quinta-feira, 4 de agosto de 2011 By: Fred

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A ARTE DE ARGUMENTAR

Gerenciando Razão e Emoção

Antônio Suárez Abreu

Ateliê EditorjW
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Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização

por escrito, da editora.

Ia edição - 1999

2a edição - 2000

3a edição - 2001

4" edição - 2001

5a edição - 2002

6a edição - 2003

ISBN - 85-85851-81-3

Editor: Plínio Martins Filho

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2003

Foi feito o depósito legal

Sumário

Por que Aprender a Argumentar? 9

Gerenciando Informação 11

Gerenciando Relação 17

Argumentar, Convencer e Persuadir 25

Um Pouco de História 27

Tarefas da Retórica Clássica 28

Senso Comum, Paradoxo e Maravilhamento 30

Condições da Argumentação 37

O Auditório 41

Auditório Universal e Auditório Particular 42

Convencendo as Pessoas 45

As Técnicas Argumentativas 49

Argumentos Quase Lógicos 49

Argumentos Fundamentados na Estrutura

do Real 58

Dando Visibilidade aos Argumentos - Os

Recursos de Presença 67

Persuadindo as Pessoas 71

Emoções e Valores 73

As Hierarquias de Valores 77

Alterando a Hierarquia de Valores - Os Lugares

da Argumentação 81

A Arte de Argumentar

Lugar de Quantidade 81

Lugar de Qualidade 84

Lugar de Ordem 86

Lugar de Essência 90

Lugar de Pessoa 90

Lugar do Existente 92

Afinal de Contas, o Que `Argumentar? 93

Aprendendo a "Desenhar" e a "Pintar" com

as Palavras 99

Figuras Retóricas 105

Figuras de Som 107

Figuras de Palavra 111

Metonímia 111

Metáfora 112

Figuras de Construção 125

Pleonasmo 125

Hipálage 126

Anáfora 127

Epístrofe 128

Concatenação 128

Figuras de Pensamento 131

Antítese 131

Paradoxo 132

Alusão 132

Conclusão 135

Palavras Finais 136

Bibliografia 137

Por que Aprender a Argumentar?

A idéia de que vivemos em sociedade comporta, no tempo presente, duas ordens de reflexão. A primeira é que essa sociedade cresceu e se expandiu demais. Há cem anos,
a grande atriz francesa Sarah Bernhard, não confiando inteiramente no sistema dos correios, mantinha, entre seus criados, uma jovem encarregada de entregar suas
cartas na cidade de Paris. Se ela vivesse hoje entre nós, poderia usar, além de um sistema de correio infinitamente mais aperfeiçoado e confiável, um telefone, um
fax, ou a internet, além de poder, acessando a TV a cabo, assistir, em tempo real, a tudo aquilo que acontece nas partes mais remotas do planeta.

A outra reflexão é que, vitimados por uma educação desestimulante, submetidos ao julgamento crítico da opinião pública, massificados pela mídia, vivemos nossas vidas
adiando ou perdendo nossos sonhos e isso nos torna infelizes. Até mesmo pessoas que conseguem sucesso financeiro e prestígio pessoal acabam tendo esse destino. Basta
ler a biografia de gente famosa, como Howard Hugues, Elvis Presley, a princesa Diana, para sucumbir a essa evidência. Todos eles sofreram a doença da solidão, uma
doença que nos separa até mesmo dos nossos familiares,
A Arte de Argumentar

com quem, muitas vezes, vivemos em um clima diário de discussões e ressentimentos.

Todos nós teríamos muito mais êxito em nossas vidas, produziríamos muito mais e seríamos muito mais felizes, se nos preocupássemos em gerenciar nossas relações com
as pessoas que nos rodeiam, desde o campo profissional até o pessoal. Mas para isso é necessário saber conversar com elas, argumentar, para que exponham seus pontos
de vista, seus motivos e para que nós também possamos fazer o mesmo.

Segundo o senso comum, argumentar é vencer alguém, forçá-lo a submeter-se à nossa vontade. Definição errada! Von Clausewitz, o gênio militar alemão, utiliza-a para
definir guerra e não argumentação. Seja em família, no trabalho, no esporte ou na política, saber argumentar é, em primeiro lugar, saber integrar-se ao universo
do outro. E também obter aquilo que queremos, mas de modo cooperativo e construtivo, traduzindo nossa verdade dentro da verdade do outro.

Escrevi este livro para convencer as pessoas de que não basta ser inteligente, ter uma boa formação universitária, falar várias línguas, para ser bem-sucedido. Meu
objetivo é convencê-las de que o verdadeiro sucesso depende da habilidade de relacionamento interpessoal, da capacidade de compreender e comunicar idéias e emoções.

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Gerenciando Informação

Em pesquisa recentemente realizada nos Estados Unidos, chegou-se à conclusão de que, entre as competências necessárias para que o País continue líder mundial no
próximo século, está a de gerenciamento da informação por meio da comunicação oral e escrita, ou seja, a capacidade de ler, falar e escrever bem. Isso nos leva a
pensar muito seriamente na necessidade de desenvolver essas habilidades, pois passamos a maior parte do tempo defendendo nossos pontos de vista, falando com pessoas,
tentando motivar nossos filhos.

Já é coisa sabida que o mais importante não são as informações em si, mas o ato de transformá-las em conhecimento. As informações são tijolos e o conhecimento é
o edifício que construímos com eles. Mas onde é que vamos buscar esses tijolos? A maior parte das pessoas os obtém unicamente dentro da mídia escrita e falada. Ora,
desde 1924, filósofos como Theodor Adorno, Walter Benjamin e, mais tarde, Herbert Marcuse e Erich Fromm nos alertaram sobre os perigos da cultura de massa e da indústria
cultural. Na verdade, a mídia nos oferece uma espécie de "visão tubular" das coisas. `como se olhássemos apenas a parte da realidade que

A Arte de Argumentar

ela nos permite olhar, e da maneira como ela quer que nós a interpretemos.

Há alguns anos, depois da queda do presidente Ferdinand Marcos, das Filipinas, os jornais do mundo inteiro publicaram uma foto do closet da primeira-dama, Imelda
Marcos, dando destaque a uma incrível quantidade de pares de sapatos lá existente. Por causa disso, Imelda passou a ser conhecida mundialmente como uma mulher fútil,
por possuir uma enorme quantidade de sapatos. Durante seu julgamento, na Corte Federal da cidade de Nova York, ao fim do qual foi absolvida, os jornais locais enviavam
repórteres ao tribunal, com a exclusiva missão de fotografar-lhe os pés, para que pudessem publicar, no dia seguinte, o modelo que ela estaria usando. O resultado
foi frustrante, pois ela usou, em todas as sessões do júri, um mesmo par de sapatos pretos. Por essa época, ela confidenciou a seu advogado Gerry Spence1 que nunca
tinha comprado aqueles sapatos divulgados pela mídia. Nas Filipinas, há muitas fábricas de sapatos e, todos os anos, ela recebia dessas fábricas, gratuitamente,
coleções completas deles, pois todas queriam proclamar que a primeira-dama usava seus produtos. Ora, Imelda calçava um número grande e, por esse motivo, era sempre
difícil encontrar outras mulheres a quem pudesse dar os seus sapatos. Jogá-los fora seria pior, uma vez que isso iria produzir constrangimentos junto aos fabricantes.
Ela, então, simplesmente colecionava-os. Apesar disso, até hoje a maior parte das pessoas ainda conserva a

1. Gerry Spence, How to Argue and Win Every Time, pp. 94-96.

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Antônio Suárez Abreu

imagem da esposa de Ferdinand Marcos, imposta pela mídia, como uma pessoa fútil, atacada de uma espécie de doença mental, por possuir uma quantidade imensa de sapatos.

Além do alinhamento de pontos de vista, existem ainda os processos de manipulação. Durante a Guerra do Golfo, as televisões do mundo inteiro exibiram duas imagens
de forte impacto: uma delas mostrava incubadoras desligadas pelos iraquianos, com crianças prematuras kwaitianas mortas; outra, pássaros sujos de petróleo por uma
maré negra provocada também pelos iraquianos. Ambas as imagens eram falsas. As incubadoras eram uma montagem. A maré negra era real, mas tinha acontecido a milhares
de quilômetros dos "cruéis" iraquianos2.

Como nos defender de tudo isso? Simplesmente, obtendo informações em outras fontes. Quantos livros você leu no ano que passou? Informativos e formativos? E literatura?
Quando falo em literatura, não me estou referindo aos best-sellers, mas aos clássicos. Você já leu Shakespeare, Thomas Mann, Goethe, Machado de Assis? Parece uma
tarefa difícil, mas não é. Hamlet de Shakespeare, por exemplo, é uma peça de teatro que se lê em dois dias! E quanta coisa se aprende sobre a alma humana!

Paul Valéry, um grande poeta e crítico francês, nos diz a respeito da leitura de ficção: "Penso sinceramente que, se todos os homens não pudessem viver uma

2. Cf. Philippe Breton, A Manipulação da Palavra, p. 12.

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A Arte de Argumentar

quantidade de outras vidas além da sua, eles não poderiam viver a sua". Isso também não é novidade, para o grande escritor peruano Mario Vargas Llosa, que diz:

Condenados a uma existência que nunca está à altura de seus sonhos, os seres humanos tiveram que inventar um subterfúgio para escapar de seu confinamento dentro
dos limites do possível: a ficção. Ela lhes permite viver mais e melhor, ser outros sem deixar de ser o que já são, deslocar-se no espaço e no tempo sem sair de
seu lugar nem de sua hora e viver as mais ousadas aventuras do corpo, da mente e das paixões, sem perder o juízo ou trair o coração3.

Por meio da leitura, podemos, pois, realizar o saudável exercício de conhecer as pessoas e as coisas, sem limites no espaço e no tempo. Descobrimos, também, uma
outra maneira de transformar o mundo, pela transformação de nossa própria mente. Isso acontece, quando nós adquirimos a capacidade de ver os mesmos panoramas com
novos olhos.

Mas, além da ficção, podemos ler também outras obras importantes, como Casa-Grande e Senzala de Gilberto Freire ou A Era dos Extremos - O Breve Século XX, de Eric
Hobsbawm! Vale a pena também ler o livro intitulado O Mundo de Sofia, do autor norueguês Jostein Gaarder. Trata-se de um romance que conta a história da filosofia,
emoldurando as lições dentro do cotidiano de uma menina de quinze anos de idade. Enfim, leitura é um programa para uma vida inteira.

Talvez, no início, você encontre alguma dificuldade, mas, à medida que for lendo, verá que o próximo

3. Mario Vargas Llosa, Caderno Mais, Folha de S. Paulo, 1995.

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Antônio Suárez Abreu

livro sempre fica mais fácil, pois seu repertório vai ganhando aquilo que os físicos chamam de "massa crítica" e, a partir daí, você terá condições de fazer uma
leitura mais seletiva da mídia, criticar as informações e construir um conhecimento original.

A propósito, a revista Veja publicou, em 1998, alguns comentários sobre o ensino das Humanidades na Liberal Art School de Middlebury, nos Estados Unidos. Vale a
pena ler alguns trechos desses comentários:

Essa é a essência da educação por meio do estudo das humanidades: desenvolver o pensamento, sem nenhuma utilidade ou objetivo prático. Educa-se a cabeça, aprende-se
a pensar, estudando literatura, grego, filosofia. No final das contas, é supremamente útil. Cabeça feita não é pouca coisa. `essa gente, afiada no estudo dos clássicos,
que as grandes empresas querem contratar. As empresas citadas na lista das 500 maiores pela revista Fortune não vão procurar administradores ou engenheiros para
os seus futuros quadros dirigentes, mas sim essas pessoas ilustradas nos clássicos e que poucas disciplinas "práticas" cursaram4.

4. Vqa, an" 31, n. 33, p. 112.

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I

Gerenciando Relação

Quando entramos em contato com o outro, não gerenciamos apenas informações, mas também a nossa relação com ele. Um bom dia, um muito obrigado, as formas de tratamento
(você, a senhora) tudo isso é gerenciamento de relação. Muitas vezes, ao introduzirmos um assunto, construímos antes uma espécie de "prefácio gerenciador de relação".
O personagem Riobaldo, dialogando com seu interlocutor, em Grande Sertão - Veredas, diz:

Mas o senhor é homem sobrevindo, sensato, fiel como papel, o senhor me ouve, pensa e repensa, e rediz, então me ajuda. Assim, é como conto. Antes conto as coisas
que formaram passado para mim com mais pertença. Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda sabe. Só umas raríssimas
pessoas - e só essas poucas veredas, veredazinhas. O que muito lhe agradeço é a sua fineza de atenção1.

A única informação desse texto é que Riobaldo vai falar do sertão, coisa pouco conhecida. O resto é gerenciamento de relação.

1. Guimarães Rosa, Grande Sertão - Veredas, p. 84.
A Arte de Argumentar

3 vezes, um diálogo é puro gerenciamento de relação. `o que acontece quando duas pessoas falam sobre o tempo ou quando dois namorados conversam entre si. O que
dizem é redundante. Se um diz - Eu te amo!, isso é coisa que o outro já sabe. Mesmo assim, pergunta outra vez: - Você me ama? E recebe a mesma resposta. E ficam
horas a fio nessa redundância amorosa, em que o importante não é trocar informações, mas sentir em plenitude a presença do outro.

Depois que o relacionamento evolui e se casam, passam a sentir-se mais seguros, um em relação ao outro, e aí começam a negligenciar a parte carinhosa, sensível entre
os dois, para cuidar de aspectos mais práticos. Por esse motivo é que, no espaço privado, acabamos gerenciando mais informação e menos relação. Dentro de casa, raramente
as pessoas dizem por favor ou muito obrigado. No espaço público, até mesmo por motivo de sobrevivência social, as pessoas procuram, com maior ou menor sucesso, gerenciar,
além da informação, a relação.

No mundo de hoje e no futuro que nos espera, é muito importante saber gerenciar relação. O mundo está passando por uma mudança em relação ao emprego industrial e
rural. No campo, para o futuro, a perspectiva é termos apenas 2% da população interagindo com uma agricultura altamente mecanizada. Nas cidades, menos de 20% trabalharão
nas indústrias robotizadas e informatizadas. O resto (mais de 80%) ficará na área de serviços. Ora, serviços implicam clientes e clientes implicam bom gerenciamento
de relação. O trabalho

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Antônio Suárez Abreu

do futuro dependerá, pois, do relacionamento. Mesmo os profissionais liberais dependem dele. O médico ou o dentista de sucesso não é necessariamente aquele que entrou
em primeiro lugar no vestibular e fez um curso tecnicamente perfeito. `aquele que é capaz de se relacionar de maneira positiva com seus clientes, de conquistar
sua confiança e amizade.

Um exemplo dessa mudança é o fato de que algumas concessionárias de automóveis descobrirem, em pleno século XXI, a távola redonda. Você se lembra daquela idéia genial
do rei Artur em substituir a mesa retangular, à qual ele se sentava com os cavaleiros, e diante da qual eram disputados lugares em termos de hierarquia, por uma
mesa redonda, em que todos eram iguais? As concessionárias estão fazendo a mesma coisa. Estão substituindo as mesinhas retangulares em que o cliente ficava "frente
a frente" com o vendedor representando a empresa, por mesinhas redondas (pequenas távolas redondas), onde ambos se sentam lado a lado, o que favorece um relacionamento
mais informal e menos hierárquico.

No plano da vida pessoal, não é diferente. Quantas pessoas nós conhecemos, gente famosa, bonita, rica, com prestígio, mas extremamente infeliz, por não saber se
relacionar com o outro! A verdade é que ninguém é feliz sozinho, mas, ao mesmo tempo, temos medo de nos relacionar com o próximo. Conseguimos diminuir a distância
que nos separa das partes mais longínquas do mundo, por meio da aviação a jato, da tevê a cabo, da Internet, mas não conseguimos diminuir a distância

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A Arte de Argumentar

que nos separa do nosso próximo. E quando conversamos com as pessoas, falamos sobre tudo: futebol, automobilismo, política, moda, comida, mas falamos apenas superficialmente
sobre nós mesmos e, assim, não conhecemos o outro e ele também não nos conhece!

Temos medo de entrar em contato com o outro em nível pessoal, mas precisamos vencer esse medo! Há pessoas que vestem uma espécie de armadura virtual para se defender.
O tempo passa e elas não percebem que essa armadura não as está protegendo, está apenas escondendo as feridas da sua solidão. O outro deve

ser visto por nós como uma aventura. Temos de arriscar! Nós nunca estamos diante de pessoas prontas e também não somos pessoas prontas. Ao contrário, é no relacionamento
com o outro que vamos nos construindo como pessoas humanas e ganhando condições de sermos felizes. Fernando Pessoa nos fala da frustração de quem não foi capaz de
viver essa aventura:

Pensaste já quão invisíveis somos uns para os outros? Meditaste já em quanto nos desconhecemos? Vemo-nos e não nos vemos. Ouvimo-nos e cada um escuta apenas uma
voz que está dentro de si. As palavras dos outros são erros do nosso ouvir, naufrágios do nosso entender2.

Muitas vezes, temos medo do poder do outro e por isso nos retraímos. Muitas pessoas temem o poder de seus chefes, de pessoas de nível social mais elevado, às vezes
de seus próprios pais, maridos e esposas. A primeira grande

2. Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, p. 69.

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Antônio Suárez Abreu

verdade que temos de aprender é que nós aturamos os déspotas que nós queremos aturar. O poder que alguém tem sobre mim é uma concessão minha! Explosões de raiva,
ameaças, acusações não revelam poder, mas fraqueza! Minhas ações são a fonte do poder do outro.

Certa vez, uma amiga associou-se ao clube de uma cidade para a qual se havia mudado recentemente. Ao começar a freqüentá-lo com os filhos, teve algumas surpresas
desagradáveis. A piscina era cercada por grades e, antes de usá-la, tinham todos de tomar uma ducha e apresentar as carteiras do clube, embora já tivessem feito
isso na portaria. Uma das crianças, que tinha entrado com uma mochila, teve de retornar ao vestiário para despejar seu conteúdo em um recipiente de plástico transparente,
para que os fiscais da piscina pudessem verificar o que estava transportando. Ao voltar à piscina, teve de tomar outra ducha e apresentar novamente a carteira. Quando
alguém queria tomar refrigerante ou um sorvete, não podia fazê-lo dentro do recinto da piscina. Tinha de sair, ir até o bar e voltar depois, repetindo a ducha e
a apresentação da carteira. Depois de inúteis reclamações a funcionários e à direção, minha amiga decidiu mudar de clube e ficar livre daquela rotina infernal. Ao
associar-se ao clube, sem que soubesse, ela tinha dado a seus funcionários e diretores o poder de controlar seus passos.
Bastou sair dele para ficar livre desse poder!

Minha mente é também a fonte do poder do outro. Para que eu me liberte, preciso primeiro libertar minha mente. Na Austrália, em uma tribo aborígine

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A Arte de Argumentar

em que existiam práticas semelhantes ao vodu, o xamã3 podia condenar alguém à morte, simplesmente apontando-o com um osso e ordenando-lhe que morresse. E o índio
apontado de fato morria, sem cometer suicídio, de morte natural, pois ele estava preso dentro de sua própria mente ao poder do xamã. Cientistas que estiveram fazendo
pesquisas nesse local, em 1925, pediram ao xamã que lhes ordenasse morrer, utilizando o mesmo procedimento usado com os membros da tribo, e nada lhes aconteceu.

Durante a Idade Média4, sobretudo por influência de Santo Agostinho, a Igreja condenava a prática do sexo, mesmo entre pessoas casadas, nos dias santificados, aos
domingos, quarenta dias antes da Páscoa, pelo menos vinte dias antes do Natal, três dias antes de receber a comunhão. Os períodos de continência chegavam a cinco
meses ao ano e os fiéis, com justa razão, se queixavam de que não lhes sobrava muito tempo. Entretanto, procuravam respeitar as proibições, sobretudo as mulheres,
pois morriam de medo de que Deus as visse em pecado e tivessem de confessar-se aos padres, que tinham o poder de aplicar as terríveis penas dos Penitenciais5. Essas
condenações

3. Xamã - nome de feiticeiros da sia Setentrional e, por extensão, de feiticeiros de todas as sociedades consideradas inferiores.

4. Cf. Clemara Bidarra, "A Construção do Amor e do Erotismo no Discurso Literário: Uma Perspectiva Histórica dentro do Pensamento Ocidental", pp. 39-44.

5. Livros que continham catálogos de pecados e uma lista de penitências para cada um deles. Os mais antigos Penitenciais vêm dos mosteiros da Irlanda, onde foram
compostos pelos abades.

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Antônio Suáres Abreu

variavam entre ficar meses a pão e água até a prisão em regime fechado. Apenas a título de exemplo, para o sexo oral a pena era de dez a quinze anos de prisão, enquanto
que para o assassinato premeditado era de sete anos.

Foi por essa época, no século XIII, na cidade de Lausanne, na Suíça francesa, que cinco mulheres, entrando na Catedral para a festa do padroeiro, sofreram uma espécie
de ataque epilético, pelo remorso de terem feito amor com seus maridos no dia anterior. Somente depois de confessarem esse "terrível pecado" e manifestarem sincero
arrependimento, voltaram ao estado normal. A mente delas dava aos sacerdotes e à Igreja o poder de fazê-las ficar doentes e ter ataques.

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Argumentar, Convencer e Persuadir

Argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Etimologicamente, significa
vencer junto com o outro (com + vencer) e não contra o outro. Persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro. A origem dessa palavra está ligada
à preposição per, "por meio de" e a Suada, deusa romana da persuasão. Significava "fazer algo por meio do auxílio divino". Mas em que convencer se diferencia de
persuadir? Convencer é construir algo no campo das idéias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno das emoções,
é sensibilizar o outro para agir. Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize.

Muitas vezes, conseguimos convencer as pessoas, mas não conseguimos persuadi-las. Podemos convencer um filho de que o estudo é importante e, apesar disso, ele continuar
negligenciando suas tarefas escolares. Podemos convencer um fumante de que o cigarro faz mal à saúde, e, apesar disso, ele continuar fumando. Algumas vezes, uma
pessoa já está persuadida a fazer


A Arte de Argumentar

alguma coisa e precisa apenas ser convencida. Precisa de um empurrãozinho racional de sua própria consciência ou da de outra pessoa, para fazer o que deseja. `o
caso de um amigo que quer comprar um carro de luxo, tem dinheiro para isso, mas hesita em fazê-lo, por achar mera vaidade. Precisamos apenas dar-lhe uma "boa razão"
para que ele faça o negócio. 3 vezes, uma pessoa pode ser persuadida a fazer alguma coisa, sem estar convencida. `o caso de alguém que consulta uma cartomante
ou vai a um curandeiro, apesar de, racionalmente, não acreditar em nada disso.

Argumentar é, pois, em última análise, a arte de, gerenciando informação, convencer o outro de alguma coisa no plano das idéias e de, gerenciando relação, persuadi-lo,
no plano das emoções, a fazer alguma coisa que nós desejamos que ele faça.

Um Pouco de História

A retórica, ou arte de convencer e persuadir, surgiu em Atenas, na Grécia antiga, por volta de 427 a.C, quando os atenienses, tendo consolidado na prática os princípios
do legislador Sólon, estavam vivendo a primeira experiência de democracia de que se tem notícia na História. Ora, dentro desse novo estado de coisas, sem a presença
de autoritarismo de qualquer espécie, era muito importante que os cidadãos conseguissem dominar a arte de bem falar e de argumentar com as pessoas, nas assembléias
populares e nos tribunais. Para satisfazer essa necessidade, afluíram a Atenas, vindo sobretudo das colônias gregas da época, mestres itinerantes que tinham competência
para ensinar essa arte. Eles se autodenominavam sofistas, sábios, aqueles que professam a sabedoria. Os mais importantes foram Protágoras e Górgias.

Como mestres itinerantes, os sofistas faziam muitas viagens e, por esse motivo, conheciam diversos usos e costumes. Isso lhes dava uma visão de mundo muito mais
abrangente do que tinham os atenienses da época e lhes permitia mostrar a seus alunos que uma questão podia admitir diferentes pontos de vista. Um dos princípios

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A Arte de Argumentar

propostos por eles era o de que muitos dos comportamentos humanos não eram naturais, mas criados pela sociedade. Como exemplo, citavam o "sentimento do pudor". Contradizendo
os atenienses, que acreditavam que fosse algo natural, os professores de retórica afirmavam, por experiência própria, que, em muitos lugares por que tinham passado,
a exposição de certas partes do corpo e certos hábitos tidos lá como normais, se vistos em Atenas, causariam perplexidade e constrangimento.

Foi esse tipo de pensamento que deve ter provocado a célebre afirmação de Protágoras: O homem é a medida de todas as coisas, que o levou, inclusive, a afirmar que
o verdadeiro sábio é aquele capaz de julgar as coisas segundo as circunstâncias em que elas se inserem e não aquele que pretende expressar verdades absolutas.

A retórica, ao contrário da filosofia da época, professada principalmente por Sócrates e Platão, trabalhava, pois, com a teoria dos pontos de vista ou paradigmas,
aplicados sobre os objetos de seu estudo. Por esse motivo, foi inevitável o conflito entre retóricos ou sofistas, de um lado; e os filósofos, de outro, que trabalhavam
apenas com dicotomias como verdadeiro/falso, bom/mau etc.

Tarefas da Retórica Clássica

A primeira tarefa da retórica clássica tinha natureza heurística1. Tratava-se de descobrir temas

1. Heurística é o método de análise que visa ao descobrimento e ao estudo

28

/

Antônio Suárez Abreu

conceituais para discussão. Um dos temas mais célebres, escolhido por Górgias, foi "o direito que a paixão tem de se impor sobre a razão". Para defender essa tese,
Górgias escreveu um discurso intitulado Elogio a Helena, em 414 a.C.

A história de Helena de Tróia é uma das mais conhecidas da mitologia grega. Helena, esposa de Menelau, rei da cidade de Esparta, foi raptada por Paris, príncipe
troiano, que a ganhara como prêmio da deusa Vênus. Esse rapto deu origem à guerra de Tróia, que os gregos promoveram para resgatar Helena. A questão colocada por
Górgias era que Helena, apesar de casada com Menelau e, do ponto de vista moral ligada a ele, tinha também o direito de apaixonar-se por Paris, dando vazão aos seus
sentimentos. Na verdade, Vênus prometera a Paris não apenas Helena, mas o amor de Helena. Eis, a seguir, um pequeno trecho do Elogio a Helena:

Eu quero, raciocinando com lógica sobre a infeliz tradição a ela referente (referente a Helena), liberá-la de toda acusação e fazer cessar a ignorância, demonstrando
que seus acusadores estão equivocados. [. . .] Se o que originou seus atos foi o amor, não é difícil apagar a acusação de culpa em que dizem que ela incorreu. As
coisas que vemos têm a natureza própria de cada uma delas e não a que nós queremos. Ademais, mediante a percepção visual, a alma é modelada em seu modo de ser. Assim,
quando a vista contempla pessoas inimigas revestidas de armadura guerreira com ornamentos guerreiros de bronze e ferro, ofensivos e defensivos, se aterroriza e aterroriza
sua

do de verdades científicas. A palavra se origina do verbo grego eurisko, que significa "achar", "encontrar".

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A Arte de Argumentar

alma, de maneira que, muitas vezes fugimos cheios de pavor, ainda que não haja um perigo iminente. [. . .] Portanto, se o olho de Helena originou em sua alma desejo
e paixão amorosa pelo corpo de Paris, o que há nisso de assombroso? Se o amor é um deus, como poderia ter resistido e vencer o divino poder dos deuses quem é mais
fraco do que eles? Se se trata de uma enfermidade humana e de um erro da mente, não há que se censurar como se fosse uma culpa, mas considerá-la apenas uma má sorte2.

Senso Comum, Paradoxo e Maravilhamento

Tudo aquilo que pensamos e fazemos é fruto dos discursos que nos constróem, enquanto seres psicossociais. Na sociedade em que vivemos, somos moldados por uma infinidade
de discursos: discurso científico, discurso jurídico, discurso político, discurso religioso, discurso do senso comum etc. Paramos o automóvel diante de um sinal
vermelho, porque essa atitude foi estabelecida pelo discurso jurídico das leis de trânsito. Votamos em tal candidato de tal partido, porque esse tipo de voto foi
conquistado pelo discurso político desse candidato.

Entre todos os discursos que nos governam, o mais significativo deles é o discurso do senso comum. Trata-se de um discurso que permeia todas as classes sociais,
formando a chamada opinião pública. Tanto uma pessoa humilde e iletrada quanto um executivo de alto nível, com curso universitário completo, costumam dizer que os
políticos são, em geral, corruptos

2. Górgias, Fragmentos y Testimonios, pp. 90-91. A tradução é minha.

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Antônio Suárez Abreu

ou que o brasileiro é relaxado e preguiçoso. Na verdade, o discurso do senso comum não é um discurso articulado; é formado por fragmentos de discursos articulados.
Uma fonte desse discurso são os ditos populares, como Devagar se vai ao longe,
água mole em pedra dura tanto bate até que fura etc. Esse discurso tem um poder enorme
de dar sentido à vida cotidiana e manter o status quo vigente, mas tende a ser, ao mesmo tempo, retrógrado e maniqueísta. Podemos até mesmo dizer que os momentos
das grandes descobertas, das grandes invenções, foram também momentos em que as pessoas foram capazes de opor-se ao discurso do senso comum. Geralmente, essas pessoas,
em um primeiro instante, se tornam alvo da incompreensão da massa que defende o senso comum. Foi o que aconteceu com a chamada Revolta da Vacina, uma rebelião popular
ocorrida no Rio de Janeiro, de 12 a 15 de novembro de 1904, quando Oswaldo Cruz, diretor-geral da Saúde Pública do governo Rodrigues Alves, quis vacinar a população
da cidade contra a febre amarela. A opinião geral era de que se tratava de inocular a doença nas pessoas. Dizem que até mesmo Rui Barbosa posicionou-se contra a
medida, alegando o constrangimento das senhoras em expor o braço nu para tomar a vacina. Os cariocas, inflamados, levantaram barricadas, quebraram lampiões de iluminação
pública e incendiaram alguns bondes da cidade.

Voltando a Atenas e aos professores de retórica, uma das técnicas mais utilizadas por eles, para arejar a

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A Arte de Argumentar

cabeça dos atenienses contra o discurso do senso comum, era a de criar paradoxos - opiniões contrárias ao senso comum - levando, dessa maneira, seus ouvintes ou
leitores a experimentarem aquilo que chamavam maravilhamento, capacidade de voltar a se surpreender com aquilo que o hábito vai tornando comum. Essa palavra foi
substituída no expressionismo alemão, no surrealismo francês e, sobretudo no formalismo russo, pela palavra estranhamento, definida como a capacidade de tornar novo
aquilo que já se tornou habitual em nossas vidas. Nesse sentido, o Elogio a Helena de Górgias foi paradoxal, pois contrariava o senso comum da época.

Uma das técnicas do paradoxo era criar discursos a partir de um antimodelo, ou seja, escolhia-se algum tema sobre o qual já houvesse uma opinião formada pelo senso
comum e escrevia-se um texto contrariando essa opinião. Era o antimodelo. Houve momentos em que floresceram em Atenas discursos iniciados sempre pela palavra contra:
Contra os Físicos, Contra rebo3 etc.

A retórica clássica se baseava, portanto, na diversidade de pontos de vista, no verossímil, e não em verdades absolutas. Isso fez com que a dialética e a filosofia
da época se aliassem contra ela. Platão, por exemplo, em sua obra chamada Górgias, procura mostrar que a retórica visava apenas aos resultados, enquanto que a filosofia

3. Filho de Caos e da Noite. Foi transformado em rio e precipitado nos Infernos, por ter ajudado os Titãs.

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Antônio Suákez A uri;a

visava sempre ao verdadeiro. Isso fez com que a retórica decaísse perante a opinião pública (discurso do senso comum) durante séculos. A própria palavra sofista
passou a designar pessoa de má-fé que procura enganar, utilizando argumentos falsos. O interessante é que o próprio Platão, na sua República, utiliza amplamente
os recursos retóricos que ele próprio condenava. Nietzsche comentou, ao seu estilo, que o primeiro motivo que levou Platão a atacar Górgias foi que Górgias, além
de seu sucesso político, era rico e amado pelos atenienses. Dizem, também, que um dos motivos do declínio da retórica foi que a experiência democrática dos gregos
foi muito curta. Acabou em404 a.C., quando Atenas foi subjugada por Esparta, ficando assim eliminado o espaço para a livre crítica de idéias e o debate de opiniões.

Nos dias de hoje, a partir dos estudos da Nova Retórica e do chamado Grupo u, de Liège, na Bélgica, a retórica foi amplamente reabilitada, tendo sido, sobretudo
a partir da segunda metade do século XX, beneficiada pelos estudos de outras ciências que se configuraram nesse século, como a Lingüística, a Semiótica, a Pragmática
e a Análise do Discurso.

Os métodos retóricos da exploração da verossimilhança e dos diferentes pontos de vista sobre um objeto ou situação têm sido o motor que vem impulsionando o grande
avanço moderno da ciência e da tecnologia. Um bom exemplo disso são os trabalhos do médico americano Judah Folkman, no campo da cancerologia. O fundamento de sua
pesquisa é um ponto de vista

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A Arte de Argumentar

Antônio Suárez Abreu

totalmente diferente do de seus pares. Segundo ele, é possível combater um tumor cancerígeno, cortando seu suprimento de sangue, por meio da eliminação da vascularização
do tumor.

A habilidade de ver e sentir um objeto ou uma situação sob diferentes pontos de vista é importante em qualquer área, pois está ligada ao exercício da criatividade.
Diz-nos a esse respeito Fernando Pessoa:

A única maneira de teres sensações novas é construíres-te uma alma nova. Baldado esforço o teu se queres sentir outras coisas sem sentires de outra maneira, e sentires-te
de outra maneira sem mudares de alma. Porque as coisas são como nós a sentimos há quanto tempos sabes tu isto sem o saberes? - e o único modo de haver coisas novas,
de sentir coisas novas é haver novidade no senti-las4.

Uma carta de amor, por exemplo, pode ser entendida apenas como uma forma de uma pessoa transmitir a outra seus sentimentos. Mas pode também ser entendida de muitas
outras maneiras, como no seguinte trecho de Rubem Alves:

Uma carta de amor é um papel que liga duas solidões. A mulher está só. Se há outras pessoas na casa, ela as deixou. Bem pode ser que as coisas que estão nela escritas
não sejam nenhum segredo, que possam ser contadas a todos. Mas, para que a carta seja de amor, ela tem de ser lida em solidão. Como se o amante estivesse dizendo:
"Escrevo para que você fique sozinha . . ." E este ato de leitura solitária que estabelece a cumplicidade. Pois foi da solidão que a carta nasceu. A carta de amor
é o objeto que o amante faz para tornar suportável o seu abandono.

4. Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, vol. l, p> 94. •

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Olho para o céu. Vejo a Alfa Centauro. Os astrônomos me dizem que a estrela que agora vejo é a estrela que foi, há dois anos. Pois foi este o tempo que sua luz levou
para chegar até os meus olhos. O que eu vejo é o que não mais existe. E será inútil que eu me pergunte: "Como será ela agora? Existirá ainda?" Respostas a estas
perguntas eu só vou conseguir daqui a dois anos, quando a sua luz chegar até mim. A sua luz está sempre atrasada. Vejo sempre aquilo que já foi ... Nisto as cartas
se parecem com as estrelas. A carta que a mulher tem nas mãos, que marca o seu momento de solidão, pertence a um momento que não existe mais. Ela nada diz sobre
o presente do amante distante. Daí a sua dor. O amante que escreve alonga os seus braços para um momento que ainda não existe. A amante que lê alonga os seus braços
para um momento que não mais existe. A carta de amor é um abraçar do vazio5.

5. Rubem Alves, "Cartas de Amor", O Retorno e Temo, pp. 4445.

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Condições da Argumentação

A primeira condição da argumentação é ter definida uma tese e saber para que tipo de problema essa tese é resposta. Se queremos vender um produto, nossa tese é o
próprio produto. Mas isso não basta. `preciso saber qual a necessidade que o produto vai satisfazer. Um bom vendedor é alguém capaz de identificar necessidades
e satisfazê-las. Um bom vendedor de carros saberá vender um automóvel de passeio a um cliente que se locomove apenas no asfalto e um utilitário àquele que tem de
enfrentar estradas de terra.

No plano das idéias, as teses são as próprias idéias, mas é preciso saber quais as perguntas que estão em sua origem. Se eu quero vender a idéia de que é preciso
sempre poupar um pouco de dinheiro, eu tenho de saber que a pergunta básica é: - O que eu faço com o dinheiro que recebo? Muitas pessoas se queixam de que, nas reuniões
da empresa, suas boas idéias nunca são levadas em consideração. O que essas pessoas não percebem é que essas idéias são respostas a perguntas que elas fizeram a
si mesmas, dentro de suas cabeças. Ora, de nada adianta lançar uma idéia para um grupo

A Arte de Argumentar

que não conhece a pergunta. `preciso primeiro fazer a pergunta ao grupo. Quando todos estiverem procurando uma solução, aí sim, é o momento de lançar a idéia, como
se lança uma semente em um campo previamente adubado.

Uma segunda condição da argumentação é ter uma "linguagem comum" com o auditório. Somos nós que temos de nos adaptar às condições intelectuais e sociais daqueles
que nos ouvem, e não o contrário. Temos de ter um especial cuidado para não usar termos de informática para quem não é da área de informática, ou de engenharia,
para quem não é da área de engenharia e assim por diante.

Durante a campanha para a prefeitura de São Paulo, em 1985, Jânio Quadros contou com o apoio do deputado e ex-ministro Delfim Neto. Durante um comício para moradores
de um bairro de periferia, Delfim terminou sua fala dizendo: "- A grande causa do processo inflacionário é o déficit orçamentário. Logo depois, Jânio chamou Delfim
de lado e disse: "- Delfim, olhe para a cara daquele sujeito ali. O que você acha que ele entendeu do seu discurso ? Ele não sabe o que é processo. Não sabe o que
é inflacionário. Não sabe o que é déficit. E não tem a menor idéia do que é orçamentário. Da próxima vez, diga assim: - A causa da carestia é a roubalheira do
governo.1"

Em um processo argumentativo, nós somos os únicos responsáveis pela clareza de tudo aquilo que dissermos. Se houver alguma falha de comunicação, a culpa é exclusivamente
nossa!

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Antônio Suárez Abreu

A terceira condição da argumentação é ter um contato positivo com o auditório, com o outro. Estamos falando outra vez de gerenciamento de relação. Nunca diga, por
exemplo, que vai usar cinco minutos de alguém, se vai precisar de vinte minutos. `preferível, nesse caso, dizer que vai usar meia hora. Muitas vezes, há necessidade
de respeitar hierarquias e agendas. Faça isso com sinceridade e bom humor.

Outra fonte de contato positivo com o outro é saber ouvi-lo. Noventa e nove por cento das pessoas não sabem ouvir. A maior parte de nós tem a tendência de falar
o tempo todo. `preciso desenvolver a capacidade da audiência empática. Pathos, em grego, além de enfermidade, significa sentimento. Em, preposição, significa dentro
DE. Ouvir com empatia quer dizer, pois, ouvir dentro do sentimento do outro.

As palavras são escolhidas inconscientemente. `preciso prestar atenção a elas. `preciso prestar atenção também ao som da voz do outro! `por meio da voz que expressamos
alegria, desespero, tristeza, medo ou raiva. As vezes, a maneira como uma pessoa usa sua voz nos dá muito mais informações sobre ela do que o sentido lógico daquilo
que diz. Devemos também aprender a "ouvir" com nossos olhos! A postura corporal do outro, suas expressões faciais, a maneira como anda, como gesticula e até mesmo
a maneira como se veste nos dão informações preciosas. O poeta e semioticista Décio Pignatari costuma dizer que o homem precisa aprender a "ouviver", verbo que ele
inventou a partir de ouvir, ver e viver.

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A Arte de Argumentar

Finalmente, a quarta condição e a mais importante delas: agir de forma ética. Isso quer dizer que devemos argumentar com o outro, de forma honesta e transparente.
Caso contrário, argumentação fica sendo sinônimo de manipulação. O fato de agirmos com honestidade nos confere uma característica importante em um processo argumentativo:
a credibilidade. Para ter credibilidade é preciso apenas comportar-se de modo verdadeiro, sem medo de revelar propósitos e emoções. Assim como as pessoas possuem
"detectores inconscientes" de interesse sexual em relação ao sexo oposto, capazes de decodificar posturas corporais, expressões faciais e tom de voz, elas também
possuem "detectores de credibilidade" em relação ao outro. Para ter credibilidade, basta procurar a criança que existe dentro de nós. As crianças não dizem aquilo
em que não acreditam e não fingem o que não sentem. Se estão tristes, seus rostos refletem nitidamente a tristeza. Se estão alegres, refletem essa alegria. Ao longo
da vida, nós, adultos, é que desaprendemos a espontaneidade, depois que outros adultos nos ensinaram a separar nossa inteligência de nossas emoções.

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O Auditório

O auditório é o conjunto de pessoas que queremos convencer e persuadir. Seu tamanho varia muito. Pode ser do tamanho de um país, durante uma comunicação em rede
nacional de rádio e televisão, pode ser um pequeno grupo, dentro de uma empresa, mas pode ser apenas uma única pessoa: um amigo, um cliente, ou um namorado ou namorada.

`preciso não confundir interlocutor com auditório. Um repórter que entrevista você não é seu auditório, é apenas seu interlocutor. O auditório são os leitores do
jornal ou os telespectadores em suas casas. O ex-presidente Figueiredo costumava fazer esse tipo de confusão. Certa vez, uma garotinha que alguém tinha colocado
em seu colo lhe fez a seguinte pergunta: - O que o senhor faria, se seu pai ganhasse salário mínimo ? - Dava um tiro na cuca!, respondeu o presidente, sem perceber
que a garota era apenas uma interlocutora instruída astuciosamente por algum adulto. O verdadeiro auditório era o povo brasileiro que assistia à televisão, o que
ficou comprovado pelas pesadas críticas dos jornais, no dia seguinte.

A Arte de Argumentar

Auditório Universal e Auditório Particular

Auditório universal é um conjunto de pessoas sobre as quais não temos controle de variáveis. O público que assiste a um programa de televisão configura um auditório
universal. São homens e mulheres de todas
as classes sociais, de idades diferentes, diferentes profissões, diferentes níveis de instrução e de diferentes regiões do país. Auditório particular é um conjunto
de pessoas cujas variáveis controlamos. Uma turma de alunas de uma escola de segundo grau configura um auditório particular. Trata-se de pessoas jovens, do sexo
feminino, com o mesmo nível de escolaridade.

Aquele que vai argumentar precisa adaptar-se ao seu auditório. Diz o provérbio que A comida deve agradar aos convidados e não ao cozinheiro. Mas temos de ter
um cuidado muito importante, quando estamos diante de um auditório particular: o de nunca manifestar um ponto de vista que não possa ser defendido também dentro
de um auditório universal. Isso, por dois motivos: ética e auto-interesse. Quando você explora o preconceito ou a inimizade de um grupo em relação a outros grupos,
além de não estar sendo ético, essa forma de agir pode voltar-se contra você, quando e onde você menos estiver esperando. Lembra-se da lei de Murphy? Quer um exemplo?
Em 1997, um alto executivo da Texaco, nos Estados Unidos, utilizou, em uma reunião fechada da presidência (auditório particular), argumentos racistas, tendo como
alvo um funcionário negro da empresa. A notícia vazou não só dentro da

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Antônio Suárez Abreu

companhia, mas em todo o país (auditório universal). Como resultado, a Texaco foi condenada a pagar uma indenização de 179 milhões de dólares a seus funcionários
negros, a título de reparação de danos morais.

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Convencendo as Pessoas

Ao iniciar um processo argumentativo visando ao convencimento, não devemos propor de imediato nossa tese principal, a idéia que queremos "vender" ao nosso auditório.
Devemos, antes, preparar o terreno para ela, propondo alguma outra tese, com a qual nosso auditório possa antes concordar. Quando Ronald Reagan foi candidato pela
primeira vez à presidência dos Estados Unidos, antes de pedir aos americanos que votassem nele, fez-lhes a seguinte pergunta:

- Vocês estão hoje melhores do que estavam há quatro anos?

`claro que Reagan sabia que a resposta era não. No governo Carter, que estava terminando, a taxa de desemprego aumentara, havia uma inflação elevada para os padrões
do país e havia trezentos reféns americanos presos há mais de um ano na Embaixada americana no Irã. Somente depois de fazer essa pergunta e deixar as pessoas pensarem
na resposta é que pediu que votassem nele, e sabemos que ele ganhou não somente aquela eleição, mas também a seguinte.

A Arte de Argumentar

Essa tese preparatória chama-se tese de adesão inicial. Uma vez que o auditório concorde com ela, a argumentação ganha estabilidade, pois é fácil partir dela para
a tese principal. As teses de adesão inicial fundamentam-se em fatos ou em presunções. A tese de Reagan fundamentou-se num fato: o de que os americanos estavam tendo
uma vida pior, sob o governo Carter. Se quisermos, por exemplo, defender o Novo Código Brasileiro de Trânsito (tese principal) é importante levar nosso auditório
a concordar previamente com um fato: o de que, depois de implantado esse código, houve uma diminuição de 50% das mortes no trânsito (tese de adesão inicial).

Neném Prancha, um técnico carioca de futebol de várzea, utilizava uma curiosa técnica de argumentação, como tese de adesão inicial, para convencer seus jogadores
aprendizes a manter a bola no chão, em jogo rasteiro, em vez de levantá-la em jogadas de efeito, mas inúteis para quem está começando a aprender os fundamentos do
futebol. Dizia ele aos meninos:

- Olhem aqui: a bola é feita de couro. O couro vem da vaca. A vaca gosta de grama. Por isso a bola tem que ser jogada rasteira, na grama! . . .

As presunções são suposições fundamentadas dentro daquilo que é normal ou verossímil. Se alguém que você espera está demorando a chegar, você pode presumir uma série
de motivos: ele pode ter esquecido o compromisso, pode ter recebido uma visita inesperada, pode ter ficado retido no trânsito, e assim por

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Antônio Suárez Abreu

diante. Tudo isso são presunções. Imaginar, contudo, que a pessoa esperada tenha sido seqüestrada por um ET ou que tenha, no meio do caminho, decidido participar
de uma maratona, não são presunções, pois esses motivos fogem ao conceito de normalidade ou verossimilhança.

Assisti certa vez a um filme em que um jovem estava sendo acusado de assassinato. Durante o julgamento, o advogado de defesa utiliza uma presunção como tese de adesão
inicial. Mostra ele aos jurados que o comportamento normal de um criminoso, depois de matar sua vítima, é afastar-se rapidamente do local do crime e desfazer-se
da arma utilizada, atirando-a num rio ou em algum outro local pouco acessível.

Ora, o réu em questão tinha sido preso por ter sido denunciado à polícia, por meio de um telefonema anônimo. Quando a polícia o procurou, encontrou-o dormindo um
sono tranqüilo em sua própria casa, com a arma do crime, limpa de impressões digitais, jogada debaixo da cama. A tese principal do advogado era a de que o réu era
inocente da acusação, mas, antes de defendê-la, conseguiu que os jurados concordassem com a presunção de que era muito pouco provável que alguém fosse tão inexperiente
a ponto de atirar a arma do crime sob a própria cama e, ao mesmo tempo, tão experiente a ponto de ter apagado previamente as impressões digitais.

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As Técnicas Argumentativas

Técnicas argumentativas são os fundamentos que estabelecem a ligação entre as teses de adesão inicial e a tese principal. Essas técnicas compreendem dois grupos
principais: os argumentos quase lógicos e os argumentos FUNDAMENTADOS NA ESTRUTURA DO REAL.

Argumentos Quase Lógicos

Compatibilidade e Incompatibilidade

Utilizando essa técnica, a pessoa que argumenta procura demonstrar que a tese de adesão inicial, com a qual o auditório previamente concordou, é compatível ou incompatível
com a tese principal. No caso do exemplo de Ronald Reagan, o então candidato à presidência norte-americana demonstrou que a situação do povo americano nos quatro
anos de governo Carter era incompatível com a reeleição desse presidente, mas era compatível com a eleição dele, Reagan.

Podemos, por exemplo, antes de tentar convencer o Secretário de Transportes de nossa cidade a retirar as

A Arte de Argumentar

lombadas das ruas (tese principal), fazê-lo concordar com a tese de adesão inicial de que, em caso de incêndio ou transporte de doentes, as lombadas prejudicam sensivelmente
a locomoção de carros de bombeiro e de ambulâncias, que são obrigados a parar a cada obstáculo, atrasando um socorro que deveria ser imediato. As lombadas são, pois,
incompatíveis com o bom funcionamento dos serviços públicos de emergência.

Há algum tempo, foi veiculado pela Internet um texto sobre a existência de Papai Noel. Vejamos alguns trechos:

Em resposta a uma avassaladora quantidade de solicitações recebidas, e contando em nossa pesquisa com a ajuda da renomada publicação científica SPY Magazine (janeiro,
1990) - tenho o prazer de apresentar as conclusões do Annual Scientific Inquiry Into Santa Claus (Pesquisa Científica Anual sobre Papai Noel).

3. Papai Noel tem 31 horas no dia de Natal para executar seu trabalho, graças aos diferentes fusos horários e à rotação da Terra, assumindo que ele viaja de leste
para oeste (o que parece mais lógico). O que nos leva a 822,6 visitas por segundo. Isto é o mesmo que dizer que, para cada lar cristão com uma criança que foi boazinha
o ano todo, Papai Noel dispõe de aproximadamente 1/1000 (1 milésimo) de segundo para estacionar, pular do trenó, escalar a casa, descer pela chaminé, encher as meias,
distribuir os presentes restantes sob a árvore, comer o lanche que porventura lhe tenha sido deixado, voltar pela chaminé, entrar novamente no trenó e dirigir-se
para a casa seguinte. Isto significa que o trenó de Papai Noel se desloca a uma velocidade de 1 045 quilômetros por segundo, ou 3000 vezes a velocidade do som.

4. A capacidade de carga do trenó pode adicionar outros elementos interessantes à investigação. Assumindo que cada criança não ganhe mais que um conjunto médio de
Lego (900 gramas), o trenó estará carregando 321 300 toneladas, não incluindo o próprio

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Antônio Suárez Abreu

Papai Noel, invariavelmente descrito como extremamente obeso. No solo, uma rena convencional pode puxar não mais que 135 quilos. Mesmo admitindo que uma "rena voadora"
possa puxar dez vezes esta carga, não seria possível executar este trabalho com apenas 8 ou mesmo 9 renas. Seriam necessárias 214 200 renas voadoras. Isto aumenta
o peso do conjunto, sem contar o peso do trenó, para
353 430 toneladas.
5.353 000 toneladas viajando a 1 045 quilômetros por segundo criam uma enorme resistência do ar - isto queimaria as renas voadoras de uma forma similar a como queimam
as naves espaciais quando da reentrada na atmosfera da Terra. A total vaporização de todo o grupo de renas levaria apenas 4,26 milésimos de segundo. Enquanto isso,
Papai Noel seria submetido a uma força centrífuga 17500,06 vezes maior que a gravidade. Um Papai Noel de 115 quilos (o qual nos parece burlescamente magro) seria
esmagado na parte traseira de seu trenó por 1 954700 quilogramas-força. CONCLUSÏ: Se Papai Noel de fato ENTREGAVA presentes na véspera de Natal, ele está morto
agora.

A tese principal é a de que Papai Noel, se existisse, estaria morto. Para chegar a ela, o bem-humorado autor do texto usa como teses de adesão inicial vários fatos
relativos às leis da física, demonstrando a sua total incompatibilidade com o trabalho do bom velhinho.

Esses argumentos recebem o nome de quase lógicos, porque muitas das incompatibilidades não dependem de aspectos puramente formais e sim da natureza das coisas ou
das interpretações humanas. Um eleitor norte-americano, mesmo concordando que o país estava pior no governo Carter, poderia votar nele, por uma questão de amizade,
parentesco ou religião. Em um argumento lógico isso é impossível. Eu não posso, por exemplo, depois de dizer que todo

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A Arte de Argumentar

homem é mortal, dizer que Paulo, apesar de ser homem, não é mortal, porque é meu amigo!

Regra de Justiça

A regra de justiça fundamenta-se no tratamento idêntico a seres e situações integrados em uma mesma categoria. Um filho, cujo pai se recusa a custear-lhe a faculdade,
pode protestar, dizendo que acha isso injusto, uma vez que seus dois irmãos mais velhos tiveram seus cursos superiores pagos por ele. `um argumento de justiça,
fundamentado na importância de um precedente.

Utilizando ainda a questão das lombadas, podemos argumentar, defendendo a tese principal da sua retirada, dizendo que esses obstáculos são injustos, uma vez que
tanto aqueles que têm por hábito andar em alta velocidade, quanto aqueles que não têm esse hábito são punidos da mesma forma, pelo desconforto de ter de frear o
carro, pelo desgaste do veículo etc.

Retorsão

Denominamos retorsão a uma réplica que é feita, utilizando os próprios argumentos do interlocutor. No dia seguinte, após ter entrado em vigor, no ano de 1998, o
novo Código Nacional de Trânsito, os noticiários de televisão mostravam donos de carros antigos comprando, em lojas de acessórios, cintos de segurança de três pontos
e apoiadores de cabeça para os bancos traseiros, objetivando cumprir um artigo desse código


Antônio suárex Abreu

que estabelecia a necessidade desses equipamentos em todos os veículos em circulação no país. Horas depois, um jurista apareceu na mesma emissora de televisão, afirmando
que não havia a menor necessidade daquele procedimento, uma vez que o mesmo código, em outro artigo, dizia que não poderiam ser alteradas as características originais
de fabricação dos veículos, ou seja, o próprio código que exigia adaptações, em outro artigo, desautorizava-as. Ficou valendo esta última posição! A obrigatoriedade
dos cintos de três pontos e dos apoiadores de cabeça para os bancos traseiros ficou restrita aos carros fabricados a partir da data de vigência do novo código.

Um dos mais famosos exemplos de retorsão é o conhecido soneto do escritor brasileiro da época barroca Gregório de Matos Guerra:

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa piedade me despido, Porque quanto mais tenho delinqüido, Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido, Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.

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A Arte de Argumentar

O autor baseia-se em fatos bíblicos para convencer Deus a perdoar-lhe os pecados. Diz ele que, se Deus não lhe perdoar, estará contradizendo sua própria lição de
perdão, ilustrada na parábola do filho pródigo.

Ridículo

O argumento do ridículo consiste em criar uma situação irônica, ao se adotar, de forma provisória, um argumento do outro, extraindo dele todas as conclusões, por
mais estapafúrdias que sejam. Um exemplo desse procedimento pode ser visto no artigo abaixo, de autoria de Clóvis Rossi, publicado no jornal Folha de S. Paulo:

Cai o Palace 2 e os culpados são as vítimas, se se pudesse levar a sério a afirmação de seu construtor, o deputado Sérgio Naya, de que ouviu falar que algum morador
do prédio estava construindo irregularmente uma piscina, em clara insinuação de que fora essa a causa do desabamento.

São Paulo quase some sob as águas de março e os culpados são, de novo, as vítimas. Se não fosse o tal do povo sujar as ruas, os bueiros não teriam ficado entupidos
e não teria, em conseqüência, havido alagamentos. `o que alega a laboriosa Prefeitura de São Paulo, gestão Celso Pitta.

Como no Brasil há uma forte tendência a que peguem modas indecentes, vamos desde logo à lista dos próximos culpados:

1. Está desempregado? A culpa é sua. Quem mandou preferir ficar em casa, batendo papo com a "patroa", em vez de pegar no pesado? Você acaba se viciando no generosíssimo
seguro-desemprego pago pelo governo.

2. Sua pequena ou microempresa quebrou? A culpa é sua. Se tivesse PhD em sia, você ficaria sabendo que a Tailândia ia quebrar, que logo seria seguida por um punhado
de "tigres" e o Brasil

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Antônio Suárez Abreu

seria obrigado a duplicar o juros que já eram dos mais altos do mundo. Será que só você não percebeu que a sia ia quebrar?

3. Levou uma bala perdida? A culpa é sua. Quem mandou sair à rua, dormir ou nadar sem um colete à prova de balas?

4. Não conseguiu colocar o filho na escola pública de sua preferência? A culpa é sua. Por que não comprou uma casa em um bairro em que a escola próxima tem vagas?

5. Está penando na fila do INSS? A culpa é sua. Só você não ficou sabendo que a economia de mercado oferece uma penca de planos de saúde privados (a fila pelo menos
é menor). E não me venha com a história de que o seu salário não lhe permite pagar um plano desses. Quem mandou você não se preparar para a tal da globalização?1

Como vemos, o articulista aceita de modo provisório e irônico o argumento do construtor Sérgio Naya e do prefeito de São Paulo, e aplica-o em diferentes situações,
gerando paradoxos.

O escritor Luís Fernando Veríssimo escreveu, certa vez, uma crônica, utilizando a técnica do ridículo. Trata-se da história de um pobre cego que não tinha conseguido
encontrar um cão para guiá-lo pelas ruas da cidade e, como diz o provérbio que "quem não tem cão caça com gato", arrumou ele um gato. Depois de certo tempo, era
visto passeando não só pelas ruas da cidade, guiado pelo gato, mas também por cima dos muros, por sobre os telhados e por outros lugares insólitos freqüentados usualmente
por esses felinos. Por isso eu prefiro dizer: quem não tem cão melhor não caçar, porque gato só atrapalha!

1. Folha de S. Paulo, 7.3.1998, p. 1-2.

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A Arte de Argumentar Definição

Para entender o uso das definições como técnicas argumentativas, precisamos, primeiramente,
conceituá-las. As definições podem ser: lógicas, expressivas, normativas
e etimológicas.

Definições Lógicas. Se queremos definir logicamente uma janela, podemos começar, dizendo o seu gênero: janela é uma abertura na parede. Mas se ficarmos somente
nisso, não teremos uma definição. Afinal, uma porta também é uma abertura na parede. Devemos, portanto, acrescentar diferenças entre essa abertura e outras também
possíveis. Diremos então: janela é uma abertura na parede em uma altura superior ao solo. Mas um orifício feito com uma broca pode ser também uma abertura na parede
em uma altura superior ao solo. Devemos, portanto, explicitar outras diferenças, dizendo, finalmente, que uma janela é uma abertura ampla numa parede, em uma altura
superior ao solo, com a finalidade de iluminação e ventilação.

As definições lógicas podem ser esquematizadas a partir da seguinte fórmula:

Termo = {gênero + diferença 1 + diferença 2 + + diferença n}

Definições Expressivas. Uma definição expressiva não tem nenhum compromisso com a lógica. Depende de um ponto de vista. Um arquiteto pode, por exemplo, definir

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Antônio Suárez Abreu

janela como uma oportunidade para contemplar o verde. Millor Fernandes criou uma definição de família, satirizando a falta de comunicação entre seus membros, dizendo
que família é um conjunto de pessoas que têm a chave de uma mesma casa.

Definições Normativas. As definições normativas indicam o sentido que se quer dar a uma palavra em um determinado discurso e dependem de um acordo feito com o auditório.
Um médico poderá dizer, por exemplo: - Para efeito legal de transplante de órgãos, vamos considerar a morte do paciente como o desaparecimento completo da atividade
elétrica cerebral.

Definições Etimológicas. As definições etimológicas são fundamentadas na origem das palavras. Podemos dizer, como exemplo, que convencer significa vencer junto com
o outro, pois é formada pela preposição com mais o verbo vencer. Se fosse vencer o outro ou contra o outro, deveria ser contravencer. `preciso, contudo, prestar
atenção a um fato importante. 3 vezes, as definições etimológicas não correspondem mais à realidade atual. Tal é o caso, por exemplo, da palavra átomo que, examinada
etimologicamente, quer dizer aquilo que não pode ser dividido (a + tomo). Mas, todos sabemos, hoje em dia, que os átomos são compostos de muitas partículas subatômicas
e podem ser divididos por meio da fissão nuclear.

As definições expressivas e etimológicas são as mais utilizadas como técnicas argumentativas, uma vez que permitem a fixação de pontos de vista como teses de

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A Arte de Argumentar

adesão inicial. Um arquiteto poderá tentar convencer um cliente a aceitar modificações na localização das janelas de um projeto, ou no seu paisagismo, a partir da
definição expressiva (tese de adesão inicial) de que uma janela deve ser sempre uma oportunidade para se contemplar o verde.

A filósofa Marilena Chauí utiliza, no texto a seguir, a definição etimológica de religião, para explicar o modo como as várias culturas se relacionam com o sobrenatural:

A palavra religião vem do latim: religio, formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, unir, vincular). A religião é um vínculo. Quais as
partes vinculadas? O mundo profano e o mundo sagrado, isto é, a Natureza (água, fogo, ar, animais, plantas, astros, pedras, metais, terra, humanos) e as divindades
que habitam a Natureza ou um lugar separado da Natureza.

Nas várias culturas, essa ligação é simbolizada no momento de fundação de uma aldeia, vila ou cidade: o guia religioso traça figuras no chão (círculo, quadrado,
triângulo) e repete o mesmo gesto no ar (na direção do céu, ou do mar, ou da floresta, ou do deserto). Esses dois gestos delimitam um espaço novo, sagrado (no ar),
e consagrado (no solo). Nesse novo espaço erguem-se o santuário (em latim, templum, templo) e à sua volta, os edifícios da nova comunidade2.

Argumentos Fundamentados

na Estrutura do Real

Os argumentos baseados na estrutura do real não estão ligados a uma descrição objetiva dos fatos, mas a

2. Marilena Chauí, Convite à Filosofia, p. 298.

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Antônio Suárez Abreu

pontos de vista, ou seja, a opiniões relativas a ele. Na cena III do ato III da peça Hamlet de Shakespeare, o jovem Hamlet, já decidido a matar o próprio tio, assassino
de seu pai e usurpador do trono, encontra-o à sua mercê, orando, em uma crise de arrependimento, e argumenta:

- `propícia a ocasião; acha-se orando. Vou fazê-lo. (Desembainha espada.) Mas, destarte alcança o céu. E assim me vingarei? Em outros termos: mata um canalha a
meu pai; e eu, seu filho único, despacho esse mesmíssimo velhaco para o céu? `soldo e recompensa, não vingança. Assassinou meu pai, quando ele estava pesado de
alimentos, com seus crimes floridos como maio. O céu somente saberá qual o estado de suas contas; mas, de acordo com nossas presunções, não será bom. Direi que estou
vingado, se o matar quanto tem a alma limpa e apta para fazer a grande viagem? Não! (Embainha a espada.)

- Aguarda, espada, um golpe mais terrível, no sono da embriaguez, ou em plena cólera, nos prazeres do leito incestuoso, no jogo, ao blasfemar, ou em qualquer ato
que o arraste à perdição. Nessa hora, ataca-o; que para o céu vire ele os calcanhares, quando a alma estiver negra como o inferno, que é o seu destino3.

A argumentação de Hamlet para adiar seus planos de vingança toma por base um ponto de vista sobre a morte, vigente à sua época: se alguém morresse em atitude de
oração e arrependimento, iria para o céu. Seu pai fora assassinado, quando dormia. Não tivera, portanto, oportunidade de orar e
arrepender-se e, por esse motivo,
não deveria ainda estar no céu. Talvez estivesse em algum tipo de purgatório. Sua tese

3. Shakespeare, Hamlet, pp. 141-142.

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de adesão inicial, baseada nesse ponto de vista do real (estar rezando ao morrer é ter garantido o céu) o leva à sua tese principal: não matar o rei usurpador enquanto
reza, adiando a vingança para o futuro.

Os principais argumentos baseados na estrutura do real são: argumento pragmático, argumento do desperdício, argumentação pelo exemplo, pelo modelo ou antimodelo
e pela analogia.

Argumento Pragmático

O argumento pragmático fundamenta-se na relação de dois acontecimentos sucessivos por meio de um vínculo causal. O argumento de Hamlet, no exemplo anterior, trabalha
nessa linha, pois, deixando de matar o rei usurpador, evita que essa morte seja causa de um acontecimento futuro que ele não deseja: que a alma do tio vá para o
céu. O mais comum, entretanto, é a transferência de valor de uma conseqüência, para a sua causa. Exemplo: uma semana após a implantação do Novo Código Nacional de
Trânsito, em 1998, os jornais divulgaram uma estatística que comprovava um decréscimo de acidentes com vítimas da ordem de 56%. Essa estatística serviu de tese de
adesão inicial para a tese principal: a de que o novo Código era uma coisa boa. Para que o argumento pragmático funcione é preciso que o auditório concorde com o
valor da conseqüência. O texto a seguir, de autoria de Paulo Coelho, utiliza o argumento pragmático:

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Prevenção

Paulo Coelho

O mullah Nasrudin chamou o seu aluno preferido: "Vá pegar água no poço", disse.

O menino preparou-se para fazer o que lhe fora pedido. Antes de partir, entretanto, levou um cascudo do sábio.

"E não entre em contato com jogadores e pessoas vaidosas, senão terminará perdendo sua alma!", disse o sábio.

"Ainda nem saí de casa, e já recebi um cascudo! O senhor está me castigando por algo que não fiz!"

"Com as coisas importantes na vida, não se pode ser tolerante", disse Nasrudin. "De que adiantaria castigá-lo, depois que já tivesse perdido sua alma?"4

O valor de manter pura a alma do menino é transferido para a causa: o castigo aparentemente é injusto.

A lei do carma para os hindus fundamenta-se no argumento pragmático. Dizem eles que os males que as pessoas sofrem na vida presente, sem razão aparente, são justificados
por faltas cometidas em existências anteriores. A causa, que não é visível nesta vida, estaria em uma vida passada. Trata-se do carma dessa pessoa.

`preciso, contudo, bastante cuidado e, sobretudo, muita ética, no uso do argumento pragmático. Caso contrário, estaremos de acordo com aquela máxima que diz que
os fins justificam os meios. Muitas pessoas acham que, porque tiveram uma educação rígida, tornaram-se competentes e, por esse motivo, pretendem, quando forem pais,
educar seus filhos da mesma maneira.

4. Folha de S. Paulo, 26.4.1996, p. 4-2.

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As superstições são também fundamentadas no argumento pragmático. O supersticioso acredita, por exemplo, que, como foi assaltado numa esquina após um gato preto
ter passado à sua frente, o motivo foi o gato. Transfere o azar do assalto para a causa supersticiosa do gato preto.

Argumento do Desperdício

Esse argumento consiste em dizer que, uma vez iniciado um trabalho, é preciso ir até o fim para não perder o tempo e o investimento. `o argumento utilizado, por
exemplo, por um pai que quer demover o filho da idéia de abandonar um curso superior em andamento. Bossuet, grande orador sacro, bispo da cidade francesa de Meaux,
utilizava esse argumento, ao dizer que os pecadores que não se arrependem e, dessa maneira, não conseguem salvar suas almas, estão desperdiçando o sacrifício feito
pelo Cristo que, afinal, morreu para nos salvar.

Argumentação pelo Exemplo

A argumentação pelo exemplo acontece quando sugerimos a imitação das ações de outras pessoas. Podem ser pessoas célebres, membros de nossa família, pessoas que conhecemos
em nosso dia-a-dia, cuja conduta admiramos. Posso defender a tese principal de que as pessoas de mais de cinqüenta anos ainda podem realizar grandes coisas em suas
vidas, utilizando como tese

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de adesão inicial o exemplo de Júlio César que, depois dos cinqüenta anos, venceu os gauleses, derrotou Pompeu e tornou-se governador absoluto em Roma.

Dizem que, quando Tancredo Neves pretendia ser candidato à presidência da República, houve, dentro do PMDB, rumores contrários à sua candidatura, alegando ter ele
idade avançada. Imediatamente, Tancredo argumentou pelo exemplo, dizendo que, aos 23 anos, Nero tinha posto fogo em Roma e que, com 71 anos, Churchil tinha vencido
os nazistas, na Segunda Guerra Mundial5.

Argumentação pelo Modelo ou pelo Antimodelo

A argumentação pelo modelo é uma variação da argumentação pelo exemplo. Os americanos costumam tomar George Washington e Abraham Lincoln como modelos de homens públicos.
Aqui no Brasil, falamos em Oswaldo Cruz, Santos Dumont, mas também em Albert Einstein. Podemos dizer a um garoto que ele não deve acanhar-se de ter problemas em
matemática (tese principal), pois até mesmo Einstein tinha problemas em matemática (tese de adesão inicial).

A argumentação pelo antimodelo fala naquilo que devemos evitar. Segundo Montaigne, o antimodelo é mais eficaz que o modelo. Dizia ele, citando o estadista romano
Catão, que "os sensatos têm mais que aprender

5. Na verdade, Tancredo exagerou um pouco, pois, quando Roma foi incendiada, em 64 d.C, Nero tinha 37 anos de idade e não 23.

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com os loucos do que os loucos com os sensatos". Contava também a história de um professor de lira que costumava fazer seus discípulos ouvirem um mau músico que
morava em frente da sua casa, para que aprendessem a odiar as desafinações.

Um caso comum de antimodelo é o do pai alcoólatra. Raramente pais alcoólatras têm filhos alcoólatras. O horror ao antimodelo é tamanho que, muitas vezes, os filhos
de alcoólatras acabam tornando-se completamente abstêmios.

Argumentação pela Analogia

Quando queremos argumentar pela analogia, utilizamos como tese de adesão inicial um fato que tenha uma relação analógica com a tese principal.

O renomado médico baiano Elsimar Coutinho utiliza a argumentação pela analogia, em um livro chamado Menstruação, a Sangria Inútil, defendendo a tese (principal)
de que as mulheres devem evitar a menstruação, tomando uma medicação que iniba a ovulação. Ao ser questionado se isso não seria interromper uma coisa natural, diz
ele que nem tudo aquilo que é natural é bom. Um terremoto, por exemplo, é uma coisa natural e não é boa. Uma enchente é uma coisa natural e não é boa. Uma infecção
por bactérias é uma coisa natural e não é boa. Tanto que tomamos antibióticos para combatê-la. Segundo ele, a menstruação, embora natural, tem aspectos indesejáveis
como a tensão pré-menstrual, e o perigo de enfermidades graves como a

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endometriose. Combatê-la, pois, com medicamentos, como fazemos com os antibióticos em relação a uma infecção, é uma medida acertada, diz ele.

Completa ele a sua argumentação, ainda por analogia, dizendo que assim como a humanidade viveu dois mil anos sob os ensinamentos de Hipócrates e Galeno, segundo
os quais a sangria era o mais poderoso e eficiente remédio para todos os males, muitas mulheres ainda vêem a menstruação como um mecanismo purificador pelo qual
a natureza se livra de um sangue sujo ou ruim.

O jornalista Carlos Heitor Cony, comentando a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em
1998, escreveu o seguinte artigo no jornal Folha de S. Paulo:

NON HUNC, SED BaRABBAM

Vou mesmo de latim para comentar a vitória de FHC no último domingo. Lendo os jornais nos últimos dias, previ que ele teria 80% dos votos. Acho que os esforçados
panfletários a favor exageraram um pouco. Afinal, diante de todas as excelências e boas intenções do candidato à reeleição, os 50 e poucos por cento que obteve nas
urnas não lhe fizeram justiça.

Volto ao título. Creio que a primeira eleição historicizada foi aquela promovida por Pilatos, que desejava livrar a cara de Jesus e o colocou em confronto com Barrabás,
um assassino que estava para ser crucificado. Era costume libertar um condenado por ocasião da Páscoa judaica.

O raciocínio de Pilatos foi um voto de confiança na sabedoria do povo: entre um assassino e um profeta cujo crime era anunciar o Reino da Verdade, a plebe rude salvaria
o profeta e condenaria o criminoso.

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Ledo e ivo engano! Não havia TV, cientistas políticos e institutos de pesquisa para influir na vontade popular. Pilatos exibiu o profeta exangue, nem precisou mostrar
o adversário, todos sabiam que Barrabás não prestava mesmo, sua fama de maus bofes era conhecida na Galiléia, na Samaria, até mesmo nas vizinhanças de Qunram.

Prometeu que libertaria o escolhido pela vontade soberana das urnas - que eram de boca e ao vivo.

Estupefato, o procurador romano ouviu o que não esperava: "Non hunc, sed Barabbam!" ("Não este, mas Barrabás!") Foi aí que Pilatos lavou as mãos. Não era mais com
ele.

Sabemos como tudo terminou: Jesus seguiu para o Calvário, Barrabás deu no pé e nunca mais se soube dele. Ficou sendo, apesar de tudo, o primeiro a ser salvo, literalmente,
pelo Salvador.

Costumo invocar situações-limite para tentar definir o que penso. O Brasil tem alguma coisa a ver com aquele trapo de homem coberto de sangue, flagelado e coroado
de espinhos. Nem o FMI nem o G-7 dariam um centavo por ele. Resta saber para onde o Barrabás fugirá quando chegar a hora6.

Cony não manifesta explicitamente seu pessimismo pela reeleição de Fernando Henrique. A argumentação pela analogia, referindo-se à opção dos israelitas por Barrabás,
se encarrega disso. Fica subentendido que o povo brasileiro escolheu o pior.

A argumentação pela analogia não precisa ser longa. 3 vezes, em uma frase é possível sintetizá-la, como fez Ibn Al-Mukafa7 que, para convencer as pessoas a não
ajudarem pessoas ingratas, diz que "Quem põe seus esforços a serviço dos ingratos age como quem lança a semente à terra estéril, ou dá conselhos a um morto, ou fala
em voz baixa a um surdo".

6. Folha de S. Paulo, 6.10.1998, p. 1-2.

7. Ibn Al-Mukafa, Calila e Dimna, trad. de Mansour Challita, Rio de Janeiro, Record, s.d., p. 33.

Dando Visibilidade aos Argumentos Os Recursos de Presença

No texto abaixo, o jornalista Alasdair Palmer, comentando um livro do economista Paul Orrnerod, consegue dar maior visibilidade à tese de adesão inicial de que não
existe livre mercado competitivo, da seguinte maneira:

Carlos II, um dos homens mais perspicazes que já governaram a Inglaterra, tinha grande interesse pela ciência. Certa vez ele convocou os membros da recém-criada
Real Sociedade e lhes pediu para explicar por que um peixe morto pesava mais que um vivo. Os cientistas reunidos apresentaram várias teorias engenhosas e plausíveis.
Então Carlos II informou que o peixe morto não pesava mais. Os cientistas não acharam graça, mas o rei se divertiu.

Em TheDeath o/Economics (editora Faber, 230 páginas), o destacado economista Paul Ormerod argumenta que a economia se parece muito com o problema do peixe morto:
consiste em elaborar uma estrutura teórica, com base num pressuposto totalmente falso Infehzmente, dada a falta de alguém com o bom senso de Carlos II, os economistas
continuaram burilando suas explicações sobre o fenômeno não existente:, até este chegar ao ponto em que milhares de pessoas, com elevada inteligência e sofisticação
matemática, se empenham num exercício semelhante ao que é demonstrar por que um peixe morto pesa mais que um vivo.

Na opinião de Ormerod, a hipótese do "peixe morto" dos economistas é o livre mercado perfeitamente competitivo1.

1. Alasdair Palmer, trad.. para o Jornal da Tarde, 1996.

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Essa história, mostrando que existe algo de ridículo no comportamento dos economistas que confiam cegamente nas regras de mercado, exerce uma função chamada de recurso
de presença. Recursos de presença são, pois, procedimentos que têm por objetivo ilustrar a tese que queremos defender.

Numa venda, a demonstração do produto, o test drive funcionam como recursos de presença. As grandes obras viárias, como pontes e viadutos, têm a mesma função: dar
visibilidade ao trabalho dos governantes e políticos. E, já que falamos em políticos, quando o ex-presidente Jânio Quadros disputava a prefeitura de São Paulo, em
1985, declarava seguidamente que era um homem pobre, que a pensão que recebia como ex-presidente não chegava a ser suficiente para pagar as despesas de manutenção
de sua casa em São Paulo. Uma tarde, depois de uma gravação de TV, ele foi cercado por uns dez jornalistas, empunhando seus microfones. Um deles, então, lhe perguntou:

- Presidente [os ex-presidentes são sempre tratados como presidentes], o senhor afirma que não tem dinheiro, que sua pensão mal dá para manter sua casa. Como o senhor
explica que somente no primeiro semestre deste ano foi duas vezes à Europa?

Diante da pergunta, Jânio se mostrou perturbado e começou a apalpar os bolsos, à procura de um cigarro. Imediatamente, oito repórteres socorreram o
ex-presidente,
oferecendo-lhe cigarros de seus próprios maços. Jânio escolheu um deles, pôs na boca e continuou

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a apalpar os bolsos, procurando fósforos. Imediatamente, três repórteres ofereceram a ele seus isqueiros acesos e Jânio pôde, enfim, escolhendo um isqueiro, acender
seu cigarro. Feito isso, tirou uma baforada e, em seguida, disse aos repórteres:

- Vejam vocês, eu apenas fiz menção de que precisava de um cigarro. Nem cheguei a dizer nada e, logo em seguida, tive de escolher entre oito ofertas de vocês. Logo
depois, fiz também menção de que precisava de fogo. Também não disse nada e, imediatamente, pude escolher entre três ofertas de fogo. Olhem, eu tenho muitos amigos.
Basta dizer a eles que eu preciso ir à Europa e tenho de escolher de quem vou aceitar os recursos para a viagem.

Os repórteres sorriram e foram embora, sem incomodar mais o candidato. Jânio Quadros representou uma pequena cena de teatro, criando um recurso de presença para
fundamentar sua tese de adesão inicial, e o expediente funcionou. Se ele apenas tivesse dito que recebia as passagens de amigos, o efeito não teria sido o mesmo.

O melhor recurso de presença, entretanto, são as histórias. Desde crianças, estamos acostumados a
ouvi-las: contos de fada, fábulas, histórias de aventuras e mistério,
histórias de amor. Para ouvir e ver histórias, vamos ao cinema, alugamos filmes. As histórias são didáticas, como as fábulas. O próprio Cristo utilizava as parábolas
como recurso de presença para as lições do Evangelho. Para defender a tese de que a vida não é medida pela força de uns e a fraqueza de outros, mas pela sagacidade,
habilidade e saber, um filósofo famoso,

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autor de um livro intitulado Calila e Dimna, nos conta a seguinte história:

Um corvo tinha seu ninho sobre uma árvore numa montanha. Próximo a essa árvore, ficava a cova de uma cascavel. Sempre que o corvo tinha filhotes, a cascavel subia
até a árvore e os comia. Desesperado, contou seu problema a um chacal, seu amigo. Aconselhou-lhe então o chacal que saísse voando e procurasse em alguma casa uma
jóia preciosa de alguma mulher e, encontrando-a, tomasse-a no bico e, voando e pousando alternadamente, se deixasse perseguir pelas pessoas, e jogasse a jóia dentro
da cova da cascavel. O corvo voou e furtou um colar dos aposentos de uma mulher que se banhava. Em seguida, fez como o chacal lhe indicara: voou e pousou até jogar
o colar na cova da serpente. Para recuperar o colar, seus perseguidores mataram a cascavel.

Um argumento ilustrado por um recurso de presença tem efeito redobrado sobre o auditório. Procure sempre agregar histórias aos seus argumentos. Eles ficarão infinitamente
mais sedutores.

2. Ibn Al-Mukafa, Calila e Dimna, trad. de Mansour Challita, Rio de Janeiro, Record, s.d., pp. 22-23.

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Persuadindo as Pessoas

Vimos, há pouco, que persuadir é conseguir que as pessoas façam alguma coisa que queremos. Vimos, também, que isso só se torna possível, quando conseguimos gerenciar
de maneira positiva nosso relacionamento com o outro. E como se faz isso? Procurando saber, em primeiro lugar, o que o outro tem a ganhar, fazendo o que queremos.
Trata-se de uma tarefa um pouco difícil, de início, pois, na sociedade em que vivemos, o senso comum nos diz que o importante é ver sempre o que nós temos a ganhar,
mesmo em prejuízo do outro.

Aquilo que queremos, portanto, deve ficar em segundo plano. Somente quando tivermos certeza de que o outro ganha, é que devemos nos preocupar com aquilo que desejamos.
3 vezes isso também é perfeitamente dispensável. O que temos a ganhar, quando conseguimos persuadir um filho a estudar ou consolar um amigo por uma perda, senão
a satisfação de ter conseguido esses objetivos? Realizamos isso pelo bem último do nosso próprio ser interior, o divino que habita em nós, essa parte que busca sempre
ir mais além daquilo que nos prende a esta Terra, que se alegra em doar e nisso obtém sua felicidade.

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A primeira lição de persuasão que temos a aprender, então, é educar nossa sensibilidade para os valores do outro. Se não formos capazes de saber quais são esses
valores, de nos tornarmos sensíveis a eles, seremos incapazes de persuadir. `preciso, contudo, que se trate de valores éticos. Diante de membros da Ku Klux Klan,
seria persuasivo fazer coro com seus desejos de eliminar os negros. Mas seria ético? Diante de neonazistas, seria persuasivo concordar com seus desejos de eliminar
os judeus. Mas seria ético?

Emoções e Valores

A voz do senso comum diz que o homem é um ser racional. Pesquisas recentes têm demonstrado que isso não é verdade! Nós somos seres principalmente emocionais! O que
há de racional, quando seres humanos da mesma fé são capazes de se matar por diferenças milimétricas? As cruzadas, por exemplo, foram criadas para defender o cristianismo,
mas, em 1204, a quarta cruzada atacou a cidade cristã de Constantinopla, matando milhares de pessoas, somente porque se tratava de cristãos ortodoxos! O que há de
racional, nos dias de hoje, quando alguém prefere viajar mil quilômetros em perigosas rodovias, apenas porque tem medo de avião? `por isso que vem ganhando cada
vez mais destaque entre nós o conceito de Inteligência Emocional1.

Alegria, tristeza, raiva, medo e amor são nossas cores emocionais básicas. Se as misturarmos, teremos outras emoções mais complexas. Se misturarmos amor e tristeza,
teremos saudade; amor e raiva, mágoa; amor e medo, ciúme. O ciúme é uma emoção tão complexa,

1. Sobre esse assunto, recomendo a leitura do livro de autoria de Wanderley Pires, Dos Reflexos à Reflexão.

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A Arte de Argumentar

que nela se misturam às vezes amor, medo, tristeza e raiva.

Raiva, medo e tristeza são emoções disfóricas. Amor e alegria, eufóricas. Nossos valores estão ligados às emoções eufóricas. Afinal, ninguém planeja uma viagem de
férias, para sentir-se triste ou ficar com raiva. Aliás, o homem é o único animal que planeja o futuro. Há quem diga que ele faz isso somente com a razão, mas é
mentira! Os homens planejam o futuro sobretudo com suas emoções. A maior parte delas eufóricas, mas, de vez em quando, aparece também o medo, emoção disfórica, e
aí nos recolhemos, nos arriscamos pouco e resistimos a mudanças. Quase sempre sentimos mais medo do desconhecido, do novo, do que dos sofrimentos a que já estamos
habituados. Por esse motivo, diante do novo, preferimos quase sempre a repetição do velho.

Consultando o arquivo das nossas emoções eufóricas, constatamos a existência de valores ligados ao útil e valores ligados aos sensível, ou à fruição, como dizia
Santo Agostinho. Dinheiro, automóvel, comida são valores ligados ao útil. Torcer por um time de futebol, ouvir música, fazer turismo, possuir jóias ou automóveis
sofisticados são valores ligados ao sensível.

Gastamos dinheiro comprando bens materiais, usamos automóveis para viajar, comemos para manter nosso organismo vivo e trabalhando. Mas, o que fazemos com uma sonata
de Beethoven? Não podemos comer uma sonata de Beethoven. Podemos apenas ouvi-la. Por isso a música é um bem sensível. As vezes, um bem pode ser

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ao mesmo tempo útil e sensível. Um relógio barato que marque as horas com correção é apenas um bem útil. Um Rolex, entretanto, é, além de um bem útil, um bem sensível.
Um almoço frugal é um bem útil. Uma ceia sofisticada, regada a vinhos importados, é um bem sensível.

Os valores podem ser concretos, como os citados, ou abstratos, como justiça, amizade e honestidade. Esses últimos são valores ao mesmo tempo sensíveis e úteis. Meu
pai me dizia, por exemplo, que, se os velhacos soubessem, seriam honestos por velhacaria!

Um outro dado fundamental é que os mesmos valores não são impostos a todo mundo. Eles estão ligados à multiplicidade de grupos e de emoções. Aquele que quer persuadir
deve saber previamente quais são os verdadeiros valores de seu interlocutor ou do
grupo que constitui o seu auditório.

O escritor português Ferreira de Castro, em um de seus principais romances, intitulado A Selva, conta a história dos seringueiros que eram praticamente escravizados
pelos donos dos seringais, na Amazônia do começo do século. O salário pago pelo patrão tinha de ser consumido em seu próprio armazém e, como o recebido era sempre
inferior àquilo que precisavam para a subsistência mensal, ficavam sempre devendo e, portanto, não podiam abandonar o trabalho. O protagonista, o próprio Ferreira
de Castro que viveu de verdade essa aventura no Brasil, conseguiu safar-se dessa armadilha, fazendo amizade com o dono do seringal e o "gancho emocional" para isso
foi o fato de que o dono era "viciado" em palavras cruzadas, mas possuía limitada cultura

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para resolvê-las. Castro, intelectual que era, soube aproveitar o valor sensível das palavras cruzadas para seu patrão e, ajudando-o a resolvê-las, acabou conseguindo
sua alforria, voltou a Portugal e se tornou um escritor famoso.

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As Hierarquias de Valores

Os valores de uma pessoa não têm, obviamente, todos eles a mesma importância. Tanto isso é verdade, que a expressão hierarquia de valores é largamente utilizada.
Podemos afirmar que, num processo persuasivo, a maneira como o auditório hierarquiza os seus valores chega a ser, às vezes, até mais importante do que os próprios
valores em si. Na verdade, o que caracteriza um auditório não são os valores que ele admite, mas como ele os hierarquiza. De fato, se dois grupos de pessoas possuem
os mesmos valores, mas em escalas diferentes, acabam por configurar dois grupos diferentes. As hierarquias de valores variam de pessoa para pessoa, em função da
cultura, das ideologias e da própria história pessoal. `conhecido o provérbio que diz que não se deve falar em corda na casa de um enforcado.

A exploração das hierarquias é um campo extraordinário. Em um processo persuasivo, é mortal rejeitar um valor do auditório. Imagine alguém, diante de uma assembléia
de corinthianos, dizer que o Corinthians não tem condições de ganhar o campeonato! Imagine alguém dentro de um convento de freiras, dizer

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que a castidade é uma tolice! O que o enunciador pode fazer, diante de uma situação que envolva algo contrário a um valor do auditório, é analisar esse valor e subordiná-lo
a outros do próprio auditório, ou seja,
RE-HIERARQUIZmLOS.

Frank Bettger, autor de um best seller intitulado Do Fracasso ao Sucesso na Arte de Vender, nos dá um interessante exemplo de re-hierarquização de valores. Diz ele
que, durante um processo de venda, muitas vezes o comprador oferece um argumento para não comprar, que não corresponde à verdade, o que coloca um dilema ao vendedor.
Se ele aceita o argumento, perde a venda. Se ele "bate de frente" com esse argumento, o resultado é o mesmo. Aconselha ele, então, a que o vendedor faça uma "pergunta
mágica": - E além disso? Trata-se do início de um processo de re-hierarquização de valores. Um vendedor de anúncios nas páginas amarelas das listas telefônicas contou
que, em visita a um cliente, dono de uma firma de informática,
convenceu-o das vantagens de ter sua empresa figurando na lista. Apesar de convencido, o cliente disse
a ele:

- Tudo bem, eu concordo, mas nós vamos mudar no próximo semestre e aí muda o endereço, o telefone e, se eu fizer o anúncio agora, vou jogar fora o meu dinheiro.

O vendedor sabia, de antemão, que a sede da empresa era própria e que o argumento era, portanto, falso. Sua intuição é de que devia haver algum valor oculto que
ele não sabia qual era e que estava impedindo a finalização do processo persuasivo, o

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fechamento do negócio. Nesse momento fez então a pergunta:

- Mas e além disso? Haveria alguma outra razão para que você não fizesse o anúncio?

Veja que o vendedor não tentou desmascarar o comprador. Tentou apenas extrair dele outras informações, outros valores com os quais pudesse trabalhar. Como resposta,
o cliente lhe disse:

- Além disso ... o seu preço está um pouco caro e o nosso caixa este mês está baixo . . .

Nesse momento, o vendedor teve acesso a um valor anteriormente oculto. Disse ele então o seguinte:

- Bem, nós estamos com uma promoção de 25 % de desconto este mês, com parcelamento em três vezes. Se quiser, eu posso jogar a primeira parcela para o próximo mês.

Diante disso, o cliente disse que não tinha bem certeza de que ia haver a alegada mudança e fechou o negócio, assinando a proposta de compra.

Mas, como descobrir a hierarquia de valores do outro? Pela intensidade de adesão a eles. A intensidade de adesão a valores diferentes sinaliza uma escolha hierárquica.
Se perguntarmos, por exemplo, a uma garota como idealiza o homem com quem gostaria de se casar, ela nos citará valores como beleza, riqueza, cultura, fidelidade
etc. Se perguntarmos a ela se preferiria casar-se com um homem extremamente belo

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e rico, mas infiel ou com um menos rico e bonito, mas extremamente fiel e sua adesão à segunda opção for maior, teremos aí uma hierarquia estabelecida.

Fatores culturais, históricos e ideológicos influem na elaboração dos valores e hierarquias. A Idade Média foi uma época da civilização caracterizada pelo teocentrismo,
enquanto que o Renascimento foi uma época caracterizada pelo antropocentrismo. Na primeira, o valor hierarquicamente dominante era Deus; na segunda, o homem.

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Alterando a Hierarquia de Valores Os Lugares da Argumentação

Para rehierarquizar os valores do nosso auditório, podemos utilizar algumas técnicas conhecidas desde a Antigüidade e que recebiam o nome de lugares da argumentação.
São premissas de ordem geral utilizadas para reforçar a adesão a determinados valores. O nome lugares era utilizado pelos gregos, para denominar locais virtuais
facilmente acessíveis, onde o orador pudesse ter argumentos à disposição, em momento de necessidade. São os seguintes os lugares da argumentação:

1. lugar de quantidade

2. lugar de qualidade

3. lugar de ordem

4. lugar de essência

5. lugar de pessoa

6. lugar do existente

Lugar de Quantidade

No lugar de quantidade, se afirma que qualquer coisa vale mais que outra em função de razões quantitativas. Segundo o lugar de quantidade, um bem que

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serve a um número muito grande de pessoas tem mais valor do que um bem que serve apenas a um pequeno grupo. Um bem mais durável é superior a um bem menos durável
e assim por diante. `no lugar de quantidade que encontramos alguns dos fundamentos da democracia: ganha uma eleição aquele que tiver maior quantidade de votos;
uma lei, para ser aprovada no Congresso, tem de receber maioria de votos.

Um dos traços mais característicos do lugar de quantidade é a utilização de números e estatísticas. Para colocar em destaque o despreparo dos brasileiros para conduzir
automóveis, tornou-se comum, por exemplo, dizer que no Brasil ocorrem, a cada ano, 50000 mortes por acidentes de trânsito, ou seja, 136 mortes por dia, ou ainda,
6 mortes por hora. No trecho abaixo, de autoria do jornalista Gilberto Dimenstein, podemos ver o uso do lugar de quantidade.

39 Vítimas por Hora

Um documento elaborado pelo Ministério da Saúde mostra como as discussões nacionais estão longe dos traumas que ocorrem nos subterrâneos de nossa sociedade. Segundo
estatísticas oficiais, foram registradas, no ano passado, 391 911 internações hospitalares de vítimas de abortos - 950 mulheres por dia. São 39 por hora. E qual
a reação do país? Um estúpido e criminoso silêncio.

`alto, altíssimo até, o preço que se paga pela falta de coragem de se enfrentar um problema. Vivemos uma situação terrível: não temos um projeto de planejamento
familiar, o que em si, já é crime. E um dos resultados - apenas um - são as 39 internações por hora1.

1. Folha de São Paulo, 14.11.1992, p. 2.

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John Kenneth Galbraith, em seu livro A Era da Incerteza, num trecho em que quer demonstrar a solidez da aliança dos capitalistas com as classes governantes, para
fazer a guerra na primeira metade do século XX, utiliza também um lugar de quantidade. Vejamos o trecho:

A guerra no Ocidente estava mostrando não a fraqueza da coalizão dos capitalistas com as tradicionais classes governantes em seu poder de comandar as massas; estava
mostrando sua quase inacreditável solidez. Estava demonstrando que ela podia enviar milhões à morte com nada mais que um simples murmúrio, e geralmente com entusiasmo.

No Dia D, em 1944, o grande dia decisivo para a guerra no Ocidente, 2 941 soldados americanos, ingleses e canadenses foram mortos. No dia 12 de julho de 1916, primeiro
dia da Batalha do Somme - apenas um único dia de uma única batalha - 19 240 soldados ingleses foram mortos ou morreram em conseqüência de ferimentos. Para libertar
a França em 1944, os exércitos aliados perderam nada menos que 40 mil homens. Para avançar menos de seis milhas no rio Somme, em 1916, ingleses e franceses perderam
145000 homens. A Batalha do Somme foi, em parte, para aliviar a pressão sobre Verdun - um ponto disputado. Em Verdun, no mesmo ano, um total de 270000 soldados franceses
e alemães foram mortos2.

Na seguinte poesia oriental, retirada por Challita3 de uma coletânea intitulada O Pavilhão dos Prazeres Proibidos, o poeta utiliza o lugar de quantidade para convencer
um homem a esquecer uma mulher que o tinha abandonado:

2. J. K. Galbraith, A Era da Incerteza, 2a ed., São Paulo, Pioneira, pp.145

146.

3. M. Challita, Oi Mais Belos Pensamentos de Todos os Tempos, 4a ed., Rio de Janeiro, ACIGI, s.d., p. 360.

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A Arte de Argumentar

Grãos de Arroz

Que faz o pássaro quando o grão de arroz que se

preparava para bicar é removido pelo

vento da borda da janela?

Põe-se a procurar outro grão, pois os celeiros estão cheios.

Deixa, pois, meu amigo, de te preocupar e

sobrecarregar a testa. Não são as mulheres quase

tão numerosas quanto o são os grãos de arroz?

Lugar de Qualidade

O lugar de qualidade se contrapõe ao lugar de quantidade, pois contesta a virtude do número. Valoriza o único, o raro. O exemplo clássico do lugar de qualidade é
o de um animal de estimação. Um cão é, de um ponto de vista geral, apenas mais um exemplar da sua espécie, mas, para a criança a quem pertence, é um exemplar único.
Sob a óptica desse lugar, tudo aquilo que é ameaçado ganha valor iminente. Podem ser as baleias, o urso panda ou o mico-leão-dourado.

Por que é que um original de Picasso alcança milhares de dólares em um leilão, se podemos ter uma cópia idêntica em casa, por três dólares? Pelo lugar de qualidade.
Aquele quadro é o único que foi pintado diretamente por Picasso. Um outro exemplo é a teoria do carpe diem (aproveite o dia). Essa teoria utiliza o lugar de qualidade,
dizendo que a vida é uma só, a juventude é uma só e que, por isso, devemos aproveitar o momento. Os poetas do Renascimento costumavam utilizar esse lugar de qualidade,
construindo

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Antônio Suarei Abreu

poemas que convidavam a mulher amada à prática do amor. Argumentavam que ela deveria aproveitar o frescor da mocidade para amar, porque esse momento era único, antes
da velhice inevitável. Os seguintes versos do poeta renascentista francês Ronsard são um belo exemplo desse procedimento:

Pequena, vamos ver se a rosa

que esta manhã abriu

seu vestido de púrpura, ao sol,

não perdeu esta tarde

as dobras de seu vestido vermelho

e sua tez igual à sua.

Outros exemplos de lugar de qualidade podem ser encontrados no provérbio de Confúcio, Mais vale acender uma vela do que maldizer a escuridão, ou na frase de Sêneca:
Ninguém ama sua pátria porque ela é grande, mas porque é sua. No primeiro caso, uma vela se opõe a "quantidade" da escuridão, no segundo, o fato de alguém ter apenas
uma única pátria assume um valor maior do que a quantidade do seu território.

Em alguns períodos da História Ocidental, os lugares de quantidade predominam sobre os lugares de qualidade; em outros, acontece o contrário. No chamado Classicismo,
por exemplo, predominou o lugar de quantidade do universalismo. Já no Romantismo, predominou o lugar de qualidade do individualismo. No Classicismo, os poetas cantavam
o amor geralmente de modo universal, como faz Camões em seu famoso soneto:

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A Arte de Argumentar

Amor é fogo que arde sem se ver; `ferida que dói e não se sente; `um contentamento descontente; `dor que desatina sem doer.

Já os românticos procuravam falar do próprio amor individual e subjetivo, como no seguinte trecho do Wertherde Goethe:

Não, eu não me engano! Li nos seus olhos negros um verdadeiro interesse por mim e pela minha sorte. Sim, eu sinto que meu coração pode crer que ela. . . Ousarei,
poderei pronunciar estas palavras que resumem o paraíso?.. . Eu sinto que ela me ama! (p. 322).

Lugar de Ordem

O lugar de ordem afirma a superioridade do anterior sobre o posterior, das causas sobre os efeitos, dos princípios sobre as finalidades etc. Uma conhecida marca
de cerveja no Brasil utilizava em suas peças publicitárias o slogan: a primeira cerveja brasileira em lata. Com tantas marcas de cerveja no mercado, de igual qualidade,
o lugar de ordem aparece como um elemento hierarquizador. `como se o consumidor entendesse a melhor cerveja brasileira em lata. Havia uma outra cerveja que se intitulava
a número 1. Nessa mesma linha, foi feita também certa vez a propaganda de uma peça íntima feminina: O primeiro sutiã a gente nunca esquece!

As grandes invenções da humanidade também são valorizadas pelo lugar de ordem. Quem será mesmo

86

Antônio Suárez Abreu

que inventou o avião? Santos Dumont ou os irmãos Wrigth? E a fotografia? Daguerre ou Hércules Florence? O lugar de ordem é o fundamento das competições. O podium,
tanto das corridas de fórmula 1, quanto dos jogos olímpicos, apresenta o primeiro lugar em nível superior ao segundo e ao terceiro, e o segundo lugar à direita do
primeiro, considerada uma posição hierarquicamente superior à esquerda, onde se situa o terceiro lugar. As medalhas distribuídas aos vencedores refletem essa ordem:
primeiro lugar, ouro; segundo lugar, prata; e terceiro lugar, bronze.

Vejamos o poema oriental abaixo, de autoria de Ilia Abu-Madi4, em que um jovem argumenta com sua amada, utilizando o lugar de ordem e também o de qualidade:

Convite

Vem. Bebe comigo este vinho que cintila como um

diamante, e mais ainda.

E demos de beber ao narciso falador, pois, ébrio, não nos

reconhecerá, nem verá o que faremos, e amanhã nada poderá

contar sobre nós . . .

Vem. Desfrutemos os prazeres enquanto houver prazeres e

antes que a vida nos prive do desejo. Se a aurora não nos

acordar, nada nos acordará: nem riquezas, nem saber.

Vem. Libertemos nossas almas dos preconceitos. Vê a flor espalhar seu perfume no vale, ouve o pássaro no espaço cantar sua canção. Quem repreendeu a flor? Quem condenou
o pássaro?

