Arestas do Passado
Pelo Esp��rito
��ngela
Arestas do Pasado
Valdemir Pereira Barbosa
Copyright �� 2000
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Jos�� Carlos de Carvalho
Coordena����o Editorial
Jos�� Renato de Carvalho
Supervis��o Editorial
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Capa
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Revis��o Geral
Rute Villas Boas
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Sum��rio
Pref��cio "PALAVRAS MINHAS"
5
. PRE��MBULO
7
. AVOLUMANDO D��BITOS
9
. JUNTOS NOVAMENTE
19
. MUDAN��AS E PROVA����ES
23
. DESCOBERTAS CONFORTADORAS
43
. DOUTRINA����O OPORTUNA
69
. REVESES PROVACIONAIS
73
. A DESPEDIDA
93
. AINDA OS REVESES
97
. CONVITE �� FRATERNIDADE
105
. DIFICULDADES �� VISTA
111
. O INESPERADO ACONTECE
121
. DANDO CONTINUIDADE
135
. MISS��O CUMPRIDA
141
Arestas do Passado
Pref��cio
PALAVRAS MINHAS
Ao apresentar esta despretensiosa obra, na qual n��o h��
nada de extraordin��rio, pois n��o difere em nada das que o(a)
leitor(a) amigo(a) j�� n��o tenha lido, n��o tenho inten����o de fazer
literatura, pois desta as bibliotecas e livrarias esp��ritas est��o
repletas. E com livros altamente belos e instrutivos, seja em forma
de romance e, ou, doutrin��rios.
Durante as psicografias habituais, que at�� ent��o vinha
recebendo, notei numa das escritas sistem��ticas, que estava
grafando no papel algo diferente do que de costume, uma vez
que, at�� a presente data, s�� recebera mensagens de cunho
evang��lico-doutrin��rias e poemas.
Por��m, como mencionei acima, n��o h�� nada de novidade
no conte��do deste romance, que se constitui de alguns
apontamentos sobre a Lei de Causa e Efeito, do amor de uns
para com os outros e da moral crist��. Mesmo assim, desejo que
os leitores, amantes da boa literatura, apreciem e encontrem neste
humilde trabalho, um bom motivo para ler.
Os meses durante os quais passei psicografando tal
narrativa, ap��s algumas interrup����es de ordem pessoal, foram
para mim de muitas emo����es e expectativas. O fato de querer
saber o que iria acontecer na p��gina seguinte e como seria o
t��rmino da historia, me levou a viver as cenas dos seus
personagens.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Entretanto, pe��o que os Benfeitores que me assistiram
durante o transcurso deste ditado, perdoem-me, se acaso eu tiver
influenciado, com tal ansiedade, no enredo e no desenrolar da
mensagem em si, quando procurei ser o mais imparcial poss��vel,
diante da escrita, da qual sou apenas mero co-participante.
Agrade��o a Deus e a Jesus por me haverem possibilitado
servir de alguma forma, na condi����o de aprendiz do Evangelho
que ainda sou. Apesar das dificuldades de toda ordem e dos
conflitos ��ntimos, querendo ser fiel ao compromisso assumido,
o Amigo Celeste, M��dium de Deus, permitiu que M��os Amigas
fossem-me estendidas, mesmo sem o saber. Os momentos de
paz e emo����o vividos durante a execu����o desta, suplantaram
qualquer problema que tenha vivido.
A Deus, primeiramente, devo o que tenho recebido e aos
Amigos Espirituais agrade��o tamb��m, pela presen��a am��vel com
que me presentearam, em particular ��quela que me ditou esta
singela obra, cujo nome est�� gravado em meu cora����o.
Ao Esp��rito da veneranda Angela, sou imensamente grato
por me haver escolhido para a conclus��o deste trabalho singular.
Pela paci��ncia, pelo carinho, pelo amor que a mim tem
dispensado.
Quisera eu ter sido mais male��vel para o que me
transmitia, acompanhando seu cabedal de conhecimento e de
profundo amor crist��o. No entanto, agrade��o pelo ensejo de
gozar de sua companhia, de crescer e resgatar um passado atrav��s
de t��o sublime faculdade, aprendendo sempre de perto com t��o
nobres companheiros, atrav��s da Doutrina Esp��rita, sob a ��gide
do Evangelho de Jesus Cristo.
Que a paz seja com todos!
Valdemir Pereira Barbosa
Arestas do Passado
1. PRE��MBULO
Noite a dentro Ernesto, costumava enfileirar-se nos
prazeres da vida carnal, buscando a felicidade nas divers��es
fr��volas e, por vezes, imorais.
No aconchego do lar que erguera, a esposa Joviniana,
abnegada companheira, cuidava do filhinho Maur��cio, de dois
anos de idade, enquanto que na charrua da delinq����ncia juvenil,
que ainda habitava o ��ntimo de Ernesto, ele deleitava-se, enfim,
em noitadas, deixando em sua casa a jovem esposa e Maur��cio,
que veio como filho, cobrar, do impetuoso verdugo, o amor
dantes n��o recebido.
Meses se passaram. Ernesto, durante o dia trabalhava, mas
ap��s os compromissos do trabalho que lhe garantia o sustento
da fam��lia, demandava-se com os amigos de copo e de fanfarrice,
esquecendo e negligenciando os compromissos do lar, como pai
e esposo.
A doce Joviniana, anjo querido, veio encontrar-se com
Ernesto novamente, para poder ajud��-lo, dando-lhe o seu amor,
j�� que no passado o tra��ra com seu pr��prio amigo, ao qual
precedeu no mundo espiritual, depois de ter adquirido uma
doen��a que lhe corroeu as entranhas.
Depois do infeliz epis��dio do adult��rio, ambos se
separaram, depois de quase se matarem um ao outro.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Ernesto, por sua vez, n��o ag��entando a dor da trai����o da
mulher amada, chegou ao abismo da pertuba����o, e acabou por
enforcar-se.
S��culos se passaram. Hoje, os c��njuges do pret��rito est��o
reunidos novamente, mas trazem os compromissos de um para
com o outro, para que suas d��vidas sejam agora resgatadas pelos
la��os do amor e da abnega����o, atrav��s da expia����o conjugal.
Arestas do Passado
2. AVOLUMANDO
D��BITOS
Raiara o sol pela manh��, no clarear de um novo dia.
A estrela de quinta grandeza despertava, por detr��s das
montanhas que cercavam a cidade naquele ano de 1.638. Cidade-
col��nia, onde o cultivo principal era o plantio nas lavouras de
trigo, que mantinham aquela pequenina e pacata cidade ao sul
da It��lia.
Malaquias Petrone, homem robusto, trazia estampado em
sua face uma express��o de pr��spero comerciante, sisudo, severo
e intransigente em suas atitudes.
Havia conquistado seus bens tirando uma boa parte de
Ant��nio, outro comerciante, que emprestara alguma soma em
dinheiro de Malaquias, para cobrir as despesas do seu armaz��m,
o qual j�� estava entrando em fal��ncia, por n��o conseguir mais
saldar outros d��bitos que fizera para salvar o ��nico patrim��nio
que possu��a.
Malaquias Petrone, vendo que Ant��nio n��o tinha com
que pagar, ap��s meses de espera, procurou tomar o estabelecimento
do amigo, deixando-o sem o devido trabalho honesto para
alimentar a sua prole.
Por��m, o que restara no armaz��m n��o cobria os juros e os
dividendos da quantia exuberante que Ant��nio lhe devia.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
N��o se contentou com isto devido aos longos meses de
espera para o recebimento do empr��stimo e procurou, junto ��s
autoridades locais, tirar-lhe tamb��m a casa, justificando o
pagamento dos juros acumulados.
A autoridade identificada com a cobi��a e a impiedade do
mandat��rio Malaquias, deu apoio integral, for��ando Ant��nio a
entregar o que tinha. Caso n��o o fizesse, encerr��-lo-ia na pris��o,
dizendo-se em cumprimento �� lei.
Ant��nio recorre �� sensatez e �� benignidade de ambos:
��� Dr. Malaquias e Sr. Afonso, como vou fazer para
sustentar minha fam��lia? Tenho dois filhos e uma esposa doente,
que precisa tomar rem��dios todos os dias. Como farei para pagar
o aluguel de uma moradia, sendo que j�� lhe entreguei o meu
armaz��m e n��o tenho de onde tirar mais rendimentos? Como
podem os senhores, que h�� muito me conhecem, tirar-me at��
minha casa, o ��nico bem que me restou para o aconchego dos
meus?
Os amigos, comerciante e autoridade, que dizia impor e
fazer a lei e a ordem naquela cidade provinciana, mostraram-se
irredut��veis perante o lamento e a amargura de um pai de fam��lia,
que acabava de perder tudo por causa de uma d��vida, que poderia
ser paga, caso n��o houvesse tantos gastos com a enfermidade da
esposa e n��o tivesse feito empr��stimos t��o altos, muito al��m de
suas possibilidades de saldo.
Malaquias, com aquele ar de homem autorit��rio e sempre
temido pela comunidade, respondeu sem piedade:
- Quando n��o se paga o que se deve, pela lei penhoram-
se os bens que o devedor tenha, para que pessoas bondosas e
honestas como eu, n��o fiquem no preju��zo.
Na realidade, Malaquias Petrone sentia inveja descabida
de Ant��nio, que era visto por todos com muita estima. Sempre
desejara o com��rcio de Ant��nio, s�� que nunca conseguiu
compr��-lo. Ant��nio dizia n��o ter pre��o, pois o havia levantado
com muito sacrif��cio e dependia do mesmo para viver.
Arestas do Passado
Ant��nio e fam��lia assim perderam tudo: o armaz��m e a
pequenina casa, simples, mas aconchegante. Foram avaliados
no valor do d��bito, que era inferior ao valor real dos dois im��veis.
Quem saiu ganhando com isto foi Malaquias.
A fam��lia desapropriada, por sua vez, veio a depender da
ajuda de seus verdadeiros amigos, ou seja, viviam de favores,
pelo menos no tocante ao pouso.
Vendera alguns m��veis para ajudar na despesa da
alimenta����o e para continuar o tratamento de sua esposa.
Mas o tempo �� o melhor ant��doto para todos os males.
Uns fazem mal a este ou ��quele sem se darem conta de que
outros far��o o mesmo ou talvez pior consigo.
No lar de Malaquias a vida era farta. Agora de posse de
dois com��rcios, os maiores da cidade, suas condi����es de riqueza
eram cada vez maiores. A autoridade m��xima da cidade, seu
bra��o direito, o melhor amigo, era freq��entador ass��duo de sua
mesa farta e de seus logros sociais.
A esposa de Malaquias Petrone, linda mulher de cabelos
negros e encaracolados, era a menina dos seus olhos. Todos a
admiravam pela sua delicadeza e beleza pl��stica. O Dr.
Malaquias, tal como era conhecido na cidade, sentia-se um rei
ao lado da sua rainha do lar.
Afonso, o homem da lei, vivia �� solta dentro de sua casa.
No entanto, Malaquias n��o sabia da cobra trai��oeira que tinha
como amigo. Afonso, como todo ser imperfeito, trazia as suas
fraquezas e tinha os seus dotes de homem sedutor.
Ant��nio, o infeliz comerciante, pressionado por uma
d��vida, para n��o se ver detr��s das grades de ferro, entregara tudo
que possu��a nas m��os dos parceiros inveterados de amor-pr��prio
e ambi����o.
N��o tendo mais condi����es de reerguer um outro
estabelecimento, foi ��s lavouras de trigo sentir como antes o
queimar dos raios do sol, para que a fam��lia pelo menos pudesse
viver sob um teto, mesmo que emprestado.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
N��o demorou muito e sua doce companheira veio a
desencarnar. N��o resistira �� enfermidade que vinha lhe tirando
as for��as, j�� h�� v��rios anos. Ficaram Ant��nio e os filhos.
Tempos depois, ele veio a saber que trabalhava no trigal
de seu arqui-advers��rio Malaquias. Quando este outro soube
que Ant��nio era um de seus empregados, ordenou que
dobrassem suas horas de trabalho, sem regalias.
Por��m, Ant��nio n��o ag��entou, n��o pelo trabalho, mas por
saber que estava servindo agora ao seu maior inimigo.
Indignado diante do quadro humilhante em que se
achava, foi ao encontro da perturba����o, do ��dio e da triste
realidade que vivia at�� ent��o.
Necessitando garantir alimento aos filhos, foi cobrar do
verdugo a quantia de que era propriet��rio por direito, j�� que se
despedira do emprego, preferindo ficar sem fazer nada a servir
algu��m que a sua pr��pria vida arruinara.
Procurou o capataz para uma conversa com o indesej��vel
patr��o, mas este, conhecendo a tram��ia de Malaquias, procurou
dissuadir Ant��nio de tal encontro.
Ant��nio, por sua vez, pede ent��o, que lhe sejam pagos os
dias de trabalho, mas o capataz nega o acerto de contas, pois o
m��s corrente ainda n��o vencera.
��� E da�� ?��� indaga Ant��nio ��� restitua-me os dias em que
trabalhei, n��o quero outra coisa de seu patr��o, s�� estou pedindo
o que me pertence por direito.
��� Caro Ant��nio, - retrucou, sarc��stico, o capataz -, o
senhor tem de cumprir o restante do m��s, caso contr��rio n��o
poder�� receber nada.
��� Como nada ? ��� perguntou o injusti��ado trabalhador ���
Eu simplesmente n��o quero mais trabalhar para o Dr.
Malaquias, mas preciso do dinheiro, apesar de que nem este
gostaria de ter, pois vem de fontes de um homem desonesto.
Arestas do Passado
Aquele desabafo era o que o capataz queria ouvir, mais
um bom motivo para n��o pagar ao pobre homem, que teve a
vida revirada por causa da cobi��a e ambi����o de Malaquias
Petrone.
N��o muito distante dali, na casa dos Petrone, sua esposa
Ceciliana recebia Afonso. Este, dizendo estar �� procura de
Malaquias, que se ausentara em viagem r��pida ��s cidades
vizinhas, vendendo, por antecipa����o, a safra ainda n��o toda
colhida.
��� Sr. Afonso, como vai o senhor ? ��� Ceciliana ficava a s��s
em casa, uma vez e outra sa��a com a auxiliar dom��stica para
fazer compras ou, simplesmente para um passeio na cidade.
O desejo da carne a inflamava por dentro. Mulher jovem
e bonita, trazia os anseios e os desejos naturais de mulher, que
por efeito dos muitos compromissos do marido, n��o lhe eram
satisfeitos.
Afonso, homem tido como a lei, n��o empregava esfor��os
para n��o olhar para as mulheres com olhos desejosos de prazer
mundano, para a simples satisfa����o pessoal de prazeres, em
particular quando as parceiras eram mulheres comprometidas.
No apogeu da indec��ncia e do amor-pr��prio o cafezinho
gentilmente oferecido, passou a ser como uma bebida
estonteante, que embriaga e amortece o bom-senso e a raz��o
moral.
Entre suas entradas e sa��das da casa dos Petrone, Afonso
j�� havia olhado para a bela e jovem senhora de maneira mais
apaixonada do que amigavelmente fraternal.
Ceciliana tamb��m vira no mesmo, o homem que n��o
conseguira ver mais no pr��prio esposo, por causa das suas
constantes aus��ncias matrimoniais.
Ao lado de ambos, um vulto do baixo-astral os envolvia,
pelos pensamentos emitidos de um para com o outro,
incentivando o adult��rio. A entidade ali situada, fora atra��da
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
pelos pensamentos anteriores de Afonso, que h�� tempos pensava
na esposa do amigo, como se fosse sua.
No entrela��ar dos esp��ritos inferiores, h�� sempre a
preponder��ncia do livre-arb��trio e a sintonia de cada cora����o.
Num impulso, os dois chocam-se corpo a corpo e o
envolvimento carnal acontece.
A trai����o da esposa e do amigo de confian��a se torna
patenteada.
No ��pice da insanidade moral, s��o surpreendidos pelo
temido Malaquias, que a comunidade respeita e obedece, como
se fosse o soberano, daquela cidade provinciana.
Sempre de armas a tiracolo, no pavor do que vira e, n��o
conseguindo acreditar, o ato impulsivo se fez presente.
De arma em punho, Malaquias debalde desferiu tiros nos
amantes, sem que causasse danos em Afonso, que astuto e ��gil,
conseguiu se desvencilhar dos golpes de Malaquias. Este,
enfurecido, investiu contra a vida da pr��pria esposa, mas
Ceciliana acabou sendo socorrida por Afonso, que golpeou o
esposo tra��do fazendo-o a desmaiar.
Ceciliana saiu porta a fora no desespero da culpa e do
medo, muito mais pelo medo, pois s��o poucos os que se voltam
de imediato para um exame da consci��ncia. S�� a dor �� capaz de
provocar o racioc��nio l��gico, no despertar de um cora����o errante.
Tais dores morais levam muitos ao suic��dio ou ao
isolamento na inten����o de protegerem-se das reprova����es da
sociedade. Podemos fugir das pessoas, mas nunca de n��s
mesmos. No tribunal da consci��ncia, encontramos o juiz e o
acusador. O defensor, s��o os comportamentos morais bem
utilizados a pesar na balan��a da lei universal, que s�� inclina
para um lado: o do amor.
Dias passaram-se e Ceciliana, foragida, refugiara-se em
casa de parentes, sendo obrigada pela for��a das circunst��ncias a
contar a verdade.
Arestas do Passado
Mesmo assim n��o lhe faltou apoio, mesmo que este n��o
estivesse aliado �� aprova����o do adult��rio.
Afonso n��o mais procurara Ceciliana, porque n��o sabia
onde ela se encontrava.
Os rumores e cochichos estavam entre os cidad��os
daquelas cercanias. O homem da lei havia quebrado a lei, em
particular a lei Divina: "n��o cometer��s adult��rio".
Malaquias Petrone procurou a esposa pelos quatro cantos
da cidadela e esperava a hora oportuna para o ajuste de contas
com o amigo trai��oeiro.
Dramas da inc��ria e imoralidade humana, d��vidas e
ac��mulos nas expia����es que se vinculam ao livro de todo esp��rito
encarnado.
Dinheiro, ambi����o, poder e trai����o s��o degrada����es para
todos aqueles que t��m a passagem terrena como escola a ensinar
o sentido do verdadeiro amor �� lei natural, �� lei Divina.
Malaquias, por��m, esquecera-se dos parentes de Ceciliana
que h�� muito n��o faziam parte da comunh��o familiar do casal.
Por ser Malaquias um homem prepotente e orgulhoso, os
parentes de sua esposa mantinham-se �� distancia; gente simples,
mas muitos amorosos e caritativos. De repente, o inesperado
acontece: Afonso em seu gabinete sente fortes dores na cabe��a,
desmaia e �� socorrido por seus subordinados.
Internado, foi submetido a exames. Aproveitando o
momento delicado da s��bita dor juntamente com o desmaio, o
m��dico recomenda que fique internado por alguns dias, at�� saber
o resultado dos exames.
Dr. Malaquias Petrone, inconformado, sentindo a dor da
trai����o da mulher amada e sem poder encontr��-la, cai em
depressiva inquieta����o ��ntima. Torturas mentais e sentimentais
e sequiosas interpela����es, quase levaram-no �� loucura.
A lembran��a de Afonso com sua mulher em sua pr��pria
casa, fez com que ele permanecesse em estado de aliena����o
mental, pensando t��o s�� em lavar a honra. Procurou Afonso e
Valdemir Pereira Barbosa / ��ngela
teve uma surpresa, ficara sabendo que ele se encontrava internado
num hospital particular da cidade.
Foi ao encontro do aproveitador de esposas alheias e
deparou-se, num quarto �� sua frente, com alguns aparelhos da
��poca, com um homem definhando num leito de dor.
Havia um m��s que Afonso fora internado sob orienta����o
m��dica. O homem da lei n��o sairia mais daquele quarto de
hospital. A doen��a j�� o alcan��ara num est��gio avan��ado e
generalizado.
Afonso, estava sem poder falar, quase desfalecido sobre a
cama. A doen��a instalou-se no c��rebro, correndo em suas veias,
no sangue que j�� n��o tinha mais a cor natural.
Malaquias ficou at��nito, perplexo, queria exterminar a
vida do infortunado, mas a vida do amigo que se tornara inimigo,
j�� estava por um fio.
��� Meu Deus ��� exclamou ao ver a imagem das mazelas
f��sicas, ��� como isto p��de acontecer ? ��� Um sentimento de piedade
brilhara no cora����o endurecido daquele homem desonesto e
desumano.
Por��m, a revolta, ao lembrar-se de sua esposa, acabou por
exterminar do seu ��ntimo o sentimento fraternal da compaix��o.
E, fechando a porta do quarto, salientou:
��� N��o precisarei sujar minhas m��os, o maldito traidor j��
est�� pagando pelo que fez. Que sofra bastante antes de morrer.
Neste ��nterim, Malaquias j�� estava com companhias
invis��veis condizentes com seu estado mental. A lembran��a de
Ceciliana n��o lhe sa��a da mente.
Quatro meses mais tarde, andando por s��tios vizinhos da
cidade, cavalgando em seu corcel, sentiu sede e percebeu o
barulho de uma pequena cachoeira e, avistando a margem de
um rio, seguiu com o cavalo por mais trinta metros, na certeza
de que iria encontrar uma mina de ��guas l��mpidas para o
consumo naquele momento.
Arestas do Passado
Ao chegar mais pr��ximo �� margem do rio, aconteceu o
inevit��vel e inesperado. Viu tr��s mulheres que lavavam roupa ��
beira das ��guas correntes e, entre elas, uma de roupas largas,
mais largas do que de uso habitual. Era Ceciliana e estava
gr��vida.
Cinco meses se haviam passado do ocorrido. Malaquias,
orgulhoso, vendo o que vira, n��o quis nem aproximar-se mais.
A f��ria transformada em dor fez com que n��o dirigisse mais os
olhos ��quela mulher, que um dia fora sua esposa e que agora
trazia no ventre um filho que n��o era seu e sim, de Afonso, que
j�� havia se desenfaixado da vestimenta carnal.
O homem de pedra, o mandat��rio irredut��vel, come��ara a
afundar-se na embriaguez e no infort��nio de uma depress��o
atroz, sem falar dos algozes invis��veis de vidas passadas que se
aproveitaram da situa����o para levarem-no ao supl��cio do suic��dio.
Ant��nio ficou sabendo da hist��ria toda, mas mesmo
conhecendo os fatos, n��o desejou mal algum a Malaquias. Orou
por Afonso, pediu a Deus por ele e, de sua parte, procuraria
esquecer o que os dois inveterados ambiciosos fizeram a ele.
Arranjou outro emprego que garantisse o sustento dos
filhos e, anos mais tarde, casou-se de novo com algu��m que
aceitou a cuidar de seus filhos.
Malaquias, entre a dor da trai����o e o desgosto de ver a ex-
mulher gr��vida do ex-amigo falecido, sentiu-se incapaz de olhar
para as pessoas, as quais o tinham como homem forte, temido e
respeitado. Acabou por acatar as sugest��es dos obsessores e tirou
a pr��pria vida, enforcando-se.
Nos quadros da exist��ncia, somos trazidos ao mundo para
aprendermos o que dantes n��o pudemos aprender ou
simplesmente fomos indiferentes ao aprendizado de n��vel
superior, no tocante �� moral, �� eleva����o espiritual.
De reencarna����o a reencarna����o, sempre somos convidados
�� escola terrena para o exerc��cio e o preparo na assertiva dos
pontos vulner��veis de que somos portadores.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Reconstruindo a vida de encarnado perante e entre os que
n��o soubemos amar, compreender ou respeitar.
A vida na crosta �� destinada ��queles que ainda n��o
conseguiram sair das cris��lidas do pr��prio personalismo, dos
atavismos e das fraquezas que ainda residem no esp��rito.
Quanto mais vitoriosos sairmos da vida que vivemos, mais
luz e esclarecimento se nos far�� numa outra exist��ncia, at��
chegarmos ao ponto de um dia tornarmo-nos esp��ritos puros,
que �� a meta de cada um de n��s, criados �� "imagem e
semelhan��a" de Deus.
Arestas do Passado
3. JUNTOS NOVAMENTE
Todas as manh��s, Ernesto sa��a para o trabalho. Sua fam��lia
humilde, composta por mulher e um filho, era o seu
compromisso mais urgente na atual exist��ncia.
Joviniana, a terna e meiga esposa, trazia no semblante o
amor e, estampado na face, algo de misterioso, um sentimento
atribu��do ao esposo e ao filho.
Mas, como em qualquer fam��lia, ela tamb��m vivia os
problemas dom��sticos, familiares.
- Ernesto, levante-se! O caf�� est�� na mesa, vai chegar
atrasado no trabalho.
Meio indisposto fisicamente, o amado esposo respondeu
ao chamado de Joviniana:
- Estou um pouco cansado, fatigado talvez... Trabalhei
at�� tarde ontem, sinto-me todo dolorido.
Joviniana, um pouco reticente, j�� imaginava o tipo de
trabalho em que Ernesto estivera at�� altas horas.
O esposo de ontem, hoje sente-se atra��do por armaz��ns e,
junto destes, por um balc��o de bebidas tamb��m. N��o consegue
ficar longe de um estabelecimento, algo de estranho o invade,
sente saudades, ang��stias, descontentamento.
E, para passar as horas com os amigos, passa o tempo ap��s
o trabalho, de aperitivo em aperitivo. Mas o ��lcool �� um
anest��sico para a mente e o esp��rito dos desprevenidos. Isto leva
�� embriaguez e, da embriaguez ao v��cio e do v��cio aos dramas
no lar.
Valdemir Pereira barbosa / Angela
Ernesto tomou seu caf�� e saiu, depois de haver beijado o
filho Maur��cio e a esposa, amorosamente.
A caminho, as n��useas e o mal-estar invadiram o
organismo do inveterado alco��latra.
Mas n��o �� somente a bebida acumulada que o faz sentir-
se mal. Ernesto possui companhia, que n��o �� de bom aspecto
moral. As vissicitudes muitas vezes de v��rios indiv��duos, s��o o
reflexo de esp��ritos vampirizadores, quando n��o obsessores.
Joviniana fica preocupada com o marido. Sente no imo
da alma um amor profundo, seguido de uma ang��stia, causada
pelo desejo de nunca errar em rela����o a Ernesto. Um medo que
a acompanha desde o instante que se uniram pelos la��os do amor
matrimonial.
Ao cair da noite, ela fica �� espera do amado esposo, que,
ap��s horas, chega em casa como sempre, com ar cansado e
deprimido, causado pelo ��lcool.
Sem nenhum constrangimento continua a dizer que
estava trabalhando, por��m, encostado num balc��o ao lado dos
colegas de aperitivos.
Com os olhos cheios de vis��veis l��grimas, Joviniana fez
um apelo ao marido:
��� Ernesto, Ernesto. At�� quando continuar�� mentindo para
mim? At�� quando trocar�� o aconchego do seu lar e o amor de
sua mulher e filho, pelos amigos entregues aos prazeres da bebida?
A angustiosa indaga����o, da esposa, fez com que Ernesto
mergulhasse de forma inconsciente na ang��stia de um pret��rito
em que fora suicida consciente, hoje preparando uma partida
precoce, atrav��s do v��cio.
Algo o fez refletir. Olhando para Maur��cio, viu o quanto
tinha que fazer em prol da cria����o do amado filho, que dormia
sereno, d��cil e fr��gil, como toda crian��a. Sente no ��ntimo algo
de arrebatador, convidando-o e estimulando-o para os
compromissos mais s��rios com o filho.
Arestas do Passado
Sentia a necessidade de dar amor, mas tamb��m muitas
outras coisas que ele pr��prio n��o teve na inf��ncia.
Joviniana, por sua vez, sente a triste realidade de um
companheiro problem��tico, que a faz sofrer.
De esposa ad��ltera, no passado, passa a ser, no presente, a
terna companheira devotada ao marido e ao filho.
Ernesto traz as pertuba����es de tantos males impregnados
em seu perisp��rito, pelas injusti��as causadas a tantas pessoas.
Vivendo de forma incompreens��vel as ang��stias de um
suicida, que n��o soube amar ao pr��ximo e por amor-pr��prio,
por orgulho, confundido ou misturado com a dor, tirou a pr��pria
vida.
Para sanar as fobias, procura nos aperitivos uma alegria
passageira em companhia de outros que, no passado, se deixaram
levar pelo v��cio.
��� Sabe, Joviniana ��� falou calmo �� jovem esposa -, n��o sei
o que acontece comigo. Tenho vontade de vir direto para casa
ao t��rmino do meu expediente, mas algo de estranho me invade,
e sinto vontade de ficar com os amigos, atendendo ao convite
dos mesmos. Por que ser�� isto ? Amo voc��, amo nosso filhinho
Maur��cio, mas n��o consigo me encontrar. Sinto-me, por
momentos inseguro com rela����o a voc�� e, tamb��m um grande
dever para com Maur��cio. Estou muito inseguro... sinto-me fraco
por dentro, ent��o, procuro fortalecer-me num relaxamento
moment��neo que a bebida me proporciona.
��� Ernesto, o que lhe falta, quais as raz��es de sua
inseguran��a para comigo ? Dedico-me com valoroso amor e
carinho a voc�� e ao nosso pequenino.
��� N��o sei, Joviniana, n��o sei... Por��m, sempre tenho
pesadelos com pessoas me cobrando, pedindo-me reparos de
coisas e situa����es, das quais nem tenho conhecimento. Ofendem-
me f��sica e verbalmente, vejo s�� ��dio estampado em suas faces.
No repouso do corpo f��sico, Ernesto tinha encontros,
atrav��s da emancipa����o espiritual, com aqueles a quem
Valdemir Pereira barbosa / Angela
prejudicara, quando, em outro corpo e ��poca, vivera como
Malaquias Petrone.
Passado muito tempo, por��m, estas mesmas pessoas que
afrontavam-no em sonho, ainda n��o o haviam perdoado. Essas
pessoas habitavam regi��es inferiores, de acordo com suas
vibra����es de ��dio e do desejo de vingan��a.
Muitas vezes, a bebedeira de Ernesto era o impulso que
recebia em sua mente, atrav��s das intui����es emitidas pelos
advers��rios de al��m-t��mulo, que n��o eram maus enquanto
encarnados, mas que foram injusti��ados por Malaquias e n��o se
esqueceram das dores por ele criadas. Transformara-se o tempo,
o espa��o e o nome do encarnado, mas o esp��rito era o mesmo do
passado.
Decorridos alguns dias ap��s a conversa����o entre ambos,
fomos encontr��-los no palco de uma vida nova, que come��ara
entre os c��njuges, depois do di��logo dom��stico.
Ernesto j�� n��o freq��entava mais os balc��es com seus
entorpecentes aperitivos alc��olicos. Do trabalho, vinha direto
para casa. Come��ou a sentir a necessidade do esfor��o pr��prio
dentro do quadro em que se encontrava para o reequil��brio
ps��quico e moral.
O carinho da esposa e a ternura pelo filho Maur��cio, a
embalar nos bra��os era a sua alegria. As suas desventuras ��ntimas
agora eram amenizadas e substitu��das pelo carinho familiar.
Agora o seu amor pelo filho deveria ser provado. Se entre
pais e filhos �� dada a oportunidade do resgate, estava na hora de
Ernesto muito fazer por quem muito prejudicou no passado.
Embora Maur��cio j�� o houvesse perdoado, vinha como que
coloc��-lo �� prova, estimulando-o ao sentimento nobre.
Arestas do Passado
4. MUDAN��AS E
PROVA����ES
Os anos se passaram... Maur��cio estava com cinco anos de
idade. Seu pai h�� um ano conseguira montar sua loja de revenda
de pe��as de autom��veis.
Outra vez, tornara-se patr��o. Por��m, ao inv��s de conseguir
indignamente, obtivera ��s custas de recursos sacrificiais,
honestamente, sem tomar de ningu��m.
- Ernesto, querido - dizia a esposa, respeitosa -, Deus
est�� nos ajudando. Nossa vida mudou muito nestes tr��s anos.
Pensava eu que, agora que Maur��cio j�� est�� com cinco anos,
quem sabe se n��o dever��amos ter mais um filho ou filha? O que
me diz?
