quinta-feira, 24 de junho de 2021 By: Fred

{clube-do-e-livro} Lançamento : Olho Mágico - Autor Desconhecido - Formatos: Pdf. epub. txt e mobi

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Cedibra ��� Editora Brasileira Ltda.

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Bua Filomena Nunes, 162

21.021 ��� RIO DE JANEIRO ��� RJ
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FERNANDO CHINAGL1A DISTRIBUIDORA

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Composto e impresso pela:
SOC GRAFICA VIDA DOM��STICA LTDA.
Rua Dias da Silva, 14 ��� Rio de Janeiro ��� RJ

O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em parte, nem
registrado, nem reproduzido, nem retransmitido, por qualquer
meio mec��nico, sem a expressa autoriza����o do detentor
do copyright.


cap��tulo 1

s��bado

A manh�� de s��bado surgiu esplendorosa,
e foi Neuza quem teve a id��ia:

��� Vamos a Santos? Preciso de uma
praia.
��� Vamos, vamos! ��� gritaram as outras
garotas em coro, presas de s��bito entusiasmo.
Sem mais palavras, Helena saiu do
apartamento, voltando dentro de instantes
com a informa����o:

��� Daqui a pouco Eurico vir�� nos pegar
de carro. Levar�� a gente para Ubatuba!

��� Eu n��o vou ��� disse Neuza.
��� Que �� isto, queridinha? ��� brincou
Carmo. ��� A gente vai s�� tomar um banho-
zinho de mar. Na hora da corrup����o voc��
se afasta... se n��o quiser tomar parte.
Neuza n��o pareceu ofendida. Com voz
simples, quase branda, explicou:

��� Vou me sentir muito s��, indo os
t

quatro. Voc��s duas s��o namoradinha dele.
..

Carmo atalhou:

��� Namoradinha sou eu. Empresto-o
de vez em quando a Helena, da mesma forma
que posso emprest��-lo a voc��. Pode ficar
sabendo que lhe dar�� tanta aten����o
quanto a qualquer de n��s. Eurico �� fogo!
O argumento deve ter sido suficiente, e
quando Eurico estacionou o autom��vel na
guia da cal��ada, diante do edif��cio, as tr��s
j�� o esperavam.

O primeiro coment��rio foi de Neuza:

��� Como ele �� lindo!
��� E gostoso ��� disse Helena, piscando
um dos olhos cinicamente.
6���


��� �� incr��vel como duas mulheres podem
ter o mesmo homem sem ci��mes! ���
acrescentou Neuza, como uma extens��o da
pr��pria frase anterior.
Feitas as apresenta����es, o carro ganhou
a estrada na dire����o da Via Dutra.

��� Num dia como hoje ��� explicou Eurico
��� o tr��nsito para Santos est�� simplesmente
infernal. A Dutra est�� um pouco
mais leve .. e prefiro Ubatuba. Voc��s
preferem Santos?
��� Para mim tanto faz ��� disse Carmo
excitada. E acrescentou, sem olhar para
ningu��m: ��� Nunca vi o mar.
Seu coment��rio, entrentanto, para sua
pr��pria surpresa, n��o provocou nenhuma
rea����o. E foi s�� muitos quil��metros depois
que Eurico observou:

��� Vai ver que coisa linda �� o mar, ent��o.
Principalmente em Ubatuba, s��m uma
cidade grande como Santos para atrapalhar.
��� Ubatuba �� mais longe do que Santos!
��� disse Neuza, quase num murm��rio.

��� A dist��ncia n��o importa ��� comentou
Eurico. ��� Temos gasolina... e o carro
�� bom.
��� Nunca fui a Ubatuba ��� disse Helena.
��� Para quem nunca viu o mar, �� sempre
melhor Ubatuba ou Caragu��, do que
Santos. O mar �� mais azul, mais aberto,
tem mais sol do que Santos, afinal uma
parede de edif��cios semelhante a Copacabana.
��� Amo Copacabana ��� disse Neuza.
��� Ah, tamb��m amo ��� disse Eurico
num tom um pouco implicante, e acrescentou:
��� Mas prefiro mar aberto. No Rio
vou sempre a Grumari... Recreio.
O assunto mar morreu ali.
Carmo ia na frente, ao lado de Eurico,
mas tentava captar algum flerte entre ele
e Helena atrav��s do espelho retrovisor, mas
n��o houve nada. Ao contr��rio, ele parecia
se mostrar curioso em rela����o �� Neuza que,
por sua vez, parecia presa ��quele olhar que
a contemplava pelo espelho.

��� Gostou de Neuza, Eurico? ��� pergun.
tou Carmo, de maneira inconveniente.

Apesar do tom inconveniente e do desprop��sito
aparente da pergunta, ele respondeu
:

��� Gostei, gosto. Ali��s, gosto muito de
voc��s tr��s, pois nunca tinha visto um conjunto
de mo��as t��o diversas ��� deu um
golpe de dire����o para ultrapassar um ��nibus
e acrescentou: ���. Acho que agora, conhecendo
as tr��s, consegui exatamente a
soma do que eu pretendia. Do que eu sempre
quis... e n��o julgava t��o perto.
Helena olhava-o em sil��ncio, o rosto voltado
para sua face direita, que olhava em
frente. Neuza parecia alheada do assunto,
vendo agora a paisagem que corria fora do
carro. E Carmo, infantil como sempre, disse:


��� A soma?
��� Exato. Exatamente ��� deu novo golpe
de dire����o para evitar uma carreta gigante,
ultrapassando-a, e voltou a falar, sempre
com os olhos presos na estrada: ��� A
soma. Vou explicar tudo.
��� Estou curiosa ��� observou Neuza, falando
afinal, mas sem desviar os olhos da

paisagem que corria paralelamente ao autom��vel.


Eurico riu. Fitou Neuza pelo retrovisor,
desviando os olhos para Helena, tamb��m
pelo retrovisor. Depois de correr ainda alguns
metros, disse:

��� �� o seguinte. .. Helena �� loura, grande...
pelo menos exuberante... bonita. E
deve andar a�� pelos vinte e tr��s anos. Num
dos extremos, ter��amos Carmo, uma indiazinha
maravilhosa, um das garotas mais
lindas de S��o Paulo. Com dezoito anos.
��� perguntou, voltando o rosto para Carmo.
��� Dezenove.
��� Pois bem, dezenove. E voc��. Neuza?
��� Quase vinte e oito.
Num s��bito movimento de motorista h��bil,
ele desviou o autom��vel de um pedestre
que, saindo al��m de um ��nibus parado,
atravessava a rodovia. Mas sem coment��rios
sobre o assunto, ele recome��ou a explana����o:


��� N��o disse? Olha o meio: Helena,
loura, exuberante. E nos extremos: Maria

do Carmo, um tipo bem brasileiro, lind��ssima,
e Neuza... que me agrada muito.

Nenhuma das garotas fez qualquer coment��rio.
-Olhando pelo retrovisor ele encarou
Neuza:

��� Qual �� sua altura, Neuza?
��� Um metro e cinq��enta e tr��s.
��� Voc��, Helena?
��� Um e oitenta.
��� Carmo deve andar pelo metro e sessenta.
N��o �� mesmo, princesinha?
��� Por a��.
��� Perfeito, perfeito ��� disse ele no seu
tom de voz doce, male��vel. ��� Se fosse poss��vel,
eu casaria com as tr��s... casaria
com o conjunto. Loura, morena, moren��ssima.
Pequena, m��dia, alta. Igualmente bonitas,
dez anos de diferen��a entre os extremos,
simp��ticas.
Helena que estivera em sil��ncio, perguntou
s��ria, talvez colocando um tanto de
despeito ria voz:

��� Isto significa que hoje voc�� vai comer
Neuza?

��� Por que hoje? ��� perguntou ele.
��� Bem. Voc��...
Conservando o mesmo tom neutro na
voz, enquanto fixava Neuza pelo retrovisor,
ele acrescentou:

��� Hoje ou amanh��, n��o faz diferen��a.
Ali��s, por que devo com��-la? A vida n��o
�� feita s�� dessas coisas, mas de todas as
coisas juntas.
��� A�� j�� �� discurso! ��� exclamou Helena.
��� Pois seja. Querem mudar de assunto?
��� Para mim est�� bom ��� disse Carmo.
��� Para mim tamb��m ��� disse Neuza. ���
Ouvir n��o tira peda��o.

��� Eu gostaria de deixar esse papo furado
para depois ��� falou Helena, evidentemente
agastada.
��� O que �� que voc�� chama de ocasi��o
mais oportuna? ��� perguntou Eurico.
Helena n��o respondeu. Eurico continuou
dirigindo com seu modo cuidadoso at�� que,

12-



j�� na estrada de acesso a Ubatuba, voltou a
falar:

��� Apesar de tudo, Neuza n��o parece
zangada.
��� Imagina, por que estaria?
��� Ent��o, ��timo. Vejo que foi in��til Helena
tomar suas dores...
��� Ela s�� fez um coment��rio.
��� Est�� bem. N��o quero briga. Mas deixe
eu fazer uma pergunta. S�� uma.
��� Fa��a duas, tr��s.
��� Est�� bem: Fa��o duas. A primeira �� a
seguinte: est�� disposta a fazer amor comigo?
��� Prejudicada ��� respondeu Neuza. E
acrescentou: ��� Fa��a pergunta de adulto.
��� Est�� bem, pergunta prejudicada, embora
eu ache que s�� os adultos, ou normalmente
os adultos, fazem amor. Segunda,
arrependu-se de ter vindo?
��� Imagina: poucas vezes me senti t��o
feliz na vida. Estou a mil!
O tom empregado na resposta foi de tal
modo neutro, que n��o permitiu a nenhuma

���13


das outras pessoas presentes fazer uma ava
lia����o do verdadeiro sentido oculto. Se �� que

havia algum sentido oculto.

O resto da viagem decorreu normal, assim
como a primeira parte do dia, at�� que
os quatro almo��aram juntos.

Depois do almo��o, enquanto Neuza e
Eurico contemplatavam o movimento dos
banhistas e o mar flamejante, Helena e
Carmo se distanciaram para um sombra
pr��xima, onde se entretiveram conversando
com alguns rapazes e mo��as.

Ao voltarem para o restaurante, meia
hora depois, pouco menos, j�� n��o encontraram
sinais de Neuza e Eurico, como
se os dois nunca tivessem estado ali. No
carro tamb��m n��o havia qualquer recado.




cap��tulo 2

Sexo no domingo

��� Fazer amor depois do almo��o �� perigoso,
Eurico ��� disse Neuza, j�� no quarto
de motel.
��� Quem disse que viemos fazer amor?
��� Ah, bem...
��� Viemos trepar ��� disse ele brincalh��o,
acercando-se por tr��s para abra����-la. ��� ��
a mesma coisa?
��� N��o. . .
Suas bocas se encontraram e Eurico parecia
n��o ter pressa de ampliar os movimentos,
como se de repente tivesse decidido



ser aquilo o que queria extamente: beijar,
misturar as salivas, apertar a garota entre
os bra��os. E Neuza somente palpitava como
um peixe aflito.

��� E as garotas... ��� perguntou ela,
ainda arfando, os l��bios pr��ximos da outra
boca.
��� Que �� que tem as garotas?
Ela n��o conseguiu responder, pois a boca
de Eurico j�� se colara �� sua outra vez e,
agora, o corpo masculino se fazia presente,
mordendo-lhe o ventre e pouco acima das
coxas, apertando-a mais fortemente.

��� Eurico... Eurico... Eu...
��� N��o fale ��� ele juntou seu ventre
ainda mais fortemente ao outro ventre. ���
N��o diga nada... Quem s��o as garotas? N��s
estamos sozinhos.
��� Elas... Elas...
��� N��o fale... N��o fale...
Eurico desceu a m��o direita suavemente
por entre os seios ardentes de Neuza,
que praticamente se quebrou, enquanto a
outra m��o do macho atingia-lhe o sexo
��mido.



��� Eurico... Eurico... N��o posso...
Por favor, Eurico... por favor... N��o
posso!
��� N��o pode... ?
Ao fazer a pergunta ele afastou o corpo
alguns cent��metros, como se fosse fugir,
mas ela o agarrou impetuosamente, grudando-
se com for��a e ansiedade:

��� N��o!
��� Ora, n��o?
��� N��o! Quero que fique a��, que me toque.
.. Que... Que... Quero que fa��a tudo,
tudo...
��� Tudo? ��� perguntou Eurico num
tom mansamente carinhoso, enquanto reaproximava
o corpo do corpo tenso, e agora
din��mico, de Neuza, cujos olhos chispavam,
enquanto a garganta seca tentava emitir
palavras inutilmente: ��� Tudo, queridinha?
Tudo?
Com m��os h��beis e prestativas ele foi
descendo a parte inferior do biqu��ni, enquanto
seus dedos repuxavam os p��los p��bicos,
procuravam agasalho na carne ��mi


���17


da, afundavam, tentando ir fundo, cada
vez mais fundo.

��� Assim, querida...? Assim?
Como resposta ela engolia em seco e
procurava subir pelo corpo rijo do macho
que a empolgava com bra��os firmes, at��
que os dois se uniram, ajustando-se, sexo
e boca reunidos, os corpos palpitantes e
suarentos.

��� Assim... Assim?
Ela empurrou o ventre de maneira quase
violenta e seu pequenino corpo fremiu
ao receber dentro do seu, completo e tenso,
todo o membro de Eurico que, latejante
e quente, parecia dolorosamente ��spero.


��� Aiii!
��� Quer que tire?
��� N��o, n��o! Pelo amor de Deus, n��o!
Mais uma vez ela come��ava a escalada,
grudando-se com todas as garras no
corpo do amante que, de maneira calma
mas aplicada, transportou-a para a cama,
sem perder o encaixe e, mais importante,



sem que ela deixasse de vibrar com a mesma
f��ria de antes. Ou maior.

��� Eu te amo, Eurico!
��� Mentira...
��� Eu te amo, sim. Amo. Sei agora que
te amo... Amo... Muito, muito, desesperadamente
...
��� Em t��o pouco tempo?
��� Em t��o pouco tempo... Em t��o
pouco tempo... ��� fechou os olhos, o corpo
im��vel debaixo do outro corpo, os dois
suarentos, e acrescentou arquejante: ���
Que importa o tempo? Eu te amo desde
que ouvi falar no teu nome... desde que...
Que Maria... Helena... Que todas elas
me falaram de voc��, que contavam... Contavam
as maravilhas... As maravilhas
que. . . Que voc�� fazia... voc��!
A ��ltima palavra foi um grito lancinante,
como se tivesse acabado de ser
transpassada por um esguio punhal de prata
ou, mais certamente, como se~��~membro
rijo e pulsante de Eurico lhe tivesse ferido

o ��tero.
��� Machuquei?
���19


��� Machuque. .. Machuque...
��� Assim?
��� Mais, mais, mais...! V�� mais fundo...
Mais fundo... At�� me atravessar.
��� Assim?
��� Assim? Mais...!
��� Assim.. . ? Agora, assim... ? Feri voc��
bastante, machuquei, diga, machuquei?
��� N��o... N��o... N��o como devia, como
eu quero, como... Como preciso.
Eurico acelerou os movimentos, fazendo
com que as pernas delas se levantassem ao
m��ximo e for��ando-lhe as n��degas contra

o colch��o flex��xel, jogando todo o seu peso
contra o corpinho fr��gil, imediatamente decidido
a sufoc��-la, destru��-la talvez, ou pelo
menos fazer com que pedisse arrego, pedisse
que os movimentos parassem, e prometesse
ficar quieta, n��o falar, n��o pedir
mais.
Sua esperan��a foi in��til.
Neuza come��ou a ganir, o corpo mais
e mais inundado de suor, sua boca voraz
engolindo a outra boca, seu pequenino cor


20���


po insaci��vel, movimentando-se defren��tico, ansioso, inesgot��vel.
��� Eu te amo, Eurico... Eu
modo
te.. .
amo...
��� Posso matar voc��?