4. Apud Challita, op.cit., p. 353.

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A Arte de Argumentar

Quantas vezes obedecemos aos homens e desobedecemos ao

criador dos homens!

Deus quis que amemos quando criou o amor, e depositou a

paixão em ti quando a depositou em mim. Sua vontade é

sempre justificada.

Que culpa, pois, tens se amas? Que culpa tenho se amo?

Deixa os censores e os moralistas repetirem suas mentiras e

tolices.

Pode o córrego cantar, e a flor, perfumar, e os pássaros, se

acasalar, e não pode o coração - ele que é o coração embriagar-se e amar?

Nesse texto, há um momento em que o poeta utiliza um lugar de qualidade, o do carpe diem, quando diz "Desfrutemos os prazeres enquanto houver prazeres e antes que
a vida nos prive do desejo". Quer ele dizer que a juventude, o momento dos prazeres, é única. A arquitetura argumentativa do poema é construída, entretanto, principalmente
dentro do lugar de ordem. O poeta situa hierarquicamente Deus, os homens e os elementos da natureza (pássaros e flores). A tese defendida é a de que os homens, censores
e moralistas, podem ser desobedecidos em caso de paixão, pois Deus, situado acima dos homens, permite até mesmo que os pássaros (inferiores aos homens) se acasalem,
cantem e sejam felizes.

Um outro texto que exemplifica o lugar de ordem é a seguinte letra de Chico Buarque de Holanda:

Sobre Todas as Coisas

Pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado

Antônio Suárez Abreu

desprezar quem lhe quer bem.

Não vê que Deus até fica zangado,

vendo alguém

abandonado pelo amor de Deus.

Ao nosso Senhor

pergunte se ele produziu nas trevas

o esplendor

se tudo foi criado

o macho, a fêmea

o bicho, a flor

criado para adorar o Criador

E se o Criador inventou a

criatura por favor

se do barro fez alguém

com tanto amor

para amar Nosso Senhor?

Não. Nosso Senhor

não há de ter lançado

em um movimento

Terra e céu

estrelas percorrendo o firmamento

em carrossel

para circular em torno ao Criador.

Ou será que o Deus que criou

nosso desejo

é tão cruel. Mostra os vales

onde jorra o leite e o mel

e estes vales são de Deus.

Pelo amor de Deus,

não vê que isso é pecado

desprezar quem lhe quer bem.

Não vê que Deus até fica zangado

vendo alguém

abandonado pelo amor de Deus?

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A Arte de Argumentar

Lugar de Essência

O lugar de essência valoriza indivíduos como representantes bem caracterizados de uma essência. `a justificativa dos concursos de miss. Para ser eleita, a candidata
precisa apenas estar o mais próximo possível daquilo que um júri, em determinado tempo e local, considere a essência de uma mulher bonita. Os chamados vultos históricos
também são valorizados pelos lugares de essência. Admiramos Rui Barbosa, como representante da essência daquilo que seria um jurista; Duque de Caxias, como representante
da essência daquilo que seria um militar, e assim por diante. Os galãs e as "estrelas" de cinema também são valorizados pelo lugar da essência. Eles são os representantes
da essência daquilo que seria um homem capaz de conquistar todas as mulheres e daquilo que seria uma mulher capaz de conquistar todos os homens.

A mesma coisa acontece com objetos de marcas famosas, verdadeiros ícones da sociedade de consumo. Quando alguém pensa em um bom automóvel, o lugar de essência traz
à sua mente marcas como Mercedes, BMW, Ferrari, Jaguar. Quando alguém pensa em um bom relógio, o lugar de essência sugere marcas como Rolex, Patek Philippe, Omega.

Lugar de Pessoa

O lugar de pessoa afirma a superioridade daquilo que está ligado às pessoas. Primeiro as pessoas, depois as

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Antônio Suárez Abreu

coisas! é o slogan que materializa esse lugar. Quando um candidato a governador diz, por exemplo, que, se for eleito, construirá trinta escolas, seu opositor dirá,
utilizando o lugar de pessoa, que não construirá escolas. Procurará, isto sim, dar condições mais humanas ao trabalho do professor, melhores salários, programas
de reciclagem etc. Dará preferência ao homem, não aos tijolos. O seguinte trecho, de autoria de José Sarney, utiliza o lugar de pessoa:

A democracia brasileira está marchando para ser a liberdade do mercado, do deus mercado, erigido como senhor da guerra e da paz, o mágico sistema que pode resolver
tudo. O mercado não resolve os problemas da fome, das doenças, da segurança. Não vejo senão como uma ficção desonesta que a solução para o bem-estar seja um Estado
mínimo e uma sociedade economicamente permissiva.

Condeno o Estado, polvo de mil tentáculos, invadindo os setores privados. Mas tem de ser forte para harmonizar conflitos, proteger os mais fracos, tornar efetiva
a livre concorrência e, sobretudo, ser gestor de uma aparato que aprofunde a democracia, voltado para coibir as injustiças. E da soberania divina que "o homem não
foi feito para o Sábado, e sim o Sábado para o homem". [. . .] O mercado, considerado sob o ponto de vista dogmático e sagrado, leva ao desemprego estrutural, ao
desemprego conjuntural. O homem fica transformado num insumo que pode ser desagregado do conjunto da produção. Desempregar para diminuir custos, como se pudéssemos
abstrair do desempregado todas as conseqüências humanas de sua condição5.

5. José Sarney, "O Homem e o Sábado", Feãa de S. Paulo, 12.9.1997, p. 1-2.

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A Arte de Argumentar

Lugar do Existente

O lugar do existente dá preferência àquilo que já existe, em detrimento daquilo que não existe. Quando o namorado de uma garota diz que no ano seguinte arrumará
um novo emprego e que, então, terá condições de financiar um excelente apartamento para poderem se casar, a garota diz, utilizando o lugar do existente: - Não me
interessa o que você terá condições de fazer se conseguir um novo emprego! - Quero saber que tipo de apartamento você é capaz de alugar agora, com o que você tem,
para podermos nos casar em seis meses. O emprego que já existe é hierarquizado acima do emprego que ainda não existe.

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Afinal de Contas, o Que `Argumentar?

Argumentar, como vimos, não é tentar provar o tempo todo que temos razão, impondo nossa vontade. Aqueles que agem assim não passam de pessoas irritantes e quase
sempre mal-educadas. Argumentar é, em primeiro lugar, convencer, ou seja, vencer junto com o outro, caminhando ao seu lado, utilizando, com ética, as técnicas argumentativas,
para remover os obstáculos que impedem o consenso.

Argumentar é também saber persuadir, preocupar-se em ver o outro por inteiro, ouvi-lo, entender suas necessidades, sensibilizar-se com seus sonhos e emoções. A maior
parte das pessoas, neste mundo, só é capaz de pensar em si mesma. Por isso, o indivíduo que procura pensar no outro, investir em sua auto-estima, praticamente não
enfrenta concorrência. Argumentar é motivar o outro a fazer o que queremos, mas deixando que ele faça isso com autonomia, sabendo que suas ações são frutos de sua
própria escolha. Afinal, as pessoas não são máquinas esperando ser programadas. Persuadir é ter certeza de que o outro também ganha com aquilo que ganhamos. `saber
falar menos de si e do que se quer, e mais do outro e do que é importante para ele.

A Arte de Argumentar

Argumentar é também saber dosar, "na medida certa", o trabalho com idéias e emoções. A "medida certa" é gastar mais tempo em persuadir do que em convencer. Uma boa
proporção é utilizar trinta por cento do tempo convencendo e setenta por cento persuadindo. Certa vez, presenciei uma cena interessante no salão de vendas de uma
concessionária de veículos. Um jovem vendedor atende um cliente interessado em um carro de luxo. Abre a porta do veículo e lhe pede que veja os comandos, o computador
de bordo, o ar condicionado eletrônico. A seguir, destrava o capo, para mostrar-lhe o motor. Ao dar a volta em torno do carro, porém, o cliente lança um olhar sobre
uma das rodas dianteiras do automóvel e comenta:

- Que roda mais feia! Como é que uma fábrica que produz um carro desse padrão coloca umas rodas tão vagabundas?

O vendedor sorri encabulado, levanta o capo e chama a atenção para o sistema de injeção eletrônica, para o comando do motor. Ao dar a segunda volta em torno do automóvel,
o cliente repete o comentário:

- Mas que roda mais feia que colocaram nesse carro!

Nesse momento, toca um telefone e o chefe de vendas chama o vendedor para atender, ficando, ele próprio, à disposição do cliente.

- E então?, pergunta. Está gostando do carro?

- O carro é ótimo, mas essas rodas matam o carro!

- São tão feias assim?

- São horríveis! .

Antônio Suares Abreu

Ato contínuo, o chefe de vendas conduz o cliente até uma parte da loja onde reluziam várias rodas, dentro de um mostruário. Ficam uns bons quinze minutos conversando
sobre os vários modelos, discutindo resistência, beleza, leveza. O cliente dá sua opinião final sobre um conjunto delas.

- Essas sim, são rodas para um carro daqueles! - afirma.

- Bem, caso você resolva levar o carro, coloco essas rodas nele como cortesia. - diz o chefe de vendas.

- No duro?! Então eu levo o carro!

Minutos depois, a nota fiscal está sendo feita e o cliente, já preenchendo o cheque, toma o cuidado de dizer:

- Olhe, não se esqueça de colocar aí na nota que é pra trocar as rodas!

- Não se preocupe! Já anotei - responde o chefe de vendas.

O que esse vendedor experiente desejava era fechar o negócio e ganhar uma comissão, mas deixou isso de lado e se preocupou unicamente com os valores do cliente,
dando asas aos sonhos dele sobre a estética das rodas. Percebeu que ele desejava comprar quatro magníficas rodas com um carro em cima delas e realizou, então, o
seu desejo. Se tivesse insistido em mostrar-lhe outras vantagens do carro ou levado a conversa para preços e descontos, certamente perderia o negócio.

Um outro campo em que precisamos nos tornar persuasivos é o da educação. Reclamamos que nossos filhos não estudam, mas, quando queremos que estudem, começamos a
controlá-los fazendo valer nossas

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A Arte de Argumentar

razões, nossos pontos de vista de adultos. `interessante observar como uma criança, mantendo sua autonomia, motivada por seus valores, é capaz de
disciplinar-se
e ficar horas tentando montar um jogo ou disputando uma partida de futebol. `claro que precisamos agregar outros valores ao universo das crianças, mas sem destruir
os que elas já possuem. Dizer a um garoto que pare de jogar bola e pegue um livro para ler é totalmente improdutivo. O que se deve fazer é, respeitando seu desejo
pelo esporte, criar nele o desejo de ler histórias. Que tal pegar um livro como Moby Dick ou
Robinson Crusoé e ler para o garoto, antes de dormir? Garanto que, no
dia seguinte, ele próprio estará motivado a continuar a leitura por si próprio, disciplinando-se com autonomia, da mesma maneira como faz, quando quer montar um
jogo de Lego.

As escolas precisam também ser mudadas. A maioria delas funciona como uma espécie de prisão. As crianças têm de obedecer a uma série de ordens, decorar inutilidades
sem sentido e não podem conversar entre si, especialmente durante as provas. Mais tarde, quando forem adultas, serão solicitadas, nas empresas, a trabalhar em equipe.
Os professores são controladores de presença, de disciplina, de memorização de informações que raramente são transformadas em conhecimento.

Depois de terminado o curso colegial, os alunos, já adolescentes, matriculam-se em um cursinho pré-vestibular e, estranhamente, começam a achar o ensino interessante,
os professores sensatos e a disciplina,
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Antônio Suárez Abreu

necessária. O que mudou? Mudou a atitude dos professores. No cursinho, eles não estão controlando os alunos. Colocam-se ao lado deles, para ajudá-los naquilo que
é o objeto de desejo deles: passar no vestibular. Infelizmente, depois do vestibular, a Universidade repete os mesmos erros do curso colegial, com raríssimas exceções.

`preciso, no campo da Educação, que professores, diretores e orientadores aprendam a persuadir os alunos a manter a disciplina necessária para o estudo, dando a
eles um ensino saboroso, interessante, ensinando-os não a armazenar informações mecanicamente, mas a transformá-las em conhecimento, da mesma maneira como os tijolos
podem ser transformados em construções. Mas, para isso, é preciso, em primeiro lugar, ouvir os alunos, conhecer suas histórias pessoais, seus desejos e sonhos, procurando
saber o que os está motivando intrinsecamente. O que as crianças querem é respeito, atenção, ver sentido naquilo que estão aprendendo. O que elas não querem é ser
vigiadas e controladas como se fossem vagabundos ou delinqüentes em potencial. Afinal, educadores devem procurar mostrar às crianças um mundo mais livre, mais atraente
e humano e não aliar-se à repressão doméstica de muitos pais. Por mais absurdo que pareça, as maiores violências contra as crianças são cometidas pelos próprios
pais. Violência de toda ordem: física, moral, sexual etc. `muito ilustrativo, a esse respeito, o seguinte depoimento de uma garota adolescente que, tendo saído
de casa depois do jantar, perdeu contato com

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A Arte de Argumentar

uma irmã mais nova e acabou tendo de voltar sozinha
para casa:

Numa tentativa de tudo ou nada, decidi voltar para casa, implorando aos santos de plantão que Rebeca estivesse sã e salva. Eram22h15min. Passos . . . é mamãe! -Vocês
chegaram? Luísa, você passou a chave na porta? Eis que rompe esse diálogo o ranger da porta e mamãe, tal qual uma gralha dispara ao ver Rebeca, envergonhada, entrar
em casa. - Onde você estava? Por que não voltou com sua irmã? Luísa, por que não cuidou da sua irmã? Estão querendo que os outros pensem o quê de vocês? Que são
desclassificadas? Não me admiraria se vocês não fossem mais moças! `o que os outros devem pensar. Seu pai vai saber disso. Vocês querem me enlouquecer, suas depravadas
. .

Como não havia nenhum meio de interferir no discurso, silenciei-me, coloquei o pijama e subi no beliche. Nessa altura, a pequena Cíntia acordara e assistia a tudo
com olhos arregalados, transbordando em lágrimas. Rebeca não disse nada, apenas tirou os sapatos, desapertou a saia e deitou na cama baixa do beliche. Depois que
mamãe cansou dos desaforos e esgotou o repertório de desagravos, apagou a luz, dizendo; - Rezem pedindo desculpas a Deus por serem tão mundanas!

Como vemos, muitos pais deveriam também aprender a conciliar seu desejo de bem educar os filhos com os valores de suas crianças. O principal deles é receber amor.

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Aprendendo a "Desenhar" e
a "Pintar" com as Palavras

Quem o molde achará para a expressão de tudo?

Ai! Quem há-de dizer as ânsias infinitas
Do sonho ? E o céu que foge à mão que se levanta ?

E a ira muda ? E o asco mudo ? E o desespero mudo ?

E as palavras de fé que nunca foram ditas ?

E as confissões de amor que morrem na garganta?!

Olavo Bilac, Inania Verba.

As palavras são como fios, com os quais vamos tecendo nossas idéias, em forma de texto. Quando falamos ou escrevemos, vamos retirando da nossa memória as palavras
que vamos utilizar. Trata-se de uma tarefa cuja velocidade pode variar bastante. Desde milésimos de segundo até minutos inteiros. Quem não ficou alguma vez parado,
no meio de uma frase, à procura de uma palavra?

As palavras não são etiquetas que colocamos sobre os objetos, as pessoas, as idéias, os sentimentos, mas maneiras de representar tudo isso. As línguas humanas são
sistemas de representação. Quando usamos uma palavra, estamos fazendo uma escolha de como representar alguma coisa. Podemos chamar alguém que ganhou muito dinheiro
recentemente de novo-rico,

A Arte de Argumentar

ou de emergente. Podemos dizer, em vez de países comunistas, países de economia centralizada. Argumentando desfavoravelmente a prisioneiros de uma casa de detenção
que sofreram violência policial, podemos dizer: - São assassinos, bandidos! Argumentando favoravelmente, diríamos: - São seres humanos, são filhos de Deus!

As palavras que escolhemos têm enorme influência em nossa argumentação. Em uma história conhecida nos meios da propaganda, um publicitário, encontrando um cego em
uma das pontes da cidade de Londres e vendo que o pobre homem recebia muito pouco dinheiro dentro do chapéu que estendia aos passantes, pediu a ele autorização para
virar ao contrário a tabuleta em que se lia a palavra cego e escrever, no verso, outra mensagem.

Algum tempo depois, passando pela mesma ponte, o publicitário viu que o cego estava bastante feliz, porque estava recebendo muito mais dinheiro do que antes. Diante
do novo encontro, perguntou ele ao publicitário:

- Conte-me o que você escreveu na minha tabuleta, que fez tanta gente ser generosa comigo?

- Nada de mais, disse o publicitário. Escrevi apenas o seguinte: "`PRIMAVERA. E EU NÏ CONSIGO V­LA".

O fato de que o cego não conseguia ver a primavera é óbvio. O que o publicitário fez foi apresentar esse fato aos transeuntes, de um outro ponto de vista, por meio
de outras palavras.

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Antônio Suárez Abreu

Jorge Amado, em seu romance Tocaia Grande, utilizou as possibilidades de representação das palavras para caracterizar uma personagem: o turco Fadul Abdala:

Multiplicavam-se as estrelas na lonjura do céu. Fuad Karan, que em Itabuna lia livros em árabe e em português, cidadão ilustrado, mais instruído do que meia dúzia
de advogados - responsável pelo apelido de Grão Turco que inventara ao ver Fadul rodeado de raparigas no cabaré - lhe afirmara não serem essas estrelas aqui vistas
as mesmas que cintilam no céu do Oriente onde eles haviam nascido. [...]

Distante e esquecida a terra natal, Fadul Abdala, o Grão-Turco das putas, o Turco Fadul das casas-grandes, seu Fadu das míseras choupanas, sabe que veio para ficar,
não trouxe passagem de volta. No lugre de imigrantes chorou todas as lágrimas, não restou nenhuma. Libanês de nascimento e sangue, chamam-no turco por ignorância;
se soubesse ver e constatar, proclamaria aos quatro ventos sua fé de grapiúna (p. 40).

Cada uma das escolhas de representação corresponde a uma visão que as pessoas do local tinham do mascate libanês. As pessoas ricas das casas grandes o tratavam com
desprezo por Turco Fadul. As pessoas pobres, com respeito: seu Fadu; e o amigo Fuad Karan, de maneira carinhosa e bem-humorada: Grão-Turco das putas.

Uma outra consideração sobre as palavras é que elas não se encontram organizadas em nossa memória, como nos dicionários, mas em relações associativas, pela forma
e pelo conteúdo. Se pensamos, por exemplo, na palavra mar, logo nos lembramos de uma série de palavras relacionadas a ela pelo sentido, como praia, areia,

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A Arte de Argumentar

peixe, concha, sol, férias etc, e logo nos lembramos também de uma série de palavras semelhantes a ela foneticamente, como amar, armar. O seguinte trecho de um poema
de Carlos Drummond de Andrade é um exemplo disso:

Amar

Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

Amar e esquecer,

amar e malamar,

amar e desamar, amar?

Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

Amar o que o mar traz à praia

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

(Antologia Poética, pp. 173-174)

O texto seguinte, uma letra de Caetano Veloso, é um exemplo de escolha das palavras pela forma:

Itapuã

Itapuã, tuas luas cheias

tuas casas feias viram tudo, tudo

o inteiro de nós

Itapuã, tuas lamas, algas

almas que amálgamas

guardam todo, o cheiro de nós

Abaeté, essa areia branca ninguéra nos arranca

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Antônio Suárez Abreu

é o que em Deus nos fiz Nada estanca Itapuã ainda sou feliz.

Para sermos criativos na escolha das palavras-chave que pretendemos usar em nossa argumentação, precisamos silenciar, por alguns momentos, nosso pensamento lógico
e divagar por entre sentidos e sons, anotando as palavras que vão surgindo por livre associação, para só então fazer escolhas.

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Figuras Retóricas

As figuras retóricas são recursos lingüísticos utilizados especialmente a serviço da persuasão. Se dissermos, por exemplo, que uma criança precisa apenas brincar
e não aprender a ler aos três anos de idade, contrariamente a algumas teorias recentes, estaremos simplesmente enunciando uma tese, tendo por objetivo convencer
alguém, falando à sua razão. Se dissermos, entretanto, que uma criança precisa aprender a ler aos três anos, tanto quanto um peixe precisa aprender a andar de bicicleta,
isso já tem um efeito persuasivo, pois confronta a idéia absurda de um peixe andar de bicicleta, com a idéia de uma criança aprender a ler aos três anos.

As figuras retóricas possuem um poder persuasivo subliminar, ativando nosso sistema límbico, região do cérebro responsável pelas emoções. Elas funcionam como cenas
de um filme, criando atmosferas de suspense, humor, encantamento, a serviço dos nossos argumentos.

`preciso distinguir as figuras retóricas, que têm um caráter funcional, das figuras estilísticas, cujo objetivo é causar a emoção estética. Quando Guimarães Rosa
diz, no contexto de Grande Sertão - Veredas, que "Viver é um descuido prosseguido", ou que "Mocidade é

A Arte de Argumentar

tarefa para mais tarde se desmentir", ou ainda que "Toda saudade é uma espécie de velhice", ele não está preocupado em persuadir ninguém, mas apenas dando forma
à "sabedoria" da personagem Riobaldo.

Podemos dividir as figuras retóricas em quatro
grupos: FIGURAS DE SOM, DE PALAVRA, DE CONSTRUÃO e DE PENSAMENTO.

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Figuras de Som

As figuras de som estão ligadas à seleção de palavras por sua sonoridade. Na linguagem falada, fazemos isso intuitivamente, a partir de palavras-gatilho. Existe,
nesse processo, uma função mnemônica e uma função rítmica. O texto a seguir é um exemplo desse procedimento. Trata-se de um trecho extraído de uma palestra, em que
a palavra-gatilho valores suscita, além do substantivo valoração, o verbo valorizar que se repete sucessivamente, facilitando ao palestrante o encadeamento das idéias
e criando um certo ritmo para as frases proferidas:

Então como é que se dá numa criança esse processo de formação de valores, não é? Se a gente observa uma criança recém-nascida, a gente vai constatar que ela tem
um conjunto de valores, ela valoriza algumas coisas, ela valoriza o quê? Ela valoriza o repouso, ela valoriza a tranqüilidade, a segurança, uma certa rotina e ela
não valoriza outras coisas, um ruído brusco. Só que existe uma questão psicológica muito séria que é a seguinte: a criança nesse momento da sua vida ela tem como
locus como fonte de valoração a ela mesma, nasce dela, ela valoriza aquilo que atualiza o seu organismo. Nenhuma criança faz greve de fome. Ela valoriza coisas que
pra ela são importantes1.

1. S. Madureira, "O Sentido do Som", tese de doutorado, PUC-SP, 1992, pp. 151-152.

A Arte de Argumentar

Dizemos que há figuras de som, quando controlamos o processo de seleção sonora, para produzir efeitos especiais de sentido, dentro de uma argumentação.

A mais conhecida figura de som é a paronomásia (do grego paronomásia ~ formação de palavra tirada de outra com pequena modificação), que consiste em utilizar palavras
de sonoridades parecidas e sentidos diferentes. Os sons parecidos estabelecem uma correlação entre essas palavras. `o que acontece quando dizemos: Devemos fazer
isso depressa, mas não às pressas. A correlação entre depressa e não às pressas nos sugere fazer um trabalho no menor espaço de tempo possível, mantendo, contudo,
sua qualidade. Quando, numa propaganda, vemos a frase: Pense forte, pense Ford!, somos persuadidos, subliminarmente, de que Ford é uma marca forte (que produz veículos
fortes). Quando o padre Vieira se dirige a Deus, em um de seus sermões2 e diz:

Mas como a causa, Senhor, é mais vossa que nossa, e como venho a requerer por parte de vossa honra e glória, e pelo crédito de vosso nome, razão é que peça só razão,
justo é que peça só justiça (p. 20),

a repetição de sons iguais ou parecidos (nossa, vossa; razão, razão; justo, justiça) ajuda a estabelecer um compromisso de razão e justiça entre Deus e os homens.
Quando a repetição de sons se dá na parte final das palavras, como em nossa e vossa, a figura de som

2. A. Vieira, "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as da Holanda", Sermões, Rio de Janeiro, Agir, 1975.

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recebe o nome de homeoteleuto (do grego homoiotêleutos = que termina da mesma maneira). Esse recurso é utilizado por Fernando Pessoa, quando diz:

Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das

coisas que

nunca foram! O que eu sinto quando penso no passado que tive no tempo real, quando choro sobre o cadáver da vida da minha infância ida . . . (Livro do Desassossego,
vol. 1, pp. 83-84).

Na letra da música Samba em Prelúdio, Vinícius de Moraes usa tanto a simples paronomásia, como o homeoteleuto (sob a forma de rima) como se pode ver na seguinte
estrofe:

Ai que saudade . • •

Que vontade de ver renascer

nossa vida

Volta querido

Os meus braços precisam dos teus

Teus abraços precisam dos meus

Estou tão sozinha

Tenho os olhos cansados de olhar

Para o além

Vem t"r a tida

Sem você, meu amor, eu não sou

ninguém.

Não é difícil perceber a importância da repetição dos sons {braços, abraços, vem ver a vida) como recurso subliminar da argumentação, para conseguir a volta do amado.

109

Figuras de Palavra

As principais figuras de palavra são a metonímia e a metáfora.

Metonímia

Metonímia (do grego metonymía = emprego dum nome por outro) é o uso da parte pelo todo. Quando Vinícius de Moraes diz: Os meus braços precisam dos teus / Teus abraços
precisam dos meus, é claro que ele se refere a pessoas inteiras. O uso de parte delas (braços) ou de suas ações (abraços) tem o efeito de tornar concreto o sentimento
de necessidade de afeto do outro.

Na música Eu te Amo, no trecho a seguir, Chico Buarque utiliza também partes do corpo humano (pernas, seios, mãos, cara, olhos), como recurso metonímico para representar
sensações tácteis. Utiliza também, metonimicamente, peças de vestuário (paletó, vestido, sapato), para sugerir a permanência do amor, mesmo depois da separação dos
amantes.

Se nós, nas travessuras das noites eternas,

A Arte de Argumentar

já confundimos todas nossas pernas, diz com que pernas eu devo seguir. Assim, entornaste a nossa sorte pelo chão. Se na bagunça do teu coração, meu sangue errou
de veia e se perdeu.

Como? Se na desordem do armário embutido, meu paletó enlaça o teu vestido e o meu sapato ainda pisa no teu. Se nos amamos feito dois pagãos teus seios inda estão
nas minhas mãos. Me explica com que cara eu vou sair. Não, acho que estás te fazendo de tonta. Te dei meus olhos para tomares conta Agora conta como hei de partir.

Metáfora

A metáfora (do grego metaphorá = transporte) é uma comparação abreviada. Se eu digo que Paulo é valente como um leão, tenho uma comparação. Se digo, entretanto,
que Paulo é um leão, abreviando a comparação pela eliminação de valente como, tenho uma metáfora. Daí a idéia de transporte, do sentido próprio para o sentido figurado.

J. V. Jensen, em um artigo intitulado "Metaphorical Constructs for the Problem-solving Process", propõe uma interessante classificação das metáforas em cinco diferentes
grupos:

1. metáforas de restauração;

2. metáforas de percurso;

112

Antônio Suárez Abreu

3. metáforas de unificação;

4. metáforas criativas;

5. metáforas naturais.

Metáforas de Restauração

As metáforas de restauração partem do princípio de que algo sofreu algum tipo de avaria e há necessidade de reparação. São elas: metáfora médica, de roubo, de conserto
e de limpeza.

Metáfora Médica. A metáfora médica é de grande poder argumentativo, pois tem apelo universal. Ela compara a sociedade com o corpo humano e nos fala de males, remédios
e curas. O desejo de manter-se saudável é sempre urgente, uma vez que da saúde dependem a vida e a morte. Dessa maneira, ganha uma importância considerável dizer
que o governo criou a quimioterapia do real para extirpar o câncer da inflação, mas que as taxas de juro estão impedindo recuperação completa da economia. `o que
podemos ver nos exemplos a seguir:

O remédio de reduzir investimento público não parece saudável nem inteligente. As dimensões da crise fiscal de São Paulo levaram ao surgimento de uma cultura da
negação nas cabeças de seus líderes. A impressão que fica é de que existe um câncer em São Paulo. O câncer é a dívida, porque seus juros não podem ser pagos e crescem
exponencialmente por meio do funcionamento normal dos juros compostos1.

1. Folha de São Paulo, 24.12.1995, p. 2-2.

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A Arte de Argumentar

Quanto mais clara e distinta for a notícia, tanto mais invisíveis serão o jornalista e o seu olho. Por isso, ele não fala "eu". Mas desde alguns anos fui acometido
de uma doença oftálmica que atacou também os olhos de Jorge Luís Borges. [. . .] Essa doença se chama "poesia"2.

Metáfora de Roubo. A metáfora de roubo sugere que algo nos foi tirado e é preciso reparação. Podemos dizer que os pais que forçam seus filhos a escolher a profissão
estão roubando deles a capacidade de decisão. O seguinte poema de Eduardo Alves da Costa utiliza a metáfora do roubo, para pôr em evidência a tese de que não podemos
ficar passivos diante da ação de outros que nos querem privar dos nossos valores:

No Caminho, com Maiakovski

Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão. E não dizemos nada.

Até que um dia o mais frágil deles

Entra sozinho em nossa casa,

roubarmos a lua e, conhecendo o nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E, porque não dissemos nada,

já não podemos dizer nada.


Colher uma flor sugere tirar algo de nós, mas de pequena importância. Pisar as flores, matar o nosso cão,

2. Rubem Alves, "Sobre Jornal e Aleluias", Folha de S. Paulo, 12.11.1995, p.

1-2.

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Antônio Suárez Abreu

sugere tirar de nós coisas cuja perda nos faz sofrer. Roubar-nos a lua e arrancar-nos a voz sugere eliminar definitivamente nossa capacidade de oferecer resistência
àquele que nos invade.

Metáfora de Conserto. A metáfora de conserto sugere que algo se estragou e precisa ser consertado. Podemos dizer, por exemplo, que é preciso descobrir a fórmula
do cimento capaz de unir as pessoas, ou coisas como:

Ah, sim, vivemos a morte de Ayrton Senna. Mas até essa tragédia teve um lado luminoso, pois serviu para cimentar um pouco nossa solidariedade, atributo essencial
a um povo que busca a cidadania, sem a qual não há povo ou país3.

Na tentativa de remendar pelo menos alguns buracos na rede mundial de comunicação é que surgem esforços como o InfoDev (Information for Development Program ou Programa
de Informação para o Desenvolvimento)4.

Metáfora de Limpeza. A metáfora de limpeza é bastante didática, pois qualquer dona de casa tem consciência de que é preciso manter a casa limpa. Jânio Quadros, que
foi governador de São Paulo, Presidente do Brasil e Prefeito de São Paulo, construiu sua carreira política por meio da metáfora de limpeza. Seu símbolo era uma vassoura,
para varrer a "sujeira" política do país. Vejamos alguns exemplos:

3. Folha de S. Paulo, 4.1.1995, p. 4-2.

4. Folha de S. Paulo, 20.8.1997, p. 4-6.

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A Arte de Argumentar

A poluição afeta o organismo, principalmente no inverno. Como não há remédio para o problema - é impossível varrer carros e indústrias do planeta -, o melhor é aprender
a conviver com o mal.

Apesar das turbulências na cúpula da Globo, uma das estrelas da casa saiu para arejar os neurônios.

Metáforas de Percurso

As metáforas de percurso são as mais utilizadas. Consistem em associar a resolução de problemas a uma jornada. Einstein, quando estava construindo a teoria da relatividade,
se imaginava cavalgando um raio de luz. São as seguintes as metáforas de percurso: percurso em terra, no mar e metáfora de cativeiro, segundo Jensen. Mas podemos
acrescentar também o percurso no espaço aéreo ou sideral.

Metáfora de Percurso em Terra. Na metáfora de percurso em terra, costuma-se falar em estradas, encruzilhadas, caminhos tortuosos etc. Exemplos:

Apesar das vitórias, a estrada ainda será longa e tortuosa. Precisaremos de mais alguns ciclos eleitorais para completar a obra ciclópica de rever integralmente
a Constituição.

Eu costumo dizer que o Brasil teve uma encruzilhada: foi no momento em que deixamos de ter o boa-noite da TV Tupi, com a canção de ninar do Caymmi, aquela do "boi
da cara preta . . .", que o Chateaubriand fazia questão que entrasse, e passamos a ter o "plim-plim" da Globo, o sinal eletrônico5.

5. Folha de S. Paulo, 31.1.1995, p. 5-1.

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Antônio Suárez Abreu

Segundo eles, durante as quedas anteriores, a Bolsa se comportou como um bêbado descendo a ladeira. Agora, resolveu subir a escada pulando degraus.

Metáfora de Percurso no Mar. A metáfora de percurso no mar é muito poderosa, porque sugere a possibilidade de um naufrágio e aí só há duas opções: salvar-se ou morrer.
Exemplos:

Um ministro pode fenecer sem dar solução aos problemas. Um ex-ministro, não. `um sábio vitalício. Navega por velhas questões com a virgindade de um noviço (Josias
de Sousa).

O Real navega, pois, em águas sem tormenta, com promissor clarão no horizonte. Em boa medida porque os comandantes da nau não permaneceram passivos diante das condições
adversas. E isto mesmo os bucaneiros hão de reconhecer (Antônio Kandir).

Metáfora de Cativeiro. Utilizando a metáfora de cativeiro, podemos dizer que alguém é escravo de um vício, de algo qualquer. Exemplo:

Submetidos a uma servidão que se ignora a si mesma, o homem torna-se "lacaio do instante", "escravo da manchete do dia". Reduzido à condição de consumidor, aceita,
sem resistência, a padronização da cultura (Olgária Matos).

Metáfora de Percurso no Ar. Metáforas de percurso no ar são mais raras, mas ocorrem também, como no exemplos a seguir:

Bastante comum nos Estados Unidos, os lançamentos virtuais de livros começam a decolar no Brasil.

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A Arte de Argumentar

Por décadas e mais décadas vivemos num avião em turbulência. Do suicídio de Getúlio Vargas, renúncia de Jânio Quadros e golpe militar a seqüestros, guerrilhas, morte
de Tancredo Neves e impeachment de Collor.

Metáforas de Unificação

As metáforas de unificação se dividem em: metáfora de parentesco, pastoral e esportiva.

Metáfora de Parentesco. A metáfora de parentesco é facilmente entendida, uma vez que as pessoas tendem a transferi-la para suas próprias experiências familiares.
Exemplos:

Apesar de um mercado em crescimento, há dificuldades para as novas montadoras, pois praticamente todas estão entrando no país com produção em pequena escala. Para
ter chances de sobreviver é preciso produzir pelo menos 100 mil unidades por ano e oferecer uma "família" de produtos.

Que o PSDB se parece cada vez mais com o PMDB, isso nem se discute. São irmãos siameses nos métodos e na forma de operar a política.

Metáfora Pastoral. A metáfora pastoral está ligada ao sentido de conduzir, guiar pessoas. Exemplo:

Chegou a complicar-se inesperadamente o que parecia uma procissão tranqüila de vitória, no Congresso, com a reeleição presidencial. [. . .] O governo que ora conta
o rebanho não reúne mais os carneiros da primeira hora6.

6. Folha de S. Paulo, 4.2.1997, p. 1-3.

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Antônio Suárez Abreu

Metáfora Esportiva. No Brasil, o futebol, o mais popular dos esportes entre nós, é uma rica fonte de metáforas. Exemplos:

Meu emprego está na marca do pênalti.

O governo deu belos dribles na inflação, mas ainda não ganhou o jogo da economia estável.

Vejamos um belo exemplo desse tipo de metáfora em um texto sobre administração de empresas:

Faça entrar seu time com a seguinte escalação: Trancamento de Cofre, Corte de Custos e Eliminação de Desperdício, na defesa. Treinamento, Relacionamento Interpessoal
e participação nos Lucros no meio de campo. Para o ataque. Vendedor Treinado, Parceria com os Clientes, Pesquisa de Mercado, Preços Competitivos e Pós-Vendas. Um
autêntico 3-3-5, com o ataque ajudando o meio de campo7.

Metáforas Criativas

As metáforas criativas dividem-se em metáforas de construção, tecelagem, composição musical e de lavrador.

Metáfora de Construção. A metáfora de construção compara ações humanas à construção de edifícios, veículos etc. Vieira utilizou, no Sermão do Santíssimo Sacramento,
a seguinte metáfora de construção:

Toda a vida não é mais que uma união. Uma união de pedras é edifício; uma união de tábuas é navio; uma união de homens é exército.

7. L. C. Bocatto, Correio Popular de Campinas, 13.7.1998, p. 2.

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A Arte de Argumentar

E sem essa união tudo perde o nome e mais o ser. O edifício sem união é uma ruína; o navio sem união é naufrágio; o exército sem união é despojo.

Outros exemplos:

O governo Juscelino Kubitschek coincidiu com o baby boom brasileiro. [. . .] O período de crescimento econômico do pós-guerra somado à falta de conhecimento dos
métodos contraceptivos foram os alicerces para uma explosão populacional que iria transformar o rosto do país nas décadas seguintes8.

Durante anos os concursos chegaram a aceitar a inscrição de candidatas, mas acontecia que elas não eram aprovadas. Isso passou. [. . .] Nessa matéria, os advogados
e a OAB, em São Paulo, não podem atirar pedra no telhado da magistratura, porque o deles é de vidro. No quinto constitucional, em que cabe à advocacia encaminhar
uma lista sêxtupla de nomes, a mulher é mais estranha do que Pilatos no credo9.

Metáfora de Tecelagem. A metáfora de tecelagem vê a sociedade como um tecido que pode ser construído ou rompido. Pode-se falar em fio da meada, em costurar um acordo
etc. O poema abaixo, de autoria de João Cabral de Melo Neto é um magnífico exemplo do uso desse tipo de metáfora:

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos.

8. Folha de S. Paulo, 12.1.1997, p. 1-17.

9. Folha de S. Paulo, 5.4.1997, p. 3-2.

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Antônio Suárez abreu

De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos
outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela,
entre todos, se erguendo tenda onde entrem todos se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã toldo de um tecido tão aéreo
Que, tecido, se eleve por si: luz balão.

Metáfora de Composição Musical. Essa metáfora pode utilizar tanto conceitos musicais, como harmonia ou melodia, como instrumentos ou orquestra. Exemplos:

Até sua morte, em 1940, Thompson manteve-se afinado com a física de seu tempo.

A meia hora de Tampa, de carro, em St. Petersburg, está um dos melhores museus de Salvador Dali! Indicado até pelo guia verde da Michelin! Tem que ver! Alugue um
carro, atravesse a Big Bridge sobre o golfo do México. Uma sinfonia de azuis10.

Metáfora de Lavrador. A metáfora de lavrador utiliza imagens ligadas ao preparo da terra, ao plantio e à colheita. Exemplo:

A semente de mostarda é a menor e contém o maior. [. .] Se você dissecá-la não a compreenderá. Se dissecar a religião, não a

10. Folha de S. Paulo, 14.7.1997, p. 7-5.

121

A Arte de Argumentar

penetrará: ou você a vê diretamente ou não a vê. E só existe um meio de poder vê-la: confiar! `impossível ver a árvore na semente, mas você pode semeá-la na terra
- isto é o que faz um homem de fé11.

Eu quero uma casa no campo

Do tamanho ideal

Pau a pique e sapê

Onde eu possa plantar meus amigos

Meus discos meus livros

E nada mais

Metáforas Naturais

As metáforas naturais se dividem em metáfora de claro-escuro, de fenômenos naturais e biológica.

Metáfora de Claro-escuro e de Fenômenos Naturais. Todos nós conhecemos as imagens do dia contrastando com a noite, da tempestade com a bonança etc. Vejamos alguns
exemplos:

FOLHA - Você começou o projeto ao ver Helfgott em concerto?

HlCKS - Sim. O que me atingiu foi encontrar alguém que passou por uma vida fragmentada e caótica e vê a luz no fim do túnel, recuperando sua habilidade de fazer
música e ser feliz. Foi isso que
me conquistou

12

Purificada

Seguindo a idéia de que depois da tempestade sempre vem a calmaria, a palavra batiza aquela que passou pelo inferno, comeu o

11. B. S. Rajneesh, A Semente de Mostarda, p. $5.

12. Folha de S. Paulo, 3.1.1997, p. 4-7. .;:

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pão que o diabo amassou, mas conseguiu dar a volta por cima - e chegou lá. Se alguém diz que a moça é "purificada", significa que, depois de tudo, conseguiu quitar
até o credicarma13.

Metáfora Biológica. A metáfora biológica procura representar seres humanos como animais, procurando acentuar virtudes ou defeitos. Dizer que um conhecido político
é uma raposa equivale a dizer que é esperto, dizer que um outro é um rato equivale a dizer que é desprezível, ladrão. O escritor Carlos Heitor Cony utilizou uma
metáfora biológica para dar visibilidade à sua tese de que o mercado globalizado tem um efeito predador nos seres humanos, produzindo uma quantidade imensa de miseráveis.
Diz ele que:

"Um gato comeu o rato. Quem é o culpado?", perguntou Hitler na cervejaria Hofbauss, pouco antes de tomar o poder. Insisto em citar Hitler porque assim simplifico
as coisas. Ele se achava um gato com o dever de comer os ratos que fossem surgindo em seu caminho.

O primeiro rato foi a social-democracia, o regime de Weimar. Depois, sucessivamente, a ustria, a Tcheco-Eslováquia, a Polônia etc. etc. Eram ratos menores, pois
o rato maior, e o mais apetitoso à sua gula, era a impureza racial.

Substitua-se "Hitler" por "mercado" e continuaremos a ter a luta do gato e do rato14.

Podemos escolher a metáfora de acordo com a
orientação que queremos imprimir à nossa argumentação, uma vez que o domínio de onde a tiramos compõe uma espécie de "célula cognitiva" que chamamos

13. Folha de S. Paulo, 8.4.1997, p. 4-2.

14. Folha de S. Paulo, 13.9.1998, p. 1-2.

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A Arte de Argumentar

Frame. Quando falamos de jogo, por exemplo, podemos imaginar: a) regras que devem ser seguidas; b) alguém que ganha e alguém que perde; c) sorte ou azar; d) possibilidade
de haver um juiz etc. Trata-se do frame do jogo.

Aplicando esse frame ao amor, podemos dizer que, no jogo do amor, a principal regra é saber o que pode tornar o outro feliz e o único juiz é o coração. Aplicando
o frame da metáfora de construção, diremos que os alicerces do amor são a lealdade e a confiança e que uma fachada bonita para os outros não será capaz de esconder
as rachaduras de um projeto mal elaborado. Aplicando o frame da metáfora da magia, podemos dizer que o amor é um encantamento a dois, que hipnotiza nossas almas
e faz levitar nossos corações. Octavio Paz escreveu um belíssimo livro intitulado A Dupla Chama, em que usa para o amor a metáfora da chama de uma vela. Vejamos
isso em suas próprias palavras:

A chama é a parte mais sutil do fogo, e se eleva em figura piramidal. O fogo original e primordial, a sexualidade, levanta a chama vermelha do erotismo e esta, por
sua vez, sustenta outra chama, azul e trêmula: a do amor. Erotismo e amor: a dupla chama da vida15.

15. Octavio Paz, A Dupla Chama - Amor e Erotismo, p. 7.

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Figuras de Construção

As principais figuras de construção são pleonasmo, hipálage, anáfora, epístrofe e concatenação.

Pleonasmo

Pleonasmo (do grego pleonasmós = excesso) é a repetição daquilo que já ficou óbvio em uma primeira vez. Fazendo isso por distração, quando dizemos subir para cima,
descer para baixo, somos acusados de ter cometido vícios de linguagem. Quando provocamos o pleonasmo, propositadamente, é porque queremos dar realce a uma idéia
ou argumento. `muito comum, nos Sermões de Vieira, logo em seguida à exposição de um argumento, a sua repetição, com palavras bíblicas. No "Sermão pelo Bom Sucesso
das Armas de Portugal contra as da Holanda", diz ele, dirigindo-se a Deus:

Sei eu, Legislador Supremo, que nos casos de ira, posto que justificada, nos manda vossa santíssima Lei que não passe de um dia, e que antes de se pôr o Sol tenhamos
perdoado: "Que o Sol não se ponha sobre a vossa ira" (p. 44)'.

1. No original em latim: Sol non occidat super iracundiam vestram.

A Arte de Argumentar

A função da citação pleonástica desse trecho, que pertence à Epístola de São Paulo aos Efésios, IV: 26, é argumentativa. Trata-se de um fato bíblico que deve funcionar
como tese de adesão inicial. A tese principal de Vieira é que Deus, caso esteja irado contra o povo da Bahia, e, por esse motivo o pretenda castigar, cesse a sua
ira e o perdoe, defendendo-o do ataque holandês: Perdoai-nos enfim, para que a vosso exemplo perdoemos; e perdoai-nos também a exemplo nosso, que todos desde esta
hora perdoamos a todos por vosso amor (p. 46).

Hipálage

Hipálage (do grego hypallagé= troca) é a transferência de uma qualidade humana para entidades não humanas. O jornalista Oto Lara Resende iniciou, certa vez, um artigo
no jornal Folha de S. Paulo, usando esse recurso:

A Flor no Asfalto

Conheço essa estrada genocida, o começo da Rio-Petrópolis. Duvido que se encontre um trecho rodoviário ou urbano mais assassino do que esse. São tantos os acidentes
que já nem se abre inquérito. Quem atravessa a avenida Brasil fora da passarela quer morrer. Se morre, ninguém liga. Aparece aquela velinha acesa, o corpo é coberto
por uma folha de jornal e pronto. Não se fala mais nisso (1992).

Os adjetivos genocida e assassino, aplicáveis a humanos, são atribuídos, nesse trecho, a uma estrada, a Rio-Petrópolis, em seu trecho urbano, onde recebe o nome
de Avenida Brasil. O objetivo do autor foi o de

126

Antônio Suárez Abreu

criar, desde o início, um clima de suspense sobre o assunto que vai ser tratado: uma mulher grávida que, atropelada, dá à luz uma criança, antes de morrer.

Cecília Meirelles, em seu poema "Destino", faz uso também da hipálage:

Pastora de nuvens, fui posta a serviço Por uma campina tão desamparada Que não principia nem também termina E onde nunca é noite e nunca madrugada.

(ObraPoética, p. 121)

`claro que quem se encontra desamparada é a pessoa da poeta, mas o fato de o adjetivo desamparado estar qualificando campina tem o efeito de intensificar o desamparo.
Afinal, uma campina é bem maior do que uma pessoa!

Anáfora

Anáfora (do grego anaphorá = ato de se elevar, de corrigir) é a repetição da mesma palavra no início de frases sucessivas, ou de membros sucessivos, em uma mesma
frase. Exemplo:

Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci semipre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Tudo o
flue não é meu, por baixo que seja, teve sempre poesia para mim.- Nunca amei senão coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem ti podia imaginar. (Fernando Pessoa,
Livro do Desassossego, vol. I, p. 83.)

127

A função da anáfora

do interlocutor^ %Ser ° flUX° de ^"^ No texto adma>aidéiad,\ durante a exposição.

pre movido pel" f e n>V da<luek ^ é ^ subordinada, eA t^j *e não experimenta, e ^ * ;^;. ,," ^ra JWmento de informa ção, à idéia de nuiica ^H

\nado essa posição.

Epístrofe (dogrego(li . N

é a repetição d* ^.W ato de fazer virar)

Vieira, em seu ^mào Vi de frases sucessivas, expediente, nottfcho, Wsima", faz uso desse

\\

Mas dir-me-eis: llPadrei

do Evangelho, nãoprígamd^Vdores de hoje não pregam pregam a palavra dt D^r^h^ Escrituras? Pois como nao mas não pregam "^"i^Val. Pregam palavras de Deus, no sentido
em que ^as aS*> palavras de Deus, pregadas das no sentido qu" nós q%A palavras de Deus; mas prega podem ser palavras doDe^Hão são palavras de Deus, antes

M17).

Vçï

Concaten^çá" c°nsis,

uma palavra d0 final daNm iniciar uma frase com V anterior. Exemplo:

Em todos os tei|S atOsii) ,

morrer, tu não age^ésaSido;tí\ real, desde o nascer até ao de

para os outros um^ esfinge ^A vives: és vivido apenas. Torna-te

\ Fecha-te, mas sem bater com a

Antônio Suárez Abreu

porta, na tua torre de marfim. E a tua torre de marfim és tu próprio. E se alguém te disser que isto é falso e absurdo não o acredites. Mas não acredites também
no que eu digo, porque não se deve acreditar em nada (Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, p. 81).

Tanto a anáfora, como a epístrofe e a concatenação são recursos de gerenciamento de informação, em um processo argumentativo. Quando faz uso deles, o enunciador
mantém o fluxo de atenção de seus ouvintes concentrado em conceitos que para ele são importantes na construção de um argumento. Um belíssimo exemplo do uso desses
recursos acha-se no poema de Olavo Bilac, intitulado O Caçador de Esmeraldas, quando o poeta narra o delírio do bandeirante Fernão Dias Paes Leme, que vai morrer
acreditando ter descoberto as esmeraldas:

Como para abraçar a natureza inteira, Fernão Dias Paes Leme estira os braços no ar. . .

Verdes, os astros no alto abrem-se em verdes chamas; Verdes, na verde mata, embalançam-se as ramas; E flores verdes no ar brandamente se movem; Chispam verdes fuzis
riscando o céu sombrio; Em esmeraldas flui a água verde do rio, E do céu, todo verde, as esmeraldas chovem. . .2

O adjetivo verde, repetido continuamente, produz uma imagem visual fantástica, a idéia fixa do sonho do bandeirante, na emoção do instante final da vida.

, o," "k. - "">" *•** -,r too" *-" * ""*

Brasileira, vol. III: Parnasianismo, p. 148.

129

Figuras de Pensamento

As principais figuras de pensamento são a antítese, o paradoxo e a alusão.

Antítese

A antítese (do grego antíthesis, anti + tese = oposição) consiste em contrapor uma palavra ou uma frase a outra, de significação oposta. `o que faz Vieira, no "Sermão
da Sexagésima", quando quer comparar os pregadores de sua época aos pregadores antigos:

Antigamente convertia-se o Mundo, hoje por que não se converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras
sem obras são tiros sem balas; atroam, mas não ferem (Vieira, "Sermão da Sexagésima", p. 100).

A antítese se constrói pela oposição entre antigamente e hoje, entre pensamentos e obras. Millor Fernandes diz, usando uma antítese entre dia e noite, que "Os uísques
das nossas noites têm de ser pagos com o suor dos nossos dias".

A Arte de Argumentar

Paradoxo

O paradoxo (do grego paradoxos = contrário à previsão ou à opinião comum) reúne idéias contraditórias em uma mesma frase. Exemplo:

Olhe ao seu redor - as pessoas que você acha boas, quase sempre são fracas. A bondade delas não vem da força, vem da fraqueza. Elas são boas porque não ousam ser
más. Mas que tipo de bondade é essa que vem da fraqueza? A bondade tem de surgir de uma força transbordante, só então é boa porque ela é vida, um fluxo de vida.
Assim, sempre que um pecador se torna santo, sua santidade tem sua própria glória. Mas sempre que um homem comum se torna santo por causa da sua fraqueza, sua santidade
é pálida e morta, não existe vida nela. Um homem que é bom porque não pode ser mau, não é realmente bom. No momento em que se tornar forte, será mau; dê-lhe o poder
e imediatamente estará corrompido (B. S. Rajneesh, A Semente de Mostarda, pp. 125-126).

Mais à frente, um outro exemplo:

Quando você tem alguma coisa, você gosta de dar - lembre-se desta lei: você se prende a alguma coisa só quando não a tem realmente; se você tiver poderá dar. Só
quando você se sente feliz por dar alguma coisa é que você a tem (idem, ibidem).

Alusão

Alusão (do latim allusione = ação de brincar com) é uma referência a um fato, a uma pessoa real ou fictícia, conhecida do interlocutor. A moderna análise do discurso
chama esse fenômeno de polifonia ou intertextualidade. Eis um belo exemplo do escritor Rubem Alves:

132

Antônio Suárez abreu

Será isto que é a alma, a ausência que mora em mim, e faz o meu corpo tremer. Não me canso de repetir esta coisa linda que disse Valéry: "Que seria de nós sem o
auxílio das coisas que não existem?"

Estranho isto, que o que não existe possa ajudar . . .

Deus nos ajuda, mesmo não existindo: este o segredo da sua onipotência.

Teologia é um encantamento poético, um esforço enorme para gerar deuses . . .

Que deuses?

Os meus, é claro.

São os únicos que me é permitido conhecer.

Lembro-me de Fuerbach. Compreendeu que estamos destinados ao nosso corpo, especialmente os olhos.

Vemos. Mas em tudo o que vemos encontramos os contornos da nossa própria nostalgia, o rosto da alma.

Como Narciso, que se enamorou de sua própria imagem refletida na superfície lisa da fonte. Também nós: o universo sobre que falamos é a imagem dos nossos cenários
interiores. Com o que concorda a psicanálise, e antes dela o Evangelho: a boca fala do que está cheio o coração.

Nossos deuses são nossos desejos projetados até os confins do universo.

"Se as plantas tivessem olhos, capacidade de sentir e o poder de pensar, cada uma delas diria que a sua flor é a mais bela."

Os deuses das flores são flores. Os deuses das lagartas são lagartas. Os deuses dos cordeiros são cordeiros. E os deuses dos tigres são tigres . . .

Tudo é sonho. Ou, como diz Guimarães Rosa: "Tudo é real porque tudo é inventado" (Rubem Alves, O Quarto do Mistério, pp.145-146).

Temos, nesse texto, alusões ou intertextualidades ligadas a Valéry, Fuerbach, o Evangelho, Narciso e Guimarães Rosa.

133

Conclusão

Você acabou de ler seis capítulos que falam da utilização de recursos de linguagem, na composição do discurso argumentativo. E, neste momento, deve estar se perguntando:
"- Como terei condições, quando tiver escolhido uma tese de adesão inicial, de apresentá-la desenhada em metáfora? Como terei condições, quando for utilizar uma
técnica argumentativa ou trabalhar com os valores do outro, de pintar tudo isso com palavras sonoras ou com figuras de construção?"

Antes de responder, peço-lhe que se lembre do seu primeiro dia de auto-escola. Peço-lhe que se lembre de tudo aquilo que passou pela sua cabeça, depois dessa aula.
Aposto que você deve ter pensado: "- Como é possível alguém lembrar-se de tudo aquilo? Para fazer uma curva em uma esquina, tenho de pisar com o pé direito no pedal
do freio, suavemente, e virar o volante na direção da curva. Logo em seguida, tenho de pisar com o pé esquerdo no pedal da embreagem e engatar a segunda marcha.
Feita a curva, tenho de retornar o volante à posição original e acelerar em segunda marcha. Tudo isso junto é impossível!" Pois,

A Arte de Argumentar

hoje, você é capaz de fazer tudo isso junto, quase inconscientemente, uma vez que o hábito se encarregou de dar-lhe essa competência. A mesma coisa acontece com
a maioria das nossas ações diárias, depois que as incorporamos ao nosso cotidiano.

A resposta é, pois, a seguinte: com tempo e prática, você mesmo ficará surpreendido com a facilidade com que será capaz de argumentar, "desenhando e pintando com
as palavras".

Palavras Finais

Acredito que, depois de ter lido os vários capítulos deste pequeno livro, você terá condições de colocar suas idéias em prática no seu dia a dia, nas várias situações
em que tiver necessidade de motivar pessoas, vender uma idéia ou um produto, de fechar um negócio, ou simplesmente melhorar seu relacionamento pessoal. Aliás, é
importante que se tenha uma visão holística dos processos de argumentação. Afinal, o que eu desejo aos meus leitores é que eles entendam esses processos, não como
estratégias de varejo, mas como um programa de vida, um programa de qualidade de vida!

136

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139

Título A Arte de Argumentar Autor Antônio Suárez Abreu

Capa

Projeto Gráfico e Diagramação

Formato

Mancha

Tipologia

Papel

Número de Páginas

Fotolito

Impressão

Ricardo Assis

Anderson Massahito Nobara

13,5 x 21,0 cm

22,5 x 37,0 paicas

NewBaskervilie 11/15

Cartão Supremo 250 g/m2 (capa)

Pólen Soft 80 g/m2 (miolo)

140

Macincolor

Lis GráficaA BÍBLIA À MODA DA CASA

Paulo Neto

SEGUNDA EDIÇÃO REVISADA E AMPLIADA

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. (1 Coríntios
13,11)

A BÍBLIA À MODA DA CASA
"Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança" (1 Coríntios
13,11).
Desde pequeno impuseram-me a Bíblia, como a Pura "Palavra de Deus", o "Livro da Salvação", "A Pura Verdade"!
Onde o que não se pode explicar ou "questionar", era "Mistério da Fé"! Aceita, acata e não se discute!
Há de se convir que ao iniciar a leitura de "A Bíblia à Moda da Casa", de Paulo Neto, haja um choque muito grande, onde se põe em cheque tudo aquilo que me
passaram como intocável, inquestionável e até mesmo inteligível.
E então quando cheguei á "CONCLUSÃO", pág.101[1ª edição], e vi que os textos e notas que me balançaram, são realmente da Bíblia; não resisti, peguei a Bíblia
e fui conferir vários deles. E eles estão lá!
Às vezes, uns contradizendo outros. E só aí, entendi, que várias vezes me foi colocada parte de um texto Bíblico para justificar as "suas verdades", quando
no texto completo, encontramos a PURA VERDADE!
E como foram deturpando e mudando o sentido dos textos a seu bel prazer, com as diversas traduções, segundo as suas ideologias e interesses próprios! Desfigurando
totalmente ás vezes o sentido do texto original!
Paulo Neto, você foi muito abençoado em sua obra; porque ela abre nossos olhos para a pura Verdade de JESUS!
Ela nos mostra a Bíblia como ela é, um TESOURO!
É hora de separar o joio do trigo; a fuligem do ouro e retermos o VERDADEIRO TESOURO, que existe dentro Dela: O EVANGELHO DE JESUS CRISTO!
Se Deus nos deu o Livre Arbítrio, é para ser usado; e como seres racionais que somos, temos a obrigação SIM, de questionarmos e sanar todas as nossas dúvidas,
buscando nossa evolução Espiritual.
Paulo, você foi muito feliz e eficiente em suas colocações, de modo claro, lógico, objetivo e VERDADEIRO!
Muito obrigado por esta Grande Luz!
Que Deus te abençoe Paulo Neto!

Abraços!

Carlos Lima


ÍNDICE

Apresentação 7
Prefácio 9
Introdução 11
Considerações iniciais sobre a Bíblia 12
PARTE I: A BÍBLIA CATÓLICA
Antigo Testamento 22
Novo Testamento 63
Conclusão 74
PARTE II: A BÍBLIA PROTESTANTE
Antigo Testamento 78
Novo Testamento 104
Conclusão 119
PARTE III: A VISÃO ESPÍRITA DA BÍBLIA
Introdução 122
A Bíblia 122
A percepção do Mundo 124
Dilúvio Bíblico 125
Raça Adâmica 125
Gênese Mosaica – Os seis dias 127
Gênese Mosaica – O Paraíso Perdido 129
Da proibição de evocar os mortos 134
Deus 138
Manifestações Espirituais na Bíblia 139
A Reencarnação no Evangelho 142
Influência dos espíritos em nossas vidas 146
A Divindade de Jesus 150
Ressurreição 152
Conclusão 153
PARTE IV: CONCLUSÃO GERAL
Conclusão Geral 155

Referências Bibliografias: 157


AGRADECIMENTOS


À Professora
Maria de Lourdes Miranda
por, desde o primeiro momento, nos ter convencido a publicar este livro.

Ao Professor e escritor
José Reis Chaves
e aos amigos
Dr. João Frazão de Medeiros Lima
Hugo Alvarenga Novaes
pela criteriosa revisão gramatical.

Ao meu amigo
Alamar Régis de Carvalho
pelo esforço em ter publicado a primeira edição.

E aos amigos
César Augusto Caldeira e Raimundo Carvalho dos Santos representando todos os outros que, direta ou indiretamente, contribuíram para a conclusão desse livro.


DEDICAÇÃO


À minha esposa Rosana
e aos meus filhos Ana Luisa, Rebeca e João Pedro,
e aos meus outros filhos Felipe Lúcio, Tiago Lúcio,
Gabriel Luiz, Ana Paula e Raquel Luise
dedico este livro.


"Não creiais em coisa alguma pelo fato de vos mostrarem
o testemunho escrito de algum sábio antigo.
Não creiais em coisa alguma com base na autoridade
de mestres e sacerdotes.
Aquilo, porém, que se enquadrar na vossa razão e,
depois de minucioso estudo, for confirmado pela vossa experiência,
conduzindo ao vosso próprio bem e ao de todas as outras coisas vivas:
A isso aceitai como Verdade.
Por isso, pautai a vossa conduta".
(Gautama Buda, c. 500 a.C.)(1)


Uma doutrina só se revela justa quando está em harmonia com a razão.
(S. Tomás de Aquino, 1227-1274).


Não se deve aceitar qualquer idéia que nos vem dos livros,
da tradição, da autoridade da Igreja,
nenhuma deve ser aceita a não ser que resista a uma exame rigoroso.
(Descartes, 1596-1650).


Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão,
em todas as épocas da Humanidade.
(KARDEC, 1804-1869).


APRESENTAÇÃO
"A Bíblia à Moda da Casa" é, no gênero, uma das grandes obras lançadas no momento. Paulo da Silva Neto Sobrinho, sem dúvida um grande conhecedor da Bíblia,
aborda, com grande maestria, questões polêmicas dela como, por exemplo, as irregularidades nas suas traduções, bem como suas interpretações dogmáticas.
De fato, o autor coloca muita luz na elucidação de alguns textos, que, sob o pretexto do emprego da exegese e da hermenêutica, os teólogos e biblistas tradicionais
deturparam, procurando adaptá-los aos dogmas que foram sendo instituídos por eles, ao longo dos tempos, eliminando dos escritos sagrados o sentido que possuíam no
alvorecer do Cristianismo. Tanto é verdade isso, que foram muitas as divisões que começaram a surgir no seio cristão, com os chamados hereges, ou seja, grandes sábios
cristãos que, mesmo com o risco de se tornarem mártires com a morte nas fogueiras da Inquisição, levantaram sua voz contra os erros em que mergulhavam os teólogos
ortodoxos, poderosos, pois contavam com o apoio do poder civil.
Paulo da Silva Neto Sobrinho mostra-nos, assim, uma Bíblia cheia de rótulos, como se fosse uma mercadoria nas mãos de dirigentes religiosos mercenários, que
fazem dela não só um meio de vida, mas, também, um meio de explorar as pessoas, manipulando-as ao seu bel-prazer, daí o título do livro.
Como acontece com todos os setores culturais, os estudos bíblicos avançam constantemente. Conhece-se de Bíblia hoje muito mais do que se conhecia no Século
XIX. A valiosa contribuição da visão espírita da Bíblia, por exemplo, modificou em muito as interpretações dogmáticas, a ponto de se poder afirmar, sem receio de
se estar sendo temerário, que com a Teologia Espírita - racional, lógica e convincente -, existente hoje, criou-se uma verdadeira Escola Espírita Bíblica. Muitos
teólogos e dirigentes religiosos fazem vista grossa sobre isso, mas estamos diante de uma grande realidade, da qual não poderão fugir, mais hoje mais amanhã.
Muitos dogmas estão sendo esvaziados com o tempo. E muitos dirigentes religiosos não crêem neles, mas, por conveniência, e não por consciência, silenciam-se,
pois não querem complicações com os fiéis comandados por eles, nem com seus superiores hierárquicos, já que suas funções representam seu ganha-pão, motivo por que
isso, também, faz com que muitos resistam à descoberta dos erros em que se encontram.
Sem dúvida, trata-se de uma obra polêmica - o que soe acontecer, geralmente, com todas as grandes obras -, porquanto fere interesses teológicos eclesiásticos
seculares. Por isso, os estudiosos da Bíblia, não encabrestados mentalmente por seus dirigentes religiosos, e que não são deles fiéis caudatários, encontrarão na
leitura deste livro um lenitivo e um incentivo, para que continuem joeirando na Bíblia, separando o joio do trigo, e desvencilhando-se, assim, das interpolações
e cortes das traduções, caprichosamente feitas, com o objetivo de alterar-se o sentido de seus textos, que se desafinam com a teimosa visão tradicional dogmática,
não obstante o grande conhecimento que se tem dela, hoje, por parte de numerosos estudiosos liberais e independentes, isto é, não seguidores incondicionais e cegos
dos dogmas.
O que é lógico e racional é aceito normalmente, não necessitando, portanto, de uma imposição coativa. Mas os teólogos eram freqüentemente órfãos de idéias
sensatas. E isso acabou refletindo-se na Bíblia. E o estudioso moderno dela não pode deixar-se levar pelo pensamento bíblico dos teólogos medievais.
O autor mostra a sua tese de modo convicto e convincente, deixando, pois, o leitor preso ao desenrolar dos temas abordados. Não desmoraliza a Bíblia. Respeita-a
em toda a acepção da palavra, mas procura desdivinizá-la. Admite que ela tem uma mensagem de Deus para nós, porém não aceita que tudo nela seja oriundo de Deus,
mas separa o que é certo do que é errado. Podemos dizer que ela é a palavra de Deus para nós, sim, mas não no sentido de que ela foi escrita ou ditada diretamente
por Deus, pois foi escrita por homens. Assim, somente podemos dizer que ela é a palavra de Deus para nós, na acepção de que ela contém mensagens divinas para nós,
mormente o Novo Testamento, cujo conteúdo nos mostra que Deus é amor, e que somente através da prática do amor, nós nos tornaremos semelhantes a Ele, bem como somente
através do amor, igualmente, nos aproximaremos da sua perfeição, um dia.
Enfim, podemos dizer que, com esta magnífica obra, o seu autor derruba um mito ainda muito em voga em certos meios religiosos ocidentais, ou seja, a bibliolatria.

José Reis Chaves
Escritor

PREFÁCIO
A Bíblia como ela não é

Nos anos 70, o escritor Terça-feira Lobsang Rampa, pseudônimo de um médico inglês que se dizia a encarnação de um monge tibetano, fez bastante sucesso com
uma série de livros em que apresentava conceitos científico-filosófico-religiosos bastante interessantes ao ponto de mobilizar a opinião pública. Se hoje seus ensinamentos
– que Rampa considerava verdadeiros (e compete-nos a todos analisá-los fria e profundamente para chegar a essa conclusão) – estão esquecidos, é que grande parte
do mundo ocidental se pauta, lamentavelmente, por critérios materialistas que bem pouco ajudam no entendimento dos temas próprios da espiritualidade.
Um desses conceitos defendidos "cientificamente" por Lobsang Rampa é justamente a reencarnação, princípio que muitos se recusam a aceitar, principalmente
os religiosos sistemáticos, sob o argumento de que certas passagens bíblicas apontam para rumo contrário a esse entendimento. "Ao homem foi ordenado morrer uma só
vez", dizem, sem atentar para o fato de que, apesar da ordem de morrer uma única vez, é forçoso também renascermos tantas vezes sejam necessárias ao nosso aperfeiçoamento
espiritual. Mas é uma questão de tempo até todos estarmos de acordo em relação a esse ponto.
Voltemos a Rampa, que em seu livro Luz de Vela (Record, 1973, 6ª ed.) diz textualmente: "Cristo também ensinava a reencarnação e, se as pessoas que lêem
a Bíblia a lessem de espírito esclarecido (grifo nosso), entenderiam todas essas coisas". Muitos outros autores, leigos ou não, têm dito a mesma coisa, mas citamos
Rampa justamente porque em sua obra ele, sem ser espírita, toca num aspecto há muito martelado pelos estudiosos do Espiritismo, para o qual os religiosos sistemáticos
fecham olhos e ouvidos: o da sucessiva transliteração do chamado "livro sagrado" ao longo dos tempos, atendendo a interesses de grupos poderosos em detrimento do
ensino da Verdade.
No mesmo trecho de seu livro citado, Lobsang Rampa pondera: "Também deviam levar em consideração o fato positivo de que a Bíblia agora não é como originariamente,
nem era para ser. A Bíblia foi traduzida, retraduzida, mal traduzida, refeita e publicada em milhares de edições". Cegas e surdas aos apelos esclarecedores, as pessoas
se deixam levar pela fantasia criada por quem as quer no caminho do atraso e da ignorância e, qual rebanho sem condutor firme, seguem quem está à frente em direção
ao abismo. "A Bíblia", diz Rampa, "deveria ser considerada uma declaração geral de política e não um relato detalhado do que aconteceu. É um livro bastante bom,
mas a pessoa tem de usar o bom senso ao ler um livro que é tão velho e tão diferente, em concepção, do que foi planejado originariamente".
Se Lobsang Rampa não serve aos propósitos de esclarecimento, pelo peso religioso (ou místico, diriam alguns) de seus escritos, observemos os leigos. A revista
Superinteressante (Ed. Abril) de agosto de 2000, em reportagem intitulada "A doutrina do deserto", sobre os essênios, trata do trabalho do pesquisador húngaro Edmond
Szekely, que em 1923 obteve permissão para revolver os arquivos secretos do Vaticano. Szekely "estava à procura de livros que teriam influenciado São Francisco de
Assis. Curioso e encantado, vagou pelos mais de 40 quilômetros de estantes com pergaminhos e papiros milenares. Viu evangelhos nunca publicados e manuscritos originais
de muitos santos e apóstolos, condenados a permanecer escondidos para sempre". Suponhamos que tais documentos tenham feito parte, algum dia, da Bíblia original...
A mesma reportagem cita ainda a alegria do reverendo inglês Gideon Ouseley, que em fins do século XIX (1880, mais exatamente) encontrou num monastério budista
da Índia um manuscrito chamado O evangelho dos doze santos, escrito em aramaico – a língua que Jesus falava. "Ouseley ficou eufórico e saiu espalhando que tinha
descoberto o verdadeiro Novo Testamento. Afirmava que a Bíblia estava incorreta, pois Jesus era um essênio que defendia a reencarnação e o vegetarianismo". Sem defender
a informação acerca do envolvimento de Jesus com os essênios, seita judaica existente ao tempo do Messias, é bom frisarmos que, conforme o artigo, o reverendo pagou
um preço muito alto por sua descoberta: em plena era vitoriana, suas palavras desagradaram os conservadores e estes atearam fogo em sua casa, destruindo o original
daquele "evangelho".
Tudo isso mostra a dificuldade em se jogar luzes sobre a Verdade, o que o Espiritismo tem por missão realizar.
Eis aqui, pois, uma colaboração ao entendimento de temas religiosos dos mais necessários. A compreensão que se espera ter da Bíblia é pré-requisito indispensável
nos questionamentos feitos no âmbito dos grupos de estudo espíritas, nos quais parte dos freqüentadores é oriunda ou influenciada pelos conceitos gerados nos grupamentos
católico e protestante e, por isso, ainda condicionados a uma visão peculiar a respeito do chamado livro sagrado.
Escrita de maneira notavelmente didática, esta obra de Paulo da Silva Neto Sobrinho – fruto do esforço desenvolvido sob a inspiração do Alto, acreditamos,
tal a simplicidade que ele conseguiu imprimir em seu trabalho – em muito contribuirá para a leitura e entendimento da Bíblia de maneira desapaixonada, mas presa
ao amor da busca pela verdade que anima o estudioso consciente de suas responsabilidades e da importância do trabalho que tem a desempenhar.

Francisco Muniz

INTRODUÇÃO
Temos observado um sistemático combate à Doutrina Espírita, fato que não vemos nenhuma razão de ser, pois nós não combatemos a qualquer uma das religiões
organizadas. Nutrimos por todas um sentimento de fraternidade, o que não quer, necessariamente, dizer que não possamos nos defender dos ataques daqueles que ainda
não conseguiram perceber o que se quer dizer ser cristão.
Partindo de que não devemos fazer aos outros aquilo que não queremos que os outros nos façam, como nos assevera Jesus, todos nós poderíamos muito bem viver
em harmonia, mesmo cada um de nós tendo a sua própria crença religiosa.
Nunca poderemos nos esquecer de que Jesus somente era enérgico com a hipocrisia dos fariseus, assim como os discípulos não podem ser superiores ao Mestre;
concluímos, então, que deveriam se calar, procurando seguir o exemplo Daquele que é, para nós, o Guia e Modelo.
Por outro lado, como disse Kardec, o Espiritismo não veio para aqueles que já possuem uma crença, mas para os que não a possuem; então podem ficar despreocupados
porque não estamos querendo atrair para o nosso lado fiéis de outras religiões.
O estudo, que ora apresentamos, não tem por objetivo combater nenhuma religião, nem mesmo de converter quem quer que seja ao Espiritismo; apenas, e no nosso
pleno direito, defender a Doutrina Espírita dos ataques que vem sofrendo na mídia escrita, falada, televisiva e, modernamente, na era da informática, via Internet.
Muitos deles colocam-nos como seguidores de uma falsa doutrina, apresentando como base de seus argumentos a Bíblia Sagrada.
Percebemos, também, que ela, a Bíblia Sagrada, apesar de ser o livro mais editado, não é geralmente bem compreendida pelo grande público. Sua linguagem é,
na maioria das vezes, bastante obscura, não correspondendo ao que estamos acostumados a ler em nossa linguagem do dia-a-dia. No meio espírita é notório e quase completo
o desconhecimento da Bíblia, o que deixa muitos de nossos seguidores boquiabertos quanto aos argumentos bíblicos das outras correntes religiosas. Mas devem os Espíritas
estudar a Bíblia? Responderá, por nós, o próprio Kardec:
[...] As sociedades religiosas meditam as Escrituras. As sociedades espíritas devem fazer o mesmo e grande proveito tirarão daí para seu progresso, instituindo
conferências em que seja lido e comentado tudo o que diga respeito ao Espiritismo, pró ou contra. Dessa discussão, a que cada um dará o tributo de suas reflexões,
saem raios de luz que passam despercebidos numa leitura individual. (KARDEC, O Livro dos Médiuns, 1996, p. 440).
Assim, este estudo visa dar aos espíritas, e aos que, mesmo não sendo espírita, buscam somente a verdade, uma ligeira idéia do que contém este livro sagrado.
O grande erro dos nossos detratores é não conhecerem o aspecto científico da Doutrina, supondo que temos apenas a nossa parte filosófica. A parte religiosa
não a aceitam de maneira alguma, mas não é o nosso objetivo, neste estudo, mostrar este importante aspecto.
No mais, de antemão pedimos desculpas, se, em algum momento, estivermos sendo grosseiros, debitem isto a nossa própria falta de evolução espiritual, pois
ainda não conseguimos aplicar a frase de Jesus: "Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem".
Não vejam, neste estudo, uma demonstração de profundo conhecimento da Bíblia, não temos cultura suficiente para isto; são apenas algumas considerações pessoais
sem, contudo, querermos dizer, com isso, que tenhamos todo o cabedal necessário para tal.
Esperamos, sinceramente, que ele possa ser útil, em alguma coisa, aos que tiverem a paciência de lê-lo até o final.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A BÍBLIA
"O erro não se torna verdade por multiplica-se na crença de muitos, nem a verdade de torna erro por ninguém a ver...". (GANDHI).
"A crítica não conhece textos infalíveis; seu primeiro princípio é admitir a possibilidade de um erro no texto que estuda". (RENAN).
"O teólogo ortodoxo pode ser comparado a um pássaro na gaiola – qualquer movimento próprio lhe é proibido". (RENAN).
"É necessário recorrer-se aos que estudam desapaixonadamente com o único fim de procurar a verdade em seu benefício e do da humanidade, livrando-a das garras dos
espertalhões ou velhacos". (LETERRE)
A palavra Bíblia vem do grego (biblia = plural de biblion ou biblios = livro); portanto, é um conjunto de livros2. É considerado por judeus e cristãos como
um livro de inspiração divina, por isso o têm como um livro sagrado. A diferença entre os livros que compõem essas bíblias é que a dos últimos possui o Novo Testamento,
que foi acrescentado à dos primeiros.
Entre várias coisas que vimos a respeito da Bíblia, algumas delas chamaram-nos a atenção, como essa, por exemplo:
A Bíblia não foi escrita de uma só vez. Levou muito tempo, mais de mil anos. Começou em torno do ano 1250 antes de Cristo, e o ponto final só foi colocado cem anos
depois do nascimento de Jesus. Aliás, é muito difícil saber quando foi que começaram a escrever a Bíblia. Pois, antes de ser escrita, a Bíblia foi narrada e contada
nas rodas de conversa e nas celebrações do povo. E antes de ser narrada e contada, ela foi vivida por muitas gerações num esforço teimoso e fiel de colocar Deus
na vida e de organizar a vida de acordo com a justiça (Bíblia Sagrada, Vozes, 1982, p. 13). (grifo do original).
Embora, nessa explicação, possam estar querendo consertar a afirmativa de que a Bíblia levou mais de mil anos para ser escrita, a verdade é que a Bíblia somente
passou a ser um documento ESCRITO a partir do séc. VIII a. C:
.. Se tradições orais puderam existir desde as origens do povo de Israel (mas hoje tende-se mesmo a minimizar o papel da tradição oral), o assentamento por escrito
só começa provavelmente pelo séc. VIII a.C. (Bíblia de Jerusalém, 2002, p. 26).
.. sabemos agora que os livros da Bíblia mais antigos e suas famosas narrativas sobre a história israelita antiga foram primeiramente codificados e, em certos aspectos
fundamentais, escritos em lugar e tempo determinados: Jerusalém no século VII a. C. (FINKELSTEIN, I e SILBERMAN N. A., 2003, pp. 16-17).
Naturalmente, nenhum arqueólogo pode negar que a Bíblia contém lendas, personagens e fragmentos de história que remetem a épocas bem antigas. Mas os arqueólogos
podem mostrar que a Tora e a história deuteronomista trazem inequívocas marcas que atestam a qualidade de sua compilação inicial no século VII a.C. (FINKELSTEIN,
I e SILBERMAN N. A., 2003, p. 40).
Mas quem foi o autor dessa façanha de juntar tudo num livro só? Nas pesquisas que realizamos para descobri-lo, encontramos o seguinte:
Poucas pessoas sabem que a História da Bíblia é muito complexa. Durante muitos séculos, ela só existiu oralmente, e ia passando de boca em boca às gerações futuras.
Só na época de Salomão, ela começou a ser escrita, em parte.
Esdras, grande sábio judeu, que, cerca de 400 anos antes de Cristo, reconduziu da Babilônia para Jerusalém 1775 de seus compatriotas, restaurando a nação e a religião
judaicas, foi quem compilou a Bíblia no seu Velho Testamento, juntando tudo o que já havia sido escrito e escrevendo outras partes de acordo com o que se conservou
verbalmente entre os rabinos e os doutores israelitas. (CHAVES, J.R. A Face Oculta das Religiões, 2001, pp. 52-53).
Então, anteriormente, ela vinha sendo transmitida oralmente, de geração em geração, o que já demonstra quão frágil é o argumento de que ela é a palavra de
Deus, uma vez que, seguramente, passou por alterações, acréscimos por conta de quem a contou, omissões por falha de memória; enfim, sofreu toda a sorte de mudanças
em relação ao que se poderia ter como sendo o conto original.
A Bíblia não foi escrita no mesmo lugar, mas em muitos lugares e países diferentes. A maior parte do Antigo Testamento e do Novo Testamento foi escrita na Palestina,
a terra onde o povo vivia, por onde Jesus andou e onde nasceu a Igreja. Algumas partes do Antigo Testamento foram escritas na Babilônia, onde o povo viveu no cativeiro
no Século VI antes de Cristo. Outras partes foram escritas no Egito, para onde muita gente emigrou depois do cativeiro. O Novo Testamento tem partes que foram escritas
na Síria, na Ásia Menor, na Grécia e na Itália, onde havia muitas comunidades, fundadas ou visitadas pelo apóstolo São Paulo.
Ora, os costumes, a cultura, a religião, a situação econômica, social e política de todos estes povos deixaram marcas na Bíblia e tiveram a sua influência na maneira
de a Bíblia nos apresentar a mensagem de Deus aos homens. (Bíblia Sagrada, Vozes, 1982, p. 14).
Apesar de saberem que realmente outros povos influenciaram várias coisas que se encontram nela, mesmo assim tentam amenizar esse fato dizendo que ela é a mensagem
de Deus. Pobres coitados! Pensam que enganam a todo mundo. Néscios e pessoas que não são dadas a pesquisas pode até ser que acreditem nisso... Entretanto, os outros,
que, graças a Deus, não são poucos, certamente que não.
Uma dúvida intrigante: será que a Bíblia usada nos dias de hoje é a mesma que se usava antigamente? É melhor conferir para saber. Vejamos o que Josefo tem
a nos dizer:
.. Não pode haver, de resto, nada de mais certo do que os escritos autorizados entre nós, pois que eles não poderiam estar sujeitos a controvérsia alguma, porque
só se aprova o que os profetas escreveram há vários séculos, segundo a verdade pura, por inspiração e por movimento do espírito de Deus. Não temos pois receio de
ver entre nós um grande número de livros que se contradizem. Temos somente vinte e dois que compreendem tudo o que se passou, e que se refere a nós, desde o começo
do mundo até agora, e aos quais somos obrigados a prestar fé. Cinco são de Moisés, que refere tudo o que aconteceu até sua morte, durante perto de três mil anos
e a seqüência dos descendentes de Adão. Os profetas que sucederam a esse admirável legislador, escreveram em treze outros livros, tudo o que se passou depois de
sua morte até o reinado de Artaxerxes, filho de Xerxes, rei dos persas e os quatro outros livros, contêm hinos e cânticos feitos em louvor a Deus e preceitos para
os costumes. Escreveu-se também tudo o que se passou desde Artaxerxes até os nossos dias, mas como não se teve, como antes, uma seqüência de profetas não se lhes
dá o mesmo crédito, que aos outros livros de que acabo de falar e pelos quais temos tal respeito, que ninguém jamais foi tão atrevido para tentar tirar ou acrescentar,
ou mesmo modificar-lhes a mínima coisa. Nós os consideramos como divinos, chamamo-los assim: fazemos profissão de observá-los inviolavelmente e morrer com alegria
se for necessário, para prová-lo. ... (JOSEFO, F., 1990, p. 712).
Podemos retirar dessa informação que o Antigo Testamento, na melhor das hipóteses, só possuía vinte e dois livros, isso por volta de 37 a 103 a.C, período
em que viveu esse historiador. Entretanto, não é com esse número de livros que a encontramos nos tempos atuais, que mais que duplicaram em relação aos citados por
Josefo.
A Bíblia usada pelos Católicos possui 73 livros, assim distribuídos:
Antigo Testamento = 46 livros
Pentateuco: Gêneses, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Livros Históricos: Josué, Juízes, Rute, Samuel (I e II), Reis (I e II), Crônicas (I e II), Esdras, Neemias Tobias, Judite, Ester e Macabeus (I e II).
Livros Sapienciais: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico.
Livros proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias
e Malaquias.
Novo Testamento = 27 livros
Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
Atos dos Apóstolos
Epístolas: Romanos, Coríntios (I e II), Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Tessalonicenses (I e II), Timóteo (I e II), Tito, Filêmon, Hebreus, Tiago,
Pedro (I e II), João (I, II e III), Judas e
Apocalipse
A Bíblia usada pelos protestantes tem somente 66 livros; dela não constam os livros Tobias, Judite, Macabeus (I e II), Sabedoria, Eclesiástico e Baruc; isso
faz com que, para eles, o Antigo Testamento tenha 39 livros.
O que fica claro é que essa divergência entre os livros do Antigo Testamento faz com que ela exista, obviamente, na quantidade total de seus livros, porquanto
os livros do Novo Testamento são iguais nesses dois segmentos religiosos. Seguramente podemos aplicar aqui o pensamento de S. Jerônimo: "A verdade não pode existir
em coisas que divergem".
Nos seus textos se percebe que outros povos pagãos exerceram significativa influência sobre a cultura e, por conseqüência, sobre a prática religiosa do povo
hebreu, fato esse que, apesar de ser reconhecido por alguns, não lhe é dada a devida importância, uma vez que porá por terra a tão propalada inspiração divina dos
textos sagrados. Leiamos:
Já que as leis são feitas para serem aplicadas, era preciso adaptá-las às condições variáveis de cada ambiente e época. Isso explica que se encontrem, nos conjuntos
que vamos examinar, junto com elementos antigos, fórmulas ou disposições que testemunham preocupações novas. Por outro lado, nesta matéria, Israel foi necessariamente
tributário de seus vizinhos. Certas disposições do Código da Aliança ou do Deuteronômio se reencontram, com estranha semelhança, nos Códigos da Mesopotâmia, na coleção
das Leis assírias ou no código hitita. Não houve dependência alguma direta; esses contatos se explicam pela irradiação das legislações estrangeiras ou por um direito
consuetudinário que se tornou em parte o bem comum do antigo Oriente próximo. Além disso, logo após o Êxodo, a influência Cananéia se fez sentir fortemente na expressão
das leis e nas formas do culto.
E o direito de uma sociedade de pastores e de camponeses; e o interesse que demonstra pelos animais de carga, pelos trabalhos nos campos e na vinha, pelas casas,
leva a crer que a sedentarização já é fato consumado. É somente nessa época que Israel pode conhecer e praticar o direito consuetudinário no qual este Código se
inspira e que explica seus paralelos precisos com os Códigos da Mesopotâmia, mas o Código da Aliança é penetrado pelo espírito do javismo, muitas vezes em reação
contra a civilização de Canaã.
O código deuteronômio contém também prescrições alheias ao Código da Aliança e por vezes arcaicas, que provêm de fontes desconhecidas. (Bíblia de Jerusalém, 2002,
pp. 29-30).
Seria bem interessante sabermos o pensamento de Kardec sobre esse assunto, já que o codificador não deixou de mencioná-lo, ainda que de passagem:
A Bíblia, evidentemente, encerra fatos que a razão, desenvolvida pela Ciência, não poderia hoje aceitar e outros que parecem estranhos e derivam de costumes que
já não são os nossos. Mas, a par disso, haveria parcialidade em se não reconhecer que ela guarda grandes e belas coisas. A alegoria ocupa ali considerável espaço,
ocultando sob o seu véu sublimes verdades, que se patenteiam, desde que se desça ao âmago do pensamento, pois que logo desaparece o absurdo. (KARDEC, A Gênese, 1995,
p. 87).
Não rejeitemos, pois, a Gênese bíblica; ao contrário, estudemo-la, como se estuda a história da infância dos povos. Trata-se de uma época rica de alegorias, cujo
sentido oculto se deve pesquisar; que se devem comentar e explicar com o auxílio das luzes da razão e da Ciência. Fazendo, porém, ressaltar as suas belezas poéticas
e os seus ensinamentos velados pela forma imaginosa, cumpre se lhe apontem expressamente os erros, no próprio interesse da religião. Esta será muito mais respeitada,
quando esses erros deixarem de ser impostos à fé, como verdade, e Deus parecerá maior e mais poderoso, quando não lhe envolverem o nome em fatos de pura invenção.
(KARDEC, A Gênese, 1995, p. 246).
A esperteza da liderança religiosa faz uma lavagem cerebral tão bem feita em seus seguidores que eles, dessa forma encabrestados, não conseguem perceber
os reais interesses desses líderes em manter a Bíblia como de inspiração divina. De que outro modo eles poderiam dominar seus fiéis? Como lhes arrancar dinheiro
de forma fácil? Eis os dois motivos mais importantes pelos quais mantêm essa idéia! Por isso a interpretam à sua maneira ou, então, na maior cara-de-pau, adulteram
os seus textos.
Para que você, caro leitor, tenha uma idéia do que dizem a seus seguidores, leiamos o que colocam na introdução de suas Bíblias:
Católicos:
1 – Uma vez que as S. Escrituras foram inspiradas por Deus, não contêm erro algum, assim pois, qualquer interpretação que aceite um erro ou contradição entre passagens
bíblicas, não pode ser verdadeira.
2 – Uma vez que a Igreja recebeu a promessa de contar com a ajuda do Espírito Santo (Jo 14, 16), não se pode aceitar uma interpretação que seja contrária a alguma
de suas definições.
3 – Sendo a tradição parte integrante da revelação divina, não se pode admitir nenhuma interpretação que vá contra a opinião unânime dos Santos Padres ou Doutores
da Igreja primitiva.
(Bíblia Sagrada, Barsa, 1965).
Protestantes:
Aceite o sentido normal, natural e costumeiro das palavras. É assim que falamos e lemos outros tipos de literatura, e é assim que Deus pretendeu que fosse lida e
entendida a Sua Palavra.
Não fique tentado, todavia, a descobrir significados "profundos" ou a encontrar idéias ocultas que ninguém jamais percebeu! Não invente "mensagens" que não estão
no texto para justificar alguma idéia pessoal ou ação que planeje executar. No sentido normal do texto há farto material para que o Espírito Santo fale a você e
satisfaça suas necessidades espirituais. Além disso, quanto mais você estudar, tanto maior será o "reservatório" de verdades bíblicas acumuladas das quais o Espírito
pode Se valer para corrigi-lo, fortalecê-lo e guiá-lo.
(Bíblia Anotada, 1994).
Quando lemos essas "orientações" ficamos boquiabertos diante de tanta presunção desses líderes religiosos, pois, segundo dizem, só eles receberam de Deus
a iluminação para interpretar os textos bíblicos. Quem faz diferente daquilo que pregam está errado, ou, ao gosto deles, é um herético que age por influência de
satanás.
Preocupa-nos justamente esse ardil que usam para obliterar a inteligência dos fiéis; daí nos lançarmos nessa proposta de demonstrar que a Bíblia somente
é a palavra de Deus por conta dos interesses obscuros da liderança religiosa. O conhecimento humano em relação à cultura dos povos da antigüidade, através de pesquisas
históricas e arqueológicas, nos dá segurança para afirmar isso. Em relação à história, leiamos a opinião de Renan:
(...) A história é essencialmente desinteressada. O historiador só tem uma preocupação, a arte e a verdade (duas coisas inseparáveis – a arte guardando o segredo
das leis mais íntimas do verdadeiro). O teólogo tem um interesse, seu dogma. Reduza esse dogma tanto quanto queira: ele é ainda, para o artista e o crítico, de um
peso insuportável. O teólogo ortodoxo pode ser comparado a um pássaro na gaiola – qualquer movimento próprio lhe é proibido. (...) (RENAN, E., 2004, p. 22).
Podemos, para exemplificar essa questão dos fatos históricos, transcrever algo relatado por Leterre, quando aborda a questão de que os Dez Mandamentos já existiam
muito antes de Moisés:
Esses dez mandamentos já existiam na religião brâmane e se dividem em três espécies: [58]
1º Pecado do corpo
2º Pecado da palavra
3º Pecado da vontade
os quais se desmembram nos dez mandamentos pela seguinte forma:
NOS VEDAS
Do corpo:
I – Bater.........................
II – Matar seu semelhante....
III – Roubar......
IV – Violar mulheres.....
Da Palavra:
V – Ser falso (dissimulado)....
VI – Mentir..............
VII – Injuriar..............
Da Vontade:
VIII – Desejar o mal.....
IX – Cobiçar o bem alheio....

X – Não ter dó dos outros....
PARÓDIA DE MOISÉS

I – Pai e Mãe honrarás... (Avesta porta II)
II – Não matarás............
III – Não furtarás.............
IV – Não adulterarás..........

V – Não darás falso testemunho....
VI – Não mentirás...............
VII – Um só deus adorarás............

VIII – Não caluniarás..............
IX – Não cobiçarás a mulher de teu próximo, nem seus bens
X – amarás ao próximo como a ti próprio....[58] THEODORE ROBINSON – Introduction de l'histoire des Religions – p. 134.
(LETERRE, A., 2004, p. 59).
E, em relação à Gênese moisaica, Leterre também fala mais uma coisa, para nós, muito interessante; leiâmo-la:
Essa história da Gênese foi uma adaptação feita por Moisés, como todas de seu livro, da lenda do Zenda-Avesta, quando os persas andaram pela Mesopotâmia, 2.300 anos
antes daquele legislador, cujas doutrinas deixaram raízes aqui e ali. Eis essa lenda, segundo Marius Fontane, [199], extraída do Bundedesh, na última parte do Avesta:
"Orzmud, o Deus bom, colocou na terra o primeiro homem e a primeira mulher Meshia e Meshiahé, destinados a morrer como todos os seres criados. Prometeu-lhes constante
felicidade neste e no outro mundo, com a condição de o adorarem como sendo o Autor de todos os bens. Durante muito tempo o casal se conformou com isso, e suas palavras,
pensamentos e ações eram puros, e executavam santamente a vontade de Orzmud quando se aproximavam um do outro. Mas, um dia, o Deus do Mal, Arimã, apareceu-lhes sob
a pele de uma serpente, sua forma habitual, os enganou, pela habilidade de sua palavra, e fez-se adorar por ele, como sendo o princípio de tudo que era bom: desde
então suas almas foram condenadas ao inferno até a Ressurreição. A vida tornou-se-lhes cheia de penas e sofrimentos; tiveram frio, fome e sede, e, aproveitando-se
dos seus tormentos, um demônio veio, e lhes trouxe uma fruta, sobre a qual eles se atiraram sedentos. Foi a segunda fraqueza, em conseqüência da qual seus males
dobraram. Sobre cem prazeres anteriores só lhes restou um. Caminhando, então, de tentação em tentação, de queda em queda, joguetes dos demônios e da miséria, só
conseguindo prover a existência à força de invenção e de fadigas, eles esqueceram-se de se unirem durante 50 anos, e Meshia só concebeu após esse lapso de tempo".
(LETERRE, A., 2004, p. 167).
Assim, fica evidenciado que muita coisa da Bíblia não é nada mais nada menos do que cópia de outras culturas, algumas vezes ligeiramente alteradas, mas permanecendo
no fundo o mesmo sentido.
Por outro lado, temos também como proposta de trabalho o restabelecimento da verdade. Confusos ficam nossos detratores, pois não entendem porque, mesmo sem
aceitar a Bíblia como sendo a palavra de Deus, nós a utilizamos para defender alguns de nossos princípios. É fácil justificar: "não faça de sua Bíblia uma arma;
a vítima pode ser você". Se a usam para nos atacar, nos dão o direito de também usá-la para nos defendermos; senão onde estará a justiça? Entretanto, nem mesmo precisaríamos
disso, pois, em verdade, esses princípios, por serem de ordem natural, torna desnecessário o apoio da Bíblia, já que lá constam fatos religiosos e não fatos naturais.
Fazemos nossas estas palavras de Renan:
Eu escrevo para propor minhas idéias aos que buscam a verdade. Quanto às pessoas que necessitam, no interesse de sua crença, que eu seja um ignorante, um espírito
falso ou um homem de má-fé, não tenho a pretensão de modificar seus julgamentos. Se essa opinião é necessária ao sossego de algumas pessoas piedosas, terei o maior
escrúpulo de desiludi-las. (RENAN, E., 2004, p. 18).
E mais à frente, neste mesmo livro, explicando a diferença entre um crítico e um teólogo, diz:
O teólogo, sempre sistemático, quer que uma única explicação se aplique do começo ao fim da Bíblia; o crítico acredita que todas as explicações devam ser tentadas,
ou melhor, que se deva mostrar sucessivamente a possibilidade de cada uma delas. (p. 32).
Não poderemos deixar de também citar um filófoso nascido nos meados do século XVII, chamado Baruch Espinosa. Em seu livro Tratado Teológico-Político no capítulo
VII ele trata especificamente do assunto Da Interpretação da Escritura, onde diz:
Toda a gente diz que a Sagrada Escritura é a palavra de Deus que ensina aos homens a verdadeira beatitude ou caminho da salvação: na prática, porém, o que se verifica
é completamente diferente. Não há, com efeito, nada com que o vulgo pareça estar menos preocupado do que em viver segundo os ensinamentos da Sagrada Escritura. É
ver como andam quase todos fazendo passar por palavra de Deus as suas próprias invenções e não procuram outra coisa que não seja, a pretexto da religião, coagir
os outros para que pensem como eles. Boa parte, inclusive, dos teólogos está preocupada é em saber como estorquir dos Livros Sagrados as suas próprias fantasias
e arbitrariedades, corroborando-as com a autoridade divina. (ESPINOSA, 2003, p. 114).
É tão atual esse pensamento de Espinosa que, se não dissermos de quem é, poderá ser tomado por algo dito nos dias de hoje.
Para ver o que acha um pensador mais atual, citaremos Andrés Torres Queiruga, que disse:
Uma Bíblia "ditada" por Deus não "copiaria" textos de outras religiões, como aparece nas narrativas da criação e do dilúvio, em muitos salmos, em toda a tradição
sapiencial e mesmo no fenômeno profético; nem levaria em todas e cada uma de suas páginas as marcas e feridas do trabalho humano, com avanços e retrocessos, intuições
refulgentes e caídas na obscuridade. (QUEIRUGA, 2004, p. 103)
Diante disso tudo que acabamos de colocar, vamos agora fazer uma análise de alguns textos bíblicos, separando os de origem católica e os de origem protestante.
Para essa nova edição adquirimos o livro Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e "Contradições" da Bíblia, dos autores Normam Geisler e Thomas Howe, que em nada
mudou a nossa opinião, uma vez que percebemos que muitas das "soluções" apresentadas são falaciosas e sem a necessária consistência. Vejamos esses exemplos:
1º - MATEUS 2:23 - Mateus não errou quando citou uma profecia não encontrada no AT?
PROBLEMA: Mateus afirma que Jesus mudou-se para Nazaré, para "que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno" (Mt 2:23).
Entretanto, tal profecia não é encontrada em nenhum profeta do AT. Será que Mateus cometeu um erro?
SOLUÇÃO: Mateus não disse que algum "profeta" (no singular) do AT tenha afirmado isso. Ele simplesmente afirmou que "profetas" (no plural) que viveram no AT predisseram
que Jesus seria chamado Nazareno. Dessa forma, não há por que acharmos que devemos encontrar um versículo nesse sentido; devemos simplesmente considerar como sendo
a afirmação de Mateus uma verdade geral, que pode ser encontrada em muitos profetas, no que corresponde ao tipo característico do nazareno. Há várias sugestões de
como Jesus teria "cumprido" (realizado) essa verdade.
Alguns apontam para o fato de que Jesus cumpriu todos os requisitos de justiça da Lei do AT (Mt 5:17-18; Rm 8:3-4), da qual uma parte envolvia o santo compromisso
feito no voto de "Nazireu". Esse voto era para "consagrar-se para o Senhor" (Nm 6:2), e Jesus cumpriu isso perfeitamente. Entretanto, a palavra é diferente tanto
no hebraico como no grego, e Jesus nunca fez esse voto em particular.
Outros apontam para o fato de que Nazaré provém da palavra básica netzer (renovo). E muitos profetas falaram do Messias como sendo o "Renovo" (cf. Is 11:1; Jr 23:5;
33:15; Zc 3:8; 6:12).
Ainda outros observam que a cidade de Nazaré, onde Jesus viveu, era um lugar desprezado, "fora dos bons caminhos". Isso ficou evidente na resposta de Natanael: "De
Nazaré pode sair alguma coisa boa?" (Jo 1:46). Considerando isso, "Nazareno" era um termo de desprezo apropriado ao Messias, a respeito de quem os profetas haviam
predito que seria "desprezado e o mais rejeitado entre os homens" (Is 53:3; cf. SI 22:6; Dn 9:26; Zc 12:10). (p. 336).
Não saindo daquilo que consta do texto, vemos que Mateus afirma que a profecia fora dita por intermédio dos profetas; é evidente que embora não precise a quantidade,
ele admite que é mais de um; essa que é a verdade. Mas que nos apontem um só profeta que tenha dito que o Messias seria chamado de "Nazareno" e concordaremos que
não há contradição no presente texto bíblico, uma vez que essa argumentação toda objetiva desviar o leitor dessa insofismável verdade. Essa passagem desmente o fato
de que a Bíblia seja um livro completo, fechado, que contenha todas as verdades, pois se fosse mesmo de inspiração divina, forçoso seria encontrar no AT absolutamente
todas as referências e profecias citadas n o NT, o que não ocorre.
2º - MATEUS 8:28-23(cf. Mc 5:1-20; Lc 8:26-39) – Quantos endemoninhados foram libertados?
PROBLEMA: Mateus relata que dois endemoninhados foram até Jesus, ao passo que Marcos e Lucas dizem que um endemoninhado aproximou-se dele. Não se trata de uma contradição?
SOLUÇÃO: Há uma lei matemática fundamental que reconcilia essa aparente contradição – onde há dois, sempre há um. Não há exceções! Foram de fato dois endemoninhados
que se aproximaram de Jesus. Talvez Marco e Lucas tenham mencionado apenas um porque um deles tenha se feito notar mais, ou tenha se destacado por alguma razão.
Entretanto, o fato de Marcos e Lucas mencionarem apenas um, não nega que tenham sido dois, como Mateus disse, porque onde quer que haja dois, sempre há um. Isso
é inevitável. Se Marcos e Lucas tivessem dito que havia apenas um, então isso seria uma contradição. Mas a palavra "apenas" não está no texto. O crítico tem de alterar
o texto para torná-lo contraditório, e nesse caso o problema não se acha na Bíblia mas no crítico. (p. 346).
Essa "lei matemática" de que onde há dois, sempre há um é fantástica, não? Entretanto, não estamos falando de matemática, mas de um relato de algo acontecido,
e aqui ou foram dois endemoninhados ou foi um, com o "apenas" ou não; não há como fugir dessa realidade. Se, por exemplo, as testemunhas estivessem falando de um
crime cometido, uma delas dissesse que foram dois os que mataram uma pessoa e duas outras afirmassem que foi um, como encaixar, nessa situação, a matemática citada
pelos que tentam salvar a Bíblia das contradições de seus textos? Certamente que qualquer pessoa de bom senso dirá que alguém estava mentindo nessa história. O juiz
teria que buscar informações para definir o impasse, de forma que somente fosse condenado quem realmente havia praticado o crime. Marcos e Lucas afirmam que foi
um, entretanto, no caso aqui enfocado, poderemos ficar com o testemunho de Mateus, porque, tendo ele sido um dos doze discípulos de Jesus, provavelmente foi uma
testemunha ocular. Logo, o testemunho de Marco e Lucas, comparado ao de Mateus, poderia ser considerado com certa reserva, porque foram na base do "ouvi dizer",
portanto sem nenhuma inspiração divina. Conhecemos também uma outra "lei matemática" segundo a qual onde há um não pode haver, ao mesmo tempo, dois. Existe ainda
uma "lei da física" que diz que "dois corpos não ocupam o mesmo espaço". Parece afinar com a "lei matemática" a pouco citada, assim como invalida a retórica invocada
pelo "Manual".
3º - Mateus 27:5 (cf. At 1:18) – Judas morreu enforcando-se ou foi por ter caído em rochas?
PROBLEMA: Mateus declara que Judas enforcou-se. Entretanto, o livro de Atos diz que ele caiu e que o seu corpo abriu-se.
SOLUÇÃO: Esses relatos não são contraditórios, mas mutuamente complementares. Judas enforcou-se assim como Mateus afirma que ele fez. O relato de Atos apenas acrescenta
que Judas caiu, e o seu corpo rompeu-se pelo meio, e suas entranhas se derramaram. Isso é exatamente o que seria de se esperar que acontecesse com quem se enforcasse
numa árvore sobre um penhasco de rochas pontudas e sobre elas caísse. (p. 370)
Vejamos a narrativa de At 1,18 pelas Bíblias:
Novo Mundo: ... comprou um campo com o salário da injustiça, e, jogando-se de cabeça para baixo, rebentou ruidosamente pelo meio e se derramaram todos os seus
intestinos.
Mundo Cristão: ... adquiriu um campo com o preço da iniqüidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram.
Bíblia de Jerusalém: ... adquiriu um terreno com o salário da iniquidade e, caindo de cabeça para baixo, arrebentou pelo meio, derramando-se todas as suas
entranhas.
Em todas as situações fica evidente a ação de Judas em lançar-se num abismo, ação que não poderia ocorrer se, após o suicídio por enforcamento, o seu corpo
caísse no abismo, uma vez que corresponderia a dois acontecimentos seqüenciais e distintos, onde ação do sujeito não poderia acontecer no último caso. Mas vejamos
o que os tradutores da Bíblia de Jerusalém dizem sobre isso:
Esta apresentação da morte de Judas difere da apresentada por Mt 27,3-10. Ele também não morre enforcado como Aquitofel (2Sm 17,23) mas por uma queda (?), como os
ímpios de Sb 4,19, e por derramamento das entranhas, como numerosos criminosos das lendas folclóricas. (p. 1901)
Admitem, honestamente, os tradutores que há uma outra versão para a morte de Judas; não tentam explicar o inexplicável. Aqui é tão evidente a contradição
que os defensores da inerrância bíblica nem ao menos perceberam que nesse passo há também duas versões para a compra do campo. Mateus menciona que Judas teria devolvido
as trinta moedas, atirando-as dentro do santuário, que recolhidas pelos sacerdotes foram, por deliberação, destinadas à compra do campo do oleiro, para servir de
cemitério aos estrangeiros (27,3-10). Mas há algo contraditório aqui, pois em Atos (1,18) se diz que o próprio Judas teria comprado o campo.
Ficam aí evidenciadas algumas falácias do livro que citamos.