Com a loja em atividade, Ernesto conseguiu com sucesso,
em pouco tempo mudar a situa����o financeira da fam��lia.
Distanciara-se dos amigos viciosos. Encontrava-se espiritualmente
equilibrado, poderia ter muitos filhos, se assim ambos o
desejassem.
- Joviniana, um dos meus maiores sonhos, seria o de
termos uma linda menina a fazer companhia ao Maur��cio.
- Mas se vier a ser outro menino? ��� Indagou Joviniana
curiosa.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Ernesto esbo��ou um leve sorriso e respondeu:
��� N��o h�� com que nos preocupamos, pois seja como for
ser�� o que Deus achar melhor; nem por isto, ser�� menos amado
do que Maur��cio.
A esposa se encheu de gra��a, seu cora����o de alegria, pois
pela segunda vez acalentava o desejo de ser m��e.
Enquanto isto, voltemos �� narra����o �� respeito da loja de
Ernesto, que j�� empregava seis funcion��rios e fazia quest��o de
remuner��-los razoavelmente bem.
Dentro de suas possibilidades, dava-lhes uma vez ou outra,
ajuda de custos, incentivando-os no esfor��o do trabalho e em
reconhecimento de quem um dia tamb��m foi empregado, sem
muito poder ganhar.
Se no passado long��nquo espezinhara as pessoas,
deixando-as sem nada, simplesmente para ressarcimento do que
lhe deviam, hoje, em nova vestimenta carnal, sentia a necessidade
de ajudar a todos que estavam a seu alcance, sem ignorarmos
que estes mesmos funcion��rios s��o algumas das pessoas, de
quem, um dia, ele tirara o pouco que possu��am.
A Lei de Causa e Efeito p��e sempre �� nossa frente aqueles
aos quais um dia machucamos ou nos machucaram.
De s��bito, vamos encontrar numa tarde de domingo, o
pequeno Maur��cio a balan��ar em seu balan��o, enquanto que o
casal tranq��ilo, sentado pr��ximo a ele, acariciava a barriga,
conjeturando sobre o mais novo integrante da fam��lia, que era
mais um filho querido.
Enquanto isso, a poucos passos dali, o inesperado
acontece. Maur��cio no vai-e-vem, sentado numa t��bua,
pendurada por duas cordas, �� lan��ada ao longe, batendo com a
fronte nas pedras que enfeitavam o pequeno jardim.
Ernesto num salto correu ao encontro do filho, que,
interte, jazia desacordado.
Arestas do Passado
Tomou-o nos bra��os, enquanto que a m��e em prantos, as
pernas tr��mulas, gritava sofredoramente pelo nome do filho.
O ferimento era vis��vel e grave.
Ernesto pediu aux��lio aos vizinhos e sa��ram ��s pressas
para o hospital mais pr��ximo.
Joviniana, amparada pela companheira do vizinho
socorrista, caiu desmaiada. A gravidez requer cuidados especiais,
tranq��ilidade f��sica e emocional. O choque havia sido forte
demais, e no estado em que ela se encontrava, maior ainda.
Hospitalizado, Maur��cio foi levado �� sala de emerg��ncias
para o procedimento padr��o, em casos de acidentes graves.
At�� a chegada no hospital o filho do casal ainda encotravase
desacordado. O pai sentou-se num sof�� na sala de espera,
ap��s ter sido barrado na porta da sala de emerg��ncias.
��� Daqui para dentro o senhor n��o pode passar. Procure
ficar tranq��ilo, tomaremos todas as precau����es necess��rias para
omais breve restabelecimento do seu filho. ��� Disse-lhe a auxiliar
de enfermagem.
Depois de um quarto de hora, Joviniana entrou no recinto
hospitalar, ainda nervosa, por��m um pouco mais controlada,
devido ao ch�� caseiro, que a amiga lhe dera, para que n��o viesse
a prejudicar a gesta����o em andamento.
Abra��ou o esposo, tamb��m nervoso, com as l��grimas a
escorrerem sobre sua face contra��da, express��o de quem
albergava grande preocupa����o, sabendo da gravidade da situa����o.
O casal vizinho, Jo��o e Maria Guedes, procuravam
confort��-los, embora as circunst��ncias fossem de uma
inconformidade desconfortadora.
Perguntou a esposa e m��e ao marido.
��� Foi t��o r��pido, Ernesto. Como p��de acontecer ? - Entre
fortes abra��os, Ernesto tentou confortar a esposa.
��� Procure ficar tranq��ila. Logo o m��dico ir�� sair com o
nosso pequenino nos bra��os e dir�� que tudo n��o passou de um
grande susto.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Otimista ou querendo acalmar Joviniana, o pai de
Maur��cio diz coisas n��o t��o convincentes. Vendo a dor do casal,
uma freira que sa��a de suas visitas di��rias naquele hospital, pediu
�� uma das enfermeiras, que desse um copo com ��gua �� mulher
gr��vida, e no mesmo instante saiu ao encontro dos dois.
��� Minha filha. Por que tanto desespero, o que aconteceu?
Em solu��os, respondeu :
��� �� o nosso filho que caiu do balan��o e bateu com a cabe��a
nas pedras. Foi horr��vel, gostaria de poder entrar l�� dentro e
saber como ele est��.
Afagando seus cabelos, a irm�� de caridade procurou
confortar a jovem m��e gr��vida.
��� Ao vir da enfermaria, passei pela emerg��ncia e vi um
menino ser atendido com todos os cuidados. Deve ser, ent��o,
seu filho. Como ele se chama?
��� Maur��cio ��� respondeu a m��e, ainda naturalmente aflita.
��� Muito bem. E voc��s?
��� Joviniana e Ernesto. O casal aqui... s��o amigos nossos,
Jonas e Maria Guedes.
��� Joviniana, minha filha ��� continuou a freira, ��� vamos
confiar na bondade Divina. Esperemos o que os m��dicos t��m a
nos dizer. Sei que �� dif��cil o momento. A dor de uma m��e e um
pai pelos seus filhos, embora n��o tenha experi��ncia neste setor,
�� a pior das dores, pois filhos s��o sempre filhos, tenham a idade
e a conduta que for, mas �� o maior bem que o ser humano
compartilha na obra de Deus, que �� ser instrumento da
materializa����o da vida na Terra. N��o sou m��e, mas tenho
compromissos assumidos com o Filho maior de nosso Pai
Celestial. Por��m, assisto quase que diariamente ��s dores de
jovens senhoras, m��es como voc��. Elevemos o pensamento ao
M��dico dos m��dicos, procurando emitir pensamentos de amor
e otimismo.
Como se estivesse recebendo um passe magn��tico de
maneira informal, Joviniana acalmara-se e junto dela o esposo
Arestas do Passado
tamb��m parecia ter recebido as vibra����es de um cora����o af��vel e
espiritualizado.
A enfermeira, neste ��nterim, j�� havia dado o medicamento
necess��rio para que a agita����o emocional n��o viesse abalar
aquele que ainda estava em fase de gesta����o.
O rem��dio do amor n��o dispensa o rem��dio convencional
e vice-versa.
Ap��s uma hora e meia de espera, ambos s��o chamados
pelo m��dico respons��vel que atendera Maur��cio.
��� Voc��s s��o os pais do menino ?
��� Sim. ��� responderam como numa s�� voz.
��� Na condi����o de m��dico e voc��s na de pais, devo coloc��-
los a par da situa����o, sem mist��rios. O fato �� que o caso inspira
cuidados especiais. Por instantes, ele voltou a si, mas est�� no
bal��o de oxig��nio. Colocamo-lo na U.T.I pois est�� com
traumatismo e entrou em coma. A pancada parece ter sido muito
forte para ele. - Informou o m��dico, muito calmo.
Era o que o casal n��o queria ouvir. A dor, arrebatadora de
cora����es endurecidos, tocava fundo no de Ernesto, que num
passado distante n��o soubera de forma integral sensibilizar-se
com os infort��nios daqueles que o cercavam.
Ao adentrarem �� unidade de terapia intensiva, o casal,
apoiados um no outro, estava com as pernas tr��mulas, o corpo
��rio, os cora����es em ritmo acelerado e os olhos umedecidos de
dor e desalento.
Aproximando-se de Maur��cio, tocando em suas m��os,
Joviniana fez um esfor��o para que os solu��os de m��e agoniada
n��o viessem pertubar o ambiente em que se encontrava o filhinho
inconsciente. Ernesto por sua vez n��o estava indiferente.
A irm�� de caridade tamb��m entrara na unidade. Como
sempre, atenciosa ��s dores dos semelhantes, disse:
��� Meus fiiho, sei que a dor dos pais pelo seus filhos ��
algo indescrit��vel, mas recorramos ao amparo de Jesus. Fa��amos
juntos uma prece espont��nea, pedindo o pronto restabelecimento
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
de seu filho. Rogando ao Deus da vida para que continue a dar
a vida a este corpo fr��gil e inocente, solicitando for��as e esperan��a
aos seus cora����es, que por ora sinto alterado s de dor.
Ernesto envolveu a esposa nos bra��os, ofertando-lhe o
ombro amigo, enquanto que, no canto da sala aparelhada, uma
jovem e experiente enfermeira abaixava a cabe��a em respeito ��
prece que iria banhar o ambiente de paz e amor. E exteriorizou-
se a voz da freira:
"��� Deus, nosso Pai, que nos deste a oportunidade da vida!
Que permitiste que o pr��prio Mestre viesse a conhecer os
infort��nios do mundo e depois, triunfante, surgiu vencendo a
pr��pria morte, porque esta n��o existe, pois somos vida da Tua
cria����o e bondade. Bendito sejas, oh, Divino Criador! Permita
que teu filhinho Maur��cio tenha a vida de volta aos c��rculos do
mundo, no seio de sua fam��lia, para que possa dar-Te gra��as e
bendizer o Teu amor, um dia.
Recobra-lhe a sa��de, d��-lhe, Senhor, os meios necess��rios
para que seu corpo reaja ��s fraquezas da triste ocorr��ncia. D��
paz e conforto espiritual aos seus pais, que sofridos agora, passam
por amargas horas de desalento. Se for da Tua vontade, permita
que seu corpo reaja e que a medicina humana, instru��da por Ti,
para acolher os Teus filhos nas experi��ncias do corpo perec��vel
no mundo, possa fazer o poss��vel para que o seu corpo som��tico
se revitalize.
Impotentes que somos diante de Tua perfei����o, pedimos,
n��o por m��rito, pois este n��o o possu��mos, mas sim por
miseric��rdia, que atenda ��s s��plicas de cora����es unidos no amor
a um filho, a um semelhante. Pai Nosso que estais..."
A ora����o ensinada por Jesus teve o seu curso, depois de a
Irm��, proferir uma prece espont��nea, tal como fazia sempre em
casos graves. E quantas vezes fizera assim, entre os doentes
daquele hospital e a muitos outros.
A paz tomou conta do ambiente. A enfermeira, cabisbaixa,
discretamente enxugou algumas l��grimas.
Arestas do Passado
No instante daquela prece de cora����o viam-se no recinto
focos de luz a balsamizar os pais que sofriam, e m��dicos invis��veis
atendiam o pequeno Maur��cio. Os dois planos da vida s��o
solid��rios, o et��reo muito mais ainda.
O filho em gesta����o no ventre de Joviniana se mexia
reconfortado, depois de haver absorvido os padecimentos
emocionais da m��e.
Uma "brisa" suave tranq��ilizava Ernesto e Joviniana. Os
cabelos em seus bra��os estavam de p��. Sentiram e receberam as
b��n����os de Deus atrav��s da prece de uma alma afeita ao amor,
caridosa e sens��vel.
Encerrada a visita, com os minutos permitidos j�� escassos,
todos foram obrigados, pelos padr��es ��ticos do hospital, a se
retirarem do recinto. Maur��cio, inconsciente, estava nas m��os
de Deus.
Agora um pouco mais confortados, os pais agradeceram ��
abnegada mentora de caridade, em seu traje de rotina, que �� o
h��bito usual das freiras.
- Irm�� ��� falou Joviniana, emocionada -, agrade��o o seu
conforto espiritual e n��o me acanho em pedir que, em suas
ora����es di��rias, lembre-se do nosso filho.
A freira num sorriso sereno aben��oou-os, prometendo
lembrar-se dos pais e do menino, neste momento dif��cil.
Quatro dias j�� se haviam passado. Maur��cio ainda estava
em coma. As despesas do hospital chegaram a fra����es de n��meros
exorbitantes.
Neste ��nterim, reportemo-nos a Maur��cio em esp��rito.
O coma profundo fizera com que ele fosse levado ao plano
espiritual para um tratamento, devido ao choque recebido no
centro coron��rio e frontal, regi��o esta em que se localiza a ep��fise,
onde recebemos e emitimos as emana����es de ordem ps��quico-
espiritual.
Nestes dias em que se encontrava desfalecido, ele recebera
li����es nas esferas espirituais. Instru����es para o ��xito na jornada
Valdemir Pereira Barbosa / ��ngela
terrena, a qual serviria, em parte, para o resgate do pai, atrav��s
das prova����es que adviriam por seu interm��dio e, em parte, para
o seu pr��prio adiantamento.
O acidente n��o estava programado, mas servira de
prova����o aos pais. Em particular a Ernesto, que, no ontem, era
o verdugo e hoje era pai da v��tima de sua gan��ncia.
E Joviniana, de ad��ltera no passado, surge no presente
como esposa dedicada, doando amor leg��timo ao marido.
Sofrem ambos pelo filho, fazendo com que os la��os do
matrim��nio espiritual sejam fortalecidos, com dignidade e
abnega����o.
Ernesto estava todos os dias no hospital, e a institui����o o
pressionava, cobrando as despesas da Unidade de Terapia
Intensiva. N��o tendo de onde tirar a quantia cobrada e n��o
podendo transferir o filho para outro hospital, Ernesto decidiu
desfazer-se de um terreno que comprara h�� pouco tempo, com
as condi����es favor��veis em que se achava sua pequena empresa.
Consultou a esposa e esta, sem pestanejar, consentiu de
imediato. O que importava era o bom atendimento ao
primog��nito. O outro filho j�� estava a caminho, Deus se
encarregaria do seu bem-estar no ventre materno.
As aten����es necess��rias estavam voltadas para Maur��cio,
que, no quinto dia, voltava para o corpo f��sico com o aux��lio dos
instrutores espirituais, mensageiros de Jesus.
A venda do lote foi consumada. Ernesto n��o sabia, mas
com tal venda abaixo do valor real ele, Ernesto, estava saldando
em parte sua d��vida do passado, quando era Malaquias e tirara
os bens de Ant��nio pelo valor abaixo da que realmente valia,
"para n��o ficar no preju��zo", como dizia.
Hoje, por��m, desvencilhava-se de um bem em
cumprimento do amor paterno, por quem um dia fora
humilhado, tratado com tanto desamor e desrespeito.
�� a Lei de Causa e Efeito cobrando mais uma vez.
Arestas do Passado
No quinto dia, por��m, ao fazerem a visita, encontraram
na portaria do hospital, a irm�� de caridade.
��� Boa tarde, Irm��. Como vai ? ��� cumprimentou Joviniana.
��� Gra��as a Deus, muito bem. J�� fiz minhas visitas. Hoje,
por��m, vim um pouco mais cedo.
��� N��s n��o a vimos nestes ��ltimos dias, por aqui. Onde
esteve ? Fiquei preocupada. ��� perguntou a jovem m��e.
��� Tive que assistir a outros pacientes em outros hospitais.
Alguns estavam muito carentes, em estado terminal...
��� Oh, sim. Compreendo ��� respondeu Joviniana -, Mas, se
nos der licen��a, j�� est�� quase na hora da visita, precisamos entrar.
A senhora viu o nosso filho hoje ?
A irm��, com um olhar sereno, numa express��o de paz e
carinho, segurou as m��os do casal, juntas uma sobre a outra e
ajuntou:
��� Coragem, meus filhos. Hoje, mais uma vez a luz da
esperan��a brilhou sobre voc��s. Continuem unidos sempre, n��o
s�� nos momentos felizes, pois estes tamb��m s��o passageiros, mas
sobretudo nos momentos de tormenta, na vida cotidiana em si,
sem jamais esquecerem de agradecer as b��n����os do Divino
Senhor.
Os tr��s se abra��aram, a irm�� saiu logo ap��s um: "fiquem
com Deus". Os pais de Maur��cio n��o compreenderam as palavras
da freira e, seguiram em frente para a visita do dia.
Joviniana, antes de continuar, parou e perguntou a
Ernesto:
��� Qual �� o nome da freira ?
��� N��o sei. Sabe que at�� me esqueci de perguntar, naquele
dia em que nosso filho deu entrada no hospital?
A esposa de Ernesto voltou-se no intuito de alcan��ar a
irm�� de caridade, para perguntar-lhe o nome. Mas ela j�� havia
desaparecido na larga avenida do Hospital Central.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
As ocorr��ncias dos ��ltimos dias foram muito dif��ceis para
o casal. Com o filho entre a vida e a morte, estes poucos dias
pareceram meses.
Ao entrarem na recep����o da U.T.I, foram atendidos pela
enfermeira do dia.
- Boa tarde ��� cumprimentou Joviniana �� profissional de
enfermagem, - viemos ver nosso filho, Maur��cio.
- Maur��cio ? - perguntou a enfermeira um pouco
distra��da, - Ah, sim, ele n��o est�� mais aqui. - Informou a jovem
vestida de branco.
De imediato, ambos, pai e m��e pensaram o pior, antes
mesmo que a enfermeira respondesse com calma o que ocorrera.
Notando-lhes a fisionomia, posicionou-se, corrigindo a maneira
pela qual os informara.
- Oh, me desculpem. N��o precisam ficar preocupados,
ele foi transferido para o quarto seiscentos e nove, h�� poucos
minutos.
-E como est�� ele ? - perguntou a m��e visivelmente
angustiada.
- Passa bem, mas continua em observa����o. Vamos, eu os
acompanho at�� l��. Voc��s s��o os pais dele, n��o �� mesmo ?
- Sim. - respondeu Ernesto, ainda preocupado.
Ao chegarem �� porta do quarto particular os cora����es,
acelerados, batiam ansiosos. Nem se deram conta da ala em que
estavam, onde s�� havia quartos particulares, que acomodavam
somente quem podia pagar por maior conforto e aten����o.
Abrindo a porta, depararam-se com uma vis��o em que
n��o conseguiam acreditar, tal era a felicidade.
Maur��cio estava com os olhos abertos, ainda recebendo
de uma outra enfermeira, as aten����es em seu leito hospitalar.
Ap��s a sa��da da enfermeira, Ernesto e Joviniana, com os
olhos ��midos, acariciavam o filho, beijavam sua face e sua testa
ainda envolta com faixas devido aos ferimentos.
Arestas do Passado
Maur��cio ainda um pouco sonolento, esbo��ou um leve e
discreto sorriso nos l��bios, parecendo estar acordando de um
sono da noite passada. Em poucos minutos, o m��dico respons��vel
pelo tratamento do menino, adentrou o quarto para a visita
di��ria.
Dr. Paulo Munhoz de Mello, m��dico-cirurgi��o, com uma
expressiva simpatia saudou:
- Boa tarde, boa tarde. Como est�� o nosso garot��o? Como
se sente fdho ? - O garot��o de cinco anos esbo��ou mais um leve
sorriso, sem nada dizer.
- Dr. como est�� nosso filho agora ?
- Bem, muito bem. Recuperando-se r��pido. Desde ontem,
ap��s o hor��rio de visitas na U.T.I, que ele apresentou melhoras
expressivamente otimistas. Ent��o, achamos que j�� poderia vir
para o quarto. O caso deixou, como por encanto, de ser um risco.
- Gra��as a Deus ��� falou a m��e, mais aliviada.
- Se continuar assim, acredito que dentro de dois ou tr��s
dias poder�� receber alta. ��� Afirmou o m��dico simp��tico e seguro.
Enquanto Joviniana acariciava o filho, Ernesto chamou o
m��dic o num canto e perguntou:
- Dr. Paulo, c�� entre n��s, h�� algum risco de seq��elas ?
Percebi que Maur��cio ainda n��o tentou articular qualquer frase;
ser�� ele o mesmo de antes ?
-O caso do seu filho - respondeu o doutor prestimoso -,
foi realmente grave. Em casos assim, s��o raros os que conseguem
uma recupera����o mais ou menos r��pida, devido ao forte impacto
que sofreu. Por��m, estou surpreso, confesso que n��o via muitas
chances para ele. Mas, gra��as a Deus, tudo correu bem at�� aqui,
a fase cr��tica passou, acredito que continuar�� melhorando mais
ainda. Deve, por��m, ficar ainda em observa����o e ent��o, em breve,
poder�� retornar para casa. Quanto �� fala, isto se d�� devido ao
medicamento que o deixa ainda em estado de torpor. �� natural,
quando o efeito dos sedativos passarem, seus ��rg��os reagir��o
com maior desenvoltura.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
N��o h�� o que temer, j�� foram feitos os exames necess��rios,
tudo est�� positivamente bem. O que ocorrer�� por algum tempo,
sem precisar quanto, �� que ele ir�� sentir fortes dores de cabe��a,
mas isso se extinguir�� com o passar dos pr��ximos dias. Tudo
ainda �� muito recente, por��m, repito, n��o h�� mais com que se
preocuparem. Sou m��dico-cirurgi��o h�� dez anos, n��o costumo
mentir para meus pacientes, que merecem todo respeito e devem
estar a par da verdade cl��nica em rela����o �� doen��a, seja esta qual for.
As palavras do m��dico tranq��ilizaram Ernesto. O hor��rio
de visitas estava para se encerrar. Mesmo sendo um quarto
particular, o m��dico salientou que n��o havia necessidade de l��
ficarem, a n��o ser que o desejassem. Voltando-se para o lado do
leito do filho, Ernesto e a esposa, segurando suas m��os, deixaram
um beijo carinhoso, sussurrando ao ouvido de Maur��cio, a
promessa de voltarem no dia seguinte.
De retorno ao lar, o casal se encontrava mais tranq��ilo
pela recupera����o satisfat��ria do rebento. Ainda havia as manchas
de sangue sobre as pedras, as quais quase tiraram o seu filho
para sempre do aconchego do lar terrestre.
Ernesto sentou-se no gramado e, refletindo no passado,
na atual exist��ncia, viu quantos problemas passara e deu gra��as
a Deus por t��-los superado, at�� ent��o.
Meditou nas b��n����os de ter recuperado o filho depois de
um coma de quatro dias. O pesadelo j�� estava passando.
Pensou no que chamaria de "milagre": a recupera����o de
Maur��cio, que aparentava, at�� poucos dias, estar extinguindo a
vida org��nica.
Lembrou-se da freira carinhosa que os preencheu de
conforto e esperan��a. Pensou na esposa gr��vida, h�� tr��s meses
de receber no lar mais um ente querido na condi����o de filho ou
filha...
No imo da consci��ncia, no ��mago da alma, disse de si
para consigo:
Arestas do Passado
��� Deus seja louvado! Ele realmente existe, pois o que seria
de mim, de Joviniana e principalmente de Maur��cio se n��o
houvesse Deus estendido as m��os em nosso socorro?
Na paz e tranq��ilidade que se permitia desfrutar, com o
cora����o mais leve, Ernesto levantou a cabe��a ap��s a reflex��o e,
como se fosse uma miragem ou uma ilus��o de ��tica, deparou-se
com uma luz esbranqui��ada, na silhueta de uma pessoa.
Por segundos, fitou o visitante invis��vel, que o olhava ��
poucos passos, entre as flores do jardim onde se encontrava.
Piscando e esfregando os olhos ligeiramente, pensava estar
tendo uma alucina����o. O Benfeitor amigo desaparecera, como
por encanto. Entre sereno e at��nito, levantou-se pensativo,
voltando para dentro de casa, atendendo ao chamado da mulher,
sem nada comentar com ela e sem entender o que vira.
N��o compreendera o que se passou, mas aquela vis��o ou
aquela alucina����o mexera com ele.
Aceleremos no tempo. Dias se passaram, agora Maur��cio
se encontrava em casa. Dentro de trinta dias seria levado novamente
ao Hospital Central para fazer mais um eletroencefalograma,
para verificar se havia ficado com alguma seq��ela; s��
exames de rotina, sua vida fruiria normalmente.
Joviniana sentia a agita����o do outro filhinho que estava
prestes a chegar. Ernesto continuava com seu trabalho na loja
de pe��as. A vida voltava �� normalidade entre a fam��lia Carnevale
e em mais alguns dias receberiam, no aconchego dom��stico, uma
mulher: Joviniana daria �� luz uma menina. Felicidade geral entre
a fam��lia e os amigos.
Ernesto n��o sabia, mas a vis��o que tivera no jardim, era
de um esp��rito protetor da fam��lia que estava a postos preparando
o ambiente, desde h�� muito, para a chegada da querida Fl��via.
Manh�� de s��bado, Joviniana come��ara a sentir as
contra����es. Fl��via em esp��rito recebia os cuidados da equipe
especializada em reencarna����es.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Levada �� maternidade, logo ao dar entrada, come��ou a
entrar em trabalho de parto. Os sacerdotes da medicina
convencional, ��geis, j�� encaminharam para a sala de parto a
jovem prestes a dar �� luz.
Eram 9h30 da manh��. Joviniana, entre a dor e a alegria
da maternidade, transpirava abundantemente na mesa de parto.
Tudo transcorrera otimamente bem.
-O parto ser�� normal, - disse o m��dico da equipe, em
conformidade com o desejo da m��e, examinando a possibilidade
de, mais uma vez, entre centenas, tirar do ventre materno mais
uma vida, tal como manda a natureza, pelo parto normal.
Na sala de espera, Ernesto, impaciente, aguardava ansioso
por alguma not��cia. A situa����o agora era outra, a preocupa����o
n��o era mais tal como havia sido meses atr��s, quando Maur��cio
esteve entre a vida e a morte f��sica.
Deixemos por ora os c��njuges e penetremos um outro
hospital pr��ximo �� maternidade, onde vamos encontrar a doce
irm�� de caridade.
A mesma que confortou o jovem casal em momentos
cruciantes. Estava ela atendendo alguns enfermos, dando
amparo, aux��lio espiritual. Oitenta por cento daqueles que se
encontravam internados ali, eram pessoas carentes, sem
condi����es maiores de serem atendidas em hospitais com maiores
condi����es de refazimento no tocante �� sa��de do corpo.
Junto da irm�� de caridade, vamos encontrar o apoio da
institui����o hospitalar, que lhe concedeu carta branca para fazer
o que for poss��vel e necess��rio aos doentes.
A freira �� conhecida por todos que trabalham no Hospital
S��o Camillus de Lellis.
A protetora dos convalescentes, dos doentes de qualquer
natureza, era um consolo reanimar a todos que por alguns
momentos perderam o sentido da vida diante da enfermidade.
Inspirada por benfeitores da espiritualidade, a irm�� tecia
li����es de amor e esperan��a. Relatemos os fatos:
Arestas do Passado
Pr��xima de uma doente terminal, a abnegada serva do
Cristo procurou confortar a senhora enferma, prestes a partir
para o plano espiritual. Vitimada pela doen��a, esperava somente
o momento da partida deste mundo, uma vez que j�� vivia oito
anos em luta perene contra o mal que a afligia.
��� Irm�� ��� disse a enrerma quase inaud��vel -, pe��a a Deus
por mim. Sei que j�� n��o h�� mais esperan��as, o m��dico j�� me
desenganou. O que tinha de ser feito por mim, j�� o fizeram.
Cabe a Deus agora decidir o dia do meu passamento, como
dizem alguns. O que aceitarei com resigna����o, pois estou cansada
de tanto padecer sob estas dores terr��veis, que me fazem definhar
a cada dia.
L��grimas rolaram dos olhos umedecidos de D. Cez��lia,
este o nome da desditosa senhora no leito de dor.
Vendo a dor e a ang��stia no semblante daquela mulher
de meia idade, a disc��pula de Jesus, vestida com o h��bito da
ordem religiosa a que pertencia e acalentou a angustiosa
convalescente.
Acostumada a ver cenas como estas, por causa de suas
constantes visitas aos necessitados, a freira falou sorridente:
��� Vamos fazer uma ora����o, uma prece a Jesus para que a
conforte.
��� N��o consigo Irm��, o c��ncer atingiu minha garganta e
as cordas vocais, n��o posso falar muito. - respondeu D. Cez��lia,
baixinho.
��� Tudo bem, minha filha. Apenas siga em pensamento as
minhas palavras, pense em Jesus.
A prece espont��nea mais uma vez ressoou naquele
ambiente de tristeza, acompanhada pelos olhares e ouvidos
atentos de mais duas pacientes que se encontravam em camas
vizinhas.
Como um b��lsamo suavizante, D. Cez��lia repousou, num
sono tranq��ilo e irresist��vel. A prece da freira tinha a propriedade
de acalmar as pessoas, o magnetismo envolto na caridade
Valdemir Perora Barbosa / Angela
fru��a-lhe das m��os e das palavras de amor e de paz. Se n��o fosse
o h��bito usual de sua ordem religiosa, diria que ela era esp��rita,
embora todos que espalhem o perfume da caridade, independente
do r��tulo, consigam influenciar beneficamente aqueles
que se disp��em a beneficiar. O ser humano desconhece quase
por completo a energia que traz em si. Tudo vibra em un��ssono
com o amor Divino. Se a humanidade estudasse melhor sobre
as cousas do esp��rito, compreenderia melhor a lei que nos rege e
Aquele que a criou, do qual tamb��m somos cria����o.
Aquele al��vio que proporcionava ��s pessoas era um passe
magn��tico, e o passe todos podem transmitir, independente do
credo: o passe �� energia. E ela n��o estava s�� espiritualmente, ao
lado da matrona dos infelizes uma entidade espiritual a inspirava,
misturando o magnetismo, a energia da freira com a espiritual.
E n��o era apenas um, o que seria suficiente. Gra��as a sua
vis��vel evolu����o, havia outros que se revezavam, no aux��lio junto
aos aflitos de todos os matizes.
A sublime caridade no socorro aos semelhantes, atrai
cooperadores invis��veis que se afinizam com os mesmos
prop��sitos e ideais de quem quer ser ��til, seguindo a Jesus,
fazendo o que Ele pr��prio recomendou: curar os enfermos...,
fazer a outrem o que gostar��amos que fosse feito a n��s. Assim
ensinava Jesus.
Ap��s sua doa����o no hospital, a irm�� de caridade a caminho
do convento, passou em frente �� maternidade onde se encontrava
Joviniana.
Num impulso irresist��vel, sentiu uma grande vontade de
adentrar a mesma, de vez que sempre ali fazia tamb��m suas
abnegadas visitas ��s m��es internadas que vieram dar �� luz e, aos
filhinhos rec��m-natos, que vieram de retorno do mundo
espiritual para um novo est��gio terrestre.
- Bom dia. - Cumprimentou sorridente e simp��tica a
recepcionista que estava atr��s do balc��o de atendimento.
Arestas do Passado
- Bom dia, Irm�� Carmelita. Como vai a senhora? Tudo
bem ?
Eis enfim,o nome da protetora dos doentes, dos aflitos.
Carmelita, cinq��enta e quatro anos de idade. A maior
parte deles dedicados a Deus, a Jesus. Foi para o convento aos
quinze anos e, desde ent��o, dedicava-se com amor e desapego
aos labores do amor fraternal.
- Estava passando em frente e resolvi entrar um pouco.
H�� novas m��es hoje ? - perguntou Carmelita �� funcion��ria
hospitalar.
- H�� sim, Irm��. Chegou uma jovem mam��e esta manh��
��� e examinando a rela����o de nomes dos pacientes, informou o
nome da mais nova m��e.
Irm�� Carmelita lembrara-se do nome, melhor dizendo
reconhecera-o, pois jamais o havia esquecido. Com um brilho
de alegria no olhar e express��o de conforto, pediu para que a
recepcionista lhe informasse o quarto.
E l�� foi a ador��vel criatura. Solit��ria em seus trajes
habituais, fazendo dos necessitados do mundo a sua companhia
na miss��o que abra��ara na causa do Cristo.
