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ESTRANHO CONVITE
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ESTRANHO CONVITE
Carlos A q u i n o
Cedi bra
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CAP��TULO 1
N O I T E V A Z I A
Mais uma noite vazia.
Sentado no sof��. com um copo de u��sque
na m��o, Gilberto olhava as pedras de gelo
misturadas com a bebida.
O que estaria acontecendo com ele? Ce-
libat��rio convicto, estava sentindo h�� v��-
rios dias o amargo sabor da solid��o.
5
Teria sido melhor ter casado? E as res-
ponsabilidades, os filhos, a falta de liber-
dade? Por que aquela fossa estava durando
h�� mais de dez dias? Seria tudo aquilo- ape-
nas por ter sido abandonado por Irene? Ou
seria alguma coisa mais profunda?
Na semana seguinte faria trinta e cinco
anos.
Ser�� que tudo era decorrente da idade
que estava chegando? Seria o medo de fi-
car velho e s��?
Sentia-se meio perdido dentro de sua ge-
ra����o.
Todos os seus amigos j�� tinham casado
e se estabilizado na vida. Quase n��o os pro-
curava porque n��o havia mais di��logo en-
tre eles.
Mas tamb��m n��o conseguia estabelecer
di��logo c o m a turma jovem. A grande pro-
va disso tinha sido Irene. Lembrava-se per-
feitamente do ��ltimo encontro que tivera
com ela. Naquela mesma s a l a . . . P��g 6
��� N��o d�� mais.
��� O que �� que n��o d�� mais, Irene?
��� Este nosso caso.
��� Voc�� n��o gosta mais de mim?
Irene olhou para Gilberto, encarou-o e
disse com extrema franqueza (ou seria
crueldade?):
��� N��o quero mais transar contigo, Gil-
berto. N��o estou a fim de vir ao seu apar-
tamento outra vez.
O rapaz continuou encarando-a, mas Ire-
ne nem pestanejou. Demonstrava uma se-
guran��a que ele n��o tinha. Desviou os
olhos:
��� Voc�� est�� querendo dizer que n��o
quer mais nada comigo?
��� Eu n��o estou querendo dizer, Gilber-
to. Eu estou dizendo!
Por que os jovens costumavam ser t��o
cru��is?
Naquele momento, Gilberto sentiu uma P��g 7
esp��cie de pavor. Era como se sua pr��pria
mocidade estivesse lhe escapando das m��os.
Precisava reter Irene de qualquer manei-
ra, custasse o que custasse:
��� Mas por qu��? N��o estou entenden-
d o . . .
��� N��s n��o temos nada em comum. Os
programas que voc�� gosta eu n��o consigo
curtir. N��o se pode fugir da realidade, Gil-
berto. Eu estou com dezessete anos, voc��
com trinta e cinco. Mais do que o dobro de
minha i d a d e . . .
��� Ent��o, �� i s s o . . .
��� Claro que �� isso, O que poderia ser?
Ele levantou-se e andou pela sala. Irene
acendeu um c i g a n o
O rapaz n��o queria se dar por vencido:
��� Por que a gente n��o tenta durante
mais algum tempo? Vamos fazer um acor-
do: de hoje em diante voc�� �� quem escolhe
os programas. Eu fa��o tudo que voc�� qui-
ser.
8
��� N��o adianta for��ar a barra. O fato ��
que eu estou em outra. E depois, j�� esta-
mos transando h�� tr��s meses. N��o acha que
�� muito tempo?
Tr��s meses. Apenas tr��s meses. E Irene
achava que era muito tempo.
Conhecera-a na praia. Ela estava com co-
legas de sua idade. Os amigos afastaram-se
e Irene come��ara a paquer��-lo.
Naquela mesma manh��, ela fora para o
seu apartamento e transara com ele com
a maior facilidade.
Atribu��ra tudo a seu charme irresist��vel
e pensara que tinha prendido a garota com
a sua masculinidade.
Ficara extasiado com o corpo extrema-
mente jovem de Irene. Quase uma menina.
Os seios pequenos, as pernas longas.
Olhou novamente para ela e desejou-a
mais do que nunca. Precisava possu��-la
mais uma vez, pelo menos mais uma vez.
Aproximou sua boca e tentou beij��-la.
9
��� N��o ��� disse Irene procurando afas-
t��-lo.
��� Por que n��o?
��� J�� est�� tarde. Tenho que ir embora.
��� Se �� a ��ltima vez que vem aqui, con-
forme est�� dizendo, eu quero aproveitar o
m��ximo. N �� o custa transar comigo outra
vez.
Apertou Irene e beijou-a. Suas m��os se-
guraram-lhe os seios e deitou-a no sof��.
A garota n��o fez obje����es. Agora, que sa-
bia que ia perd��-ia, achava-a mais desej��-
vel do que nunca.
A garota n��o demonstrou nenhuma sa-
tisfa����o. Parecia estar muito longe dali.
Gilberto esfor��ou-se para que ela sentis-
se prazer, mas viu que seu esfor��o estava
sendo-in��til.
Pelo menos, ela demonstrava a mais com-
pleta frieza. Mesmo assim, continuou em
cima de Irene at�� que atingiu o c l �� m a x . . .
10
��� Voc�� acha que algum dos namoradi-
nhos de sua idade �� t��o homem quanto eu?
��� Estou cansada do seu machismo. N��o
pense que �� com isso que voc�� pode me
prender.
Irene levantou-se calmamente. Quinze
minutos depois sa��a do apartamento.
Sozinho, Gilberto tranq��ilizou-se ao pen-
sar que ela voltaria no dia seguinte, ou pe-
lo menos dois dias d e p o i s . . .
# # *
Mas j�� havia decorrido mais de uma se-
mana e Irene n��o voltara. N��o tinha con-
tado com isso. Pensava que a garota retor-
nasse a qualquer momento.
No trabalho, esperava ansiosamente que
ela lhe telefonasse. Depois, voltava para ca-
sa e tomava um u��sque atr��s outro. Sem-
pre na esperan��a de que a qualquer mo-
mento o telefone tocasse.
Agora j�� n��o tinha esperan��as. Sabia
que Irene n��o voltaria.
11
Essa constata����o aumentava sua fossa.
Tinha que esquecer a garota e procurar
outra. Havia muita mulher no mundo. E
muitas delas j�� tinham lhe p e r t e n c i d o . . .
Sorriu ao pensar na quantidade de mu-
lheres que havia possu��do ao longo de sua
vida. Certamente poucos homens teriam ti-
do tantas.
Sempre fora um grande conquistador e
tinha a maior facilidade em levar para a
cama todas as mulheres que desejava.
Mas, de todas elas, poucas lhe haviam
marcado. De muitas n��o lembrava mais do
nome. Nem do rosto.
De repente, veio-lhe uma id��ia, que a
princ��pio lhe pareceu absurda, mas depois
achou divertida.
Na semana seguinte completaria trinta-
e cinco anos. Por que n��o dar uma festa e
convid��-las?
Seria uma grande curti����o: ter todas ao
mesmo tempo em sua casa numa s�� noite.
12
O ideal para um homem, pensou, seria
ter muitas mulheres, todas habitando paci-
ficamente a mesma casa.
Empolgou-se com a id��ia da festa. Iria
ser uma esp��cie de sess��o nostalgia, onde
ele veria desfilar diante de seus olhos toda
a sua vida amorosa.
Cada uma lhe recordaria uma determi-
nada fase de sua vida.
�� claro que n��o iria chamar todas com
quem havia transado. Seu apartamento era
pequeno; seria preciso um edif��cio inteiro.
Convidaria apenas as que tivesse amado.
Tinha muita vontade de v��-las como es-
tavam agora.
Quantas j�� estariam casadas?
Quais as que n��o se lembrariam mais
dele?
Como localiz��-las, uma vez que provavel-
mente algumas j�� teriam se mudado?
Levantou-se e serviu-se de mais uma do-
se de u��sque. Colocou um disco qualquer
na eletrola e voltou a recostar-se no sof��.
13
Antes de mais nada, teria que fazer uma
sele����o rigorosa.
N��o poderia convidar cinq��enta mulhe-
res. Reduziria o n��mero ao m��nimo poss��-
vel.
Chamaria apenas aquelas que amara de
verdade num determinado per��odo de sua
exist��ncia. Ou, pelo menos, que pensara
amar.
N��o deveria convidar mais do que dez, de-
cidiu. Para facilitar a escolha, resolveu p��r
em ordem os pensamentos e come��ar por-
ordem cronol��gica.
Qual teria sido seu primeiro amor?
Cec��lia foi o nome que lhe apareceu de
imediato.
Fora realmente seu primeiro amor? Ou
existira outro antes?
Sorriu ao lembrar-se de Isabel. Sim, Isa-
bel fora a primeira mulher que o impres-
sionara muito.
S�� que ela nunca soubera disso, simples-
mente porque ele tinha apenas quatorze
anos de idade e Isabel era sua professora.
14
Naquela ��poca Isabel deveria ter 27 ou
28 anos. Estaria portanto agora com quase
cinq��enta. Gostaria de poder rev��-la.
Mas como encontr��-la, mais de vinte
anos depois?
Quando vira a professora pela primeira
vez, ficara excitad��ssimo.
Isabel tinha as coxas grossas, a cintura
fina e uns quadris volumosos. O famoso ti-
po "viol��o" da d��cada de 50.
Imaginava-a nua, oferecendo-se a ele com
toda a sua abund��ncia de carnes.
Depois, quando a via na aula, ficava pen-
sando o que ela diria se soubesse das coi-
sas que fazia em sua i n t e n �� �� o . . .
Seria uma boa convid��-la. Para onde
mandaria o convite?
S��. havia uma op����o: para o col��gio onde
tinha estudado. Talvez Isabel continuasse
lecionando l��.
Lembrava-se perfeitamente das aulas que
ela dava. Isabel ensinava ingl��s e quando
colocava a l��ngua entre os dentes para ex-
plicar a pron��ncia de determinadas pala-
15
vras, Gilberto achava a coisa mais sensual
do mundo.
Ser�� que Isabel alguma vez desconfiara
da paix��o que lhe inspirara? Certamente
n��o. Agora deveria ser uma senhora bas-
tante gorda, possivelmente feia.
Procurou um bloco de papel e uma cane-
ta, sentou-se junto �� mesa e come��ou a es-
crever.
16
CAP��TULO 2
O C O N V I T E
A primeira coisa a fazer era colocar os
nomes deles, em seguida procuraria os en-
dere��os.
Escreveu dois nomes: Isabel e Cec��lia.
Cec��lia tinha sido sua primeira namora- P��g 17
da s��ria. Encontrara-a urna vez, h�� algum
tempo, e ela lhe dissera que tinha casado.
Mas estaria ainda com o marido?
Os nomes que lhe vieram em seguida ��
cabe��a foram: Edna, que fora sua amante
h�� uns dez anos; Eunice, com quem tivera
um caso mais ou menos recente; Jussara
e Lia. Al��m, evidentemente, de Irene, a ga-
rota com quem terminara na semana an-
terior.
Ficou em d��vida se deveria convidar I r e -
ne ou n��o.
Temia que ela ficasse pensando que ele
n��o a esquecera e que estava tentando re-
conquist��-la, o que, de resto, era verdade.
N��o queria dar este gosto �� garota, mas
tamb��m n��o podia negar seu desejo de con-
vid��-la.
Olhou a lista e viu que tinha apenas sete
nomes.
De todas as mulheres que possu��ra, e ha-
viam sido in��meras, gostara apenas de se-
18
te, contando com a professora? N��o deixa-
va de ser decepcionante.
Fez um modelo da carta-convite que man-
daria :
" N o pr��ximo dia 19 completo 35 anos de
idade. Vai haver um pequena festa em mi-
nha casa e pe��o que compare��a, a fim de
recordar os velhos tempos.
Atenciosamente,
Gilberto."
Releu-a algumas vezes. Deveria fazer
uma carta diferente para cada uma ou
mandar todas iguais? O estilo n��o estaria
muito seco? N��o deveria entrar em deta-
lhes que tivessem algum significado para
cada uma? E se alguma ou algumas delas
n��o se lembrassem mais dele?
Claro que, excetuando a professora, as
outras lembrariam, disso n��o tinha d��vi-
das.
19
Mas provavelmente iriam achar muito es-
tranho o convite.
