domingo, 2 de dezembro de 2012 By: Fred

{clube-do-e-livro} Livros de Chico Xavier: Amanhece, Carmelo Gris, Fé e Paz, Filhos Voltando, Fotos da Vida, Nascer e Morrer

AMANHECE
Volume único
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AMANHECE

Francisco Cândido Xavier
Ditado pelos
Espíritos Diversos

Edição GEEM -
Grupo Espírita Emmanuel
Sociedade Civil Editora
Av. Humberto de Alencar
Castelo Branco, 2857
São Bernardo do Campo
São Paulo - Brasil
Caixa Postal 222
CEP. 09701-970
Tel: (0xx11) 4109.71.22

Transcrito da 7ª edição
1988

Fevereiro de 2005

Volume único
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AMANHECE

Francisco Cândido Xavier
Ditado pelos
Espíritos Diversos

Transcrição da Divulgação
Braille - CASIMIRO CUNHA
GEEM
Grupo Espírita Emmanuel
São Bernardo do Campo/SP

Venda proibida
Transcrito de acordo com a
Lei 9610 de 19-02-98 de
Direitos Autorais
Título III cap. IV - art. 46
- item I - alinea D

Volume único
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AMANHECE

ÍNDICE - GERAL

Volume único
Da página 1 a 100

Amanhece -- Emmanuel:::1
Desuniões nos Grupos -- Francisco Cândido Xavier::3
Aversões Renascentes -- Emmanuel:::::4
Fadiga e Desespero -- Francisco Cândido Xavier::7
Inquietações Corrosivas -- Emmanuel::::::::8
Os Amigos do Poeta -- Francisco Cândido Xavier:::11
Anotações de Amigo -- Casimiro Cunha:::::12
Nas Lutas do Presente -- Francisco Cândido Xavier::::::::14
Voz dos Servicores -- Maria Dolores::::::15
Escolha das Provas -- Francisco Cândido Xavier::::19
Assunto de aceitação -- Cornélio Pires::::::20
Pela Paz Interior -- Francisco Cândido Xavier::::::23
Anote Hoje -- André Luiz::::::24
Renovação no Trabalho -- Francisco Cândido Xavier::::::::26
Endereço de Urgência -- Emmanuel::::::27
Sensações na Outra Vida -- Francisco Cândido Xavier::::::30
Impressões Depois da Morte -- Cornélio Pires:::::31
Nos Primeiros Tempos -- Francisco Cândido Xavier::::::::34
Começo Mediúnico -- André Luiz:::::::35
Aspectos da Caridade -- Francisco Cândido Xavier:::::::::37
Caridade Difícil -- Emmanuel::::::::38
Primeira Mensagem -- Francisco Cândido Xavier::39
Servindo Sempre -- Emmanuel:::::::41
Desalento e Materialismo -- Francisco Cândido Xavier::::::44
Religião e Tratamento -- Emmanuel:::::45
Com os Motoristas -- Francisco Cândido Xavier::49
Advertências -- André Luiz::50
Iniciação Mediúnica -- Francisco Cândido Xavier::52
Mediunidade e Nós -- Emmanuel:::::::53
O Dinheiro -- Francisco Cândido Xavier:::56
Cédula de Luz -- Maria Dolores:::::57
Trovas do Além para o Norte -- Francisco Cândido Xavier::59
Notas da Reencarnação -- Espíritos Diversos::::60
Até Que Ponto Somos Livres: -- Francisco Cândido Xavier:::::::61
Liberdade -- Cid Franco::62
Opiniões Contraditórias -- Francisco Cândido Xavier:::::::64
Avareza e Obsessão -- Cornélio Pires::::::65
Assunto Difícil -- Francisco Cândido Xavier::::66
Conflito Psicológico -- Cornélio Pires:::::67
Processos Obsessivos -- Francisco Cândido Xavier:::::::::69
Caso Como Tantos -- Cornélio Pires:::::70
Pedindo Notícias -- Francisco Cândido Xavier::71
Recado de Amigo -- Bezerra de Menezes::::::72
Com os Entes Queridos -- Francisco Cândido Xavier:::::::75
Associados Sempre -- Emmanuel::::::75
Visita ao Presídio -- Francisco Cândido Xavier::79
Sublimação -- Maria Dolores:::::::::79
Sobre a Reencarnação -- Francisco Cândido Xavier::81
Feliz Regresso -- Cornélio Pires::::::82
Tragédia antiga -- Francisco Cândido Xavier:::::83
Retorno -- Valentim Magalhães::::::83
Aos Que Ficaram -- Francisco Cândido Xavier::84
Saudade e Esperança -- Emmanuel::::::85
Segurança e Paz -- Francisco Cândido Xavier:::::89
Paciência e Caminho -- Emmanuel::::::89
Nós e os Desencarnados -- Francisco Cândido Xavier:::::::93
Unidos Sempre -- Emmanuel::::::::94
Lição do Trânsito -- Francisco Cândido Xavier::::97
Determinismo e Liberdade -- Emmanuel:::::::97
<T AMANHECE>
<T+1>
AMANHECE

Referíamo-nos ao Cristianismo Redivivo por dia novo na Terra.
As referências explodiam relampagueantes, quando um amigo pintor aduziu, fazendo surpresa:
-- "E se fixássemos o alvorecer da Era Nova em traços e cores?"
Impossível a execução de um plano assim arrojado; no entanto, alguém lembrou que um livro,
na essência, é um quadro de idéias, definindo determinadas realizações.
Foi assim que o projeto deste volume se nos configurou, de imediato, e aqui reunimos páginas
nossas, em que nos reportamos às criações espirituais, necessárias, à instalação da paz e da
felicidade para a Terra de hoje.
Cada companheiro, nesta despretenciosa galeria de pensamentos, expõe a contribuição que lhe
é própria e, de comentário a comentário, tentamos formar a tela espiritual de nossas esperanças.
Aqui, um de nós espalha as tinas da fé; ali, outro oferta destaque à beneficência; além,
aparece quem procura fixar as cores da alegria; mais adiante, surgem obreiros salientando o
espírito de serviço.
O quadro, confeccionado dentro das nossas estreitas possibilidades, aqui se encontra em
forma de livro.
AMANHECE é o nome deste noticiário da alma, condensado numa palavra única.
E entregando-te, leitor amigo, estas páginas simples, convidamos-te a refletir nas luzes de
nossa época, em que a Terra começa a envolver-se nos clarões de novo amanhecer, rogando ao
Senhor nos conceda o privilégio de trabalhar para que esse novo dia nos encontre -- a nós todos,
espíritos em evolução no Planeta, irmanados no mesmo anseio de paz, com a bênção do amor a
encaminhar-nos para Deus.
Emmanuel
Uberaba (MG), 18 de Abril de 1976.

DESUNIÕES NOS GRUPOS

Precedendo-nos a reunião pública, formávamos extenso agrupamento de companheiros, permutando
idéias quanto às desuniões, às vezes de caráter violento, que se verificam no íntimo dos grupos
domésticos e sociais. Falávamos dos desacordos de solução difícil, entre aqueles que foram
reunidos pela vida em tarefas de amor, dentro do próprio lar, quando o horário nos convidou aos
trabalhos do programa.
Após a prece inicial, O Livro dos Espíritos nos deu para estudo a questão 264, que foi
comentada com segurança por vários amigos. No término da reunião, foi o nosso caro Emmanuel
quem nos trouxe a mensagem da noite.

AVERSÕES RENASCENTES
Emmanuel

Problema difícil na experiência humana, que unicamente o amor consegue resolver: o
antagonismo quando surge entre os que foram chamados a viver sob o mesmo teto ou na mesma
equipe familiar.
Vemo-los comumente nos filhos que se voltam contra os pais ou nos que se rebelam; nos irmãos
que combatem os próprios irmãos; nos cônjuges que inesperadamente se afirmam uns contra os
outros; ou nos parentes que não suportam os companheiros de consangüinidade.

***
Quando te vejas em semelhantes ocorrências de rejeição espiritual, pensa nos conflitos que
volvem das existências passadas à maneira de sombras do ontem que se projetam no hoje, e
dispõe-te à rearmonização, a fim de extinguir os focos de vibrações desequilibradas, capazes de
gerar perigosos processos enfermiços.
A convivência induzida pelas tarefas em comum ou pelas obrigações do parentesco é a escola
de reajustamento em cujo currículo de lições solicitaste a própria internação, antes do berço
terrestre.

***
No lar ou no grupo de serviço, cada um de nós, ao tempo da encarnação, recolhe os laços mais
nobres de afinidade e aqueles outros menos agradáveis, junto dos quais somos constantemente
convidados a reaprender ensinamentos de compreensão e de amor.

***
Diante daqueles que te amam sem que ainda os ames, ou à frente daqueles outros aos quais
amas sem que ainda te consigam amar, auxilia-os, procurando envolvê-los no silêncio da bondade
e da simpatia.
Planta o bem que puderes, em benefício deles, e ajuda-os a se realizarem no melhor que
desejem, sem escravizá-los aos teus pontos de vista. E entrega-os a Deus, com sinceridade,
porque Deus dissolverá toda maldição em socorro e transformará toda discórdia em união,
abençoando e amparando a todos eles, tanto quanto abençoa e ampara a todos nós.

FADIGA E DESESPERO

Conversávamos, antes da reunião, sobre o grande número de pessoas que acusa fadiga e
desespero. Destacávamos os muitos casos em que, depois dessas indisposições, a pessoa parece
cair em doenças e processos obsessivos, sem que os remédios indicáveis consigam trazer-lhe o
alívio ou a cura.
A nossa troca de idéias continuava animada, quando fomos chamados pelo horário exigente às
tarefas em pauta. Aberto O Evangelho Segundo o Espiritismo, tivemos para estudo o tema 18 do
capítulo V, referente às provações e lutas da criatura na Terra. Vários confrades comentaram o
assunto com segurança. Ao término de nossas atividades, Emmanuel escreveu a mensagem
Inquietações Corrosivas.

INQUIETAÇÕES CORROSIVAS
Emmanuel

Desequilíbrio entre os maiores desequilíbrios que dilapidam as forças da existência: a
fadiga inútil.
Semelhante cansaço vai se alastrando e ganhando áreas: comparece na retaguarda dos fichários
de consultórios e nosocômios, por fator desencadeante de numerosas enfermidades; por trás de
grande contingente dos desastres de trânsito; na fase de muitas segregações carcerárias por
motivo a infrações e delitos; e no âmago de muitas resoluções infelizes que acabam em suicídio
ou frustração.

***
É imperioso considerar, porém, que esse tipo de exaustão não procede do trabalho físico que
se ergue, quase sempre, por alavanca de refazimento renovador, e sim de inquietações corrosivas
oriundas da caça de gratificações inoportunas, no imediatismo da experiência humana ou em
manifestações de rebeldia ou inconformidade.

***
Quanto puderes, usando bondade e tolerância, auxilia a enxugar as engrenagens do cotidiano,
expurgando-as de quaisquer resíduos de pessimismo e azedume deixados aí pelas aflições
desnecessárias.
Ninguém se corporifica na Terra sem planos de trabalho, com vistas ao próprio burilamento, e
nenhum trabalho de sublimação se verifica sem os testes respectivos.
O vínculo amargo, o desafio ao entendimento, a visita da tentação, o instante de renúncia ou
o tempo de crise são trilhas de acesso às conquistas da alma.

***
Não admitas a dificuldade ou a tribulação como sendo pancadas de angústia, esterilizando-te
a vida espiritual.
Recebe-as por lições que te procuram o campo íntimo, observando o que te dizem pelo idioma
inarticulado das provas.
E, agindo com paciência e esperança, serenidade e abnegação imunizar-te-ás contra as
calamidades do cansaço vazio, preservando a ti mesmo e auxiliando aos outros, a fim de se
firmarem com segurança na ascensão para Deus.

OS AMIGOS DO POETA

Preparávamo-nos para o início das tarefas espirituais, quando um amigo, residente no estado
do Rio, rogou-nos algumas palavras de Casimiro Cunha, poeta espírita de Vassouras a cuja
memória consagra viva afeição. Explicamos que nem sempre se recebe numa reunião a mensagem que
se deseja e, sim, a que os amigos da vida maior consideram como a de que precisamente
necessitamos. O amigo aceitou a explicação e iniciamos a reunião.
O Livro dos Espíritos nos deu a questão 525 para estudo. Após os comentários, foi realmente
Casimiro Cunha quem escreveu a página poética.
Ao término das tarefas, chegaram outros amigos e quase todos nos informaram que buscavam as
nossas preces no mesmo propósito de obter algum comunicado que os auxiliasse a encarar os seus
problemas com acerto.

ANOTAÇÕES DE AMIGO
Casimiro Cunha

Você pede rumo certo ã
Para o caminho em que avança;ã
Mas você mesmo é quem guarda ã
Sua própria segurança.ãã
Obrigação, que se abraça,ã
Tem força de compromisso.ã
Em favor de sua paz ã
Não tente esquecer-se disso.ãã
Proteja o corpo em que vive ã
Para as tarefas do bem;ã
O lavrador que produz ã
Preserva a enxada que tem.ãã
Transforme o tempo em serviço,ã
Lembrando, em linhas gerais,ã
Que a vida volta no tempo,ã
Mas o tempo, nunca mais.ãã
Conserve constantemente ã
Verbo limpo e mente sã.ã
O que possa fazer hoje ã
Não deixe para amanhã.ãã
No socorro aos semelhantes,ã
Cooperação é dever;ã
A consciência tranqüila ã
Não tem questões a temer.ãã
Cada aluno está na escola ã
Para a lição, tal qual é.ã
Perante ofensas, perdoe:ã
Perante lutas, mais fé.ãã
Ante amarguras, trabalhe;ã
Se há provações a transpor,ã
Nas sombras que se avolumam,ã
Trabalhe com mais amor.ãã
Olvidar-se e ser mais útil ã
Dissolve qualquer pesar.ã
Para a bênção de servir ã
Nunca se faça esperar. ãã
Estude, eleve, construa ã
E nada fará em vão.ã
Recorde: a luz da verdade ã
Não conhece oposição.ãã

NAS LUTAS DO PRESENTE

O tema de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que caiu em nossa reunião, foi o item 4 do
capítulo XX. Os comentários dos participantes foram muito expressivos. Tratamos das lutas do
presente e das dificuldades para as enfrentarmos e para cultivarmos os nossos princípios na
chamada era científica, pedindo a Deus a inspiração e o amparo de que carecemos.
No término da reunião, foi Maria Dolores quem veio ao nosso encontro com a mensagem-prece
Voz dos Servidores.

VOZ DOS SERVIDORES
Maria Dolores

Senhor Jesus!
Por nossa própria imprevidência,
Embora a evolução que nos reveste,
O sofrimento áspero, profundo,
Invade, canto a canto, os distritos do mundo
E espalha o pranto e sombra ante o esplendor celeste.

***
Avança a Terra pelo espaço afora,
Carregando conquistas
Que lhe garantem plena exaltação.
Máquinas jamais vistas
Efetuam serviços colossais:
Satélites, além, na rota em que se vão,
Oferecem notícias e sinais.
Computadores poupam energias
Ou se fazem vigias
De caminhos e forças siderais.
E o homem, desde os céus ao sub-solo,
Leva o próprio domínio pólo a pólo.

***
Entretanto, Senhor!
Em todos os lugares,
Há quem se desconforte,
No imenso festival de riqueza e cultura,
Transportando consigo a vocação da morte,
De coração cansado, ante a vida insegura.
Destacamos, Jesus, os que caem de tédio,
Que gastaram o tempo e o corpo sem proveito,
E são hoje doentes quase sem remédio
Na angústia sem razão que lhes oprime o peito.
Falamos dos que morrem na saudade,
Dos corações queridos que partiram
Para a imortalidade,
E tateiam chorando, ante a Vida Maior,
Vasos de cinza e pedra em derredor
Das lágrimas que vertem...
Falamos dos drogados,
Dos que largaram de servir,
Dos que se dizem desesperançados
Ante a luz do porvir;
Dos que afirmam que a fé
Hoje se guarda apenas em museus,
E proclamam, gritando desenfreados,
Que a ciência na Terra é a derrota de Deus.

***
É por isto, Senhor, que nós Te suplicamos:
Não nos deixes temer o vozeirão das trevas;
Da Infinita Bondade a que Te elevas,
Concede-nos a força da humildade
De modo a trabalharmos, dia-a-dia,
Em Teu reino de luz e de verdade.
Ajuda-nos, Senhor,
A esquecer-nos, a fim de acompanhar-Te,
Cooperando Contigo em qualquer parte.
Acolhe-nos no amor com que nos guardas,
Na condição de servos teus.
Porque, apesar de sermos pequeninos,
Encontramos, Senhor, em Teus ensinos,
A presença de Deus.

ESCOLHA DAS PROVAS

Sobre a escolha das provações, amigos vários falavam conosco. Diante de certas provas,
aflitivas e terríveis, seria o próprio espírito quem as pediria, antes de tomar o corpo
terrestre? A pergunta, formulada por um simpatizante da Doutrina Espírita, provocou muitos
comentários. No momento mais aceso da nossa conversação fomos convidados à prece em conjunto.
Consultado, O Livro dos Espíritos deu-nos a questão 259 para estudo, seguindo-se explanações
rápidas e expressivas. Ao término da reunião, foi o nosso estimado Cornélio Pires quem nos
trouxe a palavra do mundo espiritual.

ASSUNTO DE ACEITAÇÃO
Cornélio Pires

"Se pedimos nossas provas,ã
-- Diz você, Joaquim Paixão --ã
Como é que se vê do Além ã
O assunto da aceitação?" ãã
"Se há tanta gente na fuga ã
Do respeito a compromisso,ã
Diga, Cornélio, o que há,ã
Como posso entender isso?"ãã
Compreendo, caro irmão,ã
Seus raciocínios extremos.ã
No entanto, saiba!... Nós mesmos ã
Pedimos o que sofremos.ãã
Nos fatos da delinqüência ã
É que a coisa se complica:ã
Reparação do infrator ã
É a pena que se lhe aplica.ãã
Sem essa exceção na regra,ã
Na verdade vista, a fundo, ã
Rogamos, antes do berço,ã
As nossas lições no mundo.ãã
Ao fim de cada existência,ã
Em conta particular,ã
O espírito reconhece ã
Os débitos a pagar.ãã
A gente anota com susto ã
Quantas faltas ao dever;ã
Quantos votos a cumprir,ã
Quanto trabalho a fazer!ãã
Analisando a nós mesmos,ã
Em claro e justo juízo,ã
Pede-se a Deus corpo novo ã
Para o que seja preciso.ãã
Aparece a concessão.ã
Eis que a pessoa renasce;ã
Por dentro, as tendências velhas ã
Sob a luz de nova face...ãã
Aí, começam problemas...ã
Encontra-se a obrigação.ã
Entretanto, é muita gente ã
Nas ondas da deserção.ãã
Se você quer aprender,ã
Segundo o Reto Pensar,ã
São muitos os casos tristes ã
Que podemos relembrar.ãã
Você recorda o Nhô Cássio?ã
Pediu cegueira comprida:ã
Ao ver-se na provação,ã
Matou-se com formicida.ãã
Aninha rogou viver ã
Com dois filhos mutilados;ã
Ao ter dois gêmeos em luta ã
Fez dois anjos enjeitados.ãã
Rogou fraqueza no corpo ã
Nhô Nico Bartolomeu;ã
Sentindo-se desprezado,ã
Revoltou-se e enlouqueceu.ãã
Anita pediu o encargo ã
De proteger João de Tina;ã
Ao vê-lo pobre e doente,ã
Largou-se na cocaína.ãã
Na penúria que pedira ã
Nosso amigo João Vilaça,ã
Em vez de buscar serviço,ã
Atolou-se na cachaça.ãã
Pediu nervos relaxados ã
Nhô Sizínio Rapadura;ã
Ao ver-se em corpo imperfeito,ã
Jogou-se de grande altura.ãã
Léo rogou prisão no leito ã
E, tendo paralisia,ã
Atirou-se na descrença ã
E acabou na rebeldia.ãã
Joana pediu procissões,ã
Corpo enfermo e vida em brasa,ã
Quando entrou na provação,ã
Desprezou a própria casa.ãã
É isso aí... Paciência ã
Não vive conosco em vão...ã
Quem se aceita, espera e serve,ã
Melhora de condição.ãã
De tudo, aparece um ensino ã
Que não se deve olvidar:ã
Dor de quem não se conforma ã
Tende sempre a piorar.ãã

PELA PAZ INTERIOR

Caminhávamos para o nosso encontro espiritual, em companhia de diversos confrades,
comentando as atitudes aparentemente inexpressivas (mas muito importantes para a nossa
tranqüilidade e segurança) que somos quase forçados a tomar, no cotidiano, para garantir a
nossa paz interior. Companheiros falavam de pequeninos gestos de irritação que se degeneram na
via pública em grandes conflitos. Outros falavam de incompreensões julgadas quase
imperceptíveis que se transformam em dolorosos dramas domésticos e sociais.
Logo após, reunidos em prece, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu a estudo o item 7 do
seu capítulo X. alguns irmãos destacaram a oportunidade do tema. E, ao término da reunião, foi
o nosso amigo André Luiz quem compareceu, relacionando tópicos de paz e segurança para a nossa
vida diária.

ANOTE HOJE
André Luiz

Anote quanto auxílio poderá você prestar ainda hoje.
Em casa, pense no valor desse ou daquele gesto de cooperação e carinho.
No relacionamento comum, faça a gentileza que alguém esteja aguardando conforme a sua
palavra.
No grupo de trabalho, ouça com bondade a frase menos feliz sem passá-la adiante.
Ofereça apoio e compreensão ao colega em dificuldade.
Estimule o serviço com expressões de louvor.
Quanto puder, procure resolver problemas sem alardear seu esforço.
Em qualquer lugar, pratique a boa influência.
Desculpe faltas alheias, consciente de que você também pode errar.
Observe quanto auxílio poderá você desenvolver no trânsito, respeitando sinais.
Acrescente paz e reconforto à dádiva que fizer.
Evite gritar para não chocar a quem ouve.
Pague a sua pequena prestação de serviço à comunidade, conservando a limpeza, por onde passe.
Sobretudo, mostre simpatia e reconhecerá que o seu sorriso, em favor dos outros, é sempre
uma chave de luz para que você encontre novas bênçãos de Deus.

RENOVAÇÃO NO TRABALHO

Fomos para a nossa reunião, conversando sobre as dificuldades ante conflitos de opiniões. Um
desligamento simples de entidade determinada, para entrar em atividade mediúnica em outro grupo,
na continuidade da mesma tarefa doutrinária, trouxe a mim tanto barulho que me espantei. Não
sou médium diferente dos outros. Entretanto, uma renovação de moldura no trabalho inalterado,
aos quase cinqüenta anos de atividade mediúnica, fez tamanho barulho por bagatela, que as
incompreensões me atemorizaram.
Nessa disposição demos início às tarefas, tendo O Livro dos Espíritos nos oferecido a
questão 674 que foi comentada com segurança por uma de nossas irmãs. Complementando nossos
estudos, Emmanuel encerrou a reunião com a página Endereço de Urgência.

ENDEREÇO DE URGÊNCIA
Emmanuel

Nos dias felizes,
Trabalhar e servir mais.
Diante das provações,
Trabalhar e servir com paciência.
Nos momentos amargos,
Trabalhar e servir sem reclamações.
À frente de injúrias,
Trabalhar e servir, desculpando sempre.
Nas advertências da crítica,
Trabalhar melhorando as tarefas.
No tumulto da discórdia,
Trabalhar e servir, promovendo a harmonia.
Em meio da tempestade,
Trabalhar e servir com a luz da oração.
Perante adversários,
Trabalhar e servir, valorizando a cada um.
Na incompreensão dos amigos,
Trabalhar e servir, cultivando o silêncio.
Nas arremetidas do mal,
Trabalhar e servir, confiando na supremacia do bem.
Em qualquer circunstância,
Trabalha e serve, quanto puderes.

***
Quem trabalha renova.
Quem serve oferece algo de si no amparo aos outros. E quem oferece algo de si, em favor do
próximo, age em três dimensões: beneficiando a si mesmo pelo merecimento da doação, ao
necessitado, pelo apoio de instante certo e à Divina Providência, pela execução do amor, que é
base de toda a lei.
Por isso mesmo, o auxílio do Mais Alto verte dos Céus para todas as criaturas, mas o lugar
onde estiveres trabalhando e servindo é o endereço de urgência para que se faça, em qualquer
necessidade, a entrega imediata do socorro de Deus.

SENSAÇÕES NA OUTRA VIDA

Quais são as sensações da criatura logo após a morte do corpo? Durante os preparativos da
nossa reunião pública, trocávamos idéias sobre o assunto. As opiniões divergiam bastante. Um
amigo nos escrevera, solicitando que perguntássemos a Cornélio Pires a respeito, sugerindo-lhe
alguns apontamentos sobre essa questão.
Encaminhando-nos no auge das conversações para as tarefas da noite, os amigos espirituais
nos indicaram para estudo a pergunta 155 de O Livro dos Espíritos, onde se explica que os dois
estados se ligam e se confundem.
Nosso amigo Cornélio manifestou-se, por nosso intermédio, com a mensagem em quadras a que
denominou Impressões Depois da Morte.

IMPRESSÕES DEPOIS DA MORTE
Cornélio Pires

Recebi sua pergunta,ã
Meu caro Tito Belém,ã
Sobre os momentos primeiros ã De nossa vida no além.ãã
À pergunta é pequenina,ã
No assunto como se aponta.ã Mas a resposta, a rigor,ã
Seria livros sem conta.ãã
A morte é assim, qual a vida:ã
Renovação sem atraso...
Cada vida -- nova história,ã
Cada morte -- novo caso.ãã
Embora o pouco que diga ã
Naquilo que eu não sabia,ã
Posso falar, de algum modo,ã
Sem muita filosofia.ãã
Entre os que deixam a Terra,ã
Vê-se enorme diferença;ã
Cada pessoa que parte ã
Está naquilo que pensa.ãã
Quem viveu para o trabalho,ã
Sempre em serviço constante,ã
Estudando e construindo,ã
Não pára, segue adiante...ãã
Entretanto, a maioria ã
Continua, muitas vezes,ã
Nos caprichos preferidos,ã
Por muitos e muitos meses.ãã
Recorde nessa matéria,ã
O nosso amigo João Pio:ã
Morreu no abuso da pesca ã
E vive à beira do rio.ãã
Anita do apego aos ouros,ã
No Roçado das Gibóias,ã
Sem corpo vive atracada ã
Em velha caixa de jóias.ãã
Finou-se em brasas da ira,ã
nosso Adálio Godinho.ã
Hoje, é um fantasma de casa,ã Gesticulando sozinho.ãã
Morreu apostando em bichos ã
O nosso Cecílio Luz.ã
Desencarnado ele clama ã
Por touro, cabra e avestruz...ãã
Atarracado à cobiça ã O Antonico do Hemetério,ã
Sem corpo, enxerga diamantes ã
Nas pedras do cemitério.ãã Bebia em caneco grande ã
Teotônio de Xique-Xique.ã
Desencarnado, deitou-se ã Quase à frente do alambique ãã
Agarrado a bois de preço ã
Finou-se Juca Beiral.ã Sem corpo, é um rondante aos gritos ã
Fiscalizando o curral.ãã
Vivendo de sombra e rede,ã
Morreu Flausina da Granja.ã
Hoje é um fantasma de leito,ã
Pedindo prato de canja.ãã
Tombou Lino Santarém,ã
Tiro lá, tiro de cá.ã
Desencarnado, quer briga,ã
Mas já não acha com quem.ãã
Morreu perseguindo a muitos ã
Nhô Nico de João da Venda.ã
De tanta culpa ele é hoje ã
Assombração na fazenda.ãã
Parada em sono e doença ã
Faleceu Joana Mangaba. ã
Depois da morte, carrega ã
Doença que não se acaba.ãã
Sempre fugiu do trabalho ã
Dona França da Abadia.ã
Sem corpo, ela própria clama ã
Que sofre paralisia.ãã
A Lei de Deus, caro amigo,ã
É clara, simples, segura...ã
Tudo o que temos na vida ã
É aquilo que se procura.ãã
Deus nos inspire e nos guarde, ã
A verdade é isso aí...ã
Cada qual acha na morte ã
Aquilo que fez de si.ãã

NOS PRIMEIROS TEMPOS

Alguns companheiros iniciantes nas tarefas espíritas estiveram conosco pela manhã. O tema
principal de nossa conversação foi a mediunidade nos primeiros tempos de prática. Falávamos da
necessidade de orientação e esclarecimento a respeito, destacando os estudos e as observações
de Allan Kardec. De quando em quando, fixávamo-nos na indagação: Como começar?
Nossos comentários se alongaram. Quando nos decidimos à prece em conjunto, em ligeira
reunião de estudos. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu o item 3 do capítulo XXV,
que comentamos em animado diálogo. Chegando ao final de nossa tarefa, nosso amigo espiritual
André Luiz escreveu a página Começo Mediúnico.

COMEÇO MEDIÚNICO
André Luiz

Se você deseja cooperar com os Bons Espíritos na Causa do Bem, não exija mediunidade
espetacular.
Procure engajar-se numa equipe de criaturas dedicadas à compreensão e ao auxílio em favor do
próximo.
Estude, agindo para colaborar com mais segurança.
Comece na certeza de que você precisa muito mais dos outros que os outros de você.
Não se queixe nem acuse a ninguém.
Se esse ou aquele companheiro lhe experimenta a humildade ou a paciência, ao invés de
lamentar-se, agradeça a oportunidade de aprender e progredir.
Não olvide que você se encontra em atividade do Plano Espiritual, numa construção de paz e
amor.
Os Mensageiros da Bênção de Deus, para abençoarem por seu intermédio, esperam que você
igualmente abençoe.
Quando você estiver trabalhando e auxiliando, entendendo que mediunidade com Jesus é serviço
ao próximo, encontrará o seu próprio caminho e a sua própria orientação na intimidade dos
Benfeitores Espirituais, compartilhando-lhes a paz e a alegria que decorrem do bem aos outros,
que é e será o Bem de Todos para sempre.

ASPECTOS DA CARIDADE

Os diversos aspectos da caridade constituíram o assunto de nossas conversações antes da
reunião. O tema sugeria ao nosso grupo de amigos variadas considerações. Iniciadas as tarefas
públicas da noite, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu para estudo o item 11 do seu
capítulo XIII e o assunto continuou a ser debatido.
Ao término da reunião, Emmanuel escreveu a página Caridade Difícil.

CARIDADE DIFÍCIL
Emmanuel

Caridade habitualmente incompreendida e sempre difícil de ser praticada -- o amparo em
regime de repetição.
Ergue-se a casa, elemento a elemento. Realiza-se a viagem passo a passo. Entretanto,
freqüentemente exigimos a recuperação de criatura determinada, de momento para outro, qual se
as realizações da vida interior fossem estranhas às funções do tempo.
Se te encontras num problema assim de cuja solução esperas segurança e paz, não te aflijas
pela obtenção do fruto nos esforços a que te empenhas, nem esmoreças ante as situações que te
solicitam tolerância e paciência.
O companheiro que se te afigura incorrigível pelos desgostos que te impõe é um enfermo da
alma a pedir-te doses reiteradas de compreensão e socorro, de modo a refazer-se.
E a pessoa querida que te pareça ingrata pelos golpes com que te alanceia o coração, é
doente da alma a solicitar-te medicamentos renovados de ternura e entendimento, a fim de
restaurar-se.
Quase sempre, antes da corporificação em novo berço terrestre, rogamos à Divina Providência
para que se nos confie a laboriosa tarefa da assistência espiritual, em benefício de alguém que
só o tratamento longo na reencarnação consegue melhorar ou recuperar.

PRIMEIRA MENSAGEM

Servindo Sempre é a mensagem do nosso caro Emmanuel, recebida em nossa primeira reunião
pública do novo núcleo -- o Grupo Espírita da Prece, nesta cidade de Uberaba. Fundamos a nossa
singela instituição há algumas semanas. Entretanto, a nova sede somente agora está funcionando,
com as nossas reuniões públicas de sextas e sábados à noite, além de nossas atividades outras
no serviço espiritual.
Não tivemos qualquer solenidade inauguratória. Nosso amigo José Gonçalves Pereira,
orientador da Casa Transitória de São Paulo, fez a prece inicial e a nossa reunião continuou
nos velhos moldes habituais. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu o item 5 do seu
capítulo XVII. Os comentários dos irmãos presentes foram os mais confortadores e significativos
para nós todos.

SERVINDO SEMPRE
Emmanuel

Na seara da verdade, todos somos chamados a semear. Semear amor e luz que transbordem nas
colheitas de progresso e elevação.
Semeiam todos aqueles que se fazem guardiães da justiça e da cultura, da prosperidade e da
influência, assegurando a proteção da vida comunitária. E semeiam todos aqueles outros que
manejam o buril da palavra ou as letras do alfabeto, a energia do braço ou a força do coração,
sulcando o campo da vida e adubando-lhe os recursos para que a plantação do Mundo Melhor se
arroje do presente ao porvir, de geração a geração.

***
Onde o Senhor te colocou, nunca te esqueças de que a fidelidade aos teus próprios encargos é
a limpidez de tua fé e a razão de tua própria vida.
O servidor se qualifica no préstimo da ação que executa. Sai, pois, de ti mesmo, na
prodigiosa repetição do dia-a-dia e atende à tarefa que te cumpre, sem que se turbe o teu ânimo,
ante a ventania das opiniões contraditórias, e sem que o calor da esperança se esfrie no teu
espírito, perante o inseto daninho ou o escalracho destruidor.

***
Age e segue.
Se a garoa da indiferença te procura imobilizar os movimentos, lembra-te do sol que não
falta a ninguém, nos mecanismos da pontualidade, e, quando apareça o aguaceiro das provas,
encharcando-te a moradia, reflete nas espigas que virão.

***
Nas bases da consciência tranqüila, cede de ti mesmo o melhor que possas, como possas e
tanto quanto possas no auxílio a todos.
Em verdade, o tempo altera todas as construções exteriores da vida, mas conserva, intocável,
com dividendos crescentes e incessantes, todo e qualquer investimento de amor.
Mobiliza os talentos que o Senhor te confiou, faze os depósitos de compreensão e bondade,
paz e bênção que te sejam possíveis, e caminha para diante, trabalhando e servindo sempre.

***
Sobretudo, nunca te creias incapaz, nem te afirmes inútil. Um dia, certo pequeno feixe de
materiais considerados inferiores aceitou as disciplinas de exigente artesão que lhe cortou as
arestas, imprimindo-lhe nova forma, e, desde então, o mundo conhece a tomada que, em se
sujeitando aos preceitos da usina, se converte em mensageira de luz.

DESALENTO E MATERIALISMO

Grande número de visitantes, inclinados ao estudo da Doutrina Espírita, alguns deles
egressos de tratamento psiquiátrico, apresentavam-se em nossa reunião pública do grupo Espírita
da Prece. A maioria falava de insegurança e desalento perante as lutas necessárias e
edificantes da vida. Comentavam alguns ainda, os avanços do materialismo e a descrença, às
vezes fria, de muitos homens de cultura científica.
Quando o horário nos chamou à execução do programa doutrinário da noite, O Evangelho Segundo
o Espiritismo nos deu para estudo o item 4 do capítulo V. As explanações do tema pelos
companheiros espíritas foram as melhores. No término dos trabalhos, Emmanuel escreveu a página
sobre religião e tratamento de saúde.

RELIGIÃO E TRATAMENTO
Emmanuel

Companheiros vários indagam pelo motivo do recrudescimento das moléstias mentais nos tempos
modernos.
Milhares de pessoas se acusam portadoras de traumas e frustrações, recorrendo às ciências
psicológicas para tratamento adequado.
Realmente, a formulação de recursos medicamentosos a que se endereçam, com a chancela da
autoridade profissional, poderia ser feita sem maior especificação. Entretanto, os pacientes
desejam algo mais que o socorro químico.
Precisam destacadamente da palavra esclarecedora e edificante que lhes recomponha as emoções
e lhes ilumine o entendimento.
Por isso mesmo, o médico das forças espirituais é procurado hoje, à feição de sacerdote da
ciência, habilitado a oficiar na religião da consciência reta a fim de educar a vida e
sublimá-la.
Que isso é alto progresso humano não há negar. Isso, porém, demonstra igualmente que a
assistência religiosa é inarredável da paz e da felicidade das criaturas.
O aprimoramento da técnica acelerou o engrandecimento da indústria.
A indústria avançada incentivou a produção de valores materiais.
E, no parque imenso das facilidades e garantias ao reconforto físico, a carência de alimento
espiritual patrocina desequilíbrios em múltiplas direções.
A anemia da vida interior estabelece pequenos e grandes colapsos do mundo íntimo e, em razão
disso, sobram perturbações e necessidades da alma em quase todos os setores da evolução.
À frente do painel de semelhantes conflitos, meditemos na importância do amparo religioso e
não permitas se te apague a luz da fé onde estiveres.
Se te encontras a sós, nos princípios religiosos que te nutrem a vida, faze o teu momento de
reflexão e de prece, entre os horários de cada dia; atende ao culto periódico da oração e do
estudo iluminativo com os familiares e amigos que te possam acompanhar nos impulsos de
reverência a Deus; não sonegues a palavra serena e reconfortante da crença que abraças nos
diálogos com os irmãos de caminho; e, quanto puderes, prestigia o templo religioso a que te
vinculas, cooperando espontaneamente, a fim de que a tua casa de fé, possa atender aos
programas de serviço ao próximo em que se compromete, diante do Eterno Bem.

***
Compreendamos, por fim, que o progresso tecnológico, na ciência, é irreversível, mas em
nossa condição de espíritos imortais, encarnados ou não, somos obrigados a reconhecer que o
amparo espiritual na religião é irreversível também.

COM OS MOTORISTAS

A reunião da noite foi um momento de oração e culto de nossos princípios, com cinco amigos
motoristas, provenientes do Rio, de passagem por Uberaba, a caminho de férias rápidas em Goiás.
Antes de nos acomodarmos para a prece, falávamos sobre advertências e críticas nos caminhos da
vida. Nossos amigos, de modo geral, manifestavam-se contra o espírito de análise que não
podemos dispensar em nossas experiências do dia-a-dia, de modo a bem cumprirmos as nossas
obrigações. Não concordavam com avisos e anotações fraternas, externando o ponto de vista de
que toda pessoa deve aprender, de modo irrestrito, por si mesma.
Iniciamos o nosso ligeiro encontro na prece e O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu para
estudo o item 20 do capítulo X, oferecendo-nos campo a excelentes considerações. Ao fim da
reunião, André Luiz nos deu a página de encerramento.

ADVERTÊNCIAS
André Luiz

Se você não acredita na necessidade de advertências para a execução exata de suas tarefas no
mundo, observe o trânsito de sua própria cidade.
Antes de tudo, em qualquer via pública, você é obrigado a refletir na segurança de todos, de
modo a sustentar a tranqüilidade própria.
Em seguida, precisará considerar o impositivo de auto preservação, tanto quanto, em muitos
casos, deve auxiliar a movimentação correta daqueles que se acham indecisos ou enfermos na
pista.
Não pode esquecer os sinais que lhe mostram "perigo", "pausa" ou "caminho livre", sob a pena
de entrar em riscos graves.
Em qualquer cochilo de direção, não prescindirá do apoio de guardas que se incumbem de
vigilância e policiamento.
Quanto mais progresso, mais intercâmbio; quanto mais intercâmbio, mais complexidades no
caminho comum.
Veja, pois, meu caro: se você, até hoje, não foi chamado a observações construtivas, a fim
de acertar os próprios passos, não se coloque fora da necessidade de advertências sinceras e
amigas, porque você está, por enquanto, na Terra, e o imperativo de ponderação e aviso por
parte dos outros, em seu benefício, pode surgir amanhã.

INICIAÇÃO MEDIÚNICA

Os assuntos relativos a iniciação mediúnica dominavam as conversações, antes de nossa
reunião pública, quando o horário nos chamou às tarefas espirituais. Logo depois da prece
inicial, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu a estudo o item 10 do Capítulo XIX. As
explanações referentes a mediunidade e a médiuns surgiram com segurança entre os presentes. Ao
final da reunião, a mensagem sobre o tema foi dada por Emmanuel.

MEDIUNIDADE E NÓS
Emmanuel

Se aspiras a ser intérprete da Espiritualidade Superior, matricula-te, antes de tudo na
Escola do Bem de Todos, para que os mensageiros do Bem Eterno te encontrem no lugar certo.
Arreda de ti qualquer idéia de mal.
Prepara-te, amando e compreendendo.
Ninguém consegue educação sem experiência.
Ninguém progride sem o concurso dos outros.
Ninguém se adianta sem movimentação no caminho.
Para isso, trabalha sempre.
Não basta, no entanto, a ação por si só. Imprescindível configurá-la em proveito.
Toda circunstância é campo de criatividade para que se realize o melhor.
A vida é o educandário.
O tempo é a riqueza de todos eqüitativamente distribuída.
O próximo é o instrutor.
Discípulos da evolução, somos todos.
Serviço é o nosso ponto de encontro.
Se nos propomos a melhorar a existência, é imperioso melhorar-nos.
Se queremos receber é preciso esvaziar as próprias mãos, em auxílio dos semelhantes, a fim
de repletar-nos com recursos novos nas fontes do Suprimento Infinito.
A represa garante a usina porque aprende a guardar distribuindo.
A força elétrica se faz luz, aceitando transformar-se para a nobreza do benefício.
Mas a represa e a força elétrica nada conseguiriam sem disciplina para louvor da utilidade.
Pensemos nisso e honorifiquemos o lugar que é nosso, cumprindo tão bem quanto se nos faça
possível, a tarefa que a vida nos entregou a executar.
Toda atividade na criação do bem é importante.
O copo de água é filho das nascentes profundas.
A vela acesa que dissipa a sombra é irmã da estrela que desfaz a resistência das trevas.
Ergue-te, assim, para realizar o melhor que puderes.
Traduzir os Emissários do Bem será sempre unirmo-nos a eles em serviço constante.
Ninguém sabe quem teria sido o samaritano da parábola: se um homem de elevada cultura
espiritual ou se um analfabeto no conhecimento da vida; se um representante da autoridade ou se
um homem a esconder-se das próprias culpas. Entretanto, porque se compadeceu e auxiliou, porque
agiu e serviu, em favor do próximo, conseguiu identificar-se com o trabalho dos anjos.

O DINHEIRO

No início da nossa reunião pública. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu para estudo o
item 12 do capítulo XVI. As explanações sobre o dinheiro, tema central do texto lido, foram as
mais diversas, às vezes até mesmo contrárias entre si, mas todas com definições respeitáveis
sobre a função do dinheiro no campo da vida.
Para encerrar as nossas tarefas, Maria Dolores veio-nos ao encontro com a página por ela
mesma intitulada Cédula de Luz.

CÉDULA DE LUZ
Maria Dolores

A fim de realizar singelo estudo ã
Sobre alívio nas lágrimas terrenas,ã
Durante algumas horas ã
Acompanhei de pensamento mudo ã
Dez cruzeiros apenas.ãã
A cédula saiu primeiramente ã
Das mãos de um sapateiro ã
Pobre, alegre, risonho,ã
Parecendo uma estrela vinda em sonho ã
Para trazer apoio ã
A um menino doente...ãã
Dessa criança humilde prosseguiu ã
Na bela caminhada ã
E sustentou dois pratos de socorro ã
A companheiros tristes ã
Que jaziam febris em antiga calçada...ãã
Logo depois, das mãos de um balconista ã
Sem maiores recursos,ã
Ei-la a seguir sem pretensões de esmola,ã
De modo a socorrer ã
Um pequerrucho acidentado ã
Quando vinha da escola...ã
Logo após, garantiu ã
Ligeira refeição ã
De modesta família em provação...ãã
Ao terminar o dia ã
A cédula fizera ã
Tanta luz, tanto amor, tanta alegria,ã
Que levantei o coração ã
E ansiando exprimir o meu louvor ã
Só consegui dizer:ã
-- "Oh! Providência Eterna!ã
Pela bendita possibilidade ã
Com que simples moeda,ã
Obedecendo ao teu amor,ã
Pode criar no mundo,ã
Tantos samaritanos e tantos cireneus:ã
Pelo dinheiro que nos dás,ã
No trabalho e na paz,ã
Sê louvado, meu Deus!"ãã

TROVAS DO ALÉM PARA O NORTE

Amigos do Norte, de passagem para São Paulo, estiveram em visita às nossas tarefas.
Instintivamente, nossa conversação desviou-se para as crises e dificuldades do nosso tempo. A
reencarnação passou naturalmente a ser a chave de nossas explicações.
Ao término da visita, reunimo-nos para um encontro de doutrina e oração. O Livro dos
Espíritos nos deu o item 166 para reflexões. E enquanto um dos companheiros formulava rápida
explanação sobre o assunto, poetas desencarnados escreveram as trovas sobre reencarnação.

NOTAS DA REENCARNAÇÃO

Espíritos renascentes,ã
Nem sempre de uma só vez,ã
Trazem consigo as sementes ã
De tudo o que já se fez.ãã
Antônio Azevedo

No ódio, a reencarnação ã
Traz desencontros fatais.ã
Lutas de pais contra filhos ã
Ou de filhos contra os pais.ãã
Deraldo Neville

Ante os erros do passado,ã
No hospital do sofrimento,ã
Corpo doente e cansado ã
É cela de tratamento.ãã
Eliseu César

Conheço um guerreiro antigo,ã
De tempos que já se vão,ã
Que é hoje um médico amigo,ã
Notável cirurgião.ãã
Carlos Dias Fernandes

Na Divina Lei do Carma,ã
Perante a força do bem,ã
O amor é que nos desarma ã
De todo mal que se tem.ãã
Américo Falcão

Toda pessoa na vida,ã
Na idéia que traz por crença,ã
Cresce, expressa-se e produz ã
Conforme aquilo que pensa.ãã
Rodrigues de Carvalho

ATÉ QUE PONTO SOMOS LIVRES?

Com alguns companheiros, tivemos rápida troca de idéias sobre conceitos de liberdade. Em que
termos somos livres na Terra? Como entender tantas autoridades das ciências psicológicas de
hoje que justificam a liberação dos impulsos sentimentais, desde que se evitem atos de
delinqüência? Como entender os sistemas de educação com bases na liberdade irrestrita? Até que
ponto somos livres?
Essas indagações nos proporcionavam apaixonante diálogo, quando nos dirigimos à oração. O
Livro dos Espíritos nos deu a questão 825 para estudo. Depois da troca de comentários sobre
essa questão, quem escreveu por nosso intermédio foi o caro amigo Cid Franco, hoje na
Espiritualidade.

