Transformando Imagens em Palavras
L��via Maria Villela de Mello Motta
Paulo Romeu Filho
Organizadores
2010
Descri����o da capa: a capa, criada pela designer Aracy Bernardes, com fundo ocre e tons que v��o do vinho ao marrom, �� ilustrada por metade de um rosto com destaque para olho e parte da boca no lado direito, tr��s imagens desfocadas, sobrepostas e transparentes do meio para o lado esquerdo superior, um fl uxo de letras saindo da boca da pessoa sobre fotos descoloridas de praia e fl or na parte inferior. O t��tulo: Audiodescri����o - Transformando Imagens em Palavras e os nomes dos organizadores: L��via Maria Villela de Mello Motta e Paulo Romeu Filho, est��o escritos com letras pretas sobre fundo ocre na parte superior e inferior da capa.
Dados Internacionais de Cataloga����o na Publica����o (CIP) (C��mara Brasileira do Livro, SP , Brasil)
Audiodescri����o : transformando imagens em palavras / L��via Maria Villela de Mello Motta, Paulo Romeu Filho , organizadores. -- S��o Paulo : Secretaria dos Direitos da Pessoa com
Defici��ncia do Estado de S��o Paulo , 2010.
V��rios autores.
Bibliografia
ISBN 978-85-4047-00-6
1. Acessibilidade cultural 2. Audiodescri����o 3. Deficientes visuais 4. Deficientes visuais -
Servi��os de acessibilidade 5. Direito �� informa����o 6. Inclus��o social 7. Meios de comunica����o
8. Pol��ticas p��blicas 9. Tecnologia I. Motta, L��via Maria Villela de Mello. 11. Romeu Filho, Paulo.
10-12127 CDD - 303.32
��ndices para cat��logo sistem��tico:
1. Defici��ncia visual e a audiodescri����o:
Sociologia da acessibilidade cultural e
comunicacional 303.32
AGRADECIMENTOS
�� Secretaria dos Direitos da Pessoa com Defi ci��ncia do Estado de S��o Paulo, pelo apoio na publica����o deste livro.
Aos autores dos artigos e depoimentos, por participarem da constru����o da hist��ria da audiodescri����o brasileira.
Ao Marco Antonio de Queiroz, MAQ, autor do pref��cio e nosso interlocutor na organiza����o deste livro, pelas contribui����es e discuss��es.
�� Fernanda Cardoso, pela revis��o competente e pelo envolvimento com o tema.
�� Aracy Bernardes, designer da capa, pela cria����o e paci��ncia para entender e traduzir o conceito.
SUM��RIO
APRESENTA����O
11 L��via Maria Villela de Mello Motta e Paulo Romeu Filho PREF��CIO
13 Marco Antonio de Queiroz - MAQ
PARTE I ��� ARTIGOS
AUDIODESCRI����O: BREVE PASSEIO HIST��RICO
23 Eliana Paes Cardoso Franco e Manoela Cristina Correia Carvalho da Silva POL��TICAS P��BLICAS DE ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM
43 DEFICI��NCIA - AUDIODESCRI����O NA TELEVIS��O BRASILEIRA Paulo Romeu Filho
A AUDIODESCRI����O VAI �� ��PERA
67 L��via Maria Villela de Mello Motta
AUDIODESCRI����O E VOICE OVER NO FESTIVAL ASSIM VIVEMOS
83 Graciela Pozzobon
A FORMA����O DE AUDIODESCRITORES NO CEAR�� E EM MINAS GERAIS: 93 UMA PROPOSTA BASEADA EM PESQUISA ACAD��MICA
Vera L��cia Santiago Ara��jo
BLIND TUBE: CONCEITO, AUDIODESCRI����O E PERSPECTIVAS
107 Lara Pozzobon
A PRIMEIRA AUDIODESCRI����O NA PROPAGANDA DA TV
BRASILEIRA: NATURA NATUR�� UM BANHO DE ACESSIBILIDADE
117 Maur��cio Santana
O SIGNO DA CIDADE
129 Rodrigo Campos
PONTO DE CULTURA CINEMA EM PALAVRAS ��� A FILOSOFIA NO
139 PROJETO DE INCLUS��O SOCIAL E DIGITAL
Bell Machado
A IMPORTNCIA DA AUDIODESCRI����O NA COMUNICA����O DAS
151 PESSOAS COM DEFICI��NCIA
Laercio Sant��nna
���OLHARES CEGOS���: A AUDIODESCRI����O E A FORMA����O DE
159 PESSOAS COM DEFICI��NCIA VISUAL
Iracema Vilaronga
A PESSOA COM DEFICI��NCIA VISUAL E A AUDIODESCRI����O ���
167 RELATO PESSOAL DE UMA TRAJET��RIA DE LUTA POR INCLUS��O
Naziberto Lopes de Oliveira
A EXPERI��NCIA DA VIVO - PIONEIRISMO E MULTIPLICA����O
179 Luis Fernando Guggenberger e Eduardo Valente
VIDA EM MOVIMENTO ��� PRIMEIRO DOCUMENT��RIO BRASILEIRO
185 COM AUDIODESCRI����O
Marta Gil
PARTE II ��� A PRIMEIRA AUDIODESCRI����O
A GENTE NUNCA ESQUECE
AUDIODESCRI����O: POUCAS E PRECISAS PALAVRAS
197 Sidney Tobias de Souza
EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
199 Joana Belarmino
A INCOMPLETUDE DO OLHAR
203 Elizabet Dias de S��
POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS
207 Cristiana Mello Cerchiari
UM CAMINHO SEM VOLTA
209 Lothar Antenor Bazanella
EU OU��O, EU VEJO, EU SINTO AS MESMAS EMO����ES
211 Antonio Carlos Barqueiro
VENDO O QUE A OUTRA PESSOA V��
215 Marcos Andr�� Leandro
FECHAMENTO DE UM PROCESSO
217 Roger Martins Marques
ENXERGAR SEM VER
219 Jucilene Braga
PARTE III ��� OLHOS QUE FALAM
O OUTRO LADO DA MOEDA
223 Let��cia Schwartz
A GRANDE HIST��RIA DA ��GUA
227 Leonardo Rossi Lazzari
E COM A PALAVRA OS AUDIODESCRITORES DO TEATRO VIVO
229 Carlos Eduardo Mar��al da Silva, Marli Fernanda Nunes, Milena de Oliveira Leite, Pilar Garcia Alava, Rosilene Cortes Almeida EMPRESTAR O OLHAR
237 Ros��ngela Barqueiro
AUDIODESCRI����O NO CENTRO CULTURAL S��O PAULO
Ana Maria Campanh��, Ana Maria Rebou��as, Camila Feltre, 243 Carmita Muylaert Moreira, Iris Fernandes, Lizette T. Negreiros, Maria Adelaide Pontes
APRESENTA����O
�� com muito prazer que apresentamos aos caros leitores o primeiro livro brasileiro sobre audiodescri����o, uma mostra signifi cativa da produ����o intelectual brasileira sobre o tema, que re��ne trabalhos de professores e profi ssionais da ��rea, al��m de artigos e depoimentos de pessoas cegas e videntes engajadas na luta pela implementa����o do recurso no Brasil, mais especifi camente na TV brasileira.
A audiodescri����o �� um recurso de acessibilidade que amplia o entendimento das pessoas com defi ci��ncia visual em eventos culturais, gravados ou ao vivo, como: pe��as de teatro, programas de TV, exposi����es, mostras, musicais, ��peras, desfi les e espet��culos de dan��a; eventos tur��sticos, esportivos, pedag��gicos e cient��fi
cos tais como aulas,
semin��rios, congressos, palestras, feiras e outros, por meio de informa����o sonora. �� uma atividade de media����o lingu��stica, uma modalidade de tradu����o intersemi��tica, que transforma o visual em verbal, abrindo possibilidades maiores de acesso �� cultura e �� informa����o, contribuindo para a inclus��o cultural, social e escolar. Al��m das pessoas com defi ci��ncia visual, a audiodescri����o amplia tamb��m o entendimento de pessoas com defi ci��ncia intelectual, idosos e disl��xicos.
O livro objetiva informar profi ssionais de TV, cinema, teatro, museus e outras artes visuais, assim como professores e alunos de cursos de audiodescri����o, profi ssionais da ��rea de Letras, Tradu����o, Comunica����o e Artes, Educa����o e outras ligadas a quest��es de acessibilidade. Al��m disso, servir�� como material de refer��ncia e apoio t��cnico-te��rico para pessoas que buscam conhecer a t��cnica, que frequentam os cursos de forma����o de audiodescritores e que j�� trabalham com pessoas com defi ci��ncia visual.
Para isso, discute o conceito, o panorama mundial e brasileiro, o hist��rico, a experi��ncia brasileira em teatro, TV, festivais de cinema, ��peras, fi lmes, exposi����es, comerciais, anima����es e document��rios.
Divide-se em tr��s partes: a primeira �� composta de artigos que apresentam e discutem leis e decretos, pr��ticas e aspectos te��ricos; a segunda, entitulada: A Primeira Audiodescri����o a Gente Nunca Esquece, apresenta depoimentos de pessoas com defi ci��ncia visual sobre suas experi��ncias Transformando Imagens em Palavras
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com audiodescri����o, enfatizando a relev��ncia do recurso. Na terceira parte, Olhos que Falam, est��o os depoimentos de audiodescritores, os quais relatam suas pr��ticas com diversos g��neros de espet��culos como: comerciais, anima����o, pe��as de teatro, exposi����es, cinema, com destaque para o quanto a atividade contribui para o desenvolvimento pessoal e profi ssional de cada um. O pref��cio, escrito por Marco Antonio de Queiroz, certamente, motivar�� os caros leitores a empreenderem uma viagem estimulante e inusitada aos caminhos j�� percorridos pela audiodescri����o no Brasil. Aproveitem!!!
L��via Maria Villela de Mello Motta e Paulo Romeu Filho 12
Audiodescri����o
PREF��CIO
Marco Ant��nio Queiroz - MAQ*
Ao ser convidado para prefaciar este livro senti-me duplamente entusiasmado. Em primeiro lugar, porque a audiodescri����o tem sido muito debatida entre n��s, pessoas com defi ci��ncia visual e audiodescritores, como um dos recursos de tecnologia assistiva nos meios de comunica����o que mais traz autonomia ��s pessoas com defi ci��ncia que dela necessitam. Discutimos quais os melhores caminhos para a produ����o de uma audiodescri����o de qualidade; quais t��cnicas devem ser levadas em conta para que ela seja o mais informativa poss��vel; quem �� realmente gabaritado para ministrar cursos de capacita����o para futuros profi ssionais; quais metodologias devem ser utilizadas nesses cursos; qual o papel das pessoas com defi ci��ncia na produ����o da audiodescri����o; quem e quantos s��o os reais usu��rios dessa acessibilidade; a posi����o insustent��vel da Associa����o Brasileira das Emissoras de R��dio e Televis��o ��� ABERT
��� e, fi nalmente, as pol��ticas p��blicas dos governos para garantir sua obrigatoriedade. Essas discuss��es est��o neste livro e o leitor conhecer�� muito de audiodescri����o ao tomar contato com elas.
Fiquei entusiasmado tamb��m, em segundo lugar, devido �� forma como entrei nesse barco, como essa ���praia��� me invadiu, como vim parar aqui para escrever sobre este livro para seus leitores, no fi nal, todos n��s. O que me deixa arrepiado at�� hoje foi a emo����o que senti ao vivenciar, pela primeira vez, a audiodescri����o. Temos, com este livro, a oportunidade de mostrar ao leitor a experi��ncia de cada um, seja como usu��rio, seja como produtor, seja como pessoa com defi ci��ncia e/ou audiodescritor, deixando ao leitor um leque de experi��ncias pr��ticas e te��ricas, que poder��o contribuir para a divulga����o e o crescimento da audiodescri����o no Brasil, um dos objetivos desta publica����o.
Minha experi��ncia com a audiodescri����o come��ou certo dia, no in��cio de agosto de 2007. Estava em frente ao meu computador fazendo
*Marco Antonio de Queiroz �� consultor em Acessibilidade Web, criador dos sites Bengala Legal e Acessibilidade Legal e autor do livro Sopro no Corpo: Vive-se de Sonhos, Rima Editora
��� 2005. Foi o primeiro jurado cego de um festival de cinema internacional: Festival de Filmes sobre Defi ci��ncia Assim Vivemos.
Transformando Imagens em Palavras
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algum trabalho quando recebi um telefonema. Meu telefone fi xo tem bina falante, acess��vel e, mesmo n��o reconhecendo o n��mero que tocava, atendi. Era Lara Pozzobon, curadora do, na ��poca, 3�� Festival Internacional de Filmes sobre Defi ci��ncia. Ela me convidava para ser jurado do festival. Aquela desconhecida estava propondo que eu fosse jurado de um festival internacional de cinema?
Tudo bem, algumas pessoas n��o entendem como posso desenvolver acessibilidade em sites na web, criar c��digos, dar consultoria e, para quem enxerga e n��o convive com pessoas cegas como eu, acham que o que fa��o �� algo impens��vel para uma pessoa com a minha defi ci��ncia. Mas, se pessoas com defi ci��ncia visual podem fazer o que fa��o, por que n��o outras coisas que n��o se conhece? Da�� a achar que eu poderia encontrar um jeito alternativo de enxergar a tela do cinema e julgar fi lmes internacionais, mesmo sendo sobre defi ci��ncias, era uma coisa que at�� eu duvidava.
��� Voc�� sabe que eu sou cego? Fui logo direto, sem express��es como
���pessoa com defici��ncia visual��� ou qualquer outra, para n��o restar nenhuma d��vida.
��� Eu estou te convidando justamente porque voc�� �� cego. Chamei o Paulo Romeu Filho, ele n��o p��de vir e indicou voc��. Pensei logo... bem, o Paulo Romeu �� cego, se ela o chamou e depois a mim �� porque ela quer um jurado cego mesmo... e adicionando ao meu pensamento: corajosa essa mulher! (complementei ainda: ���Que doida���!)
��� E como eu, cego, poderei avaliar um fi lme? ��� A palavra audiodescri����o estava na ponta da minha l��ngua, mas como nunca tinha assistido nada com essa t��cnica, ser�� que Lara sabia que s�� assim eu poderia exercer o que ela estava propondo? Por coincid��ncia, conheci a audiodescri����o atrav��s de um depoimento de Paulo Romeu sobre o primeiro fi lme com audiodescri����o produzido no Brasil em DVD e existente nas locadoras.
Era um texto entusiasmado sobre acessibilidade e cidadania. Al��m disso, sobre essa t��cnica, apenas tinha lido alguns escritos e colocava a audiodescri����o como um item da lista de acessibilidades para pessoas com defi ci��ncia... Lara explicou:
��� S��o 34 fi lmes e todos com audiodescri����o, que �� a descri����o em palavras das imagens dos fi lmes que n��o s��o mencionadas pelo ��udio original.
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Audiodescri����o
��� Ah, sei... (dei uma de entendido para n��o declarar a minha quase total ignor��ncia sobre o assunto). Eu topo! respondi j�� n��o disfar��ando minha alegria, preocupa����o e arrepio na espinha...
N��o poderia deixar de contar para os leitores, mesmo sendo este texto o pref��cio, a forte emo����o de quando assisti ao primeiro fi lme com audiodescri����o. Eu tinha de prestar aten����o absoluta aos fi lmes do Festival e julg��-los durante 12 dias. Iria assistir a 34 curtas, m��dias e longas metragens depois de quase 30 anos sem assistir a um fi lme sozinho, pois perdi a vis��o aos 21 anos e gostava muito de ir ao cinema. O primeiro fi lme do festival era um curta de 13 minutos com uma m��sica norte-americana de fundo. Depois de uns 5 minutos escutando a audiodescri����o e voice over feita por Graciela Pozzobon, e percebendo que, sem ela, aquele fi lme seria totalmente inacess��vel para mim, pois n��o havia di��logos, s�� a m��sica, entrei em um estado de surpresa e de letargia... E, por mais que quisesse assistir somente ao fi lme, fi quei imaginando simultaneamente o futuro das pessoas com a minha defi ci��ncia: poder��amos ir aos cinemas com autonomia, como eu j�� estava fazendo naquele momento; a teatros, como o da Vivo, que j�� com contava com a audiodescri����o feita por L��via Motta; assistir a v��deos de toda a ordem, como os j�� existentes na ��poca, da s��rie ���Vida em Movimento���, propostos por Marta Gil, que corri atr��s para conhecer e divulgar; assistir aos programas das TVs entendendo tudo, como os posteriores programas da TV Brasil e Cultura; a v��deos como o fi lme do artigo do Paulo Romeu, ��nico que conhecia naquele momento e que, atualmente, est��o aumentando em n��mero; os comerciais da Natura, marca de cosm��ticos, realizados por Maur��cio Santana e Leonardo Rossi mostrando-nos de forma acess��vel produtos que j�� poder��amos ser consumidores h�� mais tempo, enfi m... estampei um sorriso bobo no rosto, um ar a��reo, um ���mundo da lua��� nessa imagina����o futura, demorada e feliz que, hoje, como mostrei rapidamente acima e conheceremos atrav��s de seus pr��prios autores, j�� se tornou passado realizado e come��a a crescer em qualidade e quantidade.
Quem me visse naquele instante poderia me confundir com um drogado.
Na verdade, eu estava mesmo era embasbacado com aquele recurso que nasceu com a cegueira, utilizado por nossos familiares com boa vontade e habilidades pessoais e n��o por profi ssionais atentos, estudiosos, como naquele momento. A descri����o dom��stica de cenas, roupas, express��es estava no lugar certo e na hora certa, feita agora por especialistas de Transformando Imagens em Palavras
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forma nada caseira. Tive de assistir novamente a esse fi lme para poder julg��-lo, pois a emo����o n��o me deixava faz��-lo naquele momento.
Apesar de ter consci��ncia de que aquela t��cnica n��o me substituiria a vis��o perdida, decididamente ela estava permitindo que eu visse. Dali em diante estou junto �� audiodescri����o. Emocionei-me com essa nossa sensa����o, como escreveu Jucilene Braga: ���a audiodescri����o �� totalmente indispens��vel. Por meio dela �� como se eu enxergasse sem ver���.
A quest��o b��sica �� a de acesso �� informa����o, assim como explicita Ros��ngela Barqueiro: ���nem sempre a informa����o est�� dispon��vel e/ou acess��vel. Uma simples informa����o pode interferir na vida de forma positiva ou negativa ��� em menor ou maior grau de import��ncia. Mas o fato �� que interfere���. Os leitores ter��o a oportunidade de ler depoimentos como esse, cada qual com a sua peculiaridade, no decorrer deste livro. Amigos com a minha defi ci��ncia contam para todos a sua primeira vez e em todos percebemos com emo����o a import��ncia da audiodescri����o. Antes dela, como Lothar Antenor Basanela escreve ���gostava mais de ouvir o relato sobre fi lmes do que propriamente assisti-los���. Muitos de n��s deixamos de assistir a produtos audiovisuais porque a falta de informa����es os deixa vazios.
Identifi camo-nos com a cita����o de Sidnei Tobias quando, emprestada de Nietzsche, nos diz: ���A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida���. E �� isso que defi nitivamente queremos: a beleza da arte em sua totalidade ou, ao menos, ao m��ximo que ela possa nos dar.
A descri����o de imagens apesar de parecer para n��s ���coisa antiga���, como revela Marcos Andr�� Leandro em seu depoimento, j�� feita ���por minha av�����, profi ssionalmente �� mais que nova, o que faz resultar no que Cristiana Ceschiari de modo muito objetivo afi rma: ���Como estamos navegando ���por mares nunca dantes navegados���, como escreveu Cam��es, n��o sei exatamente onde vamos aportar, mas sei que quero estar neste barco���.
Lendo sobre os diversos g��neros de espet��culos j�� produzidos com audiodescri����o, surpreendemo-nos com a audiodescri����o em ��peras...
quem diria que poder��amos assistir a uma com independ��ncia? L��via Motta, audiodescritora que come��ou esse trabalho, nos revela como foi realizado e Antonio Carlos Barqueiro nos mostra o resultado em seu depoimento:
���Uma grande experi��ncia para mim foi assistir �� ��pera Cavalleria Rusticana, no Teatro S��o Pedro em S��o Paulo, julho de 2009. Atrav��s da audiodescri����o, pude entender a mensagem, acompanhar as a����es e, ao fi nal do espet��culo, me emocionar como em poucas ocasi��es. E, principalmente: podendo comentar com qualquer pessoa e at�� mesmo com qualquer cr��tico���. Elizabet 16
Audiodescri����o
Dias de S�� nos revela a import��ncia da audiodescri����o em sua vida no texto ���A Incompletude do Olhar���.
Mas a audiodescri����o n��o signifi
ca s�� pessoas com defi ci��ncia
apaixonadas por sua liberdade e autonomia, ela ��, em si, um conjunto de t��cnicas e estrat��gias, o trabalho de um grupo, experi��ncia e arte. Tenho certeza de que os leitores interessados no tema fi car��o fascinados ao conhecerem o que h�� por tr��s de cada palavra ou frase audiodescritiva, nas aulas verdadeiramente did��ticas que nossos audiodescritores, como Vera Santiago, Maur��cio Santana, Graciela e Lara Pozzobon, ministram escrevendo sobre o assunto; e, tamb��m, como coordenadores de projetos come��am a inserir a audiodescri����o em seus trabalhos. Muito importante ainda �� ela n��o ser apenas aceita, como impulsionada por empresas.
Ficamos felizes lendo Let��cia Schwartz ao dizer: ���Audiodescrever me deixa feliz. Simples assim. Discutir metodologias e sistem��ticas, assistir a um mesmo fi lme at�� quase conhec��-lo de cor, estudar e me informar sobre assuntos que n��o domino para melhor compreender as imagens. Garimpar palavras que correspondam exatamente ��quilo que quero descrever, cortar-ajustar-encaixar narra����es nos espa��os dispon��veis como quem monta um quebra-cabe��as. Ouvir o fi lme de olhos fechados e perceber que ele se torna compreens��vel��� . Mesmo assim, com toda essa arte e desejo, percebemos, atrav��s dos pontos que Iracema Vilaronga e La��rcio Santana destacam em seus artigos, a complementaridade de motivos para que a audiodescri����o ainda seja uma t��cnica pouco conhecida, apesar de ser uma acessibilidade t��o importante para in��meros meios de comunica����o. Segundo Iracema,
���Os autores de produtos audiovisuais, enquanto arte visuoc��ntrica, ainda n��o se deram conta de que pessoas com defi ci��ncia visual tamb��m gostam, vivenciam e precisam de tais experi��ncias. Grande parte desse p��blico fi ca privada do lazer e da express��o cultural atrav��s de tais produtos, por estar socialmente vinculado �� experi��ncia est��tica o sentido da vis��o��� . E para La��rcio, ���a�� est��, certamente, o maior desafi o da audiodescri����o. Devido ao pouco est��mulo oferecido aos produtos audiovisuais gra��as �� falta de acessibilidade, as pessoas com defi ci��ncia, em sua grande maioria, n��o desenvolveram uma cultura para o teatro, cinema ou televis��o. Despert��-las para estes ���novos canais de comunica����o��� �� preponderante para torn��-las consumidoras de produtos audiodescritos���.
Atrav��s de iniciativas como a de Rodrigo Campos, audiodescritor totalmente alinhado ��s nossas perspectivas, podemos conhecer ���de camarote���, como surgiu, como foi feita passo a passo, a audiodescri����o Transformando Imagens em Palavras
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e closed caption do O Signo da Cidade, 1�� sess��o da hist��ria do cinema nacional em que surdos e cegos vivenciaram a estreia de um fi lme do circuito comercial. Por outro lado, eu diria, do mesmo lado, Naziberto Lopes, nos narra sua experi��ncia na Espanha, qualifi cada por ele como marcante, ao presenciar a estreia do fi lme Quem quer ser um milion��rio, lan��ado em circuito comercial na cidade de Madri. Naziberto nos conta:
���Foi extremamente gratifi cante estar naquela sala de cinema junto com tantas outras pessoas com e sem defi ci��ncia, todas assistindo o mesmo fi lme e no mesmo momento, cada uma tendo sua especifi cidade atendida e podendo desfrutar do prazer e da emo����o daquele entretenimento. Confesso que mesmo com a barreira do idioma, dublado e audiodescrito em espanhol, consegui ter uma compreens��o ampla da trama podendo discuti-la com meu colega que n��o possui defi ci��ncia.���
Joana Belarmino destaca a quest��o do consumo de produtos audiovisuais por pessoas cegas: ���Quando refl ito sobre a realidade da cegueira, associando-a ao desenvolvimento hist��rico e sociocultural, percebo o grande salto dado com a era tecnol��gica, no sentido da sua potencialidade para a democratiza����o da comunica����o,trazendo �� tona in��meras perspectivas para a amplia����o do consumo adequado de in��meros produtos da cultura, sobretudo os produtos audiovisuais���. E parece que a VIVO penetrou em sua refl ex��o ao escrever sobre essa amplia����o no teatro, atrav��s de seus representantes Luis Fernando Guggenberger e Eduardo Valente: ���O Teatro Vivo, endere��o do circuito cultural de S��o Paulo que integra as instala����es do pr��dio sede da Vivo na capital paulista, foi o primeiro da Am��rica Latina a oferecer audiodescri����o para pessoas com defi ci��ncia visual. A novidade, que seria incorporada defi nitivamente �� rotina da casa, estreou em julho de 2006, na pe��a O Santo e a Porca. (...) A aceita����o do p��blico e a repercuss��o na imprensa n��o deixavam d��vidas: ali estava uma semente a ser cultivada���.
E foi: o Teatro Vivo possui audiodescri����o uma vez por semana em todas as suas pe��as realizada atrav��s de seus volunt��rios capacitados pela audiodescritora L��via Motta.
Tenho certeza tamb��m de que, mesmo que voc�� pouco ou nunca tenha ouvido falar sobre audiodescri����o, seja voc�� pessoa com defi ci��ncia, candidato a audiodescritor, coordenador de projetos que atendam �� acessibilidade universal, gestor do governo ou de empresas particulares, respons��vel por pol��ticas p��blicas ou um mero e distra��do leitor que n��o tem ideia de como esse livro caiu em suas m��os, a audiodescri����o 18
Audiodescri����o
e tudo que a envolve vai te pegar em cada linha pela sua import��ncia, pela emo����o, pela arte ��� diria Bell Machado ��� pela fi losofi a e voc��, sem perceber, ao fi nal, pode querer ir al��m, estar mais perto e entre n��s tamb��m expressando sua experi��ncia.
Eliana Franco e Manuela Carvalho nos oferecem um hist��rico interessant��ssimo sobre a audiodescri����o no mundo e aqui entre n��s.
Nesse sentido, este livro vir�� adicionar �� pouca literatura brasileira sobre o assunto, uma contribui����o importante para o conhecimento das v��rias experi��ncias existentes no mercado e na academia. Estas, no Brasil, se fundindo cada vez mais.
Os v��rios enfoques abordados pelos que aqui escrevem, como j�� disse, abrem um leque imenso de caminhos para todos n��s. Entretanto, sabemos que a audiodescri����o ainda �� uma acessibilidade pontual nos produtos audiovisuais e c��nicos, mas todos s��o un��nimes em dizer que ela �� uma necessidade fundamental e que deve ser introjetada na cultura social e, especialmente, no cotidiano das pessoas com defici��ncia. A maioria de n��s ainda a desconhece e, se n��s a desconhecemos, n��o sentimos falta consciente dela. A maior parte dos trabalhos de audiodescri����o sofrem de descontinuidade e acabam por n��o atingir o grande p��blico de seus usu��rios.
Pelo censo IBGE de 2000, prestes a ser refeito, ��ramos 16,5 milh��es de pessoas com defi ci��ncia visual no Brasil, 2,8 milh��es de pessoas com defi ci��ncia intelectual, entre autistas, s��ndrome de Down e outras, al��m das pessoas com transtorno de aprendizagem como os disl��xicos, que podem se benefi ciar tamb��m com a audiodescri����o, por ser um segundo canal sensorial a ser aproveitado para uma compreens��o mais r��pida das informa����es visuais. Assim, este livro tamb��m cumpre a fun����o de divulgador desse recurso de tecnologia assistiva.
Ningu��m sabe t��o bem quanto Paulo Romeu sobre a luta pelo direito �� audiodescri����o. Como ele mesmo vai nos revelar, h�� muito tempo que estamos batalhando pela regulamenta����o de leis j�� existentes, logo, por direitos j�� adquiridos. Por vezes, temos de relaxar para podermos recobrar for��as, por outras lutar por esses direitos judicialmente e mostrar que somos cidad��os, assim como consumidores de informa����o, cultura, produtos e servi��os como todo mundo.
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Finalmente, para deixar aqui algo al��m do conhecimento que cada um de voc��s poder�� desfrutar neste livro, deixo tamb��m a receita de um bolo: Meu bolo �� de massa comum, bem gostosa, daquela que a vov�� fazia para tomarmos o caf�� com p��o da tarde. O mais importante desse bolo caseiro, s��o os sonhos, n��o os de Valsa, mas os que surgem a cada mordida.
Sonhos grandes, a��ucarados, confortantes, aguados de simples desejos.
N��o s��o sonhos imposs��veis, apenas sonhados enquanto mordemos, sonhos de algu��m, de um beijo quase esquecido, da vis��o do amor que um dia existiu ou mesmo do amor latente e estocado que s�� percebemos quando aparece para nos deixar felizes. Sonhos de m��es e pais para seus fi lhos, sonhos de fi lhos com suas namoradas e namorados, sonhos de v�� para neto que nunca crescer��, mas que j�� �� um homem. A cada mordida uma viagem, a cada viagem in��meras dores esquecidas, m��goas lavadas, boca salivada. Um bolo que, como tudo, acaba e que pode ser refeito.
Entretanto, l�� no fundo, onde o bolo se apoiou para que o pud��ssemos partir e saborear, o maior dos sonhos poss��veis escrito com chocolate, relevo, luta, amor e liberdade... um sonho aud��vel: AUDIODESCRI����O J��!
Aos organizadores dessa obra conjunta, L��via Maria Villela de Mello Motta e Paulo Romeu Filho, meus sinceros agradecimentos pela oportunidade de estar nela, presente, e parab��ns por essa feliz iniciativa. Aos autores destes signifi cativos artigos e depoimentos, gostaria de lhes declarar minha imensa felicidade por terem compartilhado suas experi��ncias. Aos leitores, desejo o melhor proveito de suas informa����es, inspira����o para o surgimento de outras obras e, o que �� mais importante, a curti����o de tudo de bom e de novo que possam conhecer com ela.
Ver��o, in��cio de 2010.
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Audiodescri����o
PARTE I
ARTIGOS
AUDIODESCRI����O: BREVE PASSEIO HIST��RICO1
Eliana Paes Cardoso Franco
Manoela Cristina Correia Carvalho da Silva*
A audiodescri����o2 consiste na transforma����o de imagens em palavras para que informa����es-chave transmitidas visualmente n��o passem despercebidas e possam tamb��m ser acessadas por pessoas cegas ou com baixa vis��o. O recurso, cujo objetivo �� tornar os mais variados tipos de materiais audiovisuais (pe��as de teatro, fi lmes, programas de TV, espet��culos de dan��a, etc.) acess��veis a pessoas n��o-videntes, conta com pouco mais de trinta anos de exist��ncia. Uma realidade em pa��ses da Europa e nos Estados Unidos, a AD vem paulatinamente ganhando maior visibilidade e proje����o tamb��m em outros locais, �� medida que o direito da pessoa com defi ci��ncia visual �� informa����o e ao lazer �� reconhecido e garantido.
O objetivo deste texto �� oferecer um breve panorama hist��rico da AD
em n��vel nacional e internacional. Como a promo����o da acessibilidade encontra-se em est��gios diferentes em diferentes pa��ses, h�� locais, como
* Eliana Paes Cardoso Franco �� P��s-Doutora em Tradu����o Audiovisual pela Universidade Aut��noma de Barcelona (2007) e Doutora em Letras pela Universidade Cat��lica de Leuven, B��lgica (2000). Desde 2002 �� docente da Universidade Federal da Bahia, onde coordena o grupo de pesquisa TRAMAD (Tradu����o, M��dia e Audiodescri����o). J�� orientou disserta����es e teses em tradu����o audiovisual, liter��ria, intersemi��tica, autom��tica e interpreta����o. Publicou in��meros trabalhos no Brasil e no exterior e lan��ar�� em 2010 um livro sobre a tradu����o em voice-over pela editora Peter Lang (Bern). Nos ��ltimos anos, tem desenvolvido diversos trabalhos de audiodescri����o para o cinema, o teatro e a dan��a.
Manoela Cristina Correia Carvalho da Silva: �� integrante do grupo de pesquisa TRAMAD
desde sua implanta����o. Mestre em Letras e Ling����stica pela UFBA (2009), com disserta����o sobre a AD de desenhos animados para o p��blico infantil, �� graduada em L��ngua Estrangeira (UFBA, 2005) e em Comunica����o Social pela UCSAL (1996). Atualmente �� professora substituta do Instituto de Letras da UFBA e leciona em cursos livres de ingl��s. Al��m da AD, a dan��a e o cinema s��o outras duas paix��es.
1 Texto baseado em um dos cap��tulos da primeira disserta����o de mestrado sobre audiodescri����o no pa��s: Com os olhos do cora����o: estudo acerca da audiodescri����o de desenhos animados para o p��blico infantil (SILVA, 2009), orientada e desenvolvida pelas autoras do presente cap��tulo, respectivamente.
2 Neste trabalho, tamb��m nomeada AD.
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no caso do Brasil, onde a AD ainda d�� seus primeiros passos. Esperamos com este texto, portanto, contribuir para gerar maior interesse sobre o tema e informar o p��blico em geral sobre suas origens. Para tanto, apresentamos algumas das pesquisas, publica����es e op����es em termos de forma����o em AD hoje dispon��veis.
Breve panorama da AD no mundo
As origens3
A pr��tica de se descrever o mundo visual para pessoas n��o-videntes �� imemorial. No entanto, enquanto atividade t��cnica e profi ssional, a AD
nasceu em meados da d��cada de 70 nos Estados Unidos, a partir das ideias desenvolvidas por Gregory Frazier em sua disserta����o de mestrado.
Apesar de esse trabalho datar do ano de 1975, a AD teve seu debut somente na d��cada seguinte gra��as ao trabalho do casal Margaret e Cody Pfanstiehl. Margaret Rockwell, pessoa com defi ci��ncia visual e fundadora do servi��o de ledores via r��dio The Metropolitan Washington Ear, e seu futuro marido, o volunt��rio Cody Pfanstiehl, foram respons��veis pela audiodescri����o de Major Barbara, pe��a exibida no Arena Stage Theater em Washington DC em 1981. Na ��poca, o Arena Stage Theater havia recebido recursos p��blicos para tornar suas produ����es mais acess��veis e Margaret Rockwell foi contatada para ajudar nessa empreitada. Ela, por sua vez, buscou o aux��lio de Cody Pfanstiehl e o casal, ent��o, passou a audiodescrever as produ����es teatrais. Eles tamb��m foram respons��veis pelas primeiras audiodescri����es em fi ta cassete usadas em visitas a museus, parques e monumentos nos EUA, al��m de contribuir de maneira signifi cativa para levar a AD �� televis��o.
Em 1982, eles audiodescreveram a s��rie de TV American Playhouse, transmitida pela Public Broadcasting Service (PBS). Enquanto o programa 3 As informa����es exibidas nessa se����o foram obtidas junto ��s seguintes p��ginas da Web:
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Audiodescri����o
era exibido, a audiodescri����o era transmitida simultaneamente via r��dio.
Os primeiros testes para transmitir programas televisivos com AD pr��-
gravada em rede nacional come��aram quatro anos depois. A esta����o de TV WGBH, afi liada da PBS em Boston, anteviu a possibilidade de usar o rec��m-criado Programa de ��udio Secund��rio (SAP) para esse fi m. A partir de 1986 e com o aux��lio do Metropolitan Washington Ear, a WGBH come��ou a realizar v��rios testes de recep����o com espectadores com defi ci��ncia visual. Esses testes culminaram na cria����o do Descriptive V��deo Services (DVS), o primeiro provedor de material audiodescrito pr��-gravado para televis��o dos EUA. O DVS foi ofi cialmente lan��ado em 1990.4
Ainda em 1990, quatro organiza����es foram premiadas pela National Academy of Television Arts and Sciences por suas importantes contribui����es para levar a AD �� televis��o: o AudioVision Institute, criado pelos Drs. Gregory Frazier e August Coppola em 1987 na San Francisco State University; a Narrative Television Network (NTN), fundada por James Stovall em 1989; o Metropolitan Washington Ear; e a WGBH. O AudioVision Institute, al��m de promover cursos em audiodescri����o e pesquisar diversas aplica����es para a t��cnica, foi respons��vel pela exibi����o do primeiro fi lme com AD nos EUA, Tucker de Francis Ford Coppola, irm��o de August Coppola. James Stovall havia come��ado a audiodescrever fi lmes em v��deo em 1988 e, em seguida, fundado a NTN para audiodescrever fi lmes para a TV a cabo, inicialmente sem a tecnologia SAP. J�� a parceria entre o Metropolitan Washington Ear e a WGBH havia resultado na cria����o do DVS.
Ap��s sua estreia na televis��o, a AD passou tamb��m a ser oferecida em ��peras e no cinema. Em 1994, o Metropolitan Washington Ear audiodescreveu Madame Butterfl y para a companhia Washington Opera. J�� em 1992, a WGBH deu in��cio ao projeto Motion Picture Access (MoPix) para levar a AD ao cinema em escala comercial. V��rios testes foram feitos at�� que, em 1999, a primeira sala de cinema a contar com a tecnologia desenvolvida pelo grupo exibiu o fi lme O Chacal. Hoje, centenas de salas disp��em dos equipamentos e podem exibir fi lmes com audiodescri����o nos EUA.
4 Vale salientar que a primeira transmiss��o de TV com AD pr��-gravada n��o ocorreu nos EUA, mas no Jap��o em 1983 pela NTV. Como a rede n��o contava com a tecnologia SAP a AD foi transmitida pelo canal aberto e ouvida por todos os espectadores. A iniciativa, no entanto, n��o se mostrou a mais apropriada e as transmiss��es com AD foram descontinuadas, passando a ocorrer apenas ocasionalmente.
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Uma d��cada ap��s seu nascimento, a AD foi gradativamente ganhando espa��o tamb��m fora do territ��rio americano. A Europa foi apresentada �� t��cnica em meados da d��cada de 80, mais precisamente em 1985.
As produ����es amadoras do pequeno teatro Robin Hood em Averham, na Inglaterra, foram as primeiras a contar com o recurso. Exibi����es de car��ter profissional e em larga escala passaram a ser oferecidas no Theatre Royal em Windsor a partir de 1988, sendo a primeira delas a pe��a Stepping Out. Na televis��o e no DVD, o RNIB (Royal National Institute of Blind People), a maior institui����o de cegos do pa��s, tem sido respons��vel pela promo����o da audiodescri����o em larga escala, elevando o pa��s ao primeiro posto em volume de audiodescri����o oferecida ao cidad��o com defici��ncia visual.
Ap��s a Inglaterra, a AD, na forma pela qual a conhecemos hoje, chega �� Espanha5. Em 1987, a Organizaci��n Nacional de Ciegos Espa��oles (ONCE) audiodescreve o fi lme O ��ltimo Tango em Paris. Em seguida, �� a vez da Fran��a. O pa��s �� apresentado �� t��cnica durante o Festival de Cannes de 1989. Dois extratos de fi lmes com AD, resultado de um curso de forma����o em audiodescri����o realizado por estudantes franceses junto ao AudioVision Institute nos EUA, s��o exibidos na ocasi��o. Ainda em 1989, os franceses audiodescrevem seu primeiro fi lme, Indiana Jones e a ��ltima Cruzada. Nesse mesmo ano, as primeiras sess��es especiais de cinema com AD s��o organizadas na Alemanha, fruto dos relatos ouvidos sobre a exibi����o dos fi lmes em Cannes. Na televis��o, a rede de TV b��vara Bayerishes Rundfunk, de Munique, foi pioneira em oferecer alguns itens de sua programa����o audiodescritos e por fazer uso sistem��tico de um consultor com defi ci��ncia visual durante o processo de audiodescri����o desses itens. E assim, de pa��s em pa��s, a AD vai gradativamente ganhando espa��o dentro e fora da Europa.
Hoje, al��m dos Estados Unidos, os pa��ses que mais investem na audiodescri����o, tanto na televis��o como no cinema e no teatro s��o Inglaterra, Fran��a, Espanha, Alemanha, B��lgica, Canad��, Austr��lia e Argentina.
5 Do in��cio da d��cada de 40 at�� meados da d��cada de 50, diversas ��peras e fi lmes foram retransmitidos por r��dio na Espanha. Para que os ouvintes pudessem acompanhar melhor essas retransmiss��es, os elementos visuais das obras tamb��m eram descritos (ORERO; PEREIRA; UTRAY, 2007). No entanto, essas produ����es n��o tinham como objetivo tornar os materiais acess��veis a pessoas com defi ci��ncia visual. Apesar de tamb��m serem consumidas por pessoas cegas, o objetivo dessas retransmiss��es era atender o p��blico vidente que n��o queria ou n��o podia ir at�� o local das apresenta����es (D��AZ CINTAS, 2007).
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Audiodescri����o
Pesquisas e publica����es
Apesar de ter sua origem no contexto acad��mico, a AD logo adquiriu um car��ter mais pr��tico-t��cnico e utilit��rio. N��o causa surpresa, portanto, o fato de que pesquisas sobre o tema s�� tenham come��ado a ser relatadas na d��cada de 90, quase vinte anos ap��s o seu surgimento.
Os primeiros estudos foram conduzidos nos EUA e Inglaterra, na����es com maior tradi����o em AD, e surgiram no contexto da implanta����o do recurso na TV. Nos EUA, muitas dessas pesquisas contaram com o apoio da American Foundation for the Blind (AFB) e envolveram o DVS. Na Inglaterra, a maioria dos estudos contou com o apoio do Royal National Institute of Blind People (RNIB) e aconteceu como parte integrante do projeto Audio Described Television (AUDETEL), um cons��rcio multinacional formado para investigar os diversos aspectos (t��cnicos, log��sticos, art��sticos, etc.) envolvidos na transmiss��o de programas audiodescritos pela TV na Europa. Muitos desses estudos deram origem a artigos publicados em peri��dicos especializados ligados �� quest��o da defi ci��ncia visual como o Journal of Visual Impairment & Blindness (EUA) e o British Journal of Visual Impairment (Inglaterra). S��o exemplos dessa primeira fase, os trabalhos de Kuhn (1992 apud SCHMEIDLER & KIRCHNER, 2001)6; Kuhn e Kirchner (1992 apud SCHMEIDLER & KIRCHNER, 2001)7; Katz e Turcotte (1993 apud SCHMEIDLER & KIRCHNER, 2001)8; Frazier e Coutinho-Johnson (1995
apud SCHMEIDLER & KIRCHNER, 2001)9; Packer (1996); Pettitt, Sharpe e Cooper (1996); Peli, Fine e Labianca (1996); Packer e Kirchner (1997); e Schmeidler e Kirchner (2001).
Nessa fase inicial, as pesquisas procuravam tra��ar um perfi l da popula����o com defi ci��ncia visual e seus h��bitos televisivos, estabelecer 6 KUHN, David. The use of descriptive video in science programming study. Boston: WGBH
Educational Foundation, 1992. Research report.
7 KUHN, David; KIRCHNER, Corinne. Viewing habits and interests in science programming of the blind and visually impaired television audience. Arlington, VA: National Science Foundation, 1992. Research report.
8 KATZ, A.; TURCOTTE, J. Measurement of comprehension changes in television viewing of visually impaired persons using descriptive video study. Boston: New England College of Optometry, 1993. Research report.
9 FRAZIER, G.; COUTINHO-JOHNSON, I. The eff ectiveness of audio description in providing access to educational AV media for blind and visually impaired students in high school. San Francisco: Audio Vision, 1995.
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se a audiodescri����o seria um recurso apreciado por seu p��blico alvo, e determinar se o seu uso contribuiria para que esse p��blico compreendesse materiais audiovisuais mais facilmente. Essas pesquisas foram de fundamental import��ncia, pois, al��m de tornarem mais clara a rela����o das pessoas com defi ci��ncia visual com a televis��o e o v��deo, suas necessidades e prefer��ncias, elas tamb��m demonstraram a validade da AD para seus usu��rios.
De acordo com esses trabalhos, a AD n��o s�� aumentaria a compreens��o dos programas, como traria uma s��rie de outros benef��cios. Segundo Packer (1996), por exemplo, a AD auxiliaria a aquisi����o de conhecimentos sobre o mundo visual, especialmente aqueles ligados a normas de intera����o social (linguagem corporal, estilos de roupa, etc.); tornaria a experi��ncia com a TV mais agrad��vel e educativa; proporcionaria um sentimento de maior independ��ncia, igualdade e inclus��o; e desobrigaria familiares e amigos da tarefa de descrever os programas. Segundo Schmeidler e Kirchner (2001), a AD traria ainda o benef��cio de deixar o p��blico com defi ci��ncia visual mais confort��vel para conversar com pessoas videntes sobre os programas a que assistiam.
Os resultados desses primeiros estudos, portanto, foram bastante positivos e abriram caminho para novas linhas de investiga����o sobre o tema. Pesquisas que aproximaram a audiodescri����o da Ci��ncia da Computa����o, especialmente das ��reas de multim��dia e intelig��ncia artifi cial, por exemplo, foram empreendidas pelo Departamento de Computa����o da University of Surrey (2002-2005) durante o per��odo de vig��ncia do projeto Television in Words (TIWO)10; Piety (2003) dedicou sua disserta����o de mestrado �� investiga����o da audiodescri����o enquanto sistema de comunica����o; o Royal National Institute of Blind People e a Vocaleyes (2003) realizaram pesquisas sobre o uso da audiodescri����o em museus, galerias e sites hist��ricos e culturais; e o Alliance Library System empreendeu projeto de pesquisa para estudar a aplica����o da t��cnica a acervos digitais (PETERS; BELL, 2006).
9 FRAZIER, G.; COUTINHO-JOHNSON, I. The eff ectiveness of audio description in providing access to educational AV media for blind and visually impaired students in high school. San Francisco: Audio Vision, 1995.
10 A an��lise do modo como imagens poderiam ser verbalizadas, um dos objetivos do projeto TIWO, motivou a constru����o de um corpus de 500.000 palavras, extra��das de roteiros de audiodescri����o de 60 fi lmes de longa metragem e alguns programas de TV brit��nicos. An��lises feitas a partir deste corpus apontaram a exist��ncia de uma linguagem pr��pria �� audiodescri����o.
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Audiodescri����o
Foi, entretanto, a ��rea de Estudos da Tradu����o aquela que mais produziu material acerca da AD a partir do in��cio dos anos 2000. Como o recurso come��ou a ser entendido como um exemplo de tradu����o intersemi��tica e um modo de tradu����o audiovisual, muitas publica����es especializadas na ��rea passaram a tratar do assunto. As primeiras refer��ncias podem ser encontradas em uma edi����o especial da revista The Translator. Em sua introdu����o, Gambier (2003) discorre sobre as 12 diferentes modalidades que comp��em o g��nero Tradu����o Audiovisual, citando entre elas a audiodescri����o. A partir da��, artigos sobre AD come��aram a ser publicados em revistas como META, Quaderns, Translation Watch Quarterly, Translating Today, TRANS. Revista de Traductolog��a e Linguistica Antverpiensia. Podem ser citados, entre esses trabalhos, os de Benecke (2004); Hern��ndez-Bartolom�� e Mendiluce-Cabrera (2004); Orero (2005a, 2005b, 2005c); Snyder (2005); D��az Cintas (2005); D��az Cintas, Orero e Remael (2007); Matamala (2005, 2007); Pujol e Orero (2007); Orero, Pereira e Utray (2007); Fuertes e Martinez (2007); Badia e Matamala (2007); Matamala e Orero (2007 apud REMAEL & NEVES, 2007)11; Remael e Vercauteren (2007); Remael e Neves (2007); Hurtado (2007b apud REMAEL & NEVES, 2007)12; e Braun (2007 apud REMAEL & NEVES, 2007)13.
Em geral, esses trabalhos se ocuparam em tra��ar um breve hist��rico da AD; detalhar as etapas do processo de audiodescri����o; apresentar as especifi cidades da AD para o cinema, TV, teatro ou ��pera e os modelos e normas adotados em diferentes pa��ses; delinear as compet��ncias necess��rias aos profi ssionais; e discutir quest��es ligadas �� forma����o de audiodescritores.
Durante esse per��odo, v��rios trabalhos sobre audiodescri����o tamb��m foram apresentados em semin��rios e congressos, entre eles Languages and the Media (2002, 2004, 2006, 2008) em Berlim; In So Many Words (2004) em Londres; Media For All em Barcelona (2005) e Leiria (2007); MuTra: Multidimensional Translation em Saarbr��cken (2005), Copenhagen (2006) e Viena (2007); Audio Description for Visually Impaired People (2007) 11 MATAMALA, Anna; ORERO, Pilar. Designing a course on audio description and defi ning the main competences of the future professional. Linguistica Antverpiensia, Antwerpen, NS6, 2007, p.329-344.
12 HURTADO, Catalina J. La audiodescripci��n desde la representaci��n del conocimiento general. Confi guraci��n sem��ntica de una gram��tica local del texto audiodescrito. Linguistica Antverpiensia, Antwerpen, NS6, p.345-356, 2007b.
13 BRAUN, Sabine. Audio description from a discourse perspective: a socially relevant framework for research and training. In: Linguistica Antverpiensia, NS6, p.357-372, 2007.
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em Guildford; e Congreso de Accesibilidad a los Medios para Personas con Discapacidad, AMADIS em Madri (2006), Granada (2007) e Barcelona (2008). Alguns desses encontros, inclusive, deram origem a livros sobre o assunto. Em 2007, �� lan��ado o livro Accesibilidad a los Medios Audiovisuales para Personas con Discapacidad - AMADIS��� 06 (MEZCUA; DELGADO, 2007), reunindo trabalhos sobre legendagem para pessoas com defi ci��ncia auditiva, AD e acessibilidade �� Web. Os textos abordam quest��es as mais variadas como a forma����o, a normatiza����o, a pesquisa e os aspectos t��cnicos envolvidos no processo de se tornar materiais audiovisuais acess��veis a diferentes p��blicos.
Nesse mesmo ano, tamb��m �� lan��ado o livro Media for All: Subtitling for the Deaf, Audio Description and Sign Language (D��AZ CINTAS; ORERO; REMAEL, 2007). Nove dos trabalhos inclu��dos na publica����o versam sobre audiodescri����o. Os textos tratam de assuntos os mais diversos, desde trabalhos baseados na Lingu��stica de Corpus at�� a an��lise contrastiva da AD de um mesmo fi lme em duas l��nguas diferentes, passando por trabalhos dedicados �� AD de obras de arte e espet��culos de bal��, e um primeiro esbo��o do que poderia ser um guia ��nico internacional para a cria����o de roteiros de AD.
Ainda em 2007, �� publicado o livro Traducci��n y Accesibilidad: subtitulaci��n para sordos y audiodescripci��n para ciegos: nuevas modalidades de Traducci��n Audiovisual (HURTADO, 2007a). Apesar de seu t��tulo sugerir a presen��a de textos tanto sobre a tradu����o para cegos quanto para surdos, a publica����o dedica-se quase que exclusivamente �� AD.
Quatorze dos dezesseis trabalhos inclu��dos na publica����o versam sobre audiodescri����o. Tal como no livro Media for All mencionado anteriormente, podem ser encontrados textos sobre temas bastante variados como, por exemplo, a rela����o entre a linguagem cinematogr��fi ca e a AD ou entre a AD
e a linguagem liter��ria, a chuchotagem audiodescritiva (audiodescri����o sussurrada), a audiodescri����o com apoio t��ctil, a caracteriza����o dos personagens nos roteiros audiodescritos, e o uso da AD como ferramenta did��tica de ensino do processo de tradu����o.
J�� em 2008, �� lan��ado o livro Accesibilidad a los Medios Audiovisuales para Personas con Discapacidad - AMADIS��� 07 (HURTADO & DOM��NGUEZ, 2008).
No que tange �� AD, s��o apresentados os resultados de uma pesquisa sobre as prefer��ncias de videntes e n��o-videntes quanto �� audiodescri����o14; 14 Fels et al (2006) e Konstantinidis et al (2008) apresentam duas outras pesquisas que trazem revela����es interessantes quanto aos potenciais benef��cios da audiodescri����o para os videntes e as prefer��ncias desse p��blico em rela����o �� t��cnica.
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Audiodescri����o
e o embri��o de um sistema de audiodescri����o baseado em entornos virtuais de trabalho colaborativo, uma alternativa para tornar o processo mais ��gil e econ��mico. Tamb��m �� discutida a quest��o da forma����o de audiodescritores, tema de nossa pr��xima se����o.
Forma����o
Tr��s t��m sido os modelos utilizados para a forma����o em AD: o treinamento atrav��s de cursos de curta dura����o ministrados por audiodescritores com experi��ncia de mercado; o treinamento em servi��o promovido por empresas que trabalham com AD; e a forma����o acad��mica, em geral na forma de m��dulos em cursos de mestrado em Tradu����o Audiovisual, ou cursos certifi cados em n��vel de extens��o. Os EUA t��m dado prefer��ncia pelos dois primeiros modelos, enquanto a Europa tem adotado os dois ��ltimos. No entanto, cresce entre os europeus o movimento por uma maior normatiza����o e profi ssionaliza����o na ��rea. Cresce tamb��m a cren��a na necessidade de uma forma����o s��lida para que se possa projetar, de forma efi caz, o resultado da percep����o visual sobre o discurso. Por isso, a forma����o universit��ria pode eventualmente vir a ser privilegiada. Hoje, s��o exemplos de institui����es de ensino superior que oferecem forma����o em AD o The Open College Network West and North Yorkshire (curso certifi cado) e a University of Surrey (mestrado) na Inglaterra, a Universitat Aut��noma de Barcelona (mestrado) na Espanha e a University College Antwerp (mestrado) na B��lgica. Ap��s esse breve passeio pela AD em n��vel internacional, �� hora de descrevermos o cen��rio brasileiro.
Breve panorama da AD no Brasil
As origens
No Brasil, a AD foi utilizada em p��blico, pela primeira vez, em 2003, durante o festival tem��tico Assim Vivemos: Festival Internacional de Filmes sobre Defi ci��ncia, que reproduz a ideia do festival Wie Wir Leben (Como N��s Vivemos) de Munique, na Alemanha, e que acontece a cada dois anos.
Dois anos mais tarde, em 2005, foi lan��ado em DVD o primeiro fi lme audiodescrito do pa��s, Irm��os de F��, seguido de Ensaio sobre a Cegueira Transformando Imagens em Palavras
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em 2008, que constituem at�� o momento os ��nicos fi lmes audiodescritos que foram lan��ados em circuito comercial. Em 2008 surgiu tamb��m na televis��o a primeira propaganda acess��vel para pessoas com defi ci��ncia, promovida pela marca Natura. O Festival de Cinema de Gramado, em sua edi����o de 2007, e o Festival Internacional de Curtas-metragens de S��o Paulo, nas edi����es de 2006 e 2007, foram as primeiras mostras n��o-tem��ticas a exibirem fi lmes audiodescritos. No teatro, a pe��a Andaime, exibida em S��o Paulo em 2007, foi o primeiro espet��culo teatral a contar com o recurso. J�� a montagem Os Tr��s Aud��veis foi o primeiro espet��culo de dan��a audiodescrito, que aconteceu em Salvador (maio de 2008) e em Curitiba (junho de 2009). E em maio de 2009, em Manaus, o p��blico com defi ci��ncia visual p��de apreciar a primeira ��pera audiodescrita do pa��s, Sans��o e Dalila, atra����o do XIII Festival Amazonas de ��pera.
Num outro ��mbito, a audiodescri����o tamb��m come��ou a ser promovida para um p��blico com defi ci��ncia visual mais restrito, com as sess��es mensais de fi lmes audiodescritos ao vivo na Associa����o Laramara, em S��o Paulo, e atrav��s do projeto do Ponto de Cultura ��� Cinema em Palavras ���
promovido pelo Centro Cultural Louis Braille, em Campinas. Com o intuito de fortalecer e promover a audiodescri����o no pa��s, foi formada a primeira associa����o de audiodescritores do Brasil, a MIDIACE ��� Associa����o M��dia Acess��vel, em setembro de 2008, formada basicamente por integrantes das universidades federais de Minas Gerais, Bahia e da universidade estadual do Cear��. Em outubro do mesmo ano, aconteceu o 1��. Encontro Nacional de Audiodescritores realizado em S��o Paulo15. E, no fi nal de 2008, as pessoas com defi ci��ncia visual tamb��m ganharam seu primeiro site de fi lmes acess��veis, o , uma iniciativa da Lavoro Produ����es, Educs e Cinema Falado.
Todas essas a����es pioneiras foram amplamente bem recebidas. Contudo, sua continuidade tem dependido muito mais de iniciativas privadas do que do apoio das autoridades dos meios de comunica����o no que diz respeito ao cumprimento da lei que garante o acesso da popula����o brasileira com defi ci��ncia visual aos meios audiovisuais. Desde a promulga����o da lei 10.098 (BRASIL, 2000), regulamentada pelo Decreto 5.296 (BRASIL, 2004), alterado pelo Decreto 5.645 (BRASIL, 2005) e pelo Decreto 5.762 (BRASIL, 2006b), o recurso da audiodescri����o tornou-se um direito garantido pela 15 O referido encontro, idealizado por Paulo Romeu Filho, reuniu audiodescritores de diferentes estados (Bahia, Cear��, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e S��o Paulo) para discutir a situa����o da AD no Brasil.
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Audiodescri����o
legisla����o brasileira. Ap��s consulta e audi��ncia p��blicas e a ofi cializa����o da Norma Complementar n��1 (BRASIL, 2006a), as emissoras de TV foram obrigadas a oferecer, num prazo m��ximo de dois anos, duas horas di��rias de sua programa����o com audiodescri����o. A quantidade de horas di��rias deveria aumentar gradativamente para que, num prazo m��ximo de dez anos, ou seja, 2016, toda a programa����o estivesse acess��vel. No entanto, desde que o referido prazo foi vencido, em 27 de junho de 2008, tr��s portarias j�� foram publicadas, numa clara demonstra����o de que os interesses das emissoras de TV ainda falam mais alto.
A Portaria 403 (BRASIL, 2008c) suspendeu a obrigatoriedade do recurso da audiodescri����o por 30 dias. A Portaria 466 (BRASIL, 2008b), de 30 de julho de 2008, restabeleceu a obrigatoriedade do recurso e concedeu prazo de 90 dias para que as emissoras iniciassem a transmiss��o de programas com audiodescri����o. A Portaria 661 (BRASIL, 2008a), de 14 de outubro do mesmo ano, suspendeu novamente a aplica����o do recurso para realiza����o de uma nova consulta p��blica sobre a quest��o, com prazo at�� 30 de janeiro de 2009, sendo poss��vel sua prorroga����o sine die e a convoca����o de mais uma audi��ncia p��blica (ROMEU FILHO, 2008). Em novembro de 2009, o Minist��rio das Comunica����es lan��a a Portaria 985, que abre uma nova consulta p��blica para propor altera����es na Norma Complementar no 1/2006.
A quest��o est��, agora, nas m��os dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, que devem julgar uma a����o movida pelo Conselho Nacional dos Centros de Vida independente (CVI - Brasil) e pela Federa����o Brasileira das Associa����es de S��ndrome de Down (FBASD) com vistas a suspender a Portaria 661. Enquanto o entrave legal n��o se resolve, o direito de acesso aos meios para os n��o-videntes continua em suspenso. No Brasil, portanto, diferentemente da realidade das na����es europeias e dos EUA descritas anteriormente, a luta �� para que o direito �� AD ���saia do papel���
e que cidad��os brasileiros com defi ci��ncia visual tamb��m possam ter acesso ��s produ����es culturais exibidas em territ��rio nacional.
