sexta-feira, 15 de novembro de 2019 By: Fred

{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO : PARA TODA VIDA - ANNE MATHER - FORMATOS: PDF, RTF, EPUB E TXT

PARA TODA

A VIDA



Querida leitora,

Anne Mather escreve romances h��

muitos anos. Quando os Romances Nova

Cultural foram lan��ados, h�� mais de

vinte anos, ela j�� era uma escritora

consagrada. �� uma das minhas autoras

preferidas. As hist��rias dela s��o

fant��sticas, muito rom��nticas... Ela

descreve como ningu��m as emo����es de

uma mulher apaixonada, e os enredos que

ela cria s��o ricos e interessantes. As

paisagens, ent��o, nem se fala! Esta

hist��ria se passa numa ilha do Caribe!

Voc�� pode imaginar um lugar mais

maravilhoso para viver uma grande

paix��o?

Patr��cia Garcez

Editora



Anne Mather

PARA TODA

A VIDA



Copyright �� 2000 by Anne Mather

Originalmente publicado em 2000

pela Harlequin Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra.

Todos os direitos reservados, inclusive o direito de

reprodu����o total ou parcial, sob qualquer forma.

Esta edi����o �� publicada atrav��s de contrato com a

Harlequin Mills & Boon Ltd.

Esta edi����o �� publicada por acordo com a

Harlequin Mills & Boon Ltd.

Todos os personagens desta obra s��o fict��cios.

Qualquer semelhan��a com pessoas vivas ou mortas

ter�� sido mera coincid��ncia.

T��tulo original: Ali Night Long

Tradu����o: S��lvia L��cia Sardo

Editor: Janice Florido

Chefe de Arte: Ana Suely S. Dob��n

Paginador: Nair Fernandes da Silva

EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Rua Paes Leme, 524 - 10s andar

CEP: 05424-010 - S��o Paulo - Brasil

Copyright para a l��ngua portuguesa: 2001

EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Fotocomposi����o: Editora Nova Cultural Ltda.

Impress��o e acabamento: Gr��fica C��rculo





CAP��TULO I

homem estava olhando para ela...

Alline remexeu-se na banqueta do bar e des-

viou a aten����o para o copo alto �� sua frente. Embora tivesse

ido at�� ali com a inten����o confessa de flertar com o primeiro

homem atraente que aparecesse, a realidade era mais cons-

trangedora do que imaginara. Ele olhava na dire����o dela, sim,

mas poderia estar observando alguma coisa por sobre seu om-

bro. Ou podia estar simplesmente com o olhar perdido no es-

pa��o! Rapazes como ele n��o perdiam tempo com mulheres di-

vorciadas de meia-idade, principalmente quando a mulher em

quest��o parecia t��o pouco �� vontade.

Suspirando, Alline permitiu-se outro olhar furtivo. Dessa

vez os olhares se encontraram e, sentindo o rosto arder, ela

desviou rapidamente o seu.

Meu Deus, pensou, bebendo um gole refor��ado da vodca com

t��nica. Ele estava olhando para ela! Mas por qu��? Estaria

pensando que era uma turista rica? N��o com as roupas e bi-

juterias simples que estava usando.

Alline respirou fundo. O problema era que n��o estava acos-

tumada ��quele tipo de coisa. Fazia vinte anos que deixara de

ser um membro ativo do clube das solteiras e n��o tinha mais a

menor id��ia de como se comportar numa situa����o como aquela.

A bem da verdade, ficara satisfeita com sua apar��ncia, ao mirar-se

no espelho, no hall dos elevadores. Mas n��o tinha ilus��es. Os

cabelos castanhos curtos real��ados com luzes douradas e o corpo

que fugia aos padr��es atuais de top-model n��o eram fonte de

inspira����o de fantasias er��ticas para nenhum homem. Ela era,

ou melhor, fora, esposa e m��e por tanto tempo que era dif��cil, e

estranho, ver-se como uma mulher livre e atraente, outra vez.

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PARA T O D A A V I D A

Contudo, era por isso que estava l��. Por isso, passaria a

noite naquele hotel luxuoso, no Aeroporto Heathrow. Na manh��

seguinte seguiria para Nassau, e depois para a pequena ilha

de San Cristobal. As f��rias seriam a oportunidade de fugir,

pelo menos por algumas semanas, do sofrimento e da humi-

lha����o que enfrentara no ano anterior.

�� por uma noite, num hotel de luxo, onde n��o conhecia

ningu��m e onde ningu��m a conhecia, Alline decidira fazer algo

que nunca fizera antes.

Ent��o, por que tanta timidez diante do aparente interesse

de um homem, de um estranho? Ela nunca mais o veria, depois daquela noite. Al��m do mais, o rapaz era bem mais jovem do

que ela. Talvez estivesse apenas curioso. Alline se sentia ex-

tremamente deslocada, e com certeza ele percebera isso e per-

guntava-se o que ela fazia sozinha, num bar.

��� �� sua?

Alline se assustou.

Era ele. Absorta, tentando encontrar raz��es pelas quais o

rapaz n��o devia estar interessado nela, n��o notara que ele se levantara e ocupara a banqueta a seu lado. Sorriu timidamente.

��� Est�� esperando seu marido?

Marido! Alline conteve a vontade de rir. Teria sido uma risada hist��rica, e ela n��o tinha inten����o de expor-se diante

de um homem atraente e sofisticado como aquele.

��� N��o ��� respondeu num tom de voz que esperava que

fosse firme e convincente. ��� N��o estou esperando meu marido.

��� Ent��o, posso oferecer-lhe um drinque? ��� Com a cabe��a,

ele apontou o copo quase vazio. ��� Vodca?

Alline conteve-se para n��o arregalar os olhos de espanto.

��� Eu... por que... n��o... ��� balbuciou. ��� Bem, �� muita gen-

tileza, mas...

��� Mas voc�� n��o me conhece ��� ele a socorreu num tom suave.

��� Bem, isso �� f��cil de ser remediado. Meu nome �� Raul. E o seu?

Alline hesitou. Raul. Era um nome bonito. M��sculo.

��� Hum... Diana ��� disse ela, escolhendo um nome ao acaso.

��� Diana... Morrison.

��� Ol��, Diana. ��� Os l��bios dele se curvaram num sorriso

encantador. ��� E ent��o? Aceita um drinque, Diana?

A espontaneidade dele cativou-a. Inclinando levemente a

cabe��a, ela esbo��ou um sorriso.

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P A R A T O D A A V I D A

��� Por que n��o? Obrigada.

Com um gesto discreto, ele chamou o gar��om e pediu mais

uma vodca com t��nica e um u��sque com gelo. Prestando aten����o

no sotaque do rapaz, Alline tentava descobrir a nacionalidade dele.

N��o era ingl��s, com certeza. Mas tamb��m n��o parecia americano.

Sotaque atraente, ela pensou. Mas n��o era s�� o sotaque. Ele tamb��m era muito charmoso. Um dos homens mais charmosos

que ela j�� conhecera. A pele morena e as fei����es aquilinas lhe

emprestavam um leve ar de severidade. Mas as Unhas da boca

n��o eram severas. Tinham, ao contr��rio, tra��os bem-humorados

e sensuais, e os cabelos pretos sugeriam uma poss��vel ascen-

d��ncia latina.

De repente, Alline sentiu uma ponta de remorso por ter

permitido que ele lhe oferecesse uma bebida. Nem se lembrava

mais da ��ltima vez que outro homem que n��o fosse Jeff lhe

oferecera um drinque. Ela n��o sabia o que despertara o inte-

resse do rapaz, mas a verdade era que ele n��o disfar��ava esse

interesse, e isso a preocupava. Temia ser inexperiente demais

para saber como lidar com a situa����o.

O que sabia a respeito dos homens, afinal? Muito pouco.

Assim que terminara o colegial, ela se casara com Jeff e, du-

rante dezoito anos, dedicara-se exclusivamente ao lar e aos

filhos g��meos, sempre incentivando o marido, primeiro nos tem-

pos de estudante, depois como professor universit��rio. Nunca

tivera tempo para mais nada.

O barman voltara com as bebidas, e Raul empurrou o copo na dire����o dela.

��� Seu drinque ��� disse ele.

Alline levou o copo aos l��bios. Talvez, depois de mais duas

ou tr��s doses, ela se sentisse menos nervosa. Os olhares se

encontraram por sobre a borda do copo, e ela obrigou-se a n��o

desviar o seu.

Mas por pouco tempo.

��� Espero que esteja do seu gosto.

O coment��rio aparentemente banal despertou-a. Sem per-

ceber, estremecera ao beber quase todo o drinque de um s��

gole. Rapidamente, pousou o copo no balc��o.

��� Est�� ��timo. ��� Seus dedos nervosos brincaram com o

porta-copos.

��� Que bom. ��� Ele tamb��m deixou o copo, os olhos negros

fixos nela. Alline corou. ��� Eu a deixo nervosa?

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PARA T O D A A V I D A

Ela respirou com dificuldade.

��� Por que deixaria? ��� A indigna����o emprestava-lhe um

tom mais confiante.

Raul encolheu os ombros.

��� Talvez porque eu tenha a impress��o de que voc�� n��o

est�� acostumada a... bem, a fazer isso.

��� A conversar com homens em bares? ��� Alline conteve o

impulso de confirmar as suspeitas dele e afastar-se rapida-

mente. ��� N��o, n��o estou. E voc��?

��� Acostumado a conversar com homens em bares? ��� ele

repetiu com ar inocente. ��� Decididamente, n��o.

��� Voc�� entendeu. Acho voc�� est�� ca��oando de mim!

��� N��o, n��o estou. ��� Vendo o olhar incr��dulo dela, acres-

centou: ��� Bem, pode ser. S�� um pouco. ��� Ele sorriu meio

arrependido, enquanto pegava o copo. ��� S�� estava tentando

faz��-la relaxar.

��� Perguntando se estou nervosa? J�� estou bem consciente,

sem que me fa��a sentir-me pior.

Depois de beber mais um gole, Raul tornou a deixar o copo

sobre o balc��o. Com o movimento, o punho de sua jaqueta de

couro ro��ou sensualmente no bra��o de Alline. O toque invo-

lunt��rio provocou nela um arrepio na espinha. A jaqueta era

de couro preto, como os cabelos dele, e por baixo, a camiseta

tamb��m preta delineava os m��sculos r��gidos do abd��men.

Alline prendeu a respira����o. Jeff jamais sonharia em vestir

roupas t��o casuais, �� noite. Escolheria um terno escuro, pro-

vavelmente Armani, e um sobretudo de tweed Harris, de prefer��ncia. De repente, ela se deu conta de que, nos ��ltimos

tempos, o ex-marido s�� se vestia com roupas degriffes famosas.

Suspirando, tratou de afastar tais pensamentos. N��o queria

se aborrecer, nem estragar a noite.

De qualquer forma, Raul estava muito elegante de jeans e

jaqueta de couro, muito mais do que Jeff com suas roupas de

griffe. E, sem d��vida, as roupas dele tamb��m eram de boa

qualidade.

��� Diga-me... Voc�� j�� est�� bem consciente do qu��? ��� ele

perguntou, arrancando-a do exame meticuloso sobre a apar��n-

cia dele. ��� N��o h�� nada para voc�� se conscientizar.

��� N��o? ��� A voz saiu quase estridente. ��� Bem, como voc��

mesmo notou, n��o estou acostumada a esta... esta cena.

P A R A T O D A A V I D A

��� Que cena?

��� Esta. ��� Alline permitiu-se fit��-lo por um momento, depois

estendeu o olhar, abrangendo todo o sal��o. ��� Sozinha em um

bar, aceitando um drinque de um estranho.

��� N��o somos totalmente estranhos. ��� A express��o dele

era s��ria, mas Alline juraria que ele estava se divertindo. ���

J�� nos apresentamos.

��� Sim, n��s mesmos nos apresentamos. N��o �� a mesma coisa.

��� Tudo bem, pode n��o ser a mesma coisa, mas �� uma rea-

lidade. Voc�� n��o pode fingir que n��o nos conhecemos, depois

de ter bebido metade do drinque que lhe ofereci!

Alline franziu a testa.

��� O que est�� querendo dizer?

��� Nada. Olhe, desculpe se a deixei constrangida, sim? N��o foi

minha inten����o. Eu s�� queria conhec��-la melhor, e foi tolice minha

acreditar que seria mais f��cil se brincasse um pouco com voc��.

��� Ele ergueu as m��os espalmadas. ��� �� ��bvio que me enganei.

Alline sentiu uma ponta de remorso. Ela n��o quisera ofend��-lo,

e a culpa n��o era dele se ela perdera o jeito para lidar com o

sexo oposto. A culpa era toda dela. Dedicara-se tanto, e por tanto

tempo, a Jeff, inclusive permitindo que ele controlasse sua vida,

que se esquecera de como era divertir-se descontraidamente.

��� Desculpe-me ��� ela murmurou, um pouco surpresa por

Raul ainda n��o ter desistido. Certamente n��o faltariam mu-

lheres mais jovens e desacompanhadas, no bar. Lan��ando um

r��pido olhar ao redor, Alline juraria que todos comentavam o

fato de um homem como Raul ter se engra��ado com ela. ���

Acho que sou muito velha para isso.

Raul estreitou os olhos escuros.

��� Voc�� n��o �� velha. ��� Ele sorriu ante a express��o de in-

credulidade dela. ��� �� s��rio. Voc�� pode ter o qu��? Trinta e

dois, trinta e tr��s? N��o �� velha, acredite.

Alline torceu o nariz.

��� Que maneira mais sutil de perguntar a minha idade!

Mas n��o se preocupe, n��o tenho vergonha de dizer. Tenho

trinta e oito anos. Quase trinta e nove. J�� estou na meia-idade.

Ele balan��ou a cabe��a num gesto de reprova����o.

��� Por que insiste em desvalorizar-se? Eu n��o estava exa-

gerando. Voc�� n��o aparenta a sua idade, por mais que queira

acreditar nisso.

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PARA T O D A A V I D A

��� Mesmo?

��� Mesmo. ��� Raul contemplou-a com um olhar extrema-

mente sensual. ��� Quem falou que voc�� est�� na meia-idade?

��� Foi Sam, minha filha. Acho que ela quis me fazer um elogio.

��� Voc�� tem uma filha?

Raul era gentil, mas cauteloso, e Alline preparou-se para ouvi-lo

perguntar sobre seu marido. Mas ele n��o tocou no assunto.

��� Bem, ��s vezes, as crian��as s��o muito... muito...

��� Sinceras? ��� ela sugeriu.

��� N��o. ��� De novo, o sorriso sedutor. ��� Eu ia dizer cru��is.

E t��m vis��o curta. S�� enxergam o que querem enxergar. Qual

a idade de Sam?

Tarde demais, Alline percebeu que mencionara o nome ver-

dadeiro da filha.

��� Vinte anos ��� revelou, um pouco relutante. Mas como

aquela conversa acabaria ali mesmo, naquele bar de hotel,

acrescentou: ��� Ela vai se casar no pr��ximo ano. Creio que j��

est�� me vendo como av��. ��� Sua express��o tornou-se mais

melanc��lica. ��� Suponho que ela esteja pensando que eu n��o

tenho mais nada para esperar da vida.

Novamente, ele balan��ou enfaticamente a cabe��a.

��� Essa �� a opini��o que voc�� mesma tem a seu respeito?

��� Ap��s uma breve pausa, ele perguntou: ��� Seu marido con-

corda com ela?

Alline comprimiu os l��bios.

��� O pai dela e eu estamos divorciados.

��� Ah!

A resposta t��pica! De repente, Alline sentiu-se tomada pela

mesma determina����o que a fizera comprar as passagem para

San Cristobal.

��� O que voc�� quer dizer com "Ah!"? ��� ela indagou num

tom alterado. ��� O fato de eu ser divorciada explica tudo? ��

o que voc�� estava pensando? Uma mulher desprezada, desilu-

dida e outras coisas do g��nero? Bem, deixe-me esclarecer. Estou

contente porque meu casamento acabou.

��� Se voc�� est�� dizendo...

��� Estou dizendo, sim. ��� Alline ressentia-se por ter de defen-

der-se diante de um desconhecido. ��� Agora, se me der licen��a...

Ela se levantou, por��m Raul a deteve.

��� Espere!

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PARA T O D A A V I D A

Ele segurou-a pelo pulso e o cora����o dela disparou.

��� N��o v�� ainda ��� ele pediu, os olhos negros ardentes e su-

plicantes. ��� Desculpe-me se a ofendi. N��o era minha inten����o.

��� Posso perguntar qual era a sua inten����o ao aproximar-se

de mim? ��� Alline investiu com firmeza. Percebendo que a

breve alterca����o provocava olhares curiosos, baixou o tom de

voz. ��� Por favor, solte-me. Tenho reserva no restaurante.

Raul suspirou.

��� Eu tamb��m.

Alline n��o se impressionou.

��� E da��?

Os dedos dele pressionavam intensamente as veias no lado

interno do pulso dela.

��� Podemos jantar juntos...

��� N��o.

��� Por que n��o? ��� Apesar da resist��ncia de Alline, ele con-

tinuava segurando-a pelo bra��o. ��� Estamos ambos sozinhos,

n��o estamos? Ent��o, por que n��o dividirmos a mesa?

��� N��o basta estar sozinha, �� preciso tamb��m ter vontade

��� Alline retrucou irritada. ��� E como sabe que estou sozinha?

Posso estar com... com outra pessoa. S�� porque sou divorciada...

��� Voc�� est�� com outra pessoa?

Havia ansiedade na voz dele, e ao encontrar aquele olhar

desconcertante, Alline sentiu sua resist��ncia abalar-se.

��� Eu... poderia estar.

��� Mas est��? ��� ele insistiu.

Alline respirou fundo e expirou ruidosamente.

��� N��o.

��� E ent��o? ��� Os dedos dele se afrouxaram ao redor do

pulso. ��� Posso convid��-la para jantar?

Alline encolheu os ombros.

��� N��o entendo o motivo de sua insist��ncia.

Raul sorriu.

��� Jogue na conta de minha idiossincrasia ��� ele disse, le-

vantando-se da banqueta. ��� Vamos?

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CAP��TULO II

Depois de cancelarem uma das reservas, Alline

e Raul foram conduzidos a uma mesa de can-

to, que lhes proporcionava uma certa privacidade.

Alline ainda n��o se sentia �� vontade, mas, olhando ao redor,

percebia que ningu��m estava interessado neles. Tentando acal-

mar-se, ela esfregou as m��os ��midas na saia.

��� Pare de olhar para os lados, como se estivesse com

medo de alguma coisa ��� Raul sussurrou, depois que o gar��om

colocou os card��pios sobre a mesa. ��� Voc�� est�� me deixando

complexado.

Alline revirou os olhos.

��� Est�� bem.

��� Desculpe, mas eu tinha que falar. N��o costumo impor

minha companhia ��s mulheres por quem me sinto atra��do.

Alline sentiu a boca seca. O galanteio inesperado descon-

certou-a, mas ela preferiu n��o demonstrar.

��� Aposto que n��o. ��� Ela tentava agir com mais esponta-

neidade. ��� Eu nunca estive aqui antes.

��� Onde? No aeroporto ou aqui no restaurante?

��� No restaurante ��� ela explicou. ��� Eu j�� embarquei em

Heathrow antes. N��s... isto ��... a fam��lia ��� emendou. ��� Fomos

para as ilhas gregas e para a Fl��rida.

��� Disneyworld?

Alline sorriu.

��� Sim. Ryan e Sam adoraram.

Ele franziu as sobrancelhas.

��� Ryan? Seria seu...

��� Meu filho ��� Alline apressou-se em esclarecer. ��� Ryan

e Sam s��o g��meos.

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PARA T O D A A V I D A

��� Entendo. ��� Ele se calou por um instante. ��� Ent��o, voc��

tem um casal de filhos?

��� Sim. ��� Ela mordeu o l��bio inferior. ��� Agora, voc�� j��

sabe tudo a meu respeito.

��� Nem tanto ��� ele murmurou, pensativo.

Alline n��o respondeu. Era imposs��vel n��o pensar que o fato

de ter dois filhos poderia torn��-la menos atraente aos olhos dele.

Que rid��culo, ela pensou. Afinal, por mais que Raul afirmasse o contr��rio, ela n��o acreditava que ele estivesse realmente

atra��do. Ela era uma novidade, s�� isso.

O gar��om se aproximou com a carta de vinhos. Depois, foi

a vez da escolha dos pratos. Tudo isso deu a Alline tempo para

organizar os pensamentos.

Ela percorreu os olhos pelo card��pio. N��o sabia o que es-

colher. Ultimamente andava sem apetite e s�� comia mesmo

para n��o preocupar Sam. Por fim, decidiu-se por sopa de as-

pargos e abacate com molho holand��s.

��� Voc�� �� vegetariana? ��� Raul n��o conteve a curiosidade.

��� N��o.

��� Mas prefere comida vegetariana.

��� �� que n��o estou com muita fome. ��� Suspirando, ela colocou

o card��pio fechado sobre a mesa. ��� O que voc�� vai comer?

��� Coisa simples. Salada e bife.

O gar��om serviu o vinho e anotou os pedidos. Alline tentava

relaxar, e com um copo de Chardonnay era bem mais f��cil. Depois

do segundo gole, teve coragem para fazer algumas perguntas.

��� Voc�� n��o �� ingl��s, ��?

��� Por que acha que n��o sou ingl��s?

��� Bem... ��� Alline n��o ousou mencionar a pele bronzeada

dele. Era pessoal demais. ��� Seu sotaque. N��o me parece brit��nico.

Raul sorriu. Os dentes alvos contrastavam com a pele morena.

��� Essa n��o! Eu pensava que meu ingl��s fosse perfeito!

��� Mas ��! S�� que, ��s vezes... ��� Ela se calou, depois deu de

ombros. ��� Desculpe. N��o �� da minha conta.

��� Por que n��o? ��� O olhar de Raul fixo em seus l��bios

provocaram p��nico em Alline. ��� N��o escondo de ningu��m que

moro no Caribe e que meus pais s��o hispano-americanos.

��� Ah, sim. ��� Alline bebeu um gole de vinho. ��� Estou indo

para o Caribe tamb��m. Amanh�� cedo. Para Nassau. N��o sei

se fica exatamente no Caribe.

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PARA T O D A A V I D A

��� N��o exatamente. Mas muito perto. ��� Ele tamb��m sorveu

um gole de vinho. ��� Voc�� est�� de f��rias?

Alline apertou os l��bios, arrependida de ter falado demais.

Mas era tarde.

��� Sim ��� admitiu meio a contragosto. De repente, sentiu ne-

cessidade de explicar que ela n��o era uma dessas pessoas tristes,

que passam f��rias sozinhas. ��� Vou ficar com uns amigos.

��� Em Nassau?

N��o, San Cristobal.

Mas ela n��o contestou.

��� Sim, Nassau ��� mentiu, olhando para o copo. ��� Voc�� j��

esteve l��?

��� Oh, sim. ��� Ele foi lac��nico. ��� Conhe��o todas as ilhas

do Caribe. Minha... isto ��, a empresa onde trabalho, aluga

barcos para viagens comerciais e particulares. Eu costumava

passar as f��rias trabalhando em escunas e veleiros.

��� Parece divertido.

��� �� divertido, sim ��� concordou Raul. ��� Embora ��rduo

tamb��m, principalmente quando enfrentamos mau tempo.

Alline arregalou os olhos.

��� Furac��es, voc�� quer dizer?

��� N��o. Nunca sa��mos quando as previs��es n��o s��o favor��-

veis. Mas se somos surpreendidos, e se tivermos turistas inex-

perientes a bordo, ent��o tratamos de atracar no primeiro peda��o

de terra que avistamos.

��� Entendo. ��� Alline sentiu-se rid��cula.

��� Isso n��o significa que n��o nos deparamos com uma tem-

pestade, esporadicamente. At�� mesmo no Caribe chove de vez

em quando.

Alline riu.

��� N��o muito, espero.

��� N��o. ��� Ele balan��ou negativamente a cabe��a. ��� Prin-

cipalmente nesta ��poca do ano. Acho que voc�� vai gostar de

deixar o inverno para tr��s.

��� Hum. ��� Ela relaxou de novo, antecipando o prazer de

passar janeiro e parte de fevereiro num clima quente. ��� Nunca

estive no Caribe.

��� Voc�� vai adorar ��� garantiu Raul, enquanto o gar��om

chegava com o jantar. ��� Muito sol, praias maravilhosas, mares

quentes e os melhores pratos de frutos do mar do mundo.

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P A R A T O D A A V I D A

Ela sorriu, servindo-se de sopa.

��� Ent��o, os vegetarianos n��o t��m vez!

��� N��o! ��� Os olhos dele brilhavam divertidos. ��� Voc�� acha

que estou exagerando?

��� N��o. Por que estaria?

��� �� mesmo. ��� Ele pegou uma garfada de salada verde.

��� Eu admito, n��o conseguiria viver em nenhum outro lugar.

Alline secou os l��bios com o guardanapo.

��� Voc�� estava passando f��rias na Inglaterra? ��� Ela se

surpreendeu com a facilidade com que as palavras flu��am. E

da��? Afinal, nunca mais o veria, e era muito agrad��vel con-

versar com ele.

��� Na verdade, vim a Londres a neg��cios. ��� Raul n��o parecia

ofendido com a pergunta. ��� Vim visitar o Sal��o de Barcos,

em Earl's Court. Voc�� conhece?

��� Conhe��o Earl's Court, mas nunca estive no Sal��o de Barcos.

Eu n��o moro em Londres ��� Alline explicou. ��� Moro no norte

da Inglaterra. Por isso, vou passar a noite aqui. N��o quis correr

o risco de chegar atrasada e perder o avi��o, amanh�� cedo.

��� Ah, sei. Ent��o, suas f��rias come��aram um dia antes.

��� Digamos que sim. ��� Surpresa, Alline percebeu que to-

mara toda a sopa. Conversando com Raul, esquecera-se de

todos os problemas que enfrentava com a falta de apetite. De

repente, at�� se arrependeu por n��o ter pedido um bife tamb��m.

Pousou a colher e bebeu um gole de vinho.

��� Tudo bem? ��� ele perguntou.

��� Tudo ��timo.

��� Que bom que voc�� est�� gostando.

��� Estou, sim. ��� Mais expansiva, acrescentou: ��� Para ser

sincera, eu n��o tenho tido muito apetite ultimamente. Desde...

desde... bem, desde toda essa confus��o.

Raul fitou-a com express��o compreensiva.

��� Desde o div��rcio? ��� ele arriscou num tom gentil, e Alline

confirmou com um gesto de cabe��a.

��� Foi t��o... horr��vel ��� afirmou ela, estremecendo, sem per-

ceber que o vinho a estava deixando mais descontra��da. ��� Ti-

vemos que vender a casa e mudar para outra menor. Sam e

Ryan est��o na faculdade, e eu tive que providenciar tudo sozinha.

��� Dif��cil, n��o? Seu ex-marido n��o poderia ter dado uma m��o?

��� Jeff? ��� Alline sorriu. ��� Ele foi para o Canad�� antes

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P A R A T O D A A V I D A

mesmo de assinarmos o div��rcio. Ele sempre quis viajar e se...

quando se casar com Kelly, provavelmente conseguir�� o pas-

saporte canadense.

Raul franziu o cenho.

��� O que seu marido faz?

��� Ele �� professor de biologia.

��� E essa mulher que voc�� mencionou �� professora tamb��m?

��� N��o... ela foi estudar na escola onde Jeff lecionava por

conta desse esquema de interc��mbio de alunos. Segundo ele,

foi amor �� primeira vista.

��� Voc�� n��o acredita?

��� Claro que acredito! ��� Ela o fitou com os olhos bem aber-

tos. ��� Ela �� bonita, loira, corpo bem-feito, o tipo de garota

que os homens acham irresist��vel. Pelo menos, os homens de

uma certa idade.

��� Eu n��o ��� Raul respondeu de imediato.

��� Voc�� n��o tem a idade de Jeff.

��� N��o preciso. ��� Raul observava-a com desconcertante in-

tensidade. ��� Eu jamais deixaria voc�� por mulher nenhuma.

Inclinando levemente a cabe��a para o lado, Alline riu.

��� Voc�� faz um bem incr��vel para o meu ego, sabia?

��� N��o estou falando nenhuma mentira.

��� Ah, n��o? ��� O rosto dela ficou rubro. ��� Agora sim, acho

que voc�� est�� exagerando.

Dessa vez, foi Raul quem revirou os olhos.

��� Voc�� est�� me criticando? Nunca que lhe disseram que

voc�� �� uma mulher muito atraente?

��� Recentemente, n��o ��� Alline admitiu com franqueza. ���

Quem �� voc��? Algum anjo guardi��o encarregado de confortar

mulheres solit��rias?

��� Meu nome �� Raul, n��o Gabriel ��� ele a lembrou, tornando

a encher os copos com vinho. ��� Acredite ou n��o, �� a primeira

vez que convido uma mulher a quem n��o conhecia, para jantar.

E estou adorando.

��� Eu tamb��m. ��� Alline baixou os olhos para o copo, sur-

presa com a pr��pria aud��cia. ��� Estou contente por voc�� ter

me convidado para jantar.

��� Eu tamb��m ��� afirmou ele, batendo levemente o copo no

dela. ��� A n��s.

��� A n��s ��� ela repetiu, intimamente lamentando terem

16

PARA T O D A A V I D A

apenas aquela noite para se conhecerem melhor e sentindo o

olhar intenso dele em seu rosto.

Os pratos principais tamb��m estavam deliciosos, embora Alline

mal percebesse o que estava comendo. No final, tudo de que se

lembrava era de Raul oferecendo-lhe um peda��o de bife. A inti-

midade de dividir a comida com ele dissipara toda a apreens��o.

Alline nunca se sentira t��o descontra��da ao lado de um ho-

mem. Nem mesmo com Jeff, que normalmente dominava a

conversa falando do trabalho dele, dos problemas dele. Olhando para tr��s, era obrigada a reconhecer que, apesar de sempre

ter acreditado que o casamento deles era perfeito, nunca exis-

tira a parceria, a cumplicidade que deveria existir entre um

casal. Durante anos, fora Jeff quem tomara todas as decis��es,

e como ela raramente protestava, ele acabara por acreditar

que ela n��o tinha opini��o pr��pria.

E Alline nem podia culp��-lo inteiramente por isso...

Ela dispensou a sobremesa e, em vez de continuarem ��

mesa, preferiram tomar caf�� na sala de estar. O gar��om mos-

trou uma mesa junto de um vaso com plantas tropicais. Ao

lado, havia duas poltronas e um sof��. Alline escolheu o sof��,

imaginando que Raul se sentaria em uma das poltronas.

Puro engano.

��� Importa-se? ��� perguntou Raul, sentando-se ao lado dela,

as pernas se ro��ando.

Ela conseguiu disfar��ar o constrangimento.

��� Absolutamente. ��� Era imposs��vel ignorar o impacto da

proximidade dele, ou a press��o de seu corpo sobre as almofadas.

��� Imagino que esteja hospedado no hotel tamb��m ��� ela

se apressou em dizer, para desviar a aten����o das pernas de

Raul, cruzadas sob a mesa.

Raul esperou at�� que o gar��om lhes servisse caf�� para responder:

��� D��cimo-quarto andar. E voc��?

��� Oh, eu estou aqui.

��� Sei disso. ��� Pelo olhar, ele deixava bem claro que ela

n��o o enganaria com subterf��gios. ��� Em que andar?

��� No primeiro... acho.

��� Voc�� n��o tem certeza?

Alline tinha. E n��o era no primeiro andar.

Fingindo-se de indignada, ela exclamou:

��� Claro que tenho!

17

P A R A T O D A A V I D A

Os olhos de Raul transmitiam perspic��cia.

��� Acontece que no primeiro andar ficam os escrit��rios, as

salas de confer��ncias, os sal��es de festa... ��� ele observou. ���

Se n��o quiser me dizer o n��mero do seu quarto, n��o faz mal.

Mas n��o precisa mentir, Diana.

Diana!

Alline sentiu remorso.

��� Eu... meu nome n��o �� Diana ��� ela confessou num fio

de voz. ��� �� Alline. Alline Sloan.

��� Sem brincadeira?

Raul n��o parecia surpreso com a revela����o, e ela o fitou

meio cautelosa.

��� Voc�� sabia?

��� Bem, se voc�� pretendia mentir sobre o andar...

��� Eu n��o estava exatamente mentindo.

��� N��o, claro que n��o. ��� Ele ergueu as sobrancelhas. ��� N��o

me diga que voc�� est�� acomodada em um dos sal��es de festa.

��� Tamb��m n��o precisa ser t��o sarc��stico! Se eu fosse melhor

nisso, n��o teria escolhido esse andar.

��� Voc�� preferia ser melhor na arte de mentir ��s pessoas?

��� A voz grave era simplesmente irresist��vel. ��� Eu lhe dei

motivos para suspeitar de mim?

��� N��o. ��� Com a ponta da l��ngua, ela umedeceu os l��bios,

num gesto involunt��rio de provoca����o. ��� Mas eu n��o sabia

disso quando voc�� se aproximou de mim, no bar.

Os olhos de Raul escureceram ainda mais.

��� E agora voc�� acha que me conhece melhor?

Ela estremeceu.

��� Bem... sim.

O sorriso dele confundiu-a, e antes que ela tivesse chance

de respirar, sentiu a m��o de Raul cobrindo a sua, no colo,

dispersando todos os seus pensamentos.

��� Fico feliz.

Alline estava consciente demais do toque da m��o dele em

sua perna, provocando ondas de calor que se espalhavam pelo

corpo todo.

��� N��o precisa ter medo de mim, Alline.

��� Eu n��o tenho.

As palavras sa��ram automaticamente, e ela n��o tinha tanta

certeza de acreditar nelas. Alguma coisa a prevenia de que

1 8

PARA T O D A A V I D A

Raul tamb��m n��o estava sendo completamente sincero. Mesmo

levando em conta sua imagina����o fantasiosa, era muito dif��cil

encontrar justificativa para tanta aten����o. Ela simplesmente n��o

era o tipo de mulher capaz de atrair um homem como ele, um

rapaz t��o jovem, e n��o tinha certeza do que ele esperava dela.

Sim, Raul era atraente, e a m��o dele em seu colo era forte e

m��scula. Fazia muito tempo que n��o sentia a m��o de um homem

em seu corpo. De repente, perguntou-se o que Raul diria se ela

confessasse que dormira apenas com um homem, em toda sua

vida. Os tempos eram outros, tudo mudara, e ela estava total-

mente desatualizada na quest��o de comportamento homem-mu-

lher. Apesar dos esfor��os da filha para reeduc��-la, nem mesmo

Sam imaginaria encontrar a m��e numa situa����o como aquela.