LIBERDADE
Cid Franco

Estudando a Liberdade, busquei a Natureza para sondar-lhe o brilho.
O esplendor me cercava, mas o Sol afirmou:
-- Para libertar a luz devo permanecer em minha própria órbita.
Disse o Mar:
-- Como nutrir as forças da Vida sem aceitar as minhas limitações?
A Fonte declarou:
-- Não posso emancipar o benefício de minhas águas, sem atender às linhas que me orientam o
curso.
Explicou-se a Flor:
-- Impossível abrir-me para o festival dos perfumes, sem deixar-me prender.
A Ponte murmurou:
-- Nada seria eu se não guardasse a disposição de servir.
Não longe, a Eletricidade comentou, movimentando uma fábrica:
-- Fora da disciplina, em vão procuraria ser mais útil.
Um Automóvel parado entrou na conversação:
-- Posso ganhar tempo e vencer o espaço, mas infeliz daquele que me use sem breques!
Então, voltando-me para dentro do próprio coração, exclamei em prece:
-- Deus, meu Deus, fizeste-me livre no pensamento para criar o bem e estendê-lo aos meus
irmãos; no entanto, que será de mim, sem ajustar-me às tuas leis?

OPINIÕES CONTRADITÓRIAS

Num grupo de companheiros, dialogávamos sobre os problemas da sovinice. As opiniões eram
contraditórias. Depois de muita argumentação em desencontro, um amigo expôs a avareza como
sendo uma enfermidade da mente, que deve ser tratada com os princípios religiosos, notadamente
os princípios espíritas, que são verdadeiros medicamentos para a alma. Com essa idéia a
prevalecer, fomos à prece e ao estudo.
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu para meditar o item 3 do capítulo XVI --
"Preservar-se da avareza". E depois de novos comentários sobre o tema, o nosso Cornélio Pires
deixou-nos o soneto Avareza e Obsessão.

AVAREZA E OBSESSÃO
Cornélio Pires

O sovina Chichico da Planura ã
Foi à sessão no Ingá, pedindo ao Guia:ã
-- "Não me deixes, irmão, nesta agonia,ã
Carrego obsessão, treva, loucura..."ãã
O Guia esclareceu, em voz segura:ã
-- "Meu amigo, a melhora principia ã
Em gastar para o bem. Serve e auxilia.ã
Caridade é socorro, amparo e cura..."ãã
Mas Chichico, escutando esse conselho,ã
Levantou-se, tossiu, ficou vermelho ã
E gritou para a médium Nhá Lilica:ãã
-- "Custei muito a ganhar o meu dinheiro.ã
Não quero falação de zombeteiro.ã
Este espírito mau nunca foi guia."ãã

ASSUNTO DIFÍCIL

Um grupo de amigos, de passagem por Uberaba, nos trouxe uma carta assinada por José
Diamantino, solicitando algumas palavras do nosso amigo Cornélio Pires sobre dificuldades
psicológicas de que se sente portador. Creio que recorreu a pseudônimo, o que os Benfeitores
Espirituais respeitaram, ante o assunto algo difícil.
Reuni-me com os visitantes no Grupo Espírita da Prece. Com surpresa para todos nós, O Livro
dos Espíritos nos deu a questão 202, que submetemos a breves comentários.
Ao encerrar a reunião, Cornélio Pires escreveu a resposta ao missivista.

CONFLITO PSICOLÓGICO
Cornélio Pires

Perdoe o bilhete às pressas,ã
Meu prezado Diamantino;ã
Eis que resumo a resposta ã
Num recado pequenino.ãã
Se você se diz num corpo ã
Que não lhe parece o seu,ã
Pense na Vida Maior ã
Que tantas bênçãos lhe deu.ãã
Você tem saúde e força ã
Com claro discernimento;ã
Instrução elogiável,ã
Espírito calmo e atento.ãã
Por isso mesmo, você ã
Não deixe de observar:ã
O corpo recorda enxada ã
Que o ajuda a trabalhar.ãã
A Terra nos lembra um campo ã
De sementeira bendita,ã
Cada qual nasce trazendo ã
O amparo que necessita.ãã
É você pessoa eterna ã
Usando agentes mortais,ã
Os corpos são semelhantes ã
Mas não certamente iguais.ãã
Porque carregue conflitos,ã
Não clame, nem se degrade;ã
Terá você renascido ã
Em auxílio à Humanidade.ãã
Você não pode ser pai,ã
Mas pode fazer o bem.ã
Jesus não era casado ã
E serviu como ninguém.ãã

PROCESSOS OBSESSIVOS

Depois de longo entendimento, num grupo de amigos, sobre mediunidade, fomos à reunião de
estudos no Grupo Espírita da Prece. As indagações eram muitas, em torno da mediunidade de
provação. A maioria se fixava nos casos de processos obsessivos.
Qual a melhor forma de se lidar com eles? Os protetores espirituais poderiam livrar os
médiuns de suas dificuldades, sem o esforço destes? Não conseguiriam encaminhar os espíritos em
sofrimento a escolas renovadoras da Vida Maior, mesmo sem o conhecimento das pessoas afetadas
por eles? Teria o médium renascido no mundo em estreita ligação com as entidades sofredoras que
o assediam, até o ponto de precisarem ambos de trabalho e estudo em conjunto?
O Evangelho Segundo o Espiritismo nos deu para estudo o item 7 do capítulo XXIV. Depois dos
comentários gerais ao texto, foi o nosso Cornélio Pires quem nos trouxe, através da psicografia,
o soneto Caso Como Tantos.

CASO COMO TANTOS
Cornélio Pires

No Centro, a mesma história aparecia...ã
Clamava Dona Cora da Pedreira:ã
Tinha dor de garganta, batedeira,ã
Revolta, obsessão, melancolia...ãã
-- Minha querida irmã -- falou o Guia.ã
O trabalho do bem tira canseira,ã
A caridade é a doce mensageira ã
Do socorro, da paz e da alegria.ãã
Escutando os conselhos, Dona Cora ã
Explicou que viria noutra hora.ã
Orou com fé, mostrando-se otimista...ãã
No Centro da Bondade, onde estivera,ã
O pessoal esteve sempre à espera,ã
Mas Dona Cora nunca mais foi vista.ãã

PEDINDO NOTÍCIAS

Compareceram à nossa reunião vários casais de visitantes e de amigos, na expectativa de
receberem notícias mediúnicas dos filhos desencarnados. O Livro dos Espíritos nos deu para
estudo a questão 155. Os amigos presentes fizeram comentários com muito acerto sobre os
problemas da desencarnação. Na parte final dos trabalhos, o nosso Bezerra de Menezes escreveu a
página Recado de Amigo, dedicada aos pais e mães presentes.

RECADO DE AMIGO
Bezerra de Menezes

Pais amigos e abençoados corações maternos que solicitais em prece a palavra de filhos
inesquecíveis!
Tende fé e serenidade.
Aguardemos.
Ofertai aos companheiros de vossos ideais, presentemente domiciliados no Mais Além, aquilo
de melhor que hoje esperam receber do vosso amparo, em forma de paciência e coragem.
Alguns deles se vos apresentam aos corações, aqui mesmo, sem que vos afetem os sentidos
controlados na estrutura fisiológica, e outros aguardam refazimento, a fim de se retomarem,
junto de vós outros, no trabalho de amor e retribuição que vos deve.
Nossas palavras não se propõem a contemporizar, sustentando-vos a expectativa inquietante,
nos círculos de saudade atormentada em que vos debateis. Aspiramos tão-somente a soerguer-vos a
esperança.
Cabe-nos afirmar que somos os vossos irmãos renascentes dos conflitos humanos, herdeiros de
vossas lutas e de vossas lágrimas, no Plano Espiritual, compreendendo -- graças a Deus --
quanto vos doem os claros que vos ficaram impregnados de insatisfação e de ausência nas áreas
do lar.
Esperai amando e amai os companheiros que a Divina Providência permitiu vos visitassem no
mundo, por algum tempo, realizando por eles na Terra, o trabalho que efetuam por vós, na
Espiritualidade Superior: a prática do bem na construção do futuro melhor.
Quanto puderdes, recordai-os, qual se os tivésseis ainda sob o olhar, acalentando-lhes as
forças. E, sobretudo, configurai-os na memória não por mortos e sim por existências contínuas,
estampadas no sorriso e na alegria com que vos enaltecera a vida.
Compreendei conosco: nossos filhos estão na Terra, ao nosso lado, pelos prodígios da
reencarnação, e os vossos, os que vos precederam na Grande Mudança, estão na Vida Espiritual
pelas bênçãos da imortalidade, entrelaçando os pensamentos com os vossos e amando-vos, cada vez
mais.
A página que vos dedico, enquanto vos escrevo, não é uma pequena mensagem doutrinária; é um
recado afetuoso de amigo que vos participa da luta e que pede a Deus vos ilumine e sustente e
que a todos nos proteja e nos abençoe.

COM OS ENTES QUERIDOS

Em nossa reunião, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos havia dado com tema o item 8 do
capítulo XIV.
Lido o texto e submetido aos comentários habituais que versaram sobre os problemas de
relacionamento com os nossos entes queridos, Emmanuel escreveu, por nosso intermédio, a
mensagem Associados Sempre.

ASSOCIADOS SEMPRE
Emmanuel

A Sabedoria da Criação entreteceu o caminho evolutivo, de tal modo que não avançaremos
adiante, uns sem os outros.
A vida, porém, é comparável à máquina cujo funcionamento harmonioso depende do ajuste das
peças que a constituem. E as peças, em qualquer máquina, são diversificadas entre si.
Pensando nisso, somos levados a considerar que todos devemos cooperação ao bem geral; no
entanto, o nosso lugar de ação é o recanto íntimo em que nos cabe trabalhar e permanecer.
Atendendo a semelhante realidade, é forçoso nos devotemos ao exercício da fraternidade, na
sustentação da própria harmonia.

***
Aprendamos a entender para servir.
Ninguém se adianta, a sós, nas arremetidas de vanguarda.
Os outros são personagens inevitáveis nas realizações que somos chamados a partilhar.
Observemos, no entanto, que cada qual de nós é uma criação particular, à feição de um mundo
por si integrado no esquema do progresso, mas girando em órbita diferente.
Companheiros e associados, por isso, tê-los-emos sempre sob múltiplos aspectos.
Esse inclina-se mais intensamente à perquirição científica: aquele se alimenta com o ideal
religioso; outro construiu a bondade, por dentro da própria alma.; entretanto, ainda carrega
problemas sentimentais de alta complexidade; aquele outro asserenou o coração, no tocante ao
afeto, mas não se desvencilhou ainda da paixão pela própria influência.
Todos, contudo, são indispensáveis ao nosso processo de aperfeiçoamento.
Chamem-se "pais" ou "filhos", "esposa" ou "esposo", "familiares" ou "amigos" vibram em ondas
mentais muito diversas das nossas, conquanto possamos viver em condomínio de paz, nas faixas da
afinidade.

***
Auxilia aos associados de experiência no mundo, sem violentar-lhes a formação.
Não percas tempo, exigindo aos seres amados demonstrações e valores que ainda não te podem
oferecer.
Trabalha, serve e segue adiante, mantendo a consciência tranqüila.
Poderás claramente conseguir semelhante realização, desde que prossigas estrada afora,
respeitando a todos mas amparando-te em Deus.

VISITA AO PRESÍDIO

A convite do Núcleo Espírita Semeador do Evangelho, estivemos em visita fraternal aos
companheiros reeducandos da Penitenciária do Estado de São Paulo, no dia 27 último (*). A
reunião constou de preces e comentários doutrinários.
::::::::::
(*) 27 de dezembro de 1975 -- Nota da Editora.
::::::::::
Ao término dos trabalhos, nossa irmã e benfeitora espiritual Maria Dolores escreveu o poema
Sublimação.

SUBLIMAÇÃO
Maria Dolores

Não te digas sem paz, sem esperança...ã
Nem afirmes que o mundo é triste e vão...ã
A existência na Terra é ascensão incontida ã
E a própria Natureza é um hino à luz da vida,ã
Promovendo alegria e elevação.ãã
Olha a foice cortando o mato inculto...ã
Depois, rasga-se a gleba, a golpes de trator.ã
Logo após, eis o exílio da semente;ã
Depois ainda, é o quadro viridente ã
Do solo aprimorado a esmaltar-se de flor.ãã
A dinamite explode, a pleno campo,ã
Estremece a pedreira a gritar, a rugir...ã
Desunem-se calhaus, fugindo, salto em salto.ã
Surge, porém, depois, o caminho de asfalto,ã
Apontando a beleza e o fulgor do porvir.ãã
Cai o tronco a gemer no próprio berço,ã
Parecendo um gigante a protestar;ã
Em seguida, levado ao corte em que se apura,ã
Faz-se viga, portal, segurança e estrutura,ã
Oferecendo à vida a proteção do lar.ã
O trigo baila ao sol, em cachos de ouro,ã
Alteando o valor do solo que o bendiz,ã
Mas vem o segador que o deixa em queda e chaga...ã
Depois, ei-lo na mesa... É o pão em que se apaga ã
Para que a refeição seja farta e feliz.ãã
Assim também, alma querida e boa,ã
Sofrimento é poder renovador...ã
Sacrifício, aflição, angústia, disciplina ã
São Processos de Deus com que Deus nos ensina ã
A conquista da Luz e a construção do Amor.ãã

SOBRE A REENCARNAÇÃO

Em nossa reunião pública, o amigo espiritual Cornélio Pires escreveu dois sonetos sobre a
reencarnação. Um deles, intitulado Feliz Regresso, mereceu muita atenção de senhoras presentes
interessadas no tema.

FELIZ REGRESSO
Cornélio Pires

-- Casar com minha filha? Isto é loucura!...ã
Falando assim, Nhô Nico da Cancela ã
Mandou matar Totonho de Nhá Bela,ã
Recusando-lhe a filha Nhá Belura.ãã
Mas a jovem, conquanto a desventura.ã
Acabou desposando João Portela...ã
E Totonho voltando, nasceu dela,ã
Um prodígio de choro e de doçura.ãã
Nhô Nico, o avô feliz, que andava inquieto,ã
Encantou-se, de todo, vendo o neto ã
Ao guardá-lo nos braços com carinho...ã
Dias depois, falou de olhos em brasa:ã
-- Ninguém tire o menino, aqui de casa,ã
Que eu não posso viver sem meu netinho.ãã

TRAGÉDIA ANTIGA

Em reunião do Centro Espírita Eurípides Barsanulfo, da Vila de Peirópolis, nos arredores de
Uberaba, O Evangelho Segundo o Espiritismo, aberto ao acaso, nos deu para estudo o item 8 do
seu capítulo XIV, que provocou vários comentários sobre Educação. No final dos trabalhos o
poeta Valentim Magalhães psicografou, por nosso intermédio, o soneto Retorno.
O soneto é uma tragédia antiga em forma antiga.

RETORNO
Valentim Magalhães

-- "Rua, filho infeliz!..." -- grita brandindo a vara ã
O severo Dom João, de gesto frio e rude...ã
-- "Não me mates, meu pai!... Socorro!... Deus me ajude!..."ã
Clama o rapaz, fugindo à mão que o desampara.ãã
Mas não existe dor que o tempo não transmude.ã
Envelhece Dom João na casa nobre e rara,ã
Lembra com novo amor o filho que expulsara:ã
Quer reencontrá-lo agora e viaja amiúde...ãã
Certa noite, ante um rio, o vento rijo e forte,ã
O castelão viajor pede auxílio e transporte...ã
Mas surge por barqueiro estranho maltrapilho...ãã
É um moço salteador que o saqueia e tortura...ã
Dom João fita o agressor... É o filho que procura...ã
E morre a suplicar: -- "não me mates, meu filho!..."ãã

AOS QUE FICARAM

Surgiu em nosso recinto de preces, antes de iniciarmos as nossas tarefas, um grupo de
companheiros que tinha objetivo definido: solicitar ao nosso amigo espiritual, Emmanuel, uma
página de consolo para os que ficaram, em nosso plano, sem a convivência de entes amados
transferidos para a Vida Maior. O Livro dos Espíritos, aberto ao acaso, nos deu o item 156 para
estudos e comentários. E o Espírito de Emmanuel realmente compareceu com a página Saudade e
Esperança.

SAUDADE E ESPERANÇA
Emmanuel

Nunca demais referir-nos ao imperativo da conformação e da serenidade que se deve manter na
Terra, em apoio daqueles que te precederam no fenômeno da morte.
Entendemos quanto dói o adeus entre aqueles que as dimensões vibratórias separam em campos
diferentes da vida. Entretanto, se te encontras entre os que lastimam a perda de seres queridos,
compadece-te deles, auxiliando-lhes a sustentação com a tua própria fé.
O pensamento é mensagem com endereço. E a tua saudade, quando entretecida de angústia e
pranto, é uma projeção de sombra e sofrimento que lhes arremessas em rosto, conturbando-lhes os
corações ou obscurecendo-lhes os caminhos.
Sobretudo, não te revoltes contra a Divina Providência, como se estivesses provocando a
perpetuidade de tua dor. A desencarnação sem complexos de culpa é o melhor que pode acontecer a
todos aqueles que partem no rumo de vivências novas na Vida Espiritual.
Esse companheiro deixou o corpo, depois de perigoso acidente circulatório, para não ser
algemado à paralisia por longos meses; aquele se desvencilhou do envoltório material, no curso
de grave enfermidade, forrando-se à provação de contrair perturbações mentais irreversíveis;
outro liberou-se da experiência humana, no instante áureo da juventude por haver encerrado o
ciclo de resgates determinados, de modo a promover-se nas esferas de elevação; e outros ainda
se desvinculam da veste física, ante o alvorecer da existência, na condição de crianças que,
por força do próprio passado, nos princípios de causa e efeito, terminam processos de luta
reparadora em que se achavam incursos, muitas vezes conduzidos, de um plano para outro, a fim
de trocarem um corpo doente por outro mais habilitado à execução das tarefas evolutivas que
lhes cabe sustentar.
Diante dos chamados mortos a quem tanto amas, não lhes agraves os problemas com as flechas
vibratórias do sofrimento, marcado a fogo de inconformidade ou rebeldia.
Padecendo embora o vazio na própria alma, ilumina a saudade com as preces da esperança e
envia-lhes reconforto e encorajamento, amparo e consolação.
Ora pela paz de quantos se te adiantaram na transferência para a Vida Maior e entrega-os a
Deus, na certeza de que Deus, em nos criando para o amor uns pelos outros, jamais nos separaria
os corações para sempre.

SEGURANÇA E PAZ

A necessidade de paz e segurança em nossas atividades doutrinárias constituiu assunto
dominante em nossa reunião mediúnica. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos dera o tema em
itens do seu capítulo IX e o interesse pelo seu esclarecimento em nossa compreensão impôs-se a
todos nós. No final dos trabalhos, Emmanuel nos deu a mensagem orientadora Paciência e Caminho.

PACIÊNCIA E CAMINHO
Emmanuel

Paciência é passaporte para todos aqueles que aspiram a avançar nas vias do progresso.

***
Quando num carro em movimento, sabes, com clareza, que, em muitas ocasiões, é necessário
venhas a pensar por ti e pelos outros.
Nessas circunstâncias em que o perigo se mostra à vista, tomas conselho à prudência que te
sugere abertura de espaço aos que se entregam à disparada ou te lembra cuidado para que não te
disponhas a podar sem consideração a frente dos companheiros.
De outras vezes, consagras-te ao exame prévio da máquina, antes de qualquer movimentação, a
fim de melhorares as condições dessa ou daquela peça doente, tanto quanto te dedicas a observar
mais atentamente os sinais do caminho para que não te faças indução a desastre.
O trânsito é uma escola em que sobram aulas de vigilância e compreensão, justiça e
disciplina.

***
Anotemos as lições da estrada e procuremos transferi-las ao trânsito da vida em que todos
somos chamados, nas trilhas do tempo, ao relacionamento comum.
Se esse ou aquele companheiro demonstra exagerada tensão nas atividades que lhe dizem
respeito, não lhe congeles o ânimo, desfechando-lhe observações deprimentes, mas socorre-o com
recursos de paz; de igual modo, não ultrapasses, sem necessidade, as posições dos irmãos em
serviço, porquanto, quase sempre, com isso, nada se recolhe além de dificuldade e desilusão.
Na tarefa a que te empenhas, verifica quanto de amor e de apreço já dispensaste ao
cooperador do veículo de tuas realizações para que não te falte segurança e atende à execução
dos princípios que abraças, considerando o bem de todos, para que desajustes não te ameacem a
obra.

***
Quanto mais agitação, no plano externo, mais imperiosa se faz a necessidade de calma no
campo íntimo, se nos propomos superar perturbações e obstáculos.

***
Evitemos choques destrutivos e doemos o melhor de nós aos programas de ação que nos propomos
a realizar, exercitando entendimento e tolerância, conscientes de que para coibir quaisquer
calamidades, no terreno do espírito, a paciência é o preservativo ideal.

***
Não te detenhas, a lamentar problemas e crises.
Se te engajaste na causa do bem, guarda-te em serviço constante e, usando paciência e amor,
certamente vencerás.

NÓS E OS DESENCARNADOS

Qual a influência das nossas atitudes e das nossas orações sobre os irmãos desencarnados?
Como podemos influir na situação dos entes queridos que a morte transferiu para outras
dimensões da vida? Esse problema nos foi colocado, em nossa reunião da noite pelo Evangelho
Segundo o Espiritismo. Aberto o livro ao acaso, saiu-nos o seu capítulo XXVII, item 19. Lido o
texto, vários dos amigos presentes teceram comentários oportunos a respeito. No final da
reunião, Emmanuel nos deu a página psicografada Unidos Sempre.

UNIDOS SEMPRE
Emmanuel

Certamente aqueles que vistes partir, na direção da Vida Maior, muito vos teriam a dizer.
Peças de vosso amor, não se vos desligariam da afeição por haverem transferido a residência.
As alegrias e as dores que vos marquem a jornada terrestre lhes repercutem nos recessos da
alma. Por isso mesmo, se pudessem, romperiam as barreiras vibratórias que nos distanciam
provisoriamente uns dos outros, a fim de vos demonstrar, com segurança absoluta, o continuísmo
da vida.
Impulsionados pelos princípios renovadores que nos orientam a evolução, identificam-se com o
dever de trabalhar pelo próprio aperfeiçoamento. Entretanto, não vos esquecem.
Para vós outros, entes amados que ainda se vinculam ao Plano Físico, volvem-se-lhes os mais
nobres pensamentos.
O apoio que vos consigam ofertar, hoje ou no futuro, lhes serve de vigoroso estímulo ao
esforço de elevação.
Rogais pela felicidade de semelhantes amigos, no Mais Além, e eles igualmente se reúnem,
ante a Divina Providência, pedindo recursos de paz e coragem em benefício vosso.
E, tanto quanto se lhes faz possível, caminham convosco, nos passos da experiência física,
sustentando-vos as energias e sugerindo-vos mais altas diretrizes na conquista de entendimento
e valor.
Deles surgem a brisa da inspiração que vos eleva os pensamentos e a bênção do conforto
íntimo que vos palpita no ser, em forma de regozijo manifesto.
Associando-se-vos às tarefas, são eles a escora invisível que vos nutre a tolerância na
superação dos empeços da Terra e a força recôndita da confiança em Deus, na qual se vos
dissipam as dificuldades e as lágrimas.
Orai pelos vossos entes amados, supostamente mortos, porque todos eles se encontram
positivamente vivos, colaborando convosco na construção do Mundo Melhor.
Orai e crede que Deus não nos criaria para aniquilarmos no sofrimento da separação e sim
para que, um dia, na vitória do amor sem adeus, estejamos todos unidos e felizes, nas alegrias
do "para sempre".

LIÇÃO DO TRÂNSITO

Após a leitura da questão 851 de O Livro dos Espíritos, e debates sobre o livre-arbítrio,
Emmanuel nos deu a página mediúnica da noite -- Determinismo e Liberdade -- com que nos oferece
a lição do trânsito, muito oportuna e fácil de compreendermos.

DETERMINISMO E LIBERDADE
Emmanuel

Observando que determinismo e livre-arbítrio coexistem nos destinos humanos, ajustemos o
assunto às lições do trânsito no mundo, regido por leis que nos lembram a temática em exame.
Imaginemo-nos assumindo o compromisso de realizar certa viagem na Terra, que, no caso, seria
uma nova reencarnação.
Nas diretrizes do inevitável, estão ingredientes importantes, como sejam:
O carro significando o corpo físico.
As companhias expressando a equipe familiar.
A estrada a percorrer.
A tarefa de base.
A obediência aos sinais.
O acatamento às ordens da guarda.
A apresentação de documentos legais.
A condução de recursos socorristas, indispensáveis à sustentação do veículo.
O pagamento de pedagem.
Os riscos naturais.
A proteção em favor da máquina para que a máquina nos corresponda à expectativa.
A observância aos preceitos do trânsito.
A colaboração espontânea com aqueles que nos cruzem o caminho para que acidentes sejam
evitados.
O cuidado nas ultrapassagens.
A cautela contra brincadeiras e imprudências.
O apreço para com as autoridades.
A abstenção de avanços temerários.
O sustento da atenção no trabalho.
A previsão de crises prováveis com os elementos de solução aos problemas que possam surgir.
Segundo é fácil de ver, em qualquer viagem terrestre, estão juntas as obrigações fatais e as
decisões independentes, em função concomitante.
Assim é a romagem da reencarnação nos caminhos planetários.
O espírito jaz temporariamente submetido a deveres inevitáveis, mas dispõe de livre-arbítrio
para melhorar ou comprometer qualquer situação.

Carmelo Grisi Ele Mesmo

Volume único
<P>
<P>
Carmelo Grisi Ele Mesmo

Francisco Cândido Xavier
Espírito Carmelo Grisi


Edição GEEM -
Grupo Espírita Emmanuel
Sociedade Civil Editora
Av. Humberto de Alencar
Castelo Branco, 2857
São Bernardo do Campo
São Paulo - Brasil
Caixa Postal 222
CEP. 09701-970
fone: (011) 419.71.22

Transcrito da

Edição - 1991

Volume único
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Carmelo Grisi Ele Mesmo

Francisco Cândido Xavier
Espírito Carmelo Grisi


Transcrição da Divulgação
Braille - CASIMIRO CUNHA

GEEM
Grupo Espírita Emmanuel
São Bernardo do Campo/SP

Janeiro 2005

Venda proibida
Transcrito de acordo com a
Lei 9'610 de 19-02-98 de
Direitos Autorais
Título III cap. IV - art. 46
- item I - alinea D

Volume único
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<P>
Carmelo Grisi Ele Mesmo

ÍNDICE

Volume Único
Da página 1 à 124

Prefácio :::::::::::::: 02
Minhas Palavras:::::::: 04
Introdução :::::::::::: 09

***

1.Retornando
à Lucidez ::::::::::: 18
2. Notícias Mais
Diretas :::::::::::::: 24
3.Rejuvenescimento
:::::::::::::::::::::: 32
4.Europa e America
:::::::::::::::::::::: 40
5. As Religiões no
Além ::::::::::::::::: 44
6. Falando
Francamente :::::::::: 46
7. De Coração
Aberto ::::::::::::::: 54
8. Lição de
Desapego ::::::::::::: 68
9. O Retorno do
Doutor Radovir ::::::: 73
10. Desabafos e
Promessas :::::::::::: 84
11. As Dificuldades
Continuam :::::::::::: 93
12. Novas Notícias
Intercaladas ::::::::: 100
13. Amigos de Sempre : 107
14. Os Supostos
Mortos :::::::::::::: 118

<T Carmelo Grisi>
<T+1>
CARMELO GRISI, ELE MESMO.

Pai, era um exemplo de trabalho e retidão para a família, que lhe foi motivo para respeito e
entendimento.
Com semelhante comportamento, deixou na Terra filhos admiráveis pela nobreza de caráter, que
lhe honram a memória.
Cidadão, foi um padrão de paz e serviço ao próximo. Exerceu atividades diversas,
distinguindo-se na execução dos compromissos que assumia e pelo máximo esforço que efetuava
para fazer o melhor.
Enviuvando muito cedo, consagrou-se inteiramente aos familiares que lhe retribuíam o afeto.
Em companhia dos filhos e de alguns amigos, fundou o Lar da Irmã Elvira, na cidade de
Votuporanga, Estado de São Paulo, pois, era o nome da companheira que havia partilhado com ele
as dificuldades e alegrias da vida, sempre interessado na obra do bem que lhe falava dela ao
coração.
O Lar da Irmã Elvira se transformou em abrigo para todos os necessitados, especialmente para
as crianças carecedoras de amparo.
Era alegre sem imprudências, edificando esperança e otimismo em todos aqueles que se lhe
faziam ouvintes.
Era particularmente o homem das boas obras, sempre pronto a servir.
Amigo, foi um servidor leal e devotado, agindo, onde estivesse, em favor dos outros.
Com estas características, Carmelo Grisi era sincero e espontâneo, aquecendo qualquer
conversação e qualquer diálogo com os companheiros, no seu calor e no seu imperturbável ânimo.
Era forte na fé em Deus e correto na apreciação dos homens de bem.
Foi humilde sem subserviência; corajoso na travessia das provações do mundo; digno sem
orgulho ou vaidade, em nos referindo ao bem que espalhava incessantemente.
Compreensivelmente não era um ativista da morte mas dedicado cultor da vida, como se
depreende das comunicações que nos tem trazido até agora, através da mediunidade, confortando e
levantando almas que as tribulações da existência venham a ferir.

***
Eis alguns dos traços do amigo que nos propomos apresentar com o respeito e o carinho que
ele sempre fez por merecer.
Lembrando-lhe o trabalho constante e a bondade sem lides, pedimos a Jesus o engrandeça na
Vida Maior e o abençoe sempre.
Emmanuel
Uberaba, 10 de Janeiro de 1991.

MINHAS PALAVRAS

Meus pais converteram-se ao Espiritismo por volta de 1918. Minha mãe, ainda muito jovem,
dotada da faculdade mediúnica de desobsessão, aceitou ao lado de meu pai, os encargos e
compromissos de tão nobre quão difícil tarefa. E, amparados pela Doutrina e sob a proteção do
benfeitor Romeu de Ângelis, prosseguiram trabalhando até a desencarnação de minha progenitora,
ocorrido em 1954.
Na fase que se seguiu ao desenlace, com as significativas mudanças na vida da família,
contamos com o apoio de Francisco Cândido Xavier, através de mensagem de minha mãe, recebida
por ele, e que foi o motivo da amizade que se estabeleceu entre meu pai e nosso querido Chico.
Pessoalmente, eu e minha esposa já conhecíamos o famoso médium desde 1948.
Os vinte e seis anos de viuvez do meu progenitor foram atenuados pela Consoladora Doutrina e
pela influência exercida pelo bondoso médium, dando-lhe ânimo forte e confiança no futuro. Sem
perder o jeito extrovertido e o bom humor que sempre o caracterizavam, cuidou de meu irmão
caçula, Carmelinho, que contava apenas 11 anos de idade ao se ver privado da presença materna.
Foi esta, então, a grande preocupação de sua vida, até que ele se formasse em Agronomia e se
casasse.
Amando profundamente os filhos, notávamos, eu e meus manos Valdinho e Rubens, que suas
atitudes e sentimentos se renovavam na ânsia de suprir a ausência de nossa mãe. Carmelinho fora
um filho temporão e não contava com familiares na sua faixa de idade, embora nossas cunhadas
Aracy e Cicina os alegrassem constantemente com suas presenças.
Anos mais tarde, meu pai travou conhecimento com a professora Aparecida Batista Ferreira que
buscava fixar residência em Rio Preto, em função de sua carreira no magistério. Hospedou-se ela
em nossa casa por algum tempo, e esse tempo se dilatou até que se estabelecesse um vínculo de
amizade profunda entre ambos, como o de um pai para uma filha muito querida.
A autorização para que esta obra fosse escrita veio seguida do pedido de meu pai para que eu
o apresentasse como realmente era, e, na sua franqueza jocosa, insistiu para que não o
perfumasse porque todos sairíamos perdendo (*).
::::::::::
(*) "Romeu, os nossos amigos consideram que não há inconveniente em que se publique o que
temos escrito, mas se isso acontecer, você faça um prefácio, dizendo que fui um carroceiro e
carregador de pedras". Carmelo (25/07/1987).
::::::::::
Evidencia-se aí o problema da autenticidade que o preocupava em virtude da natural tendência
do ser humano em santificar os supostos mortos. Outro risco, a meu ver, estava no
relacionamento afetivo entre pai e filho, o que poderia dar margem a exageros e elogios piegas
para um assunto tão sério quanto este.
Finalmente, vencidos os anos de expectativa pacientemente aguardados para que as páginas
familiares, e não literárias, viessem a lume, proporcionamos aos leitores esta obra franca e
instrutiva, entremeada de lances de humor crítico, compilada e comentada pelo meu cunhado
Gerson Sestini.
Esperamos que do esforço conjugado daqueles que cooperaram nessa obra resultem benefícios de
paz, consolo e esperança em favor de todos os que jornadeiam na Terra em busca de uma Vida
Superior, à luz da Doutrina Espírita.
Votuporanga, janeiro de 1991.
Romeu Grisi

INTRODUÇÃO

Na obra "Viajores da Luz" (Edição GEEM), o seu co-autor, Dr. Caio Ramacciotti, comenta o
texto de Carmelo Grisi como "um diálogo fácil, sem barreiras, naturalmente facilitado pela
firme transmissão mediúnica de Chico Xavier". Era a primeira mensagem, dada em 18/10/1980.
Depois desta, ao longo de oito anos consecutivos, foram transmitidas outras dezesseis, tendo
sido a 17ª obtida e 26/11/1988.
Diante do conteúdo destas cartas, endereçadas aos corações queridos que permanecem na
matéria densa, entre notícias suas ou de amigos e familiares que partiram para o Além, surge um
precioso filão de anotações oportunas para a divulgação.
Algumas delas falam de adaptação à Vida Espiritual, ainda um tanto problemática para este
espírito. Há humor, referências jocosas e até uma dose de ironia. Não obstante, entremeando uma
e outra citação, encontramos valiosos conselhos, mormente para aqueles que enfrentam
dificuldades neste mundo, pensando numa próxima libertação para gozar uma suposta boa vida no
Além.
O objetivo desta obra não se prende, pois, à comprovação de dados, nomes ou citações que
identifiquem o espírito comunicante ou aqueles citados. No livro acima referido, temos o
trabalho comprobatório feito pelo Dr. Caio, pois a mediunidade de Chico Xavier nesses últimos
anos de seu mandato mediúnico continua o mesmo fiel instrumento, através do qual tantos
espíritos têm dado mensagens ou produzido obras sob a direção de Emmanuel, pois como o próprio
médium sempre afirmou, é ele quem controla o canal entre os dois mundos, qual operador de
satélites utilizados na comunicação entre os continentes.

***
Carmelo Grisi foi um cidadão simples, de poucas letras, porém muito ativo e observador.
Dotado de potencial energético maior do que a média das pessoas, ele o direcionava para o
trabalho e as boas obras, na prestação de toda sorte de serviços ao próximo, pois, se era
naturalmente assim, a convicção espírita reforçava essa tendência.
Utilizando-nos de uma expressão da juventude atual, poderíamos dizer que "agitava" os locais
por onde adentrava com seus ruídos, gestos e interjeições, provocando uma contagiante onda de
alegria.
Natural da bela província de Trecchina, próxima ao Golfo de Policastro, no sul da Itália,
abandonou seu torrão natal com seus irmãos, ainda adolescente, para aportar no Brasil. Naquela
época o destino da maioria dos emigrantes era São Paulo, a Capital com suas indústrias
florescentes ou seu interior de cujas terras férteis brotavam cidades por toda parte.
Optou por uma bem distante, São José do Rio Preto, dois anos antes que a linha férrea lá
chegasse, e teve que caminhar a pé algumas léguas para atingi-la. Fixou residência aí e
casou-se. Sua esposa Elvira era dotada de grande potencial mediúnico direcionado à cura de
obsidiados, tendo sido uma das pioneiras do Espiritismo naquela região. Nasceram-lhes quatro
filhos, todos homens.
No decorrer da existência, além de Rio Preto, outras cidades também tiveram importância para
Carmelo. Entre elas, Votuporanga, que se desenvolveu a partir da década de 40, sendo alvo de
muitos de seus trabalhos. Lutou para que as linhas telefônicas chegassem até lá, onde seu filho
Romeu se estabelecera, pois comunicador que era, não se conformava em ficar longe de telefones.
Auxiliou também a erguer o Centro Espírita Emmanuel e o Lar Irmã Mariana, expressivas obras do
movimento espírita naquela cidade.
No seu primeiro contato, com Chico, pelo telefone, em 1954, chorou. Em seguida veio o
conhecimento pessoal na fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo, seguido de mensagem da querida
companheira que havia partido cinco meses antes (*).
::::::::::
(*) Esta mensagem encontra-se no livro "Entre Duas Vidas" -- Edição CEC.
::::::::::
Daquele encontro surgiu a amizade entre os dois. Carmelo admirava o Chico e Chico
alegrava-se com sua presença, pois, muitas vezes, era surpreendido pelo comportamento de menino
travesso no amigo, ao sentir o bom humor em fisionomias sofridas nas intermináveis filas de
atendimento que ele rompia sem a menor cerimônia.
Chico abria-lhe os braços sorridente e o acolhia com bondade, retendo-o ao seu lado.
Nas sessões que se estendiam noite a dentro ou nas peregrinações, era sempre a nota alegre e
comunicativa, facilitando o trabalho das equipes espirituais para manter o ambiente equilibrado
em meio a tantas pessoas tensas ou emocionadas, na espera de serem atendidas pelo Chico.
Com a idade avançada, as idas a Uberaba começaram a escassear. Depois vieram as complicações
da saúde, a memória começou a falhar e as viagens cessaram. Sob os cuidados de Cida, sua
governanta que com o tempo se tornou enfermeira e filha do coração, tanta dedicação e amor
tinha por ele, veio a desencarnar em 28/03/1980, causando essa separação um vácuo entre as duas
almas.
Eis que em outubro do mesmo ano, Carmelo retorna ao Grupo Espírita da Prece, liberto da
matéria densa que o limitara nos últimos tempos. Deu a sua primeira mensagem ajudado pela
esposa Elvira. Depois vieram outras e Carmelo começou a se soltar provocando risos e
transmitindo bom humor às platéias, à medida que suas mensagens eram lidas pelo Chico, que não
escondia o sorriso, o mesmo sorriso com que costumava recebê-lo.

***
Após essas pinceladas em torno da figura de Carmelo Grisi, que permaneceu encarnado 86 anos
(1893-1980), necessárias, em nosso entender, para compreendê-lo melhor em suas palavras e
imagens, apresentamos neste livro, os trechos mais significativos de suas mensagens (*), para
analisá-los e tecer comentários sobre eles. Esta é a nossa proposta.
::::::::::
(*) A penúltima mensagem do livro, Amigo de Sempre é apresentada na íntegra.
::::::::::
Gerson Sesti
Rio de Janeiro, janeiro de 1991.

RETORNANDO À LUCIDEZ

Lembro-me de que o esquecimento me envolveu devagar... Vivi os meus últimos dias com vocês
num clima de sonho. Às vezes me espantava de reconhecer que falava para a Cida os assuntos que
não estavam em meus propósitos. O corpo me parecia em muitas ocasiões um violino quase já sem
cordas. O arco de minha vontade tangia inutilmente o instrumento da memória que não respondia
aos desejos.

***
Eu não mantinha mais governo sobre as minhas faculdades e os protetores espirituais julgaram
mais oportuno que eu retornasse no justo momento em que passei ou me passaram.
Romeu, a fé, com o Auxílio de Deus, funcionou em meu benefício. Vendo ao meu lado vários
amigos, junto de mim, tão-logo abri os olhos, consciente para a realidade, reconheci que era
preciso aceitar a minha transferência sem reclamações.
A nossa querida Elvira continuou, junto de mim, nos cuidados que a nossa Cida me dispensava
e nosso Dr. Orlando me auxiliou com dedicação nos diálogos de cura. Senti-me hospitalizado,
como na Terra mesmo, com a diferença de que no tratamento em Rio Preto, o corpo definhava
gradativamente, embora o apoio constante que eu recebi, e aqui, à medida que os dias se
passaram, experimentei uma certa revitalização e continuo a assinalar essa mesma revitalização
que me atinge todas as forças.
Notei que os amigos vieram aos poucos para os votos de melhoras e boas vidas. O Dr. Orlando
e o Germano foram dos primeiros a me prestarem auxílio. O irmão Casimiro até hoje me aplica
recursos de amparo espiritual, através de passes, e outros companheiros vieram... Foi o Lidaí a
encorajar-me, o Dominguinhos a me trazer otimismo e esperança.

***
Estou no início de uma grande jornada para a qual estou refazendo a memória, pouco a pouco.
Ainda me reconheço em refazimento, com a necessidade de disciplina, a fim de melhorar as
minhas forças em menos tempo.
(18/10/1980)

ELUCIDAÇÕES

Na sua 1ª mensagem, transmitida 204 dias após o desenlace físico, Carmelo confessa: -- "É
natural que nossa Elvira e os outros companheiros me apóiem" (*). Ele demonstra que seus
pensamentos foram traduzidos por aquela que fora sua esposa e que faz jus à boa situação que
ora goza na Espiritualidade.
::::::::::
(*) Ver livro Viajores da Luz -- Francisco Cândido Xavier/Caio Ramacciotti (Edição GEEM).
::::::::::
Pela sua narrativa nota-se que, embora não estivesse lúcido para os encarnados na fase final
da existência física, ele mantinha a consciência de si mesmo, conquanto não fosse mais capaz de
governar sua vontade, com a memória atingida. Daí o clima de sonho em que vivera nos últimos
tempos.
Este estado poderia permanecer por longo tempo depois do falecimento, não tivesse ele a fé
que o beneficiou, abreviando os dias de angústia e confusão mental.
Ao lado da fé, acrescente-se também a palavra mérito e entenderemos como os espíritos amigos
puderam auxiliá-lo naquela fase, com resultados mais positivos, até que chegasse à consciência,
porque, na falta de merecimentos, muitas barreiras tornam-se intransponíveis, apesar de toda
dedicação que os amigos possam ter, pelo menos, por um largo período de tempo.
Uma vez aceita a situação da transferência de plano, providenciou-se a hospitalização para
os tratamentos de revitalização e dos diálogos de cura, estes últimos promovidos por Dr.
Orlando que na Terra fora médico psiquiatra e amigo pessoal do assistido. Segundo o Chico, este
facultativo lidera grupos de atendimento nas esferas espirituais mais elevadas, graças à vida
reta que teve, estudando e vivenciando o Espiritismo Cristão (1).
::::::::::
(1) Ver a respeito, o livro Viajores da luz, já citado.
::::::::::
Segundo nos ensinam os Espíritos e os pesquisadores comprovam, a memória do ser está sediada
no perispírito. No caso de Carmelo ela ainda não estava restabelecida ao longo de quase sete
meses de vida espiritual, porque nos últimos dois anos de vida física, com a avaria do cérebro
material que atingiu a área de sua manifestação, houve repercussão no cérebro perispiritual, e
este ainda não estava recondicionado (2).
::::::::::
(2) As obras de André Luiz, psicografadas pelo Chico, trazem-nos muitas elucidações a
respeito do perispírito ou corpo espiritual.
::::::::::

NOTÍCIAS MAIS DIRETAS

Querida Cida.
Você me pediu notícias diretas, solicitou para que eu mesmo as escrevesse e a nossa própria
Elvira me trouxe até aqui, de modo a tranqüilizá-la. Agradeço as suas lembranças, as suas
preces, as suas flores. Vou melhor, mas ainda com os remanescentes da condição de fixação
avançada no desgaste físico de que me senti presa por tanto tempo.
Você foi a minha enfermeira e mãe. Compreenderão todos que não posso mudar os meus
sentimentos. A sua voz, cada manhã, está comigo: -- "Como passou você, meu filho?".
Erguia os meus olhos cansados para saber que a pergunta vinha de você mesma e empenhava-me
com todas as forças de que era capaz, a fim de recompor a minha audição para ouvi-la.
Tudo está impresso em minhas lembranças. Às vezes, respondia com calma e de outras, guardava
a suposição de que me achava em serviço pesado e gritava quase: -- "Porta miséria! Será isso a
vida?"
Esta palavra "porta" vem do conselho de nossa Elvira que me pede não empregar a verdadeira
expressão de que me valia.
Agora, querida Cida, vou melhorando. Tenho ainda a cabeça tonta. Às vezes, não sei se estou
em Rio Preto ou em Votuporanga. Custo a reformar-me. O nosso amigo Dr. Orlando me afirma que
isso tudo é seqüela da morte. Eu que não sabia o que fosse seqüela, fico aprendendo, mas
aproveito a explicação dele para dizer a você que este comunicado é conseqüência do meu
respeitoso amor por você, que me ofereceu tantas bênçãos sem que pudesse, de minha parte,
retribuir.
Elvira sabe quanto carinho devo à sua bondade e, com aquela grandeza tão dela, nos deseja
sempre unidos e me esclarece que nunca me desejou na posição de companheiro mal agradecido.
Procuro conversar com os amigos que vieram por último para cá e recolho experiências. O
Germano e o Etore Zini me auxiliam quais fôssemos alunos da mesma classe de principiantes da
Espiritualidade.
Quem diz que o espírito sai voando do corpo que se cuide. Há muito caminho para ser
transitado. Pernas fracas, corpo ruim, coração disparado, memória esquecida e pesadelos estão
por aqui comigo como estavam aí. Temos tratamentos e exercícios de retomada de nós mesmos.
Acho engraçado chegarmos aqui tão envelhecidos e recebermos instruções para pensar em
mocidade e saúde, robustez e agilidade mental e os professores e médicos dos setores em que me
vejo ensinam que tudo isso está dentro de nós mesmos e que somos obrigados a reviver as células
adormecidas de nosso envoltório espiritual.
Em muitas ocasiões, chego a rir de mim, no entanto, faço o que me mandam. Não nego que
certas energias em mim estão acordando como se estivessem paradas num grande sono. Ainda bem
que isso acontece por aqui, porque se fosse aí em Votuporanga ou em qualquer lugar, os nossos
amigos não acreditariam que o nosso carinho fosse o de filha e pai enfermo, porquanto a idéia
do casamento talvez até que balançasse a nós mesmos.
É preciso colocar alegria nos assuntos da morte física, porque isso por aí anda muito
embrulhado. Lamento não dispor de recursos para demonstrar que a vida depois da desencarnação é
reavivamento e recomposição com base nos meios de nosso próprio espírito.

