de
Amor
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��� ��� Leitura mais adiantada, sem vocabul��rio.
��� ��� ��� Leitura mais liberada.
Sulema M e n d e s
C i �� m e s
d e
A m o r
�� Editora Tecnoprint S.A., 1986
As nossas edi����es reproduzem
integralmente os textos originais
I S B N 8 5 - 0 0 - 1 1 2 8 3 - 2
Grupo Ediouro
EDITORA TECNOPRINT S.A.
ngela estacionou o carro cuidadosamente na sua va-
CAP��TULO
ga de garagem, guardou a chave na bolsa e andou at�� o
elevador, suspirando. "Sete horas. Sa�� antes das seis da ci-
1 dade. Que tr��nsito infernal! Tomara que Adriana e Rober-
to tenham feito o jantar. Estou morta de cansa��o", pensou, enquanto
subia at�� a portaria.
Cumprimentou o porteiro:
��� Boa noite, seu Adilson, tem correspond��ncia?
��� Algumas contas e duas cartas. A Idinha apareceu hoje. To-
cou a campainha. Mas acho que os meninos estavam na escola. Dei-
xou recado que volta amanh��, antes das nove.
��� Gra��as a Deus! Sem Idinha a casa vira uma bagun��a!
Ela entrou no elevador. Abriu a bolsa, procurando a chave. O
espelho da porta refletiu-lhe o rosto, bem mais j o v e m que os seus 36
anos, o corpo esguio, a saia branca, justa e bem talhada, o blazer ama-
relo sobre a blusa listrada de branco e amarelo.
"Estou mesmo com cara de secret��ria executiva, depois de um
dia inteiro de reuni��o da diretoria", pensou, enquanto empurrava a
porta externa do elevador, e sa��a no oitavo andar.
Entrou em casa sonhando com um banho de meia hora. Parou
na porta desanimada. Pela bagun��a da sala dava para adivinhar o es-
tado do resto da casa. Almofadas, revistas e discos estavam empilha-
dos no ch��o, misturados com a bandeja cheia de pratos e copos usa-
dos. Um p�� de t��nis enfeitava o aparelho de T V , enquanto o outro
ficara jogado no meio da sala, devidamente ladeado por um par de
meias sujas. A mesa desaparecera, encoberta por livros, cadernos,
l��pis de cor, mais uma camisa de malha, virada pelo avesso.
ngela teve vontade de chorar. Atravessou aquele caos, trope-
��ando nas almofadas, em dire����o �� cozinha. A pia entupida de lou��a
suja, leite derramado pelo ch��o, fog��o e panelas com restos de comi-
da do dia anterior, compunham o cen��rio.
Angela voltou da porta. Nos quartos, os arm��rios abertos, gave-
tas semifechadas e as camas sem fazer. Sobre sua mesa-de-cabeceira,
dois bilhetes: "Fui �� sess��o das seis com a turma. Beijos, Adriana."
E "Dei uma sa��da. Volto cedo. Roberto".
Ela sentou na beira da cama desanimada. Tirou os sapatos de
salto alto e abriu as duas cartas. A primeira, de Alberto, seu irm��o
ca��ula, oficial da Marinha Mercante, fora posta no correio em Marro-
cos. Contava as novidades da vida de bordo e prometia estar em ca-
sa para a P��scoa. A segunda, de sua m��e, queixando-se da falta de
not��cias. Queria saber quando Angela acharia tempo para passar um
fim de semana com eles, no s��tio.
T �� o logo seu pai se aposentara, eles haviam decidido vender o
apartamento no Rio para viverem numa pequena ch��cara, que pos-
su��am em Miguel Pereira. Isso acontecera h�� cinco anos, tr��s antes
de M��rcio morrer num acidente. Dois caminh��es apostavam corrida
6 ��� Ci��mes de Amor
na via Dutra, j�� pr��ximo �� entrada do Rio. Um deles desgovernou-se,
atravessou a pista e colheu em cheio o carro no qual viajava o mari-
do de ngela. Ficara vi��va com 34 anos, dois filhos, um diploma de
Letras, outro da Alian��a Francesa, um certificado de conclus��o de um
curso de conversa����o em ingl��s. A pens��o n��o cobria metade das
despesas e o seguro mal dera para completar o or��amento durante
seis meses.
Nos primeiros tempos, ngela nem conseguia chorar a pr��pria
dor, segurando a barra dos filhos, do sogro vi��vo (M��rcio era filho
��nico) e atolada em montes de pap��is para assinar, provid��ncias a
tomar, al��m de assumir os encargos que haviam sido do marido. Tr��s
meses voaram. O saldo do banco diminu��a assustadoramente. As au-
las particulares de ingl��s e franc��s ajudavam pouco. Pelos seus c��l-
culos, o dinheiro daria apenas para outros tr��s meses, e assim mes-
mo muito esticado. Foi Sueli, sua melhor amiga, quem sugeriu:
��� Fa��a um curso intensivo de datilografia, outro de taquigrafia
e, se poss��vel, um desses cursinhos r��pidos para secret��rias. Falando
e escrevendo duas l��nguas, n��o ser�� dif��cil arrumar emprego numa
boa empresa.
��� Mas n��o tenho pr��tica. Nenhuma empresa pagar�� para uma
principiante o sal��rio que preciso ganhar.
��� Tente a firma onde M��rcio trabalhava. Ele era muito benquisto
e estava a servi��o deles quando morreu.
ngela fora falar com um dos diretores que conhecia. Ele re-
cebeu-a, escutou o que pretendia e foi franco.
��� Considere-se empregada. Quanto ao sal��rio inicial, n��o posso
prometer grande coisa. Por��m, �� medida que sua qualifica����o profis-
sional for melhorando, passar�� a ganhar mais.
ngela aceitou na hora. Aprendeu r��pido o trabalho. Nunca che-
gou a ser uma ex��mia datilografa, mas falava duas l��nguas, era inteli-
gente, educada e extremamente eficiente. Em seis meses passou a
secret��ria executiva de um dos diretores. Apertando o cinto aqui, fa-
zendo malabarismos com o or��amento ali, ia conseguindo sobrevi-
ver, criar os filhos decentemente. Tampouco sobrava-lhe tempo para
si mesma.
Guardou as cartas na gaveta da mesinha-de-cabeceira, para re-
ler depois, trocou a roupa, vestindo uma bermuda velha e camiseta,
prendeu o cabelo castanho e saiu do quarto, resignada a enfrentar
a bagun��a. C o m e �� o u a arruma����o pela sala. " V o v �� sempre dizia que
a sala e banheiro s��o cart��es de visita de uma casa. Ainda bem que
ela n��o veio aqui hoje!", pensou, enquanto juntava os discos.
Roberto sacudiu a areia dos p��s e do cal����o na beira
CAP��TULO
do cal��ad��o. Vestiu a camiseta vermelha sobre o corpo sua-
2 do. Custou a passar pelos ombros. J�� estava escuro.
��� Anda logo Marco. Vou levar a maior bronca da
mam��e. Deixei a sala um mangue!
��� T�� indo, cara! T�� indo. Agora bateu a pressa. Se voc�� tivesse
ficado mais um quinze minutos para arrumar tudo, n��o precisava sair
correndo, antes do j o g o terminar. Vamos andando.
Os rapazes foram caminhando pelo cal��ad��o. Tinham a mesma
idade, dezesseis anos, e eram os melhores amigos do mundo. A�� pa-
ravam as semelhan��as, pois em tudo o mais eram inteiramente dife-
rentes. Roberto tinha 1,80 m de altura, muito moreno de tez e de sol,
magro, cabelos negros e lisos, olhos igualmente escuros, chamava a
aten����o das garotas. Dava para ver que seria um belo homem, "a ca-
ra escrita do pai", jurava o av��.
A cabe��a de Marco mal passava o ombro do amigo. Louco por
doces, massas e tudo aquilo que engorda, tinha uns seis ou sete qui-
los al��m do que devia, cabelo loiro e olhos azuis. Temperamento pa-
c��fico e conciliador, e um bom senso incomum para a sua idade,
faziam-no bem mais adulto que a turminha da sua idade. Fora a m��e,
era Marco a ��nica pessoa que segurava Roberto, cujo g��nio explosi-
vo e violento estava sempre pondo-o em confus��es.
A amizade dos dois come��ara aos dez anos, quando as duas fa-
m��lias haviam comprado os respectivos apartamentos no mesmo an-
dar. Marco tinha uma irm��zinha temporona, com tr��s anos, chama-
da Solange, que vivia pendurada nele, e uma av�� ranzinza, que m o -
rava junto e passava o dia pedindo-lhe para fazer coisas. Sua paci��n-
cia era quase infinita.
Marco era alegre, brincalh��o, extrovertido, exatamente o contr��-
rio de Roberto que, desde que perdera o pai, vivia encimesmado, ex-
plodindo e brigando, em geral, por besteira e sem raz��o.
Apesar de fechado e brig��o, Roberto fazia o maior sucesso com
as garotas, por ser bonito, enquanto Marco ficava sempre c o m o o "ami-
g��o". N �� o se ressentia com o fato pois afinal o amigo n��o tinha culpa
de ser alto, bonito e nunca ter tido uma s�� espinha no rosto, enquan-
to ele ainda brigava com elas.
Marco tinha uma paix��o secreta por Lu��sa, filha de uma grande
amiga da m��e de Roberto, que morava em Resende e passava as f��-
rias na casa do amigo.
Roberto, desde que seu pai morrera e a m��e fora obrigada a tra-
balhar fora o dia todo, estava atravessando um per��odo dif��cil. "Ele
anda de mal com a vida", dizia Adriana. C o m raz��o.
Agora mesmo vinha caminhando em sil��ncio, de cara fechada,
t��o absorto em si mesmo que Marco precisou cutuc��-lo duas vezes,
para chamar-lhe a aten����o.
��� Olhe o Gordo e sua gangue ali naquele banco. Vamos atra-
8 ��� Ci��mes de Amor
vessar a rua, antes que nos vejam. Est��o sempre criando caso.
��� S�� se for com voc��. C o m i g o o Gordo n��o se mete. Se a gente
for para o outro lado cada vez que encontrar um encrenqueiro nesta
cidade, vamos ter que andar em cruz.
��� Boa coisa aquela turma n��o est�� fazendo por aqui a esta hora.
��� E da��? N �� o �� da nossa conta. S�� precisamos passar por eles.
Marco resmungou.
��� T�� bem. V o c �� nunca me escuta mesmo. Ainda acho que va-
mos arrumar uma encrenca que podia ser evitada.
Os dois continuaram andando na dire����o do banco onde estava
a turma. Eram cinco rapazes, com idades que variavam de 15 a 17
anos.
O Gordo era uma figura esquisita. Pesava uns 85 quilos, o que
era realmente demais para os seus 1,68 m de altura. Vestia uma ber-
muda laranja, de barra esfiapada e um camis��o enorme, estampado,
o que fazia-o parecer ainda mais gordo. Liderava o grupo c o m m��o
de ferro. Tinha for��a e agilidade espantosas. Chamava-se Theophilo
(com grafia antiga mesmo), mas ai de quem ousasse cham��-lo pelo
nome, ou brincar com isso.
Filho ��nico de uma fam��lia classe m��dia alta, dessas que s�� se
encontram nos fins de semana, o Gordo fazia o que bem entendia.
E at�� ent��o s�� ficara no limite da marginalidade, porque n��o lhe fal-
tava dinheiro nem prote����o.
Ele avistou os dois amigos de longe. Implicava com Marco.
��� Olhem s�� quem vem l��, rapazes. Os "anjinhos" do col��gio.
Ser�� que eles v �� o topar um papo com a gente?
Enquanto falava, ele ficou de p�� em frente ao banco, bem no
meio da cal��ada e barrando a passagem para os dois que se aproxi-
mavam. Os outros o imitaram.
Roberto e Marco tentaram passar, desviando-se. Agilmente, o
G o r d o impediu-os, o riso sacudindo o corpanzil. Roberto notou-lhe
os olhos congestionados e um cheiro forte de erva. Era clara a inten-
����o de provoca����o.
��� Que que �� isso, gente boa, querendo evitar os amigos? Que
bruta mancada. Mas c o m o n��o guardamos bronca, que tal uma pa-
radinha para uns tapinhas? Temos uns bagulhinhos pra curtir.
��� N��s n��o fumamos. Estamos com pressa ��� falou Marco, fa-
zendo-se de desentendido e procurando manter a voz firme.
��� Ora, ora, os filhinhos da mam��e t��m que ir pra casa. Que
bonito. Rapazes, estes dois recusaram o convite da gente. Isso n��o
t�� direito. Acho que vamos ter que for��ar um pouquinho a barra deles.
Os outros foram se aproximando e apertando o cerco.
Roberto deu um passo atr��s. Falou firme, procurando n��o de-
monstrar medo.
��� Olhe aqui, caras, fiquem na de voc��s e nos deixem na nossa
Ci��mes de Amor ��� 9
N �� o estamos procurando barulho. C o m o disse o Marco, n��s n��o
fumamos.
Anselmo, o lugar-tenente do Gordo, foi quem respondeu.
��� Cigarro d�� c��ncer. O que n��s temos �� outra coisa. S�� esta-
mos oferecendo porque voc��s s��o gente fina. Agora, se fizerem des-
feita, vamos engrossar.
Eles fecharam mais o cerco. Marco e Roberto mal podiam mover-
se. O Gordo puxou uma longa baforada do seu "cigano", prendeu
a respira����o, e depois foi soltando lentamente a fuma��a na cara dos
dois amigos. Estes engasgaram, tossiram, o que provocou um acesso
de riso na gangue.
Marco cutucou Roberto e fez-lhe um sinal. Este entendeu. S��
havia um jeito de safarem-se. Investiram ao mesmo tempo contra A n -
selmo e conseguiram derrub��-lo. A surpresa do ataque paralisou m o -
mentaneamente a turma. Antes que se refizessem, eles sa��ram cor-
rendo pela brecha.
��� Atr��s deles ��� gritou o Gordo, enfurecido.
O bando foi-lhes no encal��o, sem preocupar-se em levantar
Anselmo.
Marco e Roberto levavam pouca vantagem. Nenhum dos dois
era bom corredor, fora do campo de pelada. Sabiam que se fossem
alcan��ados iam se dar mal. Nesse instante, viram o sinal ficar verme-
lho. Roberto gritou:
��� Vamos atravessar, Marco, agora.
Correram em ziguezague, por entre os carros que punham-se em
movimento, acompanhados por freadas e palavr��es. Chegaram a salvo
do outro lado. Um ��nibus vinha parando. Atiraram-se para dentro.
A turma do Gordo ficou para tr��s, detida pelo tr��nsito.
��� Eu bem que avisei, seu cabe��a dura ��� reclamou Marco, ten-
tando recuperar o f��lego.
��� Est�� bem, voc�� estava certo. Mas ser�� que d�� para deixar o
serm��o para outra hora? Chega o que v o u ouvir de mam��e, por cau-
sa da sala. Vamos ficar perto da porta ou n��o conseguiremos descer.
Eles foram andando para a frente, pelo corredor abarrotado, en-
quanto o ��nibus passava pelo T��nel N o v o .
No escuro do cinema, Adriana procurava as horas, no seu
CAP��TULO
rel��gio de pulso. Bateu de leve no bra��o de Anete:
��� Ser�� que o filme ainda demora para terminar? Ma-
3 m��e j�� deve ter chegado.
��� C o m o �� que eu vou saber, Adriana? V o c �� n��o deixou o bi-
lhete avisando? Ent��o por que a pressa agora?
��� Deixei o bilhete, mas n��o fiz minha parte no servi��o da casa.
Mam��e vai ficar uma fera.
��� Agora j�� era.
Algu��m tocou o ombro de Adriana.
��� Ser�� que as gatinhas podem deixar o papo para depois que
o filme acabar?
��� Desculpe.
��� Ele tirou da minha boca ��� acrescentou Milena.
Adriana recostou-se na poltrona. N �� o havia outra coisa a fazer.
N �� o adiantava ficar pensando na dupla bronca que ia levar: pelo ser-
vi��o n��o feito e pela volta sozinha e com o escuro. Sair antes da ses-
s��o terminar seria pior, pois n��o teria a companhia das amigas.
Eram quase oito horas quando o filme acabou. As tr��s correram
para o ponto do ��nibus. Tiveram sorte de pegar l o g o o primeiro e
conseguirem sentar.
Milena, que dividia o banco com Adriana, comentou:
��� A L��cia e a Ge��rgia passaram o recreio anunciando a che-
gada do tal F��bio para amanh��. Parece que o garot��o esticou as f��-
rias na Bahia por mais duas semanas.
��� Sorte dele. Eu nem sa�� do Rio. C o m a compra do aparta-
mento, n��o sei quando vamos poder viajar ��� falou Anete.
��� E quando voc��s se mudam? ��� quis saber Adriana.
��� Vai demorar. Ainda est��o construindo o tal pr��dio. Para falar
a verdade, n��o tenho a menor pressa. Morar no M��ier, bolas!
��� Pelo menos voc��s n��o pagar��o mais aluguel, nem correr��o
o risco de serem despejados, c o m o est�� acontecendo conosco ��� res-
pondeu Milena.
��� Mam��e diz que a classe m��dia est�� desaparecendo. Mas que
hist��ria �� essa de despejo, se voc��s pagam direitinho o aluguel? ���
perguntou Adriana.
��� Papai explicou que o dono pediu "para uso pr��prio". Mas na
verdade, ele quer que a gente saia para alugar de novo, muito mais
caro. �� o que a maioria dos propriet��rios est�� fazendo.
��� Que absurdo ��� exclamou Anete. ��� Sorte tem voc��, Adria-
na, que mora em Botafogo, no seu pr��prio apartamento.
��� Papai comprou o apartamento pelo B N H e estava pagando.
Quando ele morreu o seguro pagou o saldo. N �� o foi nenhuma sorte.
��� Desculpe. Eu n��o sabia que...
��� Tudo bem. Sei que voc�� n��o disse por mal. Vamos andando
para a frente, o ��nibus vai entrar no T��nel N o v o .
Ci��mes de Amor ��� 11
Desceram logo depois. Na esquina, separaram-se. Milena, que
morava no come��o da Urca, pegou a rua Lauro M��ller. Anete e Adria-
na atravessaram no sinal em dire����o �� rua Gal. G �� e s Monteiro. Elas
viviam em pr��dios vizinhos do mesmo condom��nio.
As tr��s eram insepar��veis. Anete e Adriana conheciam-se desde
pequenas, quando seus pais vieram residir ali. Milena tinha-se junta-
do �� dupla na s��tima s��rie, vinda de outro bairro e outra escola.
Adriana tinha quinze anos e era a ca��ula da turma. As outras
estavam com 16. As tr��s pareciam irm��s. Embora os tra��os fision��-
micos fossem completamente diferentes, tinham a mesma estatura e
tipo f��sico. Adriana era a cara escrita da m��e. Parecia c��pia xerox (e
no temperamento tamb��m). Rosto oval, nariz bem-feito, dentes que
pareciam propaganda de dentifr��cios, olhos cor de mel e cabelos cas-
tanho-dourado, fino, brilhante e naturalmente ondulado. Era muito
bonita, mas n��o se dava conta disso, o que a tornava ainda mais
simp��tica.
Os tra��os de Anete eram menos perfeitos e ela ainda usava apa-
relho nos dentes. Mas tinha um par de olhos verdes-claros enormes
e c��lios escuros que, de t��o compridos e espessos, pareciam artificiais,
simplesmente irresist��veis. "Ningu��m esquece o rosto de Anete, por
causa daqueles olhos", dizia Adriana.
Os olhos de Milena eram escuros e um tantinho puxados e seu
rosto algo quadrado. Em compensa����o tinha o corpo mais perfeito
de todo col��gio, na opini��o un��nime dos rapazes e garotas. Un��nime
n��o. Ge��rgia discordava. Mas n��o contava pois, al��m de achar-se a
8.a maravilha do mundo, sempre achava do que discordar.
��� Milena, v o c �� come��ou a falar sobre o anunciado supergato
F��bio, que chega por esses dias. Pelo que eu entendi, ele �� namora-
do de Ge��rgia ��� lembrou Adriana.
��� Deve ter est��mago de avestruz, para aturar aquela chata. Ou,
ent��o, �� um perfeito idiota. Se ele �� irm��o da L��cia est�� explicado
por que, de repente, a Ge��rgia ficou t��o amiga dela.
��� Que veneno, Anete. As duas s��o vizinhas. Moram no Leblon,
em pr��dios pr��ximos. As m��es tamb��m s��o amigas.
��� C o m o �� que voc�� sabe?
��� Ouvi a Ge��rgia contar para a Cl��udia.
��� Classe m��dia alta. Que luxo! ��� ironizou Anete.
As duas haviam chegado �� esquina. Assim que dobraram, avis-
taram um bando de garotos mal vestidos, cujas idades aparentemen-
te variavam de sete a doze anos, parados no meio do quarteir��o. A l -
guns deles estavam encostados no pared��o externo do Condom��nio,
enquanto os outros permaneciam de p�� na beira da cal��ada. Quem
quisesse passar por ali, for��osamente teria que atravessar entre eles.
Adriana cutucou Anete, mostrando a gangue. Ambas diminu��-
ram o passo.
12 ��� Ci��mes de Amor
��� O que vamos fazer? ��� perguntou Anete, abaixando a voz.
��� T�� na cara o que vai nos acontecer se cruzarmos no meio deles.
E n��o vem ningu��m.
��� Vamos voltar e subir pela rampa, na outra rua. Mas devagar
para n��o perceberem, sen��o p o d e m correr atr��s da gente.
Elas viraram-se t��o naturalmente quanto o m e d o permitiu. Bem
na esquina, encostado no poste, estava um homem, com um bon��
branco de propaganda puxado sobre os olhos. A vida na cidade grande
ensinara-as a distinguir um marginal daquele tipo �� dist��ncia. As me-
ninas come��aram a tremer. O homem cortara-lhes a retirada. Pelo jeito,
era o chefe do bando. Devia estar escondido quando elas viraram a
esquina, pois n��o o haviam visto.
Tudo o que as garotas carregavam eram dois reloginhos comuns
e bem usados, alguns trocados, e uns an��is de prata de pequeno va-
lor. Justamente por isso estavam t��o apavoradas. Sabiam que a v i o -
l��ncia dos assaltantes �� maior quando as v��timas t��m p o u c o o que
ser roubado.
Anete mal conseguia controlar o choro.
��� E agora? ��� falou.
��� N �� o comece a chorar, nem entre em p��nico. S�� vai piorar
as coisas ��� disse Adriana, por entre os dentes, tentando dar �� v o z
uma firmeza que estava longe de sentir, e procurando desesperada-
mente uma id��ia salvadora.