Depois de alguns minutos de d��vida, re-
solveu n��o esquentar muito a cabe��a e fa-
zer todas as cartas-convites iguais.
Escreveu as sete cartas, pegou os envelo-
pes e procurou velhas cadernetas de ende-
re��os que n��o tinha jogado fora.
Achou melhor n��o preocupar-se se iriam
receber o convite ou n��o, se viriam ou n��o
�� festa.
O excitante era justamente isso: a sur-
presa no dia do anivers��rio, quem viria e
quem n��o viria.
Enderegou a carta de Isabel para o co-
l��gio onde tinha estudado.
A de Cec��lia para a casa dos pais dela,
pois n��o sabia onde residia depois que ca-
sara.
De novo voltou-lhe a d��vida de que ela
20
n��o estivesse mais com o marido. Tinha
quase certeza de que Cec��lia compareceria
�� festa, se o convite chegasse ��s suas m��os.
Edna fora sua amante h�� uns dez anos.
Era uma mulher muito louca, haviam tido
um romance tempestuoso de seis meses, en-
tre brigas violenta e reconcilia����es. Fora
uma de suas paix��es mais alucinantes.
Jussara estava em lua-de-mel quando co-
me��ara a transar com ele. Incrivelmente
sensual, parecia am��-lo, mas atormentava-
se demais porque tra��a o marido.
Talvez pegasse o convite e o rasgasse em'
pedacinhos para n��o reviver o passado, nem
ter problemas de consci��ncia.
Lia tentara casar com ele a todo custo.
Quando acabaram o caso, ela dissera que
n��o o perdoaria nunca. Mas agora, alguns
anos depois, n��o deveria guardar ressenti-
mentos. P��g21
21
Eunice fora um de seus amores mais re-
centes. T i n h a pouco mais de um ano que
haviam deixado de se encontrar.
Ele lembrava-se dela de vez em quando
e, ��s vezes, pensava em procur��-la de novo.
A ��ltima carta-convite era a de Irene.
Pensou na rea����o que teria ao receb��-la.
No m��nimo iria mostr��-la aos amiguinhos
e debochar dele. (Quem seria seu atual na-
morado? Talvez aquele surfista louro e quei-
mad��ssimo de praia com quem a vira uma
vez em Ipanema.)
Teve raiva de si mesmo ao se surpreen-
der com ci��mes da garota.
Ainda iria demorar muito para ficar
completamente curado daquela ��ltima pai-
x��o.
Depois de terminado o trabalho, juntou
os envelopes e guardou-os em uma pasta.
No dia seguinte, colocaria no correio.
22
Foi deitar-se menos angustiado, ante a
perspectiva do que aconteceria na festa de
seu anivers��rio.
Alguns minutos depois, levantou-se e vol-
tou a acender a luz.
Achou que cometera um erro em fazer
todas as cartas iguais.
Pelo menos a da professora deveria es-
clarecer alguma coisa, pois era absoluta-
mente imposs��vel que ela soubesse de quem
se tratava, apenas pelo nome.
Teria que dar uma pista, dizer pelo me-
nos que havia sido aluno dela.
Tirou da pasta o envelope endere��ado a
Isabel e redigiu outra carta, na qual dizia
que fora seu aluno h�� mais de vinte anos.
De qualquer maneira, sentiu que estava
tendo um trabalho in��til, porque Isabel se-
ria a ��ltima pessoa a comparecer �� festa.
Iria achar muito engra��ado o estranho con-
vite e n��o tomaria conhecimento dele.
23
Quando acabou de redigir a nova carta,
n��o ficou satisfeito com o resultado, mas
mesmo assim colocou-a no envelope e vol-
tou a se deitar.
24
CAPITULO 3
A P R O F E S S O R A
Isabel entrou em seu carro. Viu sua pr��-
pria imagem refletida no retrovisor.
As rugas em volta dos olhos estavam mais
pronunciadas do que nunca. A maquilagem
n��o disfar��ava mais sua idade. Tamb��m,
com a vida que l e v a v a . . .
25
Fizera 48 anos, tinha tr��s filhos adoles-
centes. O relacionamento com o marido ia
de mal a pior. A situa����o financeira tam-
b��m n��o era das melhores.
Passava o dia inteiro na rua, dando au-
las em v��rios lugares, a fim de aumentar
o or��amento dom��stico.
Sua vida tinha sido toda de trabalho e
ren��ncia. Apaixonara-se por Cust��dio e ca-
sara com ele, deixando de lado v��rios ou-
tros pretendentes que poderiam ter-lhe pro-
porcionado uma exist��ncia melhor.
A fam��lia fora contra, ningu��m queria o
casamento.
Mas ela teimara, talvez condicionada pe-
la oposi����o de todos. S�� muito depois �� que
se questionara: teria sido mesmo amor ou
pura teimosia?
Fora uma mulher bonita nos seus ��ureos
tempos. Muito alegre e comunicativa, ti-
nha consci��ncia do desejo que despertava
nos homens.
Usava vestidos muito justos, que lhe real-
��avam as formas protuberantes e gostava
dos olhares que despertava.
26
Adorava imitar as estrelas famosas de ci-
nema da ��poca e muitos diziam que se pa-
recia com Jane Russel, com uma ��nica di-
feren��a: enquanto a atriz norte-americana
tinha excesso de busto, Isabel tinha de qua-
dris.
Alta, cabelos pretos compridos, um olhar
de morma��o e uma sensualidade que sa��a
pelos poros. Estas as caracter��sticas de Isa-
bel em seus tempos de mocidade.
Agora, sabia que nada mais lhe restava
daquele esplendor.
As protuber��ncias que tanto excitavam
os homens tinham se transformado em gor-
duras abomin��veis. Envelhecera precoce-
mente de rosto e de corpo. A boca ficara
amarga, os olhos contornados por muitas
rugas.
Uma vez, vendo um antigo filme de Jane
Russel na televis��o, comentou com um dos
filhos adolescentes que, quando jovem, to-
dos a achavam parecida com ela.
O garoto quase morreu de rir e n��o acre-
ditou.
Realmente, vendo-a atualmente, era real-
27
mente inacredit��vel que um dia tivesse si-
do bonita. Mas a vida e o tempo t��m uma
incr��vel capacidade de destrui����o.
Estava casada com Cust��dio h�� vinte e
dois anos. No come��o at�� que as coisas ha-
viam corrido mais ou menos bem.
Depois, aos poucos, os filhos, o aumento
das despesas, as dificuldades cada vez maio-
res, o car��ter fraco do marido, foram des-
truindo o casamento.
Desiludida, vendo que a realidade n��o ti-
nha nada a ver com os filmes a��ucarados
e multicoloridos de Hollywood a que gostava
de assistir, ela ainda permaneceu fiel du-
rante muito tempo.
Mas terminou arranjando um amante.
J�� estava com mais de trinta anos e ainda
queria ter a ilus��o de que era desej��vel.
Apegou-se a ele como se fosse uma t��bua
de salva����o.
No entanto, mais uma vez, n��o teve sor-
te. Benjamin, o amante, n��o passava de um
cafajeste. A liga����o durou alguns meses,
at�� que um dia ele desapareceu.
N �� o quis mais saber de ningu��m. Sua vi-
28
da sexual a partir da�� passou a ser quase
nula, uma ou outra rela����o eventual com
o marido, que vez por outra se lembrava de
que ela ainda era uma mulher.
Tivera mais uns dois ou tr��s amantes ca-
suais. Depois acomodara-se e aceitara o
tempo que passava e a velhice que se apro-
ximava, inexor��vel.
Absorvida em seus pensamentos, Isabel
nem notou que j�� estava perto do col��gio
onde daria as primeiras aulas do dia.
Chegou dez minutos mais cedo, como
sempre. Talvez devido �� sua vida comple-
tamente frustrada, acostumara-se a uma
disciplina r��gida.
j a m a i s faltava ao trabalho nem chegava
atrasada. Apegava-se a essas pequenas cdi-
sas quase como uma obsess��o, talvez para
n��o ter tempo para pensar.
Ficou curiosa quando lhe entregaram
uma carta antes de entrar na sala de aulas.
Ainda perguntou ao cont��nuo:
��� Tem certeza que �� para mim?
��� Est�� endere��ada �� senhora.
29
Isabel pegou a carta com ansiedade.
Quem lhe teria escrito?
Olhou o remetente: Gilberto Figueiredo.
N��o se lembrava de ningu��m com este no-
me. Quem seria?
Abriu o envelope e come��ou a ler. Sua
surpresa aumentava �� medida que lia.
Gilberto explicava que tinha sido seu alu-
no h�� mais de vinte anos e estava lhe con-
vidando para sua festa de anivers��rio.
Sorriu, achando interessante o neg��cio,
apesar de absurdo.
Ela, por mais esfor��o de mem��ria que fi-
zesse, n��o se lembrava dele de jeito ne-
nhum. Tivera milhares de alunos ao longo
de sua carreira de magist��rio, dezenas de
Gilbertos haviam estudado com ela.
Dobrou a carta, colocou-a de novo no en-
velope e guardou-o na bolsa.
De qualquer maneira era gratificante re-
ceber o convite. Um aluno seu, duas d��ca-
das depois, lembrava-se de escrever-lhe con-
vidando-a para seu anivers��rio.
Por um motivo ou outro (e tinha vonta-
30
de de saber qual o v e r d a d e i r o ) , ele n��o a esquecera.
Entrou na sala de aula e durante todo
o tempo n��o conseguia deixar de pensar no
convite.
Por acaso, entre seus alunos atuais, ha-
via um Gilberto. Ser�� que ele se recordaria
dela daqui a vinte anos?
Um pensamento sinistro a perturbou:
"Estaria viva daqui a vinte anos?" Se esti-
vesse, seria uma velhinha de quase setenta.
A id��ia a deprimiu.
Concentrou-se na aula e esqueceu a carta.
Sua incr��vel autodisciplina era a ��nica
aliada com que contava. T i n h a que cum-
prir suas obriga����es, dar aulas uma atr��s
da outra, sair de um col��gio para outro e
no fim do dia voltar para casa, exausta.
N��o poderia se permitir um tempo pa-
ra pensar. O ideal era manter-se sempre
ocupada, f��sica e mentalmente.
�� noite, cansada, o sono viria com mais
facilidade e na manh�� seguinte, outras
obriga����es a esperavam.
31
Mas, em algum ponto do seu subcons-
ciente, o convite permaneceu.
Ao deitar-se, deixou que ele voltasse a ser
o centro de seus pensamentos.
Era um convite muito estranho, sem d��-
vida. Provavelmente, Gilberto n��o esperava
que comparecesse. Ela tamb��m, a princ��pio,
n��o pensara em ir nem por um momento.
No entanto, agora, estava disposta a mu-
dar de opini��o. Talvez fosse interessante ir
�� festa. S�� assim poderia descobrir o mo-
tivo por que ele a convidara.
Mesmo sabendo ser in��til querer dialogar
com o marido, falou:
��� Hoje recebi um convite para uma
festa.
Cust��dio nem se deu ao trabalho de per-
guntar que festa era aquela.
Apesar do sil��ncio do marido e de sua
total falta de interesse, ela continuou:
��� Um ex-aluno, que estudou comigo h��
mais de vinte anos, me mandou um con-
vite para o seu anivers��rio.
��� E voc�� vai?
��� Talvez.
32
Como ela esperava, o di��logo n��o levou
a nada. Cust��dio apenas olhou-a com indi-
feren��a e poucos minutos depois estava ron-
cando.
33
CAP��TULO 4
M A N H �� DE SOL
Irene saiu do quarto correndo. J�� estava
muito atrasada. Marcara com Danilo na
praia ��s nove horas e eram quase dez.
A m��e gritou quando ela passou como
um raio pela sala:
34
��� J�� vai sair?
��� Vou �� praia.
��� Chegou uma carta pra voc��.
��� Pra mim?
��� Sim.
��� De quem ��?
��� N��o est�� escrito o remetente.
A garota aproximou-se da m��e e tomou-
lhe o envelope. Abriu a porta e esperou o
elevador. Enquanto isso, tirou a carta do
envelope e olhou a assinatura.
Gilberto.
Em vez de procur��-la pessoalmente, Gil-
berto resolvera se comunicar atrav��s de bi-
lhetes? Leu o que estava escrito e n��o p��de
conter um riso de deboche.
