viagem. Fa��o um check list de perguntas:
C o m o quero me preparar para a viagem? Em paz. C o m o quero
me despedir da minha fam��lia? Amorosamente. C o m o quero es-
perar no aeroporto? Relaxadamente e com prazer. C o m o quero
tratar as pessoas que encontrar? Generosamente. Que esp��cie
de workshop desejo dar? O mais ��til que puder... e assim por
diante. Ao ajustar o foco nas coisas que posso controlar, consigo
unificar a mente e dissipar o receio, porque a mente fragmenta-
da produz o medo e outras emo����es desintegradoras.
As preocupa����es com o dinheiro s��o outro exemplo de como
o problema pode ser menos grave do que aparenta ser. Vamos
supor que �� voc�� quem paga as contas, faz o malabarismo com os
juros do cart��o de cr��dito, poupa e investe a sobra de dinheiro.
Ou seja: voc�� est�� acostumado a enfrentar situa����es imprevis��veis
e escapar de armadilhas. Todo m��s �� a mesma ang��stia: todas as
contas chegaram? os valores est��o corretos? ser�� que a economia
do pa��s far�� de seu investimento uma op����o sensata?
�� normal que voc�� se preocupe, mas ser�� que isso vai resolver
alguma coisa? Certamente n��o. A sa��da �� estabelecer um objeti-
vo mental e torn��-lo mais importante do que as circunst��ncias
do momento ou as conseq����ncias futuras. Isto nos tranq��iliza e
restaura a integridade da nossa mente.
Mudar o enfoque interior, deixar a preocupa����o de lado e ficar
em paz ��, sem d��vida, um exerc��cio interessante para se fazer,
Abrindo m��o das emo����es in��teis 55
por exemplo, num momento de ansiedade. Nenhuma boa deci-
s��o financeira pode ser alcan��ada com medo e preocupa����o.
Tamb��m n��o adianta se punir mentalmente por erros que tenha
cometido no passado ou tentar saber qual �� o investimento "cer-
to", ou exatamente quanto deve ser poupado. A mente sempre
se fragmenta quando fazemos uma pergunta imposs��vel de ser
respondida. O ideal �� acalmar os pensamentos e relaxar os pro-
cessos mentais. Se pagar as contas deixa-o assim, feche os olhos,
acalme-se e mentalize a frase: "Lerei todos esses documentos e
assinarei os cheques em paz." Repita at�� sentir que alcan��ou seu
objetivo.
Seja qual for a quest��o com dinheiro, podemos sempre
ver qual op����o acreditamos ser a mais agrad��vel, a
menos prov��vel de dar errado e qual delas nos d�� a
perspectiva de menor risco e mais paz. Ningu��m pode
prever o que acontecer��, mas as perguntas dirigidas ��
nossa ��ndole pac��fica n��o ficar��o sem respostas - se nos
sentirmos serenos e examinarmos cuidadosamente o
desejo de nosso cora����o.
D e i x a n d o f l u i r o s s e n t i m e n t o s
Depois que o medo se instala, a mente corre para escolher um
tema unificador. Isto �� verdade para qualquer tipo de emo����o
desintegradora. N �� o �� nada saud��vel opor-se a sentimentos com
os quais voc�� acaba de tomar consci��ncia - ci��me, inveja, des��ni-
mo, vergonha, preocupa����o ou aborrecimento. Neste momento,
uma mente livre �� um objetivo irreal e imposs��vel de ser alcan��a-
do. Observe como �� dif��cil afastar as preocupa����es, os medos, o
desespero ou qualquer outra sensa����o do tipo. N �� o d�� para com-
56 N��o leve a vida t��o a s��rio
bat��-las depois de tomar consci��ncia delas. Quando negamos
uma emo����o destrutiva, corremos o risco de nos esconder, em
vez de ficarmos livres. Mesmo que invis��vel, o pensamento por
tr��s do sentimento continua existindo com for��a maior do que
antes.
Se a emo����o destrutiva fosse apenas um conjunto de sensa-
����es, talvez pud��ssemos ignor��-la ��� como, ��s vezes, fazemos
com uma dor de cabe��a ou uma gripe. Tentar bloque��-la �� igno-
rar o pensamento que est�� causando o sentimento. N �� o d�� para
negar os sintomas de um c��ncer ou uma perna quebrada, n��o
�� mesmo? �� preciso tratar a causa sob o risco de que o mal
se expanda.
Identificar o verdadeiro mal causado por sentimentos como
medo, f��ria, ��dio ou desprezo �� um passo fundamental rumo ��
liberdade. Mas �� igualmente importante desnudar o pensamen-
to que est�� produzindo a emo����o e explicitar o que est�� sendo
feito para refor��ar e reter esse mesmo pensamento.
Se quisermos encerrar o c��rculo vicioso de usar nossas mentes
para nos torturarmos, �� fundamental desvendarmos o pensa-
mento que est�� por tr��s de nossa primeira onda de emo����o.
E substitu��-lo por uma atividade mental mais natural, relaxante
e prazerosa.
A F �� R I A D O C A R R I N H O D E C O M P R A S
H�� poucas semanas, quando sa�� da fila do caixa num super-
mercado, vi dois carrinhos de compras, ambos cheios de sacolas.
Imaginando que o mais pr��ximo fosse o meu, empurrei-o at�� o
carro. Quando peguei as sacolas para colocar no porta-malas,
percebi que n��o continham minhas compras. Imediatamente
fechei o carro e comecei a empurrar o carrinho de volta para o
Abrindo m��o das emo����es in��teis 57
supermercado. No meio do caminho, encontrei uma senhora
enfurecida acompanhada pelo subgerente. Ao tentar dizer que
estava indo trocar o carrinho, ouvi um berro:
��� Esse �� o meu carrinho! ��� gritou a mulher.
��� Eu sei, eu devo ter...
��� �� o meu carrinho! ��� ela berrou de novo.
Cada vez que eu come��ava uma frase, ela interrompia com as
mesmas palavras. Acabei ficando enfurecido tamb��m.
��� A senhora poderia repetir isso mais uma vez? ��� perguntei.
��� �� o meu carrinho! ��� respondeu ela.
��� Obrigado ��� eu disse. ��� Isso �� muito bom.
Surpresa com a minha rea����o, a mulher arrancou o carrinho
da minha m��o, virou as costas e foi embora sem se despedir. S��
ent��o notei que o subgerente estava com as minhas compras. Ele
me pediu desculpas, eu agradeci e o incidente terminou ali.
Depois, ao pensar no que havia acontecido, eu me dei conta
de que n��o tivera nenhuma rea����o especial quando ela falou pela
primeira vez "�� o meu carrinho". S�� fiquei irritado uns vinte
segundos depois, quando o pensamento " N �� o tenho de escutar
isto!" entrou na minha mente. Examinando mais de perto a sen-
sa����o, tive outros pensamentos: "N��o sou obrigado a ser tratado
desta maneira" e " N �� o quero ser desrespeitado".
Era como se s�� agora eu enxergasse a mulher sob as lentes de
uma falsa dignidade, que veio em socorro do meu ego. Esse pen-
samento me transformou em v��tima ��� enfim, meu orgulho esta-
va vulner��vel �� f��ria dela. Comecei a imaginar a infinidade de
pensamentos que eu poderia ter tido enquanto ela gritava, como,
por exemplo, "Que mulher maluca!", ou "O que o subgerente de-
ve estar achando de tudo isso?", ou ainda "O que deve ter acon-
tecido na vida dessa mulher para algo t��o pequeno ser t��o im-
5 8 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
portante para ela?". Cada um desses pensamentos teria gerado
uma emo����o diferente no calor do momento.
Liberta����o 5
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
Este exerc��cio nos leva a um insight ao qual voltaremos muitas
vezes. N o s s a mente est�� t��o cheia de vozes do passado que os
pensamentos entram em conflito. Sempre que sentimos uma
emo����o perturbadora, podemos estar certos de que cometemos
este erro. Os pensamentos destrutivos s�� nos afetam quando os
levamos a s��rio.
��� Identifique tantos pensamentos perturbadores quanto
puder. Anote-os e guarde a lista em seu bolso. Quando um
deles vier �� cabe��a, pegue a lista e a mentalize com fervor e
repita silenciosamente: "O pensamento em si n��o �� o proble-
ma. O problema �� concentrar minha mente em torno desse
pensamento." Em seguida, relaxe a mente.
P a l a v r a s n �� o s u b s t i t u e m c o n v i c �� �� e s
Mesma cena + pensamento diferente = emo����o diferente. ��
aqui que muita gente sai dos trilhos: elas acreditam que podem
apagar seu primeiro pensamento dizendo palavras que represen-
tam outro pensamento. Isto desconsidera um fato importante:
pensamentos s��o um reflexo do que acreditamos, ou, pelo me-
nos, do que pensamos acreditar naquele momento. Palavras sim-
plesmente n��o substituem convic����es. Para que os pensamentos
mudem, nossas convic����es devem mudar primeiro. Ficar repe-
tindo palavras ao vento n��o muda nada, s�� estabelece uma dis-
cuss��o em nossa mente, que fica dividida entre o que acredita-
A b r i n d o m �� o d a s e m o �� �� e s i n �� t e i s 5 9
mos e o que estamos dizendo para n��s mesmos que devemos
acreditar.
Uma amiga me contou a respeito de uma mulher que
vivia dizendo: "Amo meu corpo, amo meu corpo, amo
meu corpo." Um dia, minha amiga lhe perguntou: "Bom,
voc�� ama seu corpo... e da��?" E a mulher come��ou a
chorar. "N��o", disse ela, "n��o gosto de meu corpo." ��
claro que n��o! Palavras n��o s��o pensamentos. Palavras
s��o apenas as embalagens dos pensamentos.
No momento em que temos um pensamento, ele se transforma
na lente por meio da qual vemos o mundo. �� este pensamento que
determina o que selecionamos e o que deixamos de lado. Em certo
sentido, um pensamento �� uma op����o ��� peneiramos os dados que
temos diante de n��s e escolhemos os que refor��am nossa decis��o.
Gayle e eu conhecemos um sujeito que acha que "Hollywood
n��o tem nada de bom". Ele �� capaz de passar horas citando
exemplos para sustentar esta convic����o. At�� quando vamos jun-
tos ao cinema, ele v�� um filme radicalmente diferente do filme
que n��s vemos. Outro exemplo da maneira como os pensamen-
tos determinam a nossa experi��ncia dos acontecimentos �� quan-
do, mesmo gostando do trabalho de um determinado ator, ao
lermos uma cr��tica negativa sobre ele passamos a ter uma per-
cep����o diferente de sua atua����o. Se h�� uma centena de pessoas
no cinema, cada uma poder�� ver uma atua����o diferente porque
suas certezas na vida s��o diferentes.
No nosso trabalho de aconselhamento familiar, Gayle e eu
deparamos com muitas m��es e pais que realmente n��o enxergam o
filho, s�� os pensamentos que t��m sobre o car��ter dele. Essa pos-
6o N��o leve a vida t��o a s��rio
tura contamina tudo o que a crian��a faz e todas as suas palavras e
atos se tornam parte dessa convic����o sombria dos pais. As inter-
preta����es que escolhemos constituem indiscutivelmente uma
proje����o. Contudo, a paz que avistamos no cora����o de nosso
filho, a alegria que temos quando pensamos na pessoa amada s��o
eternas e n��o podem ser corrompidas pela parte de nossa mente
que formula as palavras, interpreta, julga e reage. Essa parte da
mente n��o pode chegar �� verdade porque n��o a conhece.
Temos uma profunda tend��ncia a confundir o que ve-
mos com o que estamos olhando. Os que permanecem
inconscientes de como seus pensamentos revelam a si
mesmos e ��s pessoas a quem amam simplesmente dei-
xam a vida passar totalmente em branco.
O maior risco �� deixar que as emo����es se baseiem em his-
t��rias idealizadas que as pessoas tecem sobre si mesmas e seus
relacionamentos. C o m certeza, j�� vimos isto acontecer a muitas
celebridades. N u m per��odo surpreendentemente curto, elas dei-
xam de existir. Tornam-se meros personagens de hist��rias feitas
sob medida para agradar. Em escala menor, isto tamb��m pode
acontecer com pessoas iguais a n��s. A dica �� n��o deixar que sua
vida pegue um atalho em dire����o ao irreal, nem que sua velhice
fique parecida com um museu de cera, em que as mesmas hist��-
rias s��o narradas sem cessar, repetidamente.
Abrir os olhos pela manh�� �� como abrir um velh��ssimo livro de
colorir em que as p��ginas est��o desbotadas e os contornos dos
personagens imprecisos. Os pensamentos s��o a tabela de cores
que aplicamos a cada cena, p��gina ap��s p��gina. Assim que perce-
bermos que as cores que usamos, e n��o os imprecisos contornos
Abrindo m��o das emo����es in��teis 61
das figuras, s��o os respons��veis pelos sentimentos e emo����es,
podemos nos concentrar na for��a de nossos pensamentos.
A s e m o �� �� e s n �� o s �� o t o d a s i g u a i s
Ao contr��rio de muitos livros de auto-ajuda, este n��o tenta
desvendar os pensamentos por tr��s de todas as emo����es ��� nossa
meta se limita aos pensamentos que destro��am nossas vidas. Se
n��o forem liberados, a raiva, a amargura, a arrog��ncia ou o dese-
jo de vingan��a ��� para dar nome a algumas dessas emo����es mais
venenosas ��� podem cavar um buraco t��o fundo na nossa mente
que ser�� preciso o tempo de toda uma vida para escalar e sair
dele. Sentimentos moment��neos de inoc��ncia, aborrecimento
ou tranq��ilidade pouco mal far��o aos outros.
M e s m o quando os efeitos das emo����es mais perturbadoras
n��o alteram a vida, eles sempre ferem algu��m ��� a voc�� ou ��s
pessoas a quem voc�� ama. As exce����es ficam para as opini��es
e as f��rias passageiras ati��adas pela leitura de uma carta, pelo
notici��rio da televis��o ou pelo modo como foi tratado o amigo
de um conhecido no escrit��rio. As m��goas que levamos a s��rio
e as decis��es sombrias que tomamos separam nossas fam��lias,
ferem a sa��de e prejudicam nossa capacidade de apreciar o que
�� simples.
Os que procuram um caminho "superior" e os que se esfor��am
por obter um grau incomum de autodisciplina, em geral, tentam
pensar, sentir e agir com perfei����o. �� muito comum tentarem
colocar-se �� parte da "multid��o", o que acaba levando ao afasta-
mento e �� nega����o da felicidade.
62 N��o leve a vida t��o a s��rio
L i b e r t a �� �� o 6
Tempo sugerido: 2 dias ou mais
��� Identifique o sentimento perturbador dominante que voc��
teve nas ��ltimas horas, dias ou semanas. Da pr��xima vez que
sentir esta emo����o ��� medo, ��dio, desd��m, cinismo, desespero
ou qualquer outro sentimento destrutivo ���, instale-se calma-
mente dentro dela e anote todos os pensamentos que surgirem,
n��o importa se aparentemente n��o estiverem relacionados.
��� Mantenha a emo����o em alta rota����o, sempre anotando
todos os pensamentos que passarem pela sua mente, at�� que
ela comece a mudar. Depois, deixe a lista de lado e prossiga
em seu dia, como sempre.
Quando voc�� d�� um tempo e come��a a vasculhar sua mente
em busca de pensamentos, �� comum deparar, de repente, com a
mente vazia e os instintos mais b��sicos em baixa rota����o. Se isso
acontecer, comece a anotar mesmo as impress��es mais vagas de
pensamentos, disposi����es, humor ou atitudes. ("Sinto uma leve
ansiedade. Parece que eu estou na berlinda, possivelmente por
estar fazendo esta Liberta����o. N �� o , ela parece mais ampla...
Parece ter algo a ver com as coisas que est��o acontecendo em
minha vida neste exato momento...")
Se n��o conseguir estabelecer este di��logo mental, comece a
descrever o vazio mental em si. C o m o �� este vazio? ("Minha
mente parece uniforme e cinza, tenho consci��ncia dos sons e das
sensa����es em volta. O vazio parece conter uma esp��cie de tris-
teza, quase como se estivesse chorando. N o t o essa vibra����o de
choro tamb��m nas minhas m��os. Acabo de ter um pensamento:
'Sinto uma rejei����o maior do que deveria estar sentindo', 'Sinto
uma rejei����o maior do que as circunst��ncias da minha vida
Abrindo m��o das emo����es in��teis 63
merecem', ou ainda: 'Estou sentindo uma autopiedade grande
demais' ��� �� mais ou menos isso.")
Prosseguindo com o exerc��cio, em muito pouco tempo os pen-
samentos come��ar��o a aparecer. Tenha paci��ncia, descreva o que
puder e, em pouco tempo, o seu problema ser�� como anotar tudo.
Nas pr��ximas vezes em que fizer este exerc��cio, voc�� ter�� mais
rapidez e tranq��ilidade. Observe que a maioria dos conte��dos
mentais sequer �� sua. Eles n��o emanam de suas convic����es mais
profundas, da sua intui����o ou da sua experi��ncia. Se tentar separar
peda��os de mem��rias, fantasias, imagens e refer��ncias, vai encon-
trar um ou dois pensamentos que geram essa ou aquela emo����o.
�� mais ou menos como abrir a geladeira para procurar o que
est�� causando o cheiro. ��s vezes pensamos: "Ih, nossa, vou lim-
par tudo e come��ar de novo!" �� uma boa id��ia, mas est�� um
pouco al��m da capacidade de quem est�� ensaiando os primeiros
passos. Em geral, as pessoas tentam fazer uma limpeza geral
cedo demais e terminam reprimindo muitos pensamentos que
n��o deveriam ser reprimidos. Se voc�� reage exageradamente ou
se surpreende com o que acaba de dizer ou fazer, �� porque ainda
precisa fazer alguns esfor��os para alcan��ar a liberta����o. Esta
Libera����o mostrar�� o quanto nossa mente �� lotada.
��� �� claro que as nossas mentes s��o capazes de ter muitos pen-
samentos ao acaso, sem objetividade. Fa��a pelo menos duas
sess��es antes de examinar suas anota����es. Marque os pensa-
mentos em que n��o acredita ("Talvez meu cinismo tenha
sido causado por uma nova alergia alimentar", "Me sinto na
defensiva porque n��o tenho nenhuma queixa real sobre a
minha inf��ncia", "Acho que vou interromper este exerc��cio e
chamar algu��m para resolver aquele barulho da geladeira") e,
por enquanto, deixe-os de lado.
64 N��o leve a vida t��o a s��rio
��� D o s pensamentos aprovados, pelo menos um ou dois devem
se destacar claramente por serem agressivos, defensivos, auto-
cr��ticos ou preconceituosos. Veja alguns exemplos t��picos:
"Isso n��o acaba nunca...", "Os homens s�� pensam em sexo",
'As mulheres s��o loucas", "Nada do que fa��o �� bom", "Mais
cedo ou mais tarde, eles sempre v��o embora". Escolha os que
voc�� acredita serem respons��veis pelas emo����es que voc�� est��
estudando nesta Liberta����o e anote-os com o m��ximo deta-
lhamento que conseguir. Chamaremos esses pensamentos de
"pensamentos D " ��� pensamentos desencadeadores. Eles ser��o
discutidos mais profundamente em outros cap��tulos.
��� N o s dias posteriores ao exerc��cio, fique alerta para identi-
ficar se surgir alguma emo����o inicial ou um dos pensamen-
tos D. Imediatamente, questione o grau de envolvimento ou
distanciamento que voc�� sente em rela����o a si e ��s pessoas ��
sua volta. Se n��o houver ningu��m presente, questione o
quanto voc�� est�� distante ou perto de qualquer pessoa que
passar pela sua mente. As respostas a essas perguntas devem
servir de alerta sobre os efeitos de se permitir que esse tipo
de lixo mental surja em sua mente.
��� Agarre-se a todas as listas de pensamentos e anota����es.
Quatro
Colocando a m��goa
d e l a d o
Afelicidade e a frustra����o s��o sentimentos que acompanham o
homem desde o in��cio da vida. �� surpreendente a freq����ncia
com que os beb��s choram e criancinhas de um, dois ou tr��s anos de
idade se frustram ou se irritam. N e m a objetividade de uma crian��a
altera a natureza do mundo, que, convenhamos, n��o funciona l��
muito bem. As crian��as s��o as primeiras a perceber esses "erros de
projeto", mas conseguem desfrutar novamente um per��odo tran-
q��ilo assim que recuperam a sensa����o felicidade ��� ao passo que os
adultos, em geral, permanecem frustrados.
Por que isto acontece? Pode-se alegar que a inexperi��ncia das
crian��as cria problemas imagin��rios e que, por isso, a frustra����o
�� uma conseq����ncia previs��vel. Poder-se-ia esperar que os adul-
tos tivessem mais facilidade para se movimentar pela vida, mas a
verdade �� que poucos resistem �� tenta����o de inventar crises sem
o menor fundamento.
N��o queira controlar o mundo
Costumamos dizer que as crian��as n��o t��m obriga����es a
cumprir, mas, se examinarmos mais atentamente o cotidiano de
qualquer uma, �� f��cil constatar que elas t��m objetivos t��o impor-
6 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
tantes quanto qualquer adulto. A diferen��a �� que os adultos n��o
levam a s��rio seus objetivos. Se uma crian��a se irrita com o c��u
porque est�� chovendo justamente no dia da sua festa de aniver-
s��rio no jardim, rimos, condescendentes, porque sabemos que
n��o se pode controlar as nuvens. Se o irm��ozinho de um ou dois
anos tenta fazer o beb�� entender os diferentes poderes de cada
super-her��i de brinquedo, nos divertimos com o fato de ele n��o
entender por que o beb�� de seis meses n��o pode ser o compa-
nheiro de brincadeiras.
O natural seria que, quando adultas, as pessoas aceitassem
melhor a vida como ela ��. A realidade, no entanto, �� quase opos-
ta. N �� o nos revoltamos com o c��u, que se recusa a fazer tempo
bom para nosso churrasco ao ar livre, mas, em compensa����o, nos
irritamos com oper��rios barulhentos, com os atrasos, com as re-
servas equivocadas no avi��o, com os maus motoristas que atra-
vancam o tr��nsito na via expressa, com as lojas que fecham dez
minutos mais cedo e at�� com os colegas que usam perfumes t��o
fortes que nos sufocam.
Embora comecemos a vida com integridade e bom humor,
quanto mais envelhecemos, mais nos tornamos inflex��veis, ame-
drontados e irritadi��os. C o m o a curiosidade natural e alegria ini-
cial diminuem, tudo fica mais dif��cil, inclusive fazer amizades.
Tamb��m ficamos menos generosos e mais infelizes. Fato �� que,
de modo geral, poucas pessoas "suavizam" com a idade.
Essa tend��ncia �� infelicidade n��o pode ser proporcional ��
capacidade de entender a natureza do mundo. A verdade �� que,
quanto mais se faz gols, mais se entende como a bola rola, quan-
to mais se usa um programa de computador, melhor se conhece
as suas limita����es, e assim por diante. No m��nimo, a idade traz
experi��ncia. Pena que o pacote inclua algumas imperfei����es co-
C o l o c a n d o a m �� g o a d e l a d o 6 7
laterais (teimosia, mau humor, impaci��ncia e infelicidade, entre
outras).