***
Escrevo assim muito, porque o nosso amigo Dr. Orlando recomendou que eu desabafasse mesmo,
porque preciso dizer aos velhos, quanto eu fui, para que não temam a jornada da grande mudança.
Todos encontrarão, creio eu, o que eu encontrei: corpo em desgaste imaginário para ser
recauchutado com o nosso próprio esforço de dentro para fora.
(17/01/1981)

ELUCIDAÇÕES

Nesta 2ª mensagem, dada 9 meses e meio, ou mais precisamente 295 dias depois do desenlace
físico, Carmelo já se sente mais fortalecido e com maior liberdade para escrever. Não obstante,
nota-se a censura de sua esposa Elvira que lhe estava ao lado para uma expressão em italiano,
comum em sua boca, fazendo-o trocar a letra de uma palavra.
A ligação mental entre ele e Cida, que se estreitou no final da existência, está muito clara
nesta carta dirigida a ela. As referências feitas aos familiares, tiramo-las para mostrar o
essencial nesta comunicação.
Relembrando seu estado na fase final da vida física Carmelo diz: -- "Tudo está impresso em
minhas lembranças". Ora, o centro da memória estivera apagado no cérebro material, mas o
cérebro espiritual registrara tudo o que se passara e agora ele podia lembrar-se daquela fase.
A janela que fora fechada, estava aberta e ele recondicionava suas faculdades mentais da
seqüela da morte.
Notemos também a referência aos exercícios para reviver as células adormecidas do envoltório
espiritual.
Valiosos apontamentos são encontrados aqui para aqueles que assistem pessoas idosas. Muitas
vezes, eles vêem suas esperanças de efetivas melhoras esvaírem-se pelo agravamento dos
sintomas; diante da irreversibilidade do estado físico frustram-se e desanimam. Se os
familiares dos idosos e os profissionais ligados à área da geriatria aceitassem, todos eles, a
continuidade da vida além da decrepitude e da morte biológica, não ficaria a sensação do vazio
de não alcançarem a resposta almejada em seus tratamentos. As melhoras se efetuarão sim, mas no
corpo espiritual.
O amor e a dedicação com que tratarem os idosos ser-lhes-ão retribuídos por estes,
rejuvenescidos no Mundo Espiritual, prontos a lhes dar apoio e incentivo nos seus trabalhos.

REJUVENESCIMENTO

Caro Romeu, vou melhorando e trabalhando. Rejuvenescer por aqui é um fato viável, mas exige
disciplina do Espírito. E essa disciplina não era o meu forte.
Confirmando o que já disse, freqüento o Instituto de Renovação Espiritual, mas enquanto
vocês recordam o meu primeiro ano de afastamento, lembro-me de que em tantos longos doze meses,
se melhorei no sentido de reforma íntima, posso dizer que avalio isso em dois pobres milímetros,
tomando o ano inteiro como sendo o metro.
O nosso Dr. Orlando me diz que é preciso fazer força, mas se fizer mais do que posso, tenho
a sensação de que me arrebento. Desse modo, caminho com você, agindo nas tarefas que vocês me
proporcionam e ando de Votuporanga a Rio Preto e vice-versa. Se me afasto de algum modo é
unicamente para visitar com a nossa estimada Elvira a netinha Carmem Lúcia.
Sinto-me encorajado a facear as obrigações novas com o estímulo do afeto que vocês me
alimentam no espírito. Graças a Deus que não larguei os meus arreios que são os deveres que me
reúnem a vocês para a continuação da caminhada.
Conforta-me refletir que, se cheguei aqui desfrutando memória deficiente, o Domingos (*)
voltou em condições muito mais difíceis. Demora-se muito a me reconhecer de cada vez que o
visitamos e formula perguntas de um menino doente.
::::::::::
(*) Irmão de Carmelo que havia desencarnado há quase um ano.
::::::::::
A doutrina que abraçamos nos obriga a raciocinar e a argumentar e isso é ótimo exercício
para facilitar a agilidade mental depois de entregarmos o corpo enfermo às reservas da natureza.
As observações que aí cultivei me servem aqui de excelentes alicerces para entender, em matéria
de trabalho espiritual, o que pedem de mim.
Companheiros e benfeitores são sempre dedicados e muitos. O Lidaí Benini aqui presente ao
meu lado que o diga. Não se pode vacilar. Se tristezas ou inquietações aparecem no campo mental
que se tem, surge logo um amigo a indagar se nos pode ser útil.
Prossigo, como observam, lutando e adquirindo as noções novas de que preciso para elevar o
meu grau de percepção e interpretação real do que vejo e do que escuto.
A morte é uma parada. Quem acreditar que isso por aqui é moleza, que se cuide. Creio que um
animal muito inteligente, qual, por exemplo, um símio qualquer, viesse morar em nossa casa de
Rio Preto ou de Votuporanga, admitindo que a existência lhe seria aí muito fácil, em poucos
dias estaria ansioso de regresso para a mataria grossa, a fim de se libertar dos encargos novos
que lhe pesariam nos ombros.
Por enquanto, penso que a desencarnação é isso aí. A pessoa acredita que vai largar o corpo
cansado e residir com os protetores espirituais mas chegando à moradia desses amigos, o quadro
apresenta outra figura.
Por agora, não posso dar outras notícias, porque se eu pudesse vestiria ao corpo de Carmelo
Grisi e voltaria de imediato para a nossa casa e para os cuidados de nossa querida Cida, mesmo
na condição de velho doente.
Dr. Orlando e Dr. Justino me refazem o modo de pensar e dizem que estarei outro no ano que
vem. Mas não estou muito certo disso, porque no próximo ano, é bem possível que me digam a
mesma coisa em relação ao ano de 1983. E assim vamos indo...
Queixas não adiantam. A pessoa nasce e cresce sem tomar remédios e deixa o corpo físico e se
modifica por aqui sem tratamentos especiais, a não ser aqueles que nós mesmos pedimos ou
aceitarmos para não ficar para trás. Que ninguém perca tempo.
Estudar e agir, sobretudo fazendo o bem aos outros ou adquirindo bons advogados a nosso
favor, nas criaturas agradecidas, é o melhor negócio que se possa efetuar, em nosso plano de
ação na existência física.
Entretanto, essas idéias são minhas agora, e depois, é provável que os nossos médicos daqui
tenham razão. Que a mudança para mim venha depressa, é o que desejo.
(31/01/1981)

ELUCIDAÇÕES

Embora já se tenham passado um ano e sete meses após a desencarnação, Carmelo denota ainda
falta de memória, pois refere-se a "longos doze meses do primeiro ano de afastamento". Parece
que despertou efetivamente por ocasião da 1ª mensagem que estava completando um ano. Os sete
meses anteriores ele não os computa.
Da hospitalização, dos passes e diálogos curativos passa a freqüentar o Instituto de
Renovação Espiritual na colônia a que se vincula no Além. Contudo, mostra-se pessimista quanto
aos progressos ali obtidos, para ele, muito pequenos. Em toda sua vida física, ele fora sempre
apressado e demonstrava impaciência para as coisas que pudessem demorar. Isso reflete-se agora
na sua readaptação.
Nesta fase, limita-se às tarefas entre Rio Preto, nome dado a São José do Rio Preto pelos
seus habitantes, e Votuporanga, com raras idas a Jaboticabal, onde vive sua neta Carmem Lúcia.
Seus encargos relacionam-se ao atendimento espiritual junto aos centros espíritas e aos
familiares, sob orientação de Elvira e outros espíritos amigos.
Carmelo enaltece o conhecimento da Doutrina Espírita, porque promove e facilita a agilidade
mental, o que o obriga a raciocinar e argumentar em seus trabalhos. Quando encarnado, nas
sessões de seu grupo doméstico era esclarecedor de espíritos. Podemos avaliar o quanto esta
tarefa o auxilia agora, na adaptação à nova vida.
Junto a Dr. Orlando, outro médico, Dr. Justino, muito conceituado em décadas passadas, em
Rio Preto, continua o tratamento dos diálogos de cura para colocar em ordem as idéias,
refazendo os pensamentos. Não obstante, Carmelo demonstra descrédito diante das promessas de
grandes mudanças para um futuro próximo e tira conclusões sobre a fase em que está vivendo.

EUROPA E AMÉRICA

Estou abraçando os nossos queridos viajantes com as boas vindas.
Os que caminharam comigo pelas terras do mundo europeu ou aqueles com quem caminhei podem
observar a grandeza do solo que pisamos. Terra de todos, mãe da fraternidade e alma estendida
na esperança de progresso e felicidade para os povos irmãos.
Queridos Romeu e Hilda, muito grato pelas lembranças em torno da vovó Rosa que prossegue ali
onde lhe vimos o refúgio doméstico, na continuação dos seus encargos divinos.

***
Aqui na América do Sul está nascendo uma terra nova. Bendita seja essa estrela em forma de
território aberto a todos os irmãos em Humanidade.

***
Romeu e Hilda, não sei porque, mas em certos momentos da viagem que acabamos de realizar,
tive a idéia de que em alguns lugares estivemos em verdadeiros cemitérios de sofrimento, ao
invés de estar percorrendo lugares de tanta gente boa e sempre viva. São estudos que ficam para
depois.
(11/09/1982)

ELUCIDAÇÕES

Afirma-nos "O Livro dos Espíritos" que os espíritos se deslocam no espaço tão rápido como o
pensamento, e podem ter noção das distâncias que percorrem (itens 89 e 90). Isso lhes faculta,
alcançar países e continentes com facilidade, desde que estejam adaptados à Vida Espiritual.
Reencarnando-se na Itália e lá vivendo até a adolescência, Carmelo veio fazer parte da
nacionalidade brasileira. Seus vínculos com aquele país em que tantas vezes espiritualmente
pisou, como ele diz, são inegáveis. Nota-se, no entanto, que não lhe é grato recordar-se do
passado ali vivido.
Sua efetiva adaptação ao Brasil, pátria que adotou como definitiva, torna-se evidente pelo
elogio espontâneo, brotando do fundo do coração, às terras da América do sul, confirmando o que
sempre dizia quando estava entre nós. Elas mostram o futuro promissor que alimenta o ideal dos
pioneiros, a "estrela em forma de território aberto a todos os irmãos em Humanidade".
Carmelo, influenciado por Elvira, não deixa de transmitir o agradecimento pela visita feita
a cidade de Rossano, na Calábria, onde vivera Rosa Abrigatto, sua sogra na vida material.
Afirma que ela continua vinculada aos locais onde vivera, com seus encargos divinos, isto é,
nas suas tarefas junto ao seu grupo de espíritos familiares e amigos.

AS RELIGIÕES NO ALÉM

Recebendo, há meses, a visita do nosso amigo Frei Arnaldo, o religioso que todos respeitamos
e estimamos tanto, ao ver-nos juntos em conversação amistosa, um amigo, cujo nome a caridade
manda omitir, me perguntou se eu estava me confessando... O próprio amigo respondeu que se
confessara há muito tempo. Ainda assim, o mesmo companheiro insistiu se eu aqui chegara com os
benefícios da Extrema Unção.
Foi uma dificuldade para nos descartarmos do irmão que não encontrou ainda a mínima noção de
reforma espiritual. Não digo isso para menosprezar o ato religioso da confissão, pois aqui não
temos diferenças, sentimos o acatamento natural pelas escolhas uns dos outros e todas as ordens
religiosas aqui possuem as suas instituições correspondentes.
A violência não é de Deus e cada pessoa se transforma quando quer ou quando crê que pode
experimentar essa ou aquela modificação.
(31/10/1981)

ELUCIDAÇÕES

Em todas as culturas e civilizações conhecidas ao longo da história de nosso planeta, as
religiões têm sido elemento mais ou menos preponderante dentro do contexto sócio-cultural. De
acordo com o grau evolutivo alcançado pelos povos, temo-las ligadas ao ritualismo em diversos
graus. Algumas com grandes demonstrações do culto exterior, outras esotéricas, isto é, fechadas
ao conhecimento da massa popular, passando das manifestações primárias dos tabus à complexidade
poética da mitologia greco-romana, de qualquer forma, sempre imprescindíveis ao equilíbrio
mental, o pão espiritual do homem.
As religiões têm, pois, tudo a ver com o plano astral, à medida que este se situe mais
próximo da crosta. Como elas são numerosas, pois não há povo que não as tenha, forçosamente
existirão instituições correspondentes a elas todas no Além.

FALANDO FRANCAMENTE

Por aí, prega-se muito sobre as virtudes da morte, mas os amigos reencarnados lançam
suposições excelentes, às vezes, em pleno desacordo com a verdade.
É preciso muita mudança para que venhamos a atravessar o rio da vida de um lado para outro.
Temos preleções, contatos, instruções especiais e outras práticas de espiritualidade, mas burro
velho não toma freio e nessa condição estou caminhando para diante com lentidão de uma
tartaruga.
Ainda na semana passada, fomos, um grupo de Votuporanga, a Rio Preto, ouvir uma dissertação
do Monsenhor José Rodrigues Seckler, antigo instrutor de desencarnados, em Rio Preto.
O conferencista pintou a Terra por um mundo de delícias. Falou na beleza do Planeta e nas
oportunidades de trabalho que ele nos oferece, entretanto, comecei a me sentir mal porque ele
exigia que nos manifestássemos felizes e dignos da Casa Terrestre que havíamos deixado.
Quando se referiu à excelsitude dos ensinamentos de Jesus para os homens e a grandeza do
Mestre Divino, em todos os seus passos na Terra Santa, o Capitão José Mendes de Oliveira que se
acomodava junto de mim com a mãezinha dele, D. Ana América, com velada ironia, me falou
sussurrando:
" -- Carmelo, se a Terra fosse tão boa e agradável como se mostra nas palavras do expositor,
estaríamos por lá num paraíso".
E porque a mãezinha lhe chamasse a atenção, respondeu com bom humor:
" -- Se a Terra fosse o mundo maravilhoso que o mentor apresenta, com certeza Jesus, apesar de
crucificado, viria logo, em triunfo, morar nela e isso não aconteceu".
Eu ouço as referências e ando cabreiro. Estou balançando, gosto demais dos filhos queridos
para me esquecer daí; no entanto, não me sinto bem aqui, já que vocês me faltam. Estou psicado.
Creio que em breve estarei na direção de consulta aos instrutores especiais que, segundo se
afirma, nos repõem no lugar certo.
Os amigos me reconfortam e me reerguem as forças, falando de trabalho e de paz; no entanto,
de trabalho cheguei por aqui muito cansado para servir de exemplo e paz não conheço nem aqui,
nem aí. Dizem que devemos construí-la por nós mesmos, mas é muito problema para fazer a cabeça.
Começamos os ensaios de paz, no entanto, ao chegar uma notícia desastrosa, temos informações
de amigos que estão atravessando pesadelos duros de suportar e o remédio é aceitar a luta. Eu
penso que nem os anjos encontraram a paz, porque se estão ouvindo as nossas petições, bastará
isso para que vivam apreensivos quanto a nós todos, os encarnados e desencarnados.
(16/04/1983)

ELUCIDAÇÕES

Carmelo chama-nos a atenção para os enfoques que se dão para nossa permanência no plano
material. Eles podem ser contraditórios, exagerados e até errôneos.
Conta-nos de uma conferência do Monsenhor Seckler nos campos espirituais de Rio Preto e
refere-se ao Capitão José Mendes de Oliveira que fora o primeiro Juiz de Paz daquela cidade,
com projeção política na época em que lá vivera. O clérigo fora pároco de Rio Preto em 1914,
portanto, contemporâneo do capitão Mendes de Oliveira.
O incidente que se segue sobre a crítica feita pelo capitão ao pé do ouvido de Carmelo
retrata bem a posição que ocupara naquela comunidade como juiz e líder político, portanto, um
observador sagaz, sempre atento às argumentações e pronto a colocá-las devidamente nos trilhos
do raciocínio correto. A figura materna dá-nos a impressão de um espírito mais lúcido,
ajudando-o na nova fase existencial.
Carmelo enfatiza a situação dos encarnados que valorizam as virtudes da morte, sem imaginar
as lutas para a adaptação no Além, enquanto que desencarnados gozando já de melhores condições
como o sacerdote, podem cair em exageros ao pintar a Terra como um mundo de delícias.
Confessa-se cabreiro e psicado, isto é, desconfiado e perturbado com o que ouve e vê;
sente-se inseguro, balançando entre dois mundos, típica situação por que passa a maioria dos
espíritos na fase adaptativa após o desencarne. Fala-nos de uma consulta com instrutores
especiais para se reequilibrar. Isso de procurar especialistas era muito dele, Carmelo. Tinha
sempre uma lista de médicos em São Paulo para as diversas moléstias e indicava-os dizendo: "É
um colosso!"
Por nossa vez, observamos que as melhoras não são contínuas na série de desequilíbrios
desencadeados com a desencarnação. Existem recaídas e retomadas, tal qual ocorre na
convalescença das doenças do corpo físico até o recobro total da saúde.
Às sugestões de iniciar trabalhos e ensaiar a pacificação íntima, faz observações jocosas
demonstrando a relatividade das coisas. A seu ver, a construção de paz por nós mesmos é
demorada e sujeita a interrupções pelos acidentes do caminho.
Com essa argumentação, conclui que os anjos que trabalham para atender as petições dos
encarnados e desencarnados também não poderiam ter paz, pois estariam sempre apreensivos por
nossa causa.

DE CORAÇÃO ABERTO

Ei, minha gente de Votuporanga! Estou bem, ao vê-los tranqüilos.
Estou ciente de que temos aqui muitos candidatos ao lápis mediúnico. Nos dois lados. Estou
vendo os que desejam trazer notícias e os que anseiam recebê-las. Mas sou eu mesmo a falar. Eu
mesmo não sei porque, pois não desejo escamotear a posição de ninguém. O nosso caro Dr. Orlando
considera justo que me comunique, decerto para matar saudades e desinibir-me um tanto...
Os amigos daqui não se inclinam muito para os diálogos em torno das situações na Terra e o
que sucede é que em nós aumenta a curiosidade de buscar as pessoas queridas para algum
comentário, que, por aqui me recomendam, se faça tão simples e tão inofensivo quanto possível.
Notem que a censura deste lado é de amargar.
Os mentores de nossa paz e renovação não apreciam favoravelmente as queixas e as reclamações
e, por isso, vou seguindo. Coitada da Elvira que me adotou por filho. Faz o máximo para
aperfeiçoar a postura e a linguagem, no entanto, há quem diga que pau nascendo torto até a
cinza se faz torta. Com o espírito deve acontecer o mesmo, porque estou sem muitas alterações.
Quanto a nós, Romeu, em Votuporanga, o serviço é de lascar. Aí no plano físico, tanta gente,
mesmo entre os espíritas, se declara sem tempo a fim de estudar ou servir nas campanhas do bem,
no entanto, não posso contar os amigos que encontro dormindo a sesta do meio dia até a noite,
enquanto que outros se dedicam aos papos longos de estourar qualquer saco.
Se a palavra, de certo modo assusta, isso é problema de quem me interprete com malícia.
Trabalhei muito suportando sacos de arroz, feijão, pedras, cal e, muitas vezes, o saco
estourado se fazia problema de solução difícil.
Mas vocês estejam certos de que o trabalho na Terra é verdadeira micharia. A pessoa diz que
se cansa e se esfalfa por isso ou por aquilo, mas faz o que bem entende sem dar satisfação a
ninguém.
Eu não sei se vocês já pensaram nas tramas da fiscalização. Eu pelo menos só conheci fiscais
para a arrecadação de impostos ou agentes credenciados para surpreender clandestinidades e
taxar multas. Nunca vi fiscais para verificar velhacarias, ou para marcar os pontos da preguiça
mental em que também vaguei por aí, imaginando-me cansado e inapto para qualquer tarefa extra.
Aqui, a mudança me alarma. Horas para exercício de renovação espiritual, tempo certo para
colaborar em tarefas e comissões de socorro, às vezes, até para quem nos recusa a presença,
horários para a demonstração de proveito dos conhecimentos adquiridos no mundo e designações
constantes para socorro de emergência.
Isso é dose para um Dr. Orlando, para um Frei Arnaldo, até mesmo para um Dominguinhos que
não encontrava pausa para se distrair, sempre agarrado ao trabalho, como erva de passarinho
quando acerta a árvore.
Para mim, isso tudo é um aceleramento de atividade, para o qual ninguém me preparou. Quando
começo a relacionar as minhas dificuldades para atender a tudo o que me indicam, em matéria de
serviço, é um amigo ou outro a me lembrar conselhos que já conheço de longa data.
A luta é muito grande e se morrer fosse caso para arrependimento, não me incomodaria de
voltar à existência física de qualquer modo. Realmente, ninguém nos obriga a trabalhar, mas se
estou situado entre tantos obreiros, não quero ser o vagabundo das histórias policiais. É
enfrentar o dever e agüentar os pesos.
Há pouco tempo, anotando os meus contratempos, a nossa generosa Elvira me falou se eu não
desejava regressar à reencarnação. Tantos amigos nossos, tanta gente boa podendo ajudar! Mas
falei da minha necessidade de prestar assistência constante à nossa querida Cida e não me
convinha entrar num serviço de mamadeira para esquecer as minhas obrigações para com ela.
Romeu, a sua mãe é sempre aquele colosso de compreensão e de bondade. Depois de me ouvir, em
meio daquela criançada toda, ela sorriu e me disse: "É verdade Carmelo, tudo na vida tem preço.
Ou você permanece aqui em serviço, voltando a alegria de amparar a nossa Cida ou então você não
reclame, de vez que outros amigos nossos poderão talvez promover a sua volta ao corpo físico".
Sem vocês e sem a nossa Cida, Deus me livre de semelhante calamidade! Aceitei com mais calma
os meus encargos e procuro não ser o chorão fora de tempo. Estou mais decidido a permanecer em
trabalho duro na pedreira que me arranjaram, mas quero e preciso cumprir a minha promessa de
auxiliar a nossa querida Cida, aos filhos e netos e também a todos vocês que em Votuporanga
continuam sendo a minha família do coração.
Tenho experiência e consentimento para falar-lhes, como faço agora, para que vocês se cuidem.
Por aí, vocês todos usufruem sono calmo, ainda que se abatam na cama sob a influência de
tranqüilizantes; escolhem os pratos que desejam, especialmente na refeição principal do dia;
usam excelentes ventiladores no verão e grossas blusas de lã no tempo frio; passeiam nos fins
de semana, se revoltam contra o bicho da inflação, segundo vocês mesmos afirmam; entretanto
povoam os campos de futebol, recheiam as casas de diversões e entopem carros e ônibus, segundo
o paladar de cada um e desfrutam de outras vantagens mais; no entanto, aqui, preparem mãos para
as picaretas, se quiserem permanecer auxiliando alguém.
Quero dizer à Hilda e Martha que o nosso Hilário (*) vai bem. Se ele guarda opiniões iguais
às minhas, não sei. Às vezes puxo o fio dos apontamentos, no entanto, ele me fala dos
sofrimentos de Cristo para nos elevar os corações.
::::::::::
(*) Hilário Sestini, irmão de Hilda e Martha. É co-autor espiritual do livro Vida No além, de
Francisco Cândido Xavier/Caio Ramacciotti -- Ed. GEEM.
::::::::::
Escuto os argumentos do amigo e embarco para outras atividades, porque respeito, mas
respeito de todo o meu coração a nosso Senhor Jesus Cristo, mas nunca ouvi alguém dizer que Ele
reside na Terra ou nos círculos espirituais de trabalho ao redor da Terra, para um diálogo
conosco.
Às vezes, penso que Ele estará farto de tantos desacertos nossos, de criaturas humanas
encarnadas e desencarnadas e escolheu algum endereço em que não seja incomodado tão diretamente
por nossos desequilíbrios e petições. O negócio dá que pensar, embora a gente saiba que ninguém
está abandonado pela proteção d'Ele, nosso Senhor e Mestre.
O nosso Dr. Orlando me diz que já estou escorregando e não posso cair em lamúrias sem razão.
Agora é voltar com os amigos para encontrar o nosso amigo Frei Arnaldo e seguir adiante para
cooperar no socorro a doentes que estão esperando o sossego da noite para a oração mais livre
de cortes vibratórios, a fim de receberem o apoio de que se fazem necessitados ou credores.
E a vida continua. Tenho dó de todos os que procuram as portas do suicídio para se
libertarem do corpo. Eles não sabem o que fazem. O melhor é ficarmos todos no lugar que a
Divina Providência nos marcou para vivermos por determinado tempo.
Quando falo em rigor das disciplinas daqui, o Dr. Orlando me recomenda observar os caminhões
na banguela. Sem a ordem diz ele, tudo é risco. Não sei, vamos adiante. As explicações chegarão.
É preciso plantar para colher. Tenhamos paciência.
(15/01/1983)

ELUCIDAÇÕES

O fato de ser um dos escolhidos a dar mensagem naquela concorrida noite teria motivos
relevantes. O que pudemos perceber, é que a extensa mensagem de Carmelo trazia, além das
notícias suas, ensinamentos dirigidos àquela assembléia, alguns inadiáveis, a pessoas desejosas
de partir deste mundo pela porta ilusória da auto-eliminação, o que atingiria apenas o corpo
físico.
Em toda a missiva mostra-nos o pouco que se faz na condição de encarnado, quando se goza de
uma liberdade que lá não há para quem se disponha a estar bem acompanhado, porque existem
regras rígidas, horários que se impõem, exercícios inadiáveis.
Para aquele que não cultiva hábitos disciplinares, torna-se realmente muito difícil
assumi-los de chofre para não ficar na retaguarda indesejável no mundo espiritual. É disso que
Carmelo nos fala, com a maneira espontânea e peculiar de se expressar, fazendo suas comparações
e ilações jocosas.
Seus diálogos com Hilário sobre os exemplos do Cristo demonstram a intenção de desmistificar
a falsa idéia de que ao chegarmos no Além poderemos estar ao lado de Jesus, como apregoam as
religiões tradicionalistas.
Visando os irmãos presentes à reunião, Carmelo coloca o Mestre muito acima de nossas
inferioridades e limitações, sem endereço conhecido, mesmo nas esferas espirituais próximas da
crosta planetária, embora afirmando que Ele esteja velando por todos nós.
Uma de suas tarefas, na ocasião em que nos deu esta 5ª mensagem, era acompanhar Frei Arnaldo
Maria no socorro aos doentes.
O capuchinho que fora vigário em Votuporanga, durante muitos anos tem o temperamento
semelhante ao de Carmelo. Quando encarnados foram amigos. Frei Arnaldo era muito extrovertido e
conhecido de todos na região; contava inclusive com grandes amigos na comunidade espírita da
cidade. Desencarnou em 1976, com 48 anos de idade, vítima de acidente automobilístico.
Pelo amor à Cida se submete a nadar contra a correnteza das dificuldades, a fim de poder
ajudá-la. A reencarnação para ele, proposta por Elvira, é-lhe algo muito distante ainda porque
não quer se afastar dos familiares encarnados e dos amigos do Além. A solução é seguir estes em
suas tarefas na condição de mero aprendiz, sem direito de tomar resoluções: apenas obedecer e
reprimir as críticas.
Não é fácil aceitar tal posição; necessita treinamentos de humildade e submissão. Porém, ao
lado de tantos obstáculos é-lhe concedido algo raro entre milhões de espíritos nas suas
condições: fazer alguns desabafos dirigidos ao mundo dos encarnados; ter a quem contar suas
experiências, ser ouvido e compreendido por pessoas que pensam como ele talvez tenha pensado e
adverti-las sobre o futuro.

LIÇÃO DE DESAPEGO

Querido filho Romeu e querida Hilda, estamos partilhando os nossos minutos de comunhão
espiritual.
Não estou tão bem como deveria estar, mas não me sinto tão mal como muitos pensam. Estou na
prensa da aceitação.
O negócio começou quando me vi obrigado a tudo deixar de modo a entrar neste outro lado da
vida. Encontrei bons amigos, recebi de novo a proteção de nossa querida Elvira, reconheci
muitos parentes entre os Grisis e os Abrigattos, mas quem disse que é fácil largar tudo o que
foi nosso por tantos anos seguidos, a fim de assumir um gênero de vida completamente diverso?
Em princípio, não estudei para ser anjo e continuo velho e moço ao mesmo tempo. Dias
aparecem nos quais estou de polegar para cima, e outros muitos chegam para mim nos quais estou
de polegar para baixo. Isso poder ser uma lástima, no entanto, sou o que sou e não adianta me
fantasiar de espírito protetor, que ainda estou longe de ser.
Peço dizerem à nossa Cida que estou satisfeito. Ela encontra em nosso amigo Nelson um
companheiro excelente e não é justo que se preocupe por mim.
Os sentimentos que tenho para com a nossa Aparecida são misturados de muito carinho e
reconhecimento, mas nunca tive a idéia de tomá-la por escritura de posse, no cartório da vida.
Ela é uma companheira notável pela bondade e está livre como aconteceu com vocês mesmos, os
meus filhos, todos sempre queridos. Vocês casaram com quem quiseram e sempre viveram a
existência como melhor lhes parece. Em Votuporanga ou em Rio Preto, vocês sempre transitaram
com liberdade. Não seria eu que iria devolver à Cida tanto carinho com aspereza e ingratidão.
E esse problema de amizade ou de afinidade aparece para nós aí no mundo ou aqui, à maneira
de um rio com fortes corredeiras de que ninguém consegue deter o curso, usando galhos de
arvoredo. O que vem do coração nunca se acaba. O que nasce na alma é para crescer na
imortalidade. E serviço, por aqui, não nos dá tempo a divagações.
(15/10/1983)

ELUCIDAÇÕES

Passados três anos e meio, Carmelo demonstra maiores progressos na sua condição espiritual,
embora ainda fale da dificuldade de adaptação, considerando os longos anos vividos na Terra,
onde, diz ele, não estudou para ser anjo. É com realismo e graça que expressa sua situação,
seus altos e baixos e a sensação simultânea de ser ainda velho, quando já está rejuvenescendo.
Em "O Livro dos Espíritos" há uma questão que nos esclarece quanto às nossas idéias no
estado espiritual. Afirmam os espíritos que neste estado elas sofrem grandes modificações à
medida que o espírito se desmaterializa, podendo algumas vezes permanecer muito tempo
aprisionado entre elas. Mas, com a diminuição gradual da influência da matéria ele começa a ver
as coisas mais claramente, e é a partir daí, então, que ele procura os meios de se melhorar (*).
::::::::::
(*) Questão 318
::::::::::
Em relação a Cida, Carmelo é o exemplo de equilíbrio e desapego. Pede-lhe que não se
preocupe com ele e que goze sua liberdade, a mesma liberdade que sempre respeitou em todos os
seus filhos.
Pelos laços que os une, ele está sempre a par do que lhe acontece.
O problema da amizade ou da afinidade é comparado a um rio que, se existe, é para fluir e
crescer em busca do seu destino, a despeito das corredeiras que ninguém consegue deter com
paliativos.
E este problema pertence aos dois planos.

O RETORNO DO DOUTOR RADOVIR

Parece caso pensado, mas nossos encontros obedecem a certa matemática que não compreendo.
Vocês chegam de Votuporanga ou de Rio Preto no momento justo em que temos assuntos de urgência
para comentar.
Hoje, por exemplo, temos o ocorrido com o nosso Radovir.
Faz hoje precisamente três meses que a nossa Martha esteve aqui mesmo em nossa companhia,
levemente influenciada por nosso Hilário (*) que a desejava mais apta, a fim de se garantir na
própria segurança, para aceitar sem revolta a viuvez que a esperava.
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(*) Irmão de Martha, desencarnado em 1976.
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O mundo circulatório do Radovir estava muito difícil. O Dr. Orlando já nos havia pedido
informação sobre o desequilíbrio que o nosso amigo apresentava e ficamos na expectativa.
Induzi-lo a remédios não se nos fazia possível. O nosso Radovir era um homem que não mudava
nem mesmo o próprio passo. Sempre estimei nele um filho amigo que a nossa Elvira me ensinava a
compreender. Sem ferir-lhe o nome de modo algum, o nosso caro Radovir era um homem de brigas
santas. Às vezes, da conversa dele saíam raio, trovão, granizo e ventania forte; no entanto,
quando a tempestade cedia, ei-lo de novo, ao modo de um cordeiro a mostrar-se disposto para
qualquer serviço.
A notícia da desencarnação do amigo nos alcançou a todos e tivemos o privilégio de
cooperar no trabalho do nosso caro Dr. Orlando que, assessorado por outros amigos, o desligou
do corpo inerme, antes que o funeral se dirigisse para a Vila Ercilia (*). Acompanhei calado o
que se fazia, pensando no apego inútil da maioria das pessoas na Terra, quando se enrolam com
teres e haveres que lhes sobem do coração para a cabeça.
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(*) Bairro de São José do Rio Preto em que se localiza o Cemitério da Ressurreição, onde foi
sepultado o corpo do Dr. Radovir.
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Nosso Radovir, que se impressionara construtivamente com as palavras de nossa Martha, logo
após a sua estadia por aqui, conservou as impressões da esposa com respeito e segurança. Ele
conhecia demais as peças do corpo para se deixar iludir com as opiniões dos colegas e
familiares.
Médico é assim mesmo. Sabendo muito mais de si mesmo, em qualquer enfermidade, ele percebeu
que Martha lhe entregava notícias do Além, porque se notava próximo da grande renovação. Mesmo
ignorando que se lhe transmitia uma revelação doméstica nos diálogos que a esposa levara daqui,
assustou-se, como é natural.
Soube ser grato ao carinho da Hilda, ao ministrar-lhe recursos espirituais de última hora e
percebeu que a Elvira estava em torno de nossas atividades socorristas, que poderia claramente
seguir-nos para tratamento em postos de socorro mais completo, mas deixamos que ele agisse como
melhor lhe parecesse. Aceitou os passes da Hilda e as orações que se pronunciaram em seu louvor,
mas sair da sua prudência e de sua formação era para ele algo impossível.
Elvira, transformada na enfermeira dedicada, fez o que pôde a fim de aliviar-lhe as dores e
alcançou êxito, porque o nosso Radovir, antes de deixar o velório para seguir na direção do
pouso da Vila Ercília, se deixou retirar do corpo inerme e não quis assistir ao ato final de
sua representação no mundo. Falo em representação porque a Terra, agora, mais se parece a um
grande palco, exibindo uma peça agitada em que todos aí somos protagonistas, queiramos ou não.
Agora, é preciso agradecer à querida Martha, quanto fez pelo querido companheiro,
partilhando-lhe todas as alegrias e todas as horas difíceis do seu temperamento polêmico.
Comunicamos a ela que o marido está cuidadosamente amparado. Ainda não se apossou de si
próprio com segurança. Está na incerteza dos dois mundos que os materialistas querem seja um
apenas. Tratado com raios terapêuticos, na base da luz em doseamento que não sei definir, está
se libertando das lembranças muito materializadas que alimentou.
Admito que o Romeu e Hilda estivessem na convicção de ouvir-lhe a palavra ainda hoje, mas
não foi possível. Está ele sob a hipnose da vida familiar. Fala na Martha, nos filhos e nos
outros parentes com ansiedade. Homem de aço, não lhe ficaria bem conversar com os amigos da
Terra numa demonstração de sensibilidade doentia de que não foi portador. Ele se restaura e
virá até nós com o suporte do amparo do Alto e aguarda mais tempo na quarentena em que hoje se
vê, entre a certeza e a indecisão.
(16/04/1983)

ELUCIDAÇÕES

Neste noticiário sobre o passamento do Dr. Radovir temos vários pontos a considerar.
Comecemos pelo conhecimento de eventos futuros nas esferas espirituais próximas ao plano
terrestre.
Hilário, seu cunhado, vivendo no Além, já fora informado de que ele já estava com seus dias
contados aqui na Terra, enquanto que os familiares e amigos nada percebiam em relação à sua
saúde nos últimos meses. No entanto, a vida física poderia se dilatar por mais tempo, se outros
fatores concorressem para isso, mas o Dr. Radovir não colaborou.
Devido à sua personalidade intransigente para consigo mesmo ele não se permitia submeter-se
a exames e tratamentos com seus colegas e amigos, entre eles, categorizados cardiologistas. Sua
convicção materialista dificultava a aproximação de espíritos amigos para aconselhá-lo a ceder
em favor de si mesmo, através de intuições ou contatos fora do corpo, durante o sono físico, a
fim de permanecer mais tempo encarnado.
Apesar de seus méritos, ele não pôde contar senão com uma preparação muito superficial para
enfrentar o desenlace para o qual, nos últimos dias, os amigos espirituais conseguiram intuí-lo.
Sua esposa Martha estivera em Uberaba três meses antes e compartilhara da alegria da quinta
mensagem transmitida por Carmelo.
Ao voltar, entusiasmada, conseguiu que ele lhe desse atenção sobre sua visita ao Grupo
Espírita da Prece, não tanto pela mensagem ali recebida, mas por relatar as ponderações do
Chico sobre o suicídio de um médico que fora amigo seu.
Quando perguntaram ao médium sobre a situação do médico suicida no mundo espiritual, ele
dissera que o espírito tinha a seu favor as operações gratuitas que fizera, pois que passavam
de cem, e elas iriam funcionar como atenuantes do seu gesto infeliz. Radovir então retrucou:
-- Se as coisas forem assim, eu, que opero na Santa Casa diariamente, há 34 anos, terei
bastante mérito na "outra vida".
Fez uma pausa e em seguida perguntou à esposa em tom jocoso:
-- E você, quais são seus méritos para poder ficar junto de mim? Pelos meus cálculos já terei
feito no mínimo de dez a quinze mil operações sem cobrar nada. Se existir uma outra existência
depois desta, então não estarei tão mal nela.
E quedou-se pensativo.

***
Dr. Radovir era intelectual, agnóstico, como ele sempre dizia, progressista e inconformado
com as injustiças sociais.
Muito humano com os doentes e deserdados da sorte, colocava-se, neste particular, ao nível
dos verdadeiros cristãos. Ao entregar-se ao trabalho, sentia-se compromissado com a vida, tudo
fazendo para que seus pacientes se recuperassem.
A sala de cirurgia era o seu templo; lá dentro era o sacerdote oficiando. Esta era a sua
religião, pois somente lá, em plena ação cirúrgica, ele conseguia sentir que "alguém" guiava
suas mãos e o advertia sobre detalhes nas intervenções, para que elas fossem coroadas de êxito.
Foi um emérito cirurgião, conhecido e estimado na cidade e regiões vizinhas. A pobreza chorou
sua morte e disso fomos testemunha.
Seu retorno à Pátria Espiritual ocorreu em 25 de janeiro de 1983(*).
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(*) Após sua readaptação à Vida Maior, o Dr. Radovir também enviou mensagens aos familiares,
através da psicografia do Chico.
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DESABAFOS E PROMESSAS

De vez em quando, deixo o abafamento de lado e me entrego ao xingatório desorientado. Os
amigos, por aí, se me vissem numa dessas, me tomariam por perigoso obsessor, inconformado com
as leis de Deus.
Inconformado? Quem sou eu para semelhante proeza! Já sei que os momentos de impaciência nada
produzem de bem, mas a choradeira é livre aí e aqui e não posso fazer banca de santo para
enganar os outros, ao me colocar de joelhos.
A vida é esta mesma e temos de tolerar o que julgamos infortúnio para nós, embora os
Protetores destas plagas nos assegurem que estou numa das melhores posições diante da vida.
(06/02/1988)

***
Filhos, ando melhor, mas considerando que a morte é o azar de que se fala. Quero colaborar
com vocês e não vejo o corpo que me servia. Isso é um contratempo.
Mesmo arrastando, um pai amigo não deve se afastar dos filhos, mas a morte é uma espécie de
Decreto de Deus de que ninguém consegue fugir.
Sei que a oração pode muito, mas temos casos imediatos, como, por exemplo, o capítulo das
agressões. Se visse um malfeitor atacando vocês, eu oraria, pedindo a Deus nos socorra, mas sou
humano e faria tudo para agarrar o tratante pela gola da camisa e apresentá-lo à polícia. E se
a polícia ficasse na vida mansa, eu saberia tomar a providência da luta brava.
Não julguem que me tornei espírito obsessor. Estou consciente. Cada um arreia o burro
conforme a vontade do dono e por isso tenho o meu jeito de colaborar com a justiça, quando a
justiça prefere dormir. Não estou prosando. Falo com sinceridade. O meu estado do espírito é
este mesmo. Carmelo sem grito não seria Carmelo.
(09/03/1985)

***
Vocês se cuidem por aí, sustentando-se no corpo físico tanto quanto puderem, porque reafirmo
que a morte não dá moleza para ninguém. É tanto exercício a que sou obrigado na esfera de
serviço em que me vejo, que ainda continuo de cabeça dura nos freios da disciplina.
Parece a mim que desejam nossos amigos daqui que eu faça tudo quanto deixei de fazer de bom
na Terra, qual se eu fosse um burro de carga na obrigação de transportar as cangalhas que não
suportei, deixando-as na retaguarda.
Isso não é fácil. Ser bonzinho a prestações, alguns minutos por semana ou por dia, vá lá!
Mas afável com todos a todo o instante, para que nos habituemos a ser bons de fato, a toda hora,
é serviço duro de roer para qualquer.
Uma dose cada dia, tudo bem, mas tomar em poucos dias tudo o que se deixou para trás a fim
de ser feito, é um fogo forte nas brasas de cada minuto.
Tenho esse encargo por aqui e não vejo a hora em que decerto me pedirão para usar as asas
dos anjos. Mas tudo é vida e a vida é essa mesma surpresa: dificuldades, obstáculos, desencanto
e tristeza, em doses menores, mas somando sempre o remédio da regeneração que se deve sorver de
uma vez só.
A nossa Cida me enternece com essas recordações afetuosas e constantes acerca de seu velho
Carmelo. Muito obrigado! Mais vale um amigo velho na praça do que um amigo moço longe dela.
(04/12/1983)

ELUCIDAÇÕES

Em algumas de suas mensagens, Carmelo mostra-se mais inconformado com sua situação no Além
do que em outras. Nos momentos em que s sente requisitado pelos familiares com problemas,
dá-nos a impressão de que está em uma instituição corretiva de onde não consegue sair. Em
outras ocasiões tenta dourar a pílula dos amargos remédios que experimenta na dura disciplina
aplicada a si mesmo.
Durante esses anos em que se adapta ao mundo espiritual, ele produz um gráfico de seu
equilíbrio com baixos e altos, decorrente das crises emocionais e momentos de paz obtidos pela
aceitação e resignação.
A retomada de novos hábitos, consentâneos com as prementes necessidades dos momentos
críticos é sempre dolorosa.
Diante de qualquer atividade ou trabalho que bitolava ou oprimia a mente, ele sempre se
rebelava com recursos imprevisíveis, como os da ruidosa ironia, ou na criação de situações
cômicas que obrigavam os implicados a parar para raciocinar sobre o que estavam fazendo.
Sua luta agora é travada consigo mesmo. Aqueles mesmos recursos de que lançara mão para
livrar seus semelhantes da auto-hipnose em que se enredavam, estão direcionados para a sua
própria pessoa. E isso é um osso duro de roer, como ele disse.
Seus desabafos podem até levar o leitor menos avisado a imaginá-lo confuso e perturbado, a
ponto de ter idéias perigosas. Mas, ao contrário, não passam de um jogo para exorcizar suas
frustrações, porque no fundo, ele até se diverte com as reações que provoca nas pessoas e sabe
que elas são salutares, pois induzem-nas a reavaliarem-se diante da vida.
Carmelo sempre quis chamar atenção sobre si, buscando a simpatia dos que estavam à sua volta,
ao mesmo tempo que se doava, oferecendo amizade e otimismo.
Dr. Dias da Cruz em uma de suas mensagens nos informa sobre os recursos psicoterápicos:
..." dispomos, atualmente, na moderna psicanálise, da psicologia do desabafo como medicação
regeneradora.
A confissão do paciente vale por expulsão de resíduos tóxicos da vida mental e o conselho do
especialista idôneo age por doação de novas formas-pensamento..." (*)
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(*) Instruções Psicofônicas -- Francisco Cândido Xavier/Arnaldo Rocha, Capítulo 02 -- Edição
FEB.
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Que riqueza de ilações podemos tirar dessas confissões! Quantas lições temos aprendido com o
nosso amigo Carmelo!