Ao chegar ao quarto, sa��da a jovem m��e com um
prazeroso bom-dia. Joviniana estava, a estas alturas, com a
filhinha nos bra��os. Ernesto j�� havia sa��do da maternidade,
prometendo retornar mais tarde com Maur��cio para conhecer a
irm��, de nome Fl��via.
- Irm��, que felicidade, que alegria imensa em rev��-la respondeu-
lhe Joviniana, com brilho nos olhos.
- A alegria maior �� minha, filha, por reencontr��-la num
momento sublime, por sublime ser a maternidade, por ser m��e
uma, duas vezes, enfim, m��e sempre, at�� quando os filhos
tornam-se adultos e assumem compromissos com o matrim��nio.
Fico felic��ssima em encontrar voc�� e seu beb�� t��o lindos.
-�� ela - respondeu Joviniana.
- E qual o seu nome ?
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
- Fl��via.
Afagando a fronte de ambas, a irm�� Carmelita falou �� m��e
de Fl��via:
- Na vida, Joviniana, temos prova����es a passar, mas ao
sairmos vitoriosos delas, nos encontramos com a consci��ncia
tranq��ila, por termos as superado de forma digna. Depois do
infeliz acontecimento, que acabou feliz, hoje voc�� tem mais uma
raz��o para ser feliz com seu esposo, tendo nos bra��os mais uma
parte de voc��s na condi����o de filha, que veio reunir-se aos tr��s
para a vida em fam��lia. Que Deus os aben��oe sempre.
Joviniana n��o fez quest��o de enxugar as l��grimas de
emo����o que escorriam pela sua face, banhando os poucos cabelos
da filhinha.
Antes, por��m, que Joviniana pronunciasse uma outra frase,
a ��reira, como se estivesse captando seu pensamento, respondeu-
lhe:
- Chamo-me Carmelita, n��o tivemos muito tempo de nos
apresentar formalmente devido aos momentos de apreens��o
daquele dia. Fiquei sabendo os seus nomes, mas voc��s n��o o
meu.
- Que bom v��-la novamente, Irm�� Carmelita. Sinto-me
muito bem com sua presen��a. Eu e meu esposo j�� passamos por
momentos dif��ceis, mas gra��as a Deus tudo est�� bem agora.
Gostaria que aceitasse o meu convite de ir at�� nossa casa, Ernesto
ficar�� feliz com sua presen��a em nosso lar.
- Ah, quanta honra! Irei sim, com muito prazer. E fico
tamb��m feliz por saber que voc��s t��m um lar, muitos s�� possuem
casa, isto ��, quando podem comprar uma. Pois muitas casas n��o
s��o lares e, sim campo de batalha indiz��vel. Quando voc�� sair
daqui e estiver mais revigorada, irei com muito gosto. O parto
requer, para algumas mulheres, alguns dias de repouso,
recupera����o; principalmente quando fazem ces��rea, nem todas
reagem da mesma forma. N��o �� mesmo ? Se voc�� precisar de
algu��m que lhe ajude em alguma coisa em casa at�� passar esta
fase, estarei a sua disposi����o.
Arestas do Passado
��� Obrigada, Irm��, mas n��o ser�� necess��rio. O parto foi
normal e, al��m do mais, Ernesto j�� arranjou algu��m para me
ajudar. Ademais, n��o ficaria tranq��ila tirando a senhora de seus
compromissos di��rios, s�� por causa de alguns dias, que podem
esperar at�� que eu possa voltar aos afazeres dom��sticos.
Joviniana n��o imaginava, mas aquela humilde e simples
criatura faria parte de sua vida por longos anos. O v��nculo de
um passado se fazendo presente num reencontro de almas afins.
Os meses passaram c��leres. Fl��via agora contava com seis
meses de vida carnal.
A fam��lia de Ernesto e Joviniana crescia em amor e
paci��ncia depois das experi��ncias de tempos recuados. Ernesto,
por sua vez, mostrava-se muito diferente em rela����o aos tempos
de fanfarrice. Tornara-se um pai e um esposo dedicado, o v��cio
n��o era mais problema. Encontrara o equil��brio no amor sincero
da esposa e dos filhos.
Estes ��ltimos, cresciam com sa��de e tranq��ilidade.
Maur��cio cada vez mais se mostrava inteligente, com grande
facilidade para o aprendizado que a vida lhe proporcionara.
A pequena empresa de Ernesto agora j�� estava superando
as crises financeiras, que nos ��ltimos seis meses havia adquirido
um constante entrave nos neg��cios, por falta de capital de giro.
Mesmo assim n��o foi capaz de dispensar nenhum dos seus
funcion��rios. Ag��entou os momentos de turbul��ncia, de baixa
nas vendas e d��bitos banc��rios com f�� e perseveran��a. Nem
parecia mais aquele homem do passado.
Vendo os filhos chegarem e passando por provas no seio
familiar, tal qual no acidente de Maur��cio, soube encontrar em
Deus a for��a necess��ria, que teve como mediadora a Irm��
Carmelita que, com sua for��a moral e espiritual fez com que
algo mexesse com o casal. O destino selava ali, entre eles, um
roteiro diferente,com perspectivas de resgatarem os erros do
passado.
Arestas do Passado
5. DESCOBERTAS
CONFORTADORAS
Mas para os Carnevale faltava alguma coisa. Falavam de
Deus, ouvindo e sentindo as preces da freira amiga e aprenderam
a conversar com Ele, sem se darem conta que o futuro espiritual
de ambos se encontrava do outro lado do muro, com os vizinhos
Jo��o e Maria Guedes.
Por��m, ainda necessitavam de algo mais para suas vidas,
que explicasse com maior raz��o, sabedoria e racioc��nio as leis
Divinas. O porqu�� da vida. Das dores. Dos sacrif��cios. Do
sofrimento em geral, no mundo.
E, ap��s alguns dias, eles encontrariam algo que mudaria
suas vidas, no tocante ��s necessidades do esp��rito. Num domingo,
num almo��o em casa de vizinhos, os Guedes, os mesmos que os
ajudaram naquele triste e, por fim, feliz epis��dio com Maur��cio.
Estes tamb��m tinham um filho, por��m com seis anos de
idade, companheiro de Maur��cio nas brincadeiras do cotidiano.
Firmino era o seu nome.
Antes que o almo��o ficasse pronto, reuniram-se todos na
confort��vel sala de estar, por��m simples em seus mobili��rios,
sem nenhuma ostenta����o ou luxo. Encontravam-se naquele
ambiente para uma amig��vel conversa����o, enquanto a refei����o
estava por ficar pronta.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
J�� haviam estado ali antes, mas fazia algum tempo. S��
naquele momento se deram conta... O casal am��vel e simp��tico
professava uma cren��a e s�� deram por f��, quando na estante da
sala, viram alguns livros que chamaram a sua aten����o.
O casal Maria e Jonas Guedes, sempre os apoiou com
palavras amigas e de conforto espiritual durante a interna����o de
Maur��cio, no entanto, jamais imaginavam que religi��o ou
filosofia de vida adotava para si.
Num impulso, Ernesto levantou-se do sof�� e pediu licen��a
para folhear alguns livros. Olhou a B��blia, passou-lhe os dedos,
mas o seu intuito era de pegar os livros que mais lhe despertaram
a aten����o num simples olhar: O Evangelho Segundo O
Espiritismo e O Livro Dos Esp��ritos, ambos de Allan Kardec, o
grande codificador do Espiritismo, e n��o o inventor, como
pensam alguns equivocados, pois o Espiritismo n��o �� inven����o
de nenhum homem, nem mesmo de Kardec. O Espiritismo
nasceu como as flores e os l��rios do campo, por determina����o
Divina. Allan Kardec s�� o codificou. Foram os Esp��ritos
Superiores que o ditaram, como a nova revela����o, o Consolador
Prometido, esclarecendo a humanidade de que a morte n��o
existe. Explicando as m��ximas do Cristo, sem dogmas e sem
alegorias.
��� Nossa ��� falou um pouco sem jeito -, veja Joviniana, ser��
uma nova vers��o do Evangelho das demais religi��es ? ��� inquiriu
Ernesto um tanto intrigado e curioso. Joviniana pediu licen��a
tamb��m para p��r Fl��via numa cama, j�� que adormecera em
seus bra��os, ao que Maria Guedes atendeu sol��cita e prontamente
simp��tica.
Depois de deitar a filha na pequena cama de Firmino,
indicada por Maria, Joviniana retornou �� sala e viu que Jonas
Guedes ainda conversava com o esposo a respeito do livro.
��� Joviniana, querida, Guedes estava me explicando sobre
estes dois volumes da doutrina Esp��rita, que professam.
Arestas do Passado
��� Doutrina de Jesus, Ernesto. O Espiritismo como
Consolador, propaga somente as verdades do amor do Mestre, o
que ordinariamente denominamos de Doutrina Esp��rita.
Diferenciando-se, assim, em seus tr��s aspectos: cient��fico,
filos��fico e religioso, das demais religi��es e doutrinas. O
Espiritismo, como o Consolador Prometido, nos abre as portas
para o racioc��nio e para a f�� direcionada no crescimento ��ntimo
de n��s mesmos e de toda a coletividade.
��� Quer dizer que aqui temos, ent��o, uma nova religi��o ?
- perguntou Joviniana empolgada.
��� De certa forma, sim. ��� respondeu Jonas seguro -, N��o ��
t��o somente uma "nova" religi��o, mas principalmente a religi��o
��nica e universal ensinada pelo Cristo, Filho Maior de Deus: o
amor, a caridade sem v��us para encobrirem o racioc��nio das
quest��es e passagens evang��licas.
Joviniana, um tanto deslumbrada pela resposta do
anfitri��o, olhou para Maria e disse:
��� Gostaria que nos falassem mais sobre o assunto, eu e
Ernesto temos necessidade de comungar de algo, que
espiritualmente nos preencha o ��ntimo. Passamos, como voc��s
sabem, por alguns problemas e agora que tudo corre bem em
nossas vidas, n��o �� justo que deixemos de procurar por Deus,
t��o s�� porque estamos vivendo uma fase melhor. E agrade��o a
Ele por nos ter concedido o privil��gio e a b��n����o de ter colocado
uma criatura t��o abnegada em nossa frente, para nos elevar at��
Ele. Eu me refiro �� Irm�� Carmelita, com sua sensibilidade e
amor �� nossa casa de ora����o.
��� Se quiserem, poder��o ir conosco para assistirem uma
palestra, sem compromisso. A decis��o de ficarem ou n��o
freq��entando o Centro Esp��rita, ser�� ��nica e exclusivamente de
voc��s.
- ��timo. Eu tamb��m penso como minha esposa arrematou
Ernesto, disposto. - Mas como faremos com as
crian��as.? - indagou, preocupado com os filhos.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
- N��o h�� com que se preocuparem, vizinho. L�� existem
pessoas para cuidar das crian��as, enquanto seus pais estudam e
aprendem a doutrina.
- Mesmo crian��as na idade de Fl��via ? - perguntou a
esposa de Ernesto, um pouco acabrunhada.
��� Sim, sim. H�� uma outra sala como se fosse uma esp��cie
de ber����rio, em que as m��es deixam seus filhinhos de colo aos
cuidados de abnegadas e dedicadas trabalhadoras da casa e da
causa Esp��rita.
Ernesto, de relance, recordou-se da vis��o que tivera no
jardim da sua casa e um tanto inquieto com ela, entre a incerteza
da alucina����o e a realidade, exp��s o fen��meno ao casal Guedes,
j�� que ambos pareciam ser as pessoas mais indicadas, no
momento, para instru��-los.
Sem mais delongas, ap��s ter feito a pergunta, o casal
explicou a Ernesto que o ser-humano traz consigo um dom, por
assim dizer, inerente a todo esp��rito encarnado, ao qual se
denomina mediunidade e, que provavelmente ele, Ernesto,
poderia possu��-la, sendo assim m��dium vidente. Entretanto, era
preciso estudar o caso, pois n��o poderia tamb��m dar tal opini��o,
de vez que nem tudo pode ser classificado de mediunidade.
Muitos por��m, passam por uma perturba����o, mas n��o quer dizer
que haja mediunidade a desenvolver, �� necess��rio estudar as
causas...
Uma explana����o r��pida n��o foi o suficiente para que
Ernesto compreendesse o que lhe estava sendo dito. Necessitaria
ele de estudar o assunto.
��� Bom, agora est�� na hora de almo��armos. N��o �� mesmo?
Ap��s a refei����o poderemos continuar nossa conversa, valendo-
nos do interesse que os dois demonstraram pelo assunto - aduziu
Jonas, feliz por estar, de alguma forma, plantando uma semente
naqueles cora����es sofridos do passado, prestes a encontrarem o
caminho do Consolador Prometido.
Arestas do Passado
Tudo em nossas vidas tem um momento certo para aflorar,
para que as coisas encaixem-se no seu devido lugar.
A Lei de Causa e Efeito, o reencontro com os amigos e
inimigos do pret��rito, enfim, tudo tem o seu momento. Para
que n��s mesmos possamos corrigir as falhas, refazer os caminhos,
fazendo as pazes com os desafetos, que s��o nossos irm��os.
O dia dominical passara lento e tranq��ilo para as duas
fam��lias. �� noite, na hora em que o sono chegava, encontramos
Ernesto na cama, ao lado de Joviniana que se encontrava com
Fl��via, fazendo-a dormir no ber��o.
Folheava ele O Livro Dos Esp��ritos, que Jonas havia lhe
dado. Deslumbrado diante da nova filosofia doutrin��ria que
estava descobrindo, sentia em si uma for��a imensa, impelindo-
o ao encontro do conhecimento de si mesmo e de um mundo
paralelo ao orbe terrestre.
Mal esperava ele o momento em que iriam ao centro,
conhecer de perto a doutrina. Gostaria de saber mais, muito
mais sobre a vis��o ou alucina����o que tivera, quando Fl��via estava
Hora de dormir. O casal, atencioso, prestou os ��ltimos
cuidados da noite que se esva��a, aos dois rebentos.
N��o conseguiam entender a paz que ambos sentiam no
��mbito familiar naquelas horas da noite. Como tudo se
transformasse invisivelmente naquele lar. Uma leveza tomou
conta de seus corpos, um sono suave os invadiu. Reencostaram
a cabe��a no travesseiro e, abra��ados, dormiram profundamente,
o casal e os filhos amados.
Na expans��o da consci��ncia e na moment��nea liberdade
do esp��rito, que se faz durante o sono psicossom��tico, Ernesto e
Joviniana foram conduzidos por m��os amigas a um imenso sal��o
no mundo espiritual.
Uma viagem ins��lita. Sentados na assembl��ia, travavam
conversa����o com um senhor j�� de idade aparentemente
avan��ada, do qual receberam algumas instru����es a respeito do
que ouviriam naqueles instantes.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
A maioria dos esp��ritos que ali se encontrava ainda estava
ligada ao corpo, ou seja, estavam encarnados. Eram esp��ritos
que j�� despertavam para as verdades do amor com Jesus e, que
precisavam ouvir uma palestra para que a semente neles
come��asse a germinar.
Havia, �� claro, alguns desencarnados; uns davam
instru����es, outros eram os encarregados de buscar e levar os
encarnados de volta ao corpo na Terra.
Outros esp��ritos libertos da mat��ria densa, eram semi-
novatos no mundo dos esp��ritos. Conscientes da situa����o, no
entanto, necessitados ainda de uma confer��ncia que os
alicer��asse na tranq��ilidade da nova vida.
Os ponteiros do rel��gio no grande sal��o marcavam duas
horas da madrugada, hor��rio este que se igualava ao da Terra,
para que os encarnados, ao adormecerem na hora aprazada,
fossem, momentos depois, convidados ao repouso no espa��o
fulgurante.
Todos acomodados. �� frente, num piso um pouco mais
alto que a assembl��ia, uma luz azul clara iluminou mais ainda
o ambiente.
O instrutor, explanador ou como queiram, o palestrante
ia falar. Cercado por entidades cooperadoras do bem e da causa
do Cristo, estavam a postos auxiliando na prele����o do momento,
concentrados em preces para que o trabalho daquela noite fosse
devidamente aproveitado por todos que ali se congregavam.
- "Irm��os - iniciou o apresentador da noite Jesus, o
Mestre por excel��ncia nos aben��oe a todos. Voc��s foram trazidos
hoje aqui para ouvirem n��o uma instru����o, mas sim, algumas
informa����es, para que o ��xito no campo do bem se fa��a presente
em suas vidas, enquanto estagiam no mundo destinado aos
encarnados.
Todos que aqui se encontram, pertencem, eu sei, ��s mais
variadas religi��es e, outros h�� que come��am a adentrar pelo
Arestas do Passado
caminho de uma doutrina, seja ela qual for, para conhecerem
melhor e mais de perto Jesus, o Cristo de Deus.
No entanto, o que voc��s ouvir��o nestas poucas horas, n��o
seja causa de presun����o ou m��rito pessoal, mas sim,
responsabilidades maiores. Porque dentro da doutrina do
Evangelho de Jesus, todos s��o devedores perante a lei Divina,
inclusive n��s outros. Por��m, a bondade de Deus e os nossos
esfor��os no bem, nos permitiram estarmos aqui na condi����o de
irm��os que informam, a comando das esferas mais altas, com
rela����o a uma conduta que venha fazer com que possam saldar
seus d��bitos de outras vidas, em aux��lio aos irm��os que se
apresentar��o �� sua frente.
Passo neste instante a palavra ao Irm��o Clementino, que
ir��, com sua for��a moral e sabedoria, instruir-vos sobre as
necessidades de todos no campo f��sico. E esforcem-se, irm��os,
para n��o fazerem o contr��rio, quando ao corpo retornarem.
Fiquem em paz."
Terminada a prele����o do amigo espiritual, a assembl��ia
se fez mais atenta. Sintonizados com a hora e o momento em
que viviam de forma inusitada, as instru����es que iriam receber,
tocariam fundo em seus cora����es. O recinto, saturado de energias
positivas, de uma paz que muitos gostariam de continuar vivendo
no dia a dia, fez com que a aten����o ps��quica de cada um ficasse
mais receptiva.
Ladeado por dois auxiliares, o Irm��o Clementino subiu
na tribuna e com aquele seu olhar de bondade e ternura, numa
expressiva fisionomia envolta em indiscrit��vel serenidade, saudou
os presentes:
��� "Irm��os, que o Mestre Supremo os aben��oe. Que a paz,
aliada a uma consci��ncia tranq��ila e cora����es amorosos esteja
convosco.
Nascido numa manjedoura, o Mestre nazareno se fez
presente no mundo, vivendo no corpo f��sico, para que d��cadas
mais tarde fosse dado in��cio �� sua miss��o de amor, que serviria
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
como modelo, o maior exemplo de amor e abnega����o para toda
a humanidade. O Mestre dos mestres veio ao c��rculo terrestre
ensinar os caminhos que conduzem a Deus. Fez-se humilde e
pequenino, quando na verdade a sua grandeza de Esp��rito fora
gigantesca, como de fato assim Ele ��. N��o chegou �� crosta
adornado de vestes brilhantes e nem t��o pouco com alaridos de
ostenta����o, como faziam os pr��ncipes da ��poca, quando nasciam
seus herdeiros dos bens humanos.
Cresceu em sabedoria e humildade. Preparava-se para o
cumprimento do mandato que tinha de cumprir. Ensinou-nos
o amor e a ren��ncia, na mais completa compreens��o de Esp��rito,
que devemos desenvolver em n��s.
Durante os tr��s anos consecutivos em que pregou o amor
sem fronteiras, encontrou advers��rios, esp��ritos endurecidos e
vaidosos, que tentaram impedir-lhe o trajeto de sublima����o que
trouxera �� humanidade.
Ap��s curar enfermos e obsedados, depois de cativar a
muitos com sua palavra, depois de abrir os olhos a quantos ainda
se encontravam fechados para Deus, foi Ele, o Mestre Jesus,
tratado como um d��spota, um inimigo da sociedade farisaica e
romana, quando o seu intento era t��o somente instruir as
criaturas que muito O odiavam, ��s quais Ele muito amava.
Incompreendido e invejado foi entregue ao esc��rnio e ��
zombaria. At�� que chegaram ao final daquele injusto
julgamento, condenando-o �� barb��rie da morte por crucifica����o.
Mataram o corpo, mas n��o o Esp��rito que o habitava.
Pensavam eles, os seus inimigos, que estariam, com isto,
impedindo a propaga����o da mensagem do "amai-vos uns aos
outros como eu vos amei".
Puro engano. Dura hipocrisia e ignor��ncia, pois sem o
saberem estavam fazendo com que, atrav��s daquele ato b��rbaro,
se exaltasse mais a palavra que acreditavam estar matando.
A mensagem Evang��lica de Jesus, foi triunfal e continua
sendo e sempre ser��. �� selo sagrado do amor e caridade pura de
Arestas do Passado
uns para com os outros, que leva a carta magna da Sabedoria
Divina aos destinat��rios que a queiram ler, entend��-la e, sobretudo,
pratic��-la.
Assim ser��, queridos irm��os, quer queiram ou n��o, os
inimigos do bem Supremo.
O Mestre n��o veio ao mundo com palavras v��s. Ele n��o
nos ensinou uma nova e v�� filosofia. Apenas veio dar
cumprimento ao mandamento do amor, como o pr��prio Cristo
disse, Ele n��o veio destruir a lei, mas dar-lhe o exemplo maior,
colocando-a em pr��tica.
Jesus simplesmente nos indicou o caminho a seguir, para
que acompanh��ssemos os seus passos atrav��s dos s��culos, a fim
que n��s pud��ssemos crescer a cada passo deste caminho
percorrido.
N��s, por��m, teimosos que ainda somos, sempre esperamos
encontrar uma estrada mais f��cil, mesmo que isto signifique
sair do trajeto por Ele encetado.
Quando voltamos para a esfera da qual somos oriundos,
acabamos por retornar de m��os vazias e com as malas
perispirituais cheias de novos d��bitos contra��dos.
Depois de penetrarmos novamente no plano espiritual,
vemos, com remorso e tormento consciencial indiz��veis as
oportunidades perdidas, quando nos encontr��vamos encarnados
na escola terrestre.
Ap��s um novo tratamento, depois, �� claro, de termos
amargado por tempos incont��veis as regi��es inferiores na
espiritualidade, recolhidos e instru��dos de novo, esperamos por
nova oportunidade de segregarmos no corpo f��sico para mais
uma etapa, que ir�� nos fazer progredir para Cristo Jesus.
Prometemos e fazemos opini��o de avultada abnega����o e
dedica����o ao saldo dos d��bitos adquiridos anteriormente. Mas
at�� que esta nova oportunidade chegue, levar�� muitos anos ou
s��culos, para que possamos chegar ��s realiza����es que deixamos
para tr��s, quando no mundo est��vamos estagiando.
Valdemir Pereira barbosa / Angela
Ent��o, meus amigos amados, eu sei que viver o Cristo
n��o �� tarefa das mais f��ceis. Contudo, viver em conformidade
com o mundo e as pessoas alheias ao Evangelho �� mais c��modo,
mais prazeroso. �� esta a nossa vis��o estreita e curta a respeito do
Senhor, Criador de tudo e de todos, que quer que evoluamos
para estarmos cada vez mais pr��ximos do Seu Reino de amor.
Tudo �� dado e feito para o nosso bem espiritual, no entanto,
pensamos t��o somente no bem moment��neo que passamos a
viver na Terra.
Digo isto, meus irm��os, porque sei que todos que aqui se
encontram, j�� est��o se encaminhando para Deus, atrav��s de um
culto interior, numa religi��o ou filosofia que lhes abra mais os
olhos para a vis��o espiritual. Que lhes instrua no amor ensinado
por Cristo, n��o importando o credo a que perten��am, desde que
em voc��s reine o amor, a humildade e sobretudo a caridade que
nos eleva acima do mundo.
Aproveitem este encontro com Jesus, atrav��s da doutrina
ou filosofia que abra��aram, ou est��o aprendendo a abra��ar, de
acordo com o est��gio de evolu����o espiritual em que se
encontram.
Amem a vida. Respeitem os semelhantes, amando-os como
a si mesmos. Honrem a oportunidade atual, fazendo com que
ela se expanda al��m do tempo a todos concedidos. Tudo depende
de n��s, do m��rito pessoal, dos pr��prios esfor��os.
�� vida se prolongar�� al��m do prazo se forem merecedores
dela e ela tamb��m se precipitar�� na noite escura, se nela
constru��rem somente momentos de vulgaridade, perdendo o
tempo precioso que ela representa em rela����o ao vosso
adiantamento moral e espiritual.
Que esta noite, estas horas que aqui passaram, sejam para
cada um dos irm��os, um b��lsamo e um impulso para subirem
mais alto do que j�� est��o. Lembrem-se, pelos fios da intui����o,
do que aqui lhes foi dito. N��o se preocupem, se tiverem boa
vontade e devotamento, sinceridade e amor no imo da alma,
Arestas do Passado
tenham certeza de que estaremos a lhes auxiliar sempre, contudo,
respeitando o livre-arb��trio de cada um, que todos n��s possu��mos.
N��o poderemos auxili��-los se n��o oferecerem condi����es.
N��o podemos ir contra os princ��pios e a lei que rege nossas vidas.
Sintonizem-se com Jesus, fa��am por merecer coopera����o,
usem da prece sincera e n��s estenderemos m��os amigas em nome
de Deus.
Que o amor Divino e a paz de Jesus Cristo estejam com
todos. N��o esque��am que, �� frente dos pr��prios passos
encontrar��o pedras desdenhosas, paralisando-os por momentos
na caminhada no bem. No entanto, n��o se incomodem com
elas, removam-nas para o lado sem alarido e sem viol��ncia: s��o
testes pelos quais todos passamos para podermos dar o nosso
testemunho de fidelidade �� causa do Bem Supremo.
N��o se agastem por causa das dificuldades. Jesus n��o
encontrou facilidades na miss��o que empreendeu, e o que dir��
de n��s, que devemos perante a lei universal de Deus, nosso Pai.
Caminhem em frente, n��o parem jamais! O Mestre os
espera de bra��os abertos, mas, para que isto aconte��a, �� necess��rio
que n��o fechem para Ele os seus cora����es. Ele conta conosco
para a constru����o de seu Reino de paz, de amor e fraternidade
rec��proca entre os homens na Terra.
Muita paz. Que o Pai nos aben��oe e ilumine a todos".
Depois da palestra reconfortante, ambos s��o trazidos ao
corpo denso, assim como os demais, por entidades que trabalham
nesta ��rea de levar os esp��ritos encarnados para aprendizado e
instru����es outras, no plano espiritual.
No dia seguinte, Joviniana e o esposo acordaram leves e
soltos, tiveram conversa����o edificante durante o caf�� matinal.
��� Ernesto, eu estou me sentindo um tanto quanto
diferente. Sinto-me como uma pluma, tenho a sensa����o de estar
flutuando, ao inv��s de andar. Recordo-me do sonho que tive
esta noite, ou melhor, recordo em partes. Lembro-me de ter
estado numa plat��ia, se �� que assim poderia consider��-la.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Na frente de muitas pessoas, sentia a sensa����o de um
homem falando sobre coisas simples, por��m, s��rias. Entretanto,
n��o consigo saber do que se tratava...
Ernesto, com os olhos fixados na companheira, passou a
recordar-se tamb��m, de maneira muito vaga, de ter estado em
ambiente semelhante, em seu sonho.
Com o olhar enternecido na jovem esposa, sentiu uma
for��a dentro de si, uma paz, uma serenidade que o estimulava
para algo nobre. Nunca se sentira assim antes.
Com um leve sorriso nos l��bios falou �� Joviniana, um tanto
intrigado, por��m calmo.
- Joviniana, querida, acho melhor irmos at�� a casa esp��rita
o quanto antes, acredito eu nas palavras dos nossos vizinhos. E
sei que l�� encontraremos realmente as respostas que, como n��s,
muitos procuram.
Neste ��nterim, Fl��via acordou no ber��o, estava na hora de
cuidar dos filhos. Joviniana foi at�� o quarto e o esposo saiu para
o trabalho.
Voltemos �� Irm�� Carmelita. Vamos encontr��-la novamente
fazendo suas visitas aos enfermos. Sua presen��a �� sempre uma
luz aliviando as dores dos que sofrem e, por vezes, n��o t��m mais
chance de continuarem vivendo, tamanha a gravidade de suas
mazelas.
Os assistidos com as energias balsamizantes da irm��, agora
s��o os cancerosos. Doentes terminais que esperam dar o ��ltimo
suspiro no corpo para continuarem vivendo do outro lado, aquele
ao qual todos n��s pertencemos, o mundo espiritual.
Esta criatura com as vestes de seu credo, transmitia o
singelo magnetismo pessoal. Ela sabia que o bem ao semelhante
�� compromisso sagrado de quem decidiu seguir ao Cristo.
Ela sa��ra das muralhas do convento e ia ao encontro dos
necessitados, ajud��-los a escalar as muralhas da dor e do
sofrimento. Estendia m��os amigas, n��o fazia distin����o de cor,
cren��a, ou situa����o financeira.
Arestas do Passado
Por pequeninos que pudessem parecer os seus gestos, eram
enormes. O conforto que transmitia aos seus, com a energia que
se desprendia dela, era puro amor, caridade e a mediunidade
com Jesus. Mesmo desconhecendo o seu mecanismo, ela ��
igualmente m��dium, por��m, sem o saber. E pelo bem que
realizava era muito bem assistida espiritualmente, pois trazia o
que havia de mais puro dentro de si: a boa vontade em servir.
Deus a colocou no lugar certo. N��o �� porque usava h��bito
de freiras que era bem acompanhada, mas sim, porque sabia
usar o h��bito de amar e servir sempre. Quantas dores foram
aliviadas, nem que tenha sido por uma hora, um minuto.
Quantos irm��os se desenfaixaram da indument��ria f��sica mais
confortados com suas palavras de amor, f�� e esperan��a.
Quantos amigos ela fez nesta vida, atrav��s de seus gestos.
Amizades que se prolongaram no mundo dos esp��ritos, pois
nossas afei����es pelos irm��os n��o se dissolvem, mesmo estando
separados pelos dois mundos.
****
Carlos, um rapaz de trinta anos na atual encarna����o, de
s��bito cai da cadeira em que estava sentado, contorcendo-se e
revirando os olhos, debatia-se fortemente, tal como quem recebe
uma descarga el��trica de alta voltagem.
Ernesto, surpreso e sem saber o que fazer, viu que o
auxiliar estava a enrolar a l��ngua. O corpo de Carlos enrijecido,
a pele arroxeada, Ernesto e os demais nunca presenciaram tal
cena.
Um dos outros dois companheiros colocou o dedo na boca
de Carlos, puxando a l��ngua para que o jovem n��o morresse
sufocado pelo pr��prio ��rg��o.
Ernesto, nervoso e apavorado, colocou as m��os de Carlos
entre as suas e fez um r��pido pedido a Deus, mentalmente. Aos
poucos, Carlos come��ou voltar a si. Um terceiro amigo trouxe
um copo com ��gua para o rapaz epil��tico.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Depois da prece silenciosa, Ernesto, no desejo ardente de
ajudar e sem saber que provid��ncias tomar, viu uma entidade
sombria afastando-se do seu funcion��rio. Um vulto negro que
se distanciava, como que barrado por uma for��a invis��vel e muito
sutil. Blasfemante e sarc��stico foi se alongando �� dist��ncia, como
quem n��o conseguia olhar de frente para a luz de uma l��mpada.
O patr��o de Carlos, estupefato, viu a entidade se afastar
do jovem �� maneira de um felino trai��oeiro. N��o entendia a
vid��ncia de que se fazia portador naquele momento, mas sentira
uma energia exteriorizar-se de suas m��os.
Carlos n��o era epil��ptico, como se supunha, nunca fora.
O irm��o infeliz que o atacara era um companheiro do passado,
quando Ernesto, encarnado como Malaquias Petrone, mandou
aprisionar os dois por causa de uma d��vida que n��o podiam
saldar.
