sábado, 12 de outubro de 2019 By: Fred

{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO:O TECEDOR DE OUSADIAS - JUAREZ LEITÃO - FORMATOS : TXT E DOC

DEUSMAR

QUEIR��S

O TECEDOR DE OUSADIAS



JUAREZ LEIT��O

DEUSMAR

QUEIR��S

O TECEDOR DE OUSADIAS

FORTALEZA - 2017





Copyright �� 2017 Juarez Leit��o

Coordena����o Gr��fica

Wana Aparecida

Editora����o Eletr��nica

Ed Batalha

Revis��o

Rejane Costa Barros

Rua Manuelito Moreira, 55 - Benfica

CEP 60025-210 - Fortaleza-CE

Fone: (85) 3214.8181

comercial@premiuseditora.com.br

www.premiuseditora.com.br

F i l i a d a a

Dados Internacionais de Cataloga����o na Publica����o na fonte (CIP)

L533t

Leit��o, Juarez

Deusmar Queir��s - O tecedor de ousadias / Juarez Leit��o. -

Premius Gr��fica e Editora: Fortaleza, 2017.

472 p

ISBN 978-85-7564-966-4

1. Biografia 2. Deusmar Queir��s I. T��tulo

CDD920

Este livro �� dedicado �� mem��ria de

Ademar Bezerra de Albuquerque, Ant��nio Diogo Siqueira,

Ant��nio Gomes Guimar��es, Ant��nio Pompeu de Sousa

Brasil e Thomaz Pompeu Filho, Assis Vieira, Bento Alves

de Souza, Carlito Pamplona, Carlos Jereissati, Cl��vis Rolim,

Conrado Cabral, Edson, Yolanda e Airton Queiroz, Elano

de Paula e Bernardo Bichucher, Eliseu Batista, Ernesto

Deocleciano, Francisco de Almeida Sanford, Geminiano

Maia (Bar��o de Camocim), Gerv��sio Pegado, Gotran

Nascimento, Gustavo Silva, In��cio Parente, Jo��o Gurgel

Nogueira, Joaquim da Cunha Freire (Bar��o da Ibiapaba),

Jos�� Alcy Siqueira, Jos�� e Ant��nio Romcy, Jos�� Gentil de

Carvalho, Jos�� Guimar��es Porto, Jos�� Thom�� de Saboya,

Jos�� Vilar, Luiz Severiano Ribeiro, Manuel Dias Branco e

Ivens Dias Branco, Moys��s Pimentel, Petr��nio Andrade,

Pio Rodrigues, Quirino Rodrigues dos Santos, Raimundo

e Luiz Esteves, Te��filo Gurgel Valente e Vicente Gaspar,

que tiveram a coragem de empreender no Cear��,

contribuindo para seu desenvolvimento.

Dedicamos tamb��m esta hist��ria a tr��s grupos

farmac��uticos centen��rios:

�� Droga Raia, que �� a mais antiga rede de drogarias do

Brasil, fundada em 03 de agosto de 1905 em Araraquara,

SP, pelo farmac��utico Jo��o Baptista Raia, um italiano que

chegou ao Brasil com 16 anos de idade. Em 2 0 1 1 , fundiu-

se com a Drogasil, fundada em 1935, por Jos�� Pires

Oliveira Dias, atrav��s da fus��o das Drogarias Br��ulio e

Brasil, e juntas formam a RD Raia Drogasil S.A.

�� Drogaria Ara��jo, fundada em 20 de mar��o de 1906 em

Belo Horizonte, MG, por Modesto Carvalho de Ara��jo,

pioneira na instala����o de Telemarketing, Drive Thru e a

primeira drusgtore brasileira. Administrada, hoje, pelas

terceira e quarta gera����es do fundador.

A Eduardo de Castro Bezerra, o primeiro empres��rio

do ramo de medicamentos a criar uma rede de farm��cias

no Cear��, dirigindo os Estabelecimentos E. Bezerra S.A.

que, segundo a divulga����o da ��poca (a partir dos anos

20 do s��culo passado), era uma "Grande organiza����o

droguista, importadora de alta escala, composta dos

seguintes estabelecimentos: Farm��cia e Drogaria Pasteur,

Farm��cia Francesa, Farm��cia Modelo, Farm��cia Londres,

Farm��cia Excelsior, Farm��cia Brasil e Laborat��rio

Gonzaga".

Porque muitos momentos da hist��ria de Deusmar Queir��s

foram inspirados nos exemplos que viu e conheceu,

sobretudo, no respeito �� experi��ncia dos pioneiros.

Aos colaboradores, fornecedores, clientes e a todos

os que, com seu trabalho, confian��a e incentivo

contribu��ram para a hist��ria de Deusmar Queir��s e

edifica����o do sucesso da Pague Menos, primeira rede

de varejo presente em todas as Unidades da Federa����o

Brasileira.

��s fam��lias Queir��s e Alves, com quem Deusmar repartiu

momentos intensos da vida.

E, especialmente, �� Dona Auric��lia, amor definitivo,

eterna namorada, companheira das plan��cies, dos abismos

e dos altiplanos da perip��cia humana e dos sonhos do

dono desta hist��ria,

a homenagem do autor.

A todos que, direta ou indiretamente, contribu��ram para

a realiza����o deste ensaio biogr��fico,

o nosso agradecimento.

SUM��RIO

PREF��CIO 17

INTRODU����O 23





1. O Conferencista 29


2. A Lagoa do Barbat��o 45

3. A estirpe dos Queir��s 51

4. O menino de Amontada 59

5. No Barro Vermelho 71

6. A turma do Bola Sete 83





7. O escoteiro 101


8. O territ��rio do amor 111





9. Ingressando no mercado de capitais 129


10. O campe��o dos leil��es do FINOR 143

11. O nascimento das Farm��cias Pague Menos 153

12. A germina����o do sonho 163

13. A Pague Menos toma conta do pa��s 177

14. Os encantos da diversidade 191





15. Risco de vida 2 0 1


16. A amplia����o de servi��os Pague Menos 2 0 9

17. Congressos e conven����es 2 1 9





18. O Encontro de Mulheres Pague Menos 239


19. A a����o social da Pague Menos 249

20. O Projeto F��brica Escola e a ressocializa����o

de apenados 263

2 1 . A travessia para o futuro 287





22. O olhar dos filhos 295


23. As ep��stolas 325





24. O homem visto de perto 353


2 5 . Personagem da mitologia popular 389





26. E o sonho continua 407


CRONOLOGIA 413


BIBLIOGRAFIA 4 2 1

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

PREF��CIO

Raimundo Padilha

Ao receber o convite para prefaciar a biografia do

Deusmar Queir��s, tive sensa����es de orgulho e de res-

ponsabilidade.

Este livro tem uma combina����o de duas for��as

reconhecidas. A hist��ria, em si, de um empres��rio que

ultrapassou as fronteiras de nosso estado e alcan��ou os

limites territoriais do Pa��s, e a outra, tamb��m muito for-

te, do autor da obra, o jornalista, escritor e historiador

Juarez Leit��o.

Entendi que era mais um desafio a enfrentar.

Tamb��m, sou movido a desafios, pois considero um bom

combust��vel para a vida.

A narrativa do Juarez, na sua condi����o de pesqui-

sador, incorpora �� obra, curiosidades inerentes ao am-

biente hist��rico e geogr��fico, vividos pelo biografado

al��m, �� claro, de um passo a passo na sua estrada do em-

preendedorismo.

Conheci o Deusmar j�� adulto, embora ��s vezes, de

perfil irrequieto como de uma crian��a ou adolescente.

N��o conhecia o seu passado. E como est�� no meu depoi-

mento no corpo deste trabalho, a nossa apresenta����o se

17

J U A R E Z L E I T �� O

deu atrav��s do meu concunhado Jos�� Ubirajara Alves,

irm��o da Auric��lia, esposa do biografado. Ele �� casado

com uma irm�� da minha esposa.

Ubirajara, tamb��m, de origem humilde, no in��cio

dos anos 60, foi estudar na Universidade de Stanford, nos

Estados Unidos, onde obteve os t��tulos de Mestre e de

Doutor em Matem��tica. Por ser o mais velho do cl�� da

fam��lia Alves, sempre se preocupou com os irm��os, tan-

to no que diz respeito aos estudos, quanto ��s atividades

profissionais.

Da��, tenho certeza, a raz��o pela qual me telefo-

nou de Bras��lia, onde exerceu o Magist��rio e a Dire����o

do CNPQ - Conselho Nacional de Pesquisas - solicitando

uma coloca����o para o Deusmar, seu futuro cunhado.

Aquilo que no seu pedido parecia um favor trans-

formou-se na apresenta����o de um excelente colaborador.

Ent��o, a minha amizade com ele, iniciou-se no

princ��pio dos anos 70. A CR��DIMUS Distribuidora de Va-

lores, da qual eu era Diretor Executivo, era uma empresa

do Grupo CR��DIMUS, que tinha como s��cios Elano de

Paula e Walder Ary, (s��cios da Master - Incosa e IPLAC

Cearense), de um lado e, do outro, os s��cios - Diretores

do Grupo EIT, (Geraldo Rola, Jos�� Nilson de S��, Aquiles e

Bol��var Gadelha, Bernardo Bichucher e P��ricles Pontes).

Colocando um pouco de humor e fazendo um

comparativo com a "Escolinha do Prof�� Raimundo", do

imortal Chico Anysio, todos fomos da escolinha do Pro-

f��. Elano de Paula (irm��o do Chico). Era uma escola de

18

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

empreendedorismo, onde conviveram tamb��m Jo��o Jos��

de S�� Parente, Nisabro Fujita, Jo��o Soares Neto, Danilo

Marques e muitos outros.

A alus��o a estas Empresas e personagens tem o

objetivo de mostrar o ambiente empresarial no qual o

Deusmar foi trabalhar.

Tamb��m percebi na leitura da obra, que foi na sua

inf��ncia que o biografado recebeu os seus primeiros en-

sinamentos empresariais, atrav��s de seu pai, Sr. Lisboa,

no seu pequeno neg��cio em Amontada. O treinamento

prosseguiu em Fortaleza, no Barro Vermelho, para onde

seus pais se transferiram com a mercearia.

O esp��rito empreendedor do seu genitor e a firme

decis��o de vir para a Capital, foram muito importantes

para alargar os horizontes do menino Deusmar, herdeiro

de um DNA vision��rio.

O "Escotismo", tamb��m, deixou marcas positivas

na sua forma����o. Civismo, cidadania e enfrentamento de

desafios s��o temas do cotidiano dos escoteiros, e isto, na-

turalmente, foi se incorporar ao alicerce da sua caminha-

da empreendedora.

Acho, at�� que algum "Chip" da IBM, onde ele tra-

balhou, e a numerologia do CENSO de 1970, onde ele

tamb��m colaborou, instalaram-se na sua cabe��a e pro-

duziram uma velocidade exponencial no seu racioc��nio.

O Mercado Financeiro deu ferramentas complementares

de avalia����o de riscos, que o tornaram, extremamente

��gil na tomada de decis��es.

19

J U A R E Z L E I T �� O

Mas, al��m das experi��ncias empresariais, Deus-

mar teve uma educa����o formal de refer��ncia, gra��as aos

esfor��os de seus genitores. Em Fortaleza, foi disc��pulo de

Edilson Brasil So��rez, no Gin��sio 7 de Setembro, e dos

Irm��os Maristas, no Col��gio Cearense.

Graduou-se em Ci��ncias Econ��micas pela Univer-

sidade Federal do Cear�� e em seguida, foi Professor de

Mercado de Capitais e Chefe do Departamento de Eco-

nomia da UNIFOR - Universidade de Fortaleza, da Fun-

da����o Edson Queiroz.

Ali��s, vale o registro, que muito me orgulha, de

ter participado do Projeto de Cria����o da Universidade de

Fortaleza e onde o mesmo Jos�� Ubirajara Alves foi o ela-

borador do seu primeiro Estatuto. Nessa ��poca, o Reitor

convidado foi o Engenheiro e ex-Prefeito de Fortaleza,

Jos�� Valter Cavalcante.

Voltando ao biografado percebe-se que ele, al��m

do DNA vision��rio do Sr. Lisboa, teve uma boa educa-

����o formal e viveu desde crian��a nos laborat��rios da

vida empresarial.

Nessa combina����o, n��o poderia ocorrer outra coi-

sa, sen��o, empreender. E empreender, notadamente, para

quem n��o recebeu uma "gorda heran��a" �� ter muita gar-

ra para "come��ar do zero", ter perseveran��a, enfrentar

desafios, assumir riscos, ter vis��o de futuro. Ele mudou

de par��metro, aposentou a sua Carteira do Minist��rio do

Trabalho e passou a "assinar o ponto" de sua pr��pria Em-

presa, com 24 horas de preocupa����es di��rias.

20

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

O combust��vel que move o Deusmar �� o trabalho,

associado �� sua tend��ncia festeira. Alia-se a tudo isto, a

sua espiritualidade e o excessivo amor que devota �� sua

esposa Auric��lia, aos filhos e netos.

Com a dimens��o empresarial que conquistou sabe

que tem que ter um "olho no peixe e o outro no gato".

Acompanha as inova����es e o processo de globaliza����o e

sabe que "Fortaleza n��o �� o centro do Universo". Conhe-

ce o mundo, suas tend��ncias e oportunidades. A inova-

����o �� uma constante na sua vida e na de suas empresas.

Conhece a concorr��ncia, fornecedores, colaboradores e

clientes. Enfim, CONHECE.

E, em respeito �� sua fam��lia, ao seu patrim��nio e

aos seus neg��cios, desde cedo preparou a sua sucess��o

e implantou a governan��a coorporativa, que significa:

construir as pontes da longevidade e sustentabilidade do

seu imp��rio empresarial.

Com a transpar��ncia dada aos seus resultados eco-

n��mico-financeiros e elevado grau de profissionaliza����o,

as Farm��cias Pague Menos passaram a ser cortejadas pe-

los maiores players financeiros e n��o financeiros nacio-

nais e estrangeiros interessados na sua compra total ou

parcial.

Fez todo dever de casa de um IPO, que ainda n��o

ocorreu devido �� instabilidade da economia nacional.

Por��m, mesmo com a conjuntura desfavor��vel, os Fun-

dos de Investimentos continuaram interessados. At�� que

Deusmar optou pelo General Atlantic, vendendo por 600

milh��es de reais, 17% da sua rede de farm��cias.

21

J U A R E Z L E I T �� O

E aqui, vale lembrar que, em meados da d��cada de

70, quando se associou ao Bichucher na Pax Corretora, a

sua cota de participa����o de 15% foi paga "com a coragem

e a cara", isto ��, com trabalho, pois era a sua ��nica moeda.

Como nos contos de fada, os n��meros se agiganta-

ram. E sua varinha de cond��o foi um mix de muito traba-

lho, perseveran��a e otimismo.

Hoje, com mais de 1.000 farm��cias, com presen��a

em todos os Estados Brasileiros e Distrito Federal, t��m

porte para uma internacionaliza����o.

E, quem sabe, talvez j�� esteja no seu radar, at�� por-

que, tendo, tamb��m, como s��cio um investidor estran-

geiro, naturalmente, j�� disp��e de um passaporte para in-

gresso no Clube das Economias Desenvolvidas.

22

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

INTRODU����O

UM MARCO DE OUSADIA NA HIST��RIA DO PA��S

DEUSMAR QUEIR��S representa com distin����o o

moderno empres��rio brasileiro no sentido completo de

seus valores, reunindo em sua marcante personalidade,

qualidades essenciais e definidoras do sucesso, como a

determina����o, o esp��rito ousado, a intelig��ncia, o amor

pelo trabalho e a perseveran��a, aliados �� indispens��vel e

natural voca����o empreendedora.

No ontem e no hoje, a ousadia �� a principal ban-

deira da gente cearense.

N��o importam as crises proclamadas, as retic��n-

cias dos parvos, o medo do apocalipse. O cearense sem-

pre acha um caminho. E, se o caminho n��o existe, ele

o inventa e por ali p��e em marcha sua criatividade, seu

talento e sua garra ind��mita de conquistador.

A proverbial coragem da gente do Cear�� poderia

ser apenas um del��rio ufanista se a hist��ria n��o mostras-

se os exemplos que v��m desde a Confedera����o do Equa-

dor (quando um grupo de afoitos liberais proclamou

uma Rep��blica), passando pelo pioneirismo abolicionis-

ta, a conquista do Acre e muitas outras perip��cias que

abismaram a na����o.

23

J U A R E Z L E I T �� O

Nos tempos atuais, a coragem e a tenacidade to-

mam novas formas de aplica����o. N��o �� preciso sofrer o

mart��rio do fuzilamento no Passeio P��blico aplicado a he-

r��is do porte de Carapinima, Pessoa Anta, Azevedo Bol��o

e Padre Moror��. O hero��smo hoje tem outras facetas.

Vencer como nordestino a discrimina����o nacional

requer bravura.

H�� quatrocentos anos chegavam os colonizadores

com suas cartas forais e seus bacamartes para ocupar a

terra, plantar as fazendas e os primeiros povoados. Fize-

ram a hist��ria a ferro e fogo.

Os personagens contempor��neos t��m outros per-

fis. S��o homens modernos e pr��ticos que, ao inv��s do

trabuco, usam a persist��ncia e a diplomacia para abrir

espa��o no inseguro mundo empresarial brasileiro.

S��o tempos e sistemas diferentes, mas a luta �� a

mesma e igualmente exige aud��cia e muita disposi����o.

Mas da mesma forma que a antiga ordem inspira a

nova, esta, por aprendizado hist��rico, se articula em fun-

����o de resultados que lhes garantam a exist��ncia.

Tratar de nossas qualidades, das demonstra����es de

resist��ncia e supera����o, relembrar a saga dos alencarinos

e contar a hist��ria de um empres��rio que, por leg��timas

qualidades pessoais, venceu em sua terra e conquistou o

pa��s, �� um exerc��cio animador.

�� frente do grupo empresarial PAGUE MENOS,

uma rede de farm��cias que est�� implantada em todas

as unidades da federa����o, DEUSMAR QUEIR��S man-

2 4

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

t��m a consci��ncia de que o sucesso �� um edif��cio em

eterna constru����o.

T��pico filho das necessidades sertanejas, oriundo

de Amontada, no interior do Cear��, pisou pela primeira

vez a Capital aos oito anos, quando seu pai procurava um

novo espa��o para sobreviver como pequeno comerciante.

O menino Deusmar, afilhado de S��o Francisco, j��

era portador de um sonho e, muito jovem, haveria de re-

velar-se um devoto do trabalho, procurando ajudar aos

pais como vendedor de rua.

Estudou, chegou �� universidade, cursou Econo-

mia, empregou-se como operador do Mercado de Capi-

tais, tornou-se professor de Economia.

Quando, em 1981, instalou a primeira FARM��CIA

PAGUE MENOS no sub��rbio de Fortaleza (bairro Ellery),

sabia que estava iniciando uma hist��ria que, na senda dos

seus sonhos, seria bela e vertiginosa.

Sonhar �� um de seus of��cios prediletos. Nasceu,

como ele mesmo diz, para "acreditar nas ideias e nos ide-

ais, nas pessoas e no Brasil."

Homem de f��, tem procurado ajudar a generosida-

de de Deus fazendo a sua parte. Nunca ficou olhando a

Hist��ria das margens pl��cidas da acomoda����o: aprendeu

desde cedo a cavalgar o pr��prio destino e a fitar o hori-

zonte com determina����o.

Otimista e entusiasmado por natureza, �� um habi-

tante de esperan��as e aspira����es, a um tempo sublimes e

pragm��ticas. Tem um p�� no umbral metaf��sico e o outro

25

J U A R E Z L E I T �� O

no duro ch��o da realidade, administrando com igual ha-

bilidade a pedra e a nuvem, os sonhos e a vida.

Assisti-lo no desempenho de seu trabalho, coman-

dando de modestas instala����es um imp��rio empresarial,

d��-nos a perfeita no����o de como conseguiu atingir a po-

si����o que hoje desfruta na economia brasileira. Vestin-

do-se de humildade e bom senso, compatibiliza antigas e

serenas virtudes com ousadias e inova����es.

No frenesi da peleja di��ria parece, de fato, um ge-

neral comandando seu ex��rcito numa batalha decisiva,

um Napole��o em Austerlitz.

Convoca, orienta, usa o telefone, se informa, corre

daqui pra acol��, aponta o dedo, assina pap��is, consulta a

tela do computador, reflete, decide. De sorriso eterna-

mente pronto, n��o se exaspera nunca, n��o embrutece,

n��o se descabela, embora pare��a estar sempre debaixo

de fogo cerrado, com aten����o m��xima agindo sobre a

preciosidade dos minutos.

V��-se que est�� feliz, como um menino agarrado

ao seu brinquedo de Natal, contagiando a todos com sua

vibra����o, espargindo otimismo e fagulhas de alegria ao

derredor.

Na mesa de trabalho e nas paredes, veem-se re-

tratos da fam��lia, filhos e netos, todos sorridentes, todos

contagiados pelo bom humor do pai e av��, um vibrante

patriarca que se orgulha dos rebentos e com eles reparte

os prazeres e afazeres da vida.

26

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Cidad��o de seu tempo, DEUSMAR QUEIR��S tem

cumprido com absoluta lucidez sua trajet��ria vital, de-

monstrando a completa consci��ncia de sua tarefa humana

como l��der empresarial, como chefe de fam��lia, como ser

influente na sociedade e na hist��ria de seu estado e do pa��s.

Cheio de garra e brilho, ningu��m o conhece sem

ficar marcado por seu carisma natural, por sua cortesia e

afabilidade, por seu entusiasmo e otimismo contagiante.

DEUSMAR QUEIR��S ��, sem d��vida, um homem

incomum, que, na sua simplicidade carrega em sua gran-

de alma esta capacidade agregadora, a fa��sca m��gica do

realizador e algumas virtudes certamente raras nesses

tempos de ��speras not��cias.

Por isso, n��o podemos deixar de lan��ar um olhar

demorado sobre sua hist��ria edificante e exemplar. Seria

um descuido indesculp��vel.

Uma hist��ria que deve ser mostrada, hasteada

como modelo �� juventude, como mat��ria-prima do car��-

ter que queremos formar na ��ndole cearense e brasileira.

27



1

O CONFERENCISTA

"A Hist��ria n��o nos pertence:

n��s pertencemos a ela."

H a n s - G e o r g Gadamer ( 1 9 0 0 - 2 0 0 2 )

fil��sofo a l e m �� o

No audit��rio que vai sendo tomado por uma mul-

tid��o de jovens h�� um burburinho natural, um

rumor de muitas vozes em baixo tom enquanto

procuram uma poltrona, cada qual escolhendo sua fileira

e, nessa, o lugar de melhor ��ngulo para enxergar a mesa

diretora dos trabalhos e a tribuna dos conferencistas.

V��o se aconchegando aos conhecidos, �� gente de sua tur-

ma, escolhendo a vizinhan��a. S��o centenas de estudan-

tes, talvez um milhar de mo��as e rapazes, sorridentes,

g��rrulos, de olhares inteligentes, trescalados de energia e

29

J U A R E Z L E I T �� O

espontaneidade. Aqui e ali, naquela massa imensa, uma

cabe��a grisalha, um rosto mais maduro, um homem ou

uma mulher de m��dia idade, os mestres, certamente.

Participam do 35�� Encontro Nacional de Engenharia de

Produ����o - ENEGEP, promovido pela ABEPRO - Asso-

cia����o Brasileira de Engenharia de Produ����o.

Estamos em Fortaleza, no sal��o de eventos do Ho-

tel Praia Centro, em 13 de outubro de 2 0 1 5 . S��o nove

horas da manh��, ter��a-feira.

Composta a mesa por eminentes figuras do ma-

gist��rio da Engenharia de Produ����o oriundas de v��rias

universidades do pa��s e membros da diretoria da enti-

dade, sob a presid��ncia do Dr. Milton Vieira Jr., houve

uma breve apresenta����o dos dirigentes do congresso em

que procuravam esclarecer as raz��es daquele encontro e

anunciar as expectativas sobre os debates e as resolu����es

que ali seriam gerados.

Decorridas essas primeiras falas, foi anunciada a

palestra de abertura oficial do Encontro sob o t��tulo de

"Empreendedorismo e o Desenvolvimento de uma rede

nacional de lojas. A experi��ncia das Farm��cias PAGUE

MENOS", pelo Dr. DEUSMAR QUEIR��S.

Ao an��ncio do conferencista, correu pela plateia

um fr��mito de ansiedade. Os participantes j�� conheciam

o nome e a fama do orador anunciado por conversas de

ouvir dizer e at�� por refer��ncias em sala de aula, quando

professores dissertavam sobre ousadia e perseveran��a

no empreendedorismo. Um nome nacional, que conse-

30

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

guira levar as prateleiras de sua farm��cia para todos os

estados da Federa����o.

Os olhares se apontaram para o palco onde um ho-

mem de estatura mediana, um nordestino t��pico, cabe��a

chata, corpo roli��o de caboclo rural, sorriso franco e as-

pecto resoluto, varria todo o audit��rio com sua simpatia.

Um sil��ncio respeitoso desceu sobre o ambiente

antes que os versos de uma can����o de Geraldo Vandr��,

na voz de Jair Rodrigues, o interrompesse: "Prepare o

seu cora����o/Pra coisas que eu vou contar/Eu venho l�� do

sert��o...".

"- Bom-dia a todos!" - saudou o palestrante. E

continuou: "Eu tenho uma hist��ria e um segredo para

contar pra voc��s e gostaria que me ouvissem com muita

aten����o".

Mirou a plateia, estabeleceu uma pausa estudada,

previdente, e esperou que todos se colocassem em fran-

ca disposi����o psicol��gica para receber sua mensagem.

Ent��o come��ou a contar a sua vida de menino pobre e

inveterado sonhador.

Falou que nascera numa aldeia do litoral norte do

Cear��, um humilde distrito do munic��pio de Itapipoca, a

170 km de Fortaleza. Amontada hoje �� uma cidade eman-

cipada, que tem at�� ag��ncia do Banco do Brasil e, natu-

ralmente, uma Farm��cia PAGUE MENOS. Mas, no tempo

em que Deusmar nasceu, em 1947, a vida ali era muito

prec��ria e carecia dos recursos mais singelos de higiene

e saneamento b��sico. A casa de seu Ant��nio Lisboa, pai

31

J U A R E Z L E I T �� O

de Deusmar, n��o tinha banheiro nem energia el��trica e,

como consequ��ncia, sua fam��lia n��o usufru��a dos equipa-

mentos elementares da vida dom��stica civilizada, como

uma simples geladeira e um liquidificador. O r��dio fun-

cionava com uma bateria de caminh��o carregada por um

cata-vento. Mesmo assim, menino ainda, ouviu do pai

esta senten��a alvissareira: "Voc�� vai ser doutor!".

Ant��nio Lisboa de Queir��s era um afilhado da

esperan��a e conseguiu repassar essa virtude ao filho,

que haveria de multiplic��-la. Ele pr��prio n��o conseguira

concluir o antigo Curso Prim��rio, mas sonhava com um

destino diferente para os filhos, o menino Deusmar e

sua irm�� mais velha, Raimunda Nonata, que o antecedeu

na vinda para a Capital, onde se internara num col��gio

de freiras.

Quando Deusmar estava para completar oito anos

de idade, o pai vendeu o com��rcio onde moravam e veio

com a fam��lia para Fortaleza, estabelecendo-se com uma

mercearia no bairro Ant��nio Bezerra.

"Matriculou-me nos melhores col��gios. Estudei

no Sete de Setembro, do austero professor Edilson Brasil

So��rez, e no Col��gio Cearense dos Irm��os Maristas. Co-

l��gios caros, com mensalidades pagas suadamente com

o que apurava na Mercearia Santo Ant��nio. Nunca fui,

por��m, filhinho de papai, vivendo na moleza e deitado

em ber��o espl��ndido. Depois das aulas tinha que ajudar

a fam��lia ganhando nas ruas o meu dinheiro. Tirava o

uniforme escolar e pegava o cesto de bananas, laranjas

32

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

e rapaduras para vender de porta em porta, rua acima e

rua abaixo. Todos os dias tinha de ganhar pelo menos o

equivalente �� unidade da moeda corrente. E, quando pre-

cisava de um sapato, era preciso me esfor��ar mais para

compensar o investimento. Nunca escamoteei a ordem

paterna nem reclamei da sorte. Entendi muito cedo que o

destino me reservava duas miss��es, ESTUDO e TRABA-

LHO, e, ao aceit��-las, constru�� o sucesso de minha vida."

O relato continua e todo o audit��rio o acompanha

com respeito e admira����o. Atentos, todos parecem viajar

para as terras promissoras do conferencista, para a aurora

de sua ascens��o, para o come��o penoso de sua escalada.

E ele explica como conseguiu o primeiro emprego.

Foi na IBM do Brasil, onde come��ou como aprendiz e

chegou ao cargo de Operador S��nior.

Na sequ��ncia, passou no vestibular para o Curso

de Economia da Universidade Federal do Cear�� e, ain-

da como estudante, foi convidado para atuar no mer-

cado financeiro na CR��DIMUS DISTRIBUIDORA DE

VALORES.

Graduou-se em Ci��ncias Econ��micas e Adminis-

trativas em 1973 e, no ano seguinte, tornou-se professor

universit��rio, na UNIFOR (Universidade de Fortaleza),

das cadeiras de Mercado de Capitais, Microeconomia e

Macroeconomia.

Reconhecido como expert no mercado financeiro,

em 1976 foi convidado para montar a ��rea de opera����es

da Bolsa de Valores regional.

33

J U A R E Z L E I T �� O

Em maio de 1977, em sociedade com o empres��-

rio Bernardo Bichucher, cria a PAX Corretora de Valores

e C��mbio, tornando-se, dois anos depois, seu s��cio ma-

jorit��rio. Era, agora, de fato e de direito, um empres��rio.

Lembra a data de grande significado em sua vida: 26 de

maio de 1977, v��spera de seu anivers��rio de trinta anos.

"O mercado financeiro me deu muito dinheiro" -

afirma, categ��rico.

"Aos trinta e quatro anos alcancei meu primeiro

milh��o de d��lares, que �� o sonho americano de sucesso."

Quando se casou, em 1971, ainda vivia o tempo das

vacas magras, mas j�� era rico de sonhos. Sabia que iria ven-

cer porque tinha dentro dele as ferramentas fundamentais

dos vitoriosos: o otimismo, a aud��cia e a f�� em Deus.

Foi caprichoso tamb��m no campo do amor. Casou

com Maria Auric��lia depois de sete anos de namoro (ou

talvez de estudos), mas escolheu a companheira para a

vida inteira.

"Hoje, aos 44 anos de casado com a mesma mu-

lher, temos duas filhas e dois filhos, al��m de 14 netos.

S��o muitos? �� que eu combinei com eles que a heran��a

seria de acordo com o n��mero de netos. Por isso, produ-

ziram bastante."

Em 1 9 8 1 , come��a a hist��ria da PAGUE MENOS.

Fundou a primeira loja na periferia de Fortaleza. Um ano

depois j�� eram cinco lojas. O nome da farm��cia j�� ��, por

si, um achado publicit��rio. Se algu��m precisa de um re-

m��dio, anuncia que vai �� PAGUE MENOS e, assim, ad-

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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

mite que, por escolh��-la, j�� est�� fazendo economia, est��

pagando menos. Economia de tempo e espa��o tamb��m,

porque as farm��cias do Deusmar est��o por toda parte e,

certamente, tem alguma perto de voc��.

O palestrante vai gradativamente se entusiasman-

do. �� um menino no esplendor da anima����o. Fala dos seus

neg��cios como um adolescente falaria de suas fa��anhas

amorosas. Parece um homem comum, agrad��vel e sor-

ridente, relatando a sua perip��cia humana, mas, apesar

do despojamento e da simplicidade, �� a segunda maior

fortuna do Cear�� e a 4 6 a do pa��s, dono de uma estrutu-

ra comercial que responde por um faturamento anual de

mais de 5 bilh��es de reais, segundo a Forbes, em 2 0 1 5 .

De repente, estaca. Fica s��rio e declara que vai

contar o seu segredo. Os olhos dos ouvintes se arregalam

curiosos e expectantes. Ser�� que o empres��rio bilion��rio

vai indicar para todos, o caminho das pedras, revelar o

pulo do gato?

E, ent��o, depois de uma pausa estrat��gica, ele con-

fessa, reverente:

"Fiquem certos, todos voc��s, que nada disso eu te-

ria conseguido sem as b��n����os de Deus. Pelo mesmo ca-

minho e pela mesma f�� voc��s podem tamb��m conseguir.

Por isso, eu os convido a chamar Deus para este congres-

so rezando o Pai-Nosso, agora! Vamos l��, pessoal! Quem

acredita que Deus pode ajudar, venha comigo. Em nome

do Pai, do Filho e do Esp��rito Santo, Am��m. Pai-nosso,

que estais no c��u..."

35

J U A R E Z L E I T �� O

E, depois, continua, exaltado como um mission��rio:

"Meus amigos, sem Ele eu n��o estaria aqui. Creio

nisto, sinceramente. E ter f�� nunca me fez mal. Expe-

rimentem. Mas experimentem tamb��m ser otimistas.

Plantem a esperan��a em seus cora����es. Botem a for��a

do entusiasmo em seu esp��rito e ajam. Executem. N��o

esperem sentados que a sorte lhes traga as venturas.

Porque h�� tr��s tipos de pessoas: as que olham as coisas

acontecer. As que perguntam o que foi que aconteceu.

E as que fazem as coisas acontecer. As primeiras, s��o

passivas. As da segunda alternativa, s��o sempre surpre-

endidas pelos fatos. As ��ltimas, sim, s��o proativas na

vida e fazem a hist��ria."

Os assistentes est��o capturados pelo orador. N��o

h�� um murm��rio nem ru��do nenhum no audit��rio imen-

so. E ele prossegue, persuasivo e sedutor:

"Acreditem em seus sonhos. �� fundamental acre-

ditar no que voc�� pretende, naquilo que quer fazer e acha

que vai dar certo. Sonhe alto e considere que vai conse-

guir. Se o seu sonho �� bom, Deus vai ajudar a realiz��-lo.

Nunca seja mais um. Procure ser especial. E, sobre-

tudo, acredite em seu pa��s. Eu acredito no Brasil. Acredito

muito. Sen��o, n��o teria aberto mais 90 lojas neste ano de

2 0 1 5 . Se fosse me deixar levar pela onda de pessimismo

que inunda os notici��rios e acinzenta as falas de muitos,

estaria descambando para o mesmo vale da amargura e

me atrelaria �� in��rcia. O potencial do Brasil �� bem maior

do que as mazelas que os insensatos podem produzir. A

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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

economia brasileira, malgrado os que apostam no pior,

vai vencer a crise e crescer. E com a garantia da plena de-

mocracia. Algu��m duvida que conquistamos o almejado

Estado Democr��tico de Direito? Podemos mostrar com

fatos. Temos elei����es livres. Quantas, seguidas? 90, 94,

98, 2002, 2006, 2010, 2 0 1 4 e, com certeza, 2018. A im-

prensa livre exerce um grande poder sobre a opini��o p��-

blica. A Pol��tica de Cotas e o leque de oportunidades que

abriu. A independ��ncia do Judici��rio. H�� poucos anos,

se dizia que neste pa��s s�� os ladr��es de galinha iam pra

cadeia. Hoje, pol��ticos, ex-ministros e grandes empres��-

rios est��o presos pelas malfeitorias que praticaram. Uma

democracia consolidada.

Alerto-vos para que defendam as oportunidades

de trabalho para todos. Quanto mais empregos, menor

o ��ndice de inseguran��a. N��o adianta voc�� ser um enge-

nheiro de produ����o bem-sucedido, um gerente, um di-

retor de opera����es com um monte de favelados ao seu

lado, com uma multid��o de infelizes enchendo as ruas,

estendendo as m��os pedintes, vivendo as horas da morte.

Se voc�� puder, d�� emprego, invista na humanidade.

Por que embarcar na prega����o dos desanimado-

res? Acompanhem-se dos otimistas e fujam dos amargos,

dos incr��dulos, dos maledicentes, dos que dizem que

tudo vai piorar.

Estamos vivendo mais, nossa m��dia et��ria passa

agora dos setenta anos. Antigamente se morria antes dos

cinquenta. E muitos de n��s h��o de atingir os noventa.

37

J U A R E Z L E I T �� O

Estou vendo na minha frente futuros nonagen��rios. Por-

tanto, temos que alargar as portas dos banheiros para dar

passagem ��s cadeiras de rodas dos anci��os.

N��o se esque��am de ser positivos. Neste momento

de perplexidade os fomentadores de d��vidas indagam: o

que est�� pior, a pol��tica ou a economia? Uns v��o dizer que

�� a pol��tica e outros v��o afirmar que �� a economia. Mas vos

digo: uma �� consequ��ncia da outra e ent��o ambas podem

melhorar se todos n��s nos esfor��armos para isso. Nesses

��ltimos anos, 40 milh��es de brasileiros foram tirados do

estado de mis��ria e isso foi ��timo para a economia, fez,

provocou boas mudan��as sociais. Muita gente usufruiu,

comprou, vendeu, viajou, conseguiu um teto... Houve um

consumo positivo. Os pobres experimentaram um pouco

de felicidade. Agora est�� na hora de pagar a conta. Todos

t��m que ajudar, contribuir, porque s�� assim, repartindo

responsabilidades, seremos uma na����o. Vem a�� o ajuste

fiscal. Com certeza vai tirar e n��o botar dinheiro no bolso

das pessoas. �� uma necessidade deste momento. Na crise

�� preciso aprender a conviver com ela. Voc�� vai deixar de

comer ou de comprar medicamentos? (ali��s, nem pensem

nisso) Mas vai eleger prioridades. Todos os bens s��o de

consumo, mas alguns s��o essenciais e outros nem tanto.

Alguns gastos podem ser adiados, como viagens, compra

de carros novos, troca de eletrodom��sticos... Bem, vamos

ter que administrar a transi����o at�� que as coisas melho-

rem. A ordem �� praticar a ren��ncia. Passou a folia dos

perdul��rios. No setor privado, redu����o do endividamento

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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

e aumento da produtividade. Fazer mais com menos. No

com��rcio, por exemplo, precisamos de gente pensando

em como fazer bem feito, com menores recursos, meno-

res gastos e com maior rendimento.

Andei fazendo uns estudos do cen��rio econ��mi-

co brasileiro nas ��ltimas cinco d��cadas. De 1963 pra c��,

em somente tr��s momentos o Brasil teve o PIB abaixo de

zero. Esta, agora, �� a quarta vez. Nas outras tr��s, a recu-

pera����o n��o demorou mais do que tr��s anos. Por isso, eu

acredito que em 2017 ou 2 0 1 8 estaremos saindo dessa

malfadada condi����o e a nossa economia recuperando a

sua dignidade. Vejam bem: com todo esse esc��ndalo da

Lava Jato a Petrobras continua a bater recordes de produ-

����o, enquanto o setor de energia, mesmo vivenciando a

escassez de chuvas, n��o entrou em colapso. Al��m disso,

crescem as ades��es a outras formas de energia, como a

solar e a e��lica. Estamos batendo recordes tamb��m na

produ����o de gr��os, mesmo com cinco anos de seca, en-

quanto o turismo cresce, principalmente, no Nordeste.

Ent��o, minha gente, o nosso pa��s �� mesmo maior

do que as crises e apostar no futuro ser�� sempre um exer-

c��cio benfazejo.

Poderia ficar horas relatando as raz��es de minha

cren��a no Brasil e em sua extraordin��ria capacidade de

reagir ��s mazelas que o acometem.

Mas n��o temos todo o tempo do mundo.

Fa��am o que tenho feito: se embebedem de espe-

ran��a e naveguem altaneiros em qualquer turbul��ncia.

Vejam o nosso exemplo. Minha bandeira �� a do otimismo.

39

J U A R E Z L E I T �� O

Hoje ( 2 0 1 5 ) , j�� estamos em mais de 300 munic��-

pios brasileiros, com mais de 800 lojas e pretendemos

atingir as 1.000 em 2017. Em nossa primeira etapa, que

durou 20 anos, atingimos todo o Nordeste e parte do

Norte. Em 2002 abrimos a primeira loja em S��o Paulo e, a

partir da��, fechamos todo o Sul, o restante do Norte, Acre,

Roraima, Amap��, Tocantins. Agora, estamos no miolo da

quarta etapa, esta que vai bater no teto das 1.000 lojas.

Depois vir��o outras".

Exibe um v��deo em que aparece no mapa do Brasil

a presen��a da PAGUE MENOS. Parece aqueles mapas da

Segunda Guerra Mundial, onde se v�� em vermelho ou

em verde o avan��o das tropas beligerantes de um lado e

de outro. No mapa do avan��o de Deusmar pelo pa��s, as

verdes s��o as lojas j�� constru��das e as vermelhas, as que

est��o em constru����o. ��, de fato, uma guerra. Com bata-

lhas di��rias, batalhas vitoriosas.

Fala da quest��o do abastecimento. Como levar

tanto rem��dio para tantas prateleiras? Tudo funciona a

partir da Central de Distribui����o. Houve o tempo em que

o Centro de Distribui����o de Fortaleza abastecia o pa��s

inteiro. Muita gente n��o sabe, mas sa��a mais em conta

abastecer a partir daqui do que de S��o Paulo, por exem-

plo. O custo de um centro de distribui����o em S��o Paulo ��

alt��ssimo. S�� no quesito seguran��a, teria que ter um guar-

da a cada dez metros. Fortaleza sedia o maior centro de

distribui����o de medicamentos da Am��rica Latina. Atu-

almente abastece as lojas da Bahia ao Amazonas. Porque

4 0

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

agora tem outro, sediado no Centro-Oeste, que cobre o

Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul.

"Vejam mais - continua o conferencista - : n��s

somos uma empresa s��ria, boa pagadora, que cumpre as

suas obriga����es. Menos de 1% das empresas do pa��s igua-

lam o nosso desempenho. Em n��mero de lojas, somos

a segunda do Brasil. Em gera����o de empregos, sal��rios,

impostos, somos a s��tima melhor do varejo. Em liquidez,

isto ��, em capacidade de pagar suas contas, somos a sex-

ta. Est�� bom, assim?

E temos uma not��cia nova. N��s vamos mudar o

perfil das farm��cias no Brasil. Estamos colocando em

cada loja, farmac��uticos para atender. Em cada uma te-

mos, no m��nimo, tr��s profissionais graduados. N��o �� para

substituir o m��dico, mas resolver as pequenas urg��ncias.

Ele vai ter o seu recanto na farm��cia, uma esp��cie de am-

bulat��rio, onde pode fazer um curativo, aplicar uma in-

je����o, dar uma orienta����o ao cliente. Vi isso no Canad�� e

constatei que funciona muito bem. Mais farmac��uticos e

menos m��dicos cubanos, para desafogar os SUS."

O palestrante d�� sinais de que vai encerrar sua

participa����o. Olha o rel��gio e se despede com uma ad-

vert��ncia final:

"Esque��am aquela hist��ria do ap��stolo Tom�� de

ver para crer. A partir de agora, creiam para ver. A gente acredita, primeiro, e, depois, vai l�� buscar.

Esque��am as crises e sonhem, como eu fiz quando

ainda era menino. Todo grande um dia j�� foi pequeno e

quem �� pequeno pode ser grande.

41

J U A R E Z L E I T �� O

Amem o seu pa��s, a sua fam��lia, o seu vizinho, o

an��nimo que est�� ao seu lado. Porque o amor �� o melhor

rem��dio. Um rem��dio que eu n��o posso vender em mi-

nhas farm��cias. Nelas o amor �� de gra��a.

E digo-vos, ainda: a felicidade �� um sentimento de

m��o dupla. S�� seremos felizes fazendo os outros felizes.

MUITO OBRIGADO PELA ATEN����O."

O audit��rio levantou-se e, un��ssono, aplaudiu o

doutor Deusmar Queir��s. Ele havia conquistado todos

com a sua hist��ria. Estava ali um semeador de esperan-

��as, cumprindo mais uma vez a miss��o de ensinar ousa-

dia, persist��ncia, f�� e dedica����o a quem estivesse dispos-

to a sonhar e a construir a luminosa alvenaria do futuro.

Estava satisfeito pelo que praticara, com efus��o,

honestidade e entrega generosa.

Todos vinham cumprimentar aquele homem gri-

salho, cordial e afetuoso que acabava de proferir sua

mensagem predileta de otimismo.

Dentro dele, em um canto aconchegante de sua

alma, como um Quixote de cal��as curtas, o menino da

vila de Amontada sorria.

42



2

A LAGOA DO BARBAT��O

"Gosto de ver um homem orgulhar-se de sua

terra. E gosto muito mais de ver um homem

de quem sua terra costuma orgulhar-se."

Abraham Lincoln ( 1 8 0 9 - 1 8 6 5 )

Amontada �� um munic��pio de 1.582 quil��metros

quadrados, situado na mesorregi��o do norte ce-

arense. Pertenceu a Itapipoca at�� 1985, quando

se emancipou pela Lei Estadual 11.010.

De clima tropical quente, t��pico do semi��rido, seu

inverno (como denominamos no Nordeste o per��odo

chuvoso) se estende de janeiro a maio.

Banhada pelos Rios Aracatia��u e Aracatimirim,

tamb��m abriga em seu territ��rio as Lagoas do Torto e

da Sabiaguaba.

45

J U A R E Z L E I T �� O

E, como faz fronteira com o Oceano Atl��ntico e

�� bem servida por um litoral de declive suave, possui

praias magn��ficas.

De terra ch��, plana e arenosa, sua mata �� consti-

tu��da da Caatinga, o bioma caracter��stico de nosso solo,

conhecido tamb��m como "mata branca" ou "mata espi-

nheira", porque perde as folhas nos extensos estios de

cerca de oito meses, mesmo quando h�� inverno, trans-

formando-se numa paisagem cinzenta de galhos retor-

cidos e caules que se descascam. Aos primeiros pingos

d'��gua, entretanto, se enfolha de um verde forte, esme-

raldino, ressuscitando todo o seu complexo biol��gico de

grande diversidade, com animais e vegetais nativos ou

adaptados esplendendo de vi��o e vitalidade.

Seus habitantes se sustentam dos pequenos neg��-

cios na sede e nos vilarejos e, mais verdadeiramente, do

cultivo do algod��o, do caju, do milho e do feij��o, al��m da

cria����o de bovinos e de gado mi��do (caprinos e ovinos).

Outra renda �� obtida com o turismo e o com��rcio

de hospedaria, principalmente, das pousadas instaladas

nas praias intensamente visitadas.

Antes, ao longo de mais de cem anos, foi por tr��s

vezes elevada a munic��pio, sendo, alternadamente, desti-

tu��da dessa condi����o, oscilando aos caprichos das querelas

regionais como um ioi�� pol��tico, subindo e descendo no

vai e vem das circunst��ncias e das hegemonias partid��rias.

Mudou de nome algumas vezes. Foi S��o Bento da

Amontada, depois, S��o Bento, simplesmente, e, final-

mente, AMONTADA, a partir de 1943.

46

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Muito antes destas denomina����es, na long��nqua

segunda metade do s��culo XVIII, Amontada foi uma la-

goa, incrustada nas terras do capit��o Manuel Gomes do

Nascimento. Este portugu��s tinha um boi arredio, animal

arisco e manhoso, que costumava desaparecer das vis-

tas do patr��o e dava muito trabalho aos seus vaqueiros.

Os bois brabos desses tempos da pecu��ria colonial eram

chamados de barbat��es. O barbat��o do fazendeiro Ma-

nuel, entretanto, tinha uma obriga����o e uma necessidade:

vinha todos os dias, bem cedinho, no resto da madruga-

da, saciar-se na lagoa, que ficava no exato local onde hoje

est�� o Centro da cidade. Os vaqueiros, descobrindo o se-

gredo do boi mandingueiro e a sua predile����o pelo aci-

dente geogr��fico, deram-lhe de presente aquela lagoa. A

pr��pria fazenda passou a ser a LAGOA DO BARBAT��O.

Reza a lenda que, num tempo de grande estiagem,

a lagoa ficou reduzida a lama. E ali foi encontrado, certa

manh��, atolado e morto, o valente barbat��o, uma das

mais remotas refer��ncias da coloniza����o de S��o Bento

da Amontada.

A Amontada original ficava a quinze quil��metros

da Lagoa do Barbat��o. Era outra fazenda, pertencente a

Jos�� Ant��nio dos Santos, que, embora n��o fosse de direi-

to, se autodenominava de "Capit��o-Mor".

Sabendo que a cruz era o chamariz para o povo-

amento, resolveu construir em suas terras uma capela,

obtendo do bispo de Lisboa uma licen��a paroquial e uma

imagem de Nossa Senhora da Concei����o.

4 7

J U A R E Z L E I T �� O

Mesquinho, Jos�� Ant��nio n��o doou nenhum peda-

��o de terra para o patrim��nio da santa. Por isso, tempos

depois, o portugu��s Gabriel Crist��v��o Muniz Barreto,

sucessor de Manoel Gomes em Lagoa do Barbat��o, cons-

truiu tamb��m uma capelinha, dedicada a S��o Bento, o

santo protetor contra mordidas de cobras, r��pteis abun-

dantes naquele lugar.

Querendo desenvolver sua propriedade e no in-

tuito de v��-la mais bem povoada, juntamente com seu

genro, Gabriel Barreto viajou para Portugal e, l��, reque-

reu das autoridades eclesi��sticas a transfer��ncia do orago

de Nossa Senhora da Concei����o para Lagoa do Barbat��o,

pois estava doando �� padroeira meia-l��gua quadrada de

suas terras e garantindo erguer uma igreja maior com

torre alta e um sino de qualidade.

Dessa forma, a Lagoa do Barbat��o, que j�� era co-

nhecida informalmente como S��o Bento, transformou-se

em S��o Bento de Amontada.

Houve brigas e amea��as entre Gabriel e Jos�� An-

t��nio dos Santos, mas o que restou para o sovina foi ter

o seu lugar conhecido, apenas, como Amontada Velha.

Amontada, territ��rio primitivo dos ��ndios Tre-

memb��s, est�� entre o Oceano Atl��ntico e os munic��-

pios de Itapipoca, Mira��ma, Santana do Acara��, Morri-

nhos e Itarema.

Nesse espa��o nasceu e passou a primeira inf��ncia,

serelepe e feliz, Francisco Deusmar, da estirpe dos Queir��s.

4 8



3

A ESTIRPE DOS

QUEIR��S

"A melhor maneira de honrar a

mem��ria dos antepassados �� caminhar

com um grau t��o claro de dignidade

pelo espa��o de sua vida que os seus

descendentes se sintam orgulhosos de

sua biografia".

Tetsuro Watsuji ( 1 8 8 9 - 1 9 6 0 )

fil��sofo j a p o n �� s

Aorigem da fam��lia QUEIROZ (ou QUEIR��S) re-

monta das Ast��rias, principado da Pen��nsula

Ib��rica, hoje uma prov��ncia da Espanha. Alguns

genealogistas afirmam que os QUEIROZ descendem do fa-

moso Pr��ncipe Constantino, defensor do Papa Estev��o III

51

J U A R E Z L E I T �� O

na luta contra os b��rbaros lombardos, no s��culo VIII. Ha-

via uma vila, nomeada de Queiroz, e alguns moradores

desse lugar, por homenagem, passaram a utilizar a desig-

na����o como sobrenome.

Um deles, Fernando ��lvares de Queir��s, transfe-

riu-se para Portugal, no ��ltimo quartel do s��culo XIV,

aliando-se ao Rei Fernando I, o Formoso, inimigo de

Henrique III, de Castela. Tendo o rei portugu��s obtido

��xito contra o Rei castelhano, Fernando de Queir��s tor-

nou-se um senhor de grande prest��gio e, como tal, despo-

sou D. Elvira de Castro, filha de D. Bernardo del C��rpio,

um fidalgo de alta linhagem.

Os Queiroz prosperaram na Lusit��nia e alguns

deles se destacaram nas guerras pela consolida����o da

monarquia portuguesa. Fam��lia numerosa, seus descen-

dentes espalharam-se por toda a Pen��nsula e muitos em-

barcaram nas expedi����es para as ��ndias e demais proje-

tos atl��nticos na Era dos Descobrimentos.

Certamente, elementos da fam��lia Queiroz parti-

ciparam dos prim��rdios da coloniza����o do Brasil. Mas,

an��nimos, n��o lograram registro nos anais da hist��ria

inicial de nosso pa��s.

Segundo Esperidi��o de Queiroz Lima, autor do Li-

vro Antiga Fam��lia do Sert��o, a primeira presen��a regis-

trada de um Queiroz no Brasil foi a de MANOEL PEREI-

RA DE QUEIROZ, em 1630. Esse portugu��s era natural

de Viana do Castelo e aqui se estabeleceu em Goiana,

Pernambuco. H��bil e diligente comerciante, �� frente de

52

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

uma tropa de mulas, entregou-se �� mascatea����o, venden-

do mercadorias diversas aos fazendeiros. A moeda utili-

zada era o a����car, que ele revendia com bom lucro nas

vilas e povoados. Bem-sucedido em seu empreendimen-

to, logo adquiriu sua pr��pria Fazenda, o Engenho Jacar��,

onde produzia a����car, cacha��a e rapadura. J�� rico, despo-

sa, em 1669, D. ngela Cavalcante de Vasconcelos, com

ela tendo a filha ��nica Isabel Cavalcante Vasconcelos de

Queiroz. O pioneiro morre em 1690, com a majestosa

idade de 80 anos, longevidade rara por aqueles tempos.

Muitos anos depois, um ramo dos Queiroz se ins-

talou no Rio Grande do Norte, liderado por Jos�� Pinto de

Queiroz, casado com uma mo��a de Goiana, Ana Martins

de Lacerda Queiroz, com quem constituiu uma fam��lia

de onze filhos.

Alguns de seus descendentes migraram para o Ce-

ar��, ainda no s��culo XVIII, se instalando, inicialmente,

nas margens do Jaguaribe e do Banabui��. Passaram ao

Baixo e M��dio S i t i �� se afazendando por ali.

No Maci��o de Baturit��, plantaram caf��. Na Vila de

Campo Maior de Quixeramobim, Ant��nio Queiroz Perei-

ra Filho foi Juiz Ordin��rio.

Em 1824, Ant��nio Francisco de Queiroz Barreira

e Miguel de Queiroz Lima participaram ativamente da

Confedera����o do Equador, movimento liberal que pre-

tendia libertar o Nordeste do Imp��rio Brasileiro e fun-

dar v��rias rep��blicas na regi��o. Formaram fileira, ao lado

de Trist��o Gon��alves, Pereira Filgueiras, Azevedo Bol��o,

53

J U A R E Z L E I T �� O

Pessoa Anta e Padre Moror��, por pouco, diante do fra-

casso da revolu����o, n��o sendo fuzilados, como aconteceu

com seus camaradas.

Nos in��cios do s��culo X I X , membros da fam��lia

Queiroz j�� ganhavam destaque institucional e mantinham

pretens��es pol��ticas, pois tr��s deles aparecem como can-

didatos �� Assembleia Provincial do Cear�� nas elei����es

de 1835, embora sem lograr ��xito: Ant��nio Francisco de

Queir��s Juc��, Francisco Sab��ia de Queir��s e Balthazar

Lopes de Queir��s.

Na segunda metade do s��culo X I X , um Queiroz do

Cear�� conquistou grande distin����o nacional. Jos�� Clarin-

do de Queir��s, nascido em Fortaleza, em 1 8 4 1 , fez bri-

lhante carreira militar. Participou da Guerra do Paraguai,

de l�� retornando com a patente de tenente-coronel. Aos

38 anos foi nomeado pelo Imperador Pedro II, Governa-

dor da Prov��ncia do Amazonas. Em 1891, j�� no regime re-

publicano, o Congresso Constituinte do Cear�� nomeou-o

Governador do estado. Coronel aos 39 anos, brigadeiro

aos 42 e General de Divis��o aos 49. Morreria no Rio de

Janeiro, aos 52 anos.

Seguiram os Queiroz, no s��culo X I X , como ses-

meiros das terras adjacentes a Serra Azul, alargando-se

territorialmente para as ribeiras do Pirangi e do Choro.

As propriedades da fam��lia no espa��o geogr��fico

que compreende o atual munic��pio de Quixad�� registra-

ram-se com as denomina����es de Natividade, Barro Ver-

melho, Junco e Calif��rnia.

54

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Calif��rnia, fundada por Miguel Francisco de Quei-

roz Lima e sua mulher, D. Maria da Penha, foi a maior e

mais importante fazenda da regi��o. Seus donos exerciam

o mando em estilo patriarcal, assistidos por um capel��o e

servidos por muitos escravos, em casa-grande de s��lida e

alpendrada constru����o. O casal n��o teve filhos, mas ele-

geu um sobrinho, Arcelino de Queiroz Lima, como her-

deiro universal. O Dr. Arcelino era advogado, formado

pela Faculdade de Direito de Recife, onde fora colega de

nomes que marcariam a hist��ria da literatura brasileira,

do porte de Castro Alves e Tobias Barreto. Deixando de

lado seus estudos jur��dicos e a oferta de cargos p��blicos,

inclusive, na magistratura, Arcelino de Queiroz tornou-

-se um dos mais dedicados fazendeiros do Cear��.

No dia em que morreu, o octogen��rio Miguel de

Queiroz Lima chamou o sobrinho (que cuidara dos ��lti-

mos anos do tio com desvelo e abnega����o) para lhe con-

tar um segredo. Entretanto, quando ia fazer a revela����o,

chegou sua hora final e Arcelino ficou sem saber do que

se tratava. Dizem que o anci��o iria indicar-lhe o local

exato onde escondera suas muitas moedas de ouro, acu-

muladas ao longo da vida e ciosamente guardadas num

pote de barro comprido (botija) enterrado nas terras da

fazenda. Ficou a lenda da botija do Velho Miguel na me-

m��ria dos parentes, passando de gera����o para gera����o.

Muitas foram as escava����es feitas no solo f��rtil de Cali-

f��rnia, mas o tesouro nunca foi encontrado.

Os Queiroz, j�� numerosos, enriquecidos pela pro-

du����o de algod��o, cana-de-a����car, mandioca e cereais,

55

J U A R E Z L E I T �� O

criaram outras fazendas em paragens diversas do Cear��,

nas mesorregi��es Norte e Noroeste, no sop�� da Serra de

Uruburetama, e nas ribeiras dos Rios S i t i a , Pirangi, Cho-

r��, Munda��, Aracatia��u, Acara��, Groa��ras e Poti.

Do ramo quixadaense da fam��lia, destaca-se Da-

niel de Queiroz Lima, propriet��rio da Fazenda Junco

(hoje o povoado Daniel de Queiroz) e pai de Rachel de

Queiroz, primeira mulher a ocupar uma cadeira da Aca-

demia Brasileira de Letras. Um peda��o do antigo Junco

abriga as terras da "Fazenda N��o Me Deixes", criada pela

renomada escritora, que nela costumava veranear.

Outros Queiroz Lima sa��ram de Quixad�� para se

estabelecer em Cascavel, onde alcan��aram grande pros-

peridade. Dessa vertente da fam��lia descende o escritor e

jurista Pedro de Queiroz Lima e o industrial Edson Quei-

roz, o maior empres��rio cearense da segunda metade do

s��culo X X , neto de Galdino Clementino de Queiroz e fi-

lho de Gen��sio Queiroz.

Segundo Jos�� Bonif��cio de Sousa, autor de Quixa-

d�� e a Serra do Estev��o, todos os Queiroz do Cear�� s��o

parentes. Tudo da mesma tribo, gente da mesma ra��a.

Nas ��ltimas d��cadas do s��culo X I X , j�� era grande

o n��mero de membros da fam��lia Queiroz na Serra de

Uruburetama e suas adjac��ncias.

Em Itapipoca, chegaram por volta de 1865, se alo-

jando nas terras ribeirinhas do Aracatia��u. Fundaram al-

gumas fazendas, entre elas uma denominada Alto Para��so.

Juntaram-se aos Teles de Menezes, cruzando-se as

duas fam��lias em casamentos felizes e perp��tuos.

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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Joaquim Vieira de Queir��s desposou Maria An-

g��lica do Esp��rito Santo. Laurentino Lourencir Teles de

Menezes casou com Rita Floresmina de Menezes. S��os os

pais de Raimundo Nonato de Queiroz.

Nos finais dos anos mil e oitocentos, Raimundo

Nonato de Queiroz casou com Francisca C��ndida Quei-

roz, tendo entre seus descendentes Ant��nio Lisboa de

Queir��s.

Francisca C��ndida era irm�� de Em��lio Ces��rio

Laurentino Teles de Menezes, da Fazenda Lages, que se

casou com Maria Laura de Oliveira Negr��o, pais de Maria

Madalena.

Ant��nio Lisboa e Maria Madalena s��o os pais de

FRANCISCO DEUSMAR DE QUEIR��S, nascido aos 27

de maio de 1947, numa boca de noite, pelas m��os da par-

teira Raimunda Cust��dio. Parto de grande e demorado

sofrimento, brindado com um trago de aguardente pelo

pai regozijado. Um filho homem para ser feliz, forte, rico

e venturoso, como profetizou, na hora, a velha aparadora

de meninos.

57



4

O MENINO DE

AMONTADA

"O n��o saber da inf��ncia �� o momento

mais feliz da vida."

Erasmo de Roterd�� ( 1 4 6 6 - 1 5 3 6 )

Na mercearia do senhor Ant��nio Lisboa, o me-

nino Francisco Deusmar era o rei. Solto ali na

diversidade das mercadorias, exercia sua felici-

dade infantil mexendo em tudo, tocando nos produtos

arrumados nas prateleiras, nos sacos de cereais, nos bar-

ris resguardados embaixo do balc��o, na fileira de litros

de bebidas, nos potes de balas, nas caixas de rem��dios.

A mercearia era uma loja de secos e molhados,

bem ao modo das casas de com��rcio do interior do Cear��

59

J U A R E Z L E I T �� O

nos anos 50 do s��culo passado, sortidas de todas as ne-

cessidades dos fregueses, da agulha de costura ao arroz,

da farinha de mandioca ao fumo de rolo, do querosene ao

mercurocromo.

Seu Ant��nio era um homem din��mico e um ex��-

mio fazedor de neg��cios.

Em Amontada, sua hist��ria �� contada por todos, de

modo vantajoso, com orgulho nativista. Quando falam do

sucesso do filho como empres��rio de renome nacional,

acrescentam logo o refr��o: "Mas ele tem a quem puxar!".

Ant��nio Lisboa de Queir��s experimentou muitas

atividades.

Antes de se firmar como comerciante, trabalhava

com couro. Fazia correias, bainha de faca, cintos, alper-

catas, perneiras... Um mestre da sola e do cutelo.

Praticava a agricultura, tinha suas ro��as de milho e

feij��o, mas, nas horas vagas, tamb��m era barbeiro. Fazia

barba e cabelo com admir��vel per��cia.

Depois, empreendeu em outros ramos. Teve pa-

daria, cria����o de porcos e, quando vislumbrou as neces-

sidades do progresso, tornou-se o fornecedor da energia

el��trica de seu distrito.

Nos prim��rdios dos anos 1950 estava muito bem

estabelecido. Os neg��cios prosperavam. Adquiriu qua-

tro casas na rua principal de Amontada e, demolindo-

-as, construiu ampla resid��ncia com casa de com��rcio e

armaz��m anexos. Talvez, o melhor im��vel do vilarejo,

onde, hoje, est�� instalada a ag��ncia do Banco do Brasil.

60

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Naquela manh��, o pequeno Deusmar, na garrulice

dos tr��s ou quatro anos, depois de mexer em quase tudo

na mercearia, tentava escalar uma pilha de surr��es de ra-

padura. Na segunda ou na terceira tentativa o monte de

surr��es desabou pesadamente sobre a crian��a. Ao cho-

ro aflito do menino correram para acudi-lo e, aliviados,

viram que o acidente n��o fora t��o grave, levando-se em

conta sua idade e o peso de centenas de rapaduras. Mas

quebrara a perna, na altura da coxa direita, e isso exigia

socorro imediato.

Longe da civiliza����o e sem outros meios al��m de

suas pr��prias habilidades, seu Lisboa n��o hesitou em as-

sumir o atendimento de emerg��ncia. Com talos de car-

na��ba e barbante providenciou a imobiliza����o do mem-

bro afetado, depois de, a ferro frio, recolocar os ossos no

lugar. Como n��o havia cama, colocaram uma porta sobre

tijolos que, bem forrada com mantas e coxonilhos, tor-

nou-se o novo leito do convalescente.

Apesar de todos os cuidados, depois de algumas

semanas na mesma posi����o, com as costas coladas no lei-

to, vieram as escaras. As costas do menino se abriram em

ferimentos feios. Pomadas vindas de Sobral, massagens

e outras provid��ncias recomendadas pelo farmac��utico

fornecedor dos medicamentos foram atenuando as dores

e promovendo a recupera����o das feridas.

Entretanto, a melhor provid��ncia do pai para ali-

viar o sofrimento de seu filho foi o sanfoneiro que con-

tratou. Pelas horas da tarde, justamente quando o calor

61

J U A R E Z L E I T �� O

come��ava a incomodar, baixavam os m��sicos, com san-

fona e zabumba, para alegrar o menino doente. E tome

xote e bai��o a tarde inteira, ��s vezes, entrando pela noite.

E uma das m��sicas falava de um calango que ha-

via quebrado a perna, composi����o, sem d��vidas, comple-

tamente adequada para a situa����o. Deusmar aprendeu a

cantiga e se livrava de todas as dores quando cantava: "Ca-

lango quebrou a perna? Eu tamb��m quebrei a minha...".

O conserto do membro partido, feito por amador e

em condi����es prec��rias, teve ��xito extraordin��rio e defi-

nitivo. Hoje, Deusmar diz que n��o sabe qual a perna que

quebrou na inf��ncia.

Recuperado, no ano seguinte passou a frequentar

as aulas de dona Rita Vi��va. Ia de jumento, embora n��o

fosse grande a dist��ncia. A professora recebia os alunos

em sua casa, que ficava nas cercanias da vila. Eram cerca

de quinze meninas e meninos, da alfabetiza����o, primeiro

e segundo anos, todos juntos em sala ��nica.

A mestra adotava a pedagogia antiga, com argui-

����es severas e o uso da palmat��ria. Havia a tem��vel saba-

tina, verifica����o oral executada semanalmente, quando

dona Rita brandia uma vara para corrigir com tacadas na

cabe��a os desatentos. Na presta����o de contas de aritm��-

tica, por exemplo, sua t��tica consistia em envolver todos

os alunos num circuito continuado das quatro opera����es,

soma, diminui����o, divis��o e multiplica����o, assim: Fula-

no, 2 mais 2? O arguido respondia: 4. Ent��o, o vizinho

era convocado a participar: Com mais 3: 7. E o seguinte,

62

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

menos 4: 3. Vezes 10: 30. E assim por diante. Quem que-

brasse a corrente, por desaten����o ou erro, recebia uma

bordoada. Piaget devia se mexer na cova.

No campo da f��, al��m das aulas de catecismo, lem-

bra com muita emo����o a visita da imagem de Nossa Se-

nhora de F��tima a Amontada. Foi em 1953. A imagem

peregrina veio de Portugal e, acolitada pelo N��ncio Apos-

t��lico, percorreu todo o Brasil. No Cear�� ocorreu um in-

cidente em Crate��s: a comiss��o que acompanhava a ima-

gem decidiu que, naquela cidade, a passagem deveria ser

r��pida, de algumas horas, apenas. As autoridades locais

n��o concordaram e resolveram prender a santa. S�� saiu

no dia seguinte. A atitude teve repercuss��o internacional.

Os amontadenses se mobilizaram para receber

Nossa Senhora de F��tima com a maior demonstra����o

de f��. Nunca se vira tanta gente. Desde a noite anterior

chegavam os devotos vindos das fazendas, dos s��tios e

povoados. Formou-se uma fila enorme em volta da pra��a

para assistir de perto ao desfile da M��e de Deus firmada

num andor em carro aberto, tendo de um lado um cl��ri-

go vestido de batina vermelha e, do outro, o Padre Pe-

dro Vitorino, vig��rio local. Deusmar, que tinha seis anos,

vestido em roupa especialmente feita para aquele impor-

tante evento, segurava a m��o de seu pai e de sua m��e, que

o ladeavam, todos tomados de grande emo����o. Quando

o cortejo ingressava na pra��a, uma senhora avistou um

surr��o velho semienterrado no barro da via, enfeando

o trajeto m��stico. Imediatamente, precipitou-se para a

63

J U A R E Z L E I T �� O

rua e, com esfor��o inaudito, arrancou aquela coisa feia e,

vitoriosa, foi aplaudida pela multid��o. Apesar da pouca

idade o menino detectou aquele gesto nobre, arquivando

em sua mente a imagem daquela senhora e a sua atitude.

O tempo passa devagar nas aldeias singelas do ser-

t��o. E o menino Francisco Deusmar usufruiu at�� os sete

anos daquela vida mansa, em contato com a natureza que

estava nas biqueiras de casa, pois o Aracatia��u corria a

100 metros de seu quintal. Os brinquedos eram artesa-

nais, como os carrinhos de madeira e os pi��es de arre-

messo, em que se tornou um ��s. Na propriedade da fam��-

lia aprendeu a armar fojos para pegar pre��s, um roedor

do mato, desprovido de rabo, de carne muito apreciada

no norte do Cear��. N��o se lembra de ter sido usu��rio de

baladeira, a arma feroz dos abatedores de pequenas aves,

pois a mata passarinheira ficava depois do rio e as in-

curs��es para aquelas bandas eram proibidas pelos pais.

Lembra-se dos banhos de chuva, dos a��udinhos feitos

nas ruas descal��adas em tempo de enxurradas, das brin-

cadeiras de esconde-esconde, das apostas de corridas

com os meninos de sua idade.

Um dia, os sonhos de seu Ant��nio Lisboa ficaram

maiores do que o lugar. Tinha planos de educar os filhos

em Fortaleza. Inicialmente, mandou a filha, Raimunda

Nonata, para uma escola de freiras, o Gin��sio Santa Ma-

ria Goretti.

Para o filho, queria a universidade. Deusmar have-

ria de se formar. Custasse o que custasse, iria estudar nos

64

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

melhores col��gios e ingressar numa faculdade de onde

sairia doutor. O seu filho doutor.