PARTE I: A BÍBLIA CATÓLICA

COMENTÁRIOS SOBRE ALGUNS TEXTOS DA BÍBLIA CATÓLICA
ANTIGO TESTAMENTO
Gênesis 1,3-5: Deus disse: "Faça-se a luz!" E a luz se fez. Deus viu que a luz era boa. Deus separou a luz das trevas. E à luz Deus chamou "dia", às trevas
chamou "noite". Fez-se tarde e veio a manhã: o primeiro dia.
A luz é uma criação de Deus, as trevas não o são: elas são negação. A criação da luz é relatada em primeiro lugar porque a sucessão dos dias e das noites
será o quadro em que se desenvolverá a obra criadora.
Gênesis 1,16-19: Deus fez os dois grandes luzeiros: o luzeiro maior para governar o dia e o luzeiro menor para governar a noite, e as estrelas. Deus os colocou
no firmamento do céu para alumiar a terra, governar o dia e a noite e separar a luz das trevas. E Deus viu que era bom. Fez-se tarde e veio a manhã: o quarto dia.
Comentários: Deus cria no primeiro dia a luz, já no quarto dia, cria o Sol, a Lua e as estrelas, entretanto se, por hipótese, apagarmos estes últimos, ficaremos
na mais completa escuridão. Que luz é, pois, essa criada no primeiro dia? Já ouvimos explicações de que a luz do quarto dia foi para substituir a luz do primeiro
dia. Ora, se Deus viu que a luz era boa, não haveria a necessidade de criar outra, situação absurda, pois negaria a imutabilidade das leis divinas. Os que querem
pegar todas as narrativas bíblicas no sentido literal, não têm como fugir desta contradição, mas se a vermos no sentido figurado, até poderemos concordar com elas.
Não podemos afirmar como sendo verdadeiras, mas temos, por hipótese, que a visão da criação do mundo aconteceu com alguém sendo enviado em espírito, ao passado,
como João, no Apocalipse, foi enviado ao futuro, devendo estar no meio dos acontecimentos. No início, na Terra, deveria ser uma escuridão total, com nuvens negras
e espessas, como um vulcão que entra em erupção, espalhando nuvens de cinzas para todos os lados, não se podendo perceber luz alguma; entretanto, com o passar dos
séculos, essas nuvens foram se tornando cada vez mais rarefeitas, até que, num determinado momento, deu para se enxergar a luz. Assim, para o narrador, seria o primeiro
dia, devendo-se entender por dia um período de tempo, sem que se pudesse ver o Sol, a Lua e as estrelas, que só puderam ser vistos no quarto dia (período), quando
aquelas nuvens já haviam sido dissipadas. Poderia ser uma explicação mais lógica e razoável, sem necessidade de se buscar uma solução mirabolante para justificar
esta aparente contradição.
Gênesis 1,6: Deus disse: "Haja um firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas", e assim se fez.
A "abóbada" aparente do céu era para os antigos semitas uma cúpula sólida, mas também uma tenda armada, retendo as águas superiores por suas aberturas; por
elas Deus faz vir sobre a terra a chuva e a neve e faz também o dilúvio, 7,11.
Comentários: Os homens, vendo as águas das chuvas caírem do céu, imaginaram que nele deveria haver um reservatório de água. Por isso, supunham que o firmamento
(derivado de firme), deveria ser feito de material sólido. É perfeitamente aceitável, já que eles não tinham o menor conhecimento do ciclo de evaporação da água.
Portanto, é fruto de concepção humana essa narrativa, o que nos leva, desde o início, a questionar quanto a Bíblia ser, capa a capa, totalmente de inspiração divina.
Gênesis 1,26-28: Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais
domésticos e todos os animais selvagens e todos os répteis que se arrastam sobre a terra". Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, macho e fêmea
ele os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: "sede fecundos e multiplicai-vos, enchei e subjugai a terra! Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu
sobre tudo que vive e se move sobre a terra".
O homem é o ápice da criação: Deus delibera consigo mesmo quando decide criá-lo semelhante a si. Esta semelhança verifica-se primeiramente quanto à inteligência
e vontade, que o tornam capaz de relacionar-se com Deus. Mostra-se também no domínio que Deus lhe concede em relação ao resto da criação.
Comentários: Se está dito "façamos" devemos supor que Deus não estava sozinho, quando tomou essa decisão de criar o homem. Mas, como iremos ver adiante,
segundo a concepção daquela época, Deus possuía uma corte. Quanto ao domínio do resto da criação, ao que tudo indica, não foi sobre toda ela, pois existem animais
que o homem não conseguiu ter sobre eles domínio algum, os animais ferozes, por exemplo. Será que alguma coisa saiu errada?
Gênesis 2,9: E o Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e saborosas ao paladar, a árvore da vida no meio do jardim e a
árvore do conhecimento do bem e do mal.
A árvore da vida é um antigo símbolo mítico da imortalidade, conhecido no Oriente Médio (Pr. 3,18). O autor sagrado identifica "a árvore do conhecimento do
bem e do mal" que "está no meio do jardim" e cujos frutos são proibidos, com a árvore da vida ou da juventude perene.
Gênesis 3,1: A serpente era o mais astuto dos animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: "É verdade que Deus vos disse 'não comais
de nenhuma das árvores do jardim'"?
A serpente, símbolo da fertilidade em Canaã e de força política no Egito, é a usurpadora da árvore da imortalidade na epopéia babilônica de Guilgames. Aqui
é uma criatura como as outras, apenas mais astuta, que significa o demônio.
Comentários: Observamos que, realmente, foram tirados vários símbolos da mitologia de outros povos; daí ser difícil aceitar tudo como sendo verdade. Temos
de convir que a idéia que os homens faziam das coisas, muitas vezes, foi passada como verdade; entretanto, com a própria evolução destes povos ao longo do tempo,
muitas coisas nas quais acreditavam antes, passaram a não mais acreditar. A verdade do homem pode ser transitória, perfeitamente aceitável, mas a verdade que vem
de Deus deve ser imutável, a não ser que ele não tenha sido perfeito em tudo o que fez ou criou. Mais adiante iremos ver que a idéia de demônio, como sendo um ser
mau, não possuía o conceito que querem impor à figura da "serpente", e como viviam no meio de variadas crenças mitológicas, é bem provável que o significado fosse
outro, ao invés desse. Hoje, inclusive, temos alguns adversários da VERDADE, que colocam a serpente como médium do demônio. É o cúmulo, pois isso denota a mais completa
ignorância, já que a mediunidade é uma faculdade exclusiva de seres humanos. Vai aí a dica para nossos detratores que, certamente, não sabiam disso.
Gênesis 2,20-24: E o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens. Mas entre todos eles não havia para o
homem uma auxiliar que lhe correspondesse. Então o Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre o homem e ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar
com carne. Depois, da costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou ao homem. E o homem exclamou: "Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne
da minha carne! Chamar-se-á 'mulher' porque foi tirada do homem". Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher e se tornarão uma só carne.
Osso dos meus ossos: expressão que indica parentesco ou identidade de natureza. Esta última se exprime também pelo nome que o homem (ich) dá à mulher (ichá).
É o amor conjugal entre o homem e a mulher que dá origem à comunidade humana.
Comentários: Em Gn 1,27, lemos: "Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, macho e fêmea ele os criou", condizente com os relatos da criação
dos animais, ou seja, foram criados machos e fêmeas. Assim, o mais provável é que prepararam aí um texto para justificar, como se fosse vontade Divina, o domínio
do homem sobre a mulher. Isto é muito evidente. Primeiro, por não ter sido criada antes do homem; segundo, o vir dele equivaleria dizer que, até para ser criada,
a mulher foi dependente do homem. É muito interessante a forma como o nono mandamento é sempre dito: "Não desejeis a mulher do vosso próximo"; como se nota, é um
mandamento para homem, pois naquela sociedade machista a mulher não tinha vez. Por isso não poderia conter nenhuma alusão a ela nos mandamentos. Se dizem que a Bíblia
é verdadeira, como explicar essa discriminação contra a mulher? Vemos que a própria sociedade, hoje em dia, tenta promover a igualdade entre homens e mulheres; estaria
ficando ela melhor que Deus?
Gênesis 3,24: Tendo expulso o homem, colocou diante do jardim do Éden os querubins com o cintilar da espada fulgurante, para guardar o caminho da árvore
da vida.
Querubins são seres da mitologia babilônica, metade homens e metade animais, guardas dos portais de templos e palácios. Aqui significam ministros de Deus.
O "cintilar da espada" são os raios, símbolo da ira de Deus. Os querubins eram seres mistos, representados com rosto humano e corpo de leão ou touro ou outros quadrúpedes
com asas, vindo portanto a ser uma espécie de esfinge.
Comentários: É de se estranhar que Deus tenha mandado guardar o jardim do Éden, usando para isso seres mitológicos. Será que Deus tomou emprestado esses
seres de outros deuses? E os seus anjos? Novamente observamos que conceitos são retirados da mitologia e incluídos na Bíblia, passando ela, assim, a refletir o pensamento
dos homens acerca de uma realidade espiritual, da qual não tinham o mínimo conhecimento. Mas, aos que ainda insistirem em dizer que querubins são realmente anjos,
seremos forçados a argumentar que, se assim for, teremos que admitir que Deus os utilizava como montaria, fato que se pode comprovar pelo Sl 18,10-11 (= 2Sm 22,10-11):
"Ele inclinou o céu e desceu, calcando aos pés escuras nuvens, cavalgou sobre um querubim e voou, planando nas asas do vento".
Gênesis 4,13-14: Caim disse ao Senhor: "O castigo é grande demais para suportá-lo. Eis que hoje me expulsas da face deste solo fértil e devo ocultar-me diante
de teu rosto. Quando estiver fugindo e vagueando pela terra, quem me encontrar, matar-me-á".
Caim teme a vingança a que tinha direito o parente mais próximo da vítima, pela lei do talião, direito aqui limitado por Deus.
Comentários: Não dá para entender, pois se somente mais tarde é que é passada a Lei do Talião (Ex 21,23-25), ou seja, depois que Moisés recebeu os Dez Mandamentos.
Como, pois, Caim poderia temer essa Lei, se ele não a conhecia? E, além do mais, depois que ele matou a seu irmão Abel, somente restaram Adão e Eva, seus pais; sendo
assim, não poderia encontrar mais ninguém. Então por que o receio de alguém o matar?
Gênesis 6,1-4: Quando os homens começaram a multiplicar-se na terra e tiveram filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram bonitas, escolheram
para mulher as que entre elas mais lhes agradavam. ...Havia então gigantes na terra e mesmo depois que os filhos de Deus se uniram com as filhas dos homens e lhes
geraram filhos. São eles os heróis famosos dos tempos antigos.
Alusão a uma explicação mitológica da origem de uma legendária raça de gigantes, aqui utilizada para mostrar a corrupção crescente da humanidade, em vista
do relato do dilúvio. Os "filhos de Deus" poderiam ser os descendentes de Set, e "as filhas dos homens", descendentes de Caim.
Daniel 3,25: O rei prosseguiu: "Mas estou vendo quatro homens passearem livremente no meio do fogo, sem que tenham sofrido qualquer dano, e o aspecto do
quarto homem é o de um filho de deuses".
Filho de deuses: um ente celeste ou anjo, como diz expressamente o v. 28.
Comentários: Como a realidade da época era: vários deuses e deusas que, em contato sexual com os seres humanos, geravam semideuses, ou seja, filhos de deuses.
Não poderia ser essa a explicação mais provável? Não se fala que eles são os heróis famosos dos tempos antigos? No segundo texto, vemos que o rei achou que o quarto
homem era um filho de deuses, concordante com a cultura da época; mas, nas notas, querem lhe dar outro significado.
Gênesis 7,11: Noé tinha 600 anos, um mês e 17 dias de idade, quando irromperam todas as fontes do Oceano e se abriram as cataratas do céu.
Os antigos imaginavam que acima do firmamento, ou da abóbada do céu, feita de material sólido, estavam as águas a serem despejadas por ocasião das chuvas.
A terra estava fundada sobre colunas que atingiram o fundo do grande abismo, o Oceano subterrâneo. Este aparecia na superfície em forma de mares, lagos ou fontes.
Na hora do dilúvio, romperam-se todos os registros superiores e inferiores, ameaçando fazer voltar o caos primitivo.
Gênesis 7,19-20: As águas cresceram tanto sobre a terra que cobriram as montanhas mais altas que estão debaixo do céu. As águas subiram sete metros e meio
acima das montanhas.
O dilúvio não foi universal mas uma grande inundação que cobriu o horizonte geográfico de Noé. A existência de histórias do dilúvio em outros povos primitivos
mostra que há uma consciência geral sobre uma catástrofe que ameaçou a humanidade dos primórdios.
Comentários: Se estivéssemos diante da VERDADE, o conceito do Universo não seria o citado na primeira nota, a não ser que tenhamos Deus, sem Sua perfeição
e sabedoria. Bom, até que enfim alguém concorda que o dilúvio não foi universal! Mas, então, por que mesmo assim ensinam que foi universal? Isso é de propósito ou
pura incoerência?
Gênesis 12,10-13: Houve uma fome na terra e Abrão desceu ao Egito, para aí ficar, pois a fome assolava a terra. Quando estava chegando ao Egito, disse à
sua mulher Sarai: "Vê, eu sei que és uma mulher muito bela. Quando os egípcios te virem, dirão: 'És sua mulher', e me matarão, deixando-te com vida. Dize, eu te
peço, que és minha irmã, para que me tratem bem por causa de ti e, por tua causa, me conservem a vida".
Aproximação com um costume da Alta Mesopotâmia: na aristocracia hurrita, o marido podia ficticiamente adotar sua mulher como "irmã", e esta passava a gozar
então de maior consideração e de privilégios especiais. Esta teria sido a condição de Sarai, e Abrão ter-se-ia prevalecido disso diante dos egípcios, que, por sua
vez, ter-se-iam equivocado (v.19), como também o autor bíblico, que não mais conhecia o costume. A explicação é incerta.
Comentários: A essa época, Sarai tinha 65 anos; por isso é difícil acreditar que, com essa idade, ainda causava "admiração" nos homens. Que a explicação
é incerta, é fato, pois em Gn 20,12, Abrão afirma: "ela é realmente minha irmã, filha de meu pai, mas não filha de minha mãe, e tornou-se minha mulher", ou seja,
Abrão falou simplesmente a verdade. Não estranhe que o nome de Abrão esteja escrito com apenas um "a". O motivo é porque somente mais tarde é que Deus muda-lhe o
nome para Abraão (Gn 17,4).
Gênesis 15,1-2: Depois destes acontecimentos, a palavra do Senhor foi dirigida a Abrão, numa visão, nesses termos: "Nada temas, Abrão! Eu sou o teu protetor;
tua recompensa será muito grande". Abrão respondeu: "Senhor Javé, que me dareis vós? Eu irei sem filhos, e o herdeiro de minha casa é Eliezer de Damasco".
Daniel 8,15-16: Ora, enquanto eu contemplava esta visão e procurava o significado, vi, de pé diante de mim, um ser em forma humana, e ouvi uma voz humana
vinda do meio do Ulai: "Gabriel, gritava, explique-lhe a visão".
Não há no Antigo Testamento senão três anjos cujos nomes próprios são mencionados: Gabriel é um mensageiro de revelações. Miguel é um protetor, tal como
aparece na presente profecia. Rafael é um protetor e um guia.
Daniel 10,13: O chefe do reino persa resistiu-me durante vinte e um dias; porém Miguel, um dos principais chefes, veio em meu socorro. ...
O chefe: trata-se do anjo que vela sobre a Pérsia (cada reino tem o seu) e contra o qual Miguel, protetor dos judeus, terá de combater no mundo invisível.
Comentários: Vemos, nessas três passagens, a figura do "protetor"; se um espírita falar em espírito protetor cairá sobre ele toda a sorte de condenações.
Ainda bem que não existem as fogueiras da Inquisição; senão, coitados de nós! Será que o protetor de Abrão teria sido o próprio Deus? Registramos: protetor individual
e protetor coletivo, o que não muda em nada o que falamos a respeito da missão dos espíritos superiores. É só anteceder ao termo protetor a palavra espírito e pronto:
estaremos tal e qual! Ficamos na dúvida, porque Abrão o chama de Javé, pois se este nome de Deus só foi posteriormente revelado a Moisés, conforme Ex 3,15? Eh!,
ficamos sem entender. Observem no segundo texto: um ser em forma humana, e ouvi uma voz humana; não é desta forma que se percebe um espírito? E se ele tem forma
e voz humana, não é porque ele, na verdade, seja um espírito humano, só que desencarnado? Mais ainda: por que todos estes "anjos" têm nomes comuns aos seres humanos?
Não será por que eram justamente espíritos desencarnados? Será que anjos e espíritos, para eles, não eram a mesma coisa? O pouco que entendiam do "além da vida",
levava-os a considerar todas as manifestações espirituais como de seres superiores ou até mesmo de deuses, e que, atualmente, muitos fiéis, ao inverso, acreditam
que são de demônios?
Gênesis 17,9-10: Deus disse ainda a Abraão: "Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu e tua posteridade nas gerações futuras. Eis o pacto que faço entre
mim e vós, e teus descendentes, e que tereis de guardar: Todo homem, entre vós, será circuncidado.
Êxodo 4,24-26: Durante a viagem, num lugar de pousada, o Senhor encontrou-se com Moisés e queria matá-lo. Séfora, então, pegando uma faca de pedra, cortou
o prepúcio do filho, tocou-o nas virilhas de Moisés, e disse: "Tu és para mim um marido de sangue". E o Senhor deixou-o em paz. Ela tinha dito, então, "marido de
sangue" por causa da circuncisão.
Este misterioso episódio se assemelha ao da luta noturna de Jacó com o anjo, ao retornar a Canaã donde havia fugido. São várias as explicações possíveis,
mas sempre relacionadas com a circuncisão. A circuncisão, praticada também entre os madianitas, era na origem um rito de iniciação pré-nupcial. Mas entre os israelitas
se tornou um rito de inserção no povo eleito, e se fazia no oitavo dia do nascimento. Moisés teria negligenciado a circuncisão do filho; por isso a indignação divina,
manifestada por alguma grave enfermidade.
Comentários: É de se espantar querem atribuir esta barbaridade a Deus. Vejam que estava tão difícil de aceitar que até acharam ser um "misterioso episódio",
ou seja, o que a razão recusa a aceitar, a fé, rapidamente, transforma em "mistérios" ou desígnios de Deus. E mais estranho ainda, é Deus lutar com Moisés. Deus
lutar com homens? "Ô, coitado!" E a circuncisão, atribuí-la à vontade divina, só mesmo por mentalidade muito primitiva. Se isso fosse realmente importante, por que
então Deus não nos criou desde o início sem o prepúcio? Ou talvez não tenha agido com sabedoria?! Se têm que a Bíblia é a palavra de Deus, por que não a cumprem
no todo? Se falam que devemos ser batizados, porque Jesus o foi, por que então não se faz a circuncisão nos homens, uma vez que Jesus também foi circuncidado?
Gênesis 19,4-8: Eles não tinham ainda deitado quando a casa foi cercada pelos homens da cidade, os homens de Sodoma, desde os jovens até os velhos, todo o
povo sem exceção. Chamaram Ló e lhe disseram: "Onde estão os homens que vieram para tua casa esta noite? Traze-os para que abusemos deles". Ló saiu à porta e, fechando-a
atrás de si, disse-lhes: "Suplico-vos, meus irmãos, não façais o mal! Ouvi: tenho duas filhas que ainda são virgens; eu vo-las trarei; fazei-lhes o que bem vos parecer,
mas a estes homens nada façais, porque entraram sob a sombra do meu teto".
A honra de uma mulher tinha, então, menor consideração do que o dever sagrado da hospitalidade.
Comentários: Uma história semelhante também é relatada em Jz 19,22-24. Trata-se, segundo exegetas, de um costume cananeu que garantia proteção a quem esteja
sobe o teto de alguém. Será que um pai ofereceria sua própria filha para ser usada sexualmente por todos, apenas para salvar a "pele" de um homem? Àquela época é
bem provável, pois a mulher não tinha mesmo nenhum valor. Uma vez que consta da Bíblia, seria um bom exemplo a ser seguido? Responda-nos os que querem seguir a Bíblia
ao pé da letra!
Gênesis 19,23-25: O Sol estava nascendo quando Ló entrou em Segor. O Senhor fez então chover do céu enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra. Destruiu as cidades
e toda a região junto com os habitantes das cidades e até as plantas da terra.
Juízes 4,15: O Senhor desbaratou Sísara com todos os carros e todo o exército diante de Baruc. Sísara teve de descer do carro e fugir a pé.
A vitória é atribuída a uma intervenção divina, talvez uma tempestade que provocou um súbito transbordamento da torrente do Quison. Com a inundação da planície
do Esdrelão ficaram inutilizados os carros de Sísara, que teve de fugir a pé.
1 Reis 13,24-25: Ele partiu, mas um leão o surpreendeu no caminho e o matou. Seu corpo ficou jogado na estrada, ao passo que o jumento estava dum lado do
corpo e o leão do outro lado. Ora, passantes viram o corpo estendido na estrada e o leão deitado ao seu lado e foram contar o fato na cidade onde morava o velho
profeta.
O leão não mata para comer mas porque é instrumento punitivo de Deus.
2 Reis 19,35: Nesta mesma noite o anjo do Senhor saiu e feriu 185.000 homens no acampamento dos assírios. De manhã, quando se levantaram, só viram corpos
sem vida.
Deve-se tratar de uma peste que irrompeu no acampamento, explicação apoiada por uma notícia de Heródoto. A peste é um flagelo de Deus e o anjo do Senhor
é o seu executor.
Comentários: Para o povo hebreu todo e qualquer fenômeno natural que ocorria, e que, de uma maneira ou de outra, o ajudava, era atribuído à intervenção divina
a seu favor. Seria a mesma coisa que, numa guerra, logo no início, caíssem chuvas torrenciais na região onde se encontra o adversário e, por conta disso, o outro
país ganhasse a guerra; diriam que foi Deus que derrotou seu inimigo, mandando sobre eles a tempestade. É "quando eu era criança, pensava como criança" (Paulo).
Vejam, também, que na primeira narrativa o fato estaria muito perto da ocorrência de uma erupção vulcânica; enxofre e fogo. E o que ocorre nestes casos não é a destruição
de tudo na região, como cidades, plantas, etc., conforme exatamente o que foi narrado? Mas esperar que naquela época tivessem essa percepção, é pedir muito; não
é mesmo?
Gênesis 19,26: A mulher de Ló olhou para trás e virou estátua de sal.
Explicação popular sobre a origem de alguma rocha com forma humana, coberta de sal, fato comum na região.
Comentários: Mais uma vez, encontramos a Bíblia impregnada de coisas que refutamos serem de Deus. Homens vivendo numa cultura altamente ignorante e supersticiosa
tenderiam, fatalmente, a atribuir ao sobrenatural tudo quanto não conseguissem explicar com seus parcos conhecimentos. Aqui, como em outras tantas passagens, entra
Deus com seus milagres, fazendo o que não compreendiam, principalmente, quando o fato ou o acontecimento estava fora do alcance de seus conhecimentos.
Gênesis 32,25-30: Quando Jacó ficou sozinho, um homem se pôs a lutar com ele até o romper da aurora. Vendo que não podia vencê-lo, atingiu-lhe a articulação
da coxa de modo que o tendão da coxa de Jacó se deslocou enquanto lutava com ele. O homem disse a Jacó: "Solta-me, pois já surge a aurora". Mas Jacó respondeu: "Não
te soltarei se não me abençoares". E o homem lhe perguntou "Qual é o teu nome?" – "Jacó", respondeu. E ele lhe disse: "De ora em diante já não te chamarás Jacó mas
Israel, pois lutaste com Deus e com homens e venceste". E Jacó lhe pediu: "Dize-me, por favor, teu nome". Mas ele respondeu: "Para que perguntas por meu nome?" E
ali mesmo o abençoou.
Pela madrugada, no auge da tensão, Jacó trava uma luta corpo a corpo com um homem misterioso, que depois se revela como Deus. Depois de feri-lo na coxa,
este homem o abençoa e lhe muda o nome para Israel, nome composto do verbo lutar e de El (Deus). Como em outros casos a visão nega-se a revelar o nome.
Comentários: Jacó ganhou uma luta, que travou, corpo a corpo, com Deus. Mas é incrível, voltamos a insistir: atribuir isso a Deus? Essa já era a segunda
luta. Estaria Ele querendo se tornar em um pugilista? Talvez, por causa de passagens como essa, é que vemos, em alguns lugares, Deus sendo representado por um homem
velho de barba brancas, ou seja, é a idéia de um Deus antropomórfico. Certa feita, tivemos a oportunidade de ler a seguinte comparação a respeito de Deus; "Suponhamos
que se os besouros falassem, e num dado momento chegássemos perto de um besouro o perguntássemos: 'Como é o seu deus?'. Inevitavelmente iria nos descrever um Deus
igualzinho a um besouro". Não foi outra coisa que o homem fez em relação a Deus. Criâmo-Lo à nossa imagem e semelhança, fazendo-O sentir ódio, desejos de vingança,
gostar do odor dos sacrifícios que Lhe eram oferecidos, dizimar exércitos inteiros, castigar, mandar flagelos, ser um gladiador, etc. Mais ainda: ficamos intrigados
e curiosos para saber como se luta corpo a corpo com uma visão, ... Não é do que dizem se tratar o final da nota?...
Gênesis 41,45: E o Faraó impôs a José o nome de Safanet-Fanec, e lhe deu como mulher Asenet, filha de Putifar, sacerdote de On.
Nomes egípcios: Çofant Paneah = "Deus disse: ele está vivo"; Asnat = "Pertencente à deusa Neith"; Potifera, o nome igual ao de Putifar, de 37,36 = "Dom de
Râ" (o deus solar). O sogro de José é sacerdote de On = Heliópolis, centro do culto solar, cujos sacerdotes tinham um papel político importante. José aliou-se à
mais alta nobreza do Egito. Mas esses tipos de nomes não são documentados antes das dinastias XX-XXI. Eles são produto da erudição do autor.
Comentários: Se um autor bíblico pode se dar a liberdade de falar de algo que não existia, como "produto de sua erudição", então isso é uma prova de que,
na Bíblia, existe passagem que é fruto do pensamento do próprio autor, não sendo, portanto, inspiração divina. E se existe essa, muitas outras mais podem existir.
Cabe aqui uma pergunta: por se admitir que a erudição do autor justifica a citação de nomes sem a devida comprovação documental, também se pode supor que determinados
"tradutores" podem ter entendido que, também, por serem "eruditos" - por saberem mais de uma língua - se sentiram no "direito" de poder fazer interpolação, com o
propósito de "esclarecer" determinadas passagens bíblicas e de atender aos dogmas estabelecidos pelos segmentos religiosos a que pertencem.
Gênesis 44,5: Não é por acaso esta a taça em que bebe meu amo? É com ela que ele se põe a adivinhar. ...
É uma prática divinatória, mais tarde proibida, pela qual se colocava uma gota de óleo sobre a água dentro de uma taça; de acordo com as formas assumidas
pela gota julgava-se poder conhecer fatos ocultos ou futuros.
Comentários: Vejam como certas coisas ainda existem, mudando apenas a forma ou o nome: tarô, cartomancia, astrologia, leitura de mãos, entre outros tipos
de adivinhação. Será necessária muita evolução para que o homem se livre dessas superstições, que nada mais são que uma maneira fácil de se ganhar dinheiro dos incautos.
Êxodo 2,1-4: Um homem da família de Levi casou-se com uma mulher de seu clã. A mulher concebeu e deu à luz um filho. Vendo que era um lindo bebê, guardou-o
escondido durante três meses. Não podendo escondê-lo por mais tempo, pegou uma cestinha de papiro, calafetou com betume e piche, pôs nela a criança e deixou-a entre
os juncos na margem do rio. A irmã do menino postou-se a pouca distância para ver o que lhe aconteceria.
O relato do nascimento e salvamento de Moisés se assemelha à lenda contada a respeito de Sargão, o conquistador da Mesopotâmia (3º milênio AC). Nascido de
pai desconhecido e de uma mãe que o abandonou nas águas do Eufrates numa cesta de vime calafetada com betume, foi salvo e criado por um jardineiro real. Depois,
amado pela deusa Istar, se tornou rei durante 56 anos. Lendas semelhantes contam-se sobre a origem de Ciro, rei da Pérsia, e de Rômulo e Remo, fundadores de Roma.
Com recurso a um tal clichê literário Moisés é colocado entre os grandes personagens da história.
Comentários: Nunca podemos tirar da mente que, na época desses acontecimentos, era comum, como já tivemos oportunidade de ver, um pouco atrás, valerem-se
da mitologia e das lendas para justificar acontecimentos ou fatos que os israelitas atribuíram como realização de Deus. Aqui, mais uma vez, vemos uma lenda na Bíblia,
quando dizem ser a história de Moisés semelhante à lenda a respeito de Sargão. Daí, e por outras já mostradas, e outras que, inevitavelmente, ainda virão, não há
como aceitarmos tudo que consta na Bíblia como sendo a mais absoluta VERDADE.
Êxodo 2,17-18: ...Então Moisés se levantou e, defendendo as moças, deu de beber ao rebanho. Elas voltaram para Ragüel, seu pai, e este lhes disse: "Por que
voltastes mais cedo hoje?"
Os textos não concordam quanto ao nome e à pessoa do sogro de Moisés. Aqui temos Ragüel, sacerdote de Madiã; em 3,1; 4,18; 18,1 ele se chama Jetro. Nm 10,29
fala de Hobab, filho de Ragüel, o madianita, e Jz 1,16; 4,11, de Hobab, o quenita. Pode-se afastar como secundária, aqui, a menção de Ragüel, e ver em Nm 10,29 a
tentativa de harmonizar as duas tradições: matrimônio quenita e matrimônio madianita. Pode ser, por outro lado, que o texto, ao menos aqui em 3,1, falasse simplesmente
do "sogro, sacerdote de madiã" e que tenham sido apenas redatores tardios que tenham introduzido os nomes de Ragüel e de Jetro. Essas duas tradições, de fato, fazem
concorrência entre si, e não se deve procurar conciliá-las. A primeira originária da Palestina do sul, reflete a existência de laços de amizade entre Judá e os quenitas,
conservando a lembrança do casamento de Moisés com uma estrangeira. A segunda é mais estreitamente ligada à saída do Egito.
Comentários: Vejam que nem o verdadeiro nome do sogro de Moisés podemos tirar da Bíblia, já que, pelas narrativas, existem quatro nomes associados a essa
função. Como ainda pretendem ter que a Bíblia é inerrante, ou que é plenamente inspirada por Deus, se, a todo o momento, encontramos nela coisas divergentes ou contraditórias
que não podemos, em hipótese alguma, atribuir à divindade?
Êxodo 3,2: O anjo de Javé apareceu a Moisés numa chama de fogo do meio de uma sarça. Moisés prestou atenção: a sarça ardia no fogo, mas não se consumia.
Comentários: Quando é usada a expressão "Anjo de Javé" o objetivo é designar o próprio Deus; assim, em Êxodo afirma-se que Deus apareceu a Moisés, enquanto
que em At 7,35 quem apareceu foi um anjo: ...Moisés que os israelitas haviam renegado,... Deus o enviou como chefe e libertador, por meio do anjo que tinha aparecido
a ele na sarça. Assim, quem afinal apareceu a Moisés?
Êxodo 3,15: Deus disse ainda a Moisés; "Assim falarás aos israelitas: é JAVÉ, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó,
que me envia junto de vós. – Este é o meu nome para sempre, e é assim que me chamarão de geração em geração".
Comentários: Se Deus quis dar o seu nome, dizendo se chamar JAVÉ, então perguntamos: por que não o chamamos pelo seu nome, ao invés de o chamarmos de uma
maneira indefinida (Deus)? Não fala que era assim que deveriam chamá-Lo de geração em geração? O que ocorreu com esta recomendação divina, ou nem tudo que está na
Bíblia é para ser seguido? Daí, como fica o "A Bíblia diz", "A Bíblia fala", "A Bíblia manda", etc.?
Êxodo 12,37: Os israelitas partiram de Ramsés em direção a Sucot, cerca de seiscentos mil homens a pé, somente os homens, sem contar suas famílias.
Este número, muito exagerado, pode representar um recenseamento de todo o povo de Israel na época do documento javista.
Números 1,45-46: Todos os israelitas de vinte anos para cima, todos aqueles que em Israel eram aptos para a guerra, foram recenseados segundo as casas patriarcais.
O total dos recenseados foi de seiscentos e três mil e quinhentos e cinqüenta.
Saíram seiscentos mil do Egito. Os dois números devem ser interpretados do mesmo modo (cf. Ex 12,37+).
Comentários: Vejam que nas notas reconhecem o absurdo das quantidades! Ora, isso vem justamente confirmar o que estamos dizendo, ou seja, que nem tudo que
se encontra na Bíblia podemos aceitar como sendo verdadeiro! Há, pois, que se separar o joio do trigo.
Êxodo 12,39: ... é que, expulsos do Egito, não puderam parar, nem preparar provisões para o caminho.
Êxodo 13,17: Quando o Faraó deixou o povo partir, ...
Êxodo 14,5: Quando comunicaram ao rei do Egito que o povo tinha fugido,...
Comentários: São três versões que explicam por qual motivo os hebreus sairam do Egito, portanto, qual delas é a verdadeira?
Êxodo 14,21-22: Moisés estendeu a mão sobre o mar, e durante a noite inteira o Senhor fez soprar sobre o mar um vento oriental muito forte, fazendo recuar
o mar e transformando-o em terra seca. As águas se dividiram, e os israelitas entraram pelo meio do mar em seco, enquanto as águas formavam uma muralha à direita
e outra à esquerda.
A descrição da passagem pelo mar Vermelho corresponde a um fenômeno de ordem natural, como o sugere a menção do "vento forte" que põe o mar, isto é, uma
região pantanosa, em seco. Tal fenômeno foi providencial para salvar os israelitas e fazer perecer os egípcios: de madrugada as condições climáticas foram favoráveis
à passagem segura dos israelitas; de manhã mudaram bruscamente e os egípcios pereceram. Nisto Israel viu a mão providencial de Deus, expressa pela nuvem e pelo fogo,
pelas águas que formaram alas para os israelitas passarem e pela vara milagrosa de Moisés.
Êxodo 16,13: De tarde, realmente veio um bando de codornizes e cobriu o acampamento; e pela manhã formou-se uma camada de orvalho ao redor do acampamento.
As codornizes são aves migratórias que, duas vezes por ano, aparecem em abundância na península do Sinai, tanto no Golfo arábico como na costa mediterrânea.
Exaustas do longo vôo, podem ser facilmente apanhadas.
Êxodo 16,14-15: Quando o orvalho evaporou, na superfície do deserto apareceram pequenos flocos, como cristais de gelo sobre a terra. Ao verem, os israelitas
perguntavam-se uns aos outros: "Que é isto?", pois não sabiam o que era.
Da pergunta "que é isto?", em hebraico man hú, a etimologia popular fez derivar o nome de maná. O maná é o produto da secreção de certos insetos que se alimentam
da seiva de uma variedade de tamareira do deserto. Em forma de gotas de orvalho, o maná cai no chão donde é ajuntado, peneirado e guardado para servir de alimento.
Os árabes ainda hoje chamam a essa substância açucarada, man.
Comentários: Vejam como alguns "milagres" estão sendo reduzidos a simples fenômenos naturais; mas, como sempre: "a mentalidade da época..." É o que já dissemos:
o Deus dos israelitas era um Todo-Poderoso que não media esforços, nem se importava com o tamanho do milagre; se era para protegê-los, tudo fazia. Quantos exércitos
de povos inimigos dos judeus foram completamente dizimados, juntamente com velhos, mulheres, crianças, animais domésticos, etc.? Entretanto, percebemos que muita
coisa que ocorria era apenas um fenômeno natural, a não ser a sanha sanguinolenta que, na verdade, era do próprio povo, e não de Deus. E, além do mais, sendo Deus
como um Pai, não seria parcial, pois é Pai de todos. Por outro lado, se aceitam tais passagens como fenômenos naturais, por que insistem em dizer justamente o contrário,
isto é, que eram milagres? Incoerência pura, não é mesmo?
Êxodo 16,33-34: Moisés disse a Aarão: "Toma um vaso, põe nele um gomor cheio de maná e coloca-o diante de Iahweh, a fim de conservá-lo para as vossas gerações".
Como Iahweh havia ordenado a Moisés, Aarão o colocou diante do Testemunho para ser conservado.
São as tábuas da Lei (cf. 31,18) colocadas na arca freqüentemente chamada de "arca do Testemunho" (cf. 25,22+). Aqui se trata de antecipação do redator sacerdotal.
Comentários: É brincadeira?!... Como colocar algo dentro da arca, que só foi feita em data posterior? Antecipação?! Ou, quem sabe, haviam usado uma bola
de cristal? Não! É puramente incoerência, provando que, como este, outros redatores bíblicos tinham plena liberdade para dizer o que queriam, não seguindo inspiração
nenhuma! Se existisse realmente inspiração divina, como apregoam os bibliólatras, os redatores não poderiam dar-se a essa liberdade, já que deveriam seguir fielmente
a inspiração, procurando não colocar pensamentos pessoais naquilo que atribuíam como sendo da divindade. E aqui ficamos na dúvida se quem fez isso acreditava mesmo
em divindade?
Êxodo 19,16-19: Na manhã do terceiro dia, houve um estrondo de trovões e de relâmpagos; uma espessa nuvem cobria a montanha e o som da trombeta soou com
força. Toda a multidão que estava no acampamento tremia. Moisés levou o povo para fora do acampamento ao encontro de Deus, e pararam ao pé do monte. Todo o monte
Sinai fumegava, porque o Senhor tinha descido sobre ele no meio de chamas; o fumo que subia do monte era como a fumaça duma fornalha, e toda a montanha tremia com
violência. O som da trombeta soava ainda mais forte; Moisés falava e os trovões divinos respondiam-lhe.
Comentários: Quando lemos essa passagem, nos lembramos da descrição de um vulcão entrando em erupção. Não poderia ser esse o caso? Não vemos, a todo o momento,
os judeus tomarem os fenômenos naturais mais comuns como milagres realizados por Deus? Se mandássemos alguém descrever um fato ou fenômeno em que não soubesse como
funcionam as leis que lhes são próprias, como será que ele iria descrever esse fato? Seria fiel, ou o contaria na sua maneira particular de ver as coisas? Não resta
a menor dúvida de que somente falaria a seu nível de percepção, o que poderia estar muito além da VERDADE.
Êxodo 20,4-5: Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima nos céus, ou embaixo sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não
te prostrarás diante delas e não lhes prestareis culto, ...
Escultura: de madeira ou de pedra representando simbolicamente a Deus sob a forma de um astro, de um pássaro, de um homem, de um animal, de uma planta ou
de um animal aquático. O que Deus proíbe aqui não é a confecção de uma imagem religiosa qualquer (santos, querubins, serpente de bronze, etc.), mas somente a representação
figurada de sua pessoa como objeto de adoração. Ver. Ex. 25,18. (nota do tradutor).
Comentários: O texto é claro quanto à questão das imagens. Entretanto, para justificar o seu uso é que dão as explicações como a dessa nota. Assim, tudo
que vem contradizer algo que pregam é "moldado" de forma a se acabar com tal contradição. Quem procurar conhecer as culturas dos povos que dominaram os hebreus,
verá claramente que muitas coisas que faziam foram incorporadas pelos hebreus em suas práticas religiosas, chegando elas até os nossos dias. Vejamos, por exemplo,
a questão dos santos. Na cultura religiosa romana, tinham, entre outros, os seguintes deuses: Ceres, deusa da agricultura e da fecundidade da terra; Cupido, deus
do amor; Diana, deusa da caça e dos animais selvagens e domésticos; Juno, deusa protetora da mulher, do casamento e do parto; Marte, deus da guerra; Mercúrio, deus
das mercadorias e dos mercadores; Minerva, deusa dos trabalhos manuais, das profissões, das artes e da guerra; Netuno, deus Senhor dos mares e das águas correntes;
Vênus, divindade do amor; Vesta, divindade do lar; Vulcano, divindade do fogo e da metalurgia. Todos eles também tinham os seus correspondentes na Cultura Grega.
No Catolicismo, temos, entre centenas de outros: Cosme e Damião, padroeiros dos médicos e protetores dos gêmeos e das crianças; São Brás, protetor dos que sofrem
de engasgos ou doenças de garganta; Santo Antônio, padroeiro dos pobres e casamenteiro; São Cristóvão, protetor dos viajantes e motoristas; São Francisco de Sales,
padroeiro dos escritores; São Jorge, protetor dos oprimidos e das donzelas; São Judas Tadeu, advogado das causas desesperadas e dos supremos momentos de angústias;
Santa Ana, padroeira das mulheres casadas, especialmente das grávidas, cujos partos torna rápidos e bem-sucedidos, protetora das viúvas, dos navegantes e marceneiros;
Santa Bárbara, invoca-se esta para se proteger das tempestades e trovões; Santa Cecília, padroeira da música; Santa Inês, padroeira da castidade e das adolescentes;
Santa Luzia, protetora da visão. Não vemos grande diferença entre os deuses da antigüidade e os santos de hoje. Cada um com a sua área de atuação, bem como, proteção
através de invocações a eles, deuses e santos.
Êxodo 20,5-6: Não te prostrarás diante deles, nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento. Castigo a culpa dos pais nos filhos
até à terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas uso de misericórdia por mil gerações para com os que me amam e guardam meus mandamentos.
A misericórdia divina supera de muito a sua justiça punitiva. Sobre a responsabilidade individual, veja Dt 24,16 (nota).
Deuteronômio 24,16: Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos, nem os filhos pela culpa dos pais: cada um será morto por seu próprio pecado.
Ao lado da responsabilidade coletiva aos poucos se desenvolve na Bíblia a idéia de responsabilidade individual.
Comentários: No primeiro texto, os filhos pagam pelos erros dos pais, já no segundo está exatamente o contrário. Se a Bíblia é a verdade absoluta nunca poderia
haver nela sequer uma só contradição, ainda mais várias, como estamos vendo no desenrolar desse estudo. Por outro lado, poderia ter havido um erro na tradução do
primeiro texto. Vejam, se ao invés da preposição até fosse colocada a preposição na, ficaria mais coerente, pois o pai poderia muito bem, pela reencarnação, ser
seu neto ou bisneto, ficando assim justíssima a lei, ou seja, atingindo realmente o culpado. Segundo alguns estudiosos da Bíblia, é assim que está no original da
Vulgata. Além do mais, o texto, desta maneira, ficaria também coerente com o outro texto. Não devemos nos esquecer de que também Jesus disse: a cada um, segundo
suas obras" (Mt 16,27), ou seja, nossa responsabilidade é realmente individual; ninguém paga pelos pecados de outro; só se paga pelos próprios pecados. Já ouvimos
várias vezes a expressão: "os justos pagam pelos pecadores", tirada não sabemos de onde, frontalmente contrária aos ensinamentos de Jesus; portanto, não se coadunando
nunca com a justiça divina. Vejamos agora, o que consta na Bíblia Sagrada Editora Ave Maria, em Ex 34,6-7: O Senhor passou diante dele, exclamando: "Javé, Javé,
Deus compassivo e misericordioso, lento em cólera, rico em bondade e em fidelidade, que conserva sua graça até mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a rebeldia
e o pecado, mas não tem por inocente o culpado, porque castiga o pecado dos pais nos filhos e nos filhos de seus filhos, até à terceira e à quarta geração". Se Deus
não tem por inocente o culpado, é porque o culpado pagará pelo seu erro como, também, não é justo alguém pagar pelo erro que não cometeu. O próprio culpado pagará
pelos seus erros, quando voltar novamente reencarnado, quer seja como filho de seu filho, ou seja, neto, ou como outro descendente.
Êxodo 20,8-11: Lembre-se do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalhe durante seis dias e faça todas as suas tarefas. O sétimo dia, porém, é o sábado de Javé
seu Deus. Não faça nenhum trabalho,... Porque em seis dias Javé fez o céu, a terra, o mar e tudo o que existe neles; e no sétimo dia ele descansou. Por isso, Javé
abençoou o dia de sábado e o santificou.
Deuteronômio 5,15: Lembre-se: você foi escravo na terra do Egito, e Javé seu Deus o tirou de lá com mão forte e braço estendido. É por isso que Javé seu Deus
ordenou que você guardasse o dia de sábado.
Comentários: Ficamos sem saber por qual motivo Deus justifica o porquê de não se poder trabalhar aos sábados.
Êxodo 20,22-23: Iahweh disse a Moisés: "Assim dirás aos israelitas: Vistes como vos falei do céu. Não fareis deuses de prata ao lado de mim, nem fareis deuses
de ouro por vós".
O "Código da Aliança" (20,22-23,19, de que 23,20-33 é apêndice de estilo aparentado à parênese deuteronômica), é assim chamado pelos modernos conforme 24,7,
mas este texto se refere ao Decálogo. Esta coletânea de leis e costumes supõe uma coletividade já sedentarizada e agrícola. Pensou-se que ela remonta, por seu fundo
primitivo, aos primeiros séculos da instalação em Canaã, talvez antes da monarquia, pois o rei nunca é mencionado, mas a época de origem é difícil de determinar.
– Aplicando o espírito dos mandamentos do Decálogo, ela finalmente foi considerada como parte da carta da Aliança no Sinai. É por esta razão que ela foi inserida
aqui depois do Decálogo e ele remete em 24,3: se as "Palavras" devem ser identificadas com o Decálogo, as "leis" são de fato nosso conjunto (cf. 21,1). Seus contatos
com o Código de Hamurábi, o Código hitita e o Decreto de Horemheb não testemunham um empréstimo direto e sim uma fonte comum: um antigo direito consuetudinário que
se diferenciou conforme os ambientes e os povos. – Pode-se ordenar as prescrições do Código, conforme o conteúdo, sob três partes: direito civil e penal (21,1-22,20);
regras para o culto (20,22-26; 22,28-31; 23,10-19); moral social (22,21-27; 23,1-9). Segundo sua forma literária, estas prescrições se dividem em duas categorias:
"casuística" ou de condicional, no gênero dos códigos mesopotâmicos; "apodítica" ou imperativa, no estilo do Decálogo e dos textos da sabedoria egípcia.
Comentários: Kardec já falava que na Bíblia existem duas leis. A primeira é imutável, pois provém de Deus, a segunda são leis humanas que mudam de acordo
com os costumes e o caráter do povo. Na nota deixam isso bem claro para nós. E mais, ainda admitem, embora com "os entretantos" de sempre, que essas leis sofreram
influência de outros povos, do que deduzimos, que não são em realidade leis que poderíamos chamar de divinas, porquanto estão elas relacionadas ao direito civil
e penal, às regras para os cultos religiosos e às de moral social.
Êxodo 21,12: Quem ferir mortalmente um homem, será punido de morte.
Êxodo 21,15: Quem ferir o pai ou a mãe, será punido de morte.
Êxodo 21,16: Quem seqüestrar uma pessoa, quer a tenha vendido, ou ainda se encontre em seu poder, será punido de morte.
Êxodo 21,17: Quem amaldiçoar o pai ou a mãe, será punido de morte.
Êxodo 22,24: Se emprestares dinheiro a alguém de meu povo, a um pobre que vive ao teu lado, não sejas um usurário. Não lhe deveis cobrar juros.
Deuteronômio 23,20-21: Não exigirás de teus irmãos juro algum nem por dinheiro nem por víveres nem por coisa alguma que se empresta a juros. Podes exigi-lo
do estrangeiro mas não de teu irmão, para que o Senhor teu Deus te abençoe em todas as empresas, na terra em que vais entrar para possuí-la.
Comentários: Quando exigem que cumpramos determinadas passagens que lhes convêm, se esquecem de que deveriam cumprir essas determinações. Sejam coerentes!
Acham estar com a VERDADE? Só que ela não suporta dois pesos e duas medidas. O que consta na Bíblia: "Pesos desiguais e medidas desiguais, ambos são abominação diante
do Senhor" (Pr 20,10) também não é para se cumprir? Gostaríamos de ver, no mundo de hoje, alguém emprestar dinheiro sem exigir juros! Devemos matar alguém pelos
erros citados acima? Afirmamos, com a mais absoluta coerência, que nem tudo que está na Bíblia é para se cumprir, a não ser que tenhamos um Deus como sendo contraditório,
pois onde ficaria o "Não matarás?".
Êxodo 24,3-4: Moisés desceu e contou ao povo tudo o que Javé lhe havia dito e todas as leis. ... Moisés colocou por escrito todas as palavras de Javé...
Êxodo 24,12: Javé disse a Moisés: "Suba até junto de mim na montanha, pois eu estarei aí para lhe dar as tábuas de pedra com a lei e os mandamentos que escrevi,
para você os instruir".
Comentários: Afinal foi Moisés quem escreveu os Dez Mandamentos ou foi o próprio Deus? Lembramos que Moisés ficou 40 dias e 40 noites no alto do monte Sinai;
portanto, esse é o tempo que se levou para escrever os Dez Mandamentos. Só que agora a coisa complicou-se, pois se for mesmo Deus que os escreveu, por que demorou
tanto tempo assim, já que para fazer uma coisa muito maior como criar o Universo só gastou seis dias? Por outro lado, quem realmente passou esses mandamentos a Moisés?
Fazemos essa indagação, pois em At 7,53, Gl 3,19 e Hb 2,2 se afirma que foram os anjos?
Êxodo 28,6: O efod será feito de ouro, de púrpura violácea, vermelha e carmesim e de linho fino torcido, artisticamente entretecidos.
O efod aqui é um elemento das vestes sacerdotais, ligado ao "peitoral do juízo", onde estão as sortes sagradas: urim e tumim. Originariamente era uma faixa
de pano que cobria os flancos da divindade ou os do ministro do culto. Era usado para consultar a Deus e dar respostas oraculares.
Êxodo 28,15: Mandarás fazer o peitoral do juízo artisticamente trabalhado, do mesmo tecido do efod: de ouro, de púrpura violácea, vermelha e carmesim e de
linho fino torcido.
O peitoral era um pedaço de pano dobrado de modo a formar uma espécie de bolso para conter os dados (sortes) sagrados, urim e tumim. É chamado "do juízo"
porque por meio dos dados sagrados o sacerdote dava a sentença ou julgamento divino.
Êxodo 28,30: No peitoral do juízo porás o urim e tumim. ...
Urim e tumim eram o nome de duas pedras, em forma de dado, cada uma de cor diferente, que serviam para dar a resposta convencionada por um "sim" ou um "não",
de acordo com a pergunta feita. Estes "dados" eram manejados pelos sacerdotes ou levitas.
Deuteronômio 33,8: Para Levi disse: Dá os tumim e urim ao homem que te é fiel, àquele que provaste em Massa e com quem litigaste nas águas de Meriba.
São objetos usados para consultar a vontade divina.
Juízes 1,1-2: Depois da morte de Josué os israelitas consultaram ao Senhor, perguntando: "Quem de nós subirá primeiro para combater os cananeus?" O Senhor
respondeu: "Judá vai subir; em suas mãos entregarei o país".
Consultaram ao Senhor: A consulta se fazia em geral em santuários. Fazia-se uma pergunta e para obter a resposta (sim ou não), lançavam-se as sortes contidas
no efod.
Juízes 18,5: Eles lhe pediram: "Consulta a Deus: Queremos saber se a viagem que estamos empreendendo será bem sucedida".
A consulta a Deus era um ofício do sacerdote e do levita, e por vezes do profeta.
1 Samuel 10,20: Então Samuel fez apresentarem-se todas as tribos de Israel, e a sorte caiu na tribo de Benjamim.
A sorte indica a vontade de Deus.
1 Samuel 14,41: Então Saul disse ao Senhor: "Deus de Israel, dá perfeita clareza!" Então a sorte caiu em Jônatas e Saul, e o povo ficou livre.
As antigas versões têm este texto: "Por que não respondeste hoje ao teu servo? Se a culpa está em mim ou no meu filho Jônatas, então, ó Senhor Deus de Israel,
faze aparecer urim (= sim?); mas se a culpa estiver no teu povo, faze aparecer tumim (= não?). Nós diríamos "cara ou coroa".
1 Crônicas 14,10: Davi consultou a Deus, perguntando: "Devo atacar os filisteus? E tu os farás cair em minhas mãos?" E o Senhor lhe respondeu: "Vai! Eu os
farei cair em tuas mãos".
Davi consultou a Deus: Tanto Saul como Davi, quando durante uma guerra tinham que tomar uma decisão difícil, não se fiavam na sua capacidade pessoal, nem
apenas no conselho de seus assessores, mas consultavam a Deus, em nome do qual lutavam. A consulta à divindade era realizada por intermédio dum sacerdote, que os
acompanhava para essa finalidade. Não consta ao certo, de que maneira o sacerdote obtinha a manifestação de Deus, mas tudo indica que para isso eram manejados uma
espécie de dados (urim e tumim). Mais tarde essa função passou dos sacerdotes aos profetas.
Neemias 7,65: e Sua Excelência lhes proibiu de comerem as coisas sacrossantas, até que houvesse um sacerdote capaz de manejar urim e tumim.
Urim e Tumim: Uma das funções importantes do sacerdote era consultar a Deus. Para este ato o sacerdote servia-se de uma espécie de dados (veja Ex. 28, 30
e nota). Com a destruição do templo em 586 aC, esses objetos se perderam irremediavelmente. Mas aqui se exprime a esperança de que um dia o Sumo Sacerdote voltará
a dispor novamente desse precioso instrumentário para indagar a vontade de Deus.
Eclesiástico 45,10: Ornou-o com a veste sagrada, tecida de ouro, com o peitoral do julgamento e os reveladores da verdade, e com tecido de fios de escarlate,
obra de artista; ...
O peitoral do julgamento era uma espécie de bolsa onde se guardavam os reveladores da verdade (urim e tumim), espécie de dados coloridos, pelos quais o sacerdote
dava as respostas oraculares aos fiéis, em nome de Deus.
Comentários: Quando líamos a Bíblia, vimos em muitíssimas passagens citações "consultar a Deus" e "oráculo do Senhor", mas não sabíamos como isso ocorria.
O segundo termo, então, não tínhamos a menor noção do que significava. Tivemos que recorrer ao "Aurélio", que nos diz o seguinte: Oráculo. (do lat. Oraculu.) S.M.
1. Resposta de um deus a quem o consultava. 2. Divindade que responde a consulta e orienta o crente; o oráculo de Delfos. Depois dessa explicação, vemos que os dois
termos significavam praticamente a mesma coisa. Ficamos mais intrigados, ainda, pois, sabendo que, naquela época, existiam tantas "consultas a Deus", questionávamos
por que hoje não as vemos mais? Será que Deus, que estava tão presente aqui na Terra, chegando até a lutar com Jacó, realmente tenha-nos deixado à nossa própria
"sorte"? Mas a surpresa não se restringiu a só isso. A maior ficou por conta de como Deus era consultado: por "dados" (urim e tumim). Eram lançadas as "sortes",
e conforme esses dados caíam, era sim ou não, próximo mesmo do "cara ou coroa", segundo citação em uma das notas de rodapé. É impressionante! Quando estávamos lendo
isso, sentimos, nessas consultas, algo como um consulente procurando alguém que joga "búzios", para saber seu destino, prática comum naquele tempo, pois todos os
deuses eram consultados por meio de "oráculos". Vejam vocês, que faziam muito pior do que fazemos, quando, segundo os nossos detratores "consultamos os mortos".
Com absoluta certeza, tratamos os mortos com mais respeito e seriedade do que tratavam a Deus. Práticas desse tipo não são aceitas no Espiritismo. Não somos responsáveis
por outros tipos de práticas mediúnicas, que não têm nada a ver conosco, apesar de alguns quererem tomar como sendo usuais em nosso meio. Não devemos nos esquecer,
também, de que essas consultas eram atividades exclusivas dos sacerdotes. Ah! agora comecei a entender por que proibiam a consulta aos mortos!... Mais à frente,
iremos voltar a este assunto. Aí, sim, é que as dúvidas se dissiparão.
Êxodo 28,34-35: Haverá em toda a orla do manto uma campainha de ouro e uma romã, outra campainha de ouro e outra romã. Aarão o vestirá para oficiar para
que se ouça o seu ruído quando entrar no santuário diante de Iahweh, ou quando sair, e assim não morra.
Vestígio de concepção primitiva amplamente espalhada, segundo a qual o tilintar das campainhas afastava os demônios.
Comentários: Até nos rituais religiosos os judeus incorporaram coisas ligadas às superstições da época. Estaria aí a origem do uso da campainha nas missas
católicas?...
Êxodo 30,11-12: O Senhor falou a Moisés nestes termos: "Quando fizeres a contagem dos israelitas para o censo, cada um oferecerá ao Senhor um resgate por
sua vida, para que, ao serem recenseados, não os atinja alguma peste".
O censo é ordenado por Deus, o único que tem o poder sobre as vidas. Por isso o censo promovido por Davi, aqui lembrado, é considerado pecado. Pelo imposto
ao templo Deus exerce seu domínio sobre as pessoas.
2 Samuel 24,1-2: A cólera do Senhor voltou a se inflamar conta Israel. É que incitou a Davi contra eles, dizendo: "Vai fazer o recenseamento de Israel e
Judá". Então o rei ordenou a Joab, que era o comandante das forças armadas e estava em sua companhia: "Percorre todas as tribos de Israel desde Dã até Bersabéia
e faze o recenseamento da população, para saber quanta gente tenho".
O censo era considerado pecado, porque parecia querer limitar o poder de Deus, único autor da vida e da proliferação dos homens.
2 Samuel 24,15: Davi portanto escolheu a peste. Era o tempo da colheita de trigo e o Senhor desencadeou uma peste em Israel, desde a manhã daquele dia até
o tempo fixado, de modo que morreram 70.000 homens, de Dã até Bersabéia.
1 Crônicas 21,14: Então o Senhor causou uma peste no meio de Israel e caíram sete mil israelitas.
A idéia de realizar um recenseamento foi considerada como um pecado da parte de Davi, mas todo o povo sofreu as conseqüências e foi dizimado pela peste.
De acordo com a nossa mentalidade individualística, isto é um tanto difícil de compreender-se. Mas na mentalidade bíblica, isto é normal. É que o rei e o povo formam
um todo, ligados pelos laços da solidariedade. O rei representa o povo perante Deus e o povo participa de sua sorte, na fortuna e na desgraça, e até certo ponto
no pecado. Esse solidarismo, em nível mais alto, se reflete no NT, na doutrina paulina sobre o corpo de Cristo, que é a Igreja, e sobre a doutrina do pecado original
(Rm 5,12-14).
Comentários: Novamente, estamos diante de mais um absurdo: Deus proibir o censo. Mas devemos procurar saber o que na realidade estava por trás disso. Na
primeira nota é que temos a dica. Vejam que cada pessoa deveria pagar por sua vida. Esse pagamento nada mais era que um imposto, cujo destino final era para quem?
Não restam dúvidas, para os sacerdotes. É, novamente, nos aparecem os sacerdotes... Outro absurdo é Deus castigando todo o povo de Israel pelo erro de Davi. Já que
aqui encontramos alguém pagando pelo erro de outro, perguntaríamos: Onde fica "cada um será morto por seu próprio pecado" (Dt 24,16), e "a cada um segundo suas obras"
(Mt 16,27)? Mas, como justificaria um fanático: na mentalidade bíblica isso é normal. Observar que o número de israelitas mortos não é o mesmo: uma passagem cita
70.000, em outra apenas 7.000. Qual das duas é a verdadeira inspiração de Deus? Na narrativa de ambas passagens em outras Bíblias católicas a cifra é de 70.000;
assim, vemos que nem entre eles mesmos há coerência quanto ao número correto de mortos naquele dia.
Êxodo 32,30-32: No dia seguinte, Moisés disse ao povo: "Vós cometestes um pecado grave. Todavia, vou subir a Iahweh para tratar de expiar o vosso pecado".
Voltou, pois, Moisés a Iahweh e disse: "Este povo cometeu um grave pecado ao fabricar um deus de ouro. Agora, pois, se perdoasses o seu pecado... Se não risca-me,
peço-te, do livro que escreveste".
O livro que contém as ações dos homens e descreve o seu destino (cf. Sl 69, 29; 139,16, etc.).
Comentários: Para um ser mortal, Moisés foi muito petulante no que disse a Deus, colocando-O, como se diz popularmente, contra a parede, para que decidisse
entre perdoar o povo ou riscar o nome de Moisés do livro. Parece até brincadeira uma coisa dessas, não? Pela explicação da nota sobre o livro, podemos concluir que
todas as nossas ações são "escritas" nesse livro. Isto só teria sentido em acontecer se alguém nos viesse pedir contas dos nossos atos, não é mesmo? Entretanto,
afirmam alguns que a salvação é pela fé, bem ao contrário do que se pode deduzir dessa passagem. Mas se a salvação não for pela fé, de que maneira irão conseguir
espoliar o povo?!
Levítico 1,1-4: Iahweh chamou Moisés e da Tenda da Reunião falou-lhe, dizendo: "Fala aos israelitas; tu lhes dirás: Quando um de vós apresentar uma oferenda
a Iahweh, podereis fazer essa oferenda com animal grande ou pequeno. Se a sua oferenda consistir em holocausto de animal grande, oferecerá um macho sem defeito;
oferecê-lo-á à entrada da Tenda da Reunião, para que seja aceito perante Iahweh. Porá a mão sobre a cabeça da vítima e esta será aceita para que se faça por ele
o rito de expiação".
Sacrifícios nos quais a vítima é inteiramente consumida. A imposição das mãos pelo ofertante (v.4) é testemunho solene de que esta vítima, apresentada em
seguida pelo sacerdote, é realmente seu próprio sacrifício. As narrativas, como os textos rituais do Pentateuco, fazem este tipo de sacrifício remontar à época do
deserto (Ex 18,12; Nm 7,12) e até mesmo aos Patriarcas (Gn 8,20; 22,9-10). Na realidade, os testemunhos históricos mais antigos datam da época dos Juízes (cf. Jz
6,26; 11,31; 13,15-20). Parece que esta forma de sacrifício foi influenciada pelo ritual cananeu (cf. 1Rs 18: o holocausto dos profetas de Baal é semelhante ao de
Elias) e que não é anterior à instalação das tribos. Em Lv 1, dá-se valor expiatório ao holocausto; na época antiga, é mais sacrifício de ação de graças (cf. 1Sm
6,14; 10,8; 2Sm 6,17) ou sacrifício para obter um favor de Iahweh (1Sm 7,9; 13,9; 1Rs 3,4).
Expiação é o sacrifício pelo qual o homem que ofendeu a Deus, transgredindo a aliança, pode voltar à graça. O animal oferecido em sacrifício (kipper) foi
interpretado como resgate (koper; cf. Ex 30,12). Nos sacrifícios de expiação, os ritos do sangue desempenham papel primordial (17,11; cf. 4,1+; 4,12+). Conhecida
pelos assírio-babilônicos e pelos cananeus, a expiação ligou-se aos fundamentos da Lei israelita. No NT, aparecerá, não como pagamento ou substituição, mas como
o dom da vida de Deus para vivificar os homens (Rm 3,25-26).
Comentários: Os rituais de sacrifícios, pelo que podemos deduzir dessas notas, eram práticas dos cananeus e assírio-babilônicos; portanto, mais uma vez,
vemos a incorporação, na cultura religiosa hebraica, de rituais religiosos dos pagãos. Esse procedimento é visto constantemente, desde o início da leitura da Bíblia
até o seu final. E é dentro dessa cultura que ainda querem aplicar a Jesus essa idéia de que o seu sangue derramado na cruz teve como objetivo expiar os nossos pecados.
Pelo costume, então, teremos que arrumar outro Cristo para pagar pelos nossos, já que tais rituais eram para as faltas cometidas anteriormente.
Levítico 4,5-7: O sacerdote ungido pegará um pouco do sangue do bezerro e o levará para a tenda de reunião. Molhando o dedo no sangue, o sacerdote aspergirá
sete vezes com o mesmo, a fachada do véu do santuário, na presença do Senhor. Untará com sangue as pontas do altar do incenso aromático, que está diante do Senhor
na tenda de reunião, e derramará todo o resto do sangue do bezerro ao pé do altar dos holocaustos, que está à entrada da tenda da reunião.
No ritual de expiação o sangue da vítima, concedido por Deus para expiar as faltas humanas, exerce papel fundamental.
Levítico 17,10-11: Se um israelita ou estrangeiro que mora no meio de vós comer qualquer espécie de sangue, voltarei a face contra tal pessoa, e a eliminarei
do meio do povo. Porque a vida de um ser vivo está no sangue, e eu vos mandei por o sangue sobre o altar para expiar por vossas vidas, pois é o sangue que faz expiação
pela vida.
A proibição de comer sangue para os cristãos, pedida por Tiago no Concílio de Jerusalém, tinha a finalidade de permitir a convivência entre cristãos vindos
do judaísmo, educados na Lei de Moisés e cristãos de origem pagã. Hoje, não havendo mais judeu-cristãos, tal proibição está superada.
Comentários: Daí é que alguns tiram que não se deve comer e nem se deve fazer transfusão de sangue, pois o sangue é para Deus. Não percebem o ridículo dessa
determinação, e nem como rebaixaram tanto a Deus! Observamos que a mentalidade da época era fazer sacrifícios de expiação dos pecados. Com esse gesto, achavam que
Deus ficaria grato a eles pelos sacrifícios oferecidos e, agradecido, os perdoaria de seus pecados. Já era o conceito da salvação de graça vigorando; e ainda querem
trazê-lo para os nossos dias. Mais adiante falaremos sobre isso. Com referência a esse trecho, temos em nota de rodapé pela Edições Paulinas: "Deus castiga quem
come sangue, por ser o símbolo da vida; por isso é oferecido e sacrificado em substituição a vidas humanas, que deveriam cair vítimas da ira divina por causa dos
pecados que cometem. O sangue é símbolo da vida, sinal de que o corpo vive". Afinal, o sangue dos animais deverá ser comido ou não? Não afirmam que Deus castiga
quem come sangue? Por que, então, não é orientado no sentido de que não se deve comê-lo? Deixamos de oferecer sacrifícios de animais a Deus, mas não consta na Bíblia
que Deus tenha abolido tal determinação. Sendo assim, estaremos indo contra as determinações constantes da Bíblia, apesar de se dizer que tais coisas partem de Deus.
Levítico 16,7-10: Tomará os dois bodes e os colocará diante do Senhor à entrada da Tenda de Reunião. Deitará sortes sobre os dois bodes, uma para o Senhor,
e outra para Azazel. Oferecerá o bode sobre o qual caiu a sorte para o Senhor e oferecê-lo-á em sacrifício pelo pecado. Quanto ao bode sobre a qual caiu a sorte
para Azazel, será apresentado vivo ao Senhor, para que se faça a expiação sobre ele, a fim de enviá-lo a Azazel, no deserto.
Sortes: trata-se de dois pequenos objetos atribuídos arbitrariamente a cada um dos bodes, que se jogavam à maneira de dados, ou que se tiravam de um bolso
ao azar. Azazel: designa um ser maléfico, que se supunha morar no deserto.
Baruc 4,35: Virá sobre ela, para durar longos dias, um fogo enviado pelo Eterno; e durante muito tempo será habitada por demônios.
Demônios: Porque transformada em deserto, o qual era considerado habitação dos demônios.
Comentários: Além dos demônios morarem nos "infernos", também residem no deserto? Associação feita pelo calor insuportável do deserto, lugar sem água, como
um inferno ardente? Quanta imaginação diabólica, não?! Eh!... aqui, também, aparece o famoso "bode expiatório", que nunca poderá expiar o pecado de ninguém, a não
ser na imaginação daqueles que querem conquistar o céu pela "lei do menor esforço". Muito bem disse Jesus: "Quero misericórdia e não sacrifícios" (Mt 9,13). Será
que alguém acompanhou o bode enviado a Azazel para oferecê-lo em sacrifício a ele?
Levítico 19,31: Não recorrais aos médiuns, nem consulteis os espíritos para não vos tornardes impuros. Eu sou o Senhor vosso Deus.
As práticas espíritas de evocar os mortos são severamente condenadas em toda a Bíblia.
Deuteronômio 14,1: Vós sois filhos do Senhor vosso Deus. Não façais em vós incisões nem vos rapeis o cabelo na testa em honra de um morto.
São práticas condenadas para Israel, "povo consagrado" ao Senhor, o único Deus da vida. O culto dos mortos constituía um perigo da divinização dos mortos,
talvez relacionado ao culto de Baal, cuja morte era celebrada no início do verão.
1 Crônicas 10,1-6.13-14: Os filisteus atacaram Israel e os israelitas fugiram diante deles, caindo muitos feridos mortalmente no monte Gelboé. Os filisteus
foram no encalço de Saul e seus filhos e feriram de morte a Jônatas, Abinadab e Melquisua, filhos de Saul. A luta se tornou sempre mais violenta em torno de Saul
e finalmente os arqueiros o acertaram e o feriram. Saul disse ao escudeiro: "Tira a espada e me traspassa com ela, para que não venham esses incircuncisos para gozar-me".
Mas o escudeiro se recusou, pois tinha muito medo de fazer tal coisa. Então Saul agarrou a espada e se atirou sobre ela. Quando o escudeiro viu que Saul estava morrendo,
também se atirou sobre a espada e morreu. Assim morreram Saul e os filhos: toda a família se acabou duma só vez. Saul morreu assim por causa do mal que tinha feito
contra o Senhor e por não ter obedecido à palavra do Senhor e por cima ter consultado o espírito dum defunto para obter uma revelação, em vez de buscar a revelação
da parte do Senhor. Por isso o Senhor o fez morrer e transferiu a realeza para Davi filho de Jessé.
O costume pagão de consultar os mortos era proibido aos israelitas (cf. Lv 19,31; 20,6; Dt 18,10). O bom israelita ia ao santuário e lá os sacerdotes em
nome dele consultavam a Deus e lhe transmitiam a informação ou a orientação de que necessitavam. Ou então consultava um profeta legítimo. Saul, porém, angustiado
por causa da expansão do domínio dos filisteus, foi vencido pela tentação e se entregou a práticas espíritas, indo consultar o espírito do falecido Samuel, por intermédio
da feiticeira de Endor (cf. 1Sm 28). Foi esta uma das razões por que Saul foi rejeitado por Deus e sua coroa passou para alguém que não era de sua família, a saber,
a Davi, o eleito por Deus para a missão de preparar de maneira remota a vinda do Messias.
Comentários: Agora sim, iremos entender finalmente por que se proibiu a evocação dos mortos. Mas, primeiro, cabe-nos uma importante colocação, principalmente
para nossos detratores, que dizem ser impossível os mortos se comunicarem. Só faríamos uma pergunta lógica: Se os mortos não se comunicam, por que dizem insistentemente
da proibição de evocá-los? Distorção dos fatos, ou procuram esconder a VERDADE? Sempre citam passagens que lhes interessam, cujo sentido, muitas vezes, nem é o que
querem dar, ou mesmo não perceberam, por ignorância ou má vontade, que algumas são opiniões pessoais dos próprios autores bíblicos, não tendo nada a ver com a vontade
de Deus. Bem, por que, afinal, era proibido evocar os mortos? Vejam o que dizem: o culto dos mortos constituía um perigo da divinização dos mortos. Ora,
se isso ocorresse, seria um sério problema, pois os mortos iriam fazer uma concorrência com Deus, pois só a Ele deveriam consultar; e mais: somente os sacerdotes
(sacerdotes de novo, não?!), é que poderiam fazer estas consultas. Por outro lado, se é proibida a evocação dos mortos, por que então fazem e ensinam aos seus fiéis
a evocar os santos? Mas não estão todos eles mortos? Ou a proibição só vale para os outros e para eles não? Veremos, mais adiante, que a morte de Saul não teve como
fato motivador a sua consulta ao Espírito do falecido Samuel. Trata-se, apenas, de mais uma distorção; talvez aqui seja do próprio autor bíblico, pois existem, na
Bíblia, duas versões para um mesmo fato. Outro ponto que queremos realçar é que têm a maior "cara-de-pau" em modificar o sentido dos textos, alterando neles as palavras.
O termo médium somente foi utilizado, quando Kardec lançou o Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, não podendo, pois, nunca constar na Bíblia, a não ser através
das adulterações dos textos, e ainda juram, de pés juntos, que os textos são exatamente iguais aos originais! "É uma vergonha!", diria um famoso repórter. Querem,
a todo custo, passar para a responsabilidade de Deus o que, na VERDADE, foram ordens dos sacerdotes. Na Bíblia, consta que Saul foi a Endor consultar uma necromante,
entretanto, pela nota, querem dar a entender que a consulta foi a uma feiticeira. São ainda os resquícios da época da Inquisição?
Números 7,3: e levaram as oferendas diante do Senhor: seis carros cobertos e doze bois, isto é, um carro por cada dois chefes e um boi para cada chefe, e
os apresentaram diante da morada.
A presença de carros de bois, normal na civilização agrícola de Canaã, é improvável no deserto. O autor usa deste elemento, preocupado apenas em descrever
a riqueza e generosidade da oferta.
Comentários: Partindo da impossibilidade da presença de carros de bois no deserto, conforme consta da nota da Bíblia, perguntamos: ela, a Bíblia, não é absolutamente
verdadeira? Mas vemos que ela não o é; no entanto, não se cansam de afirmar justamente que ela é a palavra de Deus! Dizendo isso, caem em contradição, pois, sendo
verdadeira, não poderia dizer coisas que não fossem possíveis de acontecer. E agora?... Estamos diante do: "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".
Números 11,25-29: O Senhor desceu na nuvem e falou a Moisés. Retirou um pouco do espírito que possuía e o pôs sobre os setenta anciãos. Apenas sobre eles
pousou o espírito, puseram-se logo a profetizar, mas não continuaram. Dois homens, no entanto, tinham ficado no acampamento. Um chamava-se Eldad e o outro Medad.
O espírito repousou sobre os dois, que estavam na lista mas não tinham ido à tenda, e eles também profetizavam no acampamento. Um jovem foi correndo avisar a Moisés
que Eldad e Medad estavam profetizando no acampamento. Josué filho de Nun, ajudante de Moisés desde a juventude, disse: "Moisés, meu senhor, manda-os calar". E Moisés
lhe respondeu: "Tens ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor lhe concedesse o espírito!"
Profetizar aqui tem o sentido original de "entrar em transe, em êxtase". O fenômeno, conhecido também no cristianismo primitivo, é passageiro e não é essencial
ao carisma profético. O episódio visa colocar a origem do movimento profético posterior em Israel, e de colorido cananeu, nos tempos de Moisés.
1 Samuel 10,5-6: Em seguida irás a Gabaá de Deus, onde há uma guarnição filistéia, e quando chegares à cidade, lá darás com um bando de profetas que descem
do santuário da colina. Precedidos pelo toque da harpa, tamborim, flauta e cítara, eles estão em transe profético. E o espírito do Senhor tomará conta de ti, de
modo que entrarás em transe com eles, sendo transformado num outro homem.
Tais grupos de profetas entusiásticos encontraremos também em 19, 20-24 e 1Rs 22,10s e, em forma mais benigna, em companhia de Elizeu (2Rs 2,3; 4,38). O
nosso texto mostra certo menosprezo por estes bandos extáticos; e Saul, que é de boa família, se encontra no meio destes fanáticos de origem pouco limpa.
1 Samuel 19,19-24: Quando comunicaram a Saul que Davi estava em Naiot em Ramá, ele enviou mensageiros para prender a Davi. Estes viram a comunidade dos profetas,
presidida por Samuel, falando em transe profético. Então o espírito de Deus baixou sobre os mensageiros de Saul, de modo que também eles entraram em transe profético.
Quando referiram isto a Saul, ele mandou outros mensageiros, mas também estes foram tomados de transe profético. Saul ainda mandou uma terceira vez outros mensageiros,
os quais também entraram em transe. Então ele mesmo se pôs a caminho de Ramá. Quando chegou à grande cisterna, situada em Soco, perguntou: "Onde estão Samuel e Davi?"
Alguém respondeu: "Eles estão em Naiot em Ramá". Quando se pôs a caminho para lá, para Naiot em Ramá, baixou também sobre ele o espírito de Deus, de modo que durante
todo o caminho até chegar a Naiot em Ramá, estava em transe profético. Também ele tirou a roupa e ficou em transe diante de Samuel; caiu no chão ficou sem roupa
todo este dia e toda a noite. Por isso dizem: "Então também Saul é do número dos profetas?".
Estes transes ou delírios proféticos frustraram os planos sanguinários de Saul; lembram o episódio parecido mas contrastante de 10,5-12.
Comentários: A correlação com as práticas mediúnicas é impressionante. Hoje sabemos que é necessário o "transe mediúnico" para o intercâmbio com os espíritos.
É óbvio que com a linguagem e os conhecimentos da época não poderiam supor que tudo isto se tratava apenas de fenômeno mediúnico, pois a mediunidade, uma prerrogativa
do ser humano, todos a tem, variando apenas quanto ao grau em que cada um de nós a possui. Atenção! Saul também entrou em transe, caiu no chão, e ficou sem roupa,
por isso é que perceberam que também ele era um profeta. Que maneira estranha de se tornar profeta! O espírito de Deus "baixou" nos profetas ou um espírito de Deus?
Vejam, mudando-se apenas o artigo definido "o" para o artigo indefinido "um", o sentido ficaria mais coerente com o que realmente acontece, ou seja, a influência
ser de um espírito de Deus. Dizemos ser um espírito de Deus, pois não há um que não seja dele. E o Espírito, propriamente, de Deus não baixa em ninguém. O espírito
baixou, é uma expressão usada freqüentemente por leigos para dizer que alguém está sob a influência de um espírito. Hoje, sabemos que a pessoa que possui essa faculdade,
a mediunidade, que é inerente ao ser humano, está presente em todas as religiões, quer queiram ou não, mesmo a tratando com outros nomes, tais como: "dom", "influência
do Espírito Santo", "carisma", etc.; não importa, pois trata-se da mesma capacidade do ser humano em captar, por sintonia, as coisas do mundo espiritual.
Números 15,32.35-36: Enquanto os israelitas se achavam no deserto, um homem foi surpreendido apanhando lenha num sábado. Então o Senhor disse a Moisés: "Este
homem deve ser condenado à morte. A comunidade toda o apedrejará fora do acampamento. Toda a comunidade o conduziu para fora do acampamento e o apedrejou até morrer,
como o Senhor tinha mandado a Moisés".
A legislação sobre o sábado proibia qualquer trabalho sob pena de morte, mesmo acender o fogo ou ajuntar lenha. A comunidade toda devia apedrejar o culpado
para assim se tornar responsável pela observância da lei.
Deuteronômio 21,18-21: "Se um homem tiver um filho indócil e rebelde, que não atende às ordens de seu pai nem de sua mãe, permanecendo insensível às suas
correções, seu pai e sua mãe tomá-lo-ão e o levarão aos anciãos da cidade, à porta da localidade onde habitam, e lhes dirão: Este nosso filho é indócil e rebelde;
não nos ouve, e vive na embriaguez e na dissolução. Então, todos os homens da cidade o apedrejarão até que ele morra. Assim, tirarás o mal do meio de ti, e todo
o Israel, ao sabê-lo, será possuído de temor".
Era junto às portas da cidade que os homens se reuniam para prosear, discutir assuntos comuns e pronunciar os julgamentos.
Comentários: Dizem que devemos cumprir a Bíblia, não evocando os mortos. Só gostaríamos de saber por que teimam em levar as coisas somente para o lado que
lhes interessa? Por que não dizem para cumprirmos as leis acima? Bem que queríamos ver um líder religioso mandando um pai e uma mãe levar seu filho indócil para
a saída da cidade para ser apedrejado. Mas não é justamente o contrário o que acontece, quando algum noticiário na TV nos mostra uma rebelião, num presídio qualquer,
e o que vemos são as mães preocupadas, do lado de fora, chegarem até a ponto de agressão física, muitas vezes só para saberem notícias de seus filhos, que para nós
são apenas criminosos? Por outro lado, o leitor já imaginou se hoje fossemos matar alguém que trabalha aos sábados – ou no domingo que a igreja o "santificou em
substituição ao sábado? Quantos trabalhadores iríamos mandar para o "inferno"? E o "Não matarás", como ficaria?
Números 19,20: Contudo, um homem impuro que deixar de se purificar desta maneira será eliminado da comunidade, porque contaminaria o santuário de Iahweh.
As águas lustrais não foram aspergidas sobre ele; está, pois, impuro.
Água lustral (vv. 17-22), preparada com as cinzas de uma novilha vermelha imolada e queimada fora do acampamento (vv. 1-10), serve para apagar a impureza contraída
no contato com um morto (vv. 11-16). Este ritual, ao qual somente outro texto faz referência (Nm 31,23, além de Hb 9,13), legitima antiga prática colorida de magia,
assimilando-a a sacrifício de expiação pelo pecado (v. 17 e comp. vv. 4-5 com Lv 16,27; v. 8 com Lv 16,28). Outros costumes análogos foram assim admitidos pela Lei
mosaica (Lv 14,2-7; 16,5-10; Nm 5,17-28; Dt 21,1-9). A novilha deveria ser avermelhada, porque, no antigo Oriente, tudo aquilo que se aproxima do vermelho tem valor
profilático: esta cor evoca o sangue, princípio da vida, e protege contra a morte.
Números 31,22-23: Contudo, o ouro, a prata, o bronze, o ferro, o estanho, o chumbo, tudo aquilo que resiste ao fogo, o fareis passar pelo fogo e será puro:
todavia, será pelas águas lustrais que será purificado. E tudo aquilo que não resiste ao fogo fareis passar pela água.
A passagem pelo fogo é rito antigo, mais ou menos colorido de paganismo, ao qual o texto sobrepõe aqui o rito da purificação pelas águas lustrais (cf. 19,1+).
Deuteronômio 21,6-8: E todos os anciãos da cidade mais próxima ao morto lavarão as mãos sobre a novilha desnucada na torrente, fazendo a seguinte declaração:
"Nossas mãos não derramaram este sangue, e nossos olhos não viram. Perdoa ao teu povo Israel, que resgatastes, ó Iahweh; não permitas que um sangue inocente recaia
sobre o teu povo Israel, e este sangue lhe será perdoado".
O animal é desnucado num lugar deserto, e não se faz menção do sangue: não se trata de um sacrifício, mas sim de um velho rito mágico como os de Lv 14,2-9;
16,5-10.21-22; Nm 19,1-10, que foi assimilado pelo javismo (cf. v. 8).
Comentários: Mais rituais copiados do paganismo. Merecendo destaque a questão do fogo como símbolo de purificação. O que nos leva a crer que também na expressão
"fogo do inferno" não haveria outra significação, senão essa, ou seja, de purificação numa região inferior.
Números 20,22-23: Partiram de Cades, e os israelitas, toda a comunidade, chegaram à montanha de Hor. Iahweh falou a Moisés e a Aarão, na montanha de Hor, na
fronteira de Edom.
A montanha de Hor não é localizada. O pormenor "na fronteira de Edom" se refere à época exílica, quando os edomitas, originalmente estabelecidos a leste
da Arabá, haviam-se estendido para o oeste, em prejuízo de Judá (cf. Dt 2,1+).
Comentários: Dentre vários outros lugares não localizados, encontramos a montanha de Hor. Em se considerando que na Bíblia não há erros, não poderia acontecer
uma coisa dessa.
Números 21,8-9: O Senhor lhe respondeu: "Faze uma serpente venenosa e coloca-a sobre um poste. Quem for mordido e olhar para ela, ficará curado". Moisés
fez uma serpente de bronze e a colocou sobre um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente, olhava para a serpente de bronze e ficava curado.
A serpente na antigüidade era o símbolo da divindade que cura. Trata-se de um culto estranho que se introduziu até no templo de Jerusalém, e foi abolido
só no tempo de Ezequias. Para afastar a impressão de magia, já no livro da Sabedoria se afirma que a cura não provinha da serpente mas da misericórdia divina.
Comentários: Se Deus ordena que cumpramos: "Não farás para ti ídolos, nem figura alguma do que existe em cima, nos céus, nem embaixo, na terra, nem do que
existe nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles, nem lhes prestarás culto, pois eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento. ..." (Dt 5,8-9) Como
fica Ele mesmo mandando fazer uma figura de uma serpente? Se o "olhar para ela" entendermos como uma adoração, a coisa ficaria pior ainda. Não parece aí mais uma
nova contradição? Ficamos com a idéia de que aquele povo ao ser curado, quando olhava para a serpente de bronze, poderia com isso elevar a serpente da categoria
de "demônio", no pensamento de alguns, para a categoria de um deus? Aí sim, despertaria todo o ciúme de Deus (verdadeiro), pois ele não diz ser um Deus ciumento?
Dêem um pulinho lá na frente, e vejam o que encontramos nos comentários da Bíblia dos protestantes sobre este texto.
Números 22,7: Os anciãos de Moab e os de Madiã, levando consigo o pagamento do adivinho, foram até Balaão e lhe transmitiram as palavras de Balac.
Era costume pagar profetas e adivinhos pelo serviço prestado.
Comentários: Nos dias de hoje, vemos, constantemente, pessoas depois de nos pedirem algum tipo de ajuda ou até mesmo por orações, nos perguntarem: Quanto
é? O que contribui muito para isso são as próprias religiões organizadas, que exigem pagamento por: batismos, orações, missas, casamentos, etc. Não seguem a Jesus,
quando ele nos diz: "Dai de graça o que de graça recebestes" (Mt 10,8). Por que ainda persistem no erro? É por causa do dinheiro? Por que não põem em prática este
ensinamento de Jesus: "Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6,33). Como ele fica nesta história?
Números 23,23: Não há magia em Jacó, nem adivinhação em Israel. A seu tempo se dirá a Jacó e a Israel o que Deus vai fazer.
O profetismo autêntico de Israel é superior à magia e à adivinhação, próprias dos pagãos. Israel tem o profetismo da palavra, segundo o qual Deus se comunica
com o povo por meio de mensageiros credenciados. Balac quis usar a magia do adivinho Balaão contra Israel, mas Deus o transformou em profeta da palavra, movido pelo
seu espírito, em favor de Israel.
Deuteronômio 18,9-15: Quando tiveres entrado na terra que o Senhor teu Deus te dá, não imites as práticas abomináveis dessas nações. Não haja em teu meio
quem faça passar pelo fogo o filho ou a filha, nem quem se dê à adivinhação, nem haja astrólogo nem macumbeiro nem feiticeiro; nem que se dê à magia, consulte médiuns,
interrogue espíritos ou evoque os mortos. Pois o Senhor abomina quem se entrega a tais práticas. É precisamente por tais abominações que o Senhor teu Deus exterminará
na tua presença estas nações. Tu pertencerás sem reservas ao Senhor teu Deus. Pois os povos que vais espoliar são os que consultam feiticeiros e adivinhos, mas a
ti o Senhor teu Deus não permite nenhuma destas práticas. O Senhor teu Deus suscitará em teu favor do meio dos irmãos um profeta como eu: é a ele que deverás ouvir.
Contrapõem-se nitidamente duas formas de profetismo ou de mediação entre os homens e Deus. O profetismo de tipo cananeu, com suas práticas para conhecer
o futuro, ou a vontade dos deuses, visava controlar a divindade, tornando-a favorável ao homem. Contra isso o Dt. estabelece à mediação do "profeta como Moisés",
a cuja palavra, pronunciada em nome de Deus, o israelita deve obedecer.
Comentários: Dizemos que os espíritos superiores são os medianeiros entre os homens e Deus, e podem, inclusive, estar reencarnados. Também dizemos existir
outra forma de mediunismo, aquele sem compromisso nenhum com Jesus, onde prevalecem as coisas do mundo. Assim, também, naquela época, já se identificavam diferenças
entre os tipos de profecia (leia-se: mediunismo) sendo tudo a mesma coisa. Óbvio, também, que, por detrás disso, queriam controlar tal atividade. Lembrem-se de que
pagavam aos profetas e adivinhos. Não demonstramos anteriormente, quando falamos do urim e tumim, a existência da adivinhação pelo "adivinhador oficial" que se fazia
entre profetas ou sacerdotes? Macumbeiro e médiuns, existiam essas palavras naquela época? Como não existiam, o que demonstramos um pouco atrás, então adulteraram
os textos. Assim, novamente, a adulteração da Bíblia é realizada para justificar posições pessoais. É lamentável!
Deuteronômio 4,16-18: Não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida em forma de ídolo: uma figura de homem ou de mulher, figura de algum animal
terrestre, de algum pássaro que voa no céu, de algum réptil que rasteja sobre o solo, ou figura de algum peixe que há nas águas que estão sob a terra.
Comentários: Como fica aí a questão das imagens dos santos? Não adianta suavizar as coisas, pois a veneração que se faz aos santos, quer queiram ou não,
transformaram-nos em ídolos, ou deuses, que muitas vezes são mais venerados que o próprio Deus.
Deuteronômio 7,6: Pois tu és um povo consagrado ao Senhor teu Deus. O Senhor teu Deus te escolheu dentre todos os povos da terra, para seu povo particular.
Pela eleição Israel é separado dos demais povos, e se torna a propriedade particular e exclusiva do Senhor, a quem se relaciona de modo diferente dos outros
povos. Com isso Israel recebe um tratamento especial, em prejuízo dos outros povos que deverão ser eliminados por constituírem uma tentação para a idolatria.
2 Reis 18,33-35: Porventura um único dentre os deuses dos povos conseguiu salvar o país das mãos do rei da Assíria? Onde estão os deuses de Emat e Arfad,
onde os deuses de Sefarvaim, Ana e Ava? E onde estão os deuses da Samaria? Acaso salvaram a Samaria da minha mão? Quem dentre todos os deuses destes países foi capaz
de salvar o seu país da minha mão? O Senhor seria capaz de salvar Jerusalém da minha mão?
Na concepção antiga cada deus tinha a sua zona de poder e influência, limitada geralmente ao próprio país. Vencido um país ou cidade, também era considerado
vencido o respectivo deus.
Isaías 59,17: Vestiu a justiça como uma couraça e pôs na cabeça o capacete da salvação; pôs vestimentas de vingança como túnica e envolveu-se de zelo como
de um manto.
Deus é apresentado como um guerreiro que intervém a favor do seu povo sofrido, para quem é todo salvação.
Comentários: Deus, sendo infinitamente justo, nunca iria escolher um povo em prejuízo de outro, ainda mais eliminando os outros povos. É uma tremenda ignorância
do ser humano atribuir tal comportamento a Deus. É fruto da mentalidade da época, pois achavam, inclusive, que cada povo tinha um deus. Acreditavam que o Deus de
Israel era o mais forte e poderoso de todos eles, pois sempre vencia os outros, mesmo à custa de eliminar seres humanos, sua própria criação. Somente no Antigo Testamento,
encontramos várias passagens (45 vezes) em que Deus é tratado de o Todo-poderoso. Se cada povo tinha um deus, poderemos supor que cada deus tinha criado o seu próprio
povo, a quem protegia. Não há como admitir mais este absurdo.
Deuteronômio 10,16-17: Circuncidai, pois, o vosso coração e nunca mais reteseis a vossa nuca! Pois Iahweh vosso Deus é Deus dos deuses e o Senhor dos senhores,
o Deus grande, o valente, o terrível, que não faz acepção de pessoas e não aceita suborno.
Deus concede sua graça com toda liberdade e imparcialidade.
Comentários: Estranha forma de falar sobre a supremacia de Deus. Ao se dizer que Ele é Deus dos deuses e Senhor dos senhores, teria que se admitir a existência
de outros deuses e outros senhores, pois, só assim, haveria sentido nessa afirmação. Mas sempre se afirmou que Deus é único, que não há outros deuses! E então, como
fica essa afirmação? Aos que dizem serem os escolhidos de Deus, colocamos para reflexão a afirmativa de que Deus "não faz acepção de pessoas". Aos que pensam barganhar
com Deus, para comprar o seu "lote" no céu, informamos que Deus "não aceita suborno".
Deuteronômio 22,9-12: Não semearás a vinha com duas espécies de semente, pois neste caso tudo seria declarado coisa santa, o grão semeado e o produto da
vinha. Não lavrarás com o boi e o jumento atados à mesma canga. Não vestirás veste tecida de lã e linho misturados. Farás borlas nas quatro pontas da veste com que
te cobrires.
Referência a alguma antiga crença de caráter mágico, proibindo misturas, cujo sentido nos é desconhecido.
Juízes 5,20-21: Dos céus as estrelas combateram, de suas órbitas combateram contra Sísara. A torrente do Quison os arrastou, a torrente do Quison os enfrentou.
(Pisoteia, minha alma, com força!).
A mitologia cananéia atribui a origem da chuva às estrelas. Uma tempestade noturna, repentina, seguida de inundação da planície, banhada pelo Quison, surpreendeu
os carros de Sísara, inutilizando seu poder de ataque.
1 Macabeus 12,21: Foi encontrado um documento, relativo aos espartanos e aos judeus, informando que estes dois povos são irmãos, sendo ambos da raça de Abraão.
Esta lenda sobre o parentesco entre judeus e espartanos já circulava, quando o sumo Sacerdote Jasão ali se refugiou em 168 a.C.
Isaías 6,1-2: No ano da morte do rei Ozias, eu vi o Senhor sentado num trono muito elevado; as franjas de seu manto enchiam o templo. Os serafins se mantinham
junto dele. Cada um deles tinha seis asas; com um par (de asas) velavam a face, com outro cobriam os pés e, com o terceiro, voavam.
Serafins: Primitivamente "saraf" é uma espécie de dragão alado. Os que viu Isaías são seres celestes, de alta perfeição e de forma bastante humana.
Comentários: Aqui, mais uma vez, estamos diante das crenças, das lendas e das mitologias de que a Bíblia está impregnada. E ainda dizem ser tudo a palavra
de Deus, o que é fruto da ignorância humana. Não podemos rebaixar Deus a esse vergonhoso quadro, principalmente levando-se em conta que O temos como sendo a mais
perfeita sabedoria. Querem dar outro sentido a algumas passagens, para tentarem fugir do ridículo, mas alteram completamente o sentido que consta do texto. Por exemplo,
a visão que Isaías teve dos seres que estavam junto de Deus, ele diz serafins, só que querem amenizar a coisa, dizendo que ele viu seres celestes, de alta perfeição
e de forma bastante humana, o que não corresponde à descrição, e é mera suposição. Interessante, também, observarmos que, normalmente, colocam os seres que acham
viver nos céus com asas – querubins, serafins, anjos -, pois era difícil, àquela época, alguém conceber um ser que morasse no céu sem asas para locomover-se até
lá, a não ser voando, para isso precisava ter asas.
Deuteronômio 25,5-6: Quando dois irmãos morarem juntos e um morrer sem deixar filhos, a mulher do defunto não se casará fora da família com um estranho.
O cunhado irá tomá-la para esposa para cumprir o dever do levirato. O primogênito que ela tiver receberá o nome do irmão morto para que seu nome não desapareça de
Israel.
A instituição do levirato (levir, "cunhado" em latim), conhecida entre os assírios e hititas, tinha dupla finalidade: assegurar a descendência ao irmão falecido
casando-se com a cunhada, ou, como no presente caso, manter a propriedade familiar dentro do mesmo clã. Os saduceus citam esta doutrina para contestar a ressurreição.
Comentários: A turma do "A Bíblia diz" será que cumpre isso? Tendo tudo que ali está como se fosse ordem direta de Deus, deveria cumprir; não é mesmo? Mas
sobre a comunicação dos mortos, isto lá é outra coisa... Deve ser cumprida, pois quem não a cumprir será considerado espírita e, como tal, irá para o fogo do inferno.
Amém, irmão! E, mais uma vez: "ô coitado!" Já nem queremos mais falar quanto isso é ridículo!
Josué 3,14-17: Quando o povo deixou as tendas para atravessar o Jordão, os sacerdotes que levavam a arca da aliança estavam na frente do povo; e quando os
que levavam a arca chegaram ao Jordão e os pés dos sacerdotes que levavam a arca se molharam na beira da água (pois o Jordão transborda sobre as margens durante
o tempo da ceifa), a água que vinha de cima parou, levantando-se num só monte, bem longe, em Adam, cidade que fica ao lado de Sartã, e as que desciam ao mar da Arabá,
o mar Morto, ficaram inteiramente cortadas, e o povo atravessou diante de Jericó. Os sacerdotes que levavam a arca da aliança do Senhor se postaram no leito seco,
no meio do Jordão, imóveis, enquanto todo Israel atravessava a pé enxuto, até que toda a nação terminou de atravessar o Jordão.
A travessia do Jordão é um milagre, como a travessia do mar Vermelho. Os dois milagres emolduram o tempo do deserto; o do mar Vermelho marca a passagem da
paralisia na escravidão para a liberdade do movimento seminômade; o do Jordão marca a passagem da vida seminômade para o "repouso" da vida sedentária.
Josué 6,1.5: Jericó estava rigorosamente fechada por causa dos israelitas. Ninguém saía e ninguém entrava. Quando derem um toque prolongado, quando ouvirdes
o som da trombeta, todo o povo lançará um grande grito; o muro da cidade virá abaixo, e o povo subirá, cada um à sua frente.
Por ocasião da conquista, Jericó não tinha muralhas e talvez nem fosse habitada, pois já fora destruída há dois séculos. Temos aqui uma comemoração festiva,
de caráter litúrgico (arca, procissão, sacerdotes, 7 dias, grito, toque de trombeta) e guerreiro (arca, tropas de guerra, grito, toque de trombeta), talvez a representação
ritual de uma guerra santa. O tema central é a conquista maravilhosa da cidade: Deus venceu o inimigo para dar a terra ao seu povo.
Rute 3,10: Ele disse: "O Senhor te abençoe, minha filha! Esta segunda obra de caridade é melhor que a primeira, porque não buscaste um pretendente jovem,
pobre ou rico".
Importante é este enunciado sobre a atuação humana e a intervenção divina: Deus não nos salva do perigo por meio de milagre; o homem, embora favorecido por
Deus, terá que empenhar-se em exercer suas atividades.
Comentários: Lá atrás, falaram que a travessia do Mar Vermelho não foi um milagre, mas apenas um fenômeno natural; aqui, jogam tudo por terra. Até em situações
em que os milagres não poderiam ocorrer, aí os colocam. Apesar de sempre quererem mostrar Deus realizando "milagres", para salvá-los de alguma situação, na nota
dizem que Deus não nos salva do perigo por meio de milagre: isto não é justamente o contrário? Confessamos que ficamos decepcionados. Deixem "os milagres" acontecerem.
O que é na verdade um milagre? É um fenômeno natural, cujas causas ou leis desconhecemos; por isso atribuímos a uma potência sobrenatural a sua realização. Raios,
trovões, chuvas, vulcões, etc., eram algo de que não se conheciam as leis; passavam então a atribuí-los como sendo atitudes de Deus: ira divina, castigo, ódio, vingança,
etc. O que mais nos espanta em tudo isto é que tentam, de todas as maneiras, levar essa mentalidade à frente, passando às novas gerações essa forma distorcida de
perceber a VERDADE. Mas, para ressaltar que nem eles mesmos se entendem, vejamos ainda a nota da Bíblia Edições Paulinas em Js 6,20-21, com referência à queda dos
muros de Jericó: "A queda dos muros de Jericó não se deveu nem ao grito de guerra, nem ao som das trombetas, e não se pode explicar senão como milagre. Portanto
outra interpretação deve ser rejeitada como falsa e arbitrária (Hb 11,30)". Aqui, o que querem mesmo ressaltar é a intervenção divina.
Josué 7,2: Ora, Josué enviou de Jericó alguns homens em direção a Hai, que fica perto de Bet-Áven, ao oriente de Betel, e disse-lhes "Subi e explorai o país".
Eles subiram para explorar Hai.
Hai (nome que significa "a ruína") é atualmente et-Tell (que em árabe tem o mesmo sentido). O lugar estava em ruínas há muito tempo, na época de Josué, e
é difícil atribuir a esta narrativa valor histórico. Ela é paralela à narrativa da tomada de Gabaá (Jz 20) e pode ter sido relatada em Betel, para contrabalançar
a lembrança da derrota de Benjamim em Gabaá pela narrativa de um feito glorioso que se atribuía à época da conquista, - "que fica perto de Bet-Áven", glosa que introduz
a alcunha de "casa da vaidade", aplicada mais tarde a Betel (Os 4,15 etc.; cf. Am 5,5).
Comentários: Parece que aqui aconteceu exatamente o que quiseram fazer em relação à tomada de Jericó, já que em ambos os casos só havia ruínas. No capítulo
8 é narrada a conquista de Hai. Onde ficamos, então, com a inspiração divina e a inerrância bíblica? Até quando irão insistir nesse absurdo teológico? Quantos ainda
deixarão de acreditar na Bíblia, por causa dessas coisas? Não era muito melhor separar logo o joio do trigo, para se salvar a própria credibilidade bíblica? Se "é
difícil atribuir a esta narrativa valor histórico", então, como aceitar que ela tenha valor de inspiração divina? Ficamos no: acredite quem quiser!
Josué 8,3: Levantou-se Josué, com todos os combatentes, para subir contra Hai. Josué escolheu trinta mil homens valentes e os fez partir de noite.
Josué 8,12: Josué tomou cerca de cinco mil homens e os colocou em emboscada entre Betel e Hai, ao ocidente da cidade.
Cifra mais verossímil que a de 30.000, no v. 3.
Juízes 20,2: Os chefes de todo o povo, todas as tribos de Israel assistiram à assembléia do povo de Deus, quatrocentos mil homens a pé, que sabiam usar a
espada.
Esse número, como os da narrativa dos combatentes (vv. 15.21) etc. é evidentemente exagerado.
Comentários: Como é interessante, agora são eles que questionam a veracidade da narrativa bíblica. Mas como são incoerentes, pois não cansam de afirmar que
a Bíblia não contém erro algum!
Josué 24,25-27: Fez portanto Josué o concerto naquele dia, e propôs ao povo os preceitos e ordenações em Siquém. Escreveu também todas estas coisas no livro
da lei do Senhor: e tomou uma pedra muito grande, e a pôs debaixo de um carvalho, que estava no santuário do Senhor: e disse para todo o povo: Esta pedra que vedes,
servir-vos-á de testemunho, de que ela ouviu todas as palavras que o Senhor vos disse: para que depois o não possais negar, nem mentir ao Senhor vosso Deus.
Ela ouviu: a pedra, como que se tivesse ouvido, é invocada como testemunha entre as promessas de Deus e os juramentos dos israelitas.
Comentários: Só gostaríamos de ver o povo negando, para que tivessem que ir àquela pedra em busca do testemunho dela. Se precisamos de uma testemunha para
qualquer fato, nós devemos escolher uma que tenha plenas condições de dizer o que viu, não é mesmo? Será que esta pedra falaria, quando fosse convocada para dar
o seu testemunho? Por aí já dá para se ver que não podemos pegar tudo ao pé da letra como querem alguns dos nossos detratores de plantão.
Juízes 1,18: Então Judá se apossou de Gaza e do seu território, de Ascalon e do seu território, de Acaron e do seu território.
Judá não conquistou estas cidades da Filistéia nem no tempo da ocupação, nem mais tarde. Aliás, este v. está em contradição com 19b. A Setenta contorna o
problema com uma negação: "Judá não conquistou..." É possível que o texto hebraico reflita, exagerando-as, as vitórias de Davi sobre os filisteus (2Sm 5,17-25; 8,1).
Juízes 1,21: Quanto aos jebuseus que habitavam em Jerusalém, os filhos de Benjamim não os desalojaram, e até o dia de hoje os jebuseus têm vivido em Jerusalém
com os filhos de Benjamim.
Jerusalém será de fato contada entre as cidades de Benjamim (Js 18,28), mas só será conquistada por Davi (2 Sm 5,6-9). Esta informação foi interpolada em
Js 15,63, substituindo Benjamim por Judá.
Comentários: Vários territórios que, pelas narrativas bíblicas, foram conquistados não correspondem à realidade. Observar que na versão dos Setenta tentaram,
de alguma sorte, acabar com a contradição, mas como a verdade sempre aparece, foi desmentido o que quiseram esconder, como se fosse possível tapar o Sol com uma
peneira.
Juízes 7,4-7: Iahweh disse a Gedeão: "Este povo ainda é muito numeroso. Faze-os descer à beira da água e lá os provarei para ti. Aquele de quem eu disser:
'Este irá contigo', esse contigo irá. E todo aquele de quem eu disser: 'Este não irá contigo', esse não irá". Gedeão fez, pois, todo o povo descer à beira da água,
e Iahweh lhe disse: "Todos aqueles que lamberam a água com a língua como faz o cão, tu os porás a um lado, assim com todos os que se ajoelham para beber". O número
daqueles que lamberam a água levando as mãos à boca foi de trezentos.Todos os outros se ajoelharam para beber. Então Iahweh disse a Gedeão: "É com os trezentos que
lamberam a água que vos salvarei e entregarei Madiã nas tuas mãos".
Comentários: Fórmula originalíssima para se escolher dentre os homens os que seriam os combatentes na empreitada de guerra. Até quando ainda insistirão em
afirmar que a Bíblia é a palavra de Deus? Não dá para aceitar tanta coisa absurda como mais essa que estamos vendo agora, como proveniente da divindade – o Senhor
do Universo!
Rute 1,2-4: Esse homem chamava-se Elimelec, sua mulher, Noemi, e seus dois filhos, Maalon e Quelion, eram efrateus, de Belém de Judá. Chegando aos Campos de
Moab, ali se estabeleceram. Morreu Elimelec, marido de Noemi, e esta ficou só com seus dois filhos. Eles tomaram por esposas mulheres moabitas, uma chamada Orfa,
e a outra, Rute...
Os nomes talvez sejam fictícios e escolhidos por causa do seu significado: os dois filhos que morrem jovens, Maalon: "enfermidade", e Quelion: "desfalecimento";
Orfa: "a que volta as costas"; Rute: "a amiga"; Noemi: "minha doçura": Elimelec: "meu Deus é rei".
Comentários: Nas explicações onde não encontram saída para se obter a realidade dos fatos, sempre aparecem com "talvez", "provavelmente", etc. Poucas vezes
assumem que a coisa não é coerente. É o caso dessa passagem onde dizem que "talvez" os nomes sejam fictícios; é certo que não os encontraram em lugar algum para
que pudessem atestar sua veracidade. Portanto, não adianta sair pela "tangente"!
1 Samuel 6,2-5: Então os filisteus chamaram os sacerdotes e adivinhos e lhes perguntaram: "O que devemos fazer com a arca do Senhor? Indicai-nos como a devemos
mandar de volta para casa!" Eles responderam: "Se quiserdes mandar de volta a arca do Deus de Israel, não a mandeis de mãos vazias; pagai-lhe um dom de expiação!
Então sereis curados e sabereis por que a sua mão não se aparta de vós". Perguntaram então: "Que espécie de dom expiatório lhe devemos pagar?" Eles responderam:
"Segundo o número dos príncipes dos filisteus, cinco tumores de ouro e cinco ratinhos de ouro, pois uma mesma praga se abateu sobre todos, sobre vós e vossos príncipes.
Fazei reproduções de vossos tumores e ratinhos que devastam o país. Prestareis assim glória ao Deus de Israel; talvez ele alivie a pressão da sua mão sobre vós,
os deuses e o país".
Comentários: Será que é daí que as pessoas tiveram como origem o costume de colocar diante dos santos reproduções de coisas ou órgãos sobre os quais tiveram
algum tipo de cura por intermédio deles? A nota da Bíblia Edições Paulinas nos confirma isto: "Não era raro entre os antigos oferecer, gravadas em ouro ou em tabuinhas,
as efígies das partes curadas do corpo ou de animais daninhos". É, também, nos pedidos aos santos que vamos encontrar a grande contradição dos católicos, quando
afirmam que os mortos não podem se comunicar; se não há a comunicação, tais pedidos seriam em vão, não é mesmo? Ou somente os espíritos dos santos católicos, seres
humanos desencarnados, são os que podem se manifestar?
1 Samuel 9,3-10.18-19: Tendo-se perdido as jumentas de Cis, pai de Saul, disse aquele ao seu filho: "Toma um servo contigo e vai procurar as jumentas". Saul
atravessou a montanha de Efraim e entrou na terra de Salisa, sem nada encontrar; percorreu a terra de Salim, mas em vão. Na terra de Benjamim não as encontrou tampouco.
Tendo chegado à terra de Suf, Saul disse ao seu servo: "Vem, voltemos. Meu pai poderia não mais pensar nas jumentas e ficar com cuidados por nós". – Nesta cidade,
disse-lhe o servo, há um homem de Deus, varão muito considerado; tudo o que ele prediz se cumpre. Vamos lá; talvez ele nos mostrará o caminho que devemos tomar".
Saul respondeu: "Está bem, vamos; mas o que havemos de oferecer-lhe? Nossos alforjes estão vazios, e não temos presente algum para dar ao homem de Deus. O que nos
resta?" – "Tenho aqui um quarto de siclo de prata, respondeu o servo; dá-lo-ei ao homem de Deus para que ele nos mostre o caminho". (Antigamente, em Israel, todo
o que ia consultar a Deus, dizia: "Vinde, vamos ao vidente". Chamava-se então vidente ao que hoje se chama profeta.) Saul disse ao seu servo: "Tens razão. Anda,
vamos". E foram à cidade onde estava o homem de Deus. Saul aproximou-se de Samuel à porta da cidade e disse-lhe: Rogo-te que me digas onde é a casa do vidente."
– "Sou eu mesmo o vidente, respondeu Samuel; sobe na minha frente ao lugar alto; comereis hoje comigo. ..."
Homem de Deus, um religioso, título aqui atribuído a Samuel e mais tarde a Elias e Eliseu.
Comentários: Vejam que, quando iam consultar a Deus diziam: "vamos ao vidente, o homem de Deus". Se dissermos médium no lugar de vidente, como antigamente
se dizia, será que deixaríamos muita gente embaraçada? Esse mesmo tipo de faculdade ou dom, que antes tinham os profetas e os videntes, possuem os médiuns de hoje.
A única diferença é que atribuíam essa faculdade a alguns privilegiados e nós falamos que todos a possuem, em graus que vão desde o menor até o maior. Não podemos
deixar de ressaltar que não aprovamos, de maneira alguma, o uso dessa faculdade para as coisas frívolas e mundanas, principalmente a troco de favores ou dinheiro,
mas antes, sempre de uma maneira nobre e elevada, de tal forma a não fugir dos exemplos de Jesus. Os que abraçam outros tipos de doutrinas, até podem fazer; é problema
deles, e não nosso. Mas atribuir tais práticas como sendo do Espiritismo, isso só é feito por pura calúnia, o que vem colocar quem faz isso contrariando a regra
de ouro: "Tudo o que desejais que os homens vos façam, fazei vós a eles. Pois esta é a Lei e os Profetas" (Mt 7,12).
1 Samuel 16,14-16.23: O espírito do Senhor se tinha retirado de Saul e cada vez mais freqüentemente o assaltava um mau espírito da parte do Senhor. Então
os cortesãos de Saul lhe disseram: "Está bem claro que o espírito mau de Deus te assalta. Ordene nosso senhor – nós teus servos estamos às tuas ordens – que procuremos
um homem que saiba tocar cítara. Quando vier sobre ti o mau espírito de Deus, ele vai tocar com sua mão e te sentirás melhor". Quando o mau espírito de Deus se apoderava
de Saul, Davi tomava a cítara, sua mão dedilhava as cordas e Saul se sentia aliviado e melhorava, e o espírito mau se afastava dele.
O espírito mau: assim como tudo o que era estranho e inexplicável era atribuído a Deus, os acessos de depressão e melancolia e a mania de perseguição do
rei eram tomados como provenientes de um mau espírito mandado por Deus.
1 Samuel 18,10-11: Ora, no dia seguinte, o espírito mau de Deus tomou conta de Saul, de modo que ele teve um acesso de fúria na sua casa. Davi dedilhava
a cítara como de costume, enquanto Saul segurava a lança na mão. Em dado momento arremessou a lança, com a idéia: "Vou pregar Davi na parede!" Mas Davi se esquivou
por duas vezes.
Espírito mau: veja nota em 16,14.
1 Samuel 19,9-10: Um dia um espírito mau do Senhor baixou sobre Saul; ele estava sentado em casa com a lança na mão, enquanto Davi dedilhava a cítara. Em
dado momento Saul quis espetar a Davi na parede com a lança, mas Davi conseguiu esquivar-se de Saul, de modo que este acertou com a lança apenas a parede. Davi fugiu,
escapando ileso.
Ezequiel 2,1-2: Ele me disse: "Filho do homem, põe-te de pé! Quero falar contigo!" Logo que ele me falou, entrou em mim um espírito e me pôs de pé. ...
O espírito é uma força especial que Deus concede aos juízes e antigos profetas de Israel. Ela os anima a executar a missão de agir ou de falar em nome de
Deus.
Ezequiel 8,1-3: ... Nisso a mão do Senhor Deus pousou sobre mim. Então olhei e vi uma figura com aspecto de homem. Do que parecia ser a cintura para baixo,
era de fogo. Da cintura para cima, era como se houvesse uma claridade, como o brilho de ouro incandescente. Ele estendeu uma forma de mão que me agarrou pelos cachos
dos cabelos. Então o espírito me arrebatou pelos ares e levou-me em êxtase a Jerusalém, até a entrada da porta interna, que dá para o norte, local onde se acha a
estátua rival que provoca ciúme.
Ezequiel 11, 1-5: Então o espírito me arrebatou e me levou até à porta Oriental do templo do Senhor, que olha para o leste. À entrada da porta deparei com
vinte e cinco homens. No meio deles vi Jezonias filho de Azur e Feltias filho de Banaías, chefes do povo. Ele me disse: "Filho do homem, estes são os maquinadores
da maldade e os que dão conselhos perniciosos nesta cidade: "Não estaremos em breve construindo casas? – dizem eles. Ela é panela e nós somos a carne!" Por isso,
profetiza contra eles! Profetiza, filho do homem!" O espírito do Senhor baixou sobre mim e mandou-me dizer: "Assim diz o Senhor: "É isso mesmo que pensais, casa
de Israel! Eu conheço vossas pretensões!
Comentários: É interessante como, algumas vezes, certas pessoas chegam perto do que diz o Espiritismo, mas, por um motivo ou outro, não querem mudar suas
posições; por isso, não admitem como verdadeiro algo que os colocaria em contradição com as suas pregações dogmáticas. Assim sendo, fingem não ver e passam adiante.
Sabemos que os espíritos podem influenciar algumas coisas em nossas vidas. Não podemos generalizar nunca; mas alguns casos de depressão, melancolia, mania de perseguição
podem realmente ser provenientes de um espírito mau do Senhor. Não ficamos doidos, não. Perguntamos: há alguma coisa neste mundo que não é criação de Deus? Claro
que não, me responderão, com certeza. Assim, também, diremos: um espírito mau pertence ao Senhor por ter sido criado por ele, como também os bons, é obvio. Observar
que no texto temos o espírito mau de Deus e um espírito mau de Deus; será que cochilaram na tradução, deixando passar o artigo indefinido "um" ao invés de "o", artigo
definido? Vejam que, num dos textos, dizem: "um espírito baixou sobre Saul"; o mesmo se diz de um médium recebendo influências espirituais. Não é a expressão normalmente
utilizada por aqueles que não possuem nenhum conhecimento do mecanismo da mediunidade, ou por aqueles que insistem em denegrir a imagem do Espiritismo? Outro texto
nos traz que "um espírito me arrebatou"; além desta, temos, na Bíblia, várias outras passagens com esta expressão. Ao que tudo indica, trata-se de um fenômeno de
desdobramento, onde um espírito desencarnado (ou de um morto, numa linguagem mais popular) conduz o espírito de um encarnado a outro lugar, podendo ser até mesmo
em alguma região espiritual, pois bem sabemos que o espírito e o corpo são partes independentes de um todo, sendo que o primeiro não necessita do segundo para sobreviver.
E, finalmente, "entrou em mim um espírito e me pôs de pé" fenômeno este que se assemelha a uma "incorporação" espiritual, onde a força do espírito coloca de pé aquele
sobre o qual ele exerce a sua influência. Tudo muito claro, mesmo para os que têm pouco conhecimento deste mecanismo. Quando Saul ficava "atacado", chamavam Davi
para tocar cítara. Seria uma desobsessão realizada por meio da música? Bem provável, não?
1 Samuel 17,4-7: Saiu do acampamento filisteu um grande guerreiro. Chamava-se Golias, de Gat. A sua estatura era de seis côvados e um palmo... A haste da
sua lança era como uma travessa de tecelão, ...
2Sm 21,19 atribui a vitória sobre Golias a um dos valentes de Davi, e essa tradição parece ser a mais antiga. A tradição primitiva do cap. 17 só falava de
uma vitória de Davi sobre um adversário anônimo, "o filisteu". O nome de Golias foi acrescentado aos vv. 4 e 23. A estatura do filisteu atinge quase três metros.
Comentários: Mais uma vez, encontramos duas versões diferentes para um mesmo fato. Afinal, foi Davi quem matou a Golias ou foi Elcanã, filho de Iari, de Belém,
um dos seus valentes? Qual das "inspirações divinas" é a verdadeira? Mesmo que aqui se atribua a um erro de copista havendo divergência entre quem matou a Golias
- se foi Davi ou Elcanã - , esse procedimento não faz da Bíblia uma verdade. Se há erro nela, então não se poderá admitir que ela seja a palavra de Deus, pois deixará
em maus lençóis o soberano criador do cosmo, como o inspirador dos autores bíblicos. De qualquer forma, a comparação da lança deste filisteu com uma travessa de
tecelão, que também acontece em 2Sm 21,19, compromete, por demais as narrativas, deixando-nos supor que se trata inequivocamente da mesma pessoa. A nota sobre o
passo 2Sm 21,19 é dos tradutores da Bíblia de Jerusalém.
1 Samuel 17,54: Davi apanhou a cabeça do filisteu e a levou a Jerusalém, e as suas armas ele as levou para sua tenda.
Esse v. é adição: Jerusalém só foi conquistada mais tarde (2Sm 5,6-9) e Davi não tinha tenda particular.
Comentários: Como acreditar piamente na Bíblia, se nela existem adições? E mais: como acreditar, quando os fatos não correspondem à realidade? Davi levou
as armas para sua tenda, apesar dele não possuir tenda alguma? Pode tanta incoerência?
1 Samuel 18,1-4: Tendo Davi acabado de falar com Saul, a alma de Jônatas apegou-se à alma de Davi, e Jônatas começou a amá-lo como a si mesmo. Naquele mesmo
dia Saul o reteve em sua casa e não o deixou voltar para a casa de seu pai. Jônatas fez um pacto com Davi, que ele amava como a si mesmo. Tendo o seu manto, deu-o
a Davi, bem como a sua armadura, sua espada, seu arco e o seu cinto.
1 Samuel 19,1-2: Saul falou ao seu filho Jônatas e a todos os servos, ordenando-lhes que matassem Davi. Mas Jônatas, que tinha grande afeição por Davi, preveniu-o
disso: "Saul, meu pai, procura matar-te. Está de sobreaviso amanhã cedo; esconde-te."
1 Samuel 20,17: Jônatas conjurou ainda uma vez a Davi, em nome da amizade que lhe consagro, pois o amava de toda a sua alma.
1 Samuel 20,41-42: Logo que ele partiu, deixou Davi o seu esconderijo e curvou-se até à terra, prostrando-se três vezes; beijaram-se mutuamente, chorando,
e Davi estava ainda mais comovido que o seu amigo. Jônatas disse-lhe: "Vai em paz, ...
2 Samuel 1,17-18.26: Compôs então Davi o seguinte cântico fúnebre sobre Saul e seu filho Jônatas, ordenando que fosse ensinado aos filhos de Judá. É o canto
do Arco, que está escrito no Livro do Justo:
(...)
Jônatas, meu irmão, por tua causa
Meu coração me comprime!
Tu me eras tão querido!
Tua amizade me era mais preciosa
Que o amor das mulheres.
(...)
Comentários: Como pegam tudo que consta na Bíblia e dizem que devemos cumprir, se eles quiserem cumprir essas: que Deus os ajude. Não parece que temos aí
um "lindo caso de amor" entre dois homens? Vejamos o que "A Bíblia diz" sobre a homossexualidade: "Se um homem dormir com outro, como se fosse mulher, ambos cometeram
uma perversidade, e serão punidos com a morte: são réus de morte." (Lv 20,13). Encontramos aqui, novamente, resquício de uma sociedade machista, a não ser que pela
Lei Divina a mulher poderia deitar-se com outra como se fosse homem, hipótese em que seria uma sociedade permissiva. Mas, seguindo o caso de Jônatas e Davi, vejam:
foi amor à primeira vista, beijam-se, um trai o próprio pai para salvar o outro, choram pela separação e, quando o primeiro morre, o outro lhe faz um lindo cântico
de amor, onde diz que o amava mais que as mulheres. "Ah! Meu Deus!"
1 Samuel 19,1-2: ...Ora, Jônatas, filho de Saul, amava muito Davi, e advertiu Davi, dizendo: "Meu pai busca a tua morte. Fica de sobreaviso amanhã de manhã,
procura o teu refúgio e esconde-te. ..."
Este episódio não concorda com a narrativa do cap. 20, no qual Jônatas (v. 2) ainda não sabe nada das intenções criminosas de seu pai. São duas tradições
sobre a intervenção de Jônatas a favor de Davi.
1 Samuel 19,11-12: ...Mas Micol, mulher de Davi, lhe deu este conselho: "Se não escapares esta noite, amanhã serás um homem morto!" Micol fez Davi descer
pela janela e ele saiu, correndo e escapou naquela noite.
Narrativa de outra tradição diferente de 19,1-7 e paralela a 19,11-17. Num caso a filha, no outro o filho do rei salvam Davi.
Comentários: Quem, afinal, salvou Davi: foi sua mulher ou seu cunhado Jônatas? Qual desses dois filhos de Saul foi o responsável por este salvamento? Qual
das duas versões é a verdadeiramente inspirada por Deus?
1 Samuel 23,9-12: Quando Davi percebeu que era a ruína que Saul tramava, ordenou ao sacerdote Abiatar: "Traze para cá o efod!" Então Davi rezou: "Senhor
Deus de Israel, o teu servo ouviu dizer que Saul pretende vir a Ceila, para aniquilar a cidade por minha causa: 'Porventura os cidadãos de Ceila me entregarão nas
mãos dele? Porventura Saul descerá, como ouviu dizer o teu servo? Senhor Deus de Israel, faze sabê-lo ao ter servo'". O Senhor respondeu: "Ele descerá". Davi prosseguiu:
"Porventura os cidadãos de Ceila me entregarão com os meus homens nas mãos de Saul?" O Senhor respondeu: "entregarão".
Davi tinha libertado os ceilenses mas vivia à custa deles, o que, com o tempo, se tornou odioso e fez nascer nos habitantes o desejo de se desembaraçarem
dele.
Comentários: Já falamos anteriormente sobre as práticas mediúnicas inadequadas. Por qualquer coisa, por mais insignificante que fosse, iam lá correndo consultar
a Deus, jogavam-se os dados da sorte (urim e tumim) para obter a resposta ao assunto desejado. Isto mesmo, era por meio deste recurso que conseguiam as respostas,
as quais seguiam-se incontinênti. Aquilo que não aprovamos em relação às consultas aos espíritos, faziam a Deus sem a menor preocupação; isto sim, é o que deveria
ter sido proibido por Deus, para não ser incomodado por questões tão mundanas, e às vezes, até mesmo bem ridículas (caso das jumentas desaparecidas). Uma outra coisa,
de que não podemos nos esquecer, é que a nenhum médium é dado o direito de viver à custa de ninguém, e isso deveria servir para todos os que se encontram à frente
dos segmentos religiosos, pois o Cristo disse: "Dai de graça o que de graça recebestes" (Mt 10,8).
1 Samuel 28,7-19: Então Saul ordenou aos seus servos: "Procurai-me uma mulher entendida em evocar os mortos, pois quero ir a ela e consultá-la. Os seus homens
lhe responderam: "Olha, há uma mulher assim em Endor". Saul se embuçou, vestindo outras roupas, e se pôs a caminho com dois homens. Chegaram à casa da mulher de
noite. Então ele disse: "Por favor, advinha para mim por meio da necromancia e evoca-me aquele que eu te disser!" A mulher lhe disse: "Olha, tu bem sabes o que fez
Saul: ele exterminou do país os necromantes e adivinhos. Por que me armas um laço? Para me matar?" Saul lhe jurou pelo Senhor nestes termos: "Pela vida do Senhor,
não incorrerás em nenhuma culpa por causa disto". Então a mulher perguntou: "A quem devo evocar?" E ele respondeu: "Evoca-me Samuel". Mas quando a mulher avistou
a Samuel, exclamou em voz alta e disse a Saul: "Por que me enganaste? Tu és Saul!" O rei lhe replicou: "Não tenhas medo! Vamos, o que estás vendo?" A mulher respondeu
a Saul: "Estou vendo um espírito subindo das profundezas da terra". Ele lhe disse: "Qual é a sua aparência?" Ela lhe disse: "É um homem velho que está subindo, envolto
num manto". Então Saul reconheceu que era realmente Samuel e caiu com o rosto por terra, prostrando-se para ele. Samuel, porém, disse a Saul: "Porque perturbas o
meu repouso, evocando-me?" Saul respondeu: "Vejo-me numa situação desesperada: é que os filisteus me fazem guerra e Deus se retirou de mim, não me tendo respondido
nem por boca dos profetas nem por sonhos. Por isso te chamei, para me indicares o que devo fazer". Samuel replicou: "Por que ainda me consultas, quando o Senhor
se retirou de ti, tornando-se teu adversário? O Senhor cumpriu o que tinha falado por meu intermédio. O Senhor arrancou da tua mão a realeza e a deu ao teu companheiro
Davi. Já que não obedeceste ao Senhor e não levaste a cabo a sua cólera ardente contra Amalec, por isso o Senhor hoje te fez isto. O Senhor entregará contigo também
a Israel nas mãos dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo. O Senhor entregará nas mãos dos filisteus também o exército de Israel".
A necromancia ou evocação dos mortos era proibida, mas assim mesmo era praticada, como mostra o caso presente.
O narrador, embora não aprove o proceder de Saul e da mulher, acredita que Samuel de fato apareceu e falou com Saul: isto Deus podia permitir. Logo, não
é preciso pensar em manobra fraudulenta da mulher ou em intervenção diabólica. Toda a cena pinta ao vivo o abandono e desespero de Saul que está prestes a alcançar
o ponto mais baixo da rejeição de Deus. Estareis comigo, isto é, no reino dos mortos, pois os três morreriam na batalha.
Eclesiástico 46,13-20: Amado de seu Senhor Samuel, profeta do Senhor, estabeleceu a realeza, e ungiu príncipes para governar o povo. Julgou a comunidade
segundo a lei do Senhor e o Senhor visitou Jacó. Por sua fidelidade revelou-se verdadeiro profeta, e por suas palavras foi reconhecido como vidente fidedigno. Invocou
o Senhor soberano, quando os inimigos o acossavam de todos os lados, oferecendo um cordeiro ainda tenro. Do alto do céu o Senhor fez reboar o trovão e com grande
estrondo fez ouvir sua voz. Exterminou os chefes dos tírios e todos os príncipes dos filisteus. E antes da hora de seu repouso eterno pôde atestar, diante do Senhor
e de seu Ungido: "Não recebi nada de ninguém nem dinheiro nem um par de sandálias". E ninguém o acusou. Mesmo depois de morto profetizou e anunciou ao rei seu próximo
fim. Do seio da terra elevou a voz profeticamente para apagar a iniqüidade do seu povo.
