domingo, 14 de junho de 2020 By: Fred

{clube-do-e-livro} Lançamento : Maria de Nazaré relatos do Evangelho -Roque Jacintho - Formato -epub e txt

Maria

de

Nazar��

Roque Jacintho

MARIA

DE

NAZAR��

S��rie "Relatos do Evangelho

Departamento Editorial

LUZ NO LAR

Capa e Ilustra����es: Rodval Matias

Revis��o: Equipe Editorial

ISBN: 978-85-65125-01-7

Diagrama����o: D'Artagnan Propaganda - www.dartagnan.com.br

Impress��o: Van Moorsel, Andrade & Cia Ltda.

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2�� Edi����o - Setembro / 2011

6�� e 7�� milheiros

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Aos nossos Jorge e Zenaide,

com toda a gratid��o de nossos

cora����es.

Editora LUZ NO LAR

��NDICE

PARTO DE AMOR. 13

01 -A JOVEM DE NAZAR��. 15

02 - A DIVINA MATERNIDADE. 19

03 - ORDENA����ES SUBLIMES. 25

04 - VISITA �� ISABEL 31

05 - CONFID��NCIAS MATERNAIS. 37

06 - IR A BEL��M. 43

07 - NO RUMO DE BEL��M. 47

08 - EM BEL��M. 53

09 - NASCE O SENHOR. 57

10 - OS PASTORES. 63

11 - CASA EM BEL��M. 71

12 - NA CASA DE L��DIA 77

13 - SACERDOTES DA P��RSIA 81

14 - DESPEDIDAS. 91

15 - EM JERUSAL��M. 95

16 - FUGA 101

17 - NO EGITO. 109

18 - O��SIS. 117

19 - NA FONTE DE NAZAR��. 125

20 - JUNTO AOS SACERDOTES. 131

21 - UNI��O DIVINA 139

22 - NA CASA DE SIM��O PEDRO. 145

23 - M��E E FILHO. 151

24 - NA SINAGOGA 157

25 - EM FAM��LIA 165

26 - MUDAN��A 169

27 - DI��LOGO SUBLIME. 173

28 - REDEN����O. 179

29 - SERVIDORAS DE JESUS. 183

30 - MINHA M��E. 189

31 - PRIS��O DE JESUS. 197

32 - O JULGAMENTO. 203

33- A CAMINHO DO CALV��RIO. 209

34 - RESIGNA����O MATERNAL 215

35 - AO P�� DA CRUZ. 219

36 - INQUIETA����O. 223

37- O VISITANTE. 229

38 - CARTA DE JO��O. 235

39 - VISITANTES. 243

40 - SUBLIME REENCONTRO. 249

41 - INSPIRA����O DIVINA 255

PARTO DE AMOR

Revivemos hoje, Senhor, uma tumultuada Bel��m,

distante dois mil anos da noite da Esperan��a.

Sentimos fome do P��o da Vida.

Mendigos espirituais, a esmolar a c��dea de paz interior,

buscamos em todas as partes as sementes da Vida Nova.

Mergulhados, outra vez, nas sombras do possuir,

desapercebidos das b��n����os do que somos, temos esfriado as

qualidades sublimadas de nossas almas.

Rogamos-lhes, Maria, partejar novamente o Amor,

para que recolhamos, mais uma vez, os pren��ncios de uma

vida inovada na fraternidade e no despertar do esp��rito.

Na palha da manjedoura, Sant��ssima, possamos

reencontrar nossas aspira����es mais sagradas, em seu Filho

Jesus!

Lacrimejamos diante de nossos seculares enganos.

Possam, Maria, os anjos tutelares da evolu����o,

alcan��ar-nos e retirar-nos dos desv��os de nossa amargura e

desencanto, repetindo-nos o c��ntico do Amor Celestial:

��� Gl��ria a Deus nas alturas, paz na Terra e boa

vontade para com todos os homens!

E possamos, ent��o, Maria, neste novo Natal, encontrar

"uma crian��a envolta em faixas e deitada na manjedoura "

de seu augusto cora����o.

Roque Jacintho

13

1

A JOVEM DE NAZAR��

Estamos na Galil��ia.

Ao sop�� do monte do Precip��cio, espraia-se uma

vilazinha, entre a vegeta����o abundante, de nome

Nazar��.

O sol j�� est�� alto.

M��riam irrompe pela casa, trazendo novidades.

��� Ah! Maria! ��� exclama M��riam ��� Boas not��cias

para a nossa parenta Isabel!

A jovem Maria, que preparava massa de p��o,

enxugou a sua fronte, apagando algumas gotas de

suor.

��� De que se trata, M��riam?

M��riam suspirou forte e informou:

��� Dizem que Zacarias, o sacerdote, foi visitado por

um Esp��rito chamado Gabriel que lhe veio anunciar

que Isabel dar�� a luz! E a esse filho eles dever��o

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dar o nome de Jo��o!

Maria ouvia atenta e quase caiu em l��grimas.

��� Que gra��a divina! ��� ela balbuciou.

��� Sim! E, dizem ainda, que essa crian��a ter�� o

esp��rito e o poder do profeta Elias!

��� Do... profeta Elias?!

Esse mesmo, Maria! N��o acha espantoso?!

��� Se for assim ��� aditou Maria, jubilosa ��� esse

Jo��o vir�� harmonizar os cora����es dos pais com os

filhos e levar�� os rebeldes a adquirirem a sabedoria

dos justos.

��� Talvez sim, Maria!

��� Ent��o... breve teremos o Senhor entre n��s! As

profecias se cumprir��o no nosso tempo, M��riam!

N��o acha isso uma d��diva de Deus, podermos ver

a Luz de um Novo Mundo?!

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��� Sei l��, Maria! J�� �� quase um fato inusitado

Zacarias e Isabel, t��o idosos, poderem ter um filho!

Maria sorriu.

��� N��o se esque��a, M��riam, de que o nome Isabel,

significa: templo de Deus! Assim, se o ventre de

Isabel �� aben��oado pelo Senhor, a maternidade

lhe ser�� um encargo divino.

��� ��... mas houve uma desgra��a!

��� Que desgra��a, M��riam?

��� Zacarias, dizem, por ter duvidado de que

pudesse tornar-se pai, ficou mudo e mudo ficar��

at�� que nas��a o filho!

A jovem Maria refletiu, e falou:

��� Isabel e Zacarias s��o justos diante de Deus. Eles

sempre se revelaram d��ceis e plenos de virtudes,

observando todos os sagrados mandamentos,

M��riam! Se, contudo, Zacarias hesitou em sua f��,

deve ter sido chamado ao sil��ncio para reajustar-

se! N��o vejo, pois, a�� nenhuma desgra��a.

��� Mas... ficar mudo n��o �� um castigo divino,

Maria?!

��� �� um tempo de medita����o, M��riam.

��� Ah! N��o gosto muito de falar-lhe estas coisas,

porque em tudo voc�� acha que est�� a miseric��rdia

de Deus!

Maria sorriu graciosa.

��� Veja, M��riam, que pequenas e suport��veis

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afli����es s��o, quase sempre, um convite

sublime para que nos reexaminemos, a fim de

acrescentarmos orvalhos de luz em nossas almas.

E, mostrando a massa de p��o, Maria complementou:

��� Veja o trigo, M��riam! N��o suportou ele a afli����o

da m��, para tornar-se farinha e servir �� mesa das

fam��lias?

M��riam sentiu-se contrariada.

��� N��o poder��amos n��s ��� prosseguiu Maria ���

sermos gr��os de trigo de Deus, para saciar os que

tenham fome do Amparo Divino?

E, ap��s ligeira pausa, informou:

��� Zacarias crescer��, ainda mais, em esp��rito, se

foi chamado a repensar a f��, no sil��ncio da palavra

falada, M��riam.

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2

A DIVINA MATERNIDADE

Ca��ra a noite na cidade de Nazar��.

A jovem Maria, ap��s os cuidados com o lar,

recolheu-se a seu leito, para o necess��rio repouso

e o indispens��vel refazimento de todas as suas

energias.

Recostou a cabe��a no travesseiro e, entrando

em estado de ora����o, sentia-se imensamente

agraciada pela b��n����o da vida e pela harmonia do

lar.

Adormeceu, asserenada, ao lado de Jos��.

S��bito, estremeceu agradavelmente, cora����o aos

saltos, e quis abrir os olhos, pressentindo alguma

coisa inusitada.

Inspirou fundo e ouviu:

��� Nada tema, Maria!

Ela, de pronto, abriu os olhos espantada.

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Aos p��s de seu leito, via um Esp��rito a envolv��-la

num clima de profunda ternura.

��� Sou Gabriel, Maria. E venho trazer-lhe, da parte

de Deus, uma not��cia imensamente feliz.

��� A... mim?! Da parte de... Deus?!

��� Alegre-se, Maria! O nosso Senhor e Mestre

estar�� com voc��. Por isso, pode considerar-se a

bendita entre todas as mulheres.

Maria sentia-se perplexa.

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Comovida, diante da sauda����o do Esp��rito de

Gabriel, ficou a refletir sobre o que desejava aquele

ser de aspecto profundamente amoroso.

Ele lhe sorriu com ternura.

��� N��o tenha receio, Maria! Deus confia em seu

cora����o amigo e, por isso, mandou-me avis��-la de

que voc�� vai ficar gr��vida e, depois do tempo certo,

voc�� dar�� a luz.

��� Eu?!

��� Sim, Maria! A esse filho, que nascer�� de seu

ventre, voc�� lhe dar�� o nome de Jesus.

Breve pausa e Gabriel continuou:

��� Jesus ser�� o portador da Luz para este mundo e

trar��, a todos os homens, o que se fa��a necess��rio

para a reden����o espiritual desta Humanidade

terrena.

��� Je... Jesus... ��� balbuciou Maria.

��� Jesus �� o Filho do Alt��ssimo e vir��, em nome

do Pai Celestial, chamar para o seu aprisco as

ovelhas transviadas, para aliment��-las com mais

amor e, pessoalmente, desvendar�� um mundo

novo a todos os menos felizes.

Maria estremeceu.

��� Devo estar delirando ��� afirmou a jovem,

procurando sentir-se e se apalpando para ver se

estava acordada. ��� N��o �� poss��vel que, para

algu��m sem qualidades, o Pai Celestial confiasse

t��o nobre tarefa!

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Gabriel sorriu.

��� Jesus, pessoalmente ��� aditou Gabriel ���

conhece o fundo de cada alma, Maria. E, ao

escolh��-la para ser a sua m��e e Jos�� o seu pai,

�� porque conhece o tesouro de afeto de seus

cora����es e, tamb��m, a fidelidade de que voc��s s��o

testemunhos �� Lei do Amor que rege as nossas

vidas.

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Maria levantou-se.

Caiu de joelhos aos p��s do esp��rito de Gabriel e,

deixando extravasar toda a sua fidelidade, afirmou:

��� Serei a serva do Senhor Jesus, Gabriel! Rogo-

lhe, por isso, que se fa��a em mim toda a vontade

daquele que vir�� a ser meu filho e que, al��m de

filho, �� meu Senhor!

Gabriel, inclinando-se, f��-la levantar-se e beijou-

lhe enternecidamente o cora����o.

��� Maria, o Senhor est�� consigo!

E, diante dos olhos da jovem, Gabriel desvaneceu-

se, em meio a uma poeira de estrelas cintilantes,

deixando um rastro de perfumes celestiais.

Maria voltou a deitar-se.

Suas m��os, num gesto natural e de grande ternura,

repousaram sobre seu pr��prio ventre, oferecendo-

se �� divina maternidade.

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3

ORDENA����ES SUBLIMES

Maria irradiava felicidade.

Sentia que, em seu ventre, carregava a semente

de uma crian��a e, por isso, surpreendia-se a

conversar com Jesus, envolta em clima de amor

infinito.

��� Sou sua serva! ��� afirmava, em seus

pensamentos e transmitia em suas palavras. ���

Assim, sou grata por fazer-me sua m��e!

M��riam achegou-se naquele instante.

��� Fala sozinha, Maria?!

A interpelada sorriu.

��� N��o, M��riam! Falo com meu filho Jesus,

agradecendo-lhe pela b��n����o da maternidade.

��� E... ele a escuta?!

��� Se todos os filhos, em vias de renascer, ouvem

os pensamentos maternos, como que o Senhor

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n��o me ouviria, a mim que sou a sua serva?

E, ap��s breve pausa, complementou:

��� Algumas vezes, M��riam, n��o sei se eu o acolho

com profundo amor ou se �� o amor dele que me

envolve a toda minha alma!

��� Pelo que voc�� me diz, Maria, esse Jesus, mais

que outros filhos, lhe assegurar�� paz e tranquilidade

por todos os seus dias de vida.

Maria, ap��s ligeira hesita����o, afirmou:

��� N��o ser�� a paz e a tranquilidade dos bens da

Terra, M��riam! Registro as advert��ncias, deste meu

futuro filho, de que viverei momentos de lutas e

verterei muitas l��grimas.

��� N��o me diga! S��o press��gios dolorosos!

��� Em verdade, os pensamentos de Jesus me

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convocam para buscar a paz nas obriga����es

fraternais bem vividas, e que deverei procurar a

tranquilidade da consci��ncia que cumpriu com

todos os deveres de amor aos semelhantes.

��� Isso soa a sacrif��cios, Maria!

��� O ��nico sacrif��cio imposto pelo amor �� a quebra

do ego��smo, M��riam! E, bem por isso, sinto-me

ditosa, j�� que sei que este meu filho, acima de tudo,

ser�� a Luz Divina para todos os que aspirarem a

uma vida integral com as leis divinas.

* * * * *

Maria, agora, estava s��.

Sentiu brotar, no fundo de seu cora����o, um desejo

ardente de visitar a sua parenta Isabel.

De pronto, e sem hesita����o, entrou pelo galp��o

onde Jos��, seu marido, estava entregue aos

afazeres da carpintaria.

Jos�� interrompeu o trabalho ao v��-la e sorriu.

��� Que a traz aqui, Maria?

��� Ah! Jos��! Sinto em meu cora����o que deveremos

visitar Isabel, a bem-amada esposa de Zacarias,

que tamb��m espera um filho, assim como n��s.

��� Mas... eles moram t��o longe, Maria!

��� Que importa a dist��ncia, Jos��? O sacrif��cio que

impomos para a visita, nos far�� crescer em amor

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fraternal!

Jos�� deitou um olhar �� sua volta.

��� E que ser�� de nossa pobre casinha, Maria?

Ela sorriu e respondeu:

��� Ela ficar�� sob a guarda do Pai Celestial, Jos��!

E, al��m disso, tenho, no fundo de minha alma, a

certeza de que seremos convocados para muitas

viagens!

Jos�� suspirou paciente.

��� ��... nosso futuro filho que lhe inspira essa ideia?

��� Sim, Jos��! E, sabendo que al��m de filho, ele ��

nosso Mestre e Senhor, quero seguir as sugest��es

que ele nos transmite.

Jos�� co��ou a cabe��a.

��� Nunca ouvi falar de uma crian��a, ainda no ventre

materno, que estivesse a distribuir ordena����es a

seus pais!

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Maria aproximou-se ainda mais de Jos��, dizendo-

lhe:

��� S��o ordena����es sublimes, meu amado Jos��!

Este filho, que trago no ventre, �� superior aos pais!

E, como servidores agradecidos e submissos,

alegremo-nos em atend��-lo!

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4

VISITA �� ISABEL

Era manh�� no vilarejo de Nazar��.

Jos�� fechava a casa singela para viajar.

M��riam, amiga de muitas horas, abra��ava-se a

Maria, desejando-lhe uma boa e proveitosa viagem.

��� Cuidarei de suas flores, Maria ��� assegurou a

amiga ��� pode ir tranquila, embora me deixe j��

saudosa de sua doce companhia.

��� Ore por n��s, M��riam ��� rogou singelamente

Maria ��� atrav��s da ora����o, estaremos pr��ximas

pelas vibra����es fraternais.

��� Assim farei... e cuide bem do filho que est�� em

seu ventre!

Maria sorriu e respondeu graciosa:

��� Ele �� quem cuidar�� de mim, M��riam! Sigo em

viagem por inspira����o dele e, por isso, fa��o-lhe a

divina vontade.

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��� Vamos, Maria ��� interrompeu Jos��, em tom

fraterno ��� a viagem daqui at�� Ain Karim �� longa

demais.

* * * * *

Jos�� parou, suarento, debaixo do sol ardente,

olhando a montanha.

��� Veja, Maria! J�� estamos em Jud�� e bastar�� que

subamos esta montanha, para chegarmos �� casa

de Isabel.

Visivelmente exausta, mas jubilosa, Maria apressou

os passos, vencendo a derradeira dist��ncia, sob o

amparo de seu dedicado esposo Jos��.

��� Finalmente! ��� exclamou Jos��.

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Adiantou-se �� Maria que, tomando f��lego,

contemplava aquela regi��o e fitava, enternecida,

aquele lar que iriam visitar.

Jos�� foi recebido com um abra��o de Zacarias.

O esposo de Isabel, ainda mudo, dirigiu-se �� Maria

e, quebrando-lhe a contempla����o, diante de seu

deslumbramento ante a paisagem nova, tomou-lhe

a m��o e f��-la adentrar ao lar amigo.

Deparou-se com Isabel, gr��vida de seis meses,

que veio ao seu encontro.

��� Salve, Isabel! ��� saudou Maria, beijando-lhe

delicadamente as faces.

Isabel, de s��bito, levou as m��os ao seu pr��prio

ventre, sentindo que seu filho, Jo��o, ali estremecia.

E, no mesmo instante, sentindo-se mediunizada,

pelo seu pr��prio filho, ergueu a voz exclamando:

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��� Maria, bendita �� voc�� entre as mulheres, e

bendito �� o fruto de seu santo ventre!

E o tom de voz de Isabel se tornou mais grave,

masculina, e sob o envolvimento do esp��rito de

Jo��o, que reencarnaria como seu filho, falou:

��� Quem sou eu para que a m��e de meu Senhor

venha me visitar?

E, diante de Jos�� e Zacarias, at��nitos, concluiu:

��� Bem-aventurada �� voc��, Maria, que teve f��

e contribuiu para que venha a instalar-se neste

mundo a Luz do Mais Alto!

Maria, humilde e comovida, baixou os olhos.

Seu cora����o pulsava c��lere, ante o quadro

tocante, para ela inesperado e, ent��o, confessou-

se comovida:

��� Meu cora����o se rende a Jesus pela eternidade.

Ele me buscou e, como humilde e singela serva,

sinto-me aben��oada pelo seu amor.

Ligeira pausa e complementou:

��� Jesus, em nome de Deus, dar�� fartura espiritual

aos que se encontram famintos de luzes. Repletar��

de virtudes aos de boa vontade e ser�� um sol de

miseric��rdia para com todos.

A singela sala foi inundada de perfumes.

As l��grimas, descendo pelas faces de todos os

presentes, eram express��o de infinita gratid��o que

nascia em Maria e Isabel, em Jos�� e Zacarias.

Todos ca��ram de joelhos, rendendo-se ao c��ntico e

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ao clima dos Esp��ritos Superiores que ali se faziam

presentes.

E, Maria e Isabel, abra��aram-se em l��grimas de

sublime j��bilo.

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5

CONFID��NCIAS MATERNAIS

Era um cair de tarde em Ain Karim.

A brisa leve, anunciando uma noite agrad��vel,

fazia que o jardim de Isabel aromatizasse todo o

seu modesto lar.

Maria e Isabel sentadas na sala modesta.

Tomada de sadia curiosidade, ap��s ligeira

hesita����o, Maria indagou t��mida:

��� Que espera voc�� de seu futuro filho Jo��o?

Isabel entressorriu, amorosa, e suspirando.

��� Sei que Jo��o ��� informou Isabel ��� atendendo

as profecias, vir�� adiante de Jesus, preparando-

Ihe o caminho para os ensinamentos redentores,

Maria.

Maria sorriu.

��� Contudo ��� prosseguiu Isabel ��� de minhas

confid��ncias com Zacarias, temos certeza de que

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Jo��o �� a reencarna����o do profeta Elias!

��� Oh! Que beleza, Isabel!

Isabel, algo contristada, aditou:

��� Voc�� sabe, Maria, que pelas anota����es sobre a

vida de Elias, naquela sua miss��o, ele foi impetuoso

e, por extremos de zelo, levou muitos sacerdotes ��

morte e fez inimizades com os reis de seu tempo.

��� Sei, sim, Isabel.

��� Por essa raz��o, Maria, sinto-me estremecer em

minha alma, rogando ao Criador para poupar o meu

Jo��o de seus cegos impulsos em vida passada.

��� Voc�� teme que... ele sofra as consequ��ncias de

sua vida anterior, Isabel?!

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��� Sim! Temo, Maria!

Consoladoramente, Maria informou:

��� Mas, se ele se fizer misericordioso, a miseric��rdia

o sustentar�� e Jo��o ser�� livre, para vir adiante de

Jesus, Isabel.

��� Meu cora����o se angustia ��� confessou Isabel,

com l��grimas de resigna����o a banhar-lhe os olhos

��� mas... e o seu Jesus, que ser�� nosso Mestre e

Senhor?

��� Ele ser�� a Luz do Mundo!

E, ap��s ligeira pausa, complementou Maria:

��� Embora eu saiba que Jesus �� puro e Governador

deste nosso mundo, por vezes estreme��o,

angustiando-me, pressentindo que ele poder��

despertar a ira dos sacerdotes e dos poderosos!

��� Que tolice, Maria! Que sacerdote ou que

homens poderosos se opor��o ao Senhor de todos

n��s? Quem se atrever�� a criar-lhe embara��os ou a

impor-lhe persegui����es?

��� Pressinto... que Jesus ter�� inimigos terr��veis,

Isabel! Voc�� sabe que todos os profetas de

nossa ra��a foram duramente perseguidos e

incompreendidos, pelo nosso pr��prio povo!

E, depois de ligeiro sil��ncio, complementou:

��� Se a mensagem que Jesus trouxer for a de

renova����o de costumes, antevejo os que se

lhe opor��o, por terem seus interesses pessoais

contrariados.

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Lacrimosa, inteirou Maria:

��� Jesus ser�� a Luz do Mundo, sim! Mas a luz,

por sua natureza, espancar�� as trevas da m�� f�� e

da ignor��ncia, assim como ocorre quando se limpa

um campo, extinguindo os ninhos das serpentes.

��� Somos ditosas... e temerosas! ��� advertiu

Isabel. ��� A maternidade, embora prenuncie o

nascimento de duas almas valorosas, retalha os

nossos cora����es!

Maria levantou-se.

Fitava demoradamente a paisagem l�� fora.

Suspirou, l��grimas nos olhos.

��� Deveremos estar preparadas ��� confidenciou

Maria ��� para n��o interferir nos atos de nossos

futuros filhos! Eles n��o v��m a este mundo para

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submeterem-se �� vontade de nossos cora����es

e nem se subordinarem �� vontade de nossos

sacerdotes.

E, num momento de divina inspira����o, Maria

complementou:

��� Jo��o e Jesus s��o benfeitores desta Humanidade,

Isabel. Far��o os infelizes se repletarem de

esperan��as... mas despertar��o, com isso, a ira dos

poderosos!

Isabel, sabiamente, ponderou:

��� N��o deveremos interferir nos planos redentores

de nossos filhos, Maria. Fa��am eles o que fizerem,

agindo diferente dos filhos comuns, deveremos

respeitar-lhes a vontade, desde seu nascimento.

Maria enxugou l��grimas indiscretas.

��� Amemo-los ��� complementou Maria ��� antes

como suas servidoras, a advinhar-lhes a Divina

Miss��o, sem ��nsias de subordin��-los �� nossa

vontade, j�� que lhes cabe fazer a vontade de nosso

Pai Celestial.

E, da porta da modesta casinha, viam o esplendor

do poente.

41

6

IR A BEL��M

Maria despertou, da longa noite de sono, em sua

casinha pobre, no vilarejo de Nazar��.

Lembrava-se de que, �� noite se desprendera do

corpo f��sico e fora ter com um jovem de belos

tra��os, cabelos longos, olhos t��o verde-azuis

quanto os seus.

��� Voc��... �� Jesus?! ��� indagara.

Ele confirmou, num gesto silencioso, beijando-

Ihe enternecidamente as m��os e, em seguida,

tomou-a consigo e levou-a a um jardim de flores

que cintilavam quais as estrelas do firmamento.

Sentia-se deslumbrada e profundamente t��mida.

��� O que me d�� direito de vir ter a este para��so?!

��� indagava-se.

��� Maria ��� disse-lhe Jesus ��� devo cumprir as Leis

Divinas e, por isso, busco o seu ventre para ter um

corpo humano, a fim de que possa manifestar-me

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entre os homens.

��� N��o posso dar-lhe o conforto necess��rio, filho!

Sou pobre e minha casa �� singelo abrigo, sem o

esplendor a que voc�� faz jus!

��� Sei disso, Maria! Na Terra, por certo, n��o terei

uma s�� pedra onde repousar minha cabe��a! E n��o

busco, nesta minha imers��o no corpo f��sico, outra

coisa que n��o seja o fazer a vontade de nosso Pai

Celestial.

��� Mas... voc�� �� o Governador da Terra!

O Senhor lhe sorriu, esclarecendo, a seguir:

��� N��o disputo as gl��rias humanas, transit��rias e

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passageiras, minha m��e! Irei ao encontro dos que

aspiram a crescer espiritualmente e oferecerei

ao povo de Israel a minha gratid��o, por serem os

propagadores da mensagem do Deus ��nico.

E, tomando as m��os de Maria, qual se fosse um

terno pai, diante de uma filha perplexa, Jesus

aditou:

��� Voc�� sofrer�� com meus sofrimentos. Contudo,

jamais se rebele com o que os homens confundidos

me impor��o de sacrif��cios. Em tempo algum, n��o

deixe de perdo��-los e compreend��-los ao infinito

e, nas m��os que se voltarem contra mim, beije-as

espiritualmente.

E tudo se confundiu em brumas.

* * * * *

Maria distanciou sua mem��ria da cena

emocionante, ao ouvir um burburinho vindo das

vielas de Nazar�� e, logo mais, Jos�� irrompeu pelo

dormit��rio, visivelmente transtornado.

A jovem levantou-se.

��� Que houve, Jos��?!

��� Ah! Os romanos trazem, para a nossa vila,

a not��cia de um tal de recenseamento, Maria,

ordenado pelo Imperador Romano!

Maria ouvia, sem compreender inteiramente.

��� Isso quer dizer, Maria, que deveremos voltar

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�� terra de nossos pais, para cumprir a ordem do

Imperador.

��� Deveremos... ir a Bel��m?!

Jos�� confirmou com um gesto mudo de cabe��a.

��� �� o que seremos obrigados a fazer e... justo

nestas ��ltimas semanas de sua gravidez, Maria!

Ela sorriu conformada.