Ambos combinaram, Carlos e a entidade espiritual, que
fariam Malaquias pagar com a vida pela humilha����o que fizera
a eles. Carlos por sua vez, ao sair da pris��o onde ficou por trinta
dias, resignado, perdoou Malaquias, olvidando-se do trato que
fizera com o ent��o comparsa.
Por isso hoje, Carlos, reencarnado, recebia as provid��ncias
do trabalho honesto, ajudando Ernesto na empresa e Ernesto,
por sua vez auxiliando-o como bom patr��o, com carinho e
respeito.
A justi��a divina n��o �� precipitada, n��o tem pressa, mas
age justamente no tempo e no espa��o, no momento oportuno.
A entidade revoltara-se contra Carlos, porque vira que
ele tinha as condi����es propicias para fazer "justi��a"a Malaquias,
hoje Ernesto. Vingan��a �� o termo exato, mas percebera que o
companheiro n��o correspondia aos seus anseios, ent��o, invadia
o seu campo ps��quico para tamb��m faz��-lo sofrer pelo trato n��o
cumprido.
- Carlos, voc�� est�� bem? - perguntou o patr��o preocupado,
olhando em volta do recinto.
Arestas do Passado
��� Sim, Sr. Ernesto. Mas o que aconteceu, por que estou
aqui no ch��o? E voc��s por que est��o brancos, p��lidos?
��� �� porque voc�� ainda n��o se viu no espelho, por isto faz
esta pergunta ��� brincou o amigo mais tranq��ilo, fazendo o riso
dos presentes.
Come��ou assim a tarefa do endividado irm��o Ernesto. Sua
faculdade come��ava a despontar, dando-lhe mais uma
oportunidade de servir a muitos que de sua energia magn��tica
pudessem precisar. Mediunidade de prova e expia����o s��o
oportunidades riqu��ssimas de engrandecimento nas bases ��ticas
e luminosas, pautadas pelo Evangelho de Jesus, sob as diretrizes
doutrin��rias de Kardec.
Depois do achaque do funcion��rio todos puderam se
restabelecer do susto. Um dos companheiros sugeriu a Carlos
que procurasse um m��dico.
Ernesto, um tanto confuso, n��o deixou de aprovar a
sugest��o, mas aduziu com calma:
��� Um m��dico sim, mas antes, por��m, uma ora����o
fervorosa a Deus.
Os amigos de trabalho se entreolharam, ao que Carlos
respondeu:
��� O senhor tem raz��o, pena que muitas vezes s�� nos
lembramos de Deus nestas horas.
��� N��o tem import��ncia, o importante �� procur��-Lo antes
dos problemas, para que, quando estes surgirem, encontremos
for��a e coragem para suport��-los e venc��-los. �� a Deus que
devemos recorrer. Se n��o pedirmos a Ele, a quem mais
pediremos? - disse Ernesto, hoje transformado pelas experi��ncias
que vivera.
O patr��o dos rapazes sabia que o que viu n��o era ilus��o
de ��tica nem t��o pouco fruto de sua imagina����o. Pela conversa
preliminar que ele e a esposa teceram com seus vizinhos, deu
para perceber que o que vira envolvendo Carlos, era um esp��rito
voltado para o mal; rancores de uma outra exist��ncia.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Preocupado, o m��dium iria falar de suas vis��es repentinas
com uma orientadora da casa esp��rita. Come��aria por a��, ele e
a esposa Joviniana a fazerem parte do n��cleo espiritista,
exercendo suas potencialidade median��micas em saldo dos
d��bitos do passado, sendo intermedi��rios de trabalhadores
invis��veis.
Nem sempre ser�� preciso aprender ou pagar os erros com
e pela dor. O trabalho em benef��cio do semelhante �� moeda de
muito valor nas somas que se fizeram no saldo devedor.
Temos, ent��o, a mediunidade, faculdade fecunda que
enobrece o cora����o de todos que querem progredir, de melhorar
perante Deus e seu semelhante.
Faculdade esta inerente a todo ser-humano, por��m,
ostensiva por vezes, naqueles que vieram com o compromisso
de exerc��-la em prol de seu adiantamento e de ajuda ��
humanidade.
Transcorreram-se as horas, o fim do expediente havia
chegado. Ernesto, animado, saiu primeiro deixando a cargo de
um dos seus funcion��rios o fechamento da pequena empresa.
Saiu cheio de energia e vivacidade. Seu pensamento se
projetava no lar e simultaneamente no encontro que se faria,
logo mais �� noite, no centro esp��rita.
Ao descer do carro para abrir o port��o de entrada, foi
abordado pelo vizinho que lhe endere��ou a palavra, prestimoso:
��� Ernesto. Ent��o, tudo certo para logo mais?
-Ah, sim. Tudo certo, Jonas.- respondeu ao amigo, ansioso
para relatar-lhe o acontecido do dia.
��� Eu e Maria esperaremos por voc��s, avisem quando
estiverem prontos. Devemos estar l��, no m��ximo, quinze
minutos antes do in��cio da reuni��o. N��o se atrasem.
��� S�� que antes gostaria de contar-lhe a respeito do que
aconteceu hoje, l�� na firma - falou Ernesto.
Arestas do Passado
��� Ah, sim, claro. Fale, Ernesto, o que tem a me dizer? -o
vizinho sempre prestativo e sol��cito ouviu, atencioso, os r��pidos
relatos do amigo.
��� Tenha calma, mais tarde voc�� falar�� com algu��m que
recepciona as pessoas rec��m-chegadas �� casa. Esta pessoa, de
nome S��nia, lhe colocar�� a par das primeiras elucida����es. Conte
a ela um pouco de tudo o que tem se passado com voc�� e sua
esposa e filhos. Depois, voc��s conhecer��o mais profundamente
atrav��s dos estudos basilares. Isto ��, claro, se desejarem se
aprofundar. Ademais, n��o vamos com muita sede ao pote, tudo
deve ser dosado.
Ao adentrar sua casa, Ernesto deparou-se com uma
surpreendente e inesperada visita, sentada no sof�� conversando
com Joviniana. Depois de algum tempo, a Irm�� Carmelita
resolvera fazer-lhes uma visita de ��ltima hora, na verdade era s��
uma passadinha, de vez que j�� se encontrava de sa��da.
��� Irm�� ��� disse o esposo de Joviniana, surpreso -, mas que
honra, at�� que enfim resolveu nos visitar.
��� Como vai, meu filho?- respondeu a abnegada dos
doentes - Como voc�� tem passado, tudo bem?
��� Ah, sim, Irm��. Gra��as a Deus. ��� respondeu Ernesto
empolgado e feliz, por��m, preocupado com o hor��rio, pois
deveriam estar prontos at�� as 19h30, pois quinze minutos antes
das oito deveriam estar na casa espiritista. No entanto, havia
tempo ainda.
��� Eu estava aqui por perto e pensei em fazer-lhes uma
r��pida visita, rev��-los ��� informou a freira da caridade com um
largo sorriso nos l��bios -, e tamb��m para convid��-los a
participarem de uma cerim��nia religiosa no convento, em a����o
de gra��as por muitos doentes terminais que se recuperaram,
como por encanto.
Abra��ado �� esposa, Ernesto ficou sem saber o que
responder por��m, a jovem mulher perguntou, educadamente:
��� E quando ser��:
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
- Amanh�� ��s 19 horas. - respondeu Irm�� Carmelita.
Para n��o decepcionar aquela criatura amorosa que tanto
os amparara nos momentos dificeis, o casal concordou
satisfatoriamente, n��o seria um sacrif��cio e, sim, um prazer.
Afinal de contas o compromisso que tinham era para logo
mais, nada os impedia de ir.
- Est�� bem. Amanh�� ent��o, espero voc��s, aqui est�� o
endere��o do convento. Mas n��o estou impondo nada a voc��s e
nem voc��s, meus queridos, devem fazer isto por educa����o ou
considera����o. Eu simplesmente os estou convidando, isto por��m,
n��o quer dizer que pretendo arrast��-los, se posso assim me
expressar, a uma religi��o que talvez n��o escolheram. Tenho
consci��ncia que, quando pessoas como voc��s, passam por
experi��ncias amargas, sentindo-se fragilizados, aturdidos, v��m
sempre os oportunistas, para n��o dizer fan��ticos religiosos,
dizerem que sua religi��o ou templo religioso os ajudar��. Orientar
pessoas a um templo �� dever de amigos que pretendem ajudar
de alguma forma, mas sem escraviz��-los ao fanatismo ou ��
ignor��ncia de uma cren��a abstrata. Na verdade, escolhi ser freira
porque quis, ningu��m me impingiu nada. Foi uma escolha
minha e para ser franca, n��o a acho melhor que as outras. Todas
as religi��es s��o realmente boas e necess��rias, se fazem e agem
em conformidade com as li����es de Jesus, que n��o pregou
nenhuma religi��o, a n��o ser a religi��o do amor.
O casal silencioso ouvia a tudo, as crian��as sentadas no
ch��o brincavam distra��das, at�� que a freira pegou a mais nova,
Fl��via, e continuou:
- Jesus disse-nos: "Aquele que fizer a um destes
pequeninos, a mim o fez". �� isto de que precisamos, ajudar as
crian��as do hoje, porque ontem fomos crian��as tamb��m. Auxiliar
os famintos a suprirem suas necessidades, amparar os enfermos,
os infelizes. Esta �� a mais bela e verdadeira religiosidade que
algu��m poder�� viver. Para mim, tanto faz o cat��lico, o budista, o
protestante ou o esp��rita.
Arestas do Passado
As palavras da freira pareciam entrever a busca que
Ernesto e Joviniana fariam...
- Esp��rita?... - interrompeu-a, Ernesto surpreso, - a
senhora acha o qu�� dos esp��ritas?
- Dos esp��ritas eu n��o acho nada. Quem sou eu para julgar
a quem quer que seja? Cada um vive e faz o que quer, o que
achar melhor para si, por��m, se n��o fizer o que aprendeu at��
ent��o, o que lhe foi ensinado numa determinada religi��o no
tocante ao Evangelho, ao amor crist��o, fica o problema a cargo
da pr��pria consci��ncia. Agora, respondendo mais direcionadamente
a sua pergunta, do espiritismo eu penso que seja uma
doutrina muito bonita, esclarecedora diante de muitas inc��gnitas
que nos prendem �� vis��o racional de Deus. N��o se assustem
por dizer isto, contudo, n��o tenho avers��o a nenhum credo, sou
freira sim, mas com a mente e o cora����o abertos... - agora era
Joviniana cortando-lhe a palavra ao perguntar :
-A Irm�� Carmelita conhece algo a respeito do espiritismo?
Perdoe-me a pergunta, mas vejo que a senhora n��o tem
preconceitos.
��� Nem devo, Joviniana ��� respondeu serenamente a freira
por��m confesso a voc��s que j�� li, ��s escondidas, dois volumes
de Kardec, assim como do budismo, bramanismo e assim por
diante e, achei as elucida����es de Allan Kardec muito sensatas.
Seu trabalho liberta as consci��ncias humanas dos atavismos com
que as religi��es as escravizaram h�� mil��nios. Contudo n��o pude
me aprofundar mais a fundo na leitura, depois que uma das
minhas superioras me surpreendeu com O Evangelho Segundo
O Espiritismo nas m��os, numa concentrada leitura e an��lise
sob uma profunda medita����o. - Risos descontra��dos entre todos
interromperam a confiss��o de Carmelita. Continuou:
��� Li O Livro dos Esp��ritos tamb��m. Eu os adquiri quando
de uma das minhas viagens, onde eu sempre costumava comprar
livros de todos os tipos e g��neros e, ent��o, eu os comprei numa
banca de livros esp��ritas. Mas n��o pude continuar a leitura por
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
mais vezes, as quais me enriqueceram e me interessaram
muit��ssimo. Ent��o, parei, depois da Madre Superiora t��-los
tomado das minhas m��os com o refor��o de uma puni����o pela
heresia, assim como ela chamou os livros. Para mim, foi o
descortinar de um v��u que, at�� ent��o, n��o me permitia ver e
sentir as causas do sofrimento alheio como um problema
c��rmico, expiat��rio e regenerador, o que me possibilitou
compreend��-los e ajud��-los como posso e fa��o at�� hoje.
As horas se passaram. Fomos encontrar Carlos, o que
sofrera um aparente ataque epil��ptico, j�� em sua casa. Mais
aliviado, por��m sentindo dores nos m��sculos, qual estivesse sido
espancado. Um tanto acabrunhado, conversava com seus pais a
respeito do ocorrido e estes recomendaram que procurasse um
m��dico, o que Carlos concordou sem nenhuma obje����o. No
entanto, ficaria para o dia seguinte.
Ap��s uma ducha fria e a refei����o j�� feita, saiu cabisbaixo
com seu carro, para um lugar que lhe traria refazimento ��ntimo.
Voltemos �� casa do casal Ernesto e Joviniana.
A simp��tica e amorosa freira j�� se encontrava de sa��da.
Despediu-se das crian��as e, voltando-se para o jovem casal, falou
amorosamente:
- Espero n��o ter deixado voc��s decepcionados com meus
apre��os filos��ficos sobre as demais denomina����es religiosas.
- N��o, Irm��, a senhora nos deixou at�� mais abertos e
seguros para os conhecimentos que desejamos adquirir, respondeu
Joviniana, com ternura no olhar.
- P��r qu�� ? Como assim?- indagou a irm�� da caridade.
- Porque n��s, logo mais iremos �� uma casa esp��rita. Nossos
vizinhos nos convidaram, acreditando que encontraremos
algumas respostas para alguns problemas e experi��ncias que
temos vivido.
A freira acariciou o rosto de ambos e convicta endossou:
Arestas do Passado
��� Meus filhos, n��o tenho profundidade no que diz respeito
ao espiritismo, o que posso dizer-lhes com convic����o e sensatez,
�� que voc��s devem ir, sim, pois, eu tamb��m, como lhes falei,
encontrei muita coer��ncia nas obras de Kardec. N��o �� pelo fato
de ser uma religiosa de h��bito, segundo a ordem a que perten��o,
que diria a voc��s para n��o irem. Devem ir ao encontro de Deus,
mas para este encontro �� preciso saber quem somos e porque
somos. Um breve sil��ncio se fez e a Irm�� prosseguiu:
��� Tamb��m devemos saber porque aqui nos encontramos
e para isto temos que procurar aquilo que preencha as lacunas
deixadas pela dor e o sofrimento de um modo geral. E, se bem
entendi. Allan Kardec, pelo pouco que li, mas que muito me
encantou, voc��s n��o s�� devem como precisam deste encontro
com a Divindade, encontrando consigo mesmos, esclarecendo
d��vidas e sustentando a f�� e a raz��o da vida existencial. V��o e
depois me digam. As diferen��as religiosas entre n��s, s�� ser��o de
r��tulos, mas continuaremos amigos, irm��os. Deus �� um s�� e
Jesus o ��nico Mestre de todos n��s, esp��ritas, cat��licos,
protestantes, etc.
Abra��os se fizeram entre aquelas almas que se amavam
acima de qualquer coisa. O sentimento que os unia era sagrado.
O selo de afinidades era o amor sem fronteiras nas cercanias do
mundo material.
A hora chegara, enfim. Os Guedes batiam �� porta da casa
daquela fam��lia, tal como as demais, que se formaram para o
cumprimento de conquistas nobres, reparando o passado e se
preparando para o futuro, auxiliando uns aos outros sob o teto
familiar.
Ao adentrarem o centro esp��rita, foram encaminhados a
S��nia, que se incubia de receber as pessoas que estavam
chegando na casa para conhecerem a doutrina dos Esp��ritos do
Senhor.
As crian��as, j�� levadas ao encontro das outras, ficariam ��
vontade entre os novos amiguinhos, enquanto que o casal
Valdemir Pereira Barbosa / ��ngela
deleitava-se no atendimento exclusivo a eles naquele momento,
numa saleta ao som de uma m��sica e suave. Logo mais
assistiriam a uma palestra e, certamente retornariam mais vezes.
Uma nova porta de luz se abrira em suas vidas...
Gratos ficariam pela eternidade ao amigos Jonas e Maria
Guedes. Come��ariam assim o preparo para Ernesto e esposa,
para quando estivessem prontos ao trabalho que viriam a
desempenhar. As cobran��as do passado ficariam mais expressivas
na contabilidade dos d��bitos como resgate e aprendizado
iluminativo.
O amor �� a grande e ��nica moeda que salda os d��bitos e
nos faz crescer para Deus, sob a ��gide de Jesus.
Depois de haver tomado os passes, juntamente com
Maur��cio e Fl��via, o casal rec��m-chegado �� doutrina teve uma
surpresa, Ernesto em particular.
Foi quando, despedindo-se de S��nia, deram de frente com
Carlos. O mesmo Carlos, funcion��rio de sua pequena empresa.
- Carlos - falou Ernesto, entre admirado e surpreso.
- Sr. Ernesto! D. Joviniana! Que surpresa agrad��vel
encontr��-los aqui. - cumprimentou-os o rapaz agora mais leve,
com respeito ao acontecido daquele dia.
- Eu n��o sabia que o senhor e sua fam��lia freq��entavam
aqui.
- N��o freq��entamos, meu rapaz, melhor dizendo,
come��amos hoje. - Respondeu Ernesto, alegre - N��s tamb��m
n��o sab��amos que voc�� fazia parte dos estudos esp��ritas.
- Ah, j�� faz cinco anos.
- Que ��timo, meu filho, ficamos felizes em v��-lo aqui;
n��s, a princ��pio, estamos adorando. H�� tanto por aprender,
conhecer e mudar em n��s. Queremos continuar, n��o �� mesmo,
querido ? ��� exteriorizou Joviniana com emo����o na voz.
- Sim, querida, com certeza! At�� as crian��as parecem ter
se arranjado com os novos amiguinhos.
Arestas do Passado
��� Muito bem, senhor e senhora... Posso cham��-los pelo
sobrenome ?��� perguntou o rapaz.
��� Oh, sim, sim - consentiu o casal.
��� Est�� bem senhor e senhora Carnevale, espero continuar
a v��-los continuamente por aqui.
��� A prop��sito, Carlos, j�� que est�� dentro da doutrina h��
algum tempo, acredito que possa me dar alguns esclarecimentos,
j�� que nos vemos todos os dias. Tal como o que ocorreu hoje l��
na firma, embora S��nia j�� tenha me falado a respeito. Nossos
vizinhos, Jonas e Maria �� que nos trouxeram aqui esta noite,
mas nem sempre h�� oportunidade de conversarmos. Ambos, ele
e eu andamos muito ocupados com o trabalho, voc�� sabe. Ali��s
somos muito gratos a este casal amigo.
��� N��o tem problema - falou Carlos alegremente -, mas
quanto ao que aconteceu hoje, o senhor j�� deve ter tido
esclarecimento superficial, n��o �� mesmo ? O saber de outras
cousas vir��o mais tarde, com o estudo e o racioc��nio. Ambos
passaram pela entrevista, n��o passaram ?
��� Sim, passamos ��� respondeu Joviniana.
��� Acredito eu que o senhor em particular tenha contado ��
S��nia sobre o ocorrido, n��o foi ? Ent��o, com o tempo voc��s
entender��o com profundidade. Agora a terra, no caso voc��s,
precisa ser preparada para o plantio.
Todos sorriram descontra��dos e felizes. L�� dentro de outra
sala sa��ram os vizinhos do casal. Cumprimentos de boa noite se
fizeram entre todos. O casal Carnevale e filhos passariam a
progredir com os ensinamentos de Jesus �� luz do Espiritismo,
fortalecendo e encorajando aquelas almas nas arestas do passado.
Carlos, j�� conhecedor das causas espirituais contidas nas
elucida����es de Alan Kardec, saiu de casa preocupado com o fato
de ter se deixado influenciar t��o sorrateiramente por uma
entidade rancoroso e sedenta de vingan��a.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
O que Carlos n��o contava era que algu��m, alheio at�� ent��o
ao conhecimento de tal natureza, pudesse fazer recuar um mal
de forma quase instant��nea.
Embora n��o presenciasse nada na hora em que se
contorcia, teve as explica����es durante a reuni��o medi��nica de
doutrina����o.
H�� dois anos participando no labor median��mico, como
m��dium de apoio, n��o foi suficiente para impedir uma investida
inesperada, o que considerava ser uma invigil��ncia sua.
E como os Benfeitores n��o nos deixam sozinhos em tais
circunst��ncias, se utilizaram do patr��o de Carlos para o socorrer.
Justamente no mesmo dia em que haveria reuni��o e assim no
jovem, a mediunidade de psicofonia come��aria a aflorar.
No momento em que Ernesto e Joviniana estavam
ouvindo a palestra, Carlos j�� havia conversado com o dirigente
do grupo e este, por sua vez, pediu o amparo ao rapaz. N��o
demorou muito e o Esp��rito se manifestou em uma das m��diuns,
que estava sentada �� mesa, doando de si, emprestando seu corpo
para o esclarecimento de esp��ritos infelizes, para serem
doutrinados, esclarecidos.
Alguns s��o sofredores que nem sabem que desencarnaram.
Outros s��o refrat��rios a qualquer orienta����o. Outros ainda, mais
dif��ceis. S��o pessoas que viveram na Terra e que fora do corpo
f��sico, em decorr��ncia do fen��meno da morte, �� qual ningu��m
escapar��, continuam a ser o que eram em vida. Conquanto
vivendo no mundo dos esp��ritos, muitos prosseguem apegados
ao mundo material devido aos desejos, ��s aspira����es e
sentimentos que possu��ram no mundo terreno.
Ao contr��rio do que se possa imaginar, s��o criaturas como
as demais que estagiam na crosta, ou seja, esp��ritos. E n��o
dem��nios ou anjos, segundo suas condi����es. Estes n��o existem
na acep����o real do termo. S��o cria����es das cren��as ortodoxas e
salvacionistas, que garantem o c��u para os bons e o inferno eterno
para os maus, que n��o s��o maus, se encontram maus. Devido
Arestas do Passado
aos seus pensamentos de ��dio, no desejo de vingan��a que os
distancia da luz, acabam criando em seus perisp��ritos uma
apar��ncia animalesca, grotesca, demon��aca, da�� a cren��a nos
dem��nios. Por��m, s��o esp��ritos que podem e devem se melhorar.
Como nos ensinou Jesus, os s��os n��o precisam de m��dico. E
para isto existe o interc��mbio espiritual atrav��s dos m��diuns.
Ent��o adv��m a pergunta: �� preciso que o m��dium receba a
entidade para esta se melhorar ? N��o �� assim. Antes de haver o
m��todo embasado na codifica����o kardeciana, tais esp��ritos eram
doutrinados pelos Mentores da Vida Maior com toda sutileza e
compet��ncia. Acontece que n��s somos criaturas endividadas
perante a lei Divina e ao reencarnarmos, alguns dentre n��s j��
trazem o compromisso medi��nico e isto n��o quer dizer que seja
um privilegiado dos c��us.
Esta �� uma forma de saldarmos d��bitos que contra��mos
em outras exist��ncias, j�� que ningu��m �� santo. Tem o indiv��duo
a predisposi����o org��nica para servir de intermedi��rio entre os
dois planos da vida, ou seja, o vis��vel com o invis��vel, tendo
tamb��m o ensejo de aprender e aprimorar-se com a mediunidade
bem conduzida, a mediunidade socorrista, onde doutrina-se e
se esclarece o esp��rito comunicante e necessitado e,
paralelamente, a si mesmo; eis, pois, a fun����o dos medianeiros.
M��diuns existem nas mais variadas formas e aptid��es, em
todos os lugares e religi��es. "Pode-se ser m��dium sem o saber",
j�� dizia Kardec em O Livro dos M��diuns. No entanto, somente
a Doutrina Esp��rita explica e esclarece em seus postulados como
exercer a mediunidade com seguran��a e pleno conhecimento
de causa, promovendo o progresso moral, espiritual e evang��lico
da criatura humana.
Arestas do Passado
6. DOUTRINA����O
OPORTUNA
Carlos ouvia a entidade se expressar, relatando o porqu��
de tal investida contra si. E compreendeu o dever da vigil��ncia e
do amor fraternal para com o visitante invis��vel. Tamb��m
compenetrou-se da responsabilidade perante seu patr��o: j�� o
havia perdoado no passado long��nquo e lutaria por am��-lo e
respeit��-lo, j�� que a Divina Provid��ncia o colocara em seu
caminho novamente, incentivando a fraternidade de um para
com o outro.
O doutrinador esclareceu o Esp��rito obsesssor quanto ��
necessidade do perd��o, principalmente para com Ernesto, o
Malaquias de outra exist��ncia.
Informou �� entidade, por hora desvirtuada, que Carlos
n��o poderia vingar-se de Ernesto, pois j�� o perdoara em vida
naquela exist��ncia mesmo e, al��m do mais, n��o poderia se
lembrar de fatos desta natureza, vindos de uma outra encarna����o.
O Esp��rito relutou em aceitar, foi dif��cil. At�� que o
doutrinador experiente e seguro, tocou no ��mago do esp��rito
vingativo, quando disse a este que sua m��e ali se encontrava em
esp��rito, tal como ele pr��prio, em condi����es melhores, �� ��bvio.
Por este motivo n��o conseguia v��-la.
Sr. Roberto, um homem j�� ��s margens dos seus sessenta
anos, tinha alguns lampejos de vid��ncia e audi��ncia, o que lhe
Valdemir Pereira barbosa / Angela
dava uma certa vantagem na hora do socorro e esclarecimento
aos irm��os da erraticidade. Os Mentores acessoravam-no com
tais faculdades, util��ssimas para a ocasi��o.
A entidade desditosa passou a duvidar, queria ver sua m��e.
Esta pedia-lhe que abandonasse o desejo mesquinho da vingan��a
ingl��ria, o que Sr. Roberto transmitia ao irm��o espiritual
endurecido.
Carlos vibrava com amor e serenidade para o Esp��rito
comunicante. At�� que o enfermo espiritual indagou:
��� Se minha m��e est�� aqui realmente, por que n��o a vejo ?
Ou ter�� ela tamb��m me abandonado ?
��� Ningu��m o abandonou, meu irm��o, ��� respondeu o
doutrinador af��vel - voc�� �� quem deixou de viver o bem. Se n��o
v�� sua m��e amada �� pelo fato de voc��s estarem em condi����es
vibrat��rias diferentes. Mude a sua maneira de pensar e agir. Deixe
o ��dio, sua m��e veio ajud��-lo. Voc�� n��o quer v��-la?
��� Mas e aquele que me fez mal, o que farei dele?
��� Perdoe. ��� respondeu o Sr. Roberto.
��� E este outro que era o meu companheiro, e que fez um
juramento, um trato comigo e depois n��o quis mais cumpri-lo,
honr��-lo? ��� retrucou o irm��o pertubado pelo rancor, quase
cedendo.
��� Voc�� chama vingar-se de algu��m uma honra ? O irm��o
est�� enganado, isto n��o �� e nunca foi honra, �� fraqueza. Ningu��m
deve fazer justi��a com as pr��prias m��os. A justi��a cabe a Deus
faz��-la.
��� E ele, aquele que me encarcerou, ficar�� impune ?
Demorei para encontr��-lo, agora quero que sofra como eu e
este que aqui est��, sofremos.
��� Voc�� est�� falando por si, meu irm��o, - falou-lhe Sr.
Roberto seguro - este outro irm��o que aqui se encontra, de nome
Carlos, n��o pensa como voc��, nem t��o pouco sua m��e que no
recinto tamb��m se encontra, esperando que voc�� ofere��a
Arestas do Passado
oportunidade para que ela possa auxili��-lo a sair das sombras
em que voc�� est�� engendrado.
Ap��s convidar o infortunado irm��o a uma prece e ao
perd��o, a m��e do Esp��rito se fez vis��vel para ele, o que despertou-
lhe o sentimento e aceitou, depois de mais alguns
esclarecimentos, ser enviado a uma escola no plano espiritual,
onde absorveria li����es dos obreiros do bem.
Carlos tinha a��, pela primeira vez, se deparado com o
amigo-algoz do passado. Sua faculdade come��aria a despontar,
a psicofonia seria o canal de aux��lio aos irm��os sofredores e
renitentes.
A vid��ncia mais tarde se lhe acentuaria. No encerramento
da sess��o, um dos componentes agradecia a Deus pelo trabalho
da noite e os benef��cios e as oportunidades concedidos a todos.
Logo mais, Carlos iria encontrar-se com Ernesto e fam��lia,
tal como aconteceu. E a vida daria continuidade, as provas e
expia����es seriam a alavanca de propuls��o a quase todos os
personagens desta hist��ria, mas em parte o resgate de muitos
seria atrav��s do trabalho no bem, embora isto n��o os livrasse da Lei
de Causa e Efeito, a����o e rea����o, nos palcos da Terra em vida carnal.
Arestas do Passado
7. REVESES
PROVACIONAIS
Transcorreram-se os anos.
A fam��lia de Ernesto Carnevale chegara ao equil��brio, no
campo material e espiritual.
Encontramos Maur��cio, agora com dez anos de idade na
atual exist��ncia. Menino inteligente e amoroso. Fl��via, com cinco
anos, hoje estudando num jardim de inf��ncia, enquanto sua
ador��vel m��e cumpria com seus deveres junto a outras crian��as
sem pais, na mesma institui����o.
A pequena loja de pe��as chegara, at�� ent��o, a um relativo
sucesso. Seu funcion��rio de confian��a chegou a ser promovido
a gerente da loja. Carlos, agora j�� casado, era um trabalhador
exemplar.
Voltemos a aten����o �� irm�� dos aflitos de todos os matizes.
Irm�� Carmelita prestava assist��ncia ��s pessoas carentes. Ernesto,
que durante estes cinco anos ao lado da esposa integrara-se no
movimento espiritista, havia fundado uma creche com um
jardim de inf��ncia, onde Joviniana cuidava das crian��as
enquanto Fl��via permanecia nas aulinhas de desenho e
evangeliza����o,
A freira, uma vez ou outra passava para visit��-los em casa
e tamb��m ��s crian��as da institui����o.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Crian��as desamparadas eram assistidas como filhos do
cora����o. Bem cuidadas na higiene e alimenta����o, recebiam os
ensinamentos do Evangelho sob a luz da Doutrina dos Esp��ritos.
A irm�� da caridade, dava seu apoio �� causa.
Ernesto, com a firma em condi����es financeiras melhores,
decidira, com o aval da esposa, fazer algo de ben��fico com o
dinheiro do seu trabalho: era uma necessidade ��ntima de cada
um. Depois que despertaram a consci��ncia e o interesse pela
doutrina, acreditavam que deveriam colocar em pr��tica tudo
quanto aprenderam e continuavam aprendendo, nestes parcos
anos de esclarecimentos espirituais.
Depois de dois anos de estudos ass��duos, foram encaminhados
para as reuni��es medi��nicas, onde Ernesto conseguira
acentuar mais a vid��ncia e canalizar melhor o magnetismo pessoal.
Passou a dar passes, juntamente com a esposa, sendo que,
neste ��nterim, conseguiu desenvolver a mediunidade de
psicofonia, tamb��m chamada incorpora����o, o que n��o se d��. O
Esp��rito que se comunica n��o entra no corpo de ningu��m, muito
menos no dos m��diuns. O Esp��rito n��o incorpora no m��dium,
mas, sim, este incorpora as id��ias, as sensa����es e emo����es do
comunicante, que o transmite de forma consciente ou
inconscientemente. H�� dois anos militava na institui����o Lar
dos Meninos, que, apesar do nome, servia para crian��as de
ambos os sexos.
Recebiam apoio aliment��cio de v��rios doadores, at��
mesmo dos que n��o tinham liga����o alguma com o espiritismo.
Abrigavam ali cento e vinte crian��as. Uma das alas servia
de creche para cuidar de crian��as cujas m��es sa��am para
trabalhar, pessoas humildes, batalhadoras.
A Irm�� Carmelita, j�� n��o andava tanto como antes, para
fazer suas visitas di��rias e, quando sa��a, estava quase sempre
em companhia de uma outra freira, uma novi��a do convento,
com a tarefa de auxili��-la.
Arestas do Passado
A freira n��o possu��a mais aquele vigor nas c��lulas do
corpo. H�� algum tempo constatara que estava com problemas
no ov��rio. Nada contou aos amigos Joviniana e seu
companheiro.