O elevador chegou e ela desceu. Gilber-
to era mesmo um cara muito rid��culo. Que
coisa mais careta essa hist��ria de comemo-
rar anivers��rio e convid��-la! . . .
Claro que aquele convite era uma tenta-
tiva de reconcilia����o.
Ali��s, estranhara que durante aquelas
quase duas semanas ele n��o a tivesse pro-
curado.
35
Sentia-se at�� aliviada, pensando que es-
tava livre dele, quando de repente recebia
aquela carta.
Atirou-a na cal��ada e seguiu apressada
para a praia. N��o notou um carro que vi-
nha em alta velocidade e quase a atrope-
lou. Ouviu s�� o grito, enquanto dava um
salto:
��� Est�� querendo morrer, gatinha?
Morrer na sua idade? Nem pensar. Prin-
cipalmente numa manh�� de sol como aque-
la. Estava no auge de seus dezessete anos,
aproveitando intensamente a juventude.
Voltou a pensar em Gilberto. N��o sabia
mesmo por que tivera aquele caso com ele
durante tr��s meses.
Realmente, n��o era uma boa manter re-
la����es sexuais com caras muito mais ve-
lhos.
O neg��cio era curtir a vida junto com o
pessoal de sua idade.
Felizmente j�� se livrara daquele cara e
come��ara a namorar Danilo, que conhecera
praticando surf no Castelinho. Os cabelos
36
louros e compridos de Danilo a tinham
atra��do.
Desceu a cal��ada e andou pela areia, pro-
curando avistar o namorado. Mas n��o viu
Danilo pelas imedia����es.
Ser�� que fora embora e n��o esperara por
ela?
Olhou para o mar e sorriu ao ver que Da-
nilo estava sobre sua prancha de surf,
equilibrando-se em cima das ondas.
Tirou a sa��da de praia que cobria seu
min��sculo biqu��ni e estirou-se ao sol. Da-
nilo avistou-a e saiu do mar, vindo em sua
dire����o:
��� Oi!
��� Oi! .
��� Que foi que houve?
��� Dormi demais, s�� isso.
��� Voc�� vai perder toda a sua vida dor-
mindo.
��� Esse neg��cio de despertador n��o fun-
ciona comigo. N��o adianta que n��o consi-
go ouvir. Quando durmo, pare��o uma pe-
dra.
37
Riram. Ele jogou os cabelos molhados pa-
ra tr��s:
��� Voc�� t�� com uma cara esquisita!
��� Eu?!
��� ��. Parece que ainda n��o acordou.
��� Vou me atirar na ��gua pra ver se o
sono vai embora de vez.
Os dois sa��ram correndo em dire����o ao
mar e mergulharam.
A ��gua fria reanimou Irene. Uma onda
mais forte fez com que desequilibrasse. Da-
nilo riu. Ela saiu debaixo da onda com os
cabelos pingando.
��� Acho que agora acordei.
Ele abra��ou-a e beijou-a ali mesmo, den-
tro d'��gua. O gosto de sal dos seus l��bios
lhe pareceu delicioso:
��� Voc�� �� um barato!
Voltaram para a areia.
��� Hoje recebi uma carta. Adivinhe de
quem?
��� Como �� que vou saber? ��� respondeu
Danilo com outra pergunta.
��� Fa��a um esfor��o.
38
��� Deixe de frescura e diga logo de quem
foi.
��� Do Gilberto.
��� Quem?!
��� Gilberto.
��� Aquele coroa que namorou contigo?
��� Ele mesmo.
��� N��o est�� morando mais no Rio?
��� Est��.
��� E por que te escreveu, em vez de te-
lefonar?
��� Falta de coragem.
��� O que ele est�� querendo?
��� Que eu v�� �� sua festa de anivers��rio.
Danilo deu uma gargalhada:
��� Essa n��o!
��� Verdade! Juro.
��� E voc�� vai?
��� Claro que n��o.
��� Ser�� que esse cara n��o se -manca?
��� Ele ainda n��o se convenceu de que
quem gosta de velho �� museu.
��� A culpa �� sua. Quem manda transar
com gente da idade dele? Agora n��o vai ter
sossego o resto da vida. Ele vai continuar
39
encarnando em voc�� por muito tempo
ainda.
��� Quem transa comigo n��o me esquece
nunca.
��� S�� se for um bolha como ele.
��� Quer dizer que se eu acabar contigo,
voc�� vai me esquecer depressa?
��� Sem essa, Irene! N��o v�� me dizer que
voc�� pegou os v��cios do cara. �� nisso que
d�� conviver com coroa. Comigo n��o tem
disso de acabar com uma garota e ficar
curtindo dor-de-cotovelo. Enquanto a gen-
te t�� numa boa, tudo bem. Quando acabar,
acabou. Saio pra outra.
O olhar de Irene percorreu Danilo de ci-
ma a baixo.
Teve vontade de transar com ele ali mes-
mo, na praia.
Danilo n��o entendeu a maneira como o
olhava e perguntou:
��� Qual �� o grilo? Ficou com raiva com
o que eu disse?
��� N��o.
��� Ent��o, o que ��?
40
��� T i v e uma vontade s��bita de transar
contigo agora.
��� Aqui na praia?
��� Seria muito legal, se a gente pu-
desse . ..
��� N��s ficamos a noite toda transando.
N��o ficou satisfeita?
��� Isso foi ontem �� n o i t e . . .
��� N��o sei como o coroa ag��entava
Quantas ele dava por noite?
��� No m��ximo, duas.
��� E como �� que voc�� se arranjava
��� Por isso que acabei com ele.
Danilo deu uma gargalhada e come��ou
a passar a m��o pela barriga de Irene. Ela
beijou-o, dando-se uma leve mordida no
rosto.
��� Voc�� s�� pensa em sexo?
��� S��.
��� Ent��o vamos at�� l�� em casa.
��� E seus pais?
��� Eles sa��ram. /
Irene colocou de novo a sa��da de praia e
Danilo pegou sua prancha.
Atravessaram a rua e se dirigiram para
41
o apartamento do rapaz. Ao entrarem, de-
pararam com o irm��o mais novo de Danilo.
��� J�� voltaram da praia? ��� perguntou
Durval.
N��o deram a menor aten����o �� pergunta
e se encaminharam direto para o quarto.
��� O que �� que voc��s v��o fazer a��? ���
tornou a perguntar Durval.
��� Adivinhe! ��� respondeu Danilo em
tom de deboche.
Fecharam, a porta do quarto. Irene tirou
o biqu��ni, enquanto Danilo jogava sua sun-
ga no ch��o.
Atiraram-se um para o outro. Danilo em-
purrou-a para a cama e deitou-se por cima
dela. procurando abrir caminho entre suas
coxas. L o g o estava dentro da garota, que se
contorcia de prazer.
Vinte minutos depois sa��am do quarto.
��� J�� terminaram? ��� perguntou Durval,
sorrindo.
��� Por que voc�� n��o vai tratar de sua
vida?
Danilo pegou sua prancha e junto com
Irene tomou novamente a dire����o da praia.
42
��� Voc�� vai para a tal festa de anivers��-
rio?
��� Que id��ia! Ainda est�� pensando nis-
so? N��o me diga que est�� com ci��mes. N��o
j�� falei que n��o vou?
43
CAP��TULO 5
A P R I M E I R A P A I X �� O
Dona Alice, uma senhora de cinq��enta e
poucos anos, muito elegante, olhou a cor-
respond��ncia que havia chegado.
Um aviso do banco, algumas contas para
pagar e uma carta. Viu que estava dirigida
a Cec��lia, sua filha.
44
Quem teria escrito �� filha mandando a
carta para seu endere��o?
Ser�� que n��o sabia que Cec��lia estava ca-
sada h�� v��rios anos e n��o morava mais ali?
Olhou o remetente e viu o nome de Gil-
berto. Lembrou-se do rapaz, um dos pri-
meiros namorados de Cec��lia.
Achou curioso e discou o telefone.
��� Al��, Cec��lia?!
��� Oi, mam��e!
��� Recebi uma carta pra voc��.
��� Pra mim?
��� Exatamente. �� do Gilberto.
��� Que Gilberto?
��� S�� pode ser aquele seu antigo namo-
rado.
��� Por que ele me escreveu?
��� Sei l��! Voc�� pode vir aqui apanhar a
carta?
��� Agora n��o. Estou de sa��da. Vou ao co-
45
l��gio dos meninos. T e m uma reuni��o com
os pais dos alunos. S�� posso ir a�� �� tarde.
��� Eu tenho que fazer umas compras l o -
go mais. Por que a gente n��o se encontra
na rua?
��� Combinado.
Mais ou menos ��s tr��s e meia da tarde,
Cec��lia encontrou-se com a m��e na Confei-
taria Colombo. Sentaram-se em uma das
mesas e enquanto esperavam que o gar��om
trouxesse o lanche pedido, Cec��lia pergun-
tou:
��� Onde est�� a carta?
Dona Alice abriu a bolsa e entregou-a ��
filha. Cec��lia rasgou o envelope, sem con-
seguir esconder sua curiosidade.
��� Esse cara ainda se lembra de voc��?
��� Claro. Est�� me convidando para seu
anivers��rio no dia 19.
��� Se n��o estou enganada, ele foi a sua
grande paix��o.
��� Mas isso j�� tem muito tempo.
46
��� Voc�� vai �� festa?
��� Vou.
��� E seu marido?
��� In��cio n��o precisa saber.
Cec��lia transportou-se para dezoito anos
antes.
Tinha apenas dezesseis, quando conhece-
ra Gilberto. Ele fora seu primeiro homem.
Tivera loucura por ele e pensara que se-
ria para toda a vida.
Mas durara apenas alguns meses. Logo
o rapaz se cansara dela, e terminaram o
caso.
Durante muito tempo ficara pensando
nele e julgando que nunca mais se interes-
saria por homem nenhum.
No entanto, com o tempo, tivera outras
paix��es, conhecera outros homens e termi-
nara se casando com In��cio.
��� Voc�� gosta de seu marido? ��� per-
guntou Dona Alice, como se adivinhasse os
pensamentos da filha.
47
��� Esse neg��cio de gostar �� muito rela-
tivo.
��� Relativo como?
Cec��lia acompanhou a m��e nas compras
que ela queria fazer e s�� ��s seis horas vol-
tou para casa. A carta de Gilberto lhe tra-
zia muitas recorda����es. . .
Lembrava-se perfeitamente da primeira
vez que tinham ido para a cama.
Haviam acabado de assistir ao filme "Os
Homens Preferem as Louras", com Marilyn
Monroe.
Quando sa��am do cinema, Gilberto falou:
��� N��o posso ver filme da Marilyn.
��� Por qu��?
��� Fico muito excitado.
Durante toda a proje����o, ele ficara aca-
riciandc-lhe os seios, enquanto ela pega-
va-lhe na perna, sem coragem de avan��ar
mais do que isso.
48
��� Vamos para um hotel?
Levou um susto quando ouviu a propos-
ta de Gilberto. Ficou ofendida:
��� T e m coragem de me propor uma coi-
sa destas?
��� O que �� que tem? N �� o vejo nada de-
mais. A gente j�� se conhece h�� bastante
tempo.
��� Nunca fui a nenhum hotel com ho-
mem nenhum.
��� Tudo na vida tem uma primeira vez.
��� Quem voc�� pensa que eu sou?
��� Que voc�� se chama Cec��lia, �� linda,
eu te amo e n��o vejo nenhum problema da
gente ficar sozinho num quarto de hotel.
��� Voc�� me ama mesmo?
��� Ainda duvida?
Ele colocou o bra��o pelas suas costas,
apertando-a contra si. Beijou-a ali mesmo
na rua. Ela o empurrou delicadamente.
��� As pessoas est��o olhando.
. 49
��� Se a gente estivesse sozinho n��o ti-
nha este problema.
Cec��lia n��o podia negar a si mesma que
tamb��m desejava Gilberto ardentemente.
Sentia uma curiosidade muito grande em
v��-lo despido e sabia que, se tivesse que se
entregar a um homem, este homem s�� po-
dia ser Gilberto.
��� Est�� bem. ��� disse quase num sus-
surro.
��� Est�� bem o qu��?
��� Se voc�� est�� querendo tanto i r . . .
Ele exultou de alegria. Chamou um t��xi
que ia passando e levou-a para um hotel.
Cec��lia passou pela portaria encabulad��s-
sima e teve ��mpetos de sair correndo. Mas
alguma coisa mais forte a impedia de fugir.