A raz��o desse descompasso �� que, com o passar dos anos, nos
descuidamos totalmente de nossas mentes. O curioso �� que em
todas as outras ��reas da vida (finan��as, sa��de, casa e carro) temos
a no����o exata de como o abandono �� nocivo e tratamos de evit��-
lo. No restante, n��o. N o s relacionamentos amorosos, por exem-
plo, todos nos arrependemos de algo que foi dito ou feito. Na
maior parte das vezes tentamos pedir desculpas ("Foi mal",
"Essas coisas acontecem", "Talvez eu consiga evitar a situa����o na
pr��xima vez, mas, se n��o conseguir, o melhor �� esquecer!", dize-
mos), mas o problema �� que nem n��s nem as outras pessoas
esquecem.
Se voc�� teve oportunidade de conversar com algu��m �� beira
da morte, �� prov��vel que tenha ficado impressionado com a
quantidade de m��goas que uma pessoa acumula ao longo da vida.
As maiores queixas est��o relacionadas �� maneira como magoa-
mos certas pessoas, raramente se referem a objetivos n��o alcan-
��ados, experi��ncias ou viagens n��o realizadas. �� comum passar a
vida carregando um caminh��o de m��goas e, mesmo no final,
achar que �� tarde demais para curar e ser curado.
Resumo da ��pera: deixar que sentimentos pesados contami-
nem o seu estado de esp��rito pode ser a diferen��a entre arruinar
ou n��o sua vida. E por que as pessoas deixam que isso aconte��a?
Simplesmente porque n��o acreditam que o estado de esp��rito
seja algo importante. Para o ego, a apar��ncia �� tudo o que impor-
ta. N �� o precisa ser bom, basta parecer bom.
�� verdade que os efeitos dos pensamentos das pessoas, ��s
vezes, podem se revelar na express��o de seu rosto ou no tom de
sua voz, mas, em geral, conseguimos disfar��ar. Perguntas como
68 N��o leve a vida t��o a s��rio
"Voc�� gosta dos meus sapatos novos?", ou "Voc�� acha que eu
emagreci?", ou, ainda, "Tem certeza de que voc�� n��o est�� mor-
rendo de inveja porque meu tio deixou para mim todo esse di-
nheiro?", merecem, em geral, respostas educadas, mas n��o ne-
cessariamente verdadeiras.
Dizer coisas como "Desembuche!", "Despeje!," 'Alivie o peito!"
ou "Lave a alma!", n��o purifica a mente de ningu��m, apenas fere
os sentimentos das pessoas. H�� quem use a sinceridade como
uma forma de aliviar sua pr��pria dor. Contar ��s pessoas como
voc�� as traiu e fazer duras autocr��ticas funciona de fato como
al��vio moment��neo ��� especialmente para quem est�� ouvindo o
desabafo. �� primeira vista, parece que quem errou est�� "assumin-
do a responsabilidade", mas, na pr��tica, �� o contr��rio. Ao con-
cordar com a pessoa que voc�� ama que ela est�� envelhecida, ou ao
inform��-la de que teve um caso extraconjugal, voc�� est�� falhando
como amigo e como pessoa, abrindo as portas para se autodes-
truir e, certamente, deixando de purificar a sua mente.
Quando desabafa em cima dos outros, observe que o proble-
ma ganha vida pr��pria e parece escapar de suas m��os. Se o seu
ego est�� em ebuli����o e voc�� percebe que est�� novamente a ponto
de menosprezar, criticar, trair, censurar ou reprimir algu��m,
mude o rumo da conversa. Deixar de prejudicar algu��m �� sem-
pre um ��timo primeiro passo.
L i b e r t a �� �� o 7
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
��� Quando acordar, concentre-se num ��nico objetivo: "Passarei
o dia sem prejudicar ningu��m. N �� o magoarei ningu��m em
meus pensamentos ou em minhas a����es, nem a mim mesmo."
Colocando a m��goa de lado 69
Repetir esse "mantra" com pureza de alma, diversas vezes
durante o dia, funciona como uma afirma����o de sua inten����o, da
meta que decidiu alcan��ar. "N��o prejudicarei ningu��m em meus
pensamentos ou a����es" �� um objetivo que imediatamente unifi-
ca a mente e faz com que nos sintamos mais leves, mais livres e
mais felizes.
O pr��ximo passo �� saber se vale a pena entregar-se a pensa-
mentos de culpa, remorso ou arrependimento relacionados aos
erros que voc�� cometeu. Esses pensamentos s��o uma forma de
autopiedade ��� eles n��o ajudam, n��o curam e n��o confortam a
pessoa que voc�� pensa ter magoado. Examine-os com aten����o e
perceber�� que est��o relacionados a voc�� e n��o �� pessoa que voc��
pensa que maltratou. Na verdade, �� uma repeti����o do mesmo
equ��voco: voc�� atacou aquela pessoa, agora ataca a si mesmo. O
ataque �� o problema a ser resolvido, j�� que n��o passa de um pro-
cesso de autoflagela����o sem sinceridade, uma esp��cie de peni-
t��ncia sem amor, e, por isso mesmo, sem a menor utilidade. A
resposta est�� em fazer algo para ajudar aqueles a quem voc��
magoou ou feriu.
L i b e r t a �� �� o 8
Tempo sugerido: 2 dias ou mais
O sucesso desta etapa est�� fortemente ligado �� sua inten����o.
Portanto, sinceridade e foco no seu objetivo �� tudo o que se pre-
cisa. Seja simples e direto: isole um ponto mental magoado de cada
vez e trabalhe at�� que ele esteja curado. Exemplo: o arrependimen-
to de algo que voc�� fez ou deixou de fazer a outra pessoa.
A. Examine tudo o que aconteceu, detalhadamente. N �� o per-
ca tempo criticando a si mesmo ou divagando sobre poss��veis
70 N��o leve a vida t��o a s��rio
remorsos ou vergonhas. Se, por acaso, voc�� n��o compareceu a
um compromisso que era muito importante para a outra pessoa
e sempre lamentou isto, examine o que impediu voc�� de estar
presente e as conseq����ncias disso. Na verdade, voc�� simples-
mente n��o estava a fim de sair de casa naquele dia, deu uma des-
culpa e ela foi aceita. Examine o pre��o emocional que voc��
pagou por agir assim.
B. Pergunte a si mesmo se h�� algo que voc�� pode fazer para se
desculpar. Confessar que voc�� simplesmente n��o estava interes-
sado, n��o funciona. Se voc�� acha que esta pessoa o conhece
muito bem, talvez fosse bom enviar-lhe uma desculpa cuida-
dosamente elaborada.
N �� o caia na armadilha de uma desculpa esfarrapada qualquer:
"Eu estava muito preocupado naquele momento", "Eu estava en-
rolado com meu trabalho". Apenas pe��a desculpas, d�� meia-
volta e n��o diga mais nada. Se voc�� quer realmente consertar a
situa����o, d�� um presente muito especial ou desculpe-se pessoal-
mente ��� ou as duas coisas. Peque pelo exagero, mande buqu��s
de flores (anonimamente, para parecer sincero) e, de prefer��n-
cia, fa��a de suas desculpas um ato p��blico (gestos exteriores t��m
mais for��a). Lembre-se que voc�� est�� tratando da sua mente e,
por isso, nenhum esfor��o �� exagerado.
Se voc�� optou por esse caminho, prepare-se para uma rea����o
igualmente exagerada, j�� que a pessoa aproveitar�� a oportuni-
dade para dar vaz��o ao ressentimento acumulado. Resumindo:
ela pode ficar mais furiosa do que estava antes do pedido de des-
culpas. �� como se dissesse, "Voc�� n��o quis escutar antes, por-
tanto, escute agora". N �� o se defenda ��� reagir com gentileza faz
parte do verdadeiro pedido de desculpas. O pior �� que nada dis-
so significa que as suas desculpas ser��o aceitas, mas esta f�� �� uma
Colocando a m��goa de lado 71
outra historia. Fazer as pazes com o seu cora����o e sua mente ��
seu objetivo primordial.
C. Se a p e s s o a n��o quer saber de qualquer contato com
voc��, tome a decis��o permanente de aben��o��-la sempre que
pensar nela, at�� mesmo depois de sua morte. N �� o esque��a:
estamos falando da cura da sua mente, nada do que voc�� fizer
ser�� em v��o.
D. Se voc�� pensa que o seu erro foi t��o grande que nada disso
�� suficiente para acabar com a m��goa que voc�� carrega, pergunte
a si mesmo o que mais poderia fazer. Quando minha m��e mor-
reu, percebi que n��o me senti feliz desde que me mudei da
cidade em que ela vivia. Era como se eu n��o tivesse me esfor��a-
do para explicar a ela por que a mudan��a era necess��ria. Rezar e
aben��oar minha m��e n��o estava me apaziguando. Descobri que
eu tamb��m precisava cumprir alguma penit��ncia. Quando a
cumpri, me senti curado.
0 poder da penit��ncia �� subestimado - n��o tanto a pe-
nit��ncia atribu��da por outro, mas a penit��ncia que vem
de nosso pr��prio cora����o. Esta penit��ncia do cora����o
deve dizer: "Depois que eu fizer tudo para reparar o mal
que fiz a voc��, farei mais isto... Darei ��s pessoas a quem
amo, �� minha comunidade ou ao mundo um presente
em seu nome." Este presente abranger�� o que for neces-
s��rio ��� seja tempo, dinheiro ou servi��o: "Eu gosto de
voc��, eu aben��oo voc��, para mim voc�� �� ��ntegro." Com
isso, eu tamb��m me torno ��ntegro.
E. O ��ltimo passo �� manter-se alerta e reagir rapidamente sem-
pre que qualquer pensamento de culpa passar pela sua cabe��a.
7 2 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
F. Depois de "curar" um arrependimento, localize outro e use
o mesmo procedimento e assim por diante. Naturalmente, o
tempo de dura����o varia para cada pessoa, mas a m��dia tem sido
de, no m��nimo, dois dias de trabalho de cura. O importante ��
n��o deixar nenhum arrependimento sem tratamento. Este �� um
dos maiores presentes que voc�� pode dar a si mesmo.
O m e d o q u e i m p e d e a f e l i c i d a d e
O arrependimento �� um dos melhores exemplos de como o
descuido com a nossa mente permite que a infelicidade entre em
nossa vida. Naturalmente, isto pode acontecer de diversas ma-
neiras, mas, antes de as explorarmos, �� preciso ir fundo nas resis-
t��ncias que criamos e examinar as raz��es por tr��s dos atos. Apa-
rentemente, os adultos t��m um medo profundo da felicidade.
Ter consci��ncia desse terror �� meio caminho andado para a con-
quista da mente ��ntegra e livre. Observe algumas raz��es mais
conscientes e acess��veis e voc�� perceber�� que, em geral, optamos
pela complexidade no lugar da simplicidade, pela rigidez em vez
da flexibilidade e, claro, pela infelicidade �� felicidade ��� numa
prova de como nossa mente joga contra ela mesma.
Oito justificativas para a infelicidade
1. N��o merecemos a felicidade
N �� o �� de admirar que acreditemos que n��o temos o direito de
ser felizes. As imagens que brotam da televis��o, as narrativas de jor-
nais e revistas, as conversas no escrit��rio, enfim, as cenas que
povoam a mem��ria e enchem os sonhos est��o constantemente nos
lembrando de que a infelicidade e a adversidade s��o componentes
normais da vida. No fundo de nossas mentes est�� a sombria
reflex��o de que se isto acontece conosco ��� e tamb��m com grandes
C o l o c a n d o a m �� g o a d e l a d o 7 3
l��deres espirituais, como Cristo e Gandhi ��� �� apenas porque mere-
cemos. Enxergamos as circunstancias como ve��culo da felicidade,
n��o da paz e da tranq��ilidade de nossas mentes. No fundo, quais-
quer circunstancias que nos favorecem s��o consideradas injustas.
2. O presente �� perigoso
C o m o o futuro guarda m��s noticias para todos, o presente de-
veria ser o nosso maior interesse. Concordamos que todos temos
o "direito inalien��vel" de buscar a felicidade, mas n��o damos a
ningu��m o direito de realmente encontr��-la. �� como se n��o con-
fi��ssemos nas pessoas alegres. Suspeitamos que atr��s de todo
bom humor h�� um motivo sinistro. �� aceit��vel que as pessoas
falem sobre um passado em que foram felizes ou que expressem
a esperan��a de que um dia ser��o felizes, n��o que estejam ou
sejam felizes no presente.
Chamamos de "querida" ou "gracinha" as pessoas que t��m
alegria de viver, e as desconsideramos nas quest��es intelec-
tuais realmente importantes. Reagimos da mesma forma em
rela����o a livros e filmes com finais felizes, assim como para
filosofias que despertam a auto-estima. A raz��o �� ��bvia: a boa
experi��ncia no passado n��o justifica o otimismo no presente.
O que o presente pode oferecer para algu��m, de qualquer
forma? At�� m e s m o um pr��mio n��o teria nenhum significado
se no dia seguinte lev��ssemos a mesma vidinha de sempre. A
expectativa do que poder�� resultar �� que dar�� o verdadeiro
significado ao pr��mio. A felicidade em geral �� sentida como
antecipa����o, ao p a s s o que o sofrimento nos leva ao presente.
Normalmente, nossas mentes s��o t��o barulhentas que poucos
escutam o sil��ncio da serenidade e da paz, ��nica possibilidade
de viver o presente e nada mais.
7 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
3. As mesmas circunst��ncias que garantem a sua felicidade
aumentam o peso que voc�� carrega
Durante a vida, muitas pessoas recebem algumas recompen-
sas, mas acabam percebendo que esses pr��mios inesperados
acabam complicando suas vidas. Quanto mais elevado o pr��mio
em dinheiro, por exemplo, maior o caos, a limita����o e a infelici-
dade que ele normalmente causa. Seria de imaginar que algu��m
que enriquece de repente diria: "Finalmente, meus problemas de
dinheiro acabaram. N �� o preciso me preocupar mais."
Mas o que acontece na verdade? A pessoa tende a ser menos
generosa e se irrita mais do que a maioria das pessoas com os
aborrecimentos do dia-a-dia, tipo atrasos, problemas mec��nicos,
mau atendimento, manchas e cheiros. Em geral, s��o tamb��m
mais paran��icas e desconfiadas em rela����o ��s motiva����es dos ou-
tros e, como se sentem superiores, acabam convivendo com pou-
qu��ssimos amigos e atividades.
A beleza f��sica �� outro exemplo de algo muito desejado e que
acaba se voltando contra quem a deseja. N e m quando a pessoa
sai de uma cirurgia pl��stica, de um longo regime ou de meses
num spa, e est�� inegavelmente linda, vai falar coisas do tipo:
"Agora estou muito bem e n��o preciso mais me preocupar com a
minha apar��ncia."
Que tipo de pessoa entra num restaurante olhando em volta
para verificar se est�� sendo observada ��� a linda ou a normal?
Quem �� que atrai o relacionamento mais superficial, se preocu-
pa obsessivamente com a roupa que veste, luta incessantemente
com o processo do envelhecimento e tende a julgar os outros
pela apar��ncia? A pessoa linda, �� claro.
Outra fantasia universal �� exibir objetos do consumo que
todos gostariam de ter. Quem tem posses, em geral, enche sua
Colocando a m��goa de lado 75
casa e sua vida de coisas que n��o deseja e n��o pode usar. Um
carro luxuoso, por exemplo, tem manuten����o mais cara, maior
probabilidade de ser roubado e exige cuidados na hora de esta-
cionar... ou seja, �� um carro que provoca inveja e faz com que os
comerciantes cobrem mais por qualquer coisa.
4. Um parceiro superbonito n��o �� recomend��vel
Embora dure mais tempo e provoque menos problemas, o
relacionamento amoroso com uma pessoa de alma pura e sim-
ples n��o �� t��o procurado quanto o relacionamento com algu��m
complicado. As expectativas se reduzem imediatamente quando
um namorado em potencial �� descrito como "legal". As pessoas
ambiciosas n��o hesitam em trocar quem as compreende e ama
por um "companheiro-trof��u", ou seja, algu��m que chame a
aten����o pela beleza ou por sua posi����o na sociedade. N �� o
esque��a que o efeito colateral de ter um "companheiro-trof��u" ��
a eterna vigil��ncia.
Ao contr��rio da id��ia que muita gente imagina, o sexo com
um parceiro deslumbrante n��o aumenta o prazer f��sico. Na ver-
dade, aumenta a tens��o e o nervosismo. Casais normais, que se
sentem confort��veis um com o outro, tendem a ter uma vida se-
xual muito mais satisfat��ria. Al��m disso, conforme sua apar��ncia
e import��ncia social come��am a diminuir, �� preciso redobrar os
esfor��os para continuar valendo alguma coisa, para n��o ser aban-
donado mais cedo do que imagina por alguma beldade ou algum
s��mbolo sexual.
5. Meio-termo na felicidade n��o funciona
A felicidade n��o �� muito confi��vel, nem mesmo dentro dos
alardeados "pequenos prazeres da vida". Quanto mais tentadora
76 N��o leve a vida t��o a s��rio
a comida, quanto mais er��tico o prazer, quanto mais longas as
f��rias, quanto mais fascinante a trai����o, quanto mais intensa a
paix��o... maior a queda. Segundo uma pesquisa, os ganhadores
de loterias se tornam pessoas obesas e 85% dos homens que
morreram durante uma rela����o sexual n��o estavam ao lado de
suas mulheres. Moral da hist��ria: a maioria dos bons momentos
tem sempre uma contrapartida t��o dram��tica que n��s acabamos
por come��ar a evit��-los.
Revelar uma confid��ncia interessante, criticar o parceiro pelas
costas, xingar um motorista, comer tudo o que nos d�� vontade,
dormir o tempo que desejamos, flertar inocentemente ��� tudo
isso pode ser engra��ado e prazeroso por um tempo, mas o arre-
pendimento ou o medo que essas op����es produzem, assim como
o caos que eventualmente possam promover, acabam por torn��-
las question��veis como op����o de vida.
6. Felicidade �� "fugir �� responsabilidade"
Acreditamos que a felicidade n��o �� um estado mental s��rio ou
importante e por isto a mantemos sob suspeita. Pressupomos
que ser feliz �� deixar de lado o que sentimos. Isso leva as pessoas
a se sentirem culpadas depois de um momento de felicidade.
Acreditamos que aproveitar a vida �� uma forma nada sutil de evi-
tar a responsabilidade. C o m o h�� muita coisa no mundo a ser fei-
ta e muitos erros a corrigir, arranjar tempo para ser feliz parece
que �� o mesmo que virarmos as costas ao mundo. Afinal, um
quarto da popula����o mundial est�� passando fome, um ter��o das
na����es est�� em guerra, como, ali��s, sempre esteve, ou seja, a s��rie
de problemas graves que o mundo enfrenta �� t��o avassaladora
quanto infind��vel. Podemos destacar mais alguns: a prolifera����o
das armas nucleares, invas��o de privacidade, crise econ��mica, a
Colocando a m��goa de lado 77
gravidez das adolescentes, os v��rus e bact��rias mutantes, a cor-
rup����o na pol��tica, o terrorismo, as drogas, a falta de moradias,
a tortura, as discrimina����es por sexo, ra��a e idade ��� tudo isso e
nem come��amos a falar da devasta����o do planeta.
Ao admitir a densidade do campo minado que atravessamos
todos os dias, em vez de felizes, dever��amos nos sentir... o qu��?
ultrajados? tristes? chocados? aterrorizados? c��nicos? desespera-
dos...? Raramente questionamos as atitudes que dever��amos
adotar no lugar da felicidade. Poucos perguntam o que coisas
como conforto e seguran��a, mudan��a para melhor, aturdimento,
irrita����o ou coisa parecida, traz de bom para algu��m. H�� quem
diga que estas s��o as grandes emo����es que nos levam para a
frente na vida. Se �� assim, a pergunta deveria ser: o que mais nos
motiva a sermos verdadeiramente ��teis ��� uma atitude pac��fica
ou irritada? H�� controv��rsias, mas sem d��vida eu preferiria estar
nas m��os delicadas de Gandhi, Buda, Jesus ou Madre Teresa.
Eles conseguiram fazer muita coisa sem nenhuma raiva.
7. Abrir m��o da infelicidade �� deixar de respeitar a si mesmo
A perturba����o interior que chamamos de infelicidade �� uma
emo����o, ou, mais precisamente, um conjunto de emo����es. ��
uma dor interior (sensa����o de ang��stia, medo, depress��o, tris-
teza, etc.) t��o desagrad��vel quanto a mudan��a que poderia nos
proporcionar al��vio. Questionar a raiva, a paix��o, a tristeza e
muitas outras emo����es �� questionar o que temos de mais
sagrado. N u m certo sentido, abrir m��o da infelicidade n��o ��
apenas desonesto... soa quase como uma trai����o a quem real-
mente somos. Hoje, quando dizemos a algu��m: "Preciso ser
fiel a mim mesmo", o significado ��: "Preciso trair voc��, segun-
do as minhas emo����es."
78 N��o leve a vida t��o a s��rio
As emo����es assumiram o lugar outrora ocupado pela alma,
pelo esp��rito ou pela consci��ncia. Por isso, o dilema ao perceber
que nossas emo����es s��o o verdadeiro ser. C o m o podemos ser
n��s mesmos, se o nosso ser muda a cada minuto, como invaria-
velmente acontece com as emo����es? C o m o boa parte das emo-
����es duram apenas dois a tr��s minutos, n��o d�� para defender
uma velha emo����o que j�� n��o existe e deixar de lado uma s��rie
de novas emo����es que passamos a sentir.
Existe um lugar dentro de n��s onde entramos em con-
tato com o eterno e o belo, um lugar em que realmente
sentimos nosso ser interior em paz. Este ser n��o precisa
ser periodicamente arejado, desfragmentado ou mesmo
definido. Com tranq��ilidade e generosidade, ele �� visto
claramente, e tudo em rela����o a ele �� conhecido e fami-
liar - porque este ser �� ��ntegro.
8. Pessoas felizes s��o suspeitas
A felicidade ocupa um papel incrivelmente pequeno na vida da
maioria dos adultos. Mais uma vez, a felicidade �� algo suspeito.
H�� pouco tempo, Gayle e eu est��vamos num shopping center e
vimos uma garotinha de uns tr��s anos andando em companhia
dos pais. Ela estava no auge da felicidade e cantava a plenos pul-
m��es. A m��e, no entanto, se inclinava e dizia entre dentes:
��� Voc�� n��o est�� se comportando direito!
A m��e estava certa. A felicidade pura e simples n��o �� nada
adequada em muitas circunst��ncias. Na verdade, pessoas felizes
demais muitas vezes s��o consideradas meio esquisitas, at��
perigosas. �� previsto que nos sintamos muito satisfeitos quando
nosso time ganha, e podemos at�� nos sentir realizados quando
Colocando a m��goa de lado 79
"devolvemos" uma desfeita que algu��m nos fez ��� mas, se voc��
sair cantando a plenos pulm��es por um shopping center sem
nenhuma raz��o aparente, �� bem prov��vel que seja interpelado
pela seguran��a.
Liberta����o 9
cr��dito extra, liberta����o extra
(Este exerc��cio �� inteiramente opcional, foi criado para
refor��ar e aprofundar o que j�� discutimos. Se voc�� acha que j�� sa-
be identificar corretamente os pensamentos que geram momen-
tos de perturba����o ou conflito, passe para a se����o seguinte: "Pa-
ra compreender os pensamentos D".)