Para tanto, era preciso se mudar para a capital.

Em Fortaleza, fez sondagens para a futura resid��n-

cia. Queria um lugar calmo, tranquilo, mas com popu-

la����o suficiente para lhe possibilitar uma boa clientela.

Pretendia instalar uma mercearia.

Decidiu-se, afinal. Alugou uma casa no Barro Ver-

melho, um bairro na entrada oeste da Capital. Vendeu o

com��rcio que tinha em Amontada e partiu.

Sobre esse pai, que queria que o seu filho fosse dou-

tor, Deusmar Queir��s se manifesta com grande ternura:

"Meu pai, Ant��nio Lisboa de Queir��s, era conhe-

cido como Ant��nio Nonato. Considerado um verdadei-

ro vision��rio pelas concep����es de mundo que ele tinha

e capacidade de empreender neg��cios, foi um l��der em

sua regi��o. Nasceu em 17 de janeiro de 1909, e morreu,

muito cedo, por sinal, no dia 11 de janeiro de 1987. Mi-

nha m��e, Maria Madalena de Queir��s, era nove anos mais

nova do que ele, nascida no dia 12 de novembro de 1917

e falecida no dia Io de julho de 1989.

Ant��nio Nonato, meu pai, era reconhecido por to-

dos como um comerciante honesto. Coisa muito dif��cil

nos dias de hoje. Ele tinha uma caracter��stica que, para

mim, hoje em dia tem sido muito marcante. Comprava

grande quantidade de goma para vender aos tapioquei-

ros. Na d��cada de 60, era comum se vender tapioca de

porta em porta. Os tapioqueiros compravam fiado ao

65

J U A R E Z L E I T �� O

meu pai, que neles confiava tranquilamente, certo de que

o pagariam no tempo combinado. O fornecedor de goma

vendia, tamb��m a cr��dito, porque acreditava que o meu

pai honraria o pagamento. �� que ele tinha uma m��xima:

"Vendo a minha cama, durmo no ch��o, mas o credor n��o

sai sem receber o dinheiro que lhe devo". Pois bem, at��

hoje essa postura me guia: a Pague Menos, at�� hoje, nun-

ca pagou um t��tulo com um ��nico dia de atraso. N��o me

importa ter mil lojas se eu n��o tiver capacidade de pagar.

Eu tenho que ter muita criteriosidade na sa��de financei-

ra da empresa. Esse �� um dos grandes ensinamentos do

meu pai. Outra coisa que ele dizia tamb��m �� que "o sol

nasce para quem compra um im��vel e se p��e para quem

vende". Ent��o, eu sempre fui, na medida do poss��vel, um

apaixonado por comprar im��veis. E ele ainda dizia: "S��

vale a pena se for um im��vel que gere renda, pois im��-

vel parado n��o d�� cria. Por isso, tem que ser um im��-

vel rent��vel! Um im��vel que voc�� compre e alugue para

gerar renda e com essa renda comprar outros im��veis".

Talvez por isso, hoje, n��s tenhamos uma empresa com

aproximadamente 500 im��veis que s��o alugados para as

Farm��cias Pague Menos e geram uma renda muito boa

aumentando cada vez mais o nosso patrim��nio. Im��vel ��

um bem que n��o �� perec��vel e que, a cada dia que passa,

se valoriza mais. A lembran��a que eu tenho dele �� de um

comerciante lutador, brigador, que acordava cedo, traba-

lhava muito, sempre cumpria com as suas obriga����es e

n��o tinha medo de nada. Saiu de Amontada e veio para

66

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Fortaleza para que eu fosse doutor. Para isso, procurou

me colocar em bons col��gios. Nunca perdeu totalmente

ou cortou o v��nculo com Amontada. Continuou manten-

do ali a sua fazenda e tendo outros im��veis, dentre eles

uma casa ampla e boa que se tornou a sede do Banco

do Brasil. Em Fortaleza, enfrentou muitas dificuldades,

porque era um comerciante de periferia, no bairro Ant��-

nio Bezerra, antigo Barro vermelho, e no final da d��cada

de 50, come��o da d��cada de 60 at�� 70. Tempo de coisas

dif��ceis. Mesmo assim, me colocou em bons col��gios, co-

l��gios caros, que custeava com os parcos lucros de seu

com��rcio. Aquela atividade n��o rendia muito, por isso,

me sugeria, mostrando caminhos, para que eu, depois

que chegasse do col��gio, o ajudasse na receita, venden-

do de porta em porta rapadura, laranja, banana e outras

frutas. Aos poucos, pelos 1 1 , 1 2 anos, passei a ficar aten-

dendo no balc��o. Os clientes chegavam para comprar

milho, arroz, feij��o, a����car, sab��o, caf��, bolacha... E eu

l��, despachando.

Ent��o, meu pai foi esse comerciante �� moda antiga.

Por esse tempo, aconteceu um fato que preciso re-

latar. Eu fui crescendo dentro do com��rcio e o meu pai, a

certa altura, se apaixonou por uma senhora, dona Assun-

����o. Ele voltou a morar em Amontada, nas suas proprie-

dades. E eu assumi totalmente o com��rcio para manter a

minha m��e e a minha irm��, que era professora prim��ria e

naturalmente ganhava pouco. Isso foi por volta de 1963,

eu tinha 15, 16 anos. Desse relacionamento, nasceu um

67

J U A R E Z L E I T �� O

filho, meu irm��o, Raimundo Nonato de Queir��s, que re-

cebeu o mesmo nome do meu av��. Raimundinho nasceu

no dia 24 de abril de 1968, quando eu estava prestes a

completar 21 anos. Hoje, ele trabalha numa empresa

nossa, �� corretor de im��veis e est�� l�� com a vida dele,

com uma estrutura boa de sobreviv��ncia, pois, sendo

meu irm��o, eu n��o posso deix��-lo passar dificuldades.

Dentro de todo esse universo, eu tive o privil��gio

de ter uma m��e que era uma santa. Minha m��e era de

prendas do lar, mas sabia fazer tudo. Tinha uma sabedoria

natural. Muito preocupada com a minha educa����o, al��m

disso, estimulava sempre para que eu trabalhasse. Dizia

que n��o se poder�� vencer sem ser pelo trabalho. Muito

paciente com o meu pai, um homem muito nervoso, ad-

ministrava com serenidade o temperamento dif��cil dele,

que queria as coisas, ��s vezes at��, antes da hora. Nunca

entendeu a separa����o, porque n��o deu raz��es para isso,

mas n��o abandonou o pai de seus filhos no momento que

ele precisou. Meu pai morreu, e a senhora Assun����o, que

era parceira dele, adoeceu - n��o vou cham��-la de aman-

te, porque foi um neg��cio consensual - e minha m��e pa-

gou os m��dicos, manteve a mesada, a alimenta����o, colo-

cou uma empregada para cuidar dela. Ela morreu antes

da minha m��e, que nunca deixou de lhe dar assist��ncia.

Ent��o, isso foi uma demonstra����o muito grande de amor

ao pr��ximo por parte da minha m��e. Ela sempre me mos-

trou esse lado bom da vida. Mesmo que se sentisse ofen-

dida, tolerava e respeitava aquela mulher. Nunca deixou

68



5

NO BARRO VERMELHO

"As cidades s��o constru��das de

hist��rias, mem��rias e mist��rios, feitas

de um estu��rio de afetos, ret��ricas,

discord��ncias, interesses, apegos,

datas e festas. S��o os homens com

seus s��lidos perfis que constroem e

desmancham as cidades todos os dias".

Gylmar Chaves,

p o e t a c e a r e n s e c o n t e m p o r �� n e o

Obairro Ant��nio Bezerra, antigo Barro Vermelho,

situa-se ao oeste do Centro de Fortaleza, abran-

gendo uma ��rea de mais de dois quil��metros

quadrados ( 2 , 3 3 8 km2.) habitados, hoje, por cerca de

26.000 pessoas. Na divis��o administrativa municipal de

Fortaleza, pertence �� Secretaria Regional III.

71

J U A R E Z L E I T �� O i

A ��rea que hoje compreende o Ant��nio Bezerra

foi sendo ocupada desde os fins do s��culo XVIII por s��-

tios e ranchos. Tropeiros e tangerinos, que debandavam

da regi��o norte da Prov��ncia, costumavam se arranchar

embaixo de ��rvores e em latadas constru��das �� beira do

caminho antes de ingressar em Fortaleza. Esse descanso

fazia parte do ritual de melhor aproveitamento de seus

neg��cios, principalmente, quando conduziam boiadas

por longas dist��ncias e as queriam exibir sossegadas e

saciadas de ��gua, ap��s quatro ou cinco dias de curral, na

feira da Vila do Forte. Havia ali fontes e lagoas, o que era

muito providente para os objetivos dos feirantes e tange-

dores de rebanhos.

Os fazendeiros e boiadeiros foram, paulatinamen-

te, construindo casas e cercando os espa��os para abrigar

gados e vaqueiros numa ocupa����o certamente de grila-

gem, como de costume ocorria naqueles ��speros tempos

da lei do mais forte ou de maior aud��cia.

As terras eram vermelhas e, quanto mais pisotea-

das e palmilhadas por reses e pessoas, mais intensa aflo-

rava a colora����o, vinda das camadas bas��lticas do subso-

lo infestado de magnetita. Por isso o lugar passou a ser

chamado de Barro Vermelho.

Barro Vermelho era a passagem natural para o ser-

t��o e o primeiro n��cleo urbano a que dava acesso era a

Vila Nova Real de Soure, atual cidade de Caucaia.

Ainda no s��culo X I X , os fortalezenses ricos cons-

tru��am ch��caras para os retiros de fim de semana e mora-

72

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

dia, algumas com belas e alpendradas casas. Dessas ch��-

caras do tempo antigo, a ��nica que escapou da voracidade

do progresso foi a Ch��cara Salubre, erigida em 1802.

Numa ��rea de 4 0 0 metros quadrados, a casa, de

paredes grossas e telhas grandes armadas sobre ripas e

caibros de carna��ba, tem seis c��modos e um quintal com

��rvores frut��feras. Nela mora a nonagen��ria Juracy da Sil-

va Gomes, que, sentada em sua cadeira de balan��o, conta

hist��rias do bairro e do desenvolvimento de que foi tes-

temunha ocular.

O primeiro marco de desenvolvimento do futuro

distrito de Barro Vermelho foi a constru����o da Esta����o

Ferrovi��ria, em 1917. Quando os trilhos da Rede Via����o

Cearense passaram por ali rumo a Sobral, Camocim e

Crate��s, o progresso, de fato, se iniciou.

No ano seguinte, o Padre Rodolfo Ferreira da

Cunha, vig��rio de Parangaba, encabe��ou um movimento

para a constru����o de um templo nas proximidades da an-

tiga capela erguida pelo Dr. Rufino Bezerra de Menezes

em sua propriedade em homenagem �� Sagrada Fam��lia.

Preservando o mesmo orago, que j�� estava arraigado na

devo����o do povo, a nova igreja foi dedicada a Jesus, Ma-

ria e Jos��, a Sagrada Fam��lia.

Em 1925, foi instalada no bairro uma unidade de

forma����o e treinamento da For��a P��blica Estadual: o Es-

quadr��o da Cavalaria e Escola Edgar Fac��.

A evolu����o urbana exigia, a cada dia, novos equi-

pamentos e eles foram sendo implantados:

73

J U A R E Z L E I T �� O

O correio, em 1932. O cemit��rio, em 1935. A luz

el��trica, em 1937. A Escola Apost��lica S��o Vicente de

Paula, em 1942. O Grupo Escolar, em 1948. O Mercado

P��blico, em 1955.

O bairro, que oficialmente j�� mudara de nome

h�� muito tempo para Ant��nio Bezerra, continuou a ser

chamado de Barro Vermelho por seus moradores. Entre-

tanto, a partir de 1965, por raz��es pol��tico-ideol��gicas, a

antiga denomina����o foi proibida. O Regime Militar, im-

plantado no Brasil em 1964, n��o via com bons olhos um

espa��o importante de uma grande cidade brasileira com

a mesma denomina����o de um bairro de oper��rios de S��o

Peterburgo, na antiga Uni��o Sovi��tica. O anticomunismo

naquele per��odo de nossa hist��ria chegava a extremos e,

em nome dele, cometia atitudes espantosas. Barro Ver-

melho era nome de reduto comunista e tinha que ser ba-

nido do vocabul��rio de seus habitantes.

Por isso e por j�� existir naquela regi��o uma aveni-

da em homenagem ao Doutor Rufino Bezerra de Mene-

zes, pioneiro da ocupa����o do bairro, por que n��o o no-

mear de "Ant��nio Bezerra", sobrinho de Rufino e ilustre

historiador cearense?

Dona Auric��lia conta que, chegando ali em 1961,

seus vizinhos j�� se diziam moradores do Ant��nio Bezerra.

Ant��nio Bezerra de Menezes nasceu em Quixera-

mobim, em 1841, e faleceu em Fortaleza, em 1 9 2 1 . Foi

um brilhante historiador, naturalista e poeta. Destacado

abolicionista, participou ativamente do movimento pio-

7 4

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

neiro pelo fim da escravid��o no Cear��. Fundador do Ins-

tituto do Cear�� e membro da Academia Cearense de Le-

tras, escreveu obras marcantes para a literatura cearense,

como Notas de Viagem, o mais precioso estudo sobre os

munic��pios, vilas e povoa����es do Cear��.

Nos anos 50 do s��culo passado, Barro Vermelho

estava completamente integrado a Fortaleza. A velha

estrada do gado era agora a Avenida Mister Hull, uma

homenagem ao engenheiro ingl��s Francis Reginald Hull,

que trabalhara no projeto e execu����o da Estrada de Ferro

Fortaleza-Baturit�� e fizera importantes estudos sobre as

secas do Nordeste.

Fevereiro de 1956. Ant��nio Lisboa de Queir��s est��

de mudan��a para Fortaleza. Deusmar tinha oito anos,

mas se lembra muito bem daquele dia:

"Sa��mos de Amontada de manh��, cedinho, e via-

jamos doze horas no caminh��o do Ant��nio Chagas. A

primeira parada foi em Itapipoca. Depois, num vilarejo,

Riacho da Cela (hoje, Umirim). Houve outras paradas.

V��nhamos, meu pai, minha m��e, eu e outras duas ou tr��s

pessoas para ajudar. Minha irm��, Mundinha, j�� estava

em Fortaleza. Chegamos no come��o da noite �� Rua An��-

rio Braga, esquina com a Travessa S��o Joaquim. Chovia

muito, ficamos encharcados junto com todas as coisas

da mudan��a, m��veis, panos e utens��lios de cozinha. Isso,

por��m, n��o importava. Sentia uma sensa����o de euforia.

Uma mistura de anseio e perplexidade. Um mundo novo

estava nascendo para mim."

75

J U A R E Z L E I T �� O

A cidade que recebia a fam��lia Queir��s, de Amon-

tada, em 1956, tinha uma popula����o de 350 mil habitan-

tes. O prefeito era o dentista Acr��sio Moreira da Rocha,

um l��der de grande popularidade.

Muitos acontecimentos haveriam de marcar a Ca-

pital do Cear�� naquele ano.

Em janeiro, a funda����o da Faculdade de Engenha-

ria, a inaugura����o da sede da Associa����o Cearense de

Imprensa (ACI) e a incorpora����o do Banco Frota Gentil

ao Comind.

Em fevereiro, a not��cia da nomea����o pelo Presi-

dente JK de Parsifal Barroso para o Minist��rio do Traba-

lho e de Raul Barbosa para a dire����o do Banco do Nor-

deste do Brasil, futuro e ex-governador do Cear��.

Em mar��o, o lan��amento da pedra fundamental da

Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, a funda����o da

Associa����o Pestalozzi (uma entidade de assist��ncia e pro-

te����o aos deficientes), a inaugura����o da primeira sala de

exibi����o de cinemascope no Cine Sambur�� e do Edif��cio Si-

queira, obra pioneira do sistema de condom��nio no Cear��.

Em abril, a funda����o da Federa����o Cearense de

Atletismo, do Instituto S��o Jos�� (abrigava mo��as pobres

desamparadas) e a federaliza����o da Faculdade de Medi-

cina do Cear��.

Em maio, a inaugura����o, no bairro da Floresta, da

Escola Apost��lica, regida pelos padres sacramentinos, a

funda����o da Escola de Belas Artes e a instala����o da In-

d��stria Cearense de Alum��nio, IRONTE.

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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Em junho, a inaugura����o do Pronto Socorro Par-

ticular de Fortaleza, da Avenida Ded�� Brasil (hoje Silas

Munguba), da R��dio Uirapuru, da sede da Reitoria da

UFC no antigo palacete de Jos�� Gentil de Carvalho e a

transfer��ncia dos ��nibus da Pra��a do Ferreira para a Pra-

��a Jos�� de Alencar.

Em julho, a cria����o do sistema de ronda policial

em dupla (os famosos Cosme-e-Dami��o), a inaugura����o

da R��dio Verdes Mares e a aportagem no Mucuripe de

um navio norte-americano trazendo mil toneladas de lei-

te em p�� (o famoso leite do FISI) para ser distribu��do

para as crian��as pobres.

Em agosto, a morte de Mundi��a Paula, empres��ria

pioneira da ind��stria de confec����o do Cear��, e a visita do

Presidente Juscelino ao nosso estado.

Em setembro, o bairro de Reden����o passa a de-

nominar-se Bairro de F��tima, a VARIG inicia suas ope-

ra����es no Cear��, o lan��amento da pedra fundamental

do Hospital Batista e a surpreendente conquista do

campeonato cearense de futebol pelo Gentil��ndia, um

time menor.

Em outubro, a cria����o da Subprefeitura de Mondu-

bim, a funda����o do Observat��rio Astron��mico de Cl��u-

dio Pamplona e a inaugura����o da Igreja de F��tima.

Em novembro, s��o lan��adas em Fortaleza as ca-

mionetas DKW-Vemag, de fabrica����o nacional, e o escri-

tor Eduardo Campos toma posse no Instituto do Cear��, a

mais antiga entidade cultural do Cear��.

77

J U A R E Z L E I T �� O

Em dezembro, a Rua Guilherme Rocha transfor-

ma-se em exclusiva "rua de pedestres", a Faculdade de

Ci��ncias Econ��micas �� encampada pela UFC e �� inaugu-

rado o Lord Hotel.

A fam��lia de seu Ant��nio Lisboa de Queir��s se ins-

talara na Rua An��rio Braga com uma mercearia, que ocu-

pava a parte da frente da casa, Mercearia Santo Ant��nio.

A rua n��o tinha maiores atrativos, a n��o ser pelas

mangueiras, ��rvores grandes, muito bem aproveitadas

pelos meninos do trecho para escaladas e desfrute das

mangas. Mundinha, a irm�� de Deusmar, achava aquela

rua muito sem gra��a, pura monotonia. E conta que, certo

dia, chegou a reclamar com o pai: "O senhor bem que po-

deria ter nos trazido para um cantinho mais animado!".

Mas havia um campinho de futebol, onde Deus-

mar participava de gostosas peladas e come��ou a fazer

seus primeiros amigos no bairro.

O pai, entretanto, n��o se esquecia de seu objetivo.

Perder tempo na rua n��o era coisa que aceitasse para

seu filho. Aquele menino seria o seu doutor. Para isso

tinha vindo para a Capital. Para educar os filhos e fazer

deles gente.

Deusmar, aos oito anos, mal havia conclu��do a

Carta de ABC. Por isso, logo que chegou ao Barro Ver-

melho foi encaminhado para a professora Lourdes, que

preparava crian��as para os col��gios do centro da Capital.

Simultaneamente, frequentava as aulas de catecis-

mo de dona Maria Nazar�� de Lima Rocha.

78

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

O menino se desenvolveu rapidamente e, logo

mais, j�� estava preparado para ingressar no Gin��sio 7 de

Setembro. Entraria no segundo semestre e j�� no tercei-

ro ano, uma verdadeira proeza para algu��m que chegara

praticamente analfabeto do interior. A escola, que ficava

na Avenida do Imperador e pr��ximo ao col��gio de sua

irm��, era severamente dirigida pelo doutor Edilson Bra-

sil So��rez. Homem austero, criou fama na cidade pela

rigidez de seu car��ter pessoal e a disciplina que impunha

aos alunos confiados aos seus cuidados.

Embora fosse um aluno de boas notas, Deusmar

era a peraltice em pessoa. Aquilo que os educadores cha-

mam de um menino danado. Irrequieto e traquino, foi

v��rias vezes castigado com a pena m��xima do col��gio: a

sala da pris��o. Quem cometesse faltas e praticasse mole-

cagens ganhava como castigo ficar preso depois das au-

las numa sala especialmente escolhida para aquele fim.

As aulas terminavam ��s onze horas e o condenado ficava

confinado at�� ��s doze e meia. Para um comil��o como o

Deusmar aquilo era uma dura puni����o: chegava em casa

amarelo de fome. Mesmo assim, gostava do col��gio, prin-

cipalmente, da Semana da P��tria, quando participava do

desfile pela Avenida Duque de Caxias, marchando com

sua turma, todo empertigado, sob os aplausos da multi-

d��o. Um requinte.

Ficou no 7 de Setembro at�� o quinto ano prim��rio,

quando se transferiu para o Col��gio Cearense. Na escola

dos Irm��os Maristas o rigor tamb��m era caracter��stico.

79

J U A R E Z L E I T �� O

Deusmar agora estudava no mais afamado estabeleci-

mento particular de ensino de Fortaleza, por aquele tem-

po, frequentado pelos bem-nascidos, os de posse. Imagi-

na-se o esfor��o que o senhor Ant��nio fazia para honrar,

no decorrer do ano, o compromisso das mensalidades,

certamente, muito altas para os padr��es de um bodeguei-

ro do Ant��nio Bezerra.

Ent��o, sobravam para o filho os serm��es e a co-

bran��a laboral. Deusmar tinha que trabalhar durante as

tardes para compensar o investimento com sua forma-

����o. Voltando das aulas, terminado o almo��o, ei-lo com

uma cesta na cabe��a, repleta de mercadorias, para ven-

der de porta em porta pelo bairro. Eram laranjas, bana-

nas, rapaduras... O pr��prio tabuleiro da baiana, pesando

sobre a sua pouca idade e sobre sua vaidade ��s vistas dos

amigos, que talvez desdenhassem de sua obriga����o.

Hoje ele relembra de como era cansativa aquela

tarefa de mascate mirim, mas diz que cumpria o ��rduo

trabalho sem reclamar e, embora transeunte da puber-

dade, tinha consci��ncia de que estava se edificando para

a vida.

Permaneceu no Col��gio Cearense at�� a terceira

s��rie do antigo Curso Ginasial. O quarto e ��ltimo ano

fez no Col��gio Agapito dos Santos, tamb��m no centro

da cidade.

Aos 17 anos come��ou a trabalhar e, por isso, teria

que estudar �� noite, em col��gio menos exigente, pois o

tempo lhe seria escasso.

80

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E O O R DE O U S A D I A S

Assim, matriculou-se no Col��gio S��o Jos��, ali fa-

zendo os tr��s anos do Curso Cient��fico e concluindo o

Ensino M��dio.

Tinha 21 anos quando, depois de frequentar o cur-

sinho do DCE da Faculdade de Economia, conseguiu ser

aprovado no vestibular, em 1969.

81



A TURMA DO BOLA 7

"Como ser humano, seu valor �� maior

do que a sua riqueza. A fortuna n��o lhe

subiu �� cabe��a. Continua aquele mesmo

sujeito que conhecemos na juventude,

brincalh��o, companheiro, humilde,

cheio de energia e com um otimismo

contagiante".

Irapuan Braga Ven��ncio

amigo d e s d e a adolesc��ncia

Asegunda metade dos anos 60 foi marcada por

inova����es e rebeldias. As mudan��as j�� anuncia-

das desde a d��cada anterior ganharam uma es-

pantosa acelera����o a partir de 1965.

Na Medicina, anunciava-se, em 1967, o primei-

ro transplante de cora����o, pelas m��os de um m��dico da

83

J U A R E Z L E I T �� O

��frica do Sul, um certo Christian Barnard. Em 1969, o

homem pisava na lua, colocando os EUA na ponta da cor-

rida espacial. O movimento hippie, surgido em protesto

�� Guerra do Vietn��, mobilizava milhares de jovens ame-

ricanos no Festival de Woodstock, 1969, com o grito de

"Fa��a amor, n��o fa��a guerra!". Estouravam nas paradas

de sucesso as bandas roqueiras dos Beatles e dos Rolling

Stones, levando a juventude ocidental ao puro del��rio.

Na pol��tica, a rebeli��o espocava nas ruas de Paris,

com os estudantes enfrentando as autoridades e o gover-

no do General De Gaulle. O l��der da revolta era o univer-

sit��rio Daniel Cohn-Bendit, o Vermelho. As manifesta-

����es da Fran��a ecoaram pelo mundo todo, provocando

movimentos semelhantes em v��rios pa��ses.

No Brasil, o Regime Militar endurecia, culminan-

do com a decreta����o do Ato Institucional N�� 5, em 1968,

implantando medidas repressoras e concedendo ao Pre-

sidente da Rep��blica poderes praticamente absolutos.

Os estudantes se organizavam nos DCEs (Diret��-

rios Centrais Estudantis), nas UEEs (Uni��es Estaduais de

Estudantes) e na UNE (Uni��o Nacional dos Estudantes).

Num congresso realizado num s��tio em Ibi��na, a 70 km de

S��o Paulo, onde se reuniam centenas de estudantes dos

mais diversos recantos do pa��s, aconteceu a invas��o da

pol��cia e a consequente pris��o de todos os participantes.

Enquanto alguns se engajavam na milit��ncia mais

aguerrida de esquerda, outros buscavam o caminho da

m��sica para expressar seus sentimentos e tentar expli-

car a vida.

8 4

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Na TV Record, os festivais de MPB estimulavam a

criatividade, lan��ando nomes novos como os de Gilberto

Gil, Caetano Veloso, Torquato Neto e Capinan, os princi-

pais poetas da corrente tropicalista. As musas do per��o-

do, que davam voz ��s composi����es, eram Gal Costa, Nara

Le��o, Maria Beth��nia, Maria Creusa e Elis Regina, al��m

dos conjuntos Quarteto em Cy e MPB-4.

No Cear��, as duas posturas assumidas pela juven-

tude em ��mbito nacional aconteciam com grande enga-

jamento, sobretudo, na universidade. Da op����o musical

haveriam de se destacar nomes que logo ganhariam espa-

��o nacional, como Fausto Nilo, Ant��nio Carlos Belchior,

Petr��cio Maia, Raimundo Fagner e Amelinha.

Mas outros partiram para as a����es extremas, como

assaltos a bancos, no intuito de obter recursos para o mo-

vimento de resist��ncia �� Ditadura. Muita gente daquela

gera����o foi presa e torturada. Um estudante de Qu��mica

da Universidade Federal do Cear��, Bergson Gurj��o Fa-

rias, foi morto na Guerrilha do Araguaia ( 1 9 6 7 - 1 9 7 4 ) ,

uma experi��ncia guerrilheira liderada pelo PCdoB (Par-

tido Comunista do Brasil), combatida e exterminada pe-

las For��as Armadas Brasileiras.

Fervia o mundo, o Brasil e o Cear��. E, nesse qua-

dro de inquieta����o e alvoro��o, parecia n��o haver espa��o

para os comedidos. Os jovens que n��o se engajassem nas

hostes do radicalismo eram taxados de alienados e, cer-

tamente, haveriam de sofrer discrimina����o na escola e

em seu meio social.

85

J U A R E Z L E I T �� O

Indiferente ao turbilh��o das ruas, um grupo de ra-

pazes do Ant��nio Bezerra, liderados por Deusmar Quei-

r��s, procurava simplesmente viver os encantos da idade

sem maiores temeridades. N��o eram militantes pol��ticos

nem artistas da m��sica popular. Queriam apenas ajudar

com sua energia e juventude o lugar onde viviam, ao seu

modo e no que pudessem. Mal sabiam que tamb��m esta-

vam fazendo a Hist��ria.

Cultivando o perfil de bons mo��os, frequentavam

a igreja do bairro, cujo orago era a Sagrada Fam��lia (Jesus,

Maria e Jos��), filiando-se a um movimento de forma����o

crist��, o CMC, Centro da Mocidade Cat��lica, sob a orien-

ta����o do Padre Jo��o Pessoa de Carvalho, o vig��rio.

Todos pensavam em fazer faculdade, conseguir

emprego, constituir fam��lia, enfim, caminhar sem muitos

riscos pelas sendas mais comportadas da vida. Sem abdi-

car dos programas de divertimento t��picos da idade e da

��poca, dan��avam, jogavam, faziam piqueniques, viajavam.

Frequentavam, principalmente, o M��nfis Clube,

na Rua Martins Neto, e o Clube de Regatas, na Barra do

Cear��, al��m das famosas tert��lias, aconchegantes reuni-

��es dan��antes em casas de amigos.

Uma vez ou outra iam ao Cai��ara Clube, que ficava

fora do bairro. Ali, certa vez, aconteceu incidente desa-

grad��vel, quando, por brincadeira, puxaram para dentro

da piscina o Deusmar, que, nessa noite, envergava palet��

novo, do selo CLUB-UM, uma grife Pr��t-��-porter muito

em voga na ��poca.

86

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

O pai de um deles tinha um caminh��o. Nos dias

de festa no Regatas, subiam todos na carroceria, metidos

em seus palet��s, mas mandavam parar o velho Ford nas

proximidades do clube, por pura vergonha de descer en-

fatiotados de um ve��culo utilit��rio que durante a semana

transportava gado e ra����o para animais. Precisavam fin-

gir-se de bacanas para os "brotos", como eram denomi-

nadas as meninas em flor.

No Patronato da Sagrada Fam��lia, dirigido pelas

irm��s de Caridade, aconteciam apresenta����es teatrais e

os jovens do CMC participavam dos apreciados "dramas"

encenados pela Irm�� Suzana. Em muitas dessas pe��as

Deusmar brilhou como ator principal. Contempor��neos

acham que poderia ter desenvolvido o dom, feito carrei-

ra como artista de teatro, cinema ou televis��o, mas ele

nunca "pegou essa corda". Confessando-se sem voca����o

para as artes c��nicas, preferiu ser apenas um espectador

do desempenho alheio, a dist��ncia, encaminhando-se

para atividades mais pragm��ticas e de retorno garantido.

Jogar bola era um fator de uni��o e as peladas, fre-

quentes e espont��neas, um dos pretextos para estreitar

os la��os de camaradagem, fortalecer a conviv��ncia sadia

e o bom companheirismo.

No futebol, Deusmar era o dono da bola e, por essa

condi����o inquestion��vel, sempre o primeiro escalado do

time. Mas ele era por todos, reconhecido como o ani-

mador da mo��ada. Chegou mesmo a fundar um time, de

ef��mera dura����o, o Cearazinho, em homenagem ao seu

amado Cear�� Sporting Clube.

87

J U A R E Z L E I T �� O

Indo al��m das fa��anhas nos campos, o filho de seu

Lisboa invadiu as esferas da intera����o social, criando o

Bola 5. Seria um grupo especial de amigos, mais ��ntimo,

mais fiel, mais fervoroso, todos unidos por um pacto de

solidariedade absoluta, um juramento de amizade perp��-

tua e confian��a vital��cia.

Inicialmente, os integrantes eram Deusmar Quei-

r��s, Jackson Ari Moreira, Irapu�� Braga Ven��ncio, o Ne-

g��o, Rog��rio Teixeira Cunha e Jo��o Barbosa Pinheiro So-

brinho, o B��o.

A amizade entre eles chamava a aten����o do bairro,

ao ponto de serem apontados como exemplo. Eram ra-

pazes estudiosos, educados, bem-humorados... Uns bo-

as-pra��as. O sucesso, inclusive, com as meninas, chegava

a despertar um certo clima de inveja entre os outros j o -

vens. Muitos se insinuavam para pertencer ��quela patota

que parecia se dar t��o bem e praticar as alegrias da vida.

Depois de algum tempo, dois novos participantes foram

admitidos: Osvaldo Coelho da Fonseca Filho e Pl��nio de

Castro Bravo. Agora era o Bola 7.

O grupo costumava se reunir na casa do Jackson,

com a cobertura de D. Juraci, sua m��e, que tinha o maior

prazer em receber os amigos de seu filho. Ali, al��m da

merenda garantida, desenvolviam diversas atividades,

como o carteado sem aposta de dinheiro e o jogo da ris-

cadinha, esse, engendrado pelo Deusmar. A riscadinha

era uma disputa que envolvia racioc��nio e sorte, baseada

numa s��rie de n��meros que eram paulatinamente elimi-

88

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

nados. Quem riscasse o ��ltimo seria o ganhador. O Jo��o

Pinheiro, extremamente supersticioso, associava o seu

sucesso ou azar no jogo com a roupa que vestia: quan-

do achava que a camisa estava derrubando a sua sorte,

tirava-a fora. Um dia quase ficava nu, porque sup��s que

toda a roupa estava lhe passando infort��nio. Uma coisa,

entretanto, era sagrada naquele encontro de amigos: a

hora do estudo. Foi criado - imagine por quem - um

regulamento draconiano. Era expressamente proibido

conversar e quem o fizesse pagava uma multa, em di-

nheiro. Os infratores terminavam se endividando, por-

que n��o havia perd��o. E o que fosse arrecadado iria para

a tesouraria do Bola 7.

A turma do Bola 7 tinha projetos afoitos, geralmen-

te gerados na mente ousada de Deusmar, que j�� costuma-

va sonhar grande. Um desses planos foi cuidadosamente

constru��do e teve investimento. Os meninos decidiram

nada menos do que viajar para a Alemanha para assistir a

Copa do Mundo de 1974.

Come��aram a economizar o minguado dinhei-

ro que cada um obtinha no dia a dia, com sacrif��cio das

festas e programas de fim de semana. Os recursos eram

conjuntamente aplicados num fundo de investimento,

APLITEC.

Foram quatro anos de ingentes esfor��os e naturais

priva����es em prol do projeto grandioso, tema preferido

de todas as conversas: uma viagem para a Europa para

ver a Sele����o Brasileira de Futebol atuar, a travessia so-

89

J U A R E Z L E I T �� O

bre o Atl��ntico, a alegria de pisar o Velho Continente, a

realiza����o, enfim, de uma fascinante utopia adolescente.

Aquele, realmente, poderia parecer um programa

pretencioso demais para rapazolas do sub��rbio de For-

taleza, mas n��o para o Bola 7. Eles iriam, sim, inserir em

suas hist��rias aquela incr��vel aventura humana. Muitos

admiravam a tenacidade daqueles sete jovens privando-

-se de tudo o que parecesse sup��rfluo ou que apenas n��o

fosse indispens��vel. Era a pol��tica do gasto absolutamen-

te essencial, uma postura certamente incompat��vel com

o natural comportamento perdul��rio da juventude.

Entretanto, o destino conspirou feio contra os pla-

nos do grupo. A Bolsa de Valores despencou, caiu ver-

tiginosamente, e o investimento, na hora do resgate, s��

valia 10% do valor que fora aplicado. Assim, o suado di-

nheirinho do Bola 7 foi para o brejo, levando junto o belo

sonho dos rapazes do Ant��nio Bezerra.

Nem s�� de preju��zos financeiros viviam as afoite-

zas do jovem Deusmar. Praticava outros riscos. Um dia

chegou para os amigos e prop��s um acampamento. Deve-

riam subir a Serra de Maranguape e ali acampar por tr��s

dias, enfrentando todas as dificuldades da natureza, frio,

insetos, chuvas e o perigo circunstancial das cobras. Afir-

mava que sabia como lidar com essas coisas, pois, como

chefe de escoteiros do Col��gio Cearense, estava suficien-

temente preparado para comandar aquela aventura.

A Serra de Maranguape fica a 27 quil��metros de

Fortaleza e tem como ponto culminante o Pico da Raja-

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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

da, um rochedo de 920 metros de altitude. Cortada de

c��rregos que serpenteiam entre ��rvores majestosas, tem

clima ameno e vegeta����o exuberante. Da montanha se

descortina o vale, oferecendo uma paisagem encantado-

ra. Nas noites enluaradas os seresteiros costumam subir

para os s��tios e dos terreiros ficam a contemplar o c��u es-

pl��ndido, cantando e tocando as mais belas can����es num

exerc��cio de pleno romantismo. Em entrevista �� Revista

Cigarra, em 1936, Catulo da Paix��o Cearense declarou

que produziu sua mais famosa composi����o, o c��lebre

"Luar do Sert��o", numa dessas noites de lirismo na Serra

de Maranguape, quando ali esteve para curar-se de males

do peito.

O convite para a escalada da serra foi feito para o

Bola 7, mas nem todos toparam. Temendo os perigos e

as surpresas da floresta, quatro declinaram. Somente o

Osvaldo Coelho e o Jackson Moreira se mostraram su-

ficientemente destemidos para acompanhar o escoteiro

Deusmar. Conseguiram a ades��o de um amigo fora do

Bola 7, Ubiracele, que, tempos depois, viria a ser cunha-

do de Deusmar. Jo��o Barbosa foi franco: n��o iria acam-

par no meio do mato de jeito nenhum e muito menos

dormir ao relento, porque tinha medo de cobras e de al-

mas penadas.

Partiram pela madrugada com suas mochilas e de-

mais apetrechos de sobreviv��ncia e, depois de extenu-

ante caminhada, chegaram ao destino. Escolheram um

lugar apraz��vel e armaram a lona, tratando o Deusmar,

91

J U A R E Z L E I T �� O

como vinha fazendo desde o in��cio, de anotar todas as

descobertas (aspectos geogr��ficos, pios de coruja, canto

de grilos, ventos sibilantes e outros ru��dos n��o identifica-

dos), para posterior relato aos outros membros do grupo.

Um incidente, por��m, iria perturbar aquela que se

anunciava como uma prosaica noite bandeirante. No lu-

gar onde Deusmar escolheu para se acomodar havia uma

caixa de maribondos e um deles o picou.

O maribondo �� uma esp��cie de vespa bem maior

do que as abelhas e, como elas, portador de um ferr��o que

inocula veneno. Sua picada produz dor intensa e imediata

inflama����o com edema avermelhado, al��m de sudorese,

febre, tremores e n��useas. Se as ferroadas forem muitas

podem acarretar um quadro de broncoespasmo, sobretu-

do, nos al��rgicos, que, sem atendimento adequado, che-

gam �� inconsci��ncia e at�� mesmo �� morte por asfixia.

Apesar de atingido possivelmente por apenas um

daqueles insetos vesp��deos, Deusmar teve uma rea����o

violenta. O local inchou muito e uma febre foi se gra-

duando rapidamente. Dali a pouco estava com ��nsia de

v��mito e, em seguida, passou a delirar. N��o dizia coisa

com coisa e isso p��s em p��nico os outros tr��s compa-

nheiros, que n��o sabiam o que fazer. Descer a serra, ��

noite, carregando o atl��tico Deusmar, seria imposs��vel e,

para completar o quadro de dificuldades, come��ou a cho-

ver. Agasalharam o doente com panos e folhas, fizeram

um ch�� de ervas colhidas ali mesmo e ficaram de vig��lia a

noite inteira rezando e fazendo promessas.

92

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Pela manh�� tudo estava superado, gra��as ao Deus

dos aflitos. A febre havia cessado e o acidentado reto-

mara sua disposi����o. Passado o susto, Osvaldo, Jackson e

o outro foram novamente surpreendidos: o comandante

n��o queria abortar a empreitada. Haviam combinado tr��s

dias? Pois seria de tr��s dias mesmo a dura����o do acam-

pamento, mas, diante de nova indisposi����o de Deusmar,

tiveram que descer a serra.

De outra feita, no meio de uma noitada tangida a

cuba libre no bar do Airton, Deusmar apresentou para o

Bola 7 mais uma de suas mirabolantes ideias de prova����o

da resist��ncia f��sica e forma����o de uma t��mpera forte.

A proposta era a realiza����o do que chamou de via-sacra,

uma grande caminhada pela Avenida Perimetral, a longa

art��ria que interliga v��rios bairros de Fortaleza.

Deveriam estar a postos ��s oito horas, na casa do

Jo��o Barbosa Pinheiro, de onde partiriam, com o m��nimo

de equipamento e muita disposi����o, para um dia de es-

for��os inauditos. �� hora aprazada, os sete companheiros

deram in��cio ao que consideravam uma memor��vel tra-

vessia pelos rebordos da capital, numa demonstra����o de

intrepidez e energia imp��vida, um feito digno de entrar

para a hist��ria.

A p�� por asfalto e terra batida, a brava patrulha

sorria no come��o da marcha e at�� contava piadas. Pouco

a pouco o cansa��o foi chegando. Passaram pelo Henrique

Jorge, pelo Rodolfo Te��filo e outros bairros, chegando ao

Mondubim ��s tr��s horas da tarde. J�� estavam esgotados,

93

J U A R E Z L E I T �� O

mas ainda faltava muito. Dali deveriam se encaminhar

para o Mucuripe e a Praia do Futuro, praticamente no

outro lado do mundo, o que os levou a reconsiderar o

percurso e cancelar aqueles dois objetivos.

��s dezessete horas chegaram ao Benfica, com as

energias no fundo do po��o. N��o dava mais para prosse-

guir. Os seis desistiram, mesmo tendo que ouvir do com-

padre Deusmar que eram uns frouxos, incapazes de fazer

um sacrif��cio a mais para cumprir o que haviam planeja-

do. Tomaram o ��nibus e finalmente retornaram ao Ant��-

nio Bezerra, onde chegaram exauridos de fadiga e juran-

do avaliar, a partir de ent��o, a sedutora ret��rica do l��der

sobre a forma����o impoluta do car��ter.

Deusmar estendia sua lideran��a para al��m do Bola

7. Era amigo de outros jovens no bairro. Muitos o des-

crevem como um ativador social, empreendedor entu-

siasmado e gerador dos acontecimentos de seu tempo.

Paulo Alexandre de Souza, Paulo Alex, empres��rio e ad-

ministrador, contempor��neo de adolesc��ncia e juventu-

de, o cita como o grande exemplo de sua gera����o, l��der

espont��neo que, desde muito jovem, j�� suscitava entre

os vizinhos os melhores progn��sticos de que seria um

bem-sucedido na vida.

No movimento de igreja organizava campeonatos

de futebol e v��lei e participava ativamente da festa de

Jesus, Maria e Jos��, o conjunto de padroeiros, ajudando

na procura de patroc��nios para os eventos do CMC. Nin-

gu��m o igualava no empenho de arrecada����o de prendas,

94

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

organiza����o das quermesses e instala����o dos leil��es da

par��quia. Tinha a confian��a do vig��rio, a boa vontade, a

disposi����o e o dinamismo adequados para aquele traba-

lho comunit��rio.

Companheiro leal, prestativo e solid��rio, o jovem

Deusmar Queir��s era o amigo que todos queriam ter. Bem-

-vindo a todas as rodas, circulava sua simpatia e vibra����o

pelos grupos sociais do bairro, de modo geral e ecum��ni-

co. Pelo estado de benqueren��a que conquistou, recebeu

um t��tulo afetivo, uma esp��cie de comenda carinhosa dos

favorecidos de sua simpatia: compadre Deusmar.

Exemplos n��o faltavam de sua disposi����o para am-

parar os amigos e ajudar com precis��o a qualquer momen-

to e em qualquer circunst��ncia. Numa noite de alegria no

Bar do Teixeira, perderam a hora e avan��aram nas con-

versas pela noite adentro. J�� passava das 23 horas quando

um dos participantes, o Jairo, sentiu-se mal. Suando frio

e pulsando as veias laterais da cabe��a, o rapaz apavorou-

-se pensando que iria ter um tro��o, um ataque card��aco.

Deusmar procurou seren��-lo, massageando-lhe os pulsos

e umedecendo-lhe a fronte latejante e febril. Em segui-

da, p��s o amigo nas costas e, a passo de tropeiro vexado,

o levou para casa. As testemunhas desse fato n��o sabem

como o samaritano de Amontada conseguiu transportar

o Jairo com tanta desenvoltura, pois tratava-se de um su-

jeito robusto, que certamente pesava muito mais que seu

carregador. A fam��lia de Jairo ainda hoje agradece o gesto

solid��rio e exalta os pendores caritativos de Deusmar.

95

J U A R E Z L E I T �� O

Nos anos setenta do s��culo passado o bairro An-

t��nio Bezerra tinha duas lideran��as populares, exercidas

pelos vereadores Ant��nio Costa Filho, conhecido como

Antoni Costa, e Ger��ncio Bezerra da Silva, o Bezerrinha.

Antoni, que nascera em Fortaleza em 1917, des-

cendia, pelo lado materno, do c��lebre Jo��o Br��gido, o

mais famoso jornalista cearense de todos os tempos,

fundador de O Unit��rio, atalaia de grandes arengas pol��-

ticas e ��rg��o de oposi����o a todos os governos. Aluno do

Col��gio Militar, tornou-se Antoni Costa, depois, aviador

e instrutor de avia����o, com curso de aperfei��oamento

nos Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial

comp��s a For��a Auxiliar da FEB, patrulhando a costa ce-

arense e piauiense. Foi jornalista e funcion��rio p��blico

federal. Elegeu-se vereador de Fortaleza em 1958 para a

legislatura 1959-1963. Ap��s este primeiro mandato, so-

mente voltaria ao Parlamento Municipal pela elei����o de

1970 para o bi��nio 1971-1972. Reeleito em 1972, chegou

�� Presid��ncia da Casa do Povo e, nessa condi����o, assu-

miu a Prefeitura da Capital em dez ocasi��es. Em 1974

elegeu-se para um ��nico mandato de Deputado Estadual.

Presidiu o C��rculo dos Trabalhadores Crist��os de Ant��-

nio Bezerra e foi um dos fundadores do Clube de Regatas

Barra do Cear��, sendo tamb��m seu primeiro presidente.

Seu concorrente, Ger��ncio Bezerra, nascera em

Russas, em 1921, mas transferiu-se ainda muito jovem

para Fortaleza, onde concluiu o curso de T��cnico em

Contabilidade. Obteve emprego p��blico municipal, na

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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

fun����o de Arrecadador Fiscal. Colecionador de amiza-

des, logo foi descoberto como um l��der espont��neo e de

not��vel trato social. Convidado para gerir a Subprefeitu-

ra de Ant��nio Bezerra, em pouco tempo ganhou a sim-

patia da popula����o e o incentivo para disputar a verea����o

pelo bairro, em 1966. Reeleito em 1970, 1972 e 1976,

conseguiu, nesta ��ltima, a maior vota����o para um ve-

reador de Fortaleza, at�� ent��o ( 1 0 . 5 7 8 votos). Em 1974

chegou �� Presid��ncia da C��mara Municipal de Fortaleza,

exercendo em situa����es de interinidade a Prefeitura. Em

1978 elegeu-se Deputado Estadual, repetindo o feito de

seu concorrente pol��tico do bairro.

O fato de contar com dois representantes na C��-

mara Municipal de Fortaleza comprovava a grande densi-

dade demogr��fica alcan��ada pelo bairro, al��m de garantir

no Executivo Municipal a implanta����o dos melhoramen-

tos urbanos e o atendimento ��s reivindica����es da popula-

����o. A disputa entre as lideran��as pol��ticas era, portanto,

muito salutar.

E, quando Antoni Costa e Ger��ncio Bezerra esca-

laram posi����o mais elevada na hierarquia pol��tica elegen-

do-se para a Assembleia Legislativa, procuraram indicar

os descendentes para ocupar suas cadeiras no Legislativo

Municipal. Assim, Antoni foi substitu��do por seu filho

S��rgio Costa e Ger��ncio por seu filho Jos�� Maria Couto,

ambos advogados.

Deusmar Queir��s e seus companheiros n��o esta-

vam diretamente envolvidos com a pol��tica partid��ria.

97

J U A R E Z L E I T �� O

Por amizade com Jo��o Bosco, filho de Ger��ncio, votavam

em seu pai, mas sem estardalha��o ou maior engajamento.

Em 1970, a turma do Bola 7 e outros jovens do

bairro fizeram o concurso do IBGE (Instituto Brasilei-

ro de Geografia e Estat��stica) para trabalhar no recen-

seamento daquele ano. Deusmar j�� trabalhava na IBM,

desde 1967, mas resolveu concorrer. Tirou o primeiro

lugar. Alguns de seus amigos tamb��m foram aprovados.

O emprego poderia ser tempor��rio ou n��o. Havia uma

meta de desempenho que deveria ser alcan��ada por cada

recenseador. Muitos atingiram o objetivo exigido. Mas a

performance de Deusmar foi de tal modo prof��cua, que

ele logo ganhou a fun����o de coordenador, passando a

viajar para o interior para dar treinamento aos demais

recenseadores e ganhando por produ����o. No primeiro

m��s viu que conseguira praticamente o dobro do que re-

cebia na IBM, de onde j�� tinha se afastado. Ele precisava

ganhar mais porque tinha compromissos urgentes com o

sentimento. Estava noivo, completamente apaixonado e

precisava casar.

Algumas das afoitezas praticadas por Deusmar vi-

nham da pr��tica do escotismo. Ele era e sempre ser�� um

escoteiro, daqueles que seguem �� risca os preceitos de

Baden-Powell.

Deusmar mant��m, ainda hoje, contato com seus

companheiros de adolesc��ncia. A vida, pela variedade

de caminhos, naturalmente os separou, pondo-os em

carreiras e profiss��es diversas. Entretanto, sempre que

98

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

se encontram fazem uma festa, relembram epis��dios, se

informam sobre a vida de cada um.

Com alguns, a oportunidade de conviv��ncia ��

maior. Jo��o Barbosa Pinheiro, empres��rio e ex-vereador

da Capital, ��, certamente, o que mais encontra o antigo

camarada dos ��ureos tempos da mocidade no Ant��nio

Bezerra. Levou-o, inclusive, para a Ma��onaria.

O ingresso de Deusmar Queir��s na Ma��onaria

ocorreu em 1984. Aceitara o convite de Jo��o Pinheiro

e rapidamente evoluiu naquela conceituada e vener��vel

sociedade. Foi iniciado como Aprendiz Ma��om em 30 de

junho de 1984 (1o Grau).

Em 16 de outubro daquele mesmo ano foi elevado

a Companheiro Ma��om ( 2 o Grau).

Em 7 de maio de 1985 foi exaltado a Mestre Ma-

��om ( 3 o Grau).

Por ter desembara��o para se expressar, exerceu a

condi����o de Orador Oficial da Loja Gon��alves Ledo en-

tre 1985 e 1987.

�� medida, por��m, que se envolvia mais com seus

neg��cios, Deusmar foi tamb��m se tornando menos ass��-

duo ��s reuni��es ma����nicas.

Sua posi����o atual na ordem �� a de Irm��o Adorme-

cido, por n��o dispor de tempo para frequentar.

99



7

O ESCOTEIRO

"O Escoteiro �� limpo em pensamento,

palavra e a����o. O verdadeiro escoteiro tem,

n��o s�� uma mente limpa, como tamb��m

uma vontade limpa. �� capaz de controlar

as tend��ncias intemperadas e d�� exemplo

aos demais sendo puro, franco, leal e

honesto em tudo que pensa, diz ou faz."

Baden-Powell, criador do e s c o t i s m o

Oescotismo foi um movimento de incentivo c��-

vico �� juventude que surgiu na Inglaterra em

1907, por iniciativa de um oficial do ex��rcito

ingl��s, Robert Baden-Powell, com o objetivo de, sem

qualquer filia����o a grupos pol��ticos ou religiosos, aper-

fei��oar conhecimentos e desenvolver princ��pios morais,

human��sticos e de organiza����o pessoal e coletiva.

101

J U A R E Z L E I T �� O

No Brasil, o Movimento Escoteiro come��ou no

Rio de Janeiro, em 1910, com o suboficial da Marinha,

Am��lio de Azevedo Marques, tripulante do Encoura��ado

Minas Gerais, que trouxe o Manual de Instru����o, escrito

por Baden-Powell, e os primeiros uniformes.

Rapidamente o escotismo espalhou-se por todo o

pa��s, por se tratar de uma organiza����o que, aproveitando

o idealismo natural dos jovens, defende o esp��rito de so-

lidariedade humana, o senso de companheirismo, o tra-

balho de equipe e a pr��tica das boas a����es.

A esse elenco de princ��pios formadores do car��ter,

somam-se o est��mulo �� aventura e o aprendizado da so-

breviv��ncia em meio �� natureza, enfrentando as dificul-

dades da floresta ou da montanha, acampando ao relento

com um m��nimo de meios e utens��lios de defesa, tendo

que sair das dificuldades de maneira h��bil e produzindo

manualmente o abrigo, o fogo e a obten����o do alimento.

Para os meninos da cidade, sobretudo, �� um grande desa-

fio e uma interessante escola de resist��ncia.

Na d��cada de 1960, o Col��gio Cearense, a escola

marista em Fortaleza, promoveu uma inova����o. Sua di-

re����o decidiu que, al��m das mat��rias da grade escolar,

seria bom encaminhar seus alunos tamb��m para outras

atividades art��sticas, esportivas e culturais, como forma

de estimular a capacidade criativa e apoiar o sentimento

de companheirismo e congra��amento.

Assim, por iniciativa do Irm��o Raimundo Lobato,

o diretor do col��gio, surgiram os Clubes de Atividades

102

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Extracurriculares: o Clube de Cinema, o Clube de Aero-

modelismo, o Clube de M��sica, o Clube de Jornalismo e

o Grupo de Escoteiros Verdes Mares.

O Irm��o Lobato, depois de estudar o regulamento

do escotismo e ver a classifica����o dos tr��s grupos, Lobi-

nhos (dos 7 aos 11 anos), Escoteiros (dos 11 aos 15) e

S��nior (dos 15 aos 1 8 ) , estabeleceu que a associa����o que

estava criando deveria ficar na terceira categoria, embora

alguns dos participantes ainda n��o houvessem atingido

os tr��s lustros. Ele achou, por��m, que nesse caso e, em re-

fer��ncia aos demais alunos, valia a "experi��ncia de vida".

O Grupo de Escoteiros Verdes Mares era consti-

tu��do de duas patrulhas: Corcovado e Rajada. Os nomes

homenageavam dois magn��ficos picos gran��ticos, o do

Rio de Janeiro, ponto tur��stico famoso onde est�� assen-

tada a est��tua do Cristo Redentor, e o da apraz��vel Serra

de Maranguape, a 27 km de Fortaleza, no sop�� da qual os

maristas possu��am um s��tio.

Cada patrulha compunha-se de seis escoteiros, li-

derados por um Monitor e um Vice-Monitor.

A patrulha Corcovado era monitorada pelo aluno

Ant��nio Mour��o Cavalcante (hoje, m��dico psiquiatra,

professor da Universidade Federal do Cear��, escritor

e conferencista) e tinha entre seus integrantes: Ant��-

nio Roberto Menescal Macedo (hoje, engenheiro civil),

Frederico Ramde (ex-piloto e engenheiro), Paulo C��sar

Bayma (engenheiro civil) e Jos�� Escorteci de Paula (en-

genheiro civil).

103

J U A R E Z L E I T �� O

A patrulha Rajada tinha como Monitor Henrique

Mota (hoje, m��dico traumatologista e l��der classista),

Raimundo Willian Noronha Brasil (suboficial do Ex��rci-

to, falecido), S��rgio Menescal Macedo (m��dico cardiolo-

gista, escritor, poeta), Al��rio Viana J��nior (empres��rio),

Raul Armando Monteiro Jr. (engenheiro e psic��logo) e

Francisco Deusmar Queir��s (economista, empres��rio e

conferencista), que, embora atuando como Vice-Monitor,

desenvolvia uma atividade t��o intensa, que praticamente

puxava os colegas para os desafios e provas de resist��ncia.

A aplica����o dos ensinamentos do Manual do Esco-

teiro acontecia na Serra de Maranguape. As duas patru-

lhas acampavam no s��tio dos maristas e se provavam na

escalada do Pico da Rajada, um dos pontos mais elevados

do relevo cearense.

O grupo que primeiro chegasse ao cume da mon-

tanha ali fincava a sua bandeira e soltava pelas quebra-

das o grito ecoante de conquistador. Os perdedores

teriam que voltar, porque, l�� em cima, s�� havia espa��o

para uma turma.

Outra perip��cia desafiadora era o assalto �� barraca

dos advers��rios para surrupiar-lhes a comida. Certa feita,

o grupo do Ant��nio Mour��o conseguiu se aproveitar da

soneca do guarda do outro acampamento e roubou toda

a comida deles. A turma do Deusmar estava condenada

a passar fome, pois o ��nico alimento poss��vel eram os

cocos que pendiam do alto de suas palmeiras esguias e

aparentemente inating��veis. Foi, ent��o, que se revelou

1 0 4

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

uma nova voca����o no grupo: o Raimundo William de-

monstrou extraordin��ria habilidade para escalar ��rvores.

Num piscar de olhos l�� estava o garoto subindo aquele

tronco fino como se fosse um primata dos mais sagazes.

Logo mais, todos se fartavam da ��gua e da baga dos co-

cos, um alimento ricamente saciador e proteico. A partir

daquele dia o escoteiro William passou a ser chamado de

Macaquinho.

Entretanto, o grande acontecimento da participa-

����o de Deusmar no escotismo foi a excurs��o ao Rio de

Janeiro em 1965.

Comemorava-se o IV Centen��rio da Cidade Ma-

ravilhosa. E, para celebrar data t��o significativa e tam-

b��m os 50 anos da realiza����o do Primeiro Acampamento

Mundial de Escotismo na Ilha de Brownsea, a Uni��o dos

Escoteiros do Brasil decidiu promover o 1o JAMBOREE

SUL-AMERICANO.

Jamboree s��o os grandes acampamentos do esco-

tismo, geralmente, comemorativos de efem��rides impor-

tantes da Institui����o, quando se re��nem escoteiros de

v��rios estados ou na����es para se confraternizar e trocar

experi��ncias.

O Io JAMBOREE SUL-AMERICANO foi um acam-

pamento monumental, com representa����o de todos os

pa��ses da Am��rica Latina e convidados especiais de ou-

tros continentes.

Realizou-se na Ilha do Fund��o ( R J ) , entre 18 e 26

de julho de 1965.

105

J U A R E Z L E I T �� O

A abertura foi feita pelo governador Carlos La-

cerda, que, num discurso veemente, discorreu sobre o

papel dos escoteiros na sociedade e ofereceu os pr��sti-

mos de seu estado para os participantes daquele magno

encontro. A eloqu��ncia do governador impressionou os

escoteiros, principalmente, quando saudou as delega����es

estrangeiras na l��ngua de cada uma, demonstrando que,

mesmo sendo um autodidata, era um homem muito culto

e um poliglota, pois falou em ingl��s, franc��s e espanhol

com razo��vel desenvoltura.

Eram centenas, talvez milhares de jovens, quase

todos da mesma idade, todos ��vidos para exercer sua

empatia, confraternizar, comunicar e receber conheci-

mentos. Uma enorme cidade de lona, um congresso de

felicidade.

A programa����o di��ria come��ava com a alvorada,

onde ocorriam toques de clarim e dobrados executados

por uma banda de m��sica. Seguiam-se o caf�� da manh��,

o hasteamento da bandeira, jogos diversos e palestras, al-

mo��o, mais recrea����o, exibi����o de document��rios, servi-

��os de pioneiros, jantar, shows musicais, teatro e o Fogo

de Conselho (reuni��o em torno da fogueira para repasse

de doutrina e experi��ncias).

A Ilha do Fund��o possu��a algumas instala����es da

Marinha, na orla da Ba��a da Guanabara, mas era despovo-

ada na ��rea pr��xima do Aeroporto do Gale��o e da Aveni-

da Brasil. Havia ali espa��o suficiente para o encontro dos

escoteiros, que, pelo n��mero de participantes, requeria

106

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

condi����es para a instala����o das barracas e demais equi-

pamentos necess��rios.

Nunca, em toda a sua vida, Deusmar vira uma fes-

ta daquele tamanho e daquela import��ncia. O Jamboree

de 1965 haveria de marc��-lo definitivamente como uma

experi��ncia cultural e humana da maior envergadura e

muito enriquecedora de sua adolesc��ncia.

Ao voltar, tinha muito o que contar para seus

amigos e, sobretudo, para sua namorada, Auric��lia, que,

durante aqueles dez dias de aus��ncia, fora fervorosa-

mente alimentada por cartas apaixonadas expedidas

diariamente.

Mesmo depois de ingressar na universidade, Deus-

mar n��o abandonou o escotismo. Atingiu na organiza����o

patentes superiores. Com o Henrique Mota fez outras

viagens para o Rio de Janeiro e para Cuiab��.

Sua passagem pela Uni��o dos Escoteiros do Brasil

(UEB) foi importante para sua forma����o moral e deixou

impress��es favor��veis em seus antigos camaradas, que

hoje se pronunciam saudosos dos bons tempos.

Para Henrique Mota, Deusmar Queir��s continua

o mesmo adolescente dos anos 6 0 / 7 0 , afoito, irrequieto,

ousado e desafiador do destino. Um intr��pido compa-

nheiro em que a capacidade de ousar funcionou a favor

e que, mesmo conquistando o sucesso e a riqueza, conti-

nua do mesmo jeito, simples e leal com seus amigos.

Para Ant��nio Mour��o, as impress��es provocadas

na juventude continuam no atual est��gio de sua vida. Era

107

J U A R E Z L E I T �� O

um d��namo, um guerreiro temer��rio e assim permanece.

Parece que �� movido a desafios, sem os quais n��o funciona.

Para S��rgio Macedo, Deusmar sempre reuniu to-

das as qualidades do vencedor e o dinamismo �� a que

lhe cabe melhor. Sua personalidade sempre foi assim,

exposta e verdadeira, alimentada pelo otimismo e pela

for��a de supera����o.

Segundo a doutrina de Baden-Powell, o lema dos

escoteiros, "SEMPRE ALERTA", n��o �� uma preven����o

aleat��ria de espanto aprior��stico. �� a luz do esp��rito eter-

namente preparada para a defesa do b e r n e o aprimora-

mento individual e humano.

O grupo de escoteiros do Col��gio Cearense assimi-

lou com muita consci��ncia os princ��pios da organiza����o

na juventude e, como suas biografias retratam, perseve-

raram em sua aplica����o.

108



8

O TERRIT��RIO DO

AMOR

"Minha fome era imensa e tu foste a fruta.

Era clara a minha dor e tu foste o milagre.

Ah, mulher, n��o sei como me pudeste conter

na terra de tua alma,

nessa ternura leve como a ��gua e a farinha.

Mas eras o meu destino e nele viajou minha esperan��a."

Pablo Neruda ( 1 9 0 4 - 1 9 7 3 )

Onamoro de Deusmar com a Auric��lia envolve um

dos mais complicados enredos. Coisa de roman-

ce antigo, com nega��as, desejos disfar��ados, bei-

jos roubados, vigil��ncia extrema de familiares e toda uma

gama de princ��pios recalcitrantes oriundos da renit��ncia e

111

J U A R E Z L E I T �� O

da severidade patriarcal. N��o se coadunaria com o tempo

em que decorreu, quando o mundo j�� respirava um ar de

revolu����o e a juventude era a pr��pria imagem da rebeldia.

Estamos em 1964, ano dif��cil no Brasil e no mun-

do. Enquanto a Guerra Fria se mantinha, alimentada pela

corrida armamentista e pela polariza����o pol��tica lidera-

da pelos Estados Unidos e Uni��o Sovi��tica, por aqui, na

Am��rica Latina, predominava a crescente influ��ncia da

Secretaria de Estado Norte-americana sobre a chamada

Intelig��ncia Militar dos pa��ses do continente, com est��-

mulo ��s interven����es das For��as Armadas em governos

n��o confi��veis �� pol��tica de hemisf��rio.

Pois, enquanto o mundo fervia, dois adolescentes,

num bairro humilde da capital do Cear��, come��avam um

processo de encantamento rec��proco, que haveria de edi-

ficar, com os tijolos s��lidos da paci��ncia, uma longa his-

t��ria de amor.

Conheceram-se naquele ano de 1964 e no esplen-

dor da adolesc��ncia, ela, com dezesseis anos, ele, com

dezessete.

Auric��lia relata: "Uma tarde, eu vinha de meu Co-

l��gio, o Erm��nio Barroso, com a minha amiga Miriam, e

passamos na Igreja Jesus Maria e Jos��, como costum��-

vamos fazer todos os dias. Ele estava com um amigo, o

Jackson, na pracinha. A Mirian, que j�� conhecia os dois,

resolveu apresent��-los a mim".

Nada de especial nesse primeiro encontro, a n��o

ser por um incidente que poderia n��o ter import��ncia

112

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

maior, mas talvez tenha gerado uma primeira impress��o

favor��vel em Deusmar. Jackson, ao ser apresentado a

Auric��lia, p��s-lhe a m��o no ombro, com aparente natu-

ralidade. Foi repelido, na hora e com uma reprimenda:

"Olha, mo��o, tira a m��o de meu ombro, pois eu n��o gosto

deste tipo de liberdade!". Jackson pediu desculpas, justi-

ficando-se humildemente por sua aparente aud��cia sem

maldade ou qualquer inten����o malferida.

Naquele instante se acendeu em Deusmar a fagu-

lha da admira����o, aquele sinal que surge, de repente, e

come��a a expedir os primeiros avisos. Que mocinha va-

lente, compadre! Com toda a moral calou o danado do

Jackson e interceptou o que certamente nem fora cogi-

tado como e n x e r i m e n t o ! ! ! Entretanto, serviu para que

as regras ficassem claras. Porque eram elas, as mulheres,

que estabeleciam as regras naquele tempo de pudores

ainda resistentes. Qualquer afoiteza masculina se acaba-

va quando encontrava pela frente um balde de gelo.

O rapaz de Amontada, a partir daquele dia, passou

a olhar com certo interesse, ainda insipiente, aquela me-

nina t��o franca e positiva.

As fam��lias dos dois procediam do interior do es-

tado. A dele, da mesorregi��o de Itapipoca, de um distri-

to antigo daquele munic��pio singular que apresenta tr��s

geografias: sert��o, praia e serra. A dela, da antiga Lic��nia

(atual Santana), plantada na margem esquerda do Aca-

ra��, o rio principal da Zona Norte, cantado em prosa

e verso por poetas e seresteiros habitantes de seu vale

1 1 3

J U A R E Z L E I T �� O

apraz��vel, raz��o e territ��rio de v��rios munic��pios da zona

fisiogr��fica adjacente de Sobral.

Auric��lia chegara h�� tr��s anos em Fortaleza. Era

um retorno �� terra natal. Nascera na Capital quando a

fam��lia toda, tendo �� frente o seu pai, Benone Alves, mu-

dara-se de Santana em busca de melhores condi����es de

estudo para os filhos. As lembran��as desse primeiro pe-

r��odo dos Alves em Fortaleza s��o de dificuldades e en-

frentamento de problemas relativos �� moradia e ao duro

tremendo que Benone dava, trabalhando como um mou-

ro numa oficina mec��nica e numa casa de fundi����o.

O senhor Benone era um mec��nico de m��o-cheia,

uma esp��cie de Professor Pardal da Caatinga, autodidata,

mas, merc�� de privilegiada intelig��ncia, capaz de resolver

qualquer problema em mat��ria de eletricidade, engrena-

gens e m��quinas pequenas ou pesadas. Em Santana, sua

fama corria solta, acudindo e "tirando do prego"qualquer

equipamento engui��ado.

Por ser detentor de tais aptid��es, conhecidas, so-

bretudo, pelos de sua terra, um dia recebeu um convite

vantajoso e surgido em muito boa hora.

Os irm��os Ara��jo (Cl��udio, Valter e Adauto),

propriet��rios de uma algodoeira em Santana do Acara��,

iriam transferir sua ind��stria para Sobral.

Seu Benone conhecia e se dava muito bem com

os Ara��jo e com a empresa, pois havia sido funcion��rio

deles na terra natal. Era a Usina Jo��o Alfredo de Ara��jo,

fundada pelo Velho Joca, como era conhecido o Sr. Jo��o

114

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E O O R DE O U S A D I A S

Alfredo, refer��ncia de homem rico e pr��spero em todo o

Vale do Acara��.

Entretanto, o convite era tamb��m um grande de-

safio. Benone teria de montar a usina em Sobral, aprovei-

tando o que pudesse do maquin��rio velho e instalando

as novas m��quinas adquiridas. A miss��o cabia, natural-

mente, a um engenheiro mec��nico, por se tratar de tarefa

complexa, que requeria um alto grau de especializa����o.

Por ter outros compromissos, o engenheiro iria demorar.

A impaci��ncia dos irm��os Ara��jo era maior do que os

receios de Benone Alves de n��o ter a devida capacidade

para o encargo que estavam lhe entregando. Corajosa-

mente, topou o desafio de montar a usina e, quando o tal

engenheiro chegou, n��o tinha mais nada a fazer. O pai da

Auric��lia era um g��nio. Agora, tinha um novo emprego e

a alta responsabilidade de manuten����o e perfeito funcio-

namento das m��quinas daquela f��brica de beneficiamen-

to de algod��o.

Ent��o, a fam��lia Alves foi morar em Sobral. Na ter-

ra de Dom Jos�� Tupinamb�� da Frota, Jos�� Benone Alves

e sua mulher, Ana Jurandy Lourinho Alves, aumentaram

a fam��lia e constitu��ram um patrim��nio suficiente para,

tempos depois, novamente pensando no estudo dos fi-

lhos, se transferir em definitivo para a Capital. O retorno

se dera em 1 9 6 1 , quando Auric��lia tinha 13 anos.

Todos os anos, em junho, a par��quia do Ant��nio

Bezerra promovia a Quadrilha de S��o Jo��o. Cabia aos ra-

pazes e mo��as do Centro da Mocidade Cat��lica (CMC)

115

J U A R E Z L E I T �� O

comandar o evento, que tinha intensa e festiva partici-

pa����o. Na forma����o dos pares da quadrilha Auric��lia e

Deusmar n��o fizeram dupla: cada um dan��ou com outro

par. �� que, at�� ent��o, ela n��o percebera ainda as inten-

����es afetivas dele. O mo��o guardava em segredo o seu

interesse l��rico, embora alguns amigos j�� estivessem a

notar, pelos frequentes elogios e certos olhares demora-

dos e insistentes, que a semente da paix��o come��ava a

brotar no cora����o do companheiro. Eterno brincalh��o,

desses que mexem com todo mundo e tiram sarro com

os amigos em qualquer ocasi��o, Deusmar passou a ser

mais comedido e menos ass��duo com as brincadeiras,

como se, de repente, sofresse um processo acelerado de

amadurecimento e estivesse disposto a se alistar no rol

dos s��rios, construindo propositalmente um novo tipo

de sujeito exemplar, esculpindo o perfil que as meninas

admiram nos que pretendem namorar.