Assim que se viram no quarto, ele come-
��ou a tirar-lhe a roupa. Ela sentia vergo-
nha, mas o desejo falava mais alto.
Quando viu os seios de Cec��lia, nus, Gil-
berto encostou a boca e come��ou a beij��-los.
50
Um estremecimento percorreu todo o cor-
po da mo��a, que compreendeu que n��o po-
dia mais recuar. Agora tinha de ir at�� o
f i m . . .
Cec��lia olhou com ansiedade para o cor-
po nu do namorado. A vontade de ser pos-
su��da por ele aumentou. Queria ser sua mu-
lher agora e para s e m p r e . . .
Gilberto abra��ou-a, alisando-lhe depois
cs seios, as n��degas, o sexo.
Por um momento, ela teve medo. Sentiu
uma dor profunda, quando ele come��ou a
penetrar-lhe na carne. Seu del��rio aumen-
tou. A dor misturou-se com o prazer e ela
soltou um pequeno g r i t o . . .
* * *
Depois daquela primeira vez, voltaram a
fazer sexo com assiduidade. Como ela tinha
receio de ficar gr��vida, resolveram tomar
as precau����es necess��rias.
��� Voc�� n��o gostaria de casar comigo,
Gilberto?
51
��� A gente �� muito j o v e m ainda pra pen-
sar nisso.
Nunca mais voltaram a falar no assun-
to. Depois, ela notou que o interesse de Gil-
berto estava diminuindo progressivamente.
A t �� que um dia encontrou-o com outra
na Avenida Copacabana. Foi para casa e
chorou muito, recusando-se a v��-lo de novo.
Ela estava muito ofendida, mas Gilberto
a procurou:
��� Por que est�� com raiva de mim?
��� Eu te vi com outra.
��� Deixe de bobagem.
��� Voc�� acha bobagem?
��� Por que n��o fazemos as pazes e n��o
vamos para um hotel?
��� Por que n��o leva a garota que estava
contigo?
��� Ela n��o �� d i s s o . . .
��� A h , ent��o quer dizer que e u . . .
52
Cec��lia n��o terminou a frase. Deixou Gil-
berto na rua e voltou para casa.
Trancou-se no quarto e come��ou a cho-
rar convulsivamente. Depois disso s�� o viu
poucas vezes, por acaso.
A ��ltima vez que o encontrara, j�� estava
casada. N �� o guardava mais nenhum ressen-
timento. Lembrava-se dele apenas como o
primeiro homem de sua vida, principalmen-
te pelo fato de que n��o sentira por nenhum
outro uma paix��o t��o grande.
Agora, recebia aquela carta-convite. Se
ela n��o a tivesse amado, certamente que
n��o se recordaria mais d e l a . . .
Iria �� festa. O ��nico problema era conse-
guir driblar a vigil��ncia do marido.
N��o poderia dizer-lhe que pretendia com-
parecer ao anivers��rio de um ex-amante.
Teria que inventar uma mentira qualquer.
Por incr��vel que pudesse parecer, In��cio
continuava ciument��ssimo, apesar de j�� es-
tarem casados h�� quase dez anos.
53
Mas deveria haver um jeito de ir �� festa,
sem que o marido desconfiasse. Para isso
contaria com a cumplicidade de sua m �� e . . .
* * *
In��cio n��o podia acreditar no que esta-
va vendo. Vermelho de raiva, saiu do quar-
to sem acabar de vestir-se e entrou na sala
com o envelope na m �� o :
��� Que carta �� esta?
Cec��lia, que estava tranq��ilamente lendo
um livro, olhou.para o marido, assustada
com a pergunta que ele lhe fizera quase aos
gritos.
��� Que carta?
A mulher compreendeu que dificilmente
poderia conter a tempestade que se aproxi-
mava.
O marido havia encontrado o convite de
Gilberto e, ciumento como era, iria fazer o
maior barulho.
��� Quem �� esse tal Gilberto?
54
��� Um velho conhecido ��� respondeu Ce-
c��lia, continuando a aparentar uma calma
que na verdade n��o sentia.
��� Exijo que me explique isso direito.
��� Mas explicar o que, In��cio?
��� Quem �� esse cara?
��� J�� disse que �� um velho conhecido
que n��o vejo h�� muito tempo.
��� E por que ele a convidou para seu ani-
vers��rio?
��� Sei l �� . . .
��� Voc�� nunca me falou que conhecia ne-
nhum Gilberto.
��� Est�� bem, In��cio. Vou contar tudo.
N��o estou querendo brigar. Gilberto foi um
namorado que tive antes de casar contigo.
��� N��o sabia que voc�� recebia convites
de amores antigos.
��� A prova de que n��o liguei nenhuma
55
import��ncia �� que deixei o convite jogado
por a��.
��� Ele n��o estava jogado por a��. Eu o en-
contrei em sua bolsa, no arm��rio.
Ela pensou em reclamar o fato de In��cio
viver revistando suas coisas, mas preferiu
n��o provoc��-lo:
��� Esqueci l��, s�� isso.
In��cio amassou o envelope e jogou-o na
cesta de pap��is:
��� Voc�� n��o vai a essa festa, n��o �� mes-
mo?
��� Claro que n��o.
��� De qualquer modo devia ter me con-
tado que tinha recebido esta carta.
Cec��lia voltou a ler e In��cio n��o tocou
mais no assunto.
Ela arrependia-se amargamente de n��o
ter destru��do o convite.
56
A g o r a de nada lhe adiantava a cumplici-
dade da m��e nem inventar nenhuma men-
tira, a fim de comparecer �� festa.
Como pudera ter sido t��o descuidada?
57
CAP��TULO 6
U M R O M A N C E M U I T O LOUCO
Ademar tocou a campainha e Edna veio
abrir a porta.
��� Oi!
Edna beijou o amante e se encaminhou
para a sala, sem notar que no ch��o havia
um envelope.
58
Ademar, no entanto, viu a carta e a apa-
nhou.
��� N �� o viu esta carta que colocaram por
baixo da porta?
��� N��o.
A mulher abriu o envelope sem o menor
interessa
Leu e releu v��rias vezes. A l g u �� m a esta-
va convidando para uma festa de aniver-
s��rio, mas ela n��o conseguia lembrar quem
era Gilberto.
��� �� alguma coisa importante? ��� per-
guntou Ademar.
��� N��o. Um convite para uma festa de
anivers��rio. O ��nico problema �� que n��o
sei quem est�� me convidando.
��� Esta eu n��o entendi.
��� N e m eu.
Ademar pegou a carta e leu:
��� Voc�� n��o conhece nenhum Gilberto?
��� Que eu me lembre, n��o.
59
Mas o cara deve te conhecer, pois sabe
seu nome e endere��o.
Edna passou a m��o pelos cabelos desgre-
nhados:
��� Deve ser algu��m com quem eu j�� tran-
sei.
��� Voc�� esquece das pessoas assim com
facilidade?
De repente, ela lembrou-se:
��� A h , j�� sei quem ��! T i v e um caso com
ele h�� mais de dez a n o s . . .
��� E nunca mais o viu?
��� N��o.
��� Ele deve ter uma mem��ria muito boa.
***
Aos poucos, Edna foi recordando o ro-
mance que tivera com Gilberto.
Naquela ��poca, antes de completar vinte
anos de idade, ela era t��o vol��vel quanto
atualmente. N��o mudara quase nada.
60
Pensara que com o tempo conseguisse
uma certa estabilidade emocional, mas ago-
ra, j�� passando dos trinta, continuava pas-
sando de um homem para outro, sem se
fixar em nenhum.
At�� quando ia permanecer assim? E
quando chegasse a velhice e n��o tivesse
mais facilidade em arranjar um amante?
Preferiu n��o pensar no futuro e se con-
centrar no passado.
Conhecera Gilberto numa fila de cinema.
Era a ��poca ��urea da chamada "gera����o
Paissandu", em que a moda entre os jovens
da Zona Sul era ir ao cinema Paissandu
assistir filmes de Jean-Luc Godard.
Foi o per��odo em que tamb��m se alas-
trou o movimento "hippie" no Brasil e Ed-
na, sempre pronta para as novidades que
apareciam aderiu �� moda.
Como a fila do cinema estava muito
grande, ela procurou ver se encontrava al-
gum amigo para lhe comprar a entrada.
61
Como n��o visse nenhum, decidiu abor-
dar um desconhecido qualquer:
��� Ser�� que voc�� podia comprar um in-
gresso pra mim?
Ela entregou o dinheiro ao rapaz e ficou
ao seu lado, enquanto a fila andava vaga-
rosamente.
Entraram no cinema juntos. N��o conse-
guiram mais nenhuma poltrona vazia e
sentaram-se mesmo no ch��o.
Durante a proje����o, comentaram o que
se passava na tela e ao sa��rem do cinema
j�� pareciam se conhecer h�� tempos.
��� Que tal um chopinho?
Sentaram-se no bar ao lado do cinema.
Entre um gole e outro, discutiram sobre os
diretores da "nouvelle-vague" que j�� esta-
vam ultrapassados, abordaram diversos as-
suntos e terminaram falando em sexo.
��� Quer ir at�� o meu apartamento? ���
o convite partiu de Edna.
Ainda sem se refazer da surpresa, Gilber-
62
to concordou. T o m a r a m um ��nibus e se
ram para Copacabana.
��� Voc�� mora sozinha?
��� Com uma amiga.
��� E ela n��o est�� l�� agora?
��� Se estiver, tem alguma import��ncia?
��� N��o.
Apesar da negativa, Gilberto temia que a
companheira de Edna estivesse no aparta-
mento. N��o costumava ter rela����es sexuais
com uma pessoa na presen��a de outra.
Por sorte, a amiga n��o estava e os dois
puderam ir para a cama com tranq��ili-
dade.
��� Helena �� uma louca.
��� Quem �� Helena?
��� A minha amiga que mora aqui. �� mui-
to dif��cil passar uma noite em casa. N��o
sei mesmo por que ela divide este aparta-
mento comigo. Quase n��o aparece em ca-
s a . . .
63
Gilberto nunca conhecera antes uma
mo��a t��o liberta de preconceitos.
Edna topou todas as paradas e deixou-se
possuir de todas as maneiras poss��veis.
Plenamente saciado, Gilberto s�� foi em-
bora quase ao amanhecer, marcando en-
contro para dois dias depois.
Apesar de ter outros amantes. Edna co-
me��ou a preferir a companhia de Gilberto.
Al��m de satisfaz��-la melhor na cama, acha-
va-o um rapaz inteligente, com quem podia
estabelecer um di��logo interessante.
Mas, algum tempo depois, ela conheceu
Ver��nica, que veio morar com ela quando
Helena foi viver com um rapaz por quem
se apaixonara.
Ver��nica revelou suas verdadeiras inten-
����es pouco depois que se mudara.
Edna estava dormindo, quando sentiu a
m��o que a acariciava. Abriu os olhos e viu
que era sua nova companheira de aparta-
mento.
64
No in��cio ficou meio chocada e evitou o
contato. Mas Ver��nica insistiu.
Ent��o deixou que ela lhe acariciasse o
bra��o e depois os seios. Em seguida, sentiu
sua boca vindo de encontro �� s u a . . .
Sempre �� procura de novas emo����es, per-
mitiu que Ver��nica seguisse adiante em
oUu.. investidas amorosas. Era uma sensa-
����o diferente de todas as que experimen-
tara at�� aquele momento. Em pouco tem-
po, as duas mulheres estavam nuas e abra-
��adas na c a m a . . .
* * *
��� S�� lhe pe��o uma coisa, Ver��nica.
��� O que ��?
��� Que voc�� n��o se meta em minha vida.
��� Por que iria me meter?
��� Talvez voc�� queira impedir que eu te-
nha rela����es com homens. Eu tamb��m gos-
to deles. E n��o vou deix��-los por sua causa.
��� N��o estou te pedindo isso.
6 5
��� Mas �� que voc�� morando a q u i . . .
��� N��o se preocupe, minha querida. Eu
tamb��m tenho meus outros programas, que
n��o vou deixar. N �� o gosto de exclusivi-
dades.
Mas as coisas n��o correram t��o tranq��i-
las assim. Ver��nica come��ou a se introme-
ter no romance de Edna com Gilberto.
Este, nem de longe desconfiava das ver-
dadeira rela����es entre as duas mulheres.