A. N o s pr��ximos dois dias, escolha pelo menos dois momen-
tos em que sentir que est�� tendo, ou acaba de ter, uma sensa����o
de conflito, perturba����o ou irrita����o. Imediatamente, congele o
conte��do de sua mente e, cuidadosamente, examine os pensa-
mentos envolvidos. Leve sempre um caderninho ou um pequeno
gravador para anotar pelo menos o tema de cada pensamento.
B. �� noite, acrescente os detalhes que n��o teve tempo de ano-
tar durante o dia. Para desvendar os pensamentos vagos ou par-
cialmente escondidos, fa��a a si mesma as seguintes perguntas:
��� Que pessoa ou situa����o parece estar causando a emo����o ou
est�� no centro dela?
��� O que esta pessoa ou situa����o simboliza? O que me faz lembrar?
Digamos, por exemplo, que voc�� notou que boa parte das
ang��stias que sente giram em torno de sons desagrad��veis ��� al-
gu��m que mastiga ruidosamente �� mesa, um telefone ou uma
campainha que toca "na hora errada", c��es latindo ou crian��as
gritando. Talvez voc�� pense que esses ru��dos s��o inc��modos e
8o N��o leve a vida t��o a s��rio
ponto final. Insistindo, talvez lembre que na inf��ncia sempre lhe
diziam para se acalmar, n��o interromper as pessoas e falar baixo.
Essa lembran��a pode explicitar que, para voc��, esses ru��dos sim-
bolizam a falta de reconhecimento e de considera����o das pes-
soas ou, quem sabe, o desejo delas de controlar voc��.
Outro exemplo poderia ser que voc�� sente ang��stia e pertur-
ba����o quando algu��m perde ou quebra suas coisas. Ao tentar
descobrir o que isso simboliza, voc�� relembra a falta de conside-
ra����o de um antigo colega, que passava adiante fofocas das quais
tomava conhecimento em conversas, endere��ava erradamente as
cartas e os e-mails ou perdia as chaves... Refletindo mais fundo,
talvez voc�� lembre que as coisas que juntava em seu quarto
quando crian��a muitas vezes eram jogadas no lixo e seus brin-
quedos preferidos eram dados a outras crian��as. Ou seja: quan-
do algu��m perde ou danifica alguma coisa que lhe pertence, sig-
nifica que voc�� n��o est�� sendo visto com clareza ou compreen-
dido em profundidade.
��� O que eu imagino que torna estas circunst��ncias impor-
tantes o bastante para me perturbarem?
Usando o primeiro exemplo, talvez voc�� escreva algo assim:
"Ter meu tempo, minha concentra����o e minhas atividades res-
peitadas �� t��o importante que qualquer som me perturba."
Para o segundo exemplo, voc�� poderia escrever: "Minhas
coisas s��o importantes, algumas cont��m muitas lembran��as,
outras s��o parte de meus relacionamentos. Assim, quando al-
gu��m perde ou danifica alguma delas, sinto que me atacam."
��� Se imaginar esta situa����o se deteriorando ou o comporta-
mento dessa pessoa piorando, o que vejo acontecer comigo?
Esta pergunta implica imaginar que seja l�� o que tenha ocor-
rido, se repita com maior freq����ncia (cada vez mais coisas s��o
Colocando a m��goa de lado 81
perdidas ou danificadas, aumentam os epis��dios de barulho).
Enquanto imagina isto, o que acontece emocional, f��sica e men-
talmente com voc��? Est�� se vendo desaparecer? Entra em
depress��o, adoece ou pensa em se suicidar?
C. Fa��a as etapas A e B durante, no m��nimo, dois dias. No
final do segundo dia, leia todos os seus pensamentos e anota����es
sobre essas perturba����es. Leia essas listas com a maior impar-
cialidade poss��vel ��� ou seja, sem julgar a si ou aos outros.
Tente descobrir se h�� algum padr��o em seus pensamentos,
alguma id��ia principal ou apenas pensamentos associados. H��
um medo generalizado, "real" ou importante de perder a autori-
dade? Talvez muitos de seus pensamentos estejam ligados a di-
nheiro... Se �� assim, qual a sua atitude em rela����o ao dinheiro?
Responda com a maior honestidade poss��vel.
P a r a c o m p r e e n d e r o s p e n s a m e n t o s D
No processo de Liberta����o 9, voc�� procurou descobrir o pen-
samento que est�� por tr��s de seus momentos de ang��stia. Quer
tenha encontrado ou n��o algum padr��o, o objetivo do exerc��cio
era buscar associa����es entre seus pensamentos e emo����es. O
pr��ximo exerc��cio se concentra no que chamo de pensamentos
D ��� pensamentos desencadeadores ���, que liberam alguma emo-
����o. A id��ia ��, aos poucos, identificar a origem mais profunda de
sua ang��stia interior e a diferenciar dos pensamentos plenos e
desprovidos de conflitos, que s��o a fonte de nossa energia, inspi-
ra����o e capacidade de amar.
Os pensamentos verdadeiros permitem que vejamos a n��s, aos
outros e ��s situa����es como s��o, sem disfarces. J�� um pensamen-
to D �� a convic����o mais pura que desenvolvemos em algum
ponto de nossas vidas (geralmente, durante os anos de nossa for-
82 N��o leve a vida t��o a s��rio
ma����o) e que agora impede a conquista da unidade e da paz. Sem
saber como um pensamento D funciona, o conjunto de emo����es
que ele desencadeia acaba controlando as nossas decis��es e nos-
so modo de ver o mundo.
Como os pensamentos D diferem de pessoa para pessoa, as
mesmas circunst��ncias que chateiam uma pessoa n��o atingem
outras. Outra caracter��stica �� a necessidade de t��-los todos os dias.
Funciona da seguinte forma: preparamos nossa mente no in��cio do
dia, logo depois de acordarmos. Este �� o momento em que faze-
mos o download ��� ou melhor, trazemos �� consci��ncia um ou dois
pensamentos D, que desencadeiam praticamente todas as pertur-
ba����es mentais que sentimos durante o resto do dia.
Ter consci��ncia desse download autom��tico matinal e duvidar de
sua natureza nos permite enfraquec��-los. Lembre-se de que s��
aceitamos um pensamento D se acreditamos nele. Se consegu��s-
semos bloquear esses pensamentos no momento em que surgem,
ser��amos totalmente livres. Por que ent��o decidimos aceitar os pen-
samentos D? Lembre-se de que o ego �� o seu desejo de se distinguir
e se separar das outras pessoas (pelo menos at�� certo ponto).
Uma das melhores oportunidades para chegar ao ponto que
realmente est�� bloqueando a nossa integridade, a nossa unidade,
o nosso amor, �� identificar o exato momento em que tomamos a
decis��o di��ria de nos entregarmos aos pensamentos D. Este �� o
objetivo, mas muita gente ainda n��o chegou l��.
L i b e r t a �� �� o 1 0
uma liberta����o fundamental | Tempo sugerido: 4 dias ou mais
��� No instante em que voc�� desperta, veja se a sua mente se
mant��m relativamente vazia pelo menos por alguns segundos.
Colocando a m��goa de lado 83
Observe e anote os pensamentos que voc�� tem nos primei-
ros cinco minutos. Se estiver com pressa, anote apenas o
tema central de cada um e, mais tarde, preencha os detalhes.
��� Descreva tamb��m a disposi����o ou o humor que esses pensa-
mentos projetam no seu dia.
Os pensamentos D, �� primeira vista, podem n��o estar rela-
cionados ao dia que come��a, mas d��o o tom a tudo o que acon-
tece. Se voc�� sentir uma raiva em rela����o a determinado grupo
de pessoas, ou lembrar uma velha opini��o a respeito de certo
conhecido, ou mesmo alguma tristeza relacionada a eventos h��
muito ocorridos, pode ter certeza de que h�� um pensamento
central por tr��s dessas emo����es ��� e este pensamento penetrou
em sua mente logo no in��cio daquele dia.
A seguir alguns pensamentos D que surgiram em nossas pales-
tras de aconselhamento. Veja se eles "dizem" alguma coisa a voc��:
Eu sempre tenho de fazer todo o trabalho.
Jamais me compreender��o.
Meu companheiro (irm��o, m��e, pai, etc.) est�� na raiz de
minhas dificuldades.
Nada funciona comigo.
Tenho uma miss��o especial neste mundo. (Sou mais
amado(a) por Deus, Conhe��o uma verdade que os ou-
tros n��o conhecem, tenho um papel a cumprir...)
Sempre serei uma pessoa solit��ria.
Tenho uma vida fascinante. (O destino est�� a meu lado,
tenho sorte, tenho um bom carma, as coisas fun-
cionam para mim.)
Se ao menos eu tivesse liberdade... (Sempre cortam a
liberdade da gente.)
8 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
Eu atrapalho a felicidade de todo mundo. (Fa��o todos
sofrerem.)
Nunca tenho tempo suficiente. (Tenho de fazer isto j��.)
Como sou uma pessoa superior, meus pensamentos
s��o sempre adequados.
Alguns pensamentos s��o positivos, o que leva �� falsa sensa����o
de que n��o h�� necessidade de tir��-los de sua mente ��� afinal, es-
sas pessoas se sentem especiais, com uma imensa auto-estima.
A�� �� que est�� a dificuldade. As pessoas com um pensamento D
do tipo "Sou otimista, sou alegre, sempre vejo as coisas de
maneira otimista", aos poucos se distanciam dos que est��o �� sua
volta. A insist��ncia em revidar a conversa negativa com uma
conversa positiva exige uma permanente gin��stica mental
enquanto lutamos para ver tudo de maneira otimista.
Qualquer pensamento "positivo" ou "espiritual" que nos
separe dos outros nos separa tamb��m da igualdade e
do companheirismo e invariavelmente nos torna cr��ticos
em rela����o ��queles que pensamos ser diferentes.
O ant��doto para o pensamento c��nico n��o �� o pensamento
otimista, porque isso significa que estamos reagindo, nos colo-
cando como v��tima do que os outros dizem, v��tima de nossa
pr��pria mente e al��m disso impondo uma interpreta����o pessoal
dos acontecimentos. C o m a mente calma e plena, somos capa-
zes de responder com empatia e de ver com clareza, de forma
intuitiva e livre. Reconhecemos o que �� destrutivo e o que n��o
��, mas n��o sentimos nenhuma necessidade de impor nossa vis��o
aos outros.
Colocando a m��goa de lado 85
No caso de um pensamento D do tipo "Nada funciona", a pes-
soa interpretar�� assim os eventos do dia e muitas vezes far�� o
necess��rio para garantir que as coisas n��o funcionem mesmo. Por
isso �� bom come��ar a vasculhar a mente no momento em que
voc�� acorda para ver a diferen��a entre a mente clara e aquela
dominada por uma determinada defini����o da realidade. A atitude
que se toma ao acordar a cada manh��, em geral, �� bastante sutil
porque �� autom��tica. Um jeito de identificar o momento em que
um pensamento D aparece na mente �� tentar perceber alguma
altera����o no n��vel de energia ou de humor logo no in��cio do dia.
��� �� importante monitorar a sua mente ao longo do dia para
ver se um ou dois dos pensamentos da manh�� continuam a
aparecer. Voc�� talvez tenha de trabalhar de tr��s para a frente
para detect��-los. Primeiro, observe uma disposi����o conheci-
da, depois busque em sua mente a linha de pensamento que
h�� por tr��s dela. N �� o �� necess��rio anotar essa parte, apenas
observe-as por alguns segundos, depois libere a sua mente e
deixe-a pensar da maneira habitual.
A Liberta����o 10 �� um exerc��cio importante e seria melhor
realiz��-lo na ��ntegra por um m��nimo de quatro dias. Lembre-se
de que descobrir seus momentos ego��stas, vingativos, mesqui-
nhos, arrogantes, fracos, ansiosos e afins, n��o ajudar�� a atingir o
objetivo de conquistar mente plena e desintoxicada. H�� uma
grande diferen��a entre desvendar pensamentos que voc�� j�� tem
e organizar esses pensamentos. O impacto de qualquer pensa-
mento fragmentado ser�� sempre negativo no que se refere ao
bem-estar e prazer na vida. Portanto, observe os efeitos de seus
pensamentos sobre voc�� e sobre os outros, mas n��o tire conclu-
s��es. Preocupar-se bastante �� diferente de se definir como pes-
soa ansiosa ou pessoa sem fibra.
86 N��o leve a vida t��o a s��rio
�� natural que, ao fazer o trabalho sugerido neste livro, voc��
talvez n��o goste do retrato em preto-e-branco de seu ego. N �� o
se trata de autoflagela����o ou uma vis��o endurecida do que voc��
�� realmente, mas sim a aceita����o clara e firme de que voc�� tem
pensamentos e impulsos que considera negativos. Esta autocr��ti-
ca leva-o exatamente ao processo de desprendimento, que �� o
objetivo deste livro.
Cinco
A c e i t a n d o a v i d a
como ela ��
Odia come��ou bem. At�� agora n��o xinguei nenhum
motorista, n��o comi doces nem coisas gordurosas, ne-
nhum membro da fam��lia discordou de mim e n��o aconteceu
nada desagrad��vel no trabalho. E s t �� tudo indo muito bem, a
n��o ser por pequeno detalhe: ainda n��o me levantei, o que sig-
nifica que ainda n��o enfrentei a avalanche de interfer��ncias
que surgem a todo momento sobre como "assumir o controle
de sua vida".
N �� s somos o primeiro fator com que teremos de lidar nessa
primeira decis��o do dia. Ser�� que voc�� decide o momento exato
em que levanta, a posi����o exata de suas pernas, as sensa����es nas
juntas e nos m��sculos, o p�� que pisar�� no ch��o primeiro, sua dis-
posi����o geral quando finalmente consegue levantar? Ser�� que
voc�� controla o que estar�� pensando?
Considere a hip��tese de seu parceiro ou parceira ter um pen-
samento de lux��ria e agarr��-lo para uma sess��ozinha matinal, ou
ainda de voc�� ser abatido por uma s��bita c��ibra ou por um filho
pulando em cima. Sejamos honestos: ser�� que algu��m controla o
mais b��sico de todos os atos: come��ar o dia? N �� o , �� claro que
n��o. Na verdade, n��o controlamos nada. �� por isso que ser solteiro
8 8 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
n��o nos d�� independ��ncia, ter sa��de n��o nos d�� prote����o e assim
por diante.
Fomos criados para acreditar que a ess��ncia do controle ��
confiarmos em n��s mesmos, antes de mais nada. No entanto,
quando pensamos em n��s mesmos em primeiro lugar, em que
estamos pensando?
A b r i n d o m �� o d o e u , d o m e u e d o p a r a m i m
Se fechamos os nossos olhos e procuramos aquele cantinho
dentro de nosso cora����o em que sentimos a serenidade e a paz,
sabemos que ela est�� ali, sempre �� espera. O que n��o controla-
mos �� ativado por outra parte de nossa consci��ncia: o ego, a
mente em conflito, aquele pedacinho da mente que identifi-
camos como o eu, o meu ou o para mim.
Quando nos perguntamos o que queremos, estamos consul-
tando apenas esta parte de n��s mesmos. Trabalhamos incan-
savelmente por ela, protegemos seus limites e verificamos minu-
ciosamente o respeito e reconhecimento que ela conquista.
Observamos, vigilantes, cada um de seus desejos para verificar
se "n��s" estamos precisando de algo. Ironicamente, ningu��m
controla a forma����o desse "eu" controlador. Trabalhamos para
um tirano que n��o elegemos.
Embora o conjunto das necessidades do ego seja diferente
para cada indiv��duo, cegamente estabelecemos a nossa pr��pria
prioridade sobre qualquer outra coisa. Este ego��smo nos leva a
uma vis��o de mundo t��o estreita, mesquinha e desprez��vel, que,
no limite, se torna uma morte emocional. No entanto, fazemos
isso sem questionar as raz��es que nos levam a querer controlar
o mundo.
D o s milhares de fatores que se combinaram para dar forma ao
A c e i t a n d o a v i d a c o m o e l a �� 8 9
nosso ego, uma coisa �� certa: n��s n��o tivemos nenhuma partici-
pa����o ou controle. Do estado emocional de nossos pais quando
nos conceberam �� maneira como nossos genes se combinaram, o
que nossas m��es comeram, beberam ou fizeram durante a ges-
ta����o, o momento em que sua placenta rompeu, o tempo que
levou para chegar ao hospital, os solavancos do carro no cami-
nho, quem estava no plant��o, o tempo que durou o parto, se,
quando e por quanto tempo fomos amamentados no peito... Ufa!
E ainda nem chegamos perto de nossos "anos de forma����o"!
Conforme-se: nem um s�� desses fatores foi escolha sua. Mas,
ainda assim, voc�� se dedicar�� de cora����o, alma e mente a realizar
todas as vontades desse "eu" tir��nico, mesmo que n��o queira.
L O V E S T O R Y
Pouco antes de meu terceiro encontro com Gayle, dois colegas da
universidade perguntaram se eu estava levando a s��rio o namoro
com ela. Fiquei estarrecido com a pergunta. Imaginem... expliquei
que mal nos conhec��amos ��� que hav��amos passado apenas oito
horas juntos! Falei que ela tinha posi����es com as quais eu n��o con-
cordava quando o assunto era pol��tica e religi��o e que, al��m disso, ela
fumava, bebia e comia porcarias. Resumindo, perguntei: "Ser�� que
se pode levar a s��rio uma pessoa que ouve m��sica country...?"
Algumas horas depois, Gayle e eu est��vamos estacionados na
frente de uma cafeteria tentando decidir se quer��amos entrar. A
conversa foi mais ou menos assim:
��� Voc�� quer fazer alguma outra coisa? (eu)
��� ��, acho que sim... (Gayle)
��� Voc�� quer se casar comigo? (eu)
��� ��, acho que sim... (Gayle)
N �� s mor��vamos em Dallas, no estado do Texas, onde era pre-
9 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
ciso esperar tr��s dias para se casar. Uma hora depois est��vamos
na estrada, indo para a fronteira do estado do Oklahoma, onde
se pode casar na hora.
Mais ou menos no meio do caminho, Gayle me perguntou:
��� Voc�� acha que isso vai funcionar?
��� N �� o ��� eu disse. ��� E voc��, acha que isso vai funcionar?
��� N �� o ��� disse ela.
Duas horas depois, est��vamos casados. No caminho de volta
para casa, Gayle disse:
��� Espero que voc�� entenda que nenhum peda��o de papel d��
a qualquer homem direito sobre o meu corpo...
E, com isso, ela entrou em seu apartamento e desapareceu.
Durante quinze dias, n��o a vi.
N o s tornamos escritores numa hist��ria semelhante.
Tivemos nosso primeiro filho com uma hist��ria semelhante.
N o s tornamos ministros de nossa igreja numa hist��ria seme-
lhante. J�� deu pra entender, n��o ��?
Trinta e cinco anos depois, temos tr��s filhos maravilhosos (um
de um casamento anterior) e cinco animais de estima����o. Este ��
o nosso d��cimo quinto livro. Vivemos numa cidade onde a tem-
peratura pode chegar a 46 graus cent��grados no ver��o e, nas ��lti-
mas quatro noites, matamos noventa e tr��s escorpi��es adultos
nos jardins ao redor de nossa casa.
N o s s a vida �� como a das outras pessoas: umas coisas boas,
umas ruins. Ou seja: sem nenhum controle, como a vida de todo
mundo.
Algumas coisas s��o simples - e aqui est�� uma: voc��
pode relaxar e viver a sua vida e, com isso, ter�� paz. Se
tentar controlar a sua vida, optar�� por viver em guerra...
A c e i t a n d o a v i d a c o m o e l a �� 9 1
L i b e r t a �� �� o 1 1
Tempo sugerido: 2 dias ou mais
A. Assim que voc�� tomar consci��ncia de que est�� despertan-
do, observe a diferen��a entre o momento em que decide sair da
cama e o momento em que realmente se levanta.
B. Nesse mesmo dia, pense no que voc�� estar�� fazendo dentro
de cinco minutos. Fa��a perguntas bem espec��ficas:
Em que esp��cie de atividade me envolverei?
Que esp��cie de pensamento terei?
Como estar�� o meu humor e a minha disposi����o geral?
Quando os cinco minutos passarem, compare o que voc�� pen-
sou que estaria fazendo com o que est�� fazendo.
C. Recomendo que voc�� fa��a esse exerc��cio por dois dias
consecutivos.
L i b e r t a �� �� o 1 2
Tempo sugerido: 2 dias ou mais
��� N o s pr��ximos dois dias, observe a freq����ncia com que situa-
����es rotineiras n��o funcionam conforme o esperado. Este
exerc��cio exige um enfoque diferente. Estamos t��o habitua-
dos ao caos que em geral nem reparamos que, ao prestar
aten����o nas pequenas coisas, podemos controlar situa����es e
outros egos.
Nesses dois dias, observe cuidadosamente como o seu corpo
realiza coisas que voc�� fez a vida inteira, como cal��ar um sapa-
to, acender uma l��mpada, pentear o cabelo, servir-se de um
copo de leite. Questione se tudo o que est�� acontecendo �� l��gi-
co e esperado.
9 2 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
L i b e r t a �� �� o 1 5
Tempo sugerido: 2 dias ou mais
Antes de dormir, anote as seguintes palavras e coloque-as num
lugar em que possa v��-las quando acordar: Nada dar�� certo hoje. Por
isso, relaxarei e me divertirei.
Admito que se trata de um objetivo um tanto estranho, mas
ele p��e em pr��tica o que acabamos de discutir ��� ou seja: o
essencial para a liberdade mental �� ver o mundo exatamente
como ele �� e delicadamente recusar qualquer apelo interior ou
exterior para mudar nossa natureza b��sica. Isto n��o significa que
jamais implementaremos mudan��as que poderiam beneficiar as
pessoas a quem queremos bem e a n��s mesmos. A id��ia �� que as
mudan��as sejam feitas pacificamente.
N �� o se trata de uma declara����o pol��tica, um apelo ao pacifis-
mo ou ao ideal imposs��vel ��� �� uma simples observa����o de que
podemos optar entre caminhar calmamente para casa ou nos
arrastar com dificuldade at�� l��, chutando e gritando a cada
pequena dist��ncia que temos de atravessar.
Ultima recomenda����o: n��o fa��a mais do que um exerc��cio de
Liberta����o por dia. Cada etapa exige uma aten����o diferente e
mistur��-las reduz a percep����o do resultado de cada uma.
S e m d a r i m p o r t �� n c i a a o s r e s u l t a d o s
Como n��o podemos controlar nada, podemos pelo menos contro-
lar a decis��o de querer controlar. �� uma decis��o simples: podemos
nos desapegar e ser livres, ou lutar batalhas in��teis. N �� o podemos
fazer as duas coisas. Ou nossa aten����o est�� na forma ou est�� no con-
te��do. Abrir m��o do desejo de dominar o futuro, n��o sacrifica nada
real, mas liberta o cora����o e a mente para a sensa����o de plenitude.