AS DIFICULDADES CONTINUAM

A gente por aí, enquanto na existência física imagina que voar para os Céus é uma proeza de
qualquer pessoa, interessada na matrícula em algum paraíso. Contudo, encontramos a nós mesmos,
antes de tudo. Não estamos nem muito longe e nem muito perto do território de trabalho em que
vocês se situam, mas ainda temos muitos lugares que andar no sentido de se adquirir a melhoria
desejada. Eu pelo menos, sou eu mesmo. Fácil de se agradar e muito difícil de me contentar.
Muitos amigos de Votuporanga e de São José do Rio Preto me procuram para compartilhar-lhes
dos núcleos de estudo a que se vinculam, mas ainda não me comprometi com ninguém. Sou um livre
atirador ligado à nossa casa de trabalho, onde Elvira se tornou Diretora. Educar a vontade,
reajustar os hábitos e altear o nosso rumo por dentro de nós mesmos não são tarefas com base no
prato feito. É preciso trabalhar muito em todos os setores.
Comunico a vocês que ando cansado das instruções do Dr. Orlando para que me rejuvenesça. É
muita ginástica e muitas privações de recursos imaginários que sendo imaginários não deixam de
ter consistência para nós que os forjamos. Para a elevação é preciso ter vindo nas condições de
um santo homem, já que não posso falar que eu poderia me apresentar por homem santo, nem mesmo
por brincadeira.
Penso que me consideram aqui um desencarnado à margem do progresso. Entretanto, quanto mais
persisto em continuar sendo eu mesmo mais se me ampliam as dificuldades.
Já sei que basta me renovar conscientemente para que a mudança para melhor me favoreça, mas
onde está a coragem? A qualquer abordagem de algum desencarnado infeliz que me incomode, o meu
palavrão não dorme na boca. E quando algum benfeitor me aconselha, apontando-me os caminhos
novos, aí que me esqueço de tudo e afirmo que estou sem memória.
Minha situação é semelhante à cabra na primavera. O animal aproximou-se da planta de gosto
desagradável e mastigou-lhe as folhas. Sentindo que a boca quase lhe sangrava de tanta dor,
chorou e berrou esperando socorro que lhe viesse de qualquer lado. O socorro, porém, não
apareceu e assim que a boca se viu aliviada, ei-la, a pobre da cabra, mastigando as folhas da
pimenteira, outra vez.
Não sei se fui assim enquanto estive aí, mas Elvira me aconselha a esperar pelo futuro, a
fim de ajuizar com mais segurança com relação a mim mesmo. Penso que se cemitério já foi lugar
de descanso, isso já era. Devo enfrentar os meus problemas e não sei como agir para fazer isso.
Os amigos espirituais me permitem escrever com meu próprio estilo nesta noite, para que
vocês vejam que a indecisão e a teimosia não são qualidades para conservar. Tão fácil
aconselhar os outros, mas no conselho que damos está geralmente aquilo de que mais carecemos.
Saudades de vocês todos são imensas. Até das brigas calmas sinto falta. Ainda assim, a nossa
estimada Elvira, que me parece mais mãe do que companheira, não perde a paciência comigo e
vamos indo.
Muita gente poderá perguntar se gente velha como fui ainda precisa de carinho, à maneira de
criança. Mas falam isso enquanto não envelhecerem. Todos trazemos uma criança por dentro de nós
mesmos e a velhice é o melhor tempo dessa criança aparecer.
Não chego ao disparate de afirmar que um velho deve requisitar mamadeira, mas o mingau, sim,
o mingau feito com ingredientes de amor é prato nosso, dos que já atravessaram as grandes
barreiras da idade física. Falamos, por aí, que os idosos são esclerosados, mas isso é engano.
Eles voltam a ser meninos e vocês sabem que o menino habitualmente é o melhor intérprete da
verdade.
(03/05/1986)

ELUCIDAÇÕES

Seis anos se passaram e Carmelo apresenta melhoras que não o satisfazem porque, no seu
entender, o rejuvenescimento já deveria ter ocorrido.
Sua adaptação ao mundo espiritual vai a "passo de tartaruga", segundo ele diz em outra
mensagem, pois, é-lhe exigido um esforço maior do que se sente capaz, devido a características
de sua própria personalidade que o retêm nos impasses, verdadeiros becos sem saída.
Nesta mensagem, que ora comentamos, ele afirma que os amigos espirituais o deixaram mais
livre para se expressar, a fim de mostrar que a teimosia e a indecisão ainda estão arraigadas
nele.
Para quem viveu 86 anos aqui na Terra ao seu próprio modo, sem submeter-se a rotinas,
horários definidos ou à obediência a terceiros, pois sempre trabalhou por conta própria, a
indisciplina tem-lhe sido agora um dos maiores empecilhos no mundo espiritual.
Ao comparar a velhice com a infância, coloca o carinho como alimento indispensável nestas
fases da existência física em interessantes imagens. Conclui dizendo que as crianças são
geralmente melhores intérpretes da verdade. De alguma forma, Carmelo se mostra como um menino
querendo nos dizer que viver no Além não é tão fácil como muitos imaginam. Enquanto meninos,
pensamos nós.

NOVAS NOTÍCIAS INTERCALADAS

O Germano (*), na condição de pai, ainda não achou o famoso descanso que se atribui aos
desencarnados.
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(*) Germano Sestini, patriarca de numerosa família, entre os quais, os filhos citados a
seguir na mensagem; sua esposa, Maria Sestini, também citada, desencarnou em 1985.
A propósito de Germano, encaminhamos o leitor ao livro Vida no Além -- Edição GEEM -- de que é
co-autor espiritual. Também são seus filhos, o co-autor deste livro, Gerson Sestini e D. Hilda,
esposa de Romeu Grisi. (Nota da Editora).
::::::::::
Desde muito tempo luta pela proteção à nossa amiga D. Maria, e os filhos são mais filhos
ainda quando já não temos corpo físico para combinar, parlamentar, conciliar ou brigar até,
pelo bem, se for preciso. Ele vem amparando o Alceu e o Germaninho. Por falar nos dois, ambos
se refazem devagar.
Aqui os remédios são acompanhados por preleções. Eu não gosto de conselhos, porque já sei
que ninguém será corrigido por meus erros. Mas principalmente as preleções do nosso amigo Dr.
Orlando continuam severas.
(09/03/1985)

***
Desejo notificar a vocês que a nossa querida irmã D. Maria Sestini chegou muito bem à Vida
Espiritual.
O Dr. Orlando e o nosso estimado Dr. Radovir presidiram a cirurgia natural do desligamento
de nossa querida amiga que foi mãe dedicada, não apenas dos filhos que deixou no mundo, mas
também de Elvira e de todos nós que somos e seremos sempre devedores da dedicação e carinho que
nos consagrou.
Germano carregou-a nos braços até a ambulância de nosso mundo espiritual, organizada para
trazê-la de volta ao Lar Maior. Ela despertou encantada com o que via e com as afeições que a
esperavam, ao contrário do que sucedeu comigo que até hoje tenho alergia por assuntos
referentes à desencarnação.
(12/10/1985)

***
O Alceu tem melhorado, esforçando-se para cooperar em favor de Itajara (*) e da filha e o
Germaninho continua com alternativas, ora humilde e ora revoltado, querendo o corpo de volta.
::::::::::
(*) Itajara Maria Pimentel Sestini, esposa do Alceu.
::::::::::
Coitado do Germaninho! Ainda acredita que pode retomar o corpo, como quem encomenda a roupa
consertada em alfaiate.
E as mudanças prosseguem. D. Maria Sestini vai muito bem. Trabalha com Elvira na proteção a
espíritos desajustados.

***
Agora veio para a assistência de Elvira a nossa antiga servidora (1). Muito me comovi com a
resignação com que ela aceitou a transferência para cá; entretanto, ela era uma grande pessoa
no fogão e na limpeza da casa e lhe terá sido fácil a ocorrência da desencarnação.
::::::::::
(1) Meres Orlandi, desencarnada em 1988.
::::::::::

***
Tenho pena do Valdinho, atacado pela carência de afeto, com a esposa remanejada para cá (2).
Dizem que tudo isso é vontade de Deus, mas creio no que dizem, esperando que Deus nos acomode
em lugar próprio.
::::::::::
(1) Aracy Aiello Grisi, esposa do filho Valdinho, faleceu em 1987.
::::::::::
Perdoem, se lhes falo assim com essa franqueza. Não podia pôr as mãos postas para aparecer a
vocês na condição de um santo que nunca fui. Deus me auxilie a ser melhor do que sou.
(26/11/1988)

ELUCIDAÇÕES

Temos aqui uma sucessão de apontamentos sobre as famílias Sestini e Grisi, com referência
ainda à desencarnação de uma fiel servidora a elas ligada.
Germano, o patriarca da numerosa família Sestini, desenvolve trabalhos em prol dos seus,
pois, como fora sempre muito ativo e líder natural, continua sendo o mesmo empreendedor na
Pátria Espiritual.
D. Maria, sua esposa, tivera a existência prorrogada por mais doze anos na Terra. Um câncer
na cabeça a teria levado muito antes de Germano partir, mas a doença regrediu e desapareceu,
evidenciando-se um notável caso de cura para o qual se somaram alguns fatores como: mérito,
coragem, medicamentos adequados e constante tratamento espiritual através de passes e água
fluidificada.
Em uma de suas idas a Uberaba, o Chico, rodeado por uma multidão, disse-lhe à distância, em
voz forte:
-- "D. Maria, a senhora está curada, Graças a Deus!"
Os objetivos da cura tinham sido alcançadas, graças ao aval da Espiritualidade Maior.
Nos seus últimos anos, porém, com a idade avançada, D. Maria fora acometida pelo "mal de
Parkinson", o que a fez sofrer bastante, preocupando a todos, parentes e amigos, encarnados e
desencarnados.
Sua passagem para o Plano Espiritual, significou-lhe o justo prêmio para quem cabalmente
cumpriu com abnegação e renúncia os compromissos assumidos junto da família e da Comunidade.

AMIGO DE SEMPRE

Meu caro Romeu e querida Hilda, começo por vocês as minhas saudações. Em seguida temos a
Martha com o Nininho, temos o Carmelinho e o Gerson. E mais os outros amigos, pois a todos
desejo saúde, paz e alegria.
Então Romeu, você pegou uma brasa de nome pleurite e está remando em maré alta. É isso mesmo,
meu filho. Tratar-se e depressa. O corpo físico é semelhante a uma barca no rio da vida ou no
mar das provações. Se uma brecha aparece no casco, é indispensável tampá-la com urgência. O
nosso prezado Dr. Radovir diria tamponá-la, mas fico no meu português fora de Portugal.
Inventamos as palavras conforme as necessidades do momento.
Felizmente, você está muito bem tratado e muito bem paparicado pelos médicos daí e daqui,
com a Hilda de permeio presidindo a formação de caldos que lhe devolvam as forças. Você merece.
Tive a assistência de nossa Aparecida que em muitas ocasiões me servia de mãe; no entanto, o
meu caso não era benigno e tive de largar meu canteiro à força, na horta da vida.
Seus remédios estão muito bem lembrados, e de minha parte apenas acrescentarei que o repouso
possível lhe fará muito bem até que a febrícula não mais apareça. Outra lembrança de que não
devo me esquecer para cooperar em seu bem físico é o uso do mel puro de abelha, diariamente,
por alguns meses, para melhorar os pulmões.
Hoje, não sei em que lugar na Terra o ar não estará poluído. Por isso, lembrar num clima que
se mostre melhor que o de Votuporanga para mim é bobagem. Em qualquer parte da terra de hoje,
você larga a labareda e cai no tição aceso. A providência é confiar em Deus e fazer o que se
faça possível para que a saúde volte à normalidade.
Continuo a penar que para mim seria muito melhor continuar no meu corpo novo. A quem possa
aconselhar faço sempre o aviso. Gente, fiquem por aí mesmo, aproveitando os frutos da Terra e
das alegrias da experiência física, porque morrer não dá camisa para ninguém.
É pena que nossa Aparecida e a nossa Henriqueta não tenham vindo para completar o nosso
plantel de alegrias e boas recordações. Mas sei que a ausência das duas está plenamente
justificada. Nem sempre marido e mulher podem viajar de uma só vez, porque os parentes são
nossos jarros de estimação e se um aparece não nos será possível deixar de prestar-lhe as
honras.
Por aqui, tudo sempre bem. A nossa estimada D. Maria está muito bem acompanhada pelos
tratamentos do Dr. Orlando e pela assistência do nosso Hilário. Em breve estará tão jovem
quanto antigamente, porque noto aqui que as mulheres são mais hábeis para a obediência às
instruções da Vida Espiritual, cumprindo-lhes as determinações, o que não acontece com os
homens, principalmente com um homem de meu naipe, sempre duro de molejo.
O que acontece é que a gente, isto é, nós outros, os homens, vamos ficando para trás, mas
com isso não me importo, porque sei que Deus criou o tempo para todas as vocações.
O Alceu está muito melhor, quase plenamente recuperado, mas o Germaninho não acompanha o
ritmo do irmão. É teimoso, qual me acontece.
Há poucos dias, de visita a ele, em companhia do Hilário, cheguei a lhe dizer: " -- É, rapaz,
você parece mais Grisi do que Sestini", referindo-me a mim mesmo, espírito rebelde e brincalhão.
Ele não gostou da brincadeira e me lançou um olhar de censura. Mas isso não alterou os nossos
assuntos. Ele continuou Germaninho e eu continuei Carmelo.
Do nosso pessoal, quem está na crista da onda em matéria de trabalho é o nosso Dr. Radovir.
Fico imaginando que ele, homem sem religião, está muito à minha frente que seguia as preces de
nossas reuniões com idéias turvas e as palavras bonitas que eu ouvia e transportava para dentro
de mim.
Noto que o nosso Radovir está inclinado aos assuntos da fé, principalmente com tudo o que
tem visto com os próprios olhos, no terreno das obsessões, no entanto, o homem não perde tempo
em conversa vazia.
Os amigos se referem a ele, informando que poderia estar se adaptando a esferas de Vida
Superior, entretanto, ele diz que o lugar dele é ao lado de todos os doentes aos quais possa
prestar auxílio e com isso não dá bolas. Toca o serviço para diante e tem tido a alegria de
rever amigos que lhe admiram as qualidades.
Ainda na semana passada, visitando um amigo na Santa Casa, encontrei-o em conversação com o
Dr. Matheus Júnior e com o Dr. Mendes Pereira.
Os médicos aqui trabalham muito, quando querem. Os que cultivaram a vocação para a medicina
e praticaram-lhe com sinceridade os preceitos, me parecem escravos de obrigações das quais não
se arredam, e como sucede na Terra mesmo, os que não conservaram a vocação, conservam a
malandragem. Entretanto, isso é outra história na qual não desejo entrar. Vamos devagar para
irmos mais longe.
O Radovir me recomendou trazer abraços para a Martha, e para os filhos que a assistem. Desse
modo, o Nininho recebe o abraço fraterno por todos da família.
Ele, o nosso Dr. Radovir, tem ido em companhia de nossa Martha até o sítio e fica encantado
com as flores. Homem de sorte. Não acreditou em Deus, não se ajoelhou nas igrejas e nem
praticou qualquer culto e recebeu uma companheira que lhe oferece flores, para que se encoraje
a trabalhar e a servir sempre mais.
O Gerson merece os nossos parabéns pelo grupo que sustenta no Rio. Olhe que trabalhar na
praia é um esforço muito maior do que aquele que se gasta nas montanhas. Não quero ferir
ninguém, pois isso seria ferir a mim mesmo, no entanto, trabalhar para as obras de Deus num
lugar repleto de beleza e de muita gente com pouca roupa é um sacrifício que merece bênçãos
especiais. Assim penso.
Carmelinho, peço a você abraçar a Henriqueta e a Cida por mim.
Romeu, fique restabelecido depressa e não deixe de valorizar os medicamentos. O negócio é
este: a quem valoriza os remédios, os remédios igualmente valorizam.
Agora é preciso dizer tchau a vocês todos.
Dr. Orlando está em nossa companhia e me lembra que devo parar, sob pena de ser matriculado
no tratado dos chatos. Creiam, porém, que lhes falo com todo o coração de pai e amigo.
A Elvira lhes envia muito carinho e muitas lembranças.
Com as muitas saudades de sempre, peço-lhes desculpas se me esqueci de alguém ou de algum
assunto em que deva tomar parte.
Muito amor e reconhecimento do pai e companheiro, servidor e amigo velho.
(11/01/1986)

ELUCIDAÇÕES

Achamos conveniente reproduzir essa mensagem sem cortes para que o leitor verificasse a
variedade de assuntos insertos em suas cartas do Além.
Mais uma vez Carmelo provoca risos na platéia que ouve atentamente a leitura da mensagem
pelo Chico, ao insistir sobre as vantagens da vida terrena, alertando a quem pudesse interessar
que morrer não dá camisa para ninguém.
Quando Carmelo diz que fica no seu português fora de Portugal, ele apenas ameaça exprimir-se
como sempre o fez: inventar as palavras conforme a necessidade do momento. Em toda sua vida ele
adaptou termos difíceis e palavras estrangeiras ao seu modo, criando, às vezes, dificuldades
para o interlocutor menos avisado. Na obra "Jovens no Além" (*), o lápis de Chico
flexibilizou-se aos termos novos e gírias daqueles espíritos a tal ponto que, em certos trechos,
parecia estarmos lendo em língua paralela ao português. Mas, para Carmelo, este mesmo lápis
procura recolocar suas palavras e frases de maneira a tornar mais claras suas idéias, atendendo
a outros objetivos.
::::::::::
(*) Francisco Cândido Xavier/Caio Ramacciotti -- Ed. GEEM)
::::::::::
Em se referindo ao rejuvenescimento de D. Maria Sestini, que lá chegara há três meses apenas,
nosso amigo traça um paralelo entre homens e mulheres no além, dando vantagem a elas porque
seguem as instruções obedientemente, o que a maioria dos homens, como ele, não consegue, por
serem indisciplinados e pouco flexíveis.

OS SUPOSTOS MORTOS

Eu ainda não me habituei com o meu problema. Elvira é uma santa, protege muita gente, mas eu
não consigo bendizer o meu novo corpo, de vez que não tenho forças para as disciplinas
necessárias.
Diz o Dr. Orlando que o meu corpo aqui ainda está parecendo máquina emperrada pela falta de
coragem com que encaro as transformações às quais devo me habituar para readquirir a minha
antiga forma; no entanto, estou como estava. Sou inimigo de cemitérios e não sei como agiria se
houvesse sido conduzido por vocês às cremações.
Sei apenas que a minha vida foi feita de trabalho duro, para criar vocês, os meus queridos
filhos e não voltei assim tão velho para cá porque ainda me via dono de muita força para
trabalhar.

***
É para vocês observarem: os supostos mortos são iguais aos vivos imaginários. Os vivos
imaginários sabem que vão morrer e parece que ficam satisfeitos em refletir no sono que
precisarão enfrentar; entretanto, lá vem um dia em que exigem o corpo de novo e ei-los
irritadiços e revoltados.
Os supostos mortos, segundo creio, em grande percentagem querem o corpo em que viviam, mas
já não desconhecem que isso é impossível e grande parte não tem outro assunto senão as
reivindicações a que se sentem com direito.
Há dias em que me creio no purgatório de que nos fala a religião tradicional e considero
seriamente a minha posição, mas se sou assim como sou, não posso ser o que os outros querem que
eu seja.

***
Digam a todos que estou no mesmo pé-de-valsa. Rodando sem sair da faixa de espaço que me
serve de residência. Não digam, meus filhos, que a minha teimosia é um mal contra mim mesmo.
Deixem-me na intransigência em que sempre vivi e vamos para a frente. Espero que vocês
atravessem os dois mil e vivam aí por muitos e muitos anos.
(26/11/1988)

ELUCIDAÇÕES

A insistência com que Carmelo fala de seu problema é um aviso, um alerta, com objetivo certo
para atingir o alvo certo: as pessoas inconformadas com a vida. Em nossas idas a Uberaba temos
visto centenas delas, principalmente as que perderam entes queridos: mães e pais desesperados;
avós inconsoláveis; irmãos, namorados e amigos traumatizados e amargurados, todos sofridos,
enfrentando crises existenciais, sem o conhecimento da Doutrina Espírita.
Chegam até ao Chico na esperança de obter uma notícia, uma mensagem que comprove a
existência do ente amado, além da esfera física. E deduzem que sendo isso verdade, gostariam de
estar junto dele, deixar este mundo, depois de ter recebido tão rude golpe, quando amavam tanto
a vida e se sentiam seguros e felizes. Só agora vêem o quanto foram felizes! Agora, depois da
dolorosa separação que lhes traz a sensação do vazio, o vácuo de ser sem o outro ser...
E o Chico, com sua equipe de abnegados colaboradores ouve o clamor de seus corações que
parecem arrebentar de tanta angústia.
Muitos, ao permitir que a Luz do Evangelho lhes banhe a alma sofrida, ali mesmo se acalmam.
Recebem a Boa Nova do Mestre Jesus, pregada e vivida em sua simplicidade por aqueles que
abraçaram o Espiritismo e fazem dele a principal meta de suas vidas. Voltam para as suas
cidades e retornam às suas atividades, fortalecidos e dispostos a enfrentar seus problemas,
pois contam agora com o apoio do Mundo Espiritual e se amparam na Doutrina dos Espíritos, fonte
inesgotável de esclarecimentos e consolações.
Já não são mais "vivos imaginários".
Carmelo compara-se aos supostos mortos. Em tom brincalhão, evidencia, como, aliás, o faz em
todas as suas mensagens, as dificuldades de readaptação no Além.
No entanto, reconhece que é chegado o momento de transferir-se de vez para o Lar Maior onde
vivem Elvira e tantos amigos.
Reintegrar-se aos planos de trabalho, compreender-se melhor, são algumas das tarefas que o
esperam, tão-logo abdique da admitida condição de suposto morto.

Na hora da tempestade as aves experientes não mudam de ninho.
Carmelo Grisi. FÉ, PAZ, AMOR
Volume único
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FÉ, PAZ, AMOR

Homenagem e Gratidão a
Rolando Ramacciotti

Francisco Cândido Xavier
EMMANUEL

Edição GEEM -
Grupo Espírita Emmanuel
Sociedade Civil Editora
Av. Humberto de Alencar
Castelo Branco, 2857
São Bernardo do Campo
São Paulo - Brasil
Caixa Postal 222
CEP. 09701-970
Tel: (0xx11) 4109.71.22

Transcrito da 1ª edição

aBRIL DE 2005

Volume único
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FÉ, PAZ, AMOR

Homenagem e Gratidão a
Rolando Ramacciotti

Francisco Cândido Xavier
EMMANUEL

Transcrição da Divulgação
Braille - CASIMIRO CUNHA
GEEM
Grupo Espírita Emmanuel
São Bernardo do Campo/SP

Venda proibida
Transcrito de acordo com a
Lei 9610 de 19-02-98 de
Direitos Autorais
Título III cap. IV - art. 46
- item I - alinea D

Volume único
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<P>
FÉ, PAZ, AMOR

ÍNDICE

VOLUME ÚNICO
DA PÁGINA 1 A 72

Fé, paz e amor::1
Fé, rogativa e resultado:::4
Êxito:::::::8
Equilíbrio::::::::10
Convicções:::::::::14
Fé e caridade::::17
Faltas ocultas::::::20
Favores::::24
Fadiga e jugo:::28
Experimenta::::::31
Entre chamados e escolhidos::::::::35
Estudando o perdão:::39
Estudando a paz:::42
Em tua aflição::::44
Flagelos:::::47
Diante do mal::::50
Eutanásia e socorro::::53
Fatalidade::::::57
Em casa:::::::61
Em nossas reuniões:::65
Em louvor da bondade cada dia:::68

<T Fé,Paz e Amor>
<T+1>
FÉ, PAZ E AMOR

Leitor amigo:
-- "Que poderemos fazer individualmente para auxiliar ao nosso mundo, atualmente em crise quase
que por toda parte"?
Este é o resumo de várias indagações de amigos ainda vinculados à vida física, ansiando
colaborar no alívio às tensões que, presentemente, assinalam o cotidiano da Terra.

***
Não dispomos de autoridade para indicar essa ou aquela medida, tendentes a elevar o nível de
progresso e espiritualização da coletividade terrestre, entretanto, não ignoramos que o trabalho
é a base de todas as realizações do engrandecimento humano. E sobre semelhante alicerce,
conhecemos a força da cooperação individual em três caminhos que se entrelaçam e se confundem no
mesmo contexto de ação, na conquista da felicidade real para todas as criaturas.
Essas três estradas, acessíveis a cada um dos seres humanos, são as seguintes: a fé, a paz e o
amor.

***
Fé: -- Somos todos compelidos a reconhecer que nos achamos, encarnados e desencarnados, num
mundo que não construímos e que funciona sob leis exatas, suscetíveis de serem analisadas com o
nosso próprio raciocínio. Nessa observação, identificamo-nos no lugar certo para desenvolver a
nossa mente, confiando em Deus, o Criador da Natureza e da Vida e confiando em nós mesmos.
Paz: -- A paz começará de nós próprios, a fim de irradiar-se na direção de quantos nos cerquem
ou convivam conosco, somando-se à paz que os outros exteriorizem, de modo a que a vida, onde
estivermos, possa atingir os domínios da Harmonia que, de futuro, nos regerá os destinos.
Amor: -- Todos os ensinamentos filosóficos estão sintetizados nesta afirmação de Jesus: --
"amai-vos uns aos outros como vos amei".
Amor-compreensão que não espera ser amado por todos os que ainda não nos podem compreender.
Amor-renúncia, de modo a sermos colaboradores da felicidade alheia; amor que abrace todas as
faixas da Natureza, estendendo-se a todos os seres em evolução, do verme aos astros, a fim de nos
integrarmos na Essência de Deus, o Autor do Universo.

***
Note, o amigo leitor, que a verdade fala por si mesma.
Ergamos a moradia espiritual sobre os alicerces do trabalho, de conformidade com os nossos
deveres, e, aprendendo e progredindo, começaremos a nossa edificação sobre os pilares da fé, da
paz e do amor; e, com enorme ganho de tempo, alcançaremos as luzes da Vida Maior.
EMMANUEL
Uberaba, 8 de Janeiro de 1989.

FÉ, ROGATIVA E RESULTADO

Em matéria de fé não te esqueças do esforço na realização que te propões a alcançar.

***
O lavrador confia na colheita, mas para isso, não menospreza o próprio suor no arado laborioso,
permanecendo em atenciosa vigília, desde os problemas da sementeira às equações do celeiro.

***
O arquiteto conta materializar a construção que lhe nasce do gênio criativo, porém, para
atingi-la, vela pela segurança da obra, desde a base ao teto, consciente de que insignificante
erro de cálculo lhe comprometeria o serviço integral.

***
O professor conhece os méritos da escola, mas não ignora a necessidade da própria renúncia na
formação cultural do discípulo, permanecendo na tarefa assistencial, em favor dele, desde o
alfabeto ao título de competência.

***
O operário espera o vencimento mensal que lhe assegura a subsistência, no entanto, sabe que
não pode relaxar os próprios deveres, a fim de que a supervisão do trabalho não o exonere ou
prejudique.

***
Fé que apenas brilhe na palavra vazia ou fé parasitária que somente se equilibra pela
influência alheia, nutrindo-se tão-somente de promessas brilhantes e relegando a outrem as
obrigações que a vida lhe assinala, serão sempre atitudes superficiais daqueles que se
infantilizam à frente das responsabilidades que o Senhor confere a cada um de nós.
Aceitamos o imperativo de nossa própria renovação com o Cristo, se realmente buscamos um clima
de elevação à própria existência.

***
Tracemos nosso ideal superior, utilizando nossas melhores esperanças, todavia, não nos
esqueçamos de transpirar no esforço próprio, doando nossas forças na edificação que pretendemos
buscar, porque a fé em si constitui dinamismo atuante de nossas energias, condicionando à forma e
à natureza de nossas orações ou de nossos desejos, impondo-nos, inevitavelmente, o resultado das
ações que nos são próprias, seja na luz redentora do bem ou na treva escravizante do mal.

ÊXITO

Milhões de pessoas acreditam-se em ascensão ao brilho espetacular do êxito, quando apenas se
enleiam a graves compromissos na sombra.

***
Lançam golpes calculados à economia do próximo, atraindo respeito e admiração no mundo
bancário, organizando, porém, estranha retaguarda de pranto e maldição a entenebrecer-lhes a
rota.

***
Erguem colunas de ouro fácil, das quais muita vez se despenham nos tremedais do crime.

***
Arquitetam escândalos, enlameando vidas alheias, com o aplauso da multidão, porém semeiam
espinhos de aflição para os próprios pés.

***
Aviltam consciências desprevenidas, barateando-as na feira dos sentimentos, para a escalada ao
poder, mas oneram-se em débitos escabrosos que as farão desvairar de arrependimento e de angústia
nos tribunais da Justiça Divina.

***
Toda aquisição sem esforço é caminho para a derrota.

***
Não te coloques, assim, à margem da senda, suplicando orientação para teus passos, quando não
ignoras que somente o dever retamente cumprido é degrau seguro para a verdadeira felicidade, nem
peça triunfo legítimo aos interesses imediatistas que passam no mundo como certas flores do
alvorecer.

***
Lembra-te de que as conquistas substanciais de existência procedem do coração ajustado ao duro
trabalho do próprio burilamento para a Vida Superior e, ao invés de buscar êxito na temporária
fulguração das galerias terrestres, não olvides que a vitória real quase sempre te procura no
semblante aparentemente agressivo das grandes dificuldades, enunciando exigências amargas ou
vestida no pano singelo de um macacão.

EQUILÍBRIO

Recordando o nosso dever de sustentação do corpo e do espírito, atendamos à harmonia por base
de segurança.

***
Nem mesa lauta.

***
Nem prato vazio.

***
Nem excesso.

***
Nem carência.

***
Nem vigília demasiada.

***
Nem repouso constante.

***
Nem prodigalidade.

***
Nem sovinice.

***
É preciso evitar o desvario da fartura para que o abuso não nos entenebreça a razão, tanto
quanto abolir as tentações da miséria que nos induziriam ao furto.

***
Não nos concede o Senhor um corpo entre os homens para menosprezá-lo à feição do lavrador
preguiçoso que abandona o arado à ferrugem, nem nos confere na Terra o estágio da encarnação por
escola do espírito para que o convertamos em curso intensivo de anestesia da consciência.

***
Auxiliar o corpo para que o corpo expresse a alma e iluminar a alma para que a alma o renove e
santifique é o caminho do equilíbrio indispensável à evolução.

***
Assim, se te decides a cultivar algum cilício, no propósito de estender as próprias virtudes,
não te imobilizes nos pensamentos inúteis, mas, sim, verte o próprio suor nas obras da bondade,
amparando os enfermos que as dores desfiguram, fabricando o agasalho aos que choram de frio,
socorrendo o infortúnio em treva e desespero, ou calejando as mãos no auxílio à terra seca,
porque no sacrifício de nossa segurança no amparo ativo aos outros é que surpreenderemos o
trabalho do bem, que ninguém nos pediu e que ninguém nos paga, por resplendente luz a clarear-nos
sempre a rota para o Alto, em plena exaltação do verdadeiro amor.

CONVICÇÕES

Na pressa de fazer triunfar os princípios cristãos, há quem rogue da Esfera Superior
manifestações evidentes, capazes de ferir a atenção do mundo, nele plasmando convicções
indeléveis acerca da Vida Maior.

***
E clamam por materializações espetaculares na praça pública, por sinais
estupefacientes no céu, pela identificação positiva de personalidades desencarnadas, por
testemunhos indiscutíveis da sobrevivência por intervenções no laboratório em favor da cura de
moléstias-enigmas ou por mensagens proféticas que abalem o ânimo das nações.

***
Não percebem, no entanto, que a Providência Divina espalha bênçãos espantosas, em todas as
direções, sem que o homem se detenha, junto delas, para a necessária reflexão.

***
No firmamento, o império das constelações e a beleza solar representam incessantes desafios da
grandeza cósmica à pequenez do raciocínio terrestre e, no chão do Planeta, a gota cromossômica a
converter-se em vestidura carnal no refúgio materno, tanto quanto a semente humilde a
transfigurar-se em árvore veneranda são outros tantos prodígios, reclamando o reconhecimento da
criatura, ante a Bondade do Criador.

***
Entretanto, o homem que dorme na indiferença transita entre as maravilhas que lhe compõem o
educandário, sem dispensar-lhes mínimo apreço.

***
Ninguém quanto Jesus elevou tão alto a linha de fenômenos suscetíveis de revelar os reinos do
espírito e ninguém sofreu tanto a alheia incompreensão.

***
Recordando-lhe o sacrifício por amor à verdade, é fácil reconhecer que a violência não consta
da Lei Divina.

***
Deus que espera o fruto por talento da vida a emergir vagarosamente do tronco robusto, aguarda
igualmente a sublimação da alma, por louro imortal a surgir dela própria.

***
Atendamos, assim, sem descanso, à sementeira do bem, na certeza de que aprendendo e servindo,
na escola dos bons exemplos, é que poderemos fortalecer, uns nos outros, a luz do entendimento e
a constância da fé, o poder do trabalho e a força da razão.

FÉ E CARIDADE

Sem fé, a caridade muita vez se transforma em virtude fragmentária nos caminhos do tempo.

***
Ora luz, ora sombra, hoje auxílio, amanhã reprimenda.

***
Sem a base da confiança, assemelha-se, quase sempre, à planta de raiz frágil que o furacão
arrebata ao solo, convertendo-se em deserto.

***
A bondade, porém, que se mune de fé viva sabe agir em termos de Vida Eterna.

***
Reconhece a maldade por estado de ignorância e dispõe-se a ensinar, sem cansaço e sem queixa.

***
Observa o transviado por doente infeliz e oferece-lhe ao passo o remédio preciso.

***
Sabe, assim, que os irmãos infiéis a si mesmos exigem tolerância e vê que todo mal espera por
silêncio para regenerar-se, ante o brilho da Lei.

***
Saibamos, desse modo, erguer ao bem constante nosso culto diário, convictos de que a morte é
outra face da existência em si mesma.

***
Não vale confiar, desconfiando sempre.

***
Lembremo-nos, assim, de que Cristo de Deus, em sua fé nos homens, renova a cada dia o nosso
vivo ensejo de aprender a servir, e apliquemos em nós esse mesmo padrão de socorro incessante,
perdoando e auxiliando, sem qualquer restrição, porque somente assim, na base da fé pura, que
jamais desfalece, a nossa caridade encontrará na vida o alicerce do amor para a bênção da luz.

FALTAS OCULTAS

De modo geral, o delinqüente confesso sofre, de imediato, a sentença que lhe é cominada
pelos tribunais de justiça, recolhendo-se ao cárcere expiatório ou à penitenciária reeducativa.

***
A pública humilhação do banimento social de que se vê objeto, muita vez, nele sazona os
frutos amargos do remorso, preparando-lhe, em breve tempo, a marcha reparadora.

***
Entretanto, quase todos nós, na experiência da vida física, somos portadores de faltas
ocultas que o magistrado terrestre não conheceu.

***
De permeio com a nossa plantação de esperança e boa vontade, por isso mesmo, ressurgem na
Vida Espiritual, carreando conosco a úlcera escondida de nossa frustração, reclamando remédio e
tratamento.

***
Semelhantes lacunas quase sempre decorrem de antigos desafetos que acalentamos
deliberadamente no instituto doméstico, de tendências inferiores que nada fazemos por extirpar,
de vícios disfarçados que nos deformam o sentimento ou de atos clamorosos de ingratidão ou
injustiça que perpetramos na senda rotineira, na defensiva do próprio orgulho ou na calamitosa
preservação do egoísmo que nos assinala.

***
Com elas projetamos nas existências alheias impactos de enfermidade e desgosto, desânimo e
treva que são debitados à nossa conta.

***
Em verdade, no Mais Além, pelo amparo dos benfeitores prestigiosos que conquistamos, a paz
e a beleza, o reconforto e a alegria tecem o doce ambiente que nos rodeia por fora; todavia,
adentro de nós, a consciência erigida em reto juiz não nos perdoa, convocando-nos à confissão
voluntária, tanto quanto ao pedido urgente de reajuste.

***
É por isso que, muitas vezes, em ampla floração de prosperidade material, na Terra, somos
visitados por moléstias soezes, quando não somos surpreendidos por insucessos e desgostos,
empeços e lágrimas, e é ainda por essa razão que, em plenitude de mocidade, muita vez
conhecemos a morte dos mais belos sonhos e das mais altas aspirações, padecendo contratempos
e dificuldades, a fim de seguir avante em escabrosos trilhos para o futuro.

***
Aproveitemos o tempo na lavoura do bem que nunca desfalece, porque muitos de nós trazemos
da grande retaguarda as chagas imanentes de delinqüência oculta, reclamando-nos hoje o
exercício da caridade incessante e da renúncia sem lindes para que o amanhã alvoreça na
estrada como bênção de Deus sobre o nosso porvir.

FAVORES

A Bondade Infinita de Deus, a expressar-se nas leis que nos regem, doa sempre, auxiliando
aos homens conforme as conveniências da vida.

***
Por isso mesmo, é preciso considerar que entre o Pai que concede e o filho que pede
interpõem-se o merecimento e a necessidade.

***
Ninguém recolhe o bem sem conquistá-lo e ninguém recebe o mal sem atraí-lo.

***
Assim, pois, em qualquer requisição à Providência Divina, recordemos nossa própria situação
à frente dela.

***
Lembremo-nos de que a árvore é amparada pelo pomicultor, a fim de que produza; o animal é
nutrido pela natureza para retribuir-lhe em cooperação. O operário na oficina é contratado
para servir; e o aluno é admitido no educandário a fim de crescer em conhecimento.

***
Assim sendo, antes de endereçar requerimento à Vida Superior, é aconselhável examinemos
qual tem sido o nosso concurso, em benefício da vida, no plano em que nos achamos.

***
Muitos aprendizes da fé recorrem aos Amigos Espirituais, solicitando-lhes auxílio nessas
ou naquelas aquisições de ordem material; entretanto, é imprescindível compreender que os
verdadeiros amigos de nossas almas jamais nos estimularão à preguiça ou à indocilidade, à
teimosia e à negação.

***
Suspeitemos, dessa forma, de qualquer proteção gratuita aos nossos desejos, quando
conscientemente estamos convencidos do nosso dever de renovação e progresso.

***
Tão perigoso é invocar favores delituosos entre os homens, quanto rogá-los no mundo dos
espíritos, porque a ociosidade e a viciação, em toda parte, possuem adoradores e o preço dos
obséquios imerecidos é sempre o compromisso com a sombra extremamente difícil de resgatar.

***
Aceitemos a luta por aprendizado bendito em nosso roteiro de ascensão.

***
Dor, dificuldade, tentação, pobreza, infortúnio, solidão, incompreensão, embaraços e
provas constituem a força da escola em que nos situamos, na qual edificaremos nossa vitória
futura.

***
E, convencidos de que a Lei dá sempre, seja o mofo ao pão inutilmente armazenado ou a
limpidez à fonte que auxilia a todos, procuremos nela, pelo nosso trabalho e por nossa
conduta, o limitado bem de hoje que nos conduzirá ao Infinito Bem de amanhã.

FADIGA E JUGO

Observemos a criatura que, em se julgando vaidosamente livre, se rendeu às sugestões
arrasadoras da cólera...

***
Mobilizando a independência de que se crê detentora, para simplesmente abusar, espalha,
em torno da própria senda, raios sinistros de perturbação e de morte, criando para si mesma
causas obscuras de frustração e aniquilamento.

***
Se houver ferido o companheiro de estrada, sem dúvida complicará o próprio roteiro,
disseminando aflição e amargura que se voltarão, fatalmente, sobre o ponto de origem,
infligindo-lhe angústia e insegurança, a se expressarem nos mais estranhos processos de
enfermidade.

***
Se tiver lacerado seres queridos, decerto terá formado no próprio templo doméstico
braseiros de incompreensão e discórdia a lhe incendiarem a alma, por longo tempo.

***
E, se houver chegado, impensadamente, às raias do crime, condenar-se-á naturalmente à
enxovia, com que a justiça do mundo lhe ferreteará o coração, segregando-a à distância da
liberdade.

***
No símbolo, reconhecemos nossas velhas fadigas de espíritos milenários, enquistados na
treva de nossas próprias fraquezas...

***
Supondo-nos exonerados do dever de auxiliar e compreender, amparar e servir, admitimos
que o mundo deverá surgir como ribalta de nossos próprios caprichos, acabando humilhados
e ensandecidos, sob as algemas cármicas do resgate que a vida nos impõe ainda hoje, em
dolorosos processos de sofrimento.

***
Entretanto, se nos atemos ao jugo leve do Cristo, eis que todo o painel se reajusta e
renova, porque então, voluntariamente submissos ao cumprimento de nossas obrigações,
entenderemos por fim que, seguindo Jesus, perder é ganhar e escravizar-se alguém à
felicidade dos outros é adquirir a própria libertação para a vida Eterna.

EXPERIMENTA

Meu irmão.
Se desejas penetrar a essência divina da dor, alonga o próprio olhar acima do círculo
estreito das tuas cogitações e busca entender os problemas e as necessidades dos outros.

***
Se julgas, coloca-te na posição daquele que se fez objeto de tua apreciação, a fim de
que não sentencies com a leviandade da ignorância.

***
Se te encontras perante algum juiz, pondera a gravidade da missão do homem que aplica
os artigos da lei.

***
Se administras, não esqueças de situar o próprio coração no lugar daquele que te
obedece, para que não decidas, quanto aos processos de tua competência, longe do senso
das proporções.

***
Se te encontras na subalternidade, aprende a sentir as responsabilidades daquele que te
dirige no trabalho, para que te não precipites no resvaladouro da inconsciência.

***
Se te apresentas no corpo masculino, medita nas aflições da mulher, para que não faças
da vida um curso deplorável de animalidade deprimente.

***
Se te envolves na túnica feminina, reflete nos pesados misteres do homem, evitando o
mergulho da própria alma nas superficialidades inúteis.

***
Se guardas um corpo robusto, não olvides o doente, a fim de que a aflição seja menos
inquietante em teu espírito no dia em que fores visitado pela enfermidade.

***
Se te encontras doente, não te revoltes contra as pessoas de saúde relativa que te não
compreendem ainda o sofrimento, para que a exteriorização de tua atitude não seja veneno
mental.

***
Experimenta ver mais longe.

***
No momento em que te colocares na alma do teu semelhante, compreendendo-lhe as dores e
enigmas, haverá no imo de teu coração grande e abençoado espaço para a verdadeira
fraternidade e, então, a dor, de qualquer espécie, surgirá aos teus olhos imortais por
divina luz.

ENTRE CHAMADOS E ESCOLHIDOS

Apreciando aquele ensinamento dos "chamados e escolhidos", a destacar-se da palavra do
senhor, nas lições do Evangelho, mentalizemos o assunto, transferindo-o a uma oficina
terrestre.
Em favor da produção de serviço, são aí admitidos colaboradores de variada procedência,
escalonados em classes diversas.

***
Todos são chamados pela obra a fazer, a fim de conjugarem esforços dentro das
finalidades da instituição a que se ajustam.

***
Entretanto, raros se portam à altura dos compromissos que assumem.
Muitos deles devoram o tempo, renovando indagações incessantes acerca dos problemas
comezinhos da casa, a pretexto de recolherem esclarecimentos e diretrizes.
São os servos ociosos.

***
Outros muitos confiam-se à irascibilidade e à cólera, arrojando de si os fluidos
empestados da indisciplina com que espalham o fogo da rebelião e o gelo do desânimo,
anulando máquinas e desencorajando os companheiros.
São os servos revoltados.

***
Muitos ainda entregam-se ao culto da lisonja, abandonando as obrigações que lhes cabem,
para tecerem elogios venenosos à pessoa dos dirigentes, com o fim de lhes subornarem a
consciência, à cata de vantagens materiais.
São os servos bajuladores.

***
Muitos se refugiam nos programas extensos, salientando o futuro com discursos
brilhantes, nos quais se reportam a imaginárias realizações, abominando os deveres
humildes que consideram indignos da inteligência que lhes é própria.
São os servos inoperantes.

***
Mas há um tipo de cooperador que indaga pouco e age muito, que cultua a dignidade pessoal
sem descer aos desvarios do orgulho, que sustenta o respeito devido à ordem sem se render à
adulação e que traça diretivas de trabalho para cumpri-las, cada dia, ao preço do próprio
amor e da própria renúncia.
Servos desses são aqueles que o serviço elege por seus diretores, sem qualquer recurso a
caprichos particulares.

***
Assim, para que te faças escolhido como sustentáculo na obra da luz e do amor, não basta
te consagres a longas plataformas verbais ou a preciosas promessas da boca, vazias de
substância e sentido.

***
Antes de tudo, é imprescindível saibamos escolher a própria luz e o próprio amor como
normas de nossa vida, porque assim, através do constante serviço aos outros, edificaremos o
verdadeiro serviço a nós mesmos em abençoada e permanente ascensão.

ESTUDANDO O PERDÃO

O Pai Excelso esculpiu potencialmente na alma de todos os Seus filhos a beleza e a
sublimidade da Sua Lei a expressar-se não somente em Amor Infinito para todos os seres, mas
igualmente em dignidade para todas as criaturas.

***
Em razão disso, a Misericórdia Divina atende a múltiplos meios de auxílio, desdobrando-os
em favor dos espíritos sofredores e transviados, promovendo a criação de obstáculos que
refazem a esperança, de lutas que desenvolvem faculdades entorpecidas, de aflições que
impulsionam a procura da paz e de dores que recuperam e reeducam; todavia, o entendimento
mais obtuso e a sensibilidade mais empedernida em acordando, um dia, para a realidade,
contemplam a si mesmos e suspiram pela respeitabilidade espiritual que legitima o selo da
elevação...

***
E o primeiro impulso que lhes orienta o novo roteiro é justamente aquele do homem
irrepreensível que busca o resgate dos próprios débitos, levantando o caráter perante a luz.

***
Ainda mesmo que a dívida lhes reclame séculos de tormento, ao tormento se entregam,
renovados e confiantes, na certeza de que o tempo, como graça de Deus, lhes facultará
possibilidade e socorro para que se refaçam.

***
O perdão, na vida, qual ocorre na organização bancária do mundo, será empréstimo de
recursos, moratória benevolente, reforma de compromissos e aval generoso e nobre, com bases
na solidariedade e na tolerância, porque, em verdade pura, consciência nenhuma, quando
voltada ao bem, deseja inocentar-se e, agora, hoje ou amanhã, consagra-se a pagar seus
débitos no mundo para reerguer-se, limpa, ante a Justiça Eterna que coroa de luz quem lavou,
por fim, o mal das suas próprias contas, em ceitil por ceitil.

ESTUDANDO A PAZ

Muita gente escuta referência à paz, acalentando a volúpia da grande preguiça.

***
E semelhantes ouvintes, desavisados e inconseqüentes, mentalizando alegria e consolação,
imaginam fortunas fáceis e aposentadorias rendosas, heranças polpudas e gratificações
vitalícias.

***
Aspirando, porém, o conforto da lesma, esquecem-se de que toda ociosidade quase sempre é
calmaria da podridão.

***
Lembrando a palavra do senhor nos ensinamentos do monte, assinalamos que todos os corações
pacíficos, associados ao seu ministério de redenção, em verdade, não conheceram a imobilidade
na Terra.

***
Os companheiros diretos da Boa Nova, após testemunhos dilacerantes de fé, expiraram em
postes de martírio ou lapidados na praça pública entre zombaria e sarcasmo da multidão. E
muitos daqueles mesmos que ouviram do Mestre a promessa de felicidade para o fim do trabalho
rude partiram da Terra, sob escabrosas perseguições, sem contar que Ele próprio, o Cristo de
Deus, depois de sacrifícios ingentes a benefício de todos, foi içado no madeiro, sem qualquer
nota de tranqüilidade exterior a asserenar-lhe a morte.

***
Não te esqueças, desse modo, de que a paz verdadeira verte da ação constante no Bem Eterno,
sem reclamação e sem amargura, porque à feição do grande equilíbrio que mora no imo da esfera
em movimento a sustentar o trabalho ou a vida, a paz brilhará no recesso de nossas almas
sempre que nos consagremos a exaltar e servir à Bênção do amor de Deus.

EM TUA AFLIÇÃO

Guarda cuidado, nas horas de aflição, para que as tuas lágrimas de sofrimento não se
convertam em óleo de egoísmo, incandescido nas chamas do desespero, a incendiar-te o caminho.