Por��m, a doen��a avan��ara c��lere, o caso j�� era antigo,
somente agora conhecido. Sua sa��de n��o mais permitia se
desprender tanto em prol dos doentes, como gostava de fazer.
Fazia o que podia, mas jamais deixou de fazer, por pequenino
que fosse o gesto.
Carmelita acompanhava o casal amigo e o casal de
rebentos, a amizade entre eles perduraria para sempre, muito
al��m da vida corp��rea...
A vida dos personagens desta hist��ria seguia o curso
normal. N��o obstante as realiza����es benfazejas de Ernesto, a
Lei de Causa e Efeito deveria seguir seu curso normal tamb��m.
De certo as cobran��as se faziam mais amenas para quem
se disp��s a servir ao pr��ximo, melhorando interiormente, no
trato com as dores alheias.
Muitos irm��os do passado estavam correlacionados com
Ernesto. As crian��as que o casal mantinha no Lar dos Meninos,
em parte eram esp��ritos outros aos quais havia Ernesto
menosprezado, quando n��o injusti��ado pela sua sagacidade.
Por��m, numa certa noite, Joviniana fora visitada por uma
entidade, durante o sono f��sico. O visitante do pesadelo realista,
��� se acreditarmos que o sonho muitas vezes, nada mais �� que o
esp��rito excursionando no et��reo fora do corpo durante a noite
��� a entidade que a incomodava, fazia gestos e car��cias parecendo
ser um viciado da sensualidade.
Tentou fugir dele, correndo desesperadamente, mas o
perseguidor dizia n��o t��-la esquecido. Quando estava prestes a
alcan����-la, Joviniana despertou no meio da noite, apavorada.
Indagada marido, ela respondeu ter sido s�� um
pesadelo.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Logo pela manh��, ao levantar-se da cama, sentiu o corpo
cansado, dores lombares e uma forte dor de cabe��a, mas que se
esvaiu logo depois. Depois de haver preparado o caf�� da manh��
e arrumado o casal de filhos para sair ��s compras juntamente
com o esposo, sentiu algo estranho, sem saber explicar o qu��.
Durante a ida ao supermercado pouco falara com Ernesto,
ao que ele, percebendo sua estranheza, indagou curioso:
- O que voc�� tem, querida ? Quase n��o falou uma palavra
at�� agora.
- Eu n��o sei, Ernesto - respondeu Joviniana um tanto
indiferente -, acordei toda dolorida, parece-me ter levado uma
surra.
- Foi acaso o pesadelo desta noite ? - perguntou o
companheiro calmo, por��m preocupado.
- ��... acredito que seja. N��o me recordo muito bem, s��
sei que senti muito medo. Algu��m ou alguma coisa me perseguia
e n��o sei porque, me pareceu familiar a princ��pio, embora n��o
tenha visto seu rosto.
Depois das compras feitas, Ernesto deixou a esposa e
Maur��cio em casa e seguiu para a creche com Fl��via. Era uma
manh�� de s��bado e a dedica����o ao Lar dos Meninos era mais
intensa nos fins de semana.
Em casa, a terna esposa que j�� se encontrava um pouco
mais refeita, guardava as compras. Maur��cio sempre �� sua volta,
acompanhava-a, carregando um saquinho ali, uma latinha aqui.
De s��bito, Joviniana sentiu uma forte vertigem, deixando
cair alguns alimentos no piso. Conservas em vidro, que se
esfacelaram, indo, alguns fragmentos, atingir o rosto e um dos
olhos do filho, que se agachara para pegar um pacote de bolachas.
Joviniana quase desmaiou, mas, ao ouvir o choro de
Maur��cio e o sangue escorrendo em sua face, procurou recompor-
se, clamando pela Provid��ncia Divina para que a ajudasse.
Tomou Maur��cio nos bra��os e, cambaleante, saiu at�� o muro
Arestas do Passado
lateral de sua casa, chamando por Maria Guedes. Joviniana
estava apavorada.
Maria, a seu turno, imediatamente deu a volta at�� chegar
ao port��o de entrada da casa de Joviniana, onde a encontrou j��
ca��da, desmaida com o filho nos bra��os.
Gritou pelo esposo, Jonas, que pulou o muro para prestar
os primeiros socorros ��quelas almas, mais uma vez visitadas pela
dor.
De imediato, foi buscar o carro, ap��s haver Joviniana
recobrado a lucidez e levou ambos ao Pronto Socorro mais
pr��ximo.
Atendidos pelo m��dico, a m��e de Maur��cio j�� se encontrava
melhor, enquanto que o pequenino teria de ser submetido a
uma raspagem no olho esquerdo.
Joviniana entrou em p��nico, temendo pelo filho e
sentindo-se culpada pelo fato ocorrido.
N��o demorou muito para que Ernesto chegasse ao local,
acionado por um telefonema de Jonas, que ligou para a creche a
pedido de Joviniana.
Mais uma vez a dor os havia alcan��ado e novamente era
Maur��cio o intermedi��rio dela, que sentia tamb��m as alfinetadas
das prova����es de que se fazia mediador.
S�� que desta vez, a situa����o era diferente, no sentido
comportamental do casal. Apenas Joviniana entrara em
desespero moment��neo, devido ao impacto da not��cia da
raspagem de um dos olhos do filho amado. Pensava ela que ele
poderia perder a vis��o, o que n��o estava descartado, por ser uma
regi��o muito sens��vel.
Sentados os cinco, Ernesto, esposa, filha e o casal Jonas e
Maria, aguardavam por mais uma not��cia do m��dico.
E a abnegada esposa passou a narrar o acontecido.
Seu esposo fitou-lhe os olhos e disse:
- Voc�� hoje n��o acordou muito bem. Senti algo de estranho
em voc�� logo pela manh��. N��o pude identificar o qu��, mas creio,
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
querida, que tem alguma liga����o com o pesadelo da noite
passada.
��� Voc�� acha que tem algo de oculto por detr��s disto ? ���
perguntou Joviniana, em l��grimas.
��� Sim. E t��o forte que pode ter provocado tais acontecimentos.
��� Falou Ernesto, penalizado.
As horas decorreram. O m��dico que fizera a raspagem no
olho de Maur��cio para remover alguns resqu��cios de vidro estava
otimista quanto a sua recupera����o.
Na sala de espera, confortou os pais quanto ��
despreocupa����o com qualquer problema mais grave com a vis��o
de seu filho.
��� Tudo bem, - afirmou o m��dico com um sorriso nos l��bios
-, o filho de voc��s dever�� ficar em observa����o durante as pr��ximas
vinte e quatro horas, como �� de costume.
��� E como foi doutor... o senhor acredita mesmo que n��o
haver�� problema com a vis��o dele ? ��� indagou a m��e agoniada.
��� Absolutamente. S�� houve cortes parte externa e acima
das sobrancelhas. No olho do garoto apenas pequeninos
fragmentos, nada que uma raspagem e medicamentos n��o
resolvam - afirmou o m��dico com autoridade.
��� Podemos v��-lo, doutor ? ��� inquiriu Ernesto, resoluto.
��� Ah, sim, sim. Mas est�� sedado, dormir�� por algumas
horas. Amanh�� eu o liberarei. Certo ?
Os pais de Maur��cio adentraram o quarto na enfermaria.
Ernesto solicitou de pronto a uma enfermeira que o transferissem
para um quarto particular, pois pretendia passar a noite com o
filho.
A enfermeira atendeu prontamente, junto �� recep����o e,
em alguns minutos, Maur��cio j�� se encontrava em quarto mais
confort��vel.
Joviniana, agora mais calma, elevou o pensamento em
prece, ao que os Guedes a acompanharam. Impondo as m��os
Arestas do Passado
sobre o menino, rogaram ao M��dico dos m��dicos que tudo
terminasse mais uma vez bem, para que Maur��cio pudesse sair
desta outra vez, s��o e seguro.
Voltemos ao cen��rio de novas imagens e aspira����es, onde
iremos ver a equipe de Amigos Espirituais trabalhando por
aqueles que sofrem. Os doentes ali naquele hospital, j�� prestes
a deixarem a vestimenta carnal, recebiam as equipes
especializadas que se encontravam a postos para o trabalho de
socorro ��queles que se libertavam da mat��ria densa.
Homens e mulheres j�� com o fluido vital se esvaindo do
som��tico, fechavam os olhos f��sicos para reabrirem os olhos do
esp��rito imortal, de regresso �� P��tria espiritual.
Naquele mesmo instante, um senhor de idade avan��ada,
��s margens dos noventa anos, entregava-se com serenidade ao
desprendimento do corpo.
O cord��o prateado que ainda o prendia junto aos despojos,
era cortado por trabalhadores do departamento de
desencarna����o.
O velhinho, envolto em claridade sublime, desenla��ava-
se leve e solto, amparado pela esposa que acompanhava a equipe
espiritual. Sua esposa, no entanto, j�� o havia precedido no mundo
dos esp��ritos, h�� longos quarenta anos.
No quarto de enfermaria onde a cena se fazia, t��nuissima,
beirava o anoitecer. Os dois outros companheiros de quarto do
anci��o n��o podiam ver a grandiosidade daquele momento, onde
o ser consciente dos seus deveres perante Deus e a sua
consci��ncia, encontra, na morte do organismo, a liberta����o para
a vida imorredoura. R��tulos, t��tulos e posi����es nestas horas de
nada valem. Somente as virtudes conquistadas em quase nove
dec��nios de vida na Terra, no caso dele, �� que realmente lhe
habilita o esp��rito para um mundo melhor.
Em outro quarto, numa outra ala, onde ficavam as
mulheres, encontramos D. Ambrosina.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Senhora de meia idade na atual exist��ncia.
Silenciosamente, tal como o anci��o, sentiu o apagar das luzes
na claridade dos olhos. Ela se encontrava a s��s em seu leito, sem
companhias de quarto. Entretanto, ao seu lado se encontrava
uma jovem freira que, pela sua candura e beleza pl��stica e
espiritual, parecia mais um anjo dentro de um h��bito religioso.
A abnegada irm��zinha, naquele mesmo hospital onde estava
Maur��cio, comprazia-se na visita aos enfermos.
Jovem demais. Era uma novi��a do convento, mas com a
maturidade espiritual suficiente de quem decidiu seguir a Jesus,
auxiliando o pr��ximo.
Enlevada numa prece fervorosa, sentiu que D. Ambrosina
chegara ao momento crucial da morte. Sem mais delongas,
chamou pela primeira enfermeira eme passava no corredor, a
qual veio imediatamente. Verificando o pulso e o cora����o da
senhora, fez men����o de encaminh��-la �� U.T.I.
- Tarde demais. - Falou a enfermeira, lamentando por
nada mais poder fazer.
D. Ambrosina teve uma parada card��aca. H�� tempos n��o
correspondia mais integralmente o seu cora����o com a vitalidade
de uma mulher ainda robusta na estrutura fisiol��gica conforme
sua idade.
- N��o h�� nada a fazer, Irm�� ��� esclareceu a enfermeira ��
jovem freira.
- H��, sim - respondeu a novi��a -, fa��amos uma ora����o
para que esta irm��, esposa e m��e siga em paz.
A ora����o proferida pela jovem da caridade ajudou os
trabalhadores no desligamento de D. Ambrosina, agora esp��rito
liberto do cativeiro.
Ainda em sono profundo, D. Ambrosina foi tirada do
corpo. A facilidade com que faziam o desligamento era algo
interessante e curioso.
81
Arestas do Passado
O doente, quando j�� nos ��ltimos dias de sua estada na
Terra, �� visitado antecipadamente por t��cnicos do departamento
de desencarna����o, que o levam para os hospitais onde d��o
continuidade ao tratamento; depois s��o conduzidos ��s col��nias espirituais,
col��nias estas que foram destinadas ao desencarnante1.
Muitas vezes, no decorrer da enfermidade, o esp��rito,
quando resignado, o que nem sempre acontece com os que
adoecem, faz uma viagem para dentro de si, antevendo ou
temendo a pr��pria morte.
Diante do quadro das mol��stias, o doente haure em seu
��ntimo o desprendimento do mundo exterior, fazendo-se sereno,
calmo. Pensa mais em Deus, pensa na pr��pria partida, no
desconhecido...
Faz uma reflex��o da vida, favorecendo, algumas vezes, o
amparo de Benfeitores Amigos, que encontram acesso na
resigna����o do indiv��duo, colaborando na movimenta����o de
fluidos balsamizantes para o organismo e principalmente para
o pr��prio esp��rito imortal que ��.
Assim, tamb��m encontram eles, os Benfeitores da
humanidade, ajuda da parte do paciente na hora fatal em que
d�� o ��ltimo suspiro. Se o paciente se entrega no dia e hora
marcada para sua partida do mundo terreno, tal como
programado antes da reencarna����o, os Esp��ritos encarregados
utilizam de tais recursos para que o o esp��rito ao desligar-se do
corpo, que n��o oferece mais condi����es de vida, se fa��a
serenamente, sem pesares para o esp��rito e sem muitas
dificuldades para o desempenho do trabalho. E com a prece de
algu��m que tem bases s��lidas na caridade e espiritualiza����o
pessoal, se torna suave e feliz o despojo do esp��rito do corpo sem
vida.
1.N.A. - Desencarnante: esp��rito que est�� em vias do desenlace, separando-se do
corpo f��sico.)
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
�� tarde, no dia seguinte, Joviniana e seu esposo andando
pelo corredor que levava ao quarto onde Maur��cio estava
internado, acabaram se encontrando com a jovem freira. Ela os
reconheceu de imediato, por��m, o casal pela ansiedade em ver o
fdho n��o a reconheceu de pronto.
Chamando-os pelo nome, logo reconheceram nela, a
jovem companheira da Irm�� Carmelita.
Inteirada do ocorrido com Maur��cio, ingenuamente a nova
sacerdotisa do Cristo, deixou escapar o que deveria ser um
segredo at�� ent��o.
Perguntando sobre a Irm�� Carmelita, o casal Carnevale
teve uma surpresa desagrad��vel.
- Ah, estou preocupada tamb��m com nossa querida Irm��
Carmelita - falou a jovem sem atender ao apelo da freira, em
n��o dizer nada a ningu��m com rela����o a sua sa��de.
- Como assim? - indagou Ernesto, preocupado.
Tentando esquivar-se da indiscri����o da espontaneidades
freira procurou desconversar.
- Ah, voc��s devem estar ansiosos para ver como se encontra
seu filho e eu tamb��m.
- Espere um minuto, Irm�� - respondeu Joviniana -, o
que a Irm�� Carmelita tem? Est�� passando por algum problema
que n��s n��o sabemos ?
- Bem, meus filhos. Eu tenho idade para ser quase sua
filha, no entanto permita-me cham��-los assim. Sabe, a Irm�� n��o
queria que dissesse a ningu��m, principalmente a voc��s. Mas j��
que deixei escapulir, acredito que voc��s devam e podem saber.
Antes, por��m, vamos ver como passou a noite e como est��
Maur��cio.
Ao entrarem no quarto, Maur��cio dormia como um anjo,
tal era a serenidade de seu semblante. O olho agora n��o tinha
mais a prote����o de gaze, recebia o ar suavizando-lhe a dor e
consolidando a pr��pria melhora.
Arestas do Passado
Joviniana, com os olhos cheios d'��gua, acariciava o filho,
sentindo o pesar da pr��pria consci��ncia, por n��o ter tido maior
cuidado antes de acontecer o acidente dom��stico.
- N��o chore, J�� - falou-lhe Ernesto carinhosamente -,
agora tudo ficar�� bem. Confiemos na Provid��ncia Divina. Creio
que o pior tenha passado, sejamos esperan��osos.
A voz pausada do esposo ressoou em seus ouvidos como
uma m��sica suave, levando a jovem mulher a resignar-se.
Desta feita a mais nova freira envolvera Joviniana num
abra��o, sobrepondo uma das m��os sobre Maur��cio e falou:
- Vamos orar.
Acenando com a cabe��a, Ernesto e a esposa fecharam os
olhos e se deixaram envolver pela voz meiga e carinhosa da nova
companheira.
A prece, profundamente elevada, fez com que chuvas de
p��talas de rosas ca��ssem sobre os olhos do menino, que dormia
serenamente. A vis��o espiritual naquele momento fora bel��ssima.
Ernesto, por sua vez, pousou suas m��os tamb��m sobre a
fronte do filho, deixando uns vinte cent��metros acima e de suas
m��os come��aram a sair chispas de luz: o magnetismo humano
se mesclava ao do Benfeitor Amigo que ali se encontrava
presente, adentrando assim para os ��rg��os visuais de Maur��cio.
Encerrada a prece, via-se o Amigo encarregado de auxiliar
Ernesto nos passes na casa esp��rita, se afastando de remanso,
desejando a todos a paz em nome de Jesus.
Porque sentira as emana����es do ambiente, a jovem freira
emocionara-se, deixando transbordar as l��grimas, em
agradecimento a Deus e a Jesus, o Mestre de todos n��s.
Em poucos minutos, uma enfermeira entrou no quarto
para medicar o menino Maur��cio.
- N��o tem outro jeito - argumentou a enfermeira, ap��s
cumpriment��-los, - vou ter que acord��-lo. Est�� na hora do
remedinho.
Valdennr Pereira Barbosa / Angela
Demorou um pouco para acordar, pois o paciente
encontrava-se num sono profundo, efeito dos passes nele
aplicados.
Um pouco atabalhoado, Maur��cio veio a despertar, ao que
a enfermeira perguntou:
��� Por que voc�� est�� t��o molinho assim? S�� agora �� que
vou lhe dar o rem��dio !
Os pais de Maur��cio se entreolharam num discreto sorriso
e, depois de ser medicado, envolveram o rebento do cora����o em
carinhosos abra��os.
Antes de se retirar, a enfermeira avisou os pais que o
m��dico, logo mais, no fim do dia, daria alta para o paciente,
depois que o examinasse durante o hor��rio de visitas m��dicas.
Voltemos, por alguns instantes, ao local onde se encontrava
a Irm�� Carmelita. Deitada na cama em seus aposentos, a irm��
da caridade passava por um mal-estar, indisposi����o e dores
internas.
Entrando em seu quarto uma das Madres Superioras,
preocupada com a Irm��, ao v��-la naquele estado, providenciou,
de imediato, a ambul��ncia do convento, para lev��-la ao hospital,
onde tamb��m eram conhecidas.
Chegando �� Casa de Sa��de, hospital de institui����o
Cat��lica, foi examinada pelo m��dico que j�� vinha cuidando do
seu caso e, repentinamente foi encaminhada para a Unidade de
Terapia Intensiva. A doen��a generalizara-se e o cora����o da freira
entrara em arritmia. Os agravantes se faziam maiores. A distonia
org��nica tomara rumo acelerado e, possivelmente, sem retorno
�� normalidade.
As doen��as som��ticas s��o inevit��veis, fazem parte do
contexto ps��quico-c��rmico na evolu����o do planeta.
S��o muitas as criaturas humanas que se deixam conduzir
pela f��, em mat��ria de cura, com rela����o ��s mazelas f��sicas.
Por��m, s��o tantas outras que mesmo sustentando uma f�� em
Arestas do Passado
Deus, em sua bondade, continuam com a doen��a org��nica, de
vez que o corpo j�� n��o �� o mesmo de d��cadas anteriores. Mas
isto n��o quer dizer que estejam doentes da alma, pois h�� doentes
da alma sem estarem doentes do corpo.
Quando sustentados pela f��, podemos promover nossa
auto-cura. No entanto, quando o mol��stia n��o se esvai mesmo
com muita confian��a, esta ��ltima nos d�� a sustent��culo da cura
interna. Traz a resigna����o, a compreens��o e nos deixa com uma
forte esperan��a e confian��a na Divina Provid��ncia.
Se olharmos para a doen��a como uma forma de
experimenta����o e de est��mulo para lutar pela pr��pria vida,
daremos mais vaz��o �� "f�� inabal��vel �� somente aquela que encara
a raz��o face a face", como bem disse Kardec.
�� ��bvio que ningu��m gostaria de adoecer para provar sua
f�� ou para dar mais valor ao corpo, que se constitui a continuidade
do esp��rito na vida terrena. S��o fatos aos quais ningu��m est��
imune de vivenciar.
Para aqueles que h�� muito sofrem com algum tipo de
doen��a corp��rea, ela transforma-se em passaporte luminescente
para uma vida cheia de paz na recomposi����o do perisp��rito, pois
quem adoece �� o corpo, n��o o esp��rito, embora muitas doen��as
derivam da alma, do esp��rito encarnado que precisa se aprimorar
diante das leis que nos regem.
Salvo raras exce����es, todos que estagiam no orbe terrestre
acabam por sentir as mazelas org��nicas, cobrando o reajuste do
esp��rito ou simplesmente saldando alguns d��bitos tenebrosos.
Conquanto que a Terra ainda seja um planeta de provas e
expia����es, os malef��cios do corpo psicossom��tico s��o condizentes
com as emana����es do ambiente e do espa��o f��sico e mental que
vivenciamos.
Um dia tudo isto deixar�� de existir, quando os habitantes
da Terra fizerem por transformar o planeta numa c��mara de
regenera����o. E n��o de degrada����o f��sica e espiritual, que gera
doen��as de v��rios matizes.
Valdemir Pereira Barbasa / Angela
Passaram-se as horas, Maur��cio recebera alta e continuava
o repouso em casa. Seu pai, vez ou outra aplicava-lhe o passe
restaurador.
Amparados pelo guia Espiritual da fam��lia, os dias negros
se passaram, mas o passado distante, n��o.
Depois do epis��dio, Joviniana se encontrava mais calma,
refletia um pouco mais, precavendo-se, examinava mais o
ambiente ps��quico de si mesma e recorria �� ora����o e �� prece de
forma mais acentuada. Felizes, ela e o esposo, com a recupera����o
do filho, esqueceram-se de que a jovem freira n��o contara o que
estava havendo com a Irm�� Carmelita.
Cinco dias decorridos ap��s a conversa����o com a mais nova
companheira da Irm��, veio a preocupa����o e a curiosidade em
saber o que estava se passando. Joviniana esperou o marido no
fim do dia para exp��r-lhe a inquietude que se instalara em seu
cora����o, devido �� conversa interrompida naquele dia no hospital.
Preparando-se para ir buscar Fl��via na creche do Lar dos
Meninos, deu instru����es �� bab�� quanto aos cuidados com o
filhinho que dormia angelicalmente.
Saindo de dentro da casa e indo at�� a garagem, onde se
encontrava o carro, escutou alguns passos, como se algu��m viesse
ao seu encontro. Olhando para os lados e para tr��s n��o viu nada,
o que a deixou cismada.
Pensou consigo que deveria ser algum esp��rito necessitado,
sofredor, buscando alento no reduto dom��stico, agora revestido
de esclarecimento e preces.
Ao abrir a porta do autom��vel, sentiu um torpor
invadindo-lhe a atmosfera ps��quica. Um pouco estonteada,
debru��ou-se sobre o carro, esperando o mal s��bito passar.
Sentiu um envolvimento nefasto, que n��o poderia ser t��o
somente de um esp��rito sofredor: ia muito mais al��m...
Chamou pela bab�� em voz alta, a qual veio prontamente,
ao que Joviniana solicitou-lhe que trouxesse um copo com ��gua.
Tomando o l��quido, ficou por alguns instantes sentada no banco
Arestas do Passado
do ve��culo, recompondo energias. Por��m, sentindo-se ainda
fragilizada, dirigiu-se para dentro de casa, amparada pela auxiliar
dom��stica. Ligou para Ernesto narrando-lhe o fato, pedindo ao
esposo, que ao sair do trabalho, apanhasse a filha na creche.
Ao chegar em casa com Fl��via, Ernesto adentrou a casa
preocupado, encontrando a jovem mulher deitada no sof�� da
sala. Ela ainda sentia os fluidos delet��rios da entidade, estava
sonolenta.
Ernesto, ao deparar-se com a esposa deitada, de imediato
viu com os olhos da alma que n��o estava sozinha. Um vulto
cadav��rico ali ao seu lado se encontrava, sugando-lhe as energias.
De mansinho, se aproximou da esposa olhando
firmemente e admirado para o Esp��rito; este, percebendo-lhe o
olhar em sua dire����o, n��o ousou mover-se do lugar.
Mentalizando o Pai Maior em prece ��ntima, recorrera ��
assist��ncia dos Benfeitores Espirituais e passou a aplicar-lhe
passes longitudinais pelo corpo sonolento. N��o conseguindo
resistir ao magnetismo balsamizante, o Esp��rito renitente se
afastou, fugindo da luz, tal qual um foguete lan��ado ao espa��o.
A faculdade de ver, em Ernesto come��ara a acentuar-se,
entretanto n��o via s�� o que queria, via tamb��m o indesejado, ��
da Lei.
Removida dos fluidos negativos, Joviniana levantou-se,
abra��ando o marido forte e carinhosamente.
- Que bom que voc�� chegou, - disse ela em solu��os estava
ficando com medo, muito medo. Resolvi deitar-me aqui
para ver se passava este mal-estar e parece-me ter adormecido,
ou melhor, entorpecido. Parecia estar como que sob uma hipnose.
��� Mas agora est�� melhor, n��o �� mesmo ? ��� perguntou-lhe
Ernesto, prestimoso.
Ao que ela confirmou balan��ando a cabe��a.
Relatando o ocorrido ao marido, Ernesto a seu turno n��o
quis contar-lhe o que vira. Serenando-lhe as afli����es, abra��ou-a
com amor.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Logo mais �� noite, depois do jantar, observando o casal de
filhos brincarem sobre o carpete entre sorrisos e gracejos, o
telefone tocou, interrompendo a breve alegria do momento.
- Al�� - respondeu Ernesto ao telefone sim, �� daqui
mesmo. Com quem deseja falar ? �� ele, pode falar.
Era do convento. O inesperado acontecia novamente.
A jovem freira, companheira de Irm�� Carmelita, com a
voz embargada, chorando ao telefone, deu o que era para ela
mais que uma triste not��cia.
Depois do recado, Ernesto agradeceu, surpreso com o
acontecimento e a jovem novi��a prometeu-lhe explica����es
detalhadas mais tarde.
Pondo o telefone no gancho, voltou-se para a esposa com
os olhos ��midos e falou:
- J��, n��s compreendemos hoje isto de outra forma, somos
humanos, no entanto, n��o insens��veis.
��� Por que est�� me dizendo estas coisas? Quem era ao
telefone, o que aconteceu, Ernesto ?
��� Joviniana, querida. A Irm�� Carmelita n��o est�� mais entre
n��s. Desencarnou agora ao anoitecer, por volta das sete horas.
Abra��aram-se com l��grimas silenciosas. Mesmo sabendo
que a vida n��o se extingue quando a morte do corpo chega,
sentimos pela separa����o moment��nea das pessoas as quais
amamos.
S��o raros os que est��o preparados, principalmente quando
pegos de surpresa, mesmo por vezes, tendo bases na Doutrina
Esp��rita. Somos muito apegados ainda ao tato, ou seja,
necessitamos sentir com as m��os e ver com os olhos carnais
nossos afins. �� a�� que entra o exerc��cio do nosso desprendimento.
N��o que isto signifique frieza ou indiferen��a. Por��m, evolu����o,
compreens��o, f�� e certeza de que a vida continua em outro plano
mais feliz.
Arestas do Passado
Desfrutamos da vida na Terra quando reencarnamos,
voltamos para o aprendizado humano e continuamos a viver a
vida depois do desenlace, retornando �� P��tria Espiritual.
Surpresos com a not��cia, o casal procurou esconder o
pranto dos filhos, querendo n��o perturb��-los.
Contavam vinte horas e trinta minutos no rel��gio.
Recolhendo os rebentos do carpete, foram at�� a mesa na sala de
jantar realizar o culto do Evangelho, onde fizeram preces para a
amiga, rogando ao Senhor da Vida que a amparasse neste
fen��meno da morte f��sica.
O Evangelho, aberto ao acaso, trazia a mensagem
consoladora no cap��tulo 5, item 21, "Perda de pessoas amadas.
Mortes prematuras".
Ernesto, emocionado, fez breve coment��rio. Joviniana
sentira que uma balsamizante energia os envolvera naquele
momento, diante de tantos problemas. Percebeu que esta nova
prova����o era insol��vel, perdera a mentora encarnada, na fei����o
de uma freira, tamanha era sua bondade e compreens��o.
Encerrado o coment��rio sobre a li����o, Ernesto terminou
com uma prece, finalizando aquela noite como uma p��gina de
novo aprendizado. Percebera ele, qu��o sentida ficara a esposa e
sabendo dos problemas que a envolviam, antes mesmo da not��cia
do desencarne da freira, ficou mais preocupado ainda.
Joviniana, fragilizada, estava ��s voltas com o ass��dio de
um irm��o desajustado, o qual Ernesto n��o imaginara. A
cooperadora do Cristo na Terra partira, mas n��o abandonaria a
causa, sua miss��o junto aos filhos do calv��rio.
Retrocedamos ��s horas de liberta����o espiritual, como
procedera seu desencarne, enquanto Ernesto e Joviniana viviam
o acalmar de algumas preocupa����es.
A Unidade de Terapia Intensiva inundara-se num imenso
clar��o. A dor lancinante da irm�� da caridade tornara-se em suave
brisa em pleno anoitecer. A enfermidade que lhe extinguia o
fluido vital, generalizou-se por quase todo organismo.
Valdemir Pereira barbosa / Angela
L��cida, por��m, entre a dor e a alegria, na paz de
consci��ncia do dever cumprido, desfruta Irm�� Carmelita da
serenidade que todo servidor do Cristo encontra, quando fez
por merecer o resultado do aprendizado, na pr��tica do amor ao
pr��ximo.
Seja qual for o credo que professa e a maneira como
acredita, se n��o houver vivido com amor e desprendimento, na
pr��tica das virtudes crist��s, de nada valer��.
R��tulos nada importam. Jesus ensinou-nos a lei do "amaivos
uns aos outros como eu vos amei"; n��o tocou sequer em
nenhum credo religioso, nesta ou naquela forma de crer ou
praticar a caridade. Simplesmente conjugou o verbo amar,
amando a todos sem lhes questionar se acreditavam nisto ou
naquilo. Somente separou duas condi����es, colocando-as cada
qual em seu devido lugar, dizendo; "Dai, pois, a C��sar o que ��
de C��sar, e a Deus o que �� de Deus". ( Luc. 20 : 25 )
Ou seja, dai ao mundo material o valor real para a pr��pria
evolu����o, mas dai a Deus o que lhe constitui Sua obra, os seus
mandamentos, amando-O na fei����o dos menos felizes,
respeitando e ajudando o semelhante, vendo nele um irm��o de
fato como ele realmente ��, porque somos filhos do mesmo Pai.
Portanto, pertencendo �� mesma fam��lia espiritual.
Nossa querida Irm�� Carmelita viveu assim. Escolheu a
indument��ria usual das freiras para poder cumprir o que pedira
antes de reencarnar: auxiliar a tantos quantos pudesse, at�� o
ponto de encontrar novamente com seus afetos na ��poca
presente.
Sua doen��a constitu��a o pagamento de um outro d��bito,
o qual foi amenizado, dado seu amor sincero pelos doentes do
corpo e do esp��rito. Quis ela sentir na pr��pria pele o que
significava a dor. Dor esta que encontrara nos outros e, assim
preferiu viver seus dramas, de vez que seria como realmente foi,
a sua ascens��o espiritual. Partira, daquele momento em diante
para regi��es mais elevadas. No entanto, continuaria o seu
Arestas do Passado
apostolado de aux��lio, principalmente ��queles que lhe eram
caros. Uma luz se formou no ambiente. Companheiros do
mundo invis��vel vieram estender-lhe as m��os. Cerraram seus
olhos carnais. O corpo inerte repousava sobre o leito, envolto
em t��nue claridade. Estava desperta, amparada por Benfeitores,
que logo lhe aplicaram passes, fazendo-a dormir. Antes, por��m,
viu seu corpo estendido, ainda ligado por um cord��o prateado,
do qual foi rompido prontamente o liame, entre o esp��rito e
mat��ria.
