O motivo �� muito simples:
XU�� - significa sapo grande.
Assim, todas as hist��rias de animais pertencem ��
cole����o X����.
Porque o alegre sapateiro Z�� dos Bichos vive sua
vida ajudando e sendo ajudado pelos animais.
Cole����o Paradid��tipa diz:
O livro foi escrito para VOC��
CRIAN��A de 9 e 10 anos.
��� Sua cabecinha criativa vai vibrar
com as aventuras de Z�� dos Bichos
e seus amiguinhos.
O que ele tem?
��� VOCABUL��RIO- as palavras dif��ceis
est��o "prontinhas" para voc��,
antes de cada cap��tulo.
Assim, sua leitura ficar�� mais f��cil!
��� INTERPRETA����O E VIV��NCIA
A cada cap��tulo voc�� vai fazer uma
pausa para compreender o que leu...
e depois... continuar a leitura.
��� ILUSTRA����ES CRIATIVAS
Atrav��s delas voc�� entrar�� num pa��s
de fantasia e sonho.
E a hist��ria?
Bem...
Z�� dos Bichos parte para a Cidade dos Pal��cios Luminosos.
L�� tem um rival que faz tudo para prejudic��-lo. Mas com o aux��lio
dos amigos animais consegue "safar-se" de grandes perigos.
Voc�� n��o quer acompanhar a aventura de Z�� dos Bichos lendo o livro?
Virg��nia Lef��vre
EDITORA DO BRASIL S/A
Rua Conselheiro N��bias, 887
S��o Paulo
ClP-Brasil. Cataloga����o-na-Publica����o
C��mara Brasileira do Livro, SP
L523a13.ed.
Lef��vre, Virg��nia.
O alegre sapateiro Z�� dos Bichos / Virg��nia Lef��vre ; (Mirt.es Cristina
Sada, ilustradora). ��� 13. ed. S��o Paulo : Ed. do Brasil, 1985.
(Cole����o paradid��tica Xu��)
1. Literatura infanto-juvenil I. Sada, Mirtes Cristina. II. T��tulo.
85-0130 CDD-028.5
Indices para cat��logo sistem��tico:
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infanto-juvenil 028.5
��� Professora Janice Janet Persuhn
��� Professora Mirtes Cristina Sada (ilustradora)
Cap��tulo 1
��� linguagem - fala
��� folgaz��o - brincalh��o
��� prestativo - pronto para ajudar
��� perverso - mau
��� desnaturado - cruel, desumano
��� frondosas - copadas, cheias de galhos e folhas
��� da orla - da beira
��� serpeava - corria em forma de ziguezagues
��� intrigada - cheia de curiosidade, desconfiada
��� rente - pr��ximo, junto de
��� inquiria - perguntava
��� carranca - cara de mau humor
��� embarafustou-se - entrou correndo
��� intrusos - que est��o em lugar que n��o s��o deles
��� implume - sem penas
��� esbaforida - cansada, com a respira����o cansada
��� vigorosamente - com for��a
��� canibal - animal que come a carne de outro animal da mesma esp��cie
��� enfurecido - com raiva
zem que os bichos n��o falam, mas n��o �� verdade. Os
bichos falam. Os animais t��m sua linguagem pr��pria e conversam
muito bem entre si. Como seria bom se a gente pudesse
entender os segredinhos que as formiguinhas contam umas
��s outras, quando se encontram sobre o talo de uma flor!
Nos tempos de hoje, os homens vivem t��o atrapalhados
que n��o acham tempo para observar os bichos. Mas, antigamente,
h�� muitos e muitos anos, quando o bisav�� do seu bisav��
ainda nem sonhava em nascer, a coisa n��o era assim. Aparecia,
de vez em quando, algum homem m��gico que entendia
as conversas dos animais. Para obter este dom, o homem tinha
de possuir um bom cora����o e gostar muito dos bichos. 0
segredo era exatamente este: gostar muito, muito, muito, dos
bichos!
Havia, num lugarejo afastado, no Pa��s das Verdes Folhagens,
um homem que podia entender a linguagem dos animais.
Ele se chamava Jos�� Alegre, mas como vivia sempre rodeado
de passarinhos, borboletas, abelhas e outros bichos,
todo o mundo o chamava de Z�� dos Bichos.
Z�� dos Bichos era muito folgaz��o, muito am��vel e muito
prestativo. Mas quando via um menino amarrando uma lata
ao rabo dum c��o, ou usando um estilingue assassino, ou ainda,
arrancando as lindas asas duma borboleta, o Z�� dos Bichos
ficava furioso. Agarrava o menino pelas orelhas e ralhava:
- "Seu" malandro! "Seu" perverso! Desnaturado! Ent��o
voc�� n��o sabe que os bichos sofrem quando s��o maltratados?
Veja se �� bom que eu lhe puxe as orelhas!...
Era um barulh��o! E, por este motivo, nem pequenos e
nem grandes se atreviam a judiar dos animais quando o Z��
dos Bichos andava ali por perto!
N��o havia sapateiro melhor do que ele. E, al��m de ser
um bom profissional, era um ��timo filho. Morava com a m��e,
uma velhinha de cabe��a toda branca, numa cabana de madeira,
escondida pelas ��rvores frondosas da orla dum bosque,
por onde serpeava um riacho. N��o faltava nada para a boa ve
Ihinha. Z�� dos Bichos era pobre, mas sua m��ezinha tinha do
bom e do melhor.
Mas o Z�� dos Bichos, ��s vezes, parecia louco! Sentado ��
porta da cabana, a bater sola, conversava com as borboletas,
os passarinhos, como se fossem gente. A m��e vinha sempre
remendar roupa perto dele e ficava muito intrigada. E sempre
queria saber o que os bichos diziam ao Z��. Um dia, era uma
borboletinha, do tamanho duma unha, a esvoa��ar rente ao
rosto do sapateiro que sacudia a cabe��a como quem ouve
com aten����o. A m��e perguntava:
- Meu filho, esta borboletinha lhe disse alguma coisa?
Z�� dos Bichos dava uma risada gostosa e respondia:
- Sim, minha boa m��e. Ela est�� me contando suas m��goas.
Suspirando, penalizado, Z�� dos Bichos acrescentava:
- Asa Escamosa veio despedir-se de mim.
A boa velhinha, muito surpreendida, inquiria:
- Asa Escamosa?! - Ent��o a borboleta tem nome?...
E, como todas as mulheres, muito curiosa, ela puxava a
cadeira para pertinho do filho e pedia:
- Zezinho, conte-me o segredo da borboleta.. Quero tanto
saber!...
Asa Escamosa punha-se a voar muito aflita bem defronte
do nariz do Z�� dos Bichos. Este explicava:
- Minha boa m��e, como a senhora v��, Asa Escamosa
n��o quer que eu conte o segredo dela.
A velha fechava-se numa carranca aborrecida. 0 Z�� dos
Bichos, ent��o, falava com a borboletinha, em voz baixa:
- Asa Escamosa! Deixe-me contar �� minha m��e o seu
segredo! N��o tem nada demais!
Asa Escamosa esvoa��ava mais um pouco
diante do nariz do sapateiro e, afinal, voava para
longe. A velhinha assistia �� cena, palpitando de
interesse. Perguntava:
- Ela deixou?
Z�� dos Bichos suspirava, muito triste:
- Coitadinha de Asa Escamosa... Ela me
disse: "Conte, Z��. Minha vida est�� no fim.
Pouco importa que todos saibam o meu
segredo...."
A velhinha murmurava:
- Coitadinha!
Mas n��o se esquecia da cisma!
Insistiu:
- Qual era o segredo dela?
E Z�� dos Bichos contava:
- Ela veio me dizer que j�� p��s seus
ovos dentro dos favos da colmeia que
as abelhas fizeram perto do riacho.
Ela �� uma tra��a dos favos ...
A velha arregalava os olhos, incr��dula.
- Imposs��vel, Zezinho. As abelhas n��o deixariam entrar a
Asa Escamosa. - Dando uma risada, acrescentava: - Imaginem
se eu posso acreditar numa coisas destas!
Z�� dos Bichos n��o ficava ofendido. Sua m��e tinha o direito
de duvidar! E ele explicava, com toda a paci��ncia:
- Minha boa m��e, quem conversa com os bichos sou eu!
E eu tamb��m posso espiar dentro da colmeia, porque as abelhas
s��o minhas amigas.
E confessava, meio encabulado:
- Escute, minha boa m��e. Eu tamb��m achei imposs��vel
que Asa Escamosa pudesse entrar na colmeia. Eu fui verificar.
-E o que foi que voc�� viu, meu filho?
- Eu vi quando Asa Escamosa rondava a colmeia, com
muito cuidado... escondendo-se por tr��s das folhas, para que
as abelhas n��o a percebessem por ali...
-E ent��o?
- Asa Escamosa conseguiu enfiar-se na colmeia, embarafustou-
se para dentro duma das c��lulas e l�� p��s os seus
ovos, um aqui... outro mais longe... todos isolados uns dos outros.
- Ser�� poss��vel, Zezinho?
- Vi tudo, minha boa m��e! Asa Escamosa escolheu um
grande favo, j�� velho e fraco...
- Mas por qu��?
- Decerto porque o favo velho estava abandonado! Havia
menos perigo de a Asa Escamosa ser descoberta pelas
abelhas.
-�� mesmo! Ai dela se fosse descoberta! Abelhas n��o
admitem intrusos! Voc�� mesmo j�� me falou nisto.
Z�� dos Bichos suspirava triste:
- Coitadinha de Asa Escamosa! Tem uma vida t��o curta!...
As borboletas morrem pouco depois de porem seus ovos...
A velhinha estava agora satisfeita:
- Ent��o ela veio s�� para se despedir de voc��...
Z�� dos Bichos desabafou:
- N��o, minha boa m��e. N��o foi s�� por isto. Asa Escamosa
me pediu que olhe pelas lagartinhas, filhas dela, que v��o
nascer daqui a dez dias.
A m��e deu uma risada:
- Ora esta! Uma vez dentro do favo, elas est��o garantidas!
- Engano seu, minha m��e! As lagartinhas ficam l�� dentro
durante mais de um m��s. Est��o sempre correndo perigo de
morte, fugindo dum favo para outro, para que as abelhas n��o
as ataquem.
- Que vida t��o dif��cil!
Z�� dos Bichos ria-se:
- Vida perigosa, diria eu, mas n��o dif��cil. As lagartinhas
passam muito bem. Comem feito nem sei o qu��! Devoram o
casulo das abelhas e toda a cera que encontram...
