domingo, 23 de janeiro de 2022 By: Fred

{clube-do-e-livro} Lançamento: Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo -Aurélio A. Valente - Formatos : epub,mobi,pdf e txt

Aur�lio A. Valente



� ORGANIZA��O DE GRUPOS
� M�TODOS DE TRABALHO
FEDERA��O ESP�RITA BRASILEIRA

DEPARTAMENTO EDITORIAL E GR�FICO
Rua Souza Valente, 17
20941-040 � Rio-RJ � Brasil


ISBN 85-7328-269-X

B.N. 6.766
8� edi��o - Do 39� ao 41"� milheiro

12-AA; 000.3-O; 8/2002

Capa de DOUGLAS MARTINS

Copyright 1938 by

FEDERA��O ESP�RITA BRASILEIRA

(Casa-M�ter do Espiritismo)

Av. L-2 Norte - Q. 603 - Conjunto F
70830-030 - Bras�lia, DF - Brasil

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CIP-BRASIL. CATALOGA��O-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

V249S
8.ed.
Valente, Aur�lio A.
Sess�es pr�ticas e doutrin�rias do espiritismo: organiza��o de grupos,
m�todos de trabalho / Aur�lio A. Valente. - 8. ed. - Rio de Janeiro:
Federa��o Esp�rita Brasileira, 2002
224p.:

ISBN 85-7328-269-X

1. Centros espiritas. 2. Espiritismo. I. Federa��o Esp�rita Brasileira.
II. T�tulo.
02-0456. CDD 133.9
CDU 133.7
27.03.02 26.07.02 000575


�ndice

Dedicat�ria

7
Pref�cio

11
I � Da necessidade das sess�es esp�ritas 25
II � Meios de comunica��o entre vivos e
mortos � Sess�es esp�ritas e suas
denomina��es

35

Efeitos F�sicos

a) Tiptologia

39
b) Voz direta; escrita direta

41
c) Levita��o

43
d) Materializa��es

44

Sess�es Intelectuais

a) Doutrin�rias

45
b) Pr�ticas ou comuns

46
c) de Curas

48

III � Escolha do local para realiza��o de
sess�es. � Elementos componentes. �
Presidente. � M�diuns. � Assistentes 49

IV � Sess�es pr�ticas. � M�todos de trabalho.
� Leitura. � Concentra��o. �
Preces. � Comunica��es. � Distribui��o
do tempo. � Pessoas impedidas
de assistir a sess�es


67

V � Obsess�o. � Fascina��o. � Subjuga��o.
� M�diuns curadores. � Aplica��o
de passes. � Benzedeiras. � Mediunidade
receitista


94

VI � Tiptologia. � Levita��o. � Voz direta.
� Escrita direta. � Materializa��es


118


�NDICE
VII � Desenvolvimento de m�diuns. � Seus
deveres. � Trabalho e repouso. �
Perda das faculdades. � Dificuldade
de os Esp�ritos se manifestarem ... . 134
VIII � Das manifesta��es dos vivos e dos
mortos. � Meios de identificar os Esp�ritos
pela linguagem e pelos fluidos.
� Maneira de falar com os invis�veis.
� Fraudes e mistifica��es 157
IX � Prazeres morais e espirituais. � As
sess�es esp�ritas como fonte de prazeres
e ensinamentos. � Sess�es de
linha e sess�es de mesa. � Finalidade
da Nova Revela��o. � O Esp�rito Consolador
187
Esclarecendo d�vidas 205
Regimento Interno do Grupo Esp�rita dos
"Filhos Pr�digos" 209
Programa de estudo do Grupo Esp�rita dos
"Filhos Pr�digos" 219


Dedicat�ria

A recorda��o das noites felizes passadas em fraterno
conv�vio no Grupo dos "Filhos Pr�digos", e no
Grupo "Paz e Harmonia", traz-nos sempre � alma vibra��es
de saudade imensa.

No primeiro, Nogueira de Faria, S�lvio Nascimento
e A. Pinheiro Filho, almas irm�s na luta pela divulga��o
esp�rita no Par�, eram os seus principais componentes;
do segundo participava toda a nossa fam�lia
e alguns confrades, amigos sinceros e esfor�ados.

Os trabalhos dos membros do Grupo dos "Filhos
Pr�digos" n�o se limitavam exclusivamente �s sess�es
pr�ticas. A Escola Espirita "Mont' Alverne" era sua
filha dileta. In�meras pessoas que gozam hoje de melhor
posi��o, no meio em que vivem, conquistaram ali
tesouros de instru��o.

O Departamento Feminino, durante o dia, obrigava

D. Maria do Carmo Faria a dividir o seu tempo, distribuindo
parte aos carinhos dos filhos queridos, e parte
� dire��o da Escola. A noite o Departamento Masculino
era ponto de reuni�o de aprendizes e oper�rios
analfabetos.
Foi nesse grupo que recebemos as primeiras li��es
da pr�tica de Espiritismo experimental.

O c�rculo de a��o do Grupo "Paz e Harmonia" era
mais modesto; entretanto, grande foi o n�mero de pessoas
por ele beneficiadas.

Nesse Grupo consolidamos os conhecimentos at�
ent�o adquiridos.


AUR�LIO A. VALENTE

� justo, pois, que dediquemos este livro a todos
esses irm�os, aos quais nos unimos nessas harmoniosas
sess�es, e muito especialmente �s entidades do Al�m,
que, num e noutro Grupo, n�o poupavam esfor�os com
a sua carinhosa assist�ncia: Mont' Alverne, Pedro de
Alc�ntara, Manuel das Dores, L�cia, Elias, El�dio, Lu�s
e Jaci.

� natural tamb�m que dediquemos este livrinho
� esposa e filhos queridos, companheiros diletos de dores
e prazeres.

� a �nica heran�a material que lhes podemos
deixar, mas � patrim�nio que os acompanhar� a vida
toda, recordando-lhes o nosso car�ter.

Meus caros: Nenhum direito nos assiste de exigir
que sejais esp�ritas como n�s, mas, se quiserdes ser
felizes, adotai esta doutrina consoladora com o mesmo
amor que lhe votamos. E se, porventura, algum de
v�s desejar dedicar-se � espinhosa tarefa de dirigir
Grupos, busque sempre, aqui, as li��es da nossa experi�ncia
.

Adotai um bom m�todo, uma severa disciplina e
nada tereis a lamentar. Estudai, estudai sempre, porque
o saber n�o ocupa lugar � diz a sabedoria popular.
Estudando e meditando, sabereis conversar e
discutir, e as vossas opini�es ser�o respeitadas.

Nunca vos deixeis encher de fanatismo. Analisai
tudo que passar pelas vossas m�os e ante os vossos
olhos. Jamais devereis ter medo de abandonar aquilo
que s� a tradi��o mandar guardar. Do contr�rio n�o
progredireis. Sereis como os viajores que se assentam
na pedra do caminho.

Quando a luz esp�rita iluminou nossa alma, n�o
vacilamos em nos emancipar do Catolicismo, religi�o
tradicional de toda a nossa fam�lia. �ramos o n�mero
um. A nossa atitude firme e discreta n�o tardou a
convencer muitos dos que nos cercavam. Hoje, quase
todos os membros de nossa fam�lia s�o adeptos da
Doutrina Esp�rita. Nossa estremecida m�e e irm�os
amam-na e seguem-na carinhosamente.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 9

Criados como estais sendo, filhos queridos, num
ambiente onde s� se respira a Verdade, n�o vos deixeis
seduzir pelas apar�ncias e pelas crendices que j�
tiveram a sua �poca. Nunca troqueis as vossas convic��es
pelas ef�meras posi��es mundanas. Estas s�o
transit�rias e duram �s vezes tanto como as bolhas
de sab�o. � mil vezes prefer�vel passar despercebido
dos homens e merecer a gl�ria no Al�m, do que ser
grande entre os homens e n�o ser digno do terno e
doce olhar de Jesus.

O homem que avilta o seu car�ter, s� recebe aten��es
enquanto ocupa posi��o de relevo. Ao deix�-la,
� escarnecido por todos. Ao passo que aquele que coloca
a sua honra, a sua dignidade acima das conveni�ncias,
merece respeito, qualquer que seja o plano
em que estiver.

Segui o nosso exemplo. Nunca vacilamos em confessar
a nossa opini�o, mesmo nos meios mais adversos.
N�o vos tomeis de medo do rid�culo. Ele pode
fazer-nos sofrer entre os homens, mas contribui para
sermos exaltados diante de Deus. Temei, sim, e que
vos apavorem, a hipocrisia, o servilismo, a falta de
coragem moral, verdadeiras lepras sociais.

Cada vez que a adversidade vos bater � porta,
cada vez que uma dor vos fizer curvar, buscai est�mulos
e consola��es nas p�ginas aben�oadas e salvadoras
dos livros esp�ritas. S�o amigos que falam no sil�ncio
do nosso quarto de dormir, com carinho de m�e
extremosa e com a mesma eloq��ncia com que a luz
dissipa as trevas.

Ainda ningu�m se arrependeu de assim proceder.

Que vos sirva tamb�m de exemplo a uni�o fraterna
que sempre existiu no seio da nossa fam�lia.
Lembrai-vos desta historiazinha:

"Um homem, ao morrer, chamou seus dez filhos e
disse-lhes:

� Eis um diamante raro pelo seu valor e tamanho.
Isto constitui a minha heran�a. Se quiserdes ser felizes
vivei sempre unidos.

10 AUR�LIO A. VALENTE

Mal ele fechou os olhos, s�rias discuss�es perturbaram
a paz daquele lar silencioso. Uns queriam logo
vender o diamante, outros desejavam conserv�-lo como
rel�quia, e n�o chegaram a um acordo. Avaliaram-no.

� Um milh�o de cruzeiros � o seu valor � disse
um ourives amigo.
Ap�s muitas cenas desagrad�veis, resolveram mandar
dividi-lo em dez peda�os iguais, para que cada um
recebesse, assim, a sua parte. Os que desejavam vender,
voltaram ao ourives, certos de receber cem mil
cruzeiros pelo seu pedacinho. Foram entretanto decepcionados
quando o ourives ofereceu apenas dez mil
cruzeiros a cada um. Explicou ent�o o ourives:

� Quando era uma pe�a s�, valia muito pela raridade;
dividido, tornou-se em peda�os comuns.
Ao ouvir isto, um dos herdeiros lembrou do seu
velho pai e disse, tristemente:

� Bem nos aconselhou papai que viv�ssemos sempre
unidos!"

Que esta hist�ria vos sirva de exemplo.

Os membros de uma fam�lia n�o foram unidos
ao acaso, s�rios compromissos contribu�ram para essa
aproxima��o, quando ainda no Espa�o; por isso, todos
t�m a obriga��o de viver em constante uni�o e harmonia
.

Ao crescerem, os filhos, cada um toma rumo diverso.
Isso � uma coisa natural. � uma lei a que est�o
sujeitos todos os seres da Cria��o. Uns encontram
relativa felicidade terrena e outros lutam incessantemente
contra a adversidade. Os que forem mais aquinhoados
t�m o dever fraterno de zelar pelos outros.
Seguindo os conselhos que sempre vos demos e ainda
os que aqui ficam expressos, n�o dareis desgostos a
vosso paizinho e a vossa m�ezinha, estejam eles neste
mundo ou j� no Al�m, onde os seus Esp�ritos continuar�o
a cumprir a sagrada miss�o que receberam de
velar pelo vosso aperfei�oamento.

AUR�LIO A. VALENTE


Pref�cio

Allan Kardec, o mission�rio da Nova Revela��o,
teve nos fen�menos ps�quicos o material preciso
para construir o gigantesco monumento da
Doutrina Esp�rita. Homem s�bio, ponderado, observador
arguto e perspicaz, soube tirar, das desacreditadas
e ridiculizadas mesas girantes, dedu��es
filos�ficas que haviam escapado a in�meras pessoas
ilustres da sua �poca.

N�o se contentou ele com os ditados dos Esp�ritos,
recebidos nos grupos que dirigia e nos quais
contava com o concurso de cerca de doze m�diuns.
Solicitou de outros n�cleos, esparsos por diversas
localidades, o resultado das observa��es colhidas
e comunica��es transmitidas. Dessa maneira, analisando
criteriosamente, comparando sem paix�es
tudo quanto os Esp�ritos ensinavam, preparou e
publicou os livros que representam para todos n�s
os alicerces da filosofia esp�rita, nos quais firmamos
o edif�cio da nossa f�. Cont�m essas obras
tudo quanto necessitamos para adquirir conhecimentos
te�ricos, tudo quanto carecemos para a experimenta��o
.

Dirigindo-se de prefer�ncia aos sofredores e
deserdados da sorte, a Doutrina Esp�rita n�o tardou
a ser adotada por inumer�vel quantidade de
pessoas. Os consolados e regenerados, multiplicando-
se em n�mero, arrastaram com os seus entusias



12 AUR�LIO A. VALENTE

mos e gratid�es novos adeptos. Assim o Espiritismo
bem cedo teve mais seguidores do que outra qualquer
doutrina no mesmo espa�o de tempo. Homens
de todos os n�veis morais e de todos os planos intelectuais
fizeram dela sua nova religi�o. Era, portanto,
natural que os vaidosos e presun�osos, em
vez de se amoldarem �s exig�ncias disciplinares da
nova cren�a, procurassem adapt�-la aos seus caprichos
e falso saber. Aqui e acol�, esses �chamados
� mas n�o �escolhidos� passaram, influenciados
por Esp�ritos imperfeitos, a enxertar, nos n�cleos
em que pontificavam, os absurdos que julgavam
verdades ou novas revela��es. Casamentos, batizados
e outros sacramentos da Igreja de Roma
foram adaptados e adotados por alguns esp�ritas,
incapazes de se desfazerem de pronto das tradi��es
seculares.

A Doutrina Esp�rita n�o ensina de forma alguma,
nem admite, mesmo por toler�ncia, essas
pr�ticas que constituem verdadeira profana��o da
sua simplicidade caracter�stica. Al�m desses sacramentos,
adotaram, para organiza��o de grupos e
modos de trabalhar em sess�es, certos preceitos que
nos fazem dizer, categoricamente, que aquilo que
apresentam como Espiritismo s� o � pelo nome, e
nada mais.

Todos os dirigentes de grupos e presidentes de
sociedades esp�ritas t�m uma grande preocupa��o

� a uniformidade da pr�tica. � Pela palavra escrita
ou falada, todos os propagandistas divulgam
conscienciosamente os verdadeiros ensinos doutrin�rios,
procurando impedir que os ne�fitos e crentes
de boa-f� se abastardem nos meios onde a pr�tica
do Espiritismo n�o � mais do que um mito.
A organiza��o de grupos e m�todos de trabalho,
em sess�es pr�ticas de Espiritismo, serviram



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS

-nos de tema para uma confer�ncia p�blica que
realizamos em 28 de julho de 1929, na sede da
Uni�o Esp�rita Paraense, onde exerc�amos, ent�o,

o cargo de Presidente. Tempos depois, no Maranh�o
e tamb�m na Bahia, tivemos oportunidade de
falar sobre o mesmo assunto na sede do Centro
Esp�rita Maranhense e na Uni�o Esp�rita Bahiana.
A cont�nua preocupa��o de concorrer, de alguma
sorte, para os verdadeiros esp�ritas fazerem
uma rea��o contra todas as incoer�ncias e disparates,
que por vezes encontramos no decurso de
sess�es, obrigou-nos a procurar outro modo de proceder,
visto que a a��o das confer�ncias se restringe,
quase sempre, ao c�rculo dos ouvintes. J� no
Rio de Janeiro e depois em Vit�ria, come�amos a
sentir cada vez mais forte o desejo de publicar uma
obra, exclusivamente sobre a pr�tica do Espiritismo.
Assim, reunimos, aqui, tudo o que julgamos
necess�rio para isso, deixando de abordar assuntos
de capital import�ncia, como a reencarna��o, diversidade
de dons medi�nicos, escola de m�diuns
e outros, que constituem, cada um de per si, temas
para estudos profundos.

Tr�s s�o as coisas que pervertem a Humanidade:
a Ignor�ncia, a Hipocrisia e o Fanatismo.
Para combat�-las, cumpre a todo homem de bem o
dever de espalhar em torno de si os conhecimentos
que tiver adquirido. � humano, pois, que todos os
adeptos que j� pagaram o tributo da experi�ncia
ensinem aos ne�fitos os meios de evitar as decep��es
e o fanatismo.

Ao lado das m�ltiplas consola��es e benef�cios,
a pr�tica do Espiritismo oferece muitos e s�rios
perigos, contra os quais nos devemos precatar.

Durante um per�odo bastante longo de pr�tica
espir�tica, encontramos t�o grandes absurdos que.


14 AUR�LIO A. VALENTE

contados, pareceriam hist�rias das mil e uma noites.
Quem, por exemplo, seria capaz de supor encontrar
grupos onde os Esp�ritos maus s�o metidos
em sacos, como batatas, para serem despejados no
�campo de corre��o� ? Pois n�s encontramos. Quem
poder� crer que haja m�diuns capazes de receber,
em cinco minutos, vinte Esp�ritos diferentes, como
borboletas de porta de cinema? Pois n�s vimos
dessas raridades!!!

Todavia, deixando de lado os Cristos e Pedros
que assaltam os m�diuns para passarem descomposturas
de alto l� com elas, ningu�m por� d�vida,
por serem bastante numerosos, a exist�ncia de grupos
onde as dan�as s�o obrigat�rias, completando
um ritual em que sobram bebidas alco�licas, e faltam
moral e conhecimentos da Doutrina. N�o se
diga que isto s� � adotado pelo �baixo espiritismo
e feiti�aria�, como os classificam crentes ou n�o,
porquanto temos not�cias de grupos nos quais h�
dias marcados para �sess�es de mesa e sess�es de
linha�.

O Espiritismo precisa ser divulgado e praticado
com a mesma singeleza que constituiu a for�a
invenc�vel do Cristianismo dos tempos de Paulo e
dos primeiros crist�os. � imprescind�vel, pois, que
todos trabalhem para que a Doutrina Esp�rita seja
sempre uma s�, a fim de n�o se desmembrar como

o Cristianismo, que se repartiu em tantos ramos
que, muitos deles, pouco lembram o tronco de onde
foram cortados.
Este modesto livrinho, resultado de anos de
estudo e observa��es, � a nossa humilde contribui��o
para a uniformidade da pr�tica do Espiritismo.
Em hip�tese alguma alimentamos a estulta vaidade
de querer impor a nossa vontade. Em muitas coisas
poderemos estar errado, ou simplesmente exa



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 15

gerando. Al�m disso, o Espiritismo progride dia
a dia, e sobre a Humanidade novas luzes irradia.

�O Espiritismo, marchando com o progresso,
n�o ser� jamais excedido, porque, se novas descobertas
lhe demonstrarem que est� em erro sobre
um ponto, ele se modificar� sobre esse ponto; se
nova verdade se revelar, ele a aceitar�.� Estas s�bias
palavras de Allan Kardec, escritas no primeiro
cap�tulo de �A G�nese�, inserimo-las aqui como
advert�ncia �queles que nos quiserem seguir, a fim
de estarem prontos a modificar tudo quanto o tempo,
o estudo e a experi�ncia demonstrarem errado
neste livro.

No terceiro volume da obra �Do Pa�s da Luz�,
de Fernando de Lacerda, encontramos uma admir�vel
comunica��o atribu�da ao Esp�rito E�a de
Queir�s, sobre a maneira de nos conduzirmos nas
experi�ncias e, por isso, vamos com ela encerrar
esta r�pida introdu��o escrita � guisa de pref�cio.

"N�o h� d�vida: � era eu.

Raz�es de v�rias esp�cies � e todas certamente
muito ponderosas e consp�cuas � levaram
os meus ouvintes a duvidar, conquanto eu n�o me
conforme com as raz�es nem com a d�vida.

Na opini�o do Jos�, eu estava pouco l�cido.
E olha que foi, das opini�es reveladas, a mais indulgente
.

O que se passou teria sido uma engra�ada tro�a,
se n�o fosse a amizade, de que me reconhe�o
devedor a todos eles, afastar hip�tese t�o apropositada.


Imagina que quiseram que eu lhes desse informa��es
prontas e seguras sobre os dois problemas
mais s�rios e mais transcendentes a que pode
abordar a investiga��o humana: � O que � Deus,
e o que representam, em face da Doutrina Espirita,
os animais da escala inferior: � se futuros


16 AUR�LIO A. VALENTE

esp�ritos humanos em evolu��o, se esp�ritos pr�prios
de cada esp�cie.
Como v�s, � singularmente curiosa a maneira
como a� se pretende investigar.
A�, � nesse mundo. Em toda a parte h� a
mesma orienta��o patusca.

Espera-se que o primeiro de n�s apare�a despreocupadamente,
como o ca�ador espera o incauto
l�paro, que vai deitar-se ao Sol, � boca da lousa,
e dispara-se-lhe uma saraivada de perguntas, em
que se mistura o desejo de saber se o Padre Eterno
� aquele venerando anci�o de longas barbas
nevadas, que as oleograf�as baratas popularizaram,
com o desejo de saber qual � a doen�a de que
sofre o marido da senhora dona Fulana, ou se a
interessante menina de tal casar� com o seu n�o
menos interessante adorador Fulano.

E n�o ser� raro quererem fazer de n�s adivinhadores
de bilhetes de loteria, pesquisadores de
ricos tesouros escondidos pelas mouras encantadas
ou pelos nossos her�icos av�s, quando fugiam diante
dos famintos soldados de Napole�o; agentes de
casamentos, vigilantes de maridos infi�is, portadores
de recadinhos amorosos e n�o sei quantas
coisas mais, das muitas que germinam e florescem
na parte louca de cada c�rebro humano.

Eu sei que tudo isso se pode perguntar, e tudo
pode obter lindas respostas. Se, a�, a parte n�scia
da Humanidade curiosa fecunda e pare t�o graciosos
disparates, aqui tamb�m a parte velhaca e
m� da Humanidade livre tem bojo para se divertir
� custa das ingenuidades ou das ambi��es que os
encarnados revelam.

Ingenuidade, e, com o mais subido respeito,
atrevimentos. N�o se olha a quem as perguntas
se fazem.

H� aqui individualidades que s�o agora impertinente
e desrespeitosamente submetidas aos mais
disparatados interrogat�rios, por qualquer incipiente
praticante de Espiritismo, para quem esses im



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 17

preclaros investigantes n�o ousariam levantar os
olhos, se a� existissem ainda. N�o suponhas que
eu, com esta aprecia��o, quero manifestar descontentamento
pelo que se passou comigo. Deus me
livre de que tal suposi��o se fa�a.

S�o estes meus dizeres uma aprecia��o gen�rica
sobre o modo como, nesse mundo, as massas
orientam a maneira de se porem em comunica��o
conosco; e frisar o grau de futilidade ou de maldade
interesseira que revelam no fim que os leva
a procurar o cultivo das nossas rela��es.

Quanto a mim, nas circunst�ncias gerais, n�o
gozo nem me irrito com as perguntas, nem com
os pedidos que me fazem, ainda mesmo quando,
para sua satisfa��o, exijam o cl�ssico e pouco elegante
capote e len�o das nossas bisav�s, e que eu,
pela minha incorporeidade atual, n�o poderia envergar
muito bem, nem mui jeitosamente.

Nas circunst�ncias especiais que se d�o com
amigos, o caso diverge muito. N�o s� n�o me irrito,
como desculpo; e compreendo que as perguntas
que me dirigem, a febre escaldante do justificado
desejo de saber o que por aqui se passa, longe de
manifestarem uma inten��o menos correta ou menos
agrad�vel, antes representam a doce simplicidade
com que uma criatura ing�nua e bondosa se
dirige a um amigo mais querido, fazendo-lhe interroga��es
e confid�ncias que se n�o sabem ou
se n�o devem fazer a todo mundo.

E porque assim o penso, e porque vejo que
seguem errado caminho, eu venho fazer amistosa
corre��o � pouco discreta maneira de encaminharem
as suas naturais aspira��es de conhecer um
pouco do infinitamente desconhecido.

Nem eu, nem ningu�m aqui, pode responder
com verdade e de boa-f� a todas as perguntas que
nos fizerem. Cada um de n�s sabe s� a parte
limitad�ssima que cabe na esfera dos seus conhecimentos
individuais.


AUR�LIO A. VALENTE

A onisci�ncia ainda n�o atingiu este mundo.
� privil�gio dos mestres da�, desde o mestre sapateiro,
que filosofa sabiamente sobre a exist�ncia
de Deus, at� o mestre em filosofias que questiona
argutamente com o sapateiro, a maneira de lhe
tombear as botas.

Eu, por mim, confesso que nem talvez saiba

o que presumo saber � que bem pouca coisa �.
Eu sei que aqui h� quem se envaide�a com a
presun��o de saber muito; e que a� h� muito mais
quem creia saber tudo, se n�o bem tudo o que lhe
est� ao alcance da m�o, pelo menos tudo que constitui
o destino do homem; mas n�o ofendo nenhum
dos amigos queridos que me submeteram ao exame,
supondo-os neste �ltimo e avantajado n�mero.

E, entretanto, creio que alguns deles se veriam
embara�ados e pouco l�cidos para responder
�s mais comezinhas perguntas que eu lhes fizesse.

Imagina que de chofre perguntariam ao nosso
H. . . como se cultiva um eido ou se fabricam
ovos moles.

� claro que a primeira resposta, que a sua
aflita ignor�ncia lhe daria, seria a de mandar o
indiscreto para um quinteiro e para as roli�as
doceiras de Aveiro. Se o n�o mandasse para a
outra parte. . .

Apesar desta racional�ssima observa��o e mau
grado � sua circunspe��o habitual, pareceu-lhe
corrente que eu devesse responder de pronto e sem
emperramentos � inqueritoria que me faziam.

E milagre foi que a n�o fizessem � pequena
que me antecedeu, porque ent�o a criancita corria
risco de apanhar umas orelhas de papel, se n�o
dissesse, sem hesita��o, se a alma do c�o que gostava
de m�sica seria uma transmigra��o do divino
Mozart, ou se a porca que matava os filhos seria
a vig�sima encarna��o do Saturno que os comia.

N�o lhe correria melhor o quarto de hora de
ponto se lhe soubesse responder �quele outro, que
queria para ali descrito, com toda a clareza e em


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 19

duas palhetadas, o que era Deus, onde estava e
de que era feito!

Milh�es de anos n�o t�m bastado � pobre Humanidade
e havia de ser eu, quem, em s�ntese lucid�ssima
e em loquela de tribuno, havia de definir
essa tremenda inc�gnita, que todo esp�rito humano
tem sido insuficiente para conceber.

Houve ainda outra acusa��o de peso, qualquer
coisa como um mon�lito de l�gica, ou como argumento
primacial, exaustivo, abrumador. Foi a de
que eu respondi terra a terra.

Esta � de respeito; e, para ser justo, devo confessar
que representa, em eloq��ncia, toda a de
uma universidade inteira, ainda que seja a nossa
lusa Atenas, que em eloq��ncia � o que h� de mais
superfino.

Se a resposta era terra a terra, n�o podia ser
minha. Eu j� n�o sou da Terra, ergo, devia dar
uma resposta c�u a c�u; cheia de coisas misteriosas,
em linguagem de sibila, com palavras esquisitas,
musicais, como deve ser o som da aragem
que conduz a vibratilidade do �ter, os cantos dos
anjos e dos querubins. N�o era poss�vel que fosse
eu quem viesse dizer, na depauperada linguagem
humana, coisas que os da� sabiam j� a deitar por
fora.

Se fosse eu, diria certamente com uma sutileza
de argumenta��o capaz de despeitar de raiva

o mais eloq�ente dos pol�ticos portugueses, o que
era Deus, o que era o Cosmos, e at� o que era a
Ursa Maior.
A n�o o saber dizer, n�o devia vir. Quando
menos, devia dar not�cias da Ursa Maior, como
pr�xima parenta minha, visto que, n�o respondendo
ex-c�tedra, �s sutilidades metaf�sicas que cada
um se propunha enunciar, s� mostrava, pela triste
figura que fazia, pertencer � honrada e nobre
fam�lia dos plant�grados de que aquela luminosa
constela��o deve ser a primordial avoenga.


AUR�LIO A. VALENTE

Disse um dos meus arguentes que, pelo que
conhecia dos meus escritos, formava melhor conceito
de mim, do que aquele que no momento estava
elaborando no seu c�rebro.

A minha falta de compet�ncia no concurso de
s�bios a que, sem esperar, me sujeitei, infelicitou
dois homens: � a mim, porque perdi um admirador,
o que n�o � nada para desprezar numa �poca
em que v�o rareando tanto como o bom-senso, e
a ele porque lhe desarrumou o c�rebro, obrigando-
o a renovar o mobili�rio intelectual, no compartimento
que amavelmente me tinha cedido.

Corro, primeiramente, em defesa do meu cr�dito
de homem ilustre, que �, afinal, o �nico patrim�nio
que da� me acompanhou, como c�ozinho
fiel; e quero ver tamb�m se acudo a tempo de
evitar o trabalho fatigante, que se deve estar operando
ainda na torre ideal do nosso pobre amigo
desiludido.

Se bem que me pese, imp�e-se-me a obriga��o
de ponderar, conselheiralmente, que pelos conhecimentos
que teria dos meus escritos devia inferir
naturalmente n�o ser a mim que se deviam fazer
perguntas que iriam lan�ar o p�nico, o assombro,
como toques da trombeta de Josaf�, no cen�culo
de todos os imortais franceses, que por aqui existem
j� em n�mero respeit�vel, se lhe fossem inesperadamente
disparadas � queima-roupa.

Devia presumir que quem passou a vida terrena
a tratar de futilidades e de bagatelas, em
sutilezas de esp�rito, em burilar ligeirezas de frases,
era o mais incompetente preletor para assunto
que tem escandescido muito c�rebro, e encanecido
muito s�bio.

Seria a invers�o da ordem natural das coisas.
Seria como que interrogar um piedoso cura dalmas
sobre os progressos da bal�stica; ou perguntar
como se pontoam meias, ou como se educam
filhos a uma decidida partid�ria do feminismo.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 21

Querer ouvir-me sobre a raiz basilar de toda
a metaf�sica universal, correspondia ao desejo de
ouvir o Esp�rito de um asceta cat�lico ou de um
bonzo budista, sobre as del�cias mundanescas de
uma ceia de bo�mios com lindas mulheres de sorrisos
caros.

Seria interessante fazer a experi�ncia, para
apreciar como t�o sabedores e piedosos homens
responderiam, sem emperramento, a essas mir�ficas
indaga��es.

Aconselho-os, por�m (e sem levar nada pelo
conselho, como generoso que se preza), a quando
voltar o Pestana com as profundas disserta��es
sobre sugest�o e quejandas bugiarias, o n�o interroguem
sobre o assunto, de espiritual interesse,
de como se enxertam videiras ou se cultivam cogumelos;
e se por a� aparecer um Verdi, ou um
Wagner ou semelhantes fazedores de sinfonias, sejam
generosos com eles, n�o os obrigando a fazer
triste figura em exames de como se fabricam assobios
de lou�a em Caldas.

H� vulgarizada nesse mundo a falsa id�ia de
que a morte � um banho miraculoso, ao sair do
qual se fica inteiramente s�bio.

Parece �s criaturas de racioc�nio frouxo e
ju�zo duvidosamente claro, que basta cair sobre fedentinosa
mat�ria, que a� nos serviu de casulo,
algumas pazadas de terra gordurosa e negra, para
que ante os nossos olhos predestinados se abra a
torrente perene de todo o saber; e ao nosso intelecto,
ainda emparvecido pela transi��o, acorram,
como mosquitos � luz, todos os conhecimentos que
pelo Universo e pelos tempos corram esparsos por
infindas gera��es.

E se n�o correspondemos ao figurino que o
atavismo religioso, em combina��o simp�tica com
umas perfunct�rias no��es das teorias esp�ritas,
criaram para n�s, falando de tudo com perfeita
desenvoltura, respondendo, com os ademanes graciosos
e autorizados de charlat�o em�rito, aos


AUR�LIO A. VALENTE

enigmas sibilinos que da pr�vida aljava da curiosidade
nos arremessam, acusam-nos e criticam-nos
levantando intencionadas suspei��es sobre a nossa
identidade.

E por que n�o correspondemos ao visionado
tipo que o idealismo neo-esp�rita engendrou para
aqueles que deixaram as plagas verdes onde a
cotovia canta?

E por que n�o respondemos a tudo que nos
perguntam em desenfastiado momento de superinvestiga��o
?

Pois em boa verdade te digo eu, que podia
dirigir daqui uma dezena de perguntas aos meus
arguentes, sobre as mais triviais bagatelas de geral
dom�nio p�blico nesse alfobre de s�bios, que
eles se dariam a perros para me responderem a
uma, simplesmente, para amostra da sua erudi��o.

Entretanto, s�o sabid�ssimas vulgaridades que
constituem patrim�nio cabedal de conhecimentos
de todo o mundo, e at� meu.

� verdade que podem objetar-me, em ares de
triunfo, que ainda n�o conseguiram o direito �
onimonidade de habita��es por falta de formatura
na faculdade da Necr�pole, onde � Minerva a
Morte. E esta falta, que eu desejo se mantenha
por bons e largos anos, se isso der prazer a quem
nela encontre a desculpa perante esp�ritos menos
exigentes, pode passar por uma raz�o.

Eu, por�m, quando me d� para ser pontilhoso
em exig�ncias, n�o abandono o meu reduto aos
primeiros disparos da arg�cia ou da sol�rcia dos
meus arguentes.

N�o se lhes exige o saber profundo das experi�ncias,
feito que o poeta m�ximo cantou. O que
se pode perguntar ser� de uso charro, de mais
que vulgar acep��o, de uso di�rio do candidato
a s�bio.

Ser� sobre o que come, o que veste, o que v�.
Ser� a seu pr�prio respeito, a respeito das suas
pr�prias m�os, que �, na frase de consagra��o


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 23

popular, o que cada um melhor conhece � quando
n�o sucede confundir, deploravelmente, a esquerda
com a direita.

Ser� acerca dos seus desejos, dos seus pensamentos,
das suas radicadas opini�es � com exce��o
das pol�ticas, porque a justi�a me obriga a
reconhecer que isso n�o � coisa decente que se
possa perguntar a algu�m, com probabilidade de
resposta aceit�vel.

Ora, se sobre tudo que aqui enumerei j� eu
podia embara�ar a associa��o dos advogados de
Lisboa � respeitabil�ssima classe que, por dever
de of�cio, nada pode deixar sem resposta �, tamb�m
me parece ter o direito de ignorar alguma
coisa do que por aqui existe e que, pelo fato simples
e corrente de ter j� passado a raia da vida
terrena, n�o me foi dado conhecer.

O que se apura de tudo, � que os nossos irm�os,
da�, est�o bem dentro da orienta��o l�gica
do modo de ver portugu�s.

Honra lhes seja porque revelam, assim, o seu
cunho t�o firmemente nacional, como se fossem
respeit�veis patacas da Junta do Porto.

Em nossa terra, quando algu�m manifesta uma
aptid�o especial que o distinga, por que consiga
destaque, toda a gente o julga logo otimamente
prendado para tudo. . . menos para aquilo que a
Natureza lhe deu queda.

Acharam a� que eu fui pessoa ilustre em m�ritos
liter�rios (n�o lhes discuto o gosto, por dever
de cortesia) . Tinham a no��o de que eu havia
escrito coisas ir�nicas, feito cr�ticas de forma
bizarra, e (com um bocadinho de generosa boa-
vontade) por vezes cintilante, fazendo revolutear
palavras, num esfusiante estrelejar de frases torturadas,
vazias de sentimento, rebrilhantes de esp�rito,
e supuseram-me logo com tiara para pontificar
de duplex sobre Filosofia e Teologia, perscrutando,
de passagem, o abismo da origem dos


AUR�LIO A. VALENTE

seres, na sua rela��o com as manifesta��es espirituais
e evolucionistas da mat�ria animada.

N�o me falaram sobre coisas de literatura, de
esp�rito, de cr�tica, de arte, e at� de bo�mia, em
que seria f�cil discretear. Foram antes tocar o
carrilh�o sonoro e solene das grandes ocasi�es,
pretendendo que eu me revestisse de toda a gravidade
dogm�tica e prelecionasse, em ora��o de
sapientia, sobre os problemas mais controvertidos
que t�m aflorado ao c�rebro humano.

N�o descontavam, sequer, a possibilidade de
que eu n�o fosse dos favorecidos por Cal�ope nos
dons da eloq��ncia, sendo assim uma exce��o rara
da aluvi�o cogumelesca de C�ceros com que Deus
dotou a nossa terra.

O racioc�nio era: � sabia escrever? devia saber
falar.
N�o teria sido um Dem�stenes nesse mundo?
Devia ser um S�o Cris�stomo neste.

E daqui a sua surpresa, e a d�vida torturante
dos esp�ritos bondosos daqueles nossos amigos,
exteriorizada nas hesitantes reflex�es que te fizeram
.

Por sobre a admirada assembl�ia adejava,
como um sonho mau, a negra asa da suspeita de
que fosse uma gralha vulgar de Linneu, que se
estivesse enfeitando com as reluzentes penas do
pav�o E�a.

N�o sei que gralha seria que eles visionassem
no seu t�mido receio. Se sobre ti caiu a desoladora
suspeita, eu me envergonho e penitencio de
ter dado ensejo a que a minha claudica��o na
verborreia metaf�sica te fizesse suspeitado de voejares
t�o terra a terra, como triste gralha desasada.


Ora, pois, paci�ncia. � E�a de Queir�s." (1)

O AUTOR

(1) Comunica��o dada a prop�sito de uma sess�o de
investiga��o.

Cap�tulo I

DA NECESSIDADE DAS SESS�ES

ESPIRITAS

Apesar de ter sido o Espiritismo pr�tico objeto
de admir�veis trabalhos de incans�veis confrades
que enriqueceram a Doutrina com obras valiosas,
n�o nos podemos furtar ao desejo de contribuir
com o nosso aux�lio para a constru��o simb�lica
do templo da verdadeira religi�o que abrigar� toda
a Humanidade sob as suas ab�badas infinitas.

Se os largos anos de pr�tica do Espiritismo
experimental e a medita��o sobre os ensinos contidos
nas obras fundamentais da Doutrina, n�o nos
facultam autoridade, por sermos ainda humildes
disc�pulos, representam, pelo menos para n�s, um
acervo de conhecimentos, que, merc� de Deus, muito
nos t�m servido, e, por isso, desejamos oferec�-
los �queles que nos quiserem ler.

Para t�o �rdua tarefa contamos com o aux�lio
dos esclarecidos Esp�ritos enviados do Senhor, os
quais est�o sempre dispostos a coadjuvar os homens
de boa-vontade.

Este trabalho, exclusivamente sobre as sess�es
experimentais de Espiritismo, visa a chamar a
aten��o dos entusiasmados ne�fitos e homens de


AUR�LIO A. VALENTE

boa-f�, sempre propensos a crer sem ver e aceitar
sem meditar, nem analisar, e despertar-lhes o interesse
pelo estudo das obras de Allan Kardec,
Leon Denis, Gabriel Delanne e muitos outros, a
fim de se n�o assemelharem, no andar pelos �nvios
caminhos da pr�tica esp�rita, aos viajores intimoratos
que, sem farol, se arriscam durante noites
escuras, em jornadas pelas estradas cheias de precip�cios
.

N�o desejamos nem podemos impor as nossas
id�ias, porque cada um tem a sua liberdade de
pensar e agir, e, como toda obra humana, o nosso
trabalho est� sujeito � cr�tica e � refuta��o;
entretanto, uma coisa se torna assaz evidente: as
in�meras cita��es, aqui feitas, expressam bem que
n�o nos achamos divorciado dos mestres.

Foi no princ�pio da adolesc�ncia, quando o entusiasmo
constitui apan�gio de todo homem, que
a gra�a de Deus se fez sentir sobre n�s, iluminando-
nos a alma com a luz da Doutrina Esp�rita.
Em 1920, sem que procur�ssemos, o �acaso� colocou
em nossas m�os o livro �O C�u e o Inferno�,
de Allan Kardec, e a sua leitura muito nos agradou.
O assunto esp�rita empolgou-nos, uma �nsia de conhecer
algo de novo apoderou-se de n�s. Data dessa
�poca a nossa convers�o ao Espiritismo e conseq�ente
emancipa��o total da religi�o Cat�lica, na
qual f�ramos criado, pois havia muito que ela se
nos apresentava como fonte cuja �gua n�o mais
nos saciava a sede de f�.

Quiseram as circunst�ncias que, s� ap�s havermos
adquirido apreci�vel patrim�nio de teorias,
f�ssemos testemunhar os fen�menos provocados
nas chamadas sess�es pr�ticas. Nesse momento, a
nossa alma sofreu horrivelmente ao observar que
a ignor�ncia dos princ�pios doutrin�rios e a falta


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 27

de moralidade, habilmente exploradas pelos Esp�ritos
atrasados e mal�volos, constitu�am fatores
do fanatismo e das mais absurdas pr�ticas.

Como n�s, todos os confrades ciosos de ver o
Espiritismo propagado e praticado com a simplicidade
de seus ensinos e eleva��o de sentimentos,
t�m sofrido as mesmas decep��es. E, por isso, n�o
se fartam de esclarecer o quanto de complexo �

o interc�mbio com os desencarnados, cumprindo
a todos os experimentadores a mais excessiva
cautela.
A Doutrina Esp�rita � uma s�: baseia sua
moral nos elevados ensinos de Jesus, a sua ci�ncia
na investiga��o das leis que regem a fenomenologia,
a sua filosofia na indaga��o da origem e destinos
do homem; por�m, quem quer que fa�a uma
peregrina��o pelos v�rios Grupos e Centros espalhados
de norte a sul do Pa�s, dificilmente encontrar�
duas agremia��es com o mesmo m�todo,
ordem e orienta��o de trabalhos. Evidenciar� isso
dualidade ou multiplicidade de ensinos e, portanto,
diverg�ncia entre os Esp�ritos e os esp�ritas? Absolutamente
n�o. Embora essa diversidade seja mais
aparente que real, pois, a bem da verdade, cumpre
dizer que os piores orientados julgam bem servir
� Causa, tem este fato a sua origem na ignor�ncia
de uns, no pretenso saber de outros, e no orgulho
e vaidade da maioria.

Se numas searas a eleva��o de sentimentos e

o grau de instru��o de seus componentes preenchem
os verdadeiros fins do Espiritismo, noutras
verifica-se injustific�vel mescla de outros credos,
e, nalgumas, prevalece simplesmente o interesse
material sob v�rias modalidades.
Todavia, embora julguem isso um grande mal,

o Espiritismo, com essas diverg�ncias, nada per

AUR�LIO A. VALENTE

de, pois, muito a prop�sito, disse um esclarecido
Esp�rito-guia: �O Espiritismo marchar� com os homens,
sem os homens, apesar dos homens.�

A tarefa dos que se atiram � luta pela propaganda
da mais consoladora das doutrinas n�o
deve ser exclusivamente no alvo de conseguir pros�litos,
mas, muito especialmente, no escopo de
instruir os que se consideram esp�ritas, com o objetivo
de fazer, dos novos crentes, homens fortes
na f�, possuidores de elevada moral, ricos da sabedoria
dos tesouros dos C�us, verdadeiros �mulos
dos primeiros crist�os que atra�am os pag�os t�o-
s� pelo exemplo de suas atitudes.

Da necessidade do que vimos expondo, desejosos
de poupar aos experimentadores decep��es e
perigos, fazemos nossas as palavras de Leon Denis,
no seu livro �No Invis�vel�:

�� propor��o que o Espiritismo se divulga,
mais imperiosa se faz sentir a necessidade de estabelecer
regras positivas, condi��es s�rias de estudo
e experimenta��o. � preciso evitar aos adeptos
amargas decep��es e a todos tornar acess�veis os
meios pr�ticos de entrar em rela��o com o mundo
invis�vel.�

Se os que palmilham os terrenos da experimenta��o
escutarem as vozes dos que j� colheram
frutos doces e amargos no com�rcio com os habitantes
do Al�m, ter�o melhores probabilidades de
acertar e de reduzir o n�mero das decep��es e dos
perigos de obsess�es.

N�o se pode compreender Espiritismo sem sess�es
pr�ticas, porque � nelas que encontramos a
confirma��o dos ensinos da Nova Revela��o, � nelas
que buscamos o consolo de trocar palavras com
os nossos mortos queridos, e foi com o concurso


SESS�ES PRATICAS E DOUTRIN�RIAS 29

delas, enfim, que o mission�rio Allan Kardec conseguiu
codificar a Doutrina.

� um grande erro pensarem os nossos advers�rios
que buscamos os Esp�ritos. S�o eles que
nos buscam. Foram eles que despertaram a aten��o
da Am�rica do Norte atrav�s da mediunidade
das meninas Margarida e Catarina Fox, em 1848.
Foram eles, simultaneamente nessa mesma �poca,
que fizeram em todas as partes do mundo ouvir
as suas vozes, tocando para a Humanidade a alvorada
da Nova Era do Espiritualismo. Foram eles,
enfim, que, por todos os meios ao seu alcance,
vieram dizer-nos: Somos as almas dos que viveram
na Terra e estamos t�o vivos ou mais vivos
que v�s, porque n�o temos o fardo da carne a
tolher-nos as vibra��es.

Deste modo, por que deixar de exercer a pr�tica
do Espiritismo, se � ainda por seu interm�dio
que se consegue hoje a mais aben�oada das tarefas
� curar os enfermos?

O que nos cumpre, n�o � furtarmo-nos � pr�tica
do Espiritismo em virtude dos perigos que nos
amea�am, mas, aparelharmo-nos para ela, aumentando
o �mbito dos nossos conhecimentos, elevando
o n�vel da nossa moralidade, pois, s� assim,
poderemos diminuir as probabilidades de erro e
conseguir as mais indescrit�veis consola��es.

Leon Denis, o abnegado e iluminado propagandista
do Espiritismo, cujas palavras j� citamos,
assim se expressa no seu admir�vel �Depois da
Morte�:

�A nossa indiferen�a, para com as manifesta��es
esp�ritas, n�o nos privaria somente do conhecimento
do futuro do Al�m-t�mulo, mas nos desviaria
tamb�m da possibilidade de agir sobre os
Esp�ritos infelizes, de lhes amenizar a sorte, tor



AUR�LIO A. VALENTE

nando-lhes mais f�cil a repara��o de suas faltas.
Os Esp�ritos atrasados, tendo mais afinidades com
os homens do que com os Esp�ritos puros, em virtude
de sua constitui��o flu�dica ainda grosseira,
s�o por isso mesmo mais acess�veis � nossa influ�ncia
.

�Entrando em comunica��o com eles, poderemos
preencher uma generosa miss�o, instru�-los,
moraliz�-los e, ao mesmo tempo, melhorar, sanear

o meio flu�dico em que todos vivemos.�
Quis�ramos que essas palavras fossem para
todos objeto de profunda medita��o. Nobre miss�o
�, realmente, a de estender as m�os aos desgra�ados,
ajudando-os com palavras de carinho a
se levantarem para continuar a jornada. Mas, qual
de n�s ter� coragem, no caso, n�o de apanhar umas
pedras para atirar no pecador, por�m, de jactar-se
da altura de possuir autoridade moral para exortar
os infelizes deca�dos, � regenera��o?

Aqui � que encontramos um dos maiores escolhos
do Espiritismo pr�tico. Os sofredores necessitam
de n�s, mas, a maior parte das vezes,
ficamos em situa��o inferior � dos ap�stolos, que
se viram impotentes para a cura de um lun�tico
(2). A eles faltava a f�; a n�s, quase sempre,
falta tudo.