Um carro freou, no meio da rua, bem perto delas. Adriana viu
o sinal ficar amarelo e a fila de carros que come��avam a parar. Falou
baixo para a amiga:
��� Quando eu tocar em seu bra��o, corra para o meio da rua e
na dire����o da faixa de pedestres. Tem um carro da R��dio Patrulha
parado no sinal. Agora!
As duas dispararam sem olhar para os lados, nem para tr��s. Pra-
ticamente jogaram-se contra a porta lateral da patrulhinha.
��� Ei, que �� isso? ��� gritou o policial.
��� Des... desculpe... ��amos ser assaltadas ��� gaguejou Adriana.
��� Eles estavam ali... ��� terminou Anete.
Os dois policiais desceram rapidamente do carro, a tempo de v e -
rem os pivetes correndo pela Ladeira do Leme acima. O homem da
esquina havia-se evaporado.
��� N �� o adianta ir atr��s deles, mesmo de carro. Quando chegar-
mos l��, j�� ter��o se metido pelo mato. C o m o foi que aconteceu?
As duas contaram. Os policiais ainda procuraram pelo sujeito do
poste, mas sem qualquer resultado.
��� Vamos levar voc��s at�� a entrada do condom��nio ��� �� muito
perigoso para duas garotas andare m por aqui a essa hora.
-�� o que minha m��e sempre diz ��� falou Adriana.
Elas foram largadas a salvo dentro do condom��nio. Agradece-
Ci��mes de Amor ��� 13
ram e subiram pelo elevador. Antes de separarem-se combinaram nada
contar em casa. S�� serviria para apavorar os pais.
��� Juro que sess��o das seis, nunca mais ��� disse Anete.
��� Aben��oada PM e aben��oado sinal amarelo. Salvaram nossa
pele ��� acrescentou Adriana.
Ela n��o sabia �� que era a segunda vez naquela noite que um
sinal de tr��nsito salvava um membro da fam��lia Freitas.
ngela terminava de lavar a lou��a, quando Adriana en-
CAP��TULO
trou. Atirou-lhe o pano de prato e o serm��o:
4
��� Boa noite, mo��a, divertiu-se? Por onde d e v o co-
me��ar? Pela zorra na casa, pelo jantar que n��o foi feito,
ou pelo hor��rio?
��� Desculpe, mam��e. Sa�� tarde do col��gio. Roberto chegou pri-
meiro, n��o fez a parte dele e tomou conta da sala. Achei desaforo
fazer a minha. E nem ia adiantar. Ent��o estudei at�� ��s cinco. A�� Mile-
na telefonou e fomos ao cinema.
��� Sem sequer arrumar sua cama.
��� Deixei para a volta. Roberto...
��� N �� o use seu irm��o c o m o desculpa. Esta semana era v o v ��
quem deveria cozinhar. E seu quarto �� sempre obriga����o sua.
��� Fa��o o jantar agora. �� s��...
��� �� s�� come��ar agora e p o d e ser que consigamos comer l�� pe-
las 10:30! Olhe aqui, Adriana, estou falando muito s��rio: foi a ��ltima
vez que cheguei em casa estourada, depois de ter almo��ado um san-
du��che, para encontrar essa zona. N �� o vou aceitar desculpas. Esque-
��a a festinha do s��bado.
��� Mas, mam��e...
��� E d�� gra��as a Deus que o castigo �� s�� esse. Agora eu vou
tomar o meu banho, enquanto voc�� limpa o ch��o, faz caf�� e prepara
o lanche. Fa��a ao menos ovos mexidos e uma salada para refor��ar.
Adriana cuidou de terminar a limpeza e providenciar o que co-
mer, muito na dela. Sabia que a m��e estava coberta de raz��o. " C o -
mo v o v �� Eug��nia diz, as m��es t��m raz��o em quase tudo. Os filhos
�� que nem sempre percebem a tempo de evitarem encrenca", pen-
sou. "Se n��o aparecesse aquele aben��oado carro de pol��cia, sabe Deus
o que teria acontecido comigo e com Anete. N��o foi por falta de aviso."
Ela terminou de passar pano no ch��o, fez caf��, preparou os ovos
e a salada e p��s a mesa.
Roberto entrou exatamente quando Angela, de banho tomado,
tamb��m vinha chegando na sala. Ele beijou a m��e e a irm�� e foi logo
reclamando:
��� Poxa Adriana, lanche de novo? Estou morto de fome. Jo-
guei futebol na praia at�� agora.
��� Isso v��-se logo pela areia no seu short e nas suas costas! V o -
c�� n��o esqueceu de fazer alguma coisa hoje, meu filho?
��� Bem eu... eu deixei para limpar a casa na volta... e tamb��m
esqueci umas coisinhas fora do lugar. Ia p��r tudo em ordem quando
chegasse, mas n��o vi a hora passar. Adriana n��o fez a parte dela e...
��� Poupe seu f��lego, Roberto. Acabou seu futebol na praia por
esta semana. E, da pr��xima vez, o castigo vai ser realmente duro, p o -
de acreditar.
��� Mas m��e, eu...
��� Estou cansada demais para encompridar este papo.
Ci��mes de Amor ���- 15
��� Eu sou o ��nico dos meus amigos que limpa ch��o, cozinha,
arruma casa. Os rapazes vivem encarnando em mim por isso. Na ca-
sa deles esse servi��o �� das mulheres.
��� N �� o tenho nada a ver com o sistema da casa dos outros. Na
nossa, as obriga����es s��o divididas. Seu pai nunca envergonhou-se
de ajudar no trabalho dom��stico. Assunto encerrado. Adriana, vamos
comer, antes que eu desmaie de fome.
Roberto fez men����o de sentar-se para comer. ngela segurou-o
pelo bra��o.
��� N e m ouse chegar perto da mesa nessa imund��cie. J�� para
o banheiro!
��� Mas m��e...
��� Eu disse j�� para o banheiro. E se n��o se esfregar direito volta
rapidinho. E eu vou junto, de bucha e escova na m��o. Use o banhei-
ro de empregada. Acabei de limpar o outro, que era obriga����o sua.
Adriana comentou, olhando para os p��s do irm��o:
��� V o c �� vai precisar �� de bombril, mam��e!
��� Fica na tua, t��? ��� resmungou Roberto, saindo da sala de
maus modos.
��� Deixe a m��-cria����o no chuveiro. E n��o demore ou vai co-
mer ovos frios ��� avisou Angela.
Depois do jantar, Adriana empilhou a lou��a na pia e ia se aco-
modando na frente da T V . Angela cortou a dela:
��� E a lou��a?
��� L a v o amanh��, quando...
��� N �� o senhora. Basta de pias cheias juntando baratas. Lave tu-
do e ponha no escorredor que eu enxugo e guardo.
Adriana voltou para a cozinha, resignada. ngela virou-se para
o filho, que abria a boca num enorme bocejo.
��� Cubra a boca com a m��o, quando bocejar.
��� Ningu��m mais faz isso, m��e.
��� N��s fazemos. Educa����o n��o �� quest��o de moda. Achei dis-
cos e revistas pelo ch��o. Mas n��o vi um s�� livro ou caderno com as
suas coisas. V o c �� estudou hoje?
��� Ora, m��e, s�� tivemos duas semanas de aula! Deixa comigo.
��� O ano passado eu deixei. E o resultado foi uma bomba. N �� o
gosto de ficar em cima de voc�� para que estude. Isso cansa e chateia,
sabia? N e m tenho prazer em castigar voc�� ou sua irm��. Mas se o seu
boletim vier com uma s�� nota baixa, Roberto, a encrenca ser�� feia.
Adriana, l�� da cozinha, entrou na conversa:
��� O professor de matem��tica j�� marcou um teste para depois
de amanh��. Roberto n��o sabe porque matou a aula.
��� Por que voc�� n��o se mete com a sua vida? Que droga! A g o -
ra tenho uma vigia dentro da classe!
16 ��� Ci��mes de Amor
��� Isso n��o �� jeito de falar com sua irm��. E se voc�� tivesse pas-
sado de ano, n��o estaria na mesma classe que ela.
Ser�� que voc�� vai me cobrar essa mancada o resto da vida, mam��e?
��� Estou s�� colocando um fato. Meu filho, eu n��o quero cobrar
nada de voc��, nem que arrume sua cama, nem que seja aprovado
no col��gio. N �� s somos apenas tr��s. Eu trabalho, voc��s estudam e ca-
da um de n��s tem que fazer a sua parte. N �� o p o d e m o s pagar empre-
gada. Contamos s�� com Idinha duas vezes por semana, e assim mes-
mo porque ela nos cobra mais barato. Portanto, o servi��o da casa tem
que ser feito por n��s tr��s. Se a maior parte fica com voc��s dois �� por-
que ambos t��m mais tempo dispon��vel. Eu trabalho o dia inteiro. Nos
fins de semana conserto roupas, arrumo as minhas coisas, leio um
pouco. V o c �� j�� notou h�� quanto tempo n��o p e g o um cinema, n��o
vou a um teatro? A t �� �� praia fui pouco, nos fins de semana, durante
o ver��o. N �� o estou me queixando, nem cobrando de voc��s. Nenhum
dos dois �� crian��a. Infelizmente, a morte de seu pai obrigou-nos a
assumir maiores responsabilidades. H�� coisas que precisamos fazer,
gostando ou n��o. Coisas c o m o manter a nossa casa limpa, voc��s es-
tudarem e eu trabalhar c o m o secret��ria executiva. Podemos escolher
entre viver bem ou mal. Eu prefiro viver bem, mas n��o posso fazer
isso sozinha! Gostaria de chegar em casa, abra��ar, beijar voc��s e usar
o pouco tempo que temos juntos para rir, brincar, curtir m��sica, bater
um bom papo, em lugar de dar broncas e distribuir castigos. Ultima-
mente, isso tem sido imposs��vel. Estou muito cansada. Vou me dei-
tar. Pense no que falei. Boa noite.
Angela levantou antes que come��asse a chorar. N �� o queria per-
turbar os filhos. Beijou primeiro Adriana. Quando inclinou-se para R o -
berto, ele segurou-a pela m��o. A voz do rapaz estava embargada.
��� Desculpe, mam��e. N �� o sei o que d�� em mim. ��s vezes s��
fa��o bobagem. Tenho vontade de quebrar coisas, virar o mundo de
pernas para o ar. Desde que papai morreu, trago um bolo preso na
garganta. Mas eu prometo que vou me segurar para n��o chatear mais
voc��. Eu... eu gosto muito... muito de voc��, mam��e.
Ele abra��ou-se com Angela, chorando. Adriana veio da cozinha
e entrou no coro.
��� Eu tamb��m, mam��e, eu tamb��m prometo n��o andar pela rua
depois que escurecer e fazer todo o meu servi��o numa boa. Eu ado-
ro voc��.
A trinca chorou abra��ada at�� acalmar a tens��o daquele dia dif��-
cil. Depois foram para a cozinha fazer um chocolate especial para co-
memorar as pazes. Foi s�� ent��o que ngela lembrou das boas novas.
��� Ia esquecendo. Seu tio A b e r t o escreveu que chega para a
P��scoa, mam��e quer que passemos o pr��ximo final de semana em
Miguel Pereira e Idinha vem amanh��.
��� Isso merece outro c o p o de chocolate c o m o brinde! ��� excla-
mou Roberto.
Ge��rgia estava sem um pingo de entusiasmo com a id��ia
CAP��TULO
de Marta. Falou, desanimada:
��� Mam��e, temos mesmo que ir ao aeroporto espe-
5 rar F��bio? O avi��o chega tarde e amanh�� preciso pular da
cama ��s seis e meia.
Jorge, seu pai, ponderou:
��� Ela tem raz��o, Marta. �� um absurdo voc��s duas se tocarem
para o Gale��o a essa hora. A fam��lia do rapaz vai busc��-lo. O namo-
rico dos dois n��o justifica tudo isso. Amanh�� haver�� tempo de sobra
para matarem as saudades. Ali��s, Ge��rgia curtiu suas f��rias numa ��ti-
ma, c o m o �� natural na idade dela. N e m deu para notar se sentiu falta
de F��bio.
Marta largou o cord��o que tentava fechar em torno do tornozelo
e voltou-se furiosa para o marido.
��� V o c �� est�� sempre contra mim. Tudo o que fa��o �� errado.
Ge��rgia tem que ir receber o namorado. J�� combinei com Rosa, des-
de que ele avisou a data de chegada. F��bio e Ge��rgia se adoram,
s�� voc�� n��o enxerga. Droga de fecho duro! A t �� que enfim consegui.
Jorge ainda tentou dissuadi-la:
��� Marta, a menina n��o est�� com vontade de ir. Voc��s sa��rem
sozinhas a esta hora �� perigoso. J�� imaginou se o carro engui��a, se
fura um pneu?
��� Vire essa boca pra l��! Que chatice! V o c �� devia dar gra��as ��
Deus por sua filha ter tido a sorte de namorar um rapaz c o m o F��bio,
bonito, inteligente, estudioso, de ��tima fam��lia. E t��o educado! T �� o
gentil!
Ele desistiu.
��� Est�� bem, voc�� sempre termina fazendo o que quer. Espere
um minuto enquanto visto outra camisa. Vou com voc��s.
��� Mas estamos atrasadas e...
��� Qual ��, Marta? Alguma raz��o especial para que eu n��o v��?
��� Pergunta cretina! S�� n��o quero chegar tarde.
��� A t �� parece que o namorado �� seu.
��� N �� o seja idiota!
Ge��rgia interferiu:
��� Mam��e, papai, por favor, por favor!
Marta respirou fundo para controlar-se.
��� Desculpe, querida. Seu pai ��s vezes fica insuport��vel. V�� pen-
tear o cabelo. Passe batom e ponha um pouco de blush.
��� Se eu sair daqui voc��s continuam brigando.
Foi Jorge quem respondeu:
��� Prometo que nem falarei com sua m��e at�� que voc�� volte,
meu bem. Pode ir.
Ge��rgia saiu. Mal a porta fechou, Marta virou-se para o marido:
��� Francamente, ao menos na frente dela voc�� podia deixar de
me agredir.
18 ��� Ci��mes de Amor
Ele n��o deu resposta. Pegou uma camisa xadrez em tons de azul,
do guarda-roupa e, com ela na m��o, entrou no banheiro.
Marta deu de ombros, achando que era melhor mesmo que a
discuss��o morresse por ali.
Enquanto esperava, olhou-se no espelho. Ningu��m lhe daria os
trinta e oito anos que constavam de sua certid��o de nascimento. M o -
rena, cabelos e olhos escuros, alta, pele lisa, corpo bem feito, era des-
sas mulheres que chamam aten����o e atraem olhares. Ela sabia disso.
Alisou a saia de linho negra e justa aberta de um dos lados at�� acima
do joelho, ajeitou o top branco, vestiu um camis��o listrado de preto
e branco por cima. Arrumou a gola, deixando a frente desabotoada.
Colocou enormes brincos e braceletes brancos. Por ��ltimo, retocou
o batom e refor��ou o perfume First atr��s das orelhas. Sorriu aprova-
doramente para a imagem no espelho.
Jorge, que sa��a do banheiro, surpreendeu-a. Ia abrindo a boca
para um coment��rio mas, lembrando a promessa feita �� filha, tornou
a fech��-la. Fez um gesto em dire����o �� porta, indicando que podiam ir.
Ge��rgia esperava-os na sala.
��� Poxa, mam��e, voc�� est�� uma parada! A t �� parece que vai a
uma festa.
��� Gosto de andar bem vestida. Voc�� devia fazer o mesmo. Nem
trocou de roupa. Desisto. Vamos logo, ou chegaremos depois de F��bio.
Jorge fez que sim com a cabe��a. Ge��rgia estranhou.
��� Papai, voc�� ficou mudo?
��� Prometi a voc�� que n��o abriria a boca, n��o foi?
��� Ele pensa que �� engra��ado ��� observou Marta.
��� Por favor, mam��e, n��o vamos recome��ar.
Eles sa��ram. Desceram pelo elevador at�� a garagem e entraram
no cano. Enquanto iam rodando para o aeroporto, Ge��rgia pensou.
"Ser�� que todos os casamentos s��o assim? Eles agem c o m o se odias-
sem um ao outro. Se n��o se acertam, por que n��o se separam de
uma vez? A�� est��o, lado a lado, no banco da frente, calados, cada
um na sua, c o m o dois estranhos. E desde que eu me lembro, sempre
foi assim. Por que ser�� que eles se casaram? Se casamento �� isso,
eu estou fora!"
No apartamento dos Bastos era L��cia quem apressava os
CAP��TULO
outros.
��� Papai, se voc�� for esperar o Jornal Nacional ter-
6 minar, F��bio vai ficar plantado l�� no Gale��o.
��� Estou indo. Veja se sua m��e est�� pronta.
L��cia foi at�� o quarto. Bateu de leve e empurrou a porta.
��� Mam��e, estamos prontos. Onde est�� voc��?
��� Aqui no banheiro, procurando uma aspirina. Estou estourando
de dor de cabe��a.
L��cia parou na porta. Rosa desmontava uma gaveta atr��s do re-
m��dio. Finalmente encontrou. Rasgou o papel, p��s o comprimido na
boca, pegou o c o p o com ��gua de sobre a pia e engoliu-o, fazendo
uma careta.
��� Detesto comprimidos. Custo a engolir. Ficam presos na
garganta.
��� Este �� o terceiro que vejo v o c �� tomar hoje. Por que n��o pro-
cura um m��dico para ver se d�� um jeito nessa dor de cabe��a que n��o
passa?
��� Para ele repetir que n��o tenho nada? E perguntar por que
n��o me ocupo de alguma coisa, n��o tento trabalhar? Os m��dicos ho-
je em dia n��o sabem mais coisa alguma. Se seu pai se portasse me-
lhor, talvez minha cabe��a doesse menos. V o c �� precisa falar c o m ele.
��� Por favor, mam��e, agora n��o. Vamos buscar F��bio. Termine
de vestir-se. Estamos atrasadas.
��� V o c �� devia ficar do lado de sua m��e. N �� o me olhe assim.
Minha cabe��a come��ou a doer depois daquela discuss��o com seu pai,
na hora do jantar. A c h o que n��o ag��entarei nem descer no elevador,
que dir�� ir at�� ao aeroporto. Preciso deitar no escuro e descansar.
L��cia sacudiu a cabe��a. Conhecia a m��e o suficiente para saber
quanto tempo duraria a enxaqueca e c o m o ela passaria. Concordou,
resignada.
��� Est�� bem. Talvez seja melhor mesmo voc�� ficar. Eu aviso
papai.
��� Conte-lhe c o m o eu estou mal. E no caminho aproveite e fa-
le c o m ele. Desta vez, L��cia, eu tenho certeza, eu vi. Aquela loira
podia ser filha dele. Eu ia fazer um esc��ndalo. Mas o idiota do chofer
s�� conseguiu parar o t��xi no outro quarteir��o. Quando voltei, os dois
tinham sumido.
��� Mam��e, eu ouvi a hist��ria toda na hora do jantar. Escutei pa-
pai explicar que a mo��a �� filha do almirante Oswaldo e que a encon-
trou por acaso, enquanto corria na praia.
��� �� mentira dele. V o c �� tamb��m est�� contra mim. Todos nesta
casa est��o.
Ela saiu correndo do banheiro, atravessou o quarto e jogou-se
na cama solu��ando.
��� Voc��s est��o do lado do seu pai. Eu nunca tenho raz��o. Nin-
20 ��� Ci��mes de Amor
gu��m se importa comigo. Dizem que sou neur��tica. A t �� de ser culpa-
da do esgotamento nervoso do seu irm��o me acusaram. Estou acos-
tumada a sofrer sozinha. A ��nica pessoa que me ajuda e compreen-
de �� Marta.
L��cia estava acostumada a cenas. Mas a briga na hora do jantar
deixara-a esgotada. Parou perto da cama. Falou com voz cansada:
��� Sinto muito, mam��e. Tenho que ir agora. Procure dormir. ��
melhor deixar para falar com F��bio amanh��.
E, dizendo isso, saiu do quarto, antes que a ladainha de queixas
e lamenta����es recome��asse. Encontrou o pai no corredor.
��� V o c �� me apressa e depois some. Cad�� sua m��e?
��� Ela n��o vai. Est�� com enxaqueca. Acabou de deitar. Se voc��
est�� pronto, podemos ir.
��� Mas eu queria pegar...
��� �� melhor n��o entrar l�� agora, papai.
Ele entendeu. Os dois atravessaram a casa em sil��ncio, desce-
ram para a garagem e pegaram o carro.
A noite estava fresca. L��cia abriu a janela, deixando que o ven-
to lhe batesse no rosto. Queria acalmar-se um pouco, antes de tocar
no assunto com o pai. Esperou que passassem o T��nel Rebou��as.
S�� ent��o falou:
��� Papai, depois de tudo o que aconteceu e agora que F��bio
voltou, ser�� que vamos ter um pouco de paz, l�� em casa?
��� �� o que mais desejo na vida, p o d e acreditar, minha filha.
��� Quem sabe se voc�� tentasse ser mais paciente, n��o discutir
com mam��e, lhe desse mais aten����o, as coisas melhorassem.
��� L��cia, sua m��e precisa de tratamento, eu j�� falei. Mas cada
vez que sugiro que ela procure um psicanalista, ela grita que quero
intern��-la num manic��mio para ficar livre. V i v o na corda bamba, preo-
cupado com o que ela vai fazer. Sou um oficial da Marinha. Imagine
se ela agride a filha do almirante, esta manh��, na praia. Minha carrei-
ra estaria liquidada. Sinceramente, n��o sei mais o que fazer. Cada
dia fica pior para todos n��s. Seu irm��o j�� foi afetado. Felizmente, nin-
gu��m ficou sabendo, e esses tr��s meses longe de casa o puseram em
forma, segundo me garantiu seu tio l�� de Salvador. V o u procurar ser
paciente, embora duvide que isso v�� adiantar.
��� Papai, posso lhe fazer uma pergunta?
��� Claro.
��� Ela sempre foi assim, desde solteira? Quero dizer, t��o
ciumenta?
��� Foi sim. N �� o dessa maneira, ou eu n��o teria casado c o m ela.
O ci��me era menos doentio, menos compulsivo. Eu, idiota, achava
que era sinal de amor e ficava todo envaidecido. Depois que casa-
mos foi piorando gradativamente. Durante a gravidez virou um infer-
no. Por isso n��o tivemos mais filhos. ��s vezes, penso que somos to-
Ci��mes de Amor ��� 21
dos muito indulgentes com sua m��e e o que ela precisava mesmo
era levar uma boa sacudida e arrumar o que fazer.
��� Ela acha que v o c �� n��o se importa mais com ela.
��� Se n��o me importasse, h�� muito j�� teria ca��do fora.
Eles calaram-se. Seu J��lio atento ao tr��nsito e L��cia ocupada
com seus pensamentos. "Ser�� que existe um casamento feliz, hoje
em dia? L�� em casa �� guerra declarada. C o m os pais de Ge��rgia ��
mais sutil. Se agridem na base da ironia. Deus que me livre e guarde
de pensar em casar algum dia!"