A princ��pio ela n��o respondeu. Seus
olhos se tornaram imensos e sua boca engoliu
o ar ansiosamente, como se procurasse
respirar. Em seguida, num arquejo ��nico,
violento, inacredit��vel, ela gritou:

��� Assim! Quero morrer assim
Suas for��as, por��m come��avam a se esgotar
e seus gemidos,-suas palavras entrecortadas,
seus movimentos, foram-se atenuando,
at�� oue ela ficou im��vel presa
somente de pequenas convuls��es ocasionais.
Eurico tamb��m estava quieto, esgotado,
as carnes tr��mulas, nervosas, mas tamb��m
satisfeito por ter vindo para a cama com
aquela garotinha de vinte e oito anos, mas
com um corpo tenro e delicioso como uma
beb��.
Continuaram quietos durante algum
tempo, ouvindo dali mesmo o ru��do das

���21


ondas se quebrando, na praia, gritos de
banhistas, e da�� a pouco o som de um r��dio.
Primeiro o locutor com voz estridente,
depois um gingle, novamente o locutor e
em seguida uma m��sica bel��ssima.

��� Gosta disso? ��� perguntou ele.
��� De que? ��� perguntou Neuza, desviando
os olhos do teto e fixando-os nele.
��� Da m��sica. Dessa m��sica.
Ela franziu as sobrancelhas e ficou
atenta aos sons melodiosos que sa��am do
r��dio. Depois de muito tempo murmurou
com voz sussurrada:

��� Bonito... Bela letra.
��� Gosto muito.
��� Ouve muitos discos em casa?
��� Muito. Quase sempre m��sica popular.
E voc��
��� Quando posso ��� fez um pequeno sil��ncio,
mas acrescentou: ��� Sempre que as
garotas chegam em casa ligam o r��dio ou
colocam um disco na radiola. Mas sabe
que... sabe que eu ��s vezes at�� me esque��o?
22���


��� Faz o que, em casa?v
��� Leio. Gosto muito de 1er.
��� L�� o qu��, por exemplo?
��� De um modo geral tudo. Mas prefiro
os romances ��� piscou um dos olhos
de modo divertido e depois riu, ante s de
acrescentar : ��� Romances policiais. ..
��� Policiais?
��� Tamb��m.
��� Leu o que agora, por exemplo?
��� Ontem a noite terminei um simenon.
Uma aventura de Maigret.
��� Maigret!
��� Sim. N��o gosta?
��� Gosto. Gosto muito, claro. Leu o
qu��?
��� "A Cabe��a de um Homem."
��� N��o... acho que n��o li.
��� �� a hist��ria de um homem que resolveu
cometer um crime perfeito. O crime
pelo crime, entende? Se n��o fosse Maigret,
ele tinha conseguido.
��� Maigret s�� existe na fic����o.

Neuza riu. Alisou os pequeninos seios
com m��os t��nues e comentou:

��� Tamb��m s�� existem na fic����o homens
que pretendem crimes perfeitos.
��� Bem, ��. Embora existam os que, de
um modo ou de outro os consiga, mesmo
sem planejar.
��� Hoje a pol��cia tem muito de que se
ocupar.
De repente Eurico deu-se conta do assunto
e riu de modo amplo, divertido.

��� De que est�� rindo?
Ele continuou rindo por muito tempo,
mas depois, ainda com ar de riso, explicou:


��� N��s dois neste quarto, nus, falando
de romances e de livros policiais!
24���


Capitulo 3

Aventura

Percebendo a aus��ncia dos dois, as garotas
conclu��ram que o lugar mais l��gico
para encontr��-los seria um motel, onde, entretanto,
n��o tencionavam procur��-los,
mesmo que houvesse uma necessidade urgente.


��� E agora? ��� perguntou Carmo.
��� Agora? Sei l��! Que garota estranha!
��� Estranha por qu��?
��� Passou a semana inteira dizendo que
n��o queria mais aventura com homem nenhum,
que n��o pretendia ser m��e solteira

aos trinta anos. Fez a viagem inteira de
maneira quieta, quase n��o atendeu ��s
brincadeiras de Eurico, e agora a primeira
coisa que fez foi ir para um motel dar sua
trepadinha, deixando a gente aqui sozinha.


��� �� o fasc��nio do Eurico, maninha. O
nosso namorado �� fogo.
��� Fogo, ��? Mas sabe o que a gente
deveria fazer agora, Carmo?
��� Diga.
��� Arranjar algu��m e botar um par
de chifres nele. Ser�� bem feito.
Sa��ram caminhando pela praia e a ��nica
coisa que n��o faltou foram homens que
a perseguissem.

��� Vamos partir para um namorinho,
Carmo?
��� Claro. V��o esperar a gente at�� a
noite, para deixarem de ser...
��� Olha aqueles dois, Carmo? ��� gritou
Helena, interrompendo a amiga.
Os jovens, entretanto, passaram ao largo,
perseguindo outras garotas. Depois de

26���


alguma escolha, as duas optaram por jovens
bonitos, jovens fortes que corriam a
praia em ambas as dire����es num jipe descapotado.


A aventura, entretanto, n��o teve o fim
feliz que imaginavam ou, certamente, pretendiam.


Depois de almo��arem peixe �� brasileira,
num restaurante praiano, longe de Ubatuba,
os dois jovens j�� estavam b��bados
e, diante disso, elas se mostraram interessadas
em voltar �� base.

��� Voltar? ��� perguntou um deles, com
a voz enrolada, o corpo oscilante. ��� Mas
a coisa nem come��ou, ainda, meninas...
nem come��ou...!
��� Vamos voltar ��� disse o outro, aparentemente
decidido. ��� Embarquem.
Elas embarcaram. Depois de uma correria
louca pela areia, correria que era
acompanhada de gritos e palavr��es, chegaram
a um recanto bastante deserto onde,
ainda mais b��bados, pois tinham trazido
bebida no jipe, tentaram violent��-las. Diante
da refei����o natural, da rea����o, come��aram
a espanc��-las de forma cada vez

���27


mais violenta, e a progress��o se tornava
insuport��vel quando os gritos atra��ram
curiosos.

A princ��pio os curiosos limitaram-se a
olhar a cena e alguns deles mesmo riam,
outros desviavam-se para longe, at�� que os
pedidos de socorro comoveram alguns rapazes,
e dois deles, fortes e decididos, aproximaram-
se.

Os espancadores tentaram reagir, mas

a. embriagu��s n��o os levou mais do que
uma pequena resist��ncia, onde levaram a
pior rapidamente.
��� Depois a gente se encontra ��� gritou
um deles, enquanto o outro grunhia:
��� Depois a gente se encontra e acabo
com a ra��a de voc��s!
��� Acaba! Mas acaba �� com a cacha��a
de S��o Paulo, seus panacas!
Os jovens b��bados rumaram para o jipe
que, dentro de segundos, corria pela praia
com a rapidez de foguete, como se tivesse
com jato na cauda.

��� E agora? ��� perguntou Helena.
��� Estamos livres, Helena!
28���


��� Livres? Est�� bem! Mas nossa roupa
est�� em Ubatuba... E se Eurico voltar para
S��o Paulo sem nos esperar, Carmo!?
J�� pensou nisso?
��� N��o h�� perigo. Ele nem �� louco!
��� Se far�� ou n��o, �� dif��cil saber, mas...
Os dois rapazes tinham se aproximado
mais e contemplavam-nas em sil��ncio. Da��
a instantes um deles, o que parecia mais
velho, perguntou:

��� Quem s��o eles?
��� S��o uns amigos... Eram amigos.
Ficaram b��bados e mostraram a ra��a.
��� Anotei a placa do jipe ��� disse o
outro. ��� Querem dar queixa �� pol��cia?
��� N��o! ��� gritou Carmo, assustada. ���
A gente tamb��m �� culpada por n��o escolher
melhor os amigos.

��� Quem ia supor que ficavam t��o diferentes
quando b��bados, Carmo?
��� S��o de onde... voc��s? ��� perguntou
o que parecia mais velho.
��� S��o Paulo. A gente estava em Ubatuba,
com amigos. Est�� perto?
���29


��� Mais ou menos ��� disse um dos jovens,
tomando a dianteira. ��� Levo voc��s
l��.
��� Mas...
��� N��o tem problemas ��� disse o mais
velho. ��� Estamos de carro ��� riu e depois
acrescentou: ��� Estamos de carro... e n��o
estamos b��bados.
As garotas trocaram olhares entre si,
ainda assustadas. A situa����o entretanto,
n��o admitia hesita����es ou escolha. Embarcaram
no autom��vel sem mais relut��ncia
e evitaram olhar para as pessoas que continuavam
agrupadas, a maioria homens,
tendo a impress��o de que eram avaliadas
em profundidade, julgadas.

Nenhum coment��rio inc��modo, por��m,
lhes chegou aos ouvidos, embora houvesse
sussurros, algumas risadas talvez maliciosas,
olhares atentos.

Os rapazes foram cordiais e a viagem
r��pida. Deixaram o endere��o de S��o Paulo,
pedindo que os procurassem, e na hora
da despedida o que parecia mais velho
disse num tom de voz bastante firme:

30���


��� Se resolverem.,. estamos ��s ordens.
Para qualquer coisa! ��� e frisou a ��ltima
frase.
N��o havia sinais de Neuza ou de Eurico
pr��ximo ao carro, estacionado no mesmo
lugar.

Depois de procur��-los em v��o por muitos
lugares, viram-nos sair abra��ados de um
restaurante:

��� Al��, meninas! ��� exclamou Eurico,
como se nem tivesse percebido a aus��ncia.
��� Que neg��cio �� este de escaparem
de fininho? ��� perguntou Carmo, sem disfar��ar
uma ponta de despeito. ��� A gente
aqui como uma boba!
Neuza apenas riu e Eurico fez um coment��rio
qualquer sobre o tempo, prenunciando
chuva.

Embarcaram, rumando para S��o Paulo.
O transito agora estava bastante intenso
devido �� proximidade da chuva.

Helena contou a aventura sofrida, es-.
pecialmnte para justificar as marcas de
espancamento, ainda evidentes.

���31


Eurico n��o se mostrou impressionado e
nem conselheiro, fazendo apenas uma observa����o
fria:

��� Sair com estranhos nos exp��e a estes
riscos ��� depois, como se pretendesse
se redimir, observou: ��� Voc��s t��m a placa
do jipe. Querem que eu tome alguma provid��ncia?
Talvez..
��� N��o, n��o ��� eximiu-se Helena. ���
Tudo bem. O que passou, passou.

J�� na Via Dutra, sem mais sinais da
chuva que terminara por n��o cair, Eurico
avisou;

��� 0 jantar hoje �� l�� em casa. Antes
de sair, telefonei para a empregada, encomendando-
lhe um jantar delicioso...
para seis.
��� Seis? ��� perguntou Neuza, falando
pela primeira vez durante o regresso.
��� Voc��s, eu e dois amigos.
��� Mas voc�� n��o tinha falado nada
sobre isso, Eurico! ��� protestou Carmo com
falsa indigna����o. ��� Somos a ��ltima a saber
de suas festas?
��� Ficam sabendo agora.

��� Vamos passar l�� em casa, ent��o, para
trocarmos de roupa. Certo?
��� Por que isto? O traje ideal para um
jantar, de domingo �� a roupa de banho.
Afinal, a piscina...
��� Diante de estranhos?
��� S��o gente de confian��a. Ou acha
que convidei estranhos espancadores? ���
perguntou ele em tom c��ustico, mas acrescentou:
��� S��o estranhos para voc��s, claro,
mas s��o ��ntimos da minha casa. Nossa casa
"Nossa casa" ��� repetiu Carmo mentalmente,
enquanto olhava aquele homem bel��ssimo,
um pouco mel��fluo, com jeito
manro e gestos macios mas que era verdadadeiramente
assombroso na cama, capaz
de satisfazer uma mulher, duas e, quem
sabe tr��s, sem precisar de subterf��gios e
nem iogos er��ticos apenas simuladores de
pot��ncia.

Mas gostaria na verdade, de casar com
ele?

Sabia que n��o. Casar era uma palavra
forte e se tornava progressivamente mais



forte �� propor����o que seu primeiro amante,
o homem a quem primeiro dera o corpo,
se perdia no tempo e (quem sabe?) no
espa��o.

Ficou olhando a fita da rodovia ser
consumida pelo autom��vel silencioso, enquanto
Eurico procurava manter um di��logo
alegre, agora dando mais aten����o ��
pequenina Neuza a bela Neuza de olhos
amendoados.

Neuza, entretanto, parecia distra��da.
Distra��da sem que isto significasse aborrecimento
ou t��dio.

Estaria pensativa?
Voltou o rosto para ela e ambas riram.
Pensou em fazer alguma pergunta, alguma
observa����o sobre o dia, mas mudou de
id��ia.. Haveria tempo.

34



Cap��tulo 4

O grupo

Carmo notou como Neuza ficara impressionada
com o apartamento de Eurico
e, de maneira supreendente para sua maneira
de ser, como externara essa impress��o.


��� Voc�� vive num para��so, garoto.
��� Acha?
��� Acho. �� uma casa magn��fica, uma
coisa de cinema. Pode crer.
��� Talvez seja o efeito as luzes, a cor
da ��gua da piscina, as plantas...
��� E quer mais?
���35


��� Bem. ..
��� Nem bem e nem mal, garoto. Al��m
de tudo mulheres... sempre mulheres..
n��o �� isto que voc�� quer? Sexo, sexo e...
mais sexo?
Ele n��o respondeu. Caminhou de um
lado para outro, aspirou o ar noturno,
ligou o som, deu mais alguns passos sem
dire����o e murmurou quase que para si mesmo:


��� Todas as coisas de que gosto.
Ningu��m perguntou quais eram "todas"
as coisas de que ele gostava, principalmente
porque um belo c��o surgiu puxando a
coleira e veio. se esfregar nas pernas do
dono, como se fosse um cumprimento:

��� Boa-noite, A��.
��� Que significa A��? ��� perguntou Neuza.
��� Um simples som. Primeiro eu quis
cham��-lo de Ax�� que na linguagem do candombl��
significa um objeto m��gico, sagrado
e que possui for��a espiritual. Uma namoradinha
da ��poca me dissuadiu e escolhi
36���


A�� que, sem d��vida, lembra algum som
da macumba ou do candombl��.