Torna-se necess�rio que todo esp�rita n�o esque�a
nunca que o verdadeiro crist�o se reconhece
pelas obras, e o verdadeiro esp�rita pelos esfor�os
que faz para domar as suas m�s inclina��es. Somente
a for�a moral nos d� ascend�ncia sobre os
Esp�ritos; assim, pois, em qualquer terreno que
penetremos da seara esp�rita, cumpre-nos, antes de
tudo, moralizarmo-nos e moralizar os vivos que nos

(2) Mateus � Cap. 17:14-20.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 31

cercam, evitando assim que continuemos como centros
convergentes de Esp�ritos inferiores, atra�dos
pela afinidade de sentimentos impuros.

Visando a Doutrina Esp�rita � regenera��o da
Humanidade, voltemos as nossas vistas para os que
se acham presos � mat�ria, pois, deste modo, ao
ingressarem na verdadeira P�tria, n�o ir�o aumentar
a falange dos sofredores que, apegados � Terra,
sem poderem libertar-se dos seus tormentos, contribuem
para agravar os dos que aqui ficaram.

Todo o edif�cio de contradita de nossos opositores,
materialistas ou mesmo espiritualistas, sobre
a sem raz�o das sess�es esp�ritas, n�o tem sua
base em alicerces s�lidos. Todo ele se desmorona
ante a clara exposi��o da argumenta��o esp�rita.
A base desta � o Amor. � o amor, esse elevado
sentimento que o homem busca cada vez mais espiritualizar,
o fator primordial da realiza��o das
sess�es. A saudade de um filho querido, a lembran�a
de uma esposa idolatrada, a perda irrepar�vel
de um pai, de uma m�e, a recorda��o dum
amigo leal e sincero, o desejo de desembara�ar um
louco do seu obsessor, a cura dos enfermos, eis
os motivos que impulsionam, crentes ou n�o, �s
sess�es esp�ritas.

E que representam esses motivos sen�o a manifesta��o
do amor nas suas v�rias modalidades?
E qual a for�a capaz de vencer esse divino sentimento?
Mas, dir�o alguns, embora com elevados
fins, em muitas sess�es contribui-se para o mal.
Ter�o raz�o os que assim objetam? Admitamos que
sim. Por�m, a ter de aceitar essa obje��o, que
diremos da imprensa? Porventura, no seu sonho
de gl�ria, teria Gutenberg vislumbrado o quanto se
aproveitaria a perversidade humana da sua inven��o
para espalhar com mais rapidez a sua pe�onha?


AUR�LIO A. VALENTE

Teriam, acaso, os abnegados terapeutas profetizado
que a Medicina � a grande benfeitora da Humanidade
� com todo o seu passado de gl�ria e brilhante
futuro, altru�smo dos seus devotados sacerdotes,
fosse olhada como elemento aproveit�vel nas
guerras, para a dissemina��o de germens patog�nicos
capazes de fazer grassar os piores flagelos?

�O Espiritismo ser� o que dele fizerem os homens,
�similia similibus�. Ao contacto da Humanidade,
as mais altas verdades se desnaturam e
obscurecem. Podem constituir-se numa fonte de
abusos. A gota de �gua, conforme o lugar onde
cai, continua sendo p�rola ou se transforma em
lodo.� (3)

N�o, n�o podemos compreender Espiritismo
sem a parte pr�tica. Os Esp�ritos, ap�s a desencarna��o
(morte), permanecem por tempo mais ou
menos longo, debaixo de perturba��es, incertezas,
ang�stias, que variam de acordo com o seu modo
de vida, eleva��o moral, grau de sabedoria e g�nero
de desencarna��o. Se alguns reconhecem logo a
sua nova situa��o, outros h� que, julgando-se vivos,
continuam a freq�entar os mesmos lugares habitualmente
percorridos, e, mais ainda, quando o
grau de materialidade se acentua num forte apego
� Terra, experimentam as mesmas sensa��es que
n�s, e chegam at� a sentir necessidades fisiol�gicas,
como fome, sede, etc. Os Esp�ritos apegados �
Terra, pelos fortes la�os da mat�ria, n�o podem
perceber as vibra��es dos Esp�ritos elevados, assim
como os nossos limitados sentidos n�o nos p�em
a par de alguns fen�menos da Natureza, que os
aparelhos de precis�o registram. Acaso pressente

o homem os tremores de terra com a exatid�o dos
(3) Leon Denis � "No Invis�vel" (Introdu��o).

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 33

sism�grafos? Os aparelhos de r�dio n�o provam que
se cruzam no espa�o, sem se confundirem, as irradia��es
de in�meras esta��es? E porventura algum
homem, no seu estado normal, pode perceb�-las?

Em contacto com os homens, os Esp�ritos mais
depressa s�o esclarecidos, o que contribui de algum
modo para melhorar-lhes o estado. Benditas sejam
as searas que bem preenchem os seus fins.

O Esp�rito de Verdade, numa de suas mais
belas comunica��es insertas em �O Evangelho segundo
o Espiritismo�, exorta-nos assim: �Esp�ritas,
amai-vos, eis o primeiro ensino; instru�-vos, eis o
segundo.� Eis o lema que devem adotar todos aqueles
que j� foram iluminados pela luz da Nova Revela��o
.

Amando-nos como ensinou Jesus, o nosso amor
n�o se limita a este mundo e vai refletir-se em
nossos irm�os infelizes, que sofrem no Al�m. Instruindo-
nos, dissipamos a ignor�ncia que � a m�e
de todos os males e conquistaremos a luz do saber,
que tamb�m � riqueza que o ladr�o n�o rouba nem
a tra�a r�i. Todavia, cumpre que esse saber nos
induza ao dever de espalhar as luzes em volta de
n�s, facultando aos ignorantes o conhecimento da
Verdade. Jesus prometeu-nos um Consolador que
viria restabelecer os seus ensinos e dar-nos algo
mais que n�o p�de ser dito naquela �poca. O Esp�rito
de Verdade j� se encontra entre n�s, e s�
dissipando as trevas da nossa alma poderemos reconhec�-
Lo. Quando numa seara reinar o verdadeiro
sentimento do Amor, o desejo ardente de
adquirir ensinamentos e, sobretudo, se a humildade
constituir apan�gio de todos os seus membros, po


2


AURELIO A. VALENTE

deremos estar certos de a� se encontrar Jesus em
toda a sua gl�ria, pois Ele n�o fez promessa v�,
quando disse aos disc�pulos: �Quando duas ou mais
pessoas se reunirem em meu nome, eu a� estarei
com elas.�


Cap�tulo II

MEIOS DE COMUNICA��O ENTRE VIVOS E
MORTOS � SESS�ES ESPIRITAS E SUAS
DENOMINA��ES


A comunica��o entre os vivos e os mortos n�o
constitui privil�gio dos tempos modernos. Nas mais
remotas eras da Humanidade encontramos as provas,
tanto na linguagem muda dos monumentos,
como nos textos dos livros sagrados.

Nesses recuados tempos, nos quais os homens
estavam na inf�ncia da evolu��o, as rela��es entre

o mundo vis�vel e o invis�vel s� eram mantidas
pelos iniciados nas doutrinas secretas. Todos os
povos antigos, hindus, eg�pcios, hebreus e tantos
outros, destinavam alguns de seus filhos ao sacerd�cio
da sua Doutrina Esot�rica. Ainda na inf�ncia
come�ava a sua educa��o, e somente depois de
prolongadas e penosas etapas, durante as quais a
sabedoria e eleva��o moral do iniciando eram submetidas
a duras provas, entravam eles na posse
completa dos mist�rios. Aquele que profanasse um
s� dos ensinos secretos era um condenado � morte.
Ao que sabemos, s� um povo antigo se assenhoreou
dos mist�rios. Foi o hebreu, quando atravessava
o deserto, levado por Mois�s, em busca
da Terra da Promiss�o.

Bem fundados eram os receios dos adeptos
em dar a conhecer, a todos, os segredos das evoca



36 AUR�LIO A. VALENTE

��es. Os hebreus, sem estarem preparados para
receber tanta luz, de tal modo vulgarizaram as rela��es
com os habitantes do outro mundo, que n�o
tardaram em degener�-las nos mais conden�veis
abusos. A vingan�a, o �dio, os mais baixos interesses
serviam de pretexto para evoca��es dos mortos.
Mois�s, iniciado nas Doutrinas Secretas do
Egito, para conjurar o grave perigo que pairava
sobre o seu povo, proibiu, ent�o, sob pena de morte,
as rela��es com os Esp�ritos, passando elas a
constituir privil�gio dos profetas.

Dessa �poca at� o advento do Cristianismo, os
anseios dos vivos pelos mortos e os clamores dos
mortos pelos vivos eram sufocados por essa proibi��o
.

Com Jesus, pouco a pouco reataram os hebreus
as rela��es com os invis�veis. Sob a influ�ncia dos
sublimes ensinos do Cristo, dirigidos ao cora��o
dos humildes e oprimidos, os homens come�aram
a compreender a verdadeira finalidade delas. E,
quando o Divino Mission�rio voltou ao Pai, recrudesceram
elas de tal modo, que os hebreus assistiram
maravilhados � maior e mais bela difus�o
de dons medi�nicos, manifestada pelos ap�stolos
no dia de Pentecostes. As l�nguas de fogo, reflexos
das luzes dos Esp�ritos elevados, representavam

o
batismo anunciado por Jesus.
Na leitura meditada dos Atos dos Ap�stolos,
encontramos in�meras vezes os disc�pulos reunidos
a orar, de forma semelhante ao proceder dos
esp�ritas nas suas modestas searas.
Com o decorrer dos tempos, as rivalidades dos
bispos, a transforma��o do Cristianismo do povo
em Cristianismo do Estado, as conveni�ncias de
predom�nio, esmagaram com uma nova proibi��o
as fraternas rela��es com os habitantes do Al�m.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 37

Enquanto a Igreja de Roma, divorciando-se
cada vez mais de Jesus, buscava a alian�a dos reis
para adquirir e sustentar o seu poderio, deixando

o povo � merc� dos seus destinos, a evolu��o, impulsionada
pela Ci�ncia, continuava a sua marcha
inflex�vel, lan�ando luzes sobre a Humanidade. Mas
essas luzes n�o tinham o esplendor do Divino Foco,
pois, se clareavam o c�rebro, deixavam cada vez
mais o cora��o na penumbra. Os ensinos dados ao
povo, pela Igreja, deixavam de fazer vibrar os sentimentos
da alma, porque s� afetavam os sentidos
do corpo. Os homens, cansados de ver tanta mis�ria
propagada em nome de Jesus, horrorizados
ante as fogueiras que se acendiam, a fim de queimar
entes humildes e inocentes � para maior gl�ria
de Deus �, abjuraram os �ltimos resqu�cios de
f�. O Catolicismo, na �nsia de dominar, for�ando
os povos, a ferro e fogo, � ado��o de novo credo,
preparou o terreno para a implanta��o do seu
maior inimigo, o materialismo � flagelo da Humanidade.
Mas Jesus, o Sublime pregador do Amor,
do Alto, das elevadas regi�es siderais, apiedou-se
mais uma vez da ingrata Humanidade terrena, e
julgou prop�cio o momento para enviar o Consolador
prometido. E ent�o, sob a orienta��o do Esp�rito
de Verdade, os mensageiros do Senhor se
espalharam por todos os recantos da Terra, manifestando-
se aos homens por todas as maneiras poss�veis,
realizando assim a milen�ria profecia de
Joel: �E nos �ltimos dias acontecer�, diz Deus,
que do meu esp�rito derramarei por toda a carne,
e os vossos filhos e filhas profetizar�o, os vossos
mancebos ter�o vis�es e os vossos velhos sonhar�o
sonhos.�

� propor��o que o Espiritismo se propaga, o
culto da Doutrina Crist� volta � sua pureza encan



AUR�LIO A. VALENTE

tadora de outrora. Os esp�ritas apenas repetem o
que fizeram os Ap�stolos: transmitem os ensinos
de Jesus com simplicidade e clareza; expulsam os
Esp�ritos impuros; curam os enfermos; d�o de gra�a
o que de gra�a recebem. E � por isso que,
apesar da avalancha de proibi��es e an�temas, os
crentes da Nova Revela��o se sentem cada vez
mais fortes na sua f�, certos de que o Esp�rito
Consolador j� se encontra entre n�s. E como receb�-
lo? � o que vamos ver agora. � nas searas,
especialmente nas mais humildes, que o Esp�rito
Consolador melhor manifesta a sua presen�a, por
interm�dio dos seus mensageiros. Em todos os
recantos do Globo numerosos Grupos buscam o
contacto com os invis�veis e estes acodem ao apelo
ou v�m espontaneamente comunicar-se de maneiras
v�rias, conforme as faculdades dos m�diuns e os
resultados a que visam obter. Mas, o que sempre
observamos, � a falta de preparo pr�vio para essa
�rdua e complexa tarefa.

Para tudo o homem se prepara. Por que, pois,
dar-se � pr�tica do Espiritismo sem estudar e, sem
elevar o n�vel de sua moral? Nunca � demais dizer
que urge estudar, mas estudar com m�todo,
observando, analisando, meditando para edificar a
sua f� sobre a rocha, e estar prevenido contra a
impostura; saber separar o joio do trigo, na singela
express�o de Jesus. Para dedicarmos o nosso tempo
com proveito, na pr�tica esp�rita, � imprescind�vel
saber como se devem organizar sess�es; por�m,
antes disso, vejamos primeiro o que v�m a
ser � sess�es esp�ritas.

Todo agrupamento de duas ou mais pessoas,
com o elevado prop�sito de obter comunica��es dos
invis�veis, � uma sess�o esp�rita. Se variad�ssimos
s�o os modos de os Esp�ritos se manifestarem,


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 39

claro est� que �s sess�es ser�o dadas denomina��es
segundo os fen�menos produzidos.
De acordo com os mestres, as sess�es s�o: de
efeitos f�sicos; intelectuais; e de curas.

EFEITOS F�SICOS

Todos os fen�menos produzidos pelos Esp�ritos,
tais como ru�dos, desloca��o de corpos de um
lugar para outro, materializa��es, etc , s�o classificados
como de efeitos f�sicos.

a) � Tiptologia.

� o mais rudimentar processo de entrar em
rela��o com os habitantes do Al�m. Logo depois
de passado o assombro dos primeiros e for�ados
observadores, foi por esse processo que se generalizou
o interc�mbio com o invis�vel. Uma simples
mesa de tr�s pernas, em volta da qual se assentavam
os experimentadores, com as m�os espalmadas
e colocadas sobre ela, era tudo quanto de in�cio se
exigia. Depois, aguardava-se o sinal da presen�a
dos Esp�ritos. A chegada destes era anunciada por
ligeira inclina��o da mesa, por pancadas fortes ou
por estalidos secos caracter�sticos e de reprodu��o
inimit�vel, que pareciam provir da pr�pria madeira
da mesa, e, finalmente, por meio de baques dados
com um dos p�s da mesa, que para isso oscilava
a cada instante. Os ditados eram dados letra a
letra, correspondendo a cada uma delas, em pancadas,
o n�mero de ordem do alfabeto.

0 seu uso, no fim do s�culo dezenove, vulgarizou-
se enormemente na Europa, tornando-se moda e
passatempo obrigat�rio em todas as sess�es (4);

(4) Ver "As Mesas Girantes e o Espiritismo", edi��o
da FEB.

40 AUR�LIO A. VALENTE

por�m, ap�s o desenvolvimento de m�diuns psicogr�ficos
e de incorpora��o, as mesas girantes ca�ram
em desuso, pela morosidade com que se obtinham
as comunica��es. Entretanto, com esse meio colhem-
se resultados surpreendentes, em virtude de
os pensamentos dos Esp�ritos apresentarem uma
percentagem m�nima da influ�ncia intelectual do
m�dium e dos assistentes, ou, mesmo, por se caracterizarem
por uma identidade convincente. �
comum, nessas sess�es, os Esp�ritos ditarem coisas
inteiramente desconhecidas dos experimentadores
ou contr�rias �s suas id�ias, o que destr�i por completo
a obje��o de serem as comunica��es produto
do subconsciente do m�dium ou dos assistentes.

Eug�ne N�s, literato franc�s, realizando com
alguns amigos sess�es de tiptologia, p�de constatar
o que vimos de dizer. Propuseram eles, aos
invis�veis, lhes dessem algumas defini��es, em frases
de doze palavras. Algumas vezes, interrompiam
a comunica��o e tentavam, em v�o, completar a
frase iniciada, e, se porventura isso conseguiam,
as for�as invis�veis conclu�am com outras palavras,
mais acertadas, e nas quais nenhum deles havia
pensado. Ele assim nos relata:

�Nossa tripe�a n�o se embara�ava com t�o
pouca coisa. Desafio todas as academias liter�rias
a formularem rapidamente, instantaneamente, sem
preparativos e sem reflex�o, algumas defini��es
circunscritas a doze palavras, t�o completas e muitas
vezes t�o elegantes como as improvisadas pela
nossa mesa, � qual no m�ximo conced�amos, e a
muito custo, a faculdade de formar uma palavra
com um tra�o de uni�o.�

Eis algumas defini��es:
Infinito: abstra��o puramente ideal, acima e
abaixo do que � concebido pelos sentidos.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 41

Harmonia: equil�brio perfeito do todo com as
partes e das partes entre si.
Imagina��o: fonte dos desejos, idealiza��o do
real por um justo sentimento do belo.
For�a Divina: for�a universal que liga os mundos
e abra�a todas as outras for�as.

Certa vez, em uma sess�o de tiptologia, realizada
na sede do Grupo dos �Filhos Pr�digos�
(Par�), do qual guardamos a mais doce recorda��o,
vimos a mesa ser impulsionada do centro da
sala para junto de uma estante, abri-la, e, depois,
inclinar-se na dire��o de uma prateleira onde estava
um folheto, com o qual o Esp�rito queria identificar-
se. Da inten��o dele nenhum dos presentes
tinha a menor id�ia e at� julgavam os assistentes
nada haver na estante que se relacionasse com a
manifesta��o. Este fato � relatado detalhadamente
pelo Dr. Nogueira de Faria em seu livro �Renascen�a
da Alma�.

b) � Voz direta; escrita direta.

Estes fen�menos, surpreendentes para os profanos,
s�o conhecidos em Espiritismo com as denomina��es
de pneumatofonia e pneumatografia
(Allan Kardec � �O Livro dos M�diuns�). S�o os
meios de os Esp�ritos se comunicarem com os
vivos, emitindo a voz diretamente, sem se servirem
dos �rg�os vocais dos m�diuns, ou diretamente
em ard�sias ou papel, sem o concurso do bra�o
dos vivos.

A B�blia, a mais fecunda fonte de fatos esp�ritas,
fala-nos da voz direta quando se refere ao
assombro de Bala�o ouvindo a voz do anjo do
Senhor, como nos d� ainda a conhecer a escrita
direta, ao narrar o misterioso aparecimento de tr�s


42 AUR�LIO A. VALENTE

palavras, na parede do sal�o onde se realizava o
festim de Baltasar.

Para sess�es de fen�menos desta natureza, s�o
necess�rios m�diuns dotados de faculdades especiais
e, quase sempre, � a espontaneidade do fen�meno
que os coloca em evid�ncia.

Em 1929, em Bel�m do Par�, fen�menos estranhos
sucediam-se no seio da fam�lia Mesquita, moradora
no bairro do Tel�grafo Sem Fio. Roncos,
gemidos, sons estranhos eram ouvidos por todos.
Bel�m, cidade devotada ao Espiritismo, n�o tardou
em tomar interesse pelo caso e, dentro em pouco,
estava fundado o Instituto Metaps�quico Paraense,
que chamou a si a prote��o do m�dium, para observa��es
e estudo.

Ali acolhido carinhosamente, teve o m�dium
a sua faculdade desenvolvida. In�meras foram as
pessoas que tiveram a ventura de assistir �s sess�es
do Instituto Metaps�quico Paraense. L� colheram
provas da imortalidade da alma, n�o s�
ouvindo a voz do Esp�rito Monteiro Lopes, como
tamb�m vendo a levita��o de objetos v�rios. Uma
das coisas que mais prendiam a aten��o, era o m�dium
ficar em completo estado de vig�lia durante
todo o per�odo da sess�o. Desses fen�menos ocupou-
se a revista �A Federa��o�, �rg�o da Uni�o Esp�rita
Paraense, em seu n�mero de mar�o de 1931.

A escrita direta, observada por in�meros experimentadores,
tem-se produzido de maneira a n�o
deixar o menor vest�gio de d�vida. (5)

O Sr. Oven, redator do �Golden Gate�, diz-nos
Leon Denis no �Invis�vel�, obteve, em 1892, a 24
de dezembro, com o concurso do m�dium Evans, a

(5) Ver o livro "Bases Cient�ficas do Espiritismo", de
Epes Sargent, edi��o da FEB.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 43

mais extensa comunica��o de escrita direta. Desdobra-
se ela em catorze ard�sias duplas, amarradas
e lacradas, que ficaram escritas num quarto de
hora e compunha-se de um milhar de palavras.

c) � Levita��o.

Por vezes, para os Esp�ritos darem provas de
que constituem individualidades pr�prias, que pensam,
agem por si, e s�o t�o livres como n�s, elevam
no espa�o e deslocam, de um para outro lado,
objetos de v�rios tamanhos e at� mesmo pessoas.

Laboram em grande erro aqueles que, sem se
darem ao trabalho de ver, afirmam a impossibilidade
do fen�meno, por ser contr�rio � lei de
gravidade.

Nunca tiveram os Esp�ritos a menor id�ia de
fazer do Espiritismo uma obra sobrenatural. Todos
os fen�menos esp�ritas s�o regidos por leis naturais
que lhes s�o peculiares. Um corpo, elevado no
espa�o, � sustentado por uma pot�ncia que equilibra
ou neutraliza a for�a de gravidade, por�m,
como � mais f�cil negar que analisar e deduzir, as
obje��es se v�o acumulando com toda a sua pen�ria
de argumentos destruidores. A prova disto �
que os Esp�ritos, como um desafio aos obstinados
cegos que n�o querem ver, continuam a produzir
os mais surpreendentes fen�menos. Vejamos: �A
27 de maio de 1886, em Paris, o Dr. Paul Gibier,
preparador do Museu de Hist�ria Natural, observou,
em presen�a do m�dium Slade, o caso da levita��o
de uma mesa que se ergue, vira-se e vai
tocar com os quatro p�s o forro da sala, em menos
tempo que o necess�rio para o relatar� (6). Ainda

(6) L�on Denis � "No Invis�vel", cap. XVII.

44 AUR�LIO A. VALENTE

�No Invis�vel�, � mesma p�gina, encontramos o
seguinte: �Vimos Home, diz ele (Lorde Lindsay),
flutuando no ar, fora da janela, � dist�ncia de
seis polegadas. Depois de ter ficado nessa posi��o
durante alguns segundos, levantou a outra janela,
deslizou para dentro do quarto, com os p�s para
a frente, e voltou a sentar-se. As janelas ficam a
setenta p�s acima do solo, separadas entre si de
sete p�s e seis polegadas.�

d) � Materializa��es.

Se as v�rias maneiras de um Esp�rito manifestar-
se podem dar lugar a obje��es, as materializa��es
devem constituir mais positiva prova da
vida de al�m-t�mulo. No curso dessas sess�es, o
Esp�rito, haurindo fluidos do m�dium e dos pr�prios
assistentes, consegue elementos com os quais,
por poderosa for�a de vontade, forma um corpo
com todas as apar�ncias de um encarnado. Fala,
canta, anda, apalpa, deixa-se apalpar, contar as
pulsa��es," pesar, submete-se enfim a provas capazes
de satisfazer os mais exigentes investigadores.

Moldagens em parafina e fotografias in�meras
foram obtidas em v�rios pa�ses, por s�bios experimentadores
e experimentados s�bios. Nessas sess�es,
t�m-se observado fen�menos que surpreendem:
�No decorrer de uma delas, sob a dire��o
do Dr. Paul Gibier, o m�dium, que havia sido encerrado
numa jaula de ferro, em estado de transe,
foi encontrado inexplicavelmente do lado de fora.�
�A Sra. D'Esp�rance, em uma sess�o controlada por

A. Aksakof, teve a parte inferior do corpo completamente
desmaterializada.� �O Coronel Olcott,
penetrando no gabinete medi�nico onde havia deixado
a Sra. Compton, amarrada de tal forma que
at� pelos lobos furados das orelhas lhe haviam pas

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 45

sado fios, notou com espanto que a m�dium havia
desaparecido.�

Os fen�menos, que acabamos de citar, poder�o
ser lidos, com abund�ncia de detalhes, nas obras
de Leon Denis, A. Aksakof, Gabriel Delanne, Paul
Gibier, Bozzano e muitos outros.

Em nosso Pais, tamb�m se fez sentir a miseric�rdia
divina, favorecendo-nos com dois m�diuns
not�veis, de materializa��es: a Sra. Ana Prado, em
Bel�m do Par�, e Carlos Mirabeli, em S. Paulo.
Gra�as �s faculdades desses m�diuns, numerosos
e interessantes fen�menos produziram-se, nada deixando
a desejar, quer em nitidez, quer em controle
cient�fico. Dos fen�menos produzidos no Par�, devidos
� mediunidade da Sra. Ana Prado, encontramos
documentada e completa exposi��o no livro
�O Trabalho dos Mortos�, de autoria do
Dr. Nogueira de Faria; e dos verificados em

S. Paulo, com o m�dium C. Mirabeli, ocupou-se o
confrade Dr. Miguel Karl, em sua obra � �Mensagem
do Al�m�.
SESS�ES INTELECTUAIS

a) � Doutrin�rias.

As sess�es doutrin�rias, cuja finalidade � ministrar
a instru��o do Espiritismo a todos os crentes,
servem ao mesmo tempo de meio de propaganda,
por serem franqueadas ao p�blico. Resumem-se
no seguinte: Ap�s a leitura de um trecho do �Evangelho
�, ou de qualquer obra esp�rita, de prefer�ncia
dos livros fundamentais de Allan Kardec, poder�
ser facultado a qualquer pessoa usar da palavra
a fim de explanar o tema lido.

Essa liberdade, n�o raro, poder� trazer inconvenientes,
por�m, onde estiver o homem, sempre


46 AUR�LIO A. VALENTE

encontraremos o bem e o mal, a verdade e o erro,
a confundirem-se � conseq��ncia l�gica da sua imperfei��o.
A fim de evitar alguma coisa de desagrad�vel,
ou que se n�o enquadre nos ensinos da
Doutrina Esp�rita, o presidente ser� o �ltimo a
usar da palavra, para retificar com habilidade fraterna
tudo quanto n�o for julgado bom. Os ben�ficos
resultados dessas sess�es n�o se limitam �
difus�o dos ensinos e � propaganda da Nova Revela��o,
mas, n�o poucas vezes, no amparo aos
desesperados e sofredores que, guiados pelos seus
anjos de guarda, penetram o recinto das sociedades
esp�ritas, sem saber como. Ouvindo dos pregadores
palavras fluentes e cheias de f�, ricas de
promessas da prote��o divina aos pacientes e resignados,
sentem-se reanimar para a luta e afastam
de si a amea�a de atos de desvario. Conhecemos
de perto o caso de um homem a quem as
palavras ardorosas de um pregador fizeram abaixar
a m�o que empunhava um rev�lver com o qual
pretendia suicidar-se.

b) � Pr�ticas ou comuns.

As chamadas sess�es pr�ticas realizam-se em
t�o elevado n�mero, em nosso Pa�s, que, se hoje
quis�ssemos fazer um recenseamento, essa tarefa
n�o s� assumiria propor��o de gigantesca dificuldade,
como tamb�m apresentaria as maiores surpresas,
pois, se podemos mencionar as Federa��es,
Uni�es, Centros e Grupos onde se realizam sess�es,
quem poderia penetrar em todos os lares onde n�cleos
familiares e fraternos tamb�m se dedicam ao
Espiritismo? Nestes meios limitados, harm�nicos e
fraternos, as sess�es mais facilmente satisfazem
aos encarnados e aos desencarnados.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS

Para a realiza��o das sess�es, comumente chamadas
pr�ticas, re�nem-se m�diuns videntes, auditivos,
psicogr�ficos, de incorpora��o e outros, favorecendo
essa diversidade de dons a produ��o de
fen�menos de v�rias categorias. Assim � que, enquanto
um m�dium psic�grafo escreve uma mensagem,
o vidente v� o comunicante, o sensitivo recebe
as suas vibra��es, e o intuitivo percebe as
suas inten��es.

A preocupa��o sistem�tica de quase todos os
esp�ritas se dedicarem �s sess�es pr�ticas, tem a
sua justa raz�o de ser, porque � por elas que estabelecemos
o contacto direto com os nossos irm�os
do Al�m.

Todos aqueles que j� foram beneficiados pelos
frutos de prolongado tiroc�nio de experimenta��o,
t�m o dever de trabalhar para aumentar o n�mero
de grupos bem organizados, pois deste modo
preparamos o terreno para melhores e mais fartas
colheitas no futuro.

No decurso das sess�es pr�ticas, muito aproveitamos
quando abatemos o orgulho e tomamos,
como para n�s mesmos, as fraternas advert�ncias
dos Esp�ritos-guias, em vez de julg�-las dirigidas
t�o-somente aos nossos irm�os.

Nada mais tocante que ouvir os lamentos dos
arrependidos, as lam�rias de um suicida, observar
o remorso de um assassino, ver a humilha��o
do orgulhoso, o insulamento do ego�sta, testemunhar,
enfim, a passagem dos sofredores, dirigindo-
nos apelos de desespero, quais n�ufragos nas ang�stias
da asfixia.

Feliz do homem que na desgra�a alheia colhe
ensinamentos para b�ssola de sua rota pelo
Infinito.


AUR�LIO A. VALENTE

c) � de Curas.

Em nosso Pa�s, que tantas li��es j� tem dado
� velha Europa, a Nova Revela��o encontrou terreno
f�rtil. Comparando o desenvolvimento do Espiritismo
nos diversos pa�ses, logo se evidencia
uma coisa: o car�ter puramente religioso que ele
tomou entre n�s. Dizendo religioso, expressamos
tudo, porque Religi�o, em sua acep��o lata, � Ci�ncia
e tamb�m Amor.

Numerosos s�o, em nosso Pa�s, os esp�ritas
que reservam as horas de repouso � pr�tica do
amor pelos seus irm�os sofredores, dedicando-se
� tarefa aben�oada da mediunidade curadora. Vemos,
por toda a parte, m�diuns de passes e receitistas
a espalharem em torno de si a miseric�rdia
divina, atrav�s de suas faculdades. Se porventura
aparece entre eles um profanador a mercantilizar

o que de gra�a recebeu, vemos por outro lado, confortadoramente,
avultar o n�mero dos que, numa
abnega��o admir�vel, n�o medem sacrif�cios, n�o
se amedrontam e afrontam as persegui��es que,
muitas vezes, t�m tido ep�logo nos tribunais.
Os m�diuns de passes e receitas habitualmente
se desempenham de sua miss�o, isolados ou em
companhia de outro confrade, n�o podendo por isso
chamarem-se sess�es a esses trabalhos; por�m,
como a pr�tica esp�rita oferece sempre os mais
belos resultados, estudaremos o melhor meio de
trabalhar, quer para libertar os obsidiados do �dio
dos seus perseguidores, quer para evitar fracassos
aos experimentadores.


Cap�tulo III

ESCOLHA DO LOCAL PARA REALIZA��O
DE SESS�ES. � ELEMENTOS COMPONENTES.
� PRESIDENTE. � M�DIUNS.
� ASSISTENTES

Em todos os lugares assinalados pela passagem
das civiliza��es antigas, encontramos vest�gios
dos templos sagrados, atestados flagrantes da religiosidade
humana.

Esses monumentos, cuja edifica��o obedecia a
determina��es ritual�sticas, expressavam, na majestade
de sua arquitetura, a preocupa��o do belo
e a eleva��o dos sentimentos humanos para com
as pot�ncias superiores.

Neles n�o se penetrava sem que se fosse tomado
do maior respeito e venera��o, e ningu�m
ousava profanar-lhes o ambiente. Em certas depend�ncias,
s� os iniciados tinham livre acesso.

Hoje que o materialismo levou a todas as camadas
sociais a conseq��ncia delet�ria de seus ensinos,
n�o vemos mais no recinto dessas casas de
ora��o reinar o sil�ncio e a pureza de sentimentos,
condi��es essenciais para os arrebatamentos
da alma para o Alto.

Foi naturalmente por isso que Jesus, o demolidor
dos preconceitos e do culto religioso sob a
forma de atos exteriores e materiais, na sua vis�o
prof�tica, disse � samaritana: �Mulher, crede



AUR�LIO A. VALENTE

-me que a hora vem, em que nem neste monte, nem
em Jerusal�m, adorareis o Pai.� Depois de assim
falar � filha de Samaria, ao ensinar aos ap�stolos
a maneira de orar, sentenciou: �Quando quiserdes
orar, entrai para o vosso quarto, fechai a porta e,
em segredo, elevai a vossa prece ao Pai.� � que,
para todos n�s, n�o h� lugar onde nos sintamos
mais � vontade gue no quarto onde repousamos

o corpo, ap�s a labuta de cada dia. � nesse lugar
sagrado que constru�mos os nossos castelos,
formulamos as nossas �ntimas e venturosas aspira��es,
ou damos expans�o �s nossas m�goas, deixando
por vezes correr as l�grimas que se retiveram
l� fora.
Meditando profundamente no que acabamos de
expor, julgamos que a escolha do local das sess�es
deve ser a primeira preocupa��o daqueles que desejam
organizar grupos de experimenta��o.

Devemos imitar os antigos, que procuravam os
lugares solit�rios. Era no insulamento dos montes
ou no deserto, longe do tumulto das multid�es,
que os profetas entravam em contacto com Deus,
por interm�dio dos Esp�ritos superiores. A Hist�ria
Sagrada aponta-nos Mois�s no monte Sinai recebendo
as t�buas da Lei; Elias, no monte Horeb,
buscando instru��es; Jesus, afastando-se para o
deserto e transfigurando-se no Tabor. E ainda foi
num monte, o das Oliveiras, que ele foi orar, antes
de se oferecer em holocausto pela Humanidade.

Quem analisa o mundo invis�vel, sabe que as
cidades, os lugarejos, as casas e as cavernas t�m
a sua aura, como n�s temos a nossa. Quem n�o
tem experimentado sensa��es de bem, ou mal-estar,
neste ou naquele lugar? Porventura uma casa que
tenha sido teatro de dolorosas trag�dias poder� ser
indicada para sede de reuni�es de grupos em pe



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 51

r�odo de forma��o? Deixamos ao leitor a liberdade
da resposta.

Para as sess�es n�o carecemos de templos,
por�m, uma casa qualquer n�o � aconselh�vel. Deve-
se escolher bem, e a prefer�ncia dever� recair
em local onde se esteja ao inteiro abrigo de qualquer
perturba��o. O ideal ser� uma sala ampla,
arejada, numa casa isolada, situada em rua pouco
transitada, especialmente por ve�culos, a fim de
que os ru�dos exteriores n�o venham, de quando em
vez, despertar nossa aten��o para coisas alheias �
tarefa em que nos empenhamos. Esta particularidade,
desprezada pela maior parte dos experimentadores,
� uma das causas de fracasso, at� mesmo
de grupos formados sob os melhores ausp�cios.

Uma vez escolhido o local para as sess�es, ser�
de grande alcance seja ele utilizado exclusivamente
para esse fim, pois, deste modo, evitaremos a profana��o
do ambiente por conversas inconvenientes,
galhofas, discuss�es, fumo, jogo e tantas outras
coisas, pr�prias das nossas imperfei��es, e que
por isso mesmo constituem alvo convergente de
Esp�ritos inferiores.

Assim como os m�diuns s�o preparados pelas
entidades invis�veis para o desempenho de sua
miss�o, nada mais natural que o ambiente mere�a
a aten��o especial dos Esp�ritos, e a nossa tamb�m.

Todavia, se de todo for imposs�vel uma escolha
como prescrevemos, deveremos empregar o m�ximo
esfor�o para conservar o ambiente livre de
tudo o que possa servir de atrativo aos Esp�ritos
impuros.

Uma vez assentada a escolha do local, apresenta-
se, como condi��o imprescind�vel, que os componentes
do grupo estabele�am entre si um pacto
formal de assiduidade, perseveran�a, paci�ncia, dis



52 AUR�LIO A. VALENTE

cri��o, e que logo sejam determinados os dias e
as horas das reuni�es.

O mundo invis�vel � em tudo semelhante ao
nosso. L�, como aqui, bons e maus se confundem,
e, se na luta pela vida, as necessidades nos obrigam
ao regulamento das horas, do outro lado, a dura��o
de cada miss�o espiritual imp�e deveres �queles
a que impropriamente chamamos mortos. Deste
modo, se as nossas ocupa��es n�o nos permitem
reuni�es a qualquer momento, o mesmo deveremos
pensar dos Esp�ritos, que, al�m de terem miss�es
a desempenhar, n�o est�o sujeitos � nossa vontade,
sendo t�o livres como n�s. Aqueles que se dispuserem
a fazer sess�es a qualquer instante, sem
ordem, sem m�todo, arriscam-se a servir de instrumento
aos Esp�ritos levianos, zombeteiros e ociosos,
pois somente estes est�o prontos a nos responder
a qualquer momento.

Quando duas ou mais pessoas resolverem orgar
nizar um grupo de experimenta��o, devem escolher
para companheiros aqueles que, al�m de se imporem
por sua moral e conhecimentos, lhes sejam
simp�ticos. Para in�cio, o grupo dever� formar-se
de seis a doze pessoas, de qualquer sexo, observando-
se a condi��o de serem todas ligadas pelos la�os
de estreita amizade ou, ao menos, pela afinidade
de sentimentos. Estas condi��es, exageradas � primeira
vista, foram impostas pelo tiroc�nio da experi�ncia
e ditadas pelo simples bom-senso. Convidemos
levianos, viciados, devassos, para as primeiras
sess�es dum grupo em organiza��o, e vejamos se
n�o teremos tristes resultados a registrar. O Espiritismo
n�o fecha as portas a essas pessoas e nem
ir�amos recomendar uma coisa que fosse de encontro
aos seus ensinos. Elas s�o doentes da alma e

o Espiritismo � o seu verdadeiro m�dico. O Espi

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 53

ritismo � doutrina consoladora por excel�ncia � �
como o Sol que aquece com os seus raios todos os
entes do Globo, qualquer que seja a sua condi��o.
Abramos as nossas portas a esses necessitados,
para que assistam �s nossas sess�es, quando a nossa
f�, confian�a nos guias espirituais, faculdades
medi�nicas em franco desenvolvimento e perfeita
harmonia do conjunto constitu�rem fatores capazes
de iluminar-lhes a alma com a luz da reden��o.
Em caso contr�rio, corremos o risco de ficar debaixo
da influ�ncia dos Esp�ritos inferiores que os
acompanham, sofrendo assim a conseq��ncia amarga
da nossa inc�ria. Num grupo em forma��o,
qualquer elemento que quebre a harmonia do conjunto
ser� fator preponderante para que fracassem

todas as tentativas.

A preocupa��o de todo experimentador � a falta
de m�diuns. Por esta raz�o, � h�bito buscarem
alguns, j� desenvolvidos, para dar maior impulso
aos trabalhos. Entretanto, por vezes, isso representa
um mal, porque pode esse intermedi�rio dos
invis�veis ser mal orientado, mal assistido, n�o s�
por castigo de sua vaidade, como tamb�m pelo seu
defeituoso desenvolvimento. Todos n�s, dizem os
Esp�ritos e a experi�ncia tem demonstrado, somos
mais ou menos m�diuns, e, assim, � pouco prov�


vel que, dentre os componentes do grupo, um ter


�o n�o tenha faculdades a desenvolver. De in�cio,

contemos com n�s mesmos.

Observando-se todos os preceitos que vimos de
expor, notaremos que a confian�a rec�proca cedo
se estabelece entre todos, encarnados e desencarnados,
e logo a harmonia se constitui em alicerce
do grupo. Alcan�ado isto, os bons frutos come�ar�o
a surgir.


AUR�LIO A. VALENTE

Em toda sess�o h� sempre dois elementos imprescind�veis,
e um eventual. Os dois primeiros
s�o: o presidente e os m�diuns, e o terceiro � a
assist�ncia. Uma advert�ncia, que se torna obrigat�ria,
� n�o admitir assist�ncia, por menor que
seja, nas sess�es dos grupos que iniciam a sua
exist�ncia. Mais adiante justificaremos essa recomenda��o
.

Convencionados dia, hora e n�mero dos componentes,
um s�rio problema se apresenta � a
escolha do dirigente dos trabalhos.

A escolha do dirigente dos trabalhos deve recair
naquele que reunir tr�s condi��es essenciais:
eleva��o moral, preparo intelectual, conhecimento
da Doutrina.

A eleva��o moral � atributo indispens�vel ao
presidente; sem ela, imposs�vel lhe ser� impor-se
aos Esp�ritos, pois que estes, lendo-lhe os pensamentos
impuros, n�o lhe reconhecer�o qualquer
ascendente.

�Demais, o ascendente que o homem pode
exercer sobre os Esp�ritos est� na raz�o da sua
superioridade moral. N�o exercer� ascend�ncia sobre
os Esp�ritos superiores, nem mesmo sobre aqueles
que, sem serem superiores, s�o bons e ben�volos;
mas ter� ascendente sobre os Esp�ritos que lhe
s�o inferiores em moralidade.� (7)

�279 � S� se exerce ascend�ncia sobre os
Esp�ritos inferiores pela superioridade moral. Os
Esp�ritos perversos consideram os homens de bem
como seus superiores; diante daquele que s� lhe
op�e a energia da vontade, esp�cie de for�a bruta,
lutam e �s vezes s�o os mais fortes. A algu�m que

(7) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", 2� Parte,
cap. XXII.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 55

pretendeu assim domar um Esp�rito rebelde por
sua vontade, disse este: � Deixa-me sossegado,
que com os teus modos de mata-mouros �s t�o bom
como eu, �s como o ladr�o que quer moralizar outro
ladr�o.� (8)

O preparo intelectual que preconizamos n�o �
a cultura profunda, n�o � a vastid�o de saber, aureolado
por um diploma, por�m, um conhecimento
pr�tico dos homens, uma intelig�ncia desenvolvida
na an�lise das coisas, uma forte dose de bom-senso.
� necess�rio que o presidente saiba alguma coisa
mais que ler e escrever, pois, de outra forma,
ver-se-� embara�ado ante um Esp�rito de cultura
superior � sua, sofredor e descrente, ou ent�o facilmente
aceitar� utopias como verdades. Chamar�,
sem querer, o descr�dito e o rid�culo sobre o grupo,
porque n�o saber� separar o joio do trigo.

Imaginemos a situa��o embara�osa de um presidente
inculto, dialogando com um Esp�rito culto,
que procura ridiculariz�-lo ardilosamente, fazendo-o
aceitar, como verdades, os maiores absurdos.

O conhecimento da doutrina n�o pode ser dispensado,
como alegam alguns confrades, sob o pretexto
de ser suprido pela f� ou pela mediunidade
intuitiva. O Espiritismo combate a f� cega, e qualquer
m�dium est� sujeito a ser mistificado.

O Espiritismo, como doutrina moral, assemelha-
se a uma fonte de �gua cristalina, que sacia
todos os sedentos.

O Espiritismo, como ci�ncia, assemelha-se a
um laborat�rio de Qu�mica, no qual s� os conhecedores
dessa ci�ncia penetram, sem correr perigos.
Claro est�, pois, que, enquanto a parte moral

(8) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", 2� Parte,
cap. XXV.

AUR�LIO A. VALENTE

est� ao alcance de todos, a parte cient�fica requer,
para sua posse, determinados predicados, sabedoria
e bom-senso.

Durante uma sess�o, fen�menos de v�rias
esp�cies se podem produzir, Esp�ritos de diversas
categorias se podem comunicar. Como, pois, distinguir
e classificar os fen�menos, identificar os
Esp�ritos, se falta ao presidente o necess�rio conhecimento
da Doutrina?

N�o sejamos afoitos na escolha do presidente,
lembremo-nos sempre � mais uma vez repetimos
� de que � imprescind�vel possuir ele uma boa
moral, um pouco' de cultura e conhecimento da
Doutrina Esp�rita.

� sempre bom pedir esclarecimentos aos Esp�ritos,
por�m, quaisquer que sejam os conselhos
dados, deveremos analis�-los convenientemente e s�
aceitar aquilo que a raz�o aprovar.

De princ�pio, a assist�ncia dos Esp�ritos protetores
n�o � constitu�da pelos mais elevados, estes
v�m depois, quando j� est�o certos dos nossos
bons prop�sitos.

Leon Denis, um dos mais devotados ap�stolos
da Nova Revela��o, escreveu o seguinte:

�O estudo do mundo invis�vel exige muita prud�ncia
e perseveran�a. Somente ao fim de muitos
anos de reflex�o e observa��o se adquire o conhecimento
da vida, se aprende a julgar os homens,
a discernir-lhes o car�ter, a evitar os embustes de
que est� semeado o mundo. Mais dif�cil ainda de
obter � o conhecimento da Humanidade invis�vel,
que nos cerca e paira acima de n�s. O Esp�rito
desencarnado acha-se, al�m da morte, tal como ele
pr�prio se fez durante a sua passagem por este
mundo. Nem melhor, nem pior. Para domar uma
paix�o, corrigir um defeito, atenuar um v�cio, �


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 57

algumas vezes necess�rio mais de uma exist�ncia.
Da� resulta que, na multid�o dos Esp�ritos, os caracteres
s�rios e refletidos est�o, como na Terra,
em minoria; e os Esp�ritos levianos, amantes das
coisas pueris e v�s, formam numerosas legi�es.
O mundo invis�vel �, pois, em mais vasta escala,
reprodu��o do mundo terrestre. L�, como aqui, a
verdade e a ci�ncia n�o s�o de todos. A superioridade
intelectual e moral s� se obt�m por um trabalho
lento e cont�nuo, pela acumula��o de progressos
realizados no decurso de longa s�rie de
s�culos.� (9)

�H� perigos para quem se entrega, sem reservas,
� experimenta��o esp�rita. O homem de cora��o
reto, de raz�o esclarecida e madura, poder�
colher dela consola��es inef�veis e preciosos ensinos.
Mas aquele que s� fosse inspirado pelo interesse
material, ou que s� visse nesse fato um
divertimento fr�volo, tornar-se-ia fatalmente objeto
de uma infinidade de mistifica��es, joguete de Esp�ritos
p�rfidos que, lisonjeando-lhe as inclina��es,
seduzindo-o por brilhantes promessas, captar-lhe


-iam a confian�a para, depois, acabrunh�-lo com
decep��es e zombarias.� (10)

Como vimos, Leon Denis exp�s, de maneira
bastante clara e precisa, os extremos cuidados de
que se devem cercar os experimentadores. A nosso
ver, aquele que n�o tiver lido, pelo menos todas
as obras de Allan Kardec, n�o estar� apto para
dirigir sess�es. Quem n�o estuda e nem conhece
bem o Espiritismo, como poder� discernir os fen�menos
de animismo, sonambulismo e sugest�es que
se produzem no decurso de uma sess�o? Como co


(9) leon Denis � "Depois da Morte", cap. XXVI.
(10 ) Leon Denis � "Depois da Morte", cap. XXVI.

AUR�LIO A. VALENTE

nhecer as fraudes conscientes e inconscientes dos
m�diuns, as mistifica��es dos Esp�ritos?