Sem d��vida, Sam ficaria chocada se a visse naquele mo-

mento. Uma coisa era discorrer sobre as conquistas sexuais

das mulheres modernas. Outra bem diferente era encarar o

fato de que a pr��pria m��e estava sexualmente envolvida

com outro homem, e mais jovem. Sam n��o aprovava o com-

portamento do pai, mas isso n��o significava que perdoaria

as transgress��es da m��e, ainda que em circunst��ncias to-

talmente diferentes.

Desvencilhando-se de Raul, Alline segurou a x��cara de caf��

com as duas m��os. Quase entornou o l��quido quando ele aca-

riciou-lhe a coxa. Ela sentiu o corpo mole e, de repente, uma

sensa����o de prazer invadiu-a.

Santo Deus!, ela pensou. Ser�� que esse homem sabe o que

est�� fazendo comigo? Ser�� que percebeu o quanto me sinto emo-

cionalmente carente?

��� Aceita outro drinque?

Para al��vio de Alline, Raul parou de acarici��-la, contentan-

do-se em apenas olh��-la. Os joelhos ainda se tocavam, e ela

se esfor��ou ao m��ximo para n��o afastar-se. Talvez outro drin-

que n��o fosse uma m�� id��ia. Ajudaria a acalmar os nervos

tensos e as batidas fren��ticas de seu cora����o.

��� Por que n��o? ��� Prometeu a si mesma que seria o ��ltimo

e que depois se despediria dele. Queria estar bem-disposta

pela manh��. Depois de todos os esfor��os de Suzanne, a ��ltima

coisa que queria era perder o v��o.

Raul chamou o gar��om e fez os pedidos de sempre. U��sque

para ele; vodca com t��nica para Alline. Ela suspirou desani-

1 9

PARA T O D A A V I D A

mada. At�� mesmo o drinque que ela escolhera era um clich��.

Por que n��o pedira champanhe ou spritzer?

Raul estendera o bra��o no encosto do sof��, e ela gostaria de

ter coragem para recostar-se, s�� para ver o que iria acontecer.

Mas continuou na beirada do assento, com os joelhos juntos.

O gar��om voltou com as bebidas. Alline pegou seu copo e sorveu

um longo gole. Certamente, um ��nico drinque n��o seria suficiente

para faz��-la relaxar. Estava tensa demais, consciente demais da

proximidade de Raul e da tenta����o que ele representava.

��� Como decidiu vir para as Bahamas? ��� ele perguntou,

bebericando um gole de u��sque.

��� Ah... voc�� sabe. ��� Alline encolheu os ombros, reorgani-

zando os pensamentos. ��� Sam achou que seria bom eu tirar

alguns dias de f��rias.

��� Sua filha?

��� Hum... ��� Ela sorriu. ��� Como eu disse, ela p��s na cabe��a

que deve cuidar de mim.

��� N��o me surpreendo. Voc�� passa isso para as pessoas.

��� Oh, n��o creio...

Para seu desespero, ela sentiu os dedos de Raul em sua nuca.

��� �� s��rio. Voc�� �� muito atraente, Alline. Realmente, �� uma

grande novidade encontrar uma mulher que insiste em depreciar-se.

Alline corou.

��� Voc�� est�� querendo me deixar sem gra��a ��� ela o acusou,

corando ainda mais. De novo, recorreu �� bebida. ��� Assim que

terminar meu drinque, vou me despedir.

Raul verificou a hora no rel��gio de pulso.

��� Ainda �� cedo.

��� Para voc��, talvez.

20





CAP��TULO III

Passava do meio-dia quando o avi��o pousou em

Nassau, no dia seguinte. Fazia muito calor, e

enquanto esperava a libera����o das bagagens, Alline tentava

manter o mesmo otimismo que sentira ao sair de Newcastle,

no dia anterior. Estava quase chegando ao destino. Segundo

Suzanne, o v��o de New Previdence a San Cristobal, onde ela

e o marido tinham um pequeno hotel, durava apenas alguns

minutos. Suzanne prometera mandar algu��m esper��-la no aero-

porto e conduzi-la at�� o avi��o que faria a ��ltima etapa da

viagem. Fora aquela sensa����o desagrad��vel, tudo estava cor-

rendo conforme os planos.

Tudo, n��o. Nada acontecera como o planejado desde que ela

permitira que Raul, se era esse realmente o nome dele, se

aproximasse dela no bar do hotel, na noite anterior. Suspirando,

lutava contra a terr��vel suspeita de que, afinal, aquelas f��rias

n��o tinham sido uma boa id��ia.

Pessimista, talvez, mas era assim que ela se sentia. Comporta-

ra-se de um modo totalmente irrespons��vel, totalmente imprudente,

e pela manh��, tudo o que desejara fora pegar o primeiro trem de

volta para casa. Ela n��o era o tipo de mulher que agia levianamente

sem o menor problema de consci��ncia. Esse comportamento fugia

completamente dos padr��es e do car��ter dela. Tremia s�� de pensar

na rea����o de Sam, se ela soubesse do acontecido.

N��o havia como Sam descobrir, e certamente, quando as

f��rias terminassem e ela voltasse para casa, o epis��dio j�� es-

taria esquecido. E se contasse a Suzanne, certamente a amiga

n��o a censuraria. Suzanne era uma mulher moderna, enquanto

Sam podia ser incrivelmente antiquada quando se tratava de

pessoas pr��ximas.

21

PARA T O D A A V I D A

��� Sra. Sloan?

Alline se voltou, deparando-se com um homem bronzeado, de

camisa de mangas curtas e short caqui. Mechas de cabelos brancos

escapavam sob o bon��, e o sorriso franco revelava dentes alvos.

��� Sim, sou a sra. Sloan.

��� Foi o que pensei. Suzy me disse para procurar uma mulher

alta e bonita, e ela n��o se enganou. ��� O homem tirou o bon��

e estendeu-lhe a m��o. ��� Mike Mclean ao seu dispor, sra. Sloan.

Estou aqui para lev��-la at�� Saint Chris.

��� Saint Chris? ��� Alline perguntou, apertando a m��o estendida.

��� San Cristobal ��� ele esclareceu. ��� Vamos pegar suas

malas para seguirmos viagem.

��� Minhas malas? ��� Ela se voltou para a esteira rolante

das bagagens. ��� Oh... sim. ��� Balan��ou a cabe��a, meio confusa.

��� Eu pensei... isto ��... Bem, eu pensei que o senhor estaria

me esperando l�� fora.

��� Com esse calor? ��� Mclean sorriu. ��� N��o. Al��m disso,

se passarmos juntos pela alf��ndega, ser�� muito mais r��pido.

��� Ele a viu inclinar-se em dire����o ��s malas. ��� S��o estas?

Mclean acomodou a bagagem num carrinho, e minutos de-

pois j�� estavam novamente na pista.

��� Por aqui ��� indicou ele. ��� Fez boa viagem?

��� Muito boa. ��� Alline n��o revelou que dormira quase todo

o tempo.

��� M��quinas maravilhosas, esses jatos modernos, n��o? Fazem

com que o meu pequeno Piper pare��a um brinquedo de crian��a.

��� Sempre sorrindo, ele a olhou rapidamente. ��� E por falar em

crian��as, Suzy me contou que a senhora tem duas.

��� N��o s��o mais propriamente crian��as ��� ela murmurou.

��� E o senhor tem filhos, sr. McLean?

��� Meu nome �� Mike ��� ele a lembrou. ��� N��o, n��o tive

essa alegria. Sou o que Suzy chama de um solteir��o velho e

enxerido. Mas eu n��o ligo.

Alline sorriu.

��� Que exagero! E por favor, chame-me de Alline. Sra. Sloan

lembra minha sogra. Isto ��, minha ex-sogra. Sou divorciada.

��� Eu sei. Suzy me contou ��� confessou Mike num tom de

voz solid��rio. ��� Olhe, voc�� fez muito bem em vir para c��.

Smuggler's Cove �� um lugar muito bonito.

��� Suzy garantiu que sim. Estou ansiosa para chegar, para

conhecer a ilha inteira. �� muito grande?

22

PARA T O D A A V I D A

��� N��o. Cerca de treze quil��metros de extens��o por oito de

largura. Suzy deve ter comentado a respeito da fam��lia Rami-

rez, propriet��ria de quase toda a ilha.

Alline lan��ou-lhe um olhar intrigado.

��� Por que ela comentaria sobre a fam��lia... Qual �� mesmo

o nome?

��� Ramirez. �� que J��lia vai se casar com o herdeiro dessa

fam��lia ��� Mike explicou com simplicidade, referindo-se �� filha

de Suzanne. Depois, ele apontou para o monomotor parado na

pista. ��� Eis meu orgulho e minha alegria. E n��o se preocupe.

Temos gelo a bordo. Aposto como voc�� est�� sonhando com uma

bebida gelada.

Mike correu na frente, e quando Alline parou ao lado do

pequeno Cherokee, ele j�� acomodara as malas no avi��o.

��� Seja bem-vinda ��� ele disse, ajudando-a a subir os poucos

degraus at�� a cabine. ��� Voc�� se sentir�� melhor depois que

decolarmos.

Era o que Alline esperava. A cal��a jeans e a camisa de

mangas compridas, finas demais para o frio de Londres, agora

estavam ��midas, grudadas �� pele. Tirara o casaco que usara

durante a viagem, mas ainda sentia calor. Deveria ter colocado

uma muda de roupa na bagagem de m��o, mas pela manh��

estivera ocupada demais para pensar em coisas t��o prosaicas.

Pela manh��...

Afastando o pensamento, sentou-se ao lado de Mike, beberi-

cando um refrigerante enquanto ele ajustava os fones de ouvido

e se preparava para a decolagem. Alline ouviu as instru����es vindas

da torre de controle, autorizando-o a taxiar para a pista.

��� Falta pouco ��� informou ele e, cobrindo o bocal com a

m��o, acrescentou: ��� Esse pessoal �� muito eficiente.

Alline concordou com um gesto de cabe��a. Nunca voara em

um avi��o t��o pequeno, e quanto Mike come��ou a taxiar em

dire����o �� cabeceira da pista, ela sentiu um frio no est��mago.

A velocidade foi aumentando e logo estavam no ar, rumo ao

azul do c��u. Nassau e a ilha New Previdence foram ficando para

tr��s, e o temores desapareceram. Mike estava absolutamente ��

vontade nos controles, e seu entusiasmo era contagiante.

��� Ali j�� �� San Cristobal? ��� Alline perguntou, minutos de-

pois, ao avistar uma ilha no horizonte.

��� N��o. Aquela �� Andros. �� a maior ilha do arquip��lago.

23

P A R A T O D A A V I D A

San Cristobal �� a menor. ��� Mike indicou um ponto abaixo,

no mar. ��� Est�� vendo aqueles recifes que contornam a ilha?

Vem gente do mundo inteiro para mergulhar aqui.

��� �� mesmo? ��� Encantada com a vista, Alline esqueceu as

preocupa����es. Eram dezenas de ilhas e embarca����es de todos

os tipos e tamanhos, espalhados como p��rolas pelo oceano.

Sentiu um calafrio na espinha. Talvez um daqueles barcos

pertencesse �� empresa para a qual Raul trabalhava. Ele dissera

que alugavam iates em toda a extens��o do Caribe. Estava arre-

pendida por n��o ter perguntado o nome da companhia, embora,

certamente, ele n��o o tivesse revelado. Um homem que dormia

com uma mulher e sa��a sorrateiramente antes do amanhecer

dificilmente teria a gentileza de deixar um cart��o de visita.

Alline apertou os l��bios. A culpa era toda sua. N��o havia o menor

motivo para culpar Raul. Permitira que ele lhe pagasse um drinque,

aceitara o convite para jantar. Depois, ela o convidara para um

ultimo drinque, precipitando os acontecimentos seguintes...

Estremeceu. Agora, era dif��cil acreditar no que acontecera.

Ela fizera todas aquelas coisas e muito mais. E de nada adian-

tava arrepender-se. Deveria ter pensado duas vezes.

Certo, fora uma tola, mas tamb��m estava incrivelmente vul-

ner��vel. Talvez Raul tivesse percebido que suas defesas eram

fr��geis demais para tanto charme. Apesar de mais jovem, ele

era muito mais experiente do que ela. E, de certa forma, ela o

encorajara. N��o intencionalmente, pensou, disfar��ando um sorriso.

Para ser absolutamente sincera, apesar de tudo, a experi��n-

cia fora boa. Na verdade, talvez por ter sido incrivelmente

gratificante, Alline se sentia agora t��o magoada, t��o confusa.

Mas o que ela esperava? Que acontecesse mais alguma coisa?

Que Raul jurasse amor eterno, alicer��ado em apenas uma boa

noite de sexo? Ora, Alline, n��o seja ing��nua!, recriminou-se em pensamento. Cres��a!

Mas ela n��o conseguia bloquear as lembran��as iniciadas no

momento em que chegaram �� porta do quarto, quando cometera

o erro de convid��-lo a entrar.

��� Eu... eu quero lhe agradecer novamente ��� ela come��ou,

enquanto procurava pelo cart��o-chave em sua bolsa. ��� Voc��

me salvou de uma longa noite de ansiedade. N��o estou acos-

tumada a viajar sozinha e estava um pouco apreensiva.

24

PARA T O D A A V I D A

��� Foi um prazer. ��� Raul tirou o cart��o magn��tico da m��o

dela, introduzindo-o na fechadura. A luz verde acendeu, e ele

sorriu. ��� Voc�� est�� entregue.

��� Obrigada. ��� Alline girou a ma��aneta e abriu a porta. Entrou

no quarto e olhou-o por sobre o ombro. ��� Hum... boa noite.

��� N��o esqueceu nada?

Alline estremeceu. Raul esperava um convite para entrar.

Por isso, oferecera-se para acompanh��-la. E convid��-lo para

um ��ltimo drinque seria a atitude mais natural do mundo.

Isso se ela tivesse mais autoconfian��a.

Mesmo assim...

��� Desculpe ��� murmurou sem olh��-lo, fingindo estar ocu-

pada em fechar a bolsa. ��� Eu... bem, eu deveria ter lhe per-

guntado. Aceita um drinque?

Rezando para ele n��o aceitar, obrigou-se a levantar a cabe��a

e encar��-lo. Enrubescendo, notou o cart��o magn��tico ainda na

m��o dele.

��� Um drinque? ��� ele repetiu, entregando-lhe o cart��o. Apa-

rentemente, n��o pretendia invadir a privacidade de Alline. ���

Bem, eu...

��� N��o precisa aceitar, se n��o quiser ��� ela se apressou em

interromp��-lo. Logo, por��m, percebeu que dissera a coisa er-

rada. Parecia que entenderia a recusa como uma ofensa. Como

se endossasse tal pensamento, Raul inclinou a cabe��a.

��� Por que n��o? ��� Os l��bios dele se curvaram. ��� Devemos

terminar a noite como come��amos. Aceito, sim.

Na penumbra, o quarto parecia ainda mais confort��vel e

aconchegante. A tens��o de Alline aumentou com aquele clima

de intimidade.

Raul entrou e fechou a porta. Lan��ando-lhe um olhar cheio

de p��nico, Alline jogou a bolsa sobre a cama e praticamente

correu at�� o frigobar. O ar gelado foi um b��lsamo para o rosto

ardente. Depois de um exame r��pido, encontrou o que procurava.

��� U��sque? ��� perguntou, retirando uma garrafa individual

da bebida. Fechou a porta da geladeira e encostou-se nela. ���

Infelizmente, parece que n��o temos cubos de gelo.

Parado no meio do quarto, Raul fitava-a com olhos brilhantes

e perscrutadores.

��� N��o, obrigada. Honestamente, creio que j�� bebi mais do

que devia. ��� Ele ergueu os ombros. ��� Mesmo assim, agrade��o

pelo convite.

25

P A R A T O D A A V I D A

Alline balan��ou a cabe��a. Agora que ele recusava a bebida,

ela se sentia estranhamente decepcionada.

��� Tudo bem.

Raul hesitou.

��� Se voc�� insiste...

��� Vou buscar o copo. ��� Mais uma fez, ela ficou na defensiva.

��� Com licen��a.

Havia copos no banheiro, lembrou-se com uma ponta de

al��vio. Passando por ele, e sem causar embara��os ou estragos,

chegou ao banheiro e acendeu a luz. Apesar do nervosismo,

conseguiu abrir a garrafa e dosar ��gua e u��sque no copo, sem

derramar uma gota.

Alline relutava em deixar a luminosidade impessoal do ba-

nheiro para voltar ao quarto discretamente iluminado. Parando

na porta, disse:

��� Aqui est��. ��� Estendeu o copo, obrigando Raul a aproxi-

mar-se da claridade vinda do banheiro, para peg��-lo. Imprimiu

uma nota de interesse na voz. ��� Espero que esteja de seu gosto.

��� Tenho certeza que est��. ��� Raul sorveu um gole e con-

firmou com um gesto de cabe��a. ��� Est�� ��timo. ��� Depois de

uma breve pausa, perguntou: ��� Voc�� est�� bem?

��� Por que n��o estaria? ��� Alline cruzou os bra��os. ��� Oh...

�� por eu n��o estar bebendo? Bem, eu tamb��m bebi mais do

que estou acostumada. Al��m disso, vou viajar amanh�� bem

cedo e n��o gostaria de perder a hora. Talvez seja melhor eu

pedir para me acordarem...

Era mais um murm��rio do que uma conversa, e Alline nem

chegou a surpreender-se quando Raul interrompeu-a.

��� �� melhor eu ir. Vejo que a deixo nervosa, e al��m disso,

�� tarde.

��� Oh, mas... ��� Ela umedeceu os l��bios. ��� Voc��... voc��

ainda n��o terminou o drinque.

��� N��o tem import��ncia.

��� Tem. ��� Nos olhos arredondados de Alline havia um brilho

de incerteza.

Raul contraiu os maxilares.

��� N��o. N��o me olhe assim. ��� Ele come��ou a andar em

dire����o �� porta. ��� Boa noite. Durma bem.

��� Espere! ��� Alline foi atr��s dele. ��� Eu n��o queria... isto

��, sinto muito se estraguei a noite.

26

PARA T O D A A V I D A

��� Voc�� n��o estragou. ��� Ele quase gritou as palavras. De-

pois, fitou-a com olhar atormentado. ��� Deixe-me ir, Alline

Sloan ou poderei fazer algo de que ambos nos arrependeremos.

��� Ele acariciou-lhe o rosto. ��� Voc�� �� muito doce, sabia? E

eu tenho idade suficiente para n��o perder a cabe��a.

Alline emitiu um murm��rio sentido.

��� Ah... Voc�� est�� insinuando que o convidei para... para...

��� N��o estou insinuando nada ��� murmurou Raul com voz

enrouquecida. E com um gemido abafado, inclinou a cabe��a e

ro��ou os l��bios nos dela.

��� Olhe! J�� podemos avistar San Cristobal!

A voz de Mike Mclean trouxe Alline de volta ao presente.

Suspirando, olhou para onde o piloto apontava.

��� Veja! �� aquela ilha em forma de rabo de peixe, a oeste

de Marlin Cay!

Alline n��o tinha a menor id��ia do que poderia ser Marlin Cay,

mas pela descri����o de Mike, reconheceu a ilha de San Cristobal.

��� Ah, sim! ��� exclamou, tentando demonstrar entusiasmo.

��� Quanto tempo falta para chegarmos?

��� Quinze minutos ��� informou ele com um sorriso largo.

��� Aposto que est�� ansiosa para rever Suzy. Ela disse que

voc��s se conhecem h�� muito tempo.

��� Isso mesmo.

��� Por que n��o veio visit��-la antes?

��� Bem... ��� Alline hesitou. ��� N��o foi poss��vel.

Ela omitiu o fato de Suzanne e Peter nunca terem simpatizado

muito com Jeff. Eles sempre o consideraram um aproveitador e

achavam que, no passado, ele a negligenciara. Claro que Alline

sempre defendera o marido. Se ela pudesse adivinhar...

Mike olhou-a com o canto dos olhos.

��� Entendo. Bem, tenho certeza de que suas f��rias ser��o

maravilhosas. Se precisar de um guia, pode contar comigo.

Alline sorriu agradecida.

��� Voc�� �� muito gentil.

��� Gentil, n��o. Estou apenas tirando proveito da situa����o. Se

bem conhe��o Suzy, ela lhe arranjar�� companhia antes mesmo

que voc�� se d�� conta disso. Estou apenas garantindo meus direitos.

O sorriso de Alline murchou. N��o queria saber de Suzanne,

nem de qualquer outra pessoa, "arranjando-lhe companhia".

27

P A R A T O D A A V I D A

N��o queria companhia. Depois dos acontecimentos da noite

anterior, t��o cedo n��o permitiria a aproxima����o de nenhum

outro homem. Deus, como aquilo pudera acontecer? Como pu-

dera ser t��o ing��nua?

Sua pele ardia s�� de lembrar do que sentira quando Raul

a beijara. A sensa����o de formigamento come��ara no momento

em que os l��bios dele tocaram os seus, espalhando-se pelo

corpo inteiro. Por alguns segundos, ela ficara paralisada, in-

capaz de mover-se, de falar, de pensar. Incapaz de tudo, na

verdade, consciente apenas do calor das m��os dele em seu

rosto e dos l��bios nos seus.

Alline deixou escapar um longo suspiro. Sim, deveria t��-lo afas-

tado, mas ficara t��o chocada com os pr��prios sentimentos que

bloqueara a mente para qualquer tentativa de rea����o. Queria que

ele continuasse. Queria que a beijasse. Queria que introduzisse a

l��ngua em sua boca e que se apossasse de todos os seus sentidos.

Rendera-se com muita facilidade, reconhecia agoniada. Sempre

recriminara mulheres que se aventuravam com homens mais

novos. E ela, que sempre se considerara imune a esse tipo de

tenta����o, incorrera no mesmo erro. Mesmo quando Jeff a deixara

por uma mulher bem mais jovem, sentira desprezo por aquilo

que encarava como uma tentativa de reconquistar a juventude

perdida. Nunca imaginara que cairia na mesma armadilha. Nunca

acreditara que ela pr��pria agiria da mesma forma.

Enquanto Mike contatava o aeroporto de San Cristobal, pe-

dindo instru����es para o pouso, Alline lutava para entender

como Raul conseguira, em t��o pouco tempo, faz��-la esquecer

a mulher que sempre acreditara ser para transformar-se numa

criatura ardente, governada pelos desejos e emo����es.

Comprimiu fortemente os l��bios. N��o podia fingir que n��o

sabia o que estava fazendo. Tamb��m n��o podia culp��-lo. Ela

se jogara com avidez nos bra��os dele, procurando por uma

louca satisfa����o que, instintivamente, sabia que somente ele

lhe proporcionaria.

C��us! O que Raul pensara dela? Quando a beijara, quando

segurara-lhe o queixo para olhar bem dentro de seus olhos? E o

que ele vira nas profundezas de seu olhar? Uma mulher t��mida

e assustada que, de repente, estava �� merc�� dos pr��prios sentidos,

ou uma fogosa mulher de programa, sem moral e sem pudor?

Alline balan��ou enfaticamente a cabe��a. Independente da

28

PARA T O D A A V I D A

conclus��o dele, ficara estupefata demais para tomar qualquer

atitude. Apenas deixara-se arrastar pelo fogo e pela intensidade

daquela atra����o sexual. Enfraquecida e impotente, vira suas

resist��ncias sendo tragadas pela for��a do desejo e das emo����es.

Lembrava-se de Raul ter mencionado alguma coisa como

"isto n��o deveria estar acontecendo". Mas com o dedo dele contornando seus l��bios, ela n��o fizera nenhuma tentativa para

descobrir o significado daquelas palavras. E como Raul n��o as

repetira, ficara por isso mesmo. Os l��bios dele foram persua-

sivos demais, tra��ando um caminho sensual pelo pesco��o, pela

curva do ombro, enquanto murmurava seu nome, muitas e

muitas vezes, com desesperada urg��ncia.

Talvez por esse motivo, Alline n��o tentara cont��-lo. Talvez,

a conscientiza����o de que aquele homem atraente estava t��o

embriagado pelas pr��prias emo����es quanto ela impedira-a de

recuar a tempo.

Por um instante, Alline sentiu um tremor nas pernas, o

mesmo que sentira naquele momento. A sensa����o de que os

ossos estavam se dissolvendo, de que as pernas estavam se

transformando em gel��ia. Com as m��os, Raul a acariciara no

pesco��o, deslizando depois pelo colo, sob o decote do vestido,

expondo a pele alva dos ombros.

Quase nem percebera quando, devagar, ele come��ara a abrir

o z��per, nas costas. De repente, o vestido preto ca��a num c��rculo,

ao redor de seus tornozelos. O mais curioso era que ela n��o

ficara embara��ada, s�� de calcinha e suti��, enquanto Raul con-

tinuava completamente vestido.

Alline passou a m��o pela testa coberta de pingos de suor.

Agora, sim, estava constrangida. Sem d��vida, bebera demais

na noite anterior. N��o encontrava outra explica����o para um

comportamento que ia totalmente contra seus princ��pios. N��o,

simplesmente n��o era esse tipo de mulher. At�� ent��o, sempre

vivera uma vida decente. Fazer sexo com um estranho, poucas

horas depois de conhec��-lo, era coisa de novela, de livros ro-

m��nticos, ou de uma mulher sem princ��pios. Ah, mas quando

Raul a tocara, quando a puxara de encontro ao corpo musculoso,

encantando-a com a boca sensual, ela perdera totalmente o

controle de sua vontade, de seus atos.

Alline n��o se conformava. Comportara-se como se estivesse

desesperada para fazer amor!

29

P A R A T O D A A V I D A

E Raul, por sua vez, n��o oferecera a menor obje����o. Pelo con-

tr��rio, parecia ter achado sua inexperi��ncia, sua ingenuidade,

seu... desespero... excitante. Diferentemente de Jeff, ele a levara consigo em cada passo do caminho. N��o poderia enganar-se, dizendo que pensara no ex-marido enquanto estava nos bra��os de

Raul. N��o havia a m��nima compara����o entre ambos.

Na verdade, Alline nunca vibrara tanto, nunca experimen-

tara tanto poder, tanta ternura, tanta paix��o. Sentira-se or-

gulhosa e assustada, ao mesmo tempo.

De novo, a voz de Mike sacudiu-a. Ele estava recebendo

autoriza����o para iniciar o pouso. Alline olhou pela janela. Tinha

que parar de pensar em Raul e em tudo o que acontecera na

noite anterior. Tinha de pensar apenas nos dias, nas semanas

inteiras, que teria para relaxar e fazer o que bem entendesse.

E agora que conseguira tirar Jeff de sua rotina, n��o poderia

permitir que um epis��dio imprudente lhe estragasse as f��rias.

Entretanto, as imagens dela e Raul juntos recusavam-se a

ser expulsas de sua mente. Eles tinham feito coisas que ela e

Jeff nem sequer tinham pensado em fazer, nem mesmo quando

eram rec��m-casados.

Nada disso, por��m, justificava seu comportamento da noite

anterior, pensou Alline com um suspiro. Fora para a cama

com Raul, arrebatada pelo desejo incontrol��vel. Dormira com

ele porque quisera, porque quisera agrad��-lo, satisfaz��-lo. E

esse era o ponto triste da hist��ria.

Ainda sob o encanto das emo����es desconhecidas, at�� ent��o

n��o se preocupara em refletir sobre o que era certo ou errado.

Quando Raul tirara a jaqueta e a gravata, ela se surpreendera

abrindo os bot��es da camisa dele, ��vida para despi-lo e toc��-lo.

E Raul n��o lhe dera tempo para d��vidas. Com a l��ngua,

tra��ara um caminho sensual que ia do queixo at�� a curva dos

seios. Depois, livrando-a do suti��, acariciou os mamilos enri-

jecidos, antes de mordisc��-los e sug��-los.

Alline n��o conseguia lembrar-se muito bem da seq����ncia,

mas de repente, estavam na cama, e ela o ajudava a tirar os

sapatos e a cal��a. Entretanto, lembrava-se perfeitamente que

Raul usava cueca branca de cetim, incapaz de disfar��ar a im-

pressionante pot��ncia de sua ere����o.

Tremeu s�� de lembrar da coragem que tivera ao baixar a

cueca, expondo o sexo dele aos seus olhos intoxicados.

30

PARA T O D A A V I D A

Intoxicados!

Alline levou a m��o �� boca para esconder o sorriso. Ela fora

intoxicada, sim. Intoxicada em v��rios sentidos.

E Raul, tamb��m fora intoxicado? Aparentemente sim, embora

Alline desconfiasse que ele n��o tinha plena consci��ncia dos seus

atos. Ainda podia senti-lo acariciando suas coxas e tirando-lhe a

calcinha. Depois disso, parecia que ambos tinham enlouquecido.

Ela conteve um gemido. Com uma ponta de amargura, n��o

p��de evitar de perguntar-se se os homens sentiam os mesmos

arrependimentos que as mulheres. Certamente, n��o. Afinal,

ele n��o confessara que nunca se sentira daquele modo, antes...

3 1





CAP��TULO IV

Oavi��o balan��ou levemente e Alline teve um

sobressalto.

��� Sinto muito ��� desculpou-se Mike. ��� Mas eu teria que

acord��-la de qualquer modo. Estamos quase aterrissando.

��� Eu n��o estava dormindo.

��� N��o? ��� Mike sorriu, n��o muito convencido. ��� �� que

voc�� estava com os olhos fechados...

��� Estou um pouco cansada. Acordei muito cedo.

S�� para descobrir que Raul partira. Tolamente, Alline es-

perara encontr��-lo a seu lado, ao acordar. Depois de terem

passado quase a noite inteira fazendo amor, ela imaginara

que, no m��nimo, ele teria alguma coisa para dizer-lhe. Nem

que fosse um simples adeus.

Enganara-se. Raul sa��ra enquanto ela dormia, deixando-a

com uma incr��vel sensa����o de vazio e abandono. Pensando

bem, n��o havia mais nada para ser dito, e Raul, certamente,

poupara a ambos o constrangimento de uma troca de palavras

sem muito sentido.

Apesar de tudo, ainda se perguntava para onde ele teria ido.

Chegara mesmo a acalentar a id��ia de que poderiam viajar no

mesmo avi��o. Por��m, n��o havia sinal de Raul no port��o de embarque.

Tentando afastar tais pensamentos, Alline se concentrou na

paisagem que ia se revelando, �� medida que o avi��o se aproximava

mais e mais da pista de pouso. Avistou uma faixa de asfalto com

um cinto de vegeta����o de um lado, e do outro, a praia de areia

branca inclinando-se em dire����o ao azul-esverdeado do mar.

Alline estava t��o encantada com a vista que s�� percebeu

que o avi��o j�� tocara o solo quando ouviu a voz de Mike.

��� Bem-vinda a San Cristobal ��� ele disse, saindo da pista

32

PARA T O D A A V I D A

e taxeando o avi��o. ��� Tenho certeza de que voc�� vai adorar

suas f��rias.

��� Assim espero. ��� Os olhos dela brilhavam admirados. ���

�� t��o bonito! Nem acredito que estou aqui.

��� Voc�� se acostuma. ��� Mike apontou para algumas pessoas

reunidas ao redor de um carro esporte convers��vel e de um

buggy. ��� Parece que voc�� tem um comit�� de recep����o. Aquele

�� o buggy de Suzy e carro pertence a Finisterre. Parece que o jovem Ramirez tamb��m chega hoje.

��� Finisterre? ��� Alline repetiu.

��� Sim. Finisterre. ��� Finalmente, ele estacionou o mono-

motor. ��� �� o nome com que Rodrigo Ramirez batizou sua

propriedade, h�� uns cem anos, mais ou menos. Pelo que se

conta, esse Rodrigo foi uma esp��cie de vil��o. Parece que n��o

tinha muito escr��pulos em estender as m��os a qualquer coisa

que lhe rendesse um bom dinheiro.

Alline ergueu as sobrancelhas, pensando no nome do lugar.

Smuggler's Cove, Enseada do Contrabandista.

��� Contrabando?

��� Entre outras coisas ��� confidenciou Mike. ��� Veja, a��

vem Suzy. Vou abrir a porta.

Removendo os fones de ouvido, ele desafivelou o cinto de se-

guran��a e foi para a parte traseira do avi��o. Alline fez o mesmo.

��� Ally! ��� Suzanne gritou, esperando impacientemente os

degraus baixarem. ��� Oh, Ally! Apare��a. Quero abra����-la.

Alline sentiu os olhos ��midos quando abra��ou a amiga. Pelo

menos, Suzanne n��o mudara. Continuava t��o calorosa e exu-

berante como sempre, embora estranhando v��-la de short, ca-

miseta e pele bronzeada. At�� mesmo os cabelos castanhos es-

tavam diferentes, com reflexos dourados, que emprestavam-lhe

um ar descontraidamente sofisticado.

��� Que bom rev��-la, Ally! J�� faz seis anos que estive na

Inglaterra.

��� Sete ��� Alline corrigiu-a, sorrindo entre l��grimas. ��� Oh,

Suzanne, senti tanto sua falta!

��� E eu a sua. ��� Suzanne voltou-se para a garota que se juntara

a elas. ��� J��lia, voc�� se lembra da minha amiga Alline, n��o?

��� Claro.

J��lia sorriu, mas sem olh��-las. Mantinha os olhos fixos no

horizonte. Suzanne fez uma careta.

33

P A R A T O D A A V I D A

��� N��o repare, Ally. Ela est�� esperando o namorado que

tamb��m est�� vindo da Inglaterra. Eu lhe contei que J��lia j��

est�� pensando em casar-se?

��� Bem...

Suzanne n��o lhe deu tempo para responder.

��� Voc�� n��o o encontrou, n��o ��? Eu pedi a ele para procur��-la

no aeroporto, mas suponho que foi loucura minha imaginar

que ele a encontraria naquela multid��o.

��� Eu... ��� Alline balan��ou a cabe��a. ��� N��o, eu... eu acho

que n��o. ��� N��o mesmo? Uma estranha intui����o apossou-se

dela. ��� Qual... qual �� o nome dele?

��� �� ele!

Ao grito de J��lia, todos olharam para o c��u, e Suzanne

apertou os ombros da filha.

��� Eu sabia que ele n��o ia demorar. ��� Em seguida, voltou-se

para Alline. ��� J��lia e Carlos, o filho mais novo dos Ramirez,

j�� est��o aqui esperando h�� mais de uma hora. O namorado

dela ficou dez dias fora, e como voc�� pode imaginar, J��lia est��

ansiosa para rev��-lo.

��� Entendo. ��� Alline percebeu o olhar impaciente de J��lia

para a m��e. ��� Mas voc�� n��o me disse o nome dele.