��� Ay��... talvez ag��... que significa
licen��a, perd��o. �� perigoso, por��m. De qualquer
modo �� um cachorro e ser�� que um
cachorro possui vida sagrada?
��� Toda a vida �� sagrada ��� disse Helena.
��� Discurso, bel��ssimo discurso! ��� brincou
Eurico, justamente quando a empregada
veio avisar que chegavam dois rapazes,
completando:
��� S��o o Dr. Alo��sio e um que... que...
acho que se chama Pedro.
��� Alo��sio e Pedro. Obrigado, Marta.
Voc�� querendo pode ir para casa e n��o
precisa vir amanh��. Combinado?
��� Est�� certo.
��� Precisa de alguma coisa?
��� N��o. Obrigada, Seu Eurico ��� voltando-
se para as garotas, mas sem encar��-
las individualmente, ela murmurou: ���
Boa-noite.
��� Nesta casa at�� a empregada �� bonita!
��� exclamou Carmo.
���37


��� N��o �� verdade? ��� disse Neuza, enquanto
Eurico se levantava para atender
OS dois rapazes que entravam. ��� E vejam
que homens lindos?

��� Ser��o tarados? ��� disse Helena.
��� Sem d��vida ��� disse Carmo. ��� Homem
nesta casa s�� entra se for tarado. E
o mais tarado �� o pai do Eurico, um cinq��ent��o
incr��vel.
Eurico aproximou-se com os visitantes.
As garotas continuaram sentadas negligentemente,
mas sem desviar os olhos do grupo
e demonstrando satisfa����o, e satisfa����o
conseq��ente, �� poss��vel, de descobrirem dois
homens de boa apar��ncia e que, com Eurico,
faziam um belo conjunto.

A pr��pria Neuza, at�� h�� poucos dias
t��o recatada, mostrava-se feliz, animada.

Eurico, indicando o primeiro dos jovens,
isto ��, um que se deslocava um pouco ��
frente, fez a apresenta����o, dando �� voz
um tom c��nico:

��� Este �� Pedro, um grande amigo meu.
Pedro, a�� est��o Carmo, a mais morena;
a loura �� Helena e a terceira, a miudinha
38���


�� Neuza ��� fez um curto sil��ncio e, em seguida,
indicando o outro jovem, disse: ���
O outro rapaz, tamb��m amigo dos velhos
tempos, �� Alo��sio.

As garotas se levantaram para apertar
as m��os dos rec��m-chegados e logo em seguida
eles estavam com copos de u��sque
e gelo e participavam animadamente da
conversa, como se fossem velhos conheci


dos.

��� Que tal estes exemplares de f��meas,
Pedro? ��� perguntou Eurico, com evidente
inten����o de tornar o ambiente informal,
talvez er��tico.
��� Bonitas... belas ��� gaguejou Pedro
e logo depois olhou para o pr��prio copo
de u��sque, como se tivesse descoberto novo
interesse nele.
��� Vamos, Alo��sio! J�� que o Pedro ficou
mudo, d�� sua opini��o!
Alo��sio riu de maneira menos t��mida do
que o companheiro, e antes de responder
bebeu um longo trago de u��sque, como se
procurasse coragem. Em seguida, ainda
rindo e com voz segura, disse devagar:



��� Olha .. Eu j�� tive bastantes casos
com mulheres... sem que isto signifique
que estou me gabando. Casos espirituais,
casos rom��nticos, casos quent��ssimos, muitos
sensuais e, tamb��m casos passageiros.
Conheci mulheres lindas, rom��nticas, sofisticadas,
rid��culas, enganadoras, espirituais,
de todos os tipos. Mas acreditem, acreditem
mesmo, que nunca me vi... nunca me vi
diante de um conjunto t��o perfeito, t��o
equilibrado, onde fosse imposs��vel dizer:
prefiro esta. Eu na verdade, prefiro as tr��s.
Eurico gargalhou de modo debochado,
um pouco fora da sua maneira de ser, sempre
alegre, amena, mas nunca francamente
debochada, e se voltou para Pedro, que
fixava as mulheres fascinado:

��� Vamos, Pedro! D�� sua opini��o!
��� Vou ter que falar, acho...
��� Fale, fale!
��� �� o seguinte. Uma vez conheci um
velho muito simp��tico, um professor e incr��vel
conhecedor do mundo, que me disse:
escute, Pedro, n��o d�� opini��o sobre mulheres
e comidas sem antes prov��-las.
40���


Todos riram. Depois, ainda rindo, Eurico
voltou a falar e agora em tom menos
debochado:

��� J�� que falamos em comida, vamos
para a mesa. Jantar tipo americano. Quem
se habilita?
Todos pegaram pratos e dentro de minutos
comiam animadamente, estimulados
pelo ��lcool e pelo entendimento que se
estendia rapidamente pelo grupo.

Neuza, apesar de discreta, ria e falava
de vez em quando, embora sem pronunciar
grandes frases. Carmo, e mais encantada,
borboleteava de um lugar para outro, flertava
descaradamente com todos e Helena
parecia ter adotado Alo��sio, o mais dado
a discursos, hist��rias divertidas, observa����es
obscenas

��� Como �� que voc�� gosta de mulher?
��� perguntou ele, voltando-se para Pedro.
��� Jovens.. . bonitas... simp��ticas ���
respondeu Pedro, reticente.

��� E voc��, Eurico?
���41


��� Eu? Ora, sou da opini��o de Pedro,
acrescentando apenas um item: jo���.
Para mim ��� debochou Alo��sio ��� elas
devem ser como bolas de futebol.

��� Bola de futebol? ��� perguntou Carmo
quase hist��rica. ��� Para chutar nelas?
��� N��o, querida. Bola de futebol n��o
tem frente nem costas. �� igual de todos
os lados e do modo que cair... sai quicando.
Todos riram, menos Carmo, que pareceu
custar a entender. Quando entendeu,
riu de modo amarelo e brincou:

��� Descarado!
A conversa prosseguiu animada. Depois
do jantar os grupos se dividiram: homens
para um lado, como se tivessem encontrado
algo de interesse entre eles e as
mulheres do outro, discutindo quem gostaria
de ficar com quem, e n��o chegando
a uma conclus��o.
���Eurico �� o mais bonito, disparado!

��� disse Helena com seguran��a. ��� Mas ��
fruta provada. Que tal Alo��sio... n��o ��
.bonit��o.?
42���


Como resposta, Neuza perguntou:

��� Vamos ter que ficar com eles?
��� Ter que ficar, n��o teremos, claro.
Mas... �� claro- que esperam que a festa
termine na cama, n��o �� mesmo? Claro que
esperam.
��� Nada obrigat��rio, por��m?
��� Nada obrigat��rio, claro.
��� Ent��o vou sair dessa.
��� Seria grosseria, Neuza!
��� Grosseria? N��o sei por qu��?
��� Afinal... a gente veio para jantar
e sabia que haveria tr��s homens.
��� Jantar �� uma coisa. J�� jantamos.
Trepar �� muito outra e n��o sei se quero.
��� S�� se for com Eurico?
��� N��o �� caso de prefer��ncia, Helena.
N��o gosto �� de ir aceitando assim um
cara sem mais nem menos. A n��o ser que
se crie um clima... uma coisa assim meio
rom��ntica... sabe? Mas ir por ir, abrir
as pernas por abrir as pernas, prefiro ir
dormir.

��� Est�� bem. Mas n��o vai dizer que vai
embora neste momento?
��� Ah, n��o. A noite est�� s�� come��ando.
S��o oito horas j��?
��� Sete e vinte.
��� Puxa! Temos noite �� be��a!
A conversa girou por assuntos diversos,
at�� que Carmo resolveu nadar um puoco
e, tirando a esp��cie de camisola que usava
sobre o corpo, apareceu espl��ndida na sua
tanguinha azul clara. E sem esperar que
os homens avaliassem seu corpo saltou
espetacularmente para a ��gua.
Helena a seguiu de pronto, mas Neuza
limitou-se a contempl��-las nadando e brincando
como duas crian��as encantadas com

o l��quido azulado.
Os homens se aproximaram da borda
da piscina, levando copos, e ficaram olhando
em sil��ncio. Da�� a instantes Eurico aproximou-
se de Neuza:

��� Quero v��-la nadando.
��� N��o ver��. Pelo menos hoje, n��o h��
esse perigo. N��o h�� mesmo.
��� Est�� com frio?
44���


��� N��o. �� que n��o gosto de fazer movimentos
depois de comer. H��bito de caipira.
��� De caipira, ��? ��� disse Alo��sio, entrando
na conversa. ��� Sou medido e sei
o risco que elas est��o correndo, Mas enfim.
..
Eurico, depois da observa����o feita pelo
amigo, fez sinal para as garotas, que nadaram
at�� �� borda da piscina, lado a lado:


��� Nadar e trepar. Qual dos dois exerc��cios
�� mais perigoso?
Alo��sio riu. Sem coment��rios, aproximou-
se de Neuza e, colocando o copo no
ch��o, sentou-se ao lado dela, enc��rando-a
nos olhos:

��� Voc�� est�� triste ou �� sempre assim?
��� Sou sempre assim.
��� Isto significa?
��� N��o significa nada ��� riu Neuza. ���
Nada, nada.



cap��tulo 5

O jogo do sexo

��� �� amiga de Eurico h�� muito tempo?
��� perguntou Aloisio, tomando uma posi����o
ainda mais c��moda no ch��o e retomando
o copo.
��� Na verdade o conheci hoje. Minhas
amigas s��o f��s habituais.
��� Que tal ele?
��� Maravilhoso, n��o ��? Parece maravilhoso.
��� Parece ou ��?
��� Como vou saber? Acabei de dizer
nie o conheci hoje. J�� esqueceu?
46���


��� N��o, claro. Qual �� a opini��o de suas
amigas sobre ele?
Neuza levantou os olhos para encar��-
lo e levou alguns segundos para responder
.de modo quase ��spero ou, pelo menos,
pouco ameno:

��� Por que n��o pergunta a elas?
��� Desculpe... eu. .. Bem... Eu queria
somente conversar com voc��... e...
��� H�� tanto assunto, Alo��sio! Por exemplo:
voc�� �� m��dico mesmo?
��� Sou m��dico mesmo. Operador, com
alguma pr��tica de... ginecologia.
Neuza preferiu pasmar por cima do evidente
mau gosto da observa����o, fora de
prop��sito ou dita com inten����es provocadoras
e uerguntou:

��� E Pedro?
��� Economista. Pedro lida com Bancos,
cr��ditos, dinheiro a 'rodo!
��� Estou perdida fio meio de voc��s.
���Por qu��?
��� Ora, por qu��! ��� riu de modo desconsolado
e explicou ��� Euricou, um milio

n��rio sem aparente ocupa����o. Alo��sio, um
m��dico operador. Pedro um economista que
lida com milh��es ou bilh��es.

��� E voc��?
��� Eu sou empregada de um turco. Lido
com importa����o e exporta����o, mas nenhum
dinheiro que rola na firma �� meu,
al��m do sal��rio que me pagam.
��� E as outras garotas?
.��� Burocratas como eu. E, mais do que
eu, muito mais, amantes da vida.

��� Voc�� me parece amarga, Neuza!
��� N��o exatamente... talvez... talvez
um pouco desencantada, olhando para as
coisas como se tudo fosse coisa j�� vista,
j�� provada.
��� Mas voc�� �� bem jovem!
��� Nem tanto. Devo ser mais velha do
que voc��. Qual �� sua idade?
��� Vinte e oito.
��� Empatamos ��� hesitou e em seguida
disse: ��� Acho que se idade valesse, voc��
deveria estar bem mais desencantando do
que eu.
48���


��� Por qu��?
��� Mais experi��ncia, mais amores, mais
jogo do sexo. Eu sou uma pobre velhinha
inexperiente...
��� Casada?
��� Solteira
Eurico aproximou-se dos dois, ladeado
por Pedro e Helena. Carmo ficara dentro
d��gua, embora sem nadar, apenas boiando
tranq��ila.

��� Falam de qu��? ��� perguntou ele,
dirigindo-se especialmente a Neuza.
Foi Alo��sio quem respondeu, entretanto:


��� Neuza dizia-se desencantada, achando
a vida um neg��cio chato...
��� Alto l��! ��� gritou Neuza praticamente:
��� N��o falei nada da vida, Alo��sio!
��� Disse o qu��?
��� Que sentia algumas coisas, veja bem,
algumas coisas com ar de reprise. S�� isso.
Sem mais coment��rios e sem contesta����es,
Eurico observou, bonach��o:

��� Pronto! Vim justamente tentar anular
este ar de reprise. Que tal um jogo?
���49


��� Diabo! ��� protestou Neuza. ��� Voc��s
s�� pensam no tal de jogo!
��� Este jogo �� divertido, Neuza. �� pelo
menos uma coisa que quebra a rotina.
��� Diga l�� ��� falou Alo��sio, indiferente
aos protestos de Neuza. ��� Que jogo �� este?
Eurico pigarreou. Voltou-se para Carmo,
ainda dentro d��gua e chamou:

��� Venha querida. O assunto �� geral.
Carmo saiu da ��gua sem relut��ncia e
se aproximou com passos graciosos, evidentemente
sabendo-se apreciada. Seus cabelos
brilhavam, ��midos.

��� Que tal um jogo querida?
��� Que tipo de jogo?
��� Que tipo prefere?
��� Qualquer um, planejado por voc��.
Sou louca por jogos e por tudo que voc��
inventa.
Eurico voltou-se para o restante do grupo
e fez um gesto que abarcava todos:

��� Somos tr��s pares. Levaria tempo saber
quem gostaria de ficar com quem, ��
50���


l��gico, embora n��s, pelo menos de homens,
gostar��amos de ficar com todas.

Os homens riram. Carmo esbo��ou um
ar de riso, Helena franziu as sobrancelhas
e Neuza fingiu n��o ter ouvido. Eurico continuou
:

��� A melhor maneira de formar os grupos,
para a cama ou n��o, ser�� atrav��s de
um jogo... a que eu gostaria de denominar
de "Sexo ao Lance de Dados". Que
tal?
��� Jogo atraente ��� disse Alo��sio.
��� A coisa me seduz ��� disse Pedro.
As tr��s mulheres ficaram em sil��ncio."
Prevendo uma relut��ncia grave, principalmente
por parte de Neuza, ele voltou-se
para ela especialmente:

��� Alguma de voc��s discorda?
Carmo e Helena ficaram caladas, e
Neuza, talvez para surpresa geral, disse:

��� Vamos ver se tenho sorte com os dados.
Feliz no jogo e infeliz no amor.
��� ��timo, ��timo ��� exclamou Eurico
entusiasmado. ��� Podemos come��ar?
���51


��� Jogo na mesa! ���gritou Alo��sio completamente
euf��rico e saltitante.
��� Um momento. Vamos primeiro dar
as explica����es necess��rias! alertou Eurico.
Todos ficaram em sil��ncio, bebericando
simplesmente ou tentando disfar��ar a
aten����o que o tema exigia. Finalmente, depois
de fazer charme suficiente, o anfitri��o
come��ou a p��r as cartas na mesa.