F��bio desembarcou ��s onze horas. Saiu pelo port��o, atr��s
CAP��TULO
de um carrinho carregado de cestas, pacotes e um enor-
me berimbau, marca registrada de quem volta da Bahia.
7
Olhou surpreso para a fam��lia Ramos, enfileirada. Mas
disfar��ou, abra��ando o pai.
��� E mam��e? ��� perguntou.
��� Est�� com uma de suas terr��veis enxaquecas. Tomou rem��dio
para dormir. Amanh�� acordar�� boa. Espero.
Beijou a irm��, entregando-lhe um enorme pacote.
��� Espero que goste. Foi F��tima quem escolheu. Ela disse que
est�� na moda.
Depois apertou a m��o de Jorge, beijou o rosto de Ge��rgia e ia
fazendo o mesmo com Marta. Esta, por��m, puxou-o para si e
envolveu-o num enorme abra��o.
��� Sentimos tanta saudade de voc��, meu querido. Espero que
tenha tido tempo para lembrar-se de n��s um pouquinho.
F��bio trancou a respira����o e endureceu o corpo, tentando livrar-
se delicadamente do abra��o. Aquele perfume forte que Marta usava
embrulhava-lhe o est��mago. Ela afastou-se um pouco, mantendo-o
preso pelas m��os.
��� Deixe-me olhar para voc��. C o m o est�� bonito! Esse bronzea-
do s�� mesmo com o sol da Bahia.
F��bio sorriu, evidentemente constrangido. Jorge tocou o bra��o
da mulher.
��� Marta, F��bio deve estar louco para chegar em casa. N��s tam-
b��m precisamos ir. �� tarde.
Ela soltou o rapaz, contrafeita. Despediram-se no elevador e ca-
da grupo dirigiu-se para seu carro.
Ge��rgia deitou no banco de tr��s. Adormeceu mal o carro saiu
do aeroporto.
Jorge dirigia de cara fechada, segurando-se para n��o estourar.
O papel��o que Marta fizera e o rid��culo da situa����o na qual o coloca-
ra estavam atravessados na garganta. N �� o queria perturbar a filha,
mas quando chegassem em casa...
Marta fechava os olhos, fingindo que cochilava, para evitar con-
fus��o, antes que pudesse estar preparada para enfrent��-la.
A caminho de casa, F��bio conversava com o pai:
CAP��TULO
��� N �� o entendi essa de Ge��rgia vir me esperar c o m pai
e m��e a tiracolo, para dizer al�� e at�� amanh��, caindo de
8 sono.
��� Ela n��o �� a sua namorada?
��� Sei l��. A c h o que sim, se �� que pode-se chamar de namoro
as quatro ou cinco vezes que sa��mos juntos, sempre por sugest��o de
Marta e mam��e. C o m certeza nada entre n��s justifica vir at�� o Ga-
le��o a esta hora. Francamente, n��o vejo raz��o para tanto, se amanh��
c e d o vamos nos encontrar no col��gio.
��� Tamb��m achei esquisito, meu filho. N e m sabia que eles esta-
riam l��.
L��cia entrou na conversa:
��� Mam��e combinou com Marta. Esta fez quest��o de esperar
voc��. Ge��rgia estava praticamente dormindo em p��.
Seu J��lio franziu o cenho.
��� S�� podia ser coisa da sua m��e. Ela inventa cada uma. Agora
resolveu amadrinhar o seu namoro com a garota. Se voc�� bobear,
ela �� bem capaz de arranjar o casamento.
��� Marta tamb��m for��a a barra. Ela diz que v o c �� �� o filho que
desejava ter ��� acrescentou L��cia.
��� Deus me livre! Basta ter que conviver com a neurose de mi-
nha pr��pria m��e. Dose dupla, nem pensar. Papo besta, esse de casa-
mento. C o m est�� mam��e?
��� Do mesmo jeito. E voc��?
��� Durante esses tr��s meses fiz uma esp��cie de psicoterapia in-
tensiva com um colega de titia, vivi num ambiente normal, sem gran-
des tens��es, fui muito �� praia, sa�� bastante com uma turma sensacio-
nal, enfim, limpei a cabe��a. Estou em melhores condi����es emocio-
nais, para conviver com os problemas e pronto para pegar firme no
col��gio. E sua viagem ao sul, c o m o foi, L��cia?
Ela foi contando sobre as suas f��rias, enquanto rodavam para
casa.
Marta foi a primeira a entrar no apartamento. Deu boa noite pa-
ra a filha e, enquanto o marido ia �� cozinha beber ��gua, trancou-se
no banheiro, na esperan��a que Jorge fosse deitar direto e deixasse
o assunto para outro dia. Sabia que tinha pisado na bola e n��o que-
ria enfrentar o marido, antes que pudesse controlar melhor suas e m o -
����es. Demorou bastante, tirando a pintura do rosto, escovando o ca-
belo. Mas, finalmente, teve que sair. Ele estava sentado na beira da
cama. Cruzou os bra��os e olhou-a diretamente nos olhos.
��� Estou morto de vergonha e furioso ��� falou. ��� V o c �� cobriu-
nos de rid��culo. A cara que o pobre rapaz fez, quando nos viu para-
dos ali, fico vermelho s�� de lembrar.
��� Ele apenas mostrou espanto. A Rosa insistiu comigo para ir-
mos todos. Na ��ltima hora, resolveu n��o aparecer. N �� o vejo nada
24 ��� Ci��mes de Amor
de mais no fato de Ge��rgia esperar o namorado e n��s a acompa-
nharmos.
��� Ela n��o queria ir, estava dormindo em p��. A c h o que esse na-
moro s�� existe na cabe��a dessa maluca a�� da frente e na sua. De qual-
quer forma, esta foi a ��ltima vez, preste bem aten����o, a ��ltima que
participei das suas arma����es.
��� V o c �� podia ter ficado em casa.
��� N �� o quis deixar minha filha arriscar-se. Outro aviso: pare de
fazer a cabe��a dela, com rela����o a esse rapaz. Estive observando os
dois no aeroporto. Nenhum deles est�� ligado no outro. N �� o sei o que
leva voc�� a ter tanto interesse.
Marta ia responder enviesado. Mas pensou duas vezes e ficou
de boca fechada. Tratou de deitar. Jorge foi para o banheiro. Da por-
ta falou:
��� Deixe Ge��rgia em paz, Marta. N �� o a force, nem a envolva
nos seus planos. H�� algo nessa hist��ria que n��o me agrada. Pode
apostar que vou descobrir o que ��.
Ela continuou calada. Naquele momento, sabia que era o me-
lhor a fazer.
Fora, o movimento dos carros diminu��a, criando intervalos de si-
l��ncio. Uma noite c o m o as outras. Por��m, para todas aquelas pes-
soas ela havia representado um marco em suas vidas, embora elas
ainda n��o soubessem.
F��bio foi a atra����o do col��gio, no dia seguinte. Sem im-
CAP��TULO
portar-se com a curiosidade que estava provocando, por
9 ser o ��nico aluno do terceiro ano do segundo grau a che-
gar para as aulas com duas semanas de atraso, e com o
fato de ser um completo estranho para seus colegas, deixou fluir sua
natural simpatia e quebrou logo o gelo. A maioria de seus colegas
vinha junto desde o primeiro ano, alguns desde o primeiro grau, en-
quanto ele viera transferido de outro col��gio.
L��cia e Ge��rgia estavam no segundo ano, para castigo de Mar-
co, que n��o suportava a dupla. As duas procuravam compensar seus
desajustes emocionais com uma atitude de falsa superioridade, que
irritava os demais e as tornava antip��ticas.
C o m o F��bio causou boa impress��o ao pessoal, Ge��rgia assumiu
logo o papel de sua namorada, apenas por vaidade.
No intervalo, a trinca Adriana, A n e t e e Milena estava discutindo
o filme que haviam assistido na noite anterior, com Marco, Roberto
e mais quatro rapazes. Um dos garotos era da turma do terceiro ano.
L��cia e Ge��rgia aproximaram-se, esta rebocando F��bio pela m��o. Fez
as apresenta����es com um inequ��voco ar de propriedade.
��� Oi, pessoal, este �� o F��bio, irm��o da L��cia. Ele chegou on-
tem de Salvador. N �� o �� um barato, tr��s meses e mais duas semanas
de f��rias?
��� O barato vai me sair caro, pois vou ter que estudar em dobro
este m��s. Quando nos aproxim��vamos ouvi voc��s falando sobre um
filme.
Adriana respondeu:
��� Ontem assistimos Cantando na Chuva, c o m G e n e Kelly. O
Cinema Avenida est�� fazendo uma retrospectiva dos grandes musi-
cais americanos. O Raul disse que n��o foi ver porque n��o gosta dos
filmes antigos com canto e dan��a. S�� que ele nunca assistiu nenhum.
Est��vamos discutindo justamente isso de "n��o vi, n��o gostei" e por
que um filme faz sucesso ou n��o.
��� Sou vidrado em musicais. Cheguei a fazer dois anos de jazz,
de tanto que gosto de dan��a ��� falou F��bio.
Raul olhou-o enviesado:
��� Pois eu s�� curto policiais, filmes de suspense e de espiona-
gem. Acho uma baboseira os caras ficarem batendo os pezinhos e dan-
do piruetas.
A discuss��o pegou fogo e durou o resto do intervalo. Quando
o sinal bateu, F��bio estava perfeitamente integrado no grupo. Antes
de dirigir-se �� sala de aula, ele perguntou para Adriana:
��� O filme ainda est�� em cartaz?
��� Hoje passa Um Americano em Paris. Queremos ver se pe-
gamos a sess��o das quatro.
��� �� t i m o . Encontro com voc��s na porta do cinema. A t �� l��.
26 ��� Ci��mes de Amor
Ge��rgia s�� largou a m �� o do rapaz na porta da sala de aula. Ela
queixou-se para L��cia:
��� Seu irm��o nem me convidou para ir com ele.
��� V o c �� nem abriu a boca para dar a sua opini��o. Se quiser,
p o d e m o s ir tamb��m, eu falo com ele.
Ge��rgia deu de ombros e confessou:
��� N �� o sou muito ligada em cinema. Talvez seja melhor n��o for-
��ar a barra. V o c �� viu c o m o Adriana atirou-se para ele?
��� Qual ��, fazendo o g��nero ciumenta? Para ser franca, n��o achei
nada demais. Nunca vi voc�� t��o empolgada com meu irm��o. Ser��
que foi a possibilidade de concorr��ncia que aumentou o interesse?
��� Pode ser. Ele �� um gato. E bronzeado c o m o est��, ficou ainda
mais bonito. Olha o professor chegando. Vamos �� Geografia.
Mal as aulas terminaram, Adriana v o o u para casa. Por sorte, Idi-
nha tinha aparecido e do servi��o dom��stico estava livre, embora pre-
cisasse estudar para o teste de Matem��tica. Se quisesse pegar a ses-
s��o das quatro, tinha que enfiar a cara nos livros e adiantar a mat��ria.
Almo��ou depressa e fechou-se no quarto. Pouco depois das tr��s,
Roberto bateu na porta.
��� Entra.
��� Tamb��m estive estudando. N �� o quero arrumar mais proble-
mas para mam��e. Estava pensando em ir ao cinema com voc��s.
��� Legal. Depois podemos repassar juntos a mat��ria para a pro-
va. Vou me trocar. Pena que minha mesada s�� d�� para a entrada de
hoje. A d o r o cinema!
Roberto teve um acesso de generosidade.
��� Hoje eu pago a sua. N �� o gastei o dinheiro que ganhei do
v o v �� Ant��nio, a semana passada. Tamb��m vou me vestir.
Adriana ficou de boca aberta, no meio do quarto. "Pagar o meu
ingresso e ainda trocar de roupa para levar-me ao cinema �� milagre
demais para um dia s��", pensou.
Enquanto isso, Marta discutia com a filha.
��� V o c �� tem que ir a esse cinema. Ligue agora mesmo para L��-
cia e pe��a que ela passe por aqui.
��� Mas, mam��e, eu j�� disse a ela que n��o ia. N �� o gosto de ci-
nema. Matin��, ent��o, me faz dormir.
��� C o m um rapaz c o m o F��bio para namorar, nenhuma garota
sente sono. V o c �� tem que ir.
��� Mam��e, ele n��o me convidou. Vai ficar chato.
��� V o c �� mesma disse que a turma apenas combinou o progra-
ma. Ele, naturalmente, imaginou que voc�� estava inclu��da. Apronte-
se logo para n��o se arrasar. Os homens detestam esperar. E ligue pa-
ra L��cia.
��� N e m morta eu telefono, depois de ter dito n��o sei quantas
vezes que n��o queria ver esse maldito filme!
Ci��mes de Amor ��� 27
��� Pois ent��o eu telefono, enquanto voc�� se veste. Ponha a mi-
nissaia azul e a blusa listrada.
��� Por favor, mam��e...
��� Assunto encerrado. V o c �� vai.
E Ge��rgia teve que ir.
A turma foi �� matin�� aquela tarde e todas as outras, en-
CAP��TULO
quanto passaram os musicais. Isso foi o c o m e �� o de uma
10 bela amizade entre F��bio e os demais. L��cia ia de ap��ndi-
ce e Ge��rgia de arrasto, obrigada pela m��e.
F��bio tratava a mo��a com gentileza e aten����o. Mas era vis��vel que
n��o estava ligado nela. Ge��rgia, por sua vez, s�� fazia quest��o da com-
panhia dele para desfilar nos intervalos, no col��gio, ou quando as ou-
tras mo��as da turma estavam por perto. Fora disso, ela achava dif��cil
conversar com ele. O rapaz era muito adulto e culto para os seus de-
zessete anos.
De todos, era com Adriana que F��bio tinha maior afinidade. R o -
berto, sempre encucado, via com m�� vontade a nova amizade da ir-
m��. N �� o era nada diretamente contra o rapaz. Incomodava-o a afei-
����o e a aten����o de Adriana para com um estranho.
Passou-se um m��s. Veio a P��scoa e, com ela, outra carta de tio
A b e r t o , lamentando que um desvio nas rotas do navio o manteria
no mar por tempo indeterminado.
A id��ia de organizarem uma festa foi de Milena.
��� Pod��amos reunir a turma no pr��ximo s��bado. Cada uma das
garotas levaria um prato e os rapazes fariam uma vaquinha para com-
prar os refrigerantes.
Adriana quis saber:
��� E onde seria a festa?
��� No apartamento de voc��s, se sua m��e concordar. Depois,
far��amos um mutir��o para p��r tudo em ordem. Ser�� que ela topa?
��� Vou perguntar a ela esta noite ��� prometeu Adriana, entu-
siasmada. Ela adorava festas.
Adriana preparou o prato favorito de Angela, peixe gratinado com
arroz �� grega e uma bel��ssima salada, temperada com molho espe-
cial, que v o v �� Eug��nia lhe ensinara. Caprichou na toalha e no arran-
jo da mesa, coisas que a m��e curtia. C o m os restos da mesada, com-
prou uma rosa amarela e colocou no vaso de cristal, no meio da mesa.
Angela bem que desconfiou de tanto agrado.
��� O que �� que vamos comemorar? ��� perguntou.
Adriana respondeu com a cara mais inocente do mundo:
��� 0 oito e meio de Roberto em Matem��tica, mam��e.
Roberto, que s�� havia vestido uma roupa decente, depois de meia
hora de reclama����o, resmungou:
��� Debaixo desse angu tem carne.
Durante o jantar, Adriana n��o parou de falar sobre F��bio. D e -
pois da sobremesa, uma salada de frutas caprichada, ela foi direto
ao ponto.
��� Mam��e, quer��amos fazer uma festa aqui em casa, no pr��xi-
mo s��bado, naquele esquema que voc�� conhece. V e m a turminha
mais chegada. De novos, s�� F��bio, a irm�� dele e a namorada.
Ci��mes de Amor
29
��� Acabei de entender a raz��o do jantar. Por mim tudo bem,
desde que n��o crie problemas com os vizinhos.
��� Roberto, enciumado, implicou:
��� Se fossem os "meus" amigos v o c �� n��o deixaria.
��� A ��ltima reuni��o que voc��s inventaram de fazer aqui, para
ensaiar o falecido conjunto de rock, custou-me uma multa do condo-
m��nio e a pol��cia na porta! V o c �� p o d e trazer seus amigos quando qui-
ser. Mas sem guitarras, nem baterias, nem atabaques. E o volume do
som vai ficar exatamente ali, onde marquei a giz. Ali��s, que eu saiba,
a turma de voc��s dois �� mais ou menos a mesma. Ent��o por que a
bronca?
Adriana observou:
��� Ora, mam��e, quando Roberto n��o tem o que reclamar, pro-
cura. Se n��o encontra, ele fica de mal com a vida!
E para o irm��o:
��� Avise o Marco que a Lu��sa vem passar conosco o final de
semana da festa. Ela telefonou hoje, avisando.
Ele reagiu, bruscamente:
��� N �� o seja intrometida, nem indiscreta. Marco, morreria de ver-
gonha se a turma descobrisse a paix��o dele, e lhe ca��sse na pele. ��
s��rio, Adriana, n��o brinque com isso.
��� N �� o estou brincando. N �� o sou eu quem vai abrir a boca. Quis
apenas avisar. Mas se ele quer manter segredo, �� bom aprender a
esconder melhor. S�� quem for burro ou c e g o n��o enxerga a cara que
ele faz, quando a Lu��sa est�� por perto. Milena e Anete at�� armaram
uma brincadeira. Eu �� que cortei a delas. Podia pegar mal.
Angela interferiu:
��� De qualquer m o d o tenha cuidado, minha filha. Os sentimen-
tos das pessoas devem ser respeitados. H�� coisas menos importante
com as quais se p o d e brincar...
��� Mam��e, preciso mostrar algo a voc��. �� surpresa. Feche os
olhos enquanto eu vou buscar. S�� abra quando eu disser que pode.
Adriana foi at�� a ��rea de servi��o. Voltou r��pido, com uma cesti-
nha na m��o.
��� Pronto, p o d e olhar agora.
Angela abriu os olhos.
��� Que que �� isso? ��� exclamou, espantada.
��� O nome dela est�� no cart��o. Leia.
Angela olhava at��nita para o min��sculo filhote de gato, de fita
vermelha no pesco��o, que dormia, aninhado na cesta. Devia ter no
m��ximo oito dias. Adriana tirou o cart��o preso e estendeu para a m��e.
��� "Meu nome �� Tutuca. Fui achada na rua. Ia morrer de fo-
me, pois sou muito novinha para comer sozinha. Por favor, deixe-me
ficar.
Tutuca"
30 ��� Ci��mes de Amor
ngela estava comovida. Ainda tentou ser durona. Se deixasse
por conta de Adriana, a casa viraria abrigo de animais abandonados.
��� Que tal uma explica����o mais detalhada?
Adriana sentou no tapete, junto das pernas da m��e com a cesti-
nha no colo.
��� Mam��e, encontrei-a quando voltava da escola, num lat��o de
lixo. N e m sei c o m o ouvi o miado. Parecia um pedido de socorro. N �� o
pude deixar ali. Ela est�� limpinha. Assim que cheguei, fiz c o m o v o v ��
Eug��nia me ensinou: dei-lhe um banho com um pouco de arnica na
��gua, enxuguei bem. Coloquei tamb��m duas gotinhas de arnica no
leite, para o caso de estar machucada por dentro, e a fita vermelha
para n��o dar quebranto. Ela nem sabe tomar leite no prato. Tive que
emprestar a mamadeira da boneca de Solange. V o c �� est�� zangada
comigo?
ngela inclinou-se e abra��ou a filha.
��� Claro que n��o, minha querida. N �� o fosse v o c �� neta de sua
av��! Pode ficar com ela, desde que se proponha a cuid��-la.
Roberto foi solid��rio. Ele tamb��m era louco por animais.
��� Eu ajudo. Me encarrego de trazer areia da praia para o "ba-
nheiro" dela. Esta casa estava mesmo precisando de um bicho. Ela
�� t��o bonitinha, toda pretinha. Fui eu quem p��s o nome. V o c �� gostou?
��� �� perfeito para ela. Seja bem-vinda �� fam��lia, Tutuca.
Adriana foi dormir feliz. Roberto tamb��m estava contente com
o n o v o membro da fam��lia. E Angela sentia-se profundamente grati-
ficada com a atitude dos filhos.
Na manh�� seguinte, t��o logo chegaram no col��gio, a turma
reuniu-se para combinar a festa.
Idinha abria todas as portas do arm��rio da cozinha,
CAP��TULO
reclamando:
11
��� C o m o posso fazer bolo, se o fermento sumiu?
Adriana apareceu na porta:
��� J�� olhou na prateleira dos temperos?
��� N �� o est��. Tenho certeza que peguei essa maldita lata, quan-
do fiz a faxina, antes de ontem.
��� T�� explicado o sumi��o. V o c �� "arrumou" os arm��rios. S�� Deus
sabe onde est��o as coisas.
��� Oxente, pois se eu ponho tudinho no lugar.
��� O problema, Idinha, �� que lugar �� esse.
A baiana j�� pertencia �� fam��lia. Aparecera na portaria, procu-
rando trabalho por dia, pouco depois da morte de M��rcio. Angela
havia dispensado a empregada, por medida de economia. Arriscou
pegar Idinha c o m o faxineira, rec��m-chegada da Bahia e sem refe-
r��ncias. Nunca teve de que se arrepender. Trabalhadeira, limpa, bem-
humorada, al��m de devotada a eles, a baiana s�� tinha dois defeitos:
quando resolvia "arrumar" os arm��rios da cozinha era um desastre.
Levava-se um bom tempo at�� descobrir onde estavam as coisas. "Ela
n��o arruma, esconde" brincava Angela. O outro defeito era o g��nio
forte e rixento. C o m as pessoas da casa, era um doce. Mas ai do es-
tranho que se metesse a besta com ela. E se bobeasse at�� no tapa sa��a.
Cozinheira de m��o-cheia, estava fazendo o bolo que coubera ��
Adriana preparar para a festa.
��� T�� bem na hora de sua m��e arrumar um namorado ��� co-
mentou com Adriana. ��� T �� o mo��a, bonita, �� um absurdo ficar
sozinha.
Adriana concordou:
��� Tamb��m acho. Mas ela diz que n��o lhe sobra tempo para pen-
sar nisso. O que ela n��o tem �� vontade. Tempo, quem quer, arruma.
��� Pois para mim est�� ��timo ��� falou Roberto que vinha entrando
e ouvira a conversa. ��� Mam��e tem a n��s dois, seu trabalho. Ela n��o
se queixa. Ningu��m vai tomar o lugar do meu pai.
As duas trocaram um olhar de entendimento e deixaram morrer
o assunto, para n��o provocar discuss��o. Afinal, estavam preparando
uma festa.