Comentários: Esta passagem poderia ser incluída em outro ponto, sobre a consulta aos mortos; entretanto ela tem características tão particulares que convém
colocá-la separadamente. Conforme o "Aurélio", necromancia é a adivinhação pela invocação dos espíritos. Seguindo esse conceito, podemos dizer que a própria consulta
a Deus é uma necromancia, pois foi Jesus quem disse: "Deus é espírito" (Jo 4,24). Verificamos que, naquela época, era isto o que acontecia, não resta dúvida. Mas
o que achamos de mais notável, neste episódio de Saul, é ter a satisfação de usarmos as idéias das próprias correntes religiosas que nos combatem, para nos defendermos.
Vejam. Dizem taxativamente: "O narrador, embora não aprove o proceder de Saul e da mulher, acredita que Samuel de fato apareceu e falou com Saul: isto Deus podia
permitir. Logo, não é preciso pensar em manobra fraudulenta da mulher ou em intervenção diabólica". Repetimos este trecho, para que os nossos detratores sejam incentivados
a evitar as interpretações pessoais que não correspondam ao texto bíblico. Quanto a ser o próprio Samuel quem se manifestou, podemos confirmar pela última passagem
de onde tiramos: "Samuel era um verdadeiro profeta, um vidente fidedigno que mesmo depois de morto profetizou". Assim não se trata do pseudo-Samuel, conforme querem
interpretar alguns, tentando, é óbvio, fugir da evidente manifestação espiritual constante dessa passagem bíblica. E, usando de uma expressão de que tanto gostam,
argumentamos: a própria "Bíblia diz" que foi realmente Samuel (Espírito) quem se manifestou. Ou será que a "Bíblia diz" somente o que lhes interessa?
1 Samuel 31,1-13: Os filisteus fizeram guerra contra Israel,... Todo o peso do combate se concentrou sobre Saul. Os arqueiros o surpreenderam e o feriram gravemente.
Então Saul disse ao escudeiro: "Desembainhe a espada e me atravesse, antes que esses incircuncisos cheguem e caçoem de mim". O escudeiro ficou apavorado e não quis
obedecer. Então Saul pegou a espada e atirou-se sobre ela. ... No dia seguinte, os filisteus foram despojar os cadáveres e encontraram Saul e seus três filhos mortos
no monte Gelboé. Cortaram a cabeça de Saul... e dependuraram o cadáver dele na muralha de Betsã... Então todos os guerreiros caminharam a noite inteira, tiraram
da muralha de Betsã o cadáver de Saul e de seus filhos, e os levaram a Jabes, e aí os queimaram. Depois recolheram os ossos, os enterraram debaixo da tamareira de
Jabes, e jejuaram durante sete dias.
O receio do escudeiro tem origem no caráter sagrado da pessoa do rei. O suicídio de Saul se compreende pela situação sem saída.
2 Samuel 1,1-10: ... Davi perguntou ao moço que o informava: "Como é que você sabe que Saul e seu filho Jônatas estão mortos?" O mensageiro respondeu: "Eu
estava casualmente no monte Gelboé e vi Saul apoiado em sua própria lança, enquanto os carros e cavaleiros se aproximavam. Saul virou-se, me viu e me chamou. Eu
disse: 'Estou aqui'. Saul me perguntou: 'Quem é você?' Eu respondi: 'Sou um amalecita'. Então Saul me disse: 'Aproxime-se e mate-me, pois estou agonizando e não
acabo de morrer'. Então eu me aproximei dele e o matei, porque eu sabia que ele não iria mesmo sobreviver depois de caído...".
Com este capítulo voltamos a Davi, com uma versão diferente sobre a morte de Saul.
2 Samuel 21,12: Então Davi foi pedir os ossos de Saul e de seu filho Jônatas aos cidadãos de Jabes de Galaad, que os tinham levado da praça de Betsã, onde
os filisteus os haviam enforcado, quando venceram Saul em Gelboé.
1 Crônicas 10,1-13: Os filisteus estavam guerreando contra Israel... Então a luta se concentrou sobre Saul. Os atiradores descobriram onde ele estava e lhe
acertaram flechas. Saul disse ao seu escudeiro: "Puxe a sua espada e me mate, senão esses incircuncisos vão rir de mim". O escudeiro não quis fazer isso, pois teve
muito medo. Então Saul pegou a sua própria espada e se jogou sobre ela... No outro dia, quando os filisteus foram saquear os mortos no combate, encontraram Saul
com seus filhos, todos mortos, no monte Gelboé. Depois de despojar o corpo de Saul, levaram a cabeça e ... pregaram o seu crânio no templo de Dagon. Os habitantes
de Jabes de Galaad ficaram sabendo o que os filisteus tinham feito com Saul. Então todos os guerreiros foram buscar o corpo de Saul e de seus filhos, levando-os
para Jabes. Sepultaram os corpos debaixo do terebinto de Jabes e jejuaram durante sete dias. Saul morreu por ter sido infiel a Javé: não seguiu a ordem de Javé e
foi consultar uma mulher que invocava os mortos, em vez de consultar a Javé. Então Javé o entregou à morte e passou o reinado para Davi, filho de Jessé.
Comentários: Saul suicidou-se, atirando sob sua espada? Foi morto pelo amalecita, que atendeu ao pedido de Saul? Ou será que os filisteus o enforcaram? Como
pode existir tanta divergência em relação a um só fato? Para sair de um dos impasses os tradutores da Bíblia Anotada dizem que "O relato do amalequita é conflitante
com o relato de 1Sm 32:3-6 e é, claramente, uma invenção..." fato não comprovado já que Davi o matou por isso, ou seja, aceitou sua história como verdadeira. E quanto
a seu corpo: sua cabeça foi cortada e seu corpo dependurado nas muralhas de Betsã, para depois ter sido queimado o seu cadáver junto com os de seus filhos? Ou a
sua cabeça teria sido cortada e colocada no templo de Dagon e seu corpo sepultado? Mas não é só isto, vemos que até nas narrativas bíblicas existem as interpretações
equivocadas, muitas vezes para sustentar idéias próprias do autor. Senão vejamos: Saul não morreu, porque tinha consultado os mortos. Sua morte, um suicídio, conforme
o texto, foi por motivo de não querer cair vivo nas mãos dos filisteus, fato distorcido pelo cronista (1Cr 10,13). Entretanto, confirmamos, por outra passagem, que
o "castigo" de Deus a Saul foi porque ele não obedeceu à ordem de Deus, quando do ataque aos amalecitas, em que deveria, segundo a vontade divina, matar tudo: "Matarás
tanto homens, mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos" (1Sm 15,3). Mas o que realmente aconteceu foi: "Entretanto Saul e sua tropa
pouparam Agag e as melhores reses do gado miúdo e vacum, as reses gordas e os cabritos, em uma palavra, tudo que era de valor, e não quiseram votá-lo ao extermínio;
só o gado sem valor e o refugo o submeteram ao extermínio" (1Sm 15,9). Isso foi considerado uma afronta por Deus, que resolveu, então, castigar Saul, entregando-o
e também seu povo aos filisteus, fato que Samuel, quando vivo, tinha dito pessoalmente a Saul. E mais uma vez, se a Bíblia é a verdade absoluta, não poderia haver
nela textos contraditórios. A não ser que tenhamos de admitir que nem tudo que ali está é a verdade. Fora isto, é tê-la totalmente incoerente, e, se o autor, como
dizem, é Deus, a coisa fica pior ainda.
2 Samuel 6,6-8: Quando chegaram à eira de Nacon, Oza estendeu a mão para a arca de Deus, porque os animais iriam derrubá-la. Então o Senhor se inflamou de
cólera contra Oza e o prostrou ali mesmo por causa da irreverência, de modo que ele morreu junto à arca de Deus. Davi ficou irritado pelo fato de o Senhor se ter
lançado contra Oza; por isso aquele lugar recebeu o nome de "Investida de Oza", nome que leva até hoje.
A punição divina, misteriosa e chocante, ao menos no estado do relato atual, manifesta a santidade da arca.
1 Crônicas 13,9-10: Quando chegaram à eira de Quidon, Oza estendeu a mão para segurar a arca, pois os bois a iam virar. A ira do Senhor inflamou contra Oza
e o feriu, por ele ter tocado a arca; ele morreu lá mesmo diante de Deus.
A morte repentina de Oza nos pode causar estranheza, pois aparentemente ele foi punido por uma ação feita de boa fé e reta intenção. Com efeito, ele tocou
na arca para impedir que ela sofresse dano. No entanto, não se trata de saber se Oza cometeu ou não um pecado formal. Oza não era levita, e na concepção então vigente,
se uma pessoa não consagrada se intrometesse na esfera do sagrado, fosse consciente, fosse inconscientemente, fosse de boa ou má fé, sofria graves conseqüências.
A narração desse episódio, cuja historicidade pode ser livremente contestada, visa realçar o caráter sacrossanto da arca e premunir contra a tentação de alguém invadir
uma área de atividade, reservada aos chamados por Deus.
Comentários: Excelente! Temos: "A narração desse episódio, cuja historicidade, pode ser livremente contestada". Por que, mesmo assim, incluem conclusões
para suavizar tamanha barbaridade?! Mas e o texto? E mais; se a Bíblia, como dizem, é a pura verdade, como se pode afirmar que o texto nela escrito pode ser livremente
contestado? Até concordamos, que, em alguns casos, temos de buscar o sentido do texto, principalmente, quando são parábolas ou em uma linguagem simbólica; mas não
é este o caso. Deus, a Suprema Justiça, mata alguém, porque simplesmente tocou na arca para evitar um acidente com ela?... Não há como fugir; é mais outro absurdo!
Talvez seja porque em Ex 33,20: "Não poderás ver minha face, porque ninguém me pode ver e permanecer vivo", pois, como achavam ser a arca a habitação de Deus, ela
seria intocável. Este fato pode realmente ter acontecido, não por castigo de Deus, mas simplesmente pela fragilidade do coração de Oza, que levou um grande choque,
quando percebeu que tinha tocado na arca, coisa que em hipótese alguma era admitida, e sofreu, como conseqüência, um ataque do coração. Impossível? Talvez não, pois
não temos notícias de torcedor de futebol morrendo de "ataque fulminante", do coração, é claro, no estádio onde se realiza a partida, porque seu time perdeu uma
disputa de suma importância no campeonato. Eh!, pode ser, temos que admitir. O lugar onde isso ocorreu é diferente nas narrativas; não conseguimos saber se realmente
trata-se de dois lugares distintos ou dois nomes para um mesmo lugar; fica aí apenas o registro.
2 Samuel 12,13-14: Davi disse a Natã: "Pequei contra Iahweh!" Então Natã disse a Davi: "Por sua parte, Iahweh perdoa a tua falta: não morrerás. Mas, por
teres ultrajado a Iahweh com o teu procedimento, o filho que tiveste morrerá".
Comentários: Em Malaquias (3,6) é afirmado que Deus não muda; entretanto, por essa passagem, temos que convir que Deus mudou, uma vez que havia dito, anteriormente,
que: "Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais. Cada um será executado por seu próprio crime" (Dt 24,16). Com isso se comprova
biblicamente que houve mudança de opinião por parte de Deus. Incoerência bíblica sem explicação plausível por parte dos teólogos. Mas se aceitarmos que não pode
haver contradição alguma em relação ao que Deus disse ou fez, e, de fato, é o que pensamos, iremos concluir que os acontecimentos não ocorreram como narrados ou
que eles são opiniões pessoais do autor desse texto bíblico. Aí cai por terra a idéia de que a Bíblia no seu todo é a palavra de Deus. Para nós não há problema algum,
até mesmo porque, por amor à verdade, temos que aceitar que ela não é mesmo, de capa a capa, a palavra de Deus, mas para os teólogos dogmáticos será um problema
insolúvel.
1 Reis 5,9: Deus deu a Salomão sabedoria e inteligência extraordinárias e um coração tão vasto como a areia que está na praia do mar.
1 Reis 5,12: Pronunciou três mil provérbios e seus cânticos foram em número de mil e cinco.
1 Reis 10,14-15: O peso do ouro que chegava para Salomão, anualmente, era de seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro, sem contar o que lhe provinha
dos mercadores itinerantes, do lucro dos comerciantes e de todos os reis do Ocidente e dos governadores da terra.
1 Reis 11,2-3: ...Mas Salomão se ligou a elas por amor, teve setecentas mulheres princesas e trezentas concubinas, e suas mulheres desviaram seu coração.
1 Reis 11,5: Salomão prestou culto a Astarte, deusa dos sidônios, e a Melcom, a abominação dos amonitas.
Comentários: Tudo isso que Salomão fez proveio da sua sabedoria e inteligência? Deveremos fazer o mesmo? Que sabedoria é essa que Deus lhe deu, uma vez que
depois se voltou contra Ele adorando a outros deuses? O total de mulheres na vida de Salomão era de mil; daria ele conta de "conhecer" todas as suas mulheres sem
ficar esgotado? Podemos seguir seu exemplo?
2 Reis 2,11: Ora, enquanto seguiam pela estrada conversando, de repente apareceu um carro de fogo com cavalos também de fogo, separando-os um do outro, e
Elias subiu para o céu no turbilhão.
Carro e cavalo de fogo: Junto com o turbilhão o fogo manifesta a presença e o poder de Deus. Em conseqüência deste arrebatamento, esperava-se depois que
Elias voltasse; mas Jesus declarou que já veio na pessoa do Batista.
2 Reis 2,13-16: Tomou o manto que Elias tinha deixado cair, e com ele golpeou a água, dizendo: "Onde está o Senhor Deus de Elias?" Apenas tinha batido na
água, ela se dividiu ao meio, de modo que Eliseu pôde passar. Quando os filhos dos profetas residentes em Jericó o avistaram no outro lado, exclamaram: "O espírito
de Elias repousou sobre Eliseu!" Eles foram ao encontro dele e se prostraram diante dele, dizendo: "Aqui entre os teus servos há 50 homens robustos. Não seria o
caso de se porem a caminho para procurarem o teu mestre? Talvez o espírito do Senhor o tenha levado e jogado num destes montes ou vales" Eliseu retrucou: "Não mandeis
ninguém!"
Os prodígios mostram que o espírito de Elias tinha repousado sobre o seu discípulo, para benefício de uns e desgraça de outros.
Comentários: Este arrebatamento de Elias é coisa que ainda não conseguimos entender. Aqui na Terra os vários seres possuem corpos diferentes, principalmente
levando-se em conta sua forma de vida, por exemplo, os animais marinhos, com um corpo apropriado ao seu meio, os animais terrestres e os que voam pelo ar, da mesma
forma, ou seja, para cada situação um corpo apropriado. Mandamos o homem às profundezas do oceano e lhe damos um "corpo" apropriado, o escafandro; enviamos ao espaço
sideral, da mesma maneira lhe fornecemos uma roupa apropriada. Assim, gostaríamos de saber, o que Elias ia fazer com o corpo físico no mundo espiritual, já que o
corpo físico é a roupa fornecida por Deus e apropriada ao espírito, para seu uso só no mundo material? Além do mais, Eliseu só passou a fazer prodígios depois da
morte de Elias, pois foi o que realmente acontecera, já que ninguém escapa da morte. Sabem por quê? Foi porque o "espírito de Elias tinha repousado nele"; se em
vez de repousado colocássemos "baixado", aposto que todo mundo ia entender que era o processo da influência que o espírito de Elias exerceu sobre Eliseu. Por outro
lado, se aceitarmos que Elias tenha, realmente, sido arrebatado, iremos ficar em contradição com o que Jesus disse: "Ninguém subiu ao céu senão quem desceu do céu,
o Filho do homem" (Jo 3,13).
2 Reis 2,23-24: De lá ele subiu a Betel. Enquanto ia subindo a estrada, um bando de meninos saíram da cidade e começaram a fazer troça dele, gritando: "Vem
subindo, seu careca! Vem subindo, seu careca!" Eliseu se virou e, quando viu os meninos, amaldiçoou-os em nome do Senhor. Então saíram duas ursas do mato e despedaçaram
42 destes meninos.
O episódio dos meninos mostra que Deus protege o seu profeta contra os que o insultam, mas nos deixa bastante vexados. Jesus, ao contrário, abençoou as crianças.
Comentários: Deixa-nos bastante vexados é muito pouco. Dizem ser Deus misericordioso, bom e justo; entretanto, essa narrativa nos mostra justamente o contrário.
Se tivermos o mesmo pensamento de algumas correntes que consideram a Jesus ser o próprio Deus, devemos, forçosamente, ter que admitir que Deus tenha passado por
algum processo evolutivo qualquer, que O levou a ser dócil às crianças, chegando a ponto de abençoá-las. Não há como pensar de outra maneira se seguirmos nessa mesma
linha de pensamento. Compreendemos que houve a necessidade de "endeusamento" de Jesus, pois a cultura, à sua época, exigia um semideus para que ele fosse aceito
como enviado de Deus. Só que deste semideus, acabaram deturpando mais ainda este significado, transformaram-no no próprio Deus.
2 Crônicas 18,18: Mas Miquéias disse: "Pois então escutai a palavra do Senhor! Vi o Senhor sentado no trono e todo o exército celeste de pé à direita e à
esquerda".
Exército celeste: Os israelitas imaginavam Deus sentado num trono e rodeado de seres celestes (anjos, na terminologia do tempo), que constituíam uma espécie
de conselho da corte divina. Pensavam que Deus consultasse esses conselheiros em assuntos de maior importância e por vezes enviava algum deles para executar decisões
e sentenças divinas no mundo dos homens.
Comentários: Aqui temos a explicação para o "façamos o homem à nossa imagem e semelhança". Vejam que concepção de Deus. É a mesma coisa que um rei com sua
corte, seus conselheiros, etc. Eh!, realmente Deus foi criado à imagem e semelhança do homem, apesar de falarem justamente o contrário.
Esdras 6,3: No primeiro ano do rei Ciro, o rei Ciro ordenou: Templo de Deus em Jerusalém. O Templo será reconstruído para ser um lugar onde se ofereçam sacrifícios,
e seus alicerces devem ser restaurados. Sua altura será de sessenta côvados e sua largura de sessenta côvados.
Texto alterado. Falta o comprimento, e as outras medidas são inverossímeis.
Comentários: Observar a afirmação que fazem de que o texto foi alterado. Novamente estão questionando as informações da Bíblia. E estará ela agora deixando
de ser a fiel palavra de Deus? Como fica "a nossa" turma do "a Bíblia diz"? Será que ainda está aqui nos lendo?
Esdras 9,12: Por isso não deveis permitir que vossos filhos casem com as filhas deles, nem que as filhas deles casem com vossos filhos. Nunca vos preocupeis
com a prosperidade ou a felicidade deles. ...
Aos ouvidos dum cristão soa estranha essa recomendação de os judeus não se preocuparem com o bem-estar da população não-israelita. A mesma se baseia em Dt
23,3-6. Amar os inimigos e fazer bem aos que nos odeiam (Mt 5,43) é um preceito dado aos discípulos do Senhor; e não se pode esperar de Esdras, que viveu quatro
séculos antes de Cristo, uma tal elevação moral.
Comentários: Disso concluímos que o texto está refletindo o pensamento de Esdras, homem que não tinha elevação moral. Mas é exatamente isso que temos tentado
mostrar, desde o início deste estudo, ou seja, que a Bíblia está cheia de opiniões pessoais que nada têm a ver com Deus, principalmente para a turma do "A Bíblia
diz", "A Bíblia manda", "A Bíblia é a palavra de Deus", etc.!
Tobias 6,4.7-9: Disse-lhe o anjo: "Abre o peixe, tira-lhe o fel, o coração e o fígado. Guarda-os contigo e joga fora as entranhas. O fel, o coração e o fígado
são remédios úteis". Dirigiu-se, então, o jovem ao anjo e perguntou: "Azarias, meu irmão, que virtude medicinal há no coração, no fígado e no fel do peixe?" Respondeu-lhe:
"O coração e o fígado do peixe, podes queimá-los diante de um homem ou de uma mulher que estejam sendo atacados por algum demônio ou espírito mau. O ataque cessará
e os demônios os deixarão para sempre. Quanto ao fel, deves ungir com ele os olhos de uma pessoa atingida por leucomas. Soprando-se, depois, sobres os leucomas,
a pessoa ficará curada".
A medicina antiga atribuía qualidades terapêuticas a estes órgãos. Acreditava-se que a fumaça dos órgãos queimados afastava o demônio; mas a salvação se
obtém de Deus pela piedosa súplica.
Tobias 8,1-3: Quando acabaram de comer e beber, dispuseram-se a dormir. Conduziram o jovem e o introduziram no quarto. Tobias lembrou-se das palavras de
Rafael e tirou da bolsa, em que os guardava, o fígado e o coração do peixe, e os pôs sobre as brasas do perfumador. O odor do peixe afastou o demônio, que fugiu
pelos ares para as regiões do Egito. Rafael foi imediatamente ao seu encalço e lá o acorrentou e prendeu.
Mais do que a fumaça do fígado e do coração são o anjo da guarda Rafael e a oração que afastaram o demônio.
Comentários: Poderemos concluir que demônio era um espírito mau; ou estaremos ultrapassando o sentido do texto? "Você decide". Mas o mais interessante não
é isto; é que um anjo, mensageiro de Deus, como dizem, aconselha a Tobias a queimar fígado e coração de peixe, para afastar o demônio. Hoje condenam os umbandistas
- se bem que, para eles, espíritas e umbandistas dá no mesmo -, quando fazem seus trabalhos para afastarem os espíritos usando dos defumadores; mas não seria a mesma
coisa sugerida pelo anjo? Perguntamos: deveremos continuar queimando fígado e coração de peixe para afastar os demônios como "diz a Bíblia"? Na nota querem realçar
que foi a oração que afastou o demônio. Entretanto, não é o que encontramos no episódio. A oração foi posterior ao exorcismo (ver Tb 6,18 e 8,4-8). Não devemos distorcer
os textos para adaptá-los à nossa conveniência. Não é isto que não se cansam de afirmar? Lembramo-nos dos turíbulos, onde, ainda hoje, é queimado o incenso nas igrejas.
Será que é para afastar os demônios ou espíritos maus?
Tobias 14,2: Tobit morreu em paz, na idade de cento e doze anos, e foi sepultado com honra em Nínive. ...
Morrer após uma vida longa e feliz era a recompensa prometida aos que seguissem os conselhos da sabedoria e observassem a Lei de Deus.
Jó 11,8: Ela é mais alta do que o céu, e que farás tu? Mais fundo do que o cheol, e como o conhecerás?
Os hebreus concebiam o cheol como imensa caverna subterrânea, tenebrosa, aonde acreditavam fossem as almas para passar uma vida amorfa, sem consolação, esquecidas
de todos e esquecidas elas mesmas.
Salmos 6, 6: Porque no seio da morte não há quem de vós se lembre; quem vos glorificará na habitação dos mortos?
Habitação dos mortos: expressão freqüente que traduz o vocábulo hebraico Cheol. Os antigos hebreus não tinham, da vida futura, uma idéia tão clara como nós.
Para eles, a alma separada do corpo permanecia num lugar obscuro, de tristeza e esquecimento, em que o destino dos bons era confundido com o dos maus. Donde a necessidade
de uma retribuição terrestre para os atos humanos.
Eclesiastes 8,14-15: Há ainda outra ilusão que acontece na terra: Há honrados, a quem toca a sorte dos malvados, e há malvados, a quem toca a sorte dos honrados.
Também isso é ilusão. Por isso elogiei a alegria, visto não haver nada debaixo do Sol do que comer, beber e alegrar-se; é isso que o acompanha em seu penar durante
os dias da vida que Deus lhe concede debaixo do Sol.
A sorte dos bons e maus, envolta no mistério da paciência divina, anula qualquer tentativa de planejar a própria vida puramente em termos de retribuição.
Comentários: Naquele tempo, pensavam que tanto os bons quanto os maus teriam o mesmo destino, ou seja, a morte. Nada esperavam da vida futura. Assim, concentravam,
na vida terrestre, todos os seus esforços, esperando somente nela a recompensa divina de seus atos. Era a teoria do morreu, tudo acabou-se. É isso que está na Bíblia!
Será que é mesmo assim? E ainda querem que a sigamos ao pé da letra!
Judite 2,21-28: Partiram, pois, de Nínive, e caminharam por três dias em direção à planície de Bectilet. Acamparam fora de Bectilet, próximo da montanha,
à esquerda da Alta-Cilícia. De lá, Holofernes tomou o seu exército, infantes, cavaleiros e carros, e partiu para a região montanhosa. Cortou através de Fut e Lud,
e saqueou todos os filhos de Rassis e de Ismael que vivem na orla do deserto, ao sul de Queleon. Costeou o Eufrates, atravessou a Mesopotâmia, destruiu todas as
cidades fortificadas que estão junto à torrente Abrona, até chegar ao mar. Apoderou-se, depois, dos territórios da Cilícia, despedaçou a todos os que lhe resistiam,
e foi até aos confins meridionais de Jafé, diante da Arábia. Cercou todos os filhos de Madiã, incendiou seus acampamentos e saqueou seus estábulos. Desceu, em seguida,
para a planície de Damasco, nos dias da colheira de trigo, incendiou todos os seus campos, destruiu ovelhas e bois, saqueou as suas cidades, devastou as plantações
e passou todos os seus jovens ao fio da espada. Temor e tremor caíram sobre os habitantes da costa: os de Sidônia os de Tiro, os de Sur, de Oquina e de Jâmnia. O
terror reinava entre as populações de Azoto e Ascalon.
O itinerário comporta certo número de lugares desconhecidos ou cuja identificação é incerta. Em outros casos, os nomes conhecidos parecem utilizados de maneira
não habitual. Seja como for, o trajeto descrito é inconcebível. Talvez o autor ignore a geografia desta região ou talvez não se interesse pela localização exata
dos fatos.
Comentários: Mas, se o autor ignora a geografia da região, então presumimos ser a narrativa a opinião do autor, não sendo, portanto, uma inspiração divina.
Ótimo! É o que estamos dizendo o tempo todo. Até que enfim eles mesmos dizem isso, apesar de ainda quererem esboçar uma saída honrosa para o caso.
Judite 3,7-8: Os habitantes das cidades e arredores receberam-no com coroas e dançando ao som de tamborins. Mas ele não deixou de devastar seus santuários
e de cortar suas árvores sagradas. Fora autorizado a exterminar todos os deuses da terra, de maneira que todos os povos adorassem só a Nabucodonosor, e que todas
as línguas e todas as tribos o invocassem como deus.
Nunca os reis assírios ou babilônicos fizeram tal exigência. Os Selêucidas, a exemplo de Alexandre, foram os primeiros a exigir as honras divinas.
Comentários: Se nunca houve essa exigência por parte de Nabucodonosor, então a narrativa não é verdadeira. Xiiii! Então, estamos diante de um fato não acontecido.
Mas como, se a Bíblia é inspirada por Deus e nela não há erro algum?
1 Macabeus 1,13-15: Alguns do povo se entusiasmaram e foram procurar o rei, que os autorizou a seguir os costumes pagãos. Construíram em Jerusalém uma praça
de esportes, de acordo com as normas dos pagãos. Dissimularam a circuncisão e renunciaram à aliança sagrada, assim associando-se aos pagãos. E se venderam para fazer
o mal.
Praça de esportes, ou "ginásio", era um lugar de encontro, típico do helenismo, onde se aprimorava a vida intelectual e se praticavam as mais variadas formas
de atletismo. Os atletas se exibiam completamente nus, o que era ignominioso para um judeu tradicional.
Dissimularam a circuncisão: Envergonhados de não terem o prepúcio, alguns jovens judeus se submetiam a uma dolorosa cirurgia plástica, para o recuperar;
com isso se excluíam do judaísmo para o qual a circuncisão era um rito e um sinal essencial de adesão.
Comentários: Seria possível, naquele tempo, alguém ser submetido a uma cirurgia plástica? Nem sabiam o que era isto. Se é que houve uma simulação por parte
dos jovens, ela deveria ter ocorrido de outra maneira, não como está sugerido na nota. Esperamos que tenham uma nova explicação mais lógica do que essa. Até porque,
quando da circuncisão, o prepúcio de cada um destes jovens, provavelmente, foi jogado fora, queimado, ou qualquer outra coisa, não importa; o que importa é que não
os tinham mais à mão para essa tal de cirurgia plástica, pois se determina no Lv 12,3: "E no dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio". Entretanto,
como eles já se tinham tornado jovens, era impossível essa cirurgia. Até nos dias de hoje, com os recursos tecnológicos de que dispõe a medicina, temos as nossas
dúvidas se é possível a realização desse tipo de operação de reconstituição...
2 Macabeus 6,18-20: Eleazar era um dos principais doutores da Lei, homem de idade avançada e de venerável aparência. Abriram-lhe violentamente a boca e forçavam-no
a comer carne de porco. Ele, porém, preferindo morrer gloriosamente a viver em desonra, caminhou voluntariamente para o suplício do tímpano, depois de ter cuspido
o que estava na boca. ...
A carne de porco era proibida pela Lei (Lv 11,7; Dt 14,8) e abominada pelos judeus; aqui, além do mais, se diz que era carne sacrificada aos ídolos.
Comentários: A turma do "A Bíblia não erra" será que come carne de porco? Será que segue o exemplo de Eleazar? Mas, não há como conceber uma lei dessa como
provinda de Deus; é pura loucura! Talvez tenham colocado essa proibição como se fosse de Deus para justificar o que, por uma questão cultural, normalmente faziam.
Quiçá tivessem um bom motivo para justificar isso e, atribuindo-o a Deus, ficaria mais fácil acabar com os problemas.
2 Macabeus 7,9: Estando prestes a dar o último suspiro, disse: "Tu, execrável como és, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do universo nos ressuscitará
para uma vida eterna, pois morremos por fidelidade às suas leis".
Aqui a fé na ressurreição dos mortos é afirmada com mais clareza que em Dn 12,1-4; mas se trata apenas da ressurreição dos justos.
Comentários: Não havemos de condenar os que naquela época achavam que a ressurreição dos mortos se daria com a volta do espírito ao mesmo corpo físico. Qual
a noção que tinham da vida futura? Nenhuma. Em outras passagens iremos ter a idéia do que pensavam. Hoje, entretanto, não poderíamos persistir nesse conceito. Mostraremos,
mais adiante, Paulo nos dizendo com que corpo ressuscitaremos.
2 Macabeus 7,23: "Por isso, é o Criador do mundo, que organizou o nascimento dos homens e preside à geração de todas as coisas, ele mesmo é quem, na sua
misericórdia, vos dará de novo o espírito e a vida, pois agora desprezais a vós mesmos, por amor às suas leis".
Comentários: Pensem bem nesta afirmativa: o Criador vos dará de novo o espírito e a vida, e vejam se não se encaixaria plenamente no conceito da reencarnação?
Depois não vemos Jesus confirmar esse princípio? Entretanto, mesmo que não houvesse nada a respeito, é pura questão de lógica. Mas, se abraçarmos a idéia da reencarnação,
onde ficará o inferno? Como mudar conceitos sem causar seqüelas? Vejamos, então, a lógica. Primeiramente, só compreendemos Deus infinitamente bom e justo. Se, por
exemplo, para uma vida terrena de 100 anos de erros, houvesse um "inferno" de 100 anos, isto, sim, seria justiça, pois, a partir daí, extrapolar-se-ia o que entendemos
por justiça, tornando-se injusto. Imaginem que ainda falam ser o "inferno" eterno... Temos dito que, ao chegarmos diante de Deus, para o nosso julgamento, iremos
apelar para a justiça dos homens, pois sabemos, que apesar de serem os homens imperfeitos, dão aos seus condenados chances de saírem da prisão, caso tenham um bom
comportamento. A misericórdia humana não para aí, vai até o ponto de não haver necessidade de o condenado cumprir toda a pena, reduzindo seu tempo na prisão, desde
que, para isto, tenha cumprido certas exigências. Mas Deus não faz assim... Para Ele é o castigo eterno e pronto! Este é o pensamento distorcido de alguns.
Jó 1,6-12: Certa vez, foram os filhos de Deus apresentar-se ao Senhor; entre eles veio também Satanás. O Senhor, então, disse a Satanás: "Donde vens?" –
"Dei umas voltas pela terra, andando a esmo", respondeu ele. O Senhor lhe disse: "Reparastes no meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é um homem íntegro e reto,
teme a Deus e se agasta do mal". Satanás respondeu ao Senhor: "Mas será por nada que Jó teme a Deus? Porventura não levantaste um muro de proteção ao redor dele,
de sua casa e de todos os seus bens? Abençoastes seus empreendimentos e seus rebanhos cobrem toda a região. Mas estende a mão e toca em todos os seus bens: eu te
garanto que te lançará maldições em rosto!" Então o Senhor disse a Satanás: "Pois bem, tudo o que ele possui, eu o deixo em teu poder, mas não estendas a mão contra
ele!" Mas Satanás saiu da presença do Senhor.
Satanás não é o demônio da concepção cristã, mas mero personagem funcional da narrativa.
Zacarias 3,1: Ele me fez ver o sumo Sacerdote Josué, que estava de pé diante do anjo do Senhor, e Satã, que estava de pé à sua direita para acusá-lo.
Satã não é ainda o Espírito do Mal ou o Demônio da concepção cristã. Não é uma pessoa, mas antes alguém que exerce uma função, a de contradizer a Deus; só
aos poucos é visto como um ser pessoal.
Comentários: Com relação às palavras, não devemos esquecer que algumas podem mudar de sentido com o passar do tempo. Temos ainda quem pegue estes textos,
e daí justifiquem a existência de Satanás... O que podemos fazer? Nada. Coitados, "não sabem o que fazem". Querem ainda hoje manter vivas duas potências: a do bem,
Deus, e a do mal, demônio, satanás, satã, e outras denominações, cujas origens estão na mitologia antiga e na cultura de alguns povos primitivos.
Jó 3,8: Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoaram os dias, aqueles que são hábeis para evocar Leviatã!
Leviatã: monstro marinho que se representa sob a forma de crocodilo, segundo a mitologia fenícia. Ver a descrição nos capítulos 40,10 até 41,25.
Jó 41,4-26: Não quero calar (a glória) de seus membros, direi seu vigor incomparável. Quem levantou a dianteira de sua couraça? Quem penetrou na
dupla linha de sua dentadura? Quem lhe abriu os dois batentes da goela, em que seus dentes fazem reinar o terror? Sua costa é um aglomerado de escudos, cujas juntas
são estreitamente ligadas; uma toca a outra, o ar não passa por entre elas; uma adere tão bem à outra, que são encaixadas sem se poderem desunir. Seu espirro faz
jorrar a luz, seus olhos são como as pálpebras da aurora. De sua goela saem chamas, escapam centelhas ardentes. De suas ventas sai uma fumaça, como de uma marmita
que ferve entre chamas. Seu hálito queima como brasa, a chama jorra de sua goela. Em seu pescoço reside a força, diante dele salta o espanto. As barbelas de sua
carne são aderentes, esticadas sobre ele, inabaláveis; duro como a pedra é seu coração, sólido como a mó fixa de um moinho. Quando se levanta, tremem as ondas, as
vagas do mar se afastam. Se uma espada o toca, ela não resiste, nem a lança, nem a azagaia, nem o dardo. O ferro para ele é palha, o bronze, pau podre. A flecha
não o faz fugir, as pedras da funda são palhinhas para ele. O martelo lhe parece um fiapo de palha; ri-se do assobio da azagaia; Se ventre é coberto de cacos de
vidro pontudos, é uma grade de ferro que se estende sobre a lama. Faz ferver o abismo como uma panela, faz do mar um queimador de perfumes. Deixa atrás de si um
sulco brilhante, como se o abismo tivesse cabelos brancos. Nada há igual a ele na terra, pois foi feito para não ter medo de nada; afronta tudo o que é elevado,
é o rei dos mais orgulhosos animais.
Comentários: Vamos simplificar um pouco a descrição: seu espirro faz jorrar a luz, de sua goela saem chamas, das suas ventas sai fumaça, seu hálito queima
como brasa, que animal seria esse? A nota fala de um monstro mitológico fenício com aparência de crocodilo, mas suas características vão muito além dessa aparência.
Bom, vamos acabar logo com esse suspense. É um dragão, caro leitor. Isso mesmo, o livro de Jó descreve um animal que nada mais é que um dragão. Aí perguntamos, já
que não nos cabe outra alternativa: será que existiu esse animal descrito na Bíblia? Mas não dizem que a Bíblia é inerrante? Entretanto, muito ao contrário, pois
estamos vendo, a todo o momento, que em seu conteúdo existem coisas mitológicas e lendárias, derrubando, dessa forma e pela enésima vez, a tese de que a Bíblia não
contém erro algum. Isso a contragosto dos bibliólatas.
Jó 7,7-10: Lembra-te de que minha vida nada mais é do que um sopro, de que meus olhos não mais verão a felicidade; o olho que me via, não mais me verá, o
teu me procurará, e já não existirei. A nuvem se dissipa e passa: assim, quem desce à região dos mortos não subirá de novo; não voltará mais à sua casa, sua morada
não mais o reconhecerá.
Comentários: Este texto é geralmente utilizado pelos detratores do Espiritismo, para combater o princípio da reencarnação e o da comunicação dos mortos.
Quanto à reencarnação, já argumentamos sobre a sua lógica. Se realmente ela não existisse, seria preciso inventá-la, para que a justiça divina se cumpra. Quanto
à comunicação com os mortos, citamos a passagem em que Saul vai à necromante, e consulta ao espírito de Samuel já falecido. Se, ainda, persistirem em não aceitá-la,
poderemos acrescentar mais esta: "Seis dias depois, Jesus tomou a sós consigo Pedro, Tiago e João, irmão deste, e os levou para um monte alto. E se transfigurou
diante deles; o rosto brilhou como o Sol e as roupas se tornaram brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias conversando com ele" (Mt 17,1-3). Não há como contestar.
Vejam: não foi apenas um espírito que apareceu; foram dois: o de Moisés e de Elias. Só não vê, quem não quer, que, no dizer de Jesus: "São cegos e guias de cegos"
(Mt 15,14).
Jó 8,8-9: Pergunta às gerações passadas e medita a experiência dos antepassados. Somos de ontem, não sabemos nada. Nossos dias são uma sombra sobre a terra.
Comentários: Como perguntar às gerações passadas se estão todos mortos? Só existe um jeito. Sabe qual é? Justamente isto: "consultar os mortos". Até mesmo
porque não se podia fazê-lo de outra forma, já que, naquela época, quase ninguém sabia ler nem escrever, e mesmo escritos existiam poucos. Assim, não havia como
a experiência das gerações passadas ser absorvida pelas novas gerações a não ser consultando diretamente a elas próprias, ou seja, aos espíritos desencarnados daquelas
pessoas das gerações passadas. É certo que somos de ontem, e não sabemos nada já que o espírito, ao ser aprisionado no corpo físico, perde a lembrança dos acontecimentos
que vivenciou até àquele momento. Pensem bem: se a nossa vida aqui na Terra é como se fosse uma sombra, para que então vivemos? Será que nosso destino estaria definitivamente
selado por essa "sombra" de dias?
Eclesiastes 3,18-20: Disse também no meu coração: É para o benefício dos homens que Deus os põe à prova, para que vejam que, em si mesmos, são como animais,
pois é a mesma a sorte dos homens e dos animais; tanto morre um como o outro; todos têm o mesmo alento. O homem, pois, não leva vantagem sobre os animais, porque
tudo é ilusão. Todos vão para o mesmo lugar: Todos vêm do pó, e ao pó todos retornam.
Embora desconhecendo as circunstâncias dessa intervenção divina, o autor interpreta a atual injustiça institucionalizada como provação divina, para os homens
reconhecerem que, tanto eles como também os animais, dependem de Deus e que uns e outros estão sujeitos à lei da morte. Sujeito à lei da morte, o homem receberá,
em vida, sua paga limitada, e por isso não deve adiar a fruição dos bens para quando for demasiado tarde, nem deve reservá-la para os descendentes.
Comentários: Este texto é mais um dos que são utilizados para dizer que não há reencarnação, e que o espírito não tem consciência de si mesmo após a morte.
Entretanto, a idéia do desiludido autor, pois para ele tudo é ilusão, pura ilusão, é que tanto os homens como os animais morrem, fato em que não há o que contestar.
Mas, o que parece imaginar o autor é o que os materialistas pensam, ou seja, que tenhamos o mesmo destino dos animais após a morte. Quanto ao corpo físico, o destino
é o mesmo, isto é: "ao pó". Na verdade era apenas isso que o autor queria dizer. Quanto ao espírito o nosso destino, é bem diferente, com certeza. Dentre os diversos
livros da Bíblia não vimos um autor tão pessimista sobre a vida futura quanto este; entretanto, é nele que alguns se baseiam para sustentar suas opiniões, que se
chocam com a opinião geral da Bíblia.
Eclesiastes 3,21: Quem sabe se o sopro de vida dos filhos dos homens se eleva para o alto, e o sopro de vida dos brutos desce para a terra?
Quem sabe: a resposta é certamente: ninguém o sabe. O autor quer simplesmente afirmar que brutos ou homens, tudo deve morrer. Para o alto: bem diferente
do sopro do animal, o sopro do homem volta para Deus, que o criou. É preciso lembrar aqui que a doutrina da imortalidade da alma só aparece claramente no livro da
Sabedoria, ou seja, um século, pelo menos, depois da redação do Eclesiastes.
Isaías 25,8: Fará desaparecer a morte para sempre. O senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e removerá de toda a terra o opróbrio de seu povo,
porque o Senhor falou.
É uma das afirmações mais claras da imortalidade no AT. Em vez da morte, que entrou no mundo pelo pecado dos primeiros pais, a vida eterna, sem sofrimentos
nem lágrimas, junto de Deus.
Comentários: É bem certo que, se não tinham a crença na imortalidade da alma, tinham mais é que procurar gozar esta vida. Mas daí acreditar neste princípio
nos dias de hoje, já é uma outra história. E é com esta mentalidade que alguns autores escreveram seus livros. Portanto, não há como concordar com isso, simplesmente
só porque está na Bíblia. Se a morte entrou no mundo pelo pecado dos homens, então perguntamos: por que os animais também morrem? Será que tiveram o mesmo castigo
que nós? Ficamos espantados diante de tamanho absurdo!
Eclesiastes 7,26: Eu descobri que a mulher é coisa mais amarga que a morte, porque ela é um laço, e seu coração é uma rede, e suas mãos, cadeias. Aquele
que é agradável a Deus lhe escapa, mas o pecador será preso por ela.
Comentários: Ah!, se as mulheres soubessem disso! Essa visão é do mesmo pessimista, de que falamos, um pouco atrás, sobre o que ele pensava da sorte futura
dos homens e dos animais. E ainda afirmam: "A Bíblia diz", como se nela estivesse toda a verdade e sabedoria. Se, por um motivo qualquer, Deus "tomasse consigo mesmo"
a tarefa de ler a Bíblia, ficaria irritado com tantas coisas ridículas que atribuíram a Ele e talvez até mesmo a queimasse numa fogueira. Até aí tudo bem. Mas, e
se Deus observasse o que fizeram com ela os tradutores e os seus seguidores fanáticos? Seria um "Deus nos acuda"!
Sabedoria 2,1-3: Dizem, com efeito, nos seus falsos raciocínios: "Curta é a nossa vida, e cheia de tristezas, para a morte não há nenhum remédio: não há
notícia de ninguém que tenha voltado da região dos mortos. Um belo dia nascemos, e depois disso, seremos como se jamais tivéssemos sido! É fumaça a respiração de
nossos narizes, e nosso pensamento, uma centelha que salta do bater de nosso coração! Extinta ela, nosso corpo se tornará pó, e o nosso espírito se dissipará como
um vapor inconsistente!".
Para os ímpios, que negam a vida no além-túmulo, a própria vida terrena é marcada pelo signo da morte. Os ímpios aqui visados são judeus que traíram sua
fé e perseguem seus irmãos.
Sabedoria 16,13-14: Porque vós sois senhor da vida e da morte. Vós conduzis às portas do Hades e de lá tirais; enquanto o homem, se pode matar por sua maldade,
não pode fazer voltar o espírito uma vez saído, nem chamar de volta a alma que o Hades já recebeu.
O autor ensina aqui o poder absoluto de Deus sobre a vida e a morte, não somente enquanto pode livrar quem quiser do perigo da morte (cf. Sl 9,14; 107,17-19;
Is 38,10-17), mas ainda, parece, num sentido mais profundo: ele pode fazer tornar à vida corporal a alma que desceu ao Xeol (cf. 1Rs 17,17-23; 2Rs 4, 33-35; 13,21).
Comentários: Já vimos, em textos de nossos detratores, ser afirmado, usando estas passagens, que não há retorno dos mortos; daí, segundo eles, não haveria
reencarnação e nem seria possível a comunicação com eles. Entretanto, em quase todos os ataques, vemos claramente que buscam, muitas vezes, parte de um texto bíblico
que, de alguma maneira, possa ir ao encontro das suas idéias, talvez porque saibam que a maioria das pessoas que os lêem não irá consultá-lo na Bíblia, para verificar
se o que falam está realmente lá e, acima de tudo, os consideram, por mais absurdos que sejam, a pura verdade. Veremos que, no primeiro episódio, a idéia está numa
situação bem diferente da que querem passar. Para isto teremos que iniciar este texto no versículo imediatamente anterior. Vejamos: "Os ímpios, no entanto, chamam
a morte com os gestos e com as palavras. Considerando-a amiga, desejam-na apaixonadamente e fazem aliança com ela. São realmente dignos de pertencer-lhe" (Sb 1,16).
Aí, sim, é que continua o primeiro texto que estamos estudando. Percebemos nitidamente um sentido contrário àquele que querem incutir na cabeça dos outros. Será
que hoje poderemos também chamar de ímpios os que traem sua fé perseguindo seus irmãos? Jesus, quando esteve em nosso meio, não condenou nem mesmo uma pecadora;
por que então se arvoram em juízes dos outros? "São cegos a guiar cegos". Agora, quanto a alma não voltar da região dos mortos, é a mais completa ignorância; não
falaremos mais sobre esse assunto. Vejam, quanta sabedoria: "e o nosso espírito se dissipará como um vapor inconsistente", ou seja, até o nosso espírito acabará;
seremos um nada. Na nota da segunda passagem chegam a admitir a possibilidade de Deus fazer voltar à vida corporal a alma que morreu, o que, em outras palavras,
significa reencarnar; mas, apesar disso, ainda a negam, provando como são incoerentes!
Sabedoria 8,19-20: Eu era jovem de boas qualidades, coubera-me, por sorte, uma boa alma; ou antes, sendo bom, tinha vindo num corpo sem mancha.
Este texto não ensina a preexistência da alma como se poderia crer, se fosse isolado do contexto. Ele corrige a expressão do v. 19, que parecia dar prioridade
ao corpo como sujeito pessoal, e sublinha a proeminência da alma.
Comentários: Como ficam desconcertados diante de textos que, para um leitor, que não precisa ser muito atento, pode levar à conclusão de ser a reencarnação
comprovada biblicamente... Como a preexistência da alma está intimamente ligada à lei natural da reencarnação, querem, por isso, incutir no leitor outra interpretação,
que não uma que os colocariam em contradição com seus dogmas.
Sabedoria 16,13: Porque tu tens poder sobre a vida e a morte, fazes descer às portas do Hades e de lá subir.
O autor ensina aqui o poder absoluto de Deus sobre a vida e a morte, não somente enquanto pode livrar a quem quiser do perigo de morte (cf. Sl 9,14; 107,17-19;
Is 38,10-17), mas ainda, parece, num sentido mais profundo: ele pode fazer tornar à vida corporal a alma que desceu ao Xeol (cf. 1Rs 17,17-23; 2Rs 4,33-35; 13,21).
Comentários: Se tivessem colocado a reencarnação, teriam acertado em cheio. Realmente, Deus faz com que a alma de quem já desceu ao Xeol (morreu) volte à
vida corporal; não no mesmo corpo, mas em outro, numa nova encarnação. Seria para nós, ressuscitar na carne, e não da carne, o que a ciência diz ser impossível.
Embora Deus possa tudo, isso não significa que Ele, a exemplo do homem, vá cometer desmandos como sói acontece com o homem, quando tem o poder ao seu alcance.
Eclesiástico 17,27-28: Quem louvará o Altíssimo no Hades, em lugar dos vivos, que podem render-lhe graças? Do morto, que é como inexistente, cessa o louvor;
louva o Senhor quem tem vida e saúde!
A conversão é motivada pela esperança de que Deus adiará a morte do pecador arrependido, pois na concepção antiga só os vivos poderão louvá-lo.
Isaías 38,18: Porque o Xeol não pode louvar-te nem a morte te celebrar. Os que descem à cova já não esperam em tua fidelidade.
O Xeol, ou morada dos mortos, no tempo de Isaías era visto como um local de semivida, separado de Deus e onde louvá-lo era impossível.
Baruc 2,17-18: Abre, Senhor, teus olhos e vê: os mortos que estão no Hades, cujo espírito foi separado de suas entranhas, não são eles que prestam honra
ao Senhor e reconhecem sua justiça.
Hades, termo grego correspondente ao Xeol, nome com que os judeus designavam a morada dos mortos.
Comentários: A noção que tinham da vida futura era tão distorcida, que ficavam até preocupados por não poder Deus receber honras das pessoas que estavam
no Hades, ou morada dos mortos. Trata-se de uma visão materialista. É impressionante tanto atraso espiritual, não é mesmo? Por que a necessidade de Deus receber
honras? Será que Ele é um Deus orgulhoso, que tenhamos de ficar eternamente bajulando-O?
Eclesiástico 30,1: Aquele que ama seu filho usará com freqüência o chicote, para, no seu fim, alegrar-se.
Comentários: Se for para se cumprir tudo da Bíblia por ser ela, conforme dizem, a palavra de Deus, cumpram essa, e depois avisem a um Juiz da Infância e
Adolescência que, acolhendo uma determinação divina, você usou o chicote contra seu filho, e aguarde o resultado. Boa sorte! Ah! Não é por nada não, mas qual a marca
do sabonete de sua preferência? Pois, com certeza, verá o Sol nascer quadrado.
Eclesiástico 30,17: É melhor a morte que uma vida amargurada, e o repouso eterno que doença crônica.
Comentários: Essa passagem não parece ser mais uma apologia do suicídio? Siga quem quiser, menos nós, pois, em qualquer circunstância, devemos preservar
a nossa vida.
Eclesiástico 48,11: Felizes os que te viram e os que adormeceram no amor, pois nós também com certeza viveremos.
O texto manifesta uma clara esperança na sobrevivência após a morte, o que destoaria da concepção geral do livro que afirma a tese tradicional da recompensa
neste mundo. Por isso há suspeitas de que seja uma glosa.
Comentários: Não resta dúvida de que é realmente contraditório, pois, outras passagens dizem não haver nenhuma esperança para depois da morte, como sendo
a tese do morreu acabou-se. Mas, se a Bíblia é a verdade, como ficaremos então? Na verdade não cabem dois pensamentos contraditórios.
Isaías 7,14: Por isso, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a jovem mulher está grávida e vai dar à luz um filho, e lhe dará o nome Emanuel.
Jovem mulher (em hebr. Almah), trata-se provavelmente da esposa de Acaz. A tradução grega dos LXX interpretou Almah no sentido de "virgem", deslocando o
sentido original do nascimento do filho para o da concepção virginal. É neste sentido que Mt 1,22-23 aplica o texto à concepção virginal de Maria.
Comentários: Apesar de concordarem que a tradução de "almah" seja uma jovem mulher, não se preocuparam em manter isso, quando colocam Maria como virgem;
daí o dogma da virgindade. É de se espantar com tanta incoerência. A questão da virgindade é reflexo de cultura antiga, onde os grandes heróis sempre nasciam de
virgens. Querer que aceitemos a virgindade de Maria até depois do parto, é o cúmulo! Seria uma derrogação das leis naturais (diga-se: leis divinas), que não vemos
nunca serem derrogadas, pois isso implicaria dizer que não foram criadas perfeitas. O interessante nisso tudo é que, se Deus quisesse realmente fazer algo notável
quanto ao nascimento de Jesus, não iria colocá-lo no ventre de uma mulher, para cumprir os nove meses de gestação (lei natural e, portanto, divina; o colocaria já
crescido no mundo. Essa passagem é usada no Novo Testamento como se fosse o anúncio da vinda de Jesus; se isto fosse, ficaríamos sem resposta, pois, pelo texto temos,
o menino se chamaria "Emanuel", que significa Deus conosco; mas o nome dado foi "Jesus", que significa Deus é salvação. Assim, não se cumpriu a profecia, ou podemos
dizer, como dizem, não se cumpriu a palavra de Deus. Mas, se nas próprias notas dizem estar se referindo à esposa de Acaz, como depois se contradizem, falando se
tratar da profecia da vinda de Jesus?
Isaías 26,10: "Se absolvermos o malvado, ele nunca aprende a justiça; sobre a terra ele distorce as coisas direitas e não vê a grandeza de Javé".
Comentários: Algumas correntes religiosas pregam o perdão puro e simples de Deus para com os nossos erros. Entretanto, por esta passagem, não existe a possibilidade
de se aceitar tal entendimento. Vejam bem: se, pela justiça dos homens, nós fossemos dar o perdão aos criminosos pelos seus crimes, com pouco tempo eles dominariam
a nossa sociedade. Se bem que poderíamos falar aqui de um domínio total, pois, de alguma sorte, nos dias de hoje, isso já é uma realidade. Não haverá aprendizado
algum se não sofrermos as conseqüências de nossos atos; esta é a única maneira do ser humano modificar suas ações, passando a produzir somente o bem.
Isaías 66,23-24: E assim, cada mês, à lua nova, e cada semana, aos sábados, todos virão prostrar-se diante de mim, diz o Senhor. E quando se virarem, poderão
ver os cadáveres daqueles que se revoltaram contra mim, porque o verme deles não morrerá e seu fogo não se extinguirá, e para todos serão um espetáculo horripilante.
Este inferno foi localizado no vale de Hinon, a Geena, lugar maldito, profanado outrora pelo culto de Moloc, deus dos mortos, tornado em seguida desaguadouro
e ossuário, onde eram jogados, sem sepultura, os corpos dos apóstatas. A alma sofre tanto quanto é maltratado o corpo, seja pelo bicho que o rói, seja pela chama
da fogueira. Aqui este suplício não terá fim. Esta visão do inferno é, em muitos apocalipses, um elemento da felicidade dos justos.
Comentários: Se "este suplício não terá fim", então podemos dizer que também a injustiça não terá fim. Não deveríamos mais continuar tendo esta visão distorcida
da justiça de Deus. Jesus vem nos mostrar que Deus é amor e Pai. E, com essa perspectiva, não podemos atribuir a Deus tamanha injustiça! Onde fica a misericórdia
infinita? Onde o "perdoar setenta vezes sete"? Incoerência pura! A visão que tiveram do "inferno" foi tirada daquilo que consideravam um sofrimento insuportável;
mas, como sempre, tiram-na de coisas de vida terrena; aliás, não era esta vida mais importante para eles? Por outro lado, gostaríamos de saber de uma mãe, se lá
no "céu" seria elemento de felicidade para ela ver seus filhos no "inferno", num suplício sem fim... Quanto à alma sofrer tanto quanto é maltratado o corpo, seja
pelo bicho que rói, seja pela chama da fogueira, poderemos até aceitar, pois sabemos que os espíritos apegados a alguma situação ou a alguma coisa, acabam sofrendo
com isso. Mas isso, com os conhecimentos de que dispomos hoje, entretanto, não poderia ter sentido naquela época. O que vemos nisso tudo é mais uma vez a visão materialista,
pois sua visão se prende mais ao corpo físico, mesmo depois da morte!
Ezequiel 14,12-14: A palavra de Iahweh me foi dirigida nestes termos: Filho do homem, se uma terra pecar contra mim, agindo com infidelidade, e eu estender
a minha mão contra ela para destruir a sua reserva de pão, trazendo sobre ela a fome e exterminando dela homens e animais, ainda que estejam ali estes três homens,
a saber, Noé, Danel e Jó. Eles em virtude de sua justiça, salvarão as suas almas, oráculo de Iahweh.
Três heróis populares, que a tradição israelita conhecia bem: Noé, cuja lembrança é conservada pelos relatos de Gn 6-9; Jó, cuja lenda devia inspirar um
dos mais belos poemas bíblicos; finalmente Danel, desconhecido da Bíblia (exceto Ez 28,3), mas cuja sabedoria e justiça eram celebradas pelos poemas de Rãs-Shamra.
Comentários: Gostaríamos de que prestassem bem atenção para essa afirmativa: "Jó, cuja lenda", que confirma o que estamos tentando dizer, há muito tempo,
ou seja, que na Bíblia existem muitas coisas que não podemos tomar como verdade absoluta, já que algumas passagens são mesmo pura lenda.
Ezequiel 23,19-20: Suas fornicações se multiplicaram, fazendo lembrar os dias da sua juventude, quando fornicava na terra do Egito, deixando-se seduzir pelos
seus libertinos, cujo sexo é como sexo dos jumentos, cujo membro é como membro dos cavalos.
Comentários: Podemos perceber o nível evolutivo de uma pessoa pelo tipo de vocabulário que usa. É certo que pessoas de moral elevada não usam palavras de
baixo calão. Mas, ao vermos as comparações da passagem acima, ficamos convictos de que só pode ser produto da mente do autor deste texto bíblico, não podendo, portanto,
serem provenientes de Deus.
Ezequiel 37,10: Profetizei de acordo com o que ele me ordenou, o espírito penetrou-os e eles viveram, firmando-se sobre os seus pés como um imenso exército.
Como em Os 6,2; 13,14 e Is 26,19, Deus anuncia aqui (cf. vv.11-14) a restauração messiânica de Israel, após o sofrimento do Exílio (cf Ap. 20, 4+). Contudo,
pelos símbolos utilizados, ele já orientava os espíritos para a idéia da ressurreição individual da carne, entrevista em Jó 19,25+, explicitamente afirmada em Dn
12,2; 2Mc 7,9-14.23-26; 12,43-46; cf. 2Mc 7,9+. Para o NT, ver Mt. 22,29-32 e sobretudo 1Cor 15.
Daniel 12,2: E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno.
Este é um dos grandes textos do AT sobre a ressurreição da carne (2Mc 7,9+).
Comentários: Agarrados ao Antigo Testamento, não percebem que Jesus nunca pregou a ressurreição da carne. Afirmou Ele que "Deus é espírito". Entretanto,
aceitando isso e admitindo que somos à semelhança de Deus, ou seja, que somos espíritos, não há como supor que iremos ressuscitar na carne. Paulo, por sua vez, não
deixa nenhuma dúvida quanto ao corpo da ressurreição: corpo espiritual.
Malaquias 3,22-24: Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a quem eu prescrevi no Horeb preceitos e leis para todo Israel. Eis que vou enviar-vos Elias,
o profeta, antes que chegue o dia do Senhor, grande e terrível. Ele fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, para que eu
não venha ferir o país com extermínio.
Depois do seu encontro com Deus no monte Horeb, Elias desaparece de cena, arrebatado por Deus. Por isso a tradição judaica dos últimos séculos antes de Cristo
esperava o seu retorno, como precursor da era messiânica. Na cena da transfiguração Elias aparece ao lado de Moisés (Mt. 17,1-18), para reforçar a voz que se faz
ouvir do céu: "este é meu Filho muito amado, ouvi-o". Jesus nesta ocasião identifica o Elias que devia vir como João Batista.
Comentários: O livro de Malaquias além de ser o último livro do Antigo Testamento, também é o último dos livros considerados proféticos. Assim, temos que
Malaquias igualmente era um profeta. No texto acima, mesmo afirmando ser uma profecia, querem levar para o lado da tradição. Então nem tudo que a "Bíblia diz" é
a palavra de Deus, pois ficamos, novamente, numa encruzilhada! Ou é ou não é? Nós podemos aceitar o meio termo. Nem toda ela é, apesar de sempre afirmarem peremptoriamente
que tudo é. Se João Batista foi identificado por Jesus como sendo o Elias que estava para vir, então, por que a dúvida quanto à reencarnação? Vemos até no anúncio
do nascimento de João Batista isso sendo colocado. É óbvio, que os que não aceitam a reencarnação, irão buscar outro sentido; é o papel deles. Mas vamos ao texto:
"Ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus: e irá adiante de Deus com o espírito e o poder de Elias para reconduzir os corações dos pais aos
filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto" (Lc 1,16-17). Vejam: com o espírito e o poder de Elias, ou seja, Elias
reencarnado, só que com outras palavras. Por que Lucas não disse no espírito de Elias e "no poder de Deus", mas "no poder de Elias"? Porque ninguém pode ter os atributos
de Deus, senão o próprio, enquanto que os atributos de uma outra pessoa sim, já que é ela mesma em outra vida.
Gênesis 9,12-17:
Vozes: E Deus disse: "Este é o sinal da aliança que estabeleço entre mim e vós e todos os seres vivos que estão convosco, por todas as gerações que virão.
Ponho meu arco nas nuvens, como sinal de minha aliança com a terra. Quando cobrir de nuvens a terra, aparecerá o arco-íris. Então eu me lembrarei de minha aliança
convosco e com todas as espécies de seres vivos, e as águas não virão mais como dilúvio para destruir a vida animal. Quando o arco-íris estiver nas nuvens, eu o
olharei como recordação da aliança eterna entre Deus e todos os seres vivos, com todas as criaturas que existem sobre a terra. Deus disse a Noé: "Este é o sinal
da aliança que estabeleço entre mim e todas as criaturas que existem na terra".
Ave Maria: Disse Deus: "Eis o sinal da aliança que eu faço convosco e com todos os seres vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras: Ponho o meu
arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra. Quando eu tiver coberto o céu de nuvens por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens,
e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo ser vivo de toda espécie, e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura. Quando eu vir o
arco nas nuvens, eu me lembrarei da aliança eterna estabelecida entre Deus e todos os seres vivos de toda espécie que estão sobre a terra". Dirigindo-se a Noé, Deus
acrescentou: "Este é o sinal da aliança que faço entre mim e todas as criaturas que estão na terra".
Levítico 19,31:
Vozes: Não recorrais aos médiuns, nem consulteis os espíritos para não vos tornardes impuros. Eu sou o Senhor vosso Deus.
Ave Maria: Não vos dirijais aos espíritas nem adivinhos: não os consulteis, para que não sejais contaminados por eles. Eu sou o Senhor, vosso Deus.
Paulus: Não se dirijam aos necromantes, nem consultem adivinhos, porque eles tornariam vocês impuros. Eu sou Javé, o Deus de vocês.
Paulinas: Não vos dirijais aos magos nem interrogueis os adivinhos, para que vos não contamineis por meio deles. Eu sou o Senhor vosso Deus.
Levítico 20,6:
Vozes: Se alguém recorrer aos médiuns e adivinhos, prostituindo-se com eles, eu voltarei minha face contra ele e o eliminarei do meio do povo.
Ave-Maria: Se alguém se dirigir aos espíritas ou aos adivinhos para fornicar com eles, voltarei o meu rosto contra esse homem e o cortarei do meio do seu
povo.
Paulus: Quem recorrer aos necromantes e adivinhos, para se prostituir com eles, eu me voltarei contra esse homem e o eliminarei do seu povo.
Paulinas: A pessoa que se dirigir a magos e adivinhos e fornicar com eles, eu porei o meu rosto contra ela, e a exterminarei do meio do seu povo.
Levítico 20,27:
Vozes: O homem ou a mulher que se tornar médium ou adivinho, serão mortos por apedrejamento. São réus de morte.
Ave Maria: Qualquer homem ou mulher que evocar os espíritos ou fizer adivinhações, será morto. Serão apedrejados, e levarão a sua culpa.
Paulus: O homem ou mulher que pratica a necromancia ou adivinhação, é réu de morte. Será apedrejado, e o seu sangue cairá sobre ele.
Paulinas: O homem ou mulher em que houver espírito pitônico ou de adivinho, sejam punidos de morte. Apedrejá-los-ão; o seu sangue caia sobre eles.
1 Reis 13,18:
Vozes: O profeta lhe respondeu: "Também eu sou profeta como tu e um anjo me falou por ordem do Senhor: "Traze-o de volta contigo para tua casa a fim de comer
e beber. Ora, isto era mentira".
Ave Maria: "Mas eu também sou profeta como tu", insistiu o outro. Ora, um anjo me falou da parte do Senhor: "Leva-o contigo à tua casa e dá-lhe de comer".
Era mentira.
Isaías 8,18-20:
Vozes: Eis que eu e os filhos que o Senhor me deu serviremos, em Israel, de sinais e presságios da parte do Senhor Todo-Poderoso, que habita no monte Sião.
Se vos disserem: "Consultai os necromantes e os adivinhos que sussurram e murmuram"; acaso não consultará um povo os seus deuses, os mortos em favor dos vivos? "Ao
ensinamento, ao testemunho!" Se não falarem conforme esta palavra, certamente para eles não haverá aurora!
Ave Maria: Eu e os filhos que o Senhor me deu somos, em Israel, sinais e presságios da parte do Senhor dos exércitos, que habita no monte de Sião. Se vos
disserem: "Consultai os espíritos dos mortos, os adivinhos, os que conhecem segredos e dizem em voz baixa: Porventura um povo não deve consultar os seus deuses?
Consultar os mortos em favor dos vivos? Para aceitar uma lei e um testemunho. É o que se dirá. Porque não haverá aurora para eles".
Barsa: Ata o testemunho, sela a lei entre os meus discípulos. E esperarei o Senhor, que esconde a sua face á casa de Jacó, e aguardá-lo-ei. Eis aqui estou
eu e os meus meninos, que o Senhor me deu, para servirem de sinal, e de portento a Israel da parte do Senhor dos exércitos, que habita no monte Sião. E quando vos
disserem: Consultai os pitões, e os adivinhos, que murmuram em segredo nos seus encantamentos: Acaso não consultará o povo ao seu Deus, há de ir falar com os mortos
acerca dos vivos? Antes à lei e ao testemunho é que se deve recorrer. Porém se eles não falarem na conformidade desta palavra, não raiará para eles a luz da manhã.
Jeremias 27,9-11:
Vozes: Quanto a vós, não ouçais os vossos profetas, adivinhos, sonhadores, encantadores e mágicos, que vos dizem: "Não servireis o rei da Babilônia!" Porque
é mentira o que vos profetizam para agastar-vos de vossa terra; para que eu vos disperse e pereçais. Mas a nação que submeter o pescoço ao jugo do rei da Babilônia
e o servir, eu a farei repousar em seu solo – oráculo do Senhor – para que o cultive e habite.
Ave Maria: Não escuteis, portanto, vossos profetas e adivinhos, nem vossos vaticinadores, astrólogos e feiticeiros que vos disserem que não sereis sujeitos
ao rei de Babilônia. Porque são mentiras que vos profetizam a fim de que sejais banidos de vossa terra, dispersados por mim e levados a perecer. Ao contrário, o
povo que se inclinar ante o jugo do rei de Babilônia e a ele submeter-se, deixá-lo-ei tranqüilo em sua terra – oráculo do senhor, a fim de cultivá-la e nela morar.
Paulus: Quanto a vocês, não façam caso de seus profetas e adivinhos, intérpretes de sonhos, feiticeiros e magos, que lhes dizem: "Vocês não ficarão submetidos
ao rei da Babilônia". Porque eles profetizam mentiras, para tirar vocês da própria terra e para que eu espalhe e destrua vocês. A nação, porém, que dobrar o pescoço
e se submeter ao rei da Babilônia, eu a deixarei tranqüila em sua terra, para que a cultive e fique morando nela – oráculo de Javé.
Paulinas: Vós, pois, não deis ouvidos aos vossos profetas, nem aos adivinhos, nem aos sonhadores, agoureiros e mágicos, que vos dizem: Não servireis ao rei
da Babilônia. Porque eles vos profetizam a mentira, para vos mandarem para longe da vossa terra, vos lançarem dela, e para que assim venhais a perecer. Mas a nação
que submeter a sua cerviz ao jugo do rei de Babilônia e o servir, eu a deixarei na sua terra, diz o Senhor, e a cultivará, e habitará nela.
Comentários: Quando pegamos um texto ou artigo de alguém, não podemos mudar nada, nem mesmo uma vírgula; isto se formos honestos, é o que não se cansam de
afirmar. No entanto, não fazem assim, quando o assunto é a Bíblia. Colocaram até palavras que não existiam na época em que ela foi escrita (médiuns, espíritas, etc.).
Em textos dos outros, não podemos colocar nossas palavras. O máximo que podemos fazer é usar palavras de mesmo sentido, se não houver palavras correspondentes em
outra língua, quando se tratar de traduções. E, além disso, não são coerentes nas traduções; parece que cada um tem uma "tradução" própria; até mesmo em se tratando
de um mesmo seguimento religioso existem traduções diferentes. É o que queremos mostrar com os textos acima, retirados das Bíblias das editoras: Vozes, Barsa, Ave
Maria, Paulus e Paulinas. Releiam e prestem bastante atenção; realçamos nos texto, em negrito, as principais mudanças. Por isso perguntamos: será mesmo que tudo
o mais está de acordo com os originais, como apregoam? Ou, se mudaram é porque Deus não tinha colocado como eles queriam? Daí ser preciso mudar...
NOVO TESTAMENTO
Mateus 2,1: Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém.
Mateus 2,13-23: ... eis que aparece um anjo do Senhor a José em sonho, e diz: ... toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e permanece lá até que eu te
avise; porque Herodes há de procurar o menino para matar. ... Tendo Herodes morrido,... tomou o menino e sua mãe, e regressou para a terra de Israel. ... retirou-se
para as regiões da Galiléia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno.
Lucas 1,26-27: No sexto mês foi o anjo Gabriel enviado da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo homem
da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria.
Lucas 2,1-5: Naqueles dias foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se... Todos iam alistar-se, cada
um à sua própria cidade. José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi,
a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.
Comentários: Onde moravam os pais de Jesus? Pelo relato de Mateus, a família de Jesus morava em Belém e só depois de sair do Egito é foi morar em Nazaré.
Entretanto, Lucas coloca a cidade de Nazaré como se fosse o local onde vivia a sagrada família, que teve que ir à Belém apenas para atender ao decreto do recenseamento.
Mateus 3,4-6: João usava uma roupa de pêlos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins. Seu alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre. Então
vieram até ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a região vizinha ao Jordão. E eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os pecados.
O rito da imersão, símbolo de purificação e de renovação, era conhecido das religiões antigas e do judaísmo (batismo dos prosélitos e dos essênios). Embora
se inspirasse nesses precedentes, o batismo de João distinguia-se por três traços importantes: tinha um objetivo já não ritual, porém moral (3,2.6.8.11; Lc. 3,10-14);
não se repetia, o que lhe dava caráter de iniciação; finalmente, tinha caráter escatológico, introduzindo o batizado no grupo dos que professavam a espera diligente
do Messias, que estava para vir, e que constituíam, por antecipação, sua comunidade (3,2.11; Jo 1,19-34). Sua eficácia era real, mas não sacramental, pois dependia
do julgamento de Deus, que ainda estava por vir na pessoa do Messias, cujo fogo havia de purificar ou de consumir, segundo a atitude de acolhimento ou de resistência
de cada um, e que seria o único a batizar "com o Espírito Santo" (3,7.10-12; Jo 1,33+). O batismo de João foi também praticado pelos discípulos de Cristo (Jo 4,1-2)
até o dia em que foi absorvido no novo rito instituído por Cristo ressuscitado (Mt 28,19; At 1,5+; Rm 6,4+).
Comentários: As informações que nos dão provam que o ritual do batismo foi copiado de outras práticas religiosas anteriores ao cristianismo; portanto, não
há como justificar o ritual do batismo imposto pelas religiões tradicionais. Além do mais, Jesus não batizou ninguém.
Mateus 8,5-6: Ao entrar em Cafarnaum, chegou-se a ele um centurião que o implorava e dizia: "Senhor, meu criado está deitado em casa paralítico, sofrendo dores
atrozes"
Lucas 7,1-3: Quando acabou de transmitir aos ouvidos do povo todas essas palavras, entrou em Cafarnaum. Ora, um centurião tinha um servo a quem prezava e que
estava doente, à morte; Tenho ouvido falar de Jesus, enviou-lhe alguns dos anciãos dos judeus para pedir-lhe que fosse salvar o servo.
Comentários: O servo do centurião era paralítico que sofria muito, na versão de Mateus ou um doente à beira da morte, conforme Lucas? Enfim, esse servo era
um paralítico que sofria muito ou era um doente que estava à morte? O centurião falou pessoalmente com Jesus ou enviou alguns anciãos dos judeus para pedir-lhe a
cura do seu servo?
Mateus 9,14-17: Então dele se aproximaram os discípulos de João com as palavras: "Como é que nós e os fariseus jejuamos com freqüência e teus discípulos
não jejuam?" Jesus lhes respondeu: "Por acaso os amigos do noivo podem ficar tristes enquanto o noivo estiver com eles?" Mas virão os dias em que o noivo lhes será
tirado, então jejuarão. Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha, porque tiraria a consistência da roupa e o rasgão ficaria pior. Não se põe tampouco
vinho novo em odres velhos; do contrário, rompendo-se os odres, o vinho se derrama e os odres se perderiam. Mas o vinho novo se põe em odres novos e assim ambos
se conservam".
Comentários: A preocupação de seguir "a Lei e os Profetas" sempre foi colocada pelos fariseus. Não aceitavam os ensinos de Jesus. Por isso, Ele disse que
"não se põe remendo de pano novo em roupa velha", querendo, com isto, dizer que deveriam abandonar completamente os ensinamentos anteriores (roupa velha, odres velhos),
para aceitarem os novos (roupa nova, odres novos), pois, se assim não fizessem, a ruína deles seria grande, ou seja, nunca iriam conseguir a evolução espiritual
seguindo os anteriores. Claramente percebemos aqui a revogação do Antigo Testamento.
Mateus 9,18: Enquanto estas cousas lhes dizia, eis que um chefe, aproximando-se, o adorou, e disse: Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem, impõe a tua mão,
e viverá.
Marcos 5,22-23: Eis que se chega a ele um dos principais da sinagoga, chamado Jairo, e, vendo-o, prostra-se a seus pés, e insistentemente lhe suplica: Minha
filhinha está à morte; vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá.
Lucas 8,41-42: Eis que veio um homem chamado Jairo, que era chefe da sinagoga, e, prostrando-se aos pés de Jesus, lhe suplicou que chegasse até a sua casa.
Pois tinha uma filha única de uns doze anos, que estava à morte. Enquanto ele ia, as multidões o apertavam.
Comentários: Diferentemente de Marcos e Lucas que dizem que a filha de Jairo estava quase morrendo, Mateus já a tem como morta. Aqui não adianta apelar que
morreu depois, uma vez que todos os relatos iniciam colocando Jairo prostrado aos pés de Jesus.
Mateus 11,12-15: Desde a época de João Batista até o presente, o reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam. Porque os Profetas
e a Lei tiveram a palavra até João. E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar. Quem tem ouvidos, ouça.
Mateus 17,11-13: Jesus respondeu-lhes: "Elias, de fato, deve voltar e restabelecer todas as coisas. Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram.
Do mesmo modo farão sofrer o Filho do homem". Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de João Batista.
Lucas 1,16-17: "Ele o precederá com o espírito e o poder de Elias, para reconduzir o coração dos pais aos filhos, bem como os rebeldes aos sentimentos dos
justos. Vai preparar assim, para o Senhor, um povo bem disposto".
Comentários: Jesus sabia que não iriam compreender a questão da reencarnação; por isso disse: "quem tem ouvidos, ouça". Expressão que usou para dizer que
poucos poderiam, na verdade, compreender que era da reencarnação que estava falando. João é Elias que devia voltar, ou seja, João era Elias reencarnado. Difícil
de entender? Não! Somente para os que não querem. Vejam que na época o povo acreditava realmente na possibilidade de alguém voltar; temos: "Chegando ao território
de Cesaréia de Felipe, Jesus perguntou a seus discípulos: 'No dizer do povo, quem é o Filho do homem'?' Responderam: 'Uns dizem que é João Batista; outros, Elias;
outros, Jeremias ou um dos profetas'" (Mt 16,13-14) Não se trata aqui claramente desta possibilidade, pois como Jesus poderia ser João Batista, Elias, Jeremias,
ou um dos profetas, se o povo não pensasse que eles poderiam voltar? É mais um argumento apoiado nos ensinos de Jesus, pois sobre a lógica já havíamos falado anteriormente.
Mateus 16,16: E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Mateus 16,20: Então mandou aos seus discípulos que a ninguém dissessem que ele era Jesus o Cristo.
João 9,22: Os pais diziam isto com medo dos judeus, os quais já tinham decretado que se alguém confessasse que Jesus era o Cristo, seria expulso da Sinagoga.
João 20,31: Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
Comentários: É comum vermos várias passagens citando o nome Jesus Cristo. Entretanto, poderemos observar que isto não seria adequado, pois a palavra "Cristo"
significa "ungido" (em grego), o mesmo que "Messias" (em hebraico). Assim, para nos expressarmos corretamente, deveríamos dizer: Jesus, o Cristo, como podemos comprovar
nas passagens citadas acima, entre outras que constatamos no Evangelho.
Mateus 22,31-32: Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse: "Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Deus não
é Deus de mortos mas de vivos".
Comentários: Sim! É Deus de vivos e não de mortos, porque na VERDADE ninguém morre, pois continuamos vivos na esfera espiritual. É o que se quer dizer com
Deus de Abraão, Isaac e Jacó que, apesar da morte física, continuam vivos, no mundo espiritual, naquele que Jesus diz: "meu reino não é deste mundo" (Jo 18,36).
Assim, não há como aceitar a ressurreição fora deste sentido e não como pensam de ser a do corpo físico que, depois da morte, estará sempre morto, extinto em definitivo.
Mateus 26,6-7: Ora, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele uma mulher, trazendo um vaso de alabastro cheio de precioso bálsamo,
que lhe derramou sobre a cabeça, estando ele à mesa.
Marcos 14,3: Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume
de nardo puro, e, quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus.
Lucas 7,36-38: Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. E eis que uma mulher da cidade,
pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com
suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o ungüento.
Jo 12,1-3: Seis dias antes da páscoa, foi Jesus para Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos. Deram-lhe, pois, ali, uma ceia;
Marta servia, sendo Lázaro um dos que estavam com ele à mesa. Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, mui precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou
com os seus cabelos; e encheu-se toda a casa com perfume do bálsamo.
Comentários: Afinal, quem era essa mulher com alabastro? Mateus e Marcos relatam que Jesus estava em casa de Simão, o leproso, e que uma mulher havia derramado
um vaso de alabastro em sua cabeça, não identificando quem era ela. Só que João diz que a mulher era Maria a irmã de Lázaro, que o fato acontecia na casa de Lázaro
e que ao invés de jogar o perfume na cabeça, ela ungiu os pés de Jesus. Se em Lucas temos que esta mulher é uma pecadora, conseqüentemente ela não poderia ser Maria,
a irmã de Lázaro. Xiii, que confusão!
Mateus 27,59: José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo e o pôs em seu túmulo novo, que talhara na rocha. ...
Marcos 15,45-46: Informado pelo centurião, cedeu o cadáver, a José, o qual, tendo comprado um lençol, desceu-o, enrolou-o no lençol e o pôs num túmulo que
fora talhado na rocha. ...
Lucas 23,52-53: Indo procurar Pilatos, pediu o corpo de Jesus. E, descendo-o, envolveu-o num lençol e colocou-o numa tumba talhada na pedra, onde ninguém ainda
havia sido posto.
João 19,40: Eles tomaram então o corpo de Jesus e o envolveram em panos de linho com aromas, como os judeus costumam sepultar.
Obs.: Essas passagens são as que relatam os acontecimentos no dia da morte de Jesus.
Lucas 24,12: Pedro, contudo, levantou-se e correu ao túmulo. Inclinando-se, porém, viu apenas os lençóis. ...
João 20,4-7: Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Inclinando-se, viu os panos de linho
por terra, mas não entrou. Então, chega também Simão Pedro, que o seguia, e entra no sepulcro; vê os panos de linho por terra e o sudário que cobrira a cabeça de
Jesus. O sudário não estava com os panos de linho no chão, mas enrolado em um lugar, à parte.
Obs.: Aqui os dois relatos são do dia da ressurreição de Cristo.
João 11,43-44: Tendo dito isso, gritou em alta voz: "Lázaro, vem para fora!" O morto saiu, com os pés e mãos enfaixados e com o rosto recoberto com um sudário.
..
Comentários: Sobre a história do Sudário, uma coisa nós ainda não conseguimos entender. Vejam bem, os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas falam que, no dia
da morte de Jesus, José de Arimatéia comprou um lençol e com ele envolveu o corpo do Mestre. Entretanto, João já diz que o corpo foi envolvido em panos de linho
com aromas, conforme o costume judeu. Ao narrar os acontecimentos, no dia da ressurreição, João diz que os panos de linho estavam por terra e o sudário que cobria
a cabeça de Jesus estava enrolado. Observamos que, no caso da ressurreição de Lázaro, João diz que ele saiu do sepulcro com os pés e mãos enfaixados e com o rosto
recoberto com um sudário. Então, podemos concluir disso que o Sudário era uma peça de pano (lençol de linho) que cobria apenas a cabeça do morto; então, como o Sudário,
atribuído a Jesus, possui todas as características de que envolveu todo o corpo (frente e verso)? Fica, aí, a pergunta para os teólogos responderem.
Marcos 2,27: Então lhes dizia: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado, de modo que o Filho do Homem é senhor até do sábado".
Esse versículo, não aparece em Mt e Lc, teria sido acrescentado por Mc numa época em que o novo espírito do cristianismo havia definitivamente relativizado
a obrigação do sábado (cf. Lc 5,39+).
Comentários: Pela informação podemos concluir que Marcos colocou palavras na boca de Jesus que, em verdade, Ele nunca disse; será que foi apenas para justificar
a quebra do costume que era seguido em relação ao sábado? Mas, e a inspiração divina?...
Marcos 13,24-30: Naqueles dias, porém, depois daquela tribulação, o Sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas estarão caindo do céu, e os
poderes que estão nos céus serão abalados. E verão o Filho do Homem vindo entre as nuvens com grande poder e glória. Então ele enviará os anjos e reunirá seus eleitos,
dos quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu. Aprendei, pois, a parábola da figueira. Quando o seu ramo se torna tenro e as suas folhas começam
a brotar, sabeis que o verão está próximo. Da mesma forma, também vós, quando virdes essas coisas acontecerem, sabei que ele está próximo, às portas. Em verdade
vos digo que esta geração não passará enquanto não tiver acontecido tudo isto.
Comentários: Não há como negar que a geração em referência passou; entretanto, nada disso aconteceu. Se atribuirmos esses acontecimentos em relação à destruição
de Jerusalém - o que é o mais provável -, os fatos já aconteceram; portanto, não são para uma época futura.
Lucas 23,43: Jesus respondeu-lhe: "Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso".
Comentários: É o famoso "bom ladrão", como dizem, e parece ter sido o único da História, pois não vemos ninguém falar mais assim de ladrão algum. Mas o que
queremos mostrar aqui é bem outra coisa. Vamos lá. Iremos provar que as alterações dos textos podem mudar em muito o sentido original, como já verificamos anteriormente
em várias situações. É necessário ressaltar isso, para que fiquemos alerta contra os que mudam os sentidos da escrituras para proveito próprio. Na frase acima, se
simplesmente mudarmos a vírgula de posição, teríamos, então: "Em verdade te digo hoje, estarás comigo no paraíso". Vejam que o sentido da frase mudou completamente.
Achamos até que essa segunda frase estaria mais próxima da justiça divina, pois não dá para conceber alguém se salvar por um arrependimento, pois é contrário ao
"a cada um segundo suas obras" (Mt 16,27). De que valeria, a todos nós, passar uma vida inteira buscando cumprir os ensinos de Jesus, se houver uma mínima possibilidade
de alguém, que não fez o que fizemos, merecer o mesmo prêmio? Seria pura injustiça! Como Deus é justo, ficaremos com a segunda frase, pois, mais cedo ou mais tarde,
estaremos lá; a Lei da reencarnação está aí para nos dar esta oportunidade.
Lucas 24,9-11: Voltando do sepulcro, contaram tudo isto aos onze e a todos os demais. Eram elas Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago. E as outras suas
amigas relataram aos Apóstolos a mesma coisa. Mas estas notícias pareciam-lhes como um delírio, e não lhes deram crédito.
Comentários: A descrença dos apóstolos seria porque as mulheres é que deram a notícia? É bem provável, pois viviam numa sociedade extremamente machista,
onde as mulheres tinham apenas um único direito: o "de ficarem caladas" (1Cor 14,34).
João 1,18: A Deus ninguém nunca viu. O Filho Unigênito que está no seio do Pai foi quem no-lo deu a conhecer.
Comentários: Passagens que vimos do Antigo Testamento mostram Deus aqui na Terra a toda hora, chegou mesmo até lutar com homens. Será que apesar de tudo
isso, ninguém O viu? Ou devemos acreditar no que Jesus disse? Nós ficamos com Jesus; e você?
João 1,29: No dia seguinte João viu Jesus aproximar-se e disse: "Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo".
João 3,16: Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
Comentários: Lembramo-nos do Antigo Testamento, onde existiam os sacrifícios para expiação dos pecados. Era a lei do menor esforço, ou seja, queimavam, por
exemplo, um boi e pronto; Deus os perdoava dos seus pecados. Querem transformar o Cristo neste "cordeiro expiatório"; daí tantas doutrinas adotarem esse conceito,
pois é mais fácil transferir para Jesus a nossa salvação do que nos esforçarmos para sermos cada vez melhores, seguindo a orientação do Mestre: "Sede perfeitos como
é perfeito o Pai Celestial" (Mt 5,48).
João 9,1-3: Caminhando, viu Jesus um homem, cego de nascença. Os discípulos perguntaram, dizendo: Rabi, quem foi que pecou, ele ou os seus pais, para ele
nascer cego? Respondeu Jesus; "Ninguém pecou, nem ele nem os pais. Foi para que nele se manifestem as obras de Deus".
Segundo uma crença muito arraigada no AT (cf. Ex 20,5; Ez 18,20; Lc 13,2-4) e acatada pelos rabinos, as doenças e desgraças são castigo de uma vida pecaminosa,
seja do próprio indivíduo, seja dos pais. Por isso a pergunta dos discípulos. De modo algum se pensa numa existência anterior e na reencarnação no sentido do espiritismo.
A resposta de Jesus não nega de todo alguma ligação entre doença e pecado. Afirma, porém, que não se deve perguntar pela razão, mas pela finalidade, que é a maior
glória de Deus. De fato, o milagre que segue, além de curar o cego, devia manifestar Jesus como a luz do mundo.
Comentários: Em verdade, a crença popular tinha um fundo de razão, a única ressalva a se fazer é que ninguém paga pelo erro de outros. Negar a reencarnação,
querendo dar uma de "avestruz", não adianta. Não devemos abrir mão da razão, pois cremos que tudo que acontece tem que haver algum sentido. No caso de um cego de
nascença, a coisa para ser completamente justa, os pais tinham alguma dívida a resgatar; daí receberem um filho cego. Esse, por sua vez, nasceu cego por seus próprios
erros do passado, quando, provavelmente, utilizou os seus olhos para cometê-los. Jesus, na passagem, não diz da impossibilidade disso acontecer, apenas ressalta
que naquele caso não era essa a questão. Esse cego tinha a missão, que só iremos entender após ler o texto até o final (v. 41), de desmascarar os orgulhosos fariseus.
Se colocam a finalidade como mais importante para análise - já que se considera que o "milagre" foi a causa desse homem nascer cego -, nos digam qual a finalidade
de milhares de outras crianças, que nunca foram curadas, nascerem cegas, aleijadas, etc?! Podemos mostrar a existência de uma doença como conseqüência do pecado.
Em Jo 5,1-18, no episódio em que Jesus, após curar um homem, paralítico por 38 anos, o reencontra no templo e lhe diz: "Eis que estás curado; não peques mais, para
que não te suceda algo ainda pior!" (v. 14). Dessas palavras de Jesus, podemos concluir que a paralisia daquele homem foi por conseqüência de ter pecado e que, se
tornasse a pecar, algo mais grave ainda do que uma paralisia poderia lhe acontecer, relacionando doença (dor e sofrimento) como decorrência do pecado. Mas, se aceitarmos
a reencarnação, como fica a posição dos líderes religiosos, já que, nesse caso, ninguém precisará deles para entrar no reino dos céus?
João 16,12-13: Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não podeis compreender agora. Quando ele, o Espírito da verdade, vier, vos conduzirá à verdade
completa. Pois não há de falar por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras.
Comentários: É óbvio que, se Jesus tinha mais alguma coisa a dizer, é porque ele não disse tudo; devemos entender com isso que todos os seus ensinamentos,
ou pelo menos tudo o que tinha para dizer, não está contido somente no Evangelho. Outras coisas seriam ditas oportunamente como ele mesmo disse; resta-nos saber
distinguir onde hoje podemos encontrar a seqüência dos seus ensinamentos, tendo em vista que a maioria das religiões tradicionais, apegadas aos dogmas, ritos e sacramentos,
faz da prática religiosa uma fonte de renda, convencionando que o "paraíso", a que todos almejamos, tenha que ser adquirido ao preço de dízimos, e não conquistado
pelo aperfeiçoamento moral e espiritual. São as religiões do Je$u$, ao invés de Jesus.
João 17,5: Agora, ó Pai, glorifica-me com a glória que eu tinha junto de ti, antes que existisse o mundo.
Gálatas 4,4-5: Mas quando chegou a data marcada por Deus, ele, Deus, enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido súdito da Lei, para resgatar os súditos
da Lei, e assim fazer de nós filhos adotivos.
Comentários: Se Deus cria a alma juntamente com o corpo físico, essa afirmativa de Jesus não teria sentido. Lembremo-nos de que Ele disse: "Não penseis que
vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogar, mas levá-los à perfeição" (Mt 5,17). As leis divinas nunca são revogadas, pois se pudessem se , Deus as teria
criado imperfeitas. Fato comprovado pela segunda citação, onde, além de reforçar que nasceu de uma mulher, nasceu súdito da Lei. Sabemos que o espírito já existia
antes do corpo físico, pois Deus nunca poderia sujeitar-se à vontade humana para criar os espíritos. Sim, pois só poderia criar um espírito, a partir do momento
em que um casal resolvesse ter um filho. Especificamente no caso de Jesus, sabemos que participou da criação de nosso planeta.
Atos 5,38-39: ... Porque, se este plano ou esta obra vem dos homens, fracassará na certa. Mas, se vem de Deus, então nunca podereis destruí-la. Pois neste
caso estareis lutando contra Deus!
Atos 10,34-35: Então Pedro disse: "De fato, agora compreendo que Deus não faz distinção de pessoas; mas todos os que o adoram e praticam o bem são aceitos
por ele, seja qual for sua nação".
Romanos 2,11: Porque Deus não faz distinção entre os homens.
Comentários: Essas são afirmativas que certas pessoas, que se metem a combater as religiões dos outros, deveriam saber, antes de se arrogarem como os únicos
aceitos por Deus, cuja salvação estaria, portanto, garantida. Pobres coitados! "A cada um segundo suas obras" é a única chave da porta da salvação. Queremos ressaltar
do primeiro texto: "se este plano ou esta obra for dos homens fracassará, mas se for de Deus nunca podereis destruí-la". Então não haverá nenhuma necessidade de
condenarmos qualquer outra religião; não é mesmo?
Atos 7,53: Vós sois aqueles que recebestes a Lei por meio dos anjos e não a cumpristes.
Gálatas 3,19: Então, para que a Lei? Ela foi acrescentada em vista das transgressões, até que viesse a descendência a quem era destinada a promessa. Ela
foi promulgada pelos anjos e entregue através de um mediador.
Hebreus 2,2-3: Se já a palavra promulgada pelos anjos se demonstrou válida, de tal sorte que toda transgressão e desobediência receberam um justo castigo,
como escaparemos, se negligenciarmos uma salvação tão grande? ...
Comentários: Confirmação de que Deus pessoalmente não se manifesta aos homens, mas se utiliza de seus mensageiros e intermediários: os anjos (espíritos).
A Lei, que Moisés recebeu, no Monte Sinai, lhe foi entregue por meio dos anjos, conforme consta nas citações mencionadas. A Bíblia não tem incoerência, dizem. Entretanto,
se aceitamos o que consta desta passagem, estaremos contrariando o seguinte: "O senhor vos falou face a face na montanha, no meio do fogo. Eu estava, então, de pé
entre o Senhor e vós, para vos transmitir suas palavras, pois tínheis medo do fogo e não subistes ao cimo do monte. ..." (Dt 5,4-5) Eh!, fomos mexer, e a coisa ficou
pior ainda. Vejam: "Moisés disse ao Senhor: 'O povo não pode subir ao monte Sinai, pois tu mesmo assim nos advertiste: delimita a montanha e declara-a santa!'" (Ex
19,23); queremos saber qual é a verdade: não subiram porque Deus não permitiu, ou não subiram porque tinham medo do fogo? Como ficaremos? Qual das "verdades" devemos
aceitar? Além disto, Jesus disse: "A Deus ninguém nunca viu. O Filho Unigênito que está no seio do Pai foi quem no-lo deu a conhecer" (Jo 1,18) Como, então, o Senhor
falou face a face? Concluindo: se não aceitarmos esta, teremos que aceitar a outra. A verdade é única! Não se divide em citações diferentes ou até mesmo contrárias.
Atos 7,53: Vós sois aqueles que recebestes a Lei por meio dos anjos e não a cumpristes.
Atos 23,8: É que os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjos, nem espíritos, enquanto que os fariseus admitem todas estas coisas.
Hebreus 1,14: Não são todos os anjos espíritos encarregados de um ministério, enviados a serviço dos que devem herdar a salvação?
Comentários: E ainda dizem que os espíritos não se manifestam. Entregam a Lei a Moisés, são encarregados de um ministério... Temos que convir que, para fazerem
tudo isso, terão que se comunicar com os homens. Inclusive, observem que a sua existência era crença dos fariseus daquela época. Podemos concluir, também, que anjos
e espíritos são a mesma coisa, conforme o último texto.
Romanos 2,1: Por isso, meu amigo, sejas tu quem fores, não tens desculpa se te arvoras como juiz dos outros. Quando julgas os outros tu te condenas porque
tu, que julgas, fazes as mesmas coisas que eles.
1 Pedro 2,12: Vossa conduta entre os pagãos seja exemplar, para que apesar de vos caluniarem como malfeitores, à vista de vossas boas obras glorifiquem a
Deus no dia da visitação.
1 Pedro 3,8-12: Todos, enfim, cultivai o espírito de concórdia, de compaixão, de amor fraterno, de misericórdia e humildade. Não pagueis mal com mal, nem
injúria com injúria. Pelo contrário, respondei bendizendo, já que fostes escolhidos para ser herdeiros da bênção. Pois quem quiser amar sua vida e ver dias felizes,
afaste a língua do mal e os lábios das palavras astutas. Aparte-se do mal e pratique o bem. Procure a paz e trabalhe por alcançá-la. Porque os olhos do Senhor estão
inclinados sobre os justos e seus ouvidos, atentos às suas preces. O rosto do Senhor, porém, se volta contra os que praticam o mal.
Comentários: Os que ficam a caluniar as religiões dos outros deveriam apenas se preocupar em fazer o bem, seguindo fielmente as orientações de Jesus. Se
os outros estiverem errados, é problema deles com Deus. Não podemos nos tornar juiz de ninguém, já que não recebemos nenhuma procuração de Deus para isso. E muitas
vezes, condenamos o que, na prática fazemos; por exemplo, se falamos que os outros são falsos, é porque também somos falsos; não dá outra! É o que tiramos dos textos
acima. Portanto, sejam mais coerentes!
Romanos 2,11: Porque Deus não faz acepção de pessoas.
Romanos 8,28-30: Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o projeto dele. Aqueles que Deus antecipadamente
conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, para que este seja o primogênito entre muitos irmãos. E aqueles que Deus predestinou, também
os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos. E aos que tornou justos, também os glorificou.
O projeto eterno de Deus é predestinar, chamar, tornar justo e glorificar a cada um e a todos os homens, fazendo com que todos se tornem imagem do seu Filho
e se reúnam como a grande família de Deus. O projeto não exclui ninguém. Mas o homem é livre; pode aceitar ou recusar tal projeto, pode escolher a vida ou a morte,
salvar-se ou condenar-se.
Comentários: Será que o projeto de Deus não está funcionando, pois alguns dizem que só eles é que estão predestinados à salvação? Se Deus realmente quiser
que alguma coisa aconteça, quem poderá ser contra os desígnios de Deus? Apesar do homem ter o livre-arbítrio este é relativo, pois nunca poderá ir contra os projetos
de Deus. Assim é que, pela reencarnação, e mesmo usando o livre-arbítrio, o homem, mais cedo ou mais tarde, irá fazer parte da grande família de Deus. Não há outra
alternativa, pois "Deus quer que todos os homens sejam salvos" (1Tm 2,4). E se é isso que ele quer, o que, ou quem, poderá obstaculizar a vontade de Deus?
Romanos 5,1: Justificados, pois, pela fé, temos a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
Romanos 10,9: Portanto, se com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e se em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
1 Coríntios 13,1-13: Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como um bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver
caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade,
de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios
interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A
caridade jamais acabará. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém a maior delas é a caridade.
Comentários: O último texto vem contrariar o que Paulo disse nos dois anteriores. Será que a contradição é dele? Ou será coisa dos tradutores? Ou, ainda,
será que o pensamento de Paulo, embora seja apenas o último, não soube se expressar bem nos outros? Vamos ver o que Jesus coloca a respeito. Se Ele disse: "a cada
um segundo suas obras" (Mt 16,27) reforçando este conceito na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,30-37), assim não colocava a "salvação de graça", contrário, portanto,
ao pensamento que tinham àquela época e, por incrível que possa parecer, chegou até os nossos dias. Como "o discípulo não é superior ao mestre" (Lc 6,40), temos
que aceitar que o ensino de Jesus é que deve prevalecer, ou seja, não existe a salvação simplesmente por ter fé ou crer que Jesus é nosso salvador, conforme nos
dá a entender Paulo em sua carta aos Romanos.
Romanos 14,22: A convicção, que tens, guarda para ti mesmo diante de Deus. Feliz quem não tiver do que censurar-se a si mesmo com suas decisões!
Comentários: Por que não seguem este preceito? Será que não tem nenhum valor? Assim, já que dizem que a Bíblia é a palavra de Deus, deveriam segui-la de
ponta a ponta; não é mesmo? Não ficam por aí querendo converter a todos para sua Igreja, em fragrante contradição com essa passagem? Ou existem passagens que são
para se cumprirem e outras não? Se assim for, com base em que fazem isso, ou seja, como identificam quais são as palavras de Deus que deverão ser cumpridas e quais
as que não?
1 Coríntios 11,3-6: Mas quero que saibais que senhor de todo homem é Cristo, senhor da mulher é o homem, senhor de Cristo é Deus. Todo homem que ora ou profetiza
com a cabeça coberta, falta ao respeito ao senhor. E toda mulher que ora ou profetiza, não tendo coberta a cabeça, falta ao respeito ao senhor, porque é como se
estivesse rapada.
1 Coríntios 14,34: Como em todas as Igrejas dos santos, fiquem as mulheres caladas nas assembléias, porque não é permitido que tomem a palavra. ...
1 Timóteo 2,9-15: Quero, também, que as mulheres se vistam e se arrumem de modo decente e simples, sem penteados complicados, nem com jóias de ouro e pérolas,
nem com vestidos de luxo. É melhor que se enfeitem com boas obras, como convém a mulheres que procuram servir a Deus. A mulher receba as instruções em silêncio e
com total submissão. Não permito que a mulher ensine ou mande no homem. Ela guarde o silêncio. Porque Adão foi criado primeiro, e Eva depois. E não foi Adão que
foi seduzido, mas a mulher é que foi seduzida e pecou. Mas a mulher poderá se salvar sendo mãe, e conservando com o bom senso, a caridade e a santidade.
Comentários: A mulher sempre sendo colocada como um ser inferior ao homem. Fruto de uma sociedade machista. Não devemos nos esquecer de que a idéia do ser
superior foi sempre representada por um ser macho. Vejamos que até nas mitologias isso acontecia; quando existia uma deusa, era sempre inferior a outro deus, obviamente
masculino. Também notamos que na idéia da criação do homem, representada por Adão e Eva, a mulher veio depois do homem. E, para ressaltar ainda mais sua dependência
do homem, dizem que ela foi formada a partir da costela do homem (Adão). Vejam que até Paulo usa este argumento para dizer que a mulher é inferior ao homem e que,
além disso, ela foi a principal culpada pelo pecado, ou seja, foi a mulher quem transgrediu a ordem de Deus. Observem que colocam como condição para a mulher se
salvar que ela somente cumpra o seu dever de mãe.
1 Coríntios 15,35-44: Mas, dirá alguém, como ressuscitam os mortos? E com que corpo vêm? Insensato! O que semeias não recobra vida, sem antes morrer. E,
quando semeias, não semeias o corpo da planta que há de nascer, mas o simples grão, como, por exemplo, de trigo, ou de alguma outra planta. Deus, porém, lhe dá o
corpo como lhe apraz, e cada uma das sementes o corpo da planta que lhe é própria. Nem todas as carnes são iguais: uma é a carne dos homens, e outra a dos animais;
a das aves difere da dos peixes. Também há corpos celestes e corpos terrestres, mas o brilho dos celestes difere do brilho dos terrestres. Uma é a claridade do Sol,
outra a claridade da lua e outra a claridade das estrelas; e ainda uma estrela difere da outra na claridade. Assim também é a ressurreição dos mortos. Semeado na
corrupção, o corpo ressuscita incorruptível; semeado no desprezo, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita vigoroso; semeado corpo animal, ressuscita
corpo espiritual. Se há um corpo animal, também há um espiritual.
2 Coríntios 5,1: Porque sabemos que, quando for dissolvido este corpo, nossa habitação aqui na terra, receberemos de Deus uma habitação, uma moradia eterna
nos céus, que não é feita pela mão humana.
Comentários: Apesar da clareza do texto, ainda dizem: "creio na ressurreição da carne": é mais uma das tantas incoerências. Essa passagem diz que Deus dá
um corpo apropriado a cada situação; assim, no mundo espiritual, teremos um corpo correspondente às condições daquele plano. Mas, ainda teimam em dizer que o corpo
físico é que irá ressuscitar. Só gostaria de saber o que faremos com um corpo físico na dimensão espiritual?... Devemos compreender que Deus nos dá um corpo apropriado
a cada "moradia" que tivermos. Não é o mesmo que nós fazemos, quando enviamos um homem às profundezas do oceano, colocando nele um escafandro, ou quando o enviamos
ao espaço colocando nele uma roupa espacial? Por que Deus, sendo infinitamente mais sábio que nós, faria de maneira diferente? Ressaltemos "quando for dissolvido
este corpo", ou seja, quando os seus elementos forem devolvidos à natureza da qual "tomou emprestado". E a turma do "A Bíblia diz" como fica? Aliás, já havíamos
falado sobre os vários corpos um pouco mais atrás.
2 Coríntios 5,1-10: Nós sabemos: quando a nossa morada terrestre, a nossa tenda, for desfeita, receberemos de Deus uma habitação no céu, uma casa eterna não
construída por mãos humanas. Por isso, suspiramos neste nosso estado, desejosos de revestir o nosso corpo celeste; e isso será possível se formos encontrados vestidos,
e não nus. Pois nós, que estamos nesta tenda, gememos acabrunhados, porque não queremos ser despojados da nossa veste, mas revestir a outra por cima desta, e assim,
aquilo que é mortal seja absorvido pela vida. E quem para isso nos preparou foi Deus, o qual nos deu a garantia do Espírito. Por essa razão, estamos sempre confiantes,
sabendo que enquanto habitamos neste corpo, estamos fora de casa, isto é, longe do Senhor, pois caminhamos pela fé e não pela visão... Sim, estamos cheios de confiança
e preferimos deixar a mansão deste corpo, para irmos morar junto do Senhor. Em todo caso, quer fiquemos em nossa morada, quer a deixemos, nos esforçamos por agradar
ao Senhor. De fato, todos deveremos comparecer diante do tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a recompensa daquilo que tiver feito durante a sua vida
no corpo, tanto para o bem, como para o mal.
Comentários: Uma das passagens mais claras quanto ao corpo que iremos ter no outro lado da vida. A idéia que aqui se dá não é a da ressurreição da carne
como apregoam os teólogos dogmáticos, mas de um outro corpo que não foi feito por "mãos" humanas, ou seja, um corpo espiritual feito pelas "mãos" de Deus. Não deixamos
de ver também que, se receberemos recompensa pelo que tivermos feito durante a vida no corpo, é porque temos, na verdade, a nossa vida - a real - fora do corpo,
ou seja, somos espíritos que, temporariamente, estamos habitando um corpo.
2 Coríntios 10,7: Olhai as coisas frente a frente. Se alguém está convicto de pertencer a Cristo, tome consciência uma vez por todas de que, assim como ele
pertence a Cristo, nós também lhe pertencemos.
Seja alguém do "partido de Cristo" de 1Cor 1,12+, seja, antes, alguns dos fiéis que reivindicam o monopólio da fidelidade a Cristo.
Comentários: O tempo passou, mas as coisas não mudaram, pois ainda hoje alguns querem ter o monopólio da fidelidade a Cristo, quando dizem que todos os que
não lhes seguem as fileiras são heréticos, seguidores de satanás, etc.
1 Tessalonicenses 5,9-10: Portanto, não nos destinou Deus para a ira, mas sim para alcançarmos a salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por
nós, a fim de que nós, na vigília ou no sono, vivamos em união com ele.
De novo isso poderia ser seriamente mal interpretado. Compreendendo o v. 10 à luz do v. 6, os leitores poderiam afirmar a partir do v. 9 que os crentes eram
predestinados à salvação, e assim poderiam fazer o que lhes aprouvesse com impunidade. 2Ts 2,13-3,15, corrige essa falsa interpretação.
Comentários: Algumas correntes religiosas dizem que os seus crentes já foram predestinados para a salvação. Isso, além de ser totalmente contrário a afirmativa
de que "Deus não faz acepção de pessoas" (At 10,34), entra em contradição com os católicos que já passaram a admitir, ou seja, que não há predestinação, pois, se
houver, tudo podemos fazer, já que isso não irá modificar a nossa predestinação em sermos salvos. Vejam como a Bíblia pode ser interpretada de maneiras tão diferentes!
Para nós, se realmente nela houvesse somente a palavra de Deus, seria totalmente objetiva, não proporcionando nenhuma possibilidade de se interpretá-la às conveniências
dogmáticas das igrejas tradicionais.
Hebreus 7,9-10: Antes, pode-se dizer que é o próprio Levi, cujos descendentes recebem os dízimos, que os pagou na pessoa de Abraão; na verdade, Levi ainda
estava no corpo de seu antepassado Abraão, quando Melquisedec foi ao seu encontro.
Comentários: Se, na verdade, Levi estava no corpo de seu antepassado Abraão, não seria porque ele foi o próprio patriarca reencarnado? É claro e óbvio que
sim! Mas somente para os que têm "ouvidos de ouvir".
Hebreus 7,18-22: Desta maneira é que se dá a ab-rogação do regulamento anterior em virtude da sua fraqueza e inutilidade – a Lei, na verdade, nada levou
à perfeição – e foi introduzida uma esperança melhor pela qual nos aproximamos de Deus. Mais ainda. Isso não se deu sem juramento. Os outros, sim, foram feitos sacerdotes
sem juramento. Mas este o foi com juramento, por aquele que declarou: O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre. Portanto, Jesus é também
o fiador de uma aliança muito melhor.
Hebreus 8,6-7.13: Mas, agora, Jesus foi encarregado de um ministério tanto mais excelente quanto melhor é a aliança da qual é mediador, sendo esta legalmente
fundada sobre promessas mais excelentes. Se, na verdade, a primeira aliança tivesse sido sem falhas, não teria cabimento ser substituída por uma segunda. Dizendo:
aliança nova, Deus declarou antiquada a primeira. Ora, o que se torna antiquado e envelhece está próximo a desaparecer.
Comentários: Os que ainda se apegam demasiadamente ao Antigo Testamento, não perceberam sua incoerência, pois, por estas passagens, fica claro que Jesus,
ao trazer a "Boa Nova", Segunda Aliança, coloca o Antigo Testamento, Primeira Aliança, sem utilidade alguma para trazer ensinamentos ao povo de sua época; por isso
houve a substituição. Devemos ter em mente que a própria evolução da humanidade nos faz deixar ensinamentos antigos para abraçar novos. Certamente que esses antigos
ensinamentos tiveram valor sim, mas apenas nas épocas em que foram utilizados; portanto, não seria questão de simplesmente não valerem nada.
Hebreus 9,27: Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo.
Comentários: Esse texto é muito utilizado pelos detratores do Espiritismo, para dizerem que não há reencarnação. Se seguirmos a mesma linha de raciocínio
deles, também poderemos afirmar que as ressurreições constantes do Evangelho não se realizaram. Pois, se realizaram, essas pessoas morreram duas vezes. Estamos colocando
assim, somente para efeito de argumento; mas isso não quer dizer que acreditamos que aquelas pessoas foram ressuscitadas. Talvez, hoje, não ocorra tanto; mas, há
pouco tempo atrás, era muito comum pessoas serem sepultadas vivas, quando tinham uma doença que lhes dava a aparência de mortos, como a letargia ou catalepsia; não
conhecendo isso, metiam o sujeito debaixo dos "sete palmos". Quantas pessoas não foram enterradas vivas? Imaginem antigamente, quando a medicina era ainda bastante
rudimentar?... Agora, se mantivermos no pensamento a mentalidade da época, poderemos afirmar, sem medo algum, que Paulo, ao dizer que se morre uma só vez, não estava
de maneira alguma combatendo a reencarnação e nem queria dizer que ela não existia, mas, apenas, que nesta vida só morremos uma vez. Se formos, neste caso, ao pé
da letra, ficaremos noutra encruzilhada, pois ele não diz que logo em seguida vem o juízo? Então, para que aguardarmos o "juízo final"? Se aceitarmos o primeiro,
não vemos lógica no segundo, pois teríamos que supor que Deus tenha falido no primeiro julgamento; se acreditarmos só no segundo, para que o primeiro, e por que
Paulo fala dele?
Tiago 1,13-14: Ninguém diga na tentação: "Sou tentado por Deus", porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e não tenta a ninguém. Mas cada qual é tentado
pela sua própria concupiscência, que alicia e seduz.
Comentários: Quando afirmam ser a Bíblia a verdade absoluta, é por obstinação em não reconhecer muitas incoerências que ali estão. Temos que convir que em
muitos casos temos a necessidade de ter uma visão do conjunto, extremamente útil na sua interpretação, sob pena de falarmos algo que não tem nada a ver com o texto.
Normalmente, pegam textos isolados, somente aqueles que lhes convêm, com o objetivo de manterem a dominação que exercem sobre outras pessoas. Assim, quando dizem
ser Jesus o próprio Deus encarnado aqui na Terra, e aceitam as tentações que Ele sofreu pelo "demônio", são incoerentes, pois conforme citação acima, tirada da mesma
Bíblia, segundo eles, fonte de toda a verdade, Deus não pode ser tentado.
2 Pedro 2,12-13: Mas eles, como animais irracionais, destinados por natureza a serem presos e destruídos, insultam o que não compreendem e serão também destruídos
da mesma maneira; eles sofrerão injustiça, como pagamento da própria injustiça. ...
2 Pedro 3,16: É o que, aliás, ele ensina em todas as suas cartas. Nelas existem passagens de difícil compreensão; e existem pessoas ignorantes e inconstantes
que lhes deformam o sentido, como, aliás, o fazem com outras partes das Escrituras, para a sua própria ruína.
Comentários: Muitas pessoas condenam a religião dos outros, sem ao menos conhecerem os verdadeiros princípios ou fundamentos dessas religiões. Acham que
apenas eles são os únicos capazes de interpretar a Bíblia. Entretanto, muitas vezes, tais interpretações não correspondem ao que o texto quer dizer; ficam mudando
o sentido das Escrituras, para reforçar dogmas próprios, ou para dali combaterem as religiões dos que "não rezam pela sua Bíblia".
2 Coríntios 5,9-10:
Vozes: É também por isso que nos esforçamos quer na pátria quer no exílio por lhe ser agradáveis. Pois teremos todos de comparecer perante o tribunal de
Cristo. Aí cada um receberá segundo o que houver praticado pelo corpo, bem ou mal.
Ave Maria: É também por isso que, vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe. Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um
receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo.
Paulus: Em todo o caso, quer fiquemos em nossa morada, quer a deixemos, nos esforçamos por agradar ao Senhor. De fato, todos deveremos comparecer diante
do tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a recompensa daquilo que tiver feito durante a sua vida no corpo, tanto para o bem, como para o mal.
Paulinas: Por isso, quer ausentes, quer presentes, esforçamo-nos por lhe agradar, pois é necessário que todos nós compareçamos diante do tribunal de Cristo,
para que cada um receba o que é devido ao corpo, segundo fez o bem ou o mal.
Comentários: O apóstolo Paulo reconhece aqui, mais uma vez, que seremos julgados pelos atos praticados. É uma responsabilidade individual, não tem nada de
"os justos pagam pelos pecadores", não podem nos culpar pelo erro de Adão e Eva (pecado original); são situações contraditórias aos ensinamentos de Jesus. Nesses
quatro textos queremos mostrar, novamente, como as traduções, até do mesmo segmento religioso, são divergentes entre si. A tradução deveria ser fiel ao pensamento
do autor. As expressões "quer na pátria quer no exílio", "vivos ou mortos", "em nossa morada, quer a deixemos" e "quer ausentes, quer presentes", teriam o mesmo
sentido? Particularmente achamos que não.
CONCLUSÃO
Antes de iniciarmos a nossa conclusão, devemos uma explicação. De tudo, que consta do início até aqui, são de nossa autoria apenas os comentários; o resto,
ou seja, os textos e as notas que lhes seguem, conforme o caso, não nos pertencem. Eles foram retirados das Bíblias, a saber: Bíblia Sagrada, Editora Vozes, Petrópolis,
1989, 8ª Edição; Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria, São Paulo, 1989, 68ª Edição; Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, São Paulo, 37ª Edição, 1980; Bíblia Sagrada, Edição
Pastoral, Paulus Editora, São Paulo, SP, 43ª impressão, 2001; Bíblia de Jerusalém, Paulus Editora, São Paulo, SP, 2002 e Bíblia Sagrada, Edição Barsa, Catholic Press,
1965. É bem verdade que deveríamos colocar tudo entre aspas, mas optamos para revelar só agora, pois nossa intenção era deixar aos nossos leitores pensarem livremente
o que quisessem. Agora, voltem aos textos e observem somente o que está em negrito, leiam-nos com atenção. São aspectos importantes que fizemos questão de ressaltar;
assim, a colocação do negrito também é nossa.
Com esse estudo, já temos, com certeza, uma ligeira visão sobre a Bíblia. Sob o ponto de vista de ela ser uma mensagem única e sem contradições naquilo que
afirma, aceitando tudo que ali está como a mais absoluta verdade, não devemos concordar com isso. E por essa análise feita, não dá mesmo, a não ser por puro fanatismo.
Não queremos negar que, em alguns pontos, e não em todos, existe a inspiração divina, o que pode acontecer até através de um anjo (espírito de luz) atuando
sobre um autor bíblico, mandado por Deus. Entretanto, a inspiração é algo de que não temos jamais a certeza se corresponde exatamente ao que a fonte de origem quis
transmitir. Suponhamos uma caixa cheia de água e que a queiramos esvaziar, e, para tal, só dispomos de uma mangueira, cujo interior está completamente barrento.
Dessa forma, ao iniciarmos o processo de esvaziamento, a água sairá impregnada de barro, até que, num certo momento, mais à frente, ela sairá completamente limpa.
É assim que comparamos a inspiração da Bíblia, ou seja, inicialmente saiu impregnada de coisas que não têm nada a ver com a vontade de Deus, até que chegou Jesus,
e modificou o que, anteriormente, tinha de errado, tentando passar algo mais puro. Entretanto, novamente foi um pouco contaminada, quando de sua divulgação até os
nossos dias. Várias vezes, não ouvimos o Cristo dizer: "aprendeste o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo"? E, além do mais, Ele não sintetiza os Dez Mandamentos
em apenas dois: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento", e "amarás ao próximo como a ti mesmo"? (Mt 22,37-39).
Portanto, não podemos ter dúvida alguma quanto à revogação do Antigo Testamento.
Quando lemos a Bíblia, procuramos, na medida do possível, separar o que seja inspiração de Deus, do que é de criação do próprio autor. Na análise feita sobre
a Bíblia, observamos que tamanha diversidade de autores, distância de tempo para escrevê-la, da cultura de cada período, as traduções, as transmissões orais, por
si só, já são razões fortes e suficientes para lançarmos vários questionamentos sobre ela ser a absoluta verdade.
É óbvio que, à época, a visão da realidade espiritual e de tudo, de uma maneira geral, era muito primitiva. Por exemplo: não compreendendo certos fenômenos
da natureza, o homem atribuía-os, conforme o caso, ao comportamento do humor de Deus, o que é impossível, pois, sendo Deus, não poderá mudar de atitudes, ao sabor
da maré, já que a imutabilidade lhe é intrínseca.
O homem evoluiu em quase todos os aspectos: na arte, na arquitetura, na literatura, nas ciências, no conhecimento do cosmo, etc.; entretanto, com relação
à Bíblia, ficou parado no tempo. Não que tenhamos que colocá-la com o nosso vocabulário moderno, mas, bem que poderia ser tirado tudo quanto não fosse realmente
a revelação divina. Seria talvez um enxugamento, tirando, primeiramente, tudo o que não correspondesse aos textos originais; isso, inclusive, achamos ser o mais
urgente, tamanha a quantidade de traduções "à moda da casa", para depois se retirar tudo o que não seja doutrina de Deus, como evidenciamos desde o início deste
estudo. Se fizermos isso, talvez somente fiquem os Dez Mandamentos de todo o Antigo Testamento. Inclusive, não entendo porque os que se dizem cristãos teimam em
querer aplicá-lo na atualidade. Não são coerentes, pois seguimos a Jesus. Não é daí que vem o termo cristão? Deveríamos, pois, somente nos apegar ao Novo Testamento.
Não foi o que se disse em Hb 7,18-22; 8,6-7.13, textos comentados no decorrer deste trabalho, que o Antigo Testamento foi revogado? Por que, então, não seguimos
isto? Achamos que ele, o Antigo Testamento serve apenas para os judeus, que ainda esperam o Messias, pois Jesus não representou, para eles, o enviado de Deus. Acreditarmos
que, se não fizermos isso, as gerações do futuro deixarão de ter a Bíblia como algo sério, pois, se vão ao colégio, lhes ensinam a teoria da evolução das espécies,
enquanto as religiões de que fazem parte, já dizem ser a origem do homem provinda de Adão e Eva. O que ocorrerá fatalmente é ficarem com a Ciência, e não com a Bíblia.
Mas podem pensar que estamos sendo radicais. Entretanto, não negamos que nela haja algo de útil ou sublime, como, por exemplo, os Salmos. Mas, se eles fazem
parte da inspiração de Deus, já é outra história, pois é de se estranhar que Deus tenha inspirado alguém para Lhe fazer uma mensagem poética. Sentimos muito, mas
não vemos nenhum sentido nisso. Entretanto, não lhe negamos o seu valor literário. Todavia, hoje em dia, temos muita coisa bonita por aí afora, até superando aqueles.
Por que, pois, não as colocam na Bíblia?
Por outro lado, como disse Jesus, em Jo 16,12: "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora"; o que é sinal de que Ele não disse
tudo. Assim, onde estará o complemento de seus ensinos? Não veio ou já veio e não foi ainda incorporado na Bíblia? Se veio, o que foi feito deles? Se não veio, quando
irá vir? São praticamente 1.900 anos sem se acrescentar nenhuma nova revelação. Eh!, nós, os espíritas, já sabemos onde ela está. Mas as outras correntes cristãs
se comportam como os judeus em relação a Cristo. Alguém poderá até dizer que quem pensa sobre a Bíblia dessa forma, não crê em Deus. Entretanto, ocorre justamente
o contrário. Se aceitarmos tudo que ali está como verdade absoluta, não dá para acreditar naquele Deus bíblico, pois assume comportamentos sabidamente humanos: raiva,
vingança, orgulho, arrependimento, esquecimento, sanguinário, guerreiro, discriminador, etc. O que pensamos de Deus não é nada disso, pois estamos com Jesus, quando
disse: Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? (Mt 7,11). Assim,
qualquer coisa que venha a ser contrária a isso, não a aceitamos.
Ficamos estarrecidos, quando soubemos que no Concílio de Tolosa, realizado em 1229, as autoridades religiosas ali congregadas resolveram por bem declarar
que a leitura da Bíblia devia ser proibida (Revista Espírita Allan Kardec, nº 14). Será que não queriam que o povo tomasse conhecimento do que ela continha? Eh!,
pode ser.
Quanto aos ataques ao Espiritismo, não custa repetir que, todos os nossos detratores usam da falsidade e da mentira, ora modificando textos bíblicos, ora
interpretando-os de acordo com as suas próprias conveniências. E, carregados de toda a maledicência, transferem para nós a falsidade e a mentira que lhes são características.
Sempre alegam não mudar nada nos textos, como também dizem ser sempre fiéis ao sentido original; entretanto, verificamos que, na realidade, fazem justamente o contrário.
Serão eles a reencarnação dos antigos fariseus?
A maioria dos que atacam nunca se aprofundou nos princípios da Doutrina Espírita. Muitas vezes, pegam trechos de alguns livros espíritas apenas para darem
a impressão de que têm conhecimento pleno do que falam. Entretanto, nunca foram mais longe do que a superfície.
Ficamos a pensar o porquê de tantos ataques. Só encontramos uma resposta: é que na Doutrina Espírita, além de não haver uma hierarquia montada no poder,
tipo: Papa, Cardeal, Arcebispo, Bispo, Padre ou Bispo, Pastor, Presbítero, Diácono, etc., não há aquilo que julgam mais importantes, ou seja, o dízimo. Daí a necessidade
de nos combaterem, pois passamos a representar um perigo a tudo isso. Jesus foi combatido pelos sacerdotes, porque Ele ia contra seus interesses mesquinhos. Vejam:
o tempo passa, mas algumas coisas parecem não mudar nunca, pois combatem novamente aquilo que veio ampliar os Seus ensinos e esclarecer o que tinha ficado obscuro.
É isto mesmo: a Doutrina Espírita é o Consolador prometido por Jesus! Parece pretensão? Mas, "quem tem ouvidos, que ouça".
E diga-se, a bem da verdade, que atualmente os que mais agridem o Espiritismo são os evangélicos, isto é, os protestantes das Igrejas Cristãs novas, fundadas
por atacado dia-a-dia, cometendo, assim, os erros da Igreja Católica do passado, a qual, de uns tempos para cá, vem reconhecendo esses erros, e, segundo pensamos,
demonstra até uma certa simpatia para com o Espiritismo.
E lembremo-nos, ainda, de que, enquanto os dirigentes das Igrejas Cristãs vivem de suas religiões, fazendo delas o seu ganha-pão e até riquezas, os dirigentes
espíritas vivem para o Espiritismo, sem faturar um centavo com seu trabalho de estudo do Evangelho e da assistência social aos carentes da nossa sociedade.
Mas aplicando os ensinos de Jesus: "Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!" (Lc 23,34).
E, para finalizar essa parte, queremos que saibam que não somos daqueles que acham que as outras religiões não prestam; muito antes, pelo contrário, achamos
todas elas de suma importância para a evolução espiritual do ser humano. Temos, inclusive, que reconhecer a necessidade de várias correntes religiosas, pois, não
fosse assim, muitos ficariam sem expressar a sua religiosidade por não encontrarem aquela que lhes falasse ao coração.
Entretanto, como tudo na vida, temos as pessoas que são sinceras em suas convicções religiosas e outras que se escondem atrás das religiões, visando utilizá-las
para manterem o "status" do poder e do ouro, e para isto não têm o mínimo escrúpulo, chegando ao ponto de desvirtuar completamente o ensino daquele que dizem seguir.
A estes devemos dirigir nossas orações, pois estão cavando a própria ruína: "Mas aquele que, ignorando a vontade de seu Senhor, fizer coisas repreensíveis, será
açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir" (Lc 12,48).