Bem sabemos que, se exigirmos demasiadamente,
pouca gente encontraremos capaz de dirigir
sess�es esp�ritas. Assim, n�o nos coloquemos nos
extremos. Num lugar de gente humilde, onde s�
se encontrarem pessoas de poucas letras, dever�o
ficar os adeptos privados das agrad�veis rela��es
com os Esp�ritos? N�o, nem o Espiritismo exige
isso. Tudo � relativo. Se nos meios humildes s�o
poucos os que possuem conhecimentos, pode avultar
o n�mero dos leais e sinceros e, dentre estes,
algu�m h� de reunir as condi��es necess�rias para

o espinhoso encargo de presidente. Se esse algu�m
for estudioso, em breve sua intelig�ncia se encher�
de luzes que nunca julgou possu�sse um dia.
A sua palavra tornar-se-� mais f�cil, as suas frases
ter�o mais eleg�ncia, e os elementos de todas
as ci�ncias n�o lhe ser�o estranhos.
Certa vez, ouvimos o seguinte di�logo entre
dois condutores de bonde. Um deles, admirado do
modo de falar do antigo companheiro, indagou:

� Onde foste buscar tanto conhecimento e
tanta express�o bonita?
� Meu amigo � respondeu-lhe o outro �,
torna-te esp�rita e estuda.
Depois de vermos quanto � necess�rio o m�ximo
de escr�pulo na escolha de uma pessoa para
dirigir sess�es esp�ritas, passemos a analisar os
m�diuns, que constituem o outro elemento componente
dos Grupos.

Disse Allan Kardec, mui judiciosamente, que
todos somos mais ou menos m�diuns. Efetivamente,
� dif�cil encontrar algu�m que n�o tenha tido
uma manifesta��o esp�rita sob qualquer de suas
variad�ssimas formas, um sonho, uma vis�o, um


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 59

pressentimento, um aviso de morte de pessoa cara.
Entretanto, vulgarmente, o nome de m�dium � dado
� pessoa que serve, de maneira ostensiva, de instrumento
aos Esp�ritos para suas manifesta��es,
sen�o permanentes, pelo menos freq�entes.

Havendo na Terra, entre os homens, uma grada��o
numeros�ssima, tanto na constitui��o f�sica,
quanto na eleva��o moral ou no desenvolvimento
intelectual, e o mesmo se verificando entre os Esp�ritos,
claro est� que, por uma lei natural das
coisas, as manifesta��es dos nossos irm�os do Al�m
podem revestir-se das mais variadas modalidades.
Uma vez que assim acontece, conforme o modo de
um Esp�rito manifestar a sua presen�a, foram classificados
os m�diuns em: auditivo, aquele que ouve;
escrevente ou psic�grafo, aquele que escreve; vidente,
o que v� e, assim, por diante.

At� hoje, nenhum sinal particular existe para
denunciar a faculdade medi�nica de que uma pessca
� dotada; somente a experimenta��o evidencia
esse dom de Deus. Uma coisa, por�m, que temos
observado na pr�tica, � o seguinte: quanto maior
for o grau de mediunidade capaz de favorecer os
melhores fen�menos, seja de ordem f�sica ou moral,
mais, infelizmente, o deposit�rio desse bem do
C�u se nos apresenta como pessoa de temperamento
todo especial, cheio de suscetibilidades, de arroubos,
desconfian�a e vibr�til em excesso. A raz�o
disso reside, parte na influ�ncia dos Esp�ritos que
desejam desvi�-lo do cumprimento de sua nobre
miss�o, e parte do seu pr�prio Esp�rito, que ainda
conduz pesada bagagem de imperfei��o. Todavia,
em Espiritismo, nada se pode falar ou escrever,
sen�o de modo geral, e assim, se esses dois fatores
n�o existirem, outros existem e devem ser procurados
.


AUR�LIO A. VALENTE

Atualmente poderemos dizer que bastante elevado
� o n�mero de m�diuns. Do norte ao sul do
Pa�s, como al�m de suas fronteiras, em qualquer
dire��o dos quatro pontos cardeais, encontramos
m�diuns no desempenho de sua sagrada miss�o.
Pesa-nos, por�m, dizer, acompanhando o coro de
todos os propagandistas da Nova Revela��o, que o
contingente de m�diuns bons � � extremamente
pequeno. Um dos problemas mais dif�ceis de resolver,
na seara esp�rita, � encontrar bons m�diuns.
Freq�entemente, passada a fase de entusiasmo peculiar
a todo ne�fito, o m�dium abandona a miss�o,
se n�o obt�m logo os fen�menos que desejava,
por lhos n�o permitir a sua faculdade, ou deixar-
se apossar de orgulho e de vaidade, sem suspeitar
que s�o essas as principais causas das obsess�es.

H� m�diuns que muito se ufanam de possuir
todas as faculdades; dizem-se videntes, auditivos,
escreventes, de incorpora��o, etc.

� muit�ssimo raro encontrarmos uma pessoa
dotada de t�o elevado n�mero de mediunidades. O
que comumente se verifica � o seguinte: certas pessoas,
no come�o do desenvolvimento de suas faculdades,
experimentam sensa��es de v�rias esp�cies,
pois o enorme desprendimento de fluidos e as categorias
v�rias dos Esp�ritos que delas se aproximam,
contribuem para que, ao mesmo tempo, se
produzam fen�menos de diversas modalidades.

Com o desenvolvimento natural e bem orientado,
as numerosas manifesta��es se v�o restringindo,
at� se fixarem em duas ou em uma s�
faculdade, e desse modo se evidencia qual a verdadeira
mediunidade em que se deve especializar.
Desta forma, o m�dium tornar-se-� s� vidente, s�
psic�grafo, etc.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 61

J� nos primeiros tempos do Cristianismo, essa
estulta pretens�o de possuir todos os dons fez que
Paulo, em sua Ep�stola aos Cor�ntios, assim se expressasse
:

�Porventura s�o todos ap�stolos? S�o todos
profetas? S�o todos doutores? S�o todos operadores
de prod�gios? T�m todos o dom de curar? Falam
todos diversas l�nguas? Interpretam todos?
Portanto, procurai com zelo os melhores dons e eu
vos mostrarei um caminho mais excelente.� (Cap�tulo
12:29/31.)

�Quando existe o princ�pio, o g�rmen de qualquer
faculdade, ela sempre se manifesta por sinais
inequ�vocos. Limitando-se � sua especialidade, o
m�dium pode primar e obter grandes e belas coisas;
ocupando-se de tudo, nada alcan�ar� de bom.
Observai de passagem que o desejo de estender
indefinidamente o c�rculo de suas faculdades � uma
pretens�o orgulhosa, que os Esp�ritos nunca deixam
impune; os bons abandonam sempre o presun�oso,
que se torna, por isso, em joguete dos Esp�ritos
mentirosos. N�o � infelizmente raro verem-se
m�diuns que se n�o contentam com os dons recebidos,
aspirarem, por amor-pr�prio ou ambi��o, �
posse de faculdades excepcionais que lhes d�em evid�ncia.
Esta pretens�o tira-lhes a faculdade mais
preciosa � a de m�diuns seguros.� (11)

O escr�pulo do Esp�rito que deu esta manifesta��o
vai ao ponto de n�o dizer bons m�diuns e,
sim, m�diuns seguros. A express�o bom m�dium
pode ser tomada em dois sentidos; primeiro: ter
elevadas qualidades morais, compreens�o exata no
mandato que lhe foi confiado, produzindo, entre


(11) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", 2� Parte,
cap. XVI.

AUR�LIO A. VALENTE

tanto, o m�dium fen�menos de pouca import�ncia;
segundo, o m�dium contribui para a produ��o de
excelentes fen�menos, mas possui defeitos e moral
que n�o o recomendam. Assim, m�diuns que sejam
bons, considerados em todos os sentidos, s�o pouco
numerosos.

Por vezes, o m�dium n�o se sente contente
com a sua mediunidade: se � vidente, deseja ser
psic�grafo; se auditivo, quer ser de incorpora��o;
por�m, os que assim pensam, n�o medem as conseq��ncias
do seu descontentamento. Como poderia
um m�dium trocar um dom medi�nico por outro,
quando ele n�o � nesse ponto senhor da sua vontade?
Por outro lado, possuem mediunidade somente
pessoas que desejam possu�-la? N�o temos
visto os mais ardorosos combatentes do Espiritismo
serem coagidos a adotarem-no, devido ao inesperado
e indesejado aparecimento da faculdade medi�nica
?

Cada um deve contentar-se com o seu dom e
agradecer a Deus essa d�diva celeste, que muito
pode contribuir para a sua eleva��o e benef�cio
de seus irm�os, se bem aproveitado.

Todo m�dium c�nscio de sua miss�o, como sacerdote
da Nova Revela��o, deve ter uma grande
preocupa��o: o seu aperfei�oamento moral.

O Esp�rito das trevas, representado por essa
legi�o de almas imperfeitas, endurecidas no erro,
est� sempre pronto para direta ou indiretamente
exercer a sua perniciosa influ�ncia sobre os m�diuns,
visando especialmente os que melhores faculdades
possuem. Orar e vigiar deve ser constante
preocupa��o deles. Nunca trabalhar isolado,
especialmente no in�cio do desenvolvimento, abandonar
o mais poss�vel os v�cios, mesmo os que
parecem mais inocentes e sem import�ncia, at� o


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 63

pr�prio fumo, e ser s�brio e temperante. Envidar,
enfim, os maiores esfor�os para evitar a aproxima��o
de entidades mal-intencionadas, eis o dever de
todo m�dium que deseja bem servir � Causa.

Cada pensamento mau repercute no Espa�o,
atraindo os maus Esp�ritos.

Allan Kardec, na amorosa preocupa��o de legar
aos seus p�steros uma orienta��o uniforme e bem
compreendida por todos, com o aux�lio permanente
dos Esp�ritos exp�s em �O Livro dos M�diuns� um
quadro de classifica��o dos m�diuns.

Nessa obra, ver� o leitor que todos os fen�menos,
que ora se produzem, foram nela estudados,
ainda que resumidamente. Assim, mais uma vez,
convidamos o leitor a estudar as obras fundamentais
de Allan Kardec, pois nelas encontraremos
tudo quanto desejamos para conhecer e praticar o
Espiritismo.

Vejamos, agora, para terminar este cap�tulo,

o elemento eventual duma sess�o � a assist�ncia.
N�o aconselhamos numerosa assist�ncia (12)
em trabalhos pr�ticos, ainda mesmo que sejam todos
crentes, pois, de modo geral, isso prejudica os
trabalhos; pelo fato de n�o tomarem parte na
mesa, julgam-se desobrigados da prece e da concentra��o.
Durante a sess�o, seus olhares curiosos
vagam em todos os sentidos, e alguns passam todo

o tempo a cochichar com as pessoas que lhes ficam
pr�ximas. Trocam impress�es, arrastam cadeiras,
escarram, fumam, sem levar em conta que n�o
s� est�o ferindo os preceitos da Doutrina, mas tamb�m
os da boa educa��o.
Ao nosso ver, os incr�dulos e curiosos n�o
deveriam ter ingresso nos Grupos para assistir a

(12) Ver n� 332 de "O Livro dos M�diuns".

AUR�LIO A. VALENTE

sess�es, sen�o em casos excepcionais, em n�mero
limitado, e com a permiss�o dos guias espirituais.
Quase sempre, essas pessoas saem do recinto mais
descrentes do que antes de nele penetrarem. Ainda
que testemunhem os fen�menos mais atraentes, as
provas mais convincentes, passada a primeira impress�o
admirativa, quando refletem sobre o que
observaram, explicam os fatos a seu modo, afastando
a causa esp�rita, ou, ainda pior, julgam-se
v�timas dum logro � o presidente e os m�diuns
encenaram uma farsa para as convencer. Pobres
insensatos! Cheios de vaidade, julgam que a sublime
doutrina do Espiritismo muito ganha com a
convers�o deles, e, por isso, seus adeptos at� ao
embuste recorrem para atra�-los. A verdade nunca
recorreu � mentira. Quem desconhece um fen�meno
n�o lhe pode analisar a causa. Entre os curiosos
distinguimos duas categorias � a dos que
desejam sinceramente aprender e a dos ignorantes
e presun�osos.

Ao ser dada permiss�o a algumas pessoas para
assistirem a sess�es esp�ritas, cumpre o dever de
verificar que o n�mero de curiosos da segunda
categoria n�o prevale�a sobre os da primeira, a
fim de evitar poss�veis desgostos. � primeira vista,
parece dif�cil distingui-los, por�m, eles se denunciam
pela linguagem, gestos e semblantes.

H� pessoas endurecidas que, mesmo diante dos
mais surpreendentes fen�menos, n�o acreditam, e
exigem mais. Alfonso Bu�, em seu livro �Magnetismo
Curativo�, narrando a cura de um doente por
meio do magnetismo, cita as seguintes frases do
m�dico do Batalh�o ao qual pertencia o enfermo:

� �Como podeis pensar em curar com o vosso
magnetismo uma afec��o t�o terr�vel como a c�rie
�ssea, principalmente uma c�rie do rochedo? � um

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 65

mal implac�vel, que n�o perdoa! Roberto ser�, tarde
ou cedo, fulminado por uma meningite; nenhum
poder humano conseguir� tir�-lo da�. Ainda que

o apresent�sseis curado, eu vos diria que n�o era
exato.� (13)
Quando, na presen�a de incr�dulos, nenhum
fen�meno ocorra, eles alardeiam ent�o que o Espiritismo
� obra de embuste, pois diante deles nada
aconteceu. Essas pessoas est�o longe de imaginar

o rid�culo de que se cercam com a sua presun��o,
porquanto, se meditassem, atribuiriam o insucesso
a duas causas que o geram: primeiro, � insinceridade
e ao desinteresse dos experimentadores; segundo,
� independ�ncia das entidades do Al�m, que
n�o s�o escravas dos habitantes da Terra. Os Esp�ritos,
t�o livres quanto n�s, sentem por sua vez
repulsa pelos pretensiosos e inconscientes, e negam-
se a aparecer-lhes como escolares perante as bancas
examinadoras. Se fossem invertidos os pap�is,
gostariam os pretensos s�bios que os seus conhecimentos
fossem postos � prova?
Conhecemos um caso t�pico, que vamos relatar:
Em Bel�m do Par�, num grupo familiar, importante
fen�meno se vinha produzindo. Uma noite,
sem que isso despertasse aten��o, pois cada semana
era permitida a admiss�o de determinado n�mero
de curiosos � fracasso completo! 0 presidente, admirado,
sem saber a que atribuir o insucesso, quando
todas as probabilidades lhe pareciam favor�veis,
habilmente soube fazer que o m�dium e algumas
pessoas que lhe eram caras permanecessem at�
� retirada dos outros assistentes. Reuniu-os novamente
em sess�o e maravilharam-se com fen�menos

(13) Os grifos s�o nossos.
3


AUR�LIO A. VALENTE

admir�veis. O Esp�rito arg�ido sobre a causa da
falta de fen�menos, horas antes, respondeu n�o lhe
agradar em absoluto manifestar-se perante pessoas
antip�ticas, cheias de pensamentos impuros e
hostis.

Aos assistentes tamb�m se imp�e disciplina de
pensamentos e conduta. A compostura e o sil�ncio
devem ser exigidos de todos. Nas reuni�es de
qualquer natureza, todos os que nelas comparecem
procuram manter-se com a devida educa��o, evitando
tudo quanto os possa denunciar como insolentes
ou pac�vios; por que, pois, tomar atitude diversa
numa sess�o esp�rita, quando o simples fato
de pretender entrar em comunica��o com as almas
dos nossos mortos queridos deveria obrigar todos
� mais respeitosa das atitudes?

Todos os assistentes t�m obriga��o de acompanhar
as preces, concentra��es, e guardar o devido
sil�ncio. N�o devem interpelar os Esp�ritos,
a n�o ser com permiss�o do presidente, e, uma vez
iniciados os trabalhos, n�o devem levantar-se nem
mudar de lugares.

Algumas vezes, assistimos a manifesta��es tocantes,
de Esp�ritos sofredores, conhecidos nossos,
que confessam, como causa de seus tormentos, faltas
que eram desconhecidas enquanto aqui se encontravam.
Nestes casos e em muitos outros, �
natural que todos, por um dever de caridade, sejam
discretos. Comentar fora das sess�es as faltas
dos nossos irm�os desencarnados, sem um objetivo
elevado, desgosta-os e damos de n�s bem triste
atestado.


Cap�tulo IV

SESS�ES PR�TICAS. � M�TODOS DE TRABALHO.
� LEITURA. � CONCENTRA��O. �
PRECES. � COMUNICA��ES. � DISTRIBUI��O
DO TEMPO


Pessoas impedidas de assistir a sess�es

�Nenhum grupo, sem ser submetido a certa
disciplina, pode funcionar. Esta se imp�e n�o somente
aos experimentadores como tamb�m aos Esp�ritos.
O diretor do grupo deve ser um homem
de dupla enfibratura, assistido por um Esp�rito-
guia, que estabelecer� a ordem no meio oculto,
como ele pr�prio a manter� no meio terrestre e
humano. Essas duas dire��es devem mutuamente
completar-se, inspirar-se num pensamento igualmente
elevado, unir-se na execu��o de um objetivo
comum.� (14)

Abrimos este cap�tulo com a cita��o das palavras
de Leon Denis, que � para n�s, depois de
Allan Kardec, aquele que melhor soube compreender
e propagar as belas instru��es dos Esp�ritos.
Nas suas obras, n�o sabemos o que admirar mais,
se a beleza da express�o ou a profundeza dos ensinos.
Moldado nos seus conselhos e nas s�bias

(14) L�on Denis � "No Invis�vel", cap. X.

AUR�LIO A. VALENTE

advert�ncias de Allan Kardec, � que ser� escrito
este cap�tulo, como t�m sido todos os outros.

Tudo no Universo est� submetido a leis, desde
os majestosos e gigantescos astros que gravitam
no espa�o, at� os seres microsc�picos que nos rodeiam.
Delas ningu�m se pode eximir. Assim, se
quisermos obter nos grupos resultados produtivos,
imponhamo-nos a n�s mesmos uma lei, uma disciplina,
que nos coloque em condi��es de servir aos
Esp�ritos como os melhores instrumentos servem
aos bons artistas. Essa disciplina tanto � de ordem
moral como material, e a todos se imp�e.

Para comparecer a uma sess�o esp�rita devemos
preparar-nos, como previamente nos preparamos
para qualquer reuni�o profana. O preparo dos
que v�o assistir a ela, pela primeira vez, deve
come�ar com muitos dias de anteced�ncia, pela leitura
de obras instrutivas que lhes d�em no��es
elementares daquilo que v�o testemunhar. Jamais
aconselhamos a algu�m freq�entar sess�es para
adquirir cren�a ou conhecimento do Espiritismo.
Antes, sempre julgamos a leitura e a medita��o o
caminho mais acertado para satisfazer a curiosidades
sinceras ou n�o.

A finalidade da Doutrina Esp�rita � despertar
na Humanidade as for�as do bem, completar a obra
de Jesus, regenerando os homens, ligando o mundo
vis�vel ao invis�vel, preparar a Terra para o advento
da verdadeira era de fraternidade.

Aqueles que, por qualquer motivo, o Espiritismo
coloca em evid�ncia, logo se constituem alvo
predileto do Esp�rito das Trevas, muito especialmente
se as suas almas s�o como a terra f�rtil
da par�bola do semeador, ou possuem faculdades
medi�nicas bastante not�veis. Cumpre-lhes, pois,
orar e vigiar constantemente, para neutralizarem


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS

ou aniquilarem as influ�ncias do Esp�rito do mal.
Ele nos rodeia, procurando reavivar em nossa alma
paix�es e v�cios j� amortecidos no longo per�odo
de sucessivas encarna��es.

� de import�ncia capital que no decorrer das
horas e dos dias, que nos separam da pr�xima
sess�o, tenhamos o m�ximo cuidado em n�o ferir
as leis divinas por pensamentos, palavras e obras;
e, para haver m�rito maior, devemos prescindir do
insulamento.

Pratiquemos uma verdadeira higiene da alma,
educando o nosso pensamento, obrigando o nosso
esp�rito a n�o pensar no mal sen�o com o prop�sito
do bem. A paci�ncia, a resigna��o, a do�ura
e a benefic�ncia devem merecer a nossa preocupa��o
constante. Olhemos para todos como se fossem
nossos irm�os muito amados. Bem sabemos que
isso muito nos custa, porque as sedu��es do mundo
nos arrastam e as paix�es e os v�cios s�o como
as ra�zes das �rvores que, quanto mais velhas e
profundas, mais trabalho exigem para ser arrancadas.
Mas, apesar de tudo, fa�amos esfor�os, trabalhemos,
que a boa-vontade � aben�oada por Deus;
e se n�o conseguirmos extirpar do nosso �eu� todas
as imperfei��es, na reencarna��o vindoura
teremos a prova de que nenhum trabalho fica desperdi�ado.
A tarefa ser� ent�o menos pesada e
mais doces os frutos a colher.

Se a educa��o do pensamento for bem orientada,
a concentra��o ser-nos-� f�cil, nossa alma
sentir-se-� transportada para o Al�m, onde receber�
os efl�vios fraternos dos Esp�ritos-guias, que
sabem estimular os nossos desejos na pr�tica do
bem.

Nos dias de sess�o, ao abrirmos os olhos para
ver o dia, admirar a Natureza, lidar com os nossos


AUR�LIO A. VALENTE

irm�os, seja o nosso primeiro pensamento a prece
fervorosa, humilde, dirigida ao Pai Celeste e aos
nossos protetores invis�veis. Redobremos a vigil�ncia
contra as tenta��es, porque � justamente
nas �ltimas horas que precedem os trabalhos que
a ronda sinistra nos acompanha como uma sombra.
Um gesto pouco digno, uma palavra �spera, um
pensamento leviano, impuro, � para os Esp�ritos
imperfeitos como o espocar de uma bomba entre
n�s, desperta-lhes de imediato a aten��o. Eles acorrem
pressurosos e fazem-nos receber em jactos violentos
os seus fluidos impuros, induzindo-nos a excessos.
Se cairmos na armadilha, conduziremos para

o recinto da sess�o toda a nefasta influ�ncia que
chamamos para n�s.
Eis uma prova: certa vez, num grupo que freq�ent�vamos,
um casal compareceu de mau-humor,
sem deixar, contudo, que isso transparecesse. Durante
o percurso da sua resid�ncia � sede do grupo,
marido e mulher n�o deixaram de insultar-se por
motivos �ntimos. A sess�o foi perturbada por violentas
manifesta��es que muito fizeram sofrer os
m�diuns. Felizmente, o Esp�rito-guia, fazendo-se
ouvir no fim dos trabalhos, amenizou o mal-estar
que pairava no ambiente e dirigiu-se a todos sobre

o modo de nos prepararmos para comparecer �s
sess�es. A linguagem foi elevada e sem alus�es;
todavia, o casal sentiu-se ofendido e fixou o m�dium
com olhares furiosos e indiretas ferinas, denunciando-
se, assim, como o causador do que acontecera
.
Sem nos afastarmos das nossas obriga��es cotidianas,
fa�amos uma esp�cie de retiro espiritual.

Do preparo material tamb�m n�o estamos desobrigados.
O esp�rita n�o deve furtar-se � conviv�ncia
de todos os meios. Muitas vezes, ele � a


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 71

isso coagido, para levar, com o exemplo da sua
conduta, a semente do bem aos antros do v�cio. O
esp�rita poder� ver-se sujeito �s imposi��es da sociedade,
submetido mesmo �s frivolidades da moda,
como disse Allan Kardec ao tratar do homem do
mundo em �O Evangelho segundo o Espiritismo�.
O mal n�o estar� no uso e sim no abuso.

Relegar ao abandono os meios viciados, quando
j� temos for�as para resistir, � imitar certos
sacerdotes que fogem do mundo para, num conden�vel
ego�smo, cuidar s� da sua pr�pria �salva��o�.

O preparo material consiste na higiene do corpo,
em ser s�brio e temperante.

No recinto das sess�es, ficando todos pr�ximos
uns aos outros, ningu�m se sentir� bem, se de um
dos membros do grupo exalar o cheiro caracter�stico
das axilas mal cuidadas.

A refei��o, se feita em hora pr�xima da sess�o,
deve ser um tanto ligeira, composta de subst�ncias
bastante diger�veis. Com isso nos sentiremos �
vontade e os m�diuns n�o trabalhar�o com o est�mago
empachado, correndo o risco de abalar a
sa�de. Nessa refei��o, a abstin�ncia completa de
bebidas alco�licas � condi��o imperiosa. N�o precisamos
falar dos efeitos nocivos do �lcool. Todos
sabem quanto ele abala a sa�de do corpo e perverte
a alma.

Estes preceitos, infelizmente n�o levados em
conta pela maioria dos experimentadores, contribuem
para que todos estejam no recinto, sem
constrangimento moral ou f�sico. Respeitando-os e
considerando-os crescem as probabilidades de estabelecer-
se perfeita harmonia no conjunto, condi��o
imprescind�vel para os melhores resultados.


AUR�LIO A. VALENTE

O que acabamos de expor deve ser observado
por todos os experimentadores, qualquer que seja
a natureza do fen�meno a produzir-se na sess�o.

Como vimos no cap�tulo anterior, v�rias s�o
as denomina��es das sess�es esp�ritas, mas, como
as chamadas sess�es pr�ticas ou comuns s�o as que
em maior n�mero se realizam, � delas que nos vamos
ocupar com maior interesse.

As sess�es pr�ticas constam, em geral, do seguinte
:

a) leitura e explana��o de um trecho do Evangelho
ou de qualquer obra esp�rita;

b) manifesta��es psicogr�ficas;

c) manifesta��es de incorpora��o.

No dia da realiza��o da sess�o, pouco antes

do in�cio dos trabalhos, dever�o estar todos reunidos,
aguardando a hora determinada. Durante esse
lapso de tempo, toda conversa que provoque discuss�es,
ainda que seja sobre assuntos de Espiritismo,
deve ser evitada. Toda discuss�o provoca
exalta��o de �nimos, e, por maior que seja o dom�nio
que tenhamos sobre n�s mesmos, n�o estamos
livres de deixar escapar uma palavra injuriosa.
Pol�tica, guerra, revolu��es e todos os assuntos que
facilmente apaixonem, fazendo-nos tomar partido
por A ou B, devem ser terminantemente proibidos.
A conversa��o deve recair de prefer�ncia sobre
assuntos doutrin�rios, que contribuam para uma
alegria franca e sadia, que causem satisfa��o �ntima
a todos.

Cinco minutos antes da hora marcada, a porta
ser� fechada e o presidente designar� os lugares
que cada um deve ocupar � mesa, os quais preferivelmente
ser�o sempre os mesmos nas sess�es
seguintes. Se houver m�diuns videntes, os seus lugares
ser�o de prefer�ncia ao lado do presidente.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 73

Uma vez iniciada a sess�o, somente em casos
excepcionais se poder� abrir a porta antes de terminados
os trabalhos. Todos os freq�entadores de
grupos sabem o quanto isso � prejudicial.

Na designa��o de lugares � de toda conveni�ncia
n�o colocar lado a lado m�diuns de incorpora��o,
que recebam manifesta��es violentas. Acontecendo
haver algum lugar vago � mesa, n�o dever�
ser ocupado por pessoa que compare�a pela primeira
vez, ainda que seja m�dium desenvolvido, mas,
sim, por um dos assistentes escolhidos dentre os
mais ass�duos. Um elemento novo, sentando-se �
mesa, mesmo possu�do das melhores inten��es, provoca
certo embara�o no conjunto, por n�o estarem
ainda as suas vibra��es identificadas com o ambiente.
� prefer�vel ficar o lugar vago, a ser mal
preenchido.

Os esp�ritas submissos � disciplina preferem
voltar da porta, se a encontrarem fechada, a perturbarem
a sess�o come�ada.

Quando todos observam mais ou menos o que
estamos expondo, grande satisfa��o se apodera do
conjunto e logo a harmonia come�a a reinar no
ambiente, dando-nos a impress�o de estarmos �
mesa de festivo banquete. E a sess�o nada mais
� que um banquete espiritual, no qual ofertamos
aos nossos irm�os sofredores o doce p�o da caridade
e recebemos em troca, dos Esp�ritos esclarecidos,
o P�o da Vida, representado pelos ensinos
de Jesus, explicados em Esp�rito e Verdade.

Uma vez ocupando cada um o seu lugar, o
presidente dar� in�cio aos trabalhos, lendo ou narrando
trechos ou fatos esp�ritas, ou vers�culos dos
Evangelhos, seguindo-se imediatamente a explana��o
do assunto em foco, pelo pr�prio presidente ou
por qualquer outro membro do grupo.


AUR�LIO A. VALENTE

Assim se expressa Leon Denis:
�� excelente come�ar as sess�es com a leitura
s�ria e atraente de uma das obras ou revistas esp�ritas
escolhidas. Essa leitura deve ser objeto de
coment�rios e permuta de aprecia��es entre os
assistentes, sob a dire��o do presidente. Acontece,
com freq��ncia, que as manifesta��es dadas pelos
Esp�ritos, em seguida a tais leituras, se referem aos
assuntos discutidos, desenvolvendo-os e completando-
os. � esse um modo de ensino m�tuo, que nunca
seria demais recomendar.� (15)
A leitura, prendendo a aten��o de todos, favorece
a concentra��o e prepara-os para a prece.
Desnecess�rio ser� dizer que, iniciada a sess�o, a
ningu�m � permitido trocar de lugares, a n�o ser
excepcionalmente, com permiss�o do diretor dos
trabalhos.

O sil�ncio, o recolhimento e a atitude respeitosa
devem ser observados por todos. Sobre o assunto,
assim aconselhou o Esp�rito S�o Lu�s:

�O sil�ncio e o recolhimento s�o condi��es essenciais
para todas as manifesta��es s�rias. Nunca
alcan�areis isto daqueles que s� concorrem �s vossas
reuni�es por curiosidade; induzi os curiosos a
irem divertir-se em outra parte, porque a sua distra��o
seria motivo de perturba��o. N�o deveis
tolerar conversa��o, quando os Esp�ritos forem interrogados.
Tendes, �s vezes, comunica��es que requerem
r�plicas s�rias e respostas n�o menos s�rias
por parte dos Esp�ritos evocados e que, ficai
certos, se mostram descontentes com o murm�rio
continuado de certos assistentes; da�, ent�o, resultar
n�o aparecer nada completo nem verdadeira


(15) Leon Denis � "No Invis�vel", cap. X.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 75

mente s�rio; o m�dium que escreve, distrai-se tamb�m,
e as distra��es, neste caso, s�o nocivas ao seu
minist�rio.� (16)

�Orai, no come�o e no fim de cada sess�o; no
come�o, para elevardes vossas almas e atrairdes os
Esp�ritos esclarecidos e benevolentes; ao terminar,
para agradecerdes os benef�cios e ensinos que houverdes
recebido. Seja a vossa prece curta e fervorosa
um transporte de cora��o.� (17)

�Pela prece humilde, breve, fervorosa, a alma
se dilata e d� acesso �s irradia��es do divino foco.
A prece, para ser eficaz, n�o deve ser uma recita��o
banal, uma f�rmula decorada, mas, antes, uma
solicita��o do cora��o, um ato de vontade, que
atrai o fluido universal, as vibra��es do dinamismo
divino.� (18)

O Espiritismo � inimigo das f�rmulas. As preces
recitadas pelos Esp�ritos em verdadeiros transportes
de humildade e submiss�o ao Pai Celeste,
rapidamente decoradas pelos crentes, tornam-se banais
pela freq��ncia de sua recita��o, passam a
simples movimentos de l�bios; n�o elevam mais a
alma ao Criador.

Allan Kardec nos legou, em �O Evangelho segundo
o Espiritismo�, uma cole��o de lindas e expressivas
ora��es. A melhor das inten��es o levou
a isso. Todavia, os confrades que as decoram e
recitam, com o pensamento longe, assemelham-se
aos crentes de outras religi�es que recitam o �Pai
Nosso�, a prece de Jesus, com sentimentos contr�rios.
Disse o mestre, Allan Kardec, haver pessoas
que n�o sabem expressar-se por si mesmas. A essas

(16) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", 2� Parte,
cap. XXXI.
(17) Leon Denis � "No Invis�vel", cap. X.
(18) Leon Denis � "No Invis�vel", cap. V.

AUR�LIO A. VALENTE

aconselhamos continuar a recitar de prefer�ncia
as preces contidas em �O Evangelho segundo o Espiritismo
� . Elas s�o bastante elevadas, tanto para
despertar os bons sentimentos adormecidos em nossa
alma, quanto para consolar os Esp�ritos sofredores.
O mesmo n�o dizemos em rela��o a certas
preces atribu�das a supostos Esp�ritos-guias, pois
que denotam elas um amontoado bomb�stico de palavras,
cujo sentido se torna dif�cil de perceber.

A prece deve ser de prefer�ncia improvisada,
porque, assim, a preocupa��o do que estamos dizendo
mais depressa prende a nossa aten��o e favorece-
nos o desprendimento. Deve ser curta; n�o
� a quantidade de palavras que representa o verdadeiro
sentimento do homem. Se por vezes ouvimos
preces lindas, humildes, curtas e sinceras,
tamb�m ouvimos preces longas cujo n�mero de
palavras formaria uma montanha, mas montanha
est�ril. J� tivemos a tristeza de ouvir preces que
deixavam claramente perceber o intuito vaidoso de
se fazer notar.

Finda a prece, o sil�ncio continuar� a reinar
no ambiente e os experimentadores dever�o permanecer
concentrados.

A concentra��o consiste na uni�o dos pensamentos
de todos, num determinado assunto. Deve
ser feita de olhos fechados para impedir poss�veis
distra��es, especialmente dos que se encontram �
mesa. Para fazermos uma boa concentra��o, exercitemos
o pensamento em horas determinadas, educando-
o, disciplinando-o.

Nas horas de concentra��o, a pessoa dotada dos
melhores sentimentos acabrunhar-se-ia se algu�m
visse os absurdos e disparatados pensamentos que
lhe ocorrem contra a sua vontade. Parece um desafio
aos seus bons prop�sitos; isso representa, po



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 77

r�m, o reflexo de long�nquo passado, ou tenta��es
dos Esp�ritos impuros. Mas, deixemos � margem
a sua causa e continuemos exercitando-nos, com
a finalidade de dominarmos inteiramente o nosso
pensar.

Durante a leitura, explana��es e prece, � muito
freq�ente manifestarem-se os Esp�ritos, de forma
comum ou simb�lica, aos m�diuns videntes.
Ap�s a prece, estes dir�o ao presidente tudo quanto
viram, trocando-se impress�es sobre a interpreta��o
das vid�ncias. Em seguida, o presidente ordenar�
nova concentra��o para os m�diuns psic�grafos
(escreventes) receberem as mensagens dos
Esp�ritos. Nesse momento, cada m�dium tomar�
do l�pis e dirigir� uma prece �ntima e breve ao Pai
Celeste, solicitando o aux�lio de seu guia espiritual.

Ao verificar o presidente que todos acabaram
de escrever, autoriza proceder-se � leitura das comunica��es
recebidas. Cada m�dium ler� a sua,
dirigindo o presidente ao Esp�rito comunicante palavras
de conforto ou agradecimento, conforme a
natureza das mensagens. Se, dentre os ditados,
algum se destacar por qualquer motivo, o presidente
poder� prestar esclarecimentos aos seus irm�os.

Logo depois dar� in�cio � terceira parte �
incorpora��o �, atenuando a intensidade da luz
no ambiente ou apagando-a completamente, para

o
recinto receber ilumina��o indireta e fraca.
Todos quantos se atiram contra o Espiritismo
v�em na escurid�o uma das maiores armas de combate,
mas n�o se d�o ao trabalho de investigar as
causas que a imp�em como condi��o indispens�vel
para a boa produ��o dos fen�menos.
A luz, com a sua a��o dissolvente sobre os fluidos,
dificulta seriamente a combina��o das vibra��es
dos assistentes com as dos Esp�ritos.


AUR�LIO A. VALENTE

Camilo Flammarion, rebatendo os advers�rios
do Espiritismo, que se apegavam � obscuridade
como t�bua de salva��o, exp�s-lhes o seguinte:

�Aqui est� num frasco, em volume igual, uma
mistura de hidrog�nio e cloro. Se quereis que a
mistura se conserve, � preciso, seja embora ou n�o
do nosso agrado, que o frasco permane�a na obscuridade.
Tal � a lei. Enquanto ali ficar, ela se
conservar�. Se, entretanto, movido por uma fantasia
pueril, expuserdes essa mistura � a��o da luz,
uma violenta explos�o se far� subitamente ouvir:

o hidrog�nio e o cloro ter�o desaparecido e encontrareis
no frasco uma nova subst�ncia, o �cido clor�drico.
E com acerto concluireis: a obscuridade
respeita os dois corpos, a luz os aniquila.�
Poder-se-� objetar que v�rios fen�menos se
produzem � luz meridiana, e n�s concordaremos;
por�m, ainda n�o s�o conhecidas todas as leis que
regem as manifesta��es; logo, procedamos sempre
de acordo com o que a experi�ncia nos tem ensinado.


A curiosidade tamb�m � uma das causas que

levam os adeptos a preferir a n�o obscuridade. Ao

incorporar-se um m�dium, os presentes, por uma

natural vontade de ver, dirigem-lhe suas vistas,

prejudicando com isso a comunica��o, quer pela

influ�ncia magn�tica dos olhos, quer pela quebra

de concentra��o.

Certas pessoas se perturbam seriamente quan


do se tornam alvo de muitos olhares; deveremos

pensar o mesmo dos Esp�ritos, especialmente quan


do, cheios de faltas, comparecem humildes a soli


citar al�vio e amparo.

De duas maneiras diferentes trabalham os grupos
com os m�diuns de incorpora��o.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 79

Uns se concentram, de modo geral, evocando
os Esp�ritos, sem designar este ou aquele m�dium
para receber as comunica��es; outros procedem de
modo diverso: concentram-se, determinando o m�dium
que deve trabalhar.

Em todas as ocasi�es em que assumimos a
responsabilidade da dire��o de um grupo, optamos
pelo segundo modo. As raz�es s�o as seguintes:
quando concentramos de modo geral, freq�entemente
v�rios m�diuns s�o tomados pelos Esp�ritos,
desejando cada comunicante ter a primazia de
ser atendido. Deste modo, poder�amos presenciar
diversos Esp�ritos a falarem ao mesmo tempo. Se,
dentre eles, houver algum sofredor impaciente,
enquanto n�o chega a sua vez resmunga e geme,
perturbando quem fala. N�o raro acontece, se para
isso contribuem direta ou indiretamente os membros
da seara, que Esp�ritos perturbadores se apossem
dos m�diuns, promovam di�logos jocosos para
provocar hilaridade, ou simulem cenas de pugilato
para amedrontar os presentes. Mais de uma vez
fomos testemunhas de tais com�dias, que causam
p�ssima impress�o.

Outra obje��o n�o menos digna de aten��o,
nas sess�es em que trabalham todos os m�diuns
ao mesmo tempo, � a fadiga. Admitindo-se o caso
de o grupo ser bem orientado e usufruir ben�vola
assist�ncia do Invis�vel, ainda assim o cansa�o cedo
se apodera de todos, em conseq��ncia da concentra��o
cont�nua a que todos se obrigam, desde o
momento em que o primeiro se manifesta, at� que

o �ltimo se retire. Os m�diuns s�o os que mais
sentem os efeitos desse modo de trabalhar. Manifestando-
se simultaneamente muitos Esp�ritos e
concedendo-se dez ou quinze minutos para cada um
ser doutrinado, o terceiro comunicante somente de

AUR�LIO A. VALENTE

pois de trinta a quarenta e cinco minutos ser�
atendido. Quem conhece o Espiritismo, bem pode
avaliar os inconvenientes de um Esp�rito permanecer
tanto tempo incorporado. Al�m da natural
fadiga que provoca, se o Esp�rito tem maus sentimentos
e visa o m�dium com a sua persegui��o,
aproveita-se desses momentos para completar o dom�nio
sobre aquele que lhe empresta o corpo por
alguns momentos.

Tais coisas n�o acontecem nas sess�es em que
a permiss�o da incorpora��o � dada a cada m�dium
de per si. Efetivamente, assim procedendo,
� mais dif�cil haver perturba��es e cansa�o. O diretor
dos trabalhos proceder� do seguinte modo:
pede concentra��o, dizendo: � �Vamos concentrar
para o m�dium A. receber um Esp�rito.� A concentra��o
n�o deve ir al�m de alguns minutos para
cada m�dium. Se ele n�o receber influ�ncia alguma,
o presidente ordenar� levantar a concentra��o
para um pequeno repouso, durante o qual se podem
trocar ligeiras impress�es, ou orar. Em seguida,
designa outro m�dium, procedendo de igual
modo.

Uma �nica obje��o poder� ser apresentada
contra este modo de trabalhar � a sugest�o. Determinar
A. ou B., para receber um Esp�rito, �
suficiente para sugestion�-lo, induzindo-o � produ��o
do fen�meno, ainda que seja de animismo.

Com a experi�ncia de quinze anos de Espiritismo
pr�tico, poderemos dizer que essa obje��o
n�o prevalece.

Durante o tempo que freq�entamos as searas
Grupo dos �Filhos Pr�digos� e Grupo �Paz e Harmonia
� � in�meras vezes presenciamos concentra



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 81

��es para os m�diuns receberem comunica��es, sem
que inconvenientes se verificassem.

Ern certa ocasi�o, designou-se o m�dium F. para
receber um Esp�rito que carecia de doutrina��o.
Em vez dele, o m�dium F. transmitiu um conselho
do Guia espiritual, para que se designasse o m�dium
B., como o mais conveniente, no momento,
para a evoca��o feita. Seguindo a recomenda��o
dada, obtivemos excelente resultado. Na cita��o supra,
como apontar sugest�es?

As comunica��es simult�neas s� devem ser
permitidas em casos excepcionais.

Em Mossor�, Rio Grande do Norte, quando
nos iniciamos na presid�ncia de uma seara, manifestou-
se, certa vez, um Esp�rito de tal rebeldia que
apavorou alguns membros do Grupo. Como castigo,
uma escurid�o profunda cercava o infeliz. Era
completamente cego. As nossas exorta��es nada
produziam e a sua viol�ncia n�o era maior devido
ao perfeito dom�nio do m�dium sobre si mesmo.
Em dado momento, outro Esp�rito se manifestou

por outro m�dium, e logo nos pediu que deix�sse


mos o rebelde aos seus cuidados. Poucas vezes

temos assistido a t�o impressionantes manifesta


��es. O Guia tocou os pontos vulner�veis do Esp�


rito, falou-lhe com ternura maternal e autoridade

de pai amoroso. Suas palavras comoviam e conso


lavam, apontavam o erro e davam esperan�a de

perd�o. Em breve, a quase ferocidade do irm�o

sofredor se transformou numa aten��o respeitosa.

Sem nada mais dizer, ou fazer, notava-se no m�


dium um semblante contristador, regado por l�gri


mas de um pranto silencioso.

Nas sess�es seguintes j� n�o houve necessidade
da interven��o ostensiva do protetor. O


AUR�LIO A. VALENTE

Esp�rito mostrou-se mais calmo e resignado, n�o
tardando tocar-lhe o arrependimento.

S�o Paulo, em sua Primeira ep�stola aos Cor�ntios,
aconselhando a ordem, escreveu-lhes o seguinte
:

�E falem dois ou tr�s profetas e outros julguem,
por�m, se a outro que estiver assentado for
revelada alguma coisa, cale-se o primeiro; porque
todos podereis profetizar, uns depois dos outros,
para que todos aprendam e todos sejam consolados.
� (Cap. 14: 29/31.)

Considerando-se que o grupo j� esteja funcionando
normalmente, com m�diuns desenvolvidos, a
segunda parte dever� obedecer � seguinte ordem:
O presidente designar� o m�dium F., para receber
um Esp�rito. Verificando-se o fato, o presidente
falar� a este de conformidade com a sua eleva��o
moral, intelectual, e situa��o de bem ou mal-estar.
A seguir, proceder� da mesma maneira para com
os outros m�diuns.

Quantos m�diuns dever�o trabalhar pela incorpora��o
em cada sess�o? Dois ou tr�s, no m�ximo.

O m�todo de trabalho que recomendamos, al�m
de facultar aos m�diuns momentos de observa��es
m�tuas, enquanto s�o recebidos os Esp�ritos, serve
para completar-lhes a educa��o, resistindo �s influ�ncias
dos Esp�ritos, tornando-se cada vez mais
senhores de si mesmos.

H� dirigentes de grupos que gostam de fazer
trabalhar todos os m�diuns que comparecem � sess�o.
Este sistema tanto tem de absurdo quanto de
prejudicial.

Absurdo, porque mesmo desse modo n�o atendemos
a todos os Esp�ritos que acorrem ao grupo,
desejosos de se comunicarem. Prejudicial, porque


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS

assim se prolonga o curso da sess�o, deixando-se
de observar a disciplina do tempo.

Uma sess�o prolongada, al�m de cansar, enfastia;
e os Esp�ritos perturbadores, empenhados
em entravar o progresso do Espiritismo, sabem
aproveitar-se desses momentos.

Vimos, em alguns grupos, consentir o presidente
v�rios Esp�ritos se manifestarem ao mesmo
tempo, e, uma vez que sozinho n�o podia atend�-los,
recorria ao aux�lio de outro confrade, que doutrinava
tamb�m os Esp�ritos, estabelecendo-se dessa
maneira uma verdadeira confus�o.

Duas pessoas, falando alto, doutrinavam dois
Esp�ritos diferentes, e os membros da mesa dirigiam
a sua aten��o ora para um, ora para outro.
Ao terminar a sess�o, nenhum resultado pr�tico foi
conseguido.

Qualquer pessoa, que sensatamente analise este
sistema, concluir� que ele n�o � recomend�vel. Uma
sess�o pr�tica compara-se a uma escola. Enquanto

o mestre faz uma prele��o e argui um aluno chamado
ao quadro-negro, os outros, que desejarem
verdadeiramente aprender, prestam a m�xima aten��o,
e n�o raro aproveitam mais. H� alguns anos,
no decurso duma sess�o a que presid�amos, manifestou-
se um Esp�rito agradecendo comovidamente
os ensinos recebidos nesse grupo. Ao ser-lhe dito
que n�o t�nhamos dele a menor lembran�a, declarou
ser essa a primeira vez que se comunicava, mas que
a sua freq��ncia ao grupo datava de muito e que
tudo quanto tinha sido dirigido aos outros ele aproveitara
para si. Este fato n�o � �nico, j� tem sido
observado por muitos outros experimentadores.
O presidente deve ser o �nico a dirigir-se aos
Esp�ritos.


AUR�LIO A. VALENTE

Sempre que se apresentar a necessidade de
uma conversa entre um Esp�rito e um membro da
mesa, ou da assist�ncia, � necess�rio o consentimento
do presidente. Proceder de modo contr�rio,
contribui para algumas pessoas adquirirem o p�ssimo
h�bito de intrometer-se na doutrina��o.

Enquanto o presidente ou o Esp�rito fala, n�o
se deve interromper, salvo quando m�diuns videntes
observarem coisas que venham orientar o presidente
.

A ordem, a disciplina e o m�todo s�o os alicerces
da prolongada exist�ncia de um grupo.

Se � prejudicial o sistema de fazer todos os
m�diuns trabalharem numa mesma sess�o, como
classificar o de fazer um s� m�dium receber mais
de tr�s Esp�ritos na mesma reuni�o? Desumano.

O m�dium que se submete a essa pr�tica, exp�e-
se a um enfraquecimento f�sico, ao esgotamento
nervoso, e, se n�o tiver forte e ben�vola assist�ncia
espiritual, poder� ser v�tima de obsess�es.

� profundamente lament�vel que assim se proceda,
visto revelar n�o s� falta de conhecimento do
Espiritismo, como tamb�m aus�ncia de assist�ncia
e caridade com o m�dium.

Quanto tempo dever� durar o curso de uma
sess�o pr�tica?

Uma hora e meia, duas no m�ximo, assim distribu�do:
meia hora para a primeira e segunda
partes, e uma hora ou hora e meia para a terceira.