A c e i t a n d o a v i d a c o m o e l a �� 9 3
Um exemplo de como o controle �� parecido com o amor, mas
acaba provocando a separa����o, �� a pol��tica que muitos pais e
m��es aplicam em casa, que �� o tal "jantar em fam��lia". Se todos
os envolvidos aceitam e desejam participar, ��timo, n��o s��o
exemplos de controle. Mas se o "jantar de fam��lia" se tornar um
acontecimento for��ado, podem aparentemente criar um quadro
de uni��o ��� todos agora est��o juntos �� mesa de jantar ���, mas,
no fundo, s��o realizados �� custa do verdadeiro amor e da ver-
dadeira uni��o.
Da mesma forma, quando um parceiro pressiona o outro para
terem rela����es sexuais com maior freq����ncia, ou para conversar
sobre "como foi o seu dia?", em vez de assistir a um programa na
televis��o, o resultado pode ser uma apar��ncia de maior afei����o,
mas no fundo est�� aumentando a dist��ncia e sentimento de se-
para����o. O controle cont��m elementos da guerra e, por isso, n��o
leva �� expans��o do amor.
P R O B L E M A D E C A S A L
H�� poucos anos, Gayle e eu aconselhamos Becka e Larry, um
casal que tinha um problema que cerca de 9 0 % dos casais costu-
mam ter: interesses sexuais diferentes. Larry queria ter rela����es
duas ou tr��s vezes por semana, Becka preferia uma ou duas vezes
por m��s. O casal havia chegado a um meio-termo: teriam rela-
����es sexuais todos os s��bados �� noite.
Larry achava que o fato de Becka n��o querer ter rela����es se-
xuais com a mesma freq����ncia que ele significava que ela n��o o
amava. E Becka acreditava que a necessidade que Larry tinha de
se masturbar era uma forma de infidelidade.
Primeiro, pedimos que cada um lembrasse de algo que aprecia-
va no outro, at�� completarem dez coisas. Este exerc��cio simples,
9 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
em geral, leva as pessoas a sa��rem de suas mentes conflitantes
para suas mentes pac��ficas, de sua separa����o para sua liga����o.
Em seguida, pedimos a Larry e Becka que fechassem seus
olhos e perguntassem a si mesmos qual era o objetivo do sexo no
casamento, que motivo teriam para manter rela����es sexuais e
qual seu papel no relacionamento.
Os dois essencialmente nos contaram a mesma coisa: queriam
que o sexo fosse um ato de amor e queriam que fosse algo que os
unisse mais.
Gayle, ent��o, se dirigiu a Larry:
��� Algum dia voc�� j�� fez uma refei����o t��o maravilhosa e comeu
tanto que simplesmente n��o podia dar mais uma ��nica garfada?
��� Muitas vezes... ��� disse Larry
��� Pense em como se sentiria se, toda vez que terminasse uma
refei����o como essa, Becka lhe dissesse: "Larry quero que voc��
coma outra refei����o do mesmo tamanho... e, se voc�� realmente
me ama, voc�� far�� isto agora mesmo." C o m o mulher, posso
garantir que essa �� a sensa����o que d�� ao pensar em ter rela����es
sexuais quando n��o se tem vontade.
De minha parte, tentei explicar para Becka a diferen��a entre
o desejo sexual da maioria dos homens e o das mulheres. Eu
disse a Becka que exigir que Larry tivesse apenas duas rela����es
sexuais por m��s sem direito nem mesmo ao seu prazer solit��rio
era como pedir que ele comesse apenas uma vez a cada dois ou
tr��s dias sem fazer um lanche...
O resultado da sess��o: Becka resolveu ser mais compreensiva e
deu uma semana de "passe livre", em que Larry poderia ter as
rela����es que desejasse com ela. Larry, por sua vez, concedeu a
Becka "cinco desejos" para que eles pudessem melhorar suas
rela����es sexuais. Os dois tamb��m decidiram pesquisar outras
Aceitando a vida como ela �� 95
experi��ncias er��ticas. Mais importante ainda, eles tentariam ou-
tras abordagens at�� encontrarem uma que funcionasse. Em outras
palavras: concordaram em resolver o problema de algum modo.
Meses depois, eles nos contaram que, ap��s uma s��rie de erros
e tentativas, chegaram a uma abordagem "bastante agrad��vel" e
que o sexo j�� n��o era mais problema. Eu bem gostaria de poder
dizer que eles tiveram uma fabulosa vida sexual para sempre ���
mas uma vida sexual agrad��vel, com apenas uma e outra dificul-
dade, j�� �� um sucesso...
Evidentemente, nem todos os casais resolver��o este tipo de
problema t��o rapidamente quanto Becka e Larry, mas �� instruti-
vo entender o que levou os dois a se acertarem:
1. Eles pararam de tentar controlar um ao outro.
2. Os dois mudaram o foco de suas necessidades individuais
para as de um casal.
3. Olhando-se com afeto, viram que cada um queria tornar
mais f��cil a vida do outro e decidiram escutar as necessi-
dades do outro.
4. Os dois fizeram um plano e experimentaram, compreendendo
que se partes desse plano n��o funcionassem, eles continuariam
tentando at�� encontrarem uma solu����o que agradasse aos dois.
Resumo: desistiram de tentar controlar e admitiram que s�� ��
poss��vel controlar a pr��pria aten����o. Se nos concentrarmos no
que une, conforta e tranq��iliza a nossa mente, e n��o deixarmos
nenhum pensamento bloquear essa concentra����o, saberemos
quando encontrarmos aquilo em que acreditamos mais profun-
damente porque nos sentiremos felizes. Este sentimento
mostrar�� a sua liga����o e a sua uni��o com as pessoas �� sua volta.
Seis
A p r e n d e n d o a f i c a r l i v r e
do c o n f l i t o i n t e r i o r
Sei muito bem que identificar e limpar a mente de pensa-
mentos perturbadores �� algo que vai contra os valores do
momento atual. Nossa cultura valoriza muito tudo o que �� per-
turbador, como algo pleno de significado e profundidade. Ban-
das de rock pauleira, apresentadores de programas tipo "mundo
c��o" e celebridades espalhafatosas n��o poupam esfor��os para
"sacudir a apatia da plat��ia". C o m ret��ricas cheias de antagonis-
mos, eles polarizam as opini��es e s��o muito bem recompensados
n��o s�� financeiramente, mas acima de tudo com os spots mais
brilhantes da m��dia.
Quando estamos perturbados, temos a ilus��o de estar fazen-
do algo importante, cheio de significado. �� como se a pertur-
ba����o fosse, por si, uma realiza����o. Um b o m exemplo s��o as
pessoas que l��em regularmente as se����es de editorial e opini��o
dos jornais ��� em geral, consideradas "mais profundas" do que
as que n��o l��em. C o m o raros s��o os jornais que oferecem uma
se����o de igual tamanho com os caminhos que o leitor pode to-
mar para ajudar a resolver os problemas suscitados nos artigos,
resta o jogo de cena. Id��ntico, ali��s, ao que acontece com aque-
les que saem do cinema, depois de assistirem a um filme insti-
gante, decididos a fazer alguma coisa em rela����o �� quest��o
9 8 N �� o leve a vida t �� o a s �� r i o
apresentada. Elas ficam animadas para falar sobre a tal quest��o,
mas n��o passa disso.
Estamos, de certa forma, viciados numa boa briga. Mas ficar
indignado, escolher um culpado e assumir uma posi����o forte j�� ��
mais do que satisfat��rio. Lembre-se que s�� a tranq��ilidade, e n��o a
perturba����o, alcan��a as profundezas de nossa mente. Para chegar a
nossas convic����es mais profundas, escutar nossas intui����es e lem-
brar nosso amor pelas pessoas, s�� mesmo apostando na paz interior
��� n��o em palavras suaves, atitudes t��midas e lealdades inst��veis.
A perturba����o mental impede que voc�� escute e sinta seus
verdadeiros pensamentos e sentimentos. C o m a mente livre, a
tranq��ilidade assume seu lugar ��� e voc�� conseguir��, enfim, per-
ceber o sol que delicadamente se ergue, enquanto folhas se
abrem e p��ssaros cantam.
Desvendando as motiva����es inconscientes
Talvez em nenhum outro setor da vida a convic����o de que
pensamentos perturbadores s��o nocivos fique mais evidente do
que nas rela����es amorosas. O tempo e a energia que despen-
demos tentando convencer nossos parceiros de que estamos cer-
tos �� impressionante. Poucas pessoas fazem algum tipo de esfor-
��o para superar um problema no relacionamento ��� a maioria
absoluta prefere defender seu ponto de vista.
Os problemas que afetam a maior parte dos casais que Gayle
e eu aconselhamos todos os anos s��o bem mais significativos do
que a amizade que os une. A maior queixa se resume a quanto
eles se sentem insatisfeitos e desrespeitados pelo parceiro (ou
parceira). O conflito, em geral, leva �� separa����o, que at�� �� bas-
tante eficiente no que se refere a filhos e finan��as, mas um fra-
casso no que se refere ao lado emocional.
Aprendendo a ficar livre do conflito interior 99
A maioria monta uma hist��ria detalhada sobre o relaciona-
mento frustrado e sai contando para todo mundo, como se ali-
mentar opini��es alheias, m��goas e rabugices fosse um caminho
para a liberdade e a sa��de mental. O resultado �� um mergulho
profundo em pensamentos negativos. Este v��cio emocional faz
com que as pessoas levem para seu pr��ximo relacionamento,
pensamentos muito intensos do que passaram na rela����o anterior.
Elas agem como um "viciado", que �� v��tima de seu passado, n��o
do presente.
Assim como os drogados v��em a realidade se alterar diante de
seus olhos, quando um novo relacionamento �� visto sob as lentes
de um relacionamento antigo, a causa da distor����o n��o �� evi-
dente nem termina em minutos ou horas, como acontece quan-
do a droga desaparece e seu usu��rio v�� novamente a cena origi-
nal. Cada falha em um novo relacionamento refor��a essa dis-
tor����o e um belo dia o amor se esgota. N �� o importa que racio-
nalmente voc�� perceba que esses sentimentos s��o irracionais ���
sua impress��o imediata corre sempre o risco de ser distorcida
pelas influ��ncias recebidas no passado.
N �� o �� poss��vel experimentar o potencial do novo relaciona-
mento se voc�� ainda est�� vivendo o antigo de corpo e alma. A
boa not��cia �� que as pessoas que conseguem se livrar dessa "ba-
gagem" emocional, conquistam a liberdade. N �� o importa o
quanto tenham sido magoadas, se elas se conscientizarem desses
pensamentos, podem escolher como querem se sentir ou agir.
A c o n s c i �� n c i a �� a m a i o r a r m a
Sempre que sua mente achar que a hist��ria est�� se repetindo,
reagir�� destruindo o novo relacionamento. Por isso, identifique
logo se voc�� ainda est�� apegado a algum relacionamento frus-
1 0 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
trado e mude o seu modo de pensar: voc�� por acaso diz que n��o
"ag��enta" aquela pessoa, que ela deixa voc�� "doente", que "d��
arrepio s�� de pensar" nela, que tem "sorte" de ter sobrevivido ao
relacionamento, que ela "precisa de ajuda", que �� "realmente"
muito neur��tica, que aprendeu "a li����o", que �� uma "sorte" estar
"fora daquilo", que "nunca mais" cometer�� "aquele erro de
novo"?
O que podemos fazer com estes pensamentos destrutivos?
Examine-os friamente e solte-os. Isto funciona com qualquer
tipo de relacionamento que tenha dado errado.
Se voc�� n��o aprender mais nada com este livro, por favor
guarde isto: voc�� age com base no que acredita. Se con-
tinuar acreditando, agir�� da mesma forma repetidamente.
L i b e r t a �� �� o 1 4
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
��� Este exerc��cio exige total honestidade e aten����o. Portanto,
arranje vinte minutos ou mais de seu tempo e v�� para um
lugar onde n��o haver�� nenhuma interrup����o. Leve papel e
l��pis para escrever e acomode-se confortavelmente.
��� Nesse per��odo de recolhimento, concentre-se apenas no
primeiro relacionamento que tenha dado errado na sua vida.
Comece por aquele que acredita ter sido o mais influente.
Sei que n��o �� muito agrad��vel pensar nas poss��veis falhas de
relacionamento com pessoas que voc�� ama. Na verdade, apren-
demos mais depressa e mais profundamente se examinarmos
com honestidade nossos pr��prios erros e os erros dos outros.
Encare essas experi��ncias como li����es.
Aprendendo a ficar livre do conflito interior 101
��� Comece com a sua mem��ria mais antiga desse relacionamen-
to e prossiga em ordem cronol��gica at�� o presente. Se, a certa
altura, o relacionamento deu uma reviravolta e se tornou po-
sitivo, continue apenas at�� o final do per��odo negativo.
Examine cuidadosamente qualquer evento que ainda lhe seja
perturbador. Memorize as emo����es que sentiu e, se puder, os
pensamentos que teve durante a perturba����o. Passe ent��o ao
evento seguinte.
��� Seria melhor n��o ter mais de duas sess��es desse tipo por dia,
embora seja recomend��vel repeti-las quantas vezes forem
necess��rias para cobrir o per��odo deste ��nico relacionamento.
��� Quando chegar ao fim, resuma a atitude ou o pensamento cen-
tral que surgir em sua mente ao rever essa lista. Este ser�� um de
seus pensamentos D (desencadeadores de alguma emo����o).
L i b e r t a �� �� o 1 5
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
��� Pense no relacionamento amoroso mais recente que deu
errado. Siga o mesmo procedimento usado na Liberta����o 14 .
��� Depois de ler e resumir sua lista de pensamentos sobre este
relacionamento, compare com o resumo que escreveu para a
Liberta����o 14. Selecione um pensamento que seja comum a
ambas. Exemplo: se o pensamento que resume a Liberta����o
14 foi "Sempre sou eu quem causa o problema" e o pensa-
mento que resume a Liberta����o 15 foi "N��o importa o que
eu fa��a, nunca �� o bastante", um pensamento que cobriria os
dois poderia ser: "Estou sempre causando problemas para
todo mundo, porque nunca vou at�� o fim das coisas." Natu-
ralmente, este seria o seu pensamento D mais detalhado.
1 0 2 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
As Liberta����es 14 e 15 s��o bons exerc��cios de intui����o. Tente
sentir qual foi a heran��a do antigo relacionamento que ressurgiu
no atual. Lembre-se: a consci��ncia �� o fator essencial para a
limpeza da mente e para sua integra����o.
A I M A G E M D E " P E R D E D O R A "
Gayle recebeu um e-mail de uma certa Maggie, contando que
h�� mais ou menos seis meses havia come��ado a notar que se sen-
tia triste depois de sua conversa semanal por telefone com a
m��e. Gayle perguntou se isso j�� acontecera antes. Maggie disse
que n��o, sua m��e era muito saud��vel e nada de incomum lhe
acontecera nos ��ltimos tempos.
Gayle disse a Maggie que, ap��s os telefonemas das pr��ximas duas
semanas, se concentrasse na tristeza que sentia e anotasse todos os
pensamentos que passassem pela sua cabe��a naquele instante.
Duas semanas depois, Maggie enviou um e-mail contando que
as palavras perdedora e voc�� �� uma perdedora n��o sa��am de sua
cabe��a, e dizia: "...mas minha m��e n��o �� uma perdedora. Ela ��
uma professora muito popular entre os alunos e at�� ganhou um
pr��mio. E eu tenho uma carreira maravilhosa como terapeuta
f��sica e tamb��m n��o me considero perdedora."
Gayle sugeriu que Maggie procurasse em sua mem��ria tudo o
que houvesse em torno da palavra perdedora e que anotasse os
pensamentos que lhe ocorressem depois de mais um telefonema
�� m��e. Na semana seguinte, Maggie enviou outro e-mail, desta
vez excitad��ssima com o que havia descoberto.
Seis meses antes, seu pai, que se divorciara quando Maggie
tinha dez anos, viera �� cidade e os dois haviam almo��ado juntos.
Naquele momento, o pai contara para Maggie que se divorciara
de sua m��e porque "ela era uma perdedora", que n��o tinha ne-
A p r e n d e n d o a f i c a r l i v r e d o c o n f l i t o i n t e r i o r 1 0 3
nhum objetivo maior do que ser professora de escola prim��ria. O
pai de Maggie era m��dico e tinha ido embora com uma m��dica.
Gayle perguntou a Maggie se havia algum aspecto em sua vida
que n��o dera certo. Maggie respondeu que estava com trinta e sete
anos e jamais conseguira manter um relacionamento permanente.
Disse que o homem que estava namorando queria casar, mas algo a
impedia de aceitar. Ele era maravilhoso, mas ela se sentia relutante.
Mais uma vez Gayle sugeriu a Maggie que refletisse calmamente
sobre aquela emo����o e anotasse todos os seus pensamentos. Desta
vez, ela devia anotar tudo o que sentisse sobre essa relut��ncia.
No pen��ltimo e-mail, Maggie contou a Gayle que desvendara
um pensamento muito louco. "Era o seguinte: se eu me casar, me
tornarei uma perdedora. C o m o posso ter pensado uma coisa
dessas?" Gayle respondeu: "Porque voc�� viveu durante muitos
anos em uma casa onde seu pai tinha a profunda convic����o de
que a sua m��e era uma perdedora. Voc�� �� metade seu pai e me-
tade sua m��e, de modo que naturalmente internaliza esse pen-
samento da perdedora ��� que se mostrou forte o bastante para
romper o seu lar."
No ��ltimo e-mail, Maggie contou a Gayle que havia discutido
o assunto com o namorado e que ele a apoiara. Embora ainda
n��o houvesse decidido se casar, ela o convidara para se mudar
para sua casa. Os dois veriam como a coisa funcionaria...
C o m o na hist��ria de Maggie, a maioria das pessoas com quem
Gayle e eu trabalhamos identificam como origem de seu pensa-
mento D uma experi��ncia da inf��ncia. N �� o �� coincid��ncia que
esses pensamentos D ��� os pensamentos desencadeadores ��� se-
jam irracionais. Apenas uma compreens��o mais profunda de
suas origens pode tirar sua for��a. �� dif��cil acreditar que uma
id��ia t��o rid��cula como "Meu pai achava que a minha m��e era
I 0 4 N��o leve a vida t��o a s��rio
uma perdedora, portanto, eu me tornarei uma perdedora se me
casar" poderia ser respons��vel por quinze anos de incapacidade
de aceitar um compromisso. �� claro que n��o deveria ter aconte-
cido... mas aconteceu!
N��o perca seu tempo julgando seus pais. Eles tamb��m
tiveram pais...
As pessoas discutem o que seus pais fizeram em tom indigna-
do. Todos n��s cometemos este equ��voco, mas em algum mo-
mento temos de admitir que as ��nicas perguntas significativas a
fazer sobre o passado s��o as seguintes: "Quando aceitarei o fato
de que o que aconteceu, aconteceu?" e "Quando aceitarei a
responsabilidade pelo ego que tenho?".
L i b e r t a �� �� o 16
uma liberta����o de necessidades especiais
Este exerc��cio �� espec��fico para os que tiveram uma s��rie de
relacionamentos amorosos que n��o deram certo. Se voc�� repeti-
das vezes chegou a pensar que estava envolvida e esse relaciona-
mento terminou, �� bastante prov��vel que esteja ocorrendo algo
mais do que puro azar. Um ind��cio importante �� ver se existe
alguma semelhan��a na maneira como a maioria deles termina.
Por exemplo: se �� voc�� quem vai embora ou se �� a outra pessoa,
se a outra pessoa �� casada ou est�� envolvida em outro relaciona-
mento, se o rompimento �� por causa do dinheiro ou se �� porque
a outra pessoa n��o quer se comprometer.
Sua rea����o emocional pode ser o fator comum ��� alguma ca-
racter��stica da apar��ncia da outra pessoa (maneira de andar, falar,
Aprendendo a ficar livre do conflito interior 1 0 5
comer, se vestir) que se torna um inc��modo a ponto de voc�� usar
aquilo como desculpa para o rompimento; algo que surge nas
conversas (a maneira como analisa ou deixa de analisar um as-
sunto, sua cultura, suas id��ias pol��ticas) se torna uma obsess��o
negativa, ou ent��o alguma emo����o bem conhecida (necessidade
de ir embora e sentir-se livre, crescente inquietude, nervosismo
ou perturba����o generalizada, inseguran��a ou paran��ia) faz voc��
enxergar cada vez mais "cart��es vermelhos".
Sempre haver�� um ou dois encerramentos que foram exce-
����es, mas, se a maioria tiver semelhan��as na a����o ou no senti-
mento, �� ind��cio da atua����o de um pensamento D.
O exerc��cio seguinte �� especialmente eficaz para desvendar
os pensamentos que tomam conta dos sentimentos e percep-
����es, assegurando o fim de cada relacionamento novo. Para que
esta Liberta����o funcione, �� essencial a sua disposi����o de realiz��-
lo por inteiro.
��� Come��ando pelo seu mais recente relacionamento amoroso
(a n��o ser que o tenha usado na Liberta����o 15), inicie com o
primeiro sentimento ou evento perturbador que tenha ocor-
rido e reexamine-o t��o detalhadamente quanto poss��vel.
Anote tudo o que lembrar sobre esse primeiro pequeno pro-
blema ou grande abalo, inclusive os pensamentos que pas-
saram pela sua cabe��a naquele momento.
��� Depois de reexaminar inteiramente essa primeira pertur-
ba����o, volte ��s origens de cada pensamento anotado. O que
aconteceu pouco antes da perturba����o que este pensamento
faz recordar? O que aconteceu antes disso? E assim por
diante, v�� ao passado mais distante que conseguir lembrar.
�� importante n��o analisar o significado de cada pensamento.
Preste aten����o apenas no que pode ver. Quando n��o estiver ven-
1 0 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
do mais nada, passe para o pr��ximo pensamento e continue at��
ter seguido a pista de todos.
��� Escolha agora o sentimento ou evento perturbador seguinte
ao primeiro relacionamento que deu errado e elabore da
mesma maneira. Depois, fa��a o mesmo exame em seu pen��l-
timo relacionamento falho. Continue com cada relaciona-
mento, at�� chegar ao primeiro que n��o deu certo.
��� Leia tudo o que escreveu, se poss��vel numa ��nica sess��o. Os
pensamentos inconscientes que assumiram o controle da sua
vontade estar��o claros como o dia.
E s c a p a n d o d o s b l o q u e i o s q u e a t r a p a l h a m o s
r e l a c i o n a m e n t o s
Para p��r em pr��tica as conquistas obtidas com a Liberta����o
16, escolha um parceiro adequado. N �� o �� l�� muito espiritual ou
"emocionalmente correto" utilizar-se de classificados, caixas
postais da Internet, freq��entar bares de solteiros ou lugares e
eventos onde �� prov��vel que esteja o tipo de pessoa por quem
voc�� procura. Mas n��o h�� mal algum em testar sua disposi����o
mental para um relacionamento permanente e feliz.
�� tolice afirmar que seja mais natural esperar que as coisas
importantes venham at�� n��s. Existem hist��rias de encontros
maravilhosas. H�� pessoas que pesquisam bastante quando est��o
procurando uma crian��a para adotar. Quando se trata de encon-
trar um bom parceiro, parece que ��� n��o se sabe l�� o motivo ���
se espera que de alguma forma o universo, ou Deus em pessoa,
providencie o servi��o. Se existem algumas batalhas in��teis das
quais podemos nos libertar, essa, com certeza, �� uma delas!