��� Vou ajud��-la com as malas ��� Mike interveio. ��� Posso

lev��-las para o buggy, Suzy?

��� N��o h�� necessidade ��� protestou Alline.

Acenando para um dos carregadores que conversava com o

jovem de pele bronzeada, provavelmente o futuro cunhado de

J��lia, Suzanne refor��ou as palavras de Alline.

��� Obrigada, Mike. Voc�� foi muito gentil.

��� Foi mesmo ��� Alline confirmou. ��� E a viagem foi muito

agrad��vel.

��� Bem, tenho certeza de que voc�� ter�� oportunidade de

agradecer-lhe novamente, Ally ��� Suzanne observou alegre-

mente. ��� Mike vir�� jantar conosco uma noite destas. N��o ��

mesmo, querido?

��� Ser�� um prazer ��� respondeu Mike.

Notando o olhar significativo trocado entre ambos, Alline

lembrou-se do coment��rio dele sobre as inten����es de Suzanne

para aproxim��-los. Alline esperava n��o precisar ferir os sen-

timentos de ningu��m, nos dias vindouros.

O brilho do sol se refletia na pintura dourada do avi��o que

34

P A R A T O D A A V I D A

se aproximava da ilha. Alline teve medo, pressentindo um perigo

iminente e imediato. Seus olhos pareciam grudados no aparelho,

e sua boca secou ante a perspectiva de estar certa. N��o, n��o podia

ser verdade. O homem com quem estivera por t��o pouco tempo,

mas a quem conhecera t��o intimamente, n��o poderia ser o futuro

genro de Suzanne. A vida n��o poderia ser assim t��o cruel.

��� Vamos deixar os pombinhos sozinhos. ��� Suzanne pegou

no bra��o da amiga. ��� Em breve, voc�� o conhecer��. Amanh��,

talvez. Os Ramirez nos convidaram para jantar. A propriedade

deles fica do outro lado da ilha.

De bra��o dado, elas caminharam at�� o buggy. Os outros

carregadores que conversavam com Carlos Ramirez sorriram

quando Alline subiu no ve��culo. Carlos, mais interessado no

avi��o que estava quase pousando, limitou-se a acenar distrai-

damente para as duas mulheres.

��� S��o pessoas hospitaleiras ��� Suzanne comentou, empur-

rando a m��o de Alline, que pretendia dar uma gorjeta ao car-

regador. ��� J�� cuidei de tudo ��� insistiu ela, ligando o motor

do buggy. ��� Trate de relaxar e aproveitar o passeio.

Depois de acenar em despedida para a filha, Suzanne pegou

o caminho rodeado por palmeiras, passou pelo pr��dio do aero-

porto, e seguiu por uma estrada estreita.

Tentando n��o pensar no homem que estava sendo esperado

no aeroporto, Alline observou a paisagem. As cores estavam

presentes nos m��nimos detalhes daquele cen��rio maravilhoso,

numa combina����o perfeita.

��� Que maravilha! ��� exclamou ela. E virando-se para a

amiga, acrescentou: ��� Voc�� adora este lugar, n��o? Quer saber

de uma coisa? Eu cheguei a sentir inveja de voc��. Deixar a

Inglaterra e come��ar de novo...

��� Bem, nada impedia que Jeff e voc�� fizessem a mesma

coisa ��� Suzanne respondeu objetivamente. ��� Mesmo Jeff sen-

do professor, isso seria poss��vel. Os professores sempre s��o

muito requisitados.

Alline encolheu os ombros.

��� Talvez por isso ele tenha ido trabalhar no Canad��.

��� Oh, Ally! ��� Suzanne deixou escapar um som desolado.

��� Desculpe-me. Que falta de tato! Eu n��o devia ter tocado

nesse assunto.

��� Tudo bem. Esque��a.

35

P A R A T O D A A V I D A

O tom de voz n��o convenceu Suzanne, que lan��ou-lhe um

olhar de d��vida.

��� Voc�� n��o est�� mais apaixonada por ele, est��? Pelo amor

de Deus, Ally! Faz quase dois anos! Voc�� ainda tem esperan��as

de que ele volte?

��� N��o, claro que n��o.

E era verdade. Depois de Raul, era como se a lembran��a e

a imagem de Jeff tivessem se dissipado de sua mente. Mas

n��o podia comentar nada com Suzanne, n��o agora que suas

suspeitas eram quase uma certeza.

N��o, n��o, ela n��o tinha certeza de nada. Era apenas o ter-

r��vel complexo de culpa atormentando-a, assustando-a.

��� Fico feliz por ouvir isso ��� Suzanne declarou. ��� Quero

que voc�� encare estas f��rias como o in��cio de uma vida nova.

Felizmente, voc�� e Jeff nunca estiveram aqui juntos, de modo

que n��o h�� motivos para associa����es inconvenientes. Peter e

eu aguard��vamos ansiosos sua visita. H�� muito quer��amos que

voc�� conhecesse nosso hotel.

��� Eu sei. ��� Alline respirou fundo. ��� E eu queria muito

visit��-los. Eu estava realmente sonhando com estas f��rias.

Como voc�� disse, �� exatamente o que eu precisava.

Estavam se aproximando de uma pequena cidade, e Suzanne

concentrou-se no tr��nsito. Autom��veis, micro-��nibus, bicicletas,

carro��as e outros tipos de ve��culos cortavam as ruas estreitas,

por entre pedestres que n��o pareciam nem um pouco preocu-

pados com a seguran��a.

��� Est�� �� a cidade de San Cristobal ��� explicou Suzanne. ���

Est�� cada dia mais dif��cil dirigir por aqui. ��� Entre buzinadas e

impreca����es, conseguiram contornar barracas de frutas, legumes,

pratos t��picos, roupas e outras mercadorias. ��� Na verdade, n��o

�� sempre assim. Hoje �� dia de feira e as pessoas v��m de todas

as partes da ilha para fazer compras. Temos muitos turistas, tam-

b��m, por��m a maior parte dessa gente trabalha para os Ramirez.

Alline respirou fundo, decidindo que seria agora ou nunca.

��� Hum... como �� mesmo que se chama o namorado de J��lia?

��� Rafael. Rafael Ramirez. Voc�� vai gostar dele, Ally. Rafael

�� um amor de pessoa. Ele e J��lia se conhecem h�� anos.

Alline soltou o ar que estivera segurando.

��� Rafael? N��o �� um nome comum, pelo menos para n��s,

ingleses.

36

PARA T O D A A V I D A

��� �� mesmo... ��� Suzanne refletiu por alguns momentos,

antes de completar: ��� Com exce����o dos pais, ningu��m o chama

de Rafael, mas sim, de Raul.

Por muito tempo, Alline ficou no terra��o, observando a paisa-

gem. O quarto que Suzanne lhe reservara dava para a enseada

que tinha o mesmo nome do hotel. Do terra��o, um caminho estreito,

todo gramado, levava diretamente para um plat��, e dali para a

praia de areias brancas; a oeste, uma rocha formava uma barreira

natural; ao sul, como ela notara do avi��o, a terra fazia uma curva,

protegendo a enseada do oceano. Era o local perfeito para nadar,

e Alline prometeu a si mesma que passaria muitas horas testando

suas habilidades de nadadora, naquelas ��guas calmas.

Se tivesse coragem de sair do quarto, claro!

Ela balan��ou enfaticamente a cabe��a. Ainda n��o acreditava

em sua tremenda falta de sorte. Depois da noite anterior, acha-

ra que nada pior poderia lhe acontecer, mas enganara-se. Com

tantos homens para conhecer, por que tivera de encontrar jus-

tamente Raul Ramirez? Tinha que ser ele? Sim, porque ela

n��o tinha d��vidas. O Raul com quem partilhara uma mara-

vilhosa noite de paix��o era o mesmo Raul Ramirez, namorado

da filha de sua amiga e anfitri��. Mas se ele tinha namorada,

por que, ent��o, insistira tanto em conquistar a aten����o dela?

Suspirando, Alline virou-se de costas para a praia, e encos-

tou-se no parapeito de ferro trabalhado. Ela n��o se iludia,

pensando que fora sua apar��ncia f��sica que atra��ra Raul. In-

dependentemente de qualquer coisa, havia a diferen��a de idade.

Talvez, o hobby dele fosse seduzir mulheres mais velhas e

imaturas. Sim, talvez, ele tivesse sentido pena dela. Afinal,

ela estivera ostensivamente fora de seu estado normal.

A menos que... Alline franziu as sobrancelhas. Suzanne pe-

dira para Raul procur��-la no aeroporto. No aeroporto, n��o no

hotel. Al��m disso, ela se apresentara como Diana. Pelo menos,

no come��o. Quando a convidara para jantar, ele n��o tinha a

menor id��ia de quem ela era.

Mais tarde, por��m... Ela sentiu o rosto arder. Mais tarde, ele

j�� sabia quem era ela. Ela mesma contara. Isso significava que

Raul sabia perfeitamente que estava se deitando com Alline Sloan.

Isso tornava a situa����o ainda pior, mais s��rdida. Como Raul

pudera fazer isso? Como pudera fazer amor com uma mulher,

37

PARA T O D A A V I D A

sabendo que ela ficaria hospedada com os pais da namorada

dele? C��us, que complica����o!

Alline voltou para o quarto com l��grimas nos olhos.

Suzanne e o marido estavam fazendo tudo para deix��-la ��

vontade. Tinham lhe reservado um dos melhores quartos do

hotel e, naquele momento, ela deveria estar se deliciando com

um banho refrescante, para depois descansar por algumas ho-

ras, antes do jantar. Mas como poderia relaxar? Como poderia

continuar ali, desfrutando da hospitalidade dos amigos, depois

de trair a confian��a deles?

Poderia at�� argumentar que n��o sabia quem era Raul, quando

se encontraram, em Londres. Poderia explicar que se apresentara

com nome falso e que somente bem mais tarde revelara sua

verdadeira identidade. Mas isso n��o remediaria o mal. A confian��a

de J��lia no namorado j�� estaria irremediavelmente destru��da.

Ela passou a m��o nervosamente pelos cabelos. Decidida-

mente, n��o poderia ficar com os amigos. Teria de encontrar

uma desculpa para ir embora. Era terr��vel, mas teria de tele-

fonar para Sam e pedir-lhe para retornar a liga����o, com um

bom motivo para ela interromper as f��rias que mal tinham

come��ado, e voltar imediatamente �� Inglaterra. N��o precisava

contar-lhe a verdade. Diria apenas que as coisas n��o tinham

transcorrido como planejara e que ansiava voltar para casa.

Com a decis��o tomada, sentiu-se extremamente deprimida.

Sonhara tanto com aquela viagem, e de repente precisava partir

de uma maneira covarde e indigna. Isso causaria um abalo

em seu relacionamento com Suzanne, por mais convincente

que fosse sua justificativa. E sempre haveria a possibilidade

de Raul confessar tudo �� namorada, destruindo, assim, o pouco

de credibilidade que Alline deixara para tr��s.

38





CAP��TULO V

Alline retirou o excesso de ��gua dos cabelos e

jogou a toalha nas costas. A ��gua estava de-

liciosa ��quela hora, mas o calor estava forte demais para ficar

mais tempo na praia. Era seu segundo dia ao sol, e n��o queria

correr o risco de queimar-se demais.

Amarrando a canga estampada ao redor da cintura, cal��ou

as sand��lias e come��ou a caminhar pela areia. Cruzou com

dois ou tr��s h��spedes do hotel que a cumprimentaram alegre-

mente. Em outras circunst��ncias, teria se considerado felizarda

por estar ali. Todos eram muitos simp��ticos, calorosos, e seria

f��cil iludir-se, pensando que talvez nem precisasse voltar para

casa antes do tempo.

Desde que chegara, Alline ainda n��o vira Raul. Talvez ele

estivesse envergonhado e, por isso, tentando evitar um encontro

constrangedor. Felizmente, at�� mesmo o convite para jantar

em Finisterre tinha sido cancelado, aparentemente, por motivo

de sa��de da sra. Ramirez.

��� Voltando t��o cedo?

Alline quase trope��ou no degrau de pedra que levava ao

hotel. Voltando-se rapidamente, deparou-se com outro h��spede,

subindo logo atr��s. N��o sabia o nome dele, mas vira-o no sagu��o

do hotel, pela manh��. Era alto, tinha corpo atl��tico, cabelos

castanhos e aparentava ter cerca de cinq��enta anos.

��� Sim ��� Alline respondeu, for��ando um sorriso e indicando

os ombros avermelhados. ��� Est�� quente demais para mim.

��� Para mim tamb��m ��� disse ele. ��� Nunca vou ficar bron-

zeado, nem que fique o dia inteiro exposto ao sol. Voc�� �� como

eu. Sua pele �� clara demais para um calor como esse. Preci-

samos ir com calma, n��o �� mesmo?

39

P A R A T O D A A V I D A

Alline ia dizer que tinha esperan��a de ficar com a pele bron-

zeada, mas mudou de id��ia. Duvidava que o homem estivesse

realmente interessado. Por isso, disse simplesmente:

��� Ah, n��o estou me queixando. Aqui �� t��o bonito, e perto

do frio que enfrentaremos quando voltarmos para casa...

��� �� verdade. ��� O homem subiu os degraus ao lado dela,

os bra��os se ro��ando. ��� Meu nome �� Tom Adams e cheguei

ontem �� tarde.

��� Prazer ��� Alline respondeu, fingindo n��o perceber que

ele for��ava o contato f��sico. ��� Alline Sloan ��� apresentou-se

com uma certa desconfian��a. Depois, exagerando no entusias-

mo, perguntou: ��� Est�� em f��rias com sua esposa, sr. Adams?

��� Sou vi��vo. Faz sete meses que minha mulher morreu.

C��ncer. Ela s�� tinha quarenta e nove anos.

��� Oh, eu sinto muito... ��� Alline arrependeu-se de desconfiar

das inten����es do homem. Obviamente, ele s�� queria conversar.

��� Imagino que sejam suas primeiras f��rias sem ela. Quanto

tempo ficaram casados?

��� Vinte e oito anos. ��� Ele segurou o cotovelo de Alline

enquanto subiam os tr��s degraus para entrar no hotel. ��� Muito

tempo, sra. Sloan. Voc�� tamb��m �� vi��va?

Desvencilhando-se, Alline tentou n��o se irritar com tanta

familiaridade.

��� Sou divorciada. Agora, se me der licen��a, vou subir para

tomar banho. A ��gua salgada sempre incomoda, n��o?

Tom Adams cruzou os bra��os.

��� Eu n��o me animei para nadar sozinho. ��� Depois, colocou

as m��os nos bolsos do short. ��� Talvez possamos tomar um

drinque, mais tarde. ��� Ele sorriu timidamente. ��� Claro, ima-

gino que tenha outros compromissos. Mas, �� noite, talvez?

��� Bem, eu...

Alline desviou o olhar. Como recusar o convite sem ofend��-lo?

De repente, percebeu que a algu��m os observava do outro lado

do sagu��o. Meio oculto pelas folhagens tropicais plantadas em

vasos espalhados ao p�� da escada que levava ao mezanino,

havia um homem apoiado no bala��stre.

Era Raul.

Por um momento, Alline emudeceu. A boca ficou seca, as

m��os ��midas. Certamente, tamb��m ficara p��lida, pois, num

gesto instintivo, Tom Adams segurou-a pelo bra��o.

40

PARA T O D A A V I D A

��� Tudo bem, sra. Sloan... Alline? Ser�� que voc�� tomou sol

demais?

��� N��o, n��o. Eu estou bem.

Felizmente, a voz voltara. Num gesto quase brusco, ela se

livrou da m��o de Tom. C��us! N��o podia ser pior! Raul, ali

parado, e ela, aparentemente, t��o ��ntima de outro homem! N��o

que se importasse com a opini��o dele, mas odiaria a id��ia de

dar motivos que justificassem o comportamento dele.

��� Tem certeza? ��� Tom Adams n��o desistiu, e quando Alline

se moveu, ele a seguiu. ��� Vou acompanh��-la at�� seu quarto.

Alline conteve um sorriso ir��nico. Afinal, a hist��ria se repetia.

��� Agrade��o, mas n��o �� preciso. Eu estou bem.

��� Voc�� est�� tremendo.

Alline fechou os olhos, contendo o impulso de empurr��-lo.

��� Estou cansada, s�� isso.

Finalmente, Tom Adams percebeu que tanta insist��ncia s��

iria prejudic��-lo.

��� Se voc�� tem certeza... ��� ele murmurou.

Alline respirou aliviada. Felizmente, os elevadores ficavam

ao lado do sagu��o, o que significava que poderia ir at�� l�� sem

cruzar com Raul Ramirez. Mais do que nunca, teria de encon-

trar uma desculpa convincente para Sam exigir sua volta ��

Inglaterra. Imediatamente.

Ela pressionou o bot��o, chamando o elevador. Tom Adams

correu na dire����o dela.

��� E quanto a hoje �� noite? ��� perguntou, para desespero

de Alline. ��� Sei que n��o �� momento... mas se me der o n��mero

do seu quarto... posso ligar mais tarde.

��� Sra. Sloan?

A voz era inconfund��vel. Grave, rica, macia, com uma leve

ponta de rispidez. Alline ficou arrepiada, n��o s�� pelo impacto,

mas tamb��m pelas lembran��as que a voz despertava. Lem-

bran��as das m��os dele em sua pele, em seu corpo nu. Lem-

bran��as da l��ngua dele umedecendo seus mamilos enrijecidos

e de seu corpo poderoso penetrando no dela...

Esse rompante de apetite sexual era totalmente novo para

ela. Jeff nunca a fizera sentir-se assim. O mais assustador, por��m, era o poder que Raul exercia sobre seus sentidos, provocando

aquela dor desesperadamente aguda que abalava todo seu ser.

��� Oh... Raul ��� ela murmurou, piscando nervosamente. ���

Est�� esperando por J��lia?

41

PARA T O D A A V I D A

Tom Adams ergueu as sobrancelhas interrogativamente.

��� Voc��s j�� se conhecem? ��� perguntou ele.

Foi Raul quem respondeu num tom irritado.

��� Voc�� e a sra. Sloan s��o amigos?

E antes que Tom tivesse tempo de dizer alguma coisa, Alline

interveio:

��� N��o, n��o somos amigos. Na verdade, acabamos de nos co-

nhecer na praia ��� ela disse, desprezando-se pela repentina ne-

cessidade de dar essa explica����o a Raul. Mas precisava defender

sua reputa����o. O elevador chegou e ela entrou. ��� Com licen��a.

A porta j�� estava quase fechada quando, num movimento

r��pido, Raul entrou, surpreendendo a todos. A porta se fechou

e ele se colocou diante do painel, impedindo que Alline tentasse

pressionar o bot��o para abri-la.

��� Que loucura �� essa? ��� ela perguntou.

Ignorando-a, Raul pressionou o bot��o que parava o elevador,

e depois voltou-se para encar��-la.

O cora����o de Alline disparou. Deu um passo para tr��s e

encostou-se na parede. N��o tinha como escapar. Raul apoiou

as m��os na parede, aprisionando-a.

��� Vou gritar ��� ela avisou, mas a amea��a n��o surtiu o

menor efeito.

Inclinando-se, ele a beijou. Com a l��ngua, for��ou-a a entrea-

brir os l��bios, invadindo a cavidade macia com voracidade.

Encostou o corpo no dela, e Alline p��de sentir a rea����o que o

beijo estava provocando. Depois, ele entreabriu a canga que

ela usava, introduzindo uma perna entre as dela.

Alline pensou que iria desmaiar. Naqueles poucos dias, co-

me��ara a acreditar que Raul estava envergonhado demais para

aparecer no hotel. �� tamb��m que, se ela conseguisse esqui-

var-se dos convites para ir �� casa dele, poderia at�� salvar

alguma coisa daquelas f��rias. Mas estava enganada. S�� de

v��-lo no sagu��o do hotel, ficara abalada. E agora, com os quadris

dele pressionando os seus, com o desejo dele latejando contra

seu abd��men, ela comprovava que Raul n��o tinha escr��pulos.

Teria de tomar uma atitude dr��stica.

��� Por favor, n��o fa��a isso!

��� Por que n��o? ��� Raul cobriu a m��o dela de beijos, descendo

depois para o pesco��o. ��� Voc�� me quer. ��� Os dedos dele to-

caram a bainha do mai��, alojando-se, depois, entre as pernas

dela. ��� Voc�� est�� ��mida.

42

PARA T O D A A V I D A

��� Eu... estava nadando.

��� Quente e ��mida ��� continuou ele loucamente, acariciando

o ��mago da feminilidade dela. ��� Eu conhe��o a diferen��a.

Alline deixou escapar um solu��o.

��� Por favor, Raul, solte-me... Voc�� est�� sendo inconveniente!

��� Existe um velho ditado em seu pa��s... ��� ele come��ou,

mas Allin�� n��o o deixou terminar.

��� Solte-me! ��� ela gritou, o rosto desfigurado pela emo����o.

Como se tocado pelo desespero dela, Raul soltou-a abruptamente.

Passado o momento de choque, Alline esticou o bra��o para

pressionar o bot��o que colocaria o elevador em movimento. De

novo, ele se colocou entre ela e o painel.

��� Espere!

Ela tremia descontroladamente, mal ag��entando-se em p��.

Se conseguisse sair daquele elevador, nunca mais ficaria a s��s

com Raul.

��� N��o temos mais nada para dizer. ��� A voz dela foi pouco

mais do que um murm��rio.

��� N��o �� verdade.

��� ��, sim. ��� Alline tentava pensar racionalmente. ��� Voc��...

voc�� me decepcionou. Eu me decepcionei. Se eu estivesse no

meu ju��zo perfeito, nunca mais olharia para voc��.

Raul lan��ou-lhe um olhar angustiado.

��� �� mesmo?

��� ��! ��� Alline apertou o n�� da canga ao redor da cintura. ���

Como voc�� pode agir dessa maneira, debaixo do nariz da sua

namorada? Ser�� que n��o se importa com nada, nem com ningu��m?

��� Eu disse que n��o me importo? Eu disse que n��o estou

envergonhado do que fiz?

��� N��o me diga que est��! ��� ironizou ela.

Raul parecia arrasado. E furioso.

��� Por quem voc�� me toma? Acha que eu ajo daquela maneira

todo dia, toda hora? Por acaso, est�� pensando que sou algum

man��aco sexual, um garanh��o? Que n��o posso ver uma mulher

na minha frente que saio atacando, feito um tarado?

Alline estremeceu.

��� Ent��o, por que voc��...

��� N��o sei! ��� ele esbravejou. ��� N��o sei. ��� Ele voltou

atr��s. ��� Sim, eu sei. ��� Respirou fundo. ��� Eu n��o pude evitar.

Se isso servir para lustrar seu ego, saiba que fiz amor com

43

P A R A T O D A A V I D A

voc�� porque, depois de beij��-la, depois de toc��-la, n��o podia

simplesmente deix��-la ir embora.

Alline balan��ou a cabe��a, incr��dula.

��� N��o acredito.

Raul apertou os l��bios.

��� Por qu��?

��� Porque n��o sou nenhuma mulher fatal. N��o sou bonita,

nem glamourosa. N��o sou uma mulher interessante. Tenho quase

quarenta anos e estou acima do meu peso. E meus p��s s��o grandes

demais. Os homens n��o... bem, at�� conhecer voc��, eu nunca tinha

dormido com outro homem, al��m de meu marido.

��� Isso prova o qu��, exatamente?

��� Prova que, al��m do fato de eu ser bem mais velha que

voc��, n��o sou o tipo de mulher que... por quem um homem pode...

��� Ela se calou, depois continuou, com menos emo����o: ��� N��o

sou como Suzanne ou... ou como sua m��e, provavelmente. N��o

sou brilhante, nem din��mica, nem sofisticada, nem...

��� Pare de falar bobagens! ��� Raul interrompeu-a com im-

paci��ncia. Alline tentou escapar, mas ele a segurou pelo bra��o,

obrigando-a a encarar a imagem refletida no espelho, ao fundo

do elevador. ��� Olhe para voc��! ��� ordenou. ��� O que est��

vendo? N��o essa mulher sem gra��a que insiste em descrever.

Seja honesta com voc�� mesma, Ally. Voc�� �� uma mulher ado-

r��vel e ardente. A idade n��o conta. Voc�� est�� vivendo em todo

seu esplendor! Aceite isso. Aproveite.

Alline relutou, por��m n��o conseguiu ignorar a imagem que

a desafiava. Era verdade. N��o se parecia muito com a mulher

que estava acostumada a ver no espelho do banheiro de sua

casa, em Newcastle. Mas isso devia-se, em parte, aos olhos

brilhantes e aos l��bios inchados pelos beijos de Raul. O rosto,

normalmente p��lido, estava corado. At�� mesmo os cabelos ��mi-

dos exalavam sexualidade. Ela parecia... libertina. E n��o era

absolutamente essa a id��ia que fazia de si mesma. Raul trans-

formara-a nessa mulher, e deveria odi��-lo por isso.

Ele a soltou e Alline encostou-se na parede do elevador,

ofegando.

��� E como eu deveria aproveitar, hein? ��� Os olhos dela

eram acusadores. ��� Tendo um caso com voc��?

��� N��o! ��� Raul bateu de leve os punhos fechados na porta

do elevador, depois voltou-se novamente para ela. ��� N��o! N��o

44

P A R A T O D A A V I D A

foi isso que eu quis dizer. Pelo amor de Deus, Alline, eu tamb��m

n��o estou gostando nada desta situa����o. Realmente, eu n��o

tinha inten����o de envolver-me com ningu��m.

Apesar de tudo, as palavras dele magoaram-na.

��� Ent��o, por que se aproximou de mim?

��� J�� me fiz essa pergunta milh��es de vezes! ��� Raul passou

os dedos pelos cabelos. ��� Eu n��o deveria ter entrado no seu

quarto, essa �� a verdade. Os sinais de alerta eram vis��veis demais, mas preferi ignor��-los. Sempre me considerei t��o frio, t��o con-trolado, t��o senhor das minhas emo����es... mas enganei-me.

Alline fez um gesto evasivo com as m��os.

��� Eu n��o entendo...

��� Nem vai entender. ��� Depois de uma breve pausa, ele

continuou: ��� Voc�� n��o estranhou o fato de eu estar hospedado

no hotel do aeroporto? Isto ��, eu disse que fui a Londres para

visitar o Sal��o de Barcos. Fui mesmo. Mas voc�� achou que eu

fiquei hospedado naquele hotel o tempo todo?

Os l��bios de Alline se curvaram.

��� N��o sei... Nem pensei nisso.

��� Nem eu. Durante minha estada em Londres me hospedei

em outro hotel. S�� passei aquela noite no hotel do aeroporto.

Exatamente como voc��.

��� Aonde voc�� quer chegar? ��� Alline estava apreensiva.

��� Voc�� quer a verdade?

��� Claro.

Ele a fitou por um longo momento. Depois, balan��ou afir-

mativamente a cabe��a.

��� Pois bem. Suzanne falou-me sobre a grande e querida

amiga que viria visit��-la. Comentou sobre as dificuldades que

voc�� enfrentou e que ela e Peter fariam tudo para que suas

f��rias fossem perfeitas.

��� N��o entendo...

Raul interrompeu-a.

��� Senti pena de voc�� ��� ele falou com brutalidade, e Alline

cobriu a boca com a m��o. ��� Sim, senti pena e pensei, "A�� est��

uma pobre mulher, abandonada pelo marido, passando uma

noite solit��ria num hotel, antes de enfrentar uma longa viagem.

Ora, n��o me custa nada atender ao pedido de Suzanne!"

��� Obrigada pela gentileza ��� ela disse num tom sarc��s-

tico. ��� Voc�� n��o precisava ter se sacrificado tanto por uma...

pobre-coitada!

45

PARA T O D A A V I D A

Raul abriu os bra��os num gesto desesperado.

��� N��o �� nada disso. Eu disse que foi por esse motivo que

passei a noite no Heathrow! Eu n��o disse que foi por esse motivo

que tudo aconteceu. N��o foi. E voc�� sabe muito bem disso, Alline.

��� Sei? ��� ela o desafiou.

��� Deveria saber. ��� Raul enfiou as m��os nos bolsos do short.

��� Ah, Deus! Nada saiu como eu planejei. Quando eu a vi...

Quando vi aquela mulher atraente no balc��o do bar, n��o imaginei

que era a amiga de Suzanne. E voc�� se apresentou como Diana...

Ela sentiu o rosto queimar.

��� Mas depois eu contei a verdade.

��� Tarde demais.

��� Tarde demais? ��� ela repetiu, confusa.

��� Sim. ��� Ele suspirou. ��� Eu me senti muito atra��do por

Diana e n��o pensei mais na amiga de Suzanne.

��� N��o acredito em voc��.

��� Acredite ou n��o, essa �� a verdade. Quando voc�� come��ou

a falar sobre sua fam��lia, desconfiei que voc�� poderia ser a tal

mulher. ��� Ele a olhou com ar desolado. ��� Deu para perceber

como a confus��o come��ou?

��� Assim que descobriu quem eu era, voc�� deveria...

��� O que eu deveria ter feito? A essa altura, eu n��o queria

mais contar a verdade.

��� Voc�� preferiu aproveitar-se da situa����o ��� Alline o acusou.

��� Voc�� sabe muito bem que n��o foi nada disso.

��� Eu n��o sei de nada.

��� Droga, Ally! Eu n��o entrei �� for��a em seu quarto!

��� Mas tamb��m n��o recusou o convite.

��� N��o recusei ��� admitiu Raul. ��� Por��m, voc�� tem de

reconhecer que tudo que aconteceu em seguida n��o foi unica-

mente por minha culpa.

Alline desviou o olhar.

��� N��o quero falar sobre isso.

��� Eu quero. ��� Aparentemente, Raul n��o tinha pressa para

sair do elevador. ��� Por que acha que eu a deixei sem despe-

dir-me? O que eu fiz foi imperdo��vel, e eu n��o podia encar��-la

�� luz do dia.

��� Ent��o, saiu sorrateiramente, de madrugada, como um ladr��o.

��� N��o estou nada orgulhoso do que fiz, Alline. Por isso,

quero que saiba...

46

P A R A T O D A A V I D A

��� Creio que j�� nos dissemos tudo, Raul ��� ela o interrompeu

com firmeza. J�� ouvira demais e n��o suportaria aquela situa����o

por muito mais tempo. Virando o rosto, procurou o bot��o que

faria o elevador subir novamente. ��� �� este o bot��o.

��� Alline!

��� N��o se preocupe ��� ela disse num tom estranhamente

calmo. ��� Pretendo ir embora dentro de dois ou tr��s dias. N��o

quero prolongar ainda mais esta situa����o embara��osa. ��� For-

��ou um sorriso. ��� Seu pequeno segredo estar�� a salvo comigo.

Raul praguejou, mas Alline n��o o ouviu. Ela pressionou o

bot��o, e dessa vez ele n��o tentou impedi-la. As portas se abri-

ram no terceiro andar, e Raul n��o se moveu. Alline saiu sem

olhar para tr��s. Dois casais entraram e um dos homens co-

mentou alguma coisa sobre a precariedade dos elevadores em

hot��is. Alline n��o ouviu a resposta de Raul. Apreensiva, seguiu

em dire����o ao quarto. Abriu a porta, entrou e, com uma incr��vel

sensa����o de al��vio, tornou a fech��-la.

47





CAP��TULO VI

Alline estava almo��ando no terra��o quando Su-

zanne se aproximou, ofegante e nervosa. Sen-

tiu uma contra����o no est��mago. Esperava que o estado da

amiga n��o tivesse nada a ver com seu encontro com Raul.

Uma conversa descontra��da com a recepcionista rendera-lhe

a informa����o de que o senhor Ramirez deixara o hotel uma hora atr��s. Lu��sa n��o precisara de muito est��mulo para discorrer

sobre as qualidades do namorado da filha dos patr��es.

Mas Alline n��o queria pensar em Raul. J�� tentara falar

com Sam, mas n��o a encontrara em casa. Al��m de estudar na

faculdade, Sam trabalhava meio per��odo num restaurante fast food. ��, considerando que na Inglaterra o hor��rio estava cinco horas adiante de Nassau, Sam ainda n��o teria chegado em

casa. Tentaria mais tarde.

Sorriu para Suzanne, sentada �� sua frente.

��� Tudo bem? ��� perguntou Alline. ��� Voc�� parece nervosa.

��� Voc�� n��o vai querer se aborrecer com meus problemas,

n��o ��? ��� Com um aceno, Suzanne chamou o gar��om e pediu

um caf��. ��� Eu a vi indo para a praia, logo cedo. Divertiu-se?

A contra����o no est��mago repetiu-se. Suzanne a teria visto

voltando tamb��m?

��� Muito. A ��gua estava uma del��cia.

O gar��om chegou com o caf�� e Suzanne agradeceu.

��� Isto aqui �� uma maravilha, n��o ��? Realmente, somos pri-

vilegiados por morarmos num lugar lindo como este. ��� Suzanne

parou para ajeitar os cabelos atr��s das orelhas. ��� N��o sei o que

far��amos se tiv��ssemos que deixar a ilha. S�� de pensar em voltar

�� Inglaterra... ��� Ela suspirou. ��� Ah, n��o sei o que seria de n��s.

Alline estranhou o coment��rio da amiga.

48

P A R A T O D A A V I D A

��� Isso est�� totalmente fora de cogita����o, n��o est��? ��� Com

um gesto, ela indicou o cen��rio a sua volta. ��� O hotel parece

estar indo bem. Est�� lotado e...

��� N��o se iluda pelas apar��ncias ��� Suzanne interrompeu-a.

��� Temos uma vida agrad��vel, n��o posso negar. Pelo menos,

na alta temporada. Mas o hotel n��o est�� sempre assim lotado.

Quando chegamos aqui, tivemos de lutar para sobreviver.

��� Isso foi h�� muitos anos. Agora, acho que voc�� j�� pode

sentar e respirar aliviada.

��� �� o que voc�� pensa, n��o? ��� Os l��bios de Suzanne estavam

apertados. Depois, com um gesto impaciente, descartou o as-

sunto. ��� Vamos falar de outra coisa.

Alline franziu o cenho.

��� Suzanne, se voc�� e Peter estiverem em dificuldades...

��� N��o estamos. ��� O sorriso de Suzanne era brilhante,

quase convincente. ��� Estou apenas um pouco desanimada.

Nada grave. Acontece, de vez em quando. N��o ligue.

Alline n��o podia ignor��-la. Apesar da quase certeza de n��o

ser a causa da crise da amiga, ela precisava sond��-la.

��� Suzy, somos amigas. Nos conhecemos h�� trinta anos.

Pode se abrir comigo e...

��� N��o �� nada, juro. ��� Os dedos de Suzanne apertavam a

x��cara. ��� Agora, me diga. O que vai fazer �� tarde?