Os componentes de uma seara devem ser escravos
das horas.

De uma coisa importante nos vamos agora
ocupar. Haver� pessoas impedidas de trabalhar nas
sess�es ou de frenq�entar os grupos? Sim. As mulheres
em estado de gravidez e as crian�as. Aquelas,
embora sejam boas m�diuns, no per�odo da


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS

gesta��o devem abster-se de trabalhar, podendo
comparecer aos grupos apenas como assistentes.

As perturba��es f�sicas, que quase sempre
acompanham o per�odo da gesta��o, n�o lhes permitem
uma pr�tica devotada. Ser� para elas um
sacrif�cio prejudicial conservarem-se assentadas durante
longo tempo. Nessa �poca, a sua maior aten��o
deve estar voltada para o entezinho que vai
contribuir para santificar a sua condi��o de mulher.

Esse entezinho ser� dotado de um Esp�rito
como n�s, mais ou menos evolu�do. Trar� a sua
bagagem de imperfei��es e os tesouros morais e
intelectuais acumulados nas suas vidas passadas.
Ter�, como n�s, Esp�ritos simp�ticos e antip�ticos;
e a sua presen�a, nas sess�es, obrigada pela perman�ncia
daquela que lhe vai servir de m�e, poder�
contribuir para atra�-los, especialmente se ela
sentar-se � mesa. Se os bons vierem, sentir-se-�
feliz; por�m, se em vez deles se aproximarem os
maus, ser�o dois a sofrer as conseq��ncias. Estes
conselhos, que a pr�tica nos leva a dar, t�m as
suas exce��es, e estas ser�o f�ceis de verificar pelo
diretor dos trabalhos. No caso de se fazer sentir
a necessidade de uma assist�ncia �quela que vai
ser m�e, pode-se trabalhar perfeitamente sem a
sua presen�a.

As crian�as menores de catorze anos n�o devem
freq�entar sess�es, principalmente para trabalhar
como m�diuns.

Allan Kardec, com sua admir�vel preocupa��o
de tudo investigar, ocupou-se deste assunto em �O
Livro dos M�diuns�. Vejamos o di�logo estabelecido
entre ele e os seus instrutores:

� �H� inconvenientes em desenvolver a mediunidade
nas crian�as?

AUR�LIO A. VALENTE

� Sem d�vida, e sustento que � muito perigoso,
porque a sua organiza��o fraca e delicada
ficar� muito abalada, a sua tenra imagina��o seria
demasiadamente excitada; por isso os pais prudentes
devem afast�-las dessa id�ia, ou pelo menos n�o
lhes devem falar sen�o no que se refere �s suas
conseq��ncias morais.�
� �H� crian�as que s�o m�diuns naturalmente,
quer para efeitos f�sicos, quer para a escrita ou
para as vis�es; tem isso algum inconveniente?
� N�o, quando a faculdade � espont�nea na
crian�a, o que est� na pr�pria natureza, e a constitui��o
se presta; o mesmo n�o acontece quando �
provocada ou estimulada. Notai que a crian�a que
tem vis�es geralmente n�o se deixa impressionar,
isso lhe parece coisa muito natural, a que pouca
aten��o presta, e que freq�entemente esquece; mais
tarde, por�m, o fato lhe volta � mem�ria, e ela as
explicar� facilmente, se conhecer o Espiritismo.�
As crian�as s�o seres em forma��o. Delas n�o
devemos exigir trabalhos f�sicos que lhes prejudiquem
o desenvolvimento, tampouco deveres morais
que a sua inexperi�ncia impediria de cumprir.

A pr�tica do Espiritismo imp�e deveres que
nem todos os homens est�o em condi��es de bem
cumprir. Como, pois, obrigar as crian�as que ainda
n�o t�m o amadurecimento das id�ias?

S�o ainda de Allan Kardec estas judiciosas observa��es
:

� �A pr�tica do Espiritismo, como veremos
mais tarde, exige tato para prevenir as ast�cias
dos Esp�ritos enganadores; se os homens j� formados
s�o v�timas deles, a inf�ncia e a mocidade est�o
ainda mais expostos, por inexperi�ncia. Sabe-se,
al�m disso, que o recolhimento � condi��o indispens�vel
para se tratar com os Esp�ritos s�rios; as

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 87

evoca��es feitas levianamente, por simples gracejo,
s�o verdadeiras profana��es, que d�o f�cil acesso
aos Esp�ritos zombadores e mal�ficos; como n�o se
pode esperar de uma crian�a a gravidade necess�ria
a um ato dessa natureza, � de temer que o
considerasse um brinquedo, se o deixassem ao seu
alcance. Mesmo nas condi��es mais favor�veis, deve
exigir-se que a crian�a, dotada de faculdade medi�nica,
a n�o exer�a sen�o debaixo das vistas
de pessoas experimentadas, que lhes ensinem, pelo
exemplo, o respeito devido �s almas daqueles que
viveram na Terra.

De acordo com essas considera��es, v�-se que
a quest�o de idade est� subordinada �s conseq��ncias
do temperamento e do car�ter.� (19)

N�o devem tamb�m ter ingresso, para assistir
a sess�es pr�ticas, as pessoas que se encontram
obsidiadas, principalmente se o grupo estiver no
per�odo de forma��o. A preocupa��o de querer
fazer tudo, e depressa, tem sido a ru�na de muitos
grupos. A cura das pessoas perseguidas pelos Esp�ritos
inferiores deve ser feita em sess�es realizadas
exclusivamente para esse fim. � sempre dif�cil
conseguir concentra��es boas com o obsidiado presente,
porquanto ele, influenciado pelo perseguidor,
tudo far� para perturbar os trabalhos.

Conquanto muito do que temos exposto at�
aqui n�o seja, infelizmente, adotado na maioria dos
grupos, constrange-nos dizer que h� adeptos que
tomam nas sess�es precau��es pueris e at� rid�culas,
como despojarem-se de objetos de metal, tirarem
os sapatos, o casaco, colocarem velas sobre
a mesa, etc. Tudo isso, ainda que determinado por
�Esp�ritos-guias�, denota simplesmente ignor�ncia

(19) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", n� 222.

AUR�LIO A. VALENTE

da Doutrina Esp�rita. Tudo quanto a nossa raz�o
repele, n�o deve ser aceito. Para que um ensino
possa ser adotado como verdadeiro, � necess�rio,
diz-nos Allan Kardec, e o simples bom-senso confirma,
que ele seja dado em toda a parte, por muitos
Esp�ritos. Ora, o que acabamos de referir, n�o
lemos em livro algum de autor de reputa��o firmada
no meio esp�rita, como tamb�m n�o encontramos
na generalidade das recomenda��es dos Esp�ritos,
mas simplesmente em reduzido n�mero de
confrades que tudo aceitam sem examinar, pelo simples
fato de virem esses conselhos de Esp�ritos que
eles consideram superiores. Se aqui aludimos a
esses preparativos, usuais em algumas searas, �
apenas com intuito de despertar a aten��o dos adeptos
de boa-vontade, para se desfazerem de tudo
quanto possa macular a pureza e simplicidade da
pr�tica esp�rita. Simbolismos, f�rmulas, bem como
velas, fuma�as e rituais outros n�o se coadunam
com a Doutrina Esp�rita.

Observadas que sejam todas as indica��es a
que vimos de aludir, parece tudo indicar a obten��o
dos melhores resultados. Entretanto, assim n�o
acontece, porque, sem levar em conta que os Esp�ritos
t�m o seu livre-arb�trio e portanto s� se
comunicam quando lhes apraz, outras causas h�
que influem na produ��o do fen�meno. Entre elas,
poderemos citar as varia��es atmosf�ricas. Se chove
torrencialmente, a concentra��o n�o se faz com
regularidade. Algumas pessoas desviam, muito naturalmente,
o pensamento para suas casas distantes
ou para as condi��es do caminho a percorrer
na volta para o lar. Se troveja, as pessoas nervosas
sentem-se mal e, assim, como poderemos, em
dias tempestuosos, conseguir bons resultados? Uma
cidade, sob a apreens�o de revolu��es ou agita��es


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 89

pol�ticas, tamb�m influi de algum modo no resultado
bom ou mau de uma sess�o. Quanto mais
observamos, estudamos e meditamos, vemos que
mais nos falta aprender.

O estudo do Espiritismo assemelha-se � escalada
de grande montanha: � propor��o que subimos,
o horizonte se alarga, nosso olhar se estende
cada vez mais, descobrindo coisas novas e belas;
ao mesmo tempo que, se o orgulho, provocando-nos
vertigens no alto, n�o nos toldar o esp�rito, veremos
que o nosso �eu� se torna cada vez menor
na amplid�o. A�, humildes, de joelhos, conscientes
da nossa pequenez, sem palavras, entoamos ao
Senhor dos Mundos � o Grande Arquiteto do Universo
� um hino de amor que s� encontra seme


lhan�a no sorriso gr�cil que uma criancinha, estendendo
os bra�os, dirige a sua mam�e.
*

Todos os grupos devem trabalhar intensamente
pela propaganda do Espiritismo, e um dos melhores
meios � a sess�o doutrin�ria. Ela contribui,
poderosamente, para instruir os confrades que n�o
possuem recursos para estudar. As sess�es doutrin�rias
s�o as �nicas que podem realizar-se de
portas abertas, pois n�o requerem concentra��o
nem recolhimento profundos. � como se estiv�ssemos
a assistir a uma confer�ncia profana. Reunidos
os membros do grupo, um deles presidir� aos
trabalhos, iniciando-os, sempre, com uma prece.
A seguir, o presidente ler� ou far� ler um trecho
de �O Evangelho segundo o Espiritismo� ou de qualquer
outra obra, de prefer�ncia de Allan Kardec.
Finda a leitura, o presidente poder� conceder a
palavra a qualquer confrade que deseje interpretar
ou explanar o assunto lido, se n�o houver pes



90 AUR�LIO A. VALENTE

soa determinada para esse estudo. O presidente
deve ser um homem sensato, ponderado e sereno,
que, al�m de ter uma vida reta, possua s�lido conhecimento
da Doutrina. Cumpre-lhe sempre falar
em �ltimo lugar para, em caso de necessidade,
retificar o que de inconveniente houver nas perora��es
de algum pregador. E, se tal acontecer,
deve agir com a m�xima habilidade, evitando sempre
discuss�es, por trazerem elas, em regra geral,
resultados negativos.

Em alguns lugares temos presenciado sess�es
doutrin�rias, acompanhadas de uma ou mais comunica��es
de incorpora��o (psicof�nicas). Embora
essa maneira de proceder encontre ajuizados e valorosos
defensores, n�o recomendamos a incorpora��o,
nem assim trabalhamos. Ao nosso ver, essas
comunica��es, perante um p�blico numeroso, heterog�neo
por natureza, ainda que os m�diuns sejam
experimentados, oferecem sempre alguns inconvenientes
e perigos, que n�o se evidenciam de pronto
nas manifesta��es, mas quase sempre se demonstram
nas conseq��ncias das pr�dicas dos Esp�ritos.

A corrente de pensamentos duma assembl�ia
avultada, constitu�da de elementos de todas as categorias,
n�o pode deixar de causar males muito
s�rios aos m�diuns, e estes, quando se exibem publicamente,
est�o mais sujeitos que os outros a
se deixarem influenciar pela lisonja dos assistentes.

Nos primeiros tempos ainda havia certa justificativa
para as manifesta��es p�blicas; hoje, por�m,
elas n�o se recomendam mais. N�o produzem
mais ades�es e convic��o do que a leitura e a medita��o.
Os que querem fatos s�o incontent�veis;
quanto mais se lhes apresenta, mais exigem. S�o
como os fariseus que, quanto mais viam as obras
de Jesus, mais lhe pediam.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 91

As sess�es doutrin�rias devem, pois, ser s�
de explana��es da doutrina, e n�o intercaladas de
manifesta��es de incorpora��o.

Os Esp�ritos de certa eleva��o raramente se
manifestam e condi��es especiais concorrem para
isso, entre elas a harmonia perfeita do ambiente,

o recolhimento, o sil�ncio, a eleva��o de sentimentos,
coisas muito dif�ceis de conseguir em meios de
avultada freq��ncia; logo, n�o � nas sess�es p�blicas
que devemos esper�-los.
Todavia, conv�m considerar que falamos em
tese, pois h� casos em que as manifesta��es p�blicas
se imp�em; entretanto, � preciso notar, o que
temos tido de melhor em Espiritismo sempre vem
mais espontaneamente do que provocado.

NOTA A 3� EDI��O, EM 1951

No "Grupo Ismael", c�lula-m�ter da Federa��o
Esp�rita Brasileira, assim se processam as sess�es:

a) leitura de um capitulo do livro "Caminho
Verdade e Vida" ou Ido "P�o Nosso", sempre seguidamente,
lendo-se numa sess�o o cap�tulo seguinte
ao que foi lido na anterior;

b) prece proferida pelo presidente do grupo,
baseada, quase sempre, sen�o sempre, no trecho
lido;

c) recebimento e leitura de comunica��es psi


cogr�fioas obtidas na pr�pria reuni�o;

d) leitura, pelo presidente, de um trecho do
Evangelho (20), tamb�m seguidamente, como explicamos
na letra "a";

(20) O estudo do Evangelho � realizado, no "Grupo
Ismael", desde a sua funda��o, pela obra "Os Quatro
Evangelhos", de J. B. Roustaing, j� em 5� edi��o na FEB.
H� quase 100 anos, portanto. (Nota da Editora, em 1973.)

AUR�LIO A. VALENTE

e) disserta��o, por um dos presentes, sobre o
trecho lido. A pessoa designada pelo presidente
discorrer� sobre o ponto, podendo as demais, em
caso cie necessidade, pedir a palavra para esclareci


mentos ou para apresentar pondera��es;

f) diminu�da a luz na sua intensidade, h� um
pequeno intervalo de segundos,, de concentra��o silenciosa,
passando-se, ent�o, ao recebimento de comunica��es
psicof�nicas ;

g) aconselhados e doutrinados os Esp�ritos
perturbados, sempre com o maior respeito ao livre-
arb�trio deles, um dos guias do "Grupo" d� por
finalizados os trabalhos da reuni�o, quase sempre
descrevendo sucintamente o que foi conseguido e,
algumas vezes, apresentando orienta��es gerais sobre
o movimento do Espiritismo;

h) antes de encerrar a reuni�o, o presidente

profere a prece final, agradecendo e suplicando

b�n��os, m�xime para os Esp�ritos que foram dou


trinados;

i) encerrada a reuni�o, os m�diuns videntes,

se alguma coisa houverem presenciado, relatar�o

o que julgarem necess�rio. No correr da reuni�o
propriamente dita, os m�diuns videntes intervir�o,
quando solicitados pelo presidente.
� A Federa��o Esp�rita Brasileira realiza tamb�m
sess�es p�blieas, �s ter�as e sextas-feiras e aos
domingos, assim classificadas: Evang�licas, Doutrin�rias
e de Palestras.
As evang�licas, realizadas �s ter�as-feiras, obedecem
� seguinte orienta��o:
a) ex�rdio do presidente e prece por este proferida;
b) recebimento e leitura das mensagens psicografadas,
obtidas na pr�pria reuni�o;


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 93

e) leitura de um trecho do Evangelho (21), e
sua explana��o por um ou mais pregadores previamente
designados;

d) breves palavras do presidente e encerramento
da reuni�o ap�s uma prece pronunciada por
pessoa designada pelo presidente.

As doutrin�rias, realizadas �s sextas-feiras,
obedecem � mesma orienta��o, modific�ndose apenas
quanto � letra "c", pois que o trecho lido e
comentado � extra�do de "O Livro dos Esp�ritos".

As de palestra, realizadas aos domingos, s�o
mais ou menos semelhantes �s anteriores, pois que
h� apenas a substitui��o das letras "b" e "c" por
uma palestra pronunciada por confrade quase sempre
antecipadamente convidado.

As evang�licas e as doutrin�rias t�m a dura��o
de 90 minutos; as de palestra, 60 a 75 minutos.

Al�m dessas sess�es, realiza ainda a Federa��o
Esp�rita Brasileira, todos os domingos, reuni�es
especiais, destinadas �s crian�as, �s quais � ministrada
instru��o evang�lica segundo o programa
consubstanciado no op�sculo � Educa��o Crist� da
Inf�ncia.

(21) Na FEB, os estudos evang�licos se fazem atrav�s
da obra "Os Quatro Evangelhos", de J. B. Roustaing,
atualmente em 5� ed. (Nota da Editora, em 1973.)

Cap�tulo V

SESS�ES DE CURAS


Obsess�o. � Fascina��o. � Subjuga��o. �
M�diuns curadores. � Aplica��o de passes.


� Benzedeiras. � Mediunidade receitista
Depois das chamadas sess�es pr�ticas, outras
h� que devem merecer carinhosa aten��o de todos
os adeptos, n�o s� pela complexidade do estudo,
como tamb�m pelos seus elevados fins � s�o as
sess�es de curas.

Os cuidados que se exigem dos componentes
dos grupos que se dedicam a este g�nero de trabalho,
s�o mais extremados que os de quaisquer
outros.

Os Ap�stolos, convivendo com Jesus, tendo a
grande ventura de receber li��es dos seus pr�prios
l�bios, experimentando de perto a sua ben�fica influ�ncia,
viam-se, por vezes, impotentes para expulsar
os Esp�ritos imundos; como, pois, n�s, que
ainda vergamos ao peso das nossas imperfei��es,
poderemos ter ascend�ncia sobre os Esp�ritos imperfeitos?
O estudo, a medita��o e a experi�ncia
prodigalizaram-nos ensinamentos que vamos transmitir
aos nossos irm�os, repetindo, antes, as mesmas
palavras que encontramos em um excelente
livro de magnetismo: � �Se a tua vontade de regenerar-
te � segura, e firme o teu desejo de semear


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 95

o bem, aprende e pratica; entretanto, se qualquer
impulso menos digno a isso te induz, p�ra, n�o
continues, porque o mal se voltar� contra ti, com
todo o seu horror de dores e decep��es.�
Em primeiro lugar vamos tratar da cura de
obsidiados, que s� deve ser tentada em grupos bem
formados, organizados por elementos experimentados,
e em sess�es realizadas exclusivamente para
esse fim. Havendo necessidade de fazer qualquer
estudo referente aos trabalhos, poder-se-�o realizar
sess�es especiais, nelas n�o devendo comparecer os
obsidiados, tampouco, se deve evocar os obsessores.

Presidente conhecedor da Doutrina, compenetrado
da sua grande responsabilidade, m�diuns desenvolvidos
e experimentados, conscientes da sua
nobre miss�o, com dom�nio perfeito sobre si mesmos
e sobre os Esp�ritos, assist�ncia restrita e escolhida,
quando de todo n�o puder ser dispensada,
tais dever�o ser os realizadores das sess�es de curas
de obsidiados.

� imprescind�vel que reine a mais perfeita
harmonia entre todos os elementos do grupo, completada
por fraterna, esclarecida e poderosa assist�ncia
espiritual.

Devem-se acatar respeitosamente os conselhos
dos guias espirituais, sem contudo deixar de submet�-
los ao devido exame da raz�o, solicitando
esclarecimentos, sempre que qualquer ponto nos
parecer obscuro. Os bons Esp�ritos, empenhados em
nos auxiliar na pr�tica do bem, nunca se molestam
com esse modo de proceder, conhecedores que s�o
dos perigos a que nos achamos expostos. O contr�rio
d�-se com os Esp�ritos imperfeitos, os quais
procuram sempre impor a sua vontade, sem res



96 AUR�LIO A. VALENTE

peito ao nosso livre-arb�trio, zangando-se quando
n�o s�o obedecidos.

Nunca a responsabilidade do encargo de um
tratamento deve ser aceita, sem que todos estejam
de pleno acordo, e tenham- previamente ouvido a
palavra do diretor espiritual.

As primeiras tentativas devem ser feitas de
prefer�ncia sem a presen�a do obsidiado, bastando
apenas que seja sabido seu nome, idade e resid�ncia.
Um doente excitado, como costumam ser os
obsidiados, impede a coes�o dos pensamentos, pela
perturba��o que leva para o ambiente.

Os Esp�ritos obsessores, em sua maioria, s�o
inteligentes, t�m consci�ncia do seu estado, e, endurecidos
no mal, empregam todos os ardis para
ludibriar-nos, chegando mesmo a simular que est�o
regenerados, para melhor exercerem sua perigosa
influ�ncia sobre a v�tima da sua maldade. Quando
se v�em impedidos de continuar na persegui��o,
voltam-se contra os componentes dos grupos e,
direta ou indiretamente, f�sica ou moralmente, provocam-
lhes dolorosos sofrimentos. � justamente
por esta raz�o que um grupo em forma��o, composto
de m�diuns inexperientes ou fisicamente fracos,
n�o deve ocupar-se desses encargos.

Corroborando estas asser��es, fazemos nossas
as palavras dum grande batalhador:

�Certos grupos adotam como tarefa especial
evocar os Esp�ritos inferiores e, mediante conselhos
e exorta��es, instru�-los, moraliz�-los e ajud�-los a
se desembara�arem dos la�os que ainda os prendem
� mat�ria. � das mais merit�rias essa miss�o, mas
exige a perfeita uni�o das vontades, profunda experi�ncia
das coisas do invis�vel, qualidades que s�


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 97

se encontram nos meios de longa data dedicados
ao Espiritismo.� (22)

Os menores defeitos, as mais pequenas propens�es
para este ou aquele v�cio, s�o habilmente
estimulados pelos obsessores, que, desse modo, arrastam
os componentes do grupo, especialmente
os m�diuns, para os desvios da perdi��o.

Para impor-se-lhes, � sumamente necess�rio
tornarem-se escravos de elevada moral todos quantos
pretenderem assumir o aben�oado compromisso
de curar os obsessos.

� bastante perigoso tratar-se de muitos enfermos
ao mesmo tempo, porque aumentamos em
volta de n�s o n�mero de Esp�ritos inferiores, que
n�o querem ser contrariados em suas vontades.
Eles se unem logo contra n�s, na mesma inten��o
de prejudicar-nos. Assim, dois ou tr�s no m�ximo,
de cada vez, conforme o n�mero de m�diuns que
estiverem em condi��es de trabalhar. Entretanto,
para que os outros que baterem � nossa porta n�o
fiquem desamparados, seus nomes ser�o lembrados
na ocasi�o das preces. Nesses momentos, ora-se
pelos obsessores e pelos obsidiados, pois que ambos
s�o nossos irm�os e merecem todo o nosso
amor.

A prece em conjunto, emanada do cora��o, com
palavras que traduzam vibra��es de puros e elevados
sentimentos, constitui o preparo pr�vio para
recebermos os obsessores a serem doutrinados.

Quando nos dirigimos aos Esp�ritos obsessores,
nossa linguagem n�o deve deixar transparecer

o mais leve ind�cio de desafio. Tudo quanto possa
macular a humildade e a caridade, contribui para
diminuir nosso poder sobre os seres imperfeitos.
(22) L�on Denis � "No Invis�vel", cap. X.
4


AUR�LIO A. VALENTE

Convidai-os � prece, e, ainda que eles vos n�o queiram
acompanhar, orai. De princ�pio desdenham,
por�m, quando come�am a sentir-lhe os salutares
efeitos, deixam de rir, escutam-na com aten��o, e,
por fim, a pedem.

Por mais endurecido que seja o Esp�rito obsessor,
ter� sempre algu�m que lhe recorde momentos
de encantos amorosos. Um pai, uma m�e, um irm�o,
um filho, uma esposa, um amigo enfim, poder�
contribuir para lhe proporcionar momentos
de prazer.

Aprendei a aproveitar-vos dos sentimentos
amorosos que tamb�m existem nos Esp�ritos imperfeitos,
e cedo conseguireis vossos intentos.

Enternecei o obsessor com palavras de carinho
e bondade, e fareis brotar o arrependimento no
seu cora��o, com a rapidez com que os raios solares
fazem germinar a semente escondida no seio
da terra. Os maus tamb�m amam. Nos cora��es
mais enegrecidos pelo �dio, existe uma fagulha

aguardando o sopro da caridade para transformar-
se na chama do fogo sagrado do amor. Para que
assim n�o fosse, seria preciso que n�o fossem os
maus, tamb�m, filhos de Deus, fonte do Amor
Perfeito.

Mas, tende sempre o m�ximo cuidado, desconfiai
de toda convers�o imediata. N�o abandonamos
um v�cio, de um dia para outro; nem esquecemos
uma paix�o, da noite para o dia. Os Esp�ritos s�o
os mesmos homens, apenas sem o corpo f�sico.

� aconselh�vel que as sess�es de cura de obsidiados
sejam s� de incorpora��o, porque os di�logos
s�o mais r�pidos e lucrativos do que em
comunica��es escritas.

A disciplina do tempo deve ser observada com
rigor. N�o vades al�m de uma hora nesses traba



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 99

lhos, porque eles fatigam demasiadamente os m�diuns.
Se, porventura, aparecer nas sess�es de cura
de obsidiados, ou noutra qualquer, algum Esp�rito
que se queira manifestar, n�o devemos permitir a
manifesta��o. Os bons Esp�ritos submetem-se perfeitamente
� disciplina, respeitam o nosso livre-arb�trio
e s�o os primeiros no cumprimento do dever.
Assim, um Esp�rito que assalta um m�dium ou
vem fora de tempo, em noventa e oito vezes sobre
cem n�o tem boas inten��es. Podemos afirmar que
todas as vezes que procedemos de modo contr�rio,
isto �, consentindo na manifesta��o, nos grupos sob
a nossa dire��o, tivemos resultados desagrad�veis
a registrar.

Nas sess�es de cura, sempre que um m�dium
ficar debaixo de forte e prolongada influ�ncia dum
obsessor, � conveniente receber, por incorpora��o, o
seu guia espiritual, para desfaz�-la completamente.

Todo tratamento de obsess�o tem resultado
mais r�pido e eficaz, quando se doutrina ao mesmo
tempo o obsessor e o obsidiado, e se administram
passes neste �ltimo. Para isso, deve-se ter o cuidado
de incluir um m�dium de passes entre os componentes
do grupo.

Por maiores que sejam nossos desejos de aliviar
um irm�o das garras de um obsessor, s� deveremos
agir com extrema prud�ncia. Se o grupo
que freq�entamos n�o estiver em condi��es rigorosamente
capazes de enfrentar a luta, � prefer�vel
limitar a nossa a��o �s preces, que representam
valioso aux�lio. Do contr�rio, o grupo correr� o
risco de esfacelar-se, porque os Esp�ritos inferiores
se atiram com f�ria contra todos, provocando a
ciz�nia e at� doen�as f�sicas. � mais humano e
melhores resultados obteremos, deixando de trabalhar
hoje por um irm�o e atendendo a dois amanh�,


100 AUR�LIO A VALENTE

do que atendendo mal hoje e ficarmos impossibilitados
de atender melhor no dia seguinte.

Allan Kardec, tratando das persegui��es dos
Esp�ritos, classificou-as em tr�s categorias: obsess�o
simples, fascina��o e subjuga��o.

Obsess�o simples � a persegui��o cont�nua de
um Esp�rito, que imp�e sua vontade � de um m�dium.
Este, se tem consci�ncia do mal que sofre,
quer libertar-se da influ�ncia do seu perseguidor,
mas n�o encontra meios para isso.

Outras vezes, n�o se trata de m�dium desenvolvido.
A pessoa � inesperadamente tomada de
acessos de loucura e d� a todos a impress�o perfeita
de encontrar-se doente das faculdades mentais.
Este fato � mais comum nos meios alheios e
at� hostis ao Espiritismo, e demonstra, evidentemente,
que n�o s�o os adeptos da Nova Revela��o
que buscam os Esp�ritos, mas que s�o estes que
buscam os encarnados.

Toda obsess�o que n�o tiver sua origem nas
vidas passadas, � conseq��ncia do mau uso das
faculdades medi�nicas, ou resultado dos maus sentimentos
da v�tima. No primeiro caso, quando se
nos apresenta como expia��o, obedece ao seu curso
e raramente se pode curar, o que n�o impede, entretanto,
que oremos pelo perseguido e pelo perseguidor
ou perseguidores.

Sofrendo o m�dium a conseq��ncia dos seus
abusos, cumpre-lhe freq�entar um Centro bem orientado
e afastar de si a causa origin�ria da persegui��o.
Finalmente, quando a persegui��o � oriunda
da afinidade de sentimentos indignos entre perseguido
e perseguidor, a condi��o essencial da cura
� a imediata reabilita��o moral da v�tima.

Em �O Livro dos M�diuns�, Allan Kardec
narra o caso da persegui��o que um Esp�rito


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 101

movia a duas senhoras. Ao ser evocado, dirigiu-se
de um modo mais conselheiral que eivado de �dio,
por�m, bastante recriminativo. Sendo-lhe observado
que atenuasse a linguagem, a fim de serem as suas
palavras transmitidas �s v�timas, respondeu:

� �Digo o que devo dizer e como digo, porque
as pessoas de quem se trata t�m o costume de pensar
que n�o praticam o mal pela l�ngua, conquanto
o fa�am muito. Eis por que � preciso impression�-
las de modo a que tomem o conselho como uma
s�ria advert�ncia.�
Para lidarmos com Esp�ritos inferiores � necess�rio
tato especial, moral elevada e assist�ncia
espiritual bastante poderosa. Nem todas as pessoas
se apresentam com as qualidades requeridas
para isso. H� gente que, mesmo usando de linguagem
af�vel, tem um tom �spero no falar, o que
desagrada bastante. Tais pessoas, em nossa opini�o,
n�o devem presidir �s sess�es de que estamos
tratando.

A fascina��o � uma persegui��o mais perigosa,
porque o Esp�rito ilude ardilosamente o m�dium,
e a tal ponto que este n�o se julga v�tima de um
impostor ou perseguidor. O Esp�rito apresenta-se-
lhe sob v�rias formas, simulando entidades diversas,
e, quando o dom�nio se completa, submete a
v�tima a penosas e amargas decep��es, expondo-a
ao rid�culo. Outras vezes, o que � pior, quando
consegue atrair dois ou mais adeptos para apoiar

o m�dium, provoca habilmente a cis�o entre os
membros do grupo, que, desde esse dia, tem marcado
o per�odo da sua dissolu��o.
Conhecemos um m�dium, possuidor de faculdades
bastante not�veis. Era um encanto v�-lo receber
um Esp�rito de certa eleva��o: palavra f�cil


AUR�LIO A. VALENTE

e belas imagens comoviam e empolgavam a todos.
Um dia, respeit�vel entidade deu por seu interm�dio
uma comunica��o que alcan�ou o sublime
Desde ent�o o m�dium se tomou de vaidade, julgou-
se privilegiado no meio. N�o quis mais receber
Esp�ritos inferiores. O abandono dos bons Esp�ritos
foi imediato, e logo um Esp�rito culto, mas

endurecido no mal, aproveitou-se da sua fraqueza.
Fascinou-o e imp�s-se no grupo. Era obedecido sem
discuss�o. O pr�prio presidente, que pouco estudava,
foi dominado. Um dia, por�m, Deus se apiedou
deles e fez penetrar no grupo um confrade experimentado,
que arrancou a m�scara ao impostor.

Ao dar-se tal fato, todos vieram a sofrer amargamente
o fruto da inexperi�ncia, especialmente o
m�dium, que ficou alguns dias acamado.

A fascina��o ainda se exerce de um modo assaz
perigoso.

�H� Esp�ritos obsessores, sem maldade, que at�
encerram alguma coisa boa, mas possuem o orgulho
de falso saber, t�m id�ia e sistema pr�prios a
respeito de ci�ncias, de economia social, de moral,
de religi�o, de filosofia � querem que as suas opini�es
prevale�am e, por isso, procuram m�diuns
cr�dulos que as aceitam de olhos fechados, e os
fascinam com o fito de obstar a que distingam

o verdadeiro do falso. S�o esses os mais perigosos,
porque nada lhes custa o sofisma, de modo que
fazem acreditar nas mais rid�culas utopias; como
conhecem o prest�gio dos grandes nomes, n�o t�m
escr�pulo em ataviar-se com os daqueles ante os
quais todos se curvam, e n�o recuam mesmo diante
do sacril�gio de se darem por Jesus, pela Virgem
Maria ou por qualquer santo.� (23)
(23) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", 2� Parte,
cap. XXII.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 103

� deveras lament�vel que alguns m�diuns, de
valor pelo seu preparo intelectual, se tenham deixado
embair por falsos profetas, ao ponto de publicarem
obras rotuladas de Espiritismo, cheias de
absurdos e incoer�ncias. O simples bom-senso, a
l�gica e o estudo da Doutrina apontam-nas imediatamente;
entretanto, o m�dium e os seus apaixonados
acham que os seus contraditores � que s�o
os obsidiados. N�o queremos faltar com a caridade
para com alguns desses irm�os, inserindo aqui os
nomes dos livros que nos parecem puras mistifica��es,
por�m, os que se quiserem precatar, devem
simplesmente observar duas coisas: o nome pomposo
da obra, o estilo em que � escrita e os frutos
que ela produzir. N�o se vejam nestas palavras
alus�es a este ou �quele autor, todos nos merecem

o devido respeito e, como dissemos na introdu��o
deste livro, poderemos estar errados.
A subjuga��o � o dom�nio completo do Esp�rito
sobre o m�dium. Este fica com a vontade paralisada,
e ainda que deseje repelir a influ�ncia
do Esp�rito, sobre si, n�o o consegue. O m�dium
abdica inteiramente da sua vontade, ainda que o
n�o queira.

� de �O Livro dos M�diuns� o seguinte fato:
�Conhecemos um homem, nem mo�o nem bonito,
que, sob o imp�rio de uma obsess�o dessa natureza,
era constrangido por for�a irresist�vel a p�r-se de
joelhos diante de uma jovem por quem n�o tinha
inclina��o alguma, e pedi-la em casamento. Outras
vezes, sentia nos ombros e nas pernas uma press�o
en�rgica, que o obrigava, apesar de todos os esfor�os,
a p�r-se de joelhos e beijar o ch�o, nos
lugares p�blicos, � vista da multid�o. Esse homem
passava por louco, entre os seus conhecidos; mas
convencemo-nos de que o n�o era, porque ele ti



104 AUR�LIO A. VALENTE

nha plena consci�ncia do rid�culo que praticava contra
a sua vontade, e sofria horrivelmente com
isso.� (24)

Poder� parecer, � primeira vista, que certo
exagero existe da nossa parte, em rela��o �s recomenda��es
feitas para obtermos bons resultados
nas sess�es; por�m, os que conhecem de longa data
a complexa pr�tica de tratar com os invis�veis certamente
nos dar�o raz�o.

*

Uma das formas mais sublimes da manifesta��o
da Provid�ncia Divina �s suas criaturas �
t�-las dotado de uma faculdade medi�nica, cuja
finalidade primacial consiste na cura dos nossos
males f�sicos. V�rias s�o as maneiras por que ela
se nos apresenta: � passes, preces e receitas, que
v�o, desde os simples ch�s medicamentosos at� as
especializadas f�rmulas em ampolas. Muitas pessoas,
beneficiadas por essa aben�oada faculdade,
ignoram que a verdadeira causa da cura n�o est� na
recita��o de certas palavras sacramentais. Os bons
Esp�ritos, encarregados de velar pelo bem-estar da
Humanidade, sentem-se sempre atra�dos pelas preces
sinceras daqueles que querem fazer o bem ao
seu semelhante. Assim, tenham ou n�o eles consci�ncia
do amparo dos Esp�ritos, estes a� estar�o
para transmitir fluidos ben�ficos, que operam o
equil�brio das fun��es f�sicas e conseq�ente restabelecimento
do enfermo. Os m�diuns que exercem a
sua faculdade, na ignor�ncia completa de que s�o
dotados desse �dom�, s�o classificados, por Allan
Kardec, de m�diuns involunt�rios, ou naturais.

(24) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", cap�tulo
XXIII, n� 240.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 105

Em regra geral, os portadores desse tesouro
do C�u s�o esfor�ados e abnegados, tendo alguns
pago pesado tributo � persegui��o da ci�ncia oficial,
sob o falso pretexto de exerc�cio ilegal da Medicina.
No Brasil, merc� de Deus, n�o proliferou,
como noutros pa�ses, a casta dos m�diuns mercen�rios.
Havendo, pois, devotamento pelas necessidades
alheias e completo desinteresse pecuni�rio, �
desumanidade coagir e perseguir os m�diuns.

Abrimos um par�nteses, aqui, para render nossa
homenagem sincera e despretensiosa aos magistrados
do Pa�s que, do norte ao sul, t�m sabiamente
distribu�do justi�a, garantindo aos m�diuns
curadores o livre exerc�cio da sua faculdade benfeitora.


Quando, nos meios esp�ritas, aparece um charlat�o,
o que felizmente � raro, os adeptos da Nova
Revela��o s�o os primeiros a prevenir os incautos.
Todos os jornais e revistas, sob a dire��o de confrades
esclarecidos, n�o se fartam de dizer que
todos os m�diuns que se fazem pagar, sob qualquer
pretexto, n�o s�o verdadeiros esp�ritas.

S�o denominados m�diuns curadores todos aqueles
que se dedicam � nobil�ssima miss�o de curar
os enfermos. � natural, pois, que gozem de privilegiada
prote��o do Alto. Todavia, conv�m frisar,
s�o criaturas humanas como n�s, presas � carne,
sujeitas �s tenta��es mundanas, amea�adas pelo
orgulho, vaidade e presun��o. �, portanto, necess�rio,
para usufruir sempre a valiosa prote��o dos
Mensageiros do Bem, uma vida de ren�ncia. Devem
lembrar-se da par�bola dos talentos, proposta por
Jesus aos seus ouvintes, para n�o enterrarem a
riqueza de que se tornaram deposit�rios.

Se al�m da dedica��o � pr�tica do bem, esses
aben�oados trabalhadores da seara do Senhor es



106 AUR�LIO A. VALENTE

tudarem os meios de melhor servir � Causa, ent�o
abundante ser� a colheita.

Procurando humildemente auxiliar esses confrades,
dotados de t�o afortunados dons, vamos
expor o que aprendemos com os mestres e com a
experi�ncia pr�pria.

Iniciaremos pela cura, por meio de passes,
transcrevendo o di�logo de Allan Kardec com os
seus instrutores:

�1� � Podem considerar-se as pessoas dotadas
de for�a magn�tica como formando uma variedade
de m�diuns?

� N�o podes p�-lo em d�vida.
2� � Entretanto, o m�dium � um intermedi�rio
entre os Esp�ritos e o homem; ora, o magnetizador,
tirando de si mesmo a for�a, n�o parece ser
intermedi�rio de alguma for�a estranha.

� � um erro, o poder magn�tico reside, sem
d�vida, no homem; por�m, � aumentado pela a��o
dos Esp�ritos que ele chama para o auxiliar. Se
magnetizas com a inten��o de curar, por exemplo,
e evocas um bom Esp�rito que se interesse por ti
e pelo teu doente, ele te aumentar� a for�a e a
vontade, dirigir-te-� o fluido e lhe dar� as qualidades
necess�rias.
3� � Entretanto, h� muito bons magnetizadores
que n�o acreditam nos Esp�ritos.

� Pensas tu, ent�o, que os Esp�ritos s� atuam
nas pessoas que acreditam neles? Os que magnetizam,
com o fim de fazer o bem, s�o ajudados pelos
bons Esp�ritos. Todo homem que tem vontade de
fazer o bem, chama-os sem o saber; assim como
atrai os maus, desde que nutra o desejo de fazer
o mal e tenha m�s inten��es.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 107

4� � Aquele que, tendo esse poder, acreditasse
na interven��o dos Esp�ritos, atuaria mais eficazmente?


� Faria coisas que considerarias milagres.
� (25)
N�o � raro encontrarmos m�diuns que, na �nsia
de espalhar o bem, aplicam passes sem previamente
tomarem algumas explica��es. Os passes
n�o s�o todos iguais, nem os seus efeitos semelhantes.
H� passes longitudinais, rotativos e dispersivos.
A aplica��o deles requer algum conhecimento.
Os m�diuns de passes, que desejarem
aumentar os poderes de sua faculdade, dever�o estudar
a excelente obra �Magnetismo Curativo�,
de Afonso Bu�, e �Magnetismo Espiritual�, de Michaelus.


Os passes s�o aplicados com as pontas dos
dedos, ou com as m�os espalmadas na dire��o do
paciente, ou, diretamente, sob a parte enferma, a
pequena dist�ncia, ou tateando. Pessoas h� que
aplicam passes esfregando as m�os sobre os pacientes.
Isso deixa de ser passe ou imposi��o, "o que
� a mesma coisa, para ser fric��o. Neste caso, a
experi�ncia nos previne de que deveremos conhecer
de antem�o o car�ter das pessoas que assim
procedem, pois, infelizmente, pesa-nos dizer, tem
aparecido gente que se finge de esp�rita e que se
aproveita desses momentos sagrados para dar azo
aos seus instintos sexuais.

Para aplicarmos passes, deveremos colocar-nos
de p� ou assentados a pequena dist�ncia* do paciente,
que ficar� sentado, ou mesmo deitado, quando

o seu estado n�o lhe permitir outra posi��o.
(25) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", Parte 2�,
cap. XIV.

108 AUR�LIO A. VALENTE

�Finalmente, antes de procurar tratar de um
doente, cumpre fazer um exame em si pr�prio e
refletir maduramente, considerando o objeto que se
prop�e, que � curar, como verdadeiro sacerd�cio;
� necess�rio tomar a resolu��o de imprimir a todos
os seus atos o mais correto procedimento, as mais
puras inten��es, inteira discri��o, dedica��o absoluta,
e s� empreender o tratamento quando se est�
certo de lev�-lo a bom termo, nas condi��es exigidas.
� (26)

Ningu�m ousar� negar que a mediunidade �
um dom privilegiado de certas pessoas, n�o dependendo
em absoluto de n�s a sua aquisi��o, por�m,
entre o servir de instrumento puramente passivo
aos Esp�ritos, e desenvolver qualidades, dotar-se de
conhecimentos que lhes permitam encontrar em n�s
for�as capazes de aumentar a intensidade das suas
manifesta��es, devemos, sem d�vida alguma, preferir
o segundo caminho. Eis a raz�o por que n�o
nos fartamos de exortar os m�diuns ao estudo e
� medita��o.

*

Jesus, o meigo nazareno, disse que se tiv�ssemos
f� do tamanho dum gr�o de mostarda, dir�amos
a um monte: muda de lugar, e logo ele se
transportaria. Assim sendo, se pus�ssemos toda a
nossa f� nas palavras de uma prece oriunda do
imo dalma, de quanta coisa, que nos parece imposs�vel,
ser�amos capazes?

Mas, comumente, n�s n�o sabemos orar: ligamos
mais import�ncia �s palavras que proferimos
do que aos sentimentos que nos animam. Prende


(26) A. Bu� � "Magnetismo Curativo", p�g. 34.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 109

mo-nos a f�rmulas, a ora��es coordenadas e decoradas,
que, � for�a de serem repetidas, perdem
a sua virtude. Aprendamos a orar; a orar mais
com o pensamento do que com as palavras. Deixemos
nossa alma partir para o Infinito, em busca
do Pai Celeste, suplicando-lhe pelos nossos inimigos,
parentes, amigos e protetores, deste e do outro
mundo, e, em col�quio com o Pai, por interm�dio
de Jesus, pe�amos mais for�as para resistir �s tenta��es
do que meios de nos preservar delas. �
na luta que se revelam os fortes. � na luta que
se sagram os her�is. � na luta, enfim, com as tenta��es
do mundo, que se santificam os homens e as
mulheres. Os primeiros crist�os foram os maiores
lutadores do mundo. Lutaram contra a maldade
dos homens para constru�rem o edif�cio majestoso
do Cristianismo. Alguns sorriam com o sofrimento,
n�o derramavam l�grimas, pelo prazer de dar o
sangue para a argamassa que devia ligar as pedras
do templo.

A prece era o ref�gio sagrado. Sabiam orar.
As palavras recitadas, nos momentos do supl�cio,
tinham os encantos dos gorjeios dos passarinhos no
seio da mata, aos primeiros alvores da madrugada.

Todos os Esp�ritos nos falam de maneira assaz
encantadora a respeito da prece. Podemos citar
aqui algumas frases da comunica��o de Alves Mendes
ao m�dium Fernando Lacerda, insertas no segundo
volume da obra �Do Pa�s da Luz�:

�N�o se sabe bem o que � a prece, sen�o depois
de havermos abandonado a Terra.�

�Pela prece se conhece o estado de pureza da
alma. Ela, quando sincera e humilde, estabelece,
em volta de quem a faz, t�o luminosa e santa irra



110 AUR�LIO A. VALENTE

dia��o, que dificilmente algum Esp�rito inferior se
atreve a aproximar-se.�

�� coisa maravilhosa ver como, �s vezes, de
s�rdida criatura terrena se despede, em suav�ssimas
efluvia��es, a luz esplendorosa da prece, que
vai subindo em ondula��es vibrant�ssimas at� se
perder no espa�o infinito onde reside Deus.�

�Faz lembrar o carv�o negro do arco voltaico,
que, tocado pela corrente el�trica, desprende o clar�o
branco e intens�ssimo que se vai perder na
dist�ncia infinita, em et�reas vibra��es.�

�A prece, como a dor, � dos principais fatores
na evolu��o da alma. A dor corrige, desbasta,
amolda, modifica, seleciona, esmaga, humilha, enaltece,
martiriza, santifica; a prece depura, sutiliza,
espiritualiza, liberta, eleva.�

H� pessoas, por�m, que desdenham da prece,
julgam-na pr�pria de esp�ritos atrasados; essas,
como bem diz Leon Denis, nunca oraram ou n�o
souberam orar.

A prece tamb�m cura. N�o serve somente para
al�vio dos sofrimentos da alma, assim nos dizem os
Esp�ritos esclarecidos.

No seio das classes humildes, destacam-se as
conhecidas �benzedeiras�. Mulheres ignorantes, na
maior parte das vezes fazendo uma esp�cie de mist�rio
em torno das suas rezas, s�o chamadas a muitos
lares para �benzer� crian�as, tirar �mau-olhado
� ou �matar� erisipelas. Pessoas pouco reverentes
n�o as t�m poupado com chacotas e com o
rid�culo; entretanto, os homens esclarecidos encontram
a� um vasto campo de observa��es.

O �quebranto� e o �mau-olhado� s�o choques
de fluidos que se n�o identificam nem se harmonizam.
Se entre os adultos h� pessoas que se sentem
mal ante o olhar de outras, � natural que as


SESS�ES PR�TICAS F DOUTRINARIAS 111

crian�as sofram muito mais os efeitos de um olhar
de poderosa influ�ncia magn�tica, consciente ou n�o.

Na sua quase totalidade, os causadores desses
inc�modos �s crian�as ignoram por completo o mal
que produzem.

As �benzedeiras�, quando chamadas, operam
do seguinte modo: para curar o �quebranto� ou
�mau-olhado�, tomam um raminho verde, de prefer�ncia
de arruda, e com ele batem levemente na
crian�a, fazendo movimentos em cruz; para �matar
� erisipela, empunham uma faca e com esta
cortam no ar, em forma de cruz, um pouco acima
da parte doente. Enquanto gesticulam, seus l�bios
n�o deixam de murmurar preces, a que d�o subido
valor. V�rias vezes tivemos oportunidade de observar
de perto os ben�ficos efeitos da interven��o
dessas incultas e boas mulheres. Elas s�o m�diuns
involunt�rias ou naturais, e os seus gestos correspondem
perfeitamente � aplica��o de passes ou imposi��es
das m�os. As preces s�o poderosos meios
de evoca��o aos Esp�ritos bons que as assistem.