��� Teremos uma boa viagem, Jos��. Se o Imperador

assim ordena, �� por ter suas raz��es. E a n��s, cabe

obedec��-lo, sem reclama����es!

��� Mas... voc�� est�� gr��vida!

��� Eu estou bem, Jos��! Afinal, gravidez n��o ��

doen��a! E, al��m disso, levaremos este nosso filho

a outras regi��es desta nossa aben��oada terra, j��

que estamos a servi��o do Senhor!

Jos�� inspirou fundo e sorriu:

��� Minha doce e resignada Maria!

46

7

NO RUMO DE BEL��M

Amanhecera em Nazar��.

Jos�� resmungando, com alguma sombra de

contrariedade em sua alma, cerrava as portas de

sua pobre casinha.

��� ��... vamos �� Bel��m! ��� disse a Maria, sem

esconder a sua inconforma����o ��� O Imperador

C��sar Augusto quer este nosso sacrif��cio!

Maria sorriu, amorosa.

��� Meu querido Jos��! Lembremo-nos de que o

Imperador Romano tamb��m �� Inspirado por Deus,

como qualquer um de n��s. Cabe-nos, pois, atender-

lhe as ordena����es, sem rebeldia.

E, mais confortadora, ponderou:

��� Lembre-se, Jos��, que com esta viagem que nos

�� imposta, voltaremos �� terra de seus pais e, antes

de l�� chegar, ainda poderemos visitar a cidade de

Jerusal��m!

47

O carpinteiro, ent��o, sorriu.

��� Daqui at�� Bel��m, s��o mais de cem quil��metros,

Maria! �� caminho que n��o acaba mais!

��� Se dermos, contudo, os primeiros passos ���

contrap��s Maria ��� a dist��ncia ficar�� mais curta.

E, al��m disso, a cada momento estaremos vivendo

em paisagem nova, Jos��!

��� Voc�� �� sempre otimista, Maria! E muito resignada

aos acontecimentos!

Maria o envolveu num olhar de do��ura.

��� Sabe, Jos��... meu cora����o diz que Bel��m ser�� o

ber��o de nosso filho e que o Pai Celestial quer que

assim seja.

E, ap��s ligeira pausa, inteirou:

��� Se o nome Bel��m significa "de onde vem o p��o",

ser�� que n��o estamos indo para l��, para cumprir

alguma profecia e, tamb��m, a fim de que todos

saibam que de Bel��m vem o P��o da Vida, nosso

filho Jesus?

* * * * *

Jerusal��m abria-se aos olhos de Maria.

��� Vamos procurar uma pousada para descansar,

Maria ��� sugeriu Jos��, fitando a terna esposa.

��� Descansemos, antes, em Deus, procurando a

paz no templo de nossa f��, Jos��.

48



��� Se essa �� a sua vontade!

E ambos, quais visitantes atentos e curiosos,

penetraram pelas ruas estreitas e agitadas daquela

cidade, dirigindo-se ao templo de Jerusal��m.

�� porta do templo, Maria suspirou.

��� Jos�� ��� confidenciou Maria ��� tenho em meu

cora����o de que o nosso filho andar�� por aqui,

trazendo mensagens de ��nimo e de f�� do Pai

Celestial.

��� Voc��... acha que ele ser�� um sacerdote?!

Maria contemplou os doentes e infelizes que ali

estavam.

��� N��o, tolinho! O nosso filho dever�� revelar

um novo mundo de esperan��as a todos estes

49

sofredores que temos debaixo de nossos olhos!

E, cumprindo a Vontade Celestial, Jesus ser�� a

porta para todas estas ovelhas abandonadas e

confundidas!

��� Voc�� acredita que ele... ser�� um rei ou, ent��o, o

principal entre os sacerdotes do Templo?

��� N��o creio nisso, Jos��! Ele n��o vir��, entre os

homens, para possuir um trono, �� semelhan��a dos

pr��ncipes de nosso tempo. N��o dever�� impor-se

pela pol��tica religiosa ou humana, trazendo morte,

suor e l��grimas, qual temos visto ao longo de

nossos dias.

E, depois de longa pausa, Maria afirmou:

��� Jesus ser�� o Pr��ncipe da Paz! Vir�� para salvar-

nos do ego��smo e do orgulho e nos abrir�� a

porta do aprisco, convocando-nos aos servi��os

regeneradores.

Jos�� se calara, admirado.

��� Voc��... n��o espera muito de nosso filho?!

��� Espero tudo, Jos��... tudo o que representa amor

e miseric��rdia, esperan��a e vida nova aos que

sofrem e choram.

Um mendigo aproximou-se do casal.

Num impulso, tomou a m��o direita de Maria e a

beijou em l��grimas.

��� Ouvi ��� disse comovido o mendigo ��� todas as

suas palavras de esperan��a, Senhora! E, se tudo

assim se fizer, bendito seja o fruto de seu ventre!

50

Maria, comovida, retribuiu-lhe com um beijo na

face sulcada de sofrimento, reacordando, naquela

alma sofrida, as luzes de novas esperan��as.

Jos�� sentiu-se embargado de emo����es profundas.

51

8

EM BEL��M

Jos�� parou e suspirou fundo.

��� Bel��m, a cidade de David! ��� anunciou, cora����o

aos saltos.

O casal, visivelmente exausto, com Maria arfando,

mas se sentindo feliz, contemplava o casario baixo

e as ruas irregulares daquele vilarejo.

Um vento frio os a��oitava, dentro do anoitecer.

Desceram, pelas ruelas fervilhantes de forasteiros e

de outros peregrinos que ali aportavam atendendo

�� convoca����o do Imperador Romano, na realiza����o

do censo.

O carpinteiro, sol��cito, amparava Maria.

��� Vamos buscar um lugar onde ficar, Maria.

Ela concordou em sil��ncio.

Empreenderam, ent��o, uma busca quase in��til,

batendo de porta em porta para serem acolhidos.

53



E tantos eram os forasteiros que nenhuma fam��lia

os recebeu.

��� Estamos sem vagas! ��� alegavam.

Finalmente, pararam �� porta de uma estalagem

modesta e ali penetraram, acotovelando-se em

meio �� pequena multid��o, procurando acercar-se

do dono da estalagem.

��� O que voc��s querem? ��� perguntou-lhes o

estalajadeiro.

��� Queremos um abrigo em sua estalagem ���

respondeu Jos��.

��� Abrigo?! Aqui na estalagem?! Hoje?!

��� Sim, meu senhor ��� informou Jos��, esclarecendo.

��� a minha mulher est�� gr��vida e necessitamos de

um lugar para o repouso e para o parto.

��� Desculpem... mas...

54

��� Veja, senhor ��� insistiu Jos�� ��� se fosse s�� por

mim e se n��o fosse a gravidez de minha mulher, o

c��u me seria um teto.

��� Mas, o que voc�� quer que eu fa��a, homem?

Estes todos ��� e o estalajadeiro apontou-lhes a

pequena multid��o que ali estava ���, todos eles

tamb��m est��o em busca de um abrigo!

��� Suplico-lhe, pelo amor de Deus! ��� insistiu o

carpinteiro.

O estalajadeiro suspirou, contrariado.

Demorou-se, por��m, a examinar Maria e, por

raz��es que ele desconhecia, comoveu-se diante

da insist��ncia de Jos�� e informou:

��� Infelizmente, s�� disponho da estrebaria, que fica

nos fundos de minha estalagem! Se servir...

��� Aceitamos! ��� confirmou Jos��, fitando Maria.

��� Sigam-me, ent��o!

Jos�� e Maria seguiram-no.

Mais alguns passos, eis que o estalajadeiro lhes

apresentou o pouso dos animais, repleto de palhas

e de sujeiras.

��� Infelizmente... �� o que me resta! ��� desculpou-

se o homem ��� Se quiserem, podem instalar-se

aqui!

Jos�� olhou �� volta, arrepiado.

��� Ah! Bom senhor! ��� manifestou-se de pronto

Maria, profundamente grata ��� Este recanto nos

serve, sim!

55



��� A senhora �� quem sabe!

��� Somos-lhe profundamente agradecidos ���

confirmou Maria ��� j�� que estes animais nos

aquecer��o, libertando-nos do frio, e estas palhas

ser��o o nosso dadivoso leito.

O estalajadeiro afastou-se.

��� Maria ��� come��ou Jos��, quase timidamente ���

voc�� viu bem onde estamos?

��� Claro que sim, Jos��!

��� Estamos entre animais, Maria! E, no seu ventre,

nesta hora, est�� o nosso Senhor e Mestre! Ser��

isto que poderemos ou deveremos ofertar-lhe?!

��� Querido! Estes animais s��o, tamb��m, criados

pelo Pai Celestial! Est��o, assim, sob o amparo

do carinho divino! E, se eles podem pernoitar na

estrebaria, por que n��o poderemos n��s aceitar o

que eles tamb��m aceitam?

56

9

NASCE O SENHOR

Era noite.

Jos�� demorou-se a ver no c��u a lua cheia,

transbordando em raios de prata, como a beijar

toda a paisagem da Terra em sublime serenidade.

Entrou novamente na estrebaria e revelava-se

intranquilo.

��� Acalme-se, querido ��� convidou Maria, num

sorriso de ternura ��� estamos abrigados no amor

de Deus.

O carpinteiro ajeitava palhas no ch��o.

E, num convite amoroso e irrecus��vel, a jovem o

convidou �� ora����o.

��� Antes que nos perturbemos, Jos��, conv��m que

nos dirijamos ao Pai Celestial, por estarmos sob a

b��n����o deste est��bulo.

Ele suspirou e aconchegou-se a Maria.

57



��� Oh! Pai! ��� rogou Maria, num tom de sublime

submiss��o ��� Rogamos-lhe, Senhor do Universo,

aben��oar o cora����o de nosso estalajadeiro que nos

acolheu nesta hora, confiando-nos �� companhia

destas suas outras criaturas, t��o d��ceis e t��o

graciosas.

Os animais, como que se asserenaram ainda mais,

revelando-se tranquilos, olhares serenos.

Maria, de s��bito, levou a m��o ao seu ventre e

sorriu.

��� �� chegada a hora, Jos��!

��� Deus meu! S�� temos um ch��o de palhas! E nem

um leito para quem vai nascer! Como poder�� o

Filho de Deus nascer entre n��s... nesta estrebaria?

Maria sorriu, sentindo o parto.

58

��� Jos��, a luz do Sol pode visitar o p��ntano e,

mesmo aquecendo os vermes que l�� estejam,

continua sempre sendo luz!

��� Mas... aqui?!

��� Quem chega... nesta hora... n��o rejeita a mis��ria

e nem teme a pobreza, Jos��! E n��o escolheu um

pal��cio para vir a este mundo em miss��o de amor

e miseric��rdia.

Maria, l��grimas em j��bilo a banhar-lhe as faces,

sentia-se integrada com as Esferas Mais Altas

do Universo e, num dado momento, a sua alma

amorosa exalava perfumes e radia����es t��o

sublimes, que a pr��pria natureza como se aquietou,

naquele instante augusto.

De seu ventre, vinha Jesus!

E, entre o suor maternal, com gotas de orvalho a

descer-lhe pelo aveludado semblante, descerrou

as cortinas deste mundo para o Cristo de Deus.

Jesus nascera!

A singela estrebaria, naquele momento, repletou-

se de luzes do Mais Alto e, no ��ntimo de sua alma,

Maria ouvia os c��nticos de louvor das Almas

Purificadas, a emoldurarem a li����o de humildade,

de ren��ncia e de amor do Filho de Deus.

Jos��, em sil��ncio, trouxe-lhe alva t��nica.

Maria-m��e, naquele instante, envolve Jesus na

t��nica e, beijando-lhe a crian��a na fronte, ergue-se

e toma a dire����o da manjedoura.

Jos�� estremece e diz:

59



��� Voc�� vai usar a manjedoura como leito... onde

comem os animais?!

Maria deposita ali Jesus.

��� Agora ��� diz ela a Jos�� ��� n��o s��o apenas os

animais que se alimentam aqui, Jos��! Jesus, nosso

filho, se oferece como um p��o espiritual do mundo!

Aqui est�� para nutrir, com humildade, a todos os

que tenham fome de amor e de miseric��rdia.

As m��os carinhosas de Maria-m��e, afagam o filho

muito amado.

Passando a m��o direita sobre o rosto de Jesus,

confessa:

60

��� Sou sua m��e e serva!

Jos�� contempla aquele quadro que jamais

esquecer��.

E o carpinteiro prorrompe em l��grimas,

contemplando Jesus e, enternecido, murmura,

inteiramente integrado ao acontecimento:

��� Este �� o sol de uma nova aurora, revelando

novos caminhos aos que andavam em trevas.

O carpinteiro abra��a-se a Maria.

E ambos, ternamente enla��ados, erguem preces

de gratid��o!

61

10

OS PASTORES

Bel��m �� uma cidade da Judeia.

Regi��o de pastoreio, a pastagem recobre o seu

solo e �� t��o abundante que favorece a cria����o de

grandes rebanhos.

Nesta hora da noite, reuniam-se os pastores de

ovelhas diante de uma pequena fogueira, contando

e recontando as suas venturas e desventuras, de

cora����o sempre muito aberto e respeitoso aos

princ��pios divinos.

N��o havia amargor entre eles.

Repentinamente, contudo, fez-se um grande

sil��ncio.

O pr��prio rebanho se aquietara tamb��m.

No fundo das almas desses pastores, por serem

homens simples e extremamente integrados ��

natureza, sentiam-se amparados pela Miseric��rdia

63

Divina.

��� Se dormimos ��� anunciou um deles, quebrando

o s��bito sil��ncio ��� Deus vela por n��s e n��s somos

gratos ao Criador!

��� Falta-nos, no entanto ��� lembrou um outro ��� um

pastor divino que se desdobre por n��s, como nos

desdobramos pelas ovelhas e que seja um pastor

que nos tanja e nos alimente de esperan��as.

Um outro, ent��o, concluiu:

��� Falta-nos, mesmo, um tal pastor, j�� que o

templo de nossa f�� s�� nos imp��em encargos. Os

sacerdotes criam exig��ncias mil, sem que as suas

palavras nos sirvam de alimento d'alma!

��� Esse Pastor Celeste, um dia vir��, conforme

anunciaram os Profetas. ��� confirmou um de mais

idade entre eles ��� Sei, no fundo de meu cora����o,

que um Pastor Divino nos socorrer��!

O mais jovem, entre eles, levantou-se e revolveu

a fogueira, acordando labaredas nas brasas

recobertas de cinzas.

��� Curioso! ��� disse outro deles ��� Sinto-me t��o

em paz, dentro de minha alma, qual se houvesse j��

uma nova esperan��a, nestes campos do Senhor!

��� Eu tamb��m ��� assegurou outro deles ��� �� como

se a porta do C��u se estivesse descerrado para

todos n��s.

��� Eu sinto que a gra��a divina nos envolve a todos.

O mais idoso, entre eles, levantou-se e, fitando um

a um de seus companheiros, disse-lhes:

64



��� Sinto... que devemos orar!

De pronto, um dos mais jovens ergueu-se e,

olhando a lua cheia, ergueu a voz, repassada de

um tom amoroso:

��� Oh! Deus! D��-nos a sua b��n����o, transformando

as nossas esperan��as em realidades! N��o nos

deixe entregues ��s sombras. Revista-nos com

a sua luz, assim como o seu amor envolve estes

campos com alimentos e claridades.

S��bito, todos estremeceram, sentindo algo

envolvente!

Um Esp��rito Superior materializou-se diante deles,

envolvendo-os em brandas luzes.

Os pastores, assustados, sentiram um grande

temor.

65

��� Nada temam! ��� assegurou-lhes o Esp��rito,

procurando acalm��-los ��� Venho anunciar-lhes a

grande not��cia de que voc��s cogitaram, nesta hora!

Os pastores se entreolharam espantados.

��� Hoje ��� anunciou o Esp��rito ��� nasceu para

voc��s o Salvador, o Cristo e nosso Senhor!

��� Nasceu... onde?! ��� atreveu-se o mais jovem,

que orara em voz alta ��� Onde nasceu o nosso

Salvador?

��� Aqui! Em Bel��m! ��� respondeu o Mensageiro

Celeste.

��� E... �� a n��s que isso se anuncia?! Somos

simples pastores de ovelhas! N��o temos virtudes

e nada somos!

��� Aquele que �� o Salvador ��� esclareceu o Esp��rito

��� veio a este mundo para ser o pastor dos pobres

de esp��rito, veio para os mais humildes, j�� que os

mais destacados da Terra deixam que as portas

de seus cora����es sejam guardadas por ardentes

paix��es e, com isso, tais criaturas n��o est��o

amadurecidas para receber o notici��rio divino.

O jovem avan��ou interessado.

��� E... como saber quem �� Ele?! E... onde estar��?!

O Mensageiro Celestial informou:

��� Procurem numa estalagem de Bel��m, uma

modesta estrebaria, e nos fundos dela, l�� voc��s

encontrar��o, deitado numa manjedoura singela,

um menino envolto em panos.

66

��� Ele... ��� gaguejou o jovem, sem prosseguir.

��� Esse menino �� o Salvador ��� assegurou o

Esp��rito.

E, antes que levantassem novas indaga����es,

materializaram-se outros esp��ritos que agradeciam

a Deus pelo nascimento do Cristo na Terra.

E, para abrir as portas de esperan��as,

demonstrando-se em miss��o de paz e reconforto,

todos eles agradeciam a Deus, dizendo:

��� Gl��ria a Deus nas Alturas, paz na Terra e boa

vontade para com todos os homens!

Os seres angelicais se desvaneceram.

Os pastores se entreolharam, lacrimosos

e espantados, deslumbrados diante dos

acontecimentos da hora, quando o mais jovem os

convidou:

��� Vamos a Bel��m! Percorramos todas as

estalagens e estrebarias, at�� que encontremos

o nosso Salvador, j�� que Ele ser�� luz em nossas

vidas e em nosso mundo.

* * * * *

Os pastores chegaram �� estrebaria.

Observados por alguns curiosos, aproximaram-

se da manjedoura, encontrando-se com o menino

envolto em panos.

67



��� Assim... como os esp��ritos anunciaram ���

murmuravam alguns deles, diante de Maria e de

Jos��.

E, em se acercando respeitosos, ainda mais, os

pastores sentiram que daquela crian��a lhes vinha

uma radia����o de profunda ternura e que, daqueles

olhos sublimes, lhes vinham b��n����os.

��� Sendo este o Salvador ��� come��ou um dos

mais velhos a falar a Maria ��� por que este ber��o

t��o estranho?

Maria sorriu compassiva.

��� Por ser este o Senhor ��� esclareceu a doce-

m��e ��� cabia-lhe dar-nos o exemplo de ren��ncia e

de humildade leg��timas. E, por fazer-se o alimento

espiritual dos que choram e sofrem, est�� neste

tabuleiro singelo para convidar-nos ao banquete

divino das bem-aventuran��as!

68

Todos se sentiam tocados pelo amor daqueles

olhos infantis.

Os pastores, ent��o, voltaram ��s suas tarefas,

agradecendo a Deus por tudo o que tinham visto e

ouvido naquela estrebaria de Bel��m.

E, assim, Maria guardava em seu cora����o tudo

o que via e ouvia, vindo daqueles cora����es

despojados de preconceitos e que, por isso mesmo,

reconheciam no menino-Jesus a presen��a da Luz

na Terra.

69

11

CASA EM BEL��M

Silas, o mais jovem dos pastores, voltou �� sua casa

em Bel��m, chegando com ar pensativo.

��� O que tem voc��, filho? N��o est�� bem?!

O jovem, de olhar distante, suspirou sem oferecer

resposta �� indaga����o de sua m��e, L��dia.

Ela aproximou-se carinhosa.

��� Alguma coisa voc�� est�� escondendo, Silas.

Vamos, fale, filho! Porventura n��o posso participar

de seus pensamentos?

��� Pode, m��e! ��... que... ��� e calou-se.

��� Aconteceu alguma coisa com as ovelhas

entregues aos seus cuidados?

��� Oh! N��o, m��e! Quanto a isso, fique tranquila. Sei

bem cumprir com as minhas obriga����es de pastor.

��� Ent��o... filho?!

71

Silas suspirou novamente, ainda em sil��ncio.

Envolvendo a m��e, num olhar de imenso carinho,

Silas falou:

��� M��e! Se quando nasci, se a senhora estivesse

n��o em casa, mas numa estrebaria... e por leito

tivesse apenas a me dar uma manjedoura, onde

comem os animais... a senhora ficaria grata se

algu��m lhe oferecesse uma casa para abrig��-la...

mesmo que essa casa fosse pobre e modesta

quanto esta?

��� Ora, filho! Voc�� n��o nasceu numa estrebaria e

nem seu ber��o foi uma manjedoura!

��� Eu sei, minha m��e!

L��dia fitou demoradamente Silas.

��� Voc��, Silas, quer me dizer que algu��m se

encontra nessa situa����o dolorosa?

Ele confirmou com um gesto de cabe��a.

��� Deus meu! ��� espantou-se a m��e. ��� Se

algu��m vive esse pesadelo, deveremos prestar-lhe

assist��ncia!

Silas levantou-se sorrindo e beijou as faces de sua

m��e.

��� Ent��o, mam��e! Acompanhe-me at�� a estalagem

de Jac��! E vamos trazer, para este nosso singelo

lar, um casal e... o seu filhinho!

* * * * *

72

L��dia, seguindo Silas, entrou t��mida e quase

incr��dula.

Viu Maria amamentar a crian��a.

��� Meu Deus! ��� exclamou, profundamente

condo��da.

Jos��, que reconhecera de pronto Silas, que

l�� estivera, na noite que passara, com outros

pastores, foi receber o jovem com alegria e com

profunda resigna����o.

Ap��s o abra��o do carpinteiro, Silas se voltou para

L��dia.

��� A�� est��, mam��e! E esta crian��a, debaixo de

nossos olhos, �� o nosso Salvador!

��� Nosso... Salvador?!

E Silas, com sua natural jovialidade, narrou-lhe

a apari����o do Esp��rito, na noite que findara, e

detalhou tudo o que ouvira do Divino Mensageiro,

junto aos demais pastores.

L��dia aproximou-se ainda mais de Maria.

��� Voc��... teve esta crian��a aqui? ��� indagou.

A m��e de Jesus apenas sorriu comovida.

��� Oh! Deus! ��� prorrompeu a m��e de Silas,

comovida ��� Tamb��m sou m��e... e quero oferecer-

lhes o meu singelo lar!

Maria lacrimejou, agradecida.

Silas, de pronto, ajudava o carpinteiro a arrumar

73



seus pertences e, num instante, anunciou euf��rico:

��� Vamos!

Maria ergueu-se, com Jesus em seus bra��os.

Olhou a seu derredor, comovida, guardando em

seu cora����o aquele cen��rio r��stico, onde se dera o

seu divino parto.

��� Ah! S�� lhes pe��o que, antes de sair deste

est��bulo que me comove, em toda a sua singeleza

��� rogou Maria, num tom de verdadeira humildade

e gratid��o ���, s�� lhes rogo que deixemos a

express��o de nosso carinho a tudo que nos rodeia.

E, pondo-se de joelhos sobre as palhas,

acompanhada neste ato por todos os que ali

estavam, trazia o Jesus-menino em seus bra��os,

levanta seus olhos para o Mais Alto e roga:

��� Oh! Deus! Aben��oe mais uma vez este pouso

74

singelo, onde foi de sua vontade tivesse eu este

seu Filho! Aben��oe, tamb��m, a estes d��ceis

animais que nos deram o seu calor, em noite de

inverno, e que nos cederam tamb��m, a sua singela

manjedoura, para que o verdadeiro alimento do

mundo se fizesse entre n��s!

Profunda e sublime serenidade no ar.

Ouviu-se, ao longe, um toque de flauta de um

pastor de ovelhas, a chamar seu rebanho.

E todos caminharam, em sil��ncio, tangidos por

ora����o interior, pelas vielas de Bel��m, na dire����o

do lar de L��dia e de Silas.

75

12

NA CASA DE L��DIA

Amanhecera em Bel��m.

Silas, ap��s a longa vig��lia nos campos do pastoreio,

zelando pelas ovelhas, voltou transpassado de

sono, naquelas primeiras horas de um novo dia.

Antes de adentrar em seu lar, o jovem lavou o

rosto com ��gua fria de uma tina nos fundos da

casa, e sacudiu a cabe��a, espantando os sinais de

cansa��o.

Entrou, refeito, e encontrou-se com L��dia, sua m��e.

Beijando as faces maternas, viu que Maria deixava

seu modesto quartinho e, de pronto, ap��s beijar-

lhe as m��os, indagou:

��� Como est�� o menino?

��� Em paz, Silas! ��� respondeu Maria, tocada

profundamente pela ternura com que o jovem se

referia a Jesus ��� Em paz...

77



��� Posso... v��-lo? ��� indagou t��mido.

��� Claro que sim, meu querido!

Silas, voltando-se para L��dia, tomou-lhe uma das

m��os, e os tr��s adentraram ao c��modo singelo,

onde repousava o menino-Jesus.

A crian��a estava acordada.

Silas, extasiado, atra��do pelo magnetismo que

emanava da crian��a, fitava-lhe os olhos azuis-

esverdeados e acariciava seus cabelinhos loiros

que reluziam no lusco-fusco daquela manh�� fria.

Ajoelhou-se Silas ao p�� do leito.

L��dia, comovida, enxugava algumas l��grimas de

serena alegria e, voltando-se a Maria, afirmou:

��� Oh! Maria! Quando me aproximo deste seu Filho,

nestes olhos infantis reencontro serenidade em

78

meu cora����o! Ele parece... uma luz nova, dentro

deste nosso mundo conturbado!

��� Ele ��... o Salvador! ��� asseverou Silas,

absolutamente convicto ��� �� s�� senti-Lo, para

sabermos que estamos diante do Filho de Deus!

L��dia, voltando-se para Maria, assegurou:

��� Deus lhe confiou um tesouro, Maria!

A m��e de Jesus suspirou.

��� �� um tesouro divino, sim! ��� ela ponderou, num

tom grave ��� E, dentro das profecias correntes

em nosso povo, Jesus "se erguer�� como um

arbusto verde, vivendo na ingratid��o das almas

confundidas e carregar�� o fardo pesado de nossas

culpas e sofrimentos, tomando sobre si todas as

dores, a fim de redimir-nos".

��� Ele parece t��o humilde! ��� confidenciou L��dia

��� Mas, em sua presen��a, como que nascem os

sinais de novas esperan��as para todos!

Maria, ent��o, confidenciou:

��� Queridos! Este meu Filho, de quem sou mera

servidora, marcar�� na Terra o in��cio de novas

esperan��as. Ele ser�� o tesouro de amor e f�� para

todos os infortunados e ser�� vida nova para todos

os desvalidos.

E, ap��s ligeira pausa, Maria completou:

��� Sinto que, no futuro, ser��o os cora����es humildes

e aflitos que lhe guardar��o os divinos ensinamentos,

como um c��ntico de bem-aventuran��as!