Longos meses se passaram nesses ensaios de pla-

tonismo, leg��tima e dolorosa paix��o unilateral, at�� que,

em outubro daquele ano, manifestasse �� musa, assim, de

viva voz, que tinha pretens��es de namor��-la.

Entre junho e outubro, entretanto, teve a hist��ria

da aposta.

Auric��lia soube depois e agora relata: "Os meni-

nos do CMC propuseram entre eles um desafio. Quem,

at�� o Dia do Estudante, 11 de agosto, n��o conseguisse

uma namorada, pagaria uma multa para os companhei-

ros. Devido ao estado de pen��ria de todos, a multa seria

116

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

uma carteira de cigarros. Nessa ��poca eu namorava um

vizinho e tinha uma irm�� tr��s anos mais nova. Um dia,

Deusmar me falou: "Ser�� que voc�� poderia fazer o meu

namoro com a sua irm��?" Respondi que aquela seria uma

miss��o muito dif��cil porque minha irm�� tinha pavor a ele,

pois j�� o vira no ��nibus fazendo todo tipo de bagun��a e

mexendo com todo mundo, na maior gaiatice. Mesmo as-

sim, levei a proposta, prontamente recusada pela mana,

na base do "Deus me livre!".

Ele, ent��o, se arranjou com outra garota, compa-

receu com ela �� tert��lia na casa do Branco e cumpriu a

aposta, mas terminou o namoro no mesmo dia. E, naque-

la festa, enquanto dan����vamos, ele j�� com outra mo��a, ao

passar por mim, sem mais nem menos, falou: "Olha, eu

agora estou sem ningu��m. Livre de novo!'".

Tr��s meses depois desse epis��dio, houve um pi-

quenique da turma na Praia de Iparana, no vizinho mu-

nic��pio de Caucaia. Auric��lia, com a ajuda de uma amiga,

conseguiu dobrar o rigor vigente em sua casa e arrancar

o consentimento do pai para participar sob promessa de

regressar cedo. Na descontra����o desse encontro, houve

a oportunidade, longamente sonhada por Deusmar, para

uma declara����o: "Daquela vez, quando falei que queria

namorar sua irm��, estava apenas criando um pretexto

para me aproximar de voc��. Agora quero lhe propor cla-

ramente namorarmos, porque este �� o meu sonho de h��

muito tempo. Mas n��o me responda agora. Pense um��

semana e depois me diga se aceita".

1 1 7

J U A R E Z L E I T �� O

Auric��lia retrucou com uma bela esnobada: "Vejo

que tiraram o dia para me pedir em namoro. Ainda h��

pouco, seu amigo Ob��dio me prop��s a mesma coisa".

Deusmar considerou aquilo uma trai����o. O Ob��-

dio sabia que ele iria fazer a esperada declara����o �� Auri-

c��lia naquele dia e se antecipara, repetindo o enredo do

romance medieval de Trist��o e Isolda. Ou, quem sabe,

tentando ajudar o amigo, fora conferir se a sua desejada

era, de fato, dura na queda.

A estrat��gia da aparente paci��ncia envolvia a cons-

pira����o de uma amiga comum, a Cleidemar, que, todos os

dias, convenientemente ensaiada, zumbia no ouvido de

Auric��lia as qualidades de seu pretendente e de quanto

era verdadeiro o sentimento que manifestava: "Queira o

Bichim, ele est�� t��o apaixonado. Aceite, nem que depois,

se n��o se afinarem, voc�� dispense o coitado".

Na sexta-feira seguinte, 30 de outubro, Deusmar

passou pela casa de Auric��lia para acertar com um dos

irm��os dela, Ubiracele, um acampamento na Serra de

Maranguape com a participa����o de uns quatro outros

amigos. Visivelmente nervoso, pediu ��gua para beber e,

quando Auric��lia voltou e lhe entregava o copo, ele sus-

surrou-lhe que queria a resposta. Ela apenas acenou po-

sitivamente com a cabe��a, passando, desde ��quela hora,

�� condi����o de namorada secreta e a ser chamada na inti-

midade de "minha calanguinha".

No acampamento, ocorreu o epis��dio da picada

do maribondo e o socorro assumido pelo Ubiracele, que

118

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

transportou Deusmar, ardendo em febre, nos bra��os,

descendo a serra. Os colegas faziam tro��a: "S�� quem tem

cunhado forte pode adoecer!".

Em casa, Ubiracele reuniu os pais com os irm��os

para um conselho de fam��lia: "Fiquei sabendo que a Au-

ric��lia est�� namorando o Deusmar e ele n��o serve para

ela. �� um brincalh��o inconsequente que n��o leva nada a

s��rio e n��o queremos a nossa irm�� se metendo com ele".

O namoro foi prontamente condenado pela fam��lia

Alves com apenas um voto a favor, o do Ubirani. Voto ven-

cido. Escondida, Auric��lia ouvia tudo e o esconderijo era

t��o perfeito, que, por n��o encontr��-la, os familiares chega-

ram a cogitar se n��o teria fugido com o amado. N��o fugira.

Quando soube da reuni��o condenat��ria, Deusmar

fez quest��o de deixar Auric��lia �� vontade, pois n��o queria

indisp��-la com a fam��lia. Frisou, entretanto, que gostava

muito dela e deixava em suas m��os a espinhosa decis��o

de continuar. Ela, como toda adolescente desafiada, re-

solveu enfrentar corajosamente a situa����o, mantendo o

namoro em car��ter sigiloso, sem deixar de advertir ao seu

apaixonado Romeu que n��o morria de amores por ele.

Tr��s meses se passaram de namoro secreto, mas

t��o bem disfar��ado, que apaziguava a vigil��ncia dos ir-

m��os. Namoro s�� por dizer, pois n��o havia contato f��si-

co algum, nem um simples pegar de m��o. Isso aconteceu

pela primeira vez quando, por acreditar numa ing��nua

simpatia, ela apertou a m��o do namorado ao ver o n��-

mero 16 numa placa de carro. A simpatia dizia que, se

119

J U A R E Z L E I T �� O

estando ao lado de um rapaz, vislumbrasse um n��mero

que coincidisse com a sua idade, pegasse na m��o dele,

que, com certeza, sairia casamento.

A evolu����o dos pequenos ganhos no campo dos

contatos foi lenta, t��mida e gradual. Ela era dif��cil mes-

mo. A rela����o medrosa e encabulada, ensombrada de

indecis��es, parecia aquela quadra do poeta mineiro Au-

reliano Lessa:

"Se eu pedia, ela n��o dava

se eu zangava, ela sorria.

Se eu fugia, ela buscava

se eu voltava, ela fugia".

O primeiro beijo foi roubado. Numa daquelas

festas na casa do Branco, os dois estavam dan��ando e o

Deusmar, sentindo o calor dela e o cheiro do perfume

Ramage, n��o conseguiu segurar a vontade e aplicou-lhe

um beijo na testa. Foi abandonado no meio do sal��o.

As d��marches da sedu����o continuaram com deci-

siva e arraigada persist��ncia. Tentava, nos passos de seu

objetivo, ganhar a confian��a da fam��lia. Num domingo,

chegou �� casa da amada e, na maior sem-cerim��nia, me-

teu-se a ajudar o pai dela na arruma����o de um api��rio

que o senhor Benone mantinha no quintal. Talvez tenha

mesmo levado umas ferroadas das abelhas por conta de

sua imper��cia e no esfor��o de demonstrar a disponibi-

lidade de ajudar o futuro sogro. A tentativa de agradar

120

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

n��o convenceu. Mais tarde o chefe da fam��lia comentava

com sua mulher: "O caboclinho �� atrevido! Mesmo sem

ser convidado se meteu a me ajudar com as abelhas, se

amostrando para agradar. Achei-o foi muito do introme-

tido pra meu gosto!".

A m��e advertia a Auric��lia: "N��o se apaixone pelo

rapaz, porque seu futuro com ele n��o est�� nada garanti-

do. Seu irm��o Ubirajara est�� chegando dos Estados Uni-

dos e voc�� sabe que a palavra dele pesa muito na fam��lia.

E, se ele n��o aprovar este namoro, pode tirar seu cavali-

nho da chuva, porque a coisa morre a��".

Deusmar tinha perfeita consci��ncia do valor da pa-

lavra do irm��o mais velho de sua namorada. Ele, que, bem

empregado no exterior, ajudava a sustentar a fam��lia, era

uma autoridade provedora naquela casa. Esperto e irre-

versivelmente apaixonado, Deusmar tratou de se aproxi-

mar do influente cunhado e, em pouco tempo, tornou-se

amigo dele. Pronto. Todas as fronteiras estavam agora

abertas e a terra adubada para o plantio da felicidade.

Aconteceram, por��m, alguns percal��os.

Numa excurs��o do col��gio de Auric��lia �� cidade

do Crato, em 1966, um rapaz de l�� se apaixonou por ela.

Desse passeio, Deusmar n��o participou porque

n��o conseguira uma licen��a no rec��m-conquistado em-

prego na IBM. A namorada, comprometida, n��o aceitou

a corte do mo��o do Cariri, mas os colegas registraram

o epis��dio, sobretudo, pelas declara����es ardorosas pro-

feridas por ele em tom alucinado. Dizia o apaixonado

121

J U A R E Z L E I T �� O

interiorano que, se ela n��o o aceitasse como namorado,

passaria a beber e se transformaria num farrapo humano,

pois a vida n��o mais teria sentido. E dizem que cumpriu

o juramento tornando-se um alco��latra de sarjeta. Deus-

mar s�� veio a saber dessa hist��ria tempos depois e, mes-

mo assim, ficou magoado e cabreiro.

Magoada tamb��m haveria de ficar Auric��lia quan-

do, no fim daquele mesmo ano, n��o p��de acompanh��-lo

�� festa de t��rmino de curso no Clube de Regatas. O pai

tinha mandado que ela escolhesse entre a excurs��o do

meio do ano ao Crato e a festa de encerramento de ano

no Clube da Barra do Cear��.

Na tal festa, Deusmar andou se envolvendo com

uma criatura de Caucaia, com quem, segundo as amigas

informantes, ficou "se esfregando" a noite inteira.

Ao tomar conhecimento da aventura do namora-

do, Auric��lia, como nas letras pat��ticas dos antigos bole-

ros, foi perempt��ria: "Est�� tudo acabado!".

Deusmar, ao ver o desastre que a trai����o gerara,

jogou-se aos seus p��s e, em falas de afli����o, implorou o

perd��o da amada. Parecia teatro mexicano. Fez juras e

promessas definitivas de fidelidade e, dessa forma dra-

m��tica, conseguiu ser perdoado. �� que ela, naquelas al-

turas, j�� estava tamb��m irremediavelmente apaixonada.

Ele aprendeu a li����o. Em 1967 viajou para o Rio

de Janeiro numa excurs��o do escotismo. Na decantada

Cidade Maravilhosa n��o tinha olhos para ningu��m e, pra-

ticamente todos os dias, despachava uma carta de amor

122

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

para Auric��lia. Cartas apaixonad��ssimas que eram res-

pondidas por dona Jurandy, a m��e, j�� que Auric��lia n��o

se achava capaz de escrever no mesmo n��vel po��tico de

seu l��rico missivista.

Tendo conquistado a condi����o de namorado acei-

to pelo aval dos pais e cunhados, Deusmar anunciou que

pretendia noivar. Comprou as alian��as e entrou naquela

fase de ansiedade que antecede o pedido oficial, planeja-

do para o dia 8 de maio de 1970. Na v��spera, sugeriu a

Auric��lia ensaiarem as falas do solene momento do pedi-

do de m��o. Ela faria o papel do pai, ele o pr��prio, com os

nervos no limite e o pavor de receber uma negativa.

Deusmar: "Seu Benone, o senhor sabe que eu e a

Auric��lia nos gostamos e, agora, depois de cinco anos,

precisamos nos assumir como noivos. Por isso eu queria,

oficialmente, pedir a m��o de sua filha.

Auric��lia (fazendo as vezes do pai): Muito bem,

rapaz. E o casamento, ser�� pra quando?

Ele: �� pra logo, seu Benone. Pra logo, logo.

Ela: Logo, quando? Pra quantos logos?".

E o ensaio continuou neste tom.

No dia seguinte, na hora da comunica����o, viu que o

que fora ensaiado de pouco servira. As falas foram outras.

O pai da mo��a foi taxativo e quase rude: "Por mim,

nenhuma filha minha casava mais. A que casou n��o deu

certo e agora est�� a�� sofrendo. Se dependesse s�� de mi-

nha vontade, ficavam tudo em casa, no carit��, pra n��o

arriscar outras decep����es...".

123

J U A R E Z L E I T �� O

Deusmar, preocupado com o rumo da conversa,

retrucou timidamente: "Mas o senhor sabe que a gente

se gosta muito e j�� estamos namorando h�� muito tempo.

Acho que chegamos na idade de casar, pois eu j�� tenho 23

anos e ela 22. A gente noiva agora e casa no ano que vem".

E ele, o pai: "Pois bem. Como eu disse, por mim

n��o casava mais nenhuma. Mas, como n��o vale s�� o meu

gosto e ela quer, o que posso fazer? O jeito �� consentir. E

lhe aviso logo. N��o gosto de noivado demorado".

Ufa, que permiss��o suada. Deusmar respirou fun-

do e em sil��ncio agradeceu a Deus ter vencido mais uma

etapa importante de sua vida.

Auric��lia, que se postara atr��s da cadeira do pai e

fora testemunha ocular do tenso di��logo, recebeu a alian-

��a e, naquela noite, n��o dormiu olhando para o ouro que

em sua m��o simbolizava o compromisso de amor. Sim,

era verdade! Iria se casar mesmo com aquele sujeito in-

sistente, que finalmente, convencera a ela e aos seus pais

e irm��os de que era um bom partido.

Soube que, �� noite, o noivo fora comemorar o SIM

de seu Benone com os amigos no Bar do Airton, brin-

dando com doses fartas de cuba libre, a gostosa e barata

mistura de Coca-Cola com rum, lim��o e gelo. Uma farra

et��lica bem ao modo dos adolescentes dos anos 6 0 / 7 0 do

s��culo passado.

Deusmar evolu��a no mercado de trabalho. Fora fun-

cion��rio da IBM, estava no IBGE, mas agora precisava ga-

nhar melhor para viabilizar as condi����es para o casamento.

124

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Antes, ainda houve um fuxico. A Rosinha, sobri-

nha da Auric��lia, veio contar �� tia que tomasse cuidado

com o seu noivo, pois havia uma mo��a, l�� no IBGE, "ar-

rastando a asa" para o lado dele. Chamado ��s falas, o vi-

giado nubente explicou que n��o havia nada e, para amai-

nar todas as d��vidas, tratou de apressar o casamento.

Por interven����o do Padilha, mas se garantindo por

seu pr��prio talento, ingressou na CR��DIMUS, sociedade

de cr��dito imobili��rio, granjeando em pouco tempo um

bom conceito de operador. Com melhor sal��rio, n��o ti-

nha por que mais esperar: Deusmar e Auric��lia iam casar.

Sem meios de arcar com uma cerim��nia dispen-

diosa, optaram pela simplicidade. N��o avisaram aos ami-

gos (que ainda hoje reclamam), a n��o ser o pessoal da

empresa, comunicado por meio de um cart��o no fim do

expediente: "Colegas, estarei me casando hoje e s�� retor-

narei na segunda-feira. Segurem a�� por mim e me dese-

jem boa sorte. Obrigado".

Era o dia 21 de outubro de 1 9 7 1 , uma quinta-feira.

No mesmo dia o casamento civil e o religioso, com a

presen��a apenas da m��e, porque o pai estava assistindo aos

��ltimos momentos da m��e dele. O senhor Benone, antes

da cerim��nia, largou o leito da m��e por uns instantes para

aben��oar a filha e, ao retornar, a velhinha havia falecido.

No cart��rio e na igreja, os noivos, a m��e dela, dois

de seus irm��os com os c��njuges respectivos e as outras

testemunhas. Os pais dele, a av��, a irm�� e o cunhado. Um

molhinho de gente.

125

J U A R E Z L E I T �� O

Depois, foram jantar na casa da m��e dela e, antes

da meia-noite, partiram para a lua de mel na Col��nia de

F��rias dos Comerci��rios, na Praia de Iparana.

Naqueles quatro dias praticaram o grande encon-

tro. O encontro que haviam planejado h�� sete anos com

olhos e cora����es de meninos.

Agora estavam ali fechados dentro de seu sonho

com um mundo todo de coisas a constru��rem juntos.

Enla��ados, encantados, projetando nos intervalos dos

fren��ticos combates, outros del��rios, outras afoitas uto-

pias que o futuro terminou revelando que eram da mais

pura argila da verdade. Pedras e argamassa de uma s��lida

constru����o. Um edif��cio enorme sempre aberto a novas

esperan��as, ��s franquezas da vida e ��s ousadias de todos

os tamanhos.

126





9

INGRESSANDO NO

MERCADO DE CAPITAIS

"O dinamismo do novato era t��o

expressivo, que, ao inv��s de despertar

ci��mes nos demais companheiros,

poderia estimul��-los a acompanhar sua

garra e, dali a pouco, quem sabe, todos

multiplicassem a produ����o."

Raimundo Padilha, D i r e t o r da

CR��DIMUS q u a n d o c o n t r a t o u o j o v e m

D e u s m a r Q u e i r �� s

m 1966 Deusmar Queir��s conseguiu o primeiro

emprego com carteira assinada. Foi contratado

pela IBM, sigla que identifica a empresa ameri-

cana International Business Machines, com atua����o em

1 2 9

J U A R E Z L E I T �� O

todo o mundo, voltada para a ��rea de tecnologia de in-

form��tica. Definindo-se como uma empresa que objetiva

"tornar o planeta mais inteligente", a IBM est�� no Brasil

desde as primeiras d��cadas do s��culo X X . Detentora de

um conceito estelar em seu setor, era o sonho de empre-

go de muitos brasileiros e, naquele tempo, trabalhar com

computadores representava uma conquista no campo da

modernidade e da vanguarda cient��fica.

Ao jovem Deusmar coube operar uma daquelas

m��quinas inteligentes, digitando documentos, classifi-

cando cart��es de emiss��o de contas de luz, pagamentos

de telefones e fazendo a atualiza����o de dados de faturas

dos estados do Cear�� e Piau��.

Embora n��o fosse um trabalho que exigisse maio-

res pendores t��cnicos ou um exerc��cio refinado de criati-

vidade, para todos os efeitos e, principalmente, entre os

amigos do bairro, o que se sabia �� que o Deusmar traba-

lhava com computadores. Um luxo.

Evoluiu o que p��de ali. Chegou a Operador S��nior,

mas o sal��rio n��o compensava. Fez os c��lculos e consta-

tou que ganhava mais trabalhando no emp��rio da fam��-

lia. Pesou tamb��m o tempo que o expediente roubava do

col��gio. Por isso, no final de 1968 deixou a IBM e voltou

para o balc��o da Mercearia Santo Ant��nio.

Em 1970 veio aquele concurso do Instituto Brasi-

leiro de Geografia e Estat��stica - IBGE. Aprovado, como

vimos, em primeiro lugar, ocupou a fun����o de Coordena-

dor do Censo Demogr��fico.

130

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Quando ficou noivo da Auric��lia, entendeu que

precisava de maior espa��o para desenvolver as aptid��es

que sentia pulsar em seu esp��rito. Fazia uma leitura do

tempo e dos fatos, percebendo que estavam para aconte-

cer mudan��as substanciais na sociedade, avan��os vertigi-

nosos na tecnologia e grandes novidades no mundo dos

neg��cios. E ele n��o queria estar fora delas. Com maior

raz��o agora, que pretendia casar e teria as responsabili-

dades aumentadas e necessidade evidente de constituir

um p��-de-meia, uma base econ��mica que garantisse o

sustento da fam��lia.

Essa preocupa����o era, naturalmente, compartilha-

da com outras pessoas de seu c��rculo familiar, notada-

mente os pais e irm��os da futura esposa.

Um dos cunhados, Jos�� Ubirajara Alves, por ser

um homem inteligente e observador atento das circuns-

t��ncias e das pessoas, sabia que o marido de sua irm��

Auric��lia era um rapaz de grandes qualidades. Al��m de

muito ativo e disposto para o trabalho, tinha sonhos de

crescer na vida e coragem para lutar por esses sonhos

n��o lhe faltava.

Possu��do dessa convic����o e querendo ajudar, Ubi-

rajara resolveu dar um telefonema para o Padilha, seu

concunhado e homem forte na CR��DIMUS DISTRIBUI-

DORA, uma empresa que se destacava em alguns setores

elevados da economia cearense, trabalhando na distri-

bui����o e coloca����o de pap��is no mercado de Capital.

131

J U A R E Z L E I T �� O

Raimundo Padilha �� um t��cnico de reconhecido

conceito no mercado financeiro e no mundo empresa-

rial cearense e nordestino. Economista com p��s-gradu-

a����o em desenvolvimento econ��mico e especializa����o

em mercado de capitais na Bolsa de Nova Iorque. Com

passagem breve pelo Banco do Nordeste do Brasil - NB,

afastou-se dessa Institui����o para prestar seus servi��os

t��cnicos no Instituto de Pesquisas Econ��micas da Uni-

versidade Federal do Cear�� - UFC, como consultor e

professor. Titular da cadeira de Mercado de Capitais,

exerceu essas mesmas fun����es tamb��m na Universida-

de Estadual do Cear�� - UECE e na Universidade de For-

taleza - UNIFOR. Presidiu por 28 anos, em Fortaleza, a

Bolsa de Valores Regional, onde vivenciou todas as crises

econ��micas do pa��s, tornando-se um dos mais serenos

analistas da economia nacional, navegador competente

de mares revoltos e de calmarias, de onde entrou e saiu

sempre mais informado. Ativo ainda hoje em sua espe-

cialidade, �� um consultor requisitado e um eterno estu-

dioso da economia, a quem as empresas e os governos

recorrem com muita frequ��ncia, desde os tempos em

que participou da elabora����o do Diagn��stico Socioeco-

n��mico do Cear�� para o Governo Virg��lio T��vora.

Amigo e admirador de Deusmar Queir��s, relata-

-nos como o conheceu e tamb��m como foi surpreendido

pelo pujante dinamismo de nosso biografado.

"Conheci o Deusmar atrav��s de um telefonema do

Ubirajara, meu concunhado, que morava em Bras��lia e era

132

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

diretor do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa). Ele que-

ria ver se eu arranjava uma coloca����o para o Deusmar, um

rapaz que estava noivo de sua irm�� Auric��lia. Estranhei.

Como era que um sujeito estava entrando numa fam��lia onde

predominava a dedica����o ao trabalho e n��o tinha um em-

prego? E o irm��o mais velho, ao inv��s de desestimular esse

casamento, estava era apoiando o malandro? Ao expressar

minha estranheza, fui informado que o cara tinha, sim, um

emprego, ou melhor, tivera, pois era no Recenseamento do

IBGE, que estava terminando. Pensei com os meus bot��es:

Puxa vida! Se esse indiv��duo que est��o me empurrando n��o

aprovar, vou ter de atur��-lo at�� o pr��ximo Censo, daqui a

dez anos?"

Padilha lembra-se do momento em que recebeu o

rapaz. Era um sujeito simp��tico que j�� chegou sorrindo

e se dizendo disposto a realizar o que fosse preciso para

ser avaliado.

A CR��DIMUS Distribuidora de Valores, do con-

glomerado do Grupo CR��DIMUS, dirigida por Raimundo

Padilha, ficava numa galeria entre as Ruas Major Facundo

e Bar��o do Rio Branco, no centro de Fortaleza. Instalar o

escrit��rio numa galeria por onde transitava muita gente e

de todas as classes sociais fora ideia do Dr. Elano de Pau-

la, presidente do Grupo CR��DIMUS, para desmistificar

esta ��rea do mercado financeiro. Quem passasse por ali

via atrav��s das amplas vidra��as quem estava operando,

fazendo aplica����o, vendendo e comprando cotas de in-

vestimento. Era a pol��tica de derrubar muros, mostran-

133

J U A R E Z L E I T �� O

do para todo mundo que aquela era uma atividade trivial

onde qualquer um poderia entrar.

Elano Viana de Oliveira Paula nasceu em Maran-

guape/CE, em 1923, e formou-se em Engenharia Civil

pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do

Brasil, em 1950. Irm��o do talentoso humorista Chico

Anysio, foi tamb��m um homem de m��ltiplas qualidades,

envolvendo-se com o mundo art��stico, como compositor

da MPB (M��sica Popular Brasileira), diretor art��stico da

R��dio Mayrink Veiga, produtor e redator da R��dio Gua-

nabara. Foi s��cio da Construtora Cedro e Conselheiro do

Clube de Engenharia do Cear��. Presidente do Conselho

da DOMUS e Diretor-Presidente do Grupo CR��DIMUS,

faleceu nonagenario em Fortaleza, em 2 0 1 5 .

Padilha tinha uma equipe grande sob seu coman-

do e trabalhava com um vasto elenco de opera����es, tais

como, T��tulo de Renda Fixa, Letra Imobili��ria, Certifica-

do de Dep��sito Banc��rio - CDB, Caderneta de Poupan��a

e Incentivos Fiscais.

N��o havia ainda o FINOR, mas o seu antecessor, um

incentivo do Governo Federal conhecido como 3 4 / 1 8 ,

que consistia na aplica����o, por pessoa jur��dica, sediada

em qualquer lugar do Brasil, em empresa a ser instala-

da no Nordeste, com a compensa����o de ter uma redu����o

no Imposto de Renda. O incentivo, que era inicialmente

exclusivo do Nordeste e somente do setor industrial, de-

pois expandiu-se para o Norte e incluiu os setores agr��co-

la, pecu��rio, reflorestamento, pesca e turismo.

134

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

O empres��rio que se convencesse dos benef��cios

da oferta oficial escolhia uma empresa do Nordeste (ou

do Norte, posteriormente) e a ela destinava metade de

seu imposto de renda pessoa jur��dica.

O papel da CR��DIMUS Distribuidora era identi-

ficar, no Cear��, os optantes dos incentivos fiscais e dire-

cionar as suas aplica����es para empresas aprovadas pela

SUDENE.

Quando viu o sorridente candidato a emprego es-

pargindo otimismo por todos os poros, Padilha resolveu

submet��-lo ao que chamava de "batismo de fogo".

Depois de explanar sobre a aplica����o no 3 4 / 1 8 e

explicar qual era a tarefa do corretor, definiu um quadri-

l��tero da cidade onde ele tinha de visitar um grupo de

empresas, de porta em porta, e convencer seus titulares

a optar por tais investimentos.

A miss��o n��o era brincadeira para um primeiro

dia de trabalho e Deusmar partiu para desempenh��-la

com o seu sangue de guerreiro.

Quando regressou, no fim da tarde, estarreceu o

novo patr��o. O garoto trazia um patu�� repleto de ades��es.

Quase todos os empres��rios visitados haviam aderido ��

lista da CR��DIMUS e o diretor, boquiaberto, n��o sabia

que recursos de persuas��o o jovem cunhado do Ubirajara

havia utilizado para obter tanto sucesso. Mas n��o havia a

menor d��vida de que estava diante de uma personalida-

de vencedora, algu��m de grande futuro.

135

J U A R E Z L E I T �� O

Diz o Dr. Padilha que, em face do desempenho de

seu novo contratado, postou-se diante de um dilema: ou

freava o Deusmar ou dava maior velocidade a sua equipe.

"Optei pela segunda alternativa, porque o dinamis-

mo do novato era t��o expressivo, que, ao inv��s de desper-

tar ci��mes nos demais companheiros, poderia estimul��-los

a acompanhar sua garra e, dali a pouco, quem sabe, todos

multiplicassem a produ����o".

A capacidade de fazer neg��cios e carrear fatura-

mento para a empresa elevou o prest��gio de Deusmar

diante da diretoria, condi����o de que ele nunca se prevale-

ceu para exibir-se como superior ou esnobar seus colegas.

Mas, certamente, era reconhecido como um ele-

mento galhardamente produtivo que, com o seu entusias-

mo, habilidade e incans��vel disposi����o, ajudava a CR��-

DIMUS a crescer e se firmar cada vez mais em seu setor.

Dois anos depois, a dire����o da CR��DIMUS S.A.

transferiu Raimundo Padilha da Distribuidora de Valo-

res para a Cr��dimus Imobili��rio, que era, assim como o

guarda-chuva do neg��cio, o lado mais gordo da empresa.

Na nova fun����o o tarimbado executivo iria alimentar a

Distribuidora com letras imobili��rias.

Padilha explica:

"A Distribuidora era como uma esp��cie de super-

mercado de pap��is, enquanto a Cr��dimus Imobili��rio

captava por interm��dio da Caderneta de Poupan��a, coisa

que a Distribuidora n��o fazia, mas vendia letras imobili-

��rias, emitidas por aquela. Ent��o, emit��amos letras imo-

136

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

biliarias por interm��dio do balc��o da CR��DIMUS, mas

vend��amos, principalmente, por interm��dio da Distribui-

dora. E l��, com base nessas capta����es, �� que consegu��a-

mos cr��ditos imobili��rios para os projetos habitacionais."

Uma respeit��vel promo����o, com certeza. Entre-

tanto, o presidente Elano de Paula informou ao Padilha

que, para ele galgar aquele novo degrau, teria que con-

seguir um substituto para sua antiga fun����o e com cacife

parecido com o dele.

Quando ouviu a condi����o imposta por seu chefe,

Padilha sorriu, matreiro, como um jogador de baralho

que tem a carta na manga:

"Pois eu tenho essa pessoa, Elano. �� o Deusmar. Ele ��

o homem certo para assumir a dire����o da Cr��dimus Distri-

buidora de Valores. E eu lhe garanto que vai dar no couro."

Os dois, agora parceiros igualados, intensificaram

a jornada de trabalho cada dia com mais entrega e dedi-

ca����o em suas diretorias.

Um dia, por��m, ainda nos anos 70, Elano e seus

s��cios resolveram vender a CR��DIMUS.

A nova dire����o pretendia manter toda a equipe.

Tinha informa����o dos antigos donos de que o capital hu-

mano da empresa era de um valor inestim��vel.

Quando foram tratar da transfer��ncia da titulari-

dade no Banco Central e Banco Nacional de Habita����o

(BNH), o nome do cidad��o que havia comprado a CR��-

DIMUS n��o foi aceito. Ent��o, era preciso vender nova-

mente, o que foi feito sem tardan��a.

137

J U A R E Z L E I T �� O

Os novos adquirentes, capitaneados pelo Dr. New-

ton Kleber de Thuin, tamb��m decidiram manter a mes-

ma equipe de assessores e funcion��rios.

No come��o, tudo parecia marchar muito bem em

mat��ria de conviv��ncia com os dirigentes, que prome-

tiam dar continuidade ao costumeiro da empresa na ope-

ra����o dos neg��cios e no tratamento com os integrantes

das equipes.

Depois, no entanto, a nova diretoria come��ou a fa-

zer substitui����es e a mudar quadros.

Deusmar estava cabreiro. Ser�� que iam mexer com

ele? O estado de expectativa agora o incomodava. Ele es-

tava perdendo a espontaneidade e ficando preocupado

com sua estabilidade no trabalho.

Nessa altura dos acontecimentos, Padilha foi esca-

lado para ir ao Rio de Janeiro tratar algumas pend��ncias

no BNH. Demorou alguns dias e, quando voltou, Deus-

mar teve com ele uma conversa franca. N��o queria mais

permanecer na CR��DIMUS. O ambiente estava ficando

pesado, nebuloso demais para o seu gosto. Com intimida-

de, recorreu ao amigo: "Olha, Irm��ozinho, n��o quero mais

ficar aqui. V�� se me arranja outra coisa, noutro lugar".

Um dos s��cios da CR��DIMUS era Bernardo Bichu-

cher, um judeu baiano que militava em variadas modali-

dades empresariais. Ele tinha um t��tulo patrimonial da

Bolsa de Valores do Cear�� que n��o estava operando por-

que a nossa Bolsa vivia uma fase de transi����o, em proces-

so de avalia����o pelo Banco Central.

138

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

A CR��DIMUS vendera a Distribuidora, mas n��o

vendera a Corretora de Valores, que era representada

pelo Padilha na Bolsa de Valores do Cear��. Mais tarde,

Padilha compraria o t��tulo da corretora, assumindo sua

dire����o.

E quando o Bichucher, decidido finalmente a

constituir sua corretora, a qual nominaria de PAX COR-

RETORA, convidou o Padilha para se associar com ele e

p��r em opera����o o t��tulo de que dispunha na Bolsa, este

lembrou-se do Deusmar.

Padilha informa que "n��o poderia ir para a PAX

porque havia comprado um t��tulo e ningu��m podia ter dois.

Mas, conhecendo a compet��ncia de Deusmar, o indiquei ao

Bichucher".

Quando voltou da entrevista com o Bichucher,

Deusmar j�� era s��cio da PAX CORRETORA, com 15% de

participa����o acion��ria. Agora, era, tamb��m, concorren-

te de seu amigo Padilha e um concorrente reconhecida-

mente h��bil, ousado e operoso. Mas, acima de tudo, um

amigo admir��vel e leal.

O conv��vio de Deusmar com o Bichucher foi im-

portante como aprendizado e constitui����o de conceito.

Quando da instala����o da Bolsa de Valores do Cea-

r��, em 1976, coube ao baiano presidi-la e ele convidou o

Deusmar, que j�� come��ava a ganhar a fama de "menino-

-prod��gio" no setor, para montar a ��rea de opera����es. Ali

ele esteve de setembro de 1976 a fevereiro de 1977. Esse

per��odo foi riqu��ssimo para a forma����o dos conhecimen-

139

J U A R E Z L E I T �� O

tos que aplicaria no escorregadio universo do mercado

de capitais.

Bernardo Bichucher gostava de Fortaleza, onde fez

amigos e teve espa��o na sociedade e reconhecimento no

mundo empresarial. Foi, como vimos, Presidente da Bol-

sa de Valores do Cear��. Mas vivia preocupado com seus

outros empreendimentos em S��o Paulo e, um dia, deci-

diu ir embora.

Precisava vender a PAX, mas, a quem?

Foi consultar o Padilha:

"- Quem me compraria a corretora?

- Voc�� tem o comprador dentro de casa! Por que

n��o vende para o Deusmar?

- O Deusmar? - retrucou o Bichucher - E como

ele vai me pagar?

- Oh, meu amigo, pagar ele vai porque �� uma pes-

soa honesta. Me pergunte quanto ele vai pagar e como

vai pagar. Ele vai te pagar a longo prazo, na valsa, com o

esfor��o do trabalho dele e, como ele trabalha muito, vai

te pagar logo, pelo retorno r��pido que nas m��os dele vai

acontecer."

A conversa foi pela manh�� e, ao meio-dia, Deus-

mar, que ainda n��o sabia de nada, chegou apreensivo ao

Padilha dizendo que o Bichucher ia vender a corretora e

ele ia ter que recome��ar a vida noutro galho.

Padilha disse ao Deusmar que ele �� que seria o

novo dono da PAX.

"- Mas eu?! Como?

140

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

- Voc�� compra e vai pagar a corretora com o seu

trabalho. Sei que vai conseguir, porque conhe��o sua gar-

ra." - respondeu-lhe o amigo.

Antes que aquele dia terminasse, Deusmar Quei-

r��s era o novo dono da PAX CORRETORA.

Acabava de completar trinta anos.

l4l



10

0 CAMPE��O DOS

LEIL��ES DO FINOR

"Quando o conhecimento vira

informa����o, deixa de ser uma simples

riqueza da mente para tornar-se um

produto de compra e venda."

Jean-Fran��ois Lyotard ( 1 9 2 4 - 1 9 9 8 )

OFundo de Investimentos do Nordeste - FINOR

�� um benef��cio do Governo Federal que objetiva

dar apoio financeiro ��s empresas sediadas em

sua ��rea de atua����o, constituindo-se no principal incen-

tivo disponibilizado pela Superintend��ncia do Desenvol-

vimento do Nordeste - SUDENE para estimular a econo-

143

J U A R E Z L E I T �� O

mia da Regi��o Nordeste, o Norte de Minas Gerais, o Vale

do Jequitinhonha e o Norte do Esp��rito Santo.

Criado em 1974, sucedeu ao Sistema 3 4 / 1 8 , aper-

fei��oando a ideia de incrementar a economia das regi��es

determinadas por meio de incentivos espec��ficos.

O FINOR tem como agentes do processo de incen-

tivo para estimular a economia regional as empresas op-

tantes (investidoras), as empresas benefici��rias, a S U -

DENE e o Banco do Nordeste (BNB).

A administra����o do Fundo cabe ao BNB e �� SUDE-

NE, que define as ��reas e setores onde os investimentos

devem ser feitos, analisa, aprova e fiscaliza os projetos,

al��m de autorizar a libera����o dos recursos.

O operador do FINOR �� o Banco do Nordeste,

que tem como fun����es processar as libera����es mediante

subscri����es de t��tulos, administrar o fluxo financeiro, a

contabilidade, a Carteira de T��tulos, bem como, tratar do

Sistema de Cotas e promover os LEIL��ES ESPECIAIS.

Al��m do FINOR, foram criados outros dois Insti-

tutos: o Fundo de Investimento da Amaz��nia - FINAM,

administrado pelo Banco da Amaz��nia, e o Fundo de In-

vestimento Setorial - FISET, administrado pelo Banco

do Brasil.

O FINOR tinha como p��blico-alvo, cotistas, inves-

tidores e empresas benefici��rias do incentivo, aquelas

que tivessem seus projetos aprovados pela SUDENE.

Como funcionava a rela����o das empresas com o

FINOR? O decreto que criou este fundo dizia que quem

144

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

tivesse Certificados de Investimento, conseguidos pe-

los optantes dos incentivos, poderia troc��-los por a����es,

negoci��veis, por interm��dio de corretores, na Bolsa de

Valores.

Deusmar Queir��s procurou especializar-se no

intrincado mundo do mercado de capitais estudando

os m��todos de opera����es na Bolsa de Valores de Nova

Iorque, via Graduate School of Business Administration.

Complementou sua expertise no exterior, com o curso

"Terceiriza����o e Moderniza����o de Neg��cios" na Univer-

sity of Central Florida - USA.

O Dr. Lima Matos, conceituado economista e ex-

-Secret��rio da Fazenda do Cear��, foi colega de Deusmar

na Faculdade de Economia e ambos foram alunos de Rai-

mundo Padilha na cadeira de Mercado de Capitais. Os

tr��s s��o muito pr��ximos.

Lima Matos acompanha com admira����o a carreira

do antigo colega e, nas ondula����es da vida, os dois t��m se

encontrado em v��rias ocasi��es, trabalhos e circunst��ncias.

Ele diz que a capacidade de Deusmar revelou-se

primordialmente como um agente de compra e venda, um

comprador e, simultaneamente, um vendedor de a����es.

Ele foi o mais sagaz operador dos leil��es do FINOR.

Os leil��es permitiam a negocia����o das a����es da

carteira de t��tulos do FINOR, quando eram permutadas

por cotas de propriedade dos optantes/investidores, sen-

do conferida ao BNB a faculdade de estipular o pre��o,

de acordo com a legisla����o em vigor. O banco estabele-

145

J U A R E Z L E I T �� O

cia anualmente a programa����o dos leil��es nas principais

Bolsas de Valores do pa��s. A moeda desses leil��es era o

Certificado de Investimento, obtido pela troca da op����o

pelo incentivo referente ao Imposto de Renda a pagar.

Lima Matos relata:

"Minha rela����o de amizade com o Deusmar am-

pliou-se, naturalmente, na fase ��urea dos leil��es do FI-

NOR. Eu representava o Banco do Nordeste. O papel dele

era comprar certificados de investimento das empresas

que pagavam imposto de renda e revend��-los para os em-

pres��rios que tivessem a����es na carteira do FINOR. N��o

era proibido. A quest��o �� que ele compreendeu o pro-

cesso primeiro do que a maioria dos que militavam no

sistema, p��s em a����o a sua garra e se deu bem."

O doutor Lima Matos explanou demoradamente

para o autor o essencial sobre o mercado de capitais e os

leil��es do FINOR, cabendo a ele, ao Raimundo Padilha,

ao Armando Caminha e ao Geraldo Gadelha os cr��ditos

pela maioria das informa����es contidas neste cap��tulo.

Francisco los�� Lima Matos, nascido em Fortaleza,

�� Bacharel em Ci��ncias Econ��micas pela Universidade

Federal do Cear�� (UFC) e em Administra����o P��blica pela

Universidade Estadual do Cear�� (UECE). Funcion��rio do

Banco do Nordeste do Brasil (BNB), iniciou sua carreira

aos 14 anos, no Curso de Aprendizagem Banc��ria (CAB),

exercendo na institui����o as fun����es de Chefe de Se����o,

Supervisor de Cr��dito, Chefe de Setor, Chefe de Divis��o

e de Departamento.

146

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Membro da Comiss��o de Consultoria de Mercado

de Capitais do Conselho Monet��rio Nacional, Secret��rio

da Fazenda do Estado do Cear��, Presidente do Conselho

de Administra����o do Banco do Estado do Cear�� (BEC),

Diretor Corporativo e de Desenvolvimento de Neg��cios

do Grupo J. Macedo. Vice-Presidente do Grupo Jereis-

sati, Diretor de Ci��ncias e Tecnologia da FIEC e Presi-

dente do Centro Industrial do Cear�� (CIC). Ensa��sta de

assuntos econ��micos, consultor de empresas e autor de

livros sobre economia contempor��nea e estudos cr��ticos

da hist��ria atual.

Conversamos tamb��m com outro personagem

contempor��neo de Deusmar Queir��s na faculdade e par-

ceiro de neg��cios. Trata-se do Dr. Fernando Cirino Gur-

gel, Diretor-Presidente da DURAMETAL, ex-presidente

do Centro Industrial do Cear�� (CIC), da Federa����o das

Ind��strias do Estado do Cear�� (FIEC) e Vice-Presiden-

te da Confedera����o Nacional da Ind��stria (CNI). Ele co-

menta sobre a atua����o da PAX Corretora e de seu titular:

"O Deusmar era um craque nos leil��es do FINOR.

Nesses leil��es, o arrematador tinha que ter uma correto-

ra e ele tinha a PAX Corretora de Valores e C��mbio Ltda.

Irrequieto e competente, tocava dez instrumentos den-

tro dela: tinha o contato com os empres��rios, ia para os

leil��es e ficava l��, disputando aguerridamente, acertando

compras e vendas, pintando e bordando no cen��rio das

negocia����es. Ele comprava aquelas a����es em nome dos

empreendedores e as revendia. E comprava tamb��m para

ele pr��prio, pois era igualmente um empreendedor.

147

J U A R E Z L E I T �� O

Eu tive tr��s empresas para as quais o Deusmar

fez esse trabalho. Uma foi a M��veis Otoch, que comprei

quando tinha 25 anos. Outra foi a Sider��rgica Uni��o e, a

atual, a DURAMETAL.

Esse sistema funcionou muito bem aqui no Nor-

deste e as empresas que fizeram o dever de casa de forma

adequada prosperaram. Isso foi uma coisa que promoveu

a nossa economia e muito contribuiu para o desenvolvi-

mento de nossa regi��o".

Fernando Cirino Gurgel, fortalezense, formou-se

em Ci��ncias Econ��micas pela UFC, tendo tamb��m cur-

sos de extens��o profissional e atualiza����o de sua ��rea

no Brasil e no exterior. Foi s��cio e diretor da tradicional

Fundi����o Cearense, transformada depois em DURAME-

TAL, hoje a maior fabricante de tambores de freio, discos

de freio e cubos de roda do pa��s.

Geraldo Gadelha, advogado e executivo do Grupo

Pague Menos, informa como se aproximou de Deusmar:

"Eu era do Banco do Nordeste e sou amigo-irm��o

do Armando Caminha. O Armando sempre foi muito

amigo do Deusmar. Certo dia, o Armando me diz: 'Ge-

raldo, tem um rapaz a�� do mercado de capitais que �� um

danado e est�� fazendo muito sucesso no setor. Vamos co-

nhec��-lo?'

Fui. E, a partir desse dia, nasceu um respeito pro-

fissional muito interessante entre n��s. E uma amizade de

alto n��vel. Quando ele fez seu depoimento para o livro do

Cleber Aquino, Hist��ria Profissional Vivida, citou os tr��s

148

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

executivos do BNB, o Lima Matos, o Armando Caminha e

eu, como pessoas que respeitaram, desde o in��cio, o tra-

quejo profissional dele. Ficamos muito amigos. Em muitos

momentos, chegamos a festejar o seu sucesso, um bom

neg��cio concretizado, uma opera����o bem-sucedida. Nes-

sas ocasi��es brind��vamos �� vida e ao trabalho, duro e ho-

nesto, com uma boa rodada de u��sque ou uma cerveja bem

gelada. Sempre otimista, sempre positivo. Vi, de cara, que

estava diante de uma pessoa que trabalhava no futuro."

Os leil��es do FINOR eram um mecanismo muito

inteligente e que obedecia rigorosamente ��s regras do

mercado. Gadelha explicita:

"Imaginemos um grande investidor, o Banco do

Brasil, por exemplo. O BB tem um imposto de renda al-

t��ssimo. Comprava a����es e fez uma Carteira robusta de

pap��is. Suponhamos que uma empresa qualquer, diga-

mos, Granitos e M��rmores do Cear��, tenha a����es na car-

teira do FINOR. Chega para o corretor e diz: 'Compre

Certificado de Investimento para mim, porque eu quero

recomprar minhas a����es.'

Quer dizer, voc�� mesmo recomprava suas a����es

em opera����o normal, tudo legal, bonitinho. Eram opera-

����es p��blicas, porque os leil��es do FINOR eram realiza-

dos nas Bolsas de Valores.

Ent��o, o Deusmar, que tinha a PAX Corretora e

era expert em mercado de capitais, inteligente e inten-

so como sempre foi, descobriu o mecanismo dos leil��es

e transformou sua empresa na maior corretora do pa��s

149

J U A R E Z L E I T �� O

nessa especialidade. Ganhou at�� pr��mio nacional por seu

desempenho".

A refer��ncia do Dr. Gadelha corresponde ao ano

de 1980, quando Deusmar Queir��s operava com afinco

no mercado financeiro para si e para grandes grupos em-

presariais, como VICUNHA e COTEMINAS (do futuro

Vice-Presidente Jos�� Alencar). Com o aval do ex-presi-

dente Ernesto Geisel (ent��o presidente da NORQUISA),

a PAX Corretora de Valores intermedia a aquisi����o de

66% do capital da Companhia Petroqu��mica do Nordeste

- COPENE nas Bolsas de Valores e se torna, realmente, a

maior corretora de valores do pa��s na intermedia����o de

a����es de empresas benefici��rias do sistema de incentivos

fiscais, conhecido como FINOR.

Nesse tempo, bateu um recorde nacional de assi-

duidade: foi o ��nico que compareceu aos cem primei-

ros leil��es do FINOR.

Armando Caminha, hoje s��cio de Deusmar

numa das empresas do Grupo Pague Menos, rememora

o epis��dio:

"Nessa ��nsia de recomprar a����es ele ganhou nome,

mesmo. E se aproximou de grandes empres��rios, gente

muito forte. Ganhou nesse tempo muito dinheiro e muita

credibilidade.

Em 1980, o Geisel, que era Presidente do Polo Pe-

troqu��mico da Bahia, onde se concentravam as maiores

empresas petroqu��micas do Brasil, fez uma tomada de

pre��os com os corretores do Brasil num tipo de leil��o

150

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

inverso. Queria recomprar todas as a����es da COPENE, da

POLIPROPILENO... Isto foi numa reuni��o com o Brades-

co, o Banespa e grandes corretoras de S��o Paulo e Rio de

Janeiro. Todas se apresentaram como sendo as maiores

do pa��s.

Quando o Deusmar se apresentou, disse o seguinte:

'Eu sou a PAX Corretora, verdadeiramente o maior ope-

rador do FINOR no Brasil, e estou disposto a fazer uma

oferta superior a qualquer uma que for aqui apresentada!'

Voc�� se lembra de quando ele falou do primeiro

milh��o de d��lares que acumulou? Pois foi nessa opera-

����o que ele o ganhou. Com as b��n����os do ex-Presidente

Ernesto Geisel."

Assim, Francisco Deusmar Queir��s, o menino de

Amontada, aos 34 anos ganhava o seu PRIMEIRO MI-

LH��O DE D��LARES e se tornava o CAMPE��O NACIO-

NAL DO MERCADO DE CAPITAIS, na ��rea de incenti-

vos fiscais.

Vitorioso, aplaudido, laureado, manteve a humil-

dade. E, muito mais do que isso, n��o se deixou afagar pe-

los louros do triunfo. Nem, muito menos, se acomodou

nos len����is da indol��ncia, porque - como repete sempre

- o horizonte o espera l�� na frente e, todos os dias, a es-

trada de seus sonhos reclama novos passos.

151





11

O NASCIMENTO DAS

FARM��CIAS PAGUE

MENOS

"O trabalho de um l��der, de certa maneira,

tem a ver com a capacidade de enxergar o

futuro, de imaginar o que pode acontecer.

Enquanto faz isso, precisa, simultaneamente,

guiar sua equipe no presente, levando-a a

uma linha de chegada que s�� ele pode ver."

D a n W a r d ( 1 9 7 3 - )

c o n s u l t o r e m p r e s a r i a l e s p a n h o l

Naquele domingo de maio, em 1981, repetia-se

um ritual na resid��ncia do Sr. Benone, pai de

Auric��lia. Filhos e filhas, com genros, noras e

153

J U A R E Z L E I T �� O

netos, vinham para a casa do patriarca para o tradicional

almo��o de fim de semana. Ali, bem no estilo das fam��lias

interioranas, se punham as conversas em dia. Falava-se

do progresso dos jovens nos estudos, comentavam-se ca-

sos pitorescos, relatavam-se sucessos e dilemas e, natu-

ralmente, tamb��m se faziam consultas e se anunciavam

sonhos e desejos. Era um bom e animado sarau, regado

a cerveja e a guisado de carneiro, ambiente gostoso de

aconchego familiar, instrumento da intera����o afetiva em-

pregado com resultados positivos certos no cl�� dos Alves.

Por aqueles dias, uma atmosfera de euforia cerca-

va aquela fam��lia. O genro ousado, o irrequieto Deusmar,

faturara uma nota preta no mercado de capitais, interme-

diando a compra e venda de a����es nos leil��es do FINOR.

Com um bom dinheiro no bolso anunciou que estava

pensando em diversificar suas atividades, investir em al-

gum neg��cio diferente, pois n��o queria ficar pondo tudo

o que ganhava numa cesta s��.

Outro genro do Sr. Benone, Maric��lio Barros, casa-

do com a Aurimeire, ao ouvir as pretens��es de Deusmar,

disse que tinha uma not��cia boa para ele:

"Tem um cidad��o querendo vender uma farm��cia

no bairro Ellery. Quem me falou foi o gerente dele. E,

como o homem quer se desfazer da farm��cia de qualquer

jeito, pode ser um bom neg��cio pra voc��".

Ao ouvir aquela conversa, Deusmar viajou por sua

mem��ria. Lembrou que na ��ltima viagem que fizera aos

Estados Unidos para um curso de reciclagem em Bolsa

154

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

de Valores, quando entrara numa farm��cia, viu que ali

se vendia de tudo. Disputando espa��o com os medica-

mentos, a loja oferecia tamb��m chocolates, perfumes,

aparelhos de medir press��o, sorvetes, material de toalete

e maquiagem, luvas, balan��as, enlatados, refrigerantes,

jornais... Era a tal da DRUGSTORE, uma esp��cie de bazar

ou de minimercado em que a pessoa que entra em busca

de um rem��dio pode ser atra��da para comprar muitos ou-

tros itens de suas necessidades imediatas.

Como costuma fazer logo que assimila uma ideia,

Deusmar imediatamente pensou grande e se viu �� frente

de uma imensa cadeia de lojas se espalhando por todo o

Cear�� e, quem sabe, pelo Brasil inteiro, ramificando-se

para todos os lados como uma planta����o de feij��o de cor-

da em terra boa e em tempo de bom inverno.

Voltando �� realidade, quis saber onde ficava a far-

m��cia que queriam vender e, levantando-se j�� cheio de

decis��o, proclamou para quem o quisesse seguir: "Pois

vamos l��, agora!".

O bairro Ellery, que se formou nos anos 60 do s��-

culo passado, fica na regi��o Noroeste de Fortaleza. Tem

uma ��rea de pouco mais de meio quil��metro quadrado,

englobando 85 quadras.

Surgiu a partir de uma propriedade da fam��lia El-

lery, oriunda da Inglaterra e de um imigrante, Henry

Ellery, nascido em Liverpool, que aportou em Fortaleza

no s��culo X I X . Os Ellery, em Fortaleza, dedicaram-se ao

com��rcio de exporta����o de v��rios produtos e �� ind��stria

155

J U A R E Z L E I T �� O

de carnes secas, instalando uma oficina (charqueada)

para processamento de gado bovino, cujo produto final,

o charque, era enviado para a Europa e para os Estados

Unidos. Os descendentes do pioneiro formaram uma es-

tirpe numerosa, onde muitos se destacaram em diversas

profiss��es, comerciantes, militares, engenheiros, m��di-

cos, banc��rios, advogados e professores. Um desses des-

cendentes, Francisco Humberto Ferreira Ellery, general

do ex��rcito, chegou �� Vice-Governadoria do Estado du-

rante o Regime Militar ( 1 9 6 4 - 1 9 8 5 ) .

Antigos moradores contam que no local onde

hoje ficam a Pra��a Manoel Dias de Macedo e a Igreja de

Nossa Senhora de Lourdes existia uma lagoa que desa-

pareceu para dar lugar ��s primeiras resid��ncias. O A��u-

de Jo��o Lopes, que ficava na ��rea, foi tamb��m, pouco a

pouco, sendo aterrado at�� sumir totalmente pelo avan��o

da urbaniza����o.

Henrique Ellery, neto do ingl��s, era o titular do

s��tio onde nasceria o bairro. Humberto, o filho militar,

idealizou construir na propriedade uma grande casa, no

modelo das vilas romanas, e, ao redor, cinco casas para

os seus filhos. As casas dos filhos n��o deveriam ter co-

zinha, para que todos viessem almo��ar com ele todos os

dias. O sonho n��o chegou a ser completamente concre-

tizado, mas ele mandou fazer uma placa e nela escrever

pomposamente: VILA ELLERY.

Os Ellery tinham suas casas, espa��osas e alpendra-

das, mais ou menos pr��ximas umas das outras, o que con-

156

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

corria para que as reuni��es familiares fossem frequentes

e festivas. At�� pouco tempo, morava numa dessas casas a

octogen��ria dona Aurora, vi��va de Hugo Ellery, da quar-

ta gera����o dos imigrantes ingleses.

Em meados dos anos 1960 o loteamento da regi��o

j�� era uma realidade com muitas ruas abertas, o espa��o

da pra��a e a instala����o de mercearias, escolas e feiras.

A prefeitura terminou oficializando o bairro com a

denomina����o tradicional de VILA ELLERY.

A farm��cia ficava na Rua Bar��o do Crato, 1.280, no

cora����o do bairro. Farmacinha acanhada, num espa��o n��o

superior a 50 m2. Por sorte o gerente estava l�� e forneceu as

informa����es necess��rias para o pretendente da aquisi����o.

Na casa do propriet��rio, depois dos regateios de

costume, a compra foi realizada. Agora, a medida seguin-

te era partir para um apronto ligeiro no im��vel, fazer o

registro na Junta Comercial e dar in��cio ao seu novo em-

preendimento.

Precisava pensar num nome para a farm��cia. Um

nome chamativo, com apelo popular. Alguma coisa, as-

sim, simples, mas que se impregnasse de imediato na

mente e no cora����o das pessoas. Tinha visto nos Esta-

dos Unidos uma cadeia de lojas de sapatos chamada PAY

LESS SHOES (PAGUE MENOS SAPATOS). Em Fortaleza,

j�� existia uma empresa varejista com a marca de fanta-

sia BOM PRE��O. Havia tamb��m uma FARM��CIA DOS

POBRES. Dormiu se indagando: por que n��o FARM��CIA

PAGUE MENOS?

1 5 7

J U A R E Z L E I T �� O

Pronto, acabava de encontrar a pedra filosofal,

aquela que, segundo a lenda medieval, transformava em

ouro tudo em que fosse tocada.

Pr��tico, Deusmar preferiu manter o gerente, que

estava no ramo h�� quinze anos. Prop��s-lhe, inclusive, so-

ciedade, com cota de 10%. Pretendia abrir muitas farm��-

cias e precisava de algu��m que conhecesse bem aquela

atividade de vender rem��dios.

Quando informou ao seu pai que estava entran-

do no neg��cio de farm��cia e que pretendia formar uma

grande rede, com centenas de lojas, o Sr. Ant��nio Lisboa

ficou preocupado. Ele conhecia a afoiteza do filho e jul-

gava que, ��s vezes, era preciso pedir que tirasse o p�� do

acelerador, voasse mais baixo, porque l�� de cima a queda,

quando acontece, �� definitiva e sem escapat��ria.

Deusmar contra-argumentou que somente com

uma grande cadeia de pontos de venda poderia ter acesso

privilegiado aos laborat��rios, bons descontos, melhores

prazos... Enfim, um tratamento compensador.

Empreender nos anos 1980 era, de fato, uma teme-

ridade. A economia do pa��s come��ava a enfrentar uma si-

tua����o cr��tica e, logo mais, entraria numa recess��o braba.

Logo no primeiro ano daquela que os analistas

chamam de "a d��cada perdida", os bancos internacio-

nais interromperam o fluxo de financiamentos, o que,

para o Brasil, trouxe consequ��ncias terr��veis. O pa��s, que

passara a d��cada anterior recebendo recursos reais do

exterior e encantado com o discurso oficial do propalado

158

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

"Milagre Brasileiro", sofria agora uma dr��stica redu����o

da capacidade de investimento, com crise no balan��o de

pagamentos. Em 1 9 8 1 , o PIB caiu 3%, a produ����o indus-

trial refluiu 10% e a infla����o chegou a 120%.

Assustado com o rumo das coisas e sem poder

saldar compromissos externos e internos, o pa��s, no ano

seguinte, 1982, �� obrigado a recorrer ao FMI, Fundo

Monet��rio Internacional, que, naturalmente, exigiu que

a economia brasileira seguisse as suas diretrizes, reali-

zando reformas estruturais e impondo limites de gastos,

com sacrif��cios imediatos nos programas sociais do go-

verno e encolhimento de verbas para a sa��de e a educa-

����o. Com a desvaloriza����o da moeda, o pa��s passa a ter os

pre��os dos produtos agr��colas aumentados, pois os insu-

mos eram importados, bem como, os custos de transpor-

te. A desvaloriza����o cambial e o choque agr��cola fazem a

infla����o saltar para 2 1 1 % nos finais de 1982.

Ca��am os sal��rios, a produ����o de bens de capital e

do setor industrial, enquanto subiam o desemprego e a

instabilidade. Em 1984 a infla����o avan��a para os 235%.

O resto da d��cada foi uma sucess��o de promessas

do governo e lastim��veis decep����es, com a aplica����o de

tr��s planos econ��micos que se mostraram ineficazes.

No fim dos malfadados anos 80, batemos nas por-

tas da hiperinfla����o, com a marca de 1.764% em 1989,

chegando aos inacredit��veis 6.584% em abril de 1990.

Parecia a Alemanha no auge da Segunda Guerra Mundial.

159

J U A R E Z L E I T �� O

No meio desse tiroteio, onde todo mundo se deses-

perava e tentava se recolher, Deusmar galopava fagueiro

na escalada de seu novo neg��cio, adotando, j�� naquele

tempo, um jarg��o que o acompanharia para sempre:

"As crises v��m e v��o embora. E n��s s�� as vence-remos trabalhando e investindo."

Seguiu este princ��pio desde o come��o. E, no cam-

po do varejo, com a Pague Menos, fez-se cavaleiro deste-

meroso, cumprindo �� risca o que adotara como filosofia

empresarial.

N��o demorou muito e j�� montava a segunda loja,

na Avenida Bezerra de Menezes. A terceira, na Avenida

da Aboli����o. A quarta, na Rua Guilherme Rocha, no cen-

tro. A quinta, tamb��m do centro da cidade, na Rua Sena-

dor Pompeu.

Assim, antes que o ano de 1981 terminasse, o agora

chamado Grupo Pague Menos contava com cinco lojas.

Era s�� o come��o.

Como a loja da Rua Senador Pompeu, a quinta do

primeiro lote, era muito comprida, com mais de cinquen-

ta metros de profundidade, teve uma parte do im��vel

aproveitada para a instala����o do primeiro CD (Centro de

Distribui����o).

Fortaleza ainda mal havia percebido que um fator

novo se incorporava �� sua economia. Enfrentando as nu-

vens negras que pesavam sobre a realidade brasileira, um

jovem ousado buscava o seu espa��o no com��rcio vare-

160

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

jista. Cheio de entusiasmo, otimismo e vigor, as armas

prediletas dos bons pelejadores.

Talvez s�� ele soubesse, por conta dos sonhos que

cavalgava, que um novo imp��rio estava come��ando.

161



12

A GERMINA����O DO

SONHO

"Todos os dias a vida nos avisa que o

horizonte est�� ali, na frente, cobrando

os nossos passos. O horizonte parece

inating��vel, mas ele existe para que nos

lembremos de que �� preciso tomar a

estrada e caminhar para a frente a cada

amanhecer."

D e u s m a r Queir��s

Deusmar Queir��s, que se sabia possuidor da obs-

tinada vontade de vencer, tamb��m conhecia as

qualidades de seus cunhados, os irm��os de Au-

ric��lia. Eram portadores de intelig��ncia, dedicados em

seus of��cios e tinham todos, essa vontade de conquistar,

163

J U A R E Z L E I T �� O

com trabalho e empenho pessoal, um espa��o respeit��vel

na sociedade. Eram 12 irm��os, oito homens e quatro mu-

lheres, uma verdadeira rep��blica de cunhados, os quais,

se no in��cio do relacionamento com a irm�� deles haviam

apontado algumas restri����es, agora j�� o tinham absolvido

e, conhecendo a sua personalidade e o boa-pra��a que ele

era, o admiravam de verdade.

De todos, o mais aproximado de Deusmar, desde o

come��o, era o Ubiranilson, o d��cimo filho do Sr. Benone

Alves e de dona Ana Jurandi. No tempo do namoro entre

Deusmar e Auric��lia, como tinha apenas dez anos, n��o

se manifestara contra, como os mais velhos haviam feito

por prote����o exagerada e ci��mes da irm��. Ao contr��rio

dos outros, tinha era uma grande admira����o pelo futuro

cunhado, um sujeito sempre de bom humor a quem to-

dos no bairro queriam bem.

Adulto, fez-se m��dico veterin��rio e foi trabalhar

na EMATERCE, Empresa de Assist��ncia T��cnica de Ex-

tens��o Rural do Cear��.

Atuava em Corea��, a antiga Palma, munic��pio da

Zona Norte, e costumava vir a Fortaleza nos fins de se-

mana, quando sempre se encontrava com o cunhado.

Nessas ocasi��es, trocavam informa����es sobre trabalho e

Deusmar sempre perguntava como estava l�� no interior,

se estava satisfeito... Numa esp��cie de ass��dio sutil, pois

o queria trabalhando com ele nas farm��cias.

Casado, quando a mulher engravidou, Ubiranilson

come��ou a refletir sobre o futuro da fam��lia. Talvez aquela

164

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

pequena cidade do interior n��o fosse o lugar ideal para edu-

car seus filhos. Come��ava a sonhar com o retorno �� Capital.

Deusmar deve ter percebido a preocupa����o do

cunhado e decidiu tornar-se mais expl��cito nas d��mar-

ches para t��-lo ao seu lado no empreendimento varejista.

Ubiranilson relata:

"Uma noite, uma quinta-feira, por volta das oito

horas, recebi um telefonema de Deusmar. O telefone era

monocanal. Um telefonema ��quela hora, da capital para

o interior, poderia ser uma not��cia ruim. Mas ele j�� foi me

tranquilizando: "Est�� tudo bem, n��o houve nada. Quero

apenas te convidar para a gente jantar, aqui no Regatas.

Quero conversar contigo."

Eu vim".

O Clube de Regatas da Barra do Cear�� promovia

umas festas a partir das sextas-feiras, animadas por Ca-

nhoto e seu Conjunto. Nos anos 7 0 / 8 0 frequentar essas

reuni��es dan��antes na enseada da Barra era um progra-

ma apraz��vel e relaxante. Muita gente atravessava a cida-

de para conversar e se divertir naquele conhecido clube,

assentado no espa��o f��sico do marco inicial da coloni-

za����o do Cear��, o local hist��rico do Forte de S��o Tiago,

fundado por Pero Coelho de Souza, em 1604.

Foi uma boa festa, modestamente movida a bife

acebolado e ao barat��ssimo u��sque Drury's.

Entretanto, o prato principal era a proposta, o

convite de Deusmar para que Ubiranilson largasse tudo

e viesse se juntar a ele na Pague Menos.

165

J U A R E Z L E I T �� O

Deixar um emprego p��blico, seguro, onde estava

exercendo a profiss��o em que se graduara, para embar-

car no que parecia uma aventura de risco n��o era uma

decis��o f��cil. Estava h�� dois anos e meio no munic��pio de

Corea�� cuidando da febre aftosa, da raiva e da brucelose

do rebanho local, enfim, desenvolvendo um trabalho de

preven����o, profilaxia e orienta����o para os criadores da

regi��o. Mais do que uma tarefa profissional, aquilo era

uma esp��cie de miss��o no meio rural, na Zona Norte do

Estado, na mesma regi��o de onde provinha a sua fam��lia.

Mas Ubiranilson nutria pelo Deusmar uma admi-

ra����o singular e alguma coisa lhe dizia que aquele sujeito

era capaz de se dar bem em qualquer neg��cio em que

se metesse. E acreditava que, com o seu otimismo con-

tagiante e a energia que punha em tudo o que fazia, n��o

tinha como n��o ser bem-sucedido. Por isso, apostou no

projeto e subiu na espa��onave da ousadia para o primeiro

grande desafio de sua vida. Era agosto de 1982.

Ubiranilson �� um homem de comedidas atitudes,

de poucas palavras e a����o centrada nos objetivos, que

tem o h��bito de avaliar e ponderar as iniciativas. Ao lado

de Deusmar, que tem voca����o vision��ria e costuma ca-

valgar afoitezas, funciona como um "sossega-le��o" para

as temeridades.

Nunca tomou como miss��o interceptar os sonhos

ousados do cunhado, pois sabe que isso seria imposs��-

vel e de uma inconveni��ncia constrangedora. Mas tem

consci��ncia da validade de sua parceria, sobretudo, no

166

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

tocante �� pr��-an��lise das a����es e nas conversas de p��

de ouvido que o outro precisa ter com ele quando se v��

possu��do de um novo sonho, dos impulsos de um novo

salto abissal.

No come��o, cabia-lhe, entre outras fun����es, acom-

panhar o movimento do CD, controlando a entrada e a

sa��da das mercadorias, as necessidades de abastecimen-

to, problemas e urg��ncias da distribui����o.

Nessa tarefa, mostrou-se extremamente r��gido e

cuidadoso, como conv��m a quem assume a responsabi-

lidade de dar conta do estoque com relat��rios di��rios de

todo o movimento ali desenvolvido. Por isso, era inflex��-

vel nas emiss��es da nota fiscal de tudo o que sa��sse da-

quele departamento.

O que �� o Centro de Distribui����o?

Quem milita no com��rcio atacadista precisa estar

atento �� reposi����o do estoque. O ramo de medicamentos,

ent��o, requer cuidados redobrados.

As farm��cias precisam estar com suas prateleiras

cheias e nelas os rem��dios n��o podem faltar nem demo-

rar. Um item muito importante �� a validade: n��o se pode

descuidar dela sob pena de gerar um problema s��rio para

a empresa e at�� um processo.

O Centro de Distribui����o (CD) �� o cora����o pul-

sando das grandes empresas de varejo. N��o �� apenas um

dep��sito de mercadorias, como se poderia pensar. Mas

um lugar de responsabilidades variadas e complexas,

onde, diariamente, se medem os percentuais de venda da

1 6 7

J U A R E Z L E I T �� O

empresa, sua rela����o com os fornecedores e os produtos

que t��m melhor aceita����o no mercado e maior velocida-

de de consumo.

O Vice-Presidente Ubiranilson, que, como vimos,

esteve no comando do primeiro CD da Pague Menos, ��

um especialista nesse setor da empresa e fala-nos com

absoluto conhecimento de causa:

"As principais atividades do CD s��o o recebimento

de mercadorias, a confer��ncia, a guarda e armazenagem,

a separa����o dos pedidos e a expedi����o/transporte do que

�� destinado ��s lojas."

O recebimento ��, pois, o in��cio e a base de todo

o processo das atividades do CD. Ali acontecem a des-

carga dos produtos, a confer��ncia de quantidades e a

verifica����o minuciosa da integridade do que est�� sendo

entregue. Isso posto, todas as informa����es s��o lan��adas

no sistema de gerenciamento da armazenagem e de toda

a rede central de estoque. Essa atualiza����o imediata de

informa����es possibilita a exata localiza����o de cada lote,

com datas de chegada e sa��da.

O primeiro CD da Pague Menos foi instalado na

Rua Senador Pompeu, 1.593. Quando se tornou pequeno,

pois s�� conseguia abastecer dez lojas, Deusmar o trans-

feriu para o atual pr��dio sede, na mesma Rua Senador

Pompeu, onde ocupou o primeiro e o segundo andar.

O n��mero de lojas foi crescendo e tamb��m a ne-

cessidade de amplia����o do Centro de Distribui����o.

Ubiranilson prossegue relatando:

168

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

"Apareceu uma oportunidade na Avenida Francis-

co S��: um terreno de 8.000 metros, com 5.400 m2 de ��rea

coberta. Mas logo ficou pequeno tamb��m e come��amos

a procurar outro espa��o. Mudamos para a Avenida Les-

te-Oeste, ocupando a ��rea onde antes estivera a f��brica

de cofres de ngelo Figueiredo: 110.000 m 2 , 1 1 hectares.