��� Como voc��s sabem ��� pigarrreou ���

o sexo �� assunto do dia. Fazer amor em todas
as posi����es e ambientes, fazer sexo
com todo tipo de parceiro, de todas as maneiras.
Alguns, para variar, resolveram
mesmo voltar ao recesso de seus lares ���
todos riram ��� e fazer amor com suas mulherzinha
na cama, a luz apagada e rosto
como manda a tradi����o. Todos sabem disso
ou eu disse alguma novidade?
��� Continue! ��� bradou Alo��sio. ��� Parece
candidato a deputado!
��� Continuo, pois n��o. Hoje resolvi que
tentaremos outra maneira de variar. ..
��� N��o venha com essa de jogo! Jogo
er��tico j�� n��o �� varia����o!
52



��� Varia����o ��, claro. Sempre que houver
o mist��rio haver�� varia����o ��� protestou
Eurico.
��� Est�� bem ���.aceitou Alo��sio. ��� Fale
na varia����o de agora.
��� Certo. Mas a varia����o desta vez n��o
est�� exatamente no jogo, entende? O jogo
desta vez �� apenas um artif��cio, uma solu����o,
desde que temos tr��s garotas muito
bonitas e sensuais e tr��s homens. Eu perguntaria
a Pedro, por exemplo. Fa��a ��
escolha. Ele se mostraria indeciso, assim
como qualquer homem normal ficaria indeciso
... mas, tamb��m, as garotas contam
e...
��� At�� que enfim! ��� interrompeu Neuza.
��� At�� que enfim percebo que as garotas
contam nesta casa. At�� aqui julgava
que fossem apenas buracos ambulantes!
��� Contam! ��� defendeu-se Eurico, ignorando
o riso generalizado que as express��es
justas de Neuza tinham provocado.
��� Contam! �� sobre isto exatamente qu�� eu
come��ava a falar... Permitam?
��� Sou toda ouvidos ��� disse Neuza ainda
amuada. ��� Mas n��o deixe de ser generoso
...
���53


��� Est�� bem. Eu queria dizer o seguinte:
somos tr��s homens, e se f��ssemos esperar
que os casais se organizassem, poder��amos
levar horas, por raz��es que n��o vem aqui
discutir, percebem?
Ningu��m disse nada. Eurico pigarreou
outra vez, um pouco encabulado, talvez
por n��o ter tido oportunidade de esclarecer
que as raz��es consistiam no simples fato
de ser amante das tr��s mulheres (sua vaidade
indicava) seria o escolhido por qualquer"
das tr��s. Diante da impossibilidade,
por��m, resolveu continuar:

��� Sendo assim, proponho um modo
pr��tico de escolhermos as garotas...
��� Por oue "voc��s" escolherem? ��� falou
Neuza outra vez, agora num tom de
voz ��spero, e repetiu, for��ando ainda mais
o pronome: ��� Por que "voc��s"?
��� Est�� bem, est�� bem ��� aquisceu Eurico.
��� As mulheres far��o a escolha. Mas
de que modo?
54���


capitulo 6

Sexo do lance de dados

Depois de alguma discuss��o, resolveu-
se que o sistema de escolha seria simples:
atrav��s de dados. Surgiu, por��m, um impasse,
levantado por Helena:

��� N��o gostaria de escolher determina
do cavalheiro, mas deixar tudo ao acaso.
��� N��o acredita que determinado numero
de pontos seja fruto do acaso?
��� Est�� bem. Mas digamos que eu fa��a
dez pontos. Com isto terei direito de escolher.
Isto ��, escolhe quem fizer maior n�����
55


mero de pontos em cada rodada. N��o �� isto
mesmo?

��� Claro!
��� Eu preferia dar uma sugest��o.
��� Fale.
��� Cada um de voc��s tr��s receberia um
n��mero por exemplo: Alo��sio, cujo nome
come��a com "a" eq��ivaleria ao um. Eurico
seria o dois e Pedro o tr��s. Lan��ar��amos
os dados, e a que acertasse pela primeira
vez um desses n��meros ficaria com o candidato.
Que tal?
Neuza deu de ombros, indiferente. Carmo
olhava a ��gua de maneira fria e, talvez
por pressa de fazerem sexo com qualquer
das tr��s, os homens aceitaram a sugest��o,
sem mais discuss��es.

Helena continuou falando:

��� Eu me chamo Helena e come��o. Depois
vem Maria do Carmo e em seguida
Neuza.
��� Fa��a o lance, boneca ��� gritou Alo��sio,
que j�� come��ava a ficar b��bado.
. Helena, sem lan��ar sequer um olhar
para ele, balan��ou o dado na palma da

56���


m��o e o fez rolar pelo ch��o ladrilhado,
segundo as evolu����es com olhos atentos.

��� Um! ��� gritou Alo��sio. ��� Obrigado,
meu Deus, por esta sorte!
Cessado o riso, Carmo retomou o jogo,
substituindo Helena. Na primeira jogada
fez quatro. Na segunda fez um, e na terceira
novamente o quatro. Na quarta rodada
marcou o tr��s, e Pedro, um pouco
t��mido, esbo��ou um sorriso.

��� Acho que n��o precisamos de lance
��� disse Neuza, olhando para Eurico% ���
mas preciso deixar aqui um protesto enquanto
�� tempo ��� olhou cada uma das
pessoas em volta e acrescentou: ��� Nenhuma
emo����o nesse jogo. Vamos para a cama,
que �� lugar quente, mas enquanto isto pensemos
em alguma coisa que seja realmente
diversa. Combinado?
��� A proposta fica no ar ��� observou
Eurico, enla��ando-a. ��� Vamos completar
o que come��amos �� tarde, minha queridinha
. Depois a gente pensa.
���57


Carmo assustou-se quando voltou do
banheiro, ainda vestida, e encontrou Pedro
(que ela julgara t��mido) completamente
despido no meio do quarto.

��� Estou pronto.' ,��� disse ele.
��� Pronto? ��� perguntou ela praticamente
assustada, os olhos presos no sexo
descomunal, que pendia entre as pernas
do jovem, o que a levou imediatamente a
recordar-se de uma aventura recente, quando
tora violentada por um jovem que a
levara para a cama. ��� Mas voc�� ��...
Pedro desceu os pr��prios olhos para a
parte do seu corpo que causava a admira����o
ou o susto de Carmo, e observou,
modesto:

��� N��o se preocupe Sei manej��-lo...
��� Vai me machucar!
��� N��o h�� perigo... Venha...!
Aproximou-se da garota que. tr��mula,
um pouco de exita����o e um pouco de medo,
ficara parada no mesmo ponto, os olhos
continuando fixos.

58



De passagem ele apagou a l��mpada que
remetia uma luz mais intensa e o quarto
mergulhou numa penumbra r��sea, suficiente
somente para que os contornos se
definissem, e bastante para ocultar a exuber��ncia
desnecess��ria naquele momento,
de simples prepara����o.

��� N��o se assuste, querida, n��o se assuste.
Voc�� nunca teve um homem grande?
��� J��... Uma vez. Uma vez um namorado.
.. Um homem que eu conheci na
Liberdade era... Era assim enorme e me
deixou machucada!
��� N��o vou machuc��-la. Prometo.
Ela fechou os olhos, deixando-se deo
nudar devagarinho, como se fosse a primeira
vez que recebia um homem, como se
fosse uma virgem inexperiente, embora todo
o seu corpo fremisse ao contato daquelas
m��os h��beis, macias e fundamentalmente
provocantes.

��� Ainda est�� com medo?
��� N��o...
���59


��� Confia em mim?
Sem responder, ela cruzou os bra��os
sobre os seios e fechou os olhos.

��� Confio.
Depois de deix��-la inteiramente nua,
ele desceu os l��bios desde a testa, sem
pressa e sem hesita����o, e depositou beijos
incontidos num sexo fremente, como se,
ainda a��, Carmo fosse a virgem mais inocente
na noite paulista, a mulher aue nunca
tivera aventuras.

��� Querido. ..
Seu corpo jovem fremiu e continuou
fremindo- enquanto uma l��ngua inquieta
e ��gil caminhava com perfei����o sobre seu
sexo. E.n��o resistiu em manter as pernas
fechadas, abrindo-as vagarosamente, �� propor����o
que sentia a l��ngua afundar dentro
de seu corpo .afundar, afundar, enquanto
m��os subiam por seu corpo, dedos titilavam
sua pele, unhas se encravavam nos lugares
mais diversos, numa inquietude faminta.

��� Querido... Querido... Eu... ��� Ela
sentia a garganta seca, os olhos parecendo
saltar das ��rbitas, as pernas tr��mulas
60���


o sexo palpitando sob o fogo de car��cias h��beis,
terrivelmente dominadoras. ��� Querido...
Querido... Eu... Eu... Eu vou
morrer... N��o posso, querido, n��o posso...
Ah, querido, querido, meu Deus...
Meu...
Viu-se deitada na cama, as pernas ainda
apertando uma cabe��a macia e desmaiava
de gozo, quando sentiu que o corpo do
jovem come��ava a subir pelo seu como uma
lagartixa macia sobre um muro ardente,
uma sanguessuga dardejando sobre sua pele
que come��ava a se inundar de suor.

��� N��o... querido... N��o!... Voc�� vai
me ferir... Vai me ferir!... ��� soltou um
grito profundo, lancinante, mas compreendeu
n��o ter sido de dor, mas de gozo, desde
que o amante j�� estava dentro de seu
corpo inteirinho, a carne latejante vibrando
dentro de sua carne, o sexo dominador
completamente fundo dentro de sua carne
��� Querido... querido... eu... eu
vou morrer de gozo... vou morrer... voc��
vai..- vai... ah, querido, afunde mais,
mais!... Rebente-me querido... destrua-
me .,. mate-me... mate-me... Pedro, Pe���
61


dro, Pedro! Quero morrer... agora, agora,
agora!

Como se estivesse disposto a atend��-la,
Pedro aumentou os movimentos, aumentou
at�� atingir uma velocidade fant��stica e,
com um golpe de mestre, retirou do encaixe
febril o sexo untado, brilhante e ��mido,
provocando um grito lancinante como
se ele tivesse recebido mil punhais no cora����o
e, com a mesma maestria, levantando
as pernas dela at�� uma altura poss��vel,
deixou o sexo vermelho e desej��vel exposto,
mas n��o. se contentou com aquela vis��o,
fazendo com que ela erguesse as n��degas
at��-afast��-la do len��ol, at�� fazer com que
apenas as costas ��midas tocassem no len��ol
e, mestre dos mestres apesar da pouca
idade, projetou o dardo para a frente, fazendo
pontaria num alvo contra��do, escuro
e diminuto, colocado um pouco abaixo do
sexo incendiado, e afundou num s�� golpe,
golpe mortal, certeiro, avassalador.

��� A�� n��o... n��o!!!
Era tarde, por��m. Ela j�� estava invadida
pelo membro latejante que, com impiedade
e furor, revolvia-se nas suas entranhas de

62���


mulher jovem, faminta por aventuras sexuais,
mas sempre temerosa, incapaz de receber,
um novo golpe, por delicioso que
fosse, sem um grito de protesto.

��� A�� n��o querido... a�� n��o. .. n��o...
eu estou gozando, querido, gozando, estou
morrendo de novo, de novo, de novo...
meu queridinho, meu queridinho... a��...
a��... afunde... afunde, afunde... querido...!
��� Depressa, querida, depressa ��� Pedro
come��ou a falar, vendo que grossas l��grimas
desciam dos olhos da amante, que sua
boca linda come��ava a se contrair horrivelmente,
como se sofresse de verdade. ���Depressa,
querida, depressa, mexa... mexa...
levante mais, levante... deixe eu.ir
mais fundo... mais fundo... ah, queri
da, voc�� �� maravilhosa... voc�� ��... �� minha
minha paix��o...
Pedro afundou como se tivesse sofrido
um golpe violento na nuca, por��m Carmo
n��o sentiu o arriar do corpo sobre o
seu, pois tamb��m desfalecera.

Ficaram quietos, abra��ados, o suor jorrando
por todos os poros, uma palpita����o

���63


indel��vel em ambos os corpos unidos indicando
um resto de vida, uma vida que,
entretanto, parecia esvair-se como um filete
de corrente numa terra seca, ��rida,
castigada pelo sol.

* * *

��� Preciso fugir de voc��, Carminha.
��� Por qu��?
��� Estou apaixonado.
��� Mentira.
��� Estou.
��� Verdade?
��� Verdade, verdade. Estou apaixonado
por voc��, como... como nunca estive na
vida.
��� Se �� verdade, por que vai fugir de
mim, ent��o? Responda, agora!
��� Tenho medo.
��� N��o tem.
��� Tenho. Juro que tenho.
��� Me julga f��cil?
64

��� N��o �� isso. N��o poderia ser. Tenho
medo... medo... porque... ah, n��o sei.
Tenho medo porque tenho medo de amar,
do amor. Medo de sofrer.
Ela o beijou nos olhos, certa de que
naquela noite os dois faziam pap��is de t��midos,
de inexperinetes e assustados, quando
pelo certo possu��am quil��metros de per��cia,
como se tivessem nascido fazendo
amor.

Fora possu��da por quantos homens?

A que tipos variados de amor e sexo
se entregara naqueles simples tr��s meses,
talvez menos, que vivia em S��o Paulo e
onde chegara virgem?

Sabia muito. Haveria muito o que saber,
mas uma coisa j�� estava aprendida:
Pedro n��o estava apaixonado. Estava feliz,
deliciado, mas agredecia aos deuses somente
por ter encontrado uma mulher jovem,
bonita, nada dispendiosa, que abrira

o corpo, e dera-se inteira, como se ele
fosse o primeiro e o melhor, o ��nico e o
mais perfeito de todos os amantes encontrados
sobre a terra.
���65


Ela sabia disso. Sabia. E tamb��m compreendeu
que ele lhe adivinhava os pensamentos
no exato instante em que se curvou
para beij��-la na boca, um beijo terno, macio
e palpitante como um beijo de crian��a.


66���


capitulo 7

Novo lance

Quando os dois sa��ram do quarto, j��
encontraram os outros casais na piscina.