79

Silas suspirou, tocado pelas palavras de Maria,

aditando:

��� Sinto que Ele �� o pastor e n��s somos ovelhas

desgarradas de seu rebanho! Seu amor, contudo,

ir�� buscar-nos nos vales da dor e do desencanto,

tangendo-nos para o seu divino aprisco!

��� Voc�� fala a linguagem dos pastores, filho ���

advertiu L��dia ���, e n��o creio ser justa essa sua

compara����o!

Criou-se um sil��ncio inesperado.

Uma luz resplendeu naquele quarto singelo,

causando algum espanto, e, do meio dela, uma

voz branda, qual se fosse o cicio de uma brisa,

anunciou:

��� Filhos, o nosso jovem Silas foi o porta-voz do

Mundo Superior! Jesus ��, realmente, o Divino Pastor

e buscar�� as ovelhas desgarradas de seu rebanho,

chamando-as uma a uma, para retornarem a seu

aprisco. E todas as que forem de seu rebanho, lhe

reconhecer��o a voz, e a Ele se voltar��o.

O leito de Jesus se iluminou.

80

13

SACERDOTES DA P��RSIA

A cidade de Jerusal��m era calma.

Seu grande Templo, orgulho da ra��a, reconstru��do

por Herodes, nomeado Rei da Jud��ia pelo

Imperador Romano ��� esse Templo se fazia,

tamb��m, um centro de boatos que rompiam com a

tranquilidade local.

Nesta hora a cidade fervilhava.

�� que alguns sacerdotes da P��rsia haviam

chegado �� capital do juda��smo e, buscando o p��tio

do Templo, indagavam:

��� Onde est�� o menino que nasceu para vir a ser o

Rei dos Judeus?

��� O que voc��s dizem? ��� perguntou o capit��o da

guarda ��� Um novo Rei dos Judeus?!

��� Sim! �� isso mesmo ��� respondeu educadamente

um daqueles sacerdotes ��� estamos chegando do

Oriente, onde vimos as Luzes que anunciavam o

81

nascimento d'Ele!

��� Voc��s est��o enganados! N��o h�� nenhum outro

rei, a n��o ser Herodes.

��� N��o havia! ��� assegurou outro daqueles

sacerdotes ��� Mas agora h��, e viemos ador��-Lo!

* * * * *

O Rei Herodes espumava de rancor.

Fechando o punho, bateu estrondosamente sobre

o tampo de uma mesa, vociferando:

��� Quero saber! Quero saber!

Os grandes sacerdotes do Templo e os escribas,

convocados ��s pressas para aquela reuni��o no

Pal��cio Real, estremeceram diante da c��lera do

Rei Herodes, por sab��-lo muito cruel, quando

contrariado.

��� Vamos, seus palermas! ��� gritava irado ��� Que

hist��ria �� essa do nascimento de um outro rei, em

minhas terras?

Sil��ncio pesado sobrepairava no sal��o.

��� Onde esse tal de Cristo haveria de nascer? ���

gritou o Rei, examinando a rea����o de cada um

daqueles servidores do Templo ��� Onde? Digam-

me!

O principal deles adiantou-se:

��� Rei Herodes! Segundo a profecia, o Cristo

82

haveria de nascer na cidade de Jud��, no vilarejo

de Bel��m!

��� Que maldita profecia �� essa? ��� prorrompeu o

irado Herodes, dando socos no ar ��� Que profecia

�� essa, sacerdote?

O sacerdote, temente, esclareceu:

��� O an��ncio prof��tico, Majestade, diz: "Voc��,

Bel��m, terra de Jud��, j�� n��o �� de modo algum a

menor entre as cidades de Jud��, porque de voc��

sair�� um guia que h�� de apascentar o meu povo

de Israel."

Herodes avan��ou contra o sacerdote, espumando

de rancor e, tomando-o pelo pesco��o, ordenou:

��� Tragam-me esse falso profeta aqui! Vou mat��-

lo com minhas pr��prias m��os, para que n��o mais

lance perturba����o em meu reino!

��� N��o posso traz��-lo, Majestade!

��� Voc�� me desafia?

��� N��o, meu Rei! N��o o desafio! �� que quem fez

essa profecia foi Miqu��ias, um profeta j�� morto h��

muitos s��culos!

* * * * *

O capit��o da guarda, instru��do por Herodes, foi com

alguns soldados, nas horas da noite, �� estalagem,

onde sabiam estarem hospedados os sacerdotes

do Oriente.

83

��� Onde est��o os persas? ��� indagou do

estalajadeiro, com voz calma, pac��fico.

��� Vieram... prend��-los?!

O capit��o sorriu.

��� N��o! N��o viemos prend��-los, j�� que s��o

estrangeiros bem-vindos ao pal��cio de nosso Rei

Herodes.

Assim, dentro da noite serena, escoltando os

m��diuns da P��rsia, os guardas os conduziram ��

presen��a de Herodes.

��� Ah! ��� exclamou sereno Herodes, ao v��-los em

seu sal��o real ��� Dispense a guarda e deixem-nos

a s��s.

O capit��o atendeu e todos se retiraram.

Herodes aproximou-se do grupo �� sua frente.

��� Os senhores... vieram do Oriente! Quem s��o,

afinal, para que possamos dar-lhes o trato fidalgo

que merecem?

O principal deles respondeu:

��� Somos sacerdotes da religi��o de Zaratustra que,

alguns, conhecem por Zoroastro!

��� Ent��o... s��o homens de... Deus?!

��� Homens a servi��o de Deus! ��� retificou o

sacerdote.

��� E... o que os trouxe at�� este meu reino?

��� �� que, em nosso Templo, na P��rsia, vimos a Luz

do Mais Alto, que nos anunciava o nascimento do

84



Cristo de Deus! E, por sab��-la verdadeira, viemos a

segui-la, atrav��s de nossa clarivid��ncia e... viemos

adorar Aquele que nasceu para liderar o povo de

Israel.

Herodes, a custo, conteve seu impulso agressivo

e, transpirando nervosamente, ensaiou p��lido

��� Eu, tamb��m, quero... ador��-lo! ��� falou Herodes

��� E, por isso, quero que voc��s se dirijam at�� ��

cidade de Bel��m e, informando-se alegremente

sobre esse menino e onde se encontra, voltem

para c��, trazendo-me not��cias dele, para que eu

tamb��m v�� ador��-lo, uma vez que ele ser��... o meu

rei!

��� Deus seja louvado! ��� saudou o m��dium persa

��� Tudo faremos, como Vossa Majestade nos

ordena!

��� Oh! N��o! N��o lhes ordeno, caros sacerdotes!

Suplico-lhes... Pe��o-lhes... j�� que ficarei jubiloso

85

em dele ter not��cias seguras!

* * * * *

Aqueles m��diuns partiram felizes.

T��o logo se puseram em caminhada, rumo �� Jud��,

voltaram a ver a Luz Espiritual do Mais Alto, que os

havia guiado at�� ali.

Acercaram-se de Bel��m.

Um deles, levantando o bra��o, fez que todos

parassem, logo �� entrada do vilarejo.

��� A Luz, pairou sobre aquela casa!

��� L�� deve estar o Senhor! ��� exclamou outro

deles.

Cautelosos e confiantes, avan��aram na dire����o da

Luz.

Bateram �� porta, cora����es envoltos por profundas

emo����es, pressentindo que veriam o Senhor.

Silas abriu-lhes a porta.

��� Aqui... est�� o Salvador? ��� indagou um deles,

esclarecendo a seguir ��� Viemos do Oriente para

ador��-Lo!

Abrindo inteiramente a porta, Silas correu avisar

Maria da visita inesperada.

Maria veio receb��-los.

��� Voc��... �� a m��e? �� a m��e d'Aquele que reger��

86



o povo de Israel?

Maria os fitou, enternecida.

��� Sou a serva do Senhor! E Jesus, meu filho,

naturalmente se far�� servidor de todos os povos,

doando seu cora����o para a causa da Harmonia e

do Bem!

O m��dium ajoelhou-se, aos p��s de Maria, beijando-

Ihe as m��os, em l��grimas de verdadeira felicidade.

��� Ah! Finalmente o Cristo!

��� Levante-se, bom homem ��� rogou Maria ��� j��

que n��o ser�� a meus p��s que se far�� a Luz do

Mundo.

E, abrindo a porta do quarto, Maria disse-lhes:

��� Aqui est�� o Senhor!

87

Os m��diuns do Oriente, movimentando-

se mansamente, um a um adentraram ao

compartimento singelo e, diante do menino, que

os acolhia com luz em seu olhar, ajoelharam-se

comovidos e O adoraram, orando.

* * * * *

Horas mais tarde, com a noite j�� presente, num c��u

salpicado de estrelas, hospedaram-se os m��diuns

na estalagem de Jac��.

Foram visitar o est��bulo, na companhia de Silas.

Ouviram, dos l��bios do jovem pastor, as narrativas

sobre o an��ncio do nascimento de Jesus, quando

se encontrava com seus demais companheiros no

campo das ovelhas.

��� Levaremos a Boa Nova ao Rei Herodes! ���

assegurou um deles ��� Esta not��cia deve percorrer

todo este nosso mundo, com destaque aos apelos

dos Esp��ritos Superiores de que tenhamos "boa

vontade para com todos os homens".

E, dali, foram repousar.

Durante a noite, contudo, quando j�� se confiavam

ao sono reparador, o mesmo Esp��rito que os guiara

at�� ali, materializou-se diante deles.

��� Oh! Deus! ��� agradeceu um dos sacerdotes ���

Que fizemos para merecer t��o alta gra��a?!

��� Amigos ��� disse-lhes o Esp��rito Benfeitor ��� n��o

88



retornem ao pal��cio de Herodes! J�� que voc��s

viram o Cristo de Deus, afastem-se de Jerusal��m

e voltem ao Templo de sua f��, anunciando a todo

o Oriente que a Miseric��rdia Divina se faz entre

todos!

E, assim, esses sacerdotes voltaram �� P��rsia, sem

passarem pela cidade de Jerusal��m!

89

14

DESPEDIDAS

Silas n��o dormira bem aquela noite.

Assim �� que, mal o sol despontara, aos clar��es

de um novo dia, iluminando o casario singelo de

Bel��m, o jovem colocou-se ao lado do leito em que

se encontrava o menino Jesus.

Jos�� aprontava o alforje, com as poucas coisas

que possu��am.

Maria, entrando e saindo do pequeno quarto

acolhedor, onde recebera in��meros visitantes e

curiosos e at�� a comiss��o de m��diuns da P��rsia,

aprestava-se para a viagem, endere��ando ternos

olhares a Silas.

��� Eu... queria estar com Ele! ��� confessou Silas,

num tom j�� de imensa saudade ��� Sinto-me, Maria,

ao lado de seu filho, qual uma ovelha que se abriga

no amor de seu pastor!

L��dia, com carinho, ponderou:

91

��� Embora quis��ssemos reter este Menino-Luz,

junto de nossas almas, Silas, aceitemos o alvitre

da Provid��ncia Divina, dando-nos por felizes por

t��-Lo abrigado em nosso singelo lar.

Maria sorriu docemente, lembrando:

��� Se a lei divina da maternidade foi o caminho

escolhido pelo nosso Salvador, isso significa que

Ele quer que se cumpram todas as leis, Silas!

Ligeira pausa e Maria complementou graciosa:

��� Se na lei de nosso povo est�� escrito que "todo

primog��nito de sexo masculino ser�� consagrado

a Deus", iremos at�� o Templo de Jerusal��m para

ofertar Jesus ao Pai Celestial.

��� Mas... Ele �� o Filho de Deus! ��� contrap��s Silas,

demorando-se a contemplar o menino no leito.

��� �� mais uma raz��o, Silas ��� ponderou Maria ���

para que fa��amos tudo como nos �� imposto!

��� Eu... ��� ia discordar Silas.

Maria, colocando delicadamente os seus dedos

sobre os l��bios do jovem, considerou:

��� Se Jesus, que �� o Salvador, n��o mandou os

esp��ritos que O auxiliam a alertar-nos sobre outros

rumos a lhe serem dados, guarde a certeza, Silas,

de que temos de nos inclinar diante do que foi

prescrito por Mois��s!

Silas suspirou.

Maria, reclinando-se sobre o leito, tomou o

menino-Jesus em seus bra��os, enquanto Jos��

92



se aproximava ap��s ter ultimado os derradeiros

preparativos para a viagem.

��� Vamos a Jerusal��m! ��� afirmou Jos��, num tom

de pesar e gratid��o.

L��dia abra��ou-se ardentemente a Maria e, com

ternura, derramou doces l��grimas sobre a crian��a

que estava junto ao cora����o maternal.

J�� na porta, Silas beijou a fronte do menino-Jesus.

��� Silas ��� disse-lhe Maria, comovida ��� voc��

estar�� sempre em meu cora����o e, com isso, reparto

com a nossa L��dia a sua maternidade, tomando um

peda��o de sua alma, como se fosse parte de minha

pr��pria vida!

93

O jovem sentiu-se confortado e feliz.

��� M��e de meu Salvador ��� sussurrou Silas,

resignado ��� jamais hei de esquec��-la e... um

dia... espero em Deus, voltaremos a nos ver, sob

as b��n����os deste seu filho, Jesus!

Maria e Jos�� tomaram o rumo de Jerusal��m,

enquanto L��dia e Silas os viam distanciar-se

debaixo de uma t��nue cortina de l��grimas de amor

fraternal.

O casal, j�� distante, antes de uma curva que os

colocaria fora do alcance das vistas de Silas, parou

e voltaram-se ambos �� dire����o do lar que lhes

servira de abrigo.

Maria, olhando seus amorosos hospedeiros,

embora �� dist��ncia, ergueu Jesus na dire����o do

sol e uma luz serena, como que partia do cora����o

do menino em dire����o a L��dia e Silas.

O jovem pastor solu��ou, caindo de joelhos ao ch��o!

94

15

EM JERUSAL��M

Sime��o sentia-se enfermo.

Entregava-se, por inteiro, ao socorro de criaturas

infelizes que viviam em casebres mis��rrimos, no

arrabalde de Jerusal��m,

Caminhando com alguma dificuldade, aquele

homem que amava os desvalidos, alcan��ou as

ru��nas daquela que j�� fora formosa casa, por ela

penetrando destemeroso, apesar das sombras.

��� Jac��! Jac��! ��� murmurava Sime��o, entre as

sombras �� sua volta que lhe dificultava a vis��o de

quem ali estivesse ��� A q u i estou, Jac��! Sou o seu

amigo Sime��o.

E, naquele instante, arrastava-se um pobre

mendigo, recoberto por panos envelhecidos e

rotos, e que vinha atender ao chamado fraternal.

��� Oh! Sime��o! ��� falou o infeliz, em voz cavernosa.

Sime��o, homem justo e piedoso, sentou-se ao lado

95

de Jac��, o pobre leproso, trazendo-lhe a cabe��a

sofrida a seu colo.

��� Tenho sede! ��� murmurou Jac�� ��� Tenho fome!

��� Trouxe-lhe tudo o que voc�� precisa, Jac��! E se

mais n��o lhe posso dar, dou-lhe o meu cora����o e

o meu carinho!

E, entressorrindo, Sime��o completou:

��� Tamb��m me sinto doente, Jac��!

��� Oh! Pelo amor de Deus, Sime��o! N��o diga tal

coisa! Se voc�� n��o me visitar, morrerei �� m��ngua!

��� N��o, Jac��! Embora os homens lhe evitem, sob

o falso argumento de que voc�� �� impuro, por ser

um leproso, voc�� tem em Deus a pureza d'alma!

E, mesmo que eu lhe venha a faltar, Deus n��o lhe

faltar��.

��� Ser��?! De onde lhe vem essa certeza, Sime��o?

��� �� que eu sei que, em breve, o Salvador estar��

entre n��s.

E, baixando a voz, quase em confiss��o amorosa,

Sime��o destacou:

��� Um Esp��rito do Senhor, em me visitando esta

noite, Jac��, assegurou-me de que eu n��o morreria

sem primeiro ver o Cristo de Deus!

��� Ver... o Cristo de Deus?!

��� Sim, Jac��! O Cristo de Deus, nosso Pastor e

Guia, que trar�� luzes e consola����o aos que sofrem,

j�� deve estar a caminho de Jerusal��m e, por isso,

sei que vou v��-Lo no Templo de nossa f��.

96

Sime��o, benevolente, deu ��gua e alimento a

Jac��, aconchegando-o a seu peito, qual se aquele

farrapo humano, abandonado por todos, fosse um

filho de seu cora����o.

* * * * *

Ana, filha de Fanuel, vi��va de seus oitenta e quatro

anos, m��dium de grandes virtudes, chegava

novamente ao Templo de Jerusal��m, onde

permanecia orando, aguardando a hora do Senhor.

Consolava mendigos e aflitos.

��� Ah! ��� dirigiu-se ao pobre Jairo ��� Sente-se mais

animado hoje?

��� Um... pouco ��� respondeu o interpelado ���

fiz ora����es, aqui mesmo neste p��tio, j�� que n��o

me admitem dentro do Templo, �� vista de minha

mis��ria.

��� E... como se sentiu?

��� Senti-me como um menino... repleto de

esperan��as, Ana! Como algu��m que espera

muito... e sabe que n��o tem direitos de reclamar!

Ana sorriu, confortadora.

��� Em verdade, Jairo, nenhum de n��s tem

merecimento, por muitos serem os nossos desvios

do Bem, no curso de nossas vidas! Contudo, a

miseric��rdia de Deus nos suporta e nos socorre!

E Jairo, ent��o, queixou-se amargurado:

��� Os guardas do Templo nos enxotam, Ana! N��o

nos querem aqui o tempo todo, dizendo que a

97



nossa presen��a traz tristeza aos que vem orar na

casa do Poderoso!

��� O Cristo vir�� ��� anunciou Ana convicta, diante

dos demais desvalidos ��� e, quando o Senhor

chegar, haver�� de dar-nos o P��tio do Amor, para

que nos levantemos na dire����o do Mais Alto.

* * * * *

Sime��o e Ana estavam no Templo.

Eis, ent��o, que Maria e Jos�� entraram, t��midos,

deslumbrados com a riqueza das edifica����es e das

solenidades religiosas, trazendo o menino-Jesus

para consagr��-Lo a servi��o do Criador.

98



Sime��o, num ��mpeto, avan��ou na dire����o do casal,

seguido de perto por Ana.

��� Senhora! ��� disse Sime��o, respeitoso, com olhar

fixo no menino que Maria carregava com carinho e

ternura ��� Deixe-me tomar o Salvador em meus

bra��os.

Maria, confiante, entregou-lhe o menino.

Sime��o, caindo de joelhos diante do perplexo

sacerdote do Templo, sentiu-se envolto por Esp��ritos

de Luz e, sob essa influencia����o do Mundo Maior,

clamou:

��� Oh! Senhor! Deixe que este seu servo, agora,

v�� em paz deste mundo, segundo a sua promessa,

j�� que em meus bra��os est�� o Salvador do mundo!

Sei que este menino, nosso Salvador, como uma

luz ��nica e inconfund��vel, iluminar�� todas as na����es

99

e ser�� a gl��ria do povo de Israel!

Levantando-se Sime��o aben��oou a Jos�� e a Maria

e, dirigindo-se mais particularmente �� divina M��e,

anunciou-lhe:

��� Este menino �� o nosso Salvador! Ele ser�� a

causa da queda dos duros de cora����o e, por outro

lado, levantar-se-�� como a esperan��a de reden����o

de muitos.

E, ap��s verter l��grimas, Sime��o complementou:

��� Maria, este seu filho, Luz em nossas trevas de

sentimentos, revolver�� os cora����es humanos e,

por isso, muitos ser��o os que se opor��o ao seu

divino minist��rio. Mas, muitos outros ser��o os que,

por Ele, ser��o libertados das dores e das trevas.

Ana secundava-lhe o j��bilo.

��� Oh! Deus! ��� exclamou a profetisa Ana ��� Este

Jesus �� a porta das ovelhas! Ele, o Cristo de Deus,

nos libertar�� dos pesados fardos que os sacerdotes

nos imp��em e enxugar��, como Pastor Divino, as

l��grimas das ovelhas que ouvirem a sua voz!

Jos�� sentiu-se apreensivo.

Maria, contudo, com Jesus novamente em seus

bra��os, sentia-se a mais ditosa de todas as m��es,

embora soubesse que Jesus seria um renovador

de costumes e que, por isso, sofreria sarcasmos,

oposi����o e persegui����o de muitos.

Maria beijou Sime��o e Ana, comovida, deixando-

os em l��grimas.

100

16

FUGA

A manifesta����o de Sime��o, no instante que Maria e

Jos�� ofereciam seu menino a servi��o de Deus, e as

not��cias propaladas pelo cora����o justo e generoso

da profetisa Ana, rapidamente se espalharam pelas

cercanias do Templo de Jerusal��m.

Maria e Jos��, at��nitos, embora profundamente

tocados no fundo d'alma com o carinho com que se

recobrira seu filho, Jesus ��� j�� ganhavam dist��ncia,

indo na dire����o dos afastados bairros do centro da

cidade de Jerusal��m.

Jos�� guardava alguma preocupa����o.

��� Que esperam de nosso filho, Maria? Parece-

lhes que um anjo chegou do Mais Alto, para ficar a

disposi����o de todos.

Maria sorriu.

��� �� o nosso anjo de Deus! ��� temperou a jovem

m��e, demorando seu olhar sobre o filho que lhe ia

101

no colo ��� E se os justos, que servem ao Pai no

Templo, guardam a certeza da miss��o redentora

que cabe a Jesus, �� porque eles s��o os espelhos

da Miseric��rdia Divina!

E, assim, seguiam adiante, permutando doces

esperan��as.

* * * * *

O Rei Herodes, procurado em particular por seus

colaboradores diretos, recebeu a informa����o sobre

o que ocorrera no Templo.

��� Inferno! ��� vociferou ��� Ser�� que esse tal de

Salvador me esteve quase sob minhas m��os!

Irado, amea��ava:

��� Vou mandar cortar a l��ngua de todos voc��s que

s�� me trazem m��s not��cias! E que n��o servem,

num s�� momento, para levar-me a colocaras m��os

sobre o pequeno embusteiro!

Os seus auxiliares estremeceram.

��� Como chegar a ele?! ��� gritou, em quase crise

de medo ��� Se deixar escap��-lo, mesmo que ele

n��o se fa��a um l��der diante de Israel, a lenda de

sua exist��ncia e a sombra dele levar�� muitos a me

desobedecerem.

��� N��o sabemos onde eles se hospedam. Deve

ser a casa de algum nobre... se efetivamente esse

menino for a semente de um Rei! ��� fala um deles.

102



Herodes estremeceu.

Entrando em sil��ncio, ao consultar a si mesmo, eis

que reabre os olhos, em chispas de ��dio.

��� Tragam-me Sime��o e Ana! Esses dois devem

ser comparsas e, assim, atrav��s deles chegaremos

ao tal do menino.

E, nesse cair da noite, os soldados de Herodes

vasculharam por todas as vielas, em busca de

Sime��o e da profetisa Ana.

* * * * *

Jos�� buscava o leito.

Deitou-se, sentindo-se temeroso, diante de todo

alarde decorrido do cumprimento da Lei de seus

profetas.

103

��� Maria... ��� ele ensaiou, quase a falar-lhe no

ouvido, bem junto de si ��� estou... em ang��stia!

��� Por que Jos��?

Ap��s ligeira hesita����o, o seu esposo continuou:

��� N��o sei a raz��o, Maria! A fala de Sime��o e a

alegria de Ana parecem ter deixado o sacerdote do

Templo em estado de contrariedade...

��� Durma tranquilo, Jos��! Se o que �� humano pode

perturbar a ordem divina por alguns momentos,

lembremo-nos de que tudo se recompor��, no

tempo de Deus!

Maria acariciou os cabelos de Jos��, qual m��e a

desvelar-se pelo filho.

Candeia apagada, sombras no humilde

compartimento, o menino em seu tosco leito... e

dormiram.

* * * * *

Sime��o e Ana foram levados ao pal��cio de Herodes.

O Rei, a passadas largas e calculadas, olhar que

chispava fagulhas de ��dio contido, aproximou-se

amea��ador de Sime��o.

Olho no olho.

��� Voc�� ��� disse Herodes ��� acolheu uma crian��a

no Templo, consagrando-a como o Salvador?

��� Eu a aguardava h�� anos, senhor! Esperei-O at��

104

agora, para que eu pudesse desencarnar, ap��s v��-

Lo!

��� E... onde est�� essa crian��a?

Sime��o fitou-o sereno.

��� O senhor, que �� Rei, n��o sabe onde encontr��-

la? E quer encontr��-la... por qu��?

��� Responda-me: onde est�� essa crian��a?

Sime��o suspirou e asseverou:

��� Sendo aquele menino o Filho de Deus, sugiro-

lhe dirigir-se ao Divino... e a Ele endere��ar essa

pergunta!

��� Mas... n��o �� voc�� um m��dium? N��o foi voc��

que secundou a consagra����o desse menino?

E, quase sufocando Sime��o, Herodes gritou:

��� Responda-me: onde ele est��?

* * * * *

Jos�� agitou-se no leito.

Sentou-se de pronto, com bagas de suor a

derramar-se por todo o seu corpo.

�� sua frente, um Esp��rito.

��� Jos�� ��� diz-lhe o Emiss��rio Celestial ��� conv��m

que voc�� desperte Maria e, todos os tr��s, devem ir

ao Egito!

105



��� Como? Por qu��?

��� As sombras espirituais sitiaram o cora����o de

Herodes e, por isso, levantem-se, como lhes

ordeno, e tomem o destino do Egito.

Maria despertou tamb��m.

Aceitando que estavam recebendo uma visita do

Mais Alto, t��o logo foi informada da urg��ncia de se

retirarem para o Egito, concordou com o aviso.

Ainda noite, furtivamente, juntaram seus poucos

pertences e, com o Esp��rito �� sua frente, tomaram

a dire����o indicada, seguindo ap��s os passos do

Emiss��rio Celestial.

J�� estavam distantes de Jerusal��m.

106

O Esp��rito ia despedir-se, deixando-os a s��s,

quando Jos�� indagou, algo aflito:

��� E... por que ir ao Egito?

��� �� que Herodes quer matar o menino e, tamb��m, ��

porque assim se cumprir�� a profecia que anunciou:

"Do Egito chamarei meu Filho."

Eram as despedidas.

��� At�� quando ficaremos l��, amigo? ��� indagou

Jos��, antes que o Esp��rito desvanecesse diante de

seus olhos ��� At�� quando ficaremos l��?

��� No tempo justo, Jos��, irei avis��-los e, at�� que eu

os avise, permane��am no Egito.

E Maria, silenciosa, guardava estas coisas em seu

cora����o.

107

17

NO EGITO

Jos��, alguns passos �� frente de Maria, parou e,

depois de enxugar do rosto as bagas de suor,

apontou um vilarejo.