Eu preciso falar com as abelhas-mestras e pedir-lhes que
n��o ataquem as lagartinhas, filhas de minha dileta amiga Asa
Escamosa...
De outra vez, a m��e encontrava Z�� dos Bichos com um
filhotinho de passarinho, ainda implume, aninhado em sua
m��o. Z�� dos Bichos avisava:
- Minha boa m��e, n��o se aproxime, por favor. Mam��e-
passarinho est�� me contando os seus problemas...
A velha estacava, muito surpreendida.
De fato, mam��e-passarinho estava conversando com cr
Z�� dos Bichos. A velhinha tinha a impress��o de que o pipilar
irritado da avezinha era como se estivesse ralhando com o fi-
Ihotinho. Z�� dos Bichos acompanhava a discuss��o com interesse
e, de vez em quando, colocava o filhotinho no ninho e dizia,
carinhoso:
- Titi, seja obediente para sua m��e. Amanh�� eu lhe trarei
o que voc�� quer...
Mam��e-passarinho pipilava alegremente, esvoa��ando
rente ao rosto do bondoso sapateiro, que dizia:
- N��o me agrade��a, mam��e-passarinho. N��o �� caso
para tantos agradecimentos... At�� amanh��!
Mam��e-passarinho ficava sentada perto dos filhotes e
Z�� dos Bichos vinha para perto de sua m��e. De caminho para
casa, esta perguntava, cheia de curiosidade:
- Meu filho, o que �� que mam��e-passarinho estava lhe
dizendo?
Z�� dos Bichos dava uma risada.
- Ela estava furiosa! Cheguei a tempo de livrar o Titi
duma boa surra.
A velha chegava a perder o f��lego, de tanta curiosidade.
- Por qu��? Por qu��? Conte!
- Mam��e-passarinho queria enfiar um mosquitinho na
garganta de Titi. Titi teimava em n��o abrir o bico. Resmungava,
de bico fechado: "Quero alpiste! Quero alpiste ou um gr��o
de mostarda!"
A velhinha comentava:
- Decerto o Titi j�� anda enjoado de mosquitinhos.
Z�� dos Bichos concordava:
- Isto mesmo! Mas a coitada da mam��e-passarinho n��o
pode arranjar alpiste para o filho. �� <jm artigo de luxo.
Com uma risada, acrescentava:
- Ela perdeu a paci��ncia! Quando cheguei perto do ninho,
mam��e-passarinho tinha dado uma en��rgica bicada no
nariz do Titi, que tratou de engolir o mosquito. Assim mesmo,
.ia apanhar uma surra!
A velhinha dizia:
- J�� sei! Amanh�� voc�� vai levar alpiste para o Titi...
O sapateiro dava outra risada e mudava de assunto.
A m��e do Z�� dos Bichos sempre tinha surpresas. Varrendo
o quarto do filho, encontrou, certa vez, um louva-a-deus
amarrado pela cintura ao casti��al que ficava sempre em cima
da mesa.
Ela p��s a boca no mundo. Correu para a porta da rua,
onde Z�� batia sola, assobiando uma linda can����o que aprendera
com os rouxin��is. A velha chegou-se ao filho, esbaforida,
gritando:
- Z��! H�� um mist��rio nesta casa! Um mist��rio!
Z�� alarmou-se:
-O que h��, minha boa m��e? Sente-se... Tome f��lego...
Que foi que aconteceu?
A velhinha, abanando-se com o avental, explicou com
voz entrecortada:
- Z��, algu��m entrou no seu quarto! Eu vi um louva-adeus
preso ao casti��al, em cima de sua mesa!
O sapateiro deu um suspiro de al��vio, seguido de uma
boa risada.
- S�� isto, minha boa m��e? Que susto a senhora me pregou!
- Z��, n��o estou brincando! H�� um louva-a-deus amarrado
pela cintura... debatendo-se desesperado... em cima de sua
mesa!
0 sapateiro deu outra risada.
- Eu sei, minha boa m��e. Fui eu que amarrei o louva-adeus!
A velha teve tal espanto que caiu, pesadamente, sentada
na cadeira mais pr��xima.
-0 qu��?! Voc�� amarrou um bichinho inocente?!... Pela
cintura?!...
Z�� tornou ao seu servi��o. Batendo sola, vigorosamente,
foi explicando:
- Minha boa m��e, o louva-a-deus n��o �� um bichinho inocente
como a senhora pensa.
- Como?! Voc�� quer me dizer que aquele bicho verdinho,
que anda t��o pausado, de m��os para o c��u, como se estivesse
rezando...
Z�� dos Bichos interrompeu:
-0 louva-a-deus �� um grande hip��crita! 0 louva-a-deus
�� selvagem! Com aqueles ares de santo n��o passa dum canibal!
- Como?!
- Sim, minha boa m��e. Aquele que a senhora viu em
cima de minha mesa chama-se Garra Peluda, o maior devorador
de gafanhotos, moscas, abelhas, cigarras, borboletas e, at��
mesmo, de outros louva-a-deus!
- N��o me diga, Zezinho! Ser�� poss��vel? E eu achava que
ver um louva-a-deus dava sorte...
Z�� dos Bichos batia sola enfurecido:
- Eu avisei o Garra Peluda! Se ele devorasse abelhas-
mestras, eu o prenderia. Ele devorou minha amiga Suga-
N��ctar. Prendi-o!
E era assim a vida do Z�� dos Bichos. Sempre batendo
sola, rodeado de p��ssaros, borboletas, abelhas que o amavam
como a um grande amigo.
Quem entendia a linguagem dos animais no Pa��s das Verdes Folhagens?
Por que ele entendia os animais?
Por que o nome Z�� dos Bichos?
0 que enervava Z�� dos Bichos?
Que profiss��o tinha Z�� dos Bichos?
Comprove com tr��s fatos que Z�� dos Bichos entendia os animais:
��� Z�� dos Bichos era justo? Comprove isso com um exemplo do texto.
��� sortir - abastecer
��� rufiar - barulho
��� adunco - curvo
��� com esmero - com cuidado
��� esbugalhados - bem abertos
��� cerimonioso - formal, cheio de cerim��nia
��� op��para - maravilhosa
��� lauta - farta, abundante, cheia de
��� ar f��nebre - ar triste
��� expandiu-se - estendeu-se, continuou a falar
��� instinto - tend��ncia natural
��� excitada - agitada
m dia, a boa velhinha chamou o filho:
- Z��, meu querido filho, venha c��:
Z�� dos Bichos largou o que estava fazendo e correu para
o quarto de sua velha m��e. Encontrou-a deitada, respirando
com dificuldade, muito p��lida. Z�� ficou muito assustado e perguntou:
- Minha boa m��e, est�� sentindo alguma coisa?
A velhinha sorriu, docemente. Tomou as m��os do filho e
disse:
- Meu filho, j�� cumpri minha tarefa aqui na Terra. O bom
Deus me chama...
Z�� ficou- muito aflito.
- Oh! Minha querida m��e!
- Z��, meu filho, voc�� deve sair desta terra...
- Sair desta terra?! Por que, minha boa m��e?
- Aqui voc�� n��o tem futuro, meu filho. Quase ningu��m
usa sapatos nesta aldeia. Voc�� deve procurar a Cidade dos Pal��cios
Luminosos. Fica bem longe daqui... Muito al��m da Floresta
dos Verdes Pirilampos...
A pobre velhinha falava cada vez com mais dificuldade.
0 Z�� dos Bichos escutava-a com toda aten����o.
- Meu filho... prometa-me que ir�� �� Cidade dos Pal��cios
Luminosos...
- Sim, minha boa m��e. Prometo!
Naquela mesma noite, a velhinha foi para o C��u. Mas Z��
dos Bichos n��o ficou sozinho! E nem precisou fazer o servi��o
da casa! As abelhas traziam-lhe favos de mel. Uma quantidade
enorme de besouros invadia a cabana, todas as manh��s,
para fazerem a limpeza. N��o ficava nenhuma sujeirinha! Os
morcegos vinham de noite sortir a mesa de Z�� dos Bichos,
trazendo-lhe as mais saborosas frutas. Nunca lhe faltava nada.
Mas, assim mesmo, rodeado por seus grandes amigos,
Z�� dos Bichos n��o se sentia contente. Estava ansioso por partir,
correr o mundo em dire����o �� Cidade dos Pal��cios Luminosos.
Este fora o desejo de sua santa m��e. �� noitinha, terminada
a tarefa do dia, caminhava para o bosque para conversar
com sua s��bia amiga, a coruja, de plumagem t��o macia que
ningu��m lhe ouve o rufiar das asas em v��o. Estrig��dea -�� um
nome esquisito, mas assim se chamava a conselheira do Z��
dos Bichos - era mal-encarada, com uns olh��es arregalados e
um bico adunco, apropriado para ca��ar camundongos e lagar
tas. Mas Estrig��dea possu��a muito bom cora����o e enxergava
admiravelmente bem no escuro.
Esta s��bia coruja morava num buraco no ch��o, uma antiga
casa dum tatu que resolveu mudar-se n��o se sabe por qu��.
0 buraco at�� que era muito confort��vel, continuando em t��neis
que Estrig��dea tinha forrado com esmero, para ficarem
bem quentinhos.
A boa coruja esperava Z�� dos Bichos �� entrada do ninho,
pousada sobre um cupim. 0 sapateiro chegou, com ar muito
preocupado. Saudou Estrig��dea, distra��do. A coruja logo percebeu
por que seu amigo estava aflito. Falou, na linguagem de
"qui-qui-qui" que o Z�� entendia perfeitamente bem:
- Z�� dos Bichos, voc�� deve partir para a Cidade dos Pal��cios
Luminosos o quanto antes! Mas n��o deve ir sozinho.
Procure, na aldeia, algu��m que conhe��a o caminho!
Z�� dos Bichos arregalou os olhos que ficaram quase t��o
esbugalhados como os de Estrig��dea.
- Estrig��dea! Voc�� adivinhou o meu pensamento! Era
justamente isto que estava me preocupando!
A coruja disse, com um suspiro triste:
- V�� agora mesmo �� aldeia, Z�� dos Bichos. Voc�� acabar��
doente, se n��o partir o quanto antes.
0 sapateiro n��o teve d��vidas em atender Estrig��dea.
Despediu-se dela, muito afobado, e rumou para a aldeia, em
passos de gigante. Andou t��o depressa, t��o depressa, que
teve de parar �� beira do caminho. Sentou-se sobre umas pedras
para tomar f��lego. Bem neste momento, passou por ali
um mo��o alto, todo vestido de preto, carregando nas costas a
caixa de sapateiro. Vinha resmungando, com ar de grande
mau humor:
- Vida maldita! �� s�� andar... andar... andar... Nunca mais
chega esta Cidade dos Pal��cios Luminosos...