Adormecida, seguiram com ela dentro de um feixe de luz
ofuscante. Trabalhadores formaram uma barreira flu��dica em
torno dos despojos carnais da Irm�� Carmelita, para que
salteadores de fluidos vitais do organismo, n��o tomassem conta
dos poucos que se esva��am lentamente, para seus prop��sitos
menos dignos.
Perambulam nos hospitais e cemit��rios, esp��ritos inferiores
que mobilizam fluidos. Como que carregando seus perisp��ritos
grosseiros, alimentam-se destes fluidos, como que suprindo-se
de energias e levando-as para trabalhos que lhes garantam o
prop��sito de baixas vibra����es, apegados que se encontram ainda
��s sensa����es da mat��ria.
No caso de homicidas, criminosos impenitentes, s��o
assaltados por seus vampirizadores que lhes sugam as energias
quando encarnados e, depois do desencarne torna-se mais
intenso o fluxo de imanta����o dos fluidos de seus corpos j�� mortos.
Quando n��o se vive em comunh��o com a alta espiritualiza����o,
no esfor��o cont��nuo da prece, na viv��ncia dos ensinos evang��licos,
�� assim que muitas vezes ocorre.
Recambiada para a col��nia espiritual Fraternidade, a Irm��
Carmelita ficaria algum tempo fora do orbe terrestre. O futuro a
esperava para a continuidade do seu trabalho gratificante em
prol dos menos felizes.
Arestas do Passado
8. A DESPEDIDA
O dia amanhecera diferente dos habituais para muitas
pessoas. A tristeza invadira o convento em que a irm�� da caridade
vivera.
Os Carnevale tamb��m sentiram a perda da amiga no corpo
f��sico, mas a f�� e a esperan��a alimentavam o desejo de que ambos
se encontrariam com ela mais tarde...
O conhecimento da vida p��s morte e da reencarna����o
dava-lhes um conforto ao cora����o sentimentalista, afei����es de
quem ama e deseja o bem de um para com o outro. �� natural.
Penetramos o vel��rio na capela do convento, o corpo havia
sido liberado, alta madrugada.
As preces se faziam amenizadoras das dores naqueles que
ficaram. As freiras da Ordem de Maria choraram, num pranto
por vezes, de dar pena. Sentiam realmente a separa����o da
companheira. Carmelita era muito querida por todos que a
conheciam.
O recinto se enchera de luz, muitos amigos do nosso plano,
do mundo invis��vel ali se congregavam, confortando os amigos
da freira desencarnada. Muitos irm��os desenfaixados da
vestimenta carnal, aos quais Carmelita atendera quando doentes,
vieram agradecer auxiliando na vibra����o durante o desenlace.
C��nticos de louvores ao Senhor ressoavam na pequena
capela. A tristeza era vivida com hinos da paz, amor e esperan��a,
Valdemir Pereira Barbasa / Angela
o que ajudava bastante, gra��as aos efl��vios emitidos por todos
que lamentavam a morte da Irm��.
Depois das ��ltimas despedidas, todos acompanharam o
sepultamento da freira no subsolo da capela, debaixo do altar.
Lugar este reservado ��s Irm��s, servidoras do Cristo.
A Madre Superiora da Ordem de Maria fez uma breve
explana����o sobre a vida da companheira sepultada, os presentes,
amigos, parentes e simpatizantes levaram para suas casas a
lembran��a das palavras da Madre, ao dizer que a prezada Irm��
Carmelita repousava em paz, junto de Deus.
Contudo, em paz se encontrava a nova ingressa nos planos
da espiritualidade, mas junto de Deus, na acep����o real do termo,
n��o. Ainda faltaria muito. O melhor a dizer �� que o Pai todo
compassivo estaria junto dela na presen��a dos Seus cooperadores
mais evolu��dos. Por mais que fa��amos de bom jamais ser�� o
suficiente para ficarmos junto �� Divindade, pois falta-nos muito
ainda para tal.
�� puro engano, aliado ao n��o conhecimento de que n��o
possu��mos m��ritos e condi����es morais, para encontrarmo-nos
com Deus, da forma como se pensa, face-a-face. E o c��u
imagin��rio que muitos apregoam, reside na consci��ncia de cada
um de n��s, onde situarmos nossos pensamentos, atitudes e
idea����es.
"Onde estiver o vosso tesouro, a�� estar�� tamb��m o vosso
cora����o". (Mat. 6: 21) O c��u e o inferno residem dentro de n��s
mesmos. Cada qual encontra, depois do passamento, o mundo
que lhe �� peculiar, o que criou em vida corp��rea. Rememorando
o Evangelho encontramos: a cada um segundo suas obras. Sim,
�� o que construirmos que iremos encontrar al��m-t��mulo.
A lei Divina fala por si s�� e a n��s cabe cumpri-la, coloc��-
la em pr��tica.
N��o �� por vestir um h��bito ou uma batina, um terno ou
um farrapo, em nome de um r��tulo religioso, que iremos nos
encontrar com Deus, como j�� disse, frente a frente. Devemos
Arestas do Passado
nos encontrar com Deus j�� em vida, no mundo em que
estagiamos; �� fazer por merecer realmente e n��o desejarmos
colher os frutos aos quais nem fizemos um m��nimo esfor��o para
plantar, nem cultivar. Seria como se estiv��ssemos, ao pensar desta
forma, colocando o Criador na fei����o humana e imperfeita em
que ainda nos encontramos. Ele �� o Criador, n��s, por��m, suas
criaturas, n��o nos encontramos no mesmo n��vel espiritual, para
gozarmos de Sua plenitude e perfei����o. Estar��amos rebaixando-
O, ou nos colocando �� Sua altura, crendo que �� desta maneira,
como certas religi��es ensinam para os seus adeptos. Sabemos
que tudo caminha de conformidade com o est��gio evolutivo de
cada um, pois, �� j�� "hora de despertarmos do sono", (Rom. 13:11)
para que, quando a morte visitar os desprevenidos e incautos do
caminho, estes n��o se decepcionem, iludidos que se
encontravam.
Muitos irm��os, por momentos, se encontram perdidos
entre o C��u e a Terra, esperando que um anjo alado venha
receb��-los, conduzindo-os at�� o grande Construtor do Universo.
Lembremo-nos de que Ele �� o Ser incriado. N��s, por��m,
criaturas carentes de crescimento ��ntimo, moralizante,
espiritualmente falando.
A lei do progresso �� a lei do amor, da caridade e fora destes
preceitos n��o h�� como progredirmos integralmente. Eis os
recursos indispens��veis para nos encontrarmos no c��u, n��o o
c��u teologal, mas aquele que abriga nossa consci��ncia perante
os altos valores que o Evangelho nos indica a adquirir e seguir.
O c��u da reta consci��ncia, do dever cumprido.
Somos o que somos porque ainda n��o conseguimos nos
desprender das amarras do mundo profano, cada ser encontra
na ��rvore �� beira da estrada a semente que plantou um dia. E
feliz daquele que, ao retornar por tal estrada, encontrar uma
��rvore copada para descansar da viagem e alimentar-se de seus
frutos, quando estes forem bons.
Valdemir Pereira Barbasa / Angela
Tudo que plantarmos ao longo do caminho iremos colher,
poderemos dar muitas voltas, mas acabamos por ter de retornar
pelo mesmo caminho.
Portanto, tenhamos cuidado quanto ao que semearmos
no solo da nossa exist��ncia, porque seremos os pr��prios, sen��o
os primeiros a encontrar o semeado. Nunca ignoremos isto,
quando pensarmos que n��o mais passaremos pelo mesmo
caminho, a�� �� que devemos ter a humildade de reconhecer que
tudo acaba por voltar em nossas vidas, at�� mesmo o passado
distante, pois o vivemos agora pagando pelos excessos cometidos.
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrar�� no Reino
dos c��us; (Mat. 7:21) disse-nos o Divino Amigo. N��o nos
deixemos enganar. Antes, por��m, estudemos e trabalhemos em
prol do amor leg��timo, sem ostenta����o, porque s�� o amor sincero
e desinteressado �� que nos garante o para��so.
Arestas do Passado
9. AINDA OS REVESES
No outro dia, logo pela manh��, Ernesto n��o havia ido
trabalhar. Despachara por telefone mesmo a dire����o de sua
pequena empresa, al��m do que, Carlos a gerenciava muito bem.
O cansa��o diante do vel��rio do dia passado, fizera com
que ficasse em casa aproveitando a oportunidade para ficar com
a esposa e os filhos.
Preocupado com a jovem novi��a, auxiliar da Irm��
Carmelita, Ernesto ligou para o convento para saber como a
jovenzinha se encontrava. Durante as horas em que velavam o
corpo da freira, a jovem passara mal, desmaiou por duas vezes,
tamanha a dor da perda que lhe constitu��a a aus��ncia da
companheira.
- Era isto que eu iria lhes contar no hospital naquele dia
��� falava a jovem freira Bernadete, este o nome da freira carinhosa,
a novi��a da Ordem de Maria a que pertencia a Irm�� Carmelita.
Acabamos saindo felizes com a recupera����o do filho de voc��s e
me esqueci de continuar o assunto, muito embora n��o desejasse
coment��-lo naquele momento.
- N��o tem problema, Irm�� Bernadete, fizemos prece por
ela assim mesmo ��� respondeu Joviniana serena -, s�� depois,
quando me encontrava em casa �� que fui pensar a respeito.
- No momento, cabe a n��s orarmos por esta doce criatura,
que nos abrandou o cora����o e o cora����o de muitos que
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
precisavam de uma palavra amiga ou de uma energia
restauradora para seus corpos e esp��ritos opressos ��� disse Ernesto
a ambas as mulheres.
Entretanto, ap��s haver ligado e se informado de que
Bernadete estava bem e dormindo, Ernesto ficou mais tranq��ilo.
Agora teria que dar mais apoio �� mulher junto aos filhos,
uma vez que a esposa estava sendo sondada por algum irm��o
mal-intencionado.
Esperava a noite do dia seguinte, onde procuraria ajuda
nos trabalhos na casa esp��rita.
A vida prosseguia e a realidade de cada um dava cont��nuo
enfoque nas prova����es no cen��rio humano.
Chegando a noite em que a reuni��o seria realizada,
Ernesto e esposa adentraram a sala de sess��o medi��nica, ap��s
ter conversado em particular com o dirigente do grupo, sobre o
que estava acontecendo com Joviniana.
A prece de abertura fora proferida, dando in��cio a reuni��o.
Em pouco tempo os primeiros enfermos espirituais passaram a
manifestar-se para o devido esclarecimento. Alguns minutos
decorridos e a pedido de Ernesto, o dirigente Albino fez uma
peti����o em prol da esposa do companheiro.
Solicitara enfim, com a permiss��o de Jesus, que, se algum
irm��o a estivesse envolvendo no dia-a-dia, como de fato estava,
que se apresentasse para uma confabula����o amorosa.
De imediato, Ernesto testemunhou a presen��a da entidade
pela vis��o do esp��rito, ou seja, atrav��s da vid��ncia.
Esta foi posta junto a um dos m��diuns, que portava a
mediunidade de forma inconsciente. O transe medi��nico nele,
portanto, era uma seguran��a que lhe permitia a fidelidade ao
que transmitia, dado sua viv��ncia moral do Evangelho de
maneira exemplar, algo que ainda nos falta na vida di��ria.
O m��dium, um senhor de quase sessenta anos, incorporara
os pensamentos e inten����es do comunicante.
Arestas do Pascado
- Por que me chamaram, o que fa��o aqui? Como vim
parar aqui ? - indagou, contrariado, o Esp��rito.
- N��s pedimos que lhe trouxessem at�� aqui para
conversarmos um pouco, acredito que esteja precisando ��� falou-
lhe Albino bondoso, mas com firmeza.
- N��o pedi para vir aqui, ademais n��o tenho nenhum
assunto para tratar com voc��. Ali��s, - ressaltou o convidado ainda
contrariado - n��o sei nem quem �� voc�� e t��o pouco me interessa.
O dirigente, percebendo que se tratava de uma entidade
instru��da, usando dos recursos da intui����o, procurou dissuadi-
lo da arrog��ncia. Envolveu o m��dium com passes tranq��ilizantes
e continuou a falar ao esp��rito.
- Alegre-se, companheiro, hoje �� o dia de sua liberta����o.
- Liberta����o ? Do que voc�� est�� falando ? Sou muito livre.
- Assegurou o comunicante convicto.
- Sim, meu irm��o, liberta����o, sim, pois ningu��m que vive
a pertubar a ordem e a paz alheias pode estar liberto, por��m
preso a tal infelicidade, porque quem assim age ��, sem d��vida,
um infeliz.
- De quem estou perturbando a paz ? - perguntou
s��dicamente ��s gargalhadas.
- Voc�� sabe muito bem. O que voc�� est�� pretendendo com
isto ?
- Pretendo - respondeu o comunicante -, o que �� meu;
h�� muito venho procurando tal pessoa. Agora que a encontrei
n��o quero mais e nem penso em deix��-la, de vez que n��o me
esqueci de sua afei����o, nem t��o pouco a ofensa do seu marido.
- Mas do que voc�� est�� falando, meu irm��o? Esta pessoa
aqui a quem voc�� se refere n��o lhe pertence, voc�� est��
confundindo as coisas, estamos em outra ��poca e ela, em outro
corpo.
- De fato. Por isto demorei a encontr��-la. N��o me esqueci
do ��nico dia de amor entre n��s, que foi interrompido por este
que est�� sentado a�� �� minha frente, - referindo-se a Ernesto.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
- Meu irm��o, tudo isto �� passado ��� disse-lhe o dirigente
com calma ���, as realidades s��o outras, hoje. Ela n��o lhe pertence,
eu j�� disse. Voc�� tem consci��ncia de que n��o est�� mais encarnado
no mundo material, por que querer agir como se nele estivesse?
- Ela, depois do epis��dio, nunca mais me viu, t��o pouco
eu a ela e este, que �� novamente seu companheiro, tentou tirar-
me a vida, mas n��o conseguiu, por��m sentiu prazer ao me ver
esfarrapado, pr��ximo da morte. ��ramos amigos.
- Se eram amigos e ela, esposa dele, por que voc�� disse ter
vivido um ��nico dia de amor, teria voc�� tra��do o seu amigo ?
Querendo constranger a ambos, o Esp��rito afirmara com
calma, depois rindo, como se se divertisse com o fato que lhe
n��o sa��a da mem��ria.
-E o que voc�� quer com isto? Provar o qu�� ? Que tipo de
amizade foi esta, como ousou malbaratar o lar de um amigo,
envolvendo sua esposa em seu mau caratismo ?
- Voc�� pensa - continuou Albino - que tem o direito de
vir aqui ainda no hoje, querer fazer o mesmo que fez no passado?
- Ela sempre me fascinou, - respondeu o debochado
esp��rito.
-E da��? N��o podia t��-la envolvido em suas artimanhas
imorais, al��m do mais nem deve fazer isto hoje, no presente.
Ela agora tem sua vida e n��o estamos aqui para julgar os atos de
ningu��m, de outras vidas, de quem quer que seja. Pois sabemos
que todos n��s temos nossos deslizes, faltas outras, contrariando
as leis Divinas.
- N��o me interessa esta sua conversa, eu fiz muitos
servi��os para este homem que a�� est��; era natural que me desse
uma compensa����o maior por todas as vezes que o ajudei. Ent��o,
estou aqui, desejando continuar desfrutando da companhia dela,
que tamb��m teve culpa no acontecido.
- N��o temos tempo para futilidades de erros cometidos.
O importante �� que voc�� queira sair de perto dela e procure se
Arestas do Passado
acertar no caminho da luz, de vez que, com estes pensamentos,
somente pode estar em trevas.
- N��o, n��o e n��o - retrucou, fazendo gestos para esmurrar
a mesa, ao que o m��dium conteve as a����es que o Esp��rito gostaria
de externar.
Albino, o dirigente do grupo, procurou dar a melhor
orienta����o poss��vel ao perseguidor de Joviniana.
Era ele o mesmo Afonso, amigo e companheiro de
Malaquias Petrone, hoje Ernesto.
Perguntara-se por que tal estava nestas condi����es,
enquanto que Ernesto, que lhe associava os mesmos ditames
no passado, estava encarnado e exercendo sua mediunidade, at��
mesmo com passes magn��ticos restauradores ?
Nem todos que desencarnam, independente da morte, seja
esta assassinato, doen��a ou suic��dio conseguem voltar para o
processo de reencarna����o em breve tempo.
Afonso adoecera ap��s a trai����o ao companheiro e
desencarnara preso ��s sensa����es terrenas, j�� que, mesmo sofrendo
com as chagas f��sicas, ele mantivera o desejo de continuar no
corpo para dar prosseguimento �� sua vida vulgar.
Malaquias suicidou-se, mas, embora tenha tido boa
parcela no uso do seu livre-arb��trio e desgosto pela vida, estava
sendo acionado por esp��ritos que identificavam sua inferioridade,
aproveitando a situa����o para se vingarem, pois muito destes
esp��ritos n��o o perdoaram.
Em dado momento de sua vida, teria a oportunidade de
auxiliar ��queles a quem prejudicou no passado, inclusive seu
filho Maur��cio.
J�� Afonso n��o se deixou envolver por qualquer rogativa
de sua parte ou por parte de quem quer que fosse. Achava-se
injusti��ado, por��m n��o se permitia analisar as injusti��as que
praticara ao lado do amigo influente da ��poca, ent��o ficou todo
este tempo no mundo que lhe �� pr��prio. Como todos t��m o
livre-arb��trio, acabou por descobrir o amigo e a esposa que ele
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
pr��prio desonrara, em conseq����ncia da fraqueza moral de
ambos.
Por��m, todos cometem desventuras as fraquezas da carne
s��o pr��prias dos seres humanos, que ainda n��o aprenderam a
disciplinar as fraquezas e as paix��es corriqueiras que sempre
trazem danos e problemas que podem pedurar por s��culos e at��
mil��nios, at�� que se conserte o erro.
Joviniana, depois de ter cometido uma trai����o conjugal,
refletiu bastante, ap��s ter se arrependido. Por este motivo,
solicitou voltar junto ao esposo para corrigir-se e ajud��-lo a
ressarcir os d��bitos contra��dos. Embora ela n��o tenha sido
criatura m��, simplesmente cedeu aos impulsos dos prazeres
impensados, ela era assim, o oposto de Malaquias, que por sua
vez tinha mais contas a pagar do que ela pr��pria.
Assim se apresenta a nossa exist��ncia e a morte org��nica
n��o nos muda o mundo ��ntimo, os sentimentos, os ideais e as
aspira����es. Somos, portanto, os mesmos, por esta raz��o devemos
fazer o poss��vel e o imposs��vel para mudarmos nossa conduta,
muitas vezes err��nea, nossas leviandades para o nosso pr��prio
bem, porque depois de cerrarmos os olhos ser�� mais dif��cil.
Podemos fugir de quem quisermos, menos de n��s mesmos, da
nossa consci��ncia.
Tamb��m por este motivo que o irm��o perseguidor, por
assim dizer, n��o tinha outro desejo a n��o ser de ficar e ter ao
lado a esposa de Ernesto. Isto ainda estava muito enraizado nele,
juntamente com o desejo de pertubar o ex-parceiro de injusti��as
feitas aos menos favorecidos, naquela encarna����o.
Voltemos ao di��logo doutrinal na sala de reuni��o.
Irredut��vel, Afonso n��o concordava em afastar-se de
Joviniana, ao que Albino sentenciou:
��� Muito bem, meu irm��o, se voc�� n��o quer, n��o podemos
for����-lo, mas perde uma grande oportunidade de reajustamento,
com perspectivas de felicidade futura - informou-o, ben��volo,
o doutrinador.
Arestas do Passado
Afonso refletiu um instante e adicionou, pensando numa
compensa����o.
-E se eu por ventura me afastar e aceitar o que voc�� me
sugere, n��o vou sofrer, n��o vou arcar com as conseq����ncias dos
meus atos?
- Voc�� est�� querendo dizer que quer barganhar com a
justi��a Divina ? Voc�� ser�� amparado, mas n��o pense que isto o
tornar�� isento de culpa. Ter�� que saldar a d��vida que adquiriu
com a justi��a de Deus. �� a Lei de Causa e Efeito, a que ningu��m
fica imune.
��� Quer dizer que terei de pagar. Ent��o, aonde est�� o perd��o
deste Deus?
��� Em verdade, caro irm��o, Deus n��o nos perdoa, pois para
perdoar-nos teria que se sentir ofendido e, para que Ele assim
se sentisse teria de ser igual a n��s, criaturas imperfeitas que ainda
somos. Portanto, somos n��s que devemos perdoar-nos e
atentarmos com humildade e reconhecimento para Aquele que
se encontra acima de tudo e de todos. N��o vamos colocar o
Criador num n��vel do qual ainda n��o conseguimos sair. Ele ��
amor e este amor n��o sofre nossas influ��ncias criminosas. Deus
��� continuou Albino inspirado -, n��o se sentir�� ofendido, est��
acima, como falei, disto tudo, s�� que Ele criou leis e estas
precisam ser cumpridas, se n��o for hoje ser�� amanh��: a escolha
�� individual, �� de cada um. A Lei de Causa e Efeito funciona,
quer queiramos ou n��o. Se formos reprovados no exame escolar
�� natural que estudemos repetidamente as mesmas li����es,
sofrendo com isto o tempo que perdemos, ficando atr��s dos que
seguem adiante, passando nas provas finais que nos garantem o
��xito, com maior dificuldade. E al��m do mais, demos gra��as a
Deus por nos permitir oportunidades novas, recome��ando o
aprendizado.
A palestra, por assim dizer, com o comunicante, fora de
suma import��ncia, at�� mesmo para os encarnados que faziam
parte da sess��o. Desencarnados que ali estavam para o
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
aprendizado, embora n��o fossem sofredores ou obsessores,
acabaram por compreender as palavras do dirigente Albino. O
Mentor do grupo, num canto o observava, imantando-o, vez
por outra, com emiss��es mentais que lhe redobravam a
confian��a.
Ernesto e Joviniana, diante das narrativas do passado e
com as palavras iluminadas de Albino, choravam em sil��ncio,
aprendendo mais uma dura, mas bela realidade da li����o sobre
suas vidas pregressas.
A entidade deixou-se envolver nos efl��vios mentais de
harmonia e bondade dos componentes do grupo em quest��o. A
postos, cooperadores do outro plano ajudavam no clima fraterno
de pensamentos ben��ficos em comunh��o com os amigos ali
presentes e principalmente ao irm��o doente, que se deixou render
pela verdade.
Albino, ent��o, solicitou aos companheiros invis��veis que
o encaminhassem para o plano espiritual (no que foi atendido
rapidamente) de onde, depois de muito tempo de aprendizado,
retornaria ao mundo carnal, entre provas e expia����es.
A vida corria normal. No dia seguinte, Joviniana sentia-
se mais leve, com a mente desanuviada, devido ao desligamento
do esp��rito que a perturbava.
Arestas do Passado
10. CONVITE ��
FRATERNIDADE
Mas a saudade batia fundo em seu cora����o de mulher
sens��vel. A Irm�� Carmelita deixara uma lacuna no cora����o da
jovem amiga, que tinha, como rebentos do cora����o, Maur��cio e
Fl��via a preencherem o vazio da aus��ncia da religiosa.
Recompondo-se, depois de se identificar com as diretrizes
do Evangelho e ensinamento esp��rita, com rela����o �� morte f��sica
de almas caras, que nos constituem um grande tesouro na forma
de amigos, parentes e familiares, Joviniana se reerguera dando
continuidade �� vida. Agora, por��m, se encontrava mais preparada
para enfrentar os desafios que o mundo nos imp��e a viver e
experimentar. Angariara conhecimento e junto ao marido
dedicado encontrara seu ref��gio seguro para viver com e para
seus filhos, duas p��rolas preciosas.
Sua psicosfera individual estava mais clara e continuava
trabalhando no Lar dos Meninos dedicando-se ��s crian��as
carentes de uma m��e espiritual na Terra.
Ao dar entrada num dos quartos, encontrou Carla, de sete
anos acamada, j�� sendo atendida por um dos m��dicos que
prestavam colabora����o aquela institui����o.
Tomando conhecimento do estado de sa��de da menina,
de s��bito lembrou-se de algo: os doentes a quem a Irm��
Carmelita visitava e ministrava amparo espiritual.
Valdemir Pereira barbosa / Angela
Em casa, �� noite, confabulou com Ernesto a respeito
daquelas almas que estagiavam num leito de dor nos hospitais
em que a freira da caridade fazia suas peregrina����es, sentindo,
no imo da alma, uma piedade imensa que lhe constitu��a um
grande impulso de amor e dedica����o aos enfermos.
Seu esposo por sua vez, disse-lhe que n��o se preocupasse
em demasia, uma vez que a Irm�� Bernadete continuava fazendo
o trabalho da freira amiga.
O sono bateu �� porta da organiza����o f��sica. Maur��cio se
encontrava em sono profundo, Fl��via adormecera tamb��m em
seus bra��os. Cuidadosamente, levou-a para o quarto.
Depois de trocarem car��cias amorosas, Joviniana e Ernesto
repousaram tranq��ilamente. Joviniana iniciara o descanso do
corpo com um sonho :
"Passava ela por um corredor iluminado, uma luz azul��nea
fixava-se no fundo, em meio a ele, uma ilumina����o rarefeita.
De um lado do corredor, crian��as brincavam felizes. Umas se
alimentavam, outras tomavam banho e trocavam de roupas,
vestindo as limpas com a ajuda de outras mulheres. Do outro
lado do corredor, havia muitas camas e, deitadas sobre elas,
muitos doentes. Alguns j�� em idade avan��ada sofriam com a
dor de suas chagas abertas, carecendo de quem as tratassem.
Caminhou ela por entre os leitos e, quando passava ao
lado dos enfermos, estes a tocavam, solicitando aten����o, desejosos
que estavam de companhia, de uma palavra.
Ao voltar-se para o corrredor iluminado, viu que no fim
deste a luz j�� n��o mais se encontrava, por��m pairava por sobre
as crian��as e os doentes de forma que alcan��asse a todos.
Emocionada, foi saindo do local de vagarinho, quando
viu seu esposo, na ponta do corredor, a cham��-la baixinho. Indo
ao seu encontro e abra��ando-o ternamente, ouviu uma voz doce
e meiga a dizer-lhes:
��� Nossos desregramentos do pret��rito podem ser pagos e
corrigidos n��o s�� atrav��s da dor, mas principalmente atrav��s do
Arestas do Passado
amor. Eis o pagamento, eis a oportunidade de crescer, amparando
os que est��o reencarnando e os que j�� se encontram na via-cr��cis
da dor e prestes ao desenlace. Amparai-os.
Joviniana, em pranto silencioso, ouviu aquela voz feminina
e permitiu perguntar a si mesma se seria Irm�� Carmelita.
N��o pode esperar a resposta, pois j�� despertava do sono,
no alvorecer de um novo dia."
Lembrava-se dos fatos com clareza e entendeu que era
preciso dar apoio aos enfermos da Irm�� Carmelita. No entanto,
n��o s�� a eles como a todos os que estivessem ao seu alcance.
E enquanto o caf�� matinal estava sendo preparado, pegou
o telefone e ligou para Irm�� Ang��lica, solicitando-lhe uma
conversa em particular. Logo mais travaria conversa����o com os
assessores do Lar dos Meninos. Os seus planos e novos ideais
tomavam forma em sua mente desperta e em seu cora����o
amoroso, para servir ao Cristo, amparando os irm��os de jornada,
menos favorecidos pelas circunst��ncias e pela Lei de Causa e
Efeito.
Foi at�� o convento �� procura da Irm�� Ang��lica, mulher
madura, que compartilhava da amizade de Carmelita, vivendo
ambas sob a Ordem de Maria, junto com as demais freiras, a
instru��rem-se e a servir, em nome de Jesus Cristo.
��� Irm�� ��� falou Joviniana com ternura -, gostaria de saber
todos os nomes dos doentes que nossa companheira Carmelita
visitava e cuidava.
- Todos ?... - indagou a freira com um sorriso.
- Sim, ou pelo menos os casos mais graves, aqueles que
ela visitava com mais freq����ncia.
��� Eu estive separando ontem mesmo algumas coisas da
saudosa Irm��, - respondeu Irm�� Ang��lica um tanto curiosa mas
por que e para que voc�� os quer ?
Joviniana narrou-lhe o sonho transl��cido que tivera e
contou-lhe do projeto que nascera depois deste sonho.
Valdeirar Pereira Barbosa / ��ngela
Irm�� Ang��lica achou interessante e oportuna a inten����o
de Joviniana e saiu em busca das anota����es da Irm�� Carmelita.
��� Eis aqui, encontrei. Eram estes os nomes das pessoas que
a querida Irm�� ia consolar, alguns em casa, outros, nos hospitais.
Olhando cuidadosamente a lista, Joviniana viu que alguns
dos nomes que ali estavam, tinham uma cruzinha ao lado, eram
os que j�� haviam desencarnado, e tendo alguns at�� a data do
passamento.
A conversa����o seguiu serena, acompanhada de um ch��.
Irm�� Ang��lica se encantou com Joviniana, quando esta lhe falou
sobre o Lar dos Meninos que ajudava a cuidar. A freira
respondeu-lhe com afeto:
��� J�� passei em frente a este Lar, h�� algum tempo. �� uma
institui����o esp��rita, n��o �� ?
Com brandura e brilho no olhar, fixou Joviniana os olhos
da anfitri�� e respondeu a pergunta com nobreza:
��� Sim. Acima de qualquer r��tulo, �� uma institui����o Crist��,
onde se ajuda a quem precisa, dando-lhes morada, p��o material
e espiritual, principalmente. E h�� uma ala, onde as m��es que
possuem baixa renda deixam seus filhos para poderem trabalhar
e ajudar no or��amento.
��� Funciona como orfanato tamb��m ? - perguntou a freira.
��� Oh, sim. J�� h�� algum tempo. Funcionava mais como
creche e escolinha, mas havia pouqu��ssimos internos. Nestes
��ltimos dois anos passou a funcionar em regime de orfanato
tamb��m. Inclusive ��� continuou Joviniana ��� estou pensando em
assumir a dire����o aliada ao meu esposo, de uma maneira mais
atuante do que venho fazendo, j�� que tenho tempo dispon��vel
para tal. Ent��o pensei em me p��r �� disposi����o, pois vem ao
encontro do projeto que tenho em mente ��� e concluiu - isto,
para mim, �� de fundamental import��ncia.
��� Muito bem. N��o me leve a mal pela denomina����o
religiosa sobre a qual perten��o, temos conceitos e credos
diferentes, mas somos todos iguais perante Jesus. O importante
�� que se pratique a caridade, pois, como disse o ap��stolo Paulo,
Arestas do Passado
sem ela n��o h�� salva����o. A Irm�� Carmelita, certa vez, sofreu
repres��lias das nossas superioras por estar lendo um livro esp��rita,
pois havia o nome de Allan Kardec na capa.
Irm�� Ang��lica sorria descontra��da com o fato que ocorrera
com a amiga Carmelita.
Ap��s as confid��ncias, trocaram abra��os. Irm�� Ang��lica
dera a lista para que Joviniana a utilizasse como pretendesse e
achou louv��veis os planos daquela mulher, que tamb��m ganhara
o seu cora����o. Era a segunda vez que se viam, a primeira foi no
vel��rio da Irm�� dos enfermos.
Mas o destino selava ali, naquele dia, mais uma amizade
fraternal.
De sa��da, Joviniana acabou encontrando com a Irm��
Bernadete, que estava chegando.
��� Eis, a�� mais uma seguidora do exemplo da saudosa Irm��
��� exaltou Ang��lica, num tom carinhoso para com a jovem freira.
As tr��s se cumprimentaram, e, em poucos minutos
Joviniana sa��a do convento com o cora����o cheio de ideais
superiores. A mente altiva visualizava o futuro, que seria de
dedica����o �� fam��lia e aos irm��os do calv��rio, iluminado pelo
lampad��rio da doutrina esp��rita, que lhes dava mais compreens��o
e amor no trabalho gratificante em prol das crian��as, dos velhos
e enfermos de todos os matizes.