��� Eis Matarieh, Maria! ��� disse o carpinteiro,

trazendo a esposa num abra��o, junto a seu peito

��� �� onde ficaremos!

��� Gra��as ao Criador, estamos a salvo com nosso

filho, Jos��! ��� exclamou Maria, aconchegando o

menino-Jesus em seu colo.

E avan��aram na dire����o da cidadezinha eg��pcia,

algo sobressaltados por estarem penetrando por

terras estranhas.

Contornaram o pequeno lago que, ao fundo,

emoldurava a pir��mide de Giz��, com algumas

palmeiras e seus arbustos.

Sentaram-se, exaustos, na areia!

Aproximou-se deles uma senhora.

109



�� pequena dist��ncia, a estranha os examinava e,

num ��mpeto, acercou-se ainda mais.

��� Voc��s s��o... judeus? ��� ela indagou ��� Vejo

pelas suas roupas e modos, que voc��s s��o parte

de nosso povo!

��� Sim! ��� confirmou Jos�� ��� Somos judeus, em

busca de um lar.

Sara, ent��o, achegou-se �� fam��lia e, em vendo o

menino abrigado no colo materno, comoveu-se.

��� Formamos, n��s, os judeus, uma pequena

comunidade nesta regi��o, de onde sa��ram os

nossos condutores espirituais ��� informou Sara ���

e, como voc��s s��o rec��m-chegados, venham ao

meu lar.

* * * * *

110

Maria estava refeita da longa peregrina����o atrav��s das estradas desertas e poeirentas e, aceita confiar

o filho a um leito acolhedor, na casa de Sara.

Jos��, sentado �� sala, assegurou:

��� N��o queremos ser pesados ao seu lar, Sara.

��� E n��o ser��o! Sou vi��va, sem filhos e quase sem

parentes diretos e... voc��s trazem alegria ao meu

solit��rio cora����o, meu bom amigo!

��� Sou carpinteiro, Sara! E, como existem outros

judeus nessa regi��o, poderei retirar o nosso

sustento, servindo aos que necessitam de meus

pr��stimos.

Sara sorriu.

E Maria, delicada, afirmou:

��� Ficaremos apenas o tempo necess��rio, Sara!

N��o queremos ser um peso ao seu lar e nem

queremos alterar o seu sistema de vida!

��� Ora, Maria! Voc��s s��o a fam��lia que me faltava

e, por isso, quero-os aqui, n��o s�� em minha casa,

mas tamb��m em meu cora����o!

Maria beijou as m��os calosas de Sara.

* * * * *

A noite chegava serena.

Sara, saindo do quarto onde estava o menino-

Jesus, sentou-se defronte a Maria.

111

��� Este seu filho, Maria, irradia uma ternura

celestial! E, mais que uma simples crian��a, parece-

me algu��m descido a este mundo com alguma

miss��o sobre-humana!

Maria sorriu t��mida.

Sara, ap��s fit��-la longamente, disse-lhe:

��� Aqui, no Egito ��� esclareceu a benfeitora ���

recolhemos muito da cultura do nobre povo eg��pcio

e, entre outras de nossas conquistas, alguns de

n��s aprendemos a desenvolver a mediunidade!

��� Ah! Voc��s se familiarizaram com os Esp��ritos do

Senhor! ��� exclamou a m��e de Jesus ��� E, como

n��s, voc��s recebem a orienta����o amorosa deles?!

��� Exatamente isso, Maria!

E, ap��s breve pausa, Sara complementou:

��� Assim como Mois��s, um grande m��dium a

servi��o do Senhor, medianeiro dos Mandamentos

Divinos, trazendo-nos as t��buas da Lei, tamb��m

n��s, na intimidade do lar, acolhemos revela����es do

Mais Alto.

* * * * *

Os meses flu��ram c��leres.

Jesus, na casa de Sara, parecia ter duas m��es,

tais eram os cuidados de que se via cercado e com

a ternura com que Sara e Maria se desvelavam por

Ele.

112

E, ao cair de cada noite, quando a natureza se

asserenava, reuniam-se todos, junto ao menino, em

ora����es tocantes, t��o profundamente emotivas que

a casa era toda invadida por orvalho perfumado.

* * * * *

Jos��, ap��s um dia de atividades exaustivas,

recolheu-se ao leito, buscando o refazimento de

suas energias.

Maria, ao seu lado, sentia-se, naquela noite,

singularmente saudosa das paisagens da Jud��ia.

Ela adormeceu serena, com algumas gotas

de l��grimas a lhe perolizarem as faces r��seas,

guardando infinita gratid��o por tudo o que recolhia

naquela regi��o t��o distante de seu lar.

S��bito, Jos�� estremeceu.

Abriu os olhos e, �� sua volta, sentia que mais

algu��m chegava ��quele dormit��rio singelo.

Sentou-se no leito, atento.

Um Esp��rito materializou-se �� sua frente e,

ap��s uma sauda����o de paz, o Emiss��rio Divino

assegurou-lhe:

��� Jos��, j�� est��o mortos aqueles que intentavam

contra a vida de seu filho, Jesus!

��� O Rei Herodes... morreu?! ��� Jos�� gaguejou.

��� Sim! Morreram o Rei Herodes e seus comparsas!

�� hora, portanto, de voc�� levantar-se e tomar o

113

menino e a sua m��e, Maria, e retornarem �� terra

de Israel.

Jos�� estava confuso e Maria acordou.

O Esp��rito voltou-se, ent��o, para Maria e disse-lhe:

��� Senhora! Cumpre-se, agora, a profecia de

Os��ias: "Do Egito chamarei meu Filho."

* * * * *

O dia clareara.

Maria, chegando-se a Sara, junto ao fog��o daquele

lar, buscava em seu interior algumas palavras

fraternais, para comunicar-lhe de que voltariam a

Israel.

A jovem, por��m, sentia-se constrangida.

Sara, contudo, ao notar-lhe o embara��o, abriu-se

num sorriso fraternal, dizendo-lhe:

��� Eu sei, Maria! Os Esp��ritos do Senhor nos

visitaram esta noite e, por disposi����o divina, voc��s

dever��o retornar a Israel!

��� Mas... deixo meu cora����o com voc��, Sara!

Jamais esquecerei este tempo em que o seu lar se

transfigurou em meu lar e em que o seu cora����o se

tornou meu cora����o!

* * * * *

114

�� porta da rua, pr��ximas ao vilarejo bem-amado,

beijaram-se em l��grimas de amor fraternal.

��� Estarei orando por voc��s, Maria! E, quando

este menino crescer, diga-lhe que, daqui do Egito,

algu��m o ama profundamente!

E, subordinados aos des��gnios divinos, Maria e

Jos��, junto com Jesus-menino, foram distanciando-

se lentamente, acenando a Sara que, em doces

l��grimas, dizia de si para si mesma:

��� O Cristo de Deus, em meu lar!

115

18

O��SIS

O solo era ��spero e arenoso.

Um vento forte, soprando na dire����o sul, obrigava

Maria a desvelar-se pelo menino em seus bra��os,

recobrindo-lhe a cabecinha.

Jos�� protegia-se tamb��m.

E, ap��s caminharem um tanto mais, avan��ando

contra o vento e poeira forte, o carpinteiro ergueu o

bra��o, apontando para o norte e, voz semiabafada

em sua t��nica, anunciou:

��� Veja, Maria! Um o��sis!

Redobrando esfor��os e revitalizados pela

esperan��a, com o vendaval a espanc��-los pelas

costas, alcan��aram aquele lugar que era um pouso

de caravanas.

S��bito, uma quietude!

Deram mais alguns passos, entre as palmeiras

apascentadas, aproximando-se de pequeno e

117

tranquilo lago, marulhado por refrescante brisa.

Jos�� limpava-se do p��.

��� Deus meu! ��� exclamava o carpinteiro ��� Somos

provados pela pen��ria e pela dor!

Maria, colocando o menino-Jesus sobre o manto

que estendera no solo arenoso, tinha os olhos e

o cora����o voltados inteiramente para seu filho e,

diante do ligeiro mal-estar do carpinteiro, advertiu-o:

��� Somos servidores, Jos��! Alegremo-nos, diante

das dificuldades m��nimas, afim determos condi����es

de equil��brio para suportaras dificuldades maiores...

sem lamenta����es!

E, fitando o menino, acrescentou:

��� Debaixo do olhar deste nosso filho, Jos��, veja

que somos ditosos!

��� Ditosos... Maria?!

��� Sim, querido companheiro! Cada hora nossa,

cada momento de nossa vida, tem sido marcado

pela manifesta����o dos Esp��ritos do Senhor! E

se esta nossa crian��a, precioso fardo que o Pai

Celestial nos confiou, a tudo se submete com

resigna����o e brandura, que direito teremos de

lamentar-nos, n��s que somos meros servos?

Jos�� sentou-se junto dela.

Ouviram, ent��o, gritos e ru��dos de uma caravana,

com dromed��rios chegando debaixo das vozes de

comando de caravaneiros.

Um daqueles camelos de pesco��o curto e de uma

118



s�� corcova aproximou-se d��cil, embora exausto, e

acomodou-se perto de Maria, como se estivesse a

proteg��-la.

O menino-Jesus, olhos cintilantes, afagou o animal.

Samuel, acompanhado de seus auxiliares, ao ver

a cena e aos que ali estavam, acercou-se sol��cito:

��� Est��o... perdidos? ��� indagou Samuel.

��� N��o, meu bom senhor ��� informou Maria ���

estamos nos refazendo de uma longa, mas doce

caminhada.

��� De onde voc��s vem?

��� Do Egito ��� informou Jos��.

119

��� E... caminham a s��s?! ��� espantou-se o chefe

dos caravaneiros ��� E, al��m de s��s, ainda trazem

uma crian��a?!

Maria sorriu e respondeu:

��� Ningu��m caminha s��, Samuel! Se estamos em

Deus, o nosso Criador �� nosso guia e sublime

protetor!

Samuel, tocado por aquelas palavras, indagou:

��� A senhora... cr�� assim?

��� E por que n��o demonstrar essa confian��a,

Samuel, se todos somos filhos do Criador?

Samuel, perplexo, chamou a seus auxiliares.

��� Vamos! Vamos! ��� apressava-os ��� Tragam

t��maras e alimentos, para estes filhos do Alt��ssimo!

* * * * *

O c��u estava salpicado de estrelas.

O filho de Maria, Jesus, estava cercado pelos

caravaneiros, homens r��sticos de vida dif��cil, que

se sentiam atra��dos pelo doce magnetismo que

emanava do menino.

Fogueira acesa.

��� Para onde voc��s se destinam, Jos��? ��� indagou

Samuel, como algu��m que se prontificava a ofertar-

lhes prote����o.

120

Ap��s ligeira hesita����o, o carpinteiro informou:

��� Vamos �� Jud��ia!

��� O reino de Arquelau! ��� mastigou essas palavras

Samuel ��� Que m�� hora voc��s escolheram para

retornar �� Jud��ia!

��� Quem �� Arquelau? ��� perguntou temeroso Jos��,

impressionado pelo tom de voz do caravaneiro ���

Voc�� fala dele... como se fosse um mau homem!

��� E ��, Jos��! Depois da morte do pai Herodes,

Arquelau, seu filho, assumiu o trono do pai! E,

desde ent��o, Arquelau tem escandalizado os seus

s��ditos, com uma vida desregrada, al��m de todas

as persegui����es e injusti��as que pratica.

Jos�� estremeceu.

��� Ele tem, debaixo de seus p��s, os poderes da

fun����o de Etnarca da Jud��ia, de Samaria e da

Idum��ia ��� e, baixando a voz, como se fosse revelar

um segredo, aditou: ��� Al��m disso... Arquelau tem

nomeado como sumo sacerdotes, homens que tem

vida desregrada!

��� Deus meu! ��� externou seu espanto o carpinteiro.

Maria, que tudo ouvira, sentiu o cora����o opresso.

* * * * *

Sil��ncio no o��sis e nas tendas armadas para o

121

repouso noturno.

O pequeno lago, onde todos se dessedentavam,

abranda a can��cula da noite e, por isso, todos

adormeceram serenos.

Jos��, inseguro, ruminava temores.

Um Esp��rito amigo, naquela hora, corporificou-

se dentro da tenda, surgindo-lhe diante da vis��o,

colocando-se Jos�� em alerta.

��� N��o v�� para as regi��es da Judeia, Jos��! Voc��

bem ouviu de Samuel, os relatos verdadeiros!

��� E... para onde iremos, ent��o?!

��� V�� para a Galileia, Jos��! Recolha-se na pac��fica

vila de Nazar��, j�� que se deve cumprir a profecia:

"Meu Filho ser�� chamado Nazareno."

* * * * *

Meses depois, Maria e Jos��, levando Jesus que

lhes tomara as m��os amigas, penetravam pelas

vielas de Nazar��, revendo cenas e pessoas

amigas com quem j�� haviam partilhado sonhos e

esperan��as.

��� Nosso primeiro lar! ��� exultava Maria,

profundamente emocionada.

��� Aqui... come��aram nossos sonhos, Maria ���

122

confessou-lhe Jos��.

��� E ser�� daqui ��� enunciou Maria ��� que sair��

o Nazareno, para levar Luz e Amor a todos os

desvalidos do mundo!

E o sol, j�� a pino, iluminava o vilarejo singelo!

123

19

NA FONTE DE NAZAR��

Jos�� estava entregue a seu servi��o de carpintaria

e, suarento naquela manh�� de sol forte, enxugou

gotas de suor do rosto.

Voltou-se e, vendo Jesus, sorriu-lhe amoroso.

��� Ah! Meu filho, voc�� estava a��? Via o meu trabalho

dif��cil!

O menino, em seus dez anos, sorriu tamb��m.

��� Todo trabalho, feito com amor, �� b��n����o do Pai

Celestial ��� considerou o menino ��� e quero, por

isso, aprender o seu engenho e arte.

��� N��o creio... seja este o seu servi��o! ��� advertiu

Jos�� ��� Desde seu nascimento, sei de sua

predestina����o.

��� No entanto, Jos��, se voc�� me deixar ajud��-

lo, educarei minhas m��os em obras edificantes e

necess��rias.

125

O carpinteiro voltou a sorrir e afagou os cabelos de Jesus, num gesto de muita ternura.

��� Entre n��s, os judeus, meu filho, temos por h��bito

iniciar os filhos em servi��os que lhes ocupem

as m��os, a fim de que as cabecinhas n��o vivam

apenas povoadas de ideias!

Jesus sorriu, compreensivo, dizendo:

��� Bem por isso, meu pai, quero aprender seu of��cio

e, longe de s�� ter ideias que falem do Mais Alto,

quero alimentar-me de atos que exemplifiquem o

Amor.

O carpinteiro franziu a testa, meio confundido.

��� Isso... n��o �� cedo demais, menino?! Em sua

idade, os meninos brincam em Nazar��!

Jesus tornou a sorrir docemente.

Nisso, ouviram Maria cham��-lo da frente de sua

casa e Jos�� recomendou:

��� V��... que sua m��e lhe chama, menino!

O menino, fitando o pai, assegurou-lhe:

��� Vou atend��-la, meu pai! Mas insisto em aprender

a sua profiss��o, at�� que chegue a minha hora!

E Jos��, apanhando a enx��, ficou pensativo, vendo

seu filho ir em dire����o a Maria, sempre submisso e

com gestos de ternura.

* * * * *

126



��� Filho ��� disse Maria a Jesus, t��o logo ele chegou

�� cozinha ���, v�� at�� a fonte, buscar ��gua!

E Jesus atendeu sua m��e.

Chegando �� fonte, apanhava ��gua numa tina.

Aproximou-se dele, naquele instante, um jovem

de uns vinte anos e, de olhos e gestos inquietos,

disse-lhe:

��� D��-me de beber!

Jesus tomou de uma jarra e deu-lhe ��gua,

demorando-se a examin��-lo e o jovem, ap��s

alguns goles d'��gua, sentindo-se estranhamente

penetrado por aquele olhar, indagou:

��� O que v�� em mim, menino?!

127

��� Voc�� �� Barrab��s?

��� Sim! ��� respondeu o jovem, olhando a seu

derredor, algo temeroso ��� Voc�� me conhece?

O menino confirmou com um gesto.

��� Vejo em seu cora����o, Barrab��s, que voc��

est�� atormentado por sombras espirituais. N��o

se apercebe, por isso, de que somente o amor ��

liberdade e luz em nossas vidas.

��� Voc��... �� uma crian��a estranha!

Jesus tomou-lhe a m��o direita.

��� Venha ao lar de minha m��e, Barrab��s! E

comendo do mesmo p��o que comemos, aperceba-

se da b��n����o de Deus de termos um lar e n��o

vivermos como as raposas que tomam o que n��o

fizeram por merecer!

E Barrab��s, docemente constrangido, se deixou

conduzir.

* * * * *

Maria, quando Barrab��s estava em sua mesa, na

sala, chamou a Jesus em particular.

��� Por que voc�� trouxe Barrab��s �� nossa mesa,

filho? Sabe-se, em toda parte, que ele n��o �� um

homem justo e temente a Deus!

Jesus sorriu e considerou:

��� Minha m��e, por n��o ser ele um homem justo

128

ainda, e que n��o ama o nosso Pai Celestial,

confundindo-se com os valores perec��veis deste

mundo, eu o trouxe bem pr��ximo de seu cora����o!

Se fosse ele um justo e algu��m que tivesse o c��u

no cora����o, por certo de que n��o necessitaria

deste seu lar!

Maria sorriu, envergonhada.

��� Voc��, filho, est�� em busca dos que se transviaram!

Leio em sua alma, que seu cora����o carrega tanto

amor que se torna um v��u divino a recobrir todos

os erros dos cora����es humanos!

E, ap��s isso, Barrab��s foi servido.

Maria, sob insist��ncia de Jesus, cedeu a Barrab��s

um leito para que repousasse naquele lar.

No dia seguinte, Barrab��s beijava as m��os de

Maria, agradecendo-lhe a hospedagem e, voltando-

se ao jovem Jesus, disse-lhe:

��� Menino! Sou-lhe grato! Agrade��o-lhe, mas creio

que jamais voltaremos a nos ver, j�� que ando por

caminhos furtivos... e voc�� anda em luz!

Jesus olhou-o com amizade.

��� Ainda um dia, Barrab��s, estaremos lado a lado,

submetendo-nos �� prefer��ncia de uma multid��o

aflita e de cora����o endurecido!

Barrab��s sorriu pensativo e retomou seu caminho.

Maria voltou-se a Jesus.

E, j�� habituada a atender os estranhos que o

menino lhe levava ao seu lar, sentia-se ditosa

129

diante daquele cora����ozinho repleto de carinho

pelos infelizes do mundo.

130

20

JUNTO AOS SACERDOTES

A cidadezinha de Nazar�� acordara.

Mal o sol despontara e as fam��lias se entregavam

a aprontar-se para uma peregrina����o �� cidade

de Jerusal��m, distante uns cem quil��metros, por

caminhos poeirentos, daquelas ruas pacatas.

M��riam adentrou �� casa de Maria.

Chegou num clima de franca alegria e

deslumbramento.

��� Vamos a Jerusal��m! ��� exclamou, logo na

entrada ��� Vamos ao Templo, adorar a Deus, na

comemora����o da P��scoa!

A m��e de Jesus lhe sorriu.

��� Devemos vivenciar o amor ao Criador, M��riam,

em todas as horas de nossa vida e onde quer que

nos encontremos.

��� Por��m... em Jerusal��m, ainda mais!

131

Maria, conselheiral e prudente, aditou:

��� Com todo o meu respeito pela sua alegria,

M��riam, conv��m lembrar que devemos fazer, de

nosso pr��prio cora����o, o templo do Pai Celestial!

E nossas ora����es, de devo����o e carinho, devem

exprimir-se por atos de amor ao pr��ximo.

��� Mas... na capital do juda��smo, Maria,

participaremos da P��scoa, a festa m��xima de

nossas almas, em que comemoraremos a liberta����o

de nosso povo da escravid��o no Egito!

Maria sorriu e considerou:

��� Voc�� est�� esfuziante, M��riam, �� diante das

dan��as e cantos de nossa gente. Isso, contudo,

n��o basta!

Jos�� entrou pelos fundos da casa.

��� Tudo pronto, Maria! J�� podemos nos incorporar

aos peregrinos que v��o daqui a Jerusal��m.

��� Vamos! ��� bradou M��riam.

* * * * *

Jerusal��m estava fervilhante.

A cada momento, novas caravanas aportavam

�� cidade, acrescentando-lhe aos seus naturais

habitantes que, fraternalmente, acolhiam em seus

lares os que ali chegavam para a comemora����o da

P��scoa.

132

M��riam se deslumbrava.

Jesus, em seus doze anos, a tudo contemplava,

mantendo-se discreto e pensativo diante

das explos��es de ruidosos cumprimentos e

espalhafatosos abra��os.

No arrabalde, abrigaram-se na casa de Maria de

Marcos, que os acolheu com ares de profunda

ternura.

A hospedeira, acariciando os cabelos do jovem

Jesus, encantava-se diante de seus olhos serenos,

em cujas cores parecia espelhar o Infinito.

��� S��o os mesmos olhos seus, Maria! ��� concluiu

Maria de Marcos ��� Contudo, parecem olhos que

veem al��m do que alcan��a a nossa vis��o!

* * * * *

Transcorridos os sete dias da festa da P��scoa,

todas as fam��lias que haviam buscado Jerusal��m,

se despediam de seus hospedeiros, num festival

de abra��os.

O tom era j�� de saudade.

��� Onde est�� Jesus? ��� indagou Maria.

��� Ah! Nosso menino deve ter seguido com

outros de sua idade, Maria! ��� considerou Jos��,

despreocupado ��� Logo mais o alcan��aremos ou,

ent��o, ele vir�� at�� n��s!

133

E, assim, fizeram o caminho de um dia.

Maria, m��e desvelada, sentiu crescer a sua

preocupa����o pela aus��ncia do filho e, por isso,

discretamente passou, com Jos��, a procur��-lo

entre seus parentes e seus amigos de Nazar��.

��� N��o! N��o vi seu filho!

��� Ser�� que n��o se adiantou, junto de outras

crian��as? ��� algu��m sugeriu.

��� N��o! ��� respondeu Maria, convicta ��� Ele n��o

nos deixaria... sem avisar-nos!

E, diante da m��e aflita, Jos�� sugeriu:

��� Regressemos a Jerusal��m!

E, assim, fizeram o caminho de retorno �� capital,

dirigindo-se diretamente �� casa de Maria de

Marcos.

Bateram �� porta da casa.

Maria de Marcos veio atend��-los.

��� Voc��s?! J�� de regresso a Jerusal��m!

��� Nosso filho... est��, n��o sabemos onde! J�� o

procuramos por toda parte e... nada!

��� N��o se aflija! ��� aconselhou Maria de Marcos

sorrindo e, tamb��m, j�� apreensiva ��� Seu filho

sabe o que tem a fazer, Maria!

E, subitamente envolvida por um Esp��rito amigo,

Maria de Marcos, em tom grave, assegurou:

��� O menino-Jesus est�� entre os sacerdotes do

Templo de Jerusal��m! L�� voc��s o encontrar��o,

discutindo coisas de Nosso Criador!

E todos foram ao Templo.

134



L�� chegando, encontraram o jovem Jesus sentado

entre os sacerdotes que se postavam a ouvi-lo e

com ele a discutir.

��� Como pode uma crian��a querer falar de coisas

divinas? ��� dizia asperamente um dos sacerdotes,

dirigindo-se aos demais.

��� As coisas do Pai Celestial ��� respondeu-lhe

diretamente Jesus ��� podem chegar ao cora����o de

um sacerdote pela inoc��ncia de uma crian��a.

E, quase para esc��ndalo deles, o jovem Jesus

complementou:

��� O cora����o do homem, por vezes, se deixa sitiar

por preconceitos e por falsos princ��pios e, assim,

a criatura n��o se subordina a seu Criador, mas

quer que o Criador se sujeite a seus caprichos e

interesses pessoais.

135

Outro dos sacerdotes assegurou:

��� Mas... o templo de nossa f�� �� o ��nico lugar que

se adora a Deus, meu garoto!

��� O Pai ��� respondeu Jesus ��� est�� por toda parte!

Para servi-Lo, n��o se faz necess��rio criar um lugar

especial, j�� que todos os lugares s��o santificados

pela b��n����o celestial! E, para honr��-Lo com nosso

amor, n��o basta sacrificar aves e animais no altar,

sem o esfor��o de sacrificarmos os nossos pr��prios

erros!

��� E... quem lhe disse que temos erros? Somos

sacerdotes e doutores da Lei!

��� Pois os que sabem, deveriam amar e servir aos

que n��o sabem, sem impor-lhes sacrif��cios v��os!

E, se n��o servimos a todos, atrav��s do amor, j��

estaremos carregados de muitos enganos!

Explodiram diverg��ncias entre os sacerdotes.

E, nisso, chegaram Maria e Jos��, seguidos de

Maria de Marcos e de M��riam.

A m��e adiantou-se.

��� Filho, por que voc�� fez assim comigo e com seu

pai? N��s lhe procuramos de cora����es aflitos!

Jesus fitou a eles todos.

��� Por que voc��s me procuravam? N��o sabem,

ainda, que devo ocupar-me das coisas de meu

Pai?

Maria ruborizou-se, confusa.

��� Mas... filho! Voc�� ��, ainda, uma crian��a... E se

coloca a discutir com os doutores e sacerdotes de

136

Jerusal��m?!

��� M��e ��� responde-lhe docemente o jovem Jesus

��� discuto as coisas de meu Pai com aqueles

que dizem represent��-Lo diante do mundo! E,

querendo endireitar o caminho de seus cora����es,

t��o somente estou a coloc��-los no rumo das

interpreta����es corretas da Vontade Divina!

Jesus, contudo, levantou-se de entre os sacerdotes

e, evidenciando que era submisso a seus pais,

desceu com eles a Nazar��.

E Jesus, em Nazar��, crescendo em idade, revelava-

se pleno de sabedoria e bondade, diante de Deus

e de todos os homens, e Maria, profundamente

tocada pela ternura de seu filho, sentia-se envolta

pelo seu cora����o.

137

21

UNI��O DIVINA

Estamos em Cafarnaum.

A vegeta����o rasteira, vendo-se daqui, estende-se

qual tapete ��ureo, na dire����o do lago de Genesar��,

onde as brumas da madrugada se dispersaram de

sobre as ��guas serenas.

Vento brando ondula a superf��cie do lago, sem

quebrar-lhe a doce serenidade.

Jesus completara trinta anos.

Jo��o, filho de Zebedeu, o jovem que se fez um de

seus primeiros disc��pulos, adentra o lar singelo,

onde Maria, m��e de Jesus, alongava seu olhar,

reconfortando-se com a paisagem calma.

��� Senhora ��� chama-a Jo��o, em voz mansa.