O dia passou r��pido. Idinha foi para sua casa no final da tarde,
deixando tudo pronto. O apartamento brilhava, a sala estava arranja-
da de m o d o que ficasse mais espa��o livre. O bolo, recheado em ca-
madas e coberto de suspiro e coco, era a tenta����o, no meio da mesa.
Antes das nove, o pessoal come��ou a chegar. O primeiro foi Mar-
co, afinal, tudo o que tinha a fazer era atravessar o corredor, e a ��lti-
ma Anete, que levava pelo menos uma hora para embonecar-se.
F��bio trouxe L��cia e Ge��rgia. Esta metida num vestido preto e
justo, aberto de um lado, inteiramente impr��prio para sua idade.
32 ��� Ci��mes de Amor
Adriana recebeu-os na porta. F��bio beijou a amiga no rosto,
dizendo:
��� V o c �� est�� uma gra��a, com essa saia rodada.
Ge��rgia mordeu-se por dentro. O seu vestido n��o merecera
elogio.
Adriana ficou vermelha. Para disfar��ar o embara��o pegou n g e -
la, que passava, pelo bra��o e fez as apresenta����es:
��� Entrem. Quero que conhe��am minha m��e. Mam��e, estes s��o
meus novos amigos.
F��bio olhou para Angela de boca aberta.
��� Ela parece irm�� de voc��s ��� exclamou. ��� Ningu��m pensa-
ria que �� sua m��e. Sorte sua, Adriana, ser t��o parecida com ela.
ngela agradeceu. Fez com que se acomodassem e voltou ao
que estivera fazendo, o arranjo dos pratos com salgados e doces so-
bre a mesa.
"Esse rapaz deve ter a idade de Roberto. No entanto aparenta
bem mais. Ele se porta e fala c o m o um homem", pensou.
A festa foi-se animando. Angela andava de um lado para outro,
distribuindo salgados, trazendo refrigerantes, recolhendo copos. Juntou
todos os que encontrou vazios na bandeja e dirigiu-se �� cozinha. Pa-
rou na porta, tentando abri-la com o cotovelo. F��bio veio em seu au-
x��lio. Ela agradeceu sorrindo:
��� Obrigada. Eu ia acabar derrubando tudo no ch��o.
��� Ajudo voc��. Sou o mestre-enxugador-de-lou��a l�� de casa,
quando mam��e fica sem empregada.
��� N �� o se preocupe. Fa��o isso num instante.
��� Duvido que seja mais ligeira que eu.
Rapidamente, eles lavaram e secaram a pilha de copos. Quando
estavam terminando, ouviram a m��sica vinda da sala. Angela tomou
o pano de prato da m��o do rapaz, dizendo:
��� V o c �� est�� fazendo falta na sala. H�� sempre mais garotas que
rapazes. E elas adoram dan��ar. Obrigada pela ajuda.
��� Est�� bem. Mas se precisar, �� s�� chamar.
Ele deixou-a e foi juntar-se ao pessoal. Animada com a m��sica,
a turma resolveu dan��ar. Formaram-se os pares.
ngela, na cozinha, ajeitava sandu��ches numa bandeja, balan-
��ando o corpo no ritmo da m��sica, quando F��bio entrou de volta:
��� V i m buscar a mo��a mais bonita da festa para dan��ar ���
brincou.
��� N �� o dan��o h�� tanto tempo! A c h o at�� que desaprendi.
��� Dan��ar �� c o m o andar de bicicleta. A gente n��o esquece. Va-
mos l��!
E antes que ela pudesse arrumar um pretexto, pegou-a pela m��o
e levou-a para a sala.
No come��o, Angela ficou constrangida, por estar no meio da ga-
Ci��mes de Amor ��� 33
rotada. Mas logo foi envolvida pelo ritmo e soltou-se. Empolgada com
a m��sica, foi retomando passos, improvisando movimentos, esque-
cida dos outros.
F��bio era um bom par. Tamb��m ele dan��ava com corpo e e m o -
����o. A turma foi abrindo espa��o para os dois, at�� deix��-los sozinhos
no meio da sala. E, de repente, entusiasmados, come��aram a aplaudir.
S�� ent��o Angela deu-se conta do que acontecera. Diminuiu os
movimentos com inten����o de parar. F��bio acompanhou-a.
��� Continuem, est�� um barato! ��� gritou Marco.
Os outros fizeram coro:
��� Dan��a! Dan��a! Dan��a!
Eles prosseguiram, por��m sem o mesmo pique.
ngela observou que Ge��rgia e L��cia cochichavam a um canto.
Pela dire����o do olhar e pela cara da primeira, era f��cil adivinhar qual
fosse o assunto. Ge��rgia estava visivelmente enciumada e aborreci-
da. L��cia parecia empenhada em acalm��-la.
Nesse instante, para al��vio de Angela, a m��sica parou. Todos ba-
teram palmas na maior empolga����o. Todos n��o. Ge��rgia continuou
no seu canto de cara fechada.
F��bio deu um beijo no rosto de ngela, dizendo:
��� V o c �� �� o melhor par que jamais tive.
��� Isso porque voc�� ainda n��o dan��ou c o m Adriana. Sua na-
morada tamb��m deve gostar de dan��ar.
Delicadamente, ela empurrou-o na dire����o da mo��a.
A turminha rodeou-a, encantados com a sua performance. n -
gela disfar��ou o constrangimento de ser o centro das aten����es, le-
vando a coisa na brincadeira.
De todos, era Marco o mais entusiasmado. Virou-se para Rober-
to na maior euforia:
��� Sua m��e �� um barato, cara. Dev��amos convid��-la para todas
as nossas festas. O pr��ximo a dan��ar com ela sou eu.
Roberto apertou o bra��o do amigo com f��ria:
��� Se voc�� fizer isso, eu te arrebento!
Marco olhou-o assustado. Quando compreendeu o que se pas-
sava na cabe��a do outro, ficou brabo para valer.
��� V o c �� pirou? Solte meu bra��o. Esta machucando. Olhe aqui,
respeito sua m��e tanto quanto a minha. Nunca vou esquecer que foi
ela quem me ensinou a andar de bicicleta, quando os garotos riam
porque eu era gordo demais e n��o conseguia, e o meu pr��prio pai
achava que o problema era meu. N �� o sei que bicho te mordeu, mas
deve ter um veneno dos piores.
Roberto caiu em si. Havia descarregado no amigo sua raiva con-
tra F��bio, por ter dan��ado com ngela. Soltou o bra��o de Marco.
��� Desculpa. Perdi a cabe��a. N �� o gosto desse cara. A l g o me diz
que ele vai nos trazer complica����es.
34 ��� Ci��mes de Amor
��� V o c �� teve sempre um ci��me besta da sua m��e, que piorou
muito depois que seu pai morreu. Ali��s, voc�� age c o m o se todo mun-
do fosse culpado disso. Mas esse �� um papo para outra hora. A g o r a
quero curtir a festa, apesar de Lu��sa n��o ter aparecido. E voc�� devia
desencucar e fazer o mesmo.
A m��sica recome��ou. Angela pediu licen��a e foi para a cozinha,
levando Adriana consigo.
��� Estou t��o orgulhosa de voc��, mam��e. Lembrei c o m o voc��
e papai gostavam de dan��ar. Bem que ele podia estar aqui conosco
agora.
ngela abra��ou a filha:
��� N �� o fique triste, querida. Ele n��o ia querer que essa lembran��a
t��o boa estragasse sua festa. De certa forma, ele est�� aqui, nos nos-
sos cora����es. Ser�� que voc�� e seu irm��o p o d e m tomar conta de tu-
do? Estou cansada. Gostaria de ir dormir.
��� V�� descansar, mam��e. E n��o se preocupe. Ficarei de guarda
para que o som n��o passe da sua marca. Ben��a.
��� Deus te aben��oe. A t �� amanh��.
Ela foi para o seu quarto. Fechou a porta, despiu-se, apagou a
luz e ficou deitada no escuro, ouvindo os ru��dos da festa, pensando
no marido e nos acontecimentos da noite.
"Eu n��o devia ter dan��ado. Mas por que n��o? Q u e mal h�� em
divertir-me? N �� o posso sentir-me culpada por estar viva."
Marta madrugou. Ge��rgia encontrou-a esperando �� me-
CAP��TULO
sa, para tomarem caf�� juntas.
12
��� V o c �� de p�� antes das sete, mam��e, n��o acredito!
��� Tive um pesadelo e acordei cedo. Mas conte tudo
da festa. F��bio foi vestido com que roupa? Ele ficou a noite inteira
com voc��? Dan��ou com outras garotas?
Ge��rgia ainda estava grilada por n��o ter sido a sensa����o da noi-
te. Deu um risinho maldoso, ao responder:
��� C o m i g o ele dan��ou uma s�� vez. E porque eu o convidei. A
��nica "garota" com a qual dan��ou por sua conta foi a m��e de Adria-
na. Deram um show! Se ela n��o fosse dormir, provavelmente teriam
ficado juntos o resto da noite!
Marta empalideceu. Engasgou com a torrada.
��� Conte-me j�� toda essa hist��ria. E sem esquecer nenhum
detalhe.
Ge��rgia queria desabafar sua raiva e frustra����o. Ela n��o se im-
portava realmente com F��bio, mas ficava ofendida porque ele tam-
pouco se ligava nela. Narrou o que acontecera, aumentando e detur-
pando os fatos de prop��sito, sabendo de antem��o que a m��e se en-
carregaria de passar tudo para Rosa. F��bio ia se arrepender de t��-la
tratado daquela forma. Encerrou o relat��rio com um coment��rio
maldoso:
��� Ouvi quando ele disse para Adriana que devia levar a m��e
a todas as nossas festas, porque depois de dan��ar com ela, seria cha-
to dan��ar com as garotas.
Marta ia retomando a cor:
��� E Adriana? ��� perguntou.
��� Ela n��o percebeu o que estava acontecendo. �� muito bobo-
ca e louca pela m��e.
Marta arrumou as palavras cuidadosamente na cabe��a e contro-
lou a voz, para que a pergunta parecesse inocente:
��� Essa tal Angela deve ter mais ou menos a minha idade. Ela
�� bonita?
��� Para quem gosta do tipo, at�� que ��. Tenho que reconhecer
que parece irm�� da filha. Nem por isso devia comportar-se c o m o tal.
Estou atrasada, mam��e. Preciso correr para pegar carona com L��cia.
Marta ficou sentada na frente da x��cara de caf��, que esfriava, o
rosto endurecido de ��dio.
"Essa sujeita me paga!" pensou.
Esteve algum tempo assim, arquitetando um plano. Depois, le-
vantou e pegou o telefone. Discou o n��mero dos Bastos. Custou um
pouco para que atendessem. A voz de Rosa estava sonolenta:
��� �� Marta. Desculpe acordar voc�� t��o cedo, mas precisamos
conversar agora mesmo. Est�� acontecendo uma coisa terrivelmente
grave com F��bio. V o c �� tem que saber para tomar provid��ncias, antes
que seja tarde demais.
36 ��� Ci��mes de Amor
O tom e as palavras da amiga fizeram Rosa acordar de vez.
��� Ele est�� correndo algum perigo? A esta hora deve ter ido pa-
ra o col��gio. ��s vezes sai antes da irm��...
��� V o c �� n��o imagina o tamanho do perigo. Vista-se e venha to-
mar caf�� comigo.
��� Vou indo. Pode esperar.
Apesar de ego��sta e neur��tica, Rosa amava muito os filhos. Es-
quecendo todos os achaques, pulou da cama e num instante estava
vestida.
Foi Marta quem abriu a porta.
��� Entre. Vamos para a copa. Felizmente, Jorge ainda dorme
e Ge��rgia saiu para o col��gio. Podemos falar �� vontade.
��� Pelo amor de Deus, diga logo o que est�� amea��ando o meu
filho.
��� Calma. Chamei v o c �� para evitar que ele caia numa cilada
perigosa. Vamos l�� para dentro.
Ela carregou com a amiga para a copa, fez com que se sentasse,
e serviu-lhe um caf��. S�� ent��o relatou o que ouvira de Ge��rgia, acres-
centando detalhes que faziam Angela parecer uma devoradora de ga-
rotos. E arrematou:
��� Gentinha, Rosa. Gentinha da pior qualidade todos eles. Sem
dignidade, sem moral, p��ssima companhia para os nossos filhos. V o -
c�� tem que impedir F��bio e L��cia de voltarem ��quela casa. Precisa
obrig��-los a se afastarem dos filhos dela.
Rosa estava horrorizada. N e m por um segundo duvidou de Marta.
��� Nem sei c o m o abordar esse assunto com os meninos. �� t��o
chocante.
��� Conte ao J��lio. Ele ajudar�� voc��.
��� Aquele s�� pensa nas suas mulheres. �� bem capaz de n��o acre-
ditar em mim, principalmente se essa ngela for mesmo bonita. Vai
dizer que �� ciumeira da minha parte.
��� Vamos pensar. Acharemos um jeito de acabar rapidamente
com isso. Pobrezinha da Ge��rgia, estava t��o triste esta manh��. Tam-
pouco posso contar com Jorge. Ia achar que fiquei louca.
Rosa sacudiu a cabe��a, desanimada.
��� Seu casamento tamb��m vai mal, n��o ��, minha amiga? S��o
os homens que n��o prestam. E, quando chegam aos 40, pobres das
esposas!
Marta concordou:
��� Todos os homens maduros s��o insuport��veis. S�� os rapazes
t��m encantos. Eles deviam permanecer com 18 anos!
Enquanto as duas tramavam, Ge��rgia, no carro, conver-
CAP��TULO
sava com L��cia, destilando veneno:
13
��� Seu irm��o me fez de idiota ontem, exibindo-se da-
quele m o d o com a m��e da Adriana.
L��cia olhou espantada para a amiga:
��� O que voc�� est�� querendo dizer? N �� o vi nada de errado. Eles
apenas dan��aram.
O lado todo do disco.
��� Isso eu n��o sei. Mas que diferen��a faz? Podia ter sido com
qualquer outra pessoa. F��bio adora dan��ar.
��� Se voc�� n��o percebeu �� porque �� muito boba. Ela estava pa-
querando o seu irm��o, dentro da pr��pria casa, no nariz dos filhos e
de todos n��s.
L��cia n��o acreditou no que ouvira. Ge��rgia parecia outra pes-
soa. Uma estranha, cheia de ��dio e maldade. Era espantoso. Ela n��o
conseguia compreender a amiga. Custou a responder:
��� V o c �� pirou de vez! Est�� vendo fantasmas e inventando coi-
sas muito s��rias. Parece minha m��e, nas suas crises de ci��me. S�� n��o
entendo por que. V o c �� n��o est�� assim t��o amarrada no meu irm��o.
��� C o m o �� que voc�� sabe? Ele ontem me humilhou.
��� Cai na realidade, Ge��rgia, voc�� est�� furiosa porque queria
ser a rainha da festa e acha que Angela a destronou. Quer um conse-
lho? N �� o repita essa estupidez para ningu��m. Eu farei de conta que
n��o escutei. E vamos mudar de assunto. A honra das pessoas n��o
�� brinquedo.
Ge��rgia calou-se, sacudida pelas palavras da amiga. Come��ou
a rever os fatos e suas pr��prias rea����es. Chegou �� conclus��o que fo-
ra muito leviana, inventando coisas porque estava furiosa. L��cia ti-
nha raz��o. Vestira-se pela cabe��a da m��e, para ser a sensa����o da fes-
ta e n��o conseguira impressionar a turma, enquanto ngela, invo-
luntariamente, atra��ra todas as aten����es. Isso a deixara frustrada e
enraivecida.
Encolheu-se no banco, envergonhada com a sua atitude.
"Quando chegar em casa, vou contar a verdade �� mam��e e pedir-
lhe que esque��a o assunto. Deus permita que ela n��o tenha comen-
tado com ningu��m", pensou.
Ge��rgia fez o que se propusera. Assim que entrou em casa, foi
falar com a m��e e contou tudo como realmente acontecera, sem omitir
nenhum detalhe, inclusive as raz��es do seu pr��prio comportamento.
Marta ouviu sem interromp��-la. Ficou algum tempo calada, re-
fletindo. Depois:
��� Filha, voc�� n��o deve ter medo porque confiou em mim, nem
pensar que fez algo errado. V o c �� j�� viu a m��e de algu��m participar
das festas dos filhos?
��� N��o, mas...
38 ��� Ci��mes de Amor
��� Deixe eu terminar. Seu pai e eu nem ficamos em casa, quan-
do v o c �� re��ne seus amigos.
��� Angela �� vi��va, mam��e.
��� Pior ainda. Se ela fosse decente, teria se fechado em seu quar-
to. Mesmo que as coisas n��o tenham sido exatamente como voc�� disse
esta manh��, a jogada dela �� clara. �� s�� quest��o de tempo para F��bio
cair no la��o.
Ge��rgia estava perturbada. J�� n��o tinha certeza de nada.
��� V o c �� acha mesmo, mam��e?
��� Estou cert��ssima. Essa mulher �� um perigo. Temos que afas-
tar F��bio dela. J�� pensou c o m o ser�� humilhante para uma gatinha
linda c o m o v o c �� perder o namorado para uma coroa, m��e de dois
filhos da sua idade, que s��o seus colegas? O col��gio inteiro vai rir de
voc��.
Sem o menor escr��pulo, Marta manipulava a filha, usando o seu
amor-pr��prio. Doutrinou-a com tanta habilidade, que acabou conven-
cendo a mo��a. Fez pior, tornou-a c��mplice na tram��ia.
N o s dias que seguiram-se, a atitude de F��bio s�� veio refor��ar a
raiva das duas.
Ele passou a freq��entar assiduamente a casa de ngela, a sair
com a trinca Anete, Milena, Adriana, muitas vezes s�� com esta,
distanciando-se cada vez mais de Ge��rgia, apesar dos protestos e
amea��as de Rosa.
Instru��da pela m��e, a mocinha insistia para que o rapaz fosse ��
sua casa, pegava no p�� dele, no col��gio. Ele inventava mil desculpas
e ca��a fora. Quanto mais se afastava, maior a f��ria de Marta, que ali-
mentava a da filha. Esta estava ficando a c��pia exata da m��e.
No col��gio, n��o perdia chance de hostilizar Adriana, provocar
Anete e Milena. Tornava-se cada vez mais antip��tica. Foi sendo isola-
da pela turma.
L��cia, que gostava da amiga, cansou de tentar faz��-la mudar de
atitude. Por fim desistiu. E tamb��m ela afastou-se. Ge��rgia ficou
sozinha.
Em certos momentos, ela tinha d��vidas se estava agindo certo.
C o m o n��o tinha com quem abrir-se, conversava com a m��e. O resul-
tado desses papos era acabar convencida de que os outros �� que es-
tavam errados.
Na casa de F��bio a situa����o era tensa. Envenenada por
CAP��TULO
Marta, Rosa infernizava a vida do rapaz, querendo obrig��-
lo a afastar-se de ngela e seus filhos.
14
Marta havia planejado uma dupla ofensiva, para ci-
ma de F��bio, com a participa����o de Ge��rgia.
Seguindo as instru����es da m��e, ela procurou-o, durante o inter-
valo. Por acaso, encontrou-o sozinho, perto da cantina. Encostou ao
lado, armando um sorriso.
��� Milagre achar voc�� desacompanhado. Deve ser meu dia de
sorte.
��� Estou esperando por Adriana. J�� que tocou no assunto, n��o
entendo sua bronca.
��� Voc�� nem se lembra que eu existo. Vive fugindo de mim, dan-
do desculpas para n��o ir �� minha casa, desde que se meteu com essa
gente. Na casa dela voc�� vai todos os dias.
Ele tentou ser paciente, levando a coisa na brincadeira:
��� V o c �� n��o combina com o g��nero ciumenta. Seu natural ��
n��o me dar bola, Ge��rgia.
A goza����o enfureceu-a:
��� Negue que voc�� n��o larga do p�� da Adriana, aqui no col��-
gio. Talvez seja porque ela �� a cara da m��e!
Adriana, que vinha chegando com as amigas, ouviu tudo. Antes
que F��bio se refizesse do choque e pudesse responder, ela parou na
frente da outra. C o m a voz estrangulada, perguntou:
��� O que voc�� quis dizer, quando referiu-se �� minha m��e?
Ge��rgia queria justamente isso. Respondeu em voz alta, para que
todos ouvissem:
��� V o c �� entendeu muito bem. Sua m��e devia ter vergonha de
se envolver com um garoto que podia ser filho dela. Por que ela n��o
procura algu��m de sua pr��pria idade e...
A bofetada cortou-lhe a frase, atingindo-a em plena boca. Adriana
atirou-se sobre ela, derrubando-a no ch��o, dizendo entre dentes:
��� Vou arrebentar a sua cara, para v o c �� aprender a nunca mais
falar mal da minha m��e!
As duas engalfinharam-se para valer. Por��m Ge��rgia estava le-
vando a pior. N e m conseguia defender-se, tamanha a f��ria da outra.
Milena, Anete e F��bio, os tr��s juntos, n��o conseguiam tirar Adriana
de cima, nem acabar com a briga.
Foi um deus-nos-acuda. Os gritos atra��ram alunos, professores,
funcion��rios, uma confus��o total. Chamaram a diretora, que veio cor-
rendo. E foi ela quem deu um basta, gritando, energicamente:
��� Adriana! Ge��rgia! Parem j�� com isso. Eu disse parem ime-
diatamente. E levantem do ch��o. Assim. E agora vamos para a dire-
toria. Quanto a voc��s, voltem para as aulas. O sinal acabou de bater.
Ge��rgia chorava. Adriana, de dentes cerrados, n��o disse uma
s�� palavra, enquanto seguiam a diretora.
40 ��� Ci��mes de Amor
Na diretoria, depois de fechada a porta, esta voltou-se para as
duas:
��� Quem come��ou a briga?
Adriana respondeu:
��� Fui eu.
��� Porque v o c �� fez isso?
��� Ela ofendeu minha m��e.
E relatou os fatos, desde o princ��pio. A diretora olhou espantada
para Ge��rgia. Dirigiu-se a ela destacando as palavras:
��� V o c �� enlouqueceu? Isso �� coisa que se diga?
Apesar de assustada, ela n��o se entregou. Sustentou o olhar da
diretora, respondendo em tom de desafio:
��� O que eu falei todo mundo sabe. �� a pura verdade.
Adriana moveu-se na sua dire����o. A diretora colocou-se entre
ambas.
��� Voc��s n��o est��o pensando em continuarem a briga aqui den-
tro, est��o? Por hoje chega. As duas est��o suspensas por dois dias.
Enquanto isso, pensarei no que fazer. Quero as cadernetas assinadas
pelos pais. V o c �� p o d e sair agora, Ge��rgia. Passe pelo ambulat��rio
para fazer um curativo na boca. E dentro do col��gio n��o torne a fazer
coment��rios desse tipo, a respeito de quem quer que seja, entendi-
do? V o c �� fica, Adriana.