Pesquisas e publica����es
A pesquisa em AD no pa��s, ainda que escassa, est�� sendo liderada pelas universidades federais da Bahia, de Pernambuco, Minas Gerais e pela universidade estadual do Cear��. A bibliografi a espec��fi ca ainda �� muito Transformando Imagens em Palavras
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restrita e resume-se a um artigo de autoria de Franco (2006b) na revista
Ci��ncia e Cultura da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci��ncia (SBPC), e a outros tr��s artigos: de Orero (2007), Casado (2007) e Franco (2007a) num n��mero especial da TradTerm: Revista do Centro Interdepartamental de Tradu����o e Terminologia da Universidade de S��o Paulo (USP), organizado pelas Profas. Dras. Eliana Paes Cardoso Franco (UFBa) e Vera L��cia Santiago Ara��jo (UECE). O primeiro artigo (FRANCO, 2006b) trata da quest��o da acessibilidade aos meios e traz refer��ncias �� legenda fechada e �� audiodescri����o. Os tr��s ��ltimos discutem a audiolegendagem16 para a ��pera (ORERO, 2007), a audiodescri����o sob um ponto de vista hist��rico e t��cnico (CASADO, 2007), e os primeiros resultados de uma pesquisa de recep����o em audiodescri����o realizada na cidade de Salvador pelo grupo TRAMAD (Tradu����o, M��dia e Audiodescri����o) (FRANCO, 2007a).
O TRAMAD �� um grupo de pesquisa certifi cado pelo CNPq e pioneiro no Brasil, tendo iniciado suas atividades no ano de 2004. Coordenado pela Dra. Eliana Franco (UFBA), o TRAMAD re��ne pesquisadores volunt��rios graduados e p��s-graduados, dentre eles, uma consultora com defi ci��ncia visual. O grupo realiza estudos com vistas a elaborar um modelo de audiodescri����o que v�� ao encontro das necessidades e prefer��ncias do p��blico brasileiro com defi ci��ncia visual. �� de autoria do grupo o artigo
���Confronting amateur and academic audiodescription: a case study���
(FRANCO et al, 2008) a ser publicado nos anais do semin��rio Audio Description for Visually Impaired People, realizado na University of Surrey, em Guildord, Inglaterra, em julho de 2007.
Al��m do referido artigo, o TRAMAD vem representando o Brasil na pesquisa sobre audiodescri����o, em encontros internacionais, em pa��ses tais como a Espanha (FRANCO; ARA��JO, 2005); Dinamarca (FRANCO, 2006a); Inglaterra (FRANCO, 2007b); e Fran��a (FRANCO, 2008). No ��mbito nacional, o grupo tem promovido parcerias com outras ��reas do conhecimento, como o projeto TRAMADAN (Tradu����o, M��dia, Audiodescri����o e Dan��a), que resultou na audiodescri����o do primeiro espet��culo de dan��a do Brasil mencionado anteriormente. �� tamb��m de autoria de um dos integrantes 16 Recurso atrav��s do qual as legendas em l��ngua vern��cula de materiais audiovisuais em l��ngua estrangeira s��o verbalizadas para torn��-las acess��veis a pessoas com defi ci��ncia visual.
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Audiodescri����o
do grupo a primeira disserta����o de mestrado em AD do pa��s (SILVA, 2009), fruto de pesquisa intensiva com o p��blico infanto-juvenil com defi ci��ncia visual17. A partir do in��cio de 2008, o grupo tem desenvolvido trabalhos para o cinema, o teatro e a dan��a.
Outro grupo de pesquisa que vem se dedicando ao assunto �� o LEAD
(Legendagem e Audiodescri����o), coordenado pela Dra.Vera L��cia Santiago Ara��jo, da Universidade Estadual do Cear�� (UECE). O LEAD
tem como objeto de pesquisa a acessibilidade audiovisual para cegos e surdos. O grupo vem apresentando trabalhos sobre AD em eventos e desenvolvendo iniciativas, como a audiodescri����o de fi lmes e pe��as, a promo����o de festivais de cinema acess��veis, al��m de visitas guiadas a teatros, no pr��prio estado do Cear��. Mais recentemente, o grupo LEAD tem desenvolvido o importante projeto DVD Acess��vel, que busca promover a audiodescri����o de fi lmes em DVD junto a seus produtores.
Al��m da UFBA e UECE, outras duas unidades de ensino contam com pesquisadores interessados no tema da AD, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Podem ser citados entre esses pesquisadores a Dra. C��lia Magalh��es e a Dra. Adriana Pagano da UFMG, e o Dr. Francisco Lima da UFPE.
No entanto, como a promo����o da acessibilidade �� um tema que vem ganhando cada vez mais adeptos, a tend��ncia �� a de que a AD
venha a conquistar maior visibilidade e a atrair um maior n��mero de pesquisadores em territ��rio nacional.
Forma����o
No Brasil, dois t��m sido os modelos utilizados para a forma����o em AD: o treinamento atrav��s de cursos informais promovidos pela iniciativa privada e a forma����o universit��ria certifi cada no n��vel de especializa����o ou extens��o. No primeiro caso, destacam-se os trabalhos da Dra. L��via Motta, respons��vel pela prepara����o dos audiodescritores do Teatro Vivo em S��o Paulo, e de Graciela Pozzobon, audiodescritora do festival Assim Vivemos e treinadora de audiodescritores no Rio de Janeiro.
17 Tr��s outros integrantes do grupo est��o desenvolvendo trabalhos de p��s-gradua����o sobre AD. Dois desenvolvem teses de doutoramento junto �� UFBA e um terceiro realiza mestrado junto �� Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Transformando Imagens em Palavras
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No contexto universit��rio, os Professores Eliana Franco, Vera Santiago Ara��jo e Francisco Lima v��m ministrando cursos de extens��o e especializa����o para a forma����o de audiodescritores, a primeira em Salvador (UFBa) e Maranh��o (UFMA), a segunda em Fortaleza (UECE), Belo Horizonte (UFMG e PUC-MINAS) e Natal (UERN), e o terceiro em Recife (UFPE). Juntos, j�� introduziram a audiodescri����o para cerca de 200 alunos.
Sejam certifi
cados ou n��o, formal ou informalmente, mais e mais audiodescritores est��o sendo treinados para suprir o mercado que inevitavelmente se abrir�� com a devida implementa����o da lei de acessibilidade.
Conclus��o
Desde seu nascimento at�� aqui, a AD j�� percorreu um longo caminho, cruzando continentes e levando a diferentes pa��ses a perspectiva de se oferecer maior acesso �� informa����o, �� cultura e ao lazer. Apesar dessa trajet��ria promissora, �� importante frisar que a AD n��o se encontra no mesmo est��gio de desenvolvimento em todas as partes do mundo. Em pa��ses como o Brasil, por exemplo, o recurso ainda d�� seus primeiros passos. �� vital, portanto, que pesquisas na ��rea sejam estimuladas e que o recurso ganhe maior visibilidade entre o p��blico em geral, inclusive o vidente. Quanto mais pesquisas, mais publica����es e mais cursos formais na ��rea, maior ser�� a consolida����o do direito �� acessibilidade audiovisual pelas pessoas com defi ci��ncia visual, direito esse materializado atrav��s da audiodescri����o.
Enquanto isso, os nomes que come��aram a construir a hist��ria da AD
no Brasil e que batalham incansavelmente para sua implementa����o, tais como Lara e Graciela Pozzobon, L��via Motta, Eliana Franco, Vera Santiago Ara��jo, Francisco Lima, Bell Machado, Maur��cio Santana, al��m, �� claro, de seus maiores apoiadores, como Paulo Romeu Filho, Marco Antonio Queiroz e Iracema Vilaronga, come��am a ganhar seguidores cada vez mais entusiasmados que est��o dispostos a fazer com que a AD saia do papel e ganhe os teatros, salas de cinema, museus e telas de computador e TV do Brasil afora. E que assim seja.
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Audiodescri����o
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Audiodescri����o
POL��TICAS P��BLICAS DE ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICI��NCIA - AUDIODESCRI����O
NA TELEVIS��O BRASILEIRA
Paulo Romeu Filho*
Inicialmente, quero agradecer a L��via Motta pelo convite para ajud��-la a organizar este livro, que conta com a participa����o de tantos amigos com quem compartilhamos as alegrias e ang��stias no processo de difus��o e implementa����o da audiodescri����o em nosso pa��s.
Neste artigo, pretendo demonstrar como conheci e me envolvi com as quest��es de acessibilidade para pessoas com defi ci��ncia, em geral, e com a audiodescri����o, em particular, bem como apresentar, seguindo uma linha do tempo, a sucess��o de eventos transcorridos desde 2000, sobre a regulamenta����o do recurso da audiodescri����o, para sua implementa����o na televis��o brasileira.
Como me envolvi com a audiodescri����o
Perdi a vis��o em 1980 devido a um acidente de carro. Estava com 22 anos e cursava o pen��ltimo ano de engenharia qu��mica. Depois de muitos meses nos quais minha vida se resumiu a entrar e sair de hospitais e consult��rios m��dicos, iniciei o processo de reabilita����o na Funda����o Dorina Nowil Para Cegos, onde aprendi a usar a bengala-guia, ler e escrever em braille e a realizar diversas atividades de vida di��ria.
J�� estava com 25 anos quando, com o apoio de meus pais e de minha namorada, com quem me casei em 1985, voltei a me sentir f��sica e emocionalmente apto a retomar minha vida normalmente. Foi ent��o que conheci Domingos Sessa Neto, presidente do Instituto Brasileiro de Incentivos Sociais ��� IBIS, onde iniciei minha forma����o em inform��tica, ��rea
* Analista de sistemas, graduado em Administra����o de Empresas com especializa����o em Gest��o de Sistemas de Informa����o, militante pelas causas das pessoas com defi ci��ncia e criador do Blog da Audiodescri����o.
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ainda relativamente recente no Brasil e na qual as pessoas cegas vinham conseguindo demonstrar seu potencial apesar da pouca tecnologia adaptada existente naquela ��poca. J�� possu��a alguns conhecimentos de processamento de dados porque era uma das disciplinas do curr��culo da faculdade de engenharia, mas foi no IBIS que realmente me interessei pela ��rea e decidi ent��o dedicar-me a ela profi ssionalmente.
Em 2003, a empresa em que trabalho, que contrata pessoas com defi ci��ncia desde 1973, havia criado uma Equipe de Acessibilidade com o objetivo de identifi car e propor solu����es para as situa����es que constitu��am barreiras para o desempenho de atividades desses funcion��rios. Fui convocado a participar dessa equipe e, como parte do trabalho de pesquisa de casos de sucesso de outras empresas, descobrimos que a Associa����o Brasileira de Normas T��cnicas ��� ABNT havia recentemente criado o Comit�� Brasileiro de Acessibilidade (CB40), espec��fi co para a elabora����o de normas de acessibilidade para pessoas com defi ci��ncia. Esse comit�� estava organizado em tr��s comiss��es distintas para o estudo e elabora����o de normas t��cnicas nas ��reas de: barreiras arquitet��nicas, barreiras nos transportes) e barreiras na comunica����o. Posteriormente, foi criada uma nova comiss��o de estudos para a acessibilidade digital.
A empresa me indicou para represent��-la junto ao CB40, por isso comecei a participar das reuni��es da Comiss��o de Estudos de Acessibilidade na Comunica����o. Havia interesse, tanto da empresa em que trabalho quanto da comiss��o de estudos da ABNT, na cria����o de uma norma brasileira que tratasse do estabelecimento de diretrizes para a constru����o de sites na internet acess��veis para pessoas com defi ci��ncias. A CE03 criou um grupo de trabalho para a elabora����o dessa norma e fui indicado para coorden��-lo, mas logo nas primeiras reuni��es percebemos que, em 1999, o World Wide Web Consortium - W3C, organismo normatizador mundial da internet, tinha publicado o documento intitulado ���Recomenda����es de Acessibilidade para os Conte��dos da WEB���, que praticamente esgotava o assunto e j�� havia se transformado em refer��ncia internacional. Portanto, conclu��mos que melhor seria os desenvolvedores brasileiros de sites seguirem aquelas recomenda����es, ao inv��s de tentarmos criar padr��es pr��prios para o Brasil; por isso o grupo de trabalho foi desfeito.
Pouco tempo depois, a Equipe de Acessibilidade tamb��m foi desfeita em virtude de uma grande reestrutura����o da empresa em que trabalho, mas eu j�� havia sido infectado pelo ���v��rus da acessibilidade���, ent��o continuei participando das reuni��es da ABNT por iniciativa pr��pria.
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Audiodescri����o
A comiss��o de estudos de acessibilidade na comunica����o j�� havia criado um grupo de trabalho que estava discutindo a elabora����o de uma norma sobre o estabelecimento de diretrizes para a produ����o de legendas para pessoas surdas nos programas de televis��o. Ainda n��o conhecia a audiodescri����o. Assim, devido a minha forma����o na ��rea de engenharia e a meus conhecimentos de inform��tica, passei a coordenar um outro grupo de trabalho, que foi respons��vel pela elabora����o da NBR 15250: Acessibilidade em Caixa de Auto-Atendimento Banc��rio.
Fazia alguns anos que a Rede SACI ��� Solidariedade, Apoio, Comunica����o e Informa����o ��� distribu��a um boletim di��rio por e-mail com not��cias do interesse de pessoas com defi ci��ncia. Foi por interm��dio daquele boletim que, durante a elabora����o da NBR 15250, tomei conhecimento da audiodescri����o ao ler a divulga����o do lan��amento do DVD do fi lme Irm��os de F��, o primeiro a ser lan��ado no Brasil com o recurso.
Fui a uma v��deolocadora, trouxe o DVD para casa e, logo de in��cio, me surpreendi ao perceber que o menu de abertura do DVD era acess��vel, pois conforme pressionava as teclas direcionais do controle remoto, uma locu����o me indicava as op����es pelas quais eu estava navegando. Gostei da sensa����o de autonomia e liberdade porque, at�� aquele dia, precisava que algum vidente me ajudasse a selecionar as op����es como idioma, qualidade do ��udio, assistir os extras, etc.. Mas a surpresa foi ainda maior quando o fi lme come��ou, e aquela mesma voz dos menus aparecia em momentos chave, explicando e informando o que se passava nas cenas que eu n��o conseguiria entender pela falta da vis��o.
Imediatamente compreendi o que era a audiodescri����o e sua import��ncia como um recurso capaz de promover a inclus��o dos cegos em um mundo predominantemente visual.
Na primeira reuni��o da CE03 ap��s ter assistido ��quele fi lme, cheguei a propor a elabora����o de uma norma para a audiodescri����o, a exemplo do que j�� se estava fazendo com as legendas para as pessoas surdas, mas a falta de maiores informa����es a respeito do assunto inviabilizou a proposta naquele momento. Alguns meses depois, em outra reuni��o da CE03, o Laramara ��� Associa����o de Assist��ncia ao Defi ciente Visual fez a apresenta����o de um trabalho que vinha desenvolvendo, e que consistia da exibi����o de fi lmes com audiodescri����o feita ao vivo para pessoas cegas.
Com base nessa apresenta����o, a coordenadora da CE03 decidiu incluir a audiodescri����o como um novo cap��tulo a ser discutido pelo grupo de Transformando Imagens em Palavras
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trabalho que estava elaborando a minuta da norma de legendas para surdos, aumentando assim o escopo da norma, que foi publicada pela ABNT como NBR 15290: Acessibilidade em Comunica����o na Televis��o.
Algumas semanas ap��s a publica����o da NBR 15290, Gen��zio Fernandes Vieira, pessoa cega que trabalha como Procurador da Fazenda Nacional e, na ��poca, tamb��m atuava como conselheiro do Conselho Nacional de direitos dos Portadores de Defi ci��ncia ��� CONADE, passou meus contatos para a Dra. Denise Costa Granja, coordenadora de assuntos judiciais do Minist��rio das Comunica����es e tamb��m conselheira do CONADE. Em nosso primeiro contato, a Dra. Denise me informou que estava encarregada de elaborar um documento a ser publicado pelo Minicom para regulamentar os artigos do Decreto 5.296 que tratam da acessibilidade na televis��o.
Disse que o Gen��zio havia comentado sobre minha participa����o na elabora����o da NBR 15290, e me perguntou se poderia ajud��-la na tarefa de que havia sido incumbida.
Foram algumas semanas de in��meros telefonemas e intensa troca de e-mails di��rios com a Dra. Denise at�� que, em novembro de 2005, hav��amos conclu��do a reda����o de uma minuta de Norma Complementar, que foi submetida a consulta p��blica pela Portaria 476/2005 do Minist��rio das Comunica����es, e ainda estabeleceu data para a realiza����o de uma audi��ncia p��blica.
Este foi o in��cio de uma sucess��o de cartas, of��cios, reuni��es t��cnicas, portarias, consultas e audi��ncias p��blicas a respeito da audiodescri����o, uma verdadeira Via Crucis para a implementa����o do recurso na televis��o brasileira, que passo a descrever.
A saga da audiodescri����o no brasil
Dezembro de 2000
Foi sancionada a Lei 10.098, que fi
cou conhecida como Lei da
Acessibilidade, por estabelecer normas gerais e crit��rios b��sicos para a promo����o da acessibilidade das pessoas portadoras de defi ci��ncia ou com mobilidade reduzida, al��m de outras provid��ncias. Os artigos 2 (inciso II, al��nea D), e 17 desta lei merecem ser aqui destacados, por serem aqueles mais diretamente relacionados �� audiodescri����o:
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Audiodescri����o
Art. 2o Para os fi ns desta Lei s��o estabelecidas as seguintes defi ni����es:
...
II ��� barreiras: qualquer entrave ou obst��culo que limite ou impe��a o acesso, a liberdade de movimento e a circula����o com seguran��a das pessoas, classifi cadas em:
...
d) barreiras nas comunica����es: qualquer entrave ou obst��culo que difi culte ou impossibilite a express��o ou o recebimento de mensagens por interm��dio dos meios ou sistemas de comunica����o, sejam ou n��o de massa;
...
Art. 17. O Poder P��blico promover�� a elimina����o de barreiras na comunica����o e estabelecer�� mecanismos e alternativas t��cnicas que tornem acess��veis os sistemas de comunica����o e sinaliza����o ��s pessoas portadoras de defi ci��ncia sensorial e com difi culdade de comunica����o, para garantir-lhes o direito de acesso �� informa����o, �� comunica����o, ao trabalho, �� educa����o, ao transporte, �� cultura, ao esporte e ao lazer.
A ��ntegra desta lei pode ser obtida em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l10098.htm
Dezembro de 2004
Foram necess��rios quatro anos para que fosse publicado o Decreto 5.296, que regulamenta a Lei da Acessibilidade, inclusive no que se refere �� acessibilidade na comunica����o, de modo geral, e, na televis��o, em particular:
Regulamenta as leis n�� 10.048, de 8 de novembro de 2000, que d�� prioridade de atendimento ��s pessoas que especifi ca, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e crit��rios b��sicos para a promo����o da acessibilidade das pessoas portadoras de defi ci��ncia ou com mobilidade reduzida, e d�� outras provid��ncias.
O artigo 52 deste decreto determinou a adapta����o dos aparelhos televisores de modo a poderem ser usados por pessoas com defi ci��ncia, e o artigo 53 originalmente atribuiu �� Anatel a compet��ncia para regulamentar as quest��es referentes �� acessibilidade na programa����o veiculada pelas emissoras de televis��o, entre elas: closed caption ou legenda oculta, audiodescri����o e janela para int��rprete de LIBRAS.
Transformando Imagens em Palavras
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A ��ntegra deste decreto pode ser obtida em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm.
Fevereiro de 2005
Foi assinado o Decreto 5.371, que reformulou e estabeleceu as compet��ncias do Minist��rio das Comunica����es e da Anatel, no que se refere aos servi��os de transmiss��o e retransmiss��o da programa����o de televis��o. A reformula����o nas compet��ncias do Minist��rio das Comunica����es e da Anatel estabelecida por este decreto exigiu, em consequ��ncia, que o artigo 53 do Decreto 5.296
tamb��m fosse reformulado, conforme se ver�� mais adiante.
A ��ntegra deste decreto, j�� com as altera����es posteriores a sua publica����o, pode ser obtida em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5371.htm.
Junho de 2005
A Rede Globo de Televis��o apresenta a novela Am��rica, que tem em sua trama dois personagens cegos. Para auxiliar a autora da novela na constru����o desses personagens, uma de suas assessoras cria um grupo de discuss��o na internet do qual participam aproximadamente cinquenta pessoas cegas.
Durante essas discuss��es, surge a solicita����o para que a TV Globo inclua a audiodescri����o na produ����o e veicula����o da novela, que foi formalizada para a diretoria da emissora como carta aberta, que est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/carta-aberta-redeglobo-de-televisao.html.
Outubro de 2005
O Comit�� Brasileiro de Acessibilidade da Associa����o Brasileira de Normas T��cnicas ��� ABNT publicou a Norma Brasileira NBR 15290: Acessibilidade em Comunica����o na Televis��o. Texto dispon��vel em http://www.mj.gov.
br/corde/arquivos/ABNT/NBR15290.pdf.
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Audiodescri����o
Novembro de 2005
O Ministro das Comunica����es assinou a Portaria 476, submetendo a consulta p��blica uma minuta de Norma Complementar, destinada a regulamentar o artigo 53 do Decreto 5.296; e agendou data para a realiza����o de audi��ncia p��blica.
A ��ntegra desta, assim como de outras portarias que tratam da audiodescri����o, n��o est��o dispon��veis no site do Minist��rio das Comunica����es, mas podem ser encontradas em http://saci.org.br/index.
php?modulo=akemi��metro=17757.
Dentre as manifesta����es recebidas nessa consulta p��blica, destacam-se o of��cio n�� 90 da Associa����o Brasileira de Emissoras de R��dio e Televis��o
��� ABERT, e a an��lise desse of��cio, elaborada pela Coordenadoria Geral de Assuntos Judiciais do Minist��rio das Comunica����es.
A ��ntegra destes documentos, que se transformaram na primeira discuss��o sobre a acessibilidade na programa����o das emissoras brasileiras de televis��o pode ser obtida em:
h t t p : / / b l o g d a a u d i o d e s c r i c a o. b l o g s p o t . c o m / 2 0 1 0 / 0 2 / o f i c i o -
abert-902005.html
e http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2009/10/coordenadoria-geral-de-assuntos.html.
Dezembro de 2005
Foi assinado o Decreto 5.645, que deu nova reda����o ao Artigo 53
do Decreto 5.296, atribuindo ao Minist��rio das Comunica����es a responsabilidade pela regulamenta����o das diretrizes de acessibilidade na programa����o das emissoras de televis��o, bem como estabeleceu prazo de 120 dias para a publica����o dessas diretrizes, fi cando assim compat��vel com as novas determina����es estabelecidas pelo Decreto 5.371.
Deste modo, no que se refere �� audiodescri����o, entendida como descri����o e narra����o, em voz, de cenas e imagens, os artigos do Decreto 5.296
passaram a vigorar com a seguinte reda����o:
Transformando Imagens em Palavras
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Art. 52. Caber�� ao Poder P��blico incentivar a oferta de aparelhos de televis��o equipados com recursos tecnol��gicos que permitam sua utiliza����o de modo a garantir o direito de acesso �� informa����o ��s pessoas portadoras de defi ci��ncia auditiva ou visual.
Par��grafo ��nico. Incluem-se entre os recursos referidos no caput: I - circuito de decodifi ca����o de legenda oculta; II - recurso para Programa Secund��rio de ��udio (SAP); e III - entradas para fones de ouvido com ou sem fi o.
Art. 53. Os procedimentos a serem observados para implementa����o do plano de medidas t��cnicas, previstos no art. 19 da Lei no 10.098, de 2000, ser��o regulamentados, em norma complementar, pelo Minist��rio das Comunica����es.
�� 1o O processo de regulamenta����o de que trata o caput dever�� atender ao disposto no art. 31 da Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
�� 2o A regulamenta����o de que trata o caput dever�� prever a utiliza����o, entre outros, dos seguintes sistemas de reprodu����o das mensagens veiculadas para as pessoas portadoras de defi ci��ncia auditiva e visual: I - a subtitula����o por meio de legenda oculta; II - a janela com int��rprete de LIBRAS; e
III - a descri����o e narra����o em voz de cenas e imagens.
�� 3o A Coordenadoria Nacional para Integra����o da Pessoa Portadora de Defi ci��ncia - CORDE da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presid��ncia da Rep��blica assistir�� o Minist��rio das Comunica����es no procedimento de que trata o �� 1o.
O Minist��rio das Comunica����es publicou a Portaria n�� 1/2006 e realizou audi��ncia p��blica para discuss��o dos coment��rios recebidos na consulta p��blica institu��da pela Portaria MC 476/2005, da qual participaram representantes da ABRA - Associa����o Brasileira de Radiodifusores, ABERT -
Associa����o Brasileira de Emissoras de R��dio e Televis��o, Funda����o Roquete Pinto representando as emissoras p��blicas, a CORDE - Coordenadoria Nacional para Integra����o das Pessoas Portadoras de Defi ci��ncia, o CONADE - Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Portadoras de Defi ci��ncia e a UBC ��� Uni��o Brasileira de Cegos. Participei dessa audi��ncia p��blica acompanhando o presidente da Uni��o Brasileira de Cegos, Volmir Raimondi.
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Audiodescri����o
Mar��o de 2006
Realizada reuni��o no Minist��rio P��blico Federal, a reda����o original do Decreto 5.296 remetia para a Anatel a compet��ncia para regulamentar a quest��o da aplica����o de recursos de acessibilidade na televis��o para pessoas com defi ci��ncia. Esse decreto, depois, foi alterado e a responsabilidade passou a ser do Minist��rio das Comunica����es, cuja compet��ncia restringe-se �� televis��o aberta, de recep����o livre e gratuita para o p��blico em geral.
Deste modo, acabou sendo criado um v��cuo legislativo sobre a obrigatoriedade tamb��m para as TVs por assinatura veicularem sua programa����o com os mesmos recursos de acessibilidade exigidos para as emissoras de televis��o aberta.
Para discutir essa quest��o, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidad��o convocou o Minist��rio das Comunica����es, a Anatel e a CORDE para uma reuni��o, na qual foi acordado que o Poder Executivo faria uma nova altera����o no Decreto 5.296 para corrigir a falha, o que n��o aconteceu at�� este momento.
A ata dessa reuni��o pode ser obtida em http://blogdaaudiodescricao.
blogspot.com/2010/01/pfdc-e-acessibilidade-na-televisao.html.
Abril de 2006
Foi assinado o Decreto 5.762, que prorrogou por 60 dias o prazo para o cumprimento do que determina o Decreto 5.645, ou seja, ampliou o prazo para o Minist��rio das Comunica����es publicar a regulamenta����o do artigo 53 do Decreto 5.296. ��ntegra dispon��vel em https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5762.htm
Junho de 2006
Em 27 de junho de 2006, depois de ter ouvido e analisado toda a argumenta����o t��cnica, econ��mica e jur��dica apresentadas na consulta e na audi��ncia p��blica citadas, o Minist��rio das Comunica����es publicou a Transformando Imagens em Palavras
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Portaria 310, ofi cializando a Norma Complementar n�� 1 que estabeleceu o cronograma de implanta����o e os requisitos t��cnicos para tornar a programa����o das TVs abertas acess��vel para pessoas com defi ci��ncia.
A Norma Complementar n�� 1 defi niu car��ncia de dois anos para que as emissoras de televis��o tivessem tempo para promover as adequa����es necess��rias em sua programa����o e, ainda, escalonamento progressivo da quantidade di��ria de programa����o que deveria ser transmitida com os recursos de acessibilidade previstos. De acordo com o documento, somente a partir de 27 de junho de 2008, as emissoras estariam obrigadas a produzir duas horas di��rias de programa����o acess��vel, aumentando a carga di��ria um pouco a cada ano at�� que, somente depois de passados 10 anos, ating��ssemos a totalidade da programa����o sendo gerada com os recursos de acessibilidade.
Esta portaria, que tamb��m traz o texto da Norma Complementar n�� 1
est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/
audiodescricao-portaria-310-do.html.
Dois dias ap��s o Minist��rio das Comunica����es ter publicado a Portaria 310, o Presidente da Rep��blica assinou o Decreto 5.820, que disp��e sobre a implanta����o do SBTVD-T ��� Sistema Brasileiro de Televis��o Digital Terrestre ���; estabelece diretrizes para a transi����o do sistema de transmiss��o anal��gica para o sistema de transmiss��o digital do servi��o de radiodifus��o de sons e imagens e do servi��o de retransmiss��o de televis��o; e d�� outras provid��ncias.
Este decreto, al��m de estabelecer o modelo japon��s de televis��o digital para o Brasil, tamb��m determinou que os padr��es anal��gico e digital de televis��o devessem conviver por dez anos, contados a partir da publica����o do decreto.
A ��ntegra deste decreto pode ser acessada em: https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5820.htm.
Neste ponto, para melhor entendimento do leitor, �� importante salientar que a Norma Complementar n�� 1, assim como a NBR 15290 da ABNT, foram elaboradas tendo como base os recursos de acessibilidade existentes no padr��o de televis��o anal��gico, visto que, at�� o momento da publica����o dessas normas, ainda n��o havia defi ni����o sobre o sistema de televis��o digital a ser adotado no Brasil.
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Audiodescri����o
A defini����o do padr��o de televis��o digital brasileiro, publicada apenas dois dias ap��s a defini����o das obriga����es das emissoras de televis��o veicularem sua programa����o com recursos de acessibilidade, viria a se transformar em um dos principais argumentos dos radiodifusores para as sucessivas posterga����es na implementa����o desse direito das pessoas com defici��ncia, conforme discutido em documenta����o que referencio mais adiante.
Outubro de 2006
O Minist��rio das Comunica����es publicou a Portaria 652, que estabeleceu crit��rios, procedimentos e prazos para a consigna����o de canais de radiofrequ��ncia destinados �� transmiss��o digital do servi��o de radiodifus��o de sons e imagens e do servi��o de retransmiss��o de televis��o, no ��mbito do Sistema Brasileiro de Televis��o Digital Terrestre ��� SBTVD-T.
Esta portaria pode ser encontrada em: http://blogdaaudiodescricao.
blogspot.com/2010/02/portaria-652-do-ministerio-das.html Dentre outras provid��ncias, esta portaria criou o F��rum do Sistema Brasileiro de Televis��o Digital, composto por especialistas de diversas ��reas para estudar e assessorar o Minist��rio das Comunica����es no estabelecimento de diretrizes t��cnicas do sistema digital.
Dezembro de 2006
A Assembleia Geral da Organiza����o das Na����es Unidas aprovou a Conven����o Sobre Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia, que trata especifi camente sobre a acessibilidade na televis��o em seu artigo 30: Artigo 30 - Participa����o na vida cultural e em recrea����o, lazer e esporte 1. Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com defi ci��ncia de participar na vida cultural, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, e dever��o tomar todas as medidas apropriadas para que as pessoas com defi ci��ncia possam:
Transformando Imagens em Palavras
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1. Desfrutar o acesso a materiais culturais em formatos acess��veis; 2. Desfrutar o acesso a programas de televis��o, cinema, teatro e outras atividades culturais, em formatos acess��veis; Conforme se ver�� adiante, esta conven����o transformou-se em um dos pilares para a defesa do direito �� audiodescri����o na televis��o brasileira.
Mar��o de 2007
O Presidente da Rep��blica protocola, na ONU, o dep��sito da assinatura da Conven����o Sobre Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia. O fato relevante para a luta pela implementa����o da audiodescri����o no Brasil �� que o Presidente da Rep��blica tamb��m depositou assinatura de um protocolo adicional a esta conven����o, que submete seus signat��rios ao monitoramento da ONU para o cumprimento dos princ��pios da conven����o.
Maio de 2008
Em 26 de maio de 2008, 1 m��s antes do fi nal da car��ncia de dois anos determinada pela Norma Complementar n�� 1/2006 para o in��cio das transmiss��es de programa����o com os recursos de acessibilidade previstos, a ABERT enviou of��cio ao Minist��rio das Comunica����es oferecendo uma s��rie de motivos para solicitar prorroga����o de prazo. O documento alegava impedimentos de ordem legal e uma s��rie de difi culdades t��cnicas, operacionais e econ��micas para a implementa����o dos recursos de acessibilidade na programa����o veiculada pelas emissoras afi liadas.
Este of��cio est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.
com/2010/02/ofi cio-abert-402008.html.
Anexo a este of��cio, a ABERT enviou parecer elaborado pela empresa Quadrante Consultores em Radiodifus��o e Telecomunica����es, que est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/
parecer-quadrante-consultores.html.
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Audiodescri����o
Junho de 2008
Em 25 de junho, os participantes do grupo de discuss��o TVACESSIVEL
(http://br.groups.yahoo.com/group/tvacessivel) enviam carta ao Ministro das Comunica����es rebatendo os argumentos apresentados pelos radiodifusores no of��cio ABERT 40/2008.
Esta carta est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.
com/2009/10/sobre-audiodescricao-o-que-diz-abert-e.html.
Em 27 de junho de 2008, exatamente no dia em que venceria a car��ncia de 2 anos prevista na Portaria 310, o Minist��rio das Comunica����es publicou a Portaria 403, que suspendeu o recurso da audiodescri����o por 30 dias, mantendo a obriga����o para os demais recursos de acessibilidade previstos na Norma Complementar n�� 1.
Esta portaria pode ser acessada em: http://blogdaaudiodescricao.
blogspot.com/2010/02/audiodescricao-portaria-403-do.html.
A FEBEC ��� Federa����o Brasileira de Entidades De e Para Cegos, deu publicidade a uma mo����o na qual manifestava sua contrariedade pelo adiamento do in��cio das transmiss��es de programas televisivos com o recurso da audiodescri����o. Texto dispon��vel em: http://
blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2009/10/mocao-publica-da-febec-contra-suspensao.html.
Julho de 2008
Em 9 de julho, o Congresso Nacional promulgou o Decreto Legislativo 186
��� Conven����o Sobre Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia ��� tornando-se o primeiro tratado internacional a vigorar no Brasil com status de Emenda Constitucional. ��ntegra dispon��vel em: http://www2.camara.gov.br/internet/
legislacao/legin.html/visualizarTextoAtualizado?idNorma=577811.
A Uni��o Brasileira de Cegos ofi ciou ao Ministro das Comunica����es manifestando seu rep��dio pela publica����o da Portaria 403. Texto Transformando Imagens em Palavras
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dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/ofi cio-da-ubc-ao-ministro-das.html.
Em 15 de julho, a Uni��o Brasileira de Cegos ofi ciou �� Procuradoria Federal dos Direitos do Cidad��o, solicitando provid��ncias para o imediato restabelecimento das disposi����es constantes na Portaria 310. Texto dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/
manifestacao-da-uniao-brasileira-de.html.
A Procuradoria Geral da Rep��blica abriu processo administrativo e ofi ciou ao Minist��rio das Comunica����es, solicitando esclarecimentos. Texto dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/
procuradoria-geral-da-republica-ofi cia.html.
Em 23 de julho, o Minist��rio das Comunica����es realizou reuni��o t��cnica da qual participaram representantes da ABERT, representantes da UBC
��� Uni��o Brasileira de Cegos ��� e alguns profi ssionais de audiodescri����o brasileiros. Essa reuni��o aconteceu em sala anexa ao gabinete do Ministro H��lio Costa e teve dura����o aproximada de 3 horas. Participei dessa reuni��o representando a UBC.
Em 27 de julho, a Uni��o Brasileira de Cegos e a Federa����o Brasileira das Entidades De e Para Cegos realizaram assembleia conjunta na qual decidiram se fundir como entidade ��nica, dando origem �� ONCB ���
Organiza����o Nacional de Cegos do Brasil.
Em 30 de julho, o Minist��rio das Comunica����es publicou a Portaria 466, restabelecendo a obrigatoriedade de veicula����o do recurso da audiodescri����o e determinou prazo de 90 dias para o in��cio das transmiss��es. Texto dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.
com/2010/02/audiodescricao-portaria-466-do.html.
Outubro de 2008
Antes do t��rmino do prazo de 90 dias estabelecido na Portaria 466, o Minist��rio das Comunica����es novamente suspendeu a aplica����o somente do recurso da audiodescri����o, conforme previsto na Portaria 310, para 56
Audiodescri����o
a realiza����o de nova consulta p��blica com prazo at�� 30 de janeiro de 2009, com possibilidade de prorroga����o sine die, e ainda prevendo a possibilidade de convoca����o de mais uma audi��ncia p��blica, conforme Portaria 661 de 14 de outubro de 2008. O texto da Portaria 661 pode ser obtido em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/
audiodescricao-portaria-661-do.html.
Com o patroc��nio da Secretaria da Pessoa com Defi ci��ncia do governo do Estado de S��o Paulo e apoio da VIVO ��� operadora de telefonia celular
���, aconteceu o I Encontro Nacional de Audiodescritores. Informa����es dispon��veis em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/i-encontro-nacional-de-audiodescritores.html.
Este evento, que contou com a participa����o dos principais audiodescritores brasileiros e pessoas com e sem defi ci��ncia, todos militantes na luta pela implementa����o da audiodescri����o no Brasil, foi marcado, na palestra de encerramento, pela leitura de um of��cio da secret��ria, Dra. Linamara Rizzo Batistela para o Ministro das Comunica����es, no qual manifesta seu apoio �� implementa����o da audiodescri����o na programa����o veiculada pelas emissoras de televis��o.
Novembro de 2008
A COCAS ��� Comiss��o Civil de Acessibilidade de Salvador tamb��m emitiu nota p��blica manifestando seu rep��dio �� protela����o na implementa����o do recurso da audiodescri����o. Texto dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2009/10/nota-publica-da-cocas-contra-portaria.html
Enviei e-mail para a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidad��o relatando as sucessivas portarias e adiamentos do Minist��rio das Comunica����es quanto �� obrigatoriedade de implementa����o do recurso da audiodescri����o na programa����o das emissoras brasileiras de televis��o, e solicitando provid��ncias cab��veis no sentido de fazer valer os preceitos legais pertinentes ao assunto. Esta comunica����o est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/paulo-romeu-denuncia-para-pfdc.html.
Transformando Imagens em Palavras
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Dezembro de 2008
Em 30 de dezembro de 2008, inconformados com as sucessivas suspens��es do recurso da audiodescri����o pelo Minist��rio das Comunica����es, o Conselho Nacional dos Centros de Vida Independente e a Federa����o Brasileira das Associa����es de S��ndrome de Down ingressaram no Supremo Tribunal Federal com A����o de Argui����o de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 160) contra a Uni��o. No documento, alegam descumprimento, pelo minist��rio, dos prazos estabelecidos no Decreto Federal 5.296/2004, que determinou ao Minist��rio das Comunica����es a responsabilidade pela regulamenta����o dos artigos referentes �� acessibilidade nos meios de comunica����o. Posteriormente, a ONCB
manifestou-se, nesta a����o, na condi����o de Amicus Curae.
O recurso ao Supremo Tribunal Federal foi poss��vel gra��as �� Conven����o Sobre Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia da ONU, que vigora no Brasil com status de equival��ncia de Emenda Constitucional.
A inicial desta a����o est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.
blogspot.com/2009/11/adpf-160-arguicao-de-descumprimento-de.html.
Janeiro de 2009
A CORDE ��� Coordenadoria Nacional para Integra����o da Pessoa Portadora de Defi ci��ncia realizou reuni��o t��cnica com a participa����o de diversos audiodescritores e institui����es representativas de pessoas com defi ci��ncia para discutir as quest��es formuladas pelo Minist��rio das Comunica����es na Portaria 661/2008. Como resultado dessa reuni��o, a CORDE protocolou no Minist��rio das Comunica����es o documento dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2009/10/
sobre-audiodescricao-o-que-disse-corde.html.
A Organiza����o Nacional de Cegos do Brasil manifestou-se publicamente em defesa do recurso da audiodescri����o: http://blogdaaudiodescricao.
blogspot.com/2009/10/organizacao-nacional-de-cegos-do-brasil.html.
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Audiodescri����o
Fevereiro de 2009
Em fevereiro de 2009, o Minist��rio P��blico Federal, por interm��dio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidad��o do Distrito Federal tamb��m ingressou com A����o Civil P��blica contra a Uni��o, pelos mesmos motivos alegados na ADPF 160. A inicial desta ACP pode ser encontrada em: http://
blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2009/11/acp-200934000047646-acao-civil-publica.html.
Maio de 2009
O Ministro das Comunica����es, H��lio Costa, mediante despacho, abriu nova consulta p��blica para receber contribui����es a respeito da audiodescri����o, conforme not��cia divulgada no site do Minicom: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/ministerio-das-comunicacoes-maio-de.html.
Para essa nova consulta p��blica, o Minicom publicou em seu site uma s��rie de documentos recebidos na consulta p��blica institu��da pela Portaria 661, que se encerrou em janeiro de 2009. No entanto, esses documentos foram publicados em formatos inacess��veis para pessoas cegas, justamente os maiores interessados na implementa����o do recurso da audiodescri����o.
Junho de 2009
O CONADE ��� Conselho Nacional de Direitos das Pessoas Portadoras de Defi ci��ncia ��� manifesta-se por of��cio ao Ministro das Comunica����es, repudiando a edi����o da Portaria 661 e as sucessivas protela����es da obrigatoriedade da veicula����o de programas com audiodescri����o pelas emissoras brasileiras de televis��o. Manifesta-se, tamb��m, contra a falta de acessibilidade para pessoas com defi ci��ncia aos documentos publicados no site do Minist��rio das Comunica����es, e para os quais pede contribui����es.
Este of��cio est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.
com/2010/02/conade-ofi cia-ao-ministro-das.html.
Transformando Imagens em Palavras
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No mesmo m��s, o CONADE tamb��m ofi ciou �� Procuradoria Regional dos Direitos do Cidad��o do Distrito Federal, solicitando provid��ncias para fazer que o Minist��rio das Comunica����es tornasse acess��veis para pessoas com defi ci��ncia os documentos que publicou em seu site e para os quais solicitou contribui����es da sociedade. Of��cio dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/conade-ofi cia-ao-ministerio-publico.html.
Tamb��m as institui����es representativas de pessoas com defi ci��ncia
��� Conselho Nacional dos Centros de Vida Independente, a Federa����o Brasileira das Associa����es de S��ndrome de Down e a Organiza����o Nacional de Cegos do Brasil ��� impetraram Mandado de Seguran��a contra a Uni��o. No documento, solicitam o cancelamento da ��ltima consulta p��blica aberta pelo Minist��rio das Comunica����es, em virtude da falta de acessibilidade aos documentos e, ainda, em virtude de parte deles terem sido publicados em outros idiomas, o que restringe, ainda mais, a participa����o dos interessados na consulta, em igualdade de condi����es. A inicial deste Mandado de Seguran��a est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.
blogspot.com/2010/02/mandado-de-seguranca.html.
Julho de 2009
Como n��o houve manifesta����o do Superior Tribunal de Justi��a ao solicitado no Mandado de Seguran��a acima citado at�� 30 de junho, data em que se encerrou a consulta p��blica, as entidades impetrantes da a����o produziram um aditamento, agora solicitando a reabertura da consulta p��blica, ao inv��s de seu cancelamento, para que as pessoas com defi ci��ncia pudessem participar. A ��ntegra do aditamento est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/aditamento-do-mandado-de-seguranca.html.
Agosto de 2009
Em decis��o liminar, o Superior Tribunal de Justi��a ordenou ao Minist��rio das Comunica����es a reabertura da consulta p��blica, pelo prazo de 45
dias, determinando que todos os documentos publicados no site do 60
Audiodescri����o
Minicom fossem adaptados de modo a permitir sua leitura por pessoas com defi ci��ncia, bem como que os documentos publicados em outros idiomas fossem traduzidos para o portugu��s. A ��ntegra da decis��o pode ser obtida em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/
decisao-liminar-do-mandado-de-seguranca.html.
Setembro de 2009
O Minist��rio das Comunica����es, em atendimento �� decis��o liminar do Ministro Amilton Carvalhido no Mandado de Seguran��a acima citado, reabriu a consulta p��blica por 45 dias, e disponibilizou todos os documentos em formatos acess��veis para pessoas com defi ci��ncia, como se pode ler em: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/
consulta-publica-sobre-audiodescricao.html.
Assim, foi poss��vel ��s pessoas com defici��ncia terem acesso aos seguintes documentos:
Of��cio ABERT n�� 7 de 2009:
h t t p : / / w w w. m c . g o v. b r / w p - c o n t e n t / u p l o a d s / o - m i n i s t e r i o /
documentacao-sobre-acessibilidade-consulta-publica/01.doc Expediente da R��dio e Televis��o Bandeirantes:
h t t p : / / w w w. m c . g o v. b r / w p - c o n t e n t / u p l o a d s / o - m i n i s t e r i o /
documentacao-sobre-acessibilidade-consulta-publica/02.doc Memorando 19 do Instituto Benjamin Constant:
h t t p : / / w w w. m c . g o v. b r / w p - c o n t e n t / u p l o a d s / o - m i n i s t e r i o /
documentacao-sobre-acessibilidade-consulta-publica/03.doc Expediente da Sociedade Benefi cente para Defi cientes de Aparelhos Auditivos:
h t t p : / / w w w. m c . g o v. b r / w p - c o n t e n t / u p l o a d s / o - m i n i s t e r i o /
documentacao-sobre-acessibilidade-consulta-publica/04.doc Parecer da Quadrante ��� Consultores em Radiodifus��o e Telecomunica����es: h t t p : / / w w w. m c . g o v. b r / w p - c o n t e n t / u p l o a d s / o - m i n i s t e r i o /
documentacao-sobre-acessibilidade-consulta-publica/05.doc Transformando Imagens em Palavras
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Audiodescri����o nos Estados Unidos: h t t p : / / w w w. m c . g o v. b r / w p - c o n t e n t / u p l o a d s / o - m i n i s t e r i o /
documentacao-sobre-acessibilidade-consulta-publica/06.doc Audiodescri����o na Inglaterra, Espanha e It��lia:
h t t p : / / w w w. m c . g o v. b r / w p - c o n t e n t / u p l o a d s / o - m i n i s t e r i o /
documentacao-sobre-acessibilidade-consulta-publica/07.doc Audiodescri����o na Alemanha, Irlanda e Canad��:
h t t p : / / w w w. m c . g o v. b r / w p - c o n t e n t / u p l o a d s / o - m i n i s t e r i o /
documentacao-sobre-acessibilidade-consulta-publica/08.doc Os documentos originais, em formato PDF, inacess��veis para pessoas com defi ci��ncia podem ser obtidos em: http://www.mc.gov.br/o-ministerio/
documentacao-sobre-acessibilidade-consulta-publica/.
Outubro de 2009
Uma vez que puderam ter acesso aos documentos publicados pelo Minist��rio das Comunica����es, as pessoas com defi ci��ncia enviaram suas contribui����es, dentre as quais disponibilizo a minha pr��pria (http://
blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/paulo-romeu-disse-para-o-ministerio-das.html). Tamb��m contribu��ram outras pessoas envolvidas na luta pela audiodescri����o, como, por exemplo, a Profa. Dra. L��via Motta (http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/livia-motta-diz-para-o-ministerio-das.html).
Novembro de 2009
O Minist��rio das Comunica����es publicou a Portaria 985, abrindo mais uma consulta p��blica na qual apresentou uma minuta de altera����o da Norma Complementar n�� 1/2006, propondo as seguintes modifi ca����es: 1. Torna o recurso da audiodescri����o exig��vel apenas na programa����o veiculada pelas emissoras no sistema de televis��o digital; 62
Audiodescri����o
2. Altera o cronograma de implementa����o da audiodescri����o originalmente proposto para iniciar em 2 horas por dia chegando a 100% da programa����o ap��s 10 anos, para 2 horas por semana a partir de julho de 2011 chegando, no m��ximo, a 24 horas por semana ap��s 10 anos;
3. Desobriga as retransmissoras afi liadas a emissoras cabe��a-de-rede de tornar acess��veis a programa����o pr��pria.
A ��ntegra desta portaria est�� dispon��vel em: http://blogdaaudiodescricao.
blogspot.com/2010/02/audiodescricao-portaria-985-do.html.
Fevereiro de 2010
A Subsecretaria Nacional de Promo����o dos Direitos da Pessoa com Defi ci��ncia, antiga CORDE, promoveu nova reuni��o t��cnica para a qual foram convidados diversos audiodescritores, entidades representativas de pessoas com defi ci��ncia, entidades representativas das emissoras de televis��o, diversos ��rg��os do governo federal, dentre outros.
Como resultado dessa reuni��o, foi protocolado no Minist��rio das Comunica����es o documento que pode ser obtido em: http://
blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2010/02/audiodescricao-atos-do-minicom-podem.html.
Mar��o de 2010
Para al��vio dos radiodifusores e decep����o dos brasileiros com defi ci��ncia, o Minist��rio das Comunica����es publicou, em mar��o de 2010, a Portaria n�� 188, formalizando diversas modifi ca����es na Norma Complementar n�� 1/2006.
Entre estas altera����es destacam-se:
- A quantidade de programa����o audiodescrita a ser veiculada pelas emissoras que estava inicialmente prevista em duas horas di��rias passou para duas horas semanais;
Transformando Imagens em Palavras
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- A quantidade de programa����o audiodescrita a ser veiculada pelas emissoras ap��s dez anos do in��cio da implementa����o que estava prevista em 100% da programa����o passou para apenas vinte horas semanais;
- As emissoras fi cam obrigadas a transmitir seus programas com audiodescri����o apenas pelo Sistema Brasileiro de Televis��o Digital, excluindo-se a obriga����o de veicula����o pelo sistema de televis��o anal��gico.
Aumentando nossa decep����o, a nova Portaria do Minist��rio das Comunica����es deixou de tratar de quest��es importantes como a exig��ncia de que as emissoras de televis��o divulguem sua grade de programa����o informando quais programas ter��o acessibilidade; deixou de exigir que as emissoras publiquem relat��rios peri��dicos da programa����o transmitida com cada recurso de acessibilidade para permitir melhor acompanhamento do cumprimento de suas obriga����es; deixou de estabelecer responsabilidades para o pr��prio Minist��rio como, por exemplo, a����es efetivas para a disponibiliza����o de Set Top Box adaptadas para o uso por pessoas com defi ci��ncia a custo acess��vel.
Portanto, apesar do Minist��rio das Comunica����es ter divulgado not��cia em seu site afi rmando que o Brasil ter�� quantidade de programa����o audiodescrita equivalente a de outros pa��ses que j�� implementaram o recurso, �� evidente o preju��zo ao direito dos brasileiros com defi ci��ncia que necessitam do recurso; �� evidente a diferencia����o criada em rela����o a outros recursos de acessibilidade para a televis��o previstos no Decreto 5296. ��, pois, um fl agrante desrespeito aos princ��pios de equipara����o de oportunidades estabelecidos pela Conven����o Sobre Direitos das Pessoas Com Defi ci��ncia da Organiza����o das Na����es Unidas.
Conclus��o
A esta altura, depois de tantos eventos ocasionados pela edi����o de leis, decretos, portarias, despachos, of��cios, cartas e in��meras manifesta����es de todos os segmentos envolvidos na implementa����o da audiodescri����o na televis��o brasileira, o leitor certamente j�� se deu conta de que se 64
Audiodescri����o
trava uma verdadeira batalha entre os interesses comerciais de grandes grupos empresariais de comunica����o e o direito dos cidad��os com algum tipo de defi ci��ncia. Infelizmente, esta luta n��o se restringe apenas ao Brasil, mas acontece em praticamente todos os pa��ses onde o sistema de televis��o digital j�� est�� em funcionamento.
Em todo o mundo, n��o existem d��vidas de que o maior, mais abrangente e mais democr��tico meio de comunica����o, cultura e lazer �� a televis��o, especialmente para as pessoas com defi ci��ncia.
A maioria das pessoas com todos os tipos de defi ci��ncias n��o t��m o h��bito de frequentar cinemas e teatros, alguns pela falta de acessibilidade arquitet��nica, outros pela falta de acessibilidade na comunica����o. Somem-se a este fato as informa����es constantes no I Anu��rio de Estat��sticas Culturais do Minist��rio da cultura, dispon��vel em http://www.cultura.gov.br/site/2009/09/08/minc-divulga-primeiro-anuario-de-estatisticas-culturais-do-pais/, que apresenta informa����es preocupantes como as de que apenas 8,7% dos munic��pios brasileiros possuem salas de cinema, e apenas 21,20% s��o equipados com salas de teatro. O resultado �� o quadro sinistro da exclus��o cultural e de acesso �� informa����o a que est��o submetidos os 25 milh��es de brasileiros com algum tipo de defi ci��ncia (dados do censo do IBGE realizado em 2000).
No entanto, ainda de acordo com dados do anu��rio de estat��sticas culturais, 95,11% dos lares brasileiros t��m aparelhos de televis��o e, mesmo aqueles localizados nas regi��es mais remotas, recebem os sinais da programa����o das emissoras de televis��o por meio de antenas parab��licas.
O conjunto destas informa����es n��o deixa d��vidas de que a televis��o �� o principal meio de comunica����o de massa. ��, pois, o principal meio pelo qual a popula����o se informa e se diverte, especialmente as pessoas de menor poder aquisitivo, e mais especialmente as pessoas que, pela falta de acessibilidade aos equipamentos de cultura, fi cam privadas de usufruir direitos b��sicos e essenciais, previstos em nossa Carta Magna.
Neste sentido, �� evidente que o legislador deva se preocupar em tornar a televis��o brasileira acess��vel para pessoas com todos os tipos de defi ci��ncia. E a audiodescri����o ��, sem d��vida, o recurso que pode torn��-
Transformando Imagens em Palavras
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la acess��vel n��o apenas para pessoas com defi ci��ncia visual ou intelectual, mas tamb��m para idosos, disl��xicos e para todos aqueles com difi culdades de compreens��o de audiovisuais e leitura de textos contidos em imagens.
Ainda que a audiodescri����o possa representar um ��nus para as emissoras, conforme sustentado por suas entidades representativas, n��o h�� como calcular o pre��o do desrespeito ao direito de aproximadamente 20 milh��es de brasileiros.
Queremos AUDIODESCRI����O J��, e queremos um cronograma para sua implementa����o que, no fi nal, atinja 100% da programa����o.
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Audiodescri����o
A AUDIODESCRI����O VAI �� ��PERA
L��via Maria Villela de Mello Motta*
Este artigo objetiva discutir a experi��ncia pioneira no Brasil de audiodescri����o em espet��culos de ��pera: Sans��o e Dalila no Teatro Amazonas18, em Manaus, Cavalleria Rusticana, Pagliacci e O Barbeiro de Sevilha 19 no Theatro S��o Pedro, em S��o Paulo.
A ��pera, um espet��culo que re��ne m��sica instrumental, canto l��rico, literatura, poesia, teatro e dan��a, e que fala, geralmente, sobre infort��nios, trai����o, assassinatos, mist��rios e, acima de tudo, sobre amor, foi durante muito tempo o entretenimento favorito da nobreza, das elites sociais e intelectuais, com grande parte do seu repert��rio escrito nos s��culos passados. Talvez por isso, por consider��-la um espet��culo elitista, complexo e antiquado, algumas pessoas tenham, ainda, uma certa resist��ncia �� ��pera. Fraga e Matamoro (2001) afi rmam, por outro lado, que no s��culo XIX, a ��pera era um espet��culo popular por excel��ncia e continua sendo um g��nero de espet��culo capaz de lotar est��dios de futebol, em apresenta����es com tenores famosos, como Pl��cido Domingo, Luciano Pavarotti e Jos�� Carreras, por exemplo; um g��nero atual que vem atraindo mais e mais afi cionados.
* L��via Maria Villela de Mello Motta �� doutora em Lingu��stica Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC de S��o Paulo e atua tanto na ��rea de forma����o de professores para a escola inclusiva, como na ��rea de inclus��o cultural das pessoas com defici��ncia visual, com foco no trabalho com audiodescri����o e forma����o de audiodescritores para teatro, cinema, TV e outros espet��culos, al��m de eventos sociais e pedag��gicos. Foi respons��vel pela prepara����o dos audiodescritores da primeira pe��a brasileira com audiodescri����o no Brasil, no Teatro Vivo, e continua formando profissionais para atuar neste segmento, al��m de participar ativamente de atividades para divulga����o, normatiza����o e implementa����o do recurso na TV.
18 A ��pera Sans��o e Dalila, de Camille Saint-Sa��ns, apresentada no XIII Festival Amazonas de ��pera em abril de 2009, foi a primeira ��pera brasileira com audiodescri����o, resultado de uma parceria da Vivo com a Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas.
19 Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni, Pagliacci de Ruggero Leoncavallo e O Barbeiro de Sevilha de Gioachino Rossini foram apresentadas no Theatro S��o Pedro em S��o Paulo, em julho e novembro, sendo que Cavalleria Rusticana foi a primeira ��pera apresentada com audiodescri����o no Estado de S��o Paulo, uma parceria da Vivo com o Governo do Estado de S��o Paulo.
Transformando Imagens em Palavras
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A audiodescri����o, recurso que transfere a dimens��o visual de um espet��culo para o verbal, por meio de informa����o sonora, ampliando, desta forma, o entendimento e promovendo o acesso �� informa����o e �� cultura, possibilita que pessoas com defi ci��ncia visual assistam a pe��as, fi lmes, programas de TV, exposi����es, desfi les e, neste caso, mais especifi camente, a espet��culos de ��pera em igualdade de condi����es com as pessoas que enxergam, o que nos remete ao conceito de acessibilidade cultural. A audiodescri����o amplia, assim, o entendimento n��o somente das pessoas com defi ci��ncia visual, como tamb��m de pessoas com defi ci��ncia intelectual, pessoas com dislexia e pessoas idosas. Ou seja, uma plena participa����o dos diferentes p��blicos: que todos possam apreciar as artes e a cultura, com a elimina����o de barreiras f��sicas, atitudinais e comunicacionais.
Em seu artigo sobre acessibilidade em ��peras na Catalonia, Orero (2007) comenta que muitas pessoas idosas encontram problemas na leitura das legendas em ��peras, tanto pelo tamanho das letras como pelo contraste entre a cor do fundo e a cor das letras. Esse problema com o contraste p��de ser percebido no Theatro S��o Pedro, na ��pera O Barbeiro de Sevilha.
Algumas pessoas que enxergam e que estavam com os fones de ouvido, tiveram difi culdades com a leitura das legendas e comentaram que a audiodescri����o foi, nesse caso, um recurso bastante providencial.
Promover o acesso a ��peras para pessoas com defi ci��ncia visual, tornando esse tipo de espet��culo acess��vel com o recurso da audiodescri����o, foi um desafi o e tanto proposto pelo Instituto Vivo, em uma parceria com o Governo do Estado de S��o Paulo e com a Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas, na apresenta����o em Manaus. Em primeiro lugar, por ser a ��pera, como j�� mencionado, um g��nero ainda desconhecido da grande maioria; em segundo, porque a ��pera �� cantada em l��ngua estrangeira ��� em Manaus em franc��s e em S��o Paulo em italiano ��� e, por causa disso, a leitura das legendas tem que ser feita concomitantemente �� audiodescri����o.
A quest��o da acessibilidade para diferentes p��blicos vem sendo trabalhada pelo Instituto Vivo e faz parte do Programa Cultural Vivo EnCena, programa que abre novos olhares para a arte como instrumento de educa����o e de inclus��o cultural, tanto para jovens estudantes de escolas p��blicas como para pessoas com defi ci��ncia. Coube a mim, a elabora����o dos roteiros, bem como a prepara����o dos audiodescritores, a elabora����o da lista de pessoas com defi ci��ncia visual convidadas, o pedido de feedback para quem assistiu e a tabula����o dos dados gerados pelos feedbacks. Aos 68
Audiodescri����o
audiodescritores locutores, funcion��rios da Vivo e volunt��rios do Instituto Vivo, coube a tarefa de assistir aos ensaios, ensaiar o roteiro com o v��deo das ��peras, especialmente gravado para isso, fazer a revis��o dos roteiros, receber os convidados e audiodescrever, ao vivo, os espet��culos. O artigo passa a discutir, abaixo, cada uma dessas etapas.