Em 2 0 0 9 , soubemos que o CD da Drogaria Santa-

na, a maior da Bahia, fora completamente destru��do por

um inc��ndio. A empresa faliu. Alertado por esse fato,

conversei com Deusmar: 'Olha, n��s estamos com um

��nico CD e, se isso pegar fogo, quebramos. Temos que

dividir.' E dividimos. Hoje, temos um em Fortaleza, ou-

tro em Goi��s (munic��pio de Hidrol��ndia), um terceiro

em Pernambuco e um quarto na Bahia. Logo mais, tere-

mos outros em Minas Gerais, no Par��, em S��o Paulo (no

interior), Rio de Janeiro, Paran�� e etc. Com todos esses

CDs montados poderemos atender duas mil lojas".

Mas voltemos aos prim��rdios.

Certa vez, durante a crise de falta do Leite Ninho

em Fortaleza, Ubiranilson flagrou um funcion��rio levan-

do duas caixas do produto para a camioneta do Deusmar,

que tinha filhos com necessidade daquele alimento l��cteo:

"- ��pa, rapaz, isso a�� pra onde vai?!"

O empregado respondeu que era para o doutor

Deusmar.

"- E a Nota Fiscal, onde est��?"

E, como n��o havia nota, Ubiranilson mandou vol-

tar as caixas. O funcion��rio correu para informar ao seu

169

J U A R E Z L E I T �� O

patr��o que o homem l�� do CD havia lhe tomado a merca-

doria dizendo que dali nada sa��a sem nota fiscal.

Deusmar veio falar com Ubiranilson e dele rece-

beu a explica����o de estar cumprindo uma regra da em-

presa e combinada entre eles.

Entendeu e valorizou a atitude. A honestidade

�� um dos pilares mestres das Farm��cias Pague Menos.

E, naquele caso, o privil��gio da omiss��o seria um mau

exemplo.

Por esse mesmo senso de dever, Ubiranilson de-

sentendeu-se com o s��cio minorit��rio, o antigo gerente

da primeira farm��cia:

"Percebi que o sujeito queria me tirar do ambiente,

como se a minha presen��a ali o incomodasse ou atrapalhas-

se os seus planos."

Preocupado, Ubiranilson procurou o Deusmar

para pedir as contas. Alegou que s�� poderia permanecer

na empresa se fosse para fazer a coisa direita, "p��o, p��o,

queijo, queijo".

Na disputa pelo poder entre o s��cio e o cunhado,

Deusmar optou pelo cunhado. Recomprou as a����es da-

quele e, assim que o desligamento foi efetivado, Ubiranil-

son passou a integrar a empresa com a mesma participa-

����o de 10% do s��cio anterior.

A partir desse momento, fortificou-se o pacto de

trabalho e confian��a entre eles, onde haveria de predo-

minar o desenvolvimento do projeto sonhado por Deus-

mar de implanta����o de uma grande rede varejista de

170

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

medicamentos, com adi����o de v��rias outras iniciativas,

paulatinamente incorporadas.

A hist��ria dos empreendedores de sucesso con-

t��m um elemento comum. Todos eles tiveram em sua

ascens��o um parceiro de apoio, algu��m de toda a con-

fian��a com quem repartem os planos, compartilham pro-

jetos e discutem as d��vidas. Por n��o terem a faculdade da

onipresen��a, precisam se fazer representar em diversas

circunst��ncias por um ou mais de seus executivos, por-

tadores fi��is e capacitados, que estejam conscientemente

embebidos dos objetivos, perspectivas e abalizado co-

nhecimento de toda a engrenagem da empresa.

Na Pague Menos, esse homem se chama Ubiranil-

son Alves, presente desde o segundo ano e, ainda hoje,

em plena atua����o de seu papel, como Vice-Presidente.

De 1981 a 1982, a Pague Menos montara cinco lo-

jas. Em 1989, j�� eram quarenta.

Todos sabiam que a escalada, movida �� for��a mo-

triz de seu fundador, iria muito longe. Cada um dos que ali

chegavam percebia, em pouco tempo, que o infinito seria

a meta visada do cavaleiro andante que a comandava.

Ubiranilson explica como, naquela crise aguda da

economia nacional, com a infla����o na estratosfera, pude-

ram sobreviver:

"N��s ��amos tocando as lojas. O Deusmar estimu-

lando e a gente crescendo com certa velocidade. Durante

a infla����o, o medicamento aumentava uma vez por m��s.

O que faz��amos? Compr��vamos na pr��-alta. Nossa mar-

171

J U A R E Z L E I T �� O

gem de lucro era de 3 0 % e compr��vamos com 10% de

desconto. Nesse mesmo espa��o de tempo a infla����o era

de 20%. Ent��o, se t��nhamos uma margem de trinta, 10%

de desconto e 20% de infla����o, era chutar a bola e correr

pro abra��o."

O come��o foi mesmo de rude aprendizado. N��o

havia departamentos definidos e "todo mundo ajudava

todo mundo", como informa Ros��ngela Alves, carinho-

samente chamada de Rosinha, que est�� na Pague Menos

desde 1983, contratada para o Financeiro. "A gente tra-

balhava at�� oito, nove horas da noite, sem reclamar. Sa-

b��amos que era ali, naquela empresa, que ganh��vamos o

nosso p��o e que, se ela crescesse, crescer��amos com ela".

- completa.

O corpo de funcion��rios era pequeno, mas o

exemplo do chefe animava todos a vestir a camisa.

Quando da mudan��a do Centro de Distribui����o da

Rua Senador Pompeu para a Avenida Francisco S��, Deus-

mar juntou-se aos demais botando caixas de medicamen-

tos nos ombros e ajudando a carregar os caminh��es que

faziam o transporte do estoque. Diante desse exemplo

os funcion��rios se tomaram de energia nova e, cheios de

garra, em pouco tempo esgotaram o antigo dep��sito.

Dona Auric��lia participava, ao lado do marido, da

faina esgotante do dia a dia. Todas as noites, ficava at��

tarde nas lojas conferindo recibos e notas fiscais, reven-

do a arruma����o das prateleiras, ajudando no fechamento

dos caixas.

172

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Faz parte da estrat��gia empresarial de Deusmar

Queir��s envolver a fam��lia em seus neg��cios. Sempre

pensou que dessa forma estar�� preparando a sucess��o

e garantindo a continuidade da empresa que fundou.

Lembra que na hist��ria da economia do Cear�� muitos

sucessores n��o foram capazes de assegurar os neg��cios

da fam��lia, levando o empreendimento que herdaram ao

fracasso. Viu nos pa��ses que visitou empresas com du-

zentos anos, vigorantes e continuamente evoluindo atra-

v��s de gera����es. Aqui, poucas fortunas chegaram �� ter-

ceira gera����o, dilapidadas pelos herdeiros malformados,

criados como "filhos de papai" na irresponsabilidade

perdul��ria, julgando que aquilo que lhes caiu nas m��os

nunca iria se acabar.

�� dos que reconhecem e propagam para seus des-

cendentes que "dinheiro merece respeito e n��o aceita

desaforo".

Ubiranilson tamb��m navega nessas ��guas da cons-

ci��ncia do futuro e costuma igualmente olhar longe,

apostando firme na perpetua����o dos sonhos.

Mas o grande fator de sucesso na Pague Menos ��

o otimismo.

Richard Bach, escritor norte-americano, projetou

numa de suas palestras uma frase que parece coisa copia-

da da caminhada empresarial de Deusmar Queir��s:

"Os que costumam ganhar s��o aqueles que pen-

sam que podem."

1 7 3

J U A R E Z L E I T �� O

O Homem da Pague Menos sempre se acreditou

um vencedor. Seu esp��rito se moldara no exerc��cio dos

desafios.

Poderia n��o ter dado certo. Nascido no mato, num

lugarejo do interior do Nordeste, tinha tudo para pen-

sar pequeno. Seria um agricultor ou um bodegueiro de

Amontada, aquele distrito humilde de Itapipoca, ativida-

des que, certamente, n��o o maculariam como cidad��o,

porque s��o trabalhos dignos e honrados. Mas ele queria

mais. E muito mais.

O pai, que em seu tempo sofrera limites de opor-

tunidade, come��ou a desenvolver sonhos maiores atra-

v��s do filho. Logo cedo, o menino ouvira dele aquela

senten��a alvissareira e perempt��ria de que deveria ser

doutor, um sonho colossal para os filhos dos sertanejos

do Cear��, quando n��o se tratasse dos patriarcas latifun-

di��rios, dos velhos e ricos coron��is do s��culo X I X que

mandavam seus rebentos para se formar nas grandes

metr��poles com o intuito de os verem na pol��tica, nos

postos elevados da magistratura, do clero ou do ex��rcito.

A lucidez de Ant��nio Lisboa, aliada �� esperan��a

de prosperidade que almejava para o filho, teve um s��cio

e a segura garantia de sucesso. Contou com a dedica����o

decidida de Deusmar, que fez tudo para cumprir sua par-

te, porque sabia que nele sua fam��lia estava apostando

todas as fichas.

Com pouco mais de dez anos, a Pague Menos se-

meara suas lojas por v��rias cidades do Cear��.

174

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

A partir de 1988, adotou o conceito de Drugsto-

re e foi incorporando uma s��rie de iniciativas e medidas inovadoras, al��m de compromissos altaneiros de cidadania, como haviam de demonstrar os programas de pro-

mo����o social.

A interioriza����o come��ou por Juazeiro do Norte

e Sobral, grandes cidades cearenses. Outros munic��pios

foram recebendo as Farm��cias Pague Menos, com priori-

dade para aqueles com mais de 100.000 habitantes.

E agora a empresa j�� estava pronta para romper as

fronteiras do Cear�� e ganhar o Brasil no processo ventu-

roso de germina����o.

175





13

A PAGUE MENOS TOMA

CONTA DO PA��S

"O que sou neste momento n��o passa de

uma prepara����o do que serei. Esperem-me

na pr��xima curva do destino.

Simon V i n k e n o o g , p o e t a h o l a n d �� s

( 1 9 2 8 - 2 0 0 9 )

o dia em que voc�� abrir uma farm��cia aqui em

S��o Paulo, eu abro uma l�� em Fortaleza. Vou

disputar com voc�� dentro do seu mercado."

A frase, dita durante uma reuni��o da Abrafarma

por um forte empres��rio, dono da ent��o maior rede de

farm��cias em opera����o no Brasil, traduz bem o mapa de

177

J U A R E Z L E I T �� O

posicionamento das redes brasileiras nos anos 1990. As

opera����es eram praticamente locais e cada grande rede

era a dona do seu quinh��o de mercado. Redes paulistas

operavam na capital e no interior do estado; redes ca-

riocas, somente no Rio de Janeiro, e assim por diante.

A Rede Ara��jo, dominadora absoluta da cidade de Belo

Horizonte, operava somente at�� a Avenida do Contorno,

que circundava a capital mineira.

"Era como se houvesse um acordo t��cito: voc��

n��o entra no meu mercado, que eu tamb��m n��o entro no

seu", conta Sergio Mena Barreto, hoje Presidente-Execu-

tivo da Abrafarma e respons��vel pelo processo de expan-

s��o inicial da Pague Menos.

Sergio ingressou na Pague Menos aos 23 anos de

idade, "um pirralho com a arrog��ncia t��pica dessa idade,

que acha poder mudar o mundo, mas com uma alma an-

tiga cujos conselhos sempre eram levados em conta pelo

Deusmar" - como ele mesmo explica.

Deusmar conheceu Sergio durante um semin��rio

que sua consultoria ministrara na Pague Menos e se em-

polgara com o jovem especialista em marketing e RH. O

convite para gerir as duas ��reas da empresa foi feito ��

queima-roupa e aceito na hora. "Ele n��o me deu muito

tempo para pensar na proposta. E eu nem ousaria. Na

mesma hora que nos encontramos, vi que ele era um

empreendedor admir��vel, com grandes sonhos, e um ser

humano impressionante. Tive a sensa����o de que nos co-

nhec��amos de muito tempo" - conta.

178

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

A jun����o das duas ��reas, de marketing e RH, deu

origem depois �� Diretoria de Opera����es, que Sergio pas-

sou a ocupar, tendo como uma das miss��es a expans��o

da empresa.

"Deusmar havia decidido que Fortaleza j�� se tor-

nara pequena demais para a sua Pague Menos. Por outro

lado, as cidades do interior do estado ainda n��o dispu-

nham de capacidade econ��mica para receber suas farm��-

cias. O jeito, ent��o, era partir para as outras capitais do

Nordeste, e Natal foi escolhida para ser a primeira pra��a

a ser desbravada" - conta.

A escolha levou em considera����o alguns princ��pios:

primeiro, por estar a pouco mais de quinhentos quil��me-

tros da capital cearense; segundo, porque tinha um merca-

do maior do que a outra capital vizinha, Teresina; tercei-

ro, porque as redes locais tamb��m j�� tinham certo n��vel de

diversifica����o de produtos, apesar de uma lei local impor

uma parede de vidro para a ��rea de conveni��ncia das lojas.

Era, portanto, o mercado perfeito para o pr��ximo passo.

O m��todo de escolha dos primeiros pontos foi o

mesmo utilizado em Fortaleza. Tinha que ter uma farm��-

cia no centro da cidade, como se fosse uma bandeira que

marcasse o territ��rio, bem como, presen��a em bairros

de melhor poder aquisitivo, em avenidas de alto tr��fego,

sempre no sentido centro-bairro.

"- Os clientes n��o compram rem��dio quando v��o

pro trabalho, e sim quando voltam pra casa" - Deusmar

ensinava.

179

J U A R E Z L E I T �� O

Com os primeiros pontos escolhidos, era hora de

selecionar a equipe para operar o novo mercado. Um dos

melhores supervisores de Fortaleza, o Od��sio Carlos, j��

havia sido escolhido, e passaria a morar no andar supe-

rior de uma das lojas.

"Por alguns dias - conta o executivo - eu e o RH,

com a Magna Castro �� frente, nos mudamos para um pe-

queno hotel da cidade para fazer a sele����o da primeira

equipe. Longas filas se formaram na frente do hotel com

o an��ncio colocado nos dois maiores jornais da cidade.

Os testes e entrevistas duravam o dia inteiro. Eu e a equi-

pe ��amos dormir cedo, exaustos pela maratona de entre-

vistas com gente ��vida, disputando uma vaga, muitas ve-

zes seu primeiro emprego".

Sergio prossegue:

"- Aqui vai ser f��cil competir, visse? - um candidato me confessou durante a entrevista. - e explicou que

a maioria das farm��cias n��o queria receber cart��o de cr��-

dito, onde j�� se viu? Faltavam muitos produtos, n��o tinha

entrega em domic��lio, e �� noite era dif��cil arrumar uma

farm��cia aberta...

A dica estava dada. A opera����o moderna que a

Pague Menos empregava poderia ser um grande suces-

so no mercado local. As lojas seriam grandes, com pro-

dutos de conveni��ncia, mas sem o vidro imposto pela

legisla����o local. "Os advogados cuidariam dessa quest��o

assim que as primeiras mercadorias fossem apreendi-

das" - conta o executivo.

180

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

O processo seletivo chegara ao fim. "Montamos

um quadro enxuto, com profissionais que tinham a cara

da empresa: ��vidos por aprender, com um tanto de ou-

sadia e, por fim, o elemento diferenciador: o brilho no

olhar. Era isso que, ao final, desempatava o jogo a favor

de um candidato".

O at�� ent��o jovem executivo extremamente in-

tuitivo e - descobriu depois - com uma "sensibilidade

espiritual de outro mundo", faz uma confiss��o: "Tenho

muita satisfa����o de ter errado muito pouco na escolha

das pessoas que passaram a compor nosso quadro de co-

laboradores. Era at�� bem f��cil: se passasse no meu crivo

intuitivo, seguia adiante. A energia tinha que ser boa, e a

vontade de crescer, mais ainda. N��o �� �� toa que centenas

deles est��o na Companhia at�� hoje".

A mesma f��rmula foi repetida em cada processo

seletivo, cidade ap��s cidade, a cada nova Pague Menos

aberta: uma farm��cia que oferecia muito mais que a con-

corr��ncia local, com servi��os at�� ent��o in��ditos, aten-

dimento 24 horas e uma equipe muito especial, com o

brilho no olhar, encantada em fazer parte de uma fam��-

lia, a "Fam��lia Pague Menos", que crescia a cada bairro

conquistado.

Depois do Rio Grande do Norte, cada um dos es-

tados nordestinos foi sendo desbravado, segundo a rota

do pav��o que o Deusmar n��o cansava de desenhar a cada

ocasi��o em que falava �� sua equipe.

181

J U A R E Z L E I T �� O

"O pav��o era um desenho com hastes e, na ponta

de cada uma delas, um pequeno c��rculo com a abrevia-

tura do estado correspondente. O Deusmar era mestre

em tornar gr��fica a sua vis��o, e que podia muito bem ser

o sonho de todos que se engajavam no projeto de fazer

da Pague Menos a primeira Rede a quebrar fronteiras e

tomar conta do pa��s" - conta Sergio.

Mas, como diria o grande Garrincha, s�� faltava com-

binar com os russos. A cada novo passo dado fora do Ce-

ar�� pela Pague Menos, aumentava o rol dos incomodados

com tamanha ousadia. Eram os donos de farm��cias locais,

eram seus pares da associa����o nacional, a Abrafarma, sem-

pre havia algu��m para reclamar dos pre��os, da dist��ncia

das lojas, presentes nas mesmas grandes avenidas da con-

corr��ncia, ou da venda de produtos de conveni��ncia. Para

as muitas den��ncias, a maioria dos pr��prios concorrentes,

novas medidas judiciais eram tomadas para proteger o in-

teresse da empresa e de seus clientes - o direito de ofere-

cer uma gama mais ampla de produtos e vend��-los mais

barato, �� claro. Esse tipo de rea����o era o velho modo de

fazer as coisas batalhando contra o novo. O medo diante

de uma empresa que n��o tinha f��rmulas prontas, a n��o ser

querer ser pioneira e inovadora para onde quer que fosse.

Da primeira onda do pav��o, talvez o estado mais

emblem��tico nessa batalha do velho contra o novo tenha

sido Pernambuco, como Sergio nos conta:

"O estado era o mais bem estruturado da regi��o

em termos de concorr��ncia. Havia Redes locais fortes e

182

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

emblem��ticas, com seu p��blico cativo, e um modus ope-

randi muito pr��prio. A maior rede, por exemplo, s�� acei-

tava pagamento em dinheiro, mas suas lojas eram gran-

des e bem estruturadas. O recall de marca tamb��m era,

at�� ent��o, imbat��vel".

Esse seria, portanto, um desafio muito maior e di-

ferente dos demais. A estrat��gia para entrar em Pernam-

buco deveria ser bem estudada. De certo modo, a amea��a

feita pelo empres��rio paulista tamb��m pairava no ar. "E

se os empres��rios pernambucanos se rebelassem e resol-

vessem baixar em bando em Fortaleza, para concorrer

na base de sustenta����o econ��mica da empresa?". Esse era

um perigo real e deveria ser levado em considera����o.

Mas a sorte estava ao lado do jovem executivo

e do pav��o do Deusmar com sua haste "PE" numa das

pontas. Um ex-profissional da maior Rede local estava

h�� meses dispon��vel no mercado e, na sincronicidade es-

piritual que Sergio carregava com ele, seus caminhos se

cruzaram. O profissional foi contratado e passou a des-

bravar, com esp��rito pernambucano, a ��rea que conhecia

como ningu��m. Os "russos" esbravejaram, �� claro. "Isso se transformou numa briga pessoal de muitos anos. N��o

por parte do Deusmar, �� claro, um gentleman em todos

os sentidos, mas por parte daqueles que se sentiam ata-

cados. Algu��m estava mexendo nos feudos, e os senho-

rios n��o se sentiram nada bem com isso". Os reflexos da

perna do pav��o "PE" reverberaram por longo tempo, e

sobrou at�� mesmo para o executivo, que recebia ataques

183

J U A R E Z L E I T �� O

pessoais enquanto apenas tocava o barco na rota que ti-

nha sido tra��ada.

Se o reflexo da entrada da Pague Menos numa cida-

de grande causava uma tempestade, numa cidade menor,

isso podia parecer um tsunami. Em alguns lugares, quan-

do tinham not��cia de que a empresa pretendia instalar

uma filial na cidade, os comerciantes locais tratavam de

"mover os pauzinhos" com os vereadores e aprovavam as

famosas leis de zoneamento, tornando a vida da ousada

forasteira muito mais dif��cil. Algumas dessas p��rolas le-

gislativas impunham restri����es do tipo "�� proibido abrir

uma nova farm��cia a menos de 6 0 0 metros de outra exis-

tente", e chegavam ao c��mulo de determinar que "a ven-

da de uma farm��cia j�� instalada dever�� ser feita prefe-

rencialmente a outra existente no munic��pio". Outras leis

proibiam opera����o 24 horas, t��pica da Pague Menos, ou

impunham restri����o de metragem m��xima para os novos

estabelecimentos.

Mas, no fundo, a chegada da Pague Menos numa

nova cidade fazia muito bem a todos. As pequenas far-

m��cias davam um banho de loja no estabelecimento, se

preocupavam em melhorar a apar��ncia e refor��avam o

volume de estoques. "Algumas at�� copiavam o padr��o

visual da empresa, e era divertido ver que o desafio do

novo servia para espantar um pouco da poeira de tantos

anos dessas empresas servindo mal aos clientes".

Sergio prossegue:

"Lembro-me muito bem do dia em que nos prepa-

184

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

r��vamos para abrir a primeira loja em Juazeiro do Norte,

na principal rua da cidade, a Padre C��cero. Eu sempre

tive por h��bito visitar as farm��cias pr��ximas para me

apresentar, deixar um cart��o e informar ao propriet��rio

que ir��amos abrir uma nova loja ali na vizinhan��a. Sem-

pre acreditei no jogo limpo, na transpar��ncia, em ser res-

peitoso com os que l�� j�� estavam".

O propriet��rio de uma dessas farm��cias recebera

mal a not��cia. Reclamou que os neg��cios estavam p��s-

simos, e que a decis��o s�� iria piorar as coisas. Ao final,

num tom quase amea��ador, recomendou ao executivo

que escolhesse outro ponto longe dali, pois os maus re-

sultados das pequenas farm��cias locais iriam ser debita-

dos na sua conta. Sergio engoliu em seco e embarcou de

volta para a sede da empresa, em Fortaleza. �� obvio que

a nova farm��cia foi aberta, e foi um sucesso. Tempos de-

pois, numa visita �� nova filial, Sergio voltou a conversar

com o concorrente para perguntar como iam as coisas.

"Ah, melhorou muito! Agora tem mais gente circulando,

e, quando voc��s n��o t��m algum produto, a gente ven-

de. Est�� t��o bom, que at�� defendi voc��s na reuni��o l��

do sindicato". O executivo n��o p��de deixar de abrir um

sorriso quando o homem at�� lhe deu um tapinha amig��-

vel nas costas.

A expans��o continuou no ritmo ditado pelo Deus-

mar, pisando fundo no acelerador, estado ap��s estado,

sempre com um estoque de novas lojas por abrir. E assim,

seguiam os novos processos seletivos, e mais gente com

1 8 5

J U A R E Z L E I T �� O

brilho no olhar engrossando as fileiras da Pague Menos.

Mas n��o bastava abrir novas lojas. Era necess��rio "regar

as antigas", como conta Sergio. Ele implantou, ent��o, um

processo de gest��o com o p�� na estrada. Ou melhor, no

ar. Montado no primeiro avi��o da empresa, um King Air

C-90, e depois num jato Citation II, durante duas sema-

nas por m��s, de forma intercalada, Sergio decolava de

Fortaleza na segunda-feira cedo e sa��a "visitando o pa-

v��o", haste por haste, at�� a sexta-feira. Com ele seguiam

gerentes de opera����o, gente de manuten����o, sistemas e

o que fosse necess��rio. "Um dia t��pico era assim: pous��-

vamos na cidade, e, do aeroporto, eu seguia direto para

uma reuni��o com os gerentes locais. Cobrava deles os

resultados combinados e eles me contavam os problemas

e pediam solu����es. Tudo olho no olho, preto no branco.

Depois da reuni��o, ��amos almo��ar, para honrar a m��xima

de que 's�� conhecemos bem uma pessoa ap��s comer ao

menos 1 quilo de sal com ela'. Depois do almo��o, deco-

l��vamos para outra cidade, onde faz��amos nova reuni��o,

seguida de jantar com um pouco mais de 'sal'. Depois

pernoit��vamos, e no dia seguinte realiz��vamos a mesma

rotina em outras cidades".

E assim acontecia m��s ap��s m��s. Na rodada se-

guinte, ele tinha que trazer solu����es combinadas e os ge-

rentes, entregar as vendas prometidas.

Numa dessas viagens, Sergio e a equipe sofreram

um incidente inesquec��vel. "Era in��cio da noite. T��nha-

mos decolado de Teresina no King Air, e, quando est��va-

186

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

mos sobrevoando a regi��o da Serra da Ibiapaba, no Cear��,

o avi��o enfrentou uma turbul��ncia impressionante: havia

entrado numa cumulonimbus uma nuvem na qual nunca

se deve entrar" - conta. Dentro do temporal, a pequena

aeronave se transformou numa folha de papel por longos

minutos, quase entrando em parafuso. Os passageiros

vomitaram muito, tudo ficou revirado a bordo.

Descobriu-se, tempos depois, durante uma revi-

s��o, que o radar do avi��o estava em pane. "Nos minu-

tos em que est��vamos em queda livre, um filme passou

pela minha cabe��a. Eu era um jovem destemido, mas a

possibilidade de morrer me colocou frente a frente com

minha fr��gil humanidade. Mas, no fundo, eu sabia que

n��o ia ser daquela vez, pois ouvi uma voz clara no meu

ouvido esquerdo dizendo: calma, filho, que eu estou com

voc��s". Ele continua: "Por muito tempo pensei que tives-

se sonhado com aquilo. S�� depois entendi que era meu

anjo da guarda, que me acompanha at�� hoje" - conta,

comovido.

No dia seguinte ao epis��dio, os passageiros do voo

n��o conseguiram ir trabalhar, exceto um. Sergio ficou de

cama com fortes dores por todo o corpo, talvez pela des-

carga de adrenalina, ou das pancadas contra as paredes

da aeronave, apesar do cinto de seguran��a. Uma presta-

dora de servi��os foi internada, e o ��nico corajoso que

foi para a empresa desmaiou no meio do expediente. A

vida era mesmo fr��gil, conclu��ram todos, mas, passado o

susto, duas semanas depois, Sergio e a equipe j�� estavam

187

J U A R E Z L E I T �� O

singrando os c��us. A bicicleta n��o podia parar. Havia

muito Brasil ainda a ser conquistado.

Pav��o tra��ado, pav��o cumprido. Dez anos depois

de muitos desafios, e encerrada a expans��o de todo o

Norte e Nordeste, Sergio deixou a empresa para assumir

a Presid��ncia-Executiva da Abrafarma, onde permane-

ce at�� hoje, dezessete anos depois. "Foi um convite do

Deusmar, que assumiu a entidade num momento dif��cil,

e foi imposs��vel recus��-lo mais uma vez" - ele conta. O

executivo levou toda a sua viv��ncia adquirida na Pague

Menos para influenciar os rumos das vinte e oito maiores

Redes de farm��cias do pa��s e da pr��pria sa��de brasilei-

ra. Tem sido um respeitado e influente protagonista dos

maiores avan��os do setor nas ��ltimas duas d��cadas.

188



14

OS ENCANTOS DA

DIVERSIDADE

"Os limites dos comedidos n��o s��o os

meus limites."

Ludwig W i t t g e n s t e i n ,

fil��sofo austr��aco ( 1 8 8 9 - 1 9 5 1 )

Oesp��rito ir��nico do Cear�� Moleque (atitude ri-

sonha com que os cearenses reagem ��s dificul-

dades) moldou uma express��o que, aos de fora,

poderia parecer um estranho paradoxo: "nas Farm��cias

Pague Menos se vendem at�� rem��dios."

�� que, no af�� de bem servir ao cliente que entra

em suas lojas, Deusmar Queir��s oferece variadas op-

����es para suas necessidades imediatas ou deleite pessoal,

191

J U A R E Z L E I T �� O

como material de toalete, perfumes, bombons, chocola-

tes, sorvetes, canetas, brinquedos e muitos outros itens

de consumo para adultos e crian��as.

A farm��cia tamb��m vende ingressos para jogos e

shows, aparelhos e linhas de celulares, facilitando a vida

de quem quer encontrar tudo num mesmo espa��o e por

pre��o de mercado.

O grande salto no campo da diversifica����o de ati-

vidades da Pague Menos ocorreu a partir de 1989, quan-

do se tornou a pioneira no recebimento de contas e ven-

da de vales-transporte.

O pr��prio Deusmar relata como lhe ocorreu a ideia

de dar esse novo salto do trampolim de afoitezas que tem

sido a sua vida:

"Em setembro de 1988, eu estava em Belo Hori-

zonte participando de um daqueles leil��es do Fundo de

Investimentos do Nordeste, FINOR, em que me tornara

especialista e ass��duo frequentador. Na ocasi��o, come-

morava com amigos o sucesso de mais uma opera����o en-

volvendo a compra e venda de a����es de empresas finan-

ciadas pelo FINOR.

Da cal��ada do im��vel em que me encontrava, na

Rua dos Carij��s, 126, em companhia dos senhores Ruy

Lage, da Sociedade RL Corretora de T��tulos Ltda., Pre-

sidente da Bolsa de Valores de Minas Gerais, Esp��rito

Santo e Bras��lia e da Comiss��o Nacional de Bolsas de

Valores, CNBV, e Leonel Pequeno, Superintendente da

BOVMESB, vi uma imagem inusitada. Um rapaz pedalava

192

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

uma bicicleta e na sua jaqueta tinha essa inscri����o: La-

vanderia Eureka - Venda de Vale-Transporte.

Uma coisa esquisita estalou dentro de mim, uma

ideia luminosa. Procurei saber de meus amigos como en-

trar em contato com o dono daquela lavanderia e, con-

seguido o encontro para o dia seguinte, tratei de adiar

minha passagem. De noite, no Hotel Wembley (do Gru-

po Coteminas, do Jos�� Alencar, futuro Vice-Presidente

da Rep��blica), n��o preguei o olho, acometido de grande

emo����o expectante. Minhas farm��cias iriam vender va-

les-transporte, sim, senhor, pois em Fortaleza somente

o SINDI��NIBUS (Sindicato das Empresas de Transporte

de Passageiros do Cear��) os vendia e todo m��s se for-

mava uma fila enorme para atender ��s empresas que os

queriam adquirir para seus funcion��rios.

A reuni��o, marcada para as dez horas, transcorreu

num clima de grande cordialidade. O senhor Cavalini, um

mineiro t��pico, foi extremamente gentil, explicando-me

como funcionava a venda dos vales, disponibilizando,

inclusive, uma c��pia do contrato com o SINDI��NIBUS

de Minas Gerais. Dois de seus assessores mostraram-me

pacientemente a legisla����o que normatizava o assunto e

como se processavam todas as etapas e opera����es que se

faziam necess��rias para o recebimento dos vales-trans-

porte, em consigna����o, com a obrigatoriedade de paga-

mento, em tr��s dias ��teis, ao sindicato".

No retorno a Fortaleza, enquanto o avi��o singrava

os c��us, os sonhos de Deusmar visitavam outros pagos de

193

J U A R E Z L E I T �� O

sua euforia. Sua empresa estava mesmo galgando os de-

graus da ousadia, sem medo de arriscar novos caminhos

fora do quadrado que o destino reserva aos acomodados.

Lembrou-se de um antigo relaxo dos caboclos de sua terra

natal, "quem n��o arrisca n��o petisca!" e se fez pronto para p��r em pr��tica a experi��ncia que acabava de conhecer.

No encontro com o senhor Edgar Gueths de

Aguiar, Superintendente do SINDI��NIBUS do Cear��, re-

quereu sua licen��a de revenda, pois, segundo a legisla-

����o, para cada 100.000 habitantes era exigido um posto

de vendas de vales-transporte. O Sr. Edgar, conhecedor

daquela obriga����o legal, concordou de imediato e at��

informou que estava se preparando para instalar vinte

pontos de venda em Fortaleza. A Pague Menos, que j��

dispunha de 28 filiais em diversos bairros da cidade, se-

ria o parceiro ideal.

Deusmar quase n��o se conteve de alegria quando

o Sr. Edgar colocou como condi����o, inegoci��vel, que o

contrato autorizando a venda de vales-transporte tivesse

as mesmas cl��usulas e condi����es do contrato que regia

a opera����o realizada em Belo Horizonte. E ele tinha no

bolso uma c��pia do contrato e o havia estudado muito

bem com o pessoal do Sr. Cavalini.

Tudo rigorosamente acertado, finalmente o con-

trato foi assinado. E, em janeiro de 1989, come��aram as

vendas de vales-transporte. Primeiro na matriz da Pague

Menos, no centro de Fortaleza, e, aos poucos, nas demais

filiais, cobrindo, afinal, toda a cidade.

194

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Como Deusmar previa, a Opera����o Vale-Trans-

porte se tornou muito rent��vel, em fun����o da elevada

infla����o que beirava os 80% ao m��s. O dinheiro prove-

niente da venda dos vales era aplicado a uma taxa de 3%,

ao dia, ou seja, 9% pelos tr��s dias, opera����o conhecida

como overnight.

Pela facilidade, em virtude da localiza����o de seus

pontos de venda, a Pague Menos chegou a vender muito

mais vales do que o pr��prio sindicato, em sua sede.

Deusmar sempre esteve alerta para aproveitar as

oportunidades, mesmo aquelas desconhecidas e, conse-

quentemente, arriscadas. Ele costuma dizer que Deus

foi muito generoso com ele por t��-lo privado do senti-

mento do medo de correr riscos, dotando-o da capaci-

dade de ousar.

O ano de 1989 se tornaria um marco em sua vida

de caprichoso tecedor de ousadias. Parecia que todos os

astros lhe sorriam. Em tudo o que se meteu, obteve su-

cesso, tudo deu certo. Como aconteceu com outra ventu-

rosa oportunidade.

Em abril daquele ano bendito, estava numa reu-

ni��o do Conselho da Bolsa de Valores do Cear��, que de-

pois, por conta do trabalho realizado pelo seu incans��vel

presidente, Raimundo Padilha, se tornaria Bolsa de Va-

lores Regional (abrangendo do Rio Grande do Norte ao

Amazonas), quando recebeu uma provoca����o. As corre-

toras de valores - falou o Padilha - deveriam ser como

bancos, poder receber contas de ��gua, luz e telefone.

195

J U A R E Z L E I T �� O

Ao ouvir isso, Deusmar sente no corpo a mesma

vibra����o que sentiu na tarde do dia 9 de setembro do ano

anterior. N��o diz nada, fica calado, mas n��o consegue

mais escutar os demais assuntos em discuss��o. O c��re-

bro, trabalhando na velocidade da luz, n��o lhe permitia

pensar em qualquer coisa que n��o fosse receber contas

de ��gua, luz e telefone.

A princ��pio, achou que era sonho de sobra. Aquilo

era uma atividade exclusiva do sistema banc��rio. Como

poderia uma farm��cia receber contas de ��gua, luz, telefo-

ne, col��gio, condom��nios e o escambau?!

Entretanto, era tudo verdade. Estava criado o em-

bri��o do Correspondente Banc��rio, que somente doze

anos depois seria regulamentado e incentivado pelo Ban-

co Central do Brasil.

Tomada a decis��o, Deusmar partiu para fazer os

contatos com as concession��rias de ��gua, luz e telefo-

ne. Dezenas de reuni��es aconteceram at�� que todos se

convencessem do ineditismo de uma farm��cia realizar

atividade financeira at�� ent��o, no Brasil, exclusiva do

sistema banc��rio.

Referente a esse momento hist��rico da Pague Me-

nos, ilustra o nosso relato o depoimento do Dr. Edmo Li-

nhares, Secret��rio de Finan��as da Prefeitura de Fortaleza

na administra����o de Ant��nio Cambraia:

"Estava em meu gabinete quando fui procura-

do pelo empres��rio Deusmar Queir��s (��quela ��poca j��

com muitas farm��cias disseminadas em todo o Centro

196

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

da cidade e na periferia de Fortaleza) querendo oferecer

servi��o para cobran��a de IPTU. Justificava o seu pedido

afirmando que os pontos de farm��cia dele cobriam todo

o cintur��o urbano de Fortaleza e isso facilitaria a vida

do contribuinte.

Entramos em detalhes quanto �� tarifa. Os bancos,

na ��poca, estavam querendo majorar as tarifas, que j�� es-

tavam a Cr$ 1,20 ou Cr$ 1,50, e o Deusmar garantia que

cobraria o IPTU todo de Fortaleza a 0,30 centavos. Basi-

camente um quinto do que os bancos cobravam. Amiu-

damos a conversa e marcamos nova reuni��o na qual defi-

nimos nossa estrat��gia.

Deusmar disse: 'N��s oferecemos um contrato, um

conv��nio D+2' (na linguagem banc��ria D+2 significa que,

no dia do pagamento, quem recolhe fica mais dois dias

com o dinheiro. E ele s�� queria isso. Os bancos eram D + l .

Recebia do contribuinte hoje e, no dia seguinte, repassa-

va o dinheiro para a prefeitura. Deusmar queria D+2. Ele

ficava com toda essa massa de recurso, que era alimenta-

da permanentemente por dois dias, e, logicamente, pega-

va esse dinheiro e aplicava no overnight).

Fizemos o conv��nio, acrescentando uma pondera-

����o: 'Olha, Deusmar, como se trata de um ��rg��o p��blico

e n��o de uma empresa privada, isso requereria at�� uma li-

cita����o. Mas �� poss��vel sem licita����o, desde que voc�� ofe-

re��a uma fian��a pessoal'. 'N��o tem problema', disse ele.

Fizemos um contrato com a pessoa jur��dica do Gru-

po Pague Menos e ele e a esposa entraram como fiadores,

1 9 7

J U A R E Z L E I T �� O

garantindo a opera����o. Cadastramos todas as m��quinas

autenticadoras da Pague Menos, quer dizer, qualquer ou-

tra autentica����o ou qualquer papel que fosse recebido e

n��o tivesse o n��mero daquelas m��quinas n��o seria rece-

bido. E um detalhe. Eu fui �� Associa����o dos Bancos e co-

muniquei ao presidente Jos�� Afonso Sancho. Antes disso

mantive contato com a Secretaria da Fazenda, Telemar,

Coelce, Cagece e formei essa parceria. �� reuni��o com-

pareceram representantes da Cagece, Coelce e Telemar.

Na Associa����o dos Bancos nos ironizaram. A Pre-

feitura vai correr um risco desses? Deixar de recolher na

Rede banc��ria para recolher em uma empresa privada?

Vem calote a��, na certa'. Eu disse: 'Eu confio no empres��-

rio. Sei que �� uma pessoa id��nea e, al��m da pessoa jur��-

dica, com a qual estamos celebrando o contrato, tamb��m

tem a fian��a dele como pessoa f��sica. Dele e da esposa'.

E eles disseram: 'Podemos saber quanto?...' E eu disse:

'Ele vai cobrar um quinto do que voc��s est��o cobrando'.

'Mas isso �� um absurdo. N��o vai cobrir nem os custos

dele'. Retruquei: 'Olha, o neg��cio j�� est�� fechado. Ele vai

recolher o IPTU. N��s vamos fazer o conv��nio. Ali��s, j��

est�� pronto'.

Tirei o conv��nio da pasta e mostrei. Eu sei que fo-

mos ousados em assumir isso, mas deu tudo certo. O ho-

mem honrou o compromisso assumido".

Assim tem sido a voca����o da Pague Menos. A vo-

ca����o de surpreender. Aquele passo foi decisivo em sua

escalada, pois, a partir dali, mais do que receber contas

198

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

diversas, montava a base da ascens��o que levaria o ou-

sado menino de Amontada a figurar no rol dos homens

mais ricos do Brasil, segundo a Revista Forbes de agosto

de 2013.

199



15

RISCO DE VIDA

"No meio do caminho tinha uma pedra.

Tinha uma pedra no meio do caminho."

Carlos D r u m m o n d de A n d r a d e

"N��o fez Deus a quem desamparasse."

Padre M a n o e l Bernardes

Os anos 90 tiveram import��ncia significativa na

evolu����o da Pague Menos. Tudo parecia mar-

char dentro dos sonhos de Deusmar, talvez at��

com o registro de ultrapassagens, pois alguns fatos esta-

vam chegando antes do esperado.

Em outubro de 1993, a empresa rompeu os limites

do Cear�� e instalou a primeira loja em Natal/RN. A marca

201

J U A R E Z L E I T �� O

Pague Menos encontraria campo f��rtil entre os rio-gran-

denses-do-norte, pois hoje ( 2 0 1 7 ) j�� s��o cerca de 40 lojas

no solo potiguar, empregando 800 colaboradores diretos.

Nesse mesmo ano, nascia a Pague Menos Manipu-

la����o, com a produ����o de medicamentos e cosm��ticos

obtidos pelo processo artesanal da mistura de ess��ncias

em dosagens certas, como faziam os antigos botic��rios

do porte de Ant��nio Ferreira, o c��lebre farmac��utico e

intendente que hoje d�� nome �� pra��a s��mbolo da capital

do Cear��, a Pra��a do Ferreira.

Em 1997, nascia o Encontro de Mulheres Pague

Menos, que, j�� em sua 1 1 a edi����o, �� o maior evento femi-

nino do pa��s.

Em 1998, a Pague Menos torna-se a primeira em-

presa privada nordestina a adotar um munic��pio no Pro-

grama Alfabetiza����o Solid��ria. A imagem da propens��o

idealista de apoiar os bons projetos sociais come��ava a se

firmar e se acentuaria com o correr do tempo.

O Fundador andava feliz. Suas lojas se espalhavam

pelo Nordeste e, logo mais, estariam presentes em todo

o pa��s. Seus sonhos, por��m, eram cada vez mais amplos

e neles cabiam muitos outros alcances, muitas outras nu-

merosas conquistas.

Inquieto e bravio, n��o tinha tempo para cuidar

da sa��de. Sertanejo t��pico, glut��o e sem preocupa����es

com a qualidade alimentar, em mat��ria de comida der-

rubava o que aparecesse �� sua frente, sem traumas e

sem pondera����o.

202

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Um dia, em 2 0 0 0 , Deusmar acordou indisposto.

Sentia uma dor no peito e certa dificuldade para respirar.

N��o disse nada a Auric��lia, achando que fosse coisa pas-

sageira. Entretanto, a dor come��ou a crescer e a respira-

����o foi ficando mais dif��cil, n��o lhe restando alternativa

que n��o fosse comunicar �� esposa o inc��modo por que

estava passando. Lembrara-se que tivera uma gripe, re-

centemente, e aquilo talvez fosse rescaldo dela.

Sergio Mena Barreto, Gerente de RH e Marketing

da Pague Menos em 2 0 0 0 , conta que, certa manh��, estava

em sua sala quando entra o patr��o. Entrou, deu duas vol-

tas pela sala e saiu. Barreto estava numa liga����o e, assim

que terminou, viu que perdera a oportunidade de receber

alguma comunica����o de Deusmar. Alguns minutos de-

pois, estando em outra liga����o, novamente entra o che-

fe, que d�� outra meia-volta e sai. Entraria uma terceira

vez e, ent��o, sentou-se para dizer que estava empachado,

com uma sensa����o de est��mago cheio. "N��o seria ��lcera

ou uma gastrite brava?" - indagou o gerente. "N��o. Fiz

endoscopia recentemente e n��o deu nada no est��mago.

Hoje �� tarde vou fazer um exame. Acho que tenho algu-

ma coisa no pulm��o. Ando com dificuldade de respirar."

�� tarde, Auric��lia acompanhou o marido ao m��dico.

Examinado, n��o soube, o doutor, informar exata-

mente do que se tratava. E, como houvesse melhorado,

voltou para casa. No outro dia, a mesma coisa, a mesma

dor, o mesmo sufoco respirat��rio. Come��ou a ficar com

medo. Procurou outro m��dico. Mas, como se fosse uma

203

J U A R E Z L E I T �� O

brincadeira, assim que sa��a de casa, a dor se atenuava. O

segundo m��dico tamb��m n��o lhe tra��ou um diagn��stico,

mas um terceiro, quando j�� estava perdendo a cren��a na

Medicina conterr��nea, indicou-lhe uma tomografia tor��-

cica e uma radiografia de pulm��o.

Detectaram uma mancha estranha, que sugeria a

presen��a de ��gua na pleura, aquela membrana que en-

volve o pulm��o. Estava, possivelmente, ocorrendo um

derrame pleural.

O m��dico explicou que a pleura �� composta de

duas camadas: a pleura visceral, que �� a camada inte-

rior e fica colada ao pulm��o; e a pleura parietal, a cama-

da mais externa, que fica em contato com as estruturas

anat��micas ao redor dos pulm��es. Entre as duas camadas

encontra-se uma fin��ssima l��mina de l��quido que faz pa-

pel lubrificante, impedindo o atrito entre as duas cama-

das. �� o l��quido pleural. Quando essa subst��ncia come��a

a aumentar fora das medidas �� porque est�� havendo uma

anormalidade, um derrame.

A provid��ncia indicada nesse caso �� a toracocen-

tese, que �� a pun����o do l��quido pleural com uma agulha

introduzida atrav��s do t��rax entre as costelas, para se co-

lher entre 50 a 100 miligramas de material para exame.

Estava sendo atendido no Hospital S��o Carlos por

dois amigos m��dicos que indicaram um especialista para

fazer a tal pun����o e o paciente foi, ent��o, transferido

para o Hospital S��o Mateus, onde estava aquele que iria

realiz��-la.

204

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Recebendo anestesia local, Deusmar submeteu-

-se �� invas��o da agulha perscrutadora e, ao fim do pro-

cedimento, o examinador tentou tranquiliz��-lo: "Olha,

pelo que eu vi aqui, est�� tudo bem. Vamos fazer um

curativo, o senhor aguarda um pouco e, em meia hora,

estar�� liberado".

O m��dico saiu e Deusmar, que estava sentado na

cama, come��ou a passar mal. O mundo come��ou a rodar,

veio uma sensa����o de vertigem e a falta de ar voltou a se

manifestar com mais intensidade e de modo mais sufo-

cante. Apavorado, gritou pela esposa, que estava na sala

de espera, e disse-lhe que o mandasse acudir, rapidamen-

te, se quisesse salvar a sua vida. Mesmo se achando em

estado cr��tico comandou as a����es. Pediu que chamassem

uma ambul��ncia e o levassem urgentemente ao Hospital

Ant��nio Prudente, cujo dono, Dr. C��ndido Pinheiro, era

seu conterr��neo de Amontada. Ademais, tinha um plano

de sa��de expedido por aquele hospital e, com certeza,

seria muito bem assistido por uma equipe m��dica de co-

nhecidos e em quem confiava inteiramente.

Chegou ao Hospital Ant��nio Prudente com dores

agudas no peito e, submetido �� nova bateria de exames,

constatou-se que ocorrera um acidente por ocasi��o da

pun����o: a perfura����o de um vaso, com consequente he-

morragia interna que invadia o pulm��o.

Diante do quadro de risco de vida, os m��dicos he-

sitaram em operar Deusmar e aconselharam a fam��lia a

lev��-lo a S��o Paulo com o m��ximo de urg��ncia poss��vel.

205

J U A R E Z L E I T �� O

Era preciso contratar uma UTI a��rea e a ��nica do

Cear�� naquele tempo era a da UNIMED, que n��o estava

dispon��vel, pois se encontrava em opera����o fora do es-

tado. Restava apelar para Recife, contatando o Weston

T��xi A��reo, que tinha um servi��o aerom��dico, equipado

com UTI e profissionais treinados para atendimentos

de urg��ncia.

Os executivos mais pr��ximos mobilizaram-se para

salvar o chefe, pois percebiam que a situa����o era s��ria.

Armando Caminha e Mena Barreto acionaram as provi-

d��ncias, iniciando uma batalha contra o tempo.

Nesse momento, entram em cena as amizades. In-

formado da situa����o, o empres��rio J��lio Ventura Neto

p��s em a����o toda a sua influ��ncia, conseguindo a UTI da

Weston para aquela mesma noite e uma vaga no Hospital

Albert Einstein, em S��o Paulo.

O jatinho da Weston partiu de Fortaleza ��s 22h30,

chegando a S��o Paulo ��s duas horas da madrugada daque-

le dia 4 de mar��o de 1999. Deusmar sangrava por dentro

desde as 14h do dia anterior, quando, ao se submeter ��

pun����o, fora acidentado. Durante o voo, o bal��o de oxi-

g��nio deixou de funcionar e o doente ficou se acabando

com falta de ar, tentando sugar, desesperadamente, o que

sa��a dos respiradouros da aeronave. Sergio Mena Barre-

to, que acompanhava o doente, viu que Deusmar estava

piorando e perguntava a todo momento quantos minutos

separavam aquele avi��o do pouso em S��o Paulo. Falta-

vam ainda 50 minutos.

206

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Mas, em S��o Paulo, ocorreu outra complica����o. O

aeroporto de Congonhas, alegando um motivo qualquer,

negava a autoriza����o de aterrissagem ao jatinho da Wes-

ton. Novamente, foi preciso recorrer ao bem relacionado

Julinho Ventura, que, por interm��dio do ent��o senador

Romeu Tuma, obteve a permiss��o requerida. Deusmar

estava no limite da sobreviv��ncia.

Deu entrada no hospital ��s duas e pouco da manh��.

Atendido pelo Dr. Ribas Milanez e pela Dra. Car-

mem Valente Barbas, foi operado com ��xito e est�� a�� para

contar esta mirabolante hist��ria.

Depois �� que se soube que passara por outro vexa-

me ��s sete horas, quando, durante ou logo ap��s o proce-

dimento cir��rgico, o cora����o quis baquear. Mas ele sal-

tou mais esse abismo e chegou �� outra ribanceira.

Quando a batalha contra a morte foi vencida, os

m��dicos revelaram �� esposa: "Na Medicina n��o h�� expli-

ca����o para ele estar vivo. Este aqui n��o morre nem a pau.

�� um fen��meno".

Ao ouvir, depois, essa confiss��o, Deusmar pergun-

tou a Auric��lia: "E, ent��o, quantas promessas fez"?

Ela respondeu, cheia de sinceridade: "A mais leve

foi a de irmos, a p��, de Fortaleza a Canind��, agradecer a

S��o Francisco".

Garantem os dois que cumpriram o que promete-

ram ao santo.

207



16

A AMPLIA����O DE

SERVI��OS PAGUE

MENOS

"Posso dizer: Preparado

estou para atravessar

agora mesmo estas ��guas.

Viajei sempre na proa,

n��o sou homem de por��o.

Thiago de Mello,

p o e t a a m a z o n e n s e ( 1 9 2 6 - )

medida que evolui como empresa, a Pague Menos

vai assumindo outras responsabilidades e oferen-

do aos seus clientes variadas op����es de servi��os.

209

J U A R E Z L E I T �� O

Mirella Correia Reis Rapetti, psic��loga por forma-

����o e, hoje, no setor de Marketing, como Coordenado-

ra de Eventos, do alto de seus dezesseis anos de Pague

Menos, sabe tudo sobre a evolu����o da empresa, especial-

mente do que lhe diz respeito como fun����o.

Ela, que passou por v��rios setores, come��ou como

estagi��ria de Psicologia. Portou-se certamente com com-

pet��ncia e, como ocorre nesses casos, qualificou-se para

a inclus��o no quadro de funcion��rios. Esteve no setor

de Recursos Humanos e no Departamento de Expans��o,

quando p��s o p�� na estrada abrindo lojas por esse Brasil

afora. Fala de seu trabalho de modo apaixonado, vibran-

do com todos os lances vitoriosos da Pague Menos e tam-

b��m da personalidade de seu fundador, por quem nutre

uma admira����o mitol��gica:

"Conheci o Dr. Deusmar Queir��s nos corredo-

res da Pague Menos, em pleno exerc��cio de comando

direto, misturado aos colaboradores. Ele �� uma pessoa

muito presente na empresa, apegado ao trabalho, com

uma disposi����o sem limites. Lembro-me de um s��bado,

a gente trabalhando, e ele falando com os filhos ao tele-

fone: 'Onde �� que voc�� est��?' - perguntaram os filhos. E

ele respondeu: 'Estou na empresa que paga meu sal��rio,

trabalhando'.

E �� assim mesmo. Se est�� em Fortaleza, no s��bado,

o patr��o vem para a empresa, olhar o seu neg��cio, ver se

est�� tudo em ordem, manter contatos pela Internet com

outros estados, enfim, trabalhar".

210

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Mirella fala do dinamismo do chefe. De como pro-

cura sempre trazer inova����es para adaptar a empresa ��

contemporaneidade. Nunca se acomoda, nunca se deixa

chumbar no mesmo ponto. Est�� sempre um passo �� fren-

te dos outros:

"N��s j�� passamos por v��rias gera����es de lojas. Dr.

Deusmar tem, no seu DNA, esse esp��rito inovador, essa

coisa de se jogar na vanguarda do empreendedorismo.

Constantemente traz ideias de fora, sempre pensando

em como fazer diferente e melhor. Por isso, a inova����o

est�� dentro do trip�� filos��fico da Pague Menos: CONVE-

NI��NCIA, INOVA����O e CIDADANIA. Conveni��ncia, no

bom sentido. Tudo o que a gente faz tem que ser c��modo

para o cliente, tem que ter alguma inova����o e tem que ter

v��nculo com a defesa e o respeito do cidad��o. Ent��o, �� o

trip�� do cidad��o.

Veja como evolu��mos, desde a primeira farm��cia,

l�� no bairro Ellery. Fomos a primeira farm��cia a traba-

lhar 24horas, sem portas. Antigamente as farm��cias ti-

nham aquela janelinha para atender o p��blico. Na inova-

����o do Deusmar, ele disse: 'Eu quero uma loja sem porta'.

Naquela ��poca, a quest��o da seguran��a n��o era t��o

aguda como hoje em dia, e ele disse: 'Eu quero que todo

mundo entre na loja e tenha f��cil acesso a ela. N��o quero

nenhum impedimento'.

Ent��o, t��m lojas sem porta e funcionando 24 horas

por dia desde a d��cada de 1980. Depois apareceu o autos-

servi��o, com uma s��rie de op����es, como a revela����o de fo-

211

J U A R E Z L E I T �� O

tos, por exemplo. O pessoal vinha do Sul do pa��s e n��o acre-

ditava nisso. 'Voc�� vai aonde? Na farm��cia, revelar as fotos

das f��rias? Mas como?' Na Pague Menos havia esse servi��o.

Do mesmo jeito eram as contas. 'Mas s�� se paga

contas em banco?' 'N��o. Aqui, em Fortaleza, a gente tam-

b��m paga conta na Farm��cia Pague Menos'. Por causa

disso o Dr. Deusmar ganhou o pr��mio de Melhor Em-

preendedor do Ano e foi indicado para concorrer ao

pr��mio mundial nessa categoria, em M��naco, depois de

ganhar o nacional.

Foi com essa inova����o de servi��os banc��rios que

mudou a vida de muita gente. Foi assim. Mas ele j�� disse

que n��o foi f��cil. Come��ou recebendo ��gua e luz; depois

��gua, luz e telefone. Finalmente ��gua, luz, telefone e bo-

leto banc��rio. N��o foi f��cil, mas era uma coisa na qual

ele acreditava muito. E, ent��o, ele disse: 'Quero insistir

nisso. E deu certo'".

Outro servi��o especial: Drive Thru. As pessoas

n��o precisam descer do carro para comprar. A gente tem

loja desse modelo. Fica ali na Av. Santos Dumont, esqui-

na com Ildefonso Albano (Fortaleza). A pessoa encosta

o carro numa janela lateral, compra, faz o pagamento e

n��o precisa descer do carro. Comodidade. Espa��os. Lojas

dentro de lojas. Aqui est�� o Cantinho do Beb��. A m��ezi-

nha ou o paizinho chegam aqui e sabem que v��o encon-

trar tudo pr��ximo. Espa��o VIP Dermocosm��tico. N��o s��

mulheres, homens tamb��m est��o preocupados com o seu

bem-estar e sua apar��ncia. Ent��o, os produtos dermocos-

m��ticos est��o a�� para servi-los.

212

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

A informa����o institucional da Pague Menos expli-

ca o programa CLINIC FARMA, que, segundo Mirella Ra-

petti, �� a nova "menina dos olhos" do Dr. Deusmar:

"CLINIC FARMA AMPLIA PARA TODO O BRA-

SIL SERVI��OS E ATEN����O FARMAC��UTICA"

As Farm��cias Pague Menos, primeira Rede de va-

rejo farmac��utico presente em todos os estados e no Dis-

trito Federal, refor��am o compromisso com a popula����o

de todo o Brasil ao disponibilizar servi��os gratuitos de as-

sist��ncia farmac��utica em duas modalidades: o SAC Far-

ma e o Clinic Farma (sala de atendimento farmac��utico).

As Clinic Farma s��o salas, dentro das Farm��cias

Pague Menos, exclusivamente para presta����o de servi-

��os farmac��uticos, como acompanhamento do tratamen-

to prescrito pelo m��dico, revis��o da medica����o, esclare-

cimento de d��vidas, acompanhamento para clientes com

diabetes, hipertens��o, risco cardiovascular, asma e obe-

sidade, entre outras a����es. O atendimento, que �� gratui-

to, acontece individualmente em uma sala privativa, est��

aberto ao p��blico em geral.

O objetivo do Clinic Farma �� possibilitar um me-

lhor resultado do tratamento prescrito pelos m��dicos,

garantindo mais qualidade de vida ao paciente e contri-

buindo com a sa��de p��blica brasileira", explica a coorde-

nadora regional do Clinic Farma no Acre, Grace Rodri-

gues de Ara��jo.

Nas salas de atendimento farmac��utico da Rede

Farm��cias Pague Menos h�� ainda orienta����o em rela-

213

J U A R E Z L E I T �� O

����o a intera����es com outros rem��dios ou alimentos, me-

lhores hor��rios para a administra����o do medicamento,

esquema posol��gico, al��m de aferir a press��o arterial,

glicemia capilar para o controle de diabetes e tempera-

tura corp��rea.

O farmac��utico �� o ��ltimo profissional da cadeia

de sa��de ou mesmo o ��nico que o paciente aciona ap��s

a prescri����o m��dica, e a maioria dos clientes chega ��

farm��cia com muitas d��vidas. O Clinic Farma procura

orientar e, assim, garantir maior ades��o ao tratamento e

a melhoria do quadro de sa��de do paciente. Quando sen-

timos necessidade, recomendamos o retorno ao m��dico",

explica a coordenadora F��tima. Ap��s cada atendimento,

o paciente recebe uma declara����o do servi��o farmac��u-

tico prestado e um cart��o de acompanhamento, para que

ele possa levar para o m��dico ou outros profissionais de

sa��de que o acompanha.

O primeiro Clinic Farma iniciou em junho de 2014

em Fortaleza (CE) e hoje s��o centenas distribu��dos em

todos os estados. Desde o in��cio do projeto-piloto, foram

realizados milhares de atendimentos e servi��os farma-

c��uticos, especialmente orienta����es para portadores de

diabetes e hipertens��o.

O projeto foi regulamentado pela Resolu����o da Di-

retoria Colegiada (RDC) N�� 44 da Ag��ncia Nacional de

Vigil��ncia Sanit��ria (ANVISA) e da Lei N�� 13021, de 8

de agosto de 2014. Segue tamb��m recomenda����es e pro-

tocolos da Organiza����o Pan-Americana de Sa��de (OPAS)

214

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

e da Organiza����o Mundial de Sa��de (OMS) quanto ao uso

correto dos medicamentos e a contribui����o da sa��de p��-

blica, bem como, da legisla����o vigente.

Al��m dos postos do Clinic Farma, as Farm��cias

Pague Menos mant��m desde 2 0 0 0 tamb��m o servi��o

SAC Farma, ��nico no Brasil em opera����o 24 horas e

365 dias por ano.

O atendimento telef��nico �� realizado por uma

equipe composta por profissionais farmac��uticos e aca-

d��micos de Farm��cia, que orientam e tiram d��vidas do

consumidor relativas �� posologia, compara����o entre f��r-

macos, esclarecimento de d��vidas sobre gen��ricos, medi-

camentos controlados, contraindica����es, associa����es me-

dicamentosas, an��lise da compreens��o das receitas que

n��o est��o leg��veis ou d��vidas no tratamento prescrito."

Mirella complementa:

"E o que acontece ou por que �� importante o nosso

projeto? O farmac��utico pode revisar a cesta de medica-

mentos e indicar o seguinte: 'Olha, de manh�� voc�� toma

esse, mas, �� noite, voc�� toma esse outro. N��o tome os dois

juntos. Olha esse aqui, se voc�� sofre de gastrite, n��o �� bom

tomar antes da alimenta����o, mas depois...' Esse tipo de

coisa. E isso �� interessante. In��meras pessoas sabem que

t��m a doen��a, mas n��o t��m ades��o ao tratamento. Sabem

que precisam aferir a press��o constantemente para ter

um melhor tratamento, mas n��o fazem isso. Ent��o, a Pa-

gue Menos veio com essa inova����o para, justamente, cui-

dar melhor da sa��de do brasileiro. O farmac��utico n��o vai

215

J U A R E Z L E I T �� O

prescrever nada. O programa tem o objetivo de melhorar

a comunica����o entre paciente e m��dico. Assim como o

psic��logo n��o pode prescrever o tratamento, o psiquiatra

�� quem pode; o farmac��utico tamb��m n��o pode prescre-

ver, mas faz o acompanhamento. A gente v�� v��rias pres-

cri����es m��dicas orientando o paciente a ir at�� a Pague

Menos fazer a press��o, por exemplo, duas ou tr��s vezes

por semana. A gente v�� isso. Meu pai, que �� oftalmologis-

ta e trabalha aqui no centro, j�� me ligou v��rias vezes para

saber o endere��o. Ele manda seus pacientes para c�� para

aferir a press��o ou medir a glicemia porque um dos sinto-

mas da glicemia ��, justamente, a vis��o turva. Ele j�� manda

para c�� para ver como est�� a glicemia. Muitas pessoas me

disseram que nunca tiveram contato com exame de gli-

cemia. O exame capilar, que �� o mais simples de todos.

Por isso, os m��dicos mandam pacientes para c�� para ter

esse acompanhamento com o farmac��utico. Esse projeto

�� para a sa��de do brasileiro e �� inovador. A gente j�� viu

trabalho apresentado em Portugal com imagem do Clinic

Farma e da Pague Menos. Hoje, outras redes farmac��uti-

cas j�� est��o fazendo isso, mas quem come��ou fomos n��s".

Outras etapas, eventos e programas v��o marcando

a constante travessia da Pague Menos para o futuro. S��o

um universo de descobertas e atitudes, um arco imenso

de comportamentos econ��micos, administrativos, t��cni-

cos e socioculturais que vem das origens da empresa e

caminham com ela todo esse longo itiner��rio de trinta e

seis anos ( 2 0 1 7 ) .

216





17

CONGRESSOS E

CONVEN����ES

"O mundo est�� cheio de gente com

muita vontade de trabalhar, mas sem

vontade alguma de aprender."

Eric Messa, Prof0, da Faculdade de

C o m u n i c a �� �� o e Marketing da FAAP/SP

Uma das raz��es do crescimento da Pague Menos

�� o constante e persistente aprendizado. A em-

presa n��o se acomoda. Sempre est�� reciclando

seu corpo de funcion��rios, seus diretores, seus chefes de

departamento, em congressos e semin��rios.

H�� uma preocupa����o com o conhecimento, que,

seguindo o exemplo do fundador, deve ser de assimila-

219

J U A R E Z L E I T �� O

����o di��ria, pois o mundo muda a cada instante e requer

uma adapta����o imediata.

No decorrer do ano, a companhia faz v��rios en-

contros de forma����o e reciclagem profissional, apostan-

do na instrumentaliza����o mental de seus chefes como

condi����o de aprimoramento de desempenho e capaci-

ta����o para as conquistas din��micas da tecnologia e das

posturas contempor��neas.

Sabem os que dirigem a Pague Menos - �� frente, o

incentivador Deusmar - que o chamado bonde da Hist��-

ria passa com velocidade e n��o muitas vezes pelo mesmo

lugar. Ele �� o portador das novidades, o mensageiro dos

avan��os cient��ficos, o anunciador do futuro. E quem n��o

o toma certamente ser�� ultrapassado pelos fatos.

O mais importante desses eventos de atualiza����o

de conhecimentos e cruzamento de informa����es �� a

CONVEN����O ANUAL PAGUE MENOS.

Nela, os diretores-gerais, diretores e gerentes de

opera����es e chefes de setor de todo o Brasil, al��m de

receber completa informa����o sobre o estado econ��mi-

co, abrang��ncia geogr��fica e projetos de curto e m��dio

prazos, confraternizam-se, d��o depoimentos sobre seus

desempenhos, exp��em ideias e propostas, divertem-se,

assistem a shows art��sticos e palestras, recebem instru-

����es funcionais e celebram a vida numa verdadeira festa.

Os conferencistas convidados s��o pessoas de des-

taque nacional, economistas, publicit��rios, jornalistas,

militantes do setor de varejo, entusiastas da vida, ven-

220

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

cedores que sa��ram do nada e conquistaram relevo no

mundo capitalista e outros fomentadores do entusiasmo

e da autoestima, desportistas campe��es e outros her��is.

Todos contando as suas experi��ncias e hist��rias de su-

pera����o conseguidas depois de muita luta e espinhosas

dificuldades, mas coroadas, finalmente, de ��xito, brilho e

reconhecimento p��blico.

Acompanhamos a Conven����o de 2017, realizada

entre 16 e 18 de fevereiro, no Hotel Gran Marquise, na

Avenida Beira-Mar, em Fortaleza.

Chegamos no segundo dia do evento, ��s oito ho-

ras, quando Deusmar Queir��s fazia a abertura dos traba-

lhos. O congresso daquele ano tinha como temas: FOCO,

FOR��A e F��.

Iniciando a sua palavra, o fundador dizia:

"Ontem n��s falamos sobre FOCO. Hoje, vamos fa-

lar sobre FOR��A e, amanh��, sobre F��. E uma das coisas

mais importantes que disse ontem foi baseada no filme

O Amor �� Contagioso. Dele, a li����o que ficou: por mais

FOCO que a gente tenha em vendas, n��o podemos ver

o nosso cliente apenas como n��mero. Isso ficou muito

claro ontem. Por mais que a gente queira bater todas as

metas de vendas, de abertura de lojas, faturamento e lu-

cro, n��o podemos ver o nosso cliente como uma refer��n-

cia fria, uma estat��stica. E n��o estava me referindo s�� ao

cliente externo, mas ao interno tamb��m.

Hoje vou falar sobre FOR��A.

H�� 36 anos sonhamos, inovamos e respiramos

porque acreditamos que temos Foco, For��a e F��.

221

J U A R E Z L E I T �� O

Um, em um milh��o dos que v��m ao mundo, nasce

para vencer e nada impede que esse vencedor seja voc��.

Acreditam? Eu n��o diria um milh��o. 999.000. Mas n��o ��

f��cil. E nada impede que esse "um" seja voc��. Nada im-

pede. Coloque For��a e Foco no que voc�� quer e tenha F��.

Essa m��sica diz tudo o que a gente pretende dizer nesses

tr��s dias. A gente tem que acreditar... (m��sica 'Depende

de N��s', de Ivan Lins).

Ent��o, o que voc�� precisa ter? Foco, for��a, amor e

acreditar em voc��. Seja qual for a sua posi����o. Seja qual

for a sua religi��o.

Quantos podem contar uma hist��ria de supera-

����o? Contar que a condi����o deles, financeira, n��o era

boa e isso n��o os impediu de enfrentar os desafios e su-

per��-los. N��o estou dizendo que eram humildes ou que

passavam fome. N��o importa o que voc�� estiver fazendo

(fez ou faz). O seu esfor��o pessoal pode mudar a reali-

dade. S�� voc�� pode mudar sua condi����o e tecer o seu

destino. Acontece alguma coisa. Ganha na Loto. Isso n��o

acontece todo o dia. O que quero dizer �� que voc��, com

seu esfor��o, pode evoluir e ascender para outros pata-

mares da vida. Aqui, na Pague Menos, colocando for��a,

foco e f�� e vindo para nossas conven����es, tem oportu-

nidade de ver que a cada ano a gente procura crescer e

se atualizar, trazendo o que h�� de mais moderno para

aplicar em nosso neg��cio, fazendo o que �� preciso para

acompanhar o progresso do tempo e o desenvolvimento

de nossa empresa.

222

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Na minha juventude, eu trabalhava catorze horas

por dia na IBM. E o sujeito, ao ouvir isso, dizia: 'Mas que

loucura! N��o dormia e ainda estudava'?

��, meus amigos, eu ia para casa morto de cansa-

do. Minha m��e, um dia, quando o carro da IBM foi me

buscar, mandou o motorista embora: 'Olha, ele n��o vai,

porque est�� esgotado'.

Eu delirava. Passava a noite mandando as pesso-

as fazerem qualquer coisa. N��o dormia direito. Dormia

quatro horas. Eu queria ganhar dinheiro para comprar as

coisas com que sonhava. Eu tinha um objetivo, um foco,

e n��o tinha dinheiro nem havia ningu��m da minha fa-

m��lia para me dar o que eu precisava e que eu achava

necess��rio ter.

Em 1967 eu fazia o censo educacional na IBM.

Altamente exigente comigo mesmo, trabalhava duro ao

mesmo tempo em que estudava das sete ��s dez da noite.

Comecei a ganhar melhor. Para meu n��vel, de segundo

grau ainda, ganhava um sal��rio maravilhoso.

Ideias. Os avan��os tecnol��gicos saem de ideias.

N��s temos, precisamos ter for��as para p��r essas ideias

em pr��tica. Estamos ricos de ideias. Mas temos que co-

loc��-las em pr��tica. Nosso objetivo �� este: trazer voc��s

para escutar o que estamos fazendo, as ideias que temos

e vamos, com certeza, realizar. Gra��as a Deus tudo o que

a gente pensa, mais cedo ou mais tarde, a gente p��e em

pr��tica. Somos, repito, ricos de ideias.