� �Podem obter-se curas por meio de preces?
� Sim, se Deus o permite, mas pode suceder
que o bem do doente seja ainda sofrer, e, ent�o,
acreditais que a vossa prece n�o foi ouvida.�
� �H�, para isso, quaisquer f�rmulas mais eficazes
que outras?
� S� a supersti��o pode atribuir uma virtude
a certas palavras, e s� Esp�ritos ignorantes ou mentirosos
podem alimentar semelhantes id�ias, prescrevendo
f�rmulas. Entretanto, pode acontecer que,
para aqueles que s�o pouco esclarecidos e incapazes
de compreender coisas puramente espirituais,
o emprego de uma f�rmula contribua para lhes dar
confian�a. Em tal caso n�o � a f�rmula que �

112 AUR�LIO A. VALENTE

eficaz, mas a f�, que aumentou com a id�ia atribu�da
ao emprego da f�rmula.� (27)

Nos sert�es do nosso Pa�s, h� pessoas dotadas
de dons especiais, cuja for�a atribuem exclusivamente
�s suas rezas, as quais, ao seu ver, curam
at� animais, mesmo distantes. Chama-se a isso cura
pelo rumo ou pelo rastro. At� este momento, ainda
n�o tivemos oportunidade de observar essas curas,
e aqui as mencionamos pela confian�a e respeito
que nos merecem as pessoas que no-las relataram.

N�o � coisa para duvidar, pois h� magnetizadores
que exercem influ�ncia a dist�ncias bastante
consider�veis.

Os animais, como as plantas, tamb�m s�o sens�veis
� a��o magn�tica do homem; as experi�ncias
de pessoas como A. Bu�, Lafontaine e outros tornaram
evidentes essas provas, conforme se pode
ler na obra �Magnetismo Espiritual�.

*

Numerosos s�o em nosso Pa�s os m�diuns receitistas.


Em toda a parte eles exercem a sua atividade,
prescrevendo, sob a influ�ncia de m�dicos do
Espa�o, tisanas, homeopatia, preparados ou f�rmulas
alopatas.

Alguns desses trabalhadores da seara de Jesus
estendem o desempenho de sua aben�oada miss�o
a dist�ncias consider�veis. Para isso, � necess�rio
um Esp�rito-guia, suficientemente esclarecido, e um
devotamente sincero, desprendido, uma vida reta.

N�s, francamente, n�o temos confian�a nos
bons resultados de certas receitas dadas a longa

(27) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", 2� Parte,
cap. XIV.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 113

dist�ncia, embora reconhe�amos que isso nada representa
para os Esp�ritos. Nossa d�vida � oriunda
de termos tido oportunidade de observar que
exploradores da credulidade p�blica lan�am m�o,
constantemente, desse processo de receitu�rio, atrav�s
de caixas postais, em an�ncios pelos jornais.

Tempo houve, e n�o vai longe, que incr�dulos
dirigiram, a tais �m�diuns�, pedidos de receitas
para pessoas imagin�rias, ou j� falecidas, e imediatamente
receberam resposta com indica��es, como
se realmente se tratasse de pessoas necessitadas.

Isso produziu esc�ndalo e muito alarde fizeram
aqueles que pretendem entravar a marcha inflex�vel
do Espiritismo.

Alguns desses exploradores t�m sido presos e
condenados. Um deles mantinha cinco caixas postais
e era fabricante dos rem�dios que receitava.

Exploravam o p�blico, aproveitavam-se do bom
nome e conceito do Espiritismo e, fingindo-se esp�ritas,
vendiam os seus rem�dios. O fato, ali�s,
se d� em todos os meios sociais. At� senhoras t�m
sido presas, vestidas de freiras e colhendo esp�rtulas
de casa em casa.

Entretanto, os Centros bem orientados, com m�diuns
dedicados e merecedores das gra�as de Deus,
sa�ram-se bem dessas provas, como, por exemplo,
no seguinte fato ocorrido em S�o Lu�s (Maranh�o),
fato do conhecimento de numerosas pessoas ali residentes
.

O Sr. V.V. , juiz federal naquela cidade, depois
de contraditar o Espiritismo, resolveu provar
a alguns amigos a inefic�cia das receitas esp�ritas.
Dirigiu-se a uma sociedade esp�rita da Capital Federal,
cujo nome n�o nos souberam informar, solicitando
receita para um forte e robusto menino,


114 AUR�LIO A. VALENTE

que morava com ele. A resposta n�o se fez esperar,
com estas simples e expressivas palavras: �
�Com coisas s�rias, n�o se brinca.�

Admirado do resultado, mas n�o convencido,
mostrou a resposta aos amigos e resolveu fazer
novo pedido. Mais uma vez uma advert�ncia como
resposta: � �Com coisas s�rias, mas, muito s�rias,
n�o se brinca.�

Diante da segunda resposta, o Sr. V.V . considerou
o Espiritismo como coisa digna de aten��o,
tanto assim que, tempos depois, recorreu �s receitas
esp�ritas com bons resultados.

Outro fato, tamb�m digno de men��o, foi-nos
relatado, ainda em S. Lu�s (Maranh�o), por pessoa
que nos merece toda a considera��o.

M.S., bastante relacionada no meio, desejou
pedir uma receita para uma amiga que se encontrava
em estado grave. Uma dificuldade, por�m, se
apresentou. Toda a fam�lia da enferma era cheia
de preconceitos religiosos. N�o querendo melindrar
a fam�lia, mas ansiosa por prestar um aux�lio, dirigiu-
se a um Centro Esp�rita, tamb�m da Capital
Federal, solicitando uma receita. Sendo, por�m,
desconhecedora da Doutrina Esp�rita, e, como dissemos,
n�o querendo causar dissabores, deu o endere�o
da sua pr�pria casa, com o nome e a idade
da enferma. Decorrido o tempo necess�rio, chegou
a resposta: �Na casa mencionada n�o encontramos
ningu�m com o nome indicado.�

Os Esp�ritos n�o interv�m somente por meio
de receitas. O Dr. Mata Bacelar, de saudosa mem�ria
nos meios espiritualistas de Bel�m (Par�),
teve ocasi�o de observar uma opera��o feita por
um m�dico do Espa�o, por interm�dio da Sra. Ana
Prado. Este fato, bastante interessante, � narrado


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 115

com todas as suas min�cias no livro �Renascen�a
d'Alma�, de Nogueira de Faria.

E fatos, como este, contam-se aos milhares.

Os m�diuns de passes e receitistas dever�o ter
dias e horas determinados para trabalhar e local
exclusivo para esse fim. J� vimos, no cap�tulo III,
os cuidados de que nos devemos cercar para trabalhar
com mais proveito. � de toda conveni�ncia
que o m�dium tenha o gabinete separado da sala
de espera ou, nessa impossibilidade, seja protegido
por um biombo. Os olhares dos curiosos, sobre o
m�dium e o consulente, perturbam a boa manifesta��o
dos Esp�ritos.

Entretanto, n�o fica inibido o m�dium de atender
em casos de urg�ncia aos aflitos, que a ele
recorram fora dos dias designados, ou longe do
ambiente apropriado ao desempenho da sua miss�o.
Em tudo � preciso tomar em considera��o as
circunst�ncias do momento.

Os olhares curiosos, capazes de originar pensamentos
levianos, perturbam o m�dium, impedindo,
assim, que o necessitado receba em sua plenitude
aquilo de que carece. Todos temos um justo recato
em ver expostas, perante estranhos, as nossas mis�rias
f�sicas ou morais. Estas considera��es demonstram
cabalmente que o m�dium curador deve
trabalhar afastado das vistas indiscretas.

Em geral, os m�diuns curadores s�o intuitivos,
e raramente inconscientes; assim, sem conhecerem
bem onde termina o que � seu, e onde come�a o
que � dos Esp�ritos, os m�diuns devem cuidar com
desvelos do estudo da Doutrina, e da sua pr�pria
reforma moral. � imprescind�vel, sobretudo, aprenderem
a conhecer e julgar os homens, tratarem com
carinho todos quantos lhes baterem �s portas. Serenidade
de atitudes, semblante risonho e franco,


116 AUR�LIO A. VALENTE

palavras sinceras e af�veis, tais dever�o ser os
caracter�sticos dos m�diuns curadores.

Os doentes, sejam da alma ou do corpo, carecem
de palavras de encorajamento, conforto e est�mulo,
para despertar-lhes a f� amortecida e reanimar-
lhes o f�sico combalido.

O m�dium curador dever� ter em vista o estado
de nervosismo daqueles que o forem consultar, n�o
usando de franqueza rude e anticaridosa, porque
de suas palavras poder� resultar algumas vezes
maior mal do que o bem desejado. Imagine-se da
situa��o angustiosa de um doente ao qual o m�dium
falou da impossibilidade da sua cura. Suponha-
se uma pessoa atacada de fobia de persegui��o,
que ouvisse da boca do m�dium esta tenebrosa afirmativa:
�sete ou setenta Esp�ritos procuram perder-
vos� . O pobre doente sairia, dali, sentindo junto
de si Esp�ritos de todas as categorias.

Infelizmente, tivemos oportunidade de encontrar
m�diuns receitistas ou de passes, de trato
�spero, como soem ser os m�dicos de nomeada, envaidecidos
pela numerosa clientela.

Numerosos t�m sido os m�diuns curadores procurados
por n�s, bem poucos, por�m, t�m sido os
que nos agradaram. O menor vest�gio de presun��o,
de vaidade, de orgulho, � suficiente para fazer
desaparecer nossa confian�a, por maior e merit�rio
que tenha sido o reclamo feito em torno do
m�dium.

Se um m�dium se desvia pelos atalhos perigosos
da presun��o, julgando-se um predestinado,
cedo ter� a sua �recompensa�.

Gra�as ao Bom Deus, o n�mero desses desviados
� bem inferior ao dos abnegados ap�stolos da
caridade. Conhecemos m�diuns que, desde as pri



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 117

meiras horas dos dias destinados ao seu minist�rio,
at� as �ltimas da noite, n�o se poupam de esfor�os
em benef�cio do pr�ximo. A esses n�o faltam o
amparo dos bons Esp�ritos nem o olhar terno e
carinhoso de Jesus.


Cap�tulo VI

SESS�ES DE EFEITOS F�SICOS

Tiptologia. � Levita��o. � Voz direta. �
Escrita direta. � Materializa��es

Em virtude da morosidade com que se obt�m
comunica��es tiptol�gicas, raramente encontramos
n�cleos preocupados com a realiza��o de sess�es
dessa natureza.

Efetivamente, se com um m�dium psic�grafo
ou de incorpora��o os Esp�ritos se manifestam com
mais facilidade e desembara�o, por que continuar a
usar dos mesmos processos dos primeiros tempos?
O Espiritismo, acompanhando o progresso, modifica-
se com o tempo e a experi�ncia, na sua parte
pr�tica, porquanto a moral � a mesma desde o
princ�pio.

Para se obterem comunica��es tiptol�gicas,
re�nem-se os adeptos em volta de uma mesa pequena,
de tr�s pernas, e sobre ela apoiam com naturalidade
as m�os espalmadas, ou simplesmente as
pontas dos dedos.

Feita a prece inicial, evoca-se diretamente o
Esp�rito com o qual desejamos falar, ou pede-se
a manifesta��o de qualquer um, mais ou menos
da seguinte maneira: �Se h� algum bondoso Esp�rito
presente, pedimos que se comunique conosco,
em nome de Deus.�


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 119

A presen�a de qualquer Esp�rito se faz logo
sentir por sinais inequ�vocos, como estalidos secos,
caracter�sticos, inimit�veis, semelhantes aos sons
produzidos pelo bater com a ponta da unha sobre
a madeira. Outras vezes, sem se ouvirem esses ru�dos,
a mesa come�a logo a inclinar-se ligeiramente,
levantando um dos p�s, caindo bruscamente � posi��o
primitiva, batendo no ch�o.

Para estabelecer a conversa��o, convenciona-se
a linguagem por meio de sinais, do modo seguinte:
uma pancada para dizer sim, duas para significar
n�o, correspondendo as letras do alfabeto ao
n�mero de ordem das mesmas, assim: a 1, b 2,
c 3, etc.

Sobre a influ�ncia de um Esp�rito, a mesa lembra
uma pequena m�quina acionada pela eletricidade,
a mover-se como se estivesse possu�da de vida
pr�pria.

Para a realiza��o de sess�es de tiptologia, levita��o,
voz direta e outras de efeitos f�sicos, n�o
se observam os mesmos preceitos exigidos para as
sess�es pr�ticas, por serem outros os m�todos de
trabalho; todavia, a escolha do local e a sele��o
das pessoas que devem compor o grupo n�o devem
ser relegadas a plano inferior, tampouco nos devemos
descurar da higiene da alma.

Alguns adeptos, preocupados em dar uma fei��o
puramente cient�fica a essas sess�es, t�m chegado
ao ponto de desprezarem a prece. � verdade
que o reputado publicista esp�rita Gabriel Delanne
disse, a este respeito, o seguinte: � �Sem d�vida,
n�o h� necessidade de preces, porque evocamos se



120 AURELIO A. VALENTE

res como n�s, que s� pela sua invisibilidade diferem
dos homens...� (28)

Respeitando essa valiosa opini�o, discordamos
dela porque a prece, ainda que seja de meia d�zia
de palavras, empresta ao ato grave solenidade e
profundo respeito.

Allan Kardec e Leon Denis dedicaram, em suas
obras, p�ginas inteiras � prece, real�ando-lhe o valioso
poder; e sempre encontramos a mesma opini�o
por parte dos Esp�ritos.

Ela exalta a nossa f�, enche-nos a alma de
esperan�a e predisp�e-nos o cora��o para os atos
aben�oados da caridade.

A fim de obtermos qualquer resultado satisfat�rio
nessas sess�es, � imprescind�vel que os membros
do grupo tenham paci�ncia e perseveran�a em
elevado grau. Sem isso, nada conseguiremos de
aproveit�vel. Todas as descri��es que t�m sido
publicadas deixam bastante claro as numerosas tentativas
infrut�feras para obter-se um resultado bom,
ou, quando muito, sofr�vel.

Muitas vezes o desenvolvimento dum m�dium
dura anos, e o Esp�rito, para alcan�ar a plenitude
da produ��o do fen�meno, tem que vencer dificuldades
v�rias, e uma delas �, sem d�vida, estabelecer
uma confian�a m�tua sob todos os pontos de vista.

Foi somente depois de tr�s anos de sess�es
cont�nuas que William Crookes captou a inteira
confian�a do Esp�rito de Katie King, que se manifestou
gra�as � mediunidade de Florence Cook.
Outros experimentadores, que se dedicaram ao estudo
do fen�meno de materializa��es, n�o obtiveram

(28) Gabriel Delanne � "O Fen�meno Esp�rita", Parte
Terceira.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 121

bons resultados sen�o ap�s conquistarem a confian�a
dos Esp�ritos.

Os m�diuns chamados de efeitos f�sicos, quando
suficientemente desenvolvidos, e bem orientados,
poder�o servir para qualquer fen�meno dos considerados
nesta categoria.

Freq�entemente s�o esses m�diuns sujeitos �
rigorosa inspe��o, antes da realiza��o dos fen�menos,
a fim de os experimentadores se certificarem
de que eles � m�diuns � n�o conduzem consigo
coisa alguma para simula��es. Home, c�lebre m�dium
ingl�s, escrupulosamente a exigia; Eglington,
outro m�dium de reputa��o mundial, assim procedia,
como Eus�pia Paladino e outros.

�162 � A raz�o se revolta com a id�ia das
torturas morais e corporais a que a Ci�ncia sujeita
�s vezes entes fracos e delicados, com o fim de
verificar se h� ou n�o artif�cio da parte deles; estas
�experimenta��es�, as mais das vezes feitas com
mau intento, s�o sempre nocivas �s organiza��es
sens�veis, pois podem produzir grave desordem na
economia: � arriscar a vida. O observador de boa-
f� n�o necessita empregar tais meios; aquele que
est� familiarizado com esta esp�cie de fen�meno
sabe, al�m disso, que eles pertencem mais � ordem
moral que � ordem f�sica, e que debalde se buscaria
a solu��o deles nas nossas ci�ncias exatas.� (29)

Se o m�dium, pela sua honestidade, merece a
nossa confian�a, n�o � vexat�rio sujeit�-lo a inspe��es?
Uma vez melindrado, mesmo sem o deixar
transparecer, n�o poder� o m�dium cooperar para
um bom resultado.

Submeter a produ��o do fen�meno a determinadas
exig�ncias n�o � aconselh�vel, principalmente

(29) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", 2� Parte,
cap. XIV.

122 AUR�LIO A. VALENTE

por quem n�o tem o tino do bom observador. Quem
produz o fen�meno � uma entidade livre como n�s,
n�o se sujeitando, portanto, aos nossos caprichos
e vontades; al�m disso, todas as manifesta��es se
regem por leis pr�prias.

Deixando o fen�meno produzir-se naturalmente,
oportunidades v�rias se nos apresentam, que
demonstram exuberantemente a veracidade das manifesta��es
.

Eis alguns exemplos:

�Certa vez fomos assistir a uma sess�o na
sede do Instituto Metaps�quico Paraense. Feita a
completa escurid�o no ambiente, n�s, que est�vamos
com arrepios de frio e febre, nos encolhemos
na cadeira, tomando a atitude de um enfermo embrulhado
no leito. Monteiro Lopes, entidade que se
manifestava pela voz direta, riu gostosamente e
disse: � �Eu s� queria que voc�s vissem o jeito
dele, t�o encolhidinho na sua cadeira de balan�o.�
Na sala s� havia uma cadeira de balan�o, e nela
est�vamos sentado. Na escurid�o, em que se achava
mergulhado o sal�o, a ningu�m seria poss�vel
ver a posi��o que hav�amos tomado.�

� �De outra feita, a sess�o decorria satisfatoriamente
quando o Esp�rito anunciou que iria distribuir
flores aos assistentes. F. Carvalho, ao receber
alguma coisa, pois que nada via devido � escurid�o,
perguntou se s� lhe havia cabido um simples junco.
M. Lopes respondeu que lhe havia dado uma rosa.
Replicando o Sr. Carvalho, M. Lopes confirmou o
que lhe tinha dito. O Sr. Carvalho, para evitar
nova contesta��o, calou-se, convencido de que tinha
recebido um simples caule, liso, pois somente isso
pressentia pelo tato, na escurid�o em que se achava
mergulhado o ambiente. Fazendo-se luz, veri

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 123

ficamos que na ponta do junco estava habilmente
colocada uma rosa.�

� �Em princ�pios de 1931, realizava-se com
pleno �xito uma sess�o de voz direta, na sede da
Uni�o Esp�rita Paraense, quando tivemos a id�ia
de tentar comunica��es telef�nicas. Antes de iniciarmos
os nossos trabalhos, recebemos um cart�o
do Desembargador Nogueira de Faria, ent�o Chefe
de Pol�cia do Estado do Par�, avisando-nos de que
era imposs�vel o seu comparecimento, porque um
motivo de urg�ncia o retinha na Reparti��o Central.
Desejando p�-lo imediatamente a par do �xito que
est�vamos obtendo, perguntamos ao Esp�rito se lhe
era poss�vel conversar pelo telefone. Tendo resposta
afirmativa, estabelecemos a liga��o e entregamos
o fone ao m�dium, que o segurou, esticando
o bra�o inteiramente. O Esp�rito conversou com
admir�vel precis�o. Enquanto o fen�meno se produzia,
o m�dium, em completo estado de vig�lia,
era visto e observado por todos, por estar o sal�o
suficientemente iluminado.�
Sempre que pretendemos impor a nossa vontade,
contrariando os Esp�ritos e constrangendo os
m�diuns, o fen�meno se reduz a propor��es nada
satisfat�rias.

Deixando o fen�meno produzir-se naturalmente,
oportunidades v�rias se nos apresentam, demonstrando
exuberantemente a veracidade das manifesta��es
.

*

A sala para a realiza��o das sess�es de efeitos
f�sicos deve ser ampla, arejada e prestar-se a ficar
imersa na mais completa escurid�o. Uma instala��o
el�trica adequada a iluminar o ambiente, com


124 AUR�LIO A. VALENTE

a intensidade de luz e variedade de cor que as
necessidades exigirem, �, pois, recomend�vel. Mobili�rio
simples, paredes nuas, portas e janelas sem
cortinas, s�o cuidados que imp�em confian�a. Devemos
evitar qualquer aparato que deixe supor desejos
de simula��o.

Num dos recantos da sala, onde n�o possa
haver f�cil acesso para outra qualquer depend�ncia
da casa, instala-se o gabinete medi�nico. Este
pode ter a sua arma��o de ferro ou madeira, e as
tapagens, de pano grosso e preto ou de outra cor
bastante escura. A altura do gabinete n�o deve
ser a mesma da sala, para lhe n�o tornar o ambiente
insuport�vel, pelo calor. As paredes devem
ser corredi�as, por�m, dispostas de modo que, ao
se iniciarem os trabalhos, o m�dium permane�a separado
dos experimentadores.

O m�dium ter� no gabinete uma cadeira ou
canap�, que lhe permita recostar-se comodamente,
para o transe.

Os experimentadores sentar-se-�o em semic�rculo
ou em filas, como melhor convier, voltados de
frente para o gabinete.

Nessas sess�es n�o h� necessidade de concentra��o,
como nas sess�es pr�ticas; exige-se, por�m,
a maior circunspe��o. A concentra��o faz-se
de modo diverso: Os experimentadores conversar�o
sobre assuntos v�rios, mas que n�o apaixonem e
nem ocasionem discuss�es. Quando desej�vel, far-
se-� ouvir uma m�sica maviosa e lenta.

O Esp�rito, para operar, necessita haurir nos
experimentadores e especialmente no m�dium as
energias precisas para a produ��o do fen�meno; a
excessiva preocupa��o dos assistentes, de ver logo


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 125

os resultados, ocasiona-lhe s�rios embara�os. Enquanto
os assistentes conversam, absorvendo-se nos
assuntos ventilados, o Esp�rito age com mais liberdade
e seguran�a.

Conv�m, tamb�m, conforme o fen�meno que a
faculdade do m�dium favore�a, possuir o grupo uma
cole��o de objetos para uso do manifestante, a fim
de proporcionar maiores provas de autenticidade.
Assim, se for:

a) voz direta, h� necessidade de trompas, cornetas,
porta-vozes etc.;

b) escrita direta, ard�sias simples e duplas
que possam ser fechadas e lacradas, folhas de papel
liso, l�pis, recept�culos para encerrar hermeticamente
aqueles objetos;

c) levita��o, campainhas, tambores, flores, etc;
d) materializa��o, caixas gradeadas de regular
tamanho para colocar baldes com parafina l�quida
e com �gua fria, para feitura de moldes de
v�rias esp�cies, flores, etc.

Todos esses apetrechos ser�o utilizados �
propor��o que as necessidades exigirem e poder�o
ter uma cinta de subst�ncia fosforescente que nos
permita distingui-los na escurid�o e acompanhar
todos os movimentos que o Esp�rito lhes imprimir.

Nas sess�es do Instituto Metaps�quico Paraense
era tomada esta medida, que proporcionava provas
concretas da realidade dos fen�menos. Via-se, com
perfei��o, um porta-voz elevar-se no ar, � altura
do teto onde batia, e, de l�, ouvia-se partir o som
das palavras do Esp�rito manifestante. Outras vezes,
as trompas descreviam c�rculos em volta da
cabe�a dos assistentes, que se mostravam medrosos;
entretanto, nenhuma vez foi um deles alcan



126 AUR�LIO A. VALENTE

�ado. Se houvesse simula��o, isto seria imposs�vel
numa escurid�o completa.

Depois que a mediunidade alcan�ar certo desenvolvimento
e os experimentadores se tiverem imposto
� confian�a dos Esp�ritos, a escurid�o completa
deixar� de ser condi��o necess�ria. Ela ir�
pouco a pouco sendo dissipada, at� que os fen�menos
se possam produzir sob luz intensa. Nas �ltimas
sess�es de voz direta que dirigimos, no Par�,
j� o ambiente era fracamente iluminado e n�s nos
assent�vamos encostados ao gabinete.

Quando, h� cem anos, os Esp�ritos surgiram
em todos os recantos do Globo, fazendo-se ouvir,
a Humanidade se espantou. A Ci�ncia, cheia de
orgulho, negou; as religi�es, defendendo interesses,
anatematizaram; as sociedades, cheias de preconceitos,
desdenharam; mas os Esp�ritos, indiferentes
a essas m�seras imperfei��es terrenas, n�o cessaram
de trabalhar para despertar os homens do
sono da indiferen�a e da corrup��o nefasta, fruto
do materialismo.

Como um ex�rcito que se aventura na conquista
de terra estranha, levando homens para o desempenho
de v�rios misteres, os Esp�ritos vieram
at� n�s, cada qual com o encargo de uma tarefa.
Foi por isso que fen�menos de v�rias esp�cies se
produziram, cada um com determinado alcance.

Os fen�menos denominados de efeitos f�sicos
tiveram o objetivo de chamar sobre eles a aten��o
dos cientistas. Logo que muitos destes, colocando
a Verdade acima de tudo, fizeram a sua p�blica
profiss�o de f�, esses fen�menos come�aram a diminuir
de intensidade por j� n�o serem t�o necess�rios.
Ainda hoje, pessoas rebeldes e motejadoras
t�m passado momentos de apreens�o nas chamadas
casas mal-assombradas. Cessada que seja a causa,


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 127

desaparece o efeito, mas o m�dium que, consciente
ou inconscientemente, serviu de instrumento ao
Esp�rito, continua a existir. Os Esp�ritos, aproveitando-
lhe a faculdade, preparam-no para a produ��o
de outros fen�menos. � assim que, atualmente,
s�o raros os m�diuns de levita��o, voz e
escrita diretas, ou materializa��es.

� natural que assim aconte�a, pois sendo a
finalidade do Espiritismo cooperar para a reden��o
moral da Humanidade, as manifesta��es intelectuais,
constitu�das na maior parte por ensinamentos
transmitidos pela psicografia ou pela incorpora��o,
t�m que sobrepujar os fen�menos de efeitos
f�sicos.

Em nosso Pa�s, poucos conseguiram despertar
a aten��o dos nossos estudiosos.

Em sess�es de efeitos f�sicos, embora sejamos
de opini�o que se n�o deve revistar o m�dium como
se fora um criminoso, aconselhamos a n�o desprezar
uma �nica oportunidade de analisar tudo o que
ocorre. Na Europa e na Am�rica, alguns dos melhores
m�diuns que levaram a convic��o a pessoas
de reputa��o firmada, na sociedade e nos meios
cient�ficos, foram apanhados posteriormente em
atos de simula��o. (30)

Nas sess�es de efeitos f�sicos, especialmente
de materializa��es, devemos ter extremado cuidado
com a assist�ncia, pois esta, sendo constitu�da de
elementos heterog�neos e incr�dulos, a maior parte
das vezes possu�dos da estulta pretens�o de mais
sabidos que todo o mundo, s�o capazes de atos
irreverentes que podem causar s�rios dissabores e
at� doen�a grave nos m�diuns.

(30) No pr�ximo cap�tulo trataremos deste assunto.

128 AUR�LIO A. VALENTE

No Instituto Metaps�quico Paraense, um assistente,
no decurso de uma sess�o de levita��o, acendeu
poderosa lanterna que inundou de luz o ambiente,
no momento exato em que uma trompa,
circulada com subst�ncia fosforescente, era transportada
pelos Esp�ritos. Esse objeto foi visto, solto
no ar, na altura do teto e, poucos instantes depois,
caiu verticalmente ao solo. Al�m do natural constrangimento
que se apoderou de quase todos, o m�dium
adoeceu e o fen�meno deixou de produzir-se
durante um per�odo de mais de tr�s meses.

� sumamente necess�rio fazer sentir a todos

o grave perigo que ocasiona ao m�dium o iluminar-
se bruscamente a sala das sess�es. A luz s� deve
ser acesa quando autorizada pelo Esp�rito-guia.
A materializa��o � uma opera��o delicad�ssima,
que consiste na combina��o de fluidos vitais
e materiais do m�dium e dos pr�prios assistentes
com os do Esp�rito manifestante, at� adquirir a
apar�ncia de uma pessoa f�sica.

A fosforesc�ncia que �s vezes determina a vis�o
do corpo materializado � inerente ao Esp�rito e �
humanamente imposs�vel de ser imitada.

Outros fatos poder�amos citar como prova da
gravidade do perigo que determina a ilumina��o
inesperada do ambiente, por�m, n�o sendo nosso objetivo
demonstrar a a��o dispersiva da luz, nem o
desequil�brio das fun��es f�sicas do m�dium, aconselhamos
o leitor a compulsar as obras de Aksakof,
Leon Denis, Gabriel Delanne, Paul Gibier, Bozzano
e outros autores mundialmente considerados e respeitados
.

� de toda a conveni�ncia, portanto, limitar o
n�mero dos assistentes em cada sess�o e sujeit�-los
a uma disciplina e, por isso, cada n�cleo de experi



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 129

menta��o dever� possuir um regimento interno ao
qual todos se submeter�o.

Constitu�do o grupo e iniciadas as primeiras
experi�ncias, tudo mais depende do grau de faculdade
do m�dium, eleva��o dos Esp�ritos-guias e
objetivos a alcan�ar.

Tudo quanto vimos expondo � o resultado de
experi�ncia pr�pria e de leituras de obras de reputados
escritores, muitos deles j� citados, o que julgamos
suficiente para orientar os principiantes, interessados
pelos fen�menos de efeitos f�sicos.

O Esp�rito-guia das sess�es de efeitos f�sicos
deve ser uma entidade esclarecida e boa, e a a��o
deve ser completada pela do diretor dos trabalhos,
que, por sua vez, deve ser um homem de bem.

Acima de tudo, exige-se dos experimentadores
desinteresse, honestidade, paci�ncia e perseveran�a.

De todas as maneiras, os Esp�ritos manifestam
sua exist�ncia; assim, seja qual for o seu grau de
eleva��o, mostremo-nos sempre possu�dos dos melhores
prop�sitos, se quisermos ter o amparo dos
bons e ficar livres das investidas dos maus.

Quanto mais importante � o grau de mediunidade
de uma pessoa, maiores s�o as suas responsabilidades
e dos experimentadores que a t�m sob o
seu controle. N�o tenhamos a doentia preocupa��o
de fazer pros�litos entre os chamados homens de
ci�ncia, que entendem mais as coisas da mat�ria
que as do cora��o e da alma. N�o � de hoje isso,
tanto assim que Jesus disse: �Gra�as te dou por
teres revelado as coisas do C�u aos humildes e pequeninos
da Terra e as ocultado aos s�bios.� Em
ci�ncia, as leis tornam-se conhecidas pela experi�ncia,
e, para serem aceitas, � necess�rio que satisfa�am
a todos os casos. O Espiritismo explica todos
os fen�menos, analisa-os e deduz as suas con


6


AUR�LIO A. VALENTE

sequencias; entretanto, o preconceito dos cientistas
leva-os a inventar hip�teses que n�o satisfazem nem
a eles pr�prios, porque uma conclus�o arranjada
ontem, para explicar um fen�meno, n�o serve para
o observado hoje.

Charles Richet, conhecido como o pai do Metapsiquismo,
em quarenta anos de estudos n�o
conseguiu fazer da Metaps�quica uma ci�ncia t�o
simples, t�o f�cil de ser compreendida como o Espiritismo,
produto de dez anos, apenas, de investiga��es
do inolvid�vel Hippolyte Leon Denizard
Rivail.

� um grande erro julgar que a preocupa��o
dos Esp�ritos e dos esp�ritas restringe-se � fenomenologia.
O escopo principal da Nova Revela��o
� espiritualizar a Humanidade, fazendo voltar ao
redil todas as ovelhas tresmalhadas pelos �nvios
caminhos do materialismo.

Tudo tem a sua �poca. O tempo tudo destr�i.
Das grandes Civiliza��es antigas restam apenas
ru�nas e simples refer�ncias hist�ricas ou religiosas.

As religi�es atuais j� deram o que tinham de
dar. Vivem somente do passado. As preocupa��es
mundanas materializaram-nas, encheram-nas de
dogmas que se entrechocam com a raz�o. E quando
um homem de ci�ncia, que passou a vida inteira
a negar Deus e a alma, pregando o niilismo, ao
ver aproximarem-se os seus �ltimos momentos na
Terra, aceita os sacramentos que lhe s�o oferecidos,
as trombetas se fazem ouvir pelos quatro pontos
cardeais, anunciando a grande vit�ria. Insensatos!
Nos derradeiros instantes, quase sempre o
c�rebro humano n�o funciona mais com a precis�o
dos momentos de vida sadia e forte. Na maioria
dos casos, duas hip�teses se apresentam: uma, a


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 131

irreverente trai��o da fam�lia �s �ltimas vontades
do enfermo, nos paroxismos da agonia; outra, o
terr�vel medo do Nada.

Conv�m, pois, � homens de ci�ncia! meditar
sobre uma coisa de grande alcance: �Nunca se deve
destruir, sem logo construir.� Se a religi�o dos
vossos pais n�o vos satisfizer mais, antes de se
apagarem as �ltimas brasas do fogo sagrado �
a F� � buscai outra cren�a que vos satisfa�a a
raz�o, a alma e o cora��o.

Ao investigardes os fen�menos esp�ritas, preocupai-
vos mais com as conseq��ncias morais do
que em formulardes hip�teses para explic�-los, porque
s� no Espiritismo encontramos explica��es satisfat�rias
.

Se quereis destruir o Espiritismo, fonte inesgot�vel
de tantas e t�o doces consola��es, dai-nos,
como disse Allan Kardec, mais e melhor.

Ao encerrarmos este cap�tulo, deixamos aqui
registrada a nossa homenagem sincera aos m�diuns
de efeitos f�sicos, especialmente aos de materializa��es,
expressa por um pensamento bom, elevado
a Deus, em benef�cio deles, pois quase todos t�m sido
sacrificados no desempenho de suas miss�es.

Na Europa e na Am�rica do Norte, foram
tomados como impostores, charlat�es, tendo alguns
sofrido pris�es prolongadas. Anna Rothe viveu
amargurados dias em uma cadeia, impedida de prestar
assist�ncia � filhinha.

No norte do nosso Pa�s, Anna Prado vergou
ao peso dos maiores sofrimentos. Suas l�grimas
eram insuficientes para lavar a alma das inj�rias
que lhe eram atiradas pela coorte chefiada por um
sacerdote da religi�o que se diz de Jesus, o s�mbolo
do amor, da toler�ncia. Tradi��es de fam�lia, vida


AUR�LIO A. VALENTE

honesta e laboriosa, desejo de prestar benef�cios,
tudo � posto de lado, para s� verem simula��es.

Os que assim perseguem, julgam-se com a Verdade,
mas a Verdade � irm� do Amor. N�o pode
possuir a Verdade quem se divorcia dos bons sentimentos
.

O eco das sensatas palavras de Gamaliel, exprobrando
o procedimento do Sin�drio para com os
Ap�stolos, raramente se ouve em nossos tempos, e,
por isso, os atuais fariseus, mais perigosos que os
da �poca de Jesus, atiram-se impiedosamente contra
os humildes servidores da seara do Senhor.

Deus, a Bondade Infinita, n�o esquece um ato
de menor import�ncia de seus filhos. Sofrer no
desempenho de uma tarefa � glorificar-se perante
os C�us. Os m�diuns que na Terra souberem enfrentar
corajosamente a falange do Esp�rito das
Trevas e a imperfei��o dos homens, ser�o recebidos
no Al�m como os soldados que voltam � P�tria,
glorificados nos campos de batalha.

Tu, leitor, que nos acompanhas lendo este livro,
eleva tamb�m o teu pensamento a Deus pelos
m�diuns, que s�o os auxiliares humildes, sofredores
e muitas vezes an�nimos, da emancipa��o da
Humanidade.

Pede para eles, n�o os gozos da Terra, mas a
resist�ncia �s tenta��es, o desprendimento, a vida
de ren�ncia, a abnega��o, a caridade, a fim de poderem
cumprir rigorosamente os compromissos assumidos
no Al�m.

Os cegos que nos combatem n�o avaliam o
mal que chamam sobre si mesmos. Impedindo que

o Espiritismo ofere�a o seu valioso concurso para

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 133

regenerar a Humanidade, e n�o tendo eles doutrina
melhor para dar, facilitam a implanta��o do
materialismo destruidor.

E tu, m�dium, que tamb�m l�s este livro, prepara-
te para a luta. O homem que n�o trabalha
n�o faz jus ao sal�rio. As necessidades que nos
assoberbam s�o estimulantes para o nosso progresso.
Sem elas, a evolu��o n�o se faria. Aprende
a sofrer com paci�ncia, desempenha a tua tarefa,
ora e vigia, que o Senhor ser� contigo.


Cap�tulo VII

DESENVOLVIMENTO DE M�DIUNS. � SEUS
DEVERES. � TRABALHO E REPOUSO.
� PERDA DAS FACULDADES

Dificuldade de os Esp�ritos se manifestarem

Uma das mais s�rias dificuldades que se antep�em
aos experimentadores �, sem d�vida alguma,

o saberem trabalhar com os m�diuns. F�cil nos �
manejar os complicados aparelhos do engenho humano;
outro tanto, por�m, n�o acontece com os
m�diuns, embora os denominemos tamb�m de aparelhos.
� que eles s�o aparelhos que pensam, t�m
vontade pr�pria e necessidades, bem como possuem
desejos, caprichos e paix�es.
� problema bastante complexo saber desenvolver
e bem orientar um m�dium; requer do experimentador
conhecimento pr�tico dos homens e
do mundo invis�vel, bom preparo geral e acurado
estudo da Doutrina Esp�rita.

Fazer sess�es � tarefa elevada e dif�cil, que se
n�o pode restringir a uma s�rie inumer�vel de comunica��es
acacianas e exorta��es piegas, que o
h�bito transforma em banalidades.

H� grupos que passam anos na mon�tona e
improdutiva ocupa��o de receber manifesta��es. Os
adeptos nada aproveitam em seu benef�cio, nem
concorrem para o bem alheio. Continuam com os


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 135

mesmos h�bitos viciosos, com as mesmas inclina��es
conden�veis que j� possu�am antes de se tornarem
esp�ritas. Entrincheirados na sua presun��o,
julgam que tudo se aplica aos outros. Nenhum progresso
se verifica nesses Centros, nem quanto �
melhoria moral e instru��o dos seus componentes,
nem quanto ao desenvolvimento dos m�diuns.

Se analisarmos os ditados obtidos, notaremos
a profunda semelhan�a que existe entre eles. Frases
empoladas, com palavras de amor e caridade e
seus derivados, s�o repetidas para disfar�ar a aus�ncia
de sentido e de fundo moral. Num mesmo
grupo, cada uma dessas comunica��es traz consigo
o cunho capaz de determinar-lhe a origem, qual o
m�dium e qual a entidade do Al�m.

Faz tempos, conhecemos um m�dium que empolgava
a quem o ouvisse nas primeiras vezes; entretanto,
da� por diante, ficava o observador persuadido
de que era um mesmo Esp�rito sob v�rios
nomes, ou um caso de animismo. Parecia um desses
oradores de banquetes, que decoram uma d�zia
de chav�es. Express�es, imagens, tudo se repetia,
com uma �nica diferen�a: ora a linguagem era na
ordem direta, ora na inversa.

Como esses, muitos outros s�o encontrados por
a� a fora. Julg�-los mal �, de certo modo, imprudente,
porque na maioria das vezes bons sentimentos
os animam e n�o s�o maus os Esp�ritos que
os assistem. O que lhes falta � apenas uma esclarecida
orienta��o sobre a maneira de bem aproveitarem
suas faculdades. Para isso, � necess�rio que,
em todos os recantos onde se cultiva o Espiritismo,
sejam institu�das escolas de m�diuns. (31)

(31) Ver, � p�g. 154, Nota da Editora.

136 AUR�LIO A. VALENTE

A fim de alcan�armos elevado grau de conhecimento
nas artes e nas ci�ncias, ainda que
tenhamos trazido grande patrim�nio das vidas passadas,
que nos fa�a parecer crian�as prod�gios, �
imprescind�vel freq�entar escolas para receber a
instru��o de certas e determinadas regras, sem as
quais n�o saberemos coordenar e aproveitar todas
as aptid�es.

Anos de perseveran�a e dedica��o s�o necess�rios
a quem quer alcan�ar a aur�ola de mestre
em qualquer ramo do conhecimento humano. Em
Espiritismo nunca chegaremos a mestres, seremos
sempre disc�pulos humildes, mas, a extrema necessidade
de os m�diuns conhecerem a Doutrina, distinguirem
os Esp�ritos, analisarem as conseq��ncias
das manifesta��es, ressalta de maneira evidente

o quanto os Centros Esp�ritas precisam orientar
os m�diuns.
A faculdade medi�nica � uma gra�a para a
posse da qual muitas vezes n�o concorremos, nem
nesta vida nem na anterior. H� quem a deseje e
n�o a possua, e quem a possua e n�o a deseje.
Qualquer que seja, por�m, o modo por que lhe
entramos na posse, � sempre melhor, sob todos os
pontos de vista, ser um instrumento esclarecido,
ativo e consciente dos Esp�ritos, do que lhes servir
de simples joguete.

Alguns confrades julgam dispens�vel submeter
os m�diuns a um regime instrutivo e educacional,
sob o pretexto de ser a mediunidade um dom
divino. Isto, por�m, de forma alguma destr�i as
nossas asser��es.

Excelentes m�diuns s�o recrutados nas classes
humildes, ou entre pessoas que pela sua inferioridade
moral n�o se recomendam, e a maioria �
refrat�ria ao estudo e � medita��o.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 137

Vemos a� a Provid�ncia Divina a manifestar
a sua assist�ncia aos homens; os da classe humilde
servem para demonstrar que Deus n�o tem privilegiados;
os de sentimentos impuros provam que a
Bondade Divina fornece aos infelizes os meios de
salva��o.

Estas simples observa��es induzem-nos, for�osamente,
a ver a necessidade das escolas de m�diuns
(32). N�o se destinam elas, como pode parecer,
a ensinar meios de conseguir mediunidades ou
a conceder t�tulos ou certificados. Pensar isso, n�o
passa de insci�ncia completa do Espiritismo, ou de
pura infantilidade. Elas t�m a finalidade de corrigir
defeitos, estimular o amor pelo estudo e pela
pr�tica do bem, ministrar profundo ensinamento da
Doutrina, proporcionar, enfim, humilde, s�bio e consciente
aproveitamento das faculdades medi�nicas.

Sem as escolas (33), os m�diuns com mais dificuldade
compreender�o o valor do estudo, a necessidade
da disciplina e higiene da alma. O concurso
dos m�diuns insuficientemente preparados � sempre
limitado.

Fazer sess�es boas e aproveit�veis, n�o deve
ser o passar intermin�vel tempo numa s�rie de
reuni�es, a receber simples e banais comunica��es.
H� grande necessidade de aumentarmos o n�mero
dos Centros bem orientados, cujos trabalhos sejam
aproveit�veis, dentro e al�m das suas sedes. �
preciso ter em vista a difus�o do Espiritismo,
aumentar o n�mero de pros�litos, como tamb�m
socorrer os necessitados. �Ide e curai os enfermos�,
disse Jesus.

Em volta de n�s, as dores morais e f�sicas acabrunham
os nossos irm�os, e � nas sess�es bem

(32) Ver, � p�g. 154, Nota da Editora.
(33) Idem.

AUR�LIO A. VALENTE

orientadas que eles encontram a fonte maravilhosa,
cuja �gua sacia a sede de consola��es e cura
as dores do corpo e da alma.

O Semeador espalhou, por todos os recantos
da Terra, a semente da Nova Revela��o. Urge pois
prepararmos as searas para colheitas fartas. Orientemos
os cultivadores dos campos na maneira de
destruir as ervas e insetos daninhos.

Muitos m�diuns n�o produzem tudo quanto de
bom poderiam proporcionar suas faculdades, exclusivamente
por terem tido um mau princ�pio de desenvolvimento
.

� freq�ente, logo que algu�m sente de maneira
acentuada a influ�ncia dos Esp�ritos, faz�-lo
sentar � mesa de uma sess�o, para trabalhar. Todos
aconselham a essa pessoa a pr�tica do Espiritismo,
como meio de melhorar-se e prestar a caridade aos
seus irm�os da Terra e do Espa�o. Se essa pessoa
n�o � indiferente � pr�tica do bem, v�-la-emos
imediatamente no desempenho de sua miss�o. Eis
a� um erro grav�ssimo. Muita raz�o assiste a Leopoldo
Cirne, mostrando-se inteiramente contr�rio a
esse modo de agir.

Efetivamente, como fazer uma pessoa receber
Esp�ritos, sem um preparo lento e antecipado, para
constituir-se senhor absoluto de si mesmo? Se os
que j� t�m tiroc�nio bastante longo se sentem por
vezes envoltos em dificuldades gigantescas, como
poder�o venc�-las os ne�fitos? N�o � preciso profundo
conhecimento para constatar os grav�ssimos
perigos a que se acham expostos os inexperientes.

Para um m�dium prestar conscienciosamente
e com �timos resultados o seu concurso, � necess�rio:



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 139

a) vida de ren�ncia, preocupa��o cont�nua de
progredir espiritualmente, elevar o n�vel de sua
moral, aumentar o seu preparo intelectual;

b) possuir dom�nio absoluto sobre si mesmo,
para s� receber os Esp�ritos que quiser e quando
julgar necess�rio;

c) tornar-se capaz de reprimir todos os gestos
violentos e linguagem obscena ou ofensiva aos
Esp�ritos;

d) saber distinguir a categoria dos Esp�ritos
pela linguagem, fluidos e atitudes;

e) estar sempre prevenido contra qualquer lisonja,
porque pode despertar das cinzas das inextintas
imperfei��es o fogo abrasador da vaidade, do
orgulho e da presun��o.

Fazer um m�dium trabalhar quando ele ainda
n�o sabe atenuar nem repelir as influ�ncias ocultas,
� sujeit�-lo a muitos dissabores, submet�-lo ao
jugo de Esp�ritos de qualquer natureza. Uma pessoa,
ao iniciar o seu desenvolvimento, deve sentar-
se � mesa como simples assistente. N�o deve receber
Esp�ritos, mas observar o modo de trabalhar
dos outros, p�r-se ao corrente dos meios de furtar-
se �s influ�ncias dos Esp�ritos, instruir-se enfim.

� preciso n�o ter pressa. A pressa � inimiga
da perfei��o. � prefer�vel caminhar experimentando
o terreno, a se afoitar e cair num atoleiro.
O trabalho do homem s�bio e met�dico � mais produtivo
e menos fatigante que o do ignorante e
desorganizado.

Depois de ter freq�entado com assiduidade um
grupo, poder� o m�dium come�ar a sua �rdua miss�o
de receber os Esp�ritos.


AUR�LIO A. VALENTE

O que vimos de dizer � recomend�vel a todos
os m�diuns, por�m, mais particularmente, aos de
incorpora��o.

N�o h� regras sem exce��es, e na Humanidade
todas as coisas se encadeiam por uma escala de
grada��o infinita. Assim, h� m�diuns que escapam
�s particularidades preliminares que acabamos de
aconselhar, apresentam-se logo em condi��es assaz
favor�veis para trabalhar com bons resultados.
Cumpre ao diretor da seara distingui-los dos outros,
para aproveitar logo a coopera��o deles.

� comum a cren�a de serem os m�diuns, em
come�o de desenvolvimento, aparelhos apropriados
exclusivamente aos Esp�ritos pouco evolvidos. Embora
numerosos casos sirvam de base para essa
argumenta��o, n�o pode constituir regra, porque
grande tamb�m � o n�mero dos que se iniciaram
recebendo logo Esp�ritos esclarecidos e bons. Disto,
temos observa��es particulares, que a longa pr�tica
nos proporcionou.