Z�� dos Bichos p��s-se de p��, num salto. Indagou, cheio
de emo����o:
-O senhor vai para a Cidade dos Pal��cios Luminosos?!
O outro parou, virou-se e encarou Z�� dos Bichos com
uma carranca que desanimaria outro que n��o fosse o sapateiro
alegre.
-O que �� que o senhor tem com minha vida?
Z�� dos Bichos riu-se e explicou, muito am��vel:
- Meu bom amigo, n��o se zangue �� toa. Perguntei-lhe
isto porque tamb��m quero ir para a Cidade dos Pal��cios Luminosos.
Meu nome �� Jos�� Alegre, mas todos me conhecem por
Z�� dos Bichos. Tamb��m sou sapateiro.
O homem zangado mudou de atitude. Respondeu:
- Meu nome �� Man�� da Sola. Venho de muito longe.
N��o conhe��o ningu��m por aqui...
Z�� dos Bichos o interrompeu, muito am��vel:
- Pois ent��o, venha comigo, Man�� da Sola. Voc�� pode
pousar em minha casa. Amanh�� seguiremos viagem juntos
para a Cidade dos Pal��cios Luminosos.
Man�� da Sola pareceu gostar da proposta.
- Vamos, Jos�� Alegre.
- N��o me chame de Jos�� Alegre. �� muito cerimonioso.
Chame-me de Z�� dos Bichos.
E os dois novos amigos puseram-se a caminho para a
cabana do Z��. O Man�� da Sola n��o abria a boca. Contentava-
se em ouvir Z�� dos Bichos falar. Quando chegaram em casa do
Z�� dos Bichos, este j�� tinha contado toda a sua vida ao Man��
da Sola, que continuava mudo como um peixe! N��o dizia nada,
contentando-se em resmungar, muito mal-humorado.
Z�� dos Bichos cedeu para o h��spede o quarto de sua falecida
m��e, que era o mais confort��vel da cabana. Ele mesmo
preparou a mesa com uma op��para ceia de frutas variadas,
ovos e mel de abelha. Man�� da Sola resmungou:
- Quero carne! Estou acostumado a comer um bom bife!
Z�� dos Bichos deu a sua risada de sempre e respondeu:
- Na minha casa, n��o se come carne! Os animais sentem
como n��s sentimos. �� uma crueldade mat��-los para comer.
Man�� da Sola olhou feio para o Z�� dos Bichos e insistiu:
- Carne �� alimento que d�� sa��de!
O outro mudou de assunto e n��o se falou mais nisso. A
verdade �� que Man�� da Sola comeu tanto que teve sono. Logo
depois da lauta refei����o, recolheu-se ao quarto para dormir.
Z�� dos Bichos, pensando que aquela seria a ��ltima noite
em sua terra, preferiu passear pelo bosque, a fim de despedir-
se de seus queridos amigos, os filhos da Natureza. 0 primeiro
que encontrou foi o Bufo, um enorme sapo escuro, cheio de
verrugas pelo corpo, um felizardo que se dava t��o bem na terra
como dentro d'��gua. Bufo tinha acabado de comer uma
por����o de minhocas. Estava parado no meio do caminho,
como se esperasse pelo sapateiro. Este o saudou:
- Boa-noite, amigo Bufo. Vim despedir-me de voc��.
Vou-me embora amanh�� para a Cidade dos Pal��cios Luminosos.
0 sapo coaxou, com ar f��nebre:
- V�� com Deus, Z�� dos Bichos.
0 sapateiro expandiu-se.
- Sabe, Bufo? Arranjei um companheiro de viagem, sapateiro
como eu. Chama-se Man�� da Sola.
Bufo deu um salto enorme. Z�� dos Bichos alarmou-se:
-0 que h��, Bufo?
O sapo-cururu controlou-se com dificuldade. Da�� a um
momento conseguiu coaxar:
- Cuidado com o Man�� da Sola. �� um homem mau e
ego��sta.
Z�� dos Bichos protestou:
- Como �� que voc�� sabe?
Bufo assumiu ar ofendido:
- Z�� dos Bichos, n��s, os animais, temos um instinto que
nos faz enxergar coisas que os homens n��o v��em. Eu vi o Man��
da Sola quando voc��s passaram pelo meu buraco.
O sapateiro riu-se:
- Ora, Bufo! Deixe-se de discursos.
0 sapo-cururu estalou um muxoxo de orgulho ofendido e
meteu-se no mato, sem dizer mais nada.
Z�� dos Bichos n��o se impressionou. Bem diz o ditado:
"Quem mal n��o faz, mal n��o pensa".. 0 alegre sapateiro era
um homem bom que n��o podia acreditar na maldade dos ou
tros. Continuou seu passeio pelo bosque e j�� vinha voltando
para casa, quando ouviu o pipilar aflito dum p��ssaro que o
chamava. Parou. Era sua grande amiga, Hirundina, uma linda
andorinha de plumagem escura com listas avermelhadas. A
pobre Hirundina estava esbaforida. Z�� dos Bichos alarmou-se:
- Hirundina! Voc�� por aqui, a estas horas da noite! Voc��
devia estar repousando em seu ninho, no tronco oco da ��rvore
Grande!
A andorinha recuperava o f��lego. Pipilou muito excitada:
- Z�� dos Bichos! Por favor! N��o v�� com o Man�� da Sola.
Voc�� sabe que eu, todos os anos, vou viajar bem longe com
minha fam��lia, sempre que chega o inverno. Minha fam��lia conhece
o Man�� da Sola. Quando ele era menino, divertia-se arrancando
as pernas das r��s, das formigas e das moscas. Usava
o estilingue assassino para acabar com os passarinhos! N��o
v�� com ele, Z�� dos Bichos...
Z�� dos Bichos aninhou nas m��os sua amiga andorinha.
- Acalme-se, Hirundina. Man�� da Sola pode ter sido um
mau menino, mas agora �� um homem. E eu n��o sou crian��a!
Sei me defender!
E com uma risada, concluiu:
- Para mim, tudo corre sempre bem! Tudo d�� sempre
certo!
Hirundina chilreou um suspiro triste e n��o disse mais nada.
Antes de morrer, o que pediu a m��e de Z�� dos Bichos ao filho?
Que conselho deu a coruja Estrig��dea ao alegre sapateiro?
No caminho para a aldeia, o que aconteceu?
O que o sapo disse a Z�� sobre Man��?
Comprove a bondade do Z�� dos Bichos.
Quem mais veio chamar a aten����o de Z�� para n��o ir com Man��?
Comprove o mau car��ter de Man�� da Sola.
Por que Z�� dos Bichos n��o acreditava na maldade dos outros? 25
��� alforje - saco duplo, como se fossem dois emborn��is
��� provis��es de boca - comida, alimentos
��� farnel - comida, provis��es para jornada
��� trombudo - emburrado
��� inesgot��vel - que nunca termina
��� neurast��nico - de mau humor
��� lambiscar - beliscar
��� precau����es - cuidados
��� escapulido - fugido
��� raios t��pidos - raios quentes
��� choro convulsivo - choro intenso
��� resignado - conformado
��� sol��cito - pronto, zeloso, prestativo
�� era de madrugada, quando o Z�� dos Bichos foi descansar
e dormir um pouquinho.
0 sapateiro mal-humorado levantou-se muito tarde e
com maus modos exigiu o caf��. Abriu a porta do quarto de Z��
dos Bichos e reclamou:
- S��o quase nove horas da manh��! Quero comer! Devemos
partir o quanto antes!
Z�� dos Bichos, bocejando, ainda tonto de sono, respondeu:
- Oh! homem, deixe-se de zangas. Devagar se vai ao
longe sem cansar.
Mas, assim mesmo, se levantou e serviu uma refei����o
muito gostosa. Enquanto Z�� dos Bichos comia, conversando e
rindo, Man�� da Sola devorava montes de frutas, com uma cara
muito fria, resmungando:
- Eu queria p��o... Parece incr��vel! Uma casa sem p��o!
Acabada a refei����o, chegou o momento de preparar um alforje
com provis��es de boca para a viagem. Man�� da Sola
continuava resmungando:
- S�� frutas, frutas e mais frutas! Ou ent��o, ra��zes! O que
eu queria era presunto com um bom peda��o de p��o de centeio!...
Z�� dos Bichos ria-se:
- N��o se preocupe tanto com a comida, meu amigo. Eu
arranjo tudo. N��o nos faltar�� nada.
O outro resmungava:
- N��o compreendo como voc�� possa estar contente sendo
t��o pobre! Pois eu acho a vida um inferno! H�� tantos anos
que me mato de trabalhar! E mal tenho o que comer!
Z�� dos Bichos, sempre ativo arrumando o farnel ou preparando
a bagagem, respondia:
- N��o blasfeme, Man�� da Sola. Voc�� �� mo��o, tem sa��de
e tem bra��os para trabalhar. �� a maior das riquezas.
O outro resmungava:
- Cale-se! Sua alegria me ataca os nervos.
E assim foi durante toda a viagem. Os dois, naturalmente,
viajavam a p�� pelo meio do mato. Mesmo que fossem ricos.
e tivessem uma carruagem para irem �� Cidade dos Pal��cios
Luminosos, teriam de viajar a p��, cortando a floresta de ��rvores
gigantescas e onde moravam muitos animais. Enquanto
Man�� da Sola ia ficando cada vez mais trombudo, o Z�� dos
Bichos ia ficando cada vez mais alegre. 0 ar puro, o cheiro
gostoso da mata e, principalmente, suas conversas com os
animais grandes e pequenos da floresta eram motivo para que
o sapateiro se sentisse bem como nunca. A ��nica coisa que o
incomodava era o inesgot��vel mau humor do Man�� da Sola,
que ia caminhando de cabe��a baixa, sempre carrancudo. Z��
dos Bichos procurava anim��-lo:
-�� homem! Deixe de resmungar! A vida �� t��o boa! A
floresta est�� cheia de frutas silvestres, saboros��ssimas. E os bichos
sempre me contam onde h�� fontes de ��gua cristalina!
N��o h�� motivo para voc�� estar neurast��nico!
Mal qual! Aquelas palavras animadoras s�� serviam para
irritar Man�� da Sola, que chegava a trincar os dentes, de raiva.