Mas, de vez em quando, Edna, talvez
atormentada por n��o saber exatamente o
que queria, provocava brigas sem o menor
motivo.
Sentindo que estava se prendendo cada
vez mais a Ver��nica, julgou que isso fosse
talvez uma decorr��ncia do fato de estar can-
sada de Gilberto e procurou satisfazer-se
com outros homens.
Depois de uma semana sem ver Edna,
Gilberto, ap��s tomar um pileque. foi ao seu
apartamento e tocou a campainha.
66
Como vira luz acesa na janela, come��ou
a bater na porta com for��a, atraindo a
aten����o dos vizinhos.
A mo��a finalmente atendeu, com receio
de que o rapaz fizesse um esc��ndalo.
��� O que veio fazer aqui?
��� Voc�� est�� com outro a�� dentro.
��� N��o tenho que lhe dar satisfa����es.
��� Deixe entrar no apartamento.
��� N��o.
��� Quero ver quem est�� a�� ��� berrou Gil-
berto.
��� Se voc�� n��o for embora logo, eu cha-
mo a radiopatrulha ��� disse Edna, baten-
do a porta.
Mas no dia seguinte fizeram as pazes. No
entanto, uma semana depois Gilberto en-
controu Ver��nica sozinha.
��� Onde est�� Edna?
67
��� N��o sei.
��� Ela vai demorar?
��� T.amb��m n��o sei.
��� Eu tenho que encontrar com ela hoje
de qualquer maneira. Vou esperar.
Ver��nica, diabolicamente, resolveu abrir
o j o g o :
��� Por que n��o deixa Edna em paz?
��� Isso �� um assunto que s�� diz respeito
a mim e a ela.
��� E a m i m tamb��m.
Completamente aturdido, Gilberto ouviu
Ver��nica contar em detalhes o tipo de
"amizade" que mantinha com Edna.
Saiu do apartamento disposto a n��o vol-
tar a procurar a amante, mas n��o cumpriu
seu prop��sito.
Ao tornar a ver Edna falou abertamente:
68
��� Ver��nica me contou tudo.
��� A respeito de qu��?
____ Ela me disse o que existe entre voc��s .
duas.
��� E da��?
��� E da�� que n��o admito isso. Se voc��
estivesse de caso com outro homem, eu sa-
bia como agir. Mas com uma mulher, Ed-
na?! N��o sabia que voc�� era d i s s o . . .
��� Ent��o por que voc�� n��o some de mi-
nha vida?
T i v e r a m mais uma violenta discuss��o,
mas ainda n��o foi desta vez que termina- -
ram o romance que continuou durante mais
alguns meses, at�� que Gilberto resolveu
acabar definitivamente com tudo.
Agora, dez anos depois, Edna j�� o h a v i a
esquecido. Fora para a cama com tantos
homens! De Ver��nica ainda se lembrava,
69
pois. s�� mantivera rela����es ��ntimas com
mais duas m u l h e r e s . . .
***
��� Voc�� mora neste apartamento h�� mais
de dez anos? ��� perguntou Ademar.
��� Por que est�� me perguntando isso?
��� Porque se esse cara n��o te v�� desde
aquela ��poca e sabe o seu endere��o, �� por-
que voc�� j�� morava aqui.
��� N��o gosto de mudar de resid��ncia. A
mesma coisa n��o posso dizer com rela����o
aos homens ��� disse Edna, rindo.
Ademar tamb��m achou engra��ado. Afi-
nal de contas, o que os unia n��o era pro-
priamente amor.
Edna ainda era uma mulher desej��vel e
que tinha um apartamento onde podiam
transar. Como ele ganhava muito pouco e
n��o tinha condi����es para freq��entar ho-
t��is, mantinha o caso com Edna por como-
didade.
70
Achava-a meio louca, com aqueles cabe-
los eternamente despenteados e um g��nio
imprevis��vel. ��s vezes se cansava de suas'
brigas sem motivo, suas manias, mas pro-,
curava passar por cima. Dos males o me-
nor. Muito pior seria ficar sem mulher.
��� Voc�� gosta de mim?
O rapaz estranhou a pergunta da aman-
te:
��� Por que est�� querendo saber isso
agora?
��� Me deu vontade de saber.
��� Voc�� nunca quis saber antes.
��� Mas agora quero.
��� Se n��o gostasse, n��o vinha aqui todas
as vezes que voc�� me chama.
��� Isso n��o significa nada.
��� Que foi que deu em voc��? Ficou ro-
m��ntica de repente, depois que recebeu esta
carta?
71
Edna- compreendeu que o romantismo
n��o lhe ficava nada bem e chegou perto de
Ademar, come��ando a beijar-lhe os cabelos
do t��rax. Com a m��o abriu-lhe o fecho da
braguilha e levou-o para a cama.
72
CAP��TULO 7
A M O R A T O R M E N T A D O
Jussara sentiu que suas m��os tremiam,
quando leu o nome do remetente. Gilberto
fora o ��nico homem com quem tivera rela-
����es sexuais al��m do marido.
Sacudiu a cabe��a como se quisesse afu-
gentar os pensamentos. Mas n��o conseguiu
73
deixar de lembrar-se da loucura que fizera
quando ainda estava em lua-de-mel com
Fabiano.
Como fora t��o louca ao ponto de se tor-
nar amante de Gilberto? Depois dele, ape-
sar de todas as tenta����es, n��o tivera ne-
nhuma rela����o extraconjugal.
Criada dentro dos mais r��gidos princ��-
pios religiosos achava que a mulher devia
ser fiel ao marido custasse o que custasse.
A ��nica vez que infringira seu c��digo mo-
ral fora com Gilberto.
Com apenas quinze dias de casada com
Fabiano, sentia-se deprimida. O marido n��o
a satisfazia e o ato sexual por que tanto
esperara n��o passara de uma decep����o.
Ser�� que todos os homens seriam iguais
e ela nunca conseguiria sentir prazer na
cama?
Houve ent��o uma festa na casa de uma
amiga, �� qual comparecera com o marido.
Mas durante todo o tempo, ele n��o lhe
prestou a m��nima aten����o, preferindo fi-
car discutindo futebol com alguns conhe-
cidos.
74
Chateada, retirou-se para um canto do
jardim. (A amiga era uma das poucas pes-
soas privilegiadas no R i o de Janeiro que
ainda podiam morar numa casa ampla, com
jardim e tudo.)
��� O que est�� fazendo a�� sozinha?
Olhou em dire����o �� voz que lhe fizera a
pergunta.
N��o conhecia o rec��m-chegado e n��o gos-
tou da intimidade com que lhe falara.
Ao mesmo tempo examinou-o dos p��s ��
cabe��a.
Via �� sua frente um homem de trinta
anos mais ou menos, forte, bonito. Jussara
comparou-o com o marido e teve certeza de
que este sa��a perdendo. T e v e medo de que
o desconhecido descobrisse seus pensamen-
tos. O rapaz tornou a falar:
��� Desculpe te abordar assim, sem te co-
nhecer. Mas como sou amigo dos donos da
casa e estamos na mesma festa, n��o vi ne-
nhum mal em me dirigir a voc��. Para fa-
cilitar as coisas �� melhor dar alguns dados
a meu respeito. Meu nome �� Gilberto, te- P��g 75
nho trinta anos, um bom emprego, sa��de
perfeita e sou s o l t e i r o . . .
O jeito brincalh��o e descontra��do com
que ele falou fez com que Jussara se sen-
tisse mais �� vontade;
��� Eu me chamo Jussara, estou com vin-
te e dois anos e sou casada.
��� O que �� uma p e n a . . .
Jussara desta vez n��o gostou da maneira
como ele falara. Talvez porque no fundo
concordava com o que Gilberto acabara de
dizer. T a m b �� m achava uma pena que esti-
vesse casada, principalmente com Fabiano.
Seu casamento fora um erro, um grande
erro. N��o o amava, via isso agora clara-
mente.
Mas era tarde para qualquer arrependi-
mento. O erro era irrepar��vel. Estava irre-
mediavelmente presa a Fabiano para o res-
to da vida.
Gilberto continuou conversando. Jussara
n��o viu nenhum mal em permanecer ali
batendo papo com um desconhecido.
Afinal, n��o era nada demais. No m��xi-
mo, tratava-se de uma pequena vingan��a
76
inocente para com o marido, que falava so-
bre futebol com os amigos, completamen-
te esquecido da exist��ncia dela.
Outras pessoas se aproximaram, a con-
versa continuou normalmente e Jussara
pensou que todos os seus temores tinham
sido infundados.
Sem d��vida Gilberto n��o tinha segundas
inten����es (a constata����o deixou-a meio
frustrada).
No entanto, pouco antes de ir embora,
Gilberto deu um jeito de ficar novamente
a s��s com ela e entregou-lhe um cart��o:
��� A�� est�� meu telefone.
��� Pr�� qu��?
Jussara compreendeu que fizera uma
pergunta est��pida. Baixou os olhos enver-
gonhada.
Gilberto respondeu claramente:
��� Talvez voc�� queira se comunicar co-
migo qualquer dia.
Ela pegou o cart��o e teve a impress��o de
que ele queimava as pontas dos dedos.Ra
pidamente guardou-o na bolsa.
77
Durante alguns dias evitou abrir a bol-
sa onde guardara o cart��o. N �� o queria ce-
der �� tenta����o de ligar para Gilberto, mas
sabia que era isso a ��nica coisa que dese-
java na vida.
Cada vez mais odiava a hora em que Fa-
biano a procurava na cama. Submetia-se ��s
investidas do marido quase com asco.
Mas esfor��ava-se ao m��ximo para que ele
n��o desconfiasse de que n��o sentia nenhum
prazer.
N��o conseguia dormir direito, tinha pe-
sadelos e assustava-se �� toa.
- Finalmente resolveu dar fim ao cart��o.
Abriu a bolsa e quando o teve nas m��os
n��o resistiu ao impulso de dirigir-se ao te-
lefone.
N �� o havia ningu��m em casa. Era tudo
t��o simples. Bastava estirar o bra��o, pegar
o telefone e discar o n �� m e r o . . .
Fez tudo automaticamente. Ouviu o te-
lefone chamando do outro lado da linha e
pouco depois uma v o z :
��� Al��!
78
Jussara ficou em sil��ncio, absolutamen-
te incapaz de articular uma ��nica palavra.
��� A l �� ! A l �� ! ��� a voz repetia.
Ela criou coragem:
��� A l �� ! O Sr. Gilberto est��?
��� �� ele mesmo quem est�� falando.
O cora����o de Jussara parecia que ia sal-
tar :
��� Aqui �� Jussara.
��� Quem?
Ser�� que ele n��o se lembrava mais dela?
��� pensou, decepcionada:
��� Aquela mo��a da festa. . ,
��� Oi, como vai? Pensei que n��o ia ligar
mais. Por que demorou tanto em telefonar?
��� �� . . . �� que eu andei muito ocupada.
De repente, os dois n��o sabiam o que di-
zer. O sil��ncio durou alguns segundos.
Gilberto foi direto ao que interessava:
��� Quando a gente pode se encontrar?
��� B e m . . .
��� A m a n h �� eu vou sair do emprego mais
cedo. L�� pelas tr��s horas. Onde �� que pos-
so te apanhar?
79
Novamente Jussara n��o sabia o que fa-
lar:
��� E u . . .
��� Voc�� mora em Copacabana?
��� Moro.
��� Eu te apanho em frente ao cinema
Caruso, t�� legal?
��� ��s tr��s horas?
��� Est�� bom pra voc��?
��� Est��.
Quando Jussara desligou o telefone, tre-
mia dos p��s �� cabe��a.
Para ela tinha sido o m �� x i m o de ousa-
dia. Havia dado o passo mais ousado de to-
da a sua vida.
Gilberto estaria pensando que ela era
uma mulher f��cil? Por que fizera aquilo?
Passou o resto da tarde martirizando-se.
Estava verdadeiramente arrependida de ter
telefonado. T e v e receio de que o marido ao
chegar descobrisse em seu rosto a marca
da trai����o.
Mas que trai����o? Ela ainda n��o fizera
nada. Apenas dera um telefonema. E mar-
cara um encontro. Mas podia perfeitamen-
80
te n��o ir. Sim, era isso que faria. N��o iria
ao encontro.