Mergulhando no mundo da ��pera e a prepara����o
dos audiodescritores, funcion��rios e materiais
Pouca familiaridade eu tinha com ��peras, quando Marcelo Romoff 20
lan��ou o desafi o de tornar Cavalleria Rusticana um espet��culo acess��vel para as pessoas com defi ci��ncia visual. Essa pr��tica, j�� comum no Teatro Vivo desde 2007, seria agora implementada no Theatro S��o Pedro. A audiodescri����o j�� havia ido �� ��pera em Manaus, no XIII Festival Amazonas de ��pera, em abril de 2009, em Sans��o e Dalila, a primeira ��pera brasileira com audiodescri����o21, uma iniciativa do Instituto Vivo em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado de Amazonas, como mencionado acima.
Alguns funcion��rios da Vivo, da Secretaria da Cultura e da Biblioteca Braille fi zeram o curso de audiodescri����o, ministrado por mim, com uso de videoconfer��ncias, em um ambiente virtual de aprendizagem e em encontros presenciais, para poder audiodescrever esse espet��culo e outros, contribuindo para transformar o Teatro Amazonas em um lugar mais acess��vel.
Conhecer o vocabul��rio espec��fi co, o hist��rico deste g��nero de espet��culo, a classifi ca����o dos solistas masculinos (bar��tono, tenor, contratenor e baixo) e femininos (contralto, mezzo-soprano e soprano), o que s��o ��rias, duetos, libretos, r��citas, intermezzos22, e outras muitas especifi cidades, me permitiu um mergulho no mundo da ��pera, uma oportunidade 20 Marcelo Romoff �� o diretor do Teatro Vivo, o primeiro teatro brasileiro acess��vel ��s pessoas com defi ci��ncia visual, desde 2007, com a apresenta����o da pe��a O Andaime, sob dire����o de Elias Andreatto, e com os atores Cl��udio Fontana e C��ssio Scapin.
21 Sans��o e Dalila - divulga����o na m��dia: http://portalamazonia.globo.com/pscript/noticias/
noticias.php?pag=old&idN=82709
22 ��ria: da palavra italiana aria, designa uma melodia vocal isolada, de dura����o vari��vel, cantada por um solista. Dueto ou duo: reuni��o de duas vozes solistas, frequentemente o duo de amor entre um tenor e uma soprano) (Suhammy, 2007). R��citas: apresenta����es.
Intermezzo: intervalo musical que serve de ponte entre duas cenas ou atos. (Fraga e Matamoro, 2001). Libreto: texto de uma ��pera, em verso ou em prosa.
Transformando Imagens em Palavras
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de conhecer mais de perto esse universo musical que tanto encanta os ouvidos, surpreende os olhos e enleva o esp��rito. A m��sica, segundo Goulding (1996), faz com que a ��pera seja muito mais intensa que uma pe��a de teatro. As ��rias, duetos, trios e quartetos oferecem uma forma incompar��vel de comunica����o de diferentes emo����es simultaneamente, o que seria imposs��vel de ser alcan��ado em uma pe��a, por exemplo.
Esse mergulho no mundo oper��stico foi compartilhado com os audiodescritores do Instituto Vivo, uma fase preparat��ria que envolveu o envio de e-mails com sugest��o de sites 23 para conhecer as ��peras, sinopse, apresenta����o dos personagens, tradu����o dos libretos, fi cha t��cnica, texto do diretor c��nico, cronograma de ensaios e apresenta����es. Houve, ainda, grava����o em v��deo de ensaio de cada ��pera, roteiro e encontros preparat��rios, como tamb��m escala para as apresenta����es.
Al��m das pesquisas na internet, leitura de libretos e outros materiais, o contato e as conversas com o diretor c��nico de cada ��pera, com assistentes e diretores de produ����o, alguns solistas e participantes do coro, a pianista preparadora e a maestrina do coral, muito colaboraram para o entendimento do espet��culo e a elabora����o do roteiro. As informa����es e rubricas do diretor n��o s��o, geralmente, conhecidas pelo grande p��blico; entretanto, para o audiodescritor �� fundamental entender a leitura que o diretor faz da obra e como ele pretende passar isso para a plateia, usando recursos imag��ticos nos quais se incluem a ilumina����o, o cen��rio, o posicionamento dos personagens em cena e outros.
Digna de destaque �� a receptividade da classe art��stica para com o recurso de audiodescri����o, com o reconhecimento da import��ncia de tornar a arte acess��vel para diferentes p��blicos, o que, possivelmente, far�� com que estendam a acessibilidade para outros espet��culos. Comprovando apoios signifi cativos, cito dois depoimentos de representantes da ��rea.
L��via Sabag, diretora c��nica de Pagliacci, manifestou-se em comunica����o pessoal por e-mail:
Como diretora do espet��culo, talvez eu seja a ��nica pessoa envolvida na produ����o da ��pera 'Pagliacci' que conhe��a absolutamente todos os detalhes da encena����o. Foi impressionante e gratifi cante perceber, ao 23 Sugest��o de v��deo com a cena fi nal da ��pera Pagliacci: http://video.google.com.br/
videoplay?docid=-7074452410955318088&ei=jyJkS7y2Loz4qgLq39HNCA&q=pagliacci+op era&hl=pt-BR#
70
Audiodescri����o
ler os retornos escritos pelos defi cientes visuais, qu��o envolvidos e qu��o interados do espet��culo eles fi caram. Ouso dizer, considerando todas as avalia����es que li e ouvi, que eles fru��ram mais do espet��culo do que algumas pessoas do p��blico comum. Foi uma honra para n��s da produ����o e equipe art��stica poder participar de um projeto t��o importante e inovador quanto esse. Espero que existam cada vez mais iniciativas como essa em todo o pa��s, democratizando, dessa forma, o acesso �� arte, da qual os defi cientes visuais s��o geralmente privados.
M��rio Masetti, diretor da Associa����o Paulista dos Amigos da Arte (APAA), revelou ades��o �� causa em seu depoimento ao Jornal Estado de S��o Paulo, em reportagem publicada em julho de 2009:
A partir de agora, todas as ��peras encenadas no Theatro S��o Pedro contar��o com o recurso da audiodescri����o. E outros projetos com acessibilidade est��o em andamento. Para o pr��ximo ano, as pe��as do Teatro S��rgio Cardoso, na Bela Vista, devem contar com tradu����o para a linguagem de sinais para defi cientes auditivos. ����� um projeto piloto que pretendemos estender aos outros teatros do Estado���, adianta Mario Masetti, diretor art��stico da Associa����o Paulista dos Amigos da Arte (APAA), que administra seis teatros estaduais (UMA ��PERA comentada..., 2009).
Na implementa����o do recurso, uma etapa que n��o pode ser esquecida �� a da prepara����o dos funcion��rios do teatro e da empresa que loca equipamentos de tradu����o simult��nea, principalmente daqueles que trabalham na recep����o e entrega de equipamentos, j�� que esses funcion��rios atender��o ��s pessoas com defi ci��ncia visual antes, durante e ap��s o espet��culo. Algumas informa����es sobre a defi ci��ncia visual, instru����es de como conduzir as pessoas at�� os lugares na plateia, ou de como dar orienta����es sobre o funcionamento dos fones s��o essenciais para completar as condi����es de acessibilidade do local. As instru����es verbais sobre como usar os receptores, por exemplo, precisam ser aliadas �� experi��ncia t��til, posicionando a m��o da pessoa sobre os bot��es (liga/
desliga, volume, canal).
Outro aspecto importante �� a impress��o em braille e ampliado, em tinta, dos programas que s��o distribu��dos em cada ��pera. Esse material tem sido bastante apreciado pelas pessoas com defi ci��ncia visual, que apontam para a complementa����o do entendimento do espet��culo, dado esse que pode ser observado nos recortes abaixo, extra��dos dos Transformando Imagens em Palavras
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feedbacks fornecidos por e-mail, depois das apresenta����es da ��pera Cavalleria Rusticana:
O material em braille, tamb��m �� um material de apoio importante e ajuda bastante na compreens��o da ��pera, mas nada se comparado �� riqueza de detalhes e ao profi ssionalismo da audiodescri����o.
O folder em braille �� um recurso que certamente torna o evento ainda mais acess��vel, uma vez que possibilita o pr��vio contato com dados t��cnicos sobre a dire����o, cria����o, atores / personagens, a sinopse, dentre outros detalhes que favorecem a compreens��o acerca do espet��culo.
O folder em braille �� importante a fi m de que se tenha material a ser consultado n��o s�� logo ap��s o espet��culo, mas tamb��m quando se quer reavivar a mem��ria.
Elabora����o de roteiros para ��peras
Para traduzir em palavras toda a grandeza e magnitude de um espet��culo de ��pera, ampliando o entendimento das pessoas com defi ci��ncia visual, o roteiro para ��peras divide-se em sete partes: apresenta����o, sinopse, informa����es t��cnicas, cen��rio, caracteriza����o dos personagens, informa����es sobre o teatro e a audiodescri����o propriamente dita do espet��culo, que inclui a entrada e sa��da de cena, as a����es, trejeitos e express��es corporais, assim como a leitura das legendas. Tamb��m uma s��rie de instru����es para os audiodescritores, tais como a organiza����o do roteiro, a marca����o no texto, a troca de turnos, a pron��ncia dos nomes estrangeiros, sugest��es de como ensaiar e seguir o roteiro, est��o inseridas no in��cio do documento, considerando que, neste caso, o audiodescritor roteirista n��o �� o mesmo que o audiodescritor locutor.
Abro par��nteses aqui para explicar especifi
cidades desses dois
profi ssionais que trabalham com a audiodescri����o. Em alguns pa��ses, como na Inglaterra, por exemplo, tanto o roteiro como a locu����o s��o, geralmente, feitos pela mesma pessoa. O mesmo n��o acontece na Espanha, segundo Snyder (2004). Para cada uma das fun����es, s��o necess��rias habilidades espec��fi cas; o locutor precisa ter imposta����o vocal, clareza, entona����o e adequa����o da voz com o g��nero de espet��culo. J�� o roteirista precisa de um bom conhecimento do l��xico, intimidade com a 72
Audiodescri����o
elabora����o de textos e t��cnicas de sumariza����o. Ambos precisar��o, sem d��vida, mergulhar no tema de cada espet��culo a ser audiodescrito para a familiariza����o, a constru����o da intimidade com os personagens e texto e, consequentemente, para o melhor desempenho de suas tarefas.
Para a elabora����o do roteiro, faz-se necess��rio participar em um maior n��mero poss��vel de ensaios e, j�� com o libreto em m��os, fazer as anota����es referentes aos elementos mencionados acima.
Fels e Udo (2009) apontam que ainda �� incipiente o n��mero de pesquisas que investigam a qualidade e a quantidade de audiodescri����o em cada espet��culo, enfatizando a necessidade de familiariza����o com o tema, o g��nero, as mensagens do autor e do diretor, o estilo de atua����o e, principalmente, a adequa����o das escolhas lexicais mais apropriadas para a elabora����o do roteiro. Tamb��m Braun (2008) comenta as formas de promover o acesso a ��peras, com diferentes n��veis de informa����o. A Royal Opera House, em Londres, por exemplo, costuma oferecer apenas uma introdu����o �� ��pera em ��udio antes do espet��culo, n��o inserindo a audiodescri����o durante o mesmo. J�� no Liceu Opera, em Barcelona, a audiodescri����o est�� presente durante todo o espet��culo, mesmo contrariando um dos princ��pios da audiodescri����o de, preferencialmente, n��o sobrepor a audiodescri����o aos di��logos e, nesse caso, �� m��sica.
Em um espet��culo de ��pera, geralmente, o roteiro �� bem mais extenso que em uma pe��a teatral, pois h�� a conjuga����o das legendas com a audiodescri����o. Em Sans��o e Dalila, as legendas n��o foram acrescentadas ao roteiro; elas eram lidas diretamente da proje����o sobre o palco, o que causou uma certa difi culdade na distribui����o de turnos entre os audiodescritores. Ter um roteiro completo com legendas, que podem ser transformadas em discurso indireto ou mantidas no direto, d�� ao audiodescritor maior agilidade e seguran��a, imprimindo ritmo mais adequado e qualidade �� audiodescri����o.
As pessoas com defi ci��ncia visual entram na plateia 20 minutos antes do hor��rio do espet��culo para que seja iniciada a audiodescri����o, j�� que apresenta����o, sinopse, informa����es t��cnicas, cen��rio, caracteriza����o dos personagens e do teatro, tudo isso �� feito antes. Todos esses pormenores ���
o local onde acontecem as cenas, a caracteriza����o f��sica dos personagens e seus elaborados trajes e outras informa����es que complementam um espet��culo c��nico ��� s��o muito importantes para que as pessoas com defi ci��ncia visual possam construir as imagens, literalmente visualizar o Transformando Imagens em Palavras
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espet��culo, o que colabora para o entendimento do contexto e da obra como um todo. Recortes de depoimentos, transcritos abaixo, enfatizam a relev��ncia das informa����es que s��o fornecidas antes do in��cio do espet��culo, com destaque para o sentimento de pertencimento que toma conta das pessoas quando s��o inclu��das e respeitadas como cidad��s.
As informa����es referentes ao enredo, fi cha t��cnica, personagens, fi gurino e cen��rio, audiodescri����o da ��pera, leitura das legendas, entona����o e clareza dos audiodescritores, de maneira geral, posso considerar perfeita, rica de muitos detalhes, com interven����es pertinentes e sem atropelos ou interfer��ncia na fala dos atores, demonstrando o comprometimento e a dedica����o contumaz dos volunt��rios.
Estou incrivelmente feliz por, pela primeira vez, assistir uma ��pera.
Confesso que mudei minha opini��o sobre este tipo de espet��culo, e atrav��s dos olhos dos audiodescritores pude "ver" como uma ��pera pode ser linda.
Fiquei muito admirada pela descri����o do teatro, pois imaginei que ia ver a ��pera, somente a pe��a em si. Mas "vi" muito mais, pois os parentes e amigos, geralmente, quando narram um fi lme, novela, ou algo semelhante, descrevem as cenas e difi cilmente o ambiente. (...) As roupas e o cen��rio da pe��a foram bem detalhados.
Noto que a apresenta����o das instala����es do teatro, bem como dos cen��rios que antecedem os espet��culos/cenas s��o muito importantes e nos colocam em condi����es de igualdade no entendimento do contexto, das circunst��ncias. Neste teatro em especial, por ter sido restaurado e ter uma hist��ria signifi cativa.
Posso dizer que a cada dia as descri����es est��o mais claras e objetivas.
Eu diria mais: est��o precisas e indo direto ao ponto. Descrever o cen��rio, o fi gurino e os personagens fez com que a hist��ria fi casse mais real. E a tradu����o objetiva dos cantos tamb��m foi ��tima. A audiodescri����o n��o atropelou a m��sica que veio diretamente ao cora����o e foi a m��sica que me fez entender fi nalmente qual �� o segredo ou o mist��rio que uma ��pera pode ter.
O roteiro propriamente dito para a audiodescri����o inclui as a����es, entrada e sa��da em cena, o posicionamento dos personagens no palco, seus movimentos, express��es fi sion��micas, gestos, efeitos de ilumina����o e a 74
Audiodescri����o
leitura das legendas. Como mencionado anteriormente, �� poss��vel fazer a leitura da legenda na ��ntegra, ou transform��-la em discurso indireto, de uma forma mais sumarizada, o que tem algumas vantagens, dentre elas: dar ao espectador a oportunidade para apreciar o canto sem a interfer��ncia da fala do audiodescritor e n��o ter a necessidade de interpreta����o do audiodescritor.
Lembro que o audiodescritor n��o precisa, necessariamente, ser um ator, embora a leitura com certa interpreta����o seja necess��ria, assim como a entona����o de acordo com o g��nero do espet��culo. No discurso direto, o audiodescritor fala como se fosse o personagem e no indireto ele fala sobre o personagem, o que, certamente, infl ui na sua entona����o e interpreta����o.
Dois audiodescritores, um homem e uma mulher preferencialmente, dividiram as falas da audiodescri����o e a leitura das legendas em cada r��cita.
Fels e Udo (2009) discutem essa quest��o de emo����o e interpreta����o na audiodescri����o, apontando para a necessidade de um maior envolvimento do audiodescritor com o tema, argumentando que a audiodescri����o n��o �� somente informa����o, mas entretenimento, e n��o pode ser neutra e sem emo����o, contestando outros autores que optam pela neutralidade.
Na ��pera, um g��nero de espet��culo com alto teor dram��tico e emotivo, a audiodescri����o precisa, necessariamente, acompanhar esse clima, sem exigir, entretanto, que o audiodescritor ���dispute um lugar no palco com os tenores ou bar��tonos.��� O trecho do roteiro de O Barbeiro de Sevilha, que apresento abaixo, exemplifi ca o uso do discurso direto e indireto na tradu����o das legendas:
F��garo despede-se de Rosina e diz que tem algo confi dencial para lhe contar. (discurso indireto)
Ele sai.
Rosina sobe na bicicleta e diz:
Como ele �� galante! (discurso direto) Entra Don Bartolo de avental branco, luvas de borracha e maleta de m��dico.
Ele xinga F��garo de desgra��ado, indigno e maldito. (discurso indireto)
Rosina diz para si mesma que Bartolo s�� sabe gritar.
(discurso indireto)
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Bartolo diz:
F��garo ainda vai se dar mal... fez um hospital de toda a fam��lia, de tanto ��pio, sangria e rap��. (discurso direto) Enciumado, ele pergunta se Rosina viu o barbeiro. (discurso indireto)
Rosina confessa que falou com ele. (discurso indireto) Ela diz que a conversa de F��garo �� agrad��vel e sua apar��ncia �� jovial! (discurso indireto)
Diz para si mesma:
Morra de raiva, velho decr��pito. (discurso direto) Foi poss��vel perceber que algumas pessoas com defi ci��ncia visual gostariam de que todas as legendas fossem lidas na ��ntegra no discurso direto, enquanto que outras acharam boa a sumariza����o e o uso do discurso indireto, como podemos perceber pelos trechos de dois feedbacks sobre O Barbeiro de Sevilha, transcritos abaixo: A descri����o estava bem aud��vel e foi muito bem feita. A pena �� que nem sempre os di��logos foram audiodescritos na ��ntegra...
Acredito que, foi a melhor audiodescri����o que acompanhei nos eventos recentes, uma vez que as interfer��ncias dos audiodescritores foram bastante pertinentes e no momento adequado, sem interferir no desempenho dos solistas e na m��sica, dando harmonia ao evento.
Depois de elaborado e revisado, o roteiro �� enviado ao diretor do espet��culo, para aprova����o e verifi ca����o da adequa����o da linguagem; e para os audiodescritores locutores, que fazem a leitura e assistem a ensaios e �� fi ta gravada da ��pera com ele em m��os, podendo sugerir alguma altera����o.
Tanto Benecke (2007) como Snyder (2004) apontam para a import��ncia da transmiss��o ( delivery) da audiodescri����o pelo audiodescritor locutor, que nem sempre �� o mesmo que o roteirista. Muitas vezes, o roteiro est�� bem elaborado, mas a locu����o sem vida faz com ele perca a qualidade. O
contr��rio tamb��m pode acontecer: o audiodescritor com sua entona����o, timbre, clareza e alguns improvisos pode melhorar um roteiro med��ocre.
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Audiodescri����o
Nem sempre �� poss��vel, embora desej��vel, fazer a primeira audiodescri����o do espet��culo apenas com alguns espectadores cegos para o teste de recep����o, com tempo para mudar o sugerido. Ap��s cada espet��culo, roteirista e audiodescritores, em conversa com as pessoas com defi ci��ncia visual, recebem os coment��rios gerais sobre o espet��culo e sobre a audiodescri����o e, al��m disso, �� enviado um pedido de feedback para cada pessoa com defi ci��ncia visual que assistiu ao espet��culo, o que contribui bastante para a reconstru����o da pr��tica.
Feedbacks para a reconstru����o da pr��tica
O question��rio de avalia����o foi elaborado com cinco quest��es de m��ltipla escolha para conhecer as impress��es sobre o espet��culo, destacando a compreens��o da hist��ria, o desempenho dos solistas, a contribui����o da audiodescri����o para o entendimento de todos estes aspectos e, consequentemente, para a inclus��o cultural das pessoas com defi ci��ncia visual. Os resultados fornecem, aos audiodescritores, dados quantitativos e qualitativos que colaboram para a reconstru����o da pr��tica e apontam para a heterogeneidade do p��blico alvo.
O expectador com defi
ci��ncia visual tem prefer��ncias diversas
como qualquer outro p��blico. Entretanto, existem, ainda, algumas especifi cidades da defi ci��ncia visual, cegueira ou baixa vis��o, que ampliam essas diferen��as, tais como: pessoas que nasceram cegas e que n��o t��m mem��ria visual, pessoas que fi caram cegas mais tarde e que t��m alguma mem��ria visual dependendo da ��poca em que perderam a vis��o, pessoas que ainda enxergam um pouco e que precisam fi car o mais pr��ximo poss��vel do palco para poder perceber os personagens e seus movimentos, assim como o cen��rio e outros elementos.
Al��m de toda essa diversidade, �� poss��vel afi rmar que algumas pessoas, no primeiro contato com a audiodescri����o, podem se confundir um pouco, j�� que precisam prestar aten����o a coisas diversas ao mesmo tempo ��� o di��logo dos atores, a trilha sonora e a audiodescri����o ��� para junt��-los em um todo signifi cativo, ou seja, como todos os elementos visuais convertidos em texto s��o processados na mente dos receptores. Por outro lado, quando se acostumam com o recurso, passam a reivindicar mais detalhes e incomodam-se com alguns per��odos de sil��ncio, muitas vezes necess��rios, pois pensam que podem estar perdendo alguma informa����o relevante.
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Outras pessoas temem n��o escutar bem o som do palco se permanecerem com o fone nos dois ouvidos e preferem manter apenas um. Tudo isso precisa ser levado em considera����o na elabora����o do texto da audiodescri����o, j�� que o objetivo �� atingir o maior n��mero de pessoas, ampliando o entendimento do que assistem e possibilitando que transformem novamente em imagens aquilo que foi traduzido para o verbal. Em suma, algumas pessoas preferem uma descri����o mais sucinta, outras, mais detalhada, como exemplifi cam recortes de alguns depoimentos abaixo:
Em rela����o �� descri����o, foi muito boa, todavia, sugiro que seja o mais sucinta poss��vel.
Achei que funcionou bem a ��udio, com salvas exce����es em algumas vezes que houveram lacunas, mas estas totalmente compreens��veis, pois se trata de uma obra que al��m de descrever, se fez necess��rio a tradu����o simult��nea.
Vale ressaltar que considerei excelente a entona����o e a clareza empregadas pelos audiodescritores quando da exposi����o dos aspectos visuais, como a rica descri����o das cores, das caracter��sticas f��sicas dos personagens, dos seus movimentos, gestos, encena����es, intera����es, al��m do amplo detalhamento dos fi gurinos e do cen��rio.
A descri����o das cenas estava perfeita, bem como a dos fi gurinos, marca����o no palco e personagens. S�� senti falta de mais informa����es sobre a orquestra, como quantidade de m��sicos, idade m��dia do corpo como um todo, etc.
Gostaria de comentar que a qualidade da audiodescri����o est�� cada vez melhor. Os volunt��rios parecem cada vez mais seguros e as leituras est��o cada vez mais fl uentes.
Adorei o programa com letras ampliadas!
Achei bacana tamb��m os momentos de sil��ncio em que pod��amos apreciar somente as ��rias.
Com rela����o �� avalia����o geral do recurso utilizado, a tabula����o dos dados sobre as tr��s ��peras apresentadas no Theatro S��o Pedro, em S��o Paulo24, 24 Em Manaus, na apresenta����o da ��pera Sans��o e Dalila, dados n��o foram coletados.
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Audiodescri����o
onde estiveram presentes 467 pessoas, dentre elas 52% com defi ci��ncia visual, aponta para os seguintes resultados:
��� 65% respondeu que a audiodescri����o foi ��tima, 26% respondeu que foi boa e somente 3% respondeu que foi razo��vel, nos dados consolidados das tr��s ��peras;
��� 84% respondeu que ser��o capazes de discutir a ��pera O Barbeiro de Sevilha com outras pessoas;
��� 65% respondeu que ser��o capazes de discutir a ��pera Pagliacci com outras pessoas;
��� 48% teve um entendimento completo do enredo, personagens, cen��rio e movimenta����o dos solistas, 48% teve um entendimento sufi ciente e apenas 4% mencionou algum entendimento em O Barbeiro de Sevilha;
��� 39% teve um entendimento completo do enredo, personagens, cen��rio e movimenta����o dos solistas, 44% teve um entendimento sufi ciente e apenas 9% mencionou algum entendimento em Pagliacci.
Os dados apresentados evidenciam a relev��ncia do recurso para o maior entendimento da ��pera e, consequentemente, para a inclus��o cultural das pessoas com defi ci��ncia visual. Foi poss��vel perceber o encantamento e a emo����o provocados por esse g��nero de espet��culo e tamb��m a desmistifi ca����o do car��ter elitista da ��pera. A audiodescri����o foi, sem d��vida, respons��vel por permitir o entendimento e a participa����o plena das pessoas com defi ci��ncia visual.
Concluo este artigo passando a palavra para as pessoas com defi ci��ncia visual que assistiram aos espet��culos. O leitor, certamente, poder�� perceber nas linhas e entrelinhas, abaixo, o signifi cado da audiodescri����o e os benef��cios que ela traz. Crescemos e aprendemos todos, roteirista, audiodescritores, pessoas com defi ci��ncia visual e pessoas que enxergam que assistiram ao espet��culo com os fones de ouvido. A m��dia impressa e televisiva contribuiu para divulgar o que �� e a import��ncia do recurso para mais e mais pessoas. Os que assistiram ��s reportagens conheceram a audiodescri����o; os solistas, produtores e diretores puderam certifi car-se de que a arte pode ser acess��vel a todos, sem exce����o.
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Eu achei o espet��culo ��timo, tanto a m��sica, o desempenho dos solistas, quanto a audiodescri����o que foi ��tima, bem pausada para que possamos montar uma imagem mental bem pr��xima da visual.
Certamente o espet��culo d�� para ser discutido com os videntes sem problemas. Inclusive fi ca muito interessante essa discuss��o pois quando a imagem que fi zemos �� muito pr��xima da que nos foi comentada pela pessoa vidente, a�� vemos o resultado da audiodescri����o. Espero que possamos contar sempre com esse recurso.
*Q"Dctdgktq"fg"Ugxknjc+
Foi a ��pera que mais gostei, devido principalmente, �� boa trama da hist��ria, �� ��tima m��sica e �� perfei����o da narrativa dos detalhes do cen��rio, figurino e movimenta����o dos atores feitas pelos audiodescritores, fatos que, n��o s�� facilitam a compreens��o do espet��culo, mas fazem valorizar a riqueza da arte incluindo o deficiente visual de forma plena na sociedade. Obrigado pela oportunidade, Parab��ns pelo trabalho e evento.
"*Rcinkceek+"
Que a audiodescri����o �� muito importante para n��s, todos j�� sabemos.
Mas para assistir a uma ��pera a audiodescri����o �� muito mais que importante; �� absolutamente imprescind��vel. Mesmo para aqueles que possam entender o idioma.
*Ecxcnngtkc"Twuvkecpc+
�� algo indispens��vel para a compreens��o completa, do que os cegos s��o privados, na grande maioria dos concertos, por n��o poderem falar com quem est�� ao lado para pedir uma descri����o detalhada do que ocorre no palco. N��o vejo como poderia ser melhor. No meu ponto de vista, foi impec��vel.
*Ecxcnngtkc"Twuvkecpc+
Estou incrivelmente feliz por, pela primeira vez, assistir uma ��pera. Confesso que mudei minha opini��o sobre este tipo de espet��culo, e atrav��s dos olhos dos audiodescritores pude "ver", como uma ��pera pode ser linda.
*Ecxcnngtkc"Twuvkecpc+
A audiodescri����o indubitavelmente enriqueceu muito a compreens��o da ��pera Cavalleria Rusticana, pois propiciou o complemento 80
Audiodescri����o
necess��rio para que n��s, pessoas com defi ci��ncia visual, pud��ssemos desfrutar com intensidade das sensa����es e sentimentos despertados pelo acesso ao universo das informa����es visuais. Assim, pude apreciar a ��pera com um aproveitamento muito mais amplo, uma vez que por meio da audiodescri����o, tive acesso a uma gama de detalhes visuais que, normalmente, n��o seria poss��vel sem a assist��ncia deste t��o importante recurso de acessibilidade. Um dentre tantos outros exemplos de cena que poderia citar como marcante e percept��vel gra��as ao recurso da audiodescri����o, escolho o momento em que Turiddu, segurando a ta��a com vinho na m��o, passa o bra��o por sobre os ombros de Lola na frente de Alfi o, num ato de extrema provoca����o e ela se afasta. Esta cena esquenta ainda mais o clima de rivalidade entre Turiddu e Alfi o na disputa por Lola.
*Ecxcnngtkc"Twuvkecpc+"
Refer��ncias bibliogr��fi cas
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MuTra 2007 ��� LSP Translation Scenarios: Conference Proceedings. Munich/
Saarbr��cken, 2007.
BRAUN, S. Audiodescription Research: State of Art and Beyond. Translation Studies in the New Millennium 6. University of Surrey. UK, 2008.
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GOULDING, P. G. Ticket to Opera. New York and Canada: Fawcett Books, 1996.
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SNYDER, J. Audio description: the visual made verbal. Maryland, USA: Audiodescription Associates, Takoma Park, 2004.
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SUHAMY, J. Guia da ��pera. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2007.
UMA ��PERA comentada, para ajudar defi cientes: Cavalleria Rusticana contar�� com tradu����o e audiodescritor. O Estado de S��o Paulo, S��o Paulo, 29 jul. 2009.
Dispon��vel em
not_imp410030,0.php>. Acesso em: 13/02/2010
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Audiodescri����o
AUDIODESCRI����O E VOICE OVER
NO FESTIVAL ASSIM VIVEMOS
Graciela Pozzobon Costa*
Panorama
O Festival Assim Vivemos ��� Festival Internacional de Filmes sobre Defi ci��ncia �� um festival de cinema tem��tico que exibe fi lmes que apresentam quest��es relativas ��s defi ci��ncias de um modo geral. Trata-se do primeiro festival de cinema no Brasil a reunir e apresentar ao p��blico um panorama atualizado e completo do que se produz no mundo sobre este tema. Por ser um festival internacional, os fi lmes s��o estrangeiros em sua maioria, falados nas mais diversas l��nguas.
Desde a sua primeira edi����o em 2003, um dos pressupostos do Assim Vivemos foi o de disponibilizar os recursos de acessibilidade em todas as sess��es. N��o parecia l��gico aos realizadores, Lara Pozzobon e Gustavo Acioli, exibir fi lmes sobre defi ci��ncias sem que todas as pessoas, independentemente de suas necessidades, tivessem acesso ��s sess��es.
Os recursos que foram disponibilizados foram a audiodescri����o para pessoas com defi ci��ncia visual, as legendas com indica����es de ru��dos (Closed Caption) para as pessoas com defi ci��ncia auditiva, int��rprete de LIBRAS (L��ngua Brasileira de Sinais) em todos os debates e palestras, e ambiente acess��vel para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.
O fato de o festival ser internacional, com fi lmes falados em diversas l��nguas, trouxe um dado de complexidade para a produ����o da acessibilidade para as pessoas cegas: como essas pessoas n��o est��o aptas a lerem as legendas, as quais cont��m as tradu����es dos di��logos
* Atriz profi ssional graduada em Artes C��nicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e pela Casa das Artes de Laranjeiras, dedica-se desde 1998 �� atua����o e desde 2003
�� atividade de cria����o de roteiro e grava����o de audiodescri����o em produtos audiovisuais e c��nicos. Coordena a produ����o de audiodescri����o em diversos projetos entre eles o Festival Assim Vivemos, o Programa Assim Vivemos e o portal Blind Tube. Possui vasta experi��ncia na produ����o de roteiros de audiodescri����o em produrtos nacionais e estrangeiros e j�� realizou narra����o de audioderscri����o ao vivo e gravada em diversos projetos. Dedica-se tamb��m a forma����o de novos audiodescritores j�� tendo ministrado cursos no Brasil e no exterior.
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dos fi lmes, tais informa����es tamb��m deveriam estar contidas no contexto sonoro da audiodescri����o. Ou seja, no caso dos fi lmes estrangeiros do Festival, a audiodescri����o tradicional ��� contendo apenas a descri����o das cenas e sendo inserida nos espa��os entre as falas dos personagens ��� n��o era sufi ciente, pois esta atende a produtos nacionais ou previamente dublados em portugu��s. Para o pleno entendimento dos fi lmes estrangeiros por parte das pessoas cegas, fazia-se necess��rio incluir as falas dos personagens, traduzidas para o portugu��s, junto com as informa����es contendo as descri����es.
A op����o de realizar uma dublagem tradicional foi descartada por alguns motivos. Em primeiro lugar, a log��stica de recebimento dos fi lmes em um festival de cinema internacional �� naturalmente complexa, o que faz com que n��o haja tempo h��bil, impossibilitando a anteced��ncia necess��ria para a produ����o da dublagem tradicional. Em segundo lugar, no caso do Assim Vivemos, todos os fi lmes s��o exibidos com os recursos de acessibilidade, o que signifi ca um volume de aproximadamente 32 fi lmes, entre curtas e longas, em cada edi����o do festival. O terceiro e principal motivo �� que a dublagem tradicional suprime completamente a voz original do personagem, fi cando a voz do dublador sobreposta �� voz original. Desta forma, perde-se parte importante dos signifi cados da obra.
Os fi lmes apresentados no Festival Assim Vivemos s��o, na sua maioria, document��rios que retratam a vida de pessoas com defi ci��ncia e todas as quest��es que as envolvem. Nesse caso, percebemos que a voz original dos personagens, que muitas vezes contam suas pr��prias hist��rias, traz em si aspectos e informa����es importantes. A forma de falar, o ritmo e a entona����o com que contam suas hist��rias pessoais revelam nuances de personalidades e sentimentos. Outro fator importante �� que, no caso principalmente de document��rios, a l��ngua original, assim como o ambiente onde vivem os retratados, os objetos que utilizam e a maneira como se relacionam, contextualizam a hist��ria e nos ajudam a compreender melhor suas realidades. Portanto, para deixar a voz original dos personagens presente, a solu����o encontrada foi realizar o voice over dos di��logos, falas ou narra����es, recurso j�� utilizado em canais de televis��o sempre que se faz necess��ria a tradu����o simult��nea em produtos estrangeiros n��o dublados.
O recurso do voice over consiste na sobreposi����o da voz do ator/narrador �� voz original do personagem, fazendo com que o espectador ou��a tanto o som original quanto a tradu����o. Normalmente, a tradu����o fi ca em primeiro plano e a voz original ao fundo.
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Audiodescri����o
Desta forma, no caso do Festival Assim Vivemos, consideramos audiodescri����o a jun����o da descri����o das cenas com o voice over. Os atores audiodescritores realizam tanto a descri����o das cenas quanto o voice over de todas as falas e di��logos. Esse trabalho �� feito ao vivo e transmitido via fones de ouvido para cada usu��rio. A audiodescri����o �� recebida pelos fones enquanto o universo sonoro original do fi lme �� transmitido pelo sistema de som da sala. Assim, o usu��rio tem autonomia para regular o volume do conte��do acess��vel, o que n��o ocorreria caso o som do fi lme tamb��m fosse transmitido para os fones. Com tal estrutura, a sess��o transcorre normalmente, sem nenhuma interfer��ncia para o p��blico em geral, ou seja, temos uma sess��o inclusiva, em que pessoas com e sem defi ci��ncia visual podem assistir ao mesmo fi lme sem qualquer tipo de interfer��ncia.
Produ����o da audiodescri����o e voice over
O roteiro de audiodescri����o para os fi lmes do Festival Assim Vivemos �� feito a partir da lista de di��logos do fi lme, previamente traduzida para o portugu��s. Normalmente, essa tradu����o �� feita para a legendagem e �� essa mesma tradu����o que o audiodescritor roteirista utiliza. A descri����o das cenas obedece ��s mesmas regras da inser����o da audiodescri����o em produtos nacionais ou dublados, ou seja, entra nos espa��os entre as falas dos personagens, nos sil��ncios, nas pausas e em alguns momentos sobre a trilha sonora musical. As falas e os ru��dos importantes devem ser preservados. A diferen��a desse roteiro para o roteiro de um produto nacional �� que ele ir�� conter tamb��m todas as falas dos personagens.
Desta forma, o roteiro fi nal consiste nas descri����es inseridas entre as falas dos personagens.
Exemplos de roteiros:
1- Filme nacional: As falas da personagem est��o no roteiro apenas como refer��ncia e n��o precisam estar necessariamente completas. Neste caso, o ator audiodescritor l�� apenas a audiodescri����o e utiliza-se das falas apenas para localizar suas entradas e sa��das.
2- Trecho do roteiro de audiodescri����o para o filme Incur��veis, de Gustavo Acioli.
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AD: Atrav��s de uma antiga porta de madeira entreaberta, aparece um quarto simples iluminado por um abajur. A mulher se ajeita olhando-se em um espelho.
Mulher: N��o repara a bagun��a, ta?
AD: Ela apanha uma roupa no ch��o.
Mulher: Fica �� vontade.
(barulho da porta)
AD: Ela fecha a porta. O homem de p�� observa atrav��s da janela. O
ambiente �� banhado por uma luz azulada.
Mulher: Eu podia botar uma m��sica pra gente.
AD: Ela caminha em dire����o ao banheiro.
Mulher: Mas o vizinho...j�� veio aqui reclamar uma vez.
AD: Levanta o vestido e senta no vaso sanit��rio.
3- Filme Estrangeiro: Neste caso, as falas dos personagens precisam estar completas e identifi cadas, pois tamb��m ser��o lidas pelos atores audiodescritores.
Trecho do roteiro de audiodescri����o e voice over para o fi lme Los Olvidados de Luis Bu��uel.
AD: Um grupo de jovens de diferentes idades faz uma brincadeira em um terreno urbano desocupado entre pr��dios. Ao fundo um pr��dio em ru��nas. Em primeiro plano um muro de pedras e madeira improvisado. Eles brincam de tourada. Um garoto est�� montado nas costas de outro e outro faz de conta que �� o touro. Ele corre com a cabe��a baixa em dire����o a um garoto que sacode uma camisa. Um rapaz bebe em uma caneca enquanto outro diz:
Rapaz 2- N��o se esque��a dos outros!
AD: O rapaz que bebia passa a caneca e pergunta: 86
Audiodescri����o
Rapaz 1- Quem quer um cigarro?
AD: Todos se aproximam. Ele distribui os cigarros. Um garotinho observa montado em cima de um poste. O rapaz oferece cigarros a ele e pergunta:
Rapaz 1- Voc�� fuma?
AD: E o garotinho responde:
Garotinho - N��o, me faz tossir.
AD: Oferece para outro que responde:
Garoto - N��o gosto.
AD: O rapaz diz:
Rapaz 1 - T��o grande e t��o bobo. Maricas!
AD: O garoto diz:
Garoto - Eu preciso ir trabalhar.
AD: E um menino:
Menino - S�� tolos trabalham.
AD: O garoto diz:
Garoto - Pena, vejo voc��s depois.
Voice over
Depois de o roteiro estar pronto, contendo a audiodescri����o e todas as falas dos personagens, inicia-se o per��odo de ensaios. Diferente da audiodescri����o feita em produtos nacionais ou dublados em portugu��s, em que apenas uma voz �� necess��ria, na audiodescri����o com voice over s��o necess��rias, no m��nimo, duas vozes.
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No Festival Assim Vivemos, utilizam-se duas vozes, uma masculina e outra feminina. Em um primeiro momento, os atores assistem e estudam a obra, em seguida dividem os personagens. Normalmente, o ator audiodescritor fi ca respons��vel pelos personagens masculinos e a atriz audiodescritora pelos femininos. Por��m, cada situa����o deve ser avaliada e analisada particularmente e n��o �� incomum, por exemplo, se h�� di��logos frequentes entre duas mulheres ao longo do fi lme, que se decida que a voz masculina fa��a uma das mulheres e a feminina, a outra. Esse recurso facilita a diferencia����o entre os personagens. Em um segundo momento, decide-se quem far�� a audiodescri����o; normalmente opta-se pela voz feminina quando o volume de personagens masculinos �� maior e vice e versa.
Para que o resultado fi que satisfat��rio, o passo seguinte �� a realiza����o de ensaios. Um diretor coordena os ensaios e orienta os atores em rela����o a entona����o, volume, ritmo e inten����o. Preferencialmente, atores profi ssionais realizam esse trabalho, pois estes se utilizam de t��cnicas vocais e expertises da forma����o de ator. Est��o treinados para mudar o tom de voz e o ritmo de fala em quest��o de segundos. Al��m disso, conseguem ter uma percep����o geral da cena e, portanto, realizam sua interven����o de maneira que a presen��a do audiodescritor fi que o mais integrada poss��vel �� obra original.
O ator audiodescritor n��o ���imita��� exatamente o tom e o ritmo da fala do personagem, mas se aproxima do modo de falar do personagem, de modo que fi que clara a associa����o. Como a fala original do personagem est�� aud��vel ao fundo, n��o �� necess��rio que o audiodescritor grite, por exemplo, quando o personagem est�� dizendo algo gritando, mas sim que imprima na voz a mesma intensidade e for��a do grito. Se o audiodescritor est�� fazendo voice over de uma voz infantil, n��o �� necess��rio que ele imite completamente, apenas que ele aproxime sua voz da voz infantil.
Desta forma, quando o audiodescritor est�� fazendo voice over, usa seu conhecimento de atua����o para ���entrar e sair��� dos personagens, anulando a sua personalidade e maneira de falar pr��pria para dar lugar ��s formas de express��o vocal dos personagens.
O voice over exige consci��ncia vocal plena, rapidez e capacidade de varia����o de vozes, ritmos e volumes, al��m de rapidez na orquestra����o dessas capacidades, j�� que muitas vezes o ritmo dos di��logos �� 88
Audiodescri����o
r��pido. A entona����o deve ser discreta, pois nunca se pode perder de vista que o ���ator principal��� �� a voz original do personagem no fi lme. O
voice over, neste caso, funciona como um suporte de compreens��o. A entona����o semelhante �� do personagem original funciona para que o resultado sonoro como um todo fi que harm��nico, caso contr��rio o resultado causar�� distanciamento e desconforto. Outra compet��ncia importante para o ator audiodescritor que realiza o voice over em fi lmes estrangeiros �� a familiaridade com l��nguas estrangeiras, pois muitas vezes os personagens citam nomes pr��prios, lugares ou express��es que permanecem na l��ngua original; al��m disso, o conhecimento da l��ngua ajuda o audiodescritor a perceber profundamente a cad��ncia da fala de cada personagem, saber em qual palavra ou express��o o personagem est�� dando ��nfase ou se est�� sendo ir��nico, para depois reproduzi-la.
Outra compet��ncia importante para o ator audiodescritor �� perceber a din��mica sonora do fi lme. Por isso, deve conhecer a obra previamente.
Sabendo em que momentos do fi lme deve falar mais baixo ou mais alto, produzir�� um resultado agrad��vel e org��nico aos ouvidos. Em uma cena de briga, por exemplo, a audiodescri����o pode fica mais intensa, enquanto que em um momento mais silencioso deve ser feita de maneira mais sutil.
A audiodescri����o funciona como um complemento que levar�� ao usu��rio as informa����es que est��o contidas nas imagens (descri����es) e nas falas ( voice over). Este recurso �� um complemento e n��o deve nunca competir com o fi lme; os personagens principais s��o os personagens originais e suas hist��rias. O audiodescritor, portanto, deve ser discreto quando est�� fazendo a descri����o assim como quando est�� fazendo o voice ove r. O tom de voz da audiodescri����o deve ser neutro, discreto e agrad��vel. No caso do voice over, o tom deve ser um pouco mais carregado de inten����es; por��m como explicado anteriormente, este deve acompanhar o tom de voz original e n��o se transformar no personagem. Esta �� uma diferen��a sutil que modifi ca o resultado fi nal, tornando o conjunto de informa����es sonoras organizado, de modo que cada informa����o tenha seu momento para ser revelado.
No Festival Assim Vivemos, a dupla de atores audiodescritores realiza a audiodescri����o ao vivo, ou seja, simultaneamente �� exibi����o do fi lme.
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Os atores audiodescritores ficam em uma cabine com isolamento ac��stico, montada dentro da sala de cinema ou dentro da cabine de proje����o. �� importante que os atores tenham boa visibilidade da tela. Se isso n��o for poss��vel por quest��es da arquitetura da sala, um monitor em sincronismo com a imagem da tela do cinema deve ser montado dentro da cabine, para que os atores acompanhem o filme simultaneamente aos espectadores na sala. Atrav��s de fones de ouvido, os atores audiodescritores recebem o som do filme e atrav��s de microfones individuais, suas vozes s��o captadas e transmitidas para os fones de ouvido dos usu��rios. Os usu��rios da audiodescri����o recebem fones de ouvido individuais e um receptor, pelo qual podem regular o volume da transmiss��o.
Programa Assim Vivemos
Em 2009, o Festival Assim Vivemos tornou-se tamb��m um programa de televis��o chamado Programa Assim Vivemos, exibido nacionalmente na TV Brasil. Para o Programa Assim Vivemos, foram selecionados os fi lmes de curta-metragem exibidos ao longo das edi����es do festival, na sua maioria fi lmes estrangeiros. Assim como no Festival, os recursos de acessibilidade eram pressupostos do programa. Come��ou-se a pensar, ent��o, nas quest��es t��cnicas que envolviam a transmiss��o da audiodescri����o na televis��o, j�� que os recursos para as pessoas com defi ci��ncia auditiva, que s��o a janela com a tradu����o simult��nea para a L��ngua Brasileira de Sinais e as legendas com indica����es de ru��dos, j�� estavam tecnicamente estabelecidos. Nos pa��ses em que a audiodescri����o j�� est�� sendo veiculada em canais de televis��o, a transmiss��o se d�� atrav��s da tecnologia SAP ( Second Audio Program), disponibilizada pela tecla secund��ria de ��udio, encontrada na maioria dos televisores. Os usu��rios, ent��o, podem optar por assistir ao programa com audiodescri����o, da mesma forma que se pode optar por assistir a um fi lme com o som original em alguns canais no Brasil.
Na ocasi��o do in��cio da exibi����o do Programa Assim Vivemos, a TV
Brasil n��o dispunha da tecnologia de transmiss��o SAP em todo o territ��rio nacional. Por essa raz��o, optou-se pela transmiss��o aberta da audiodescri����o, aud��vel a todos. Mesmo sabendo que a audiodescri����o n��o �� indicada para os videntes, por gerar informa����es redundantes, ou 90
Audiodescri����o
seja, a descri����o do que est�� sendo visto, decidiu-se pela transmiss��o aberta porque esta seria a ��nica op����o. Al��m disso, por se tratar de uma novidade no Brasil, daria a oportunidade para que todos os brasileiros conhecessem e se familiarizassem com esse recurso.
T��nhamos, ent��o, o desafi o de realizar as grava����es da audiodescri����o e voice over dos curtas-metragens. Depois de preparar e revisar os roteiros, a equipe de audiodescri����o foi para um est��dio de grava����o profi ssional. Ao contr��rio do Festival Assim Vivemos, cuja log��stica da produ����o e o espa��o f��sico dispon��vel permitem apenas uma dupla de atores audiodescritores, a grava����o em est��dio permite que mais vozes sejam inseridas em um ��nico fi lme. Em est��dio n��o existe a obriga����o de se gravar tudo ao vivo: pode-se gravar e regravar cada passagem at�� que o resultado fi que satisfat��rio. Normalmente, grava-se uma voz por vez, o que possibilita que as vozes sejam gravadas em momentos diferentes e que a intera����o e a din��mica entre a audiodescri����o e o voice over sejam manipuladas depois da grava����o. Deste modo, a distribui����o dos personagens entre os atores pode ser feita de forma menos r��gida, comportando quantas vozes forem necess��rias, dependendo do n��mero de personagens de cada fi lme. Ainda assim, os atores costumam desempenhar mais de um personagem por fi lme, sem preju��zo da qualidade do resultado fi nal, visto que o ator domina t��cnicas para variar a voz e diferenciar personagens.
Seguindo a experi��ncia do Festival, no Programa Assim Vivemos optou-se pelo voice over sobreposto �� voz original dos personagens nos fi lmes de l��ngua estrangeira. Nosso desafi o foi o ajuste dos volumes para que o universo sonoro original dos fi lmes fi casse presente, mas sem
���brigar��� com o som gravado contendo a audiodescri����o e o voice over.
Para tal, optamos por baixar o volume do som original nos momentos em que entra a audiodescri����o ou voice over e retornar ao n��vel normal quando n��o est�� acontecendo audiodescri����o ou voice over. Dessa forma, este trabalho de mixagem que ocorre ap��s a grava����o do conjunto de informa����es sonoras, representa um est��gio fundamental para a realiza����o da audiodescri����o com qualidade. Seja em produtos estrangeiros ou nacionais, a audiodescri����o simplesmente ���colada��� ao som original do produto resulta em um universo sonoro n��o harm��nico, onde os dois sons competem entre si, tornando o todo incompreens��vel e cansativo. O ajuste de volumes �� um trabalho que exige sensibilidade e conhecimento das necessidades do usu��rio da audiodescri����o. Assim, Transformando Imagens em Palavras
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o universo sonoro contendo o som original do fi lme mixado ao novo som criado, que cont��m audiodescri����o e voice over, resulta em um todo agrad��vel aos ouvidos.
Considera����es fi nais
A tecnologia e o conhecimento devem estar a favor da melhor forma de inserir a audiodescri����o e o voice over em produtos de l��ngua estrangeira, lembrando sempre, que o objetivo principal �� fornecer informa����o enquanto o conte��do sonoro original �� preservado na sua ess��ncia. A audiodescri����o com voice over disponibiliza um ferramental completo para a acessibilidade de pessoas com defi ci��ncia visual para qualquer produto audiovisual estrangeiro, visto que este recurso rompe a barreira da l��ngua. Trata-se de um recurso sem precedentes, que p��e �� disposi����o do usu��rio a possibilidade de adquirir conhecimento e entretenimento com as mais variadas produ����es audiovisuais.
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Audiodescri����o
A FORMA����O DE AUDIODESCRITORES NO
CEAR�� E EM MINAS GERAIS: UMA PROPOSTA
BASEADA EM PESQUISA ACAD��MICA
Vera L��cia Santiago Ara��jo
(Universidade Estadual do Cear�� - UECE)*
Introdu����o
A Universidade Estadual do Cear�� (UECE) discute a acessibilidade audiovisual desde o ano 2000 investigando a legendagem para surdos.
A pesquisa em audiodescri����o (AD) come��ou em 2008 e foi motivada pela implanta����o da AD no Brasil e pela aus��ncia de pesquisa acad��mica na ��rea. A Portaria 310 de 27 de junho de 2006 prev�� a obrigatoriedade da AD para pessoas com defici��ncia visual e legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE) ou janela de Libras (JL) para surdos a partir de 2008. Com base nessa legisla����o, as emissoras de TV aberta deveriam oferecer AD, LFS ou JL gradativamente, at�� atingir a totalidade da programa����o em 10 anos.
No que diz respeito aos surdos e ensurdecidos, a lei foi cumprida, por��m o mesmo n��o aconteceu com as pessoas com defi ci��ncia visual, j�� que o Minist��rio das Comunica����es vem adiando a implanta����o da AD
(Portarias 403, 466, 661) desde junho de 2008. Enquanto essa implanta����o n��o acontece, estamos realizando pesquisas que investigam padr��es de audiodescri����o para serem usados no pa��s e promovendo cursos de forma����o de profi ssionais comprometidos com a acessibilidade. Al��m
* Graduada em Letras pela UFC (1982), com mestrado em Letras L��ngua Inglesa pela UECE
(1994), doutorado em Letras pela Universidade de S��o Paulo (2000) e P��s-Doutorado na UFMG (2008). Atualmente �� professora adjunto da UECE e pesquisadora n��vel 2 do CNPq.
Coordena o Programa de P��s-gradua����o em Lingu��stica Aplicada na UECE, d�� aulas e ministra cursos sobre tradu����o, tanto na gradua����o quanto na p��s-gradua����o. Faz pesquisas na ��rea de Tradu����o Audiovisual (TAV) com ��nfase nos seguintes temas: legendagem fechada para surdos, audiodescri����o e tradu����o audiovisual e ensino. Tem artigos publicados em v��rios livros ( Topics in Audiovisual Translation e The Didactics of Audiovisual Translation (John Benjamins)) e peri��dicos ( Cadernos de Tradu����o (Santa Catarina), META (Canada) e THE
TRANSLATOR (Manchester)) sobre TAV. Editou, junto com Eliana Franco, o n��mero especial de TAV da revista TRADTERM (USP).
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da UECE, duas universidades, a UFBA e a UFMG, tamb��m participam das pesquisas, por��m �� com a ��ltima que temos v��rios projetos em andamento, patrocinados por diversas ag��ncias de fomento �� pesquisa (CAPES, CNPq, FUNCAP e FAPEMIG) e pelo BNB. O maior deles �� um projeto de coopera����o acad��mica (PROCAD), fi nanciado pela CAPES, que tem como objetivo formar tanto pesquisadores em AD como audiodescritores.
V��rios cursos em n��vel de gradua����o e, principalmente, de p��s-gradua����o foram realizados at�� agora em algumas universidades do Brasil (UECE, UFMG, UFBA, UERN e PUC-MINAS). Este artigo enfoca os principais aspectos desses cursos de forma����o de audiodescritores. Est�� subdividido em duas se����es: a primeira traz o referencial te��rico sobre audiodescri����o com ��nfase na pesquisa na ��rea; a segunda trata mais especifi camente do funcionamento dos cursos.
A pesquisa em AD
A AD �� uma modalidade de tradu����o audiovisual defi nida como a t��cnica utilizada para tornar o teatro, o cinema e a TV acess��veis para pessoas com defi ci��ncia visual. Trata-se de uma narra����o adicional que descreve a a����o, a linguagem corporal, as express��es faciais, os cen��rios e os fi gurinos. A tradu����o �� colocada entre os di��logos e n��o interfere nos efeitos musicais e sonoros. Seria a tradu����o das imagens, do enredo, do cen��rio e da a����o (BENECKE, 2004). Originou-se nos Estados Unidos nos anos 70. J�� �� bastante utilizada nos Estados Unidos, Reino Unido, Fran��a, Alemanha e Jap��o. Em alguns desses pa��ses j�� existe at�� uma regulamenta����o que obriga as emissoras de TV a audiodescreverem seus programas e fi lmes: EUA (50 horas por m��s); Reino Unido (inicialmente 4% da programa����o; em 2010, 10%).
A pesquisa em AD est�� inclu��da dentro dos Estudos de Tradu����o porque adotamos a defi ni����o de Jakobson (1995), que reconhece tr��s tipos de tradu����o: a interlingu��stica ou tradu����o propriamente dita (texto de partida e chegada em l��nguas diferentes); a intralingu��stica ou reformula����o (texto de partida e chegada na mesma l��ngua); e a intersemi��tica ou transmuta����o (texto de partida e chegada em meios semi��ticos diferentes, do visual para o verbal e vice-versa). Ent��o, mais especifi camente, a AD seria uma tradu����o intersemi��tica porque 94
Audiodescri����o
transmuta as imagens de um fi lme em palavras. A inclus��o da AD como tradu����o �� de fundamental import��ncia para o seu reconhecimento como trabalho intelectual. O pr��prio governo n��o reconhece esse status quando defi ne a AD como ���locu����o��� na Portaria 310: ��udio-descri����o: corresponde a uma locu����o [grifo nosso], em l��ngua portuguesa, sobreposta ao som original do programa, destinada a descrever imagens, sons, textos e demais informa����es que n��o poderiam ser percebidos ou compreendidos por pessoas com defi ci��ncia visual.
A AD vai muito al��m da descri����o de informa����es percebidas pela vis��o. Quest��es t��cnicas, lingu��sticas e f��lmicas precisam ser observadas para que se possa levar a cabo a tarefa. As respostas a essas quest��es dependem muito do g��nero do fi lme a ser audiodescrito e muitas delas n��o podem ser generalizadas. Um audiodescritor competente precisa estar preparado para lidar com problemas, tais como: 1. Que informa����o priorizar?; 2. A sobreposi����o entre o ��udio do fi lme25 e da AD �� sempre n��o recomend��vel? 3. Como deve ser a narra����o? Semelhante a uma conta����o de hist��rias? Monoc��rdia ou com infl ex��es de voz? 4. Quais as caracter��sticas do texto da AD? Semelhante a um texto liter��rio? Com descri����es detalhadas dos personagens, do enredo e da a����o? Ou deve somente privilegiar a a����o? Em nossa opini��o, a tarefa do audiodescritor �� bem mais complexa do que a defi ni����o oferecida pelo governo. Sua execu����o deve ser realizada por profi ssionais preparados para decidir que estrat��gia adotar na hora em que estas difi culdades aparecerem.
A pesquisa em AD ainda �� muito incipiente. Que seja do nosso conhecimento, com exce����o dos trabalhos de Franco (2007) e Jimenez Hurtado (2007), todas as outras publica����es sobre AD versam sobre o lado profi ssional da pr��tica tradut��ria. S��o normalmente os tradutores que dividem suas experi��ncias com o p��blico. Alguns desses audiodescritores s��o: Snyder (2005), Benecke (2004), Hyks (2005) e Matamala (2005).
A pesquisa coordenada por Franco (2007) passou por v��rias etapas: visita ��s institui����es que atendem pessoas com defi ci��ncia visual na Bahia, 25 Para fi ns deste artigo, estou chamando de fi lme qualquer produ����o audiovisual.
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sele����o dos participantes, sele����o do fi lme, AD do fi lme, elabora����o de question��rios sobre o fi lme e an��lise dos dados. Foram selecionados dois grupos de 10 sujeitos, a maioria com baixa vis��o e apenas um deles cego cong��nito. O fi lme selecionado foi P��nalti, curta com dura����o de 8 minutos,
���fi lmado em Salvador, no mais puro ���baian��s���[grifo da autora], tema sobre futebol, uma pitada de sexo, e o mais importante, imagens extremamente signifi cativas para a compreens��o do enredo��� (FRANCO, 2007: 180).
A grava����o da AD foi feita em um est��dio na cidade de Salvador (FRANCO, 2007). O question��rio foi elaborado para ser respondido pelos dois grupos, aqueles que viram o fi lme com e sem AD. As perguntas referentes �� imagem ��� ���Por que os corpos de alguns personagens est��o em azul? ��� ���
s�� foram respondidas pelos que assistiram ao curta com a tradu����o. Os resultados indicaram que o grupo com AD entendeu melhor o fi lme, visto que o n��vel de acertos desse grupo foi de 95% contra 40% do grupo que viu o fi lme sem AD.
A autora ressalta que seus resultados n��o s��o conclusivos, mas que j�� sinalizam para os benef��cios que a AD traz para a acessibilidade audiovisual.
Destaca que muitas pesquisas precisam ser feitas antes que cheguemos a uma conclus��o defi nitiva sobre qual modelo de AD seria ideal para os brasileiros com defi ci��ncia visual.
Um grupo de pesquisadoras espanholas analisou um corpus de 325 fi lmes audiodescritos em diversas l��nguas (ingl��s, franc��s, espanhol, ingl��s e alem��o). Cada uma delas examinou aspectos diferentes relacionados �� AD. Jimenez Hurtado (2007) investigou as palavras e a estrutura frasal mais frequentes. Pay�� (2007) comparou os dois roteiros, o do fi lme e o audiodescrito. Ballester (2007) analisou a caracteriza����o dos personagens na AD.