��� Oh... ��� Alline surpreendeu-se com a resist��ncia da amiga.

��� N��o pensei ainda.

��� Pois deveria. Voc�� j�� passeou pela ilha?

��� N��o. Isto ��, s�� conhe��o o caminho do aeroporto para c��.

��� Peter a levar�� �� cidade, na pr��xima vez que for ao mercado

��� Suzanne ofereceu. ��� Eu poderia emprestar-lhe o buggy,

mas ele �� meio temperamental e eu n��o gostaria que a deixasse

no meio da estrada.

��� Eu posso alugar um carro. ��� Alline duvidava que teria

tempo para conhecer a ilha, mas Suzanne n��o precisava saber

de suas inten����es.

��� Acho uma boa id��ia ��� Suzanne concordou meio distra��da.

��� J�� se acostumou com a diferen��a de fuso hor��rio?

��� Quase. ��� Fora o fato de acordar muito cedo pela manh��,

Alline n��o sofrera nenhum efeito negativo. Tamb��m, com tan-

tas coisas mais importantes em sua mente... ��� Hum... onde

est�� J��lia? ��� perguntou quase impulsivamente.

49

PARA T O D A A V I D A

A express��o de Suzanne mudou.

��� N��o me pergunte.

��� Por qu��? ��� Alline estava ansiosa. ��� Ela est�� bem, n��o est��?

Suzanne olhou-a por um longo tempo, antes de responder

num tom impaciente.

��� Oh, sim, creio que sim. Prefiro n��o falar sobre J��lia.

O est��mago de Alline deu uma reviravolta.

��� N��o... n��o estou entendendo.

��� Nem precisa. ��� Suzanne terminou o caf�� e levantou-se.

��� Tenho que ir, Ally. Sabe como ��... coisas para fazer, pessoas

para contatar.

��� Claro.

Mas Alline queria mesmo era saber o que provocara o olhar

cauteloso e resignado no rosto da amiga.

Oh, Deus, tomara que n��o tenha nada a ver com Raul Ra-

mirez... e comigo!

Naquela noite, Alline jantou com Suzanne e Peter, no terra��o

do apartamento deles.

Durante quase todo o dia ela tentara falar com Sam, sem

sucesso. Pensara at�� em telefonar para Ryan. Mas Ryan mo-

rava com a namorada, em Durham, onde ambos cursavam a

faculdade, enquanto Sam morava e estudava em Newcastle.

Assim, ele dificilmente saberia dos passos da irm��. Decidiu

esperar at�� a manh�� seguinte. Se n��o conseguisse falar com

a filha, telefonaria para Mark, o namorado dela.

Para surpresa de Alline, J��lia jantou com eles. Pelo que en-

tendera, aquela era a primeira noite em que a garota jantava

com os pais. Sentada na amurada do terra��o, e bebericando um

coquetel, J��lia lan��ava olhares desafiadores aos pais. Sua expres-

s��o se suavizou ao ver Alline. Apontando para o parapeito, disse:

��� Oi, tia Ally. Sente-se aqui comigo. Desde que voc�� chegou,

ainda n��o tivemos chance de conversar.

Alline tentou mostrar-se calma e descontra��da.

��� �� verdade. ��� Depois de trocar um olhar de d��vida com

Suzanne, ela se sentou ao lado de J��lia. ��� Voc�� est�� bem?

��� Melhor de sa��de do que de humor, como diz meu pai ���

J��lia respondeu com um sorriso radiante. ��� E voc��? Est��

aproveitando as f��rias?

��� Muito. ��� Alline aceitou o mart��ni que Peter lhe ofereceu.

50

P A R A T O D A A V I D A

Depois, acrescentou: ��� Era do que eu precisada no meio de

um inverno ingl��s.

��� N��o duvido. ��� J��lia olhou-a com ar avaliador. ��� Vejo

que j�� andou tomando sol. Est�� com uma cor bonita.

��� Obrigada. ��� Alline sorriu. ��� Falta muito para competir

com voc�� ou com sua m��e.

��� Hum... ��� O olhar de J��lia para a m��e foi de reprova����o.

��� Se mam��e est�� bronzeada, certamente n��o �� de tomar sol.

Ela nunca relaxa, nunca descansa. Est�� sempre ocupada, ocu-

pada, ocupada...

��� Eu sou assim mesmo ��� Suzanne se defendeu. ��� Voc��

n��o teria as oportunidades que tem se seu pai e eu n��o nos

mat��ssemos de trabalhar.

��� Ora, m��e...

��� Suzanne! ��� soou a voz de Peter. ��� Ally n��o est�� inte-

ressada nos nossos problemas! ��� E for��ando um sorriso, acres-

centou: ��� Est�� bom assim, querida?

Alline provou o drinque.

��� Humm... delicioso. Obrigada ��� murmurou ela, fingindo

n��o notar o olhar ressentido de Suzanne para o marido. Ela

n��o gostaria de ser motivo para uma desaven��a familiar. ���

Est�� tudo maravilhoso.

��� Est��, n��o? ��� Peter Davis sentou-se no parapeito, ao lado

dela, olhando para a praia iluminada pelo luar. ��� Temos sorte

por morarmos num lugar assim.

��� Enquanto durar... ��� Suzanne murmurou num fio de voz,

mas todos ouviram.

J��lia virou-se furiosa para a m��e.

��� Voc�� n��o d�� folga, n��o ��? ��� zangou-se. ��� Nem por uma

noite? Como o papai disse, tia Ally n��o quer ouvir o quanto

eu decepcionei voc��! Ela veio para c�� para relaxar. N��o �� mes-

mo, tia Ally?

��� Por favor...

Alline n��o queria envolver-se, e mais uma vez, Peter interveio:

��� Chega, J��lia. N��o quero que seja insolente com sua m��e,

nem que envolva nossa h��spede.

��� Mas ela...

��� Sua m��e s�� quer o melhor para voc��.

��� O melhor para voc��s, voc�� quer dizer ��� J��lia retrucou,

descendo da amurada. Algumas gotas do coquetel espirraram

no vestido. ��� Pronto, estragou o vestido. Por causa de voc��s.

51

P A R A T O D A A V I D A

��� N��o pense que vai comprar outro com a mesma facilidade

com que comprou este ��� a m��e avisou-a num tom ferino, e

Alline apertou os l��bios, preocupada.

A situa����o era mais cr��tica do que ela imaginara. Por mais

que tentasse convencer-se do contr��rio, ela seria capaz de jurar

que a culpa era de Raul.

��� Por que n��o? ��� a garota desafiou a m��e. ��� Eu n��o

disse que n��o vou casar com Raul, disse? N��o tenho culpa se

Carlos gosta de mim.

��� Voc�� n��o deveria t��-lo encorajado. ��� Suzanne estava

furiosa. ��� Confiei em voc��, J��lia. S�� Deus sabe o que voc��s

dois andaram aprontando enquanto Raul estava fora.

J��lia suspirou e revirou os olhos.

��� N��o andamos aprontando nada. Somos amigos. Um con-

ceito que voc�� e papai s��o incapazes de compreender.

��� J�� chega, J��lia! ��� Peter fitou Alline com olhar desolado.

��� Desculpe pela cena desagrad��vel, Ally, mas n��o vou permitir

que J��lia aborre��a a m��e dela. ��� E virando-se para a filha,

advertiu: ��� Se n��o consegue comportar-se de maneira civili-

zada, sugiro que pe��a a Maria para servir seu jantar no quarto.

J��lia fez uma careta, parecendo lutar contra as l��grimas.

Era apenas alguns anos mais velha do que Sam, e Alline con-

teve-se para n��o pedir a Suzanne e Peter para agirem com

mais compreens��o.

��� Eu n��o aborreci mam��e. ��� A voz de J��lia soou tr��mula.

��� Foi Raul. Eu n��o sabia que ele estava de mau humor. Como

eu poderia saber? Quase n��o nos vimos desde que ele voltou

da Inglaterra. Tamb��m n��o sei por que ele estava t��o sarc��s-

tico, t��o irritante...

��� Ele estava brincando ��� Suzanne interrompeu-a, impa-

ciente. ��� Voc�� n��o o conhece o suficiente para perceber quando

deve lev��-lo a s��rio ou n��o?

��� Brincando? ��� J��lia indignou-se. ��� Ele estava fazendo

pouco de mim, mam��e. Ele disse que sou mimada, que eu n��o

tenho a menor id��ia do que �� a realidade do mundo.

��� Voc�� n��o estava sendo nada razo��vel, essa �� que �� a verdade

��� Suzanne observou num tom irritado. ��� Raul tem responsa-

bilidades, J��lia. Ele n��o pode passar o tempo todo ao seu lado.

��� Eu pensei que ele tivesse vindo ao hotel por minha causa

��� J��lia respondeu. ��� Se queria apenas falar com o papai,

por que n��o telefonou, em vez de atravessar a ilha inteira?

52

PARA T O D A A V I D A

��� Parece que ele tinha neg��cios em San Cristobal. ��� Su-

zanne insistia em tentar justificar Raul. ��� Desde que a sra.

Ramirez adoeceu, o pai tem jogado cada vez mais responsabi-

lidades nos ombros do filho. Voc�� devia lembrar-se disso.

��� N��o entendo o porqu�� da confus��o toda ��� J��lia resmun-

gou. ��� Eu n��o podia me defender? Ora, eu s�� falei que... que...

��� J��lia hesitou.

��� Que, ��s vezes, voc�� preferia estar namorando o Carlos

e n��o ele ��� Suzanne completou a frase. ��� N��o sei como Raul

n��o disse que estava cansado de voc�� e de suas queixas.

��� Que exagero, mam��e!

��� Ent��o, por que n��o est�� jantando com ele, agora, em vez

de entediar-se na companhia de seus pais? ��� Suzanne desafiou.

Depois, torcendo os l��bios e o nariz, virou-se para Alline. ���

Desculpe, Ally. Eu me expressei mal. Nada a ver com voc��,

hein? �� que... ��� Ela olhou para o marido em busca de apoio.

��� J��lia sabe que n��o podemos ofender os Ramirez.

��� N��o ofendemos ningu��m, mam��e. Voc�� est�� exagerando.

At�� parece que o hotel pertence ao pai de Raul. Tudo bem, os

Ramirez s��o pessoas importantes, mas a maioria dos nossos

h��spedes nunca ouviu falar nessa gente.

Percebendo o olhar significativo trocado entre Suzanne e

Peter, Alline desconfiou que havia muito mais coisas que, pro-

vavelmente, nem J��lia sabia.

��� Bem... bem... ��� Suzanne for��ou um sorriso, sentindo que

o jantar corria o risco de n��o se realizar. ��� Ally... vou lhe

servir outro drinque.

��� N��o. ��� Alline mostrou o copo ainda pela metade. ���

Obrigada. ��� Respirou fundo. ��� Que cheiro agrad��vel!

��� Oh, sim! ��� Por sobre o ombro, Suzanne deu uma olhada

para a sala de jantar. ��� Maria �� uma excelente cozinheira. N��o

sei o que far��amos sem ela. ��� Sentando-se na cadeira de vime

ao lado de Alline, acariciou o bra��o da amiga. ��� Voc�� est�� muito

bonita. Vai se encontrar com o sr. Adams no bar, mais tarde?

��� N��o. ��� Alline sentiu o rubor cobrindo-lhe o rosto e pro-

curou ref��gio no mart��ni. O vestido preto era bem simples, e

ela o complementara com uma �� charpe em tons de creme e bronze, que acentuavam os reflexos dourados dos cabelos. Umedeceu os l��bios. ��� Como sabe que eu conheci Tom?

��� Oh, j�� �� Tom, hein? ��� Suzanne brincou. ��� Voc�� n��o perdeu

53

PARA T O D A A V I D A

tempo! ��� E percebendo o constrangimento da amiga, acrescentou:

��� Relaxe, Ally. Ele me perguntou sobre voc��, hoje �� tarde.

Alline continuava apreensiva. Gostaria de saber se Tom co-

mentara alguma coisa a respeito do incidente com Raul no

sagu��o do hotel. Ao mesmo tempo, queria desviar a aten����o

de Suzanne para outro assunto qualquer. Mas n��o foi preciso.

O interesse da amiga j�� desaparecera.

Suzanne observava J��lia e Peter abra��ados, caminhando

em dire����o �� sala de jantar. Certamente, ela esperava que o

marido fosse bem-sucedido onde ela falhara.

Alline tocou no bra��o da amiga.

��� Tudo vai dar certo. Voc�� sabe como s��o os jovens. Metade

do tempo, eles n��o querem dizer aquilo que est��o dizendo.

��� O qu��? ��� Suzanne olhou-a com express��o distante. Logo,

por��m, compreendeu que Alline estava tentando confort��-la.

��� Eu sei. ��� Ela suspirou. ��� N��o �� a primeira vez que Raul

e J��lia trocam palavras ��speras. Acho que espera que ele esteja

sempre por perto, sempre pronto a atender aos chamados dela.

S�� que Raul n��o �� bobo. ��� De repente, como que lembrando-se

que Alline ainda n��o o conhecia, emendou num tom de des-

culpas: ��� Assim que Isabel Ramirez se restabelecer, tenho

certeza de que eles nos convidar��o para jantar em Finisterre, e ent��o voc�� conhecer�� Raul e Carlos.

��� Bem, na verdade... ��� Alline come��ou, imaginando que,

talvez, aquela seria a grande oportunidade de aventar a hip��-

tese de n��o poder ficar na ilha pelo tempo que planejara.

Mas Suzanne interrompeu-a:

��� O problema �� que J��lia n��o entende. Ela ama Raul,

claro, mas pensa que n��s apoiamos o casamento s�� por ele ser

quem ��, pelas vantagens que ela ter��, com o casamento.

��� E n��o �� isso? ��� Alline ergueu uma sobrancelha,

interrogativamente.

��� N��o. Antes fosse. ��� Suzanne fez uma pausa, lan��ando

um olhar angustiado �� amiga. ��� Se fosse, que eu lhe diria.

S�� Deus sabe como eu preciso desabafar. ��� Ela respirou fundo.

��� Estamos endividados, Ally. Devemos uma quantia conside-

r��vel ao pai de Raul. Se J��lia, n��o se casar com ele, n��o sei

o que vai acontecer.

Alline arregalou os olhos.

��� Suzanne! Acho que voc�� est�� exagerando.

54

P A R A T O D A A V I D A

��� Voc�� est�� parecendo J��lia! Acredite, Ally, n��o estou exa-

gerando. A situa����o �� seria, e sem casamento, certamente,

teremos de vender o hotel.

��� O que aconteceu? Voc�� sempre disse que os neg��cios

iam bem.

Suzanne balan��ou a cabe��a.

��� N��o, as coisas n��o iam t��o bem como proclam��vamos ���

Suzanne admitiu. ��� Quando chegamos aqui, o hotel era bem

mais simples do que agora. N��s quisemos increment��-lo com ins-

tala����es mais modernas, como piscina, sauna, jet skis e outros entretenimentos para os h��spedes... Parece que nunca termina!

��� Obviamente, voc��s n��o compraram tudo de uma vez!

��� N��o, claro que n��o. Fomos fazendo aos poucos, de acordo

com nossas possibilidades. Fizemos um empr��stimo no banco

e... bem, voc�� sabe o que acontece nesses casos, n��o? Mas com

dificuldade, est��vamos saldando a d��vida. De repente, aconte-

ceu o inc��ndio.

��� Inc��ndio... ��� Alline repetiu. ��� No hotel?

��� S�� na cozinha, felizmente. E n��s, que t��nhamos investido

uma pequena fortuna em equipamentos modernos, perdemos

tudo. Foi tudo destru��do.

��� Oh, Suzanne!

��� O pior n��o �� isso. Como a companhia seguradora n��o

aprovou a reforma que t��nhamos feito na cozinha, n��o recebe-

mos indeniza����o pelo preju��zo.

Alline estava surpresa com o relato da amiga.

��� Eu n��o fazia id��ia...

��� Nem podia. Isso n��o �� coisa para se contar vantagem.

Foi terr��vel ter que cancelar reservas e ficar com o hotel fechado

durante cinco meses. Chegamos a pensar seriamente em vender

tudo, e quando j�� est��vamos no limite de nossa toler��ncia,

Juan Ramirez nos ofereceu ajuda.

Alline umedeceu os l��bios com a ponta da l��ngua.

��� Entendo.

Suzanne balan��ou os ombros.

��� Como eu j�� lhe contei, J��lia e os meninos se conhecem

desde crian��as, e apesar de n��o podermos chamar Juan e Isabel

exatamente de amigos, nos aproximamos mais, nos ��ltimos anos.

Principalmente depois que Raul e J��lia come��aram a namorar.

��� Entendo.

55

PARA T O D A A V I D A

��� Duvido que voc�� entenda. As fam��lia espanholas geral-

mente s��o muito tradicionais, voc�� sabe. Isto ��, embora Peter

e eu tenhamos jantado em Finisterre pelo menos meia d��zia de vezes, no ano passado, n��o acho que estou mais ��ntima de

Isabel do que... h�� dezoito meses.

��� Voc�� acha que �� por causa do empr��stimo?

��� N��o, acho que n��o. As coisas iam bem at�� Raul come��ar

a viajar a neg��cios com o pai. Juan chegou a insinuar que,

assim que Raul e J��lia se casassem, a d��vida seria cancelada,

e receio que Peter e eu estejamos contando demais com isso.

��� Oh, Suzanne!

��� N��o diga nada, Ally. Eu sei. At�� Raul come��ar a passar

cada vez mais tempo trabalhando com o pai, J��lia e ele pare-

ciam muito felizes juntos.

��� Foi quando Carlos entrou em cena, suponho.

��� Isso mesmo. ��� Suzanne emitiu um som impaciente. ���

Carlos ficou fora por dois ou tr��s anos, completando os estudos

nos Estados Unidos, como Raul fizera antes. Carlos �� cinco

anos mais novo que o irm��o e um ano mais velho que J��lia,

e antes de ele ir embora J��lia n��o tinha tempo para ele.

��� Voc�� disse que eles se conhecem h�� muitos anos? ���

Alline arriscou.

��� Sim. H�� uns dez anos, talvez. Desde que J��lia foi con-

vidada para brincar com Sofia, irm�� de Raul.

��� Ele tem uma irm��? ��� Alline tentava n��o demonstrar

muito interesse.

��� Sim. Os quatro sempre foram muito amigos.

De novo, Alline umedeceu os l��bios.

��� Quantos anos Raul tem agora?

��� Raul? ��� Suzanne apertou levemente os olhos. ��� Deixe-

me ver... J��lia tem vinte e dois... imagino que Raul tenha uns

vinte e oito. ��� Ela refletiu um pouco, depois corrigiu-se: ���

N��o, vinte e nove, ele fez anivers��rio h�� pouco tempo. Quisera

eu ter vinte e nove anos! A vida era muito mais simples.

Alline for��ou um sorriso. Raul tinha exatamente dez anos me-

nos que ela. Tinha apenas nove quando ela dera �� luz os g��meos.

56





CAP��TULO VII

Na manh�� seguinte, Alline acordou com o toque

do telefone. Atendeu com voz sonolenta.

��� Al��?

��� M��e?

A voz de Sam parecia cansada, e Alline ficou tensa.

��� Sam! Tudo bem? Onde voc�� estava? Eu liguei ontem,

n��o sei quantas vezes!

��� Desculpe, se a deixei preocupada. Mas... bem, aconteceu

algo e...

��� O qu��? ��� Alline interrompeu-a apreensiva. ��� Aconteceu

alguma coisa com voc�� e Mark? Ou Ryan? Pelo amor de Deus,

Sam, diga logo!

��� Calma, m��e. N��o �� nada disso. Ali��s, n��o �� nada com

que voc�� deva se preocupar. ��� Ela soltou ruidosamente a res-

pira����o. ��� E a��, mam��e? Est�� se divertindo? Que inveja! Tia

Suzanne est�� bem? J�� mataram a saudade?

��� Sam, aqui est�� tudo bem, e eu estava me divertindo

muito at�� voc�� ligar.

��� Ora, m��e!

��� Por favor, Sam. Estou imaginando o pior. Fale logo,

por favor!

Houve um breve sil��ncio do outro lado da linha. Depois,

Sam suspirou.

��� �� o papai ��� disse ela em voz baixa. ��� Ele voltou.

Alline ficou boquiaberta.

��� Voltou? Como, voltou? Est�� dizendo que ele e Kelly vol-

taram �� Inglaterra?

��� N��o, m��e. Papai voltou sozinho. Ele e Kelly romperam. Pelo

menos, �� o que ele diz. Por isso voc�� n��o me encontrou, ontem.

Passei praticamente o dia inteiro no hotel, conversando com ele.

57

PARA T O D A A V I D A

Alline estava perplexa. N��o acreditava no que estava ou-

vindo. O relacionamento entre Jeff e Kelly parecia firme como

uma rocha. Mas ela tamb��m acreditara que o casamento deles

tamb��m fosse firme como uma rocha, e no entanto terminara.

��� Ele diz que acabou ��� continuou Sam. ��� Pelo que entendi,

os problemas come��aram assim que papai foi para Toronto. Se-

gundo ele, o sistema de ensino deles �� diferente do nosso e, mesmo

sendo chefe de departamento aqui, l�� ele era simplesmente um

professor a mais. Acredito que o pomo da disc��rdia tenha sido o

fato de Kelly ocupar uma posi����o mais elevada que ele. Voc�� sabe

como o papai ��. Ele precisa sentir sempre que �� o chefe supremo.

E como Alline sabia! Jeff sempre falara mais alto nas poucas

ocasi��es em que ela tentara fazer valer sua vontade. Como

quando os g��meos entraram na escola e ela manifestara inte-

resse em cursar uma faculdade. Jeff n��o permitira, alegando

que ela j�� tinha muitos afazeres, cuidando da casa e da fam��lia.

Por isso, depois da separa����o, Alline s�� conseguira um emprego

de auxiliar de escrit��rio.

��� �� inacredit��vel ��� murmurou, sentando-se na cama. ���

Ele disse o que pretende fazer agora?

��� Bem... ele... ��� Sam estava relutante. Ap��s uma breve

pausa, suspirou. ��� Ele disse que quer colocar uma pedra no

passado e come��ar de novo. Estou contente por voc�� estar a��,

mam��e. Voc�� n��o imagina como papai ficou contrariado quando

soube que voc�� estava viajando. Acho que ele esperava encon-

tr��-la em casa, choramingando pelos cantos. Quando eu disse

onde voc�� estava, o homem nem disfar��ou a indigna����o.

��� Sam! Ele �� seu pai. Voc�� fala como se ele fosse um estranho!

��� Para mim, ��! Ele n��o pensou em n��s quando decidiu ir

para o Canad�� atr��s daquela fulana, pensou? Ele sabia muito

bem como seria dif��cil para mim e para Ryan, que est��vamos

come��ando a faculdade. Mesmo assim, n��o se importou conosco.

��� Sam...

��� �� verdade, m��e, e voc�� sabe disso. Ele s�� pensava em

Kelly e em come��ar uma nova vida com ela. Bem, a culpa n��o

�� nossa se as coisas n��o deram certo, e n��o tenho remorso por

estar sentindo uma ponta de satisfa����o pelo que aconteceu.

��� Sam...

��� N��o fique repetindo "Sam" com essa voz, mam��e! N��o

me diga que voc�� n��o sente a mesma coisa! ��� Ela se calou,

58

P A R A T O D A A V I D A

e como Alline n��o disse nada, acrescentou com incredulidade:

��� M��e, voc�� n��o est�� com pena dele, est��?

��� N��o. ��� A palavra escapou, mas Alline n��o sabia exata-

mente como se sentia em rela����o �� novidade. N��o estava feliz,

mas tamb��m n��o lamentava. ��� Ele... pretende ficar na Ingla-

terra? ��� perguntou ap��s um breve sil��ncio, e Sam deixou es-

capar um som impaciente.

��� N��o s�� na Inglaterra, mas em Newcastle. Voc�� acredita?

Como eu disse, acho que ele est�� pensando que pode retomar as

coisas do ponto em que deixou. Por isso estou contente por voc��

estar bem longe daqui. E se Deus quiser, quando voc�� voltar, ele

ter�� se cansado de ficar nos rodeando e j�� estar�� em outro lugar.

Quanto mais longe melhor. ��� Sam n��o escondia a revolta. ���

Eu at�� disse que ser�� muito dif��cil encontrar um cargo �� altura

dele, aqui nas redondezas. Mas ele afirmou que, enquanto n��o

conversar com voc��, n��o tomar�� nenhuma decis��o.

Alline passou a m��o pelos cabelos num gesto nervoso.

��� Por qu��?

��� O que voc�� acha? Ele a quer de volta, mam��e. A verdade

�� uma s��: papai �� um ego��sta! Durante anos, ele fez voc�� de

gato e sapato e deve estar pensando que basta estalar os dedos

para voc�� se jogar ao p��s dele.

��� N��o �� bem assim ��� Alline protestou. N��o queria que a

filha, e provavelmente o filho, a tratassem como v��tima.

��� Como n��o? ��� Sam retrucou de imediato. ��� Para voc��,

a vontade dele era lei. S�� que Kelly �� diferente. Ela n��o �� do

tipo de fazer as vontades de homem nenhum, principalmente

de algu��m como papai.

Alline franziu as sobrancelhas.

��� Por que voc�� diz isso?

��� Ora, mam��e... Ele n��o �� nenhum gal�� de cinema. Tudo

bem, tamb��m n��o �� de se jogar fora, mas j�� tem mais de

quarenta, e Kelly s�� tem vinte e oito anos!

��� Do jeito que voc�� fala, parece que seu pai �� um velho decr��pito.

Alline sentiu um aperto no est��mago s�� de imaginar a rea����o

de Sam se soubesse que a pr��pria m��e se envolvera com um

homem dez anos mais jovem! Ficou apreensiva tamb��m com

a perspectiva de rever o ex-marido. Imaginara que nunca mais

o veria, principalmente naquelas circunst��ncias. Talvez Sam

estivesse certa. Jeff a dominara durante muitos anos, e jamais

59

PARA T O D A A V I D A

passaria pela cabe��a dele que ela poderia tomar outra atitude

que n��o aceit��-lo de volta.

Mas ela estava mudada. N��o o queria de volta. Na noite

que passara com Raul, Alline compreendera, entre outras coi-

sas, que seu relacionamento com Jeff n��o era aquela maravilha

que sempre acreditara que fosse. A seu modo, ela o amara,

mas amara principalmente a seguran��a que Jeff representava.

Destruindo esse elemento do casamento, ele destru��ra tudo.

S�� que Alline n��o percebera nada disso, antes.

��� N��o estou dizendo que um homem de quarenta anos seja

velho ��� Sam explicou, e Alline tentou concentrar-se nas pa-

lavras da filha. ��� Mas, admita, mam��e, tamb��m n��o �� jovem!

��� Eu sei...

Alline tentava raciocinar. Sam apresentara a desculpa per-

feita para interromper suas f��rias. Provavelmente, Suzanne

faria mil obje����es, mas acabaria entendendo se ela insistisse

em voltar para casa.

��� Estou feliz que voc�� esteja se divertindo, mam��e ��� con-

tinuou Sam. ��� Aposto que tia Suzanne ficou contente por

rev��-la. Isso �� uma coisa que voc�� jamais faria se ainda esti-

vesse casada com papai. Ele nunca encorajou suas amizades.

Tinha medo de dividir seu afeto com quem quer que fosse.

��� Ah, voc�� est�� exagerando, Sam. ��� Alline n��o podia per-

mitir que a filha continuasse massacrando Jeff. ��� Seu pai era

apenas um pouco... possessivo.

��� Um pouco!? Ah, voc�� �� generosa demais, mam��e! ��� Depois,

talvez, percebendo que suas palavras haviam surtido um efeito

contr��rio, ela recuou. ��� Tudo bem, mam��e. Tem algum recado

para ele? Algo como... "Desapare��a!"... ou "V�� para o inferno!'?

��� Chega, Sam! Se eu tiver alguma coisa para dizer a seu

pai, direi pessoalmente.

��� Quando?

��� Quando em voltar, claro.

Sam ficou alerta.

��� Se ele ainda estiver por aqui, n��o ��?

��� Ele ainda estar�� por a��. ��� Alline respirou fundo. ��� Acho

melhor pegar o primeiro v��o para Londres.

��� Nem pensar! ��� Sam gritou com voz estridente.

��� Por que n��o?

��� Porque eu disse a ele que voc�� s�� voltaria no final de

60

P A R A T O D A A V I D A

fevereiro. Se voltar agora, ele vai achar que est�� desesperada

para voltar ��s boas com ele!

Foi com o corpo pesado e o cora����o apertado que Alline

desceu para tomar o caf�� da manh��. Acabara prometendo a

Sam que n��o tomaria nenhuma decis��o precipitada antes de

tornar a falar com ela. Sua situa����o na ilha n��o ficara menos

ou mais delicada s�� porque o ex-marido decidira voltar para

casa. N��o entendia por que estava t��o hesitante, por que per-

mitira que as palavras de Sam a influenciassem. N��o era uma

desculpa convincente que ela queria? Pois ent��o, j�� tinha um

pretexto para interromper suas f��rias. Mentiria a Suzanne,

dizendo que, pelos filhos, sentia-se na obriga����o de conversar

com Jeff e ouvir o que ele pretendia fazer. Suzanne n��o apro-

varia, mas tamb��m n��o poderia impedi-la.

Por outro lado, n��o queria que Jeff interpretasse mal sua

volta antecipada. Ele sempre se aproveitara de suas fraquezas

e, como Sam dissera, iria mesmo pensar que ela estava ansiosa

para reatar o relacionamento. E, certamente, seria dif��cil con-

venc��-lo de que a coisa n��o era bem assim.

Alline sorriu ao pensar no que Jeff diria se soubesse o verda-

deiro motivo pelo qual ela queria deixar a ilha. N��o acreditaria.

Jamais passaria pela cabe��a dele que algum outro homem, prin-

cipalmente um mais jovem, pudesse sentir-se irresistivelmente

atra��do por ela. O mais prov��vel era que a acusasse de estar

apenas querendo vingar-se por ele t��-la trocado por outra mulher.

Mais uma vez, Alline era obrigada a concordar com Sam.

Jeff era ego��sta. E preconceituoso.

��� Sra. Sloan? Alline...

A voz masculina era vagamente familiar. Voltando-se, Alline

deparou-se com Tom Adams. Suspirou. A ��ltima coisa que que-

ria era mais problemas em sua vida. E o fato de Tom Adams

t��-la visto com Raul era uma complica����o a mais.

��� Bom dia ��� ela o cumprimentou, parando na entrada do

restaurante ao ar livre.

Tom Adams sorriu.

��� Vai tomar o caf�� da manh�� sozinha?

��� �� o jeito. ��� Ela relanceou os olhos pelo p��tio ensolarado.

��� Imagino que voc�� j�� tenha tomado caf��.

��� Infelizmente. ��� Tom pareceu encantado com o convite

velado. ��� Mas seria um prazer se...

6 1

PARA T O D A A V I D A

��� Tia Ally! Tia Ally, espere!

O chamado de J��lia fez com que ambos se voltassem. Alline

quase desfaleceu ao ver Raul e J��lia indo ao encontro deles.

De cal��a preta e camisa caqui, Raul estava irresistivelmente

atraente, e Alline olhou assustada para Tom Adams. S�� faltava

ele comentar que ela e o namorado de J��lia j�� se conheciam!

Mas antes que o casal se aproximasse, Tom Adams j�� se

despedia.

��� Vejo que j�� tem companhia para o caf�� ��� murmurou ele

num tom quase inaud��vel. ��� Talvez, possamos nos encontrar

mais tarde. Na praia?

Alline ficou aliviada. Afinal, Tom Adams n��o lhe causaria

problemas.

��� Na praia? ��� Com um sorriso agradecido, pousou a m��o

no bra��o dele. ��� Sim, na praia.

Tom sorriu satisfeito e afastou-se antes da chegada de Raul

e J��lia. Pelo olhar fulminante de Raul, Alline percebeu que

ele notara a troca de gentilezas.

��� Tia Ally, quero que conhe��a Raul. ��� J��lia fez as apre-

senta����es. ��� Raul, esta �� Alline Sloan. �� a amiga da minha

m��e que veio da Inglaterra e que voc�� deveria ter procurado

no aeroporto, lembra-se? Acho que ela n��o se importa se voc��

a chamar de tia Ally, tamb��m.

Alline ficou r��gida. Felizmente, Raul salvou-a.

��� N��o acho que a sra. Sloan tenha idade para ser sua tia,

e muito menos minha ��� ele ponderou, estendendo a m��o para

Alline, que n��o teve escolha sen��o apert��-la. Depois, com um

cinismo inacredit��vel, acrescentou: ��� Acho que j�� nos vimos

antes, sra. Sloan. Se n��o me engano, subimos juntos no ele-

vador, ontem de manh��.

Alline empalideceu e J��lia olhou-o surpresa.

��� Voc�� n��o me disse nada.

Raul deu de ombros.

��� Eu a vi, mas n��o sabia que era a sra. Sloan ��� explicou.

��� Foi quando fui ao escrit��rio para conversar com seu pai. ���

E virando-se para Alline, acrescentou: ��� O mundo �� pequeno.

��� �� mesmo. ��� Alline sentiu o sangue voltar-lhe ao rosto

e, com determina����o, retirou a m��o que Raul ainda segurava.

��� Prazer em rev��-lo.

Aparentemente, J��lia n��o percebera nada de anormal.

��� Vamos indo? ��� Ela pegou na m��o do namorado. ��� Vamos

62

PARA T O D A A V I D A

passear de barco, tia Ally. Raul dirige a empresa de aluguel

de barcos do pai.

Alline for��ou um sorriso. V��-los juntos era mais doloroso do

que imaginara.

��� Ent��o, tenham um bom dia e divirtam-se.

��� Por que n��o vem conosco, sra. Sloan?

O convite de Raul pegou-a completamente de surpresa. Ten-

tou pensar rapidamente numa recusa, mas J��lia antecipou-se.

��� Voc�� n��o est�� falando s��rio?! ��� exclamou a garota, evi-

dentemente n��o pretendendo ofender Alline. ��� Tia Ally n��o

entende nada de barcos. Duvido que ela tenha entrado em

alguma coisa maior do que um barco a motor.

��� Mais uma raz��o para ela ir! ��� Raul argumentou num

tom calmo, e J��lia mal disfar��ava a contrariedade.

��� Por que voc�� insiste em... ��� J��lia come��ou, mas Alline

interveio com firmeza.

��� Obrigada, mas prometi ir �� praia com o sr. Adams, depois

do caf��. ��� Ela sorriu com dificuldade.

��� Num outro dia, talvez ��� Raul murmurou, ignorando a agi-

ta����o da namorada. ��� Parece que voc�� vai ficar algumas semanas.