***
Lembra-te dos que jornadearam na Terra antes de ti e recorda que outros viajarão amanhã no
sulco de teus passos para que a serenidade e a confiança te abençoem a existência.

***
Nos instantes de inconformação e de dor, lança breve olhar à retaguarda e reflete na
angústia dos que caminham, dentro da noite, sem esperança...

***
Observa os que jazem na sombra da cegueira, os que se tresmalham nas trevas da loucura, os
que foram mutilados ao nascer...

***
Medita naqueles que ainda hoje não dispuseram de pão para sossegar o estômago atormentado,
que não puderam conciliar o sono sob as garras da inquietação ou que agonizam fora do lar,
sequiosos da assistência e do afeto que lhes faltaram à vida...

***
Não te detenhas, na revolta ou no desânimo, já que possuis cérebro para raciocinar com
segurança, olhos para enxergar a paisagem, verbo para tecer a caridade e o consolo das mãos
para auxiliar...

***
Não olvides que as aflições irremediáveis emudecem o coração, impedindo, muitas vezes, a
própria palavra naqueles que lhes padecem o insulto.

***
E, fazendo da própria luta o aprendizado bendito que Deus te concede, transforma a tua
aflição menor, que ainda pode clamar e definir-se, queixar-se e estender-se, em sublime passo
de entendimento para que te faças mais útil aos que sofrem mais que ti mesmo, assimilando do
Senhor a lição inolvidável do sacrifício e da renúncia, através da qual, diante da flagelação
e da morte, converteu a própria cruz num poema de bem-aventurança e vida imperecível.

FLAGELOS

Ante as calamidades que afligem a natureza, gerando o espetáculo deprimente das provações
coletivas, não te esqueças daquele mundo vivo que somos nós mesmos, governado por leis que não
poderemos trair.

***
Lembra-te de que todos os nossos desacertos na luta e deserções do dever representam
deplorável plantação de males em nossa rota.

***
A rendição ao vício e o culto da crueldade criam espessas nuvens de treva em torno de nossos
passos a rebentarem depois, em temporais de lágrimas, que valem por destruidoras convulsões em
nosso campo íntimo.

***
É por isso que a experiência atual para nós outros permanece juncada pelos destroços de ontem,
quando a nossa invigilância favoreceu na estrada que nos é própria os flagelos morais que hoje
nos patrocinam as dificuldades e os sofrimentos.

***
Os obstáculos do templo familiar, os impedimentos afetivos, os espinheiros profissionais e os
tremendos conflitos interiores que nos assomam à vida constituem dolorosas reminiscências dos
cataclismos da alma que nós mesmos criamos.

***
Regeneremos, assim, o destino, suportando com heroísmo e serenidade o inquietante reajuste de
agora.

***
Achamo-nos à frente do passado que ainda vive em nós, e, se nos propomos alcançar o futuro de
firmamento sem sombra em que desejamos viver, saibamos carregar a cruz de provas e inibições que
nós mesmos talhamos, a fim de que, com ela e por ela, possamos proclamar perante a lei o nosso
justo resgate, garantindo, dessa forma, a posse de nossa verdadeira libertação.

DIANTE DO MAL

Diante do campo surpreendido pelo fogo, o amigo da terra, compreendendo o valor da plantação
que o mundo lhe confia, usa recursos numerosos para combater a devastação.

***
É a faixa isolante, limitando a chama devoradora.

***
É a projeção de água simples, com o intuito de abortar os impulsos do incêndio.

***
É a areia abafante, destinada a apagar a labareda tocada de violência.

***
A manifestação do mal é fogo na região em que os Desígnios Divinos situaram a nossa
existência.

***
Oferecer-lhe bases de sustentação, através do ódio e da vingança, da reação e da discórdia, da
antipatia cultivada e da maledicência, seria perpetuar-lhe a marcha de arrasamento.

***
Auxiliemos, assim, aos que nos rodeiam.

***
O ensinamento do Cristo resulta de princípio matemático, dentro da lei de reciprocidade.

***
Não eliminaremos o foco infeccioso, favorecendo-lhe a cultura.

***
Silenciemos diante daqueles que nos ofendem, trabalhemos em benefício dos que nos desajudam,
amparemos a quem nos perturba e amemos, com positivas demonstrações de boa vontade, aos que nos
perseguem ou caluniam...

***
Somente assim estaremos ajustando as colunas da verdadeira fraternidade, na construção do
Reino do Senhor, na Terra, de vez que o Espiritismo Cristão é amor, fazendo sempre o melhor, na
elevação e no aprimoramento da Vida e da Humanidade.

EUTANÁSIA E SOCORRO

A eutanásia, ainda mesmo quando praticada em nome do amor, será sempre deplorável intromissão
da ciência humana nos processos instituídos pela Sabedoria Divina, em favor da recuperação ou do
aprimoramento da alma.

***
Que dizer do artista que nas vésperas do término da obra-prima aniquilasse a peça inacabada, a
pretexto de compaixão pelo mármore ferido?

***
Como interpretar o lavrador que destruísse a árvore benfeitora, pronta a mitigar-lhe a fome,
sob a alegação de que o tronco se desenvolveu tortuosamente, em desacordo com a elegância dos
demais exemplares da espécie?

***
A existência na carne é recurso da Providência Divina, a benefício de nosso reajuste, à frente
das Leis Eternas.

***
Muitas vezes, o câncer é o meio de expungir as trevas que povoam o coração, impedindo-lhe
maior entendimento da vida.

***
Em muitas ocasiões, a cegueira irremediável é a restauração da consciência embotada de ontem
para o amanhã que lhe sorrirá repleto de luz.

***
Freqüentemente, a lepra do corpo é medicação redentora da alma faminta da paz e do
reequilíbrio que apenas conseguirá em se banhando na fonte lustral do sofrimento.

***
A paralisia e a loucura, o pênfigo e a tuberculose, a idiotia e a mutilação, quase sempre,
funcionam por abençoado corretivo, em socorro do espírito que a culpa ensandeceu ou ensombrou na
provação expiatória.

***
Assim sendo, passemos amando e auxiliando aos que nos cercam, na estrada que fomos chamados a
percorrer.

***
Respeitemos a dor como instrutora das almas e, sem vacilações ou indagações descabidas,
amparemos quantos lhe experimentam a presença constrangedora e educativa.

***
Auxiliemos sem perguntas pelos méritos daqueles que se constituirão tutelados de nosso
devotamento e carinho, de vez que a todos nós, espíritos endividados e em processo de
purificação, diante da Lei, compete tão-somente o dever de servir, porquanto a Justiça, em última
instância, pertence a Deus que distribui conosco o alívio e a aflição, a saúde e a enfermidade,
a vida e a morte, no momento oportuno.

FATALIDADE

A fatalidade do mal é sempre uma criação devida a nós mesmos, gerando, em nosso prejuízo, a
provação expiatória, em torno da qual passamos compulsoriamente a gravitar.

***
Semelhante afirmativa dispensa qualquer discussão filosófica, pela simplicidade com que será
justo averiguar-lhe o acerto, nas mais comezinhas atividades da vida comum.

***
Uma conta esposada naturalmente é um laço moral tecido pelo devedor à frente do credor,
impondo-lhe a obrigação do resgate.

***
Um templo doméstico entregue ao lixo sistemático transformar-se-á com certeza num depósito de
micróbios e detritos, determinando a multiplicação de núcleos infecciosos de enfermidade e morte.

***
Um campo confiado ao império da erva daninha converter-se-á, sem dúvida, na moradia de vermes
insaciáveis, compelindo o lavrador a maior sacrifício na recuperação oportuna.

***
Assim ocorre em nosso esforço cotidiano.

***
Não precisamos remontar a existências passadas para sondar a nossa cultura de desequilíbrio e
sofrimento.

***
Auscultemos a nossa peregrinação de cada dia.

***
Em cada passo, quando marchamos no mundo ao sabor do egoísmo e da invigilância, geramos nos
companheiros de experiência as mais difíceis posições morais contra nós.

***
Aqui, é a nossa preguiça, atraindo em nosso desfavor a indiferença dos missionários do
trabalho; ali, é a nossa palavra agressiva ou impensada, coagulando a aversão e o temor ao redor
de nossa presença.

***
Acolá, é o gesto de incompreensão provocando a tristeza e o desânimo nos corações interessados
em nosso progresso; e, mais além, é a própria inconstância no bem, sintonizando-nos com os
agentes do mal...

***
Lembremo-nos de que os efeitos se expressarão segundo as causas e alteremos o jogo das
circunstâncias, em nossa luta evolutiva, desenvolvendo, conosco e em torno de nós, a mais elevada
plantação de amor e serviço, devotamento e boa vontade.

***
"Acharás o que procuras", disse-nos o Senhor.
E, em cada instante de nossa vida, estamos recolhendo o que semeamos, dependendo da nossa
sementeira de hoje a colheita melhor de amanhã.

EM CASA

O templo doméstico é uma bênção do Céu na Terra, porque dentro dele é possível realizar o
verdadeiro trabalho da santificação.

***
Aí temos o valioso passadiço da alma, em trânsito para as Esferas Superiores.

***
Nesse divino corredor para a Vida Celestial, a criatura encontra todos os processos de
regeneração, de modo a aperfeiçoar-se devidamente.

***
É na consangüinidade, quase sempre, que o homem recebe as mais puras afeições, mas é
igualmente nela que reencontra as suas aversões mais profundas.

***
Nossa alma é arrojada à organização familiar; no mundo, assim como o metal inferior é
precipitado ao cadinho fervente.

***
Precisamos suportar a tensão elevada do clima em que estagiamos, a fim de apurar as nossas
qualidades mais nobres.

***
Não vale fugir ou rebelar-se.

***
Retroceder seria retornar às sombras do passado e indisciplinar-se equivaleria relegar ao
amanhã abençoadas realizações que o Senhor espera de nossa boa vontade ainda hoje.

***
Saibamos, assim, usar a prece e a serenidade, a compreensão e a tolerância, se desejamos
reduzir o tempo do nosso curso educativo na recuperação espiritual.

***
Com alguns, aprendemos a servir valorosamente a muitos.

***
Redimindo-nos perante o adversário de ontem, nosso coração vitorioso circulará no grande
entendimento da Humanidade.

***
Se encontraste, em casa, o campo de batalha, em que te sentes compelido a graves indenizações
do pretérito, não te detenhas na hesitação ou na dúvida!

***
Suporta os conflitos indispensáveis à própria redenção, com o valor moral do soldado que
carrega o fardo da própria responsabilidade, enquanto se desenvolve a guerra a que foi trazido.

***
Não te esqueças de que o lar é o espelho, onde o mundo contempla o teu perfil e, por isso
mesmo, intrépidos e tranqüilos nos compromissos esposados, saibamos enobrecê-lo e santificá-lo.

EM NOSSAS REUNIÕES

Meus amigos, muita paz.
Em nossas reuniões espíritas, saibamos oferecer à plantação do bem as nossas vibrações de
alegria e esperança.

***
Nunca nos cansaremos de induzir-vos à cooperação e à fraternidade.

***
Qual acontece num agrupamento social da Terra, devemos trazer ao nosso intercâmbio
contentamento e harmonia, fé robusta e otimismo incansável.

***
O trabalho de uma sessão espírita é a soma das necessidades dos companheiros que a integram.

***
Problemas difíceis reclamam atenção.

***
Moléstias graves pedem assistência.

***
Tarefas de educação exigem devotamento e carinho.

***
A tristeza e o cansaço não servem para emoldurar o quadro das honrosas obrigações com que
Jesus nos distingue.

***
Busquemos, desse modo, em nosso trabalho de socorro e oração, os alicerces da luz que pode
irradiar-se de nossa alma, em emissões verbais de consolo e edificação.

***
Ninguém é tão pobre que não possa dar ao irmão de luta algumas palavras de bom ânimo.

***
Nossos cultos de espiritualidade superior esperam por vosso óbolo de boa vontade.

***
O "vintém da viúva" não é somente aquela moedinha singela que celebrizou uma pobre mulher no
Templo de Jerusalém. É também nossa frase de colaboração nas boas obras, nossa migalha de esforço
no auxílio ao próximo, nosso sorriso de compreensão ainda mesmo quando nos achemos fatigados...

***
Auxiliai a nossa comunicação convosco para que vibre entre nós o entusiasmo de servir.

***
Somos também necessitados do vosso concurso construtivo e, contando sempre com a vossa esmola
generosa de solidariedade no dever a cumprir, rogamos ao Senhor nos ilumine e abençoe.

EM LOUVOR DA BONDADE CADA DIA

Se a sabedoria popular situou na Terra o culto da fraternidade no primeiro dia de cada ano não
nos esqueçamos de que a Lei do Senhor nos induz a procurar a bondade para o alicerce das nossas
horas de cada dia.

***
Quem se confia ao luxo de sustentar adversários, tece a rede em que se lhe paralisam as
concepções e em que se lhe estagnam os sentimentos.

***
A natureza sempre sábia oferece-nos em seus mínimos departamentos a lição de interdependência
e de tolerância para que a vida alcance os elevados fins a que se dirige.

***
Se a semente hostilizasse a cova que lhe subtrai a vida da claridade solar, a mesa não
receberia a bênção do pão.

***
Se o solo recusasse o concurso da lâmina que o fere, a esterilidade converteria o campo num
imenso deserto.

***
Se a madeira guerreasse a enxó que lhe aplaina as arestas, desapareceriam as comodidades da
civilização.

***
Se a atmosfera duelasse com a tempestade, o ar não se purificaria.

***
É indispensável receber os atritos da existência e suportá-los com humildade heróica, se nos
achamos realmente interessados na aquisição de progresso efetivo.

***
E semelhantes atritos, de mil modos diferentes, nos atingem as tarefas diárias, na
interferência, na opinião, na visita ou no conceito daqueles que, de pronto, ainda não nos podem
compreender.

***
Reconheçamos que nem todos conseguem observar o mundo e a vida pelos nossos olhos ou pelo
nosso modo de ser.

***
Cada criatura se caracteriza pelo degrau evolutivo em que temporariamente estagia.

***
Assim sendo, busquemos o Cristo para confidente de nossas inclinações afetivas, orientador de
nossos trabalhos, juiz de nossos sentimentos, companheiro de nossa jornada e, nas expressões do
amor, do serviço, do ideal e da luta a que somos chamados cada hora, tê-lo-emos por Mestre
Infalível e por Amigo Generoso a garantir a paz por luz sublime em nós mesmos.

***
Fazer inimigos é leviandade que devemos corrigir.

***
Cultivá-los é loucura capaz de arrojar-nos a sinistros despenhadeiros.

***
Começando cada Ano Novo sob o signo da fraternidade, atendamos com o Senhor à necessidade de
sermos melhores, uns para com os outros, no transcurso de cada dia.FILHOS VOLTANDO
Volume único
<P>
<P>
FILHOS VOLTANDO

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
Caio Ramacciotti
Pelos Espíritos de
José Roberto Pereira da Silva
José Roberto Pereira Cassiano
Homenagem e gratidão à Rolando Mário Ramacciotti.

Edição GEEM -
Grupo Espírita Emmanuel
Sociedade Civil Editora
Av. Humberto de Alencar
Castelo Branco, 2857
São Bernardo do Campo
São Paulo - Brasil
Caixa Postal 222
CEP. 09701-970
Tel: (0xx11) 4109.71.22

Transcrito da 5ª edição
Fevereiro de 2005
Volume único
<P>
<P>
FILHOS VOLTANDO

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
Caio Ramacciotti
Pelos Espíritos de
José Roberto Pereira da Silva
José Roberto Pereira Cassiano
Homenagem e gratidão à Rolando Mário Ramacciotti.

Transcrição da Divulgação
Braille - CASIMIRO CUNHA
GEEM
Grupo Espírita Emmanuel
São Bernardo do Campo/SP

Venda proibida
Transcrito de acordo com a
Lei 9610 de 19-02-98 de
Direitos Autorais
Título III cap. IV - art. 46
- item I - alinea D
Volume único
<P>
<P>
FILHOS VOLTANDO

índice - Geral

Volume único
Da página 1 a 165

Prefácio:::::::::1
ApresentaçãO::::::2
José Roberto Pereira da SilvA:::::::5
ElucidaçãO:::::::9
I:::::::::::::::::10
Considerações complementares::::::::23
II:::::::::::25
III::::::::::27
IV::::::::::29
V:::::::::::31
VI::::::::::::46
VII:::::::::::::52
VIII::::::::::54
IX::::::::::63
X:::::::::::66
XI::::::::::72
XII:::::::::73
XIII:::::::::75
XIV::::::::::78
José Roberto Pereira Cassiano::::::::81
I::::::::::::::85
Esclarecimentos::::98
II::::::::::::100
III::::::::::114
IV::::::::::117
V:::::::::::::120
VI::::::::::::133
VII:::::::::137
VIII:::::::::143
IX::::::::::::148
X:::::::::::::149
Esclarecimentos:::156
XI::::::::::157
XII:::::::::160
<T Filhos Voltando>
<T+1>

FILHOS VOLTANDO

Prezado leitor,
As páginas deste livro acendem a luz da consolação e da alegria nas sombras da saudade de
quantos reencontram entes queridos, depois de ausência que se supunha definitiva.
É que, neste volume despretensioso, surgem as notícias de filhos queridos, voltando ao lar,
após a separação pela morte, entretecendo poemas de ternura e reconhecimento, junto aos pais
saudosos que os recolhem nos braços, em espírito, e, em seguida, permitem que o reconforto e a
esperança, por eles haurido nestas mensagens de paz e amor, se estendam a corações outros que a
morte envolveu no sofrimento.
Filhos voltando!...
Que eles possam falar-te, igualmente, leitor amigo, da bondade infinita do Senhor e da
imortalidade da alma, ampliando-te o júbilo de servir e a compreensão da importância de viver,
são os nossos votos.
Emmanuel.
Uberaba, 28 de fevereiro de 1982.


Natal em 1981.
Em tranqüila estância do interior paulista, acompanhávamos os derradeiros momentos do dia
que findava, contemplando através da ramaria de pequeno bosque de pinheiros, as cambiantes do
poente, enquanto Vênus -- a estrela Vésper -- enviava-nos sua plácida claridade, qual pegureiro
de luz a ensinar-nos o caminho dos Céus...
E com as atenções voltadas para este livro, na época em fase final de estruturação, deixamos
o pensamento volitar em torno da quietude daquela tarde serena, povoando-nos instintivamente a
memória a lembrança de companheiros que já partiram para a Vida Maior, quais os Betos, autores
espirituais deste livro, com quem mantivemos, então, longos diálogos, apenas testemunhados pelo
vento suave que acariciava a tarde, envolvendo o casario que se aboletava por entre as fraldas
das colinas da pequena cidade.
Ao recordar os valorosos rapazes, que conhecemos através de seus pais e das mensagens que
você, leitor amigo, acompanhará nas páginas que se seguem, melhor pudemos compreender a
grandeza da Vida e da Misericórdia de Jesus, claramente manifestas nas palavras de nossos
queridos jovens, José Roberto Pereira da Silva e José Roberto Pereira Cassiano -- os Betos --
tão fielmente anotadas pela pena mediúnica de Chico Xavier.
"Mamãe, a saudade não é uma provação, é um convite de Deus para trabalharmos com mais
dedicação pelos que suportam, dificuldades maiores que as nossas..." Ou então: "Deus existe e a
alma é imortal! A morte é alteração da forma, alteração apenas e nós todos estamos reunidos em
Deus, conquanto a separação aparente...", são frases esparsas que retiramos ao texto
psicografado, para que o leitor compreenda a dimensão espiritual e o carinho do recado dos
Betos aos pais.
Por isso mesmo, pais saudosos da perda de filhos diletos, temos plena convicção de que este
livro os envolverá na mesma atmosfera de júbilo e bênçãos espirituais que nos cercou e também
cremos sinceramente que lhes trará ao espírito a certeza de que os filhos amados que partiram
para o Mundo Espiritual se encontram tão próximos de vocês, como se encontravam quando ainda na
Terra.
Enxuguem as abençoadas lágrimas da saudade, pois Jesus fará o resto. Dar-lhes-á a paz por
que tanto anseiam e falar-lhes-á ao coração que os filhos queridos não morreram e sim
renasceram para a Vida Imperecível.
Caio Ramacciotti.
São Bernardo do Campo, 28 de fevereiro de 1982.


José Roberto Pereira da Silva nasceu em São Paulo -- SP, no dia 6 de agosto de 1953. Filho
de Nery Pereira da Silva e Lucy Ianez da Silva, cursava o 1º ano de Medicina em Mogi das Cruzes,
cidade próxima da capital paulista, quando faleceu no acidente envolvendo o trem que, rumo de
Mogi, conduzia sobretudo universitários, na manhã de 8 de junho de 1972. Contava, ao
desencarnar, 19 anos.
A primeira mensagem do Beto, como era chamado, foi recebida por Francisco Cândido Xavier,
pouco mais de um ano depois, no dia 29 de setembro de 1973.
Perguntamos a seus pais, Nery e Dona Lucy, a respeito do modo pelo qual receberam o recado
do filho, através do Chico, do significado da primeira e das demais mensagens psicografadas
pelo querido médium.
Literalmente, assim se expressou D. Lucy:
"Desesperada de dor, através de vizinha amiga, conheci D. Yolanda Cezar que me levou a
Uberaba para falar com Chico Xavier. Isto quase um ano após a morte do Beto.
Voltei a Uberaba por mais duas vezes e na terceira viagem, manhã de 29 de setembro de 1973,
nosso querido Beto se manifestou.
Não sei como resisti, pois nunca poderia imaginar que, através das mãos benditas de nosso
Chico Xavier, viessem tantas provas juntas, mostrando-nos que era meu filho mesmo quem escrevia.
Ao voltar de Uberaba, com a mensagem que para mim representava um tesouro, de pronto a li
para meu marido que desde as primeiras palavras ficou muito emocionado e surpreso, pois aquelas
páginas eram de irretorquível autenticidade. "É mesmo nosso filho!", dizia meu marido.
Então, nossa vida começou a mudar. A noite do desespero e do sofrimento, difíceis de
descrever, começava a dar espaço às primeiras claridades da manhã.
Evidentemente as viagens a Uberaba agora se intensificavam; o contato com Chico e os recados
do Beto davam-nos sempre mais forças, coragem e ânimo para viver.
Hoje, entendemos que nosso filho nos foi emprestado por Jesus pelo prazo de 19 anos, mas
continuamos juntos espiritualmente, mais juntos mesmo do que antes, embora de outra forma. Deus
não se afasta de nós, a vida continua e seguiremos para a grande alegria de nosso reencontro".

ELUCIDAÇÃO

Sexto livro da COLEÇÃO JOVENS NO ALÉM, FILHOS VOLTANDO é um tanto diferente dos outros
volumes que a compõem.
E a diferença consiste justamente na principal característica desta obra: a seqüência dos
recados dos dois Betos, ora extensos e plenos de revelações, ora mais curtos, à feição de
bilhetes, traduz um contato do filho desencarnado com os pais, estabelecido ao longo de oito e
seis anos, respectivamente por José Roberto Pereira da Silva e José Roberto Pereira Cassiano.
E, em virtude desse dilatado tempo, através de numerosas mensagens, podemos observar que o
relacionamento entre pais e filhos, por via mediúnica, se estabelece, à maneira de freqüente
correspondência epistolar que se vai tornando, com o passar do tempo, menos cerimoniosa, mais
descontraída e alegre.

I

Querida mamãe, peço a sua bênção comigo.
Dizer o que sinto agora, querida Mamãe, é impossível. Quem conseguirá descrever o que se
sente entre duas vidas?
Eu não sei o que fazer nesta hora em que nos revemos assim, através das letras que seu filho
vai escrevendo com o coração nos dedos, amparado pelas mãos de amigos e benfeitores que nos
protegem.
O papel aqui me parece um espelho em que meu pensamento se reflete...
Entretanto, Mãezinha, o papel não retrata as lágrimas. As lágrimas de alegria e de gratidão
que elevo a Jesus, agradecendo estes minutos de escrita.
Receba, porém, todos os melhores sentimentos de seu filho, nestas frases que vou
transmitindo às páginas, sem cogitar de saber com exatidão, como vou registrando o que sinto...
Não chore mais, Mãezinha, e peça ao querido Papai me auxilie com a fortaleza que ele vai
reconstruindo pouco a pouco...
Desde aquela manhã final de 8 de junho (1) a saudade ficou mesmo entre nós, mas o amor
cresceu e cresce cada vez mais. E é no amor que vivemos, porque o amor é a presença de Deus.
::::::::::
(1) 8 de junho de 1972, data do acidente em que Beto faleceu.
::::::::::
Ajudem-me. Não lastimem mais a partida inesperada do filho que desejaria ter ficado...
Entretanto, a lei de Deus sabe mais que os nossos desejos. Se pudesse, teria permanecido,
permanecido sempre, até que pudéssemos avançar todos juntos no tempo, sem separação e sem morte.
Não creiam que o sofrimento do adeus não está igualmente aqui...
Estamos vivos e quase felizes, mas é preciso lembrar que este quase é a lâmina que a saudade
significa em nosso coração firme na fé.
Estamos contentes e renovados, mas a despedida dói mais, porque o pranto dos que amamos é
chuva de aflições sobre nós.
Lembro, Mãezinha querida, o Papai trabalhando para entesourar os recursos diante do futuro.
Lembro-me de que ele me pedia dar toda a atenção aos estudos, enquanto ele sonhava com um
hospital em que a Medicina me aguardasse, para cumprir encargos de amor ao pé dos doentes...
Rogo a ele que não desanime, nem se canse... Além de nossa querida Sandra, (2) temos outros
corações para auxiliar. Os companheiros que ficaram, que lutam, que estudam e que esperam dias
melhores no Amanhã da Vida, contam igualmente conosco.
::::::::::
(2) Sua irmã, Sandra Maria Pereira da Silva.
::::::::::
Rogo ao papai não esmorecer, porque precisamos continuar... Continuar para valorizar o tempo
e os recursos que o Alto nos concedeu...
Tenho sofrido bastante com as inquietações dos familiares queridos.
Não fosse isso, Mãezinha, e tudo estaria melhor.
Não pensem -- mas não pensem mesmo -- em mim à maneira de alguém que fosse esmagado pelo
acidente. O que se perdeu foi um retrato -- um retrato que um dia, em verdade, deveria
desaparecer. Eu mesmo estou forte, reanimado, para que vivam e lutem pelo bem de nós todos.
Papai, escute o meu grito.
Não morri, não!
Trabalhe, meu pai, guarde o seu ânimo de homem de bem. Não queira morrer para reencontrar-me,
porque eu prossigo vivendo para reencontrá-lo, a cada dia, mais encorajado para a luta em favor
do bem.
Não me procure chorando e clamando por mim, no recanto de terra, onde meu retrato ficou
arquivado!
Agradeço o seu carinho, meu querido pai, suas preces e suas manifestações de amor, e peço a
Deus lhe recompense a abnegação, mas não procure por seu filho a pedir com tanta dor para que a
nossa dor necessária não exista.
O tempo com a bênção de Deus nos ajudará.
Rogo-lhe viver e viver criando felicidade e progresso para nós todos.
O trem de Mogi, no dia 8 de junho do ano passado, não trouxe para cá os rapazes todos.
O senhor queria que eu ficasse aí para realizar os seus ideais, no entanto, eu não estou
morto, meu pai! Estou vivo! E trabalharei com as suas mãos.
Recordo as suas palavras, lembrando os dias de sua infância.
Você queria seu filho num hospital para atender às crianças necessitadas e auxiliar aos
enfermos desvalidos, sem maiores recursos... E quem diz que não vou servir?
Agora, conheço mais profundamente a nossa gruta de Maquiné das conversações e até o Padre
João de Santo Antônio, (3) que nossa família sempre honrou com abençoada devoção, me veio ver e
abraçar em nome do carinho de meus antepassados, aqueles mesmos, Papai, que puseram no seu
peito de missionário do bem o coração generoso que o senhor traz na alma.
::::::::::
(3) Famosa gruta, localizada em Cordisburgo -- Mg, que Beto conheceu na infância. O padre
João de Santo Antônio era conterrâneo da avó materna do Beto, conhecido da família e falecido
há mais de 60 anos.
::::::::::
Vovô Ianez (4) me acolheu logo que me vi necessitado de apoio. Digo assim, porque depois de
cair como se houvesse sorvido um tranqüilizante violento para dormir, apenas dormi
pesadamente... Sonhava a me ver no vagão, brincando com os amigos e comentando as alegrias que
projetávamos para as férias próximas... Como que prosseguia, a dormir, na viagem que parecia
não terminar, até que as minhas impressões se transformaram num pesadelo, do qual acordei num
leito de tranqüila enfermaria, com uma faixa a me resguardar a cabeça.
::::::::::
(4) João Ianez, bisavô materno, seguiu para o Mais Além, no início do século.
::::::::::
Despertei, sentindo dor, e imaginei que fora acidentado, sem a certeza disso.
Remédios vieram de mãos amigas e dormi de novo para depois acordar com mais calma...
Entretanto, aí, foi a nossa casa a se revelar por dentro de mim.
O senhor e Mamãe, chorando e clamando, sem que eu nada pudesse responder...
Parentes nossos vieram de modo surpreendente em meu favor, e vou indo, pouco a pouco,
retomando a vida.
O que sucedeu realmente ainda não sei por detalhes.
Estou à feição de alguém que houvesse sofrido longo processo de anestesia, sem memória muito
segura para recordar minudências. Mas vovô Ianez e o vovô Leite, (5) irmãs de caridade cristã
que foram e são amigas de minha avó desde os dias da devoção a Santo Antônio, me auxiliam com
carinho e bênção, dando-me novas forças.
::::::::::
(5) Francisco de Paula Leite, também bisavô materno, já desencarnado.
::::::::::
Rogo ao senhor, Papai -- a você meu pai e meu amigo -- fortalecer Mamãe e Sandrinha, com o
seu esforço e com a sua coragem.
Deus não se afasta de nós, a vida continua e estamos juntos, embora de outra forma.
Lembre-se com Mamãe de que, desde os primeiros dias da escola, a idéia de um trem de ferro
estava comigo e de que a preocupação com o tempo me obrigava a estar marcando datas e mais
datas. Algo em mim falava que os dias para mim seriam curtos na Terra e que um comboio estava
me aguardando para a viagem final, mas final de linha, meu querido Papai, porque os trilhos
continuam...
Para mim é como se o trem de Mogi tivesse entrado num túnel... De um lado ficaram vocês, os
meus entes amados e de outro estou eu, continuando em nova forma...
Peço-lhes mais uma vez para que me ajudem.
A saudade deve ser para nós uma prece de esperança e com essa prece, trabalhando no bem aos
nossos irmãos do caminho, seguimos para a luz do reencontro...
Mãezinha, não chore mais. Ampare-me com a sua fé.
Rogo aos meus queridos avós para me auxiliarem.
Ano passado foi terrível para mim, os seis de agosto! (6)
::::::::::
(6) Data de seu aniversário. Beto se refere ao natalício que passou, no Plano Espiritual,
saudoso dos familiares, apenas dois meses após a desencarnação.
::::::::::
Se puderem, no próximo aniversário, façamos a festa de nossa comunhão espiritual, ofertando
um bolo às crianças reunidas em lar de Jesus, sem o lar terrestre que não puderam ter. Estarei
com vocês e vamos encontrar muita alegria.
Não deixem que a nossa casa se transforme em recanto de sombras e lágrimas.
A vida é tesouro de Deus e todos estamos ricos de trabalho e esperança, fé e conhecimento.
Agora, é o ponto final que me pedem.
Não posso escrever mais. Minhas forças não estão muito seguras. Estou como quem cumpriu uma
prova difícil -- a de escrever quase sem possibilidade para fazer isto.
Querido papai, querida Mãezinha, querida Sandrinha, meus queridos avós e meus companheiros
queridos, aqui, com toda a minha confiança, aquele abraço de meu coração reconhecido.

BETO
29 de setembro de 1973.

CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES

A respeito da mensagem que acabamos de ler, as notas de rodapé esclarecem nomes e fatos,
contudo, alguma coisa mais há que dizer-se:
Quando Beto diz ao pai: "você queria seu filho num hospital para atender às crianças
necessitadas e auxiliar aos enfermos desvalidos, sem maiores recursos...", expressa a mais pura
realidade, ignorada pelo médium. Realmente, o Sr. Nery, por várias vezes, manifestara ao filho
o desejo de construir-lhe um hospital para o atendimento de pacientes sem recursos. Era um
sonho acalentado com muito empenho.
Também, em determinado trecho do comunicado, Beto diz: "Lembre-se com Mamãe de que, desde os
primeiros dias da escola, a idéia de um trem de ferro estava comigo e de que a preocupação com
o tempo me obrigava a estar marcando datas e mais datas. Algo me falava que os dias para mim
seriam curtos na Terra e que um comboio me estava aguardando para a viagem final..."
D. Lucy confirmou que Beto, de modo obsessivo, vivia escrevendo e datando seu nome nos mais
variados objetos que lhe surgissem à mão e nos permitiu apresentar algumas fotos que documentam
o hábito singular lembrado pelo filho no texto psicografado.
Também com relação à verdadeira paixão do Beto pelos comboios, contou-nos sua genitora que o
rapaz, embora tenha sido aprovado em outras Faculdades de Medicina mais próximas, preferiu
fazer o curso em Mogi das Cruzes, pelo insopitável anseio de viajar diariamente no trem de
ferro, encontrando a desencarnação numa dessas viagens.

II

Querida Mãezinha,
Deus abençoe a nós todos.
Estamos bem. Lutando por aprender de modo a podermos realizar o melhor.
Não se aflija, o clima de trabalho se desdobra. As tarefas são imensas.
É como se a gente obtivesse um diploma, a fim de encontrar o mundo pela frente.
Habituarmo-nos a servir agora é uma necessidade a que não se consegue fugir.
Ajude a seu filho, com a sua paz confiante.
Compreendemos. A fome de notícias entre nós é semelhante àquela sede de cartas e palavras,
quando, aí na Terra, nos achamos distantes uns dos outros. Mas, creia, Mãezinha, pelos
pensamentos, o nosso diálogo está sempre mais ativo e mais profundo.
Acalme os nossos entes queridos e estejamos tranqüilos.
Nossos amigos Toledo e Fernando (1) estão aqui conosco e agradecem o amor das queridas
Mãezinhas aqui presentes. Nosso caro Toledo roga ao pai o auxilie a sustentar a querida
Mãezinha sempre firme e sempre forte na fé.
::::::::::
(1) Carlos Alberto de Toledo, desencarnado aos 20 anos incompletos, às vésperas do Natal de
1969, em acidente de moto e Fernando Luiz da Silva Ribeiro, falecido em junho de 1974, em
conseqüência de acidente rodoviário, na estrada que liga São Paulo a Curitiba. Contava 22 anos.
::::::::::
Por hoje é unicamente este bilhete simples o que posso escrever.
Receba, querida Mãezinha, com todos os nossos corações queridos, todo amor e todo
reconhecimento de seu filho, sempre mais seu.

JOSÉ ROBERTO
12 de abril de 1975.

III

Querida Mãe, como sempre, seu filho pede a sua bênção.
Mãezinha, nós sabemos.
A saudade é um tormento, uma doença, mas precisamos suportá-la, transformando-a em serviço e
esperança.
Não se aflija, se nossa palavra demora.
Palavra é som e o pensamento é luz. E a luz chega sempre antes.
Pelos pensamentos estamos mais unidos do que nunca.
Às vezes, queremos escrever, mas precisamos coibir esses desejos para não ferir companheiros
que tanto desejariam expressar-se e que ainda não dispõem de meios.
Fique tranqüila. Estou bem.
O túnel para Mogi me trouxe para outra faculdade e estou estudando com muita atenção.
Quero aprender a curar os corpos e as almas doentes.
Auxilie a seu filho com a sua coragem. Estou igualmente cooperando pela paz dos nossos,
especialmente pela tranqüilidade da irmãzinha.
A família continua e o amor nunca morre.
Esteja certa de que ouço todos os seus pedidos.
Seu Beto é pobre ainda, mas vai trabalhar muito para merecer ajudar ao seu coração e ao
coração de meu pai e de todos os nossos.
Desejo ao seu carinho um Céu de estrelas sem nuvens a esconder-lhes a luz e receba o abraço
de muito amor e de muita gratidão do seu filho.

JOSÉ ROBERTO
05 de agosto de 1975.

IV

Querida Mãezinha, peço a sua bênção.
É só um bilhete.
Agradeço o carinho destes dias, como sempre.
Estou aqui, ao seu lado, confirmando presença e amor.
A nossa união é inalterável.
Peço-lhe, não fique triste, nem desanimada em momento algum.
Seu filho está agindo e estudando. Criando forças novas. Trabalharei. Quero dar muita
alegria ao seu coração e a todos os corações que amamos.
Mamãe, a vida é uma herança de Deus. Herança eterna. Confiemos. Não há morte.
Repetiremos isso até que todos se conscientizem das realidades do espírito.
Prossigamos para a frente, buscando Jesus, embora sentindo Jesus em nós, pelas lições do
Senhor que nos iluminam a estrada.
Mãe querida, em seu carinho, o reconhecimento com todo o amor de seu filho,

Beto
07 de agosto de 1976.

V

Mãe querida, peço a sua bênção. Ao mesmo tempo, rogo a Deus nos proteja a todos.
Estou muito grato aos Mentores Espirituais pela concessão: escrever aos pais queridos e
comentar os ensinamentos novos, todos eles bordados de saudade.
Falo de saudade, Mãezinha, mas essa é uma inquilina permanente do coração, convertendo-nos
em espíritos transformados pelo amor sofrido; transformados para as alegrias imperecíveis;
transformados para sempre em filhos conscientes de Deus.
Não nos imaginem distantes -- nós os filhos que precederam pais bem-amados na mudança para a
Vida Maior. Estamos unidos, associados na mesma esperança e no mesmo ideal de vencer.
Compreendo, tantos somos, que mais vale afastar de uma só vez a idéia de que seja outro que
fala. Sou eu mesmo, Beto, o companheiro do túnel que varou, às pressas, as fronteiras que nos
separam uma vida da outra vida.
E venho, Mamãe pedir-lhe calma e bom-ânimo.
As nossas notícias reconfortam, mas suscitam em casa novas perspectivas, de notícias outras.
Parece que, entre dois mundos, cada mensagem ou frase de intercâmbio entre nós lembra uma sede
não extinta. Começamos a sorver a água de nosso amor, entretanto, a impermanência das
impressões de natureza física nos deixa a idéia de que o líquido não chegou a retirar a febre
da saudade de nosso campo íntimo.
Ainda assim, Mamãe, não temos outro caminho para sustentar-nos, ante a fome do reencontro.
Aqui nos ensinam que a Bondade de Deus nos concede essa insatisfação para que, ao buscar-nos
uns aos outros, estejamos seguindo à frente, conduzindo outros que sem essa ou aquela migalha
de amor, de nossa parte, talvez desfalecessem.
Aqui também nós somos impelidos por essa força à contenção de nossos impulsos inferiores
para maior devotamento ao trabalho e, consequentemente, ao progresso. Somos lembrados no mundo
por entre nuvens de lágrimas e recordamos os nossos entes amados com a neblina do pranto a
lavar-nos os corações. Isso significa que nos cabe enorme esforço para a reintegração total no
amor-presença que se define por fator máximo de alegria em nossas vidas.
Venho rogar igualmente ao Papai amigo e devotado para que se reconstitua plenamente na fé.
Ouço nos recessos da alma o que ele me diz sem articular palavras e o que ele me escreve em
tudo aquilo que não fica escrito; no entanto, peço a ele para nos encorajarmos à procura da
felicidade a que aspiramos. Às vezes, Mãezinha, vejo-o a mentalizar aquela viagem final de seu
filho, quando no Plano Físico, e noto a perfeição de detalhes com que ele procura reconstruir
mentalmente o túnel que me assinalou um ponto importante na Vida Espiritual.
No entanto, agora penso, Mamãe, que há sempre um túnel para quem vive na Terra. É preciso
nos decidamos a encontrar os que estão varando os túneis da tristeza e do desânimo, da angústia
e da provação, muito mais escuros e mais dolorosos que o túnel da estrada de Mogi.
Mãezinha, nós, os que regressamos não somos apenas portadores de notícias que poderiam ser
retardadas. Somos braços que acenam a novos caminhos, mãos que esculpem novos mapas de trabalho,
vozes de esperança e cartas de renovação. Outra vida nos pede preparação, alvoradas novas
anunciam novos dias. Todos os que se acham em túneis de abandono e de infortúnio, quanto se
instalaram no comboio das provas, sonhando diplomações de cultura e felicidade no Reino
Espiritual, são lembrados para essa festa de paz e amor.
Deus existe e a alma é imortal! A morte é alteração da forma, alteração apenas e nós todos
estamos reunidos em Deus, conquanto a separação aparente em que as nossas conceituações
tradicionais da vida no mundo nos obrigam a adotar provisoriamente.
Ainda mesmo quando falemos em saudades e lágrimas, expressando-nos da Vida Nova, estamos
pedindo coragem e fortaleza àqueles que amamos. A sensibilidade nossa pode estar ferida ou as
nossas forças dilapidadas, mas, na essência, estamos edificando uma vida melhor, em que a
ausência com a certeza do reencontro nos impele a renovar-nos para Deus, trabalhando e servindo
cada vez mais.
Agradeço os pensamentos de paz e amor da nossa querida Sandra. Estamos entrosados na mesma
construção. Em verdade, não conseguimos suprimir os obstáculos da estrada em que seguimos, lado
a lado, suportando cada qual o abençoado fardo de nossas necessidades e aspirações. E, nessa
bendita comunhão, dar-nos-emos todos as mãos para que a subida se faça menos difícil. Digo
assim porque toda senda para o Alto é sempre íngreme, prenunciando cansaço e empeços naturais
diante da marcha.
Ao escrever nesta noite, desejo expressar os nossos votos de paz e alegria a todos os
corações amigos que nos partilharam as orações. Nosso real desejo seria o de que todos os pais
e mães presentes algo recebessem dos filhos queridos ou de outras criaturas abençoadas, dentre
os que se domiciliam aqui; porém, estamos restritos a certas quotas de força.
Mesmo nessas limitações, temos a satisfação de transmitir algumas notícias dos amigos e
companheiros presentes aos amados, aqui conosco.
Nosso amigo José Roberto Pereira Cassiano, em companhia da irmã Dosolina que beija a nossa
querida irmã D. Maura (1). Nosso irmão Alfredo Pessoa, com o nosso amigo Tato, recomenda seja
dito à sua filha, nossa irmã D. Dirce, que ele e outros amigos estão colaborando em auxílio aos
irmãos Severino e Olavo (2).
::::::::::
(1) Avó e mãe do outro Beto. Ver mais adiante maiores esclarecimentos.
(2) A respeito do Tato, Carlos Alberto da Silva Lourenço, sugerimos ao leitor a consulta dos
livros "Jovens no Além" e "Somos Seis". Alfredo Pessoa é seu avô materno já desencarnado e
Dirce Pessoa da Silva Lourenço, Severino Domingos Lourenço e Olavo Jorge Bonfim, são
respectivamente a mãezinha, o pai e o tio.
::::::::::
A jovem Mafalda beija as mãos da sua querida Mãezinha, nossa irmã Marinetti (3),
agradecendo-lhe a conformação e o valor com que soube aceitar a prova da separação violenta que
as distanciou uma da outra entre o campo terrestre e a Vida Espiritual.
::::::::::
(3) Mafalda Martins Ribeiro faleceu aos 14 anos, em acidente de moto, no Rio de Janeiro, no
último dia do ano de 1956. Marinetti é sua genitora, Maria Nazaré Martins Ribeiro.
::::::::::
Nosso irmão, de nome Ério (4), abraça os pais queridos e notifica que prossegue em
tratamento espiritual adequado.
::::::::::
(4) Ério, Francisco Savério Orlandi, jovem desencarnado em acidente rodoviário, filho de
Domenico Orlandi e Elda Coggiola Orlandi.
::::::::::
Entre os nossos queridos Toledos, Carlos, o irmão de nossas faixas de trabalho, não só beija
a fronte dos amigos queridos que lhe foram pai e mãe no mundo, mas abraça também aos irmãos
Marília e Antônio Carlos, informando ao nosso amigo Carlos Eduardo, o querido pai e companheiro
de sempre, que o seu amigo Dr. Carlos Mesquita está sob atenciosos cuidados de benfeitores da
Espiritualidade Maior e comunica, ainda, aos pais queridos, nossos irmãos Toledo e Dona Olga,
que não se despreocupará do auxílio solicitado em benefício do nosso amigo Flávio Mindlin e da
querida irmã Heloísa (5).
::::::::::
(5) Carlos Alberto de Toledo, já citado anteriormente, envia aos pais, Carlos Eduardo e Olga,
notícias do amigo de família, Dr. Carlos Mesquita, falecido em 1976. Heloísa e Flávio Mindlin
Guimarães são irmã e o cunhado do jovem mencionado.
::::::::::
Nossa irmã Pia Maciel (6) volve ao convívio das filhas queridas e pede ao genro-filho
paciência e fortaleza, na certeza de que as lutas presentes passarão, deixando precioso saldo
de paz.
::::::::::
(6) Pia Maciel, falecida em 1975, genitora de Acácia Maciel Cassanha, dirigente do Lar do
Amor Cristão, entidade espírita da capital paulista.
::::::::::
Nosso amigo Durval Tricta beija a filha querida, nossa irmã Dinah, e pede seja dito à esposa
dele que, em companhia de médicos amigos, está cogitando de auxiliar-lhe a saúde no lar de
Sorocaba (7).
::::::::::
(7) Durval Moreira Tricta, pai de nossa amiga e companheira de Doutrina Espírita, Dinah
Tricta. Sua esposa, Maria do Carmo Moreira Tricta, recentemente desencarnada. Durval Tricta
faleceu em 1961.
::::::::::
E outros e mais outros dedicam lembranças afetuosas a todos os presentes.
Por fim, quero dizer que o nosso estimado Augusto Cezar está conosco, auxiliando-me a grafar
esta carta, ao mesmo tempo que envolve nossa querida irmã Yolanda, (8) que ele considera seu
anjo protetor, nas mais puras vibrações de reconhecimento e carinho.
::::::::::
(8) Yolanda Cezar, abnegada missionária do bem, mãezinha de Augusto Cezar, já nosso conhecido.
::::::::::
Mãezinha Lucy, não se deixe dominar por tristeza alguma. As lutas são exames de habilitação
para cada um de nós e, com paciência, transformaremos todas as dores em alegrias na química da
vida. Os dias se desdobram apressados, sofrimentos são unicamente pequenas pedras que o tempo
nos auxilia a transformar em jóias de alto preço, nos tesouros da eternidade. Estamos aqui
estudando e trabalhando, a fim de honrar os nossos pais queridos.
Aí se fala em muitos votos à memória dos mortos que não morreram, pois aqui, igualmente,
renovamos compromissos de trabalho e aperfeiçoamento, a fim de aguardar o reencontro nosso com
os valores diferentes que possamos acumular em nós para recebê-los um dia, com o respeito e a
gratidão que lhes devemos.
Mãezinha, abrace por mim aos nossos -- a todos os nossos, especialmente aqueles que dividem
conosco as inquietações e alegrias diárias. Peça ao papai por mim, para não desanimar em
momento algum e que será melhor recordar trabalhando que recordar sofrendo.
A ele e à nossa Sandra, com os nossos corações queridos, a minha ternura iluminada de preces
nas quais peço a Deus nos abençoe e nos fortaleça, ao mesmo tempo que rogo ao seu carinho de
Mãe receber um beijo de muito amor e de muita saudade, com tudo o que seu filho possa ser e
sentir de melhor.
Sempre seu filho em seu coração, sempre seu

BETO
29 de agosto de 1976.