Aprendendo a ficar livre do conflito interior 1 0 7
Dizendo n��o aos pensamentos chiclete'
Se voc�� observou direitinho seus pensamentos, deve ter nota-
do que um desfile de imagens e id��ias passa sem parar pela sua
mente. De vez em quando h�� um pensamento que prende a nos-
sa aten����o, e come��amos a rumin��-lo. �� o "pensamento-chi-
clete". Entender como esse tipo de pensamento funciona pode
ser muito ��til no processo de desprendimento de emo����es
menores. Veja por qu��:
��� Qualquer pensamento em que n��o acreditamos ou que n��o
consideramos importante n��o perturbar�� nossa integridade
e paz.
��� Qualquer pensamento que nos preocupa causa emo����es per-
turbadoras (medo, raiva, preocupa����o, ��dio, des��nimo, an-
siedade, inveja, ci��me e afins).
��� Pensamentos que produzem emo����es perturbadoras nos
fazem tomar decis��es conflitantes.
��� Todos os pensamentos que produzem emo����es perturbado-
ras cont��m amplos aspectos inconscientes ��� ou seja, vemos
apenas uma parte do pensamento.
��� O aspecto inconsciente do pensamento provoca fasc��nio e
muitas vezes nos vicia.
��� N �� o adianta acrescentar pensamentos positivos a uma
emo����o perturbadora. Isso apenas divide a mente ainda mais.
��� A parte inconsciente ��� e n��o a consciente ��� do pensamen-
to dita as emo����es que sentimos.
��� Fixar um pensamento �� uma escolha. Somos livres para in-
verter ou alterar essa escolha no momento desejado.
��� Uma forma de libertar um pensamento preocupante �� torn��-
lo consciente. Ao enxerg��-lo em sua plenitude, n��o acredita-
mos nele, n��o o desejamos e de b o m grado o libertamos.
1 0 8 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
L i b e r t a �� �� o 1 7
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
Enquanto observamos calmamente o desfile de pensamentos
passar �� nossa frente, n��o causamos nenhum problema. Se sa��mos
atr��s de algum pensamento que acidentalmente atravessa nossa
cabe��a, imediatamente damos in��cio a tumultos mentais in��teis.
��� Pratique hoje, e amanh�� se puder, o que poder�� ser o in��cio
de um h��bito de toda a sua vida. Sempre que tiver um mo-
mento de calma, observe cada pensamento que surgir em sua
mente e a emo����o que vier atr��s dele. Seu ��nico objetivo ��
examinar com clareza cada pensamento e reagir com sere-
nidade. N �� o ataque, n��o julgue, n��o venere, apenas reconhe-
��a a sua presen��a e observe.
��� Enquanto estiver na posi����o de espectador, voc�� talvez note
um lugar na sua consci��ncia em que j�� sente calma e felici-
dade. Neste lugar, voc�� pode ignorar o desfile de pensamen-
tos com seguran��a.
D e i x a n d o a t r i s t e z a p a r a t r �� s
Um excelente maneira de se desapegar dos conflitos �� mer-
gulhar a mente na serenidade. N �� o importa se retiramos o lixo
mental por meio da consci��ncia ou inundando a mente com
pureza, pois o resultado ser�� o mesmo: a mente sem conflitos. ��
bom ter as duas op����es, limpeza e imers��o na consci��ncia. C o m
certeza haver�� momentos em que algum pensamento pertur-
bador v�� se agarrar com tal for��a em nossa mente que teremos
de solt��-lo antes que a imers��o seja poss��vel.
O problema n��o �� a incapacidade de limpar nossas mentes. Na
verdade, n��s as inundamos com muitas mem��rias e linhas de pen-
A p r e n d e n d o a f i c a r l i v r e d o c o n f l i t o i n t e r i o r 1 0 9
samento. Podemos escolher o caminho do divertimento para limpar
a mente em vez do caminho que a polui. O riso, a gargalhada que
aproxima as pessoas, tem a capacidade de nos libertar instantanea-
mente da ansiedade, do des��nimo e de todos os estados fragmenta-
dos. Muita gente pensa que s�� pode come��ar a rir se for surpreen-
dida, mas o riso ��, na verdade, uma forma de desprendimento.
C o m o j�� mencionei, as crian��as pequenas chegam ao mundo
exercendo naturalmente a capacidade do desapego por meio do
divertimento e do deleite. Elas sorriem trinta e cinco vezes mais do
que os adultos. Elas se divertem por antecipa����o e, por isso, con-
seguem evitar que pensamentos perturbadores se instalem em
suas mentes. Instintivamente, elas passam de um tema pertur-
bador para um tema prazeroso.
O C A �� A D O R D E P E S A D E L O S
H�� alguns meses recebemos a visita de um amigo. Ele com-
prou um "ca��ador de sonhos" numa loja que vende artefatos dos
��ndios norte-americanos. O objeto tem a forma de uma redezi-
nha redonda, feita com uma trama de couro cru e contas e penas
especiais para "limpeza". Colocada acima da cama, ele "ca��a" os
sonhos ruins antes que estes possam entrar no seu sono, mas
deixa os sonhos bons passarem.
N o s s o amigo nos disse que era um presente para a filha dele,
Sarah, de quatro anos, que nas ��ltimas semanas estava tendo
uma s��rie incomum de pesadelos. Ela adorou o presente e deu
um enorme abra��o no pai. Naquela mesma noite, Sarah saiu da
cama e foi at�� o quarto dos pais:
��� Papai, preciso do meu ca��ador de sonhos agora!
Nosso amigo foi at�� o quarto de Sarah e olhou em volta,
procurando um lugar para pendur��-lo. O ca��ador de sonhos n��o
1 1 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
apenas deve ser pendurado acima da pessoa que sonha, mas tam-
b��m num ponto em que os raios do sol caiam sobre ele. Os so-
nhos ruins se dissolvem como o nevoeiro que desaparece com a
luz e o calor do sol matinal. N �� o havia um lugar ideal, mas como
o tom da voz de Sarah era de emerg��ncia, ele decidiu prender o
artefato no ventilador do teto. Quando conversei com ele
muitos meses depois, soube que Sarah nunca mais tivera ne-
nhum pesadelo. O presente a deixara t��o feliz que ela rapida-
mente trocou a infelicidade pela felicidade.
Muita gente questiona essa abordagem, alegando que ela n��o
chegaria ao que estava causando os pesadelos. Em mentes cheias
de conflito como as dos adultos, talvez seja verdade, mas crian-
��as da idade de Sarah n��o possuem muita coisa oculta, como
demonstrou o fato de que os pesadelos nunca mais voltaram.
U M P A I J U S T O
Um indiv��duo ligou para minha casa e perguntou:
��� Quem est�� falando?
��� Hugh Prather ��� respondi.
��� O meu telefone registra uma liga����o feita da sua casa.
��� Que liga����o? ��� perguntei.
��� Um menino ligou para minha casa e pediu para falar com a
minha filha. Eu lhe disse que ela n��o estava e perguntei quem
estava falando. Ele disse: "N��o se preocupe, eu a encontrarei
daqui a uma hora no jogo" e desligou.
Pedi ao pai que aguardasse e perguntei a meu filho de quinze
anos e seu amigo se eles sabiam que hist��ria era aquela. Tinha
sido o amigo de meu filho. Quando voltei ao telefone e confirmei
que a chamada fora feita de minha casa, ele disse que havia grava-
do a liga����o e que eu poderia ir at�� l�� para escut��-la e ouvir com
Aprendendo a ficar livre do conflito interior 111
meus pr��prios ouvidos que o menino n��o tinha dado seu nome.
Falou ainda que nada sabia sobre a minha casa, mas que na dele
esse tipo de comportamento n��o era tolerado. Perguntei-lhe se j��
recebera alguma outra liga����o do meu telefone. Ele me disse que
este n��o era o caso. A quest��o �� que dev��amos ensinar aos nossos
filhos um "comportamento moral" ��� e bateu o telefone.
Mais tarde, naquele mesmo dia, meu filho e o amigo voltaram
contando que o pai da garota fora ao jogo e se enfurecera com a
filha por ter "esse tipo de amigos". Disseram ainda que, assim
que o pai se afastou, contaram a ela o que havia acontecido.
��� Ela ficou furiosa porque o pai dela ligou pra c��! ��� infor-
maram os dois, exultantes.
Os adolescentes costumam n��o deixar seus nomes. Se esta
pequena caracter��stica do comportamento humano pode causar
esse tipo de enfrentamento, que chance tem esse indiv��duo de
algum dia experimentar um ��nico dia de paz e felicidade?
Dentro de suas mentes, os que se acham superiores
est��o em guerra com os outros.
N �� o foi a liga����o o que deixou esse pai t��o perturbado, mas
sim a imagem fragmentada que ele tem de si mesmo. Na sua
cabe��a, ele era um indiv��duo cheio de corre����o e virtudes... por-
tanto, algu��m com quem n��o se brinca. A aus��ncia de humor
desse pai bloqueou sua intui����o e experi��ncia. Fez com que
entendesse de maneira equivocada a motiva����o e presumisse que
a inten����o do menino que telefonou fosse desrespeit��-lo. Entre
se divertir e se sentir ofendido, ele s�� conseguiu se isolar e se
incomodar, principalmente consigo mesmo.
1 1 2 N �� o leve a vida t �� o a s �� r i o
U M C A S A L F L E X �� V E L
Duas semanas antes do incidente relatado, um casal me con-
tou que seu filho de nove anos fora brincar com algumas crian��as
do outro lado da rua e uma meninazinha de cinco anos, de
repente, lhe deu um pontap��. Numa rea����o, por reflexo, o meni-
no atingiu a boca da menina, fazendo cair um dente de leite que
j�� estava solto. Quando o pai e a m��e da menina viram a filha
chorando, com a boca sangrando e segurando o dente na m��o, o
menino j�� havia atravessado a rua. Furioso, o pai foi atr��s do
menino, levantou-o no ar pela gola e sacudiu-o. Depois arrastou-o
para seu lado da rua e gritou com ele durante muitos minutos.
O casal me contou que, ao descobrir o que havia acontecido,
primeiro examinou cuidadosamente o filho para ver se ele esta-
va bem f��sica e emocionalmente. Depois, o impulso dos dois foi
atravessar a rua e devolver o ataque ou, como eles disseram, ten-
tar sentirem-se melhor fazendo o outro sentir-se pior.
�� interessante que, em situa����es que envolvem nossos filhos,
quando o desejo de devolver um ataque �� examinado em min��-
cias, vemos que o que nos faz reagir �� principalmente indigna����o
pela maneira como a crian��a foi tratada. E n��o necessariamente
um desejo de melhorar o bem-estar dela. De alguma forma, os
pais do menino conseguiram parar e refletir sobre como pode-
riam realmente ajudar seu filho. Em primeiro lugar, fizeram-no
saber que, embora ele houvesse cometido um erro, o pai da me-
nina cometera outro. Resumindo, disseram que estavam a seu
lado. Foi preciso mais de uma hora para os tr��s decidirem tran-
q��ilamente o que desejavam fazer. Depois de algum tempo,
chegaram a um plano com que todos concordaram.
A fam��lia atravessou a rua e tocou a campainha. A m��e abriu
a porta pronta para uma briga. Eles apenas disseram o quanto
Aprendendo a ficar livre do conflito interior 1 1 3
gostavam da menina, o quanto apreciavam aqueles vizinhos e o
quanto lamentavam o incidente. Conforme haviam planejado,
n��o disseram uma palavra sobre o que seu marido fizera. De
repente, a m��e da menina come��ou a chorar e a pedir desculpas
pela maneira como seu marido tratara o menino. Evidentemen-
te, a rea����o da m��e depois de abrir a porta poderia ter sido com-
pletamente diferente. Ela poderia ter recusado as desculpas,
poderia ter batido a porta na cara dos vizinhos, poderia tentar
process��-los ou chamar a pol��cia.
Os pais do menino uniram suas mentes em torno do amor pelo
filho para fazerem o melhor. Conseguiram acalmar o que poderia
evoluir e se transformar numa situa����o extremamente problem��tica.
L i b e r t a �� �� o 1 8
Tempo sugerido: 2 dias ou mais
A. Uma ou duas vezes por dia, fa��a o seguinte exerc��cio: deter-
mine dois pontos e enquanto caminha de um para o outro, repi-
ta silenciosamente:
��� Enquanto caminho de para (desta cadeira at�� a
porta, do quarto para a cozinha), olharei com bom humor
para tudo o que estiver na minha frente.
B. No mesmo dia em que fizer o exerc��cio A, separe tamb��m
uma ou duas tarefas que exigem pouco tempo e, antes de
come��ar, repita:
��� Enquanto eu estiver (largando isto na loja, dando
comida para o gato, lavando esses pratos), olharei com bom
humor para tudo o que acontecer.
At�� mesmo se voc�� fizer A e B com certo des��nimo, come��ar��
a lembrar como era olhar o mundo com olhos cintilantes.
1 1 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
Para praticar o bom humor por antecipa����o:
��� Observe que a mente em conflito �� temporariamente deixada
de lado em favor de uma disposi����o mais simples e tranq��ila.
��� Observe como esta sua nova disposi����o permite que voc��
veja mais detalhes e nuances das situa����es nas quais voc�� se
envolve.
��� Observe como esta sua nova disposi����o lhe permite relaxar
mais e aceitar as pessoas e as situa����es como elas s��o.
��� Observe que sempre que opta por se divertir, voc�� �� mais
��til para si e tamb��m para os outros ��� e sem sequer ter de
pensar nisso...
Sete
A b r i n d o m��o
da " s i n c e r i d a d e "
Em nome da simplicidade, vou chamar nossa capacidade de
ver e sentir o que acreditamos ser real, mesmo quando n��o
�� o caso, de "proje����o". C o m o a maioria das pessoas projeta
inconscientemente, �� dif��cil reconhecer as oportunidades em
que essa habilidade mental se torna uma vantagem. Uma, no
entanto, �� inequ��voca ��� tem a ver com as pessoas com quem
temos dificuldade de lidar.
Pessoas "dif��ceis" de ag��entar, que "for��am a barra", que "n��o conseguimos suportar" despertam fortes emo����es na vida de
cada um de n��s. Elas, sem d��vida, representam alguma coisa
sobre n��s mesmos de que n��o temos plena consci��ncia. Sei que
�� dif��cil acreditar, mas n��o deixa de ser ��til t��-las por perto, para
nos lembrar de que ainda h�� muito trabalho a fazer.
Ningu��m �� obrigado a correr riscos, nem a conviver com
algu��m perturbador. Al��m disso, �� bom ficar claro que descarto
a verdade de nossa percep����o intuitiva, que nos permite ver a
desonestidade nos desonestos, o preconceito nos preconceituo-
sos e a crueldade nas pessoas cru��is. �� bom deixar claro que nem
todo indiv��duo arrogante ou perverso �� uma proje����o ��� eles
existem, infelizmente.
Me refiro principalmente ��quele tipo de pessoa que nos irrita,
116 N��o leve a vida t��o a s��rio
que nos deixa desconcertado, que nos coloca contra a parede. A
proje����o, nesse caso, est�� na nossa rea����o, acrescida ao que in-
tu��mos. Podemos sentir que determinado indiv��duo tem "um to-
que" de mesquinharia, sem acrescentar nenhum ju��zo de valor.
No momento em que pensamos, sentimos e julgamos, estamos
fazendo uma proje����o. A condena����o pode parecer muito ho-
nesta, mas este �� o tipo de honestidade que �� melhor dispensar.
Desfazer uma proje����o exige que tenhamos a exata percep����o
do que representam para n��s as pessoas em rela����o ��s quais rea-
gimos. Qual �� a import��ncia e o simbolismo de seu comporta-
mento? De que anseios, pensamentos ou motivos nos fazem
lembrar? O desafio �� desvendar a parte de nosso ego que n��o es-
tamos conseguindo enxergar, ainda que, "sinceramente", acredi-
temos estar vendo em outras pessoas.
Um exemplo de como funciona esse tipo de proje����o incons-
ciente �� a hist��ria do menininho que espanca seus bichinhos de
pel��cia numa reprodu����o do que acontece com ele. O menino
faz serm��es ao elefante, diz que ele foi mau, diz que o que ter��
de fazer ir�� machucar mais a si mesmo do que ao elefante. A��,
bate no elefante, dizendo: "N��o! N �� o ! N �� o ! N��o!" Naquele mo-
mento, o menininho n��o tem a menor d��vida de que o elefante
�� mau. Na realidade, ele, inconscientemente, acredita ser um
garoto mau.
O u s o consciente da p r o j e �� �� o mental
Uma vez que descobrimos a parte em n��s que essas pessoas
representam, n��o devemos rejeit��-la. Ao contr��rio, temos que
aceit��-la como um aspecto ineg��vel de nosso ego. Neste contex-
to, aceitar significa admitir ser como somos. A partir da��, fica-
mos em posi����o de escolher n��o ampliar essa parte de nossa per-
A b r i n d o m �� o d a " s i n c e r i d a d e "
1 1 7
sonalidade ��� mas sim uma outra parte, mais profunda, livre e
cheia de amor.
Um forte sentimento cr��tico sobre algu��m, especialmente
uma pessoa que faz parte da sua vida, indica que voc�� est�� com
dificuldade em assumir responsabilidades sobre um aspecto do
seu ego. Se o seu discurso sobre a raz��o pela qual a pessoa a inco-
moda tem alguma semelhan��a com as frases a seguir, tome
cuidado: "Ela �� pretensiosa e jamais gostei disso", "Ele me lem-
bra meu pai, que n��o passava de uma grande canalha de fala
mansa", "Ela �� realmente perigosa para os neg��cios, porque se
faz de boazinha".
Em geral, as proje����es negativas s��o vers��es de n��s mesmos
nos outros, com forte sentido de rejei����o ao que vemos. Mesmo
quando desconhecemos nossa capacidade de proje����o mental,
ela entra em a����o, produzindo efeitos que atribu��mos ��s circuns-
t��ncias, aos outros ou a anseios internos. Jamais devemos duvi-
dar do poder que a nossa mente tem de sentir o que n��o est��
acontecendo. Para mudar isso, s�� quando conseguir ficar imune
��s pessoas que o irritavam ��� ainda que estejam se comportando
como sempre. Isto significa que voc�� passou a aceitar em si as
imperfei����es que via nelas.
A v e r d a d e s o b r e a " v e r d a d e "
O caminho para a verdade �� "estreito" - no sentido de que
�� puro, n��o no sentido de que suas op����es s��o limitadas.
De vez em quando, nos deparamos com situa����es potencial-
mente desagrad��veis ou mesmo perigosas. O exemplo cl��ssico ��
convidar um alco��latra em recupera����o a se juntar com pessoas
118 N��o leve a vida t��o a s��rio
que bebem muito. Naturalmente, ��s vezes somos obrigados a
freq��entar reuni��es de colegas de trabalho, mas uma boa des-
culpa pode nos tirar de praticamente qualquer situa����o. Mesmo
assim, muita gente n��o se permite utilizar essa op����o porque
tem uma defini����o radical de honestidade.
Qual seria a resposta "honesta" a um convite desse tipo: "N��o,
n��o irei porque voc�� e seus amigos se embebedam e se tornam
t��o chatos que eu poderia voltar a beber de novo. Caso voc��s
n��o saibam, sou um alco��latra em recupera����o." Ser�� que esse
tipo de sinceridade aumenta a consci��ncia de algu��m? A fran-
queza total pode ser considerada uma qualidade nos dias de hoje,
mas, na verdade, quando as pessoas dizem "Preciso ser honesto
com voc��", em geral prosseguem com um discurso de ataque,
abandono ou trai����o.
Os defensores da "honestidade" n��o deixam nada intocado.
Muitos relacionamentos naufragam antes mesmo de come��ar
porque os dois parceiros pensam que devem confessar todos os
atos sexuais que tiveram ou pensaram ter na vida. Observe que
essas confiss��es levam a um desentendimento maior. Elas ilu-
dem, n��o esclarecem.
A honestidade que vale a pena cultivar diz respeito ao que
dizemos, n��o ao que comunicamos ��� e, como tal, �� mais uma
vers��o da id��ia de que a apar��ncia �� tudo o que importa. �� me-
lhor sermos verdadeiros em rela����o ao nosso cora����o do que ho-
nestos em rela����o �� nossa disposi����o. N �� o passa pela cabe��a dos
pais serem "honestos" quando o filhinho de tr��s anos traz uma
folha de papel e diz:
��� Olha o que eu desenhei!!!
Eles consultam seu cora����o, seus sentimentos mais profun-
dos, e dizem:
A b r i n d o m �� o d a " s i n c e r i d a d e " 1 1 9
��� Ah! Que lindo! Que desenho maravilhoso! Vamos pendurar
na parede!
Esta �� a verdade. Os pais est��o sendo verdadeiros em rela����o ao
que a crian��a est�� realmente pedindo. N �� o devemos nos prender
a um uso muito estreito das palavras. A l��ngua pode espalhar o
desentendimento e n��o a compreens��o. Ela fornece o calor, mas
n��o d�� a luz.
Tenho o h��bito de fazer uma caminhada ao anoitecer que me
leva at�� a beira de um riacho onde vive h�� muitos anos um sem-
teto. Se ele estiver por ali, costuma caminhar ao meu lado. N o s -
sas conversas n��o fazem muito sentido, mas h�� uma troca de
calor humano, interesse e preocupa����o que faz com que sejam
t��o satisfat��rias quanto qualquer conversa "inteligente":
��� Est�� vendo aquele coelho? Ele est�� perto de n��s porque h��
um coiote por a��... Terei de me mudar daqui a pouco... Os pro-
fessores descobriram onde moro, o que significa que a m��fia
tamb��m descobriu...!
Os pais que se concentram no conte��do literal da comunica����o
que t��m nos dois ou tr��s primeiros anos da vida de seus filhos acabam
tendo "conversas" maravilhosas, cheias de guinchos, gemidos, gar-
garejos, tartamudeios, respira����es ofegantes e bolhas de cuspe. Idem
para dois jovens apaixonados que se abra��am e olham para as estre-
las: o tema de sua conversa pode girar ao redor de qualquer coisa, mas
eles sabem que toda a comunica����o se resume em: "Eu te amo! Eu te
adoro! Estou muito feliz porque voc�� faz parte da minha vida!"
Quando conversamos com algu��m, h�� o tema das palavras que
s��o ditas ��� mas raramente este consiste na verdadeira impor-
t��ncia da conversa para quaisquer das partes.
120 N��o leve a vida t��o a s��rio
L i b e r t a �� �� o 1 9
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
Escute a conversa entre o seu cora����o e suas necessidades e o
cora����o e as necessidades de seu interlocutor. Se olhar direta-
mente nos olhos dessa pessoa, voc�� "escutar��" claramente o que
ela est�� realmente dizendo para voc��. Repita bem devagar:
��� Esta conversa �� sobre algo mais do que o tema principal...
O que esta pessoa est�� realmente me perguntando ou me pedin-
do e o que realmente estou dando em troca?
Em vez de ser "honesto" em rela����o ao tema da conversa,
experimente us��-lo apenas como meio para obter uma ver-
dadeira troca. C o m o queremos sentir a nossa unidade com as
pessoas �� nossa volta, seja cauteloso e n��o fa��a nada que as deixe
na defensiva ou que as intimide.
Oito
O d e s p r e n d i m e n t o do ego
Temos duas mentes, n��o apenas uma. �� mais ou menos
como ter dois est��magos ��� ningu��m fala disso na escola.