Os sonhos de Joviniana ganharam a simpatia e o apoio do
esposo. As realiza����es se dariam futuramente num planejamento
minucioso, onde nada poderia falhar, consoante as estruturas
da institui����o que vieram a ampliar.
Ernesto tornara-se um medianeiro exemplar, aplicava passes,
dava passagem aos irm��os da erraticidade nas reuni��es especializadas,
auxiliava, sempre que os deveres da pequena empresa lhe permitiam,
o Lar dos Meninos, o qual mudaria de nome.
Dez meses ap��s todos os recursos terem sido conseguidos,
terminaram as amplia����es do Lar Deus, Cristo e Caridade,
onde, numa ala, eram abrigadas crian��as de zero at�� dez anos,
que recebiam todo tipo de assist��ncia, at�� inicia����o profissional,
Valdcmir Pereira Barbosa / Angela
no caso das maiores. Numa outra ala, vinte leitos para doentes
adultos, era como uma esp��cie de hospital interno, uma enfermaria.
Na ala tr��s, havia trinta e um leitos para asilar alguns
velhinhos desamparados. Tudo estava muito bem. A compra de
dois terrenos laterais e as amplia����es que fizeram, interligando
ambos, era o suficiente para o trabalho amplo que j�� haviam
iniciado, mas que agora envolvia um n��mero maior de pessoas.
A enfermaria era utilizada para os internos, crian��as e
idosos que dela precisassem. Atendia tamb��m algumas pessoas
de fora que n��o tinham recursos para se tratarem num hospital
comum, gente muito humilde.
Tudo foi devidamente organizado, m��dicos se dispuseram
a atender. Pessoas ligadas ao centro esp��rita fizeram cursos de
enfermagem, visando �� colabora����o. Todos davam um pouco
de si de uma forma ou de outra para que a institui����o funcionasse
em benef��cio do semelhante.
Ernesto e Joviniana despertaram e edificaram o Centro
Esp��rita Paulo de Tarso. Seus vizinhos e amigos, Jonas e Maria
Guedes os auxiliavam nos recursos financeiros amealhados para
a concretiza����o do ideal e a institui����o fazia jus ao novo nome:
Lar Deus, Cristo e Caridade.
Parecia um sonho imposs��vel, mas que acabara por tornar-
se realidade.
No in��cio, foram poucos os internos, mas dentro de dois
anos foi preciso aumentar o n��mero de leitos. O Lar ganhara
men����o honrosa da C��mara Municipal da cidade e contava com
o apoio financeiro da Prefeitura, no sentido de pagar os m��dicos
e enfermeiros plantonistas. As enfermeiras do dia eram
colaboradoras e revezavam-se em suas tarefas.
Joviniana era a diretora do Lar e Ernesto continuava em
sua pequena empresa. No entanto, cuidava da tesouraria da
institui����o, desdobrando-se entre o dever do trabalho que lhes
garantia o ganha-p��o honesto, e os trabalhos direcionados ao
CE. Paulo de Tarso e ao aux��lio aos irm��os do Lar.
Arestas do Passado
11.DIFICULDADES
�� VISTA
Quatro anos se passaram, desde a amplia����o da institui����o
e in��cio dos trabalhos a ela pertinentes.
No dia da reuni��o semanal, Ernesto, antes de sair para a
mesma, como sempre, passou a orar no sil��ncio da pequena
biblioteca que formara num dos c��modos de sua casa. Agradecia
a Deus e pedia inspira����o a Jesus para que o Lar Deus, Cristo e
Caridade fizesse infind��veis anivers��rios, que n��o permitisse que
viesse, algum dia, deixar de existir, mesmo quando ele e a esposa
n��o mais aqui estivessem.
A serenidade invadira o ambiente psico-espiritual de
Ernesto. De olhos ��midos agradecia a oportunidade de fazer
algo pelo semelhante e pedia muita humildade para que a
vaidade n��o se instalasse em seu ��ntimo.
De repente, percebeu que uma luz penetrara o recinto e
pode sentir que uma m��o suave afagava-lhe os cabelos. Levantou
a cabe��a e, surpresa: viu nitidamente uma entidade espiritual
ao seu lado e, nos tra��os fision��micos notou que se tratava da
Irm�� Carmelita.
A vid��ncia se fazia presente mais uma vez naquele
instante, de forma n��tida e emocionante. E assim deu-se tamb��m
a audi��ncia a qual possibilitou-lhe ouvir a voz da Irm�� da
Caridade, depois de muito tempo, a dizer-lhe na intimidade do
ambiente dom��stico:
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
"��� Ernesto, meu filho, nos encontramos novamente e fico
feliz p��r encontr��-lo bem, juntamente com os seus. Vejo que
voc�� e sua ador��vel Joviniana seguiram e seguem o exemplo dos
servos humildes e sinceros do Senhor. Fico feliz por terem
atendido minhas inspira����es. Estes irm��os que recebem e
ajudam s��o almas queridas, por��m sofridas, sem teto, sem
parentela, sem pais. Se hoje, para voc�� �� um dia de agradecimento
a Deus, �� igualmente para mim tamb��m e �� por isto que aqui
estou. Vim dizer-lhe que os acompanhei durante esses quatro
anos em que voc��s t��m feito um bel��ssimo trabalho. Pela simpatia
e afinidade que nos uniu alguns anos atr��s, �� que me foi
possibilitado vir acompanh��-los, mais precisamente a voc��, neste
trajeto dif��cil.
Sei que superaram as dificuldades que apareceram no
erguimento da casa e que conseguiram passar por cima sem
titubear. No entanto, aparecer��o dificuldades maiores e �� por
esta raz��o que pe��o que mude o nome da institui����o. N��o
podemos permitir que os vener��veis nomes de Deus e Jesus,
sejam envolvidos nas coisas tresloucadas dos seres que vivem na
Terra, mesmo que seja apenas no papel. N��o me questione o
qu��, n��o poderia lhe dizer. Mas tenha f�� e coragem, muitos dos
que voc�� prejudicou no passado est��o encarnados e, sem o
saberem, as antipatias deles por voc�� vir��o �� tona. Ningu��m foge
�� Lei de Causa e Efeito. Isto ser�� para testar sua resigna����o, f�� e
perseveran��a, uma vez que, estes tamb��m ainda nada fizeram
para progredir em sentido evang��lico. E para que os compreenda
e os ajude �� preciso receber os golpes do martelo, tal qual o prego
os recebe para fixar o trabalho do carpinteiro. Seja firme, estarei
com voc��. N��o pense que pelo fato de estar trilhando o caminho
do bem que o mal n��o lhe visitar��. N��o se iluda, n��o pense que
as prova����es n��o surgir��o. Sinta-se feliz e agrade��a ao Pai Todo-
Amoroso a oportunidade de servir e crescer sempre, mesmo em
meio ao que julgar�� grandes injusti��as por parte dos homens.
Arestas do Passado
V�� ao compromisso que o espera, falarei mais em outra
oportunidade. Fique em paz."
Cheio de confian��a e tranq��ilidade, Ernesto seguiu rumo
ao C. E. Paulo de Tarso, convicto de que os problemas surgiriam
tal como lhe dissera a mentora espiritual, que o acompanharia
em suas atividades medi��nicas e no campo assistencial.
Joviniana acompanhava-lhe os passos tamb��m no mesmo
empreendimento de evolu����o e caridade junto �� institui����o.
No dia seguinte, logo de manh��, Ernesto sem titubear
ligou para os outros companheiros que colaboravam na dire����o
do Lar, convocando uma pequena reuni��o para aquela noite,
ap��s os afazeres de todos no cumprimento do trabalho digno.
Reunira-os assim, informando quanto �� decis��o da mudan��a
do nome do Lar, o que causou certa curiosidade nos componentes
da diretoria auxiliar. Sem mais delongas, disse aos companheiros
que fora um pedido dos Mentores da Vida Maior e, que n��o
conhecia a causa tamb��m.
Joviniana calada, observava-o enternecida e p��de
presenciar pela vid��ncia de que tamb��m era portadora, que uma
luminosidade instalara-se no ambiente em meio ao di��logo do
grupo. Luz esta que se postou ao lado do esposo. Estarrecida e
emocionada se encontrava naquele momento a diretora da casa.
Ernesto n��o lhe falara nada a respeito, muito embora ele tamb��m
fosse o diretor do Lar. A entidade amiga se lhe revelou tamb��m
naquele instante e p��de ver a veneranda Irm�� Carmelita a sorrir-
lhe maternalmente, colocando o dedo indicador direito nos
l��bios, como a dizer-lhe que ficasse em sil��ncio.
Embevecida com tal imagem, sorriu discretamente e
silenciou os solu��os em discretas l��grimas que lhe rolaram dos
olhos. Em prece ��ntima deu boas-vindas �� entidade, agradecendo
a Jesus pelo reencontro inesperado e num momento em que se
encontrava fora das reuni��es medi��nicas.
A mediunidade em si n��o se limita aos c��rculos de uma
reuni��o em torno de uma mesa, ela se prolonga e vai al��m do
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
que estamos acostumados a presenciar, pois �� atributo do esp��rito
encarnado. A mediunidade se faz presente durante as vinte e
quatro horas do dia, durante toda vida. Por isto �� de bom alvitre
lembrar-se sempre das palavras de Jesus, o m��dium de Deus:
"Vigiai e orai, para que n��o entreis em tenta����o". ( Mar. 14:38 )
Os companheiros deram-se por satisfeitos com a decis��o
de Ernesto. O nome, diziam eles, n��o importava, o importante
era dar continuidade ao trabalho no Lar, agora Lar da Caridade.
E aproveitaram o ensejo para tratarem de mais alguns assuntos
relacionados aos trabalhos di��rios em atendimento aos que l��
viviam.
De retorno ao aconchego dom��stico, Joviniana inquiriu
do marido o porqu�� da mudan��a do nome. Ernesto calmamente
explicou-lhe o que ocorrera e teve a felicidade de ouvir tamb��m
a not��cia, na voz da esposa, que tamb��m vira a freira Carmelita
durante a conversa. Os dois se entrela��aram num forte abra��o, o
qual foi interrompido pelos abra��os dos filhos que sa��ram dos
cuidados da auxiliar dom��stica para encontr��-los alegremente.
Estavam em casa e era o momento para os filhos.
O Lar da Caridade recebia muitas doa����es nos seus
primeiros anos. Alguns meses ap��s mudar de nome, a institui����o
come��ou a sofrer algumas restri����es, dificuldades com rela����o a
doa����es e outras coisas mais.
A Prefeitura local, por motivos outros, n��o podia mais
colaborar, dava prefer��ncia ��s institui����es mais antigas e muito
mais carentes de recursos materiais e m��dicos. Desse modo, o
corte foi imediato.
Pouco a pouco, alguns volunt��rios que serviam a casa e ��
causa foram saindo. Uns mudaram para outras localidades,
transferidos pela empresa em que trabalhavam. Outros por��m,
alegavam cansa��o e necessitavam de um breve descanso e nunca
mais voltavam.
Neste emaranhado de turbul��ncias foram chegando as
d��vidas. Rem��dios, utens��lios e alimentos come��aram a escassear.
Arestas do Passado 115
Os recursos monet��rios estavam em baixa. A crise parecia ter
atingido a todos.
Os mantenedores estavam cada vez mais distantes. Enfim,
duplicatas j�� vencidas h�� tempos, come��aram a levar o nome da
casa de assist��ncia perante a lei civil, humana. Os jornais e editais
publicavam as d��vidas e as dificuldades da institui����o. Embora
n��o estivesse ligada diretamente ao Centro Esp��rita Paulo de
Tarso, as reportagens sensacionalistas faziam quest��o de
mencionar que o Lar da Caridade era uma institui����o esp��rita.
O que n��o deixava de ser realmente, mas n��o ligada diretamente
�� casa esp��rita.
Ernesto se encontrava arrasado. Entendera o porqu�� da
Irm�� Carmelita, esp��rito, pedir-lhe para trocar seu nome na
legenda.
Os nomes de Deus e Jesus n��o poderiam, embora mesmo
que fosse no papel, como lhe disse ela, serem envolvidos em
protestos e reportagens descaridosas, mesmo quando tais
manchetes dissessem a verdade, no entanto, n��o era preciso
destruir com a obra assistencial, que at�� ent��o beneficiava a
muitos.
Alguns dentre os companheiros de ideal come��aram a
lan��ar cr��ticas ao casal Carnevale, comentavam que Ernesto e
Joviniana, apoiados por Jonas e Maria Guedes, quiseram dar o
passo maior do que podiam. Infelizmente, apoio moral s�� de
poucos que compreendiam o ideal esp��rita e as disposi����es do
casal.
Alguns dos velhinhos e enfermos tiveram de ser
transferidos para outros lugares, pois j�� n��o havia mais como
mant��-los. As poucas reservas tinham que ser dadas a um
n��mero bem reduzido de idosos e doentes que permaneciam
no Lar.
S�� se ouviam cr��ticas, mas o apoio espiritual n��o faltava
ao casal Carnevale. Entretanto, as coisas passaram a piorar mais,
quando um doente ou velhinho desencarnava. Os olhares se
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
tornavam mais ferrenhos. Enquanto tudo ia bem, todos
participavam, aplaudiam, sentiam-se gratos, porque n��o,
orgulhosos, em dizer que faziam parte integrante do grupo de
colaboradores do Lar da Caridade. Por��m a caridade verdadeira
de alguns circunscrevia somente na pompa dos louvores e
admira����es de terceiros.
Quando tudo parecia perdido, sem encontrar sa��da
financeira, Joviniana prop��s ao marido que fizessem promo����es
para arrecadarem alguma soma para darem continuidade ao leite
e a sopa das crian��as. Ernesto e Jonas promoveram, ent��o, uma
feira de livros em cidades vizinhas. Colocaram at�� livros seus,
de suas bibliotecas pessoais, que nem editados eram mais, para
poderem angariar o m��nimo, que redundaria em muito. As obras
liter��rias da biblioteca de ambos eram verdadeiros tesouros
escritos, livros raros.
Tudo isto era para que a institui����o sobrevivesse uma, duas
semanas a mais.
Cabisbaixos, Ernesto e esposa entravam para as reuni��es
semanais do Centro Esp��rita Paulo de Tarso. O grupo sempre
os confortava com palavras amigas e sempre participava das,
quase semanais tamb��m, promo����es que faziam. Ora de livros,
ora de roupas.
No culto do Evangelho no Lar, a s��s com a esposa e os
filhos, a prece fora proferida por Maur��cio a pedido da m��e, que
abriu o Evangelho, chamado ao acaso. A li����o n��o podia ser
outra para o momento: A Paci��ncia, do cap��tulo 9 item 7 de O
Evangelho Segundo O Espiritismo.
Depois de comentarem entre si, o esposo de Joviniana
deixou que as l��grimas minassem de seus olhos cansados,
dizendo-se mesmo assim, estar confortado.
T��nue luz iluminou o ambiente naqueles minutos do
Evangelho no Lar. Irm�� Carmelita ou melhor Carmelita, como
desejava ser chamada agora, apareceu perante seus olhos e mais
uma vez p��de ouvir sua voz:
Arestas do Passado
��� N��o �� preciso dizer-lhe muito, a p��gina da noite fala
por si s��. Por��m, existe uma solu����o mais imediata para que
salvem o Lar da Caridade, que, na mente dos cobradores e
educadores que os atacam, tem se tornado motivo de chacota.
Respeite-os, s��o nossos irm��os de caminhada e precisam do seu
exemplo vivo para se espelharem. S��o acusadores, mas tamb��m
os seus professores, ensinando-lhes paci��ncia, for��a, coragem e
amor. Quer salvar uma parte do Lar e saldar as d��vidas
monet��rias? Venda esta casa confort��vel, e conseguir�� resolver
em parte o problema.
��� Como vender, onde vamos morar Carmelita ? ��� indagou
Ernesto em pensamento.
��� Use a imagina����o, Ernesto. Pelo menos passar�� a dormir
mais tranq��ilo e conseguir�� dar continuidade ao trabalho de
amparo aos irm��os que jazem sem lar, sem teto e sem fam��lia.
Se trabalha na lavoura do Cristo tem que ter consci��ncia da
ren��ncia de certas coisas. Embora n��o deva colocar sua fam��lia
na rua, eles est��o em primeiro plano. Assim, poder�� dar-lhes
outra casa e sobretudo um lar, como tem dado.
Joviniana sentira a presen��a de Carmelita e esta mais uma
vez, se deixou ver pela idealizadora da institui����o, que lhe fora
inspirada em sonho. Sentindo os efluvios magn��tico-espirituais
sobre si e os filhos, emitidos por Carmelita, encerrou com uma
prece o Evangelho da noite, ap��s ter sentido os fluidos saindo
de si em dire����o a Ernesto, que continuava concentrado.
Depois de haverem tomado um pouco da ��gua que se
encontrava numa jarra sobre a mesa, Ernesto perguntou-lhe:
- Voc�� ouviu ou viu, querida ?
- Somente pude ver, mas ouvir n��o - afirmou a dedicada
m��e e esposa.
- Carmelita - continuou Ernesto - sugeriu que
vend��ssemos a casa para amenizar os problemas.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
��� Eu estava pensando nisto j�� h�� alguns dias, Ernesto,
mas fiquei com receio de lhe dizer, esperando por alguma outra
solu����o. Quem sabe seja esta a pr��pria ou a metade da solu����o.
A casa foi colocada �� venda e t��o rapidamente vendida,
que Ernesto n��o pestanejou em primeiro acomodar a prole numa
outra mais simples. Passaram, assim, a morar nos fundos do Lar
da Caridade, numa casa modesta, por��m aconchegante, com
espa��o suficiente para todos.
O dinheiro arrecadado com a venda deu para salvar a
institui����o, mas foi preciso transferir os doentes para uma outra
casa assistencial, pois precisavam de recursos m��dicos,
medicamentos os quais o Lar j�� n��o podia fornecer aos internos.
No entanto, permaneceu uma ala do asilo e da creche. Os
enfermos continuavam a ser atendidos por Joviniana, Ernesto e
os demais na outra institui����o; atendidos com passes, com um
abra��o, com uma prece.
A casa a que foram recambiados contava com m��dicos
diuturnamente, principalmente em casos graves, como a
hansen��ase e outros. N��o estava ligada tal obra assistencial a
qualquer casa esp��rita, mas, sim espiritualistas, que tinham como
mantenedores as mais diversas religi��es. N��o se ligavam a
r��tulos: o importante, diziam seus diretores, era praticar o bem,
ajudar o semelhante sem preconceitos, todos eram bem-vindos.
Contudo, o casal Carnevale, aos poucos, conseguiu
levantar o Lar da Caridade. Maria e Jonas eram dois bra��os fortes,
prontos a colaborar com eles no ideal que abra��aram. Assim,
conseguiram manter funcionando em cinq��enta por cento a obra
assistencial. Diminu��ram os n��meros, mas n��o perderam a
qualidade, ou seja, o ideal crist��o.
Ernesto dava prosseguimento a seus passes magn��ticos.
Suas faculdades medi��nicas tornaram-se, na forja do sofrimento,
mais delineadas e ele as utilizava para o melhor a fazer. A dor, o
sofrimento tornara-o maduro e resignado, mas suas prova����es
n��o haviam terminado.
Arestas do Passado
Durante as turbul��ncias por que passara a institui����o, sua
pequena empresa ficou ao encargo de Carlos, o qual, quando
podia, al��m de participar na casa esp��rita, auxiliava-os com as
crian��as e os idosos.
Gerenciava o ganha-p��o de Ernesto, administrando a loja
de pe��as na qual veio a baixa nas vendas. N��o sabendo como
tomar conta de tudo, Carlos a pedido do patr��o e amigo, solicitou
que Ricardo, o segundo funcion��rio mais antigo da pequena
empresa o auxiliasse no gerenciamento. Carlos tamb��m estava
esgotado, tinha problemas familiares, os seus pais estavam muito
doentes.
Assoberbado pelas tarefas da firma, no centro esp��rita e
no Lar da Caridade, se encontrava estafado, necessitava de
algu��m junto a ele que o ajudasse a tocar a empresa para Ernesto,
de vez que, devido aos problemas, tinha pouco tempo para
resolver tudo sozinho.
N��o demorou mais de seis meses, Ricardo ajudava na
contabilidade tamb��m, na expedi����o de mercadorias. Trabalhava
ap��s o expediente at�� altas horas, se precisasse. Mostrara-se
dedicado e competente.
Da confian��a excessiva, veio �� baila uma dura, mas real
decep����o. Ricardo numa certa manh��, n��o fora trabalhar. Sem
ter not��cias suas, Carlos foi at�� sua casa para ver o que acontecera,
j�� que ao telefone ningu��m atendia.
Surpresa. Era uma segunda-feira e Ricardo mudara-se no
fim de semana, levando tudo, sem ningu��m de nada saber.
Informado pelos vizinhos do ocorrido, Carlos pensou que
o companheiro devia ter se mudado para um bairro pr��ximo.
Entretanto, achou mais estranho ainda quando o vizinho lhe
contou que Ricardo mudara-se durante a noite, sem ao menos
se despedir da vizinhan��a, nem informar a algu��m, muito menos
os companheiros de trabalho
Sem nada conseguir entender, Carlos dirigiu-se �� empresa
e perguntou aos demais se algo sabiam da mudan��a de endere��o
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
de Ricardo. A resposta foi geral e negativa. Ent��o, foi at�� o Lar
da Caridade onde morava Ernesto. Colocando o microempres��rio
a par da situa����o, este ficou t��o surpreso que achou
ser uma brincadeira de Carlos.
Foram at�� o local de trabalho e mexendo nas pastas e na
mesa de Ricardo, perceberam que algo estava errado.
Ligaram para o banco. Ricardo havia feito um desvio de
verbas e de pe��as ao longo dos ��ltimos meses. Enfim, era o que
faltava: Ernesto fora desfalcado, roubado.
Arestas do Passado
12. O INESPERADO
ACONTECE
O subgerente deixara algumas sobras, como golpe de
miseric��rdia. Ernesto n��o suportou, caiu por terra, desfalecido.
Hospitalizado, foi constatado um infarto no mioc��rdio, a
situa����o n��o era das mais promissoras.
Tenso, noites e noites dormindo tarde, preocupa����es das
mais diversas, trabalhos exaustivos e uma surpresa aterradora,
foi demais para algu��m que estava tamb��m com um grande
estresse. Jovinana chegou ao hospital acompanhada de Maria
Guedes. A jovem esposa j�� n��o era mais t��o jovem assim, contava
com seus 45 anos de luta. Os anos haviam se passado depois
que mudaram para o Lar.
O quadro era cr��tico. Na U.T.I, Ernesto tivera mais um
colapso e assim se extinguia o fluido vital do seareiro. O corpo
dera seu ��ltimo suspiro. Ernesto cerrara os olhos para o mundo
material, o seu tempo na crosta terrestre chegara ao fim.
Joviniana foi informada pelo m��dico que atendeu seu
esposo na emerg��ncia sobre seu desenlace. Com a voz embargada
e as l��grimas inevit��veis, abra��ou a companheira sem ainda
entender por que e o que se passara.
A surpresa realmente era inesperadamente amarga.
Apoiada por Maria, procurou, entre o pranto e a resigna����o sob
Valdeimr Pereira Barbosa / Angela
o conhecimento das leis que regem nossas vidas, nas claridades
do espiritismo, conformar-se.
De fato, por tal n��o esperava. Ela tamb��m era humana,
n��o podia deixar de receber tal not��cia sem ao menos sentir por
dentro, nas fibras do cora����o de quem ama e se separou da pessoa
amada, mesmo que momentaneamente.
Carlos, ent��o, explicou-lhe o ocorrido e segurando suas
m��os tr��mulas, falou-lhe:
��� D. Joviniana, eu sei que �� in��til dizer que foi este ou
aquele motivo que ocasionou o infarto, pois aprendizes que
somos do Evangelho de Jesus, sabemos que o desencarne sempre
�� acompanhado, melhor dizendo, provocado por uma desculpa
qualquer. Sei que nestes momentos, mesmo assim, torna-se
dif��cil ficar de cabe��a erguida, pois aqueles que amamos, aqueles
que nos s��o caros, ao partirem deixam sempre um vazio. No
entanto, sabemos que continuam vivos em esp��rito, mas at�� que
os encontremos de novo, a dor e a saudade dilaceram o cora����o.
Por isto sejamos fortes, como ele foi at�� ent��o. Pe��o permiss��o
para tomar as provid��ncias necess��rias.
��� Fa��a isto, Carlos. Fa��a o que for preciso, mas antes
gostaria de v��-lo.
O corpo de Ernesto j�� se encontrava numa outra sala ao
lado da U.T.I.. Havia duas enfermeiras, ��s quais pediram licen��a
e ficaram os tr��s ali, a s��s com o rec��m-falecido.
��� Fa��amos uma prece ��� falou afagando a face do marido
inerte sobre uma maca, a rec��m-viuva.
Maria Guedes concentrou-se e disse aos presentes:
��� Ele ainda n��o foi desligado, est�� preso ao corpo.
Permanece adormecido em esp��rito.
Logo no in��cio da prece, Carmelita adentrou a sala com
mais tr��s entidades espirituais. Joviniana detectou sua presen��a,
mas n��o p��de v��-la desta vez.
Os amigos espirituais de que Carmelita se tazia
acompanhada, iniciaram o desligamento de Ernesto dos la��os
Arestas do Passado
flu��dicos. Carmelita atenciosa emitia vibra����es de amor ao amigo
para auxili��-lo na viagem de retorno.
Joviniana serenou-se e p��de sentir o afago carinhoso de
Carmelita em sua fronte.
Maria Guedes utilizando-se da vid��ncia, presenciara o
trabalho dos Esp��ritos Amigos e n��o conteve as l��grimas,
tamanha fora a luminosidade que se fizera. A presen��a de
Carmelita juntamente com os seareiros do bem, era um foco de
luz a iluminar as sombras da dor na despedida de quem se ama;
no caso de Joviniana e Ernesto n��o poderia ser diferente.
Retirando-se do recinto, a devotada esposa do novo
morador dos planos espirituais, deixou a cargo de Carlos as
devidas provid��ncias.
Saindo do hospital, Joviniana encontrou-se com Maur��cio,
agora com vinte anos de vida. Mo��o forte, bonito e carinhoso
que abra��ou a m��e com ternura, falando ao seu ouvido para
confiar em Jesus.
Por volta do meio-dia naquela segunda feira, o corpo de
Ernesto fora liberado. O vel��rio aconteceu no sal��o do Lar da
Caridade.
A s��s com Carlos, Maur��cio dentro do carro solicitou informa����es
sobre o ocorrido, pois ainda n��o havia compreendido
realmente o que levara seu pai a sofrer uma ruptura no cora����o
t��o repentinamente.
��� Sei, Carlos ��� falou Maur��cio, brandamente ��� que sempre
h�� uma raz��o para as coisas, mas nunca soube que meu pai
tinha problemas card��acos a ponto de desencarnar desta maneira,
inesperadamente.
��� Seu pai, Maur��cio, h�� muito vinha sofrendo, assoberbado
de preocupa����es e trabalhos exaustivos em prol do Lar e da firma.
Muitos problemas e fadigas acumuladas, levam a pessoa a n��o
mais ag��entar tanta press��o. Este golpe, este roubo, permita-
me assim dizer, que Ricardo lhe aplicou, foi a gota.
��� J�� comunicaram �� pol��cia ?
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
- Sim. Depois de haver sa��do do hospital, enquanto
esper��vamos a libera����o do corpo, fui at�� �� delegacia. A princ��pio,
fiquei constrangido em tomar tal atitude. Na condi����o de
m��dium e esp��rita n��o temos o direito de denunciar ningu��m,
mas estamos na Terra e devemos buscar nossos direitos, sen��o o
mundo vira um caos. Temos a nossa legisla����o e a ela �� que
devemos recorrer em conformidade com o est��gio em que
vivemos na terra.
- Ser�� que v��o encontrar o infeliz ? - perguntou Maur��cio.
- J�� o encontraram: ele, a esposa e o fdho de dez anos.
Maur��cio fixou o olhar em Carlos, que fazia leve suspense.
- E ent��o? Sei que isto n��o tem import��ncia agora, meu
pai partiu. Mas, pelo menos preso Ricardo, �� poss��vel salvar a
empresa, garantindo o emprego aos funcion��rios, n��o �� mesmo?
-�� verdade - respondeu Carlos, tranq��ilo -, s�� que o
encontraram debaixo de uma carreta na rodovia pela qual fugia.
Todos, Ricardo e fam��lia est��o mortos. O acidente se deu de
madrugada. Ao fazer uma ultrapassagem, bateu de frente com
uma carreta que transportava butij��es de g��s, a qual passou sobre
o carro em que estavam, vindo este parar somente entre as rodas
de tr��s do ve��culo pesado, provocando uma explos��o. S�� o
motorista do transporte rodovi��rio sobreviveu.
De olhos lacrimosos, Maur��cio lamentou:
- N��o sei se sinto mais pelo desencarne do meu pai ou
pela morte de um infeliz ambicioso que levou �� morte tr��gica
sua fam��lia. O que adiantou roubar ? Pode parecer estranho
para alguns, mas Ricardo precisar�� mais de preces que meu pai.
- Ambos necessitam de boas vibra����es, mas veja bem
Maur��cio, n��o nos iludamos, todos n��s vivemos sob a Lei de
A����o e Rea����o. Quem sabe se seu pai, por mais honrado e homem
de bem que fora, n��o esteja resgatando um passado e
concomitante ao t��rmino do seu est��gio terreno. O que Ricardo
fez conosco, que o t��nhamos como irm��o e amigo, n��o justifica.
Disse-nos Jesus que era necess��rio que o esc��ndalo viesse, mas
Arestas do Passado
ai daquele por quem o esc��ndalo viesse. Ricardo enganou a todos.
Confi��vamos nele, era um pobre infeliz de esp��rito, que se
deixou arrastar pela cobi��a desenfreada. N��o o julguemos por
isto, mas, analisando bem, muitos males que sofremos s��o provocados
por n��s mesmos. Se n��o houvesse dado o golpe, n��o
precisaria estar fugindo e n��o fugindo n��o se exporia a tal risco
de vida. A verdade s�� a Deus pertence, o que temos de fazer
agora �� orar e sermos fortes. Principalmente sua m��e e sua irm��
devem ser a sua principal preocupa����o, dando-lhes for��a, j�� que
agora �� o homem da casa.
Enquanto Carlos e Maur��cio conversavam, no meio do
sal��o o corpo de Ernesto era velado. Fl��via, sentada ao lado da
m��e demonstrava, apesar da brandura que trazia estampada no
semblante, uma dor intraduz��vel, o que era natural.
O conhecimento esp��rita nos instrui sobre as verdades do
esp��rito, da imortalidade da alma; contudo, a separa����o, mesmo
moment��nea entre os que se amam, n��o deixa com tal assertiva
o cora����o menos pesaroso, embora conformado.
As horas rolaram lentas. Os moradores do Lar da Caridade
uma vez e outra ali no sal��o passavam. Tio Ernesto, como era
chamado pelas crian��as, partira sem despedir-se ou avis��-los
sequer que os deixaria. Os velhos j�� mais experientes, embora
n��o sentindo menos dor, falavam entre si que Deus sabe o que
faz e a quem chama.
Talvez a indaga����o quanto �� morte corp��rea de Ernesto
ainda aflorasse nas mentes daqueles que ainda desconheciam
as leis que comandam o Universo.
Isto quanto ao fato de um m��dium, um homem como
Ernesto, que lutava para o bem de todos, com o aux��lio dos
Mentores da vida extra f��sica. Como n��o fizeram nada para
ajud��-lo para que seu cora����o viesse a resistir ao choque, no
ac��mulo de v��rios outros ?
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Com esta interroga����o fa��amos uma outra paralelamente.
Quem, de n��s, encarnado e desencarnado, sabe do programa
reencarnat��rio de cada esp��rito ?
De certo, nem tudo que acontece com a humanidade faz
parte do programa tra��ado, antes da descida dos esp��ritos ao
som��tico.
Vivemos num mundo de provas e expia����es, no qual nos
encontramos sujeitos aos v��cios e ��s virtudes, ao erro e ao acerto.