��� N��o sei ainda at�� quando...

��� N��o? ��� interrompeu Raul. ��� Certamente, n��o est�� pen-

sando em reduzir suas f��rias.

Alline estremeceu, obrigando-se a fit��-lo para n��o levantar

as suspeitas de J��lia.

��� Talvez eu tenha necessidade de voltar �� Inglaterra antes

do previsto.

Raul sorriu.

��� Espero que n��o. ��� A determina����o dele era quase as-

sustadora. ��� J��lia esqueceu de dizer que eu trouxe o convite

dos meus pais para um jantar em Finisterre, depois de amanh��.

Minha m��e est�� ansiosa para conhec��-la.

��� Bem, eu...

��� N��o ligue para ele, tia Ally. Ele gosta de brincar com as

pessoas. Mas eu tamb��m acho que voc�� n��o deve em ir embora.

Imagine, depois de esperar sabe-se l�� quanto anos para vir

nos visitar! E mam��e jamais a perdoar��, se preferir enfrentar

o inverno ingl��s em vez de ficar aqui conosco.

Alline sentiu-se encurralada. N��o tinha a menor id��ia do

que Raul pretendia, mas sabia que ele n��o estava brincando.

O que ele pretendia, ent��o? Atorment��-la? Chantage��-la?

Ou simplesmente queria que ela ficasse?

63





CAP��TULO VIII

Naquela noite Alline dormiu mal e, na manh��

seguinte, acordou cansada, com os nervos en-

rijecidos e sensa����o de n��usea.

Entrou debaixo do chuveiro e deixou a ��gua quente escorrer

por seu corpo, numa tentativa de aliviar a tens��o dos m��sculos

dos ombros e pesco��o.

Enquanto se enxugava, fez um r��pido balan��o da situa����o

em que se encontrava. Antes, ela temia ofender Suzanne e

Peter com a antecipa����o de sua volta. Agora, Raul tamb��m

resolvera defender a n��o-interrup����o de suas f��rias. E, acima

de tudo, estava Sam, pedindo-lhe para n��o estragar as f��rias,

para n��o alimentar o ego��smo de Jeff.

E havia, ainda, Tom Adams. Passara horas agrad��veis com

ele na praia, no dia anterior, por��m n��o pretendia passar as

f��rias inteiras ao lado dele. Tom era gentil, mas era muito

parecido com Jeff, em certos aspectos, e Alline n��o queria ali-

mentar esperan��as.

Estava saindo do quarto para ir tomar o caf�� da manh�� quando

o telefone tocou. Voltou correndo para atender. Devia ser Sam.

��� Al��?

��� Bom dia, Alline.

O cora����o dela deu um pulo. Era Raul.

��� O que voc�� quer?

��� Falar com voc��, ora! O que mais? ��� A voz dele tinha

um tom divertido. ��� E ent��o? Divertiu-se ontem? Eu a vi na

praia com aquele senhor. Diga-me uma coisa. Ele se autopro-

clamou seu protetor contra sujeitos indesej��veis, como eu?

Alline soltou um suspiro impaciente.

��� Que absurdo! E Tom n��o �� um senhor, pelo menos n��o

64

PARA T O D A A V I D A

no sentido pejorativo. E est�� mais de acordo com a minha

idade do que voc��.

��� N��o concordo. ��� A voz de Raul perdeu um pouco do

senso de humor. ��� Afinal, a diferen��a de idade entre n��s ��

de apenas alguns anos. ��� Ele se calou por um instante, depois

concluiu: ��� Se �� que voc�� considera importante cont��-los.

��� A diferen��a �� de dez anos, exatamente ��� afirmou Alline.

E mesmo sabendo que se odiaria por isso, perguntou: ��� Como

voc�� me viu na praia? Voc�� e J��lia n��o sa��ram de barco?

��� Sa��mos. O tempo n��o estava favor��vel e tivemos de voltar.

Mas estou surpreso com o seu interesse em descobrir a minha

idade. Isso me deixa contente. Muito contente.

Um arrepio percorreu a espinha de Alline. Ela refletiu por

alguns instantes e achou melhor ignorar o coment��rio a respeito

da idade.

��� Voc�� disse que o tempo n��o estava favor��vel? Como n��o?

Estava maravilhoso! Ensolarado e com uma brisa suave...

��� Voc�� est�� insinuando que houve outra raz��o para voltarmos?

��� N��o estou insinuando nada ��� ela disse, arrependida.

A voz sensual enrouqueceu:

��� Talvez esteja pensando que voltei s�� para v��-la.

��� N��o. ��� Alline umedeceu os l��bios com a ponta da l��ngua.

��� Eu jamais pensaria uma coisa dessas.

��� Talvez n��o. Mas n��o telefonei para discutir o que acon-

teceu ontem. Quero saber quais s��o seus planos para hoje.

��� Ho... Hoje? ��� Alline gostaria de ter uma resposta. ���

Eu... n��o tenho certeza...

��� Obviamente n��o tem nada planejado ��� Raul interrompeu

com rispidez. ��� Vou busc��-la dentro de... digamos, uma hora?

��� Voc�� n��o pode.

��� Por que n��o?

��� N��o quero ir a lugar nenhum com voc��.

��� N��o? ��� ele a desafiou.

��� N��o. J��lia...

��� J��lia vai passar o dia no sal��o de beleza ��� ele informou.

��� Parece que quer ficar bonita para o jantar de amanh��.

��� Talvez, ent��o, seja melhor eu marcar uma hora para

mim tamb��m... j�� que voc�� insiste que eu v��. ��� Ela respirou

fundo. ��� Por que fez isso comigo? N��o imaginou que eu me

sentiria mal?

65

PARA T O D A A V I D A

��� Imaginei, sim. ��� Depois, Raul completou num tom mais

incisivo: ��� N��o quero que voc�� volte �� Inglaterra. Quero que

fique aqui.

Alline come��ou a tremer.

��� Por qu��? Por qu��?

��� Depois eu conto. Leve um chap��u. O sol �� inclemente,

na ��gua.

��� Eu n��o posso...

��� Esteja no port��o ��s nove horas ��� ordenou Raul, ignorando

os protestos dela. ��� N��o me deixe esperando.

Ele desligou e Alline n��o teve tempo de dizer que n��o queria

ir. Tamb��m n��o podia telefonar desmarcando, pois n��o tinha

a menor id��ia de onde ele estava.

Ela gemeu, consternada. Aquilo n��o podia estar acontecendo!

Com um suspiro, olhou-se no espelho e decidiu que precisava

trocar de roupa. A camiseta creme e o short branco, definiti-

vamente, j�� tinham visto melhores dias. Tamb��m sempre tivera

consci��ncia de seus quadris generosos. Mas as pernas eram

bonitas. Talvez elas desviassem a aten����o dele dos...

Calma!

Ela balan��ou freneticamente a cabe��a. Estava delirando!

N��o, n��o iria ao encontro de Raul. Era del��rio, sim, porque

ficaria bem quieta no quarto at�� a hora do almo��o. At�� que

n��o tivesse mais probabilidade de encontr��-lo.

Passou a m��o pela nuca. Estava ��mida. S�� de falar ao te-

lefone com ele, o corpo dela reagia dessa maneira. Raul a re-

duzira a um ser sem vontade pr��pria, incapaz de controlar-se.

Isso tinha de acabar.

Arrancando a roupa, Alline entrou no chuveiro novamente.

Abriu a torneira de ��gua fria e ficou parada, at�� come��ar a

tremer. Depois de enxugar-se, vestiu uma camiseta regata e

saia de algod��o estampado.

O telefone tocou de novo.

Ela encostou-se na cama, olhando para o aparelho quase com

m��rbida fascina����o. S�� porque poderia ser Sam, ela atendeu.

��� Alline?

Tom!

Alline reprimiu um grito de frustra����o.

��� Ol��, Tom ��� conseguiu dizer. ��� Desculpe, mas n��o posso

falar agora. Estou entrando no banho.

66

PARA T O D A A V I D A

��� Oh, n��o quero atrapalhar. ��� Ele era irritantemente com-

preensivo. ��� Eu tamb��m n��o tomei banho ainda. Dormi demais.

��� Eu...

��� S�� liguei para saber se poder��amos fazer alguma coisa

hoje. Ainda n��o conhe��o a ilha, e parece que voc�� tamb��m

n��o. Pensei em alugar um carro...

��� N��o posso. ��� Alline sabia que se arrependeria, mas a

��ltima coisa que queria era passar um dia inteiro com Tom

Adams. Fingindo n��o ouvir a voz da consci��ncia, acrescentou

imprudentemente: ��� Eu j�� assumi um compromisso e vou sair

com outra pessoa.

��� �� mesmo? ��� A voz dele n��o disfar��ava o desapontamento.

��� Algu��m que eu conhe��a?

Alline apertou os l��bios. Realmente, Tom era muito parecido

com Jeff.

��� Eu... N��o. Eu preciso desligar.

��� Claro... bem... divirta-se.

Soltando um longo suspiro, ela desligou o telefone. A situa����o

agravara-se. Agora, tinha dois homens para evitar, e de novo

via-se encurralada.

Tr��s, com Jeff, pensou, desolada. Sem falar na necessidade de fazer malabarismos para esconder tudo de Suzanne.

Que enrascada! Uma coisa era certa. N��o poderia passar

uma manh�� inteira a s��s com o futuro marido de J��lia.

Suspirando, saiu para o terra��o e contemplou o cen��rio des-

lumbrante que se descortinava �� sua frente. Era magn��fico!

Apertou os l��bios. Estava mesmo decidida a passar um dia

inteiro trancada no quarto, s�� porque era t��mida e insegura

demais para enfrentar uma situa����o dif��cil?

N��o!

Voltando para o quarto, pegou a bolsa e os ��culos escuros

e saiu. Tomaria o caf�� da manh��, depois decidiria o que fazer.

Com passos decididos, entrou no elevador, mas quando a

porta se abriu no sagu��o, j�� n��o se sentia mais t��o segura.

��� Ally!

A voz de Suzanne sobressaltou-a, mas ela conseguiu voltar-

se para a amiga com express��o menos assustada.

��� Bom dia, Suzanne.

��� Bom dia. Voc�� est�� ��tima e j�� est�� ficando bronzeada.

��� Parece que sim ��� respondeu Alline, percebendo a an-

siedade de Suzanne. ��� Aconteceu alguma coisa?

67

P A R A T O D A A V I D A

��� N��o, nada. ��� Suzanne for��ou um sorriso. ��� Na verdade,

eu ia justamente pegar o elevador para ir ao seu quarto. Quero

pedir-lhe um favor.

Alline sentiu uma contra����o no est��mago.

��� Claro... Do que se trata?

��� Ou��a primeiro, antes de comprometer-se ��� aconselhou

Suzanne, pousando a m��o no bra��o de Alline. ��� O que acha

de passar a manh�� com Raul?

��� Com Raul?

Um pouco da consterna����o que sentia devia ter se refletido

em seu rosto, pois Suzanne apressou-se em explicar:

��� Eu sei. Parece estranho, mas Raul acredita que voc�� vai adorar

o passeio. J��lia deveria ir junto, mas ela j�� estava com hora marcada no cabeleireiro, e eu e Peter estamos lotados de trabalho.

Alline umedeceu os l��bios entreabertos. Era s�� o que faltava!

��� Foi Raul quem lhe pediu para falar comigo?

Suzanne hesitou por um instante, depois confirmou com um

gesto de cabe��a.

��� N��o podia ser diferente, n��o? Ele mal a conhece. J��lia

me contou que voc��s conversaram rapidamente no elevador,

um dia destes. E que ontem voc��s se encontraram aqui no

sagu��o, quando eles sa��am para o passeio de barco. ��� De

novo, ela hesitou. ��� Bem... voc�� sabe como �� a fam��lia dele...

Tudo deve ser feito formalmente.

Alline n��o sabia o que dizer. Ou melhor, sabia, mas n��o

podia. Decididamente, ela subestimara Raul.

��� Olhe, querida, Raul �� um amor de pessoa ��� Suzanne

prosseguiu, evidentemente acreditando que Alline precisava

de um pouco de encorajamento. ��� Tenho certeza de que voc��

vai adorar conhecer a ilha. E estar�� me fazendo um favor. Eu

n��o gostaria de ofend��-lo.

��� N��o. ��� A voz de Alline soou seca. Depois de tudo que

Suzanne lhe contara, n��o estava nem um pouco surpresa. ���

Sim, eu entendo.

��� Eu sabia que voc�� entenderia. ��� Suzanne afagou o bra��o

da amiga. ��� Veja o lado positivo da situa����o. Muitas mulheres

ficariam lisonjeadas com a aten����o de um jovem bonito e char-

moso como Raul. Afinal, voc�� �� apenas a tia da namorada dele!

Eu n��o sou tia da namorada dele!, Alline teve vontade de

gritar. E voc�� n��o sabe de nada! Se soubesse, jamais pensaria em sugerir uma coisa dessas!

68

PARA T O D A A V I D A

��� O que voc�� me diz?

Suzanne a olhava ansiosamente, e Alline n��o sabia como re-

cusar. Tamb��m n��o sabia se queria recusar. N��o sabia mais nada.

��� Eu... ��� Ela verificou as horas no rel��gio de pulso. J��

passava de oito e meia. ��� Eu ainda n��o tomei caf��.

��� Sem problema. ��� Enla��ando-a pela cintura, Suzanne

conduziu-a at�� o restaurante ao ar livre. ��� Vou pedir para

Martin servi-la imediatamente. O que voc�� quer? Ovos com

bacon? Panquecas?

��� Torradas, apenas ��� respondeu Alline, num fio de voz.

Tacitamente, ela acabara de aceitar o convite de Raul. E com

isso, mais uma vez, ele conseguira seu intento.

C��us, e pensar que apenas uma semana atr��s, seu maior

problema era decidir que roupa usar na viagem! Desde ent��o,

parecia que embarcara numa montanha-russa sem fim...

Alline terminava de comer a torrada com gel��ia quando

avistou Raul entrando no restaurante. De camiseta regata e

short azuis, ele parecia confortavelmente familiar, e Alline sen-

tiu a garganta seca.

Um furtivo olhar ao rel��gio comprovou a pontualidade dele.

Nove horas em ponto.

��� Ol�� ��� ele a cumprimentou, puxando uma cadeira e sen-

tando-se. ��� Est�� pronta?

A chegada de Raul atraiu olhares curiosos. Embara��ada,

Alline olhou ao redor.

��� E n��o deveria estar? ��� respondeu com impaci��ncia. ��� Diga-

me, voc�� costuma recorrer a terceiros para arrumar-lhe encontros?

Raul sorriu maliciosamente.

��� Este nosso passeio �� um encontro?

Alline corou. Lamentava n��o ter mais experi��ncia com o

sexo oposto.

��� Estou pronta. Vamos.

��� Vamos. ��� Ele se levantou. ��� Gosto de mulheres que

sabem o que querem e correm atr��s desse objetivo.

Alline lan��ou-lhe um olhar furioso.

Sabendo que jamais levaria vantagem sobre ele, levantou-se

sem nenhum coment��rio. Furiosa, saiu do restaurante.

O convers��vel creme que vira com Carlos no aeroporto estava

estacionado na frente do hotel. Evidentemente, depois de re-

69

P A R A T O D A A V I D A

ceber o aval de Suzanne para passear com a "tia da namorada", Raul n��o precisava deixar o carro nos port��es laterais.

��� �� seu? ��� ela apontou para o carro.

��� N��o. �� do Carlos. ��� Ele abriu a porta do passageiro. ���

Voc�� gosta?

Alline deu de ombros e n��o respondeu, fazendo quest��o de

n��o disfar��ar o mau humor.

Raul conteve um sorriso.

��� Voc�� deveria ter vindo de short ��� comentou, dando a

volta para sentar-se ao volante. O bra��o dele ro��ou no dela.

��� Tudo bem. Talvez possamos achar algo mais adequado para

voc�� vestir.

��� N��o preciso de nada mais confort��vel. ��� Aonde vamos?

Raul ligou o motor do carro e desceu a pequena alameda

do hotel.

��� Voc�� deve imaginar. Eu disse para trazer um chap��u.

��� Talvez lhe interesse saber que eu n��o pretendia sair com

voc�� ��� Alline declarou quase com rispidez, rezando para que

seu cora����o n��o batesse com tanta for��a e para que suas m��os

parassem de suar. ��� E n��o vou usar chap��u.

Raul balan��ou os ombros.

��� Pois deveria. ��� Ele fez uma breve pausa. ��� E eu sabia

que voc�� n��o viria. Por isso, pedi para Suzanne falar com voc��.

��� Para chantagear-me? ��� Alline sabia que estava exage-

rando, mas n��o conseguia conter-se. ��� N��o se envergonha?

Raul suspirou profundamente.

��� Eu n��o sabia que voc�� reagiria assim. ��� Ele parou no

acostamento e olhou para ela. ��� Quer voltar?

��� N��o... n��o podemos.

��� Podemos, sim. E vou lev��-la de volta. ��� Ele comprimiu

os l��bios. ��� N��o quero que diga que precisei chantage��-la

para sair comigo.

Alline fechou os olhos.

��� Eu n��o disse isso.

��� Disse, sim.

��� Bem, n��o foi o que eu quis dizer. N��o literalmente. ���

Tornou a abrir os olhos. ��� E se voltarmos, Suzanne ter�� raz��o

em pensar que eu o ofendi.

��� E ofendeu. Mas eu arranjo uma desculpa, se �� o que

voc�� quer.

70

PARA T O D A A V I D A

Alline apertava a al��a da bolsa.

��� Ora, voc�� sabe muito bem o que eu quis dizer... o que

eu estava tentando dizer. Eu n��o quis ofend��-lo... mas n��o

dever��amos estar fazendo isto.

Os olhos de Raul escureceram.

��� Isso significa que voc�� n��o quer voltar?

��� N��o. Sim. ��� Alline fitou-o, a express��o franca e vulne-

r��vel. ��� Oh, acho que voc�� pensa que sou idiota!

��� N��o. Apenas... incrivelmente sexy. E inocente demais.

Sexy! Alline desviou o olhar, e encarando o sil��ncio dela

como consentimento, Raul voltou para a estrada.

Por mais imprudente que fosse seu comportamento, Alline

estava decidida a aproveitar aquela manh�� ao lado de Raul.

Se n��o estivesse t��o empenhada na luta contra as pr��prias

emo����es, teria adorado o trajeto at�� a marina. L�� estavam

ancorados muitos dos barcos da empresa do pai de Raul, ex-

plicou ele. Era a primeira vez que Alline sa��a do hotel desde

que chegara �� ilha, e estava encantada com tanta beleza. In-

felizmente, por��m, a ansiedade com rela����o ao que estava fa-

zendo sufocava todo o encantamento.

Apesar da aprova����o de Suzanne, ela n��o conseguia relaxar.

E para piorar, de repente arrependeu-se por n��o ter ligado

para Sam antes de deixar o hotel. Embora ainda sem nenhuma

decis��o tomada, sentia-se na obriga����o de manter-se em contato

constante com a filha.

��� Em que voc�� est�� pensando?

A pergunta de Raul arrancou-a do devaneio.

��� Em nada.

Raul lan��ou-lhe um olhar enviesado.

��� Tem certeza de que n��o quer voltar?

��� Tenho. ��� Alline devolveu-lhe um olhar indignado. ��� Eu

n��o penso em mais nada, al��m de voc�� ��� ironizou.

Raul sorriu.

��� Fico feliz por saber.

��� Convencido! ��� Ela for��ou um sorriso. ��� Na verdade, eu

estava pensando em Jeff.

��� Seu ex-marido? ��� Ele lembrava de tudo. ��� Por que n��o

me sinto lisonjeado?

��� N��o seja sarc��stico! N��o estou pensando nele da maneira

que voc�� est�� imaginando.

71

P A R A T O D A A V I D A

��� Que maneira acha que estou imaginando?

��� Oh, esque��a! ��� Depois, compreendendo que, de certa

forma, devia-lhe um esclarecimento, disse: ��� Ele voltou.

��� Voltou?

A estrada come��ava a ficar mais estreita, descendo em cur-

vas para o n��vel do mar, onde uma pequena marina abrigava

diversos barcos, de diferentes tamanhos. Havia algumas pes-

soas no cais, mas a maioria dos ancoradouros estava vazia.

��� Voltou? ��� Raul repetiu, depois de estacionar o carro. ���

Como voc�� sabe?

��� Sam me telefonou. Minha filha, lembra-se?

��� Claro que me lembro. Quando ela telefonou?

��� Ontem de manh��. N��o que isso seja de seu interesse,

mas voc�� perguntou em que eu estava pensando, e eu respondi.

Os l��bios de Raul se curvaram.

��� Posso perguntar se voc�� sabia que ele ia voltar?

��� N��o, eu n��o sabia de nada. Nem imaginava. O relacio-

namento dele com Kelly era muito s��lido.

��� O seu relacionamento com ele tamb��m era ��� Raul re-

bateu e Alline prendeu a respira����o.

��� N��o, n��o era. ��� Ela hesitou. ��� Eu tinha apenas dezoito

anos quando me casei.

��� Mas voc�� deve ter acreditado que o casamento seria

s��lido. Ou...

��� Eu estava gr��vida ��� Alline declarou com o rosto corado

e os olhos brilhando de constrangimento. ��� Certamente, voc��

vai reavaliar sua opini��o a meu respeito.

Raul lan��ou-lhe um olhar impaciente e tirou a chave da igni����o.

��� Vamos ��� disse ele, abrindo a porta do carro e saindo

para abrir o porta-malas.

Alline viu-o pegar uma cesta de piquenique.

��� Venha comigo.

Alline seguiu-o em sil��ncio. Atravessaram o pequeno cais,

caminhando sobre ripas de madeira. Ela caminhava com cui-

dado, lamentando n��o ter cal��ado t��nis em vez de sand��lias

de tiras e saltinho, que lhe escapavam dos p��s.

Parou para ajustar as tiras, e quando levantou a cabe��a

Raul tinha desaparecido. Parecia que tinha se evaporado! Alline

olhou ao redor, confusa, sem saber que dire����o seguir.

��� Alline!

72

P A R A T O D A A V I D A

O som da voz assustou-a. Girou nos calcanhares, incerta de

onde vinha o chamado. Ent��o, avistou-o. Ele estava no conv��s

de um veleiro luxuoso, cujos mastros pareciam grandes demais

para uma pessoa manejar sozinha.

Entretanto, ao girar o corpo, o salto de uma das sand��lias

ficou preso entre as ripas, e ela perdeu o equil��brio. Raul soltou

um improp��rio, e com agilidade correu para o cais e segurou-a

firmemente, impedindo-a de cair na ��gua.

��� Que loucura! ��� ele exclamou e, erguendo-a nos bra��os,

levou-a para o barco.

Em choque, Alline n��o protestou. No conv��s, Raul colocou-a

no ch��o, mas ela ainda tremia.

��� Que id��ia, usar sand��lias de salto! ��� Tocando-lhe o quei-

xo, ele a obrigou a encar��-lo.

��� Eu n��o sabia que teria de caminhar na corda bamba. ���

A culpa n��o foi minha.

��� Ora, Alline! At�� uma crian��a sabe andar em um p��er de

madeira!

��� Ent��o, obviamente, a minha intelig��ncia n��o me permite

tal fa��anha ��� ela protestou, sentindo o conv��s movendo-se sob

seus p��s. ��� Al��m do mais, eu n��o sabia que ir��amos sair de barco.

��� Maluca! ��� ele resmungou baixinho, ro��ando os l��bios

nos dela.

��� N��o... ��� Ela tentou empurr��-lo, mas a l��ngua de Raul

j�� buscava a vulnerabilidade de sua boca.

Os sentidos de Alline mergulharam numa nebulosa. Era

inevit��vel. Ainda n��o recuperado do susto, seu cora����o dispa-

rou, as batidas ecoando nos ouvidos, o sangue latejando, fer-

vilhando, queimando-lhe a pele sens��vel.

Ela precisava cont��-lo, bater os punhos fechados no peito dele,

defender-se daquela investida totalmente inadequada. Mas n��o

fez nada. Absolutamente nada. N��o podia. Num momento de

rara honestidade, no tocante ��quele homem, era obrigada a re-

conhecer sua pouca ou nenhuma capacidade de resist��ncia.

Enquanto a l��ngua explorava-lhe a boca, as m��os percor-

riam-lhe avidamente as costas, tocando em cada ponto sens��vel

de sua espinha, acariciando-lhe as n��degas, puxando-a de en-

contro ao corpo r��gido.

A excita����o de Raul era evidente. Rendendo-se, amoldou o

corpo ao dele e, por alguns momentos, perdeu completamente

73

PARA T O D A A V I D A

o controle. O modo como ele a beijava, como a acariciava, como

pressionava os quadris contra os seus, expulsava todos os pen-

samentos da cabe��a de Alline. S�� queria que Raul continuasse

provando que ela era ainda era uma mulher desej��vel. Mas

quando Raul introduziu a m��o sob sua saia, ela se deu conta

de que estavam no conv��s do iate, �� vista de quem passasse

pelo cais. Como que despertando de um sonho, ela o empurrou.

��� Pelo amor de Deus! ��� Com m��os tr��mulas, ajeitou a

saia, e pelo olhar espantado de Raul, percebeu que ele tamb��m

se esquecera de onde estavam.

��� Desculpe-me ��� ele murmurou, dando-lhe as costas. ���

Voc�� deve pensar que sou um animal.

Alline estremeceu.

��� N��o... n��o... ��� apressou-se Alline em dizer com voz enron-

quecida. Depois, apoiou-se no balaustre. ��� Quer que eu v�� embora?

��� Voc�� sabe o que eu quero e n��o �� nada disso. ��� Ent��o,

como se n��o suportasse continuar com a conversa, respirou

fundo e disse num tom descontra��do: ��� Bem-vinda a bordo do

Isabella. Foi minha m��e quem escolheu o nome. ��� Ap��s uma

breve pausa, acrescentou: ��� Vou levantar ��ncora. Estamos

perdendo a melhor hora do dia.

Alline observava todos os movimentos de Raul, que com

precis��o e habilidade cuidava dos preparativos para iniciar o

passeio. Com o cora����o aos saltos, ela o olhava enlevada, fas-

cinada. N��o! N��o posso estar apaixonada por ele!, pensou es-tarrecida. Isso, sim, seria uma grande estupidez!

Passava das duas horas quando Raul atracou o Isabella no cais.

O passeio demorara muito mais do que Alline imaginara. Depois

do incidente no p��er e da cena do beijo, fora como se, de repente,

um clima de crua realidade pairasse sobre eles. Raul comportara-se

como se nada tivesse acontecido. N��o fizera nenhum coment��rio

sobre o epis��dio no conv��s, e Alline ficara com a sensa����o de que

apenas imaginara o desejo contido nos beijos e na voz dele.

N��o fosse isso, o dia teria sido perfeito. Raul pilotara o iate

com maestria, provando que n��o exagerara ao dizer que cos-

tumava passar os ver��es como ajudante nos barcos do pai.

Para algu��m que nunca pisara numa embarca����o antes, Alline

portara-se maravilhosamente bem. Encantara-se com as aves ma-

r��timas e os peixes em seus ambientes naturais. Raul era um

74

P A R A T O D A A V I D A

guia perfeito. Passara o tempo todo apontando lugares pitorescos

ao longo da costa, chamando-Ihe a aten����o para as diversas for-

ma����es rochosas, discutindo as possibilidades de encontrarem na-

vios naufragados entre as rochas e os recifes de coral.

Almo��aram �� uma hora, ancorados numa caverna deserta,

que parecia intocada. E quando Raul sugeriu que mergulhas-

sem, ela quase sucumbiu �� tenta����o. Segundo ele, havia alguns

mai��s no iate, justamente para tais eventualidades. Mas, ou-

vindo a voz da raz��o, ela decidiu recusar o convite.

E ao ouvir o som caracter��stico na ��gua, quando Raul pulou,

resistiu ao impulso de apoiar-se no bala��stre para v��-lo nadar

naquelas ��guas calmas e l��mpidas.

Aparentemente, tudo estava bem, mas sob o clima de ca-

maradagem, alguma coisa mudara entre ambos.

Agora, por��m, estavam de volta �� marina, e nada ficara

esclarecido. Antes assim, pensou Alline. N��o havia futuro para o relacionamento deles e, provavelmente, Raul tamb��m chegara

a essa conclus��o.

75





CAP��TULO IX

Alline estava no passadi��o quando Raul voltou a

bordo, depois de amarrar as cordas no ancora-

douro. Estava descal��a. N��o queria correr riscos desnecess��rios.

��� J�� est�� pronto? ��� ela perguntou, meio ofegante.

��� Como sempre. E voc��?

��� Eu? ��� A voz dela subiu uma oitava, e ela fez um esfor��o

para control��-la. ��� Claro. Por que n��o estaria?

��� Voc�� me perdoa pelo embara��o que lhe causei?

��� Embara��o? ��� Alline entortou os l��bios, denotando d��vida.

��� Acho que n��o entendi.

��� Acho que entendeu, sim. ��� As narinas de Raul se dila-

taram. ��� Apesar do que deve estar pensando a meu respeito,

n��o tenho o h��bito de tentar seduzir minhas... amigas, acom-

panhantes... d�� o nome que quiser... sob as vistas de quem

tiver o trabalho de olhar.

Alline balan��ou a cabe��a.

��� N��o tem import��ncia...

��� Tem, sim ��� ele interrompeu. E quando Alline tentou

passar, bloqueou-lhe a passagem. ��� N��o finja que n��o enten-

deu. Por que me tratou como se eu fosse um estranho, durante

as horas que passamos juntos?

Alline arregalou os olhos.

��� Eu o tratei como a um estranho? Eu apenas o tratei

como voc�� me tratou.

��� Eu? ��� A surpresa de Raul parecia aut��ntica. ��� E como

eu deveria agir? ��� Ele passou a m��os pelos cabelos pretos.

��� Voc�� deixou bem claro, em v��rias ocasi��es, que meu com-

portamento a desagrada. E hoje, desagradou a mim tamb��m.

Alline umedeceu os l��bios.

7 6

PARA T O D A A V I D A

��� Acho melhor irmos embora. Suzanne deve estar preocu-

pada. Mas... agrade��o pela oportunidade que voc�� me ofereceu.

��� Ela sorriu. ��� Foi a primeira vez que andei de barco. O

passeio foi maravilhoso.

��� Foi mesmo?

��� Para mim, foi.

��� Apesar de eu ter estragado tudo?

��� N��o havia nada para estragar ��� ela declarou com sur-

preendente seguran��a. Depois, passando por Raul, olhou-o por

sobre o ombro. ��� Vamos?

Ele pegou a cesta de piquenique e seguiu-a em dire����o ao

cais, e depois at�� o estacionamento.

O caminho de volta foi feito em sil��ncio. Raul parou o carro

na frente do hotel, e antes que Alline abrisse a porta, segurou-a

pelo bra��o.

��� Me perdoe. ��� A voz grave era quase t��o perturbadora

quanto o calor da m��o m��scula na pele dela. ��� N��o sei o que

me aconteceu. Se servir de consolo, saiba que voc�� desperta

os instintos mais primitivos em mim.

��� Ent��o... ent��o �� melhor n��o nos vermos mais. ��� Alline

pousou a m��o na dele, numa tentativa de afast��-la. Os olhares

se encontraram, o de Raul, sensual, o de Alline, desafiador.

��� Voc�� n��o pretende... repetir a ofensa, n��o ��?

��� Vamos nos ver de novo ��� Raul afirmou com determina����o.

��� Amanh�� �� noite, em minha casa. ��� Ele endireitou-se no

banco. ��� Espero voc��.

Como um aut��mato, Alline desceu do carro e subiu os de-

graus. Suas pernas estavam t��o tr��mulas que parecia que n��o

a sustentariam. A sensa����o do olhar de Raul em suas costas

era desconcertante. No sagu��o, deparou-se com J��lia.

��� Ei-los de volta! ��� exclamou a garota, visivelmente irritada.

A ��ltima coisa que Alline desejava era um confronto com

J��lia. Mas esta limitou-se a olhar em dire����o �� porta de entrada

e perguntar num tom de lam��ria:

��� Onde est�� Raul?

��� Eu... oh, ele foi embora... acho.

��� Foi embora? ��� J��lia encarou-a com olhos arregalados. ���

Ah, tia Ally, n��o me diga que voc�� n��o o convidou para entrar.

Alline abriu a boca para dizer alguma coisa, mas a chegada

de Suzanne salvou-a do constrangimento de n��o ter uma resposta.

77

P A R A T O D A A V I D A

��� Ally! ��� Suzanne sorriu. ��� Voc�� est�� com cara de quem

se divertiu bastante!

��� Estou? ��� Alline n��o tinha tanta certeza, mas achou me-

lhor concordar. ��� N��o vejo a hora de tomar um banho. ���

Abanou-se com um gesto teatral. ��� Est�� quente demais.

��� Estou vendo. ��� Suzanne j�� n��o parecia t��o entusiasmada.

��� Voc�� deveria ter levado chap��u.

��� Raul foi embora, mam��e ��� interveio J��lia num tom la-

c��nico, e imediatamente Suzanne olhou ao redor.

��� J�� foi embora? ��� ela perguntou ansiosa, e Alline percebeu

que era Suzanne, e n��o a filha, quem parecia mais preocupada.

��� Onde ele est��? Ele n��o a trouxe, Ally?

Alline sentiu vontade de gritar.

��� Trouxe, mas... imagino que ele tenha pensado que... j��

que vai ver voc��s amanh�� �� noite...

N��o concluiu a frase, esperando que m��e e filha entendessem

o que estava tentando dizer. Suzanne, por��m, n��o se conformava.

��� N��o �� pr��prio de Raul fazer isso. ��� O cenho franzido

refletia sua apreens��o. ��� Est�� tudo bem, n��o est��? Voc��s dis-

cutiram ou coisa parecida? Depois do que eu lhe disse...

��� Ora, mam��e! ��� J��lia fez um gesto impaciente. ��� Tia

Ally deve ter raz��o. Voc�� sabe como �� a m��e de Raul. Aposto

que pediu para ele voltar logo, s�� para ajud��-la. Afinal, o fi-

lhinho ficou longe dos olhos da mam��e mais de cinco horas!

��� Eu gostaria que voc�� n��o fosse t��o sarc��stica, J��lia! ���

Suzanne lan��ou �� filha um olhar de reprova����o. ��� N��o pode

criticar Isabel por ser t��o ligada ao filho. N��o se esque��a que

ela j�� enfrentou muitas dificuldades na vida.

��� Tem raz��o. ��� J��lia continuava ir��nica. ��� Realmente,

deve ter sido um tremendo sofrimento casar-se com um milio-

n��rio e viver em Finisterre durante todos este anos. Eu morro de pena dela, coitadinha!