223

J U A R E Z L E I T �� O

Vejam tudo o que pensamos e conseguimos apli-

car: sonhamos em colocar lojas 24 horas sem portas e

colocamos. Come��amos a vender sorvete quando nin-

gu��m vendia. E tamb��m biscoito, Coca-Cola, chocolate...

Pensamos e fizemos. Sonhamos em conquistar o Brasil,

conquistamos. Nenhuma Rede do Brasil, at�� hoje, est��

presente em todos os estados da Federa����o. N��s estamos.

Loucura? N��o. Foco e For��a em uma ideia. Quando voc��

p��e for��a em uma ideia, a natureza trabalha a seu favor.

Voc�� tem que ter disposi����o. Concentrar energia para

isso. Quando voc�� quer, consegue energia. Consegue a

sua vontade.

Aqui est��o as suas outras fam��lias. Essa fam��lia

aqui. A fam��lia dos funcion��rios. A dos clientes. A fam��lia

brasileira. Isto �� a For��a da fam��lia. A sua lhe ajudando.

Voc�� ajudando a sua.

Vou repetir o que disse ontem: na p��gina 178 - se

n��o me engano - do Livro Sonho Grande, de Cristiane Correa, que faz a biografia de v��rios empres��rios, dentre

eles, a de Jorge Paulo Lemann. L�� ele diz: 'Quando sua

esposa reclamar porque voc�� est�� trabalhando muito,

diga que est�� conquistando o conforto do futuro'. Ele,

um dos caras mais ricos do Brasil e do mundo, n��o sei se

est�� certo ou se est�� errado. Mas essa �� uma forma inte-

ligente de dizer para seu marido, para sua esposa, para

seu pai: 'Olha, pai, estou trabalhando muito, mas estou

fazendo o que gosto. Estou trabalhando muito mesmo.

Estou pegando o carro em Altamira, no Bico do Papagaio

224

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

(regi��o que inclui partes dos estados do MA, PI, TO e

BA), rodando 500 quil��metros, poeira, terra. Estou pe-

gando o carro ��s sete da manh�� e dormindo �� meia-noite,

mas sei por que estou fazendo isto. Estou investindo no

meu futuro e gerando riqueza por meio do pagamento de

sal��rios e impostos'.

A hist��ria dos que venceram n��o �� muito diferente

da nossa. Todos os que triunfaram na vida se entregaram

ao trabalho, lutaram pelo que acreditaram, foram al��m

dos acomodados, dos pregui��osos, dos indolentes. Foram

fortes e firmes na busca de seus horizontes. Investiram

energia, sonhos, dedica����o e, por isso, venceram. Vamos

imitar a hist��ria dos vencedores e n��o adotar as descul-

pas dos que fracassaram".

Nesses congressos, as hist��rias de vida, contadas

pelos mais experientes, s��o importantes li����es para os

outros, para os mais recentes na empresa.

O Fundador nos explica que um bom n��mero dos

que est��o ali trabalham h�� vinte, trinta anos na empresa.

N��o tem esse neg��cio de alta rotatividade, n��o. Os que

s��o bons ficam e fazem carreira profissional ascendente.

O crit��rio �� a compet��ncia, aliada �� disciplina no traba-

lho, �� dedica����o nas miss��es e ao foco nos objetivos.

E nos aponta alguns veteranos: o Fl��vio, o Od��sio,

o Jucely, o Francisco...

Fomos em busca das hist��rias.

Francisco Fl��vio Ferreira �� Gerente de Opera����es

Fortaleza/Rio Grande do Norte/Piau��/Interior do Cear��:

225

J U A R E Z L E I T �� O

"Sou natural de Itarema, pr��ximo de Amontada, a

terra natal do Deusmar. Toda a minha hist��ria profissio-

nal �� em farm��cia. Em 1981 fui convidado para trabalhar

na Pague Menos. Naquele momento eram apenas duas

lojas. Entrei para trabalhar na loja da Avenida da Aboli-

����o, em Fortaleza. Fui indicado por um amigo e o meu

primeiro encontro com o Deusmar foi na loja.

Na ��poca ele visitava assiduamente as lojas. Ainda

n��o tinha o Ubiranilson como s��cio. Eu comecei como

vendedor. Naquele momento eu n��o tinha condi����es

nem almejava crescer na empresa, at�� porque era uma

empresa que estava no mercado h�� pouco tempo. Eu

pensava assim: 'Vou passar um ano como experi��ncia'.

Mas o Deusmar tinha uma proposta muito alta. Depois

de algum tempo como vendedor fui promovido a gerente

da loja.

A Pague Menos nasceu em 19 de maio de 1981

e eu comecei a trabalhar nela no dia Io de outubro de

1 9 8 1 . E fui galgando outros degraus. Comecei, como dis-

se, vendendo no balc��o e passei a gerente de loja. Depois

fui transferido para outra loja. Assumi o cargo do super-

visor. Passei a trabalhar na matriz. Em v��rios cargos. E

tive uma ascens��o grande at�� chegar, hoje, a Gerente de

Opera����es.

O Gerente de Opera����es trabalha com vendas.

Hoje, sob meu comando, tenho todo o estado do Piau��

com suas 30 lojas e uma parte do Cear��: Sobral e tr��s Re-

gionais em Fortaleza. Normalmente passo uma semana

226

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

em Fortaleza e outra fora. Tenho acesso livre da Presi-

d��ncia at�� os Servi��os Gerais. Fico nesse meio de campo.

Tenho um chefe, que �� o Diretor de Opera����es. Mas a

gente faz de tudo. Voc�� participa das sele����es das pesso-

as, d�� treinamento, trabalha na venda. Esse �� o nosso dia

a dia.

Todo mundo aqui me conhece. Tem gente que diz

assim: 'Rapaz, como �� que tu passas 36 anos em uma em-

presa s��?' Mas eu gostei da empresa. Gostei do fundador.

Identifico-me muito com ele. Ele �� muito transparente.

Essa rela����o com o fundador tem sido uma inspira����o

para mim. Sinto confian��a, vejo lealdade e, por isso, visto

mesmo a camisa da empesa.

Para mim, Deusmar �� um grande l��der. Eu leio

muitos livros de pensadores, pessoas de sucesso, vejo

as hist��rias dos grandes vencedores. Pois eu conhe��o

um vencedor de perto. Uma pessoa que eu vi crescer e

vencer como empres��rio. Voc�� agora vai contar a hist��-

ria dele num livro, mas n��s j�� sabemos essa hist��ria h��

muito tempo. Eu convivo com ele. Essa �� a diferen��a. Do

tempo em que o conheci at�� agora, ele �� o mesmo, alegre,

cordial com seus funcion��rios... Eu nunca vi o Deusmar

que n��o seja desse jeito. E isso a�� tem muita import��ncia

numa conviv��ncia de longo prazo. �� uma qualidade que

voc�� n��o imagina. Ali��s, uma das raz��es do sucesso do

Deusmar �� essa empatia que ele tem com seus auxiliares.

Essa coisa dele chegar �� loja e falar com todo mundo. Isso

encanta as pessoas.

227

J U A R E Z L E I T �� O

Agora, ele �� rigoroso na cobran��a. Ele quer resul-

tado.

Existe todo um trabalho de cobran��a, de acompa-

nhamento. Tem que estar no DNA da gente gostar do que

faz. Tem que ter muita for��a e vontade de fazer as coisas.

Para mim, por exemplo, n��o tem esse neg��cio de hor��-

rio. Meu trabalho �� o outro nome de minha casa".

O Gerente de Opera����es Francisco Fl��vio �� casado

com Sueli Mangeth. Amor constru��do dentro da Pague

Menos. Conheceram-se ali, namoraram e casaram, com

o aval do fundador.

O depoimento de Sueli �� muito importante pelas

informa����es que cont��m sobre os prim��rdios da empre-

sa com o relato de passos importantes desse empreendi-

mento constru��do, tijolo por tijolo, com sangue no olho.

"Meu nome �� Sueli Mangeth Ferreira. Nasci na

cidade de Maranguape e, ainda pequena, nos mudamos

para Fortaleza. Meu pai tinha neg��cios na Capital. Entrei

na Pague Menos em agosto de 1990. Entrei no caixa. Era

operadora caixa. Em menos de dois meses fui escolhida

para fazer um trabalho: arrumando loja. Era um servi��o

que o Deusmar tinha comprado fora. Um servi��o de ges-

t��o de estoque e layout de loja. Foi uma mudan��a muito

grande na ��poca e n��o tinha equipe para fazer. Ele mes-

mo era o l��der da equipe. Eu via, muitas vezes, dona Au-

ric��lia ajudando no trabalho. Esse trabalho era uma no-

vidade no in��cio. Tanto para o estado e o mercado como

para os funcion��rios.

228

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Comecei a trabalhar com estoque. Depois fui cha-

mada �� sala do Dr. Deusmar. Eu estava fazendo um tra-

balho bom. Sempre tive jeito nessa ��rea, de layout. Fui

conversar com ele. Trabalhei diretamente com ele du-

rante muitos anos. Dr. Deusmar era muito envolvido

com a disposi����o do estoque, com a apar��ncia das lojas.

Ele trabalhava com a gente. Arrastava g��ndola e colocava

balc��o. Uma vez fomos trabalhar em uma loja do centro.

Acho que ficava na Liberato Barroso. Dr. Deusmar tirou a

camisa e se p��s a trabalhar no pesado. N��s outros, vendo

o exemplo, nos esfor����vamos mais.

A gente quase n��o tinha perfumaria. Ele comprou

um sistema de autosservi��o junto com o sistema de ges-

t��o de estoque. Nesse autosservi��o a gente ia trabalhar

com perfumaria em g��ndolas. A gente tinha que transfor-

mar a loja toda. A loja fechava durante um ou dois dias.

Mudava toda a apar��ncia. Botava g��ndolas e arrumava a

mercadoria. Tudo por ordem alfab��tica. O layout da loja

ele fazia com a gente. A gente foi se acostumando com a

velocidade dele. Ele influenciou muito na forma como eu

trabalho hoje. Ele �� muito r��pido. Tinha um pensamen-

to muito acelerado e a gente tinha que acompanhar essa

velocidade. Ele �� uma pessoa muito bacana, mas �� muito

cobrador. Ele quer empenho e frutos no trabalho.

Pois, ��. Aquele Fl��vio, que me recebeu de forma

t��o dura, hoje �� meu esposo. S��o os milagres da Pague

Menos".

229

J U A R E Z L E I T �� O

Circulo pelos espa��os da Conven����o e s�� vejo ale-

gria e trabalho por toda a parte. Em cada audit��rio, um

palestrante, uma exposi����o de desempenho, uma apre-

senta����o de projeto a ser aplicado. Em cada pessoa uma

hist��ria de trabalho e progresso pessoal advindo desse

trabalho.

Algu��m, com jeito de intelectual e de quem n��o

anotei o nome, me diz que considera a Pague Menos um

pa��s, uma na����o. A Na����o Pague Menos - proclama euf��-

rico. E prossegue:

"O que caracteriza uma na����o �� o fato de possuir

um territ��rio, falar a mesma l��ngua e ter um mesmo sen-

timento. E a Pague Menos possui tudo isso. Possui um

territ��rio de atua����o, que �� o Brasil todo. Uma mesma

linguagem, que s��o os objetivos. E um sentimento entra-

nhado de amor �� empresa. Uma coisa quase japonesa �� o

que se v�� aqui na Pague Menos na rela����o entre os fun-

cion��rios e a empresa. No Jap��o, os funcion��rios chegam

a brigar nos bares e a cantar o hino da empresa quando

encontram um concorrente".

Vou atr��s de mais hist��rias e encontro outro casal.

Outro amor edificado na Pague Menos pela conviv��ncia.

Converso com o Carlos e a Renata.

"Sou o Carlos Freitas. Tenho 48 anos e 27 de Pa-

gue Menos. Antes trabalhava em uma drogaria pequena.

Mas tinha o sonho de trabalhar em uma empresa gran-

de. Meus amigos trabalhavam em grandes empresas e, de

vez em quando, est��vamos comemorando a promo����o de

230

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

um deles. Eu dizia: um dia vou entrar em uma empresa

de porte. Ent��o, tive a sorte de trabalhar na Pague Menos.

Entrei como vendedor.

Sou de Sobral, do distrito de Taperuaba. Tr��s me-

ses depois de entrar na Pague Menos fui convidado para

ser gerente de uma loja. Aceitei. Entrei na loja 35, de

Caucaia, no dia 1o de outubro de 1 9 9 1 . Fui gerenciar a

loja da Mozart Lucena, no bairro de Nova Assun����o. Eu

estava em uma reuni��o e o doutor Deusmar falou que ia

abrir uma loja em Messejana. Naquela ��poca eu morava

em Messejana. Eu me candidatei para ser gerente daque-

la loja e o meu gerente disse o seguinte: "N��o sei se vai

dar para voc��, porque a loja vai ser muito grande".

Vinte e dois meses depois, ele disse: "Carlos, a loja

vai abrir. Voc�� vai querer? Pois v�� para l��, amanh��, que

v��o montar a loja".

Depois de um ano e meio fui gerenciar outra loja

no Shopping Iguatemi e, quando estava l��, com tr��s me-

ses, fui chamado para participar de uma sele����o para su-

pervisor. Gerente Regional. E fui selecionado.

Um dia a gente estava em uma reuni��o para mudar

de ��rea. O Dr. Deusmar abriu a porta e o Jucely, que era

o coordenador da ��poca, falou: 'Doutor, vamos mudar as

��reas aqui, o senhor quer falar alguma coisa?' Ele disse:

'Quero. Deixa o Carlos de fora, que segunda-feira ele vai

para S��o Lu��s do Maranh��o'. Eu n��o sabia nem onde fica-

va S��o Lu��s. Depois fui falar com ele e Dr. Deusmar me

disse: 'Estamos montando uma loja em S��o Lu��s, voc�� vai

231

J U A R E Z L E I T �� O

para l��, o endere��o �� tal (me deu o endere��o). Na pri-

meira banca que tiver voc�� compra um mapa da cidade,

se localiza e vai para l��'. Sa�� daqui em um Fiat Uno e fiz

justamente tudo que ele mandou. Montamos a loja.

Quando est��vamos na quarta loja ou na terceira

em S��o Luiz, Dr. Deusmar me chamou para abrir a loja

de Recife. Fui para Recife. L��, o desafio foi maior. Isso

em 1997. Fora para S��o Lu��s em 1996 e, em 1997, para

Recife. Foi quando a Pague Menos implantou a comuni-

ca����o visual nas lojas. A primeira loja a gente montou e

desmontou quatro vezes para acertar.

A sele����o em Recife para contratar os funcion��-

rios foi feita em uma quadra de est��dio coberto, de tan-

ta gente que havia. Na ��poca o Sergio Mena Barreto era

quem comandava essa parte. Foram selecionados 12 ge-

rentes e o maior desafio de minha vida foi trabalhar com

esse pessoal contratado para a gente fazer uma expans��o

muito forte em Recife.

Passei tr��s anos em Recife. De l�� fui para Salva-

dor. Abrimos a primeira loja de Salvador no dia 30 de

dezembro de 2 0 0 0 . No dia 31 tinha aquele neg��cio de

bug do mil��nio e a loja era 24 horas. Eu me lembro que o

r��veillon neste ano foi na loja. A gente ficou a noite toda

nessa loja. O tal do bug passou e os computadores fun-

cionaram normalmente.

Em Salvador foi onde me separei. Conheci a Re-

nata. A gente come��ou a namorar. Tenho um filho com

minha primeira esposa.

232

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Passamos quatro anos em Salvador e fui convidado

para abrir a Regional de Curitiba, no Paran��. Os pontos,

naquela ��poca, eram decididos pelo Regional e Dr. Deus-

mar. A gente, depois que alugava, comandava a opera����o

para montagem. Lembro que, em Curitiba, t��nhamos tr��s

lojas prontas para abrir, mas tivemos um bloqueio des-

tinado a retardar nossa entrada l��. A gente com todas as

lojas prontas, mas n��o aprovavam as plantas nem os alva-

r��s. O poder p��blico emperrava a tramita����o. Acho que

estava sendo manipulado. A gente n��o entendia. Fazia

reuni��o com o Chefe da Vigil��ncia e nada. Eu tinha sete

velas de devo����o em casa. Todas acesas para que o Chefe

da Vigil��ncia Sanit��ria aprovasse a nossa solicita����o. To-

dos os dias rezava nessa inten����o.

Um dia Dr. Deusmar me telefonou: 'Carlos, voc��

est�� a�� e sabe que o seu sal��rio �� muito alto para n��o abrir

essas lojas'. Foi a�� que me lembrei de acender as velas. Fi-

nalmente, conseguimos abrir as lojas. Passei um ano em

Curitiba e fui chamado para comandar a Regional de S��o

Paulo, que j�� tinha sido inaugurada. Fui para S��o Paulo

em 2004. Foi um desafio muito grande tamb��m. Mas foi

muito prazeroso.

Deusmar �� um l��der que tem a virtude de reconhe-

cer o trabalho das pessoas. Ele ensina muito. �� como se

fosse um pai do tempo antigo, exigente e rigoroso. Mas

muito reconhecedor dos m��ritos e sempre pronto a nos

apoiar. Ele est�� junto da gente o tempo todo e sabe a hora

de cobrar".

233

J U A R E Z L E I T �� O

Renata Aguiar, a esposa do Carlos Freitas, conta a

sua hist��ria:

"Tenho 44 anos, sou pernambucana, fiz parte da

primeira turma de gerente trainee da Pague Menos. Eu

estava rec��m-formada. Sou formada em Administra����o

de Empresas. Nunca tinha assumido uma posi����o de ges-

t��o. Participei de uma sele����o bastante dif��cil capitanea-

da pelo Sergio Mena Barreto, a Magna e o Carlos. Quando

os doze gerentes foram escolhidos, passamos tr��s meses

entendendo a empresa em um ambiente bastante hostil,

porque os outros gerentes n��o tinham curso superior e

se sentiam amea��ados por essa nova onda de gestores.

Fui para Recife. Peguei a primeira loja 24 horas.

A sele����o foi feita l��, em Recife, doze gerentes foram se-

lecionados e trazidos para Fortaleza por tr��s meses. De-

pois voltamos para Recife com a miss��o de abrir a regio-

nal. Gerenciei a primeira loja 24 horas. Os outros doze

ficaram esperando a abertura das outras lojas. Elas foram

abertas em doze meses. Isso em 1999. Houve um proces-

so seletivo interno. Eu passei. Trabalhei como supervi-

sora. O Carlos j�� estava indo para Salvador. A gente era

colega de trabalho. Ele havia rompido o seu casamento

recentemente e a ex-mulher viera para Fortaleza com o

filho. Eu s�� descobri que gostava do Carlos quando ele

foi embora. Como era natural, precisava consult��-lo, de

vez em quando, pois ele havia sido o antigo gestor da Re-

gional. N��o existia essa estrutura de hoje. A gente ficava

234

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

muito sozinha. Muito isolada na Regional. A matriz mui-

to distante e voc�� era a pessoa que tomava conta daquilo

tudo. Eram quase quinze lojas e eu n��o tinha muita expe-

ri��ncia e ele era a pessoa que podia me ajudar nos pro-

blemas pela experi��ncia que tinha. Ent��o, num belo car-

naval, em Salvador, fui rever o amigo. Esse carnaval foi

t��o bom para n��s, que j�� dura 15 anos. Hoje temos dois

filhos. O filho do Carlos, mais velho, mora conosco, est��

com 19 anos. Temos a Lara e o Pedro. A Lara tem dois

anos. J�� era namoro de pessoas maduras e n��o tinha por

que ficar enrolando. Ou a gente decidia ou acabava. Eu

sa�� da Pague Menos porque a gente tinha a mesma fun-

����o em estados diferentes. S�� existia uma pessoa como

Gerente Regional por estado. E, para n��o ficarmos sepa-

rados, sa�� da Pague Menos. Fui para Salvador. Casamos.

Passamos tr��s anos em Salvador. N��o t��nhamos filhos

ainda. Recusava-me a trabalhar em outra farm��cia que

n��o fosse a Pague Menos. Passei a trabalhar com mate-

rial de constru����o. No fim de semana a gente montava a

loja, eu visitava as lojas com ele. Continuava respirando

Pague Menos. Quando ele foi para Curitiba, sa�� do meu

emprego. Passamos um ano l��. At�� que, em 2004, fomos

para S��o Paulo...

Em S��o Paulo, em 2 0 0 5 , a Pague Menos estava lan-

��ando o Cart��o de Fidelidade e, numa festa da empresa,

me encontrei com o Dr. Deusmar. Ele tinha acabado de

chegar em S��o Paulo e sempre se interessava em saber

235

J U A R E Z L E I T �� O

como �� que a gente estava. Eu, especialmente naquele

dia, estava muito triste. Havia participado de muitos pro-

cessos seletivos e n��o estava vendo resultado. Ent��o ele

perguntou se eu estava bem. E eu disse que n��o. 'Est��

com algum problema?' - perguntou ele, e eu disse que

estava desempregada. E ele: 'Por isso, n��o. Voc�� est�� em-

pregada'. 'Mas como assim, estou empregada?' Ele disse:

'Olha, vou lan��ar o Cart��o de Fidelidade e preciso de al-

gu��m para me ajudar nisso, voc�� topa?' Eu n��o perguntei

nem onde era. Disse que sim. No dia seguinte, o Deusmar

telefonou para o Carlos para ratificar o convite. Disse que

todo mundo estava dizendo que ele havia bebido muito

e, por isso, tinha feito o convite. Mas n��o era nada disso.

O convite estava mantido.

Ficamos treze anos em S��o Paulo. Hoje �� um dia

marcante para mim. Fomos transferidos para Fortaleza.

A Conven����o j�� �� nossa casa. N��o somos mais visita. Hoje

foi o primeiro dia de aula de meus filhos. Estou muito fe-

liz. Fortaleza, para mim, �� o c��u.

Posso dizer que o Dr. Deusmar tem sido uma pes-

soa marcante em nossas vidas. Um ser humano de grande

nobreza de alma e um constante inspirador de todos n��s.

Hoje sou uma mulher de 44 anos com tr��s filhos.

Eu tenho muita gratid��o. Tudo o que conheci e vivi foi

dentro desta empresa. Foi nela que conheci meu marido,

tive meus filhos e fiz uma carreira".

Naquela tarde, sa�� daquele congresso, pensando

com os meus bot��es:

236

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Fui chamado para contar a hist��ria de um homem

e de sua principal empresa. Agora j�� vou ter que escrever

sobre uma 'na����o', como t��o bem definiu a Pague Menos

e seu fundador um de seus diretores.

237



18

O ENCONTRO DE

MULHERES PAGUE

MENOS

"Que a beleza da mulher n��o esteja nos

enfeites exteriores, mas no interior, que

se forma na sabedoria e n��o perece."

1 P e d r o 3, 3

"Mulher: n��o crie limites para si

mesma. Voc�� deve ir t��o longe quanto

sua mente permitir."

Billie Jean King, tenista n o r t e - a m e r i c a n a

239

J U A R E Z L E I T �� O

Acentua-se cada vez mais a pol��tica de responsa-

bilidade social e cultural nas empresas. Cresce a

consci��ncia de que o papel social do empreen-

dimento privado deve estender-se para al��m das atribui-

����es de dar empregos, gerenciar com descortino o seu

neg��cio e cumprir suas obriga����es fiscais com o Estado.

�� preciso que o empresariado desempenhe uma a����o

mais ativa na sociedade e colabore, tamb��m no campo

sociocultural, para seu desenvolvimento.

Ao patrocinar projetos culturais, a empresa se di-

ferencia das demais a partir do momento em que assume

diante do meio em que atua valores de grande import��n-

cia para a sociedade, como o reconhecimento da tradi-

����o, o apoio ��s conquistas da modernidade, o est��mulo

�� compet��ncia e �� criatividade, ampliando de um modo

cativante a comunica����o com seu p��blico-alvo, a quem

repassa a imagem de que, al��m de seus objetivos de lu-

cro, est�� tamb��m preocupada com outros interesses pre-

ciosos da comunidade.

240

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

A Pague Menos entendeu muito cedo os benef��-

cios da pol��tica cultural. E investiu - como temos visto

em outras passagens deste relato - em diversos progra-

mas de lazer, estudo e aprimoramento f��sico e cultural,

como o Nossa Gente Nossa Arte, o Concurso Liter��rio,

as campanhas Cidade Verde e Bichinhos do Brasil, o Cir-

cuito de Corridas e outros mais.

A partir de 1997, a empresa decidiu realizar um

evento nacional de grande vulto para homenagear as mu-

lheres, num reconhecimento l��cido das raz��es de defesa

da igualdade de g��neros e por absoluta consci��ncia e acei-

ta����o das conquistas femininas no mundo contempor��neo.

O ENCONTRO DE MULHERES PAGUE MENOS

�� o maior evento feminino do Brasil. Foi idealizado por

Sergio Mena Barreto, na ��poca Diretor de Marketing da

empresa. Hoje, ocupando a relevante posi����o de Presi-

dente-Executivo da Associa����o Brasileira de Redes de

Farm��cias e Drogarias - ABRAFARMA, relembra o ins-

tante em que gestou a ideia do famoso conclave:

"Vi que a empresa precisava, naquele momento,

de um salto qualitativo que a distinguisse das demais e

granjeasse mais apoio da sociedade, principalmente, no

p��blico feminino. Engendramos a coisa e depois �� que

vimos o quanto de trabalho e dedica����o era preciso dis-

pender para dar certo. Foi um sucesso imediato e logo

abra��ado pela sociedade cearense. �� sempre assim: du-

rante meses, n��s, os organizadores, ficamos queimando

as pestanas, pensando em todos os detalhes para fazer de

241

J U A R E Z L E I T �� O

cada momento do Encontro de Mulheres Pague Menos

algo ��nico, especial e inesquec��vel. E o resultado qual-

quer um pode ver. �� esse amor que passa de cora����o pra

cora����o e faz desse evento o maior do pa��s: passar pelos

corredores e ouvir, de v��rias daquelas 20.000 mulheres,

que o evento �� a melhor coisa que acontece nas suas vi-

das, n��o tem pre��o" - conclui o executivo.

Patriciana Rodrigues, Diretora de Compras e

Marketing das Farm��cias Pague Menos, �� outra persona-

lidade portadora do grande entusiasmo pelo congra��a-

mento, comandando sua realiza����o e motivando os par-

ceiros para, com empenho redobrado, repetir e aumentar

o sucesso do monumental encontro:

"Tenho um carinho muito especial por esse pro-

jeto. �� emocionante ver que conseguimos transformar

nosso trabalho e dedica����o em momentos especiais, que,

com certeza, fazem a diferen��a na vida de milhares de

mulheres. �� compensador ver o sorriso estampado no

rosto de cada uma das que participam. �� maravilhoso tes-

temunhar a felicidade sentida e proclamada de vinte mil

mulheres reunidas no mesmo espa��o".

Fomos testemunhas do 11�� ENCONTRO DE MU-

LHERES PAGUE MENOS, realizado nos dias 2 1 , 22, 23 e

24 de julho de 2 0 1 6 , no Centro de Eventos do Cear��.

O evento ofereceu uma diversificada programa-

����o, que inclu��a palestras, shows, oficinas, espet��culos

teatrais e um enfoque central, sob uma linha de provoca-

����o positiva: PENSAR, MUDAR e EMOCIONAR. Suscitar

242

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

a consci��ncia das mulheres de seu empoderamento e da

valoriza����o dos seus m��ltiplos pap��is na sociedade.

O encontro reuniu mais de 20 mil mulheres de

todo o pa��s, no momento em que a Pague Menos come-

morava o marco de seus 35 anos.

Dobrando o n��mero de participantes do encontro

anterior, a edi����o de 2 0 1 6 foi - pela opini��o geral - a

melhor da hist��ria da Pague Menos, atraindo a presen��a

da m��dia em propor����o soberba e obtendo repercuss��o

nacional. O encontro teve estandes de parceiros convida-

dos e uma megaloja da Pague Menos com 500 metros qua-

drados. Eram cerca de 150 estandes reunindo as maiores

marcas da ind��stria farmac��utica atuantes no pa��s, em

que os expositores distribu��am milhares de brindes e

apresentavam as ��ltimas novidades e lan��amentos em

produtos de sa��de, higiene, beleza e dermocosm��ticos.

Duas empresas participantes, no af�� de deixar

as mulheres mais bonitas, instalaram dois sal��es VIPs

de beleza: a TRESEMM��, oferecendo cortes de cabelo,

aplique de tintura e spa dos p��s. A PATENE e a WELLA,

reunidas num mesmo sal��o, ofereciam, com renomados

profissionais, maquiagem, esmalta����o e o kit de aplique

de tintura.

Foi registrada a participa����o de, pelo menos, vin-

te estados da Federa����o, com mulheres que declaravam

sua imensa alegria de estar ali, naquele mundo m��gico,

ouvindo palestras edificadoras, vendo o funcionamento

das oficinas de arte (pintura em tecido, placas de aviso,

243

J U A R E Z L E I T �� O

porcelana, biscuit, escultura, carpintaria, moda, culin��-

ria), batendo pernas nas feirinhas tem��ticas e curtindo

as atra����es musicais com o cantor F��bio Jr., o parceiro de

Vinicius de Moraes, Toquinho, e o conjunto The Fevers,

para as saudosistas dos anos 6 0 / 7 0 . Houve tamb��m um

espet��culo teatral, um mon��logo escrito, produzido e es-

trelado pela comediante Helo��sa P��riss��, "E Foram Quase

Felizes para Sempre".

Para as que queriam refletir ou assenhorar-se de

informa����es de cultura geral, filosofia, hist��ria, psicolo-

gia, recursos humanos, odontologia, nutri����o, comporta-

mento social e especialidades m��dicas, foram oferecidas

muitas op����es de palestras, ministradas por celebrida-

des nacionais.

Causaram a mais viva impress��o as confer��ncias

do psiquiatra Augusto Cury, sobre Como Otimizar a Vida.

Do professor Cl��vis de Barros Filho, livre-docente da

Universidade de S��o Paulo (USP), sobre A Vida que Vale

a Pena Ser Vivida, uma fala cheia de humor que provocou

gargalhadas na plateia. Do m��dico Dr��uzio Varella, sobre

Sa��de e Qualidade de Vida. Da jornalista e poeta Martha

Medeiros, sobre Anseios Femininos e Relacionamentos

Humanos nos Tempos Modernos. Do jovem palestrante

Rafael Baltresca, sobre Motiva����o, Felicidade e Lideran��a.

Quando abordamos algumas participantes, no in-

tuito de colher impress��es, recebemos uma montanha de

confiss��es de alegria e de expl��cita felicidade.

244

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Dona Maria do Carmo disse que vinha de Sergipe

e j�� participara de tr��s outros eventos, planejando vir ou-

tras vezes:

"Enquanto vida eu tiver, n��o perderei um En-

contro de Mulheres como este. Rapaz, isto aqui �� um

lava-almas, um amasso de ego. A gente se sente valori-

zada, querida, superestimada. E aprende coisa que at��

Deus duvida. Saio desses encontros maior, mais nobre,

mais mulher".

Maria Augusta, do Maranh��o, ria o tempo todo.

Disse que agora estava sabendo o que era felicidade. Era

o primeiro encontro, mas se arrependia de n��o ter vin-

do aos outros. Estava acompanhada de uma filha, que a

induzira a participar e ambas garantiam que nunca mais

iriam faltar.

Benedita Farias de Sena �� do Piau��. J�� �� av��, mas tem

uma jovialidade impressionante, com apar��ncia de bem

menos anos do que os sessenta e cinco que confessa ter:

"Estou vindo pela quarta vez e, a cada participa-

����o, me surpreendo pela quantidade de novos itens que

os organizadores incorporam. Sou professora e, quando

retorno, relato para os meus alunos os pormenores do

encontro. Interessante �� que, por influ��ncia de alguns

desses alunos, suas m��es passaram a vir tamb��m. Somos

tr��s da cidade de Floriano e quatro de Teresina, s�� da mi-

nha turma. Da pr��xima vez, com certeza, seremos mais

de vinte".

245

J U A R E Z L E I T �� O

L��cia de F��tima, cearense de Itapipoca, se dis-

se orgulhosa do que estava vendo. Declarou-se quase

conterr��nea de Deusmar Queir��s, pois Amontada, a

terra natal do fundador da Pague Menos, j�� pertenceu

ao seu munic��pio:

"Eu queria chamar um evento como este de ATI-

TUDE C��VICA. Se todas as m��dias e grandes empresas se

dispusessem a promover encontros de forma����o e repas-

se de conhecimentos, talvez o Brasil mudasse sua men-

talidade. Essa pol��tica do jeitinho, que termina gerando

esse mar de corrup����o, �� antiga e precisamos formar

uma nova gera����o de brasileiros dignos e conscientes.

Alguns empres��rios est��o fazendo sua parte. Mas outros,

est��o �� se associando aos pol��ticos para cometer crimes.

Parab��ns ao meu quase conterr��neo Deusmar. Ele �� um

homem de bem".

No plano de preven����es, o 11�� Encontro de Mu-

lheres Pague Menos tomou os mais previdentes cuida-

dos. Todas as participantes sabiam que o evento contava

com uma moderna frota de ambul��ncias, UTIs m��veis e

convencionais, equipadas com a tecnologia mais avan��a-

da, al��m de uma equipe m��dica especializada. A cobertu-

ra nesse setor inclu��a um ambulat��rio m��dico preparado

para urg��ncias, al��m de um plant��o de socorro capaz de

providenciar qualquer necessidade, de desfibrilador a

carro de bombeiros.

O Encontro de Mulheres Pague Menos, que ocor-

ria todos os anos, agora ocorre a cada tr��s anos, em raz��o

246

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

do volume de provid��ncias que exige uma prepara����o

complexa e minuciosa.

Sua import��ncia vai al��m daquele clima de festa e

autoestima que proporciona ��s mulheres que dele parti-

cipam. Reflete uma filosofia empresarial de participa����o

social e contribui����o efetiva para a mudan��a de concei-

tos que hoje j�� deviam estar completamente superados.

A Pague Menos, pela mentalidade esclarecida de seu

fundador, se incorpora �� constru����o desse mundo novo

que reclama uma revis��o urgente na postura patriarcal

oriunda de nossos ancestrais e respons��vel por d��cadas

de atraso social e humano. E aposta na valoriza����o das

mulheres, companheiras de todos os homens nas ondu-

lantes estradas do tempo.

247





19

A A����O SOCIAL DA

PAG��EMENOS

"N��o devemos postergar nossas

responsabilidades sociais. Assumi-las faz a

diferen��a entre o instinto e a intelig��ncia.

Entre os homens e os bichos."

Fernando Matos,

cineasta portugu��s ( 1 9 4 0 - )

uando ainda estudante do antigo Curso Ginasial,

no velho Semin��rio da Bet��nia, em Sobral, este es-

criba um dia viu um poema que come��ava assim:

"Debru��ado na janela do momento

eu enxergo dois mundos de uma vez...

249

J U A R E Z L E I T �� O

O mundo da pobreza combalida

e a aridez do deserto consumida

no cora����o dormente do burgu��s".

O poema era da autoria de nosso professor de portu-

gu��s, Padre Osvaldo Chaves, que eu considerava um s��bio.

Embora n��o houvesse sido provocado para estu-

dar o sentido daqueles versos, chamou a minha aten����o a

alus��o ao "cora����o dormente" dos abastados. Seria justa-

mente por ter cora����es que n��o sentiam nada, pois esta-

riam dormentes, que eles haviam ficado ricos?

Ali, no semin��rio cat��lico, se estudava a B��blia

com intensidade. E num dos evangelhos estava escrito

que era mais f��cil um camelo (corda de amarrar navios)

passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar

no Reino dos C��us (Mateus, cap. 19, vers. 1 6 - 3 0 ) .

Mais tarde, j�� na faculdade, estudando a Refor-

ma Protestante, vi que um de seus l��deres, Jo��o Calvino,

justificando o Capitalismo, afirmava claramente que, se

voc�� era rico, isso ocorrera porque Deus lhe queria bem,

pois a riqueza era uma demonstra����o patente da predile-

����o divina.

A vis��o crist�� sobre a riqueza dividiu os coloniza-

dores da Am��rica. Os protestantes ocuparam o norte e os

cat��licos o centro e a linha abaixo do Equador.

Os reformistas do norte atingiram um alto ��ndice

de desenvolvimento (Canad�� e Estados Unidos), adotan-

do o pragmatismo capitalista. J�� os cat��licos, vivencian-

250

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

do a prega����o jesu��tica do absoluto desapego ��s coisas

materiais, colonizaram a Am��rica Latina, regi��o eterna-

mente inserida no mapa do subdesenvolvimento.

As contradi����es da Hist��ria imitam a vida e pre-

cisam ser entendidas pela leitura das circunst��ncias, no

enquadramento dos fatores de tempo e espa��o, al��m das

especiais condi����es estruturais que envolvem o social, o

pol��tico e o econ��mico.

No chamado capitalismo selvagem, muitos dos

que conseguiram atingir o ��pice da pir��mide social jul-

gam que o seu sucesso �� fruto exclusivo do talento e da

aud��cia de que s��o portadores e pouco se preocupam

com as condi����es de mis��ria ao derredor. S��o os de "co-

ra����o dormente", de que fala o poema.

Outros, por��m, est��o cada vez mais conscientes da

responsabilidade social que devem exercer. Sabem que

n��o atingiram sozinhos a crista da montanha e precisam

repartir uma parcela do que receberam com a sociedade,

especialmente, com os mais necessitados.

�� essa mentalidade que fez com que, nos Estados

Unidos, grandes empres��rios aderissem �� filantropia.

Desde os velhos magnatas Henry Ford (ind��stria auto-

mobil��stica) e John D. Rockefeller (petr��leo) ao atual

homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, criar funda����es

para patrocinar artes, atividades esportivas e estudos de

alta pesquisa cient��fica �� uma pr��tica de grande vigor e

patente atua����o.

251

J U A R E Z L E I T �� O

Deusmar Queir��s, oriundo de estamentos humil-

des da sociedade, sempre se comoveu com as dificulda-

des alheias, procurando ajudar quem as estiver viven-

ciando. L��der espont��neo e natural, fora um adolescente

engajado nas promo����es culturais de seu bairro, levando

sua turma de amigos para colaborar nos movimentos be-

neficentes da par��quia, promovendo arrecada����es com

fins caritativos e concitando a comunidade a ajudar as

atividades sociais.

Seu esp��rito de abnega����o, voltado para o apoio

social, intensificou-se quando melhorou sua condi����o

econ��mica. Tem a plena consci��ncia do que a solidarie-

dade pode produzir como agente transformador da vida

dos que, muitas vezes, se encontram nos ��ltimos degraus

do desespero, aturdidos pela afli����o do abandono e pela

aus��ncia absoluta de qualquer esperan��a.

Sua no����o de responsabilidade social �� detectada

facilmente em numerosas a����es de solidariedade, feitas

com uma espontaneidade que nos estarrece. Sem preten-

s��es pol��ticas e nenhum laivo vulgar de vaidade, realiza-

-as simplesmente e n��o tem a sofreguid��o de divulg��-las.

�� como se fosse uma obriga����o natural, um dever huma-

no dos que t��m mais para com os que t��m menos.

Numa certa manh�� de 2 0 1 6 , fui chamado por meu

amigo S��rgio Moura Sales para colaborar para um abrigo

de menores por meio de doa����o de roupas usadas e ou-

tros pertences de que n��o precisasse mais. Chegando ��

Associa����o Madre Paulina, no bairro Cidade dos Funcio-

252

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

n��rios, em Fortaleza, passei a conversar com a diretora,

Maria das Dores de Macedo, sobre aquela Institui����o e

o trabalho que ali desempenhava, abrigando 30 crian-

��as que, antes, viviam em situa����o de rua. Ela confessou

as dificuldades que enfrentava, sem verbas de governo,

sustentando a casa apenas com as colabora����es da popu-

la����o. �� determinada altura da conversa falou que tudo

poderia estar pior se n��o tivesse ganhado aquele im��vel

do doutor Deusmar. Sim, aquela casa enorme, com am-

plos dormit��rios, quatro banheiros, cozinha industrial e

refeit��rio fora presente de uma alma generosa. Meu faro

de pesquisador se acendeu imediatamente: "Que doutor

Deusmar �� esse? Seria o Deusmar Queir��s das Farm��cias

Pague Menos?" "�� esse mesmo" - retorquiu.

Cobrei, depois, de meu biografado ter me escon-

dido uma a����o t��o importante. Que diabo de bi��grafo

sou eu que fica sem conhecimento de t��o bom exemplo

de solidariedade humana, escamoteada por este tipo de

humildade franciscana?! Ele, ent��o, me disse que, para

Deus, a pabulagem das benfeitorias perde todo o valor

no lastro das gra��as para a eternidade. Para o conceito

divino, a m��o esquerda n��o deve tomar conhecimento do

que a m��o direita faz.

Deusmar deve ter compreendido essa hist��ria de

m��o esquerda e m��o direta quando participou da Ma��o-

naria, chegando ao grau de mestre.

A primeira iniciativa de responsabilidade social

da Pague Menos aconteceu em 1985 quando criou o

253

J U A R E Z L E I T �� O

PROGRAMA DE DOA����O DE CADEIRAS DE RODAS,

concomitante, com o PROGRAMA DE DOA����O DE

AMBULNCIAS.

Milhares de pessoas com defici��ncia motora fo-

ram beneficiadas com a distribui����o do equipamento,

que ocorre sob rigoroso crit��rio de destina����o.

Quanto �� doa����o de ambul��ncias, a a����o mobiliza

a opini��o p��blica na escolha das entidades assistenciais

que devem receb��-las. S��o abrigos de idosos, creches, ca-

sas de aux��lio a crian��as, santas casas, hospitais de c��n-

cer, manic��mios, nosoc��mios, casas de parto e outras

voltadas para a preserva����o da sa��de e defesa da vida.

A estes, seguiram-se outros programas, como a

ALFABETIZA����O SOLID��RIA, programa criado pela

ex-primeira-dama Ruth Cardoso, com o objetivo de alfa-

betizar os adultos. A Pague Menos foi a primeira empresa

nordestina a adotar um munic��pio, General Sampaio/CE,

custeando todas as despesas. Os munic��pios s��o adotados

para receber cursos de instru����o inicial e leitura, com a

doa����o de livros para a biblioteca municipal e sess��es de

narra����o de hist��rias e informa����es sobre a realidade local.

Outro programa acontece em parceria com a UNI-

CEF, nominado de INFNCIA FELIZ, tendo j�� beneficia-

do milhares de crian��as brasileiras.

O programa VIDA SAUD��VEL �� tamb��m direcio-

nado �� inf��ncia, procurando enriquecer a qualidade de

vida das crian��as, sobretudo, no primeiro ano de vida,

e promovendo cursos sobre cuidados adequados com o

2 5 4

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

beb��. Nesses cursos, desenvolvidos pela Pague Menos

em todo o pa��s, especialistas instruem sobre vacinas,

c��licas, amamenta����o, estimula����o dos sentidos e toda

uma s��rie de d��vidas que m��es e cuidadores t��m sobre

rec��m-nascidos.

No programa CAMPANHA CIDADE VERDE, a

organiza����o destina parte do lucro das vendas dos pro-

dutos com o Selo Amigo da Natureza para a distribui����o

de mudas de plantas, no intuito de arborizar e aumentar

os espa��os verdes das cidades, estimulando a popula����o

�� consci��ncia da oxigena����o do meio ambiente e �� defesa

da natureza. Essa campanha tem contemplado centenas

de cidades em todas as regi��es do pa��s, onde quer que

exista uma loja Pague Menos. E elas est��o em todos os

lugares, em todos os estados da Federa����o. O plantio de

mudas levou Fortaleza ao Livro dos Recordes quando, em

2 0 1 0 , na capital do Cear�� foram plantadas 65 mil novas

��rvores em uma hora.

O Projeto MORINGA, A SEMENTE DA VIDA, em

parceria com os Correios e a Defesa Civil do Cear��, con-

siste na distribui����o gratuita das sementes da Moringa

oleifera, que s��o empregadas para purificar a ��gua. Mi-

lhares dessas sementes chegaram, atrav��s da Pague Me-

nos, ��s regi��es de rios e po��os insalubres, tornando suas

��guas pot��veis e lhes dando condi����es para o consumo

humano. Este projeto, que virou mat��ria do Globo Rural,

Nordeste Rural e do Jornal Nacional, do Sistema Globo

de Comunica����o, �� reconhecido pela UNESCO como tec-

255

J U A R E Z L E I T �� O

nologia social. �� um programa cientificamente aprovado

e tem sido levado a alguns pa��ses da Am��rica Central,

como o Haiti e a Rep��blica Dominicana, atenuando subs-

tancialmente o estado de polui����o de suas ��guas.

A campanha DOE SEU TROCO, que funciona

desde 2 0 0 8 em parceria com o Fundo Crist��o para a

Inf��ncia, arrecada pequenas contribui����es dos clientes

para o programa ��GUA PARA A VIDA, que constr��i cis-

ternas para as fam��lias que habitam a regi��o do semi��ri-

do, sempre atingida pelas calamidades clim��ticas, como

as secas.

No plano cultural e esportivo outros programas de

grande repercuss��o e altos resultados t��m sido assumi-

dos pela Pague Menos. Concursos de literatura, o Circui-

to de Corridas e o Encontro de Mulheres (o maior even-

to feminino do Brasil), al��m da publica����o de um jornal,

Campe��o, e PAGUE MENOS SEMPRE BEM, revista e

programa de televis��o.

A maioria destes programas hoje s��o assumidos

pela FUNDA����O EDUCACIONAL DEUSMAR QUEI-

R��S, fundada em 1o de mar��o de 1999.

A Entidade, que, por princ��pios e objetivos gerais,

se assemelha ��s suas cong��neres brasileiras e norte-ame-

ricanas, foi inicialmente dirigida por Geraldo Lima J��-

nior, escolhido por Deusmar por ser portador de elevado

idealismo e marcantes preocupa����es sociais. Seu traba-

lho foi essencial no per��odo de implanta����o e nos primei-

ros passos da funda����o. Depois, adoeceu e se julgou im-

256

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

possibilitado para continuar �� frente de t��o ��rdua miss��o,

que lhe exigia muito esfor��o e disponibilidade absoluta.

�� a�� que entra em cena o Dr. Vicente de Paula Pe-

reira, administrador de empresas, conterr��neo, amigo e

parceiro de Deusmar em outras voltas do destino.

Doutor Vicente relata a trajet��ria de seu longo re-

lacionamento com o fundador da Pague Menos.

"Nascemos no mesmo lugar, em Amontada, na-

quele tempo, distrito de Itapipoca. O pai dele, Ant��nio

Lisboa de Queir��s, que era conhecido, carinhosamente,

como Ant��nio Nonato, era muito amigo do meu pai, Jor-

ge Guilherme. Mais tarde seu Ant��nio veio com a fam��lia

para Fortaleza e foi morar no Ant��nio Bezerra. L��, me-

ninos ainda, nos reencontramos. O pai dele tinha uma

mercearia e eu via o Deusmar trabalhando na feira. Feira

mesmo. Feira livre de se vender farinha, goma e rapadu-

ra. Era uma coisa muito bonita. O Deusmar sempre teve

um esp��rito muito empreendedor.

Na casa de seu Ant��nio Lisboa s�� havia o Deusmar

e uma irm�� dele. Na minha, como meu pai tinha doze

filhos, todo mundo estudava em col��gio p��blico. O Deus-

mar foi estudar no Col��gio Cearense, escola de bar��o.

N��o havia entre n��s muita oportunidade de conviv��ncia,

pois o col��gio nos separava e ele era muito ocupado. Mas

voltamos a nos encontrar em 1973, como professores

na UNIFOR. Filhos da mesma terra, o Deusmar passou

a visitar a casa de meu pai e a conversar com ele sobre

Amontada. Meu pai gostava muito de Amontada e de fa-

lar sobre a terra natal.

257

J U A R E Z L E I T �� O

Coincidiu de exercermos o Magist��rio na mesma

universidade. Deusmar Queir��s e eu trabalhamos juntos

na Universidade de Fortaleza, UNIFOR. Ele entrou na

UNIFOR em 1973 como professor da cadeira de Mercado

de Capitais. Depois, foi convidado para ser coordenador

do Curso de Economia daquela universidade.

Eu, como minha forma����o em Administra����o de

Empresas, coordenava, �� ��poca, o Curso de Administra����o.

Mantivemos uma rela����o muito pr��xima nesse pe-

r��odo. Deusmar ia �� minha resid��ncia e eu ia �� casa de

praia que ele tinha em Icara��, no munic��pio de Caucaia,

chamada, jocosamente, de Moradinha Pai d'��gua.

Mas quando a pessoa come��a a ter um crescimen-

to econ��mico muito grande, o tempo se torna escasso e a

gente fica um pouco distante por causa do pr��prio poder

econ��mico e social do outro. N��o d�� para acompanhar o

que o outro faz. Mas a amizade continua.

Na UNIFOR, o Deusmar, que ministrava a cadei-

ra de Mercado de Capitais, da qual era profundo co-

nhecedor, alcan��ou, por m��rito pr��prio, a coordena-

����o do curso.

Compus o grupo de funda����o da Universidade de

Fortaleza. Eu era da Universidade Federal na ��poca. N��o

era professor. Era contratado. Tinha trabalhado na ��rea

administrativa naquele concurso do DASP e fui para a

Universidade Federal. Em seguida, fui convidado por um

colega a montar o curso de Administra����o da UNIFOR e

em 1973 Deusmar foi para l��.

258

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Uma coisa que deve ficar bem expressa: o Deus-

mar "cria" e d�� "a����o" ao que cria. Completa a palavra

"cria����o". Ele cria e d�� a����o. Uma marca muito dele.

Certa vez, como coordenador do curso na UNI-

FOR, a gente estava conversando e ele disse o seguinte:

"Vicente, isso aqui �� pequeno para mim. Eu vou empre-

ender".

Nessa ��poca ele j�� era conhecedor profundo do

mercado de capitais e, j�� participava de alguma socieda-

de neste sentido.

Naquele dia, dissertando sobre seu futuro, conti-

nuou:

"H�� tr��s ��reas que para mim s��o fundamentais: a

de tecidos, pois ningu��m anda pelado; a de alimentos,

pois todo mundo come; e a de medicamentos, pois todo

mundo um dia precisa comprar rem��dio". Deusmar, na-

turalmente, optou pela ��rea de medicamentos e foi muito

feliz nessa op����o.

Conheci at�� a primeira farm��cia dele no bairro El-

lery, se n��o me engano. Come��ou por l�� e, de l��, se lan-

��ou para o Brasil inteiro.

Deusmar �� casado com o trabalho. O trabalho ��

o seu chamego, sua prioridade. Conta Auric��lia, mulher

dele, que, um dia, muito cansado, Deusmar, que acordava

cedo para trabalhar, dormiu at�� tarde. A filha entrou no

quarto e, quando viu o pai na cama, n��o o reconheceu e

saiu de l�� gritando para a m��e que havia um homem no

quarto dela.

259

J U A R E Z L E I T �� O

Assim o Deusmar construiu a sua hist��ria. Eu fiz

um cordel para os trinta anos da Pague Menos. Mas per-

di. Mandei para o Deusmar, pelo computador, mas ele,

assim como eu, tamb��m perdeu. Agora n��o d�� mais para

recompor porque, para isso, �� preciso ter motiva����o e

estar dentro de um certo contexto que n��o existe mais.

Deusmar sempre teve voca����o para o social. Tem

consci��ncia de seu papel no mundo. Sabe que n��o che-

gou sozinho ao lugar em que se encontra hoje e tem um

compromisso de retribui����o para com a sociedade.

Em 1999, quando criou a funda����o que, por sinal,

leva o nome dele - FUNDA����O EDUCACIONAL DEUS-

MAR QUEIR��S -, eu n��o trabalhava para ele. Quem diri-

gia a funda����o, nessa ��poca, era o Geraldo Lima J��nior. O

Geraldo ficou �� frente da Funda����o por um longo per��odo.

Em 2 0 0 6 fui convidado pelo Deusmar para fazer

um trabalho de parametriza����o da PAX CORRETORA

junto ao Banco Central e a Bolsa de Valores. Em 2 0 1 2 o

Deusmar me tira da PAX e pede para que eu venha para

a Funda����o Deusmar Queir��s. Geraldo Lima J��nior ado-

ecera e n��o podia continuar.

Assumimos o trabalho e, hoje, estamos tocando a

Entidade dentro da qual est��o nascendo projetos novos,

como a F��brica-Escola, a Escola de M��sica, que leva o

nome da m��e do Deusmar Queir��s, dona Maria Madale-

na Queir��s, e outros projetos.

A Funda����o Escola Deusmar Queir��s possui, hoje,

diversos projetos, al��m do N��cleo de Ressocializa����o de

260

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Ex-Presidi��rios. Aqui n��s temos o projeto Empr��stimos

de Equipamentos Ortop��dicos, Educa����o pela Internet,

Semeando para Educar, Volunt��rios de Valor, Projeto

Moringa, a Semente da Vida e Esta����o da Leitura. Te-

mos, como j�� citei, a F��brica-Escola e uma Escola de

M��sica. Tudo funcionando aqui neste pr��dio da Avenida

Dom Manuel, em Fortaleza-CE.

Alguns projetos andam meio adormecidos. Ou-

tros, bastante adiantados. Um dos mais adiantados �� o

ESTA����O ECOL��GICA DE PACOTI, onde funciona o

Campus Avan��ado da Universidade Estadual do Cear��. A

gente tem uma supervis��o l��, mas a parte pol��tica, peda-

g��gica e institucional �� toda ela feita pela Universidade

Estadual do Cear�� - UECE.

Os EMPR��STIMOS DE EQUIPAMENTOS OR-

TOP��DICOS, por sua vez, est��o semidesativados, como

disse, ou andando muito lentamente. Quando as pessoas

devolviam as cadeiras e as muletas emprestadas, os equi-

pamentos chegavam imprest��veis. A din��mica, nesse

momento, est�� mais em cima dos projetos volunt��rios,

como a F��BRICA-ESCOLA e a ESCOLA DE M��SICA,

para familiares e filhos de apenados.

A menina dos olhos da Funda����o �� o trabalho de

recupera����o, forma����o profissional e apoio aos egressos

do sistema penitenci��rio.

2 6 1



20

0 PROJETO

F��BRICA-ESCOLA E A

RESSOCIALIZA����O DE

APENAD��S

"Quando temos a verdade dentro de n��s,

conseguimos pintar a mais tenebrosa noite com as

mais resplandecentes cores da aurora."

Dra. Luciana Teixeira, titular da 2 a . Vara

de E x e c u �� �� e s Penais de Fortaleza

Ornais ousado programa da Funda����o Educacio-

nal Deusmar Queir��s certamente, �� a participa-

����o na recupera����o e ressocializa����o de egressos

do sistema penal.

263

J U A R E Z L E I T �� O

O projeto F��BRICA-ESCOLA, TEORIA E PR��TI-

CA PARA A VIDA objetiva reabilitar apenados do re-

gime aberto, semiaberto e rec��m-sa��dos das pris��es. A

assist��ncia �� estendida aos dependentes e familiares dos

beneficiados e consiste na oferta de educa����o e capacita-

����o t��cnica, dando assim, a oportunidade de se integra-

rem �� sociedade e recome��arem suas vidas ap��s o cum-

primento da pena.

Em vigor na cidade de Fortaleza desde janeiro de

2 0 1 3 , a iniciativa, at�� ent��o, in��dita no Nordeste, j�� be-

neficiou centenas de pessoas. O projeto alcan��ou o alto

��ndice de 9 5 % de participantes reintegrados ao mercado

de trabalho e sem reincid��ncia em crimes. Um desempe-

nho muito acima dos n��meros mundiais.

O programa de reeduca����o inclui cursos de alfabe-

tiza����o, empreendedorismo, educa����o financeira, infor-

m��tica e diversas oficinas de forma����o espec��fica. Os par-

ticipantes do programa tamb��m t��m direito a tr��s quartos

de um sal��rio-m��nimo, al��m de vale-transporte, alimen-

ta����o, cesta b��sica, acompanhamento social, pedag��gico,

psicol��gico, assist��ncia m��dico-dent��ria e jur��dica.

Vicente Pereira, respons��vel pela Funda����o Deus-

mar Queir��s, explica que os pilares do projeto s��o o de-

senvolvimento, humanismo, disciplina e trabalho, funda-

mentados na proposta de justi��a restaurativa:

"Os apenados acolhidos no projeto passam por

quatro momentos consecutivos.

O primeiro deles �� o Momento de Reafirma����o

Pessoal, no qual s��o ajudados a ter autoconhecimento de

2 6 4

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

seu delito e a entender seus direitos e deveres diante da

sociedade", explica.

"Em um segundo est��gio, os alunos passam por

um Momento Relacional, em que s��o estimulados a vi-

ver coletivamente, participar de exerc��cios de ressociali-

za����o, com visitas culturais, oficinas e discuss��es abertas

e coletivas com familiares, entre outras atividades".

Vicente explica, ainda, que h�� tamb��m o Momen-

to Produtivo, com foco no desenvolvimento do empre-

endedorismo, com oficinas de ensino-aprendizagem.

A ��ltima etapa, chamada de Momento Cognitivo,

prepara-os para competir qualitativamente no mercado

formal e gerar emprego e renda na sua comunidade, me-

lhorando a qualidade de vida familiar.

O F��brica-Escola conta com a parceria entre Poder

Judici��rio Estadual, Minist��rio P��blico, Defensoria P��bli-

ca, Universidade Estadual do Cear�� (UECE), Associa����o

Cearense de Magistrados (ACM), Conselho Nacional de

Justi��a (CNJ), Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional

Cear�� (OAB/CE) e outras Institui����es p��blicas e privadas.

A ressocializa����o dos apenados do regime semia-

berto egressos do sistema penitenci��rio do estado do

Cear�� tem dado certo. Esse �� o carro-chefe atualmente.

O N��cleo de Ressocializa����o foi pensado desde o in��cio.

Nos Estatutos da Funda����o consta, j�� em 1999, que um

de seus objetivos era o de trabalhar com este p��blico.

"Quando entrei - dep��e o Dr. Vicente -, em 2 0 0 6 ,

esse projeto estava esvaziado. Praticamente n��o existia.

265

J U A R E Z L E I T �� O

Mas eu dei uma conota����o mais efetiva a ele. Denomi-

nei-o de F��brica-Escola, Teoria e Pr��tica para a Vida.

Hoje recebemos esse p��blico que vem por interm��dio de

senten��a judicial. No in��cio foi muito dif��cil. Havia uma

resist��ncia do pr��prio Tribunal de Justi��a, mas fomos

aprofundando a nossa rela����o com ele e assinamos um

termo de coopera����o t��cnico-cient��fica. Reconhecido e

autorizado, os ju��zes e desembargadores acompanham

o projeto e at�� recebemos aqui a visita das autoridades,

como a da vice-governadora, v��rias vezes, do Secret��rio

de Justi��a, do Secret��rio da Casa Civil e todos eles t��m

demonstrado muito interesse no que fazemos aqui.

Na F��brica-Escola, Teoria e Pr��tica para a Vida,

trabalhamos com o ex-detento e a fam��lia dele para que

seja acolhido. Temos, hoje, cerca de duas centenas de

pessoas ressocializadas e inseridas no mercado de tra-

balho. Recentemente, houve uma queda por causa das

quest��es econ��micas que o pa��s est�� vivendo.

Para quem n��o tem essa rela����o com o c��rcere em

sua hist��ria est�� dif��cil arranjar emprego, imagina para

quem tem?

N��o est�� muito f��cil arranjar coloca����o para essas

pessoas no mercado de trabalho. Mas todos aqui s��o ca-

pacitados. H�� diversos eixos de ensino e aprendizado na

F��brica-Escola, tais como corte e costura, linha de mon-

tagem de acess��rios el��tricos, serigrafia, modelagem em

caba��a e outros. E essas pessoas, que s��o avaliadas dia-

riamente, ap��s os seis primeiros meses, s��o reavaliadas

266

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

mais criteriosamente para vermos se t��m realmente con-

di����es de ir para o mercado de trabalho. H�� um grupo de

empresas, inclusive, que trabalha conosco nesse sentido:

Natur��gua, Pinheiro Supermercados, Mercadinhos S��o

Luiz, Ind��strias Romazi, Super Carne, Arte & Sorriso,

Sindi��nibus, UECE e OAB. A Pague Menos, como era de

se esperar, �� quem emprega mais.

O conv��nio n��o �� feito com a Secretaria de Justi��a,

mas com o Tribunal de Justi��a.

O nosso principal contato no sistema judici��rio ��

a Dra. Luciana Teixeira de Souza, Titular da 2a Vara de

Execu����es Penais, que exerceu a Corregedoria dos Pre-

s��dios e Estabelecimentos Penitenci��rios da Comarca de

Fortaleza.

Em duas ocasi��es, na primeira, quando o projeto

foi apresentado �� sociedade, e, na segunda, quando acon-

teceu a inaugura����o da F��brica-Escola, a palavra da Dra.

Luciana, al��m de muito eloquente, foi fundamentalmen-

te esclarecedora.

Os dois pronunciamentos da Dra. Luciana Teixeira

est��o aqui reproduzidos por sua subst��ncia did��tica so-

bre os objetivos e a import��ncia do projeto.

EXPLANA����O DO PROJETO F��BRICA-ESCOLA

Autoridades e Convidados desta solenidade:

H��, na experi��ncia humana, uma palavra que define

o seu rumo: OPORTUNIDADE.

267

J U A R E Z L E I T �� O

Aquilo que os gregos entendiam como DESTINO po-

deria, hoje, coadunar-se com outras express��es que expli-

cam o rumo, o sucesso, o desempenho e a realiza����o profis-

sional das pessoas na constru����o de suas vidas.

O mito hel��nico do fatalismo inexor��vel que assegu-

rava ser imposs��vel ao homem escapar de seu destino e que,

quanto mais tentasse se afastar do rumo tra��ado pelos deu-

ses mais estaria dele se aproximando, deve receber da Justi-

��a e da Sociedade uma NOVA LEITURA.

H�� toda uma cultura fatalista, implantada nos costu-

mes e sedimentada nas pr��ticas consuetudin��rias por cen-

tenas de gera����es, que precisa ser abolida pelo racionalismo

e pela lucidez contempor��nea.

�� preciso que se estabele��a a convic����o de que as pes-

soas �� que d��o rumo aos seus passos e que, mesmo quando

esses passos se enveredam para o caminho do desatino, da

escurid��o e do abismo, podem voltar a se aprumar, se ao ca-

minhante abatido for estendida a m��o samaritana e aqueci-

da em seu cora����o a chama da esperan��a.

Bendita foi a hora e sagrada a circunst��ncia em que

uma luz certamente divina iluminou a consci��ncia de alguns

altaneiros, nobres de sentimento e possu��dos de f��, que, de

privilegiada condi����o pol��tica, econ��mica ou funcional, de-

cidiram negar o absolutismo do lament��vel ad��gio popular

de que "o pau que nasce torto n��o tem jeito, morre torto!".

Excelent��ssimas autoridades,

Senhores Convidados,

Senhoras e Senhores Participantes:

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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

O que vamos assistir nesta solenidade �� um fato sin-

gular e at�� estranh��vel para os ainda atrofiados e engessa-

dos padr��es da Civiliza����o Ocidental.

Uma sociedade que, apesar das conquistas sociais e

pol��ticas, nunca se libertou completamente dos velhos pre-

conceitos nem deixou de praticar com terr��vel e execr��vel

assiduidade a discrimina����o contra os que erraram.

Ser�� este, sem d��vida, um momento hist��rico, por

se constituir um passo decisivo na reestrutura����o das re-

la����es sociais e no esfor��o consciente de recupera����o da

dignidade humana.

Porque o PROJETO F��BRICA-ESCOLA inaugura

um tempo novo e prepara o campo da seara para a semea-

dura da confian��a e do otimismo, quando defende e constr��i

a possibilidade de recuperar pela capacita����o profissional

os apenados do REGIME SEMIABERTO.

Porque o PROJETO F��BRICA-ESCOLA, que se au-

todenomina de TEORIA E PR��TICA PARA A VIDA, pro-

p��e um pacto social verdadeiro e honesto com os que que-

rem corrigir seu erro e recuperar os v��nculos perdidos com

a fam��lia e com a confian��a dos amigos, dos vizinhos e dos

conhecidos.

Porque o PROJETO F��BRICA-ESCOLA, que obje-

tiva a reinser����o e a reintegra����o, h�� de recompor a auto-

estima dos que, pelo caminho dos desavisos, a perderam e,

diante da indiferen��a e do preconceito, se achavam irreme-

diavelmente anulados e socialmente mortos.

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J U A R E Z L E I T �� O

Criado pela FUNDA����O EDUCACIONAL DEUS-

MAR QUEIR��S e identificado como um PROGRAMA DE

RESPONSABILIDADE SOCIAL, este projeto recebeu o

apoio entusiasmado de Entidades p��blicas, como a Asso-

cia����o Cearense de Magistrados, a Defensoria P��blica, a

Associa����o do Minist��rio P��blico e a Universidade Estadual

do Cear��, al��m de outras empresas do setor privado, como

Super Carnes e Mercadinhos S��o Luiz, todos irmanados no

sonho sublime de ACREDITAR PARA RECUPERAR.

Esta parceria de Institui����es ligadas �� Justi��a com a

iniciativa privada vai construir um exemplo e edificar um

modelo para corrigir a placidez nacional.

O pa��s se acostumou �� omiss��o, que �� o pior pecado

social e a mais cavilosa das desculpas p��blicas.

Ensinaram-nos, primeiro, a enfrentar as CONSE-

QU��NCIAS sem combater as CAUSAS.

E, depois, sobre o ERRO COMETIDO, a lan��ar o ES-

TIGMA e a CONDENA����O ETERNA.

A incapacidade do perd��o produz a VIOL��NCIA e

a INSEGURAN��A. Os que n��o t��m mais oportunidade de

trabalhar nem de aprender um of��cio continuam tendo ne-

cessidade de comer, de se divertir e de sentir prazer.

E isso eles tentar��o conseguir a ferro efogo.

Nessa guerra sem limites o melhor caminho �� o PAC-

TO SOCIAL firmado na CAPACITA����O PARA O TRA-

BALHO, sem d��vida, a melhor receita para a recupera����o

dos que erraram, mas querem reencontrar a estrada da dig-

nidade e da cidadania.

270

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Sempre digo que ao juiz cabe, n��o a execu����o cega

da lei, mas a interpreta����o l��cida do texto legal, na consci-

��ncia de que �� um SER HUMANO JULGANDO SEU SE-

MELHANTE que, por mais absurdo que tenha sido o seu

ato, pode, com o apoio da sociedade, recuperar-se e voltar a

caminhar na vida como um cidad��o.

Termino com um pensamento de Teot��nio Vilela, um

grande brasileiro que, condenado por doen��a fatal, saiu pelo

Brasil pregando a esperan��a:

"Eu convoco o povo brasileiro �� concilia����o. N��o

�� concilia����o da conveni��ncia para satisfazer apetites

mesquinhos. Mas aquela em que todos se esfor��am para

obter o bem comum, se unindo pelo bom senso, pela liber-

dade, pela oportunidade de trabalho, escola e sa��de para

todos e, em suma, pela defesa da dignidade humana."

MUITO OBRIGADA.

INAUGURA����O DA CASA DO PROJETO F��BRI-

CA-ESCOLA

Autoridades,

Participantes do Projeto F��brica-Escola

Convidados:

Nos dias que antecederam esta solenidade apeguei-

-me a conjecturas sobre a arte de sonhar e a ci��ncia de rea-

lizar os sonhos pelo caminho da perseveran��a.

Embalada pelas expectativas que geralmente nos pos-

suem ��s v��speras de um grande acontecimento, procurei me

271

J U A R E Z L E I T �� O

amparar no pensamento dos poetas e neles buscar o alimen-

to do otimismo e da esperan��a, nutrientes benfazejos e efi-

cazes para os que caminham em busca de horizontes sociais.

Vi em Fernando Pessoa uma afirma����o soberana:

"Tenho em mim todos os sonhos do mundo!"

E em Amy Dickinson a consci��ncia de que:

"A esperan��a tem asas e faz a alma voar".

Dizem que as verdadeiras revolu����es come��am no

cora����o dos poetas, porque eles s��o generosos e puros e, por

isso, transportam na alma os grandes sonhos da humanidade.

A experi��ncia que aqui se inicia, por seu car��ter ino-

vador e pelas transforma����es que pode provocar, tem, sim,

um car��ter de revolu����o.

A Hist��ria mostra que nem sempre s��o pelas armas

que se processam as mudan��as na sociedade. Antes delas e

muitas vezes sem elas, as ideias e as necessidades semeiam

os campos e abrem os caminhos onde brotam as ��rvores da

esperan��a e por onde passam as caravanas da liberta����o.

Esta casa e este momento foram amorosamente

constru��dos por um punhado de sonhadores que, tomados

pela cren��a na reedifica����o do ser humano, est��o apostan-

do todas as cartas num projeto de vertical e grandiosa su-

blimidade.

��ramos 12, o n��mero apost��lico, rico de simbolismo,

porque foi com aquele pequeno grupo de 12 seguidores que

um jovem Rabi, na Galileia, fundou uma religi��o e promo-

veu a grande reforma moral, m��stica e filos��fica do mundo.

Fez uma revolu����o.

2 7 2

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

N��o estamos fundando um novo credo, mas nos mo-

vemos igualmente pela f�� em Deus e na Justi��a, firmemente

apoiada na convic����o de que �� preciso acreditar no ser hu-

mano e lhe oferecer oportunidades para reconstruir a vida.

Senhoras e Senhores:

N��o h�� como recusar a emo����o deste momento,

quando vemos transformado em espa��o s��lido, em paredes

e teto, em objeto f��sico, um sonho que a tantos parecia abs-

trato, irreal e imposs��vel.

Olhem com cuidado esta casa e nela ver��o as m��os,

as mentes e os cora����es de um afoito grupo de idealistas

que, buscando o apoio de outras almas generosas e altru-

��stas, desafiou o medo, enfrentou a descren��a e ganhou a

confian��a da sociedade, conseguindo provar que quando se

tem a verdade dentro de n��s conseguimos pintar a mais te-

nebrosa noite com as mais resplandecentes cores da aurora.