��� Que lua-de-mel, nem? ��� exclamou
Alo��sio, cuja voz indicou que estava novamente
��brio. ��� Pulou virgindade ali no
quarto?
��� Por qu��? ��� perguntou Carmo, inocentemente,
e se desprendendo do amante.
��� O grito ��� Alo��sio esperou que os
outros gargalhassem e completou, exata-,
mente debochado, c��nico: ��� Houve um
grito t��o grande que pensei que a virgin���
67


dade da Carmo era feita de ferro. Foi duro,
Pedro?

Os jovens lan��aram-se na piscina e nadaram
em dire����es diferentes. Quando sa��ram,
os corpos pingando, Helena perguntava
em voz alta:

��� N��o se janta nesta casa?
��� Que horas s��o? ��� perguntou Eurico,
como se n��o tivesse rel��gio no pulso.
��� Onze e quinte. A noite apenas agora
vai se tornar boa ��� respondeu Alo��sio.
��� Vamos ao rango, ent��o ��� disse Eurico.
��� Comida e bebida a fartar, pois tenho
uma novidade para todos. Novidade
de ouro.
��� As novidades primeiro ��� gritou Pedro,
servindo-se de u��sque.
��� N��o, n��o. Pelo amor de Deus n��o
insistam ��� retirou o fone do gancho, ligou
para um restaurante e pediu "jantar
leve para seis pessoas, urgente". Rep��s
o fone no gancho e aconselhou banho de
piscina at�� chegarem as refei����es. Final68���



mente, disse: ��� A novidade �� uma loucura!


��� Se n��o quer dizer n��o provoque ���
pediu Helena. ��� Deixe tudo para a hora
certa.

��� Bem ��� condescendeu Eurico: ��� A
meia-noite em ponto, meia-noite certinha
pelo meu rel��gio, direi do que se trata.
Combinado?
Ningu��m falou mais nada, at�� que um
gar��om invadiu o apartamento transportando
um carrinho cheio de comida e sendo
seguido por mais dois, tamb��m .transportando
carrinhos, como se transportassem
alimento para um batalh��o.

Em instantes a mesa foi preparada,
mas logo Eurico os dispensou, pedindo que
voltassem no dia seguinte para transportar
de volta o material. Antecipou gorjetas,
tratou-os amistosamente e t��o logo
os viu sumindo no elevador, falou para

o grupo:
��� Alimento para todos!
Sentaram-se ruidosamente em torno
da mesa e aos poucos as montanhas de

���69


comida foram devoradas, como se houvesse
dias que todos estavam famintos,

Mas a revela����o de Eurico ocorreu logo
depois da mesa servida, quando os gar����es
tinham somente desaparecido. E provavelmente
foi atenuada pela fome, pois ningu��m
pareceu surpreendido.

Ele disssera:

��� Na pr��xima rodada, algu��m far��
amor com um mendigo! ��� e repetiu com
bastante ��nfase: ��� Com um mendigo!
J�� no fim da refei����o, Helena perguntou,
como se s�� ent��o tivesse ouvido a frase:


��� Fazer amor com um mendigo?
��� Sim.
��� Mas quem?
��� Ora, os dados dir��o!
Neuza levantou as sobrancelhas, contemplando-
o, mas antes de qualquer observa����o,
ele levantou a m��o, pedindo silencio:


��� Voc�� pr��pria pediu emo����o, querida!
70���


��� Claro! Mas quando voc�� fala em
mendigo, conclui-se que as mulheres...
Ele a interrompeu:

��� Talvez eu tenha me expressado mal.
Eu quis dizer: fazer amor com mendigos!
��� Ah, bem! Se isto incluir ambos os
sexos, j�� indica alguma emo����o... e muito
mau gosto.
��� Ainda h�� tempo de mudarmos de
opini��o. Depois da decis��o tomada, ningu��m
poder�� fugir, �� claro. Quem �� que
pretende tomar parte?
Houve um sil��ncio geral. Em seguida, Pedro
foi o primeiro a observar:

��� Acho conveniente sabermos primeiro
do que se trata. Alguma obje����o?
��� N��o, claro ��� disse Eurico. E levantou-
se para o discurso de explana����o: ���
Dentro de alguns minutos, n��s sairemos,
em dois carros com o compromisso de trazer
para este apartamento, at�� ��s duas da
madrugada, no m��ximo, um casal de mendigos.
Repito: um casal de men��ligos.
��� Que loucura! ��� disse algu��m.
���71


��� N��o sei se �� loucura ��� explicou Eurico.
��� Sei que ser�� um tro��o novo, emocionante.
��� Est�� bem, est�� bem ��� pediu Alo��sio,
bonach��o. ��� Se �� para o bem das nossas
emo����es, se �� para revitalizar nossos esp��ritos
cansados, ��timo. Mas vamos a uma
pergunta: Qualquer mendigo?
��� Preferivelmente jovens. N��o preciso
dizer que as mulheres far��o amor com o
mendigo e n��s com as mulheres. Est�� tudo
compreendido?
Houve um curto sil��ncio, depois do qual
Neuza tomou a palavra:

��� Concordo que seja um neg��cio novo
e no qual cheguei a pensar, mas n��s bem
que .poder��amos simplificar a coisa, querido.
��� Aceito a sugest��o. De que modo voc��
acha que devemos simplificar?
��� Primeiro teremos uma partida aqui.
Homens contra mulheres ou vice-versa. O
grupo perdedor far�� amor com um mendigo.
N��o �� melhor assim?
Sil��ncio geral. Diante do impasse, Eurico
sugeriu que se fizesse uma vota����o.

72���


��� Levantem as m��os os que concordarem
coma sugest��o de Neuza.
Ele ficou com a m��o levantada e os,
outros cinco colocaram seus bra��os no alto,
rapidamente.

��� Vamos ao jogo de dados. Esperem
um momento ��� afastou-se sem mais explica����es,
regressando da�� a instantes com
tr��s dados novos e uma ca��apa de couro
trabalhado, que colocou em cima de uma
mesa.
��� Bem, aqui est��o tr��s dados. Como
realizaremos o jogo, Neuza?
��� A soma de pontos obtida por cada
um dos grupos. Acho mais justo.
��� ��timo. Comecem as mulheres, ent��o.
Quem dar�� o primeiro lance?
��� Eu dou ��� disse Neuza.
��� Muito bem ��� disse Alo��sio servindo-
se de u��sque. ��� Vamos ver a sorte das
mulheres!
Neuza agitou os dados na ca��apa e os-
lan��ou sobre a mesa com evidente f��ria.
Os olhos de todos acompanharam as pedras
de marfim e logo algu��m gritou:

���73


��� Seis, mais quatro, mais dois. Doze!
��� Para o bem de todas e felicidade geral
das mulheres, Neuza obteve um n��mero
alto.
��� N��o ��� disse ela. ��� Dezoito �� o m��ximo.
Doze n��o chega a ser um n��mero
bom.
Carmo pegou os dados entre os dedos,
beij ando-os um a um e depois fez seu lance.


��� Cinco, tr��s, dois ��� disse ela. ��� Os
n��meros est��o baixando.
Sem palavras Helena agitou os dados
no recipiente de couro e os lan��ou sobre
a mesa de modo desajeitado, fazendo com
que um dos dados rolasse at�� �� borda da
mesa, onde se equilibrou milagrosamente:

��� Tr��s ases! Que jogo lindo! ��� disse
Alo��sio esbugalhando os olhos. E, depois
de um r��pido sil��ncio, disse: ��� Doze, dez,
tr��s. Vinte e cinco.
��� Agora �� a vez dos homens ��� disse
Eurico. ��� Ao jogo, senhores!
O primeiro lance, feito por Alo��sio, atingiu
o total m��ximo: dezoito pontos. As

74���


mulheres tremeram nas bases e Helena
chegou a esbo��ar um princ��pio de choro,
a reclamar da vida, mas tudo voltou ao
normal. Pedro fez uma soma de pontos
pequena: sete, mas Eurico recuperou a
honra dos homens, atingindo uma soma
maior que a de Neuza: treze.

��� Fant��stico! ��� disse Pedro. ��� N��s
os homens nos livramos da emo����o estranha
de amar uma mendiga! Fant��stico,
incr��vel!
��� E ningu��m dir�� que n��o o merecemos
��� bradou Eurico, bonach��o. ��� Enquanto
as mulheres chegaram aos vinte
e cinco pontos, n��s atingimos os trinta e
oito. H�� o que discutir nessa vit��ria?
As tr��s mulheres ficaram caladas. -Depois,
como que penalizados, os homens decidiram
dar uma nova oportunidade a elas
e, apesar, do orgulho de Neuza, as lamenta����es
de Carmo e de Helena fizeram-na
recuar.

In��til, por��m: a soma dos lances consecutivos
das tr��s, atingiu a soma de vinte
e um, quando as dos homens, repetida, ultrapassou
a contagem anterior:

--75


��� Trinta e sete ��� gritou Alo��sio. ��� ��
inacredit��vel, mas uma vit��ria limpa.
��� Que tal? ��� perguntou Eurico. ���
Querem desistir dos mendigos ou est��o
decididas a ir at�� ao fundo?

��� Por mim vou ao fundo ��� disse Neuza.
Helena riu:

��� Afinal... um pouco de emo����o n��o
faz mal a ningu��m. De qualquer modo...
n��o h�� banheiros e sab��o nesta casa? Ou
�� obrigat��rio beijar o mendigo sujo
Todos riram e o ambiente se aliviou.

76



Capitulo 8

=

Ca��a aos mendigos

��� Agora vamos nos dividir em dois grupos.
N��s, os homens, vamos procurar o
mendigo ideal. As mulheres v��o para o
apartamento delas e voltar��o dentro de
uma hora, quando j�� estaremos aqui ���
esplanou Eurico, continuando: ��� Devem
vir com seus melhores trajes, como se fossem
dormir com um rei.. .pelo menos com
um pr��ncipe herdeiro.
��� Ningu��m . aqui tem roupa para isso!
��� N��o tem? ��� Eurico fingiu surpresa,
mas acrescentou. ��� Est�� certo, ��timo. Mas
���77


vir��o como se viessem fazer uma visita a
mim. Em seguida, n��s, os homens aqui
presentes, nos encarregaremos de dar um
traje de princesa a cada uma. Afinal, voc��s
s��o nossas princesas.

Os outros homens bateram palmas, e
Alo��sio, falando num tom profundamente
s��rio, perguntou:

��� D�� tempo encontrarmos um mendigo
em uma hora?
��� Preciso de dez, quinze minutos. Sei
de um lugar em S��o Paulo que parece at��
sal��o de recreio deles todos. Est��o dormindo
agora, claro, mas que �� que tem? Por
cem cruzeiros qualquer um deles atravessar��
o mundo.
��� Que crueldade! ��� exclamou Carmo.
��� Crueldade? ��� disse Alo��sio. ��� Crueldade
�� n��s ficarmos sem nossa brincadeira
de domingo!
Os dois grupos se dividiram e enquanto
as mulheres rumavam para a troca de roupa,
os tr��s homens dispararam alegremente
pelas ruas noturnas da cidade.

78���


Tinha ca��do uma chuvinha fina e Eurico
calculou imediatamente que os mendigos
estariam debaixo dos viadutos. E saiu
rodando pelo centro da cidade, parando sob
todas as marquises e viadutos, todos os
lugares que oferecessem alguma esp��cie de
abrigo contra a chuva fina, mas foi in��til.
N��o que deixasse de haver mendigos, mas
as exig��ncias de Eurico pareciam graves,
completas, dif��ceis de entender.

��� Que diabo voc�� est�� procurando, homem?
��� perguntou Pedro, saindo de sua
calma habitual. ��� O que n��o set�� faltando
hoje por a�� s��o mendigos!
��� Sei, sei...
��� E ent��o?
��� Estou querendo um tipo especial.
��� D�� uma dica e talvez a gente possa
ajud��-lo. Quer um jovem, um velho, um
de idade mediana ou prefere um que seja
negro?
��� Bem... eu gostaria de um que tivesse
mais ou menos sua idade e cuja
apar��ncia revelasse alguma coisa... quero
���79


dizer... ter havido um passado... uma vida
agrad��vel. Sabe o que quero dizer?
Alo��sio gargalhou:

��� J�� sei. Quer um mendigo de cinema!
Eurico o encarou de cenho franzido,
mas n��o parecia estar aborrecido, mas pensativo.


��� �� isto mesmo ��� falou. ��� Exatamente
o que eu quero: um mendigo de
cinema!
��� Por que n��o caracterizamos um?
��� Ca-rac-te-ri-za-mos?!
��� Exatamente. Que tal a id��ia?
��� Magn��fica, magn��fica! Sabe que vai
ser divertido? ��� os dois homens esperaram
pacientemente que Eurico deixasse de gargalhar
e continuasse conduzindo o fio de
pensamento. Ele o fez: ��� Que tal arranjarmos
um amigo ou um ator profissional
e o caracterizarmos como mendigo? Temos
que deix��-lo sujo, horroroso, cheirando
a gamb��. Deix��-lo de um modo que deixe
a garota que o "ganhar" de tal modo
80���


arrependida de ter participado do jogo que
pense em se jogar pela janela. E olhe, amigos,
que moro no 179 andar!

��� Quer conseguir uma coisa destas a
uma da manh��, Eurico? n��o d��!
Eurico ficou calado, tamborilando pacientemente
sobre o volante do autom��vel,
que estacionara numa rua deserta, at�� que
explodiu numa risada impetuosa:

��� Afr��nio! Afr��nio!
��� Que �� que tem Afr��nio? ��� perguntou
Alo��sio meio assustado e sem entender.
��� Ora, Afr��nio topa qualquer tipo de
brincadeira e �� louco por teatro, adoraria
ser ator! ��� ligou o motor do autom��vel
e continuou a explana����o de sua id��ia:
��� Vamos procur��-lo. Se topar, a gente faz
ele trocar de roupa com um desses mendigos
e pronto!
��� Duvido que ele tope jogar sobre.o
corpo uma roupa dessas! ��� disse Pedro.
��� Por que n��o? Louco como ��, seria
capaz de qualquer coisa para divertir algu��m
.. . principalmente ao saber que vai
���81


pregar uma pe��a numa mulher bonita e
que ter�� um pr��mio maravilhoso depois disso.


��� Pr��mio?
��� Claro! Com��-la durante uma madrugada
inteira n��o ser�� um pr��mio?
Pedro n��o conseguiu disfar��ar uma ponta
de ci��me e murmurou, hesitante:

��� Tomara... tomara que n��o seja
Carmo...
��� Que �� isto, rapaz?! Gamou?
Ele sorriu:
��� N��o digo tanto, mas que �� uma
garotinha toa para se guardar para uso
exclusivo, ��. N��o acham?
Alo��sio e Eurico se entrolharam e o primeiro
piscou o olho.

��� Que �� que voc��s est��o tramando?
N��o houve resposta. O carro j�� estacionara
em frente ao edif��cio onde morava
Afr��nio e Eurico pediu ao porteiro para
cham��-lo pelo interfone.