Dizem que s�� as vacas t��m dois est��magos (na verdade, s��o qua-
tro!) e fazem recomenda����es do tipo: "Quando seu est��mago
estiver cheio, pare de comer!" No entanto, voc�� acaba desco-
brindo que, mesmo de barriga cheia, sempre haver�� lugar para a
sobremesa (especialmente de chocolate), e come��ar�� a suspeitar
desse alerta. Depois de se empanturrar de doces centenas de
vezes, mesmo estando com a barriga cheia, voc�� se d�� conta:
todos n��s temos dois est��magos, um deles s�� para os doces!
Da mesma forma, para acreditar na exist��ncia de duas mentes
�� preciso sentir os seus efeitos na pr��pria pele. Aprender a dei-
xar fluir o lado conturbado da mente �� a chave para ampliar o
conhecimento da parte tranq��ila da mente. Assim que conhece-
mos a segunda mente, percebemos que a primeira, que eu chamo
de mente do ego, �� uma esp��cie de fantasia.
A id��ia de "deixar fluir" pressup��e assumir o que somos, sem
desejos de mudan��a. Para muitas crian��as, o primeiro amigo ��
imagin��rio, enquanto o segundo �� real. Elas precisam constatar
as limita����es de se relacionar com algu��m que s�� existe em sua
pr��pria imagina����o, para conseguir ter amizades de carne e osso.
Digamos que voc�� �� uma crian��a pequena e que tem como vizi-
nho um menino chamado Burt, de quem voc�� gosta muito. Burt
1 2 2 N��o leve a vida t��o a s��rio
tem uma amiguinha imagin��ria chamada Lubertha. Um dia voc��
diz para Burt:
��� Voc�� acha que a sua verdadeira amiga �� a Lubertha, mas um
dia voc�� ver�� que a Lubertha n��o existe. Voc�� inventou a Lu-
bertha... mas eu sou real e estou pronto para ser seu verdadeiro
amigo. Se n��s pudermos brincar junto s�� um pouquinho, voc��
come��ar�� a ver o que eu significo.
E assim, Burt come��a a brincar com voc�� ��� no in��cio �� um
tanto assustador, mas logo Burt percebe que n��o h�� nada a te-
mer, voc�� n��o ir�� machuc��-lo. At�� que finalmente chega um dia
em que Burt diz:
��� Sabe de uma coisa? Acho melhor o amigo de verdade!
Parece muito simples? Conquistar uma mente clara e desfrag-
mentada �� simples porque a segunda mente ��� a mente real, pro-
funda ��� j�� est�� no seu lugar e pronta para funcionar. Se voc�� ��
como a maioria, tem usado a mente ocupada, infeliz e fragmen-
tada por tanto tempo que esqueceu que existe a outra mente.
Voc�� pode tentar a vida inteira melhorar uma mente fraca,
hiperativa e conflituosa. Mas at�� perceber que sua verdadeira
mente �� a ��nica de que voc�� precisa ser�� dif��cil atingir uma sen-
sa����o permanente de paz, relaxamento e integridade.
Como se forma a primeira mente
Para os casais, os beb��s s��o uma imensa fonte de preocupa-
����es. Tudo pode come��ar com uma assadura no bumbum, uma
crosta de leite na cabe��a ou um ciclo de sono curto. �� como se
m��es e pais desconstru��ssem a integridade da crian��a. Depois de
um tempo, o processo de fragmenta����o faz com que os pais n��o
vejam mais um beb��, mas sim um atirador de comida, um g��nio
musical, um molhador de cama ou um p��ssimo aluno. Eles se
O d e s p r e n d i m e n t o d o e g o 123
preocupam com um aspecto espec��fico da crian��a e acabam des-
cuidando de sua felicidade e bem-estar geral.
Do ponto de vista das crian��as, a menos que tenha ocorrido
algum trauma incomum durante a gesta����o ou o parto, elas che-
gam ao mundo zeradas no que se refere a expectativas e ansie-
dades. Suas mentes s��o simples, unificadas e sintonizadas. Elas
se sentem ligadas aos pais e querem pouco mais do que estar per-
to deles e se divertir com eles. O dif��cil �� permanecerem imunes
�� maneira fragmentada como os pais as v��em.
P A R A L I S I A " E M O C I O N A L " O U D A N O N E U R O L �� G I C O ?
H�� muitos anos, a m��e de um menininho de quatro anos veio
nos perguntar como poder��amos ajud��-lo a mudar de atitude em
rela����o a seu corpo. Aos dois anos, Sammy teve uma doen��a que
o deixou com uma leve paralisia na metade do corpo. A m��e de
Sammy acreditava que era preciso usar meios espirituais para
tratar o filho. Disse que sabia que sua paralisia desapareceria se
ele pensasse em si mesmo como uma pessoa normal. O pai de
Sammy concordava com sua teoria.
Acompanhamos o caso durante tr��s anos, tempo que preci-
samos para convencer os pais do menino a lev��-lo a um neurolo-
gista e, talvez o mais importante, a se relacionarem com ele com
certo grau de prazer, valorizando a crian��a. Sammy sempre havia
sido tratado como um projeto que dera errado, n��o como um
filho amado. Era obrigado a andar sem muletas, a experimentar
todos os esportes e a afetar uma pose de "tudo bem" junto aos
colegas. Os pais acreditavam sinceramente que, com o tempo,
essa abordagem seria ben��fica...
N o s tr��s anos em que estivemos em contato, vimos Sammy se
tornar cada vez mais t��mido, frustrado e furioso. Em outras pala-
1 2 4 N��o l e v e a v i d a t��o a s��rio
vras, sua atitude em rela����o a si mesmo e aos outros come��ou a
se fragmentar.
N �� s compartilhamos a certeza de seus pais no potencial da
cura espiritual ��� mas essa abordagem em crian��as pequenas, que
n��o compreendem conceitos metaf��sicos, nem sempre funciona.
A leve paralisia de Sammy criou uma divis��o entre ele e seus pais,
que lhe disseram que a cura era um problema dele. Sammy era
muito pequeno para ver a falha nesta abordagem e se defender.
Quando, enfim, Sammy foi examinado por uma equipe de es-
pecialistas, estes convenceram os pais de que o problema era
conseq����ncia de um dano neurol��gico e nada tinha a ver com
sua atitude. De uma hora para outra, seus pais deixaram de fazer
press��o e come��aram a procurar meios de trazer conforto e feli-
cidade para Sammy em cada pequena tarefa que ele tinha de
enfrentar.
A seus olhos, o filho agora n��o tinha nenhuma culpa e eles
estavam livres para am��-lo por inteiro. No nosso ��ltimo conta-
to, Sammy tinha nove anos. Seus pais come��avam a se preocupar
um tanto exageradamente com a possibilidade de o menino cor-
responder ou n��o a seu potencial acad��mico...
Qualquer coisa, at�� mesmo um conceito espiritual, deve
ser posto de lado quando esconder o amor.
Embora a gente aprenda desde o in��cio a triste li����o de que so-
mos partes espalhadas e n��o um todo unido, resta sempre um
lugar que permanece intocado em nosso cora����o ��� algo seme-
lhante �� fase do sono em que estamos sonhando. Assim que
adormecemos, nossa mente se divide em muitos personagens,
cada qual com seus pr��prios planos. A parte que n��o �� afetada
O desprendimento do ego 125
pelos sonhos nos mant��m respirando, nos impede de cair da ca-
ma, puxa as cobertas quando sentimos frio ��� e assim por diante.
De manh��, quando acordamos e nos percebemos unos, a mente
liberta sua preocupa����o com os personagens conflitantes dos
sonhos e sente sua plenitude.
Apesar de cada sonho ter suas pr��prias leis, no momento em
que acordamos n��s acreditamos na realidade do sonho. Nas fan-
tasias que temos durante o dia ocorre algo parecido. De vez em
quando ouvimos uma pessoa dizendo a outra: "Ei! Onde voc��
est��? Voc�� escutou o que acabo de dizer?" C o m isto, na verdade,
estamos dizendo: "Onde estava a sua mente consciente quando
eu estava falando com voc�� agora mesmo?" Provavelmente esta-
va mergulhada em fantasias.
Se criamos companheiros imagin��rios e nos divertimos em so-
nhos e fantasias, tamb��m podemos criar uma identidade imagi-
n��ria e acreditar que �� isso que somos. Essa identidade ima-
gin��ria que chamamos de ego �� uma realidade t��o diferente do
nosso verdadeiro "ser" que n��o pode ser comparada com ele nem
mesmo definida claramente.
Uma crian��a pode ser surpreendida e at�� sentir-se chocada
pelo que dizem seus amigos imagin��rios ��� embora ela mesma
esteja criando e pronunciando cada palavra. Da mesma forma, os
personagens dos sonhos nos surpreendem, embora sejamos n��s
que os fazemos se comportarem como tal. Esses personagens do
ego imagin��rio t��m um forte sentimento de autodefesa. Um
sonho, por exemplo, se defender�� criando outro sonho em que
I -ramos despertando e nos levantando, quando na verdade ainda
estamos adormecidos.
O sonho pode inclusive incorporar o som de um alarme ou
qualquer perturba����o externa. Quando nosso filho John tinha
1 2 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
quatro anos, foi atirado fora da cama por um terremoto de 5,7
pontos, n��s o colocamos de volta sem que ele acordasse. As
crian��as que molham a cama muitas vezes alegam que n��o s��o
culpadas (�� claro que n��o s��o) porque sonharam que haviam
sa��do da cama e foram ao banheiro. Todos os sonhos s��o prepa-
rados pela mente para parecerem reais e usam uma esp��cie de
prestidigita����o mental para sustentar a ilus��o.
N o s s o ego tamb��m se defende. Ele cria uma s��rie de "resis-
t��ncias" a qualquer experi��ncia de unidade, amor ou comunh��o
(a ess��ncia de nosso "ser" real, ou segunda mente). Cada vez que
conhecemos a plenitude, a primeira mente, ou ego, perde a
for��a. Mas como foi programado para defender o seu senso de
realidade, o ego sempre contra-ataca.
Observe que sempre que voc�� e seu parceiro t��m um dia de
uni��o e paz, o dia seguinte �� desastroso. S��o os egos tentando
retomar o terreno que perderam. Se voc�� e seu parceiro perce-
berem a tentativa, ficar��o imunes. Afinal, o ego n��o �� uma
for��a exterior. Voc�� o cria e o mant��m. Se n��o quiser, n��o pre-
cisa t��-lo.
Sua experi��ncia de comunh��o com outra pessoa �� a
��nica inimiga do seu ego.
O ego, ou "identidade aut��noma", s�� pode ser sustentado na
mente por meio da compara����o constante. �� por isso que a sorte
do outro nos afeta. N �� s nos sentimos literalmente atacados
quando, por exemplo, algu��m que conhecemos ganha na loteria
ou recebe um grande elogio. Da mesma forma, nos sentimos ani-
mados com qualquer sinal de fraqueza e perda dos que nos cir-
cundam. De que outra maneira poderia reagir o nosso ego? Na
O desprendimento do ego 127
experi��ncia do amor e da unidade, n��o temos nenhuma necessi-
dade de nos comparar com outras pessoas. N �� o precisamos estar
a toda hora perguntando quem somos, porque agora podemos
sentir quem somos.
A mente coleta muito lixo mental durante nossos anos de for-
ma����o, mas seu n��cleo continua puro. Embora corramos o risco
de us��-la de maneira conflitante, nenhuma realidade tem mais
unidade b��sica do que a mente. Buscar nossa natureza essencial
�� uma tarefa que pode ser realizada com simplicidade e tranq��i-
lidade se damos alguns passos a cada dia. A hist��ria seguinte ilus-
tra um desses passos.
Q U E S T �� O D E F �� O U R E A L I D A D E ?
D o s seis anos at�� a adolesc��ncia, eu adorava visitar minha av��,
a quem chamava de Meemo. Quando pequeno, jog��vamos pa-
ci��ncia e convers��vamos sobre Deus e, quando eu baixava a
guarda, ela ainda me dava algumas aulas de costura e tric��.
C o m o passar dos anos, eu via Meemo atravessar crises que
teriam sido devastadoras para a maioria das pessoas. Quando seu
marido morreu num acidente de avi��o, quando seus filhos, um
por um, beberam at�� morrer, ou quando ela ficava doente, sem-
pre tratava de tudo da mesma maneira. J�� aconteceu de encon-
tr��-la arrasada e, quando eu voltava, uma semana depois, perce-
bia que ela estava muit��ssimo melhor. Eu sempre dizia:
��� Meemo, voc�� est�� indo muito bem!
E ela sempre respondia:
��� Entreguei a Deus...
Minha av�� nunca explicou o que ela queria dizer com isso,
nem me aconselhou a usar essa abordagem em rela����o a qual-
quer problema que tivesse, mas eu a vi fazer isso tantas vezes e
128 N��o leve a vida t��o a s��rio
durante tantos anos que comecei a perceber como aquele m��to-
do era simples e forte.
Talvez essa particular capacidade mental n��o seja mais ampla-
mente usada porque muitas pessoas acham que �� uma quest��o de
f�� religiosa. C o m o n��o t��m f�� ou talvez nem queiram essa f��, acre-
ditam que "entregar a Deus" �� algo que n��o est�� �� sua disposi����o.
A certeza de que existe algo ��� uma for��a, um poder, uma rea-
lidade, uma intelig��ncia, uma presen��a ��� que entende as nossas
quest��es, o nosso turbilh��o interior, e sabe como nos conduzir
para fora dele, faz com que o ato de relaxar e esvaziar a preocu-
pa����o de nossas mentes seja bem mais simples do que enfrentar
todo o problema sozinhos. N �� o �� uma quest��o de f��, e sim uma
realidade.
A hist��ria seguinte �� sobre um homem que n��o tinha nenhuma
f�� religiosa, mas usou sua pr��pria consci��ncia para salvar sua vida.
E X E R C �� C I O D E V I D A
Um dia um indiv��duo me ligou e disse que seu amigo Lloyd ia
tirar a pr��pria vida. Ele explicou que n��o se tratava de um impul-
so ��� Lloyd havia levado muitas semanas para chegar a essa de-
cis��o. O amigo conseguira obter uma concess��o: eu poderia ir ��
casa de Lloyd para uma conversa.
Embora fosse meio-dia, entrei numa casa t��o escura que n��o
conseguia ver onde pisava. As cortinas estavam cerradas e s��
uma luz bem fraquinha estava acesa. Lloyd aparentava uns qua-
renta anos ��� e n��o levantou quando entrei. Estava sentado num
sof�� na sala.
Lloyd me agradeceu por ter vindo e logo come��ou a explicar
por que decidira cometer suic��dio. Contou como havia perdido
o emprego e h�� mais ou menos um ano sua esposa o deixara.
O desprendimento do ego 1 2 9
levando a filha de dez anos. Havia envenenado tanto a menina
contra ele que ela j�� n��o queria falar com o pai.
Os suicidas s��o muito retra��dos; descobrir a maneira de ajud��-
los �� um jogo de adivinha����o em que as probabilidades de dar
certo ou errado s��o meio a meio. Tive sorte porque Lloyd falava
espontaneamente. Enquanto Lloyd explicava por que iria se ma-
tar: sua fam��lia era tudo o que importava, e agora estava destru��-
da, notei que ele sempre voltava ��s mesmas hist��rias e lem-
bran��as dolorosas.
Uma avalia����o recorrente que tinha de si mesmo era que
nunca tinha sido uma pessoa "muito gost��vel". Enquanto escuta-
va, eu ia anotando uma lista desses pensamentos. Por fim, ele fez
uma pausa e eu disse:
��� N �� o tentarei convenc��-lo a n��o fazer isso, mas n��o h�� ne-
nhuma necessidade de sofrer tanto. Voc�� n��o gostaria de se sen-
tir mais confort��vel e em paz agora mesmo?
Ele disse que sim. Fui at�� a cozinha e voltei com um saco pl��s-
tico de lixo. Rasguei a lista que havia feito e coloquei os peda��os
no saco.
��� Lloyd, eu quero que voc�� pense que tudo o que est�� neste
saco �� lixo. Para se livrar da dor, voc�� s�� tem de seguir uma regra.
Voc�� pode pensar sobre qualquer assunto que estiver no saco de
lixo, mas, para fazer isto, ter�� de pegar a tira com esse assunto e
segur��-la em sua m��o enquanto estiver pensando. Quando achar
que pensou o suficiente sobre o que estava escrito naquela tira,
coloque-a de novo no saco.
A hist��ria teve um final feliz. O ato de apanhar consciente-
mente um pensamento e recoloc��-lo no saco permitiu a Lloyd
sentir momentos de reflex��o. Ele percebeu que os sentimentos
de desola����o desapareciam e se deu conta de que ele era o ��nico
1 3 0 N��o leve a vida t��o a s��rio
respons��vel por suas dores. Foi o empenho em fazer consciente-
mente o exerc��cio que o salvou.
N��o se preocupe com a maneira certa de procurar orien-
ta����o ou pedir ajuda. Quando um pedido de paz vem do
fundo do cora����o, a paz sempre ser�� providenciada.
Para se livrar do impulso suicida, Lloyd tinha de estar cons-
ciente de seus sentimentos autodestrutivos. C o m o falava aberta-
mente de sua inten����o suicida e aceitou que algu��m o ajudasse,
Lloyd tinha perfeita consci��ncia de seus sentimentos. Ele con-
seguiu identificar os pensamentos por tr��s de suas emo����es e,
com isso, conquistou a op����o de liberar ao mesmo tempo pensa-
mento e sentimento. Lloyd aprendeu a "mudar de canal," passan-
do da camada superficial dos pensamentos para a camada mais
profunda e serena, da primeira mente para a segunda mente.
Nessa viagem em dire����o �� integridade, o perigo �� subesti-
marmos a capacidade de destrui����o de nossa mente. Muitas coi-
sas que acreditamos ser ben��ficas ou n��o fazerem nenhum mal
real mais tarde se mostram p��ssimas decis��es, como os julga-
mentos sobre nossos parceiros ou filhos. Da mesma forma,
jamais devemos combater o nosso ego. Fazer isso �� provocar
ainda mais confus��o e caos em nossas mentes. Confrontar nosso
ego s�� o torna mais real, quando, na verdade, ele s�� existe por-
que permitimos. Repito e torno e repetir: devemos esclarecer o
que queremos at�� eliminarmos totalmente os conflitos.
F i c a n d o l i v r e d o s p e n s a m e n t o s d i s p e r s o s
Despertar n��o �� morrer, muito menos atingir um estado espi-
ritual exaltado. Trata-se de um processo gradual, no qual aos
O desprendimento do ego 1 3 1
poucos passamos a pensar e agir por meio da parte da mente
tranq��ila, suave e profundamente conectada a tudo e a todos.
Nossos pensamentos se tornam mais naturais, a percep����o mais
reconfortante, as a����es menos impactantes ��� enfim, nos senti-
mos e nos tornamos cada vez mais reais.
Conforme este processo continua, at�� mesmo o quadro de
fragmenta����o que nos circunda come��a a refletir a unidade.
Agora, ele cont��m prazer, n��o mais um castigo. Voc�� estar�� cada
vez mais consciente, saber�� se os seus pensamentos est��o dis-
persos ou inteiros, ou se est��o na primeira ou na segunda mente.
Este �� um objetivo bastante modesto, que permite claras
op����es: conhecer a inoc��ncia ou a culpa, a felicidade ou o medo,
a unidade ou a solid��o, a flexibilidade ou a rigidez, a paz ou o
caos do ego? Se a resposta for a integridade, restar�� apenas uma
quest��o: "Estarei preparado para escolher a integridade neste
instante ��� nesta situa����o, durante esta atividade, diante deste
problema, tarefa, trag��dia ou distra����o menor?"
J O G O S M E N T A I S
A mais poderosa de todas as for��as do ser humano ��� a mente
de uma crian��a de dois anos ��� prova o que pode realizar um
enfoque ��nico, exercido no presente. As crian��as de dois anos
vencem as batalhas de vontade com os pais porque est��o con-
centradas, enquanto os pais n��o se prendem a um determinado
objetivo por mais de alguns momentos.
Muitos adultos se surpreendem que as crian��as pequenas
sejam persistentes e consigam o que querem. A diferen��a b��sica
�� que os adultos est��o sempre em conflito, as crian��as pequenas
n��o. At�� mesmo id��ias que podem unir a mente das pessoas em
torno de alguma quest��o da vizinhan��a, da escola ou mesmo
1 3 2 N��o leve a vida t��o a s��rio
id��ias que podem levar uma na����o �� guerra nunca duram muito.
Assim que aparece um aliado melhor, uma quest��o mais
"quente" ou um inimigo mais formid��vel, os sentimentos de
uni��o se evaporam rapidamente. Somente uma id��ia espiritual
une a mente de modo permanente, porque s�� ela est�� baseada
numa verdade duradoura.
O D E S A F I O O U O P R �� M I O ?
N o s s o filho Jordan resolveu jogar t��nis quando estava com
doze anos. Teve bons professores, se esfor��ava duramente e pro-
grediu muito depressa. Um dia Mark, o professor, teve de can-
celar uma aula. Consegui um profissional chamado Benny para
substitu��-lo. Benny queria que Jordan desse trinta saques con-
secutivos sem que nenhum batesse na rede. A meta era dif��cil
para um menino que estava jogando havia apenas dois meses.
Enquanto fazia a primeira s��rie de trinta saques, Benny
comentava e mostrava os erros a cada vez que a bola batia na re-
de. Jordan n��o conseguia dar trinta saques sem que cinco bates-
sem na rede. Por fim, Benny parou o treino, puxou uma nota de
dinheiro, colocou-a na linha de saque com uma caixa de bolas
em cima, e disse:
��� Se voc�� acertar as pr��ximas trinta bolas entre a linha de
saque e a linha de fundo ��� sem deixar uma ��nica bater na rede,
a nota que est�� debaixo da lata �� sua.
Jordan acertou os trinta saques sem um ��nico erro. Benny
apanhou a nota e foi at�� Jordan:
��� C o m o voc�� pode ver, est�� �� uma nota de um d��lar. �� sua,
mas n��o pense que voc�� acertou s�� porque pensou que ia ganhar
uma boa grana. Voc�� acertou porque tinha um objetivo em
mente.
O desprendimento do ego 133
Nossa tend��ncia �� pensar que o cerne de um problema �� uma
situa����o espec��fica ou nossa rela����o com uma pessoa, mas a ver-
dadeira dificuldade s��o as nossas convic����es. N �� o importa a forma
que venha a assumir, esta certeza bloqueia a nossa liberdade.
Liberdade para o corpo
Vivemos em batalha constante com nosso cabelo, nossos
dentes, pele, unhas, c��lulas de gordura, tamanho do nariz, altura,
forma e idade. Quanto mais nos aprofundamos no corpo, mais
reclama����es surgem: seios horr��veis, intestinos que se compor-
tam mal, costas doloridas, joelhos trai��oeiros e juntas mal-ajam-
bradas. Sem contar as lutas de vida e morte com nossos ��rg��os
vitais, sistemas imunol��gicos e qu��mica do sangue. Eu poderia ir
em frente, mas �� uma hist��ria que come��a a ficar assustadora.