A eterna alegria do Z�� dos Bichos, as gargalhadas gostosas
que dava ao conversar com os p��ssaros, as borboletas, os besouros,
os coelhinhos e outros animais, tudo isto ia envenenando
a alma negra do Man�� da Sola. Pensava l�� consigo, o
malvado:
-O alforje deste alegre idiota est�� sempre cheio. E o
meu sempre vazio! Ele parece que n��o sente cansa��o! Um homem
assim �� um rival perigoso. Se eu pudesse matar o Z�� dos
Bichos!...
Mas esta hist��ria de matar Z�� dos Bichos n��o era coisa
f��cil. O alegre sapateiro era muito esperto e tinha o sono muito
leve. Al��m disto, quando ele adormecia, as corujas e os
morcegos vinham guardar-lhe o sono. Os bichos olhavam fir
mes para Man�� da Sola que sentia que a coruja lhe furaria os
olhos, se ele se atrevesse a atacar o sapateiro adormecido. E o
veneno do ��dio ia azedando, ainda mais, a alma negra do malvado.
Um dia, quando os dois iam rompendo a mata fechada,
Z�� dos Bichos achou uma fruta muito bonita, amarelinha, cheirosa,
apetitosa a valer. Com um gesto r��pido, colheu a fruta,
mas quando se preparava para lhe dar uma valente dentada,
surgiu um pica-pau preto, com uns enfeites vermelhos na cabe��a,
que andava por ali a comer os carunchos dum tronco de
��rvore. 0 pica-pau, sem cerim��nia alguma, enfiou na fruta o
bico forte, direito e pontudo, acostumado a furar madeira. Tirou-
a da m��o do Z�� dos Bichos e largou-a no ch��o onde a fruta
se esborrachou, espalhando no ar um cheirinho adocicado.
O alegre sapateiro n��o gostou da brincadeira. Perguntou:
- Que �� isto? Por que me fez perder o meu petisco?
O pica-pau, com seu v��o pesado, dirigiu-se para o tronco
onde andava a lambiscar as larvas da madeira e, com as batidas
do bico na ��rvore, transmitiu sua mensagem a Z�� dos Bichos.
Este ficou escutando, muito atento, a balan��ar a cabe��a,
como quem diz: "Escapei de boa!" Man�� da Sola presenciava
a cena com intenso interesse. As batidas do bico forte no tronco
iam se sucedendo:
- P��... p��-p��-p��... p��-p��... p��-ra-p��-p��...
Depois, muito calmamente, o pica-pau continuou seu almo��o,
enfiando a l��ngua comprida no buraco da madeira e engolindo,
deliciado, uma larva que n��o tivera tempo de fugir.
Z�� dos Bichos, com um suspiro, seguiu seu caminho.
Man�� da Sola n��o se ag��entou e foi logo dizendo:
-0 que foi que o pica-pau lhe disse?
Andando para frente, e sem sequer voltar a cabe��a, o
alegre sapateiro contou:
-O pica-pau me disse que esta fruta, t��o bonita e t��o
cheirosa, �� muito venenosa. Um bocadinho de seu sumo pode
cegar uma pessoa...
Man�� da Sola resmungou:
- Ah!... �� assim, ent��o...
E, sem que Z�� dos Bichos percebesse, apanhou duas ou
tr��s daquelas frutas, escondendo-as no alforje vazio. 0 malvado
decidira-se a cegar o pobre Z�� dos Bichos. N��o seria dif��cil.
Espremeria o sumo da fruta e, quando o outro adormecesse,
atirar-lhe-ia, sobre os olhos, o terr��vel veneno. Man�� da Sola
ficou muito contente com esta id��ia. Z�� dos Bichos, cego, no
meio da floresta, era morte certa! Com grandes precau����es,
ocultando-se at�� das formiguinhas e das borboletas, o malvado
espremeu o sumo das frutas venenosas e guardou o l��quido
num vidrinho. Restava-lhe, apenas, esperar uma ocasi��o oportuna
para cometer o negro crime.
N��o tardou a chegar o momento. Z�� dos Bichos, muito
inocentemente, sem desconfiar de nada, disse:
- Que noite fria! N��o �� mesmo, Man�� da Sola?
O outro resmungou:
- Uhnnn...
Z�� dos Bichos ent��o come��ou a fazer fogo e prop��s:
- Man�� da Sola, venha deitar-se perto de mim. Desta
maneira voc�� poder�� cobrir-se com minha capa.
O malvado aceitou, muito contente:
- Pois n��o, Z�� dos Bichos!
"Que bom", pensava ele, "assim fica muito mais f��cil
para eu jogar o veneno nos olhos do Z��". E quando o bondoso
amigo dos animais fechou os olhos, caindo num sono profundo,
num gesto r��pido Man�� da Sola atirou-lhe no rosto o suco
das frutas amarelas. Z�� dos Bichos sentiu apenas um friozinho
pelas faces, mas nem sequer p��de imaginar o que estava
acontecendo. Sentou-se depressa e comentou:
- Esquisito! Senti uma coisa fria escorrer pelo meu rosto.
- Devem ser gotas de orvalho que se juntaram numa folha.
Z�� dos Bichos disse ainda:
- Esquisito! Sinto o calor do fogo, mas n��o vejo mais
fogo algum.
Man�� da Sola respondeu:
-0 fogo apagou-se. Eu joguei terra nas brasas.
Z�� dos Bichos bocejou e espregui��ou-se, dizendo:
- Eu estava num sono t��o gostoso! Vamos ver se agora
nada me perturbar��.
Deitou-se de novo e tornou a dormir, como um justo.
Man�� da Sola pensava: "Ele nem desconfiou! Que bobo!
Nem ouviu que o fogo est�� crepitando!" Deu uma risadinha de
satisfa����o e, com muito cuidado, para n��o fazer barulho e nem
chamar a aten����o das corujas e dos morcegos, foi juntando o
que era dele e o que era do Z�� dos Bichos. E fugiu! Fugiu levando
tudo... tudo... tudo! Deixou o outro apenas com a roupa
do corpo. Ningu��m viu nada! Nem mesmo a coruja, que �� t��o
fina, e o morcego, que �� t��o cauteloso, repararam que o malvado
tinha escapulido, protegido pelo sil��ncio e pela escurid��o
da noite... A coruja bem que veio espiar se tudo estava direitinho!
Mas viu Z�� dos Bichos dormindo t��o sossegado que
n��o teve a menor suspeita da enorme desgra��a. 0 mesmo sucedeu
com o morcego. Chegou-se bem perto do amigo e dei
xou-lhe umas frutas para a refei����o da manh��. Ningu��m sabia
que o Z�� dos Bichos estava cego, a n��o ser o malvado Man��
da Sola, que j�� i�� longe.
De madrugada, Z�� dos Bichos acordou ouvindo o gazear
alegre dos p��ssaros da mata. Abriu os olhos e n��o viu nada.
Pensou: "Esquisito! O que ser�� que aconteceu aos p��ssaros
da mata? Est��o fazendo tanto barulho e ainda �� noite fechada!"
E tornou a deitar-se, com todo o cuidado, para n��o acordar
Man�� da Sola. Mas o sol foi subindo e seus raios t��pidos
pousaram no rosto do pobre sapateiro. Este tornou a acordar
e, num relance, compreendeu toda a verdade. Estendeu a m��o
para o lado e viu que n��o havia ningu��m na cama de folhas do
Man�� da Sola. Passou a m��o pelos olhos e ainda sentiu nos
dedos um pouco do sumo das frutas venenosas. Murmurou,
desesperado:
- Man�� da Sola!... Cegou-me para me matar!
A emo����o era muito forte. Z�� dos Bichos desatou num
choro convulsivo e ficou solu��ando, durante muito tempo.
Chorou, chorou, chorou... Mas sua natureza era mesmo alegre
e otimista. Pensou:
- N��o quero que os animais vejam o meu desespero.
Vou fingir que estou dormindo. Afinal de contas, todos n��s temos
de morrer algum dia. Tanto faz que seja hoje, se �� esta a
vontade de Deus. Vou ficar deitado, �� espera de que a Morte
venha buscar-me.
Suspirou e ficou ali deitado na grama fresca e ��mida de
orvalho, triste, mas resignado.
Ficou ali t��o quieto, deitado na relva macia, que os bichos
pensaram mesmo que ele estivese dormindo. Afastaram-
se todos, para evitar fazer barulho. Neste momento, dois beija
-flores se aproximaram do Z�� dos Bichos.Estavam t��o preocupados
que nem o perceberam deitado no ch��o. Puseram-se a
conversar. Um deles perguntou:
- Mas por que voc�� est�� t��o aflito?
0 outro respondeu:
-�� compadre! Estou desesperado! Um dos meus filhos
nasceu cego! Que grande desgra��a!
0 primeiro pipilou uma risadinha alegre.
- Ora, meu amigo! N��o �� caso para tanta amargura! Voc��
tem, aqui mesmo, o rem��dio!
Z�� dos Bichos sentiu seu cora����o pulando de ansiedade.
Qual seria o rem��dio que o beija-flor ia receitar? Este continuava:
- Acalme-se, meu amigo. V�� buscar o seu filhotinho. H��
ainda orvalho por aqui. �� s�� colocar uma gotinha deste orvalho
nos olhos dele e deixar�� de ser cego...
Z�� dos Bichos nem ouviu mais nada. Sofregamente, estendeu
a m��o, tateando a relva. Estava ��mida ainda! Ainda
havia orvalho m��gico por ali! Louvado seja Deus! E, com gestos
agitados, Z�� dos Bichos foi passando nos olhos aquelas
benditas gotas do c��u!
Milagre! A vista lhe vinha voltando," pouco a pouco. J��
podia distinguir o contorno da ��rvore mais pr��xima! Estava
agora rodeado de passarinhos, borboletas, caxinguel��s, besouros,
abelhas, todos, enfim! Cada qual se mostrava mais sol��cito.
N��o permitiram que Z�� dos Bichos se levantasse para ir
buscar comida. Trouxeram-lhe frutas e mel, o sapateiro passou
bem como nunca! Ao cair da noite, Z�� dos Bichos tinha recuperado
completamente a vis��o.
34
��� moleirona - mole
��� magn��nimo - que tem muita bondade
��� potro - cavalo novo
��� exausto - cansado
��� algazarra infernal - barulho muito grande
��� aprumavam - esticavam com eleg��ncia
��� estrugiu - fez muito barulho, vibrou com muito entusiasmo
a manh�� seguinte, Z�� dos Bichos sentia-se bem disposto
e prosseguiu viagem muito animado. J�� estava bem
perto da Cidade dos Pal��cios Luminosos. N��o havia perigo de
perder-se. Conforme lhe tinha ensinado uma raposa muito esperta,
era s�� seguir pela margem do Grande Rio que iria dar ao
destino que procurava.