��� A esta hora, doutor...!
82���


��� A esta hora. N��o se preocupe. Quando
ele acordar, diga quem sou e que se
trata de um caso importante, important��ssimo,
urgente!
O porteiro se afastou sem mais delongas
e voltou dentro de meio minuto:

��� Pediu para o senhor subir.
��� Pelo jeito estava acordado.
��� ��, sim senhor. Atendeu log��.
Os amigos subiram. Afr��nio, diante de
um copo de u��sque, tentava ler.

��� Acordado a esta hora, garoto? Lendo?
��� perguntou Eurico.
��� Lendo. Comecei um romance policial
absorvente e agora n��o h�� jeito de larg��-
lo: Que �� que manda?
��� Trata-se de uma brincadeira.. .'mas,
pelo que vejo, voc�� n��o vai querer participar.
���
Diga l��, homem.
Eurico exp��s a /hist��ria em poucas pa-.
lavras, relatando os planos e inten����es. Ao
contr��rio do que esperava, Afr��nio m��s


���83


trou-se absolutamente entusiasmado, pretendendo
discordar somente quanto �� roupa
do mendigo:

��� Mas �� importante us��-la?
��� Claro. Se n��o houver mau cheiro,
sujeira e farrapos, elas n��o v��o acreditar.
��� As garotas valem a pena?
��� Se valem? Pergunte a Pedro, que
est�� caidinho por um delas.
��� Caido pelas tr��s ��� atalhou Pedro.
��� S�� que prefiro Carmo, claro!
Os olhos de Afr��nio tornaram-se febris.
Levantou-se de um salto, largando o livro
policial:

��� Onde est��o as roupas do mendigo?
Vamos logo, vamos logo, rapaz!
Dentro de dois minutos desceram ��
procura de um mendigo cuja complei����o
f��sica estivesse pelo menos aproximada da
de Afr��nio, mas ele optou por um homem
gordo, de aspecto bonach��o e meio embriagado:


��� Este pelo menos pa��ece ter um pouco
de sa��de ��� alegou. ��� E �� simp��tico.
84



��� Voc�� vai ficar uma gracinha com a
roupa desse homem, Afr��nio!
��� E da��? Mendigo escolhe os trajes?
Depois de' uma r��pida confabula����o, o
mendigo aceitou fazer troca de seus andrajos
pela roupa de Afr��nio que, embora
curta e apertada, era de boa qualidade.

��� Nunca vesti roupa assim ��� disse o
homem. ��� Nem mesmo nos meus bons
tempos!
Eurico retirou do bolso algumas c��dulas
e o mesmo fizeram os outros:

��� Tenha uma boa semana de descanso,
meu velho e coma bem. Pelo menos suas
roupas v��o se divertir hoje �� noite... e
como v��o!
O carro j�� se afastava quando Eurico
pisou com firmeza no breque:

��� Tive uma id��ia, uma id��ia excelente!
Os tr��s homens esperaram pacientemente
pelas explica����es e Eurico n��o se fez de
rogado:

��� A combina����o era que uma das mu���
85


lheres faria amor com um mendigo. Por
que n��o levamos o gordo?

��� Espere a��, a esta altura da noite,
depois de me terem tirado de casa, n��o
desisto por dinheiro nenhum do mundo de
fazer minha representa����ozinha... e nem
da mulher... muito menos da mulher.
��� Mas ia ser divertido esse gordo...
Um alarido geral o interrompeu:
��� N��o, n��o. Isto poderia nos trazer
problemas depois! J�� pensou se o homem
morre em cima de uma mulher daquelas?
-.- observou Alo��sio. ��� De qualquer modo,
vamos ver como Afr��nio vai ficar caracterizado..
A finalidade n��o �� fazer com que
um delas fa��a amor com "um" mendigo,
mas que tenha essa impress��o. Ou n��o ��?
Seus argumentos venceram e Eurico resolveu
deixar a experi��ncia com o gordo
para outra oportunidade. De qualquer maneira
haveria outras festas.

86���


Cap��tulo 9

A a����o das mulheres

��� E agora? ��� perguntou Helena, quan-;
do j�� entravam no apartamento. ��� Uma
de n��s vai ter mesmo que fazer amor
com um. .. mendigo?
��� Claro. Por que n��o? ��� perguntou
Neuza. N��s n��o somos apaixonadas por
emo����o?
��� Certo, mas tudo tem limite;
��� O c��u �� o limite! ��� brincou Carmo.
��� Um mendigo ��.. . gente. E, coitadinho,
quem pode adivinhar com que desespero
ele vir�� para cima da gente?
���87


Neuza ficou calada durante alguns instantes,
observando as duas amigas procurarem
roupas nos arm��rios, at�� que deu
uma sugest��o:

��� Que tal nos divertirmos com eles?
��� Com o mendigo?
��� Bem, com o mendigo uma de n��s
tem que se divertir mesmo. Eu quis dizer
com eles.
��� De que modo?
Ela ficou calada por mais algum tempo
e depois procurou caf�� numa garrafa t��rmica.
Serviu-se de uma dose cavalar, que
bebeu em grandes goles e observou:

��� �� ponto de honra, �� ponto de honra!
��� Que �� que �� ponto de honra, Neuza?
��� perguntou Helena, acercando-se da amiga:
��� Termos que nos divertir com eles,
Precisamos preparar alguma coisa de que
n��o esque��am. �� importante, importante
mesmo. Ajudem-me a pensar!
88���


��� Pensar, pensar! ��� brincou Carmo.
��� Pensando juntas logo incendiaremos esta
espelunca!
��� Que tal deixarmos de ir �� casa de
Eurico? Acho a melhor maneira... ��� Come��ou
Helena, sendo logo interrompida por
Neuza.
��� Absolutamente. Prometemos e temos
que voltar. Faz um temp��o, ali��s que eu
n��o me divertia tanto, e as coisas s�� prometem
melhorar. O que eu preciso �� descobrir
uma maneira de fazer com que o
tiro saia pela culatra, de fazer com que
se divirtam sem tripudiar.
Carmo manteve sil��ncio durante bastante,
tempo, enquanto as amigas continuavam
falando sobre o assunto, sem chegarem
a uma conclus��o razo��vel. Por fim,
opinou:

��� Sabe o que �� que eu penso? Penso
no seguinte: aceitar a brincadeira tal como
��, pois o jogo foi limpo desde o come��o.
Tanto �� que n��s perdemos duas vezes para
eles. Ou voc��s acham que houve trapa��a?
���89


��� Creio que n��o ��� disse Helena. ���
Os dados rolaram da mesma forma para
n��s e para eles. N��o demos sorte, foi s��
isso.

Neuza deu de ombros:

��� Est�� bem, n��o se fala mais nisso.
Vamos mudar nossa roupinha e voltar para
o apartamento fat��dico como o carneiro
vai para o matadouro.
��� Que coisa tr��gica, meu Deus ��� exclamou
Carmo. ��� Se voc�� acha a coisa
assim t��o dolorosa, por que vai? Chego l��
dou uma desculpa qualquer, digo que ficou
doente... Ou que ficou com medo dos
mendigos.
��� Eu, medo, hem? Dou um banho de
lix��via no filho da m��e, tiro-lhe roupas, sapatos,
sujeira... tiro a casca mesmo e voc��s
ver��o como ele funciona. Quem sabe
se um homem rude, seco por mulher, n��o
seja bem mais gostoso do que aqueles almofadinhas?
��� Esta �� a minha opini��o desde o come��o
��� brincou Carmo. ��� S�� o cheiro do
coitado...
90���


Helena fez uma careta de nojo, mas n��o
disse nada. Carmo disse qualquer coisa sobre
o tempo, mas da�� a pouco as tr��s estavam
de sa��da do apartamento, bonitas
e elegantes como se fossem a uma festa
na corte de M��naco.

��� O porteiro do edif��cio n��o vai entender
nada. Uma e pouco da manh��, n��s
tr��s saindo como se f��ssemos a uma festa
de casamento...
Foi nesse momento que Neuza teve a
t��o esperada id��ia, provavelmente motivada
pela palavra casamento:

��� Pronto. Descobri a p��lvora!
��� Que p��lvora? ��� perguntou Carmo
ingenuamente, com express��o assustada.
��� Descobri o que fazer l�� na festa.
��� Diga logo, Neuza, sem rodeios! ���
exclamou Helena, colando-se �� amiga.

��� Simples. Um mendigo, principalmente,
o tipo de mendigo que eles devem trazer,
�� um indiv��duo bronco, assustado, naturalmente
arrazado. Num ambiente sofisticado
como �� o apartamento de Eurico
���91


e diante de pessoas de outro n��vel e de
mulheres como n��s, que embora n��o sendo
espetaculares, n��o somos de se jogar fora,
ele vai ficar inibido. Nosso trabalho, ent��o,
ser�� ampliar essa inibi����o a um ponto que
eles fiquem completamente incapazes de...

��� Vamos esperar que d�� certo ��� disse
Helena, interrompendo-a. ��� Mas tenho
minhas d��vidas.
��� Por qu��?
��� Nem todos os mendigos s��o assim
como voc�� fala. Alguns s��o at�� atirados
demais.
Carmo foi em socorro da opini��o de Helena,
observando que talvez fosse at�� mais
comum existirem mendigos desinibidos,
exageradamente comunicativos, talvez devido
ao abuso de ��lcool. Ou talvez porque
pessoas t��midas, ao serem submetidas a
uma situa����o especial, quando se exige
determinado tipo de comportamento delas,
se descontrola.

A discuss��o sobre o tema n��o precisou
se prolongar por muito tempo, desde que
unia coisa extraordin��ria, absolutamente
aconteceu.

92���


Quando se dirigiam para o apartamento
de Eurico, passando sob um dos viadutos
e onde havia uma relativa concentra����o
de mendigos, em conseq����ncia da chuvinha
fina que vinha caindo sobre a cidade,
desde o anoitecer, viram um carro
parado junto ao meio-fio e tr��s homens
logo identificados conversando com um homem
grande e gordo.

Helena, que dirigia o, autom��vel, acelerou
imediatamente para uma ultrapassagem
r��pida do local e estacionou alguns
metros diante, um pouco protegidas por
outros carros e pelo fato dos amigos estarem
distra��dos.

��� S��o eles ��� disse ela, justificando .
a manobra. ��� Est��o aliciando um mendigo���
Vamos l��? ��� perguntou Carmo.
��� N��o, pelo contr��rio. Vamos ficar
aqui quietinhas para que n��o nos vejam.
Depois �� s�� segui-los se conseguirem conquistar
aquele mendigo!
��� Este carro �� do Eurico. Ele vai
identificar a gente logo, Helena.
���93


��� N��o identifica. Est�� distra��do e tamb��m
n��o espera a gente por aqui. Vamos
ficar quietinhas... Pelo menos sabemos o
que far��o.
��� Al��m de conhecermos o "nosso homem"
��� riu Carmo debochada.
N��o precisaram esperar muito. Dez minutos
depois o autom��vel dos amigos se
deslocava e as ultrapassava a pequena velocidade.


��� Mas s�� v��o tr��s! ��� exclamou Neuza.
��� Ter��o desistido do mendigo?
��� Vamos segui-lo.
��� N��o, nada. Vamos conversar com
o homem e saber o motivo porque n��o foi
aceito. De que adianta segui-los por toda
S��o Paulo atr��s de mendigos?
Helena deu marcha-a-r�� habilidosamente
e logo estacionava junto ao homem que,
s�� de cuecas, tentava vestir uma roupa
limpa e demasiadamente curta para ele.

��� Que �� que houve, tio? ��� perguntou
Helena. ��� A roupa encolheu?
Depois de alguma relut��ncia, anulada
com algumas c��dulas e alguns sorrisos, o

94���


homem contou a troca que fizera havia
poucos instantes.

��� Para que eles iam querer uma roupa
esfarrapada, tio? N��o falaram?
O homenzinho soltou uma esp��cie de
cacarejo e explicou engrolando as palavras:


��� Sei l��! Coisas de b��bados!
��� Mas pelo jeito o homem era bem
mais magro do que o senhor. E mais magro.
��� Era...
Carmo voltou-se para Neuza:
��� Para que diabo eles iam querer uma
roupa de mendigo? Ser��...?
��� Isto mesmo! Um deles resolveu se
fantasiar... ��� interrompeu-se olhando pa-.
ra o homem que completava os trajes com .
dificuldade. ��� Escuta aqui, titio, quantos
homens estavam com o senhor, conversando?
O mendigo a encarou durante algum
tempo, como se quisesse organizar as id��ias,
depois disse:

���95


��� Quatro... acho que quatro.
��� Estavam todos num carro?
��� N��o. O que... o que me deu...
me deu as roupas estava sozinho.
Neuza voltou-se para as amigas;

��� J�� sei. A charada est�� morta. Algu��m
vai se fantasiar de mendigo para nos enganar.
��� Imposs��vel! N��s os conhecemos bem!
��� A�� �� que est��, filha. Arranjaram algum
amigo, para que a festa ficasse entre
eles. Agora, j�� sei por que iam s�� tr��s naquele
carro... o outro foi atr��s, ou na
frente. Ser�� que nos viu?
��� Dif��cil. A n��o ser que nos conhe��a...
mas agora j�� temos um trunfo contra eles.
O importante �� fingir que n��o sabemos
da transa. Combinado? ��� riu, sem esperar
resposta e acrescentou: ��� Ah, meu Deus.
como a festa vai ser ��tima!
��� O que �� que a gente vai fazer? ���
perguntou Carmo, sem entender o alcance
das preten����es de Neuza. ��� Falar a eles
que...

96���


��� Tolinha... falar o qu��? Vamos ��
fingir que acreditamos que o mendigo ��
verdadeiro e exagerar o novo. Compreende
agora?
��� Claro. Mas... e depois?
��� Depois... ora, depois, a garota que
for. "sorteada" para o mendigo, o falso
mendigo, sabemos agora, continuar�� fazendo
o jogo da repulsa e deixar�� o car��
em brancas nuvens... diga agora se n��o
�� um bom castigo?
��� Talvez...
��� Talvez?
��� Estou pensando agora se o cara for
bonito. Vai ser dif��cil abrir m��o de...
��� Meu Deus, Helena! ��� disse Neuza,
voltando-s�� para a loura. ��� Nossa amiga,
Carmo est�� ficando uma perfeit��ssima tarada.
J�� pensou?
As tr��s garotas riram e Neuza, pacientemente,
explicou ainda uma vez:

��� Sabemos, Carminha, que o homem
n��o �� um mendigo verdadeiro. Portanto:
eles brincam com a gente. Est�� certo que
���97


no fim ser�� melhor assim, pois n��o sabemos
que tipo de doen��a nos traria um verdadeiro
mendigo. Mas �� que brincaram, pretendem
brincar, ver a cara da gente no final.
Acontece que a sorte nos ajudou, est��
percebendo? A sorte nos ajudou e sabemos
de tudo. Mas �� preciso fingir. Fingir at�� o
fim, e depois, j�� que voc�� �� taradinha,
pode comer seu homenzinho bonito, se for
bonito, at�� o osso. Est�� tudo claro finalmente?
Ent��o, m��os �� obra. O trabalho
nos espera.