Seu nervosismo foi aumentando �� medi-
da que as horas passavam. �� noite dormiu
muito mal. Tinha vontade de adormecer e
n��o acordar nunca. N �� o queria que o dia
seguinte chegasse.
Mas este chegou e as horas continuaram
a passar.
Fabiano foi para o trabalho, como sem-
pre. Ao meio-dia, ele almo��ou. ��s duas co-
me��ou a se vestir. Apesar de n��o querer ir
ao encontro, alguma for��a maior a impe-
l i a . . .
Gilberto encostou o carro na cal��ada:
��� Pensei que n��o viesse.
Jussara n��o respondeu nada e entrou no
carro, olhando para os lados, visivelmente
atemorizada de que algu��m a visse.
��� Para onde quer ir?
81
A mulher conseguiu responder:
��� Qualquer lugar.
Ele deu sa��da no autom��vel:
���- A que horas voc�� tem que voltar para
casa?
��� ��s seis.
Gilberto compreendeu que o di��logo ia
ser dif��cil.
Preferiu n��o dizer nada e conduzir o car-
ro diretamente para seu apartamento.
Ao chegar ao edif��cio onde morava, en-
trou na garagem e os dois desceram do au-
tom��vel.
Parecia que haviam feito um pacto de si-
l��ncio. Dirigiram-se �� portaria e tomaram
o elevador.
Ele notou que Jussara continuava com o
olhar assustado e sorriu divertido.
Entraram no apartamento e Gilberto, an-
tes de mais nada, ofereceu uma dose de u��s-
que �� mulher:
82
��� Nada melhor do que a bebi
desinibir um pouco.
��� Voc�� n��o trabalha o dia todo?
��� Trabalho. Mas o chefe �� camarada.
De vez em quando dou um jeito de sair
mais cedo. Mas somente em ocasi��es muito
especiais. N �� o goste de abusar.
E esta �� uma ocasi��o especial?
Ele encostou seu rosto no da mulher. Jus-
sara sentiu um calor invadir-lhe o corpo.
Procurou a boca de Gilberto e beijou-o com
sofreguid��o.
Toda a sua f��ria reprimida soltou-se com
viol��ncia. Agarrou-se ao rapaz e suas m��os
pareciam garras.
Depois afastou-se e pegou novamente o
copo de u��sque:
��� Eu n��o devia estar a q u i . . .
��� N��o quer beber mais um pouco?
Sem esperar resposta, Gilberto tornou, a
encher o copo da mulher.
��� Nunca fui para a cama com outro ho-
mem al��m do meu marido.
83
��� H�� quanto tempo voc��s est��o casados?
Jussara pensou em n��o responder, mas
disse:
��� H�� quase um m��s.
A revela����o pegou-o de surpresa. Ent��o
ela casara h�� t��o pouco tempo e j�� estava
sendo infiel?
��� Voc�� deve estar pensando o pior de
mim. Mas �� q u e . . . o meu casamento foi
um erro. Eu n��o c o n s i g o . . . quero d i z e r . . .
��� N��o precisa falar nada, Jussara. V o -
c�� est�� muito nervosa. Vamos, descontraia.
Beba mais um p o u c o . . .
As m��os do rapaz come��aram a acari-
ciar-lhe os cabelos.
Gilberto passou a l��ngua pela coxa bem
torneada de Jussara.
Aproximou o rosto de seu sexo e beiiou-o
com prazer. A mulher julgou que tivesse
sido tocada por uma corrente el��trica e se-
gurou-lhe os cabelos com for��a. P��g 84
No entanto, quando Gilberto procurou
penetr��-la. quis recuar:
��� N �� o . . .
Ele n��o lhe deu ouvidos. Agora n��o po-
dia mais refrear. T i n h a que possuir Jussa-
ra de qualquer maneira.
Ela o sentiu dentro de si com toda a sua
pot��ncia. O orgasmo n��o demorou a che-
gar.
Realmente, nem todos os homens eram
como seu marido e o prazer que sentiu foi
muito maior do que podia imaginar.
��� O que aconteceu hoje n��o vai se re-
petir.
Jussara estava realmente arrependida do
que fizera. Seu prop��sito de nunca mais
ver Gilberto �� sua frente era aut��ntico.
Enquanto pintava os l��bios com um ba-.
tom vermelho vivo, olhava-se no espelho e
se odiava.
��� Se quiser me encontrar de novo, j��
sabe, �� s�� telefonar ��� disse Gilberto, com
cinismo.
85
A mulher acabou de se maquilar. Gilber-
to permanecia deitado na cama sem nenhu-
ma roupa.
Sabia que Jussara n��o resistiria e volta-
ria ainda muitas vezes ao apartamento.
E foi o que na verdade aconteceu. Por
mais que lutasse consigo mesma, Jussara
continuou a encontr��-lo.
Mas a cada dia se atormentava mais. Ao
fim de um m��s, decidiu n��o tornar a v��-lo
e depois disso nunca mais traiu o marido.
Era evidente que n��o esquecera Gilber-
to. Lembrava-se daquele per��odo em que ti-
nha sido sua amante, como se fosse um pe-
sadelo. Nunca mais iria deixar-se vencer
pela lux��ria.
P o r que ele resolvera lhe tentar outra
vez depois de quase cinco anos?
Rasgou a carta-convite em mil pedaci-
nhos e atirou-os pela janela. Ficou olhan-
do-os durante algum tempo com express��o
angustiada.
O pior �� que mesmo tendo jogado fora
aquele maldito convite, ela sabia a data da
festa e o endere��o de Gilberto.
86
Seria preciso reunir toda a sua for��a de
vontade para resistir �� tenta����o.
Mas n��o podia fraquejar. Ela nunca mais
iria trair Fabiano. Se fosse �� festa, todos
aqueles anos de luta ��ntima teriam sido em
v��o.
87
CAPITULO 8
O I N �� C I O DA F E S T A
Gilberto estava nervoso, T i n h a comprado
bastante bebida e encomendado diversos
tipos de doces e salgadinhos.
Voltara do trabalho mais cedo e estava
impaciente para saber quais seriam as mu-
lheres que viriam �� festa.
88
Olhou o rel��gio. Oito horas da noite. Ain-
da estava cedo.
J�� havia bebido duas doses de u��sque e
encheu de novo o copo.
De repente, a campainha tocou e ele teve
um sobressalto. Qual seria a primeira a che-
gar?
Edna? Irene? Cec��lia?
Ao abrir a porta deparou-se com uma se-
nhora de seus cinq��enta anos.
Pela idade, compreendeu que s�� podia
ser Isabel, sua antiga professora de ingl��s.
Ficou um instante parado, olhando-a.
Como tinha mudado! N e m parecia a
mesma pessoa. Se passasse por ela na rua,
n��o a reconheceria.
Isabel notou sua perturba����o:
��� N �� o est�� me reconhecendo?
��� Claro que estou. A senhora �� . . .
��� Isabel. E voc�� deve ser meu antigo
aluno, Gilberto.
8 9
��� Fa��a o favor de entrar.
A mulher acompanhou Gilberto at�� 0 in-
terior do apartamento.
��� Voc�� era um garoto quando estudou
comigo. Sabe que fiquei muito espantada
quando recebi o convite?
��� No m��nimo pensou que eu era ma-
luco, n��o?
��� N��o. Apenas achei muito curioso. Que
motivos levariam uma pessoa a convidar
uma velha professora para uma festa, de-
pois de tantos anos?
Gilberto riu e perguntou se Isabel que-
ria comer ou beber alguma coisa.
Enquanto a servia, observava disfar��ada-
mente os estragos que o tempo lhe fizera.
Nada mais restava da professora bonita
que lhe despertara tanto desejo.
As rugas do rosto, o excesso de gordura,
a express��o de c a n s a �� o . . .
��� Sei que cheguei um pouco cedo para
a festa ��� justificou-se Isabel. ��� Mas �� que
acordo todos os dias ��s seis da manh�� e
90
preciso voltar logo pra casa. V i m apenas
porque tive vontade de ver um antigo alu-
no que n��o me esquecera.
��� A senhora lembrou-se de m i m quan-,
do recebeu o convite?
��� Posso ser sincera?
��� Mas claro!
��� Ensinando h�� mais de vinte anos e
tendo passado por m i m milhares de alunos,
�� l��gico que n��o podia saber quem era vo-
c��. Mas pode ficar certo que fiquei muito
gratificada com o convite. Na vida da gen-
te acontece t��o poucas coisas agrad��veis!
�� sempre bom saber que de uma maneira
ou de outra a gente �� lembrada por . al-.
gu��m.
Gilberto sentiu que sua mania de chocar
as pessoas era mais forte do que seu bom-
senso:
��� Sabe por que ainda me lembrava da
senhora, quando praticamente esqueci to-
dos os meus ex-professores?
91
Isabel voltou-se para ele, com vis��vel
curiosidade:
��� N��o tenho a m��nima id��ia.
��� Agora vou lhe fazer a mesma pergun-
ta qu�� me fez h�� pouco: posso ser absolu-
tamente sincero?
��� Claro que pode.
��� N��o vai ficar chocada?
A mulher riu:
��� Atualmente nada mais me choca.
��� Nem aborrecida?
��� Por que n��o fala logo de uma vez?
��� Pois bem: naquela ��poca eu tinha
quatorze anos e. . .
Gilberto hesitou. Isabel procurou dar-lhe
coragem:
��� N��o vai continuar?
��� Eu me apaixonei pela senhora perdi-
damente.
��� N��o brinca!
��� Achava-a muito bonita e sua presen-
��a alimentava minhas fantasias er��ticas.
��� Como eu n��o tinha pensado nisso an-
tes?! Afinal de contas, �� muito comum o
aluno se apaixonar pela p r o f e s s o r a . . .
92
O inesperado da revela����o, apesar de re-
conhecer que era um fato comum, fez com
que Isabel se sentisse feliz.
Em sua vida t��o cheia de trabalho e ..
amargura, aquilo n��o deixava de ser uma
recompensa.
��� Eu resolvi fazer uma brincadeira ho-
je, quando estou completando trinta e cin-
co anos ��� disse Gilberto. ��� Convidei to-
das as mulheres que mais me impressiona-
ram na vida. Afinal, estou na metade do
caminho. Se tiver sorte, posso chegar aos
setenta. Vi que estava na hora de fazer uma
revis��o e as reuni aqui em casa.
��� Ser�� que todas v��o comparecer?
��� Creio que n��o. Algumas n��o devem
nem ter recebido o convite.
��� S��o muitas?
��� Fiz uma sele����o rigorosa e convidei
apenas algumas.
��� Fico muito honrada em pertencer ao
grupo ��� disse Isabel, bem-humorada.
Realmente, n��o estava nem um pouco
arrependida de ter vindo.
93
Pensava, a princ��pio, em n��o demorar,
mas sentiu vontade de ficar at�� que che-
gassem as outras convidadas.
Gostaria de conhecer as mulheres que
haviam sido amadas por seu ex-aluno.
94
CAP��TULO 9
O F I M D A F E S T A
O tempo passava e nenhuma outra convi-
dada aparecia.
Gilberto j�� estava come��ando a ficar in-
tranq��ilo. Ser�� que sua festa ficaria limi-
tada apenas �� presen��a de Isabel?
95
De repente, sentiu o rid��culo da situa����o.
Ali estava ele sentado na sala, conver-
sando com uma velha ex-professora. N �� o
deixava de ser melanc��lico para um homem
que se julgava um grande conquistador.
O que teria acontecido com as outras?
Ser�� que nenhuma recebera o convite? Ou
n��o ligaram a m��nima import��ncia?
J�� estava ficando embara��ado diante de
Isabel.
E se ela pensasse que a festa n��o passa-
va de uma mentira de sua parte? Que aqui-
lo fora um pretexto para ficar a s��s com
ela?
N��o, Isabel nunca poderia pensar uma
coisa destas. Que interesse teria em ficar
sozinho com uma mulher de meia-idade, j��
beirando a velhice?
: D e repente , um a outr a id��i a diab��lic a
lhe ocorreu.
Sempre deve-se tirar proveito de todas as
situa����es, por piores que sejam, pensou.
96
E se enchesse a cara e fizesse com que
Isabel tomasse um pileque? Depois a leva-
ria para a cama e realizaria, com muitos
anos de atraso, o sonho de adolesc��ncia.
Era verdade que Isabel n��o tinha nada
a ver com a mulher de vinte anos atr��s.