Justificando as condi��es estabelecidas acima,
esclarecemos:

Uma vida de ren�ncia � o desapego aos bens
terrenos, � lan�ar o olhar em volta para ver as
mis�rias do pr�ximo e lembrar-se de socorr�-lo,
antes de suprir as suas pr�prias. A eleva��o moral
� a base fundamental do templo que havemos de
erigir ao Senhor dos Mundos. Sem ela n�o teremos
ascend�ncia sobre os encarnados e desencarnados.
A instru��o deve caminhar paralela com a educa��o
moral, para haver harmonia no todo. Em caso
contr�rio, veremos m�diuns de bons sentimentos,
sem instru��o; ou de p�ssimos costumes, e instru�dos.
Estes n�o podem ser perfeitos obreiros. Os
Esp�ritos de certa eleva��o s� v�m aos meios s�rios
e bem orientados, da mesma forma que os ho



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 141

mens de bem, na Terra, n�o freq�entam os lugares
duvidosos. Sem o dom�nio sobre si mesmo, o m�dium
est� � merc� dos Esp�ritos. � necess�rio que
ele saiba repelir todas as influ�ncias, especialmente
quando fora de tempo, isto �, longe do ambiente
dos grupos. Se n�o souber reagir, poder� servir
de instrumento cont�nuo dos Esp�ritos e ser perturbado
at� nas suas pr�prias ocupa��es de angariar
meios de subsist�ncia. Algumas obsess�es s�
se tornaram efetivas por n�o ter conseguido o m�dium
o controle sobre si mesmo e sobre os Esp�ritos.
O m�dium, desenvolvido com m�todo e
disciplina, chegar� ao ponto de reprimir todas as
viol�ncias dos Esp�ritos impuros.

Merc� de Deus, durante o longo per�odo de
nossa pr�tica esp�rita, nunca se verificaram, com
m�diuns por n�s desenvolvidos (34), dissabores provocados
por ofensas f�sicas ou morais. N�o � que
Esp�ritos rebeldes nunca se tivessem aproximado
deles, mas simplesmente porque aprenderam a conter
todos os impulsos mal�volos dos Esp�ritos atrasados
.

Em S�o Lu�s (Maranh�o), os confrades que
trabalharam conosco, na modesta seara do Irm�o
Germano, tiveram oportunidades v�rias de observar
o que acabamos de dizer.

Uma jovem come�ou a freq�entar o nosso grupo
para libertar-se de m�s influ�ncias. A sua pouca
idade e o seu f�sico franzino eram obst�culos a que
a desenvolv�ssemos (35) no momento.

Sentava-se � mesa para receber instru��es sobre
a maneira de defender-se. Muitas vezes, suas
m�os crispavam-se em amea�as terr�veis e apro


(34) Ver, � p�g. 154, Nota da Editora.
(35) Idem.

142 AUR�LIO A. VALENTE

ximavam-se de n�s; seus l�bios estremeciam num
balbuciar intraduz�vel. Entretanto, jamais fomos
atingidos, e nem um �nico gesto de defesa al�amos.
Observava-se verdadeira luta, a m�dium torcia-se
desesperadamente como quem gesticula para livrar-
se de algu�m que a agarra. Depois de uma s�rie
de sess�es, apesar da pouca modifica��o no car�ter
do Esp�rito endurecido que a influenciava, tinha
essa irm� inteiro dom�nio sobre si mesma. Deixou
de freq�entar a seara, por conselhos dos pr�prios
Guias, a fim de aguardar a hora da futura chamada
para prestar o seu aux�lio. Quando isso ocorrer,
essa m�dium j� n�o ser� para os Esp�ritos um simples
joguete, porque, uma vez aprendido o meio de
defesa, nunca mais o esqueceremos.

Esposas, irm�s e outras pessoas amigas, desenvolvidas
sob nossa dire��o, gra�as � bondade de
Deus e de Jesus e o amparo dos nossos Guias,
conseguiram completo controle de suas faculdades.
Reprimem todos os �mpetos maus e s� recebem os
Esp�ritos nos momentos oportunos.

Os m�diuns devem habituar-se a distinguir a
categoria dos Esp�ritos que deles se aproximam.
Para isso, basta um estudo de psicologia pr�tica.
Saber observar os homens, analisar-lhes as maneiras,
medir suas palavras e aplicar ao mundo invis�vel,
que � apenas reflexo do nosso, o resultado
das suas observa��es.

Nos homens, a fisionomia, verdadeiro espelho
da alma, deixa transparecer o amor ou o �dio, o
desejo ou o t�dio, o saber ou a ignor�ncia, a impureza
de sentimentos ou a eleva��o moral; nos Esp�ritos,
a fisionomia � substitu�da pelos fluidos. As
instru��es aos m�diuns servem para orient�-los,
mas n�o lhes d�o conhecimento completo, pois h�
sutilezas que a pr�tica de cada um sabe distinguir.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 143

Os Esp�ritos, ao manifestarem-se, transmitem aos
m�diuns todos os caracter�sticos da sua eleva��o
ou da impureza de sentimentos.

Os elogios, mesmo a t�tulo de est�mulo, devem
ser recebidos com muita reserva. O m�ximo cuidado
� pouco, pois os Esp�ritos l�em o nosso pensamento
como em livro aberto, e sabem na ocasi�o
prop�cia lan�ar a semente da maldade. Se n�o nos
revestirmos da simplicidade de costumes e da humildade
de sentimentos, poderemos deixar nossa
alma servir de campo f�rtil para o cultivo de ervas
venenosas.

Como todas as atividades humanas, a faculdade
medi�nica n�o deve ser usada sem ordem e m�todo.
N�o � aquele que mais se esgota, quem maiores
e melhores resultados apresenta, mas, sim, aquele
que sabe aproveitar o tempo, trabalhando e repousando
.

O repouso � conseq��ncia do trabalho. Na alegoria
b�blica do descanso de Jeov�, est� um ensinamento
ao homem para que se n�o deixe esgotar.

O m�todo de trabalho dos m�diuns deve con


sistir em emprestar o seu corpo aos Esp�ritos, com

determinadas restri��es. N�o trabalhar a qualquer

momento, mesmo porque os bons Esp�ritos tam


b�m t�m ocupa��es. L�, como aqui, s� os ociosos

est�o prontos a atender a todo momento.

Todo m�dium deve dedicar-se a uma s� me


diunidade, ou a duas no m�ximo. Desejar ser m�


dium de tudo, � vaidade imperdo�vel. Evitar o tra


balho isolado. Escolher seara bem orientada. Se

for m�dium de incorpora��o, n�o dever� receber

mais de dois Esp�ritos em cada sess�o. Se as ses


s�es forem di�rias, o que raramente acontece, de


ver� intercalar dias de descanso. Se a falta de

m�diuns justificar o recebimento de um terceiro


144 AUR�LIO A. VALENTE

Esp�rito, o �ltimo dever� ser o guia do m�dium
ou um Esp�rito bom, cuja influ�ncia dissipe todas
as impurezas deixadas pelos Esp�ritos atrasados ou
sofredores.

Havendo muitos m�diuns, � recomend�vel estabelecer
escalas, devendo em uma sess�o trabalhar
uns, noutra, outros. Enquanto uns recebem,
os outros t�m oportunidade de observar e colher
ensinamentos.

O repouso � uma necessidade. Nenhum m�dium
deve trabalhar a ponto de sentir-se enfraquecer.
Os pr�prios Esp�ritos recomendam o repouso, e, se
n�o s�o ouvidos, empregam, �s vezes, meios para

serem atendidos.

Eis um exemplo:

�De uma senhora, que tinha passado algum

tempo em uma Casa de Sa�de em Somerville, Mas


sachusetts, conta-se o seguinte: Era uma vi�va rica

que tinha recebido educa��o excelente e fazia par


te da melhor sociedade de Boston e dos arredores.

Logo no come�o do movimento esp�rita, tornou-se

m�dium escrevente.

Entusiasmada com o novo modo de se comuni


car com os mortos, abriu as portas com toda a fran


queza �queles que desejassem fazer uso das suas

faculdades medi�nicas, sem exigir paga na entrada,

nem remunera��o alguma. Sucedia-lhe passar dias

inteiros, de manh� at� � noite, a dar consola��o,

conselhos e instru��es a todos que vinham procu


r�-la. O estado de superexcita��o, no qual se acha


va, come�ava a arruinar-lhe a sa�de. Seus amigos

invis�veis aconselharam-lhe que moderasse o zelo e

n�o sobrecarregasse suas faculdades. Ela n�o pres


tava aten��o a esses conselhos, considerando que

a obra a que se tinha votado era muito gloriosa

para que a desprezasse.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 145

Tinha ela um irm�o, m�dico, que morava na
vizinhan�a. De acordo com a maior parte de seus
colegas, ele encarava o Espiritismo, com olho c�ptico,
acompanhando de longe as ocupa��es da irm�.
Chegou � conclus�o de que ela se tinha entregado
a perigosa ilus�o e deu-lhe a entender que acabaria
por ser levada para um manic�mio, se continuasse
no mesmo g�nero de vida.

Ora, os amigos invis�veis dessa senhora convidaram-
na a descer ao por�o.

� Para que, ent�o? � perguntou.
Responderam que receberia a resposta no lugar
indicado. Ela apressou-se contra a vontade e divisou
uma grande tina. As vozes misteriosas lhe
ordenaram que colocasse a tina de fundo para baixo.

� Mas para qu�? � perguntou ainda.
� Ver�s � responderam-lhe. � Agora entra.
Ela recusou a princ�pio obedecer a essa estranha
proposta, mas deixou-se persuadir pelas inst�ncias
dos interlocutores.

Apenas se tinha instalado nesse estranho alojamento,
entrou o irm�o. Ele a tinha procurado
inutilmente no quarto. Tendo vindo informar-se de
sua sa�de, e notando que estava aberta a porta
que dava para a cava, desceu e encontrou a irm�
em posi��o incontestavelmente rid�cula. Olhou-a fixamente,
manifestou a sua admira��o e afastou-se.

Nesse momento, ela experimentou uma esp�cie
de aus�ncia da influ�ncia misteriosa que a impressionava
e teve o pressentimento de uma crise em
sua vida; assim, n�o manifestou surpresa alguma
quando, alguns minutos mais tarde, o irm�o voltou
e insistiu com ela para dar um passeio de carro,
em sua companhia. Ela lhe adivinhara perfeitamente
a inten��o, mas dirigiu-se, apesar disso, a inst�ncias
dele, convencida de que toda oposi��o seria


146 AUR�LIO A. VALENTE

in�til. Em pouco tempo eles desceram � porta da
Casa de Sa�de Mc Lean, em Somerville, onde o
irm�o a internou na qualidade de doente afetada
de aliena��o mental.

Quando ela se achou a s�s no aposento que lhe
tinha sido destinado, exprobrou os amigos espirituais
por lhe terem exposto a semelhante infort�nio.
A resposta foi:

� N�s o fizemos com inten��o deliberada, para
teu bem. N�o quiseste seguir nossos conselhos e
advert�ncias, por isso te atra�mos �quele lugar,
para evitar a ru�na certa, quer moral, quer f�sica,
para a qual caminhavas obstinadamente.
Ela compreendeu o acerto desse racioc�nio e,
resignada, conformou-se com a situa��o. Felizmente,
o asilo de Mc Lean achava-se ent�o sob a dire��o
do nosso velho amigo Dr. Lutero Bell, que se
ocupava de pesquisas esp�ritas; ele acreditava nelas
at� certo ponto, e conhecia muito bem as diversas
manifesta��es da mediunidade.

Compreendendo em pouco tempo a situa��o de
sua cliente, percebeu que ela n�o estava de maneira
alguma acometida de mol�stia mental, que era
simplesmente m�dium, e realizou com ela algumas
sess�es interessantes. Depois de muitas semanas
de repouso e tranq�ilidade necess�rios � sua sa�de,
obteve alta. Entrando de novo em casa, mostrou-se
da� por diante mais reservada em suas id�ias.� (36)

Ao come�o da narra��o, tem-se a impress�o de
haver o m�dium recebido uma rude prova��o, por�m
Deus, que ampara com carinho todos os seus
filhos, faz brotar o bem no meio da desgra�a, como
as lindas flores vicejam nos monturos. Indo para o

asilo, l� encontrou um orientador sensato, met�dico,

(36) A. Aksakof � "Animismo e Espiritismo", cap. III.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 147

que lhe transmitiu ensinamentos preciosos para continuar
a sua tarefa de beneficiar o pr�ximo.

Muitas vezes, para o m�dium ter um repouso
completo, atravessa uma fase de aparente perda da
faculdade medi�nica. A perda da faculdade pode
ser tempor�ria ou definitiva, e nem sempre tem sua
origem na fadiga do m�dium. Outros fatores contribuem
para isso. O orgulho, a vaidade, o mau desempenho
da miss�o e a venalidade concorrem em
larga escala para privar o m�dium do dom recebido.
�s vezes, por�m, o m�dium est� sendo submetido �
prova da paci�ncia, da resigna��o e da perseveran�a,
a fim de que os Esp�ritos possam ajuizar das
qualidades de que se acha possu�do.

Cada um recebe o encargo de determinada tarefa,
mas, tendo o seu livre-arb�trio e estando sujeito
�s tenta��es do mundo, pode falir e os Esp�ritos
imediatamente procuram outro, pois isso �
dos des�gnios de Deus.

�Se falha aquele a quem incumbe uma miss�o,
outro o substitui. N�o h� miss�o fatal; o homem
� sempre livre para desempenhar a que lhe foi confiada
e voluntariamente aceitou; se n�o a executa,
perde o benef�cio e assume a responsabilidade dos
atrasos que podem resultar de sua neglig�ncia.
Deus pode humilh�-lo com um sopro.� (37)

No per�odo da suspens�o do exerc�cio da sua
faculdade, o m�dium n�o fica privado da assist�ncia
espiritual. Seus guias continuam velando por
ele. Logo que cessa a causa que a determinou, os
Esp�ritos recome�am a atividade por interm�dio
dele.

Apesar de haver m�diuns que seguem quase
por completo todas as regras e preceitos ensina


(37) Allan Kardec � "A G�nese".

AURELIO A. VALENTE

dos pelos Esp�ritos para favorecer as comunica��es,
apresentam-se ainda dificuldades t�o grandes que
escapam aos nossos cuidados e conhecimentos.

Foi isso que levou o Esp�rito Roberto Hyslop,
pai do Prof. Hyslop, a dizer-lhe contristado:
�Todas as coisas se me apresentam nitidamente,
mas, quando aqui venho exprimi-las, James, n�o
posso.� (38)

Para os Esp�ritos se manifestarem com certo
desembara�o, precisam encontrar no subconsciente
do m�dium, armazenados, embora n�o se manifestem,
conhecimentos das letras e das ci�ncias, que
lhes permitam o uso de termos t�cnicos e apropriados
a certas explica��es. � por isso que encontramos
pessoas rudes, que apenas falam a l�ngua
materna, servirem como int�rpretes de Esp�ritos
de pessoas estrangeiras, que usam a sua l�ngua
pr�pria, com extrema facilidade; outras vezes, aparecem
m�diuns analfabetos, que discorrem sobre
ci�ncias ou assuntos filos�ficos.

A prop�sito do que acabamos de dizer, o Esp�rito
Camilo Castelo Branco escreveu o seguinte,
por interm�dio de Fernando de Lacerda:

�Se o teu c�rebro estivesse riqu�ssimo de termos
e de conhecimentos, larga, proficiente e pacientemente
selecionados e armazenados, eu teria melhor
prop�sito de tudo dizer, com o modo pr�prio
com que o fazia com o material integralmente meu,
como o tip�grafo ter� mais facilidade de variar de
tipo, consoante a riqueza e variedade dos caixotins
de que dispuser.

�Isto � comezinho e da mais clara vulgaridade,
entre os que regularmente estudam os fen�menos
das comunica��es.

(38) M. Sage � "Outra Vida?"

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 149

�S� com grande esfor�o meu, onsigo empregar
termos e modos alheios ao teu especial conhecimento;
e o proveito que desse esfor�o vem, n�o
� assaz compensador, para que me atreite a empreg�-
lo ami�de. Limito-me a expor o que penso
e quero, com a correntia facilidade que o teu intelecto
me faculta e a tua quase absoluta ignor�ncia
da minha obra liter�ria me permita.

�Trabalho mais depressa; e se a frase perde
na forma e no colorido da exposi��o, o conceito em
pouco se m�ngua e o assunto em nada desmerece,
na minha opini�o de principal interessado. Digo o
que desejo. � o suficiente.� (39)

Um m�dium analfabeto pode ser, algumas vezes,
a encarna��o de um s�bio que foi castigado
pelo mau uso dos seus conhecimentos. Nisto, por
vezes, reside a explica��o de encontrarmos pessoas
humildes e ignorantes, com facilidade extraordin�ria
para assimilar estudos de ci�ncias, e servirem de
instrumento a Esp�ritos de vastos conhecimentos.

Sem que haja completa identidade de vibra��es
flu�dicas, n�o se pode estabelecer uma comunica��o
perfeita. Esp�ritos h� que passam longo
tempo em busca de um m�dium que se preste �s
suas manifesta��es.

Leon Denis, que durante anos consecutivos
presidiu a grupos not�veis pelos resultados mais
satisfat�rios, conta-nos que chegou a ver fugir-
lhe a esperan�a de falar com o Esp�rito de seu
saudoso pai. Poderei, a t�tulo de exemplo, citar o
seguinte fato:

�Meu pai, falecido havia uns quinze anos, nunca
se havia podido comunicar, no seio do grupo

(39) "Do Pa�s da Luz" � II vol., cap. XIV.

AUR�LIO A. VALENTE

cujos trabalhos por muito tempo dirigi, por nenhum
dos m�diuns que a� se haviam sucedido.

Apenas um deles o tinha podido entrever como
vaga e indistinta sombra. Perdera eu toda a esperan�a
de conversar com ele, quando, uma noite,
em Marselha, por ocasi�o de uma visita de despedida
feita a uma fam�lia amiga, chega uma senhora,
que n�o aparecia h� mais de ano, e, trocados os
cumprimentos habituais, toma lugar ao nosso lado.
Em meio da conversa��o, ela cai em sono, espont�neo,
e, com grande surpresa minha, o Esp�rito
de meu pai, que ela jamais havia conhecido, se
manifesta por seu interm�dio, d�-me as mais irrecus�veis
provas de identidade e, numa enternecida
efus�o, descreve as sensa��es, as emo��es que sentira,
desde o momento da sua separa��o.� (40)

Os incr�dulos que n�o buscam estudar a causa
da falta de comunica��o de um Esp�rito, cuja presen�a
desejam, d�o de si triste atestado de falta
de senso.

Parece incr�vel � justamente porque os mais
numerosos c�pticos s�o letrados � que nos julguem
�senhores� dos Esp�ritos, capazes de merecer
deles uma obedi�ncia de escravo ou de colegiais.
Na Terra, vamos onde desejamos, afastamo-nos dos
meios que n�o nos conv�m, temos a maior repulsa
por quem quer experimentar-nos e at� mesmo, nos
estabelecimentos de cr�dito, h� pessoas que se enchem
de revolta quando, por natural previd�ncia,
se lhes pede meios de identifica��o. No outro mundo,
sucede o mesmo. Ao transporem os limites des


(40) Leon Denis � "No Invis�vel", cap. VIII.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 151

te mundo para o Invis�vel, levam os homens sentimentos
e cultura que constitu�am o seu patrim�nio,
assim como na Terra, na mudan�a de um pa�s para
outro, eles continuam os mesmos.

Al�m de ser necess�rio um m�dium cujos fluidos
se identifiquem com os da entidade do Espa�o,
� imprescind�vel que bons prop�sitos animem aqueles
que desejam assistir � manifesta��o de um ente
caro. Se apesar de todas as probabilidades parecerem
favor�veis, n�o se verificar o fen�meno, a
causa pode ser uma prova��o para o Esp�rito ou
para aquele que deseja com ele comunicar-se.

Quanta dificuldade existe, entre n�s, para que
duas pessoas, que falam l�nguas diversas, se entendam,
mesmo com o aux�lio de um int�rprete? Imaginemos,
mesma, duas pessoas distantes, que falam
a mesma l�ngua, e precisam identificar-se atrav�s
de uma comunica��o telef�nica; de quantos recursos
precisam lan�ar m�o para chegarem a resultado
satisfat�rio?

Era desejo nosso fechar este cap�tulo apresentando
um quadro das variedades por que se nos
apresenta a faculdade medi�nica; entretanto, n�o

o faremos, porque as mediunidades, mais comuns,
s�o do conhecimento de qualquer ne�fito do Espiritismo,
e constituem assunto para profundo estudo,
que n�o ficaria restrito numa explica��o de
meia d�zia de palavras, nem num simples quadro
gr�fico. Aqueles que desejarem conhecer os meios
de privar conscienciosamente com os m�diuns, distinguir
todas as suas variedades, dever�o recorrer
ao �O Livro dos M�diuns�, onde encontrar�o as
mais valiosas instru��es.

AUR�LIO A. VALENTE

Nesse livro, Allan Kardec exp�s o resultado de
prolongados anos de observa��es met�dicas e judiciosas,
firmado nos esclarecimentos dos pr�prios
Esp�ritos.

Todas as religi�es t�m os seus livros sagrados.
� neles que os sacerdotes buscam os elementos
necess�rios para instru��o dos adeptos. No Espiritismo,
que � uma filosofia de conseq��ncias religiosas,
n�o h� livros sagrados.

�N�o confiando a um s� Esp�rito o cuidado da
promulga��o da Doutrina, quis Deus que tanto o
menor, quanto o maior entre os Esp�ritos, como
entre os homens, trouxesse a sua pedra para o edif�cio,
a fim de estabelecer entre eles um la�o de
solidariedade cooperativa, que faltou �s doutrinas
de uma �nica fonte.� (41)

Todavia, dentre os homens, uns se avantajaram
sobre os outros na escala intelectual ou moral.

A Hippolyte Leon Denizard Rivail, o modesto
s�bio que se deu a conhecer sob o pseud�nimo de
Allan Kardec, cabe a aur�ola de mestre do Espiritismo.
� nos seus livros que encontramos a base
fundamental da Doutrina Esp�rita, e por isso n�o
nos fartamos de recomend�-los. In�meros s�o os
adeptos que n�o lhe conhecem todos os livros, e
que s� empregam seu tempo na leitura de comunica��es
enfeixadas em publica��es ou romances de
alcance limitado; isso, no entanto, se � desculp�vel
em pessoas que se n�o dedicam ao Espiritismo
experimental, j� n�o o � com os praticantes, especialmente
com os presidentes de sess�es.

(41) Allan Kardee � "A G�nese", cap. I, n� 54.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 153

O m�dium, qualquer que seja a sua faculdade,
jamais dever� deixar de trabalhar com amor e desinteresse.


Os bons sentimentos e a prece s�o os escudos
maiores e mais fortes para a defesa contra os
dardos das almas imperfeitas.

Um simples descuido pode favorecer a aproxima��o
delas, e logo o m�dium come�ar� a sentir
t�dio, descabidas suscetibilidades, desconfian�as
pueris, inc�modos que �s vezes lhe parecem sintoma
de mol�stia grave. N�o comparece � sess�o habitual.
Na semana seguinte, o mesmo lhe acontece,
mas ele n�o repara que s� nos dias de sess�o se
verifica o fato. Se cede pela segunda vez, fica a
poucos passos de cair. Orar e vigiar deve ser a sua
preocupa��o constante.

O m�dium, dissemos, jamais dever� negar-se
ao trabalho, ainda contra a sua vontade, pois neste
caso o seu m�rito ser� maior, porque se desempenha
dum encargo, vencendo as tenta��es. A falta
de vontade e a repulsa que sente para trabalhar,
pode ser muitas vezes influ�ncia perniciosa que lhe
cumpre repelir.

A todos os m�diuns que n�o trabalham, dirigimos
a seguinte exorta��o:

�Irm�os, sois compar�veis aos ricos que negam
esmolas, com a diferen�a de que, na hora da justi�a,
a vossa pena ser� mais severa. Os ricos que
negam esmolas, talvez tenham conseguido os bens
ap�s anos de rude labuta, ou herdado de algu�m;
de qualquer modo trabalham na sua administra��o;
a v�s, nada custou a posse de t�o afortunado


154 AUR�LIO A. VALENTE

patrim�nio e de nenhum esfor�o depende a sua conserva��o.
Deveis meditar que eram dirigidas para
v�s as palavras de Jesus: �Dai de gra�a o que de
gra�a recebestes.�

�� poss�vel que j� tenhais censurado um rico
de mau cora��o; entretanto, a vossa riqueza � bem
maior, sendo portanto maiores os benef�cios que podeis
espalhar; mas, apesar disso, guardais avaramente
esse tesouro e n�o proporcionais a caridade,
nem a v�s nem aos vossos irm�os. Sois o servo
mau, que enterrou os talentos da sublime par�bola
de Jesus.

�Quando penetrardes no Al�m, podereis ter
como castigo n�o encontrar m�dium que se preste
�s vossas comunica��es, e serdes impedidos de vos
manifestar. Embora repliqueis que ao partir n�o
pretendeis voltar, pergunto-vos: Sabeis o g�nero
de morte que vos aguarda? N�o podeis ser surpreendidos
com o decesso no meio dos vossos afazeres?
Tereis tempo de dispor os vossos neg�cios?
E, neste caso, a saudade dos entes queridos, a preocupa��o
de um dever n�o cumprido n�o vos atrair�
� Terra?

O desenvolvimento da mediunidade se consegue, tranq�ila
e eficientemente, atrav�s do aprimoramento moral e
do estudo met�dico e sistem�tico da Doutrina Esp�rita,
como esclarece o Autor em toda a obra. O estudo pode ser
realizado individualmente e, tamb�m, em grupo nas institui��es
esp�ritas. A FEB, por�m, n�o recomenda a ado��o
de denomina��es tais como: "escolas de m�diuns", "cursos"
e semelhantes, que possam induzir � ado��o, sempre inconveniente,
dos m�todos pedag�gicos e did�ticos da escola
acad�mica vigente, ainda que as reuni�es que se fa�am,
sob tais terminologias, sejam de sadia orienta��o, a exemplo
das que se organizam � luz das recomenda��es constantes
neste livro. O "Reformador" tem insistido neste assunto,
nos �ltimos anos, tendo em setembro de 1942 estampado
vasto trabalho sobre as chamadas "escolas de m�diuns".

Aos interessados indicamos, tamb�m, o estudo das
seguintes obras editadas pela FEB, al�m das de Allan


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 155

�Meditai, irm�os, penitenciai-vos da vossa falta
e lan�ai-vos � seara como os trabalhadores da
�ltima hora; pois, se o vosso trabalho for apreci�vel,
tereis direito a um bom sal�rio. Todavia, n�o
penseis nele, mas na sensa��o agrad�vel que nos enleva
ao fazermos o bem aos nossos irm�os. Assim,
distinguimo-nos aos olhos do nosso Pai Celeste.�

Kardec, Leon Denis e Gabriel Delanne, citadas no texto
desta: "Desobsess�o", de Andr� Luiz, e "Estude e Viva",
de Emmanuel e Andr� Luiz, ambas psicografadas por
Francisco C�ndido Xavier e Waldo Vieira; "Estudando o
Evangelho" e "Estudando a Mediunidade", de Martins
Peralva, a fim de completarem sua vis�o panor�mica a
respeito dos problemas da mediunidade, em particular, e
do Espiritismo, em geral. (Nota da Editora, em 1973, �s
chamadas de p� de p�gina �s p�ginas 135, 137 e 141.)


Cap�tulo VIII

DAS MANIFESTA��ES DOS VIVOS E
DOS MORTOS


Meios de identificar os Esp�ritos pela linguagem e
pelos fluidos. � Maneira de falar com os
invis�veis. � Fraudes e mistifica��es


No seu admir�vel livro �Animismo e Espiritismo
�, A. Aksakof denomina de animismo as manifesta��es
dos vivos. Esse termo foi aceito por
todos os esp�ritas, como necess�rio apenas para
classifica��o dos fen�menos, porquanto nenhuma
diferen�a existe entre a comunica��o de um vivo
e a de um morto. A fonte � sempre a mesma, � a
alma, quer seja de um vivo ou de um morto, que
manifesta sua exist�ncia real.

Respondendo ao Dr. von Hartmann, cientista
alem�o, A. Aksakof analisou os fen�menos com
a paci�ncia e a calma com que um cirurgi�o trabalha
numa interven��o melindrosa. A. Aksakof
cooperou para aumentar o patrim�nio de conhecimentos
esp�ritas.

A obra que vimos de citar, reposit�rio de fatos
numerosos e observa��es s�bias, deve fazer parte
da biblioteca de todo presidente de grupo, ao lado
das de Bozzano, Gibier, Rochas, Schrenck-Notzing
e outros. Sem o estudo meditado de livros de tal
valor, n�o ter� o experimentador orienta��o ne



AUR�LIO A. VALENTE

cessaria para distinguir e classificar os fen�menos
ps�quicos.

� por isso que dissemos que a parte moral do
Espiritismo est� ao alcance de todos, enquanto a
parte cient�fica � privil�gio dos que estudam.

As manifesta��es dos vivos podem confundir-
se perfeitamente com as dos habitantes do Al�m,
pois os fen�menos se produzem em id�nticas condi��es.
Como exemplo, vamos citar os seguintes
fatos: a) manifesta��o inconsciente de uma pessoa
distante; b) manifesta��o inconsciente de uma pessoa
presente; c) manifesta��o consciente de pessoa
presente.

� �Durante tr�s anos consecutivos p�de o Esp�rito
de um vivo manifestar-se por via da incorpora��o,
no grupo que dirig�amos, em Tours, sem
que o pud�ssemos distinguir dos Esp�ritos desencarnados,
que intervinham habitualmente em nossas
sess�es. Os pormenores mais positivos nos eram,
entretanto, por ele fornecidos acerca de sua identidade.
Dizia chamar-se B. e haver sido sacrist�o
da vila de D., na Sarthe. A voz arrastada, o gesto
lento e fatigado, a atitude curvada, contrastavam
com as atitudes e gestos pr�prios do m�dium e
dos outros Esp�ritos familiares.
N�s o reconhec�amos logo �s primeiras palavras
proferidas. Punha-se ele a narrar os menores
incidentes da sua vida, as admoesta��es do cura,
por motivo de sua pregui�a e bebedeiras que tomava,
o mau estado da igreja e dos paramentos
confiados aos seus cuidados, e at� as suas infrut�feras
pesquisas no Espa�o, a fim de encontrar a
confirma��o do que lhe havia sido ensinado.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 159

Tudo nele, prop�sitos, recorda��es, pesares, nos
dava a firme convic��o de estarmos tratando com
um desencarnado.

N�o foi por isso pequena a surpresa que experimentamos
quando um membro do nosso grupo,
tendo ido � indicada regi�o e sido encarregado de
proceder a uma pesquisa, nos informou que B. ainda
pertencia a este mundo. Tudo o que nos havia
dito era exato. Nosso secret�rio p�de v�-lo e conversar
com ele. Achando-se velho e cada vez mais
dado � pregui�a e � embriaguez, tivera que abandonar
suas fun��es. Todas as noites, �s primeiras
horas, deitava-se e adormecia profundamente.� (42)

� �Em uma noite de abril de 1926, em Mossor�
(Rio Grande do Norte), reunimo-nos com alguns
amigos para a sess�o habitual. Fazia parte
do nosso grupo, F. Silva, um dos mais dedicados
m�diuns videntes que temos encontrado at� ao
momento.
No decurso dos trabalhos, ele divisou algo que
lhe n�o pareceu ser a presen�a de uma entidade do
Espa�o.

Ao ser suspensa a concentra��o para pequeno
repouso, estabeleceu-se entre ele e outro companheiro
o seguinte di�logo:

F. Silva � O irm�o F. n�o se concentrou devidamente
hoje, n�o � verdade?
F. � Perd�o, posso garantir que hoje foi um
dos dias que julgo ter melhor me concentrado.
F. Silva � Se n�o foi o irm�o, foi outra pessoa.
Estou certo de que algu�m se distra�a durante
os trabalhos.
Nessa altura, vimo-nos obrigado a dizer que a
falta nos cabia. O confrade F. Silva contou, ent�o,

(42) Leon Denis � "No Invis�vel", cap. XII.

160 AUR�LIO A. VALENTE

a sua vid�ncia. Tinha visto uma jovem, de forma
diferente da que os Esp�ritos costumavam aparecer-
lhe. Descreveu circunstanciadamente todos os
caracter�sticos capazes de identificar a apari��o,
acrescentando que ela se mostrava e desaparecia
com freq��ncia, n�o tendo ele jamais presenciado
um fen�meno igual. Terminada a sua narra��o,
contamos ent�o de que modo nos t�nhamos distra�do.
Nessa mesma noite, ap�s a sess�o, dever�amos
ir � casa de um amigo, cuja filha hav�amos
solicitado em casamento, para um colega banc�rio.
A preocupa��o de n�o faltar � hora marcada,
contribuiu para que, inconscientemente, se produzisse
na sess�o um fen�meno que julgamos ser o
reflexo do pensamento ou uma forte atra��o da
alma da mo�a.�

� �Em 1860, eu passava o ver�o na aldeia de
Balaya Kolp (perto de Moscou), que � propriedade
do Pr�ncipe Shahovskoy.
Sua sogra, a Princesa Sofia Shahovskoy, tinha
adquirido o h�bito de tratar pela homeopatia os
doentes dos arredores.

Certo dia levaram-lhe uma menina doente. Indecisa
quanto ao rem�dio que lhe devia administrar,
a princesa teve a id�ia de pedir, por meio da mesa,
um conselho ao Dr. Hahnemann. Eu protestei energicamente
contra a id�ia de tratar um doente segundo
as indica��es de um ser que n�o se poderia
identificar. Insistiu-se, apesar da minha oposi��o,
e conseguiram instalar-me diante da mesa, com a
jovem Kovaleff, pupila da Princesa Shahovskoy.

Eu n�o confiava, ent�o, na homeopatia e era
de opini�o que nos casos graves cumpria transportar
qualquer doente � casa do m�dico da povoa��o.
A despeito dessa oposi��o interior, pois eu me abs



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 161

tinha de estend�-la at� � atividade das m�os � o
p� da mesa soletrou, por meio de pancadas, o nome
de Hahnemann, o que me contrariou bastante e
fiz votos �ntimos para que ele se recusasse a formular
um conselho. E justamente a frase ditada
foi que ele n�o podia dar conselhos. � A princesa
contrariou-se, por sua vez; atribuiu essa recusa �
minha oposi��o e afastou-me da mesa. N�o posso
dizer se quem me substituiu foi a pr�pria princesa
ou outra pessoa. Sentei-me perto da janela,
a alguns passos da mesa, e esforcei-me por uma
concentra��o de toda a minha vontade, em fazer
reproduzir pela mesa uma frase que formulei mentalmente.
Ent�o a princesa perguntou por que motivo
Hahnemann n�o podia dar conselhos. A resposta
foi (em franc�s): �Porque eu me tornei um
insensato em quest�es de Medicina, desde o dia em
que inventei a homeopatia.� Ditei esta frase fazendo
um apelo a toda a minha for�a de vontade e
concentrando o pensamento sucintamente sobre
cada uma das letras que deviam vir. Estou lembrada
de que nenhum erro foi cometido durante
a transmiss�o desta frase. Apenas foi terminada,
senti violenta dor na cabe�a.� (43)

Julgam certos adeptos que a intui��o e a assist�ncia
dos guias espirituais suprem perfeitamente
a falta de conhecimentos; n�o refletem, por�m, que
sem termos ci�ncia das coisas n�o poderemos ter
percep��o para distingui-las, e que a assist�ncia
dos nossos protetores � limitada. Sem estudos, n�o
seremos capazes de fazer dedu��es met�dicas e
acertadas. Se os Esp�ritos nos dissessem tudo, ne


(43) A. Aksakof � "Animismo e Espiritismo", cap. IV.
6


AUR�LIO A. VALENTE

nhum m�rito ter�amos e nenhum progresso conseguir�amos;
pois, pela lei natural do menor esfor�o,
acabar�amos por abdicar da nossa raz�o, contando
exclusivamente com o que proviesse dos invis�veis
.

A primeira narra��o corrobora perfeitamente
este fato. Durante tr�s anos o Esp�rito de um vivo
se manifestou num grupo, sem que os seus componentes
tivessem o menor aviso dos seus guias espirituais.
Entretanto, certo estamos de que foram
eles que concorreram para a descoberta, a fim de
proporcionarem aos seus protegidos mais uma oportunidade
de estudo. O profundo respeito e gratid�o
que Leon Denis manifestou pelos seus guias,
levaram-nos a pensar assim.

Quando se t�m bons videntes, suficientemente
desenvolvidos, n�o se torna dif�cil distinguir as
manifesta��es das almas encarnadas das de entidades
do Al�m. Uma diferen�a bem frisante consiste
em apresentarem as almas dos vivos um fio
luminoso, alongando-se pelo espa�o, semelhante �
cauda de um cometa. � o la�o que liga o Esp�rito
ao corpo. Por maior que seja o desprendimento
e a dist�ncia, ele n�o se parte sen�o com a morte.
Em certas circunst�ncias n�o ser� dif�cil haver
confus�o. Imaginemos que � evocado um Esp�rito
que j� est� encarnado novamente, sendo-lhe permitida
a comunica��o. A fim de que isso se possa
produzir, a nova personalidade dever� cair em transe
ou adormecer.

O Esp�rito semiliberto comparecer� ao grupo,
e, pela natural diversidade de dons � poder� ser
visto por um m�dium, tal como foi, e, por outro,
tal como � em sua nova vida. Desse modo, � l�gico
que o fio flu�dico ser� observado com maior ou


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 163

menor intensidade, conforme o grau de faculdade
dos m�diuns.

Os videntes s�o muito bons auxiliares em qualquer
grupo, por�m, como todos os m�diuns, est�o
sujeitos a ser ludibriados. � pois indispens�vel
recomendar a an�lise criteriosa de todas as descri��es
que fizerem, especialmente se as vis�es se
apresentarem sob forma aleg�rica.

A raz�o e o bom-senso s�o mais dif�ceis de
serem enganados, principalmente se a eles se aliar
a rara faculdade da vid�ncia mental.

Das mediunidades, parece-nos que a intuitiva
� a menos sujeita a mistifica��o, pelo simples fato
de n�o saberem com precis�o, os possuidores dessa
faculdade, onde acaba o que lhes pertence e come�a

o que vem dos Esp�ritos. Assim, mais que os outros
m�diuns, eles raciocinam demoradamente todas
as vezes que recebem pensamentos estranhos.
Os videntes devem estar sempre prevenidos
contra os Esp�ritos que se transformam ardilosamente
em v�rias personalidades ou mudam de vestu�rio.


A interpreta��o das vid�ncias cabe ao diretor
dos trabalhos, ou aos seus auxiliares. Aos videntes
compete distinguir a categoria dos Esp�ritos,
pelos fluidos e pelas atitudes.

Os m�diuns dever�o receber elucida��es bastante
claras e precisas, porque h� Esp�ritos sofredores,
bons; sofredores, maus; instru�dos ou ignorantes,
como felizes e desgra�ados.

Os sofredores maus, em geral, deixam no m�dium
a sensa��o de forte calor ou frio intenso, mal-
estar inexplic�vel, ang�stia tal, cujo t�rmino s�
se verifica depois de certo tempo, ou mais rapidamente
com a incorpora��o de um Esp�rito bom, ou
do pr�prio Guia do m�dium.


164 AUR�LIO A. VALENTE

A princ�pio, os m�diuns sentem certa dificuldade
em distinguir os bons dos maus, mas, depois
de receberem algumas explica��es e praticarem,
aprendem a conhecer os invis�veis, como n�s, com

o decorrer dos tempos, acabamos por n�o confundir
os tratantes com os homens de bem.
As manifesta��es dos obsessores n�o devem
ser provocadas sen�o com as devidas cautelas, sob
a orienta��o do guia espiritual, e nem todos os
m�diuns est�o em condi��es de receb�-los, pois, embora
eles, �s vezes, n�o manifestem sinais evidentes
de sofrimentos, experimentam cruciantes dores
e deixam nos m�diuns uma perniciosa influ�ncia
que chega at� a lhes causar males f�sicos. As pessoas
sens�veis, delicadas de f�sico, nem sempre podem
servir de instrumento a Esp�ritos endurecidos
e maus.

A aproxima��o dos bons, que j� n�o s�o atormentados
por sofrimentos atrozes, � t�o agrad�vel
como a brisa suave e fresca de uma tarde primaveril.
A influ�ncia deles se torna t�o sutil que o
m�dium se sente transportado, enlevado, persuadido
de que n�o est� sendo influenciado.

Uma vez, no Grupo �Paz e Harmonia�, sentimos
a intui��o de que o m�dium M. estava vacilando
em dar uma comunica��o. Dirigimo-nos a ele
sobre o modo de prestar o m�dium o seu concurso
aos Esp�ritos, e imediatamente ele come�ou a transmitir
uma admir�vel exorta��o. Ao encerrar-se a
sess�o, disse-nos que estava debaixo de agrad�vel
sensa��o, como nunca tinha. experimentado, e, por
isso, julgava que n�o se encontrava sob a a��o de
um Esp�rito.

Os Esp�ritos inferiores costumam simular sofrimentos
para melhor se insinuarem. O presidente
de uma sess�o nunca deve perder de vista o m�



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 165

dium que estiver recebendo uma comunica��o, porque
os Esp�ritos, queiram ou n�o, transmitem aos
m�diuns as sensa��es de suas pr�prias dores, gestos
e express�es fision�micas, assaz denunciadoras.
Mais de uma vez tivemos oportunidade de desmascarar
mistificadores, que se tra�ram desse modo.

Com exce��o dos Esp�ritos elevados, a primeira
impress�o que causam os Esp�ritos, ao se aproximarem
dos m�diuns, � uma esp�cie de choque
el�trico, ou uma formiga��o semelhante � que sentimos
quando deixamos por longo tempo um membro,
sem movimento, ou em posi��o for�ada. Logo
depois, uma impress�o de peso ou leveza apodera-
se da pessoa, parecendo que o corpo cresce
como bal�o.

Um bom Esp�rito, quando j� tem a nobre miss�o
de guia, n�o produzir�, em absoluto, num m�dium,
sobressaltos e contra��es fision�micas, que
d�em ind�cios de sofrimentos, a n�o ser que o m�dium
seja convulsivo (44), coisa bastante rara.
Durante todo o tempo que nos iniciamos na pr�tica
esp�rita, at� hoje, apenas encontramos um m�dium
dessa natureza. E foi somente depois de certo
tempo de observa��es sobre o car�ter do m�dium,
e dos esfor�os do seu guia espiritual, que pudemos
classific�-lo nessa categoria.

Pelo que acabamos de dizer, n�o se dever�
supor Esp�rito elevado o que faz o m�dium sofrer
ao receb�-lo. Exemplifiquemos: Comunica-se um
Esp�rito expressando-se em termos autorit�rios,
aconselhando de maneira firme e imperiosa, alegando
a sua qualidade de guia do Grupo ou de
uma pessoa qualquer. � S� esse modo de proceder
� bem significativo. Se observarmos atentamente o

(44) Vide "O Livro dos M�diuns".

166 AUR�LIO A. VALENTE

m�dium e notarmos contra��es fision�micas an�logas
�s das pessoas que desejam esconder seus sofrimentos,
poderemos concluir, sem medo de errar,
que nos encontramos diante de um impostor.

A simula��o � sempre ind�cio veemente de inferioridade.
Os bons Esp�ritos nunca imp�em, tampouco
usam de lud�brio, para conseguirem os
seus objetivos.

Os experimentadores jamais dever�o esquecer
que a linguagem � um dos meios mais seguros para
conhecermos a eleva��o dos Esp�ritos. Nunca �
demais trocarem entre si, os membros dum mesmo
grupo, impress�es francas e leais sobre as manifesta��es
recebidas, pois, deste modo, a presun��o
e a vaidade ter�o mais dificuldade de implantarem-
se no meio.

A linguagem identifica sempre o Esp�rito. Os
sofredores lamentam as suas dores, os obsessores
deixam transparecer �dio e desejo de vingan�a,
os impostores falam com autoridade e imposi��o, os
velhacos revelam ci�me e inveja, os zombeteiros
t�m a preocupa��o de causar hilaridade.

Os bons respeitam as nossas convic��es, nunca
descobrem coisas �ntimas que possam envergonhar
algu�m diante de outrem; aconselham e suas palavras
parecem com as que um pai amoroso dirige
aos seus filhos, induzindo-os ao bom caminho. At�
mesmo o simples gracejo � diferente. O proveniente
de um Esp�rito bom, � fino, agrad�vel, causa
bom-humor, mas n�o suscetibiliza, n�o ofende, n�o
acabrunha. O de origem m� � grosseiro, ferino,
perverso.

Um Esp�rito bom, quando necessita advertir-
nos sobre qualquer motivo, f�-lo de maneira h�bil,
sem causar humilha��o ou constrangimento. Eis
um exemplo edificante:


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 167

�Acontece freq�entemente que pessoas vindas
pela primeira vez �s nossas reuni�es e desconhecidas
dos m�diuns, recebiam conselhos, palavras de
anima��o ou censura, apropriadas ao seu estado
moral e aos seus secretos pensamentos. Essas advert�ncias,
obscuras para os outros ouvintes, eram
sempre claras e positivas para os interessados. E
n�o era um dos menores atrativos de tais manifesta��es
essa arte que empregava o �Esp�rito Azul�,
em falar diante de todos, de coisas �ntimas e ocultas,
de modo a evitar qualquer indiscri��o, tornando-
se perfeitamente claro para a pessoa alvejada.
� (45)

Quanta ventura a de possuir o privil�gio de
contar com protetores invis�veis dotados de tal eleva��o
!

Para conquist�-la, � necess�rio dedica��o, perseveran�a,
vontade firme de progredir e fazer o
bem, e isso s� conseguimos depois de largo tiroc�nio
de experimenta��o.

Os Esp�ritos s�rios s�o incapazes de responder
sobre o que ignoram. Confessam-no sempre com
naturalidade, e, quando sabem e n�o lhes � permitido
dizer, n�o usam de subterf�gios em suas
respostas.

N�o predizem o futuro sen�o em casos especiais,
e isso mesmo quando a revela��o n�o pode
mais tolher a marcha dos acontecimentos, nem influir
na vontade dos protagonistas.

Os levianos e pseudo-s�bios respondem a tudo
sem a preocupa��o das conseq��ncias, boas ou m�s,
oriundas das suas palavras.

� imprescind�vel vigil�ncia cont�nua contra a
lisonja e suposta descoberta de coisas ocultas. De


(45 ) Leon Denis � "No Invis�vel", cap. XIX.

168 AUR�LIO A. VALENTE

vemos ter, mesmo, repulsa pela revela��o dos segredos
�ntimos que possam afetar a honra e o brio
de algu�m. Ainda que o Esp�rito justifique boa
inten��o, n�o se lhe deve dar cr�dito, pois os bons
jamais humilham. O modo de proceder deles � sempre
firmado no bem e no amor. Eles agem, quando
necess�rio, do mesmo modo que agia o �Esp�rito
Azul� de que nos fala Leon Denis.

Lament�veis casos de dissolu��o de Grupos, de
lares, rompimento de fraternas amizades, j� se t�m
verificado, devido a insinua��es sutis e perversas
de Esp�ritos inferiores.

Muita preven��o devemos ter, tamb�m, com as
manifesta��es que venham aureoladas de nomes
respeit�veis, pois � muito comum usarem desse ardil
os Esp�ritos mal�volos, quando se querem impor
no meio. Apesar de bastante conhecido esse
ardil, ainda h� muitas pessoas que se deixam ludibriar,
causando admira��o aos confrades. � que
os Esp�ritos, percebendo os intuitos secretos dos
experimentadores, sabem aproveitar-se capciosamente
dos seus pontos vulner�veis.