L�� ia o Z�� dos Bichos muito distra��do, pensando no seu
passado e fazendo planos para o futuro, quando ouviu um
zumbido aflito de muitas abelhas. Procura daqui, procura dali,
afinal chegou ao ponto onde havia uma enorme colmeia, em
volta da qual voava um enxame, agitad��ssimo.
Por ali tinha passado o malvado Man�� da Sola! Tinha
acampado pr��ximo �� colmeia. E, por maldade, tinha deixado
uma fogueira acesa bem debaixo da casa das abelhas. As coitadas
n��o ag��entavam mais o calor e estavam muito aflitas.
Z�� dos Bichos percebeu imediatamente a causa de t��o grande
afli����o. Tratou logo de jogar terra sobre o fogo, que n��o tardou
a apagar-se.
Valia a pena ver-se a alegria das abelhas. Zumbiam festivamente
e a Abelha-Rainha, em pessoa, apesar de muito gorducha
e moleirona, veio fazer um discurso de agradecimentos.
O discurso terminou com estas palavras:
- Magn��nimo amigo! Se algum dia precisar de n��s, pode
contar com toda a colmeia! Nossa gratid��o �� eterna!
Z�� dos Bichos ficou muito comovido. Agradeceu e prometeu
n��o se esquecer do generoso oferecimento. Depois foi
seguindo �� beira do rio que parecia n��o ter fim... 0 coitado do
sapateiro andou, andou e andou sem ver nem sinal da Cidade
dos Pal��cios Luminosos. Seus p��s lhe do��am e as pernas pesavam-
lhe Como se fossem de chumbo. Pensou: "Como seria
bom se me aparecesse um cavalo!" Bem naquele momento,
ele atravessava uma vasta campina por onde o rio largo serpeava,
serenamente. Ouviu um tropel de galope:
- "Procot��... procot��... procot��..."
Z�� dos Bichos afiou os ouvidos, cheio de esperan��a. 0
tropel se aproximava. Era, sem d��vida alguma, um cavalo!
Sim! Era um cavalo selvagem! Uma espl��ndida montaria
para quem, como Z�� dos Bichos, vivia em boa camaradagem
com todos os animais. O sapateiro p��s as m��os em concha
sobre a boca e chamou-o:
- Equ��deo! �� Equ��deo!...
Como este �� o nome da ra��a dos cavalos em geral, o cavalo
atendeu imediatamente ao chamado. Dirigiu-se para Z��
dos Bichos, cheio de alegria. Saudou-o:
- Boa-tarde, Z�� dos Bichos! Os cavalos selvagens j�� o
esperavam por aqui! Eu estava ansioso por travar conhecimento
com voc��!
O sapateiro notou que o cavalinho era muito novo ainda.
Enquanto falava, n��o parava de dar uns pinotes. Z�� dos Bichos
falou:
- Muito obrigado, amigo potro. Escute: estou exausto.
N��o me ag��ento mais nas pernas. Voc�� quer me servir de
montaria at�� a Cidade dos Pal��cios Luminosos?
O potrinho deu um pulo para tr��s.
- Oh! A Cidade dos Pal��cios Luminosos ainda est�� longe!
�� Z�� dos Bichos! Voc��, que �� t��o amigo dos animais, h��
de me compreender! Sou muito novo ainda para lev��-lo em
minhas costas. Se eu fizer um esfor��o destes, ficarei inutilizado
para o resto de minha vida!
O Z�� dos Bichos cocava o queixo, muito desapontado.
Com um suspiro, murmurou:
- Est�� bem...
E com outro suspiro, acrescentou:
- Irei mesmo a p��.
O potro esfregou o focinho no ombro do sapateiro, numa
car��cia cheia de gratid��o. Garantiu:
- Z�� dos Bichos, nunca hei de esquecer o bem que voc��
me fez!
E disparou numa corrida louca pelo campo afora.
Da�� a pouco, n��o se ouvia mais o tropel do cavalinho. O
sapateiro, suspirando profundamente, foi seguindo seu cami
nho, arrastando os p��s, com dificuldade. Pensava: "Coragem!
Preciso chegar �� Cidade dos Pal��cios Luminosos!..." Depois
de algum tempo resolveu dormir uma soneca, para recuperar
as for��as. E dormiu, dormiu, varando a noite toda. E acordou
bem disposto, como nunca! P��s-se a andar com toda a velocidade.
Da�� a pouco come��ou a ver uns campos cultivados, um
ou outro campon��s com sua junta de bois, e outros sinais de
que a cidade j�� estava pr��xima. Apertou ainda mais o passo,
muito animado. Chegou �� margem dum lago que se comunicava
com o rio. Nas ��guas douradas pelos raios do sol nadavam,
alegremente, bandos de patos, gansos e cisnes. A paisagem
era encantadora. Z�� dos Bichos resolveu tomar f��lego,
descansando um pouco �� beira do lago, t��o bonito. Deitou-se
�� sombra das ��rvores e travou uma prosa animada com os bichos
aqu��ticos. Era uma algazarra infernal. Todos queriam
falar duma s�� vez, para contarem ao sapateiro como era a Cidade
dos Pal��cios Luminosos, como o Rei do pa��s era bondoso,
como os habitantes da cidade andavam precisando de sapateiros
e muitas outras coisas que interessavam de perto ao
Z�� dos Bichos.
De repente, a bicharada alvoro��ou-se. Os patos grasnavam
cheios de terror. Os cisnes aprumavam os pesco��os, alvos
e altivos, numa atitude de combate. Z�� dos Bichos ergueu-
se nos cotovelos e viu logo que havia um motivo justo para t��o
grande alarme. Um enorme gavi��o-de-penacho pairava, terr��vel
e amea��ador, sobre o lago. Era um bich��o, de garras
aduncas e o penacho aberto em leque, pronto para cair sobre
a v��tima escolhida. Patos, gansos, cisnes, todos tremiam. Z��
dos Bichos perguntou em voz baixa:
- Quem �� aquele?
Um cisne velho teve voz para responder:
-�� Harpia, o mais feroz dentre os gavi��es-de-penacho!
�� muito guloso! Gosta de comer os veadinhos, as siriemas e os
tatus! Dizem que come at�� bezerrinhos novos!
Z�� dos Bichos levantou-se resoluto:
- Sosseguem, meus amigos. Eu terei uma conversa com
a H��rpia.
Em voz alta, amea��ou:
- H��rpia! Afaste-se! Est�� aqui um homem, o mais terr��vel
de todos os animais! H��rpia! Juro que, se voc�� matar alguma
ave deste lago, eu a matarei sem piedade!
A H��rpia abaixou o penacho, imediatamente. Al��ou um
v��o majestoso e tratou logo de afastar-se. A bicharada aqu��tica
estrugiu em vivas ao Z�� dos Bichos. Todos juraram que
nunca mais poderiam esquecer um t��o grande benef��cio.
E assim, seguido pelas b��n����os dos animais, o sapateiro
alegre prosseguiu em seu caminho e n��o tardou a entrar na
c��lebre Cidade dos Pal��cios Luminosos. A conselho do cisne
velho, resolveu montar uma oficina de sapateiro n��o muito
longe do lago. Era um bom ponto, dizia o cisne velho, pois por
ali passavam todos que chegavam �� Cidade dos Pal��cios Luminosos.
O cisne velho tinha toda a raz��o. No fim de alguns meses,
Z�� dos Bichos nem podia dar conta do servi��o sozinho.
Teve de arranjar v��rios ajudantes. E sucedeu mesmo que muita
gente da cidade n��o se incomodava de andar muito, s�� para
dar servi��o a um sapateiro t��o jovial e t��o am��vel, que vivia
cercado de p��ssaros, borboletas e esquilos.
Z�� dos Bichos estava ficando rico e famoso.
Por que as abelhas estavam assustadas?
Por que as abelhas se colocaram �� disposi����o do Z�� dos Bichos?
Por que Z�� dos Bichos n��o montou o potro?
A quem, de quem e como Z�� dos Bichos salvou no lago?
Por que Z�� dos Bichos instalou sua sapataria perto do lago?
E o que aconteceu a Z�� dos Bichos ao fim de alguns meses?
��� Por que as pessoas n��o se incomodavam de andar mais para consertar
sapatos com Z�� dos Bichos?
��� rival - competidor, concorrente
��� desenfreado - que n��o pode ser controlado, sem freio
��� tram��ia - intriga, conspira����o
��� engabelar - enganar
��� gorgolejou - produziu ru��do semelhante ao gargarejo
��� fosforescente - que brilha no escuro
��� lampejando - brilhando
��� alcunha - apelido
��� articular - falar, soletrar
��� cofiando - alisando, afagando
��� gabar - vangloriar
��� atordoado - tonto
��� possante - poderoso
��� fogoso - irrequieto, impaciente
��� escarvando - cavando por cima
��� repuxo - chafariz
��� regiamente - ricamente
an�� da Sola tinha se estabelecido na outra extremida
de da Cidade dos Pal��cios Luminosos. E tamb��m tinha grande
freguesia. Mas, assim mesmo, n��o tinha mudado de g��nio. Era
sempre malcriado, sempre mal-humorado. Um belo dia, Man��
da Sola come��ou a perceber que seus fregueses iam desaparecendo.
Por que seria? Indaga daqui, indaga dali, o sapateiro
malvado acabou por descobrir que tinha um rival! Quem seria
o seu rival?
Man�� da Sola era muito orgulhoso para fazer perguntas
a estranhos. Preferiu ir ver por si mesmo. De madrugada, montou
a cavalo e tomou rumo do Lago das ��guas Serenas. Quando
ia s�� aproximando, ouviu uma voz que cantava alegremente:
"Quem nasce, nasce pr'a luta,
De lutar tem o dever.
Combater pela verdade,
Pelo justo combater".
Man�� da Sola deu um tal pux��o na r��dea que o cavalo
empinou. Aquela voz era a do Z�� dos Bichos! E aquela can����o
era a que o sapateiro alegre sempre cantava! N��o havia d��vidas.
Jos�� Alegre tinha conseguido recuperar a vista e salvar-se
da morte. Num relance, Man�� da Sola compreendeu que o rival
que lhe tirava os fregueses era o odiado Z�� dos Bichos! O
malvado estava quase estourando de raiva! Disparou, num galope
desenfreado, para sua casa. Em vez de achar que perdia
os fregueses por ser malcriado, Man�� da Sola pensava:
"- Z�� dos Bichos fez uma tram��ia para me roubar a
freguesia! Aquele espertalh��o sabe engabelar os homens e os
animais! Deixa estar. Ele h�� de me pagar!"