PARTE II: A BÍBLIA PROTESTANTE

COMENTÁRIOS SOBRE ALGUNS TEXTOS DA BÍBLIA PROTESTANTE
ANTIGO TESTAMENTO
Gênesis 1,3: Disse Deus: Haja luz; e houve luz.
Não se trata da luz do Sol (que foi criado no quarto dia, v. 16), mas de uma fonte fixa de luz fora da Terra. É em referência a esta fonte de luz que a Terra,
ao girar, passava por um ciclo de dia e noite.
Comentários: Ao tentarem explicar a aparente incoerência textual entre a luz do primeiro dia com a luz do quarto dia, quando neste último dia, Deus criou
o Sol, a Lua e as estrelas, afirmam que a luz do primeiro dia seria a que nos dá o ciclo do dia e da noite; mas é exatamente a luz do Sol, criada no quarto dia,
que, conjugada com o movimento de rotação da Terra, nos dá este ciclo. Fato científico que não há como contestar e que hoje é ensinado no curso primário. Tentam
explicar, mas provocam mais confusão ainda.
Gênesis 1,5: Chamou Deus à luz Dia, e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia.
O método judaico (mais recente) de contar as horas do dia iniciava-o com o anoitecer (Lv 23:32). Esta pode ser a razão para a ordem aqui apresentada, ou
ela pode simplesmente indicar que se completara um ciclo dia-noite. Já que o dia termina com o anoitecer e a noite termina com o amanhecer, a frase indica que o
primeiro dia havia se completado. Tarde e manhã não podem ser interpretados como uma era, mas apenas como um dia de 24 horas; em todo o Pentateuco a palavra dia,
quando usada (como aqui) com um numeral ordinal, significa um dia solar (agora medido como 24 horas).
Comentários: Novamente, vamos recorrer à ciência, que afirma que a formação da Terra se processou por longos períodos geológicos, o que foi comprovado por
pesquisas e análises realizadas da superfície terrestre. Assim, as 24 horas terão que corresponder a um período ou era; não há como fugir disto. Entretanto, verificamos
que, quando explicam a Antropologia, dizem: "a palavra dia é usada em relação ao nosso atual período de 24 horas, e é usada também para períodos mais longos de tempo.
O começo do primeiro dia ocorre em Gênesis 1:3. O versículo 2 pode envolver um enorme período de tempo"; assim não se mostram coerentes com suas notas de rodapé.
Talvez queiram demonstrar um maior poder de Deus, colocando a criação do Universo em apenas seis dias. O sétimo foi descanso. Entretanto, não queremos negar isto,
poderia até criar tudo num dia só, ou em apenas um minuto, mas isso não quer dizer que assim teria mais poder do que criando o Universo em milhares de anos, que
é mais coerente com o que observamos na natureza, chegando a ponto de falarmos: "na natureza nada dá saltos".
Gênesis 1,6-7: E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas, e separação entre águas e águas. Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas
debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez.
Aparentemente Deus colocou uma enorme camada de água (em forma de vapor) acima da Terra, formando um envoltório que produzia condições climáticas semelhantes
ao interior de uma estufa. Isto pode explicar a longevidade humana (Gn 5) e a tremenda quantidade de água envolvida no dilúvio universal (Gn 6-9).
Comentários: Para entender esse texto é necessário recorrermos à nota de uma Bíblia Católica, que nos mostra claramente a visão que os homens tinham do mundo.
Achavam eles que o que existia nos céus eram águas mesmo, não vapor. Supunham que essas águas se dividiam das águas da superfície, e que estavam na abóbada celeste,
feita de material sólido, sustentada por duas colunas. Não conheciam o ciclo da água se transformando em vapor, que condensando-se cai em forma de chuva. Por outro
lado, o que tem a ver a longevidade humana com vapor d'água? Quanto ao dilúvio, cientificamente, podemos tê-lo como localizado, só no mundo geográfico de Noé, mas
nunca universal. O mais notável é que numa das Bíblias Católicas é afirmado que realmente o dilúvio não foi universal.
Gênesis 1,14-19: Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações,
para dias e anos. E sejam para luzeiros no firmamento dos céus, para alumiar a terra. E assim fez. Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior para governar o dia,
e o menor para governar a noite; e fez também as estrelas. E os colocou no firmamento dos céus para alumiarem a terra, para governarem o dia e a noite, e fazerem
separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que isso era bom. Houve tarde e manhã, o quarto dia.
A fonte de luz do primeiro dia foi substituída pelo Sol e pela Lua. Seus propósitos eram distinguir entre o dia e a noite, servir de sinais (pelos quais
os homens poderiam se orientar, bem como perceber julgamentos divinos, Mt 24:29), demarcar as estações e dar luz à Terra.
Comentários: Realmente, não dá para entender... Se, no primeiro dia, Deus cria a luz e acha que a luz era boa, por que, pois, a necessidade de mudá-la? Será
que houve um arrependimento? Onde a imutabilidade, onisciência e presciência de Deus? Por outro lado, não sabemos de onde tiraram que houve uma substituição. Claro
que é uma saída para tentar corrigir a incoerência da substituição da luz do primeiro dia pela do quarto. Entretanto, fogem de longe ao sentido do texto. Colocam
coisas onde elas não existem.
Gênesis 2,9: Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim,
e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
A árvore da vida... e a árvore do conhecimento do bem e do mal eram duas árvores reais, às quais Deus atribuíra significado especial.
Comentários: Em uma Bíblia Católica foi dito que a árvore da vida é um antigo símbolo mítico da imortalidade, conhecido no Oriente Médio (Pr 3,18). Disseram
ainda mais que o autor sagrado identifica "a árvore do conhecimento do bem e do mal" que "está no meio do jardim", e cujos frutos são proibidos, com a árvore da
vida ou da juventude perene. Assim, qual dessas explicações estaria certa, se uma diz serem reais e outra diz serem simbólicas? Também sabemos que, na antiguidade,
a árvore era símbolo do conhecimento secreto e sagrado; assim, o autor bíblico, seguindo o pensamento de sua época, coloca, na Bíblia, mais este simbolismo mitológico;
nada, portanto, que venha a ser uma realidade. Não podemos sempre querer tomar no seu sentido literal tudo o que é dito na Bíblia. Temos que, forçosamente, para
não cairmos no ridículo, em alguns casos, buscar o sentido simbólico dessas passagens. Poderíamos dizer que Deus criou o homem simples e ignorante, dando-lhe também
o livre-arbítrio para que ele próprio pudesse decidir que caminho tomar. É dessa maneira que foi tomando conhecimento do que era bom e do que era mau. Assim sendo,
a árvore, citada na passagem, é apenas um simbolismo. Vejam onde podem residir a lógica e o bom senso?...
Gênesis 3,1: Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis
de toda árvore do jardim?
A serpente: aparentemente uma bela criatura, antes de ser sujeita à maldição, foi usada por Satanás na tentação. Satanás falou através da serpente. Talvez
Eva não soubesse que animais não falavam; de qualquer modo, Eva não ficou assustada.
Comentários: É bem interessante como as explicações são completamente divergentes. Vejam o que diz a nota numa Bíblia Católica: "A serpente, símbolo da fertilidade
em Canaã e de força política no Egito, é a usurpadora da árvore da imortalidade na epopéia babilônica de Guilgames. Aqui é uma criatura como as outras, apenas mais
astuta, que significa o demônio". Embora as duas tentem dizer, no final, que tudo é o demônio ou satanás. Gostaríamos de saber como esses seres poderiam influenciar
um animal até fazendo-o falar?... Ou será que, naquela época, todos os animais falavam? Ou somente era isso um privilégio da serpente? Pensamos que aqui também foi
utilizada a mitologia para tentar explicar o que o homem não compreendia. Vejam que o mesmo significado que a serpente tinha na epopéia babilônica, é o encontrado
no texto bíblico.
Gênesis 3,16: E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos de tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu
marido, e ele te governará.
As mulheres foram condenadas a sofrer ao darem à luz seus filhos. Ao mesmo tempo, a esposa teria uma profunda atração por seu marido, talvez como uma compensação
pelo sofrimento do parto.
Comentários: Aqui, mais uma vez, temos a tentativa de explicar algo que ocorre naturalmente no parto das mulheres, pois, a dor, nessa situação, é uma lei
da natureza que não tem nada a ver com castigo de Deus. Senão vejamos: primeiro - devemos supor que Eva deve ter ficado perplexa diante de tal castigo, pois, até
então, não tinha dado à luz, não devendo ter entendido nada. E mais absurdo ainda, se Deus multiplicou, é porque já teria acontecido a dor no parto; mas como, se
ainda não tinha ocorrido nenhum parto?! Segundo - será que as fêmeas dos animais tiveram também seus sofrimentos do parto multiplicados, pois, ao que sabemos os
animais também parem com dor; ou estamos enganados? Isto estaria dentro de um critério que poderíamos chamar de justiça divina? E, finalmente, terceiro - para que
se cumprisse este castigo, Deus não deixaria o homem descobrir a anestesia, pois hoje é largamente utilizada nos partos, promovendo, assim, partos completamente
sem dor. E aí? Como é que ficamos?! O homem foi mais "astuto" que Deus? E, por fim, nós, os maridos, devemos diariamente dar graças a Deus por ele ter colocado o
desejo da mulher apenas para o "teu marido"... Já pensou se não fosse assim? E, se fosse para o marido da outra? Se bem que parece que algumas mulheres escapuliram
desta regra, não é mesmo? Não podemos deixar de citar também a questão do homem governar a mulher. Será realmente fruto da vontade de Deus, ou seria somente uma
justificativa de uma sociedade machista? Você decide!...
Gênesis 3,17-19: E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não comesse: maldita é a terra por tua causa:
em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o
teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado: porque tu és pó e ao pó tornarás.
O homem foi condenado a um trabalho exaustivo para conseguir seu sustento, devido à maldição lançada sobre o solo (Adão já trabalhava, mas sem exaustão,
antes da queda).
Comentários: Lançar maldição sobre a Terra por causa do pecado de Adão? Ou é apenas para justificar que o cultivo da terra nunca foi fácil? Vamos ao Aurélio:
Cardo = planta da família das compostas, considerada praga da lavoura, de flores amarelas, folhas com espinho, acinzentadas, e caule ereto, revestido de pêlos; abrolho
= designação comum a diversas plantas rasteiras e espinhosas. Perguntamos: a produção destas espécies fazia mesmo parte do castigo, ou estamos diante de uma justificativa
para algo que já existia e o homem não via nenhuma razão para a existência delas? Tu comerás a erva do campo. Iremos, pastar? Será que a nossa alimentação hoje estaria
adequada a este castigo? Ou este castigo foi revogado, ou o homem, com o "jeitinho brasileiro", conseguiu driblá-lo... E vamos a mais fatos: considerando que a mulher
já tinha recebido o seu merecido castigo, seria justo ela ainda também sofrer o castigo imposto ao homem; pois o castigo de "és pó ao pó tornarás" foi para Adão;
ou estamos extrapolando o texto? Mais uma pergunta: como ficaram sabendo que Adão já trabalhava sem exaustão, conforme dizem na nota?
Gênesis 5,1-3: Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou,
e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados. Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou
Sete.
Comentários: Temos, pelo Aurélio, que genealogia significa: 1. Série de antepassados. 2. Estudo da origem das famílias. 3. Estirpe, linhagem. 4. Procedência
origem. No texto então não poderia ser dito genealogia de Adão, mas, isto sim, descendência de Adão. Sendo assim, aonde foram parar Abel e Caim nessa descendência?
Aqui, neste texto, nos dá a impressão de que Sete foi o primeiro filho de Adão; pelo menos é o que se pode concluir; ou não?
Gênesis 5,5: Os dias todos da vida de Adão foram novecentos e trinta anos; e morreu.
Gênesis 5,8: Todos os dias de Sete foram novecentos e doze anos; e morreu.
Gênesis 5,11: Todos os dias de Enos foram novecentos e cinco anos; e morreu.
Gênesis 5,14: Todos os dias de Cainã foram novecentos e dez anos; e morreu.
Gênesis 5,17: Todos os dias de Maalaleel foram oitocentos e noventa e cinco anos; e morreu.
Gênesis 5,20: Todos os dias de Jerede foram novecentos e sessenta e dois anos; e morreu.
Gênesis 6,3: Então disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.
Gênesis 9,29: Todos os dias de Noé foram novecentos e cinqüenta anos; e morreu.
Gênesis 25,7: Foram os dias da vida de Abraão cento e setenta e cinco anos.
Comentários: Se Deus tinha estabelecido que o homem só viveria 120 anos (Gn 6,3), como aparecem pessoas vivendo acima deste período? Não devemos nos esquecer
de que a imutabilidade é um dos atributos de Deus, para não se falar também na questão de justiça, ou seja, sendo imparcial não poderia dar mais anos de vida a uns
e não dar a outros. Notemos que Deus disse: o meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; não estaria querendo dizer que o Espírito é mais importante
que o corpo físico e, portanto, que ele é que prevalece sobre o corpo?
Gênesis 5,22-24: Andou Enoque com Deus; e, depois que gerou a Metusalém, viveu trezentos anos; e teve filhos e filhas. Todos os dias de Enoque foram trezentos
e sessenta e cinco anos. Andou Enoque com Deus, e já não era, porque Deus o tomou para si.
Enoque é uma exceção ao lúgubre refrão (e morreu) deste capítulo. Ele andou (i.e., viveu) com Deus e, em vez de deixá-lo morrer, Deus o tomou para si (a
mesma palavra hebraica é usada com respeito ao traslado de Elias, 2 Rs 2:3,5; cf. Hb 11:5). Em outras palavras, Enoque foi levado diretamente ao céu sem morrer.
2 Reis 2,11: Indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho.
Elias, tal como Enoque (veja a nota sobre Gn 5:22-24), foi levado ao céu sem morrer. Esta também será a experiência dos crentes que estiverem vivos quando
Cristo voltar (1 Co 15:51; 1 Ts 4:17).
Comentários: Como dizem ser Deus imparcial no trato com todas as Suas criaturas, se querem, como aqui, dar a Ele comportamento contrário a esta afirmativa?
Não podemos admitir isto nunca! Devemos também entender que não há como admitir que o nosso corpo físico vá para a dimensão espiritual; não podemos ter esta visão
materialista e que destoa do conjunto geral da Bíblia. Tudo isso não passa, é claro, de interpretações errôneas das Escrituras. Quando iremos compreender que nosso
espírito (ou alma), sobrevivente à morte, não depende do corpo físico para continuar sua caminhada rumo ao eterno? Ou que, na verdade, não morremos, mas, apenas,
nosso espírito é que muda de plano de existência.
Gênesis 6,1-2.4: Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas,
tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram. Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus possuíram
as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões de renome, na antigüidade.
Os filhos de Deus. Possivelmente a descendência piedosa de Sete, ou ainda os poderosos (reis e líderes) da época, ou, mais provavelmente, um grupo de anjos
decaídos que, por causa deste pecado peculiar, foram confinados (veja notas sobre 2 Pe 2:4 e Jd 6). A expressão filhos de Deus é usada no A.T. quase que exclusivamente
com referência a anjos (Jó 1:6; 2:1; 38:7). Tomaram para si mulheres. Anjos não procriam segundo sua espécie (Mc 12:25), mas caso se trate de anjos coabitaram, nesta
ocasião exclusiva, com mulheres e produziram descendentes humanos.
Comentários: Se não buscarmos a cultura da época, em que os textos foram escritos, acabaremos por criar explicações como estas, que passam longe da lógica.
Procuram apenas "tampar o Sol com a peneira". Não podemos deixar de ver que a mitologia, de que está fortemente impregnada a cultura da época, foi a origem, também,
dessa passagem, como já tínhamos falado, quando comentávamos a Bíblia Católica. Nunca podemos nos esquecer da imutabilidade de Deus, não existindo nada em Suas Leis
que possa acontecer somente uma vez. Se isto acontecesse, estaríamos diante de um milagre. Se os milagres realmente acontecessem, iriam derrogar justamente a imutabilidade
de Deus, representada pelas Suas Leis.
Gênesis 6,5-7: Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo desígnio de seu coração; então se arrependeu
o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o SENHOR: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os
répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito.
Então se arrependeu o SENHOR. Ou melhor, o SENHOR Se entristeceu (não significa que Deus tenha mudado de idéia).
Comentários: Se só pelo fato de Se entristecer, Deus faz o homem desaparecer da face da Terra; já pensou se Ele realmente tivesse Se arrependido? Na explicação
tentam enquadrar esta atitude à imutabilidade de Deus; entretanto, ficou pior que antes, pois, além de fugir ao texto, é de uma ingenuidade a toda prova. Por que
os répteis e aves dos céus também sofreram o castigo dos homens? Onde a justiça? Neste castigo os animais marinhos, literalmente, deitaram e "nadaram"; eh!, rolaram
não cabe aqui. Além disto, ficariam quebradas a presciência e a onisciência de Deus, visto isso demonstrar que Ele não sabia que os homens se tornariam maus, e que
a maldade do homem iria multiplicar-se na Terra.
Gênesis 6,14-15: Faze uma arca de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos e a calafetarás com betume por dentro e por fora. Deste modo a farás: de trezentos
côvados será o comprimento, de cinqüenta a largura, e a altura de trinta.
Embora não saibamos as dimensões exatas do côvado naquela época, ele veio a medir 46 centímetros mais tarde, dando à arca as seguintes dimensões: 137 metros
de comprimento, 23 metros de largura e 14 metros de altura, com um deslocamento de 20.000 toneladas e uma tonelagem bruta de 14.000 toneladas.
Comentários: Segundo pudemos averiguar, a distância do local onde Noé vivia, em relação ao mar mais próximo, era de cerca de 1.600 km. Então, considerando
que Noé não vivia à beira mar, como teria "know-how" para fazer uma arca nas dimensões citadas? E as ferramentas necessárias para tal empreendimento, ele as teria?
Talvez não conseguisse fazer nem mesmo um pequeno barco de pesca, pois tal ofício é tarefa fácil para quem vive essa realidade no seu dia-a-dia. Entretanto, para
quem morava a essa distância do mar, seria, com certeza, improvável.
Gênesis 7,11-12: No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas
dos céus se abriram, e houve copiosa chuva sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites.
Gênesis 8,13-16: Sucedeu que, no primeiro dia do primeiro mês, do ano seiscentos e um, as águas se secaram de sobre a terra. Então Noé removeu a cobertura
da arca, e olhou, e eis que o solo estava enxuto. E aos vinte e sete dias do segundo mês, a terra estava seca. Então disse Deus a Noé: Saia da arca, e, contigo,
tua mulher e teus filhos, e as mulheres de teus filhos.
Noé e sua família permaneceram na arca 371 dias (53 semanas).
Comentários: Normalmente, quando perguntamos quantos dias Noé permaneceu na arca, a maioria das pessoas responde 40 dias e 40 noites; ao que explicamos,
que, na verdade, esse período citado na Bíblia se refere ao tempo de duração das chuvas; não ao que Noé esteve na arca. Quando falamos que Noé permaneceu na arca
um ano e pouco, todos ficam perplexos com esse tempo. Será que a arca era grande o suficiente para conter, além da família de Noé e de todos os animais da Terra,
toda a alimentação necessária para todos os seres vivos alojados dentro da arca durante esse período todo? E, considerando que a arca estava fechada, o que fizeram
dos dejetos dos homens e animais nesse período? Não houve nenhuma instrução a Noé para que colocasse água dentro da arca; o que aconteceu, nesse período, com todos,
que foram embarcados na arca, levando-se em conta que só havia água do lado de fora?
Gênesis 8,19: E também saíram da arca todos os animais, todos os répteis, todas as aves, e tudo o que se move sobre a terra, segundo as famílias.
Comentários: Considerando que a arca encalhou, segundo o relato bíblico, no Monte Ararat (v. 4), como Noé fez para espalhar os animais pelo mundo afora?
Deve ter espalhado, pois sabemos que existem animais que fazem parte da fauna específica de um país, como, por exemplo, o canguru na Austrália, alguns tipos de macacos
no Brasil...
Gênesis 9,5-6: Certamente requererei o vosso sangue, o sangue da vossa vida; de todo animal o requererei, como também da mão do homem, sim, da mão do próximo
de cada um requererei a vida do homem. Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem.
Homicídio (que num sentido é sempre fratricídio, v. 5) exige um castigo equivalente ao crime. A justificativa para a pena capital, aqui estabelecida, é a
nobreza da vida humana, criada à imagem de Deus.
Eclesiastes 3,2-3: Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo
de derribar, e tempo de edificar;
Dar e tirar a vida são prerrogativas divinas (Dt 32:39). Ele, todavia, concedeu ao homem responsabilidade corporativa de executar a pena capital em caso
do assassinato (Gn 9:6).
Comentários: Seguindo essa estreita linha de raciocínio, poderemos até justificar a pena de morte. Mas o que vemos não é justamente o contrário, ou seja,
o ser humano abolindo tal prática bárbara? É que compreendeu, finalmente, que o mais importante é a reabilitação do criminoso. Não podemos pegar as coisas, literalmente,
pois entraríamos em contradição com outras passagens bíblicas. Perguntamos; se fosse realmente para matar os assassinos, por que Deus não providenciou a morte de
Caim? Não sabemos que Ele fez foi justamente o contrário? Vejamos em Gn 4,15: "O SENHOR, porém, lhe disse: Assim qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes.
E pôs o SENHOR um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse". Não bastasse isto, também temos em Ex 20,13: "Não matarás". Como sabemos
que Deus não é incoerente, devemos buscar outro sentido para o texto. O significado do primeiro texto está bem próximo da lei de ação e reação, expressa também,
no "olho por olho, dente por dente", ou seja, cabendo somente as justas Leis Divinas cuidarem para que nós soframos as conseqüências de nossos próprios erros, pois
somente Deus saberá, com justiça, qual o tempo e a hora certa para pagarmos por eles.
Gênesis 9,13.16: Porei nas nuvens o meu arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra. O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança
eterna entre Deus e todos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra.
O meu arco. Provavelmente um fenômeno novo, devido às mudanças nas formações das nuvens e nas condições atmosféricas em geral depois do dilúvio. O arco-íris
serve como um sinal da aliança feita por Deus com Noé, um compromisso de nunca mais enviar contra a humanidade um dilúvio universalmente destrutivo.
Comentários: Temos aqui, também, a tradução do texto bíblico não tendo a palavra arco-íris, fato que já observamos em traduções católicas. Sobre a questão
do arco-íris, vejam com que finalidade Deus o colocou nas nuvens: para não se esquecer da Aliança que fez com os seres viventes. Com certeza, não sabiam que o arco-íris
é apenas um fenômeno natural, produzido pela reflexão da luz do Sol na água, decompondo, desta forma, a luz do Sol em sete cores. Coisa que fazemos tantas vezes,
quanto quisermos, utilizando, para isto, um simples prisma de cristal.
Gênesis 10,1-5: São estas as gerações dos filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé; e nasceram-lhes filhos depois do dilúvio. Os filhos de Jafé são: Gômer, Magogue,
Madai, Javã, Tubal, Meseque e Tiras. Os filhos de Gômer são: Asquenaz, Rifate e Togarma. Os de Javã são: Elisá, Társis, Quintim e Dodanim. Estes repartiram entre
si as ilhas das nações nas suas terras, cada qual segundo a sua língua, segundo as suas famílias, em suas nações.
Gênesis 10,20: São estes os filhos de Cam, segundo suas famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, em suas nações.
Gênesis 10,31: São estes os filhos de Sem, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, em suas nações.
Todas as pessoas e povos do mundo, desde o dilúvio, descenderam dos três filhos de Noé (cf. At 17:26).
Comentários: Essas narrativas estão na Bíblia antes do episódio da Torre de Babel, onde Deus confundiu a língua dos que tentavam construí-la. Entretanto,
parece que antes disto, os filhos de Noé falavam diferentes línguas; assim, para explicar este paradoxo, é que surge a história da Torre de Babel. Por outro lado,
a população mundial não poderia chegar ao ponto que chegou, tendo apenas este ponto de partida; é o que a ciência vem nos dizer.
Gênesis 11,1: Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar.
O abismo intransponível que separa os sons produzidos pelos animais e a linguagem humana, bem como a declaração encontrada neste versículo de que, originalmente,
todos os homens falavam a mesma língua, são inexplicáveis por meio da teoria da evolução.
Números 22,28-30: Então o SENHOR fez falar a jumenta, a qual disse a Balaão: Que te fiz eu, que me espancaste já três vezes? Respondeu Balaão à jumenta:
Porque zombaste de mim: quem me dera tivera eu uma espada na mão, porque agora te mataria. Replicou a jumenta a Balaão: Porventura não sou a tua jumenta, em que
toda a tua vida cavalgaste até hoje? Acaso tem sido o meu costume fazer assim contigo? Ele respondeu: Não.
Comentários: É muito interessante como, facilmente, se esquecem de suas afirmações anteriores. Se é intransponível a diferença entre os sons produzidos pelos
animais e a linguagem humana, como explicar, de maneira lógica, que a serpente tenha falado com Eva, a não ser que somente satanás consiga quebrar esta barreira?
Por outro lado, se Deus faz uma jumenta falar, fato que aceitaram sem contestar, não está aí quebrando a barreira intransponível que separa os sons produzidos pelos
animais e a linguagem humana? Por que não poderia fazer isso de novo, usando a evolução das espécies? É aqui que, claramente, percebemos aonde nos leva a ignorância
do ser humano, que tenta segurar o avanço da ciência, por medo dela vir a contradizer a Bíblia. Não conseguiram vislumbrar que, por mais que avance a ciência, ela
fatalmente estará apenas desvendando as leis naturais que regem o Universo, ou seja, nunca ela irá contradizer qualquer Lei Divina, pois uma e outra são a mesma
coisa. A aparente contradição está em querermos, como a maioria quer, entender a Bíblia somente em seu aspecto literal. Paulo, em 2Cor 3,6, disse: "O qual nos fez
também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica". Se seguíssemos esta orientação
estaríamos fazendo o que realmente deveria ser feito para a compreensão das Escrituras Sagradas.
Gênesis 18,12-13: Riu-se, pois, Sara no seu íntimo, dizendo consigo mesma: Depois de velha, e velho também o meu senhor, terei ainda prazer? Disse o SENHOR
a Abraão: Por que se riu Sara, dizendo: Será verdade que darei ainda á luz, sendo velha?
Sara riu interiormente, seja por talvez desconhecer a promessa de 17:19, seja por duvidar que seria cumprida. Um dos três homens (v. 2) ficou agora claramente
identificado como Javé, pois conhecia os pensamentos de Sara.
Comentários: Hoje a ciência aceita a existência da telepatia. Assim, se fôssemos seguir a mesma linha de raciocínio desta nota, diríamos que quem pode ler
o pensamento dos outros ou até se comunicar pela telepatia seria também um Deus. Observem que muitas das explicações que dão aos fatos fogem ao bom senso e à lógica.
Gênesis 19,24: Então fez o SENHOR chover enxofre e fogo, da parte do SENHOR, sobre Sodoma e Gomorra.
Depósitos de enxofre e asfalto (ou betume, cf. 14:10) têm sido encontrados naquela região. Possivelmente ocorreu um terremoto e relâmpagos provocaram a ignição
dos gases liberados, provocando uma chuva de fogo e fumaça.
Comentários: Novamente os fenômenos que ocorrem na natureza, não compreendidos naquela época, foram vistos como ira ou castigo de Deus. Não podemos negar
o poder de Deus, para que isto aconteça. Entretanto, aceitar que todo raio, relâmpago, terremoto, erupção vulcânica possam ter esta explicação, é que poderíamos
estar nos excedendo.
Gênesis 20,2: Disse Abraão de Sara, sua mulher: Ela é minha irmã; assim, pois, Abimeleque, rei de Gerar, mandou buscá-la.
Abraão praticara a mesma mentira antes (12:13). Tal como Faraó, Abimeleque tomara muitas mulheres solteiras para viverem em seu harém. Sara tinha agora 90
anos de idade.
Gênesis 20,12: Por outro lado, ela, de fato, é também minha irmã, filha de meu pai, e não de minha mãe; e veio a ser minha mulher.
Comentários: Se, de fato, Sara era irmã de Abraão, mesmo que só por parte de pai, então ele disse a verdade, e não uma mentira, como dizem na nota. Bom...
Gostaríamos de saber qual homem que, possuindo um harém lotado, com mulheres "transbordando pelo ladrão", ainda se interessaria por uma "mocinha" de 90 anos de idade?...
Nós mesmo, com apenas uma só, não daríamos a menor "bola" para uma mulher "pé-na-cova" desse tipo!
Gênesis 24,2-4: Disse Abraão ao seu mais antigo servo da casa, que governava tudo o que possuía: Põe a tua mão por baixo da minha coxa, para que eu te faça
jurar pelo SENHOR, Deus do céu e da terra, que não tomarás esposa para meu filho das filhas dos cananeus, entre os quais habito; mas irás à minha parentela, e daí
tomarás esposa para Isaque, meu filho.
O servo mais velho de Abraão era, sem dúvida, Eliezer (cf. 15:2). Coxa (cf. 47:29) é um eufemismo para o órgão da reprodução. Este ato simbolizava que os
filhos ainda por nascer tomariam vingança por aquele juramento caso fosse quebrado, ou dava solenidade ao juramento em nome de Deus que instituíra a circuncisão
como sinal de Sua aliança.
Gênesis 46,26: Todas as almas que vieram com Jacó ao Egito, que saíram da sua coxa, fora as mulheres dos filhos de Jacó, eram todas sessenta e seis almas.
Gênesis 47,29-30: Aproximando-se, pois, o tempo da morte de Israel, chamou a José, seu filho, e lhe disse: Se agora achei mercê à tua presença, rogo-te que
ponhas a mão debaixo da minha coxa, e uses comigo de beneficência e de verdade; rogo-te que me não enterres no Egito, porém que eu jaza com meus pais; por isso me
levarás do Egito, e me enterrarás no lugar da sepultura deles. Respondeu José: Farei segundo a tua palavra.
Êxodo 1,5: Todas as almas, pois, que procederam da coxa de Jacó, foram setenta; José, porém, já estava no Egito.
Juízes 8, 30: E teve Gideão setenta filhos, que procederam da sua coxa: porque tinha muitas mulheres.
Comentários: Conforme o "Aurélio", eufemismo é ato de suavizar a expressão duma idéia, substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável,
mais polida. Algumas das passagens citadas confirmam ser mesmo o órgão da reprodução. Mas ter que pegar no órgão da reprodução de um homem como forma de juramento
é muito esquisito; não é mesmo? Observar que a quantidade de pessoas citadas em Gn 46,26 e Ex 1,5, embora se referindo ao mesmo fato, são divergentes. O que é estranho
se provenientes da mesma fonte: a inspiração divina.
Gênesis 25,8: Expirou Abraão: morreu em ditosa velhice, avançado em anos; e foi reunido ao seu povo.
Foi reunido ao seu povo é uma indicação de que os mortos eram considerados pessoas ainda existentes. É um testemunho antigo da crença na vida após a morte.
Comentários: Com certeza, apesar do nosso corpo retornar ao pó, o mesmo destino não se dá com o nosso Espírito imortal. É nele que devemos entender a nossa
semelhança para com Deus. É através dele, também que nossa individualidade sobreviverá para toda a eternidade. A grande questão é: o que ocorre com o nosso Espírito
com a morte do corpo físico? A maioria das religiões, apegadas demais à letra, não conseguiu ainda fazer que o véu caia, apesar de, ainda nos dias de hoje, Deus
continuar revelando o que acontece com o espírito depois da morte do corpo. Paulatinamente a Ciência vem desvendando esses "mistérios" e não restará aos dogmáticos
e aos fanáticos senão a capitulação diante da Teoria da Reencarnação.
Gênesis 37,35: Levantaram-se todos os seus filhos e todas as suas filhas, para o consolarem; ele, porém, recusou ser consolado, e disse: Chorando, descerei
a meu filho até à sepultura. E de fato o chorou seu pai.
Sepultura: Em Hebraico Sheol. Esta palavra é usada 65 vezes no A.T.. Freqüentemente significa a sepultura onde o corpo é colocado após a morte (cf. Nm 16:30,
33 Sl 16:10). Pode também referir-se ao lugar dos espíritos dos mortos, tanto dos justos (como aqui) quanto dos ímpios (cf. Pv 9:18).
Deuteronômio 32,22: Porque um fogo se acendeu no meu furor, e arderá até ao mais profundo do inferno, consumirá a terra e suas messes, e abrasará os fundamentos
dos montes.
Inferno. Lit., sheol. Veja a nota sobre Gn 37:35.
Comentários: Em outras passagens encontraremos o pensamento de que, quem desceu ao sheol, de lá não subirá. Não há como contestar, pois o corpo físico ali
é que se transformará em pó, mas não quanto ao Espírito - pelo menos no conceito mais abrangente; a este estará reservado outro lugar no mundo espiritual. É também,
com certeza, que podemos reafirmar que, tanto os bons quanto os maus, descerão à sepultura; é da Lei de Deus; não há como ninguém escapar dela. Importante ressaltar
que as palavras sepultura, sheol e inferno, pelo que deduzimos das notas, são a mesma coisa; não? Assim, podemos aceitar o inferno eterno, pois uma vez sepultado
o corpo físico, ele nunca mais sairá de lá como entrou; se transformará em energia que irá compor outras matérias. "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo
se transforma", já dizia Lavoisier.
Êxodo 7,10-11: Então Moisés e Arão se chegaram a Faraó, e fizeram como o SENHOR lhes ordenara; lançou Arão a sua vara diante de Faraó e diante dos seus oficiais,
e ela se tornou em serpente. Faraó, porém, mandou vir os sábios e encantadores; e eles, os sábios do Egito, fizeram também o mesmo com as suas ciências ocultas.
Alguns comentaristas pensam que os sábios egípcios realizaram tal feito através de fraude, ou por influência demoníaca, ou pelo uso de cobras enrijecidas
por meio de encantamento, de modo a parecerem varas.
Êxodo 7,20-22: Fizeram Moisés e Arão assim como o SENHOR lhes havia ordenado: Arão, levantando a vara, feriu as águas que estavam no rio, à vista de Faraó
e seus oficiais; e toda a água do rio se tornou em sangue. Porém os magos do Egito fizeram também o mesmo com as suas ciências ocultas;...
Evidentemente os magos transformaram pequenas quantidades de água (obtidas conforme descrito no v. 24) em sangue, e isto satisfez Faraó. Teria sido mais
útil se tivessem conseguido transformar a água "sangrenta" em água potável novamente!
Êxodo 8,6: Arão estendeu a mão sobre as águas do Egito, e subiram rãs e cobriram o Egito. Então os magos fizeram o mesmo com suas ciências ocultas, e fizeram
aparecer rãs sobre a terra do Egito.
Rãs. As rãs apareciam regularmente em abundância na metade de dezembro, quando as águas do Nilo baixavam, e eram um símbolo de fertilidade. Esta segunda
praga usou tais criaturas, sagradas para os egípcios, tornado-as odiosas para eles, cujas casas foram invadidas por elas.
Comentários: Como os sábios do Egito conseguiram fazer as mesmas proezas que Moisés e Arão fizeram, das duas uma: Ou o deus dos egípcios era tão poderoso
quanto o Deus de Moisés e Arão; ou Moisés e Arão eram magos iguais aos do Faraó. Mas, como não encontraram uma maneira honrosa de sair disso, tentam explicar os
fatos de um jeito que não fique evidenciado que todos eles fizeram as mesmas coisas.
Êxodo 12,46: O cordeiro há de ser comido numa só casa; da sua carne não levareis fora da casa, nem lhe quebrareis osso nenhum.
Quanto à proibição de quebrar os ossos, cfe. Jo 19:36.
Comentários: João aplica essa passagem a Jesus, justificando que, pelo fato de não terem quebrado Seus ossos, quando da crucificação, isso teria acontecido
para se cumprir a Escritura. Só que existe um problema aí. É que essa passagem nem mesmo é uma profecia; trata-se de uma recomendação feita por Deus a Moisés e Arão
sobre a páscoa que os hebreus, após a saída do Egito, iriam comemorar. E aqui percebemos que, até mesmo na Bíblia, se utilizaram de passagens fora do contexto, para
justificarem-se outras, cujo sentido é completamente diferente do que se quer colocar. E, no caso em questão, se tudo é inspirado por Deus, há uma contradição que
só pode ser aceita se considerarmos que existem passagens que são fruto do pensamento do próprio autor bíblico, não vindo, portanto, de Deus. Por outro lado, na
Páscoa, deveríamos então utilizar como símbolo o "cordeiro da páscoa" e não o "coelho da páscoa", como atualmente o fazemos, inclusive distribuindo ovos de páscoa,
embora não entendamos o porquê disso, pois todos nós sabemos que coelho não bota ovos.
Êxodo 19,12.23: Marcarás em redor limites ao povo, dizendo: "Guardai-vos de subir ao monte, nem toqueis o seu termo; todo aquele que tocar o monte será morto".
Então disse Moisés ao SENHOR: "O povo não poderá subir ao monte Sinai, porque tu nos advertiste, dizendo: 'Marca limites ao redor do monte e consagra-o'".
Deuteronômio 5,5: Nesse tempo eu estava em pé entre o SENHOR e vós, para vos notificar a palavra do SENHOR, porque temestes o fogo, e não subistes ao monte,
...
Comentários: Afinal, o povo não subiu ao monte Sinai, porque estava com medo do fogo ou porque, segundo Moisés, Deus proibiu dizendo que mataria quem o subisse?
Não dá para se saber qual "inspiração" é a verdadeira.
Êxodo 20,5-6: Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira
e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
O versículo 5 indica os efeitos cumulativos do pecado (embora a responsabilidade seja sempre individual).
Deuteronômio 24,16: Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais: cada qual será morto pelo seu pecado.
Salmo 109,9-10: Fiquem órfãos os seus filhos, e viúva, a sua esposa. Andem errantes os seus filhos, e mendiguem; e sejam expulsos das ruínas de suas casas.
Os pecados dos pais de fato afetam seus filhos (cf. Êx. 20:5; Lc 19:41-44).
Ezequiel 18,2-4: Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos
é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também
a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá.
Corria de boca em boca, em Jerusalém (Jr 31:29) e em Babilônia, um provérbio, que os filhos estavam pagando pelos pecados dos pais. Embora haja efeitos cumulativos
do pecado (Êx 20:5-6; Mt 23:35-36), o Senhor afirma aqui que cada indivíduo é responsável por seu próprio pecado (v. 4).
Ezequiel 18,20: A alma que pecar, essa morrerá: o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre
ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este.
O princípio da responsabilidade individual é reiterado.
Comentários: Se um juiz, aqui na Terra, condenasse os filhos pelos pecados dos pais, estaríamos diante de uma aberração da justiça humana. Mas o pior é que
querem que Deus, a Suprema Justiça, aja desta forma. Citam da Bíblia a passagem em Ex 20,5 para justificar isto. Entretanto, quando do estudo da Bíblia Católica,
demonstramos que essa passagem, se analisada desta forma, entra em conflito com a que consta de Dt 24,16. Vejam lá o que argumentamos a respeito. Não dá para entender
uma justiça em que os filhos sofram a conseqüência dos erros de seus pais. Aqui colocaram na Bíblia provérbio popular que vem a ser contrário à justiça divina, e,
com isso, um texto contradiz o outro. Se deixássemos de lado nossa ignorância espiritual e aceitássemos a reencarnação, as coisas aí, sim, seriam justas, pois os
pais poderiam, por esta lei, vir reencarnados como netos (filhos dos filhos) ou bisnetos, quando, nesta condição, pagariam pelos seus próprios erros, mostrando que
a justiça divina tarda, mas não falha. Como não querem aceitar a reencarnação, tentam justificar com o efeito cumulativo que, em si, não traz nada de justiça divina.
Mesmo considerando que na nota do último texto é aceita a responsabilidade individual, nas outras admitem esse tal de efeito cumulativo.
Êxodo 28,30: Também porás no peitoral do juízo o Urim e o Tumim, para que estejam sobre o coração de Arão, quando entrar perante o SENHOR: assim Arão levará
o juízo dos filhos de Israel sobre o seu coração diante do SENHOR continuamente.
Urim e Tumim. Eram, possivelmente, duas pedras preciosas que eram colocadas dentro do peitoral. Podem ter sido usadas, como sortes, para determinar a vontade
de Deus.
Comentários: Em certas passagens, como não conseguem dar a verdadeira explicação do fato, levam tudo para provavelmente, possivelmente ou poderia, para esconderem
acontecimentos que os deixariam embaraçados. A verdade é que estas pedras eram mesmo utilizadas para por sortes, semelhantes a dados, com o objetivo de encontrar
uma resposta de Deus aos assuntos sobre os quais Lhe consultavam. Vejam sobre este assunto os comentários da Bíblia Católica, onde mostramos o que realmente acontecia.
É pura incoerência.
Êxodo 33,11: Falava o SENHOR a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo, então voltava Moisés para o arraial, porém o moço Josué, seu servidor,
filho de Num, não se apartava da tenda.
Êxodo 33,20-23: E acrescentou: Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá. Disse mais o SENHOR: Eis aqui um lugar junto
a mim; e tu estarás sobre a penha. Quando passar a minha glória, eu te porei numa fenda da penha, e com a mão te cobrirei, até que eu tenha passado. Depois, em tirando
eu a mão, tu me verás pelas costas; mas a minha face não se verá.
O pedido de Moisés quanto a visão de Deus foi atendido, embora não plenamente e com grandes precauções.
Comentários: Observar que Moisés pede a Deus para que ele veja a Sua face, mas Deus diz que ninguém pode vê-Lo face a face, permitindo apenas a Moisés vê-Lo
de costas. Onde, então, que o pedido foi atendido, embora não plenamente? Não foi atendido em nada, pois o pedido é para ver a face de Deus, não as costas Dele.
Também não seria uma contradição em relação ao primeiro texto?
Levítico 11,7-8: Também o porco, porque tem unhas fendidas, e o casco dividido, mas não rumina; este vos será imundo; da sua carne não comereis, nem tocareis
no seu cadáver; estes vos serão imundos.
Comentários: Parece que ninguém faz questão de cumprir essa determinação "divina". O que atualmente se come de carne de porco não é brincadeira! Será que
os que gostam de buscar coisas no Antigo Testamento acham que essa determinação não é para ser cumprida? Tudo bem; até concordamos; entretanto, deveríamos incluir
muitas outras determinações que estão lá, mas que, apesar de não as cumprirem, querem que nós as cumpramos, apesar de saberem muito bem que elas não têm nenhuma
validade para nós cristãos.
Números 14,25-33: Ora os amalequitas e os cananeus habitam no vale; mudai amanhã de rumo e caminhai para o deserto pelo caminho do Mar Vermelho. Depois disse
o SENHOR a Moisés e Arão: Até quando sofrerei esta má congregação que murmura contra mim? Tenho ouvido as murmurações que os filhos de Israel proferem contra mim.
Dize-lhes: Por minha vida, diz o SENHOR, que, como falastes aos meus ouvidos, assim farei a vós outros. Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos
os que de vós foram contados segundo o censo, de vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes; não entrareis na terra, pela qual jurei que vos
faria habitar nela, salvo, Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num. Mas os vossos filhos, de que dizeis. Por presa serão, farei entrar nela; e eles conhecerão
a terra que vós desprezastes. Porém, quanto a vós outros, os vossos cadáveres cairão neste deserto. Vossos filhos serão pastores neste deserto quarenta anos, e levarão
sobre si as vossas infidelidades, até que os vossos cadáveres se consumam neste deserto.
Embora os israelitas estivessem às portas da terra prometida, foram mandados de volta ao deserto onde todas as pessoas de mais de 20 anos haveriam de morrer
(exceção feita a Josué e Calebe, cf. vv. 29-30) e onde vagariam por quarenta anos (cf. v. 33).
Comentários: Mesmo sem conhecer esse texto, sempre falávamos que, para ficar livre da oposição, principalmente os velhos, pois estes dificilmente mudam de
opinião, Moisés decide ficar 40 anos no deserto, para que, com este tempo a morte os atingisse, e as resistências cairiam, tendo em vista que é bem mais fácil fazer
a cabeça dos jovens. Mas, pelo que acabamos de ler, a coisa foi bem pior, pois muitos jovens pereceram no deserto. E para que o povo aceitasse isto, sem lhe causar
problemas, Moisés diz que foi ordem de Deus.
Números 21,8-9: Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste: e será que todo mordido que a mirar, viverá. Fez Moisés uma
serpente de bronze, e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava.
Somente aqueles que confiaram em Deus e olharam para a serpente de bronze sobreviveram.
2 Reis 18,4: Removeu os altos, quebrou as colunas e deitou abaixo o poste-ídolo; e fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés fizera, porque até àquele
dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã.
A serpente de bronze. O que fora, setecentos anos antes, um meio de cura (Nm 21:8-9) tornara-se um ídolo adorado pelo povo. Neustã significa "um mero pedaço
de bronze" – um desmascaramento desdenhoso do que aquela venerada relíquia realmente era. Destruí-la era a única alternativa certa para Ezequias.
Comentários: Quando falamos do primeiro texto nos comentários da Bíblia Católica (voltem um pouquinho lá e vejam) não tínhamos a menor idéia de que o que
achávamos iria acontecer. Eh!, de fato, os israelitas acabaram adorando essa serpente de bronze, fato confirmado pela nota, inclusive que o tempo dessa adoração
perdurou por um longo período de 700 anos.
Números 31,17-18: Agora, pois, matai de entre as crianças todas do sexo masculino; e matai toda mulher que coabitou com algum homem, deitando-se com ele.
Porém todas as meninas, e as jovens que não coabitaram com algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós outros.
Todas as crianças midianitas do sexo masculino deviam ser mortas, para não colocarem em perigo a herança dos filhos de Israel, crescendo no meio dos israelitas.
Somente as virgens que pudessem assimilar a cultura israelita (ou ser assimilada por ela) seriam poupadas.
Deuteronômio 20,13-14: E o SENHOR teu Deus a dará na tua mão; e todos os do sexo masculino que houver nela passarás ao fio da espada; mas as mulheres, as
crianças, e os animais, e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e desfrutarás o despojo dos teus inimigos, que te deu o SENHOR teu Deus.
Comentários: Será que eles pouparam as virgens por que elas poderiam assimilar a sua cultura, ou porque queriam somente as mulheres virgens para se deitarem
com elas? Não devemos esquecer de que elas se tornariam suas escravas. Sendo a passagem do Deuteronômio uma ordem de Deus ao povo de Israel, e a de Números, Moisés
mandando o exército de Israel exterminar as mulheres defloradas, não estaria contrariando, desta forma, a ordem divina? Sobre a maneira deles saberem qual mulher
tinha coabitado com um homem, deitando-se com ele, não quero nem pensar como fizeram isto. A guerra em si já é uma barbaridade, pior ficando quando se manda matar
todos os civis de um povo que já foi derrotado no combate; e ainda atribuem isto a Deus! Não podemos deixar de ressaltar também que, em muitas outras ocasiões, Moisés
atribui a Deus coisas que não têm nada a ver com a vontade de Deus, ou seja, Sua vontade está claramente expressa nos Dez Mandamentos; assim, todo o restante é somente
legislação mosaica, sem nenhuma sombra de dúvida.
Deuteronômio 4,8: E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?
A lei mosaica foi dada à nação israelita não como um peso, mas para distingui-la entre todas as demais, fazendo-a sábia, grande e agradável a um Deus santo.
Como regra de vida para o povo de Deus, o código mosaico foi substituído para o cristão pela lei de Cristo (veja nota sobre 2 Co 3:11), embora alguns dos mandamentos
específicos do velho código estejam presentes como requisitos do novo código (cf. Rm 13:9). Como parte das Escrituras inspiradas, tanto o velho quanto o novo código
são proveitosos para pessoas de todas as épocas (cf. 1 Tm 1:8-10; 2 Tm 3:16).
Deuteronômio 4,13-14: Então vos anunciou ele a sua aliança, que vos prescreveu, os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra. Também o SENHOR
me ordenou ao mesmo tempo que vos ensinasse estatutos e juízos, para que os cumprísseis na terra a qual passais a possuir.
Comentários: Nem bem acabamos de falar sobre o assunto, e ele nos aparece claramente na própria Bíblia. Temos que admitir que, realmente, existe a Lei de
Deus, contida nos Dez Mandamentos. E a Lei Mosaica,que são todos os outros ensinamentos que estão consolidados nos estatutos e juízos que iremos encontrar na Bíblia.
Agora fica mais clara para todos nós a afirmativa de Jesus: "Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir" (Mt 5,17),
onde devemos entender que as Leis a que Jesus se refere são as Leis Divinas contidas nos Dez Mandamentos; e as dos profetas são as profecias sobre a sua vinda ao
mundo para salvar a humanidade. Se percebem a distinção entre a Lei Divina e a Lei Mosaica, por que ainda agem como se tudo que contém a Bíblia é proveniente de
Deus?! Não dá para entender! Alguns tradutores colocam "cumprir" e não "aperfeiçoar" como a tradução correta.
Deuteronômio 21,18-21: Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e à de sua mãe, e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos,
pegarão nele seu pai e sua mãe e o levarão aos anciãos da cidade, à sua porta, e lhes dirão: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz: é
dissoluto e beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; assim eliminarás o mal do meio de ti: todo o Israel ouvirá e temerá.
Deuteronômio 22,5: A mulher não usará roupa de homem, nem o homem veste peculiar à mulher; porque qualquer que faz tais cousas é abominável ao SENHOR teu
Deus.
Deuteronômio 22,6-7: Se de caminho encontrares algum ninho de ave, nalguma árvore, ou no chão, com passarinhos, ou ovos, e a mãe sobre os passarinhos ou
sobre os ovos, não tomarás a mãe com os filhotes; deixarás ir livremente a mãe, e os filhotes tomarás para ti; para que te vá bem e prolongues os teus dias.
Deuteronômio 22,10: Não lavrarás com junta de boi e jumento.
Deuteronômio 23,2: Aquele a quem forem trilhados os testículos, ou cortado o membro viril, não entrará na assembléia do SENHOR.
Deuteronômio 23,19: A teu irmão não emprestarás com juros, nem dinheiro, nem comida, nem qualquer cousa que se empresta com juros.
Deuteronômio 25,11-12: Quando brigarem dois homens, um contra o outro, e a mulher de um chegar para livrar o marido da mão do que o fere, e ela estender
a mão, e o pegar pelas suas vergonhas, cortar-lhe-ás a mão: não a olharás com piedade.
Comentários: Para que não fiquemos apenas num só texto em que é evidente o ridículo, citamos mais estes para que possam confirmar pessoalmente o que estamos
afirmando. E como fica a famosa turma do "A Bíblia diz", "A Bíblia manda", "A Bíblia é a palavra de Deus", "A Bíblia só tem verdades", etc.? São tão contraditórios
que exigem que cumpramos a não evocação dos mortos, como se nós ficássemos a evocá-los. Entretanto, outras passagens eles não cumprem e não fazem nenhuma questão
de que os outros também as cumpram. Incoerência? Má vontade? Burrice ou, esperteza mesmo?...
Deuteronômio 23,13: Dentre as tuas armas terás um pau; e quando te abaixares fora, cavarás com ele, e, volvendo-te, cobrirás o que defecaste.
Esta importante regra sanitária estava ligada a manobras militares.
Comentários: Só faltou a instrução para que, depois disso, tenha que dar um miado bem alto! Não estaria isto mais para um gato fazer? Esta é uma das muitas
ordens ridículas que são atribuídas ao próprio Deus, principalmente por aqueles, cujo fanatismo os cega não os deixando enxergar na Bíblia o que é de Deus e o que
é dos homens.
Deuteronômio 28,15: Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos,
que hoje te ordeno, então virão todas estas maldições sobre ti, e te alcançarão:
Comentários: Do versículo 16 ao 68, estão relacionadas todas as maldições, ou seja, a reprovação divina com os castigos dela decorrentes para quem não cumprisse
os mandamentos e os estatutos instituídos. Só que acontece uma coisa muito interessante; não existe em nenhum lugar a afirmação do tipo: "se não cumprires esses
mandamentos e estatutos, irás para o inferno eterno", já que aqui, neste momento, era a hora adequada para instituí-lo ou, quem sabe, falar dele, se ele, o inferno,
já existisse; não é mesmo? Entretanto, se bem observarmos, todas as maldições correspondem a castigos para situações dessa vida terrena; não há nenhuma maldição,
com o conseqüente castigo, para uma vida após a morte. Seria útil que o leitor fosse à Bíblia, para ver o que consta dela, e, é claro, para que também possa tirar
suas próprias conclusões sobre o que estamos falando.
Josué 6,20: Gritou, pois, o povo e os sacerdotes tocaram as trombetas. Tendo ouvido o povo o sonido da trombeta e levantado grande grito, ruíram as muralhas
e o povo subiu à cidade, cada qual em frente de si e a tomaram.
As muralhas podem ter atingido uma altura de 10 metros. A parte da muralha em que Raabe vivia não ruiu. Alguns intérpretes alegam que um terremoto provocou
a destruição. Se isto de fato aconteceu, foi um milagre notável de sincronismo e localização, já que o acampamento em Gilgal (a dois quilômetros de distância) e
a casa de Raabe permaneceram intactos.
Comentários: Aqui temos uma cidade sendo conquistada literalmente no "grito". Entretanto quando comentávamos a Bíblia Católica, na narração de Js 6,1-5,
a nota dizia que por esta ocasião, Jericó não tinha muralhas e, talvez, nem fosse habitada, pois já tinha sido destruída havia dois séculos. Acreditamos que esta
é a verdade, pois não teria sentido algum colocar uma nota que iria justamente tirar o caráter "milagroso" da conquista desta cidade; não é mesmo? Assim, como fica
o "A Bíblia não erra?".
Josué 10,12-14: Então Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR entregou os amorreus na mão dos filhos de Israel; e disse na presença dos israelitas:
Sol, detém-te em Giboem, e tu, lua, no vale de Aijalom. E o Sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Não está isto escrito no Livro
dos Justos? O Sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. Não houve dia semelhante a esse, nem antes nem depois dele,
..
As opiniões sobre este fenômeno dividem-se em duas categorias. A primeira presume uma diminuição ou suspensão do movimento normal de rotação da Terra, de
modo que houve mais horas naquele dia (12 ou 24 a mais). Deus teria feito isso para que Josué e suas forças pudessem contemplar sua vitória antes que o inimigo tivesse
uma noite para descansar e reagrupar-se. A palavra hebraica traduzida por "se deteve" (v. 13) é um verbo de movimento, indicando uma diminuição ou parada da rotação
da Terra sobre o seu eixo (o que não afetaria o movimento de translação). O versículo 14 indica que se tratou de um dia único na história do mundo. A segunda categoria
incluiu pontos de vista que presumem não ter havido qualquer irregularidade na rotação da Terra. Uma dessas opiniões alega que houve um prolongamento da luz do dia
devido a uma refração incomum dos raios solares. Assim, houve um prolongamento da claridade, mas o dia ainda teve 24 horas. Outra opinião sugere um prolongamento
da semi-escuridão para dar aos homens de Josué um pouco de alívio do tórrido Sol de verão, o que foi conseguido por ter Deus enviado uma tempestade de verão incomum
com violenta chuva de pedras. Esta opinião impõe a expressão se deteve no versículo 13 o sentido de "parar" ou "cessar", indicando que o Sol foi nublado pela tempestade
e que não houve qualquer acréscimo de tempo ao dia. Os versículos 12-15 são uma citação do Livro dos Justos, uma coleção de cânticos que exaltavam os heróis de Israel
(também mencionado em 2 Sm 1:18).
Comentários: Parar o Sol e a Lua seria um acontecimento catastrófico, coisa que pensamos ser impossível de acontecer sem causar desordens, tanto na Terra
como até mesmo no Cosmo. Em quaisquer dessas alternativas, ou seja, o Sol e a Lua pararem, ou apenas a Terra parar, não deixariam de existir estas desordens. Temos
a impressão de que se a Terra parasse, por um minuto sequer, todos nós seríamos jogados para o espaço. Se o Sol parou como diz a passagem, não houve a mínima modificação
no tempo, já que para se prolongar o dia teria que se parar a Terra, pois é pelo movimento de rotação, quando gira em torno do seu eixo, que temos o ciclo dia e
noite. Qualquer explicação que seja e que não venha a quebrar as leis que regem o universo, é possível aceitá-la. É ciência. E reafirmamos: a ciência é de Deus;
e como Ele é imutável, também Suas Leis o são.
1 Samuel 28,7-19: Então disse Saul aos seus servos: Apontai-me uma mulher que seja médium, para que me encontre com ela e a consulte. Disseram-lhe os seus
servos: Há uma mulher em En-Dor que é médium. Saul disfarçou-se, vestiu outras roupas e se foi, e com ele dois homens, e de noite chegaram à mulher; e lhe disse:
Peço-te que me adivinhes pela necromancia, e me faças subir aquele que eu te disser. Respondeu-lhe a mulher: Bem sabes o que fez Saul, como eliminou da terra os
médiuns e adivinhos; por que, pois, me armas cilada à minha vida, para me matares? Então Saul lhe jurou pelo SENHOR, dizendo: Tão certo como vive o SENHOR, nenhum
castigo te sobrevirá por isso. Então disse a mulher: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel. Vendo a mulher a Samuel, gritou em alta voz; e a mulher
disse a Saul: Por que me enganas-te? Pois tu mesmo és Saul. Respondeu-lhe o rei: Não temas; que vês? Então a mulher respondeu a Saul: Vejo um deus que sobe da terra.
Perguntou ele: Como é a sua figura? Respondeu ela: Vem subindo um ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra
e se prostrou. Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e
Deus se desviou de mim, e já não me responde, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso te chamei que me reveles o que devo fazer. Então disse Samuel;
Por que, pois, a mim me perguntas, visto que o SENHOR te desamparou e se fez teu inimigo? Porque o SENHOR fez para contigo como por meu intermédio ele te dissera;
tirou o reino da tua mão, e o deu ao teu companheiro Davi. Como tu não deste ouvidos à voz do SENHOR, e não executaste o que ele no furor da sua ira ordenou contra
Amaleque, por isso o SENHOR te fez hoje isto. O SENHOR entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo; e o acampamento
de Israel o SENHOR entregará na mão dos filisteus.
Uma mulher que é médium. Uma mulher que praticava a necromancia, a consulta aos mortos para a determinação do futuro, o que era estritamente proibido pela
Lei (Lv. 19; 31). En-Dor ficava entre o monte Tabor e o outeiro de Moré, e lá residia uma médium que escapara ao expurgo realizado por Saul.
Várias explicações têm sido sugeridas para este acontecimento. (1) A mulher fingiu ver e ouvir Samuel para enganar a Saul; (2) a mulher entrou em tal estado
de transe que imaginou ter visto e ouvido Samuel; (3) a mulher, controlada pelo demônio, produziu uma aparição de Samuel. Todavia, a reação de pavor da médium (v.12)
prova que ela sabia que nem ela nem qualquer outro médium poderiam de fato trazer alguém de volta dos mortos; (4) nesta ocasião, Deus milagrosamente permitiu que
o espírito de Samuel aparecesse e anunciasse a morte iminente de Saul (v.19). Se foi este o caso, isso de modo algum indica que tal fato pudesse acontecer de novo,
e certamente não por meio de um médium espírita. Toda necromancia e todo espiritismo são severamente condenados como abominações aos olhos do Senhor (Dt 18:9-12).
Um deus. Uma figura sobre-humana ou um espírito (o de Samuel).
Comentários: A primeira passagem é a que leva todos os detratores do Espiritismo a fazer malabarismos verbais, para tentarem, de qualquer maneira, afastar
a idéia de que os mortos se comunicam. Já falamos sobre este assunto, quando do estudo da Bíblia Católica. Entretanto, como aqui se apresentam novos argumentos,
vamos fazer nossos contra-argumentos de maneira lógica e racional. Faremos, primeiramente, uma clássica pergunta: Se Deus proibiu a evocação dos mortos, como dizem
e, também, como afirmam, que tem entre seus atributos a onisciência, perguntamos: será que Deus proibiu algo que não pudesse acontecer? Se isso aconteceu, para onde
vai a tal de inerrância da Bíblia? E mais, se isto não acontece, como os Espíritos Moisés e Elias apareceram a Jesus, quando Ele estava acompanhado de Pedro, Tiago
e João no Monte Tabor, fato este narrado por três evangelistas (Mt 17,1-3; Mc 9,2-4 e Lc 9,28-32)? Ou será que aqui vão dizer também que o demônio tenha enganado
a Jesus? Mas, vamos às explicações das notas:
(1) A mulher fingiu ver e ouvir Samuel para enganar a Saul - a isto tomamos como argumento a nota que consta na Bíblia Católica que diz: Samuel de fato apareceu
e falou com Saul: isto Deus podia permitir. Logo, não é preciso pensar em manobra fraudulenta ou em intervenção diabólica;
(2) A mulher entrou em tal estado de transe que imaginou ter visto e ouvido Samuel - tomamos o argumento do item anterior e acrescentamos: no texto Samuel (Espírito)
disse: "Porque o SENHOR fez para contigo como por meu intermédio ele te dissera; tirou o reino da tua mão, e o deu ao teu companheiro Davi"; como a imaginação da
mulher iria produzir tal afirmativa? Pois, ela é realmente verdadeira; senão vejamos: "Porém Samuel disse a Saul; Não tornarei contigo; visto que rejeitaste a palavra
do SENHOR, já ele te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel" (1 Samuel 15,26); assim, provado fica que, apesar de não gostarem, é mesmo a aparição do
espírito de Samuel.
3) A mulher, controlada pelo demônio, produziu uma aparição de Samuel. Todavia, a reação de pavor da médium (v.12) prova que ela sabia que nem ela nem qualquer outro
médium poderiam de fato trazer alguém de volta dos mortos - além do argumento do item (1), que também aqui cabe, diremos que o espanto da necromante foi porque,
ao ver o Espírito de Samuel, percebeu que quem estava ali, querendo consultá-lo, era exatamente o rei Saul que tinha exterminado os necromantes e adivinhos, não
tendo isso nada que ver com o que afirmam os detratores do Espiritismo, que apelam para fantasias mirabolantes que não convencem nenhum estudioso da Bíblia com seus
argumentos pueris. Até gostaríamos de saber onde consta da Bíblia que, evocando-se o espírito de um morto, o demônio aparece em seu lugar para agir como se ele fosse
o morto evocado.
(4) Nesta ocasião, Deus milagrosamente permitiu que o espírito de Samuel aparecesse e anunciasse a morte iminente de Saul (v.19). Se foi este o caso, isso de modo
algum indica que tal fato pudesse acontecer de novo, e certamente não por meio de um médium espírita. Se os milagres existissem, implicariam na revogação das Leis
Divinas, o que contraria a perfeição das leis que regem tudo no Universo. E, além disso, milagre é somente o que não conseguimos compreender. Assim, quando não conhecemos
as Leis Divinas que regem tais fenômenos, os atribuímos ao sobrenatural. Além do mais, parece que o homem prefere ver tudo por este prisma. Não lemos que o arco-íris
foi criado por Deus, para selar a Aliança com Noé, mas que, na verdade, é apenas um fenômeno natural, até mesmo reproduzido pelo homem através de um prisma? Com
base em que podem afirmar que tal fato não poderá acontecer novamente por meio de um médium espírita? Em que texto bíblico se basearam para sustentar tais argumentos?
Achamo-los até incoerentes. Aliás, acreditam nos maiores absurdos que tiram da Bíblia, como, por exemplo, Deus lutando com Jacó. Outras vezes acreditam, só porque
constam da Bíblia, nas supostas revelações de Deus, tais como: as que foram dadas por meio de sonhos, por meio de espíritos, anjos, arcanjos, etc.; em fim, vários
tipos de relações com o mundo espiritual. Entretanto, apesar de entre elas termos a comunicação do Espírito de Samuel com Saul, dizem que isto não pode acontecer.
Diremos que aconteceu porque Deus permitiu, bem como ainda permite que isto aconteça, pois a relação do mundo físico com o mundo espiritual faz parte das suas leis
eternas e imutáveis, como provam a manifestação de Moisés e Elias a Jesus, Pedro, Tiago e João, que citamos um pouco atrás. Afirmam, também, que "toda necromancia
e todo Espiritismo são severamente condenados como abominações aos olhos do SENHOR", citando como base Dt 18:9-12, passagem que achamos por bem transcrevê-la, narrada
pela Tradução do Novo Mundo, para uma devida análise: "Quando tiveres entrado na terra que Jeová, teu Deus, te dá, não deves aprender a fazer conforme as coisas
detestáveis dessas nações. Não se deve achar em ti alguém que faça seu filho ou sua filha passar pelo fogo, alguém que empregue adivinhação, algum praticante de
magia ou quem procures presságios, ou um feiticeiro, ou alguém que prenda outros com encantamento, ou alguém que vá consultar um médium espírita, ou um prognosticador
profissional de eventos, ou alguém que consulte os mortos. Pois, todo aquele que faz tais coisas é algo detestável para Jeová, e é por causa destas coisas detestáveis
que Jeová, teu Deus, as expulsa de diante de ti". Primeiro - diríamos que é uma proibição de Moisés, pois, ao que sabemos, não consta dos Dez Mandamentos, única
orientação que não podemos deixar de cumprir, visto que são, sem sombra de dúvida, de Deus. Segundo - o que Moisés estava proibindo era as práticas que existiam
nas terras que os hebreus iriam receber de Deus. E não vemos razão nenhuma para trazer isto para os dias de hoje. Terceiro - se fosse mesmo uma ordem de Deus, como
o próprio Moisés não a cumpriu, já que, depois que havia morrido, aparece a Jesus e seus discípulos, como já citamos? Quarto - não poderia proibir o Espiritismo,
pois ele só apareceu em 1857. Entretanto, e por mais incrível que pareça, encontramos em algumas Bíblias a palavra Espiritismo, que não existe no hebraico. Este
termo não poderia constar da proibição bíblica, pois foi utilizado pela primeira vez em 18 de abril de 1857, quando Kardec lançou O Livro dos Espíritos; trata-se,
portanto, de um neologismo. A mesma coisa acontece com as palavras médium e Espírita; e ainda dizem que tudo que consta da Bíblia deles é fiel às traduções originais!
E mais ainda; o significado de necromancia é a adivinhação pela invocação dos espíritos, como o fato ocorrido nessa narrativa, coisa que não é prática da Doutrina
Espírita. Por favor, ou melhor, pelo amor de Deus, não tomem nossas práticas como sendo outras práticas em que a comunicação com os espíritos é também realizada,
como a Umbanda, Quimbanda, magia negra, macumba, etc.! E, se ainda teimam em persistir nessa confusão, é por pura ignorância ou falta de escrúpulos mesmo, quando
não de má-fé.
1 Reis 22,21-23: Então saiu um espírito, e se apresentou diante do SENHOR, e disse: Eu o enganarei. Perguntou-lhe o SENHOR: Com quê? Respondeu ele: Sairei,
e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Disse o SENHOR: Tu o enganarás, e ainda prevalecerás; sai, e faze-o assim. Eis que o SENHOR pôs o espírito
mentiroso na boca de todos estes teus profetas, e o SENHOR falou o que é mau contra ti.
O SENHOR permitiu que um espírito mentiroso controlasse os profetas e desse a Acabe um mau conselho. Apesar disso, Acabe foi responsável por sua escolha,
pois fora avisado da verdade por Micaías.
Salmo 146,3-4: Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em que não há salvação. Sai-lhes o espírito e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia perecem
todos os seus desígnios.
Comentários: Se os espíritos não se manifestam, como podem explicar esta passagem? Ou será que aqui também vão querer dizer que este espírito mentiroso é
o demônio? Mas não dá para mudar a opinião que deram; não é mesmo? Pois não já afirmaram se tratar de um espírito mentiroso? Esta é uma das muitas passagens que
citamos nos comentários anteriores. Mas, afinal, quem são estes espíritos? Em Salmos encontramos a resposta. Vejam o que lá está: "sai-lhes o espírito e eles tornam
ao pó", ou seja, quando o espírito é desligado do corpo ocorre a morte. Assim, espírito é a parte sobrevivente do homem; a que retorna ao mundo espiritual e que
popularmente é entendido como alma.
2 Reis 2,11: Indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho.
Elias, tal como Enoque, foi levado ao céu sem morrer. Esta também será a experiência dos crentes que estiverem vivos quando Cristo voltar (1 Co 15:51; 1
Ts 4:17).
Isaías 66,15-16: Porque, eis que o SENHOR virá em fogo, e os seus carros como um torvelinho, para tornar a sua ira em furor, e a sua repreensão em chamas
de fogo, porque com o fogo e com a sua espada entrará o SENHOR em juízo com toda a carne; e serão muitos os mortos da parte do SENHOR.
Uma descrição vívida dos julgamentos efetuados na segunda vinda do Cristo (2 Ts 1:7-9).
Comentários: Em Isaías se diz que o Senhor virá em fogo num torvelinho. Ao que parece, foi justamente o que aconteceu com Elias. Se pela segunda passagem
muitos serão os mortos, por que se fazendo a mesma coisa, na primeira, se diz que Elias não morreu? O que iremos fazer com este corpo físico na dimensão espiritual?
Jesus disse: "ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do homem" (Jo 3,13). Assim, como não disse nada, especificamente, sobre Elias,
presumimos que Elias morreu mesmo. Se subiu ao céu, foi apenas em seu corpo espiritual.
2 Reis 2,23-24: Então subiu dali a Betel; e, indo ele pelo caminho, uns rapazinhos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo; sobe calvo!
Virando-se ele para trás, viu-os e os amaldiçoou, em nome do SENHOR; então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos.
Rapazinhos. Jovens já responsáveis por sua conduta, não simples crianças. Estavam desafiando, o ministério profético de Eliseu. Sobe, isto é, vá para o céu,
como afirma ter acontecido com Elias. Calvo. Se Eliseu era ou não careca a esta altura de sua vida é irrelevante (ele viveu mais cinqüenta anos depois deste incidente,
13:14); os rapazes estavam, na verdade, amaldiçoando Eliseu (cf. Is 3:17,24).
Comentários: Que fossem jovens responsáveis, podemos até aceitar, mas não dá mesmo para entender por que uma inocente brincadeira dessa poderia ser considerada
como maldição que estavam lançando contra Eliseu. Poderiam dar uma boa justificativa para tamanha crueldade, que se seguiu a esse episódio, quando colocam o próprio
Deus interferindo a favor de Eliseu, ao mandar duas ursas para matar 42 daqueles meninos, ou rapazinhos?... Só as mentes fanáticas podem acreditar em tamanho disparate.
E quem, na verdade, amaldiçoou alguém, segundo o texto, foi Eliseu, e não os meninos, não é mesmo?
2 Reis 4,32-35: Tendo o profeta chegado à casa, eis que o menino estava morto sobre a cama. Então entrou, fechou a porta sobre eles ambos, e orou ao SENHOR.
Subiu à cama, deitou-se sobre o menino, e, pondo a sua boca sobre a boca dele, os seus olhos sobre os olhos dele e as suas mãos sobre as mãos dele, se estendeu sobre
ele; e a carne do menino aqueceu. Então se levantou e andou no quarto uma vez de lá para cá, e tornou a subir, e se estendeu sobre o menino; este espirrou sete vezes,
e abriu os olhos.
Eliseu levantou-se da cama e andou de um lado para outro no quarto, com grande expectativa e entusiasmo. Não foi ressuscitamento cardiopulmonar, mas um milagre
espetacular restaurando a vida a uma criança que estivera morta por algumas horas.
Comentários: Se os médicos de hoje, com os recursos de que dispõem, tivessem vivido naquele tempo, também, seriam tão milagreiros quanto Eliseu. Quem poderá
dizer que tal ressuscitamento não foi cardiopulmonar? Só um fanático religioso, que quer ver milagre em tudo. Existem inúmeros casos, pesquisados por médicos, de
pessoas diagnosticadas como mortas, que "voltaram a viver", muitas vezes, sem ter como causa os procedimentos médicos realizados. Isso somente se dá porque, na realidade,
não aconteceu o fenômeno da morte. Essa só ocorre, quando todos os laços que unem o corpo ao espírito são "desconectados", causando o término da experiência do espírito
no corpo físico, a que se encontrava ligado. E como conseqüência, voltará a viver, na outra dimensão da vida, em seu corpo espiritual.
2 Reis 20,11: Então o profeta Isaías clamou ao SENHOR; e fez retroceder dez graus a sombra lançada pelo Sol declinante no relógio de Acaz.
Veja nota sobre Is 38:8. 2 Cr 32:31 indica que este milagre foi geograficamente limitado, embora espetacular; não chegou, portanto, a envolver a inversão
do sentido da rotação da Terra, algo que teria afetado todo o planeta.
Isaías 38,8: Eis que farei retroceder dez graus a sombra lançada pelo Sol declinante no relógio de Acaz. Assim retrocedeu o Sol os dez graus que já havia
declinado.
Relógio de Acaz. Ou escadaria de Acaz. Um lance de escadas voltado para o oeste, no qual, normalmente, o Sol declinante faria com que a sombra se movesse
para cima. Como um sinal confirmatório para Ezequias, a sombra desceu dez degraus.
Comentários: A sombra citada existe em conseqüência da luz solar. Assim, para que ela tenha voltado dez graus, implica, necessariamente, que: ou o Sol voltou
para uma posição anterior, ou a Terra é que teria invertido o sentido da rotação. Não há como negar isso. Esse é um fato científico, e, se realmente aconteceu, teria
que refletir no mundo todo. Se os mensageiros da Babilônia vieram por causa do prodígio que aconteceu com Acaz, é porque tal fato refletiu na Babilônia. Entretanto,
analisando-se as passagens 2R 20,12, e Is 39,1 ("Nesse tempo Merodaque-Baladã, filho de Baladã, rei de Babilônia, enviou cartas e um presente a Ezequias, porque
soube que estivera doente e já tinha convalescido"), tudo leva a crer que a visita dos embaixadores da Babilônia a Acaz foi porque ele ficou curado (por Isaías)
de uma grave doença. Por outro lado, como Ezequias era muito rico, e o rei da Babilônia, a essa época – 712 a.C, estava subjugado pela Assíria, poderia também estar
querendo se aliar a Acaz contra a Assíria, tornando essa visita de caráter político. Não dá para acreditar que foi por causa do "milagre" da sombra. Essa tese nem
mesmo se poderia tirar, com absoluta segurança, do livro de Crônicas citado: "Contudo, quando os embaixadores dos príncipes de Babilônia lhe foram enviados para
se informarem do prodígio que se dera naquela terra ..." (2Cr 32,31). Pode-se ver que "prodígio" pode muito bem se referir à cura "milagrosa" de Acaz. Até mesmo,
porque não dá para se confiar no livro de Crônicas, pois já vimos anteriormente que, em relação à morte de Saul, ele apresenta uma versão diferente dos fatos ocorridos.
2 Reis 21,6: E queimou a seu filho como sacrifício, adivinhava pelas nuvens, era agoureiro e tratava com médiuns e feiticeiros; prosseguiu em fazer o que
era mau perante o SENHOR, para o provocar à ira.
2 Crônicas 33,6: E queimou a seus filhos como oferta, no vale do filho de Hinom; adivinhava pelas nuvens, era agoureiro, praticava feitiçaria, e tratava
com necromantes e feiticeiros; prosseguiu em fazer o que era mau perante o SENHOR, para o provocar à ira.
Comentários: Duas narrativas para o mesmo fato. Entretanto, não são iguais; uma fala em filho outra diz filhos; uma usa a palavra médiuns, outra necromantes.
Está aí mais uma prova de que mudam a Bíblia conforme as suas idéias pessoais. E o mais grave, é que colocam no texto sagrado palavra que nem existia na época dos
acontecimentos, como é o caso da palavra médium; que só veio a ser criada por Kardec em 1857, conforme já o dissemos. A Bíblia é mesmo tal e qual o texto original
ou, como tem acontecido algumas vezes, a opinião de seus tradutores? E que homens eram esses que pensavam estar agradando a Deus com sacrifícios humanos, em que
a "oferta" eram seus próprios filhos?
2 Reis 22,14: Então o sacerdote Hilquias, Aicão, Acbor, Safã e Asaías foram ter com a profetisa Hulda, mulher de Salum, o guarda-roupa, filho de Ticvá, filho
de Harás, e lhe falaram. Ela habitava na Cidade Baixa de Jerusalém.
Só raramente Deus falava à nação através de uma mulher (cf. Miriã, Êx 15 e Débora, Jz 5).
Comentários: Deus era machista ou o povo daquela época é que o era? Com absoluta certeza, eram os homens; assim é que, na verdade, eles não deixavam as mulheres
profetizarem, pois, para eles, elas lhes eram inferiores, o que nos demonstra que, às vezes, a Bíblia, é mais fruto de homens do que de Deus.
Jó 2,7: Então saiu Satanás da presença do SENHOR, e feriu Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até o alto da cabeça.
Tumores malignos. A segunda prova dirigida por Satanás contra Jó foi um ataque contra a sua pessoa (cf. nota em 1:22). A doença de Jó era caracterizada por
vários sintomas: toda a sua pele foi afetada (v. 7), sofreu de prurido generalizado (v. 8) e foi acometido de intensas dores (v.13). Sua pele putrefata atraía vermes
e acabava criando uma crosta escura e purulenta (7:5; 30:30). Jó também sentia febre e dor nos ossos (30:17,30). Ele pode ter sido atacado de elefantíase ou algum
tipo especialmente maligno de câncer na pele. A boa vontade de Deus incluía o sofrimento físico para Jó naquela ocasião, como também acontece a muitos ainda hoje.
Comentários: Essa última frase da nota é o máximo em misericórdia divina! Deus mandando sofrimentos a Jó, sem nenhum motivo que pudesse justificar uma atitude
dessa. Seria boa vontade um juiz condenar à prisão alguém inocente? Seria justo castigar quem não cometeu erro algum? Que justiça é essa, se isso ocorresse? Se não
a aceitamos nem para os homens, como podemos admiti-la para Deus? Como o fanatismo cega as pessoas. É completamente irracional admitir tais coisas!
Jó 2,8-9: Jó, sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se. Então sua mulher lhe disse: Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e
morre.
A esposa de Jó concluiu que ele estava sofrendo porque Deus era injusto – uma explicação popular para o sofrimento, totalmente contrária ao caráter de Deus.
Jó classificou como "loucura" a opinião de sua esposa (v. 10). Muitas pessoas chegam à mesma conclusão por observarem apenas a evidência empírica (aquela obtida
por simples observação). A não ser que concederemos também a evidência da revelação (aquela que vem de Deus), é provável que cheguemos ao mesmo raciocínio a que
a esposa de Jó chegou.
Comentários: Não há outra alternativa, pois, muitas vezes, não encontramos explicação para o nosso sofrimento. É muito fácil falar que Deus é justo, quando
o sofrimento não está acontecendo conosco. Perguntaríamos onde está a justiça divina no caso de uma criança nascer cega ou aleijada, ou sem braços e pernas, ou quando
a morte a leva precoce ao túmulo? Como explicar tais fatos, à luz da razão, tomando-se como base a justiça divina, segundo o conceito das religiões tradicionais?
Entretanto, se entendermos que a Lei de Causa e Efeito nos coloca novamente num corpo físico, pela reencarnação, para quitarmos nossos débitos perante as Leis Divinas,
aí teremos a justificativa para aceitarmos, com resignação, todos os nossos sofrimentos. Disto se tira que os nossos sofrimentos são apenas reflexos de nossas más
ações em vidas anteriores, ou, em alguns casos, desta atual. E, além disso, se tivermos a certeza, como nós temos, de que o nosso espírito é imortal, e que viveremos
para toda a eternidade, a vida passageira aqui na Terra não representará nada para nós. Idéia que podemos encontrar em Eclo 18,9-10: "A duração de sua vida: cem
anos quanto muito. Ninguém pode prever a hora do último sono para cada um. Como uma gota no mar, um grão de areia, assim são seus poucos anos perante um dia da eternidade".
É a esse entendimento e compreensão que a Doutrina Espírita nos leva, dando-nos as explicações lógicas e racionais sobre o sofrimento e a dor, pelo que ela se constitui
numa bênção para nós, fazendo-nos mais felizes.
Jó 14,13: Quem dera que me escondesses no Seol, que me mantivesses secreto até que a tua ira recuasse, que me fixasses um limite de tempo e te lembrasses
de mim.
No Seol. Hebr.; bish.'óhl; gr.; haí-dei; sir.; ba.shiul; lat.; in.fér.no; isto é, a sepultura comum da humanidade.
Comentários: No Apêndice da Bíblia Tradução Novo Mundo ainda encontramos: "a) Embora se tenham apresentado diversas derivações da palavra hebraica she'óhl,
parece que ela deriva do verbo hebraico ...?? (sha-ál), que significa "pedir" ou "solicitar". Isto indicaria que o Seol é o lugar (não uma condição) que pede ou
exige todos sem distinção, ao acolher os mortos da humanidade. Encontra-se no solo da terra e sempre é associado com os mortos, e refere-se claramente à sepultura
comum da humanidade, ao domínio da sepultura, ... b) Em At 2:27, a citação que Pedro faz do Sal.16:10 mostra que o Hades é o equivalente do Seol, e aplicar-se à
sepultura comum da humanidade (em contraste com a palavra grega tá.fos, uma sepultura individual. A palavra latina correspondente a Hades é in.fér.nus (às vezes
in.fe.rus). Ela significa "o que jaz por baixo; a região inferior, e se aplica também ao domínio da sepultura". Pelas explicações dadas, podemos concluir que tanto
sheol (seol), hades ou inferno possuem o mesmo significado, que seria a sepultura, aquela do cemitério mesmo, lugar para onde vão todos os mortos. Só com o passar
dos anos é que se transformou nesse "inferno", em que os cristãos de hoje acreditam, mas ele é fruto da cultura persa. Podemos afirmar, com absoluta segurança, que
o inferno (como é hoje concebido) não existe. É mantido pela tradição cristã, apenas, como meio de dominar os fiéis.
Jó 34,11: Pois retribuirá ao homem segundo as suas obras, e faz que a cada um toque segundo o seu caminho.
Salmo 28,4: Paga-lhes segundo as suas obras, segundo a malícia dos seus atos; dá-lhes conforme a obra das suas mãos; retribui-lhes o que mereceram.
Salmo 62,12: A ti também, SENHOR, pertence a graça: pois a cada um retribuis segundo as suas obras.
Provérbios 12,14: Cada um se farta de bem pelo fruto da sua boca, e o que as mãos do homem fizerem ser-lhe-á retribuído.
Provérbios 24,12: Se disseres: Não o soubemos, não o perceberá aquele que pesa os corações? Não o saberá aquele que atenta para a tua alma? E não pagará
ele ao homem segundo as suas obras?
Jeremias 17,10: Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das ações.
Comentários: Essas passagens são para meditarmos sobre o que realmente nos salva; seriam as obras? Seria a fé? Seria pertencer a determinada corrente religiosa?
Seria só crer que Jesus é o Senhor? Que cada um possa refletir e tirar suas próprias conclusões sobre a questão da salvação.
Jó 42,12-13: Assim abençoou o SENHOR o último estado de Jó mais do que o primeiro, porque veio a ter catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de
bois e mil jumentas. Também teve outros sete filhos e três filhas.
Jó recebeu duas vezes mais animais do que possuía a princípio (1:2-3), mas apenas um número igual de filhos, já que os dez que haviam morrido (1:19) ele
com certeza esperava rever na ressurreição (cf. 19:26).
Comentários: Estranho que quando Deus restitui a Jó o que lhe havia sido retirado, dobre apenas os bens materiais que antes possuía; mas, em relação aos
filhos, é mantida a mesma quantidade. Será que os bens materiais têm mais valor que os filhos? Será mesmo que Jó tinha certeza na ressurreição? Leiamos o que diz
o tradutor da Bíblia do Peregrino (Católica) ao comentar Jó 19,25-27: "Mas é terrível observar que exatamente essas palavras do livro sejam para nós tão obscuras.
O texto hebraico está mal conservado, talvez por manipulação intencional; os tradutores antigos ensaiaram leituras diferentes do texto, como profissão de fé na ressurreição
(Jerônimo) ou negando tal interpretação (Crisóstomo), e os comentaristas modernos, em vez de entrar em acordo, tendem a multiplicar ou diferenciar as explicações.
Trata-se claramente da justificação que, apesar de tudo, Jó espera. Ou será que apenas deseja uma justificação antes de morrer ou depois da morte? No segundo caso,
terá consciência dela estando morto, ou ressuscitará para recebê-la? No último caso, pensa numa ressurreição pessoal ou na ressurreição universal de que falam Dn
e Sab? O livro não pensa na ressurreição, a exclui: 3,11-22; 7,9-10; 10,18-22; 16,11; 17,1.13; 21,23-26. Por outro lado, em sua sede de justiça, Jó expressa às vezes
uma esperança paradoxal, até nos momentos em que se entrega à morte, sobretudo no cap. 16, que se liga com o presente. (...)". (p. 1097). Na visão de outro tradutor,
o Pe. Matos, lemos: "... Aqui não se pode falar em uma ressurreição própria e verdadeira, pois, em tal caso, se destruiria toda a problemática do livro. O que se
exprime é antes, 'a fé absoluta no triunfo de Deus sobre toda injustiça, mesmo que para isso fosse necessário arrancar os mortos do sepulcro. ...'" (Paulinas, p.
592). Particularmente entendemos que na realidade o livro não trata da ressurreição, por duas razões: primeira - é que, seguindo a idéia contida nas benções e maldições
relativas aos dez mandamentos, não se acreditava em vida futura; por isso, Jó recebe recompensa nesta vida, bens duplicados e outros filhos. Segundo - ainda dentro
dessa idéia de recompensa, Jó vive ainda mais cento e quarenta anos. Assim, mantém-se a crença de que quem está nas graças de Deus tem vida longa e muitos bens;
tudo para essa vida, já que não era ainda corrente a idéia de vida futura no plano espiritual.
Salmo 6,4-5: Volta-te, SENHOR, e livra a minha alma; salva-me por tua graça. Pois na morte não há recordação de ti; no sepulcro quem te dará louvor?
Davi não está tratando da questão de haver ou não consciência após a morte; está simplesmente afirmando que somente os vivos podem publicamente dar graças
a Deus aqui na Terra.
Salmo 115,17: Os mortos não louvam o SENHOR, nem os que descem à região do silêncio.
Embora seja verdade que os santos do Antigo Testamento tivessem muito pouca revelação com respeito à vida depois da morte, passagens como esta não devem
ser vistas como ensino do cessar da existência nem de um estado de inconsciência e inatividade após a morte. O que se afirma é que os mortos deixaram a esfera de
atividades terrenas, das quais a mais elevada era louvar o Senhor.
Comentários: Passagens como essas são utilizadas para dizer que os mortos não voltam jamais e nem se pode comunicar com eles. Entretanto, observamos claramente
que o sentido destas passagens é o que realmente consta nesta nota. Algumas correntes religiosas também as usam para dizerem que, depois da morte, o espírito não
terá mais consciência de si mesmo. Se não, por que temos que nos preocuparmos em sermos a cada dia melhores? Como divergem as religiões na interpretação dos textos
sagrados... O que uma admite como verdade a outra não; vemos até, entre elas, as que possuem argumentos que podemos utilizar contra nossos detratores. Devemos convir
que a verdade não comporta dois caminhos, ela é uma só.
Salmo 9,5-6: Repreendes as nações, destróis o ímpio, e para todo o sempre lhes apagas o nome. Quanto aos inimigos, estão consumados, suas ruínas são perpétuas,
arrasaste as suas cidades; até a sua memória pereceu.
Estes versículos ensinam que os ímpios deverão ser punidos para sempre.
Comentários: Será que Davi aqui está se referindo à vida futura? Com certeza não, pois da vida futura não tinha a menor idéia; achava que tanto os justos
quanto os ímpios iriam para o mesmo lugar, o sheol. Mas vamos supor que esteja falando da eternidade das penas. Como a justiça de Deus não pode dar ao pecador um
castigo acima de seu pecado, assim a nossa pena poderia ir somente até à quantidade de anos que passamos pecando, pois, fora deste limite, seria injusto. Perguntamos:
seria justo condenar um pecador, que tenha vivido 100 anos, a 1000 anos ou a 1.000.000.000 de anos no inferno? Ou à eternidade no inferno? Se isto for justiça para
alguns, para nós, que queremos a lógica e a razão em todas as explicações, não! E muito menos para Deus; ou Ele seria um demagogo que ensina para nós uma coisa,
e Ele mesmo faz outra?
Salmo 16,9-10: Alegra-se, pois, o meu coração, e o meu espírito exulta; até o meu corpo repousará seguro. Pois não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás
que o teu Santo veja corrupção.
Salmo 71,20: Tu, quem me tens feito ver muitas angústias e males, me restaurarás ainda a vida, e de novo me tirarás dos abismos da terra.
Restaurarás a vida não se trata de uma referência à ressurreição, mas à libertação de sua presente angústia.
Salmo 89,18-19: Pois ao SENHOR pertence o nosso escudo, e ao Santo de Israel, o nosso rei. Outrora falaste em visão aos teus santos, e disseste: A um herói
concedi o poder de socorrer; do meio do povo exaltei um escolhido.
Teus santos. Se o termo for singular (como ocorre em algumas versões), trata-se de uma referência a Davi; se no plural, refere-se aos profetas Samuel e Natã.
Comentários: No primeiro texto, é bem claro que já se formou a convicção de que a alma é imortal, que ela não verá a corrupção, que é o destino apenas do
nosso corpo físico. No segundo, não se trata, como querem, de libertação da angústia; assim, o "restaurarás ainda a vida e de novo me tirarás dos abismos da terra"
é o conceito, ainda que não muito forte, da reencarnação; só não vê quem não quer. E isso fica mais evidente, pois dizem que a ressurreição bíblica é no final dos
tempos. O último texto nós colocamos para encontrarmos o significado de Santo, colocado no primeiro texto.
Salmo 103,8-10: O SENHOR é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira. Não nos
trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades.
Comentários: Se a turma adepta da eternidade das penas tivesse lido esta passagem, com certeza não diria tamanho absurdo com relação à justiça Divina. Vejam
bem: se Deus é "misericordioso e compassivo, longânimo e assaz benigno", não há a mínima possibilidade de nosso castigo ser eterno. Mais claro isso fica, quando
se diz que Deus "não repreende perpetuamente e nem conserva para sempre a sua ira", demonstrando que acima de tudo está a Sua misericórdia. Não bastasse isso, completa
o texto que Deus não nos castiga consoante as nossas iniqüidades. Devemos, portanto, ter que aceitar que existe um castigo, sim; entretanto, esse castigo não será
eterno. Mas como ficam as religiões que usam do castigo eterno como um meio de fazer com que seus adeptos "doem espontaneamente" o seu dízimo? Acabou-se a maracutaia!
Provérbios 2,6-8: Porque o SENHOR dá a sabedoria, da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos, e escudo
para os que caminham na sinceridade, guarda as veredas do juízo e conserva o caminho dos seus santos.
A sabedoria é um dom divino, não o simples resultado de esforço ou capacidade humanos (cf. 1 Rs 3:9 ss.; Tg 1:5).
Provérbios 4,7: O princípio da sabedoria é: Adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis adquire o entendimento.
O primeiro passo para adquirir a sabedoria é determinar-se a consegui-la e esforçar-se para isso.
Comentários: Afirmam que dentre os atributos de Deus temos a Justiça, que seria eqüidade moral, imparcialidade no trato com Suas criaturas. Entretanto, se
contradizem a todo o momento, mostrando quase sempre um Deus parcial, como o caso das notas em questão. Não seria mais justo dizer que todos nós podemos adquirir