J� tivemos a tristeza de assistir a sess�es, nas
quais, manifesta��es pueris, destitu�das de qualquer
coisa aproveit�vel, eram atribu�das a entidades
vener�veis nos meios religiosos, cient�ficos ou art�sticos
.

Todos esses perigos, que vimos expondo, t�m
contribu�do para a queda de muita gente, simplesmente
porque n�o sabem ou n�o recordam, com
insist�ncia, o sublime conselho do Esp�rito S�o
Lu�s: � �Qualquer que seja a confian�a leg�tima
que vos inspirem os Esp�ritos que presidem aos
vossos trabalhos, h� uma recomenda��o que n�o
cessaremos de repetir, e que deveis ter sempre em
mente, quando vos entregardes aos vossos estudos:


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 169

� que deveis pesar, refletir e sujeitar, ao rigoroso
e severo exame da raz�o, todas as comunica��es
que receberdes, e que n�o vos descuideis de pedir
as explica��es necess�rias, desde que qualquer ponto
vos pare�a suspeito, duvidoso ou obscuro, a fim
de vos fixardes.� (46)

Todos quantos trabalham com elevados fins e
s�o assistidos por Esp�ritos verdadeiramente preocupados
com o bem de seus irm�os terrenos, recebem
constantes advert�ncias, avisos e conselhos,
prevenindo-os contra a ast�cia dos Esp�ritos das
trevas.

Fernando de Lacerda, que j� tivemos oportunidade
de citar, recebeu do Esp�rito que se deu
a conhecer como �Castilho� uma comunica��o da
qual destacaremos, para o nosso livrinho, o seguinte
trecho: �.. . Cautela, pois. Nenhum de n�s estranhar�
as provas a que nos submeteres; e quanto
mais rigorosas, mais nos alegrar�o, por te vermos
alerta. Tu � que te deves acautelar com aquelas a
que te queiram submeter.� (47)

Muitas vezes s�o os pr�prios membros dos
grupos que contribuem para as mistifica��es, pois
que se aborrecem com manifesta��es de Esp�ritos
sofredores e s� desejam comunica��es de Esp�ritos
elevados.

J� encontramos alguns m�diuns que tinham a
vaidade de dizer que n�o �emprestavam� mais seus
aparelhos para Esp�ritos atrasados.

H� muitos anos, fomos obrigados a trabalhar
numa cidade onde a aus�ncia de m�diuns desenvolvidos
nos provocava s�rios embara�os. Os poucos

(46) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", 2� Parte,
cap. XXIV.
(47) Fernando de Lacerda � "Do Pais da Luz", I volume,
cap. XXI.

170 AUR�LIO A. VALENTE

de que disp�nhamos, s� se prestavam para comunica��es
de Esp�ritos sofredores e bastante atrasados.
Em pensamento, solicit�vamos orienta��o
do Alto, que merc� de Deus nunca nos faltou. N�s
a desej�vamos, por�m de maneira mais positiva do
que se apresentava. Quer�amos manifesta��es de
Esp�ritos mais adiantados, que transmitissem oralmente,
ou pela psicografia, conselhos ou esclarecimentos
de que est�vamos carecendo, e, por isso,
t�nhamos certa tristeza que tal n�o se desse.

Uma noite, ap�s ter sido doutrinado um Esp�rito
sofredor, disse-nos ele assim:

� �Escuta, agora, o recado dum Esp�rito claro
e bom, que nos auxilia nas comunica��es neste
grupo e tamb�m te protege: Os guias n�o podem
tomar o lugar dos sofredores ou de outros necessitados,
para satisfazer desejos que se n�o justificam.
Quando a manifesta��o de um protetor se torna
necess�ria, costuma ser dada mesmo sem ser pedida
ou desejada. Os bons Esp�ritos t�m meios de
agir direta ou indiretamente, e a prova tens nos
resultados que vens obtendo.�
Ao ouvir estas palavras, transmitidas com tanta
justeza por um simples sertanejo, insciente completamente
da Doutrina Esp�rita, sentimos uma
grande satisfa��o e at� como��o e nunca mais pedimos,
mesmo por pensamento, comunica��es de
Esp�ritos protetores. Nos momentos prop�cios, eles
encontram os meios de demonstrar sua presen�a e
amparo.

Julgamos muito a prop�sito inserir aqui a seguinte
comunica��o:

�Com que fim pedis quase sempre comunica��es
dos Esp�ritos? Para terdes belos trechos e
os mostrardes aos vossos conhecidos como prova
do vosso talento? Conserv�-las carinhosamente nos


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 171

�lbuns, mas sem um lugar no vosso cora��o? Pensais
que muito nos lisonjeia o apresentarmo-nos em
vossas assembl�ias, como num concurso, a fazer
rasgos de eloq��ncia, para que tenhais o gosto de
dizer que a sess�o estava interessante? Que vos
resta quando achais uma comunica��o admir�vel?
Julgais que vimos aqui buscar os vossos aplausos?
Desenganai-vos; n�o nos apraz divertir-vos de qualquer
modo que seja; de vossa parte, procurais dissimular
a caridade, pois o nosso fim � tornar-vos
melhores. Ora, quando vemos que as nossas palavras
n�o frutificam e que tudo se resume, de vosso
lado, a uma est�ril aprova��o, vamos procurar almas
d�ceis; deixamos, ent�o, que venham em nosso
lugar os Esp�ritos que s� desejam falar, e n�o h�
falta deles. Admirais-vos de os deixarmos adotar

o nosso nome? Que vos importa, desde que o nome
n�o tem import�ncia? Entretanto, sabei que o n�o
consentimos, em rela��o �queles por quem, realmente,
nos interessamos, isto �, aqueles com os
quais sabemos n�o perder o nosso tempo. Esses,
sim, s�o os que preferimos e preservamos da mentira.
Queixai-vos de v�s mesmos, se tantas vezes
sois enganados; para n�s o homem s�rio n�o �
aquele que deixa de rir, mas aquele cujo cora��o
se impressiona com as nossas palavras, e que medita
sobre elas e delas se aproveita. � Massilon.� (48)
A reserva com que devemos acatar as manifesta��es
de Esp�ritos de pessoas respeit�veis, por
qualquer t�tulo, na Terra, n�o deve ser extremada
ao ponto de as tomarmos logo como meras mistifica��es.
Nosso dever � passar tudo pelo crivo
do mais severo exame, e nunca aceitar aquilo que
for de encontro � nossa raz�o. Antes, por�m, que

(48) Allan Kardec � "O Livro dos M�diuns", 2� Parte,
cap. XXXI.

AUR�LIO A. VALENTE

tenhamos fundados argumentos para crer, jamais
devemos afirmar, dizendo: �Esta manifesta��o �
de A., de B. ou de C.�

As comunica��es de Esp�ritos humildes, desconhecidos,
ou de parentes nossos, s�o t�o interessantes
ou mais, ainda, que as de pessoas c�lebres,
porquanto aquelas s�o sempre mais f�ceis
de identificar, do que estas. Al�m das dificuldades
habituais que se nos apresentam, como falta de
afinidade de fluidos, antagonismo de sentimentos
do m�dium com os Esp�ritos, o desconhecimento,
por vezes, da Hist�ria e da vida privada ou p�blica
do comunicante, temos a considerar, tamb�m,
a sua natural evolu��o. Julgar, por exemplo, que

os Esp�ritos Nero, Alexandre VI, Torquemada,
viriam hoje comunicar-se com as mesmas imperfei��es
morais que contribu�ram para sua negra celebridade,
seria negar-lhes o progresso a cuja lei
nenhum Esp�rito pode escapar.

N�o pode deixar de fazer parte dos nossos
estudos a maneira de falar aos Esp�ritos que se
comunicam. N�o � isso coisa f�cil, como se julga �
primeira vista. Se entre os nossos irm�os invis�veis
se encontram alguns que rapidamente assimilam
o sentido das nossas palavras, outros h�, cuja
compreens�o se faz com dificuldade. Se o Esp�rito
� sofredor e revoltado contra sua situa��o, se tem
pouco tempo de desencarnado e nenhuma no��o
possui da vida do Al�m; se fortes la�os materiais

o prendem a este mundo, ent�o, o nosso esfor�o
se torna maior e mais complexo o nosso trabalho,
n�o s� para esclarec�-lo devidamente, como tamb�m
para tirar algum proveito das suas manifesta��es.
De princ�pio, devemos logo dizer que, em hip�tese
alguma, deveremos falar aos Esp�ritos de coisas
que nos acanhar�amos de tratar numa conver



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 173

sac�o, caso eles estivessem ainda encarnados. A
�nica diferen�a entre os Esp�ritos e n�s, � a falta
de corpo f�sico. No mais, continuam tal qual foram
na Terra. Por vezes, quantas tentativas fazemos
para nos aproximar de algu�m, a fim de tratar de
determinado assunto, sem que a coragem nos anime
a falar. Por que, pois, pelo fato de a entidade
achar-se apenas invis�vel aos olhos do nosso corpo,
vamos proceder de maneira contr�ria?

Nossa linguagem com os desencarnados deve
ser id�ntica a que empregamos entre n�s. Jamais,
especialmente com os obsessores e maus Esp�ritos,
devemos impor-nos com autoritarismo e severidade;
as nossas palavras devem ser portadoras de
conforto, est�mulo e consola��o, e para isso devem
expressar bondade, encorajamento, do�ura e amor,
a fim de enternec�-los. S� assim, e com preces, �
que conseguiremos modificar-lhes o car�ter. Falar
com rispidez, causa sempre revolta e arriscamos a
cair no rid�culo, como o confrade de quem nos fala
Allan Kardec, em �O Livro dos M�diuns�, e que
recebeu esta significativa resposta: � �Deixa-me
sossegado, que com teus modos de mata-mouros
�s t�o bom como eu, �s como o ladr�o que quer
moralizar outro ladr�o.�

Uma palavra meiga, mais conselheira que imperativa,
produz um prodigioso efeito. O mesmo
acontece entre n�s. Porventura n�o nos revolta o
modo insolente de certas pessoas dirigirem-se aos
seus semelhantes, especialmente quando conhecemos

o n�vel moral em que se encontram? (49)
Em todos os casos que tivermos de estar em
contacto com os Esp�ritos, � imprescind�vel captar-
lhes a confian�a, fazer deles amigos dedicados, e,

(49) Vide caps. IX e XIV do livro "Pontos e Contos".

174 AURELIO A. VALENTE

para isso, � necess�rio que a nossa linguagem tenha

o encanto de despertar-lhes bons sentimentos, por
mais perversos que eles nos pare�am.
Hoje ningu�m mais ter� coragem, estamos certo,
de perguntar aos Esp�ritos que idade tem A. ou

B. ; quanto F. tem no bolso ou outras puerilidades,
visto haver assuntos mais importantes e n�o constituir
isso, em absoluto, elemento preciso de investiga��o;
todavia, ainda existe muita pergunta f�til,
que pessoas inescrupulosas dirigem aos Esp�ritos.
Na Terra, nenhuma pessoa de certa ilustra��o e
eleva��o moral sujeitar-se-ia a responder a perguntas
triviais.
As banalidades e coisas mundanas e mesquinhas
somente interessam aos Esp�ritos imperfeitos,
e esses, mais numerosos, est�o prontos a tudo responder
.

De quanta paci�ncia deve revestir-se a nossa
linguagem dirigida a um Esp�rito perturbado, cheio
de ang�stia! Imaginemos um homem caminhando
despreocupadamente por uma estrada. Inesperadamente,
� acometido de uma s�ncope ou v�tima
de um atentado. Perde os sentidos. Ao voltar a
si, quanto tempo necessita para coordenar as suas
id�ias? Tudo lhe parece confuso. Tudo lhe � estranho.
Ao se lhe indagar quem �, qual a fam�lia,
onde mora, com muita dificuldade receberemos as
respostas, e, por vezes, at� o pr�prio nome n�o
sabe dizer. Segundo dizem os pr�prios habitantes
do Al�m, tal � a situa��o de um rec�m-desencarnado.
Vagam no Espa�o, julgando-se vivos, sem
conhecerem a sua nova situa��o, numa ang�stia
indiz�vel. � preciso, pois, que os doutrinadores saibam
falar com os irm�os invis�veis.

At� hoje o �nico homem que soube com profici�ncia
e rara habilidade falar aos Esp�ritos, ten



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 175

do o objetivo firmado de colher frutos ben�ficos
para a Humanidade, foi incontestavelmente Hippolyte
Leon Denizard Rivail, o mestre Allan Kardec.
As suas obras s�o, como ele diz, mais dos Esp�ritos
que dele pr�prio. O seu concurso maior foi a paci�ncia,
a perseveran�a, a ordem e o m�todo que
lhe caracterizaram o trabalho. Desse �rduo e aben�oado
esfor�o resultou a codifica��o da Doutrina
Esp�rita.

Comum, muito comum mesmo, � encontrarmos
grupos que n�o se dedicam a estudos que visem ao
bem-estar e ao progresso da Humanidade. Nem mesmo
os seus pr�prios componentes usufruem desses
benef�cios. As manifesta��es sucedem-se umas �s
outras, continuamente, sem trazerem um s� ensinamento
novo, sem que os adeptos saibam tirar
proveito das que melhor se apresentam.

As investiga��es dos experimentadores restringem-
se mais ao fen�meno do que �s conseq��ncias
decorrentes dele. E estas s�o justamente os fatores
do progresso moral e intelectual da grande fam�lia
humana, por�m, como conseguir esse objetivo
sem estudo e medita��o? Preferem os experimentadores,
quando v�o al�m da curiosidade de ver o
fen�meno, perguntar somente coisas de interesse
particular, cujas conseq��ncias nem sempre s�o vantajosas.
Uma das coisas comuns � indagar direta
ou indiretamente o que fomos na encarna��o anterior.
Que nos adianta isso? Por que perguntar
uma coisa desnecess�ria? Aqueles a quem Deus julga
conveniente a lembran�a do passado, dota-os
desse raro e penoso privil�gio, como bem diz Leon
Denis. A prova dessa possibilidade j� se tem verificado
e tais casos se encontram minuciosamente
relatados em acatadas obras esp�ritas.


176 AURELIO A. VALENTE

Saber o que fomos � uma curiosidade perigosa,
de que sabem aproveitar-se os Esp�ritos malignos
e levianos. Conhecemos de perto o caso de um confrade
ilustrado e dedicado � pr�tica do Espiritismo,
que caiu num po�o de rid�culo em conseq��ncia
dessas indaga��es. Perguntou o que fora na �ltima
encarna��o. O Esp�rito interrogado, conhecendo o
�ntimo do interlocutor, respondeu-lhe com frases
repassadas de profunda rever�ncia, que ele havia
sido um nobre de alta linhagem � um aut�ntico
marqu�s russo. Da� por diante, o humilde e simples
propagandista tomou-se de atitudes aristocr�ticas.
Era uma tristeza v�-lo em poses estudadas,
andar calculado de quem s� pisa assoalhos de veludo,
semblante de superioridade. Um outro, disse-
nos, com uma rude e convicta franqueza, que
havia sido um dos grandes iniciados do Egito, cujo
nome � bastante conhecido. Isso era motivo para
viver isolado em beat�ficas posi��es. Enquanto essas
supostas �revela��es� afetarem um s� indiv�duo,
ele � o �nico a sofrer; por�m, a maldade de um
perseguidor pode fazer refletirem-se dolorosamente
essas coisas numa fam�lia inteira.

Se a recorda��o das vidas passadas concorresse
para nosso benef�cio, Deus nos teria proporcionado
essa faculdade em toda a sua plenitude.

Julgamos necess�rio que todos repilam sempre
essas �revela��es�, porquanto elas s� em casos especiais,
e por isso mesmo dif�ceis de conhecer, podem
produzir alguma coisa de �til. Contentemo-nos
com estudar o nosso �eu�, e, em nossas inclina��es,
em nossos v�cios, em nosso adiantamento moral e
intelectual, em nossas id�ias inatas, enfim, encontraremos
os vest�gios bem acentuados do que fomos
na �ltima encarna��o.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 177

A observa��o, o estudo e o conhecimento pr�tico
dos homens contribuem vantajosamente para
adquirimos os segredos de conversar simpaticamente
com os Esp�ritos, mas, somente ap�s prolongado
tiroc�nio, conseguiremos atingir o grau necess�rio
.

Nenhum esp�rita dedicado aos trabalhos pr�ticos
deve abdicar do direito de cr�tica. S�o os pr�prios
Esp�ritos, quando dotados de elevados sentimentos
e prop�sitos, que nos aconselham a tudo
analisar. �Orar e vigiar�, era constantemente recomendado
por Jesus a seus disc�pulos, e tanto zelo
tinham eles por essa advert�ncia, que S�o Jo�o assim
se expressou na sua I Ep�stola: �Amados, n�o
creais a todo Esp�rito, mas provai se os Esp�ritos
s�o de Deus, porque j� muitos falsos profetas se
t�m levantado no mundo.�

Os bons Esp�ritos, conhecendo bem os perigos
a que nos achamos expostos, nunca se molestam
com as nossas indaga��es, por numerosas que sejam.
E quando n�o v�em nelas o reflexo da sinceridade,
o desejo de praticar o bem e progredir,
afastam-se com tristeza. Procedimento contr�rio
t�m os Esp�ritos inferiores. Um suposto Esp�rito
elevado pontificava numa seara, quando tivemos
oportunidade de assistir a uma sess�o. A atitude
calma do m�dium e as palavras pausadas e calculadas
pareciam provar a presen�a de um ente iluminado.
Mas, o mentiroso traz sempre consigo algo
de denunciador. Solicitamos ao presidente permiss�o
para falar com o Esp�rito manifestante e prontamente
fomos atendido. Indagamos, ent�o, v�rias
coisas de interesse doutrin�rio e que se relacionavam
com o modo de trabalhar nesse grupo. O Esp�rito
respondeu com certa grosseria, passou uma
reprimenda extempor�nea e incab�vel no presidente,


178 AUR�LIO A. VALENTE

e, num gesto r�pido, arrancou a toalha da mesa,
fez dela uma bola e atirou-a sobre n�s.

O estudo das mistifica��es requer carinhosa
aten��o de todos os investigadores, porque elas
podem ter causas diversas; umas vezes s�o provenientes
dos m�diuns, outras, dos Esp�ritos. Os
primeiros agem algumas vezes conscientemente e
outras em completo estado de inconsci�ncia; mas
os segundos, isto �, os Esp�ritos, t�m sempre no��o
exata daquilo que praticam.

Os Esp�ritos das Trevas, desejosos de aumentar

o n�mero dos seus companheiros de infort�nio, n�o
t�m escr�pulos, nem escolhem meios para arrastar
� perdi��o os homens dotados das melhores inten��es.
Como j� dissemos, a influ�ncia nefasta � uma
prova ou um castigo, mas, tanto num como noutro
caso, nunca ficamos privados da assist�ncia do
nosso anjo guardi�o. Se n�o sentimos a sua presen�a,
� porque nos colocamos em condi��es mais
favor�veis para atrair justamente aqueles que desejamos
repelir. A perigosa influ�ncia mais se acentua
quando a pessoa possui faculdades medi�nicas.
J� tem acontecido verem-se m�diuns dotados de
�timas faculdades ser apanhados em fraudes grosseiras,
depois de terem contribu�do para valiosas
convers�es, em conseq��ncia da produ��o de fen�menos
surpreendentes. Os inimigos do Espiritismo
aproveitam-se disso para tachar de embusteiros
todos os m�diuns, e de papalvos, todos os que se
convenceram. Isso, por�m, n�o passa de injusta
maneira de ver. Em todos os casos da atividade
humana se t�m verificado fatos semelhantes. No
com�rcio, um produto mal preparado n�o prova que
os anteriores, da mesma proced�ncia, n�o eram
bons; as torpes explora��es de um m�dico de fama


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 179

n�o provam que esta deixou de ser adquirida �
custa de diagn�sticos precisos e curas acertadas.

As fraudes dos m�diuns de poderes excepcionais
quase sempre s�o provocadas pelos Esp�ritos
impuros, com o duplo prop�sito de coloc�-los em
situa��o embara�osa e fazer pairar o descr�dito
sobre o Espiritismo.

Na Europa e na Am�rica do Norte, h� pessoas
que aproveitam a sua faculdade medi�nica como
meio de vida, tornando-se assim m�diuns profissionais.
Alguns deles, n�o se pode negar, t�m contribu�do
de maneira apreci�vel para a propaganda da
Doutrina Esp�rita. Dedicando todo o seu tempo
� experimenta��o, podem submeter-se, a qualquer
hora do dia ou da noite, a experi�ncias nos gabinetes
e laborat�rios de s�bios. Uma vez que prejudicam
inteiramente o seu meio de vida, pretendem
justificar, com isso, o sal�rio que recebem. N�o
raro, por�m, a vaidade, o orgulho, pior ainda, o
desejo de auferir maiores proventos, tentam-nos a
ir al�m do que lhes permitem as suas possibilidades,
e, quando pressentem o fracasso, n�o vacilam
em fraudar.

No Brasil, merc� de Deus, n�o proliferou essa
casta de m�diuns profissionais, porque a maioria
dos adeptos v� mais o alcance moral, do que o
interesse da ci�ncia profana, e, quando aparece algu�m
anunciando pelos jornais os seus pr�prios feitos,
para atrair boa clientela, os esp�ritas s�o os
primeiros a apont�-los como meros charlat�es. Os
m�diuns, no Brasil, n�o recebem pagamentos, seja
qual for o pretexto, mas este fato n�o elimina a
fraude e a simula��o, consciente ou inconsciente.
Cabe � arg�cia dos praticantes da Doutrina distinguir
a verdade da impostura. Os m�diuns de
moral duvidosa s�o sempre assistidos por Esp�ritos


180 AUR�LIO A. VALENTE

imperfeitos; todavia, vezes h� que Esp�ritos bons,
amigos ou parentes nossos, se manifestam com o
concurso de m�diuns inescrupulosos e d�o-nos os
mais convincentes sinais de identidade. A primeira
vista, isto nos parece estranho; f�cil, por�m, � a
explica��o. Os Esp�ritos desejosos de se comunicarem,
achando neles facilidades que n�o haviam
encontrado em outros, vencem a sua natural repulsa
e se manifestam, tal como n�s quando nos vemos,
muitas vezes, coagidos a privar, e at� conviver com
pessoas que est�o em completo antagonismo conosco,
por princ�pios, id�ias e car�ter.

� obriga��o de todo diretor de grupo exercer
vigil�ncia permanente e perspicaz sobre todos os
m�diuns. E sempre que estiver convicto da mistifica��o
de um m�dium, dever� agir com prud�ncia
e serenidade, a fim de evitar incidentes desagrad�veis.
� necess�rio mesmo certa habilidade para.

sem que os outros percebam, fazer o mentiroso
compreender que foi descoberto. Agindo assim, n�o
causaremos esc�ndalos nem revoltas. Se o m�dium
se arrepender, procurar� emendar-se; em caso contr�rio,
vendo que n�o pode enganar, retira-se para
outra freguesia. Eis alguns casos de mistifica��es
observados por n�s:

Um m�dium, bastante recomendado por um
amigo nosso, compareceu para trabalhar no grupo
a que presid�amos. Sentou-se � mesa e logo recebeu
a manifesta��o de um Esp�rito de literato, pois de
prefer�ncia era ele procurado por �mortos ilustres�,
segundo afirmava. N�o conseguimos identific�-lo,
por desconhecermos a sua vida e os seus escritos,
por�m, a linguagem corriqueira, destitu�da de qualquer
imagem bela, como sabem ter os homens de
letras, deixou-nos algo desconfiado. Na sess�o imediata,
outro �morto ilustre� apareceu, e desta vez,


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 181

felizmente, nosso conhecido. Sem dar a perceber
a desconfian�a que ficou da vez anterior, deixamos

o Esp�rito comunicar-se com inteira liberdade, pois
ainda n�o t�nhamos certeza de onde provinha a
mistifica��o, se do m�dium ou do Esp�rito. Exaltamos
as suas qualidades morais, o seu pendor liter�rio,
e, quando bem grande era o seu desembara�o,
atirando �s vezes pedradas bem fortes na gram�tica,
pedimos que recitasse uma das suas poesias.
Imediatamente fez-se mudo. Insistimos, crivamo-lo
de perguntas. O seu desembara�o transformou-se
em perturba��o, alegou v�rias coisas, sem raz�o
de ser, e abandonou o m�dium, prometendo voltar
depois para satisfazer o meu pedido. N�o � preciso
terminar a narra��o, dizendo que o m�dium
aludido nunca mais nos apareceu. Algum tempo
depois, comentando-lhe a aus�ncia, um dos videntes
da nossa seara disse-nos que ele n�o mais voltaria,
porque n�o tinha conseguido arranjar uma poesia
para decorar...
H� ocasi�es, por�m, que se faz sentir a necessidade
de usar de certa energia, para mais depressa
conseguirmos os nossos intentos.

De uma feita, est�vamos na sede da Uni�o
Esp�rita Paraense, preocupado com a expedi��o
de �A Revela��o�, quando o nosso prestimoso confrade
A. R. chegou para aplicar passes em in�meras
pessoas que o aguardavam. Depois de atender
diversos irm�os, sentou-se diante dele uma senhora,
que logo come�ou a fazer um barulho fora do
comum: batia os p�s, balan�ava os bra�os, gritava,
fazia esc�ndalo. A. R., com paci�ncia de Job,
procurava acalm�-la. Atra�do pelo barulho, chega-
mo-nos a ele e pedimos permiss�o para ajud�-lo,

o que ele aceitou de muito bom grado. Concentra-
mo-nos. Estranhando aquilo, concentramo-nos no

AUR�LIO A. VALENTE

vamente, pedindo a A. R. que continuasse a sua
tarefa. Em poucos instantes, veio-nos n�tida a intui��o
da verdade. Levantamo-nos da cadeira onde
nos hav�amos sentado e, pondo a m�o com energia
no ombro da referida senhora, dissemos-lhe:

� �Acabe imediatamente com essa com�dia, que
poder� trazer-lhe graves conseq��ncias. N�o admito
que continue a fazer isso.�
Com a rapidez do raio, a senhora assumiu atitude
decente e retirou-se desapontada. O intuito
dela era impressionar as pessoas que a acompanhavam,
para obten��o de certos favores. Se n�o fora
a nossa interven��o, a com�dia seria mais demorada,
porque A. R. tinha imensa vergonha em liquidar
o assunto, como fizemos. � poss�vel que
houv�ssemos errado, mas tivemos a inten��o sincera
de acertar.

Em certo grupo muito conhecido em Bel�m
(Par�), quando, a pedido da presidente da sociedade,
tentamos uma experi�ncia de sonambulismo
com uma jovem, ela se p�s a gritar, gesticulando
de maneira desagrad�vel, alarmando as pessoas que
se encontravam pr�ximo. Dentro de poucos instantes,
tudo cessou como por encanto. O calmante foi
bem simples. Sem que ningu�m percebesse, dissemos-
lhe o seguinte: �N�o fa�a isso que � muito
feio, n�o pense que me engana; se n�o se calar,
ter� que se envergonhar diante de todas as pessoas
que aqui se encontram.�

Muitos outros casos poder�amos citar. Entretanto,
n�o o fazemos porque estamos escrevendo
para os que acreditam nos fen�menos e sabem, portanto,
quanto alguns m�diuns procuram mistificar.

Uma das maneiras habilidosas de os Esp�ritos
se insinuarem entre os experimentadores, � a lisonja
simulada, em comunica��es pessoais. Assim, to



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 183

das as comunica��es, dirigidas particularmente a
algu�m, devem passar pelo crivo do mais severo
exame. Durante anos de pr�tica constante do Espiritismo,
nunca recebemos uma s� comunica��o
diretamente dirigida a n�s. Uma vez, por�m, no
Grupo �Paz e Harmonia�, a que presid�amos, apareceu
uma mensagem muito bem escrita, repleta
de elogios que nos visavam de prefer�ncia. Estranhando
o caso, n�o manifestamos nada aos nossos
companheiros, mas pedimos a comunica��o do Esp�rito,
por incorpora��o, e por outro m�dium. No
decurso da conversa, conseguimos desmascarar o
mistificador, causando admira��o a alguns dos nossos
irm�os, que n�o esperavam por aquele desfecho.

Sejamos sempre estudiosos, argutos, dotados
de f� e vontade de progredir e fazer o bem, prudentes,
serenos e humildes, e nos colocaremos em
condi��es assaz favor�veis para receber todas as
intui��es dos nossos guias espirituais. Assim, se
n�o conseguirmos afastar de todo o perigo das
mistifica��es, por serem elas at� certo ponto necess�rias
e permitidas, a t�tulo de estudo e advert�ncia,
encontraremos mais facilidade em conhecer
a verdade.

Alguns Esp�ritos, com o evidente intuito de
serem tomados em considera��o, n�o t�m pejo em
assinar as suas mensagens com nomes respeit�veis.
� primeira vista, elas nada de mal encerram.
S�o exorta��es ao bem, palavras de est�mulo que
sempre encontram guarida em nossos cora��es. Em
vista disso, certos confrades n�o vacilam em aceit�-
las sob a alega��o de que o nome nada vale. O
nome, verdadeiramente, nada importa, dizem os Esp�ritos
e sobejas raz�es o provam. Entretanto, esse
argumento � mais forte para repelir, do que para
acatar. S� as gralhas se enfeitam com penas de


AUR�LIO A. VALENTE

pav�o. Se h� boa inten��o, nenhuma raz�o existe
para um Esp�rito assinar um nome que n�o � o
seu. N�o se tem descoberto j�, nas entrelinhas de
belas comunica��es, o veneno da intriga, do diss�dio
e do embuste? Um Esp�rito ardiloso pode, com
fingidas palavras, impor-se no seio de um grupo,
e, logo que � obedecido, passa a exercer a sua perniciosa
influ�ncia, e cedo o grupo deixa de existir.

Da forma por que falamos das mistifica��es,
pode parecer que um cuidado doentio faz-nos extremamente
desconfiados, mas isso � plenamente justificado.
A peregrina��o atrav�s de muitos grupos
deu-nos ensejo de ver quanto a boa-f� dos adeptos
� explorada pelos Esp�ritos levianos. Podemos prever
at� onde chegam as conseq��ncias de uma mistifica��o?
Allan Kardec, advertindo-nos dos perigos
das mistifica��es, disse que era prefer�vel rejeitar
noventa e nove manifesta��es verdadeiras a aceitar
uma s� falsa.

M�diuns h�, felizmente raros, sem no��o exata
do mandato augusto que Deus lhes outorgou, capazes
das mais nojentas fraudes. Chegam ao ponto
de se fazerem de incorporados, para dizerem coisas
que n�o teriam coragem de dizer de outro modo.
Outros fingem, para obterem favores, conseguir satisfa��es
de caprichos, imporem suas vontades ou
chamar sobre si considera��o que n�o merecem.
Todos quantos procedem desse modo, ficam furiosos
quando se lhes arranca a m�scara. Nenhum

m�dium bem-intencionado pode zangar-se por ter

sido transmissor de uma mistifica��o, porquanto

ele serve apenas de mero instrumento.

Todo diretor de grupo deve educar os m�diuns

de maneira que nenhum fique suscetibilizado pelo

fato de receber uma mistifica��o ou receber so


mente Esp�ritos de baixa escala. Das piores coisas


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 185

deste mundo, Deus tira os melhores proveitos. Para
que os jardins se encham de flores belas e perfumadas,
h� necessidade de estrume; para que um
Esp�rito perverso seja recebido com demonstra��es
de j�bilo ao reencarnar, a Provid�ncia Divina lan�a-
lhe um v�u sobre a mem�ria e veste-o com a
roupa da inoc�ncia.

N�o s�o somente as afinidades de sentimentos,
prazeres e fluidos que fazem os m�diuns preferir
esta ou aquela ordem de Esp�ritos, mas tamb�m
certas particularidades que favorecem uma conquista
de objetivos. Assim � que um m�dium de
bons sentimentos e compreens�o exata dos seus
deveres pode receber quase s� Esp�ritos inferiores,
simplesmente porque os guias v�em nele um elemento
que contribui mais rapidamente para a regenera��o
dos atrasados.

Nos grupos a que presidimos, procuramos sempre
educar os m�diuns de acordo com todos os preceitos
e recomenda��es que expusemos neste livro.
E, merc� de Deus, nunca se registraram casos lament�veis,
porque os nossos irm�os souberam compreender
o verdadeiro alcance do dom que lhes foi
confiado.

O mal n�o est� tanto nos Esp�ritos inferiores
que nos rodeiam, mas, principalmente, nas imperfei��es
da nossa alma. Cumpre-nos, pois, expurgar

o nosso Esp�rito de todos os resqu�cios de animalidade,
para que tamb�m brilhe na escurid�o em que
vivemos, ao menos como a t�nue e inconstante luz
dos pirilampos.

Cap�tulo IX

PRAZERES MORAIS E ESPIRITUAIS

As sess�es esp�ritas como fonte de prazeres e
ensinamentos. � Sess�es de linha e sess�es de
mesa. � Finalidade da Nova Revela��o.
� O Esp�rito Consolador

Para combater o t�dio, distrair-se das labutas
di�rias, esconder desventuras, procura o homem divertir-
se. O teatro, o cinema, os campos de esporte,
as reuni�es �ntimas e familiares e at� os cabar�s
constituem pontos prediletos de atra��o, de acordo
com os sentimentos e car�ter de cada um. Uns
procuram simplesmente rir, outros buscam satisfa��o
de prazeres que v�o desde os mais inocentes
at� os mais sensuais e depravados.

Mas, todos esses prazeres t�m dura��o ef�mera,
acabam sempre com a satisfa��o do desejo.
Uma diferen�a enorme os separa dos prazeres morais
ou espirituais. Enquanto a lembran�a de um
prazer material apenas participa momentaneamente
do pensamento e n�o sacia mais, a recorda��o
de um prazer moral ou espiritual faz a nossa alma
vibrar com a mesma intensidade, como no instante
em que o gozamos pela vez primeira. Quanta alegria
�ntima e doces sensa��es experimentamos ao
recordar um ato nobre que praticamos, um aux�lio
inesperado que proporcionamos a algu�m? A me



188 AUR�LIO A. VALENTE

dita��o sobre as conseq��ncias de atos de caridade,
por n�s praticados, eleva-nos o esp�rito aos p�ramos
celestes.

J� viste, leitor amigo, o sorriso doce e gr�cil
de uma crian�a que, sem ter tido um brinquedo,
recebeu um de tuas m�os?

J� observaste o semblante esperan�oso de um
doente desamparado, quando uma pessoa caridosa

o toma a seus cuidados?
J� sentaste um homem faminto � tua mesa?
N�o desses pobres que exploram a caridade p�blica,
mas um desses pobres envergonhados, que
escondem dos outros as suas priva��es?

Se nada disso fizeste, n�o podes calcular o
quanto a nossa alma se comove nesses instantes
de prazer indefin�vel. O sorriso da crian�a, a fisionomia
do doente, cheia de gratid�o, o comer silencioso
do necessitado, regando por vezes o seu prato
com l�grimas, produzem-nos satisfa��es que n�o
permitem compara��es.

A recorda��o de cenas assim, leva-nos a meditar
sobre a desproporcionada distribui��o de bens
terrenos, e chegamos � conclus�o que s� o Espiritismo
tem o segredo da sua explica��o.

Se a ingratid�o de alguns te afrontar, n�o tenhas
o temor de continuar a distribuir o bem em
volta de ti. �Devemos perdoar aos nossos irm�os,
n�o sete vezes, mas setenta vezes sete� � disse
Jesus a Pedro. Abandonando a pr�tica da caridade,
podes deixar de resgatar um compromisso
assumido em vidas passadas ou correres o risco
de fechar a tua porta a uma pessoa ligada a ti
por la�os de parentesco espiritual.

Se queres progredir, procura prazeres que d�em
luz ao teu intelecto e despertem em tua alma o
amor a Deus e ao teu pr�ximo.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 189

Freq�enta sess�es bem orientadas. Nelas encontramos
inesgot�vel manancial de ensinamentos
e prazeres.

Muitos alegam falta de tempo. Suas ocupa��es
absorventes n�o lhes permitem uma hora sequer,
por semana, para freq�entar uma seara. Aparece,
entretanto, tempo para outras coisas menos produtivas,
e at� prejudiciais. H� a hora do aperitivo,
a hora do ch�, durante as quais tanta futilidade
� ventilada e a vida do pr�ximo retalhada.

Quando num grupo se consegue uma perfeita
harmonia entre os seus componentes e os habitantes
do Al�m, as sess�es assemelham-se �s fontes
de �guas milagrosas, que curam todos os males.
Muitas vezes, no Par�, deix�vamos a sede do Grupo
dos �Filhos Pr�digos� ou do Grupo �Paz e Harmonia
�, sentindo ainda a nossa alma arrebatada
para o Infinito. Comunica��es instrutivas, fraternas,
e humildes umas, comoventes, angustiosas outras,
deixavam sempre em todos n�s indel�veis impress�es
.

Isso n�o se consegue em grupos em forma��o,
onde os elementos ainda heterog�neos lutam por
identificar-se e estabelecer a harmonia. Os Esp�ritos
elevados ficam ao longe, como as estrelas,
cuja luz perde a intensidade antes de chegar at�
n�s. Mas, com o decorrer dos tempos, desde que
haja firmeza de f� e perseveran�a na pr�tica do
Bem, uma atra��o m�tua se estabelece e come�amos,
ent�o, a contar com a fraterna e valiosa
prote��o deles.

Quanta ventura sentir� um grupo que venha

a merecer a assist�ncia de Esp�ritos como o �Es


p�rito Azul� e �Jer�nimo�, dos quais nos fala Leon

Denis com tanto respeito e gratid�o!


AUR�LIO A. VALENTE

�A solicitude e a prote��o do Esp�rito Azul
estendiam-se a todos os membros do grupo e se
patentearam muitas vezes no dom�nio dos fatos.
V�rios dentre n�s, premidos por s�rias dificuldades,
consegu�amos venc�-las gra�as � a��o providencial
desse Esp�rito, que, nos casos mais melindrosos
e no momento oportuno, sabia fazer surgir
um socorro, provocar uma interven��o inesperada.
� (50)

� uma verdadeira felicidade contar com prote��o
assim, vigilante pelos nossos mais simples
desejos ou necessidades.

Hoje que o Espiritismo est� bastante conhecido
e cresce dia a dia o n�mero de seus adeptos,
� natural que tamb�m mais numerosas sejam as
agremia��es formadas para o estudar e praticar.

Nenhum experimentador, por�m, por mais culto
e dotado de bons sentimentos que seja, poder�
dirigir com certo desembara�o um grupo, se n�o
tiver conhecimento te�rico e pr�tico da Doutrina.
Para essa aquisi��o � imprescind�vel o estudo cuidadoso
de todas as obras de Allan Kardec e de
outros publicistas, especialmente Leon Denis, a nosso
ver o mais autorizado depois do Codificador.

Temos visto muitos confrades que se encheram
de supersti��es e fanatismo, por terem tido um
mau princ�pio. Outros fazem, sem que disso possa
resultar algum benef�cio, uma verdadeira mescla
de espiritismo, esoterismo, teosofismo e at� feiti�aria.
Nem sempre devemos culpar os nossos irm�os,
porquanto, entre os fatores que contribuem
para um perfeito conhecimento do Espiritismo, conta-
se inegavelmente o pre�o dos livros, cada dia
mais elevado, sujeito, como est�, ao custo do papel.

(50) L�on Denis � "No Invis�vel", cap. XIX.

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 191

Nem todos podem adquiri-los. Se os recursos sobram
para um ou dois, faltam para os demais. �
esta uma das causas que nos levaram a escrever
este livrinho. Nele procuramos reunir tudo quanto
julgamos necess�rio para a organiza��o de um grupo
e seu m�todo de trabalho. N�o � uma obra
para doutos, porque esses t�m outras, melhores e
mais autorizadas. Ela � destinada aos humildes,
�queles que, n�o possuindo recurso para compra de
muitas obras, possam ter uma s�ntese, sen�o perfeita
e completa, pelo menos com o essencial para
que n�o transformem a pr�tica esp�rita num amontoado
de inconveni�ncias. N�o nos seduziu a preocupa��o
de lhe dar forma liter�ria, pois cultura
nos falta tamb�m para isso, mas o extremado cuidado
de nos fazermos entender. Os simples s� compreendem
a linguagem singela e sincera, e assim
foi que escrevemos.

A pr�tica do Espiritismo traz-nos sempre encantos,
quando temos elevados intuitos. As sess�es
dos grupos bem dirigidos atraem e deslumbram.
S�o esperadas com a mesma ansiedade com que
uma mulher amorosa aguarda a chegada de um
filho. Ainda mesmo quando nenhuma comunica��o
seja dada, como v�rias vezes ocorreu em grupos
por n�s freq�entados, nem por isso deix�vamos de
experimentar os mais doces momentos de prazer.
A leitura do ponto de estudo, sua explana��o e a
prece, eram suficientes para nos proporcionar deliciosos
instantes.

Nas sess�es encontramos sempre consola��es
para as nossas dores, encorajamento para a luta
pelo progresso e, muito mais ainda, o preparo lento
do nosso esp�rito para suportar com paci�ncia e
resigna��o os transes dolorosos da vida.


AUR�LIO A. VALENTE

Repetidas vezes, no Grupo �Paz e Harmonia�,
inexplicavelmente o sorteio do ponto de estudo ca�a
sobre o tema: �Mortes prematuras�. Tempos depois,
no Maranh�o, sofremos a dor da saudade,
vendo partir para o Al�m um adorado filhinho.
Acudiu-nos, ent�o, firme, a recorda��o das leituras
feitas nas sess�es. Com a alma genuflexa, agradecemos
a Deus o seu grande favor. � justamente
quando as maiores dores nos acabrunham que reconhecemos
ser uma grande felicidade adotar a
Doutrina Esp�rita como religi�o. N�s e a terna
esposa, unidos na mesma dor, soubemos, como esp�ritas,
suportar a dolorosa prova.

A pr�tica do Espiritismo faculta-nos tamb�m
uma calma confiante e orienta��o acertada nos
momentos de perigo.

Ao nascer o nosso terceiro filhinho, julgamos
perder a esposa. Uma grande hemorragia sobreveio
ao parto. O semblante desfigurado e desfalecido da
parturiente provocou afli��o no seio da fam�lia.
Incontinenti chamamos um m�dico, para satisfa��o
de todos. Antes, por�m, que ele chegasse, apelamos
para os nossos irm�os invis�veis. De joelho,
na cama, iniciamos uma aplica��o de passes, num
transporte de profunda f�. A parteira, nossa cons�ror,
ajudou-nos muito com as suas preces. Sem
outro recurso al�m dos passes, tudo cessou como
por encanto. O m�dico n�o se fez esperar, mas,
nada encontrando de alarmante, gracejou bastante,
dizendo que lhe hav�amos pregado tremendo susto.
Dias depois, a fisionomia abatida e a anemia profunda
denunciavam claramente o perigo por que
havia passado a parturiente.

Se f�ssemos argumentar com maior n�mero
de fatos, a nossa obra n�o ficaria restrita a um
pequeno volume.


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 193

Em todos os grupos multiplica-se a solicitude
dos Esp�ritos pelos nossos destinos. O que notamos,
infelizmente, � a enorme diversidade na maneira de
trabalhar nas sess�es. Todos os esp�ritas alimentamos,
por�m, justificado desejo: ver uma s� orienta��o
na organiza��o dos grupos e um s� m�todo
de trabalho. Seria para n�s uma das maiores venturas
se consegu�ssemos, com esta obra, uma modesta
contribui��o para essa uniformidade.

� simplesmente lament�vel vermos os mais
disparatados modos de praticar o Espiritismo, dando
aos profanos a impress�o de serem os grupos
contr�rios entre si. A maneira de praticar o Espiritismo
vai, desde os grupos bem organizados e
escrupulosos, aos desorientados e fan�ticos. Chegou-
se, at�, a estabelecer distin��o entre �sess�es
de mesa� e �sess�es de linha�. Estas, onde pontificam
africanos e �ndios, de acordo com os prop�sitos
bons ou maus, s�o chamadas �linha branca�
ou �linha negra�.

Causa estranheza que pessoas de certo preparo
e destaque social se deixem influenciar pelas
sess�es de �linha�, a ponto de dar-lhes maior prefer�ncia.
Considerando todos encarnados, que ju�zo
faremos de um homem ilustrado que deixe o meio
em que vive para buscar, sobre assuntos de ci�ncia
ou de Moral, conselhos de pretos velhos ou paj�s?
Que conseq��ncias morais trar�o, para o nosso progresso,
as dan�as r�sticas e os rituais t�o em
uso nas �sess�es de linha� ? Qual a finalidade de
se despojarem os adeptos de suas roupas, para, em
mangas de camisa, cal�as arrega�adas e descal�os,
entoarem c�nticos e se entregarem � vol�pia de
dan�as vertiginosas? N�o querendo fazer um conceito
precipitado e injusto, damos ao leitor e aos


194 AUR�LIO A. VALENTE

defensores dessas sess�es a liberdade de meditarem

no que acabamos de expor.

A isso alguns d�o o nome de Espiritismo, en


quanto outros o denominam de afro-catolicismo.

Uma coisa, por�m, afirmamos: n�o � Doutrina Es


p�rita .

N�o queremos, de forma alguma, condenar nem
censurar essas sess�es, porquanto reconhecemos
que muitas s�o protegidas por Esp�ritos dotados de
bons sentimentos (51). N�s mesmo temos a satisfa��o
de contar com a prote��o de um �ndio. A sua
apari��o foi inesperada e em momento oportuno,
a uma vidente do nosso lar. Tempos depois, manifestou-
se pela primeira vez num grupo onde n�o
se evocavam �caboclos�. Ele j� nos tem dado provas
de profunda simpatia e amparo. A sua linguagem,
que encanta pela singeleza e atrai pelas
express�es de amizade, � dada sem palavras de
�meia l�ngua�, t�o comuns entre Esp�ritos dessa

natureza. A linguagem atrapalhada, como de estrangeiros,
n�o tem outro intuito sen�o impressionar
os ouvintes. Cumpre, mais uma vez, advertir
que o mundo dos Esp�ritos � um reflexo do nosso.
L�, como aqui, bons e maus existem.

Na Terra � evidente a distin��o das ra�as.
Umas se destacam pelo progresso e cultura, outras
pelo atraso ou estacionamento. Algumas vezes por
miss�o, expia��o ou prova��o, almas que j� conquistaram
o privil�gio de reencarnar, no seio de
ra�as adiantadas, s�o obrigadas a voltar entre povos
pouco evolu�dos. Um Esp�rito que adquiriu
certo adiantamento, voltando � Terra entre povos
atrasados, contribui com o patrim�nio de seus conhecimentos
� coisa que nunca perde � para o

(51) Ler caps. XXXIII e XXXIV de "L�zaro Redivivo".

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 195

progresso de seus irm�os de conv�vio. Em tudo a
Provid�ncia Divina se manifesta sabiamente. Esses
Esp�ritos s�o f�ceis de reconhecer pelo contraste
que fazem no meio em que habitam. Retornando,
por�m, � vida do Al�m, o Esp�rito recupera a sua
personalidade e analisa os proveitos que conquistou
na �ltima encarna��o. Deste modo, se a evolu��o
dele j� chegou ao ponto de se tornar protetor de

um grupo, nenhuma necessidade tem de manifestar-
se sob a forma de um �ndio, ou de um negro,
falando como quem desconhece a nossa l�ngua. Os
Esp�ritos que assim se comunicam, ainda que fatos
materiais provem as suas boas inten��es, n�o podem
deixar de necessitar de doutrina��o. A linguagem
dos Esp�ritos � o pensamento. Um chin�s pode
manifestar-se em l�ngua portuguesa, com a mesma
facilidade com que se expressa na sua pr�pria.