A garota saiu de nariz empinado, embora n��o tivesse motivo pa-
ra tanto. A diretora e Adriana ficaram a s��s. Esta manteve-se calada.
Aquela levou algum tempo, observando-a. Finalmente, quebrou o
sil��ncio:
��� V o c �� sabe h�� quantos anos n��o temos uma briga neste
col��gio?
��� N �� o senhora.
��� Sou diretora h�� dez anos. Nunca tive que lidar com uma coi-
sa assim. E, que eu saiba, jamais aconteceu, com duas mo��as feitas.
L o g o voc��, uma de nossas melhores alunas, educada, que sempre
teve um comportamento exemplar, de repente, sai no tapa, durante
o intervalo, com outra garota. Estou tentando entender sua rea����o,
apesar de achar justa sua indigna����o com o que ela fez. Gostaria que
me explicasse.
��� O que a senhora faria, se tivesse a melhor, a mais digna e
dedicada m��e do mundo, que trabalha honestamente, da manh�� ��
noite para manter os filhos, sem pensar nela mesma, sempre de cara
alegre, sem cobrar nem indiretamente o sacrif��cio, e uma garotinha
mimada e despeitada falasse uma mentira s��rdida sobre ela, bem na
sua frente, e em voz alta, para que todos ouvissem? Eu lhe pergunto,
Dona Helo��sa, com todo respeito, o que a senhora faria?
��� Eu quebrava a cara dela! Pode ir, Adriana. Acredite, sua m��e
Ci��mes de Amor ��� 41
tem muita sorte, apesar de todas as dificuldades que vem passando.
�� uma felicidade ter uma filha c o m o voc��.
��� Obrigada. Posso pedir outro favor? Quero evitar que mam��e
saiba o que aconteceu. Desde que papai morreu, a vida dela �� muito
dura. Felizmente, Roberto hoje acordou indisposto e n��o veio �� aula.
Dispense a assinatura na caderneta. Invento um resfriado para justifi-
car os dois dias de suspens��o.
��� V o c �� est�� me tornando c��mplice de uma mentira. V�� l��,
Adriana, esque��a a caderneta. A g o r a responda, se eu fincasse p��, o
que voc�� faria?
��� Falsificava a assinatura dela. Estaria errado, c o m o �� errado
bater nos outros. Mas preciso defender e poupar minha m��e.
��� Ela tem sorte, repito. Pode ir.
Ge��rgia n��o teve coragem de contar em casa que levara uma
surra. Inventou que havia machucado a boca num tombo. Encenou
uma doen��a para ficar os dois dias em casa e assinou a caderneta
com rabiscos parecidos com os do pai.
Quanto �� diretora, decidiu n��o chamar os pais de Ge��rgia, jus-
tamente para que Angela n��o tomasse conhecimento da hist��ria, co-
mo era vontade de Adriana. Contava que a li����o tivesse servido.
O incidente em si ficou encerrado. As conseq����ncias, por��m, fo-
ram muito mais longe. O col��gio inteiro soube a raz��o da briga e a
fofoca espalhou-se c o m o praga. Marco rezou para que n��o chegasse
aos ouvidos de Roberto.
Rosa andava hist��rica. Todas as suas tentativas para fazer
CAP��TULO
a cabe��a do filho contra Angela fracassaram.
De acordo com o irm��o, L��cia n��o havia comentado
15 a surra que Adriana dera em Ge��rgia, para n��o p��r lenha
na fogueira.
Dois fatos novos vieram complicar ainda mais a situa����o: Rosa
entrou em mais urna crise de ci��me doentio e Marta, ajudada por
ela, armou outra arapuca para F��bio.
Rosa cismou que precisava fazer uma cirurgia pl��stica imediata-
mente, j�� que o marido andava interessado em mulheres jovens.
Foi consultar o mais badalado (e careiro) cirurgi��o pl��stico. Vol-
tou com um or��amento astron��mico.
Seu J��lio ponderou que n��o podia dispor de tanto dinheiro na-
quele momento. Isso bastou para que Rosa desse um ataque nos mol-
des costumeiros:
��� Para mim, v o c �� nunca tem dinheiro. Deve estar sustentando
outra mulher. Eu bem que andava desconfiada dos seus telefonemas
misteriosos, fora de hora, da nova mania de trancar-se no escrit��rio
para ouvir musiquinhas rom��nticas da d��cada de 50. Quem �� ela?
Por que voc�� n��o diz de uma vez e cai fora?
��� Pelo amor de Deus, Rosa, pare com isso. Quem me telefona
fora de hora �� o Tenente Martins, quando precisam de mim. V o c ��
est�� cansada de atender. Conhece a voz dele. E as m��sicas s��o as
mesmas que escuto, quando quero relaxar, desde antes de nos
casarmos.
��� Voc�� �� muito esperto. Manda o tenente ligar para eu n��o des-
confiar e marca seus encontros atrav��s dele. E escolhe sempre o mes-
mo fundo musical para seus romances porque fica mais f��cil me ta-
pear. Mas desta vez eu vou desmascarar voc��, nem que precise con-
tratar um detetive particular.
J��lio, que andava cansado e cheio de problemas no trabalho, per-
deu as estribeiras:
��� V o c �� �� louca varrida! Para mim chega. Estou seguindo o seu
conselho e caindo fora.
��� Para onde voc�� vai?
��� Para o raio que me parta ou o diabo que me carregue! Quan-
do chegar na rua, eu decido.
Ele vestiu o casaco e saiu batendo a porta.
Rosa teve um ataque hist��rico para ningu��m botar defeito, que
assustou os filhos e s�� passou depois que engoliu dois comprimidos
para dormir.
L��cia e F��bio estavam exaustos. Ela abra��ou-se com o irm��o:
��� Ser�� que papai foi embora? Ele nunca saiu de casa.
��� Calma, garota. Ele deve ter ido tomar um ar e refrescar a ca-
be��a. L o g o estar�� de volta. Vamos dormir.
Por��m, Seu J��lio n��o voltou. Quando F��bio e L��cia chegaram
Ci��mes de Amor ��� 43
do col��gio, o circo estava armado. Rosa, desgrenhada e inchada de
tanto chorar, jogou-se para o filho.
��� Ele nos abandonou. Deve estar bem feliz c o m a outra. V o c ��
precisa me ajudar a descobrir quem �� ela, meu filho. V�� esperar por
seu pai na sa��da do quartel e siga-o, sem que ele perceba. �� nossa
��nica chance. Eu s�� tenho voc��s!
F��bio estava cansado demais para argumentar. Limitou-se a dizer:
��� N �� o vou fazer isso, mam��e. Espero que papai volte. Mas se
ele n��o voltar, est�� coberto de raz��o. Eu tamb��m preciso sair um
pouco.
Deu-lhe as costas e saiu.
Rosa correu para o telefone, solu��ando:
��� Marta, s�� me resta voc��. N �� o me abandone.
��� Calma. V o u j�� para a��.
Em menos de 5 minutos tocava a campainha.
Aproveitando a confus��o mental da outra, ela terminou de ar-
mar a arapuca.
��� Minha pobre amiga! V o c �� n��o pode perder seu filho tamb��m.
Precisamos agir imediatamente. Cada dia ele se envolve mais com
aquela mulher.
��� N �� o sei o que fazer. Ele n��o me obedece.
��� Pe��a ao F��bio para ir buscar um rem��dio l�� em casa. Deixe
o resto por minha conta. Sei c o m o convenc��-lo a nunca mais p��r os
p��s naquela casa.
Habilmente ela foi conseguindo acalmar a outra. Assim que a
viu melhor, levantou-se:
��� Estou indo. F��bio n��o pode me encontrar aqui. Assim que
ele chegar, mande-o para mim. Vou ajud��-la a recuperar seu filho.
Confie em mim.
��� V o c �� �� a ��nica pessoa que me entende, me quer bem. N e m
sei c o m o lhe agradecer.
��� Bobagem. Procure descansar e anime-se. Tudo vai dar cer-
to.
F��bio s�� foi aparecer no fim da tarde. Rosa esperava-o na
CAP��TULO
sala. Encenou uma terr��vel enxaqueca:
��� Meu rem��dio terminou. Marta usa o mesmo com-
16 primido. Por favor, v�� buscar para mim.
��� Prefiro ir at�� a farm��cia.
��� �� muito longe. Estou desesperada de dor.
��� Est�� bem, mam��e. Volto logo.
Ele saiu contrariado. Atravessou a rua, entrou no edif��cio em fren-
te, tomou o elevador, sempre com a inc��moda sensa����o de cons-
trangimento. Parou diante da porta, indeciso. Sua vontade era sair
correndo. Respirou fundo e tocou a campainha.
Marta abriu a porta:
��� F��bio, meu querido, mas que surpresa boa. Entre.
��� Obrigado. Posso esperar aqui mesmo. Mam��e pediu que eu
viesse buscar uns comprimidos para enxaqueca.
Ela puxou-o pela m��o, obrigando-o a entrar, enquanto dizia:
��� N��o tem cabimento voc�� esperar a�� fora. Sente-se, enquan-
to vou l�� no banheiro procurar.
Ele sentou na beira da poltrona, incomodado com o excessivo
sil��ncio da casa.
Marta n��o demorou. Reapareceu com um tubo numa das m��os
e um pacote de presente na outra. Sentou no bra��o da poltrona do
rapaz, colocando o embrulho sobre os joelhos dele.
��� �� para voc��. Comprei esta manh��. Mas antes que abra, pre-
cisamos conversar.
Ele fez men����o de levantar:
��� Tenho que levar o rem��dio para mam��e.
Ela impediu-o colocando o bra��o livre em volta dos seus ombros.
��� V o c �� sabe que as enxaquecas de sua m��e s��o de fundo psi-
col��gico. E, c�� entre n��s, ��s vezes ela finge que sente dor. S�� vai de-
morar alguns minutos. 0 que tenho para dizer para voc�� �� importante.
F��bio resignou-se a ouvir, mesmo porque a outra maneira de cair
fora era ser rude. Ela continuou:
��� Meu querido, gosto tanto de voc�� c o m o se fosse meu filho.
Por isso sinto-me na obriga����o de abrir os seus olhos. Posso falar tran-
q��ilamente porque estamos sozinhos. Ge��rgia foi visitar a madrinha
e a empregada saiu. Sei de todos os problemas que v o c �� tem enfren-
tado na sua casa. Talvez por isso, tenha sido t��o f��cil para aquela mu-
lher iludi-lo, dando uma de m��e posti��a, quando o que ela pretende
�� outra coisa. V o c �� �� um belo rapaz. Aparenta ser mais velho, tem
tudo para agradar qualquer mulher. Eu compreendo suas car��ncias,
F��bio. Quero ajud��-lo, faz��-lo feliz. V o c �� precisa de algu��m c o m o eu,
que o queira de verdade, que possa suprir todas as suas necessida-
des, seja confi��vel. Abra o pacote. Vamos, �� seu. Abra-o.
O rapaz obedeceu, contrafeito. Era uma bel��ssima camisa de se-
da branca, de corte moderno. Ele custou a achar o que dizer.
Ci��mes de Amor ��� 45
��� Obrigado. Mas n��o precisava... quero dizer... n��o �� meu ani-
vers��rio, nem nada... ��... desculpe, Marta, preciso ir agora.
Ela inclinou-se mais, pressionando os dedos no seu ombro:
��� Calma, meu querido. Por que voc�� n��o experimenta? Se n��o
servir posso trocar. Tire a sua camisa, enquanto desabotoo esta.
Ent��o, subitamente, ele compreendeu tudo. Levantou, brusca-
mente, deixando cair a camisa e correu para fora dali. Desceu os 8
andares a p�� e saiu para a rua sem olhar para tr��s, c o m o se fugisse
de mil dem��nios. Jogou-se dentro de um t��xi que passava, dando
o endere��o da empresa na qual Angela trabalhava.
ngela tinha tido um dia excepcionalmente calmo, no es-
CAP��TULO
crit��rio. Antes das tr��s horas havia terminado seu traba-
lho. Aproveitou para ler um livro. O tempo foi passando.
17 Eram quase cinco horas. Estava t��o absorvida que n��o o
viu entrar. S�� se apercebeu de sua presen��a, quando ele parou na
frente de sua mesa. A voz era agrad��vel, com um leve sotaque
estrangeiro:
��� Esse livro �� excelente. Li numa noite.
Ela ergueu os olhos, surpresa. O homem era alto, moreno e sim-
p��tico. Tinha um sorriso irresist��vel, desses que iluminam todo o ros-
to. Os olhos grandes e cinzentos tiravam o f��lego de quem os fitasse
de perto. O cabelo escuro come��ava a ficar grisalho nas t��mporas.
Ele continuou:
��� Desculpe se a assustei. A recepcionista mandou que eu en-
trasse. Sou Bruno Lombardi, rec��m-chegado de Mil��o. O Dr. Pereira
me espera.
��� Ele precisou ir a S. Paulo. Estar�� de volta amanh��. Providen-
ciei sua reserva. H�� um motorista �� sua disposi����o. N �� o sab��amos o
hor��rio de chegada de seu v��o. Por isso ele n��o foi esper��-lo no
Gale��o.
��� Minha secret��ria deve ter esquecido de avisar. Ela est�� no
fim da gravidez. Bem, estou louco para chegar no hotel e dormir 12
horas seguidas. Por gentileza, avise ao Dr. Pereira que estarei aqui
amanh��, ��s 11 horas. A t �� l�� ele dever�� ter voltado. Continue sua lei-
tura. Boa tarde.
��� Boa tarde.
Da porta ele voltou-se:
��� C o m o �� seu nome?
��� ngela.
Ele sorriu daquele jeito muito seu.
��� Perfeito. A senhorita tem mesmo cara de anjo! A t �� amanh��.
Angela ficou vermelha. Deu gra��as por estar sozinha. Morreria
de vergonha se algu��m visse sua perturba����o. Sim, porque aquele
homem tinha balan��ado o seu coreto.
��� Procurou lembrar o que sabia dele. Era italiano, havia mora-
do muitos anos em S. Paulo (da�� o portugu��s quase perfeito) e parti-
cipava da Diretoria da matriz da empresa, em Mil��o. Tinha vindo a
servi��o, por um m��s.
ngela tentou concentrar-se no livro para tirar da cabe��a o rosto
sorridente de Bruno Lombardi. Os olhos cinzentos, o riso, embara-
lhavam as linhas. Desistiu de ler. Fechou o livro. Olhou o rel��gio. "Cin-
co e trinta. Est�� na minha hora", pensou.
Apanhou a bolsa e saiu da sala, ainda balan��ada. A recep����o
estava quase vazia. Apenas a recepcionista, atr��s de sua mesa, e F��-
bio que acabava de entrar, visivelmente perturbado.
��� Desculpe vir aqui, ngela, mas eu precisava falar com voc��.
Ci��mes de Amor ��� 47
��� Que aconteceu?
Ele olhou em torno, constrangido.
��� Podemos conversar noutro lugar? V o c �� j�� est�� mesmo de
sa��da.
��� Claro. Vamos pegar o carro. Dou-lhe carona. Podemos con-
versar no caminho.
Ele n��o abriu a boca enquanto desceram pelo elevador, nem
quando atravessaram o estacionamento. S�� depois que ngela ligou
o motor decidiu-se a falar.
��� N e m sei por onde come��ar. Estou t��o... t��o perdido ...N��o
sei o que fazer.
ngela apertou a m��o do rapaz.
��� Calma, F��bio. Por pior que sejam as coisas, n��o se desespe-
re. A gente tem mais for��a do que imagina. Se estiver ao meu alcan-
ce ajudar, voc�� sabe que p o d e contar comigo. Fale.
Ele apoiou a cabe��a no encosto do banco, as l��grimas correndo
pelo rosto. Apertando a m��o de Angela, contou c o m o eram as coisas
na sua casa, a neurose da m��e, o comodismo do pai, as cenas, as
press��es, a forma c o m o Rosa usava os filhos, a ele principalmente,
para espionar o pai. Falou sobre a crise nervosa que o mantivera em
Salvador por tr��s meses, da arma����o de sua m��e e Marta para for��ar
seu namoro com Ge��rgia, do ��ltimo ataque de ci��me de Rosa, do
comportamento de Marta, omitindo apenas os ��ltimos acontecimen-
tos. E concluiu:
��� N �� o vou fazer o que mam��e deseja. Tenho que evitar que
me leve a outro esgotamento nervoso. N �� o sei o que fazer, ngela.
Se papai n��o voltar, n��o sei c o m o vai ser.
��� V o c �� precisa manter a calma. Ir enfrentando os problemas,
�� medida que forem surgindo. Mantenha-se afastado das crises entre
seu pai e sua m��e. N �� o permita que o envolvam com problemas que
voc�� n��o p o d e resolver. Se come��arem a brigar, v�� para seu quarto
ou saia de casa. Sempre que precisar, a qualquer hora, p o d e apare-
cer l�� em casa. E quando encontrar seu pai, tenha uma conversa s��-
ria com ele, j�� que ele �� mais equilibrado que sua m��e.
��� ngela, tenho pensado muito em sair de casa. Quero dizer,
ir morar sozinho ou com algu��m. Fa��o 18 anos em maio. Posso arru-
mar um trabalho, cuidar da minha vida. O que voc�� acha?
ngela ligou o carro. Seguiu pelo Aterro. Ela pensou um pouco,
antes de responder.
��� Essa �� uma decis��o muito s��ria. Viver s�� �� dif��cil, bem mais
do que voc�� imagina. De qualquer forma, n��o �� solu����o imediata.
Primeiro, voc�� precisa esfriar a cabe��a.
Eles foram conversando por todo o trajeto at�� a casa do rapaz.
Este chegou a abrir a boca para contar sobre o que Marta fizera aque-
48 ��� Ci��mes de Amor
la tarde e a campanha difamat��ria contra ngela, mas resolveu dei-
xar para outra ocasi��o.
ngela estacionou o carro na frente do edif��cio onde o rapaz mo-
rava. Desceu do carro, aproveitando para dar uma olhada no pneu
dianteiro.
��� A dire����o estava esquisita, pensei que fosse o pneu. Mas de-
ve ser amortecedor. Bem, voc�� est�� entregue e eu vou indo. Lembre-
se: muita calma e nada de desespero.
Ele beijou-a nos dois lados do rosto:
��� Muito obrigado, pela for��a. V o c �� �� um anjo.
Ela sorriu, pensando que era a segunda vez naquela tarde que
a chamavam assim.
Da janela, no pr��dio do outro lado da rua, Marta tinha visto
CAP��TULO
o carro parar e reconhecido F��bio.
"Ent��o �� ela. Agora tem o desplante de traz��-lo at��
18 aqui. Essa mulher me paga", pensou.
Nesse momento, o rapaz inclinou-se e beijou Angela no rosto.
Marta perdeu a cor. Apertou com tanta for��a o c o p o que segurava,
que este quebrou-se, cortando-lhe a m��o. Ela enrolou um len��o na
m��o ferida e, com a outra, discou o n��mero de Rosa.
J��lio vinha descendo de um t��xi. F��bio correu para ele. Abra-
��ou-o.
��� Papai! Que bom ver voc��. Quero que conhe��a minha amiga
Angela, a m��e da Adriana.
F��bio trouxe o pai at�� onde estava a amiga. Seu J��lio foi am��vel:
��� Desde que F��bio chegou, temos ouvido falar muito em voc��
e em sua filha. Francamente, eu n��o esperava que fosse t��o jovem.
��� Gostamos muito de F��bio. Foi bom t��-lo encontrado. Vou le-
var uma turminha para passar o final de semana no s��tio de meus
pais em Miguel Pereira. Se L��cia e F��bio quiserem ir conosco, ser��
um prazer. Eu ia telefonar para falar sobre isso com v o c �� ou com sua
esposa.
J��lio ficou embara��ado. Aquela mo��a nem sonhava com a hos-
tilidade de Rosa. Por sorte n��o tinha telefonado. N �� o podia ser inde-
licado. Tinha que achar uma desculpa que n��o soasse falsa. F��bio
antecipou-se.
��� Vamos adorar! Amanh�� combino tudo com Adriana.
J��lio ficou na dele. Mais tarde falaria com o filho. Eles ainda con-
versaram um pouco. Depois, Angela despediu-se e foi embora. F��bio
e o pai subiram a escada at�� a portaria, abra��ados, sem imaginar que
Rosa havia assistido tudo da janela.
Pai e filho entraram em casa numa ��tima. Rosa estava de p�� no
meio da sala com os bra��os cruzados. Sinal de tempestade certa.
��� Finalmente achou o caminho de volta! E j�� chegou me afron-
tando. V o c �� n��o tem vergonha de paquerar aquela mulher bem de-
baixo do meu nariz?
J��lio sentou-se no sof�� com a cabe��a entre as m��os, incapaz de
reagir. F��bio olhou de um para o outro. Precisava manter-se calmo.
��� Mam��e, eles nem se conheciam. Acabei de apresent��-los. n -
gela �� m��e de Adriana, minha melhor amiga. V o c �� sabe disso. Gosto
muito de ambas. Angela me deu uma carona e...
��� Sei muito bem quem �� essa sujeita! V o c �� �� igual ao seu pai.
N �� o �� ��-toa que est�� sempre do lado dele. N��o se meta. V�� para o
seu quarto.
F��bio obedeceu. Nada que dissesse ou fizesse ajudaria os dois,
enquanto eles mesmos n��o decidissem acabar com aquele inferno.
No quarto, p��s uma fita no tape-deck para n��o escutar a gritaria que
continuava l�� dentro.
50 ��� Ci��mes de Amor
Na sala, Rosa inteiramente descontrolada, despejou sobre o ma-
rido todo o veneno que Marta havia inoculado nela.
��� F��bio est�� t��o envolvido com essa mulher, que nem da na-
morada quer saber mais. A culpa �� sua. Se vivesse para a fam��lia,
daria melhor exemplo ao seu filho.
��� Que nova maluquice �� essa? N��o vi nessa criatura nada que
se pare��a com uma vampira de garotos.
Rosa ent��o repetiu a hist��ria da festa e da dan��a, na vers��o de
Marta. E conseguiu uma vit��ria. J��lio ficou na d��vida.
ngela acordou cedo. Seu primeiro pensamento foi para
CAP��TULO
Bruno Lombardi.
"O diabo do homem me impressionou. Tenho de tir��-
19 lo da cabe��a. Era s�� o que faltava, eu me envolver com
esse italiano, s�� porque tem um sorriso cativante e me chamou de
anjo. Bolas! Tenho 36 anos. Adolescente aqui em casa �� Adriana."