Todos os dias aprendemos li����es com a humanidade.

Os bons s��o maioria e est��o a��, no mundo, em dispo-

nibilidade, ao alcance da nossa m��o. Quando temos um ob-

jetivo de benef��cio social, n��o devemos hesitar em convocar

os bons para formar ao nosso lado.

Clamemos em favor do bem comum e nos acudir��o

os benem��ritos, prontos para servir.

Nesta hora de intensa alegria queremos agradecer a

todos os parceiros deste empreendimento, que deve ser en-

tendido como UMA MISS��O SOCIAL e uma tarefa de soli-

dariedade humana.

273

J U A R E Z L E I T �� O

Primeiramente, aos apertados, destino de nossas es-

peran��as e objetivo primordial deste projeto humanit��rio,

com quem firmamos um pacto de confian��a e credibilidade.

Agradecer aos volunt��rios, que cedem fatias precio-

sas de seu tempo e adaptam suas agendas para exercer soli-

dariedade e praticar o amor ao pr��ximo.

Agradecer ao apoio das empresas, que, aliadas ao

Poder P��blico, entenderam o prop��sito altaneiro desta

iniciativa.

No topo dessa pir��mide de altru��stas est�� a FUN-

DA����O EDUCACIONAL DEUSMAR QUEIR��S, que,

pela lucidez de seu Presidente e Fundador, vem trilhan-

do um caminho de consci��ncia que se constitui um nobre

exemplo de cidadania a ser seguido pelo empresariado de

nosso Estado.

Estamos agora, neste instante magn��nimo de Deus

para com a nossa hist��ria, iniciando um novo destino para

algumas pessoas a quem a vida est�� oferecendo a oportuni-

dade de renascer.

Que des��a sobre o Cear�� e o pa��s a consci��ncia da

necessidade de combater a viol��ncia por outros caminhos e

com novas ideias.

H�� poucos dias uma reportagem de um jornal local

mostrava que os ��ndices da viol��ncia est��o aumentando ape-

sar dos investimentos do poder p��blico no setor.

Talvez os nossos m��todos de combater o crime n��o

estejam mais respondendo ��s expectativas por algumas fa-

lhas de vis��o e de interpreta����o.

274

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

�� poss��vel que a seguran��a social esteja a reclamar

por novas atitudes.

Uma delas, com certeza, �� a ressocializa����o dos

presos, tema que est�� sendo discutido em todo o mundo.

A condena����o eterna para quem errou �� uma usina

criminal, a obrigatoriedade de delinquir eternamente.

Que uma nova vis��o, uma luz de intelig��ncia, des��a

sobre nossas mentes e nos encaminhe para as descobertas

da raz��o.

�� preciso andar pelo lado claro da estrada e n��o pelos

desvios sombrios da intoler��ncia.

�� preciso oferecer a m��o aos que trope��am e n��o o

esc��rnio frio da desconfian��a.

�� preciso dizer SIM aos que querem se reafirmar e

receb��-los sem ��dio e sem medo.

�� preciso aclamar a vida, estimular as promessas de

vida e jamais se aliar aos arautos da amargura, aos profetas

do pessimismo e aos tangedores da morte.

E para os que marcham na frente, que se vistam com

a coura��a da resist��ncia. Porque n��o �� f��cil convencer os

parvos nem encorajar os desconfiados.

Entretanto, se a nossa causa �� justa e nela acredita-

mos, dela n��o poderemos recuar.

Concluo com estes versos de Cora Coralina, poeta de

Goi��s, que s�� passou a ser ouvida aos 70 anos, quando pu-

blicou o seu primeiro livro:

"Nunca pensei em desistir.

Porque tem mais ch��o nos meus olhos do que can-

sa��o em minhas pernas.

275

J U A R E Z L E I T �� O

Mais esperan��a em meus passos do que tristeza em

meus ombros.

Mais estrada em meu cora����o do que medo na mi-

nha cabe��a".

MUITO OBRIGADA.

Certo dia, vinha o Dr. Vicente Pereira de Choro-

zinho (pequeno munic��pio da Regi��o Metropolitana de

Fortaleza) e, ao atravessar o territ��rio dos pres��dios, ��

altura do km 17 da BR-116, brotou-lhe uma ideia: "Bem

que a Funda����o Educacional Deusmar Queir��s podia de-

senvolver um projeto social com os ex-presidi��rios! As

pessoas que cumprem penas, depois de libertadas, t��m

grande dificuldade de se reintegrar �� sociedade, porque

todos temem o seu passado e acham que v��o reincidir no

crime. A Funda����o poderia montar uma oficina de artes

e of��cios, uma f��brica-escola, e ali receber os egressos do

sistema penitenci��rio para investir em sua recupera����o.

Sob os cuidados da Funda����o aprenderiam um of��cio, se-

riam habilitados para uma profiss��o, al��m de receberem

aulas de especialistas sobre relacionamento humano, au-

toestima e consci��ncia de dignidade, contribuindo assim

para sua ressocializa����o".

A proposta j�� existia nos objetivos da Funda����o

desde o princ��pio, mas n��o fora posta em pr��tica. En-

tretanto, quando o Dr. Vicente hasteou novamente a sua

bandeira, contou com o imediato apoio de Deusmar e foi

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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

posta em funcionamento, como estamos vendo no de-

correr deste relato.

Uma iniciativa desse vulto certamente n��o seria

de f��cil aplica����o. A come��ar pela fam��lia do apenado.

Vicente diz que, em v��rias ocasi��es, ao receber um de-

tento, logo lhe aparecia a m��e do rapaz, aos prantos, im-

plorando para que n��o fosse acolhido, pois ele poderia

fingir que estava recuperado e, ao voltar para casa, criar

novos problemas com os pais e os outros irm��os. Ent��o,

era preciso fazer um trabalho tamb��m com a fam��lia do

apenado para que os parentes acreditassem na efici��ncia

do projeto.

Havia outros problemas, como relembra o Presi-

dente da Funda����o:

"Uma vez eu estava no gabinete, olhando pelo

monitor, quando vi um dos ex-presidi��rios saindo da

cozinha depois de almo��ar no refeit��rio. Entrava num

local onde tem um motorzinho, sa��a de l�� e olhava para

todos os lados. Pensei comigo: 'O que ser�� que ele quer?

Chamei uma pessoa que trabalhava na recep����o e dis-

se: 'Olhe isso no monitor. O que voc�� acha?' E ela, que

era bastante ressocializada, respondeu: 'Professor (��

assim que os ex-presidi��rios me chamam), ele est�� pre-

parando alguma coisa. Vamos ficar atentos'. E ficamos.

De repente, mas numa rapidez incr��vel, o ex-presidi��rio

n��o de todo ressocializado abriu a porta que ficava vizi-

nha �� minha com umas ferramentas e corremos para l��.

Quando chegamos, ele estava metendo a m��o na bolsa

277

J U A R E Z L E I T �� O

da nossa psic��loga, que havia sa��do para o almo��o. Foi

uma experi��ncia horr��vel. Chamei o homem para con-

versar. L�� para as tantas ele bateu na mesa, olhou para

mim e perguntou: 'O senhor vai me mandar de volta

para aquele inferno?' 'N��o - disse eu -, mas voc�� vai

ser desligado do projeto. Se eu deixar voc�� aqui, os ou-

tros v��o tomar conhecimento e eu n��o terei condi����es

t��cnicas nem morais para disciplinar o funcionamen-

to da Casa'. Ele disse: 'Eu n��o quero ser preso'. 'Voc��

n��o vai ser preso, retruquei, vou mandar voc�� at�� o juiz

no carro da empresa'. 'E se eu abrir a porta do carro e

sair no caminho? O que acontece?' 'O motorista volta.

O senhor n��o vai para o juiz preso, acrescentei. Conto

a hist��ria para ele e pe��o para lhe mandar para casa,

j�� que voc�� tem tornozeleira. N��o quero que lhe pren-

dam'. E ele: 'Tudo bem'. Chamei o motorista e falei o

seguinte: 'Deixa ele na subida da rampa que d�� para o

f��rum. Se ele quiser abrir a porta do carro e sair, n��o

tem problema'. Mas ele foi at�� o f��rum. Eu falei com o

Dr. C��sar Belmino, juiz da 2a Vara de Execu����o Penal,

onde corria o processo deste senhor, e pedi para n��o o

prender. Ele estava meio assombrado e eu tinha medo

de que pudesse ter ficado com alguma m��goa de mim.

Sei l��. O Dr. C��sar, ent��o, me orientou. Pediu para eu

n��o deixar o carro aqui, no pr��dio, nesse per��odo, mas

em lugar distante. E que eu refizesse meus hor��rios.

Chegasse depois e sa��sse antes de todo mundo. Foi ou-

tro choque, mas, como fora uma recomenda����o do juiz,

278

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

homem experiente no assunto, deixava meu carro na

PAX Corretora e o motorista ia me pegar nas imedia-

����es. Para nossa insatisfa����o, o juiz mandou esse rapaz

para casa. Em casa, foi convidado por amigos para fazer

um assalto e ali foi morto com seis tiros. Outro choque

que senti. Uma coisa muito triste".

O fato referido �� uma exce����o. A F��brica-Escola

tem sido uma experi��ncia muito exitosa. Aos poucos,

tenta reproduzir cenas da vida civil para os participantes.

Fazem oficinas aos s��bados, trabalham com artesanato,

estudam o que gostam e aprendem o of��cio de sua vo-

ca����o. No anivers��rio do projeto, que ocorre em abril, a

F��brica-Escola realiza o casamento coletivo, geralmente

com quatro a cinco casais, oficializados por um Juiz de

Paz, um Padre e um Pastor, com direito �� recep����o para

a fam��lia. Comemora o Natal, o Dia das M��es e a P��scoa,

tamb��m com a presen��a dos familiares.

Deusmar participa dos principais eventos. Com-

parece e fica muito sensibilizado. Na festa de Natal, re-

alizada na segunda semana de dezembro, no Clube dos

Magistrados, na Praia do Futuro, alguns ju��zes compare-

cem. Eles, os Magistrados, cedem o clube sem ��nus para

a Funda����o. Na ocasi��o, s��o sorteadas TVs e outros pr��-

mios para os participantes do projeto e seus familiares. ��

uma alegria que eles n��o viviam h�� muito tempo. E um

regresso ao usufruto humanizado da vida.

Vicente diz que se comove quando as m��es v��m ��

Casa para agradecer:

279

J U A R E Z L E I T �� O

"Elas rezam, p��em a m��o em minha cabe��a e agra-

decem a Deus pelo projeto. Esse �� o lado bom que faz a

gente ver, a cada dia, que estamos trilhando o caminho

certo e pensar que os governos deveriam investir mais

em experi��ncias dessa natureza, pois s��o projetos como

esse que podem reduzir a popula����o carcer��ria. Nosso

��ndice de perda, ou seja, aqueles que voltam a delinquir, ��

de apenas cinco por cento. Segundo a Pastoral Carcer��ria

do Estado, dos que n��o participam de programa de res-

socializa����o, 80% retornam �� cadeia. Aqui, no primeiro

ano, s�� 5% voltaram a cair. O Ministro Joaquim Barbosa,

por sinal, nos deu o selo Come��ar de Novo, do Conselho

Nacional de Justi��a, porque considerou que a F��brica-Es-

cola demonstrou um desempenho bastante eficiente e

�� capaz, efetivamente, de contribuir para a redu����o da

massa carcer��ria do Estado."

Em entrevista de 2 0 1 6 , Vicente Pereira informava:

"Recebemos aqui um contingente de 180 pessoas.

Desses 180 temos, hoje, mais de 150 no mercado de tra-

balho, plenamente ressocializados. Mas ressocializados

mesmo. Sem retorno ao c��rcere.

Temos v��rios deles no Grupo Pague Menos, tra-

balhando, outros aqui na Funda����o. Trabalhamos com

os familiares tamb��m. O apenado n��o pode ser traba-

lhado isoladamente. Tem que ser toda a fam��lia. Aqui

temos vendedoras nas lojas, filhos deles e esposas tra-

balhando conosco na Funda����o. �� assim que a gente faz

a base. Na ind��stria da constru����o civil, t��nhamos mais

280

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

de sessenta pessoas. Hoje, com a crise, n��o temos mais.

Nas oficinas de consertos de motos, temos uns cinco

trabalhando. A gente fica aqui �� ca��a de emprego. Man-

da fazer capacita����o. O rapaz aqui, do refeit��rio, j�� re-

cebeu treinamento no SENAI e trinta dias de est��gio no

Restaurante Universit��rio da UECE (Universidade Esta-

dual do Cear��), orientado por uma professora do curso

de gastronomia.

"Aqui n��s damos, aos ex-presidi��rios, o Bolsa Fa-

m��lia, Bolsa Sal��rio e 3 / 4 (tr��s quartos) do sal��rio-m��-

nimo, cesta b��sica, vale-transporte e tr��s refei����es di��-

rias. Alguns empres��rios nos ajudam sistematicamente.

A Natur��gua, que d�� toda a ��gua que usamos. O Super-

mercado Pinheiro, que nos d�� quarenta cestas b��sicas. O

Mercadinho S��o Luiz, que tamb��m d�� cestas b��sicas. A

Romazi, que mant��m uma linha de montagem e de equi-

pamentos aqui dentro. A loja que fornecia a carne foi

assaltada tr��s vezes. Eu retruquei: 'Homem, �� por isso

que existe este projeto. Se esses assaltos n��o ocorressem,

se n��o colocassem a sociedade em risco, n��o existissem

criminosos nem abandono dos menos favorecidos pela

sociedade, n��o precisava de projetos como esse. Diante

do que aconteceu com o senhor, a gente tem �� que fazer

mais ainda por essas pessoas'".

Queremos concluir esses relatos sobre o trabalho

social da F��brica-Escola com os depoimentos de Francis-

co Gilberto e Carlos Alberto, dois ex-presidi��rios.

281

J U A R E Z L E I T �� O

Nome: Francisco Gilberto dos Santos

Profiss��o: Atendente da Recep����o

Forma����o: estudou at�� a quarta s��rie

"Antes de entrar aqui, na F��brica-Escola, Teoria

e Pr��tica para a Vida, catava lixo no meio da rua. N��o

tinha como sobreviver de forma digna nem de me man-

ter como pessoa bem-sucedida. Invejava aquelas pessoas

que progrediam de forma errada, facilitada. H�� oito anos

n��o fa��o mais nada de errado. Estou com trinta e tr��s

anos hoje.

Fui preso umas cinco vezes por assalto �� m��o ar-

mada em farm��cia, lot��rica e posto de combust��vel. Mas

n��o adiantava nada. Entrava no pres��dio e sa��a de l�� do

mesmo jeito. Pres��dio n��o recupera ningu��m. A pessoa

sai mais astuta ainda para fazer o mal. Por ��ltimo, passei

sete anos e seis meses na pris��o. Achava at�� que n��o ia

mais sair de l��. Quando tomei conhecimento de que ia

sair de tornozeleira eletr��nica e ter a oportunidade de

comparecer ao Projeto F��brica-Escola para ter uma pro-

fiss��o definida, me admirei. Ningu��m d�� a m��o ou inves-

te em quem �� sentenciado pela justi��a. Mas vim para c��

por determina����o judicial. Aqui me perguntaram o que

eu tinha feito no passado e qual minha experi��ncia pro-

fissional. Eu disse que catava lixo e pedia esmola, mas

tamb��m sabia fazer limpeza. Hoje, depois de come��ar

como zelador, fui crescendo e recebo as pessoas na Fun-

da����o. Estou aqui h�� um ano e sete meses".

282

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Nome: Carlos Alberto dos Santos Freire

Profiss��o: Supervisor

Forma����o: estudou at�� a s��tima s��rie

"Comecei a minha vida na marginalidade. Tinha

catorze anos. Fiquei nesta vida at�� os dezoito. Passei

muito tempo na cadeia. Assaltava �� m��o armada em pos-

tos de gasolina, combust��vel, farm��cia. Fui preso quatro

vezes. No total, passei quase treze anos preso. Fui usu��-

rio de droga. Todo tipo de droga. A mais cruel foi o crack.

Passei dez anos consumindo droga. Hoje em dia estou

livre disso tudo. H�� cinco anos que n��o uso nenhum tipo

de droga. Aquela vida n��o tinha futuro. Nela, voc�� s�� tem

duas portas: a da cadeia ou a do cemit��rio.

Da ��ltima vez em que sa�� da pris��o, em 2 0 1 3 , a

mo��a me perguntou, no f��rum, se eu queria um empre-

go. Eu disse que sim. Ela me enviou aqui para o projeto

da Funda����o Deusmar Queir��s. Este foi um projeto que,

realmente, mudou minha vida. Hoje em dia posso dizer

que sou um cidad��o, pai de fam��lia e trabalhador. E foi o

trabalho e o apoio que tive aqui que me regenerou. Aqui

aprendi a dar valor �� liberdade. Aprendi a dar valor �� mi-

nha fam��lia e meus filhos. Devo tudo isso �� F��brica-Es-

cola e ao professor Vicente. Hoje valorizo as coisas que

antes n��o valorizava.

Da fam��lia toda, sou o ��nico que seguiu o caminho

da marginalidade. Minha fam��lia toda �� bem estrutura-

da. Meu irm��o �� mec��nico. Meus outros irm��os todos

trabalham na Loja Padre C��cero. Na ��poca da margina-

283

J U A R E Z L E I T �� O

lidade, eles n��o gostavam nem um pouco de mim. Eram

meio assim para o meu lado. S�� minha m��e nunca me

largou. Esteve sempre ao meu lado. Mas quando perce-

beram minha mudan��a todo mundo come��ou a falar co-

migo. Primeiro, foi preciso provar a eles que eu n��o era

mais o mesmo, porque s�� por falar n��o tinha mais quem

acreditasse.

Hoje em dia sou supervisor da Romazi. A Romazi

�� uma empresa que tem conv��nio com a F��brica-Escola.

Sou supervisor dela. Tomo conta de tudo e meu maior

prazer �� ajudar aquele cara que mal saiu da pris��o. Eu

sei o que ele passou por l�� porque eu passei pelo que ele

passou. Sei qual o ponto fraco dele. A minha maior ale-

gria �� quando vejo que aquele cara ali quer mudar e ver

a mudan��a do cara. Mostrar para ele os dois lados. 'Meu

irm��o, digo para eles, tamb��m vivi isso e foi assim, assim

e assim e n��o d�� certo. Hoje estou vivendo desta outra

maneira e neste caminho aqui est�� dando tudo certo.

Pode dar certo com voc�� tamb��m'. Tento explicar. Resga-

tar aquele cara. A minha maior satisfa����o �� essa, apesar

de a gente ter uma meta a cumprir na Romazi, porque a

empresa quer saber do trabalho, da m��o de obra.

A minha maior satisfa����o �� esta: ajudar aquela

pessoa que passou pelo que passei, sofreu o que eu sofri,

porque n��o �� brincadeira n��o, macho, o cara passar dez

anos da vida dele em uma pris��o. Nem contando d�� para

acreditar. S�� sabe quem passou por l��.

284

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Escuto muito as pessoas dizerem que ex-presidi��-

rio n��o tem jeito. Presidi��rio bom �� presidi��rio morto. Eu

estou aqui para provar que n��o ��. Todo homem deve ter

I

uma chance. Errar �� humano. Estou aqui para calar a boca

de quem acha que n��o tem jeito. Pois eu digo que tem.

Para mim, o Deusmar Queir��s e o professor Vi-

cente s��o duas pessoas aben��oadas por Deus. Se n��o

fossem eles eu n��o sei onde estaria agora. Eu mudei

muito por causa de minha for��a de vontade. Eu queria

sair daquela vida e encontrei apoio aqui dentro para tor-

nar isso realidade.

Tem gente que me v�� e diz assim: 'Voc�� �� Irm��o?'

Tem gente que muda porque se tornou crente. Eu n��o mu-

dei por causa de igreja. Sempre tive f�� em Deus. Assisto

missa todos os domingos, mas foi por causa do trabalho

que mudei. E pela oportunidade que me deram. A gente

n��o resgata todo mundo. Mas resgata setenta por cento.

Tem muita gente que quer mudar e n��o tem oportunida-

de. Mas por que n��o d��o uma chance? A pessoa, quando

sai da cadeia, todo mundo d�� as costas. Acha que o ex-

-presidi��rio n��o tem o direito de trabalhar. S�� de roubar.

N��o pode ser assim. Tem muita gente que quer mudar e

precisa de uma oportunidade apenas. Nada mais".

285



21

A TRAVESSIA PARA O

FUTURO

"Cada sonho que voc�� deixa para tr��s ��

um peda��o do futuro que deixa de existir"

Steve Jobs ( 1 9 5 5 - 2 0 1 1 ) ,

n o r t e - a m e r i c a n o , f u n d a d o r da Apple

No dia em que a Pague Menos chegava ao seu

3 6 a anivers��rio, 19 de maio de 2017, ainda de

madrugada, Deusmar Queir��s mandava pela

Internet uma mensagem para todos os colaboradores, di-

retores, fornecedores e familiares, tecida, como sempre,

com os fios de ouro do otimismo e o mesmo pulsante

entusiasmo que o tem movido a vida inteira.

287

J U A R E Z L E I T �� O

Quem l�� suas palavras naquele e noutros pronun-

ciamentos pode achar que ele deve estar se achando ar-

rogantemente, inc��lume �� crise severa que abala a eco-

nomia do pa��s ou, quem sabe, tem uma f��rmula secreta

para n��o ser por ela atingido.

Indagado sobre essa quest��o e sobre a adotada

postura de somenos import��ncia para momento t��o dra-

m��tico da vida nacional, tem resposta pronta na ponta

da l��ngua:

"As crises v��m e v��o embora. E a receita para ven-

c��-las �� trabalhar e investir. S�� dessa forma as vencere-

mos. Em alguns momentos �� preciso ter ilumina����o es-

pecial para atravessar os t��neis escuros, desprendimento

e capacidade de adapta����o.

Eu, por exemplo, acabo de vender 17% da Pague

Menos para o fundo americano de Private Equity General

Atlantic.

Nosso intuito �� manter o crescimento m��dio da

Rede, com a abertura de 2 0 0 lojas por ano. Manter nos-

sa expans��o nacional, mas sem causar endividamento.

Com este procedimento, aconteceu o aporte de R$ 600

milh��es em nossa empresa. A inje����o desse capital vai

garantir a continuidade de nosso crescimento.

Muitos fundos me procuraram, mas fui at�� Nova

York e conheci melhor o General Atlantic. Eles j�� t��m

experi��ncia em v��rias empresas varejistas da ��rea de

sa��de. No Brasil, o fundo tem investimentos em compa-

nhias como Ourofino, Smiles, Gol e XP Investimentos.

288

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

De repente, estou precisando de ajuda com um problema

e eles estar��o l��, pois eu n��o sei que problemas a gente

pode ter no futuro.

O acordo foi uma solu����o para obter capital ime-

diato. Nossa Rede de farm��cias n��o descarta por com-

pleto abrir capital - mas, como j�� fizemos outras vezes,

vamos postergar esse momento. N��o h�� possibilidade

de IPO em 2 0 1 7 nem no ano vindouro. A coisa pode

ou n��o mudar, mas tudo ainda est�� muito dif��cil. N��o

descarto, por��m, a abertura de capital da Pague Menos

em 2 0 1 9 . Pelo contr��rio. Toda empresa grande no mun-

do, como IBM, Google, Bradesco e Ita��, s��o companhias

abertas. No nosso caso, faremos isso quando o mercado

estiver favor��vel".

Com mais de 1.000 lojas e a presen��a em todos

os estados da Federa����o, a Pague Menos d�� cerca de 24

mil empregos, num momento de crise, quando o pr��prio

governo admite que 14 milh��es de brasileiros est��o sem

trabalho.

Ao ultrapassar as mil lojas, a Pague Menos cum-

pria a previs��o feita h�� mais de cinco anos de que, em

2017, fincaria sua bandeira na marca do milhar. "E o que

voc�� faz quando atinge a meta pretendida?" - pergunta o

fundador -, e ele mesmo responde: "Dobra a meta!".

Agora, a nova meta �� atingir 2.000 lojas em 2 0 2 2 .

Quanto aos concorrentes, que est��o vindo aos bor-

bot��es para o Nordeste, Deusmar diz que a presen��a de-

les serve para estimular seu esfor��o de crescimento:

289

J U A R E Z L E I T �� O

"Deus aben��oe os concorrentes, porque eles me

d��o for��as para venc��-los! �� uma briga boa".

E, quanto �� crise vivida pela economia brasileira,

diz que est�� abrindo o seu pr��prio caminho:

"Crescia 20% ao ano. Agora estamos crescendo

15%. �� esta a nossa crise".

A TRANSMISS��O DA PRESID��NCIA

DA PAGUE MENOS

Deusmar Queir��s n��o �� mais o presidente da em-

presa que criou. Para quem olha de fora, a not��cia es-

tampada em todos os jornais causou estupefa����o. Para

a fam��lia Pague Menos, entretanto, n��o passou de um

fato normal e esperado. M��rio Queir��s �� o novo Dire-

tor-Presidente.

O filho mais novo de Deusmar �� formado em Ad-

ministra����o de Empresas e, na Pague Menos, fez uma

carreira escalonada, como Gerente Trainee, Ger��nciaxle

Montagem de Loja, Manuten����o de Loja, Delivery e Ge-

rente de Marketing.

Quando da negocia����o para a venda dos 17% para

o fundo norte-americano, M��rio, que se especializara

tamb��m em Bolsa de Valores, teve participa����o ativa e

competente, orgulhosamente reconhecida por seu pai,

que, como vimos em outras passagens desta hist��ria, ��

um expert no assunto.

A sucess��o, que j�� vinha sendo preparada, foi feita

para atender as normas do "novo mercado", da Bolsa de

290

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Valores de S��o Paulo (BM&F), que exige que todas a����es

tenham direito a voto, e n��o permite que o Presidente da

empresa acumule os cargos de Presidente Executivo com

o de Presidente do Conselho de Administra����o.

M��rio Queir��s afirma que a mudan��a significa a

prepara����o para o IPO (primeira oferta p��blica de a����es),

que, segundo ele, pode acontecer em 2 0 1 9 .

A ren��ncia de Deusmar foi anunciada no Di��rio

Oficial do Estado (DOE), em dezembro de 2 0 1 5 .

O novo Presidente afirma que a sucess��o n��o

representar�� mudan��as na companhia, porque seu pai

continuar�� a deliberar. "Se houver alguma mudan-

��a ser�� sutil. N��o se esperam grandes mudan��as. Mas

substituir Deusmar ser�� dif��cil, �� uma miss��o de alta

responsabilidade", diz. J�� Deusmar v�� a ren��ncia como

um processo natural.

Segundo M��rio, a posterga����o do IPO, que vem

sendo adiada desde 2012, �� explicada pela atual conjuntu-

ra do mercado. "De 60% a 70% das a����es s��o compradas

por estrangeiros e o Brasil n��o est�� em um bom momen-

to. Passamos por um per��odo conturbado em que n��o h��

credibilidade nem previsibilidade do mercado brasileiro".

A hist��ria das empresas cearenses �� marcada pela

descontinuidade. Poucas foram as que ultrapassaram

com sucesso a segunda gera����o. Apenas duas atingiram a

marca dos 100 anos.

Houve um descuido lastim��vel dos patriarcas na

forma����o de seus sucessores. A maioria educou os des-

291

J U A R E Z L E I T �� O

cendentes como "filhos de rico", permitindo compor-

tamentos extravagantes e atitudes perdul��rias. Poucos

foram os que os puseram para trabalhar em fun����es hu-

mildes dentro da empresa, come��ando por baixo para

aprender como �� dif��cil ganhar e, sobretudo, preservar

dinheiro. Os filhos j�� queriam come��ar como donos, exi-

bindo poder e prest��gio na sociedade, consumando casa-

mentos ef��meros, adquirindo objetos de luxo, esbaldan-

do-se em bebedeiras e jogatinas.

Quando se faz um apanhado dos milion��rios cea-

renses do come��o do s��culo XX e se levanta a condi����o

econ��mica atual de suas fam��lias, a constata����o do empo-

brecimento �� clara e irrefut��vel.

E, quando as empresas que se tornaram importan-

tes para o desenvolvimento fracassam, muitas delas por

m�� gest��o, �� a pr��pria economia do estado que baqueia.

Escaldada por esses exemplos lament��veis, est��

se firmando, desde meados do s��culo passado, no Cear��,

uma nova gera����o empresarial preocupada em garantir

a perpetua����o dos sonhos e esfor��os que tiveram.' Algu-

mas j�� mostram uma boa safra da afortunada e prevenida

semeadura.

Deusmar Queir��s �� figura expressiva dessa coe-

rente e l��cida mentalidade.

292



22

O OLHAR DOS FILHOS

U�� semelhante a um homem que, ao

edificar a sua casa, lan��ou o alicerce

sobre a rocha. E vindo a enchente,

arrojou-se o rio em f��ria contra aquela

casa mas n��o a p��de abalar, pois fora

firme a sua constru����o."

Lucas 6, 48

Na P��scoa de 2017 reuni-me com Rosil��ndia,

M��rio, Kak�� e Patriciana, os filhos de Deusmar,

na Ch��cara Vila da Prosperidade, ��s margens

da Lagoa do Urua��, no munic��pio de Beberibe, a 79 qui-

l��metros da Capital. Quer��amos que eles falassem do

pai e sobre o pai. Como o viam, como o sentiam. O olhar

de dentro.

295

J U A R E Z L E I T �� O

Era uma fresca manh�� de abril. Os Queir��s pra-

ticavam a felicidade, divertindo-se com os amigos e a

parentela na bem instalada casa de campo da fam��lia

num lugar apraz��vel e po��tico, regi��o praieira e tur��sti-

ca do Cear��.

O lugar transpirava beleza por todos os lados e ge-

rava um estado de descontra����o, prop��cio para o exer-

c��cio da alegria e a paz de esp��rito. Redes armadas no

alpendre vasto. Mesas enormes cheias de petiscos, bal-

des de gelo, bebidas. As crian��as enchiam o ar com sua

garrulice, tr��fegas e ��lacres, disputando corridas, jogan-

do bola, pulando na piscina. Da churrasqueira emanava o

cheiro gostoso das mantas de carne, costeletas bovinas e

su��nas, picanhas e lingui��as chiando no braseiro.

Deusmar me explicava:

"Est�� todo mundo a��. A ra��a toda e alguns amigos.

Entre n��s a regra �� esta: trabalhamos juntos e nos di-

vertimos juntos. Desta forma, n��o temos folga pra fazer

besteira. Os netos crescem juntos, brincam juntos, v��o

desde cedo aprendendo. S��o 14, por enquanto. Eu disse

para os filhos que queria a casa cheia e a maior parte da

heran��a caberia a quem mais produzisse netos para mim

e a Auric��lia".

Pelas dez horas come��amos a entrevista. Reco-

lhemo-nos numa sala fechada, quando expliquei a in-

ten����o da conversa. Queria que cada filho relatasse o

seu hist��rico de participa����o na empresa e, tamb��m,

296





D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

abrisse o cora����o para falar, com a maior espontanei-

dade, o que achava daquele pai, um homem p��blico re-

conhecido nacionalmente, mas que eles, somente eles,

conheciam na intimidade.

Antes, uma homenagem de P��scoa.

Pedi que o chamassem e a Auric��lia tamb��m. Lem-

bramos de uma can����o que desejasse felicidade, venturas

e vida longa para o nosso personagem. O tempo de P��scoa

se prestava muito bem para esse tipo de manifesta����o.

Explanei sobre a P��scoa. Suas origens judaicas e

crist��s. Seu sentido de renascimento, quando o "homem

velho" d�� lugar ao "homem novo", livre do peso dos pe-

cados, das fadigas da vida, novamente leve, disposto, fa-

gueiro, pronto para recome��ar.

Concordamos que a can����o devia ser aquela da

Fl��via Wenceslau, compositora paraibana, muito bem-

-sucedida na letra e na melodia de "Te Desejo Vida":

Eu te desejo vida, longa vida...

Te desejo a sorte de tudo que �� bom;

De toda alegria, ter a companhia,

colorindo a estrada em seu mais belo tom.

Eu te desejo a chuva na varanda

molhando a roseira pra desabrochar;

E dias de sol pra fazer os teus planos

nas coisas mais simples que se imaginar.

297

J U A R E Z L E I T �� O

Eu te desejo a paz de uma andorinha

no voo perfeito contemplando o mar;

E que a f�� movedora de qualquer montanha

te renove sempre e te fa��a sonhar.

Mas se vier as horas de melancolia

que a lua t��o meiga venha te afagar;

E que a mais doce estrela seja tua guia

como m��e singela a te orientar.

Eu te desejo mais que mil amigos

a poesia que todo poeta esperou

cora����o de menino cheio de esperan��a

voz de pai amigo e olhar de av��.

Encerrada a homenagem, Deusmar e Auric��lia re-

tiram-se para deixar os filhos �� vontade na express��o de

seus depoimentos.

Primeiro, uma apresenta����o individual.

CARLOS HENRIQUE, o Kak�� - Sou Carlos Henri-

que, tenho 42 anos e sou casado com Katarine Marinho.

Tenho quatro filhos. O Carlos Henrique Marinho

de Queir��s, 15 anos, a Maria Clara Marinho de Queir��s,

que est�� com 13 anos, a Maria Helena Marinho de Quei-

r��s, com 8 anos, e a Maria Laura Marinho de Queir��s,

com 7 anos.

298

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

PATRICIANA - Eu sou Patriciana Maria de Quei-

r��s Rodrigues. Tenho 41 anos. Sou casada com Davi Ro-

drigues, de 40 anos. Temos quatro filhos: o Davi Rodri-

gues Filho, o primog��nito, hoje, com 13 anos; a Vidda de

Queir��s Rodrigues, que tem 11 anos; o Patrick de Quei-

r��s Rodrigues, que tem 9 anos; e a Pietra de Queir��s Ro-

drigues, que tem sete anos.

ROSILNDIA - Eu sou Rosil��ndia Maria Alves de

Queir��s Lima. Tenho 45 anos. Sou casada com Francisco

Humberto Lima e Silva. Sou m��e do neto primog��nito,

Bruno Henrique Alves de Queir��s Lima. Ele tem 20 anos.

Tenho a Vit��ria Alves de Queir��s Lima, com 12 anos, e

tamb��m tenho a neta mais nova, Let��cia Alves de Queir��s

Lima, que tem 6 aninhos.

M��RIO - Eu sou M��rio Henrique Alves de Quei-

r��s. Tenho 39 anos. Sou o filho mais novo. Sou casado

com Vanessa Ferrer Almada de Queir��s, que vai fazer 40

anos, pai do Pedro Henrique Almada de Queir��s, de 13

anos, de Nath��lia Almada de Queir��s, de 10 anos, e de

Francisco Deusmar de Queir��s Neto, de 8 anos.

ENTREVISTADOR - Gostaria que todos relatas-

sem seu ingresso na empresa e como evolu��ram profis-

sionalmente.

KAK�� - Comecei com onze anos, precocemente,

assim, porque comecei a bambear nos estudos, sendo re-

299

J U A R E Z L E I T �� O

provado uma vez e convidado a sair de um col��gio por

traquinagem. Meu pai ent��o me falou firmemente que se

eu n��o quisesse estudar deveria come��ar a trabalhar. Sa��

do Col��gio Christus para o Col��gio Capital, que era mais

leve. Nas f��rias, meu pai me botava para trabalhar meio

per��odo. Come��ou com meio per��odo, mas, depois, se

tornou tempo integral. Primeiro, limpando o ambiente e

separando mercadorias. O que �� isso? O que a farm��cia

vendia no dia anterior, no dia seguinte algu��m tinha que

separar os produtos para reposi����o, mandando-os para

as lojas. Mas fui evoluindo.

Cursei o High School, em Bournemouth - Inglater-

ra, na King School, de janeiro de 1992 a janeiro de 1993.

Retornei aos dezoito anos, tirei carteira de moto-

rista profissional e comecei a dirigir caminh��o. Em 2 0 0 1 ,

j�� casado, morei em Salvador por um ano e meio. Em

Salvador eu era subordinado ao gerente regional. Ficava

fazendo link entre o supervisor e o gerente regional. N��o

tinha uma fun����o espec��fica. Era uma esp��cie de "faz-tu-

do". Morei um ano e meio em Salvador. Depois fui para

S��o Paulo no segundo semestre de 2 0 0 2 . Fiquei em s��o

Paulo de 2002 a 2008.

Em 2 0 0 8 , fui para os Estados Unidos. Estudei e

passei para um curso em Betlin, na Calif��rnia. Morei um

ano e dois meses na Calif��rnia. Em S��o Paulo, de volta,

me tornei Gerente de Opera����es. J�� numa fun����o de alta

responsabilidade, fazia a expans��o da empresa para o Sul

e Sudeste: S��o Paulo, Paran��, Rio Grande do Sul, Santa

300

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Catarina e para o Rio de Janeiro. Hoje moro em Fortaleza

e ocupo a Diretoria de Expans��o da empresa.

PATRICIANA - Na ��poca das f��rias, com doze,

treze anos, a gente brincava de trabalhar na empresa. O

Deusmar sempre tinha essa vis��o de que era importante

que a gente vivenciasse o ambiente de trabalho para que

fosse tomando gosto. Tenho recorda����es claras de minha

inf��ncia carimbando documentos, levando pastas de ar-

quivo de um setor para outro, contando documentos de

cem em cem para arquivar. Algumas coisas nesse senti-

do. Atividades menos relevantes, j�� que ��ramos crian��as.

Almo����vamos l��, na empresa, e, quando terminavam as

tarefas, ��amos assistir a filmes no centro da cidade. Era

sempre na ��poca das f��rias.

Cursei o High School, na cidade de Bidwell - Ohio,

USA, na North Gallia High School, entre agosto de 1993

e fevereiro de 1994.

Quando fiz o vestibular tinha dezoito anos. Esti-

ve uma temporada nos Estados Unidos e, quando voltei,

prestei vestibular e passei em Engenharia Civil. Uma vez

na faculdade, assumi um emprego de verdade. J�� havia

passado pela loja como caixa e como balconista. Sempre

um per��odo. Quando comecei mesmo, com carteira assi-

nada na Pague Menos, foi numa ��rea que a gente chama

de Novos Neg��cios. Ali eu tive o privil��gio de iniciar al-

guns servi��os realmente inovadores que pude pegar des-

de o in��cio, como a implanta����o de revela����o de filmes

301

J U A R E Z L E I T �� O

da Kodak, na Era Pr��-Digital. Uma presta����o de servi��o

que a Pague Menos oferecia para seus clientes. Monta-

mos doze minilaborat��rios em lojas diferentes. Tinha os

poios nos laborat��rios, mas colet��vamos esses rolinhos

de filmes em todas as lojas para efetuar o servi��o de re-

vela����o, nominado de Kodak Expresso. Chegamos a ter

esse servi��o n��o s�� em Fortaleza, mas tamb��m em Reci-

fe. Com o tempo, a cultura de revela����o de fotografias foi

diminuindo e hoje, �� claro, n��o existe mais.

Dentro desse setor ainda de Novos Servi��os, a

gente lan��ou um cart��o que, na ��poca, era o Cart��o da

Pague Menos, um precursor do Cart��o de Fidelidade. O

cliente portador de nosso cart��o tinha acesso a um grupo

de descontos em determinados produtos. Faz��amos par-

ceria com os planos de sa��de para direcionar seus clien-

tes para a Pague Menos. Depois, esse cart��o teve seu des-

dobramento. Transformou-se em cart��o de cr��dito numa

parceria com a Fininvest, possibilitando, com o nosso

aval, a concess��o de cr��dito a pessoas que n��o tinham

cr��dito. Pessoas de baixa renda. Bastava ter um emprego

e um endere��o fixo para ter cr��dito na farm��cia. Inicial-

mente, esse cart��o de cr��dito era de utiliza����o exclusiva

em nossa Rede

Esse foi um momento muito interessante e de

aprendizado, porque tivemos de administrar o risco de

conceder o cr��dito ��s pessoas que n��o o tinham.

Tive possibilidade de lidar com o p��blico externo,

convenc��-lo a fazer o cart��o e, depois, entender como se

302

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

d�� a fatura. Tinha toda uma campanha para motivar as

pessoas a fazer esse cart��o. Depois a Fininvest foi com-

prada pelo Unibanco e o cart��o se transformou em um

cart��o de cr��dito nacional com parceria com o Master-

Card. At�� hoje temos esse cart��o de cr��dito, hoje com

o BradesCard. Temos ainda o j�� mencionado Cart��o de

Fidelidade, que n��o �� mais o Cart��o Pague Menos, mas o

CART��O SEMPRE Pague Menos, a base para nosso Pro-

grama de Fidelidade. Depois dessa experi��ncia em Novos

Servi��os fui convidada, em 2 0 0 0 , para assumir a Ger��ncia

de Marketing. A gente teve que come��ar do nada. Fazer

todo o plano de neg��cio, desenvolver qual seria o p��bli-

co-alvo, fazer uma campanha de marketing para impactar

as pessoas, convencendo-as a aderir a esses servi��os. Fui

convidada para ser Gerente de Marketing. Na ��poca, o

diretor de Marketing era o Sergio Mena Barreto, que foi

convidado para ser Presidente-Executivo da Abrafarma,

a Associa����o Brasileira de Redes de Farm��cias e Droga-

rias. E ele, mesmo a dist��ncia, ficou sendo o meu tutor,

me orientando de S��o Paulo.

Como Gerente de Marketing fui desenvolvendo

campanhas, ganhando corpo e, cinco anos depois, assu-

mi a Diretoria de Marketing da Pague Menos. Depois de

um tempo fiquei em duas fun����es: a Diretoria de Marke-

ting e a de Compras, que tinha uma equipe de compra-

dores. Dois gerentes de compras e eu, que ficava respon-

s��vel, junto com essa equipe, para comprar os produtos

que eram comercializados nas lojas. Tanto a parte de me-

303

J U A R E Z L E I T �� O

dicamentos quanto a de perfumaria. Essa foi uma ��poca

de grande aprendizado (a de lidar com a ind��stria far-

mac��utica e a de consumo, grandes laborat��rios, como

Unilever, Sanofi, La Roche Foi uma boa e salutar expe-

ri��ncia). Lembro-me de ter passado por cenas muito en-

gra��adas porque era mulher e jovem. Chegava um diretor

para perguntar se era comigo mesmo que teria que falar

quando via, desconfiado, que eu era muito jovem para

ser respons��vel por aquele setor. Hoje sou respons��vel

ainda por estas duas ��reas: a de Marketing e a de Com-

pras, mas, agora, com outras diretoras na ��rea.

Assimilamos tamb��m a parte de pre��o, an��lise de

estoque e gerenciamento de categoria, sendo que cada

uma dessas ��reas tem a sua respectiva diretora. Eu fico

junto com elas coordenando a ��rea.

Posso dizer que vivi uma experi��ncia muito boa.

Acho que tive muita sorte no meu itiner��rio na Pague

Menos, porque cada fun����o foi me dando uma bagagem

interessante, uma acumula����o de conhecimentos para

me possibilitar executar, hoje, o que fa��o com proprie-

dade, sabendo o que acontece em cada uma dessas ��reas.

ROSILNDIA - Eu tamb��m comecei muito nova

na Pague Menos. Com 12, 13 anos a gente j�� passava as

f��rias por l��. Comecei tamb��m na parte de separa����o de

mercadoria. Na ��poca, a farm��cia ficava ali no pr��prio

pr��dio da Rua Senador Pompeu. O dep��sito de medica-

mentos ficava atr��s e a perfumaria no primeiro andar.

304

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Toda a Pague Menos era s�� no terceiro. O primeiro e se-

gundo andares eram vazios. Eram v��os livres. Fui para a

loja. Era caixa e balconista. Tive experi��ncia na tesoura-

ria com a contabilidade.

Cursei o High School, em Bidwell, Ohio, USA, na

North Gallia High School, entre agosto de 1989 e maio

de 1990.

Ao retornar, fui uma das pessoas que fizeram toda

a implanta����o de recebimento de ��gua, luz e telefone.

Participei de todo esse processo com meu pai. Participei,

tamb��m, de todo o come��o da venda de vale-transpor-

te. Foi tudo junto com ele. Os tr��s ��ltimos dias do m��s

e os cinco primeiros do m��s seguinte eram uma loucu-

ra. Todas aquelas empresas comprando vale-transporte.

Acho que a gente chegou a ser os maiores vendedores

de vale-transporte de Fortaleza. Fic��vamos noite adentro

fazendo isso. Quando come��amos a receber ��gua, luz e

telefone, t��nhamos que mandar os boletos rapidamente

para as concession��rias. Assim a gente ficava at�� nove,

dez horas da noite trabalhando, porque chegavam aque-

les picos de vencimento e era preciso providenciar a en-

trega dos documentos. Minha m��e participou muito. Mas

ela estava mais diretamente ligada ��s coisas do meu pai,

ali, com ele.

Implantei a parte do caixa. Na ��poca, eram m��qui-

nas registradoras que tinham uns n��meros que exigiam

digitar os decimais na m��quina. Foi algo que a gente teve

305

J U A R E Z L E I T �� O

que aprender para repassar para os funcion��rios. Tive

tamb��m experi��ncia na parte de compras. Fui compra-

dora, analista de estoque na empresa, passei pela ��rea do

cart��o (�� ��poca do Cart��o Sempre tamb��m fiquei res-

pons��vel pelo conv��nio).

Em 2 0 0 2 sa�� da empresa. Passei tr��s anos em S��o

Paulo em uma empresa, do grupo Pague Menos, chama-

da e Pharma, respons��vel pelo Programa de Benef��cios de

Medicamentos, e, quando voltei para Fortaleza, fui para

a controladoria. Fazia todo o fechamento gerencial. Sem-

pre fui muito ligada �� empresa da fam��lia.

Hoje, quem coordena a Renda Participa����es, que

�� outra empresa de nosso grupo, sou eu. Todos os paga-

mentos de meu pai e de minha m��e: despesas dos apar-

tamentos, dos carros, dos funcion��rios, da casa de praia,

casa da lagoa, da fazenda Tem Tem etc, sou eu que admi-

nistro. No ano passado, assumi uma diretoria que se cha-

ma Gerenciamento de Categorias, que �� uma ��rea muito

pr��pria do varejo. ��rea que quase ningu��m conhece. S��

quem est�� l�� dentro. Como arranjar uma prateleira, como

arranjar um produto e como expor um produto. Hoje a

gente est�� l��, batalhando, trabalhando muito.

Agora que meu pai est�� saindo um pouco, chegou

a hora de a gente mergulhar de cabe��a e tocar a hist��ria

para frente. Temos consci��ncia da responsabilidade da

sucess��o. Muitas empresas de fam��lia n��o prepararam os

continuadores e desapareceram.

306

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

M��RIO - Bom, sou M��rio. E confirmo que, assim

como Kak��, Patriciana e Rosil��ndia, cresci aprendendo

sobre a nossa empresa. Quando a gente era pequeno,

passava metade das f��rias na Pague Menos. Meu pai acha-

va que era importante, para a gente valorizar o trabalho,

saber de onde vem o dinheiro que ganhava na mesada e

ter esse senso cr��tico de responsabilidade.

Todos falaram deste per��odo. Mas vou pular. Vou

tratar de quando completamos os dezoito anos. Era regra

geral passar uma temporada nos Estados Unidos, para to-

mar um banho de civiliza����o.

Cursei o High School em Albuquerque, New M��-

xico, USA, na Albuquerque High School, entre agosto de

1995 e julho de 1996.

Todos fomos para o exterior e, quando voltamos,

com dezoito anos, come��amos a trabalhar s��rio. Diferen-

te de meus irm��os fui trabalhar na PAX. N��o fui trabalhar

na Pague Menos. Fui para a PAX Corretora, primeira em-

presa de meu pai. Eu gostava do mercado de capitais. Co-

mecei meu trabalho l��. Muito jovem, arisco, inexperiente.

Direi at�� irrespons��vel. A Bolsa de Valores j�� �� um neg��-

cio de risco. Entrei no Mercado de Op����es, que �� bastan-

te arriscado. Fiz uma primeira opera����o, na qual ganhei

um dinheiro, significativo, e me empolguei. Depois, fiz

uma outra opera����o com um valor muito maior e perdi.

Perdi trinta vezes o valor de meu sal��rio, na ��poca, e n��o

tinha como pagar. Fui falar para meu pai e ele me de-

mitiu. Disse que eu n��o tinha maturidade para trabalhar

307

J U A R E Z L E I T �� O

naquele neg��cio e me mandou para o dep��sito, o Centro

de Distribui����o, para, literalmente, carregar caixa.

Fui para o CD, departamento de entrada de merca-

dorias, carregando caixa, verificando os produtos, confe-

rindo para ver se tudo tinha chegado. Tinha algumas pe-

culiaridades na entrada. Quando chegava um caminh��o

da Nestl��, por exemplo, dava um des��nimo muito grande

porque tinha que abrir caixa por caixa, olhar lata por lata

para ver se n��o tinha nenhuma amassada. Chegava sex-

ta-feira e a gente j�� sabia que ia entrar noite adentro con-

ferindo essas mercadorias. Mas foi um bom aprendizado

e eu realmente entendi o recado. Vi que eu tinha que ter

mais maturidade, n��o ia ficar rico da noite para o dia,

assim, e tinha que trilhar passo a passo a minha ascens��o.

Assim que cheguei dos Estados Unidos passei no

vestibular para Administra����o, na UNIFOR. S�� que fa-

culdade para mim era um neg��cio muito dif��cil. Tanto

que levei treze anos para me formar. Eu n��o tinha essa

aptid��o toda para o estudo e o que eu via nas primeiras

cadeiras de Administra����o, principalmente, Sociologia e

Filosofia, era muito longe da pr��tica. E, como eu j�� traba-

lhava, eu dizia: "Meu Deus, quando �� que vou aplicar isso

aqui?" A maioria dos professores tinha a vis��o do empre-

gado. Quando falavam da mais-valia era como se fosse

uma coisa horr��vel, que explorava o trabalhador, e n��o

que buscasse aumentar a produtividade. Eu ficava assim.

Rapaz, eu n��o vou aplicar isso aqui. Eu estou vendo o tra-

308

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

balho l�� e n��o condiz com isso aqui, pura teoria abstrata.

Eu fazia a faculdade e trabalhava na Pague Menos.

Demorei, mas me formei como administrador de

empresas pela UNIFOR.

Em outro momento, na Pague Menos, acho que em

1999, fiz o curso de Gerente Trainee, com tr��s meses de teoria e um m��s de pr��tica administrando uma loja. Depois de Gerente Trainee, assumi a Ger��ncia de Montagem

de Loja. Quando se abria uma loja nova, tinha que provi-

denciar todos os equipamentos: os m��veis, os balc��es e

os vidros. Em seguida, assumi a parte de Manuten����o de

Loja. Ent��o, ficava com a montagem de loja e a manu-

ten����o de loja. Mais tarde, fui para a parte de Delivery. E

passei, logo mais, para a Ger��ncia de Marketing.

Em 2003, era Gerente de Marketing da Pague Me-

nos. E, em 2006, aconteceu a comemora����o dos 25 anos

da empresa, ocasi��o em que lan��amos a nossa primeira

campanha de n��vel nacional. Seria o sorteio de 25 auto-

m��veis Gol, zero quil��metro, para festejar os 25 anos da

Pague Menos. Embora n��o estiv��ssemos ainda em todos

os estados da Federa����o, o que somente ocorreria em

2 0 0 9 , j�� poder��amos dar essa conota����o nacional pela

abrang��ncia que nossa empresa atingia naquele tempo,

de quase totalidade.

Em 2007, com a desmutualiza����o (prepara����o para

abertura do capital) da Bolsa de Valores de S��o Paulo,

meu pai viu a oportunidade de refor��ar a PAX Corretora

e perguntou se eu n��o gostaria de voltar para l��, a fim de

309

J U A R E Z L E I T �� O

estrutur��-la, transformando-a numa corretora do mesmo

n��vel das que existiam no Rio e S��o Paulo.

Com essa desmutualiza����o, a PAX, que era do Cea-

r��, teve o direito de comprar um t��tulo da Bovespa e pas-

sar a operar diretamente com a Bolsa de Valores. Coisa

que a gente n��o fazia. A gente fazia por conta. Tinha sem-

pre um atravessador. Eu topei e, em 2007, voltei para a

PAX Corretora.

Existia toda uma promessa de que o n��mero de

investidores no Brasil ia sair de perto de um milh��o de

investidores para cinco milh��es. Em 2007 acontecia o

boom de IPO ou de lan��amentos de a����es. Muitas empre-

sas indo para a Bolsa. A economia brasileira estava pu-

jante. O mundo acreditava que o Brasil era a bola da vez.

O mercado de capitais estava aquecido e a gente montou

uma corretora para captar todo esse volume. Isso durou

um ano ou um ano e meio. Em 2 0 0 8 houve a queda dos

Lehman Brothers.

ENTREVISTADOR - O que s��o os Lehman Bro-

thers?

M��RIO - Os Lehman Brothers eram uma corre-

tora dos Estados Unidos que operava com o Mercado de

Subprime (imobili��rio). Eles faziam resseguros de casas.

Os americanos tomavam dinheiro emprestado com o las-

tro na casa deles, na hipoteca. O mercado imobili��rio ame-

ricano estava crescendo tanto, que perguntavam: "Olha,

310

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

voc�� quer pegar cem mil d��lares emprestados? A sua casa

hoje vale cem mil." E ele pegava. Depois de seis meses a

casa dele estava valendo duzentos mil. E eles diziam: "Olha,

voc�� pode pegar mais cem mil d��lares", e o cara pegava. E

foi crescendo. Quando a bolha imobili��ria estourou, aquela

casa s�� valia realmente cem mil d��lares e estava garantindo

os quinhentos mil que ele tinha pedido emprestado, com a

garantia da casa. Ent��o, se descobriu que a sua garantia n��o

era verdadeira, e o mercado desabou.

ENTREVISTADOR - E que repercuss��o teve no

Brasil?

M��RIO - Teve repercuss��o no mundo todo, por-

que o mercado financeiro �� todo entranhado em seus en-

tes. No Brasil, infelizmente, repercutiu demais, porque,

com a globaliza����o, que vem desde antes do ano 2000,

as pessoas est��o distribuindo seus investimentos em v��-

rios cantos do mundo. E, quando ocorreu esse problema

em que os fundos tiveram que repor esse buraco, eles

foram para onde estava o lucro. E o Brasil era um dos fo-

cos, pois vinha crescendo muito. Assim, os investidores

tiveram que realizar o lucro aqui no Brasil para cobrir os

buracos nos Estados Unidos.

ENTREVISTADOR - Foi a�� que nasceu a frase da

"marolinha"?

M��RIO - Exatamente. O governo brasileiro quis

minimizar a crise e produziu essa ironia. Mas em 2 0 0 8

311

J U A R E Z L E I T �� O

teve esse problema. A gente estruturou a empresa. Au-

mentou o custo fixo dela porque, realmente, hav��amos

nos preparado. Sa��mos de seis funcion��rios para trinta.

Tivemos que mudar de pr��dio, os custos se mantiveram

e a receita n��o. A gente conseguiu se manter at�� 2 0 1 1 .

A partir de 2 0 1 1 a PAX come��ou a andar de lado, como

a gente diz. Ela n��o perdia dinheiro, mas tamb��m n��o

ganhava. Estava s�� se pagando. Ent��o, come��amos a

recorrer a um velho sonho de meu pai, que era fazer o

IPO (Initial Public Offering) da Pague Menos, a Oferta

P��blica Inicial de A����es. Isso em 2 0 1 1 . Como eu era a

pessoa que trabalhava em Mercado de Capitais, meu pai

me chamou e disse: "Volte para a Pague Menos para ser

Diretor de Rela����es com Investidores e cuidar dessa par-

te". Para isso, como a gente sabe que em torno de 60 a 70

por cento dos investidores nas empresas brasileiras s��o

americanos ou estrangeiros de outra origem, �� muito im-

portante estar com o ingl��s bem afiado, bem fluente, por

ser a l��ngua oficial dos neg��cios no Capitalismo. Fui para

Boston - USA, fazer um curso de ingl��s avan��ado, de tr��s

meses, e voltei para a Pague Menos para ser o Diretor de

Rela����es com Investidores.

Infelizmente o mercado se fechou. Em 2 0 0 8 teve

um problema e em 2012 outro problema. Esse foi mais

espec��fico do Brasil. O mundo j�� n��o enxergava o Brasil

como uma grande oportunidade, como ocorreu em 2007.

A�� a gente teve que abortar esse lan��amento de a����es na

Bolsa. Isso em 2012. Mesmo assim continuei como Dire-

312

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

tor de Rela����es com Investidores e incorporamos tamb��m

a ��rea de planejamento. Virei Diretor Financeiro tamb��m.

Fiquei assim at�� o final de 2 0 1 5 .

Em junho de 2 0 1 5 , os bancos que nos assessora-

vam, desde a ��poca de 2 0 1 2 , disseram que haveria uma

oportunidade de tentar novamente fazer o lan��amento

de a����es da Pague Menos. Disseram que agora havia um

mecanismo chamado "ancoragem". O que �� "ancora-

gem"? Alguma empresa, algum grande investidor seria o

��ncora e se comprometeria em comprar uma participa-

����o que garantisse que o lan��amento sa��sse. Ou seja, n��o

havia risco de o lan��amento n��o sair. Como no shopping.

Eles sempre colocam uma loja ��ncora, porque a�� indu-

zem as pequenas. Por exemplo: "Ah, se vai ter uma Lojas

Americanas, ent��o eu vou para l��, porque vai ter movi-

mento naquele shopping". �� mais ou menos essa a analo-

gia. Fomos conversar com alguns fundos com o objetivo

de que um desses fundos se comprometesse a ancorar o

lan��amento das a����es da Pague Menos.

Nessas conversas identificamos o General Atlan-

tic, um fundo americano. A conversa se aprofundou. Ele

realmente demonstrou interesse. S�� que eu disse: "Olha,

o momento n��o �� prop��cio. N��o adianta a gente ir a mer-

cado e fazer um IPO, um lan��amento de a����es, neste

instante. Gostaria de me aprofundar nas an��lises e fazer

uma proposta, depois, com mais conhecimento de cau-

sa. Podemos juntos preparar a empresa para daqui a tr��s

anos". Come��amos as negocia����es (isso foi em 2 0 1 5 ) .

313

J U A R E Z L E I T �� O

Estabelecemos os valores. At�� que percentual gostar��a-

mos de vender. Poder��amos abrir m��o da Pague Menos e

por qual valor.

Em 28 de dezembro de 2 0 1 5 assinamos o contrato

vendendo dezessete por cento da Pague Menos por 600

milh��es de reais. Nessa transa����o, j�� pensando em fazer

um IPO no prazo de tr��s anos, tivemos que fazer algumas

mudan��as.

Na Bolsa de Valores, quando voc�� entra no novo

mercado, que �� uma modalidade da Bolsa, as empresas

que fazem parte deste mercado t��m algumas regras a se-

guir e uma delas �� a seguinte: o cargo de presidente do

Conselho de Administra����o e Presidente-Executivo n��o

podem ser ocupados pela mesma pessoa. Durante a ne-

gocia����o colocou-se isso na mesa e se disse: "Deusmar,

voc�� deve participar do Conselho e colocar um Presi-

dente-Executivo". Colocou-se o meu nome porque era

eu quem estava l�� negociando junto com meu pai. Houve

assim um consenso entre os irm��os e Ubiranilson, que ��

meu tio e nosso s��cio (Ubiranilson, nessa transa����o, saiu

de dez para 8,3%. Ele vendeu, justamente, dezessete por

cento).

ENTREVISTADOR - Voc��s lucraram com a ven-

da? Voc��s, pessoalmente?

M��RIO - N��s, os filhos e a minha m��e, fomos di-

lu��dos. Houve uma venda prim��ria, como a gente chama

314

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

quando o dinheiro vai para a empresa, porque, na hora

em que ele entrou com quatrocentos e quarenta milh��es,

eles v��o direto para a empresa. Todos os s��cios foram

dilu��dos na participa����o. E tem a secund��ria, que vai para

o bolso do acionista

�� assim: eu tinha quatro por cento de uma empre-

sa que valia cem, passei a ter tr��s e meio de uma empresa

que vale duzentos. Eu tenho menos de um neg��cio que

vale mais. S�� que a venda secund��ria, que vai para o bol-

so do acionista, s�� foi para o Deusmar e o Ubiranilson.

N��s n��o vendemos. E esse dinheiro voltou para a em-

presa de outra forma. A�� houve minha escolha como Di-

retor-Presidente. Houve um consenso entre os irm��os e

Ubiranilson, pelo fato de eu ter essa proximidade com os

mercados de capitais, ter mais esse relacionamento com

os bancos e os entes do mercado financeiro. Pelo fato de

ser Diretor Financeiro e Diretor de Rela����es com Inves-

tidores eu tinha mais os n��meros globais da empresa na

m��o Hoje estou como Diretor-Presidente da Pague Me-

nos desde 1a de janeiro de 2 0 1 6 .

ENTREVISTADOR - Com uma responsabilidade

do tamanho do mundo em tuas costas. Como voc�� rece-

beu isso?

M��RIO - Foi um neg��cio gradativo. A ficha foi

caindo aos poucos. Gra��as a Deus deu para ver que �� exe-

qu��vel. D�� para estar onde estou. Aceitei essa situa����o h��

315

J U A R E Z L E I T �� O

quase um ano e meio. Eu sabia que meu pai estaria l�� e

que, em qualquer d��vida que eu tivesse, poderia recorrer

a ele ainda hoje e com o apoio dos tr��s irm��os, meu tio,

que s��o os s��cios que est��o l��, e mais a minha m��e, em-

bora ela n��o esteja l�� na empresa. Sei do peso, sim, mas

tranquilo.

ENTREVISTADOR - Essa harmonia �� extrema-

mente benfazeja para a empresa. Sem falar nessa coisa

da fam��lia de voc��s. Existe respeito e reciprocidade abso-

luta. Se n��o sentisse isso j�� teria notado.

PATRICIANA - Normalmente, o processo de su-

cess��o ocorre por acidente. O propriet��rio falece ou

acontece uma diverg��ncia que obriga a fazer a sucess��o.

Mas na Pague Menos foi uma coisa meio que planejada.

O Deusmar ainda est�� l�� com todas as suas capacidades

de executar. Ent��o, ele pode dar todo o suporte para o

M��rio e os irm��os est��o juntos. E isso ajuda muito o pro-

cesso de sucess��o.

ENTREVISTADOR - Eu me lembro que quando

fui apresentar o projeto da biografia para o Deusmar fiz

o hist��rico das empresas de fam��lia no Cear��. Como pro-

fessor de Hist��ria conhe��o a economia da cidade. Ent��o

levantei J. Tom�� de Sab��ia, Pedro Philomeno Gomes,

Jos�� Gentil de Carvalho, Jos�� Guimar��es Porto. Todas as

fam��lias. S�� uma empresa de fam��lia chegou a cem anos

316

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

no Cear��: a Ypi��ca. Todas duraram vinte anos, trinta

anos e quarenta anos. Quando eu estava dizendo isso, o

Deusmar chamou alguns de voc��s e pediu para que eu

come��asse de novo para que todos ouvissem a trajet��ria

dos percal��os alheios e n��o repetissem a hist��ria. Eu vejo

isso na empresa Pague Menos. Esse cuidado que o chefe,

o patriarca, tem com a sucess��o.

Mas vamos mudar de tom. A partir de agora vai

ser a festividade. Eu, por exemplo, posso dizer pessoal-

mente que tamb��m me apaixonei pela miss��o que me en-

tregaram, estou muito feliz pela oportunidade de contar

a hist��ria de um homem como o Deusmar. Escrevi mui-

tos livros, muitas biografias. Mas nunca me entusiasmei

tanto por um personagem como pelo pai de voc��s. Uma

das coisas que mais me impressionaram foi que um con-

tempor��neo dele, colega de adolesc��ncia, me disse que,

um dia quando Deusmar tinha uns quinze anos e todos

estavam merendando na casa da m��e do Dr. Irapuan Bra-

ga Ven��ncio, um dos amigos, por volta das quatro e meia

da tarde, de repente, Deusmar ficou s��rio, pediu sil��n-

cio e, assim, do nada, falou solene: "Pessoal, me deixa

dizer uma coisa: eu vou ser rico". E eles responderam:

"De onde vem essa hist��ria? Que bicho foi que te mor-

deu? Est�� ficando doido?" Mas ele insistiu: "Olha, eu que-

ria avisar a voc��s. Eu vou ser rico e voc��s podem contar

sempre comigo, pois eu n��o vou mudar". Eles acharam

aquilo uma grande piada. Interessante essa hist��ria. O

Brasil �� um dos poucos lugares do mundo onde uma

317

J U A R E Z L E I T �� O

pessoa um dia decide ser rica e pode vir a ser rica. Em

quantos pa��ses do velho planeta isso pode acontecer? No

Brasil acontece. Aconteceu. Era verdade. Um cara com

quinze anos foi tomado de uma inspira����o, que ningu��m

sabe de onde veio, mas, cheio de convic����o, professou

o seu sonho. Disse o que poderia ser apenas mais uma

besteira de adolescente, uma v�� tolice. E, no entanto, deu

certo. Era verdade.

�� esse sujeito que eu quero que voc��s analisem

agora.

Que homem �� esse que voc��s veem? Por que voc��s

admiram e amam este cara?

PATRICIANA - Olha, tem algumas caracter��sticas

muito fortes na personalidade do Deusmar e uma delas

�� essa que voc�� colocou a��. Ele tem a capacidade de so-

nhar e sonhar sonhos grandes, al��m de mobilizar as pes-

soas para sonhar com ele. Ele tem uma habilidade muito

grande. Algumas pessoas t��m alguns sonhos e preferem

deixar s�� para si. ��s vezes, por receio de aquilo virar cha-

cota ou por medo da inveja. Ele n��o. Ele sonha. Sonha

grande. E verbaliza todos os sonhos dele. Como essa his-

t��ria a��, tem v��rios outros epis��dios que ele verbalizou.

Lembro-me que teve um curso aqui de consultoria de alto

desenvolvimento em que o cara que estava palestrando

mandou algu��m levantar a m��o e dizer o seu sonho e o

Deusmar disse: "O meu sonho �� o de ter a maior Rede de

farm��cias do Brasil". Isso numa ��poca em que ele s�� esta-

318

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

va em seis ou sete estados. Ele j�� dizia que seria a maior

Rede de farm��cias do Brasil. Ele sonha e consegue mobi-

lizar as pessoas para realizar o sonho dele. Acho que isso

�� uma habilidade muito forte dele. E tem uma outra coisa

da qual eu tenho certeza: ele �� um homem aben��oado.

Ele atira no que v�� e acerta no que n��o v��.

ENTREVISTADOR - Eu queria que voc��s todos

pensassem tamb��m no t��tulo do livro. Pensei, inicial-

mente, em DEUSMAR, O REI DAS FARM��CIAS, man-

chete de uma mat��ria de um jornal de S��o Paulo, falando

de sua trajet��ria. Ele recusou, achou arrogante. Agora,

estou pensando neste: O TECEDOR DE OUSADIAS, e,

como subt��tulo: "A hist��ria de Deusmar Queir��s".

PATRICIANA - Mas ele realmente �� muito ousa-

do, mesmo. Enquanto crian��a voc�� tem os pais como su-

per-her��is. Como ��dolos. O Deusmar e a Auric��lia eram,

para a gente, superpoderosos. Mas, com o passar do tem-

po, voc�� percebe as falhas. A gente vai amadurecendo.

Pelo menos eu. Fui amadurecendo. Percebo, naturalmen-

te, algumas falhas dele. Mas olho para ele e percebo o

qu��o aben��oado ele �� e o qu��o vision��rio ele ��. E isso

�� muito forte. Enquanto filha, um pouco mais madura,

percebo v��rios dons que ele tem: o otimismo, o fervor

em tudo o que faz e o temor a Deus. O cora����o dele ��

que �� gigante. A gente diz: "Mas pai, pelo amor de Deus,

o senhor n��o est�� vendo que vai ser enganado por essa

319

J U A R E Z L E I T �� O

pessoa?" E ele responde: "Calma. N��o importa o que ela

vai fazer comigo. O importante �� que estou fazendo o

bem para ela. E essa �� a minha habilidade, fazer o bem".

ROSILNDIA - Eu vou tentar abordar um pouco

esse grande homem, o empres��rio ocupado, que traba-

lhou e trabalha muito, mas que sempre teve tempo para

n��s. Lembro que meu pai sempre viajou muito. No tem-

po do mercado de capitais, ele vivia dizendo que era o

��nico que n��o perdia um leil��o do FINOR. Mas uma coisa

era certa. Nunca passamos um final de semana sem ele.

Ele dava um jeito de vir para casa nos fins de semana. Ele

era professor tamb��m. Ficava corrigindo as provas dos

alunos em casa. Ele sempre foi deixar a gente no col��-

gio. Estud��vamos de manh��. Quando passamos a estudar

�� tarde e ele n��o podia deixar, ia nos buscar ��s sete da

noite. Ele chegava com aquele landauz��o no col��gio e a

gente ficava morrendo de vergonha. E tem muita coisa

legal na vida da gente que sempre foi feita por ele. "Va-

mos fazer um caf�� da manh�� nas dunas?", perguntava ele.

E a gente saia ��s quatro horas da manh�� de casa. Subia as

dunas, tomava caf�� e ficava l��.

Ent��o, ele sempre fez coisas muito diferentes na

vida da gente e que nos marcava muito. Sempre foi muito

presente. Sempre foi original, alegre e feliz. Sempre gos-

tou muito de festa. Ele sempre passa muita alegria onde

est��. N��o gosta de amargura. Detesta falar de doen��a. �� a

pr��pria imagem da felicidade e do otimismo.

320

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

M��RIO - "Ele �� muito otimista. Sempre foi muito

preocupado com a forma����o dos filhos. Muito preocupado

para que a gente n��o perdesse oportunidade de adquirir

conhecimentos. Ent��o, sempre nos for��ou a ler. Trans-

crever algum artigo. Ler as enciclop��dias que tinha l�� em

casa. Houve uma ��poca em que botou a gente para ter uma

tutoria do professor Cleber Aquino, um cearense profes-

sor de economia na Universidade de S��o Paulo. Era para

que receb��ssemos as primeiras li����es para a sucess��o.