E o malvado entrou logo em a����o.
Alguns dias depois, estava o Z�� dos Bichos �� porta de
sua casa, descansando um pouco, quando reparou que uma
patrulha de soldados vinha se aproximando. Comentou com
um velho ganso, muito seu amigo, que andava sempre perto
dele:
-O que ser�� que vem fazer estes soldados por aqui, Anser��deo?
Anser��deo era o nome do ganso, que esticou o pesco��o e
grasnou, em tom de mau agouro:
- Z�� dos Bichos, aqueles soldados dirigem-se para c��.
0 sapateiro gorgolejou uma risada gostosa e respondeu:
- S�� se for para me encomendar umas botas!
Mas o Anser��deo tinha raz��o. Um dos soldados chegou-
se a Z�� dos Bichos, com a espada desembainhada e um ar
solene. Declarou com voz firme:
- Senhor sapateiro Z�� dos Bichos, est�� preso em nome
do Rei.
Z�� dos Bichos, sempre animado e alegre, disse ao ganso
que grasnava louco de afli����o:
- Sossegue, amigo Anser��deo! Com toda a certeza, h��
um engano! Logo estarei solto.
Dirigindo-se ao soldado, indagou:
-0 senhor se incomoda que eu v�� cantando pelo caminho?
0 soldado, sempre solene, declarou:
- Cantar n��o �� contra o regulamento.
E l�� se foi o Z�� dos Bichos, escoltado como um criminoso,
mas cantando com a alegria duma boa consci��ncia:
"Quem nasce, nasce pr'a luta,
De lutar tem o dever.
Combater pela verdade,
Pelo justo combater"
Levaram o sapateiro �� presen��a do Rei, que morava num
pal��cio magn��fico, todo fosforescente, lampejando ao sol
como se estivesse todo revestido de estrelas. L�� estava um
dos c��lebres pal��cios luminosos que tinham dado nome �� cidade.
Que maravilha!
O Rei estava meio adoentado. Espirrava freq��entemente
e parecia bastante indisposto. Assim mesmo, Z�� dos Bichos
achou o velho soberano extraordinariamente simp��tico. Sua
Majestade ordenou:
- Aproxime-se, sapateiro.
Este obedeceu, inclinando-se at�� o ch��o para saudar o
monarca. O bondoso Rei prosseguiu:
- Seu nome �� Jos�� Alegre, por alcunha Z�� dos Bichos?
- Sim, grandioso Rei! Eu sou o Z�� dos Bichos.
-�� verdade que voc�� se gabou de que �� capaz de fazer
brotar, do ch��o, uma fonte de ��gua, no meu jardim?
Z�� dos Bichos arregalou os olhos e ficou sem f��lego.
Nem p��de articular uma palavra. 0 Rei continuou:
- Sempre desejei ter uma fonte no meu jardim. Se voc��
conseguir tal coisa, ser�� regiamente recompensado.
O Rei come��ou a olhar para Z�� dos Bichos com ar meio
desconfiado. Cofiando, com os dedos cheios de an��is, as belas
barbas brancas, declarou, pensativamente:
- Mas se n��o conseguir nada, ser�� enforcado, para
aprender a n��o se gabar! Dou-lhe vinte e quatro horas para
realizar o milagre!
Z�� dos Bichos continuou mudo! Estava t��o atordoado,
que nem deu por si quando os soldados o levaram de volta at��
sua casa e l�� o deixaram. 0 sapateiro sentou-se �� porta da entrada,
com a cabe��a entre as m��os. S�� tinha um pensamento:
"H�� algu��m que inventou esta grande mentira!..." N��o conseguia
imaginar quem fosse, pois n��o sabia que o Man�� da Sola
tamb��m se tinha estabelecido na Cidade dos Pal��cios Luminosos.
Afinal, acabou por aceitar a situa����o. Paci��ncia! O que
n��o tem rem��dio, remediado fica. Havia de morrer enforcado
... Paci��ncia!
O ganso Anser��deo vinha chegando, bamboleando-se
sobre as pernas curtas, na maior velocidade que podia conseguir.
Grasnou ansioso:
- Ent��o, Z�� dos Bichos! O que foi que houve?
O sapateiro deu um profundo suspiro e respondeu:
- Meu caro Anser��deo, o Rei quer que eu fa��a brotar uma
fonte de ��gua no meio do jardim dele.
O ganso ergueu o comprido pesco��o:
- Isto �� imposs��vel!
Z�� dos Bichos tornou a suspirar.
- Sei disto, Anser��deo. Tenho vinte e quatro horas para
realizar o milagre! E... depois... forca!
O ganso ficou agitad��ssimo. Aconselhou:
- Vamos depressa �� floresta consultar os s��bios animais,
os filhos selvagens da Natureza! Eles sabem tudo!
O sapateiro nem se mexeu do lugar.
- N��o adianta nada, Anser��deo.
O velho ganso agarrou no palet�� do sapateiro com o
bico possante e obrigou-o a acompanh��-lo. L�� se foi Z�� dos
Bichos, arrastado contra a vontade. Quando passavam pelo
Lago das ��guas Serenas, ouviram um tropel de cavalo. Sim!
N��o havia d��vida! Era um cavalo e vinha de encontro a eles! 0
ganso e o sapateiro pararam �� espera do belo e fogoso animal.
Este chegou, parou de narinas ao vento, escarvando o
solo com as patas. Num relinchar alegre indagou:
- Ent��o, n��o me reconhece, Z�� dos Bichos? Eu ia justamente
�� cidade para lhe fazer uma visita!
Z�� dos Bichos, muito triste e preocupado, respondeu:
- Desculpe-me, amigo, mas n��o me lembro de sua pessoa.
0 belo cavalo relinchou uma risada:
- Eu j�� esperava por isto! Eu sou aquele potro que voc��
encontrou h�� tempos. Agora voc�� poder�� montar-me...
Interrompeu-se, reparando na tristeza do sapateiro. Inquiriu:
-O que houve? Por que est�� t��o abatido?
Z�� dos Bichos suspirou:
- Nunca poderei montar em voc��! Vou ser enforcado
amanh��.
- Enforcado?!
Foi o ganso que explicou:
- Algu��m disse ao Rei que o Z�� dos Bichos �� capaz de
fazer brotar uma fonte no jardim do pal��cio.
O sapateiro completou:
-E num prazo de vinte e quatro horas!
Equ��deo n��o demonstrou o menor espanto. Garantiu:
- Pois fique sabendo que n��s, os cavalos selvagens, sabemos
adivinhar onde h�� ��gua.
Z�� dos Bichos n��o se animou.
- Mesmo que haja ��gua, como fazer brotar a fonte em
vinte e quatro horas?
O ganso sugeriu:
- Chamaremos o tatu e lhe pediremos que abra um buraco
bem fundo. E a ��gua h�� de jorrar!
O sapateiro bateu palmas de alegria.
- Vamos, meus amigos! Vamos tentar a sorte! Equ��deo,
vou montar em voc��.
- Com muito gosto!
-E voc��, Anser��deo, v�� chamar o tatu.
- J�� vou indo.
E enquanto o ganso rumava para o mato, Z�� dos Bichos,
montado no Equ��deo, dirigia-se, a galope, para o pal��cio real.
L�� o deixaram entrar, muito respeitosos. O sapateiro declarou:
- Preciso ficar sozinho, com meu cavalo!
Todos se afastaram. Equ��deo p��s-se a andar pelo jardim,
de focinho no ch��o, farejando como se fosse um c��o de ca��a.
Da�� a pouco, ouvia-se um grande reboli��o na portaria do pal��
cio. Homens gritavam:
- Um tatu!... Um tatu passou por aqui, em pleno dia! Vamos
ver se pegamos este tatu! Tatu assado na casca �� um
petisco delicioso.
Ouvindo aquela correria toda, Z�� dos Bichos percebeu
logo que era o Desdentado - este era o apelido que davam ao
tatu - que tinha vindo para ajud��-lo. Correu logo, chamando:
- Desdentado! Desdentado! Estamos aqui!
E levou um enorme susto, pois Desdentado surgiu dum
buraco, bem por baixo dos p��s de Z�� dos Bichos. Com suas
fortes garras, o tatu j�� tinha cavado uma galeria subterr��nea
e chegava junto do seu amigo, s��o e salvo. Enquanto isto os
soldados do rei disparavam-se comentando:
- Qual! Ningu��m �� capaz de ca��ar um tatu sem aux��lio
de c��es.
- Ca��ada aos tatus s�� em noite de luar.
- Mas,se o danado do bicho se meter numa toca,ningu��m
�� capaz de peg��-lo.
-E eu sou louco pela carne de tatu! Como �� gostosa!
O sapateiro, o cavalo e o tatu ficaram bem quietos, �� espera
de que os soldados do Rei voltassem a seus postos, na
portaria do pal��cio. Quando tudo ficou sossegado, Desdentado
tomou a palavra dizendo:
- N��o h�� animal mais ingrato do que o homem! Passo
minha vida comendo vermes, larvas, formigas e cupins! Sou
defensor das plantas! E o homem n��o pode me ver, sem querer
matar-me s�� para satisfazer sua gula! N��o h�� animal mais
ingrato do que o homem!
O Equ��deo nem ouvia aqueles desabafos do tatu. J�� tinha
recome��ado a farejar e a escavar o solo. Z�� dos Bichos
tamb��m estava muito aflito, para dar aten����o ao discurso de
Desdentado. Este sugeriu:
- Amigo Equ��deo, venha farejar aqui, nesta galeria por
onde eu cheguei! Tive a impress��o de que havia ��gua...
Equ��deo nem deixou que o tatu acabasse de falar. Empinou,
deu um relincho de alegria e recomendou:
- Desdentado, cave neste ponto! Fa��a um buraco bem
fundo! �� daqui que vai brotar uma fonte!
Em menos de um minuto, n��o se enxergava mais a grande
coura��a do Desdentado, j�� embaixo da terra. Passaram-se
momentos de grande ansiedade. 0 sil��ncio era completo. J��
nem se ouvia o "vuque... vuque... vuque... " das garras do
tatu abrindo o buraco. De repente!...
- Ch������... o... o��... o����
Sa��a do ch��o um repuxo formid��vel e o tatu subiu como
se estivesse num elevador de grande velocidade. Foi atirado
longe, mas n��o se machucou. E nem que se tivesse machucado!