Ela se volta, contemplando-lhe o semblante juvenil,

sentindo no olhar de Jo��o a submiss��o de quase

um filho bem-amado.

139

��� Que quer, Jo��o?

��� �� certo que hoje iremos a uma festa de noivado,

juntamente com o nosso Mestre e Senhor?!

Maria sorriu.

��� Sim! Iremos acompanh��-Lo, Jo��o!

E, ap��s ligeira e intencional pausa, Maria informou:

��� Quero apresentar o meu filho ao mundo, Jo��o!

Jesus me convidou a acompanh��-Lo e, como m��e,

sinto que essa festa �� um pren��ncio de uni��o entre

a Boa Nova que nos traz Jesus e o Plano Espiritual

Superior!

��� Ent��o... n��o �� uma simples festa!

Maria, algo pensativa, confirmou:

��� O que Jesus faz, por amor, �� sempre um s��mbolo

para guardar no cora����o, pela eternidade ou,

ent��o, tem algum sentido que transcende as coisas

de nosso mundo, Jo��o! E, por bem t��-Lo no fundo

de minha alma, sei que essa festa de noivado tem

algo que nos convidar�� ao crescimento espiritual!

* * * * *

Estamos em Can��, da Galileia, vilarejo que fica ao

norte de Nazar��.

A m��e de Jesus faz-se presente.

Os disc��pulos, que se ajustavam ao programa do

Mestre, entremeavam-se entre os demais convivas,

140

exalando a alegria daquele encontro.

Era a festa da Uni��o Divina.

Maria, que tudo observava e guardava em seu

cora����o, num dado instante deparou-se com tr��s

servidores daquela casa.

��� Senhora ��� disse um deles ��� o vinho, princ��pio

de Vida, que serv��amos aos convivas desta uni��o,

acabou!

��� E... agora?! ��� indagou outro servidor.

A m��e de Jesus, incontinenti, buscou seu filho,

entre os convidados da festa, dizendo-lhe:

��� Filho, os que servem n��o mais tem o vinho da

Vida!

Jesus, fitou-a com enlevo, dizendo-lhe, a seguir:

��� M��e! Ainda n��o �� chegada a minha hora de

atend��-los.

Maria, comovida diante da tristeza de todos,

chamou aos servidores e lhes determinou:

��� Fa��am tudo o que Jesus lhes disser! Sei que

meu filho �� portador das Esperan��as do Mais Alto

e, assim, se voc��s seguirem as suas ordena����es,

Jesus lhes alimentar�� com a Vida abundante que

n��o se encontra nos templos de pedra.

Jesus, pr��ximo, acedendo �� insist��ncia maternal,

aconselhou:

��� Se esgotamos o vinho da esperan��a e desejamos

a verdadeira uni��o com o Mais Alto, ajuste este

plano de vida com as ideias que renovam todos os

141



caminhos, coloquem a ��gua da vida nas jarras de

seus cora����es.

��� Teremos, assim, Vida Nova? ��� indagou um dos

servidores ��� E, se for assim, com ela poderemos

servir a todos e nossos cora����es se fundir��o com

os C��us!

E Maria, singela, anunciou:

��� Queridos! At�� ontem, qualquer princ��pio de

vida lhes servia! A partir de agora, contudo, todos

poderemos participar da verdadeira Vida. Esta

142

festa de noivado, preludiando o casamento da

Terra com o Mundo Maior, numa Uni��o Divina, ��

quanto nos basta!

E os convidados para a uni��o celestial, em ouvindo

a seguir a palavra do Senhor, que os conclamava

ao crescimento espiritual, sentiam-se convocados

a servir mais e mais.

Um da casa, ent��o, falou:

��� Oh! Senhor! Por que nos foi servido antes o

falso vinho da vida e s�� agora o Senhor nos serve

a boa doutrina?

Sil��ncio geral.

��� Eu lhes mandei, antes, os profetas e os

reveladores. Eles, no entanto, muitas vezes

adulteraram o vinho celestial, ensinando-lhes

mandamentos que nasciam dos homens. Agora,

contudo, trago-lhes a Boa Nova, colhida na

fonte divina, para que voc��s aprendam a servir

com alegria, mesmo quando j�� deixaram que as

sombras lhes assaltassem o ��nimo!

Maria, em l��grimas, beijou as m��os de seu filho,

Jesus.

��� Oh! Mulher! ��� proclamou o Mestre ��� Deixei-a

apresentar-me ao mundo, porque sei que todos os

homens, quando se sentem abatidos no ��nimo ou

confundidos pela tristeza, buscar��o chorando os

cora����es maternais para s�� ent��o, lembrando a

sua terna figura, Maria, eles se recomponham para

a uni��o celestial.

143

O sol buscava o poente, repintando os c��us de

Can��!

144

22

NA CASA DE SIM��O PEDRO

Maria, m��e de Jesus, contemplou o lago de

Genesar��, encantando-se com a docilidade

daquela imensid��o de ��guas que refletiam o azul

do c��u.

Os arbustos... as ��rvores... a vegeta����o rasteira...

o marulhar das ondas, repletas de mansuetude,

num dia esplendoroso e claro, com nuvens alvas,

num firmamento anilado.

Avan��ou, logo ap��s, na dire����o de Cafarnaum.

E, ao cair da tarde, alcan��ou o lar de Sim��o Pedro,

encontrando-se com Jo��o, o filho de Zebedeu, ��

porta da entrada.

O jovem disc��pulo, beijou-lhe as m��os, carinhoso.

��� Bem-vinda, Senhora! M��e de meu Mestre e

Salvador!

Maria sorriu, maternalmente, pois sentia Jo��o, de

145



h�� muito, qual se ele fosse um outro filho de sua

alma.

��� Onde est�� Jesus? ��� ela indagou.

Mateus adiantou-se, informando:

��� O Senhor saiu, na companhia de Sim��o Pedro,

a fim de prestar socorro �� vi��va Eunice que se

encontra enferma.

��� E... voc��s n��o os acompanharam?!

��� N��o, Senhora! ��� informou Mateus ��� Nosso

Mestre nos deixou aqui, afirmando que, com a

colabora����o de Pedro... tudo seria resolvido,

esclarecendo-nos que, em determinadas

circunst��ncias, �� com o pouco que se faz o muito!

Maria, sob as aten����es de L��dia, acomodou-se

146

perto dos demais disc��pulos de Jesus.

O jovem Jo��o rompeu o sil��ncio.

��� Maria, como voc�� sentiu aquele encontro em

Can��? Pareceu-me que o prop��sito da Uni��o Divina,

ventilado por Jesus, n��o foi bem compreendido

naquela casa!

��� Senti o mesmo que voc��, Jo��o ��� respondeu

Maria.

Tiago, filho de Alfeu, quase num tom de censura,

objetou:

��� Jesus n��o �� muito polido no trato com a cren��a

sustentada pelos fariseus. Os fariseus, no entanto,

s��o muito poderosos e, uma alian��a com eles,

abreviaria a instala����o do Novo Reino.

A controv��rsia instalou-se.

��� A Luz ��� assegurou Tiago, irm��o de Jo��o ��� n��o

pode ter parte com as trevas!

Maria, num gesto de concilia����o, ponderou:

��� N��o se deixem possuir por diverg��ncias, em

raz��o de interpreta����es discordantes em torno da

a����o de meu filho! A disc��rdia gera ressentimento

e com isso, voc��s perder��o tempo e trabalho,

comprometendo a tarefa que lhes �� confiada.

E ap��s o s��bito sil��ncio, ela completou:

��� Se andarmos na Luz, na claridade implantada

pelo Mestre, todos seremos participantes das

mesmas esperan��as. E valer�� lembrar, neste

momento, que Jesus reafirma sempre que Ele

147

n��o faz a sua pr��pria vontade, mas faz, isto sim, a vontade do Pai Celestial.

Breve pausa e Maria aditou:

��� Se n��o nos unirmos, entre n��s mesmos, e nos

subordinarmos �� Boa Nova, como poderemos

aspirar a Uni��o Divina, pretendida por Jesus, a

favor de toda a Humanidade?

O jovem Jo��o, querendo acalmar os ��nimos,

aditou:

��� Se o Mestre faz a vontade do Pai, como nos

iluminarmos e desempenharmos a parte que nos

compete, se estivermos a criar interpreta����es

pessoais?

E, tomando o f��lego, o jovem completou:

��� Quem de n��s sabe a vontade do Pai, a n��o ser

o Mestre?

Maria, confortadora, ponderou:

��� N��o nos escravizemos ao nosso ponto de vista

pessoal, j�� que deveremos empenhar-nos em

assimilar os sagrados princ��pios do Mais Alto, para

termos em n��s a alavanca da caridade.

Maria levantou-se e, adentrando ao quarto da sogra

de Sim��o Pedro, foi colocar-se �� sua cabeceira

e consol��-la de suas dores moment��neas e, ao

enxugar-lhe o suor abundante, refletia: "Quando

o amor h�� de prevalecer sobre todas as opini��es

transit��rias, criando um reino de paz em todos os

cora����es?!"

E suas l��grimas, express��o de amor maternal,

148

desciam-lhe pelas faces acetinadas, como a

preludiar as dificuldades e os grandes embates a

que se entregaria o Mestre, diante da Vontade do

Pai Celestial.

149

23

M��E E FILHO

Estamos pr��ximos de Nazar��.

Espalha-se o casario por entre oliveiras, tendo ao

fundo a fechar-lhe a paisagem, um monte alto que

se confunde com a ab��bada celeste.

Maria, discretamente �� dist��ncia, v�� que um leproso,

esgueirando-se entre a multid��o, aproxima-se de

Jesus.

Este homem, exausto, cai aos p��s do Senhor.

Muitos, dentre aqueles que tamb��m buscavam

o Senhor, afastam-se ligeiramente, como que

tomados de medo e de repulsa do cont��gio

e, tamb��m, da propalada impureza espiritual,

anunciada pelos sacerdotes.

Jesus, chega-se a ele, penetrando com seu olhar

a alma do infeliz.

Os fariseus, ali presentes, quais fiscais a examinar

cada um dos atos do Mestre, encolhem-se

151

temerosos diante do enfermo.

��� Se voc�� quiser ��� clama o leproso, dirigindo-se

s��plice ao Senhor ��� voc�� pode me curar!

��� Estupidez popular! ��� resmunga admirado

um daqueles sacerdotes ��� Como redimir este

pecador da maldi����o divina, j�� que a lepra �� o sinal

da condena����o que Deus lhe imp��e?!

O leproso, prostrado de joelhos diante de Jesus,

insiste:

��� Se voc�� quiser, voc�� me cura!

Maria sentia-se comovida.

Seu cora����o maternal, longe de escandalizar-se

diante da s��plica do leproso, como que envolvia

aquela infeliz criatura, numa onda de profunda

ternura.

Jesus fitou amorosamente a Maria e, compadecido

daquele que se prostrara aos seus p��s, estendeu

a sua m��o direita sobre a cabe��a do leproso e,

tocando-a com o infinito de seu amor, disse-lhe:

��� Eu quero, filho! Por isso ordeno: fique limpo da

lepra!

Os sacerdotes ensaiaram risos de ironia.

Mas, naquele justo instante, e �� vista de todos, o

corpo chagado do leproso come��ou a recompor-se

e os sinais da lepra desapareceram!

��� Estou... limpo! ��� clamava e chorava o ex-

leproso ��� Estou limpo!

O espanto se instalou na multid��o.

152



��� V�� agora ��� disse-lhe Jesus ��� aos sacerdotes

e ofere��a-lhes, pela sua purifica����o, aquilo que

Mois��s prescreveu, a fim de que eles comprovem

e atestem a sua cura.

��� Irei, Senhor! ��� afirmou o homem em l��grimas

comoventes de gratid��o ��� Irei at�� aos sacerdotes!

E o homem, purificado, ergueu-se em transe de

indescrit��vel alegria, mostrando-se a todas as

pessoas, ap��s rasgar as pr��prias roupas:

��� Vejam! O Nazareno me libertou! Estou limpo!

Vejam!

Os sacerdotes, contudo, acercaram-se de Jesus e

153

buscavam repreend��-lo:

��� Ningu��m pode fazer isso, Nazareno! Voc��

��, por certo, um bruxo que arrasta as multid��es,

ap��s seus passos, t��o somente por lan��ar m��o de

sortil��gios! Voc�� confunde as pessoas e nos quer

confundir tamb��m!

��� Do que voc��s me condenam? ��� responde-lhes

o Mestre, num tom humilde e sereno.

��� Voc�� tem parte com os dem��nios! ��� gritou um

deles, gesticulando amea��adoramente ��� S�� os

dem��nios fazem com que o povo se confunda!

Maria estremeceu, sentindo o clima de hostilidade

por parte daqueles sacerdotes que censuravam o

seu Filho.

Jesus, contudo, estava sereno.

Maria notou, quando o vozerio amainou, que os

olhos de seu Filho foram tomados de tristeza.

Algumas l��grimas lhe desciam pelas faces e ela

sentiu o seu cora����o transpassado de dor.

* * * * *

O sol estava se pondo.

A multid��o, diante do adiantado da hora, ap��s j�� ter

ouvido de Jesus a palavra mansa e confortadora,

repleta de esperan��as e reerguida na f��, se

dispersava.

Maria, ent��o, foi ao encontro do Filho.

154

��� Meu filho... voc�� chorou!

Jesus aceitou-lhe o cora����o.

��� M��e ��� respondeu compassivo o Senhor ���

as minhas l��grimas s��o de compaix��o diante

daqueles sacerdotes que deveriam representar

a Miseric��rdia Divina, diante do povo que sofre e

chora!

Maria ouvia em sil��ncio.

��� No entanto, Maria, aqueles que se dizem

embaixadores de nosso Pai Celestial, desconhecem

as maravilhas do amor que redime a todos os erros

humanos e que abre sempre novas portas para a

reden����o!

E, ap��s ligeira pausa, enquanto caminhavam

juntos, Jesus completou:

��� N��o choro por mim, Senhora! Choro, antes, pelos

que sofrem! E minhas l��grimas s��o um lamento

diante da dureza de cora����o dos sacerdotes de

todos os templos. �� que, com o orgulho que os

corr��i, eles alargar��o a noite nos cora����es humanos

e retardar��o o Reino dos C��us, nas almas dos que

padecem.

E Maria, abra��ada a Jesus, chorou tamb��m por

todos n��s!

155

24

NA SINAGOGA

O s��bado amanhecera calmo.

Vindo de Cafarnaum, com alguns poucos de seus

disc��pulos, Jesus penetrou pelas ruas estreitas do

vilarejo de Nazar��, onde havia crescido.

Revia, assim, a fonte onde ia buscar ��gua, a

mando de sua m��e Maria. E, erguendo seus olhos,

deteve-se a examinar a sinagoga que frequentara,

em sua adolesc��ncia, ao lado de seus pais.

Aproximou-se da r��stica edifica����o e entrou.

Seus disc��pulos ficaram pr��ximos da porta.

O pequeno sal��o, destinado ao culto religioso aos

s��bados, estava tomado pelos judeus daquela

agreste regi��o.

E Maria, acompanhando os irm��os de Jesus, entre

os quais estava um deles, chamado Tiago*, ensaiou

(*) N.A. - Sobre os irm��os de Jesus, Marcos no capitulo seis, vers��culo tr��s, refere textualmente a: "Tiago, Jos��, Judas, Sim��o e suas irm��s".

157

erguer-se e ir ter com seu Filho, quando Jesus

surpreendeu um gesto de contrariedade de Tiago

e, num olhar amoroso, dirigido a Maria, o Senhor

rogou-lhe, para conservar-se sentada.

Ela atendeu, embora a sua alma abra��asse a seu

amado Filho.

Ela apascentou-se, em ora����o.

N��o sabia o motivo, mas estava algo angustiada.

��� Vamos �� leitura! ��� anunciou o ministro daquela

casa de ora����es ��� Quem a far��?

Jesus levantou-se para ler.

O ministro, ent��o, ao v��-lo �� sua frente, entregou

ao Nazareno o livro do profeta Isa��as, tendo-o,

antes, aberto ao acaso.

Jesus inspirou, erguendo uma ora����o ao Pai

Celestial, por aquele instante de sua vida e, ante a

expectativa geral, leu a passagem do livro que lhe

fora entregue:

��� "O esp��rito de Deus est�� sobre mim e mandou-

me levar a Boa Nova aos humildes e, tamb��m, a

anunci��-la aos que ca��ram nos abismos do erro,

como a oportunidade de sua liberta����o espiritual,

abandonando a cegueira volunt��ria a que se hajam

confiado".

Jesus, ent��o, devolveu o livro ao ministro da

sinagoga e sentou-se junto aos demais presentes.

Todos o olhavam espantados.

O Senhor, ent��o, disse-lhes:

158



��� Hoje, cumpre-se em mim o que Isa��as anunciou

ao descrever a miss��o do Messias.

Um dos presentes, ressentido, cochichou:

��� Esse mo��o... n��o �� o filho de Jos��, o carpinteiro?

��� Sim, ��! ��� confirmou um outro ��� �� o tal que,

noutras terras, dizem que faz curas espantosas e

que anuncia o Reino de Deus!

��� E... aqueles ali... s��o seus disc��pulos!

��� Como pode cometer a blasf��mia de apresentar-

se como o Messias?!

Um outro, mais atrevido, abalou o cora����o de Maria,

ao gritar e rasgar as pr��prias roupas, num gesto

teatral caracter��stico daqueles judeus, desafiando:

��� Se voc�� fez maravilhas em Cafarnaum, seu

159

embusteiro, por que n��o faz o mesmo nesta sua

cidade e diante de nossos olhos?

��� �� isso mesmo! Fa��a um milagre, Jesus! ��� gritou

um mais idoso.

Jesus, levantando-se, disse-lhes:

��� Digo-lhes que nenhum mission��rio �� bem

acolhido em sua pr��pria terra!

��� Falso! Embusteiro! ��� agrediam por palavras.

Maria chorava em sil��ncio.

��� Lembrem-se... ��� disse-lhes Jesus compassivo,

procurando arranc��-los das sugest��es sombrias do

ci��me ��� lembrem-se de que o profeta Elias estava

desassistido em sua pr��pria terra e, necessitando

de hospedagem, n��o foi convidado por nenhum

dos seus, mas terminou acolhido por uma vi��va

sem religi��o e, em troca de ter sido agasalhado

com amor, socorreu-a quando a mis��ria se instalou

em meio a todos os israelitas!

O ministro da sinagoga, querendo abrandar a

revolta, aditou:

��� Isso que Jesus est�� falando �� uma verdade!

Voc��s a encontrar��o no Livro dos Reis e, realmente,

somente uma pag�� se beneficiou da Miseric��rdia

Divina!

E Jesus, ent��o, ainda refor��ou:

��� Havia leprosos em Israel, no tempo do profeta

Eliseu, mas nenhum deles se viu limpo da lepra,

a n��o ser o s��rio pag��o chamado Naaman, que

acolheu o profeta!

160



A f��ria cresceu na sinagoga.

��� Fora com o embusteiro! ��� estimulou um fan��tico

jovem, ao lado de Tiago, o irm��o de Jesus.

E, ent��o, a maioria se levantou e arrastando Jesus

pelas ruelas de Nazar��, expulsaram-no para fora

da cidade, amea��ando apedrej��-los, a Ele e a seus

disc��pulos.

Os irm��os de Jesus cruzavam os bra��os,

envergonhados.

Maria, contudo, colocou-se ao lado de Jesus e o

acompanhava, cora����o ferido de ang��stia.

��� M��e ��� disse-lhe Jesus, j�� fora de Nazar��

e quando o ulular da multid��o se acalmara ���

compreendamos a estes que n��o nos toleram,

161



porque tamb��m a eles deverei dar-lhes um lugar

em meu cora����o.

��� Voc�� sofre por amar, Filho! ��� respondeu-lhe

Maria, ao envolv��-Lo em sua ternura ��� Talvez...

eles n��o mere��am que voc�� lhes indique o caminho

da salva����o!

O Senhor suspirou enternecido.

��� Para esses, indicar-lhes o caminho do Mais

Alto j�� n��o basta! Deverei, por isso, tang��-los

quais ovelhas intranquilas e, ao tomar-lhes a alma,

diante deles me caber�� inclin��-los �� Boa Nova com

exemplos de amor.

162

Maria o abra��ou maternalmente.

��� Volte, minha m��e, aos outros de seus filhos

carentes, at�� a hora em que possamos unir-nos ao

Pai Celestial.

Despediram-se com troca de carinho.

E Maria, qual serva que atende a seu Senhor,

permaneceu na sa��da de Nazar��, enquanto Jesus,

cercado por alguns de seus disc��pulos, caminhava

na dire����o do sol poente.

�� dist��ncia, Jesus voltou-se e acenou a Maria.

Ela, comprimindo com as m��os o pr��prio peito, O

envolvia nas radia����es sublimes de seu cora����o.

163

25

EM FAM��LIA

Maria, ap��s ver Jesus confundir-se com o horizonte,

voltou ao seu lar em Nazar��.

��� Ah! Maria! ��� explodiu Sim��o, um de seus filhos,

assim que ela adentrou �� casa ��� Voc�� s�� tem

olhos para Jesus... quase nos ignorando!

��� A n��s ��� reclamou Tiago, um outro de seus

filhos ��� voc�� s�� reserva repreens��es, exigindo-

nos disciplina, atrav��s de trabalhos ��speros!

Maria os examinava contristada.

��� A Jesus ��� falou ela ��� olho como serva! Embora

tenha ele sido algu��m que veio de meu ventre, ele

�� meu Senhor e Mestre! Que poderia eu oferecer ��

Fonte da Vida?!

Ligeira pausa e complementou:

��� Se nada tenho para oferecer ��quele que ��

meu educador, com voc��s eu tenho que exercitar

o amor maternal, para faz��-los despertar para a

165



verdadeira Vida.

��� No entanto ��� contraditou Judas, um outro de

seus filhos ��� o seu protegido Jesus foi expulso

da sinagoga de nossa cidade, por blasf��mias

proferidas diante de todos os nossos irm��os de

ra��a!

��� E ser expulso da sinagoga ��� alertou outro deles,

escandalizado ��� �� ser posto fora da comunidade

judaica! Essa �� uma vergonha que a todos n��s

atingir��! E vamos sofrer esc��rnio... pelas loucuras

e fantasias de Jesus! Se, ao menos, ele houvesse

feito alguma cura!

Maria sentia-se, aturdida.

Ela aspirou, repletando-se de resigna����o e,

l��grimas a perolar-lhe os olhos, confessou:

166

��� Jesus �� Luz do Mundo! Se n��s, seus parentes

pelo la��o de sangue, n��o pudermos dar-lhe suporte

em miss��o t��o ampla, quanto espinhosa, que n��o

se esperar daqueles que se elegeram a serem seus

inimigos, t��o somente por terem seus interesses

pessoais contrariados?

Sil��ncio constrangedor.

��� Assim, almas queridas de minha alma, quero

convidar a todos, a que nos entreguemos a uma

ora����o reconfortadora.

E Maria, cora����o aberto para a Espiritualidade

Superior, caindo de joelhos, em meio aos que a

censuravam, murmurou:

��� Pai Celestial! Abra-nos o entendimento para que

saibamos refletir a sua Augusta Vontade. E, se n��o

pudermos ouvi-Lo, no templo de nossos cora����es,

por estarmos temporariamente imersos nas

sombras da apreens��o, aben��oe-nos e perdoe-

nos, agora e sempre!

Cerrando as p��lpebras cansadas, a doce M��e de

Jesus O reviu, no sil��ncio de seu cora����o: "Guarde-

se em paz, Mulher, diante da tempestade, que o

Pai Celestial surgir�� no horizonte de sua vida!"

E Maria, ainda em transe de amor, viu a m��o de

Jesus aben��o��-la.

167

26

MUDAN��A

M��riam chegou nervosa e apreensiva.

Aproximou-se de Maria, a m��e de Jesus, e, meio

constrangida, indagou, esfregando nervosamente

as m��os.

��� �� verdade o que dizem, Maria?

A interpelada a fitou carinhosa.

��� E o que dizem, M��riam?

��� Que... voc�� vai de mudan��a para Cafarnaum!

Eu n��o acredito... mas...

Maria, levando-a ao quarto ��ntimo, f��-la sentar-se

na cama e procurou acalm��-la, envolvendo-a em

seu colo maternal e, a seguir, confirmou:

��� Sim, M��riam! Vou para Cafarnaum.

��� Mas... toda a sua fam��lia est�� aqui em Nazar��! Vai

deix��-los e deixar a mim tamb��m, em desamparo!

169

Maria tomou a m��o de sua amiga.

��� Os meus parentes, daqui de Nazar��, M��riam,

j�� alcan��aram a idade de ganhar experi��ncias

pr��prias neste mundo, sem a minha interfer��ncia!

S��o adultos e devem aprender a cuidar de si, com

liberdade para acertar ou errar.

E, voz embargada, completou:

��� Entre todos, sei que meu Filho Jesus, chamado

a servir a este mundo, est�� pr��ximo de grandes

sofrimentos morais, parecendo-me um anjo que.

vindo dos c��us, n��o tem sequer uma pedra para

repousar a cabe��a.

��� Mas... voc�� me orientava na educa����o de

minhas duas crian��as, Maria! E voc�� sabe que o

mais novo, o Josu��, sofre de ataques e de del��rios!

E M��riam, com l��grimas nos olhos, completou:

��� Vou me sentir ��rf��! ��rf�� de seu cora����o... e

entregue a mim mesma, Maria!

Maria sorriu, confortadora.

��� N��o lhe deixo ��rf��, M��riam, pois temos em Deus

o nosso Pai comum. E, sob a prote����o divina, voc��

encontrar�� os caminhos da maturidade maternal!

��� E... o meu Josu��? ��� insistiu M��riam, como

querendo dissuadir Maria de transferir-se para

Cafarnaum.

��� O seu Josu��, M��riam, antes de tudo �� filho do

Criador. E o Todo Misericordioso, melhor que eu,

h�� de recobri-lo de miseric��rdia.

170



E, para dar mais seguran��a a M��riam, aditou:

��� Pedirei a Jesus que interceda por Josu��, j�� que

o seu outro filho, Jairo, tem boa sa��de e excelentes

qualidades de cora����o.



* * * * *

Algumas semanas, mais tarde, a cidade de

Cafarnaum recebia uma alma sublimada,

engalanando-se espiritualmente com a chegada

de Maria, naquela aldeia de pescadores.

Jo��o, o jovem disc��pulo, veio receb��-la e, exultante,

levou-a primeiramente �� casa de seu pai, Zebedeu.

O velho pescador, assim que viu Maria, entrou em

pranto convulsivo, pleno de felicidade e caiu aos

p��s da M��e de Jesus.

171

��� Bendita seja, Senhora! ��� falou entre solu��os

e l��grimas ��� Jamais se apagar�� de meu cora����o

esta visita dos C��us!