Ele se dedicou tanto ao trabalho, que n��o tem mui-

tos amigos. �� trabalho e fam��lia. S��bado e domingo era

com a gente e a fam��lia de minha m��e. Ele quer almo-

��ar com a gente. Ele n��o tem amigos para sair e almo��ar,

como acontece com muita gente".

KAK�� - Seguindo essa linha que o M��rio falou a��.

Lembro-me bem quando ele pegava a mim e ao M��rio

no s��bado. Eram poucas farm��cias ainda. Ele sa��a para

coletar o dinheiro porque, na ��poca, eram poucas far-

m��cias.... Lembro bem que uma das primeiras coisas que

fazia era ir ao Ant��nio Bezerra, o bairro onde cresceu,

antes de come��ar a trabalhar. O M��rio era pequeno. Eu

tamb��m. Ele ia ao Ant��nio Bezerra e pegava a b��n����o do

pai, mesmo o pai sendo separado da V�� Madalena. ��s ve-

zes, puxava a orelha do pai porque tinha um filho fora do

casamento, o Raimundinho. Ele chegava ��s oito horas da

manh�� na casa do pai, pedia a b��n����o e, depois, pegava a

b��n����o da m��e.

321

J U A R E Z L E I T �� O

Eu me lembro que ele me fazia tomar a b��n����o dos

dois: vov�� Lisboa. Apesar de eu sentir que ele n��o tinha

muita reciprocidade. Era meio dur��o.

Pois bem, nosso pai, como disse a Patriciana, �� um

fazedor do bem e confia demais nos outros. Essa �� uma

caracter��stica natural do cidad��o Deusmar, �� coisa dele.

ROSILNDIA - Quando a gente estava gr��vida,

tanto eu quanto a Patriciana, Vanessa e a Katarine, to-

das as vezes que cumprimentava a gente, beijava a nossa

barriga tamb��m. �� assim. Ele j�� cumprimentava os netos,

aben��oando-os desde a barriga das m��es.

Ca��a a tarde quando encerrei a bateria de depoi-

mentos com os filhos de meu biografado e deixei a Vila

da Prosperidade. No caminho de volta pensava em como

ainda �� poss��vel se construir uma fam��lia, mesmo nesses

��speros tempos de M��e Joana. Uma fam��lia no sentido

altaneiro da palavra.

E, se recorro �� ideia da constru����o, repito uma

das mais antigas met��foras da literatura universal. Est��

na B��blia, no Ramaiana e no Livro dos Vedas. Edificar ��

uma benfazeja atividade humana. Uma das mais subli-

mes. Requer lugar prop��cio, alicerce firme, tijolos de boa

qualidade, paredes alinhadas, teto bem firmado, enfim,

uma constru����o de valor verdadeiro contra a qual n��o

prevalecer��o as chuvas mais intensas e os ventos furio-

sos, tempestades terr��veis e terremotos de grande poder.

Nada abalar�� suas estruturas s��lidas, erguidas com amor,

objetivos claros e zelosa obstina����o.

322

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Deusmar Queir��s conseguiu tamb��m ser um vi-

torioso nessa miss��o. A miss��o de formar descenden-

tes de quem pudesse, depois, se orgulhar. Entros��-los

na empresa, fazendo-os come��ar de baixo, nas fun����es

mais singelas, para que aprendessem a primeira grande

li����o, a da humildade, fora, certamente, uma atitude de

sabedoria.

Instru��-los, pela forma����o acad��mica, pelo exem-

plo e pela experi��ncia da "m��o na massa", era a repeti����o

proveitosa de sua pr��pria vida refletida no espelho de

suas almas. Ele crescera assim. E, por isso, apostara que

com os filhos poderia dar certo tamb��m. Acertou.

323



23

AS EP��STOLAS

EP��STOLA, palavra de origem grega,

�� uma esp��cie de carta-mensagem que

expressa opini��es, aconselha, comenta

fatos e manifesta apelos objetivos ou

subjetivos, �� pessoa, grupo social ou

comunidade a que �� destinada.

Esta modalidade de comunica����o foi

muito utilizada pelos primeiros l��deres

crist��os, especialmente, pelo ap��stolo

S��o Paulo, para manter o entusiasmo

das comunidades que havia convertido.

Osetor de comunica����o da Pague Menos utiliza

v��rias ferramentas de divulga����o de sua filoso-

fia, de seu desempenho e das perspectivas que

animam a empresa. Tem uma revista e um programa de

325

J U A R E Z L E I T �� O

televis��o, SEMPRE BEM, e um jornal. No Jornal, CAM-

PE��O, editado mensalmente, o Fundador, no artigo de

fundo, expressa o seu pensamento e conta as suas his-

t��rias. A publica����o �� dirigida, especialmente, aos que

comp��em o universo da empresa, mas tamb��m chega ��s

m��os dos laborat��rios, fornecedores e Entidades ligadas

ao setor farmac��utico.

Em estilo leve e franco, Deusmar recorda passa-

gens de sua vida, d�� conselhos, comemora vit��rias e re-

vela suas ousadias empresariais. Como fazia quando dava

aulas, est�� sempre levantando o ��nimo dos colaborado-

res, preconizando conquistas, espargindo otimismo para

todos os lados, do tipo: "O pr��ximo ano, contrariando os

arautos do Apocalipse, vai ser o melhor ano de nossa hist��-

ria. At�� porque o sucesso s�� depende de n��s e n��s queremos

e podemos!".

Vejamos como ele exercita a prega����o otimista e a

arte de contar hist��rias.

No n��mero 21 do CAMPE��O, em fevereiro de

2007, comemora um grande feito da empresa:

"MAIS UMA PARA CONTAR PARA OS NETOS

Ter��a-feira, 7h43min. Aterrissamos em Teresina.

Em seguida, fomos a Timon e Caxias, no Maranh��o. Na vol-

ta, almo��amos um risoto de carne de bode, capote no cuscuz

e na sobremesa, sorvete de tapioca com cobertura de goia-

bada caseira. Que maravilha!

326

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Reuni��o com gerentes e farmac��uticos ��s 14 horas.

As mesmas solicita����es das reuni��es anteriores: mais mi-

cros no balc��o, mais PDV no check-out, aumentar o esto-

que... Tudo como sempre.

O dia vinha transcorrendo normalmente. Chegamos

ao aeroporto. Nosso pr��ximo destino seria Imperatriz, no

Maranh��o, quando j�� na pista o celular toca...

- Oi, Sergio (Presidente da Abrafarma), tudo bem?

- Tudo. Saiu o relat��rio da IMS HEALTH, que audita

as vendas da ind��stria e do com��rcio farmac��utico.

- E a��, passamos da Pacheco?

- Sim.

-Eda Drogaria S��o Paulo?

- Tamb��m. Primeiro lugar em tudo, d��lares e unidades.

S��o I5h58min. Fico parado, sorvendo a informa����o.

O comandante Buosi chega perto e diz:

- Doutor, vamos, que a torre autorizou a decolagem

para as 16 horas.

Eu digo:

- Calma, comandante. Esta not��cia �� muito importante.

O Jucely se aproxima e pergunta:

- Doutor, o senhor est�� bem?

- Claro, estou ��timo. Mesmo com este calor de qua-

renta graus, estou at�� com frio!

Sei que Nelson Piquet, Ayrton Senna e Guga foram os

primeiros. Sei que o Carrefour, P��o de A����car ou o Bompre-

��o (Walmart) podem montar ou comprar Redes de farm��-

cias e nos superarem. Mas eu j�� tenho mais uma para contar

aos meus netos: um dia n��s fomos maiores do que eles.

327

J U A R E Z L E I T �� O

H�� quem diga que "tamanho n��o �� documento". Pos-

so at�� admitir que nos menores frascos estejam os melhores

perfumes; que nos grandes pr��mios, os cavalos montados

por j��queis de pequena estatura conseguem os melhores re-

sultados. Mas, convenhamos, ser o maior tem um gosto todo

especial. Faz bem ao ego do l��der e da equipe.

Tenho certeza que voc��, meu amigo colaborador da

Pague Menos, vai ficar assim meio sem jeito, quando disser

para os amigos e familiares que trabalha na maior empresa

do varejo farmac��utico do Brasil.

- Eu, Doutor? Sem jeito? Que nada! Fiquei foi muito

orgulhoso. Vou gritar para todo mundo ouvir que a Pague

Menos �� a maior do Brasil. E sabe por qu��? Porque eu fa��o

parte deste time, visto a camisa, acredito que estou ajudan-

do a construir uma empresa vencedora, que n��o vende psi-

cotr��pico sem receita e nada entra sem nota fiscal nem sai

sem o registro no caixa. Doutor, l�� em casa a mulher �� cat��-

lica e eu sou evang��lico. Ela vai �� missa e eu coloco o joelho

no ch��o e oro. Sabe o que eu pe��o, Doutor? Que a nossa em-

presa continue distribuindo ambul��ncias, cadeiras de rodas,

ajudando ex-presidi��rios, alfabetizando adultos e muitas

outras coisas, uma verdadeira e aut��ntica Empresa Cidad��.

Pois ��, meus amigos. Neste ano, em maio, completo

sessenta anos, e este, por enquanto, depois da minha fam��-

lia, �� o meu melhor presente.

Muito obrigado. Muito obrigado a quem?

A voc��, meu amigo colaborador, que n��o s�� veste a

camisa como ama a nossa empresa. A voc�� esposa, espo-

328

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

so, m��e, pai, filho e filha dos nossos funcion��rios, que por

muitas vezes foram privados da companhia dos seus, porque

eles estavam trabalhando para que nossa Empresa chegasse

ao p��dio, fosse a primeira em vendas, em n��mero de lojas e

em abrang��ncia geogr��fica.

Obrigado, Dona Mirian, por deixar seu filho sair de

Taperuaba - CE para comandar nossas opera����es no Sul do

Brasil. Obrigado a todos que fazem a ind��stria farmac��uti-

ca, a voc�� distribuidor, a voc�� que transporta nossos produ-

tos, seja quando vem, seja quando vai. Obrigado �� Varilog,

uma empresa que nos mostrou que n��o existem dist��ncias

instranspon��veis. Obrigado �� nossa ag��ncia de publicidade

e �� imprensa de modo geral. Obrigado ao meu s��cio-irm��o-

-amigo Ubiranilson e a toda a Diretoria da Pague Menos.

Obrigado �� minha querida familia, com destaque

para a Auric��lia, minha insuper��vel companheira nestes ��l-

timos trinta e seis anos. Obrigado a voc�� meu cliente amigo,

oculto ou declarado, do Amazonas ao Rio Grande do Sul,

porque sem voc�� n��s n��o existir��amos. E, finalmente, obri-

gado ao nosso Grande Arquiteto do Universo, pelas suas

b��n����os e luz.

Rumo ao primeiro bilh��o de d��lares.

Deusmar Queir��s

Presidente (orgulhoso)".

A hist��ria de sua inf��ncia �� um tema recorrente.

Costuma cont��-la em suas palestras, assim como em todas

as oportunidades que se lhe aparecem. Faz da autobiogra-

329

J U A R E Z L E I T �� O

fia um apetrecho did��tico e, repetindo-a aos que traba-

lham com ele ou se prestem a escut��-lo nas confer��ncias

pelo Brasil afora, pratica uma esp��cie de catarse, apontan-

do o que deu certo e o que poderia ter sido melhor.

Como aconteceu nesta cr��nica de dezembro de

2007 no CAMPE��O:

"AMANH�� PODER�� SER TARDE...

Era 1953, ou seja, h�� cinquenta e quatro anos. Eu,

um menino de seis anos. Mor��vamos numa cidade muito

pequena. S��o Bento de Amontada, menos de dois mil habi-

tantes. Meu pai tinha um com��rcio de secos e molhados. Eu

diria mesmo que vendia de tudo que o fregu��s precisasse,

pois, se n��o tivesse, trazia da Capital.

Arroz, feij��o, sab��o, sabonete, borracha, carne do

sul, querosene, bombom, fumo-de-rolo, cigarro, canivete,

tamanco, Melhorai, farinha e farinha-d'��gua, chap��u de pa-

lha, pirulito, goma, lamparina e, para encurtar a conversa,

at�� pano para fazer roupa, pra homem e pra mulher.

Tinha um produto que vendia demais: rapadura.

Muitas rapaduras que chegavam nos lombos dos burros.

Sacas e mais sacas, ou melhor, surr��es feitos da palha de

carnaubeira.

Sei que a maioria dos que v��o ler esta mensagem

nunca pegou ou viu nem mesmo ver�� um surr��o. Pois n��o ��

que, nas minhas traquinagens, subi numa pilha de sacos de

rapadura. Eles ca��ram em cima de mim e a�� eu quebrei uma

perna. Dizem que acima do joelho, na altura da coxa.

330

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Na ��poca, eu era como filho ��nico, pois minha irm��

estudava interna num col��gio da Capital.

Foi aquele alvoro��o, corre pra c��, corre pra l��. Meu

pai improvisou uma cama com a banda de uma porta de ma-

deira, em cima de uns caixotes. Como l�� n��o tinha m��dico

nem gesso, meu pai imobilizou a minha perna com peda��os

de talos de carnaubeira, aqueles que serviam para fazermos

cavalo de pau, com os quais sa��amos correndo pelo meio da

rua como se estiv��ssemos montados.

Eu passei a ser o centro das aten����es. Meu pai, que

sempre viajava a Fortaleza para fazer compras para o co-

m��rcio, cancelou tudo s�� para ficar comigo.

Por muitos dias fiquei em cima daquela dura cama

de madeira, mas meu pai fez de tudo para me agradar. At��

contratou um sanfoneiro para me divertir. E, pra me ani-

mar, criou uma m��sica, mais ou menos assim: 'O calango

quebrou a perna/Eu tamb��m quebrei a minha/N��o sei onde

d��i mais/Se na dele ou na minha... L�� r�� l��...'

Foi t��o bom ter recebido todas as aten����es do meu

pai, que, depois que fiquei bom, tive at�� vontade de quebrar

a outra perna.

Outros momentos alegres aconteceram entre eu e

meu pai. Mas a�� fui crescendo, estudando e trabalhando,

trabalhando e estudando, me casei, constitu�� fam��lia e o

tempo passando. Meu pai adoeceu e eu trabalhando e via-

jando, isolado no meu mundo, sem dar muita aten����o ao

meu tesouro. At�� que, no dia onze de janeiro de 1987, com

setenta e oito anos, ele morreu sem que eu nunca tivesse tido

331

J U A R E Z L E I T �� O

a sabedoria de dizer-lhe o quanto o amava e era grato por

aqueles dias da perna quebrada, por todo o amor e ensina-

mentos que ele tinha me transmitido ao longo dos quarenta

anos de nossa conviv��ncia.

Por isso, meu caro amigo, n��o deixe que aconte��a

com voc�� o que aconteceu comigo. Declare o seu amor, a sua

gratid��o por todos aqueles que de uma forma ou de outra es-

t��o ao seu lado, fazendo parte da sua vida. Amanh�� poder��

ser tarde...

Feliz Natal e um aben��oado 2008".

Em dezembro de 2 0 0 8 , comemorava, euf��rico, os

ganhos daquele ano. E declarava seus objetivos de bus-

ca perene da felicidade, condi����o espiritual e material

que, segundo afirma, s�� poder�� ser obtida com a mais

ampla parceria humana. Assim, repetia a assertiva b��sica

da prega����o crist�� de que s�� podemos ser felizes quando

fazemos felizes os que cruzam o nosso caminho, quan-

do amamos os outros, o desconhecido, o pr��ximo, dando

apoio e conforto a quem precisa. Dessa forma, incentiva

toda a fam��lia Pague Menos a praticar a "maravilhosa lou-

cura" de transformar o trabalho num palco de encanto,

num territ��rio de felicidade.

"MARAVILHOSA LOUCURA

Para voc�� nascer, foi preciso vencer a sua primeira

grande disputa. E veja que foi com milh��es de competidores.

Pesquisas revelam que, dos nascidos, muitos morrem antes

332

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

do primeiro ano de vida. Outros chegam aos 10, aos 15 anos.

Se voc�� est�� lendo esta mensagem j�� passou dos 18 anos e

j�� venceu e est�� vencendo diariamente v��rias etapas: nos es-

tudos, o primeiro e segundo grau, muitos o terceiro, alguns,

com p��s-gradua����o. No campo afetivo, o relacionamento

com os familiares: av��s, pais, irm��os, tios, primos, amigos

etc. Uma vit��ria muito importante foi conseguir emprego.

Nossa, como foi dif��cil! Mas voc�� n��o desistiu e chegou at��

aqui. Afinal, existe a famosa frase que diz: "sou brasileiro e n��o desisto nunca".

A�� vem a loucura do dia a dia: acordar cedo, pegar o

transporte lotado, no trabalho tem sempre algu��m cobran-

do alguma coisa: conferir a mercadoria, limpar as g��ndolas,

atender os clientes, a m��quina demora e o cliente reclama,

caiu o sinal, o cart��o de cr��dito n��o passa, o cliente vai em-

bora 'p' da vida, precisa bater meta, mas a mercadoria n��o

chega e o pessoal do escrit��rio fica cobrando documento,

o pessoal das lojas n��o entende e ainda tem que implan-

tar um tal de SNGPC, Nota Fiscal Eletr��nica... E voc�� vol-

ta para casa e, no dia seguinte, come��a tudo de novo. Eita

trem b��o, s��!

��, meu, realmente �� uma loucura.

-E a��? O ano de 2008, como foi para a Pague Menos?

- Riqu��ssimo em tudo. Vit��rias e problemas. Cumpri-

mos a agenda prevista. Abrimos lojas em novas unidades da

federa����o: Bras��lia-DF, Palmas-TO, Porto Velho-RO e Rio

Branco-AC.

333

J U A R E Z L E I T �� O

Tamb��m abrimos lojas novas em estados onde atu��-

vamos: Juiz de Fora-MG (duas), Uberl��ndia-MG, Ubera-

ba-MG, Taguatinga-MG, Cariacica-ES, Jaragu�� do Sul-SC,

Itabuna-BA, Itabaiana-SE, Macei��-AL, Recife-PE, Fortale-

za-CE, Manaus-AM, Suzano-SP, Londrina-PR.

Inauguramos o maior Centro de Distribui����o de

Medicamentos do Hemisf��rio Sul (a turma de sistema e

log��stica quase enlouquece, t��m uns que ainda est��o meio

assim...), colocamos no ar, em Rede Nacional, o Programa

Pague Menos Sempre Bem, fizemos os sorteios das casas no

Programa do Gugu, realizamos a nossa Conven����o Nacio-

nal com os L��deres da empresa, implantamos uma Central

de Delivery em v��rias cidades, o AME est�� bombando e vem

mais por a��. A Farm��cia de Manipula����o superou a mar-

ca de 12.000 f��rmulas preparadas por m��s, os produtos da

nossa marca pr��pria, Amor��vel, est��o se firmando e dispu-

tando com os campe��es de vendas. Realizamos os encontros

com fornecedores em S��o Paulo e em Fortaleza, obtivemos o

1o lugar na Pesquisa de Recall, na Para��ba, mesmo sem ter

o nosso nome na fachada. O Dr. Ubiranilson j�� comprou e

est�� apenas aguardando receber modern��ssimas impresso-

ras fiscais para substituir as carro��as (olha as coisas melho-

rando...), o nosso faturamento cresceu mais de 20%, temos

muitas lojas em constru����o para serem abertas no come��o

de 2009.

Por estas e outras realiza����es, eu afirmo que o ano de

2008 foi bom. Est�� tudo bem. Muito bem mesmo.

- E os problemas?

334

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

- Problemas? Que problemas?... Sai pra l��, rapaz...

Aqui n��o tem problemas... �� a��, pai, ��... Parece que bebe!

- Ent��o, diga a��, "meu rei", pra que tanta agita����o?

Pra que tudo isso?

- Existem v��rias respostas. Eu escolhi a minha prefe-

rida: ser feliz.

Alguns podem dizer: �� porque quer ser rico, �� porque

�� doido (nasceu de sete meses), ou ent��o �� porque �� empre-

endedor, ou, ainda, �� porque est�� preocupado com o social,

por isso cria empregos...

Meus amigos, n��o estou preocupado com a resposta

certa. Eu s�� tenho uma certeza: tudo que fa��o �� em busca da

felicidade. E o mais interessante �� que n��o conseguimos ser

felizes sozinhos. Ent��o, arrastamos todos que fazem a maior

e melhor empresa do varejo farmac��utico do Brasil para

participarem da maravilhosa loucura que �� a nossa vida.

Com as b��n����os de Deus e muito trabalho, vencere-

mos qualquer tsunami, quanto mais apenas uma marolinha.

Feliz Natal. Feliz Ano Novo. Felizes sejam todos os

dias da nossa vida."

Naquele fim de ano de 2 0 0 9 , quando tudo parecia

cinza e as perspectivas para a economia nacional eram

extremamente desanimadoras, o fundador da Pague Me-

nos anunciava novas vit��rias e um crescimento de mais

de 20%. O ano havia sido duro para todo mundo. A crise

era do hemisf��rio, anunciada a partir dos Estados Uni-

dos, que sofrera um grande rev��s em sua economia, com

335

J U A R E Z L E I T �� O

repercuss��o internacional. O texto com que Deusmar

sa��da os seus funcion��rios passa longe do pessimismo

que se disseminava por todo o pa��s.

"OTIMISMO �� BOM. ENTUSIASMO �� MELHOR

2009 �� um ano que ficar�� para sempre na nossa lem-

bran��a. No final do ano passado e in��cio deste, existia no

mundo uma generalizada onda de pessimismo. Bancos que-

brando, ind��strias demitindo, s�� se falava em crise e que o

mundo ia atravessar um per��odo de recess��o como nunca

t��nhamos visto, pior do que em 1929, quando a economia

americana caiu tanto, que se registraram, inclusive, alguns

suic��dios. O Brasil seria arrastado, como os outros pa��ses,

para o inevit��vel abismo. Nestas circunst��ncias o recomen-

d��vel era que as pessoas e as empresas evitassem qualquer

tipo de despesa ou investimento, juntando todas as reservas

para atravessar o tempo das vacas magras. (...)

Ora, meus amigos, n��s da Pague Menos, que somos

mais otimistas, pois somos constantemente entusiasmados,

resolvemos riscar a palavra 'crise' do nosso dicion��rio. Estra-

tegicamente, sem perda de tempo, colocamos em execu����o o

mais arrojado plano de expans��o de todos os nossos vinte e

oito anos de exist��ncia. A Pague Menos tem um hist��rico de

crescimento acima de 20% ao ano, nos ��ltimos dez anos. Por

que agora seria diferente? A palavra entusiasmo, origin��ria

do grego, significa estar com Deus. Quem est�� com Deus n��o

teme nada. Quem planta entusiasmo colhe realiza����es. E a

empresa que tem um time de colaboradores entusiasmados

336

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

como os da Pague Menos n��o pode esperar outra coisa que

n��o seja o sucesso. Foi exatamente isso que aconteceu. Em

2009 inauguramos a maior quantidade de lojas, em um s��

ano da nossa hist��ria. Tornamo-nos a ��nica Rede de varejo

presente em todos os vinte e seis estados brasileiros mais o

Distrito Federal. A nossa bandeira est�� presente em mais de

100 munic��pios. Criamos mais de mil empregos diretos e mui-

tos indiretos: nas transportadoras, nas empresas de delivery

etc. Como estava escrito nas estrelas, o nosso faturamento

cresceu mais de 20%, chegando a aproximadamente dois bi-

lh��es de reais, o que nos coloca entre os maiores varejistas do

Brasil. A cada dia confirmamos que sempre estivemos certos

em sermos otimistas e, melhor ainda, em cultivarmos o entu-

siasmo como doutrina fundamental na constru����o dos nos-

sos sonhos. O meu conselho �� que, se algu��m for falar com

voc�� sobre aquilo... Aquela palavra, sabe?... diga que voc�� ��

uma pessoa entusiasmada, pois quem est�� com Deus...

Boas Festas

Deus aben��oe todos hoje e sempre."

Em dezembro de 2010, mais uma vez, dirigia-se

aos seus colaboradores para comemorar vit��rias, festejar

premia����es e com eles repartir o fruto das conquistas.

Como se estivesse mirando no olho de cada um, excla-

mava cheio de emo����o: "Foi voc�� que tornou poss��vel o

nosso sucesso! Foi com voc�� que conseguimos avan��ar na

constru����o da maior e melhor empresa do varejo farmac��u-

tico do Brasil!".

337

J U A R E Z L E I T �� O

"EITA, QUE COISA BOA!

Mesmo com a nossa vida maluca, cheia de tarefas

para executar, quando paramos um pouquinho para pensar,

vemos quanta coisa acontece com a gente. Carinho dos pais,

dos filhos, do c��njuge (acho que voc�� s�� tem um), do(a) na-

morado(a), dos amigos, o reconhecimento do chefe, a meta

batida, o sal��rio em dia, o nosso time quando ganha, bai��o

de dois com carne de sol, atolado de capote, churrasco s��

no sal como ga��cho sabe fazer, bife do olh��o, rapadura com

coco, assistir a um filme sem ter um cabe����o na cadeira da

frente, chuvinha fina quando vamos dormir, domingo de

sol, praia, cerveja, um copo longo com muito gelo e muito

whisky, acordar e ter para onde ir sabendo que l�� vou fazer

parte de uma equipe, vou produzir, vou gerar riqueza, saber

que o meu trabalho ajuda a salvar vidas, contribui para me-

lhorar a sa��de de milh��es de pessoas. Sei que cada um vai

acrescentar, nesta lista, v��rios outros itens de sua prefer��n-

cia. Eu, por exemplo, acrescento almo��o no restaurante do

Marina com meus netos ap��s a missa do Padre Ferreira.

��, minha gente, o ano acabou. Ufa! Que ano! Abri-

mos 67 lojas, recorde absoluto em inaugura����es, repetimos

o crescimento de mais de 20% nas vendas, fincamos nossa

bandeira em v��rias novas cidades pelo Brasil afora, geramos

mais de dois mil empregos diretos. O Dr. Ubiranilson abriu

o bolso e autorizou a constru����o do Gr��mio com quadra de

esportes, piscina, sal��o de jogos e tudo mais. Fizemos avan-

��os important��ssimos nas ��reas de tecnologia, log��stica,

opera����es, financeira, cont��bil etc.

338

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Ganhamos v��rios pr��mios: locais, como o Pr��mio

Contribuintes, atrav��s do qual a Secretaria da Fazenda ho-

menageia os maiores pagadores de ICMS. Estaduais, como

os "Top of Mind" e "Recall". E nacionais, como os da Revista Exame e Valor Econ��mico.

Quando paramos para fazer uma retrospectiva do

ano, a principal conclus��o a que chegamos �� que todas as

conquistas s�� foram poss��veis porque voc��, voc�� que est��

lendo, faz parte do nosso time. Foi com voc�� que n��s conse-

guimos avan��ar na constru����o desta que �� a maior e melhor

empresa do varejo farmac��utico do Brasil.

Obrigado, muito obrigado... Mas antes de terminar

deixa eu te contar um segredo. Aconteceu uma dessas coi-

sas... Dessas coisas, sabe? A Associa����o Comercial de S��o

Paulo, veja bem, de S��o Paulo (campo dos advers��rios), ho-

menageou onze, somente onze empresas de todo o Brasil com

o Pr��mio 'Melhores dos Maiores do Com��rcio', e sabe quem

ganhou? A nossa querida Pague Menos. Eita, que coisa boa!

Feliz Natal, um aben��oado Ano-Novo e aqueeeeeeele

abra��o."

Em dezembro de 2 0 1 1 , estava mais m��stico do que

de costume. Na mensagem natalina atribui a Deus o cres-

cente sucesso da empresa e conclama todos a, como ele

faz, apostar todas as fichas na f��. Passa para os seus leito-

res uma palavra de esperan��a na prote����o da Divindade,

convicto de que essa f�� poder�� remover as dificuldades

do pa��s e do povo brasileiro. Como acontece sempre com

a Pague Menos.

339

J U A R E Z L E I T �� O

"F�� EM DEUS E P�� NA T��BUA

Meu Deus! Parece que foi ontem, est��vamos Auri-

c��lia e eu comentando sobre o que comprar��amos para os

nossos filhos, netos, parentes e amigos no Natal. Pois n��o

�� que o Natal j�� chegou de novo. Como o tempo passa r��pi-

do! Voc��s notaram que quando a festa �� animada n��s nem

notamos o tempo passar? Pois este ano foi assim tamb��m.

A festa chamada 2011 foi muito legal. Com a sua ajuda a

Pague Menos cresceu muito, 28% nas vendas, entramos em

mais de 40 novas cidades, inauguramos mais de 80 lojas e, o

mais importante, geramos mais de 2.000 empregos diretos.

Olha as coisas melhorando... Demos uma grande contribui-

����o para diminuir o desemprego no nosso pa��s e levamos

sa��de para milh��es de brasileiros.

Eu fico muito feliz de fazer parte desta grande fam��lia

de mais de treze mil membros que �� a Pague Menos. Juntos,

estamos construindo a maior e melhor empresa do varejo

farmac��utico do maior pa��s do Hemisf��rio Sul.

Neste ano o mundo passou por muitas atribula����es:

os Estados Unidos continuaram em crise, v��rios pa��ses da

Europa n��o conseguem pagar suas contas, no Oriente M��-

dio ditadores foram depostos e at�� na Am��rica do Sul algu-

mas economias est��o com problemas. No entanto, o nosso

querido Brasil conseguiu tirar de letra, crescendo pouco,

mas crescendo. Tenho plena convic����o de que 2012 ser�� um

grande ano para o Brasil e para nossa empresa. O mundo

vai criar ju��zo e n��s vamos lan��ar nossas a����es na Bolsa de

Valores. Vamos continuar crescendo a todo vapor, abrindo

340

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

lojas, criando empregos, pagando impostos, gerando rique-

zas e levando sa��de, higiene e beleza para milh��es de clien-

tes, ou melhor, de amigos. Voc�� sabe por que eu tenho con-

vic����o de que vamos ter dias cada vez melhores? �� porque

eu consegui desenvolver uma estrat��gia de liberar a minha

mente de pensamentos negativos e acreditar firmemente

que o Homem l�� de cima tem um projeto muito bonito para

todos que fazem parte da Fam��lia Pague Menos. Afinal,

s��o trinta anos de crescimento cont��nuo e de pleno sucesso.

Como ter��amos conseguido se n��o f��ssemos uma empresa

aben��oada? O segredo �� simples, DEUS ajuda a quem quer

fazer a coisa certa e acredita Nele. E �� exatamente isso que

n��s fazemos. Acreditamos na prote����o divina e trabalha-

mos muito. Nunca se esque��a de que n��s somos o resultado

dos nossos pensamentos e de nossas a����es.

Boas Festas. Deus aben��oe a todos.

Aquele abra��o".

Em dezembro de 2012, ele volta ��s mem��rias, re-

cordando como iniciou sua empresa, em 1 9 8 1 . E recor-

re novamente ao tema da felicidade, que n��o pode ser

um usufruto vertical, mas uma emo����o compartilhada,

abrangente, horizontalizada, de modo a atingir todo o

universo dos que se envolvem com o mesmo sonho.

"�� IMPOSS��VEL SER FELIZ SOZINHO...

O sonho come��a em 14 de mar��o de 1981, era um

s��bado, quando um parente, sabendo do meu interesse em

341

J U A R E Z L E I T �� O

montar uma empresa varejista, me disse: conhe��o um rapaz

que entende tudo de farm��cia, voc�� n��o quer conhec��-lo? Na

hora pegamos um carro e fui conhecer o rapaz que seria o

meu primeiro s��cio na constru����o de um grande sonho. 66

dias depois, no dia 19 de maio de 1981, numa ter��a-feira,

nascia na periferia de Fortaleza, com apenas 6 funcion��-

rios, a Pague Menos. Este rapaz, meu primeiro s��cio, n��o

entendeu e no ano seguinte eu tive a felicidade de convencer

o Dr. Ubiranilson Alves para vir substitu��-lo. Este, sim, en-

tendeu qual era o meu sonho e passamos a sonhar juntos.

Parceiros de objetivos at�� hoje e, com as b��n����os de Deus,

continuaremos sonhando juntos por muito tempo.

Ao longo dos ��ltimos 31 anos, muita gente boa pas-

sou pela nossa empresa, com especial destaque para 'dona

Ozana', que veio trabalhar conosco antes de concluirmos o

nosso primeiro ano de exist��ncia.

Fazendo um balan��o, afirmo que tivemos muitas di-

ficuldades e alegrias, mas quando paro para analisar con-

cluo que as alegrias foram muito maiores. Crescemos con-

tinuamente e desde 2006 somos, individualmente, a maior

e melhor Rede de farm��cias do Brasil, com mais de 580

lojas espalhadas por 217 cidades e aproximadamente 16

mil colaboradores.

O sonho continua, mas ser grande n��o basta.

O nosso sonho atual �� de que possamos contribuir

para a realiza����o do principal sonho de todo ser humano,

que �� a BUSCA DA FELICIDADE. Est�� na B��blia: 'Ganha-

r��s o teu p��o com o suor do teu rosto'. Mas, longe de ser um

342

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

castigo, o trabalho deve ser visto como um caminho para a

busca da felicidade.

A Pague Menos �� uma empresa muito bem-sucedida.

Por��m, acredito que n��o �� o sucesso da nossa empresa que

faz a felicidade dos nossos colaboradores, mas proporcionar

felicidade nos nossos colaboradores �� que faz o sucesso da

Pague Menos. 'Sonho que se sonha s�� �� s��, �� apenas um

sonho. Sonho que se sonha junto vira realidade'... A Pague

Menos �� uma prova dessa realidade.

Quero agradecer a VOC��, querido(a) colaborador(a),

por nos ajudar a construir o sonho da busca da Felicidade.

E como diz o poeta: '�� imposs��vel ser feliz sozinho...'

Pe��o que voc�� estenda essa felicidade para al��m da sua loja

ou setor. Que ela se espalhe pela sua fam��lia, seus amigos,

sua rua, seu bairro...

Rogo a Deus que aben��oe a todos e continue nos ilu-

minando para juntos construirmos uma empresa de suces-

so, mas acima de tudo FELIZ.

Boas-Festas. Feliz 2013. Um beijo no cora����o".

A cr��nica com que festeja o encerramento de 2013

�� uma cesta de triunfos. A empresa dera mais de 2.000

novos empregos, instalara dois Centros de Distribui����o,

promovera exitosos eventos culturais e esportivos, dis-

tribu��ra pr��mios, fizera um congresso com a participa����o

de milhares de mulheres, reunira seus diretores e geren-

tes para uma grande e profunda avalia����o de desempe-

nho... Enfim, tinha tudo para comemorar.

343

J U A R E Z L E I T �� O

O fundador estava cheio de alegria e queria que

todos se sentissem tamb��m abra��ados pelas vit��rias con-

seguidas. Aproveitava a oportunidade para anunciar os

eventos retumbantes do ano seguinte, como a Copa do

Mundo no Brasil e as elei����es para Presidente, Gover-

nadores, Senadores e Deputados. Estava cheio de espe-

ran��a e queria repassar aquele estado de esp��rito para o

ativo humano da Pague Menos, enquanto incentivava a

continuidade do sonho e o amor ao trabalho.

"PARA CONSTRUIR �� PRECISO SONHAR

E P��R A M��O NA MASSA

2013 foi bom, 2014 vai ser melhor ainda.

Inauguramos mais de 70 lojas e reformamos muitas.

Passamos a fazer parte da vida de v��rias cidades e mais de

2.000 novos colaboradores vieram compor a nossa Fam��lia

Pague Menos. O CD de Pernambuco entrou em funciona-

mento e o CD de Goi��nia est�� pronto para iniciar sua mis-

s��o de abastecer as lojas do Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Realizamos o maior evento feminino do Brasil, com

mais de 12 mil mulheres, e tamb��m, com grande sucesso,

o 4o Circuito de Corridas. A nossa festa, "Pr��mio Novas Conguistas", com mais de 800 participantes, trouxe para Fortaleza centenas de diretores parceiros da ind��stria farmac��utica e de higiene e beleza, banqueiros, construtores

e nossos principais fornecedores de servi��o. UFA! Foi tra-

balhoso e gostoso, e ainda serviu para treinarmos bastan-

te para enfrentar a pauleira gue vai ser 2014. Olhem s��:

344

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

in��cio da opera����o do CD de Goi��nia, Carnaval em mar-

��o, Copa do Mundo em junho e julho, elei����es em outu-

bro, realiza����o do 5o Circuito de Corridas em 5 cidades

e, com as b��n����os de Deus, vamos inaugurar 100 lojas

e criar 2 mil empregos. Vai ser muito divertido, estamos

prontos, e voc��, querido colaborador, �� quem vai realizar

esta festa. Em janeiro vamos colocar no ar um comercial

que nos convida a termos um AMOR DO TAMANHO DO

BRASIL. Solicito que voc�� aprenda a letra, baixe o v��deo e

divulgue aos seus amigos pelas redes sociais, mais do que

isso, que voc�� pratique esse amor com toda pessoa que se

aproximar de voc��. O sucesso da Pague Menos depende de

colocarmos em nossas a����es um AMOR DO TAMANHO

DO BRASIL, experimente e voc�� vai ver o que acontece.

Como disse Geraldo Vandr��: 'Quem sabe faz a hora, n��o

espera acontecer', fa��a. Quero registrar a minha gratid��o

e amor a todos que constroem a melhor entre as maiores

Redes de farm��cia do Brasil: nossos Diretores, Gerentes

de Opera����es, Gerentes Regionais, Supervisores, nossos

17 mil campe��es que diuturnamente fazem a coisa acon-

tecer nas nossas mais de 650 lojas em todo o Brasil, o time

da retaguarda, cora����o da empresa, o time dos CDs, pul-

m��o indispens��vel para a exist��ncia das lojas, e a todos

que direta ou indiretamente est��o conosco... Juntos e Mis-

turados. Sonho com um Brasil justo, onde todos possam

viver com dignidade, e que as fam��lias sejam um porto se-

guro onde o amor a Deus e ��s pessoas esteja sempre em

primeiro lugar.

345

J U A R E Z L E I T �� O

Amo tudo que fa��o, mas principalmente, amo cada

um de voc��s.

Desejo a todos um Feliz Natal e um aben��oado Ano-

-Novo.

Um Beijo no cora����o de todos".

Em dezembro de 2014, come��a a cr��nica com uma

conceitua����o filos��fica sobre a for��a positiva da palavra.

Quem gosta de andar nos vales sombrios da amargura

atrai para si as a����es negativas do destino. Os maldizen-

tes, os lamuriantes e os que s�� profetizam desventuras

s��o uns derrotados aprior��sticos. Gente que entra na

guerra j�� achando que vai perder.

Por isso, concita os colaboradores a seguir o seu

exemplo. Sempre foi um otimista de carteirinha, um en-

tusiasmado pelo seu trabalho, um destemido pelejador.

Essa atitude de vida o faz vencedor.

E, ent��o, mostra a performance da empresa naque-

le ano que estava terminando. S��o n��meros de ascens��o,

conquistas frequentes, pr��mios consagradores.

E alerta contra a influ��ncia negativa daqueles que ele

denomina de "arautos do Apocalipse", apostando em novos

��xitos e venturosos momentos no ano que se aproxima.

"DIZE-ME O QUE FALAS E EU TE DIREI QUEM ��S

O que tu falas �� o espelho da tua exist��ncia. O que

falas externa o que pensas e o que pensas reflete o teu estado

de esp��rito e de uma forma muito clara e tua felicidade, ou

346

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

n��o. Procure sempre falar coisas boas, elogiar a tua fam��lia,

teus amigos, a empresa na qual trabalhas, o teu pa��s.

Ainda n��o me acostumei com o tempo que as pesso-

as gastam criticando situa����es e coisas, sem o menor senti-

do l��gico, apenas pelo prazer de externar o seu pessimismo

destrutivo, que n��o leva a lugar nenhum.

Muitos falaram que os est��dios n��o ficariam prontos,

que os aeroportos n��o suportariam o tr��fego, que n��o teria

Copa do Mundo etc. Como todos sabemos, a Copa foi um

grande espet��culo. O brasileiro deu um show de hospitalidade

e o mundo viu um pa��s bonito, unido e em desenvolvimento.

Agora est��o falando que 2015 vai ser um desastre,

que vai ter desemprego, que a infla����o vai subir, que n��o vai

chover, enfim, um pessimismo generalizado, que n��o cons-

tr��i absolutamente nada.

N��s, da Pague Menos, que sempre alimentamos o

h��bito do pensamento positivo, como n��o podia ser diferen-

te, agora estamos colhendo os bons frutos. 2014 foi ��timo.

Crescemos 18%, chegando ao faturamento deR$ 4,4 bilh��es

de reais, acrescentamos 88 novas lojas e reinauguramos al-

gumas, abrimos o maior Centro de Distribui����o do segmen-

to farmac��utico da Am��rica Latina, geramos mais de 2.000

empregos diretos, batemos recorde no valor em pagamento

de impostos, fizemos mais de 100 milh��es de atendimentos

'de cora����o', levando sa��de e beleza aos nossos clientes nos

quatro cantos deste querido Brasil.

Ganhamos diversos pr��mios em muitas cidades e em

v��rios segmentos. Mas, como presidente e principal l��der

347

J U A R E Z L E I T �� O

desta fam��lia, n��o poderia deixar de registrar o meu mais

profundo orgulho por termos recebido o "Great Place To

Work", tanto local como nacional, numa demonstra����o de

que o nosso sucesso n��o �� refletido somente atrav��s de n��-

meros, mas sim, e principalmente, pela satisfa����o que pro-

movemos no nosso ambiente de trabalho. O sucesso s�� ��

completo quando �� acompanhado de felicidade, e receber o

GPTW, como uma das 50 melhores empresas para traba-

lhar no 2o maior pa��s democr��tico do mundo, mostra que,

com as b��n����os de DEUS, estamos no caminho certo. Mui-

to obrigado a todos e a todas que constroem esta maravi-

lhosa empresa.

E 2015? Ah!... Contrariando os arautos do Apocalip-

se, 2015 vai ser o melhor ano da nossa hist��ria, at�� porque

s�� depende de n��s e n��s queremos e podemos.

Feliz Natal e um aben��oado Ano-Novo (com muito

dinheiro no bolso, sa��de pra dar e vender).

Presidente orgulhoso e feliz".

Em 19 de maio de 2017, o fundador dirigiu uma

carinhosa mensagem a toda a Fam��lia Pague Menos. Era

o anivers��rio da empresa, o 36�� de funda����o.

Madrugara para emitir os cumprimentos, mani-

festar regozijo e aplicar nos parceiros sua tradicional in-

je����o de otimismo. A cr��nica foi postada pelo WhatsApp

��s 6 h l 4 .

348

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

PAGUE MENOS, 36

Hoje �� um dia muito importante, o nosso sonho Pa-

gue Menos est�� completando 36 anos. E venho aqui declarar

o meu agradecimento a todos que est��o diariamente con-

tribuindo para a constru����o desta empresa e, ao mesmo

tempo, reconhecer que nada disso teria acontecido se n��o

fosse o empenho de todos, desde o pessoal da base: caixas,

vendedores, auxiliares de escrit��rio, recepcionistas, separa-

dores, conferentes, nos CDs, nos escrit��rios regionais, at�� a

matriz. 99% dos nossos l��deres come��aram a sua vida pro-

fissional, ou seja, o 1o emprego, na nossa empresa. Sinto-

-me muito feliz de ter dado in��cio a essa grande escola da

vida, onde nossos l��deres treinam os iniciantes n��o s�� para

suas tarefas di��rias, mas a serem disciplinados, corteses,

ensinam o valor do trabalho em equipe, o respeito ��s pes-

soas, sejam colegas, sejam clientes ou quem quer que seja.

Mostram a import��ncia de levar bem-estar aos milh��es de

brasileiros que nos brindam com sua prefer��ncia. Minha

gratid��o ao meu s��cio amigo Ubiranilson, que abriu m��o de

uma bela carreira para vir fazer parte do nosso sonho. Aos

meus queridos filhos, que, desde a inf��ncia e adolesc��ncia,

fizeram da nossa empresa o seu lar profissional. Aos nossos

abnegados diretores. Temos l��deres que est��o conosco desde

o come��o, como o Fl��vio, a Rosinha e a Zenilda, que se de-

claram felizes com a escolha que fizeram. Concluo afirman-

do que somente com as b��n����os divinas e o esfor��o de todos

foi poss��vel superar os in��meros desafios que enfrentamos.

Muito obrigado.

349

J U A R E Z L E I T �� O

Que venham os pr��ximos 36 anos!

Deus aben��oe a todos.

O fundador feliz,

DEUSMAR QUEIR��S".

N��o bastava ao ap��stolo Paulo disseminar o Evan-

gelho pela ��sia Menor e por toda a Costa do Mediterr��-

neo. Com as comunidades crist��s que instalava, continu-

ava a manter contato por meio de constantes mensagens

doutrin��rias e de incentivo. Eram as famosas EP��STOLAS

de S��o Paulo, hoje inclu��das no Novo Testamento.

Espelhado no exemplo de Paulo, Deusmar Queir��s

mant��m, pelos mais diversos meios, um elo constante

de comunica����o com seus colaboradores. Por isso, estes

textos de algumas de suas cr��nicas de fim de ano est��o

sendo inclu��dos em sua hist��ria, como mais uma exposi-

����o de seu otimismo vertical e do modo sublime como

olha a vida.

350



24

O HOMEM VISTO DE

PERTO

"Meu tempo tornou-se escasso para

discutir as apar��ncias. Quero conhecer

a ess��ncia das pessoas, a face de suas

almas, os sonhos que as municiam."

R u b e m Alves ( 1 9 3 3 - 2 0 1 4 ) ,

e d u c a d o r brasileiro

Omatuto nordestino e sua sabedoria. H�� uma ve-

lha senten��a no sert��o que diz que: "Ningu��m

conhece ningu��m antes de comer pelo menos

uns cinco quilos de sal juntos".

A conviv��ncia n��o s�� aprimora as rela����es como

revela as personalidades. As pessoas, assim como as

353

J U A R E Z L E I T �� O

montanhas, de longe s��o sempre azuis, coroadas de nu-

vens, iluminadas pelos raios fulgurantes das manh��s ou

pelos rom��nticos tons vermelhos do crep��sculo. Uma vi-

s��o de beleza espl��ndida, a pr��pria poesia da natureza a

c��u aberto.

De perto, por��m, as montanhas s��o ��speras, com

precip��cios abissais, animais bravios, insetos e r��pteis pe-

��onhentos e variadas formas de perigo. Ou servidas pelas

��guas cristalinas das cachoeiras, habitadas por aves ca-

noras, resineiros frondosos, zimbros de baga e palmeiras

farfalhantes.

Desse jeito tamb��m s��o as pessoas. Conhecendo-

-as na intimidade, privando com elas, testemunhando

situa����es cr��ticas ou venturosas, na euforia das vit��rias

ou nos corredores sombrios da amargura, �� que as temos

inteiras, reveladas e transparentes, e descobrimos de fato

como s��o, de modo pleno e absoluto.

Os que conhecem, de perto, Deusmar Queir��s

sentem por ele uma simpatia que at�� o encabula. Sabem-

-no humano e, como tal, sujeito ��s vicissitudes da esp��-

cie. Mas o acham superior, valente, ousado, encorajador.

Muitos o conheceram repartindo com ele o ambiente de

trabalho e, assim, testemunhando o seu modus operandi,

a maneira audaciosa de enfrentar as miss��es e os giros

do destino.

Selecionamos alguns depoimentos de amigos, pa-

rentes, antigos colegas de trabalho e companheiros de

diversas etapas de sua vida.

354

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

O professor Ubirajara Alves, primeiro irm��o de

Auric��lia, sempre foi uma voz muito ouvida e respeitada

na fam��lia. Pessoa de renome nacional, ocupou impor-

tantes fun����es no Distrito Federal, entre outras, a de Di-

retor do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), mani-

festa suas impress��es sobre o cunhado:

"Desde que entrou em nossa fam��lia, Deusmar fez

quest��o de manifestar, em v��rias ocasi��es e de maneiras

mais distintas, que n��o se considerava apenas um cunha-

do, mas um verdadeiro irm��o. Suas reais raz��es para ado-

tar t��o simp��tica atitude, que certamente nos tocou a to-

dos, somente ele as poderia oferecer. No entanto, uma bem

fundamentada explica����o eu poderia adiantar. Expansivo e

extrovertido como sempre foi, ele sentia necessidade de es-

tar, na medida do poss��vel, cercado de muitas pessoas, em

qualquer que fosse a ocasi��o. Por��m, oriundo de uma fam��-

lia diminuta, ele deve ter encontrado na nossa, ampla como

��, o habitat natural para o preenchimento dessa car��ncia

original. Pelo que pude observar, acredito que tal car��ncia

n��o chegou a se repetir em nenhum dos outros parentes

afins. Nesse aspecto, trata-se de uma caracter��stica exclu-

sivamente sua.

N��o menos importante, e guardando coer��ncia com

sua atitude anterior, tem sido a permanente e efetiva preo-

cupa����o com a educa����o dos membros da segunda e at�� da

terceira gera����o da nossa fam��lia. Obviamente, com a cola-

bora����o sempre presente da Auric��lia, sobretudo, na iden-

355

J U A R E Z L E I T �� O

tifica����o das car��ncias e necessidades. Nesse sentido, ele

ocupa um lugar de relevo na continua����o da obra do papai.

Ainda mais, juntamente com a Auric��lia, ele nos propicia as

melhores condi����es materiais e emocionais para continuar-

mos a manter periodicamente um conv��vio grupai de toda a

fam��lia. Sem d��vida, algo de inestim��vel valor para a pre-

serva����o do nosso elogiado gregarismo, por sinal, sempre

estimulado pelos nossos pr��prios pais. Ali��s, fato que o pr��-

prio Deusmar n��o se cansa de elogiar. Para mim, que vivo

distante, essa �� uma oportunidade que costumo antecipar

com alegria e satisfa����o. Sou, portanto, um eterno devedor

dessa verdadeira d��diva que amavelmente me �� concedida

de tempos em tempos. Certamente muito mais do que eu

jamais mereci.

Por todas essas raz��es e, possivelmente por outras

tantas que me escapam, eu decidi eleg��-lo como l��dimo re-

presentante dos demais parentes afins. Creio que todos con-

cordam com o acerto da minha decis��o. Ele, que sempre se

considerou irm��o por escolha pr��pria.

Dentre todas essas qualidades e virtudes, aquela que

merece mais destaque ��, sem d��vida alguma, a sua incr��vel

determina����o, nas suas mais variadas acep����es. Na capaci-

dade de escolher e estabelecer os objetivos apropriados, na

persist��ncia e firmeza para alcan����-los, na habilidade de

tomar as decis��es corretas, de motivar a equipe e de preci-

sar as a����es necess��rias para fazer acontecer, entre outras.

Seguindo de perto, vem a sua extraordin��ria ousadia. Es-

sas s��o as respons��veis diretas pelo seu vertiginoso suces-

356

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

so como empreendedor. Em seguida, aparece o coroamento

do trio de virtudes que escolhi. Trata-se de sua reconhecida

magnanimidade que, a exemplo da ousadia, �� exercitada

com bastante arrojo, ali��s, tra��o distintivo de sua personali-

dade. Felizmente, ele logrou desenvolver a habilidade de tra-

fegar em regi��es lim��trofes, sem jamais cruzar as perigosas

linhas que as separam".

Raimundo Padilha aparece em v��rios momentos

da hist��ria de Deusmar, mas sempre �� bem-vindo, com

novas informa����es, ricas de pormenores:

"Deusmar �� um amigo. Pessoa que estimo muito. Sou

padrinho de casamento do filho dele, o M��rio, que hoje �� o

Presidente do Grupo Pague Menos.

A Pague Menos, hoje, �� uma companhia aberta regis-

trada na CVM. O Deusmar, no entanto, n��o fez o IPO (sigla

em ingl��s para Oferta P��blica Inicial, ou OPI, em portu-

gu��s). Mas vendeu uma participa����o (dezessete por cento,

talvez) a um fundo. Esses fundos andam atr��s de empre-

sas em crescimento, que t��m perfil estrat��gico, e fazem isso

praticamente com companhia aberta. Para ter companhia

aberta a pessoa tem que seguir alguns par��metros, como

boa governan��a e Conselho de Administra����o. Por isso o

Deusmar passou para Conselho de Administra����o e o M��-

rio, seu filho, �� o presidente-executivo. O que predominou

por muito tempo no Brasil foram os Conselhos de Adminis-

tra����o que coincidiam com a fam��lia. Mas a Pague Menos

tem um Conselho de Administra����o com conselheiros ex-

357

J U A R E Z L E I T �� O

temos �� fam��lia. E isso �� uma grande abertura. T�� certo. O

Deusmar, embora tenha uma fam��lia grande (quatro filhos

e muitos netos), abriu o conselho para trazer colabora����o,

cr��tica, expertise de fora tamb��m para o projeto dele.

Ele sempre foi muito expansivo e natural. Numa oca-

si��o, apresentava as empresas dele em um audit��rio da CDL

e l�� pelas tantas colocou um DVD da Ivete Sangalo e ficou

pinotando no palco, dan��ando feito um danado. Coisas as-

sim. Excentricidade. Ele �� festeiro demais. Ele gosta de uma

exposi����o e eu at�� acho que ele devia ser mais contido. Uma

exposi����o excessiva pode chamar a aten����o e trazer perigo,

como j�� aconteceu. Lembro-me do quanto o Deusmar sofreu

com o sequestro do filho. E essa exposi����o toda �� uma coi-

sa que, realmente, me preocupa e sempre que estou com ele

aconselho para que seja um pouco mais contido. Mas isso faz

parte do estilo dele, do comportamento dele. Ele �� assim. Um

homem extraordin��rio pensando que �� um homem comum.

Conheci algumas pessoas not��veis nessa minha ca-

minhada ao lado de grandes empres��rios... Uma delas foi

o Edson Queiroz. Era de uma simplicidade imensa, uma

pessoa de um di��logo aberto e franco que estava acima de

sua ��poca. Deixava a gente muito �� vontade. Jos�� Macedo

tamb��m �� assim. At�� quanto p��de esteve em reuni��es da

FIEC. Esp��rito democrata. H�� empres��rios muito reclusos.

Outros se exp��em mais, como o Edson e o Z�� Macedo. O

mais alegre, expansivo e natural �� o Deusmar. Um cearense

t��pico, brincalh��o, engra��ado... Um menino grande que n��o

d�� muita import��ncia para a import��ncia que tem".

358

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Jos�� Maria Couto Bezerra, advogado, ex-verea-

dor e Presidente da C��mara Municipal de Fortaleza, her-

deiro pol��tico de Ger��ncio Bezerra como representante

do bairro de Ant��nio Bezerra, conviveu na adolesc��ncia

com Deusmar Queir��s e sobre esse tempo se pronuncia.

"Deusmar foi meu companheiro de movimento Jo-

vem no Centro da Mocidade Cat��lica (CMC) e tamb��m nas

"peladas" que pratic��vamos no campinho ao lado do Patronato. Nunca foi um primor de jogador, mas era muito entu-

siasmado e puxava sua equipe aos gritos de anima����o.

Seu Lisboa, o pai dele, tinha a maior mercearia do

bairro, na Avenida Mister Hull. Sua m��e, a dona Madalena,

era uma pessoa muito querida, serena, calada, mas conhe-

cida pelas caridades que fazia, n��o deixando de m��os vazias

os pobres que a procuravam.

O interessante �� que todos que viam o jeito espont��-

neo e otimista de Deusmar, sempre muito vibrador, sempre

falando de seus planos que a gente achava, ��s vezes, muito

exagerados, sabia que ele iria vencer na vida. Depois, n��s fo-

mos acompanhando o sucesso do rapaz, cada vez crescendo

mais, botando empresas, ficando rico.

Agora, uma coisa eu posso dizer: foi um cara que

nunca mudou. N��o ficou bo��al, mesmo quando atingiu a

posi����o de um dos homens mais ricos do Cear��. �� o mes-

mo amig��o daquele tempo, sempre euf��rico, sempre pronto

para o abra��o.

Nossa gera����o tem orgulho do Deusmar. Venceu

mesmo, ficou famoso.

359

J U A R E Z L E I T �� O

A bem da verdade, todos n��s nos colocamos bem

na vida. Quase toda aquela turma se formou e seguiu seu

caminho, cada qual na profiss��o que escolheu. Eu, como

era natural, filho de pol��tico, me tornei pol��tico e cheguei a

atingir posi����es relevantes, como a Presid��ncia da C��mara

Municipal, tendo oportunidade de assumir algumas vezes a

Prefeitura de Fortaleza.

Mas, certamente, daqueles jovens que viveram sua

juventude em Ant��nio Bezerra nos anos 60 e 70 do s��culo

passado, foi o Deusmar o que chegou mais longe. E est�� a��,

crescendo sempre para atingir novas conquistas".

Jo��o Soares Neto, empres��rio e escritor, relembra

os tempos da CR��DIMUS, quando o viu come��ando seu

ascendendo e vitorioso itiner��rio:

"Conheci Deusmar Queir��s no in��cio dos anos seten-

ta. Raimundo Padilha, seu professor na Faculdade de Ci��n-

cias Econ��micas da Universidade Federal do Cear��, o trou-

xe, como disc��pulo diferenciado, para a 'Galeria Cr��dimus',

esp��cie de supermercado financeiro que trabalhava com a

Caderneta de Poupan��a, Letras Imobili��rias, A����es e ou-

tros. Paralelo a isso, Bernardo Bichucher, s��cio colateral da

Cr��dimus, tinha uma corretora de valores mobili��rios, prati-

camente inativa. Deusmar a gerenciou e dinamizou. Passou

a ser, rapidamente, um dos maiores negociadores no Brasil

das a����es de empresas beneficiadas pelos artigos 34/18,

base de apoio da Superintend��ncia do Desenvolvimento do

Nordeste, Sudene, ��s empresas regionais. Em seguida, as-

360

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

sumiu o controle da Corretora Pax. Era o jovem guerreiro

demonstrando que a sua luta pessoal come��ara, mas era

uma cruzada de paz. Em toda a sua vida, teve o apoio incon-

dicional de Auric��lia, sua mulher. Em 1981, j�� detentor de

bens e, principalmente, a����es, at�� hoje um de seus maiores

ativos, resolve fundar as Farm��cias Pague Menos. Agora,

36 anos passados, a Pague Menos est�� operando em todos

os estados brasileiros e�� o maior grupo de farm��cias nacio-

nal. Tem mais de 1.000 lojas, inovou, desde o princ��pio, no

'mix' de bens e servi��os prestados. D�� empregos a milhares

de farmac��uticos e colaboradores. Paralelo a isso, Deusmar

tem ainda um 'pool' de outras empresas din��micas e efica-

zes. Tudo lhe �� merecido por conta de seu esp��rito empreen-

dedor, capacidade de lideran��a, simplicidade e destemor".

Jorge Alberto Vieira Studart Gomes (Beto Stu-

dart), administrador e empres��rio, Presidente da FIEC

( 2 0 1 7 ) , pronuncia-se sobre Deusmar Queir��s:

"Nos conhecemos, eu e o Deusmar, ainda muito jo-

vens. Na ��poca, me lembro de uma viagem que fiz para os

Estados Unidos, talvez a minha primeira viagem para aque-

le pa��s, e nos encontramos no balc��o do Aeroporto de Mia-

mi. Eu j�� admirava aquela forma el��trica que ele tinha de

conduzir o seu momento. Eu nem sabia se o Deusmar ia

ficar bilion��rio como ele ficou. Mas o homem �� animado

pela for��a de vontade, pelo entusiasmo, pelo otimismo, efoi

construindo sua vida calcado nessa convic����o de que o tra-

balho faz a grande diferen��a. Ele �� uma pessoa exemplar,

3 6 1

J U A R E Z L E I T �� O

sob v��rios prismas. Eu fui acompanhando, a dist��ncia, o

trabalho dele e vi como ele foi crescendo. Ele trabalhava, na

��poca, na compra e venda de a����es, principalmente, para as

empresas do Sistema FINOR. Num determinado momento,

da minha ��poca na AGRIPEC, eu tinha um projeto de Su-

dene e as a����es da empresa foram para o mercado a fim de

serem ofertadas nos leil��es da Bolsa de Valores. Num certo

dia, o meu amigo Deusmar me ligou perguntando se eu g��e-

��a recomprar as a����es da AGRIPEC gue estavam na cartei-

ra do FINOR/BNB. Eu disse gue n��o tinha dinheiro naguele

momento, mas, se ele guisesse, comprasse. E ele perguntou:

'T�� tudo bem?! A organiza����o t�� boa? Voc�� est�� aperrea-

do por dinheiro?' E eu disse: 'T�� tudo bem. T�� bem demais,

tudo j��ia, show de bola!', mas por tr��s eu estava num per-

rengue, e estava tudo lascado. Isso foi em 1988, 1989 ou

1990. Ent��o, o Deusmar foi l�� no mercado/leil��o e comprou

todas as a����es preferenciais da AGRIPEC gue estavam no

FINOR. Passou a ter uma relev��ncia acion��ria, mas como

era preferencial ele n��o aparecia no neg��cio, porgue prefe-

rencial sempre tem a prefer��ncia na distribui����o de lucros,

bem como, nos casos de liquida����o na empresa, mas n��o

tem direito a voto. Quando chegou em 1997, eu j�� estava

desejoso de ter 100% do capital da AGRIPEC, e s�� tinha um

jeito: comprar as a����es do Deusmar. Eu e meu filho, Carlos

Alberto Studart, gue a gente chama de Deda Studart, fomos

conversar com ele. Nessa ��poca, o Deusmar j�� estava mi-

lion��rio, com o neg��cio bem consolidado, uma rede de far-

m��cias muito grande e sempre muito alegre. Essa alegria

362

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

sempre me chamou muito a aten����o. Ou n��o tem momento

ruim para ele ou ele tira de letra os momentos ruins. Das

duas, uma. A�� eu cheguei e disse: 'Olha, Deusmar, eu estou

pensando em comprar as a����es das quais voc�� �� detentor,

que estavam na carteira do FINOR, pois me interessa ter

o controle acion��rio da AGRIPEC 100%. Ele, de imediato,

aquiesceu. Foi de uma nobreza muito grande, porque, quan-

do eu expliquei para ele esse meu problema, tive uma res-

posta extremamente cordial: 'Beto, lhe vendo, sim'. E ent��o,

dois ou tr��s dias depois, nos encontramos e ele disse: 'Beto,

o neg��cio est�� feito! Vou vender para voc��. Fa��a o cheque!'

Chegamos num acordo dos valores, mas havia um detalhe.

Ele disse: 'Qual �� o pre��o que voc�� vai pagar?' A�� eu disse:

'Pegue o valor que voc�� investiu na ��poca, corrija pela in-

fla����o e me venda. Fa��a isso por mim.' Ent��o, ele disse que

estava fechado e que eu fizesse o cheque. Respondi: 'Cheque

eu n��o tenho. Eu vou pagar a prazo.' Ent��o, num gesto de

muita generosidade, ele concordou que eu pagasse em 10

vezes, sem fiador e sem qualquer tipo de aval. Eu disse que

queria colocar como guardi��o, dessa transa����o, o Fonteles -

amigo comum, advogado - que ia anotando, �� medida que

eu liquidasse, e tomando as provid��ncias para fazer a trans-

fer��ncia das a����es. Assim foi feito. Nunca atrasei um dia.

Ele n��o podia nem se lembrar de mim, porque um cara s��

lembra do outro quando o outro est�� inadimplente, e, como

eu nunca ficava inadimplente, ele n��o lembrou.

Esse foi um momento auspicioso da minha rela����o

com o Deusmar, porque mostra a sua cabe��a pelo lado em-

363

J U A R E Z L E I T �� O

pres��rio. Ou seja, o entendimento que ele tem das dificulda-

des de qualquer empres��rio. N��o �� aquele cara que est�� ali

somente para poder, gananciosamente, ganhar oportunida-

des. Esse foi o Deusmar que eu conheci na intimidade.

O resto, meu irm��o, o que eu vejo �� que ele �� um ho-

mem brilhante, que continua colocando em pr��tica o mesmo

entusiasmo do passado. Os seus sonhos vivem em ebuli����o o

tempo todo, construindo um ambiente em que a gente nota

a presen��a de Deus e da fam��lia na hist��ria do seu suces-

so. Sempre ligado ��s pessoas. �� um homem da institui����o,

do CDL, que faz parte das institui����es de classe. Que d�� o

seu depoimento de vida para todos aqueles que necessitam

ser estimulados para empreender. O Deusmar para mim ��

um homem que merece todo o respeito. �� um construtor do

bem. O fato de ele vir do sert��o foi uma das melhores coisas

que pode agregar ao seu hist��rico. �� muito bonita esta as-

cens��o de vida das pessoas que n��o tiveram oportunidade,

experi��ncias que muitos fortalezenses tamb��m viveram. Ele

�� um homem que soube construir o seu sucesso com discer-

nimento e garra.

N��s precisamos render homenagens constantemente

a Deusmar, e que ele sirva de exemplo para n��s, para os va-

rejistas, empreendedores jovens, que saibam que tudo �� pos-

s��vel, desde que tenham boas ideias, muito trabalho, muita

for��a de vontade e que n��o desistam nunca. Se voc�� tem con-

vic����o de que est�� no caminho certo, n��o desista, n��o deixe

de ter for��a, n��o deixe de ser ousado. E isso o Deusmar nos

mostrou muito bem"!

364

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Pio Rodrigues, empres��rio, l��der classista, poeta,

�� outro grande amigo de Deusmar Queir��s e faz sobre ele

uma an��lise acurada e profunda:

"Uma vez escutei do Beni Veras (empres��rio e ex-

governador do Cear��, falecido) que todo ex��rcito, desde a

Idade M��dia, tinha sempre que ter um rompedor. Um arti-

lheiro na frente. Um destemido. Um cara que fosse abrindo

os caminhos. E nos neg��cios n��o �� diferente. Acho que o

Deusmar �� um desses homens. Eu penso que ele �� um ban-

deirante moderno, porque saiu abrindo neg��cios no Brasil

todo. N��o s�� neg��cios, mas prestando grandes servi��os ��s

comunidades mal assistidas tamb��m. Deusmar cobriu o

Brasil inteiro. E eu penso (tenho absoluta certeza disso, ali-

��s) que ele ��, hoje, o maior varejista da hist��ria do com��rcio

de Fortaleza. Foi o cearense que foi mais longe tamb��m em

n��mero de farm��cias.

E isso ele o faz com entusiasmo (o que vai muito al��m

da quest��o financeira ou empresarial. �� uma quest��o prati-

camente de sangue e vida). Deusmar �� um grande empreen-

dedor que se tornou um grande empres��rio. A grande dife-

ren��a entre o empreendedor e o empres��rio �� que o primeiro

n��o sabe se estabilizar como o segundo. O primeiro arranca,

descobre, vai em frente, mas, bem ali, ele se perde, porque

n��o sabe ser empres��rio. Mas acho que o Deusmar soube

ser as duas coisas: um grande empreendedor que se trans-

formou em um grande empres��rio sem perder seu esp��rito

empreendedor, que �� muito pr��prio dos cearenses.

365

J U A R E Z L E I T �� O

Todos sabemos que o Deusmar �� um otimista inve-

terado. Ele est�� sempre para cima. Tem uma frase do seu

Cl��vis, meu pai, que eu acho que cabe muito bem no esp��rito

do Deusmar. Seu Cl��vis dizia o seguinte: 'Meu filho, se, com

otimismo, as coisas j�� s��o dif��ceis, com pessimismo, elas

se tornam imposs��veis'. O Deusmar tem essa quest��o, essa

determina����o e, aliado a isso, ele �� um homem destemido

e movido a desafios. O Deusmar, seja qual for a situa����o

econ��mica ou pol��tica, est�� sempre avan��ando. Est�� sem-

pre encontrando uma forma de agregar valor aos neg��cios.

Prestar novos servi��os. Ele remodelou praticamente o que

era a farm��cia de antigamente. Est�� sempre pesquisando e

prospectando. �� por isso que credito o sucesso que ele tem a

esse esp��rito dele movido a desafio e o fato de ser um homem

extremamente empreendedor.

Duas considera����es. Hoje em dia, para voc�� perma-

necer no jogo dos neg��cios, tem que ser muito competente.

Mas ser s�� competente n��o ganha o jogo. Al��m de compe-

tente voc�� tem que ser diferente. E o Deusmar sabe fazer a

diferen��a para ganhar o jogo. Tem uma coisa minha, que eu

escrevi, que cabe muito bem nessa hist��ria do Deusmar. Diz

assim: '�� importante chegar l��. �� fundamental permanecer

l��, mas o essencial �� ir al��m'. O Deusmar n��o s�� chegou como

permaneceu. E ele est�� sempre buscando alguma coisa al��m

do que j�� est�� feito ou que ele mesmo fez. Isso �� uma caracte-

r��stica muito pr��pria da maneira como ele foca os neg��cios.

Enfim, quero dizer que o considero um amigo extre-

mamente leal e irrestritamente solid��rio. Acho (para usar

366

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

uma imagem po��tica) que 'ele tem a for��a de um trem e o

cora����o de um vem-vem'.

Todos os anos, no fim do ano, quando ele comemora

o Natal das pessoas que servem �� fam��lia dele, �� a fam��lia

do Deusmar que vai servir ��s pessoas que serviram a ela

durante o ano todo.

Ele �� um exemplo para mim. Um exemplo para o co-

m��rcio de Fortaleza. Uma lideran��a superautorizada e res-

peitada por onde passa e aonde chega".

O Dr. Freitas Cordeiro, Presidente da FCDL - Fe-

dera����o das C��maras de Dirigentes Lojistas do Cear�� e

fundador da imobili��ria FZ Im��veis, fala sobre a partici-

pa����o de Deusmar Queir��s na Entidade:

"�� um prazer prestarmos aqui este depoimento em

rela����o ao Deusmar e a sua participa����o no sistema cedelis-

ta do estado do Cear��, a partir da CDL de Fortaleza.