VI

Meu pai, querida Mãezinha, peço-lhes a bênção.
Estamos reconhecidos com a festa. Um bolo de aniversário, baseado nas alegrias da prece! (1)
Não sei o que dizer. A palavra parou na garganta e as melhores letras que eu desejava escrever
parecem encerradas dentro do lápis. Trago-lhes, desse modo, pais queridos, todo o meu coração.
::::::::::
(1) Tocante homenagem anual dos pais do Beto ao filho desencarnado, comemorando-lhe o
aniversário, junto de crianças carentes, em Uberaba.
::::::::::
A nossa solenidade do natalício foi um acontecimento espiritual de muita significação. Uma
comemoração para as comemorações do futuro. As alegrias do lar trazidas para outros lares,
especialmente aqueles lares em que outros filhos e outros pais estão lutando pela sobrevivência.
Do lado terrestre, os amigos queridos, com tantos companheiros abençoados e tantos corações
maternos, a se desfazerem na felicidade de fazer os outros felizes.
De nosso lado, é natural lhes diga que o nosso amigo Augusto foi o maestro da orquestração
de paz e de esperança que nos iluminou os corações. Wady, Carlos Toledo, o Jair Presente, o
Ério, a Volquimar, as irmãs Maria Helena e Maria Célia, o Nasser, o Shabi, o Henrique Gregóris,
(2) e tantos outros da união com Jesus nos rejubilávamos pela oportunidade de estarmos todos
juntos.
::::::::::
(2) Augusto Cezar Neto, Wady Abrahão Filho e Volquimar Carvalho dos Santos já são nossos
conhecidos; encontramo-los juntos no livro Somos Seis. Carlos Alberto de Toledo e Ério já foram
citados anteriormente e Maria Helena Marcondes e Maria Célia Marcondes são irmãs, falecidas em
1976 e 1975, respectivamente com pouco mais de 20 anos. Seus pais residem em Santa Izabel,
município paulista, também citado no texto. O Nasser, Nasser Miguel Haddad desencarnou aos 15
anos de idade, em acidente de automóvel. Shabi é o outro Beto, autor espiritual deste livro e
Henrique Gregóris faleceu em Goiânia -- GO, em acidente de trânsito, no dia 10 de fevereiro de
1976.
::::::::::
E pedi a professores, especialmente meus, em Medicina, cooperassem conosco, trazendo aos
nossos irmãos visitados, recursos magnéticos de saúde, nos quais, com as fatias do bolo,
transmitissem saúde e forças novas aos nossos irmãos doentes, notadamente as crianças. E eu,
pobre rapaz do nat feliz com a irmãzinha Sandra em meu coração, pedi a Deus os recompense a
todos. E agradeci por tudo, porquanto, nestas horas da Terra em que os noticiários falam de
guerras e ódios, de calamidade e lutas, nós, debaixo daquele céu azul, louvávamos a Deus,
cantando a esperança num mundo melhor.
Agradeço por todas as crianças e por todas as mães, por todos os pais e por todos os irmãos
que a festa beneficiou e peço a Jesus coloque nas mãos de nossos benfeitores de São Paulo e de
Santa Isabel, como também de outros recantos ali presentes, novos tesouros de amor para a
exaltação do bem, nas estrelas invisíveis da caridade.
Papai e Mãezinha querida, muito grato à lembrança. Meus avós Francisco e Ianez (3) estavam
conosco e ali todos éramos corações unidos em Jesus, sem qualquer separação, entre os mais
jovens e os mais altamente amadurecidos na experiência. Desejava escrever um poema em que lhes
agradecesse tanto carinho e tanto amor, mas escrevo no coração a prece de agradecimento, na
qual peço a Deus os faça felizes.
::::::::::
(3) Francisco de Paula Leite e João Ianez, bisavós já domiciliados na Vida Espiritual.
::::::::::
Creiam. Quando atravessarem o túnel da existência humana, farei o possível para exprimir-lhes
a todos a minha gratidão.
Papai e Mamãe querida, com os nossos amigos e com as nossas irmãs, transformados hoje em
nossa família maior, recebam o abraço em forma de coração do filho e amigo muito reconhecido.

JOSÉ ROBERTO
06 de agosto de 1977.

VII

Mãezinha Lucy, Deus nos proteja e abençoe.
Um cartão no papel.
Só isto. Mas o coração está em cada letra, desejando-lhe um aniversário muito feliz -- um
aniversário de estrela maternal ao nascer no céu de nossas vidas e outro aniversário de união
feliz com o papai (1). Felicito a ambos. Agradeço as dádivas de seu amor às crianças,
recordando seu filho. Isso me fala profundamente ao coração. Deus a recompense. Peça por mim à
nossa querida Sandra muita paciência e serenidade.
::::::::::
(1) Beto refere-se ao natalício da genitora e às Bodas de Prata dos pais, comemorados nos
dias subsequentes, à recepção da mensagem.
::::::::::
Tudo encontra a paz, quando esperamos por Deus. Nosso amigo Shabi transmite um beijo de
muito carinho aos pais e não posso omitir uma solicitação. O jovem César Araújo Maffra nos
solicita registrar aqui um abraço aos queridos pais presentes (2). Está em nossa reunião, mas
ainda não se sente bastante forte para escrever sem lágrimas -- lágrimas de alegria e
reconhecimento aos pais a quem ama tanto.
::::::::::
(2) César Araújo Maffra desencarnou em dezembro de 1975, aos 21 anos de idade, em Niterói-RJ.
Filho de Luciano Maffra e Neuza Angélica Araújo Maffra.
::::::::::
Mãezinha Lucy, receba mais um abraço. Um abraço do tamanho do amor de seu filho que lhe
beija carinhosamente as mãos.
Sempre seu,

Beto
22 de outubro de 1977.

VIII

Querido papai Nery, minha querida Mamãe, querida Sandra, estou aqui, recordando a bênção de
casa e pedindo a Deus que nos proteja e abençoe a todos, sem me esquecer dos familiares
distantes.
Estou emocionado com esse carinho com que me rememoram os vinte e cinco anos de ligação com
a vida nova (1). Recolhendo tanto amor, posso dizer-lhes que o meu reconhecimento está sendo
escrito com letras em forma de lágrimas. Lágrimas de felicidade, porque Deus nos facultou o
reencontro. A morte do corpo não conseguiu deslustrar-nos a fé. As dificuldades para o
relacionamento constante, aliás, nos acalentaram a esperança de modo diferente.
::::::::::
(1) Beto agradece mais uma vez a festa de aniversário, feita em sua homenagem para crianças
carentes.
::::::::::
Se provações aparecem, estamos em dia com as orações de confiança em Deus, sabendo que
terminarão em tempo breve; se obstáculos repontam do caminho, lembramo-nos para logo de que
prosseguimos juntos, trabalhando uns pelos outros; nas horas de insegurança, recorremos à
inspiração para resolver os mais intrincados problemas com as sugestões do Mais Alto; e,
sobretudo, quando surpresas dolorosas se destacam no cotidiano, a certeza de que não nos
separamos nos dá forças novas, auxiliando-nos a suportar com paciência qualquer tipo de
violência que se nos faça.
Creiam que sou mais feliz agora em que o amor é uma luz permanente a clarear-nos os corações
por dentro, para sabermos que Jesus não nos abandona.
Mãezinha, agradeço ao seu carinho, à bondade de nossa irmã D. Maura e de todos os outros
corações amigos que ofereceram hoje tanto carinho e tantas bênçãos em meu nome. Aquele bolo da
fraternidade, numa festa sob os céus da tarde, parecia-me o meu próprio coração repartido com
as crianças que são hoje mais nossas. Tantas dádivas recebi.
E assim me expresso, porque em cada sorriso de nossos pequeninos e de nossos irmãos em
provas, se me afigurava estar recebendo alimento espiritual que me nutria e me nutre o
sentimento para a aquisição de nova fé na vida.
Muito grato, papai, por suas cartas, por suas felicitações escritas em pranto, no recanto
íntimo de nossas meditações.
Sandra, agradeço ao seu coração de irmã o entendimento com que aderiu às nossas lembranças.
Irmãs e benfeitoras queridas que auxiliaram minha mãe a realizar estes votos pelo filho que a
morte não aniquilou, muito obrigado! DEUS as recompensará com bênçãos renovadas de paz e
alegria, luz e amor.
E aqui, diante de todos os amigos, quero dizer que não mereci tanto brilho de ternura e
tanto testemunho de abnegação, transferindo a todos os irmãos e a todas as irmãs aqui reunidos,
as doações de generosidade que me foram feitas.
Elas pertencem a vocês todos, os que acreditam nas promessas de Jesus, ao anunciar-nos que a
vida seria amor e proteção de Deus para sempre. Pertencem a todos os corações que se congregam
aqui nesta noite, na certeza de que Deus não nos separaria uns dos outros e que o amor vence a
morte, para ser perdão e entendimento, paz e luz.
Mãezinha Lucy e meu caro papai, estou reconhecido.
Conosco se encontram amigos queridos outros que, de nossa Vida Nova, acorrem a participar de
nossas preces de gratidão e de esperança.
Shabi, o amigo maravilhoso nos trouxe poemas de amizade e carinho, cujas vibrações se
derramam em nosso favor em todo o ambiente; Rubens Lázaro e o irmão José de Assis Toledo estão
em nossa companhia, abraçando a nossa querida companheira D. Zininha (2); o irmão Luiz Pitti
abraça a nossa irmã Dona Neuza (3); o Nasser afaga o coração da Mãezinha D. Shirley (4) e pede
para que não estranhe a sua ausência de cartas que não significa ausência de amor, e amigos
diversos se reúnem conosco neste mesmo ágape de felicidade espiritual.
::::::::::
(2) Dona Zininha, Ambrosina Coragem Toledo, mãe de Rubens Lázaro e esposa de José de Assis
Toledo, desencarnados, respectivamente, em maio de 1977 e outubro de 1964, em São Paulo -- SP.
(3) Ainda não foi possível identificar Luiz Pitti e D. Neuza.
(4) O Nasser já é nosso conhecido. Filho de Miguel Nasser Haddad e Shirley Haddad, residentes
em São Paulo -- SP. O Sr. Miguel partiu para o Além posteriormente à recepção da mensagem, no
dia 10 de novembro de 1979.
::::::::::
No conjunto daqueles irmãos que ainda não conhecia pessoalmente, destaco a jovem Elionete
que, em companhia do seu pai Edvaldo França, nos solicita sejam transmitidas carinhosas
lembranças à sua Mãezinha Damianas (5) e cito esta ocorrência para dizer, querida Mamãe, que
não temos aqui apenas os nossos amigos íntimos e sim companheiros muitos que agradecem a Deus
estes minutos de paz que desfrutamos.
::::::::::
(5) D. Damiana Santos França, esposa de Edvaldo França e mãe de Elionete, desencarnados
respectivamente em 1968 e 1978.
::::::::::
Querida Sandra, creia, seu irmão não a esquece. Tenho ouvido suas lembranças e petições.
Deus concederá a você a felicidade que o seu generoso coração merece.
Não se entristeça por dificuldades de compreensão no campo dos seus ideais de menina e moça.
Esperemos. O tempo exato das nossas realizações, aquele tempo em que os nossos sonhos se
realizam naturalmente, é o tempo de Deus. Aguardemos a vontade de Deus, trabalhando, estudando,
servindo e melhorando-nos sempre.
Tenho o coração como que a se desfazer na emotividade com que escrevo.
Pais queridos, querida irmã, amados de meu coração, irmãs e irmãos que me doaram tanto amor,
peçam a Deus para que eu possa valorizar esses tesouros que me confiam e, beijando-lhes as mãos,
sou o filho, irmão, amigo, companheiro e servidor sempre reconhecido que pede a Jesus nos
conserve a todos nas bênçãos de seu amor e de sua paz.

BETO (JOSÉ ROBERTO PEREIRA DA SILVA)
05 de agosto de 1978.

IX

Querida Mãezinha Lucy, peço a Deus nos abençoe. O seu pensamento é um ímã e não posso
esquivar-me.
Sei que a senhora tem estado doente e um tanto mais fatigada. Mas não se sinta sozinha no
tratamento quase silencioso. Amigos espirituais estão agindo em seu favor e seu Beto, embora
ainda tão pobre de recursos, já consegue auxiliar um tanto. Deus abençoará esse tanto que é tão
pouco a fim de que a migalha de minha singela cooperação se transforme em concurso substancial
de verdade.
Felizmente, Mãezinha, o seu cansaço é de trabalho e cansaço dessa natureza facilmente se
converte em renovação de forças. Não julguem a senhora e meu pai Nery que eu esteja ausente das
letras voluntariamente.
Acontece que assumimos o compromisso de colaborar com outros comunicantes, para que se
matriculem por dentro de nosso intercâmbio, a fim de que não sejamos nós os únicos favorecidos
e o nosso grupo vai esperando vez...
Estou sempre por perto...
Esse por perto é o fio da oração no poste da saudade. Basta um toque de campainha da prece
sem palavras e o fio vibra transmitindo a mensagem.
Peço dizer à nossa querida Ângela que não a esqueço e formulo votos para que ela prossiga
esperando o melhor que exista no mundo e na vida... Namoro é aproximação e aproximação é vida
permutada. Se não fiquei aí para casar, estou aqui para ser útil e amar sempre (1).
::::::::::
(1) Beto e Ângela eram namorados, quando do falecimento do jovem estudante de Medicina.
::::::::::
Nossa querida Sandra vai muito bem e rogo a ela continue sendo a irmã sempre dedicada que
ficou em lugar duplo, o dela e o meu, junto dos queridos pais e dos avós sempre queridos.
Mãezinha Lucy, o nosso amigo Shabi está presente e se faz lembrado aos genitores cada vez
mais queridos.
O Nasser igualmente está conosco e trabalhando ativamente em auxílio aos familiares.
Peço ao seu carinho de mãe e a meu pai Nery não permitirem que a amargura das lembranças
tristes fique em nosso campo de pensamentos por nuvens de frio, congelando esperanças e
frustrando-nos a alegria de pertencermos uns aos outros.
Tudo segue bem, porque temos Deus em nossos corações a guiar-nos para dias melhores.
Desejando querida Mãezinha Lucy, que a sua saúde esteja em pleno refazimento, abraça o papai
e deixa-lhe um beijo de filho sempre reconhecido o seu, sempre seu,

JOSÉ ROBERTO
13 de abril de 1979.

X

Querida Mãezinha Lucy, receba com meu pai a minha solicitação de bênção. Tenho os dois,
unidos à nossa querida Sandra e aos nossos familiares queridos, em minhas recordações mais
íntimas.
Oito de junho! Oh! As saudades do filho que não desaparecem, os castelos que se transferiram
de lugar e as novas esperanças no coração!
É assim que me apresento para celebrar com os pais queridos e com tantos amigos dedicados o
sétimo ano de transformação.
Mãezinha querida, com as nossas amigas D. Maura e D. Shirley e junto de outras afeições,
acompanhei as suas emoções, rememorando a minha partida involuntária.
Sei que o seu coração de Mãe adotou o melhor processo de festejar. Compreendo que esse
festejar é lembrar sofrendo, mas Jesus nos deu outras estradas para acompanhá-lo. A senhora,
Mamãe, com meu pai quiseram brindar-me com o amor, no amor que distribuíram e estão
distribuindo com aqueles irmãos nossos do caminho terrestre...
Quanto vale a roupa que subtrai a nudez de uma criança ou o cobertor que agasalha um doente
desvalido, qual o preço de um bolo aos que sonham com a mesa farta e qual a importância em que
se taxa uma dádiva em benefício de um amigo ao desamparo, sinceramente não sei... Mas para mim
que recebi tudo isso, na pessoa dos que foram beneficiados, esses tesouros não encontram
avaliação...
É por isso que as lágrimas de alegria hoje me sobem do coração para os olhos no objetivo de
agradecer.
Fui eu, Mamãe, quem na realidade recolheu tudo o que doaram em memória destes nossos sete
anos de modificação. O comboio de Mogi não me afastou de casa. Continuamos sempre mais unidos e
a prova disso é a nossa comemoração íntima de hoje.
Aqui se encontram em nossa companhia os irmãos que Deus me concedeu nos tempos últimos.
Nosso querido Shabi me reanima, indicando-me as realizações da frente, o nosso Nasser me
abraça, o nosso Sidney (1) me dirige palavras de paz e esperança, além de outros muitos
companheiros que nos visitam e eu, em meio de tudo isso, me sinto cada vez mais rico de amor,
na pobreza que me caracteriza, mas sempre a enriquecer-me do carinho que meus pais queridos, a
querida irmã e os avós queridos me ofertam, qual se eu fosse um privilegiado de Deus.
::::::::::
(1) Vitimado por disparo acidental, Sidney Rodrigues deixou o Plano Físico, no início de
dezembro de 1976, na capital paulista.
::::::::::
Nesse sentido, me sinto realmente assim, porque acolho todos esses talentos de luz por
empréstimos do Céu que me induzem a trabalhar e aprender a servir sempre mais. Estou feliz e
agradeço a todos; Deus, em sua Bondade infinita, retribuirá com estrelas de felicidade essas
bênçãos com que me iluminam os passos.
Responderei, sob o amparo de Jesus, com trabalho. O Senhor me concederá essa felicidade de
agir para o bem, a única forma de que disponho para assinalar a minha gratidão.
Nosso amigo Carlos Alberto de Toledo faz questão de mostrar-me o seu afeto e tento uni-lo à
corrente de meus pensamentos de alegria e gratidão.
Jesus acoberte a todos os amigos queridos em sua proteção, estruturada de paz e amor.
Querida Mãezinha Lucy, a felicidade mora em lugar desconhecido em que não encontra meios de
expressão, porque debalde a procuro para falar por mim ao seu carinho, mas, bem no íntimo de
seu maternal coração, a sua ternura saberá quanto seu filho está contente.
A todos, todos os nossos afetos, os meus agradecimentos e para você, querida Mamãe,
juntamente do Papai e de nossa Sandra Maria, todo o carinho iluminado de preces pela felicidade
de todos, do seu filho, sempre o seu companheiro de todas as horas, sempre o seu,

BETO (JOSÉ ROBERTO)
08 de junho de 1979.

XI

Queridos pais, abençoem-me. Deus nos proteja a todos.
Mãezinha Lucy, meu pai Nery e querida Sandra, estou muito grato pela festa do aniversário
que celebraram, recordando a minha presença singela.
Estou feliz e reconhecido. As roupas com que vestiram nossos companheiros necessitados,
especialmente as nossas queridas crianças, são trajes para mim mesmo pelo conforto que me
ofertam e o bolo precioso dedicado aos nossos pequeninos é um tesouro de bênçãos que me
alimenta de novas energias para a vida espiritual.
Agradeço comovido aos pais queridos e à querida irmãzinha, extensivamente a todos os nossos
amigos que nos compartilharam da alegria de hoje, antecipando a nossa segunda-feira próxima e
peço a Jesus a todos recompense e a todos nos abençoe.
Muito carinho do filho sempre grato e irmão reconhecido,

BETO
04 de agosto de 1979.

XII

Querida Mãezinha Lucy, peço-lhe me abençoe.
Mamãe, a página é para desejar-lhe um feliz Dia das Mães, ao lado de meu pai, da Sandra, da
vovó e de todos os nossos. Com essas felicitações, venho rogar-lhe revigorar-se com a medicação
adequada. Noto-a um tanto fatigada e precisamos restaurar-lhe as energias. A vovó, igualmente,
vem sendo objeto de nossa melhor atenção, no sentido de que se lhe recuperem as forças
orgânicas. Peço dizer ao Papai Nery que venho acompanhando as notas e observações que ele está
alinhando para destacar o nosso encontro e a minha própria sobrevivência (1).
::::::::::
(1) O Sr. Nery habitualmente escreve cartas ao filho, em prosa e verso, inspiradas páginas
com que o pai amoroso busca atenuar a dura saudade da separação compulsória.
::::::::::
Tudo bem. Façamos o melhor ao nosso alcance, compreendendo que semear a verdade é plantar
alegria e confiança nos caminhos difíceis que as criaturas humanas estão atravessando em nossos
tempos.
Envio a ele e à nossa querida Sandra, à vovó (2) e a todos os nossos, a minha palavra
humilde de paz e de esperança.
::::::::::
(2) Otília Leite Ianez, avó materna.
::::::::::
Para o seu querido coração, Mãezinha Lucy, deixo neste papel todo o carinho e todo o
reconhecimento de seu filho.

JOSÉ ROBERTO (BETO)
10 de maio de 1980.

XIII

Querida Mãezinha Lucy, abençoe-me.
Estou ouvindo os seus pensamentos a me falarem alto pelas ondas do amor materno. "É um
bilhete só, meu filho" -- diz você sem palavras.
Compreendo. As saudades são conjuntos de sombras a vagarem por dentro de nós, tangidas por
forças que ainda não compreendemos e que nos envolvem todo o ser. Não me supunha indiferente a
essa carência afetiva a que fomos arrojados em nossa casa. Foi com dificuldade que prossegui
meus estudos na Vida Espiritual e que continuo a sustentá-los no sentido de me fazer mais útil
aos benfeitores que se dedicam à cura dos doentes, nossos irmãos.
Compreendo, porém, que será trabalhando que conseguirei abrir caminhos para a construção do
nosso próprio futuro e, desse modo, prossigo em minha demanda: continuar vinculado à família
querida na Terra e empenhar-me às tarefas da Espiritualidade, entre as quais vivo sempre
transitando e, ao mesmo tempo, partilhando as alegrias e as dificuldades, as realizações e as
bênçãos de nosso grupo sempre querido.
Amigos nossos estão auxiliando ao Papai Nery na organização do livro que ele vem formando e
estamos satisfeitos (1).
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(1) Ver nota de rodapé na mensagem anterior.
::::::::::
Envio muito carinho a nossa querida Sandra. E agradeço ao seu amor, Mãezinha Lucy, pelas
roupas agasalhantes que faz com os seus próprios esforços para vestir as crianças menos
afortunadas, em meu nome. Muito grato.
Vou terminar, porque o relógio comanda aí e aqui. Toda a gratidão aos familiares e aos
amigos, pedindo-lhe receber com o papai Nery um beijo de muita saudade e de muita esperança do
filho reconhecido.

BETO (JOSÉ ROBERTO)
25 de outubro de 1980.

XIV

Querida Mãezinha Lucy, abençoe-me.
Compreendo que estamos quitados na contabilidade das notícias, porque pelas páginas do Papai
Nery e por nossos entendimentos gerais, sabem ambos que a nossa união prossegue indissolúvel.
Ainda assim, querida Mãezinha Lucy, estou registrando os seus desejos de obter algumas
palavras de seu filho, quanto ao casamento de nossa querida Sandra e solicitei permissão para
endereçar ao seu carinho a presente mensagem de carinhosa gratidão.
Estou muito reconhecido por todo o seu ideal e disposição de memorizar-me o 6 de agosto.
Fiquei satisfeito com o bolo e não tenha dúvida de que também usufruí a minha parte no lar de
nossos irmãos necessitados ou mais necessitados que nós mesmos, para onde a sua bondade nos
dirigiu.
Agora, aguardemos o setembro vindouro, no qual desejo aos nossos queridos Sandra e Fábio (1)
muitas felicidades. Um lar é sempre uma bênção de Deus e espero que a nossa Sandrinha saberá
imitar-lhe os exemplos de Esposa e Mãe, sempre com a luz do sacrifício por nós, iluminando-nos
os caminhos.
::::::::::
(1) Fábio Gonçalves Dias Filho, cunhado de Beto.
::::::::::
Felicitações aos irmãos queridos no empreendimento a que se confiam e sigamos a nossa viagem
nos continentes da experiência humana, procurando constantemente o melhor para cada um de nós,
dentro dos critérios cristãos que nos inspiram e governam a vida.
Querida Mãezinha Lucy, esteja certa de que muito me sensibilizei ao notar-lhe a idéia de
vir até aqui, na firme confiança de encontrar-nos, reencontrando-nos.
Deus a recompense pelo amor que nos dedica e receba com o Papai Nery e todos os entes que
amamos sob o teto abençoado em que a Bondade de Deus nos colocou, o coração em forma de abraço
do filho agradecido.

BETO
15 de agosto de 1981.

O OUTRO BETO

José Roberto Pereira Cassiano, o Shabi, nasceu na capital paulista, a 19 de fevereiro de
1951, falecendo em acidente rodoviário na Via Anchieta, quando retornava de Santos para São
Paulo, na noite de 9 de março de 1974.
Filho do Sr. Abigail Pereira Cassiano e de D. Maura Pereira Cassiano, deixou o convívio dos
pais e amigos com apenas 23 anos. Dotado de invulgar sensibilidade artística, Shabi, como
estimava que o chamassem, era desenhista-projetista, mas cultivava a pintura, a fotografia e a
decoração. Como observamos no texto do outro Beto, também nas páginas assinadas pelo Shabi,
destaca-se a exteriorização de sua alma sensível, construindo frases e expondo pensamentos, com
a mesma firmeza e graça com que manejava o pincel e a paleta.
Filho único, sua partida mergulhou os pais em infindável tristeza, tendo se agravado
sobremaneira o estado de saúde do Sr. Cassiano que permaneceu internado, nos primeiros dias de
separação, na Terapia Intensiva da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O que representou a primeira e também as demais mensagens do Shabi, pela psicografia do
Chico, aos pais saudosos?
O depoimento que se segue, recolhemo-lo ao Sr. Cassiano e D. Maura, cujas palavras pausadas
e ternas dão a medida da grandeza dos pais estóicos e serenos, confiantes em Jesus, ante a
adversidade que os atingiu.
"Estivemos pela primeira vez em Uberaba, para falar com Chico Xavier, sete meses após o
falecimento do Shabi, orientados pela bondade de D. Yolanda Cezar. No ano seguinte, dezoito
meses após o desenlace de nosso filho, voltamos a Uberaba e recebemos sua primeira carta".
"Até então, a situação era de total desespero. Minha saúde a cada vez mais se agravava",
lembra o Sr. Cassiano. "As noites eram indormidas e quando chovia nosso desespero aumentava,
pois temíamos que nosso Shabi, sepultado, recolhesse os rigores da chuva a encharcar a terra
fria". Os pais saudosos encontravam arrimo somente nos tranqüilizantes que lhes aquietavam as
forças.
E prosseguiu o Sr. Abigail com a palavra:
"A mensagem representou-nos um bálsamo para a alma e para o corpo. A saúde melhorou e eu
passei, com minha esposa, a sentir o filho presente em tudo o que era dele e que guardávamos
com carinho. Compreendemos, então, que o reencontro com ele somente poderia ser um reencontro
espiritual. O sono começou a voltar e passamos a ir mais vezes a Uberaba, na esperança de
receber novos recados ou, como nós entendíamos, mais uma carta do filho querido.
Hoje, vivemos mais felizes, oramos pelo Shabi e constantemente sentimo-lo conosco em
espírito.
Pelas palavras de nosso filho compreendemos que a morte não existe".

I

Querida Mãezinha, meu querido pai, é tudo tão novo para mim, em nosso reencontro, que tenho
dificuldade para registrar um assunto antigo: -- pedir a bênção de Deus para nós. Mas peço esse
auxílio da Divina Providência e conto com esse amparo em nosso favor.
Se pudesse, não escreveria e sim tomaria lápis e cores, tintas ou pincéis, para transmitir
os meus pensamentos de agora num quadro em que lhes pudesse dar a idéia de toda a beleza e de
toda a luz que nos rodeiam.
Entretanto, é preciso resignar-me às linhas cravadas no papel, tentando exprimir o que sinto.
E tenho lágrimas dentro de minha alegria. E noto a alegria, dissipando-me o sofrimento em que
se nos convertem as lembranças aqui nesta abertura entre duas vidas.
De qualquer modo, resumo as emoções novas em duas palavras que, de certa maneira, me quadram
as expressões: estou bem. Isto, queridos pais, é tão pouco e, no entanto, diz tudo porque, na
essência, quero explicar que todas as aflições passaram.
Aquele nove de março (1) foi realmente um dia de duras provas.
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(1) 9 de março de 1974, data em que o jovem comunicante foi transferido para a Vida Maior.
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Quando deixei a Beth em casa, voltei no mesmo veículo para tomar condução de volta. Conhecia
o Expresso e não podia supor que seria surpreendido pela hora do adeus de que não cogitávamos.
A viagem seguia o compasso da Anchieta, entre paradas de trânsito e marchas rápidas para
ganho de tempo, quando, ao movimentar-me, caí num impacto de forças que não sei descrever.
Quis reagir, gritar por socorro, mas tive a impressão de que um suave anestésico me
entorpecia as forças mentais. O pensamento escorria do cérebro, como se fora sangue a
derramar-se de outros campos do corpo...
Sensação estranha de esvaziamento, compelindo-me a desfalecer, sem recursos de resistência.
E dormi. Pelo menos, foi a convicção que me ficou na memória ao despertar...
Conflitos e providências, toques e chamamentos, em torno de mim, pareciam pesadelo no qual
mergulhava, cada vez mais, até que entrei num nível de inconsciência profunda.
Acordei, queridos pais, numa sala de apresentação muito difícil com as palavras de que
conseguiria dispor.
Era eu e não era eu quem se achava ali numa dualidade que não podia reconhecer.
Ouvi conversações e apontamentos que me espantavam.
No entanto, médicos e enfermeiros me administravam agentes sedativos que me impuseram mais
descanso.
Em meio daquela penumbra da mente, em que todas as formas se expressam desfiguradas ao meu
olhar, acreditei-me acidentado e, por isso mesmo, doente.
Com muito esforço pronunciava os nomes de vocês dois, rogando para que me buscassem, até que
um amigo, o Irmão Cassiano (2), amorável benfeitor, à feição de um pai a tutelar-me, explicou
que representava a nossa família, a recomendar-me tranqüilidade e confiança. A presença de
semelhante protetor me acalmava...
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(2) Benfeitor Espiritual da família.
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A situação prosseguia, quando o Irmão Cassiano me avisou que traria meus pais para um
reencontro.
Daí a instantes, notei-lhes a presença quase rente a mim. Mãezinha e você papai, pediam
notícias minhas.
Só então entendi que me achava em São Bernardo, não longe do quilômetro em que havia sofrido
a queda. Compreendi mais.
Aquele não era um recinto de hospital, mas um refúgio de paz e silêncio, reservado aos que
já haviam atravessado as fronteiras, das quais me vejo agora muito aquém...
Fiz tudo para fazer-me sentir, a fim de tranqüilizá-los. Mas o amigo fiel que me assistia e
ainda me protege, em todos os passos da Vida Nova, me sossegou o espírito atribulado, afirmando
que estavam dados os primeiros passos para que recebessem minhas notícias.
A idéia da despedida, então, tomou corpo em mim e só aí, querida Mamãe, compreendi que seu
filho havia deixado a veste física, à feição de alguém que se transfere de estrada ou de carro,
a fim de tomar caminhos diferentes.
Confesso, meu pai, que as lágrimas me subiram do coração para os olhos, porque não me sentia
preparado, quanto agora, para o exame do assunto. Era muito sonho e muita esperança a tombarem
do alto de nossas aspirações e projetos.
Lembrei-me, porém, da energia de Mamãe no trato da vida e da compreensão de meu pai nas
dificuldades do mundo e, refletindo nos exemplos de amor e fé viva com que ambos sempre me
facultaram o entendimento mais elevado e mais correto, busquei asserenar-me...
Ainda assim, a pesquisa que efetuavam, as perguntas que ouvi, sem que me fosse possível
qualquer manifestação para esclarecê-los, me feriam o coração.
Observei que me procuravam com aflições iguais às minhas e percebi que a incerteza era o
clima de nossos pensamentos e indagações.
Sofri ao vê-los na retirada com as mesmas dúvidas que me pairavam na alma e caí em crise de
lágrimas como não podia deixar de ser.
Novamente, o benfeitor incansável promoveu os meios de socorro dos quais necessitava e um
sono maior abençoou a minha cabeça cansada...
Depois, quando voltei de novo a mim, achava-me em outro lugar e em outra instituição. Um
hospital-escola, ou melhor, um educandário de recuperação espiritual me abrira as portas e,
desse canto de paz e amor, consegui sair devidamente acompanhado para visitar papai na
Beneficência Portuguesa. Desde então, melhorei, porque era preciso consolidar minha fé para
ser-lhes útil.
Necessário esquecer-me para sustentar, quanto possível, o querido enfermo que abracei,
contente, no dia em que o vimos de alta, em nossa casa da Alameda. E vou compreendendo que
todas as nossas dificuldades vieram, Mãezinha, do passado em que o seu Shabi contraiu dívidas a
pagar.
Sei que você, minha mãe e minha luz, tem sofrido um calvário em que a subida é feita de
pranto a encharcar o caminho de angústia. Mas peço a ambos para que a alegria nos retome os
corações.
Mamãe, você foi sempre, é e será em nossa vida, a nossa fortaleza e o nosso carinho, a nossa
confiança e a nossa paz. Continue, fervorosa na certeza de que Deus não nos abandona.
Realmente, não desejo lembrar as ocorrências estranhas que seu filho atravessou naquele
março distante.
Mãezinha, agora, temos papai por nosso maior amor, por filho mesmo a quem precisamos doar
toda a nossa ternura.
Estejamos unidos em nossa esperança.
Sei tudo quanto empreendem em meu benefício e tudo agradeço. E creiam que a parte melhor do
nosso culto de saudade, é a bênção de reconforto que estendem aos que necessitam de apoio, em
dificuldades e provações maiores do que as nossas.
Ouço o que me falam em casa, quando as nossas recordações se completam na mesma faixa de
saudade e de indagação; entretanto, rogo para que me tratem, como antes, desenhando ou
fotografando, estudando a vida ou construindo mentalmente o futuro.
Peço a meu pai coragem e alegria. Medicar-se, sim, e sempre, mas situar a fé em Deus sobre
os recursos humanos.
E você, Mãezinha, conserve aquela felicidade tão nossa, quando suas mãos queridas me guiavam
nos estudos, abençoando-me as lições. Não deixe a alegria de lado quando me fite os retratos.
Recorde-me, sorrindo.
Lembro todos os poemas de amor de seu amor para mim, suas expressões de ternura, suas
páginas de carinho e seus bilhetes que sempre me alcançam e me alcançaram o coração por
estrelas de felicidade e de paz.
Estamos todos mais juntos. E trabalharemos para o nosso reencontro, um dia, com as bênçãos
de Deus, no Plano Maior.
Lembre-se, querida Mamãe, de seus doces avisos quando os obstáculos surgiam: -- meu filho,
tudo está melhorando e amanhã nossa vida será sempre mais linda.
Baseado em suas disposições, sempre venci e creia que estou vencendo... pois até as
barreiras da morte consigo atravessar, conquanto sob auxílio, a fim de lhes enviar as notícias
de agora.
Penso, queridos pais, que não devo criar sugestões no ânimo das afeições que deixei. Todos
estamos na bênção de Deus e hoje reconheço que Deus a nós todos conduzirá para o que nos seja
mais aconselhável e mais justo. Mas envio, em silêncio, a todos os corações queridos, a
mensagem de meu agradecimento e de meu afeto.
Entrego-lhes, pais queridos, todo o meu coração nesta carta.
Companheiros queridos hoje me compartilham das novas experiências. Os colegas de ontem estão
aqui de outra forma, porque tenho novos irmãos de trabalho e de ideal para valorizar os
tesouros do tempo, enquanto melhoro a mim mesmo, a fim de auxiliá-los.
Querida Mãezinha e querido Papai, aqui o horário pede o ponto final.
E desejo reafirmar que a morte não é ponto final em cousa alguma do que pertence à vida. Que
seria a morte? Sorriam comigo e imaginemos nela um ponto e vírgula. Aquele sinal que indica
estação de pausa, sem ser fim no que se escreve.
Recebam meus melhores pensamentos, nos quais volto à prece, rogando a Deus por nossa
felicidade.
Papai querido e querida Mãezinha, com vocês dois aquele abraço de três juntos.
E conservem a certeza de que este beijo que deposito aqui nesta folha simples, é o beijo de
muito carinho e de muita saudade, de muito amor e de muita esperança do filho sempre mais de
vocês dois, sempre mais reconhecido e sempre mais filho do coração.

JOSÉ ROBERTO (SHABI)
20 de setembro de 1975.

ESCLARECIMENTOS

Os fatos são de desconcertante precisão, envolvendo detalhes e citações totalmente alheias
ao conhecimento de Chico Xavier, como, aliás, sempre acontece em suas participações mediúnicas.
Destacamos ao leitor a precisa narrativa de Shabi, sobre os momentos primeiros, após a morte,
lembrando que deixara a namorada Beth em Santos e, com o mesmo táxi, o que Beth posteriormente
confirmou, voltara à Rodoviária, onde tomou o Expresso Zefir, rumo de São Paulo.
Fala do acidente e dos instantes que lhe seguiram, quando foi transportado da Via Anchieta
para o Necrotério de São Bernardo do Campo, sendo, então, sepultado na condição de um
desconhecido.
Relata a exumação, em São Bernardo do Campo, já uma semana depois do acidente, quando foi
possível a identificação dele, confidenciando que acompanhava a aflição dos genitores, na
tentativa de localizar-lhe o corpo.
Lembra, também, que depois do novo sepultamento, realizado em São Paulo, visitou o pai na
Beneficência Portuguesa, buscando socorrê-lo e, após a alta hospitalar, reencontra-o já em casa,
na Alameda Jahu.
Chico Xavier ignorava nomes, fatos, o detalhe do táxi, os contratempos, envolvendo a
identificação do seu corpo, a exumação, etc...

II

Mãezinha do coração, pai amado.
Shabi.
Sou eu, meus amores.
O fone está funcionando pelos fios da alma.
Quero falar de saudade e o amor toma a vanguarda. O Carinho quer dizer que é maior. Noto a
luta entre os meus próprios sentimentos. Faço a soma de todas as parcelas de vida que me
compõem o ser e a média geral é amor sempre. Amor, saudade e gratidão.
Os assuntos são tantos!
Mas, acima de tudo, querida Mãezinha, quero informá-la de que estou lendo todas as páginas
que você me escreve pelo correio da prece. O silêncio é o carteiro.
Agradeço por tudo e respondo:
-- Sim, me lembro...
-- Amo-a cada vez mais...
-- Papai está em meu coração...
-- A falta hoje é muito maior que a de ontem...
-- Sim, Mãezinha, as estrelas brilharão outra vez para nós.
-- Seu filho está bem...
-- Por que? Porque as leis de DEUS queriam que assim fosse...
-- Mamãe, a saudade não é uma provação, é um convite de DEUS para trabalharmos com mais
dedicação pelos que suportam dificuldades maiores que as nossas...
-- A Primavera chegou, mas seu filho não está ausente...
-- Trago flores para você e meu pai, flores perfumadas de carinho incessante...
-- Nossos quadros são hoje mais belos...
-- Mãe, as tintas do pensamento são muito mais lindas que as da paleta terrestre...
-- E os nossos ideais estão sempre mais vivos...
-- Só o bem, meditemos unicamente, no bem, porque o bem triunfará...
Querida Mãezinha, aqui estão algumas de minhas respostas às suas páginas de ternura.
"Fale conosco desta vez, meu filho..."
Escutei o seu pedido que para seu filho é sempre uma lembrança querida e nunca uma
solicitação, e estou aqui para dizer-lhes que estou melhorando.
Papai, você está melhor de saúde e precisa melhorar cada vez mais... Rogo ao seu espírito
valoroso sobrepor-se aos estados negativos da tristeza sem significação. Estamos, presentemente,
mais juntos.
Aqui, vivemos segundo o que pensamos e pensamos conforme a substância de nossa personalidade,
nas faixas espirituais da vida.
Creiam, pais queridos, que estou trabalhando, ativamente, na preparação do futuro. Procuro
renovar-me por dentro de mim mesmo, a fim de criar elevação por fora de mim.
Agradeço igualmente o esforço que fazem na colaboração comigo. Embora, por vezes, muito
longe, especialmente falando, recebo de imediato as idéias que me transmitem e com essas idéias
as ações que elas produzem. Recursos que se transformam em alegria, amparo que se faz bênção,
doações que se convertem na felicidade dos corações que as recebem e moedas que acabam
parecendo luzes acesas nas sombras da necessidade.
"Em memória", "pela saudade de nosso Shabi", "pela felicidade de nosso filhinho", "pela
reafirmação de nosso imenso amor" -- tudo isso me vem aos ouvidos, com as preces que trocamos,
pedindo a Deus, uns pelos outros (1).
::::::::::
(1) As palavras de Shabi confirmam o que os jovens desencarnados sempre reiteram, nos textos
psicografados: permanecem muito próximos de seus pais e familiares, vivendo e sentindo os
mesmos problemas, as mesmas alegrias. A separação da morte é apenas física; os espíritos,
freqüentemente, continuam ligados conosco e sua aproximação é tanto maior quanto menor for o
desespero dos que permanecem aqui na Terra, porquanto, o sofrimento que os familiares
evidenciam lhes é diretamente transmitido pelas forças vivas do pensamento.
::::::::::
Querida Mãezinha e meu querido pai, não sei fotografar o meu reconhecimento com as palavras;
se pudesse desenharia um coração amparado em duas estrelas, simbolizando eu mesmo, apoiado em
ambos, amados meus.
A vida para mim, nos domínios diferentes da Espiritualidade, vai decorrendo em paz, não
obstante as inquietações injustificáveis, mas compreensíveis da ausência. Digo
"injustificáveis", porque aprendi com meus pais queridos que os Planos da Bondade Divina se
efetuam sobre os nossos próprios desígnios.
Meu avô José Henrique Pereira e a querida vó Deosolina são para mim benfeitores e guardiães (2).
::::::::::
(2) José Henrique Pereira e Dosolina Sponton Pereira, avós maternos, desencarnados,
respectivamente em 1970 e 1974.
::::::::::
Estou deslanchando do cais de nossa profunda ligação para o mar alto da compreensão maior.
Isso não significa mais extensão na distância e nem qualquer perda no tesouro de nosso afeto.
Desejo apenas configurar que estou seguindo adiante, já que o tempo é uma força de Deus que não
se pode interromper. Sigamos.
Para complementar os meus exercícios de ação espiritual, venho oferecendo a cooperação
possível ao nosso irmão Carlos Alberto Fernandes, no Santa Rita, ante o pedido de nossa irmã
Lucy (3), e podem acreditar que, apesar do longo processo quase comatoso, ele encontrou sempre,
e está encontrando de nossa parte, o concurso que se nos faz possível. E as almas queridas
agradecem o carinho e a assistência que o cercam.
::::::::::
(3) Carlos Alberto Fernandes, jovem que, na época, se encontrava internado na Casa de Saúde
Santa Rita, em São Paulo -- SP.
::::::::::
Mãezinha, o amor é um mistério. Por mistério designamos o inexplicável. Começa em nós, de
nós para alguém e depois somos três: pai, mãe e filho ou mais filhos a estendermos essa bênção
do Céu, de uns para com os outros. Depois Mamãe, o coração assemelha-se a uma concha de luz que
se multiparte. E iniciamos um novo curso de entendimento. Esse curso bendito em que vocês dois
me instalaram, é a beneficência.
Eu que amava tanto as artes todas, principio hoje por penetrar na maior de todas -- a do
amor ao próximo, seja o próximo quem seja.
Mamãe, esses meninos descalços, que você me ensinou a ver melhor, poderiam estar conosco, em
nossa casa e esses doentes todos que abraçamos, poderiam ser nossos parentes, amados por você e
por meu pai, como vocês me amaram e me amam.
Mãe, é tão bela a claridade da gratidão nos que sofrem e é tão soberanamente lindo o reflexo
estelar das mães que carregam os filhinhos nos próprios braços que, por vezes, seu filho
imagina que Deus não teria outro lugar para colocar o império dos astros senão no regaço da
noite, porque é no sofrimento humano que a Divina Providência traçou o caminho de luz para a
felicidade.
Trabalhemos sim, esperando e amando-nos naqueles que nos estendem os braços sequiosos de paz
e compreensão.
As recordações de São Bernardo desapareceram (4). Lembro-me do apóstolo de Jesus que se
dedicava a salvar os que jaziam relegados à neve e ao desamparo e penso que ele também
ter-nos-á estendido as mãos socorredoras, enviando recursos para que nos reencontrássemos na
saudade e na oração, que hoje se renovam para nós, em forças abençoadas de esperança e serviço.
::::::::::
(4) Cidade onde o corpo do jovem foi recolhido, após o acidente. Ver comentários iniciais.
::::::::::
Agora são as áreas enormes de realização que nos esperam, a cada dia, para que nós, dia por
dia, venhamos a construir a estrada de nosso reencontro.
Creiam-me presente. Não há separação entre os que se amam. O pensamento é uma tomada de
poder divino ante os recursos prodigiosos da Criação. Basta a idéia, e a imagem voa ao nosso
encontro com a velocidade sem acesso, por agora, ao conhecimento dos homens.
Chamem-me, sim. Estou disponível. Nossos mentores daqui me afirmam que posso cooperar de
algum modo e que as ligações nossas se erigem por intercâmbio de ação sempre mais construtiva.
Sei que sou ainda tão pequeno, a fim de ajudar e preciso fazer esta ressalva; no entanto, é
um privilégio ser lembrado por pais tão queridos e tão devotados ao bem, quanto os meus, para
que eu aprenda a realizar algo de bom ou de mais útil.
Estou feliz com as lágrimas de alegria que esta carta me faculta verter. Quando o coração
quer falar de amor e não encontra as frases próprias, encontra em si mesmo as pérolas do pranto
de júbilo e de gratidão pela possibilidade de expressá-lo.
As letras explicam e as lágrimas contam. Mãezinha e meu pai, dou-lhes, de novo, todo o meu
afeto com toda a minha alma, centralizada nesta mensagem.
Muito grato por tudo, tento, quase diariamente, repetir-lhes estas palavras com os beijos
que lhes entrego, no silêncio.
E, quando ambos conseguem algum repouso, no veludo da noite, muitas vezes, lembro-me de
quando me embalavam em criança e peço a Deus, em oração, para que os conserve valorosos e
felizes. Não consigo devolver as melodias com que me acalmavam no adormecer, mas posso
transformar a prece que faço num hino sem palavras em que Deus sabe que a minha gratidão fala
muito alto.
Fiquem fortes e contentes, é o que lhes desejo.
E, agradecendo o carinho de todos os nossos e a especial atenção dos amigos que nos
compartilham da alegria deste reencontro, entrega-lhes o coração reconhecido, o filho e
companheiro de trabalho e de esperança, hoje quanto ontem, agora quanto será sempre.