��� Levante-se, Zebedeu! ��� ordenou docemente

Maria, tomando-o pelas m��os ��� Se quisermos

servir com o Senhor, n��o fa��amos calos nos

joelhos! Antes, calejemos nossas m��os nas obras

do Eterno Bem, aceitando que esses s��o os

leg��timos sinais de nossa uni��o com Jesus!

Jo��o, emotivo, estremecia no fundo d'alma.

172

27

DI��LOGO SUBLIME

Ca��ra a noite em Cafarnaum.

Pescadores, na praia, aprestavam seus barcos

para a pesca noturna, no lago de Genesar��,

enquanto que em muitas casinhas singelas as

candeias eram acesas.

Jesus adentrou o lar de Maria.

��� Oh! Filho! ��� abra��ou-O enternecidamente

aquela doce mulher ��� Estava a aguardar a sua

presen��a!

Jo��o, o jovem disc��pulo, tamb��m entrou, beijando

as m��os da m��e de seu Mestre.

Sentaram-se em torno de tosca mesa de madeira.

��� Diga-me, m��e, o que se passa em seu cora����o!

Vejo-a particularmente curiosa e aflita ao mesmo

tempo.

173



Maria suspirou.

��� Este nosso Jo��o ��� come��ou Maria ��� contou-

me que, em certa noite, o sacerdote Nicodemos

lhe buscou para esclarecer-se. E voc�� lhe disse

que, para estar com o Reino de Deus no cora����o,

todos precisam renascer de novo!

Jesus sorriu levemente.

��� Nicodemos, Maria, �� um grande e amoroso

cora����o. Contudo, por ficar escravizado ��s letras

das Leis Divinas, n��o se apercebera ainda que

todos os esp��ritos que o Pai me confiou, neste

mundo, est��o inscritos na Lei da Reencarna����o.

Ligeira pausa e voltou-se a seu disc��pulo, ali atento.

��� Nosso jovem Jo��o, que aqui est��, sabe, tamb��m,

que reencontrei o profeta Elias no monte Tabor. E

sabe que esse mesmo Elias, que viria adiante de

174

mim, para ajustar os cora����es humanos para a

mensagem da Boa Nova, nascera de Isabel, sua

parenta, minha m��e.

��� Jo��o... o precursor! ��� murmurou a m��e de Jesus

e, pensando em voz alta, ponderou ��� Estamos,

ent��o, hoje pagando nossos enganos de ontem!

Jesus a fitou, amoroso.

��� Por muitos s��culos, ainda, minha m��e, a

linguagem humana, t��o pobre de esp��rito, falar��

em pagamento e resgate, quando cogitar dos

fen��menos reencarnat��rios. Um dia, contudo,

despertar�� para o Sol do Amor Divino, entendendo

que o Pai Celestial n��o �� um credor e que, por isso,

nem cobra e nem pede resgates a ningu��m.

Jo��o estava encantado em participar daquele

banquete de luzes, quando Maria indagou:

��� Ent��o, Josu��, o filho de nossa querida M��riam,

n��o tem crises impostas pelo Pai Divino?!

Jesus sorriu, carinhoso.

��� Josu��, o filho de M��riam, nas crises epil��pticas

t��o somente revela que renasceu e trouxe do

passado distante os seus companheiros espirituais

que lhe partilhavam as quedas. E, juntos, crescer��o

para se tornarem livres de suas faltas de educa����o

espiritual.

E, depois de ligeira pausa, complementou Jesus:

��� Eles, no entanto, n��o est��o pagando ao Pai

Celestial as moedas de sofrimento, minha m��e!

Est��o, isto sim, num longo processo de reajuste e

175

de liberta����o, para se desligarem dos cad��veres

de suas vidas pret��ritas.

Maria estava at��nita.

��� Ent��o... n��o h�� cobran��as... n��o h�� iras divinas...

n��o h�� castigos impostos... n��o h�� pagamentos...

n��o h�� o que pagar ao nosso Pai Celestial?!

��� Cada um, minha m��e, cobra-se de si mesmo um

clima mental que o leve a abrir o cora����o para ali

instalar o Reino dos C��us.

��� E M��riam... que tanto sofre?!

Jesus, passando as m��os sobre os cabelos

sedosos de sua m��e, respondeu-lhe:

��� M��riam, como todas as mulheres, foi chamada

por Deus para colaborar na obra divina da

espiritualiza����o, a fim de aprender a executar a Lei

do Amor!

E, ap��s alguns segundos, Jesus ponderou:

��� Veja que M��riam, minha m��e, recebe do filho

Jairo o refor��o de ��nimo, enquanto que o filho

Josu�� lhe busca, no cora����o, a seu pr��prio modo,

a fonte de energias sublimadas para despertar no

campo do Bem!

��� Ent��o... se ela permanecer fiel �� sua miss��o

maternal, ela crescer�� em esp��rito... e ver�� seus

filhos tamb��m crescerem na dire����o do Pai

Celestial!

��� Essa �� a Lei do Amor! ��� confirmou Jesus, mais

uma vez ��� O amor, Maria, �� o manto celestial que

nos recobre as chagas da alma e nos amadurece

176

para que nos transfiguremos em agentes de Deus,

onde quer que estejamos.

Caiu o sil��ncio entre eles, abrindo as portas da

medita����o.

O jovem Jo��o, profundamente tocado pelo di��logo

sublime, s�� sabia abrir a pr��pria alma e elevar-se

ao Pai Celestial, em prece silenciosa, repassada

de l��grimas emotivas.

177

28

REDEN����O

A noite descera em toda a Galil��ia.

Maria, ap��s extasiar-se diante do c��u salpicado

de estrelas, naqueles momentos de serenidade,

buscou o leito para o repouso necess��rio, j�� que

estivera partilhando das prega����es de seu Filho,

Jesus, nas cercanias de Cafarnaum.

Recostou-se ao travesseiro.

E, enquanto elevava seus pensamentos de gratid��o

ao Mais Alto, como que ouvia s��plicas de M��riam,

endere��adas ao seu cora����o.

Relutou, algo apreensiva, mas o sono a venceu.

* * * * *

179

M��riam, aflita, banhava-se em l��grimas, diante

de seu filho Josu�� que estertorava no ch��o, boca

espumando, rilhando os dentes, olhos inquietos.

��� Oh! Deus! ��� chorava M��riam, em Nazar�� ���

Ampare-me, para que saiam desta casa e do

corpo de meu Josu��, os esp��ritos perversos que

perseguem o meu filho!

E, sentindo-se impotente, evocou:

��� Oh! Maria! Onde voc�� estiver, ou��a-me e ajude-

me!

Uma neblina t��nue, subitamente como que

atravessou a madeira da porta daquele lar e, em

se condensando em massa brilhante, esplendia

em fa��scas douradas e prateadas.

E, diante da at��nita M��riam, na neblina forma-se

um cora����o que, em seguida, se transfigura na

M��e de Jesus.

��� Maria! ��� sussurrou M��riam, prostrando-se ao

ch��o ��� Voc�� em meu lar!

Maria, com naturalidade, aproximou-se da amiga.

��� Miriam! ��� rogou-lhe a sublime m��e ��� Sinta-se

ditosa, porque o Pai Celestial, em conhecendo o

tesouro de amor de seu cora����o, confiou-lhe um

de seus filhos, a fim de que voc�� o reerga, sem

desespero, nos quadros da Vida!

180



��� Oh! Maria! Ajude-me, ent��o, a afastar de Josu��

estes esp��ritos que o atormentam e que o fazem

entrar em convuls��o!

A M��e de Jesus, num tom de ternura, assegurou:

��� N��o rejeite os antigos comparsas de Josu��,

porque estamos diante de um quadro de muitas

dores reunidas. E, se Josu�� �� carente de amor,

seus credores de afeto o s��o tamb��m.

��� Que fa��o, Maria?!

��� Jesus recomenda-lhe, M��riam, que voc�� ame

intensamente o seu filho enfermo. Mas recubra, com

o mesmo amor, a todos aqueles que se associam

ao rebento de seu cora����o, nas empreitadas das

Sombras.

181

M��riam j�� se acalmara.

��� Estenda as suas m��os sobre Josu��, M��riam,

lembrando-se de que as b��n����os divinas

derramadas sobre ele, dever��o igualmente

envolver os que coabitam a intimidade de seu filho!

M��riam, subordinando-se ao conselho maternal de

Maria, fechou os olhos e, postando as suas m��os

sobre a cabe��a de Josu��, rogou ao Senhor da

Miseric��rdia, socorro para todos e, aos poucos,

sentiu-se, ent��o, banhada em fluidos sublimes.

Quando abriu os olhos, buscou Maria �� sua volta e

n��o a encontrou mais. Sentiu, contudo, uma onda

envolvente de perfume de rosas e seu corpo todo

estava mergulhado naquela ess��ncia sublime.

��� Bendita seja voc��, Maria!

E Josu��, adormecido e sereno, em seus bra��os

maternais, parecia-lhe uma porta aberta ao Infinito.

* * * * *

Em Cafarnaum, Maria despertou com a doce

sensa����o de que revira M��riam e com ela se

enla��ara, num momento de reden����o de muitas

almas agrilhoadas �� dor.

E voltou seus olhos em agradecimento aos

Benfeitores Celestiais.

182

29

SERVIDORAS DE JESUS

A multid��o veio ao encontro de Jesus, naquela

manh�� de sol ameno, na vila de Tiber��ades. Eram

criaturas ansiosas, sedentas de consola����o e

desejosas de mais not��cias sobre o Reino dos

C��us.

Cercavam-no e pediam amparo e socorro ��s suas

dores.

Maria, M��e de Jesus, ap��s ouvi-Lo e v��-Lo repleto

de aten����es aos mais carentes e desvalidos, tomou

o rumo de uma das ruas da vila pacata.

Entrou em singela casa.

��� Ent��o? ��� indagou Suzana, jovem amor��vel. ���

A multid��o segue o nosso Mestre?

��� E por que n��o, Suzana, se Jesus �� um rastro

de luz e fonte do amor eterno?! ��� prorrompeu

183



Maria Madalena, que se encontrava ��s voltas com

a limpeza da casa, onde albergavam o Senhor.

A m��e de Jesus sorriu, ponderando:

��� Jesus, acima de tudo, �� amor e vida! E, talvez

por tantos cuidados com as coisas do Pai Celestial,

esquece-se de si mesmo, avan��ando no tempo,

curando leprosos, amparando vi��vas, acolhendo

crian��as ao encontro de seu cora����o!

��� N��s temos... que d'Ele cuidar, j�� que Ele se

esquece de si mesmo! ��� aditou Madalena.

Joana de Cuza suspirou.

��� Quem sabe um dia ��� sonhava Joana ��� meu

marido se distancie um tanto mais do pal��cio de

Herodes e, tamb��m, venha a servir comigo ��quele

184

que traz a palavra da Vida Eterna!

A m��e de Jesus, que bem conhecia os sacrif��cios

de Joana, por ela se ter inclinado a servir a seu Filho

Jesus, contrariando o esposo que era procurador

do Rei Herodes, procurou confort��-la:

��� Seu companheiro, Joana, ainda est�� confundido

com os valores deste mundo. Equivocado,

temporariamente, ele disputa as posi����es de

sali��ncia no pal��cio de Herodes e, por isso, talvez

enceguecido pela ambi����o de mando, faz-se

escravo do Rei!

Joana sorriu, contristada.

��� Ele... n��o aceita Jesus! ��� exclamou Joana. ���

Chega at�� a tem��-Lo e, por vezes, me censura

asperamente, dizendo que eu comprometo o seu

bom nome como procurador do Rei Herodes,

dentro do pal��cio!

A m��e de Jesus procurou confort��-la:

��� Sejamos pacientes, Joana! �� dif��cil, a quem

serve a Herodes, aceitar de servir algu��m que

nasceu numa estrebaria e que teve por primeiro

leito uma manjedoura. Sei, no entanto, que o seu

esposo, em algum momento de sua agitada vida,

tamb��m se aliar�� a n��s, colocando-se a servi��o da

Boa Nova!

��� Tenho, tamb��m contra mim, meu pequeno filho,

Maria!

185

Maria Madalena, humilde, ponderou:

��� Veja-me, Joana! Levei uma exist��ncia

conden��vel, entregue ��s paix��es avassaladoras,

por encontrar-me em batalha contra as sombras

que me assaltavam os sentimentos! E, quando

tudo me parecia ser apenas descida para as trevas,

eis que o Senhor me resgatou dos torvelinhos das

paix��es!

Joana baixou os olhos ��midos de l��grimas.

��� nimo, Joana! ��� confortou-a Madalena. ��� Se

estamos a servi��o do Mestre, n��o esque��amos

que, no tempo justo, a m��o do Senhor retirar��

seu esposo do vale dos valores passageiros deste

mundo!

Suzana colocou a m��o sobre os ombros de Joana,

querendo retemperar-lhe o esp��rito:

��� Vamos, Joana! Sorria, com a paz em seu

cora����o! O pr��prio Jesus nos tem repetido, quase

todos os dias, que cada cora����o tem o seu pr��prio

dia para abrir-se ao sol de uma nova aurora!

A m��e de Jesus ponderou:

��� N��o h�� noite espiritual que se eternize nos

cora����es, Joana! Podemos, todos n��s, sentir-nos

ditosos por estarmos servindo antecipadamente

a Jesus! E devemos, por isso, suportar as

contrariedades de nossa escolha e alimentar-nos

da certeza de que cada cora����o vir��, a seu tempo

186

justo, unir-se ao cora����o benevolente do Filho do Pai Alt��ssimo!

Madalena, tocada de amor, complementou:

��� N��o se esque��a, Joana, que a nossa Maria,

m��e de nosso Mestre, tem, em outros parentes

dela, que ela acolhe como filhos de seu cora����o,

espinhos envenenados por ci��mes.

Maria sorriu, suspirando.

��� Filhas, mesmo entre l��grimas, prossigamos

servindo, para que o Reino dos C��us se instale em

nossas almas, j�� que a Boa Nova �� a mensagem

definitiva em nossas vidas e Jesus �� o nosso

Sublime Pastor, descido do Mais Alto, para chamar-

nos ao sacerd��cio da ternura.

E aquelas mulheres, e muitas outras, eram

servidoras do Senhor!

187

30

MINHA M��E

Eram as primeiras horas do dia.

As ruas de Cafarnaum, de s��bito, foram tomadas

por uma multid��o de criaturas vindas de todas as

partes da Galil��ia, com olhos reluzindo e plenos de

esperan��as.

Tomavam o rumo do grande galp��o que Josu��, o

comerciante, cedera gratuitamente aos disc��pulos

de Jesus, para que ali o Mestre distribu��sse as

palavras da Vida Eterna.

O Senhor chegou com seus disc��pulos.

Abriram-lhe passagem e, entre os que ali se

postavam esperan��osos, muitos lhe tocavam na

t��nica, enquanto outros lhe endere��avam pedidos

de amparo e consola����o.

Sim��o Pedro e os demais disc��pulos do Mestre

189

desdobravam-se em ordenar a aglomera����o,

cuidando para que todos fossem ouvidos e

amparados, como desejava o Senhor.

Jesus colocou-se no centro do galp��o.

E, quando o Mestre ergueu os olhos, na dire����o

do Mais Alto, suplicando ao Pai Celestial a favor

de todos, estabeleceu-se um grande e sereno

sil��ncio, entrecortado por alguns solu��os dos que

sentiam fome de esperan��a.

* * * * *

Na casa de Maria chegaram os parentes de Jesus,

irm��os e irm��s, vindos de Nazar��.

A Senhora admirou-se.

��� Quem buscam aqui em Cafarnaum? ��� ela

indagou, algo apreensiva ao v��-los de fisionomias

sombrias. ��� Visitam-me?

��� N��o, Maria! ��� respondeu quase agressivo

Tiago, um de seus filhos. ��� Estamos em busca de

seu filho, Jesus!

Judas, outro dos seus filhos, completou:

��� Sabemos, pelo que ouvimos em Nazar�� e pelo

que se diz em Jerusal��m e por toda parte, que seu

filho, Jesus, est�� louco!

190



��� Queremos prend��-lo! ��� aditou uma das irm��s.

��� Queremos prend��-lo, para que n��o sejamos

mais molestados pelos sacerdotes do Templo, t��o

s�� por um louco pregar contra as coisas de nossa

ra��a!

Maria estremeceu, temerosa.

��� Jesus �� a express��o do amor divino, queridos!

��� contrap��s Maria. ��� E Jesus, por onde vai e onde

est��, �� toda a ��ltima esperan��a dos desvalidos da

sorte e de muitos dos doentes!

��� Isso �� o que voc�� pensa, Maria! Seu cora����o

est�� perturbado, t��o s�� porque Jesus �� seguido

por pessoas cr��dulas e tolas, que o tomam por um

profeta!

��� Se voc�� ama a seu filho ��� exclamou outro

191

deles ��� venha conosco, antes que os agentes

do Sin��drio lhe botem as m��os, fazendo descer a

desgra��a em todas as nossas casas!

A Senhora sentiu o cora����o aos saltos.

Sabia estar diante dos filhos que rejeitavam Jesus

como o Cristo e n��o lhe entendiam a miss��o

redentora e que, por isso, se faziam porta-vozes

das Sombras Espirituais.

Ela, ent��o, cerrou as p��lpebras, orando em sil��ncio

e, no fundo de sua alma, ouviu a voz do Senhor

que lhe repetia:

"Maria, amemos aos que se confundem, tornando-

se inimigos da Luz. �� indispens��vel que se fa��a o

Bem aos que nos querem Mal. Bendigamos, pois,

aos que nos maldizem e oremos por todos os que

nos perseguem e caluniam."

A Senhora rendeu-se de joelhos, diante de seus

espantados filhos e, ainda no sil��ncio de seu

cora����o, prosseguiu ouvindo Jesus:

"Se s�� amarmos os que nos amam, Maria, que

valor ter�� esse amor ego��stico? E se fizermos o

Bem s�� aos que nos fazem o Bem, onde estar�� a

nossa virtude?"

E Maria, erguendo-se diante de sua parentela, em

voz mansa e doce, assegurou:

��� Irei, com voc��s, at�� onde est�� Jesus!

192

* * * * *

Maria e seus parentes chegaram ao galp��o de

Josu��, parando do lado de fora, diante da multid��o

que tomava todos os espa��os.

��� Chamem Jesus! ��� ordenou um dos familiares

de Maria. ��� E digam-Lhe que aqui fora est�� a m��e

dele e seus irm��os, e que viemos busc��-Lo!

Houve um burburinho.

O pedido, passado de boca em boca, chegou

at�� Jesus, que se encontrava no centro daquela

multid��o.

��� Sua m��e e seus irm��os O procuram, Senhor!

Jesus, sereno, derramou o seu compassivo olhar

aos que O cercavam naquela hora e, erguendo a

voz, indagou:

��� Quem �� minha m��e e quem s��o meus irm��os?

Sim��o Pedro estremeceu.

Jo��o, pr��ximo de Jesus, fitou enternecido a Maria.

E Jesus, repassando o seu olhar sobre todos os

que ali se acotovelavam, assegurou:

��� Eis que em voc��s tenho a minha m��e e os meus

irm��os! Saibam que somente aqueles que fazem a

vontade de Deus, ter��o comigo parte, porque esse

�� meu irm��o, minha irm�� e minha m��e!

E, ap��s ligeira pausa, completou:

193

��� Os la��os de sangue criam a parentela do corpo.

Mas, esses la��os ser��o bem fr��geis se, ao mesmo

tempo, n��o criarem a fam��lia espiritual.

E, ap��s ligeira pausa, prosseguiu:

��� O ter nascido, no mesmo lar, n��o nos faz irm��os

em esp��rito! E, na verdade, somente os la��os

do amor nos unem, formando a parentela pela

afinidade da alma!

Voltando-se para Maria, que se destacava na

multid��o, faces banhadas em l��grimas, asseverou:

��� Voc��, Maria, �� meu anjo tutelar!

Uma mulher, no meio do povo, profundamente

tocada no cora����o, levantou-se e, em tom decisivo

e forte, disse a Jesus:

��� Bem-aventurado �� o ventre que lhe carregou,

Senhor! E bem-aventurados s��o os seios que lhe

amamentaram!

Jesus, contudo, apercebendo-se do veneno que se

cont��m no elogio pessoal, que poderia transformar-

se em perigoso corrosivo nas obras santificadas,

respondeu firme:

��� Digamos, isto sim, que bem-aventurados s��o

os que ouvem a palavra de Deus e a colocam em

pr��tica, no dia a dia, j�� que somente assim haver��

o dom divino, na humildade de seus cora����es.

Os parentes de Jesus se retiraram, amuados.

194



Maria quis cham��-los de retorno, quando a m��o

do jovem Jo��o, disc��pulo bem amado do Mestre,

repousou sobre o ombro esquerdo da Senhora,

como a acalentar-lhe o cora����o.

��� Voltemos para a sua casa, Senhora!

E Maria, jubilosa e em sil��ncio, deixou-se conduzir

por Jo��o.

Ap��s alguns passos, humilde e branda, assegurou:

��� Tamb��m estes, que hoje queriam sufocar o

Senhor, um dia vir��o a ter momentos de Luz, sob

as b��n����os do Pai Celestial e, como Jesus, ser��o

filhos de meu cora����o!

195

31

PRIS��O DE JESUS

�� madrugada em Jerusal��m.

Jo��o, o jovem disc��pulo de Jesus, esgueirava-se

pelas ruas da cidade, buscando confundir-se com

as sombras, evitando pessoas e, principalmente,

os guardas do Templo.

Alcan��ou o arrabalde e, ap��s observar que estava

s��, bateu de leve na porta da casa de Maria de

Marcos e, quase em seguida, foi acolhido.

��� Que surpresa �� esta, Jo��o?! ��� indagou Maria

de Marcos ��� Aconteceu alguma coisa?

Jo��o baixou a cabe��a, indagando:

��� A... m��e de Jesus est��?

��� Sim, Jo��o! Est��vamos orando na sala dos

fundos, j�� que ela se sentia apreensiva... sem

saber por qu��!

197

��� Vamos at�� ela! ��� suplicou Jo��o.

E, juntos, adentraram ao compartimento onde a

m��e de Jesus, com a m��o direita sobre o pr��prio

peito, parecia recolher sinais de seu cora����o.

Ela ficou p��lida, diante de Jo��o.

��� A senhora sabe... ��� balbuciou Jo��o. ��� Ao v��-

la... sei que a Senhora j�� sabe! Venho, pois, dizer-

lhe que seu filho Jesus, meu Mestre, foi preso no

Jardim de Gets��mani, pelos guardas do Templo!

Maria sufocou doloroso solu��o.

��� Perdoe-me, Senhora, por eu ser o portador de

t��o dolorosa not��cia ��� rogou Jo��o, pondo-se aos

p��s de Maria.

��� Voc�� estava l��, Jo��o? ��� indagou Maria de

Marcos. ��� E conseguiu escapar da guarda?!

Jo��o suspirou, humilde.

��� Ocorre, minha amiga, que assim que foi

manietado pelos guardas, Jesus lhes disse que

era a Ele que buscavam, que deixassem ir os seus

disc��pulos!

Ligeira pausa e complementou:

��� O pr��prio Mestre, tendo autoridade sobre n��s, os

seus disc��pulos, e parecendo ter autoridade sobre

os pr��prios guardas, nos despediu, afirmando que

a profecia anunciava que nenhum de n��s, os seus

disc��pulos, se perderiam!

198

A m��e de Jesus suspirou:

��� Isso �� bem d'Ele, Jo��o! O dom��nio das situa����es

e o conhecimento dos cora����es de todas as

pessoas... e subordina����o �� vontade do Pai

Celestial.

Maria de Marcos procurou consol��-la:

��� Quem sabe, Maria, desfeito o equ��voco, j�� que

Jesus n��o �� nenhum delinquente, soltem o nosso

amado Nazareno!

Jo��o sacudiu negativamente a cabe��a.

��� Pouco tempo antes, Maria ��� esclareceu Jo��o ���

Jesus nos havia dito que a hora de seu sacrif��cio era

chegada e que cada um de n��s, seus servidores,

deveria deix��-Lo... ser��amos dispersados... e cada

um deveria voltar-se para a sua casa interior, j�� que

Ele n��o estava s��, porque o Pai Celestial estava

com Ele!

Jo��o chorava sobre o colo da M��e de Jesus e ela,

num gesto de excelso amor e submiss��o, acariciou

os cabelos dele.

��� Acalme-se, Jo��o! Sei que, a partir deste

instante, meu cora����o estar�� chorando por Jesus!

Contudo, sei que Ele quer de mim, demonstra����es

do leg��timo amor maternal, sem que eu me interne

na desespera����o desequilibrante.

��� E ... n��o poderia ser eu... ou um outro dos

seguidores, a ser preso?! ��� protestou Jo��o, num

199



arroubo.

��� E por que, Jo��o? ��� interrompeu a M��e de

Jesus. ��� Porventura, uma outra m��e n��o sofreria

tamb��m?

��� Ele... foi aprisionado, sem ter culpa! ��� exclamou

Maria de Marcos. ��� Que fez Ele, a n��o ser oferecer

amparo e consolo aos aflitos e a indicar-nos, a

todos, o caminho que nos eleva espiritualmente?

��� E j�� que n��o cometeu crime algum ��� ponderou

a M��e de Jesus. ��� �� um inocente que se oferece,

como ovelha mansa e pac��fica, ao altar do sacrif��cio,

200

sem ter do que se condenar!

A M��e de Jesus levantou-se.

��� Traga-me todas as not��cias, Jo��o! Aqui ficarei...

orando!

��� Orarei, tamb��m, por Jesus! ��� ofereceu-se

Maria de Marcos.

A M��e de Jesus fitou-a, enternecida.

��� N��o, minha amiga! ��� assegurou a m��e de

Jesus. ��� Oremos, antes, pelos algozes de meu

Filho, j�� que eles est��o de cora����o mergulhado

nas Sombras e s��o mais necessitados de nossas

preces, enquanto que Jesus se glorifica em sua

miss��o consoladora!

Jo��o, levantando-se, beijou as m��os da m��e

de Jesus e, olhando triste a Maria de Marcos,

assegurou:

��� Permane��am aqui! Vou trazer-lhes not��cias

sobre a dor que nos aflige!

201

32





O J U L G A M E N T O


Jo��o, o disc��pulo muito amado, acompanhado de

Maria de Marcos, traz a m��e de Jesus para junto

da multid��o.

��� Voc�� sofrer�� ainda mais! ��� advertiu-a Jo��o,

querendo poup��-la de outras l��grimas. ��� Estamos

diante de pessoas que s�� t��m olhos para os seus

pr��prios interesses pessoais!

A m��e de Jesus olhou �� sua volta.

��� Onde est��o os que se beneficiaram com o

amparo que lhes ofereceu meu Filho?! S�� muito de

longe vejo alguns, calados, a assistir ao julgamento

injusto!

A multid��o, intranquila e inconsequente, ululava.