a sabedoria, bastando para isto que empreendamos nossos esforços em estudar muito para ampliarmos nossos conhecimentos e, assim, a nossa compreensão das Leis Divinas
chegará ao seu mais alto grau? Enfim, é uma coisa que todos nós podemos ter, dependendo unicamente de nosso próprio esforço. A reencarnação está aí também para que
isto se cumpra, pois um mestre sábio de hoje foi um aprendiz de ontem. Comparando-se as duas notas vemos que uma diz que a sabedoria não é resultado de esforço humano;
mas, na outra, dizem para nos esforçarmos para adquiri-la; parece que nem eles mesmos se entendem... Isso só pode mesmo ser o resultado de uma visão com viseiras.
Provérbios 8,22-31: O SENHOR me possuía no início de sua obra, antes de suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio,
antes do começo da terra. Antes de haver abismos, eu nasci, e antes ainda de haver fontes carregadas de águas. Antes que os montes fossem firmados, antes de haver
outeiros, eu nasci. Ainda ele não tinha feito a terra, nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo. Quando ele preparava os céus, aí estava eu: quando
traçava o horizonte sobre a face do abismo; quando firmava as nuvens de cima, quando estabelecias as fontes do abismo; quando fixava ao mar o seu termo, para que
as águas não traspassassem os seus limites; quando compunha os fundamentos da terra; então eu estava com ele e era seu arquiteto, dia após dia era as suas delícias,
folgando perante ele em todo o tempo; regozijando-me no seu mundo habitável, e achando as minhas delícias com os filhos dos homens.
Esta passagem tem sido interpretada cristologicamente, como se apresentasse um quadro do Cristo pré-encarnado, ao invés de simplesmente apresentar o caráter
eterno da sabedoria. Embora Cristo seja a revelação da sabedoria de Deus (1 Co 1:24) e possua todo o conhecimento e sabedoria (Cl 2; 3), não há indicação clara de
que este capítulo fale de Cristo. A passagem revela que a sabedoria é mais antiga que a criação, da qual foi a base (v. 23), que participou da criação como seu artífice
(v. 30), e que se regozijou com a criação do universo (vv. 30-31).
Comentários: Não podemos negar que, implicitamente, poderia estar revelando o caráter eterno da sabedoria; entretanto, também está no texto um "eu" participando
de tudo. Sabemos ser muito difícil compreender esse outro sentido, principalmente para quem não tem a convicção de que Deus vem criando os espíritos desde um tempo
que se perde na eternidade. Assim, antes mesmo de criar a Terra, eles, os espíritos, já existiam; por isso consta este "eu" do texto. Mas, não somos nós que iremos
fazê-los compreender.
Provérbio 11,15: Quem fica por fiador de outrem sofrerá males, mas o que foge de o ser estará seguro.
Comentários: É muito comum vermos em alguns estabelecimentos comerciais um cartaz com os dizeres: "O Fiado Morreu". Gostaria de ver num banco um cartaz,
bem visível atrás do gerente, com esse provérbio. Será que todos os que seguem a Bíblia, ao pé da letra, cumprem esse provérbio?
Provérbios 31,6-7: Dai bebida forte aos que perecem, e vinho aos amargurados de espírito; para que bebam, e se esqueçam de sua pobreza, e de suas fadigas
não se lembrem mais.
Comentários: Estaria Deus fazendo apologia ao alcoolismo? Não é isso que diz esta passagem? E aí? É para se cumprir essa determinação, ou não? Tamanho disparate
não pode nunca ter vindo sob "inspiração de Deus"; muito menos poderemos dizer ser a "palavra de Deus". Assim, concluímos, pela enésima vez, que nem tudo que consta
da Bíblia provém de Deus. Então, não é à toa que muitos bebuns dizem que bebem para esquecer...
Eclesiastes 9,10: Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem
conhecimento, nem sabedoria alguma.
Salomão acrescenta uma nova dimensão a seus conselhos sobre a vida. Embora boa parte da vida seja fútil, o indivíduo deve apegar-se às oportunidades e usá-las
ao máximo para servir a Deus. Não haverá tais oportunidades na sepultura (cf. Jo 9:4). Todo homem tem uma obra específica, que só poderá ser realizada nesta vida.
Comentários: É impressionante como mudam as traduções, colocando palavras que alteram até o sentido original do texto. Nas traduções Católicas, temos "na
região dos mortos" ou "na mansão dos mortos", portanto, diferente desta que diz "no além". É certo que as primeiras é que devem estar corretas, pois dão a entender
na sepultura e não no além. Até na própria nota vemos que é esta a idéia. Dessas mudanças é que se foram formando certos conceitos errôneos sobre a vida depois da
morte, até tornarem-se ponto de fé para algumas correntes religiosas. O além é inerente à vida do espírito, enquanto que a sepultura é o destino do corpo morto.
Isaías 14,12: Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!
Estrela da manhã: lit., o luminoso, evidentemente uma referência a Satanás, por causa da descrição semelhante feita por Cristo (Lc 10;18) e por causa da
impropriedade das expressões de Is 14: 13-14 nos lábios de qualquer outro a não ser Satanás (cf. 1 Tm 3:6).
Isaías 14, 13-14: Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei,
nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.
Cinco frases com o sujeito na primeira pessoa detalham o pecado de Satanás. Ele queria ocupar o céu, a morada do próprio Deus. Exaltar o seu trono acima
das estrelas de Deus pode ser uma referência ao seu desejo de governar todos os seres angelicais, ou simplesmente outra maneira de indicar sua auto-exaltação. Norte.
Na literatura pagã, o Norte indicava a morada dos deuses; assim, Satanás ambicionava governar o universo como o conselho (congregação) dos deuses babilônicos supostamente
fazia. Ele queria a glória que pertencia somente a Deus (quanto a nuvens, veja 19:1; Êx 16:10) e o seu objetivo total era ser semelhante ao Altíssimo (heb., Elyon;
veja a nota sobre Gn 14:18).
Comentários: Já falamos várias vezes que temos muitas interpretações da Bíblia "à moda da casa". Vemos que, em certos casos, pegam, simplesmente, parte de
um texto para daí tirar suas "verdades", esquecendo-se de verificar o seu contexto que, muitas vezes, não tem nada a ver com o que afirmam. Vejamos, então, estas
duas passagens. Vamos ao início do texto, para ver do que se trata. No esboço que fazem do Livro de Isaías, encontramos: "II – Denúncia contra Outras Nações 13:1
– 23:18, A. Contra Babilônia 13:1 – 14:23". Os textos em exame se encontram dentro deste contexto, ou seja, Isaías faz denúncia contra a Babilônia, que se inicia
em 13,1 narrando: "Sentença, que, numa visão, recebeu Isaías, filho de Amoz, contra a Babilônia" e mais à frente em 14,3-4: "No dia em que Deus vier a dar-te descanso
do teu trabalho, das tuas angústias e da dura servidão com que te fizeram servir, então proferirás este motejo contra o rei da Babilônia, e dirás: Como cessou o
opressor! Como acabou a tirania!". Segue então o texto até o versículo 23, onde termina este motejo (Aurélio: zombaria). A narrativa deverá ser entendida, assim:
Isaías, numa visão, prevê que o povo judeu será libertado do jugo dos babilônicos e, naquela ocasião, Deus o manda zombar do rei da Babilônia, dizendo-lhe uma sátira,
que se refere especificamente a este rei; nada mais. Nesta sátira é que estão os trechos que estamos analisando. Assim, não tem nada com satanás; é somente uma interpretação
pessoal bem longe do sentido do texto. Mas, para os que gostam de ver satanás em tudo, também o encontraram aí. E ainda dizem ser suas interpretações fiéis ao texto
original!...
Isaías 44,8: Não vos assombreis, nem temais; acaso desde aquele tempo não vo-lo fiz ouvir, não vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas. Há outro Deus
além de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça.
Isaías 44,24: Assim diz o SENHOR, que te redime, o mesmo que te formou desde o ventre materno: Eu sou o SENHOR que faço todas as cousas, sozinho estendi
os céus, e sozinho espraiei a terra.
Isaías 46, 9: Lembrai-vos das cousas passadas da antiguidade; que eu sou Deus e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim.
Comentários: Se Deus é um só, como explicar a Trindade? Se a Trindade fosse verdadeira, não seria o caso de se dizer claramente em alguma dessas passagens?!
Na verdade, a Trindade é cópia do que se tinha no paganismo. Todos os povos que dominaram os hebreus possuíam três deuses, provando que se trata apenas de aculturação
de tradições pagãs.
Jeremias 1,5: Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses da madre, te consagrei e te constituí profeta às nações.
Jeremias foi separado por Deus para seu ministério profético ainda antes de nascer.
Comentários: Se Deus conheceu Jeremias antes que ele fosse formado no ventre materno, é porque Jeremias já existia, o que vem a comprovar a pré-existência
do espírito. Se Deus o consagra profeta, é porque já conhecia as suas qualidades, e sabia que Jeremias daria conta dessa missão. Como se vê, até o próprio tradutor
reconhece a preexistência do espírito ao dizer que "Jeremias foi separado", já que não se separa o que não existe, certo?!
Ezequiel 28,11-13: Veio a mim a palavra do SENHOR dizendo: Filho do homem, levanta lamentações contra o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus;
Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias; o sárdio, o topázio, o diamante,
o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado foram eles preparados.
Rei de tiro. Esta passagem (vv.11-19), com suas referências sobre-humanas, aparentemente descreve alguém distinto do príncipe humano de Tiro, especificamente
Satanás. Se for este o caso, os privilégios especiais de Satanás são descritos nos versículos 12-15 e seu julgamento nos versículos 16-19. Sinete da perfeição, i.e.,
Satanás era a consumação da perfeição em sua sabedoria e beleza originais.
Ezequiel 28,14: Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas.
Satanás havia ocupado um lugar especial de proeminência na guarda do trono de Deus (cf. Êx. 25:20).
Ezequiel 28,15: Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti.
Perfeito. No sentido de ser íntegro e moralmente sadio. Por criação Satanás era perfeito, mas o orgulho foi a razão de sua queda (1 Tm 3:6: Is 14:13-14).
Comentários: Passagens cujos argumentos poderiam também ser retirados dos comentários que fizemos em Is 14, item anterior. Só que aqui acontece uma lamentação
ao rei de Tiro; não poderia, portanto, ser colocado satanás no meio. Se não entenderam o que queria dizer tal lamentação, não lhe atribuam significado algum, já
que não sabem do que se está falando. Satanás parece ser uma obsessão para essas pessoas, pois, em qualquer coisinha, lá está ele. Não seria o caso daquele ditado
popular que diz: "Que o diabo só aparece para quem tem medo dele"? Além do mais, se dizem que ele foi criado perfeito, é irracional dizer que ele tenha caído por
orgulho, pois este sentimento inferior não se coaduna com a perfeição. Ou teremos que admitir que, apesar de Deus o ter criado perfeito, algo saiu errado e ele,
satanás, saiu com algum "defeito de fabricação"; não é mesmo?!
Jonas 1,7: E diziam uns aos outros: Vinde e lancemos sortes, para que saibamos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu
sobre Jonas.
Lançar sortes pela mistura de pequenas pedras num recipiente e pela extração de uma delas, era uma forma popular de adivinhação, usada tanto pelos pagãos
quanto pelos próprios hebreus (Lv 16:8; Js 18:6; 1 Sm 14:42; Ne 10:34, At 1:23-26).
Comentários: Pena que aqui não foram tão claros quanto se deveria ser, pois as sortes eram tiradas com as pedras sagradas - Urim e Tumim -, que já comentamos
anteriormente. Interessante que aqui está se fazendo uma comparação com uma forma popular de adivinhação. Realmente, nada mais era que isso. Pensar que a vontade
de Deus estaria expressa na pedra tirada do recipiente é de uma infantilidade que não merece nem mais comentários.
Sofonias 1,2-3: De fato consumirei todas as cousas sobre a face da terra, diz o SENHOR. Consumirei os homens e os animais, consumirei as aves do céu, e os
peixes do mar, e as ofensas com os perversos;.e exterminarei os homens de sobre a face da terra, diz o SENHOR.
Zacarias 13,8: Em toda a terra, diz o SENHOR, dois terços dela serão eliminados, e perecerão; mas a terceira parte restará nela.
Comentários: Se acontecer o que prevê Sofonias, estamos fritos! Pois Deus vai exterminar tudo. Como Ele fará isso? Para nosso consolo, não deverá ser com
água, pois, após o dilúvio, prometeu não mais arrasar a Terra com água. Ainda bem, já que temos pavor de morrer afogado. Por outro lado, há uma contradição entre
as duas passagens, pois em uma se diz que exterminará tudo e, em outra, já diz que somente dois terços serão eliminados; parece que não há uma decisão divina quanto
ao que nos irá fazer, não é mesmo? Sabemos que irá dizer que Deus não é indeciso, com o que concordamos; então, temos que concluir que os autores bíblicos colocaram
na "boca" de Deus palavras que Ele nunca pronunciou. Isso é fato. Entretanto, como fica a "inerrância" da Bíblia?
Malaquias 3,6: Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.
Comentários: Em várias passagens da Bíblia, podemos ver Deus mudando de opinião, o que contradiz essa passagem. Seria isso mesmo, se atribuirmos tais coisas
a Deus. Entretanto, como não somos fanáticos a tal ponto, ficamos com a opinião inquestionável de que Deus não muda. Com relação às aparentes mudanças de atitudes
que podemos encontrar, trata-se apenas de pensamentos pessoais dos autores bíblicos, nada mais.
Levítico 19,31:
Mundo Cristão: Não vos voltareis para os necromantes, nem para os adivinhos; não os procureis para serdes contaminados por eles: Eu sou o SENHOR vosso Deus.
Recorrer a um médium ou adivinho era uma demonstração de falta de fé em Deus.
Tradução do Novo Mundo: Não vos vireis para médiuns espíritas e não consulteis prognosticadores profissionais de eventos, de modo a vos tornardes impuros por
eles. Eu sou Jeová, vosso Deus.
"Médiuns espíritas". Agentes usados como instrumentos dum demônio de adivinhação. LXX; "ventríloquos"; lat. Má-gos, "astrólogos".
Comentários: Essa passagem nós já comentamos, quando falamos sobre a Bíblia Católica. Mas é necessário voltarmos a ela, novamente, para que todos nossos
leitores possam ver o que fazem da Bíblia. Vejamos algumas justificativas que encontramos nas introduções das Bíblias citadas, pela ordem; a) "procuramos manter
– ao longo da tradução e da revisão – estrita fidelidade ao texto original"; b) "Evitou-se tomar liberdades com os textos apenas com o fim de ser mais conciso, ou
substituí-los por algum paralelo moderno quando a tradução literal do original tem sentido claro. Manteve-se a uniformidade de tradução por atribuir um só sentido
a cada palavra principal e por reter este sentido tanto quanto o contexto permitiu". Entretanto, fazem justamente o contrário, pois a Bíblia não poderia referir-se
a médiuns, Espíritas, já que são neologismos criados por Kardec em 1857. E, para reforçar mais ainda essa adulteração vergonhosa, cujo objetivo específico é denegrir
o Espiritismo, citamos Severino Celestino da Silva, autor do livro "Analisando as Traduções Bíblicas", que diz: "Um detalhe deveras interessante é que, nos dicionários
das línguas hebraica, grega e latina nem existe a palavra Espiritismo"; via de conseqüência, também não esistem os termos - médiuns e espíritas -, colocados como
se fossem palavras do texto original. Para localizarmos alguns textos, em que aparece a palavra Espiritismo, teremos que adiantar nosso estudo, e ir ao Novo Testamento.
Vejamo-los: a) Gálatas 5,19-21: "Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são fornicação, impureza, conduta desenfreada, idolatria, prática de espiritismo,
inimizades, rixa, ciúme, acessos de ira, contendas, divisões, seitas, invejas, bebedeiras, festanças e coisas semelhantes a estas. Quanto a tais coisas, aviso-vos
de antemão, do mesmo modo como já vos avisei de antemão, de que os que praticam tais coisas não herdarão o reino de Deus"; b) Revelação 21,7-8: "Todo aquele que
vencer herdará estas coisas, e eu serei o seu Deus e ele será o meu filho. Mas, quanto aos covardes, e aos que não têm fé, e aos que são repugnantes na sua sujeira,
e aos assassinos, e aos fornicadores, e aos que praticam o espiritismo, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, terão o seu quinhão no lago que queima com fogo
e enxofre. Este significa a segunda morte". Nota: "Aqueles que praticam o espiritismo" ou "feiticeiros". c) Revelação 22,15: "Lá fora estão os cães e os que praticam
o espiritismo, e os fornicadores, e os assassinos, e os idólatras, e todo aquele que gosta da mentira e a pratica". Nota: "Os que praticam o espiritismo" ou "feiticeiros".
Em Gálatas as concordâncias bíblicas citadas são: "Lv 19:26; Lv 19:31 e Dt 18:11", daí estarmos citando também essas passagens. Colocar o Espiritismo no mesmo nível
de adivinhação e feitiçaria não podemos conceber mais como fruto de ignorância, mas como má-fé mesmo; não há outra saída. Na questão da adivinhação, provamos que
as consultas que faziam a Deus eram por meio das "sortes sagradas". Trata-se nada mais nada menos de que um processo de adivinhação. O que podemos dizer é que todos
os "homens de Deus" do Antigo Testamento faziam adivinhação. E perguntamos: esses adivinhadores foram para o "lago que queima com fogo e enxofre"?
Jó 4,15-16:
Mundo Cristão: Então um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos do meu corpo; parou ele, mas não lhe discerni a aparência; um vulto estava
diante de meus olhos; houve silêncio, e ouvi uma voz:
Vozes: Um sopro roçou-me o rosto e provocou arrepios por todo o corpo. Estava parado – mas não vi seu rosto – qual fantasma diante dos olhos, um silêncio...
depois ouvi uma voz:
Pastoral (Paulus): Um vento passou pelo meu rosto e me provocou arrepios por todo o corpo. Eu estava de pé, mas não vi quem era. Uma figura apareceu diante
de mim, houve um silêncio, e depois ouvi uma voz:
Barsa: E ao passar diante de mim um espírito, os cabelos da minha carne se arrepiaram. Parou diante um, cujo rosto eu não conhecia, um vulto diante dos meus
olhos, e ouvi uma voz como de branda viração.
Comentários: As Bíblias Católicas das Editoras: Ave Maria, Paulus (Bíblia de Jerusalém), traduzem o termo para "um sopro", a Pastoral (Paulus), dá-nos o termo
"um vento", cujos significados sabemos não se tratar de uma mesma coisa, embora, segundo exegetas bíblicos, esses termos possam ter tais significados. Entretanto,
caberia ao tradutor ver qual se enquadra melhor no contexto. Assim, nos parece, que na passagem em questão colocaram o significado que melhor lhes convinha, principalmente,
para fugir da palavra "espírito", para não ligá-la ao Espiritismo, já que é muito comum os leigos, nessa matéria, estabelecerem uma certa relação entre situações
em que ocorrem manifestações de espíritos com o Espiritismo.
Deuteronômio 21,18-21:
Ave Maria: Se um homem tiver um filho indócil e rebelde, que não atende às ordens de seu pai nem de sua mãe, permanecendo insensível às suas correções, seu
pai e sua mãe tomá-lo-ão e o levarão aos anciãos da cidade, à porta da localidade onde habitam, e lhes dirão: Este nosso filho é indócil e rebelde; não nos ouve,
e vive na embriaguez e na dissolução. Então, todos os homens da cidade o apedrejarão até que ele morra. Assim tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel, ao sabê-lo,
será possuído de temor.
Vozes: Se alguém tiver um filho desobediente e rebelde que não quer atender à voz de pai nem de mãe e, mesmo castigado, se obstinar em não obedecer, os pais
o conduzirão aos anciãos da cidade até o tribunal local, e lhes dirão: Este nosso filho é desobediente e rebelde. Não quer obedecer à nossa voz, é um devasso e bêbado.
Então todos os homens da cidade o apedrejarão assim extirparás o mal de teu meio, e ao sabê-lo, todo o Israel temerá.
Pastoral: Se alguém tiver um filho rebelde e incorrigível, que não obedece ao pai e à mãe e não os ouve, nem quando o corrigem, o pai e a mãe o pegarão e
o levarão aos anciãos da cidade para ser julgado. E dirão aos anciãos da cidade: 'Este nosso filho é rebelde e incorrigível: não nos obedece, é devasso e beberrão.
E todos os homens da cidade o apedrejarão até que morra. Desse modo, você eliminará o mal do seu meio, e todo o Israel ouvirá e ficará com medo.
Paulinas – Se um homem tiver gerado um filho contumaz e rebelde, que não atende às ordens do pai ou da mãe, e castigado desdenha obedecer, pegarão nele e
o conduzirão aos anciãos daquela cidade, à porta do juízo, e lhes dirão: Este nosso filho é um rebelde e contumaz, despreza ouvir as nossas admoestações, passa a
vida em comezainas, em dissoluções e banquetes. O povo da cidade o apedrejará, ele morrerá, para que tereis o mal do meio de vós, e todo o Israel, ouvindo isso,
tema.
Mundo Cristão: Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e à de sua mãe, e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos, pegarão
nele seu pai e sua mãe e o levarão aos anciãos da cidade, à sua porta, e lhes dirão: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz: é dissoluto
e beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; assim eliminarás o mal do meio de ti: todo o Israel ouvirá e temerá.
Tradução do Novo Mundo: Caso um homem tenha um filho obstinado e rebelde, que não escuta a voz de seu pai nem a voz de sua mãe, e eles o tenham corrigido,
porém, ele não os queira escutar, então seu pai e sua mãe têm de pegar nele e trazê-lo para fora aos anciãos da cidade dele e ao portão do seu lugar, e têm de dizer
aos anciãos da cidade: "Este filho nosso é obstinado e rebelde; não escuta a nossa voz, sendo glutão e beberrão. Então todos os homens da sua cidade têm de atirar
nele pedras e ele tem de morrer. Assim tens de eliminar o mal do teu meio, e todo o Israel ouvirá e deveras ficará com medo".
Deuteronômio 32,22:
Ave Maria: Sim, acendeu-se o fogo da minha cólera, que arde até o mais profundo da habitação dos mortos; devora terra e os seus produtos, e consome os fundamentos
das montanhas.
Vozes: Já se acendeu o fogo de minha cólera, que arderá até às profundezas da terra, devorará a terra com seus produtos e consumirá os fundamentos das montanhas.
Pastoral: O fogo de minha ira está ardendo e vai queimar até a mansão dos mortos; vai devorar a terra e seus produtos, e abrasar o alicerce das montanhas.
Paulinas: Um fogo se acendeu no meu furor, e arderá até ao fundo da habitação dos mortos, devorará a terra com todos os seus germes e abrasará os fundamentos
das montanhas.
Mundo Cristão: Porque um fogo se acendeu no meu furor, e arderá até ao mais profundo do inferno, consumirá a terra e suas messes, e abrasará os fundamentos
dos montes.
Tradução do Novo Mundo: Pois, na minha ira ascendeu-se um fogo, e ele arderá até o Seol, o lugar mais baixo, e consumirá a terra e a sua produção, e incendiará
os alicerces dos montes.
Eclesiastes 9,10:
Ave Maria: Tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos para onde vais, não há mais trabalho,
nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria.
Vozes: Tudo o que fazes, faze-o em teu pleno vigor, porque não há atividade nem plano nem ciência nem sabedoria na mansão dos mortos, para onde vais.
Pastoral: Tudo o que você puder fazer, faça-o enquanto tem forças, porque no mundo dos mortos, para onde você vai, não existe ação, nem pensamento, nem ciência,
nem sabedoria.
Paulinas: Faze com presteza tudo quanto pode fazer a tua mão, porque na sepultura, para onde te precipitas, não haverá nem obra, nem razão, nem sabedoria,
nem ciência.
Mundo Cristão: Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento,
nem sabedoria alguma.
Tradução do Novo Mundo: Tudo o que a tua mão achar para fazer, faze-o com o próprio poder que tens, pois não há trabalho, nem planejamento, nem conhecimento,
nem sabedoria no Seol, o lugar para onde vais.
Comentários: Esses textos são para que vejamos a questão das traduções, onde cada um tem a sua. Temos, então, as traduções "à moda da casa", onde cada uma
das correntes religiosas faz a sua. Todas elas juram que a sua é a única verdadeira e está sempre "conforme aos textos originais". Se a fonte for a mesma, não se
justificam tantas diferenças, não acham? Aliás, cada editora parece fazer questão de ter a sua própria tradução, de algum modo diferente de outras editoras, mas,
sempre, "conforme os textos originais"...
NOVO TESTAMENTO
Mateus 1,1: Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
O nome "Jesus" vem da forma grega e latina do hebraico "Jeshua" (Josué), que significa "o Senhor é Salvação". "Cristo" vem da palavra grega para "Mashiah"
(Messias), que significa "ungido". Filho de Davi, era um título messiânico muito popular naquela época. Esta genealogia segue a linhagem de José, o pai legal (embora
não natural) de Jesus, e estabelece a validade de Sua reivindicação e Seu direito ao trono de Davi (1-6). A genealogia em Lc. 3:23-28 é, evidentemente, a de Maria,
embora algumas pessoas creiam que também é a de José, presumindo que Matã (Mt 1:15) e Matã (Lc 3:24) tenham sido a mesma pessoa e que Jacó (Mt 1:16) e Heli (Lc 3:23)
tenham sido irmãos (sendo um deles o pai de José e o outro seu tio).
Comentários: A genealogia de Jesus é citada em Mateus e Lucas; entretanto, são diferentes entre si. Daí, sentiram a necessidade de explicar que uma está
sendo a de José e a outra de Maria, e que os dois são descendentes de Davi. É muito curioso isto, pois as mulheres daquela época não tinham valor algum. As genealogias
constantes da Bíblia foram sempre colocadas buscando a descendência dos homens e não das mulheres, conforme constatamos na nota da Edições Paulinas, em Mt 1,16:
"Dando a genealogia de José, Mateus segue o costume hebraico de não dar a genealogia das mulheres, mas demonstra sempre que Cristo é filho de Davi, porque também
Maria devia ser da linhagem de Davi para ser sua esposa. De fato, vai com ele inscrever-se em Belém, no recenseamento". Observem que até muito tempo depois da morte
de Jesus, o valor da mulher era insignificante; vejamos: como Paulo em 1Tm 2,11-14 diz: "A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão. E não permito que a mulher
ensine, nem que exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo
enganada, caiu em transgressão", Podem observar que em toda a Bíblia as coisas que acontecem normalmente é um homem que está fazendo. Vejam que, até mesmo os discípulos
de Jesus, eram somente homens.
Mateus 1,16: E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo.
Da qual. A utilização do feminino singular no grego não deixa dúvidas de que Jesus nasceu apenas de Maria, e não de Maria e José. Esta é uma das evidências
mais fortes para o nascimento virginal de Jesus.
Mateus 11,11: Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que
ele.
Gálatas 4,4: Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.
Comentários: Ao se apegarem demais à letra, não percebem que caem em contradição, quando não buscam interpretar em harmonia com toda a Bíblia, como sugerem
que os outros façam com referência às interpretações. Se fôssemos aceitar que Jesus tenha nascido só de Maria, teremos que aceitar, pelo segundo texto, que João
Batista tenha nascido só de mulher. Entretanto, no sentido de dar à luz ou parir temos de convir que até os nossos dias ainda é somente das mulheres que nascem os
filhos. Na Bíblia, em todas as genealogias se diz "gerou" sempre partindo dos homens. Por outro lado, a cultura da época sempre colocava como filho de virgem os
heróis ou os filhos dos deuses da mitologia, coisa que também atribuíram a Jesus. No entanto, Ele diz que não veio para destruir a lei; afinal que leis são essas?
São as leis divinas! Ora, a maneira como somos gerados, ou seja, de um ato sexual entre um homem e uma mulher não é uma das leis divinas? Não vemos até Paulo, ao
se referir a Jesus, dizer: "nascido sob a lei"? E então, por que a dúvida? Talvez porque ainda alguns pensam ser o ato sexual um pecado, hipótese em que Jesus não
poderia ser fruto do pecado. Mas o sexo não foi criado por Deus? Se o tivermos como pecado, teremos que admitir que Deus não foi muito legal conosco, ao colocar
prazer no ato sexual, pois criou algo que inevitavelmente nos arrasta ao pecado, não é mesmo?
Mateus 2,1: Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém.
Mateus 2, 23: E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno.
Lucas 1,26-27: No sexto mês foi o anjo Gabriel enviado da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo homem
da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria.
Lucas 2,3-5: Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada
Belém, por ser ele da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.
Comentários: Aos que dizem ser a Bíblia "inerrante", gostaríamos de que nos explicassem onde, de fato, residia a família de Jesus, pois, pelo relato de Mateus,
a família de Jesus morava em Belém; só depois é que se mudou para Nazaré. Entretanto, Lucas coloca a cidade de Nazaré como se fosse o local onde vivia a sagrada
família, que, posteriormente, teve que ir à Belém, apenas para atender ao decreto do recenseamento. Qual das duas versões é a verdadeira?
Mateus 2,5-6: Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum
a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo, Israel.
Comentários: A profecia que dizem se cumpriu é a de Mq 5,1 (ou 2): "E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti
me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". Entretanto, percebemos que, simplesmente, pegam
parte de um texto que, fora de seu contexto, se aplica muito bem aos seus propósitos, mas a realidade é completamente outra. Para elucidar essa questão, devemos
ver a seqüência da passagem, versículos 2 a 5 (ou 3 a 6): "Portanto os entregará até ao tempo em que a que está em dores tiver dado à luz; então o restante de seus
irmãos voltará aos filhos de Israel. Ele se manterá firme, e apascentará o povo na força do SENHOR seu Deus; e eles habitarão seguros, porque agora será ele engrandecido
até aos confins da terra. Este será a nossa paz. Quando a Assíria vier à nossa terra, e quando passar sobre os nossos palácios, levantaremos contra ela sete pastores
e oito príncipes dentre os homens. Estes consumirão a terra da Assíria à espada, a terra de Ninrode dentro de suas portas. Assim nos livrará da Assíria, quando esta
vier à nossa terra, e pisar os nossos termos". A pessoa de quem se está falando é a que livrará o povo hebreu da Assíria. Nas pesquisas que fizemos, não conseguimos
estabelecer com precisão quem era. O mais provável é que seja Ezequias, filho do rei Acaz, rei de Judá (721-693 a.C.). Atualmente tem-se questionado sobre Jesus
ter nascido em Belém. Há quase um consenso entre os historiadores de que Jesus nasceu em Nazaré, ficando, portanto, nula tal profecia. Ao se falar que suas origens
são deste os tempos antigos, está-se afirmando a preexistência da alma.
Mateus 2,14-15: Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe, e partiu para o Egito; e lá ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora
dito pelo SENHOR, por intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho.
Comentários: Na verdade Oséias ao falar "Quando Israel era menino eu o amei; e do Egito chamei o meu filho" (11,1), não estava dizendo nenhuma profecia, estava
falando do povo de Israel que foi tirado do Egito; é em relação ao povo hebreu que é dito: "do Egito chamei o meu filho". Trata-se, portanto, da libertação do povo
judeu (chamado de Israel ou de meu filho), quando, através de Moisés, Deus tira esse povo da subjugação dos egípcios. E para confirmar isso, vejamos a seqüência
do que diz Oséias (v. 2-11): "Quanto mais eu os chamava, tanto mais se iam da minha presença; sacrificavam a baalins e queimavam incenso às imagens de escultura.
Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os nos meus braços, mas não atinaram que eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; e fui para eles
como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas, e me inclinei para dar-lhes de comer. Não voltarão para a terra do Egito, mas o assírio será seu rei; porque
recusam converter-se. A espada cairá sobre as suas cidades, e consumirá os seus ferrolhos, e as devorará, por causa dos seus caprichos. Porque o meu povo é inclinado
a desviar-se de mim, se é concitado a dirigir-se acima, ninguém o faz. Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como a Admá? Como
fazer-te um Zeboim? Meu coração está comovido dentro em mim, as minhas compaixões à uma se acendem. Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para destruir
a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; não voltarei em ira. Andarão após o SENHOR; este bramará como leão, e bramando, os filhos, tremendo,
virão do Ocidente; tremendo virão, como passarinhos os do Egito, e como pombas os da terra da Assíria, e os farei habitar em suas próprias casas, diz o SENHOR".
Assim, pela narrativa, percebemos que a fala está sendo dirigida ao povo de Israel! Resta alguma dúvida? O que consta do versículo 1, fora desse contexto, modifica
completamente o sentido que se deve dar à expressão "meu filho"; mas isso parece ter sido de propósito, para se dar a idéia de que é a respeito de Jesus que se fala,
já que era esse o objetivo que queriam atingir.
Mateus 2,16-18: Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente, e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois
anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos. Então se cumpriu o que fora dito, por intermédio do profeta Jeremias: Ouviu-se um
clamor em Ramá, pranto (choro) e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem.
Uma citação de Jr 31:15, que descreve a lamentação pelo exílio de Israel. Aquela calamidade e a nova atrocidade de Herodes são vistas como partes de um mesmo
cenário. ...
Comentários: A suposta profecia é citada como sendo Jr 31,15, mas a explicação que encontramos na Bíblia Ed. Ave Maria, diz que "Raquel: mãe de Benjamim e,
por José, avó de Efraim e Manassés, chora os homens dessas tribos levadas para o exílio. Este trecho é citado em Mt 2,18 por acomodação à dor das mulheres, cujos
filhos Herodes massacrara". Observar bem que na expressão "por acomodação" já se denuncia que não é o sentido original do texto. Trata-se aqui do exílio, na Babilônia,
que o povo hebreu está vivendo. Este era o motivo do choro de Raquel, portanto, não é uma profecia a respeito da morte de crianças no tempo de Jesus.
Mateus 2,22-23: Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e, por divina advertência prevenido em sonho,
retirou-se para as regiões da Galiléia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio dos profetas: Ele será chamado
Nazareno.
Comentários: Essa profecia não existe. Vejam a que ponto chegaram: citar uma profecia que não existe, comprovando o que o fanatismo religioso é de longa data.
Nota-se uma nítida preocupação de citar inúmeras profecias na tentativa de identificar Jesus como sendo o Messias.
Mateus 4,1: A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
A intenção de Satanás na tentação era levar Cristo a pecar, frustrando assim o plano de Deus para a redenção do homem, desqualificando o Salvador. O propósito
divino (observe que o foi o Espírito Santo quem conduziu Jesus ao deserto para a tentação) era provar que Seu Filho era sem pecado e, assim, um Salvador digno. É
claro que ele foi realmente tentado; é igualmente claro que Ele era (e permaneceu) sem pecado (2 Co 5:21).
Comentários: No texto não se diz Espírito Santo, mas somente espírito, ou seja, o próprio espírito de Jesus o teria levado ao deserto, lugar onde, naquela
época, acreditavam morar os demônios. Só que existe alguma coisa sem muita coerência nisso. A "Bíblia diz" que: Ninguém, ao ser tentado, diga: "Sou tentado por Deus;
porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta" (Tg 1,13). Como dizem que Jesus é Deus, isso os coloca em contradição, pois conforme se afirma
nessa passagem "Deus não pode ser tentado pelo mal".
Mateus 5,18: Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra.
Nem um i ou um til. O "i" representa um yod, a menor letra do alfabeto hebraico que se parece com um apóstrofo ('). O "til" representa um pequenino traço
que prolongava um lado de certas letras hebraicas para distingui-las de outras. O que o Senhor deseja comunicar é que cada letra de cada palavra do Antigo Testamento
é vital e será cumprida.
Comentários: Ficamos na dúvida. Será que estão querendo dizer que devemos cumprir cada palavra do Antigo Testamento? Considerando que eles as consideram
vitais, presumimos que sim. Então, perguntamos, será que cumprem todas as 613 determinações bíblicas, incluindo essas, por exemplo?...
Gn 17,10-11: Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso
prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós.
Gn 17,14: O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança.
Ex 20,24: Um altar de terra me farás, e sobre ele sacrificarás os teus holocaustos, as tuas ofertas pacíficas, as tuas ovelhas, e os teus bois; em todo o lugar onde
eu fizer celebrar a memória do meu nome, virei a ti, e te abençoarei.
Ex 21,7: Se um homem vender sua filha para ser escrava, esta não lhe sairá como saem os escravos.
Ex 21,12: Quem ferir a outro de modo que este morra, também será morto.
Ex 21,15: Quem ferir a seu pai ou a sua mãe, será morto.
Ex 21,16: O que raptar a alguém, e o vender, ou for achado na sua mão, será morto.
Ex 21,17: Quem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, será morto.
Ex 22,2: Se um ladrão for achado arrombando uma casa, e, sendo ferido, morrer, quem o feriu não será culpado do sangue.
Ex 22,16: Se alguém seduzir qualquer virgem, que não estava desposada, e se deitar com ela, pagará seu dote e a tomará por mulher.
Ex 22,19: Quem tiver coito com animal, será morto.
Ex 31,14: Portanto guardareis o sábado, porque santo é para vós outros; aquele que o profanar morrerá; pois qualquer que nele fizer alguma obra será eliminado do
meio do seu povo.
Ex 34,19: Todo que abre a madre é meu, também de todo o teu gado, sendo macho, o que abre a madre de vacas e de ovelhas.
Lv 11,21-22: Mas de todo o inseto que voa, que anda sobre quatro pés, cujas pernas traseiras são mais compridas, para saltar com elas sobre a terra, estes comereis.
Deles comereis estes: a locusta segundo a sua espécie, o gafanhoto devorador segundo a sua espécie, o grilo segundo a sua espécie, e o gafanhoto segundo a sua espécie.
Lv 19,26: Não comereis cousa alguma com o sangue; não agourareis nem adivinhareis.
Lv 20,10: Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera.
Lv 20,13: Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram cousa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles.
Lv 20,18: Se um homem se deitar com a mulher no tempo da enfermidade dela, e lhe descobrir a nudez, descobrindo a sua fonte, e ela descobrira a fonte do seu sangue,
ambos serão eliminados do meio do seu povo.
Lv 21,9: Se a filha dum sacerdote se desonra, prostituindo-se, profana a seu pai: com fogo será queimada.
Lv 26,7: Perseguireis os vossos inimigos, e cairão à espada diante de vós.
Dt 21,18-21: Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e à de sua mãe, e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos, pegarão nele
seu pai e sua mãe e o levarão aos anciãos da cidade, à sua porta, e lhes dirão: Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz: é dissoluto e
beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; assim eliminarás o mal do meio de ti: todo o Israel ouvirá e temerá.
Dt 23,1: Aquele a quem forem trilhados os testículos, ou cortado o membro viril, não entrará na assembléia do SENHOR.
Dt 23,2: Nenhum bastardo entrará na assembléia do SENHOR; nem ainda a sua décima geração entrará nela.
Dt 25,11-12: Quando brigarem dois homens, um contra o outro, e a mulher de um chegar para livrar o marido da mão do que o fere, e ela estender a mão, e o pegar pelas
suas vergonhas, cortar-lhe-ás a mão: não a olharás com piedade.
A lista ficará muito longa... Assim, é melhor pararmos por aqui.
Mateus 8,16: Chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele meramente com a palavra expeliu os espíritos, e curou todos os que estavam doentes.
Marcos 7,24-26.30: Levantando-se, partiu dali para as terras de Tiro (e Sidom). Tendo entrado numa casa, queria que ninguém o soubesse, no entanto não pôde
ocultar-se, porque uma mulher, cuja filhinha estava possessa de espírito imundo, tendo ouvido a respeito dele, veio e prostrou-se lhe aos pés. Esta mulher era grega,
de origem siro-fenícia, e rogava-lhe que expelisse de sua filha o demônio. Voltando ela para casa, achou a menina atirada sobre a cama, pois o demônio a deixara.
Atos 16,16-18: Aconteceu que, indo nós para o lugar de oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador, a qual adivinhando, dava
grande lucro aos seus senhores. Seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens são servos de Deus Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação. Isto
se repetia por muitos dias. Então Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo eu te mando: Retira-te dela. E ele na mesma hora saiu.
Espírito adivinhador. A jovem estava possuída por demônio e era explorada por seus donos (v. 19).
Comentários: Poderemos ver também, em muitas outras passagens, como esta, a ação dos espíritos malignos, cujo sinônimo era demônio, conforme se comprova
nos textos. Temos neles a confirmação da influência espiritual exercida pelos espíritos, não importando que nome possam atribuir a eles, fatos confirmados pela Doutrina
Espírita. Sabemos que as duas classes de seres espirituais, anjos e demônios, citadas inúmeras vezes na Bíblia são, na realidade, espíritos, divididos em duas categorias:
a dos bons, que seriam os chamados anjos pelas outras correntes religiosas; e a dos maus, entendidos pelos que não seguem o Espiritismo como sendo os demônios. Falamos
a mesma coisa; somente usamos nomes diferentes. A confirmação de que anjos e espíritos são a mesma coisa encontramos em Hb 1,13-14: "Ora, a qual dos anjos jamais
disse: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés? Não são todos eles espíritos ministradores enviados para serviço,
a favor dos que hão de herdar a salvação"? Observem: "anjos são todos eles espíritos"! Qual a dúvida, então?
Mateus 8,28: Tendo ele chegado à outra margem, á terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados, saindo dentre os sepulcros, e a tal ponto
furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho.
Marcos 5,1-3: Entrementes chegaram à outra margem do mar, à terra dos gerasenos. Ao desembarcar, logo veio dos sepulcros, ao seu encontro, um homem possesso
de espírito imundo, o qual vivia nos sepulcros, e nem mesmo com cadeias alguém podia prendê-lo.
Lucas 8,26-27: Então rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia. Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios
que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros.
Comentários: Mateus diz tratar-se de dois endemoninhados, ao passo que Marcos e Lucas dizem ser apenas um. Afinal, em qual das narrativas podemos identificar
a que foi verdadeiramente "inspirada por Deus"?
Mateus 9,1-2: Entrando Jesus num barco, passou para a outra banda, e foi para a sua própria cidade. E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito.
..
Marcos 2,1-4: Dias depois, entrou Jesus de novo em Cafarnaum, e logo correu que ele estava em casa. Muitos afluíram para ali, tantos que nem mesmo junto à
porta eles achavam lugar; e anunciava-lhes a palavra. Alguns foram ter com ele, conduzindo um paralítico, levado por quatro homens. E, não podendo aproximar-se dele,
por causa da multidão, descobriram o eirado no ponto correspondente ao em que ele estava e, fazendo uma abertura, baixaram o leito em que jazia o doente.
Lucas 5,17-19: Ora, aconteceu que num daqueles dias, estava ele ensinando, e achavam-se ali assentados fariseus e mestres da lei, vindos de todas as aldeias
da Galiléia, da Judéia e de Jerusalém. E o poder do SENHOR estava com ele para curar. Vieram então uns homens trazendo em um leito um paralítico; e procuravam introduzi-lo
e pô-lo diante de Jesus. E não achando por onde introduzi-lo por causa da multidão, subindo ao eirado, o desceram no leito, por entre os ladrilhos, para o meio,
diante de Jesus.
Comentários: Na narrativa de Mateus o paralítico é levado a Jesus, deixando a entender que não houve nenhum obstáculo para isso. Mas Marcos e Lucas dizem
que tiveram que descer tal paralítico pelo telhado, pois a multidão não deixava que o levassem a Jesus. Bom, diante dessa, divergência, perguntamos: o que de fato
ocorreu?
Mateus 9,2: E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho, estão perdoados os teus
pecados.
Estão perdoados os teus pecados. Isto pode indicar que a doença do paralítico era resultado direto de pecado. Alguns judeus especulavam que a doença sempre
era resultado do pecado. Veja, porém, Jo 9:2 e a nota sobre Fp 2:30.
João 9,2-3: E os discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas
foi para que se manifestem nele as obras de Deus.
Doença e sofrimento eram comumente considerados conseqüências do pecado do indivíduo. O problema religioso era perturbador, todavia, no caso de uma pessoa
que nascia com um defeito como a cegueira. Jesus primeiro corrigiu essa idéia falsa e depois focalizou a atenção dos discípulos no verdadeiro propósito daquele sofrimento
específico, que daria ocasião à manifestação da glória de Deus.
Comentários: Na passagem de Mateus, chegam a admitir o carma, mas, como sempre, depois saem pela "tangente". Na questão do cego de nascença, se Jesus tivesse
que contestar a idéia de que a cegueira de nascença não era fruto do pecado, teria dito de forma mais categórica aos seus discípulos que isso não poderia ocorrer.
Mas ao dizer que não foi o cego e nem seus país, estava afirmando que, naquela situação específica, a cegueira não provinha de pecado de ninguém, mas era para se
manifestar a glória de Deus, o que, em outras palavras, significa dizer que aquele cego veio com a missão de servir como instrumento de Deus, para despertar o povo
para o ensinamento de Jesus, ao realizar esse "milagre", curando-o. Em outra passagem Jesus confirma o pensamento do povo hebreu; vejamos: "Mais tarde Jesus o encontrou
no templo e lhe disse: 'Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda cousa pior'" (Jo 5,14). São essas as palavras de Jesus dirigidas a um cego
que acabara de curar, ao encontrá-lo, no templo, pela segunda vez. Ao dizer: "que se pecasse de novo, coisa pior deveria lhe acontecer", Jesus está afirmando a lei
de ação e reação, ou seja, o carma. Essa idéia, também fica clara na passagem do paralítico, cuja doença – paralisia por 38 anos – foi conseqüência do pecado, já
que eram "os pecados" que Jesus queria perdoar, para que a cura se realizasse. Tão claro o ensinamento, que ficamos perplexos diante daqueles que não o compreendem.
Paulo, de certa forma, também, fala da lei do carma: "aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6,7). Demonstramos, portanto, categoricamente, a lei de
causa e efeito, ou de ação e reação, comumente denominada de carma. A nota Fp 2:30 nada acrescenta para a elucidação do caso.
Mateus 9,11-12.14: Ora, vendo isto os fariseus, perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Mas Jesus, ouvindo,
disse: Os sãos não precisam de médico, e sim, os doentes. Vieram depois os discípulos de João, e lhe perguntaram: Por que jejuamos nós e os fariseus (muitas vezes),
e teus discípulos não jejuam?
Mateus 9,16-17: Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque o remendo tira parte do vestido, e fica maior a rotura. Nem se põe vinho novo em
odres velhos; do contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho, e os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam.
O velho e o novo não podem ser combinados. Veja nota sobre Lc 5:37: A lição é que o novo ensino da graça de Cristo não pode ser contido dentro das velhas
formas da lei (Jo 1:17).
Comentários: Colocamos a primeira narrativa, para que possamos entender a segunda. Estes discípulos de João e principalmente os fariseus eram apegados demais
às Leis Mosaicas, arraigados mesmo; por isso, os ensinos de Jesus nada falavam aos seus corações. Sabendo disso, é que Jesus faz a colocação do pano novo e odre
novo, estes significando seus ensinamentos, e pano velho e odre velho, os ensinamentos de Moisés. Deixa, assim, bem claro que não devemos nos apegar à legislação
anterior, que representa para nós o Antigo Testamento, mas aceitar e praticar o novo ensinamento, que para nós é o Novo Testamento. Pelo que consta nas notas, mesmo
sabendo disso, ainda permanecem agarrados ao Antigo Testamento, principalmente os nossos irmãos evangélicos.
Mateus 11,13-14: Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir. Quem tem ouvidos
(para ouvir) ouça.
Ele mesmo é Elias. Jesus está afirmando que se os judeus O recebessem, entenderiam também que João cumprira a predição veterotestamentária sobre a vinda
de Elias antes do Dia do Senhor (Ml 4:5; veja Mt 17:12).
Mateus 17,11-13: Então Jesus respondeu: De fato Elias virá e restaurará todas as coisas. Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram,
antes fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer nas mãos deles. Então os discípulos entenderam que lhes falava a respeito
de João Batista.
A seqüência de pensamento é a seguinte: (1) Elias virá como o restaurador (Ml 4:5): (2) ele veio, embora não reconhecido, na pessoa de João Batista, e foi
morto; (3) o Filho do homem defronta-se com um destino semelhante. Os discípulos parecem entender apenas os dois primeiros pontos.
Comentários: Por mais que queiram mudar a idéia, não há como fugir da verdade. João Batista era o profeta Elias reencarnado: "quem tem ouvidos que ouça".
Por que tanta resistência em aceitar a reencarnação? Sem ela não há como atribuir a Deus justiça alguma. Até quando iremos ter tanto radicalismo sobre esse ponto
de vista, se hoje já é aceita pela maioria da população terrestre e por vários segmentos da ciência?
Mateus 13,55-56: Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas
irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto?
Seus irmãos. Estes eram os filhos de José e Maria, nascidos depois de Jesus, que nascera só de Maria. Vê-los como filhos de um primeiro casamento de José
ou como primos de Jesus contraria o uso normal do termo "irmãos".
Comentários: Esse argumento vem derrubar a questão levantada pelos Católicos de que Jesus foi o único filho de Maria, e por extensão, também, derruba a tese
de Maria ter permanecido virgem, mesmo depois do nascimento de Jesus. Achamos que os argumentos dos Católicos é que são fracos, pois se analisássemos somente a questão
da virgindade, veríamos que, cientificamente, é impossível uma mulher permanecer virgem depois de ter dado à luz; é puro fanatismo, a não ser que seja pelo método
da Cesariana, que parece não ter acontecido no parto em que Maria deu à luz Jesus.
Mateus 16,18: Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Tu és Pedro. O nome Pedro (no grego, Petros) significa pedra ou homem-pedra. Na frase seguinte, Cristo usou a palavra pedra ("sobre esta rocha"), uma forma
feminina da palavra "pedra", que não era um nome próprio. Cristo fez um jogo de palavras. Ele não disse: "sobre ti, Pedro" ou "sobre os teus sucessores", mas "sobre
esta rocha" – sobre esta revelação divina e esta profissão de fé em Cristo. Edificarei. O uso do futuro demonstra que a formação da Igreja ainda estava por acontecer.
Ela começou no dia de Pentecostes (At 2). Além desta, há somente mais uma ocorrência da palavra "igreja" nos Evangelhos, em Mt 18:17.
Comentários: Os protestantes questionam, e com razão, sobre a instituição do Papado pela Igreja Católico, que, conforme dizem, Pedro não teria sido o primeiro
papa. Deixemos que briguem entre si. Jesus não nomeou Pedro a cargo algum! Prova disso é que não vemos, em momento algum, Pedro assumir, no cristianismo primitivo,
uma posição de chefia que tenha sido superior à dos demais apóstolos; quem estaria mais próximo de ter exercido essa função seria Tiago, o irmão do Senhor. Inclusive,
foi a sua decisão que prevaleceu na primeira divergência surgida entre os primeiros cristãos no Concílio (?) de Jerusalém, conforme narrado em At 15,13.
Mateus 17,2-3: E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o Sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E eis que lhes apareceram
Moisés e Elias, falando com ele.
Foi transfigurado. Lit., transformado. A transfiguração ofereceu aos discípulos uma antevisão da exaltação futura de Jesus e da vinda do reino. O Senhor
foi visto em Sua forma glorificada: Moisés e Elias ilustravam aqueles que Cristo trará consigo (quer por morte ou traslado, 1 Ts 4:13-18); os discípulos representavam
aqueles que contemplarão a segunda vinda de Cristo (Ap 1:7).
Comentários: Temos mais é que bater palmas pela saída honrosa que encontraram, para fugir do principal fato que estava acontecendo naquele momento, ou seja,
a comunicação dos mortos com os vivos, pois Moisés e Elias já estavam fisicamente mortos. Mais palmas, ainda, por não a justificarem como sendo obra do demônio,
que, por sinal, seriam dois, os que falavam com Jesus na presença de Pedro, Tiago e João.
Mateus 19,16-24: E eis que alguém, aproximando-se, lhe perguntou: Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que
me perguntas acerca do que é bom? Bom, só existe um. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. E ele lhe perguntou: Quais? Respondeu Jesus: Não matarás,
não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra a teu pai e a tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Replicou-lhe o jovem; Tudo isto tenho
observado; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus; Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me.
Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades. Então disse Jesus a seus discípulos: Em verdade vos digo que um
rico dificilmente entrará no reino dos céus. E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.
Os judeus no tempo de Cristo criam que a realização de um único ato digno lhes podia garantir a salvação.
Perfeito. I.e., genuinamente agradável a Deus. Vai, vende: o que Jesus pediu ao rico foi uma prova de sua alegação de ter cumprido os mandamentos, especialmente
"amarás ao teu próximo como a ti mesmo". Sua falta de disposição em cumprir a ordem traiu sua alegação (v.20) e demonstrou que era um pecador carente de salvação.
Agulha. É de fato uma agulha de costura. Nesta expressão proverbial Jesus não diz ser impossível a um rico ser salvo (v. 26), e, sim, que, uma vez que tal
pessoa raramente percebe suas necessidades pessoais com a mesma facilidade de um pobre, sua salvação é mais difícil.
Comentários: Íamos somente comentar o versículo 16 com a primeira nota. Entretanto, para uma melhor compreensão, achamos por bem irmos até o versículo 24.
Os tempos passam, mas as pessoas parecem que não mudam. Vejam que os judeus achavam que um único ato digno lhes podia garantir a salvação. Hoje, há os que acham
que apenas o arrependimento é suficiente; outros, ainda, que apenas ter fé, além daqueles que por crer que Jesus é o Senhor e Salvador acham que estarão com o lugar
garantido no reino dos céus. No fundo, tudo é a mesma coisa, não? Temos, nesta passagem, mais uma vez, Jesus colocando o que devemos fazer para nos salvar. O rico,
aparentemente, cumpria tudo o que deveria ser cumprido; no entanto, para Jesus, faltava-lhe vender tudo o que possuía para dar aos pobres, significando que somente
na caridade é que teremos como demonstrar nosso amor a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Não há outro caminho para quem quer ser salvo. Não disse Ele: "a cada
um segundo suas obras" (Mt 16,27)? Há alguma dúvida nisso? Vejam então em: Mt 7,19; 7,21-29; 25,31-46 e Lc 10,25-37.
Mateus 20,29-30: Saindo eles de Jericó, uma grande multidão o acompanhava. E eis que dois cegos, assentados à beira do caminho, tendo ouvido que Jesus passava,
clamaram: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós!
Marcos 10,46-47: E foram para Jericó. Quando ele saía de Jericó, juntamente com os discípulos e numerosa multidão, Bartimeu, cego mendigo, filho de Timeu,
estava assentado à beira do caminho. E, ouvindo que era Jesus, o Nazareno, pôs-se a clamar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!
Lucas 18,35-38: Aconteceu que, ao aproximar-se ele de Jericó, estava um cego assentado à beira do caminho, pedindo esmolas. E, ouvindo o tropel da multidão
que passava, perguntou o que era aquilo. Anunciaram-lhe que passava Jesus, o Nazareno. Então ele clamou: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!
Comentários: Aqui temos Mateus dizendo que eram dois cegos, o que entra em contradição com Marcos e Lucas que afirmam ser apenas um. Por que somente Marcos
identifica quem era este cego?
Mateus 21,1-5: Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, ao Monte das Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia
que aí está diante de vós e logo achareis presa uma jumenta, e com ela um jumentinho. Desprendei-a e trazei-mos. E se alguém vos disser alguma cousa, respondei-lhe
que o Senhor precisa deles. E logo os enviará. Ora, isto aconteceu, para se cumprir o que foi dito, por intermédio do profeta: Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem
o teu Rei, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de animal de carga.
Comentários: Será mesmo que Zacarias (9,9) estaria fazendo uma profecia? A seqüência (v. 10) é que nos dirá a quem se refere essa passagem, vejamos: "Destruirei
os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém e o arco de guerra será destruído. Ele anunciará paz às nações; e o seu domínio se estenderá de mar a mar, e desde
o Eufrates até às extremidades da terra". Mas, quem seria esse guerreiro que destruirá os carros de guerra? A nossa resposta é Alexandre Magno. Nessa época, ele
marcha pela Síria, depois pela Fenícia, e finalmente pela Filistia. Assim, pelos acontecimentos, não se trata de profecia a respeito de Jesus. Qualquer texto isolado
que pegarmos, poderemos aplicá-lo ao que quisermos.
Mateus 26,6-7: Ora, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele uma mulher, trazendo um vaso de alabastro cheio de precioso bálsamo,
que lhe derramou sobre a cabeça, estando ele à mesa.
Marcos 14,3: Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosismo perfume de
nardo puro, e, quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus.
Lucas 7,36-38: Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. E eis que uma mulher da cidade,
pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com
suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o ungüento.
João 12,1-3: Seis dias antes da páscoa, foi Jesus para Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos. Deram-lhe, pois, ali, uma ceia;
Marta servia, sendo Lázaro um dos que estavam com ele à mesa. Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, mui precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou
com os seus cabelos; e encheu-se toda a casa com perfume do bálsamo.
Comentários: Mateus e Marcos relatam que Jesus estava em casa de Simão, o leproso e que uma mulher havia derramado o vaso de alabastro na cabeça de Jesus,
não a identificando. Só que João diz que a mulher era Maria, a irmã de Lázaro, que o fato acontecia na casa dele e que, ao invés de jogar o perfume na cabeça ela
ungiu os pés de Jesus. Em Lucas, temos que esta mulher é uma pecadora; portanto, não poderia ser a Maria irmã de Lázaro. Quem, afinal, era essa mulher?
Mateus 27,3-7: Então Judas, o que o traiu, vendo que Jesus fora condenado, tocado de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes
e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo. Então Judas, atirando para o santuário as moedas
de prata, retirou-se e foi enforcar-se. E os principais sacerdotes, tomando as moedas, disseram: Não é lícito deitá-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue.
E, tendo deliberado, compraram com elas o campo do oleiro, para cemitério de forasteiros.
Atos 1,16-18: ... Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus, porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério. (Ora, este homem
adquiriu um campo com o preço da iniqüidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram. ...).
Rompeu-se pelo meio. Provavelmente resultado de uma queda causada por uma tentativa inepta de suicídio por enforcamento.
Comentários: Vejam como, diante de uma divergência bíblica, tentam, em desespero, dar uma explicação plausível. Entretanto, para um leitor atento, não conseguem
o que querem; muito antes, ao contrário, tornam-se ainda mais incoerentes. A divergência entre a forma pela qual Judas morreu permanece, pois a expressão que encontramos,
em outras Bíblias, para essa narrativa de Atos, é "jogando-se de cabeça para baixo", que, apesar de corresponder a um dos significados de "precipitando-se", é mais
claro para o melhor entendimento do ocorrido. Assim, a explicação de que é "provavelmente resultado de uma queda" não faz sentido algum, a não ser uma tentativa
inepta de explicar o inexplicável. E quem afinal comprou o terreno? Foi Judas ou os sacerdotes? Não esperavam por essa, não é mesmo? Concentraram seu poder de fogo
na questão da maneira que Judas morreu e não viram que também existe contradição entre quem realmente adquiriu o "Campo do Oleiro". Deixemos aí a dúvida; quem sabe,
na próxima tradução da Bíblia "original", eles não expliquem isso?...
Mateus 27,32: Ao saírem, encontraram um cireneu, chamado Simão, a quem obrigaram a carregar-lhe a cruz.
Cireneu. De Cirene, a capital da Cirenaica, no norte da África. Muitos judeus viviam ali. A carregar-lhe a cruz. Normalmente a própria vítima carregava a
barra transversal até o lugar da execução, mas Jesus já estava enfraquecido demais pelas torturas a que já havia sido submetido.
Marcos 15,21: E obrigaram a Simão Cireneu, que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-lhe a cruz.
Lucas 23,26: E como o conduzissem, constrangendo um cireneu, chamado Simão, que vinha do campo, puseram-lhe a cruz sobre os ombros, para que a levasse após
Jesus.
João 19,17: Tomaram eles, pois, a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico.
Comentários: E aí, com quem ficamos? Com Mateus, Marcos e Lucas, ou só com João? Responda quem for capaz de tirar esta dúvida. É mais provável que, aqui
também, a maioria possa estar com a razão. O que temos afirmado é que nem tudo o que está escrito pode ser verdadeiro, pois a verdade é uma só. Considerando as várias
traduções, e ainda que, para algumas palavras, não existe significado em outra língua, ou até mesmo palavras que em outra língua possuem outro significado, aliado
a interesses que levaram, em alguns casos, à adulteração dos textos sagrados, bem como, que, em determinadas situações, deveremos buscar o sentido figurado, causa
a nós, estudiosos dos Evangelhos, uma grande dificuldade em saber qual é a verdade "verdadeira". É bem provável que, conforme a nota, ele, realmente, não teve condições
de levar a cruz. Interessante, também, é notar que o costume da época era que somente a barra transversal fosse carregada pelo próprio condenado. Então, por que
encontramos quadros pintados com Jesus carregando a cruz inteira, ou seja, as duas partes que a compõem? Seria, pois, um duplo erro, ou seja, errado porque Jesus
não carregou a cruz, e, também, porque a cruz não era carregada inteira.
Mateus 27,44: E os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele.
Marcos 15,32: (...) Também os que com ele foram crucificados o insultavam.
Lucas 23,39: Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também.
Comentários: No evangelho de João, não encontramos registro deste episódio. Os que o registram não contam a história da mesma maneira. Afinal, qual das duas
versões é a verdadeira? É apenas mais um caso em que queremos demonstrar que nem tudo que consta na Bíblia é verdadeiro, pois a verdade, forçosamente, tem que ser
uma só. Assim, a turma do "A Bíblia não erra", como fica?
Mateus 28,2-3: E eis que houve um grande terremoto; porque um anjo do Senhor desceu do céu, chegou-se, removeu a pedra e assentou-se sobre ela. O seu aspecto
era como um relâmpago e a sua veste alva como a neve.
Marcos 16,4-5: E, olhando, viram que a pedra já estava revolvida; pois era muito grande. Entrando no túmulo, viram um jovem assentado ao lado direito, vestido
de branco, e ficaram surpreendidas e atemorizadas.
Lucas 24,2-4: E encontraram a pedra removida do sepulcro; mas, ao entrar, não acharam o corpo do Senhor Jesus. Aconteceu que, perplexas a esse respeito, apareceram-lhes
dois varões com vestes resplandecentes.
João 20,11-12: Maria, entretanto, permanecia junto à entrada do túmulo, chorando. Enquanto chorava, abaixou-se e olhou para dentro do túmulo, e viu dois anjos
vestidos de branco sentados onde o corpo de Jesus fora posto, um à cabeceira e outro aos pés.
Comentários: Vejam a divergência na quantidade e na forma da aparição. Apesar dela ter sido registrada por todos os evangelistas, Mateus diz ser um anjo,
Marcos um jovem, Lucas dois varões e João dois anjos. Deixando de lado a divergência da quantidade, iremos ver que, na realidade, quando um anjo aparece a alguém,
ele se apresenta na forma humana, tendo em vista que anjo e espírito são a mesma coisa.
Marcos 12,26-27: Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido no livro de Moisés, no trecho referente à sarça, como Deus lhe falou: Eu sou o Deus de
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos. Laborais em grande erro.
Quando Deus falou a Moisés, Ele ainda estava ligado aos patriarcas, embora eles tivessem morrido séculos antes. Assim ficava comprovada a vida após a morte.
Comentários: A Doutrina Espírita vem justamente para comprovar a vida após a morte; então, por que não a aceitam? Ela, com isto, não está também confirmando
o ensino de Jesus? Ou será que Jesus terá de dizer novamente: laborais em grande erro?
Marcos 15,25: Era a hora terceira quando o crucificaram.
Marcos 15,34: À hora nona clamou Jesus em alta voz Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que quer dizer: Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?
Marcos 15,42-45: Ao cair da tarde, por ser o dia da preparação, isto é, véspera do sábado, vindo José de Arimatéia, ilustre membro do Sinédrio, que também
esperava o reino de Deus, dirigiu-se resolutamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Mas Pilatos admirou-se de que ele já tivesse morrido. E, tendo chamado o centurião,
perguntou-lhe se havia muito morrera. Após certificar-se, pela informação do comandante, cedeu o corpo a José.
Admirou-se de que ele já tivesse morrido. Pilatos ficou admirado porque era comum a um crucificado passar por vários dias de lenta agonia antes de morrer.
A morte de Cristo, decorrida depois de apenas seis horas, era incomum.
Comentários: Hora terceira equivale às nove horas da manhã, e, hora nona, às quinze horas, confirmando, portanto, que Jesus levou apenas seis horas para
morrer. Verificando a informação sobre a possibilidade de um condenado a crucificação demorar "por vários dias de lenta agonia", encontramos que poderia "se prolongar
por até cinco dias" (KERSTEN, 1988), informação que deixa-nos em dúvida se realmente ocorreu a morte de Jesus no tempo citado no Evangelho. O fato é tão extraordinário,
que até Pilatos duvidou de que Ele já tivesse morrido, quando José de Arimatéia foi reclamar pelo corpo de Jesus. Quem sabe se Jesus apenas desmaiou, e foi dado
como morto, e, aproveitando-se de que era véspera do Sábado, foram reclamar o corpo de Jesus? Poderia de certa forma explicar o desaparecimento do seu corpo, no
terceiro dia. Existe uma história de que Ele, na verdade, não teria morrido naquela época, que teria ido para uma outra região - a Índia –, aonde teria vivido ainda
por muitos anos. Seria essa história verídica? Podemos, também, encontrar no Alcorão - 4ª Surata, An Nissá, v. 157 -, a afirmação de que Jesus não foi morto. Enfim,
os relatos bíblicos, infelizmente, não nos deixam seguros quanto à verdade dos fatos ocorridos.
Lucas 8,52: E todos choravam e a pranteavam. Mas ele disse: Não choreis; ela não está morta, mas dorme.
Os que pranteavam a menina consideravam sua morte uma situação irreversível, mas Cristo a chamou de "sono" já que (embora ela tivesse realmente morrido)
a menina voltaria à vida.
Comentários: É impressionante como extrapolam os fatos narrados no texto, numa tentativa de colocarem as coisas dentro dos dogmas em que acreditam. O texto
é claro quanto ao fato de Jesus dizer que a menina dormia, não cabendo, portanto, nenhuma outra interpretação. Tal fenômeno é tão comum nos dias de hoje, denominado
de EQM - Experiência Quase Morte - , pesquisado por inúmeros médicos.
Lucas 16,19-31: Ora, havia certo homem rico, que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e que todos os dias se regalava esplendidamente. Havia também
certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele; e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham
lamber-lhe as úlceras. Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos,
levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a
ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e
Lázaro igualmente males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos. E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os
que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós. Então replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna, porque tenho
cinco irmãos; para que lhes dê testemunho a fim de não virem também para este lugar de tormento. Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Mas
ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos profetas,
tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.
Seio de Abraão. Linguagem figurativa para expressar a presença de Deus ou o paraíso.
Inferno. Melhor, hades. O mundo invisível em geral; mais especificamente aqui o lugar de habitação dos mortos não-salvos, entre sua morte física e o juízo
do grande trono branco (Ap 20:11-15). Nesta história o Senhor Jesus ensinou: (1) existência consciente após a morte; (2) a realidade e o tormento do inferno; (3)
a ausência de uma segunda oportunidade após a morte; (4) a impossibilidade de comunicação entre os mortos e os vivos (v.26). Os dois homens nesta narrativa ilustram
duas vidas diferentes, duas mortes diferentes e dois destinos diferentes.
Comentários: Que os vivos não seriam persuadidos pelos que já tinham morrido é o fato mais incontestável desta parábola. Não é justamente isto que está acontecendo
com a Doutrina Espírita? Não foram seus princípios e ensinamentos totalmente passados pelos mortos na carne, vivos em espírito, a Kardec? Acordem! E "ouça quem tem
ouvidos de ouvir"! A esmagadora maioria de nossos detratores não conhece a fundo os nossos principais fundamentos; agem como os fariseus de outrora, quando combatiam
o Mestre Jesus. Esta é mais uma das passagens que citam para justificar que os mortos não voltam, como, também, não podemos nos comunicar com eles. Se daí tiram
isso, podemos, também, nesta mesma linha de raciocínio, dizer que Abraão é Deus, pois não foi para o seio dele que Lázaro foi? Mais ainda: podemos incluir que todos
os ricos irão para o "inferno", e que todos os pobres irão para o "céu"; e terão que admitir que estamos com a razão. Mas não é bem por aí. O sentido da parábola
não traz esses ensinamentos. O que traz é que os ricos que não ajudarem os pobres, ou seja, os egoístas, serão "castigados"; e que os pobres, que sofrerem com resignação,
serão "premiados". Que entre eles existe um abismo, sim; é o abismo da evolução espiritual de cada um, sendo impossível estar, no outro lado da vida, um no mesmo
lugar que o outro, sem que tenha passado pelo mesmo processo de evolução que o primeiro teve. Assim, o abismo se refere a esta situação, e não à impossibilidade
dos mortos voltarem. E, finalmente, ao dizer: "Se não ouviram a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguns dos mortos", não
está aí a impossibilidade dos mortos voltarem ou se comunicarem; apenas que, se não ouvirem aos vivos - que se vêem muito - mais certo que não ouvirão os mortos
- que não se vêem. Não podemos nos deixar enganar. Já falamos das aparições dos espíritos (almas) de Moisés e Elias a Jesus, do espírito (alma) de Samuel a Saul,
tiradas da Bíblia, e citadas no decorrer deste estudo. Não é dela que tiram toda a verdade?... Por que, então, também isto não o é? Incoerentes novamente; só os
textos que parecem cobrir-lhes de razão é que são citados por eles! Digo parecem, pois, se formos buscar o sentido no contexto em que estão colocados, normalmente
não é nada do que querem dizer. É nisso que dá uma fé dogmática anti-racional. Os outros pontos da nota já foram comentados anteriormente.
João 6,29: Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta, que creiais naquele que por ele foi enviado.
A única obra que um homem pode fazer e que é aceitável diante de Deus é crer em Cristo (cf. 1 Jo 3:23).
1 João 3,23-24: Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos
ordenou. E aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus nele. E nisto conhecemos que ele permanece em nós pelo Espírito que nos deu.
Permanece. A mesma palavra utilizada em Jo 15:1-10. Permanecer em Cristo exige obedecer aos seus mandamentos.
Comentários: Nem tudo o que está na Bíblia podemos pegar ao pé da letra. Não devemos esquecer da orientação contida em 2Cor 3,6: "O qual nos habilitou para
sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica". Na realidade, em sua época, Jesus sofreu a intransigência
dos sacerdotes, dos saduceus e, principalmente, dos fariseus. Todos eles não O aceitavam como o Messias. É dentro deste contexto que Jesus ressalta que deveriam
aceitar a obra de Deus, que era Ele ter sido Seu enviado. Não podemos tirar dessas passagens que, simplesmente, por crermos em Jesus, estamos salvos, ou seja, que
só com isto estamos cumprindo a vontade de Deus. Vejam que até João se torna mais explícito em sua carta aos que se convertiam ao Cristianismo na Ásia Menor (tal
como Efésios), quando diz que devemos cumprir o mandamento: "amenos uns aos outros". Entretanto, não há como amar ao próximo sem cumprir esta outra importante recomendação
de Jesus: "Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei e os profetas" (Mt 7,12). Buscando o sentido
da palavra crer no dicionário Aurélio, temos: "1. ter por certo; dar como verdadeiro; aceitar; 2. ter confiança em; aceitar como verdadeiras as palavras ou afirmações
de". Por várias vezes, já falamos da questão das traduções, onde ocorre, com freqüência, que a palavra que deram como tradução da outra língua pode não corresponder
a idéia original do texto. Vejamos que, na tradução para o português, se for utilizado para a palavra crer ou de ter por verdadeiras as palavras ou afirmações de
Jesus, não haverá conflito com nenhum outro ensinamento de Jesus, não é mesmo? Apelemos então para Mt 25,31-46: "Quando vier o Filho do homem na sua majestade e
todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor
separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda; então dirá o Rei aos que estiverem à direita: Vinde, benditos de meu
Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro
e me hospedastes; estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; preso e fostes ver-me. Então perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome
e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber: E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te
fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então o Rei dirá
também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome e não me deste de
comer; tive sede e não me deste de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me. E eles
lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso, e não te assistimos? Então lhes responderá: Em verdade vos
digo que sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém os justos para a vida
eterna". Perguntamos: foram os que creram que foram para o reino dos céus? Foram os que aceitaram Jesus como Senhor e Salvador? Foram os que seguem determinada corrente
religiosa? Não! Não e não! Os justos são os que ajudam ao próximo, assistindo-lhes em todas as suas necessidades. E não é isto de que gostaríamos que fizessem conosco,
quando padecemos os infortúnios da vida? Assim, como na Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37), retomamos as palavras de Jesus ao intérprete da lei: "Vai, e procede
tu de igual modo".
João 8,56-58: Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos, e vistes
Abraão? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo; Antes que Abraão existisse, eu sou.
Antes que Abraão existisse, eu sou. A expressão "Eu Sou" denota a existência eterna absoluta, não apenas existência anterior à de Abraão. É uma reivindicação
de ser o Javé do A.T. A reação dos judeus (v.59) a esta suposta blasfêmia demonstra que eles entenderam claramente o significado dessa reivindicação de Cristo.
Comentários: Aqui temos, mais uma vez, a confirmação da pré-existência. Mas o que nos chamou mais a atenção foi quanto ao questionamento de que Jesus ainda
não tinha 50 anos. Quando se diz a uma pessoa algo assim, é que presumimos que sua idade esteja próxima dos 50 anos. Não diríamos isso a uma pessoa com a idade de
trinta e poucos anos, não é mesmo? Fica aí instalada a "pulga" atrás de sua orelha, caro leitor. A questão do "Eu Sou" é uma tentativa de se igualar Jesus a Deus,
já que o sentido dessa frase não é igual à resposta de Deus a Moisés narrada em Ex 3,14; aqui significa que antes que Abraão existisse, Ele já existia.
João 10,30: Eu e o Pai somos um.
Somos um. O Pai e o Filho estão em perfeita harmonia em Sua natureza e ações, mas a forma neutra do numeral "um" exclui o sentido de que sejam uma única
pessoa.
Comentários: Essa passagem é a que normalmente mais se usa para sustentar a tese da Trindade. Realmente o texto não traz essa idéia que a maioria dos cristãos
aceitam. A Trindade é cópia das trindades pagãs que os cristãos absorveram.
João 13,18: Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou
contra mim o seu calcanhar.
A Escritura. A referência é ao Sl. 41:9.
Atos 1,16-17: Irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles
que prenderam a Jesus, porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério.
Veja Sl. 41:9.
Comentários: O Sl 41,9 não se relaciona a nenhuma profecia a respeito de Jesus; na verdade, foi um fato acontecido com Davi. Realmente, um amigo, o seu próprio
conselheiro, o trai, conforme podemos comprovar em 2Sm 15,12.31: "Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, da sua cidade de Giló; enquanto
ele oferecia os seus sacrifícios, tornou-se poderosa a conspirata, e crescia em número o povo que tomava o partido de Absalão. Então fizeram saber a Davi, dizendo:
Aitofel está entre os que conspiram com Absalão. ..." E a? Como ficamos, se "a Bíblia diz" a respeito de uma profecia de Jesus que nunca existiu?
Atos 2,1-4: Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu
toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito
Santo, e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
O dia de Pentecostes. Esta era a quarta das festas anuais dos judeus (depois da Páscoa, dos Pães Asmos e das Primícias). Acontecia cinqüenta dias depois
da Festa das Primícias (um tipo da ressurreição de Cristo, 1 Cor 15,23). Pentecostes era o nome grego da Festa das Semanas, assim chamada por acontecer sete (uma
semana de) semanas depois das Primícias. Celebrava a colheita do trigo (Ex. 23,16). Este dia de Pentecostes narrado em At 2 marcou o começo da Igreja (Mt 16,18).
Atos 2,16-18: Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito
sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas
servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.
Veja Joel 2:28-32. O cumprimento desta profecia se dará no futuro, imediatamente antes da volta de Cristo, quando todos os detalhes (e.g., v.20 e Ap. 6:12)
da profecia serão cumpridos. Pedro lembrou seus ouvintes de que, conhecendo a profecia de Joel, deveriam ter percebido que se tratava da obra do Espírito, e não
do resultado de bebedeira.
Comentários: Observar que, apesar da "Bíblia dizer" que se trata do cumprimento da profecia de Joel, na nota querem contradizer o que está escrito nela.
O Pentecostes também é visto como se fosse a vinda do Consolador; este, sim, é que veio muito tempo depois. Até mesmo porque os pagãos que receberam a imposição
das mãos "ficaram" cheios do Espírito Santo; seria o Pentecostes se espalhando para todos (At 10,44, 19,6)?
Atos 4,13: Ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus.
Iletrados e incultos. Esta frase indicava que Pedro e João não tinham sido formalmente instruídos numa escola rabínica; não eram eruditos profissionais ou
professores ordenados (veja também Jo 7:15).
Comentários: Recorramos ao Houaiss: Iletrado: adj. s. m. 1 que ou aquele que, alfabetizado, é pobre de cultura literária; iliterato 2 que ou aquele que não
tem instrução escrita, não lendo nem escrevendo; analfabeto (ou quase) e Inculto: adj. s. m. fig., que ou quem não tem cultura, não tem preparo intelectual, não
tem erudição. Então, podemos concluir que, o significado correto para a passagem seria que Pedro e João eram analfabetos e sem nenhum preparo intelectual, para fazerem
o que estavam fazendo, a tal ponto que causou admiração. Essa admiração se justifica, tendo em vista que os dois eram simples pescadores, e saber escrever não era
o caso deles. A não ser que alguém nos prove que, àquela época, todos os cidadãos eram alfabetizados, que existiam escolas públicas com ensino de graça para a população
em geral. Diante disso, perguntamos: Será mesmo que o Evangelho de João e as respectivas Cartas de cada um foram realmente escritas por eles?
1 Tessalonicenses 4,13: Não queremos, porém, irmãos que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não
têm esperança.
Aos que dormem. É o corpo (e não a alma) do crente que morre que se afirma dormir durante o tempo entre a morte e a ressurreição.
Comentários: Na verdade, o corpo não dorme, ele simplesmente entrará em decomposição, pois, chegado o momento de: "... que tornes à terra, pois dela foste
formado; porque tu és pó e ao pó tornarás" (Gn 3,19), não pode nunca mais este mesmo corpo retornar, visto que os elementos que o compõem serão devolvidos à natureza,
fonte universal de toda a matéria. Se afirmam que não é a alma que dorme, perguntamos: o que acontece com ela? E para os que acreditam na ressurreição: onde ela
ficará aguardando o momento de ressuscitar? Nós temos as respostas para tudo isto, dadas pelos próprios espíritos que passaram para a outra dimensão da vida. Disse
dimensão da vida, pois, para o nosso espírito, não existe a morte; ele continuará vivendo para toda a eternidade... "Deus não é Deus de mortos, mas de vivos" (Mt
22,32).
2 Timóteo 3,16-17: Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que
o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.
Toda Escritura é inspirada por Deus. Lit., soprada por Deus; i.e., a Bíblia procede de Deus através dos homens que a escreveram (veja 2 Pe 1:21). Deus superintendeu
estes autores humanos de modo que, usando suas capacidades e peculiaridades individuais, compuseram e registraram sem erro a Palavra de Deus para o homem. Cristo
atestou o fato de que a inspiração se estende às próprias palavras (Mt 5:18; Jo 10:35). No mesmo versículo Paulo citou o Deuteronômio e Lucas como "Escritura" (1
Tm 5:18), e Pedro afirmou que as cartas de Paulo eram "Escritura" 2 Pe 3:16). A inspiração não envolve ditação mecânica, mas indica o registro exato das palavras
de Deus. A inspiração não se estende além dos manuscritos originais, embora os textos de que hoje dispomos tenham sido produzidos com alto grau de exatidão.
Comentários: Pelo que consta no Dicionário Bíblico Universal, no tocante ao verbete Escrituras: "No Antigo Testamento, essa palavra jamais foi utilizada
para designar a coleção dos livros inspirados. Se aparece no Novo Testamento, não é para designar um livro bíblico em particular, mas uma passagem precisa (Mc 12,10;
At 1,16). Em Gl 3,8.22, o termo designa o Antigo Testamento em geral", afirmação da nota não prevalece. Coisa fácil de constatar; senão vejamos: em Mateus 26,56:
"Mas tudo isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas. Então, todos os discípulos, deixando-o, fugiram" e em Lc 24,27: "E, começando por Moisés,
e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras". Quanto à afirmação de que Paulo cita Lucas como Escritura, não tem procedência.
Em Lc 10,7 está a afirmação de que digno é o trabalhador do seu salário. O seu amigo íntimo e companheiro Paulo, que também cita esta frase em 1Tm 5,18, não pretendia
confirmar isto como Escrituras, mas porque Paulo, conhecendo o pensamento de Lucas, simplesmente o reproduziu. Lucas, sim, é quem tira das Escrituras. Sobre a necessidade
de se pagar ao trabalhador poderemos constatar isso em Jr 22,13, vejam: "Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça, e os seus aposentos sem direito, que se
serve do serviço do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário do seu trabalho". Não cansam de insinuar estarem com a verdade na questão da interpretação
da Bíblia. Entretanto, o que vemos, inúmeras vezes, é justamente o contrário. Tentam, em muitas oportunidades, distorcê-la às suas conveniências; tal como já dissemos
anteriormente, são interpretações "à moda da casa". Aqui, e como já demonstramos, não encontramos o que alegam, ou seja, que os textos de que hoje dispomos tenham
sido produzidos com alto grau de exatidão, pois, se assim fosse, não haveria divergência nas traduções; e, além disto, todas elas conteriam os mesmos livros. Entretanto,
a Católica tem 73 livros contra 66 da Protestante.
1 Pedro 3,18-20: Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado
no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais, noutro tempo, foram desobedientes, quando a longanimidade de Deus aguardava, nos dias
de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água.
Pregou aos espíritos em prisão. Alguns pensam que esta frase significa que Cristo, entre Sua morte e ressurreição, desceu ao Hades e ofereceu aos que viveram
antes de Noé (v. 20) uma segunda oportunidade de salvação, uma doutrina que não tem apoio escriturístico. Outros pensam que foi apenas uma proclamação de Sua vitória
sobre o pecado aos que estavam no Hades, sem o oferecimento de uma segunda chance. É Mais provável que este versículo seja uma referência ao Cristo pré-encarnado
pregando através de Noé àqueles que, por terem rejeitado Sua mensagem, agora são "espíritos em prisão".
1 Pedro 4,4-6: Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão, os quais hão de prestar contas àquele que é
competente para julgar os vivos e mortos; pois para este fim foi o evangelho pregado também a mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os homens, vivam
no espírito segundo Deus.
a mortos. I.e., cristãos já falecidos. O evangelho foi pregado àqueles mártires agora mortos. Eles foram julgados na carne e condenados ao martírio segundo
padrões humanos de justiça, mas estão vivos espiritualmente depois da morte. Outra interpretação deste versículo relaciona esta pregação àquela mencionada em 3:19.
Comentários: O apoio escriturístico para a pregação de Jesus aos espíritos que estavam na prisão é confirmado pela própria passagem questionada, como também
por 1Pe 4,4-6. Entretanto, em nota nessa passagem, dizem que Jesus teria ido pregar aos cristãos já falecidos. Essa hipótese é absurda, pois os que seguiam Jesus
só foram chamados de cristãos mais tarde (At 11,26), por volta de 37 d.C., época da fundação da Igreja de Antioquia, o que, considerando que a morte de Jesus se
deu na Páscoa de 30, nos dá aproximadamente 7 anos depois da morte de Cristo. Resta-nos, portanto, a alternativa de que realmente Jesus foi pregar aos espíritos
em prisão. A questão é: teria pregado a todos ou somente aos que morreram do dilúvio para trás? Já que todos podem dar a sua opinião, diremos que "provavelmente"
Jesus tenha pregado a todos os espíritos que estavam "presos", até mesmo porque "Deus não faz acepção de pessoas" (Rm 2,11). Mas presos onde? Acreditamos que no
"umbral", pois todos os espíritos que ainda não possuem evolução suficiente para se desvincularem do planeta Terra, ficam presos em volta da Terra, numa região que
nós, os Espíritas, denominamos de umbral. O grande problema que surgirá se aceitarem isso é que terão que admitir que o "inferno" não é eterno e que os "mortos"
não ficam dormindo até o dia do julgamento. Aí vai para o beleléu a fortuna que fazem usando o dízimo, não é mesmo?
CONCLUSÃO
É um grande problema quando as pessoas acham serem as únicas donas da verdade. Realmente, muitas delas estão impregnadas de um extremo espírito de sectarismo
que, somado ao fanatismo, as tornam cegas, pois não conseguem enxergar a verdade, por mais óbvia que seja. No meio delas, encontramos outras tantas que sabem da
verdade, mas interesses pessoais não as deixam livres para externarem seus pensamentos. Temos, finalmente, outras que conhecem a verdade; entretanto, utilizando-se
de malícia, passam aos outros coisas que não correspondem ao pensamento ou atitudes dos que consideram inimigos a combater. São os falsos profetas a que se referia
Jesus, pois, não conseguindo entender os ensinamentos do Divino Mestre, buscam, na transitória vida deste mundo, os valores que "os ladrões roubam e as traças corroem".
Verificamos que são, às vezes, incoerentes com seus próprios pensamentos; outras vezes, buscam dar um sentido inexistente ao texto, além de alterá-lo em seu
significado real, o que todo bom tradutor não deveria fazer.
Vemos rebaixarem Deus, o Supremo Criador do Universo, a uma condição de simples criatura, possuidora de sentimentos e ações que condenamos nos seres humanos,
tais como as questões do esquecimento, da vingança, da parcialidade, no conflito entre as Suas ordens, na falta de justiça, na derrogação de Suas próprias Leis,
que deveriam ser perfeitas; enfim, quase todas as imperfeições que os homens possuem transferem-nas a Ele.
Combatem o que não conhecem. Deveriam estudar muito, para compreender, pois, somente depois disto, é que poderiam dar opiniões sobre a questão de foro íntimo
dos outros. Devem, para o seu próprio bem, parar de se apegarem tanto à letra, deixando de ver o sentido óbvio que, em alguns casos, devemos tirar das passagens
do Evangelho.
Não aceitamos como verdadeiro qualquer ensinamento que possa contrariar, ainda que de leve, os ensinos de Jesus. Devemos agir como Ele agiu. Não o vemos
criticar, condenar a quem quer que seja. E a única coisa que não poupou foi a hipocrisia dos fariseus, aqueles a quem chamou de "sepulcros caiados". Sua compreensão,
quanto à questão da evolução espiritual de cada um, não permitiu condenar nem mesmo os rituais religiosos do Seu tempo, que ainda consistiam em sacrificar os animais,
para oferecê-los em holocaustos, no ingênuo pensamento de que tais coisas seriam agradáveis a Deus, e que os recompensariam, perdoando-lhes seus pecados.