Jimenez Hurtado (2007) encontrou os seguintes par��metros nos fi lmes audiodescritos:
ELEMENTOS VISUAIS N��O VERBAIS
1. Personagens
1.1. Apresenta����o
1.2. Identifi ca����o do ator ou atriz que interpreta o personagem 1.2.1. Atributos f��sicos
1.2.2. Idade
1.2.3. Etnia
1.2.4. Aspecto
1.2.5. Vestu��rio
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Audiodescri����o
1.2.6. Express��es faciais
1.2.7. Linguagem Corporal
2. Estados
2.1. Estados emocionais
2.1.1. Positivos
2.1.1.1. Alegria
2.1.1.2. nimo
2.1.1.3. Serenidade
2.1.1.4. Ternura
2.1.2. Negativos
2.1.2.1. Tristeza
2.1.2.2. Des��nimo
2.1.2.3. Desesperan��a
2.1.2.4. Ira
2.1.2.5. Medo
2.2. Estados f��sicos
2.3. Estados mentais
3. Ambienta����o
3.1. Localiza����o
3.1.1. Espacial
3.1.2. Temporal
3.2. Descri����o
3.3. A����es
ELEMENTOS VISUAIS N��O VERBAIS
4. Cr��ditos
5. Inser����es
5.1. Textos
5.2. T��tulos
5.3. Legendas
5.4. Intert��tulos
Por meio desses par��metros, a autora, utilizando um software de an��lise textual chamado Wordsmith Tools, derrubou dois mitos dentro da pr��tica da audiodescri����o. O primeiro foi sobre o uso das palavras ���olhe��� e ���veja���
(JIMENEZ HURTADO, 2007: 74), consideradas politicamente incorretas em muitas diretrizes de AD. Ao procurar pelas palavras mais frequentes, deparou-se justamente com as duas. Depois das preposi����es e dos Transformando Imagens em Palavras
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artigos, elas foram as mais utilizadas por audiodescritores de diversos pa��ses. O segundo mito derrubado foi o de que n��o se deve colocar sua interpreta����o na AD. A estrutura frasal que mais aparece (30% dos casos) �� a seguinte:
Sujeito
Predicado
Predicativo
Algu��m
sorri
emocionado
O predicativo nesse tipo de constru����o implica uma interpreta����o.
Carrega uma vis��o subjetiva ( emocionado) da representa����o oferecida pelo verbo principal ( sorri) (JIMENEZ HURTADO, 2007: 77). Devemos saber que, ao fazermos uma narrativa, sempre deixamos nossas impress��es e nossa vis��o de mundo. O audiodescritor s�� precisa tomar cuidado na escolha de sua adjetiva����o para n��o colocar suas infer��ncias no texto, principalmente aquelas cruciais para o entendimento do fi lme.
A garantia da acessibilidade reside em que a leitura do fi lme seja feita pelo espectador, seja ele vidente, ouvinte, surdo ou com defi ci��ncia visual. N��o faz parte do trabalho do audiodescritor facilitar essa leitura.
Ele precisa traduzir as imagens para propiciar �� pessoa com defi ci��ncia visual a oportunidade de fazer a pr��pria interpreta����o.
Pay�� (2007: 88-89) compara os dois tipos de roteiro: o do fi lme e o da AD. A autora faz uma an��lise do fi lme Pulp Fiction de Quentin Tarantino (1994). Ela demonstra que os dois roteiros s��o diferentes, porque ambos possuem objetivos distintos mesmo quando focalizam a mesma cena. Um exemplo disso �� a abertura do fi lme, em que s��o visualizados os rostos de dois personagens, Jules (Samuel Lee Jackson) e Vincent (John Travolta) dentro de um carro. O roteiro do fi lme descreve o carro (modelo Chevy Nova de cor branca e ano 1974) e sua trajet��ria (o carro atravessa as ruas de Los Angeles). Aqui, os personagens n��o s��o descritos, porque essa informa����o pode ser recuperada pelas imagens.
J�� o roteiro audiodescrito d�� ��nfase justamente �� informa����o fornecida pelo canal visual para que a pessoa com defi ci��ncia visual tenha a mesma experi��ncia do vidente:
Dois homens, Jules, de ra��a negra e Vincent, branco, atravessam o sub��rbio de Hollywood a bordo de um Chevrolet 74. Vincent �� alto, de rosto afi lado e cabelos compridos pretos que caem sobre seus ombros.
Usa um brinco na orelha direita. �� interpretado por John Travolta.
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Audiodescri����o
Ballester (2007: 137) aponta estrat��gias para caracterizar os personagens de uma AD:
A caracteriza����o dos personagens se centra em seus atributos f��sicos (idade, etnia e aspecto) e tamb��m no seu vestu��rio, express��es faciais e linguagem corporal. Al��m disso, s��o descritos os estados emocionais, mentais e f��sicos dos personagens.
Segundo a autora, os personagens s��o descritos �� medida que aparecem na tela. Ela frisa tamb��m que essa descri����o deve ser feita ao longo do fi lme, j�� que, muitas vezes, os tempos sem fala que podem ser preenchidos com a AD s��o pequenos. Outra maneira de caracterizar os personagens s��o os objetos que o rodeiam. Por exemplo, a autora descrevendo o ambiente onde vive Manuela, personagem principal do fi lme Tudo sobre minha m��e (1999) de Pedro Almod��var, diz que fotos e cenas com espelho s��o muito importantes para que o espectador penetre no mundo da personagem.
Afi rma tamb��m, citando um trabalho de Allison (2003: 65) sobre o cineasta, que ���as casas dos personagens dizem muito aos espectadores sobre seus habitantes e, em Almod��var, os detalhes dos interiores est��o marcados socialmente��� (BALLESTER, 2007: 138).
O curso de forma����o de audiodescritores
Todos os cursos ofertados at�� agora seguem o seguinte esquema: 1.
Discuss��o de uma pesquisa sobre AD; 2. An��lise de um fi lme audiodescrito; 3. Realiza����o de uma AD. A discuss��o das pesquisas tem como meta analisar as diretrizes utilizadas pelos diferentes pa��ses onde a AD j�� �� uma realidade, principalmente aquelas testadas em pesquisas emp��ricas. Em cada um dos encontros, um desses estudos �� amplamente discutido para que possamos encontrar um modelo que se adeque �� realidade brasileira.
Analisar uma AD �� relevante para que o audiodescritor possa conhecer o modo de audiodescrever de alguns pa��ses e, assim, encontrar a melhor maneira de lidar com a tradu����o de imagens. Utilizamos basicamente fi lmes em DVD realizados na Europa, porque s��o aqueles que podem ser encontrados com mais facilidade. Temos trabalhos realizados em Portugal, Espanha, Inglaterra e Fran��a. Como nem todos os participantes dominam a l��ngua estrangeira, damos prefer��ncia aos fi lmes em espanhol e portugu��s.
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Encontram-se em andamento, na Universidade Estadual do Cear�� disserta����es de mestrado que analisam alguns desses DVDs. As an��lises s��o baseadas nas categorias de Jimenez Hurtado (2007) apresentadas anteriormente. Tamb��m pretendemos construir um corpus com a nossa produ����o para que possamos comparar nossa realidade com a dos pa��ses europeus.
Al��m de fi lmes lan��ados comercialmente, tamb��m examinamos o trabalho realizado por outras turmas. Este procedimento tem sido interessante, pois os alunos entram em contato mais de perto com a produ����o dos seus colegas e, assim, podem compar��-la �� deles.
A produ����o de uma AD
Em todos os cursos, um fi lme de curta metragem �� audiodescrito pela turma inteira. Nessa atividade, todos t��m a oportunidade de argumentar em favor de suas escolhas, porque na AD as descri����es podem variar de acordo com a interpreta����o de cada audiodescritor, conforme j�� foi comentado. A discuss��o coloca os audiodescritores novatos em contato com as v��rias possibilidades de tradu����o suscitadas por um fi lme.
O processo de AD segue quatro etapas: elabora����o do script com o aux��lio do software Subtitle Workshop (SW) e de um consultor com defi ci��ncia visual; produ����o do roteiro com todas as rubricas necess��rias para a grava����o em est��dio e mixagem da AD e do som original do fi lme. Apesar de ser um programa de legendagem, o SW foi utilizado porque permite a marca����o do tempo de entrada e sa��da da AD, a dura����o dessas inser����es e a visualiza����o do fi lme. A diferen��a entre a legendagem e a AD reside no fato de que a primeira ocorre simultaneamente ��s falas, enquanto a segunda �� colocada, preferencialmente, no intervalo delas.
Com o software, o audiodescritor pode testar se, em sua descri����o, n��o h�� sobreposi����o entre a AD e os di��logos do fi lme. Essa �� uma diretriz fundamental, visto que a sobreposi����o pode prejudicar a recep����o das pessoas com defi ci��ncia visual. De acordo com algumas diretrizes europeias, ela s�� deve acontecer em casos extremos: quando o que est�� sendo dito n��o �� importante para o entendimento do fi lme ou quando a descri����o �� fundamental para esse entendimento. O excesso de 100
Audiodescri����o
sobreposi����es pode impedir que a pessoa com defi ci��ncia visual assista ao fi lme confortavelmente.
Depois de elaborada a lista de di��logos, come��amos a prepara����o do roteiro que cont��m os seguintes elementos: tempos iniciais e fi nais (T ime code reader ��� TCR ��� onde ser��o inseridas a AD), as descri����es, as deixas (a ��ltima fala antes de entrar a AD) e as rubricas (as instru����es para a locu����o). Todos esses elementos s��o importantes para auxiliar a grava����o da voz. Esses elementos podem ser conferidos no trecho do roteiro do curta ��guas de Romanza abaixo:
TIME-CODE
AUDIODESCRI����O
Mas V��, como �� que �� feita a chuva? ��� DEIXA 00:04:22:03 --> 00:04:25:20
A av�� enxuga as l��grimas no vestido.
��� Voc�� n��o lembra?
00:04:34:23 --> 00:04:36:20
Romanza balan��a a cabe��a negativamente.
��� DEIXA
���... s�� esperando o sol, pra fazer eles brilhar.
��� DEIXA
Os olhos verdes de Romanza sorriem.
00:05:35:22 --> 00:05:37:11
[R��pido]
[Falar assim que aparece o rosto de Romanza]
��� RUBRICA
��� Voc�� vai ver s��.
00:06:11:22 --> 00:06:13:21
A av�� olha para S��o Jos��.
��� DEIXA
L�� fora...
Quadro 1: Roteiro da AD de ��guas de Romanza
Findo o roteiro, passamos para a fase de grava����o. Em primeiro lugar, �� feito um teste de voz entre os alunos para escolher aquele ou aquela que far�� a narra����o. O curso visa a preparar os alunos para atuarem em todas as fases de uma AD. Embora saibamos que nem todos t��m aptid��o para a locu����o, �� importante conhecer que aspectos est��o envolvidos nesse tipo de narra����o.
Em seguida, passamos para a grava����o. Antes a faz��amos no Windows Movie Maker. Atualmente, utilizamos equipamento profi ssional: Transformando Imagens em Palavras
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(microfone Beringher B1, mesa de som, fone e software de edi����o de ��udio e v��deo). Nessas aulas, um t��cnico mostra como se faz a grava����o e a equaliza����o entre a trilha sonora do fi lme e da AD. Tomar conhecimento dessas quest��es t��cnicas �� essencial para que o audiodescritor possa orientar os produtores culturais e profi ssionais da ��rea a trabalharem com acessibilidade. Um bom exemplo disso �� a produ����o de um DVD. Para atender ��s necessidades do p��blico alvo, �� necess��ria a inclus��o do menu audiodescrito e do t��tulo escrito em braille na capa para que a pessoa com defi ci��ncia visual possa navegar no DVD e escolher a que fi lme assistir.
Como se pode perceber, o curso �� basicamente sobre AD para as telas.
Embora o grupo da UECE (LEAD ��� Legendagem e Audiodescri����o) j�� tenha feito v��rias pe��as em alguns teatros da cidade, ainda n��o demos um curso de audiodescri����o para teatro. Esperamos faz��-lo em breve.
A ��ltima parte do curso est�� voltada para a inser����o dos futuros audiodescritores no mercado de trabalho. Com essa fi nalidade, foi criado o projeto ���DVD Acess��vel���.
O projeto DVD acess��vel
O projeto DVD Acess��vel, que tem patroc��nio do BNB, visa tamb��m proporcionar a pessoas com defi ci��ncia auditiva ou visual a oportunidade de assistirem �� produ����o cinematogr��fi ca de realizadores cearenses.
Seis fi lmes (dois longas e quatro curtas) est��o sendo traduzidos por legendagem e janela de LIBRAS para surdos e audiodescri����o para pessoas com defi ci��ncia visual. Os de curta metragem s��o: ��guas de Romanza (2002) de Patr��cia Ba��a e Gl��ucia Soares; Reisado Miudim (2008), de Petrus Cariry; Capistrano no Quilo (2007), de Firmino Holanda e Ador��vel Rosa (2008), de Aurora Miranda Le��o. Os de longa metragem s��o: O Gr��o, de Petrus Cariry (2007) e Corisco e Dad��, de Rosemberg Cariry (1996). Al��m disso, pretendemos discutir, com os produtores de DVD do pa��s, a melhor maneira de seus fi lmes se tornarem acess��veis.
Os fi lmes de curta-metragem est��o sendo legendados e audiodescritos pelos participantes do curso.
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Audiodescri����o
Como parte desse projeto, foram legendados e audiodescritos alguns fi lmes participantes do CINE CEAR��, festival de cinema que se realiza anualmente na capital cearense. Pela primeira vez, em 19 anos, aconteceu uma mostra de fi lmes audiodescritos e legendados. Novamente, os alunos dos cursos realizados em Fortaleza foram chamados para participar da tradu����o dos fi lmes. Os fi lmes traduzidos foram: O Homem que Engarrafava Nuvens (2008), longa de L��rio Ferreira; A Montanha M��gica (2009), curta de Petrus Cariri; Se Nada Mais Der Certo (2008), longa de Jos�� Eduardo Belmonte; Capistrano no Quilo (2007), curta de Firmino Holanda e O Pequeno Burgu��s, Filosofi a de Vida (2008) de Edu Mansur.
Considera����es fi nais
Este artigo teve como objetivo discutir como a UECE e a UFMG est��o trabalhando a forma����o de audiodescritores no Brasil. Al��m do aqui exposto, est��o sendo realizadas v��rias pesquisas que visam encontrar par��metros de audiodescri����o que atendam ��s necessidades dos brasileiros com defi ci��ncia visual. Esses par��metros ter��o como base os Estudos da Tradu����o e da Multimodalidade. Ser��o testados, em primeiro lugar, com cegos dos estados da Bahia, do Cear�� e de Minas Gerais. Depois disso, vamos investigar o que acontece nos outros estados da federa����o.
Nossa meta �� promover a acessibilidade audiovisual e contribuir para a implanta����o da AD no Brasil, preparando pesquisadores e profi ssionais competentes que possam fazer a diferen��a quando a AD for uma realidade no pa��s.
Refer��ncias
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Transformando Imagens em Palavras
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Audiodescri����o
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BLIND TUBE: CONCEITO, AUDIODESCRI����O
E PERSPECTIVAS
Lara Pozzobon*
A concep����o do projeto
O Blind Tube foi concebido em uma reuni��o em que pens��vamos em alternativas para a expans��o dos nossos projetos relacionados com o Festival Assim Vivemos, Festival Internacional de Filmes sobre Defi ci��ncia, em conex��o com as iniciativas da Educs 26 na internet. Na ocasi��o, Graciela Pozzobon, Pedro Marinho, da Educs, e eu chegamos �� ideia de um site espec��fi co para a exibi����o de fi lmes com acessibilidade. Iniciamos uma pesquisa na internet, cujo resultado foi a constata����o de que o nosso site seria o primeiro desse tipo. Posteriormente, pesquisas mais aprofundadas em sites em l��ngua inglesa, espanhola, francesa e italiana, assim como consultas a pessoas ligadas �� acessibilidade no Brasil, Espanha, Alemanha, Austr��lia e Inglaterra, deram conta de que est��vamos realmente criando um projeto in��dito no mundo.
Longe de provocar nossa vaidade, a constata����o do ineditismo nos trouxe ainda mais o sentido de responsabilidade pela cria����o de um bom exemplo.
Exemplo da possibilidade relativamente simples de proporcionar a pessoas com defi ci��ncias sensoriais o acesso a fi lmes variados. A partir de ent��o, a equipe da Educs estudou as normas e as formas de acessibilidade na internet, orientada por Marco Ant��nio de Queiroz um consultor que criou e atualmente coordena dois sites totalmente acess��veis e de grande visita����o.
Constru��mos o Blind Tube quase ao mesmo tempo em que entr��vamos em
* Doutora em Literatura Comparada, Mestre em Literatura Brasileira (UERJ) e produtora de cinema, teatro e festivais. Produziu os premiados curtas de fi c����o C��o Guia, Numa Noite Qualquer, Nada a Declarar e Mora na Filosofi a; e o longa-metragem Incur��veis, da Lavoro Produ����es. Dirige o Festival Assim Vivemos, Festival Internacional de Filmes sobre Defi ci��ncia, desde sua primeira edi����o. Concebeu o Blind Tube, Primeiro Portal de Entretenimento Acess��vel e colabora em diversos projetos culturais com acessibilidade. Produziu todas as mostras de cinema e pe��as de teatro da Lavoro Produ����es, al��m do Programa Assim Vivemos, da TV Brasil (2009-2010).
26 Produtora Web especializada em educa����o �� dist��ncia e desenvolvimento web.
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contato com as no����es b��sicas da acessibilidade, sempre aprendendo �� medida que trabalh��vamos na sua constru����o. Constantemente, a nossa falta de experi��ncia tirou o site dos par��metros ideais da acessibilidade, e todas as vezes que receb��amos alertas de usu��rios, a equipe t��cnica se apressava para entender e resolver as distor����es.
Desde o in��cio, t��nhamos como pressuposto que o site deveria seguir as normas que levavam ao desenho universal, isto ��, ele deveria ser acess��vel ao maior universo poss��vel de pessoas, tanto para aquelas com defi ci��ncia visual, baixa vis��o ou outros tipos de vis��o subnormal, quanto para pessoas surdas e com defi ci��ncia auditiva. Mas n��o apenas para estes.
Tamb��m t��nhamos a tarefa de deixar o site naveg��vel por pessoas com mobilidade reduzida.
Assim, seguimos as normas de acessibilidade para que todos os usu��rios pudessem navegar no ambiente do site, e, nos fi lmes, colocamos dois recursos de acessibilidade: a audiodescri����o (AD) e as legendas Closed Caption (CC). Sabemos que o recurso da L��ngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) tamb��m �� necess��rio para uma boa parte dos surdos que n��o tem conhecimento ou fl u��ncia na L��ngua Portuguesa, mas para coloc��-lo precisar��amos investir uma verba que estava al��m das nossas possibilidades. Esse ser�� o pr��ximo passo do projeto: acrescentar uma janela de LIBRAS simult��nea �� exibi����o dos fi lmes. A prop��sito, o programa Assim Vivemos, da TV Brasil, tamb��m produzido por n��s, conta com os tr��s sistemas, dispon��veis simultaneamente: AD, CC e LIBRAS. J�� no Blind Tube, a coloca����o de LIBRAS nos fi lmes, assim como a expans��o da capacidade virtualmente infi nita do site, est��o condicionadas �� obten����o de parcerias e patroc��nio.
O conceito
Do ponto de vista da sele����o dos fi lmes, nossa ideia �� exibir um conjunto variado, com est��ticas, temas e abordagens diferentes, dando uma amostra do que se produz no Brasil em curta-metragem. A op����o por fi lmes curtos foi pautada por quatro motivos: porque temos um grande apre��o por esse formato, j�� que iniciamos nossa vida profi ssional produzindo curtas; porque temos facilidade de acesso aos detentores dos direitos autorais dos 108
Audiodescri����o
fi lmes; porque os curtas geralmente n��o t��m um distribuidor comercial que possa impedir ou discordar desse tipo de distribui����o gratuita e, por fi m, porque a banda virtual necess��ria para a exibi����o de um fi lme curto na internet �� menor que a banda exigida por um longa-metragem.
Ainda sobre a sele����o dos fi lmes, �� importante lembrar que nossa inten����o ao criar o Blind Tube �� proporcionar divers��o e lazer cultural com acessibilidade, ou seja, a ideia �� mostrar fi lmes que n��o tratem do tema da defi ci��ncia, e sim de temas gerais. Essa op����o parece ter confundido um pouco as pessoas em um primeiro momento. Justamente porque entendemos que a acessibilidade deva estar em espet��culos de todos os tipos, temas e est��ticas, no teatro, na dan��a, no cinema comercial, etc, �� que criamos o Blind Tube. Por outro lado, j�� acumulamos a experi��ncia de dirigir o Festival Assim Vivemos desde 2003 e neste, sim, o conceito primordial �� justamente exibir fi lmes de qualidade sobre o tema da defi ci��ncia, sempre com acessibilidade.
Com exce����o de alguns trailers de fi lmes americanos, tudo o que encontramos na internet com algum tipo de acessibilidade gira em torno do tema da defi ci��ncia. Era disso que precis��vamos nos distanciar, para mostrar com maior clareza, para a sociedade, institui����es e produtores, que �� urgente a amplia����o do leque de op����es culturais com acessibilidade.
Tirar essa quest��o de seu c��rculo fechado e separar o tema da defi ci��ncia da necessidade de acessibilidade: esta �� a tarefa a que nos propomos no projeto. Uma observa����o talvez se fa��a necess��ria neste momento: a presen��a do fi lme C��o Guia no Blind Tube pode parecer contradit��ria, j�� que o fi lme trata de uma personagem cega. O fi lme est�� l�� por v��rios motivos: porque �� uma fi c����o e porque foi concebido e produzido como um fi lme sobre o amor, o poder e as difi culdades de relacionamento comuns a todas as pessoas, em primeiro lugar. Em segundo, porque foi esse fi lme que nos levou, Graciela Pozzobon, Gustavo Acioli27 e eu, a entrar em contato com pessoas e institui����es ligadas ��s pessoas com defi ci��ncia.
E por ele �� que fomos levados a conhecer o festival sobre defi ci��ncia de Munique, pioneiro no mundo, que inspirou diretamente o Festival Assim Vivemos. Por tudo isso, o fi lme �� simb��lico na nossa trajet��ria e, portanto, n��o poderia fi car de fora.
27 Roteirista e diretor do fi lme C��o Guia e curador, junto com Lara Pozzobon, do Festival Assim Vivemos e do programa Assim Vivemos.
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A audiodescri����o
A AD feita para os fi lmes presentes no Blind Tube seguiu crit��rios e normas estabelecidos pela equipe coordenada por Graciela Pozzobon, em sua experi��ncia acumulada ao longo da produ����o dos roteiros e da execu����o da AD nas quatro edi����es do Festival Assim Vivemos e em outros projetos especifi camente com fi lmes brasileiros. Esses crit��rios e normas, inicialmente intu��dos e constru��dos a partir do di��logo intenso com as pessoas cegas que compareceram ��s primeiras edi����es do festival, revelaram-se, mais recentemente, estar inteiramente em conson��ncia com as normas internacionais. Essa coincid��ncia fi cou clara quando come��aram a surgir publica����es, sites e eventos internacionais sobre a AD.
Em 2003, quando come��amos, n��o havia bibliografi a dispon��vel nem exemplos divulgados no Brasil ou no exterior, a partir dos quais pud��ssemos nos guiar. Mesmo no festival de Munique ( Wie wir leben), do qual participei em 2001 e 2003, a transmiss��o feita para os fones n��o era propriamente o que entendemos hoje por audiodescri����o. Era apenas um Voice Over feito ao vivo, por dois atores, em ingl��s ou em alem��o, conforme a nacionalidade do fi lme. Era ��til tanto para os cegos quanto para os videntes estrangeiros, convidados do festival, como n��s. Da mesma forma, no festival franc��s R��tour d���Image, tamb��m sobre defi ci��ncia, realizado em Paris em 2003, do qual participei como convidada, apresentando nosso fi lme C��o Guia, a AD n��o estava dispon��vel em todas as sess��es, embora houvesse outras acessibilidades sofi sticadas, como as legendas CC usadas nos fi lmes, feitas com um posicionamento especial para cada personagem.
Uma norma fundamental da AD, embora subliminar, �� a relativiza����o da maior parte de suas normas. Por exemplo: quando dizemos que a descri����o das cenas nunca pode se sobrepor aos di��logos e aos ru��dos importantes do fi lme, estamos enunciando uma norma v��lida e correta. Por��m, h�� casos em fi lmes em que uma cena longa ou mesmo uma sequ��ncia inteira �� completamente ocupada por di��logos e ru��dos importantes. Nessas situa����es, provavelmente ser�� necess��rio informar na AD o contexto ou algum detalhe da imagem, e, portanto, �� preciso avaliar qual �� o di��logo ou ru��do menos crucial na cena, e cobri-lo com uma r��pida e sucinta descri����o. Claro que isso acontecer�� apenas quando considerarmos que tal descri����o �� absolutamente imprescind��vel. E, felizmente, essa situa����o 110
Audiodescri����o
n��o �� muito comum. Tendo consci��ncia disso, entende-se que a cria����o do roteiro de AD exige antes de tudo uma constante negocia����o de prioridades.
Ao lado de todas as caracter��sticas b��sicas de clareza e s��ntese do texto, compreens��o do conte��do do fi lme e consci��ncia de sua forma narrativa, �� fundamental observar que no texto da AD n��o se pode interpretar nem julgar nada, apenas descrever objetivamente aquilo que est�� na imagem. Todos sabemos que a objetividade, mesmo na imprensa, �� sempre relativa, por mais que se busque, um pouco mais ou um pouco menos conscientemente, alcan����-la. Na AD, a objetividade de cada audiodescritor certamente ir�� variar, e tamb��m ser�� fortemente vari��vel a avalia����o daquilo que �� necess��rio descrever. As infi nitas possibilidades de ���como��� e com que palavras descrever a imagem completam a complexa condi����o que levar�� sempre �� pluralidade de estilos e formas de AD, por mais que um mesmo conjunto de regras seja respeitado por todos os audiodescritores.
N��o h�� uma tradu����o de um poema igual �� outra, aproximadamente pelos mesmos motivos. S��o muitas as ��nfases poss��veis e in��meras as negocia����es, que, por sua vez, s��o de v��rias naturezas. �� fascinante ler v��rias tradu����es diferentes de poemas cl��ssicos. Em cada uma, haver�� o esfor��o de transpor, da melhor maneira poss��vel, o entendimento que aquele tradutor tem da obra original. Esse entendimento j�� �� o primeiro fi ltro, que ir�� diferenciar cada um dos tradutores. Diversos outros fi ltros ser��o inevitavelmente acionados ao longo da tarefa.
Diz o precioso ditado italiano: ��� Traduttore, traditore��� (Tradutor, traidor.).
Est�� pr��ximo dessa condi����o o audiodescritor: em sua tarefa, tamb��m �� necess��rio transpor, traduzir as imagens em palavras, mas a equival��ncia total �� literalmente imposs��vel. Mais que isso, a consci��ncia da delicadeza e da complexidade da tarefa �� fundamental para alcan��ar uma postura despretensiosa em rela����o �� sua pr��pria miss��o. Como tradu����o intersemi��tica, isto ��, tradu����o entre elementos de natureza diferente, imagem e linguagem verbal, a AD se insere nesse universo mapeado e bastante estudado da tradu����o propriamente dita.
No entanto, n��o se pense que tamanha complexidade e pluralidade de possibilidades resultam em uma aus��ncia de normas ou na impossibilidade de determin��-las. Pelo contr��rio, �� f��cil detectar o que se pode chamar de Transformando Imagens em Palavras
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erro ou o que se pode considerar uma inadequa����o na AD. Entretanto, a avalia����o de um trabalho de AD deve levar em conta a obra que est�� sendo audiodescrita. Muitos supostos erros, apontados apressadamente, ser��o nada mais que a obedi��ncia ao estilo, ao conceito ou �� dic����o do fi lme. Por exemplo, se o fi lme n��o deixa claro na imagem um determinado detalhe, a AD n��o tem o direito de acrescentar essa informa����o que n��o est�� presente. Isso seria uma deturpa����o do sentido da cena, por incompreens��o da obra e do car��ter amb��guo e poliss��mico que �� pr��prio da arte. A AD n��o tem, pois, o direito de explicar o que n��o est�� claro no fi lme. O usu��rio de AD deve entender o fi lme e ao mesmo tempo fi car com as mesmas d��vidas que os videntes fi caram, considerando a dubiedade e a multiplicidade de sentidos presentes nas obras de arte.
Um detalhe importante a ser observado na produ����o da AD �� o uso que cada fi lme faz dos sil��ncios. H�� que se respeitar o ritmo do fi lme, deixando o espectador que usa o recurso da AD compreender a respira����o dos sil��ncios, tanto quanto o espectador vidente. �� claro que os sil��ncios s��o geralmente ricos em imagens, o que torna irresist��vel o uso desse tempo para descri����es. Mas eventualmente a cena �� contemplativa, sem uma satura����o de imagens, e isso deve ser entendido e respeitado no roteiro da AD. Nesse caso, o sil��ncio tamb��m ser�� eloquente para o usu��rio da AD, constituindo um elemento narrativo importante. Tamb��m a quantidade de detalhes a serem descritos �� sempre algo a ser dosado de acordo com a dura����o das pausas e tamb��m com o bom senso. �� inevit��vel que alguns espectadores queiram mais detalhes e outros prefi ram uma descri����o mais econ��mica. Por isso, h�� que se encontrar um equil��brio entre todas as exig��ncias e necessidades da obra, assim como um meio-termo em rela����o �� quantidade de informa����es. Na maior parte das vezes, a qualidade da descri����o resolve o problema da quantidade. Por isso, a precis��o vocabular e a concis��o textual s��o fundamentais na AD.
Outro elemento importante a ser estudado �� a simultaneidade das imagens com sua descri����o. Na medida do poss��vel, as informa����es devem ser veiculadas simultaneamente; por��m, mais uma vez �� preciso relativizar a regra. H�� muitos casos em que a descri����o da cena s�� pode ser feita um pouco antes ou um pouco depois do desenrolar da cena, justamente porque nela h�� um di��logo. Se essa falta de simultaneidade n��o compromete a compreens��o do fi lme, nem antecipa alguma surpresa importante da cena (caso em que a antecipa����o seria inaceit��vel) �� 112
Audiodescri����o
melhor colocar a AD fora da hora exata do que n��o utiliz��-la. No entanto, �� evidente que se h�� forma de encaixar a descri����o exatamente junto com sua imagem, n��o h�� raz��o para n��o o fazer.
�� conveniente que o audiodescritor conhe��a a linguagem cinematogr��fi ca, para saber avaliar quando um procedimento formal do fi lme ser�� importante para a compreens��o da narrativa. Pode ��� ou n��o ��� ser determinante para o entendimento de uma cena o fato de que a c��mera est�� em determinada posi����o. Isso deve ser ressaltado, se realmente for importante para a narrativa.
Uma regra da AD que raramente precisar�� ser relativizada �� a de n��o apresentar o personagem antes que o fi lme o fa��a. Assim, se aparece no in��cio do fi lme uma mulher que n��o temos como identifi car, nem sabemos seu parentesco com os outros personagens, n��o podemos defi nir algo que s�� mais adiante se revelar��. Apenas no momento em que o fi lme revelar sua identidade, seu nome ou sua rela����o com os outros personagens �� que a AD ter�� o direito de faz��-lo. Antes disso, ser�� preciso descrev��-la usando alguma de suas caracter��sticas ou apenas como
���uma mulher���. Caber�� ao audiodescritor encontrar a designa����o mais adequada: menina, mo��a, jovem, mulher, senhora, etc. Relativiza����es dessa regra talvez possam ser admitidas em s��ries de TV, seriados ou telenovelas, nos quais os personagens se repetem e s��o previamente conhecidos pelos espectadores.
Outro aspecto do trabalho que exige grande sutileza do audiodescritor, dessa vez, especifi camente daquele que coloca a voz na AD, �� o que se refere �� neutralidade da voz e sua rela����o com o tom a ser utilizado.
Cada fi lme, ou, mais precisamente, cada cena de um fi lme, tem um ritmo espec��fi co, uma atmosfera que cont��m um complexo de sentidos e emo����es. Esse ritmo e essa atmosfera devem ser rigorosamente respeitados e acompanhados pelo tom da AD. Ela deve ser sempre neutra, n��o se sobrepondo ao fi lme nem jamais competindo com ele, mas tal neutralidade n��o pode ser confundida com uma fala rob��tica, sem inten����o ou sem pontua����o.
Se a AD tiver a entona����o de uma t��pica grava����o de n��meros isolados, em que n��o h�� rela����o de entona����o entre eles, n��o haver�� modo de o espectador aderir �� emo����o do fi lme. Nesse caso de equ��voco crasso, Transformando Imagens em Palavras
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a AD, pretendendo neutralidade, acabar�� por chamar mais a aten����o por sua artifi cialidade. Por outro lado, �� importante lembrar que n��o �� a AD que produz a emo����o do fi lme, mas sim o pr��prio fi lme, com suas caracter��sticas originais, sua trama, di��logos, m��sica e ru��dos.
O ponto de equil��brio da cad��ncia e do tom da voz da AD sem d��vida �� delicado, e sua busca deve ser pautada pela exig��ncia de neutralidade, por��m, necessariamente imbu��da da atmosfera da cena. Dessa forma, a AD pode ser neutra e, ao mesmo tempo, conter alegria, ironia, ou ainda tristeza, ou mesmo medo, mas sempre com tamanha sutileza que ela se integre ao fi lme sem ser percebida.
Talvez essa seja uma forma de enunciar a meta maior da AD: mesmo sendo imprescind��vel, ter uma forma t��o natural e integrada �� obra, que se torne quase impercept��vel. N��o falo da invisibilidade do audiodescritor, de sua tarefa, ou dessa tecnologia assistiva, falo comparativamente da perfei����o de uma tradu����o que se parece com um texto original, ou seja, que faz esquecer que houve uma transposi����o entre l��nguas e um violento jogo de negocia����o de prioridades. Falo de um fi lme assistido com o recurso da AD, que parece ter sido realmente visto pelo espectador cego, quando sua experi��ncia foi a de recriar em seu imagin��rio todas as imagens descritas.
A AD deve ser impercept��vel em sua concretude, para que aquilo que ela cria, a imagem verbalizada para ser imaginada, isto sim, seja percebido como o complemento perfeito do fi lme.
As perspectivas do Blind Tube
Com seu conceito basilar de integra����o e acessibilidade para todos, a voca����o natural do Blind Tube �� a internacionaliza����o. Assim ele foi pensado desde o primeiro momento e assim faremos quando obtivermos o apoio necess��rio para implementar as novas ��reas em l��ngua estrangeira, inicialmente ingl��s e espanhol.
Para tanto, aproveitando nossa experi��ncia na produ����o de AD intercalada com Voice Over em fi lmes estrangeiros, faremos as seguintes expans��es na exibi����o dos fi lmes: nos fi lmes brasileiros, colocaremos AD e CC em 114
Audiodescri����o
l��ngua inglesa e espanhola, para que o p��blico desses idiomas possa assistir aos nossos fi lmes. E, para atender aos interesses do nosso p��blico brasileiro, convidaremos fi lmes de l��ngua inglesa para constar no site, e neles colocaremos AD e CC em portugu��s (e tamb��m em espanhol e em sua pr��pria l��ngua original), e assim por diante com os fi lmes em l��ngua espanhola, cruzando todas as combina����es.
Dessa forma, o entretenimento proporcionado pela exibi����o de fi lmes ser�� enriquecido pelos acervos de outras nacionalidades, o que sem d��vida ser�� fonte de uma amplia����o de horizontes e de quebra de barreiras para todos, tanto as da acessibilidade quanto as culturais.
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A PRIMEIRA AUDIODESCRI����O NA
PROPAGANDA DA TV BRASILEIRA: NATURA
NATUR�� UM BANHO DE ACESSIBILIDADE
Mauricio Santana*
Propaganda para todos
A propaganda brasileira �� considerada hoje umas das melhores do mundo. Esta constata����o, j�� declarada pelos mais renomados profi ssionais da publicidade e propaganda, pode ser comprovada pelos v��rios pr��mios que os publicit��rios brasileiros t��m conquistado em todo mundo, principalmente, no Festival de Publicidade de Cannes, na Fran��a, o maior e mais importante pr��mio da propaganda mundial. Pois bem, se a qualidade de nossa propaganda �� um fator j�� comprovado, podemos sugerir ent��o que, em grande parte, pode ser por isso que todo brasileiro �� muito provocado, inquietado, instigado e atra��do, pelo que �� mostrado no comercial de televis��o, ilustrado por suas imagens sedutoras, uma trilha sonora envolvente e ideias criativas. Ideias que despertam o desejo e emocionalmente nos impulsionam para a compra.
O que n��o �� nenhuma atitude conden��vel, n��o precisa signifi car uma compra sup��rfl ua, pois mesmo os produtos de primeira necessidade, necessitam de divulga����o, de promo����o e est��o disputando o seu espa��o no mercado. Mas ser�� que realmente os anunciantes est��o atentos a todos os consumidores? Ser�� que as ag��ncias de publicidade realmente detectaram, atrav��s das in��meras pesquisas e estudos, todos os consumidores que uma propaganda de televis��o pode atingir?
* Publicit��rio e Professor Universit��rio, atua como docente no campo da Produ����o de R��dio e Televis��o e cria����o para campanhas. Com experi��ncia de mais de 17 anos na comunica����o, hoje �� um dos profi ssionais �� frente da Iguale Comunica����o de Acessibilidade, a primeira empresa brasileira com solu����o completa em comunica����o para pessoas com algum tipo de defi ci��ncia. A proposta �� trabalhar em parceria com os clientes, produtoras e ag��ncias de publicidade, marketing, promo����o, criando projetos e tornando campanhas acess��veis para televis��o, r��dio, cinema, teatro, eventos, e outras abordagens que visem �� inclus��o desse p��blico-alvo.
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Para que possamos entender melhor esta rela����o da propaganda com seu potencial consumidor, devemos ter muito claro como acontece o processo de comunica����o, no seu conceito de ci��ncia social, que, de uma maneira mais simples, existe basicamente pela presen��a de tr��s agentes: o emissor, a mensagem e o receptor. Estes agentes s��o base de uma rela����o de troca, ou seja, a transmiss��o de ideias entre indiv��duos, que carrega em seu contexto uma s��rie de informa����es do cotidiano como: a palavra, a fala, a imagem, o gesto, a interpreta����o a partir do repert��rio de vida de cada indiv��duo, e todos os s��mbolos e signos que aprendemos e conhecemos durante nossa vida, caracterizando, portanto, uma forma de comunica����o interpessoal.
No universo da comunica����o de massa, um quarto agente deve ser considerado dentro do processo comunicacional, que �� o meio, ou seja, o caminho por onde esta mensagem vai trafegar. Temos, portanto a presen��a dos ve��culos: a televis��o, o r��dio, os impressos, a internet, entre outros, que t��m papel fundamental nesse processo de comunica����o de massa, pois �� o agente que atua diretamente na distribui����o da uma mensagem que foi produzida para este ou aquele p��blico e/ou consumidor.
S��o in��meros os estudos de comportamento e h��bitos dos consumidores, em que a publicidade se baseia para planejar suas estrat��gias de divulga����o e defi nir quais os principais ve��culos de comunica����o s��o mais adequados para o target da sua campanha, ou seja, para o p��blico-alvo ao qual um determinado produto �� destinado. Mas ser�� que essas campanhas publicit��rias e os seus comerciais altamente criativos, produzidos com os mais avan��ados recursos tecnol��gicos de v��deo e ��udio, imagens digitais, interativas e tantos outros recursos, est��o acess��veis para realmente todos os consumidores?
Audiodescri����o e um novo
mercado consumidor
Passou da hora das pessoas e empresas que atuam e que produzem conte��dos no campo da comunica����o, seja de car��ter cultural, acad��mico, de entretenimento ou publicit��rio, perceber que a acessibilidade na comunica����o, �� uma realidade e um direito garantido por Lei. Num 118
Audiodescri����o
primeiro momento, atrav��s do Decreto n�� 5.296/2004, que regula a Lei n�� 10.098/2000, em seus artigos 17 a 19, atestando o direito �� remo����o de barreiras �� comunica����o para as pessoas com defi ci��ncia sensorial (visual ou auditiva). E posteriormente com a Portaria 310, publicada em 27 de junho de 2006 (Di��rio Ofi cial da Uni��o de 28/07/2006), ofi cializando a Norma Complementar n�� 1 que estabeleceu o cronograma de implanta����o e os requisitos t��cnicos para tornar a programa����o das TVs abertas acess��veis para pessoas com defi ci��ncia. Portanto esses direitos devem ser respeitados e cumpridos.
No entanto, muito mais que isso, ou melhor, t��o importante quanto o que falamos anteriormente, �� que a quest��o da acessibilidade, e neste momento vamos nos limitar a tratar somente da ��rea da produ����o cultural e audiovisual, que no meu ver, est�� atrelada a uma proposta de grandeza imensur��vel ��� a inclus��o sociocultural e a autonomia das pessoas com defi ci��ncia sensorial. Todos t��m o direito de fazer as pr��prias escolhas.
De assistir ou ouvir este ou aquele programa de televis��o ou de r��dio, ou at�� mesmo de ver um bom fi lme no cinema. De comprar este ou aquele produto anunciado pela propaganda.
Pois ��, para cerca de aproximadamente 16,5 milh��es de pessoas com algum tipo de defi ci��ncia visual no Brasil (Censo IBGE, 2000) e que tamb��m podemos considerar um novo p��blico consumidor, um dos caminhos para a inclus��o sociocultural e autonomia no campo da informa����o e do entretenimento audiovisual ��, sem d��vida nenhuma, a audiodescri����o28.
A AD �� um recurso de tradu����o audiovisual, que trabalha com uma rela����o intersemi��tica ��� transformando imagem em palavras
��� e se concretiza atrav��s da t��cnica de narra����o realizada por um audiodescritor-narrador. Pela minha experi��ncia na Iguale (www.iguale.
com.br), acho que este profi ssional deva ser um ator ou atriz, pois essa narra����o demanda um dom��nio da linguagem interpretativa, devendo ser uma fala descritiva com o tom de interpreta����o muito sutil para n��o concorrer com as falas originais do fi lme. Baseado num roteiro, o audiodescritor-narrador descreve com o m��ximo de detalhes e sem julgamento tudo que acontece nas cenas de uma obra audiovisual. Este 28 Neste trabalho, tamb��m nomeada AD.
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processo preferencialmente deve acontecer nos espa��os oferecidos entre os di��logos dos personagens, respeitando sempre o roteiro original, as inten����es de pausas, efeitos, ru��dos e trilha sonora. Neste caso, de acordo com a defi ni����o proposta, podemos caracteriz��-la como uma AD Pr��-gravada se esta narra����o for gravada num est��dio de ��udio e posteriormente editada e mixada com o som original do produto audiovisual (fi lme, fi lme publicit��rio, v��deos educativos, institucionais, corporativos, outros). Tamb��m pode ser defi nida como AD Ao Vivo
- Roteirizada se o audiodescritor-ator, diferente da primeira op����o, estiver narrando, ao vivo, durante a exibi����o de um fi lme em pel��cula, no caso das salas de cinema, ou de um espet��culo teatral, de dan��a, uma exposi����o, ou outras manifesta����es audiovisuais. Deve-se considerar um terceiro tipo de Audiodescri����o, a AD Simult��nea, que consiste na narra����o em tempo real, simult��nea ao que est�� sendo apresentado, por��m sem um roteiro elaborado anteriormente. O que podemos sugerir para que a tradu����o nesse caso aconte��a de maneira mais acertada, �� levantar um pequeno briefi ng, ou seja, algumas informa����es sobre o tema, as pessoas envolvidas e o evento em quest��o.
Em v��rios pa��ses, como Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, a audiodescri����o tamb��m j�� �� regulamentada e existe, no caso dos EUA desde a d��cada de 70. Espanha, Alemanha, Canad�� e outros pa��ses, tamb��m j�� adotaram a AD em sua produ����o audiovisual e programa����es televisivas.
Apesar da audiodescri����o ainda ser um recurso muito novo no universo da produ����o audiovisual brasileira, e ainda passar por alguns ���ajustes de rota��� devido ao seu ineditismo em algumas ��reas, tem ganhado espa��o em muitos projetos por todo o pa��s. S��o in��meros festivais e mostras de cinema, como a Mostra Cinema e Direitos Humanos da Am��rica do Sul29, o Assim Vivemos30, o Festival Retrospectiva do Cinema Brasileiro, dentre outros, al��m das sess��es especiais de cinema no Cine SESC
de S��o Paulo, pe��as teatrais no Teatro Vivo e uma s��rie de trabalhos audiovisuais e manifesta����es culturais espalhados por todo o pa��s, que adotam o recurso da audiodescri����o para pessoas com defi ci��ncia 29 Na sua 4�� edi����o no ano de 2009, a Mostra Cinema e Direitos Humanos na Am��rica do Sul �� realizada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presid��ncia da Republica (SEDH) com a colabora����o de toda a equipe da Cinemateca Brasileira e da SAC.
30 Festival Internacional de Filmes sobre Defi ci��ncia realizado desde 2003.
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Audiodescri����o
visual. Tamb��m �� importante destacar a produ����o das legendas ( Open/
Close Caption) e janelas de L��ngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para pessoas com defi ci��ncia auditiva, permitindo, portanto, o acesso dessas pessoas ao conte��do cinematogr��fi co, videogr��fi co, teatral, art��stico e da comunica����o em geral, de maneira aut��noma e inclusiva. Um desses importantes espa��os conquistados com extremo sucesso pela Audiodescri����o e pela Legenda Closed Caption no Brasil est�� no campo da produ����o de fi lmes publicit��rios para propaganda de TV.
Natura Natur�� ��� Um banho de acessibilidade
(AD) Desenho de bolhas de sab��o escrito: Natura Natur�� apresenta...
(fala de um garoto) A grande hist��ria da ��gua.
(AD) Crian��as sentadas em roda na beira de um lago...
Assim come��a o filme publicit��rio de Natura para lan��amento de sua linha infantil Natura Natur��, o primeiro comercial acess��vel produzido com audiodescri����o e Closed Caption simult��neos, a ser veiculado pela TV Brasileira.
Domingo, 03 de agosto de 2008. No intervalo do programa Fant��stico da Rede Globo, um grupo de crian��as sentadas �� beira de um lago debate sobre como acontece o fen��meno da chuva e o ciclo da ��gua.
S��o imagens espont��neas de v��rias crian��as numa grande roda falando sobre a ��gua, intercaladas com desenho animado, ilustrando alguns trechos das falas. Uma feliz cria����o da ag��ncia de publicidade Peralta Strawberry Frog de S��o Paulo, sob o comando de Alexandre Peralta, para uma linha de produtos para crian��as de 3 a 7 anos, com o objetivo de estimular a descoberta do mundo e os cuidados com a natureza, de forma divertida, atrav��s da ��gua. Segundo o pr��prio Hot Site da linha31, que foi disponibilizado no per��odo da campanha pela internet, ���R��
signifi ca AMIGO em tupi. NATUR�� signifi ca AMIGO DA NATUREZA���, e esta 31 Hot Site Natura Natur��:
default.asp>.
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defi ni����o do nome tem uma rela����o muito forte com a proposta, com o conceito da linha infantil. No site ainda divulgam: ���Seus produtos, suaves e seguros, com fragr��ncias, nomes e texturas inusitados, incentivam, por meio de brincadeiras e da hist��ria sobre a ��gua, o cuidado com a natureza de forma l��dica, po��tica e divertida���.
Mas esse primeiro domingo do m��s agosto trazia, al��m da estreia dessa excelente campanha publicit��ria na TV, uma outra perspectiva para milhares de brasileiros, anunciada dias antes em forma de propaganda em 1/3 de p��gina vertical na Revista Veja (edi����o de n��mero 30, de 30
de julho de 2008): a primeira oportunidade das pessoas com defi ci��ncia visual acompanharem de forma aut��noma uma pe��a audiovisual pela sua televis��o, apenas acionando a tecla SAP32 no controle remoto de seu televisor. Estava no ar, a primeira transmiss��o de audiodescri����o da TV Brasileira ��� O fi lme publicit��rio de 60 segundos de dura����o, com produ����o de audiodescri����o realizada pela Iguale ��� Comunica����o de Acessibilidade, para o comercial de lan��amento da Natura para a linha Natura Natur��, criado pela Peralta Strawberry Frog, como j�� mencionamos acima.
Esse momento foi, sem d��vida nenhuma, muito emocionante para n��s, do ponto de vista da realiza����o profi ssional, da nova e bem sucedida experi��ncia no campo da propaganda. Mas foi muito mais intenso, e acredito que muito mais importante, quando refl etimos e elencamos as in��meras possibilidades e caminhos que este pequeno fi lme, com um minuto de dura����o, estava proporcionando para a audiodescri����o brasileira e, consequentemente, para as pessoas com defi ci��ncia visual.
A produ����o da audiodescri����o para o fi lme publicit��rio, ou comercial de TV, obedece praticamente ��s mesmas etapas de produ����o de audiodescri����o para um curta, um m��dia, um longa metragem, um seriado, um programa de televis��o e, at�� mesmo, um v��deo institucional ou corporativo.
Partindo do princ��pio de que a AD �� sempre produzida a partir de um fi lme fi nalizado, um fi lme pronto, primeiramente fazemos o que podemos chamar de decupagem desse material. O conceito de decupagem na produ����o cinematogr��fi ca ou televisiva pode ter diferentes defi ni����es.
32 Programa Secund��rio de ��udio
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Audiodescri����o
- A decupagem como t��cnica de dire����o, ou seja, utilizada para defi nir planos de fi lmagem a partir do roteiro original. De acordo com Daniel Filho (2001),
decupar as cenas do script �� fazer um script de fi lmagem ou plano de fi lmagem (shooting script). Ou seja, �� esmiu��ar cada cena e cada plano, indicando como ser��o gravados. O corte de plano, a determina����o do que ser�� close, plano geral ou panor��mica deve funcionar organicamente.
O autor ainda completa: ���N��s, na vida cotidiana enquanto olhamos o que nos cerca, ���decupamos organicamente���. Olhamos o que queremos, fazemos
���um fi lme��� do que est�� acontecendo. At�� fechamos os olhos quando n��o queremos olhar. Isso �� decupagem, ou seja, determinar como vamos olhar cada cena.���
- A decupagem para edi����o, como forma de ���escolha��� de partes de um determinado material gravado, que chamamos de material bruto, e que ser��o posteriormente unidas numa edi����o para formar um todo
��� o fi lme.
- A decupagem como forma de ���divis��o���, ou seja, aquela feita a partir do fi lme editado, fi nalizado, em que iremos dividir, separar, todas as informa����es que precisamos para entender o fi lme, seu ritmo, seu enredo, enfi m, todas as caracter��sticas que julgarmos importantes para esse primeiro reconhecimento.
No caso do nosso trabalho com a audiodescri����o, �� esse terceiro exemplo de decupagem que utilizamos, e que podemos considerar como a primeira etapa de produ����o de AD, portanto, costumamos nome��-la de
���Decupagem para AD���. Nesta primeira etapa devemos:
- Assistir ao fi lme na ��ntegra no m��nimo uma vez;
- Elencar os personagens ��� seus nomes e caracter��sticas principais;
- Detectar no fi lme seu ���tempo e espa��o���, ou seja, quando e onde acontece a hist��ria. Um fi lme pode conter diferentes passagens de ���tempo e espa��o���.
- Mapear o que �� imprescind��vel se audiodecrever, o que tem relev��ncia para o melhor entendimento da mensagem, e o que pode, caso precisemos, ser cortado em termos de descri����o.
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A segunda etapa desse processo de produ����o da AD �� a que chamamos de ���Marca����o de Cena��� . Nesta etapa devemos:
- Detectar os espa��os entre os di��logos, pausas, sil��ncios e pontos importantes que o fi lme nos apresenta para inser����o da AD.
Normalmente usamos como refer��ncia para este trabalho, o Time Code ou as ���deixas���, que s��o os in��cios e fi nais das falas dos atores/
personagens;
Esses dois levantamentos iniciais s��o important��ssimos para que o audiodescritor-roteirista possa defi nir melhor, o que e como descrever em determinada cena de um fi lme ou de uma propaganda.
O Roteiro de audiodescri����o �� a nossa terceira etapa. Aqui defi nimos e criamos o conte��do descritivo do fi lme, o texto da audiodescri����o, cena por cena, de acordo com as informa����es que apuramos e a marca����o que foi estabelecida nas etapas anteriores. �� importante respeitar integralmente a obra original, tomando cuidado para n��o fazer suposi����es nem antecipar alguma situa����o ou informa����o que ainda n��o foi apresentada concretamente pelo fi lme. Abaixo um exemplo de roteiro de AD para o fi lme publicit��rio de Natura Natur��, criado e produzido pela Iguale Comunica����o de Acessibilidade33.
Roteiro de audiodescri����o
Ag��ncia: Peralta Strawberry Frog
Cliente: Natura
Produto: Natura Natur��
T��tulo: A Grande Hist��ria da ��gua
Tempo: 60���
Acessibilidade: Iguale Comunica����o de Acessibilidade Audiodescritor-roteirista: Mauricio Santana
Audiodescritor-narrador: Leonardo Rossi
33 Dispon��vel em .
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Audiodescri����o
TC IN: 00.00 / OUT: 00.04
DESENHO DE BOLHAS DE SAB��O ESCRITO: NATURA
NATUR��... APRESENTA...
TC IN: 00.05 / OUT: 00.02
CRIAN��AS SENTADAS EM RODA NA BEIRA DE UM LAGO
TC IN: 00.03 / OUT: 00.00
DESENHO ANIMADO DE GOTAS DE CHUVA CAINDO.
TC IN: 00.24 / OUT: 00.29
DESENHO DE GOTINHAS DE ��GUA EVAPORANDO E
FORMANDO NUVENS NO C��U
TC IN: 00.30 / OUT: 35
DESENHO DA ��GUA PASSANDO POR V��RIOS
ENCANAMENTOS SUBTERRNEOS E CHEGANDO ��S CASAS
TC IN: 00.42 / OUT: 00.49
SEQU��NCIA DE CENAS DE V��RIAS CRIAN��AS FELIZES
TOMANDO BANHO COM NATURA NATUR��
TC IN: 00.51 / OUT: 00.56
EMBALAGENS COLORIDAS DA LINHA NATUR�� NA BORDA
DE UMA BANHEIRA BRANCA CHEIA DE ESPUMA
TC IN: 00.59 / OUT: 01.00
MARCA NATURA
Devemos lembrar que o roteiro, muitas vezes �� adaptado no momento da grava����o. Os principais motivos s��o a quest��o do tempo, que podemos optar por reduzir texto para ter um melhor encaixe no espa��o oferecido entre as falas, como aconteceu com o roteiro acima exemplifi cado. Se assistirem ao comercial, v��o perceber que algumas palavras foram suprimidas, por��m sem comprometer o entendimento, o Transformando Imagens em Palavras
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que �� fundamental. Outro motivo de adapta����o �� por op����o fon��tica, ou seja, trocamos uma palavra ou alteramos a frase, sem alterar o sentido, por outra que soe melhor aos nossos ouvidos.
A Grava����o da AD �� a quarta etapa do processo, e a dividimos em duas partes:
- Pr��-Produ����o ��� selecionamos a voz que mais se adequar ao filme. ��
sempre interessante contrapor a voz, ou seja, no caso de um filme com predomin��ncia de voz feminina, a narra����o deve feita por um ator, e vice-versa.
Para o comercial de Natura Natur��, selecionamos a voz do ator e audiodescritor-narrador Leonardo Rossi, considerando que o fi lme tinha uma grande quantidade de vozes infantis. J�� no segundo comercial, tamb��m de Natura, por��m para a linha Mam��e e Beb��34, como tinha um locutor de voz grave durante praticamente os 30 segundos do fi lme, escalamos a atriz e audiodescritora-narradora Nelma Nunes, para que a audiodescri����o fi casse mais clara, mais marcada.
- Produ����o ��� momento da grava����o das falas da audiodescri����o ���
realizada em um est��dio devidamente projetado com tratamento ac��stico e isolamento de sons externos. Acompanhado de um diretor e um t��cnico de est��dio, o audiodescritor-narrador grava suas falas, acompanhando o fi lme por um monitor de v��deo e com o som original transmitido para o seu fone de ouvido. �� um processo muito parecido com o da dublagem, gravado atrav��s de um software que integra recursos de ��udio e v��deo.
Tratamento, Mixagem e Finaliza����o s��o os trabalhos que constituem a ��ltima etapa do processo de produ����o de uma audiodescri����o.
- Tratamento de ��udio �� o trabalho de ���limpar��� o som, tirando, por exemplo, sons e respira����es indesej��veis que, por ventura, foram captados no momento da narra����o.
- Mixagem ��� termo designado para a etapa em que juntamos, misturamos, o som original do fi lme com a narra����o descritiva que 34 Dispon��vel em .
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Audiodescri����o
gravamos. No trabalho de Natura Natur��, recebemos o ��udio full do comercial da produtora de ��udio contratada para o fi lme e unimos com a audiodescri����o produzida e posteriormente ���tratada���, numa nova banda de ��udio.
- Finaliza����o ��� momento em que destinamos o trabalho de AD j�� tratado e mixado para o formato de m��dia solicitado. No caso desse nosso comercial, fi nalizamos em Beta Digital, com a banda sonora da AD
(mono) inserida no canal 3, que �� o canal de ��udio que a emissora no momento da exibi����o, destina para o Programa Secund��rio de ��udio (SAP), o qual, para produtos nacionais, est�� sempre ���vazio���, dispon��vel.
O panorama atual e perspectivas
da AD na propaganda
Depois da veicula����o dos comercias de 30 e 60 segundos da linha Natura Natur��, no segundo semestre de 2008, outros comerciais tamb��m da Natura, solicitaram nosso trabalho. Foi o que ocorreu com o fi lme para a linha Mam��e e Beb��, j�� mencionado anteriormente. Este tamb��m teve uma ��tima repercuss��o, pois al��m da quest��o inclusiva, adotando os recursos de audiodescri����o e closed caption, o comercial apresentava uma jovem mam��e gr��vida, um bom texto e o som de dois cora����es pulsando, o que certamente emocionou e atraiu a aten����o de um grande p��blico em abril/maio de 2009. Depois vieram os fi lmes do perfume Kaiak em setembro/outubro do mesmo ano, para o p��blico masculino adulto e, mais recentemente, em fevereiro de 2010, o comercial para o produto Banho de Gato ��� lencinhos de limpeza, tamb��m da linha Natur��. Neste meio tempo, temos a veicula����o de mais dois comerciais acess��veis: o fi lme Iguais na Diferen��a, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presid��ncia da Rep��blica (SEDH) e um outro comercial da Associa����o para Valoriza����o de Pessoas com Defi ci��ncia (AVAPE).
Diferentemente do Closed Caption, que h�� anos vem sendo utilizado por muitas emissoras em todo pa��s e hoje se encontra presente nos telejornais, novelas, seriados e tamb��m numa quantidade digamos interessante no segmento publicit��rio, a audiodescri����o em todas as Transformando Imagens em Palavras
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��reas do audiovisual ainda �� um recurso muito novo e pouco utilizado.
Na propaganda n��o �� diferente, mas certamente ser�� daqui a algum tempo, pois �� o que tem acontecido em outras ��reas, como o cinema e o teatro: a divulga����o e implanta����o da audiodescri����o em in��meros projetos s�� tem aumentado.
Natura �� hoje um dos melhores exemplos de comunica����o inovadora e respons��vel, e �� por essas atitudes pioneiras, inclusivas e de respeito ao consumidor que essa empresa �� vista como uma das melhores do pa��s.
Os anunciantes e as ag��ncias certamente fi car��o atentos a essa nova possibilidade de mostrar e vender seus produtos para um novo mercado, um novo p��blico. A competitividade �� muito acirrada e cada nova fatia conquistada, signifi ca muito dentro dessa disputa. Aproximadamente 16,5 milh��es de pessoas. Consumidores, sim senhor.
Refer��ncias bibliogr��fi cas
FILHO, Daniel. O Circo Eletr��nico ��� Fazendo TV no Brasil. Rio de Janeiro.