Mas o que importava isso?
Se ficasse bastante b��bado poderia ima-
ginar que ela ainda era t��o bonita quanto
a n t e s . . .
��� Ser�� que as outras n��o v��m? ��� per-
guntou a mulher com certa timidez, olhan-
do o rel��gio.
Gilberto n��o precisou responder, pois a
campainha tocou exatamente naquele mo-
mento.
Ele dirigiu-se �� porta e surpreendeu-se
ao ver Irene. De todas, achava que era a
menos prov��vel que aparecesse.
��� Oi!
��� N��o esperava que voc�� viesse. P��g 97
A garota olhou-o com um ar meio diver-
tido e entrou no apartamento.
Gilberto apresentou-a a Isabel. As duas
examinaram-se mutuamente.
A professora estava surpresa diante da
garota que acabava de chegar e que n��o
devia ter mais de dezessete anos.
Quanto a Irene, ficou imaginando quem
seria aquela senhora gorda e concluiu que
devia ser uma tia do ex-amante.
��� A festa ainda n��o come��ou? ��� per-
guntou Irene.
��� N��o �� propriamente uma festa ��� des-
culpou-se Gilberto. ��� Trata-se apenas de
uma pequena reuni��o. Convidei somente as
pessoas mais ��ntimas. Ainda n��o chegou
todo mundo.
O rapaz foi at��- a eletrola e mudou o dis-
co, colocando outro de m��sica jovem, a fim
de agradar Irene.
A situa����o estava mais embara��osa do
que antes. P��g 98
Felizmente, a campainha voltou a tocar
e Gilberto foi atender com a esperan��a re-
novada.
Edna atirou-se c m seus bra��os quando ele
abriu a porta:
��� Gilberto, quanto tempo!
Ele notou que E d n a pouco m u d a r a .
Estava um tanto mais velha, sem d��vi-
da, mas sua apar��ncia era quase a mesma.
Os cabelos despenteados, um vestido super-
colorido e o mesmo jeito espalhafatoso e
descontra��do.
��� Voc�� n��o mudou nada.
��� E voc�� est�� mais bonito ainda do que
naquela ��poca.
Gilberto levou-a" at�� a sala e apresen-
tou-a ��s outras duas.
Edna sentou-se no sof�� e s�� ent��o lem-
brou-se de entregar-lhe o embrulho que ti-
nha na m �� o :
��� Meu Deus, eu sou mesmo muito lou-
99
ca! T o m e seu presente. J�� ia me esquecen-do de entregar. Era capaz de voltar para
casa com ele.
O rapaz desembrulhou o presente. Tra-
tava-se de um disco de Roberto Carlos.
Isabel e Irene ficaram meio encabuladas
porque n��o haviam trazido nada.
A primeira porque n��o podia fazer gas-
tos sup��rfluos e a segunda porque simples-
mente n��o se lembrara de comprar. Desde
o in��cio pensara que o convite n��o passava
de um pretexto para uma reconcilia����o.
Com a presen��a de Edna, o ambiente tor-
nou-se mais animado. Ela falava sem pa-
rar, sem dar a palavra a ningu��m.
N��o se importou nem um pouco, com a
presen��a das outras duas e dizia tudo que
lhe vinha �� cabe��a.
Relembrou in��meros epis��dios ��ntimos
que tivera com Gilberto e relatou tudo que
lhe havia acontecido durante aquele tem-
po que ficara sem v��-lo.
Mais ou menos ��s nove e meia, vendo que
talvez n��o chegasse mais ningu��m, Isabel
despediu-se:
100
��� Est�� na hora de ir embora.
��� J��? ��� protestou Gilberto.
��� Como te disse, tenho que acordar mui-
to cedo todos os dias e moro longe.
��� N��o quer ficar at�� o fim? Depois eu
posso te levar em casa.
��� N��o �� preciso. Estou de carro. Eu te-
nho um velho Fusca. �� o ��nico luxo que
at�� hoje consegui me permitir.
Isabel falou com as outras mulheres e
Gilberto foi lev��-la at�� a porta:
��� Agora que j�� sabe o caminho, pode
aparecer quando quiser.
Gilberto voltou para a sala.
Edna conversava com Irene que j�� n��o
conseguia disfar��ar seu mau-humor: viera
certa de que n��o ia encontrar mais nin-
gu��m e que Gilberto iria lhe suplicar que
voltasse para ele.
Observando-a, o rapaz achou que n��o
custava nada procurar vingar-se de Irene.
Aproximou-se de Edna e come��ou a dan-
��ar com ela, beij ando-a e fazendo-lhe di-
versas car��cias.
101
Irene foi at�� a janela e odiou-se por ter
comparecido.
Afinal de contas, o que estava fazendo
ali? N��o conseguiu conter a raiva:
��� Por que voc�� me convidou para vir
aqui hoje?
Gilberto parou de dan��ar:
��� Voc�� n��o est�� se divertindo?
��� Claro que n��o. O melhor mesmo �� ir
embora. N �� o sei por que fui t��o idiota em
ter v i n d o . . .
Edna olhou-a com vontade de rir:
��� Por que est�� t��o nervosa, minha que-
rida?
Irene n��o deu resposta e saiu intempes-
tivamente do apartamento sem despedir-se.
��� O que deu na menina? ��� quis saber
Edna.
��� Deve ter ficado com ci��mes de voc��.
��� De mim?
��� Sim. Eu tive um caso com ela. Aca-
bamos h�� duas semanas. Sem d��vida pen-
sou que eu estava querendo fazer as pazes.
102
Gilberto ent��o contou a Edna que resol-
vera dar aquela festa convidando todas as
mulheres que j�� tinha amado.
��� E s�� vieram tr��s? ��� perguntou Edna
espantada.
��� Pra voc�� ver. As outras n��o tomaram
conhecimento.
��� Talvez tenha sido melhor assim. Po-
demos aproveitar o fato de estarmos sozi-
nhos . . .
Naquela mesma noite dormiram juntos.
Foram se deitar de pileque, mas mesmo
assim Gilberto possuiu Edna duas vezes se-
guidas, como nos velhos tempos.
No dia seguinte Gilberto n��o foi traba-
lhar. Acordou com uma dor-de-cabe��a mui-
to forte, devido ao excesso de bebida que
misturara na noite anterior.
Depois que Edna foi embora, vestiu um
cal����o e foi �� praia curar a ressaca.
De certo modo, sua festa de anivers��rio
tinha sido um grande fracasso.
103
Onde andariam as outras mulheres que
convidara? Por que n��o haviam compare-
cido?
O que teria sido feito de Cec��lia, Lia, Jus-
sara e Eunice? Jussara, ele sabia que n��o
teria comparecido mesmo.
Mas as outras tr��s? N��o era poss��vel que
todas tivessem se mudado.
Pelo menos Eunice, tinha certeza de que
continuava morando no mesmo lugar.
Provavelmente, mesmo que ainda se re-
cordassem dele, tinham agora outros inte-
resses.
Que import��ncia teria para elas o ani-
vers��rio de um ex-amante?
E depois, o tempo passa, as coisas mu-
dam. Quase ningu��m se prende ao passado.
Ele era um dos poucos rom��nticos que
ainda restavam e que se lembravam de
amores perdidos.
Apesar dos comprimidos que havia toma-
do, a cabe��a continuava doendo.
Deu mais alguns mergulhos e voltou pa-
ra casa, a fim de dormir um pouco.
104
Da dor-de-cabe��a poderia melhorar, mas
aquela ang��stia que estava sentindo sabia
que ainda ia permanecer por muito tempo...
105
CAPITULO 10
V I S I T A I N E S P E R A D A
A campainha tocou v��rias vezes com in-
sist��ncia. Gilberto acordou meio atordoa-
do. Quem seria?
Viu que ainda n��o eram seis horas da
tarde.
106
Como estava nu, enrolou uma toalha na
cintura e foi abrir a porta.
Quase perdeu os sentidos, quando viu Ce-
c��lia :
��� Voc��!?
��� Por que tanto espanto?
��� Era a ��ltima pessoa que eu podia es-
perar.
��� Desculpe n��o ter podido vir ontem.
A mulher entrou no apartamento.
��� Quer dizer que voc�� recebeu o con-
vite?
��� Recebi, mas n��o deu pra vir.
��� Por qu��?
��� Voc�� sabe que estou casada. In��cio,
meu marido, encontrou sua carta e fez uma
cena de ci��mes. Ontem voltou para casa
mais cedo e eu n��o pude escapar. Hoje re-
solvi dar um pulo at�� aqui. Pensei que tal-
vez a esta hora voc�� j�� tivesse voltado do
trabalho. Tive s o r t e . . .
��� Hoje n��o fui trabalhar. A ressaca n��o
deixou.
Cec��lia abriu a bolsa e entregou-lhe um
pequeno embrulho.
107
��� O que �� isso?
��� Um presente pra voc��.
��� Que id��ia!
��� N��o quer?
Gilberto apanhou o presente. Era uma
pulseira com seu nome gravado:
��� Pensei que n��o quisesse mais me ver.
��� Por qu��?
��� Talvez tivesse raiva de mim.
��� Que b o b a g e m ! . . .
��� Bem, podemos fazer uma pequena
festa particular. Sobrou muita comida e be-
bida de ontem.
��� Eu n��o tenho muito tempo. Devo vol-
tar ��s sete horas. Lembre-se que estou sob
vigil��ncia. N �� o conv��m que In��cio n��o me
encontre ao chegar em casa.
�� evidente que Gilberto logo pensou que
Cec��lia o procurara porque queria voltar a
fazer sexo com ele.
Achou inclusive muito bom que n��o ti-
vesse comparecido �� festa. Agora estavam
sozinhos e tudo seria melhor.
Aproximou-se da mulher e tentou bei-
j��-la. Ela, por��m, recuou:
108
��� N��o, Gilberto.
��� N��o !?
��� �� perigoso.
��� Voc�� mesmo n��o disse que basta che-
gar em casa ��s sete? Ainda temos quase
uma hora. Por que n��o aproveitar?
��� As coisas n��o s��o t��o simples assim.
��� Seu marido n��o vai desconfiar de na-
da ��� insistiu o rapaz.
��� O problema n��o �� propriamente este.
Acontece que eu te amei muito. Voc�� sabe
disso. T e n h o medo de ter rela����es contigo
de novo. Queria apenas te ver, saber como.
voc�� est��, mais nada.
��� T e m certeza disso?
��� Tenho. Eu estou bem casada. In��cio
me ama. J�� passei da idade de me deixar
levar por aventuras que n��o conduzem a
nada.
Gilberto n��o insistiu mais. Compreendeu
que precisava respeitar os sentimentos de
Cec��lia.
Contentou-se em conversar com a mu-
lher durante mais de meia hora, apenas co-
mo bons amigos.
109
Depois que Cec��lia foi embora, novamen-
te sentiu-se s��.
Sua visita viera apenas confirmar o que
pensara naquela manh��: cada uma de suas
antigas amantes tinha constru��do sua pr��-
pria vida e n��o havia mais lugar para ele.
110
CAP��TULO 11
V O L T A D A S F �� R I A S
Eunice voltou de suas f��rias na Bahia
muito bem disposta e queimada de praia.
Sua m��e foi esper��-la no aeroporto e
ficou feliz com a apar��ncia saud��vel da
filha.
111
Mais uma vez teve certeza de que agira
corretamente n��o enviando-lhe a carta-
convite que Gilberto endere��ara a ela.
��� Voc�� est�� com uma cor linda!
��� As praias de Salvador s��o sensacio-
nais ��� disse Eunice com entusiasmo.
Durante o trajeto para casa, Eunice con-
tou como haviam sido as f��rias. N �� o espe-
rara que fosse se divertir tanto.
Quando chegaram em casa, Dona Teresa
entregou-lhe a carta, dizendo que n��o ti-
nha enviado para a filha, a fim de n��o per-
turbar seu descanso.
Eunice abriu o envelope e viu que a car-
ta estava datada de vinte dias antes. De-
pois mostrou-se �� m��e, que estava curiosa
de saber do que se tratava.
��� Por que raz��o ele queria que voc�� fos-
se ao seu anivers��rio? Ser�� que estava que-
rendo uma reaproxima����o?
��� De qualquer jeito foi melhor assim ���
respondeu Eunice.
N��o pretendia mais tornar a encontrar-se
com Gilberto.