��� J��lia! ��� esbravejou Suzanne. ��� N��o admito que fale

assim de sua futura sogra. Voc�� sabe muito bem que nestes

��ltimos meses ela tem passado mais tempo no hospital do que

em casa. Ela teve c��ncer, minha filha! Certamente, voc�� n��o

vai regular o tempo que ela passa com o filho!

��� Ela tem mais dois filhos, al��m de Raul. Nunca vejo Carlos

pendurado na saia da m��e.

��� Ocorre que Carlos �� t��o ego��sta quanto voc�� ��� acusou

78

PARA T O D A A V I D A

Suzanne j�� impaciente. ��� Agora, se n��o tiver nada melhor

para falar, sugiro que v�� ajudar seu pai. Ele est�� na adega

com Jos��, conferindo o estoque de vinhos.

J��lia bateu as m��os nos quadris, num gesto de revolta.

��� Ah! Eu acabei de sair do cabeleireiro!

��� E da��?

Suzanne encarou-a com express��o de poucos amigos, e J��lia

afastou-se resmungando. Alline fez men����o de segui-la, mas

Suzanne segurou-a pelo bra��o.

��� Eu gostaria de trocar duas palavras com voc��, Ally ���

disse ela, redespertando a apreens��o de Alline. ��� Acho que

voc�� tem alguma coisa para me contar. N��o tem?

Depois do jantar, Alline decidiu dar um passeio. N��o estava

disposta a ficar trancada no quarto, pensando em tudo que

acontecera pela manh��. Tampouco pretendia falar sobre o as-

sunto com quem quer que fosse, muito menos com Suzanne,

que se mostrava preocupada com rela����o a Jeff.

Jeff.

Alline respirou fundo e tirou as sand��lias assim que pisou

na areia. Era sobre Jeff que Suzanne queria conversar. Sam

telefonara enquanto ela estava fora com Raul, e a filha n��o

hesitara em relatar tudo o que estava acontecendo em casa.

Sam imaginara que a m��e j�� tivesse contado tudo �� amiga.

Da��, a preocupa����o de Suzanne.

Para que Suzanne n��o desconfiasse de nada sobre ela e

Raul; Alline fora mais do que eloq��ente a respeito de seus

sentimentos. No fim da conversa, Suzanne estava convencida

de que a amiga n��o pretendia reconciliar-se com o ex-marido.

E assim, n��o haveria mais chances de Alline usar Jeff como

desculpa para voltar �� Inglaterra.

Naturalmente, Suzanne apoiou a decis��o dela.

��� Esse homem �� um verme ��� dissera Suzanne, afagando

o bra��o de Alline. ��� Samantha concorda comigo. Acho que

voc�� deve ignorar tudo o que ele disser para as crian��as, para

que fiquem do lado dele. E agrade��a aos c��us por voc�� n��o

estar l�� para juntar os cacos.

Juntar os cacos.

As palavras de Suzanne voltaram �� mente de Alline. Apesar

de tudo que Jeff a fizera passar, n��o vibrava com o sofrimento

dele. Afinal, era o pai de Sam e Ryan.

79

PARA T O D A A V I D A

Ela deixou escapar um longo suspiro. N��o queria pensar em

Jeff. N��o naquele momento. Talvez, na manh�� seguinte, tivesse

��nimo para ponderar a situa����o com mais seriedade. Naquela

noite, por��m, queria fugir dos problemas, alguns dos quais pro-

vocados por ela mesma, e deliciar-se com o vento nos cabelos e

com o som relaxante das ondas quebrando na areia, sob seus p��s.

As luzes que iluminavam os degraus tinham ficado para

tr��s. Dando meia volta, ela decidiu retornar ao hotel. De re-

pente, teve a impress��o de que n��o estava sozinha. N��o que

tivesse ouvido alguma coisa, era mais a sensa����o da presen��a

de outra pessoa, de outra respira����o...

Sentiu medo. Talvez algu��m a tivesse visto saindo do hotel

e a seguira, mantendo dist��ncia at�� certificar-se de que esta-

riam isolados. Tudo era poss��vel.

S�� havia um jeito de descobrir. Tentando convencer-se de

que tudo n��o passava de imagina����o, ou que poderia ser um

outro h��spede, at�� mesmo Tom Adams, ela olhou apreensiva-

mente por sobre o ombro.

Seu cora����o deu um pulo. N��o era Tom. Respirando fundo,

voltou-se para encarar seu perseguidor.

��� O que est�� fazendo aqui?

��� Seguindo voc��. O que mais poderia ser? ��� Raul respondeu

num tom insolente. E colocando as m��os nos bolsos traseiros

da cal��a, aproximou-se. ��� Voc�� n��o deveria andar por a�� so-

zinha. N��o �� muito prudente.

��� Posso ser abordada? ��� Ela ergueu os ombros. ��� Tem

raz��o. Posso mesmo.

��� N��o precisa ter medo de mim. Pensei que tiv��ssemos

resolvido essa quest��o hoje de manh��. J�� pedi desculpas. Que

mais quer que eu fa��a?

��� Que tal ficar longe de mim? ��� Alline sugeriu, reconhe-

cendo que n��o estava sabendo lidar com o problema.

��� Voc�� sabe que n��o posso fazer isso. ��� Raul se voltou

para observar o horizonte mal iluminado pela lua, quase en-

coberta pelas nuvens. ��� Eu n��o pretendia vir aqui esta noite.

Sa�� de casa sem rumo certo.

��� E ent��o veio para c��.

��� Sim.

��� Para ver J��lia?

��� N��o. Para ver voc��. Ser�� que n��o entendeu ainda? Eu

8 0

PARA T O D A A V I D A

precisava v��-la. Eu n��o estava convencido do seu perd��o, da

sua compreens��o. Agora, vejo que estava certo.

Alline mordiscou o l��bio inferior. A tenta����o de olh��-lo sem

que ele percebesse era irresist��vel. E mesmo sabendo que era

loucura, n��o conseguia parar de fit��-lo.

Ele estava todo de preto. Camisa de seda e cal��a justa, que

real��ava as pernas musculosas.

Nervosa, obrigou-se a desviar o olhar. Tinha de voltar para

o hotel. Se ele a seguisse, paci��ncia. Mas n��o podia ficar mais

nenhum minuto ali. N��o queria correr riscos.

��� Voc�� facilitou as coisas para mim ��� Raul murmurou.

Ela, que ensaiava um primeiro passo para afastar-se, voltou

�� estaca zero.

��� Como assim?

��� Vindo para c�� ��� Raul explicou. ��� Isso mesmo, Alline.

Saindo para passear na praia, foi isto que eu quis dizer. E foi

realmente uma sorte v��-la saindo do hotel.

��� Sorte?

Ela tentava mostrar-se sarc��stica, mas n��o podia negar que

estava come��ando a assustar-se com o rumo dos acontecimen-

tos. Tentou se afastar, por��m Raul pediu:

��� N��o v��. Por favor.

Alline n��o se atrevia a olh��-lo.

��� Preciso ir.

��� Por qu��?

��� Voc�� sabe por qu�� ��� ela respondeu num murm��rio. ���

Voc�� nem deveria estar aqui.

��� Eu sei porque acha que deve ir, mas est�� enganada. N��o

estamos fazendo nada de errado. Eu n��o a estou tocando. Nem

for��ando-a a tocar-me.

��� Mas voc�� quer.

��� Sim, quero ��� ele confirmou. ��� N��s dois queremos. Ape-

nas voc�� n��o quer admitir.

��� N��o �� verdade.

��� Claro que �� verdade. ��� O sorriso dele era devastador.

��� N��s dois queremos ficar juntos. Voc�� me quer tanto quanto

eu a voc��, Ally. Quando vai reconhecer a verdade?

��� Nunca.

Tr��mula, Alline cruzou os bra��os, num gesto de autoprote-

����o, embora n��o existisse prote����o contra Raul. Sim, ela o

queria. Como n��o admitir? Era o homem que ela sempre...

8 1

PARA T O D A A V I D A

Alline bloqueou os pensamentos. Era tudo absurdo demais. N��o

podia am��-lo... N��o devia! Isso seria uma cat��strofe... para todos.

��� Vou voltar ��� afirmou, ainda evitando olh��-lo. ��� Est�� tarde.

Raul ergueu os ombros com indiferen��a.

��� Como queira. Eu vou nadar.

Ele desabotoou o cinto e Alline balan��ou a cabe��a, incr��dula.

��� Voc�� n��o pode... voc�� n��o pretende nadar de cueca...

��� N��o vou nadar de cueca. ��� Ele tirou a camisa, a cal��a e a

cueca, jogando-as na areia. Completamente nu, correu para a ��gua.

Alline engoliu a seco. Tinha que ir embora. O mais r��pido

poss��vel. Nunca tivera tanta certeza de uma coisa na vida, mas

n��o conseguiu dar nem um passo sequer. Tr��mula, mantinha o

olhar fixo no ponto onde Raul mergulhara. Pressionando os dedos

nos l��bios e com a respira����o suspensa, esperou ansiosa at�� ele

emergir por entre as ondas. S�� ent��o soltou o ar, aliviada.

Raul nadou em dire����o �� praia e gritou:

��� Venha nadar comigo!

Alline balan��ou a cabe��a.

��� N��o! ��� �� perigoso nadar no escuro. Acho que voc��

deveria sair.

��� Por qu��? N��o tenho nada melhor para fazer ��� ele a

provocou. ��� Voc�� n��o quer conversar comigo.

��� Tenho certeza de que J��lia ficar�� feliz em v��-lo.

��� A ��gua est�� uma del��cia! ��� exclamou ele, voltando para

a praia.

Quando Alline se deu conta, ele j�� a tomara nos bra��os,

encostando o corpo molhado ao dela.

��� Pare de lutar contra mim, Ally... Eu preciso de voc��. E

voc�� de mim.

��� N��o!

Com um grito desesperado, Alline recobrou os sentidos que,

momentaneamente, tinham se rendido aos encantos de Raul. Des-

vencilhou dele e saiu correndo pela praia, como se o pr��prio de-

m��nio, ou a tenta����o que ele oferecia, estivesse em seu encal��o.

Suzanne avisara Alline que um carro iria busc��-los ��s sete

horas da noite, para lev��-los a Finisterre.

Faltavam quinze minutos para o hor��rio marcado, e Alline

estava uma pilha de nervos. Passara praticamente a tarde

inteira examinando cada pe��a de seu limitado guarda-roupa.

82

PARA T O D A A V I D A

Por fim, decidira-se pelo vestido preto que usara no hotel em

Londres. O vestido despertava lembran��as, algumas indesej��-

veis. S�� esperava que Raul n��o pensasse que o escolhera apenas

para faz��-lo lembrar-se do primeiro encontro de ambos.

Ela comprimiu os l��bios. O mais prov��vel era que Raul n��o

pensasse nada disso. Talvez nem reparasse no vestido e nem

se lembrasse dele. Na verdade, duvidava que houvesse alguma

coisa nela que Raul considerasse inesquec��vel. Sentia-se se-

xualmente atra��do, apenas isso. Alline n��o tinha ilus��es. Raul

n��o queria mais nada, al��m de sexo.

Mas na noite anterior...

N��o, n��o queria pensar na noite anterior. Ela n��o entendia

o que acontecera. S�� sabia que passara o restante da noite e

o dia inteiro tentando expulsar as lembran��as de sua mente.

Raul n��o se importava com nada. Gostava de provoc��-la e

de fazer amor com ela, mas seria muita ingenuidade esperar

algo mais. Raul ia casar-se com J��lia.

Diante do espelho, deu os ��ltimos retoques na maquilagem.

De qualquer modo, n��o tinha mais tempo para pensar no re-

lacionamento com Raul. Deveria ter pensado melhor antes de

envolver-se, principalmente porque j�� passara por uma decep-

����o. Os anos vividos com Jeff deveriam ter-lhe servido de li����o.

Estava apenas construindo um castelo de problemas, permi-

tindo que o caso seguisse adiante.

Depois de um ��ltimo olhar ao espelho, pegou a bolsa e saiu

do quarto.

No t��rreo, Suzanne, Peter e J��lia esperavam por ela. De

repente, Alline se sentiu como a prima pobre da fam��lia. Era

imposs��vel n��o notar a eleg��ncia e a sofistica����o de m��e e

filha, vestidas com roupa de griffe. Certamente, aquela era

uma das ocasi��es em que o dinheiro n��o deveria ser encarado

como problema, e a palavra "economia" simplesmente n��o exis-

tia. Alline n��o p��de evitar de perguntar-se o que Suzanne pre-

tendia com tanta ostenta����o.

��� Voc�� est�� bonita ��� Suzanne declarou, pegando no bra��o

de Alline.

��� Voc�� tamb��m ��� ela respondeu, admirando o vestido azul

de tafet�� da amiga. ��� Esse tom de azul fica-lhe muito bem.

��� Voc�� acha? ��� Suzanne estava encantada com o elogio.

��� Bem, eu tinha que comprar uma roupa decente para usar

83

P A R A T O D A A V I D A

nesse jantar. ��� Ela baixou a voz. ��� N��o comente nada, mas

acho que J��lia espera que, esta noite, Raul fa��a o pedido t��o

esperado. N��o �� excitante?

��� Muito. ��� O cora����o de Alline se contraiu. Ela percorreu

nervosamente os olhos pelo sagu��o. ��� O carro j�� chegou?

��� Acabou de chegar ��� informou Peter, indicando o moto-

rista uniformizado que atravessava a porta girat��ria. ���Vamos,

meninas?

J��lia pegou no bra��o do pai e, seguidos por Suzanne e Alline,

desceram a escada em dire����o �� limusine preta que os aguar-

dava na porta do hotel. Minutos depois, seguiam em dire����o

a Finisterre, para o t��o esperado jantar.

��� Foi muita gentileza dos Ramirez mandar um chofer nos

buscar ��� observou Suzanne, toda alegre, alheia �� tens��o de

Alline. ��� Assim, Peter pode tomar alguns drinques a mais

sem ter que se preocupar em voltar dirigindo.

��� Acho que Raul poderia ter vindo pessoalmente ��� J��lia

protestou com petul��ncia. ��� Ou Carlos, pelo menos. J�� somos

quase da fam��lia, afinal.

��� "Quase", voc�� bem o disse. ��� Depois de lan��ar um olhar

preocupado na dire����o do motorista, Suzanne mudou de as-

sunto. ��� Voc�� gostou do vestido de J��lia, Ally? �� de um estilista

da moda.

��� Gostei. ��� Alline n��o teve alternativa sen��o olhar para o

vestido coral, drapeado no busto. ��� �� lindo. �� musseline de seda?

��� Do que mais poderia ser? Preciso acostumar-me com rou-

pas assim.

��� J��lia!

De novo, Suzanne fulminou a filha com um olhar de censura.

Alline virou o rosto para a janela, tentando n��o pensar em

J��lia como uma garota mercen��ria.

A estrada para Finisterre contornava a ilha iluminada pelo luar. A ��gua invadia a areia, quebrando em marolas de espuma

branca.

Alline tentava n��o ficar t��o apreensiva, mas era quase im-

poss��vel. Sentia-se deslocada, intrusa. Decididamente, n��o de-

veria estar naquele carro. N��o deveria ir ��quele jantar. N��o

deveria tomar parte naquela cena. Nada daquilo tinha a ver

com ela. Era uma simples dona de casa, n��o uma aspirante

a socialite, como Suzanne.

84

P A R A T O D A A V I D A

Entretanto, quando o carro entrou na propriedade dos Ra-

mirez, viu-se invadida por uma sensa����o de excitamento. Sabia

que a fam��lia de Raul era rica e tradicional, mas mesmo assim

n��o estava preparada para tanta beleza e suntuosidade.

��� Magn��fico, n��o? ��� Suzanne perguntou, evidentemente

satisfeita com a rea����o de Alline. ��� Espere at�� ver a casa.

De fato, a fachada era a imagem da eleg��ncia e riqueza.

A limusine parou diante de uma escadaria de m��rmore, e

o motorista abriu a porta para os convidados descerem. O mor-

domo esperava-os na varanda. Com o ru��do do mar ecoando

em seus ouvidos, Alline subiu os degraus, atravessou as portas

de madeira maci��a e entrou no hall. As luzes do lustre de

cristal que pendia do teto alto refletiam-se nas ��guas da fonte

que reinava absoluta no centro do amplo sagu��o.

��� O que eu lhe disse? ��� murmurou Suzanne.

Naquele instante, um homem alto e simp��tico emergiu de

uma passagem em arco. Ele parou, sorriu e depois foi ao en-

contro deles. Pelas fei����es aquilinas e os cabelos escuros, Alline

soube imediatamente que era o pai de Raul.

��� Suzanne, Peter, J��lia ��� ele disse polidamente, apertando

a m��o de Peter e erguendo a de Suzanne at�� os l��bios. Dando

um passo �� frente, J��lia beijou as faces do futuro sogro. Alline

teve a impress��o que Juan Ramirez teria preferido um cum-

primento mais formal. Entretanto, o tom de voz continuou gen-

til e caloroso. ��� Estou feliz por terem vindo.

��� �� uma honra para n��s ��� declarou Suzanne efusivamente,

e Peter endossou as palavras da esposa, inclinando levemente

a cabe��a. Depois, com um gesto de m��o, ela indicou Alline. ���

Permita que lhe apresente minha amiga Alline Sloan.

��� Sra. Sloan. ��� O pai de Raul voltou-se para ela com evidente

satisfa����o. ��� Encantado por conhec��-la, finalmente. ��� Tomando

a m��o dela entre as suas, segurou-a al��m do necess��rio. Ele a

estudava intensamente. ��� Minha esposa esteve doente. Por isso,

o convite anterior foi adiado. Espero que entenda.

��� Entendo. ��� Alline n��o sabia o que dizer, principalmente

porque sentia que os Davis assistiam �� cena com muita curio-

sidade. Havia tamb��m uma ponta de ressentimento, pelo menos

da parte de J��lia, ela tinha certeza. Retirando a m��o, ela mur-

murou: ��� Espero que a sra. Ramirez esteja melhor.

��� Ela est�� bem melhor, sim. ��� Juan soltou a m��o dela

8 5

PARA T O D A A V I D A

com certa relut��ncia. ��� Venham, por favor. Isabel est�� no

p��tio, �� nossa espera.

Alline mal reparou na elegante sala de jantar que atraves-

saram para chegar ao p��tio.

��� Onde est�� Raul? ��� J��lia perguntou num tom de voz alto

demais, obviamente para chamar a aten����o de Juan Ramirez.

Mas ele continuou imperturb��vel.

��� Rafael vir�� logo.

No p��tio havia cadeiras e espregui��adeiras de cana-da-��ndia

espalhadas sob um toldo. De l��, ouvia-se mais fortemente o

barulho do mar.

��� Nossos convidados chegaram, Isabel.

Uma mulher p��lida, de cabelos grisalhos, levantou-se com

dificuldade e sorriu para os rec��m-chegados.

��� Isabel! ��� Suzanne antecipou-se e segurou as m��os de

Isabel Ramirez entre as suas. ��� Que bom v��-la de novo! Como

est�� se sentindo? Est��vamos t��o preocupados com voc��!

Estavam mesmo? Alline lembrou-se que a doen��a de Isabel

fora mencionada de forma superficial, e durante uma discuss��o

entre m��e e filha.

��� Estou muito bem, asseguro. ��� Havia frieza na voz da

mulher. ��� Como vai, Suzanne? J��lia comentou que voc�� teve

umas crises de enxaqueca, tempos atr��s. Espero que n��o seja

nada s��rio. Voc�� procurou o dr. Carrington?

Suzanne trocou um r��pido olhar com a filha.

��� J��lia �� exagerada. Estou perfeitamente bem.

��� Isso �� bom.

��� Esta �� a sra. Sloan, querida ��� interveio Juan Ramirez

com admir��vel habilidade, causando a Alline um certo cons-

trangimento. ��� Rafael falou a respeito dela, lembra-se?

��� Oh, sim. Claro. ��� Isabel Ramirez estendeu-lhe a m��o.

��� Seja bem-vinda a Finisterre, sra. Sloan. Estou contente que tenha aceitado nosso convite.

��� Eu... ��� Aflita, Alline olhou para Suzanne, que a fitava

com indisfar����vel irrita����o. ��� Foi muita gentileza terem me

convidado. E, por favor, me chamem de Alline... Ally.

��� Sim... E gostaria que soubessem o quanto apreciamos a

aten����o de Raul... Rafael, para com Alline, levando-a para um

passeio de barco, ontem. ��� Suzanne n��o parecia disposta a

ser ignorada. ��� Realmente, foi muito nobre da parte dele.

86

PARA T O D A A V I D A

Os l��bios de Isabel se curvaram, e ela ergueu uma aristo-

cr��tica sobrancelha para o marido.

��� Duvido que Rafael tenha convidado a senhora... digo,

Ally, para velejar apenas por um ato de nobreza ��� ponderou

ela num tom quase r��spido.

Atenta ��s tentativas de Suzanne para que ela se sentisse

inferiorizada, Alline n��o foi a ��nica que daria tudo para en-

tender o significado das palavras da sra. Ramirez. Os olhos

de Isabel se moveram, passando pelos convidados, e um sorriso

iluminou o rosto de beleza cl��ssica.

��� Vejam, Rafael chegou. Por que n��o perguntamos a ele?

87





CAP��TULO X

Alline disfar��ou um bocejo e conteve a vontade

de colocar os cotovelos na mesa para apoiar

a cabe��a. Atribu��a a repentina enxaqueca �� quantidade de vi-

nho que ingerira. Al��m disso, as tentativas de Suzanne para

desmerec��-la aos olhos da fam��lia Ramirez contribu��ra para

agravar a dor. Esse era um lado da personalidade da amiga

que ela n��o conhecia, apesar dos longos anos de conviv��ncia.

Desde que Raul entrara no p��tio, J��lia o monopolizara. ��

assim que tem de ser, pensava ela, tentando ignorar o ci��me que incomodava tanto quanto a enxaqueca. Verdade que os pais dele

tinham sido muito gentis, mas da�� a acreditar que ela significava

alguma coisa para Raul era ir longe demais. Al��m disso, depois

do cumprimento formal, Raul mal falara com ela.

Teria sido mais f��cil se n��o estivesse sentada bem diante

dele, �� mesa do jantar. A comida estava excelente. Azeitonas

recheadas, anchovas marinadas, batatas saut��e e uma vers��o caribenha de paella. Tudo regado a vinho da melhor qualidade.

Mas Alline quase n��o tocou na comida. At�� mesmo as so-

bremesas ex��ticas, aparentemente apetitosas, foram delicada-

mente recusadas. N��o fossem todos aqueles conflitos emocio-

nais, certamente ela teria adorado experimentar aquela mis-

tura das cozinhas espanhola e caribenha. E se n��o tivesse

tomado tanto vinho, n��o estaria se sentindo t��o infeliz.

��� O que acham de tomarmos caf�� no p��tio? ��� sugeriu

Isabel, momentos depois.

Todos concordaram, e Alline apressou-se em levantar-se.

Apesar do ar-condicionado, ansiava por respirar ar fresco e,

antecipando-se ao outros, saiu para o p��tio.

O p��tio terminava num terra��o que dava para o jardim.

8 8

PARA T O D A A V I D A

Ela se apoiou no bala��stre e respirou fundo. A praia ficava a

poucos metros da casa.

��� Gosta da vista?

Fora Raul quem fizera a pergunta. Ele estava parado ao

lado dela, elegante e formal de terno preto e camisa cinza.

Parecia quase imposs��vel que, apenas vinte e quatro horas

antes, estivera nu diante dela. Como Raul poderia ser t��o frio

num instante e t��o apaixonado no outro? Como era dif��cil fingir

que eram apenas conhecidos, quando ambos sabiam que eram

bem mais que isso!

Ou talvez Alline estivesse apenas dando asas �� imagina����o

e ��s emo����es. Era dif��cil, mas precisava aceitar que o que

acontecera significara muito mais para ela do que para Raul.

��� �� muito bonita ��� respondeu sem olh��-lo.

��� Finisterre ��� ele murmurou, apoiando-se no parapeito.

��� Uma palavra latina que significa "fim da terra". Dizem que o nome foi dado por minha tatarav��, mas ningu��m sabe ao

certo. ��� Ele fez uma pausa. ��� N��s gostamos.

��� Eu tamb��m gosto. �� um nome bonito.

��� Obrigado ��� Raul agradeceu num tom ir��nico. ��� Comu-

nicarei sua aprova����o aos meus pais.

Alline olhou-o rapidamente, sem entender a inten����o dele.

Depois, dando de ombros, perguntou:

��� E sua noiva? Voc�� n��o deveria estar com ela?

��� N��o tenho noiva. E desde quando voc�� se importa comigo?

Ela o encarou por um longo momento.

��� Tem raz��o. Esse assunto n��o me diz respeito. N��o tenho o

direito de dar palpites em assuntos que n��o s��o da minha conta.

��� Desculpe. Eu n��o pretendia ser indelicado. Depois do que

aconteceu ontem �� noite... Ah, esque��a. ��� Ele balan��ou a ca-

be��a, denotando incredulidade. ��� Alline, passei o jantar inteiro

desejando ficar sozinho com voc��. E agora que temos a opor-

tunidade, estamos perdendo tempo discutindo bobagens.

��� N��o acredito que voc�� tenha tido tempo para pensar em

mim ��� protestou Alline, indignada. ��� As atitudes de J��lia

demonstraram o contr��rio.

��� N��o julgue meus sentimentos pelas a����es exageradas de

J��lia. Minha suposta noiva estava agindo levada, provavel-

mente, por duas raz��es. A primeira era provocar meu irm��o,

que �� louco por ela. Ocorre que ��s vezes penso que ela sente

89

P A R A T O D A A V I D A

a mesma coisa por mim tamb��m. A segunda raz��o foi que ela

percebeu que meus pais gostaram muito de voc��, e n��o quis

ser negligenciada.

Alline apertou os olhos.

��� N��o acredito.

��� �� verdade.

��� Mas J��lia ama voc��.

��� Ama? Acho que J��lia est�� de olho na melhor chance.

Voc�� sabe, Carlos n��o �� o primog��nito.

Ent��o ele sabia!

��� N��o diga uma coisa dessas ��� ela murmurou.

��� Por que n��o?

��� Ora, porque voc�� vai se casar com ela!

��� Vou? ��� Ele comprimiu os l��bios. ��� Um ano atr��s, minha

m��e descobriu que tinha um tumor no seio. Era trat��vel, mas

na ��poca, as chances n��o eram muitas, e os m��dicos nos pre-

veniram do pior. ��� Ela respirou fundo. ��� Felizmente, a ci-

rurgia e as sess��es de radioterapia operaram o milagre. Ela

ainda n��o est�� curada, mas os progn��sticos s��o muito mais

otimistas.

��� Entendo. ��� Alline s�� n��o entendia por que Raul estava

lhe contando aquilo.

��� N��o, n��o... Voc�� n��o entende ��� ele a contradisse. ���

Quando descobrimos a doen��a, ficamos desesperados e quer��a-

mos fazer de tudo para proporcionar-lhe alegria. O maior sonho

de minha m��e era me ver casado e com filhos. ��� Ele balan��ou

a cabe��a. ��� At�� ent��o, eu nunca havia considerado seriamente

a id��ia de casamento. Achava que tinha muito tempo para

pensar nisso. J��lia e eu sempre fomos amigos, e sempre a vi

assim como amiga, nada mais.

��� O que mudou, ent��o?

Raul emitiu um som parecido com uma risada abafada.

��� Eu digo que J��lia mudou, mas admito que a culpa foi

minha. Ela estava por perto, obviamente predisposta, e eu me

aproveitei da situa����o.

��� E voc��s come��aram a namorar?

��� Se �� que s�� pode chamar de namoro.

��� Seus pais aprovaram? ��� Alline arriscou.

��� Creio que, na ��poca, nenhum de n��s deu import��ncia ao

fato. Minha m��e estava muito doente, e eu queria apenas con-

90

PARA T O D A A V I D A

tent��-la. ��� Ele curvou os l��bios. ��� Como dizem, em meio a

tanto desespero, a id��ia parecia boa.

��� Ainda �� uma boa id��ia ��� Alline afirmou, lembrando-se

de tudo que Suzanne lhe contara. ��� Espero que voc��s sejam

muito felizes.

��� N��o, voc�� n��o est�� sendo sincera. ��� Os olhos de Raul

escureceram ainda mais. ��� Droga, Alline! Se eu soubesse que

iria conhec��-la, jamais teria me envolvido com J��lia. Passei

vinte e nove anos da minha vida fazendo somente o que me

agradava, e nunca me passou pela cabe��a a possibilidade de

ficar t��o impressionado por uma mulher.

��� Acho que n��o dever��amos estar conversando sobre esse

assunto.

��� Por que n��o? ��� Raul perguntou. ��� N��o me diga que

n��o sente nada por mim. Ou ser�� que a reca��da de seu marido

teve import��ncia para voc��? ��� Ele co��ou o queixo. ��� Estive

pensando sobre o que voc�� me falou. Por mais que insista que

est�� aliviada com o fim do casamento, eu me pergunto se isso

�� realmente verdade. Talvez, voc�� ainda ame seu marido.

��� O que quer que eu sinta por Jeff, garanto que' n��o vai

alterar em nada a nossa situa����o. Al��m do mais, Raul, voc��

j�� pensou na rea����o de sua m��e e de seu pai se soubessem o

que voc�� fez ontem �� noite? ��� O rosto de Alline ficou rubro.

��� Meu Deus, eles me expulsariam desta casa!

��� Por qu��? O que eu fiz? ��� Raul encarou-a com express��o s��ria.

��� Voc�� sabe. ��� Ela desviou o olhar. ��� O que existe entre

n��s, �� apenas... atra����o f��sica. Nada mais.

��� �� muito mais do que isso. Pelo menos, para mim.

��� Por favor, Raul. N��o brinque comigo. N��o sou a mulher

que sua fam��lia sonha para voc��. Sou muito mais velha que

voc��. N��o posso prometer os netos que sua m��e espera que

voc�� lhe d��. Meus filhos s��o adultos. Logo, eles tamb��m ter��o

a pr��pria fam��lia, filhos. J�� imaginou como v��o se sentir se

eu lhes disser que vou come��ar tudo de novo?

��� Ah, ent��o �� esse o ponto crucial? ��� indagou Raul com

uma ponta de amargura. ��� Apesar de tudo, eu acho que voc��

se preocupa mais com Jeff do que comigo.

N��o �� verdade!

As palavras tremularam nos l��bios de Alline, mas n��o foram

pronunciadas. Quase instintivamente, ela sentiu que n��o es-

9 1

PARA T O D A A V I D A

tavam mais sozinhos. Juan Ramirez aproximou-se da balaus-

trada, e Raul enfiou as m��os nos bolsos da cal��a.

��� Admirando a vista, sra. Sloan? ��� Juan perguntou poli-

damente. ��� Precisa ver �� luz do dia. �� algo de espetacular.

��� Acredito. ��� Alline sentiu a palma das m��os ��midas. ���

O mar parece t��o perto...

��� E est��. ��� Juan sorriu. ��� O que era muito conveniente aos

meus ancestrais. Aposto que algu��m j�� deve ter lhe contado que

Rodrigo Ramirez era o que hoje chamamos de cors��rio. �� uma

maneira elegante de dizer que ele era pirata. N��o �� mesmo, Rafael?

��� �� sim, pap��.

A voz de Raul soou meio abafada, e Alline percebeu o olhar

inquiridor de Juan.

��� Espero que voc�� n��o esteja entediando nossa convidada,

Rafael ��� observou Juan. ��� A sra. Sloan parece um pouco

apreensiva. O que estava dizendo a ela?

��� Nada importante, pap�� ��� Raul respondeu calmamente.

��� Se me derem licen��a...

Ele se afastou e Alline conteve o impulso de voltar-se para

olh��-lo. Mas teve medo de ser tra��da pelos olhos, pela express��o

de tristeza, de decep����o.

��� Meu filho parece... zangado, sra. Sloan. ��� Com o cenho

franzido, Juan observava o filho que se afastava. ��� Pe��o des-

culpas por ele. N��o sei o que aconteceu.

Alline respirou fundo.

��� Nem eu ��� ela mentiu. E para que Juan n��o insistisse

mais no assunto, murmurou: ��� Por favor, trate-me por Alline.

Sra. Sloan faz-me parecer t��o... ��� Ela ia dizer "velha", mas conteve-se a tempo ���, estranha.

��� E voc�� n��o �� estranha, n��o �� mesmo, sra. Sloan? ��� Para

constrangimento de Alline, Juan Ramirez insistiu em trat��-la

com mais formalidade. ��� Tenho a impress��o de que voc�� e

meu filho se conhecem muito bem. Ser�� que minha intui����o

est�� certa?

Alline umedeceu os l��bios.

��� Creio que deve perguntar a ele, se��or. ��� Sua voz revelava toda a ang��stia que a invadia.

��� Talvez, sim ��� ele concordou, observando-a atentamente.

��� Mas estou lhe perguntando. At�� que ponto conhece Rafael,

sra. Sloan? Muito mais do que imaginamos, acredito.

92

P A R A T O D A A V I D A

Alline n��o respondeu de imediato. Cruzou os bra��os, depois

descruzou-os rapidamente. Sentia-se terrivelmente desconfort��vel.

��� Eu ainda acho que deveria perguntar a ele ��� disse Alline,

por fim, com voz tr��mula. Ap��s uma breve hesita����o, acres-

centou: ��� Eu n��o deveria ter vindo. S�� agora percebi o erro.

Espero que me perdoe por... por abusar de sua hospitalidade.

Juan juntou as sobrancelhas grisalhas.

��� Como abusou da minha hospitalidade, sra. Sloan? Minha

esposa e eu a convidamos para vir �� nossa casa.

��� Sim, mas... ��� Num relance, Alline viu que, do outro lado

do p��tio, Suzanne os observava. N��o havia sinal de Raul, e

ela at�� podia imaginar o que a amiga estava pensando. ���

Parece que estou sempre no caminho de algu��m.

��� Voc�� n��o est�� no meu caminho, sra. Sloan. Nem no da

minha esposa. N��o posso responder pelos seus amigos, claro.

Mas no que diz respeito a Rafael, creio que ele quer muito

mais do que voc�� est�� preparada para oferecer.

O rosto dela ardia.

��� Se��or...

��� N��o se preocupe, sra. Sloan. Guardarei minhas observa-

����es para mim mesmo. E agora, se me der licen��a, tenho que

fazer companhia a meus outros convidados.

��� Claro...