Por��m, a imagem dele acompanhou-a enquanto preparava o ca-
f��, conversava com os filhos, brincava com a gatinha. E depois, quando
vestia-se. Talvez por isso, tenha escolhido a roupa com tanto cuida-
do, caprichado na maquilagem e sa��do de casa meia hora mais cedo.
C o m o secret��ria executiva, ela assistia ��s reuni��es da Diretoria.
Assim estaria praticamente o dia todo com Bruno. E pensar nisso fa-
zia seu cora����o bater acelerado.
Foi a primeira a chegar ao escrit��rio. Verificou se a sala de reu-
ni��es estava em ordem, distribuiu blocos, canetas e cinzeiros. Depois,
sentou na sua escrivaninha e abriu o livro. Tinha meia hora para es-
perar. N �� o conseguia concentrar-se na leitura. A expectativa foi cres-
cendo com os minutos.
Ele entrou, sorrindo. Vestia um fant��stico terno de corte italiano.
��� Bom dia, senhorita. Somos os primeiros, n��o? Vejo que leu
pouco, desde ontem. N �� o est�� gostando?
��� Bom dia, Sr. Bruno. O livro �� fascinante. Eu �� que n��o con-
sigo prestar aten����o. Deve ser porque estou no escrit��rio. Vou lev��-lo
para ler em casa.
��� N �� o tenha muitas ilus��es quanto a hoje. Duvido que termi-
nemos cedo. Sabe se o Dr. Pereira j�� chegou?
��� Mandamos um motorista apanh��-lo no Aeroporto. Se havia
teto em S. Paulo esta manh��, ele estar�� aqui em meia hora.
��� ��timo. Pode me arrumar uma sala? Preciso relacionar alguns
itens e arrumar alguns pap��is.
��� Use a do Dr. Pereira. Est�� livre. Por aqui.
Ela levantou-se e conduziu-o at�� a sala do diretor.
��� Na gaveta da direita o Sr. encontrar�� papel, caneta, m��qui-
na de calcular, etc. Se quiser mais alguma coisa �� s�� me chamar.
��� Depois da reuni��o, vou precisar de uma datil��grafa que fale
bem franc��s. Tenho que ditar algumas cartas. �� trabalho para hora
e meia, mais ou menos.
��� Sou a ��nica que fala e escreve franc��s aqui. Posso ajud��-lo.
Mas d e v o preveni-lo que n��o sou veloz na m��quina.
��� S��o apenas cartas. Fico-lhe grato.
��� C o m licen��a. Vou voltar para a minha sala.
ngela encostou do lado de fora na porta fechada para retomar
f��lego.
��� "Devia ter ficado calada. Para que fui me oferecer? �� um ab-
surdo sentir-me assim com rela����o a um homem que mal conhe��o,
que deve ser casado, ter filhos. De qualquer forma, teria sobrado pa-
52 ��� Ci��mes de Amor
ra mim por causa do franc��s. Preciso controlar-me. Essa reuni��o de
hoje n��o vai ser brincadeira", pensou.
Caminhou para sua mesa decidida a dominar a atra����o que aque-
le homem exercia sobre ela.
A sa��da do col��gio era sempre uma confus��o generalizada. Ban-
dos de alunos de todas as idades, carros em fila dupla, tripla, sorve-
teiro, carrinho de pipoca, o apito do guarda de tr��nsito, bab��s unifor-
mizadas, m��es aflitas etc.
Roberto chamou a aten����o de Marco:
��� Olhe ali. O Gordo virou sorveteiro?
��� �� mesmo. Q u e ser�� que deu nele? Veja, n��o quis cobrar o
picol�� do Marquinho nem do Carlos.
��� Esse cara est�� aprontando alguma. Os pais dele t��m dinhei-
ro. Se quisesse trabalhar, podiam arranjar-lhe coisa melhor. A�� tem
alguma jogada suja. Vou ficar de olho nele.
��� Olha l�� no que voc�� vai se meter. Essa turma �� da pesada.
Seja qual for o neg��cio do Gordo, �� melhor ficarmos fora.
��� Marco, os garotos para quem ele deu os sorvetes t��m 9 anos.
S��o irm��os de colegas nossos. E mesmo que nem os conhec��sse-
mos. Se o lance �� o que estamos pensando, �� a maior sujeira. Esse
cara tem que ir para a cadeia.
��� N �� o temos nada com isso, Roberto. A fam��lia dos garotos que
tome conta deles. Eu �� que n��o vou entregar ningu��m.
��� Minha m��e diz que sempre temos a ver com as coisas e as
pessoas. Se for o que pensei, eu entrego esse bandido. V o c �� p o d e
ficar de fora.
Marco passou o bra��o pelo ombro do amigo.
��� Alguma vez fiquei de fora das suas encrencas? Somos a cor-
da e a ca��amba. Sua m��e est�� certa. H�� coisas que a gente n��o p o d e
fazer de conta que n��o viu.
A reuni��o foi exaustiva. Fora os diretores do Rio, vieram
CAP��TULO
tamb��m os de S. Paulo. A l �� m de ngela, foram necess��-
rias outras duas secret��rias para o assessoramento. Tiran-
20 do os cafezinhos, s�� pararam para comer sandu��ches, ali
mesmo.
No fim da tarde, estavam todos exaustos. Dr. Pereira deu o to-
que de retirada.
��� Por hoje �� s��. Duvido que ag��ent��ssemos mais 5 minutos.
Boa noite a todos. Dr. Bruno, eu o levarei at�� seu hotel. E, se quiser,
mais tarde podemos jantar juntos.
��� Obrigado, mas ainda tenho umas cartas para redigir. Pedi a
sua secret��ria que me auxiliasse.
��� ngela �� muito competente. Mandarei o motorista voltar pa-
ra esper��-lo.
��� N �� o �� preciso. Tomo um t��xi.
��� Se prefere assim, ent��o at�� amanh��.
Eles foram saindo aos grupos. Em breve, todo o andar esvaziou.
Ficou s�� o pessoal da limpeza. Bruno levantou da enorme mesa de
reuni��es e aproximou-se de Angela, que colocava alguns pap��is nu-
ma pasta.
��� Por isso que os executivos s��o barrigudos. Passam dias intei-
ros sentados em torno de uma mesa, fumando, tomando cafezinhos
e comendo sandu��ches. Vamos trabalhar em outro lugar. N �� o ag��en-
to mais esse cheiro de cigarro.
��� Usaremos a sala do Dr. Pereira. Pedi ao pessoal da limpeza
que a deixasse pronta.
Ele seguiu-a em sil��ncio. A outra sala estava limpa e impec��vel,
das rosas sobre a mesa �� t��rmica com caf�� fresco, na bandeja de pra-
ta. Bruno sorriu.
��� A senhorita �� muito eficiente. Gostaria de ter algu��m assim
em Mil��o.
Ela corou. Para disfar��ar, virou-se para a garrafa t��rmica:
��� O senhor aceita mais um caf��?
��� S�� se me fizer companhia. O caf�� dos brasileiros �� muito fra-
co para o gosto italiano.
��� O senhor me d�� licen��a por um momento. Preciso avisar que
chegarei mais tarde. Meus filhos sempre me esperam para jantar.
��� Quantos anos eles t��m?
��� Roberto est�� com 17 e Adriana com 16.
Ele olhou-a espantado:
��� Eu n��o lhe daria mais de 26 anos. Seu marido �� um homem
de sorte.
0 rosto de ngela contraiu-se:
��� Ele morreu h�� 2 anos.
��� Desculpe. Sinto muito.
��� O senhor n��o podia imaginar. Podemos come��ar, se quiser.
54 ��� Ci��mes de Amor
��� Naturalmente.
Eles ocuparam a pr��xima hora e meia com as cartas. O franc��s
de Bruno era excelente, mas o sotaque abomin��vel. Ele pronunciava
os erres �� moda italiana. ngela tinha que segurar-se para n��o rir.
Eram mais de 8 horas, quando terminaram. Ele sorriu.
��� Vou roub��-la do seu chefe. Estou semimorto de fome. Pode-
mos cair fora. Ainda tenho que achar um t��xi.
��� Ser�� dif��cil por aqui, a esta hora. Estou de carro. Posso deix��-lo
no hotel. M o r o em Botafogo. Fica perto.
��� Aceito. A esta altura, n��o tenho coragem para esperar por
um t��xi no meio da rua.
Eles desceram pelo elevador, atravessaram o estacionamento e
entraram no carro. ngela seguiu pelo Aterro.
Bruno olhava o perfil delicado da mo��a, procurando a melhor
forma de fazer o convite.
��� Gostaria que jantasse comigo. Detesto comer sozinho, ou fa-
lando de neg��cios, c o m o aconteceria se tivesse aceito o convite do
Dr. Pereira.
Ela sentiu um aperto por dentro. Devia ter desconfiado logo,
quando ele pediu que ficasse at�� mais tarde. Fechou o rosto. E a res-
posta foi brusca:
��� Obrigada, doutor. Sempre janto com meus filhos. Meu tra-
balho termina quando saio do escrit��rio.
Ele primeiro ficou desconcertado com a rea����o. Mas logo enten-
deu. Mo��a e bonita c o m o era, sabe Deus quantas cantadas ela n��o
tinha levado. Falou calmamente:
��� S�� estou convidando voc�� para jantar, ngela, mais nada.
Sei que muitos homens portam-se de forma abomin��vel, e qual �� a
fama dos italianos. Pessoalmente, tenho muita pena daqueles que
usam suas posi����es e outras vantagens para aproximarem-se de uma
mulher. Evidente que n��o ignorei o quanto �� bonita. Por��m, n��o foi
isso que me levou a convid��-la. Eu quis apenas a sua companhia.
Ela apertou os l��bios para conter o choro. Mas as l��grimas tei-
mavam em descer. Dois anos de clausura haviam feito com que per-
desse contato com o mundo e a capacidade de distinguir um paque-
rador de um cavalheiro. Enxugou os olhos com as costas da m��o.
��� Desculpe, doutor Bruno, estou t��o envergonhada!
��� Compreendo sua rea����o. E ent��o, aceita o convite? P o d e te-
lefonar do restaurante, avisando os garotos.
��� Vou gostar muito de jantar com o senhor.
Foi Adriana quem atendeu o telefone:
��� Mam��e, onde voc�� est��? Vai jantar fora com um amigo, sei.
N �� o se preocupe. Roberto e eu nos viramos. Divirta-se, mam��e. Um
beijo.
Roberto, que ouvia um disco sentado no ch��o, ergueu a cabe��a:
Ci��mes de Amor ��� 55
��� Onde ela est��?
��� Num restaurante. Vai jantar com um amigo. Que bom. �� a
primeira vez que ela sai com algu��m, depois que papai morreu.
Roberto emburrou:
��� Ela n��o devia ter feito isso! Faz t��o pouco tempo que ele mor-
reu. Mam��e n��o tem o direito de esquecer, de sair com outro ho-
mem. E voc�� fica a�� batendo palmas. Isso �� uma trai����o �� mem��ria
de papai.
Adriana quase bateu no irm��o. Estava furiosa de verdade. T �� o
furiosa que falou baixinho: E quando isso acontecia, era melhor sair
de baixo:
��� Olhe aqui, seu bobalh��o, n��o ouse repetir isso. V o c �� �� um
p o �� o de ego��smo. S�� pensa em si, na sua dor e na sua saudade. Es-
quece a dor dos outros. Meteu-se no papel de guardi��o da mam��e.
N �� o quer que ela se divirta, que encontre algu��m de quem possa gos-
tar, com a desculpa que �� por causa do papai. Se tiver um pouco
de honestidade, vai ver o quanto �� mesquinho. O que v o c �� n��o quer
�� dividir o afeto dela com ningu��m, mesmo que ela esteja infeliz sozi-
nha. Papai era generoso. Eles se amavam muito. Tenho certeza que
ele desejaria que ela fosse feliz outra vez. Se voc�� pressionar mam��e,
eu juro que quebro a sua cabe��a! Fique a�� sozinho, curtindo a sua
intoler��ncia. Eu vou dormir.
Ela entrou no seu quarto, batendo a porta com for��a.
Roberto permaneceu onde estava. Ele sempre ficava perplexo
diante das rea����es da irm��. No fundo, sabia que ela estava certa. Mas
n��o podia admitir a possibilidade de partilhar a m��e. A p �� s a morte
do pai, era ela seu ��nico ponto de apoio, seu maior afeto.
"Ela n��o p o d e fazer isso comigo. N �� o pode!". Ele cobriu o rosto
com as m��os e come��ou a solu��ar...
Agora que ngela tinha um rosto definido e bonito, o ��dio
CAP��TULO
de Marta aumentou. Muito esperta, entendeu que havia
21 se exposto e perdido a primeira batalha. Tinha que recuar
para depois preparar o novo ataque. E precisava de alia-
dos mais discretos que Rosa. Pensando assim, chamou Ge��rgia.
��� Filha, v o c �� brigou com a L��cia?
��� N��o. Mas desde o dia que ca�� no col��gio, ela anda meio afas-
tada. Ainda me d�� carona para o col��gio, algumas vezes. Mas, nos
intervalos, dificilmente ficamos juntas.
��� Telefone para ela. Pe��a-lhe que venha aqui. Vou preparar um
lanche.
��� E se ela n��o quiser?
��� Insista. Diga que �� muito importante.
A garota obedeceu. Sentia falta da amiga. Andava confusa, di-
vidida entre seus pr��prios sentimentos e a doutrina����o da m��e. Se
ao menos pudesse conversar com o pai! Mas ele estava sempre dis-
tante, distra��do, preocupado com seus neg��cios. Ela ergueu o telefone:
��� L��cia? Faz um temp��o que a gente n��o estuda junto. Estou
toda enrolada com uns problemas de F��sica. Daria para v o c �� vir at��
aqui me dar uma m��ozinha?
L��cia ia inventando uma desculpa. Mas pela voz de Ge��rgia per-
cebeu que a outra estava numa p��ssima. Por isso concordou em ir.
Marta fez-lhe uma festa. Ge��rgia levou-a para seu quarto. Con-
versaram um pouco, evitando o assunto que fatalmente traria disc��r-
dia. Depois mergulharam na F��sica para valer. O tempo passou
depressa.
L�� pelas tantas, Marta bateu na porta:
��� Hora do lanche, meninas.
��� A n d a bem. Estou faminta ��� comentou Ge��rgia.
��� Eu tamb��m ��� concordou L��cia.
Enquanto comiam, Marta, c o m o quem n��o quer nada, levou o
assunto para o col��gio, os amigos, indagando:
��� F��bio continua indo muito �� casa de Adriana?
L��cia ficou em guarda. Respondeu cautelosamente:
��� N �� o sei. Mas eu n��o o censuraria se fosse. A casa deles ��
um lugar tranq��ilo, alegre. Apesar de terem perdido o pai, aqueles
tr��s s��o uma fam��lia e tanto.
��� Bem, eu s�� acho que a m��e deles n��o devia estar sempre
no meio de voc��s. Gente jovem precisa da companhia de gente j o -
vem, que se interesse pelas mesmas coisas. N �� o fica bem uma mu-
lher madura participar de uma turma de garotos. Ela devia procurar
algu��m de sua pr��pria idade. V o c �� n��o acha?
L��cia n��o gostou do rumo que o p a p o ia tomando. Resolveu
cortar.
��� ngela trabalha o dia todo. �� natural que queira ficar com
os filhos, quando tem folga. E se os amigos deles est��o l��, n��o vejo
Ci��mes de Amor ��� 57
por que deva trancar-se no quarto. Sabe, Marta, ela �� um barato. V o -
c�� devia conhec��-la.
Marta percebeu que era melhor parar por ali. Mudou de assunto.
��� O anivers��rio de Ge��rgia est�� perto. Quero fazer uma gran-
de festa. Vamos convidar toda a turma. Conto com voc�� para ajudar
a organizar tudo, c o m o no ano passado.
L��cia concordou. Gostava de Ge��rgia, embora n��o aprovasse
sua conduta nos ��ltimos tempos. Desconfiava que a m��o de Marta
andava ali. S�� n��o conseguia atinar com a raz��o.
Quando L��cia foi embora, Marta entrou no quarto da filha:
��� V o c �� melhorou de cara. Agora escute. Amanh��, no col��gio,
voc�� vai fazer as pazes com F��bio.
��� Mas n��s n��o brigamos. Ele apenas afastou-se depois que eu
bri... quero dizer, que eu ca��.
��� A hist��ria desse tombo est�� muito esquisita! O importante ��
que voc�� volte a falar com ele, mesmo que seja na base da amizade.
Fa��a isso, amanh�� sem falta. A t �� seu anivers��rio evite contrari��-lo.
N �� o toque mais em ngela, nem na filha dela, entendeu?
��� Mam��e, eu preferia parar com isso. O ��nico resultado que
consegui com essa campanha, foi perder amigos.
��� N �� o �� verdade. O col��gio inteiro comenta o fato. J�� ganha-
mos pontos. A culpa do afastamento de seus amigos �� dessa Angela.
Essa mulher n��o tem escr��pulos.
Por longo tempo, Marta seguiu enumerando fatos e provas de
que tinha raz��o. E, mais uma vez, conseguiu confundir a cabe��a da
filha.
Assim que deu o sinal para o intervalo, Ge��rgia correu para
CAP��TULO
ir �� cantina. Estava tomando um refrigerante, quando F��-
bio chegou. Aproximou-se dele:
22
��� Oi, F��bio. Faz tanto tempo que a gente n��o con-
versa.
��� Ultimamente os assuntos de seu interesse s��o bem diferen-
tes dos meus.
��� Poxa, F��bio. N��s nos conhecemos h�� tanto tempo. Somos
amigos, bobagem deixar que um desentendimento �� toa nos separe.
��� As coisas que voc�� fez s��o s��rias e as conseq����ncias graves.
A reputa����o das pessoas n��o �� brinquedo.
��� N �� o quero falar sobre isso. Quero apenas voltar a ser sua ami-
ga. L��cia ontem foi l�� em casa. Estudamos juntas c o m o antes. Voc��
n��o podia deixar pra l�� esse assunto, e ser meu amigo outra vez? Meu
anivers��rio est�� perto. Ficarei muito triste, se v o c �� n��o aparecer.
��� Vou pensar, Ge��rgia. E voc�� tamb��m devia pensar no que
tem feito de errado.
Um grupinho de rapazes assistira de longe ao papo dos dois. Um
deles, Lauro, comentou:
��� Ser�� que a Ge��rgia tem chance?
��� Ora, ela �� uma gracinha. Aposto que ganha a parada ��� brin-
cou Ant��nio.
Lauro aproveitou a deixa para fazer trocadilho:
��� ��. Mas a m��e da Adriana �� outra parada!
Marco e Roberto vinham chegando. Escutaram o final da frase.
Roberto encarou o grupo:
��� Que �� que voc�� quis dizer, quando falou da minha m��e?
O outro ficou atrapalhado. Engasgou com a resposta:
��� Eu s�� falei que... ela �� bonita. Tem alguma coisa de mal?
��� N �� o gosto que fiquem conversando sobre ela. Procure outro
assunto, mais pr��prio para um papo de recreio.
Marco interferiu, antes que o outro se queimasse e falasse demais.
��� Deixa pra l��, Roberto. Ele n��o disse nada ofensivo. Vamos
tomar um refrigerante, antes que termine o intervalo.
E saiu dali, arrastando o amigo e pensando "at�� quando ser�� pos-
s��vel esconder dele essa maldita fofoca?"
Os rapazes tamb��m ficaram aliviados com o desfecho. N �� o esta-
vam a fim de provocar barulho dentro do col��gio.
Na hora da sa��da, Roberto avisou Marco:
��� Hoje vou entregar o Gordo. Descobri tudo e avisei a Pol��cia
Federal. Se quiser ficar fora, tudo bem. N �� o v�� para casa comigo.
��� Corta essa! Sua m��e sabe disso?
��� A n d a n��o. Conto depois que tudo der certo.
��� C o m o descobriu?
��� Conversei com os garotos que s�� compram dele. O miser��-
vel deve estar pondo " p �� " nos sorvetes. Os meninos dizem que o que
Ci��mes de Amor ��� 59
ele vende �� diferente! Voc�� j�� viu sujeira igual? Ele vicia as crian��as
sem que elas saibam, para depois vender-lhes t��xicos. Cadeia �� pou-
co para ele!
��� Concordo. Mas pense bem, voc�� j�� fez o que devia. Os poli-
ciais est��o por a�� para pegar o sujeito. �� o trabalho deles. Est��o acos-
tumados. Para que voc�� vai se expor? Pode at�� atrapalhar. E se a qua-
drilha do Gordo sabe que foi voc�� quem entregou o bicho vai se vin-
gar. Eles podem pegar tanto voc��, quanto sua irm�� ou sua m��e.
��� N �� o tinha pensado nisso. A c h o que estava gostando da id��ia
de bancar o her��i. V o c �� tem raz��o. Vamos ficar apreciando de longe.
S�� preciso mostrar os meninos aos policiais.
E foi o que eles fizeram. Os agentes federais, vestidos de m o d o
comum, esperaram at�� que Roberto, discretamente, apontasse os dois
garotos com os quais havia conversado. Deixaram que comprassem
seus sorvetes e ent��o cercaram o carrinho.
Foi um tumulto. O Gordo gritava que era menor de idade, cho-
rava, tentando comover as pessoas que passavam. O tr��nsito ficou
interrompido. A g i n d o rapidamente os policiais levaram o "sorveteiro"
e seu carrinho num furg��o, que j�� estava estacionado perto para esse
fim.
Marco e Roberto ca��ram fora, satisfeitos com o resultado.
Adriana, quando soube da hist��ria por Marco, vibrou. Foi para
a cozinha preparar a sobremesa favorita do irm��o: torta de banana.
�� tarde, mal ngela p��s o p�� dentro de casa, Adriana foi
CAP��TULO
logo dizendo:
��� Mam��e, seu filho �� um her��i! Ajudou a prender
23 um traficante de t��xicos, na porta do col��gio. Pena que s��
n��s tr��s, e agora voc��, sabemos. Convidei Marco para jantar conos-
co. Temos que comemorar.
E ela contou tudo. ngela abra��ou o filho:
��� Estou orgulhosa de voc��, meu querido. Mas, da pr��xima vez,
fale comigo primeiro. N �� o vou impedi-lo de fazer o que acha melhor.
Ao contr��rio, posso ajudar, inclusive a diminuir os riscos. Vou tomar
um banho para fazer jus a esse jantar.
Estava ajudando Adriana a p��r a comida na mesa, quando o te-
lefone tocou. Roberto fez men����o de atender. Ela o deteve:
��� Deixa que eu atendo. Deve ser para mim.
O rapaz franziu o cenho. Procurou ouvir o que a m��e dizia.
��� Esta noite? S�� se for mais tarde, vamos jantar agora. Tudo
bem. L e v o o meu carro. Outro.
Ela desligou sem fazer coment��rios. Antes de sentar para jantar,
brincou com o filho:
��� V�� se desfaz essa ruga da testa ou vai ficar velho cedo. Torta
de banana merece uma cara alegre.