Estava t��o contente com o sucesso de seu trabalho que
valeria a pena o sacrif��cio! Com o barulh��o que houve, os soldados
do Rei vinham chegando a correr. Desdentado n��o quis
saber de mais nada! 0 ��nico homem em que podia confiar era
o Z�� dos Bichos. N��o lhe convinha que os soldados o vissem!
Era certo que haviam de querer com��-lo assado na casca. E,
por este motivo, o tatu retirou-se de cena, sem mesmo se despedir
do sapateiro. Ningu��m deu pela falta dele! Todo mundo
gritava:
-A fonte! Venham ver a fonte!
J�� se sabe que Z�� dos Bichos foi regiamente recompensado.
O Rei insistiu para que ele viesse morar no centro da cidade,
onde teria mais fregueses. Mas o sapateiro agradeceu
muito, dizendo:
- Vossa Majestade �� muito generoso. Mas eu prefiro ficar
morando perto do Lago das ��guas Serenas, onde est��o
meus maiores amigos, os bichos!
O Rei n��o insistiu, mas ordenou ao sapateiro que viesse
ao pal��cio real, uma vez por m��s, para darem uma boa prosa.
Tudo ia correndo muito bem. Mas...
��� atalaia - vigia
��� gabola - prosa
��� maquina����es - tramas, conspira����es
��� acabrunhado - abatido, triste, aflito
��� afinco - esfor��o, dedica����o
��� reposteiros - cortinas de porta
��� primor - beleza
��� inflex��vel - n��o muda de opini��o, intransigente
O Man�� da Sola estava de atalaia. Quase estourou de
raiva quando viu o sucesso do Z�� dos Bichos. Deixou passar
algum tempo e foi de novo falar com o Rei. Disse:
- Saiba Vossa Majestade que o Z�� dos Bichos, o sapateiro
m��gico, anda dizendo que gostaria de oferecer um presente
�� Rainha. �� um presente lind��ssimo! Z�� dos Bichos gaba-se de
que �� capaz de fazer, em vinte e quatro horas, uma miniatura
deste pal��cio, com tudo o que tem dentro!
0 Rei respondeu:
- Vou mandar chamar o Z�� dos Bichos! A Rainha h�� de
ficar encantada com um presente destes...
Cofiando a barba, com os dedos cheios de an��is, o soberano
acrescentou:
- Mas, se o Z�� dos Bichos andar se gabando �� toa, morrer��
na forca! N��o quero gente convencida e gabola, neste
meu reino.
Man�� da Sola saiu do pal��cio radiante de alegria. Desta
vez, o maldito sapateiro alegre n��o escaparia da corda! E foi
se meter em casa, escondido como um criminoso, �� espera do
resultado de suas maquina����es.
E tudo aconteceu como da outra vez: os soldados prenderam
Z�� dos Bichos e levaram-no �� presen��a do Rei, que lhe
deu vinte e quatro horas para fazer uma miniatura do pal��cio,
com tudo quanto havia dentro! O infeliz sapateiro ficou muito
acabrunhado. Resolveu esperar a morte no meio dos seus
amigos, em pleno bosque. Preveniu os soldados:
- N��o vou ficar em casa. Podem procurar-me no bosque!
Z�� dos Bichos foi para o meio do mato, deitou-se embaixo
duma ��rvore e l�� ficou, muito triste, disposto a distrair-se
ouvindo as conversas dos bichos. Equ��deo, seu fiel amigo, ficou
perto dele e procurava levantar-lhe o ��nimo. Relinchava:
- Z�� dos Bichos, voc�� devia tentar fazer alguma coisa!
Suspirando, o sapateiro repetia pela cent��sima vez:
- N��o adianta, Equ��deo.
O cavalo insistia, impaciente:
- Deve haver algum meio! Assim como foi poss��vel fazer
brotar a fonte, tamb��m pode ser poss��vel fazer uma miniatura
do pal��cio!
Neste momento da conversa, saiu de dentro duma flor
uma abelhinha. Aproximou-se do sapateiro indagando, muito
curiosa:
-O que foi que houve, Z�� dos Bichos?
Este esclareceu:
- Desta vez, o Rei quer que eu fa��a uma miniatura do
pal��cio real, com tudo o que tem dentro!... E num prazo de
vinte e quatro horas!
A abelhinha p��s-se a zumbir, alegremente:
- S�� isto?... �� muito f��cil! Vou conferenciar com a colmeia!
Para n��s, ser�� uma brincadeira, um trabalho destes.
Equ��deo relinchava:
- N��o disse? N��o disse?
0 sapateiro estava mudo de espanto. A abelhinha continuou:
- Fique a��, deitado. Vou providenciar. Antes de vinte e
quatro horas, voc�� ter��, em cera, a miniatura do pal��cio real.
E disparou num v��o veloz para a colmeia,que era a mesma
que Z�� dos Bichos tinha salvado, havia tempos atr��s.
Quando a abelhinha relatou o perigo que amea��ava o sapateiro,
toda a colmeia se alvoro��ou. A Rainha logo destacou um
grupo de Obreiras para irem fazer uma inspe����o no pal��cio
real. L�� se foram elas, ligeiras como o vento. Entraram por
uma janela aberta, examinaram o pal��cio todo, tintim por tintim.
Depois, todas come��aram a trabalhar com maior afinco.
Houve um momento de grande afli����o. N��o havia mais cera!
Foi preciso pedir emprestado numa colmeia vizinha. Mas, para
encurtar a hist��ria, doze horas depois, a miniatura do pal��cio
real estava pronta. N��o faltava detalhe algum. Nem mesmo
uma imita����o das cortinas e reposteiros, tecidos em folhas de
roseira.
Quando a abelhinha trouxe Z�� dos Bichos para ver aquele
primor, o sapateiro chegou a chorar de emo����o. Com grande
cuidado, colocou a miniatura sobre uma bandeja, montou
no Equ��deo e levou o precioso presente para o Rei da Cidade
dos Pal��cios Luminosos. Tudo fora feito em menos de vinte e
quatro horas.
O Rei ficou t��o contente que exigiu que Z�� dos Bichos,
em pessoa, entregasse o presente �� Rainha e convidou-o para
jantar em sua mesa. Era a maior honra que o Rei podia conceder.
O sapateiro tomou lugar ao lado da Princesa Raio de Lua,
assim chamada por ter a pele mais clara e mais bonita que at��
hoje se viu no mundo. A princesinha foi muito am��vel e con
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versou muito com Z�� dos Bichos, pedindo-lhe insistentemente
que lhe ensinasse a linguagem dos animais. Desta maneira Z��
dos Bichos passou de sapateiro a professor. E professor duma
linda princesa real! 0 Rei exigiu que ele ficasse morando no
pal��cio.
Um dia, o Rei recebeu uma carta, sem assinatura.
Dizia assim:
"Vossa Majestade deve ordenar ao Z�� dos Bichos que
procure a coroa de brilhantes desaparecida no tempo.de
vosso real av��."
Mais nada! Logo se v�� que aquilo era mais uma maldade
do perverso e invejoso Man�� da Sola. O Rei ficou muito entusiasmado
com a id��ia. Foi conversar com a Rainha:
- Minha real esposa, o Z�� dos Bichos �� bem capaz de
achar a coroa que meu defunto av�� perdeu n��o se sabe onde.
A Rainha protestou:
- Imposs��vel, meu real esposo. Como �� que um homem
pode achar uma coisa perdida n��o se sabe onde?
O Rei, que era esp��rito de contradi����o, declarou:
- Se o Z�� dos Bichos achar a coroa, casar�� com nossa filha,
a Princesa Raio de Lua. Mas, se n��o achar, ser�� expulso
deste reino! Quem fez dois milagres, s�� n��o faz mais um se
n��o quiser!
A Rainha n��o disse mais nada. Bem sabia que o Rei era
muito bom de cora����o, mas muito teimoso. Naquela noite, ao
jantar, o Rei contou �� Princesa Raio de Lua que tencionava cas��-
la com Z�� dos Bichos, caso este achasse a coroa perdida.
O Rei, cofiando a barba com os dedos cheios de an��is,
terminou:
- Mas, se o Z�� dos Bichos n��o achar a coroa, ser�� expulso
deste reino!
A princesinha, chorando, pediu ao seu augusto pai que
tivesse compaix��o do bondoso sapateiro. Mas o Monarca estava
inflex��vel:
- Ou o Z�� dos Bichos acha a coroa, ou ser�� expulso do
meu reino. Quem fez dois milagres, bem pode fazer mais um.
Dou-lhe um m��s de prazo para me devolver a j��ia que meu
av�� perdeu!
Raio de Lua foi quem comunicou a Z�� dos Bichos a triste
not��cia. O sapateiro co��ou a cabe��a, muito pensativo:
- H�� algu��m que me deseja mal! Quem ser��?!
Mas ele n��o podia descobrir que era o Man�� da Sola.
Raio de Lua respondeu:
- N��o sei quem seja, Z�� dos Bichos. Meu pai n��o me
contou nada. Mas voc�� tem de fazer o poss��vel para achar a
coroa.
- Por que, formosa Princesa?
Esta ficou vermelha, baixou os olhos e murmurou:
- Primeiro, porque n��o quero que voc�� saia deste reino...Segundo,
porque... porque voc�� casar�� comigo, se achar a coroa
!
Z�� dos Bichos teve um sobressalto e ficou tremendo dos
p��s �� cabe��a.
- Princesa, quereis mesmo casar-vos comigo?
Ela ficou ainda mais vermelha e afirmou:
- Quero, sim!
- Pois ent��o hei de mover c��us e terra! Hei de achar esta
coroa perdida! Meus amigos bichos h��o de me ajudar. �� formosa
Princesa, hei de realizar este sonho imposs��vel!
E ajoelhou-se aos p��s de Raio de Lua, beijando-lhe, respeitosamente,
a orla do rico vestido de brocado.
Mas a coisa era mais f��cil de dizer do que de fazer. Z��
dos Bichos consultou as borboletas, os passarinhos, os tatus,
as corujas, os morcegos e toda a bicharada. Levou mais de
uma semana fazendo inqu��ritos, sem resultado algum. J�� estava
meio desanimado. Sentou-se, uma tarde, �� beira do lago,
conversando com os patos, os gansos e os cisnes. Um cisne,
muito velho, aproximou-se do sapateiro e pediu-lhe uma conversa,
a s��s. Com ar solene, grasnou, confidencialmente:
- Voc��, Z�� dos Bichos, devia consultar os patos selvagens.