As pessoas t��m medo e desconfiam de seu corpo, sentem-se
tra��das por ele e ��s vezes at�� o odeiam. Abrir m��o desses pensa-
mentos perturbadores �� o ��nico caminho para uma mente pac��-
fica. Muitas pessoas s�� ficam em paz com seus corpos no mo-
mento em que est��o morrendo ��� mas por que esperar at�� l��?
L i b e r t a �� �� o 2 0
Tempo sugerido: 1 dia
A. Tire as suas roupas e fique de p�� na frente de um espelho,
se poss��vel um espelho de corpo inteiro.
Observe como �� dif��cil fazer isto. Quais s��o as suas emo����es?
Voc�� tem medo do que v��? Culpa? Vergonha? A sua mente est��
agitada, tentando pensar por que esta sugest��o �� equivocada,
ruim ou perigosa? Uma crian��a pequena seguiria esta sugest��o
sem hesitar.
1 3 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
B. Come��ando pelo alto de sua cabe��a, passe para a testa, as
sobrancelhas, olhos ��� e assim por diante at�� os dedos dos p��s.
Olhe bem para o seu cabelo (ou sua careca) at�� sua mente se acal-
mar. Se ajudar, diga algo como: "Isto �� s�� cabelo. �� o meu cabelo
de hoje. N �� o tenho o mesmo cabelo de dez anos atr��s. As pessoas
em geral t��m cabelo, por acaso este �� o meu." Enquanto isso,
preste aten����o ��s ansiedades, associa����es ou quaisquer outras
id��ias e convic����es negativas que voc�� tenha sobre o seu cabelo.
Fale em voz alta, se isto ajudar a identificar os pensamentos.
C. Diga ent��o para si mesmo: "Estes s��o os meus pensamen-
tos. Ser�� que desejo andar por a�� com todos esses pensamentos
sobre o meu cabelo."
D. Repita B e C com as outras partes de seu corpo.
E. Agora que os pensamentos fragmentadores sobre o seu
corpo foram desvendados, comece novamente do alto da cabe��a
e v�� at�� os p��s e, como antes, resgate pensamentos de gratid��o e
aprecia����o para cada parte que olha. "Obrigado, cabelo, por me
aquecer, por ag��entar pacientemente todos os produtos qu��mi-
cos que sem pensar despejo em voc��...", "Obrigado, testa, por
proteger o meu c��rebro, por mostrar surpresa ou preocupa����o
quando necess��rio...", "Obrigado, sobrancelhas, por evitar que a
��gua escorra nos meus olhos, ou por me dar um olhar s��rio...".
Voc�� quer ver sinceramente o quanto seu corpo sofreu por voc��:
como ele tem sido um bom amigo, o quanto ele n��o tem culpa
dos genes que herdou, dos acidentes que ag��entou, assim como
de todas as outras for��as externas, da gravidade aos raios do sol,
que suportou. Voc�� tem todos os motivos para sentir afeto pelo
seu corpo e trat��-lo com delicadeza. Por que, ent��o, dizer que n��o
�� "espiritual" pensar no corpo? Ter uma rela����o saud��vel com seu
corpo n��o prejudicar�� em nada a sua espiritualidade.
O d e s p r e n d i m e n t o d o e g o 135
F. Decida que daqui para a frente voc�� tratar�� muito bem o
seu corpo e, acima de tudo, pensar�� nele com alegria.
E l i m i n a n d o o s p e n s a m e n t o s D
No contexto deste cap��tulo, mostramos como eliminar os
pensamentos D e permitir que nossas mentes se tornem ��nte-
gras. J�� aprendemos a trocar da primeira para a segunda mente,
eliminando a resist��ncia �� unifica����o da mente. C o m o sabemos
que a origem de nossa resist��ncia s��o os pensamentos D, os
chamados pensamentos desencadeadores, agora �� partir para a
etapa final de liberta����o.
Todos os pensamentos D podem ser comparados a plantas
com profundas ra��zes e brotos verdes promissores. Imagine que
as ra��zes se estendem pelo passado e os brotos verdes remetem aos
benef��cios que imaginamos receber, se acreditarmos nisso, ��
claro. ��s vezes �� particularmente desagrad��vel reconhecer ou
admitir esses pensamentos pelo que eles revelam sobre n��s.
Digamos que voc�� �� uma dona-de-casa e est�� ouvindo seu mari-
do falar sobre como seria bom estar em seu pr��prio barco. Subi-
tamente, voc�� �� inundada com pensamentos irritados sobre co-
mo seu marido �� irrespons��vel. C o m o ele poderia estar pensan-
do em gastar tanto dinheiro, quando voc��s dois acabaram de dis-
cutir a d��vida do cart��o de cr��dito? Voc�� tem algumas op����es:
��� Pode gritar com ele e logo se meter numa longa discuss��o.
��� Pode pedir explica����es sobre como poderia estar pensando
em comprar um barco num momento como esse, o que per-
mitiria que ele dissesse que n��o estava pensando em com-
prar nenhum barco.
��� Pode repetir um mantra de prote����o: "Deus me proteger�� de
meu marido. Deus me proteger�� de meu marido..." ��� ou
1 3 6 N��o leve a vida t��o a s��rio
"No fundo, o meu marido �� uma boa pessoa. No fundo, meu
marido �� uma boa pessoa..."
��� Ou... voc�� pode examinar minuciosamente o pensamento
em si.
Comece perguntando a si mesma: "De onde tirei a id��ia de
que meu marido �� irrespons��vel?" Pense no que ele j�� fez no pas-
sado, no que a levou a acreditar que ele compraria um barco sem
sua concord��ncia. Voc�� na verdade n��o acredita realmente que
ele fa��a algo assim. O que pode ter acontecido �� que voc�� n��o
levou em considera����o a tend��ncia a devaneios de seu marido.
Ele est�� sempre construindo castelos no ar e esperando que a
varinha m��gica os transforme em realidade. �� dif��cil admitir
mas, na verdade, os devaneios s��o parte do que adora nele.
O que voc�� n��o suporta �� a distra����o que esses sonhos provo-
cam. Muitas vezes essa distra����o impede que ele escute o que
voc�� diz ou perceba as suas necessidades. Alas como voc�� mesma
j�� se flagrou fazendo a mesma coisa, talvez esteja vendo em seu
marido uma vers��o da sua pr��pria distra����o.
Ao ir mais fundo na quest��o, voc�� lembra de uma hist��ria que
escutou na inf��ncia, de que a fam��lia perdeu tudo com a fal��ncia
da empresa de seu pai. A id��ia de que voc�� poderia estar com
raiva por ter perdido um estilo de vida que jamais experimentou
parece muito improv��vel, mas algo faz voc�� reagir exagerada-
mente a quest��es de dinheiro.
Pergunte a si mesma que influ��ncia a desconfian��a em seu mari-
do tem fisicamente sobre voc��. Voc�� observa que se sente mais
ansiosa, que sente uma certa dorzinha de barriga e que seus ombros
est��o bastante tensos? V�� al��m e investigue como isso influenciou
seu casamento e o relacionamento com seus filhos. Volte agora sua
aten����o para os brotos verdes promissores e questione que recom-
O desprendimento do ego 137
pensas, benef��cios e resultados obt��m continuando a desconfiar de
seu marido. De cara voc�� percebe que suas demonstra����es de
desconfian��a deixaram seu marido t��o enfurecido que ele chegou a
tomar decis��es erradas, algumas relativas a finan��as.
Examinando mais detalhadamente suas emo����es, voc�� obser-
va que uma parte de voc�� na verdade gosta quando ele faz algo
irrespons��vel. Ser�� que voc�� se sente superior porque ele agora
lhe "deve uma", ou porque isto lhe proporcione carta-branca
para sair do casamento?
No final desse processo (que poder�� levar horas ou at�� sema-
nas), talvez voc�� chegue �� conclus��o de que sua desconfian��a
indica um profundo empenho em perdoar seu pai e tamb��m um
boicote a uma pessoa que significa tudo para voc��. Agora que o
pensamento veio �� tona, resta-lhe assumir uma posi����o firme e
consistente em rela����o ao seu amor e aprecia����o por seu marido.
Veja como funciona:
��� O pensamento D vir�� �� tona repetidas vezes, porque �� um
alicerce do seu ego particular. Contudo, se voc�� realmente fez
o seu trabalho de conscientiza����o, ele n��o mais assustar��,
confundir�� ou perturbar�� voc��. Ao contr��rio, voc�� achar�� o
pensamento D bastante engra��ado.
N��o existem os egos perfeitos. Nem h�� uma raz��o para
isso. Por que voc�� desejaria aperfei��oar um compa-
nheiro imagin��rio? Gostaria de livrar-se dele? Certamen-
te n��o. Da mesma forma, n��o h�� necessidade de fazer
um projeto de seu ego e tentar aperfei��oar uma identi-
dade imagin��ria. Bastar�� enxerg��-lo claramente, para
ver que voc�� n��o o quer, n��o precisa dele, mas tamb��m
n��o precisa tem��-lo.
138 N��o leve a vida t��o a s��rio
��� Sempre que o pensamento D vier �� tona, examine-o at�� iden-
tific��-lo. Depois se pergunte: "Quero ferir (seja l�� quem esti-
ver em seu pensamento) agindo segundo este pensamento?"
Ao fazer essa pergunta, voc�� estar�� se ligando aos seus ver-
dadeiros sentimentos, sua verdadeira mente. Sentir�� compaix��o
pela pessoa e saber�� que n��o deseja nenhum mal. Ou seja, o pen-
samento foi descartado.
��� Se em algumas ocasi��es voc�� sente tanta raiva da pessoa que
a ��nica resposta sincera �� que realmente quer feri-la, ent��o
pergunte a si mesmo se esse pensamento D �� a parte que
voc�� deseja ampliar, alimentar, desenvolver. N �� o hesite: repi-
ta mentalmente que n��o deseja que essa parte se desenvolva
e que n��o agir�� segundo o que ela diz.
C o m o todo mundo sabe, a teoria, na pr��tica, �� bem outra.
Encarar um pensamento D sem sentir algum medo ou confus��o
�� tarefa para poucos. Essa confus��o pode durar muitas semanas
ou meses, dependendo do quanto o pensamento estiver enraiza-
do. No entanto, a cada vez que voc�� se recusar a obedecer a um
pensamento D, reduzir�� o seu medo. Este processo gradual �� a
maneira mais comum de se livrar deles.
Contudo, se voc�� identificar o mal que o pensamento D cau-
sou, mas decidir conscientemente encen��-lo repetidas vezes, ele
ganhar�� imenso poder. N �� o caia na tenta����o de prejudicar os
outros ou voc�� mesmo "s�� um pouquinho". O pre��o a ser pago
�� um imenso retrocesso. A esta altura, depois de ter se dedicado
a v��rias liberta����es, voc�� j�� tem uma boa id��ia dos seus pensa-
mentos D. Tamb��m j�� deve ter percebido que, no fundo, eles
est��o relacionados ao medo e �� dificuldade de perdoar. A medi-
ta����o guiada �� mais uma maneira de liberar esses medos, m��goas
e amarguras que se acumulam em nossas mentes.
O desprendimento do ego 1 3 9
L i b e r t a �� �� o 2 1
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
��� Escolha uma pessoa sobre a qual voc�� freq��entemente pensa
com sofrimento ou raiva. Imagine essa pessoa de p�� na sua
frente. Fa��a-a parecer o mais "real" que puder, imaginando a
maneira como ela habitualmente se veste, caminha, seus
gestos, etc. Enquanto examina essa pessoa, lembre-se das
coisas negativas que ela fez e de seus pontos fracos e caracte-
r��sticas destrutivas. Certifique-se de incluir qualquer peque-
na trai����o ou qualquer outro aspecto negativo que ela tenha
feito diretamente a voc��.
��� Em vez de brigar, julgar ou rebaixar seus pensamentos nega-
tivos, primeiro d��-lhes toda a r��dea para conseguir enxerg��-
los claramente. Pergunte ao seu ego o que ele gostaria de
fazer ou o que aconteceu a esta pessoa. Procure quais s��o
suas fantasias de "justi��a" ou compensa����o. Diga a essa pes-
soa: "Voc�� merece..." ou "Se estivesse nas minhas m��os,
voc��..." Pense em todos os detalhes que puder sobre todos
os castigos que puder imaginar. Se conseguir expandir a sua
fantasia de vingan��a at�� se tornarem divertidas, melhor. Se
n��o for poss��vel, continue elaborando os detalhes at�� ter a
sensa����o de que explorou por inteiro tudo o que sente.
��� Continue examinando esta pessoa at�� entrar num estado de calma.
Imagine uma pessoa que represente o amor, a paz e a coloque de
p�� diante desta pessoa. Inunde-a com uma luz brilhante.
��� Termine o exerc��cio estabelecendo um objetivo ��nico: pensar
sobre esta pessoa em paz. Isto n��o significa gostar ou compreender
a pessoa, nem fazer com que ela goste de voc��. �� apenas per-
manecer em paz sempre que esta pessoa vier a sua mente.
1 4 0 N��o leve a vida t��o a s��rio
L i b e r t a �� �� o 2 2
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
Todos n��s exercitamos e alimentamos a nossa infelicidade por
meio de incont��veis pensamentos ao longo do dia. Basta ter cons-
ci��ncia de como e quando fazemos isto para que a porta da liber-
dade se abra. O texto a seguir ajuda a fixar as id��ias principais:
Eu, somente eu, escolherei o que corr��i minha atitude e
complica a minha vida. Vivo com as decis��es que tomo
a respeito de tudo e de todos �� minha volta. Eles signifi-
cam muito para mim. Um dia nublado n��o �� mais do
que um dia nublado at�� que eu resolva o que ele
esconde e decida que humor terei. Um pouco de di-
nheiro a mais �� apenas um pouco de dinheiro a mais at��
eu decidir que devo mostrar sinais de t��-lo. O adoles-
cente que tenho dentro de mim �� apenas uma crian��a
at�� que eu o interprete como "manipulador". Agora meu
lar mental est�� decorado com os mesmos tons infelizes.
Anote qualquer conclus��o pessoal que passar pela sua cabe��a.
Agarre-se a uma ��nica id��ia:
Eu vejo o que decido e reajo como prefiro.
Nove
O c a m i n h o do
c o n h e c i m e n t o e s p i r i t u a l
Todos os dias aceitamos as sensa����es e os pensamentos do
ego como se fossem nossos ��nicos pensamentos e sensa-
����es. Embora nosso ego seja a representa����o das li����es que acu-
mulamos durante os anos de forma����o, reagimos a elas com a
for��a de nossa ess��ncia e individualidade ��� da maneira como
nos "sentimos" em rela����o ��s coisas. Se usamos de sinceridade,
admitiremos que esta parte de n��s �� nossa professora e guia.
N �� o se trata de um caminho espiritual, mas sim de uma trilha
exclusiva para o ego. Evidentemente, n��o somos exatamente o
que nosso ego representa ��� nossos dem��nios interiores, o "ser"
mortal, a mente sonhadora e a mente ocupada ���, mas a cada dia
fica mais claro que vivemos por e para nossa identidade.
As pessoas, ��s vezes, optam por um caminho espiritual e con-
seguem isolar os sentimentos que chamam de "ego". Uma situa-
����o t��pica �� a de quando somos promovidos no trabalho. N o s
sentimos euf��ricos por um ou dois dias e nem por um instante
nos preocupamos se a euforia �� ou n��o uma rea����o do ego.
Quando, por��m, sentimos inveja ou ci��me de algu��m que foi
promovido e entramos em depress��o por um ou dois dias, rapi-
damente dizemos que "estas s��o emo����es do meu ego". Quando
as pessoas alegam que "isso �� coisa do ego", "isso �� coisa do
1 4 2 N �� o leve a vida t �� o a s �� r i o
dem��nio" ou "isso �� conversa de b��bado", na verdade, o que elas
est��o dizendo realmente ��: isso n��o sou eu.
N o s s a tend��ncia �� ficar orgulhosos quando temos padr��es que
nos diferenciam dos outros: "Sou uma pessoal matinal", "Sou
osso duro de roer", "Acredito em ouvir a minha intui����o", " N �� o
ag��ento idiotas", "Sou muito espont��neo", "Pago o pre��o, mas
fa��o quest��o de um bom servi��o". Convic����es deste tipo s��o t��o
poderosas que colorem o mundo em que vivemos. Literalmente,
n��s vemos aquilo em que acreditamos.
N �� o h�� nada de errado em usarmos a palavra ego ou expres-
s��es como impulsos sombrios, fantasmas interiores. O risco �� jogar a
culpa nos outros pelo que sentimos, ou atribuir nossos senti-
mentos ao ego ou ao dem��nio. �� bem melhor pensar "tenho
impulsos sexuais destrutivos" ou "meus receios em rela����o a di-
nheiro n��o ajudam a ningu��m" do que pedir a Deus para acabar
com esses impulsos ou medos, como se n��o houv��ssemos n��s
mesmos escolhido esses impulsos e medos.
Quando convocamos as nossas convic����es espirituais,
ou a nossa for��a de vontade, para combater nossos
impulsos mais sombrios, n��s lhes damos vida nova.
Atribuir as nossas tend��ncias destrutivas a algo que n��o somos
nos leva a interromper as provid��ncias necess��rias para torn��-las
inofensivas. Lembre-se de que qualquer pensamento destrutivo
levado �� plena consci��ncia n��o tem mais o poder de nos assustar
ou controlar. Repetir frases negativas como "Detesto as mulhe-
res", "Desprezo os homens", "Me sinto superior ao meu melhor
amigo", "N��o ag��ento essas pestes nos veloc��pedes", em vez
de "Meu ego est�� cheio de ��dio (desprezo, superioridade, res-
O caminho do conhecimento espiritual 1 4 3
sentimento e afins)", n��o ajuda no trabalho de conscientiza����o.
Se f��ssemos espiritualmente mais avan��ados, apenas dar��amos
de ombros ��s situa����es perturbadoras que surgem diariamente:
um motorista buzina, um amigo faz uma cr��tica, descobrimos
cupim no por��o, algu��m se esquece de nos agradecer, etc. Mas ��
preciso admitir que nossa mente oscila entre tirar proveito da si-
tua����o e, quem sabe, ter algumas fantasias de vingan��a e admitir
que estamos envergonhados, ressentidos, ansiosos e ofendidos.
Descobrir o que provoca esses sentimentos ��� e depois pro-
curar eliminar os sentimentos com id��ias puras em cima de
id��ias impuras ��� �� a ��nica sa��da quando se tem certeza de que
n��o dever��amos nos sentir assim.
Nosso desejo de desviar o olhar de nossos impulsos
mesquinhos n��o �� um desejo de maior unifica����o,
igualdade ou amor. A realidade que nos perturba nos
deixa apreensivos. O fato de que isto acontece a muitos
nos leva a negar que isto aconte��a conosco. Em suma,
n��o desejamos ser comuns, estamos sempre entre os
poucos escolhidos que n��o se sentem perturbados. On-
de estar�� a integridade e a igualdade nisso?
Complicamos ainda mais a nossa tarefa acreditando que, se
consegu��ssemos chegar �� interpreta����o correta, n��o nos sentir��a-
mos assim. Quando um gar��om �� grosseiro, por exemplo, nos irri-
tamos. Mas, se descobrimos que sua mulher e seus oito filhos
morreram num inc��ndio, o fato serve como atenuante de seu
comportamento. O que ningu��m considera �� que talvez o gar��om
seja grosseiro porque �� uma pessoa rude. O fato �� que as formigas
picam, os touros s��o bravos ��� e n��s perdoamos umas e outros.
1 4 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
Se consegu��ssemos perceber que todos n��s cometemos
praticamente os mesmos erros, talvez ajud��ssemos uns
aos outros. Mas duvido...
As abordagens mencionadas n��o funcionariam se algu��m
percebesse o valor do perd��o e realmente se dispusesse a ser
generoso. Mas l�� no fundo as pessoas gostam de deixar as outras
pessoas com sentimento de culpa e, para isso, reviram a mente ��
procura do pensamento m��gico que far�� com que esse impulso
se torne inconsciente. Se pergunt��ssemos a n��s mesmos: "Como
poderei reagir ao que acaba de acontecer?", nossa mente teria a
oportunidade de identificar a fonte de nossa perturba����o e
chegar �� camada mais profunda de pensamentos por interm��dio
dela. Mas se dizemos: "N��o quero esses pensamentos" ��� o que
na verdade significa "Quero ser espiritualmente especial" ���,
nossa mente se afasta de nosso ego como a m��o se afasta de uma
superf��cie quente. E jamais temos a oportunidade de chegar a
nosso ��mago.
O melhor �� enfeitar a nossa m�� vontade, sondar as profun-
dezas de nossa arbitrariedade ��� fazer isso at�� nos darmos conta
de que n��o somos melhores do que ningu��m. Seria a situa����o
ideal, sem medo de se sentir normal e igual a todo mundo. Nor-
mal, neste caso, n��o significa ser um "pecador culpado". N �� o ��
verdade que, uma vez que tenhamos admitido nossas falhas,
come��amos a mudar para melhor. N �� o funciona assim. A culpa
�� apenas mais uma forma de nos sentirmos especiais. Em vez de
pensarmos que somos melhores do que outros, pensamos que
somos piores ��� mas ainda assim diferentes.
Dizer que fomos prejudicados na inf��ncia ou que temos uma
natureza corrupta e que, por isso, jamais alcan��aremos aquele
O caminho do conhecimento espiritual 145
ponto de liberta����o, �� apenas uma maneira de atribuir carac-
ter��sticas m��gicas a palavras e negar a for��a de nossas pr��prias
escolhas.
E m n o m e d a p a z e d a p l e n i t u d e
Acredite, at�� Gayle e eu duvidamos do valor de uma via espiri-
tual da maneira como em geral �� praticada. E m nossa opini��o, se o
seu objetivo �� sentir a integra����o com Deus, ser verdadeira-
mente ��til para as pessoas a seu redor e ter uma crescente sen-
sa����o de paz e unidade, uma abordagem religiosa, metaf��sica ou
espiritual para a vida muitas vezes funciona contra esses obje-
tivos. N �� o deveria ser assim, mas em geral ��...
�� ir��nico pensar que pessoas com fortes convic����es espiri-
tuais muitas vezes t��m egos maiores, s��o mais rigorosas e n��o se
sentem t��o bem quanto as pessoas que n��o se interessam por
ensinamentos m��sticos. Aqueles que vestem o manto da integri-
dade muitas vezes n��o t��m a menor vontade de sentir a integri-
dade com qualquer pessoa. O nosso ego n��o atua independente
dos nossos desejos, porque o ego de cada um �� aquela pessoa. ��
interessante observar quantas vezes alardeamos o que deixamos
de fazer e criticamos em outros o que fazemos normalmente.
Voc�� j�� notou que, em geral, as pessoas que costumam
dizer "...finalmente aprendi a dizer n��o" jamais tiveram
grandes problemas em dizer um n��o logo de cara?
Quando pessoas de boa ��ndole se dedicam a ensinamentos
positivos, o resultado s�� pode ser ��timo. Isso acontece porque
mesmo as pessoas cheias de boas inten����es t��m egos e o objeti-
vo do ego sempre �� alguma forma de engrandecimento pessoal.
1 4 6 N��o leve a vida t��o a s��rio
Embora entrem na via espiritual pelo desejo de se tornarem
boas, �� comum que essas pessoas comecem paulatinamente a
movimentar-se na dire����o oposta. A raz��o �� que, inconsciente-
mente, elas t��m a superioridade como projeto pessoal e invaria-
velmente terminam se convencendo de que a atingiram.