Pilatos fez trazer Jesus, diante do povo agitado

pelos sacerdotes do Templo e, ao mesmo tempo,

203

mandou trazerem o preso chamado Barrab��s.

Maria espantou-se, ao ver Barrab��s.

Sentiu, contudo, �� dist��ncia, o olhar sereno de

Jesus a penetrar-lhe o fundo d'alma, balsamizando-

Ihe a dor naquele momento decisivo.

V�� que seu Filho est�� maltratado!

Pilatos, p��lido e temente, recordando-se que a

sua mulher o advertira de que ele nada tinha a ver

com aquele Justo, mas que sofrera muito, em suas

vis��es, por causa de Jesus, ergueu a voz, tr��mula,

nervosa:

��� Neste dia solene, como Governador que sou,

liberto para voc��s o encarcerado que voc��s

queiram!

E Pilatos mandou vir Barrab��s.

��� Eis um dos presos! ��� apontou Pilatos. ��� �� um

perigoso desordeiro!

Mandou, ent��o, Pilatos que se colocasse Barrab��s,

lado a lado com Jesus.

Maria estremeceu.

Vendo aquele homem, lembrou-se de que, um dia,

Barrab��s fora conduzido a seu lar pelas m��os de

Jesus.

Barrab��s, por sua vez, reconheceu Jesus.

Baixou a cabe��a, comovido, j�� que em toda a sua

204

exist��ncia tumultuada, guardava em seu cora����o

a lembran��a do jovem de Nazar��, que lhe dera

abrigo.

Pilatos, naquele momento, solenemente perguntou

ao povo:

��� A quem voc��s querem que eu solte: a Barrab��s,

um malfeitor conhecido, ou a Jesus, chamado o

Cristo?

Houve, ent��o, um segundo de sil��ncio.

Os sacerdotes, diante da hesita����o, passaram a

envenenar a multid��o assegurando-lhes que Jesus

seria a perdi����o de Israel.

Bastou isso e a multid��o desajustada, bradou:

��� Solte Barrab��s! Solte Barrab��s!

Pilatos empalideceu ainda mais.

Maria, agoniada, a tudo acompanhava em

sil��ncio... um sil��ncio banhado de l��grimas e de

dores maternais!

E libertaram Barrab��s...

O famoso preso, de pronto, atravessou entre a

multid��o, aplaudido pela leviandade de muitos que

ali se postavam e, acercando-se de Maria, toma-

lhe as m��os e as beija:

��� Perdoe-me, Senhora!

205



Barrab��s retirou-se, por entre os que o aplaudiam,

lembrando-se de que o jovem Nazareno um dia lhe

dissera que seriam submetidos ao julgamento do

povo e o pr��prio povo escolheria entre as sombras

e as luzes.

A multid��o voltou-se, outra vez, �� cena do

julgamento.

��� Que farei de Jesus, que se chama Cristo? ���

indagou Pilatos �� multid��o intranquila. ��� Que farei

com este, em quem n��o encontrei erro algum?!

��� Que seja crucificado! ��� foi o grito un��nime,

comandado pelos sacerdotes. ��� Que seja

crucificado!

206

Pilatos, suando frio, ainda perguntou:

��� Mas... que mal fez este Jesus?!

A multid��o, por��m, gritava ainda mais:

��� Que seja crucificado!

Pilatos, assaltado pelos seus pr��prios

temores, receando as tramas palacianas e o

poder de influ��ncia dos judeus junto a C��sar,

despreocupando-se de seus deveres e de sua

pr��pria responsabilidade de Governador, entregou

Jesus para ser crucificado.

Jo��o, o disc��pulo, lendo nos olhos de seu Mestre

a mensagem de prud��ncia, tomou Maria em seus

bra��os, afastando-a da multid��o enlouquecida.

207

33

A C A M I N H O D O C A L V �� R I O

Jesus atravessou as cercanias de Jerusal��m, na

dire����o do Calv��rio.

Ap��s Ele, vinham Madalena, Joana de Cuza,

Suzana e outras mulheres em l��grimas silenciosas,

ladeando Maria de Nazar��.

Jo��o, o ap��stolo, apoiava a m��e de Jesus que,

em solu��os contidos, se mantinha em estado de

profunda ora����o, erguendo seus olhos marejados

ao Infinito.

Um outro grupo de mulheres, destacando-se da

multid��o atribulada e enlouquecida, traziam seus

filhinhos e os mostravam ao Mestre, caindo em

prantos e lamenta����es.

O Senhor, cabe��a coroada por espinhos, derramou

seu sereno olhar a todas as que choravam e se

lamentavam, dizendo-lhes:

209



��� Filhas de Jerusal��m! N��o chorem por mim, que

fa��o a vontade de meu Pai, trazendo-lhes novas

luzes para este mundo. Antes, chorem por voc��s

mesmas e por seus filhos, ante o porvir de dores

redentoras!

E, ap��s uma pausa, o Senhor olhando a Jo��o e ��s

mulheres que o seguiam, disse-lhes:

��� Se com o lenho verde, os homens fazem o que

est��o fazendo, o que n��o far��o esses mesmos

homens com o lenho seco da videira da Vida?

Suzana estremeceu no fundo d'alma.

E, pr��xima da M��e de Jesus, indagou:

210

��� Maria... que fala nosso Mestre e Senhor?

A Senhora, cora����o trespassado de dor, voltou-se

�� sua companheira de tarefas redentoras, junto de

Jesus, dizendo-lhe:

��� Suzana, voc�� sabe que todas n��s que servimos

a Jesus, sabemos que Ele �� a videira eterna e que

nos trouxe a seiva divina do amor. No entanto,

em retribui����o ao seu amor, o mundo oferece-lhe

apenas a cruz do sacrif��cio.

Suzana, muito sens��vel, solu��ou.

��� Vendo-nos ��� prosseguiu a m��e de Jesus ���

como galhos secos na ��rvore da Vida, Ele nos alerta

de que necessitamos de repara����es e corrigendas,

para ajustar-nos ao caminho do Amor.

Jo��o, atento, adicionou, ap��s a pausa de Maria:

��� Irm��s, tamb��m teremos as nossas cruzes!

Deveremos prosseguir servindo ao mundo, sem

exigir que nos aceitem e nos compreendam!

Maria, sofrida, mas resignada, destacou:

��� Carregaremos, como faz meu Filho, as nossas

cruzes! Ele, contudo, carrega a d'Ele, para dar-nos

seu exemplo imorredouro. E n��s carregaremos as

nossas, buscando a nossa pr��pria reden����o.

Madalena, olhos injetados pelo pranto discreto e

contido �� custa de muito esfor��o, ponderou:

��� Somos convocadas aos processos de educa����o

211



de nossos sentimentos, Suzana!

E a m��e de Jesus fez um sinal afirmativo,

detalhando:

��� N��o temamos o amanh��, queridas amigas de

meu cora����o. Sei que todas estaremos sob o

resguardo da Lei do Amor, que nos convoca, com

sabedoria e compaix��o, ao nosso crescimento

espiritual.

Joana de Cuza aditou:

��� Toda m��e far�� o caminho de seu pr��prio Calv��rio,

oferecendo-se em testemunho e sacrif��cio aos

filhos extraviados dos caminhos do mundo!

Maria baixou os olhos, ferida no fundo de seu

cora����o, ao ver os soldados crucificarem seu Filho

e levantarem a cruz contra o azul do C��u.

212

��� Entre... a Terra e os C��us! ��� exclamou Jo��o,

num solu��o de compaix��o ��� expulsam-nO da

Terra, mas o Pai Celestial h�� de devolv��-lo a n��s,

que temos sede e fome de seu amor divino!

Maria contemplou Jesus, entre a cortina de suas

l��grimas de amor e resigna����o.

213

34

R E S I G N A �� �� O M A T E R N A L

No Calv��rio, aos p��s da cruz em que Jesus como

que abria os bra��os na dire����o dos C��us, Maria

apercebeu-se que, com seus olhos plenos de

compaix��o, Jesus olhou a seus algozes e clamou:

��� Pai, perdoa-lhes, porque estes que aqui est��o

n��o sabem o que fazem a si pr��prios, nesta hora!

Se soubessem das consequ��ncias de seus atos,

sei que n��o fariam o que fazem!

Maria, neste instante, ouviu gemidos de dor.

Olhou �� sua volta, vendo aproximar-se dos p��s da

Cruz de seu Filho, um jovem de olhos esbugalhados,

desvairado em si mesmo.

O jovem fitou Maria.

Ap��s, num impulso s��bito, o estranho visitante,

entre grunhidos e solu��os, atirou-se aos p��s da

215



cruz, abra��ando-se ao madeiro seco.

��� Salve-me, Senhor! ��� bradava, espumando pela

boca.

E, caindo ao ch��o, em crise epil��ptica, estertorava

e lacrimejava, dizendo:

��� Voc��, Divino Crucificado... era minha ��ltima

esperan��a!

Maria, incontinenti, avan��ou na dire����o do jovem e,

tendo Jo��o a seu lado, recolheu a cabe��a do infeliz

em seu colo, num gesto de infinito amor maternal.

��� Ajude-me! ��� clamava o jovem maltrapilho, sujo

e angustiado. ��� Retire-me das Sombras Espirituais

que me enlouquecem!

216

E, de uma das m��os cravejadas de Jesus,

desprenderam-se duas gotas de sangue que ca��ram

sobre a fronte do lun��tico, que se encontrava nos

bra��os de Maria.

��� Oh! Senhora! ��� chorou o jovem, no colo de

Maria. ��� Seu augusto Filho se apiedou de mim!

E, Maria comovida, sentiu que o lun��tico se

recompunha e se erguia, liberto das trevas

dolorosas em que estivera mergulhado.

��� Filho! ��� disse Maria ao jovem que se punha

em p��. ��� S�� posso repetir-lhe, nesta hora, o que

Jesus sempre nos dizia, ap��s nos trazer �� Luz de

um novo estado d'alma: "V�� e n��o erres mais!"

Jo��o estava comovido.

O ex-lun��tico, olhando a Jesus, na cruz, voltou-se

a Maria, grato e temente:

��� Acaba... aqui, o Cristo?!

Maria, segura, esclareceu-o:

��� N��o, meu caro! Aqui, neste Calv��rio, somos

herdeiros de Jesus... e em nome do Bem,

deveremos soerguer-nos com a legenda do amor

em nossos atos, a beneficio da obra que meu Filho

instalou na Terra e no cora����o de todos os homens

de boa vontade e de ��nimo inquebrant��vel!

Os verde-azuis olhos de Maria recobriram-se de

l��grimas de resigna����o e de profundo amor.

217

35

AO P�� DA CRUZ

Os soldados sentaram-se, n��o muito distantes da

Cruz em que Jesus se encontrava agonizante, e

montaram guarda.

Maria tinha o cora����o assaltado pela dor pungente.

A seu lado as outras mulheres e, tamb��m, Jo��o

que lhe fazia companhia, relembrando os seus

amigos de discipulado que haviam desertado

covardemente e, tendo pr��ximo de si o ex-lun��tico.

Um grupo de homens debochados aproximou-se

da cruz, dizendo:

��� Ei... voc��! ��� gritou um deles, impiedoso. ��� Se

voc�� destr��i o Templo e torna a levant��-lo em tr��s

dias, salve agora a voc�� mesmo! ��� terminou em

impiedosa gargalhada.

O companheiro, frio e mordaz, inteirou:

219

��� Se voc�� �� realmente o Filho de Deus, des��a

dessa cruz e saia andando entre n��s.

Aquelas ofensas torturavam o cora����o de Maria.

��� N��o se importe, Senhora, ��� diz-lhe o ex-lun��tico

��� esses, que gritam blasf��mias a seu Filho, s��o

mais loucos do que eu era!

E, mal terminou de anunciar tal pensamento, eis

que um grupo de sacerdotes se aproximou da Cruz.

��� Voc�� diz que salvou os outros! ��� gritou ir��nico o

sacerdote. ��� Ent��o, salve-se a si mesmo.

Um outro deles, trovejou:

��� Se voc�� �� o Rei de Israel, des��a dessa cruz

e acreditaremos em voc��! ��� terminou, em

gargalhadas.

E um novo insulto saiu pelos ares:

��� Se voc�� confiou em Deus, onde est�� Ele que

n��o O liberta agora, Nazareno? Ou ser�� que o seu

Deus n��o lhe quer bem?

Maria tapava os ouvidos com as m��os e, mesmo

assim, cada blasf��mia proferida, diante de seu Filho

agonizante, lancetava-lhe o cora����o maternal.

��� Loucos! Loucos ��� saiu gritando o ex-lun��tico,

avan��ando contra os sarc��sticos sacerdotes. ���

N��o sabem, acaso, que ferem esta m��e que me

amparou?

Jo��o o conteve.

220

Maria, receando pela vida do jovem que tinha sido curado com as gotas de sangue de seu Filho,

procurou tranquiliz��-lo:

��� Os insultos atirados contra meu Filho, n��o me

ferem ��� falou ao ex-lun��tico. ��� Acalme-se e

aprenda, desde j��, a suportar as investidas das

Sombras que querem o nosso desequil��brio!

��� Mas... Senhora!

��� Rogo-lhe, meu jovem, que busque compreender

que devemos perdoar os que nos ofendem e

devemos orar em favor dos que n��o nos querem

bem! Al��m disso, esses que hoje blasfemam contra

o Pr��ncipe da Paz, amanh�� se render��o ��s luzes

do amor, tal qual lhe ocorreu aos p��s da Cruz!

Sobreveio grande calmaria.

Maria e Jo��o, seguidos das outras servidoras do

Mestre, que ali permaneciam fi��is e destemerosas,

acercaram-se mais ainda aos p��s da Cruz.

Jesus, ao ver a sua m��e, e perto dela Jo��o, o

disc��pulo a quem Ele amava, disse:

��� M��e, eis a�� seu filho!

E, voltando Jesus seus olhos para Jo��o, declara-

lhe:

��� Jo��o, eis a�� a sua m��e!

Jesus inspirou profundamente e, olhando na

dire����o do Mais Alto, balbuciou:

221



��� Pai... em suas m��os me entrego!

Maria solu��ou, agoniada, chorando nos bra��os

de Jo��o que passava, a partir daquele instante

doloroso, a ser o filho de seu cora����o.

222

36

I N Q U I E T A �� �� O

Maria buscou o repouso da noite.

Algo inquieta, relembrava os ensinamentos de

Jesus, onde a brandura, a fraternidade, a humildade

eram o tempero da caridade leg��tima, fermentos

espirituais do crescimento da alma.

Suspirou dolorosamente.

Os disc��pulos de seu Filho, ap��s o ressurgimento

do Senhor, deixando o t��mulo vazio, j�� se haviam

espalhados pelo mundo, mas deles recebia not��cias

de lutas intensas, de conflitos dolorosos, de crises!

��� Oh! Filho! ��� remo��a em seus pensamentos,

temperados de algumas desilus��es. ��� Mal voc��

cerrou os olhos a este mundo, e vejo, neste meu

abrigo, a minha parentela se digladiar... cada um

buscando mais sali��ncia que os demais!

223

L��grimas desciam-lhe pelas faces.

��� Onde teremos deixado o amor, uns pelos outros,

que Voc�� tanto nos ensinou?! Quem, entre estes

de meu sangue, aceitariam cingir-se com a toalha

do servidor e lavar os p��s uns dos outros?!

E Maria adormeceu solu��ando.

* * * * *

O sol do novo dia destacou-se no nascente, com

raios p��lidos e reconfortantes.

A irm�� de Maria adentrou-lhe o dormit��rio.

��� Maria, voc�� tem uma visita!

Maria, sentando-se ao leito, recomp��s-se e, embora

com as marcas de inquieta����o de sua fisionomia,

colocou-se em p��.

Na sala, defrontou-se com Jo��o.

O ap��stolo, muito amado por Jesus, envolveu-a

num quente abra��o fraternal, chorando ambos, um

no ombro do outro, a trocar doces recorda����es.

Sentaram-se, lado a lado.

��� Vejo-a p��lida, minha Senhora! ��� confidenciou

Jo��o, a baixa voz. ��� Alguma coisa lhe traz inquieta

e apreensiva!

E Maria, para n��o fermentar o clima de desconforto

224

de sua parentela, tomou a m��o de Jo��o e, juntos, sa��ram pela ruas, em passeio silencioso.

��� Voc�� voltou, filho de meu cora����o! ��� explodiu

Maria, sem conter suas l��grimas de saudade.

��� Vim busc��-la! ��� afirmou Jo��o.

��� Buscar-me?!

Jo��o, parando diante do cen��rio singelo da regi��o,

fitou-a t��o profundamente que Maria se sentiu

examinada por dentro de sua intimidade e, assim

baixou a cabe��a, num gesto de humilde ternura.

��� Avalio, Senhora, seu sofrimento, junto de sua

parentela! Querem guardar-lhe para eles, qual se

voc�� lhes representasse a seguran��a de uma nova

aristocracia espiritual que pretendem erguer, em

raz��o de voc�� ter sido a m��e de Nosso Senhor!

A doce m��e de Jesus estremeceu.

��� Tenho sobrevivido de lembran��as, Jo��o. ��� ela

confessou e complementou. ��� De lembran��as de

Jesus e de profundas inquieta����es pelo rumo dos

acontecimentos que envolvem a heran��a da Boa

Nova.

��� Vim lhe buscar, Maria! ��� reafirmou Jo��o.

Ela estremeceu, reacordando esperan��as em alma

sens��vel.

��� Em ��feso, Maria ��� esclareceu Jo��o ��� temos

uma singela casinha, onde voc�� poder�� sentir a

225

paz da consci��ncia, na realiza����o de seus deveres de fidelidade �� Boa Nova!

* * * * *

Semanas depois, Jo��o conduzindo Maria de

Nazar��, na posi����o de um filho que ampara a

pr��pria m��e, chegaram a um cabo formado de

rochas elevadas.

Estavam em ��feso!

No alto, casinha modesta.

Abaixo, o mar a lavar, com suas ondas, a praia e as

pedras, num som harmonioso e envolvente.

Subiram as escarpas.

E Maria, parando �� porta da singela vivenda,

repletou-se de natural alegria, como se estivesse

reencontrado a raz��o de viver!

��� Eis seu novo lar, Senhora! ��� disse-lhe Jo��o.

��� E, aqui, voc�� ter�� seu ninho, n��o s�� de

recorda����es, mas tamb��m distante dos embates

v��os e perniciosos, daqueles que querem se servir

de Jesus.

Ap��s ligeira pausa, Jo��o inteirou:

��� Esta ser�� a sua oficina de amor!

��� Ficaremos juntos? ��� indagou Maria, num

226



sorriso feliz.

��� N��o, Maria! Ficaremos unidos, mas n��o juntos,

j�� que a Boa Nova me requer a presen��a na Gr��cia,

num agrupamento florescente do Cristianismo!

Beijaram-se, m��e e filho.

E, poucos dias depois, j�� instalada na casinha

humilde, Maria, �� porta da vivenda, erguia a m��o,

numa despedida a Jo��o.

��� Jesus lhe ampare! ��� ela sussurrou amorosa. ���

Jesus lhe inspire! E Jo��o, descendo o promont��rio,

despedia-se da m��e de seu cora����o.

227

37

O VISITANTE

Eram as primeiras horas da noite.

Arfando, ao subir pela escarpada trilha, aquele

homem de cabelos desgrenhados, sobrancelhas

espessas e pele curtida pelo sol, apertava a t��nica

contra o corpo querendo proteger-se do vento frio

e ��mido que nele se esbatia, vindo do Mar Egeu.

Deu mais alguns passos, tr��pego.

Sentou-se sobre uma pedra do caminho e recobriu-

se ainda mais, medindo com os olhos a dist��ncia

a vencer.

��� �� a Casa da Sant��ssima! ��� resmungou em

baixa voz.

Levantou-se aturdido quase como um ��brio prestes

a estatelar-se sobre a trilha ��ngreme e, arfando,

prosseguiu na penosa caminhada, num supremo

229

esfor��o de passo a passo.

Parou diante da casa singela.

De punho cerrado, bateu firme na porta e, deixando-

se escorregar pela parede, sentou-se no ch��o.

Maria, dentro do abrigo, ouvindo as pancadas,

seguidas de gemidos dolorosos, abriu a porta,

recebendo o vento frio no seu rosto.

��� Meu Deus! ��� condoeu-se e abaixou-se para

abrigar o infeliz que ali estava. ��� Venha, meu bom

homem!

* * * * *

Cabe��a baixa, barba salpicada de fios brancos,

entrou.

Acomodado, em torno da mesa tosca no centro

da sala, assim como quem sofre com o inverno

da idade, recompunha-se com a sopa quente que

Maria lhe servira.

��� Voc��... �� a Sant��ssima! A m��e de Jesus! ���

murmurava, mastigando as palavras, sempre de

cabe��a baixa.

��� Sou Maria, sim! E quem �� voc��, meu bom

senhor?!

Ele manteve um longo sil��ncio, cabe��a mergulhada

no prato de sopa e, finalmente, informou:

230



��� Sou... um perigoso assaltante, Senhora! Sou

um homem sem lei e sem piedade... Algu��m que

j�� buscou fazer-se amigo dos injusti��ados e...

ao mesmo tempo, sou um temido assaltante de

estradas desertas!

Maria, sem temor, queria identific��-lo.

J�� o vira e ouvira, mas... onde?! Em que lugar de

sua mem��ria se guardavam as lembran��as que

n��o se definiam?!

��� Todos me temem, Senhora!

Maria apiedou-se daquele farrapo humano,

sentindo-lhe o cora����o feito de ang��stia e solid��o.

Serena, ela sentou-se diante dele.

231

��� Jesus, um dia, contou a hist��ria de um homem

que descia de Jerusal��m para Jeric�� e que, a meio

do caminho, foi v��tima de um assalto ��� come��ou

Maria, revolvendo suas doces recorda����es do

Messias. ��� E, dentro da noite, um samaritano

solit��rio prestou-lhe socorro e pensou-lhe as

feridas. Em seguida, levou-o a uma hospedaria e

deu-lhe a assist��ncia necess��ria.

Houve uma longa pausa.

��� E... o assaltante, Senhora? Que lhe aconteceu?

Ela suspirou docemente.

��� Conta-se que Jesus, ap��s ter acompanhado as

provid��ncias do socorro misericordioso, voltou-se

atento, observando as pegadas do assaltante que

ficaram na areia e, pacientemente, p��s a segui-las,

at�� deparar-se com o infeliz agressor!

��� E... ent��o, Senhora? Ele levou o assaltante aos

ju��zes da regi��o?

Maria entressorriu.

��� N��o, filho! Sabendo que todo assaltante �� um

infeliz doente que se violenta a si mesmo, o Senhor

o recolheu em seus bra��os de miseric��rdia, dando-

lhe amparo e carinho, prote����o e ternura, para

traz��-lo, um dia, �� luz do equil��brio espiritual!

O grosseiro homem lacrimejou.

��� Senhora ��� disse ele, entre solu��os. ��� N��o sou

um assaltante comum! Talvez a Senhora venha a

232



odiar-se, por ter me dado abrigo.

��� E... odiar-me... por qu��?

O homem hesitou e, com voz arrastada, mastigando

palavra por palavra, confessou ��quele cora����o

maternal:

��� �� que um dia, Senhora... deixei que seu amado

Filho tomasse o caminho do Calv��rio, levando

uma cruz infamante, enquanto eu... obtinha, na

condena����o dele... a minha liberdade, diante de

Pilatos!

��� Barrab��s! ��� reconheceu-o Maria, num murm��rio

em tom de piedade. ��� ��... voc��, Barrab��s?!

233

��� Sim, Maria! Sou aquele que um dia o seu Filho

me levou a seu lar e... num dia, que �� hoje ... atrevi

a rev��-la... j�� entregue ��s minhas derradeiras

for��as f��sicas!

Ele baixou ainda mais a cabe��a.

Maria o abra��ou, enternecida.

��� Voc��... n��o me odeia?! ��� ele indagou

tristemente.

��� N��o, Barrab��s! N��o lhe odeio e nem temo,

porque sei que Jesus foi quem lhe trouxe �� porta

deste nosso lar!

E, a partir do dia seguinte, Barrab��s tornou-se um

servidor dos infelizes que buscavam socorro na

Casa da M��e Sant��ssima.

234

38

C A R T A D E J O �� O

Maria, com algumas madeixas de cabelos brancos,

que lhe completavam o tom de nobre Senhora,

ao contemplar a paisagem singela de ��feso, via

aproximar-se de sua casa um homem de seus

quarenta anos.

Ele parou e lhe sorriu, �� pequena dist��ncia.

Ap��s, correndo entre as veredas ��ngremes e

pedregosas, chegou at�� Maria arfando e sorrindo

jubiloso.

��� Silas! ��� exclamou a m��e de Jesus. ��� Voc��

est�� um homem feito!

E Silas, agitado pela emo����o do reencontro, arroja-

se aos p��s de Maria e, tomando-lhe as m��os j��

enrugadas, beija-as sofregamente.

235

Maria ajoelha-se, tamb��m, e ambos se abra��am

em solu��os de santificada alegria.

* * * * *

Adentram na casa, onde Silas encontra com alguns

parentes de Maria.

A Senhora, como quem deseja desfrutar de

recatada intimidade, conduz-lhe a seu singelo

dormit��rio.

��� Voc��... deixou Bel��m, Silas?

��� Sim, minha Senhora! Deixei Bel��m, por��m,

magnetizado pelo amor de seu filho, Jesus,

incorporei-me ao trabalho do Cristianismo e,

assim, realizo todos os meus ideais de amor ao

semelhante, j�� que sempre fui pastor de ovelhas!

E, ap��s a breve pausa, Maria indagou:

��� E L��dia, sua m��e e minha benfeitora?

Silas baixou os olhos.

��� Mam��e... desencarnou, Senhora! E foi s�� ap��s

ela ter voltado ao reino eterno dos esp��ritos, que

busquei Jo��o, o ap��stolo, entre as gentes da

Gr��cia!

��� Voc�� tem servido a Jesus, juntamente com

aquele que Jesus me deu por filho do cora����o,

236

Silas?

��� Sim, minha Senhora! E, por sinal, aqui estou a

mando dele.

E Silas, retirando de seu alforje alguns pergaminhos,

informou sol��cito:

��� Trago-lhe carta de Jo��o.

Maria estava com os olhos marejados.

��� Se voc�� �� portador da extens��o da alma de

Jo��o, no formato de uma carta, leia-a... que

estarei a ouvi-lo, Silas, como se Jo��o me falasse

pessoalmente atrav��s de seus l��bios.

Silas, incontinenti e cuidadoso, abriu os

pergaminhos.

��� "Senhora eleita, e tamb��m aos seus filhos a

quem eu amo na verdade e que conosco estar��o

para sempre, eu lhes desejo a miseric��rdia e a paz

em Jesus Cristo."

Maria solu��ou, comovida, vendo Jo��o na tela de

sua mem��ria.

Silas prosseguiu na leitura.