Jorge Zahar Ed., 2001.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTAT��STICA (IBGE). Censo Demogr��fi
co 2000. Dispon��vel em:
detpresidente.asp?cod=14>. Acesso em: 26 nov. 2008.
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Audiodescri����o
O SIGNO DA CIDADE
1�� sess��o da hist��ria do cinema nacional em que
surdos e cegos assistiram a um fi lme do circuito comercial em sua estreia no cinema
Rodrigo Campos*
Meu fasc��nio e vontade de realizar um trabalho na ��rea da audiodescri����o, despertados pela disciplina Tradu����o Audiovisual do curso de Tradu����o da UFMG, ganharam for��a durante a eletiva que realizei em outubro de 2007, quando conheci a colega de curso Leise Abreu. Numa de nossas conversas, surgiu a ideia de buscar um fi lme que estivesse em fase de fi naliza����o, para que tiv��ssemos tempo de fazer a audiodescri����o e a legendagem, com o prop��sito de que cegos e surdos tamb��m pudessem estar presentes na estreia do fi lme. Aliaram-se ao nosso inusitado desafi o a tamb��m aluna da eletiva, Renise Santos e minha amiga do curso de especializa����o em tradu����o, C��ntia Ara��jo.
Naquela ocasi��o, li um artigo no jornal falando a respeito do fi lme O
Signo da Cidade, que estava no ponto de produ����o em que precis��vamos para realizar nosso projeto. Entrei em contato com a produtora do fi lme, a Pulsar Cinema, e acabei descobrindo que a pr��pria Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli eram os produtores, donos do fi lme. Solicitei-lhes, ent��o, nosso pedido de autoriza����o para a realiza����o da audiodescri����o e legendagem para os surdos, o que nos foi prontamente atendido.
Ambos, desde o princ��pio, foram receptivos e se empolgaram com o projeto. Na semana seguinte ao contato, j�� est��vamos de posse do material a ser trabalhado.
* Consultor em Audiodescri����o e Legenda Fechada para Surdos. Graduado em Letras pela Fapam e Especialista em Tradu����o pela UFMG. Tem em seu curr��culo participa����o nas audiodescri����es de fi lmes como O Signo da Cidade, de Carlos Alberto Riccelli, Ensaio sobre a cegueira, de Fernando Meirelles, Alex Rider, de Geoff rey Sax. �� presidente fundador da Midiace ��� Associa����o M��dia Acess��vel, primeira associa����o de audiodescritores do Brasil.
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O fi lme nos foi enviado em c��pia VHS, e nosso primeiro trabalho foi digitaliz��-lo para que pud��ssemos abrir o v��deo no programa que usar��amos para fazer a legendagem. Por��m, ao digitalizar o v��deo, o sistema dividiu o fi lme em duas partes, gerando um arquivo de cinquenta e oito minutos e outro de quarenta minutos. Essa divis��o viria a complicar nossa vida na hora da autora����o do DVD, pois como havia dois arquivos de v��deo distintos, o tempo referente �� legendagem tamb��m fi cou dividido, ou seja, n��o houve a sequ��ncia do tempo total do fi lme.
Para a legendagem utilizamos o programa Subtitle Workshop, mesmo programa que hav��amos utilizado durante o curso. Trata-se de um programa extremamente ��til, pois existem ferramentas que auxiliam na corre����o fi nal da legenda e permite salvar o arquivo em variados formatos, possibilitando assim, que a legenda possa ser aberta em diferentes programas de autora����o de DVD. �� tamb��m de f��cil manuseio e pode ser baixado na internet gratuitamente.
Dividimos o tempo do fi lme em quatro e cada um do grupo legendou uma fra����o de tempo, de forma que terminada uma parte, enviar-se-ia o arquivo para o pr��ximo do grupo, mantendo-se assim a sequ��ncia quanto a marca����o de tempo. Esse m��todo de trabalho tamb��m proporcionou um ganho de tempo consider��vel, posto que o tempo de fi lme para cada integrante fi cou em torno de vinte e poucos minutos. Como hav��amos sido todos, alunos do mesmo curso e detentores do mesmo par��metro de trabalho, n��o houve problemas de afi na����o entre as legendas. Claro que foram necess��rios alguns ajustes, mas fi cou comprovado que esta forma de trabalho agilizou muito o tempo de sua realiza����o.
O fato de termos, primeiramente, legendado o fi lme (e quem legenda sabe que o legendista se torna profundamente ��ntimo do fi lme, pois o assiste quadro a quadro) nos favoreceu muito o trabalho da audiodescri����o.
Audiodescrever, contudo, �� um trabalho muito mais complexo, pois na legendagem, fazemos a adapta����o de um texto que j�� existe, enquanto que na audiodescri����o �� necess��rio criar um novo texto, seguindo in��meras especifi cidades tais como a escolha e adequa����o das palavras descritivas e o emprego de estruturas sint��ticas mais concisas.
Optamos pelo mesmo m��todo de trabalho, fi cando cada um respons��vel pela audiodescri����o da parte que havia legendado. A diferen��a foi que 130
Audiodescri����o
fi zemos a audiodescri����o ao mesmo tempo, sem ter sido necess��ria a parte do outro estar pronta para dar sequ��ncia. Este fato nos levou a alguns desacertos na apresenta����o dos personagens, pois n��o sab��amos se o colega j�� havia apresentado o personagem pelo nome ou n��o. Foram necess��rias, tamb��m, altera����es quanto ��s escolhas lexicais de forma a homogeneizar o texto e deix��-lo o mais pr��ximo poss��vel das estruturas lingu��sticas presentes no roteiro do fi lme. Corrigidos esses desencontros no momento da revis��o, que fi cou a cargo de dois membros do grupo, pudemos perceber que no geral, o m��todo da divis��o continuou efi caz.
Hav��amos trabalhado na mesma linha de descri����o.
Roteiro pronto, convidamos um cego para que pudesse acompanhar o fi lme, tendo sido a audiodescri����o realizada ao vivo, ou seja, sem a exist��ncia de grava����o. Em determinado momento, nosso convidado lembrou-nos de que ele n��o era surdo e sim cego, ou seja, percebemos que em alguns pontos, hav��amos pecado pelo excesso de descri����o. No geral, esse excesso referia-se ��s mudan��as de cena. Como (para se evitar a sobreposi����o da audiodescri����o �� fala do personagem), em determinadas trocas de cenas a identifi ca����o do novo cen��rio n��o era feito no momento exato da troca, tem��amos que essa informa����o tardia n��o levasse o cego a perceb��-la. Contudo, nosso convidado tranquilizou-nos dizendo que a mudan��a de cena era facilmente percebida porque o pr��prio som do novo ambiente dava pistas de ter havido tal mudan��a. Feito os novos ajustes ao roteiro, partimos para a grava����o no est��dio.
Por ser nosso trabalho uma a����o volunt��ria, desprovida de patroc��nio para que pud��ssemos contratar um locutor profi ssional, e como t��nhamos o objetivo de executar todas as etapas da audiodescri����o, a narra����o acabou sendo feita por mim. Levou aproximadamente duas horas para gravar todo fi lme e para a grava����o foi utilizado o programa Adobe Audition.
De posse do arquivo da legenda e do arquivo de ��udio, procuramos uma produtora para que pudesse mix��-los ao fi lme, processo este chamado de autora����o de DVD. Tivemos a infelicidade de descobrir que, ao ser convertido para outro programa, o arquivo da legenda n��o fi cou fi el ao gerado pelo Subtitle Workshop. Ou seja, toda a preocupa����o que tivemos com a marca����o das legendas, de deix��-las o m��ximo de tempo poss��vel na tela, para que pudessem favorecer uma leitura mais confort��vel pelo p��blico, havia sido, em parte, em v��o. ���Coladas��� ao fi lme, elas estavam visivelmente mais r��pidas do que hav��amos demarcado.
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Outro problema que difi cultou esse ajuste foi o fato de termos dois arquivos distintos de legenda, como j�� dito, devido ao fi lme ter sido dividido em duas partes, no processo da digitaliza����o. Enfi m, muito a contragosto, fugiu da nossa al��ada trabalhar esses aspectos, posto que n��o t��nhamos pr��tica nem acesso ao programa utilizado pela produtora respons��vel pela autora����o do DVD. Na verdade, a pr��tica no uso de ferramentas de edi����o s��o de compet��ncia dos profi ssionais de R��dio e TV, mas como t��nhamos o intuito de executar todas as etapas, n��o pudemos deixar de lamentar esse pequeno problema t��cnico. Quanto ao arquivo de ��udio, por ser ele ��nico, portanto sequencial, n��o nos trouxe problemas na hora da ���colagem���.
DVD pronto, encaminhamos uma c��pia para aprecia����o de seus produtores e aguardamos pela estreia nos cinemas, em Minas Gerais.
Como o fi lme estava sendo lan��ado pra��a a pra��a, ele s�� chegou a Belo Horizonte no dia 08 de junho de 2008, data esta, comprovadamente, a primeira vez na hist��ria do cinema nacional em que cegos e surdos puderam assistir a um fi lme do circuito comercial em sua estreia no cinema. A sess��o audiodescrita e legendada, aberta ao p��blico em geral, aconteceu no Espa��o Usiminas Belas Artes em Belo Horizonte e, depois, viajou para diversas capitais, dentre elas S��o Paulo, Salvador, Fortaleza e in��meras outras cidades do interior do pa��s.
Recentemente o DVD O Signo da Cidade foi lan��ado no mercado comercial, tornando-se ofi cialmente o 3�� DVD no pa��s a disponibilizar o recurso da audiodescri����o, tendo sido precedido pelo DVD Irm��os de F��, 1�� no pa��s, e o DVD Ensaio sobre a Cegueira, 2�� ofi cial, sendo este ��ltimo, tamb��m um trabalho que ajudei a realizar.
Audiodescri����o para quem n��o v��
Legendagem para quem n��o ouve
Em 10 de julho de 2008, empolgados pelo trabalho em O Signo da Cidade, e refor��ados com a entrada da audiodescritora Edna Morato ao grupo, resolvemos criar em Minas Gerais, a Midiace ��� Associa����o M��dia Acess��vel, primeira associa����o de audiodescritores do pa��s. Nosso intuito foi fomentar a produ����o audiodescrita e legendada, bem como, dar 132
Audiodescri����o
continuidade ��s pesquisas de recep����o de nosso trabalho acad��mico em prol de se criar um modelo brasileiro de audiodescri����o. Realizamos um intensivo interc��mbio de trabalhos entre as tr��s universidades (UFMG, UECE e UFBA). Nesse per��odo, foram audiodescritos, pelos grupos, os longas-metragens abaixo creditados:
Alex Rider (Alex Rider Contra o Tempo)
Audiodescri����o: Daniele Gaud��ncio e Rodrigo Campos Revis��o AD: Eliana Franco
Blindness (Ensaio Sobre a Cegueira)
Audiodescri����o: Daniela C��sar, Patr��cia Freitas e Rodrigo Campos Revis��o AD: Avany Lima, Eliana Franco e ��ris Fortunato.
Paycheck (O Pagamento)
Audiodescri����o: ��ris Fortunato e Paula Dutra
Revis��o AD: Eliana Franco
Shark Tale (O Espanta Tubar��es)
Audiodescri����o: Iracema Vilaronga e Renata Mascarenhas Revis��o AD: Eliana Franco
Spy Kids 3-D (Pequenos Espi��es 3-D)
Audiodescri����o: Equipe de Fortaleza
Revis��o AD: Vera Santiago
Outro trabalho, fruto desse interc��mbio e que contou com o apoio da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Defi ci��ncia do Estado de S��o Paulo, foi a produ����o do v��deo que abriu o Primeiro Encontro Nacional de Audiodescritores, acontecido em outubro de 2008 em S��o Paulo.
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Nele, Luc��lia Santos, atriz convidada para a realiza����o do v��deo, descreve todos os aspectos da produ����o de uma audiodescri����o e legendagem para surdos. Al��m desse v��deo, foi criada a Campanha Nacional pela Audiodescri����o nos Cinemas, a cuja iniciativa d��o apoio artistas de renome nacional, como Marcos Frota, Reynaldo Giannechini, Caz�� Pe��anha, e a pr��pria Luc��lia Santos.
Em julho de 2009, a parceria da Midiace com o grupo da Bahia e Fortaleza �� desfeita, com o intuito de favorecer aos referidos grupos, a realiza����o de projetos vinculados ��s leis de incentivo �� cultura dentro de seus respectivos estados.
Sugest��es para futuros audiodescritores
A audiodescri����o ��, sem sombra de d��vidas, um mercado de trabalho cujo potencial �� riqu��ssimo, tanto para os audiodescritores roteiristas e narradores, quanto para as pr��prias pessoas com defi ci��ncia visual, que s��o os mais adequados para trabalharem como consultores de obras audiodescritas.
Enquanto a demanda de audiodescri����o estiver reprimida pela falta de implementa����o do decreto, seguem as sugest��es para quem quer estar no mercado de trabalho:
1. Mesmo se voc�� tiver interesse em ser apenas audiodescritor narrador, n��o basta apenas conhecer as t��cnicas de locu����o. O conhecimento sobre o que �� audiodescri����o e o conhecimento sobre o p��blico ao qual se destina �� de suma import��ncia. Feito o curso, aconselha-se bater nas portas das grandes dubladoras, posto que al��m de abrir seu leque de op����es (lembre-se que a audiodescri����o ainda n��o se concretizou na cultura do pa��s) �� certamente o profi ssional que as televis��es buscar��o para a realiza����o deste trabalho, a exemplo da Rede Globo de Televis��o que contratou os servi��os da Dublav��deo de S��o Paulo, a t��tulo de experi��ncia, para a realiza����o das audiodescri����es dos fi lmes Alex Rider Contra o Tempo, Espi��es 3-D, O Espanta Tubar��es e O Pagamento (cujos roteiros foram realizados pelos grupos da UFMG, UFBA e UECE).
Ao que o mercado indica, as empresas de dublagem contratar��o audiodescritores roteiristas (ou terceirizar��o o servi��o junto a alguma 134
Audiodescri����o
empresa que se dedique exclusivamente a isto) para fazerem o roteiro e dar��o o trabalho de locu����o a seus pr��prios dubladores. A busca das emissoras de tev�� pelas empresas de dublagem deve-se ao fato de as dubladoras terem profi ssionais da locu����o altamente qualifi cados e equipamentos sofi sticados que garantir��o a qualidade do produto, englobando, em um mesmo pacote, a narra����o e a mixagem. Isto, no entanto, em se tratando de audiodescri����es de fi lmes, posto que, para a realiza����o da audiodescri����o de programas da pr��pria casa, as emissoras provavelmente contratar��o audiodescritores roteiristas e narradores, de modo a t��-los a sua inteira disposi����o. Tal demanda ser�� necess��ria para que as tev��s n��o venham a ter eventuais problemas de atraso por parte de empresas terceirizadas e tenham suas grades de programa����o prejudicadas.
2. Para os interessados em trabalhar como audiodescritores roteiristas, o primeiro passo �� buscar uma certifi ca����o acad��mica em Letras, posto que a audiodescri����o �� uma das modalidades da tradu����o audiovisual e a tradu����o audiovisual, uma das disciplinas do curso de Tradu����o, que por sua vez, faz parte do curr��culo de Letras. Tal certifi ca����o pode ser obtida tamb��m em n��vel de especializa����o, o que �� sugerido aos profi ssionais do Cinema, Jornalismo, R��dio e TV. Vale dizer, contudo, que apenas o fato de estar respirando os ares acad��micos �� pouco para quem busca trabalhar com audiodescri����o. Participar dos f��runs nacionais e internacionais existentes na internet e tamb��m dos congressos da ��rea possibilita um ganho de experi��ncia muito grande. Como na ��rea da audiodescri����o �� tudo relativamente muito novo, as diretrizes ainda est��o sendo constru��das e a troca de experi��ncia entre os audiodescritores �� muito importante. Um ��timo local para cadastrar seu curr��culo s��o os sites das pr��prias emissoras de tev��. Como j�� foi dito, assim que o decreto se fi zer valer, as tev��s ser��o uma fonte eterna de trabalho. Assim que a cultura da audiodescri����o se fortalecer, outras fontes de trabalho ser��o o mercado publicit��rio e a pr��pria ind��stria cinematogr��fi ca. Como, nesta ��ltima, quem d�� a palavra fi nal em tudo �� o diretor, a audiodescri����o certamente passar�� pelo seu crivo e, portanto, o audiodescritor roteirista e narrador ter��o de ser contratados j�� na etapa da produ����o do fi lme.
3. Para os audiodescritores ��vidos por uma maior independ��ncia, sugere-se a realiza����o de projetos junto ��s leis de incentivo �� cultura. Tal meta torna-se mais palp��vel se o proponente for uma associa����o cultural sem fi ns lucrativos. Portanto, se voc�� ainda n��o tem uma associa����o, Transformando Imagens em Palavras
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constitua uma. Elas est��o aptas a receberem patroc��nio nas esferas municipal, estadual e federal. Os fundos estaduais de cultura geralmente abrem prazo de inscri����o uma vez por ano. J�� na esfera federal, para recursos junto �� lei Roaunet, n��o h�� data limite de inscri����o, estando aberta para recebimento de projetos durante todo o ano. Vale lembrar que a audiodescri����o n��o se restringe apenas �� tev�� e ao cinema.
Todos os espet��culos em geral, mostras de museus, exibi����es de arte, s��o pass��veis de audiodescri����o; portanto, est��o �� espera de que um audiodescritor lhes ofere��a seus servi��os.
Bibliografi a acad��mica acerca da Audiodescri����o e LFS
Aos interessados nos estudos sobre AD e LFS, segue resumo da bibliografi a vista nos cursos acad��micos, cujas bases est��o nas refl ex��es sobre aspectos te��ricos e pr��ticos a respeito da LFS e AD.
LEGENDAGEM
ARA��JO, V.L.S. Closed subtitling in Brazil. In ORERO, P. (ed.) Topics in audiovisual translation. Amsterd��: John Benjamins, 2004, p. 199-212.
ARA��JO, V.L.S.; FRANCO, E. P. C. Reading television. Checking deaf people���s reaction to closed captioning. Fortaleza, Brazil, The translator, Manchester (Inglaterra), v. 9, n. 2, p. 249-267, 2003.
DIAZ CINTAS, J.; REMAEL, A.; ORERO, P. (org.) Media For all. Subtitling for the Deaf, Audiodescription and Sign Language. Amsterdam/New York: Rodopi, 2007.
FRANCO, E.P.C.; ARA��JO, V.L.S. (org.) TRADTERM, n��mero 13, 2007.
GAMBIER, Y. (ed.). Screen Translation. The Translator. Volume 9, N��mero 2, p. 249-267, 2003.
NEVES, J. Vozes que veem. Guia de legendagem para surdos. Leiria: Universidade de Aveiro, 2007.
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Audiodescri����o
AUDIODESCRI����O
BENECKE, B. Audio-description. Gambier, Y. (ed.) Meta. Volume 49, no. 1, p.
78-80, abril de 2004.
DIAZ CINTAS, J.; REMAEL, A.; ORERO, P. (org.) Media For all. Subtitling for the Deaf, Audiodescription and Sign Language. Amsterdam/New York: Rodopi, 2007.
FRANCO, E.P.C. Legenda e ��udio-descri����o na televis��o garantem a acessibilidade a defi cientes. Ci��ncia e Cultura. Revista da SBPC, online, v. 58, n. 1, p. 12-13, 2006.
FRANCO, E.P.C.; ARA��JO, V.L.S. (org.) TRADTERM. Volume especial em tradu����o audiovisual. 1a. Ed. S��o Paulo: Humanitas, 2007. v. 13. 295 p.
HURTADO, C. J. Traducci��n y acessibilidade. In: ______ Subtitulaci��n para sordos y audiodescripci��n para ciegos: nuevas modalidades de TAV. Frankfurt: Peter Lang, 2007.
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PONTO DE CULTURA CINEMA EM PALAVRAS ���
A FILOSOFIA NO PROJETO DE INCLUS��O
SOCIAL E DIGITAL
Bell Machado*
Minha incurs��o ao trabalho desenvolvido com cinema e fi losofi a na audiodescri����o de fi lmes deu-se por meio do curso de fi losofi a, na Unicamp, em 1999, quando estudei a Carta sobre os Cegos35, escrita no s��culo XVIII pelo fi l��sofo franc��s Denis Diderot. A Carta sobre os Cegos impressionou-me e me encantou de tal maneira que, nos 10 anos seguintes, meu trabalho e estudos versariam sobre quest��es referentes �� maneira pela qual o homem constr��i seu conhecimento por meio dos sentidos, e ao modo como a pessoa cega ou com defi ci��ncia visual elabora o ju��zo de suas percep����es.
Em 2000, fui convidada pela ent��o coordenadora t��cnica do Centro Cultural Louis Braille de Campinas, Eduarda Leme, para fazer o ���Cinema Narrado��� ��� atualmente o que se denomina audiodescri����o36, pr��tica que ela j�� desenvolvia h�� alguns anos ��� para pessoas com defi ci��ncia visual 37
e cegueira. Esse recurso de acessibilidade permite-nos auxiliar a pessoa com defi ci��ncia visual a melhor compreender a narrativa e o enredo por meio de descri����es orais das cenas dos fi lmes.
Como professora de hist��ria do cinema, achei estimulante, pois seria um modo de ��� ao mesmo tempo ��� desconstruir e roteirizar oralmente cada
* Bacharel em Filosofi a pela Unicamp e professora de Hist��ria do Cinema no MIS (Museu da Imagem e do Som) de Campinas. Fez a audiodescri����o ao vivo na 1�� e na 2�� Mostra Cinema e Direitos Humanos na Am��rica do Sul, em 2006 e 2007. Coordena desde 2005 o Ponto de Cultura Cinema em Palavras do Centro Cultural Braille, onde realiza audiodescri����o de fi lmes e desenvolve, desde 2000, estudos fi los��fi cos sobre a constru����o do conhecimento por meio dos sentidos. �� agente cultural do Projeto Cine BR em Movimento, iniciativa da Petrobras, desde 2005.
35 Com Voltaire e Rousseau, Diderot foi uma das figuras seminais do S��culo das Luzes e da fermenta����o cultural que levou �� Revolu����o Francesa. Sua obra e suas ideias, n��o menos que as do autor de Candide ou do Contrato Social, encontram-se na base n��o s�� do movimento do Racionalismo franc��s ilustrado, como do processo de toda a modernidade filos��fica, pol��tica, cient��fica, liter��ria e art��stica.
36 Neste trabalho, tamb��m nomeada AD.
37 Neste trabalho, tamb��m tratado como pessoas com DV ou, simplesmente, PcDV.
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plano-sequ��ncia, no sentido de descrever o cen��rio, as pessoas e suas express��es, o vestu��rio, os movimentos de c��mera, os deslocamentos espaciais e temporais, enfi m, toda a estrutura de um fi lme, e o mais desafi ador ainda: fazer tudo isso ao vivo, no momento da exibi����o do fi lme (na ��poca n��o t��nhamos recursos para realizar a audiodescri����o gravada).
A escolha dos filmes era feita a partir de temas, pa��s, g��nero ou simplesmente pelo interesse em um determinado filme ao qual as PcDV n��o teriam condi����es de assistir no cinema. A falta de condi����es refere-se ao fato de que a maioria dos filmes dessa sele����o era de produ����o europeia, asi��tica, iraniana, enfim, n��o tinha sido exibida com dublagem nos cinemas, com o agravante de ser dificilmente encontrada nas locadoras.
A forma����o desse novo p��blico espectador foi um grande desafi o para o Ponto de Cultura, pois, na ��poca, muitos usu��rios do Centro Cultural Braille n��o tinham o h��bito de assistir a fi lmes ��� nem mesmo na televis��o ��� e, assim sendo, n��o participavam das sess��es anteriores de audiodescri����o de fi lmes. Tal comportamento revela o quanto a aus��ncia da AD na televis��o brasileira leva muitas pessoas com DV a uma situa����o de exclus��o cultural e social.
A maneira pela qual os fi lmes foram apresentados, audiodescritos e debatidos foi um fator determinante, tanto para desmistifi car a ideia de que fi lmes n��o s��o para as PcDV, quanto para despertar nessas pessoas o interesse e a ades��o ��s atividades. A partir do aumento do n��mero de pessoas presentes ��s sess��es com AD, constatamos que a falta de oportunidade e acessibilidade aos bens culturais n��o permite ao indiv��duo sequer conhecer suas potencialidades, o que pode lev��-lo a uma vida segregada e exclu��da da sociedade.
A audiodescri����o no Ponto de
Cultura Cinema em Palavras
Na pr��tica da AD, o audiodescritor deve tentar ser o mais neutro poss��vel, para possibilitar que a pessoa com defici��ncia visual possa formar a sua pr��pria opini��o a respeito de determinado filme. N��o se pode, por��m, ignorar o fato de que �� por meio do complexo sentido da vis��o do audiodescritor que esse novo tipo de espectador ir�� dar significado �� sua percep����o.
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Audiodescri����o
N��o �� o olhar que engana, mas o ju��zo que se faz das percep����es, que v��m por meio dos sentidos. Fa��o dessa refl ex��o meu objeto de estudo: uma investiga����o sobre a maneira pela qual um indiv��duo constr��i seu conhecimento por meio dos sentidos.
Devemos ent��o, tentar fornecer, isentos das impress��es pessoais, elementos visuais que ajudem a PcDV a obter uma melhor compreens��o do fi lme. Na ��rea do cinema, um dos maiores cr��ticos franceses, Andr�� Bazin (1991, p. 6), afi rma que ���a fun����o do cr��tico n��o �� trazer numa bandeja de prata uma verdade que n��o existe, mas prolongar o m��ximo poss��vel, na intelig��ncia e na sensibilidade dos que o leem, o impacto da obra de arte���. O importante n��o �� julgar o fi lme, mas dar elementos para que o espectador possa avali��-lo.
Assim, uma nova quest��o se levanta: a da forma e do conte��do. Quando discorro sobre um conte��do, o fa��o utilizando-me necessariamente de uma forma. Assim como n��o h�� conte��do sem forma, n��o h�� descri����o sem um ponto de vista qualquer que seja.
Evidentemente, a AD colabora para que as PcDV se reconhe��am em uma obra cinematogr��fi ca, assim como um cr��tico, ao fazer a leitura de um fi lme, pode revelar ao pr��prio diretor aspectos desconhecidos.
O cineasta Luis Bu��uel comentou certa vez sobre o cr��tico Andre Bazin:
���Bazin revelou-me certos aspectos de minha obra que eu mesmo ignorava���. (BAZIN, 1991, contracapa)
Nesse sentido, considero a audiodescri����o como uma forma de leitura reveladora que evoca em seu p��blico uma multiplicidade de sensa����es e sentimentos capaz de gerar uma revolu����o sensitiva muito necess��ria para a forma����o do gosto cinematogr��fi co. Certamente n��o �� somente o audiodescritor e seu modo de traduzir as imagens que infl uenciar��o a PcDV, mas a pr��pria linguagem da AD que, por si s��, revoluciona os sentidos. S��o frequentes os depoimentos de PcDV afi rmando que, depois de assistirem um fi lme com AD, n��o querem mais v��-lo sem ela.
Na ��rea em que atuo ��� a da hist��ria e teoria do cinema ��� �� frequente analisarmos, dentre outras coisas, a maneira pela qual um diretor constr��i e representa uma ideia por meio de uma sequ��ncia f��lmica. O modo Transformando Imagens em Palavras
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como um diretor mostra determinada cena n��o ser�� necessariamente o modo como o espectador ir�� enxerg��-la. Do mesmo modo, durante a AD da cena, a PcDV tamb��m far��, por sua vez, uma leitura pr��pria da descri����o ouvida. Poder��amos chamar esta descri����o, em ��ltima inst��ncia, de interpreta����o? Certamente.
Como exemplo, cito a AD de uma sequ��ncia: uma mulher chora no alto de uma montanha. O vento sopra em seus cabelos. Ela est�� vestida com uma roupa branca que contrasta com o fundo escuro de um c��u carregado de nuvens cinza. A c��mera est�� fixa um pouco abaixo da mulher.
Essa mesma cena pode ser representada por outro diretor de outra maneira: a mulher estaria com uma roupa neutra, nem clara nem escura, e o c��u poderia estar com nuvens brancas ou mesmo um c��u azul l��mpido. Para muitos diretores de filmes de arte, n��o comerciais, esses detalhes fazem parte da est��tica do filme, na qual a articula����o dos planos estabelece um conceito, uma rela����o simb��lica da imagem elaborada. Neste caso, a AD teria que encontrar um modo de descrever a palavra n��o dita. Ser�� que um audiodescritor, despreocupado com quest��es te��ricas do cinema de arte, focaria sua descri����o na roupa clara que contrasta com o c��u escuro? Falaria da posi����o da c��mera, onde est�� o olhar pretendido? Ou tudo isso seria irrelevante, pois pertenceria �� categoria da subjetividade?
No curso sobre roteiro que ministrei no Ponto de Cultura para PcDV, essa discuss��o estava sempre presente, pois fazia parte do entendimento da linguagem f��lmica. �� necess��rio, portanto, informar ��s PcDV que os audiodescritores podem descrever, ou n��o, um determinado aspecto do filme sem deixarem, por isso, de ser objetivos. Existe uma diferen��a entre o ��rg��o olho e o olhar. �� fato que, ao descrever uma cena de modo detalhado, o ouvinte pode identificar-se com o sentido do filme e, a partir dessa percep����o, come��ar a se interessar por determinados aspectos que antes n��o lhe chamavam a aten����o. A isso chamo
���forma����o de p��blico���.
Durante os seis primeiros anos em que trabalhei no Centro Cultural Braille de Campinas fazia AD semanais de fi lmes, durante todo o ano.
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Audiodescri����o
Certamente eu n��o tinha tempo para assistir a todos previamente, pois trabalhava em dois empregos e cursava a faculdade de filosofia, mas os usu��rios queriam um filme novo a cada semana; ent��o, nesse per��odo, fiz AD de um modo que hoje nem consigo entender como foi poss��vel.
Com essa pr��tica, desenvolvi a capacidade de concentra����o e s��ntese necess��rias para a AD. Muitas vezes, os familiares estavam presentes e aquele era o momento em que aprendiam a fazer a AD em casa para seus filhos.
Nunca aquelas pessoas viram tantos fi lmes brasileiros, italianos e principalmente iranianos, pois nestes, os di��logos s��o pausados e a montagem, quase em tempo real, como no neorealismo italiano, o que permite que fa��amos uma boa descri����o das cenas e paisagens. Mas tamb��m fi zemos outras AD ousadas, como em todos os fi lmes sobre Harry Potter e em Senhor dos An��is. Os usu��rios mais jovens j�� haviam lido os livros, o que, segundo eles, facilitava bastante a compreens��o. Diziam que, mesmo na AD roteirizada, a maneira de cada audiodescritor descrever a cena era diferente e era bom assistir ao mesmo fi lme com diferentes pessoas audiodescrevendo, ou mesmo comigo, em outra vers��o.
No processo de roteiriza����o para AD de um fi lme, o audiodescritor percebe a imagem de modo pr��prio, abstrai sua ideia e parte para a ��rdua tarefa de descrev��-la de modo objetivo e claro.
Uma preocupa����o constante em minha refl ex��o sobre a audiodescri����o de fi lmes para pessoas com defi ci��ncia visual �� a quest��o do ���ponto de vista��� atrelada �� quest��o da interpreta����o, pois, na hist��ria da fi losofi a, encontramos teorias diversas a respeito desses temas. �� muito diferente a maneira de fazer AD de um fi lme comercial americano daquele de arte ou de autor, ou simplesmente um fi lme de produ����o independente.
Para isso, tem-se que, a priori, saber diferenciar esses tipos e dar a eles o tratamento a que se designam.
Portanto, no modo como eu entendo o conceito do olhar, �� imposs��vel a exist��ncia de um olhar simplesmente neutro, pelo mesmo motivo que considero ser imposs��vel, por exemplo, para uma pessoa com defici��ncia visual discorrer, de uma forma neutra, sobre qualquer coisa que conhece pelo tato.
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Na nova linguagem da AD, o relato objetivo do audiodescritor representa uma leitura da imagem. (Existem cursos de forma����o de audiodescritores que levam o t��tulo de ���Tradu����o visual���). At�� que ponto uma tradu����o pode ser neutra?
A AD n��o �� uma transcri����o fon��tica, n��o �� uma verdade absoluta, mas �� uma leitura, sim, de um indiv��duo diante de uma cena; portanto, n��o pode ser uma descri����o universal. Denis Diderot afi rmou que ���o olhar engana, o tato n��o���. Ao se interpretar tal frase, pode-se reconhecer que n��o �� o olhar que engana, mas o ju��zo que se faz das percep����es, as quais nos v��m atrav��s de todos os sentidos que possu��mos. Cada um percebe de modo pr��prio, porque seus sentidos lhe fornecem sensa����es e informa����es que s��o processadas de modo diverso. Por isso, cada um estabelece um ju��zo diferente sobre as coisas, como o gosto e o prazer, por exemplo.
Uma das pol��micas est�� no questionamento: existe realmente um modo neutro de fazer a audiodescri����o? Do ponto de vista fi los��fi co, n��o. Do ponto de vista pr��tico, sim, pois existe todo um aparato t��cnico com normas que possibilitem a descri����o clara e objetiva, mas que, como em toda obra, permitam discuss��es.
Durante os debates, frequentemente deparamo-nos com opini��es diferentes e, por vezes, at�� contradit��rias, tamanha a complexidade dessa quest��o. N��o vejo problema algum no fato de os audiodescritores terem conceitos diferentes a respeito da AD; pelo contr��rio: vejo riqueza e diversidade que, juntas, comp��em um pensar mais profundo e complexo, tornando a AD ainda mais instigante, necess��ria, leg��tima e urgente. Ignorar sua import��ncia nos meios de comunica����o e posterg��-
la devido �� sua complexidade �� uma atitude ignorante e covarde.
Todas essas quest��es s��o fundamentais em minhas investiga����es no Ponto de Cultura Cinema em Palavras, n��o somente pelo fato de minha forma����o ter sido em fi losofi a, mas tamb��m porque meu trabalho no ensino de hist��ria do cinema versa sobre an��lises da constru����o do roteiro. E a audiodescri����o de fi lmes representa um processo, em parte, inverso, pois desconstru��mos o fi lme j�� pronto para o reescrevermos de forma fragmentada em um novo roteiro de descri����es orais das cenas.
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Audiodescri����o
Certa vez, em 2007, na 2�� Mostra Cinema e Direitos Humanos na Am��rica do Sul da qual participei como audiodescritora, durante o debate com Andr�� Costa, diretor do fi lme Casas de morar e demoli����es, ele relatou o prazer de ouvir a AD de seu fi lme. Assim como Bu��uel, ele percebeu um novo vi��s de an��lise a partir de certas descri����es das imagens. Isso �� magn��fi co na AD, pois fi cou claro, naquele dia, que essa nova linguagem estava declarando para as PcDV, videntes, e para os pr��prios diretores, aquilo que h�� tempos j�� era sabido na an��lise liter��ria: n��o h�� uma ��nica interpreta����o poss��vel. Por mais que se tente ser objetivo, direto, claro, estamos sempre em territ��rio de di��logo: na terra f��rtil da linguagem, seja ela qual for.
Paralelamente ��s exibi����es com audiodescri����o, julguei fundamental levar a Carta sobre os Cegos para o pequeno, por��m seleto grupo que participava das sess��es de audiodescri����o no Centro Cultural Braille de Campinas. Juntos, fi zemos uma revis��o comentada da Carta sobre os Cegos em pontos considerados fundamentais para uma compreens��o
��� aproximada, ao menos ��� do universo dos cegos que, segundo eles, �� o mesmo dos que veem (o resultado desse trabalho foi apresentado em semin��rio no COLE ��� Congresso de Leitura do Brasil, realizado na UNICAMP, em julho de 2005).
A Carta sobre os Cegos �� um estudo no qual Denis Diderot discute, entre outras coisas, a maneira pela qual um cego cong��nito pode adquirir conhecimento quando come��a a enxergar depois de ter feito uma opera����o de cataratas. A investiga����o sobre o modo como o cego reconhecer�� os objetos e a import��ncia dos sentidos como fonte de conhecimento s��o algumas das quest��es estudadas pelo fil��sofo.
Nessa leitura, ressalto algumas passagens e comparo as respostas do cego de Puilsaux ��s de outros cegos entrevistados: alguns cegos de nascen��a; outros que perderam a vis��o ainda crian��as; ou que a perderam recentemente.
Essa discuss��o permitiu a n��s, videntes, confrontar o pensamento de Diderot ao das pessoas com defi ci��ncia visual. Aprendemos aquilo que somente os olhares n��o-videntes puderam perceber. Nesse sentido, a leitura cr��tica da Carta sobre os Cegos foi uma experi��ncia singular, uma leitura do mundo.
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Acrescentar as refl ex��es e os estudos fi los��fi cos ao projeto inicial de narrar fi lmes foi o modo encontrado para suprir, ent��o, a car��ncia de equipamento digital dos usu��rios do Centro Cultural, permitindo-lhes, desse modo, ter acesso a literaturas inexistentes em braille e adquirir novos par��metros culturais, est��ticos e morais38.
Depois dessa primeira experi��ncia, desenvolvi diversos estudos e li textos de outros fi l��sofos para o grupo de usu��rios do Centro Cultural, a saber: o Tratado sobre o belo e os Ensaios sobre a pintura, ambos de Denis Diderot, textos a partir dos quais discutimos a maneira pela qual podemos construir uma argumenta����o precisa acerca do conceito do belo para aqueles que n��o veem.
C��ndido, de Voltaire, foi outra leitura conjunta na qual investigamos as met��foras ��ticas presentes. A partir dessas duas leituras, tentei estabelecer algumas rela����es entre o pensamento de Voltaire e Diderot e escrevi Uma rela����o entre a Carta sobre os Cegos e C��ndido, pois a quest��o da interpreta����o do olhar estava presente na Carta, assim como em C��ndido. As duas obras apresentam met��foras ��ticas, por exemplo, no cap��tulo I: ���(...) havia um jovem rapaz ao qual a natureza lhe concedera as virtudes mais doces. Sua fi sionomia anunciava sua alma.��� Nesse momento, Voltaire d�� um sentido fi gurado ��s qualidades de C��ndido, valendo-se de outras palavras para designar algo que para ele tem um mesmo signifi cado. O conceito de ���ternura��� �� expresso pelas palavras
���virtudes mais doces���; e a express��o ���uma fi sionomia que anunciava sua alma��� pode signifi car que seu rosto delatava sua bondade.
Essas co-rela����es tamb��m dependem das percep����es e, consequentemente, os ju��zos formulados s��o decorrentes delas para serem utilizados em met��foras, referindo-se a situa����es, objetos, pessoas, ou at�� mesmo a si pr��prio. Os sentidos s��o como fontes do conhecimento, modifi cam o modo de ver as coisas, produzem verdades relativas.
Com a inclus��o da leitura fi los��fi ca ampliamos para outras esferas a atividade de audiodescri����o, transformando-a em uma oportunidade 38 No per��odo de 2000 a 2004 trabalhei como volunt��ria e ainda n��o hav��amos participado do edital do MinC de projetos para Pontos de Cultura, que nos proporcionou o equipamento digital adequado para as sess��es de cinema.
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Audiodescri����o
para discutir n��o somente a linguagem cinematogr��fi ca, mas tamb��m os conceitos constru��dos pelas pessoas com defi ci��ncia visual a esse respeito, as concep����es das PcDVs e, tamb��m, com a possibilidade, ainda, de fomentar uma poss��vel reconstru����o desses conceitos, ou seja: a partir desses novos par��metros, pude munir-me e re-construir a cada dia uma nova linguagem, n��o ���de termos���, mas conceitual, no intuito de realizar com mais desenvoltura a audiodescri����o de fi lmes.
A utiliza����o do cinema como ferramenta de inclus��o social �� efi caz porque a linguagem cinematogr��fi ca possui uma carga dram��tica e c��mica essencial para atingir diferentes gostos, retrata a cultura dos pa��ses, revela sua arte e sua pol��tica e, conjugada �� fi losofi a, ajuda a pessoa com defi ci��ncia visual a refl etir, a reconstruir seus conceitos e a ampliar seus interesses. Ao debater sobre os fi lmes, as pessoas interagem, exercitam sua argumenta����o e adquirem mais seguran��a para compartilhar suas experi��ncias de um modo mais igualit��rio.
O problema da audiodescri����o simult��nea
de um fi lme ainda n��o visto
Muitas vezes, por falta de conhecimento das pessoas, n��s, audiodescritores, somos convidados para fazer a AD simult��nea de um filme repentinamente, com pouco ou nenhum prazo para preparar o roteiro, ensaiar e gravar, em um evento onde estar��o presentes pessoas com defici��ncia visual.
Temos ent��o de abstrair nossas impress��es e tentar sintetizar a descri����o de modo objetivo. Esfor��ar-nos para sermos objetivos ou tentar n��o fazer a narra����o de forma subjetiva, numa sess��o de audiodescri����o simult��nea improvisada, �� muito dif��cil, pois a subjetividade est�� intr��nseca ao estabelecimento de nossos ju��zos sobre todas as coisas.
Devemos, sim, concentrar-nos para n��o deixar escapar do verbo aquilo que nossa raz��o e nossa sensibilidade dizem-nos ao mesmo tempo.
O mais complexo �� explicar ��s pessoas com defi ci��ncia visual que, apesar de possuirmos uma vis��o efi caz, enxergamos coisas diferentes.
Um objeto pode estar diante de mim sem que eu o enxergue. Por isso, Transformando Imagens em Palavras
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quando narro pela segunda ou terceira vez um mesmo fi lme, as PcDV
dizem: "Bell, voc�� n��o falou isso da outra vez!���; respondo: ����� porque n��o vi!" e eles retrucam: "Mas voc�� �� cega?" E eu: "N��o, mas o olho n��o d�� conta de absorver todas as informa����es!���.
Por isso, deve-se tentar evitar tais sess��es improvisadas de AD, mas para isso, a sociedade precisa reconhecer o trabalho do audiodescritor. A aus��ncia de pol��ticas p��blicas de acessibilidade cultural sempre foi um entrave na vida das pessoas com defi ci��ncia no Brasil. Felizmente, em 2004, numa proposta inovadora do Minist��rio da Cultura, a Secretaria de Programas e Projetos Culturais lan��ou edital para forma����o de Pontos de Cultura com o objetivo de propagar e preservar a diversidade cultural de cada regi��o do Brasil, assim como realizar um intenso programa de inclus��o social e digital. Ocorreu um grande mapeamento das institui����es e grupos que j�� desenvolviam atividades culturais em suas regi��es. Nas palavras de C��lio Turino, secret��rio de programas e projetos culturais do MinC e idealizador do projeto Cultura Viva: o objetivo �� ���desesconder o Brasil���, acreditar no povo, potencializar o que j�� existe. (...) Ao fomentar o protagonismo das comunidades, o Ponto de Cultura d�� a sua contribui����o para o restabelecimento das energias vitais da vida. E cultura �� vida.
Espalhados por todo o Brasil, os Pontos de Cultura s��o centros de atividades culturais comunit��rios que formam artistas e desenvolvem atividades diversas e onde a cultura aparece como a����o viva, como pr��tica social, pol��tica e como direito do cidad��o. Atualmente, em 2010, contamos com 740 Pontos de Cultura, espalhados de Norte a Sul e de Leste a Oeste do Brasil, em 26 estados e no Distrito Federal, num total de 273 munic��pios.
Aproveitando essa oportunidade, desenvolvemos ent��o um projeto que contempla o cinema e a filosofia como ferramentas de inclus��o social, assim como de inclus��o digital ��� uma demanda antiga do Centro Cultural Braille. Para isso, foi necess��ria a instala����o de um laborat��rio de inform��tica com programas espec��ficos para pessoas com defici��ncia visual e foram oferecidos cursos de introdu����o �� inform��tica para todos os usu��rios. Tamb��m organizamos um espa��o com aparelho multim��dia para desenvolver as sess��es de audiodescri����o de filmes, abertas para a comunidade.
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Audiodescri����o
Acredito que algumas das bases do alicerce que sustenta um indiv��duo, com defi ci��ncia ou n��o, s��o a identidade e a autonomia intelectual, que s�� podem ser constitu��das a partir da possibilidade de comunica����o e da liberdade de se relacionar com o mundo. Um indiv��duo cuja natureza o tenha privado de um sentido e o Estado, por sua vez, n��o garanta seus direitos, n��o pode cumprir seus deveres, nem, portanto, tornar-se cidad��o. Entretanto, no percurso da cidadania devem estar garantidas a autonomia intelectual e a possibilidade da PcDV ter uma vida social digna com justas oportunidades para obter o que lhe �� de direito: relacionar-se com o mundo em sua plenitude.
O ���Cinema em Palavras��� tem sido uma refer��ncia importante para esclarecer algumas ideias equivocadas da sociedade em rela����o �� participa����o das PcDV em espet��culos audiovisuais. Durante as sess��es de cinema, palestras e aulas com audiodescri����o, percebemos que essas ideias decorrem de algo muito corriqueiro: a falta de conviv��ncia.
A primeira coisa importante a se reconhecer �� o fato de que, assim como n��s, videntes, temos um modo pr��prio de perceber e conceituar as coisas, as pessoas com defi ci��ncia visual tamb��m o t��m e, por isso, n��o se pode generalizar a respeito de suas poss��veis respostas de modo uniforme. Alguns t��m muita facilidade para apreender, outros menos, e outros, grande difi culdade.
Em segundo lugar, deve-se perceber que as pessoas com defi ci��ncia visual constroem seu conhecimento a partir dos mesmos conceitos e refer��ncias visuais daqueles que veem, mas o fazem de modo pr��prio: com suas experi��ncias, atrav��s de todos os sentidos que possuem, como o tato, o olfato, a audi����o etc. As dificuldades para a pessoa com defici��ncia visual apreender o que est�� sendo exibido n��o decorrem da falta de refer��ncias visuais, mas da maneira pela qual estas lhes foram transmitidas de modo a formar seus conceitos. �� a falta de conceitos suficientemente elaborados que pode dificultar a apreens��o dos elementos f��lmicos, assim como das ideias de um modo geral. Essa falta, ali��s, pode comprometer do mesmo modo a compreens��o de uma pessoa que enxerga.
O ���Cinema em Palavras��� �� a oportunidade de construirmos, videntes e cegos, um novo conhecimento. �� importante ressaltar o quanto a sociedade tamb��m ganha nesse relacionamento, que nos fornece novos Transformando Imagens em Palavras
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par��metros para que possamos redimensionar os valores de vida.
Todos s�� t��m a ganhar.
O fil��sofo grego Plat��o afirmou que ���um olho que queira ver-se tem que ter olho para o outro���. Parece f��cil pensar que conhecemos as coisas do mundo e sabemos quem somos, mas para conhecermos a n��s mesmos precisamos do outro que nos reflita e nos d�� a dimens��o real de quem somos. Para mim, estar diante de um cego �� estar diante de meus pr��prios limites e de uma infinitude de possibilidades e saberes: suas experi��ncias, n��o as vivi, e sobre seus saberes, ainda tenho muito a apre(e)nder.
Refer��ncias Bibliogr��fi cas
BAZIN, Andr��. O Cinema ��� Ensaios. S��o Paulo: Brasiliense, 1991.
DIDEROT, Denis (1749). Carta Sobre os Cegos ��� para uso dos que veem.
In GUINZBURG, J. Diderot: Obras I ��� Filosofi a e Pol��tica. S��o Paulo: Perspectiva, 2000.
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Audiodescri����o
A IMPORTNCIA DA AUDIODESCRI����O
NA COMUNICA����O DAS PESSOAS COM
DEFICI��NCIA
Laercio Sant'Anna*
No fi lme N��ufrago, lan��ado em 2000 nos EUA, cujo nome original �� Cast Away, Chuck Noland (personagem principal vivido por Tom Hanks), em uma de suas costumeiras viagens a neg��cio pela Federal Express (FedEx), empresa em que trabalha como inspetor, sofre um acidente, que o deixa preso em uma ilha completamente deserta por 4 anos. Com sua noiva (Helen Hunt) e seus amigos imaginando que ele morrera no acidente, Chuck precisa lutar para sobreviver, tanto f��sica quanto emocionalmente, a fi m de que um dia consiga retornar civiliza����o. Totalmente isolado, faz de um rosto por ele pintado em uma bola, seu grande amigo Wilson.
Dirigido por Robert Zemeckis, o fi lme deixa latente a import��ncia da comunica����o para os seres humanos atrav��s dos di��logos e intera����o de Chuck com a bola.
Por mais que garant��ssemos alimenta����o e conforto f��sico para uma pessoa, se a isol��ssemos do conv��vio com outros seres, em pouco tempo ela apresentaria sintomas de ansiedade. A necessidade de falar com algu��m, como �� demonstrado no fi lme, �� uma das caracter��sticas dessa ansiedade. Durante algum tempo, isso poderia ser atenuado por um mon��logo, em pensamento ou em voz alta, e mesmo pela cria����o de interlocutores imagin��rios. Mas, com o prolongamento da situa����o, a fala e o pr��prio pensamento tornar-se-iam desconexos e a pessoa perderia o autocontrole. Se a situa����o n��o fosse corrigida a tempo, haveria uma desagrega����o psicol��gica, acompanhada de descontrole org��nico. A solu����o seria muito f��cil... bastaria retir��-la do isolamento.
* Bacharel em Administra����o de Empresa, trabalha h�� 22 anos como analista de sistemas na Empresa de Tecnologia da Informa����o e Comunica����o (Prodam), onde �� respons��vel pelo site sobre Acessibilidade Digital, prestando consultoria e suporte a produtos espec��fi cos para pessoas com defi ci��ncia, acessibilidade �� Internet/Intranet da PRODAM e da Prefeitura de S��o Paulo. Participou das comiss��es da ABNT para a cria����o das normas de acessibilidade para a internet e caixas autom��ticos de bancos. Foi membro da comiss��o de unifi ca����o do braille para inform��tica nos pa��ses de l��ngua portuguesa. Participou no desenvolvimento do acesso ao Bradesco Internet Banking para pessoas com defi ci��ncia visual.
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Deste modo, podemos facilmente concluir que, t��o importante quanto alimentar-se, dormir e tomar banho �� comunicar-se. Na verdade, �� imposs��vel viver em sociedade sem se comunicar. Imagine-se em um lugar fechado, com uma pessoa desconhecida, com quem estivesse proibido de se comunicar, e com ordem de se ignorarem mutuamente...
N��o demoraria muito para concluir que seria imposs��vel ignorar a presen��a do outro. Os menores gestos passariam a ser observados atentamente. Cada qual procuraria interpretar o comportamento do outro e atribuir-lhe um sentido. N��o demoraria muito para que cada um come��asse a orientar suas atitudes em fun����o das do outro. Haveria ent��o, por mais que se desejasse evitar, comunica����o entre ambos.
Os gestos e o comportamento dos dois passariam a ser mensagens, mesmo involunt��rias, e cada um estaria convertido em receptor e emissor dessas mensagens.
Desde que nascemos, somos cercados por signos lingu��sticos que nos permitem in��meras possibilidades comunicativas. Elas come��am a se tornar reais a partir do momento em que, pela associa����o e imita����o, iniciamos o processo de formula����o de nossas mensagens (Muito rapidamente, um rec��m nascido aprende que, para receber aten����o �� preciso chorar). Sons, gestos, imagens, e tudo mais �� nossa volta faz parte da vida moderna, compondo mensagens de toda ordem, transmitidas pelos mais variados canais, como a imprensa, o tel��grafo, o telefone, o r��dio, a televis��o, o cinema, os cartazes de propaganda, os desenhos, a m��sica e tantos outros. Em todos, a linguagem tem papel fundamental, seja em sua forma oral, seja atrav��s de seu c��digo substitutivo escrito. E, atrav��s dela, o contato com o mundo que nos cerca �� permanentemente atualizado. Da��, entendermos que toda a nossa vida em sociedade sup��e um problema de comunica����o e interc��mbio que se realiza fundamentalmente por meio dela, a maneira mais comum de que dispomos para tal. Assim, a linguagem �� o suporte de uma din��mica social, que compreende, al��m das rela����es di��rias entre os membros de uma comunidade, as atividades intelectuais, que v��o desde o fl uxo informativo dos meios de comunica����o de massa, at�� suas vidas cultural, cient��fi ca e liter��ria.
Muitos estudiosos e pensadores modernos afi rmam que o per��odo que estamos vivendo �� caracterizado por mudan��as r��pidas e radicais. Essas mudan��as s��o impulsionadas pela evolu����o tecnol��gica, principalmente nas ��reas de inform��tica e comunica����es. Cada vez mais s��o usados 152
Audiodescri����o
mecanismos de intera����o em que o uso da vis��o �� imprescind��vel. N��o precisamos recuar muitas d��cadas para nos depararmos com uma realidade na qual a imagina����o era fortemente estimulada, haja vista, serem o livro, o jornal e o r��dio os principais meios de comunica����o da ��poca. Ainda �� clara em minha mente, as palavras do meu av��... ���n��s sent��vamos em volta do r��dio, e ningu��m dava um pio! Nos emocion��vamos com os gal��s das r��dio-novelas. N��o perd��amos tamb��m o Rep��rter Esso e os jogos da sele����o Brasileira. O som ia e voltava, mas fi c��vamos imaginando as jogadas e era uma emo����o. Quando chegou a televis��o, muitas coisas perderam a gra��a...���. Como bem coloca o trabalho de conclus��o de curso de Fl��via Affonso Mayer e Luiza S�� Guimar��es ( Diagn��stico de Comunica����o para a Mobiliza����o Social: promover autonomia por meio da Audiodescri����o):
Antes da fotografi a, do cinema e da televis��o, os livros e a cultura oral dos contadores de hist��rias permitiam que a imagina����o criasse as imagens. Hoje, em tempos de globaliza����o, busca-se o frisson da ���experi��ncia real���, a sensa����o de interatividade, de ser simultaneamente ator e espectador em eventos de todas as naturezas ao redor do mundo. O ��mpeto de imaginar o que nunca foi visto ou o que n��o se pode ver vem se perdendo.
Ante a este cen��rio hegem��nico, precisamos considerar a situa����o das pessoas com difi culdade de compreens��o, analfabetos, bem como idosos, que, al��m das limita����es f��sicas e sensoriais, por vezes, advindas da idade, durante toda vida, foram estimulados a ���imaginarem��� e criarem suas conex��es mentais sobre a informa����o que recebiam. Podemos considerar, ainda, situa����es em que a pr��tica de atividades profi ssionais n��o permitem o uso da vis��o, como motoristas e dom��sticas, que tinham e t��m, no r��dio, por exemplo, um companheiro insepar��vel, uma vez que, n��o precisam interagir visualmente com este canal de comunica����o, fi cando assim livres para realizar suas tarefas.
Neste sentido, a busca pela igualdade de oportunidades suscita a discuss��o sobre a diversidade, que torna latente o direito que os diferentes indiv��duos ou grupos sociais t��m de estarem inclu��do na sociedade. Tal direito imp��e o desafi o de se encontrarem mecanismos que garantam a efetividade do acesso �� informa����o e �� cultura, oferecendo produtos acess��veis ��s pessoas que, de alguma maneira, n��o possam se valer dos meios de comunica����o visual.
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Nesse contexto, nasce a audiodescri����o. Ela surge como uma tecnologia assistiva que busca suprir a lacuna deixada pela comunica����o visual, para aqueles que dela n��o conseguem tirar proveito. No atual estado da arte dos meios de comunica����o, n��o h�� d��vidas de que a aus��ncia da audiodescri����o cria uma situa����o de desconforto. In��meros s��o os momentos em que sentimos falta de um detalhamento do que est�� acontecendo. Seja na televis��o, teatro, cinema ou mesmo nas descri����es de gr��fi cos e fi guras de um livro, ou imagens de uma p��gina da internet, ela �� fundamental para a participa����o efetiva das pessoas com defi ci��ncia na intera����o com a sociedade. Uma pessoa cega que assista, sozinha, ao fi lme N��ufrago, por exemplo, sem o recurso da audiodescri����o, certamente ter�� um n��vel de compreens��o muito abaixo do m��nimo necess��rio, haja vista que a maior parte do mesmo n��o possui qualquer di��logo.
Como j�� citado, a comunica����o �� uma necessidade b��sica do ser humano.
Se considerarmos a audiodescri����o um recurso que, dada a evolu����o das tecnologias, torna-se imprescind��vel, �� imposs��vel imaginar a vida di��ria sem ela, sob pena de gerarmos, guardando as devidas propor����es com os exemplos e situa����es citadas acima, grande ansiedade, al��m do pr��prio preju��zo causado pela falta de compreens��o do que nos cerca, provocado pela sua aus��ncia. Se a tend��ncia das interfaces s��o tornarem-se cada vez mais dependentes do sentido da vis��o, t��o mais importante ser�� preocupar-se com tecnologias assistivas e recursos para suprir a lacuna deixada por estas para quem n��o tem possibilidade de usar este sentido.
At�� o s��culo XIV, as pessoas com defi ci��ncia fi cavam nos asilos para que pudessem ser protegidas, pois n��o se acreditava que pudessem se desenvolver, em fun����o da sua "anormalidade". A partir de ent��o, educadores interessados come��aram a instruir, de maneira particular, crian��as com defi ci��ncia. Inicialmente eram fi lhos de fam��lias bem sucedidas fi nanceiramente. Muito tempo se passou at�� que come��aram a surgir as primeiras institui����es especializadas. Foi na Fran��a, no ano de 1760, que foi criado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos e, em 1784, foi criado o Instituto dos Jovens Cegos. Com a cria����o desses institutos, a educa����o das pessoas com defi ci��ncia foi se desenvolvendo e, gra��as a essas iniciativas, a participa����o desse p��blico cresceu na sociedade moderna e ��, hoje, uma realidade.
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Audiodescri����o
Com o acesso ao trabalho, as pessoas com defi ci��ncia passam a poder adquirir os produtos que lhes permitem melhor qualidade de vida.
Diferentemente de uma ��poca em que dependiam do assistencialismo para sobreviver, hoje j�� possuem autonomia inclusive para intervir efetivamente no planejamento e desenvolvimento de produtos e servi��os que sejam de seu interesse. Afi nal, de assistidos, passam �� condi����o de assistentes para aqueles que desejam fazer de suas necessidades um neg��cio lucrativo.
Deste modo, como usu��rios do produto ���audiodescri����o���, formam um mercado de consumidores que compartilham uma necessidade similar: a necessidade e o direito de acesso �� informa����o.
Abraham Harold Maslow, em sua mais conhecida obra ��� A Teoria a Respeito da Hierarquia das Necessidades Humanas ���, explica e prev�� os comportamentos das pessoas em rela����o �� satisfa����o das suas necessidades.
Resumidamente, a teoria afi rma que as necessidades humanas est��o dispostas hierarquicamente, desde as necessidades b��sicas (alimenta����o, abrigo, seguran��a etc.), afetivas (aceita����o, relacionamentos), chegando ��s necessidades de realiza����o ( status, reconhecimento). Segundo Maslow, a satisfa����o das necessidades de um n��vel mais baixo conduz o indiv��duo a buscar a satisfa����o das necessidades do pr��ximo n��vel, ou seja, as necessidades e desejos criam nas pessoas um estado de desconforto que �� aliviado pela aquisi����o de produtos e servi��os que os satisfazem.
As pessoas com defi ci��ncia, por mais que, infelizmente para uma parte signifi cativa da sociedade ainda n��o seja um fato, j�� atingiram uma condi����o de desconforto ao serem privados de audiodescri����o. O salto para o pr��ximo n��vel, que �� o direito, n��o s�� social, mas tamb��m legal, de igualdade de acesso aos mais variados canais de comunica����o, �� o avan��o natural nessa ���cadeia de desejos���, e a audiodescri����o, com toda certeza, tem papel fundamental neste processo. Portanto, audiodescri����o, antes de ser vista como uma a����o de responsabilidade social, pode, nos dias de hoje, sem sombra de d��vidas, ser encarada como um neg��cio que tem um nicho de mercado bem defi nido e p��blico pronto para o consumo.