Quanto mais tempo dedicam a conversar, estudar e discutir seu
caminho espiritual, mais autocentradas se tornam. Na verdade,
elas ficam at�� menos flex��veis e generosas do que eram antes de
come��ar a busca pela "verdade". Em vez de experimentar a pleni-
tude, elas aprendem como ocultar sua mente doentia, a represen-
tar o papel de espiritualizadas. Em lugar de atingir a verdadeira ilu-
mina����o, elas se tornam pessoas "espiritualmente corretas".
Os que se consideram normais e iguais, conscientes de suas
in��meras limita����es, simplesmente n��o se permitem acreditar
que um dia descobrir��o verdades espirituais que ningu��m mais
conhece. O ego prevalece em rela����o aos esfor��os espirituais
como num c��rculo vicioso: no mesmo dia em que voc�� busca um
caminho espiritual, o seu ego tamb��m se engaja, e para cada
motivo espiritual que voc�� tem, tamb��m existe um motivo do
ego. N �� o �� raz��o para ter medo, mas para estar muito alerta.
Pessoas com egos j�� pacificados n��o parecem ter qualquer
interesse em se comparar com outras pessoas. De modo geral,
t��m vidas simples, comuns, sentem-se bem em qualquer lugar e,
no cotidiano, emanam bem-estar e paz. Seu tempo normalmente
�� dedicado a coisas sem import��ncia e seus cora����es a pessoas
"sem import��ncia". N �� o t��m nenhum conceito inflex��vel ou h��-
bitos r��gidos, nem h�� nada de extraordin��rio nos assuntos de
suas conversas. �� f��cil agrad��-las e, em geral, est��o felizes por
nenhuma raz��o aparente. Na verdade, elas acham divertidos e
cativantes os egos dos outros.
O caminho do conhecimento espiritual 1 4 7
E m b u s c a d o s t a t u s q u o
At�� os anos 60 as pessoas n��o acreditavam tanto em leis
metaf��sicas ou "princ��pios universais", mas sim no fluxo natural da
vida. Se voc�� fez o que �� certo; se n��o questionou a autoridade, o
seu lugar na sociedade ou a situa����o vigente; se n��o mentiu, n��o
disse palavr��es, n��o trapaceou, nem bebeu demais; se trabalhou
muitas horas e poupou o seu dinheiro para poder transmiti-lo a
seus filhos; se foi leal a seu pa��s, �� companhia para a qual trabalha,
ao partido pol��tico, �� universidade em que estudou; se cumpriu
seus deveres conjugais... Ent��o, tudo dar�� certo e em determinado
momento voc�� caminhar�� em dire����o ao p��r-do-sol.
Esta abordagem estendia-se ��s escolhas pessoais, como a
marca do autom��vel, o estilo de roupa e at�� o gosto em quest��es
de m��sica e estrelas de cinema. O essencial era manter-se afina-
do com o status quo, que todos mais ou menos compreendiam e
com o qual mais ou menos concordavam. Culturalmente, ��ramos
bastante coerentes. Cont��vamos uns aos outros hist��rias das
recompensas recebidas pelas pessoas que "trabalharam duro" e
viviam "segundo as regras" e gost��vamos dos exemplos do que
acontecia a quem n��o vivia assim.
N o s s a sociedade acreditava que as pessoas sabiam como se
comportar de modo que a vida funcionasse muito bem. Agora,
neste in��cio do s��culo X X I , acreditamos que renegar "a maneira
como se faz as coisas" proporciona uma oportunidade melhor
para a felicidade. �� preciso sentir-se livre para experimentar
diferentes "estilos de vida" e formas "ex��ticas" de divertimento,
al��m de estar aberto para mudar de amigos e familiares assim
como se troca de trabalho, resid��ncia ou penteado.
N �� o apenas questionamos os valores como passamos a der-
rub��-los obsessivamente. J�� n��o sabemos olhar para qualquer
1 4 8 N��o leve a vida t��o a s��rio
coisa sem ansiedade, incerteza e cinismo. Todos querem saber
quais s��o as for��as e os fatos essenciais. Ansiamos por conhecer
as regras e queremos que elas nos sejam explicadas e numeradas.
Felizmente, isto jamais acontecer��. O mundo simplesmente n��o
�� regido por uma filosofia, doutrina ou conjunto de regras.
Admitir essa verdade tira um peso enorme e totalmente
desnecess��rio de nossos ombros.
O essencial para a liberdade �� admitir que mundo n��o fun-
ciona, em vez de continuar em busca da f��rmula m��gica.
H�� quem tenha descoberto as leis da felicidade e do sucesso
��� mas por que, afinal, desejar��amos essas leis? A ��nica regra da
vida mais ou menos estabelecida �� que, estando relaxados e
flex��veis, somos felizes ��� sendo r��gidos e controladores, somos
infelizes. Portanto, �� importante nos desapegarmos de nosso
anseio em fazer as pessoas se comportarem �� nossa imagem e
semelhan��a.
Observe que o momento em que voc�� se torna infeliz
normalmente �� o momento em que voc�� tenta controlar
a outra pessoa.
Em geral as pessoas t��m a ilus��o de que conhecem as pe��as
que constituem o quebra-cabe��a de sua vida. Elas acreditam que
algumas est��o tranq��ilamente no lugar, mas at�� mesmo as que
pareciam estar mudam de forma e j�� n��o cabem mais. Outras
flutuam fora do alcance e, al��m disso, est��o sempre surgindo
novas pe��as. Uma das muitas raz��es pelas quais jamais alcan-
��amos o lugar onde tudo est�� exatamente como desejamos �� que
O caminho do conhecimento espiritual 1 4 9
todas as realiza����es existem por compara����o. Cada n��vel de rea-
liza����o se apaga diante do desfile ininterrupto de novas com-
para����es.
Voc�� poupa o seu dinheiro e consegue um carro melhor - mas
por quanto tempo este ser�� o "melhor" carro? Voc�� troca o seu
marido ou mulher por um(a) melhor ��� mas por quanto tempo
ser�� o(a) "melhor"? Voc�� se esfor��a loucamente no spa e entra em
melhor forma, mas n��o permanece na "melhor" forma na sua
mente nem na mente de ningu��m...
M o m e n t o s d e d e c i s �� o
Se a nossa mente n��o fosse flex��vel, estar��amos limitados aos
velhos medos e anseios. Se j�� decidimos quem merece ser amado
e quem n��o merece o nosso amor, �� porque bloqueamos a expe-
ri��ncia de uma paz abrangente. A mente �� a porta para o cora-
����o. Ela pode fazer com que a entrada seja complicada ou sim-
ples. Depende de como a usamos.
Somos livres para mudar a nossa Unha de pensamento, a nossa
orienta����o mental, a nossa percep����o da realidade ��� basta que-
rer. �� t��o simples quanto agarrar com firmeza o volante do carro
e olhar para a estrada, ou pousar a m��o no volante e olhar para a
estrada. A estrada continua sendo a mesma, mas podemos diri-
gir com esfor��o ou sem esfor��o.
Os pensamentos que criticam cada caracter��stica superficial
de nossa personalidade, ou da personalidade dos outros, se mo-
vimentam lentamente, como se estivessem pouco �� vontade. Por
outro lado, os pensamentos que assimilam cada pessoa em sua
integridade e as compreendem rapidamente s��o ��geis e leves. A
mente aberta promove a paz, seu objetivo �� pensar qualquer
assunto com desembara��o.
1 5 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
Podemos escolher o que dizemos e fazemos. Voc�� talvez tenha
chegado a um ponto em sua vida em que pode achar engra��ado
observar esses momentos de decis��o: levantar agora ou desligar o
despertador, o que vestir, o que comer no caf�� da manh��, como
reagir ao motorista que n��o viu o sinal mudar de cor... mas voc��
j�� conhece o caos do mundo e sabe que aguardar em paz e obser-
var com interesse o que vir�� a seguir �� a decis��o mais s��bia.
As escolhas s��o determinadas mais por nossos desejos pro-
fundos e menos pela decis��o consciente. Quando o cora����o tem
como prop��sito a integridade e a uni��o, as escolhas exigem
menos esfor��o, s��o mais autom��ticas. Isto se torna especial-
mente vis��vel quando come��amos a sentir uma integra����o espiri-
tual mais profunda com as pessoas que nos rodeiam. Os pais, por
exemplo, talvez se perguntem por que continuam a fazer sacrif��-
cios intermin��veis pelos filhos. Talvez at�� se censurem por se-
rem t��o condescendentes, mas continuam se sacrificando. A
simples hesita����o lan��a-os imediatamente no conflito e no sofri-
mento emocional.
Naturalmente, a psicologia despreza esse tipo de sacrif��cio ���
que �� classificado como doen��a. Diante desta perspectiva, Jesus,
Gandhi, Martin Luther King Jr., hoje, seriam tachados de psi-
c��ticos. No entanto, esses homens n��o eram ing��nuos e, com
certeza, n��o eram loucos. Eles seguiam uma via espiritual, n��o
uma trilha mundana.
Nosso progresso espiritual �� indicado por nossa von-
tade de parar de perder tempo com as futilidades de
nossa vida pessoal. Isto nos permite enxergar o rela-
cionamento que, ali��s, sempre esteve ali ��� n��s �� que
n��o percebemos.
O caminho do conhecimento espiritual 1 5 1
Quest��es como as seguintes podem ajudar a nos concentrar-
mos no item "Mudar n��o �� menos espiritual do que n��o mudar":
O que complicar�� menos a minha vida?
Qual �� a minha id��ia de tranq��ilidade?
Isto me ajudar�� a apreciar mais as pessoas a quem amo?
Sinto algum conflito em rela����o ao que fazer? Ent��o... ��
melhor esperar.
Que decis��o provocar�� menos questionamentos no futuro?
S E M P R E C O N C E I T O S
Quando o encontrei, Poppie tinha quatro anos e ainda n��o
falava. Um ano antes, ele fizera uma opera����o para soltar a l��n-
gua presa e, embora seus olhos brilhassem com intelig��ncia, ele
ainda estava na fase pr��-verbal de uma crian��a de um ano.
Tagarelava sem parar, mas numa algaravia sem sentido.
Seus pais, ambos preocupados com as carreiras profissionais,
o mantinham em quartos cheios de brinquedo, mas sem a pre-
sen��a de outros seres humanos. C o m o Poppie se aproximava da
idade de entrar na escola, de repente passaram a se preocupar
com a id��ia de que o filho n��o fosse uma crian��a normal.
O pai era um "ca��ador de petr��leo" ��� ele fazia sondagens de
po��os de petr��leo, o que ��s vezes exigia passar dias sem dormir.
Quando voltava para casa, em geral dormia dois ou tr��s dias
seguidos. Ao acordar, agredia verbalmente a mulher e logo volta-
va para os campos de petr��leo.
Eles me perguntaram se Poppie era normal e respondi de um
ponto de vista espiritual. Mostrei que o menino brincava nor-
malmente e ria com freq����ncia. Destaquei especialmente a liga-
����o dele com o cachorro. Os pais lhe deram de presente um fi-
152 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
lhote de pastor alem��o e logo descobriram que Poppie ficava
muito calmo quando o cachorro estava no quarto com ele. A
empregada s�� tinha de limpar a sujeira do cachorro.
Embora vivesse trancado com o cachorro, Poppie escutava o
pai gritando com a m��e e, mais tarde, quando conseguiu falar,
me contou que h�� muito tinha o h��bito de sair do quarto "bem
quietinho" para "ver as brigas". Ele me disse que a m��e "pro-
vavelmente merecia aqueles berros". Sabendo que as poucas
vezes em que ela se dirigia ao menino era para gritar com ele, eu
podia compreender o senso de justi��a infantil...
Poppie entrara na fam��lia de maneira fora do comum. O pai o
encontrara abandonado numa cabana, dentro de um cercado im-
provisado. Descobriu que era o filho de uma prostituta, que
todos os dias trazia comida e ��gua para o beb�� e sa��a. Con-
trataram um advogado, deram algum dinheiro para a m��e e
Poppie foi adotado legalmente. Do ponto de vista do garoto, ele
apenas mudou de uma forma de isolamento para outra.
Um dia resolvi pegar Poppie para um dia de brincadeiras. A
esta altura ele j�� estava com cinco anos e falava muito bem.
Primeiro fomos a um parque com escorregas, balan��os e outros
brinquedos. Poppie viu uma enorme caixa de areia e correu para
ela. Quando me aproximei, percebi que o que �� dist��ncia eu pen-
sara serem crian��as brincando era um grupo de jovens adultos
com a s��ndrome de Down.
Eles apresentavam o rosto caracter��stico, a fala indistinta,
alguns at�� babavam ou estavam com nariz escorrendo. Quase
todos sabem que os portadores da s��ndrome de Down n��o repre-
sentam nenhum risco para as outras pessoas. Na verdade, eles
tendem a ser menos violentos e notavelmente mais alegres do
que outros grupos. No entanto, percebi que nenhum dos pais ou
O c a m i n h o d o c o n h e c i m e n t o e s p i r i t u a l 153
bab��s deixavam outras crian��as se aproximarem da caixa de
areia, embora algumas crian��as menores mostrassem o desejo de
ir at�� eles.
Poppie brincou com esse grupo de gente barulhenta e exu-
berante at�� que eles tiveram de ir para casa. Embora tenhamos
ido a muitos outros lugares considerados at�� mais interessantes
��� fomos �� praia e a um parque marinho ���, no final do dia,
Poppie me perguntou quando poderia voltar para "brincar com
aqueles caras engra��ados".
A b r i n d o m �� o d a p e r f e i �� �� o
Atravessar um ��nico dia �� como estar numa espa��onave pas-
sando entre corpos celestes. Cada massa, pequena ou grande, tem
sua for��a de atra����o gravitacional, e os viajantes mudam de dire����o
continuamente. Observe como �� preciso muito pouco para nos
desviarmos do rumo. No entanto, h�� uma enorme diferen��a entre
desviar-se ocasionalmente do rumo interior que estabelecemos
para n��s mesmos e escolher o caminho apontado pelos outros.
Se fiz��ssemos tudo de maneira diferente, mais ou menos as
mesmas pessoas concordariam que tamb��m estar��amos errados.
Fazer o qu��? Nada? N �� o , isto tamb��m seria um erro ��� porque
seria uma rea����o, n��o um objetivo. Continuar��amos sendo v��ti-
ma das vozes dissonantes. Se agirmos sem nenhum senso de
dire����o interior, o resultado n��o ter�� nenhum valor duradouro.
N �� o poder�� ajudar uma pessoa querida nem alimentar nossa
alma. Jamais podemos "consertar" ou "fazer alguma coisa acon-
tecer". Quando este �� o nosso objetivo, estamos valorizando o
resultado errado. A perfei����o n��o est�� na maneira como as
coisas acontecem. Mas podemos atuar a partir da paz, fazendo
da paz o nosso objetivo.
154 N��o leve a vida t��o a s��rio
E se f��ssemos coerentes sobre o que somos, mas cheios de
d��vida em rela����o ao que vemos? E se olh��ssemos para tudo com
interesse de marinheiro de primeira viagem? Dir��amos para n��s
mesmos: "Hoje terei olhos flex��veis. Estou decidido a olhar para
tudo com suavidade. N �� o farei nenhum julgamento antes do
tempo. A cada momento me lembrarei do fato de que jamais vivi
este dia antes, que jamais tive esta conversa por telefone antes,
jamais estive no meio desta multid��o, jamais olhei para este c��u,
jamais tive esta sensa����o. Todas as circunst��ncias s��o um pou-
quinho diferentes hoje do que jamais foram antes. Cada dife-
ren��a ser�� um pr��mio que juntarei ��� e no final do dia serei rico
em novidades."
L i b e r t a �� �� o 2 5
Tempo sugerido: 1 dia ou mais
Durante todo o dia, repita:
Debaixo das minhas rea����es habituais est�� a tranq��ili-
dade do meu cora����o. Debaixo do caos do mundo est��
a plenitude da paz.
Dez
Sem levar os
p r o b l e m a s t��o a s �� r i o
Para a maioria das pessoas, a palavra unidade �� apenas
um conceito bonito, mas n��o se refere a nada real. O afeto
que sentimos uns pelos outros nos remete �� id��ia de comunh��o,
mas quem, entre aqueles que voc�� conhece, conseguiu chegar
l��? Lutamos por uma sensa����o, um ind��cio qualquer que dimi-
nua o prec��rio equil��brio dos relacionamentos. Para experimen-
tarmos uma pequena medida de amor e da emo����o de fazer
parte, de ser bem recebido e aceito, �� preciso ponderar cuida-
dosamente a pequena margem de terreno comum que temos
com cada pessoa.
Tentamos enfeitar essa realidade dizendo que a diversidade ��
o tempero da vida, mas a verdade �� que a solid��o continua sendo
a emo����o que domina o mundo. Chegamos a este mundo sozi-
nhos, deixaremos o mundo sozinhos e, enquanto estamos por
aqui, �� por nossa conta e risco.
Muitas pessoas come��aram a se sentir arrasadas e sufocadas
com os efeitos da globaliza����o, que trazem para dentro de nossa
casa, por meio da televis��o e outros meios de comunica����o de
massa, a imensid��o da infelicidade e da pobreza do mundo.
Essas sensa����es negativas agora povoam nossas noites, fins de
semanas e f��rias. Por esta raz��o, come��amos a ressaltar, e at�� a
156 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
apreciar, as nossas diferen��as ��� �� o meio que encontramos de
reafirmar nossas individualidades.
Aparentemente, podemos escolher entre ser mais ou menos
diferentes ��� o amor n��o �� uma op����o. N �� o , porque duvidamos
dele. Ao contr��rio. O amor �� vivido nos encontros ao acaso, nas
perambula����es e nas tarefas que preenchem cada um de nossos
dias. Quando amamos, despertamos para o amor. Quando esten-
demos a paz, despertamos para a Paz. Existe, na verdade, uma
crescente nostalgia no cora����o de muita gente. O caminho ��
abrir m��o de seus medos, suas esperan��as e suas vidas al��m dos
limites do ego. C o m o se faz isto? C o m os pequenos milagres da
compreens��o, do apoio, da paci��ncia e da felicidade.
Nesta viagem em busca do autoconhecimento, voc�� avaliou
muitas coisas ��� agora est�� na hora do seu cora����o e de sua
mente se tornarem um s��. N �� o duvide: a sinceridade �� a for��a
que est�� por tr��s da busca da felicidade e da paz. Convido meus
leitores a darem um salto de f��.
�� n d i c e d e L i b e r t a �� �� e s
Trinta dias de exerc��cio para voc�� aprender a n��o levar a vida t��o
a s��rio. N o s s a sugest��o �� que voc�� fa��a os exerc��cios um por um
e na ordem em que aparecem.
Liberta����o 1
1 dia
P �� g - 2 5
Liberta����o 2
1 dia
p �� g - 3 2
Liberta����o 3
1 dia
P �� g - 3 9
Liberta����o 4
1 dia
P �� g - 4 9
Liberta����o 5
1 dia
P �� g - 5 8
Liberta����o 6
2 dias
P �� g - 6 2
Liberta����o 7
1 dia
P �� g - 6 8
Liberta����o 8
2 dias
P �� g - 6 9
Liberta����o 9
Cr��dito extra, liberta����o extra
p��g. 79
158 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o
L i b e r t a �� �� o 1 0
(liberta����o fundamental) 4 dias
p��g. 82
L i b e r t a �� �� o 1 1
2 dias
p��g. 91
L i b e r t a �� �� o 1 2
2 dias
p��g. 91
L i b e r t a �� �� o 1 3
2 dias
p��g. 92
L i b e r t a �� �� o 1 4
1 dia
p��g. 100
L i b e r t a �� �� o 1 5
1 dia
p��g. 101
L i b e r t a �� �� o 1 6
(liberta����o para necessidades especiais)
p��g. 104
L i b e r t a �� �� o 1 7
1 dia
p��g. 108
L i b e r t a �� �� o 1 8
2 dias
p��g. 113
L i b e r t a �� �� o 1 9
1 dia
p��g. 120
L i b e r t a �� �� o 2 0
1 dia
p��g. 133
L i b e r t a �� �� o 2 1
1 dia
p��g. 139
L i b e r t a �� �� o 2 2
1 dia
p��g. 140
L i b e r t a �� �� o 2 5
1 dia
p��g. 154
C O N H E �� A O U T R O S T �� T U L O S D A E D I T O R A S E X T A N T E
1.000 lugares para conhecer antes de morrer, de Patr��cia Schultz
A Hist��ria - A B��blia contada como uma s�� hist��ria do come��o ao
fim, de The Zondervan Corporation
A ��ltima grande li����o, de Mitch Albom
Conversando com os esp��ritos e Esp��ritos entre n��s, de James Van
Praagh
Desvendando os segredos da linguagem corporal e Por que os homens
fazem sexo e as mulheres fazem amor?, de Allan e Barbara Pease
Enquanto o amor n��o vem, de lyanla Vanzant
Fa��a o que tem de ser feito, de Bob Nelson
Fora de s��rie - Outliers, de Malcolm Gladwell
Jesus, o maior psic��logo que j�� existiu, de Mark W. Baker
Mantenha o seu c��rebro vivo, de Laurence Katz e Manning Rubin
Mil dias em Veneza, de Marlena de Blasi
Muitas vidas, muitos mestres, de Brian Weiss
N��o tenha medo de ser chefe, de Bruce Tulgan
Nunca desista de seus sonhos e Pais brilhantes, professores fasci-
nantes, de Augusto Cury
0 monge e o executivo, de James C. Hunter
0 poder do Agora, de Eckhart Tolle
O que toda mulher inteligente deve saber, de Steven C��rter e Julia
Sokol
Os segredos da mente milion��ria, de T. Harv Ecker
Por que os homens amam as mulheres poderosas?, de Sherry Argov
Salom��o, o homem mais rico que j�� existiu, de Steven K. Scott
Transformando suor em ouro, de Bernardinho
I N F O R M A �� �� E S SOBRE OS
PR��XIMOS L A N �� A M E N T O S
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De: Reginaldo Mendes
Olá, pessoal:
Este é mais um livro de nossa campanha de doação de livros espíritas e não espíritas para atender aos deficientes visuais.
Agradecemos ao irmão Fernando pela doação e digitalização.
Pedimos não divulgar em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos
"A MAIOR CARIDADE QUE SE PODE FAZER É A DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA. EMMANUEL"
A vida não precisa ser tão complicada quanto insistimos em torná-la. A simples decisão de não se agarrar aos problemas pode melhorar - e muito - nossas vidas. É isso o que Hugh Prather nos mostra, com humor e clareza, neste livro. Ele escreve sobre as dificuldades do dia-a-dia e nos dá ferramentas para contorná-las, mudando o que há de mais importante na vida: nossa atitude mental e a forma de reagir aos inevitáveis contratempos. Seus ensinamentos são baseados em histórias reais que nos deixam com a sensação de já ter passado por aquela situação ou testemunhado algo parecido. Você aprenderá soluções práticas para dar um basta às preocupações e ao medo, e se libertar de tudo aquilo que impede sua felicidade.
Mais uma vez pedimos não divulgar esta obra em canais públicos ou Facebook. Esta distribuição exclusiva para canais específicos de deficientes visuais.
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Nosso grupo parceiro:
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