��� "Fiquei sobremodo alegre em ter encontrado,

entre os seus filhos, aqueles que andam na

verdade e pe��o-lhes, por isso, que nos amemos

uns aos outros, tal qual seu filho Jesus nos amou,

j�� que a caridade principia no andarmos segundo

os mandamentos celestiais."

237





Maria, sensibilizada, comentou:

��� A caridade �� a fonte das b��n����os do Senhor,

Silas! Por isso, al��m de dar rem��dios aos doentes, o

p��o aos famintos, �� indispens��vel que acendamos

a luz do Evangelho nos cora����es dos que ignoram

as Leis Divinas.

Silas sorriu, tocado pela convic����o de Maria e, qual

aprendiz atento inquiriu:

��� E qual ser�� o meu dever, Senhora?

��� Voc�� sabe, Silas, que se nos fazemos servidores

do Bem, �� indispens��vel que nos alimentemos

com a Boa Nova, a fim de adquirir o esp��rito da

238

boa-vontade, j�� que todo aquele que ainda n��o

aprendeu a repartir a Luz Espiritual, ainda n��o

aprendeu amar a todos, sem distin����o, e, por isso,

n��o ter�� a seguran��a necess��ria na Seara do Amor

Divino.

Silas extasiava-se, quando ela completou:

��� Para que a caridade viva em n��s, �� indispens��vel

que pensemos, ajamos e sintamos os ensinamentos

de Jesus, para que n��o estejamos vazios nos

instantes do testemunho de nossa f��!

E Silas, ainda mais compenetrado, seguiu na

leitura:

��� "Acautele-se, Senhora, diante dos muitos

enganadores que tem sa��do a pregar, pelo mundo

afora. Muitos deles, n��o inteirados da excel��ncia

da Doutrina de Jesus, atropelam-se querendo

ser mestre entre os mestres e tripudiam sobre a

verdadeira doutrina."

Nova pausa e Silas completou:

��� "Se algu��m for ter com voc��, Senhora, e n��o

leva a doutrina de Jesus em suas almas e em seus

atos, n��o o receba na casa de seu cora����o e, pelo

contr��rio, evite at�� de dar-lhe as boas vindas, para

que voc�� n��o seja vista como c��mplice dele, nas

suas m��s obras e nos seus maus exemplos."

Silas suspirou, p��lido.

��� Dura esta advert��ncia de Jo��o, Senhora!

239

Ela sorriu esclarecendo:

��� Jo��o est�� a lembrar-nos, Silas, que o cora����o

�� a casa sagrada que n��o se deve contagiar com

ideias in��teis e, por isso, ele nos recomenda a n��o

abrigar, dentro de nossas almas, os que se dizem

crist��os, num movimento de l��bios, mas que n��o

trazem, em seus atos, os sinais da doutrina do

amor.

Silas enrolava os pergaminhos.

��� Silas, meu filho, n��o se constranja! Jo��o nos

recomenda, com sabedoria, que diante daqueles

que apenas falam da Boa Nova, sem vivenciar-

Ihes os princ��pios, deveremos convoc��-los para

que reflitam mais seriamente no que fazem,

sem contudo, feri-los e sem escandaliz��-los. O

essencial, para acolhermos os que nos buscam, ��

saber se eles j�� possuem alguma coisa do Cristo,

para dar aos que caminham em sombras.

Maria, de s��bito, cerrou as p��lpebras, recolhendo-

se em si mesma.

Silas, por sua vez, sentiu um abra��o generoso e,

chorando num instante de grande saudade, ouviu

Maria dizer-lhe, na voz de L��dia:

��� Filho, estou junto de seu cora����o! Sirvamos,

eternamente, o Senhor da Vida, quais doces

ovelhas de seu rebanho celestial!

240



E todos, numa ora����o silenciosa, uniam-se a Jesus!

241

39





V I S I T A N T E S


Um sol p��lido, nesta manh�� de ��feso.

Barrab��s, soprando sobre as suas m��os para

aquec��-las, mergulhou a vasilha na tina d'��gua

para abastecer a Casa da Sant��ssima.

Olhou distraidamente abaixo do promont��rio, por

entre a n��voa que recobria o Mar Egeu e, num

gesto seu caracter��stico, apertou as p��lpebras,

para ver mais longe.

N��o conteve um calafrio, na espinha!

Precipitadamente abandonou os vasilhames e

correu para dentro daquele pouso de caridade,

onde se alojavam viandantes sofridos, procurando

Maria e fechando, atr��s de si, e estrondosamente,

a porta da singela habita����o:

��� Senhora! ��� arfava Barrab��s, cora����o a pulsar

243

desordenadamente. ��� Vem l�� de baixo uns

guardas romanos, escoltando dois homens!

��� Acalme-se, meu filho! ��� ela procurou tranquiliz��-

lo. ��� Talvez nem estejam para vir aqui!

��� Eles... v��m vindo, sim! E, creio que trazem dois

perigosos criminosos... e poder��o prender-me

tamb��m!

Maria sorriu para tranquiliz��-lo.

Soaram, quase de imediato, batidas na porta.

��� Eu... n��o disse, Senhora! ��� estremeceu

Barrab��s ��� Eu... n��o lhe disse!

Enquanto Barrab��s buscava esconder-se, Maria

atravessou os modestos c��modos daquela vivenda

e, serena, abriu a porta.

��� Paulo! ��� prorrompeu Maria, jubilosa ��� Paulo

de Tarso!

O ap��stolo dos gentios, tendo a seu lado Lucas,

o m��dico grego que se incorporara ao movimento

do Cristianismo, prostrou-se de joelhos aos p��s de

Maria.

��� M��e Sant��ssima! ��� lacrimejava Paulo, beijando-

Ihe os p��s, numa atitude de total submiss��o. ��� A

Santa e doce m��e de nosso Mestre Jesus.

Os guardas estavam admirados.

Lucas, tocado no fundo d'alma, diante daquele

encontro, mudamente fitava os cabelos brancos

244



e sedosos daquela nobre Senhora, apercebendo-

se que os seus tra��os eram delicados e de uma

beleza incomum.

Observou, ent��o, que Maria tomava Paulo pelas

m��os e, num gesto silencioso, f��-lo levantar-se

e, em seguida, acolheu a todos na casa de seu

cora����o.

��� Voc��, Paulo, �� o vaso escolhido de meu filho

Jesus! O Cristianismo, por certo, agora repousa

em seus ombros e, com lutas e sacrif��cios

inimagin��veis, voc�� perpetuar�� para todas as

gera����es futuras, as li����es da Boa Nova.

Lucas espantou-se diante da afirmativa prof��tica.

245

* * * * *

Acomodaram-se, os rec��m-chegados, na sala.

Barrab��s, por insist��ncia de Maria, servia aos

visitantes e aos guardas, dando-lhes algum

conforto.

��� Estamos a caminho de Roma ��� asseverou

Paulo. ��� E, ouvindo a voz de meu cora����o,

supliquei ao oficial romano, que generosamente

nos conduz que me permitisse rev��-la... pois talvez

seja este o nosso derradeiro reencontro, nesta

vida, Senhora!

Maria estremeceu.

��� H�� tanto o que fazer, na distribui����o da

Mensagem da Esperan��a ��� asseverou Maria ��� e

voc�� me fala... em tom de adeus!

Lucas sorriu, buscando a descontra����o de todos.

��� Sant��ssima! ��� ponderou Lucas. ��� O nosso

Paulo reviu seu Filho, num destes dias e, de seu

sublime cora����o, Paulo disse-me que Jesus lhe

falou da Via ��pia, em Roma, como derradeira

etapa de seus imensos sacrif��cios.

Maria apiedou-se.

Paulo, contudo, quebrando o clima de pesar e de

constrangimento, falou:

246

��� Quero rogar-lhe, Sant��ssima, que receba Lucas, meu m��dico car��ssimo, no interior de sua alma!

E, ap��s uma pausa, �� frente do gesto amoroso de

Maria, completou:

��� Recomendo-lhe tamb��m, Maria, que depois

que eu der meu testemunho de fidelidade �� Boa

Nova, receba Lucas e lhe narre tudo o que voc��

testemunhou em rela����o a seu filho Jesus, a fim de

que este nosso irm��o e amigo possa narrar para

todas as gera����es futuras que nos suceder��o, as

not��cias do Evangelho, segundo o seu cora����o

maternal.

Os olhos de Maria reluziram.

Revia-se na estrebaria de Bel��m, contemplando

a doce crian��a confiada �� manjedoura, visitada

por pastores t��midos e por seres angelicais que

suplicavam por paz na Terra e boa vontade para

com todos os homens.

Maria, num doce enlevo, abra��ou maternalmente

Paulo.

O Ap��stolo dos Gentios, estremecendo em seu

cora����o marcado por lutas e conflitos dolorosos na

sustenta����o da Boa Nova, derramou l��grimas de

gratid��o, saudoso, tamb��m, de sua pr��pria m��e na

cidadela de Tarso.

Ele, ent��o, beijou as m��os e as faces de Maria.

��� M��e Sant��ssima! ��� disse ele, quase sufocado

247

de sublime emo����o e novamente dobrado aos

p��s da Senhora. ��� Aben��oe-me, renovando-me o

��nimo para que eu permane��a fiel ao nosso Mestre

e Senhor!

E, logo depois, Maria, �� porta de sua modesta

casinha, em l��grimas acenava a Paulo e a Lucas,

em despedida.

Maria os via distanciarem-se, sob a sua cortina de

l��grimas, e a confundirem-se dentro da neblina

daquele dia de sol p��lido.

248

40





S U B L I M E R E E N C O N T R O


Maria, enferma, sofria sobressaltos, condoendo-se

dos infelizes que lhe buscavam o amparo, sem que

ela pudesse prestar-lhes o socorro habitual.

Amigas de ��feso, contudo, passaram a desdobrar-

se, atendendo a quantos que buscavam a Casa da

Sant��ssima, socorrendo-lhes as necessidades e, a

quase todos os segundos, deixavam-se inundar de

pranto j�� saudoso.

��� Nossa M��e est�� doente, Senhor Jesus!

Ficaremos ��rf��s, sem a sua solicitude amorosa e

seu desvelo em ouvir-nos e consolar-nos!

Barrab��s, exausto, dormia aos p��s do leito da

Sant��ssima, levantando-se de pronto a cada leve e

discreto gemido que ecoava dos l��bios descoloridos

de sua Senhora ou aos assaltos de febre que a

levavam a delirar, chamando por Jesus.

249

Acendendo a candeia, o servi��al trazia alguma luz ��quele quarto ��ntimo e, ao mesmo tempo, evitava

que muitos, invadissem o c��modo, quebrando o

repouso dela.

Agora, noite avan��ada, Barrab��s dormia no ch��o,

ao p�� do leito.

Uma estranha brisa, adentrando aquele dormit��rio,

sacudiu levemente a candeia e, apagando a

chama bruxuleante, fez o aposento mergulhar na

escurid��o.

Maria sentou-se no leito.

De faces subitamente enrubescidas, abriu os olhos,

fixando-se numa n��voa luminosa, semelhante a

um aglomerado de estrelas, que dava ao aposento

um toque de esplendor.

A Sant��ssima abriu os bra��os e sorriu, saudando,

algo combalida:

��� Salve, Madalena! Voc�� vem me visitar? Que

felicidade em rev��-la, serva de meu Filho... que

felicidade!

Acolheu-a, junto de seu cora����o.

��� Ah! A minha Maria Madalena, rediviva, sem as

manchas e as deforma����es da lepra, voc�� agora

me visita!

Madalena acariciava-lhes os cabelos brancos.

��� Sant��ssima! ��� exclamou Madalena, abra��ando-a

250



com intimidade e com profundo amor. ��� Devo-lhe,

a voc�� e a Jesus, a minha reden����o!

��� Voc��... voltou do t��mulo, Madalena! E eu, nesta

hora, sinto-me �� porta dele!

��� A morte, Sant��ssima, �� mera ilus��o de nossos

recursos f��sicos! Temos, com seu filho Jesus,

novos poderes com a desencarna����o e, por isso

os t��mulos sempre estar��o vazios, j�� que fazemos

a viagem de retorno ao Plano Espiritual!

Maria, enfraquecida, indagou-lhe:

��� Voc�� veio... visitar-me? Ou veio buscar-me...

para o Reino do Pai, de onde meu Filho nos

sustenta em sua Seara de Amor?

251





Madalena negou, num gesto de cabe��a.

��� N��o vim buscar-lhe, Sant��ssima! Aqui estou, t��o

s��, para ampar��-la, assim como um dia a Senhora

me amparou nos ��ltimos minutos da minha

transi����o desta exist��ncia, para a Vida Maior!

Maria, combalida, estremeceu novamente.

Afebre atingira o ponto da ard��ncia e a enfermidade,

ao minar-lhe a resist��ncia org��nica, prenunciava-

lhe o final dessa romagem.

Madalena afastou-se ligeiramente.

��� E Jesus, Madalena? Onde est�� meu amado

Filho?

A porta se abriu e, entrando por ela um sol ardente,

uma intensa luz ofuscava a todos, e, do centro

dessa luz se destacavam dois bra��os generosos,

na dire����o de Maria.

252

��� Quem... me busca? ��� entregemeu Maria,

querendo ver e se sentindo ofuscada. ��� Quem me

busca, nesta hora?!

Duas m��os de luzes tomaram a dire����o da

Sant��ssima e, em seguida, corporificou-se Jesus.

��� M��e! M��e Sant��ssima! Vim busc��-la!

Madalena ajudou Maria a soerguer-se do leito,

desligando-se do casulo da carne e, t��o logo

ensaiou os primeiros passos, entregou-se aos

bra��os de Jesus.

��� Volte, Sant��ssima ��� diz-lhe Jesus ��� ao Reino

de Nosso Pai!

Maria, em l��grimas, sorriu dadivosa.

E, logo ap��s, dobrou-se de joelhos diante do corpo

inerte na cama e, erguendo os olhos na dire����o do

Infinito, orou:

��� Oh! Pai de miseric��rdia extrema! Sou-lhe grata

pela oportunidade da vida, nesta escola espiritual

aben��oada! E lhe agrade��o, tamb��m, �� Pai, por

ter-me permitido a oportunidade de guardar em

meus bra��os o seu Filho Amant��ssimo!

Grande sil��ncio.

O compartimento daquele sublime reencontro

estava em quietude.

Maria, entre Madalena e Jesus, afastam-se, em

j��bilo.

253

E, entre as m��os do corpo inerte, no seu leito de desencarna����o, estava uma rosa rubra como a

revelar o sublime aroma de vida, na Boa Nova a

que a Sant��ssima servira e, tamb��m, os espinhos

cravados em seu cora����o maternal.

254

41

I N S P I R A �� �� O D I V I N A

Maria abra��ava-se a Madalena, na sua retomada

do mundo espiritual, com Jesus acolhendo-a

estreitamente em seu cora����o feito de ternura e

gratid��o.

S��bito, a Sant��ssima parou.

��� Ou��o ��� disse Maria ��� Joana de Cuza a chamar-

me!

��� �� de Roma, Sant��ssima ��� advertiu Madalena.

��� No circo romano, os homens enceguecidos pela

dureza de seus cora����es, erguem piras de fogo,

sacrificando aqueles que seguem a Jesus!

Maria estremeceu apiedada.

��� Vamos atender as s��plicas que me alcan��am,

Madalena, j�� que n��o me sentirei em paz,

distanciando-me daqueles que compartilham

255

comigo as aspira����es de um mundo feito de amor!

* * * * *

O espet��culo na arena era terr��vel.

Joana de Cuza, ap��s ter-se recusado a rejeitar

o Cristianismo, ouvindo ainda os apelos

desesperados de seu filho, que se encontrava

sobre o lenho seco, em fogo ardente, recorria em

preces �� M��e Sant��ssima.

Ladeada por Jesus e Madalena, junto de Suzana

e outras servidoras j�� martirizadas, a Sant��ssima

aproximou-se de sua amiga.

Ao v��-la, pelos olhos do esp��rito, Joana bradou,

entre as labaredas que lhe crestavam as vestes e

o corpo:

��� Ampare a meu filho, Sant��ssima! N��o posso

poup��-lo da morte... em troca da ren��ncia de minha

fidelidade a seu filho, Jesus!

Maria, incontinenti, acercou-se da pira ardente,

onde gemia e estertorava o filho de Joana e,

envolvendo-o em sua ternura, f��-lo perder os

sentidos e, antes mesmo de v��-lo enlouquecer

sob as chamas vivas que lhe consumiam o corpo

jovem, retirou-lhe o esp��rito da carne torturada.

Jesus, seguido de Madalena, aproximou-se de

256

Joana de Cuza e, recobrindo-a com a b��n����o de

ternura, recolheram-na em seus bra��os de luz e de

amor.

No piso da arena, invis��veis aos olhos daquela

multid��o enlouquecida pela sede de sangue vivo

e que, impiedosa, ululava e aplaudia o sacrif��cio

indiscriminado, trouxeram o filho de Joana aos

bra��os maternais.

Maria estava at��nita.

��� Quanta dor, meu Filho! ��� disse Maria a Jesus,

com l��grimas lhe perolando os olhos. ��� Por que

tanto ��dio, onde sempre houve tanto amor?!

* * * * *

Maria, naquele instante, ouvia gemidos de jovens

e de criaturas em idade avan��ada que, entre as

grades das pris��es, aguardavam, em preces, o seu

instante de mart��rio.

Solu��os eram sufocados!

Os guardas, passando pelos corredores sombrios,

frios e ir��nicos, fermentavam ainda mais o temor:

��� Est�� chegando a hora de voc��s, imbecis! Ou

renunciam, diante de todos, ao maldito Nazareno...

ou morrem no circo de Nero, o nosso C��sar e ��nico

Imperador!

257

��� Somos servas de Jesus! ��� exclamou uma

das jovens, de cora����o aos saltos. ��� Servimos

somente ao nosso Mestre de amor!

Maria ergueu-se, plena de piedade.

De seu cora����o, uma ampla e doce luz azulada,

espraiou-se por todas as celas imundas e infectas,

onde a dor e a perplexidade faziam morada.

Os m��rtires, vencendo ent��o seus temores,

ergueram-se em doce c��ntico de esperan��a,

clamando pelo cora����o da Sant��ssima e, sentindo-

se aconchegados ��s suas radia����es maternais,

deixavam-se conduzir, quais ovelhas.d��ceis, ao

campo do mart��rio.

* * * * *

Quando a noite desceu e a arena do circo romano

ainda guardava corpos carbonizados em cruzes

sacrificiais, uma estrada de luz subia da Terra ao

Mais Alto, com os m��rtires a percorr��-la, em busca

de um pouso de amor.

Jesus, na arena, aproximou-se de Maria.

��� Para onde voc�� escolhe ir, Sant��ssima?

Ela, condo��da, olhou �� sua volta.

��� Filho, se em nome do Pai Celestial, voc�� me d��

o direito de escolha, deixe-me a mim e ��s minhas

258

companheiras, no campo onde a dor faz a sua

sementeira.

E, ap��s ligeira pausa, completou:

��� Diante destas que se deixam martirizar, por

causa de sua doutrina de amor, quero estar sempre,

meu Filho, at�� que um novo dia de compreens��o e

fraternidade se fa��a na escola da Terra!

��� Seja feita a sua vontade, Sant��ssima! ���

concordou Jesus.

* * * * *

Madalena, Suzana, Joana de Cuza e tantos outros

cora����es femininos que serviam a Jesus, ajustaram-

se ao cora����o maternal da Sant��ssima e, at�� agora,

no escoar dos mil��nios sem fim, atendem a todas

as s��plicas de amparo de todos os cora����es que

se deixam martirizar, no calv��rio da maternidade e

nos embates das Sombras contra as Luzes!

259





EDITORA

LUZ NO LAR

LIVROS INFANTIS

A GUARDADORA DE GANSOS

Uma hist��ria onde uma princesa foi trocada por uma criada, e

destinada a ser uma guardadora de gansos.

A criada querendo se passar por ela, para casar com o pr��ncipe �� descoberta, e a�� vemos onde a gan��ncia e a ambi����o podem levar

a criatura.

A PRECE E AMIZADES

Este livro cont��m duas hist��rias que ensinam as crian��as o valor da prece e da amizade.

ANTES DO TEMPO & A FAM��LIA DE CINDERELA

Este livro conta duas hist��rias: "Antes do Tempo", a hist��ria de Z�� Cabrito, que morre antes do tempo em um acidente na Lagoa e

em "A Fam��lia de Cinderela", a hist��ria da fam��lia da Cinderela no dia do casamento com o pr��ncipe.

O CORA����O DA BONECA

Este livro conta a hist��ria da boneca de pano Nequinha, que pede a ajuda de Zito e do coelho Chim para ter um cora����o de verdade.

AS ARTES DO EGO��SMO

Um dia o Ego��smo se disfar��ou de gente e saiu para buscar

pessoas para prender na sua Ilha da Solid��o e encontrou a

menina Gracinha.

A MEM��RIA ENFERRUJADA

Este livro conta a hist��ria do encontro do menino Zito e do Coelho Chim com a Dona Mem��ria.





��� EDITORA

LUZ NO LAR

LIVROS INFANTIS

AS CINCO MOEDAS

Este livro conta a hist��ria do av�� que em seu leito de morte chama os netos para a divis��o de suas moedas.

O SOLDADINHO DE CHUMBO E O HOMEM FELIZ

Neste livro cont��m duas hist��rias envolventes: "O Soldadinho de Chumbo", que se encontra com um boneco mau, e "O Homem Feliz", um homem que vivia feliz e o Rei mandou busc��-lo para saber qual seria o segredo da felicidade.

O REI SETE PALMOS

A boneca de pano Nequinha some um dia, e Zito e o coelho Chim

v��o procur��-la no Reino Sete Palmos, o reino do disse-que-disse.

AMPARO ESPIRITUAL

Dois irm��os passam por apuros enquanto seus pais saem para

trabalhar e encontram o amparo de An��lia Franco.

OS TR��S IRM��OS

Este livro conta a hist��ria dos irm��os Lino, Nico e Tino em uma

conversa com sua m��e �� beira da morte.

OS DOIS IRM��OS

A hist��ria de Juca, um benfeitor espirita que tem dois filhos,

Nequinho e Caco, �� contada neste livro onde os mesmos

aprendem o Evangelho no Lar vivenciado pelos seus pais.





LIVROS INFANTIS

LUTAS NO CORA����O

Este livro conta a hist��ria de Juquinha, menino bom, que de uma

hora para outra se toma sozinho e irritado. Seus pais chamam o

menino Zito e o Coelho Chim para ajud��-lo.

AS TR��S LINGUAGENS

Esta �� a hist��ria de um pequeno pr��ncipe que �� expulso do Reino

por seu pr��prio pai, porque s�� conhecia a linguagem dos c��es,

dos p��ssaros e das r��s.

SIMPL��RIO

Os dois filhos mais velhos do rei Jos��, cansados do Reino, partem em busca de aventuras, e sua m��e chama o filho mais novo,

Simpl��rio para ir atr��s deles e os trazer de volta.

Z�� BENTO

Este livro conta a hist��ria de Z�� Bento, um menino muito pobre

que vivia com sua m��e doente, em um barraco, constru��do de

madeiras velhas, no alto de um morro. De cora����o bom, trouxe

para casa um cachorrinho e um senhor que estava �� beira do

caminho.

HIST��RIAS QUE VOV�� CONTAVA...

Este livro cont��m quatro hist��rias envolventes do tempo das

vov��s: Botinha Furada; Le��o e o Mico; A Gota D'��gua e Leleco.

Um livro para crian��as e adultos se envolverem e aprenderem

como viver bem uns com os outros.





EDITORA

LUZ NO LAR

ROMANCE JUVENIL

O CAPIT��O ��RLUZ

Esta obra nos relata a hist��ria de dois rapazes que se encontram perdidos na selva, e em uma noite presenciam um acidente de

avi��o. Ap��s prestarem socorro, se deparam com Capit��o ��rluz, e

se veem ��s voltas com suas reencarna����es passadas.

S��RIE "EVANGELHO E JUVENTUDE

BBB O PEIXINHO VERMELHO

I Nesta hist��ria se conta a lenda eg��pcia do peixinho vermelho que CONVERS��O DE PAULO DE TARSO

Este livro conta a hist��ria Paulo de Tarso e sua convers��o para o Evangelho de Jesus, ap��s o encontro com o Cristo ��s portas de

Damasco.

SIM��O CIRINEU

Nesta obra iremos ver como Sim��o Cirlneu encontrou a melhor

forma de cuidar de seus filhos pregui��osos, �� luz do Evangelho do Cristo.

JAS��O, O CEGO

Conta a hist��ria de Jas��o, que sa��a todos os dias para pedir

esmolas. Num dia ele se depara com Mestre Jesus, e este explica

aos ap��stolos, o porque do mesmo ter nascido cego.





r

��� EDITORA

LUZ NO LAR

S��RIE "EVANGELHO E JUVENTUDE"

PAULO DE TARSO E O NAUFR��GIO

Este livro conta a passagem de Paulo de Tarso como prisioneiro,

tendo que enfrentar um naufr��gio numa viagem �� Roma, para o

seu julgamento.

O CAPIT��O DE M��O MIRRADA

Um Capit��o que tem uma das m��os mirradas e que por isso se

torna intolerante, at�� encontrar a luz do Mestre Jesus.

FILIPE, O SUBJUGADO

Este livro conta a hist��ria de Filipe, um rapaz que vivia atormentado,-

por esp��ritos em um cemit��rio.

DORCAS, O ANJO DA CARIDADE

Este livro conta a hist��ria de Irm�� Dorcas, que tomada pelos

ensinamentos de caridade de Jesus, passou a doar alimentos

e ajudar aos pobres.

O GAST��O E O EGO��STA

Este livro conta a hist��ria de Silas, filho de Lino e irm��o de

Tim��teo, quando ele pede para seu pai dividir a heran��a, a fim

de que ele possa sair em busca dos prazeres da vida.

L��ZARO E O HOMEM RICO

Este livro conta a hist��ria de L��zaro, mendigo e doente, que ao

pedir comida em uma casa rica, sofre todo tipo de humilha����o e �� jogado em um monte de lixo.







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De: Reginaldo Regis 

Olá, pessoal:
                   Este é mais um livro de nossa campanha de doação  e digitalização de livros para atender aos deficientes visuais.
                   Agradecemos ao Irmão Bartolomeu Filho  pela doação e ao irmão  Fernando  pela digitalização.
                    Pedimos não divulgar em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos.


O Grupo Mente Aberta lança hoje mais um livro digital !
Desejamos a todos uma boa   leitura !

Maria de Nazaré relatos do Evangelho - Roque Jacintho

Livro doado por Bartolomeu Filho e digitalizado por Fernando Santos
Sinopse:
Este livro nos conta  a vida de Maria de Nazaré, mãe de Jesus, seu parto em uma manjedoura, suas lutas e orações para o bom crescimento de seu filho Jesus.



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