Embora no Brasil o movimento pela audiodescri����o s�� tenha conquistado visibilidade nos ��ltimos anos, datam de mais de 3 d��cadas suas primeiras iniciativas. Contudo, se considerarmos que audiodescri����o �� o relato de acontecimentos imposs��veis de serem percebidos somente pelos di��logos e sons do que est�� sendo transmitido, poder��amos dizer que, Transformando Imagens em Palavras
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muitas das transmiss��es radiof��nicas, de certo modo, j�� nos ofereciam uma forma de audiodescri����o. A narra����o de uma partida de futebol no r��dio, por exemplo, n��o deixa de ser uma audiodescri����o do que acontece dentro do campo. Contudo, seu signifi cado para os ���amantes���
do futebol, n��o aconteceu de um instante para o outro.
Somente quando o r��dio estava prestes a completar 9 anos de exist��ncia no pa��s, �� que foi realizada a primeira transmiss��o de uma partida de futebol. Narrada pelo locutor Nicolau Tuma da R��dio Educadora Paulista em 19 de julho de 1931, a partida entre as sele����es de S��o Paulo e do Paran�� no Campo da Floresta, na capital paulistana, guarda pouca semelhan��a com o formato de narra����o atualmente empregado. At�� aquele momento, as transmiss��es futebol��sticas se resumiam a boletins informativos acerca dos jogos, sendo Tuma, o primeiro profi ssional a irradiar uma partida de futebol em sua totalidade. Como este esporte ainda era insipiente no Brasil, ele aproveitava para, durante a transmiss��o, explicar as regras do jogo.
Com a evolu����o do r��dio e do pr��prio futebol no Brasil, surgiram in��meros narradores, que inovaram na maneira de audiodescrever os acontecimentos de uma partida. Surgiram ent��o, estilos e jarg��es que se consagraram, criando assim uma cultura nos ouvintes, que, al��m de adquirirem suas prefer��ncias por um ou outro profi ssional, tamb��m se acostumaram a decodifi car as mensagens transmitidas de forma a entenderem com maior exatid��o o que de fato estava se passando dentro de campo, n��o precisando mais, inclusive, que as regras do futebol fossem explicadas. Qualquer amante das transmiss��es futebol��sticas no r��dio sabe que, por exemplo, sempre que o narrador aumenta a intensidade da voz e acelera o ritmo da transmiss��o �� um perigo de gol, ou sempre que existe uma grande defesa do goleiro, o narrador aumenta o tom de voz, estendendo a frase que indica a a����o deste.
Fazendo uma an��lise fria da situa����o, n��o h�� nada que justifi que esta altera����o na voz do narrador. Bastaria que os fatos fossem descritos de maneira clara para que a informa����o fosse compreendida por todos.
No entanto, os jarg��es e o estilo, al��m de estimularem a imagina����o do ouvinte, d��o subs��dios para que o narrador consiga agregar elementos que lhe permitam uma quantidade maior de informa����o em um tempo menor. �� importante refor��ar que esses jarg��es s�� fazem sentido porque tanto o receptor quanto o emissor conhecem perfeitamente o c��digo.
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Audiodescri����o
A�� est��, certamente, o maior desafi o da audiodescri����o. Devido ao pouco est��mulo oferecido aos produtos audiovisuais gra��as �� falta de acessibilidade, as pessoas com defi ci��ncia, em sua grande maioria, n��o desenvolveram uma cultura para o teatro, cinema ou televis��o. Despert��-
las para estes ���novos canais de comunica����o��� �� preponderante para torn��-las consumidoras de produtos audiodescritos. A audiodescri����o, al��m de promover a acessibilidade, tem um papel educativo expressivo, na medida em que possibilita aos seus consumidores, em particular ��s pessoas com defi ci��ncia visual, o acesso �� linguagem cinematogr��fi ca, teatral, dentre outras. Por outro lado, encontrar a melhor maneira de se audiodescrever um evento, seja ele um fi lme, um espet��culo de dan��a, m��sica ou pe��a teatral tem sido um grande desafi o para audiodescritores e pessoas que necessitam deste servi��o. Dilemas como: encontrar a melhor maneira de descrever um fato, em que momento, com mais ou menos interpreta����o, ser ou n��o sucinto, quando sobrepor uma fala ou m��sica, s��o quest��es ainda bastante discutidas. Se de um lado temos os roteiristas com um tempo limitado para encontrar os melhores termos para descrever, por exemplo, uma cena, de outro, temos as pessoas usu��rias desse servi��o que, com suas individualidades, difi cultam o trabalho, uma vez que possuem prefer��ncias e culturas diferentes.
Enquanto uns s��o mais curiosos, preferindo o m��ximo de detalhes poss��veis, outros adotam uma postura mais objetiva, dando prefer��ncia a uma audiodescri����o mais sucinta.
Embora para a cria����o de um roteiro e locu����o de um produto audiodescrito seja necess��rio um conjunto de regras a serem seguidas em ��mbito geral, n��o h�� d��vidas de que cada meio art��stico tem suas especificidades. Definir tais regras, mais do que um profundo estudo que j�� est�� sendo realizado pelos envolvidos na causa, ter�� papel fundamental para o desenvolvimento de uma cultura de consumo do produto audiodescri����o. Guardando as devidas propor����es e especificidades, �� preciso que, assim como nas narra����es futebol��sticas do r��dio, emissores e receptores decodifiquem as mensagens de maneira clara. Para isso �� imprescind��vel que, cada vez mais, sejam oferecidos eventos com audiodescri����o. �� fundamental tamb��m, a cria����o de mecanismos que garantam uma evolu����o harmoniosa entre os mais diversos segmentos da audiodescri����o, para que o movimento ganhe for��a e coes��o, tratando o assunto de maneira ampla, ficando somente as especificidades de cada segmento como algo a ser tratado particularmente.
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Infelizmente, esse servi��o no Brasil ainda �� privil��gio de poucos. Somente nos grandes centros �� poss��vel encontrar eventos audiodescritos, bem como, ainda �� irris��ria a quantidade de produtos dispon��veis no mercado nacional com este recurso. Enquanto a audiodescri����o n��o estiver presente nos principais meios de comunica����o de massa, como novelas, filmes, dentre outros, ser�� muito dif��cil encontrar respostas aos tantos questionamentos formulados nos ��ltimos anos, e que s��o imprescind��veis para o seu desenvolvimento, tanto em n��vel t��cnico quanto pr��tico. Somente com a populariza����o desta tecnologia assistiva �� que ser�� poss��vel formar uma massa cr��tica que reflita mais claramente as expectativas de todos aqueles que desejam que a audiodescri����o realmente cumpra seu papel de informar e incluir a todos que dela necessitam.
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Audiodescri����o
"OLHARES CEGOS���: A AUDIODESCRI����O
E A FORMA����O DE PESSOAS COM
DEFICI��NCIA VISUAL
Iracema Vilaronga*
Este trabalho prop��e-se a discutir sobre as possibilidades de ���olhar���, tomando a audiodescri����o como recurso de acessibilidade que torna poss��vel a compreens��o das informa����es compreendidas visualmente, por��m n��o aud��veis em produtos audiovisuais, por meio da descri����o de detalhes relevantes das imagens. A refl ex��o busca apresentar alguns aspectos que problematizam sobre a dimens��o formativa de produtos audiovisuais para as pessoas com defi ci��ncia visual, no ��mbito de uma pesquisa que vem sendo realizada com o fi m de analisar aspectos de recep����o, compreens��o e interpreta����o de produtos audiodescritos por indiv��duos com defi ci��ncia visual, al��m de identifi car suas contribui����es para o processo de forma����o destes.
No mundo contempor��neo, uma infi nidade de temas e problem��ticas que remetem aos campos da est��tica e da comunica����o atravessam intensamente a educa����o. As dimens��es est��ticas e comunicativas tornam-se grandes refer��ncias no processo de forma����o humana e constru����o do mundo, dos modos de existir, conviver e conhecer.
Estamos imersos numa cultura imag��tica, plena de complexidades visuais. O mundo fascinante da imagem atrai a todos com seu dinamismo. O que se afi rma �� que a vis��o �� o mais importante dos sentidos. Perdem-se, assim, oportunidades de vivenciar experi��ncias est��ticas, proporcionadas pela utiliza����o dos demais sentidos ao mesmo tempo, ou seja, outras possibilidades de ���olhar���.
* Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - (2002), especializada em Educa����o Especial na Perspectiva da Educa����o Inclusiva pela UNEB (2007) e mestranda em Educa����o e Contemporaneidade pela mesma Universidade, desenvolvendo pesquisa sobre audiodescri����o. �� professora da Rede Municipal de Salvador e Consultora na ��rea de Educa����o Inclusiva e acessibilidade. �� membro da Comiss��o de Elabora����o das Pol��ticas de Inclus��o e Acessibilidade da UNEB. Tem experi��ncia com projetos comunit��rios para inclus��o social de pessoas com defi ci��ncia visual. H�� dezessete anos, desenvolve projetos educativos no Instituto de Cegos da Bahia, com crian��as, jovens e adultos.
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Observa-se, hoje, uma super valoriza����o do sentido da vis��o, como se fosse a ��nica forma de perceber e/ou ler o mundo ao nosso entorno. A cultura visuoc��ntrica impregna o homem de tal forma, que o faz esquecer que temos cinco sentidos, al��m da intui����o. No entanto, sabemos que a arte de ���olhar���, n��o est�� restrita a esse ��nico sentido. Aprender a perceber, ver, olhar o mundo a nossa volta com todos os sentidos, deve ser uma das preocupa����es das atuais tend��ncias educativas. Quando privilegiamos o desenvolvimento, apenas, do sentido da vis��o, al��m de nos privarmos de uma forma mais plena de ���olhar���, deixamos �� parte, tamb��m, uma grande parcela da popula����o desprovida do sentido fi siol��gico e sensorial da vis��o. Como afi rma Fantin (2008, p. 45): No entanto, olhar o mundo n��o envolve s�� a vis��o, pois o olhar �� fruto de uma individualidade que �� parte de uma hist��ria pessoal e ��nica vivida em determinada sociedade, com determinada cultura, numa determinada ��poca, vinculada a determinado momento espec��fi co de vida, que constroem um jeito pr��prio de ver. Esse repert��rio individual envolve, al��m dos conhecimentos espec��fi cos, os valores est��ticos, fi los��fi cos, ��ticos e pol��ticos, assim como a ideologia do indiv��duo, do grupo ou da classe social �� qual pertence. E nesse processo de educa����o do olhar, aprendemos a olhar o mundo, a natureza, o trabalho e a arte com o olhar do outro, pela media����o de outros jeitos de olhar. Esses olhares podem ser desinteressados, interpretativos ou criativos.
Os autores de produtos audiovisuais, enquanto arte visuoc��ntrica, ainda n��o se deram conta de que pessoas com limita����es visuais tamb��m gostam, vivenciam e precisam de tais experi��ncias. Grande parte desse p��blico fi ca privada do lazer e da express��o cultural atrav��s de tais produtos, por estar, socialmente vinculado �� experi��ncia est��tica o sentido da vis��o. Pensemos, aqui, o ser humano como indiv��duo dotado de peculiaridades, diversidades e semelhan��as. Assim como as demais, a pessoa com defi ci��ncia visual tamb��m precisa vivenciar tudo quanto deseje e que seja importante e necess��rio para o seu pleno desenvolvimento como ser humano.
Todo indiv��duo tem direito ao lazer, seja como criador ou expectador, direito a se deixar envolver por sentimentos e emo����es que lhe s��o proporcionados. Tem, sobretudo, direito ��s atividades de cultura e lazer de sua pr��pria escolha, n��o importando sua idade, sexo, n��vel de educa����o ou condi����o f��sica e social.
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Audiodescri����o
As atividades de lazer seduzem a todo e qualquer ser humano. Todos desejamos desfrutar de uma vida repleta de atividades s��cio-culturais.
Desejamos nos sentir envolvidos em atividades de lazer e cultura. Ali��s, mais que um desejo, �� uma necessidade do ser humano.
A arte cinematogr��fi ca, assim como o teatro e outros produtos audiovisuais, contribuem, direta e signifi cativamente, para a forma����o de indiv��duos. O h��bito de frequentar teatro, salas de cinema ou simplesmente assistir a fi lmes pode despertar nas pessoas o pensar em si, no outro e no mundo. Frequentar espet��culos de qualquer g��nero �� uma pr��tica social t��o importante, do ponto de vista da forma����o educacional e cultural das pessoas, quanto a leitura de obras liter��rias, fi los��fi cas, sociol��gicas e tantas mais.
O texto audiovisual �� produto de confi gura����es signifi cantes e signifi cativas, constru��das a partir da hist��ria e experi��ncia de vida de cada indiv��duo, em linguagem audiovisual, pela articula����o e intera����o de diferentes elementos: imagem em movimento, som musical, ru��dos (sonoplastia), sons da fala, e escrita. Isso faz de um fi lme, por exemplo, o resultado de um conjunto de signifi ca����es que podem ser interpretadas e compreendidas de diversas maneiras.
O cinema �� um instrumento precioso e poderoso, por exemplo, para ensinar o respeito aos valores, cren��as e vis��es de mundo que orientam as pr��ticas dos diferentes grupos sociais que integram as sociedades. Ir ao cinema, gostar de determinadas cinematografi as, desenvolver os recursos necess��rios para apreciar os mais diferentes tipos de fi lmes, longe de ser apenas uma escolha de car��ter exclusivamente pessoal, cons��titui uma pr��tica social importante que atua na forma����o geral dessas pessoas. Em sociedades audiovisuais como a nossa, o dom��nio dessa linguagem �� um requisito para o bom tr��nsito pelas mais diferentes ��reas do conhecimento (DUARTE, 2002, p. 21).
Constitui-se, portanto, uma das chaves do desenvolvimento humano e social, o acesso �� cultura e ao lazer, �� informa����o e ao conhecimento, de forma, ao mesmo tempo, diferente e igualit��ria. Diferente, porque �� preciso assegurar a acessibilidade a todo e qualquer indiv��duo, considerando suas poss��veis formas de percep����o e leitura de mundo; igualit��ria, porque todos devem ter acesso �� cultura em igualdade de condi����es.
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Mais do que a quest��o de uma identidade cultural, �� preciso considerar a exist��ncia de m��ltiplas identidades. No mundo contempor��neo, �� fundamental considerar que existe a necessidade de termos algumas igualdades ��� e s��o essencialmente igualdades nas dimens��es social e humanit��ria, porque vivemos um mundo de profundas desigualdades sociais ���, mas, ao mesmo tempo sentimos um movimento muito forte no fortalecimento da diferen��a. A diferen��a �� o elemento mais fundamental do mundo contempor��neo, porque �� ela que move a sociedade do ponto de vista do respeito �� diversidade. Esse �� o ponto fundamental. Ent��o, mais do que buscarmos apenas uma identidade, precisamos corroborar as singularidades, fortalecendo a diferen��a (PRETO, 2008, p.37).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografi a e Estat��stica (IBGE), o Censo 2000 contabilizou 148 mil cegos no Brasil, 57 mil apenas no Nordeste. A Bahia, com 15,4 mil pessoas, �� o segundo estado brasileiro com maior n��mero de pessoas com defi ci��ncia visual. Perde apenas para S��o Paulo, onde vivem 23,9 mil cegos. O detalhe �� que mais de 16 milh��es de pessoas declararam ter algum tipo de difi culdade para enxergar. Destes, estima-se que 2 milh��es tenham baixa vis��o.
O acesso a produtos audiovisuais tem sido, pois, negado a essa signifi cativa parcela da popula����o, constitu��da por pessoas com alguma difi culdade ou defi ci��ncia visual, por n��o oferecer acessibilidade plena, coerente com as propostas de inclus��o social. A cidade de Salvador vem promovendo pesquisas e a����es que possibilitam a intera����o desse p��blico com produtos audiovisuais. Outras capitais brasileiras, como S��o Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Bras��lia, Belo Horizonte tamb��m promovem pesquisas e a����es relativas �� acessibilidade atrav��s da audiodescri����o. Vale ressaltar que essas atividades partem de a����es isoladas.
Segundo Casado (2007), a audiodescri����o consiste em um coment��rio condensado que se tece ao redor da banda sonora de um meio audiovisual e que explora as pausas nos di��logos para explicar o que acontece nas cenas, descrever lugares e personagens, linguagem corporal e express��es faciais com a fi nalidade de aumentar a compreens��o do texto audiovisual por parte do cego.
A inobserv��ncia dos princ��pios de acessibilidade postos no decreto n��.
5.296/2004 e na portaria n��. 310/2006 pelos meios de comunica����o 162
Audiodescri����o
e pela ind��stria cultural e de produtos audiovisuais tem sido um obst��culo �� informa����o, ocasionando situa����es de exclus��o ��s pessoas com defici��ncia visual, que ficam impossibilitadas de interagir com os produtos do lazer, da cultura e da publicidade. At�� o momento, ainda n��o h�� um programa de pol��ticas p��blicas que garanta o direito ao acesso desses indiv��duos. Como j�� foi dito, apenas h�� a����es isoladas das referidas capitais. E s��o justamente essas a����es, que t��m feito uma grande diferen��a na difus��o do recurso de acessibilidade e de forma����o de h��bitos de frequentar espet��culos e salas de cinema, al��m de educar para a diversidade.
Na Bahia, a pesquisa e a implementa����o da audiodescri����o v��m sendo realizadas, desde 2004, pela Prof��. Dr��. Eliana Paes Cardoso Franco do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A professora coordena o grupo de pesquisa Tradu����o, M��dia e Audiodescri����o (TRAMAD), primeiro no pa��s a se dedicar ao estudo sistem��tico e �� implementa����o da acessibilidade audiovisual por meio da audiodescri����o39. O grupo j�� produziu alguns roteiros de audiodescri����o para curtas e longas-metragens, al��m de participar de eventos, festivais, elaborar e ministrar cursos de audiodescri����o, desenvolver pesquisas e a����es relativas �� acessibilidade audiovisual atrav��s da audiodescri����o.
Em 2007, o grupo participou da segunda edi����o da Mostra Cinema de Sentidos, que tem foco no p��blico com defi ci��ncia visual. A primeira sess��o desse projeto foi realizada em 2006, pela produtora Clube Sil��ncio. A mostra foi realizada em parceria com o TRAMAD e tr��s novos fi lmes com audiodescri����o foram apresentados. S��o eles: Domic��lio, de Nelson Diniz (Brasil RS), Sketches, de Fabiano de Souza (Brasil - RS), P��nalti, de Adler Kibe Paz (Brasil - BA).
Em 2007, participou e exibiu fi lmes com audiodescri����o na Feira Mostra Filmes Universidade Estadual de Feira de Santana, constituindo mais uma a����o de promo����o e difus��o da acessibilidade.
Em maio de 2008, o TRAMAD, juntamente com sua ramifi ca����o TRAMADAN (Tradu����o, M��dia, Audiodescri����o e Dan��a), audiodescreveu e narrou o espet��culo de dan��a Os Tr��s Aud��veis, um passo in��dito e 39 Cf. FRANCO (2006; 2007).
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audacioso em dire����o �� efetiva inclus��o do p��blico com defi ci��ncia visual na vida social e cultural da cidade. O trabalho de audiodescri����o do espet��culo de dan��a Os Tr��s Aud��veis foi uma iniciativa pioneira do TRAMADAN que uniu o Instituto de Letras e a Escola de Dan��a da UFBa, sob a coordena����o das Profas. Eliana Franco (Instituto de Letras) e Faf�� Daltro (Escola de Dan��a/Grupo X).
Em agosto de 2008, o TRAMAD audiodescreveu o fi lme O Signo da Cidade, de Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli, exibido em v��rias cidades como S��o Paulo, Fortaleza e Salvador, fazendo com que o p��blico com defi ci��ncia visual tivesse a possibilidade de conferir de perto um fi lme audiodescrito, desfrutando, assim, de uma forma de lazer e divers��o.
Em setembro de 2008, realizou o curso de audiodescri����o, pioneiro na UFBA, o que contribuiu para a implementa����o da acessibilidade na TV brasileira, dando cumprimento �� norma de acessibilidade, portaria 466, de 30 de julho de 2008, do Minist��rio das Comunica����es, que determinou a implementa����o de duas horas di��rias de audiodescri����o na televis��o aberta brasileira a partir de 30 de outubro daquele mesmo ano. Sob a coordena����o da Profa. Dra. Eliana Franco, o Curso de Introdu����o �� Forma����o de Audiodescritores visou a fornecer conhecimento b��sico sobre esse modo de tradu����o intersemi��tica ou recurso de tecnologia assistiva.
Em outubro de 2008, produziu, fi
nalizou e revisou roteiros de
audiodescri����o, de 4 longas-metragens para DublaVideo de S��o Paulo: Shark Tale (O Espanta Tubar��es), Paycheck (O Pagamento), Alex Rider (Alex Rider Contra o Tempo) e Spy Kids 3-D (Pequenos Espi��es 3-D), exibidos pela Rede Globo de televis��o. Tamb��m audiodescreveu o Filme Blindness (Ensaio Sobre a Cegueira), de Fernando Meireles, dispon��vel em locadoras j�� com o recurso da audiodescri����o.
Em junho de 2009, audiodescreveu, ao vivo, as pe��as Ningu��m Mais Vai Ser Bonzinho e Jeremias, o Profeta da Chuva, realizadas em Salvador/BA, oportunizando, assim, que pessoas com defi ci��ncia visual desfrutassem mais uma op����o de lazer e cultura, o que contribui, de fato, com a efetiva����o da inclus��o social.
Para que o recurso da audiodescri����o torne os produtos audiovisuais atividades aut��nomas e prazerosas, �� necess��rio que tanto os indiv��duos 164
Audiodescri����o
visualmente limitados, os movimentos sociais, as comunidades acad��micas, os profi ssionais da ��rea abracem a causa, levantem a bandeira da acessibilidade e passem a reivindicar e a fazer valer os direitos legalmente constitu��dos. Sem engajamento, envolvimento e participa����o dos principais interessados, bem como vontade pol��tica, a acessibilidade por meio de tais produtos poder�� n��o ser uma realidade em nosso pa��s, deixando t��o signifi cativa parcela da popula����o sem acesso a um consider��vel ve��culo de forma����o.
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Audiodescri����o
A PESSOA COM DEFICI��NCIA VISUAL E A AUDIODESCRI����O ��� RELATO PESSOAL
DE UMA TRAJET��RIA DE LUTA POR INCLUS��O
Naziberto Lopes de Oliveira*
Gostaria de relatar aqui quatro momentos, cronologicamente ordenados, da minha hist��ria pessoal e profi ssional, que foram acontecendo simultaneamente �� evolu����o da audiodescri����o no Brasil. Ser��o os momentos de intersec����o de meu caminho com a evolu����o da audiodescri����o e que v��o desde uma iniciativa incipiente na Universidade, na qual lancei intuitivamente a id��ia desse recurso de acessibilidade, �� discuss��o em n��vel governamental com o objetivo de uma melhor estrutura����o do perfi l profi ssional especializado para o audiodescritor. No entanto, preciso, antes, fazer um resgate de meu percurso dentro da defi ci��ncia visual ��� cegueira adquirida aos 24 anos de idade ��� desde quando ela se apresentou, quais as primeiras difi culdades e inquieta����es, at�� a volta ao conv��vio social, abandonado durante o processo de recupera����o.
N��o nasci cego, mas ap��s um acidente automobil��stico ao fi nal de 1988, sofri descolamento total da retina do olho esquerdo e parcial da retina do olho direito. Mesmo ap��s in��meras cirurgias, a partir de 1996 passei a n��o enxergar mais. Esse per��odo de oito anos foi conturbado: o famoso mergulho interno buscando respostas, conforma����o e sobreviv��ncia.
A dif��cil aceita����o da defi ci��ncia, a tentativa de dar a volta por cima, obviamente permeada pela vontade de desistir de tudo e assim por diante. Enfi m, rea����es humanas comuns para uma pessoa que vive em um mundo no qual nada foi pensado para aqueles que apresentem uma condi����o diferente da ���normalidade���, da ���homogeneidade���. Da�� por diante, a pergunta que n��o quer calar �� sempre a mesma: ���E agora, o que fazer?���.
* Naziberto Lopes de Oliveira �� psic��logo cl��nico graduado pela Universidade S��o Marcos, p��s-graduado em psicoterapia winicotiana e psicoterapia breve pelo IPPESP, Instituto Paulista de Psicologia, Estudos Sociais e Pesquisas, Consultor T��cnico na Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia de S��o Paulo, Coordenador do MOLLA ��� Movimento pelo Livro e Leitura Acess��veis ��� no Brasil e idealizador do site www.livroacessivel.org.
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Continuar vivendo foi a resposta. Vivendo agora em um mundo inapropriado para aquela condi����o que havia adquirido, buscando cotidianamente superar limites, superar algumas barreiras, contornar outras com difi culdade, parar diante de muitas. Continuar vivendo e iniciar um dif��cil aprendizado para a elabora����o de algumas perdas irrevers��veis, mas, ao mesmo tempo, a constata����o do nascimento de uma indigna����o necess��ria diante de outras perdas que n��o precisariam ter ocorrido, e que poderiam ser revertidas caso a sociedade fi zesse a sua parte, como eu passei a fazer a minha. Afi nal, acredito que a inclus��o �� uma via de m��o dupla: a pessoa com defi ci��ncia d�� um passo em dire����o �� sociedade e a sociedade d�� um passo em dire����o �� pessoa com defi ci��ncia.
1�� Momento: a audiodescri����o
e a inclus��o na universidade
Em 2002, ingressei no curso de Psicologia da Universidade S��o Marcos, em S��o Paulo, onde mais tarde aconteceria o primeiro contato com o recurso da audiodescri����o. Desde o in��cio das aulas comecei a perceber que o mundo que encontrava a minha volta era totalmente diferente daquele que eu havia deixado em 1988. O mundo agora era inacess��vel, incompreens��vel para minha nova condi����o de pessoa cega. Como exemplo desta minha constata����o, cito a quest��o da leitura, uma das minhas paix��es. Eu sabia que, na Universidade S��o Marcos, existia uma biblioteca com aproximadamente 150 mil exemplares �� disposi����o de todos os alunos, menos para mim, que precisava de livros em um formato mais acess��vel, por exemplo, o formato texto digital.
No entanto, isso era apenas mais uma das facetas desse novo mundo in��spito, inacess��vel e inintelig��vel ao qual fui lan��ado naquele momento.
Como desfrutar do prazer de assistir a bons fi lmes, tanto em homevideo quanto nos cinemas? Confesso que, enquanto enxergava normalmente, n��o ia ao teatro com muita frequ��ncia, costumava eventualmente acompanhar uma pe��a ou outra. Por��m, ap��s o advento da cegueira, gostando ou n��o de atividades culturais, tais como leitura, televis��o, cinema, teatro, homevideo, a partir daquele momento eu estava exclu��do de todas elas, leitura, televis��o, cinema, teatro, home v��deo. Enfi m, qualquer uma passou a ser, para mim, inacess��vel de uma hora para outra.
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Audiodescri����o
Antes de ingressar na Universidade S��o Marcos, percebia-me bastante conformado com a exclus��o e inacessibilidade. Nunca havia refl etido de modo a imaginar que a situa����o n��o deveria ser daquele jeito; minha compreens��o era a de que eu fi cara defeituoso e isso me explicava, de maneira cabal, a falta de capacidade para interagir com aqueles produtos e servi��os. A resposta era ��bvia: eu estava errado e a sociedade, n��o.
Portanto, eu estava fora e tinha que me conformar com aquele fato.
Assim, minha revolta n��o era com o mundo externo e, sim, comigo mesmo: eu tinha fraquejado, me tornado uma pessoa incapaz.
Ocorre que esse per��odo de letargia intelectual passou quando se iniciou o primeiro dia de aula. Justifi co ���letargia intelectual���, uma vez que sempre fui uma pessoa bastante cr��tica e obstinada pelo que queria na vida, virtudes essas que haviam permanecido em uma esp��cie de lat��ncia durante o tempo necess��rio para a recupera����o daquele estado depressivo no qual a defi ci��ncia havia me jogado.
A partir daquele momento, come��aram minhas cobran��as por melhores condi����es de acessibilidade a tudo que era oferecido aos alunos
���normais��� e que n��o era pensado para um aluno com outra condi����o humana. Passei a questionar a inexist��ncia de livros na biblioteca, a falta de preparo dos professores e coordenadores para a diversidade dos alunos, as condi����es arquitet��nicas desfavor��veis dos pr��dios, a inacessibilidade de laborat��rios, entre outros recintos dos campi.
Convidei outros estudantes com defi
ci��ncia da Universidade e,
juntos, articulamos, a partir de ent��o, a montagem de um grupo a fi m de fortalecermos nossas reivindica����es comuns, dando origem ao CONSCEG, Conselho de Alunos Cegos e Amigos. Esse grupo teve papel fundamental na transforma����o da Universidade S��o Marcos, a partir de 2004, em uma das institui����es superiores de ensino mais acess��veis de S��o Paulo, pois se constituiu em um grupo organizado e reconhecido como parceiro pela Universidade para as discuss��es sobre os problemas que afetavam a inser����o dos alunos com defi ci��ncia.
Um dos resultados mais importantes da a����o do CONSCEG foi a produ����o de um livreto nomeado Guia Legal ��� dicas e truques para professores.
Tratava-se de um livreto com informa����es sobre como minimizar os estranhamentos entre professores e alunos com defi ci��ncia visual.
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Esclarecia as limita����es e as possibilidades m��tuas, informava sobre as tecnologias, a respeito de equipamentos e ajudas t��cnicas dispon��veis para potencializar a funcionalidade desses alunos, tudo escrito de maneira muito simples, clara e objetiva.
Naquela ��poca, n��o t��nhamos no����o do conceito de audiodescri����o, nem ao menos sab��amos que essa t��cnica j�� era uma pr��tica aplicada em outros lugares do mundo como uma ferramenta efetiva para inclus��o e acessibilidade de pessoas com defi ci��ncia visual a determinados conte��dos audiovisuais. No entanto, preocupava-nos sobremaneira a exclus��o nos momentos de exibi����o de fi lmes ilustrativos durante as aulas, fosse por parte de professores ou dos outros colegas de sala nos momentos de apresenta����o de seus trabalhos.
Com o objetivo de enfrentar essa situa����o, recomendamos que cada professor se encarregasse de promover a acessibilidade ao aluno com defi ci��ncia visual nos momentos de exibi����o de algum material audiovisual. Para isso ele deveria sentar-se ao lado do aluno e se oferecer para narrar, em voz baixa, as cenas, descrevendo o contexto, as imagens, tentando dar uma no����o global para um melhor entendimento do enredo. Apresento, a seguir, um pequeno trecho do Guia, no qual introduzimos alguns princ��pios da audiodescri����o, mesmo sem saber que est��vamos fazendo isso:
(...) - A substitui����o do videocassete por aparelho DVD �� recomend��vel, pois facilita sua utiliza����o na op����o de dublagem em portugu��s.
- Pode ser que o aluno dv j�� esteja bem adaptado aos colegas e estes prontamente se ofere��am para a descri����o do fi lme. Isto j�� resolve a situa����o. Um procedimento correto por parte do professor �� oferecer para o aluno a sua contribui����o, fazendo uma narra����o sucinta do fi lme, do que est�� acontecendo; um contexto geral da obra, os pontos de maior interesse, sem a necessidade de traduzir todas as falas. Esta descri����o pode ser feita em tom baixo, no fundo da sala de aula, para que n��o atrapalhe o restante da turma.. (...) Foi gratifi cante saber da pr��pria Professora L��via Maria Villela de Mello Motta, um dos maiores expoentes da audiodescri����o no Brasil, que sua entrada nesse universo teve, de alguma maneira, a infl u��ncia do 170
Audiodescri����o
CONSCEG. Disse-nos ela que uma de suas alunas do curso de ingl��s na Laramara, Jucilene Braga, pediu-lhe para assistir, com ela, a um filme necess��rio para a elabora����o de um trabalho na faculdade, apontando para as dificuldades que enfrentava para realizar tal tarefa sem a ajuda de colegas ou outras pessoas, e alertando para a necessidade que tinha de saber o que estava se passando na tela no momento da exibi����o de filmes ou trabalhos dos colegas. A Jucilene foi uma das fundadoras do CONSCEG, uma participante ativa, que nos ajudava a disseminar as id��ias do grupo em qualquer lugar que estivessemos presentes, sempre procurando explicitar essas necessidades diferenciadas de inclus��o e acessibilidade, oferecendo subs��dios para que tudo acontecesse de maneira efetiva.
2�� Momento: a audiodescri����o na televis��o:
cobrando com bom humor
Em 2005, estreou a novela Am��rica, escrita por Gloria Perez e exibida em hor��rio nobre pela Rede Globo de Televis��o. A obra abordava a defi ci��ncia visual em um de seus n��cleos tem��ticos, com os atores Marcos Frota e Bruna Marchesini, interpretando respectivamente, os personagens cegos Jatob�� e Flor. Para subsidiar a escritora sobre a realidade das pessoas com essa defi ci��ncia, sua pesquisadora, Giovana Manfredini, tentava contato com pessoas cegas atr��s de informa����es sobre o seu cotidiano.
Como as coisas na Internet voam, logo chegou aos meus ouvidos que existia uma pesquisadora em busca de informa����es sobre o universo das pessoas com defi ci��ncia visual. Assim, n��o tardei a tentar contato com ela, na verdade com o objetivo primordial de mostrar �� autora da novela as difi culdades de acesso aos livros e a toda forma de leitura impressa pelas pessoas com defi ci��ncia. Tinha esperan��a de que uma vitrine em hor��rio nobre divulgasse de forma maci��a aquela exclus��o vergonhosa e aviltante, mobilizando o debate nacional em torno da quest��o.
Qual n��o foi minha surpresa quando recebi o convite da Giovana para participar de um f��rum virtual na Internet criado por ela mesma ���
defi cientesvisuaisinamerica@yahoogrupos.com.br ��� que iria discutir a Transformando Imagens em Palavras
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forma de abordar a defi ci��ncia visual na novela. Conforme os debates aconteciam no f��rum, as pol��micas surgiam , a id��ia da audiodescri����o foi levantada de maneira mais concreta e come��ou a tomar corpo.
N��o era poss��vel admitir uma novela que abordasse a tem��tica da defi ci��ncia visual sem levar em conta seus telespectadores com defi ci��ncia visual. Por isso solicit��vamos que a autora introduzisse o recurso da audiodescri����o nas cenas da novela. No entanto, jamais conseguimos que, ao menos, um cap��tulo tivesse sido gravado com audiodescri����o. Mesmo com todos os apelos e reivindica����es, paradoxalmente, a Rede Globo n��o promoveu a acessibilidade para cegos em uma novela que justamente abordava a tem��tica da cegueira.
Todavia, durante o tempo em que a novela e o f��rum fi caram no ar, sugeri aos outros participantes do CONSCEG, que mostr��ssemos �� emissora quais os efeitos danosos que uma cena sem audiodescri����o poderia causar na imagina����o de algu��m que n��o est�� enxergando a tela.
Convidei a todos para que escrevessem aquilo que haviam imaginado da cena na novela. Dei o nome de No mundo da imagina����o para essa proposta e partimos para a a����o.
O resultado n��o poderia ter sido mais grotesco e, ao mesmo tempo, divertido. Dediquei-me, realmente, a assistir alguns cap��tulos com um gravador �� m��o e sempre que se exibia uma cena na qual n��o existiam di��logos, apenas m��sica ou sons irreconhec��veis, eu anotava e depois tentava imaginar o que havia acontecido naquele ponto. E como eu dizia ao grupo da Internet, tentava preencher as lacunas com a minha imagina����o f��rtil. Dessa maneira, foi surgindo um verdadeiro besteirol virtual que acabou fazendo sucesso entre os internautas participantes do f��rum, e a coisa extrapolou os limites do grupo. A Rede SACI
publicava cada cap��tulo lan��ado e a novelinha paralela No mundo
da imagina����o foi tomando propor����es que n��o me permitiam mais parar, pois diversas pessoas mandavam mensagens perguntando quando sairia o cap��tulo seguinte.
Apresento, abaixo, uma das cenas imaginadas, que vai perder um pouco a gra��a pelo fato de fi car descolada da cena real da novela, mas j�� d�� para se perceber por onde foi que trafeguei nessa ir��nica e bem humorada forma de protesto e reivindica����o pela audiodescri����o na televis��o.
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Audiodescri����o
Lembrando que eu inclu��a, tamb��m, a imagina����o dos comerciais exibidos nos intervalos da novela:
Novela Am��rica - cap��tulo
do dia 21 de junho de 2005
Cena 1:
Era a m��e da Flor, a Islene, e o namorado, o Feitosa, ele diz que v��o visitar um jardim sensorial.
Come��a a tocar uma m��sica de vel��rio.
Lacuna
A Flor d�� um gritinho de dor.
Lacuna.
Falam pra Flor a respeito de peixes.
Lacuna.
Continuam tocando m��sica de vel��rio e d��-lhe mais m��sica de vel��rio.
Preenchendo as lacunas
Agora retirando a m��sica melosa e choronomica, vamos ver se consigo adivinhar. Posso imaginar que a Flor estivesse passando a m��ozinha sobre as diversas plantas que estavam por ali. Mas como tinha aquela m��sica de vel��rio, acredito que deveria ter algum defunto sendo velado por l�� tamb��m, e por isso, a Flor d�� aquele gritinho de susto, porque passou a m��ozinha por sobre a cara gelada do presunto.
Como o vel��rio prosseguia, eles sa��ram de l�� e foram para um mercado de peixe onde o Feitosa comprou um quilo de sardinha para comerem depois do passeio... fritas a milanesa com lim��o!
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Hummmmmmmmm. Fiquei at�� com vontade de comer umas iscas de peixe na praia grande! (praia grande!) Puts! Coisa de pobre mesmo!!
Tenho certeza que se fosse a Dona Giovanna ela iria comer camar��o em Copacabana! Isso sim �� ser gente fi na!! E a cena acaba! Ufa!
Gio! Pede pra Gl��ria botar audiodescri����o na novela do Jatob��!
Um dos lados interessantes dessas novelinhas �� que elas fi zeram sucesso tamb��m em Bras��lia, dentro do Minist��rio das Comunica����es, onde uma amiga, Denise Granja, na ��poca Assessora Jur��dica do Minist��rio e atualmente Presidente do CONADE, Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Portadoras de Defi ci��ncia, recebia e redistribu��a os cap��tulos aos colegas do Minist��rio. Certa vez me confi denciou que, recebendo em audi��ncia os dirigentes da Rede Globo de Televis��o, procurou demonstrar-lhes a import��ncia da audiodescri����o. Tendo esgotado sua capacidade para explicar e percebendo que ainda estava dif��cil para o grupo compreender a fi nalidade do recurso, chamou-os at�� a sua sala e mostrou-lhes alguns cap��tulos da novelinha. Segundo ela, o resultado foi uma sucess��o de gargalhadas e, por fi m, a constata����o do grupo: se era daquele jeito que as pessoas com defi ci��ncia visual entendiam as coisas, ent��o estava bem complicado e algo deveria ser feito.
3�� Momento: A audiodescri����o e o
apoio do Governo do Estado de S��o Paulo
Em Mar��o de 2008, foi criada a Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia, dentro do Governo de S��o Paulo, mostrando novamente a preocupa����o do Governador Jos�� Serra com esse segmento social, uma vez que quando exerceu o cargo de Prefeito da Capital do Estado, j�� havia criado a Secretaria Municipal das Pessoas com Defi ci��ncia e Mobilidade Reduzida. Na ocasi��o fui convidado pela Secret��ria titular da pasta, Dra. Linamara Rizzo Battistella, para integrar a equipe da Secretaria e levar para l�� as demandas reprimidas do segmento de pessoas com defi ci��ncia visual. Os objetivo eram a constru����o e a implementa����o de pol��ticas p��blicas direcionadas a esse p��blico em especial, assim como a garantia da consolida����o dos direitos das pessoas com defi ci��ncia de maneira geral em todo o Estado de S��o Paulo.
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Audiodescri����o
Obviamente que a necessidade da audiodescri����o estava no pacote de preocupa����es da Secretaria. No entanto, eram tantas as demandas do p��blico com defi ci��ncia, que acabamos tendo que priorizar determinadas urg��ncias que pipocavam aqui e ali, deixando outras, apesar de igualmente importantes, um pouco para depois em virtude da falta de condi����es t��cnicas e humanas para cuidarmos de tudo ao mesmo tempo.
Todavia, a luta por direitos das pessoas com defi ci��ncia no Brasil assemelha-se a um carrossel de emo����es, pois ao mesmo tempo que damos um passo para frente, surge algum movimento contr��rio nos obrigando a dar dois ou tr��s passos para tr��s. Assim, no fi nal do ano de 2008, pegou-nos de surpresa a not��cia da publica����o da Portaria 661/08, do Minist��rio das Comunica����es, que, em desconformidade com o Decreto 5296/04, suspendia o in��cio da implanta����o da audiodescri����o nas televis��es brasileiras. Novamente, o segmento precisou se articular em torno daquela nova agress��o aos seus direitos �� cidadania.
Dentre outras, uma das alega����es para a publica����o da Portaria 661/08 foi que no Brasil n��o existiam profi ssionais formados em n��mero sufi ciente para atenderem �� demanda das televis��es obrigadas a se adaptarem ��quele recurso de acessibilidade. Mesmo sendo essa alega����o apenas uma cortina de fuma��a para ocultar os verdadeiros motivos para a publica����o da Portaria e que n��o cabe abordar aqui, prontamente a nossa Secretaria se colocou ao lado das pessoas com defi ci��ncia na luta contra a viola����o de seus direitos, inicialmente promovendo, em 2008, o 1�� Encontro Nacional de Audiodescritores, realizado em S��o Paulo, no espa��o da Pinacoteca do Estado.
Ademais, nesse meio tempo, a Secretaria j�� vinha mantendo contato com o governo espanhol, agendando nossa visita com o objetivo de conhecer as pol��ticas p��blicas destinadas �� acessibilidade, �� reabilita����o e inclus��o, adotadas naquele pa��s. T��nhamos como metas* inteirarmo-nos da legisla����o espanhola em rela����o ��s pessoas com defi ci��ncia, obtermos conhecimento de novas ajudas t��cnicas dispon��veis e estabelecermos contatos para atividades de coopera����o t��cnica em ��reas de interesse m��tuo.
O roteiro dessa viagem precisou sofrer altera����o de ��ltima hora ao ser inserido, como institui����o de visita����o obrigat��ria, o CESYA, CENTRO ESPA��OL DE SUBTITULADO Y AUTODESCRIPCI��N, vinculado �� Universidade Carlos III, objetivando conhecer as atividades do Transformando Imagens em Palavras
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centro, estabelecer contatos para atividades de coopera����o t��cnica no campo da audiodescri����o, bem como na capacita����o e defi ni����o de compet��ncias de um audiodescritor. Durante a visita soubemos que o CESYA estabeleceu um conv��nio com a Academia de las Artes y las Ciencias Cinematografi cas de Espanha, auxiliado pela legisla����o, que determina que as salas de cinema estejam preparadas para receber fi lmes acess��veis.
Nesse sentido, uma experi��ncia realmente marcante que vivemos na Espanha, ao conhecermos o trabalho do CESYA, foi ter tido o privil��gio de podermos assistir �� exibi����o do fi lme Quem quer ser um milion��rio, ganhador de sete Oscars em Hollywood em 2009, que acabara de ser lan��ado em circuito comercial na cidade de Madrid, totalmente acess��vel para pessoas com defi ci��ncia visual e auditiva. Fomos convidados de honra do CESYA para a exibi����o, que ocorreu em um cinema central da cidade, em uma sess��o tamb��m aberta ao p��blico sem defi ci��ncia, ou seja, uma sess��o de cinema realmente inclusiva.
Foi extremamente gratifi cante estar naquela sala de cinema junto com tantas outras pessoas com e sem defi ci��ncia, todas assistindo ao mesmo fi lme e no mesmo momento, cada uma tendo sua especifi cidade atendida e podendo desfrutar do prazer e da emo����o daquele entretenimento.
Confesso que mesmo com a barreira do idioma, dublado e audiodescrito em espanhol, consegui ter uma compreens��o ampla da trama podendo discuti-la com meu colega de Secretaria que n��o possu�� defi ci��ncia visual.
4�� Momento: A audiodescri����o e a
busca pela profi ssionaliza����o
Como discutido, a audiodescri����o n��o chegou a ser implantada no Brasil com o forte argumento de falta de profi ssionais qualifi cados para exercerem essa profi ss��o. Objetivando, pois, eliminar qualquer tipo de barreira, a Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia de S��o Paulo deu in��cio, em 2009, a um projeto que visa �� cria����o de Curso de Especializa����o Lato Sensu, dentro da Faculdade de Educa����o da Universidade de S��o Paulo. Dessa forma, pode se tornar realidade a 176
Audiodescri����o
forma����o de profi ssionais qualifi cados e preparados para exercerem a profi ss��o de audiodescritor com a qualidade que essa ferramenta necessita.
Para a concretiza����o do projeto, fui encarregado de montar um grupo que reunisse especialistas de diversas ��reas do conhecimento humano, acad��micos, artistas, intelectuais, representantes de institui����es para pessoas com defi ci��ncia visual, entre outros. Tal grupo ter�� como fun����o criar as condi����es necess��rias para que o curso seja efetivamente implantado, reconhecido, de modo a qualifi car o maior n��mero poss��vel de pessoas que ir��o, efetivamente, exercer essa profi ss��o t��o importante para a garantia de inclus��o e acessibilidade ��s pessoas com defi ci��ncia.
Este grupo vem se reunindo periodicamente e j�� temos praticamente uma grade curricular montada, com um espa��o dentro da USP para a montagem de um est��dio com todo o equipamento necess��rio para o desenvolvimento das disciplinas. Caminhamos, assim, com muita motiva����o e empenho para alcan��armos nossa meta e construirmos um curso que certamente vai se tornar uma refer��ncia para todo o Brasil.
Em suma, esses foram alguns dos momentos nos quais atuei, direta ou indiretamente, para que a audiodescri����o fosse mais difundida e compreendida pela sociedade brasileira. Mantenho um site na Internet ���
www.livroacessivel.org ��� em que conto um pouco de cada uma das lutas que encampo, reivindicando uma sociedade mais justa e igualit��ria: a luta pelo livro acess��vel, pela Universidade acess��vel e pela televis��o acess��vel, esta ��ltima diretamente relacionada com o recurso da audiodescri����o.
Espero que o visitem e que nos ajudem a realizar esse sonho.
Refer��ncias
CESYA ��� Centro Espanhol de subtitulado y autodescripcion - www.
cesya.es/
CONADE ��� Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Portadoras de Defi ci��ncia - - www.mj.gov.br/conade/
Faculdade de Comunica����o da Universidade de S��o Paulo - www.fe.usp.br Transformando Imagens em Palavras
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Livroacess��vel - www.livroacessivel.org Minist��rio das Comunica����es - www.mc.gov.br
Rede Globo de Televis��o - www.redeglobo.com
Rede SACI - www.saci.org.br
Secretaria dos Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia - www.
pessoacomdefi ciencia.sp.gov.br
Universidade S��o Marcos - www.smarcos.br
YAHOOGrupos - www.yahoogrupos.com.br
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Audiodescri����o
A EXPERI��NCIA DA VIVO ��� PIONEIRISMO
E MULTIPLICA����O
Eduardo Valente e Luis Fernando Guggenberger*
O Teatro Vivo, endere��o do circuito cultural de S��o Paulo que integra as instala����es do pr��dio sede da Vivo na capital paulista, foi o primeiro da Am��rica Latina a oferecer audiodescri����o para pessoas com defi ci��ncia visual. A novidade, que seria incorporada defi nitivamente �� rotina da casa, estreou em julho de 2006, com a pe��a O Santo e a Porca. N��o se tratava de um espet��culo comercial. Era mais um evento do ���Vivo no Teatro���, programa social da empresa que oferece apresenta����es teatrais gratuitas para grupos de estudantes e professores da rede p��blica de ensino e institui����es parceiras do Instituto Vivo, entidade sem fi ns lucrativos criada pela Vivo em 2004.
A aceita����o do p��blico e a repercuss��o na imprensa n��o deixavam d��vidas: ali estava uma semente a ser cultivada. A introdu����o da t��cnica no Teatro Vivo foi uma evolu����o natural do trabalho do grupo de volunt��rios da organiza����o que, tr��s anos antes, haviam defi nido a inclus��o de pessoas com defi ci��ncia visual como foco de suas atividades, tendo a educa����o como direcionamento inicial.
Em 2006, o programa de volunt��rios da Vivo j�� contava com um centro de produ����o de materiais paradid��ticos em braille em S��o Paulo e com
* Eduardo Valente �� formado em Marketing pela Universidade de Santo Amaro ��� Unisa e MBA em Administra����o de Vendas tamb��m pela Universidade de Santo Amaro ��� Unisa. Iniciou sua trajet��ria profi ssional na ��rea de inform��tica, foi banc��rio e, em seguida, mudou para a ��rea comercial. Trabalhou durante 6 anos na ��rea s��cio-ambiental da Vivo, sendo um dos respons��veis pela implementa����o do Instituto Vivo, com v��rios projetos na ��rea de inclus��o de pessoas com defi ci��ncia. Atua, hoje, como assessor de comunica����o e imprensa da Vivo Nordeste, tendo participado da implanta����o da opera����o da Vivo na regi��o.
Luis Fernando Guggenberger �� formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Guarulhos ��� UnG e p��s-graduado em Rela����es P��blicas pela Faculdade C��sper L��bero.
Trabalha na Vivo, operadora de telefonia m��vel, na ��rea de responsabilidade s��cio-ambiental, onde lidera projetos sobre Redes para Causas Sociais. �� professor universit��rio da ��rea de marketing. Atuou no Terceiro Setor nas ��reas pedag��gica, social, cultural, comunica����o, capta����o de recursos, desenvolvimento institucional e gest��o em organiza����es como Funda����o Gol de Letra, Projeto Casulo e Projeto Arrast��o.
Transformando Imagens em Palavras
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um centro de grava����o de audiolivros no Rio de Janeiro ��� p��los que atendem demandas de institui����es e de pessoas com defi ci��ncia visual de todo o Pa��s. A viv��ncia nesse universo, por��m, apontava para outra oportunidade inclusiva, desta vez no ��mbito cultural. A Vivo tinha o teatro. Faltava descobrir como o espa��o poderia ser usado para incluir.
A ideia original dos volunt��rios foi realizar audiodescri����o ���um a um���.
Ou seja, cada volunt��rio sentar-se-ia ao lado de um espectador com defi ci��ncia visual para fazer o relato das cenas. Al��m do n��mero de pessoas necess��rias �� tarefa nesse modelo, o zum-zum-zum da conversa ao p�� de ouvido entre audiodescritores e as pessoas que precisam do recurso certamente incomodaria o restante do p��blico.
Foi a professora L��via Motta, na ��poca integrante do Grupo Terra, quem sugeriu utilizar o sistema de tradu����o simult��nea j�� dispon��vel no Teatro Vivo, introduzindo a audiodescri����o nesse espa��o do mesmo modo como �� utilizada em teatros em outros pa��ses como Inglaterra, Estados Unidos e Espanha. E foi ela, tamb��m, quem capacitou o primeiro grupo de 20 volunt��rios para a audiodescri����o.
Eduardo Valente, ent��o coordenador do programa de volunt��rios e um dos audiodescritores formados na primeira turma, lembra que os funcion��rios da Vivo instalados na cabine para fazer a primeira audiodescri����o de O Santo e a Porca estavam nervosos como atores em dia de estreia.
Al��m de se tratar da primeira experi��ncia, uma oportunidade de praticarem o que estavam aprendendo no curso, nessa ��poca a audiodescri����o ainda n��o era roteirizada, o que demandava um esfor��o extra dos audiodescritores. Houve entradas descompassadas em rela����o ao di��logo dos atores e nem todos os audiodescritores conseguiram manter o tom s��brio do relato. Pelo fone de ouvido, as pessoas com defi ci��ncia visual ouviam as risadas de Rosilene Cortes de Almeida, volunt��ria do departamento de marketing, a cada cena c��mica da pe��a.
A certa altura, ningu��m sabia se aquelas pessoas da plateia se divertiam com o espet��culo ou com as gargalhadas da pr��pria Rosilene. Mas os benef��cios superaram os percal��os, e a estreia da audiodescri����o foi um sucesso.
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Audiodescri����o
Ap��s cada espet��culo, era feita uma reuni��o com o p��blico com defi ci��ncia visual para identifi car aspectos a serem aprimorados. Uma das melhorias, ainda na pe��a O Santo e a Porca, foi a defi ni����o de um roteiro para a audiodescri����o, o que garante a adequa����o quanto �� linguagem de cada espet��culo. Houve outras. A pr��pria empresa se adaptava �� nova atividade e �� presen��a desse novo p��blico no Teatro Vivo. Por exemplo: a norma de seguran��a que proibia a presen��a de animais no pr��dio foi revista, abrindo exce����o para os c��es-guia que acompanhassem pessoas com defi ci��ncia visual.
A positiva rea����o ao servi��o de audiodescri����o em O Santo e a Porca levou a outras perguntas: por que n��o disponibiliz��-lo numa pe��a comercial? E
os volunt��rios audiodescritores: estariam eles preparados para isso?
A resposta foi ���sim��� ��s duas quest��es. Em mar��o de 2007, entrou em cartaz a pe��a O Andaime, com Claudio Fontana e C��ssio Scapin no palco e os audiodescritores da Vivo nos bastidores, dentro da cabine, fazendo o relato dos elementos visuais relevantes do espet��culo para as pessoas com defi ci��ncia visual. Por telefone, e-mail e pessoalmente, foram v��rias mensagens de elogio e agradecimento recebidas pela empresa. O
assunto era destaque na imprensa e nas redes sociais da internet. Desde ent��o, todas as pe��as que l�� s��o apresentadas contam com o recurso (A Gra��a da Vida, Sapato Apertado, A Ideia, O Doente Imagin��rio, Cartas de Amor, A Cabra ou Quem �� Sylvia, Vestido de Noiva, M��e �� Karma, A M��sica Segunda, O Doido, Cora����o Bazar), al��m de Figurinha Carimbada no Teatro Alfa.
Decididamente, a causa da inclus��o de pessoas com defi ci��ncia visual, que nascera no programa de voluntariado, ganhava dimens��o maior.
A iniciativa do grupo de volunt��rios sempre recebera total apoio da empresa, mas a partir da�� seus contornos foram sendo ampliados. Desde que assumira a Diretoria de Comunica����o e Rela����es Institucionais, ��rea que engloba tamb��m o gerenciamento das a����es de responsabilidade socioambiental da Vivo, Marcelo Alonso enxergava naquela expertise dos volunt��rios um potencial maior de benef��cios para a sociedade.
Desafi ou e apoiou a equipe nos novos passos.
Al��m do Teatro Vivo, que passou a disponibilizar a audiodescri����o em todos os espet��culos da casa (em 2008, as pe��as passaram a contar Transformando Imagens em Palavras
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tamb��m com tradu����o em Libras, para inclus��o de pessoas com defi ci��ncia auditiva), o servi��o come��ou a ser oferecido em fi lmes e eventos de cinema apoiados pela empresa nas mais diversas localidades do Brasil. Durante os Jogos Pan-Americanos de 2007, por exemplo, a Vivo montou um cinema ao ar livre na praia de Ipanema (RJ), incluindo a audiodescri����o do longa-metragem O Ano em que meus pais sa��ram de f��rias. No mesmo ano, os volunt��rios marcaram presen��a no Festival de Cinema de Gramado (RS) e eventos paralelos, para fazer a audiodescri����o dos fi lmes Saneamento B��sico e Xuxa em Sonho de Menina. O servi��o de audiodescri����o tamb��m foi oferecido na estreia do fi lme O Passado, de Hector Babenco e no document��rio Contratempo, de Malu Mader, al��m da exibi����o dos document��rios Janela da Alma e Cego Oliveira no Centro Cultural S��o Paulo. Independentemente do fi lme ou pe��a a que estivesse sendo incorporada, a audiodescri����o era um sucesso de p��blico.
A capacita����o de novas turmas de audiodescritores da Vivo foi acompanhando o ritmo e a geografi a da multiplica����o dos espet��culos com a incorpora����o da t��cnica. Em 2008, foi a vez das pessoas com defi ci��ncia visual de Goi��nia viverem sua primeira experi��ncia com audiodescri����o em um fi lme. Integrando a a����o de lan��amento de cart��es de recarga que tinham como tema a hist��ria do cinema em Goi��s, a empresa disponibilizou o servi��o na sess��o que apresentou o fi lme Nossa vida n��o cabe num Opala. Tamb��m em dezembro de 2008, houve a apresenta����o da pe��a A Arca de Noel em Gramado, contando com audiodescri����o, experi��ncia t��o bem sucedida, que foi repetida em dezembro de 2009.
Enquanto isso, na capital paulista, a companhia formalizava com a Secretaria da Cultura a primeira parceria para capacita����o de pessoas externas �� empresa na t��cnica de audiodescri����o. O curso preparou 8
funcion��rios do Centro Cultural de S��o Paulo e 1 pessoa da Laramara
��� Associa����o Brasileira de Assist��ncia ao Defi ciente Visual, al��m dos funcion��rios da Vivo.
Em 2009, o roteiro de expans��o prosseguiu. Em abril, a audiodescri����o estreou em Manaus (AM), no Teatro Amazonas, ao qual a Vivo doou equipamentos e fez a capacita����o dos audiodescritores, contando com a expertise da professora L��via Motta. Al��m da chegada da t��cnica a uma casa de espet��culos da Regi��o Norte, havia outra grande novidade: o 182
Audiodescri����o
espet��culo em cartaz era a ��pera Sans��o e Dalila, a primeira no Brasil a adotar o recurso inclusivo para pessoas com defi ci��ncia visual. A segunda ��pera audiodescrita no pa��s foi Cavalleria Rusticana, desta vez em S��o Paulo, numa parceria da Vivo com o Theatro S��o Pedro, que logo se repetiria em I Pagliacci e em O Barbeiro de Sevilha. No mesmo per��odo, a audiodescri����o chegava ao Nordeste, no contexto das atividades do festival No Ar Coquetel Molotov, em Recife (PE), no longa-metragem Loki, Arnaldo Baptista, e em Ribeir��o Preto, com a apresenta����o da pe��a Vestido de Noiva, no imponente Theatro Pedro II.
Se a audiodescri����o se reafi rmava como uma atividade relevante no ��mbito das a����es de responsabilidade social da empresa, no contexto maior da inclus��o cultural das pessoas com defi ci��ncia visual havia ��� e h�� ��� um longo caminho a percorrer. Nessa jornada, a Vivo vislumbrou mais uma maneira de aportar sua contribui����o: conectando pessoas em rede, uma iniciativa inspirada nos mesmos conceitos que pautaram o reposicionamento da companhia em 2008.
As bases desse novo posicionamento se assentam na cren��a de que na sociedade em rede as pessoas vivem melhor e podem mais. Que indiv��duos conectados a outros indiv��duos t��m acesso a informa����es, meios e recursos que lhes permitem viver de forma mais humana, segura, inteligente e divertida. Essa cren��a ��� que passou a direcionar os neg��cios da Vivo como prestadora de servi��os de comunica����es m��veis e a sua miss��o fundamental, que �� conectar pessoas ��� estabeleceu tamb��m os novos alicerces de suas a����es no ��mbito da responsabilidade socioambiental.
Afi nal, seja qual for o foco ��� educa����o, inclus��o de pessoas com defi ci��ncia, preserva����o ambiental, etc. ���, por tr��s de cada iniciativa ou projeto est��o redes de pessoas conectadas em torno de uma mesma causa: gente da Vivo, das entidades e organiza����es n��o-governamentais, das comunidades, do governo, da sociedade em geral. Assim, os projetos sociais foram estruturados em cinco frentes: Rede Vivo de Inclus��o Social (que contempla, entre outras, as atividades relacionadas com audiodescri����o), Rede Vivo de Voluntariado, Rede Vivo Educa����o, Rede Vivo de Gest��o Social e Rede Vivo de Gest��o Ambiental.