98���


Cap��tulo 10

Princ��pio da festa

Quando as garotas entraram no apartamento,
j�� encontraram os- tr��s amigos
sentados em volta da piscina, cada um
deles com um copo na m��o. E distante,
praticamente jogado num canto como se
fosse um saco de aniagem, um homem "caracterizado"
de mendigo. Pelo menos elas
julgaram assim, embora as apar��ncias fossem
perfeitas.

��� Ei-las que chegam! ��� bradou Alo��sio
que, levantando-se, acendeu mais uma
l��mpada. ��� Meu Deus, como estas garotas
vieram lindas!
���99


��� Mais lindas voc�� quer dizer! ��� observou
Eurico, indicando as bebidas: ���. Pedro,
fa��a as honras da casa, por favor e
drinques para as meninas.
Pedro n��o se fez de rogado e serviu doses
generosas de u��sque, enquanto o mendigo
ou falso mendigo lan��ava sobre todos
express��es assustadas, mas sem mover o
corpo um cent��metro, como se estivesse
preso ali.

Ningu��m fez refer��ncia a ele durante
muito tempo, at�� que Eurico, terminados
os drinques, sugeriu:

��� Que tal alimentar nosso homem?
S�� ent��o as garotas deram a entender

ter percebido a estranha figura amontoa


da num canto, entre a piscina a um dos
'banheiros.

��� Que �� "isto" ��� perguntou Helena,
exagerando no susto e desviando o corpo.
��� Um amigo ��� explicou Eurico.
Carmo e Neuza se aproximaram, olhando
curiosas, e o "mendigo", depois de en


100���


car��-las por um r��pido instante, baixou os
olhos para as m��os.

��� Quem �� ele? ��� perguntou Helena.
Como se nada tivesse sido combinado
antes, Eurico deu as explica����es necess��rias:


��� Este homem, meu amigo de v��rios
anos, chegou de uma viagem long��nqua
��� fez uma pausa quase longa, durante
a qual observou o estranho que nem sequer
piscou. Continuou falando no mesmo tom
afetivo: ��� Como voc��s podem observar,
chegou num estado deplor��vel. Esfarrado,
sujo, feio, provavelmente faminto, est��
precisando de m��os amigas que cuidem dele
... mas eu disse: cuide. Quando falo cuidar,
significa dar um tratamento completo,
que inclui desde aliment��-lo, at�� dar
banho, roupas limpas, cama saud��vel.
Transform��-lo, finalmente, no homem que
era antes.
Fez nova parada, contemplando o homem
que, por sua vez, continuava impass��vel.
Continuou:

���101


��� Acreditem que antes, antes dessa
viagem distante ou grand��ssima desgra��a,
ele era um belo homem, disputado por
todas as mulheres de S��o Paulo e Rio de
Janeiro.
Ouviram-se palmas e Eurico agradeceu
os aplausos.

��� Quem vai cuidar dele? ��� perguntou
Alo��sio. ��� Todas as garotas?
��� Todas! ��� exclamou Eurico. ��� Afinal,
as mulheres fazem melhor um trabalho
desse tipo.
Pedro levantou a m��o:

��� Posso dar um palpite?
��� Claro ��� confirmou o dono da casa.
��� Todas as sugest��es s��o bem-vindas.
��� Sugiro que seja eleita uma das mulheres.
Afinal, tr��s garotas juntas podem
tumultuar... assustar o pobre homem. N��o
acham?
��� Sugest��o aprovada por mim. E voc��s,
garotas, que acham da id��ia?
As mulheres n��o disseram nada e Alo��sio
desencavou dados de qualquer lugar,
aproximando-se:

102���


��� N��o ser�� por falta de dados que
se deixe de fazer o jogo. Quem se habilita?
Eurico recebeu os tr��s quadril��teros de
marfim e os agitou na palma:

��� Bel��ssimos dados. Qual das garotas
vai fazer o primeiro lance?
Neuza estendeu a m��o:

��� Deixe-me ficar logo livre desta hist��ria.
Como �� que vai ser.
��� O menor lance ter�� o privil��gio de
cuidar de nosso h��spede. Aqui as coisas
se invertem: quem perde ganha ��� riu da
pr��pria piada. Depois, entendendo os dados
para Neuza, disse com ��nfase: ��� Abra
o jogo.
Neuza fez um lance perfeito e os dados
rolaram at�� o centro da mesa,. onde se
imobilizaram indicando tr��s faces: um,
quatro e seis.

��� Onze! ��� gritou Eurico. ��� E agora?
Carmo estendeu a m��o e fez um lance
jeitoso, cuja soma chegou a nove. Helena,

���103


com a gra��a que lhe era caracter��stica obteve
quinze e respirou aliviada.

��� Ganhou, Carmo!
Todos notaram quando o mendigo, encarando
a ganhadora, piscou tr��s vezes.
Alo��sio desviou o rosto, provavelmente para
n��o rir e, entretanto, outra coisa n��o
passou despercebida a Carmo, que se encheu
. de vaidade: Pedro, ao ver que ela
fora a "ganhadora" fez uma verdadeira careta,
melhor, uma express��o de evidente
ci��me.
Eurico aproximou-se da garota que voltara
a olhar para Pedro e disse:

��� Parab��ns, Carmo. Vamos ver de que
modo voc�� se desincumbe dessa tarefa gloriosa.
��� Gloriosa? ��� fez Alo��sio de modo gozador,
o que n��o deixou de merecer um
olhar de censura de Eurico. Alo��sio, ent��o,
corrigiu prontamente: ��� Quem sabe se
nosso mendigo n��o �� um homem verdadeiramente
bonito?
��� Primeira parte do jogo ��� disse Eurico,
sem mais fazer caso de Alo��sio. ��� Alimento.
104���


O mendigo deu um verdadeiro salto
do lugar, ficando de p�� com uma rapidez
imprevista. Carmo, olhando-o de relance,
teve a impress��o de que alguma coisa n��o
estava certa: as roupas do mendigo que
tinham entrevistado no viaduto pareciam
muito pequenas e apertadas, significando
terem pertencido a um homem sem d��vida
bem menor. As roupas daquele mendigo,
pelo contr��rio, pareciam at�� pequenas para
ele. Logo: as roupas que o mendigo ��li
perto usava n��o tinham pertencido ao outro
homem, a n��o ser... a n��o ser que
ficassem pequenas tamb��m nele.

Teve um desejo in��til de voltar ao viaduto
para entrevistar de novo aquele mendigo,
mas j�� Eurico se movimentava a
seu lado, dando ordens:

��� Vamos, querida, alimente o homem.
Afinal ele vai ser seu... seu amigo, amiguinho.
Ela se aproximou do homem, que continuava
de p��, e procurou agir com desembara��o
:

��� Vamos, querido...
���105


As m��os do homem eram ��speras e
ao simples contato.

��� Vamos... primeiro lavar as m��os ���
conduziu-o a um lavat��rio e indicou sabonete
e toalha, abriu a torneira. ��� Vamos,
lave suas m��ozinhas...

O homem lavou as m��os de modo lento
e bastante desajeitado e ela p��de perceber

o quando o estavam sujas. Outra coisa
que notou imediatamente, foi o cheiro de
anos, talvez meses, que sua roupa exalava.
��� Pronto, lavou? Tome agora a toalha...
Enxag��e direitinho, direitinho...
O homem enxugou as m��os, os olhos
baixos, e depois perguntou:

��� E agora?
Aquelasv duas palavras, simples e curtas
palavras pronunciadas em voz baixa,
por��m soturna, foram suficientes para indicar
a Carmo duas coisas: ou se tratava
de um verdadeiro mendigo ou o homem que
se fantasiava desse modo era um ator perfeit��ssima.


��� Pronto? ��� perguntou, tentando fazer
com que o homem falasse de novo,
106���


mas foi in��til. Ele se limitou a ficar de
olhos fixos no ch��o, as m��os afastadas
do corpo, como se temesse manch��-las. ���
Venha comer...

Ele a seguiu como um cachorrinho manso,
os passos fofos mal repercutindo no
ch��o encerado.

��� Sente-se naquela mesinha...
Ele caminhou para a mesinha, mas antes
de conseguir sentar-se, derrubou duas
vezes a banqueta. Acomodou-se por fim,
mas n��o olhou ningu��m e nem tomou uma
posi����o natural, parecendo um boneco de
engon��o.

Carmo foi para a cozinha. Retornou com
um prato ��nico de comida, onde misturara
tudo o que havia por l��, fazendo um pir��o
proposital, com a finalidade de avaliar o
comportamento do "mendigo" diante daquilo:
sendo mesmo verdadeiro, comeria
com voracidade.

O homem comeu com voracidade, parecendo
n��o ter visto alimento durante muito
tempo e, muito menos, importar-se com
a mistura ins��lita.

���107


��� Quer mais? ��� perguntou a garota
ao ver o prato vazio, e logo ele acenou a
cabe��a, vigorosamente, os olhos crescidos.
��� Espere um instante..'.
Duvidando cada vez mais do di��logo que
tivera debaixo do viaduto e do que seus
olhos tinham visto, ou imaginado ver ali,
ela preparou outro prato, tendo o cuidado
agora de n��o repetir as misturas, de n��o
dar ao prato o mesmo aspecto repugnante.


��� Pronto ��� disse ela, voltando �� mesinha.
��� Coma at�� fartar-se!
O homem comeu a refei����o com a mesma
voracidade de antes, e depois lambeu
os bei��os, cruzando os bra��os, como se esperasse
algo mais.

��� Sobremesa?
Ele n��o respondeu, mas a um sinal de
Eurico ela se afastou para a cozinha, de
onde retornou com uma boa por����o de
p��ssego em calda.

��� Coma titio...
O "titio" n��o se fez de rogado, anulando

108���


todo o conte��do de p��ssego e calda, e ainda
lambendo os bei��os com satisfa����o.

��� Mais? ��� perguntou Carmo.
Ele, menos t��mido e com as faces extremamente
coradas, os olhos brilhantes, acenou
afirmativamente, destruindo por����o
igual de sobremesa.

��� Satisfeito? ��� perguntou a garota depois
que o viu terminar.
��� Pronto, obrigado.
Outra vez a voz soturna e que a encheu
de arrepios. Ele ergueu os olhos para as
amigas, mas n��o veio da parte delas ne-t
nhum socorro. Somente Pedro demonstrava
uma express��o provavelmente angustiada,
mas n��o disse nada.

Ela ent��o voltou-se para Eurico, como se
aguardasse novas ordens.

��� Em frente ��� disse ele. ��� A festa est��
apenas come��ando.
���109


Cap��tulo 11

Surpresa er��tica

��� Agora... banho?
��� Voc�� �� quem sabe ��� disse Eurico.
��� Afinal, o amante �� seu.
A palavra "amante" provavelmente
inesperada, ou qualquer outra coisa, fez
com que o homem levantasse os olhos para
Eurico, encarando Maria do Carmo em seguida.
Desta vez a avaliou com olhos diferentes,
tra��ando um risco desde a cabe��a
at�� os p��s, voltando em seguida pelo caminho
percorrido, at�� fixar-se no rosto.

110���


��� Banho ��� disse Maria do Carmo com
as faces em fogo. ��� E em seguida roupa
limpa.
��� Banho ��� fez o homem com express��o
verdadeiramente espantada. ���
Mas eu comi!
��� N��o faz mal. Um banho agora, logo
depois da comida, n��o faz mal nenhum!
Conduziu-o para um pequeno banheiro
nos fundos, junto �� depend��ncia de - empregada
e avisou:

��� Tome um banho completo, tire toda
a sujeira do corpo. Toda mesmo. Toda!
Sentia-se com raiva, arrependida daquela
brincadeira e pronto a desistir, sob os
riscos de perder a amizade de todo aquele
grupo. "Ali��s dizia para si mesma de que
vale esse tipo de amizade?"

Lembrou-se, entretanto, que resolvera
tomar parte no jogo desde o come��o e que
n��o ficaria bem desistir. Al��m disso, alguma
coisa bem que poderia acontecer e...
de qualquer modo, "ele" tamb��m era homem.
Quem sabe se depois do banho n��o
ficaria com um aspecto respeit��vel? Lem


���lll


brava-se de que sua primeira impress��o ao
v��-lo n��o fora das piores, havendo mesmo
um certo charme naquele tipo imundo que
se aninhava como um monte de aniagem
junto da piscina.

Afastou esse id��ia, mas continuou com
a certeza de que depois do banho e com
outros trajes, talvez...

Olhou para o rosto do homem, s�� agora
sem o chap��u sujo e esfarrapado: n��o era
t��o feio, de fato. Talvez n��o fosse bonito,
mas n��o era exatamente feio. Al��m disso...
n��o deveria ter mais de trinta anos.

��� Qual �� sua idade, tio? ��� perguntou.
��� Idade? ��� respondeu ele com uma
careta, parecendo ter imensa dificuldade
em compreender e repetiu com voz arrastada,
pesada: ��� Idade?
��� Quantos anos voc�� tem?
��� Trinta... uns trinta por a��. Acho
qu:e nasci em cinq��enta ou cinq��enta e
um.
Carmo riu e depois de dar mais algumas
recomenda����es sobre o banho, saiu
�� procura de roupas limpas.

112���


O grupo a recebeu entre palmas. Ela
j�� ia dizer alguma coisa, quando algu��m
alertou que a porta do banheiro estava
aberta e o homem chamava.

��� Pronto ��� disse ela, retornando. ���
Que �� que voc�� quer, titio?
Ele deixou que ela se aproximasse bastante
e perguntou num sussurro:

��� Tem uma caninha a��? ��� e repetiu,
como que esperando ser melhor entendido.
��� Uma cachacinha?
Maria do Carmo riu e voltou para a
mesinha, onde havia um litro de rum: serviu
uma dose generosa, colocou bastante
gelo e voltou ao banheiro. Passsando pelo
grupo, murmurou, piscando um dos olhos:

��� Combust��vel!
O homem bebeu o meio copo de rum
de um s�� trago, deixando o gelo praticamente
intacto. Em seguida, devolvendo o
copo, pediu:

��� Tem mais?
Ela, desta vez, praticamente encheu o
copo, tendo o cuidado de retirar o gelo.

���113


��� Tome sua caninha, titio.
O homem bebeu o conte��do do copo de
tr��s goles, lambeu os bei��os e disse:

��� Agora sim!
Carmo n��o conseguiu ocultar a repugn��ncia:
aquilo terminara por indicar a verdade.
Havia um mendigo verdadeiro ali e
n��o um simulacro, conforme imaginara...

Tentou afastar a repugn��ncia, entretanto,
lembrando-se de que desde o princ��pio
a brincadeira caminhara naquela dire����o:
um mendigo. Fora sua imagina����o,
ativada pelo que vira ou imaginara ver no
viaduto, pelo di��logo com o mendigo enorme
com roupas apertadas, quem lhe indicara
e esperan��a. Mas nenhuma palavra
sobre a mudan��a, partida de Eurico ou de
qualquer dos outros.