JOSÉ ROBERTO (SHABI)
31 de outubro de 1876.

III

Mãezinha querida e papai sempre lembrado, abençoem-me.
A falta de escrita não é falta de saudade (1).
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(1) Resposta de Shabi aos rogos maternos. D. Maura se queimava em pensamento ao filho que há
algum tempo não recebia qualquer palavra sua, através do Chico. Sempre perto dos pais, apesar
da ausência física, o nosso Beto "pescou" o lamento materno e respondeu: "A falta de escrita
não é falta de saudade".
::::::::::
Nasser, Sidney e outros amigos, estamos aqui a desejar-lhes um Feliz Natal (2).
::::::::::
(2) Nasser já é nosso conhecido; Sidney Fava faleceu em 1976, atropelado, em São Paulo, aos
16 anos.
::::::::::
Um amigo nos solicita seja transmitido à Irmã D. Célia uma rogativa -- a rogativa para que
ele se console e se fortaleça onde se encontra. É o nosso irmão Célio Onida Araújo (3), que
veio para cá, de improviso, num processo de aneurisma que ele mesmo desconhecia. O rapaz chora
e pede à Mãezinha para que não se lamente, a fim de que ele possa reconfortar-se.
::::::::::
(3) Célio Onida de Araújo, economista falecido aos 33 anos de idade, vítima de ataque
cardíaco, em 1977, no Rio de Janeiro.
::::::::::
Não me esqueço, Mãezinha, dos parentes e amigos. Vovó Cecília e a irmã Déa (4) ainda estão
com a prioridade em meus cuidados -- depois dos cuidados com que sigo Papai e você mesma.
::::::::::
(4) Déa Dias Schmulevitch, amiga da família, que perdera em 1973 um filho com 22 anos. Na
época, ainda entre nós, Shabi a reconfortou muito, continuando a fazê-lo, também do Plano
Espiritual. Vovó Cecília, avó paterna, Cecília Bonás Cassiano, sempre enferma, daí os cuidados
do neto Shabi.
::::::::::
Agora, faça seu filho sorrir e fique feliz. Com um beijo repartido entre ambos -- Você e
Papai -- sou o seu filho enamorado de seu carinho e cada vez mais agradecido ao seu amor.
Sempre seu

SHABI (*)
26 de novembro de 1977.

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(*) Após assinar a mensagem, Shabi tentou desenhar flores e como não o conseguisse,
certamente pela forte emoção do momento, escreveu as seguintes palavras: "Não posso desenhar as
flores que desejo. Ofereço-as, Mãezinha, a você, pela imaginação. Seu sempre, Shabi".
::::::::::

IV

Querida Mãezinha, querido Papai.
Abençoem-me.
O aniversário está em minha lembrança (1). Luzes foram acesas nas preces e votos de
felicidades que me ofertaram.
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(1) Dias antes, 19 de fevereiro, os pais comemoravam, em prece, o aniversário do filho que,
em Espírito, estava presente.
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Flores de esperança em nossa festa da alma enriquecem-me a nova vida.
Mãezinha, seria difícil, ontem para mim, fazer-me lembrado, de vez que a nossa comemoração a
três com Jesus estava sendo levada a efeito. Não que seu filho menospreze a doce recordação de
família e sim porque tenho visto o sofrimento sob novas modalidades.
A dor nas mães, aqui reunidas ontem, não me permitia manifestações de regozijo fremente. E a
deixar de fazê-lo com a espontaneidade e a extroversão que são minhas, julguei mais acertado
votar a favor dos propósitos de nosso irmão Eurico Tadeu que precisava podar as angústias da
senhora Mirthes que, entre nós, mostrava um coração agoniado e profundamente deprimido (2).
::::::::::
(2) Eurico Tadeu desencarnou em Manaus -- AM, em acidente de automóvel, no ano de 1975.
::::::::::
Hoje, ao que me parece, posso falar em nossa festa e agradecer, rogando ao Papai
fortalecer-se e viver tranqüilo. Alegria é saúde. Reconforto é remédio. Carinho é
tranqüilizante. Amor é vida. Entendimento é renovação.
Peço a Deus para que em minha condição de filho tenha posto o ponto nos iiiis do caminho.
Agradeço por tanta ternura, tesouro que me faz infinitamente feliz. E agradeço ainda o bem
que espalharam em favor dos nossos doentes e das crianças, pensando em mim.
Sou dos filhos mais ricos da Terra, porque os tenho no coração.
À vista disso entrego-lhes, com toda a minhalma, o coração do filho e companheiro
reconhecido de todos os instantes.

SHABI
11 de março de 1978.

V

Mãezinha querida, Querido pai.
Deus na bênção com que me fortalecem.
Estimaria escrever com pinceladas de luz estas frases de agradecimento e de amor. Enunciar o
meu reconhecimento pelas flores deste mês de Maio que me ofereceram. Contar-lhes muito mais com
carinho do que com palavras o júbilo, por vezes, orvalhado de lágrimas com que lhes recebo no
coração as lembranças queridas.
Entretanto, nas grandes emoções, os vocábulos do mundo assemelham-se a pedras, naturalmente
buriláveis para a execução de obras-primas, no entanto, sempre frias, à maneira de tijolos
preciosos e inertes, incapazes de exprimir a linguagem do coração.
Curvo-me, portanto, aqui, neste lápis amigo para restringir-me à convenção do "muito
obrigado".
Muito obrigado pela ternura com que me recordam, pelo devotamento com que me escrevem as
mais belas páginas da alma, pelo apoio incessante com que me acompanham em plena vida
espiritual, pela cobertura de abnegação com que me enviam tantas estrelas de bondade, através
do caminho e da presença de tantas crianças e de tantos jovens, em cujo contato me rememoram a
vida.
Querida Mãezinha, acolho em espírito as memórias sublimes que a sua generosidade me endereça
pela face de todos aqueles pequeninos e de todos os companheiros de juventude, em sorrisos e
bênçãos de compreensão e de amor. Sei que a sua maravilhosa vida é um castelo encantado nas
tarefas de educação a que se consagrou e através das suas lágrimas de saudade e esperança,
ausculto a própria Humanidade.
Sempre ouvi dizer que o ouvido terrestre escuta, na concha, o idioma do mar, e um filho
registra na dedicação maternal todas as forças que sustentam o mundo. Continue sim, abençoando
e auxiliando...
Ao lado de meu pai, o companheiro incansável de nossa caminhada nas trilhas do Tempo,
prossigamos doando à vida o que tenhamos de melhor. Não lhes firam os espinhos da marcha no
chão da Terra. Ainda que as sementes do bem e da esperança venham a cair em glebas
aparentemente estéreis, esses valores nunca desaparecem.
Chuvas de provações e canículas de angústia surgem nos climas da existência, erosões
inesperadas convertem altos montes em vales e planícies, tempestades arrasadoras explodem, por
vezes, e transformam as paisagens...
Rochedos se deslocam, desertos se fazem verdes, abismos alcançam alturas, fontes desabrocham
de penhas esquecidas e as sementes de Deus erigem prodigiosos jardins...
Flores despontam por toda parte e perfumes inesperados buscam os céus.
Tudo isso vemos daqui, deste "Mais Além", que é continuidade da própria Terra. A morte pode
trazer as sombras da noite, entretanto, a vida reinará sempre e ninguém lhe barra as
fulgurações do alvorecer. Nós, os que voltamos do mundo, somos unicamente viajores de retorno
ao lar.
A saudade é a sentinela que nos guarda nos dois planos. Aí nos faz chorar na sede de
presença e aqui nos aflige no desajuste da distância... Mas, é da lei do Senhor, seguirmos
sempre ao encontro do Bem Eterno e da Eterna Beleza, para a comunhão integral no amor Divino.
Creiam, pais queridos, que não divago. Por vezes, a expectativa humana aguarda de nossas
manifestações uma cornucópia de revelações, a derramar-se em valores indiscutíveis de
identificação da verdade, no entanto, nem sempre a simbologia dos nomes e dos números usados na
Terra consegue acender a luz que desejamos, porquanto, em muitos casos, é imprescindível que a
revelação espere pela maturidade, a fim de ser útil.
Compreenderão quanto digo, à face dos problemas de nossas vivências no mundo. Quantas vezes
anelamos falar de cimos resplendentes a corações queridos que em vão nos assinalam os conceitos,
habituados que se acham à sombra respeitável em que se encontram, realizando o melhor que se
lhes faz possível.
Não desejo dizer que estejamos num intercâmbio de ordem superior àquele que se verifica
entre os entes amados. Não é bem isso. O problema é de amor que sabe compreender para saber
esperar. Onde exista uma fagulha de amor, aí está a presença de Deus, e Deus é a própria
paciência convertida em esperança no trabalho incessante do Bem a tudo e a todos.
Venho agradecer-lhes. Se posso atingir o objetivo a que me proponho, estou satisfeito.
Entendemo-nos e isso vale mais que quaisquer argumentos tendentes à discórdia, porque a
discórdia será sempre desequilíbrio e o desequilíbrio é sempre perda de tempo. Amemo-nos sempre
mais e sirvamos quanto se nos faça possível.
Em nossa companhia temos o Irmão Cassiano que a identificação nos arquivos humanos não
consegue a ficha talvez desejável. De onde vem o sol que nos ilumina, detido no Espaço, a fim
de sustentar-nos a vida? Que nome doaremos ao firmamento, quando sem nuvens?
Como exumar a memória dos anjos que esculpiram na Terra as flores primeiras?
Quem saberá a procedência dos gênios tutelares que combinaram os agentes químicos no
nascimento do mundo para a fabricação dos perfumes conhecidos do homem?
Assim também, aqui, vezes e vezes, defrontamo-nos com aqueles que nos embalaram nas noites
do tempo, amparando-nos e amando-nos, muito antes que os conhecêssemos.
Irmão Cassiano será um ser assim celestial e terrestre que inspirou a existência de meu avô
Cassiano, a união dele com a vó Cecília (1), para que meu pai aparecesse e me entregasse aos
seus braços.
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(1) José Pereira Cassiano e Cecília Bonás Cassiano, avós paternos.
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Mãezinha querida... Ele será o amor indefinível, o mensageiro que fala com o silêncio e que
nos ama com a bênção do apoio oculto e incessante, para mim semelhante ao dos anjos.
Dessa atmosfera de alegria e de entendimento em que esse mesmo sublime benfeitor me recebeu
é que tenho escrito, na ânsia de pintar com palavras os quadros de minha nova vida.
As cores, porém, não são figuras geometrizáveis e muitas vezes troco impressões com os pais
queridos no domínio inabordável das idéias mais puras, com as quais operamos no caminho das
horas em que seguimos juntos e separados, visíveis e invisíveis, felizes e aflitos, qual se nos
mantivéssemos numa corrente sutil de sorrisos e lágrimas, de esperanças e desconsolos, de
tristezas e alegrias...
Mas este é o acesso a vencer e não temos outro, porque as Leis de Deus determinam que nos
ausentemos, por vezes, uns dos outros para amar-nos muito mais, aprendendo, ao mesmo tempo, a
compreender e amar aqueles que ainda não amávamos e nem compreendíamos.
Agradeço por tudo o que nos deram neste mês de aniversários coloridos de imorredouras
lembranças (2), tempo de mães e filhos, horas sagradas de lar e momentos de reaconchego nos
ninhos de ternura em que evoluímos pela dor e pelo trabalho para o Amor Sempre Maior.
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(2) Em comemoração ao Dia das Mães e em reverência à memória do filho, os pais de Shabi
visitaram em Uberaba algumas Instituições Beneficentes, ofertando-lhes socorro material, a par
do calor humano que lhes caracteriza a presença.
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Agradeço à irmã Nury Dolores e aos seus filhos queridos pelos diálogos de fé renovadora e
pelas bênçãos de cooperação em nossas tarefas (3); à irmã Lucy pela entrega dos brindes de paz
e carinho em benefício dos corações maternos, tantas vezes desalentados e sofridos no mundo; à
irmã Olga Duprat (4) pelas preces de confiança em nossa colaboração, pedindo resistência nas
provas redentoras; agradecemos, tantos amigos juntos e eu mesmo, por tudo o que fizeram e fazem
por amenizar o sofrimento, onde encontram esse buril de Deus, esculturando o progresso
espiritual.
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(3) Amiga da família.
(4) D. Olga Duprat se encontrava em grande sofrimento, com o filho e o marido enfermos. Ambos
faleceram algum tempo depois.
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Pai amigo, muito obrigado, querida Mãezinha, muito obrigado, minhas letras refletem saudade,
mas essa saudade é um setestrelo de amor e esperança em meu coração.
Estou renascido e feliz por pertencer-lhes, reconhecendo que nós três pertencemos a Deus.
Sigamos juntos para diante. Hoje é o calendário humano a desfolhar os dias com números e
siglas convencionais, no entanto, amanhã será a imortalidade vitoriosa e o reencontro sem adeus.
Muito amor com todo o coração e todos os sonhos do filho que os reúne no mesmo beijo
envolvente de confiança e carinho na união em Deus, luminosa e sem fim.
Sempre o filho reconhecido.

SHABI
20 de maio de 1978.

VI

Mãezinha querida, querido papai Abigail.
Unidos, peçamos a Deus nos abençoe.
Tempo vai, tempo vem...
Correm as dificuldades no trânsito das horas. As provas seguem voando, embora, por vezes,
com asas de chumbo... A renovação se processa. A mudança age com força inexorável. Entretanto,
o amor é a presença de DEUS. Luz envolvente e imperecível. Por isso mesmo, a saudade deixa de
ser um caminho de sombra para ser a chama da esperança, nas vias do reencontro.
Estas reflexões me ocorrem à frente do Natal, quando Jesus nos reúne a todos no mesmo ideal
de solidariedade. Uma compreensão nova desponta por dentro de nós e inclinamo-nos, de uns para
os outros, entendendo-nos por irmãos autênticos, viajores da mesma estrada e filhos do mesmo
pai.
Mãezinha, embora as dificuldades de intercâmbio, estou feliz. Permutamos, diariamente, as
nossas impressões e, momento a momento, endereço à Eterna Bondade a minha gratidão por haver
encontrado nos pais amados, que me acolheram, os melhores companheiros do mundo.
Associo-me ao júbilo de nossa casa nas recordações de Jesus e compartilho do trabalho
bendito em que surpreendo tantos irmãos nossos, nos mais variados setores da experiência na
vida.
Muito grato, Mãezinha, por matricular-me na escola bendita da beneficência em que as
revelações da Bondade Divina se nos fazem mais acessíveis aos corações.
Penso na alegria dos amigos que recolhem, sob a neblina da provação, as notícias do Divino
Benfeitor, com o anseio baldado de expressá-la em quadros de luz que nos dessem as dimensões do
amor infinito do Cristo de Deus, vencendo as eras e dominando as circunstâncias do mundo,
conquistando almas e comunidades, iluminando vidas e reajustando corações, cada vez mais.
Mãezinha, a sua bondade é o meu cartão de Boas Festas, que encaminho a quantos conheço,
porquanto, em todos os votos que formulo, estão as sementes vivas dos seus exemplos de
abnegação e carinho.
Que o Natal e o ano Novo lhes ofereça -- a ambos -- pais queridos, tudo aquilo que a vida
contenha de melhor.
De coração ligado à ternura com que se dedicam aos companheiros da retaguarda,
levantando-lhes o ânimo, para que se ergam para Deus e se façam felizes, tanto quanto já nos
sentimos esperançados de encontrar a alegria perfeita, com a vitória sobre nós mesmos, peço a
DEUS nos conserve plenamente integrados na união fraternal, uns com os outros, a fim de
aprendermos a servir com o Divino Servidor.
E estendendo os meus votos de paz e felicidade a todos os corações amigos que nos oferecem
base e estrutura às tarefas em que nos comprometemos na Seara do Bem, entrega-lhes o coração
reconhecido e feliz, o filho e companheiro que lhes segue os passos na jornada de elevação,
reafirmando-lhes que sou e serei sempre o filho que os ama infinitamente e lhes deve cada vez
mais,

SHABI
16 de dezembro de 1978 .

VII

Querida Mãezinha e meu querido papai Abigail.
Abençoem-me.
A noite recorda a outra de cinco anos de retaguarda. Depois do ofício religioso em que nos
vimos consternados pelo sofrimento da separação, o recolhimento em casa, depois de tantos
cerimoniais, para o silêncio.
Tudo recapitulado, temos hoje, a dor transformada em alegria. As notas do cântico de
angústia são, neste momento, melodias de júbilo em nossos corações que o tempo transfigurou em
relicários de esperança.
Lembro-me de todas as minudências e, nesta hora, associo a nossa querida Beth em minhas
recordações, de vez que naquela alma de menina e moça os acontecimentos haviam assumido a face
do horror.
Graças a Deus estamos longe daqueles dias, que medearam entre o 9 e o 16 de março,
comprimindo-nos os sentimentos, qual se estivéssemos prensados numa estreita câmara de fogo.
Quando pude abraçar o papai, em pleno tratamento intensivo no hospital, num encontro,
aparentemente, de sonho, já me encontrava, então, liberto de todos os laços negativos que me
algemavam àquela sede de reencontro.
Agradeço a Deus e aos nossos mentores quanto aprendemos em dias tão poucos, assimilando
ensinamentos que apenas se recolhem no educandário da angústia.
Mãezinha querida, a Vida continua...
Os nossos diálogos dentro da vida são os mesmos. O amor jamais desaparece. A vida é luz
perene. A morte será sempre a grande ilusão. Tudo vibra. Da estrela ao verme e do abismo ao
espaço celeste, as marcas sublimes da Presença de Deus se destacam, indicando-nos os cimos que
nos cabem atingir.
Ainda hoje, sei o preço que os pais queridos resgatam em saudade e pranto, no que se refere
à minha suposta ausência; entretanto, reconforto-me ao pensar que celebramos o meu renascimento
na Vida Triunfante, onde todo gemido humano se converte num hino de esperança e onde as maiores
tribulações se dissolvem na alegria perfeita, à maneira da nuvem que desaparece à frente do sol.
Agradeço aos pais queridos quanto fizeram e fazem a meu favor, creditando-me a felicidade,
que sabem esculpir para os outros em nome do filho que tanto lhes deve e peço ao Senhor da vida
enriquecê-los de bênçãos sempre maiores.
Estamos aqui, alguns amigos, o Beto e eu, expressando o nosso reconhecimento a Deus pelos
genitores que nos concedeu para a travessia da Terra. E o vovô José Henrique com a vovó
Dosolina compartilham aqui de nosso contentamento.
Permitirá Jesus, venhamos a exteriorizar esta nossa felicidade, estendendo-a a todos os
nossos corações queridos que, em se nos vinculando à família, são credores de nosso amor.
Mãezinha querida, muito grato pelas doces evocações de nossos registros mais íntimos.
Estou feliz por vê-los felizes e quanto possa, trabalharei para que esse pão bendito de paz
e alegria não nos falte à mesa dos corações em quantidade suficiente para que possamos torná-lo
extensivo aos outros, especialmente os que trilham a mesma estrada de experiência, suportando
as aflições e as lágrimas que lhes marcam a vida.
À nossa estimada irmã Lucy, os nossos corações agradecidos. Somos todos uma família só. Por
isso mesmo, as palavras de gratidão e carinho a cada coração do nosso núcleo afetivo se faz
mensagem de agradecimento a todos.
Prosseguimos trabalhando e nisso consiste a nossa realização maior. Sinto-me profundamente
integrado nesse luminoso complexo de paz e amor e rendo graças ao Senhor por isso.
Mãezinha Maura, receba com o papai Abigail um painel de saudades, emoldurado em flores de
esperança, dessa esperança que vibra imortal no coração de seu filho que lhes deseja o Céu na
Terra, com todas as maravilhas de Deus a lhes brilharem no caminho de construtores do Bem.
Para ambos, a vida toda e todo o carinho do filho cada vez mais reconhecido.

JOSÉ ROBERTO PEREIRA CASSIANO (SHABI)
16 de março de 1979.

VIII

Querida Mãezinha Maura, com o Papai Abigail, receba os meus votos ao Senhor da Vida pela paz
e bom ânimo em nossas tarefas.
Mãezinha, em seu querido aniversário, se eu pudesse materializar uma rosa, seria ela a
mensageira de meu reconhecimento, a envolvê-la no perfume dos mais lindos sentimentos que a sua
dedicação me deu a guardar (1).
::::::::::
(1) Shabi fala do aniversário da mãezinha, justamente comemorado na data da psicografia da
mensagem.
::::::::::
Se possuísse uma estrela, oferecê-la-ia ao seu querido coração, para que significasse o meu
próprio anseio de ser tudo aquilo que o seu amor sonhou para seu filho e que ainda não consegui
efetivar.
Se conseguisse deter as bênçãos de uma fonte, decerto que solicitaria à corrente cantar para
a sua alma os mais belos versos de ternura e gratidão que me fosse possível.
Se conquistasse um pedaço de céu azul, escreveria nele um poema em que se gravassem todas as
minhas saudades e esperanças, tentando patentear quanto devo à sua presença constante em meu
espírito.
Entretanto, Mãezinha, já que seu filho não dispõe de semelhantes possibilidades e riquezas,
ofereço-lhe o meu coração pobre, mas sempre seu, com as minhas súplicas ao Senhor para que a
paz e a felicidade lhe iluminem todos os passos, ao lado de meu querido pai Abigail e no clima
de todos os nossos.
Indiscutivelmente, cabe-me limitar as felicitações que lhe trago, tão-só às luzes da alegria
e às esperanças que nos abençoam a caminhada.
No entanto, querida Mãezinha, sei que o seu amor nos adivinha os cuidados da hora presente.
Com as suas mãos e com as mãos de nossos amigos, achamo-nos todos, os companheiros do nosso
amigo Nasser, compartilhando-lhe o trabalho, no auxílio aos familiares.
Perdoe-me, se lhe digo que os nossos pensamentos destes dias estão encharcados com as
lágrimas de nossa irmã Shirley, de nosso amigo Miguel, do companheiro Gugu, da nossa benfeitora
Angelina, da Bebel e das irmãzinhas e com o zelo ativo, mas tisnado de inquietação do nosso
Nasser, empenhado com outros familiares no socorro aos corações queridos (2).
::::::::::
(2) Shabi se refere às dificuldades da família Haddad, comentando as inquietações do jovem
Nasser que do Plano Espiritual se via naturalmente incomodado com acidente recém-ocorrido, em
que o pai, Sr. Miguel, e o primo Gugu deixaram a vida física. Bebel é irmã do Nasser e D.
Angelina, sogra do Sr. Miguel.
::::::::::
Estamos trabalhando. Seu filho que passou por ocorrência tão difícil à frente de máquinas,
se comove diante do quadro doméstico de nossos amigos em prova, associando-se às preces pela
tranqüilidade de todos.
Peçamos aos Mensageiros do Mais Alto, possam balsamizar os sofrimentos de nossos queridos
companheiros. Isso faz parte da nossa festa, porque o seu carinho me ensinou esse dever de
lealdade aos amigos que se nos fazem parcelas da própria alma.
Continuaremos agindo no tentame de fazer o melhor pelos queridos irmãos, reunidos na
tribulação redentora.
Agradeço ao Papai Abigail o carinho de sempre e colocando os pais queridos em meus próprios
braços, imitando-lhes os gestos de proteção com que me afagavam em criança, entrega-lhes todo o
coração, o filho reconhecido que prossegue pedindo a Deus por nossa paz e felicidade.

SHABI
17 de novembro de 1979.

IX

Querida Mãezinha, abençoe-me.
Sem palavras para configurar todo o nosso amor numa longa carta, o amigo José Roberto e eu
deixamos às queridas Mãezinhas o nosso coração reconhecido com a certeza de que estamos bem,
conquanto em serviço ativo no apoio aos nossos amigos que se transferiram para cá recentemente,
em nos reportando ao irmão Miguel (1).
::::::::::
(1) Sr. Miguel Nasser Haddad desencarnado em companhia do sobrinho poucos meses antes. Ver
mensagem anterior.
::::::::::
Se poucas palavras podem dizer muito, queremos afirmar que o nosso carinho é cada vez maior,
e que estamos a postos, a fim de nos reunirmos todos como sempre, na fé viva em Deus e no
exercício do Bem.
Carinhosamente, o filho reconhecido.

SHABI
08 de março de 1980.

X

Querida Mãezinha Maura, receba com meu pai Abigail as minhas saudações de carinho no pedido
de bênção com que me sinto o seu menino de sempre.
Dia das mães à vista!
Achamo-nos todos na condição de viajores que retornaram do Exterior, avistando as primeiras
paisagens da terra em que nasceram. É um grito de júbilo, esse que tantos de nós aqui
desferimos, nesta noite, rogando aos Céus pela felicidade dos anjos maternos que nos refizeram
a vida no Plano Terrestre.
Mãezinha, comigo está outra mãezinha -- a sua pérola que lhe recebeu as irradiações de amor
no poema que a sua ternura lhe endereçou. A querida vovó faz questão de nos partilhar a
companhia, não só para festejar esta formosa antevéspera do Abençoado Dia, mas igualmente para
me complementar a solicitação de paz que lhe fortaleça e revigore o coração.
Ela, a nossa doce benfeitora do lar, recorda a sua presença e a presença dos outros filhos
queridos -- tio Ivo, tio Oswaldo, tia Iracema, tia Ilda e tia Aurora, entrando em prece na qual
recomenda todas as suas queridas crianças a Deus, porque especialmente para o carinho materno,
os filhos não crescem. São sempre personagens de sonho que não se marginalizam nas sendas do
amor puro.
Pois é, querida Mãezinha Maura, vovó e eu vimos pedir-lhe alegria e tranqüilidade, aliás,
merecidas por seu espírito de devotamento e renúncia em auxílio a nós todos.
A nossa mensagem mais expressiva para a sua sensibilidade, mensagem quase cifrada pelas
forças de nosso amor em família, se condensa numa simples frase -- o seu não foi abençoado. A
sua palavra criteriosa visou a defender amigos queridos que precisam de segurança para facear o
futuro.
A sua compreensão elevada com o apoio de muitos amigos nossos, procurou preservar um
abençoado ninho no qual aves ainda implumes -- os primos queridos -- necessitam preparar as
energias próprias ante o grande porvir. A sua paz não pode ser quebrada por haver atendido a um
dever que todos consideramos respeitável e justo.
E, nesse esquema, ficou uma sugestão: A idéia de que a nossa abençoada empresa doméstica,
com o auxílio da Divina Providência permanecerá neste princípio: "O não é o limite".
Efetuada a defensiva de nossas crianças, no sentido de lhes assegurar ambiente para o amanhã
próximo, deixemos os assuntos correlatos entregues a Deus, através da responsabilidade das
criaturas.
O caminho é longo para o aperfeiçoamento que demandamos e não precisamos apontar esse ou
aquele espinho na trilha das pessoa amadas, porque já possuímos espinhos em quantidade
suficiente para nos afastarem de qualquer repouso inadequado.
Mantenhamos o "não" que é "sim" para o bem do nosso grupo de corações queridos e sigamos
para diante, na certeza de que o Senhor é o nosso Pastor e nada nos faltará, recordando as
belas palavras do salmo de Davi. O tempo é o grande instrutor de todos, de todos nós que
estamos matriculados no educandário da vida.
Descanse com o papai Abigail e permaneça contente com a sua inspiração que solucionou
antecipadamente um problema grave que certamente mais tarde apareceria.
Peço dizer ao tio Ivo e à tia Doroti que a bondade de Deus nunca falha e que não temos
motivos para aflições. Trabalhemos e pelo filtro do serviço a Providência de Deus de tudo nos
cercará, a fim de que nos vejamos na abastança precisa.
Rogo ainda seja dito à tia Aurora que acompanhamos a festa do nosso caro companheiro José
Eduardo e que desejamos a ele, junto da companheirinha, todas as alegrias e bênçãos que a vida
lhes possa proporcionar no clima da proteção do Mais Alto.
Aqui em nossa companhia está o nosso Beto e o caro Nasser que nos partilham a mensagem de
filhos reconhecidos, desejando felicidade e saúde, paz e bom ânimo às mãezinhas queridas, nossa
irmã Lucy e nossa irmã Shirley.
Agora, Mãezinha Maura, é o momento de me recolher à câmara da saudade.
Creia, porém, que a saudade de seu filho é sempre uma esperança crescendo no coração.
Estamos juntos como nunca estivemos. Papai, Mãezinha, o seu coração e eu mesmo, somos um
trio de fé viva em Deus na atividade incessante do bem, na qual vamos acumulando experiências
das melhores.
Beijando-lhes as mãos reunidas nas minhas mãos enternecidas no reconhecimento por tudo o que
lhes devo em carinho e proteção, segurança e bênção, sou o filho que permanece, sempre em casa
e sempre no coração, na alegria de ser a criança para a qual os meus pais queridos construíram
o caminho da felicidade e um mundo melhor.
Sempre o filho reconhecido.

SHABI
09 de maio de 1980.

ESCLARECIMENTOS

O texto anterior tem cunho estritamente familiar, conversando Shabi com os pais, a propósito
de ocorrências que, na época, os preocupavam, agora felizmente superadas.
Podemos, ainda uma vez, compreender a intensidade da participação dos filhos desencarnados
na vida dos pais e familiares, buscando cooperar para a solução dos problemas que preocupam os
entes amados.
Oportuno lembrar que, toda dor, tristeza ou desespero dos familiares se refletem diretamente
nos entes queridos que partiram para a Vida Maior, causando-lhes sofrimento muito grande. Daí
ser comum, nas mensagens psicografadas, a petição dos filhos rogando aos pais que procurem não
chorar mais, vivendo tanto quanto possível mais felizes, pois a alegria e a felicidade deles
são fundamentais para a sua readaptação no Além, após a morte física.
Os nomes citados são de familiares de D. Maura, além da menção ao outro Beto, ao Nasser, já
nossos conhecidos, e a suas mãezinhas, Lucy e Shirley.

XI

Querido Papai Abigail e querida Mãezinha Maura.
A noite avança e o tempo aqui é um condomínio de que os Mensageiros do Mais Alto são os
síndicos.
Não posso alongar-me. Estou, no entanto, na companhia do vovô Evaristo (1), trazendo ao
Papai a nossa mensagem de gratidão e de alegria, formada por nossas preces a Jesus, a fim de
vê-lo refeito e plenamente integrado em suas faculdades orgânicas.
::::::::::
(1) Evaristo Pereira Cassiano, bisavô paterno, falecido em 1942.
::::::::::
A tempestade passou. Agora, apenas rogamos ao querido benfeitor paternal conduza o carro
físico na consciência de que fomos agraciados com muitas bênçãos. Estou contente, marcando esse
ponto de restauração que nos faz a todos mais felizes para a continuidade de nossas tarefas (2).
::::::::::
(2) Preocupação do filho com o estado de saúde do pai. O Sr. Cassiano experimentara piora
sensível, felizmente transitória, daí Shabi dizer: " A tempestade passou".
::::::::::
Mãezinha, tenho comigo todos os seus poemas e cartas, petições e votos. Respondi a tudo no
silêncio de nossas meditações, resumindo muitas das minhas laudas imensas de amor com estas
palavras:
-- Pais queridos, recebam o meu amor invariável! Sejam sempre felizes!
É o pensamento incessante do filho que pede às tintas do sonho se agregarem para o mais
lindo quadro de alegria, no qual eu lhes ofereça, como sempre, todo o coração do

SHABI
24 de julho de 1981.

XII

Querida Mãezinha Maura e querido papai Abigail, agradeço a festa de aniversário que ambos
enriqueceram de flores mil.
Aqui me encontro, à feição de um menino feliz que conquistou o que mais quis -- uma árvore
perene de Natal que se repete em todos os dias, com as mais lindas alegrias.
Realmente o amor é muito mais forte do que o tempo e vence a própria morte que deixa de
existir, quando nos afastamos do presente no encalço do porvir...
Por tudo em que me rejubilo, sempre mais animado e mais tranqüilo, à frente da ternura na
qual ambos me trazem tudo aquilo de que vi na difícil procura: amor, encantamento, regozijo e
beleza, luz, vida e esplendor que em tudo vemos superar a riqueza soberana da própria
natureza...
Sim, tenho tudo o que sonhei nos trechos de esperança, quanto a felicidade, e na plenitude
de paz e de alegria que me envolve e me invade, peço a Deus os proteja sempre mais, na união
benfazeja que deve iluminar os passos e caminhos dos melhores dos pais.
Mãezinha Maura, é verdade que vejo tudo quanto se faz por meu desejo. Vejo a Grécia querida
por matriz de cultura e exaltação da vida, noto Sócrates e Platão, Tucídides e Terêncio, nas
imagens felizes em que se nos conservam as raízes...
Vejo Roma e as Sabinas, Rômulo e Remo e os juízes, formando o povo eleito que nos faria
sobre a Terra a força do direito...
Vejo, ainda, a história linda e os lances de terror, quando os imperadores se mantinham por
inimigos dos cristãos e fito de novo Constantino, alterando o destino de povos e nações...
Mas ouça, Mãe querida...
Tudo isso que contemplo está nas telas que visito, as formas sempre belas do que já foi,
porquanto, na verdade, os senhores da História já sofreram bastante e partiram no rumo do
melhor e do Mais alto...
Posso dizer-lhe ainda que não vou às estrelas, mas, posso surpreendê-las na formosura nova
em que tudo o que somos se renova; entretanto, muito mais do que tudo isto, agora o que mais
sinto, pela necessidade ou pelo instinto, é o desafio da Vida Espiritual a que me alteie e me
refaça.
Acima de tudo isto -- volto a dizer -- quero notar-me em Cristo, a fim de ser o filho
agradecido que lhes deve o dom de ser sem parecer o coração que os ama, incendido na chama do
amor em luz sem fim...
Agora para mim, só o amor é essencial e esse amor encontrei nos pais que Deus me deu para
que eu descubra mais amor nos mais altos caminhos...
Agradeço aos amigos que vieram à nossa festa de saudade e alegria. José Roberto, o amigo e
irmão, com muitos outros, saúda os pais amados a quem nós três somos reconhecidos.
Queria transmitir tudo o que tento expor numa tela de amor em que o rosa fosse a tônica do
sonho... mas não tenho tinta alguma, nem qualquer palavra que, por fim, me resuma o coração que
trago.
Recebam, pois de minhas mãos vazias a gratidão de todos os meus dias e essa ternura sem
fronteiras, sem sombra e sem limites em que me reconheço unicamente a criança que os segue e
não alcança. E, por mim Jesus dirá, nas estradas da vida, tudo quanto quero falar e não
consigo...
Guardem, assim, esse pouco de mim, no afeto sem tamanho em que sou e serei para os dois,
hoje, agora e depois, meus tesouros de amor, o filho sonhador e companheiro de todos os
instantes -- ante os queridos pais -- o menino feliz que os ama sempre mais.

SHABI
19 de fevereiro de 1982.

(Este poema, psicografado na data do natalício de Shabi, responde, uma a uma, a indagações
formuladas pela genitora -- sem que o médium o soubesse -- momentos antes de sua recepção). FOTOS DA VIDA
Volume único
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FOTOS DA VIDA


Francisco Cândido Xavier
Pelo espírito
Augusto César

Edição GEEM -
Grupo Espírita Emmanuel
Sociedade Civil Editora
Av. Humberto de Alencar
Castelo Branco, 2857
São Bernardo do Campo
São Paulo - Brasil
Caixa Postal 222
CEP. 09701-970
Tel: (0xx11) 4109.71.22

Transcrito da 1ª edição

Março de 2005

Volume único
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FOTOS DA VIDA


Francisco Cândido Xavier
Pelo espírito
Augusto César

Transcrição da Divulgação
Braille - CASIMIRO CUNHA
GEEM
Grupo Espírita Emmanuel
São Bernardo do Campo/SP


Venda proibida
Transcrito de acordo com a
Lei 9610 de 19-02-98 de
Direitos Autorais
Título III cap. IV - art. 46
- item I - alinea D

Volume único
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FOTOS DA VIDA

índice Geral

Volume único
Da página 1 a 83

Fotos da vida?:::1
Esportes do Espírito?::3
Prece de gratidão?:::6
Feminismo?:::::9
Oficinas de assistëncia?:::14
Ambição?::::::20
Episódio em caminho?:::25
Cobiça?:::::30
Doações tardias?:::36
Oração e resposta :::41
Feliz dia das mães?:::45
Teste difícil?:::50
Mocidade de Augusto?:::56
O inesperado?:::58
Virtude sobre virtude?:::63
Questionário?::::66
Tóxicos?::::72
Numa festa de aniversário?:::::::74
Julgamentos?:::::79

<T Fotos Da Vida>
<T+1>

FOTOS DA VIDA

Homenagem e gratidão a Rolando Ramacciotti


Terminamos a aula-encontro, que participaram numerosos companheiros, quando solicitamos a
atenção de Augusto.
-- Muito bem! -- dissemos felizes -- lemos as suas produções que serão lançadas brevemente na
Terra e nos regozijamos com a forma digna, através da qual você expressou as suas impressões e
pensamentos.
Augusto Cezar, desapontado, fez um sorriso de agradecimento, entretanto, para não encerrar o
diálogo, tornamos a palavra, perguntando:
-- Que título dará você ao seu novo trabalho?
Interpelado, assim diretamente, o companheiro respondeu:
-- Estimaria que o senhor nos nomeasse as páginas modestas.
E a nossa permuta de idéias continuou:
-- Não devo esquecer a sua capacidade de escolha e de iniciativa. As suas observações nos
oferecem fatos reais da vida. Você alinhou assuntos da maior atualidade e, em seus escritos, os
corações se movimentam, qual se estivessem sob os nossos olhos. Para você grafar o seu livro,
terá penetrado tão fortemente nos quadros do cotidiano terrestre, que isso confere ao seu
trabalho o mérito de alguém que aprendeu a ser simples, a fim de alcançar a simplicidade com que
age a maioria dos nossos irmãos domiciliados no Plano Físico. Felicito a você, desejando-lhe
muita alegria e muito trabalho.

***
Em seguida, Augusto retirou-se sobraçando o volume que nos deixara em mãos, por alguns dias e
notamos surpreendidos que o amigo nos fixara a observação, quando nos voltou à presença,
trazendo-nos o livro pronto com a legenda: -- Fotos da Vida.

***
Trocamos um olhar de alegria e reconhecimento e aqui apresentamos ao leitor amigo o volume
despretensioso com que o nosso companheiro se faz credor de nossa confiança e admiração.
Emmanuel
Uberaba, 20 de maio de 1988.

ESPORTES DO ESPÍRITO

Prezado amigo.
Em resposta à sua indagação sobre os esportes e a Vida Espiritual serei breve com alguns
apontamentos.
As atividades esportivas, no campo do Espírito, podem começar para qualquer um, na próxima
existência terrestre.
Exemplos.
Aí mesmo na Terra, ser-nos-á possível praticar a ginástica dos pensamentos nobres contra as
tentações de ordem inferior, utilizando a barra do silêncio.
A corrida até os lares infelizes, disputando-se os primeiros lugares no auxílio aos irmãos em
penúria.
O salto sobre as ofensas, com o esquecimento do mal.
A natação no suor do trabalho.
O xadrez da reflexão, a fim de que se aprenda a raciocinar para o concurso da solução dos
problemas domésticos.
A disciplina sistemática para a abstenção dos alcóolicos e similares.
A contribuição possível, ajustada com segurança ao cesto da beneficência.
O treinamento da respiração que nos obrigue à calma, de modo a que se evite o agravo de
discussões e antagonismos, onde estejamos.
O alpinismo do sacrifício para a conquista dos cimos da elevação.
Os remos do serviço que nos reequilibrem as próprias forças.
As excursões pacíficas que nos ensinem o endereço dos que sofrem, a fim de reconfortá-los.
A limpeza da própria moradia, com as melhores notas de higiene.
Qual você poderá observar, aí estão algumas regras para a iniciação.
E não podemos esquecer o nosso futebol das boas ações. Cada prestação de serviço ao próximo é
um destaque a mais para o time a que você pertence.
Nessa base, temos diariamente as melhores oportunidades de exercício e competição.
É muito fácil reconhecer a nossa posição nos escores de qualquer um dos esportes do Espírito.
Se o assunto realmente nos interessa, todos os dias, ser-nos-á-possível observar quem serve
mais.

PRECE DE GRATIDÃO

Senhor Jesus!
Eterno Amigo!
Venho agradecer-te a concessão que me fizeste, neste recanto de paz, permitindo-me fossem
escritas as páginas do livro que se faz um reflexo da tua presença de luz!...
Em Peirópolis, agradeço-te a casa de oração que nos acolhe;
Os amigos que lhe dirigem as tarefas;
Os irmãos que lhe estruturam a equipe de fraternidade, assegurando-lhe a harmonia das
reuniões;
As preces que nos entretecem o ambiente de esperança;
As palavras abençoadas dos companheiros mais experientes;
Os cânticos da alma juvenil;
As vozes das crianças;
O vento suave que balsamiza os caminhos;
As árvores generosas;
O perfume das flores;
O fulgor das alvoradas e as tintas do entardecer;
O clima de meditação e repouso;
Os pensamentos nobres que nos insuflam coragem e alegria;
As mãos devotadas ao trabalho;
Os corações que pulsam para a execução do bem;
As lições de simplicidade e de amor;
A solidariedade em que sentimos a presença de todos por um e de um por todos;
As aves amigas;
Os animais prestimosos;
A felicidade da comunhão espiritual;
As sugestões de paciência e entendimento...
E, enquanto te falamos, de coração aberto, com as nossas lágrimas de reconhecimento e de
júbilo, mais uma vez te agradecemos as árvores acolhedoras que, em todas as noites inesquecíveis
de oração e serviço, se despedem de nós, agitando os braços ramalhosos, como a dizer-nos: sigam
com Deus! Sigam com Deus!... Sigam com Deus!...

FEMINISMO

Pergunta-me você o que seja feminismo, talvez supervalorizando a minha capacidade de resposta.
O assunto no entanto, me fez lembrar uma história, aliás, repetida por vários cronistas,
interessados nas tradições populares.
Dou-lhe esta explicação para que você não me considere plagiário com adjetivos jocosos e
zombeteiros.
Conta-se que Jesus, acompanhado por alguns discípulos, seguia, dos arredores de Jerusalém,
demandando a cidade de Jericó. O Mestre alterara o plano da excursão, através de muitas veredas,
a fim de visitar necessitados e doentes.
Em dado instante, o grupo não soube acertar com o verdadeiro caminho e apareceu acalorada
troca de opiniões.
Nisso, salientou-se, não longe, a figura de um viandante cuja presença pareceu providencial
aos companheiros da Boa Nova.
Notando que o desconhecido se abeirava dos circunstantes, Simão Pedro barrou-lhe a frente e
interpelou-o:
-- "Amigo, acaso poderá a sua bondade informar-nos quanto ao exato caminho para Jericó?"
O desconhecido trancou a face que lhe evidenciava o descontentamento e replicou em seguida:
-- "Quem lhe falou que sou guia de vagabundos? Tenho mais que fazer. Não me arrisco a contato
com malfeitores e ladrões. Sigam para onde quiserem..."
Dito isso, afastou-se estugando o passo e Pedro, desapontado, dirigiu-se a Jesus, comentando:
-- "Mestre, viu só que insolência? Não é justo suportar desaforos! Decerto que o Céu castigará
esse brutamontes, impondo-lhe a punição que faz por merecer..."
O Cristo ouviu, apreensivo, e ponderou:
-- "Pedro, não julgue ninguém sem o conhecimento preciso... Quem será esse homem? Talvez seja um
doente ou um desesperado..."
A expectativa reapossava-se dos apóstolos, quando surgiu, à frente deles, bela jovem
carregando um cântaro de água na cabeça.
Simão adiantou-se, interpelou-a, repetindo a petição que fizera ao viandante agressivo e
exasperado.
-- "O melhor caminho para Jericó?" -- indagou a moça sorrindo.
De imediato, depôs no chão o vaso que trazia e passou a explicar com gentileza de que modo
atingiriam a cidade sem obstáculos maiores. Além disso, encorajou os apóstolos à caminhada, com
expressões de encantador otimismo.
Terminado o diálogo, ei-la retomando o vaso transbordante de água límpida, seguindo estrada
afora...
Simão aconchegou-se a Jesus e lhe falou com intimidade:
-- "Mestre, notou a diferença? O bruto que nos desconsiderou e essa menina generosa se parecem a
um animal e a uma flor..."
Ante o Senhor, que se fizera pensativo, Pedro insistiu:
-- "Senhor, qual será a recompensa que o Céu concederá a essa jovem que nos prestou um serviço
tão grande?"
Jesus sorriu e falou ao apóstolo em voz alta:
-- "Sim, Pedro, essa jovem será recompensada; e o prêmio dela será casar-se com o homem
brutalizado que passou por aqui, a fim de que consiga educá-lo para Deus e para a vida".
Surpresa geral encerrou o assunto.
É isso aí, meu caro. Se a mulher nos abandonar à própria sorte, negando-se a cumprir a missão
que o Céu lhe atribuiu, com certeza, nós todos, os homens vinculados ainda à Terra, estaremos
perdidos...