Juan Ramirez inclinou levemente a cabe��a e atravessou o

p��tio, onde estavam todos reunidos. O caf�� estava sendo ser-

vido, e Alline sabia que deveria juntar-se a eles. Suzanne j��

estava ressentida pelo que acontecera logo na chegada a Fi-

nisterre. Ela n��o comentara nada, mas Alline sabia muito bem como interpretar a frieza com que a amiga a tratara durante

o jantar. E depois do jantar a situa����o de Alline se agravara

ainda mais. Al��m de arrancar Raul de suas obriga����es de noivo

de J��lia, ela ainda tivera a ousadia de "seq��estrar" Juan Ramirez. Decididamente, Suzanne n��o a perdoaria.

��� Aceita um caf��, Alline?

Aparentemente, Isabel Ramirez n��o via problema em cha-

m��-la pelo nome. Sorrindo, Alline sentou-se no lugar que Isabel

indicava.

��� Obrigada.

��� Estava admirando a vista? ��� Isabel perguntou.

��� Est��vamos come��ando a pensar que o balaustre estava gru-

93

PARA T O D A A V I D A

dado no seu vestido ��� alfinetou Suzanne num tom mordaz. ���

Pelo amor de Deus, Ally, o que voc�� e Raul estavam discutindo?

Alline quase engasgou com o caf��.

��� Discutindo?

Ela n��o imaginara que o teor de sua conversa com Raul

fosse assim t��o evidente. Mais uma vez, a h��bil interven����o

de Juan Ramirez foi prop��cia.

��� Rafael argumentava que nem sempre os filhos sabem o

que �� melhor para os pais ��� disse ele num tom casual. ���

Voc�� tem filhos, n��o tem, Ally? G��meos?

Como ele sabia?

Alline piscou e olhou-o confusa.

��� Eu... sim, tenho. Um casal.

��� Que maravilha! ��� exclamou Isabel. ��� Eles moram com voc��?

��� Sam... Samantha mora. ��� Alline estava consciente dos

olhares furiosos dos amigos. ��� Ryan faz faculdade em outra

cidade e divide o apartamento com... uma amiga.

��� Namorada ��� J��lia fez quest��o de corrigir. ��� N��o ��, tia Ally?

��� E sua filha? ��� Isabel continuou, ignorando o coment��rio

de J��lia. ��� O que ela faz?

��� Ela tamb��m estuda, e como a universidade fica em nossa

cidade mesmo, ela mora comigo. Est�� noiva e pretende casar-se

no ano que vem.

��� Sorte dela. ��� De novo, J��lia investiu com ironia. ��� Deve

ser bom sentir-se querida.

��� Voc�� �� querida ��� rebateu Carlos, pegando na m��o dela.

Depois sorriu, indiferente ao olhar de censura de Suzanne para

a filha. ��� Vamos dar um passeio na praia?

��� Est�� na hora de irmos andando ��� declarou Peter, deci-

frando o olhar da esposa. ��� Foi agrad��vel como sempre, Isabel.

Voc�� e Juan precisam aparecer no hotel para jantar conosco.

��� �� muita gentileza sua.

Isabel era cort��s, mas Alline sentia que o convite n��o seria

levado em considera����o. Como Suzanne dissera, havia uma

certa estranheza entre ela e a sra. Ramirez.

Suzanne levantou-se.

��� Voc�� est�� certo. ��� Ela sorriu para o marido. ��� N��o

devemos abusar da hospitalidade dos nossos amigos. Olhou ao

redor, como se de repente notasse a aus��ncia de Raul. ��� Oh...

onde est�� Rafael?

94

P A R A T O D A A V I D A

��� Quem sabe? ��� J��lia resmungou, olhando para Carlos.

��� N��o entendo por que ele me convida para vir aqui. Mal

falou comigo...

��� J��lia! ��� A reprova����o de Suzanne foi autom��tica. ���

Durante o jantar, Raul... Rafael dedicou-se totalmente a voc��.

��� Com um trejeito divertido, ela olhou para Juan e Isabel,

mas quando seu olhar encontrou o de Alline, havia uma ponta

de mal��cia na express��o dela. ��� Passou mais tempo com voc��

do que com os... outros... convidados dos pais dele, minha filha.

��� Talvez.

J��lia n��o parecia convencida. Alline, por��m, que j�� esperava

por algo semelhante, n��o ficou surpresa com a insinua����o da amiga.

Raul s�� reapareceu quando eles j�� estavam se despedindo.

Suzanne ficou mais aliviada depois de ouvir a confirma����o de

Raul de que procuraria por J��lia, logo.

Ele e Alline mal se olharam. Se ele queria acreditar que

ela ainda amava Jeff, tanto melhor. Todos seriam beneficiados

se eles n��o se vissem mais.

Alline disfar��ou um suspiro.

Talvez, afinal, tivesse encontrado a desculpa ideal para re-

solver o impasse.

95





CAP��TULO XI

No fim da semana, Alline j�� tomara sua deci-

s��o. Independentemente de qualquer coisa,

ela voltaria �� Inglaterra.

N��o que tivesse acontecido algo depois do jantar na casa

dos Ramirez. Ao contr��rio. Surpreendentemente, Suzanne n��o

fizera mais nenhum coment��rio. E Raul n��o a procurara mais.

Contudo, a cada dia que passava, ela se sentia mais cons-

trangida e tensa, temendo que seu segredo fosse descoberto.

Na verdade, estava preocupada com Sam. A garota telefo-

nara v��rias vezes, e Alline estava se sentindo culpada por Sam

ter assumido toda a responsabilidade de lidar com o pai.

Alline telefonara para Ryan, mas ele estava distante do

problema e alheio �� situa����o. E a bem da verdade, n��o estava

particularmente preocupado com o pai, onde ele vivia ou

com quem.

Apesar de n��o ter mais conversado com Raul, Alline o vira

uma vez no hotel. Estava sozinho, esperando o elevador. Alline

n��o sabia se ele continuava saindo com J��lia. A garota estava

sempre ausente, mas esse era um assunto que Alline conside-

rava tabu. Quando estava com Suzanne ou Peter, evitava as-

suntos controversos. Desse modo, conseguiam manter a cama-

radagem, apesar da dist��ncia que surgira entre eles.

Por��m, a decis��o final chegou na noite em que Mike Mclean

apareceu para jantar no hotel. Suzanne n��o desistira de en-

contrar uma companhia para a amiga. Com Tom Adams n��o

dera certo, ent��o, ela resolveu apostar no piloto.

Obviamente, Mike Mclean deduzira que Alline encorajara

a amiga a convid��-lo. Ele se desdobrava em gentilezas, e seria

dif��cil mostrar-se atenciosa sem causar uma impress��o errada.

96

PARA T O D A A V I D A

E para piorar, Suzanne insinuara que Alline estava pensando

em voltar para casa porque se sentia sozinha.

Quando Mike j�� estava se despedindo, o casal Davis tratou

de inventar alguma coisa para fazer, s�� para deix��-lo a s��s com

Alline. Mike convidou-a para passar o dia seguinte com ele, mas

Alline mentiu, dizendo que j�� tinha um compromisso. Ele partiu

meio decepcionado, mas prometendo telefonar nos pr��ximos dias.

Depois desse jantar, Alline n��o via alternativa. Seria mais

f��cil confrontar-se com Jeff do que inventar desculpas para

n��o explicar a Suzanne que ela n��o estava interessada em

conhecer seus amigos solteiros e dispon��veis.

Tentou conversar com Suzanne, na manh�� seguinte, mas a

amiga estava ocupada demais resolvendo problemas com o ar-

condicionado de um determinado quarto. No entanto, garantiu

que, na hora do almo��o, teria tempo para conversar.

Alline, ent��o, foi para a praia. Na volta, soube que os Davis

estavam reunidos com Raul e tratou de subir rapidamente

para o quarto.

Depois de tomar banho, sentou-se na terra��o, esperando pela

refei����o que pedira ao servi��o de copa. O toque do telefone

sobressaltou-a. Com o cora����o batendo forte, levantou-se para

atender. N��o havia raz��o para ficar t��o ansiosa s�� porque

Raul estava no hotel. Poderia ser Suzanne, afinal.

��� Al��?

��� Mam��e? Finalmente, consigo falar com voc��. Onde voc��

estava?

��� Na praia. Por qu��? O que aconteceu?

��� Oh, mam��e! ��� Sam emitiu um som de frustra����o, e

Alline sentiu uma contra����o no est��mago. ��� Ah, meu Deus!

Nem sei como dizer-lhe. Ele est�� chegando a��. Eu sei porque

telefonei para a companhia a��rea, perguntando sobre a chegada

do v��o em Nassau.

��� Ele quem? ��� Alline perguntou ansiosa, mesmo sabendo

de quem se tratava. ��� Seu pai?

��� Ah, mam��e... Eu tentei impedi-lo. Mas ele quer conversar

com voc��, a todo custo. Eu disse que ele deveria esperar voc��

voltar. Mas ele n��o me ouviu. Hoje cedo, quando eu telefonei para

o hotel, informaram-me que ele tinha ido embora. ��� Sam suspirou.

��� Eu deveria ter imaginado que estava planejando alguma coisa.

Alline respirou fundo.

97

PARA T O D A A V I D A

��� Seu pai chegou a dizer que queria vir para c��?

��� Ele falou sobre isso, sim. Mas eu achei que ele esperaria

at�� sua volta. Por isso, estou telefonando. Para preveni-la.

��� N��o. ��� Alline balan��ou enfaticamente a cabe��a. ��� Isso

n��o deveria acontecer. Na verdade, eu estava pensando em

voltar para casa.

��� Por causa do papai? Oh, mam��e! Que pena!

��� N��o, Sam. N��o �� por causa do seu pai. �� que... Suzanne

e eu... bem, parece que n��o est�� dando certo.

��� Por qu��? ��� Havia surpresa na voz de Sam. ��� Voc��s

sempre foram t��o amigas...

��� ��ramos. Somos ��� Alline se corrigiu, sem saber muito

bem como explicar �� filha. ��� Ocorre que... ela acha que eu

preciso... de companhia masculina.

��� E precisa mesmo! ��� Sam exclamou indignada. ��� N��o

me diga que tornou-se puritana nessa idade.

Alline comprimiu os l��bios. Seu Sam soubesse!

��� N��o tem nada a ver com puritanismo, minha filha. S��

n��o quero ningu��m arrumando encontros para mim.

��� Ah, ��? ��� Sam riu. ��� N��o me diga que voc�� est�� marcando

encontros sem o meu conhecimento!

��� E se eu estiver? Sou uma mulher livre, n��o sou? N��o preciso

da sua permiss��o para sair com algu��m que n��o seja seu pai.

��� Eu sei. ��� Sam parecia menos sarc��stica. ��� E ent��o? ���

Ela hesitou. ��� Algu��m que eu conhe��a?

��� O qu��? ��� Alline perguntou com impaci��ncia, percebendo

que falara demais. ��� N��o. Ningu��m que voc�� conhe��a. Quando

seu pai chega, afinal?

Ent��o, �� algu��m que voc�� conheceu durante as f��rias ���

a filha insistiu, evidentemente n��o querendo deixar o assunto

sem uma explica����o convincente. ��� Quem �� ele? �� bonito?

Ser�� que eu vou gostar dele? Ele tamb��m est�� de f��rias?

��� Sam! Estamos perdendo tempo. Voc�� sabe a que horas

seu pai vai chegar aqui?

��� Imagino que no mesmo hor��rio que voc�� chegou ��� Sam

respondeu num tom r��spido. ��� Ora, mam��e, se voc�� conheceu

algu��m, eu tenho o direito de saber!

Alline emitiu um som impaciente.

��� Sam, eu n��o conheci ningu��m. Ningu��m importante, pelo

menos. ��� Que bom se fosse verdade! ��� N��o sei como Suzanne

98

P A R A T O D A A V I D A

vai reagir quando seu pai chegar aqui. Ela poder�� at�� recu-

sar-se a receb��-lo no hotel.

��� O problema n��o �� seu, mam��e. O hotel da tia Suzanne n��o

deve ser o ��nico da ilha. Ele que procure outro lugar para ficar.

��� Vamos ver ��� resmungou Alline.

��� N��o permita que papai a intimidade, mam��e ��� continuou

Sam. ��� N��o esque��a que ele a trocou por outra mulher. Ele ��

meu pai, eu sei, e eu o amo, mas �� um tremendo de um ego��sta.

��� N��o se preocupe, querida ��� Alline tentou tranq��ilizar

a filha. ��� N��o esqueci de nada. Telefonarei assim que souber

o que vou fazer.

��� Est�� bem. ��� Sam parecia relutante em desligar o telefone.

��� Ah... m��e?

Alline ficou tensa. O que seria agora?

��� Seja ele quem for, espero que a fa��a mais feliz do que o

papai.

A refei����o que Alline pedira continuava intocada na bandeja.

Al��m de ter perdido a fome, precisava falar com Suzanne antes

que Jeff chegasse ao hotel. Raul j�� deveria ter ido embora, e

avisar a amiga era mais importante, naquele momento.

De short bege, camiseta regata, sand��lias baixas e cabelos

��midos, Alline saiu do quarto. Apertou o bot��o do elevador e

esperou. Quando a porta se abriu, seu cora����o disparou.

Raul era o ��nico ocupante, e ela teve uma incr��vel sensa����o

de d��j�� vu. Ele tamb��m estava de short, camiseta p��lo e sapato mocassim. Parecia cansado, e os olhos revelavam tristeza e

resigna����o.

Alline n��o sabia o que fazer. O mais natural seria entrar no

elevador, mas lembrando-se do que acontecera antes, hesitou.

��� Vai descer? ��� ele perguntou, recuando para dar-lhe

passagem.

Ela comprimiu os l��bios.

��� Sim. ��� No ent��o, permaneceu im��vel.

Uma express��o irritada passou rapidamente pelo rosto de Raul.

��� Ent��o, entre. ��� Ele pressionou o bot��o para manter a

porta aberta. ��� Ou prefere esperar o outro elevador?

Alline endireitou os ombros.

��� Seria tolice!

��� Tamb��m acho ��� ele concordou.

99

PARA T O D A A V I D A

Ainda relutante, ela entrou. Raul soltou o bot��o, e a porta

se fechou.

��� Mas parece-me que voc�� gosta de fazer tolices ��� acusou-a.

��� N��o h�� necessidade de ser agressivo comigo. ��� Ela evi-

tava olh��-lo. ��� Por acaso, sabe se Suzanne ainda est�� no

escrit��rio? Parece-me que ela e Peter tinham uma reuni��o...

��� Eu n��o me referia �� sua hesita����o em entrar no elevador

��� ele a interrompeu rispidamente. Depois de um olhar ava-

liador para o corpo dela, perguntou: ��� T��rreo?

��� Sim. ��� Alline tentava controlar a respira����o. ��� Obrigada.

Cruzando os bra��os, Raul apoiou-se contra a parede do elevador.

A atmosfera naquele espa��o min��sculo era tensa e constrangedora.

��� Como est�� sua m��e? ��� Alline perguntou, numa tentativa

de aliviar a tens��o.

��� Quer mesmo saber?

��� Claro que sim. Eu... eu gostei dela. E de seu pai tamb��m.

��� Ah, sim. Meu pai ��� observou Raul num tom sarc��stico.

��� Voc�� e ele ainda conversaram um pouco, depois que eu sa��.

��� N��s conversamos, sim.

��� Voc�� contou a ele sobre o que n��s conversamos?

��� N��o. ��� Alline ficou alerta.

��� Disse a ele dos meus sentimentos por voc��?

��� N��o! ��� Ela arregalou os olhos. Depois, suspirou profun-

damente. ��� N��o acho que voc�� saiba o que sente por mim.

��� O elevador parou no andar t��rreo. ��� Chegamos.

��� Espere! ��� Raul seguiu-a pelo sagu��o, e Alline se viu

for��ada a parar e encar��-lo, para n��o chamar a aten����o de

ningu��m. ��� Eu sei muito bem o que sinto por voc��. Quero

apenas saber o que voc�� sente por mim.

Alline olhou ao redor.

��� Raul...

��� Ally, por favor... ��� Os olhos dele eram s��plices. Pousou

a m��o na cintura dela e os dedos ro��aram no lado do seio. ���

Acabe com meu tormento. Diga que voc�� n��o ama aquele bas-

tardo que voltou �� Inglaterra.

��� Ally!

A voz era assustadoramente familiar. Voltando-se, Alline

deparou com o ex-marido caminhando ao seu encontro. Pensou

que iria desmaiar. De camisa de manga curta, cal��a de sarja

e jaqueta no bra��o, ele se aproximava, sorridente.

1 0 0

PARA T O D A A V I D A

��� Surpresa, surpresa! ��� exclamou Jeff, j�� n��o t��o confiante

ao reparar em Raul. ��� Aposto como n��o me esperava!

P��lida, Alline lan��ou um olhar desesperado para Raul.

��� N��o... ��� balbuciou. ��� Sam me disse que voc�� viria,

mas... eu n��o esperava que viesse t��o r��pido.

Raul retirou a m��o da cintura de Alline.

Jeff for��ou um sorriso.

��� N��o vai dizer que est�� feliz por rever-me? ��� Ele hesitou

por um momento, enquanto olhava de Alline para Raul e no-

vamente para Alline. ��� Fiz esta longa viagem s�� para v��-la.

Raul suspirou alto. Alline sentiu-o recuar, e seu cora����o de

contraiu. Sentiu tamb��m a imediata antipatia dele por Jeff e

teve ��mpetos de tranq��iliz��-lo. Queria dizer que n��o convidara

o ex-marido para ir at�� San Cristobal e que daria tudo para

evitar que isso acontecesse. Mas n��o tinha esse direito. Apesar

de tudo que Raul dissera pouco antes, no elevador, ela n��o

tinha o menor direito sobre ele. O que quer que pudesse existir

entre ambos seria derrotado pela diferen��a de idade e pelo

compromisso assumido por Raul.

Alline ficou furiosa. A intromiss��o de Jeff em suas f��rias

irritara-a profundamente. Ela n��o tinha obriga����o de ser sim-

p��tica com o ex-marido. Ele nunca demonstrara a menor con-

sidera����o por seus sentimentos, nunca se preocupara com nin-

gu��m, a n��o ser com ele pr��prio.

��� Sinto muito, Jeff, mas n��o estou feliz por rev��-lo ��� de-

clarou com firmeza, recuando quando ele se aproximou para

beij��-la no rosto. ��� N��o pedi para voc�� vir aqui. Na verdade,

nem sei por que veio.

Os olhos azuis de Jeff escureceram.

��� Voc�� sabe por que vim, Ally. Se Sam a avisou que eu

viria, deve ter lhe contado tamb��m como fiquei desapontado

por n��o encontr��-la em casa.

��� Esperando por voc��, n��o ��? ��� Alline ironizou. ��� N��o

importa o que Sam tenha me contado. O que voc�� faz ou deixa

de fazer n��o �� mais problema meu. Estamos divorciados, es-

queceu? Voc�� tem sua vida, e eu, a minha.

��� Com ele? ��� Os olhos azuis de Jeff correram de Alline

para Raul. ��� Ora, vamos, Ally. Quem �� ele? Um garoto de

praia? Algu��m empenhado em consolar uma mulher solit��ria?

1 0 1

PARA T O D A A V I D A

��� Retire o que disse!

Antes que Alline pudesse esbo��ar qualquer rea����o, Raul

avan��ou uns passos, praticamente empurrando-a para o lado.

Apesar de surpreso, Jeff ergueu desafiadoramente o queixo.

��� Algu��m falou alguma coisa?

��� Eu falei! ��� Raul aproximou-se mais. ��� N��o gostou do

que ouviu?

��� Por favor... ��� murmurou Alline, tentando apaziguar os

��nimos. ��� N��o h�� necessidade de nada disso.

��� H��, sim ��� Raul contrariou-a. ��� Esta... pessoa insultou

voc�� e a mim.

Jeff encolheu os ombros.

��� Voc�� �� muito sens��vel para algu��m que vive se aprovei-

tando de mulheres ing��nuas.

Com um movimento r��pido, Raul segurou-o pelo colarinho,

rasgando a camisa cara.

��� Repita, se tiver coragem ��� ordenou.

��� Ei... ��� Jeff protestou d��bilmente. ��� Voc�� tem id��ia do

pre��o desta camisa?

��� Muito mais do que voc�� vale ��� esbravejou Raul, aumen-

tando a press��o dos dedos.

��� Voc�� est�� me machucando ��� Jeff gritou, olhando para

Alline em busca de ajuda. ��� Pelo amor de Deus, Ally. Eu n��o

quero confus��o. Diga para ele me soltar.

��� Raul...

��� Eu ainda n��o ouvi seu pedido de desculpas ��� disse Raul,

ignorando-a. Jeff largara a jaqueta e, com as duas m��os, ten-

tava desvencilhar-se.

Outros h��spedes come��aram a agrupar-se, assistindo a tudo

com evidente curiosidade. Alline passou a m��o pelos cabelos.

S�� faltava Suzanne, ou Peter, ou mesmo J��lia, entrar no hall

e deparar-se com aquela cena.

��� Raul ��� ela repetiu num fio de voz, segurando no bra��o

dele. ��� Por favor, Raul, solte-o.

Raul fitou-a.

��� Este homem a ofendeu, Alline. Voc�� n��o se importa?

Desolada, Alline balan��ou a cabe��a, mais para clarear as

id��ias do que para responder a pergunta.

��� Eu...

��� Ei, cara! ��� Jeff interrompeu com arrog��ncia, imaginando

1 0 2

PARA T O D A A V I D A

que vencera a parada. ��� Alline �� minha mulher, ouviu bem?

Vamos, solte-me... Raul, n��o �� isso?

A contragosto, Raul finalmente o soltou.

Jeff inclinou-se para pegar a jaqueta, e Alline olhou para

Raul. Impressionou-se com a express��o dele. Dor, confus��o,

desprezo e, principalmente, decep����o.

Os curiosos come��aram a dispersar-se. Quando Alline pensava

que Raul n��o iria mais falar com ela, ele a tocou no bra��o.

��� N��o terminamos a nossa conversa ��� ele murmurou. ���

Posso telefonar mais tarde?

Alline n��o sabia o que responder. Jeff os observava, atento

a cada palavra. Quando ele descobrisse quem era Raul, com

quem ele iria se casar...

��� �� melhor voc�� ir, Raul ��� pediu ela, odiando-se por ma-

go��-lo ainda mais.

��� Voc�� ouviu ��� refor��ou Jeff, atrevido, agora que o perigo

passara.

��� Desculpe, Raul ��� Alline balbuciou, mas ele j�� se afastara

rapidamente em dire����o ��s portas de vidro.

��� Voc�� fez bem em livrar-se dele, Ally. ��� Jeff acompanhou

o olhar dela. ��� Eu percebi o tipo assim que o vi.

��� Voc�� n��o sabe de nada, Raul. Por mim, voc�� pode ir

embora tamb��m. Nunca mais quero v��-lo na minha frente.

��� Voc�� n��o est�� falando a s��rio, Ally.

��� N��o? Bem, se voc�� ficar por aqui, logo descobrir��. ��� Ela

come��ou a se afastar. ��� Agora, com licen��a. Preciso falar com

Suzanne.

Jeff olhou-a com express��o inocente.

��� N��o vai me dar chance de explicar por que estou aqui?

��� Eu sei por que voc�� veio, Jeff. N��o deu certo com Kelly,

ent��o voc�� voltou correndo para a Inglaterra, esperando que

eu enxugaria suas l��grimas. Enganou-se, Jeff.

��� Voc�� est�� sendo dura, Ally.

��� N��o. Apenas realista.

��� Voc�� ainda me ama.

Jeff n��o estava preparado para a rea����o de Alline, e ela

sentiu que precisava ser cautelosa. Do contr��rio, acabariam

discutindo novamente, e ela n��o queria mais confus��o. Com

um suspiro, apontou para o terra��o.

��� Vamos conversar l�� fora ��� sugeriu. ��� Ficaremos mais

�� vontade.

103

PARA T O D A A V I D A

��� Voc�� me ama, Ally ��� Jeff repetiu, j�� acomodado em uma

das mesas sob as palmeiras. ��� N��o adianta negar.

��� Est�� enganado, Jeff. Eu pensei que o amava, mas agora

vejo que n��o �� bem assim. Sinto muito se perdeu a viagem.

Eu n��o imaginava que voc�� viria, at�� Sam me avisar.

��� �� por causa dele? ��� Com o dedo, Jeff apontou em dire����o

ao hall, e Alline ficou apavorada s�� de pensar no estrago que

o ex-marido poderia provocar.

��� Claro que n��o. Raul �� apenas um amigo.

��� Ora, Ally! ��� Jeff riu com ironia. ��� Eu conhe��o um con-

quistador quando vejo um. O sujeito estava devorando voc�� com

os olhos. ��� Ele riu de novo. ��� Deve ser louco por coroas, n��o?

��� N��o �� nada disso!

��� Sei... ��� De alguma forma, Jeff detectara a verdade e

estava procurando um motivo para ridiculariz��-la. ��� N��o ��

todo dia que se tem oportunidade de fazer sexo com um garot��o

como ele. Por mais duvidosos que sejam os motivos.

��� Jeff, por favor! ��� Alline estava revoltada, mas quanto

mais protestava, mais Jeff se convencia de que ela escondia

alguma coisa.

��� Ora, quem sou eu para criticar? Se bem que �� diferente.

Kelly n��o �� uma mulher de meia-idade. Mas acredite-me. Eu

entendo perfeitamente a atra����o por uma carne jovem e fresca...

��� Voc�� est�� sendo inconveniente, Jeff! E extremamente

grosseiro. ��� A atitude dele era desprez��vel, e Alline ficava

doente s�� de pensar que ele poderia fazer tais insinua����es

diante de Suzanne ou de Peter. N��o, ela n��o poderia permitir

que Jeff se aproximasse dos Davis.

Como se adivinhasse seus pensamentos, ele continuou num

tom mais suave:

��� Ent��o, acertei? Voc�� e o garot��o... j�� dormiram juntos?

Nem se d�� ao trabalho de negar. Posso ver nos seus olhos.

Voc�� sempre foi t��o transparente...

Alline negou com um gesto de cabe��a.

��� Voc�� est�� falando bobagens.

��� Estou? ��� Jeff arqueou as sobrancelhas. ��� Talvez eu

deva perguntar a Suzanne. Sabendo que nunca gostou de mim,

tenho certeza de que ela far�� quest��o de jogar toda verdade

na minha cara.

��� N��o... voc�� n��o pode perguntar a Suzanne. ��� De novo,

104

PARA T O D A A V I D A

Alline se traiu e, desesperada, teve ��mpetos de gritar, maldi-

zendo a pr��pria insensatez.

��� Por que n��o? Ela n��o sabe sobre sua... aventurazinha?

��� Deixe Suzanne fora disso.

��� Ah, ent��o voc�� n��o contou nada? ��� Jeff sorriu malicio-

samente. ��� Interessante. ��� Ele franziu o cenho. ��� N��o! N��o

me diga que o garot��o �� filho dela!

��� Voc�� esqueceu que Suzanne s�� tem uma filha?

��� �� mesmo. Que pena!

��� Voc�� �� maldoso, Jeff. Julga todo mundo por voc�� mesmo,

pelos seus padr��es repulsivos.

��� Talvez. ��� Ele n��o pareceu se ofender. ��� Mas voc�� tem

de admitir que estou no caminho certo. Alguma coisa nesse

seu caso n��o est�� encaixando direito.

��� Voc�� est�� exagerando, como sempre.

��� Estou? Por que voc�� ficou t��o preocupada com a perspectiva

de eu falar com Suzanne? N��o pode ser s�� porque voc�� arrumou

um amante. Droga, Ally! No seu lugar, eu faria o mesmo.

Alline sorriu.

��� Ent��o, est�� me dando seu aval?

��� N��o. ��� Ele a olhou com express��o s��ria. ��� N��o seja

t��o precipitada em seu julgamento. Voc�� conhece essa hist��ria

de telhado de vidro, n��o? Na sua posi����o, eu teria muito cuidado

com as pedras.

��� Como assim?

��� Eu explico. Sou muito melhor como amigo do que como

inimigo.

Alline ficou alerta.

��� Por acaso, est�� me amea��ando, Jeff?

Ele encolheu os ombros.

��� D�� o nome que quiser, querida.

��� Por que voc�� faria isso?

��� O que voc�� acha? ��� Esticando o bra��o, Jeff segurou o

queixo da ex-esposa. ��� Quero que volte para mim. E se para

conseguir meu intento, eu tiver que recorrer a uma pequena...

chantagem... n��o me farei de rogado.

��� Voc�� �� desprez��vel. ��� Alline desvencilhou-se da m��o dele.

��� Voc�� �� quem vai decidir se Suzanne merece saber ou

n��o o que est�� acontecendo por aqui. ��� Ele olhou ao redor.

��� N��o me importo de ficar alguns dias neste para��so. Segundo

1 0 5

P A R A T O D A A V I D A

o agente de viagem em Newcastle, os Davis est��o com v��rios

quartos vagos.

��� Voc�� n��o pode ficar aqui.

��� Por que n��o?

��� Suzanne n��o permitir��.

��� Suzanne n��o tem motivos para recusar-se a acomodar-me.

N��o bebo muito. E n��o fumo. Portanto, n��o incomodarei os

outros h��spedes.

Alline levantou a cabe��a.

��� Eu n��o o quero aqui, Jeff.

��� J�� percebi. ��� Ele soltou uma gargalhada. ��� Azar o seu.

��� Voc�� n��o entendeu, Jeff. Vou embora hoje.

��� Vai embora? ��� Jeff olhou-a, incr��dulo. ��� Para onde?

��� Para onde voc�� acha?

��� Para a Inglaterra?

Alline concordou com um gesto de cabe��a.

Jeff apertou os olhos.

��� N��o acredito.

��� Acredite, porque �� verdade. Sam estava... muito preocu-

pada com voc��. ��� Alline rezava para a filha perdo��-la. ���

Prometi que voltaria hoje mesmo.

106





CAP��TULO XII

T elefone, sra. Sloan.

Alline levantou os olhos da folha de

pagamento que estava preparando e deparou-se com Jennifer

Morrei, a secret��ria da empresa Jedburgh Transport, onde ela trabalhava.

��� Telefone para mim? ��� Alline n��o escondeu a apreens��o.

��� Quem... quem ��?

��� Acho que �� sua filha. Eu n��o perguntei. Voc�� sabe que

o sr. Jedburgh n��o gosta de telefonemas particulares em hora

de expediente.

��� Eu sei.

A resposta de Alline foi em tom de desculpa, mas interiormente,

enfrentava d��vidas e frustra����es. Sentia-se assim desde que vol-

tara de San Cristobal. Nem mesmo o fato de, aparentemente, Jeff

compreender que ela n��o o queria de volta aliviava sua tens��o.

Conhecia o ex-marido muito bem, e apesar dos milhares de qui-

l��metros que separavam San Cristobal de Newcastle, ela n��o tinha

certeza absoluta de que Jeff desistira de contar tudo a Suzanne.

Claro que existia a possibilidade de Suzanne n��o querer

falar com ele. A amiga n��o aprovara a decis��o de Alline de

retornar �� Inglaterra e culpava Jeff por ter estragado as f��rias

longamente planejadas.

O que n��o era totalmente verdade, Alline admitia. Ela pr��-

pria arruinara suas f��rias, antes mesmo de chegar �� ilha.

Naquelas circunst��ncias, Alline n��o tivera outra op����o a

n��o ser voltar �� Inglaterra.

Felizmente, ela conseguira tirar Jeff do hotel antes que Su-

zanne ou Peter o vissem, evitando assim uma poss��vel cat��strofe.

Provocado, Jeff n��o teria escr��pulos em revelar tudo a Suzanne.

1 0 7

P A R A T O D A A V I D A

N��o fora f��cil, mas Alline conseguira tamb��m convenc��-lo

a esper��-la no aeroporto de San Cristobal. As dez horas da

noite, sairia um avi��o para Londres. Sem perder tempo, ela

telefonou para Mike Mclean e combinou com ele para lev��-los

at�� Nassau, no in��cio da noite.

Jeff resistira, logicamente. Acabara de chegar e queria co-

nhecer aquele para��so tropical. Alline mostrara-se irredut��vel.

Ou ele aceitava suas exig��ncias ou ela voltaria sozinha, frus-

trando as inten����es dele de desmascar��-la diante dos amigos.

Talvez por n��o acreditar que ela seria capaz de rejeit��-lo, Jeff

acabara concordando.

A conversa de Alline com Suzanne n��o fora nada agrad��vel.

Para come��ar, Suzanne estava de p��ssimo humor e n��o entendia

os motivos de Alline sentir qualquer tipo de obriga����o em rela����o

ao ex-marido. E por n��o saber que Jeff estava na ilha, ela con-

siderara a partida de Alline como tolice e ingratid��o.

E fora mesmo, Alline reconhecia.

��� Sra. Sloan? ��� A voz de Jennifer arrancou-a das divaga����es.

��� Desculpe. ��� Levantando-se, ela caminhou at�� a mesa

da secret��ria para atender o telefone.

Esperava que fosse Sam. Morria de medo que Suzanne lhe

telefonasse, perguntando por que ela n��o contara que Jeff es-

tava na ilha, por ocasi��o de sua partida. Com certeza, Mike

contara a Suzanne que ela n��o viajara sozinha e que o acom-

panhante tinha o sobrenome dela. Alline ainda n��o pensara

numa boa desculpa para explicar por que omitira esse fato.

��� Al��? �� voc��, Sam?

��� Sim, mam��e. Sou eu. Como vai?

��� Ora, Sam. Voc�� me viu hoje de manh��. Por que a pergunta?

��� Est�� sentada, m��e?

Com o canto dos olhos, Alline viu que Jennifer a fitava com

curiosidade.

��� N��o. ��� Ela respirou fundo. ��� O que aconteceu, Sam?

Voc�� est�� bem? E Ryan?

��� Mam��e, voc�� s�� pensa em trag��dias! N��o aconteceu nada.

Papai telefonou logo cedo s�� para contar que tem entrevista

marcada em uma escola de North Shields. E quanto a Ryan,

duvido que j�� esteja acordado. Afinal, ainda �� meio-dia!

��� Ent��o, o que...

��� Se voc�� parar de fazer perguntas, eu conto.

108

PARA T O D A A V I D A

Incapaz de suportar o olhar insistente de Jennifer, Alline

deu-lhe as costas.

��� Ent��o, conte, Sam. Fale logo, que eu estou trabalhando.

��� Certo. Voc�� teve uma visita. O nome Rafael Ramirez

significa alguma coisa para voc��?

��� Raf... Raul! ��� As pernas de Alline ficaram bambas, e sem importar-se com Jennifer, ela apoiou-se na beirada da

mesa. ��� Raul... esteve a��?