O Deusmar �� essa figura fant��stica muito f��cil de

a gente gostar dele. E quem tem uma proximidade com o

Deusmar sabe o quanto ele �� din��mico, ativo, uma carga de

otimismo e de euforia. Ele tem o esp��rito para cima e n��o ��

diferente no dia a dia nem dentro da Entidade. Traz essa

energia positiva. O momento da dificuldade, ele enfrenta,

mas n��o cria problema: resolve encontrando solu����es. Isso,

para o sistema, sempre foi muito salutar. A presen��a do

Deusmar no nosso sistema cedelista, no estado do Cear��,

�� motivo de orgulho para todos n��s, e nesse segmento, eu

digo sempre, com o tempo de vivencia que eu tenho nele,

367

J U A R E Z L E I T �� O

mais ou menos 20 anos, o Deusmar tem contribu��do como

exemplo de empres��rio de sucesso. 95% dos associados de

nosso segmento s��o pequenos e m��dios empres��rios, e os

outros 5%, s��o empresas de m��dio e grande porte. O Deus-

mar, para orgulho de todos n��s, �� o maior varejista do Brasil

no ramo farmac��utico. Ele est�� nos 5% e vivendo conosco

nessa CDL. �� sol��cito, pois consegue na agenda dele atender

��s nossas demandas. Nunca buscamos o Deusmar para ele

dizer um n��o. E onde ele pode contribuir conosco? Passan-

do nos audit��rios a sua experi��ncia. Ele faz isso com muito

prazer. Sei o quanto �� dif��cil sacrificar a sua agenda aperta-

da, mas ele sempre diz: 'Freitas, eu n��o posso faltar ao seg-

mento. 'A cada momento em que ele aparece e fala para esse

p��blico, �� uma dose maci��a de euforia. Carga de esperan��a

que todos n��s precisamos para enfrentar os nossos neg��-

cios. O Deusmar �� tudo isso e ainda encontra tempo para

compor a Diretoria da CDL de Fortaleza, na qualidade de

Vice-Presidente. Mesmo n��o querendo mais participar da

Diretoria, o convenci a ficar comigo por 6 anos. O Severino

Neto assumiu a Presid��ncia e ele ainda continuou por mais

dois mandatos de 3 anos.

Ent��o, esse homem �� fabuloso, e uma refer��ncia de

dedica����o para esse sistema e para todo o Cear��. Eu sin-

to prazer de poder registrar esse depoimento. �� muito bom

voc�� poder falar de peito aberto, com um sentimento de pra-

zer, de dizer, referendar um nome desses. O Cear�� ainda n��o

deu ao Deusmar o destaque que ele merece. Essa obra que

est�� sendo escrita, a biografia do Deusmar, vai servir de es-

368

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

pelho para muitos jovens que v��o vir por a�� e v��o se abeberar

por seu exemplo de vida, verificando que a sua trajet��ria hu-

mana �� fascinante: um homem que nasceu na pequena cida-

de de Amontada, enfrentou adversidades, mas, gra��as �� sua

intelig��ncia, trabalho e aplica����o, superou todos os desafios.

Francisco Ant��nio de Alc��ntara Macedo, eco-

nomista, consultor empresarial, professor universit��rio,

conheceu Deusmar Queir��s na faculdade e, depois, foi

seu companheiro de Magist��rio na Universidade de For-

taleza, UNIFOR. Hoje faz parte do Conselho Diretor da

Pague Menos.

"O Deusmar �� mais velho do que eu dois anos e, como

diz a minha filha, quem �� sex n��o �� sex, �� sexagen��rio. J��

estamos dobrando a curva. Na terceira idade, estamos al��m

do que j�� foi caminhado. Essa �� que �� a realidade. Tudo isso

daqui �� uma passagem. �� um filme curt��ssimo.

Meu pai, seis meses antes de morrer, com 87 anos, es-

tava em uma cadeira de rodas e, certa vez, me falou o seguin-

te: 'Macedinho, a vida �� muito curta, mesmo quando �� longa'.

Conheci o Deusmar quando entrei no curso de Eco-

nomia da Universidade Federal do Cear��, em 1971. Somos

quase da mesma idade. Deusmar entrou na UFC em 1969.

Eu entrei em 1971. E logo houve uma identifica����o muito

forte entre n��s. Peg��vamos o Benfica no centro da cidade

para chegar �� Av. da Universidade.

O Deusmar sempre foi uma pessoa que transmitiu

muita alegria, espontaneidade e otimismo, mesmo debaixo

369

J U A R E Z L E I T �� O

de porrada, no vendaval das crises, ele sempre est�� dispos-

to para a luta. Ent��o, houve uma identifica����o muito forte

entre n��s. Acho que fomos colegas em duas cadeiras: em

Econometria e Estat��stica. Mas eu terminei o curso em dois

anos e meio, enquanto ele terminou em cinco. Eu era estu-

dante profissional. O Deusmar trabalhava. Tempos depois,

eu lecionava na Universidade Federal do Cear�� e o Deusmar

na UNIFOR. Quando fui para a UNIFOR, ele lecionava a

cadeira de Mercado de Capitais, na qual �� um especialista,

at�� porque foi funcion��rio e, depois, dono da PAX Corretora.

Convivemos muito na UNIFOR. Eu era professor

de Economia Industrial de Pol��tica e Programa����o Econ��-

mica. Ent��o Deusmar se tornou coordenador do Curso de

Economia e eu me tornei assistente dele. Ent��o, convers��-

vamos muito.

O Deusmar come��ou a ganhar dinheiro no Finor

e acho que n��o sabia o que fazer com o dinheiro. Mas fez

um grande neg��cio quando o Geisel saiu da Presid��ncia da

Rep��blica e assumiu a presid��ncia do Conselho de Admi-

nistra����o da Copene. O ex-presidente do Brasil chamou o

Deusmar para comprar as, a����es preferenciais da Copene.

A�� ele ganhou um pr��mio da loteria... Acho que seu primeiro

milh��o de d��lares.

Ficou perplexo, mas, depois, decidiu investir no neg��-

cio de venda de rem��dios. Um dia, ele me disse: 'Compadre,

eu vou botar uma Rede de farm��cias!' E, se n��o me engano,

acrescentou: 'Vou fazer mil farm��cias'.

370

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Em se tratando de car��ter, Deusmar �� uma pessoa de

primeira linha. Ele �� altamente comprometido com a fam��-

lia dele. �� um cara que tem uma personalidade muito bem

ajustada. Compromisso com os amigos. Religioso. Homem

de f��. O Deusmar �� um daqueles que, se eu precisar dele ��s

tr��s horas da manh��, ele me atende.

Mas, na vida, toda pessoa que vai para a vitrine en-

frenta, normalmente, os invejosos e os concorrentes. Os que

n��o conseguem atingi-lo competindo e os que querem que

ele n��o progrida. Mas veja: vinte e tr��s mil empregados dire-

tos. Que bela folha de pagamento ele faz todo m��s. E outra

coisa: isso feito na labuta s��ria, de disputa de mercado, por-

que as disputas c��lebres nordestinas ou cearenses brotaram

do setor p��blico, onde, inclusive, nasceram algumas grandes

fortunas. Com o Deusmar n��o houve nada disso. Ele fez for-

tuna na pedra, no ch��o rude do empreendedorismo privado.

A disputa dele foi no mercado.

Somos uma terra de destemidos. O velho Cear�� de

guerra. Conheci outros empreendedores do porte dele. Tr��s

grandes empres��rios cearenses: Jos�� Macedo, Edson Quei-

roz e Ivens Dias Branco.

Na universidade, eu j�� via o Deusmar como um oti-

mista, audaz e, ao mesmo tempo, uma pessoa espont��nea,

simples, franca. Sabia que ele ia triunfar. O vencedor tem

um DNA que a gente percebe logo. Ele �� desses sujeitos que

est�� sempre contente e alegre, mesmo usando uma cal��a

rasgada ou um sapato gasto, o que nunca foi o caso.

371

J U A R E Z L E I T �� O

Eu via no Deusmar uma pessoa de sucesso, que seria

bem-sucedida. Como economista e como empres��rio. Como

economista, se dedicou �� ��rea de Mercado de Capitais. Ele

tanto estudou a teoria como praticou e ganhou dinheiro

nessa ��rea. E tamb��m como professor. Lembro que surgiu a

vaga da Coordena����o do Curso de Economia e o Deusmar

foi o escolhido.

Acho que o Deusmar, em muitas ocasi��es, �� um poe-

ta. Mas um poeta que pratica os seus sonhos".

Luiz Carlos Monteiro, titular em cirurgia pedi��tri-

ca pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Pedi��trica e pela

Associa����o M��dica Brasileira, foi diretor superintenden-

te da Federa����o das UNIMEDs do Estado de S��o Paulo

e diretor-secret��rio, diretor tesoureiro, vice-presidente e

presidente da Sociedade Paulista de Cirurgia Pedi��trica.

�� fundador e presidente da ePharma�� PBM do

Brasil S/A e considera Deusmar "um vision��rio, um ami-

go e um exemplo de vida".

"Conheci Deusmar em Rio das Pedras-RJ, nos idos

de 1998, convidado que fui para dar uma palestra, em even-

to patrocinado por uma ind��stria farmac��utica, para falar

de PBM - Pharmacy Benefit Management, modelo ameri-

cano que havia acabado de visitar, cuja experi��ncia poderia

ser utilizada em nosso mercado.

O evento era direcionado ao canal de varejo farma-

c��utico e estavam presentes as maiores empresas do setor

- Redes de farm��cia e grandes distribuidores. Ao dissertar

372

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

sobre o modelo, que trazia em seu bojo a pretensa entrada

de um pagador privado de medicamentos, os planos de sa��-

de e consequente previs��o de press��o sobre pre��os, percebi

que o assunto era de aceita����o sens��vel no setor.

Ao ser aberta a palavra para a plateia, surgiu uma

figura carism��tica, imposs��vel de passar despercebida em

qualquer ambiente onde esteja, que soltou o seguinte co-

ment��rio jocoso, outra de suas caracter��sticas:'- Olhe, dou-

tor, esse tal de PBM, j�� que �� uma coisa ruim, se tiver que

vir, cuide para que venha de jegue, n��o deixe que venha de

avi��o n��o....', arrancando costumeiros risos da plateia. Era

meu primeiro contato com Deusmar Queir��s, que, mais tar-

de, num coquetel, batendo um papo amig��vel, me disse que,

apesar dos perigos intr��nsecos, se um dia empreendesse em

iniciativa como essa, n��o deixasse de procur��-lo.

Na ��poca, estava sendo gestada a Ag��ncia Nacional

de Sa��de Suplementar - ANS e a Lei 9.656, que nortea-

ria as normativas do setor. Entre as coberturas que seriam

obrigat��rias, muito se falava da cobertura do custeio dos

medicamentos ambulatoriais prescritos por m��dicos, �� se-

melhan��a do mercado americano.

Passei a ser muito procurado para viabilizar um mo-

delo brasileiro de PBM e entendi como uma oportunidade

real investir em empresa que buscasse abra��ar tal mercado.

Minha pr��tica m��dica no interior de S��o Paulo, no

entanto, tornava improv��vel a viabiliza����o de um empreen-

dimento desse porte. A ideia trazia, como consequ��ncia, um

373

J U A R E Z L E I T �� O

afastamento maior da fam��lia e tamb��m da pr��tica m��dica,

que ainda exercia com paix��o.

Mas tantos foram os incentivos e ofertas, que resolvi

enfrentar os desafios e abra��ar a oportunidade, incentivado

que fui por minha esposa e filhos.

Montei um plano de neg��cios e resolvi procurar inves-

tidores. Lembrei-me de Deusmar e de nossa breve conversa

e entendi que seria o investidor estrat��gico de que precisava.

Marcamos um caf�� da manh�� num hotel em S��o Pau-

lo e lhe mostrei o projeto. A partir da��, passei a conhecer

melhor algumas de suas caracter��sticas: a rapidez e tino em-

preendedor. Ap��s me ouvir, perguntou se n��o poderia jantar

na mesma noite com um assessor seu, Sergio Mena Barreto,

que gostaria que ouvisse o projeto. Sergio, muito bem ante-

nado e atualizado, avalizou o tema e Deusmar, muito r��pido,

me disse: 'Luiz, est�� montada a empresa, mas ofertaremos

��s dez maiores Redes do Pa��s a possibilidade de participa-

����o, n��o quero s�� para a Pague Menos a oportunidade'.

Passei a�� a conhecer outra de suas grandes virtudes -

a da partilha e altru��smo.

'Mas fique tranquilo - completou -, a empresa est��

montada! Se nenhuma outra quiser, fico com o todo e ainda

ofertarei a todos a op����o de recompra a qualquer momento'.

Ou seja: em menos de 24 horas e com poucas chances de

retrocesso, a empresa que viria ser a ePharma foi definida.

A partir da��, iniciamos a constru����o de um projeto ou-

sado e ambicioso: a viabiliza����o do primeiro autorizador ele-

tr��nico de regras e limites do mercado farmac��utico nacional.

374

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Os pr��ximos anos n��o foram nada f��ceis, a cria����o

de um autorizador no balc��o das farm��cias, em 1999, era

tarefa herc��lea. A maioria das Redes n��o tinha micros no

balc��o, era necess��rio comprar centenas de computadores,

mas n��o s�� isso, quebrar a loja, passar fios e ainda integrar

o autorizador aos diferentes sistemas de gest��o de lojas de

cada Rede. Claro que a previs��o de gastos do or��amento ini-

cial foi rapidamente superada, necessitando a empresa de

aportes financeiros adicionais.

Mas o pior estava por vir - a Lei 9.656 foi promul-

gada e os medicamentos ambulatoriais n��o foram inclusos

nas coberturas obrigat��rias, conforme esperado. Se esva��a o

maior atrativo para a cria����o do modelo.

Nessa fase Deusmar foi a pedra angular. N��o s�� con-

vencia os demais s��cios a continuar investindo, como ja-

mais deixou de acreditar e ainda cuidava para que eu tivesse

paci��ncia e continuasse motivado. Passei a ter admira����o

crescente pelo Deusmar, que a todo momento dava exem-

plos de honradez, perseveran��a, f��, transpar��ncia de inten-

����es e retid��o de car��ter. Como havia prometido, recomprou

as a����es de todos que quiseram deixar o investimento, sem

nunca titubear, apesar das dificuldades aparentes.

Passadas as dificuldades iniciais, a empresa flores-

ceu e, mesmo sem o marco legal, teve for��a para se conso-

lidar como a PBM pioneira do mercado de sa��de nacional.

Passamos a colecionar uma s��rie de vit��rias e conquistas.

Grandes corpora����es nacionais passaram a contra-

tar a ePharma para gerir a crescente demanda de custeio

das despesas com medicamentos.

375

J U A R E Z L E I T �� O

O modelo foi a base para a cria����o do programa Aqui

Tem Farm��cia Popular, do Minist��rio da Sa��de, iniciati-

va pioneira que propiciou, pela primeira vez, ��s farm��cias

privadas dispensarem rem��dios para o Governo Federal. O

Programa, at�� hoje vitorioso, teve a Rede da ePharma como

concentrador eletr��nico inicial.

Seus valores, ativos, n��meros e faturamentos cres-

centes, aliados a princ��pios de governan��a corporativa e boa

gest��o, passaram a ser observados pelo mercado internacio-

nal e, em 2013, dois fundos de investimentos americanos, o

Valiant Capital e Aberdare, passaram a deter participa����o

acion��ria na empresa. A supera����o das exig��ncias normais

desse tipo de opera����o, em termos de controles, auditoria,

pol��ticas de governan��a corporativa, praticamente nos 'cer-

tificou' de que t��nhamos uma empresa aos moldes das cor-

pora����es listadas em Bolsa, em termos de exig��ncias, embo-

ra n��o f��ssemos.

Hoje, aos dezoito anos, a ePharma �� um case de su-

cesso.

Conectada a mais de 27.000 farm��cias, em mais de

2.500 munic��pios, em todos os estados da federa����o. S��o

330 colaboradores, mais de 300 clientes. Diariamente os

sistemas da ePharma autorizam cerca de 100.000 unidades

de medicamentos, prescritos aos seus mais de 25 milh��es de

usu��rios cadastrados. Mensalmente 40.000 pacientes s��o

monitorados pelos programas de gest��o da ePharma.

N��o tenho d��vidas de que a perseveran��a dos acio-

nistas, liderados por Deusmar, foi mandat��ria na hist��ria

de sucesso da empresa.

376

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Todo esse hist��rico me aproximou muito de Deusmar

Queir��s.

Uma amizade fraterna entre n��s se consolidou, como

de sorte acontece com todos que tenham o privil��gio de par-

tilhar do conv��vio mais pr��ximo dessa figura humana in-

descrit��vel. Nossas fam��lias se aproximaram e, com muito

orgulho, somos, Rita e eu, padrinhos de casamento de seu

filho M��rio Henrique.

Ningu��m se relaciona com Deusmar sem se conta-

giar com sua f��, energia e for��a. �� um exemplo de empreen-

dedor vision��rio, amigo e parceiro.

Homem de fam��lia, esposo, pai e av�� presente. Deus-

mar �� tudo isso, aliado a uma simplicidade contagiante.

- Que Deus d�� vida longa ao meu amigo Francisco

Deusmar Queir��s"!

O Dr. Jos�� Hyder Dantas Carneiro fala sobre a

milit��ncia de Deusmar no Lions Clube:

"O Companheiro Le��o (CL) Francisco Deusmar de

Queir��s ingressou na Associa����o Internacional de Lions

Clubes (Lions Clubs International Association), a maior

organiza����o de servi��os sem fins lucrativos do mundo, no

ano de 1986, sob n��mero de inscri����o 358133. Filiou-se

no Lions Clube de Fortaleza Iracema (LCFI), do qual foi

presidente no ano leon��stico (AL) 1991/1992. Din��mico,

indicou o ingresso de v��rios companheiros que at�� esta data

pertencem ao movimento leon��stico.

Tem participado, sempre que o tempo lhe permite, de

muitas atividades do Clube, com lideran��a e desempenho.

377

J U A R E Z L E I T �� O

Marcou presen��a nas reuni��es de Conven����es Distri-

tais e Nacionais, fazendo parte da delega����o do nosso clube

(LCFI), inclusive, como palestrante.

�� um dos Companheiros Melvin Jones (Melvin Jones

Fellow), como assim s��o nominadas as pessoas que cola-

boram com valores acima de mil d��lares para a Funda����o

Internacional de Lions Clubes (Lions Clubs International

Foundation), que atua nas ��reas mais necessitadas do mun-

do com projetos de preven����o e revers��o de cegueira, assis-

t��ncia ��s v��timas de cat��strofes, a crian��as e adolescentes.

Portanto, o CL Deusmar tem uma larga folha de servi-

��os prestados ao leonismo, sendo um dos mais ativos filiados

do LCFI, estando presente, sempre que poss��vel, nas ativida-

des do Clube, para honra e g��udio de nossa organiza����o".

Geraldo Gadelha, advogado e administrador, hoje

exerce a fun����o de Superintendente de Rela����es Institu-

cionais na Pague Menos. Aqui, relata mais algumas pas-

sagens de sua conviv��ncia humana e profissional com

Deusmar Queir��s:

"Eu era do Banco do Nordeste e sou amigo irm��o do

Armando Caminha. E o Armando sempre foi muito amigo

do Deusmar. Certo dia o Armando disse: 'Geraldo, tem um

rapaz a�� do Mercado de Capitais que �� 'um danado', e est��

fazendo muito sucesso. Quero te apresentar.'

E fomos. Eu e o Armando. A partir desse dia nasceu

um respeito profissional muito interessante do Deusmar

por n��s.

378

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Quando ele fez um depoimento para o livro do Cleber

Aquino, Hist��ria Empresarial Vivida, cita o Lima Matos, o

Armando e eu, os tr��s t��cnicos oriundos do Banco do Nor-

deste, como pessoas que respeitaram o traquejo profissio-

nal dele logo nos primeiros contatos. Foi a partir da�� que

nos tornamos amigos. Ele telefonava e dizia: 'Geraldo, va-

mos tomar cerveja hoje, rapaz, pra comemorar'. Ele bebe

whisky. Mas ele sabe tanto que eu tomo cerveja e ��s vezes,

adere. Vou no avi��o com ele em viagens de neg��cios pelos

estados. Ele n��o bebe nada na ida. Na volta, quando fecha os

neg��cios, compra isso, aluga aquilo.... A��, sim, comemora.

A cabe��a dele vive a mil. Est�� sempre trabalhando no

futuro. Laborando no amanh��.

Na hist��ria do Mercado de Capitais, h�� dois momen-

tos marcantes: o momento em que ele �� reconhecido pela

Institui����o Banco do Nordeste (operador dos leil��es do Fi-

nor) como um corretor que esteve presente nos cem primei-

ros leil��es. Isso �� um marco em qualquer atividade empresa-

rial. Em qualquer circunst��ncia, um mesmo corretor estar

presente nos cem primeiros leil��es de uma atividade nova

era uma coisa absolutamente impressionante. E ficou mar-

cado, registrado e destacado, n��o por uma iniciativa parti-

cular, mas pelo Banco do Nordeste do Brasil, que conferiu a

este senhor - este vencedor, este senhor corretor Deusmar

Queir��s e �� PAX Corretora - o grande laurel de Campe��o,

consubstanciado em uma placa.

A outra coisa significativa �� que foi justamente nes-

sa atividade - como ele mesmo declarou na Hist��ria Em-

379

J U A R E Z L E I T �� O

presarial Vivida - que ganhou o PRIMEIRO MILH��O DE

D��LARES. Quando aconteceu, ele pensou: 'Mas eu sou, de

origem, um comerciante e vou me transformar de novo em

comerciante, porque agora tenho um capital e vou pensar no

que vou fazer. Para onde vou? Sapato, roupa ou rem��dio...?'

Foi inteligente tamb��m nesse momento. Soube a hora

de recuar um pouco e diversificar.

Voc�� sabe como ele criou os receb��veis? ��gua, luz e

telefone? O Padilha sempre teve uma vis��o muito bacana.

O Padilha �� um vision��rio. �� agradabil��ssimo para se con-

versar. Raimundo Francisco Padilha Sampaio. �� o guru de

umas quatro gera����es, pelo menos. Eu fui consultor de Mer-

cado de Capitais tamb��m da UNIFOR e da Associa����o Bra-

sileira de Bancos Comerciais Estaduais. Ministrei a cadeira

de Mercado de Capitais em quase todos os estados brasilei-

ros. O Deusmar era da PAX Corretora e eu fui membro do

Conselho de Administra����o da Bolsa de Valores represen-

tando o Banco do Nordeste. O Padilha disse: As corretoras

t��m que diversificar, t��m que receber contas'. O Deusmar

disse: As corretoras, n��o. Mas as farm��cias podem fazer

isso. Por que eu n��o posso receber contas?'

Se voc�� pegar os mais antigos da Pague Menos e falar

em 'receb��veis' eles n��o sabem nem o que ��. Mas sabem o

que �� ALT. E o que �� ALT? ��gua, luz e telefone. Ent��o, aqui,

na Pague Menos, recebemos ��gua, luz e telefone. Isso gerou

uma empresa, que �� a Pague Menos Gerenciadora... Tem

at�� uma piada infeliz por a�� que diz que a Pague Menos ven-

de at�� rem��dio. �� uma piada infeliz porque 70% da Pague

380

O E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Menos �� rem��dio. E o sonho do Deusmar �� que seja meio a

meio. Por qu��? Porque rem��dio �� tabelado. Ent��o, n��o tem

como mexer. Ele mexeu para baixo. Da�� o nome Pague Me-

nos. Todo rem��dio na Pague Menos �� menor que no pre��o

da tabela...

S�� quem conhece a grandeza e a capacidade de Deus-

mar �� quem convive com ele. Ele tem, mesmo, um parafuso

a mais do que a gente, uma energia e uma capacidade es-

trat��gica que n��o s��o comuns. Est�� muito �� frente de seu

tempo e da maioria dos empreendedores deste pa��s. Pode

ficar certo disso".

Ielton Barreto, economista e s��cio de Deusmar

Queir��s na Construtora Boa Terra, faz o relato da longa

conviv��ncia e a leitura da personalidade afoita e otimista

do parceiro:

"Meu nome �� Ielton Barreto. Sou formado em econo-

mia pela UFC. Estou com o Deusmar h�� 31 anos. Comecei

com ele na PAX Corretora, inicialmente, montando clubes

para investidores na Bolsa de Valores.

Depois dessa primeira fase passei a acompanh��-lo

nos leil��es do FINOR, quando a gente viajava todo m��s para

esses eventos que se realizavam, cada vez em uma Capital di-

ferente. Um mercado fant��stico que abriu as portas e a men-

te da gente para esta ��rea da ind��stria na regi��o nordeste.

Aquela foi uma fase muito boa. E a minha conviv��n-

cia com ele se acentuou, tornando-se pr��diga, muito pr��spe-

381

J U A R E Z L E I T �� O

ra e muito pr��xima. Passamos um bom tempo trabalhando

juntos nesse mercado.

Todo m��s havia leil��o numa cidade. Uma Bolsa de

Valores diferente. E era uma festa o encontro com aquela

turma que batalhava no mesmo ramo e que, embora con-

correntes, pois cada um representava uma corretora, termi-

navam se dando bem, ficando amigos. E a PAX Corretora

sempre se sobressaindo e fazendo maior volume de neg��cios

nesses leil��es.

Depois dos leil��es tivemos uma fase interna na PAX

e, em 2008, fundamos a Construtora Boa Terra. Fizemos

investimentos na ��rea imobili��ria, a princ��pio como investi-

dor. Experimentamos o mercado.

Em 2008, repito, resolvemos constituir a Boa Terra e

estamos no mercado desde essa data com nossos parceiros

e s��cios na ��rea de engenharia. Constru��mos ali, na Lagoa

Redonda e Eus��bio. Atualmente, estamos com novo lan��a-

mento de apartamentos tamb��m na Lagoa Redonda. Vai

ser um investimento de quatro condom��nios, totalizando

950 unidades.

Estamos com um banco de terras naquela regi��o para

aumentar, realmente, nossa participa����o nesse mercado e

nos consolidar como uma construtora grande no Cear��.

Depois de todos esses anos de conviv��ncia, posso di-

zer que conhe��o relativamente bem, Deusmar Queir��s. ��

uma pessoa que est�� sempre topando novos desafios. Sem-

pre atr��s de parceiros que comprem as ideias dele e que re-

solvam sonhar junto com ele. Sempre muito ousado.

382

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Para ele, cada dia de trabalho �� como se fosse o pri-

meiro dia. Com ele a gente aprende isto: n��o h�� trabalho

sem entusiasmo. E nem caminho sem desafio. Por isso, con-

viver com ele �� um aprendizado constante e, como est�� sem-

pre bem-humorado, a conviv��ncia �� maravilhosa.

Quando viajo e digo que sou parceiro do Deusmar em

outros neg��cios fora da Pague Menos, as pessoas t��m curio-

sidade. Perguntam como ��? Como foi essa hist��ria? Como

foi todo esse crescimento vertiginoso?

Ent��o explico que n��o houve milagre nenhum, mas

ousadia e compet��ncia. E que esta hist��ria j�� tem 36 anos.

�� que seu nome desperta curiosidade. Todos querem

saber como ele ��, que tipo de empreendedor ele �� e como se

tornou um dos grandes empres��rios no ramo dele no pa��s.

E a gente termina contando um pouco da hist��ria dessa ca-

minhada.

Agora, achar que ele est�� sempre sorrindo sem ter de

qu��, �� um engano. Ele briga, fala firme e exige resultados.

Como trabalha por mais de dez, quer de todos, um esfor��o

semelhante. E, mesmo n��o tendo o seu pique, todos n��s sa-

bemos que podemos ser abordados a qualquer hora do dia

ou da noite.

Est�� sempre antenado. Liga para a gente a qualquer

hora. Liga ��s dez da noite, onze da noite. Liga s��bado e do-

mingo. Quem trabalha com ele tem que estar sempre com as

informa����es fresquinhas na mente.

E n��o gosta de relatos amargos, abatimento, moleza.

Ningu��m senta com ele para falar de doen��a, de amargura

383

J U A R E Z L E I T �� O

ou que fulano quebrou... Esse tipo de assunto n��o cabe na

agenda do Deusmar. A agenda dele �� sempre a da positivi-

dade. Agenda proativa: o que �� que a gente vai fazer, porque

o que est�� feito est�� feito.

Com Deusmar, tudo tem que dar certo. E se n��o der,

vamos partir pra outra".

N��o h��, em toda a hist��ria da Pague Menos, quem

tenha convivido por mais tempo com Deusmar Queir��s

que sua eterna e permanente secret��ria, Zenilda.

"Meu nome �� Maria Zenilda Cunha Barroso. Sou a

Secret��ria Executiva do Dr. Deusmar. Estou neste posto

desde 1977. Entrei antes da Pague Menos, ainda na PAX

Corretora. Era secret��ria dele e tesoureira da PAX Correto-

ra, que foi a nossa primeira empresa, instalada em quatro

salas do Edif��cio Lobr��s, no centro da cidade.

Desde sempre Deusmar almo��ou na empresa. Desde

a PAX at�� hoje almo��a na empresa. �� uma grande energia.

Ele sempre foi muito eficiente, cheio de g��s. Nunca esperou

por nada. Se tiver que colocar uma mesa no canto ele coloca,

se tiver que p��r uma caixa na cabe��a ele p��e. Hoje ele con-

tinua da mesma maneira que era no come��o de tudo. N��s

fic��vamos n�� 11a andar do Edif��cio Lobr��s e muitos funcio-

n��rios mais jovens do que ele, ��s vezes, quando faltava ener-

gia, ficavam l�� embaixo esperando, e, quando ele chegava,

subia, deixando os funcion��rios todos l�� embaixo. Quando

viam o exemplo do chefe, a�� todos subiam tamb��m pelas es-

384

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

cadas. Ele sempre foi assim. Nunca esperou por ningu��m

para fazer as coisas dele.

Quanto �� comida, os pratos prediletos dele s��o o bife

a cavalo (batata frita, ovo, arroz branco e bife) e o picadi-

nho da vov�� (caminha cortada com banana e ovo cozido).

Eu comprava no Hotel Savannah ou ent��o no Kury Restau-

rante, na Senador Pompeu. E, de sobremesa, a velha coca-

da, que a gente comprava no meio da rua, l�� na cal��ada do

Banco Mercantil do Brasil, que ficava na Pra��a do Ferreira,

al��m do quebra-queixo. Ele tamb��m ama comer rapadura,

que �� a melhor sobremesa para ele. Podem servir o melhor

manjar, mas tem que ter a rapadura dele, seja em casa, seja

aqui na empresa ou no avi��o. Tem que ter rapadura, bife

bem passado, farofa de ovos. Ele n��o gosta de ovo cru, �� tudo

bem passado.

Minha rotina aqui �� assim: acordo 6h30. Como tenho

um filho especial com S��ndrome de Down, ajeito-o para o

col��gio, tomo o meu banho, troco de roupa e venho pra c��.

Eu vivo mais aqui na empresa do que na minha casa. Por-

que eu chego aqui 7h30/8h e s�� saio 18h/19h. Aqui eu fa��o

tudo. Fa��o o card��pio do almo��o deles, tomo conta dos pa-

gamentos, resolvo quaisquer vazamentos que venham a ter,

ou de algum elevador que venha a quebrar. Sou uma s��ndica

geral, uma esp��cie de prefeita. O que ele precisar, eu vou

estar sempre ��s ordens aqui.

Eu admiro muito o Dr. Deusmar. Esse homem a�� ��

uma pessoa especial. N��o existe igual a ele. Eu aprendi a

respeit��-lo, a am��-lo, a ter carinho por ele. �� como um filho

385

J U A R E Z L E I T �� O

ou irm��o para mim. N��s temos uma qu��mica muito grande.

Muitas vezes eu adivinho os pensamentos dele. Ele come��a a

dizer o que quer, mas eu j�� sei. Estamos trabalhando juntos

h�� mais de 40 anos.

Quando ele teve aquele problema de sa��de eu quase

fico louca. Chorava dia e noite. Quase ia morrendo. Quando

ele saiu para S��o Paulo e ia pegar o avi��o eu sofri demais.

Eu trouxe um S��o Francisco das Chagas, uma imagem que

eu tenho na minha casa e coloquei aqui dentro do banhei-

ro, onde era o banheiro dele. Ent��o, eu rezava dia e noite, e

chorava. Al��m disso, eu n��o acreditava em ningu��m, porque

eu queria falar era com ele! Todos os dias um dizia 'tenha

calma, ele est�� bem', mas eu n��o ficava feliz. At�� que um

dia, quando ele p��de, me ligou, e foi quando eu tive a me-

lhor not��cia do mundo. Voc�� n��o sabe o quanto eu amo este

homem. �� uma paix��o enorme. Eu morro de ci��mes dele.

Eu cuido dele. Eu adoro quando ele precisa de mim. Eu n��o

sei nem explicar o carinho que eu tenho por esse homem na

minha vida. Ele me ensinou muitas coisas. Se hoje eu sou o

que eu sou, eu devo a ele.

O bicho �� bravo, quer tudo certo, correto, perfeito.

Levei muito car��o, muita repreens��o, mas hoje eu entendo.

Ele cobra muito. �� generoso, mas exigente. ��s vezes eu fica-

va chateada com ele porque ele dizia as coisas comigo, mas

hoje eu entendo o que ele queria. Ele queria fazer o melhor

por mim, queria que eu criasse uma intelig��ncia funcional.

Eu sou de Uruburetama. Vim muito nova para c��.

Quando comecei a trabalhar com ele, eu tinha 18 anos de

386

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

idade, bem jovem. Foi meu primeiro emprego. Eu cheguei

em Fortaleza com 13/14 anos. Vim morar com mais duas

irm��s. Meu pai era fazendeiro, tinha terras, comprava al-

god��o e revendia. Meus av��s viviam bem financeiramente.

Sou conterr��nea da Florinda Bolkan. O pai da Florinda era

irm��o da minha m��e de cria����o. N��s ainda somos parentas.

Eu cuidei muito dos filhos de Deusmar. Quando eram

pequenos eu ia para l��. Eu descia para comprar chocolate,

sorvete. Todos gostam de mim e eu deles".

Os depoimentos falam por si mesmo. Senti-os

emitidos pela voz da verdade. Alguns dos depoentes, no

fervor de suas declara����es, n��o sustentavam a emo����o e

embargavam a voz. N��o era, entretanto, uma coisa fan��-

tica, de escala m��stica. Era a admira����o pura, cristalina,

constru��da pelo conhecimento ��ntimo, pela conviv��ncia

no trabalho ou no c��rculo social.

387



25

PERSONAGEM DA

MITOLOGIA POPULAR

"Os personagens costumeiros dos

romances de cordel s��o os her��is

populares, admirados por sua valentia,

santidade ou pelo sucesso que

conquistaram, sobretudo, se vieram das

camadas humildes da sociedade e se

projetaram ao ponto de orgulhar seus

conterr��neos nordestinos."

Francisco Linhares,

p e s q u i s a d o r da cultura p o p u l a r

No Nordeste conservam-se algumas tradi����es

populares que, em outras regi��es, est��o desapa-

recendo mais rapidamente.

389

J U A R E Z L E I T �� O

Naturalmente, n��o se pode negar o estrago que

a influ��ncia dos meios de comunica����o, a partir da te-

levis��o, tem provocado nos costumes interioranos, im-

pingindo modismos e comportamentos modernosos em

nossa gente, j�� que seu bra��o sedutor chega aos mais re-

motos rinc��es.

Mas, a partir do est��mulo das universidades, movi-

mentos culturais organizados e algumas personalidades

influentes e esclarecidas, a resist��ncia tem funcionado de

maneira mais ou menos satisfat��ria.

Nesse esfor��o de preserva����o da cultura popular

nordestina destacaram-se Leonardo Mota, Lu��s da C��ma-

ra Cascudo e Ariano Suassuna, para citar os tr��s de traba-

lho mais expressivo e contundente.

Deusmar Queir��s �� um nordestino t��pico, aman-

te da cultura regional e estimulador de sua preserva����o.

Defende e pratica as coisas nordestinas, as festas, os ar-

tistas, as manifesta����es folcl��ricas.

Gosta de violeiros, de sanfoneiros e de dan��ar for-

r��, convocando para as festas de fam��lia esses artistas

e nelas envolvendo seus parentes e convidados, numa

grande alegria coletiva.

Essa prefer��ncia vem de longe. Como narramos,

em epis��dio de sua inf��ncia, quando quebrou a perna e

ficou imobilizado em casa, o pai mandou trazer um toca-

dor de sanfona para entret��-lo, amenizando a dor e, de

certo modo, atenuando aquela interrup����o de sua peral-

tice infantil.

390

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

O gosto pela arte popular continuou e ele vem ten-

tando repass��-lo aos descendentes.

Certos aspectos do modo nordestino de ver a vida

s��o especialmente, fascinantes.

Quando conclu��a o Curso de Hist��ria, este escri-

ba escolheu como tema da monografia a cultura popular.

O ensaio, sob o t��tulo de As M��ltiplas Express��es da In-

ventividade Nordestina nos Costumes e nas Vozes de Seu

Povo, envolveu-me numa impag��vel viagem de aprendi-

zado sobre o Nordeste, principalmente, sobre o Cear��,

quando tivemos a oportunidade de auscultar nas fontes,

em contato direto, alguns de seus mais interessantes e

curiosos agentes.

Observando com amorosa dedica����o aspectos t��o

leg��timos de nossa cultura regional, seus costumes, seus

gostos e sua arte, descobri um universo de verdades e

onisci��ncias que, embora, por minha pr��pria origem, te-

nha convivido t��o de perto durante toda a vida com ele

e suas pr��ticas culturais, nunca vira pelo crivo anal��tico.

Durante dois anos conheci de perto tiradores de

reis, emboladores, batedores de ganz��, comandantes de

grupos de caretas, rezadeiras/benzedeiras, tocadores de

p��fanos em bandas caba��ais, lan��adores de adivinhas,

aboiadores e contadores de hist��rias, personagens que,

hoje, s��o reconhecidos oficialmente como Mestres da

Cultura e t��m recebido homenagens e destaque do Go-

verno do Cear��.

391

J U A R E Z L E I T �� O

Um aspecto dessas manifesta����es culturais me

atra��a, especialmente. Eram os cantadores repentistas e

os poetas do cordel.

O que justificava essa prefer��ncia talvez fossem,

tamb��m, os ecos da inf��ncia, quando vi, no alpendre de

nossa casa de fazenda, no Oeste do Cear��, tantas vezes,

os violeiros em a����o, convocados por meu pai para noites

de cantoria.

A destreza dos cantadores na execu����o de estro-

fes, magn��ficas algumas, feitas de improviso, no fervor da

peleja, enchia-me de admira����o.

Meu pai costumava comprar nas feiras os ro-

mances de cordel. �� noitinha, na cal��ada alta de nossa

casa, depois da rodada do cheiroso caf�� torrado e feito

na hora, minha m��e lia os versos do O Pav��o Misterio-

so (de Jos�� Camelo Resende), Juvenal e o Drag��o e O

Cavalo que Defecava Dinheiro (de Leandro Gomes de

Barros), As Proezas de Jo��o Grilo (de Jo��o Martins de

Athayde), al��m da Peleja do Cego Aderaldo com Z�� Preti-

nho, O Soldado Jogador, As Aventuras de Can����o de Fogo

e outros mais.

Menino ainda, por volta dos nove anos, comecei

tamb��m a fazer versos. N��o de improviso, mas no pa-

pel, penosamente, tentando cumprir as regras da rima e

da m��trica. Aprendi a escandir versos, de ouvido, sem

precisar contar as s��labas po��ticas (que nem sempre s��o

iguais ��s s��labas da fon��tica normativa), sobretudo, o me-

392

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

tro mais usual na literatura popular: a redondilha maior

ou verso de sete s��labas, que exige rigor m��trico em sua

elabora����o e cujo defeito (o chamado p�� quebrado) n��o

�� perdoado de jeito nenhum pelos praticantes e entendi-

dos do assunto.

Na elabora����o daquela monografia acad��mica

passei dois anos frequentando cantorias e conversando

com poetas do n��vel dos Irm��os Batista (Lourival, Dimas

e Otac��lio), Ant��nio Ferreira, Z�� Mota, Louro Branco e,

por muita sorte, com o maior dos repentistas, o velho

Severino Pinto (Pinto do Monteiro), na ��poca quase no-

nagenario, que tive o privil��gio de entrevistar.

Os poetas populares, especialmente, os produtores

de folhetos de cordel, preservam uma tradi����o que vem

do s��culo XVI, quando o Renascimento popularizou a

impress��o de relatos orais. O nome tem origem na forma

como tradicionalmente os folhetos eram expostos para

venda, pendurados em barbantes ou cord��is nas feiras.

Na segunda metade do s��culo X I X os folhetos co-

me��aram a ser impressos no Brasil. Eram vendidos pelos

pr��prios autores em mercados e feiras ou at�� de porta em

porta, como meio de sobreviv��ncia.

Quando se buscam os pioneiros da produ����o cor-

delista, o nome que aparece �� o de Leandro Gomes de

Barros, poeta paraibano, nascido em Pombal, que viveu

entre 1865 e 1918. Seus folhetos, ainda hoje reproduzi-

dos, s��o considerados os melhores do g��nero. �� autor de

3 9 3

J U A R E Z L E I T �� O

cl��ssicos como O Cavalo que Defecava Dinheiro, Juvenal e

o Drag��o, A Donzela Teodora e O Soldado Jogador.

O enredo do cordel �� extremamente variado e

pode abranger cinco ou seis prefer��ncias tem��ticas b��-

sicas: as ocorr��ncias contempor��neas (uma esp��cie de

jornal do sert��o); as hist��rias ��picas (Carlos Magno e os

Doze Pares de Fran��a, por exemplo); a exalta����o dos he-

r��is (um amplo arco de homenagens, que inclui diferen-

tes personagens a quem consideram dignos de louvor),

como os cangaceiros: Cabeleira, Ant��nio Silvino e Lam-

pi��o; os messi��nicos: Padre C��cero, Ant��nio Conselheiro,

Beato Z�� Louren��o e Frei Dami��o; os astutos: Jo��o Grilo,

Can����o de Fogo e Pedro Malasartes; e os pol��ticos: Juarez

T��vora, Get��lio Vargas e Jos�� Am��rico.

Um tema que atrai muito os poetas populares �� a

saga dos que venceram na vida. Os que, verdadeiros fi-

lhos do sert��o, conseguiram triunfar na cidade grande,

fazendo fortuna e se transformando em figuras not��veis

da sociedade.

Dentre os ricos de origem humilde que receberam

a homenagem da poesia cabocla, destacam-se Delmiro

Gouveia, Jos�� Erm��rio de Moraes e Edson Queiroz.

Nessa lista, de alta import��ncia para a poesia po-

pular, figura tamb��m Deusmar Queir��s. Como pode

ser visto nos versos que achamos justo figurarem em

sua biografia.

394

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

O REI DAS FARM��CIAS

Um cordel de Juca Bacurim

Eu vou contar a hist��ria

de um cidad��o caprichoso

que na vida sempre foi

otimista e corajoso;

por suas firmes condutas

deu a todas as suas lutas

um rumo vitorioso.

Parece um homem comum

com seus problemas terrenos

mas possui grandes virtudes

e outros valores plenos:

Eu falo elevando a voz

do doutor DEUSMAR QUEIR��S

das Farm��cias Pague Menos.

Nasceu e criou-se numa

humilde localidade

teve uma inf��ncia feliz

no sert��o livre e sem grade;

Embora pouco ilustrada

tem orgulho de Amontada

sua pequena cidade.

�� filho de seu Ant��nio

e de Dona Madalena:

O pai, um inspirador,

a m��e, bondosa e serena.

Crescendo sem regalia

no pa��s depois seria

um nome da grande cena.

395

J U A R E Z L E I T �� O

Deusmar, menino traquinas,

adorava uma baderna

e um dia subiu nuns sacos

na mercearia paterna:

De um surr��o de rapaduras

caiu daquelas alturas

arrebentando uma perna.

Correram para acudi-lo

com a maior rapidez

n��o havia socorro m��dico

tudo ali era escassez.

Nessas horas Deus governa...

o encanamento da perna

seu Ant��nio mesmo fez.

O pai queria pro filho

um futuro promissor

e que se tornasse um homem

de abalizado valor:

"Pra isso vou me esfor��ar

e se Deus do c��u me ajudar

meu filho vai ser doutor!"

Mas para o sonho dar certo

n��o podia mais ficar

na pequenina Amontada

dali tinha que arribar;

Assim, de plano firmado

para a Capital do Estado

logo resolveu mudar.

396

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

E em sua terra natal

vendeu a mercearia

alugou um caminh��o

e pegou a rodovia;

com dez horas de viagem

arriou sua bagagem

em sua nova moradia.

Por sondagens que fizera

e at�� seguindo um conselho

ficou na periferia

num bairro que era o espelho

de seu sert��o e sua saga:

A Rua era An��rio Braga

no antigo Barro Vermelho.

Deus ajuda a quem madruga

e o trabalho n��o solapa.

Com uma nova bodega

nova vida e novo mapa,

e muito amor e vig��lia,

aquela humilde fam��lia

come��ava nova etapa.

Estudando de manh��

num bom col��gio, o Deusmar

de tarde, depois do almo��o,

vinha com o pai trabalhar:

Enquanto a turma brincava

ele, menino, ajudava

sua casa sustentar.

397

J U A R E Z L E I T �� O

E sem desculpa amarela

corpo mole ou maldizer

punha um cesto na cabe��a

com coisas para vender.

Na rua de porta em porta

toda a labuta suporta

pois seu sonho era vencer.

�� medida que crescia

em idade e consci��ncia

revelava lideran��a

e destacada influ��ncia;

Todos lhe tinham amizade

em sua comunidade

nos tempos de adolesc��ncia.

Na par��quia promovia

as festas do padroeiro

movimentava os leil��es

arrecadava dinheiro;

Era eficaz e fecundo

para ajudar todo o mundo

sempre chegava primeiro.

Verdadeiro boa-pra��a

prestativo e sem maldade

comandava os outros jovens

em atos de boa vontade;

Fazendo a����es sociais

era operoso demais

em sua generosidade.

398

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

E s�� havia bons mo��os

em seu seletivo escrete

ningu��m praticava v��cios

nem usava canivete.

Uma turma muito unida

no bairro bem conhecida

por GRUPO DO BOLA SETE.

Eram rapazes que tinham

voca����o para estudar

e estudavam com afinco

porque queriam triunfar:

E t��o bem se conduziram

que, no final, conseguiram

passar no vestibular.

Quem quer vencer nesta vida

o pr��prio ju��zo espreme

e na busca do horizonte

mira o rumo e toma o leme.

Deusmar ainda um pirralho

teve o primeiro trabalho

numa ag��ncia da IBM.

Operando aquela m��quina

instrumento inovador

tornou-se em bem pouco tempo

um ex��mio digitador.

No bairro virou cacique...

Diziam o Deusmar �� chie

trabalha em computador.

399

J U A R E Z L E I T �� O

Mil novecentos e setenta

assinalou um momento

muito importante em sua vida

e talvez em seu sentimento:

Passou numa prova rara

e foi contratado para

fazer recenseamento.

Era mais uma tarefa

fora da mercearia

de seu pai. E ele pensava

que dessa forma cumpria

um desejo verdadeiro:

Ganhar seu pr��prio dinheiro

na luta de cada dia.

Em tudo o que se metia

ficava entre os principais

nos of��cios e nos deveres

se revelava eficaz;

E, dentre outras fun����es,

foi corretor de a����es

no mercado de capitais.

Quando o governo criou

um Fundo de Investimento

para ajudar o Nordeste

em seu desenvolvimento,

viu a oportunidade

de mostrar sua habilidade

com for��a, garra e talento.

400

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

As manhas de aplica����o

ele sabia de cor

Ia a todos os leil��es

e arrematava melhor;

sagaz que nem Lampi��o

Deusmar foi o campe��o

desses leil��es do FINOR.

E ganhou muito dinheiro

at�� mais do que sonhara

j�� era um milh��o de d��lares

a quantia que ajuntara;

E, aos 34 anos

a semente de outros planos

brotava em sua seara.

Com recursos, mas humilde

nunca se julgou um rei

indagava a S��o Francisco:

- Meu padrinho, o que farei?

Sou jovem, mas n��o sou besta:

n��o ponho na mesma cesta

os ovos que acumulei.

Estava nessa procura

com cuidado e pertin��cia

buscando um setor diverso

onde investir sua aud��cia,

foi quando um dia, ent��o,

algu��m deu-lhe a sugest��o

de comprar uma farm��cia.

401

J U A R E Z L E I T �� O

Comprou sem medo a botica

ali num bairro vizinho

e com prop��sitos ousados

murmurava bem baixinho:

"N��o penso em coisas pequenas...

Vou crescer, isto ��, apenas,

o in��cio do caminho".

Mas precisava de um nome

que fosse bem chamativo

pra sua rede de farm��cias

com apelo positivo;

pensando nesses acenos

considerou PAGUE MENOS

adequado e sugestivo.

Nunca se viu neste mundo

nome t��o bem colocado

que por si s�� se define

e j�� se faz propagado:

Desde os nossos ancestrais

cobrar menos e vender mais

�� a regra do mercado.

Deusmar, um vision��rio,

tinha um sonho e um desejo

levar rem��dio e sa��de

da cidade ao lugarejo

ver todo o mundo feliz

conquistar todo o pa��s

tornar-se o Rei do Varejo.

402

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

N��o lhe faltavam traquejo,

talento e disposi����o:

Conquistou o Cear��

e foi ganhando mais ch��o...

Avan��ou pelo Nordeste

Centro-Sul, Norte e Sudeste

cobrindo toda a na����o.

N��o h�� cadeia nenhuma

de lojas neste Brasil

que nesse espa��o de tempo

tenha ganho este perfil:

Est��o em todo lugar...

As farm��cias do Deusmar

j�� passam de mais de mil.

Chegando vitorioso

a t��o alto patamar

entendeu que era preciso

repartir e ajudar

ouvir dos outros os gemidos

e na vida dos desvalidos

o sofrimento abrandar.

E por pura lucidez

e compromisso moral

criou uma Funda����o

para de modo real

e objetivos prementes

ajudar os mais carentes

em ampla a����o social.

403

J U A R E Z L E I T �� O

Funda����o Deusmar Queir��s

�� o nome da Entidade

criada com um intuito

de solidariedade

para dar o ombro a quem

quer voltar a ser algu��m

e crescer na sociedade.

�� frente da Funda����o

est�� o Dr. Vicente

que �� um grande gestor

sereno, justo e prudente,

que, al��m da filantropia,

na arte da poesia

�� cordelista fluente.

O mundo d�� muitas voltas

em seu grande itiner��rio...

Quem diria que um menino

humilde e sem invent��rio

filho do sol nordestino

fosse dobrar o destino

e tornar-se um bilion��rio.

Talvez seu temperamento

produza uma explica����o:

Deusmar sempre foi bom filho,

bom pai, marido e irm��o;

E quem planta calmaria

n��o colher�� ventania

nos campos do cora����o.

4 0 4

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Nos desafios da vida

se segure quem puder

porque a gl��ria altaneira

n��o cabe a um homem qualquer;

Mas no caminho trilhado

junto ao Deusmar, lado a lado

tinha uma grande mulher.

Nos tempos da adolesc��ncia

alvoro��ada e festiva

outras mulheres passaram

pela sua lista afetiva;

at�� que um dia encontrou

Auric��lia, a quem amou

com paix��o definitiva.

Esta �� a hist��ria de um homem

que do sert��o oriundo

acreditou no trabalho

e nele mergulhou fundo;

cresceu amando a verdade

respeitando a humanidade

e o sentimento do mundo.

Viva Deus, viva o sert��o

em tempo de aguaceiro!

Viva a terra cearense

florida feito um canteiro

de mu��amb��s e ac��cias....

E viva o Rei das Farm��cias,

este grande brasileiro!!!

405



26

E O SONHO CONTINUA

"A perseveran��a do sonhar n��o �� uma

grande corrida. S��o muitas corridas

curtas, uma depois da outra.

Walter Elliott ( 1 9 0 3 - 1 9 8 4 ) ,

m �� s i c o n o r t e - a m e r i c a n o

Aos 70 anos, Deusmar Queir��s contempla o ho-

rizonte. Acha que a linha do infinito ainda o

convida para caminhar. Os sonhos continuam a

borbulhar em seu cora����o de guerreiro e ele os afaga com

carinho porque precisa deles para viver. "S�� envelhece

de verdade quem deixa de sonhar", diz perempt��rio.

Presidente do Conselho Diretivo da ABRAFARMA,

Membro do Conselho de Desenvolvimento Econ��mico

e Social da Rep��blica, um dos maiores l��deres do varejo

407

J U A R E Z L E I T �� O

no pa��s, comandante de uma cadeia de lojas com mais de

mil unidades, laureado pelas mais cobi��adas comendas

no Brasil e no exterior. Patriarca de uma fam��lia moral-

mente bem resolvida, constitu��da de sua primeira e ��nica

mulher Auric��lia, de quatro filhos e quatorze netos (por

enquanto). Reconhecido socialmente como um grande

benem��rito. Amado pelos habitantes de seu tempo.

Com todo esse arsenal em seu paiol, o Rei das Far-

m��cias pode n��o estar saciado.

N��o tem a fome vulgar do ter pelo ter. Sua fome

tem outras subst��ncias. Quer dar ao dinheiro que ganhou

com o seu trabalho um sentido sublime, did��tico. Sua

empresa �� uma candidata ao futuro: "N��o iremos repetir

o erro dos que sonharam pequeno. Temos um compro-

misso com a hist��ria e com o desenvolvimento do Cear��

e do pa��s".

Todos gostam de escut��-lo. Suas mensagens ani-

mam as consci��ncias. Corre o pa��s fazendo palestras, a

dizer coisas assim:

"Quero repetir que o mundo �� constru��do pelos

otimistas. S��o eles os que se vestem de esperan��a e n��o

se limitam em seus sonhos quando miram os horizontes

e se p��em a devassar os caminhos da vida. S��o eles os

edificadores da civiliza����o.

Nada prospera na terra dos amargos, porque o

triunfo gosta �� da galhardia dos intr��pidos e do entusias-

mo dos bons pelejadores.

Aos que trabalham comigo repasso todos os dias a

perspectiva das vit��rias, convencendo-os de que o sim-

408

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

pies fato de terem chegado �� vida adulta ��, por si s��, um

privil��gio triunfal, pois muitos outros ficaram na estrada

vencidos pela mortalidade infantil, pelas fatalidades na

adolesc��ncia, pelas barreiras do imponder��vel.

Estar aqui, usufruindo do fascinante tempo atual e

das conquistas da intelig��ncia humana, �� uma d��diva de

Deus e do destino.

Viemos �� vida com uma miss��o. Cada um de n��s ��

um artes��o do presente e um preparador do futuro. An-

tes de n��s aqui estiveram as outras gera����es preparando

o nosso bem-estar, elaborando com paci��ncia e criativi-

dade as facilidades do progresso que desfrutamos.

Disso resulta a constata����o irrecus��vel: Somos to-

dos s��cios de Deus na constru����o do mundo.

E Ele ama os que se antecipam, como acertada-

mente proclama a filosofia popular:

"Deus ajuda a quem madruga!"

O desenvolvimento �� feito pelos que tem a cora-

gem de ousar, porque quem patina na acomoda����o est��

condenado �� in��rcia e a ser esmagado pelos passos din��-

micos da Hist��ria.

Dizia um poeta, cujo nome me foge agora, que "os

que marcham na frente correm os riscos das cobras,

mas �� aos p��s dos que formam a vanguarda que as bor-

boletas se levantam".

Quando vejo, reunidos no mesmo espa��o, pessoas

querendo escutar hist��rias de vida, me conven��o que te-

mos muito ainda o que aprender e ensinar.

409

J U A R E Z L E I T �� O

Eu acredito no Brasil.

Acredito na coragem de seus empreendedores, na

fibra dessa gente mesti��a, na capacidade de trabalho do

povo brasileiro, na intelig��ncia e criatividade dos que

t��m vencido as adversidades e desdenhado das profecias

negativas e dos vatic��nios desanimadores.

N��s n��o temos medo das crises. As crises v��m e

v��o embora e a elas costumamos responder, n��o com

a tibieza dos humilhados, mas com mais trabalho, com

mais dedica����o, mais ousadia e mais investimento.

Nossa hist��ria foi escrita a golpes de aud��cia, de

destemor e de intelig��ncia.

Hist��ria escrita a ferro e fogo pelos que acredita-

ram na for��a do trabalho.

Hoje se nos apresentam novas formas de vencer

para ajudar o desenvolvimento do pa��s.

E a receita mais eficaz �� a pertin��cia no trabalho,

amparada pela dedica����o e pela autoconfian��a.

Nossa hist��ria recente nos d�� exemplos de quem

acreditou nas potencialidades de nossa terra e investiu,

penhorado, no TRABALHO como caminho de realiza����o

empresarial e humana, realizou e se edificou na economia.

N��o escutem os fracos e os invejosos. Eles n��o

constroem, mas querem destruir.

Os que vencem, independente do bem que pos-

sam semear, da contribui����o para o desenvolvimento, do

amparo social que possam oferecer, s��o frutas maduras

na beira da estrada, expostas ��s pedradas dos que culti-

vam o prazer de derrubar.

410

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

"N��s recebemos de Deus e do destino tantos bene-

f��cios, distribu��mos e proporcionamos tantos momentos

de felicidade que, quando encontramos em nosso cami-

nho a m��o perversa da injusti��a n��o podemos deixar que

ela nos desvie do destino de semeadores de sonhos e es-

peran��as. Por isso, marchem com a esperan��a, que �� boa

conselheira e nos fornece a eterna juventude."

E quando perguntei onde estava o Menino de

Amontada, respondeu-me que aquele menino continua-

va ali, acordando cedo e trabalhando todos os dias. Ago-

ra, �� um menino-pai e av��, preocupado em repassar para

os descendentes o mesmo esp��rito de luta que o move e

d�� sentido a sua vida.

Diz que quer ser um exemplo para os seus netos e

estimul��-los a escolher prioridades na exist��ncia.

Em qualquer atividade que escolham, procurar ser

e fazer o melhor.

Mas tem que saber crescer sem destruir os outros

ou esmagar os sonhos alheios.

O ideal �� que saibamos evoluir com a nossa ��po-

ca, aproveitando as conquistas da ci��ncia, sem esquecer

nossa capacidade humana de praticar o bem e construir

amores e amizades.

Este �� DEUSMAR QUEIR��S, afilhado de S��o Fran-

cisco, O Menino de Amontada, O Rei das Farm��cias, O

tecedor de Ousadias.

411

CRONOLOGIA

1947 - Nasce, em Amontada, Distrito de Itapipoca,

CE, aos 27 de maio, FRANCISCO DEUSMAR DE QUEI-

R��S, filho de Ant��nio Lisboa de Queir��s e Maria Mada-

lena de Queir��s.

1952 - Brincando na mercearia do pai, em Amon-

tada, o menino Deusmar sofre um acidente, quando uma

pilha de surr��es de rapadura cai sobre ele, quebrando-lhe

a perna. Por n��o haver socorro especializado na localida-

de, o pr��prio Sr. Ant��nio Lisboa (Ant��nio Nonato) faz a

imobiliza����o da perna da crian��a, com talos de carna��ba

e obt��m pleno ��xito.

1956 - A fam��lia Queir��s transfere-se para Forta-

leza, passando a residir no Barro Vermelho (hoje Ant��-

nio Bezerra), na Rua An��rio Braga. Ant��nio Nonato ins-

tala no bairro a Mercearia Santo Ant��nio.

Deusmar passa a receber aulas da professora

Lourdes, preparando-se para ingressar no Gin��sio 7 de

Setembro, o que acontece no ano seguinte. Simultanea-

mente, frequenta o catecismo de Dona Maria Nazar�� de

Lima Rocha.

Para ajudar nas despesas, participa do com��rcio

do pai, saindo todas as tardes com uma cesta de merca-

dorias para vender de porta em porta pelo bairro.

413

J U A R E Z L E I T �� O

1960 - Deusmar ficou no Gin��sio 7 de Setembro

at�� o quinto ano prim��rio, quando se transferiu para o

Col��gio Cearense, dos Irm��os Maristas. Participa do gru-

po de escoteiros do col��gio.

1963 - Tem ativa participa����o nas promo����es da

par��quia, como membro do Centro da Mocidade Cat��lica,

CMC, sob a orienta����o do Padre Jo��o Pessoa de Carvalho.

Nasce, em Ant��nio Bezerra, a Turma do Bola 7,

grupo de adolescentes liderado por Deusmar.

1964 - Conhece Auric��lia Alves, a futura esposa,

16 anos. Deusmar tinha 17. O in��cio do namoro �� t��mido

e n��o tem o apoio da fam��lia dela.

1965 - Como Sub-Monitor da Patrulha da Rajada,

�� inclu��do na excurs��o para o Io Jamboree Sul-Ameri-

cano, acampamento mundial de escotismo, realizado no

Rio de Janeiro entre 18 e 26 de julho.

1967 - Deusmar consegue o primeiro emprego

com carteira assinada, como operador da IBM, digitando

documentos, classificando cart��es de emiss��o de contas

de luz e telefone e atualizando dados de faturas. Chegou

a Operador S��nior.

1968 - Frequenta o cursinho do DCE da Faculda-

de de Economia preparando-se para o vestibular daquela

escola superior.

1969 - Deixa a IBM e volta para o balc��o da Mer-

cearia Santo Ant��nio. Transfere-se para o Col��gio Aga-

414

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

pito dos Santos e, depois, para o Col��gio S��o Jos��, onde

conclui o Ensino M��dio. Participa de outra excurs��o de

escotismo ao Rio de Janeiro.

Recebendo a aceita����o dos pais de Auric��lia, passa

�� condi����o de namorado oficial.

Aprovado no vestibular para a Faculdade de Eco-

nomia da Universidade Federal do Cear��, aos 21 anos,

passa a frequentar aquela escola, graduando-se em 1 9 7 3 .

1970 - Alguns jovens do Bola 7 fazem o concurso

do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estat��stica,

para trabalhar no recenciamento daquele ano. Deusmar

foi aprovado em primeiro lugar e ganhou a fun����o de Co-

ordenador.

1 9 7 1 - Casa-se com Auric��lia, em 21 de outubro,

uma quinta-feira. Lua de mel na Col��nia de F��rias dos

Comerci��rios, em Iparana (Caucaia, CE).

Ingressa na CR��DIMUS, Distribuidora de Valores.

1974 - Torna-se professor e �� eleito coordenador

do Curso de Economia da Universidade de Fortaleza,

UNIFOR ( 1 9 7 4 - 1 9 8 3 ) .

1 9 7 6 - T��cnico respons��vel pela implanta����o

da ��rea Operacional da Bolsa de Valores Regional de

Fortaleza.

1977 - A partir desse ano faz cursos de extens��o

universit��ria em:

Mercado de Capitais - Grad��ate School of Busi-

ness Administration, New York (USA);

4 1 5

J U A R E Z L E I T �� O

Terceiriza����o e Moderniza����o de Neg��cios - Uni-

versity of Central Florida - USA.

Cria a Pax Corretora de Valores, em parceria com

o empres��rio Bernardo Bichucher, do qual adquire o

controle acion��rio em 1979.

1978 - Intensifica sua participa����o no Mercado de

Capitais. Torna-se ass��duo operador dos Leil��es do FINOR.

1981 - Consagra-se como o "Campe��o Nacional

dos Leil��es do FINOR". Acumula seu primeiro milh��o de

d��lares e quer investir em novos neg��cios.

Em maio daquele ano compra uma farm��cia, no

bairro Ellery, e d�� in��cio ao seu grande empreendimento:

A Rede de Farm��cias PAGUE MENOS.

1985 - A Pague Menos adota o conceito de drugs-

tore, oferecendo ao cliente uma variedade de produtos em suas lojas. E come��a a investir em responsabilidade

social, com o programa de doa����o de cadeiras de rodas e

ambul��ncias.

1989 - A Pague Menos passa a vender Vales-

-Transporte e a receber contas de luz, ��gua e telefone,

criando o embri��o do que seria o Sistema de Correspon-

dente Banc��rio.

1993 - Deusmar Queir��s recebe a Comenda de

Lojista do Ano, a maior homenagem do com��rcio vare-

jista do Cear��.

1994 - Recebe o t��tulo de Colaborador Em��rito do

416

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

Ex��rcito Brasileiro, outorgado pelo Comando Militar do

Nordeste.

1995 - Recebe o t��tulo honor��rio de Cidad��o de

Fortaleza.

1997 - Cria o Encontro de Mulheres Pague Menos,

que se tornaria o maior evento feminino do Brasil, atual-

mente reunindo mais de 20.000 mulheres em cada edi����o.

1998 - A Pague Menos participa do Programa So-

cial de Alfabetiza����o Solid��ria, sendo a primeira empresa

nordestina a adotar um munic��pio para alfabetiza����o de

adultos.

�� lan��ado o Cart��o Pague Menos MasterCard.

1999 - Deusmar passa por um s��rio problema de

sa��de, com risco de vida. Operado em S��o Paulo, resta-

belece-se e continua sua vibrante trajet��ria.

Surge a Funda����o Educacional Deusmar Queir��s,

respons��vel pela implanta����o de diversos programas so-

cioculturais, esportivos e de solidariedade humana.

Recebe o t��tulo de Benfeitor da Crian��a da Cidade

de Fortaleza.

2 0 0 1 - Recebe do CORECON a Comenda por Re-

levante Servi��o Prestado �� Categoria dos Economistas.

2002 - A Pague Menos conquista o Pr��mio Top of

Mind, por ser a rede de farm��cias mais lembrada pelos consumidores. Essa premia����o vem sendo conquistada,

seguidamente, todos os anos.

2 0 0 3 - Recebe a Gr��-Cruz do M��rito Visconde de

4 1 7

J U A R E Z L E I T �� O

Mau�� da Sociedade Brasileira de Her��ldica e Medalh��sti-

ca com o t��tulo Comendador.

Recebe a Medalha de M��rito Reitor Ant��nio Mar-

tins Filho, categoria Institucional, pela Universidade Es-

tadual do Cear�� - UECE.

Recebe o Trof��u Cl��vis Rolim, outorgado pela Fe-

dera����o das C��maras de Dirigentes Lojistas do Estado do

Cear�� - FCDL.

2 0 0 4 - Recebe o Pr��mio Responsabilidade Social,

outorgado pela Federa����o das Ind��strias do Estado do

Cear�� - FIEC.

Recebe o Trof��u Carna��ba, outorgado pela Asso-

cia����o Comercial do Cear��.

2 0 0 5 - O Cart��o de Fidelidade Sempre Pague Me-

nos atingiu a marca de 3,6 milh��es de usu��rios.

A partir desse ano, a Pague Menos passou a figurar

na lista das 500 Melhores e Maiores Empresas do Brasil,

da revista Exame.

Recebe a Medalha de Ouro "O PACIFICADOR", ou-

torgado pelo Parlamento Mundial para Seguran��a e Paz.

2 0 0 6 - M��rio Henrique Queir��s, filho de Deus-

mar, �� sequestrado. O rapaz ficou 12 dias em poder dos

sequestradores e foi libertado pela Pol��cia Militar de Per-

nambuco.

A Pague Menos, em parceria com o Governo Fede-

ral, implanta a Farm��cia Popular.

2007 - Recebe o Trof��u Sereia de Ouro, outorgado

418

D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S

pelo Sistema Verdes Mares.

Recebe o T��tulo de Economista e Empreendedor

pela Assembleia Legislativa do Estado do Cear��.

2 0 0 8 - Recebe a Medalha Cl��vis Arrais Maia, ou-

torgada pelo Sistema FECOM��RCIO.

2 0 0 9 - Conquista do Pr��mio M��rito Lojista, conce-

dido pela Confedera����o Nacional de Dirigentes Lojistas,

em Bras��lia, na categoria Destaque Excel��ncia Comercial.

2 0 1 1 - Recebe o Pr��mio O Equilibrista, concedido

pelo IBEF.

Recebe o Pr��mio TOP Socioambiental, outorgado

pela ADVB.

2 0 1 2 - Recebe o Pr��mio World Entrepreneur Of

The Year, em Monte Carlo, M��naco.

2 0 1 3 - A Lista da Forbes Brasil inclui Deusmar

Queir��s no restrito elenco de bilion��rios nacionais. In-

forma a revista que Francisco Deusmar Queir��s �� a se-

gunda pessoa mais rica do Cear�� e a 4 6 a do Brasil.

Recebe o Colar C��ndido Fontoura do M��rito Indus-

trial Farmac��utico, outorgada pelo SINDUSFARMA - SP.

Recebe a Medalha Marechal Castelo Branco do 23��

Batalh��o de Ca��adores do Ex��rcito Brasileiro.

2 0 1 5 - A Pague Menos vende 17% das suas a����es

para o Fundo Americano General Atlantic, por R$ 600

milh��es. Deusmar declara que a inje����o de capital �� para

419

J U A R E Z L E I T �� O

garantir a expans��o da varejista farmac��utica no pa��s.

2 0 1 6 - M��rio Queir��s substitui o pai, assumindo a

Presid��ncia da Pague Menos. Deusmar fica na Presid��n-

cia do Conselho de Administra����o da empresa.

2 0 1 7 - Deusmar conquista uma importante etapa

de seu sonho: instala a mil��sima farm��cia no pa��s.

Ao completar 70 anos, considera-se um patriarca

(4 filhos e 14 netos) com o cora����o de menino. E diz que

o horizonte ainda reclama os seus passos. Por isso, todos

os dias acorda para perseguir novas conquistas.

420

BIBLIOGRAFIA

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se. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2 0 0 1 .

4 2 2



COMENT��RIOS SOBRE O LIVRO

otecedordeousadiastdgmail.com

Ia edi����o Novembro de 2017

papel do miolo P��len 8 0 g / m 2

papel da capa Supremo 300g/m2

tipografia Gandhi Serif/ Din Pro

gr��fica Premius Editora







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De: Bons Amigos lançamentos 

O Grupo Bons Amigos e o Grupo Só Livros com sinopses têm o prazer de lançar hoje mais uma obra digital  no formato txt e doc para atender aos deficientes visuais. 


Deusmar Queirós o Tecedor de Ousadias - Juarez Leitão  

 Livro doado por Edilson e digitalizado por Fernando José.

Sinopse:
Biografia do fundador da rede de  Farmácias Pague Menos.


Lançamento    Só Livros com sinopses e Grupo Bons Amigos:

)https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses  


Blog:



Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos e Só livros com sinopses  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais 

e como forma de acesso e divulgação para todos. 
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras.




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Áudios diversos:

http://bezerravideoseaudios.blogspot.com/

 

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