H�� muitos anos que eles v��m hibernar por aqui. Talvez
eles saibam de alguma coisa! Dizem que o defunto av�� do Rei
da Cidade dos Pal��cios Luminosos perdeu a preciosa coroa
numa ca��ada aos patos selvagens!
0 sapateiro estremeceu, dizendo:
- Amigo cisne, por que n��o me disse isto h�� mais tempo?
- Porque era segredo, Z�� dos Bichos. Os pactos selvagens
me obrigaram a jurar que n��o contaria a ningu��m. Mas... como
�� para o seu bem... eu...
Z�� dos Bichos acariciou a penugem macia do cisne.
- Sossegue... eu n��o direi nada aos patos selvagens que
foi voc�� quem me deu esta id��ia.
Restava agora ver se os patos selvagens estariam dispostos
a contar o seu segredo. A ocasi��o era oportuna. Era
tempo de muda das penas e os patos selvagens n��o podiam
voar. Muito ariscos, viviam separados das outras aves, numa
lagoa, no meio da floresta. Z�� dos Bichos sabia muito bem
onde encontr��-los. Montou no Equ��deo e galopou para o recesso
da mata, seguindo o Grande Rio. N��o tardou a ouvir a
algazarra das aves, divertindo-se na lagoa. Sofreou o cavalo,
apeou e recomendou ao Equ��deo:
- Fique a��. Vou, sozinho, falar com os patos selvagens.
Z�� dos Bichos avan��ou com toda cautela, a passos lentos,
para n��o assustar os animais. P��s-se a cantar a can����o
que todos os bichos reconheciam como a dele, seu grande
amigo e defensor:
"Quem nasce, nasce pr'a luta,
De lutar tem o dever,
Combater pela verdade,
Pelo justo combater."
Ouviu logo um cochicho discreto no meio da folhagem.
Z�� dos Bichos n��o se mexeu. Continuou cantando at�� que
apareceu um pato selvagem; bonito como um cisne e majesto
so como um rei. Com um ar solene, grasnou, apresentando
-se:
- Sou Anat��deo, o Rei dos Patos Selvagens. J�� o conhecemos,
Z�� dos Bichos. Sua fama de amigo dos animais chegou
at�� o nosso retiro. O que deseja de n��s?
- Majestoso Anat��deo, estou em apuros. Recorri a todos
os bichos da mata e nenhum p��de ajudar-me. Faltava-me s��
recorrer aos patos selvagens.
Anat��deo corcoveou o lindo pesco��o como quem est�� interessado
e indagou:
- Em que �� que poderemos servi-lo?
Com palavras r��pidas, Z�� dos Bichos contou sua hist��ria.
Contou que a princesinha Raio de Lua queria casar-se com ele
e que isso dependia de ele achar a coroa real perdida h�� muitos
e muitos anos. E contou tamb��m que seria obrigado a sair
da Cidade dos Pal��cios Luminosos, caso n��o conseguisse devolver
ao Rei o precioso objeto.
Com o pesco��o empinado, Anat��deo declarou:
- Z�� dos Bichos, n��s, os patos selvagens, sabemos onde
est�� a coroa. Mas juramos nunca contar a ningu��m este segredo.
0 assunto �� muito grave. Preciso convocar todos os
meus s��ditos. Espere a��! Dentro de meia hora eu virei trazer-
Ihe uma resposta.
0 sapateiro aquiesceu com um gesto de cabe��a e sentou-
se no ch��o para esperar.
��� fatal - determinada, marcada
��� perito - ��gil
quela meia hora parecia n��o ter mais fim. Z�� dos Bichos
pensava em Raio de Lua, t��o bonita! Como lhe custaria
ser obrigado a abandonar, para sempre, a Cidade dos Pal��cios
Luminosos. Rogava aos c��us que os patos selvagens fossem
generosos para com ele.
Decorrida a meia hora, Anat��deo veio chegando com seu
ar solene e majestoso, seguido pelo bando de patos selvagens,
seus s��ditos. Marchavam em fila, bamboleando-se, num sil��ncio
profundo. Z�� dos Bichos tremia dos p��s �� cabe��a, la ser
decidido o seu destino.
Anat��deo parou diante dele, com o longo pesco��o bem
esticado.
- Z�� dos Bichos, o falecido Rei, av�� do soberano atual,
era um grande ca��ador de patos selvagens. Nossa vingan��a foi
esta: assustamos o cavalo em que ele montava! Ele caiu e a
coroa rolou pelo ch��o. Mas n��o podemos quebrar nosso juramento
contando qual o lugar onde est�� a coroa. Como voc�� ��
um grande amigo de todos os animais, e como desejamos que
se case com a Princesa e seja futuramente Rei deste pa��s, diremos
apenas isto: -a coroa perdeu-se perto da lagoa! �� o mais
que podemos fazer!
E Anat��deo afastou-se com o bando todo, desta vez em
desordem e numa algazarra infernal. Z�� dos Bichos voltou
para junto de Equ��deo. Este relinchou, ansioso:
-E ent��o? Os patos selvagens contaram onde est�� a coroa?
O sapateiro respondeu:
- Contaram e n��o contaram!
- Como?!
- Disseram apenas que a coroa se perdeu na lagoa...
Equ��deo nem esperou o fim da frase. Deu um pinote de
alegria e relinchou:
- Est�� salva a p��tria! Voltemos depressa ao Lago das
��guas Serenas, antes que escure��a!
Z�� dos Bichos muito admirado, perguntou:
- Para qu��?
O cavalo esclareceu num relinchar afobado:
- Depressa! Antes que escure��a, os gansos, os patos e
os cisnes do lago h��o de descobrir onde est�� a coroa!
O sapateiro ficou entusiasmado:
-�� mesmo! N��o h�� nada melhor que se ter um amigo
cavalo!
Da�� a pouco, a floresta agitava-se num movimento colossal.
Todos os patos, gansos e cisnes queriam ajudar a Z�� dos
Bichos a achar a fatal coroa. 0 cisne velho aproximou-se do
sapateiro, sorrateiramente, e pediu:
- Quero falar a s��s com voc��, Z�� dos Bichos.
Era coisa f��cil, pois os outros todos estavam muito entretidos
a correr em dire����o �� lagoa dos patos selvagens. 0
cisne velho confidenciou bem baixinho:
- Z�� dos Bichos, eu sei onde est�� a coroa. Minha m��e
contou-me toda a hist��ria. O Rei vinha voltando da ca��ada.
Caiu do cavalo e ficou gravemente ferido. Ningu��m reparou
que a coroa lhe tinha ca��do da cabe��a. A coroa ficou ali no
ch��o esquecida. Choveu muito naquela noite. As ��guas da lagoa
subiram. A coroa foi arrastada para o fundo. Estou muito
velho para mergulhar. Al��m do mais, n��o quero que os patos
selvagens desconfiem que lhe contei esta hist��ria. Qualquer
dos gansos far�� isto por voc��, Z�� dos Bichos. A coroa est�� atolada
no fundo da lagoa, perto daquela ��rvore de folhas avermelhadas.
E o cisne velho, depois deste longo discurso, meteu-se
no meio dos outros, para que os patos selvagens n��o soubessem
que ele tinha revelado o segredo ao Z�� dos Bichos. Este
logo tomou a dire����o as pesquisas. O trabalho n��o foi nada
f��cil. Tiveram de recorrer a um mergulh��o-ca��ador, perito em
ca��ar debaixo das ��guas da lagoa. Com um ou dois merguihos,
a ave conseguiu arrancar a coroa do fundo da ��gua. Z�� dos Bichos
ficou t��o comovido que se p��s a chorar de alegria! L�� estava
a preciosa coroa, toda suja de lama sem que lhe faltasse
nada. Ali mesmo, a coroa foi lavada e esfregada com todo o
cuidado e todos estavam embasbacados. Nunca tinham visto
uma coroa t��o bonita, cheia de brilhantes, rubis e esmeraldas.
J�� era de noite, quando Z�� dos Bichos chegou ao pal��cio
do Rei. Mas, como o assunto era muito importante, n��o hesitaram
em acordar o Monarca. Da�� a pouco, estava tudo em
polvorosa. A Princesa Raio de Lua quase morreu de alegria! A
Rainha abra��ava e beijava Z�� dos Bichos como se fosse um
seu filho que voltava duma campanha perigosa. 0 Rei ficou
t��o entusiasmado que fez o casamento da Princesa com o Z��
dos Bichos naquela mesma noite e decretou uma semana de
feriados, para grandes festejos.
��� subterr��neo - debaixo da terra
o Man�� da Sola? Vivia escondido num subterr��neo.
Ele tinha um criado que lhe trazia a comida* e lhe dava not��cias
dos acontecimentos. E todos os dias o Man�� da Sola perguntava:
-0 sapateiro Z�� dos Bichos j�� foi enforcado?
E o criado respondia:
- Ainda n��o, meu senhor.
Naquela manh��, quando o criado lhe servia a comida,
Man�� da Sola fez a pergunta de sempre, com a boca cheia:
- Z�� dos Bichos j�� foi enforcado?
O criado respondeu:
- N��o, meu caro senhor. 0 sapateiro Z�� dos Bichos casou-
se com a Princesa Raio de Lua e h�� de ser o Monarca deste
pa��s, quando morrer o nosso Rei.
Man�� da Sola teve uma surpresa t��o grande que se engasgou
com a comida que tinha na boca e morreu, na mesma
hora! Outros dizem que ele n��o morreu engasgado e, sim, que
morreu de raiva. E como ele era muito malvado, ningu��m chorou
sua morte, tanto mais que a cidade estava em festa.
Todo o mundo cantava e dan��ava, celebrando as bodas
de Z�� dos Bichos com a linda Princesa Raio de Lua. Mas, de
todos, os que estavam mais contentes eram os bichos. Como
presente de casamento, o sapateiro tinha pedido ao Rei uma
ordem, para que ficasse proibido, sob pena de pris��o, maltratarem
os animais.
EDITORA DO BRASIL S/A
De: Bons Amigos lançamentos
o Grupo Só Livros com sinopses tem o prazer de lançar hoje mais uma obra digital para atender aos deficientes visuais.
O Alegre Sapateiro Zé dos Bichos - Virgínia Lefevre
Livro doado e digitalizado por Fernando dos Santos
Sinopse:
Zé dos bichos é um alegre menino que consegue conversar com os bichos. Anexo neste e-mail.
Lançado anteriormente:
Dom Quixote - Cervantes lançado anteriormente:
Lançamento : Só Livros com sinopses
1)https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses
Grupo Parceiro
Blog:
Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos e Só livros com sinopses para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais
e como forma de acesso e divulgação para todos.
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros.
Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras.
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