C o m Marco �� mesa, era dif��cil permanecer s��rio. Em breve, esta-
vam os quatro ��s gargalhadas.
Roberto descontraiu e tratou de curtir sua dose de alegria. Nem
por isso deixou de perceber que Angela, de vez em quando, olhava
o rel��gio.
Adriana servia a sobremesa quando a campainha tocou. Custa-
ram a escutar por causa das risadas. Falou para Marco:
��� Pegue logo o seu prato que eu vou atender.
��� A n d a rindo, abriu a porta:
��� Entre F��bio. Voc�� perdeu o jantar de comemora����o. Mas che-
gou a tempo da sobremesa.
O rapaz beijou-a. Aproximou-se da mesa, cumprimentando os
rapazes. Beijou ngela no rosto.
Esta convidou:
��� Sente aqui do meu lado. A torta de Adriana est�� simplesmente
o m��ximo.
Roberto fechou a cara. Marco percebeu. Chutou o amigo por
debaixo da mesa e falou baixinho, aproveitando uma risada de
Adriana:
��� Manera, cara. N �� o estrague a festa.
Roberto controlou-se. Mas perdeu a espontaneidade o resto da
noite.
ngela foi fazer caf�� e trouxe para a sala. O papo e a goza����o
continuaram. F��bio curtia aquela descontra����o, a confian��a e liber-
dade que havia na rela����o daqueles tr��s.
Ci��mes de Amor
61
Tutuca veio se espregui��ando l�� do quarto. Acomodou-se no colo
de ngela. Estava crescida e roli��a de gorda, sempre de fita verme-
lha no pesco��o.
F��bio sentou ao lado de Angela e ficou acariciando a gatinha,
enquanto falava com uma ponta de tristeza:
��� A d o r o bichos. Sempre quis ter um. Mas mam��e n��o os su-
porta.
Angela p��s-lhe a gata no colo, sorrindo:
��� Pois eu empresto Tutuca para voc��. Pode vir brincar com ela
quando quiser.
Eles ainda conversaram por um bom tempo. Roberto ficou de
parte, s�� observando a m��e.
L�� pelas tantas, ngela olhou o rel��gio.
��� Poxa. Preciso correr. S �� o quinze para as dez!
Roberto ergueu a cabe��a para ela.
��� Onde voc�� vai a essa hora?
Ela respondeu tranq��ilamente:
��� Pegar a sess��o das dez.
��� V o c �� tem sa��do muito ultimamente ��� falou ele cautelosa-
mente, fitando a m��e dentro dos olhos.
Ela manteve o olhar ao responder:
��� Espero que isso n��o seja uma censura. H�� um momento pa-
ra tudo na vida. Um dia voc�� aprender�� a distinguir melhor as coisas.
Chegou o meu momento de voltar �� vida, meu filho. Estou me refe-
rindo a minha vida pessoal, que �� separada da minha vida com v o -
c��s. Vou passar o pente no cabelo e pegar a bolsa. Continuem
conversando.
Isso foi dito serenamente, mas com firmeza.
Ela n��o se demorou l�� dentro. Beijou a todos. Quando chegou
a vez de F��bio, este levantou.
��� Vou descer com voc��. �� tarde. Adriana, a sua �� a melhor torta
de banana que j�� provei. Marco, Roberto, a gente se v�� amanh�� no
col��gio. Boa noite.
Mal a porta fechou, Roberto estourou:
��� N �� o suporto esse cara!
��� E faz quest��o de demonstrar isso claramente. Pois eu gosto
e muito dele ��� respondeu Adriana, de maus modos. Marco ficou na
dele.
Nos dias que se seguiram, os assuntos principais no col��-
CAP��TULO
gio foram a pris��o do Gordo e o pr��ximo anivers��rio de
24 Ge��rgia. As festas dela eram famosas. Todo mundo que-
ria ser convidado.
Depois de muitas manobras, ela conseguiu que F��bio prometes-
se ir, em nome da velha amizade.
Ge��rgia distribuiu os convites. Do pessoal conhecido do 2.�� grau,
s�� Adriana e Roberto ficaram de fora. A t �� Anete, Milena e Marco fo-
ram inclu��dos.
Na manh�� da festa, durante o recreio, F��bio segurou a m��o de
Adriana:
��� Por que voc�� n��o veste aquele vestido lindo, que usou na
sua casa?
��� N �� o fui convidada. E mesmo que fosse n��o iria. Quem me-
xe com minha m��e, fica sujo comigo para o resto da vida!
��� Ge��rgia �� mimada e descabe��ada, mas n��o �� m��. Garanto
que est�� arrependida do que fez.
��� Duvido.
��� Tanto �� verdade que procurou fazer as pazes comigo. Vou
conversar com ela agora mesmo. Anivers��rio �� uma boa ocasi��o pa-
ra se rever as coisas e corrigir erros. E voc�� deixe de ser cabe��a-dura.
Volto j��.
Adriana ficou vendo-o dirigir-se para onde estava Ge��rgia, cer-
cada por um grupo. Assim que esta o avistou, caminhou para ele
sorrindo:
��� Conto com voc�� hoje �� noite.
��� Estarei l��. Posso levar dois amigos?
��� Claro. Quem s��o eles. Convidei todos os que conhecemos.
��� Adriana e Roberto. Convid��-los ser�� uma forma indireta de
desculpar-se e p��r um fim nessa hist��ria.
Ge��rgia franziu a testa e ergueu a voz.
��� Mas eu n��o tenho inten����o de pedir desculpas, nem quero
esses dois na minha festa.
��� Fale baixo. Chega de estardalha��o. �� pena que voc�� pense
assim. Eu estava come��ando a acreditar que sua maldade tinha sido
criancice. Estou vendo que �� mais grave. Quem vai perdendo �� voc��.
��� Espere. V o c �� prometeu que iria.
��� Eu disse que iria. Estou dizendo agora que n��o vou, j�� que
n��o posso levar minha melhor amiga.
A garota perdeu as estribeiras, gritou para que todos ouvissem:
��� S�� falta v o c �� exigir que eu pe��a desculpas e convide ngela
tamb��m!
Foi a vez dele perder a paci��ncia. Gritou de volta:
��� Voc�� �� muito burra e maldosa. N �� o enxerga um palmo adian-
te do nariz!
Ci��mes de Amor ��� 63
��� V o c �� nem disfar��a mais, n��o ��? Sua "amizade" por ngela
n��o engana ningu��m!
Roberto ia passando. Parou ao ouvir o nome da m��e. Fez-se si-
l��ncio em torno:
��� 0 que �� que voc�� estava dizendo sobre a minha m��e?
Ge��rgia, inteiramente fora de si, enfrentou-a aos berros:
��� Sua m��e devia ter vergonha de estar de caso com um garoto
que podia ser filho dela. Aqui no col��gio n��o se fala de outra coisa.
Roberto agarrou-o pelo bra��o:
��� Sua boca �� muito suja! N �� o abra mais para tocar no nome
da minha m��e, ou esque��o que ela me ensinou que n��o se bate em
mulher e te arrebento!
Ele empurrou a garota violentamente. Ela caiu. F��bio aproxi-
mou-se:
��� Sinto muito, Roberto. A culpa foi minha. Eu quis...
��� Cai fora! Cai fora ou te acerto!
Adriana, que n��o ouvira a briga por estar longe mas vira o irm��o
empurrar Ge��rgia, veio correndo.
��� Roberto! O que foi que aconteceu?
Ele apontou a garota ainda estatelada:
��� Essa... essa... Vou para casa.
N �� o conseguiu continuar. Correu para a rua quase atropelando
de passagem a diretora, que viera ver o que estava acontecendo.
Entrou em casa c o m o um furac��o. Foi para seu quarto e atirou-
se na cama, solu��ando.
No col��gio, F��bio pegou Adriana pela m��o.
��� Vamos sair daqui. L�� fora eu conto tudo. S�� espero que v o -
c�� me perdoe. Fui eu quem provocou essa situa����o. Bem diz meu
av�� que de boas inten����es o inferno est�� cheio!
F��bio levou Adriana para uma lanchonete que ficava perto dali,
e relatou a briga toda. Adriana estava arrasada.
��� Eu n��o queria que mam��e soubesse dessa sujeira. Agora n��o
h�� outro jeito. Roberto n��o vai se segurar.
��� Esta noite vou �� sua casa. Quero estar l�� quando voc�� con-
tar. Sou o ��nico respons��vel por tudo o que aconteceu, desde o
princ��pio.
Adriana acariciou o rosto dele com as pontas dos dedos:
��� �� a primeira coisa burra que ou��o voc�� dizer. N �� o fa��a disso
um h��bito. Ela s�� estar�� em casa mais tarde. Vai direto do escrit��rio
para o supermercado. Pobre mam��e, enfrentar essa barra depois de
um dia de trabalho! Mas temos que dizer-lhe e tomar uma atitude an-
tes que o mal fique ainda maior.
ngela empurrava um carrinho de compras com Bruno
CAP��TULO
do lado, esbravejando:
��� Um homem na minha idade namorando escon-
25 dido, no supermercado! Voc��s, brasileiros, s��o muito
complicados.
��� Nem todos. Aqui tamb��m temos muita gente que casa qua-
tro, cinco, vezes. N �� o �� o meu caso.
��� Eu s�� me casei uma vez. As outras duas "convivi".
��� E tem 3 filhos de m��es diferentes, dos quais a ��ltima vive
com voc�� e �� t��o ciumenta quanto Roberto. Bruno, voc�� me pediu
em casamento na terceira vez que sa��mos. C o m o quer que eu o leve
a s��rio?
��� Eu me apaixonei por voc�� desde que a vi lendo aquele livro,
l�� no escrit��rio. Isso me parece bastante s��rio.
��� Eu tamb��m me apaixonei por voc��. Mas tenho dois filhos,
que perderam o pai h�� pouco tempo. Preciso sentir-me segura, n��o
s�� que vamos nos casar, c o m o tamb��m que vai dar certo. N �� o estou
a fim de colecionar maridos. Sou do tipo que casa para viver junto,
e bem, at�� morrer. Roberto est�� passando por uma fase dif��cil. Se eu
apresentasse voc�� agora, ia mexer muito com a cabe��a dele, que j��
anda a mil.
��� Continuo achando um absurdo. O que ainda falta da sua lis-
ta que tem para vender?
��� Ovos, leite, carne e...
��� Eu perguntei das coisas que existem nas prateleiras para ven-
der, n��o das que desapareceram misteriosamente, depois do
congelamento.
Angela riu. Bruno tinha, al��m do sorriso, um humor fant��stico.
Terminadas as compras, ela deixou-o no hotel e foi para casa.
F��bio e Adriana conversavam na sala. Roberto continuava tran-
cado no quarto.
Assim que entrou, empurrando o carrinho com as compras, pres-
sentiu que havia algo errado. Adriana e F��bio estavam tensos.
Eles a beijaram e foram ajud��-la a descarregar as sacolas.
Enquanto isso, na casa de Ge��rgia, Marta abria a porta para
L��cia.
��� Entre, querida. E seu irm��o? V e m mais tarde?
��� Ele n��o vem.
��� Mas Ge��rgia disse...
Esta aproximou-se:
��� Deixe L��cia entrar, mam��e. 0 irm��o dela brigou comigo es-
ta manh��. Queria que eu convidasse os filhos de ngela. A esta ho-
ra, deve estar na casa dela.
L��cia come��ou a dizer que n��o fora bem assim. Por��m Marta
nem a escutou. Pediu licen��a e foi para seu quarto. As m��os tremiam,
quando discou o n��mero.
Ci��mes de Amor ��� 65
Ao ouvir o telefone, ngela deixou cair o saco de batatas no ch��o.
��� Deixa que eu atendo ��� falou para a filha, pensando que fosse
Bruno.
Mal teve tempo de repetir o n��mero. Uma voz tensa e raivosa
falou:
��� Sua descarada! Voc�� n��o tem vergonha de estar de caso com
um menino, que podia ser seu filho? Usando a pr��pria filha c o m o
isca e disfarce?
O telefone foi desligado antes que pudesse responder.
Ela ficou por alguns instantes com o telefone na m��o, incapaz
de raciocinar. O choque fora grande. Voltou lentamente para a cozi-
nha. F��bio e Adriana guardavam as coisas na geladeira.
��� F��bio, hoje n��o �� a festa de anivers��rio de sua namorada?
��� perguntou.
��� �� a festa de Ge��rgia. Mas faz tempo que ela n��o �� mais mi-
nha namorada.
��� Mesmo assim, por que voc�� n��o foi?
��� Fazer o qu��? N �� o tenho paci��ncia para aturar menininhas de
cabe��a oca e garotos que s�� pensam em pegar onda, discutir moto-
res e pot��ncia de motos. Depois, eu precisava falar com voc�� sobre
uma coisa muito s��ria que est�� acontecendo...
Nesse momento, Roberto entrou na cozinha c o m o um furac��o.
��� M��e, todo o col��gio comenta que voc�� tem um caso com
esse cara.
ngela ficou atordoada. Percebera a d��vida na voz do filho. Ainda
n��o havia se recuperado do primeiro choque. Mais que tudo, doeu
fundo a suspeita do filho. Respirou fundo para conter as l��grimas. N �� o
podia chorar naquele momento. Fez-se um sil��ncio pesado entre eles.
Adriana levantou lentamente e encostou na pia. F��bio ficou onde es-
tava, olhando para os dois.
Angela n��o desviou os olhos do filho, nem por um segundo. E
ele viu a m��goa que havia causado. Controlou a voz e, sempre fitando-
o, perguntou:
��� E voc��, o que acha?
Foi ele quem baixou os olhos.
��� Eu n��o sei! Eu n��o sei! ��� gritou, chorando.
Adriana aproximou-se do irm��o. Parecia querer bater nele. P o -
r��m, segurou-se e falou:
��� Pois eu sei que �� mentira. V o c �� devia ter vergonha de duvi-
dar da sua m��e. Se ela quisesse ter um caso com o F��bio, ou outro
qualquer, n��o ia ser desse jeito, enganando a gente. Quando foi que
mam��e mentiu para n��s? Diga a��, quando? N e m mesmo quando pa-
pai morreu e, no primeiro momento, todo mundo queria esconder
da gente. V o c �� �� uma besta. Um cara burro e cheio de vento e de
ci��me. N �� o merece a m��e que tem.
66 ��� Ci��mes de Amor
Ele correu para a sala, atirou-se numa poltrona, chorando alto:
��� Eu n��o sei mais o que pensar. Se voc�� tivesse ouvido a Ge��r-
gia hoje, no col��gio!
Adriana n��o se comoveu.
��� Eu soube de tudo desde que a fofoca come��ou. N �� o contei
para n��o chatear a mam��e. Chega o que ela atura o dia todo, no em-
prego. F��bio veio aqui hoje para conversarmos com ela. V o c �� acredi-
tar nessa sujeira �� o fim! O fim!
F��bio sentou no bra��o da poltrona de Roberto, pondo-lhe a m��o
no ombro:
��� V o c �� est�� errado, cara. Tudo o que eu queria era ter uma
m��e c o m o a sua. Que voc�� tenha ci��me dela eu compreendo, mas
que duvide n��o. Gosto �� de Adriana. N �� o falamos antes a ningu��m,
porque achamos melhor dar um tempo at�� que esta confus��o acal-
masse, justamente para evitar mais fofocas.
Roberto tirou as m��os do rosto. Olhou para todos abobalhado,
sem achar o que dizer. C o m o pudera ser t��o cego, ego��sta e inconse-
q��ente a ponto de duvidar da m��e? E c o m o pedir-lhe perd��o? C o -
mo desculpar-se com F��bio por todas as grosserias? Precisava criar
coragem. Quem sabe, um dia, todos o perdoassem.
Angela falou antes que ele achasse as palavras:
��� Estou muito magoada, meu filho. Mas n��o posso exigir uma
confian��a absoluta de voc��. N �� o temos culpa das nossas d��vidas, por
mais que elas possam ferir os outros. Eu n��o tive, n��o tenho, nem
terei nenhum caso com F��bio. A c h o que voc�� precisava ouvir isto di-
to por mim. Bastava que tivesse perguntado e eu teria respondido.
V o c �� e Adriana seriam os primeiros a saber. V o c �� acredita em mim?
Ele levantou-se e abra��ou-a.
��� Acredito, m��e. Ser�� que voc�� me perdoa?
��� Claro que sim. Mas acho que voc�� deve pedir desculpas a
mais algu��m.
Ela empurrou o filho de leve na dire����o de F��bio. Roberto
estendeu-lhe a m��o, meio sem jeito.
��� Desculpa, t��? Eu...
��� Esquece. Tudo bem.
��� Pois eu ainda tenho vontade de acertar uns tabefes nele ���
disse Adriana.
��� Eu bem que mere��o. Mas, por favor deixe para outro dia.
Tudo isso me machucou muito.
��� V�� l��! A c h o que precisamos de uma limonada para ficarmos
numa boa.
Ela foi para a cozinha. Voltou com a jarra e os copos. Todos sen-
taram para discutir o assunto com calma! F��bio e Adriana de m��os
dadas. Roberto reiniciou a conversa:
Ci��mes de Amor ��� 67
��� Eu s�� queria saber se a Ge��rgia inventou sozinha essa fofo-
ca. Quem espalhou eu j�� sei...
ngela refletiu um momento, ligando os fatos da festa ao telefo-
nema an��nimo. Contou a eles os insultos que recebera, acrescentando:
��� A voz no telefone era de mulher, n��o de garota. E ouvi baru-
lho de m��sica e vozes. Seria sua m��e, F��bio?
��� N �� o acredito. Ela e papai n��o iriam a uma festa de gente da
nossa idade. S�� p o d e ter sido... �� isso mesmo, Marta, a m��e de Ge��r-
gia. Ela �� bem capaz desse tipo de coisa.
��� O que ela tem contra mim? Sequer a conhe��o.
��� Essa �� a outra metade do que vim contar a voc��.
E ele relatou tudo, desde a mudan��a no comportamento dela,
h�� v��rios meses, a campanha para faz��-lo namorar a filha, presentes
fora de prop��sito etc, at�� a ��ltima cena da camisa de seda. Terminou
dizendo:
��� Quando percebi qual era o jogo, custei a acreditar. Esperei
para ter certeza. Antes daquela tarde, eu j�� tinha me afastado. De-
pois ent��o, n��o pus mais os p��s l��. 0 que me chocou n��o foi a incli-
na����o dela por mim, nem a diferen��a de idades. Isso n��o conta. Mas,
ela �� casada. E usar a filha c o m o ponte, n��o d�� para entender. Vou
esperar uma oportunidade para contar tudo l�� em casa. Mam��e pre-
cisa saber quem ��, e o que pretendia, a sua melhor amiga.
Angela estava horrorizada com o mau caratismo da mulher. Mas
tratou de mudar de assunto para desanuviar o ambiente. F��bio
despediu-se tarde. Antes de sair, convidou Adriana para pegar um
cinema na tarde do dia seguinte (era um s��bado).
Assim que ele saiu, Angela virou-se para os filhos:
��� J�� que esta �� a noite da verdade, quero aproveitar para con-
versar com voc��s sobre um assunto dif��cil. Os acontecimentos de ho-
je me fizeram ver que �� melhor falar logo. Estou saindo com uma
pessoa.
E ela falou-lhes de Bruno, c o m o o conhecera, c o m o ele era, at��
a ��ltima conversa no supermercado, sem esconder nada,
acrescentando:
��� Ele quer mesmo casar comigo. Eu, por��m, prefiro esperar pa-
ra conhec��-lo melhor. Fui muito feliz com seu pai. Nunca vou esquec��-
lo. Gostar de Bruno n��o �� trai����o. A c h o que ainda �� c e d o para
apresent��-lo a voc��s. Mas queria que soubessem.
Roberto franziu a testa:
��� Aquela noite que voc�� saiu daqui com F��bio, foi para
encontrar-se com ele?
��� Eu apenas desci com F��bio at�� a portaria. V o c �� devia ter per-
guntado. Eu n��o mentiria. Tamb��m errei em esconder Bruno. Mas
eu temia sua rea����o, meu filho.
Adriana, que at�� ent��o estivera calada, entrou de sola:
68 ��� Ci��mes de Amor
��� V�� se corta essa de ci��me da mam��e, Roberto. S�� atrapalha
a vida dela. 0 fato de apaixonar-se por algu��m n��o significa que v��
nos querer menos. Eu, por mim, acho ��timo. E vou adorar passar
f��rias na It��lia!
O dia seguinte era um s��bado. C o m o estava quente, n -
CAP��TULO
gela e os filhos foram �� praia. Quando estavam saindo, Tu-
tuca fez a cena costumeira: longos miados, seguidos de um
26 charme especial para esfregar-se nas pernas de todos. Co-
mo ��ltimo recurso, levantou-se, apoiada nas patinhas traseiras, pe-
dindo colo. Adriana ergueu-a, alisando o p��lo macio.
��� Ela s�� falta falar, n��o ��, mam��e?
��� E falta pouco! Qualquer dia podemos acordar com Tutuca
dizendo bom dia. Mas ponha-a no ch��o, ou n��o encontraremos nem
meio metro de areia livre.
��� Se ela fosse um cachorrinho, pod��amos lev��-la.
��� N �� o pod��amos n��o. �� proibido ��� lembrou Roberto.
Adriana fechou Tutuca na cozinha, ou ela n��o os deixaria sair.
A manh�� passou r��pido. Os tr��s divertiram-se a valer. Voltaram
antes das duas, porque Adriana ia sair com F��bio, Roberto tinha um
j o g o no col��gio e ngela queria descansar um pouco, antes de en-
contrar Bruno.
"Ele vai gostar de saber que contei aos meninos, embora nem
desconfie das circunst��ncias. N e m eu quero que saiba. Preciso me
acalmar, para depois tomar uma atitude em rela����o a Marta. A n d a
estou furiosa demais, n��o agiria com a cabe��a", pensou.
F��bio veio buscar Adriana para a sess��o das quatro. Antes de
sa��rem, ele teve uma id��ia:
��� Depois do cinema vamos ao P �� o de A����car, ver o p��r-do-
sol? �� lindo.
��� Topo. A d o r o subir no bondinho. A vista �� mais bonita que
os cart��es postais. Imagino c o m o deve ser no final da tarde, com as
luzes da cidade acendendo. Vou deixar um bilhete avisando mam��e
que chegarei mais tarde. Ela est�� dormindo. Vai jantar com Bruno
esta noite. Roberto ficou na dele. N �� o bateu palmas, mas tamb��m,
gra��as a Deus, n��o derrubou o bei��o.
��� Ele precisar�� de um tempo para se acostumar c o m a id��ia.
Adriana escreveu o bilhete e deixou bem �� vista.