Ao levar os cursos de audiodescri����o para funcion��rios de ��rg��os p��blicos, ao estabelecer parcerias com outros teatros e institui����es, ao Transformando Imagens em Palavras
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patrocinar o 1�� Semin��rio Nacional de Audiodescri����o, realizado em S��o Paulo, em outubro de 2008, a Vivo j�� contribu��a para estabelecer novas conex��es, fomentando as redes de indiv��duos interessados na causa da inclus��o cultural das pessoas com defi ci��ncia visual.
Avan��ando nesse movimento, um outro passo foi dado no segundo semestre de 2009 com a cria����o da Rede de Audiodescritores (vivoaudiodescricao.ning.com). O objetivo desse espa��o baseado em plataforma Ning �� conectar pessoas envolvidas com o tema para a troca de ideias e conhecimentos, organiza����o e disponibiliza����o de cursos e conte��dos e cria����o conjunta de roteiros de audiodescri����o, entre outras atividades. Por meio dessa iniciativa, a Vivo disponibiliza a tecnologia com seus v��rios recursos de interatividade e contribui para animar a rede. Mas a grande aposta da Rede de Audiodescritores �� no poder das pessoas para multiplicar as conex��es e as a����es e, com isso, multiplicar tamb��m o fator inclus��o.
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Audiodescri����o
VIDA EM MOVIMENTO ��� O PRIMEIRO
DOCUMENT��RIO BRASILEIRO COM
AUDIODESCRI����O
Marta Gil*
Como tudo come��ou
O ponto de partida da s��rie Vida em Movimento situa-se no ano de 2006. Desde ent��o, o projeto cresceu, gerando desdobramentos importantes. Este texto segue o fio do tempo, permitindo acompanhar e apreciar o processo.
O Departamento Nacional do SESI ��� Servi��o Social da Ind��stria solicitou ao Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas (www.amankay.org.br) uma proposta voltada para a elabora����o de v��deos sobre Esportes Adaptados para Pessoas com Defi ci��ncia (PcD). Essa �� uma ��rea de atua����o do SESI e, frente ao excelente desempenho de atletas apoiados pela entidade nas Paraolimp��adas ��� especialmente o Clodoaldo, na nata����o ��� havia interesse em refor��ar sua presen��a.
O Amankay foi procurado por sua expertise: �� uma Organiza����o da Sociedade Civil sem fi ns lucrativos, fundada em 1989 com a Miss��o institucional de produzir e disseminar informa����es que promovam a inclus��o social e a qualidade de vida de segmentos sociais vulner��veis, com destaque para o das Pessoas com Defi ci��ncia (PcD). Em seu portf��lio constam v��deos para a Secretaria de Educa����o �� Dist��ncia do MEC ���
Minist��rio da Educa����o e para a TVE, dentre outros trabalhos.
* Soci��loga, atua na ��rea da Defi ci��ncia desde 1976. �� consultora e atual Coordenadora Executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas. ��reas de compet��ncia: Comunica����o e Dissemina����o da Informa����o com destaque para Educa����o, Trabalho e Sexualidade.
Entre os projetos que coordenou destacam-se: a pesquisa ���Pessoas com Defi ci��ncia e HIV/
Aids: interfaces e perspectivas��� ; kit ���Vida em Movimento��� ; pesquisa ���Sinalizando a Sa��de para Todos���; Reintegra - Rede de Informa����es Integradas sobre Defi ci��ncias; Rede SACI - Solidariedade, Apoio, Comunica����o e Informa����o; Campanha Acesso de Humor e Inclus��o e a pesquisa
���Caracteriza����o sociol��gica de indiv��duos portadores de cegueira e defi ci��ncia visual���.
Transformando Imagens em Palavras
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A demanda trazida pelo SESI desencadeou refl ex��es, que resultaram na amplia����o do escopo inicial da ideia: al��m de focalizar esportes adaptados, seria importante mostrar tamb��m a import��ncia do movimento e da atividade f��sica nas aulas de Educa����o F��sica, nas atividades de estimula����o, no brincar e nas atividades cotidianas, t��o importantes para o desenvolvimento individual e social de todos, com ou sem defi ci��ncia.
As refl ex��es nos levaram ainda mais longe: conclu��mos que o movimento leva �� vida e que onde h�� vida, h�� movimento. Da�� para a concep����o da s��rie e para decidir seu t��tulo foi f��cil, s�� um pulinho.
A proposta elaborada pelo Amankay e apresentada ao SESI contemplava a realiza����o de 25 document��rios, de 8 minutos de dura����o cada, tratando de temas como Inclus��o, Acessibilidade, Desenho Universal, Tecnologias Assistivas, amizade, cultura, lazer, sexualidade e outros, tendo a inclus��o como foco. A decis��o pelo estilo de document��rio sinalizava que os v��deos mostrariam ���a vida como ela �����, que os entrevistados falariam do seu jeito, exprimindo suas viv��ncias, d��vidas e certezas com suas pr��prias palavras.
Vale a pena determo-nos no conceito da inclus��o, pois ele norteou todas as decis��es subsequentes: conte��do, formato, roteiros, tratamento do tema, loca����es, edi����o fi nal.
O Brasil adota pol��tica e socialmente o modelo da inclus��o, que diz respeito, diretamente, em m��dia, a 14,5% da popula����o total, correspondente a vinte e sete milh��es de pessoas (Censo Demogr��fi co 2000, realizado pelo IBGE ��� Instituto Brasileiro de Geografi a e Estat��stica), que t��m diversos tipos de defi ci��ncia ou incapacidade; e, indiretamente, a toda popula����o.
Esse modelo est�� respaldado pelos marcos conceituais vigentes no Brasil: a Conven����o sobre os Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia e seu Protocolo Facultativo (ratifi cados pelo Brasil, em agosto de 2008, como Decreto Legislativo 186/2008, com equival��ncia de emenda constitucional) e posteriormente pelo Decreto Executivo 6.949/09, agora diretamente pelo Poder Executivo, a Declara����o da D��cada (2006-2016) das Am��ricas pelos Direitos e pela Dignidade das Pessoas 186
Audiodescri����o
com Defi ci��ncia (OEA) e a Agenda Social de Inclus��o das Pessoas com Defi ci��ncia e Controle Social (2007), para citar apenas os mais recentes.
Portanto, a inclus��o �� um processo em andamento e sem volta, que tem recebido aten����o especial das ��reas da Educa����o e do Trabalho, embora n��o se restrinja a um determinado ambiente social ou momento.
Est�� dispensado!
Quando falamos de inclus��o na escola, esquecemos que, na maior parte das vezes, o aluno com defi ci��ncia �� exclu��do da aula de Educa����o F��sica porque o professor n��o sabe como inclu��-lo: n��o se sente habilitado e receia agravar a condi����o do aluno. Ora, essa aula �� ansiosamente aguardada por todos, pois representa um momento de divers��o e alegria. No entanto, a crian��a (ou o jovem) com defi ci��ncia n��o participa.
A frase que defi ne e resume essa situa����o ��: ���Est�� dispensado���.
Essa exclus��o acentua sua condi����o de ���diferente��� e contribui para
���defi cientiz��-lo��� perante os colegas, os professores e ele mesmo. Assim, todos perdem: os alunos sem defi ci��ncia ��� pois n��o aprendem a interagir com a diferen��a em uma situa����o de descontra����o e lazer, da qual o erro faz parte; o professor ��� que n��o exercita sua criatividade e sua capacidade de adapta����o; o aluno com defi ci��ncia ��� que v�� mais uma vez diminu��das suas oportunidades de conviver com outros, de exercitar seu corpo, de descobrir possibilidades e potencialidades, de encarar desafi os, de se exercitar para a vida adulta.
A Educa����o �� o primeiro passo para a inser����o na sociedade e deve cuidar do intelecto e do corpo, de forma harm��nica. A Pedagogia atual entende que h�� uma conex��o ��ntima entre corpo e mente que deve ser cultivada e incentivada, como parte integrante do processo de ensino/
aprendizagem. Mesmo assim, a Educa����o F��sica frequentemente �� relegada a um plano secund��rio e vista como menos ���importante��� do que Portugu��s ou Matem��tica.
Nesse sentido, a s��rie Vida em Movimento prop��s-se a mostrar alternativas, recursos pedag��gicos e estrat��gias de pr��ticas inclusivas, Transformando Imagens em Palavras
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enfatizando os benef��cios, as vantagens e a alegria da inclus��o. O
esporte e a atividade f��sica s��o meios de inser����o social, de recrea����o, de promo����o e manuten����o da sa��de, como demonstram as grava����es de professores, alunos, familiares, t��cnicos e esportistas em praticamente todos os v��deos.
As aulas de Educa����o F��sica s��o espa��os importantes, onde a conviv��ncia pode ganhar novos formatos. Os professores de Educa����o F��sica lidam com potencialidades diferentes das necess��rias nas outras ��reas, cujo conte��do �� trabalhado, fortemente baseado em leitura e escrita. Assim, t��m muito a partilhar com seus colegas que lecionam outras disciplinas.
Da�� o espa��o que t��m nos document��rios.
V��deos: organiza����o e loca����o
A s��rie est�� distribu��da em quatro DVDs, contendo vinte e cinco programas com oito minutos de dura����o cada. Sua produ����o, desde a elabora����o dos roteiros at�� a fi naliza����o, contou com uma equipe altamente qualifi cada.
Ap��s um levantamento extenso de situa����es, pessoas e iniciativas que refl etiam o conte��do desejado, fi zemos uma sele����o. Tivemos o apoio dos Departamentos Regionais do SESI na indica����o de modalidades de esportes adaptados. O Amankay participou de todos os momentos, come��ando pela elabora����o dos conte��dos, passando pela discuss��o de roteiros, sugest��o de pessoas e entidades a serem gravadas, at�� as etapas de fi naliza����o e divulga����o.
As grava����es foram feitas em diversas cidades nos estados do Paran��, S��o Paulo e Rio de Janeiro, para abranger realidades distintas: escolas p��blicas e particulares, cidades grandes e pequenas, crian��as, jovens e adultos, fam��lias com diferentes n��veis de poder aquisitivo, evidenciando que a inclus��o acontece em qualquer cen��rio.
Os programas utilizam uma linguagem descontra��da e, seguindo o lema do Movimento das Pessoas com Defi ci��ncia ��� Nada sobre n��s, sem n��s
���, o apresentador escolhido, selecionado entre v��rios candidatos, foi um jovem cadeirante extremamente comunicativo.
Para mostrar o cotidiano de crian��as, jovens e adultos com defi ci��ncia 188
Audiodescri����o
f��sica, visual, auditiva ou intelectual, os assuntos foram organizados em tr��s blocos tem��ticos:
Gerais: s��o 6 programas, que apresentam depoimentos sobre conquistas, aspira����es e situa����es positivas relacionadas �� fam��lia, ao trabalho, ��s rela����es afetivas, al��m de mostrar a import��ncia, cada vez maior, do acesso a tecnologias assistivas e da saud��vel resist��ncia a posturas discriminat��rias;
Pessoais: s��o 4 programas, que apresentam o dia-a-dia de quatro rapazes: um com paraplegia, um com s��ndrome de Down, um surdo e um cego;
Espec��fi cos: s��o 15 programas, que trazem crian��as e jovens com defi ci��ncia praticando diferentes modalidades de esportes, atividades f��sicas, jogos e brincadeiras; mostram profi ssionais de diversas ��reas que utilizam, com sucesso, adapta����es e recursos que permitem a inclus��o e a pr��tica dessas atividades de forma inclusiva.
Recursos de acessibilidade
Para respeitar os valores adotados (Inclus��o, Acessibilidade e Equipara����o de Oportunidades), os v��deos oferecem um menu de op����es, que o formato DVD possibilita:
��� Somente v��deo;
��� Libras (l��ngua brasileira de sinais)
��� Legendas;
��� Libras e legendas
Diferenciais da s��rie
��� Utiliza����o de recursos de acessibilidade: Libras (l��ngua brasileira de sinais); legendas; Libras e legendas; e somente v��deo; Transformando Imagens em Palavras
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��� Inova����es: a s��rie equivale a uma videoteca; foi a primeira vez, no Brasil ��� e talvez em outros pa��ses ��� que uma s��rie abordando esta tem��tica �� realizada com esse n��mero de v��deos e tendo como apresentador uma pessoa com defici��ncia;
��� Valores como protagonismo das Pessoas com Defi ci��ncia, inclus��o, acessibilidade e equipara����o de oportunidades permeiam todos os programas;
��� Alia realiza����o t��cnica de alta qualidade e distribui����o gratuita.
O recurso da audiodescri����o
Durante o processo de realiza����o, procuramos refer��ncias sobre a audiodescri����o no Brasil, pois sab��amos de sua exist��ncia em outros pa��ses. Infelizmente n��o encontramos nenhuma informa����o e, para cumprir o cronograma estabelecido, finalizamos a s��rie sem utiliz��-lo.
Imediatamente ap��s a entrega do produto ao SESI, soubemos do trabalho de audiodescri����o feito por L��via Motta, em S��o Paulo. O SESI j�� havia providenciado a copiagem para suas escolas e n��o incorporou esse recurso.
Ent��o, o Amankay tomou a iniciativa de conversar com L��via para conhecer mais sobre a t��cnica e saber da possibilidade de incorpor��-la.
Ela aceitou o desafio de colocar a audiodescri����o nos v��deos prontos, o que certamente n��o �� a maneira ideal de trabalhar.
Por seu interm��dio, o Amankay entrou em contato com o Instituto Vivo, que j�� conhecia e utilizava esse recurso e este, por sua vez, enquanto parceiro de Laramara ��� Associa����o Brasileira de Assist��ncia ao Deficiente Visual indicou o Est��dio Laramara.
Ap��s a elabora����o dos roteiros de audiodescri����o e sua aprova����o pelo Amankay, L��via trabalhou juntamente com Ernando Tiago, ator que gravou os textos; com Alexandre Luppi, respons��vel pelo Est��dio Laramara; e Nino Nascimento, que era o t��cnico de som.
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Audiodescri����o
Essa equipe foi a respons��vel pelo excelente resultado alcan��ado: a locu����o n��o pode ser mon��tona, mas tamb��m n��o pode ���roubar a cena���. Dosar a emo����o requer sutileza e clareza dos objetivos a serem alcan��ados. Seu trabalho meticuloso permitiu encaixes praticamente perfeitos; em apenas alguns momentos, a voz de Ernando ���transborda���
o sil��ncio, mas n��o prejudica a compreens��o, pois os timbres s��o diferentes.
Essas parcerias, constru��das de forma ��gil, permitiram desdobramentos importantes:
��� A ado����o do recurso da audiodescri����o, completando o menu das op����es de acessibilidade e contemplando pessoas com defi ci��ncia visual, defi ci��ncia intelectual e/ou com difi culdades cognitivas;
��� A elabora����o de um encarte, com a parceria da empresa Planeta Educa����o, contendo informa����es complementares escritas por professores de Educa����o F��sica especializados na ��rea da Defi ci��ncia e refer��ncias de sites;
��� A transforma����o da s��rie em kit, composto pelos v��deos e pelo encarte;
��� O kit tamb��m obedeceu aos crit��rios de acessibilidade: a embalagem tem identifi ca����o em braille, assim como as etiquetas de cada m��dia; o conte��do do encarte foi gravado por locutores profi ssionais, um homem e uma mulher, para manter o interesse e evitar a monotonia;
��� A tiragem de 1.000 exemplares do kit, a serem distribu��dos gratuitamente a interessados, preferencialmente entidades, bibliotecas e universidades.
Desta forma, gra��as ��s parcerias do Instituto Vivo, do Est��dio Laramara e do Planeta Educa����o, mas gra��as tamb��m �� ousadia dos que encararam uma situa����o desafiadora e �� sua generosidade, foi poss��vel agregar valor ao produto inicial e concretizar o projeto. Assim, a s��rie p��de chegar ��s m��os de pessoas em todo o Brasil, e tamb��m em Portugal, Espanha, Ilhas do Cabo Verde, Angola e Mo��ambique, contribuindo para sua pr��tica profissional e para o fortalecimento do processo de inclus��o.
Transformando Imagens em Palavras
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Divulga����o
A s��rie foi exibida para todos os Departamentos Regionais do SESI atrav��s de v��deo confer��ncia, em julho de 2007 e contou com as presen��as de dirigentes do SESI e da CNI ��� Confedera����o Nacional da Ind��stria, de representantes do MEC ��� Minist��rio da Educa����o, de Willian Coelho, o Billy, apresentador da s��rie e do Amankay.
Foi preparado um v��deo de apresenta����o, com 3 minutos de dura����o, al��m das falas das autoridades presentes. Foi emocionante assistir ��s manifesta����es de representantes de todos os Departamentos Regionais, que atestaram a import��ncia desse material para seu trabalho e a lacuna que ele vinha preencher. Durante duas horas, o Brasil como que desfi lou aos nossos olhos, com toda a diversidade de sotaques, formas de express��o e at�� de vestu��rio, pois as pessoas do Norte e Nordeste trajavam roupas leves de ver��o e as do Sudeste e Sul estavam encapotadas. Mas sua rea����o ao material foi un��nime!
O kit foi lan��ado, em agosto de 2007, no stand de Laramara na S��o Paulo Adventure Sports Fair, o maior evento dessa categoria, que recebeu mais de 50 mil visitantes. Os v��deos fi caram em exibi����o permanente. A partir do lan��amento, o kit Vida em Movimento andou por suas pr��prias pernas, pode-se dizer. O Instituto Vivo divulgou-o atrav��s de sua Assessoria de Comunica����o, do site e da Rede de Volunt��rios. O Amankay enviou um release em listas de discuss��o, que se multiplicaram de forma exponencial em sites, blogs, boletins eletr��nicos e publica����es. O site Bengala Legal (www.bengalalegal.com), criado por Marco Antonio de Queiroz, que �� cego e programador, disponibilizou diversos dos v��deos, com audiodescri����o, para download (www.bengalalegal/salavoz.php).
At�� hoje (in��cio de 2010) o Amankay recebe demandas do kit.
Os v��deos foram exibidos inicialmente pela TV Educativa de Jundia��, SP e depois pela Funda����o Padre Anchieta TV Cultura de S��o Paulo, de novembro de 2008 a janeiro de 2009, com excelente repercuss��o. Ao conhec��-los, os diretores da TV Cultura manifestaram seu interesse, pois a tem��tica se coaduna com o car��ter de televis��o p��blica e explicitaram sua admira����o pela qualidade t��cnica dos mesmos.
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Audiodescri����o
Foi a primeira vez que uma emissora brasileira de televis��o exibiu uma s��rie de document��rios com tal tem��tica e com o recurso da audiodescri����o. Sua forma de tratar a s��rie foi muito respeitosa: o Amankay participou de todo o processo, incluindo a discuss��o do cen��rio elaborado especialmente para a s��rie, as falas de apresenta����o das
���cabe��as��� dos programas e o release. A divulga����o foi ampla e o Amankay tamb��m foi o respons��vel pela interlocu����o com os telespectadores, que enviavam felicita����es pela iniciativa.
Os programas foram agrupados, tr��s a cada semana, tendo Dudu Braga, fi lho do cantor Roberto Carlos como ��ncora.
Importa lembrar que os programas emitidos pela TV Cultura s��o exibidos por outras emissoras educativas, alcan��ando praticamente todo o territ��rio nacional. Destaque-se, tamb��m, que em dezembro de 2009 a TV Cultura exibiu mais uma vez a s��rie, em comemora����o ao Dia Internacional da Pessoa com Defi ci��ncia, que �� comemorado dia 3 desse m��s, por iniciativa da ONU ��� Organiza����o das Na����es Unidas.
A repercuss��o do Vida em Movimento desde seus primeiros passos foi consolidada em clippings, que evidenciam a indiscut��vel import��ncia desses document��rios e as diversas possibilidades de utiliza����o: em palestras, reuni��es com pais e m��es de pessoas com defi ci��ncia, capacita����o de professores, mobiliza����o de profi ssionais de Recursos Humanos, para estimular o protagonismo juvenil, trabalhar atitudes de empoderamento e desenvolvimento de lideran��as, difundir estrat��gias pedag��gicas... as possibilidades s��o in��meras.
Muitos conheceram o que �� a audiodescri����o atrav��s do kit, pois este recurso, a despeito de sua enorme import��ncia e do empenho de audiodescritores e pessoas envolvidas com a acessibilidade, ainda �� pouco conhecido no Brasil, assim como seus benef��cios, que ultrapassam o segmento das pessoas com defi ci��ncia visual e incluem pessoas com defi ci��ncia intelectual, idosos ou pessoas com algum comprometimento cognitivo.
Esse material representa um marco na produ����o de materiais na ��rea da Defi ci��ncia, em termos de recursos de acessibilidade, de qualidade t��cnica e de incorpora����o de valores inclusivos e estabeleceu um patamar, que esperamos seja refer��ncia para os pr��ximos produtos.
Transformando Imagens em Palavras
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O Amankay agradece imensamente ao Departamento Nacional do SESI e �� CNI ��� Confedera����o Nacional da Ind��stria o convite para a realiza����o, bem como a todos os parceiros e pessoas que colaboraram para concretizar o projeto Vida em Movimento.
Sua realiza����o est�� em conson��ncia com a lenda qu��chua da qual o Instituto retirou o nome e a inspira����o. No in��cio dos tempos havia apenas uma fl or de amankay, no alto de uma montanha ��ngreme e que foi escolhida por Pachamac, o deus da Vida, como s��mbolo. Gra��as ao empenho de uma mo��a, tamb��m chamada Amankay, que escalou a montanha e colheu-a, para salvar seu amado, que estava �� morte, a fl or multiplicou-se por encostas e vales, brotando do sangue do cora����o, arrancado como pre��o de sua ousadia.
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Audiodescri����o
PARTE II
A PRIMEIRA
AUDIODESCRI����O A
GENTE NUNCA ESQUECE
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AUDIODESCRI����O - POUCAS
E PRECISAS PALAVRAS
Sidney Tobias de Souza*
"A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida."
Friedrich Nietzsche
Altura, largura e profundidade. Quanta coisa pode haver no espa��o tridimensional de um palco de teatro. N��o se trata apenas de verbaliza����o por atrizes e atores de textos de renomados dramaturgos como Gil Vicente, Bertold Brecht, S��focles ou Shakespeare. �� muito mais. �� a intera����o com o cen��rio, �� o nosso imagin��rio convidado pelos fi gurinos a se transportar para a ��poca ou o local da trama. S��o emo����es derramadas a nossa frente, mas n��o apenas por palavras, tamb��m no gesto contido, expansivo ou abrupto. Na express��o facial, no semblante.
E eu, que de teatro gosto e teatro fi z, embora n��o mais pudesse ver uma cena, contentava-me em ouvi-la. Sim, ouvir as emo����es, ouvir os movimentos. Mas algo sempre me faltava para um pleno entendimento.
O p��blico reagia, se manifestava, e eu, em pensamento, perguntava: o que ter�� acontecido? Uma piada gestual? Uma entrada sorrateira?
Para exemplificar, pense na paisagem mais bela vista por voc�� ao vivo e a cores. Agora imagine essa mesma paisagem estampada em uma foto. Por mais fidedigna que a imagem seja, n��o �� a mesma coisa. Falta uma dimens��o.
Pois ��, fui convidado um dia a assistir a uma pe��a teatral com audiodescri����o. Chegando, surpresa! Al��m de receber em braille a fi cha t��cnica com sinopse, tive a oportunidade de subir ao palco para conhecer o cen��rio. Isto foi excelente, pois durante a pe��a, eu n��o imaginava apenas atores se movimentando num espa��o vazio com um fundo branco. Agora, havia cores, havia objetos. E isto j�� faz grande diferen��a.
Gra��as �� descri����o detalhada dos personagens feita ainda antes da
* Tem 43 anos. �� casado e pai de dois fi lhos. Graduado em administra����o de empresas, trabalha como analista de sistemas e �� diretor da Adeva ��� Associa����o de Defi cientes Visuais e Amigos. Cego desde 13 anos de idade.
Transformando Imagens em Palavras
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pe��a, as vozes tinham formas mais defi nidas. Eram gordas outras magras, sorridentes, sisudas, calvas, cabeludas, simples e ornamentadas. Mas o melhor ainda estava por vir. Conforme se desenvolvia a trama, passei a ver os personagens ora pegando um objeto, ora sorrindo para o outro. Se agachando, se levantando, ou seja, passei a ver os movimentos em cena...
N��o! N��o por um milagre, mas pelo trabalho perito dos audiodescritores.
Como disse Thomas Jeff erson: " O mais valioso de todos os talentos �� aquele de nunca usa duas palavras quando uma basta". E assim, de forma talentosa, com poucas palavras, mas precisas, os audiodescritores me faziam ver o que eu n��o podia e ouvir o que n��o estava sendo dito verbalmente mas pela linguagem gestual, pela express��o corporal, pela emo����o estampada no rosto dos atores. E eu ia curtindo cada momento. Evidentemente nem tudo que acontece em cena pode ser descrito em tempo real, sen��o atrapalha, sobrep��e a fala dos personagens. Mas como o verdadeiro artista sempre simplifi ca, e para mim a audiodescri����o �� uma arte, de forma simples e direta eles faziam chegar aos meus fones de ouvido o essencial para compor o meu entendimento. Foi show.
Depois dessa experi��ncia inicial, fi z quest��o de assistir a outras pe��as, fi lmes e �� primeira ��pera com audiodescri����o no Brasil. Eu, particularmente, sou ass��duo frequentador de eventos culturais mas, agora com audiodescri����o, as coisas mudaram. Eu aproveito mais o que me �� oferecido, compreendo com mais facilidade sem ter que fazer perguntas a quem est�� comigo.
Enfi m, tem sido mais prazeroso assistir a tais eventos. Meu desejo �� que se multipliquem, se espalhem, que se consolide por aqui esta ideia.
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Audiodescri����o
EM ALGUM LUGAR DO PASSADO
Joana Belarmino*
A experi��ncia da cegueira �� ��nica para cada indiv��duo. Assim, aqueles clich��s que se desenvolveram ao longo da cultura, de que pessoas cegas normalmente preferem o r��dio �� televis��o, ou que geralmente os cegos t��m tend��ncia para a m��sica, nem sempre encontram express��o de verdade na realidade. Os modelos de consumo da cultura por pessoas cegas, suas prefer��ncias, seus gostos, s��o t��o variados quanto �� experi��ncia de cada um com respeito �� sua cegueira.
Sou fi lha de camponeses, e, em minha fam��lia de treze fi lhos, pelo menos sete, nascemos cegos. Eu diria que cada um de n��s participa da cultura de modo diferente. Desde crian��a, desenvolvi um gosto acentuado pelos livros. Entretanto, sempre fui fascinada por televis��o, e, na vida adulta, tamb��m comecei a me interessar pelo cinema, numa gama de gostos que inclu��a o romance, o drama, e, particularmente, a fi c����o cient��fi ca.
Curiosamente, enquanto boa parte dos meus irm��os adorava o r��dio, eu nunca fui ouvinte ass��dua desse meio de comunica����o.
Assistir a fi lmes pela televis��o sempre foi para mim uma aventura e um desafi o. Entregava-me �� divers��o, literalmente ��s cegas. Muitas vezes, sozinha, em noites de s��bado, assistia ao desenrolar do fi lme na TV, e, na minha cabe��a, ��s apalpadelas, recolhendo pistas sonoras, adivinhando gestos, compunha outro enredo provavelmente completamente diverso do enredo do fi lme, quem sabe, milagrosamente pr��ximo do fi lme propriamente dito.
Muitas vezes, pelo menos para mim, constru��a uma compreens��o razo��vel do fi lme, e, feliz, aguardava o seu fi nal. E geralmente me via mergulhada numa zona de sombra, de incompreens��o, visto que muitas das cenas fi nais se desenrolam atrav��s de aspectos eminentemente visuais.
* Joana Belarmino �� jornalista, mestre em Ci��ncias Sociais, doutora em Comunica����o e Semi��tica. Desde 1994, �� professora titular do curso de Comunica����o Social da Universidade Federal da Para��ba.Como membro do N��cleo M��dias Digitais, Processos Interativos e de Acessibilidade, desenvolve pesquisas na ��rea de acessibilidade na web, acessibilidade �� comunica����o, j�� tendo publicado artigos diversos sobre essas tem��ticas.
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Meu primeiro contato com a estrat��gia da audiodescri����o deu-se ao fi nal do segundo semestre letivo do curso de comunica����o da UFPb, em 2007.
Meu ex-aluno, ngelo Ramalho, convidou-me para a banca de defesa do seu Trabalho de Conclus��o de Curso, que, segundo me disse, envolvia um trabalho de ���adapta����o��� do fi lme, Em Algum Lugar do Passado.
Sentada ao lado dos meus colegas membros da banca, compreendi que a minha tarefa ali era bem mais ampla do que a de julgar, comentar, avaliar. Ali sentada, eu era tamb��m telespectadora ��vida por desvendar, com mais de dez anos de atraso, uma zona de sombra, um punhado de interroga����es, um desespero por responder, como havia acabado o fi lme, que gesto fi zera ele para desencadear o grito desesperado dela, os ��ltimos dias do personagem principal, a forma como ele morrera.
Extasiada, fi z como que uma esp��cie de viagem at�� uma noite de s��bado, dez anos antes, em que, sozinha, diante da TV, vira aquele belo fi lme, sem qualquer recurso de audiodescri����o. Remontei cenas, enxertei vazios, alimentei-me das in��meras descri����es, e, maravilhada, senti-me igual a todo mundo, quando acompanhei, com a narrativa da audiodescri����o, o momento em que o protagonista sacou do bolso a moeda fatal que o levaria irremediavelmente de volta ao seu tempo.
O trabalho pioneiro de ngelo Ramalho na UFPb mereceu nota dez, e eu, desde ent��o, converti-me em uma adepta pelo recurso da audiodescri����o nos produtos audiovisuais. Na academia, dediquei-me a uma cruzada por compreender o fen��meno da audiodescri����o, ao mesmo tempo em que busquei divulg��-lo em semin��rios, simp��sios e confer��ncias, assim como mobilizar pessoas cegas, em pequenas mostras para as quais programamos a exibi����o de fi lmes com o recurso da audiodescri����o.
Quando reflito sobre a realidade da cegueira, associando-a ao desenvolvimento hist��rico e sociocultural, percebo o grande salto dado com a era tecnol��gica, no sentido da sua potencialidade para a democratiza����o da comunica����o, trazendo �� tona, in��meras perspectivas para a amplia����o do consumo adequado de in��meros produtos da cultura, sobretudo os audiovisuais.
Os insumos tecnol��gicos de fato podem minimizar os efeitos limitativos da cegueira, permitindo-nos adentrar em zonas de consumo 200
Audiodescri����o
anteriormente inimagin��veis. Por que ent��o ainda vemos t��o poucos cegos em salas de cinema, ou usufruindo plenamente de produtos televisivos e teatrais?
A resposta para esse dilema est�� na pr��pria cultura. No modo como os governos, as empresas, os organismos institucionais pensam a sociedade, atrav��s de um modelo do consumidor m��dio, ou seja, um modelo excludente, incapaz de perceber nas pessoas com defi ci��ncia, uma importante fatia desse mercado informativocomunicacional.
Quanto mais um indiv��duo �� estimulado, quanto mais a sociedade lhe oferta condi����es de consumo das coisas da sua cultura, mais esse indiv��duo tender�� a crescer, a participar, a exercitar sua cidadania, com qualidade e autonomia.
Os governos que n��o desatam os n��s burocr��ticos e econ��micos que emperram a acessibilidade, certamente condenam seus cidad��os com defi ci��ncia, a um isolamento injusto e impeditivo do seu crescimento como sujeitos de vontade, sujeitos de desejo,sujeitos de cidadania.
Pol��ticas excludentes, como a que assistimos no Brasil de hoje, na fat��dica novela do Minicom e das empresas de comunica����o, envolvendo a implementa����o da legisla����o e normas t��cnicas que disciplinar��o a aplica����o dos recursos de audiodescri����o na TV brasileira, ampliam a profunda ���brecha digital��� que ainda caracteriza a Am��rica Latina, os pa��ses da ��frica, face ao desafi o da democratiza����o da comunica����o, do acesso ��s tecnologias e ao consumo dos bens e produtos liter��rios, fonogr��fi cos, audiovisuais e tantos outros.
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A INCOMPLETUDE DO OLHAR
Elizabet Dias de S��*
Sempre gostei de filmes, teatro, espet��culos e outras atividades culturais, e a aproxima����o com o cinema e com o mundo das artes em geral era influenciada pela roda de amigos. Entre eles, um grupo de cin��filos promovia encontros informais regados a aperitivos com petiscos e boas conversas sobre filmes. O rito desses encontros consistia na escolha de um filme para assistirmos juntos, em uma sala de cinema e, em seguida, todos iam para minha casa ou a de outro anfitri��o dispon��vel para aquela noite. Fazia parte do ritual, deixar um gravador ligado, enquanto as conversas, as brincadeiras e o riso rolavam soltos.
Os coment��rios e as opini��es sobre o filme eram transcritos, editados e publicados por um dos cin��filos do grupo em uma p��gina de cinema do jornal Estado de Minas.
Nessa ��poca, ainda n��o se ouvia falar em audiodescri����o e eu participava do mosaico de opini��es publicadas, gra��as aos amigos que liam a legenda do fi lme, descreviam as cenas visuais e muitas informa����es eram agregadas pelos coment��rios espont��neos.
Em outras situa����es, quando sou convidada para ser debatedora ou palestrante de temas focados na apresenta����o de document��rios, antes do evento, eu vejo o fi lme mais de uma vez com a colabora����o de algu��m.
Em casa, vejo fi lmes dublados, na televis��o ou em DVD e, depois, procuro saber quem viu o fi lme para me contar o fi nal e preencher as lacunas.
Muitas vezes, desisto de continuar quando h�� satura����o de cenas visuais com sil��ncios prolongados entre os di��logos porque a trilha sonora, os ru��dos e outros efeitos n��o s��o sufi cientes para a compreens��o de uma cena crucial e defi nitiva para o desfecho da trama.
* JElizabet Dias de S�� �� psic��loga com especializa����o em psicologia educacional; Gerente de Coordena����o do Centro de Apoio Para o Atendimento Pedag��gico ��s Pessoas com Defi ci��ncia Visual de Belo Horizonte ��� CAP/BH; Coordenadora de Conte��do ��� ��rea da defi ci��ncia visual ��� do curso de Especializa����o latu sensu de Forma����o de Professores para o Atendimento Educacional Especializado da Universidade Federal do Cear��; respons��vel pelo site Banco de Escola http://www.bancodeescola.com.
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Em meu primeiro contato com a audiodescri����o, o filme n��o era atraente e, por isso, quase n��o tive paci��ncia para chegar ao final. A expectativa em rela����o ao ineditismo do recurso preponderou sobre o conte��do e eu me concentrei na narra����o das cenas mudas e de outros est��mulos visuais com curiosidade e interesse profissional. Ao checar passagens do filme com outras pessoas, ficou evidente a omiss��o de informa����es cenogr��ficas relevantes al��m da falta de sincronia entre algumas imagens e a descri����o verbal. Mesmo assim, vislumbrei que se tratava de um recurso de acessibilidade indispens��vel para se desfrutar e compreender melhor um filme, uma pe��a de teatro ou um espet��culo de modo confort��vel e aut��nomo, o que, certamente, amplia as possibilidades de inser����o social e cultural do p��blico com defici��ncia visual e de outros benefici��rios.
Nesse contexto, tive experi��ncias gratifi cantes tanto em rela����o ao conte��do quanto �� qualidade t��cnica da audiodescri����o, gravada ou ao vivo, em Mostras e Festivais de Cinema que contemplavam esse recurso.
Dessa forma, passei a usufruir da audiodescri����o, sempre que poss��vel, em atividades profi ssionais, de lazer e entretenimento.
���Explora Guernica��� e outras artes
Em uma viagem a Madri, tive a oportunidade de ampliar minha experi��ncia, participando da atividade ���Explora Guernica��� que o museu Reina Sof��a oferece aos visitantes com defi ci��ncia visual: uma visita realizada em grupo de at�� quatro pessoas ou individualmente, de acordo com a necessidade de cada participante. A atividade consiste na explora����o da obra de Picasso pelo contato direto com o ambiente de exposi����o e o espa��o ocupado pela obra. Nessa visita, tive o prazer e o privil��gio de ouvir a explica����o e a descri����o verbal detalhada de Guernica, feita, primorosamente, pelo coordenador do projeto. O
processo de cria����o, a express��o das fi guras, a interpreta����o, os recursos t��cnicos e outros aspectos s��o comentados de acordo com o interesse e o n��vel de aprofundamento desejado pelo visitante.
Explorei, tamb��m, os seis diagramas t��teis, representativos da Guernica, uma adapta����o das imagens visuais para a linguagem t��til 204
Audiodescri����o
com a inten����o de diferenciar, de forma simples, os contornos, as posi����es relativas, formas e express��es das figuras, com a orienta����o e a explica����o simult��nea, por parte do coordenador, do que se pretende transmitir em cada linha ou trama.
Ainda em Madri, conheci o Museu Tifl ol��gico40, onde visitantes com defi ci��ncia visual recebem instru����es e um audioguia eletr��nico, que orienta o deslocamento aut��nomo para as diversas salas de exposi����o permanente. A cole����o de monumentos arquitet��nicos e escult��ricos �� exposta em maquetes com inscri����es em braille, sendo a explora����o t��til das obras de arte e do acervo de material tifl ol��gico guiada pela narra����o descritiva dos componentes e de outros aspectos relevantes de cada obra.
Recentemente, estive no Chile, onde visitei as tr��s casas de Pablo Neruda, transformadas em Museu. Em Valpara��so, a visita a uma dessas casas foi orientada por um audioguia individual com a narra����o descritiva, em espanhol, ingl��s e portugu��s, de acordo com a prefer��ncia do visitante.
Assim, foi poss��vel explorar cada ambiente, manusear o mobili��rio, tocar em v��rias pe��as e objetos expostos.
A����o educativa
A partir dessas incurs��es, considero a audiodescri����o um recurso indispens��vel em minha vida pessoal e profi ssional. Por isso, procuro introduzir esse tema em palestras, cursos e outras atividades de forma����o para o p��blico de professores do ensino fundamental e do atendimento educacional especializado. Nesses eventos, o p��blico tem a experi��ncia de ouvir para ver o fi lme, o que mobiliza diferentes rea����es e potencializa a refl ex��o acerca de recursos pedag��gicos e de acessibilidade no contexto educacional.
Em meu trabalho no CAP-BH, j�� apresentei para grupos de jovens e adultos cegos alguns dos document��rios da s��rie Assim Vivemos, 40 Tifl ologia: nome feminino; tratado ou estudo acerca da instru����o intelectual e profi ssional dos cegos (De tifl o-+-logia).
Transformando Imagens em Palavras
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programa veiculado pela TV Brasil, e da mostra de curtas infantis e para adultos do ���Dia Internacional da Anima����o���, nos quais se destacam a qualidade da narra����o e o profi ssionalismo dos audiodescritores.
Ressalto que se trata de uma a����o educativa, uma vez que a maioria desses usu��rios n��o tem o h��bito de ir ao cinema, nem familiaridade com a audiodescri����o. Por isso, a primeira aproxima����o costuma provocar o mesmo estranhamento observado no contato inicial dos usu��rios em rela����o aos programas leitores de tela com s��ntese de voz.
A partir do impacto inicial, por��m, emergem os coment��rios e opini��es acerca dos personagens, de informa����es secund��rias ou complementares e de outros aspectos objetivos e subjetivos. Cada indiv��duo tem contextos, necessidades e prefer��ncias com diferentes focos de aten����o, conhecimento, curiosidade ou interesse. Por outro lado, a t��cnica e a objetividade s��o necess��rias para se alcan��ar o ponto de consenso ou de equil��brio no sentido de estabelecer par��metros que contemplem o p��blico com tra��os e caracter��sticas comuns. Mesmo assim, a audiodescri����o ser�� sempre incompleta porque a incompletude est�� presente em tudo que �� visto pelos olhos humanos.
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Audiodescri����o
POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS
Cristiana Mello Cerchiari*
A primeira vez que assisti a uma pe��a com audiodescri����o n��o marcou muito a minha vida. Foi na Broadway, na cidade de Nova York, em 1995. Eu estava com um grupo de alunos cegos. Recebemos os fones de ouvido e disseram que ir��amos escutar a descri����o dos detalhes da pe��a. Quer seja pelo fato de eu ser uma estrangeira assistindo a uma pe��a em ingl��s, quer pelo longo tempo decorrido desde ent��o, o fato �� que minhas lembran��as desses momentos podem ser resumidas em uma ��nica frase: a pe��a contava a hist��ria de um casal que no fi nal fi cava junto.
Nunca deixei de assistir a espet��culos teatrais nem a fi lmes, nem antes, nem depois dessa viagem, mas essa compreens��o rudimentar e sint��tica dos espet��culos c��nicos sempre me acompanhava, inc��moda e constantemente, em todos eles. Por mais que eu conseguisse entender o enredo por meio dos di��logos, faltavam a linguagem gestual dos personagens, a movimenta����o durante as cenas, a constru����o de imagem de roupas de ��poca... Sobrava constrangimento para perguntar, mesmo aos meus familiares, o que havia acontecido em um dado momento importante do fi lme. Afi nal, eu n��o queria fazer barulho para n��o atrapalhar as outras pessoas.
Essa situa����o come��ou a mudar quando tive a primeira chance de assistir a um espet��culo com audiodescri����o: O Andaime. Era uma pe��a falada em portugu��s, no meu pa��s!!! N��o era uma not��cia de jornal de um produto maravilhoso que ningu��m pode comprar por causa de seu alto custo! Eu e os outros convidados pudemos conhecer o palco, o cen��rio e os audiodescritores. Al��m disso, recebemos o folder da pe��a em braille, atualmente t��o preterido em favor das tecnologias da Informa����o.
Foram momentos m��gicos, que abriram novos espa��os no meu rico mundo de quem nunca enxergou. Rico porque �� repleto de palavras,
* Mestranda pela Faculdade de Educa����o da USP, �� graduada em Letras pela USP e em tradu����o pela Universidade Mackenzie. Tem bastante conhecimento em tecnologias assistivas para pessoas com defi ci��ncia visual, tendo atuado como professora de Inform��tica e de idiomas por muito tempo.
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de pessoas, conhecimento e sensa����es t��teis, auditivas, olfativas e gustativas. Faltam, por��m, as percep����es visuais, a associa����o das palavras aos gestos e, em alguns casos, inclusive a imagem, a vis��o das cores, o signifi cado das express��es faciais...
Decididamente, n��o sei enumerar todos os elementos que faltam, mas percebo que assistir a v��rias pe��as e a uma ��pera com o recurso da audiodescri����o tem contribu��do decisivamente para enriquecer, diversifi car e ampliar meu conhecimento de mundo e poder de observa����o, trazendo novos questionamentos, abordagens inovadoras e possibilidades de di��logo nunca antes imaginadas. J�� vejo inclusive novas portas para pesquisas cient��fi cas!
Como estamos navegando ���por mares nunca dantes navegados���, como escreveu Cam��es, n��o sei exatamente onde vamos aportar, mas sei que quero estar neste barco.
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Audiodescri����o
UM CAMINHO SEM VOLTA
Lothar Antenor Bazanella*
Por muito tempo, gostava mais de ouvir o relato sobre fi lmes do que propriamente assisti-los, especialmente no cinema, onde n��o �� conveniente contar com a narra����o de algu��m que esteja ao nosso lado.
Mesmo em casa, podendo recorrer �� repeti����o em certos casos, n��o �� t��o simples. Dependemos da sensibilidade e da capacidade de s��ntese de quem assiste conosco. Nem sempre nos �� dito aquilo de que precisamos para entendermos a cena e, muitas vezes, nos dizem coisas que em nada contribuem.
Lembro uma vez em que me aventurei a assistir sozinho ao fi lme 2 001, Uma Odisseia No Espa��o, na TV. Creio que foi quando levei minha toler��ncia ao extremo. S�� depois do terceiro intervalo sem ouvir uma palavra sequer, tendo apenas um zumbido como garantia de que a TV per-manecia ligada, foi que desisti.
No teatro, por diversas vezes ouvi a plateia cair na gargalhada sem que eu soubesse o motivo. E fi caria sem saber que gesto teria sido, tampouco qual era o cen��rio e o fi gurino se n��o houvesse algu��m para descrev��-los.
Por outro lado, certa vez fui a uma exposi����o de holografi as e tive verdadeiramente a sensa����o de t��-las visto. �� que a pessoa que me acom-panhou possui um incr��vel senso de observa����o e sabe transmitir, como poucas, os detalhes de que precisamos para construirmos nossas impress��es. Desde aquela data eu j�� sabia exatamente do que �� que precisava para assistir a um fi lme, a uma pe��a, a uma exposi����o de artes etc.
S�� n��o sabia, ainda, como se chamava esse recurso.
Meu primeiro contato com audiodescri����o com qualidade profi ssional se deu por um fi lme dispon��vel no site do Clube do Sil��ncio, de Porto Alegre. J�� a primeira pe��a de teatro com audiodescri����o feita dentro dos
* Tem 58 anos. �� cego desde os 5, analista de sistemas, m��sico, poeta e apaixonado pela vida.
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requisitos t��cnicos necess��rios para emprego em casas de espet��culo, foi O Andaime, no Teatro Vivo, em S��o Paulo.
Desde ent��o, tenho acompanhado a evolu����o desse recurso, tanto pela qualidade t��cnica quanto pela forma����o de novos audiodescritores. Embora j�� se ou��a anunciar, aqui e ali, espet��culos com audiodescri����o, o n��mero desses eventos ainda est�� muito aqu��m do desej��vel. Al��m da eleva����o desse n��mero, para que possamos contar com esse recurso tamb��m na programa����o televisiva, ainda falta vencermos a resist��ncia dos meios de comunica����o que, estranhamente, contam com a compla-c��ncia do Minist��rio das Comunica����es.
Considero a audiodescri����o um caminho sem volta. Por isso acredito que, apesar dos diversos e poderosos interesses contr��rios, muito em breve haveremos de chegar l��.
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Audiodescri����o
EU OU��O, EU VEJO, EU SINTO AS MESMAS
EMO����ES QUE OS OUTROS
Antonio Carlos Barqueiro*
Lembro-me, ainda crian��a, sentado no ch��o do meu quarto, dividindo o espa��o com a pequena ofi cina de costura de minha m��e. Eu brincando com meus carrinhos e minha m��e costurando e, ao mesmo tempo, ouvindo as radionovelas em seu radinho de pilha. Para mim, parecia uma hist��-
ria real, devido �� boa interpreta����o dos radioatores; e a uma sonoplastia que invadia meus ouvidos, fazendo com que por muitos momentos eu parasse e, mesmo sem entender muita coisa, fi casse prestando aten����o.
Aos poucos, fui gostando daquele aparelhinho que transmitia emo����es.
As d��cadas de 60 e 70 foram bastante ricas no meio radiof��nico. Programas como O poder da mensagem (com H��lio Ribeiro) e os grandes narradores esportivos, como Osmar Santos, faziam com que nossa imagina����o viajasse para bem longe. Quando adolescente, me lembro de uma transmiss��o do carnaval carioca, pela R��dio Jovem Pan: a narra����o de Joseval Peixoto, certamente, proporcionava um colorido e uma emo-
����o muito mais forte do que a televis��o poderia mostrar.
Nessa ��poca, n��o podia imaginar que essa forma de comunica����o seria t��o importante para mim, ao se iniciar a perda de minha vis��o. A televis��o, o cinema, a leitura de livros, jornais e revistas foram cedendo lugar ��quele pequenino aparelhinho port��til, que eu levava para qualquer cantinho.
Por alguns anos fui privado de muitas informa����es, pois n��o havia muito material em braille. Qualquer material em tinta, eu dependia de algu��m, em seu tempo e em sua boa vontade, para ler para mim. Pude concluir minha faculdade, com a ajuda dos olhos de meus colegas e principalmente de minha namorada e, hoje, minha esposa, que em muitos assuntos n��o entendia o que estava falando, mas eu sabia o que estava ouvindo.
* Administrador de Empresas, P��s Graduado em Estudos Avan��ados de Computa����o, Consultor em Inclus��o e Rela����es Institucionais da LARAMARA (Associa����o Brasileira de Assist��ncia ao Defi ciente Visual).
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Finalmente, com o surgimento da microinform��tica e da internet, as pessoas cegas come��aram a receber informa����es e a interagir com outras pessoas, sem a necessidade de pedir ajuda a este ou ��quele, agora ou daqui a pouco. Eu podia ler, pesquisar, estudar, responder, me comunicar com outras pessoas no meu tempo, no meu momento, quando eu quisesse; n��o mais no momento do outro e sem atrapalhar ningu��m.
Uma sensa����o de liberdade que n��o d�� para descrever, s�� d�� para sentir.
Mas ainda faltava alguma coisa. Eu gosto, principalmente de assistir fi lmes, n��o importa se em TV ou em cinema, ou algumas com��dias em teatro. Minha esposa, sempre me acompanhando e sempre me descrevendo.
Nas salas de cinema ou em teatro, por mais que minha esposa seja discreta, respeite o local e tente n��o atrapalhar os outros espectadores, sempre um ou outro se incomoda com aqueles cochichos dela no meu ouvido. Isso faz com que, aos poucos, consciente ou inconscientemente, a gente v�� se afastando dessas formas de entretenimento e passe a pre-ferir ver um fi lme na TV por assinatura ou a alugar um DVD, pois assim n��o estar�� incomodando outras pessoas.
A audiodescri����o veio para proporcionar um verdadeiro conforto, para mim e para quem estiver me acompanhando. Eu ou��o, eu vejo, eu sinto as mesmas emo����es que os outros e no mesmo tempo dos outros. E, ao fi nal do evento, posso discutir e comentar com as mesmas informa����es que os outros tiveram.
Uma grande experi��ncia para mim foi assistir �� ��pera Cavalleria Rusticana, no Teatro S��o Pedro em S��o Paulo, estilo que nunca havia expe-rimentado ao vivo, at�� porque n��o interessava assistir a uma obra sem entender as letras das can����es interpretadas. Atrav��s da audiodescri-
����o, pude entender a mensagem, acompanhar as a����es e, ao fi nal do espet��culo, me emocionar como em poucas ocasi��es. E, principalmente: podendo comentar com qualquer pessoa e at�� mesmo com qualquer cr��tico, pois havia recebido as informa����es necess��rias. A primeira ��pera audiodescrita a gente nunca esquece!
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Audiodescri����o
Creio que ainda estamos em fase inicial da acessibilidade e que, ao longo do tempo, possamos escolher o m��todo ideal. O mais importante �� a conviv��ncia com os diferentes. S�� assim, e aos poucos, estamos aprendendo a respeitar e lidar com as diferen��as.
Para que a audiodescri����o possa ser mais difundida, seria importante uma maior participa����o especialmente das pessoas que atuam na ��rea de comunica����o, sejam elas, produtores, atores, diretores, publicit��rios, comunicadores... fazendo-as compreender que as pessoas com defi ci��ncia tamb��m s��o espectadores e consumidores e, portanto, necessitam de condi����es iguais para que sejam tratadas como cidad��os comuns.
Isto n��o �� um favor: �� apenas o cumprimento de regras b��sicas para um relacionamento humano mais justo.
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VENDO O QUE OUTRA PESSOA V��
Marcos Andr�� Leandro*
Desde que come��ou o movimento pela audiodescri����o no Brasil, eu procurei acompanhar de perto, porque sempre senti falta de algo assim para a total integra����o cultural e midi��tica das pessoas com defici��ncia visual.
Lembro que quando eu era crian��a, minha av�� costumava fazer esse trabalho. Isso quando nem mesmo se sonhava em algo assim no mundo.
Mas minha av�� e, creio que a maioria dos familiares de pessoas com defi ci��ncia visual, j�� tinham consci��ncia dessa necessidade em nossas vidas. Pois certamente 99% dos cegos t��m uma hist��ria para contar de um parente ou amigo que gostava de descrever as cenas e imagens de fi lmes, ou em passeios, descrever o ambiente. Assim era minha av��. Em todos os fi lmes que assist��amos juntos, ela descrevia todas as cenas com riqueza de detalhes.
E, fi nalmente, em 29 de maio de 2009, eu tive a primeira experi��ncia pessoal com a audiodescri����o em uma pe��a de teatro.
Sempre gostei de teatro, ia assistir pe��as desde que era crian��a, e sempre senti essas lacunas, pois em pe��as, n��o �� poss��vel descrever para a pessoa com defi ci��ncia visual sem que os vizinhos fi quem incomodados.
A primeira audiodescri����o foi maravilhosa, porque pude ter acesso total ao cen��rio, ao fi gurino, ��s express��es faciais, etc. E essas informa����es visuais, em conjunto com as informa����es auditivas que captamos, como imposta����o da voz, tom de conversa, formam um quadro completo da pe��a que estamos assistindo.
Por vezes at�� nos distra��mos, e nos pegamos a pensar qu��o bom �� ter esse recurso. O recurso �� t��o rico e t��o importante que at�� que nos acostumemos que agora somos respeitados, e podemos nos sentir iguais aos outros que est��o ali, fi camos distra��dos com essa medita����o
* Marcos Andr�� Leandro, cego de nascen��a, tem 35 anos e trabalha no Tribunal Regional do Trabalho, 2a regi��o.
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moment��nea. Estamos ���vendo��� tudo o que qualquer outra pessoa do meu lado, est�� vendo. E isso chega a nos desconcentrar por momentos.
E, fi co imaginando como seria maravilhoso se tiv��ssemos isso na televis��o, em todos os canais, em todos os programas, novelas, fi lmes e jornais. E naquelas legendas que aparecem na tela, como:
���Ligue para o n��mero que est�� abaixo!���,
���Escreva para o e-mail que aparece em sua tela���...
E em entrevistas em que aparece o nome da pessoa que est�� falando, em uma estreia de novela quando os atores e atrizes s��o apresentados com um fundo musical, mas nada �� falado. N��s n��o fi camos sabendo quem vai participar daquele trabalho. E o mais interessante �� que antigamente, quando eu era crian��a, lembro que isso n��o acontecia... Quando uma novela ia come��ar, o elenco era apresentado normalmente em voz alta.
Por que �� que mudaram isso? Muitas coisas que hoje reivindicamos, j�� existia na TV. N��o entendo a raz��o de terem mudado isso.
O fato �� que a audiodescri����o �� um recurso indispens��vel para que a pessoa com defi ci��ncia visual se sinta inserida no contexto cultural, seja em teatro, seja em cinema, seja na televis��o.
E ��peras, ent��o, n��o consigo me imaginar assistindo a uma ��pera sem o recurso da audiodescri����o. Seria simplesmente frustrante.
Realmente a primeira audiodescri����o a gente nunca esquece. N��o h�� como esquecer. �� uma experi��ncia ��nica. A sensa����o de ser respeitado, de estar em grau de igualdade com qualquer outra pessoa ali presente n��o tem pre��o.
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Audiodescri����o
FECHAMENTO DE UM PROCESSO
Roger Martins Marques*
Antes de mais nada, quero agradecer muito �� L��via por ter me dado este espa��o para que eu pudesse contar como foi a minha primeira experi��ncia com a audiodescri����o.
�� verdade, a primeira audiodescri����o a gente nunca esquece mesmo; por��m, vou me permitir voltar alguns passos desta primeira audiodescri����o, pois ao contr��rio de muita gente, para mim, a primeira foi o fechamento de um processo que j�� vinha acontecendo h�� algum tempo.
Tudo come��a com dois fatos que, at�� ent��o, n��o tinham conex��o nenhuma: o fato de trabalhar na Vivo e ser amigo de longa data da Professora L��via.
A professora, que j�� trabalhava como volunt��ria na Laramara, ensinando ingl��s para alunos cegos e com baixa vis��o desde 1999, viveu algum tempo na Inglaterra por conta do doutorado e voltou de l�� com muitas ideias revolucion��rias, no melhor sentido da palavra, ideias de inclus��o e, principalmente, de inclus��o das pessoas com defi ci��ncia visual.
Por outro lado, havia uma pessoa que trabalhava comigo no Instituto Vivo, o Eduardo Valente, que n��o tinha nenhuma rela����o com o universo das pessoas com defi ci��ncia, mas que tinha no sangue o gene da inclus��o.
Ele sempre foi vision��rio, sempre encampou a����es afi rmativas em tudo que dizia respeito �� empresa, desde produtos, acessibilidade no ambiente de trabalho como um todo e ��� por que n��o dizer? ��� acessibilidade aos eventos s��cio-culturais que a Vivo realizava no seu teatro.
Neste ��ltimo quesito entra o nexo causal entre o trabalho da L��via e o do Eduardo. At�� onde me lembro, a L��via estava em tratativas com a Vivo a respeito de algumas a����es da empresa junto ao Grupo Terra, ONG
* Roger Martins Marques, 35 anos, �� formado em Direito pela Universidade Ibirapuera. J�� trabalhou no Bradesco e na Vivo e hoje �� funcion��rio de uma empresa familiar no ramo de transporte e turismo.
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na qual vinha trabalhando como coordenadora de projetos, junto com Isabela Abreu, a presidente da ONG. No meio dessa conversa surgiu algo sobre a audiodescri����o e, por conseguinte, a ideia de ser colocado este recurso �� disposi����o do p��blico cego, principalmente porque o teatro j�� dispunha dos aparelhos de tradu����o simult��nea, os mesmos usados na audiodescri����o. Naquele momento, a L��via j�� vinha estudando o recurso.
Pude acompanhar esse embri��o muito de perto, pois na empresa cuidava de a����es de acessibilidade junto com o Eduardo, e tamb��m pelo fato de ser amigo da L��via. Depois de algumas conversas, foi decidido que se criaria um curso para forma����o de audiodescritores, cujos alunos seriam os volunt��rios da empresa.
Curso formatado, inscri����es feitas, l�� fomos n��s para o primeiro encontro de forma����o, e digo ���n��s���, pois estava l�� tamb��m, n��o s�� como consultor, mas principalmente como aluno. E o mais interessante desse curso, acho que foi ter sido o ��nico curso de que participei, em que realmente havia uma intera����o entre quem ensinava e quem aprendia, pois foi um processo de constru����o coletiva, um curso bem estruturado, com muitas horas de aula, e principalmente muitas horas de laborat��rio com a pe��a O Santo e a Porca, que fazia parte de um projeto de inclus��o cultural da Vivo para escolas p��blicas.
Depois de todo este processo, foi formada a primeira turma de audiodescritores volunt��rios da Vivo e o teatro passou a ser o primeiro da Am��rica Latina a ter este recurso. Da�� eu dizer que a pe��a O Santo e a Porca, apesar de ser a primeira pe��a que eu assisti com audiodescri����o, na verdade, foi o fechamento de um processo que veio de algum tempo antes e com o qual me orgulho de poder ter colaborado um pouquinho.
Como eu comentei acima, foi um processo de constru����o coletiva: al��m da minha participa����o, da L��via, dos audiodescritores da Vivo, tamb��m o elenco da pe��a O Santo e a Porca muito se envolveu com o recurso, apresentando-se para as pessoas com defi ci��ncia visual, falando de suas roupas e personagens.
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Audiodescri����o
ENXERGAR SEM VER
Jucilene Braga*
Sempre gostei de assistir televis��o, ir ao teatro e cinemas; por��m, sentia falta de um toque a mais. Compreendia o contexto, tanto que sou capaz de discutir qualquer que seja o fi lme, a pe��a ou, at�� mesmo, uma novela com qualquer pessoa, mas... mas.... Sabem aquelas cenas em que a m��sica toca, v��rios acontecimentos passam nesse momento e tudo o que resta a uma pessoa com defi ci��ncia visual nada mais �� do que a imagina����o? Pois bem, por v��rias vezes passei e, ��s vezes, ainda passo por esse desagrad��vel instante.