��� Esteve ��� Sam confirmou, aparentemente satisfeita com

a rea����o da m��e. ��� Ele �� um tremendo de um gato, hein?

Alline ignorou a ��ltima observa����o da filha.

��� O que ele queria? ��� perguntou, enquanto sua mente

rejeitava todas as poss��veis raz��es pelas quais Raul estaria no

norte da Inglaterra.

��� Voc�� n��o sabe?

Como n��o podia discutir o assunto por telefone, principal-

mente com uma testemunha, Alline consultou o rel��gio de pulso

e tomou uma decis��o.

��� Est�� quase na minha hora de almo��o. Vou sair j��. Logo

estarei a��.

Felizmente, Andy Jedburgh n��o estava no escrit��rio, e ela

poderia sair alguns minutos antes do hor��rio.

��� Preciso ir at�� minha casa ��� explicou a Jennifer. ���

At�� mais.

Alline praticamente voou at�� o estacionamento. Poucos mi-

nutos depois, parava o carro diante de sua casa, em Penrose

Terrace. Sam abriu a porta imediatamente.

��� Oi, m��e. Desculpe pelo susto. ��� Ela percebeu a express��o

preocupada de Alline. ��� Achei que voc�� gostaria de saber que

ele esteve aqui.

Alline foi para a cozinha, encheu a chaleira de ��gua e levou-a

ao fogo. S�� depois, quando se sentia mais segura para encarar

Sam sem trair os verdadeiros sentimentos, virou-se e falou

pausadamente:

��� O que ele queria? Disse por que veio? ��� E com menos

firmeza: ��� Ele vai voltar?

Sam n��o escondia a ansiedade.

��� M��e, acho melhor voc�� se sentar e tomar uma x��cara de

ch�� primeiro. Voc�� est�� p��lida.

��� Estou bem.

��� N��o est��, n��o ��� insistiu Sam. ��� N��o quer me contar

o que est�� acontecendo?

109

PARA T O D A A V I D A

��� N��o sei o que... ��� Alline come��ou, pensando numa des-

culpa qualquer, mas uma vez que Raul estivera l��, Sam merecia

saber, pelo menos, uma parte da verdade. ��� Sinceramente,

Sam, nunca imaginei que veria Raul de novo.

��� Raul? ��� A garota olhou-a meio intrigada. Ele disse que

se chamava Rafael.

��� Somente os pais dele o chamam de Rafael.

��� Uau! Voc�� conheceu os pais dele?

��� Conheci. Mas n��o �� nada do que voc�� est�� pensando. Eu

os conheci porque s��o amigos de Suzanne e Peter.

��� Foi tia Suzanne quem apresentou voc��s?

��� N��o. ��� Alline mordiscou o l��bio inferior, tentando en-

contrar uma resposta apropriada. ��� Eu... n��s... nos conhecemos

no hotel, em Londres, antes de eu embarcar para Nassau.

��� Entendo... Ent��o, era com ele que voc�� estava se encon-

trando, l�� na ilha? ��� Sam franziu a testa. ��� Por que fez

tanto mist��rio?

��� Ora... ele �� muito mais novo do que eu...

��� Mam��e, que bobagem! A idade n��o tem nada a ver. Hoje

em dia, ningu��m mais liga para isso. E quantos anos ele pode

ter a menos? Tr��s, quatro?

��� Dez ��� Alline revelou, constrangida.

��� Ora, mam��e. ��� Sam remexeu-se na cadeira. ��� E qual

�� o problema? Voc�� n��o aparenta a idade que tem. �� atraente.

Assim, bronzeada, seus olhos parecem ainda mais verdes. As

luzes em seus cabelos... voc�� deveria ter feito essa mudan��a

no visual h�� muito tempo.

Para fugir ao olhar ansioso da filha, Alline tirou duas x��caras

do arm��rio e um pacote de leite da geladeira.

��� O que ele disse?

Sam encolheu os ombros.

��� Bem, ele queria v��-la. Perguntou onde voc�� estava, e eu

disse que voc�� estava trabalhando.

��� Foi assim? Ent��o, um estranho bate �� nossa porta, per-

gunta onde estou e voc�� informa?

��� N��o, n��o foi assim ��� Sam defendeu-se. ��� Ele sabia

quem eu era. Quando abri a porta, ele disse: "Voc�� deve ser

a Sam". Ora, m��e, ele me desarmou!

��� Ele desarma, mesmo. ��� Alline escolheu os sach��s de

ch��. ��� E depois?

1 1 0

P A R A T O D A A V I D A

��� Ele me pediu para dizer a voc�� que ele est�� na Inglaterra, e

que se voc�� quiser conversar com ele pode encontr��-lo no Post House.

��� Post House? Foi o que ele disse?

��� Sim. ��� Sam umedeceu os l��bios. ��� Voc��... vai procur��-lo?

��� N��o sei.

Sam colocou as m��os na cintura.

��� Como n��o sabe? Ou voc�� vai ou n��o vai. ��� Ela franziu

o cenho. ��� O papai sabe a respeito dele?

��� Por que voc�� pergunta?

��� Foi alguma coisa que ele disse.

Alline ficou apreensiva.

��� O que seu pai disse?

��� N��o me lembro bem. Na hora, eu n��o dei muita impor-

t��ncia. Pensei que ele estivesse apenas despeitado porque voc��

se recusou a aceit��-lo de volta.

��� Como, despeitado?

��� Ele falou alguma coisa sobre voc�� o estar fazendo de

bobo. Que ele at�� acreditou quando voc�� garantiu que n��o

estava envolvida com ningu��m.

Alline apoiou as duas m��os na mesa. De novo, o frio no

est��mago, o medo, a apreens��o.

��� Por que voc�� n��o me contou antes?

��� Ora, mam��e! ��� A garota revirou os olhos, impaciente. ���

O que havia para contar? Ele n��o mencionou nomes. Apenas

comentou que gostaria de revelar a tia Suzanne que voc�� era

mentirosa. Eu n��o podia lhe contar isso, podia? N��o quis abor-

rec��-la ainda mais. Mas eu o preveni para n��o fazer essas acu-

sa����es a seu respeito. Eu n��o sabia que voc�� estava namorando.

��� E n��o estou! ��� protestou Alline. ��� Oh, Sam, voc�� acha

que ele telefonou para Suzanne?

��� E se tiver telefonado? Qual o problema? Tia Suzanne

n��o tem nada a ver com isso!

��� Tem, sim! Oh, Sam, Raul �� namorado da J��lia. Suzanne

e Peter sonham com o casamento deles.

Sam ficou boquiaberta.

��� Voc�� est�� brincando!

��� N��o, minha filha. N��o estou.

��� Mas ele deve ser muito mais velho do que J��lia.

��� N��o muito. A diferen��a de idade entre eles �� menor do

que entre mim e ele. Ele tem s�� vinte e nove anos, Sam.

1 1 1

PARA T O D A A V I D A

Sam observou atentamente o rosto da m��e.

��� Isso a incomoda, n��o ��? Quer dizer que existe mesmo

alguma coisa entre voc��s...

Alline balan��ou a cabe��a.

��� N��o sei mais o que pensar.

Sam tentou entender o significado das palavras de Alline.

��� Me diga uma coisa... Como o papai sabe? Se �� que real-

mente sabe?

��� Seu pai nos viu juntos. Eu estava justamente �� procura

de Suzanne para comunicar minha decis��o de voltar e cruzei

com Raul no sagu��o.

��� E da��? Voc��s estavam se beijando ou...

��� N��o! ��� Alline a interrompeu, corando. ��� Est��vamos

apenas conversando.

Os bra��os de Sam ca��ram ao longo do corpo.

��� E o papai deduziu que voc�� e esse tal Raul estavam

tendo um caso. ��� Ela fez um gesto evasivo com as m��os. ���

N��o acredito.

��� Tudo bem. ��� Mesmo relutante, Alline relatou �� filha os

acontecimentos que precipitaram a discuss��o entre Jeff e Raul.

��� Agora voc�� v�� que n��o �� o que parece.

��� Ah, mam��e! ��� Sam n��o conteve uma risada maliciosa.

��� E eu que pensei que voc�� estava levando uma vida cheia

de t��dio. Aposto que papai n��o gostou nada!

��� N��o gostou, mesmo. Por isso, decidi tirar seu pai daquele

hotel, imediatamente. Se ele contasse a Suzanne...

��� Voc�� acha que ele contou? ��� Sam perguntou com ex-

press��o s��ria. ��� Ser�� que foi por isso que Raul veio aqui?

Ser�� que ele terminou o namoro com a J��lia?

Alline n��o queria acreditar, mas tudo era poss��vel.

��� Espero que n��o ��� disse, ignorando o fio de esperan��a

que se alojara em seu cora����o, naquela tarde, no hotel.

Chegara a acreditar que Raul preferia contar a verdade a

J��lia do que deix��-la partir. Era tolice, Alline reconhecia com

uma ponta de tristeza. Fazia tr��s semanas que voltara da ilha.

Tempo demais para alimentar ilus��es.

��� O que voc�� quer dizer com "espero que n��o"? Corrija-me

se eu estiver errada, mam��e, mas tenho a n��tida impress��o

que voc��... est�� gostando de Raul. Voc�� n��o se importa se ele

se casar com outra?

1 1 2

PARA T O D A A V I D A

��� Esse assunto n��o me diz respeito. ��� Alline recusava-se

a discutir os problemas dos Davis com a filha.

��� Ser��? ��� Sam n��o parecia convencida. ��� Voc�� est�� irritada

porque acha que o papai andou fazendo fofocas com a tia Suzanne?

Era mais f��cil deixar que Sam acreditasse nisso.

��� Talvez. ��� Alline surpreendeu-se com a firmeza das pr��prias

m��os, ao preparar o ch��. Arrumou as x��caras, o bule de ��gua

fervente e o leite numa bandeja, e levou-a para a sala de visitas.

��� Vamos tomar nosso ch��. Tenho que voltar ao trabalho.

��� Mas... ��� Sam olhava-a incr��dula ���, voc�� n��o vai tele-

fonar para Raul?

��� Acho que n��o ��� Alline respondeu, passando pela filha,

em dire����o �� sala. ��� N��o me olhe assim, Sam. Sei o que estou

fazendo. Independentemente da diferen��a de idade, n��o tenha

tanta certeza de que homens como Raul Ramirez est��o dis-

postos a envolver-se seriamente com mulheres como eu.

Nunca o tempo demorara tanto para passar quanto naquela

tarde. Finalmente, ��s cinco horas, aliviada, Alline levantou-se

e deixou o escrit��rio.

N��o conseguira concentrar-se no trabalho, s�� pensando em

Raul e no fato de ele estar em Newcastle, t��o perto dela. N��o

acreditava que Raul viajara milhares de quil��metros s�� para v��-la.

De qualquer forma, independentemente do motivo que o levara

�� Inglaterra, seria muito bom rev��-lo. A despeito do que dissera

a Sam, a tenta����o de procur��-lo era quase irresist��vel.

Ao chegar em casa, encontrou um bilhete de Sam, infor-

mando que ficaria trabalhando at�� ��s sete e depois iria jantar

com o noivo. Pedia para a m��e n��o esper��-la acordada, pois

n��o sabia a que horas voltaria.

Alline suspirou. Sam tinha sorte. Estava absolutamente se-

gura em rela����o ao futuro. N��o corria o risco de uma gravidez

n��o planejada, nem de um casamento alicer��ado em necessi-

dade em vez de amor.

Deixou o recado sobre a mesa e tirou o casaco, pendurando-o

no encosto da cadeira. Estava desapontada. Esperava que Sam

voltasse para casa, depois do expediente. Queria conversar com

a filha, perguntar mais sobre Raul, se tivesse coragem. Mas

Sam tinha a vida dela.

De repente, a imagem de Raul jantando sozinho no Post

1 1 3

PARA T O D A A V I D A

House Hotel surgiu em sua mente. Perguntava-se o que ele

estaria fazendo naquele momento. Talvez conhecendo a cidade,

ou sentado no quarto, esperando pelo telefonema dela.

N��o tinha coragem de telefonar. Como poderia simplesmente

ligar e conversar, como se a presen��a dele em Newcastle fosse

a coisa mais natural do mundo? Al��m do mais, Raul deveria

saber que ela era pr��tica demais, velha demais, para tomar decis��es arrojadas, envolvendo a vida de outras pessoas.

Mas ele estava l��.

Tentou sufocar o pensamento. N��o queria cometer a tolice de

acreditar que ele fora at�� Newcastle s�� para v��-la. N��o era poss��vel.

Ent��o, por que ele estava l��?

Decidida a n��o pensar mais no assunto, subiu a escada.

N��o queria destruir aquele pequeno o��sis de tranq��ilidade que

constru��ra, em meio a l��grimas, saudade e melancolia. No quar-

to, parou diante do espelho. C��us, estava horr��vel! P��lida, aba-

tida, as luzes dos cabelos, assim como o bronzeado da pele,

come��avam a perder o brilho. Se n��o tomasse cuidado, logo

seria a mulher que era antes de ir para San Cristobal.

Balan��ando a cabe��a, afastou-se do espelho e entrou no ba-

nheiro. Abriu as torneiras para encher a banheira e voltou ��

cozinha. Tirou uma garrafa de vinho branco da geladeira, abriu-

a e, depois de pegar um copo, voltou ao banheiro.

Tirou a roupa e mergulhou na banheira. Queria ficar b��bada.

S�� assim, n��o ouviria o clamor de vozes em sua cabe��a, avi-

sando-a de que aquela poderia ser sua ��ltima chance.

Estava no terceiro copo de vinho quando a campainha tocou.

Determinada a ignor��-la, aninhou-se mais na ��gua morna.

O toque se repetiu, com mais insist��ncia. N��o poderia ser Sam,

nem Ryan. Ambos tinham a chave de casa.

Alline hesitou antes de pousar o copo na borda da banheira,

e sair. Enrolando uma toalha no corpo, aproximou-se da janela

do quarto, que dava para a rua.

Seu cora����o quase parou.

Era Raul!

��� Ally! Sei que voc�� est�� a��. Seu carro est�� aqui na porta.

Alline piscou. Como Raul sabia que aquele era o carro dela?

A menos... A menos que Sam...

Ela bateu com as m��os nos quadris.

��� Sam! Sam!

1 1 4

PARA T O D A A V I D A

De repente, o recado da filha ficou absolutamente claro.

Errara ao pensar que Sam aceitara sua decis��o. A filha, que

a conhecia muito bem, n��o hesitara em fazer o que ela pr��pria

n��o tivera coragem de fazer: telefonar para Raul.

Reconhecendo que n��o poderia mais fingir, Alline apareceu

na janela.

��� Um momento! J�� vou abrir.

Ofegante, parou no meio do quarto, sem saber direito por

onde come��ar. Com uma toalha seca, enxugou os cabelos. Co-

locou um robe felpudo e prendeu os cabelos molhados num

coque no alto da cabe��a. E ent��o, sem se dar tempo para mudar

de id��ia, desceu a escada e abriu a porta.

Um sopro de vento frio envolveu-a, e ela estremeceu. Mas

o arrepio era provocado mais pela presen��a do homem parado

no degrau. Ela nunca o vira de casaco por cima do su��ter cinza

e da cal��a de l�� da mesma cor.

��� Raul... ��� ela murmurou. ��� Entre.

��� Obrigado.

Ela o conduziu at�� a sala de visitas.

��� Fique �� vontade. Vou trocar de roupa e...

��� N��o ��� ele a interrompeu. ��� N��o precisa. Por favor.

Gosto de voc�� assim.

Ela o fitou meio confusa, sem saber como lidar com a situa����o.

��� Eu... Por que voc�� veio, Raul?

Os olhos de Raul brilharam, iluminando o rosto mais magro,

p��lido.

��� Voc�� n��o sabe, Ally?

��� N��o. ��� Ela cruzou os bra��os. ��� Voc�� veio sozinho?

��� Com quem eu poderia vir? ��� Raul fechou os olhos por

um momento, depois abriu-os lentamente. Esticando os bra��os,

ele a segurou pelos ombros. ��� Venha c�� e eu lhe conto.

Alline estremeceu, incapaz de disfar��ar o efeito que o calor

das m��os dele lhe provocavam.

��� Oh, Ally! ��� ele murmurou, puxando-a de encontro ao peito.

��� Ally, voc�� n��o imagina o tormento em que tenho vivido. ���

Ele tamb��m estava tremendo. O corpo musculoso estremeceu

quando ele entreabriu as pernas para traz��-la para mais perto.

��� Meu Deus, Ally... ��� A voz dele soou enrouquecida, o h��lito

quente em seu rosto. ��� Por que me deixou acreditar que estava

voltando para Jeff? Eu padeci as penas do inferno, pensando que

voc�� e aquele bastardo estavam juntos de novo.

1 1 5

PARA T O D A A V I D A

Alline prendeu a respira����o ao sentir a m��o dele introdu-

zindo-se pela abertura do robe e tocar o mamilo enrijecido.

Por um instante, emudeceu, e aproveitando-se, Raul desamar-

rou o cinto do robe.

��� Voc��... sabe por qu�� ��� Alline conseguiu falar. ��� Voc��

e J��lia iam casar e...

��� Eu tinha dito a Suzanne que n��o pretendia me casar com

J��lia ��� Raul explicou, olhando fascinado para o tri��ngulo de

p��los castanho-dourados no meio das coxas de Alline. Depois,

obrigou-se a olh��-la de novo. ��� Esse foi o motivo de minha reuni��o

com os Davis... naquele dia em que Jeff apareceu no hotel.

Alline soltou um gemido abafado.

��� Oh, Raul, voc�� n��o devia ter terminado o namoro.

��� Ora, Ally! Voc�� queria que eu me casasse com J��lia?

Preferia manter um romance clandestino, sem a responsabili-

dade do casamento?

Alline arregalou os olhos.

��� Como voc�� pode pensar uma coisa dessas? ��� Desvenci-

lhando-se, ela tornou a fechar o robe, amarrando-o firmemente

ao redor da cintura. ��� Voc�� est�� me ofendendo!

��� Calma, Ally! ��� Raul tirou o casaco e largou-o no sof��.

��� Que eu saiba, a parte ofendida aqui sou eu. Como teve

coragem de ir embora, sabendo o quanto eu a amava?

Alline balan��ou a cabe��a.

��� J�� falamos sobre isso, Raul. Pensei que voc�� ia se casar

com J��lia...

��� Suzanne deveria ter lhe contado que n��o haveria casa-

mento. ��� Ele abriu os bra��os, num gesto desolado. ��� Eu tinha

certeza que ela ia lhe contar.

��� Ela n��o me contou nada. Eu n��o sou mentirosa.

��� Nem eu. Eu a amo, Ally.

��� Mas Suzanne dependia de voc�� ��� Alline observou num

tom distra��do.

Raul franziu o cenho.

��� Como assim?

Alline ergueu os ombros.

��� Voc�� sabe. N��o me obrigue a repetir.

��� Ah! Voc�� est�� se referindo ao empr��stimo?

Alline concordou com um gesto de cabe��a.

��� Ent��o, Suzanne confiou-lhe os problemas financeiros, mas

depois de resolvidos, ela n��o comentou nada, n��o �� mesmo?

1 1 6

PARA T O D A A V I D A

��� N��o estou entendendo nada.

��� Claro que n��o. ��� Raul aproximou-se dela. ��� Eu achei

que voc�� seria a primeira a saber.

��� Que seu pai ia cobrar o empr��stimo que fez aos Davis,

logo no in��cio de seu namoro com J��lia?

��� N��o. ��� Raul suspirou. ��� Que meu pai concordou em

perdoar o empr��stimo, em troca de uma participa����o no hotel.

Foi exatamente a proposta que os Davis apresentaram quando

procuraram meu pai para pedir um empr��stimo. Ocorre que,

na ��poca, meu pai n��o quis envolver-se nos neg��cios deles.

��� Eles procuraram seu pai? ��� Alline estava perplexa. A

hist��ria que Suzanne lhe contara era bem diferente. ��� Eu

n��o sabia.

��� Acredito em voc��. ��� Com o dedo, ele contornava o rosto

dela, os l��bios. ��� Sinto muito. Eu imaginei que eles tivessem

lhe contado.

��� O que aconteceu para seu pai mudar de id��ia? ��� Alline

perguntou.

��� Meu pai �� um homem que enxerga longe. Carlos est��

apaixonado por J��lia, e ela �� filha ��nica. Ent��o, meu pai re-

solveu investir no futuro de Carlos, entende?

��� E voc�� n��o se importa?

��� Eu? ��� Raul sorriu. ��� Pelo contr��rio. Apoiei a decis��o

do meu pai. Eu j�� lhe disse como foi que me envolvi com J��lia.

Na noite do jantar, em Finisterre, lembra-se? Na mesma noite em que voc�� afirmou que n��o estava interessada em mim.

��� N��o �� verdade. Voc�� sabe muito bem por que agi daquela

maneira. Mas... ainda n��o sei o que voc�� quer de mim.

��� Ah, sabe, sim. ��� Raul tirara os grampos que prendiam

os cabelos dela, que, ��midos, ca��ram sobre os ombros. ��� Eu

quero voc��, Ally. E voc�� tamb��m me quer. S�� que o orgulho

a impede de confessar.

��� N��o �� orgulho.

��� Seja l�� o que for, quero ouvir de voc��. ��� Ele lhe mor-

discava a orelha. ��� Quero ouvi-la dizer que me quer, tanto

quanto eu a quero.

��� Sim, Raul. Eu quero voc��. Quero que fa��a amor comigo.

Quero fazer amor com voc��. Quero...

As palavras de Alline foram tragadas pelos l��bios de Raul,

e Alline entregou-se inteiramente ao beijo.

1 1 7

PARA T O D A A V I D A

Ambos estavam famintos, ��vidos, e na sala silenciosa, tudo o

que se ouvia era a respira����o ofegante de ambos. Desesperada-

mente, Alline introduziu a m��os sob o su��ter dele, sentindo a

pele morna, macia. Depois, as m��os desceram pelo c��s da cal��a,

e ela se arrepiou ao sentir o membro pulsante entre seus dedos.

��� Ah, Ally! ��� Raul gemeu, mas quando Alline tentou abrir

o z��per da cal��a, ele a impediu. ��� Ainda n��o. ��� Ele se sentou

no sof��, fazendo-a sentar-se em seu colo.

O robe felpudo j�� estava esquecido no ch��o, e Alline n��o

esperou para ajud��-lo a tirar o su��ter e a camiseta. Fascinada,

acariciou o peito r��gido, acompanhando os p��los macios que

desciam pelo abd��men. Cavalgando-o, ela desabotoou o cinto

e, ent��o, abriu o z��per da cal��a. Raul gemeu quando ela puxou

a cal��a, junto com a cueca. A seguir, ela acariciou o membro

enrijecido, primeiro com a m��o, depois com a l��ngua.

��� Espere! ��� ele murmurou, invertendo facilmente as po-

si����es. Agora, era ele quem a cavalgava. ��� Sou humano, Ally.

E preciso de voc��... muito... muito.

Alline queria dizer que sentia a mesma coisa, mas os l��bios

dele tinham capturado os dela novamente, a l��ngua exploran-

do-lhe a boca. Raul arqueou o corpo para sugar-lhe os seios

dela, e Alline tentou segurar o membro em riste, mas com um

gemido, ele afastou-lhe a m��o.

��� Quero penetr��-la. Quero satisfazer-me dentro de voc�� ���

ele sussurrou, acariciando-lhe o abd��men, at�� tocar os carac��is

��midos e macios que encobriam o centro da feminilidade dela.

��� Voc�� quer?

Alline se contorcia, sentindo os dedos dele brincando, provo-

cando, explorando-a. Ela, que acreditara ter controle sobre seu

corpo, de repente era sacudida pela for��a de um orgasmo. Gemendo,

puxou a m��o dele, exigindo que ele tomasse o lugar dos dedos.

��� Droga! Esqueci os preservativos no bolso do casaco ���

Raul resmungou, mas Alline n��o permitiu que ele se afastasse.

��� N��o faz mal. Eu quero voc��. Quero senti-lo dentro de mim...

Raul olhou-a surpreso.

��� Tem certeza?

��� Desde que voc�� tamb��m queira.

��� Eu quero, sim. ��� E com um gemido de satisfa����o, ele a

invadiu...

118

PARA T O D A A V I D A

J�� era quase meia-noite quando Alline e Raul finalmente

adormeceram. Fazer amor no sof�� da sala de visitas fora apenas

o in��cio de uma deliciosa noite de paix��o e prazer. Houve outras

vezes, outros lugares, surpreendendo, saciando, inebriando Al-

line, em todos os aspectos.

Raul parecia insaci��vel. A banheira foi novamente prepa-

rada, e l�� tamb��m acabaram fazendo amor. E foi ali, entre

beijos e car��cias, que Raul a pediu em casamento.

��� Voc�� quer mesmo casar comigo? ��� Alline custava a acre-

ditar que aquilo estivesse realmente acontecendo. ��� E sua

m��e? Acho que ela gostaria que voc�� se casasse com uma mu-

lher mais jovem.

Raul mordiscou-lhe a orelha.

��� Meus pais sabem de tudo e aprovam minha decis��o. Eu

contei tudo, antes mesmo de sua visita a Finisterre.

Alline arregalou os olhos.

��� N��o acredito!

��� Voc�� n��o desconfiou? Por que acha que eles estavam t��o

ansiosos para conhec��-la?

��� Voc�� �� maluco mesmo! ��� Alline exclamou.

��� E ent��o? Vai se casar comigo? Ou ser�� que tenho que

fazer como meus antepassados? Rapt��-la?

��� Acho que voc�� me raptou naquela noite, em Londres ���

ela admitiu com simplicidade. ��� Desde ent��o, s�� tenho pensado

em voc��.

��� Por que n��o me disse isso logo, em vez de me deixar

acreditar que voc�� e Jeff iam se reconciliar?

Alline enla��ou-o pelo pesco��o.

��� Como voc�� descobriu que eu e Jeff n��o est��vamos juntos?

��� J��lia me contou. Parece que voc�� escreveu para Suzanne,

agradecendo a hospitalidade, e na carta, voc�� deve ter men-

cionado alguma coisa sobre n��o pretender refazer a vida com

seu ex-marido.

��� �� verdade. ��� Ela escrevera mesmo para Suzanne, mas

nunca recebera resposta. Ela mordiscou o l��bio. ��� Ent��o, J��lia

sabe sobre n��s?

Acho que sim. Carlos n��o �� muito bom na arte de

guardar segredos, e como ele ficou sabendo, provavelmente

acabou contando.

Alline segurou o rosto dele entre nas m��os.

1 1 9

P A R A T O D A A V I D A

��� Eu o amo, sabia?

��� E eu a amo ��� Raul repetiu. ��� E n��o vejo a hora de

lev��-la para San Cristobal.

��� Suzanne n��o vai gostar nada disso ��� Alline comentou.

��� E da��? Depois de chorar as m��goas em seu ombro, ela

tinha a obriga����o de contar-lhe quando os problemas financei-

ros da fam��lia foram resolvidos.

��� Eu entendo a situa����o de Suzanne. Ela estava t��o orgu-

lhosa com a perspectiva do casamento da filha com voc��! Pre-

feria morrer a revelar-me que n��o haveria mais casamento.

Raul encolheu os ombros e sorriu maliciosamente.

��� �� voc�� quem est�� dizendo.

��� �� verdade. Voc�� �� um homem muito atraente.

��� Ent��o, logo serei um atraente homem casado? ��� ele

indagou ansioso, e Alline confirmou.

��� Sim, logo voc�� ser�� um atraente homem casado.

E Raul cobriu os l��bios dela com os seus.

Alline ligou para Sam, antes de se deitar. Sam n��o ficou

surpresa com as novidades.

��� Ele est�� a��? ��� a garota perguntou curiosa. Depois de ouvir

a resposta da m��e, ela continuou: ��� Voc�� vai se casar com ele?

��� Como voc�� sabe?

��� Eu perguntei quais eram as inten����es dele, claro ��� Sam

nem se preocupou em esconder que ligara para Raul, no Post

House Hotel. ��� A prop��sito, mam��e, eu telefonei para Ryan,

tamb��m. Ele disse que voc�� tem a b��n����o dele.

��� Oh, Sam, como voc�� p��de... ��� Alline mudou o tom da

conversa. ��� Voc��s n��o se importam?

��� Ora, mam��e. �� a melhor coisa que poderia lhe acontecer.

Por que dever��amos nos importar?

Mais tarde, na cama, Alline comentou com Raul a rea����o

de Sam.

��� Ela �� uma boa menina. Ally. Espero que ela e Ryan

compreendam que encontrar��o sempre um lar em nossa casa,

seja qual for o caminho que escolherem.

��� Oh, Raul! ��� Alline se aninhou nos bra��os dele. ��� Parece

um sonho. Tenho medo de dormir, acordar e...

Ele a interrompeu com um beijo.

��� N��o �� sonho, Ally. Mas se voc�� n��o estiver com sono,

acho que poderemos nos distrair um pouco...

1 2 0





EP��LOGO

Alline descansava no p��tio de Finisterre. Ao ver

o marido e o sogro, levantou-se para receb��-los.

Raul acompanhara o pai nas visitas �� marina.

��� Ally, minha querida. ��� Juan Ramirez beijou-a no rosto

antes que Raul a enla��asse pela cintura. ��� Desculpe-nos pela

demora. Isabel n��o est�� abusando de sua hospitalidade?

��� Isabel nunca abusa de minha hospitalidade ��� respondeu

ela com firmeza. Ela olhou para onde a sogra e os outros h��s-

pedes estavam reunidos para o churrasco. ��� Isabel est�� sendo

muito simp��tica com Sam e Ryan. Ela os trata como se fossem

da fam��lia.

��� Eles fazem parte da nossa fam��lia, Ally ��� afirmou Juan

com express��o s��ria. ��� S��o seus filhos, n��o s��o? N��s gostamos

muito de voc��, querida. Como n��o ir��amos gostar dos seus filhos?

Com os olhos ��midos, Alline voltou-se para Raul.

��� Voc��s s��o maravilhosos e me fazem muito feliz.

��� Voc�� tamb��m me faz muito feliz, meu amor. O que eles

est��o fazendo?

��� Parece que sua m��e est�� ensinando aos jovens como assar

o peixe que Maria comprou hoje cedo ��� Juan explicou, afas-

tando-se em dire����o ao local onde Sam e o marido Mark, Ryan

e a namorada Penny, estavam reunidos, ao redor de Isabel.

��� Hola ��� ele gritou. ��� Esse peixe j�� est�� pronto?

Raul abra��ou Alline e murmurou ao ouvido dela:

��� Voc�� est�� feliz de verdade?

��� Pare de buscar elogios. ��� Alline sabia que ele estava

brincando. Depois de um ano de casada, aprendera a conhecer

o marido, e ainda estava maravilhada com a felicidade que

desfrutavam. ��� Voc�� viu Carlos?

1 2 1

P A R A T O D A A V I D A

��� Sim. Ele e J��lia vir��o mais tarde. Vai depender de como

J��lia estiver se sentindo. Voc�� sabe minto bem como s��o os

primeiros meses de gravidez.

Alline concordou.

��� Se sei! ��� Ela riu. ��� Mas vale a pena.

��� �� mesmo? ��� Raul acariciou-lhe o rosto.

��� Eu acho. ��� Percebendo que estavam come��ando a es-

quecer-se dos convidados, ela desviou o olhar e perguntou. ���

Voc�� acha que sua m��e est�� bem?

��� Muito bem. Sem esta casa imensa para administrar, ela

parece menos cansada. A id��ia de papai de construir uma casa

menor dentro da propriedade foi excelente.

��� Ser�� que ela sente falta desta casa?

��� Acho que n��o. Mesmo porque ela est�� sempre aqui co-

nosco. ��� Ao som de passos que se aproximavam, ambos de

voltaram. ��� Eis a raz��o pela qual mam��e n��o consegue ficar

longe daqui. ��� Raul olhou para os seios de Alline, volumosos

sob a blusa de seda bege. ��� Ele j�� mamou?

Alline riu, sabendo o quanto Raul gostava de v��-la alimentar

o pequeno Manuel, de apenas tr��s meses. Ela pegou o filho

dos bra��os da bab��.

��� J��. ��� Olhou para o rosto sorridente do beb��. ��� Veja, o

sorriso dele �� igual ao seu.

��� �� assim que eu sorrio quando voc�� me satisfaz?

��� Exatamente assim. ��� Ela ro��ou os l��bios nos de Raul.

��� Segure seu filho. Ele sentiu sua falta.

Raul obedeceu. Pegou o filho nos bra��os e come��ou a em-

bal��-lo carinhosamente.

��� Ei, veja quem est�� aqui!

Ao ver o irm��ozinho nos bra��os de Raul, Sam correra para

v��-lo. Apesar de ter garantido �� m��e que n��o pretendia ter

filhos nos primeiros cinco anos de casada, os olhos de Sam

brilhavam ansiosos enquanto acariciava o beb��.

��� Quer segur��-lo um pouco? ��� Raul perguntou, e Sam

desmanchou-se num sorriso maravilhado.

Isabel tamb��m se aproximou.

��� Ah, o ni��o! ��� exclamou, ao ver o neto.

Logo todos estavam rodeando Sam e o pequeno Manuel.

Ryan, Penny, Mark e os av��s, todos falavam ao mesmo tempo.

Raul inclinou-se para murmurar ao ouvido de Alline:

122





P A R A T O D A A V I D A


��� Voc�� acha que sentir��o nossa falta?

Ela riu.

��� Voc�� �� incorrig��vel! ��� resmungou, sentindo o dedo dele

em seu seio.

Raul suspirou.

��� Sou apenas um homem apaixonado. Mas creio que posso

esperar. Terei o resto da minha vida para demonstrar-lhe todo

o meu amor...

ANNE MATHER come��ou a escrever ainda

menina, passando pelas hist��rias rom��nticas da

adolesc��ncia at�� chegar aos romances adultos, os

quais tanto aprecia. �� casada, tem dois filhos e

mora no norte da Inglaterra. Al��m de escrever,

gosta de ler, dirigir e viajar para lugares dife-

rentes, onde encontra inspira����o para seus ro-

mances. Considera-se uma pessoa privilegiada,

pois al��m de fazer algo de que realmente gosta,

ainda ganha dinheiro pelo seu trabalho!

1 2 3







O Grupo Bons Amigos  tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais  .


Para Toda Vida - Anne Mather


 Livro doado por Neilza e digitalizado por Fernando Santos


Sinopse:
Aline nunca imaginara que depois de tantos anos de casamento e  uma separação traumática, se interessaria outra vez por um homem.


Lançamento  :

a)https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/solivroscomsinopses

b)http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br

Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais e como forma de acesso e divulgação para todos. 

É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras


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Não esqueça de mandar seus links para lista .
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