PARTE III: A VISÃO ESPÍRITA DA BÍBLIA


INTRODUÇÃO
Recorremos a Kardec em A Gênese, Capítulo I, item 29, 41 e 44:
"Mas quem ousa permitir-se interpretar as Escrituras Sagradas? Quem tem esse direito? Quem possui as luzes necessárias, senão os teólogos?
"Quem ousa? A ciência, primeiro, que não pede permissão a ninguém para dar a conhecer as leis da Natureza, e salta, de pés juntos, sobre os erros e os preconceitos.
Quem tem esse direito? Neste século de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito de exame pertence a todo mundo, e as Escrituras não são mais
a arca santa na qual ninguém ousava tocar os dedos sem o risco de ser fulminado. Quanto às luzes especiais necessárias, sem contestar a dos teólogos, e por esclarecidos
que fossem os da Idade Média, e em particular os Pais da Igreja, não estavam o bastante, entretanto, para não condenarem, como heresia, o movimento da Terra e a
crença nos antípodas; e, sem remontar tão alto, os de hoje não lançaram anátema aos períodos de formação da Terra?
"Os homens não puderam explicar as Escrituras senão com a ajuda daquilo que sabiam, das noções, falsas ou incompletas, que tinham quanto às leis da Natureza,
mais tarde reveladas pela ciência; eis porque os próprios teólogos puderam, de boa-fé, se enganar sobre o sentido de certas palavras e de certos fatos do Evangelho.
Querendo, a todo preço, nele encontrarem a confirmação de um pensamento preconcebido, volitavam sempre no mesmo círculo, sem deixarem o seu ponto de vista, de tal
sorte que não viam senão aquilo que queriam ver. Por sábios teólogos que fossem, não podiam compreender as causas dependentes de leis que não conheciam.
"Mas quem será o juiz das interpretações diversas e, freqüentemente, contraditórias, dadas fora da teologia? – O futuro, a lógica e o bom senso. Os homens, cada
vez mais esclarecidos, à medida que fatos novos e novas leis venham a se revelar, saberão separar os sistemas utópicos da realidade; ora, a ciência faz conhecer
certas leis; o Espiritismo faz conhecer outras; umas e outras são indispensáveis à compreensão dos textos sagrados de todas as religiões, desde Confúcio e Buda até
o Cristianismo. Quanto à teologia, ela não poderá, judiciosamente, alegar as contradições da ciência, quando não está de acordo consigo mesma.
"O Espiritismo, bem longe de negar ou de destruir o Evangelho, vem, ao contrário, confirmar, explicar e desenvolver, pelas novas leis da Natureza que revela,
tudo o que o Cristo disse e fez; traz a luz sobre os pontos obscuros de seus ensinamentos, de tal sorte que aqueles para quem certas partes do Evangelho eram ininteligíveis,
ou pareciam inadmissíveis, as compreendem, sem esforço, com a ajuda do Espiritismo, e as admitem; vêem melhor a sua importância, e podem separar a realidade da alegoria;
o Cristo lhes parece maior: não é mais simplesmente um filósofo, é um Messias divino.
"Vós que combateis o Espiritismo, se quereis que renunciemos a ele para seguir-vos, dai, pois, mais e melhor do que ele; curai, com maior segurança, as feridas
da alma. Dai mais consolações, mais satisfações ao coração, esperanças mais legítimas, certezas maiores; fazei do futuro um quadro mais racional, mais sedutor; mas
não penseis em destruí-lo, vós, com a perspectiva do nada; vós, com a alternativa das chamas do inferno ou da beata e inútil contemplação perpétua".
A BÍBLIA
A primeira surpresa para muitos é que a Doutrina Espírita não fez uma tradução própria da Bíblia original. Têm tantas por aí... Por que mais uma?
Podem dizer: a Doutrina Espírita não tem o Evangelho Segundo o Espiritismo? Isto não é uma Bíblia Espírita? Realmente, a quem não o conhece, poderia cair
neste falso raciocínio. O que é na verdade o Evangelho Segundo o Espiritismo? Bom, para respondermos isto, é necessário destacar pequeno trecho da Introdução deste
livro da Codificação:
"Podemos dividir as matérias contidas nos Evangelhos em cinco partes: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as profecias; as palavras que serviram para
o estabelecimento dos dogmas da Igreja; o ensino moral. Se as quatro primeiras partes têm sido objeto de discussões, a última permanece inatacável. Diante desse
código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes
que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás,
encontrado nela a sua própria condenação, porque a maioria delas se apegaram mais à parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens,
em particular, é uma regra de conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa
justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o
objetivo exclusivo desta obra.
"(...) reunimos nesta obra os trechos que podem constituir, propriamente falando, um código de moral universal, sem distinção de cultos. Nas citações, conservamos
tudo o que era de utilidade ao desenvolvimento do pensamento, suprimindo apenas as coisas estranhas ao assunto. Além disso, respeitamos escrupulosamente a tradução
original de Sacy, assim como a divisão por versículos. Mas, em vez de nos prendermos a uma ordem cronológica impossível, e sem vantagem real em semelhante assunto,
as máximas foram agrupadas e distribuídas metodicamente segundo a natureza, de maneira a que umas se deduzem das outras, tanto quanto possível. A indicação dos números
de ordem dos capítulos e dos versículos permite recorrer à classificação comum, caso se julgue conveniente".
Assim, não há nenhuma tradução própria e nem nova. Os textos foram estudados tomando-se uma tradução já existente. Na verdade o título da obra para evitar
confusão ficaria melhor se fosse: Evangelho Segundo a Interpretação do Espiritismo ou A Interpretação do Evangelho Segundo o Espiritismo, pois, no fundo, é apenas
isto. Portanto, não é mais um "outro Evangelho", mas sim um estudo, uma análise de diversas passagens dos evangelhos, comentadas ou interpretadas sob a ótica da
Doutrina Espírita. Não se trata, como dizem nossos detratores, de edição própria de uma Bíblia Espírita, como tem a Católica e a Protestante; se tiverem alguma dúvida
quanto a isto, leiam-no para confirmarem o que estamos dizendo.
Por isso, não temos como fazer aqui o mesmo esquema que fizemos nos estudos das Bíblias Católica e Protestante; tentaremos colocar vários assuntos ligados
à Bíblia, de modo que, somados aos conceitos que foram passados em nossos comentários, possam dar uma visão do que o Espiritismo tem sobre ela. É importante, também,
que coloquemos alguns conceitos que o homem tinha à época, pois, sem isto, é difícil entender algumas passagens da Bíblia.
E para comprovar o que em várias oportunidades afirmamos, que foram feitas adulterações nas traduções dos textos sagrados, citaremos pequeno trecho da Introdução
de O Livro dos Espíritos, onde Kardec diz o seguinte:
"Para as coisas novas necessitam-se de palavras novas, assim o quer a clareza da linguagem para evitar a confusão inseparável do sentido múltiplo dos mesmos
vocábulos. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm uma acepção bem definida: dar-lhes uma nova para as aplicar à doutrina dos Espíritos seria
multiplicar as causas já numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem crê haver em si outra coisa que a matéria, é espiritualista.
Mas não se segue daí que crê na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em lugar das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos
para designar esta última crença, as de espírita e de Espiritismo, das quais a forma lembra a origem e o sentido radical, e que, por isso mesmo têm a vantagem de
ser perfeitamente inteligíveis, reservando à palavra espiritualismo a sua acepção própria. Diremos pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípios
as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas ou, se o quiser, os espiritistas".
Um pouco mais a frente diz:
"O cesto, ou a prancheta, não pode ser posto em movimento senão sob a influência de certas pessoas dotadas, a este respeito, de uma força especial e que são designadas
com o nome de médiuns, quer dizer, meios, ou intermediários entre os Espíritos e os homens".
Dos temas que iremos estudar a seguir - A percepção do Mundo, Dilúvio Bíblico, Raça Adâmica, Gênese Mosaica - Os seis dias, Gênese Mosaica - O Paraíso Perdido,
Da proibição de evocar os mortos e Deus – foram transcritos diretamente dessas obras da Codificação Espírita de autoria de Allan Kardec: A Gênese, O Céu e o Inferno
e Obras Póstumas, por essa razão, ao invés de colocá-los em afastamento e com fonte menor, como feito até agora, conforme normas da ABNT, optamos por mantê-los entre
aspas, buscando um menor custo de publicação.