A perfeita igualdade nos m�todos de trabalho
nas sess�es � imposs�vel, mas todos os adeptos
do Espiritismo devem contribuir para que menos
profundas sejam as diferen�as de um grupo para
outro. Sem identidade, n�o haver� fraternidade.

O Espiritismo � a for�a que impele o homem
para o progresso.

� nas sess�es, observando as manifesta��es
dos Esp�ritos, que temos oportunidade de avaliar
a sua grande pot�ncia e colher os mais profundos
ensinamentos.

As conseq��ncias dos ensinos dos Esp�ritos
refletem-se na educa��o e na instru��o dos seus
adeptos.

Todo esp�rita, antes de atirar-se � propaganda
e agir publicamente, tem o dever de preparar os
seus descendentes. Para a reforma moral da Humanidade
� imprescind�vel a reforma do homem. �
preciso gente nova para lutar contra o flagelo do


196

AUR�LIO A. VALENTE

mundo � o materialismo � que j� perverteu a
gera��o atual. �Os odres velhos n�o podem conter
vinhos novos.�

� necess�rio santificar o lar. Educar a crian�a
na realidade da vida, para poupar-lhe decep��es
que tanto acabrunham e martirizam a mocidade.
O verdadeiro esp�rita come�a a propaganda por
casa, mostrando ao mundo os ben�ficos efeitos da
doutrina que professa.

Os antigos h�bitos precisam modificados.
As velhas religi�es n�o preenchem mais os seus
fins. De nada valem essas p�blicas e pomposas manifesta��es
de suposta cren�a, representadas pelos
congressos eucar�sticos, aos quais se atribuem t�o
subido valor.
A corrup��o dos costumes dos povos cat�licos,
a guerra civil que ensang�enta a Espanha, a tradicional
Espanha cat�lica, s�o atestados insofism�veis
da fal�ncia dos recursos morais da Igreja de
Roma. Isso basta para ofuscar o brilho dos con


gressos, meras exibi��es mundanas, nos quais os
interesses pol�ticos falam mais alto do que a f�.
Como n�ufragos na ang�stia da asfixia, a Igreja
Cat�lica agarra-se aos Governos num amplexo
de salva��o ambiciosa. Pleiteia favores que nega
aos outros credos. �Tudo por ser a verdadeira religi�o
de Deus.� Caricata ironia para n�o dizer
amesquinhamento da Onipot�ncia, � o querer a prote��o
dos homens para implantar o que � de Deus.
Somente os que se acham emancipados de todos
os seus dogmas podem ver atrav�s dos propalados
anseios, pelo bem da Humanidade, o seu verdadeiro
objetivo, que � a volta ao dom�nio absoluto do

poder temporal.
Mas a Humanidade de hoje n�o se pode mais
submeter ao jugo da f� cega. Estamos na era da


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 197

Ci�ncia; o que entristece, por�m, � que a ci�ncia
oficial, ou n�o, seja materialista, e disso tem culpa
a pr�pria Igreja Romana.

A Ci�ncia, cavando cada vez mais o abismo
que a separa da Religi�o, tem grande responsabilidade
no naufr�gio da Humanidade nos mares encapelados
do materialismo. O Espiritismo � o sol que
desponta no horizonte. Ele vai dissipar as trevas
da noite de tormenta, avivar a esperan�a nos cora��es
desesperados, despertar a f� nas almas combalidas.
� o Esp�rito Consolador que vem ficar
eternamente conosco. S� ele tem a eloq��ncia precisa
para vencer o niilismo, porque, sem impor nem
coagir, mostra e demonstra aquilo que produz e
ensina.

No s�culo da luz, o homem busca tirar do
efeito a causa que lhe deu origem. � preciso pois
que a sua religi�o fale da ci�ncia, da alma e do
cora��o. Essa tr�plice linguagem, s� a Doutrina
Esp�rita sabe falar.

O Espiritismo n�o restringe sua a��o ao homem
em si, ou a pequenos n�cleos. Ele � universal.
Parodiando as express�es ma��nicas, diremos que
ele se estende de norte a sul, do oriente ao ocidente,
do nadir ao z�nite.

O mundo atravessa um per�odo cr�tico. Estamos
numa �poca de transi��o, em que as id�ias
novas procuram suplantar as velhas. E estas, com
desespero de feras mal feridas, lutam ardorosamente
.

Nessa batalha, iniciada com a cat�strofe da
Grande Guerra de 1914, as mais disparatadas e
absurdas ideologias encontram defensores, e os
homens sem car�ter e de concep��es retr�gradas
emergem no seio das massas, como as impurezas
numa ebuli��o.


AUR�LIO A. VALENTE

Estamos no reinado dos med�ocres. Uma falange
de Esp�ritos que, por merc� de Deus, voltou
� Terra para mais uma tentativa de regenera��o,
encheu-se de vaidade e falso saber. Para expressar
a flagrante diverg�ncia entre as conquistas adquiridas
e as suas chamadas id�ias novas, n�o lhes
serviu mais o termo �modernismo�, por parecer
vetusto, e inventou outro � �futurismo�! Na Linguagem,
na Ci�ncia e principalmente nas Artes,
uma verdadeira aberra��o do saber, da verdade e
do sentimento do Belo apresenta-nos coisas estapaf�rdias
e sem express�o, como verdadeira manifesta��o
de g�nios.

A Poesia perdeu o seu tom mavioso e o ritmo
encantador; a Escultura deixou de render culto
� Pl�stica; a Pintura transformou-se numa berrante
combina��o de cores e tra�os incoerentes, jamais
encontrada nos pr�prios contrastes da Natureza;
a M�sica deturpou-se num choque de sons fanhosos
e gritantes, a Dan�a degenerou em expans�es sensuais
e sapateados africanos.

Mais triste que tudo isso, ainda, � a tenebrosa
influ�ncia dos financistas desumanos. Numa louca
concep��o das leis de economia, contribuem para
a destrui��o dos produtos. A Bondade Divina auxiliou
o homem, concedendo-lhe meios para inven��o
de m�quinas. Destinavam-se elas a aumentar
e baratear a produ��o, dar maior descanso e lazeres
ao homem; entretanto, por uma ironia da
sorte, quanto mais e melhor as m�quinas produzem,
mais a vida encarece e se torna dif�cil. Em
todos os pa�ses produz-se para destruir. Ao lado

da superprodu��o, a mis�ria; junto aos milh�es em
g�neros destru�dos, in�meras pessoas sucumbem de


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 199

fome. Estudam-se os meios de produzir, restringir
e destruir, mas ningu�m resolve o �X� da equa��o,
que � a distribui��o e o consumo.

Mas a Provid�ncia Divina n�o desampara a
Humanidade: se no mundo habita a falange dos
med�ocres, tamb�m baixou a coorte dos s�bios e
dos bons. Estes s�o em menor n�mero, mas, como

o mundo pertence �s minorias audazes, eles, conscientes
de que s�o poucos, unem-se como os Trezentos
de Gede�o, para a luta gloriosa.
Ante isto, os adeptos do Espiritismo n�o
devem julgar que seguir a Doutrina � cuidar de
si s�, da sua fam�lia ou do pequeno n�cleo de que
fazem parte. A finalidade do Espiritismo � a regenera��o
da Humanidade.

Se os homens soubessem observar os fen�menos
sociais, buscariam, nas leis divinas e naturais,
a base fundamental dos seus c�digos.

Deus concedeu ao homem o maior bem que
lhe podia dar � a liberdade. O mais s�bio, como

o mais rude, o mais puro, como o mais depravado,
tem liberdade de fazer ou n�o fazer o que lhe
apraz ou contraria. Nenhuma for�a lhe tolhe a
a��o, mas nada impede que o agente goze ou sofra
as conseq��ncias de seus atos, bons ou maus, sejam
eles de ordem f�sica ou moral.
A um guloso, nenhum medicamento evita uma
indigest�o; a um intemperante, nada o livra da embriaguez;
de um criminoso, ningu�m afasta o remorso.
N�o h� falta sem puni��o, nem preju�zo
sem reparo.

O perd�o tem sido falsamente interpretado.

Deus n�o perdoa, cobrindo com um v�u um
passado de iniquidades. Ningu�m foge � sua justi�a,
embora tenha o livramento dos homens, ou a
hipot�tica e caricata absolvi��o oferecida pela Igre



200

AUR�LIO A. VALENTE

ja Cat�lica. O perd�o de Deus consiste na providencial
concess�o dos meios de resgate para todos
os males praticados.

�Ningu�m entrar� nos reinos dos c�us, sem
ter pago o �ltimo ceitil� � disse Jesus.

Como buscar meios que nos induzam � compreens�o
exata dos nossos deveres para com Deus,
para com n�s mesmos e para com o nosso pr�ximo?
Como adquirir a perfeita compreens�o da Justi�a?
� �Esp�ritas, amai-vos, eis o primeiro ensino;
instru�-vos, eis o segundo� � sentenciou o Esp�rito
de Verdade.

Freq�entai sess�es bem orientadas. Buscai
nelas os ensinamentos precisos, que nunca faltam.
Aprendei a domar os maus sentimentos, a fechar
a boca para evitar uma palavra ofensiva, acostumai-
vos a reprimir todos os gestos violentos ou de
amea�as; educai os vossos pensamentos, moralizando-
os. Antes de atribuir aos outros as advert�ncias
recebidas em sess�o, fa�amos severo exame de
consci�ncia para ver se elas n�o se dirigem de prefer�ncia
a n�s mesmos. E ainda que n�o o sejam,
tomemo-las como tal, habituando-nos � humildade.

Ao lado das advert�ncias e exorta��es dos
Guias esclarecidos, os atrozes sofrimentos dos Esp�ritos
falidos servem-nos de exemplos e previdentes
avisos.

Todos os Grupos Esp�ritas devem ter uma escola,
por modesta que seja. Instruir os ignorantes
� miss�o aben�oada e patri�tica. N�o devem, por�m,
os esp�ritas aliar-se �s famosas caravanas que,
esquecendo as necessitadas cidades do sert�o, percorrem
somente as do litoral, recebendo e oferecendo
banquetes, gastando em exibi��es o suficiente
para a cria��o e manuten��o de v�rias escolas. �


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 201

profundamente lament�vel e traz-nos grandes decep��es,
no Al�m, o aproveitarmos as causas sagradas
para satisfa��o de interesses pr�prios.

Enquanto os outros viajam e discursam sobre
necessidades que todos conhecem, o esp�rita deve
proceder como aconselhou o inesquec�vel Leon Denis:
�n�o discute, pois, mas trabalha�.

De norte a sul, in�meras sociedades esp�ritas
mant�m freq�entadas escolas.

Tudo quanto temos dito n�o representa uma
fantasia nossa, � o resultado do que temos colhido
no estudo de obras esp�ritas e nos Grupos do Par�,
dos quais a recorda��o sempre se faz com um terno
sentimento de saudade.

Apesar de termos freq�entado v�rios Grupos
naquele Estado, e noutros, s�o naturais as constantes
refer�ncias que fazemos ao Grupo dos �Filhos
Pr�digos� e ao Grupo �Paz e Harmonia�.
Neles a nossa perman�ncia foi mais prolongada e
por conseq��ncia maior o nosso raio de observa��es.
Neles encontramos ambiente fraterno, identidade
de id�ias e sentimentos, harmonia enfim.

Em Bel�m do Par� in�meros s�o os grupos que
a eles se assemelham. Citar nomes seria tarefa
dif�cil e ingrata, pois arriscar�amos deixar, no olvido,
justamente os de maior merecimento.

O segredo dessas organiza��es de divulga��o
esp�rita, naquela cidade, tem o seu fundamento no
amor, na dedica��o sem limites, na abnega��o dos
adeptos que ali vivem.

Os fen�menos produzidos, gra�as � mediunidade
da Sra. Ana Prado, contribu�ram para a propaganda;
todavia, um fator preponderante concorre
para que a semente da Nova Revela��o seja
levada a todos os recantos do Estado � � a morte
do preconceito.


202 AUR�LIO A. VALENTE

Ali, quem se inicia no Espiritismo � qualquer
que seja a sua posi��o social, n�o se arreceia de
publicamente fazer a sua profiss�o de f�, recordando
as palavras de Jesus: � �Aquele que se
envergonhar de mim perante os homens, eu me
envergonharei dele, diante do Pai.�

Freq�entemente, autoridades civis e militares
assumem a tribuna da Uni�o Esp�rita Paraense
para dissertarem sobre o Espiritismo. Como exemplo,
citaremos o abnegado propagandista Solerno
Moreira, major do Ex�rcito Nacional, e o Desembargador
Nogueira de Faria, que, tendo sido v�rias
vezes autoridade m�xima do Estado, deixava o Pal�cio
do Governo e dirigia-se � sede daquela Sociedade
para fazer confer�ncias doutrin�rias.

Estas atitudes, altamente dignas, n�o podem
ser equiparadas �s daqueles que comparecem a
prociss�es e missas campais por pol�tica ou por
outras conveni�ncias sociais, e, na intimidade, manifestam
suas d�vidas ou confessam at� completa
falta de f�.

Demonstram essas atitudes que os verdadeiros
adeptos n�o sentem a vertigem das alturas, por
bem compreenderem que as posi��es de mando
constituem provas dif�ceis de vencer.

Quando todos os esp�ritas que ocupam destacadas
posi��es, entre os homens, souberem viver
dentro da aura da humildade e da f�, imitando
procedimentos tais, os destinos da Humanidade tomar�o
outros rumos. Veremos operar-se uma verdadeira
renova��o em todos os sentidos. Tudo se
transformar�. As religi�es velhas e caducas ceder�o
lugar a uma s� filosofia e essa ser� o Espiritismo,
cuja pujan�a nenhuma doutrina suplanta.

Ao raiar o sol da Era Nova, cujos raios penetrar�o
todos os lares e beneficiar�o todos os povos,


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRINARIAS 203

os homens ter�o uma compreens�o mais exata da
Ci�ncia e da Arte, um mais perfeito sentimento
do Belo. A Ci�ncia, vasta e humilde, sentir-se-�
pequenina diante do Infinito; a Arte, sublime e
admir�vel na contempla��o da Natureza vis�vel,
passar� a manifestar o Belo da Espiritualidade,
que escapa aos nossos limitados sentidos.

Deixar� de haver guerras, peste e fome. As
posi��es e as riquezas ser�o consideradas como
realmente o s�o desde o princ�pio, meros dep�sitos
dos quais teremos que render contas ao Grande
Outorgante, que � Deus.

As chamadas quest�es sociais n�o mais causar�o
sobressaltos, porque todos compreender�o que
a verdadeira superioridade est� na sabedoria, na
eleva��o moral e na espiritualidade.

Ser� a hora do Ju�zo Final. As ovelhas ser�o
apartadas dos cabritos e o joio separado do trigo.

Os maus e os endurecidos n�o ter�o mais lugar
no globo terr�queo, ir�o como os b�blicos anjos
deca�dos povoar outros mundos, onde ser�o outros
Ad�es e Evas. (52)

Jesus descer� em toda a sua gl�ria, dirigindo
a falange dos Esp�ritos eleitos do Senhor.

De acordo com as Escrituras, Ele veio entre
os hebreus restabelecer o reino de Deus, mas n�o
foi reconhecido porque eles esperavam o reinado
dos homens. Agora, ei-Lo que surge cumprindo as
profecias, n�o para exalta��o das igrejas que se
divorciaram dele e se apresentam como continuadoras
de sua doutrina, mas para restabelecer a Verdade,
dissipar as trevas. Ele vir� ainda naquela
humilde simplicidade que o caracterizou, olhando

(52) Vide a racional explica��o da cria��o de Ad�o,
em "A G�nese", de Allan Kardec.

AUR�LIO A. VALENTE

de prefer�ncia para os sofredores do corpo e da
alma. � ele mesmo, quem no-Lo afirma, com estas
palavras cheias de amor:

�Eu sou o grande m�dico das almas e venho
trazer-vos o rem�dio que as deve curar; os fracos,
os sofredores e os enfermos s�o meus filhos prediletos
e eu venho salv�-los. Vinde, pois, a mim.
v�s todos quantos sofreis e estais sobrecarregados,
e sereis aliviados e consolados; n�o procureis em
outra parte a for�a e a consola��o, pois que o
mundo � impotente para d�-las. Deus dirige aos
vossos cora��es um apelo supremo pelo Espiritismo.
Ouvi-o. Que a impiedade, a mentira, o erro e
a incredulidade sejam extirpados das vossas almas
doloridas; s�o monstros que se saciam no vosso
sangue mais puro e vos abrem feridas quase sempre
mortais. Que para o futuro, humildes e submissos
ao Criador, pratiqueis a lei divina. Amai
e orai, sede d�ceis aos Esp�ritos do Senhor; invocai-
os do fundo do cora��o e Ele ent�o vos enviar�
seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer
estas boas palavras: Eis-me aqui: vim porque me
chamastes. � Esp�rito de Verdade.� (53)

Vit�ria (Esp�rito Santo) � fevereiro de 1937.

(53) Allan Kardec � "O Evangelho segundo o Espi
ritismo".

Esclarecendo d�vidas

O Espiritismo, conforme reconhece o Conselho
Federativo Nacional, �rg�o da Federa��o Esp�rita
Brasileira, � a Revela��o prometida pelo Cristo de
Deus para os s�culos em que a Humanidade alcan�asse
um grau de assimila��o mais elevado.

Os fen�menos ps�quicos, t�o velhos quanto o
mundo, s� atra�ram a aten��o dos intelectuais,
quando surgiram os ocorridos em Hydesville, em
1848.

Em 1857, ap�s observ�-los e catalog�-los com

o mais meticuloso rigor cient�fico, Allan Kardec
lan�ou ao mundo o primeiro livro da codifica��o
dessa nova Revela��o � �O Livro dos Esp�ritos�,
criando o voc�bulo Espiritismo para designar essa
Revela��o, ent�o chamada e ainda conhecida em
outros pa�ses pelo nome de Neo-Espiritualismo.
Difere o Espiritismo de todas as religi�es conhecidas
por demonstrar a l�gica dos seus ensinos
atrav�s de experi�ncias cient�ficas e por apresentar
uma filosofia tamb�m baseada em experimentos
e observa��es e documentada por uma legi�o
de s�bios de renome universal.

Religi�o cient�fico-filos�fica, confirmando os ensinamentos
b�sicos de todas as religi�es, n�o pretende
demolir as que a precederam, antes reconhece
a necessidade da exist�ncia delas para grande parte
da Humanidade, cuja evolu��o se processar� lenta
e inevitavelmente.


AUR�LIO A. VALENTE

Doutrina religiosa, sem dogmas propriamente
ditos, sem liturgia, sem s�mbolos, sem sacerd�cio
organizado, ao contr�rio de quase todas as demais
religi�es, n�o adota em suas reuni�es e em suas
pr�ticas:

a) � paramentos, ou quaisquer vestes especiais;


b) � vinho ou qualquer bebida alco�lica;

c) � incenso, mirra, fumo, ou subst�ncias
outras que produzam fuma�a;

d) � altares, imagens, andores, velas e quaisquer
objetos materiais, como auxiliares de atra��o
do p�blico;

e) � hinos ou cantos em l�nguas mortas ou
ex�ticas, s� os admitindo, na l�ngua do pa�s, exclusivamente
em reuni�es festivas realizadas pela
inf�ncia e pela juventude e em sess�es ditas de
efeitos f�sicos;

f) � dan�as, prociss�es e atos an�logos;
g) � atender a interesses materiais terra-a-
terra, rasteiros ou mundanos;
h) � pagamento por toda e qu�l-quer gra�a
conseguida para o pr�ximo;

i) � talism�s, amuletos, ora��es miraculosas,
bentinhos, escapul�rios ou quaisquer objetos e coisas
semelhantes;

j) � administra��o de sacramentos, concess�o
de indulg�ncias, distribui��o de t�tulos nobili�rquicos;


k) � confeccionar hor�scopos, exercer a cartomancia,
a quiromancia, a astromancia e outras
"maneias";

1) � rituais e encena��es extravagantes de
modo a impressionar o p�blico;


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 207

m) � termos ex�ticos ou heter�clitos para a
designa��o de seres e coisas;
n) � fazer promessas e despachos, riscar cru


zes e pontos, praticar, enfim, a longa s�rie de atos
materiais oriundos das velhas e primitivas concep��es
religiosas.

O fen�meno ps�quico pode surgir em qualquer
meio religioso ou irreligioso e seu aparecimento
pode conduzir a criatura ao Espiritismo, mas a consolida��o
da cren�a, o conhecimento das leis que
presidem os destinos do homem e a perfeita assimila��o
da Doutrina Esp�rita s� se conseguem atrav�s
do estudo das obras de Allan Kardec e das que
lhes s�o subsidi�rias.


Regimento Interno do Grupo Esp�rita
dos �Filhos Pr�digos�

Nenhum grupo, sem ser submetido a
certa disciplina, pode funcionar. Esta
se imp�e n�o s� aos experimentadores
como tamb�m aos Esp�ritos.

(Leon Denis � "No Invis�vel",
cap. X.)

Art. V � Pica fundado nesta cidade de Bel�m
(Par�) o Grupo Esp�rita dos �Filhos Pr�digos�, o
qual ter� por fim:

a) estudar a Doutrina Esp�rita, procurando infundir
no esp�rito dos seus associados o desejo sincero
e constante de pratic�-la; (54)

b) dedicar-se � observa��o das manifesta��es
dos Esp�ritos, em sess�es especiais, de acordo com

o disposto no art. 2�, visando: 1�) constatar pela
experi�ncia os princ�pios e fatos em que se apoia
a doutrina; 2�) auxiliar os Esp�ritos perturbados a
um melhor conhecimento da sua situa��o na erra(
54) Levantar os caracteres e fortificar as consci�ncias,
tal o papel capital do Espiritismo. (Leon Denis)
Reconhece-se o verdadeiro esp�rita pela sua transforma��o
moral e pelos esfor�os que faz para domar as suas
m�s inclina��es. ("O Evangelho segundo o Espiritismo",
cap. XVII.)

O Espiritismo criteriosamente praticado n�o � s� uma
extensa fonte de ensinamento, mas tamb�m um meio de
prepara��o moral. (Leon Denis)


210 AUR�LIO A. VALENTE

ticidade, qualquer que seja a �poca de seu decesso
(55); 3�) estimular os bons prop�sitos dos seus
associados em face da narra��o dos Esp�ritos falidos.
(56)

Art. 2� � Temporariamente, as sess�es de estudo
e as sess�es pr�ticas realizar-se-�o no mesmo
dia, das 20 e 1/2 �s 22 horas, devendo os trabalhos
ser assim divididos: leitura preparat�ria do ambiente
e prece (57), que dever� ser curta e improvisada
(58); prele��o de um confrade previamente
designado, a qual obedecer� ao programa anexo,
e que n�o poder� exceder de 20 minutos; recebimento
de manifesta��es psicogr�ficas iniciais; ma


(55) A nossa indiferen�a para com as manifesta��es
espiritas n�o nos privaria somente do conhecimento do futuro
de al�m-t�mulo, pois nos desviaria tamb�m da possibilidade
de agir sobre os Esp�ritos infelizes, de lhes amenizar
a sorte, tornando-lhes mais f�cil a repara��o de suas
faltas. Os Esp�ritos atrasados, tendo mais afinidade com
os homens do que com os Esp�ritos puros, em virtude de
sua constitui��o fluidica ainda grosseira, s�o por isso mesmo
mais acess�veis � nossa influ�ncia. Entretanto, em
comunica��o com eles, poderemos preencher uma generosa
miss�o, instru�-los, moraliz�-los e, ao mesmo tempo, melhorar,
sanear o meio flu�dico em que todos vivemos. Os Esp�ritos
sofredores ouvem o nosso apelo e as nossas evoca��es.
Os nossos pensamentos simp�ticos, envolvendo-os como uma
corrente el�trica e atraindo-os a n�s, permitem que conversemos
com eles por meio dos m�diuns. (Leon Denis �
"Depois da Morte".)
(56) As exorta��es, os conselhos dos Esp�ritos, suas
descri��es da vida de al�m-t�mulo influem sobre os nossos
pensamentos e atos, e operam uma lenta modifica��o do
nosso car�ter e do nosso modo de viver. (Leon Denis, "No
Invis�vel", cap. XI.)

(57) � excelente come�ar as sess�es por uma leitura
s�ria e atraente, feita de uma das obras ou revistas escohidas.
(Leon Denis, "No Invis�vel", cap. X.)
(58) Orai no come�o e no fim de cada sess�o; no
come�o para elevardes as vossas almas e atrairdes os
Esp�ritos esclarecidos e benevolentes, e, ao terminar, para
agradecerdes os benef�cios e ensinos que houverdes recebido.
Seja a vossa prece curta e fervorosa, muito menos

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 211

nifesta��es por incorpora��o e, finalmente, leitura
da ata e prece de encerramento.

Art. 3� � As sess�es come�ar�o �s 20 e 1/2
horas em ponto, aos s�bados, devendo ser a porta
fechada, 5 minutos antes. (59)

Art. 4� � Durante os trabalhos nenhum dos
presentes poder� sair de seus lugares, especialmente
enquanto durarem as manifesta��es, nem
interromp�-las de qualquer modo, a fim de que as
mesmas decorram o mais espont�neas e normalmente
poss�vel. (60)

Art. 5� � Os m�diuns n�o dever�o receber Esp�rito
algum sem indica��o do diretor, nem este,

uma f�rmula que um transporte do cora��o. (Leon Denis,
"No Invis�vel", cap. X.) A prece, para ter real valor, necessita,
antes de tudo, caracterizar-se pelo sentimento e espontaneidade.
(Leopoldo Cirne.)

Entretanto, se por qualquer motivo n�o for poss�vel
ao diretor improvisar a prece, recomendamos as do "Evangelho
segundo o Espiritismo", para abertura e encerramento
das sess�es.

(59) Conv�m reunir-se em dias e horas certos e no
mesmo lugar. Os Esp�ritos podem apropriar-se assim dos
elementos fluidicos que lhes s�o necess�rios; e os lugares
de reuni�o, impregnando-se desses fluidos, tornam-se cada
vez mais favor�veis �s manifesta��es. (Leon Denis, "No
Invis�vel", cap. IX.)
Todos os autores fazem, com insist�ncia, id�nticas recomenda��es.


(60) Uma das principais condi��es, quando se pretende
evocar os mortos, � a concentra��o. As conversas fr�volas
n�o atraem Esp�ritos de ordem elevada. A comunh�o de
pensamento e o desejo sincero de instruir-se, devem guiar
os experimentadores e inspirar-lhes o mesmo respeito que
guardariam no seio de uma assembl�ia de que fizessem
parte os seus progenitores. (Gabriel Delanne, "O Fen�meno
Esp�rita", Parte Terceira.)
Todos os autores, enfim, desde Allan Kardec aos mais
recentes, recomendam com insist�ncia o recolhimento respeitoso.
Devemos, pois, esforcar-nos por mant�-lo durante
as manifesta��es, dominando os �mpetos de curiosidade, a
conversa e coment�rios com as pessoas que se acham
assentadas perto de n�s, etc.


212

AUR�LIO A. VALENTE

salvo casos especiais, poder� determinar incorpo


ra��es simult�neas. (61)

Art. 6� � Em cada sess�o devem trabalhar

apenas dois ou tr�s m�diuns no m�ximo, alternan


do-se para esse fim, semanalmente. (62)

(61) Diz Ant�nio Lima: � Nenhum Espirito pode comunicar-
se sem que o m�dium o consinta �, isto � bem
racional para quem sabe qu�o inviol�vel � o nosso livre-
arb�trio. Ora, desde que o m�dium � dono do seu corpo,
claro est� que s� dar� ingresso ao Espirito, quando quiser.
("A Mediunidade e os M�diuns", p�gs. 90 e 91.)
Entende-se que est�o excetuados os casos de obsess�o,
nos quais o Esp�rito obsessor domina a vontade do m�dium.
Em condi��es normais, por�m, � justa a opini�o de Ant�nio
Lima. � tamb�m de toda a conveni�ncia que as incorpora��es
se d�em de per si.

N�o era outro o conselho de S�o Paulo na ep�stola aos

Cor�ntios: "porque todos podereis pro�etizar uns depois dos

outros, para que todos aprendam e sejam todos consolados".

Como sabemos, os m�diuns ent�o eram denominados pro


fetas.

S� � admiss�vel a simultaneidade quando o diretor do
grupo julgue �til apelar para os guias, pedindo-lhes que
doutrinem o manifestante, e, por eles percebendo o que se
passa no �ntimo deste, podem mais eficazmente aconselh�-
lo.

(62) Para justificar esse artigo, basta lembrar o conselho
de Allan Kardec, assaz conhecido. � prefer�vel repelir
9 manifesta��es verdadeiras, a aceitar uma �nica ap�crifa.
"Nada mais prejudicial � causa do Espiritismo do que
a excessiva credulidade de certos adeptos, diz Leon Denis,
e depois de v�rias considera��es, acrescenta: "� preciso
n�o aceitar cegamente coisa alguma. Cada fato deve sofrer

minucioso e aprofundado exame."
("No Invis�vel", cap. IX.)
V�s, que experimentais, recomenda Gabriel Delanne,
nunca temais pedir muitas informa��es aos Esp�ritos que
se manifestam. ("O Fen�meno Espirita", Parte Terceira.)
Em resumo: todos os autores s�o un�nimes em Insistir
na necessidade do estudo criterioso das manifesta��es. Isso
n�o quer dizer que sujeitemos os Esp�ritos a um inqu�rito
inquisitorial, mesmo porque, eles poderiam evit�-lo, retirando-
se. O que � justo e prudente � n�o aceitar cegamente
tudo quanto nos vem do Al�m. L�, como aqui, h� embusteiros
e mentirosos.
S�o palavras de Martins Velho: "N�o abdiqueis nunca
da vossa raz�o, nem do vosso livre-arb�trio e fugi sempre


SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 213

Art. 7� � Havendo d�vidas quanto � autenticidade
de um Esp�rito, ao diretor incumbe empregar
esfor�os para desfaz�-la, n�o devendo o m�dium,
de modo algum, suscetibilizar-se com isso, mero
instrumento que � dos habitantes do Al�m. (63)

Art. 8� � A todos os membros do grupo e
assistentes imp�e-se a mais fervorosa concentra��o.
(64)

Art. 9� � Se, durante a manifesta��o, o Esp�rito
der a qualquer dos m�diuns, ou assistentes,
sinais de identidade, o diretor dever� permitir que o
interpelado, por seu interm�dio, responda ao mesmo
Esp�rito. (65)

Art. 10� � Os menores de dezesseis anos n�o
dever�o assistir �s sess�es, salvo casos excepcionais
e somente depois de consultados os Guias. (66)

Art. 11� � Os s�cios ser�o obrigados a guar


dar o mais absoluto sigilo do que se passar durante

de vos deixardes dominar pela crendice ou pela supersti��o,
pois s�o esses os dois escolhos onde pode naufragar o
espirito desacautelado." ("As Pot�ncias Ocultas", p�g. 377.)

(63) S�o inconvenientes as sess�es esp�ritas demoradas,
n�o devendo nunca ir al�m de duas horas, mesmo
porque, se bem feita, em certos casos, a concentra��o
afadiga.
(64) � intuitivo que, se nos trabalhos ordin�rios se
exige recolhimento profundo e sincero, tal exig�ncia �
muito mais razo�vel tratando-se da manifesta��o de Esp�ritos
perturbados ou maus. Mais do que nunca se imp�e
atitude respeitosa, devendo n�o s� os assistentes, como
tamb�m os que fazem parte da mesa, sofrear a curiosidade
que porventura lhes desperte a conduta do manifestante.
Nessas ocasi�es, a perturba��o do ambiente e a quebra da
corrente podem trazer s�rio mal-estar.
(65) Por uma quest�o de disciplina, o di�logo deve ser
estabelecido por interm�dio do diretor.
(66) Diversos motivos aconselham n�o consentir na
presen�a de menores �s sess�es pr�ticas, entre os quais
avultam os seguintes apontados por Allan Kardec, em "O
Livro dos M�diuns", n� 222, quando trata das inconve



214 AUR�LIO A. VALENTE

as sess�es, nos casos que assim seja necess�rio e
justo.

Art. 12� � O Grupo ter� n�mero limitado de
s�cios, ficando composto pelas pessoas que atualmente
o freq�entam, sendo que, na aus�ncia definitiva
de uma delas, n�o se dar� substitui��o, at�
que aquele n�mero seja reduzido a 12, inclusive o
diretor. (67)

Art. 13� � Fixado em 12 o n�mero de s�cios,
qualquer vaga, que porventura se der, somente
ser� preenchida ap�s assentimento dos Guias do
Grupo. (68)

ni�ncias e perigos da mediunidade, e cuja opini�o procuramos
resumir. Antes que tudo, sendo o recolhimento
fervoroso uma das condi��es essenciais �s sess�es s�rias
e bem-intencionadas, isso n�o se pode esperar, geralmente,
duma crian�a; e tamb�m que as manifesta��es podem
assust�-las, amedront�-las e at� afetar-lhes, por isso mesmo,
o sistema nervoso.

(67) Em rela��o ao n�mero limitado de componentes
dum grupo, n�o h� duas opini�es. Todos os autores est�o
de perfeito acordo, desde Allan Kardec.
Leon Denis, por exemplo, escreve: "Os grupos pouco
numerosos e de composi��o homog�nea s�o os que re�nem
maior probabilidade de �xito. Se j� � dif�cil harmonizar as
vibra��es de cinco ou seis pessoas entre si e com os fluidos
do Esp�rito, � evidente a fortiori que as dificuldades crescem
proporcionalmente com o n�mero dos assistentes. �
prudente n�o exceder o limite de 10 a 12 pessoas." ("No
Invis�vel", cap. IX.)

O Dr. Martins Velho assim se expressa: Para a consecu��o
do seu fim, devem os esp�ritas reunir-se em grupo
de 4 a 12 pessoas, e, quando o grupo j� est� funcionando
regularmente, poder� excepcionalmente ultrapassar esse
n�mero, que n�o dever� nunca exceder a 20. ("As Pot�ncias
Ocultas do Homem", n� 370.)

(68) A constitui��o dos grupos, recomenda Leon Denis,
comporta regras e condi��es cuja observ�ncia influi
consideravelmente no resultado que se almeja. Segundo o
seu estado ps�quico, os assistentes favorecem ou embara�am
a a��o dos Esp�ritos. Enquanto uns, s� com a presen�a,
facilitam as manifesta��es, outros lhes op�em um quase
insuper�vel obst�culo. �, por conseguinte, necess�rio pro



SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 215

Art. 14� � Os s�cios n�o poder�o convidar
estranhos para assistirem aos trabalhos, sem pr�vio
consentimento do diretor. (69)

Art. 15� � N�o haver� elei��o para o cargo
de diretor, sendo o mesmo preenchido por indica��o
dos Guias, de autenticidade verificada.

Art. 16� � O diretor escolher�, dentre os s�cios,
o secret�rio do Grupo, a cargo de quem ficar�

o expediente interno e externo.
Art. 17� � A fim de evitar poss�veis discuss�es,
prejudiciais ao recolhimento e medita��o necess�rias
�s sess�es, a leitura da ata ser� feita no
encerramento das mesmas.

Art. 18� � As atas ser�o assinadas por todos
os presentes, valendo assim, tamb�m, por livro de
presen�a e como documento dos fatos verificados
nas sess�es.

Par�grafo �nico � Em caso de o s�cio n�o poder
assinar, fa-lo-� por si outro s�cio, declarando-se
esta circunst�ncia.

Art. 19� � Os s�cios que faltarem a 3 sess�es
seguidas, sem causa justa, ser�o eliminados. (70)
Art. 20� � Dada a hip�tese do desvio moral
de um dos m�diuns ou dos assistentes, o diretor

ceder a certa escolha, sobretudo no come�o das experi�ncias.
Essa escolha n�o pode ser ditada ou sancionada sen�o
pelos resultados obtidos, ou ainda pelas indica��es de um
"Esp�rito-guia. Dada a organiza��o e o fim do Grupo dos
"Filhos Pr�digos", preferimos este �ltimo alvitre.

(69) A renova��o freq�ente da assist�ncia, reclamando
continuo trabalho de fus�o e assimila��o da parte dos
Esp�ritos, compromete ou, pelo menos, retarda os resultados,
diz Leon Denis. Dai a disposi��o supra, inspirada pela
�ltima parte do art. 21 dos Estatutos da Sociedade de
Paris, fundada por Allan Kardec.
(70) � sabido que a perseveran�a e a assiduidade s�o
requisitos essenciais � boa marcha dos trabalhos de um
grupo. N�o h� autor esp�rita que n�o as recomende; da�
a necessidade deste dispositivo.

216 AUR�LIO A. VALENTE

aconselh�-lo-� muito em reserva e, no caso de obstina��o
no mal, mostrar-lhe-� a conveni�ncia de
sua elimina��o. (71)

Par�grafo �nico � A elimina��o ser� tempor�ria,
at� que se verifique a reforma moral do eliminado.
(72)

Art. 21� � N�o ser� submetido a estudo nem
ao ju�zo dos Guias qualquer assunto estranho �
Doutrina. (73)

Art. 22� � As manifesta��es dos Esp�ritos
devem ser espont�neas, salvo casos especiais em
que seja aconselhada ou permitida a evoca��o direta.


Art. 23� � N�o ser� feito tratamento algum
de obsess�o, sem pr�via autoriza��o dos Guias. (74)

(71) Visa esta disposi��o a estimular o s�cio a manter-
se severamente firme nos seus deveres morais, mesmo
porque, afastando-se do caminho do bem, pode atrair
influ�ncias ocultas nocivas � harmonia e eleva��o dos trabalhos,
al�m de que, como observa cheio de raz�o o autor
do livro "N�o h� Morte", "� muito inconveniente ocupar-se
uma pessoa de fen�menos espiritas sem tirar conseq��ncias
morais", e mais adiante: "H� muitos anos observo fen�menos
sem que eles me tenham feito o menor mal; devo,
entretanto, dizer que os �brios, os libertinos e os viciosos de
qualquer esp�cie n�o se devem imiscuir nessas pesquisas:
n�o � prudente aproximar-se uma pessoa do fogo, com as
m�os embebidas em �lcool."
(72) N�o se compreende outra conduta, especialmente
tratando-se de um grupo denominado dos "Filhos Pr�digos"
.
L� estava a palavra do Evangelho: "Haver� mais alegria
no c�u por um pecador que se arrependa, do que
por noventa e nove justos que perseverem." (S. Lucas,
cap. 15, v. 7.)

(73) Na impossibilidade de transcrever todos os t�picos
mais importantes do cap�tulo XXVI de "O Livro dos
M�diuns", sobre perguntas que podem ser feitas aos Esp�ritos,
roga-se a leitura meditada desse cap�tulo. S� ela
bastar� para justificar a disposi��o supra.
(74) O tratamento da obsess�o geralmente coloca o
grupo e aqueles que o comp�em, especialmente os m�diuns,
em luta aberta com os Esp�ritos obsessores, alguns dos

SESS�ES PR�TICAS E DOUTRIN�RIAS 217

Art. 24� � N�o haver� contribui��es.

Par�grafo �nico � Toda vez que for preciso
prestar auxilio a pessoas necessitadas, os s�cios
deliberar�o o melhor meio de o fazer.

Art. 25� � N�o comparecendo nenhum dos m�diuns,
efetuar-se-�o as demais partes de que trata

o art. 2", deste regimento. (75)
Art. 26� � Todas as comunica��es obtidas, durante
as sess�es, pertencer�o ao Grupo; os m�diuns
que as receberem poder�o guardar c�pia.

Art. 27� � Al�m das sess�es ordin�rias, o
Grupo ter� sess�es comemorativas nos seguintes
dias: 9 de agosto, 2 de dezembro, datas da encarna��o
e da desencarna��o, respectivamente, de
Frei Francisco de Mont' Alverne ; 3 de outubro e
31 de mar�o, nascimento e morte de Allan Kardec ;
25 de Dezembro, dia de Natal e sexta-feira dedicada
� comemora��o da Paix�o do Cristo.

quais bastante maus e endurecidos. Nem sempre o grupo
estar� em condi��es de tentar tais trabalhos com seguran�a
e, por isso, � que � indispens�vel ouvir a opini�o
dos guias.

(75) A aus�ncia dos m�diuns n�o justificaria o fato
de n�o haver sess�o, mesmo porque os Esp�ritos estar�o
presentes e poder�o aproveitar com os estudos que forem
feitos.

Programa de estudo do Grupo Esp�rita
dos �Filhos Pr�digos�

1 � Forma��o de Grupos; n�mero de pessoas
a constitu�-los; vantagem da inalterabilidade ou
insubstitui��o dos elementos que o comp�em; inconveni�ncias
dos grandes Centros para a pr�tica
esp�rita.

2 � Utilidade do estudo da Doutrina Esp�rita
e utilidade das aquisi��es de qualidades morais como
meio do desenvolvimento medi�nico.

3 � Mediunidades; seus fins; esp�cies e variedades
.

4 � Os m�diuns; exerc�cios e educa��o. Seus
deveres.

5 � Deveres dos diretores de Grupos e dos
assistentes.

6 � Influ�ncia do meio. Preparo antecipado
para as reuni�es.

7 � Condi��es de trabalho; recolhimento, sil�ncio,
f� em Deus; meios de consegui-los.

8 � Sa�de f�sica e moral; a boa disposi��o;
a fadiga. Tenta��es.

9 � Regularidade das sess�es; assiduidade e
pontualidade.


AUR�LIO A. VALENTE

10 � Manifesta��es; necessidade de seu estudo.
11 � Perda e suspens�o da mediunidade; meio

de adquiri-la.
12 � Evoca��es; crit�rio a seguir.
13 � Das mistifica��es.
14 � Perigos do Espiritismo pr�tico; inconve


nientes .
15 � Das obsess�es; seus aspectos; meio de
evit�-las; curas.
16 � Bons e maus Esp�ritos; como distingui-
los .

Bel�m do Par�, 19 de mar�o de 1922.

AUR�LIO VALENTE

Secret�rio


Livros da Federa��o Esp�rita Brasileira

Pedro Franco Barbosa
ESPIRITISMO B�SICO


Esta obra procura reunir o m�ximo de conhecimentos
em um volume s� e exp�-los em linguagem
clara e acess�vel, de maneira a atender interessados
na Doutrina Esp�rita, sobretudo iniciantes,
permitindo-lhes uma id�ia de conjunto da
Terceira Revela��o.

�tima para ado��o em cursos sistem�ticos
de Espiritismo, �, tamb�m, obra de consulta para
todos os estudiosos, que nele encontram, bem
explanados, assuntos tais como as origens, a
natureza e as caracter�sticas da Doutrina, seus
princ�pios b�sicos, a Codifica��o em seus tr�s
aspectos, a constitui��o e o destino do homem e
uma apresenta��o geral da literatura esp�rita.

A FEB coloca nas m�os dos leitores uma
obra de reconhecido valor e cuja utilidade � manifesta
a todos os que se interessam pelo estudo da
Doutrina.

A primeira parte da obra trata, de maneira
simples e did�tica, de assuntos v�rios, como "As
Religi�es e o Progresso Espiritual do Homem", "Prim�rdios
do Espiritismo", "Allan Kardec, o Codificador
do Espiritismo", "Leon Denis, o Consolidador",
"S�ntese Hist�rica do Espiritismo no Brasil".


Aur�lio A. Valente


SESS�ES PR�TICAS E
DOUTRIN�RIAS DO ESPIRITISMO


Com a sua longa pr�tica de dirigir sess�es esp�ritas,
o Autor tem autoridade bastante para tra�ar diretrizes
seguras no que diz respeito ao interc�mbio entre os
dois planos da vida.

Os meios de comunica��o, o local, os m�todos de
trabalho, a organiza��o de Grupos, o desenvolvimento
de m�diuns, a identifica��o dos Esp�ritos, e uma s�rie de
outros elementos indispens�veis para o perfeito andamento
das sess�es, s�o claramente estudados neste
livro, recomend�vel a quantos se prop�em realizar ou
dirigir trabalhos pr�ticos do Espiritismo.

*

Allan Kardec
O LIVRO DOS M�DIUNS


De autoria de Allan Kardec, � uma das obras b�sicas
do Espiritismo, guia indispens�vel para quantos se
preocupam com as manifesta��es medi�nicas.

Segui-la, orientar-se por ela, � colaborar para a unifica��o
de m�todos de trabalho, e zelar pela pureza da
Doutrina Esp�rita.


Rodolfo Calligaris

O SERM�O DA MONTANHA

Rodolfo Calligaris, um dos mais inteligentes comentadores
do Evangelho, bastante admirado pelos seus substanciosos
artigos em "Reformador" e pelos outros livros que j� deu a p�blico,
atinge nesta obra todo o vigor e a pujan�a de um racioc�nio
l�cido e profundo.

Em cinq�enta cap�tulos, ele analisa, estuda e interpreta,
vers�culo por vers�culo, � luz da Doutrina Esp�rita, o mais longo
e famoso serm�o pronunciado por Jesus-Cristo, mui justamente
chamado "o c�digo fundamental do sentimento humano".

Todos os que trilham a estrada da vida terrena sentir�o, na
leitura e medita��o dessa obra de Calligaris, a beleza e a verdade
eternas que se irradiam da "Carta Magna do Cristianismo",
encerrada nos cap�tulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus.

*

Carlos Imbassahy

RELIGI�O

Sob este simples t�tulo de obra oculta-se um admir�vel
trabalho, pleno de racioc�nios claros e rigorosamente l�gicos,
em que � focalizado o Espiritismo no seu tr�plice aspecto: cient�fico,
filos�fico e religioso, sendo estudado, em especial e a
fundo, o �ltimo aspecto, t�o debatido dentro e fora de nossas
fronteiras.

O Autor, firmado numa documenta��o vasta e positiva,
faz a defesa da Doutrina contra os que lhe negam o car�ter religioso,
esclarecendo e demonstrando que o Espiritismo � tamb�m
religi�o, ou melhor, "uma como s�ntese de todas as
religi�es", consoante as pr�prias palavras do Autor.


Allan Kardec

O LIVRO DOS ESP�RITOS

� o livro b�sico da Doutrina Esp�rita,
indubitavelmente a obra-prima do Espiritismo,
constituindo verdadeiro tratado filos�fico
espiritualista que responde a inquietantes
quest�es da vida e da morte.

Escrito mediante ditado de Esp�ritos
Superiores, � a express�o do pensamento
deles. O grande m�rito de Kardec foi o
realizar ele o gigantesco trabalho de ordenar
e distribuir metodicamente os assuntos
em 1.019 perguntas e respostas,
justapondo, ami�de, coment�rios e notas.

Os Esp�ritos se referiram ao livro, dizendo:
"Nele pusemos as bases de um
novo edif�cio que se eleva e que um dia
h� de reunir todos os homens num mesmo
sentimento de amor e caridade."




De: Reginaldo Mendes <




Olá, pessoal:

                   Este é mais um livro de nossa campanha de doação  e digitalização de livros para atender aos deficientes visuais.

                   Agradecemos ao irmão Fernando  pela digitalização e pela  doação.

                    Pedimos que não divulguem em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos.


O Grupo Mente Aberta lança hoje mais um livro digital. Desejamos a todos uma boa leitura !

Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo - Aurélio A. Valente
Sinopse:
Com a sua longa prática de dirigir sessões espíritas,
o Autor tem autoridade bastante para traçar diretrizes
seguras no que diz respeito ao intercâmbio entre os
dois planos da vida.
Os meios de comunicação, o local, os métodos de
trabalho, a organização de Grupos, o desenvolvimento
de médiuns, a identificação dos Espíritos, e uma série de
outros elementos indispensáveis para o perfeito andamento
das sessões, são claramente estudados neste
livro, recomendável a quantos se propõem realizar ou
dirigir trabalhos práticos do Espiritismo.


Lançamento: Grupo Mente Aberta





 



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