Olhou para Pedro.
Ele continuava com express��o triste,
mais uma confirma����o do que ela teria
que enfrentar antes do amanhecer; e ainda
uma vez teve vontade de fugir daquele
apartamento, rompendo com as amizades
feitas..

114���


Era certo (ou quase certo) que Pedro
a seguiria, pois demonstrava cada vez mais
interesse.

Deveria encontrar uma oportunidade de
conversar com ele ou seria imposs��vel?

Todos os olhos a vigiavam!

Os minutos correram. Quando calculou
que seu "amante" tinha terminado de tomar
banho, voltou ao banheiro, levando
roupas limpas e, sem que ele pedisse, mais
um copo de rum sem gelo.

��� Mais rum? ��� disse "o homem, com
olhos faiscantes. E bebeu sem relut��ncia
todo o conte��do do copo, lambendo os bei��os.
��� Bom. . . bom!
Maria do Carmo compreendeu que chegava
o momento decisivo. Ou fugia daquele
apartamento, escapando dos riscos que viriam,
ou assumiria tudo, tornando-se
amante daquele homem estranho que, me'smL
agora, depois do banho, causava-lhe
repugn��ncia.

��� Como �� seu nome? ��� perguntou,
mais para dizer algo ou adiar o minuto
fatal
���115


��� Pedro ��� disse ele. ��� Me chame de
Pedro.
"O mesmo nome ��� pensou ela ��� mas
que diferen��a!"

��� Vamos ��� disse.
Ele a seguiu, obediente como um cachorrinho
manso, e dentro de segundos estavam
diante do grupo. Carmo percebeu
que as outras garotas encaravam o homem
com o mesmo assombro, provavelmente descobrindo
(pela primeira vez?) tratar-se de
uma pessoa humilde, bronco e n��o de um
"mendigo" substituto, como tinham imaginado
antes.

Eurico e Alo��sio aproximaram-se meio
b��bados e verdadeiramente entusiasmados:


��� Chegou a hora ��� disse um, e o outro
correspondeu: ��� �� a hora da festa!
Carmo mordeu os l��bios e partiu para

o quarto que fora reservado para os acontecimentos,
sem mesmo olhar para tr��s.
Ao chegar na porta, ouviu:

��� Pode seguir, meu amigo! ��� parecia
a voz de Eurico. ��� Vamos todos para o
quarto!
116���


Ela tremeu diante da nova prova����o:
teria que fazer amor diante de um p��blico
ansioso, como se estivesse num circo.
Era imposs��vel, imposs��vel!

A voz de Neuza, por��m, elevou-s�� acima
de todo o alarido:

��� Protesto! N��o estava na combina����o
assistir nada. Protesto!
��� Sem assistir n��o tem gra��a! ��� esbravejou,
praticamente, Alo��sio. ��� A maior
gra��a est�� em assistirmos tudo!
��� Ah, ��? ��� continuou Neuza. ��� A
maior gra��a est�� nisso? Ent��o por que voc��
n��o vai servir de colch��o para ele, hem?
Por qu��?
A discuss��o tornou-se acalorada. Pedro
e Helena eximiram-se e Neuza conseguiu,
somente depois de grande esfor��o, que os
dados fossem lan��ados outra vez.

��� Carmo lance os dados! ��� gritou algu��m
.
Neuza protestou:

��� N��o senhor. O mendigo lan��a os dados
tr��s vezes. Se a soma for inferior a
���117


trinta, voc��s assistem. Em caso contr��rio,
t��m que deixar os dois sozinhos!

Nova discuss��o. Depois de aceitas as
novas bases, o homem foi chamado �� sala,
e ap��s nova dose tripla de rum ele
pegou os dados com pouca habilidade e fez

o lance inicial, atingindo a soma de dezoito
pontos.
Neuza bateu palma, como se ela, e n��o
Carmo, fosse a mais interessada naquele
resultado, e continuou batendo palmas depois
do segundo resultado, doze; e bateu
palmas mais fortemente depois do ��ltimo,
quinze.

��� Quarenta e cinco pontos! ��� disse
ela, euf��rica e, voltando-se para Maria do
Carmo, comandou com voz imperiosa: ���
Para o quarto, Maria! Carregue sua cruz
sem assist��ncia e... meus p��sames.
Todos riram, at�� Maria, e a porta do
quarto se fechou.

118���


cap��tulo 12

Lance final

��� Pronto! ��� disse Carmo, encarando o
homem com raiva e sufocando um grito.
��� Pronto..-.!
��� Que �� que estou fazendo aqui? ���
disse o homem, evidentemente embriagado.
Ela riu, sentiu vontade de gargalhar.
Dominou mais uma vez a raiva e respondeu:


��� Estou �� disposi����o de voc��... fa��a
comigo o que quiser, sabe?
O homem balan��ava a cabe��a continuamente,
como se tivesse perdido o controle

���119


dos movimentos, e repetiu a pergunta, agora
com voz mais empastada:

��� Que �� que eu estou fazendo?
El�� indicou a cama, sem dizer nada.
Ele balan��ou a cabe��a mais uma vez e caminhou
com passos tr��pegos, at�� se jogar
com for��a sobre o colch��o. ��� Eu... ��� come��ou,
mas virando o rosto para o teto,
fechou Os olhos.

��� Acorde... Acorde! ��� Carmo o sacudiu
uma e outra vez inutilmente e depois,
agradecida ao acaso ou ao rum, resolveu
aproveitar a situa����o. Acomodou o
corpo ao lado do homem, mantendo o m��ximo
de dist��ncia poss��vel e murmurou entre
os dentes: ��� Tolo!
Sentia-se transtornada. Nunca em toda
sua vida se sentira t��o impotente e vencida
diante de uma situa����o que, entretanto,
fora procurada por si mesma.

Prometeu-se n��o repetir festas ou, pelo
menos, brincadeiras daquele tipo.

O homem, profundamente adormecido,
roncava, e ela teve medo de que as pessoas
do outro c��modo, ouvindo aquilo, quisessem
que a festa fosse repetida em outra oca


120���


si��o. Ligou um r��dio de cabeceira que havia
perto e aumentou o volume at�� um
ponto que acreditou suficiente para neutralizar
os roncos ou pelo menos confundi-
los.

Ficou olhando para o teto, recordando-
a grande noite er��tica que tivera com Pedro
e como tudo poderia ter continuado
maravilhosamente se algu��m n��o tivesse
tido aquela id��ia est��pida de procurar mendigos!


Ainda estava mergulhada naqueles pensamentos,
avaliando o risco de novos jogos,
e prometendo-se pela d��cima vez naquela
noite recolher-se a uma vida sem
mist��rio, quando sentiu as p��lpebras pesarem
e lutou em v��o contra o sono, que
terminou por domin��-la.

Acordou com um r��stia de sol batendor
lhe no rosto e levou tempo para compreender
a situa����o. Voltou-se rapidamente ��
procura do homem ao lado de quem adormecera
e ele ri��o estava. O (r��dio tamb��m
estava desligado.

Lembrou-se imediatmenta de tudo o que
acontecera at�� o final da madrugada, quan


���121


do adormecera, mas levou algum tempo
para tomar consci��ncia da situa����o, recordar-
se de que n��o fizera amor e... entender
que o homem, seu "homem", o mendigo
chamado Pedro n��o estava ali.

Que teria sido feito dele?

Levantou-se devagar e percorreu o c��modo
com os olhos.

Nada. Era imposs��vel que algum homem
se ocultasse ali de modo t��o completo
e tamb��m imposs��vel que tivesse ficado invis��vel.


Estava pronta para sair para outros
c��modos da casa, inteiramente silenciosa,
todos parecendo ausentes ou adormecidos,
quando notou, vindos do banheiro, alguns
sons e movimentos, depois um pigarrear.

N��o estava livre, pensou. Sentou-se na
cama e ficou esperando para ver o que
acontecia, certa de que o mendigo cobraria
a sua cota de sexo, a cota lhe fora prometida
na v��spera e n��o pudera obter.

Ficou atenta aos ru��dos e teve a impress��o
de que alguma coisa ia acontecer
quando ouviu o ru��do do trinco da porta,

122���


mas nada aconteceu, a n��o ser que levasse
em considera����o uma voz macia e absolutamente
melodioso que come��ou a cantar
uma can����o em ingl��s.

Prestou, aten����o aos versos e teve quase
certeza de ter ouvido alguns versos da
opereta Porgy and Bess, uma de suas m��sicas
preferidas:

"Bem acima de minha cabe��a,
ou��a m��sica no ar..."

Era aquilo mesmo, Prestou mais aten����o
forte e ampliando, e tudo se tornou
mais intenso quando a voz do homem se
elevou melodiosa, bem impostada e com
uma pron��ncia perfeita:

I love eyou, Porgy, don't let him

take me.

Dominou a tenta����o de cantar tamb��m
e ficou escutando o verso seguinte que, traduzido,
significa: "N��o deixe que ele m��
toque com aquelas m��os que queimam":

Don't let him handle me with his
hot hands.

���123


Onde estaria o mendigo?
Era mais que evidente n��o se tratar da
mesma pessoa. O mendigo n��o poderia nem
mesmo cantar com aquela bela voz e, principalmente,
num ingl��s t��o puro.

Quem seria?

Certamente Eurico, certamente.

Sentiu-se aliviada: aquilo tudo eram sinais
de que o pesadelo tinha terminado,
de que terminaria por rir muito, junto
com Eurico e as garotas, de tudo o que
acontecera, ou melhor de tudo o que...
quase acontecera.

Sentiu-se rindo da lembran��a do homem
embriagado, adormecendo t��o logo se deitara,
a voz engrolada... e dos roncos. "Parecia
um motor!" ��� disse para si mesma,
no exato instante em que a porta do banheiro
se abria.

Ela levantou os olhos e teve um susto,
um verdadeiro e monumental susto: o mesmo
homem da v��spera, o "mendigo" (e
que, entretanto, cantava em ingl��s) apareceu
pent��ad��ssimo e usando um pijama de
seda.

124���


��� Voc��!?
��� Que �� que tem eu, menina?
��� Mas. ..
Ele caminhou devagar at�� a cama onde
ela continuava, agora sentada e tomou-lhe
uma das m��os:

��� Que prazer em rev��-la, Maria do Carmo!
Lembra-se de mim?
��� Eu... eu
O homem era o mesmo, sem d��vida, e
ao mesmo tempo diferente. Tinha os mesmos
olhos, as sobrancelhas menos hirsutas
e sobre o l��bio superior n��o havia aquele
bigode horroroso, assim como n��o havia
aquela esp��cie de cicatriz horr��vel no lado
direito do rosto, quase no pesco��o. Os cabelos
tamb��m estavam bem tratados, macios,
e todo o homem indicava sa��de, cheiro
saud��vel, personalidade

��� Onde est��. .. onde est�� aquele homem.
.. aquele homem horr��vel que voc��
era?
Afr��nio riu de modo a revelar dentes
brancos, equilibrados, e n��o os dentes escuros
e cheios de manchas exibidos na

���125


v��spera. Sua boca tamb��m parecia ter
recebido at�� um novo desenho, de tanto
q��e parecia sensual.

��� O homem que eu era acabou-se quando
voc�� dormiu ��� ele riu. ��� Gostava tanto
dele assim a 'ponto de sentir saudade
menina?
��� Eu? Ah, meu Deus! Nunca passei
por nada t��o dif��cil na vida. Nunca!
- Eu me chamo Afr��nio.
Depois de dizer o nome, ele resumiu
toda a hist��ria, a partir do instante em
que os tr��s amigos tinham batido em sua
casa, procurando um "mendigo". Aceitara
a brincadeira e, como gostava muito de
representar, procurava fazer uma representar��o
perfeita, caracterizando-se ao m��ximo.


��� E os cheiros? Voc�� cheirava como
um mendigo de verdade, tinha as m��os
��speras e sujas...
��� Os.cheiros eram artificiais. A aspereza
das m��os voc��s sentiu antes do banho.
.. eu passara cola nas m��os. Experimente
passar cola nas m��os e ver�� que,
126���


depois de seca, ela adquire uma grande
aspereza. O resto tudo era artificial... o
bigode, a cor dos dentes, a cicatriz:? Nos
cabelos, como pode imaginar, havia'tamb��m
cola junto com p�� de serra, talco e
um pouco de areia... e o mesmo nas sobrancelhas
...

Ele continuou falando para uma Carmo
embevecida, que procurava cada vez mais
compar��-lo a outros homens que tivera,
inclusive Pedro (n��o o mendigo, claro) e
ficava certa de que ele possu��a algo mais...
uma esp��cie de suavidade, de toque especial
que, mesmo sem avan��os sexuais, a
deixava tensa, arrepiada e... desejando.

Seria a diferen��a t��o marcante entre os
dois homens que provocara aquilo?

N��o p��de pensar mais. �� medida que, ele
se erguia sobre ela, puxando sua blusa
sobre a cabe��a, uma blusa improvisada em
camisola com que dormira, ela sentiu o
desejo crescendo. Ele jogou a blusa sobre o
ch��o e correu o dedo por entre os seios
dela, chegando aos mamilos que endureceram
progressivamente at�� se tornarem
grandes, tensos e vermelhos como se twessem
sido tingidos.

���127


��� Carmo... ��� murmurou ele, as m��os
correndo macias, embora ansiosas por seus
seios, e repetiu numa esp��cie de gorgolejar
met��lico: ��� Carmo...
Abaixou a cabe��a, ela recuou um pouco.
Beijou os mamilos, um de cada vez e
foi descendo a l��ngua suavemente at�� atingir
o umbigo, depois os p��los e finalmente
ela abriu as pernas com um gemido estrangulado...


Depois foi tudo e ela fremiu recebendo,
da�� a instantes, aquele membro tenso
que lhe rasgava as carnes, enquanto
pensava ansiosa:

��� Valeu, a pena... valeu a pena...
E gozou convulsivamente. Gozaram.
128���



---------- Forwarded message ---------
De: Bons Amigos lançamentos




O Grupo Só Livros com sinopses tem o prazer de lançar hoje mais uma obra digital  para atender aos deficientes visuais.  

Olho Mágico - Autor Desconhecido

Livro doado por Leandro Medeiros  e digitalizado por Fernando Santos
Trecho do livro:
Cap 1
Sábado
A manhã de sábado surgiu esplendorosa,
e foi Neuza quem teve a idéia:
— Vamos a Santos? Preciso de uma
praia.
— Vamos, vamos! — gritaram as outras
garotas em coro, presas de súbito entusiasmo.
Sem mais palavras, Helena saiu do
apartamento, voltando dentro de instantes
com a informação:
— Daqui a pouco Eurico virá nos pegar
de carro. Levará a gente para Ubatuba!

Blog:



Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos e Só livros com sinopses  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais 

e como forma de acesso e divulgação para todos. 
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras.

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