112
Durante muito tempo esperara que ele a
procurasse. Mas depois havia desistido.
Gilberto brincara demais com seus sen-
timentos.
No entanto, durante o resto do dia n��o
pensou em outra coisa.
Por mais que se recusasse a reconhecer,
ainda o amava.
Lembrava-se perfeitamente da ��ltima vez
que o vira h�� pouco mais de um a n o . . .
* * *
Gilberto sentou-se na cama e acendeu um
cigarro. Eunice cobriu seu corpo nu com
um len��ol.
Apesar de ser amante do rapaz h�� v��rios
meses, ainda tinha um certo pudor.
��� Tenho pensado muito na nossa situa-
����o, Gilberto.
��� Que situa����o.
��� Eu n��o nasci pra isso.
��� N��o estou entendendo o que quer di-
zer.
��� Sempre tive vontade de casar, ter fi-
lhos, levar uma vida normal.
113
Ele levantou-se, visivelmente irritado:
��� Por que voc��s mulheres t��m essa id��ia
fixa de casamento? Ser�� que n��o sabem
pensar em outra coisa? �� engra��ado: vo-
c��s falam tanto em liberdade sexual, n��o
querem ser objetos, lutam para serem iguais
aos homens em tudo, mas no fim o que de-
sejam mesmo �� serem sustentadas por al-
gum bobo que termina caindo em suas ar-
madilhas.
��� N��o precisa ser grosseiro.
��� Eu n��o vou casar nunca. Acho isso
uma grande tolice. O casamento �� uma ins-
titui����o falida.
��� N��o concordo contigo.
��� Certa vez eu gostei muito de uma
garota. Lia era parecida contigo. Eu tinha
as melhores inten����es e pretendia at�� ca-
sar. Mas espontaneamente, de livre vonta-
de. Nunca for��ado. Acontece que ela resol-
veu fazer jogo sujo. Como era virgem, disse
que eu s�� a teria se casasse. A eterna chan-
tagem. Sabe o que fiz? Simplesmente deixei
de encontr��-la.
114
Eunice saiu da cama e come��ou a se ves-
tir.
Estava determinada a nunca mais voltar
��quele apartamento. Sentiu que n��o signi-
ficava absolutamente nada para Gilberto.
Precisava refazer sua vida, esquec��-lo.
N��o queria continuar sendo apenas, mais
uma amante do rapaz.
��� J�� vai embora?
��� Vou.
��� Ficou aborrecida comigo?
��� Bem, Gilberto, a verdade �� que n��o
posso continuar nesta situa����o. N �� o sou
uma garota de programa, que voc�� chama
pra vir dormir contigo quando est�� com
vontade. Eu sou exclusivista, ciumenta, e
quero algu��m que goste s�� de mim, o que
n��o �� o seu caso, evidentemente.
Ela acabou de se arrumar e acrescentou,
antes de sair:
��� N �� o me telefone mais.
��� Est�� falando s��rio?
��� Estou. Tchau!
��� Tchau!
115
Eunice deixou o apartamento de Gilber-
to prestes a chorar.
Mas conteve-se. Era melhor assim. Se
continuasse, iria sofrer muito mais.
J�� haviam brigado v��rias vezes, quase
sempre pelo mesmo motivo e ela sempre
voltava.
Mas agora estava determinada a n��o v��-
lo outra vez.
Apesar de tudo, esperou que ele a pro-
curasse, mas isso n��o aconteceu. Esquecer
Gilberto foi muito mais dif��cil do que es-
perava . . .
L o g o depois pediu f��rias no emprego e
viajou para a Bahia.
Tinha alguns parentes l�� e achou que as-
sim poderia deixar de pensar em Gilberto.
Em Salvador, come��ou a namorar um pri-
mo, mas o caso n��o foi adiante. Achou-o
enfadonho e provinciano demais. O oposto
de Gilberto. Viu que tamb��m n��o era aqui-
lo que queria.
De volta ao R i o , continuou se correspon-
dendo com o primo, mas depois soube que
ele noivara com outra em sua cidade.
116
Agora tornara a ir passar as f��rias na
Bahia, aliviada por estar livre de qualquer
compromisso com o tal primo.
J�� n��o tinha esperan��a de voltar a gos-
tar de algu��m como gostara de Gilberto.
-117
CAP��TULO 12
U M A LEVE ESPERAN��A
Era um s��bado �� tarde. Gilbertou sen-
tou-se num bar qualquer da Avenida Atl��n-
tica.
Pediu um chopinho e ficou observando
as garotas que passavam.
118
N��o sabia o que estava acontecendo com ;
ele, mas parecia que tinha perdido a sorte
com as mulheres.
Entediado, pagou a conta e saiu do bar.
Andou pela Avenida Copacabana sem sa-
ber para onde ir.
Avistou uma garota bonita num ponto
de ��nibus e parou ao seu lado.
A mo��a permaneceu s��ria, ignorando sua
presen��a.
Quando ia abord��-la, ela fez sinal p��ra
um ��nibus e tomou a condu����o.
O rapaz ainda ficou algum tempo para-
do e depois recome��ou a andar.
Viu a multid��o que sa��a de um cinema.
Estava olhando distraidamente as pes-
soas, quando de repente avistou um rosto
conhecido. Eunice n��o o vira, mas ele ten-
tou alcan����-la.
��� Eunice! ��� gritou.
A mo��a virou-se:
��� Gilberto!
Ela n��o gostou de sua pr��pria rea����o.
Sem querer, havia demonstrado a maior
alegria em v��-lo.
119
��� Como �� que voc�� vai? No m��s passa-
do lhe mandei um convite, mas creio que
voc�� n��o recebeu.
��� Recebi, sim. S�� que com algumas se-
manas de atraso.
��� Pensei que os servi��os dos Correios ti-
vessem melhorado.
��� N��o culpe os Correios. A carta chegou
pontualmente. Eu �� que n��o estava no R i o .
Passei as f��rias na Bahia e s�� quando che-
guei �� que recebi a carta.
��� Pra onde vai agora?
��� Pra casa.
��� N��o quer tomar alguma coisa comigo
num bar? Ou tem algum compromisso?
Eunice pensou em n��o aceitar. Mas esta-
va t��o contente em ver Gilberto de novo!
Afinal, n��o se pode guardar rancor de
uma pessoa pelo resto da vida.
��� N��o tenho nenhum compromisso.
��� Ent��o aceita meu convite?
��� Claro.
Entraram no primeiro bar que encontra-
ram.
120
Gilberto examinava-a cuidadosamente:
Eunice estava mais bonita do que nunca.
Os olhos l��mpidos, brilhantes, o decote mos-
trando-lhe parte dos seios. A pele queimada
de praia.
��� Voc�� est�� cada vez mais bonita.
��� Bondade sua.
��� Ainda guarda algum ressentimento de
mim?
Ela n��o respondeu l o g o :
��� B e m . . . eu te amei, Gilberto. Foi mui-
to dif��cil te esquecer. Mas n��o tenho raiva
de voc��.
��� Eu sei que por baixo de minha capa
de bom mo��o, n��o passo de um cafajeste.
��� N��o precisa ser t��o rigoroso c o m i g o
mesmo.
��� Nunca me preocupei com os sentimen-
tos das outras pessoas. Mas de algum tem-
po pra c�� tenho a impress��o de que estou
mudando.
Eunice viu renascer uma leve esperan��a.
Olhando-o agora, bem de perto, compreen-
deu que continuava a am��-lo.
121
Durante aquele tempo em que passara
sem v��-lo, fizera todos os esfor��os para es-
quec��-lo. Mas nenhum outro homem con-
seguiu inspirar-lhe nada.
O rapaz teve vontade de convid��-la para
ir ao seu apartamento, mas n��o teve cora-
gem de faz��-lo. N��o podia se dar o direito
de ferir Eunice novamente.
No entanto, durante a conversa, colocou
sua m��o sobre a dela e Eunice d e i x o u . . .
122
EP��LOGO
"EU T E A M O A S S I M M E S M O
Eunice entrou no apartamento onde ju-
rara nunca mais, p��r os p��s.
Sua atra����o por Gilberto era maior do
que nunca. Havia tamb��m agora a espe-
ran��a de que ele tivesse se modificado.
123
O rapaz segurou-lhe o rosto com carinho
e beijou-lhe a boca.
Eunice sentiu que estava irremediavel-
mente presa a ele.
Deixou-se levar para a cama sem a me-
nor relut��ncia.
H�� quanto tempo esperava voltar a ser
possu��da por Gilberto!
Ele tirou-lhe a roupa pe��a por pe��a e bei-
java cada parte de seu corpo, �� medida que
ia sendo descoberta.
Depois, alisou os p��los ��midos de seu
sexo. Eunice puxou-o para si com for��a, fa-
zendo-o com que ele a penetrasse:
��� Eu te a m o . . .
Ent��o, pela primeira vez, ouviu-o mur-
murar :
��� Eu tamb��m te amo, Eunice.
* * *
124
Os dois ficaram na cama abra��ados. Os
corpos saciados, experimentavam uma paz
que h�� muito n��o tinham.
��� Voc�� teve algum outro homem duran-
te esse tempo?
��� N��o, Gilberto.
��� N��o precisa mentir. Pode dizer a ver-
dade. Afinal de contas, n��s j�� t��nhamos
acabado.
��� N��o estou mentindo. N��o tive nin-
gu��m.
Ele tornou a beij��-la:
��� Sabe que voc�� vai terminar conse-
guindo o que sempre quis?
��� N��o v�� me dizer que est�� com inten-
����o de. . .
��� Estou sim. Sinto que estou precisan-
do arranjar uma companheira para o resto
da vida. Ando cansado de aventuras. A
maioria das mulheres me causa um t��dio
125
insuport��vel. V a i ver estou come��ando a ficar velho.
Gilberto deitou-se por cima de Eunice,
disposto a possu��-la outra v e z . . .
* * *
Danilo parou a motocicleta em frente ao
edif��cio e Irene saltou.
��� N��o quer mesmo me encontrar logo
mais? ��� perguntou o rapaz.
��� N��o.
��� Ent��o amanh�� na praia ��s dez, t�� le-
gal?
Danilo disparou em sua moto e quase na
esquina ainda se virou para acenar para a
garota.
Irene correspondeu e, em vez de entrar
no pr��dio onde morava, andou em dire����o
contr��ria �� do namorado.
H�� v��rios dias que sentia um desejo
imenso de tornar a procurar Gilberto.
126
Pegou um t��xi e foi direto ao apartamen-
to dele.
J�� estava cansada de Danilo. Fizera pou-
co de Gilberto, debochara de sua idade, mas
na verdade achava-o muito mais homem do
que os garot��es com quem costumava tran-
sar.
* * *
��� Est�� esperando algu��m? ��� perguntou
Eunice ao ouvir a campainha tocar.
��� N��o.
��� N��o vai atender?
��� Pra qu��?
��� Pode ser alguma coisa importante.
Gilberto levantou-se da cama a contra-
gosto e foi ver quem era.
��� Oi, Gilberto, tudo bem?
Ele olhou para Irene, contrariado:
��� Estou ocupado, gatinha. V�� procurar
seu garot��o surfista.
127
��� Eu n��o quero mais nada com ele. Eu
quero voc��.
Eunice veio at�� a sala.
Irene, ao v��-la, compreendeu que a ��nica
coisa que tinha a fazer era dar o fora.
Assim que ela foi embora, Gilberto fe-
chou a porta e Eunice perguntou:
��� Quem �� a menina?
��� Uma de minhas ex-amantes. N��o se
conforma porque n��o quero mais nada com
ela.
��� Voc�� n��o p r e s t a . . .
Gilberto julgou que Eunice fosse come-
��ar a brigar. No entanto, teve uma surpre-
sa ao ouvi-la acrescentar:
��� Mas eu te amo assim mesmo.
F I M
128.
ESTE LIVRO FOI DIGITALIZADO EM 2019 POR
LEANDRO MEDEIROS PARA ATENDER AOS
DEFICIENTES VISUAIS.
Gilberto é um solteirão. Ele mora na zona sul do Rio. Ele já teve várias garotas durante sua vida.
Hoje ele está completando trinta e cinco anos. Acabou um romance com uma jovem de dezessete anos.
Sentado em sua poltrona ele decide fazer um estranho convite.
Lançamento :
a)https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/solivroscomsinopses
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Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais e como forma de acesso e divulgação para todos.
Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras
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