ANÁLISE DA BÍBLIA
A PERCEPÇÃO DO MUNDO
"A idéia primeira que os homens fizeram da Terra, do movimento dos astros e da constituição do Universo, deve ter sido, em sua origem, unicamente, baseada
no testemunho dos sentidos. Na ignorância das mais elementares leis, da física e das forças da Natureza, não tendo senão a visão limitada como meio de observação,
não podiam julgar senão pelas aparências.
"Vendo o Sol aparecer, pela manhã, em um lado do horizonte, e desaparecer, à tarde, do lado oposto, disso concluíram, naturalmente, que ele girava em torno
da Terra, ao passo que esta ficava imóvel. Se se tivesse dito, então, aos homens, que ocorre ao contrário, eles teriam respondido que isso não poderia ser, porque,
teriam dito: vemos o Sol mudar de lugar, e não sentimos a Terra mover-se.
"A pouca extensão das viagens que, raramente, ultrapassavam os limites da tribo ou do vale, não podia permitir a constatação da esfericidade da Terra. Aliás
como supor que a Terra pudesse ser uma bola? Os homens não teriam podido se manter senão sobre o ponto mais alto, e, supondo-a habitada em toda a sua superfície,
como teriam podido viver no hemisfério oposto, com a cabeça para baixo e os pés para cima? A coisa teria parecido ainda menos possível com um movimento de rotação.
Quando se vê, ainda, em nossos dias, quando se conhece a lei da gravitação, pessoas, relativamente esclarecidas, que não compreendem esse fenômeno, não deve espantar
que os homens dos primeiros tempos não a tenham mesmo suposto.
"A Terra era, pois, para eles, uma superfície chata, circular como uma mó de moinho, se estendendo, a perder de vista, na direção do horizonte; daí a expressão
ainda usada: ir ao fim do mundo. Seus limites, sua espessura, seu interior, sua face inferior, o que havia abaixo, eram o desconhecido.
"O céu, aparecendo sob uma forma côncava, era, segundo a crença vulgar, uma abóbada real, cujas bordas inferiores repousavam sobre a Terra, e lhe marcavam
os limites; vasta cúpula da qual o ar enchia toda a capacidade. Sem nenhuma noção do infinito e do espaço, incapazes mesmo de concebê-los, os homens figuravam essa
abóbada formada de matéria sólida; daí o nome de firmamento, que sobreviveu à crença, e que significa firme, resistente (do latim firmamentum, derivado de firmus
e do grego herma, hermatos, firme, sustentáculo, suporte, ponto de apoio).
"As estrelas, das quais não podia supor a natureza, eram simples pontos luminosos, mais ou menos gordos, pregados a abóbada iguais a lâmpadas suspensas, dispostos
sobre uma única superfície e, por conseguinte, todos à mesma distância da Terra, do mesmo modo que são representados no interior de certas cúpulas, pintadas de azulado
para figurar o azul dos céus.
"Se bem que, hoje, as idéias sejam outras, o uso de antigas expressões se conservou; diz-se, ainda, por comparação: a abóbada estrelada; sob a calota do céu.
"A formação das nuvens pela evaporação das águas da Terra, era, então, igualmente desconhecida; não podia vir ao pensamento que a chuva que cai do céu tivesse
a sua origem na Terra, de onde não se via a água subir. Daí a crença na existência de águas superiores e águas inferiores, das fontes celestes e das fontes terrestres,
dos reservatórios situados nas altas regiões, suposição que concordava, perfeitamente com a idéia de uma abóbada sólida, capaz de mantê-los. As águas superiores,
se escapando pelas fissuras da abóbada, caíam em chuva, e, segundo essas aberturas eram mais ou menos extensas, a chuva era suave ou torrencial e diluviana.
"A ignorância completa do conjunto do Universo e das leis da Natureza, que o regem, da constituição e da destinação dos astros, que, aliás, parecem tão pequenos
em comparação com a Terra, deveu, necessariamente, fazer considerar esta a coisa principal, o objetivo único da criação, e os astros como acessórios unicamente em
intenção dos seus habitantes. Esse preconceito se perpetuou até os nossos dias, malgrado as descobertas da ciência, que mudaram, para o homem, o aspecto do mundo.
Quantas pessoas crêem, ainda, que as estrelas são ornamentos do céu para recrear a vista dos habitantes da Terra!
"Não tardou em se perceber o movimento aparente das estrelas, que se movem, em massa, do oriente para o ocidente, erguendo-se à tarde e deitando-se pela manhã,
conservando as suas posições respectivas. Essa observação não teve, durante longo tempo, outra conseqüência senão a de confirmar a idéia de uma abóbada sólida, arrastando
as estrelas em seu movimento de rotação.
"Essas idéias primeiras, idéias ingênuas, foram, durante longos períodos seculares, o fundo das crenças religiosas, e serviram de base para todas as cosmogonias
antigas.
"Mais tarde, compreendeu-se, pela direção do movimento das estrelas e o seu retorno periódico na mesma ordem, que a abóbada celeste não podia ser, simplesmente,
uma semi-esfera pousada sobre a Terra, mas, uma esfera inteira, oca, no centro da qual se encontrava a Terra, sempre chata, ou mais ou menos convexa, e habitada
somente em sua superfície superior. Já era um progresso.
"Mas sobre o que estava pousada a Terra? Seria inútil relacionar todas as suposições ridículas, concebidas pela imaginação, desde os dos indianos, que a diziam
levada por quatro elefantes brancos, e estes sobre as asas de um imenso abutre. Os mais sábios confessavam que nada sabiam a respeito.
"Entretanto, uma opinião geralmente difundida nas teogonias pagãs colocava nos lugares baixos, ou seja, nas profundezas da Terra, ou abaixo, não se sabia mais,
a morada dos condenados, chamada inferno, quer dizer, lugares inferiores, e, nos lugares altos, além da região das estrelas, a morada dos felizes. A palavra inferno
se conserva até nossos dias, embora tenha perdido o seu significado etimológico, desde que a geologia desalojou o lugar dos suplícios eternos das entranhas da Terra,
e que a astronomia demonstrou que não há nem alto e nem baixo no espaço infinito".
DILÚVIO BÍBLICO
"O dilúvio bíblico, designado também sob o nome de grande dilúvio asiático, é um fato cuja existência não pode ser contestada. Deve ter sido ocasionado pelo
soerguimento de uma parte das montanhas desse continente, como o do México. O que vem em apoio a essa opinião é a existência de um mar interior, que se estendia
outrora do mar Negro ao oceano Boreal, atestado pelas observações geológicas. O mar d'Azoff, o mar Cáspio, cujas águas são salgadas, embora não se comuniquem com
nenhum outro mar; o lago Aral, e os inumeráveis lagos espalhados nas imensas planícies da Tartária e as estepes da Rússia, parecem ser os restos desse antigo mar.
Quando do soerguimento das montanhas do Cáucaso, posterior ao dilúvio universal, uma parte dessas águas refluiu para o norte, para o oceano Boreal; a outra para
o sul, para o oceano Índico. Estas inundaram e devastaram precisamente a Mesopotâmia, e toda a região habitada pelos ancestrais do povo hebreu. Embora esse dilúvio
não tenha se estendido numa superfície bastante grande, um ponto hoje averiguado é que não foi senão local; que não pôde ser causado pela chuva, porque, por abundante
e contínua que pudesse ser, durante quarenta dias, o cálculo prova que a quantidade de água caída não poderia ser bastante grande para cobrir toda a Terra, até mesmo
por cima das mais altas montanhas.
"Para os homens de então, que não conheciam senão uma fração muito limitada da superfície do globo, e que não tinham nenhuma idéia de sua configuração, desde
o instante que a inundação invadiu os países conhecidos, para eles deveria sê-lo em toda a Terra. Se a esta crença se junta a forma figurada e hiperbólica particular
ao estilo oriental, não será surpresa o exagero do relato bíblico.
"O dilúvio asiático, evidentemente, é posterior à aparição do homem sobre a Terra, uma vez que a sua memória foi conservada pela tradição entre todos os
povos dessa parte do mundo, que o consagraram em suas teogonias. (3).
RAÇA ADÂMICA
"Segundo o ensino dos Espíritos, foi uma dessas grandes imigrações, ou, querendo-se, uma dessas colônias de Espíritos, vindos de uma outra esfera, que deram
nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão, e, por esta razão, chamada raça adâmica. Quando ela chegou, a Terra estava povoada desde tempos imemoriais, como
a América, quando chegaram os Europeus.
"A raça adâmica, mais avançada do que aquelas que a precederam sobre a Terra, era, com efeito, mais inteligente; foi ela que levou todas as outras ao progresso.
A Gênese no-la mostra, desde seus princípios, industriosa, apta para as artes e para as ciências, sem passar pela infância intelectual, o que não é o próprio das
raças primitivas, mas o que concorda com a opinião de que se compunha de Espíritos que já progrediram. Tudo prova que ela não era antiga sobre a Terra, e nada se
opõe a que não esteja aqui senão há alguns milhares de anos, o que não estaria em contradição nem com os fatos geológicos, nem com as observações antropológicas,
e, ao contrário, tenderia a confirmá-las.
"A doutrina que fez de todo o gênero humano proceder de uma única individualidade, há seis mil anos, não é mais admissível no estado atual dos conhecimentos.
As principais considerações que a contradizem, tiradas da ordem física e da ordem moral, se resumem nos seguintes pontos:
"Do ponto de vista psicológico, certas raças apresentam particulares tipos característicos, que não permitem assinalar-lhes uma origem comum. Há diferenças
que, evidentemente, não são o efeito do clima, uma vez que os brancos que se reproduzem nos país dos negros não se tornam negros, e reciprocamente. O ardor do Sol
tosta e amorena a epiderme, mas nunca transformou um branco em negro, achatou o nariz, mudou a forma dos traços da fisionomia, nem tornou encarapinhados e lanudos
os cabelos longos e macios. Sabe-se hoje que a cor do negro provém de um tecido particular, subcutâneo, que se liga à espécie.
"É necessário, pois, considerar as raças negras, mongólicas, caucásicas, como tendo a sua origem própria e nascidas simultaneamente, ou sucessivamente, sobre
diferentes partes do globo; seu cruzamento produziu as raças mistas secundárias. Os caracteres fisiológicos das raças primitivas são o indício evidente de que elas
provieram de tipos especiais. As mesmas considerações existem, pois, tanto para os homens como para os animais, quanto à pluralidade de estirpes. (Cap. X, nº 2 e
seguintes).
"Adão e seus descendentes são representados na Gênese como homens essencialmente inteligentes, uma vez que, desde a segunda geração, edificam as suas casas,
cultivam a terra, trabalham os metais. Seus progressos nas artes e nas ciências foram rápidos e constantemente sustentados. Não se conceberia, pois, que essa estirpe
tivesse, por descendentes, povos numerosos tão atrasados, de uma inteligência tão rudimentar, que costeiam, ainda em nossos dias, a animalidade; que perdessem todo
o traço e até a menor lembrança tradicional do que faziam seus pais. Uma diferença tão radical nas aptidões intelectuais, e no desenvolvimento moral, atesta, com
não menos evidência, uma diferença de origem.
"Independentemente dos fatos geológicos, a prova da existência do homem sobre a Terra antes da época fixada na Gênese é tirada da população do globo.
"Sem falar da cronologia chinesa, que remonta, diz-se, a trinta mil anos, documentos mais autênticos atestam que o Egito, a Índia e outros países, estavam
povoados e florescentes pelo menos três mil anos antes da era cristã, mil anos, conseqüentemente, depois da criação do primeiro homem, segundo a cronologia bíblica.
Documentos e observações recentes não deixam nenhuma dúvida, hoje, sobre as relações que existiram entre a América e os antigos Egípcios; de onde é necessário concluir
que esse continente já era povoado nessa época. Seria, pois, preciso admitir que, em mil anos, a posteridade de um único homem pôde cobrir a maior parte da Terra;
ora, uma tal fecundidade seria contrária a todas as leis antropológicas.
"A impossibilidade se torna ainda mais evidente se se admite, com a Gênese, que o dilúvio destruiu todo o gênero humano, com exceção de Noé e sua família,
que não era numerosa, no ano de 1656, seja 2348 anos antes da era cristã. Não seria, pois, em realidade, que de Noé dataria o povoamento do globo; ora, quando os
Hebreus se estabeleceram no Egito, 612 anos depois do dilúvio, sem falar de outros países, em menos de seis séculos, só pelos descendentes de Noé, o que não é admissível.
"Notemos, de passagem, que os Egípcios acolheram os Hebreus, como estrangeiros; seria de espantar que tivessem perdido a lembrança de uma comunidade de origem
tão próxima, então que conservavam religiosamente os monumentos de sua história.
"Uma lógica rigorosa, corroborada pelos fatos, demonstra, pois, da maneira mais peremptória, que o homem está sobre a Terra há um tempo indeterminado, bem
anterior à época assinalada pela Gênese. Ocorre o mesmo com a diversidade de estirpes primitivas; porque demonstrar a impossibilidade de uma proposição é demonstrar
a proposição contrária. Se a geologia descobre traços autênticos da presença do homem antes do grande período diluviano, a demonstração será ainda mais absoluta".
GÊNESE MOSAICA – OS SEIS DIAS
"1. – CAPÍTULO I – 1. No princípio Deus criou o céu e a Terra. – 2. A Terra era uniforme e toda nua; as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de
Deus pairava sobre as águas. – 3. Ora, Deus disse: Que a luz seja feita, e a luz foi feita. – 4. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. – 5. Deu
à luz o nome de dia, e às trevas e nome de noite; e da tarde e da manhã se fez o primeiro dia.
"6. Deus disse também: Que o firmamento seja feito no meio das águas, e que ele separe as águas das águas. – 7. E Deus fez o firmamento; e separou as águas
que estavam sob o firmamento daquelas que estavam acima do firmamento. E isso assim se fez. – 8. E Deus deu ao firmamento o nome de céu; e da tarde e da manhã se
fez o segundo dia.
"9. Deus disse ainda: Que as águas que estão sob o céu se reúnam em um só lugar, e que o elemento árido apareça. E isso assim se fez. – 10. Deus deu ao elemento
árido o nome de terra, e chamou mar a todas as águas reunidas. E viu que isso estava bem. – 11. Deus disse ainda; Que a terra produza erva verde que traga consigo
o grão, e árvores frutíferas que tragam consigo o fruto, cada um segundo a sua espécie, e contenham sua semente em si mesmas para se reproduzirem sobre a terra.
E isso assim se fez. – 12. A terra produziu, pois, erva verde que trazia consigo o grão segundo a sua espécie, e árvores frutíferas que continham sua semente em
si mesmas, cada uma segundo a sua espécie. E Deus viu que isso estava bom. – 13. E da tarde e da manhã se fez o terceiro dia.
"14. Deus disse também: Que corpos de luz sejam feitos no firmamento do céu, a fim de que separem o dia da noite, e que sirvam de sinais para marcar o tempo
e as estações, os dias e os anos. – 15. Que brilhem no firmamento do céu, e que clareiem a terra. E isso assim se fez. – 16. Deus fez, pois, dois grandes corpos
luminosos, um maior para presidir ao dia, e o outro menor para presidir à noite; fez também as estrelas; - 17. E colocou-os no firmamento do céu para brilharem sobre
a terra. – 18. Para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isso estava bom. – 19. E da tarde e da manhã se fez o quarto dia.
"20. Deus disse ainda: Que as águas produzam animais vivos que nadem na água, e pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento do céu. – 21. Deus criou,
pois, os grandes peixes, e todos os animais que têm a vida e o movimento, que as águas produzem cada um segundo a sua espécie, e criou também todos os pássaros segundo
a sua espécie. E viu que isso estava bom. – 22. Ele os abençoou dizendo: Crescei e multiplicai-vos, e ocupai as águas do mar; e que os pássaros se multipliquem sobre
a terra. – 23. E da tarde e da manhã se fez o quinto dia.
"24. Deus disse também: Que a terra produza animais vivos cada um segundo a sua espécie, os animais domésticos, os répteis e as bestas selvagens da terra
segundo as suas diferentes espécies. E isso assim se fez. – 25. Deus fez, pois, as bestas selvagens da terra segundo as suas espécies, os animais domésticos e todos
os répteis, cada um segundo a sua espécie. E Deus viu que isso estava bom.
"26. Ele disse em seguida: Façamos o homem à nossa imagem e à nossa semelhança, e que ele comande os peixes do mar, os pássaros do céu, as bestas, a toda
a terra e a todos os répteis que se movem sobre a terra. – 27. Deus criou, pois, o homem à sua imagem, e o criou à imagem de Deus, e o criou macho e fêmea. – 28.
Deus os abençoou, e disse-lhes: Crescei e multiplicai-vos, ocupai a terra e sujeitai-a, e dominai sobre os peixes do mar, sobre os pássaros do céu, e sobre todos
os animais que se movem sobre a terra. – 29. Deus disse ainda. Eu vos dei todas as ervas que trazem consigo o seu grão sobre a terra, e todas as árvores que contêm
em si mesmas sua semente, cada uma segundo a sua espécie, a fim de que vos sirvam de alimento; - 30. E a todos os animais da terra, a todos os pássaros do céu, a
tudo o que se move sobre a terra, e que está vivo e animado, a fim de que tenham do que se nutrir. E isso assim se fez. – 31. Deus viu todas as coisas que fizera;
e que elas estavam muito boas. -– 32. E da tarde e da manhã se fez o sexto dia.
"CAPÍTULO II. – 1. O céu e a Terra foram, pois, assim acabados com todos os seus ornamentos. – 2. Deus terminou no sétimo dia toda a obra que fizera, e repousou
nesse sétimo dia, depois de ter acabado todas as suas obras. – 3. Ele abençoou o sétimo dia e o santificou, porque cessara nesse dia de produzir todas as obras que
criara. – 4. Tal é a origem do céu e da Terra, e foi assim que foram criados no dia que o Senhor fez um e o outro. – 5. E que criou todas as plantas dos campos antes
que elas saíssem da terra, e todas as ervas da campanha antes que fossem produzidas. Porque o Senhor Deus ainda não fizera povoar a terra, e não havia o homem para
trabalhá-la; - 6. Mas se elevava da terra uma fonte que irrigava toda a superfície.
"7. O Senhor Deus formou, pois, o homem do limo da terra, e espalhou sobre o seu rosto um sopro de vida, e o homem tornou-se vivo e animado.
"Sobre alguns pontos, certamente, há uma concordância notável entre a Gênese de Moisés e a doutrina científica; mas seria errado crer-se que basta substituir
os seis dias, de vinte e quatro horas, da criação, por seis períodos indeterminados para se encontrar uma analogia completa; seria um erro, não menos grande, o crer
que, salvo o sentido alegórico de algumas palavras, a Gênese e a ciência se seguem passo a passo, e não são senão a paráfrase uma da outra.
"Notemos, de início, assim como isso foi dito, que o número de seis períodos geológicos é arbitrário, uma vez que se contam mais de vinte e cinco formações
bem caracterizadas. Este número não marca senão as grandes fases gerais; não foi adotado, no princípio, senão para encaixar, o mais possível, no texto bíblico em
uma época, pouco distante, de resto, em que se acreditava que se deveria controlar a ciência pela Bíblia. Foi por isso que os autores da maior parte das teorias
cosmogônicas, com o objetivo de se fazerem aceitar, mais facilmente, se esforçaram, por se colocarem de acordo com o texto sagrado. Quando a ciência está apoiada
sobre o método experimental, ela se sente mais forte, e está emancipada; hoje, é a Bíblia que se controla pela ciência.
"Quando Moisés disse que a criação foi feita em seis dias, quis falar do dia de vinte e quatro horas, ou bem compreendeu essa palavra no sentido de: período,
duração? A primeira hipótese é a mais provável, se se a refere ao próprio texto; primeiro porque tal é o sentido próprio da palavra hebraica iôm, traduzida por dia;
depois a especificação da tarde e da manhã, que limitam cada um dos seis dias, dá todo lugar a se supor que ele quis falar de dias comuns. Não se pode mesmo conceber
nenhuma dúvida a esse respeito, quando ele disse, versículo 5: "Ele deu à luz o nome de dia, e às trevas o nome de noite; e da tarde e da manhã se fez o primeiro
dia." Isto não pode, evidentemente, se aplicar senão ao dia de vinte e quatro horas, dividido pela luz e as trevas. O sentido é ainda mais preciso quando disse,
versículo 17, falando do Sol, da Lua e das estrelas: "Ele os colocou no firmamento do céu para brilharem sobre a Terra; para presidir ao dia e à noite, e para separar
a luz das trevas. E da tarde e da manhã se fez o quarto dia.
"Aliás, tudo, na criação, era miraculoso, e desde que se entrou na via dos milagres, pode-se perfeitamente crer que a Terra foi feita em seis vezes vinte
e quatro horas, sobretudo quando se ignoravam as primeiras leis naturais. Essa crença foi bem partilhada por todos os povos civilizados até o momento em que a geologia
chegou, documentos na mão, demonstrando-lhe a impossibilidade.
"Um dos pontos que foi o mais criticado na Gênese foi a criação do Sol depois da luz. Procurou-se explicá-lo, segundo os dados fornecidos pela própria geologia,
dizendo que, nos primeiros tempos de sua formação, a atmosfera terrestre, estando carregada de vapores densos e opacos, não permitia ver o Sol, que desde então não
existia para a Terra. Essa razão seria talvez admissível se, nessa época, houvesse habitantes para julgar da presença ou da ausência do Sol; ora, segundo o próprio
Moisés, não havia ainda senão plantas que, todavia, não puderam crescer e se multiplicar sem a ação do calor solar.
"Há, pois, evidentemente, um anacronismo na ordem que Moisés assinala da criação do Sol; mas, involuntariamente ou não, não errou em dizendo que a luz precedeu
ao Sol.
"O Sol não é o princípio da luz universal, mas uma concentração de elementos luminosos sobre um ponto, dito de outro modo, do fluido que, em circunstâncias
dadas, adquire as propriedades luminosas. Esse fluido, que é a causa, deveria necessariamente preceder o Sol, que não é senão um efeito. O Sol é causa para a luz
que ele esparge, mas é um efeito com relação àquela que recebeu.
"Num quarto escuro, uma vela acesa é um pequeno Sol. Que se fez para inflamar a vela? Desenvolveu-se a propriedade iluminaste do fluido luminoso, e concentrou-se
esse fluido sobre um ponto; a vela é a causa da luz derramada no quarto, mas se o princípio luminoso não existisse antes da vela, esta não poderia ter sido inflamada.
"Ocorre o mesmo com o Sol. O erro vem da idéia falsa, que se teve por muito tempo, de que o Universo começou com a Terra, e não se compreende que o Sol pudesse
ter sido criado antes da luz. Sabe-se agora que, antes do nosso Sol e de nossa Terra, milhões de sóis e de terras existiram, que gozavam, conseqüentemente, da luz.
A assertiva de Moisés é, pois, perfeitamente exata em princípio; ela é falsa naquilo que faz criar a Terra antes do Sol; estando a Terra submetida ao Sol em seu
movimento de translação, deve ter sido formada depois dele: era o que Moisés não podia saber, uma vez que ignorava a lei da gravitação.
"O mesmo pensamento se encontra na Gênese dos antigos Persas. No primeiro capítulo da Vendedad, Ormuzd, contando a origem do mundo, disse: 'Eu criei a luz
que foi iluminar o Sol, a Lua e as estrelas'. (Dictionnaire de mythologie universelle.) A forma, certamente, está aqui mais clara e mais científica do que em Moisés,
e não tem necessidade de comentário.
"Moisés, evidentemente, partilhava as mais primitivas crenças sobre a cosmogonia. Como os homens de seu tempo, acreditava na solidez da abóbada celeste,
e em reservatórios superiores para as águas. Esse pensamento está expresso, sem alegoria nem ambigüidade, nesta passagem (versículo 6 e seguintes): 'Deus disse:
Que o firmamento seja feito no meio das águas, e que ele separe as águas das águas. Deus fez o firmamento e ele separou as águas que estavam sob o firmamento daquelas
que estavam acima do firmamento'.
"Uma antiga crença fazia considerar a água como o princípio, o elemento gerador primitivo; também Moisés não fala da criação das águas, que parecem já existir.
'As trevas cobriam o abismo', quer dizer, as profundezas do espaço que a imaginação se representava vagamente ocupada pelas águas, e nas trevas antes da criação
da luz; eis porque Moisés disse: 'O Espírito de Deus era levado (ou planava) sobre as águas'. A Terra sendo considerada formada no meio das águas, era necessário
isolá-la; supôs-se, pois, que Deus fizera o firmamento, abóbada sólida que separava as águas do alto das que estavam sobre a Terra.
"Para se compreender certas partes da Gênese, necessariamente, é preciso colocar-se no ponto de vista das idéias cosmogônicas do tempo, do qual ela é o reflexo.
(grifo nosso)
"Depois dos progressos da física e da astronomia, semelhante doutrina não era sustentável (4). Entretanto, Moisés empresta essas palavras ao próprio Deus;
ora, uma vez que exprimem um fato notoriamente falso, de duas coisas uma, ou Deus enganou-se no relato que fez de sua obra, ou esse relato não foi uma revelação
divina. Não sendo admissível a primeira suposição, disso é necessário concluir que Moisés expressou as suas próprias idéias.
"Moisés está mais com a verdade quando disse que Deus formou o homem do limo da terra (5). A ciência nos mostra, com efeito, que o corpo do homem está composto
de elementos hauridos na matéria inorgânica, dito de outro modo, no limo da terra.
"A mulher formada com uma costela de Adão é uma alegoria, pueril em aparência, tomada pela letra, mas profundo pelo sentido. Ela tem por objetivo mostrar
que a mulher é da mesma natureza que o homem, sua igual, por conseguinte, diante de Deus, e não uma criatura à parte, para ser escravizada e tratada como pária.
Saída de sua própria carne, a imagem da igualdade é bem mais impressionante, que se fora formada separadamente com o mesmo limo; é dizer ao homem que ela é sua igual,
e não sua escrava, a quem deve amar como uma parte de si mesmo.
"Para os espíritos incultos, sem nenhuma idéia das leis gerais, incapazes de abraçarem o conjunto e de conceberem o infinito, essa criação miraculosa e instantânea
tinha alguma coisa de fantástica que feria a sua imaginação. O quadro do Universo tirado do nada em alguns dias, por um único ato da vontade criadora, era para eles
o sinal mais brilhante do poder de Deus. Que pintura, com efeito, mais sublime e mais poética desse poder que estas palavras: 'Deus disse: Que a luz seja, e a luz
foi feita!' Deus, criando o Universo pelo cumprimento lento e gradual das leis da Natureza, parecer-lhes-ia menos grande e menos poderoso; era-lhes necessária alguma
coisa maravilhosa que saísse das vias comuns, de outro modo diriam que Deus não era mais hábil que os homens. Uma teoria científica e raciocinada da criação tê-lo-ia
deixado frios e indiferentes.
"Não rejeitemos, pois, a Gênese bíblica; estudemo-la, ao contrário, como se estuda a história da infância dos povos. É uma epopéia rica de alegorias, das
quais é preciso procurar o sentido oculto; que é necessário comentar e explicar com as luzes da razão e da ciência. Fazendo em tudo ressaltar as belezas poéticas,
e as instruções veladas sob a forma figurada, é preciso demonstrar-lhe com firmeza os erros, no interesse mesmo da religião. Respeitar-se-á melhor esta quando seus
erros não forem impostos à fé como verdades, e Deus com isso não parecerá senão maior e mais poderoso, quando seu nome não estiver misturado com fatos controversos".
(grifo nosso).
GÊNESE MOSAICA – O PARAÍSO PERDIDO (6)
"CAPÍTULO II – 9. Ora, o Senhor Deus plantara desde o começo um jardim delicioso, no qual colocou o homem que formara. – O Senhor Deus também produzira da
terra todas as espécies de árvores belas à visão e cujos frutos eram agradáveis ao gosto, e a árvore da vida no meio do paraíso (7), com a árvore da ciência do bem
e do mal. (Ele fez sair, Jeová Eloim, da terra (min haadama) toda árvore boa de se ver e boa para comer, e a árvore da vida (vehetz hachayim) no meio do jardim,
e a árvore da ciência do bem e do mal).
"15. O Senhor tomou, pois, o homem e o colocou no paraíso de delícias, a fim de que cultivasse e guardasse. – 16. Deu-lhe também esta ordem e lhe disse:
Comei de todas as árvores do paraíso. (Ele ordenou, Jeová Eloim, ao homem (hal haadam), dizendo: De toda árvore do jardim (hagan) podes comer). – 17. Mas não comas
do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no mesmo tempo que dela comeres morreras muito certamente. (E da árvore da ciência do bem e do mal (ou-mehetz
hadaat tob vara) dela não comerás, porque no dia em que dela comeres, morrerás).
"CAPÍTULO III – 1. Ora, a serpente era o mais sagaz de todos os animais que o Senhor Deus formara sobre a Terra. Ela disse à mulher: Por que Deus vos ordenou
para não comer o fruto de todas as árvores do paraíso? (E a serpente (nâhâsch) era astuta mais que todos os animais terrestres que Jeová Eloim fizera: ela disse
à mulher (el haischa): É que disse, Eloim: não comereis de nenhuma árvore do jardim?). – 2. A mulher lhe respondeu: Nós comemos os frutos de todas as árvores que
estão no paraíso. (Ela disse, a mulher, à serpente, do fruto (miperi) das árvores do jardim podemos comer.) – 3. Mas para o que é o fruto da árvore que está no meio
do paraíso, Deus nos ordenou para dela não comer, e não tocá-la, de medo que estivéssemos em perigo de morrer. – 4. A serpente respondeu à mulher: Seguramente, não
morrereis; - 5. Mas é que Deus sabe que logo que houverdes comido desse fruto, os vossos olhos serão abertos, e sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal.
"6. A mulher considerou, pois, que o fruto dessa árvore era bom para comer; que era belo e agradável à visão. E tendo-o tomado, comeu-o, e dele deu ao seu
marido, para que comesse também. (Ela viu, a mulher, que era boa, a árvore, como alimento, e que era invejável a árvore para COMPREENDER (leaskil), e ela pegou do
seu fruto, etc.).
"8. E com eles ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no paraíso depois do meio-dia, quando se eleva um vento brando, eles se retiraram para o meio das
árvores do paraíso, para se esconderem de diante de sua face.
"9. Então o Senhor Deus chamou Adão, e disse-lhe: Onde estais? – 10. Adão lhe respondeu: Eu ouvi a vossa voz no paraíso, e tive medo porque estava nu; foi
por isso que me ocultei. – 11. O Senhor lhe respondeu: De onde soubestes que estáveis nu, senão porque comeste do fruto da árvore da qual vos proibi de comer?- 12.
Adão lhe respondeu: A mulher que me destes por companheira me apresentou o fruto dessa árvore, e eu o comi. – 13. O Senhor Deus disse à mulher: Por que fizeste isso?
Ela respondeu: A serpente me enganou, e eu comi desse fruto.
"14. Então o Senhor Deus disse à serpente: Porque fizestes isso, és maldita entre todos os animais e todas as bestas da Terra; rastejarás sobre o ventre,
e comerás a terra todos os dias de tua vida. – 15. Colocarei uma inimizade entre ti e a mulher, entre a sua raça e a tua. Ela te quebrará a cabeça e tu tratarás
de mordê-la pelo calcanhar.
"16. Deus disse também à mulher: Eu vos afligirei com vários males durante a vossa gravidez; parireis na dor; estareis sob a dominação do vosso marido, e
ele vos dominará.
"17. Disse em seguida a Adão: Porque escutastes a voz de vossa mulher, e comestes do fruto da árvore da qual vos proibi de comer, a terra será maldita por
causa do que fizestes, e dela não tirareis de que vos alimentar durante toda a vida senão com muito trabalho.
"18. Ela vos produzirá espinhos e sarças, e vos nutrireis da erva da terra. – 19. E comereis o vosso pão com o suor de vosso rosto, até que retorneis à terra
de onde fostes tirado, porque sois pó, e em pó retornareis.
"20. E Adão deu à mulher o nome de Eva, que significa a vida, porque ela era a mãe de todos os viventes.
"21. O Senhor Deus fez também, para Adão e sua mulher, roupas de peles com as quais os revestiu. – 22. E disse: Eis Adão tornado como um dos nossos sabendo
o bem e o mal. Impeçamos, pois, agora, que não leve sua mão à árvore da vida, que não tome também de seu fruto, e que, comendo desse fruto, não viva eternamente.
(Ele disse, Jeová Eloim: Eis aí, o homem se fez como um dos nossos pelo conhecimento do bem e do mal; e agora ele pode estender a mão e tomar da árvore da vida (veata
pen ischlechyado velakach mehetz hachayim); dela comerá e viverá eternamente).
"23. O Senhor Deus fê-lo sair do jardim de delícias, a fim de que fosse trabalhar na cultura da terra de onde fora tirado.
"24. E tendo-os expulsado, colocou os querubins (8) diante do jardim de delícias, que faziam cintilar uma espada de fogo, para guardar o caminho que conduzia
à árvore da vida.
"Sob uma imagem pueril, e às vezes ridícula, detendo-se na forma, a alegoria esconde, freqüentemente, as maiores verdades. Há uma fábula mais absurda, à
primeira vista, que a de Saturno, um deus devorando pedras que toma por filhos? Mas, ao mesmo tempo, que de mais profundamente filosófico e verdadeiro do que essa
personificação do tempo; todas as coisas sendo obra do tempo, ele é o pai de tudo o que existe, mas também tudo se destrói com o tempo. Saturno devorando as pedras
é o emblema da destruição, pelo tempo, dos corpos mais duros que são os seus filhos, uma vez que se formaram com o tempo. E o que escapa a essa destruição, segundo
essa mesma alegoria? Júpiter, o emblema da inteligência superior, do princípio espiritual, que é indestrutível. Essa imagem é mesmo tão natural que, na linguagem
moderna, sem alusão à Fábula antiga, diz-se de uma coisa deteriorada com o tempo, que ela é devorada pelo tempo, roída, destruída pelo tempo.
"Toda a mitologia pagã, em realidade, não é senão um vasto quadro alegórico dos diversos lados, bons e maus, da Humanidade. Para quem nela procura o espírito,
é um curso completo da mais alta filosofia, como ocorre com as nossas fábulas modernas. O absurdo seria tomar a forma pelo fundo.
"Ocorre o mesmo com a Gênese, onde é necessário ver as grandes verdades morais sob figuras materiais que, tomadas pela letra, seriam tão absurdas quando
se, em nossas fábulas, se tomassem pelas letras as cenas e os diálogos atribuídos aos animais.
"Adão é a personificação da Humanidade: sua falta individualiza a fraqueza do homem, em quem predominam os instintos materiais, aos quais não sabe resistir
(9).
"A árvore, como árvore da vida, é o emblema da vida espiritual; como árvore da ciência, é o da consciência do homem que adquire do bem e do mal para o desenvolvimento
de sua inteligência, e o do livre arbítrio em virtude do qual ele escolhe entre os dois; marca o ponto em que a alma do homem deixa de ser guiada somente pelos instintos,
toma posse de sua liberdade e incorre na responsabilidade de seus atos.
"O fruto da árvore é o emblema do objetivo dos desejos materiais do homem; é a alegoria da cobiça e da concupiscência; resume, sob uma mesma figura, os motivos
de arrastamento ao mal; comendo, é sucumbir à tentação. Ele cresce no meio do jardim das delícias para mostrar que a sedução está no próprio seio dos prazeres, e
lembrar que, se o homem dá preponderância aos gozos materiais, prende-se à Terra e afasta-se de sua destinação espiritual.
"A morte da qual está ameaçado, se transgride a proibição que lhe é feita, é uma advertência das conseqüências inevitáveis, físicas e morais, que arrasta
a violação das leis divinas, que Deus gravou em sua consciência. É bem evidente que não se trata aqui da morte corpórea, uma vez que, depois de sua falta, Adão viveu
ainda por muito tempo, mas bem da morte espiritual, dito de outro modo, da perda dos bens que resultam do adiantamento moral, perda da qual a sua expulsão do jardim
das delícias é a imagem.
"A serpente está longe de passar hoje pelo tipo da astúcia; está, pois, aqui, com relação à sua forma antes que pelo seu caráter, uma alusão à perfídia dos
maus conselhos que deslizam como a serpente, e nos quais, freqüentemente, por essa razão, não se confia mais. Aliás, se a serpente, por ter enganado a mulher, foi
condenada a rastejar sobre o ventre, isso queria dizer que ela antes tinha pernas, e, então, não era mais uma serpente. Por que, pois, impor à fé ingênua e crédula
das crianças, como verdades, alegorias tão evidentes, e que, em fazendo seu julgamento, se faz com que, mais tarde, olhem a Bíblia como um enredo de fábulas absurdas?
"É necessário notar, por outro lado, que a palavra hebraica nâhâsch, traduzida pela palavra serpente, vem da raiz nâhâsch que significa: fazer encantamentos,
adivinhar as coisas ocultas, e pode significar: encantador, adivinho. Encontra-se, com essa acepção, na Gênese, cap. XLIV, v. 5 a 15, a propósito da taça que José
fez esconder no saco de Benjamim: "A taça que furtastes é aquela na qual meu Senhor bebe, e da qual se serve para adivinhar (nâhâsch). – Ignorais que não há quem
me iguale na ciência de adivinhar (nâhâsch)? – No livro dos Números, cap. XXIII, v. 23: "Não há encantamentos (nâhâsch) em Jacó, nem adivinhos em Israel." Conseqüentemente,
a palavra nâhâsch tomou também o significado de serpente, réptil que os encantadores pretendiam encantar, ou do qual se serviam em seus encantamentos.
"Não foi senão na versão dos Setenta, - que, segundo Hutcheson, corromperam o texto hebreu em muitos lugares, - escrita em grego no segundo século antes
da era cristã, que a palavra nâhâsch foi traduzida por serpente. As inexatidões dessa versão, sem dúvida, prendem-se às modificações que a língua hebraica sofrera
no intervalo; porque o hebreu do tempo de Moisés era então uma língua morta, que diferia do hebreu vulgar, tanto quanto o grego antigo e o árabe literário diferem
do grego e do árabe modernos (10).
"É, pois, provável que, Moisés entendesse, por sedutor da mulher, o desejo indiscreto de conhecer as coisas ocultas suscitadas pelo Espírito de adivinhação,
o que está de acordo com o sentido primitivo da palavra nâhâsch, adivinho; de outra parte, com estas palavras: 'Deus sabia que logo que comerdes desse fruto, vossos
olhos serão abertos, e sereis como deuses. – Ela viu, a mulher, que era invejável a árvore para compreender (léaskil), e ela tomou de seu fruto'. Não se pode esquecer
que Moisés queria proscrever, entre os Hebreus, a arte de adivinhação, em uso entre os Egípcios, assim como prova a sua proibição de interrogar os mortos, e o Espírito
de Python.
"A passagem onde está dito que: 'O Senhor passeava pelo paraíso, depois do meio-dia, quando se levantou um vento brando', é uma imagem ingênua e um tanto
pueril que a crítica não deixou de realçar; mas nada tem que deva surpreender reportando-se à idéia que os Hebreus, dos tempos primitivos, faziam da Divindade. Para
essas inteligências rudes, incapazes de conceberem abstrações, Deus devia revestir uma forma concreta, e referiam tudo à Humanidade como ao único ponto conhecido.
Moisés lhes falava, pois, como crianças, por imagens sensíveis. No caso de que se trata, era o poder soberano personificado, como os Pagãos personificavam, sob figuras
alegóricas, as virtudes, os vícios e as idéias abstratas. Mais tarde, os homens despojaram a idéia da forma, como a criança, tornada adulta, procura o sentido moral
nos contos com os quais embalaram. É necessário, pois, considerar essa passagem como uma alegoria da Divindade vigiando ela mesma os objetos de sua criação. O grande
rabino Wogue traduziu-a assim: "Eles ouviram a voz do Eterno Deus, percorrendo o jardim do lado de onde vem o dia".
"Se a falta de Adão foi literalmente o ter comido uma fruta, incontestavelmente, ela não poderia, por sua natureza quase pueril, justificar o rigor com que
foi atingido. Não se poderia, não mais racionalmente, que esse seja o fato que se supõe geralmente; de outro modo Deus, considerando esse fato como um crime irremissível,
condenaria a sua própria obra, uma vez que criara o homem para a propagação. Se Adão houvesse entendido nesse sentido a proibição de tocar o fruto da árvore, e que
se conformasse com ele, escrupulosamente, onde estaria a Humanidade, e que seria com isso dos desígnios do Criador?
"Deus não criara Adão e Eva para que permanecessem sozinhos sobre a Terra; e a prova disso está nas próprias palavras que dirigiu imediatamente depois de
sua formação, então quando ainda estavam no paraíso terrestre: "Deus os abençoou e disse: Crescei e multiplicai-vos, enchei a Terra e sujeitai-a". (Cap. I, v. 28)
Uma vez que a multiplicação do homem era uma lei desde o paraíso terrestre, a sua expulsão não poderia ter por causa o fato suposto.
"O que dá crédito a essa suposição é o sentimento de vergonha de que Adão e Eva foram tomados diante de Deus, e que os levou a se esconderem. Mas essa própria
vergonha é uma figura por comparação: ela simboliza a confusão que todo culpado sente em presença daquele que ofendeu.
"Qual é, pois, em definitivo, essa falta tão grande que pôde atingir com a reprovação perpétua a todos os descendentes daqueles que a cometeu? Caim, o fratricida,
não foi tratado tão severamente. Nenhum teólogo pôde defini-la logicamente, porque todos, não saindo da letra, giraram num círculo vicioso.
"Hoje, sabemos que essa falta não foi um ato isolado, pessoal a um indivíduo, mas que ela compreende, sob um fato alegórico único, o conjunto das prevaricações
das quais pôde se tornar culpada a Humanidade ainda imperfeita da Terra, e que se resumem nestas palavras: infração às leis de Deus. Eis porque a falta do primeiro
homem, simbolizando a Humanidade, foi simbolizada, ela mesma, por um ato de desobediência.
"Dizendo a Adão que ele tiraria o seu alimento da terra com o suor de seu rosto, Deus simboliza a obrigação do trabalho; mas por que faz do trabalho uma
punição? Que seria a inteligência do homem se ela não se desenvolvesse pelo trabalho? Que seria a terra, se ela não fosse fecundada, transformada, saneada pelo trabalho
inteligente do homem?
"Está dito (cap. II, v. 5 e 7): 'O Senhor Deus não fizera ainda chover sobre a Terra, e não tinha nenhum homem para trabalhá-la. O Senhor formou, pois, o
homem do limo da terra'. Estas palavras, aproximadas destas: Enchei a Terra, provam que o homem estava, desde a origem, destinado a ocupar toda a Terra e cultivá-la;
e, por outro lado, que o paraíso terrestre não era um lugar circunscrito sobre um canto do globo. Se a cultura da Terra deveria ser a conseqüência da falta de Adão,
disso resulta que, se Adão não pecasse, a Terra ficaria inculta, e que os objetivos de Deus não teriam se cumprido.
"Por que disse ele à mulher que, porque ela cometeu a falta, parirá na dor? Como a dor do parto pode ser um castigo, uma vez que é conseqüência do organismo,
e que está fisiologicamente provado que ela é necessária? Como uma coisa que está segundo as leis da Natureza pode ser uma punição? É o que os teólogos não puderam
ainda explicar, e o que não poderão fazê-lo enquanto não saírem do ponto de vista em que se colocaram; e entretanto essas palavras, que parecem contraditórias, podem
ser justificadas.
"Notemos, em primeiro lugar que se, no momento da criação de Adão e Eva, sua alma fosse tirada do nada, como se ensina, elas deveriam ser noviças em todas
as coisas; não deveriam saber o que é morrer. Uma vez que estavam sós sobre a Terra, enquanto viveram no paraíso terrestre, não viram ninguém morrer; como, pois,
compreenderiam em que consistia a ameaça de morte que Deus lhes fazia? Como Eva poderia compreender que parir na dor seria uma punição, uma vez que, acabada de nascer
para a vida, nunca tivera filhos, e que era a única mulher no mundo?
"As palavras de Deus não poderiam ter, pois, para Adão e Eva, nenhum sentido. Apenas tirados do nada, não deveriam saber nem por quê e nem como dele saíram;
não deviam compreender nem o Criador nem o objetivo da proibição que lhes fazia. Sem nenhuma experiência das condições da vida, pecaram como crianças que agem sem
discernimento, o que torna mais incompreensível ainda a terrível responsabilidade que Deus fez pesar sobre eles e sobre a Humanidade inteira.
"O que é um impasse para a teologia, o Espiritismo o explica sem dificuldade e de maneira racional, pela anterioridade da alma e a pluralidade das existências,
lei sem a qual tudo é mistério e anomalia na vida do homem. Com efeito, admitamos que Adão e Eva já tinham vivido, tudo se encontra justificado: Deus não lhes fala
como a crianças, mas como a seres em estado de compreenderem e que o compreendem, prova evidente de que têm um conhecimento anterior. Admitamos, por outro lado,
que viveram num mundo mais avançado e menos material do que o nosso, onde o trabalho do Espírito supria o trabalho do corpo; que pela sua rebelião à lei de Deus,
figurada pela desobediência, hajam sido excluídos e exilados, por punição, sobre a Terra, onde o homem, em conseqüência da natureza do globo, está sujeito a um trabalho
corporal, Deus tinha razão em dizer-lhes: No mundo onde ides viver doravante, "cultivareis a terra e dela retirareis o vosso alimento com o suor do vosso rosto";
e à mulher: "Parireis com dor", porque tal é a condição deste mundo.
"O paraíso terrestre, cujos traços inutilmente se tem procurado sobre a Terra, era, pois, a figura do mundo feliz onde vivera Adão, ou antes a raça dos Espíritos
dos quais é a personificação. A expulsão do paraíso marca o momento em que esses Espíritos vieram se encarnar entre os habitantes deste mundo, e a mudança de situação
que lhe foi a conseqüência. O anjo armado de uma espada flamejante, que proíbe a entrada no paraíso, simboliza a impossibilidade em que estão os Espíritos dos mundos
inferiores de penetrar nos mundos superiores, antes de tê-lo merecido por depuração.
" – Caim (depois da morte de Abel) respondeu ao Senhor: Minha iniquidade é muito grande para poder dele obter o perdão. – Vós me expulsais hoje de cima da
Terra, e eu irei me esconder diante de vossa face. Eu serei fugitivo e vagabundo sobre a Terra, portanto, quem quer que me encontre, me matará. – O Senhor lhe respondeu:
Não, assim não será; porque quem matar Caim será punido muito severamente por isso. E o Senhor pôs um sinal sobre Caim, a fim de que aqueles que o encontrassem não
o matassem.
"Tendo Caim se retirado de diante da face do Senhor, foi vagabundo sobre a Terra, e habitou a região oriental do Éden. – E tendo conhecido sua mulher, ela
concebeu e pariu Henoch. Ele edificou (vaiehi bôné; lit.: estava edificando) uma cidade, a que chamou Henoch (Enochia) do nome de seu filho. (Cap. IV, v. de 13 a
16).
"Se se prender à letra da Gênese, eis a que conseqüências se chega: Adão e Eva estavam sozinhos no mundo depois de sua expulsão do paraíso terrestre; não
foi senão posteriormente que tiveram por filhos Caim e Abel. Ora, tendo Caim matado seu irmão e tendo se retirado para uma outra região, não reviu mais seu pai e
sua mãe, que ficaram de novo sozinhos; não foi senão muito tempo depois, com a idade de cento e trinta anos, que Adão teve um terceiro filho, chamado Seth. Depois
do nascimento de Seth, ele viveu ainda, segundo a genealogia bíblica, oitocentos anos, e teve filhos e filhas.
"Quando Caim veio se estabelecer no oriente do Éden, não havia, pois, sobre a Terra senão três pessoas: seu pai, sua mãe e ele, sozinho de seu lado. Entretanto,
ele teve uma mulher e um filho; qual poderia ser essa mulher, e onde pudera tomá-la? O texto hebreu diz: Ele estava edificando uma cidade, e não ele edificou, o
que indica uma ação presente e não uma ulterior; mas uma cidade supõe habitantes, porque não se deve presumir que Caim a fez para ele, sua mulher e seu filho, nem
que pôde construí-la sozinho.
"É necessário, pois, inferir desse relato mesmo que a região estava povoada; ora, não poderia sê-lo pelos descendentes de Adão, que então não tinha outro
descendente senão Caim.
"A presença de outros habitantes ressalta igualmente desta palavra de Caim: 'Eu serei fugitivo e vagabundo, e quem quer que me encontre me matará', e da
resposta que Deus lhe deu. Por quem poderia temer ser morto, e para que o sinal que Deus pôs sobre ele para preservá-lo, se não deveria encontrar ninguém? Se, pois,
havia sobre a Terra outros homens fora da família de Adão, é porque aí estavam antes dele; de onde esta conseqüência, tirada do próprio texto da Gênese, que Adão
não foi nem o primeiro e nem o único pai do gênero humano.
"Eram necessários os conhecimentos trazidos pelo Espiritismo a respeito das relações do princípio espiritual e do princípio material, sobre a natureza da
alma, sua criação no estado de simplicidade e de ignorância, sua união com o corpo, sua marcha progressiva indefinida através das existências sucessivas, e através
dos mundos que são outros tantos degraus do caminho do aperfeiçoamento, sua libertação gradual da influência da matéria pelo uso de seu livre arbítrio, a causa de
seus pendores bons ou maus e de suas aptidões, o fenômeno do nascimento e da morte, o estado do Espírito na erraticidade, enfim, o futuro que é o prêmio de seus
esforços para se melhorar e de sua perseverança no bem, para lançar a luz sobre todas as partes da Gênese espiritual.
"Graças a esta luz, o homem sabe doravante de onde vem, para onde vai, por que está sobre a Terra e por que sofre; sabe que o seu futuro está entre as suas
mãos, e que a duração de seu cativeiro neste mundo depende dele. A Gênese, saída da alegoria estreita e mesquinha, aparece-lhe grande e digna da majestade, da bondade
e da justiça do Criador. Considerada deste ponto de vista, a Gênese confundirá a incredulidade e vencê-la-á".
DA PROIBIÇÃO DE EVOCAR OS MORTOS
Em O Céu e o Inferno, Kardec coloca:
"É útil, para a compreensão do verdadeiro sentido das palavras de Moisés, lembrar-lhes o texto completo, um pouco abreviado nessa citação:
"Não vos desvieis de vosso Deus, para ir procurar os mágicos, e não consulteis os adivinhos, de medo de vos manchar, em vos dirigindo a eles. Eu sou o Senhor
vosso Deus". (Levítico, cap. XIX, v.31).
"Se um homem ou uma mulher tem um Espírito de Píton, ou um espírito de adivinhação, que sejam punidos de morte; serão lapidados, e seu sangue cairá sobre
a sua cabeça". (idem, cap. XX, v. 27).
"Quando entrardes no país que o Senhor vosso Deus vos dará, tomai muito cuidado para não querer imitar as abominações desses povos; - e que não se encontre
ninguém entre vós, que pretenda purificar seu filho ou sua filha fazendo-os passar pelo fogo, ou que consulte os adivinhos, ou que observe os sonhos e os augúrios,
ou que use de malefícios, de sortilégios e de encantamentos, ou que consulte aqueles que têm o Espírito de Píton, e que se metem de adivinho, ou que interroguem
os mortos para aprender a verdade. – Porque o Senhor tem abominação de todas essas coisas, e exterminará todos esses povos à vossa entrada, por causa dessas espécies
de crimes que cometeram". (Deuteronômio cap. XVIII, v. 9, 10, 11 e 12).
"Se a lei de Moisés deve ser rigorosamente observada sobre este ponto, deve sê-lo igualmente sobre todos os outros, pois, por que seria boa no que concerne
às evocações, e má em outras partes? É preciso ser conseqüente; reconhecendo-se que a sua lei não está mais em harmonia com os nossos costumes, e a nossa época,
para certas coisas, não há razão para que ela não esteja quanto à proibição de que se trata.
"Aliás, é preciso se reportar os motivos que provocaram essa proibição, motivos que tinham, então, a sua razão de ser, mas que, seguramente, hoje não existem
mais. O legislador hebreu queria que seu povo rompesse com todos os costumes hauridos no Egito, onde o das evocações estava em uso e eram um motivo de abuso, como
provam estas palavras de Isaías: "O Espírito do Egito se aniquilará nele, e eu arrasarei a sua prudência; eles consultarão seus ídolos, seus adivinhos, seus pítons
e seus mágicos".(cap. XIX, v. 3).
"Além disso, os Israelitas não deviam contratar nenhuma aliança com as nações estrangeiras; ora, eles iriam encontrar as mesmas práticas entre aqueles, onde
iam entrar, e que deviam combater. Moisés devia, pois, por política, inspirar ao povo hebreu a aversão por todos os seus costumes que tivessem ponto de contato,
se lhes fora assimilado. Para motivar essa aversão, era preciso apresentá-los como reprovados pelo próprio Deus; por isso ele disse: 'O Senhor tem abominação a todas
essas coisas, e destruirá, à vossa chegada, as nações que cometem esses crimes'.
"A proibição de Moisés era tanto mais justificada quanto não se evocavam os mortos por respeito e afeição por eles, nem com um sentimento de piedade; era
um meio de adivinhação, da mesma qualidade que os augúrios e os presságios, explorados pelo charlatanismo e pela superstição. Seja o que for que haja feito, não
conseguiu desenraizar esse hábito que se converteu no objeto de um tráfico, assim como o atestam as passagens seguintes, do mesmo profeta:
"E quando vos disserem: Consultai os mágicos e os adivinhos, que falam em segredo em seus encantamentos, respondei-lhes: 'Cada povo não consulta seu Deus?
E vai-se falar aos mortos daquilo que diz respeito aos vivos?'" (Isaías, cap. VIII, v.19).
"Sou eu quem faço ver a falsidade dos prodígios da magia; que tornam insensatos aqueles que se intrometem em adivinhar; que transtorna o espírito dos sábios,
e que convence de loucura a sua vã ciência". (Cap. XLIV, v. 25).
"Que esses augúrios que estudam o céu, que contemplam os astros, e que contam os meses para deles tirarem a predição que querem vos dar do futuro, venham
agora e que vos salvem. – Vieram como a palha, o fogo as devorou; não poderão livrar suas almas das chamas ardentes; não restará de seu abrasamento nem carvões nos
quais se possa aquecer, tornarão todas essas coisas às quais vos aplicastes com tanto trabalho; esses negociantes que traficaram convosco em vossa juventude desaparecerão
todos, um dum lado, outro de outro, sem que deles se encontre um único que vos tire de vossos males". (Cap. XLVII, vv. 13, 14 e 15).
"Neste capítulo, Isaías se dirige aos Babilônios, sob figura alegórica "da virgem filha da Babilônia, filha dos Caldeus". Diz que os encantamentos não impedirão
a ruína de sua monarquia. No capítulo seguinte dirige-se diretamente aos israelitas.
"Vinde aqui, vós outros, filhos de um adivinhador, raça de um homem adúltero e de uma mulher prostituída. – De quem zombais? Contra quem abristes a boca,
e lançastes vossas línguas penetrantes? Não sois filhos pérfidos e descendentes bastardos – vós que procurais a vossa consolação nos vossos deuses, sob todas as
árvores carregadas de folhagem, que sacrificais os vossos filhos pequenos nas torrentes sob as rochas avançadas? – Tendes colocado a vossa confiança nas pedras da
torrente; espalhastes licores para honrá-los; ofertastes-lhes sacrifícios. Depois disso, a minha indignação não se incendiará?" (Cap. LVII, vv. 3, 4, 5 e 6).
"Estas palavras são inequívocas; provam claramente que, nesse tempo, as evocações tinham por objetivo a adivinhação, e que delas se fazia um comércio; estavam
associadas às práticas da magia e da feitiçaria, e mesmo acompanhadas de sacrifícios humanos. Moisés, pois, tinha razão em proibir essas coisas, e de dizer que Deus
as tinha em abominação. Essas práticas supersticiosas se perpetuaram até a Idade Média; mas hoje a razão lhes fez justiça, e o Espiritismo veio mostrar o objetivo
exclusivamente moral, consolador e religioso das relações de além-túmulo; já que os espíritas não "sacrificam as crianças pequenas, nem derramam licores para honrar
os deuses", que não interrogam nem os astros, nem os mortos, nem aos augúrios para conhecerem o futuro que Deus sabiamente ocultou aos homens; que repudiam todo
tráfico da faculdade que alguns receberam de se comunicarem com os Espíritos; que não estão movidos nem pela curiosidade, nem pela cupidez, mas por um sentimento
piedoso e pelo único desejo de se instruírem, de se melhorarem e de aliviarem as almas sofredoras, a proibição de Moisés não lhes concerne de modo algum; é o que
teriam visto aqueles que a invocam contra eles, se tivessem aprofundado melhor no sentido das palavras bíblicas; teriam reconhecido que não existe nenhuma analogia
entre o que se passava com os Hebreus e os princípios do Espiritismo; bem mais: que o Espiritismo condena precisamente o que motivava a proibição de Moisés; mas,
cegos pelo desejo de encontrarem um argumento contra as idéias novas, não se aperceberam que esse argumento é completamente falso.
"A lei civil de nossos dias pune todos os abusos que Moisés queria reprimir. Se Moisés decretou a pena de morte contra os delinqüentes, foi porque precisava
de meios rigorosos para governar esse povo indisciplinado; também a pena de morte está prodigalizada em sua legislação; não havia, de resto, grande escolha em seus
meios de repressão; não existiam nem prisões, nem casas de correção no deserto, e seu povo não era de natureza a temer penas puramente disciplinares; não podia aumentar
a sua penalidade como se faz em nossos dias. É, pois, erradamente que se apóia na severidade do castigo para provar o grau de culpabilidade da evocação dos mortos.
Seria preciso, por respeito à lei de Moisés, manter a pena capital para todos os casos em que ele a aplicava? Aliás, por que reviver com tanta insistência esse artigo,
quando se silencia o começo do capítulo que proíbe aos sacerdotes possuírem bens da Terra, de terem parte em alguma herança, porque é o próprio Senhor a sua herança?
(Deuteronômio, cap. XXVIII, vv. 1 e 2).
"Há duas partes distintas na lei de Moisés; a lei de Deus propriamente dita, promulgada no Monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, apropriada aos costumes
e ao caráter do povo; uma é invariável, a outra se modifica segundo os tempos, e não pode vir ao pensamento de ninguém que possamos ser governados pelos mesmos meios
que os hebreus no deserto, não menos que os capitulares de Carlos Magno não poderiam se aplicar na França do décimo-nono século. Quem sonharia, por exemplo, reviver
hoje este artigo da lei mosaica: "Se um boi fere com seu chifre um homem ou uma mulher, e que disso morram, o boi será lapidado, e não se comerá de sua carne; mas
o dono do boi será julgado inocente". (Êxodo, cap. XXI, v. 28 e seg.).
"Este artigo, que nos parece tão absurdo, não tinha, todavia, por finalidade punir o boi e pagar o seu senhor, simplesmente, equivaleria ao confisco do animal,
por causa do acidente, para obrigar o proprietário a mais vigilância. A perda do boi era a punição ao seu dono, punição que devia ser bastante sensível, em um povo
pastor, para que não fosse necessário inflingir-lhe outra; entretanto, ela não devia aproveitar a ninguém, por isso era proibido comer-lhe a carne. Outros artigos
estipulam o caso em que o dono é responsável.
"Tudo tinha a sua razão de ser na legislação de Moisés, porque tudo nela está previsto até os mínimos detalhes; mas a forma, assim como o fundo, estavam
segundo as circunstâncias onde ele se encontrava. Certamente, se Moisés retornasse hoje para dar um código a uma nação civilizada da Europa, não lhe daria o dos
Hebreus.
"A isso se objeta que todas as leis de Moisés foram editadas em nome de Deus, tanto quanto a do Sinai. Se todas são julgadas de fonte divina, por que os
mandamentos estão limitados no Decálogo? É, pois, que se fez a diferença; se todas emanam de Deus, todas são igualmente obrigatórias, por que não são todas observadas?
Por que, além disso, não se conservou a circuncisão que Jesus sofreu e que não aboliu? Esquece-se que todos os legisladores antigos, para darem mais autoridade às
suas leis, disseram recebê-las de uma divindade. Moisés tinha, mais que nenhum outro, necessidade desse apoio, em razão do caráter do seu povo; se, apesar disso,
teve dificuldade em se fazer obedecer, teria sido bem pior se fossem promulgadas em seu próprio nome.
"Jesus não veio modificar a lei mosaica, e sua lei não é o código dos cristãos? Não disse ele: "Aprendestes que foi dito aos Antigos tal e tal coisa, e eu
vos digo outra coisa?" Mas, tocou na lei do Sinai? De nenhum modo; sancionou-a, e toda a sua doutrina moral dela não é senão o desenvolvimento. Ora, em nenhuma parte
ele fala da proibição de evocar os mortos. Entretanto, era uma questão bastante grave, para que não a tivesse omitido em suas instruções, quando tratou de questões
mais secundárias.
"Em resumo, trata-se de saber se a Igreja coloca a lei mosaica acima da lei evangélica, dito de outro modo, se ela é mais judia do que cristã. Há mesmo a
se anotar que, de todas as religiões, a que faz menor oposição ao Espiritismo, é a judaica, e que ela não invocou, contra as relações com os mortos, a lei de Moisés
sobre a qual se apóiam as seitas cristãs.
"Outra contradição. Se Moisés proibiu evocar os Espíritos dos mortos, foi, porque esses Espíritos podiam vir, de outro modo a sua proibição teria sido inútil.
Se podiam vir em seu tempo, ainda o podem hoje; se são os Espíritos dos mortos, não são, pois, exclusivamente demônios. De resto, Moisés não falou de modo algum
destes últimos.
"É evidente, pois, que não se poderia, logicamente, se apoiar na lei de Moisés, nessa circunstância, pelo duplo motivo que não rege o Cristianismo, e não
é apropriada aos costumes de nossa época. Mas, supondo-lhe toda a autoridade que alguns lhe dão, ela não pode, como vimos, aplicar-se ao Espiritismo.
"Moisés, é verdade, compreende o interrogatório dos mortos na sua proibição; mas não é senão de um modo secundário, e como acessório das práticas de feitiçaria.
A própria palavra interrogar posta ao lado dos adivinhadores e dos augúrios, prova que, entre os Hebreus, as evocações eram um meio de adivinhação; ora os espíritas
não evocam os mortos para deles obterem revelações ilícitas, mas para deles receberem sábios conselhos e proporcionarem alívio àqueles que sofrem. Certamente, se
os Hebreus não fossem se servir das comunicações de além-túmulo senão com esse objetivo, longe de proibi-las, Moisés as teria encorajado, porque teriam tornado seu
povo mais tratável.
"Se aprouve a alguns críticos chistosos ou mal-intencionados, apresentar as reuniões espíritas como assembléia de feiticeiros e necromantes, e os médiuns
como ledores de boa sorte; se alguns charlatães misturam esse nome a práticas ridículas que desaprova, bastante pessoas sabem se agarrar quanto ao caráter essencialmente
moral e grave das reuniões do Espiritismo sério; a doutrina escrita por todo o mundo, protesta bastante contra os abusos de todos os gêneros, para que a calúnia
caia sobre quem a merece.
"A evocação, diz-se, é uma falta de respeito para com os mortos, dos quais não é preciso agitar as cinzas. Quem diz isso? Os adversários de dois campos opostos
que se dão as mãos; os incrédulos, que não crêem nas almas, e aqueles que, nelas crendo, pretendem que elas não podem vir e que só o demônio se apresenta.
"Quando a evocação é feita religiosamente e com recolhimento; quando os Espíritos são chamados, não por curiosidade, mas por um sentimento de afeto e de
simpatia, e com o desejo sincero de se instruir e se tornar melhor, não se vê o que seria mais desrespeitoso, chamar as pessoas depois de sua morte, que em sua vida.
Mas há uma outra resposta peremptória a essa objeção, é que os Espíritos vêm livremente e não constrangidos; vêm mesmo espontaneamente, sem serem chamados; testemunham
a sua satisfação em se comunicarem com os homens, e, freqüentemente, se lamentam do esquecimento em que são deixados, algumas vezes. Se estavam perturbados em sua
quietude ou descontentes com o nosso apelo, o diriam ou não viriam. Uma vez que são livres, quando eles vêm é que isso lhes convém.
"Alega-se uma outra razão: "As almas, dizem, moram numa morada que lhes foi fixada pela justiça de Deus, quer dizer, no inferno ou no paraíso"; assim as
que estão no inferno não podem sair, embora, a esse respeito, toda liberdade seja deixada aos demônios; as que estão no paraíso estão inteiramente em sua beatitude;
estão muito acima dos mortais para se ocuparem deles, e muito felizes para retornarem a esta terra de miséria, se interessarem por parentes e amigos que deixaram.
São, pois, como esses ricos que afastam a visão dos pobres, com medo que isso perturbe a sua digestão? Se assim fora, seriam pouco dignas da felicidade suprema,
que seria o prêmio do egoísmo. Restam aquelas que estão no purgatório. Mas estas são sofredoras e têm que pensar em sua salvação antes de tudo; portanto, nem umas
nem outras podem vir, é só o diabo quem vem em seu lugar. Se elas não podem vir, não há, pois, a temer que perturbem o seu repouso.
"Mas aqui se apresenta uma outra dificuldade. Se as almas que estão na beatitude, não podem deixar a sua morada afortunada para virem em socorro dos mortais,
por que a Igreja invoca a assistência dos santos que, eles, devem gozar da maior soma possível de beatitude? Por que ela diz aos fiéis para invocá-los nas doenças,
nas aflições, e para se preservarem dos flagelos? Por que, segundo ela, os santos e a própria Virgem, vêm se mostrar aos homens e fazerem milagres? Deixam, pois,
o céu para virem à Terra. Se aqueles que estão no mais alto dos céus podem deixá-lo, por que aqueles que estão menos elevados não poderiam?
"Que os incrédulos neguem a manifestação das almas, isso se concebe, uma vez que nelas não crêem; mas o que é estranho é ver aqueles cujas crenças repousam
em sua existência e em seu futuro, se obstinarem contra os meios de provar que ela existe, e se esforçarem em demonstrar que isso é impossível. Pareceria natural,
ao contrário, que aqueles que têm o maior interesse em sua existência, devessem acolher com alegria, e como um benefício da Providência, os meios de confundir os
negadores por provas irrecusáveis, uma vez que são os negadores da religião. Eles deploram, sem cessar, a invasão da incredulidade que dizima o rebanho dos fiéis,
e quando o mais poderoso meio de combatê-la se apresenta, repelem-no com mais obstinação que os próprios incrédulos. Depois, quando as provas extravasam ao ponto
de não deixarem nenhuma dúvida, têm como recurso, como argumento supremo, a proibição de se ocupar delas, e para justificá-la vão procurar um artigo da lei de Moisés,
no qual ninguém sonhava, e onde quer-se, a toda força, ver uma aplicação que não existe. Estava-se tão feliz com essa descoberta, que não se apercebeu que esse artigo
é uma justificativa da Doutrina Espírita.
"Todos os motivos alegados contra as relações com os Espíritos não podem sustentar um exame sério; da obstinação que nisso se coloca, entretanto, não se
pode inferir senão que a essa questão se liga um grande interesse, sem isso nele não se colocaria tanta insistência. Ao ver esta cruzada de todos os cultos contra
as manifestações, dir-se-ia que delas têm medo. O verdadeiro motivo poderia bem ser o temor que os Espíritos, muitos clarividentes, não viessem esclarecer os homens
sobre os pontos que se quer deixar na sombra, e fazê-los conhecer à risca o que é do outro mundo e as verdadeiras condições para nele ser feliz ou infeliz. É por
isso que, do mesmo modo que se diz a uma criança: "Não vá ali que há um lobisomem"; diz-se aos homens: "Não chameis os Espíritos, são o diabo". Mas esforçar-se-á
em vão; se se interdita aos homens chamarem os Espíritos, não se impedirá aos Espíritos virem aos homens para tirarem a lâmpada de sob o alqueire.
"O culto que estiver na verdade absoluta nada terá a temer da luz, porque a luz fará ressaltar a verdade, e o demônio não poderá prevalecer contra a verdade".
DEUS
Não poderíamos deixar de colocar a visão da Doutrina Espírita a respeito de Deus, assunto, com certeza, também relacionado com a Bíblia, como consta em Obras
Póstumas:
1. "Há um Deus, inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas".
"A prova da existência de Deus está no axioma: Não há efeito sem causa. Vemos incessantemente uma multidão inumerável de efeitos, cuja causa não está na
Humanidade, uma vez que a Humanidade está impossibilitada de reproduzi-los, e mesmo de explicá-los: a causa está, pois, acima da Humanidade. É a essa causa que se
chama Deus, Jeová, Alá, Brama, Fo-hi, Grande Espírito, etc., segundo as línguas, os tempos e os lugares.
"Esses efeitos, de nenhum modo, não se produzem ao acaso, fortuitamente e sem ordem; desde a organização do menor inseto, e do maior grão, até à lei que
rege os mundos circulando no espaço, tudo atesta um pensamento, uma combinação, uma previdência, uma solicitude que ultrapassam todas as concepções humanas. Essa
causa é, pois, soberanamente inteligente.
2. "Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom".
"Deus é eterno, se tivesse tido um começo, alguma coisa teria existido antes dele; teria saído do nada, ou bem teria sido criado, ele mesmo, por um ser anterior.
Assim é que, de passo a passo, remontamos ao infinito na eternidade.
"Deus é imutável; se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade.
"É imaterial, quer dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, de outro modo estaria sujeito às flutuações e às transformações da matéria,
e não seria imutável.
"É único, se houvesse vários deuses, teria várias vontades; e desde então não teria uma unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.
"É onipotente, porque é único. Se não tivesse o soberano poder, haveria alguma coisa mais poderosa do que ele; não teria feito todas as coisas, e as que
não tivesse feito, seriam a obra de um outro Deus.
"É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite duvidar
nem da sua justiça, nem da sua bondade.
3. "Deus é infinito em todas as suas perfeições".
"Supondo-se imperfeito um só dos atributos de Deus, se se diminui a menor parcela da eternidade, da imutabilidade, da imaterialidade, da unidade, da onipotência
da justiça e da bondade de Deus, pode-se supor um outro ser possuindo o que lhe faltaria, e esse ser, mais perfeito que ele seria Deus.
MANIFESTAÇÕES ESPIRITUAIS NA BÍBLIA
As manifestações espirituais existem, desde o momento em que Deus colocou, no mundo, o homem. Mostraremos que na Bíblia estão várias destas manifestações,
muito embora o aspecto cultural predominante à época dos acontecimentos ali narrados as colocaram no sobrenatural. Outro fator que nos leva a buscar a Bíblia como
prova das manifestações é porque ela é um livro lido por quase todos os seguimentos religiosos, tida como sagrada, e para alguns é a própria palavra de Deus. Nosso
estudo tem como base a Bíblia Sagrada da Editora Ave Maria para as passagens do Antigo Testamento e a Bíblia, Mensagem de Deus da LEB – Edições Loyola para as do
Novo Testamento.
No Antigo Testamento
"Quando tiveres entrado na terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não te porás a imitar as práticas abomináveis da gente daquela terra. Não se ache no meio
de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação
ou à evocação dos mortos, porque o Senhor, teu Deus, abomina aqueles que se dão a essas práticas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, teu Deus, expulsa
diante de ti essas nações". (Dt 18,9-12).
Em primeiro lugar chamamos a sua atenção para o fato de já constar da Bíblia o termo Espiritismo, embora tratar-se de neologismo criado por Kardec em 1857,
para denominar a nova doutrina. É, com certeza, uma grosseira interpolação, até porque, se já proibia a evocação dos mortos, não haveria sentido em proibir também
o Espiritismo, pois, ao vulgo, ambos são a mesma coisa.
Entretanto, o que realmente devemos ressaltar é que, se foi proibida a evocação dos mortos, é porque, se evocados, com certeza, eles responderiam, pois não
vemos sentido algum em proibir algo que não possa acontecer.
"O rei disse aos seus servos: 'Procurai-me uma necromante para que eu a consulte'. – 'Há uma em Endor', responderam-lhe. Saul disfarçou-se, tomou outras
vestes e pôs-se a caminho com dois homens. Chegaram à noite à casa da mulher. Saul disse-lhe: 'Predize-me o futuro, evocando um morto; faze-me vir aquele que eu
te designar'. Respondeu-lhe a mulher: 'Tu bem sabes o que fez Saul, como expulsou da terra os necromantes e os adivinhos. Por que me armas ciladas para matar-me?'
Saul, porém, jurou-lhe pelo Senhor: 'Por Deus, disse ele, não te acontecerá mal algum por causa disto'. Disse-lhe, então a mulher: 'A quem evocarei?' – 'Evoca-me
Samuel'. E a mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande grito: 'Por que me enganaste?' - disse ela ao rei. 'Tu és Saul!' E o rei: 'Não temas! Que vês?' - A mulher:
'Vejo um deus que sobe da terra'. – 'Qual é o seu aspecto?' – 'É um ancião, envolto num manto'. Saul compreendeu que era Samuel, e prostrou-se com o rosto por terra.
Samuel disse ao rei: 'Por que me incomodaste, fazendo-me subir aqui?' – 'Estou em grande angústia', disse o rei. 'Os filisteus atacam-me e Deus se retirou de mim,
não me respondendo mais, nem por profetas, nem por sonhos. Chamei-te para que me indiques o que devo fazer'. Samuel disse-lhe: 'Por que me consultas, uma vez que
o Senhor se retirou de ti, tornando-se teu adversário? Fez o Senhor como ele tinha anunciado pela minha boca. Ele tira a realeza de tua mão para dá-la a outro, a
Davi'. (1Sm 28,7-17).
Nesta passagem notamos claramente que Saul pede à necromante (dic. Aurélio: pessoa que evoca os mortos para fins de adivinhação) para evocar o espírito Samuel,
que, através da sintonia mediúnica, a qual denominamos de psicofonia, passa a falar pelos lábios dela, pois ele afirma que já havia falado a Saul por sua própria
boca.
Também não podemos deixar de dizer que, aqui a comunicação com o mundo espiritual foi utilizada futilmente, prática que a Doutrina Espírita não recomenda
de maneira alguma, pois trata a comunicação de forma séria e nobre. Talvez é por esta visão distorcida que as pessoas pensam que nas Casas Espíritas estamos a evocar
os mortos para motivos tão mundanos. Não sabendo elas que, na quase totalidade dos casos, os espíritos se apresentam sem que os tenhamos chamado, ou seja, vêm por
livre e espontânea vontade, sem nenhuma necessidade de evocação.
Pelo texto, concluímos que a necromante, também, era uma vidente. Ao ver o espírito Samuel diz: "Vejo um deus", completando, "é um ancião envolto num manto".
Como ela disse um "deus", observemos como são tratados os assuntos para os quais não temos conhecimento. Assim, para nós, em todos os casos de consulta aos oráculos,
narrados no Antigo Testamento, quem, na verdade, se apresentava eram os espíritos, chamados sempre de "deuses" pelas pessoas envolvidas com os fenômenos espirituais
bíblicos.
No Novo Testamento
"Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou a um lugar à parte, sobre um alto monte. Transfigurou-se diante deles:
seu rosto brilhava como o Sol e sua roupa tornou-se branca como a luz. Então lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com ele" (Mt 17,1-3).
Aqui vemos Jesus conversando com dois espíritos, Moisés e Elias, na presença de seus discípulos. Ao que tudo indica trata-se de uma manifestação de efeitos
físicos, onde provavelmente foi utilizado ectoplasma de Pedro, Tiago e João.
"Eis que tinha havido um grande terremoto: um anjo do Senhor desceu do céu, aproximou-se, removeu a pedra e sentou-se sobre ela. O seu aspecto era como o
de um relâmpago e as suas vestes brancas como a neve. Tal foi o medo que tiveram os guardas, que se puseram a tremer, mortos de espanto. Mas o anjo disse às mulheres:
'Deixai esse medo! Bem sei que procurais Jesus, o crucificado. Não está aqui, porque ressuscitou como havia predito. Vinde ver o lugar onde ele jazia. Ide depressa
dizer aos seus discípulos: 'Ele ressuscitou dos mortos e vos precede na Galiléia; lá o vereis. Esta é a mensagem que vos trago'" (Mt 28,2-7).
"Mas olhando melhor, notaram que a pedra já tinha sido removida para o lado. E ela era muito grande. Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado ao lado
direito, vestido de branco; e ficaram muito assustadas. Mas ele lhes disse: 'Não vos assusteis assim! Estais procurando Jesus Nazareno, o crucificado: ressuscitou,
não está aqui. Vede o lugar onde o colocaram. Ide agora dizer aos seus discípulos e em particular a Pedro, que ele vos precederá na Galiléia. Lá o vereis, como ele
já vos disse'" (Mc 16,4-7).
"Encontraram a pedra rolada para o lado da abertura do sepulcro. Entraram e não acharam ali o corpo do Senhor Jesus. Não sabiam ainda o que pensar, quando
apareceram dois homens com vestes brilhantes. Cheias de medo, inclinaram o rosto para o chão. Eles disseram: 'Por que procurais entre os mortos quem está vivo? Não
está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos do que vos dizia quando ainda estava na Galiléia: 'É preciso que o Filho do homem seja entregue às mãos dos pecadores, e
crucificado, mas que ressuscite no terceiro dia'" (Lc 24,2-7).
"Maria, contudo, ficou fora chorando, perto do sepulcro. Enquanto soluçava, inclinou-se para o túmulo, e viu dois anjos vestidos de branco, sentados, um
à cabeceira, outro aos pés do lugar onde o corpo de Jesus tinha sido depositado. Perguntaram-lhe: 'Mulher, por que choras?' Ela respondeu: 'Levaram o meu Senhor,
e não sei onde o colocaram'" (Jo 20,11-13).
Apesar da divergência na quantidade, a aparição foi registrada por todos os evangelistas, dizendo ser um anjo, um jovem, dois homens e dois anjos. Por que
isto? Iremos compreender, ao verificarmos, mais adiante, que anjo e espírito de um homem eram a mesma coisa para os discípulos, conforme narrativa em At 12,13-16,
que iremos ver.
É interessante observar que, quando Jesus transfigurou-se no Tabor, a descrição do fato pelo evangelista Mateus foi: seu rosto brilhava como o Sol e sua
roupa tornou-se branca como a luz, idêntica à forma como foi vista esta aparição, nestas quatro narrativas.
"Prenderam os apóstolos e os mandaram para a cadeia pública. Mas durante a noite, o anjo do Senhor abriu as portas da cadeia e os conduziu para fora dizendo:
'Ide, apresentai vos no Templo e ensinai ao povo toda a doutrina desta nova vida'" (At 5,18-20).
Mais à frente, iremos observar qual o significado de anjo.
"Então, algumas pessoas pertencentes à chamada Sinagoga dos Libertos, isto é, cireneus, alexandrinos como outros vindos da Cilícia e da Ásia, se puseram
a discutir com Estevão. Mas não eram capazes de resistir à sua sabedoria e ao Espírito com que falava" (At 6,9-10).
Na quase totalidade de vezes em que se fala espírito, vemos interpolada a palavra Santo; nesta passaram em branco. A verdade é que no princípio as influências
de espíritos junto aos apóstolos de Jesus eram uma coisa normal. Mas para ajustarem isto ao dogma da Santíssima Trindade, foi necessário mudar tudo para Espírito
Santo. Vejamos a passagem seguinte:
"Chegados que foram, estes rezaram pelos samaritanos para que recebessem o Espírito Santo. De fato, o Espírito ainda não tinha descido sobre nenhum deles,
porque eles estavam batizados só em nome do Senhor Jesus. Impuseram-lhes as mãos e eles receberam o Espírito Santo" (At 8,15-17).
Não deveriam ter dito: O Espírito Santo ainda não tinha descido sobre nenhum deles? Também aqui esqueceram de colocar a palavra Santo.
"O anjo do Senhor dirigiu a Filipe estas palavras: 'Tu irás rumo ao Sul, pela estrada que desce de Jerusalém a Gaza. Ela está deserta'. Filipe partiu imediatamente.
Ora, vinha chegando um etíope, eunuco e alto funcionário na corte de Candace, rainha da Etiópia que lhe tinha entregue a guarda de todos os seus tesouros. Ele tinha
ido a Jerusalém para adorar a Deus. Agora voltava, lendo o profeta Isaías, sentado em sua carruagem. O Espírito disse a Filipe: "Aproxima-te e acompanha essa carruagem"
(At 8,26-29).
A aparição é relatada primeiramente como um anjo para, depois, dizer-se espírito. E conforme entendemos anjo e espírito eram termos diferentes para designar
a mesma coisa. Será que aqui também deixaram de colocar Santo?
"Havia em Cesaréia um homem chamado Cornélio, comandante do regimento romano chamado 'itálico'. Era uma pessoa religiosa e adorava a Deus com toda a sua
família. Distribuía esmolas em abundância entre o povo e rezava muitas vezes a Deus. Certo dia, lá pelas três da tarde, viu claramente em visão um anjo de Deus entrar
em sua casa e chamá-lo. 'Cornélio!' Ele olhou para o anjo e, com medo, respondeu: 'Que é o Senhor?' O anjo lhe replicou: 'Tuas orações e tuas esmolas chegaram até
Deus e Ele se lembrou de ti'" (At 10,1-4).
Não é diferente, pois hoje os espíritos de Deus vêm nos ensinar como devemos proceder, para que possamos agradar a Deus. No texto tire anjo e coloque espírito,
veja se não é a mesma coisa que acontece nos dias atuais...
"Pedro ainda estava meditando sobre a visão, quando o Espírito lhe disse: 'Dois homens estão à tua procura. Levanta-te, desce e acompanha-os sem duvidar,
pois fui eu que os enviei'. Então Pedro desceu e foi ter com os homens e lhes disse: 'Eis-me aqui. Sou eu a quem procurais; o que vos trouxe aqui?' Eles responderam:
'O comandante Cornélio, homem bom e temente a Deus, muito estimado por todos os judeus, foi avisado por um santo anjo que te mandasse chamar para ires até à casa
dele e ele ouvisse as palavras que tu lhe deves comunicar...'. Cornélio respondeu: 'Faz três dias que, enquanto eu rezava em minha casa, lá pelas três da tarde,
um homem com roupas muito claras apareceu na minha frente e me disse: 'Cornélio, tua oração foi ouvida e tuas esmolas foram lembradas diante de Deus'" (At 10,19-22.30-31).
Mais uma vez, estamos diante da palavra espírito sem o clássico acompanhamento da palavra "Santo", será que "Esqueceram de mim 2"?
Santo anjo - ou talvez espírito santo? -, quer dizer um espírito bom foi quem avisou Cornélio.
Na narrativa da aparição a Cornélio, At 10,1-4, foi dito anjo. Agora falam de um homem com roupas muito claras. Vejam aí novamente as roupas claras que,
se entendêssemos como aparição de um espírito de um homem com alta elevação espiritual, não seria realmente o que teria acontecido?
"Eis que, naquele mesmo instante, três homens, enviados de Cesaréia à minha procura, pararam diante da casa em que estávamos. O Espírito me disse que os
acompanhasse sem medo. Estes seis irmãos foram comigo e assim entramos na casa de Cornélio. Ele nos contou como tinha visto um anjo se apresentar em sua casa dizendo:
'Manda alguém a Jope para trazer a Simão Pedro. Ele falará dos acontecimentos que hão de trazer a salvação para ti e para toda a família'. Ora bem, apenas comecei
a falar, desceu o Espírito Santo sobre eles da mesma forma que sobre nós, no princípio" (At 11,11-15).
Já temos visto em outras passagens que as pessoas tinham medo das aparições. Será que, se realmente fosse o Espírito Santo, Ele causaria medo? No pentecostes
aconteceu uma coletiva eclosão da mediunidade e todos os apóstolos passaram, a partir daí, a sentirem a influência dos espíritos encarregados por Jesus para orientá-los
e ajudá-los na divulgação da boa nova. Uma descida coletiva de espíritos, possibilitando, inclusive, que os apóstolos falassem em outras línguas. Nenhuma dúvida
temos disto; mas, para que possamos ter uma prova cabal, vejamos o que se lê em At 11,27-28: "Naqueles dias, alguns profetas desceram de Jerusalém a Antioquia. Um
deles, chamado Ágabo, tomou a palavra e, sob a ação do Espírito, anunciou que em toda a terra haveria uma grande fome; o que de fato se verificou no tempo de Cláudio".
Temos, textualmente, sob a ação dum Espírito vindo confirmar o que estamos dizendo. Talvez aqui também, mais uma vez, esqueceram de colocar Santo. Ou o adjetivo
Santo só se aplica quando o espírito fala por meio dos apóstolos ou, mais modernamente, através de membros das igrejas autodenominadas cristãs? E como fica o Deus
não faz acepção de pessoas?
"Mas, de repente, o anjo do Senhor apareceu e o local ficou inundado de luz. O anjo tocou no lado de Pedro e o fez levantar-se, dizendo-lhe: 'Vamos depressa!'
E aí as correntes caíram de seus punhos. Então o anjo lhe disse: 'Põe o teu cinto e calça as sandálias'. Pedro obedeceu. E disse ainda: 'Cobre-te com o manto e segue-me!'
Pedro saiu e foi seguindo; ele não percebia que era realidade o que estava acontecendo pela ação do anjo, pois julgava que se tratava de uma visão" (At 12,7-9).
A aparição do anjo para libertar Pedro da prisão, soltando-o das algemas que o prendiam. Anjo? Espírito, provavelmente, não? Notemos que o local da aparição
ficou inundado de luz, acontecimento semelhante a outras narrativas de aparições.
"Pedro bateu na porta de entrada; uma empregada, chamada Rosa, foi ao seu encontro. Ela reconheceu a voz de Pedro e, de tanta alegria, nem abriu a porta,
mas correu para dentro, anunciando que Pedro estava na entrada. Disseram-lhe: 'Estás delirando!' Mas ela insistia, dizendo que era verdade. Observaram então: 'Deve
ser o anjo dele!' Entretanto, Pedro continuava a bater, até que lhe abriram a porta, e viram que era mesmo ele e ficaram muito admirados" (At 12,13-16).
Após Pedro ser libertado da prisão pelo anjo, ele se dirige à casa da mãe de João, que naquele momento estava reunida com muitas pessoas em oração. Rosa
reconhece a voz de Pedro, que batia à porta, correu para dar a notícia, pois todos pensavam estar Pedro ainda preso, mas para sua surpresa, não acreditaram nela.
Dizendo até que poderia "ser o anjo dele", pois talvez acreditassem que ele já deveria estar morto na prisão. Vamos mudar o texto para: "ser o espírito dele". Não
acham que caberia como uma luva? Aqui, finalmente, vamos compreender que, àquela época, anjo significava também espírito. Desta forma, se nos textos anteriores mudássemos
a palavra anjo pela palavra espírito, estaríamos diante das evidências das manifestações espirituais, não acham?
E para completar nossa argumentação vamos buscar em Lc 1,13.18-19, o seguinte: "Mas o anjo disse-lhe: 'Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração:
Isabel, tua mulher, dar-te-á um filho, e chamá-lo-ás João'. Zacarias perguntou ao anjo: 'Donde terei certeza disto? Pois sou velho, e minha mulher é de idade avançada'.
O anjo respondeu-lhe: 'Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para te falar e te trazer esta feliz nova'".
É interessante que o "anjo" dá até o seu nome. Fico a pensar se realmente fosse um anjo, se eles existissem, não deveria ter um outro nome? Por que Gabriel
um nome tão comum, que até então era dado a filhos de homens?
"Notando Paulo que uma parte do Conselho era constituída de fariseus e outra de saduceus, exclamou: 'Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus! Estou sendo
julgado por causa da esperança na ressurreição dos mortos'. Quando ele disse isto, surgiu uma acirrada discussão entre os fariseus e saduceus, e assim a multidão
ficou dividida. É que os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espíritos, enquanto que os fariseus admitem todas estas coisas. Houve então uma enorme
gritaria e alguns dos escribas partidários da seita dos fariseus se levantaram e declaravam energicamente: 'Nada de mal encontramos neste homem. Quem sabe se não
foi um espírito que lhe falou? Ou talvez um anjo?'" (At 23, 6-9).
A questão de anjo e espíritos fecha-se neste texto. Motivo de controvérsias já desde aquela época; hoje ainda somente existe para os que não avançaram no
tempo, pois a Doutrina Espírita vem justamente provar que os espíritos existem, que os anjos nada mais são do que espíritos evoluídos, que animaram corpos humanos,
veículo onde adquiriram esta evolução, pois nas Leis Divinas não poderá existir nenhum tipo de privilégio, e que eles, se quiserem, se comunicam com os outros espíritos
que ainda se encontram no corpo físico.
"Mas Deus nos revelou isto pelo Espírito. E o Espírito, de fato, conhece tudo, até as profundezas de Deus. Quem conhece os pensamentos secretos do homem,
a não ser o espírito do homem que está nele? Do mesmo modo, ninguém conheceu os pensamentos de Deus a não ser o Espírito de Deus" (1Cor 2,10-11).
Com este texto, ficamos compreendendo a origem do Espírito Santo. Paulo compara Deus aos homens. Assim, se os homens possuem um espírito que os anima, também
Deus, da mesma forma, deverá ter um Espírito. Aqui fica evidente que em verdade foi o homem que criou Deus à Sua imagem e semelhança; vinga, persegue, manda matar,
arrepende-se do que fez, gosta do cheiro de carne assada, elege um só povo para a salvação, tem espírito, etc.
A REENCARNAÇÃO NO EVANGELHO
No jornal "Estado de Minas", datado de 13.06.1999, na coluna Testemunho Cristão, um consulente pergunta:
"Tenho lido a Bíblia à procura de ao menos uma frase que seja contra a reencarnação, etc., cuja resposta da articulista foi: Entre numerosas evidências, de que
são fartas as páginas sagradas, cito-lhe duas muito incisivas e fortes: 'A nossa vida é a passagem duma sombra e não há regresso depois da morte, porque é posto
o selo e ninguém torna' (Sab 2,5). Na carta de S. Paulo aos hebreus, lemos: 'E assim como está decretado que os homens morram UMA SÓ VEZ, e que depois disso se siga
o julgamento, assim também Cristo se ofereceu uma só vez...'" (9,27).
Como queremos saber o que pensam outros segmentos religiosos, temos por hábito de, sempre que possível, ler esta coluna. Desta vez, o tema chamou-nos a atenção,
e achamos que deveríamos pesquisar na Bíblia as passagens citadas.
Interessante como pegam frases isoladas de um texto para tentar justificar suas posições, sem levar em conta o contexto em que elas se encontram. O que é
grave nisso é que, aos que não têm o hábito de verificar em qual contexto a passagem se encontra, acabam convencendo-se de que aquilo é uma verdade, pois, geralmente,
têm a Bíblia como infalível, não se preocupam de eles mesmos irem ao encontro da verdade; simplesmente aceitam os pensamentos que lhes são passados pelos outros.
A primeira passagem que citam como prova de que não existe a reencarnação inicia-se assim; "Dizem, com efeito, nos seus falsos raciocínios: 'Curta é a nossa
vida e cheia de tristezas, para a morte não há remédio. Não há notícia de ninguém que tenha voltado da região dos mortos. Um belo dia nascemos, e depois disso, seremos
como jamais tivéssemos sido! É fumaça a respiração de nossos narizes, e nosso pensamento, uma centelha que salta do bater de nosso coração! Extinta ela, nosso corpo
se tornará pó, e o nosso espírito se dissipará como vapor inconsistente! E ninguém se lembrará de nossas obras. Nossa vida passará como os traços de uma nuvem, desvanecer-se-á
como uma névoa que os raios de Sol expulsam, e que seu calor dissipa'" (vv.1-4).
A partir daí, sim, é que temos o versículo 5: "A passagem de uma sombra. Eis a nossa vida, e nenhum reinicio é possível uma vez chegado o fim; porque o selo
lhe é aposto e ninguém volta".
Daí continua até o versículo 20, onde o autor do livro procura mostrar o que pensam os ímpios.
Voltemos à narrativa, agora nos versículos 21-23: "Eis o que pensam, mas enganam-se, sua malícia os cega: eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam
que a santidade será recompensada e não acreditam na glorificação das almas puras. Ora, Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza".
Já vemos neste texto, de absoluta clareza, que não se trata de contradizer a tese da reencarnação, mas sim é mostrado de que maneira os ímpios pensavam sobre
vida além túmulo, não acreditavam que depois da morte pudesse existir alguma coisa; para eles era o nada.
Constatamos, assim, que este texto não tem nada que possamos tirar como contestação da reencarnação, ficando, portanto, derrubado o primeiro argumento.
Vamos agora à Hb 9,27, mas antes devemos saber que é retirado de parte da carta enviada aos Hebreus, onde se tenta mostrar que o sangue oferecido nos sacrifícios
não pode apagar nossos pecados, e que Cristo, ao dar seu sangue, na cruz, pagou os nossos vários pecados. Aí completa: "Como está determinado que os homens morram
uma só vez, e logo em seguida vem o juízo, assim Cristo se ofereceu uma só vez para tomar sobre si os pecados da multidão, e aparecerá uma segunda vez, não, porém,
em razão do pecado, mas para trazer a salvação àqueles que o esperam".(vv.27-28).
Devemos sempre ter em mente que da Bíblia não consta tudo, e nem toda a ciência ali está, o próprio Jesus disse: que tinha muitas coisas para dizer, mas
como os apóstolos ainda não eram capazes de compreender, não iria dizer.
Por outro lado, não devemos tomar como leis as opiniões pessoais dos apóstolos, pois seus pensamentos representam sempre o contexto cultural da época em
que viveram.
Dito isto, vamos verificar que se realmente fosse dado ao homem morrer uma só vez, as ressurreições constantes do Evangelho (Mt 9,18-26; Lc 7,11-17 e Jo 11,1-44,
da filha de Jairo, do filho da viúva de Naim e de Lázaro, respectivamente) seriam uma contradição perante esta Lei, pois, nestes casos, estas pessoas que voltaram
à vida tiveram duas mortes, ou não?
Ainda mais, se logo em seguida vem o julgamento, não vemos nenhum sentido no Juízo Final (pensamento deles), pois seríamos julgados duas vezes. Se, realmente,
houvesse dois julgamentos, estaríamos diante de uma aberração da Justiça Divina, pois valeria dizer que um não foi perfeito, o que equivaleria afirmar que Deus não
agiu com perfeição, o que é um absurdo. Na hipótese do espírito ser condenado ao "fogo eterno" no primeiro julgamento, seria possível que, no segundo julgamento,
ele fosse absolvido. Se isto acontecer, fica evidente que ele foi condenado injustamente. Vemos nisto só incoerência, assim não podemos, seguindo a linha de raciocínio
deles, aceitar os dois julgamentos.
Por outro lado, na nossa percepção do texto, partindo para a essência, podemos afirmar que Paulo tem a mais completa razão, ou seja, neste corpo que ora
habitamos, morremos mesmo uma só vez, e o julgamento de nossos atos será realizado em seguida, e ainda mais, teremos sempre um novo julgamento após cada desencarne.
Como já dissemos, pegam os textos conforme às suas conveniências, muitos dos quais se mostram incoerentes com outras passagens do Evangelho.
Vejamos por exemplo: "Porque sabemos que, quando for dissolvido este corpo, nossa habitação aqui na terra, receberemos de Deus uma habitação, uma moradia
eterna nos céus, que não é feita pela mão humana. Por isso é que suspiramos nesta nossa situação, ansiosos por revestir-nos do nosso corpo celeste: sob a condição,
porém, de sermos encontrados ainda vestidos e não despidos" (2Cor 5,1-3).
Este texto é do mesmo Paulo que foi citado como base contra a reencarnação; entretanto ele é frontalmente contra a tese da ressurreição da carne, um dos principais
dogmas da Igreja Católica. Aqui ele mostra que temos um corpo celeste e é ele que teremos após nossa morte. Quanto ao corpo físico, ele será dissolvido.
Agora nós é que procuraremos demonstrar o contrário, ou seja, que a reencarnação fazia parte da cultura do povo hebreu e, principalmente dos ensinos de Jesus.
Teremos, para isto, que buscar algumas passagens do Novo Testamento que irão dar-nos elementos de convicção.
"Quando ele ia passando, viu um homem que era cego de nascença. Os discípulos perguntaram: 'Mestre, quem pecou, para este homem nascer cego, foi ele ou seus
pais?' Jesus respondeu: 'Nem ele nem seus pais, mas isso aconteceu para que as obras de Deus se manifestem nele'" (Jo 9,1-3).
Como um cego de nascença poderia ter pecado? Se a cegueira fosse "castigo de Deus" pelos pecados daquele homem, onde estaria seu pecado, se nascera cego? Neste
caso, o seu pecado, para ser lógico, só poderia ter sido cometido antes dele nascer, ou seja, em uma de suas existências anteriores. Fato em que os discípulos acreditavam,
pois só assim justificariam a pergunta deles a Jesus: "Quem pecou, para este homem ter nascido cego, foi ele ou seus pais?".
Diante do princípio "a cada um segundo suas obras" (Mt 16,27), no dizer do Mestre, ninguém paga pelo erro do outro, ficando a responsabilidade dos atos atribuída
às próprias pessoas que os praticam.
A resposta de Jesus "Nem ele nem seus pais, mas isso aconteceu, para que as obras de Deus se manifestem nele", poderá ser explicada da seguinte forma: diante
de tanta ignorância e atraso espiritual daquele povo havia a necessidade de Jesus fazer alguns "milagres", como os fez, no sentido de despertar as criaturas para
as verdades do Pai. Assim, com Jesus encarnaram vários espíritos que vieram com a tarefa de auxiliá-lo em sua missão, e este homem cego era um deles. Aqueles que
escolheu como apóstolos largaram tudo para segui-lo, atendendo o seu chamado, que funcionou como lembrete do compromisso que assumiram, quando estavam no plano espiritual.
"Tendo chegado à região de Cesaréia de Felipe, Jesus perguntou aos discípulos: 'Quem dizem por aí as pessoas que é o filho do homem?' Responderam: 'Umas dizem
que é João Batista, outras que é Elias, outras, enfim, que é Jeremias ou algum dos profetas'" (Mt 16,13-14; Mc 8,27-28; Lc 9,18-19).
O povo também acreditava que uma pessoa que já morreu poderia voltar. Ao dizerem que Jesus seria João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas, confirmam
este entendimento, pois todos eles já haviam morrido, inclusive, destes, somente João Batista foi contemporâneo de Jesus; entretanto à época desta narrativa já tinha
sido morto por Herodes.
"Nesse ínterim, Herodes, o Tetrarca, ouvia falar de tudo o que fazia Jesus e seu espírito se achava em suspenso – porque uns diziam que João Batista ressuscitou
dentre os mortos; outros que aparecera Elias; e outros que um dos antigos profetas ressuscitara. – Disse então Herodes: 'Mandei cortar a cabeça de João Batista;
quem é então esse de quem ouço dizer tão grandes coisas? E ardia por vê-lo'" (Mc 6,14-16 e Lc 9,7-9).
Nesta passagem encontramos novamente o pensamento do povo a respeito de Jesus; entretanto, desta podemos tirar, sem nenhuma sombra de dúvida, que naquele tempo
o conceito de ressurreição é o que hoje chamamos de reencarnação. Conforme o texto, Jesus, no pensamento do povo, poderia ser João Batista ou mesmo um dos antigos
profetas ressuscitado; o que significa em linguagem clara é que pensavam mesmo na possibilidade de Jesus ser alguém, que viveu anteriormente encarnado.
"Havia entre os fariseus um, chamado Nicodemos, dos mais importantes entre os judeus. Ele foi encontrar-se com Jesus à noite e lhe disse: 'Rabi, bem sabemos
que és um Mestre enviado por Deus, pois ninguém seria capaz de fazer os sinais que tu fazes, se Deus não estivesse com ele'. Jesus respondeu: 'Eu te afirmo e esta
é a verdade: ninguém verá o reino de Deus se não nascer de novo'. Disse-lhe Nicodemos: 'Como pode nascer um homem já velho? Pode tornar a entrar no ventre de sua
mãe, para nascer segunda vez?' Jesus respondeu: 'Eu vos afirmo e esta é a verdade: se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus.
O que nasce da carne é carne; o que nasce do Espírito é espírito. Não te admires do que eu disse: é necessário para vós nascer de novo. O vento sopra para onde quer
e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem aonde vai. Assim é quem nasceu do Espírito'" (Jo 3,1-8).
Antes de nossa argumentação vamos ver o que consta de At 23,8: "É que os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjos, nem espíritos, enquanto que os
fariseus admitem todas estas coisas". Nicodemos era um fariseu; assim, deduzimos que ele acreditava na ressurreição, que, conforme mostramos anteriormente, corresponderia
dizer que ele acreditava na reencarnação.
Observemos que Nicodemos entendeu o que Jesus quis dizer com o "nascer de novo". A dúvida que lhe ficou era: como isto poderia acontecer, razão de suas duas
perguntas: Como pode nascer um homem já velho? Pode voltar ao ventre de sua mãe e nascer segunda vez?
Jesus separa, nitidamente, o corpo físico do elemento espiritual; o que nasce da carne é carne, o que nasce do espírito é espírito.
Algumas correntes religiosas buscam sustentar que o nascer da água significa nascer de novo pela água do batismo. Entretanto, o sentido, na época, da palavra
água, é bem outro. Sabemos que 2/3 da Terra é composto de água, e que sem água não haveria vida material em nosso planeta. Assim o elemento água é a base para a
manifestação da vida material, aí incluindo, é claro, nosso corpo físico.
Além do mais, no período de nossa gestação, ficamos por nove meses dentro d'água, no útero de nossa mãe. Donde concluímos que, neste sentido, literalmente
nascemos da água, não acham?
Quanto à questão do batismo, no Evangelho só encontramos João Batista utilizando a prática do batismo, não como um rito de iniciação ou para nos livrarmos
do pecado original, mas somente batizava as pessoas que se arrependiam de seus pecados; era, portanto, o batismo do arrependimento. Tanto é que os fariseus e saduceus
o procuraram para serem batizados e ele negou-se a fazê-lo dizendo: "Raça de víboras, quem vos sugeriu escapardes da cólera que está chegando? Portanto, produzi
frutos que sejam o testemunho da vossa conversão, sem presumirdes que vos basta dizer dentro de vós: 'Temos por pai a Abraão'" (Mt 3,7-9).
Mais ainda; se realmente o batismo fosse algo importante a ser feito, por que é que Jesus não batizou ninguém? Não seria o caso de dar-nos este exemplo?
Bem, voltemos ao nosso assunto principal. Veremos, agora, o próprio Jesus confirmar a reencarnação, fato que não combateu, quando do questionamento dos discípulos
acerca do cego de nascença e a respeito de quem as pessoas pensavam que ele era.
No Antigo Testamento, o profeta Malaquias (3,23-24 ou 4,5-6) anuncia a volta de Elias: "Vou mandar-vos o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível
dia do Senhor, e ele converterá o coração dos pais para os filhos, e o coração dos filhos para os pais, de sorte que não ferirei mais de interdito a Terra".
A volta é de Elias e não como querem dar ao termo Elias a conotação de que quer dizer Messias ou Mensageiro.
Em Lc 1,13, encontraremos o anúncio da chegada de Elias: "Mas o anjo lhe disse: 'Não tenhas medo, Zacarias, porque tua oração foi ouvida: tua esposa Isabel
vai te dar um filho e lhe porás o nome de João'". E continuando no versículo 17: "Ele o precederá com o espírito e o poder de Elias, para reconduzir o coração dos
pais aos filhos, bem como os rebeldes aos sentimentos dos justos. Vai preparar assim para o Senhor, um povo bem disposto".
Se João estaria com o espírito e o poder de Elias, a conclusão lógica é que João era o próprio Elias reencarnado.
E finalmente a confirmação de que João Batista era o Elias: "Os discípulos lhe perguntaram: 'Por que dizem os escribas, que Elias deve vir antes?' Respondeu-lhes:
'Elias há de vir para restabelecer todas as coisas. Mas eu vos digo que Elias já veio e não o reconheceram, mas fizeram com ele o que quiseram. Do mesmo modo, também
o filho do homem está para sofrer da parte deles'. Então, os discípulos compreenderam que Jesus lhes tinha falado a respeito de João Batista" (Mt 17,10-13; Mc 9,11-13).
O espírito Elias não foi reconhecido por estar reencarnado num novo corpo, agora com o nome de João Batista. Se fosse o contrário, Jesus não deixaria que seus
discípulos continuassem pensando que João era Elias, pois em várias passagens, demonstrou conhecer os pensamentos mais íntimos das pessoas.
E para que não restasse dúvida alguma quanto a isso, vem ele próprio confirmar: "E se vocês o quiserem aceitar, João é Elias que devia vir. Quem tem ouvidos,ouça"
(Mt 11,14-15).
Aqui fica bem clara e taxativa a reencarnação, pois é da boca do próprio Jesus que sai a afirmativa de João ser Elias que estava para vir antes Dele, a fim
de preparar-lhe o caminho.
E como sabia que ainda os homens não teriam o completo entendimento de que realmente falava era da reencarnação, acrescenta: "Quem tiver ouvidos, que escute
bem".
INFLUÊNCIA DOS ESPÍRITOS EM NOSSAS VIDAS
Allan Kardec coloca na pergunta 459 de O Livro dos Espíritos um questionamento sobre esse assunto nos seguintes termos: "Os espíritos influem sobre os nossos
pensamentos e as nossas ações?" Cuja resposta foi: "A esse respeito sua influência é maior do que credes, porque, freqüentemente, são eles que vos dirigem".
Com base nesta resposta poderíamos encontrar no Evangelho alguma passagem que possa demonstrar-nos essa influência dos espíritos em nossas vidas? É claro
que sim, pelo menos para aqueles que têm "olhos de ver".
Vamos, então, ao Evangelho para que possamos confirmar. Em Mt 8,16, encontramos: "Entardecia, quando lhe trouxeram possessos. Diante disso, ele expulsou
os espíritos apenas com uma palavra e curou todos os que estavam passando mal".
Ora, se Jesus expulsou os espíritos, é porque eles de alguma forma estavam a influenciar estas pessoas possessas. Aliás, este termo já em si mesmo sugere que
a pessoa estava sob o domínio de um espírito.
Mas sigamos em frente, e iremos observar a que ponto poderá chegar esta influência. Busquemos em Mc 5,1-10, o seguinte: "Chegaram à outra margem do mar,
na região dos gerasenos. Quando desembarcou um homem possesso de um espírito impuro, saindo dos sepulcros, logo foi ao seu encontro. Ele morava nos sepulcros e ninguém
conseguia mantê-lo preso, nem mesmo com correntes, pois muitas vezes lhe haviam algemado os pés e as mãos e ele, arrebentava as correntes, quebrando as algemas,
e ninguém o dominava. Passava o tempo inteiro nos sepulcros e sobre os montes, gritando e ferindo-se com pedras. Quando viu Jesus de longe, correu e prostrou-se
diante dele, e gritou com voz forte: 'Que é que tens tu comigo Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Em nome de Deus não me atormentes!' É que Jesus lhe tinha dito: 'Espírito
impuro, sai deste homem!' Depois, ele lhe perguntou: 'Qual é o teu nome?' Respondeu-lhe: 'Meu nome é legião, porque somos muitos'. Suplicava-lhe então, com insistência,
que não o expulsasse daquela região".
Chamamos a sua atenção, caro leitor, para essa importante passagem, pois mostra-nos, claramente, a que ponto poderá chegar a influência dos espíritos. Um
homem comum, sob a influência dos espíritos, passava a ter uma força descomunal a ponto de conseguir arrebentar correntes e quebrar algemas. Além disto, fazia com
que esta pobre criatura ferisse a si mesma, bem como o forçava a gritar pelos montes como um louco desvairado. E no diálogo com Jesus, era tanta a influência que
passou a respondê-Lhe, não o possesso, mas sim, o espírito que o influenciava. Espírito? Que espírito, se na verdade eram muitos, razão pela qual diz ser seu nome
legião?
Perguntou Allan Kardec aos espíritos superiores (perg. 469): "Se eles podem influenciar em nossas vidas, por que meios se pode neutralizar a influência dos
maus espíritos?" A resposta foi:
"Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos espíritos inferiores, e destruís o império que eles querem tomar sobre vós.
Evitai escutar as sugestões dos espíritos que suscitam em vós os maus pensamentos sopram a discórdia entre vós e vos excitam todas as más paixões. Desconfiai, sobretudo,
daqueles que exaltam vosso orgulho porque vos tomam por vossa fraqueza. Eis por que Jesus nos faz dizer na oração dominical: 'Senhor! Não nos deixeis sucumbir à
tentação, mas livrai-nos do mal'".
Agindo desta forma estaremos livres de sua má influência.
Retornemos, ao Evangelho na narrativa de Mt 9,32-33: "Quando saíam, apresentaram a Jesus um possesso mudo. Logo que o demônio foi expulso, o mudo começou a
falar. Espantado, o povo dizia: 'Nunca se viu coisa igual em Israel'".
Neste caso, a influência espiritual causava a mudez àquela pessoa. Espera aí, dirão vocês, nesta passagem não se fala em espírito, e sim, de demônio. Não
há o que contestar. Entretanto, o que realmente é o demônio? Seria um ser criado para o mal? Com certeza que não. Nunca poderemos aceitar que Deus, o eterno bem,
tenha criado um ser destinado para sempre ao mal. Seria porventura um anjo decaído? Também não, pois o ser espiritual ao qual denominamos de anjo não poderia possuir
senão bondade; assim como teria que ser totalmente desprovido de vaidade, que seria coisa de nós os humanos, não de anjo, que nunca iria decair. Afinal, o que seriam
os demônios? Voltaremos, novamente, ao Evangelho, para elucidar esta importante questão.
Em Mt 10,1.5-8, encontramos: "Jesus convocou os seus doze discípulos e lhes deu o poder de expulsar os espíritos impuros e de curarem toda espécie de doenças
e enfermidades. Jesus enviou esses doze em missão, tendo-lhes dado as seguintes instruções: Não tomeis o caminho que conduz aos pagãos e não entreis em nenhuma cidade
dos samaritanos. Ide, de preferência, às ovelhas perdidas da casa de Israel. Pregai, pelo caminho: 'O reino dos céus está perto!' Curai os doentes, ressuscitai os
mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Acabai de receber de graça, dai de graça".
Observemos bem; o mesmo texto fala em espíritos impuros e demônios; daí concluirmos que um era sinônimo do outro. O conceito, à época, era que demônio significava
gênio ou espírito, de uma maneira indefinida. Para confirmar isto, vejamos o quadro a seguir:
Passagem
Evangelista
Termo utilizado
Muitos Possessos
Mt 8,16
Mc 1,32-34
Lc 4,40-41
Espíritos
Demônios
Demônios
O possesso de Gerasa
Mt 8,28-34
Mc 5,1-20
Lc 8,26-39
Demônios
Espírito Impuro e Demônio
Espírito Impuro e Demônio
O possesso de Cafarnaum
Mc 1,21-28
Lc 4,31-37
Espírito Impuro
Espírito de Demônio Impuro
A filha da mulher Cananéia
Mt 15,21-28
Mc 7,24-30
Demônio
Espírito impuro e Demônio
O menino mudo e epilético
Mt 17,14-21
Mc 9,14-29
Lc 9,37-43
Demônio
Espírito
Espírito, demônio e espírito impuro

Para o mesmo relato os evangelistas, para designar os endemoninhados ou possessos, ora usam espírito impuro, ora demônio, quando não usam os dois termos
juntos, ficando, agora, bem claro que o significado deles era o mesmo.
Vejamos o que responderam os espíritos superiores a Kardec, quando lhes dirige a seguinte pergunta (nº 131): "Há demônios, no sentido que se dá a esta palavra?"
Resposta:
"Se houvesse demônios, eles seriam obra de Deus, e Deus seria justo e bom se houvesse criado seres devotados eternamente ao mal e infelizes? Se há demônios, eles
habitam em teu mundo inferior e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo, um Deus mau e vingativo e crêem lhe serem agradáveis
pelas abominações que cometem em seu nome".
Kardec faz as seguintes considerações:
"A palavra demônio não implica na idéia de espírito mau senão na sua significação moderna, porque a palavra grega daimôn, da qual se origina, significa gênio,
inteligência, e se emprega para designar os seres incorpóreos, bons ou maus, sem distinção".
"Por demônios, segundo a significação vulgar da palavra, se entendem seres essencialmente malfazejos. Seriam, como todas as coisas, criação de Deus. Ora, Deus
que é soberanamente justo e bom, não pode ter criado seres predispostos ao mal por sua natureza, e condenados por toda a eternidade. Se não são obras de Deus, seriam,
pois como ele, de toda a eternidade, ou então haveria várias potências soberanas".
"A primeira condição de toda doutrina é de ser lógica. Ora, a dos demônios, em seu sentido absoluto, peca por essa base essencial".
"Compreende-se que na crença de povos atrasados, que não conheciam os atributos de Deus, fossem admitidas as divindades malfazejas, como também os demônios, mas,
é ilógico e contraditório para aqueles que fazem da bondade de Deus um atributo por excelência, supor que ele possa ter criado seres devotados ao mal e destinados
a praticá-lo perpetuamente, pois isso nega sua bondade. Os partidários da doutrina dos demônios se apóiam nas palavras do Cristo. Não seremos nós quem conteste a
autoridade dos seus ensinamentos, pois os desejamos ver mais no coração que na boca dos homens. Mas estarão bem certos do sentido que ele dava à palavra demônio?
Não se sabe que a forma alegórica era um dos caracteres distintivos da sua linguagem? Tudo o que o Evangelho contém deve ser tomado ao pé da letra? Não precisamos
de outra prova além desta passagem: "Logo após esses dias de aflição, o Sol obscurecerá, e a Lua não derramará mais sua luz, as estrelas cairão do céu e as potências
celestes serão abaladas. Digo-vos, em verdade que esta geração não passará sem que todas estas coisas se tenham cumprido".
"Não temos visto a forma do texto bíblico ser contradita pela ciência no que se refere à criação e ao movimento da terra? Não pode ocorrer o mesmo com certas
figuras empregadas pelo Cristo, que deveria falar de acordo com os tempos e os lugares? O Cristo não poderia dizer, conscientemente, uma coisa falsa. Assim, pois,
se em suas palavras há coisas que parecem chocar a razão, é porque não as compreendemos ou as interpretamos mal".
"Os homens fizeram com os demônios o que fizeram com os anjos; da mesma forma que acreditaram em seres perfeitos de toda a eternidade, tomaram os Espíritos inferiores
por seres perpetuamente maus. Pela palavra demônio devem, pois, se entender os espíritos impuros que, freqüentemente não valem mais do que as entidades designadas
por esse nome, mas, com a diferença de que este estado é transitório. São os Espíritos imperfeitos que murmuram contra as provas que devem suportar, e que, por isso,
suportam-nas por mais tempo; chegarão, porém, por seu turno, a sair desse estado quando o quiserem. Poder-se-ia aceitar então a palavra demônio com esta restrição.
Mas, como é entendida num sentido exclusivo, poderia induzir ao erro fazendo crer na existência de seres especiais, criados para o mal".
"Com relação a Satanás, é evidentemente a personificação do mal sob uma forma alegórica, pois não se poderia admitir um ser mau a lutar, de potência a potência,
com a Divindade e cuja única preocupação seria a de contrariar os seus desígnios. Precisando o homem de figuras e de imagens para impressionar a sua imaginação,
ele pintou os seres incorpóreos sob uma forma material, com atributos lembrando as suas qualidades ou os seus defeitos. É assim que os antigos, querendo personificar
o tempo, pintaram-no com a figura de um ancião portando uma foice e uma ampulheta; a figura do homem jovem seria um contra-senso".
"A mesma coisa se verifica com as alegorias da fortuna, da verdade, etc.".
"Modernamente, os anjos ou Espíritos puros, são representados por uma figura radiosa, com asas brancas, símbolo da pureza; Satanás com dois chifres, garras e
os atributos da animalidade, emblemas das paixões inferiores. O vulgo, que toma as coisas pela letra, viu nesses emblemas um indivíduo real, como outrora vira Saturno
na alegoria do Tempo".
Certa feita, numa livraria de BH, vimos em exposição o livro Possessão Espiritual da Dra. Edith Fiore. Como o tema desperta-nos certo interesse, compramo-lo
achando se tratar de um livro publicado por alguém ligado à Doutrina Espírita. Qual não foi nossa surpresa ao constatar que a autora, psicoterapeuta, doutorada em
Psicologia Clínica na Universidade de Miami, não tinha nada de espírita. Entretanto achamos oportuno incluí-lo, neste estudo, justamente por este motivo.
Aliás, é de se admirar que, após identificar pacientes com possessão dando, inclusive, aos seus leitores condições de saber quando uma pessoa está possessa,
e como tratá-la, ela ainda diz:
"Depois de todos estes anos que passei trabalhando com espíritos, freqüentemente 'lutando' com alguns teimosos, confusos, hostis e aterrados ainda não estou cem
por cento convencida de que eles não são fantasias da imaginação".
É o grande dilema da maioria das pessoas de não quererem modificar atitudes, comportamentos ou conhecimentos adquiridos anteriormente, é o medo frente ao
novo, de encarar algo que vai de encontro ao que lhe foi ensinado, cuja dúvida consiste em: e se o novo estiver errado o que farei após abraçar essa nova idéia ou
pensamento?
Mas voltemos ao livro. A Dra. Edith Fiore utilizava como técnica de terapia a hipnose, baseando-se principalmente na regressão de memória, em busca da solução
dos problemas comportamentais de seus pacientes. Foi justamente esta técnica que a colocou frente a frente com o problema da possessão espiritual. Pacientes submetidos
à hipnose entravam em transe profundo e "deixavam" submergir comportamentos que em nada tinham a haver com a sua maneira tradicional de agir, parecendo serem outra
pessoa. Além disto, outros pacientes se queixavam de ter alguém dentro deles, minava-lhes a resolução de fazer regime, de parar de fumar ou de beber, etc.. Conforme
ela diz, esses pacientes falavam muito abertamente dos seus conflitos, porque presumiam estar falando de duas partes diferentes da sua personalidade que estariam
em guerra dentro deles mesmos. Assim, afirma:
"Comecei a ouvir, a interpretar tais observações como indícios possíveis de possessão. Desde que me dei conta desse fenômeno, descobri que pelo menos setenta
por cento dos meus pacientes eram possessos e que essa situação lhes causava a moléstia".
Aqui, diante deste índice – 70%, nos lembramos da resposta dos espíritos a Kardec sobre a influência dos espíritos: "A esse respeito sua influência é maior
de que credes, porque, freqüentemente, são eles que vos dirigem". Com o livro da Dra. Edith Fiore vemos estes fatos se confirmarem no dia a dia das pessoas.
No capítulo terceiro, cita observações históricas sobre a possessão espiritual, mostrando, primeiramente, passagens do Evangelho onde Jesus expulsava os
espíritos (por coincidência citadas por nós) para depois citar algumas culturas que tinham essas idéias bem definidas, como, por exemplo: a China, o Japão e a Índia.
Neste último país, a antiga religião, cuja base era o livro sagrado Vedas, fala que desencarnados ignorantes ou maldosos saem à procura de pessoas vivas para que
as possam possuir. Também não deixa de nomear alguns psiquiatras que concordam com essa idéia, por exemplo: Dr. Carl Wickland, Dr. Arthur Guindaham e Adam Crabtree.
Em seu trabalho, a Dra. Edith Fiore conseguiu identificar a extensão dos efeitos da possessão:
a) sintomas físicos – fadiga; dores, mais freqüentemente de cabeça, incluindo a enxaquecas; síndrome pré-menstrual com edema (retenção de água); falta de
energia ou exaustão; insônia; cãibras; obesidade com hipertensão resultante; asma e alergias, etc.;
b) problemas mentais – grande quantidade de problemas mentais resulta da intervenção de espíritos;
c) problemas emocionais – como ansiedade, temores e fobias;
d) inclinação para as drogas e para o álcool;
e) inclinação pelo fumo;
f) problema de peso e obesidade;
g) problema de relacionamento;
h) problemas sexuais, inclusive casos de homossexualismo.
A conclusão a que a Dra. Edith chegou da influência espiritual é alarmante. A influência dos espíritos atingindo uma pessoa provoca como conseqüência problemas
de várias ordens, que serão solucionados à medida que se fizer o que ela chamou de "despossessão", ou seja, fazer com que o espírito deixe de praticar a possessão
sobre sua vítima. Ficamos, então, de acordo com a Dra. Edith Fiore, quando cita as conseqüências da influência espiritual.
Falaremos um pouco mais dos problemas mentais como conseqüências da influência espiritual.
A ciência oficial tinha que a loucura era proveniente de deficiência orgânica, ou seja, a pessoa louca tinha um problema físico qualquer que era a causa de
seu estado mental.
A psiquiatria, ramo da ciência, que se ocupa de estudar, diagnosticar e tratar dos problemas mentais, em sua evolução passou a constatar "loucos" sem qualquer
problema orgânico, o que ficava claro que a causa deveria ser de outra natureza.
É aqui que entra o trabalho de alguns médicos que, acima de tudo, têm como preocupação básica a cura de seus pacientes, pouco se importando em gastar o tempo
com pesquisas, leitura de livros, etc..
Assim é que iremos citar o Dr. Inácio Ferreira, formado em medicina no Rio de Janeiro, cujo trabalho foi dirigir um sanatório em Uberaba lá pelo ano de 1.910.
O grande desafio a vencer era que o sanatório foi fundado e tinha a orientação de Espíritas, e àquela época a perseguição ao Espiritismo era tremenda.
Apesar de não ser espírita, quando assumiu a direção, foi atento observador do trabalho desenvolvido pelos Espíritas no tratamento de alguns casos de loucura
e, diga-se de passagem, os que não tinham como origem problemas físicos. Preocupado em divulgar tudo o que aprendeu neste período, lançou o livro Novos Rumos à Medicina,
volumes I e II, onde aborda claramente a loucura originada por influência espiritual.
Com o passar dos anos, assumiu a postura de ser Espírita, abraçando as técnicas que a Doutrina Espírita se utiliza para tratar destes casos.
No seu livro encontramos um interessante dado estatístico do movimento do Sanatório, no período de 1.934 a 1.945, conforme quadro a seguir:
Pacientes
Quantidade
Percentual
Curados
554
41%
Melhorados
210
16%
Transferidos
163
12%
Falecidos
341
25%
Retirados
33
2%
Tratamento
21
4%
Neste período foram curados de influência espiritual 426 indivíduos. Este número é suficiente para comprovar que, realmente, a influência espiritual, em
alguns casos, pode levar uma pessoa a ter um comportamento de louco.
Aqui ficamos a pensar quantas pessoas não foram levadas ao tratamento por eletrochoques e a ingerir psicotrópicos sem serem realmente loucas, e quantas ainda
irão sofrer da mesma maneira. Mas, infelizmente, é o preço que a humanidade paga por não aceitar em definitivo que a influência espiritual é uma realidade.
A DIVINDADE DE JESUS
Tentaremos, com este estudo, mostrar que esta questão é importante para nós os Cristãos.
Se tivermos a Jesus como o próprio Deus, é-nos difícil seguir seus ensinos, exemplificados em suas ações, pois tudo o que fez não servirá para nós como modelo
de como fazer ou agir, visto ter partido de um ser que tudo pode, pois seria algo inatingível para nós os mortais. Por outro lado, com o conhecimento que vamos adquirindo
através de estudos, vemos, como iremos demonstrar, uma perfeita consonância com os missionários divinos de religiões não cristãs, e com isto a crença em nossa religião
fica bem abalada. E se, ao contrário, o colocarmos na condição de homem, ficaria muito mais fácil seguir seus exemplos, pois, de igual para igual, encontraremos
forças para aplicar os seus ensinos.
Mas, afinal, quando Jesus foi considerado Deus? Desde o início do cristianismo? O que pensavam seus discípulos sobre o assunto? O que o povo e Ele mesmo
pensavam?
Para respondermos essas perguntas, primeiramente iremos recorrer ao Evangelho.
a) O que o povo pensava
Mt 16,13-14: "Tendo chegado à região de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou aos discípulos: 'Quem dizem por aí as pessoas que é o filho do homem?' Responderam:
'Umas dizem que é João Batista, outras que é Elias, outras enfim, que é Jeremias ou algum dos profetas'".
Mt 26,67-68: "Então, cuspiram no seu rosto e cobriram-no de socos. Outros lhe davam bordoadas. E lhe diziam: 'Mostra que és profeta, ó Cristo, advinha quem
foi que te bateu?'"
Jo 7,40: "Muitos daquela gente que tinham ouvido essas palavras de Jesus afirmavam: 'Verdadeiramente ele é o profeta'".
Jo 9,17: "Perguntaram ainda ao cego: 'Qual é a tua opinião a respeito de quem te abriu os olhos?' Respondeu: 'É um profeta'".
b) O que os discípulos pensavam
Lc 24,19 "... Jesus de Nazaré foi um profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e do povo".
At 2,22: "Homens de Israel, escutai o que digo: 'Jesus de Nazaré foi o homem credenciado por Deus junto a nós com poderes extraordinários, milagres e prodígios.
Bem sabeis as coisas que Deus realizou através dele no meio de vós'".
c) O que dizia Jesus
Lc 13,33: "Entretanto devo continuar meu caminho hoje, amanhã e no dia seguinte, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém".
Jo 8,40: "... Procurais tirar-me a vida a mim que sou homem, que vos digo a verdade que de Deus ouvi". ...
Mc 6,4-5: "Mas Jesus lhes dizia: 'Um profeta só deixa de ser honrado em sua pátria, em sua casa e entre seus parentes. E não podia ali fazer milagre algum'".
(Argumento que utilizou para justificar por que Ele não conseguia fazer milagres em Nazaré).
Observamos, assim, que o povo e os seus discípulos acreditavam que Jesus era um profeta, o que foi confirmado pelo próprio Jesus.
Na passagem de Jo 14,12-13, ele diz: "Eu vos afirmo e esta é a verdade: quem crê em mim fará as obras que eu faço. E fará até maiores, porque vou ao Pai, e
o que pedirdes ao Pai em meu nome eu farei, para que o Pai seja glorificado no filho".
Se seguirmos a linha de raciocínio que Ele seja Deus, nós também seríamos deuses, pois, segundo suas próprias palavras, poderíamos fazer o que ele fez e até
mais. Vemos que não há como considerá-lo Deus.
A base central desta linha de pensamento de que Ele era Deus, basicamente vamos encontrá-la em Jo 10,30: "Eu e o Pai somos um". Com isto chegaram à conclusão
de que se o Pai é Deus e Jesus sendo um com o Pai, por conseguinte também seria Deus. Conclusão, digamos apressada de que originou-se o dogma da Santíssima Trindade.
Mas somos levados a crer, que esta trindade é incoerente, pois não pegaram o sentido da frase; apegaram-se à letra. Mas, por que não tiveram a mesma linha de pensamento
nesta outra passagem: - "Não rogo somente por eles, mas também por todos aqueles que hão de crer em mim pela sua palavra. Que todos sejam um! Meu pai, que eles estejam
em nós, assim como tu estás em mim e eu em ti. Que sejam um, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que tu me deste, para que sejam um,
como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitamente unidos, e o mundo conheça que tu me enviaste e que os amaste como tu me amaste" (Jo 17,20,23)?
Não seria o caso de dizer então que os discípulos eram deuses?
Em outras passagens, Jesus se coloca na condição de subordinado a Deus, prestando-lhe obediência e cumprindo-lhe a vontade. Não há como negar que quem é subordinado
está sob ordens de alguém que lhe é superior; vejamos:
Jo 4,34: "Jesus afirmou: 'Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou a levar a cabo a sua obra'".
Jo 5,19: "... Eu vos afirmo e esta é a verdade: o Filho nada pode fazer por si mesmo, a não ser o que vê o Pai fazer".
Jo 5,30: "Não posso fazer nada por mim mesmo. Julgo segundo o que ouço; e o meu julgamento é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele
que me enviou".
Jo 6,37-38: "Tudo o que o Pai me dá, virá a mim e não jogarei fora o que vem a mim, porque desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele
que me enviou".
Jo 14,28: "Se me amásseis, vos alegraríeis de que eu vá ao Pai, porque o Pai é maior do que eu".
Nessa última passagem, é bem taxativa a superioridade do Pai sobre Jesus. Não há como contestar.
A questão da divindade de Jesus foi rejeitada por três concílios - dos quais o mais importante foi o de Antioquia, em 269 foi proclamado pelo de Nicéia,
em 325. Essa declaração de que Jesus era Deus, foi necessária para encaixá-lo naquilo que nada mais é que uma cópia da base fundamental de outras religiões, bem
mais antigas que o Cristianismo. Podemos citar as que constam do Livro O Redentor de Edgard Armond:
Brahma, Siva e Vischnu – dos hindus
Osíris, Isis e Orus – dos egípcios
Ea, Istar e Tamus – dos babilônios
Zeus, Demétrio e Dionísio – dos gregos
Orzmud, Arimam e Mitra – dos persas
Voltan, Friga e Dinas – dos celtas
Achamos muito interessante o estudo do Dr. Paul Gibier (O Espiritismo – o faquirismo ocidental) em que ele coloca:
"Uma das analogias mais notáveis do Catolicismo, não com o Budismo, mas com Bramanismo, encontra-se em uma das encarnações de Vischnu (filho de Deus) sob a forma
de Krischna".
"Krischna, que alguns autores escreviam Christna ou Kristna, foi concebido 'sem pecado', seu nascimento foi anunciado por profecias numerosas e muito antigas.
Sua mãe Devanaguy, o concebeu por obra de um Espírito, que lhe apareceu sob os traços de Vischnu, segunda pessoa da Trindade Hindu. Segundo a tradição Hindu e o
'Bhagavedagita', anunciando uma profecia que ele destronaria seu tio, o tirano de Madura, este último mandou encarcerar sua sobrinha Devanaguy, que foi libertada
por Vischnu; então o tirano mandou assassinar em todos os seus estados as crianças do sexo masculino nascidas na mesma noite em que Krischna viu a luz (grifo do
original). Mas o menino foi salvo por milagre, e, 3500 anos mais ou menos antes de nossa era, ele pregava a sua doutrina. Depois de converter os homens, morreu de
morte violenta as margens do Ganges, segundo ordens de Brahma (Deus, o Pai), para realizar a redenção dos homens, como lhes fora prometido".
Parece que tudo se encaixa na tradição cristã a respeito de Jesus; talvez até fosse necessário, considerando a cultura da época, torná-lo um Deus, para que
as pessoas pudessem acreditar em seus ensinos; entretanto, achamos que, para os dias de hoje, isto poderá causar mais incrédulos, por uma coisa bem simples, é que
o homem moderno coloca a razão e a lógica como base para acreditar ou não em algo; e agindo assim, também em relação à crença religiosa, terá uma fé inabalável.
Com relação a Jesus, poderemos afirmar com absoluta certeza que Ele era um ser superior a nós humanos, sem, entretanto, chegar a ser um Deus, principalmente
pelos seus ensinos e exemplos de vida, virtudes essas que serão o nosso passaporte para o "Reino dos Céus", pois, somente através Dele é que chegaremos ao Pai, conforme
suas palavras: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão através de mim" (Jo 14,6).
RESSURREIÇÃO
No dia 18.04.96 o jornal Estado de Minas, publicou na página 17 a coluna "Um dia no Mundo", o seguinte texto:
RESSURREIÇÃO
A britânica Maureen Jones, 59 anos, foi oficialmente declarada morta por um médico depois de sofrer um ataque de diabetes. Momentos depois, cumprindo função de rotina,
policiais examinaram o corpo e, mexendo em suas pernas, a ressuscitaram. Este foi o segundo caso deste tipo neste ano na Grã-Bretanha. Em janeiro, a mulher de um
fazendeiro, Daphne Banks, 61 anos, foi encontrada viva dentro de um necrotério, na região central do país, depois que um médico a declarou morta. Mais tarde, Daphne
disse que estava tentando se matar.
Este texto levou-me a pensar. Realmente acontece a ressurreição, onde a alma da pessoa que morreu voltaria a reviver no mesmo corpo? Ou estas mortes aparentes
ainda não estavam no domínio da ciência? O que as religiões dizem a respeito?
Pela maioria das correntes religiosas tradicionais, todos nós ressuscitaremos um dia em nosso corpo físico e, após isto, seremos julgados, sendo o céu ou o
inferno o nosso destino, conforme tenhamos praticado o bem ou o mal. Nelas, a crença é da unicidade da existência humana, ou seja, nós só temos uma única vida, em
contraposição à reencarnação - várias vidas sucessivas - afirmada pela Doutrina Espírita.
Perguntaríamos: seria possível o corpo físico ser recomposto, para receber novamente o espírito que o animava? Entretanto, a Ciência vem nos dizer que o
nosso corpo físico é composto, entre outros, dos seguintes elementos: oxigênio, hidrogênio, azoto e carbono, e que, após a sua decomposição, estes elementos se dispersam
para servirem de formação a novas matérias, sendo cientificamente impossível sua recomposição. Bem sabemos que a ciência é o conhecimento humano que busca descobrir
as leis que regulam tudo no Universo, sendo, por conseguinte, estas leis, leis naturais ou Leis Divinas.
O apóstolo Paulo não possuía nenhuma dúvida sobre o assunto, porque teve a percepção clara de que não é o corpo físico que retorna à vida; vejamos em 1Cor
15,35-44: "Mas, dirá alguém, como é que os mortos vão ressuscitar? Com que corpo virão? Louco! O que semeias não reviverá, se não morrer antes. E o que semeias não
é o corpo a se formar, mas grão nu, de trigo, por exemplo, ou de qualquer planta. E Deus lhe dá um corpo que bem entende, e a cada semente, o seu corpo apropriado.
Toda a carne não é a mesma carne, mas uma é a carne dos homens, outra a carne das feras, outra, a carne das aves, outra, a dos peixes. Há corpos celestes e corpos
terrestres; mas um é o esplendor dos corpos celestes e outro o dos terrestres. Um é o brilho do Sol e outro o brilho das estrelas. E uma estrela brilha diferente
de outra estrela. Assim também na ressurreição dos mortos: semeado na podridão, o corpo ressuscita incorruptível. Semeado na humilhação, ele ressuscita glorioso.
Semeado frágil, ressuscita forte. E semeando um corpo animal, ressuscita um corpo espiritual. Como há um corpo animal, há também um corpo espiritual".
Não faz ele a nítida distinção entre os dois corpos que possuímos, um o corpo físico e outro o corpo espiritual, sendo que é com este último que iremos ressuscitar
no mundo espiritual ao qual retornaremos após a morte? Tão certo Paulo estava disto, que ele ainda afirma: "... A carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus"
(1Cor 15,50).
Existe no Evangelho passagem narrando fatos em que presumivelmente houve ressurreição; são em número de três: a da filha de Jairo (Mt 9,18-26; Mc 5,21-43
e Lc 8,40-56), a do filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17) e a de Lázaro (Jo 11,1-44).
No primeiro caso, as narrativas são unânimes em afirmar que Jesus tinha dito que a menina não havia morrido, apenas dormia. No segundo, não se fala nada.
E no terceiro, afirma que a doença de Lázaro não era para a morte, que ele dormia e iria despertá-lo, para, no final, dizer que ele havia morrido, contradizendo
o que havia dito anteriormente.
Ao que tudo indica, todos esses casos poderiam ser de pessoas que sofriam de ataques catalépticos, que dão toda a aparência de morte; não seriam, portanto,
uma verdadeira ressurreição. Parecem com os casos citados no jornal, não? E isto hoje, com todo o avanço da medicina, onde é bem mais fácil detectar estes casos
de morte aparente! Imaginem ao tempo de Jesus...
Mas à época de Jesus havia a crença de que uma pessoa poderia voltar. Só não era explicado como isto poderia ocorrer; senão vejamos: "Tendo chegado à região
de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou aos discípulos: 'Quem dizem por aí as pessoas que é o filho do homem?' Responderam: 'Umas dizem que é João Batista; outras,
que é Elias, outras enfim, que é Jeremias ou algum dos profetas' (Mt 16,13-14). E nesta outra: "Os discípulos lhe perguntaram: 'por que dizem os escribas que Elias
deve vir antes?' Respondeu-lhes: 'Elias há de vir para restabelecer todas as coisas. Mas eu vos digo que Elias já veio e não o reconheceram, mas fizeram com ele
o que quiseram. Do mesmo modo, também o Filho do homem está para sofrer da parte deles'. Então, os discípulos compreenderam que Jesus lhes tinha falado a respeito
de João Batista" (Mt 17,10-13).
Nessas passagens fica claro que de uma maneira geral todos acreditavam que uma pessoa que havia morrido poderia voltar até mesmo num outro corpo; certo?
Interessante a conclusão a que chegamos, ao analisarmos tudo o que Jesus produziu de "milagre", o que resumimos abaixo:
"Milagres"
Quantidade
Percentual
1- Fenômenos com ele e com a natureza
11 casos
28,9%
2- Curas diversas
16 casos
42,1%
3- Exorcismo
08 casos
21,1%
4- Ressurreição
03 casos
7,9%
Total
38 casos
100%
Isso foi colocado, para que possamos raciocinar. Se realmente a ressurreição fosse algo possível, por que Jesus a produziu em pequeno número em relação a
tudo o que fez? Por outro lado, algo de tão extraordinário, como fazer voltar à vida os nossos mortos, não seria óbvio que Jesus sofreria um assédio descomunal das
mães pedindo-Lhe que fizesse o mesmo com seus filhos que haviam morrido? Mas não consta nos Evangelhos que Ele tenha passado por semelhante situação.
Podemos concluir que Jesus curou estas pessoas, talvez portadoras de catalepsia, não ressuscitando ninguém que já havia de fato morrido; e o que se acreditava,
em sua época, era que uma pessoa que já havia morrido poderia voltar a viver como outra pessoa, que é o que hoje entendemos por REENCARNAÇÃO.
CONCLUSÃO
Procuramos mostrar alguns conceitos doutrinários do Espiritismo, para os que são leigos no assunto e, principalmente, para provar que eles não contrariam
em nada o que Jesus ensinou.
Vemos é justamente o contrário, ou seja, que a Doutrina Espírita procura desenvolvê-los de tal forma, que todos possam compreendê-los. Colaboramos para que
a percepção da Bíblia seja racional. Temos o Antigo Testamento como um importante código moral, mas circunscrito somente à própria época em que foi utilmente aplicado.
Somos conscientes de que devemos seguir somente o Novo Testamento, base fundamental dos ensinamentos de Jesus, pois, só assim, poderemos dizer-nos cristãos.

PARTE IV: CONCLUSÃO GERAL

CONCLUSÃO GERAL
Deste estudo, fica claro que, infelizmente, cada corrente religiosa, para mostrar que está com a razão, está sempre mudando o sentido original dos textos
sagrados, colocando palavras que não correspondem ao que quer dizer o texto, além de que cada uma delas procura dar-lhes a sua própria interpretação, objetivando
o enquadramento aos seus dogmas criados mais para dominar os fiéis que para salvá-los. Kardec, já dizia:
Infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação; o papel de profeta há tentado as ambições secundárias e tem-se visto surgir uma multidão
de pretensos reveladores ou messias, que, valendo-se do prestígio deste nome, exploram a credulidade em proveito do seu orgulho, da sua ganância, ou da sua indolência,
achando mais cômodo viver à custa dos iludidos. A religião cristã não pôde evitar esses parasitas. (KARDEC, A Gênese, p. 17)
Percebemos também que, em muitas notas de rodapé, ao invés de serem apenas notas explicativas, buscando ajudar na compreensão do texto, transformam-nas em
notas "interpretativas", onde as idéias que querem passar estão ali colocadas, fato de que a maioria das pessoas não se apercebe. Assim, surgem, então, as Bíblias
"à moda da casa".
Em nosso estudo dá para se perceber nitidamente como, muitas vezes, querem dar um significado muito diferente do que consta no texto, sempre querendo ajustá-lo
a seus dogmas ou princípios religiosos. Não se dão conta, inclusive, de que, em várias oportunidades, são altamente contraditórios, primeiramente com as próprias
notas, outras vezes, com outras passagens bíblicas, e, finalmente, com o próprio contexto em que se encontram.
Mais absurdo é constatarmos a adulteração dos textos originais, como colocamos em vários comentários, apesar de sempre dizerem que são fiéis a esses textos
originais.
Notamos, repetidas vezes, que, para muitas interpretações que querem dar a um texto, tentam colocar o significado atual das palavras, o que não corresponderia
ao significado antigo.
Não buscam se deslocar no tempo, para tentarem compreender os textos com a mentalidade dos homens da época em que foram escritos, incorporando, assim, lendas,
mitologias e outras crendices pagãs, como se fossem reais e verdadeiras, só porque constam da Bíblia.
Por terem feito artigo de fé que a Bíblia não erra, para uns, ou inerrante, para outros, não conseguem ver, por mais óbvios que sejam, vários erros de que
estão impregnados os textos sagrados.
A lógica, a razão e o bom senso passam longe de seus argumentos pueris, quando tentam explicar determinadas passagens, por se apegarem em demasia à letra.
E, esquecendo-se do seu sentido alegórico, caem no ridículo, em face de suas colocações.
Mas, afinal, quem estará com a razão? É certo que aqueles que caminham passo a passo com a Ciência. E não cansamos de repetir: a Ciência é de Deus. Vejam
o que já aconteceu com a questão da Terra ser o centro do universo e o que acontecerá com a teoria da evolução das espécies, entre outras! Quantos já mudaram de
opinião, para seguir a Ciência, e quantos ainda o farão, sob pena de terem que navegar sozinhos neste barco?! É inevitável que mais e mais pessoas irão se curvar
às leis naturais que a Ciência revela, ao desvendar-lhes seu funcionamento.
Até parece coisa combinada, mas no mesmo mês em que foi lançada a primeira edição desse livro (julho/2002) a revista Superinteressante publicou uma reportagem
de capa intitulada: A Bíblia o que é verdade e o que é lenda. O texto "A Bíblia Passada a limpo" leva a assinatura de Vinícius Ramanni, do qual transcrevemos, para
comprovar o que estamos dizendo, os seguintes trechos:
(...) E o que os cientistas estão provando é que o livro mais importante da história é, em sua maior parte, uma coleção de mitos, lendas e propaganda religiosa.
Das três ciências que estudam a Bíblia, a arqueoloiga tem se mostrado a mais promissora. "Ela é a única que fornece dados novos", diz o arqueólogo israelense
Israel Finkelstein, diretor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv e autor do livro The Bible Unearthed (A Bíblia desenterrada, inédido no Brasil),
publicado no ano passado. A obra causou um choque em estudiosos de arqueologia bíblica, porque reduz os relatos do Antigo Testamento a uma coleção de lendas inventadas
a partir do século VII a.C.
(...) O problema central do Novo Testamento é que seus textos não foram escritos pelos evangelistas em pessoa, como muita gente supõe, mas por seguidores, entre
os anos 60 e 70, décadas depois da morte de Jesus, quando as versões estavam contaminadas pela fé e por disputas religiosas.
O que sabemos com certeza é que Jesus foi um judeu sectário, um agitador político que ameaçava levantar os dois milhões de judeus da Palestina contra o exército
de ocupação romano. Tudo o mais que se diz dele precisa de fé para ser tomado como verdade.
No Gênesis, a história do dilúvio é uma das poucas que alinda o interesse dos cientistas, depois que os físicos substituíram a criação do mundo pelo Big Bang
e Darwin substituiu Adão pelos maçados. O que intrigou os pesquisadores foi o fato de uma história parecida existir no épico babilônico de Gilgamesh – o que sugere
que uma enchente de enormes proporções poderia ter acontecido no Oriente Médio e na Ásia Menor. Parte do mistério foi solucionado quando os filólogos conseguiram
demonstrar que a narrativa do Gênesis é uma apropriação do mito mesopotâmico. "Não há dúvida de que os hebreus se inspiraram no mito de Gilgamesh para contar a história
do dilúvio", afirma Rafael Rodrigues da Silva, professor do Departamento de Teologia da PUC DE São Paulo, especialista na exegese do Antigo Testamento.
Não há registro arqueológico ou histórico da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. A libertação dos hebreus, escravizados por um faraó egípcio,
foi incluída na Tora provavelmente no século VII a.C., por obra dos escribas do Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. ... A prova de que esses
textos são lendas estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o texto e a realidade. Muitos reinos e locais citados na jornada de Moisés pelo
deserto não existiam no século XIII a.C, quando o Êxodo teria ocorrido. Esses locais só viriam a existir 500 anos depois, justamente no período dos escribas deuteronômicos.
Também não havia um local chamado Monte Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez Mandamentos. Sua localização atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV
e VI d.C., por monges cristãos bizantinos, porque ele oferecia uma bela vista.
Vejamos agora o caso de Abraão, o patriarca dos judeus. Segundo a Bíblia ele era um comerciante nômade que, por volta de 1.850 a.C., emigrou de Ur, na Mesopotâmia,
para Canaã (na Palestina). Na viagem, ele e seus filhos comerciavam em caravanas de camelos. Mas não há registro de migrações de Ur em direção a Canaã que justifiquem
o relato bíblico e, naquela época, os camelos ainda não haviam sido domesticados. Aqui também há erros geográficos: lugares citados na viagem de Abraão, como Hebron
e Bersheba, nem existiam então. Hoje, a análise filológica dos textos indica que Abraão foi introduzido na Tora entre os séculos VIII e VII a.C. (mais de 1.000 anos
após a suposta viagem).
(...) é praticamente certo que Jesus nasceu em Nazaré e não em Belém. A explicação que o texto de Lucas dá para a viagem de Jesus até Belém seria falsa. Os registros
romanos mostram que Quirino (aquele que teria feito o censo que obrigou a viagem à Belém) só assumiu no ano de 6 d.C. – 12 anos depois do ano de nascimento de Jesus.
A história da viagem a Belém foi criada porque a tradição judaica considerava essa cidade o berço do rei David – e o messias deveria ser da linhagem do primerio
rei dos judeus. (Superinteressante, edição 178, pp. 40-50)
Aqui nos lembramos de uma afirmativa de Kardec: "O Espiritismo, caminhando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe
demonstrarem que está em erro sobre um ponto, modificar-se-á sobre esse ponto; se uma nova verdade se revela, ele a aceita". (A Gênese, Cap. I, item 55).
E, com isto, poderemos deslumbrar para o futuro que "Toda planta, que o Pai celeste não plantou, será arrancada. Deixai-os. São guias cegos. Se um cego guia
outro cego, ambos cairão no buraco" (Mt 15,13-14).
Confiantes em Jesus, esperemos por este dia.


Guanhães – MG.
Revisão e Ampliação
Fevereiro/2006

Referências Bibliografias:
A Bíblia Anotada, 8ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1994.
Bíblia de Jerusalém, nova edição. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia do Peregrino, s/ed. São Paulo: Paulus, 2002.
Bíblia Mensagem de Deus - Novo Testamento, s/ed. São Paulo: Loyola, 1984.
Bíblia Sagrada, 37a. ed. São Paulo: Paulinas, 1980.
Bíblia Sagrada, 5ª ed. Aparecida-SP: Santuário, 1984.
Bíblia Sagrada, 8ª ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1989.
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Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, 43ª imp. São Paulo: Paulus, 2001.
Bíblia Sagrada, 68ª ed., São Paulo: Ave Maria,1989.
Bíblia Sagrada, s/ed., Brasília – DF: SBB, 1969.
ARMOND, E. O Redentor, São Paulo: Editora Aliança, 1982.
CHAVES, J. R. A Face Oculta das Religiões, São Paulo: Martin Claret, 2001.
CHAVES, J. R. A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência, São Paulo: Martin Claret, 2001.
CHAVES, J. R. Quando Chega a Verdade, São Paulo: Martin Claret, São Paulo, 2001.
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ESPINOSA, B. Tratado Teológico-Político, São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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FINKELSTEIN, I e SILBERMAN N. A. A Bíblia não tinha razão, São Paulo: Girafa, 2003.
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GEISLER, N e HOWE, T., Manual Popular de dúvidas enigmas e "contradições" da Bíblia, São Paulo: Mundo Cristão, 1999.
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LETERRE, A. A vida oculta e mística de Jesus – São Paulo: Madras, 2004.
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MONLOUBOU, L. e DU BUIT, F.M. Dicionário Bíblico Universal, Petrópolis – RJ: Vozes; Aparecida - SP: Santuário, 1996.
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Livros Sagrados II, Revista do CD-Rom, Ed. Europa, edição 84, São Paulo, SP, 2002


Paulo da Silva Neto Sobrinho, é natural de Guanhães, MG.
Formado em Ciências Contábeis e Administração de Empresas pela Universidade Católica (PUC-MG).
Aposentou-se como Fiscal de Tributos pela Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais.
Ingressou no movimento Espírita em Julho/87. Nas Casas Espíritas que freqüentou exerceu as funções de Presidente, Coordenador de Reunião de Desobsessão e Coordenador
de Reunião de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita.
Escreveu vários artigos que foram publicados no Jornal Espírita e O Semeador da FEESP e em alguns sites Espíritas na Internet, entre eles o Portal do Espírito:
www.espirito.org.br e www.apologiaespirita.org
Atualmente freqüenta a Fraternidade Espírita Fabiano de Cristo, em Guanhães.
Endereço: Rua Joaquim Caldeira, 192 - Amazonas.
Guanhães, MG – CEP 39.740-000.
e-mail: pauloneto@ghnet.com.br
Tel: (33) 3421-2503
1 Fonte: www.geae.org/pt/boletins/geae398.html
2 SILVA, S. C., 2001, p. 35.
3 A lenda indiana sobre o dilúvio conta, segundo o livro dos Vedas, que Brahma, transformado em peixe, dirigiu-se ao piedoso monarca Vaivaswata; ele lhe
disse: "O momento da dissolução do Universo chegou; logo tudo o que existe sobre a Terra estará destruído. É necessário que construas um navio no qual embarcarás,
depois de pegar contigo os grãos de todos os vegetais. Esperar-me-ás sobre esse navio, e eu virei a ti tendo sobre a cabeça um corno que me fará reconhecer". O santo
obedeceu e construiu um navio, nele embarcou, e o ligou, por um cabo muito forte, ao corno do peixe. O navio foi arrastado durante vários anos, com uma extrema rapidez,
no meio das trevas de uma tempestade pavorosa, e abordou, enfim, o cume do monte Himawat (Himalaia). Brahma recomendou em seguida a Vaivaswata para criar todos os
seres e repovoar a Terra.
A analogia desta lenda com o relato bíblico de Noé é evidente; da Índia passara ao Egito, como uma multidão de outras crenças. Ora, como o livro dos Vedas
é anterior ao de Moisés, o relato que nele se encontra do dilúvio não pode ser uma imitação deste último. É, pois, provável que Moisés, que estudara a doutrina dos
sacerdotes egípcios, hauriu o seu entre eles.
4 Por grosseiro que seja o erro de uma tal crença, não se ilude menos ainda, em nossos dias, as crianças como sendo uma verdade sagrada. Não é senão tremendo que
os preceptores ousam arriscar uma tímida interpretação. Como querem que isso não faça, mais tarde, incrédulos?
5 A palavra hebraica haadam, homem, da qual se fez Adão, e a palavra haadama, terra, têm a mesma raiz.
6 Após alguns versículos, colocou-se a tradução literal do texto hebreu, que torna mais fiel o pensamento primitivo. O sentido alegórico dele ressalta mais claramente.
7 Paraíso, do latim paradisus, feito do grego paradeisos, jardim, pomar, lugar plantado com árvores. A palavra hebraica empregada na Gênese foi hagan, que tem o
mesmo significado.
8 Do hebraico cherub, keroub, boi, charab, lavrador: anjos do segundo coro da primeira hierarquia, que representavam com quatro asas, quatro faces e pés de boi.
9 Está bem reconhecido hoje que a palavra hebraica haadam não é um nome próprio, mas que significa o homem em geral, a Humanidade, o que destrói todo o alicerce
construído sobre a personalidade de Adão.
10 A palavra nâhâsch existia antes da língua egípcia, com o significado de negro, provavelmente porque os negros tinham o dom do encantamento e da adivinhação. Foi
talvez por isso também que as esfinges, de origem assíria, eram representadas com a figura de um negro.
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165----- Original Message -----
From: "Celia" <celiaflorianfedrizzi@terra.com.br>
To: "Daniel Ribas" <danielribas35@yahoo.com.br>
Sent: Wednesday, August 03, 2011 11:46 PM
Subject: ENC: Livros digitalizados


Livros encaminhados pela Glenda

-----Mensagem original-----
De: Glenda Ulhôa [mailto:gcu@powermail.com.br]
Enviada em: quarta-feira, 3 de agosto de 2011 16:47
Para: celiaflorianfedrizzi@terra.com.br
Assunto: Livros digitalizados

Cara Célia,
Anexos estão mais dois livros para uso dos amigos do grupo.
Com carinho,
Glenda Cordeiro Ulhôa


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Gerenciando Razão e Emoção
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