Certa vez tinha um trabalho da faculdade para fazer. O trabalho consistia em assistir a um fi lme e analisar a protagonista da hist��ria. Acontece que eu n��o s�� tinha um problema, como dois. O fi lme era legendado e precisava de uma audiodescri����o para as cenas, afi nal de contas eu desejava realizar uma an��lise completa. Para isso, precisava ter acesso ��s mesmas informa����es que meus colegas de sala, n��o prejudicando o meu rendimento. Foi ent��o que me lembrei de uma grande amiga que al��m de ser muito engajada com essas quest��es de acessibilidade para n��s, pessoas com defi ci��ncia, tinha mais um ponto a favor, pois seu ingl��s �� fl uente. N��o pensei meia vez, liguei para ela e logo marcamos o dia para assistir ao tal fi lme. Sa�� de sua casa muito satisfeita. Eu n��o s�� havia tido acesso ��s falas dos atores, como tamb��m aos gestuais das cenas. Sabia que era bom ter algu��m que pudesse nos descrever algo, mas n��o sabia que era simplesmente maravilhoso.
Eu gosto muito de cinemas, por��m fi co limitada aos fi lmes nacionais e infantis, (ainda bem que tenho um fi lho e os fi lmes infantis hoje em dia t��m sido bem interessantes), mas confesso que desejaria poder ir ver como qualquer pessoa a uma estreia internacional sem ter de me preocupar com o idioma e a descri����o. Em rela����o ao idioma j�� estou me
* Estudante de psicologia, consultora de inclus��o, diretora de rela����es p��blicas da ONG
Grupo Terra e palestrante em faculdades e escolas.
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esfor��ando e aprend��-lo, sem d��vida, ser�� um ganho extraordin��rio para mim. Por��m, a audiodescri����o �� totalmente indispens��vel. Por meio dela, �� como se eu enxergasse sem ver.
Em 2006 ��� at�� que enfi m ��� algu��m nos enxergou como p��blico e surgiu, ent��o, uma luz no fi nal do t��nel. Nesse ano, quando come��amos um forte movimento por este recurso, pude ter a honra de assistir a uma pe��a audiodescrita por volunt��rios do Instituto VIVO. Nem preciso dizer o quanto sa�� feliz do teatro. Me senti respeitada, enxergada como pessoa consumidora, enfi m, me senti como gente...
Depois desta pe��a, outras mais vieram. E eu que j�� era f�� de teatros, passei a frequent��-los com muito mais assiduidade e, hoje, fa��o at�� uma oficina teatral.
S�� quem vive na pele de uma pessoa que n��o v�� pode avaliar o quanto �� importante ter acesso a essas informa����es.
Ainda tenho um grande sonho. Sonho que um dia n��s, pessoas com defi ci��ncia visual, chegaremos aos cinemas, teatros, (seja qual for), museus, enfi m, a todos esses lugares e nos sentiremos respeitados e considerados p��blico de verdade.
Para fi nalizar, porque poderia escrever horas a fi o sobre o qu��o maravilhoso �� o recurso da audiodescri����o, proponho a todos que est��o lendo este livro que fechem seus olhos em frente �� televis��o e se permitam assistir a uma cena sem ver. Mas fa��am isto de verdade. N��o vale ���roubar���, porque n��s n��o podemos abrir os olhos quando a m��sica toca e ter acesso ��s imagens que podem fazer todo o sentido para a hist��ria...
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Audiodescri����o
PARTE III
OLHOS QUE FALAM
O OUTRO LADO DA MOEDA
Let��cia Schwartz*
A fam��lia ainda lembra ��� e como esquecer? ��� da ��poca em que me queriam fechar a boca com esparadrapo. Da inf��ncia �� adolesc��ncia sa��a do cinema sempre t��o empolgada que n��o resistia �� tenta����o de narrar os fi lmes assistidos de cabo a rabo. Sim, contava at�� o fi nal, o que por si s�� j�� deveria ser um crime inafi an����vel. Fazia ainda pior: descrevia de tal forma cada uma das cenas, sem esquecer detalhe, que meu relato durava bem mais do que as duas horas da sess��o e a paci��ncia dos ouvintes.
Audiodescrevia e n��o sabia. Tamb��m ignorava, naquele tempo, que essa moeda tinha dois lados e que se conseguisse desenvolver uma tremenda capacidade de s��ntese poderia, talvez, transformar o v��cio em virtude.
Conheci Mois��s Bauer em fi nal de 2008, quando tentava angariar a parceria da FREC para um projeto que previa a produ����o de audiolivros.
Recebi bem mais do que podia esperar desse contato inicial. Sa�� daquela reuni��o com uma ideia, um nome e um caminho. Foi Mois��s quem, pela primeira vez, me falou sobre a audiodescri����o e indicou a entrevista da Graciela Pozzobon no Programa do J��. Da�� ao Blind Tube foi um pulo.
E logo percebi que era exatamente aquilo o que eu queria fazer, que aquela poderia ser a minha maneira de fazer sentido.
No sul do Brasil, a audiodescri����o era ent��o uma ilustre desconhecida.
Pela internet pude recolher material, me informar, estudar. Existe muita gente no pa��s realizando experi��ncias fant��sticas em diversos aspectos relacionados ao tema, desde o trabalho de audiodescri����o propriamente dito at�� o desenvolvimento de pesquisas e a produ����o de teses acad��micas.
Como n��o podia, naquele momento, participar de cursos espec��fi cos de capacita����o, resolvi aprender aplicando, na pr��tica, as no����es aprendidas na teoria e na an��lise do material dispon��vel. N��o fi z isso sozinha: Gabriel Schmitt e Bruno Klein, do Beco das Garrafas Est��dio, aceitaram me
* Estudante de psicologia, consultora de inclus��o, diretora de rela����es p��blicas da ONG
Grupo Terra e palestrante em faculdades e escolas.
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acompanhar no desafi o e se dedicaram a pesquisar as quest��es t��cnicas; e o escritor Cezar Dias se prop��s a prestar assessoria aos primeiros roteiros.
Assim, com um laborat��rio �� disposi����o e uma equipe entusiasmada, selecionamos dois curtas-metragens e um desenho animado infantil e come��amos a desenvolver nossos prot��tipos.
Nessa ��poca, a FINEP abriu um processo de sele����o para empresas que propusessem servi��os inovadores. Animados pelos coment��rios favor��veis recebidos em testes dos prot��tipos, desenvolvemos um documento minucioso, que inclu��a pesquisas sobre o p��blico-alvo, o mercado e a viabilidade do projeto. Isso tudo nos levou a aprofundar ainda mais nossos conhecimentos e a discutir a audiodescri����o de forma cada vez mais profissional.
O fi nanciamento da FINEP deu in��cio a uma nova fase. O est��dio foi rebatizado ��� o nome atual �� Habanero ��udio ��� e passei a fazer parte da empresa, como respons��vel pelo desenvolvimento de um setor destinado especifi camente �� audiodescri����o. Meu foco de trabalho �� o roteiro e a narra����o, enquanto Gabriel e Bruno se dedicam ��s quest��es t��cnicas, que envolvem a grava����o, a edi����o e a pesquisa permanente de formas de transmiss��o da audiodescri����o, principalmente no que se refere a salas de cinema. Contamos ainda com a parceria de um escritor respons��vel por corre����es gramaticais e com a revis��o fi nal realizada por uma pessoa com defi ci��ncia visual, a fi m de assegurar a clareza das descri����es.
A Mostra para Deficientes Visuais do Dia Internacional da Anima����o foi nosso primeiro trabalho e percorreu diversas cidades do Brasil.
Foram treze curtas-metragens de anima����o, adultos e infantis, com diferentes temas e linguagens, exigindo, cada um deles, um estilo pr��prio de audiodescri����o. A excelente repercuss��o e os coment��rios entusiasmados que recebemos constitu��ram evid��ncia de que est��vamos no caminho certo.
Audiodescrever me deixa feliz. Simples assim. Discutir metodologias e sistem��ticas, assistir a um mesmo fi lme at�� quase conhec��-lo de cor, estudar e me informar sobre assuntos que n��o domino para melhor compreender as imagens. Garimpar palavras que correspondam exatamente ��quilo que quero descrever, cortar-ajustar-encaixar narra����es nos espa��os dispon��veis como quem monta um quebra-cabe��as. Ouvir o fi lme de olhos fechados e perceber que ele se torna compreens��vel.
Conversar com pessoas cegas que comentam cenas mudas como se as 224
Audiodescri����o
tivessem visto. Possibilitar que se emocionem ou deem gargalhadas ou gritem de terror, que se divirtam ou que aprendam atrav��s da informa����o que estou transmitindo. Saber que podem compartilhar aquele momento com pessoas videntes. Fazer diferen��a. Fazer sentido.
�� importante ter consci��ncia de que a audiodescri����o n��o �� um servi��o meramente t��cnico. Assim como a arte, ela exige um envolvimento intenso com o projeto. �� preciso sensibilidade para encontrar o vocabul��rio adequado e o tom de voz ideal para que a audiodescri����o seja totalmente integrada ao fi lme. Um fi lme do Rambo n��o pede o mesmo vocabul��rio que um fi lme de Woody Allen. Um romance n��o pede o mesmo tom de um fi lme de terror ou de uma com��dia.
�� consenso que o tom da narra����o deve ser neutro. Acrescento, por��m, que ele deve ser expressivo. �� preciso perceber, no entanto, que h�� uma diferen��a entre expressividade e interpreta����o. �� fun����o da narra����o propiciar o envolvimento do espectador com aquilo a que ele est�� assistindo e n��o roubar a aten����o do pr��prio fi lme. A prioridade ser�� sempre do som, dos efeitos, da trilha e, principalmente, das vozes dos atores. A audiodescri����o n��o pode nunca competir com o que o fi lme apresenta de expressivo. Mas uma narra����o completamente neutra acaba por interferir na sensa����o que o fi lme provoca. Uma narra����o fria pode vir a ser um obst��culo a qualquer tentativa de envolvimento por parte do espectador. Os di��logos e os efeitos sonoros, com toda sua coer��ncia, convidam a um mergulho no universo do fi lme, enquanto uma narra����o demasiadamente distanciada pode atuar como elemento de ruptura.
Assistir a um fi lme n��o se restringe a compreend��-lo. Tanto o roteiro quanto a narra����o da audiodescri����o devem se deixar impregnar pelo que h�� de subjetivo no fi lme. Caso contr��rio, o espectador estar�� obrigado a abrir m��o do envolvimento absoluto em prol do mero entendimento.
Para que esse objetivo seja alcan��ado, �� preciso assumir o audiodescritor como um narrador da obra. Um narrador que n��o interfere na a����o, na sequ��ncia dos acontecimentos ou na interpreta����o dos fatos, mas que, de uma maneira extremamente sutil, �� parte integrante daquele universo.
Os desafi os s��o muitos e s��o imensos. Nesse momento, o maior deles n��o �� apenas meu, nem se restringe aos audiodescritores. O maior dos desafi os diz respeito �� sociedade como um todo. �� fundamental tornar a audiodescri����o n��o apenas conhecida, mas presente. Provar que o cego vai, sim, ao cinema, e que frequentaria ainda mais as salas de exibi����o se Transformando Imagens em Palavras
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elas contassem com recursos que lhe permitissem usufruir integralmente da programa����o. Provar que o cego assiste televis��o, vai ao teatro, aprecia desfi les de moda. �� preciso mostrar que os defi cientes visuais constituem um p��blico sedento de atividades culturais, potencialmente consumidor de arte, de entretenimento e dos produtos divulgados pelos patrocinadores. Recursos muito simples podem promover a participa����o efetiva desse p��blico em atividades diversas e sua plena integra����o ao universo dos indiv��duos capacitados a usufruir qualquer bem cultural.
Para isso, �� preciso viabilizar a exibi����o de programas com audiodescri����o.
Se os cinemas e teatros ainda n��o est��o equipados (salvo poucas exce����es que merecem todo o reconhecimento!) ou se as emissoras de televis��o se recusam a fazer uso da tecla SAP para esse fi m, o espectador cego n��o tem possibilidades de acesso integral e, consequentemente, �� limitado o interesse que aquele produto lhe pode despertar. Ao mesmo tempo, enquanto o p��blico cego n��o se impuser na condi����o de potencial consumidor, n��o haver�� investimento em alternativas de integra����o nem em equipamentos que a tornem poss��vel. Romper esse c��rculo vicioso �� o primeiro passo para que a audiodescri����o ocupe efetivamente o lugar que lhe �� devido.
Deve ser tamb��m levado em considera����o que, ainda que o p��blico portador de defi ci��ncias visuais seja o destinat��rio preferencial da audiodescri����o, os poss��veis benefi
ci��rios deste recurso formam
um universo bem mais amplo. Pessoas afetadas por S��ndrome de Down, dislexia e autismo encontram na audiodescri����o um elemento facilitador, que permite uma maior compreens��o do que �� apresentado.
E existem, ainda, outras aplica����es que podem ser exploradas. �� o caso, por exemplo, de professores que encontraram, na audiodescri����o, uma alternativa l��dica para o ensino da l��ngua portuguesa, tanto para aprimorar a reda����o de alunos brasileiros quanto para enriquecer o vocabul��rio de alunos estrangeiros.
A audiodescri����o se confi gura, pois, como um recurso de enorme utilidade para um p��blico extenso e diversifi cado, o que justifi ca sua difus��o em larga escala. Por��m, mais relevante do que o n��mero de pessoas benefi ciadas �� a oportunidade de uma inclus��o real daqueles que, sem ela, continuariam impedidos de ter acesso ao universo da produ����o audiovisual.
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Audiodescri����o
A GRANDE HIST��RIA DA ��GUA
Leonardo Rossi Lazzari*
A audiodescri����o surgiu na minha vida como uma grande novidade, e tamb��m uma grande surpresa. Foi por um convite do meu amigo e parceiro de longa data, Maur��cio Santana, que um dia me ligou e disse que a gente faria " televis��o para cegos". Como adoro desafi os, topei a ideia na hora!
O Maur��cio j�� estava com uma empresa em S��o Paulo, a Iguale Comunica����o de Acessibilidade, que tamb��m presta servi��o de Closed Caption. Como a audiodescri����o se tornaria lei atrav��s da portaria 310 do Governo Federal, a Iguale entrou em contato com diversas emissoras de televis��o de S��o Paulo, e assim fi zemos alguns pilotos: Smallville (As Aventuras de Superboy) e SBT Rep��rter para o SBT, O Pica-Pau para a Record e at�� P��nico na TV
ao vivo, para a RedeTV. Os produtos foram muito bem recebidos pelas emissoras, e estava tudo engatilhado para uma era inteira de trabalho, at�� que o Governo pressionado pela ABERT (Associa����o Brasileira de R��dio e TV) desobrigou a transmiss��o.
Mas n��s n��o desistimos e tentamos outros caminhos, como comerciais de TV, teatros e cinemas. E eis que um dia surge a Natura, e eu recebo uns dos maiores presentes da minha vida: narrar o primeiro comercial audiodescrito do pa��s, chamado A grande hist��ria da ��gua. Que responsabilidade! O roteiro da audiodescri����o foi do Maur��cio, e fi cou assim: 00:00 - (AD) Desenhos de bolhas de sab��o. Natura Natur�� apresenta: 00:05 - (AD) Crian��as sentadas em roda �� beira de um lago. 00:11 - (AD) Desenho animado de gotas de chuva caindo.
00:20 - (AD) Desenho de gotinhas de ��gua evaporando e formando nuvens no c��u. 00:29 - (AD) Desenho da ��gua passando por v��rios encanamentos subterr��neos e chegando nas casas.
00:42 - (AD) Cenas de crian��as felizes tomando banho.
* Natural de Piracicaba, interior de S��o Paulo e nascido em 16 de Julho de 1976. �� formado em Comunica����o Social pela Unimep e em Artes Dram��ticas pelo SENAC.
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00:52 - (AD) Embalagens coloridas.
00:59 - (AD) Marca Natura.
Com o tempo outros trabalhos vieram. Mais tr��s comerciais da Natura: Mam��e e Beb��, Kaiak ��� O que move voc��? , e o mais recente Banho de gato; os document��rios: Cidade dos An��es, Curadores e Zona Desconhecida; os fi lmes para a Mostra Sul-Americana de Cinema dos Direitos Humanos: Cocais, Unidad 25 e No Se Lo Digas a Nadie; outro da Retrospectiva do Cinema Brasileiro: Um homem de moral; al��m dos fi lmes do circuito comercial: A mulher invis��vel e O contador de hist��rias.
Esses fi lmes todos da Mostra e da Retrospectiva foram narrados ao vivo, com uma cabine instalada nas depend��ncias da sala de cinema do CineSesc, em S��o Paulo. Devo confessar que foi uma experi��ncia e tanto! O fazer ao vivo �� muito emocionante porque voc�� tem que estar plenamente antenado: qualquer vacilo, voc�� perde a cena e, a��, n��o tem volta. E �� muito gostoso estar presente com os ouvintes, e saber deles in loco como foi seu trabalho.
�� sempre um desafi o fazer uma audiodescri����o. Muitas perguntas v��m �� cabe��a: O que descrever? Que palavras usar? O que �� realmente importante? O que procuro fazer ao roteirizar �� primeiro assistir ao fi lme como espectador, porque �� preciso curtir e apreciar a obra em que se est�� trabalhando. S�� depois �� que inicio a decupagem, trecho por trecho, tentando encontrar o essencial de cada cena, a fi m de descrever o melhor em fun����o do tempo ��� at�� porque n��o se produzem fi lmes pensando que algum dia algu��m vai descrever as cenas que n��o cont��m di��logos!
Como narrador procuro buscar uma certa neutralidade na interpreta����o, mas sem me tornar monoc��rdio. Creio que a narra����o se deva valer da qualidade do produto. Leveza em com��dias, seriedade em dramas e assim por diante, mas nada que interfi ra ou antecipe algo ao espectador, pois isso cabe aos personagens, ��s trilhas e aos climas do pr��prio fi lme. O
audiodescritor n��o deve chorar ou sorrir, ou fazer qualquer ju��zo de valor.
Proje����o e dic����o de voz s��o muito importantes, pois o nosso produto se faz ouvir por meio dela e os nossos receptores, em sua grande maioria, t��m percep����o auditiva mais apurada.
Resumindo minha rela����o com a audiodescri����o, posso dizer que depois de anos trabalhando com comunica����o, fi nalmente encontrei algo que me permite faz��-la grande, em alcance e relev��ncia.
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E COM A PALAVRA OS AUDIODESCRITORES
DO TEATRO VIVO
Carlos Eduardo Mar��al da Silva, Marli Fernanda Nunes, Milena de Oliveira Leite, Pilar Garcia Alava, Rosilene Cortes Almeida A audiodescri����o �� uma atividade desenvolvida no Teatro Vivo pelos funcion��rios da empresa que, para serem audiodescritores, fazem um curso de forma����o de 40 horas. O conte��do program��tico do referido curso contempla aspectos referentes �� inclus��o cultural da pessoa com defi ci��ncia visual, ao conceito, hist��rico, panorama mundial e brasileiro, princ��pios da audiodescri����o, leis e decretos, t��cnicas de sumariza����o, elabora����o de roteiros, equipamentos e procedimentos para a implementa����o do recurso, al��m de atividades de locu����o.
Os depoimentos dos profi
ssionais da Vivo que trabalham como
audiodescritores volunt��rios revelam seu envolvimento com a atividade e o quanto o trabalho tamb��m repercute em suas vidas pessoais e profi ssionais.
DIREITO DE CIDAD��O
Carlos Eduardo Mar��al da Silva*
A audiodescri����o foi a ferramenta que me ajudou a concretizar minha vontade de realizar um trabalho que me inserisse no mundo da acessibilidade. Lembro-me como se fosse ontem. Na empresa, recebemos uma convocat��ria por e-mail, sobre o curso de audiodescri����o, e ao ler, apesar de n��o saber exatamente o que signifi cava, me motivei e fui �� aula de apresenta����o no miniaudit��rio. Fiquei encantado com o trabalho e decidi, naquela aula, que era o momento certo de me inserir no mundo da acessibilidade.
* Paraense, 28 anos, Contador, p��s-graduado em Controladoria e Audiodescritor da 2�� turma do Instituto VIVO, ministrada pela prof�� L��via Maria V. de M. Motta.
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As primeiras experi��ncias foram muito marcantes, com destaque para a audiodescri����o realizada na ADEVA (Associa����o de Defi cientes Visuais e Amigos), com o fi lme Nossa vida n��o cabe num opala. Fizemos a audiodescri����o sem microfones e na mesma sala onde as pessoas estavam.
O resultado foi fant��stico! Foi muito marcante, no fi nal, o depoimento de um cego que passou o fi lme todo calado, sem expressar qualquer sentimento. Esper��vamos dele uma rea����o negativa, mas foi com um suave sorriso que ele falou: ���eu consegui ver todo o fi lme! ���. A partir da�� pude perceber o que signifi cava acessibilidade para pessoas com defi ci��ncia visual e que todos os esfor��os e contratempos eram, naquele momento, meros detalhes.
A minha primeira audiodescri����o realizada no teatro VIVO foi na estr��ia do espet��culo Vestido de Noiva (Nelson Rodrigues). O nervosismo era algo inerente �� estr��ia, devido �� complexidade do texto, e �� forma como o espet��culo foi montado (misturando as cenas entre os tr��s planos: Alucina����o, Mem��ria e Realidade). Na sa��da do teatro, alguns cegos queriam nos conhecer e agradecer pessoalmente pelo nosso trabalho.
Atos como esse me deixam ainda mais motivado.
A ��ltima experi��ncia, a qual eu denomino como marco hist��rico para cidade de S��o Paulo, foi a audiodescri����o da ��pera Cavalleria Rusticana, realizada no teatro S��o Pedro. Foi l�� que pude concretizar, por defi nitivo, tudo aquilo que aprendi, ampliando para os cegos o entendimento sobre aquilo que �� poss��vel transformar em voz, e igualando seu direito de cidad��o. Arrancar sorrisos e l��grimas com a ajuda de um roteiro e da minha voz, junto com as vozes dos outros audiodescritores, foi sentir algo n��o sentido anteriormente��� muito gratifi cante.
A pr��tica da audiodescri����o, em si, traz v��rios benef��cios pessoais. Dentre eles, pude aprender como me comportar corretamente e adequadamente na presen��a ou companhia de uma pessoa cega. Al��m disso, a cada espet��culo, atrav��s dos roteiros, recebo novas informa����es que enriquecem meu vocabul��rio. Tamb��m aprendi t��cnicas para elaborar um roteiro de audiodescri����o; e a cada fi lme, seja no cinema ou em casa, ou espet��culo teatral que assisto, me deparo sempre prestando mais aten����o nos detalhes e imaginando como eu montaria o roteiro. Tenho certeza de que a cada apresenta����o sempre aprendo algo novo. �� um processo cont��nuo de aprendizagem devido �� variedade de eventos em que este recurso pode ser aplicado.
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N��o me resta d��vida de que a audiodescri����o permite que o cidad��o cego possa ter o mesmo direito de um vidente. Por isso, o que mais desejo �� que este recurso seja a cada dia mais divulgado, que a iniciativa privada possa investir muito na acessibilidade para que ela chegue �� casa de cada cidad��o brasileiro.
PAIX��O PELA AUDIODESCRI����O
Marli Fernanda Nunes*
Quando iniciei o curso de audiodescri����o, n��o tinha conhecimento detalhado deste recurso. O curso me auxiliou e apresentou todas as t��cnicas de elabora����o do roteiro, das falas, dos conceitos, enfi m, todo o material necess��rio para a pr��tica da audiodescri����o de uma pe��a, teatro, fi lme, espet��culos, ��peras e outros. A cada aula me encantava com a import��ncia do trabalho, mas ainda faltava a estr��ia, a primeira experi��ncia.
Aconteceu no Natal de 2008: ganhei este presente inesquec��vel. Fiz a audiodescri����o da pe��a A Arca de Noel, na cidade de Gramado. Incr��vel!!!
Algumas pessoas com defi ci��ncia visual estavam assistindo a uma pe��a, com o recurso da audiodescri����o, pela primeira vez.
Tinha uma preocupa����o muito grande em fazer o melhor para proporcionar o maior entendimento a todos. Importante ressaltar que mesmo preocupada estava tranquila, pois havia ensaiado muitas vezes. Recebi o DVD da pe��a e o roteiro com uma semana de anteced��ncia para poder estudar o material e me familiarizar com o roteiro. Esta prepara����o �� fundamental e proporciona uma seguran��a maior no momento do espet��culo.
Ainda n��o comentei, mas na semana que antecedia a minha estr��ia, estava com uma inflama����o na faringe que me deixou roca, quase sem voz, mas com muitos cuidados e muita ��gua, tudo correu bem no dia. Outra dica importante �� sempre cuidar da voz. No curso tivemos orienta����es de uma fonoaudi��loga.
* Paulista, 30 anos, economista, p��s graduada em Gest��o de Marketing, MBA em Gest��o de Processos de Neg��cios e Audiodescritora da 3�� turma do Instituto VIVO, ministrada pela prof��
L��via Maria V. de M. Motta.
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Ao fi nal da pe��a estava ansiosa para saber se tinham gostado, quais os pontos positivos e negativos, enfi m, queria ouvir o retorno deles. Quando sa�� da cabine estavam todos sentados aguardando para conhecer os personagens bonecos. Comecei a conversar com todos, perguntar o que acharam e foi naquele momento que descobri a paix��o pela audiodescri����o. Ouvi diferentes coment��rios, mas foi un��nime, entre eles, a satisfa����o de ter a liberdade de entendimento, de terem informa����es que lhes possibilitam entender a pe��a como todos os demais.
O momento mais esperado para o audiodescritor �� sempre o fi nal de cada espet��culo, pois �� quando reconhecemos a relev��ncia deste trabalho. Ouvir frases como: ���por um momento foi como se eu voltasse a ver���, ���os audiodescritores s��o nossos olhos neste momento���, este tipo de coment��rio sempre me emociona e proporciona uma felicidade de saber que pude ser um instrumento mediador do entendimento.
A minha vida mudou, a menos de um ano ap��s o curso de audiodescri����o.
Al��m do teatro, tamb��m aplico as t��cnicas aprendidas no curso, no meu dia-a-dia: no trabalho, nos estudos e nos relacionamentos com os amigos e com a fam��lia.
A audiodescri����o pode mudar a vida de muitas pessoas, pode contribuir muito com a sociedade, pois �� um recurso fundamental para as pessoas com defi ci��ncia visual e tamb��m pode ser vista pelos empres��rios como um neg��cio a ser desenvolvido. Este recurso pode ser incluso nos cinemas, nos teatros, museus, e demais casas de espet��culos de todo o Brasil.
APLICA����O DAS T��CNICAS APRENDIDAS
Milena de Oliveira Leite*
Minha experi��ncia como audiodescritora come��ou h�� pouco mais de 6 meses. No in��cio, fi quei curiosa com as aulas e t��cnicas aprendidas. ��
um tema que ainda �� desconhecido para muitos com ou sem defi ci��ncia visual. O interessante �� que fui percebendo, com este trabalho, a
* Graduada em Comunica����o Social com habilita����o em Publicidade. Concluiu o curso de audiodescri����o em Janeiro de 2009.
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traduzir o que vejo e o que sinto.
Com a audiodescri����o �� poss��vel descrever gestos, movimentos, objetos, cen��rios, entre outros. Procuramos os detalhes, tudo o que antes passava despercebido, n��o s�� caracter��sticas materiais, mas o signifi cado das coisas agora precisa ser traduzido. Essa tradu����o �� resultado de um trabalho que requer paci��ncia e autocr��tica. Cada um tem um jeito pr��prio de viver e enxergar a vida e a diversidade �� o que nos torna t��o diferentes e, ao mesmo tempo, completos.
Ao final de cada trabalho recolhemos o feedback das pessoas com defici��ncia visual e sempre se ouve algo novo e motivador para a continuidade do trabalho. Uma vez ouvi o depoimento de um rapaz que tinha perdido a vis��o recentemente por uma fatalidade do dia a dia: ���obrigado por me fazer enxergar novamente, achei que isso nunca mais seria poss��vel���. Para todos que sempre nos entusiasmam com sua alegria e satisfa����o, digo: ���obrigada por me fazer enxergar o que antes eu n��o era capaz���.
Quando falo do meu trabalho como audiodescritora, muitos se interessam pelo assunto e se surpreendem: ���Nossa! Mas que legal, n��o sabia que isso existia���. Para mim, a audiodescri����o �� mais do que acessibilidade. N��o estou querendo exagerar, mas �� que para mim esse trabalho realmente tem um signifi cado maior.
Voc�� j�� parou para observar uma paisagem? Qualquer uma que seja? O
que voc�� conseguiu enxergar? Volte e olhe novamente e depois de novo e perceba quantas coisas voc�� deixou de perceber na primeira vez. Depois experimente conversar com algu��m que j�� viu a mesma paisagem, ser�� que ela percebeu as mesmas coisas que voc��? Para mim essa resposta �� n��o. Mas, se voc�� pudesse contar a ela o que viu e ela pudesse replicar a voc�� as coisas que para ela fi zeram mais sentido voc�� perceberia que ambas deixaram de enxergar detalhes importantes. O trabalho do audiodescritor �� um tanto detalhista e procura complementar o que os ouvidos escutam, por��m de uma forma imparcial deixando para o ouvinte a interpreta����o e sentimentos que s�� ele pode agregar.
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IGUALDADE DE OPORTUNIDADES
Pilar Garcia Alava*
A empresa em que trabalho decidiu apoiar a causa da defi ci��ncia visual.
Contratou uma funcion��ria cega e foi ent��o que eu comecei a conhecer um pouco mais sobre este tipo de defi ci��ncia. Confesso que antes disso, o ��nico contato que tive com uma pessoa com defi ci��ncia visual foi um dia em que vi um cego tentando atravessar a rua e prontamente o ajudei a atravess��-la. Em 2006, fi z um curso de audiodescri����o pelo Instituto Vivo e foi onde realmente eu me encontrei.
Desde ent��o exer��o o trabalho de audiodescritora no Teatro Vivo. �� muito prazeroso e gratifi cante realizar este trabalho. �� fant��stica a sensa����o de entrar na cabine, sentar �� frente do microfone e audiodescrever as cenas, ouvir os depoimentos ap��s o t��rmino da pe��a, participar das discuss��es sobre as cenas. Nunca pensei na difi culdade que seria para um cego, assistir a uma pe��a de teatro, a fi lmes, e exposi����es. Hoje, quando assisto a um programa de televis��o, fi co analisando a difi culdade que um cego tem, para entender o que se passa na TV.
Eu acredito que todos devem ter a mesma igualdade de oportunidades. O
meu trabalho contribui para isso. �� uma pequena atitude, que signifi ca uma grande mudan��a. O poder est�� em nossas m��os.
* Paulista, 31 anos, formada em Educa����o F��sica e p��s-graduada em Administra����o e Marketing Esportivo. Coordenadora de eventos e audiodescritora.
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AUDIODESCRITORA APAIXONADA
Rosilene Cortes Almeida*
Quando recebi o convite para o curso e soube que seria a primeira turma a receber este treinamento aceitei sem saber o que seria e o que traria para minha vida. N��o tinha no����o do que era o curso, mas a cada aula que eu assistia ia me apaixonando pelo trabalho.
Come��amos a pr��tica na pe��a O Santo e a Porca que, ali��s, �� muito engra��ada e com profi ssionais excelentes. T��nhamos colegas com defi ci��ncia visual que serviram de ���cobaias��� dando opini��es e nos ajudando a aperfei��oar as descri����es.
Quando recebi o certifi cado de conclus��o do curso, me senti muito feliz e, ao mesmo tempo, preocupada com a responsabilidade que me foi dada, de repassar os meus conhecimentos para pessoas que esperam de mim o entendimento da pe��a.
Sinto-me orgulhosa de me identifi car como audiodescritora e apaixonada pela iniciativa.
Uma vez recebi o depoimento de uma pessoa com defi ci��ncia visual, com o qual me emocionei muito: ���Voc��s s��o meus olhos. Isso n��o tem pre��o, �� uma emo����o ��nica���.
Este recurso tem ajudado muitas pessoas com defi ci��ncia visual a assistirem ��s pe��as com melhor entendimento, sem ter que fi car perguntando aos acompanhantes o que est�� acontecendo e incomodando os outros colegas ao lado.
Espero que este recurso se estenda para outros meios de comunica����o e divers��o como um direito das pessoas com defi ci��ncia.
* Casada, m��e da Helena Cortes da Silva. Nascida em Patroc��nio ��� MG, formada em Economia.
Trabalha na Vivo h�� 8 anos. Tamb��m atuante na Par��quia Sagrada Fam��lia.*
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EMPRESTAR O OLHAR
Ros��ngela Barqueiro*
Emprestar o olhar �� um exerc��cio di��rio h�� muito tempo. �� inovador e desafi ador a cada instante porque seu signifi cado �� din��mico dependendo de quem empresta e de quem toma esse olhar.
Quando tinha meus 13/14 anos, meu pai dizia: ���a gente s�� d�� o que tem���
referindo-se ��s rela����es com os irm��os, amigos, com os presentes que queria ofertar e que nem sempre podia, inclusive porque n��o tinha o dinheiro para comprar... Ele me fazia ver a import��ncia dos v��rios assuntos e n��o s�� do que eu queria saber. Falava-me do quanto as coisas podiam ser interessantes. Gostava de conversar comigo, falava de pol��tica, de cultura, de arte, esporte, religi��o e em cada assunto um envolvimento profundo.
Muitos dos meus valores foram sendo constru��dos nas refl ex��es proporcionadas pelas s��bias palavras que meu pai usava para me fazer pensar o que a vida me mostraria ao longo do meu desenvolvimento.
�� muito bom lembrar das hist��rias do meu pai, da riqueza de detalhes com que contava seus causos e suas viv��ncias. Da tradu����o que fazia das suas pescas, dos seus passeios, das m��sicas italianas, das ��peras, dos fi lmes... segundo seu olhar e seu entendimento.
Acredito que foi assim que come��ou minha rela����o com a audiodescri����o.
Fui estimulada desde cedo a olhar al��m do que meus olhos podiam ver.
E isto, certamente, foi um grande ganho para minha vida.
Desde cedo fui muito observadora, e at�� mesmo por for��a do exerc��cio profi ssional isto se potencializou e, como nos ��ltimos 30 anos vivo as quest��es relacionadas com as pessoas com defi ci��ncia, com seu entorno... entre mil outras coisas fui reconhecendo nas atitudes das pessoas a import��ncia da informa����o, do acesso �� informa����o. Incomodo-
* Ros��ngela Ribeiro Mucci Barqueiro. Psic��loga; P��s-Graduada em Psicologia Hospitalar e Administra����o de Recursos Humanos; Consultora em Inclus��o e Audiodescritora. Rela����es Institucionais da LARAMARA ��� Associa����o Brasileira de Assist��ncia ao Defi ciente Visual.
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me quando penso na priva����o que as pessoas com defi ci��ncia visual passam. Mesmo sendo sens��veis, perceptivas, inteligentes, curiosas...
nem sempre a informa����o est�� dispon��vel e/ou acess��vel. Uma simples informa����o pode interferir na vida de forma positiva ou negativa ��� em menor ou maior grau de import��ncia. Mas o fato �� que interfere.
Vivemos num mundo que prioriza o visual, e suas mensagens visuais (como diriam os adolescentes) s��o ���super hiper mega supra��� valorizadas.
Assim, as pessoas que n��o enxergam ou enxergam alguma pouca coisa s��o privadas de alguns signifi cados relevantes para o seu dia a dia. O olhar das pessoas, as express��es, os sinais, as placas, os mapas, os espa��os, a decora����o, as roupas, as simetrias, o abstrato ... tudo fi ca a encargo do imagin��rio de cada um e das pistas captadas quando s��o oferecidas. Se por um lado assusta, por outro surpreende, mas fi co pensando que se estas pessoas conseguem sobreviver com certa qualidade mesmo assim, imagine se a elas fosse dada a mesma condi����o que n��s possu��mos? Talvez tivessem mais chances de serem brilhantes ou ainda mais brilhantes. Al��m de, tamb��m, nos proporcionar condi����es melhores. Afi nal conviver com pessoas melhor preparadas pode nos faz melhor.
O conv��vio di��rio com as pessoas com defi ci��ncia visual nos incentiva a novos olhares, ou melhor, novos signifi cados para o olhar. Amplia o nosso saber. Ao descrever uma express��o ou algum detalhe percebido ou solicitado, conseguimos dar maior nitidez ��quilo que estamos olhando. Nem sempre mantemos os valores atribu��dos ��quela primeira vis��o e este �� o grande lance.
Parece muito f��cil falar o que se v��. Simples, n��o ��? N��o ��!!!
�� trabalhoso e extremamente dif��cil conciliar de forma harmonizada o que se v�� com o que se fala, sente e faz, na mesma velocidade que acontece. Aquela hist��ria que diz que uma imagem pode expressar mil palavras parece fazer sentido neste contexto.
Quando decidi fazer o curso de audiodescri����o, foi mesmo para buscar uma t��cnica que me ajudasse a ser mais objetiva, assertiva nas minhas descri����es porque percebi que t��o cedo n��o deixaria de compartilhar meu olhar, n��o apenas porque faz parte do meu exerc��cio profi ssional ou porque sou boazinha, ou porque convivo com pessoas com defi ci��ncia 238
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visual, mas tamb��m porque assim vi meu horizonte se ampliar e meu aprendizado se aprofundar a cada dia.
A descri����o �� um grande e valioso instrumento de intera����o. H�� muitos anos comecei descrevendo o entorno de um quarto de hospital para um paciente que n��o podia olhar al��m do ch��o, porque se mantinha deitado de bru��os, num p��s-operat��rio da coluna cervical bastante complicado... Esta foi a forma que encontrei de me aproximar e ser aceita. Descrevia o que eu observava pela janela: as pessoas que ali transitavam, os profi ssionais de sa��de, os utens��lios, o ambiente... aos poucos fui percebendo o quanto era importante aquele ato, aquele momento. Tanto para mim quanto para quem recebia a informa����o. Sem saber, a espontaneidade e a curiosidade davam cores, formas, texturas, cheiros, paladares.... e assim experiment��vamos todos os sentidos, e eu... consegui me aproximar! Pude ajud��-lo naquela fase dif��cil de recupera����o, aceita����o, supera����o...
Da�� para frente, seguiram-se algumas experi��ncias, inclusive a percep����o e a busca do entendimento dos Contos de Fadas (um dos cursos de aperfei��oamento que decidi fazer quando trabalhava com crian��as institucionalizadas / hospitalizadas). A chance que eu tinha de trabalhar com as m��es e pajens, instrumentalizando-as para uma intera����o mais assertiva, mais humana, mais suave... a leitura, a descri����o e a explora����o dos livrinhos, dos encartes, dos gibis, das ilustra����es.
Durante um curto espa��o de tempo, logo depois que me formei, trabalhei na Penitenci��ria do Estado de S��o Paulo ��� Hospital Geral, e lembro que era importante para alguns dos detentos (pessoas com defi ci��ncia) a descri����o do trajeto que fazia entre o Metr�� e o Pavilh��o onde eu os atendia. As mudan��as, as reformas, as vias, os barulhos... eles diziam algo parecido com isto: ���quando se perde a liberdade, todos os sentidos s��o afl orados e por vezes destorcidos e para o resgate da sensa����o, que s�� a liberdade proporciona, �� necess��rio participar, ainda que no imagin��rio���.
O tempo passou e eu literalmente continuava emprestando meus olhos.
Agora emprestava os olhos para a leitura e minha voz para grava����o de livros, apostilas, artigos sobre administra����o, economia, gest��o, matem��tica financeira, estat��stica, l��gica... n��o entendia quase nada, mas o simples fato de emprestar os olhos e a fala fazia com que o Transformando Imagens em Palavras
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outro, neste caso, ���um querido��� (meu namorado ��� hoje, meu marido), pudesse entender o que era preciso entender. E ambos (eu e ele) aprend��amos, porque sempre havia a troca. A explica����o era como se decifr��ssemos uma f��rmula matem��tica. Era a tradu����o do que eu lia.
�� uma sensa����o muito boa tamb��m porque �� gratificante, proporciona satisfa����o. A audiodescri����o �� um exerc��cio de respeito, de ��tica e s�� �� mesmo de qualidade quando compartilhada. �� um treino pessoal, que exige estudo e dedica����o no que diz respeito ��s infer��ncias e interpreta����es. �� um movimento intenso de busca, de alternativas ���em palavras��� que garantam o entendimento sem super ou subestimar a capacidade de entendimento e hist��ria de vida do outro. Manter-se dentro do que o autor prop��e, dentro de sua linguagem e dos fatos �� um grande desafio, complexo e fascinante.
�� interessante observar as pessoas que j�� enxergaram olhando.
Olhando o passado, o presente e o futuro. Mas o mais importante ���
independentemente de j�� terem enxergado, n��o �� o brilho no olhar, mas o brilho que cada um transmite para o sentir do outro.
Num dos meus exerc��cios de audiodescri����o de filmes infantis tive a oportunidade de trocar informa����es com algumas crian��as, alguns jovens e adultos com defici��ncia visual (cegos e baixa vis��o). E ouvi-las ap��s terem assistido ao filme com audiodescri����o foi de fato um grande prazer. �� mesmo muito bom poder proporcionar essa alegria. Mais que isto, �� saber que a audiodescri����o favorece muito o acompanhante da crian��a ou adulto com defici��ncia visual. Ouvi outros acompanhantes, mas falo por mim: a audiodescri����o �� muito confort��vel. �� muito bom n��o ser bombardeada com olhares, caras e bocas em espet��culos em que os demais espectadores (que n��o t��m conv��vio com pessoas com defici��ncia) imaginam que voc�� n��o tem educa����o porque est�� cochichando o tempo todo. Eles ficam incomodados, eu me incomodo e certamente a pessoa com defici��ncia visual tamb��m se incomoda, at�� porque, via de regra ouve ou percebe os coment��rios. Algumas pessoas com defici��ncia visual se privam de ir ao teatro, cinema... para n��o se expor, expor o parceiro ou passar por mais um constrangimento. Outros, os acompanhantes, deixam de frequentar alguns lugares para evitar essas situa����es.
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Tem sido frequente a busca de ajuda para orienta����o familiar quando um membro da fam��lia perde a vis��o, algu��m que tinha uma vida social intensa e que naquele momento esteja limitado aos espa��os da fam��lia, consultas m��dicas e, no m��ximo, �� igreja. Alegam que n��o querem expor seu pai/ m��e/ namorado, pelos poss��veis constrangimentos e, por outro lado, eles mesmos (���pessoas com defi ci��ncia recente���) n��o querem ser um peso para seu familiar / acompanhante... Minha pergunta sempre ��:
��� quem vai se constranger?
O fato �� que com a audiodescri����o acontecendo cada vez mais e com a participa����o frequente das pessoas com defi ci��ncia nos cinemas, teatros, shows, pra��as, exposi����es, recitais, a sociedade come��a a compartilhar esses espa��os de forma mais consciente. Dessa forma, passa a tratar a situa����o com maior naturalidade, enfrentando a realidade e n��o fazendo de conta, disfar��ando, achando que est�� sendo educada ou gentil ao falar que nem havia percebido que ela/ele tinha alguma defi ci��ncia.
�� muito bom que, ao t��rmino do espet��culo, a pessoa com defi ci��ncia esteja em sintonia com a conversa e as interpreta����es de cada um, sem que se isole, ou seja isolada, por n��o ter compreendido as cenas. Sem contar quando h�� o constrangimento daqueles que cismam em querer explicar e/ou justifi car.
Meu grande sonho �� que, em breve, a audiodescri����o seja uma pr��tica dispon��vel em larga escala e que todos possam ter acesso a tudo que lhes provoque o interesse, seja na TV, no teatro, no cinema, na internet, nos semin��rios, nas apresenta����es, nas aulas, nos museus, nas exposi����es, nos parques...
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AUDIODESCRI����O NO CENTRO
CULTURAL S��O PAULO
Ana Maria Campanh��, Ana Maria Rebou��as, Camila Feltre, Carmita Muylaert Moreira, Iris Fernandes, Lizette T. Negreiros, Maria Adelaide Pontes*
���N��o podemos esquecer de manter a insustent��vel leveza do ser.���41
Inaugurado em 1982, com uma ��rea de 46.000 m2, o Centro Cultural S��o Paulo, ��rg��o da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de S��o Paulo, oferece �� popula����o eventos multidisciplinares, como ofi cinas, palestras, debates, cursos, exposi����es, espet��culos de dan��a, espet��culos teatrais, cinema, web radio e shows. Possui importantes acervos, como a Cole����o
* Ana Maria Campanh��, formada em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Braz Cubas em 1980. Atua na equipe dos cursos, ofi cinas e demais atividades educativas da Divis��o de A����o Cultural e Educativa ��� DACE
Ana Maria Rebou��as, mestre em Artes C��nicas pela ECA-USP, pesquisadora de teatro e curadora interdisciplinar do Centro Cultural S��o Paulo.
Camila Feltre, bacharel em Artes Visuais pelo Centro Universit��rio Belas Artes de S��o Paulo. Est��gio no Centro Cultural S��o Paulo na Divis��o de A����o Cultural e Educativa como mediadora.
Carmita Muylaert Moreira, formada na Faculdade Ibero Americana ��� Letras e Tradutor e Int��rprete. Atua na equipe de cursos, ofi cinas e demais atividades educativas da Divis��o de A����o Cultural e Educativa ��� DACE
Iris Fernandes, publicit��ria formada pela Faculdade de Comunica����o Social C��sper L��bero, atua como assessora de imprensa, produtora cultural e professora de cursos t��cnicos de publicidade e propaganda do ensino m��dio. Funcion��ria da Divis��o de Informa����o e Comunica����o ��� DIC
Lizette T. Negreiros, Curadora de Teatro Infanto-Juvenil e atriz.
Maria Adelaide Pontes, formada em Educa����o Art��stica com habilita����es em Artes Pl��sticas e Artes C��nicas, pelo Instituto de Artes da UNESP. Atua na Divis��o de Acervos Documenta����o e Conserva����o.
41 Esta �� uma dica para quem quer seguir pelos caminhos da audiodescri����o: descrever sem interpretar, sem antecipar os acontecimentos, selecionando palavras que facilitem a compreens��o, levando em considera����o a diversidade do p��blico e seu repert��rio diferenciado. Certamente n��o iremos esquecer as li����es que tamb��m nos servem para a vida e para o aprimoramento das nossas rela����es com as pessoas.
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de Arte da Cidade, a Discoteca Oneyda Alvarenga, que inclui a cole����o da Miss��o de Pesquisas Folcl��ricas de M��rio de Andrade, o Arquivo Multimeios, al��m de um conjunto singular de bibliotecas, entre elas a Biblioteca Louis Braille. Ap��s a implanta����o em 2007 do Livre Acesso ���
Programa da Acessibilidade do Centro Cultural S��o Paulo ��� em parceria com Secretaria Municipal da Pessoa com Defi ci��ncia e Mobilidade Reduzida e o Instituto Vivo, a institui����o equipou-se, entre outros, com v��deo ampliador, linha braille e diversos softwares ( openbook, jaws, magic, acessibility works), que possibilitam �� pessoa com defi ci��ncia visual o acesso aos acervos disponibilizados pela institui����o. O site tornou-se acess��vel e, al��m disso, o pr��dio foi adaptado com a instala����o de pisos e mapas t��teis, telefones, elevadores, banheiros acess��veis.
Por meio do programa Livre Acesso, o CCSP foi o primeiro espa��o p��blico a utilizar a audiodescri����o em sua programa����o cultural, projetando-se como pioneiro na presta����o desse servi��o ��s pessoas com defi ci��ncia visual. Comunga assim com o ideal de inclus��o, bem como o da acessibilidade integral �� Cultura e ��s Artes. Neste sentido, n��o s�� tem correspondido ��s necessidades das pessoas com defi ci��ncia como tamb��m a diferentes sensibilidades e distintos modos de percep����o e conhecimento encontrados na diversidade s��cio-cultural de uma megal��polis como S��o Paulo.
Como ponto de partida para que este servi��o de audiodescri����o fosse implantado no CCSP, funcion��rias de algumas ��reas fi zeram o curso no Instituto Vivo, ministrado pela profa. L��via Motta e que teve a dura����o de 40 horas. ���No in��cio n��o sab��amos exatamente como seria o curso, mas no decorrer das aulas, fi camos admirados porque mudou a forma de observarmos os detalhes que antes passavam quase despercebidos e que para uma pessoa com defi ci��ncia visual ou baixa vis��o faz toda a diferen��a para o entedimento do espet��culo���, declara Lizette Negreiros.
A seguir, relatos das recentes experi��ncias em audiodescri����o no Centro Cultural S��o Paulo:
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Audiodescri����o
Espet��culo teatral Amor que �� de mentira ou mentira que �� de amor?
Data: 24/01/09
Dire����o: Sidmar Gomes
Audiodescritoras: Ana Maria Rebou��as, Iris Fernandes e Lizette Negreiros Pela primeira vez no estado de S��o Paulo, foi apresentado um espet��culo teatral com audiodescri����o num espa��o p��blico com a participa����o de volunt��rias do CCSP. A pe��a que inaugurou esse recurso de acessibilidade foi Amor que �� de mentira ou mentira que �� de amor?
com autoria e dire����o de Sidmar Gomes, da Cia. dos Ditos Cujos, um dos projetos ganhadores do Edital de Ocupa����o das Salas do CCSP para uma temporada de dois meses na Sala Jardel Filho, na categoria Teatro infanto-juvenil.
Passo a passo
- Conhecimento do texto atrav��s de v��rias leituras. Encontro com o diretor do espet��culo para obter mais informa����es sobre o trabalho e saber como foi esse processo de cria����o que envolveu atores e m��sicos.
- Participa����o em ensaios com o texto do espet��culo e um pr��-roteiro como base: os primeiros ensaios aconteceram em uma sala de aula, sem cen��rio, sem fi gurino, apenas com poucos elementos de cena, os atores, o diretor (que tamb��m �� ator) e os m��sicos. Durante o ensaio, pudemos notar que muita coisa do texto j�� havia mudado e, consequentemente, isso alteraria o nosso pr��-roteiro. As mudan��as mostravam que haveria necessidade de assistir a outros ensaios. A falta dos elementos c��nicos difi cultou bastante a observa����o das marca����es e dos movimentos.
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- Encontros para reavalia����o do roteiro. Foram feitas as altera����es anotadas no ensaio e sugeridas outras modifi ca����es com base em uma discuss��o sobre o que era mais relevante.
- Preparamos a fi cha t��cnica, a descri����o das caracter��sticas dos personagens e do cen��rio. O diretor enviou nova vers��o do texto com as altera����es da pe��a.
- Preparamos a descri����o do fi gurino e da maquiagem, acrescentamos outras informa����es que completaram o trabalho. O roteiro sofreu altera����es com novas informa����es quase o tempo todo. Nova releitura, novas altera����es. A partir disso, come��aram os ajustes para a vers��o defi nitiva. O roteiro foi elaborado por Ana Maria Rebou��as, Iris Fernandes e Lizette Negreiros, com acompanhamento da professora L��via Motta. Foram feitas cinco vers��es e, se houvesse mais tempo, chegaria �� sexta vers��o. Segundo L��via Motta, sempre haver�� ajustes.
- Finalizamos e distribu��mos o roteiro que foi dividido entre as tr��s audiodescritoras: a primeira parte, que consistia na abertura, informa����es sobre a pe��a, fi cha t��cnica, descri����o dos personagens e do cen��rio, foi realizada por ��ris Fernandes. J�� o espet��culo foi dividido entre as audiodescritoras Lizette Negreiros e Ana Maria Rebou��as, que se intercalaram na descri����o de algumas passagens para haver diferencia����o de voz e proporcionar maior din��mica.
Pontos positivos
- Houve responsabilidade, aten����o, dedica����o, cuidado, vontade de acertar, sensibilidade, companheirismo, igualdade no trabalho. N��o houve imposi����o de id��ias: as mudan��as eram discutidas e melhoradas sempre que necess��rias.
- Entendimento de trabalho: o ideal �� fazer a audiodescri����o em conjunto: duas, tr��s ou, talvez, quatro pessoas. Fazer sozinho n��o �� imposs��vel, por��m com mais pessoas, pode-se dividir tarefas, opini��es e um olhar mais agu��ado sobre o que se faz. �� um trabalho minucioso, que requer aten����o desdobrada nos m��nimos detalhes, poder de 246
Audiodescri����o
s��ntese e vocabul��rio substancioso. Precisa-se ler e reler v��rias vezes o roteiro, entender o mecanismo das mudan��as para n��o colocar o desnecess��rio ou ser redundante. Se houver possibilidade, assistir a mais de dois ensaios do espet��culo completo. N��o basta somente a dedica����o; disponibilidade de tempo �� fundamental.
- Audiodescri����o �� um trabalho prazeroso que exige integra����o, tempo, conhecimento da obra nos m��nimos detalhes, di��logo amistoso com o grupo ou companhia, respeito �� obra. O aprimoramento da t��cnica se consegue com ��� foi o que pudemos perceber.
A primeira experi��ncia foi v��lida. Cabe �� equipe, cada vez mais, aprimorar o trabalho executado. Audiodescrever uma pe��a de teatro realmente exige dom��nio do roteiro, conhecimento profundo sobre a obra e agilidade para inserir mais algumas a����es, gestos e express��es que podem acontecer de improviso no palco.
Visita mediada com audiodescri����o �� exposi����o
���Aur��lio Becherini: S��o Paulo em Transi����o���
Data: 06/05/2009
Audiodescritoras: Ana Maria Campanh��, Camila Feltre, Carmita Muylaert Moreira
Mediadores: Breno Morita, Caio Marinho Maimone, Juliana Rosa e Patr��cia Marchesoni Quilici
Escolhemos a exposi����o ���Aur��lio Becherini: S��o Paulo em Transi����o��� para desenvolver a nossa proposta. A mostra contava com 45 fotos em preto e branco sobre a cidade de S��o Paulo em transforma����o, no per��odo de 1904 a 1934.
Junto com a equipe de media����o da Divis��o de A����o Cultural e Educativa, desenvolvemos uma pesquisa para elabora����o do roteiro e da atividade pr��tica. Tamb��m contamos com a colabora����o das equipes de fotografi a da Divis��o de Informa����o e Comunica����o, e da Biblioteca Louis Braille. A audiodescri����o teve a supervis��o da professora L��via Motta.
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A visita foi agendada para 14 crian��as com defi ci��ncia visual, de 10 a 15
anos, 5 acompanhantes adultos do Instituto Padre Chico e 2 adultos videntes (que usaram vendas durante a visita) da Secretaria Municipal da Pessoa com Defi ci��ncia e Mobilidade Reduzida ��� SMPED.
Visita e acolhimento ao grupo
No acolhimento nos apresentamos ao grupo, que tamb��m se apresentou. Demos as boas-vindas, perguntamos quem j�� conhecia o Centro Cultural S��o Paulo, falamos sobre a programa����o e explicamos as atividades que iriam acontecer: a audiodescri����o de algumas fotos da exposi����o, seguida de uma discuss��o sobre elas e uma atividade pr��tica.
Apresenta����o da atividade do dia
Apresentamos o servi��o de audiodescri����o, que muitos j�� conheciam em pe��as de teatro e cinema. Dividimos-nos em 2 grupos de 10 pessoas para melhor aproveitamento de todos. Fomos ao piso Caio Graco, descrevemos a sala Tarsila do Amaral, onde estava a exposi����o e o tamanho das fotos. No texto de abertura, ressaltamos a import��ncia do fot��grafo Aur��lio Becherini para a cidade de S��o Paulo. Escolhemos 6 das 45 fotos expostas que abordavam diversos aspectos da transforma����o da cidade como: paisagem, constru����es, meios de transporte, vestimentas, pessoas, energia el��trica, al��m da caracter��stica da pr��pria linguagem fotogr��fi ca. A visita foi desenvolvida de maneira participativa, de modo que o grupo fez observa����es e opinou a respeito do que foi descrito.
Pr��tica
Conclu��da a passagem pela exposi����o, iniciamos a discuss��o sobre a percep����o dos visitantes no que foi descrito. Foi uma discuss��o muito rica, em que os visitantes mostraram que conseguiram ter um panorama da obra do fot��grafo e das transforma����es sofridas pela cidade de S��o 248
Audiodescri����o
Paulo. A etapa seguinte foi a atividade pr��tica, partindo das percep����es individuais sobre a exposi����o. Utilizando os diversos materiais tridimensionais, m��sicas sobre S��o Paulo, sons da cidade e poesias em braille, os jovens desenvolveram v��rios trabalhos, poesias, desenhos, relacionados aos conceitos levantados na exposi����o.
Fechamento
No fi nal, cada participante p��de comentar sobre sua produ����o e compartilhar sua opini��o sobre a exposi����o e sobre a visita mediada.
Houve muita troca, foram feitas muitas observa����es interessantes e at�� emocionantes. Terminamos entregando a programa����o e os convidando a voltar ao Centro Cultural S��o Paulo.
Filme Nossa Vida N��o Cabe Num Opala
Data: 17/05/09
Dire����o: M��rio Bortolotto
Roteiro para audiodescri����o: L��via Maria Villela de Mello Motta Audiodescritoras - Adelaide Pontes, Ana Maria Campanh��, Carmita Muylaert Moreira e Iris Fernandes
Assistimos ao fi lme v��rias vezes, sem texto, e depois com a leitura do texto, sendo o ��ltimo ensaio na sala de cinema Lima Barreto. O p��blico foi variado embora a divulga����o tenha sido dirigida ��s pessoas com defi ci��ncia visual. Era uma sess��o especial para pessoas com defi ci��ncia visual, porque ter��amos uma audiodescri����o aberta, sem cabine, apenas com microfone. Distribuimos vendas para que as pessoas videntes pudessem vivenciar a experi��ncia de assistir a um fi lme sem enxergar. O
p��blico foi receptivo e a apresenta����o teve ��xito.
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Recebemos ainda a presen��a de uma pessoa com defi ci��ncia auditiva e como o fi lme n��o era legendado, oferecemos a ela a sinopse e outras informa����es impressas sobre o fi lme, o que facilitou a compreens��o da hist��ria. Ap��s o t��rmino do fi lme, deixamos que os expectadores fi zessem suas observa����es, sugest��es e perguntas. Ouvindo cada opini��o sobre o fi lme, tivemos a certeza da import��ncia desse trabalho. Os detalhes de cen��rio, roupas e outros elementos visuais s��o determinantes para a compreens��o do todo.
Foi gratifi cante e compensador ouvir do p��blico que o nosso trabalho proporcionou entendimento do fi lme e que eles conseguiram ���visualiz��-lo��� e compreender melhor a trama.
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Transforma����o, uma necessidade e um direito
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A Conven����o da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Defi ci��ncia 6
reconhece e assegura o direito destas pessoas em participar da vida cultural em igualdade de condi����es com todos os demais e enfatiza a ado����o de medidas pertinentes para viabilizar o acesso aos produtos culturais em todos os formatos e m��dias.
Na perspectiva do desenho universal, o conceito de acessibilidade ultrapassou a barreira arquitet��nica e ambiental e alcan��ou os meios audiovisuais, atividades da informa����o, comunica����o, cultura e entretenimento, tais como teatro, televis��o, cinema, dan��a e etc.
Servi��os e sistemas acess��veis espelham o marco legal de uma sociedade justa e para todos. O respeito �� diversidade como a ess��ncia da condi����o humana e prerrogaqtiva de uma sociedade livre, �� enfatizada pelo desenvolvimento tecnol��gico, e contribui para a constru����o de uma imagem positiva e ativa das pessoas com defi
ci��ncia , superando
estere��tipos e preconceitos.
As barreiras de comunica����o e informa����o s��o os principais obst��culos �� participa����o plena das pessoas com defi ci��ncia em todos os n��veis: social, profi ssional e cultural.
A imagem constitui um elemento essencial na forma����o de conceitos, na tradu����o da cultura de uma na����o e no desenvolvimento cognitivo da crian��a e do jovem. Utilizar a audiodescri����o �� dar acesso ��s pessoas com defi ci��ncia visual, mas este �� tamb��m um produto cujo impacto vai al��m. Proporcionar educa����o e cultura sem discrimina����o �� o prop��sito! O uso da tecnologia para garantir acessibilidade �� um caminho de m��o dupla, garante o direito das pessoas com defi ci��ncia e ensina a sociedade a respeitar a diversidade.
Este livro registra o in��cio de uma nova era!
Prof��. Dr��. Linamara Rizzo Battistella
Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Defi ci��ncia
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De: <felisberto
De: <felisberto
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