Nem tudo podemos levar �� conta do chamado destino,
como dizem alguns; no entanto, assim como muitos males que
acometem a humanidade nascem do agora, muitos resqu��cios
do passado nos v��em �� tona, contrabalan��ando com os males
provocados na atual exist��ncia.
Ernesto se dedicou ao bem, fez do ideal esp��rita o seu ideal
de crescimento, mas n��o �� pelo fato de ser m��dium e esp��rita,
homem de bem, que estaria livre das provas da luta individual,
nem t��o pouco das d��vidas do pret��rito. Lembremo-nos que,
numa de suas encarna����es, fora Malaquias Petrone e tomou
impiedosamente o patrim��nio dos semelhantes. Era natural que
no hoje algu��m fizesse o mesmo com ele, tomando-lhe uma
parte dos bens terrenos. Quem com ferro fere com ferro ser��
ferido. �� da lei. Vingan��a do destino ? �� o dente por dente
reencarnat��rio ? N��o. �� simplesmente a Lei de Causa e Efeito e
devemos nos dar por felizes em pagar-lhe o tributo.
Os amigos de ideal e da vizinhan��a continuavam
chegando. A express��o facial do corpo inerte era de serenidade.
Ernesto parecia estar adormecido somente.
A noite ca��ra... O vel��rio atravessaria a madrugada. Logo
pela manh��, ��s 9 horas, sairia para o sepultamento.
A partir das dez horas da noite, algumas entidades
come��aram a se revezar. Esp��ritos vinham e transitavam em meio
��s pessoas, aproveitando as leituras do Evangelho que, ora eram
feitas pela viuva, ora por Jonas e Carlos.
Arestas do Passado
Em momentos de desconforto para alguns, que tinham
horror a vel��rios, este clima, em que se ouvia a mensagem
cristalina de O Evangelho Segundo o Espiritismo, era de paz,
emo����o e serenidade.
Assim fomos nos encontrar com o mais novo viajante para
a P��tria Espiritual.
No hospital em que se encontrava, Ernesto recebera toda
aten����o necess��ria. Por duas vezes, depois de sua chegada,
acordava e adormecia novamente. Diziam os mentores que o
choque no cora����o atingira os plexos perispirituais e ele
necessitava de passes para que continuasse dormindo, at�� que
fosse restabelecida a sua consci��ncia espiritual.
Inspirando profundamente, Ernesto abriu os olhos, ainda
um pouco tonto e indagou:
��� Aonde estou... o que aconteceu ?
��� Num hospital, Ernesto. Voc�� sofreu uma parada
card��aca, um infarto.
��� Infarto, eu ? ��� perguntou, espantado, ao enfermeiro que
o atendia - Que hospital �� este e, se sofri tal mol��stia card��aca,
por que n��o estou com aparelhos ?
��� Vejo que voc�� assimila r��pido amigo, mas n��o t��o r��pido
assim - falou o jovem enfermeiro, sorrindo.
��� Onde est�� minha esposa, ela n��o sabe que estou
internado aqui ?
��� Sabe, sim. E est�� orando muito por voc��.
Ernesto ainda n��o se dera conta de que estava num
hospital espiritual.
��� Durma mais um pouco, Ernesto ��� recomendou o
entermeiro sol��cito -, logo mais ter�� as respostas para suas
indaga����es. Por hora conv��m sossegar as emo����es. Durma s��
por mais alguns instantes.
E impondo as m��os sobre a cabe��a de Ernesto, o bondoso
enfermeiro aplicou-lhe passes tranq��ilizantes. Ernesto em
poucos minutos adormeceu novamente.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
De volta �� Terra, o vel��rio decorria noite a dentro com
leituras do Evangelho, com intervalos mais ou menos prolongados.
Joviniana, Fl��via e Maur��cio, embora tranq��ilos n��o conseguiam
conter as l��grimas. No entanto, estas n��o eram de desespero
e, sim de uma dor natural que sentimos quando um
ente querido se aparta dos nossos c��rculos momentaneamente,
pelo fen��meno da morte do corpo.
Quando se tem conhecimento de que a morte n��o
interrompe a vida, mas, sim, d��-lhe continuidade em outra
dimens��o e, que um dia, mais cedo ou mais tarde nos reuniremos
novamente, tonamo-nos mais fortes.
A cria����o de Deus n��o �� em v��o, pois, em v��o n��o nos
encontramos na Terra. Todos n��s estagiamos num corpo
perec��vel, ve��culo que nos foi emprestado para os diversos est��gios
evolutivos, em busca nosso aprimoramento e aperfei��oamento.
J�� indicava meia-noite no rel��gio afixado numa das
paredes do sal��o do Lar da Caridade. Poucos ficaram por mais
tempo e o ambiente n��o era prop��cio a conversa����es f��teis,
banais. O respeito era vis��vel nos olhares dos que ali se
concentravam em prece emitidas ao esp��rito do falecido e aos
seus familiares.
Retornando ao lugar em que se encontrava o esp��rito que
habitara o corpo velado, encontramo-lo despertando de um sono
de refazimento.
- Ol��, Ernesto - cumprimentou desta vez uma jovem
enfermeira.
- Ah, como vai ? - respondeu o novo interno daquele
hospital.
E passou a fitar-lhe os trajes. Olhando em derredor
percebeu que aquele quarto de hospital, n��o era muito parecido
com os que j�� havia estado antes.
Passou ent��o, a recordar do mal s��bito que sofrera, uma
forte dor no peito e de nada mais conseguia lembrar-se.
Arestas do Passado
Fitando-lhe serenamente os olhos, a jovem enfermeira,
expressou um leve sorriso ao que Ernesto abaixando a cabe��a e
em seguida levantando-a, com os olhos cheios d'��gua inquiriu:
��� Desencarnei?...
Envolvendo-o num abra��o fraterno, L��dia, assim como
era chamada, apresentou-se e deu as boas-vindas ao mais novo
habitante dos planos espirituais.
��� Por que n��o percebi antes ? ��� indagou Ernesto, um tanto
intrigado.
��� N��o �� pelo fato de ter exercido a mediunidade e tido os
ensinamentos do Espiritismo, que voc�� iria encontrar tudo
pronto, pois pronto n��o estava para a volta �� espiritualidade,
isto ��, foi pego de surpresa. O impacto repentino do enfarte,
ocasionando a morte org��nica, lan��ou-o numa leve perturba����o.
Voc�� foi amparado por m��os amigas, conquistadas com seu
esfor��o, dedica����o e crescimento interior, impedindo que lhe
ocorresse um desequil��brio maior. Ali��s, as preocupa����es que o
afligiam lan��aram-no num nevoeiro emocional, embora muitas
vezes sentindo-se confortado, emocional e psiquicamente,
avariando a estrutura vibrat��ria do seu campo magn��tico-
espiritual. O dia e a hora estavam marcados, tal como aconteceu,
e o colapso foi apenas um agente, um motivo. Sempre h�� uma
desculpa para o fim da vida corporal, com exce����o dos suicidas.
��� H�� quantos dias estamos do meu desencarne ?
��� Menos de vinte quatro horas - informou-lhe L��dia.
��� Quer dizer que ainda est��o velando meus despojos ?
��� Sim. Mas com uma pequena corre����o, o corpo n��o ��
mais seu. Na realidade nunca foi, o corpo que usamos para
vivermos na Terra, como voc�� bem sabe, n��o nos pertence,
Ernesto. Pertence Aquele que o criou, Deus, a quem devemos
prestar infinitos louvores por tal consentimento, que ��
utilizarmo-nos do ve��culo carnal para que possamos evoluir,
evangelizando-nos.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
- ��, eu sei, cara irm��. �� apenas for��a de express��o,
realmente de nada somos propriet��rios, sim, usufrutu��rios, como
nos ensina a s�� Doutrina de Jesus.
- Como se sente, agora? Est�� melhor ?
- Sim, L��dia, surpreso, talvez, pelo inesperado, pois pensei
que desencarnaria anos mais tarde. N��o sei porque, mas sempre
tive esta sensa����o.
-O tempo vivido na mat��ria n��o importa, uma vez que
vivemos muitas vidas, habitando v��rios corpos. O importante ��
o que haurimos durante o est��gio que passamos a viver na Terra.
Cada qual permanece o tempo de que necessita em concomit��ncia
com o planejamento reencarnat��rio.
-E a minha fam��lia, o trabalho que iniciamos em prol do
Evangelho, perante nossos irm��os mais necessitados ? E a
pequena empresa que sustentava os meus e a fam��lia de alguns
funcin��rios ?
- Quanto a isto voc�� n��o dever�� mais se preocupar, tudo
ter�� continuidade. No momento, urge concentrar-se na nova
vida para n��o desequilibrar-se tamb��m. N��o se esque��a de que
est�� no plano espiritual, n��o se deixe abater pelas as id��ias do
terra a terra. Mesmo que seus anseios e perquiri����es sejam
nobres, �� preciso a aceita����o e o equil��brio. Como m��dium, teve
a bendita oportunidade de penetrar no invis��vel e j�� conhecia,
em parte, o que muitos desconhecem e chamam a viagem para
o desconhecido. Para os que exerciam a mediunidade
dignamente e para tantos outros que acreditam na bondade de
Deus, a vida ap��s a morte �� a liberta����o de consci��ncias retas,
que vivem aprisionadas no cativeiro corp��reo, sobre a Terra
aben��oada de provas e expia����es. Prepare-se: dentre em pouco
viremos com outra irm��. A�� ent��o, voc�� deixar�� a enfermaria
para ficar na col��nia anexa a este hospital.
- Est�� bem - respondeu Ernesto, resignado - mas gostaria
de ver minha esposa e filhos; foi tudo t��o r��pido que n��o tive
tempo nem de me despedir.
Arestas do Passado
- N��o se preocupe, a pessoa que vir�� comigo j�� havia
pensado nisto. Aguarde e ore, n��o se pertube, seu desejo ��
compreens��vel, veremos o que pode ser feito. Deite-se, por hora,
enquanto espera.
Ernesto Carnevale, agora esp��rito liberto do corpo, passou
a orar e a meditar por alguns instantes e, em poucos minutos,
L��dia entrava em seu quarto com Carmelita, a Irm�� Carmelita,
como era conhecida quando encarnada.
Ao v��-la, Ernesto, como uma crian��a carente, se entregou
aos seus bra��os estendidos, que o saudavam, abertos.
Era Carmelita dando-lhe as boas-vindas tamb��m, de
regresso �� casa paterna, numa das muitas moradas da
espiritualidade.
L��grimas de emo����o transbordavam-lhe dos olhos e os
tr��s sa��ram abra��ados em dire����o �� col��nia em que Ernesto iria
ficar. Alojado em seu quarto, depois de ter recebido breve
instru����o, Carmelita segurou suas m��os e fez uma prece, rogando
a Jesus que os amparasse nesta r��pida excurs��o que fariam em
visita �� Terra, mais precisamente no local onde estavam sendo
velados os despojos carnais de seu pupilo.
Estava com Carmelita e L��dia, a enfermeira abnegada,
que auxiliara juntamente com mais duas entidades a deslig��-lo
do corpo j�� morto, naquele momento crucial, em pouco tempo
penetraram o sal��o do Lar da Caridade. Faltavam quinze
minutos para uma da madrugada. Saudando os Guardi��es
Amigos que se encontravam no recinto, Carmelita e L��dia
conduziram Ernesto at�� o caix��o, onde se encontrava sua ex-
vestimenta f��sica, ao lado da qual, um amigo encarnado iniciava
novamente a leitura do Evangelho para o conforto dos que
estavam ali, quebrando o cansa��o e colaborando com os esp��ritos
amigos que ali se congregavam, prestimosos.
Olhando para o corpo est��tico sem desd��m, mas tamb��m,
sem lam��rias, agradeceu a Deus pelo ve��culo corp��reo que ele,
como esp��rito, animou atrav��s do fluido vital.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Passando o olhar para o outro lado do sal��o, viu sua esposa
e filha querida, amparadas uma �� outra a ouvirem as palavras
do leitor do Evangelho. A cada abertura do mesmo era sempre
um consolo, uma li����o para o que viviam no momento.
Aproximando-se das duas, Carmelita esclareceu que elas
n��o poderiam v��-lo naquele momento, era melhor assim.
Inclinando-se um pouco, com as duas m��os acariciou com
cada uma o rosto da filha e da esposa, ao que Joviniana, como
m��dium que era percebeu-lhe a presen��a, olhando para os lados
e abaixando a cabe��a p��s-se a orar. Carmelita, ladeando Ernesto,
deixou-se ver para a vi��va com um papel na m��o, mostrou-o
para Joviniana, o qual havia uma mensagem que dizia:
"N��o se preocupe, Ernesto est�� bem...est�� aqui."
Lendo aquele recado, agradeceu em pensamento com
abundantes, por��m, calmas l��grimas a banharem sua roupa.
Abra��ando forte e carinhosamente a Fl��via, disse-lhe:
��� Carmelita est�� aqui e d��-nos um recado que seu pai se
encontra bem e est�� presente.
Os olhos da jovem n��o resistiram a emo����o e a surpresa e
passaram novamente a lacrimejar. O ambiente foi tomado de
paz e serenidade ainda maior. Quem visse filha e m��e chorando
discretamente, n��o saberiam da alegria emocional que sentiam
naquele momento. Na institui����o, recebiam orienta����o
evangelizadora �� luz da Doutrina Esp��rita e a separa����o por
interm��dio da morte, era bem compreendida por todos. No
entanto, a dor da partida n��o deixa de existir, mas com ela
permanece o consolo de que a separa����o �� por determinado
tempo e que a morte n��o existe.
Sepultados os restos mortais de Ernesto, todos retornaram
�� vida di��ria. Ainda naquele campo de t��mulos frios e tristonhos,
Ernesto, Carmelita e L��dia permaneceram por mais alguns
instantes.
Acompanhando o pr��prio funeral, Ernesto teve a
oportunidade de uma experi��ncia diferente das que vivera. De
Arestas do Passado
certo n��o p��de sopitar a express��o de ang��stia, embora amparado
por Carmelita, que lhe recomendava equil��brio, para que n��o ficasse
preso ��s amarras das vibra����es que permanecem em tal lugar.
E, acompanhando a esposa e o casal de filhos com olhos
��midos e j�� cheio de saudades, perguntou:
��� Como ficar��o eles, Carmelita ?
��� Muito bem. Por hora deve pensar em voc��. S�� lhe
trouxemos aqui para que pudesse angariar novas experi��ncias e
se despedir dos seus, embora a despedida, muitas vezes, n��o
tenha raz��o de ser para os esp��ritos desencarnados, pois quando
podem t��m permiss��o para rever seus entes queridos. E eles,
por sua vez, podem reencontr��-lo atrav��s da expans��o da alma
que se d�� pelo do sono f��sico.
��� Confiemos em Jesus, Ernesto. Voltemos �� esfera da qual
agora voc�� tamb��m faz parte. Seu desenlace foi repentino, ainda
necessita de recompor energias.
Na verdade, bem poucos conseguem e podem ver seu
tuneral. Como voc�� possui alguns m��ritos, dedicando-se ��
renova����o interior e auxiliando almas irm��s �� custa de sacrif��cio
e amor, conseguimos permiss��o do Mundo Maior para que aqui
estivesse, visando ao seu aprendizado, que n��o terminou com a
desencarna����o e, compreendendo a necessidade que teria, diante
da separa����o dos seus, abruptamente ��� concluiu Carmelita.
Sentindo-se um tanto fraco, Ernesto apoiou-se na
instrutora amiga e de retorno volitaram os tr��s em dire����o ao
espa��o, alcan��ando a col��nia em que permaneceria.
13. DANDO
CONTINUIDADE
A vida da fam��lia Carnevale, aos poucos, ia voltando ��
normalidade. O vazio deixado pela aus��ncia do pai-esposo era
preenchida com o trabalho di��rio e a assist��ncia aos combalidos
do caminho.
Maur��cio, alguns dias ap��s, recuperou certa quantia em
dinheiro que fora desviada pelo funcion��rio da empresa, depois
de comprovado o roubo. Os advogados encontraram o n��mero
da conta que Ricardo abrira e os documentos que se encontravam
dentro de uma valise, que foi atirada para fora do carro, no local
do acidente.
A pequena empresa, desta forma, poderia continuar
existindo e seus funcion��rios n��o perderiam o ganha-p��o para o
suprimento das suas fam��lias.
Maur��cio, assessorado por Carlos, assumiu a dire����o do
empreendimento constru��do pelo pai e, com ��xito e compet��ncia
mostrava-se um ��timo micro-empres��rio e patr��o.
Joviniana, sem o marido, presidia o Lar da Caridade e,
sempre assessorada por Jonas e Maria, dava continuidade para
a sobreviv��ncia da institui����o. As dificuldades antes enfrentadas
pelo esposo, ainda faziam-se presentes, as quais procurava
solucionar com muita cautela, f�� e perseveran��a.
Valdemir Pereira barbosa / Angela
Fl��via, a filha amada, tornou-se sua jovem secret��ria, no
conv��vio do trabalho com os irm��os que dentro e fora do Lar
necessitassem de assist��ncia espiritual e material.
Dois anos de luta di��ria depois de Ernesto ter passado
para o plano espiritual haviam transcorrido.
Carmelita continuava a assistir o cora����o e os ideais de
fraternidade de Joviniana. Uma vez ou outra trazia not��cias de
Ernesto, que ap��s este per��odo passou a vir com mais freq����ncia
ao grupo em que participava, ao qual Joviniana tamb��m
permanecera fiel at�� seus ��ltimos dias na Terra.
Levantando a credibilidade do Lar da Caridade, em termos
de sobreviv��ncia, o que lhe custou duras pelejas, a vi��va de
Ernesto, com o apoio dos que lhe foram fi��is nos momentos
mais dif��ceis, conseguiu tornar a institui����o t��o ativa e
reconhecidamente portadora de in��meros benef��cios a todos que
por ela passaram ou viessem a passar.
As instala����es hospitalares voltaram ao ritmo de grandes
��xitos no tratamento aos hansenianos e cancerosos abandonados
por suas fam��lias.
Ao lado de Fl��via, Maur��cio e amigos abnegados, Joviniana
encontrara for��as para fazer o que junto com Ernesto n��o
conseguiu, dado �� falta de tempo na estada do seu esposo na
Terra.
Os desertores da ��poca, alguns, pelo menos, voltaram a
dar sua colabora����o no Lar. Diante das tormentas que trouxeram
nebulosas nuvens na vida destes medianeiros do bem e que
sobrevieram as dificuldades, n��o foi dif��cil, para muitos, se
mostrarem sensibilizados com o trabalho que a fam��lia Carnevale
e amigos conseguiram realizar.
Em pouco tempo, com o crescimento da empresa, que o
jovem Maur��cio pudera levantar com maturidade e destreza,
Joviniana p��de mudar-se com os filhos para uma casa melhor,
com que Maur��cio lhe presenteou. Na verdade, dizia ele, n��o se
tratava de um presente e, sim, de uma devolu����o da Bondade de
Arestas do Passado
Deus, que possibilitara suas vit��rias na pequena empresa e no
Lar da Caridade. Era a casa que ela e o esposo dispuseram para
manter a institui����o e que agora Deus possibilitou-lhe reav��-la
com o esfor��o do trabalho.
Assim, pois, a vida seguiu seu rumo. Ernesto, numa das
��ltimas reuni��es em que se manifestara, falou aos participantes
que estava tentando ajudar Ricardo e que este ainda se mantinha
no cativeiro das pr��prias ambi����es, quando fugia ap��s o golpe,
que acabou em trag��dia. E que todos orassem muito por ele. A
fam��lia de Ricardo se encontrava melhor, recebiam instru����es
numa escola espiritual. Ele por��m, sofria os tormentos da inc��ria
consciencial.
Como �� de se notar, o tempo, depois da morte f��sica para
o bem ou o mal-estar do esp��rito, depende muito do que se fez
quando encarnado. N��o podemos jamais fugir aos imperativos
da consci��ncia. Esta nos liberta ou nos aprisiona e na
espiritualidade esta pris��o ou liberdade s��o t��o mais intensas
quanto o est��gio no corpo.
Por este motivo, cada um deve viver com a consci��ncia
tranq��ila, livre das amarras das ilus��es, das ambi����es
desenfreadas, das desonestidades encobertas perante uns, mas
sempre expostas �� Lei de Causa e Efeito, sempre transparentes
perante a lei Divina.
Amar uns aos outros, tal como nos recomendou Jesus.
Fazer a outrem o que gostar��amos que fosse feito a n��s
pr��prios, �� viver uma s�� doutrina, num curto espa��o de tempo
que �� a nossa restrita perman��ncia sobre este globo provacional
e expiat��rio.
Jamais vilipendiar os padr��es da moral crist��, que somente
nos direciona para o bem a fazer, que �� o nosso pr��prio bem. ��
assim que devemos proceder.
Quando acordarmos integralmente para esta assertiva, o
mundo ser�� melhor, porque n��s passamos a ser melhores, dentro
da observ��ncia e viv��ncia dos postulados evang��licos, em
cumprimento �� lei universal.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Com Jesus no cora����o a humanidade tornar-se-�� uma
grande assembl��ia de crist��os ativos e n��o inativos. Quando se
atingir, dentro da evolu����o, tais conceitos que devam falar alto
ao cora����o, certamente poderemos dizer que n��o estamos s��
aprendendo, mas tamb��m, colocando em pr��tica o aprendizado.
Que falar do Cristo, para a maioria, n��o seja demod��,
cafona, fraqueza ou fanatismo religioso, uma vez que o Mestre
n��o �� uma religi��o. Caso Ele tenha falado ou pregado alguma,
esta, sem d��vida, foi a religi��o do Amor, da Paz e da Vida. N��o
nos envergonhemos de falar e viver o Cristo em nossas vidas,
pois Ele n��o se intimidou, nem se contrafez na hora de dar sua
vida por n��s, como exemplo do mais puro e desinteressado amor.
Joviniana estava feliz. A estas alturas, Maur��cio j�� contra��a
matrim��nio com uma das mo��as que freq��entava o centro
esp��rita.
Sua m��e, como �� natural, sentia grandes saudades do
esposo ainda, mesmo que sua presen��a espiritual fosse sempre
ativa junto aos trabalhos e ao aconchego de seu lar.
Ela, por��m, se resignava e recompunha as emo����es, pois
sabia que iriam se encontrar na forma em que ele se encontrava,
isto era quest��o de tempo.
Ensinara a Fl��via, que tamb��m noivara, em vias de formar
um novo lar, sobre todos os trabalhos a serem realizados no Lar
da Caridade. A casa em que moravam no terreno da institui����o,
passou a abrigar um casal que cuidava dos pormenores da
institui����o. N��o eram simplesmente caseiros, eram trabalhadores
da seara de Jesus.
As filas tornavam-se cada vez maiores nos dias em que
eram distribu��dos p��o e leite para as crian��as da periferia, que
eram cadastradas. Algumas recebiam uma boa alimenta����o ali
mesmo. O cadastramento servia para controle: somente os que
possu��am baixas rendas poderiam receber o alimento material.
Da sopa, do leite e do p��o, preparados por Tia In��s,
respons��vel por esta ��rea, era imposs��vel quem n��o gostasse. N��o
Arestas do Passado
era pelo fato de serem pessoas necessitadas que os alimentos
eram feitos de qualquer maneira, o tempero que dava o sabor
mais gostoso era o tempero ps��quico, flu��dico, pois era com muito
carinho e simplicidade de esp��rito. Era sem contra-dita, o
tempero do amor.
A institui����o espiritista se tornara o reduto de todos aqueles
que podiam ser abrigados nela, era o reduto da caridade. Dava-
se assist��ncia espiritual-evang��lica, nutricional e m��dica.
Seus trabalhadores procuravam fazer jus ao nome dado ��
institui����o: Lar da Caridade.
N��o somente a caridade tang��vel, sobretudo a caridade
moral, com apoio evangelizador, iluminando a consci��ncia
daqueles que l�� estavam.
As Irm��s do convento de que Carmelita fizera parte,
discretamente, sempre que podiam, enviavam algumas crian��as
e idosos para serem abrigados sob as asas da diretora Joviniana,
t��tulo este pelo qual n��o gostava de ser tratada, dizia com
sinceridade e consci��ncia:
- Diretor �� Jesus, o Supremo Governador do nosso globo,
do qual sou apenas uma volunt��ria.
Carmelita seguia no seu minist��rio da caridade na Terra
ainda, por��m, de forma mais sutil. Inspirava sempre as jovens
freiras do seu antigo convento a tomarem tais atitudes, levando
alguns irm��os para o Lar.
E a vida prosseguia, e o trabalho elaborado por Joviniana
e Ernesto tivera seu ��xito e import��ncia. Nada mais digno e
animador que resgatar alguns d��bitos de outras reencarna����es
trabalhando para o bem do pr��ximo, aprendendo e modific��ndose
para melhor. Revestindo o pr��prio cora����o com o manto do
amor, da caridade, buscando em todos os quadrantes saber mais
sobre o amor divino e sobre a pr��pria raz��o de existir.
Eis alguns dos motivos da reencarna����o: o progresso
moral, intelectual, a evangeliza����o do esp��rito encarnado, para
que, quando estiver liberto, volte ao mundo espiritual melhor
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
do que quando saiu. E quando tenha de retornar �� Terra
novamente, retorne ainda melhor para preencher, em sua
ess��ncia, as lacunas que ainda n��o foram preenchidas. �� a lei
de evolu����o.
"Nascer, morrer, renascer novamente e progredir sem
cessar, tal �� a lei"
��, sem sombra de d��vida, o futuro de todos n��s que
estagiamos entre o C��u e a Terra.
Arestas do Passado
14. MISS��O CUMPRIDA
Joviniana fora acometida de uma crise renal. H�� dias vinha
queixando-se de dores, mesmo com o tratamento m��dico.
Fr��gil e visivelmente abatida, estava cansada. Numa noite,
antes de ir para casa, passou quarto por quarto conversando com
os internos do Lar; crian��as, velhos e doentes amavam aquela
criatura meiga e ao mesmo tempo forte espiritualmente. N��o se
deixava abater, aprendera a lutar pela vida e pelo bem-estar dos
outros.
Internada pela manh��, n��o conseguia mais suportar as
dores, eram necess��rios medicamentos mais fortes. Pediu ao
m��dico que cuidava de seu caso para permanecer na enfermaria
que tinha dentro do Lar. Mas o m��dico achou melhor, desta
vez, transferi-la para outro hospital. Seu caso era critico.
Tr��s dias ap��s sua interna����o, propuseram uma cirurgia
de emerg��ncia. Colocada a par da urg��ncia, Joviniana, serena,
discordou.
��� N��o, meus amigos, enquanto h�� vida devemos lutar por
preserv��-la, sem d��vida. Entretanto, no meu caso, diante do
quadro em que me encontro, n��o h�� raz��o de ser e os senhores
sabem disto. Se minha hora estiver chegando, gostaria de partir
consciente do corpo em que estou, sem anestesia cir��rgica. Quero
sair do mundo tal qual entrei. Mas n��o dispenso o medicamento
para as dores - sentenciou Joviniana, tranq��ila.
Valdemir Pereira Barbosa / Angela
Joviniana pediu aos filhos que aguardavam na sala de
espera que entrassem. Acompanhados de Carlos, Maria e Jonas
os dois irm��os esperavam, angustiados, para verem a genitora.
A esposa de Maur��cio aguardava, h�� quatro meses, a chegada
do primeiro filho e acompanhou os irm��os at�� o leito da sogra.
Vendo a fragilidade em que se encontrava sua m��e, Fl��via
n��o conteve as l��grimas, abra��ando-a carinhosamente.
- Filhos - disse a moribunda -, n��o os quero ver com os
olhos tristonhos. A enfermidade do corpo �� fator do qual
ningu��m poder�� fugir. Sei que breve, m��os amor��veis me ser��o
estendidas, segundo a vontade de nosso Pai Amoroso, e que terei
de obedecer. Entretanto, conhecendo o amor que nos uniu um
dia sobre este bendito planeta, e que nos ser�� um grande v��nculo
para a vida que fulge em outras paragens, pe��o-lhes que n��o se
condoam em demasia, embora eu tamb��m reconhe��a ser dif��cil
a hora do adeus. Voc��s j�� est��o adultos, ent��o, continuem como
s��o, dedicados e interessados pelo bem do semelhante.
Mantenham, ��s custas de suas for��as e da colabora����o de almas
dedicadas e humildes, o Lar da Caridade. E voc�� J��lia, minha
doce e venturosa nora, cuide bem do meu netinho, que n��o terei
oportunidade de conhecer na vida carnal, pois o tempo se
escasseia, mas que j�� devo t��-lo conhecido em outras ��pocas,
assim como n��s nos conhecemos tamb��m.
Amem-se mutuamente com todas as for��as do cora����o e
sejam muito felizes, meus filhos.
Depois de breve intervalo, Fl��via, Maur��cio e J��lia, sua
esposa, trocaram mais algumas palavras afetuosas. Embora o
momento fosse de desalento, uma paz indescrit��vel reinava
naquele quarto hospitalar. Em seguida, a pedido de Joviniana,
convidaram os Guedes e Carlos para entrarem.
Sorrisos e abra��os quebraram fraternalmente a dor que
envolvia o cora����o dos filhos de Joviniana.
Uma hora de visitas havia se passado, a enfermeira
solicitou a todos que deixassem a paciente repousar. Agora,
Arestas do Passado
Joviniana ficara sozinha naquele quarto. Sentira vontade de estar
num quarto de enfermaria para gozar da companhia de outros
que como ela sofriam com a enfermidade. Aquela seria a noite
em que Maur��cio n��o poderia ficar como companhia para sua
m��e. Fl��via n��o conseguia disfar��ar a dor que a fazia sofrer,
vendo a m��e naquele estado. Ent��o, querendo poup��-la,
Joviniana pediu que ficasse em casa com J��lia, o que ela atendeu
contrafeita, pois queria passar a noite com a m��e. Do��a-lhe na
alma ver sua progenitora t��o fr��gil e n��o queria deix��-la a s��s.
-�� s�� por esta noite, crian��as, n��o se preocupem comigo.
V��, Maur��cio, cuidar dos assuntos pertinentes aos nossos irm��os
do Lar. N��o deve perder a reuni��o por minha causa, l�� voc�� estar��
tamb��m sendo ��til ��� confortando os filhos, assim falou-lhes.
�� meia-noite a enfermeira plantonista acordou Joviniana
para ministrar-lhe o medicamento prescrito. Sentindo sede,
solicitou um pouco mais de ��gua �� enfermeira da noite.
Sozinha, antes de voltar ao sono, com um grande esfor��o,
sentou-se na cama encostando-se na cabeceira e passou a orar.
Sentindo uma leve vertigem, o que pensou ser efeito do rem��dio,
ap��s a prece, entregou-se ao sono, mas depois deste, ao sono
libertador.
Alguns minutos depois, sentindo algo diferente, p��s-se
de p�� ao lado de seu leito e, olhando para a cama, viu seu corpo
inerte. Voltando-se para tr��s, eis que densa claridade a envolveu
e viu Ernesto e Carmelita, sorridentes, a lhe darem as boas-
vindas. Vieram receb��-la e, envolvida nos abra��os de ambos,
passou os olhos brilhantes e lacrimosos de felicidade sobre seu
corpo estendido no leito. Agradeceu a Deus a b��n����o da vida
carnal e juntos, na for��a do pensamento, deram impulso para a
viagem espiritual, alcan��ando tamb��m o plano imortal, morada
dos esp��ritos, em dire����o �� Vida Maior.
Angela
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Agradecemos ao Irmão e digitalizador Fernando José por colaborar com esta nossa campanha.
Pedimos que não divulguem em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos
O Grupo Allan Kardec lança hoje mais um livro digital !
Desejamos a todos uma boa leitura !
Arestas do Passado - Valdemir P. Barbosa
Sinopse:
A força do passado retorna a vida atual, para cobrar dos personagens a reparação dos equívocos de outras existências e convidá-los a crescer espiritualmente, orientados pela mediunidade bem conduzida.
Lançamento Grupo Allan Kardec
https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardecNosso grupo parceiro Mente Aberta
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Abraços fraternos!
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