OFICINAS DE ASSISTÊNCIA

E porque nós outros -- um grupo de rapazes -- nos acercamos do Mentor, indagando que opinião
era a dele sobre as oficinas de assistência aos necessitados, nas realizações cristãs, ele nos
respondeu cortesmente:
-- O assunto é do maior interesse. A propósito, desejo contar-lhes a experiência de um
companheiro.
Um amigo, que foi batista na Terra, chegou à Vida Espiritual com grande prestígio pelos
serviços prestados à Causa do Senhor. Conduzido por devotados benfeitores à grande cidade da Vida
Maior, passou a visitar os setores de trabalho que o empolgavam. Tomando a companhia de um
professor, entrou a movimentar-se.
Na seqüência de suas excursões, viu-se diante de vasto sanatório, em cujo interior e em todas
as dependências se notava tremenda algazarra. Impropérios, acusações mútuas, insultos e rixas. A
balbúrdia era enorme.
Impressionados, ele e o acompanhante, perguntaram a um dos diretores da instituição se ali
estava algum setor da zona infernal, ao que o interpelado replicou humildemente:
-- Sim, a nossa casa pode ser considerada uma região de inferno, onde alguns de nós, irmãos
acordados para a vida, devemos treinar abnegação e tolerância.
Nosso amigo inquiriu:
-- Poderá nos informar se aqui vivem alguns batistas?
-- Muitos, foi a resposta.
E o diálogo prosseguiu:
-- E presbiterianos?
-- Grande quantidade.
-- E católicos?
-- Número imenso.
-- E luteranos de outras interpretações?
-- Igualmente muitos.
-- E espíritas?
-- Legião incalculável.
Nosso companheiro considerou:
-- É uma lástima! E como se comportam na comunidade?
-- Infelizmente -- esclareceu o diretor -- os religiosos que se acham aqui são espíritos
cristalizados nos enganos que abraçaram. Foram, todos eles, homens e mulheres, habitualmente
discutidores e intimamente revoltados. Agarrados aos próprios pontos de vista, são rebeldes,
indiferentes, vaidosos e intolerantes. Viveram no mundo físico em teorias e anátemas, mergulhados
em preguiça mental, a ponto de muitos deles não aceitarem a realidade da vida espiritual em que
se encontram...
E quando estarão libertos de tanta cegueira?
O diretor explicou:
-- Quando demonstrarem a renovação espiritual precisa, a fim de merecerem o privilégio de
aprender a servir.
Indiscutivelmente, os visitantes saíram dali desolados e depois de alguns quilômetros
surpreenderam grande colônia espiritual, de cujo interior se irradiavam luz e harmonia.
Pararam observando...
Em seguida solicitaram a um dos guardiães da porta, a presença de alguém que lhes pudesse
prestar os informes que julgavam precisos.
Veio um diretor e repetiram a indagação sobre a natureza e finalidade daquele instituto.
O amigo respondeu:
-- Aqui somos todos uma só família; todos os que residem aqui são aqueles que acreditaram em
Jesus e seguiram-lhe os passos, trabalhando e servindo, por amor aos semelhantes. Não há
denominações religiosas que nos diferenciam, até porque temos conosco muitos ateus que se
consagraram espontaneamente ao bem do próximo, ignorando que estavam acompanhando o Divino
Mestre. A prestação de serviço aos outros, sem idéias de recompensa, nos proporcionou a
felicidade de estarmos todos juntos em Cristo.
Foi então que compreendi melhor o valor das oficinas de assistência aos necessitados. Aí,
nesses recantos abençoados, é possível estudar as Lições do Senhor e segui-lo verdadeiramente no
rumo das alegrias imperecíveis.
Somente os que aprendem a trabalhar e a servir, com esquecimento de si mesmos, acham-se no
rumo exato da felicidade real, de vez que nada valem as preciosas argumentações vazias de boas
obras, porque, sem as realizações do amor ao próximo, não teremos senão a alternativa de tudo
recomeçar, aprendendo, por fim, a fazer o melhor de nós e de nossa vida, para que possamos
justificar o privilégio de conhecer.

AMBIÇÃO

Era noite.
O mentor Silvério Pires recomendou-me esperá-lo por instantes.
Em seguida, veio a mim explicando:
-- Augusto, temos serviço urgente. Venha comigo. Trata-se de um pedido de mãe devotada, em apoio
de um filho enfermo.
Obedeci, de imediato, mesmo porque o orientador é um desses professores diletos a que nos
vinculamos por afetuoso reconhecimento.
Alguns minutos voaram e atingimos um palacete de primorosa estrutura, cercado por jardins que
brilhavam ao luar, dentro da noite.
Entramos.
O mentor parecia familiarizado com os mínimos recantos do solar, enriquecido de tapetes e
telas raras.
Em aposento próximo, mobiliado segundo os hábitos portugueses do século XVIII, um homem,
aparentando cinqüenta janeiros, escrevia e escrevia...
Porque estacássemos, de repente, perguntei surpreso ao meu condutor:
-- Onde está o doente?
O amigo fez um gesto de proteção, sobre a cabeça do homem que me era desconhecido e acentuou:
-- Este é o irmão Celestino que nos requisita assistência.
Fitei o desconhecido, da cabeça aos pés e não lhe notei qualquer anormalidade.
Entretanto, o mentor solicitou-me:
-- Tome papel e lápis e copie a carta em andamento. Trata-se de um estudo que nos cabe fazer.
Sem vacilar, passei a escrever o texto que o desconhecido produzia à nossa frente.
Era uma carta que ele provavelmente endereçava a algum irmão distante, e assim dizia:
"Meu caro Aprígio:
Segure os cinqüenta mil sacos de arroz no armazém número dois e aguardemos mais preço. Os dez
mil litros de óleo para cozinha, mantenha você em estoque e os dois mil sacos de café em grão
guarde no armazém número quatro. Não venda bulhufas. Mais algumas semanas e estaremos numa boa.
Tudo isso terá preços altos, nos próximos dias.
E olhe: Não dê migalha alguma a ninguém. Religiosos têm vindo aqui a me pedir socorro. Dizem
que os tutelados deles estão em carência. Até freiras já vieram aqui com petitórios. Não atenda a
ninguém se você for procurado. Esse negócio de religião e caridade já era. Um certo amigo chegou
a me dizer que a minha fazenda pela qual suei tanto, pertence a Deus e a mim, que eu não passo de
sócio. Eu queria que esse maluco visse os meus terrenos quando Deus estava aqui trabalhando
sozinho. Era mato e cobras em toda parte. Fique tranqüilo e nada de coração mole. Espero estar aí
na próxima semana.
Até quinta-feira.
Um abraço do seu irmão Celestino".

Celestino, pois esse era o nome de nosso anfitrião, colocou a caneta em lugar adequado e, logo
após, levou a mão ao peito. Gemia. Afigurava-se-me que ele sentia muita dor.
Em dado momento, pressionou o botão de uma campainha e estirou-se em larga poltrona.
Um servidor apareceu.
Celestino pediu um coronário-dilatador e a presença de seu médico particular.
O cardiologista surgiu com presteza e determinou a remoção do doente para um hospital.
Pires sentenciou:
-- Devemos acompanhá-lo. Esta é a última noite de nosso amigo na vida física.
Internado, Celestino estava submetido a minuciosos exames.
Silvério se dispôs à retirada e disse-me simplesmente:
-- Veja você. Tanta ambição e dentro de poucas horas o nosso amigo estará desencarnado, sob a
suspeita de enfarte. Amanhã viremos buscá-lo.
Nada mais acrescentou e eu fiquei a meditar sobre a lição recebida.

EPISÓDIO EM CAMINHO

A história não é nossa. É um fragmento do folclore dos primeiros amigos de Jesus, a fim de que
observemos as dificuldades do Cristianismo nascente.
O Mestre, seguido por Simão Pedro, fora visitar alguns doentes nos arredores de Bethania.
Os enfermos se multiplicavam pedindo-lhe socorro e a noite desceu sobre a região, coberta de
nuvens densas. E era preciso voltar a Cafarnaum, onde Pedro mantinha a própria moradia.
Fosse pela jornada a pé ou pelas tarefas executadas, a verdade é que Jesus demonstrava grande
cansaço. Pedro notou-lhe a fadiga e sustentou a marcha vagarosa, conquanto temendo as nuvens que
se adensavam, prenunciando aguaceiro próximo.
Ao longe, no escuro da noite, os viajantes lobrigaram um ponto de luz.
Seria uma estalagem? Não lhes seria lícito tentar o refúgio por ali?
Para lá se dirigiram a passo lento.
Pedro, desenvolto bateu à porta e um homem rude atendeu.
Não, aquilo não era estalagem e sim uma casa isolada, mantida por jogadores de Sephoris, para
distrações casuais.
Simão Pedro implorou abrigo para ele e o companheiro.
O áspero anfitrião voltou ao interior para consulta e retornou com a resposta.
Os chefes da casa somente dispunham de um leito largo, formado de almofadões.
Se os viajores aceitassem... poderiam descansar ali por uma noite.
Em vista da chuva iminente poderiam aceitar o oferecimento. Era somente para aquela noite
difícil.
Jesus e Simão entraram, naturalmente acanhados.
Os jogadores tentavam a sorte, numa espécie de dados da atualidade, com grande alarido.
Os dois recém-chegados, porém, recolheram-se ao quarto onde se achavam os almofadões, com
evidente humildade e dormiram quase que de imediato.
Depois de algumas horas, um dos homens de Sephoris exclamou com ênfase:
-- Será que pusemos dois vagabundos dentro de casa?
-- Serão ladrões? -- perguntou um dos circunstantes.
Um mais afoito se adiantou:
-- Apliquemos uma surra em um deles, como advertência.
-- Um deles, qual? -- inquiriu um jovem presente.
Alegou o outro:
-- Arrastem para cá aquele que estiver à beira dos almofadões.
Esse era Simão que foi acordado com desrespeito e trazido à sala, em que dois dos anfitriões
lhe aplicaram golpes de azorrague.
Simão tudo aceitou em silêncio e, após a inesperada agressão, regressou ao leito, onde
choramingou, narrando a Jesus o sucedido.
-- Conserva a paciência, Simão -- pediu-lhe Jesus -- a paciência é uma luz perante o Pai
Celestial.
E, com muito cuidado, alojou Pedro no canto dos almofadões, onde, o Mestre acreditava fosse o
lugar mais acolhedor.
Pedro acomodou-se. Jesus veio para a beira da cama.
Decorridos alguns minutos, um dos jogadores reclamou:
-- Com respeito a estes hóspedes, nossa medida não foi justa. Tragam o vagabundo que está no
canto do leito para que se lhe apliquem algumas bastonadas. Não é razoável que a advertência seja
dirigida a um só.
Simão foi arrancado, de novo, do recanto em que jazia e, embora gemendo, tomou várias
bastonadas que lhe machucaram as pernas.
Voltou à cama, a lamuriar-se e Jesus lhe repetia:
-- Simão, tenha paciência. A paciência é registrada nos Céus...
Pedro lamentando-se em voz baixa, nada respondeu.
Ao amanhecer pagaram pequena taxa a um moço de serviço e colocaram-se a caminho de Cafarnaum.
Jesus, procurando quebrar o silêncio, disse a Pedro que manquitolava penosamente:
-- Simão, pense em nossos compromissos. Você foi agredido, apanhou e sofreu, mas é justamente
assim que o Pai, que está nos Céus, manda tratar os meus seguidores...
Simão lançou em Jesus um olhar estranho e falou com evidente desagrado:
-- É por isso, Mestre, que vós os tendes tão poucos.

COBIÇA

Ataliba Gouveia, aos trinta e dois janeiros, fizera-se ativo homem de negócios,
especializando-se no comércio de drogas. Contratava farmacêuticos zelosos e seguros, cercava-se
de cooperadores amigos e acabava de comprar um estabelecimento em movimentada esquina de cidade
grande.
Estimava agora varar as tardes, na farmácia nova, ouvindo companheiros ou seguindo os
movimentos apressados do povo.
-- Muito bem, Ataliba, você fez uma aquisição excelente.
A nota vinha de Neca Fragoso, amigo de muito tempo que o visitava.
Depois do abraço cordial, veio o diálogo aberto.
-- É isso -- confirmou o proprietário -- as condições favoreciam e não vacilei.
-- Ótimo ponto! -- observou o interlocutor.
-- Embora a intromissão de pedestres, a situação do estabelecimento me satisfaz.
-- Dizem que essa esquina é perigosa -- acentuou Fragoso com seriedade -- muitos desastres por
aqui, mormente com motoristas afoitos.
-- Sabemos, mas o sinaleiro está perto.
E Ataliba continuou:
-- Já estamos aqui, há dois meses e, diante de carros batidos, com pessoas nervosas, exibindo
escoriações, instalei um ambulatório para serviços de emergência. Aliás, temos dois médicos
amigos no prédio ao lado...
-- Muito bem -- tornou o amigo -- a sua idéia foi bem inspirada. Um ambulatório é um recanto
providencial para socorro e caridade.
Ataliba fez um sorriso irônico e ajuntou:
-- Caridade? Isso é que não. Aqui, qualquer serviço é no dinheiro vivo. Beneficência em esquina
de luxo não dá pé. Tenho trabalhado sem descanso e, além disso, estou casado, tenho um filho, a
completar cinco anos. E ele não conhecerá as dificuldades que atravessei na meninice. Trabalho à
maneira do burro, sob cangalha pesada, mas ao pensar que meu filho crescerá rico e feliz,
consolo-me das canseiras. Não temos atividade gratuita. E se qualquer pessoa surgir aqui em
necessidade, sem dinheiro, que vá bater noutra freguesia.
A noite descera apressada.
Fazia frio.
O relógio marcava dez minutos para as sete.
A conversação entre os dois prosseguiu, quando uma senhora chegou espavorida, carregando uma
criança nos braços.
-- Senhor -- dirigiu-se a Ataliba, por indicação de um balconista -- esta criança desgarrou-se
da ama e correu pela rua afora... Vi quando foi atropelada por um carro que seguia em alta
velocidade... Corri ao encontro do menino que gemia no chão. Enrolei-o em minha blusa, mas a
cabecinha sangra muito e o corpo todo deve ter sérias contusões... Venho pedir socorro... Soube
que o senhor tem aqui um ambulatório...
-- A senhora tem dinheiro suficiente para as despesas? -- perguntou o proprietário com
indiferença.
-- Ah! Isso não... Sou arrumadeira e estava a caminho do ônibus para o meu bairro.
-- Então passe bem, minha senhora. Não temos aqui serviços gratuitos.
-- Senhor, tenha piedade! Creio que esta criança está quase morta... Não lhe conheço a
família... Estou agindo pelo coração... Em nome de Deus, rogo socorro... Não posso abandonar este
menino infeliz... Eu também sou mãe de dois filhos pequenos que me esperam em casa...
E para melhorar a respiração do menino que se lhe fizera imóvel nos braços, retirou-lhe do
rosto o lenço ensangüentado com que tentava estancar-lhe o sangue da boca.
Ao contemplar a face triste da criança, agora morta, Ataliba Gouveia transfigurou-se.
Abraçado a Fragoso que acompanhava o realismo daquele quadro de dor, caiu em pranto a clamar
para o companheiro:
-- Fragoso!... Fragoso!... O que será de mim?!... Este menino é o meu filho...

DOAÇÕES TARDIAS

Amigo, você nos solicita indicar o destino mais aconselhável para os seus bens, depois de sua
libertação do corpo físico.
Indaga você:
"Se devo facear a sobrevivência, diga, por obséquio, qual o melhor modo de deixar os recursos
que acumulei? Tenho algum dinheiro, ações em companhias diversas, terrenos vagos, dois sítios
caprichosamente montados e alguns apartamentos para alugar. Será mais justo entregar esse
patrimônio a determinados amigos, através de testamentos e recomendações especiais? Ou será mais
razoável confiar os meus bens a instituições de beneficência?
A sua consulta nos falou ao coração e aqui estamos para a resposta possível, que você não é
obrigado a aceitar.
Usufruindo a luz da prece, você mesmo obterá a inspiração dos benfeitores espirituais que o
assistem, a fim de adotar a melhor conduta.
Esquecer o seu livre arbítrio, seria privá-lo da liberdade de escolha.
Entretanto, permitimo-nos recordar um episódio, que se perde nos acontecimentos históricos do
segundo milênio que estamos terminando no mundo.
O rei de Bizâncio, Manuel I, da dinastia dos Commenos, mantinha os seus assessores e soldados
numa guerra civil contra os persas, que se defendiam ardorosamente.
Na batalha última em que seus súditos encontraram pesada derrota, o próprio rei foi atingido
no peito por fina lâmina ajustada à ponta de uma flecha. O sangue lhe jorrava do tórax, quando
foi cautelosamente retirado da alimária que o servia; mas deposto no chão, eis que o soberano
pressentiu a própria morte e encontrou forças para falar em voz alta:
-- "Companheiros e soldados amigos: temos vinte canastras na expedição, transportando ouro e
prata, jóias e pedras preciosas, em quantidade suficiente para enriquecer-vos a todos. Retirai de
minha armadura as chaves capazes de abri-las e apossai-vos de toda essa riqueza que vos entrego
por brinde de amizade e gratidão".
Num momento, as chaves trabalharam movendo as complicadas fechaduras e todo um montão de
preciosidades surgiu aos olhos deslumbrados de todos os circunstantes.
O monarca estava agora inerte, chamado que foi ao reino da morte e aqueles que o seguiam
passaram a partilhar da fortuna de que se reconheciam detentores.
Os inimigos, porém, se mantinham vigilantes e caíram sobre os vencidos e, em minutos breves,
os herdeiros do rei acordaram para a realidade, sendo muitos deles degolados ou escravizados.
Nem um só dos companheiros do rei escapou do massacre ou da escravidão, enquanto que os
adversários, além da vitória fácil, surrupiaram todos os bens que se lhe revelavam à vista.
Rogo-lhe atenção para este tópico da verdade histórica, para que observe quão difícil se faz a
previsão, com respeito a benefícios marcados para depois da morte.
O rei Manuel I, que viajava conduzindo grande tesouro, efetivamente fez a doação de tudo
quanto possuía, à frente da morte, com a desvantagem de colocar os amigos sob a ira dos
adversários que os arrasaram e espoliaram à vontade, sobretudo para satisfazer os apetites de
ambição e pilhagem de que se sentiam acometidos.
Em vista do exposto, se você deseja beneficiar pessoas ou instituições, não deixe as suas
providências para depois, quando as suas riquezas entrarem no campo dos inventários, difíceis de
serem deslindados.
Se o prezado amigo já despertou para a grandeza do bem aos semelhantes e quer fazer essa ou
aquela doação, não deixe isso para amanhã. Faça isso agora.

ORAÇÃO E RESPOSTA

Amigo, você nos solicita algum texto que lhe fale ao íntimo, quanto ao significado da oração.
Responderemos com um apólogo antigo que qualquer iniciante nas letras pode apresentar em sua
própria versão.
É o que me permito fazer em louvor da prece.
Um incêndio começou a lavrar em floresta isolada, quando certa andorinha de um telheiro em
abandono começou a tarefa que se lhe figurava como sendo a salvação do mundo verde. Colocava no
bico algumas gotas de água que tomava em regato próximo e varava pequena distância, a fim de
despejá-las sobre as labaredas, no intuito de extingui-las.
Toda a passarada fugira para longe e animais diversos desertavam das tocas, no entanto, aquela
ave pequenina não se entregava ao descanso. Prosseguia em sua faina, atirando gotas d'água sobre
o fogo, quando quatro patos selvagens se lhe aproximaram numa de suas ligeiras pausas no trabalho
e lhe disseram com zombaria:
-- "Ridícula é sua pretensão de acabar com o incêndio, usando gotinhas do regato" -- disse o
primeiro.
-- "Isso é mania de virtude" -- falou o segundo.
-- "Tolice e loucura" -- acentuou o terceiro.
-- "Puro exibicionismo" -- aditou o último deles.
A andorinha considerou com humildade:
-- "Creio que se todos nós, cada qual por si, trouxesse algumas gotas d'água sobre as chamas, o
incêndio desapareceria".
Riram-se os patos e se foram.
As labaredas se ampliavam e a ave continuou em suas idas e vindas de esperança.
Surgiu, porém, determinado instante, em que à beira do córrego, ela se aquietou, qual se
estivesse fatigada, e passou a orar, suplicando o auxílio de Deus.
Vendo-a quase inerte e informados de que a operosa trabalhadora entrara em prece, voltaram os
patos a alvejá-la com ironias.
-- "Deus não te ouvirá na imensidão dos Céus" -- chasqueou o primeiro.
-- "Não perca tempo com petições vazias" -- acrescentou o segundo.
-- "Deus não se incomodará com o incêndio num pedacinho da Terra, menor do que nós" -- aduziu o
terceiro.
-- "Largue mão disso e vá descansar" -- complementou o último deles, alardeando superioridade.
Mais alguns minutos e o firmamento se repletou de nuvens pesadas que se derramaram por
inesperado aguaceiro.
Aqui tem você numa história quase infantil, que lhe posso dar por hoje, quanto ao valor da
oração.
Em nossas dificuldades, imitemos, meu Amigo, a andorinha diminuta e veremos que o Pai
Misericordioso não nos deixará sem resposta.

FELIZ DIA DAS MÃES

Querida Mãezinha.
Hoje deixei de lado o material do cronista anônimo que tenho sido, nem me interessei pela
pena e pelo papel, de que me utilizo, a fim de escrever no endereço dos outros.
Sinto meu coração de tal modo ligado à lembrança do seu carinho, que não saberia gravar outros
pensamentos que não sejam de saudade por viver aparentemente distante e de profunda alegria ao
reconhecer que permaneço em sua própria alma, no aposento da memória...
Torno a encontrá-la em minha infância feliz.
Vejo-a ao lado de meu pai, dirigindo os serviços da casa, quando um garoto da Vila entra em
correria para comunicar-lhe:
-- Dona Yolanda, o Augusto quebrou a vidraça do vizinho, atirando uma pedra...
Relembro o seu olhar de vigilante amor, depois de perguntar-me:
-- Você fez isso, Augusto?
Respondi:+
-- Eu não senhora.
Volto a escutar as suas palavras, dirigindo-se ao mensageiro:
-- Saia daqui, mentiroso! Meu filho não é moleque. Pobre criança! Esteve estudando, pela manhã
inteira!...
E fazendo um gesto expressivo, deu a ordem definitiva ao pequeno intruso:
-- Saia daqui de uma vez...
O colega de brincadeiras se afastou de imediato.
Então, comecei a chorar.
Lembrava-me de haver atirado a pedra à janela do vizinho, mas não sabia que violentara a
vidraça.
Corri para o seu lado e coloquei a cabeça em seu colo, tentando enxugar as lágrimas.
Acontece que você, com a intuição das mães, penetrou nos meus recônditos pensamentos,
admitindo a minha culpa provável, e, afagando-me os cabelos, acrescentou com carinho:
-- Seja o que for que haja acontecido, não chore mais. Aqui estou, meu filho, para defender
você!...
O quadro se me fixou nas reminiscências e o carro da vida avançou nas rodovias do tempo.
Alcancei a juventude, abraçando o esporte e as festas sociais.
Você, porém, nunca me censurou as decisões e nem me reprovou as companhias.
Vivíamos no clima da felicidade, quando a força da vida me parou o coração, estabelecendo a
distância entre nós.
A Morte!... Ah, Mãezinha, quem resistirá a esse estranho poder?
Creio que a saudade que passou a empolgar-me, era a mesma que lhe apunhalou o coração.
Trabalhamos nós dois, ferozmente, construindo o túnel para o reencontro, até que chegou o dia
em que lhe pude falar da vida imperecível.
Começaram nossos diálogos, de coração para coração, e consegui transmitir-lhe as minhas
impressões, quanto ao amparo e carinho que devíamos aos filhos de outras mães, segregadas nas
linhas da penúria. Roguei o seu apoio, em favor delas, nossas irmãs desvalidas e busquei
segui-la, quando a vi, abandonando o conforto de nossa casa para se colocar, ao encontro dos
sofredores, acreditando em minhas palavras nas quais pusera tanto empenho.
Seguimos juntos e, com a cooperação das companheiras que lhe consagram especial estima,
descobrimos os lares sem lume, o refúgio de criaturas consideradas perdidas, as viúvas relegadas
ao esquecimento, as mães sofredoras e os enfermos sem ninguém...
Iniciamos os serviços em que você me fez o mais feliz de todos os filhos, reconhecendo em
todas as crianças necessitadas de amor, os companheiros que Jesus nos deixou, especialmente
consagrados à nossa atenção e carinho.
É por isso que considero o Dia das Mães o mais belo dia do tempo. E é ainda por isso que me
encontro aqui nesta noite para dizer-lhe:
-- Mãezinha querida, eis aqui o seu filho!... Com alegria e saudade, venho até aqui desejar-lhe
um Feliz Dia das Mães!...

TESTE DIFÍCIL

A história, aliás autêntica, se desenrolou, na fase terminal de um bazar de caridade,
promovido por uma instituição espírita com finalidade assistencial.
A festa desdobrava-se ao ar livre, num pedaço de campo, cedido por família ligada ao grupo que
se esforçava no máximo de atividade, em benefício da promoção.
A reunião alcançava o fim da alegria que reinava em todos os corações, quando uma jovem,
primorosamente vestida, foi convidada a comparecer no palco improvisado para comentar o
empreendimento.
Muita gente. Música de câmara. Ambiente de paz e meditação.
A oradora, apresentou-se com esmero, exibia vários brilhantes raros, nos brincos, na pulseira
e em outros enfeites a lhe adereçarem o fino vestido azul.
Usando expressões fascinantes, a comentarista explanou com segurança sobre a caridade,
enfatizando o imperativo do amor ao próximo, por fator de harmonia entre os homens.
Depois da famosa alocução, a palavra livre foi concedida a todos os presentes que desejassem
complementar as idéias que a jovem expendera.
Alguns minutos de silêncio e, logo após, um homem, ainda moço, pediu permissão para
externar-se e, sendo atendido, dirigiu-se particularmente à oradora que havia suscitado grande
empolgação no público e falou com sarcasmo:
-- "Moça, você pregou a caridade a nós todos, os seus ouvintes, e mostrou a excelência dessa
virtude, mas a sua apresentação é um contra-senso. Sou auxiliar de serviço em uma joalheria e sei
que você está usando brilhantes autênticos. Isso não lhe dói no coração? Falar com tanta beleza
sobre a caridade e parecer uma vitrine de jóias, exaltando a beneficência?...
A comentarista não se deu por molestada e respondeu, graciosamente:
-- "O senhor não me conhece. Já fui pior, muito pior. Meu pai é negociante de pedras,
classificadas em alto preço e a minha apresentação de hoje chega a ser humilde, porquanto, em
muitas ocasiões, aparecia em público, ostentando brilhantes, considerados os mais caros. A
Doutrina Espírita é que está garantindo a minha renovação. Estou deixando o uso de jóias aos
poucos, até que não me veja atraída por elas. Penso que, muito breve, estarei mais comedida em
meus contatos com os amigos que me ouvem".
Destacaram-se aplausos em geral e os companheiros foram festejar o êxito da iniciativa na
residência de um dos irmãos de ideal, não longe da instituição.
A jovem oradora, dirigindo o próprio carro, chegou em casa, na cidade grande, lá pelas onze da
noite.
Guardou o veículo, convenientemente, e voltou ao jardim que precedia a entrada da mansão.
Preparava-se para girar a chave da porta que lhe daria acesso à intimidade doméstica, quando
um homem mascarado abeirou-se dela e intimou-a a lhe entregar todas as jóias em uso.
Muito calma, a oradora da tarde começou a desatarrachar os próprios brincos de modo a
entregá-los ao assaltante, quando um guarda, armado de revólver, apareceu na cena e, com a melhor
presença de espírito, ela disse ao mascarado:
-- "Alfredo, retire o seu disfarce. O policial pode pensar que estamos agindo seriamente".
O assaltante, colhido de surpresa, diante da arma que o recém-chegado lhe apontava, desfez-se
da máscara e a moça reconheceu nele o mesmo homem que lhe havia reprovado o uso dos brilhantes,
no entanto, com invejável serenidade, explicou ao policial:
-- "O senhor, por obséquio, nos desculpe. Estamos, o meu primo e eu, ensaiando uma cena de
comédia, em que ele faz o papel de lobo mau... Desejo, porém, esclarecer ao senhor que este meu
primo atirou-se a tamanhas dívidas de jogo que estou oferecendo a ele as minhas jóias que lhe
darão a cobertura necessária".
E, à frente do guarda espantado, entregou ao assaltante todas as suas jóias do momento, uma
por uma, e lhe falou em tom significativo:
-- "Veja, primo, estes brilhantes são seus, como se pertencessem a uma festa da caridade".
O guarda boquiaberto acompanhava toda a cena e o assaltante se retirou de carro, lançando
àquela jovem corajosa e digna, um inesquecível olhar, qual se estivesse falando a ela, através
dos olhos, que jamais esqueceria aquela inesperada lição.

MOCIDADE DE AUGUSTO

Mocidade de Augusto
Caminho sempre justo
Mocidade de Pinda
Seja benvinda.
Mocidade a cantar
Segurança do lar.
Mocidade -- esperança
Proteção à criança.
Mocidade que sente
Amparo ao doente.
Mocidade primavera
Atitude sincera.
Mocidade que avança
Trabalha e não descansa.
Mocidade -- harmonia
Paz, bondade e alegria.
Mocidade seresta
Conforto na festa.
Mocidade -- beleza
Louvor à natureza.
Mocidade da arte
Brilha em qualquer parte.
Mocidade em flor
Mensagem de amor.
Mocidade de fé
Nunca faz marcha-à-ré.
Mocidade -- benfazeja
Deus a proteja.
Mocidade atuante
serviço constante.
Mocidade -- contente
Sigamos em frente.
Mocidade -- luz
Nosso amor a Jesus.

JAIR PRESENTE
(Homenagem do consagrado autor espiritual Jair Presente à Mocidade Espírita Augusto Cezar de
Pindamonhangaba -- SP).

O INESPERADO

O sanatório ficava a quase meio quilômetro da estrada, através da qual realizaríamos a visita.
Batuíra, o veterano servidor de Jesus, o orientador de nossa diminuta caravana de três
pessoas: ele e nós dois, os aprendizes que o acompanhavam.
A excursão estava esquematizada, desde a véspera, e o chefe do instituto nos recebeu
cordialmente. Sentamo-nos ao lado dele que nos pareceu um homem sofrido e inteligente, a falar da
organização, erguida no Mundo Espiritual, a fim de acolher os irmãos portadores de complexos de
culpa e, por isso mesmo, positivamente vistos na condição de alienados mentais, depois da morte
do corpo físico.
De quando em quando, ouvíamos exclamações quais estas, que passamos a enumerar e que vinham
até nós, do grande pátio de confraternização dos doentes a que nos referimos:
-- Por que não fiz?
-- Não suporto este inferno!...
-- Como adquiri tanta dor de consciência?
-- Por que sou maldito, qual me vejo?
Já me sentia intrigado, com o que escutávamos, quando o diretor nos liberou a curiosidade,
autorizando:
-- Podem os amigos indagar, à vontade, quanto a qualquer aspecto de nossa moradia...
Então, volvendo a pedir o consentimento de Batuíra, através do olhar, perguntei:
-- Os alienados mentais, cujo tratamento o senhor superintende, procedem de lugares ou situações
determinadas? Se enfermaram o cérebro com estados de culpa, teriam sido eles grandes criminosos
do gênero humano? Neste milênio, em vias de terminar, chefes insensíveis, religiosos sem amor,
políticos que fomentaram a guerra, inteligências que se transviaram para seduzir as próprias
vítimas e massacrá-las... Que pode o senhor dizer-nos a respeito disso?
O paciente mentor, que ali dirigia vasta plêiade de médicos, especialmente psiquiatras,
psicólogos e analistas, mostrou-me paternal sorriso e explicou:
-- Meu filho, a sua indagação é oportuna. Devo, no entanto, esclarecer que nosso sanatório, um
dos muitos que funcionam com os mesmos objetivos, nestas regiões, acolhe especialmente aqueles
companheiros que conheciam as lições de Jesus, que as ouviram com aparente piedade, que não
guardavam qualquer dúvida quanto a legitimidade dos ensinamentos do Divino Mestre e que até mesmo
sustentavam ardentes discussões com os outros, de modo a defender-lhe o prestígio; eram faladores
exímios mas não moveram sequer uma palha para auxiliar a ninguém.
Acreditavam e aceitavam Jesus, no entanto, viviam exclusivamente para si, confinados ao
círculo doméstico, sem despenderem uma hora para aliviarem um doente e nunca sacaram do bolso um
só vintém em auxílio a boas obras...
Viveram no mundo como entendiam, sem a mínima disposição para servir e chegam à Vida
Espiritual em que nos achamos, desorientados com o espírito de posse a lhes atazanar a cabeça e
com a força da culpa a lhes pressionar os pensamentos.
A princípio, choram arrependidos, recordando o tempo que perderam, do qual nunca retiram a
mais ligeira parcela, a fim de prestarem apoio a quem quer que seja. Criam, em seguida, uma
espécie de doença mental de etiologia obscura e estamos investigando caso a caso, para descobrir
a terapia mais adequada ao respectivo tratamento. Abraçavam as idéias e exemplos de Jesus,
entretanto, andavam no mundo qual se o desconhecessem.
Depois que alguns reconquistarem o equilíbrio espiritual, passaremos a analisar-lhes a
personalidade com as respectivas conexões sobre as pessoas, terras e haveres que deixaram na
Terra.
Escutei a resposta e assustei-me.
Batuíra manteve silêncio.
O meu colega estava pálido...
E, agradecendo a Jesus ter voltado, ainda cedo, da existência física para aprender a trabalhar
e servir, na Seara do Bem, calei qualquer nova indagação e comecei a pensar...

VIRTUDE SOBRE VIRTUDE

...E o mentor amigo nos contou com alegria e espontaneidade.
Tendo Jesus terminado uma de suas preleções, ao entardecer, junto às águas do lago, entrou em
conversação com os discípulos, perguntando a eles qual seria a virtude que avançasse além dela
própria.
-- É a paciência... -- replicou Bartolomeu.
E o diálogo prosseguiu.
-- Bartolomeu -- elucidou o Divino Mestre -- a paciência é íntegra. Não se elastece.
-- É o amor ao próximo -- aventou Simão Pedro.
-- O amor ao próximo é um dever inarredável. Não se modifica.
-- É o espírito de serviço -- aventurou Mateus.
Jesus sorriu e explicou:
-- Entretanto, o espírito de serviço, expressando boa vontade e benevolência, é uma obrigação
que não se altera.
-- É o perdão das ofensas -- disse João, acanhado.
-- João, já aprendemos que o perdão das ofensas deve ser repetido setenta vezes sete vezes.
-- É a fé -- adiantou Tiago.
A fé, porém, é um estado de sublimação da alma que não se desloca.
-- É a brandura no trato com os nossos semelhantes -- sugeriu André com timidez.
-- A brandura prá nós, no entanto, é uma atitude compulsória.
O silêncio caiu sobre a turma, qual se os acompanhantes do Mestre estivessem confessando a
própria impossibilidade para formular uma resposta à altura da indagação.
Depois de alguns minutos de expectação, o Cristo lançou compassivo olhar sobre os presentes e
rematou:
-- Meus amigos, a virtude que se desdobra além de si mesma será sempre o ato de perdoar aos
bons, quando os bons aceitam a infelicidade de errar...

QUESTIONÁRIO

Nathan, um inteligente rapaz israelita, estimava escrever rolos rápidos, ao tempo de Jesus,
para venda a leitores ávidos de notas e informações ligeiras, qual ocorre aos nossos repórteres
da atualidade.
Apressado, o nosso noticiarista alcançou grande ajuntamento de povo, e, encontrando um amigo,
o colega Efraim, perguntou-lhe se Jesus de Nazaré estava ali.
O companheiro confirmou, acrescentando:
-- Temos aqui, na multidão, nesta periferia de Jerusalém, três mestres de Israel que estão
partindo, em direções opostas, atendendo a fé viva que divulgam e sabemos que um deles é um homem
fanático e agressivo, considerado louco e difícil. Você observe...
Nathan não esperou por novos esclarecimentos e adentrou na massa popular, tentando satisfazer
os próprios objetivos, quando fitou Jesus, não longe e, fascinado pela personalidade do Senhor,
achegou-se a ele, indagando curioso:
-- Rabi, qual é o primeiro mandamento da Lei de Deus?
O Cristo respondeu, com paciência:
-- Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.
-- E como nos cabe amar a Deus?
O Mestre replicou, aceitando o diálogo:
-- O amor de Deus, na essência, abrange todos os homens, induzindo-nos a amar o próximo, como a
nós mesmos.
-- E quem é o meu próximo?
-- É qualquer criatura de Deus, especialmente as que se encontrem mais infelizes.
Como saberei isso?
-- O discernimento te mostrará quem deve receber a tua cooperação.
-- Mas, habitualmente, todos temos inimigos. E se algum inimigo, em provação, dispensar-me de
qualquer auxílio?
-- Encontrarás com discrição os meios precisos para auxiliá-lo no anonimato.
-- Rabi, além desse tipo de adversários, surpreendemos aqueles que francamente nos perseguem e
caluniam. O que nos compete fazer nessas condições?
-- Perdoá-los sem restrições.
-- Mas, se na hora do insulto, o agressor atingir algum irmão seu, chegando a matá-lo?
-- Perdoar e orar por ele.
-- E se a vítima for meu pai?
-- Perdoar sempre, rogando a Deus que o abençoe.
-- Então a desforra não é justa?
-- Não. Antes de tudo, precisamos preservar a paz.
-- E se a nossa família, por perseguição, estiver prejudicada?
-- Fazer silêncio e perdoar.
-- Silêncio? Como sustentar isso, se os seguidores de Moisés, na Lei Antiga, nos recomendavam
cobrar dente por dente?
-- Moisés ensinou-nos lições que devemos respeitar, no entanto, agora, estamos na Lei do amor
que estabelece o perdão para as faltas alheias, não apenas uma vez, mas setenta vezes sete vezes.
-- E como proceder para reconstituir o patrimônio familiar?
-- Trabalhando sempre.
-- E devo trabalhar inclusive para os que me feriram?
-- Sim e sempre.
-- Rabi, e como agir, se recuperar a posição financeira dos meus?
-- Naturalmente, retirarás a quantia que te for necessária à sustentação e o dinheiro
desnecessário aplicá-lo-ás em obras de beneficência ou saberás distribuí-lo com os teus irmãos em
tribulação e penúria.
-- Então, não posso acumular o que é meu, considerando o futuro?
-- O futuro pertence a Deus e não seria justo acumulares o que não te pertence, já que todos os
bens de que dispomos pertencem originalmente a Deus.
-- Rabi, é uma falta grave ser rico?
-- Não. A riqueza vem de Deus por empréstimo aos homens, com o fim de estender as boas obras e
se algum dia tiveres a fortuna nas próprias mãos, tens a obrigação de administrá-la sabiamente.
-- E mesmo rico, precisarei trabalhar?
-- Trabalhar e servir sempre.
O entrevistador sorriu e despediu-se, procurando Efraim.
Ao encontrá-lo, observou:
-- Onde estão os outros mestres de Israel?
O amigo esclareceu:
-- Já partiram.
Nathan coçou a cabeça e falou, sarcástico:
-- Desta vez perdi a minha intuição porque se o Rabi que interroguei agora é Jesus de Nazaré,
ele está positivamente louco.

TÓXICOS

Durante dois anos o Juiz da comunidade recebia acusações constantes. Certa mulher trabalhava
ativamente com tóxicos, criando as maiores dificuldades para a mente infanto-juvenil.
Queixavam-se os pais, pedindo providências contra a atitude infeliz da mulher que lhes viciava
os filhos menores.
Intrigado com tantas denúncias, o magistrado colocou agentes na solução do assunto e acabou
detendo a mulher que traficava, em vista dela própria se isolar em recanto suspeito, numa sala
iluminada por esquisita penumbra, para atender os clientes.
O Juiz assumiu as medidas cabíveis a fim de verificar a extensão do problema, enquanto muita
gente se aglomerou diante do foro, no intuito de conhecer os resultados.
O Juiz estreitou as providências e exigiu que a mulher se descobrisse.
A multidão rompeu em tremenda exclamação, pois reconhece nela, de pronto, a filha do alto
representante da justiça.
Sufocado de pranto, o elevado funcionário perguntou à mulher:
-- "Pois é você, minha filha, a infeliz que nos agita a cidade?"
Cabisbaixa, a pobre criatura deu alguns passos na direção do pai e ambos se abraçaram em
lágrimas, enquanto, acompanhando diversos amigos que se afastavam, também eu me retirei do
recinto, recolhendo-me ao quarto, a fim de pensar.

NUMA FESTA DE ANIVERSÁRIO

Com as nossas felicitações ao amigo Augusto, registramos com satisfação que os ideais da
Doutrina de Paz e Amor que esposamos não nos retiram da necessidade de estudar os problemas
humanos, a fim de resolvê-los.
Batuíra.

Para Augusto os nossos mais altos sinceros votos de progresso espiritual.
Oscarzinho.

Augusto aniversaria. ã
Pois não se esqueça você ã
De que esta festa nos lembra ã
As festas de Tietê. ãã
Cornélio Pires.

Ao estimado irmão Augusto Cezar, o nosso abraço fraterno por mais um aniversário, augurando um
futuro brilhante na condição de construtor do bem.
Olimar.

Augusto, que você prossiga usando a caridade como sendo a mais elevada técnica para que ainda
se edifique o relacionamento dos homens.
Américo Montagnini.

Ao querido amigo Augusto trazemos as flores do nosso agradecimento e de nosso afeto, pedindo a
Deus abençoá-lo para a vitória do bem.
Anália Franco.

Augusto, felicitações para você. O seu aniversário nos pede a oportunidade de afirmar que a
solidariedade humana em qualquer projeto de beneficência será ação.
Patrício Miranda.

Os parabéns para Augusto nos provam que, quando reencarnados na Terra, é nosso dever fazer o
melhor, pela prática do bem.
José Mendonça.

É festa de aniversário ã
Consagrada em grande escala. ã
Verei se melhoro a mim mesmo, ã
Na freqüência desta sala. ãã
Lulu Parola.
Sem prestígio e sem dinheiro, ã
Mas por humilde e verdadeiro, ã
Jesus conseguiu amar ã
Amparando o mundo inteiro. ãã
Luiz de Oliveira.

Parabéns ao nosso amigo Augusto Cezar. Com sua simples companhia, orienta-nos o pensamento
para o nosso próprio dever.
Isaltino Leal.

Rapaz feliz! Começou ã
Com gentileza e bondade ã
E pode trazer mais luz ã
Ao campo da Humanidade. ãã
Fidelis Alves.
Saudade em Augusto e Yolanda ã
Dupla de paz verdadeira ã
Lembra a rosa em plena festa ã
Agradecendo à roseira. ãã
Meimei.
Se perguntar ao amigo ã
Como achar felicidade, ã
Augusto responde: " Querido, ã
Começa na caridade". ãã
Erminda Gnocchi.
Ouvindo o coral de Augusto, ã
Sinto tão grande emoção, ã
Que me volto para dentro ã
Buscando o meu coração. ã
E feliz na melodia, ã
Nesse amor me acaba, ã
Acabo gritando em prece: ã
Pindamonhangaba, Pindamonhangaba, ã
Pindamonhangaba, Pindamonhangaba (*). ãã
Jair Presente.

(Esta mensagem, tecida com retalhos de tocantes manifestações de cumprimentos ao Augusto
Cezar, foi recebida na data do seu natalício -- 27 de setembro)
::::::::::
(*) Referência à Mocidade Espírita Augusto Cezar de Pindamonhangaba -- SP.
::::::::::

JULGAMENTOS

Amigo, você nos solicita algumas notas, mesmo ligeiras, sobre os julgamentos precipitados e
trago à memória um fato simples, no entanto, capaz de acordar para a sensatez, com relação à
análise de atitudes alheias.
Acompanhei, certa feita, dois amigos que deliberaram participar de um leilão beneficente.
Em praça enorme, adensava-se pequena multidão, interessada na aquisição fácil de prendas,
muitas delas valiosas, que se expunham numa espécie de coreto, no qual o leiloeiro anunciava a
peça e o preço provável que essa mesma peça atingiria na oferta de quem desejasse adquiri-la.
Os dois amigos, aos quais me referi, tentavam colher o melhor do extenso material, ali
depositado pela generosidade popular, quando notaram que certa senhora oferecia sempre um preço
muito alto e obtinha os brindes que brilhavam ante a curiosidade dos circunstantes.
Bastava que o leiloeiro apresentasse o elemento a ser disputado, para que a dama,
evidentemente muito pobre, ofertasse uma importância difícil de ser superada por algum dos
presentes, recebendo os objetos arrematados, ao lado de um rapazinho que a seguia de perto.
Considerando que ela já havia gasto verdadeira fortuna, em pleno leilão, os amigos aos quais me
reporto passaram ao diálogo em torno do que viam.
-- Não entendo que uma senhora vestida de trapos, possa apresentar parcelas de um capital assim
tão valioso -- comentou um deles.
Atalhou o outro:
-- Penso que se trata de uma vigarista. Naturalmente se traja mostrando penúria, a fim de
aproveitar o empreendimento que se realiza, de modo a transformar-se no socorro a mendigos em
necessidade e desvalimento.
-- Sem dúvida, estamos à frente de mulher estranha, tão pobremente trajada e esnobando finança
gorda.
Os dois, então, resolveram interpelá-la.
Um deles, principiou, afirmando-lhe matreiro:
-- A senhora nos surpreende, conquistando os seus brindes a preço tão elevado. Acaso, trabalha
para alguma casa de quinquilharias?
Ela replicou, humilde:
-- Este leilão de hoje se verifica só vez por ano e guardo todos os recursos que me sobram das
despesas pessoais, de maneira a incentivar esta obra que se destina a socorrer aleijados e
velhinhos doente, mães sofredoras e acidentados sem ninguém que os ampare. Penso neles e faço o
possível para prestigiar a festa de que os necessitados recebem preciosas migalhas...
O amigo prosseguiu, indagando:
-- Mas a senhora não tem ligação com o comércio varejista, ao qual a senhora entregará todos
esses brindes, com vasta margem de lucro?
Com grande surpresa para os meus companheiros, ela apenas respondeu:
-- Meu senhor, eu também sou cega e, por isso mesmo, devo compreender a necessidade dos outros...
O assunto foi encerrado e todos nós que assistíamos ao curioso diálogo, em grande silêncio,
conseguimos entesourar a valiosa lição.

Abraços !

             

Gilson

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