Foram a um cinema no Leblon. O filme terminou quase ��s 7 ho-
ras. F��bio estava com o carro do pai. Ao ligar o motor bateu com o
bra��o sem querer no bolso da camisa, o que o fez lembrar:
��� Poxa, Adriana, esqueci os documentos do carro. Vamos dar
um pulo na minha casa para apanhar. Estamos perto.
Foram conversando sobre o filme. Ele nem entrou com o carro
na garagem. Estacionou em frente ao pr��dio. Desceu, fechou sua porta
e deu a volta, abrindo a de Adriana.
��� Vamos subir. �� s�� um minuto.
Adriana ponderou:
��� Espero no carro. Sua m��e...
��� N e m pensar. A l �� m de ser perigoso, n��o tem o menor cabi-
mento. V o c �� �� minha namorada. Aproveito e apresento voc��.
70 ��� Ci��mes de Amor
��� Talvez seja melhor deixar para depois que mam��e acertar as
contas com Marta. Fico na portaria.
��� Absolutamente. Papai e L��cia tamb��m est��o em casa. A s -
sim a fam��lia toda fica sabendo que estamos namorando.
Adriana desceu, ressabiada. Ela continuava achando que n��o era
hora de apresenta����es. Mas F��bio devia conhecer seus pais.
Subiram de m��os dadas. F��bio tinha a chave. Abriu a porta. En-
traram para uma espa��osa e bem decorada sala de estar.
J��lio e Rosa conversavam com Marta, justamente sobre a atitu-
de dele, rompendo o namoro com Ge��rgia, recusando-se at�� a man-
ter a amizade e n��o comparecendo �� festa de anivers��rio da garota.
Rosa fervia de indigna����o. Marta dizia:
��� C o m e �� o a acreditar em macumba. Aquela mulher o enfeiti-
��ou. E mais, paralisou voc��s para n��o tomarem uma atitude.
Nesse exato momento, F��bio entrou.
��� Oi, papai. Oi mam��e. Boa noite, Marta. Esta �� Adriana.
Rosa pulou da cadeira c o m o se fosse de mola, gritando para o
filho:
��� C o m o ousa trazer essa garota na sua casa? Somos pessoas
decentes. Aqui n��o �� lugar para gentinha. E voc��, mocinha, tem muito
topete! Entrar na minha sala, segurando a m��o do meu filho para me
afrontar. Sua m��e �� que deve ter armado essa!
F��bio e o pai ficaram paralisados com o choque. Marta deu um
risinho. Adriana empalidecera. Mas a alus��o �� m��e fez com que se
recuperasse na hora.
��� Minha m��e �� a melhor pessoa do mundo! Vale d��zias de pes-
soas c o m o voc��s. E se ela mesma n��o tivesse me ensinado que se
respeita os mais velhos, mesmo quando estes n��o se d��o ao respeito,
eu quebrava a sua cara. Mulher desocupada d�� nisso. Se a senhora
tivesse o que fazer, n��o teria tempo para inventar cal��nias dos ou-
tros! Entrei aqui contra a minha vontade, porque seu filho insistiu.
��� Era s�� o que me faltava, ser desacatada dentro da minha pr��-
pria casa. Fora!
��� Vou sair correndo. Poupe seu f��lego. Mas n��o �� de medo.
Isto aqui cheira mal. Tenho muita pena dos seus filhos e do seu mari-
do. Deve ser duro aturar uma hist��rica!
Adriana saiu de cabe��a erguida, pisando duro e fazendo for��a
para segurar o choro. F��bio foi atr��s dela.
Rosa correu para a porta:
��� Volte j�� aqui, F��bio! Eu estou mandando!
Antes de fechar a porta do elevador, ele respondeu:
��� Eu vou voltar s�� para pegar as minhas coisas. Estou caindo
fora, mam��e. Para mim, chega!
Ela correu para det��-lo.
��� F��bio, espere. V o c �� n��o pode...
Ci��mes de Amor
71
A porta bateu. 0 elevador desceu.
Ela ficou esmurrando a porta fechada. J��lio segurou-a p e l o bra-
��o e arrastou-a para dentro do apartamento.
��� Pare! Quer que os vizinhos chamem a pol��cia? Pelo menos
entre para continuar a cena em sua pr��pria casa.
Marta, fingindo preocupa����o, veio ao encontro de ambos:
��� Minha pobre amiga, acalme-se. Ele vai voltar. Eu bem que
avisei. Pena que voc��s n��o me deram ouvidos, enquanto era tempo.
N �� o fique assim, Rosa. Seu filho n��o trabalha, nem tem para onde
ir, por mais de alguns dias. Ter�� que voltar e desculpar-se. Ent��o ser��
o momento de ambos usarem sua autoridade e p��r um fim nessa
situa����o.
J��lio largou o bra��o de Rosa e, voltando-se para Marta, falou:
��� Vamos parar por aqui. V o c �� n��o est�� ajudando, p o n d o le-
nha na fogueira.
L��cia, que viera de seu quarto, atra��da pelo barulho, foi buscar
um calmante para a m��e. Depois de faz��-la sentar e engolir o com-
primido perguntou:
��� D�� para me explicarem o que aconteceu?
J��lio narrou a cena toda. L��cia sacudiu a cabe��a.
��� V o c �� passou dos limites, mam��e. N �� o acredito numa s�� li-
nha dessa hist��ria. Mas ainda que fosse verdade, Adriana n��o teria
culpa. E voc��, papai, c o m o sempre, ficou de fora. N �� o posso censu-
rar F��bio. Para dizer a verdade, para mim tamb��m chega. S�� n��o caio
fora, porque n��o tenho para onde ir.
J��lio sabia que a filha tinha raz��o. Tentou se explicar.
��� Eu quis intervir. Mas n��o deu tempo. Foi tudo t��o r��pido! Tam-
b��m acho um absurdo o que sua m��e fez e...
L��cia interrompeu-o:
��� Poupe o papo, papai. Conhe��o suas desculpas. Vou para o
meu quarto. N �� o quero jantar. Por favor, se armarem outro circo, ao
menos n��o incomodem os vizinhos.
O sil��ncio pesou na sala, cortado apenas pelas fungadas de R o -
sa. J��lio foi at�� o bar e serviu-se de uma dose de vodka. Depois sen-
tou na poltrona em frente da mulher.
��� Ela est�� coberta de raz��o. N �� o sei qual de n��s dois tem sido
pior para os nossos filhos. Temos muita sorte que eles n��o tenham
ca��do no mundo, nem se metido com drogas. V�� pensando no que
voc�� pretende fazer da sua vida. Eu acabo de decidir o que farei da
minha.
Rosa olhou desamparada para Marta, procurando apoio. Esta,
por��m, desviou o olhar para as pr��prias m��os. A l g o dizia-lhe que de-
via ir embora. Mas, contrariando o pressentimento, resolveu ficar.
No elevador, F��bio abra��ou Adriana.
CAP��TULO
��� Sinto muito. Nunca pude imaginar que mam��e fosse
capaz de agir dessa maneira. Perdoe-me. Talvez voc�� nem
27 queira mais saber de mim.
��� V o c �� n��o tem culpa. Ningu��m escolhe a m��e, nem o pai.
E quem vai imaginar uma coisa dessas?
��� �� melhor v o c �� n��o dizer para sua m��e.
��� N��o, F��bio. Deixei de contar a mam��e quando a fofoca co-
me��ou l�� no col��gio, para n��o aborrec��-la e a coisa s�� ficou pior. S��
h�� um jeito de acabar com isso, �� enfrentarmos a situa����o de uma
vez. Vai estragar o s��bado dela, mas, paci��ncia.
Eles entraram no carro. Adriana fazia for��a para conter-se. N �� o
queria entrar em casa chorando.
Angela penteava os cabelos, quando a campainha tocou.
"Quem ser��? �� c e d o para Bruno. Adriana e Roberto t��m chave",
pensou.
Qual n��o foi o seu espanto ao abrir a porta e dar com Adriana
e F��bio. Pela cara de ambos, viu imediatamente que havia aconteci-
do algo grave.
��� Minha filha. Que foi? V o c �� esqueceu sua chave? Entrem.
��� Desculpe, mam��e. A c h o que est�� na bolsa. Eu... eu...
N �� o p �� d e continuar. Rompeu-se o controle e ela atirou-se nos
bra��os da m��e, solu��ando.
��� Meu Deus, que foi que aconteceu? V o c �� est�� doente? Bate-
ram com o carro? F��bio, o que houve com ela?
Ele contou. Ficou ali, parado perto da porta, esperando ser pos-
to para fora.
ngela levou alguns instantes para absorver o que havia escuta-
do. E, �� medida que foi assimilando, seu rosto foi endurecendo. F��-
bio viu, assombrado, a transforma����o. At�� a voz soou ��spera, cortante.
��� Vamos voltar l��, agora mesmo. V o c �� p o d e esperar aqui. F��-
bio. Talvez seja melhor que n��o assista ao que vai acontecer.
��� V o c �� n��o vai me mandar embora? N �� o vai proibir Adriana
de me ver?
O rosto dela abrandou-se. Estendeu uma das m��os para o ra-
paz, sem soltar a filha.
��� Que absurdo! Isso nem me passou pela cabe��a. Que culpa
tem voc��?
Ele segurou-se para n��o chorar tamb��m.
��� Quero ir com voc��s. Mas n��o vou ficar l��, nem que durma
na rua e passe fome. Acabou.
��� Isso a gente resolve depois. Adriana, meu bem, v�� lavar o
rosto. A menos que prefira ficar.
Ela ergueu o queixo:
��� Nunca! Quero estar por perto quando voc�� acabar com aque-
las duas. E vamos logo, mam��e, antes que a raiva esfrie.
Ci��mes de Amor ��� 73
Enquanto Adriana lavava o rosto, ngela pegou a bolsa. Em se-
guida, desceram pelo elevador e atravessaram a portaria sem olhar
para os lados.
��� Ei, aonde voc�� vai? Esqueceu nosso jantar?
Bruno segurava-a pelo bra��o. Ela voltou-se, meio atordoada:
��� N��o. Claro que n��o. Espere por mim aqui. Estou saindo pa-
ra resolver uma encrenca. N �� o vou demorar.
��� V o c �� est�� transtornada, n��o deve dirigir assim. Eu os levo.
Dispensei o motorista e vim com o carro.
��� Por favor, Bruno, posso guiar perfeitamente bem. N �� o que-
ro voc�� envolvido nessa hist��ria s��rdida. Espere por mim.
��� Se diz respeito a voc�� me atinge tamb��m. No caminho voc��s
me contam tudo. A l �� , garotos, eu sou Bruno.
��� Desculpe. Esta �� Adriana. Esse �� F��bio, nosso amigo. N �� o
era assim que voc��s deviam se conhecer.
��� Mas foi assim que nos conhecemos. Vamos logo. Quanto mais
cedo resolvermos essa encrenca, melhor. Ainda teremos tempo para
jantar.
Angela percebeu que era in��til discutir. Bruno tamb��m sabia ser
obstinado. Entraram no carro. No caminho, os tr��s foram relatando
os fatos. Quando estacionou em frente ao apartamento dos pais do
rapaz, ele estava por dentro de tudo. E uma fera, bem �� italiana.
Enquanto subiam, ngela recomendou:
CAP��TULO
��� V o c �� insistiu em vir. Tudo bem. Mas, por favor, fique
28 de fora. Eu resolvo o assunto.
Ele beijou os dedos em cruz, prometendo.
Quando a campainha tocou, J��lio apressou-se em atender, pen-
sando que fosse o filho. Mal abriu a porta, ngela passou direto por
ele, com Adriana pela m��o e seguida por F��bio e Bruno.
No primeiro momento, Rosa ficou de boca aberta sem acreditar
no que via. Mas em seguida reagiu c o m o de h��bito, berrando:
��� O que esta mulher quer aqui? Chame o porteiro para p��-la
na rua!
��� Sair eu saio e com muita satisfa����o. Mas, s�� depois de dizer
tudo o que penso de voc��s tomarem a liberdade e a iniciativa de me
difamarem e maltratarem a minha filha. Antes disso, nem choque da
PM me tira daqui!
Rosa gritou para o marido:
��� Tire essa mulher da minha casa!
Para surpresa sua, desta vez, ele reagiu:
��� Pois eu prefiro ouvi-la! Essa hist��ria toda sempre me pare-
ceu muito pouco clara. Est�� na hora de pormos tudo em pratos limpos.
Angela n��o estava para acertos.
��� Voc�� devia ter feito isso antes de expulsar minha filha da sua
casa.
��� Perd��o. Quem fez isso n��o fui eu.
��� Tampouco impediu a louca da sua mulher, o que d�� no mes-
mo. Quanto a voc��, Rosa, nenhuma raz��o do mundo lhe daria o di-
reito de maltratar uma menina, mesmo que a m��e dela fosse uma
prostituta. 0 que seu filho vai procurar na minha casa �� paz, entendi-
mento, carinho, que n��o encontra aqui. E sempre foi bem tratado,
mesmo depois que voc��s come��aram com essa campanha infame.
Mas o que se p o d e esperar de algu��m que faz uma bruta sujeira com
o pr��prio filho, obrigando-o a espionar o pai, sem se importar com
o estrago que isso possa causar �� cabe��a dele. V o c �� deve ser muito
burra para ter tanto ci��me de seu marido. E cega para n��o ver que
�� preciso muito amor para aturar 19 anos de inferno e continuar ao
lado de uma mulher que nem da apar��ncia cuida!
J��lio n��o esperava por aquilo. Virou-se para Rosa indignado:
��� V o c �� chegou a esse ponto? C o m o p �� d e fazer isso com seu
pr��prio filho?
Rosa tentou defender-se:
��� �� mentira dela. Est�� inventando coisas para p��r voc�� contra
mim. Pergunte �� Marta.
Esta teve a infeliz id��ia de se meter:
��� V o c �� n��o p o d e acreditar na palavra de uma estranha, J��lio.
E quanto mais tratando-se de gente dessa esp��cie.
Ci��mes de Amor ��� 75
ngela aproximou-se dela. Por um momento, parecia que ia ba-
ter na outra. Em vez disso, olhou-a bem nos olhos, dizendo:
��� V o c �� ainda �� pior que Rosa. Usou sua filha c o m o isca para
atrair o namorado dela. Nunca em toda a minha vida, vi manobra
mais nojenta e revoltante. Tenho muita pena de Ge��rgia. �� uma des-
gra��a ter uma m��e c o m o voc��!
Marta ficou l��vida. N �� o conseguiu manter o olhar da outra. Olhou
em torno buscando apoio. Rosa, espantada, chocada com o que ou-
vira, exclamou:
��� N �� o �� poss��vel!
Marta tremia. Procurou defender-se:
��� Essa mulher est�� querendo se sair dessa, inventando hist��-
rias. Ela...
F��bio, que estivera de lado, deu um passo �� frente, olhando di-
retamente para ela. Fez-se sil��ncio. Todos esperavam pelo que ele ia
dizer. E sem omitir uma s�� palavra, ele contou tudo, desde as insi-
nua����es e investidas dissimuladas, at�� a cena da camisa. Depois,
virando-se para Rosa, terminou dizendo:
��� Tenho vergonha de ser seu filho, mam��e. Ainda ontem eu
disse para o filho de ngela o quanto queria que fosse ela a minha
m��e! S�� voltei aqui para contar isso a voc��s.
O sil��ncio pesou. Podia-se ouvir o som da respira����o de cada
um. Foi J��lio quem falou primeiro:
��� Sua vergonha �� menor que a minha, meu filho. Tamb��m to-
mei uma decis��o. Acabou o meu comodismo. Mas n��o quero pro-
porcionar outro triste espet��culo a pessoas que s�� merecem as mi-
nhas, as nossas desculpas.
Bruno, que at�� ent��o mantivera-se calado, falou:
��� Eu sou o futuro marido de ngela. Fiquei de fora porque ha-
via prometido a ela n��o interferir. Mas, daqui para a frente, qualquer
encrenca ser�� comigo!
F��bio fez men����o de segui-los. Rosa percebeu. C o m voz baixa,
pediu:
��� Por favor, meu filho, fique.
Foi ent��o que, da porta do corredor, onde estivera desde o co-
m e �� o sem que ningu��m a visse, L��cia falou:
��� Deixe ele em paz, mam��e. Eu tamb��m iria, se tivesse para
onde.
Rosa virou-se para Marta:
��� C o m o voc�� p �� d e enganar a todos dessa maneira?
��� Foi f��cil. Ela n��o sabe fazer outra coisa na vida.
Todos voltaram-se para Jorge, que emergira do vest��bulo. Ele con-
tinuou, avan��ando alguns passos:
��� Esqueceram a porta aberta. V i m buscar Marta. Ge��rgia dis-
76 ��� Ci��mes de Amor
se que ela estava aqui. Ouvi tudo, desde o in��cio. A simples presen��a
dela nesta casa �� um insulto a todos voc��s. Vamos embora, Marta.
Acabou.
Ela baixou a cabe��a. E assim saiu da sala, sem olhar para nin-
gu��m. Antes de fechar a porta atr��s de si, Jorge pediu:
��� Por favor, n��o contem essa vergonha a Ge��rgia. Seria horr��-
vel para ela.
Angela respondeu pelos seus:
��� Da nossa parte, pode contar com isso. N �� o tenho nada con-
tra a sua filha.
��� Obrigado. Serei grato por isso.
Ele fechou a porta. Marta sa��ra para sempre das suas vidas. Nin-
gu��m falou.
ngela esperou alguns minutos, dando tempo para que desces-
sem pelo elevador, antes de sair tamb��m.
No carro, Adriana foi a primeira a falar:
��� Que droga de casamento e que droga de vida essa gente tem.
Antes ir cada um para o seu lado, numa boa. Pena, que v o c �� e pa-
pai, que eram t��o felizes... Desculpe, Bruno! Gostei de ver voc�� dar
duro naquelas bruxas, mam��e. Desculpe, F��bio! Aquele meu irm��o
est�� sempre longe quando precisamos dele. Homens! Bolas! Descul-
pe, Bruno. Desculpe, F��bio.
Ca��ram todos na risada. A enrolada de Adriana quebrara a ten-
s��o. Bruno sugeriu:
��� Estou morto de fome. Que tal irmos jantar? F��bio p o d e ficar
comigo no hotel alguns dias, at�� a poeira assentar. �� melhor do que
p��-lo a dividir o quarto com Roberto. Este precisa ir se acostumando
aos poucos com o fato de que j�� n��o �� o ��nico homem na vida da
m��e e da irm��.
Marta sabia que tinha perdido tudo. A ��nica coisa que p o -
CAP��TULO
dia fazer era baixar a cabe��a e aceitar o que viesse.
29 Concentrou-se nisso.
Durante o curto trajeto entre os dois apartamentos,
o marido dirigiu-se a ela apenas uma vez, para recomendar que dei-
xasse a explica����o para Ge��rgia com ele e arrumasse todas as suas
coisas para ir embora cedo, na manh�� seguinte.
Ge��rgia assistia TV na sala, quando eles entraram. Disse um "oi"
distra��do, sem voltar a cabe��a. Jorge foi at�� ela.
��� Filha, precisamos conversar.
��� N �� o p o d e ser depois que acabar a novela?
��� N��o. O assunto �� s��rio.
��� Est�� bem, papai.
Ela suspirou. Foi at�� o televisor e desligou-o. Depois voltou para
junto do pai.
��� V o c �� est�� com uma cara esquisita. E por que mam��e ficou
de p��?
��� Sente, Marta. Ge��rgia, quero que ou��a com muita calma o
que tenho para lhe dizer. E lembre que eu a amo, minha filha. Mes-
mo sabendo que voc�� portou-se muito mal, eu a amo e quero que
fique comigo. Esta conversa ser�� muito dif��cil para voc��, porque vai
modificar sua vida. Mas n��o p o d e ser evitada, nem adiada. Sua m��e
e eu vamos nos separar. J�� t��nhamos decidido h�� algum tempo. Dei-
xamos para dizer no ��ltimo momento, para economizar sofrimento.
Est��vamos vivendo mal, distanciados, sempre nos hostilizando. Isso
�� p��ssimo para todos n��s.
A rea����o dela surpreendeu os dois:
��� Eu j�� esperava por isso. Nem sei c o m o durou tanto. A c h o
que �� a melhor solu����o para todos n��s. Quem vai embora? E quando?
��� Sua m��e. Amanh��. Ela vai passar uns tempos com a irm��
em Porto Alegre, at�� decidir onde ficar e o que fazer da sua vida. Quan-
to a n��s dois, me ofereceram uma diretoria em Curitiba, para julho.
Estou pensando em aceitar. Dizem que �� uma cidade bela e tranq��i-
la. Ser�� uma nova vida. Essa mudan��a nos far�� bem. Antes, por��m,
minha filha, voc�� precisa reparar um erro muito grave que cometeu,
difamando a m��e de Adriana.
E, cautelosamente, ele contou que F��bio estava apaixonado era
por Adriana, que via em ngela apenas um modelo de m��e. E que
esta ia se casar de novo.
Ge��rgia estava at��nita. De repente tudo se encaixava. Era t��o
evidente que s�� n��o compreendera antes porque estava envenenada
pelo pr��prio orgulho e pelas instiga����es da m��e.
��� Bem que L��cia cansou de me dizer que eu estava errada.
Mas sempre que eu falava com mam��e, ela me convencia do contr��rio.
Ela fitou Marta. Esta n��o suportou a interroga����o e o sofrimento
78 ��� Ci��mes de Amor
no olhar da filha e baixou os olhos. N �� o encontrava o que dizer. Jor-
ge respondeu em seu lugar.
��� Sua m��e quis proteger e ajudar voc��, achando que gostava
de F��bio. Isso explica, mas n��o justifica o que ela fez. Eu tamb��m te-
nho culpa, por n��o ter percebido antes. Estava muito ocupado com
minha infelicidade conjugal, meus problemas profissionais. Negligen-
ciei voc�� e n��o detive sua m��e. Prometo que de hoje em diante ser��
diferente. Tenho um colega, chamado Carlos Heitor, que criou as duas
filhas desde pequenas, sozinho. E vem se saindo muito bem. Posso
fazer o mesmo.
��� Mam��e, eu nunca me liguei em F��bio para valer. Ele me dei-
xava pouco �� vontade. �� bonito demais, inteligente demais, adulto
demais, tudo demais. Perto dele sempre fiquei inibida. Por que voc��
n��o diz alguma coisa?
Marta ergueu-se. Parecia distante. Respondeu, sem olhar direta-
mente para a filha:
��� Seu pai j�� falou tudo. Gostaria de fazer as malas agora. V o -
c��s dois t��m muito que conversar. Boa noite.
Ela saiu da sala. Ge��rgia ficou olhando para a poltrona vazia.
Tinha um bolo na garganta, mas n��o conseguia chorar.
��� A c h o que ela n��o se importa comigo. Nunca se importou.
��� Claro que se importa. �� o jeito dela.
��� Papai, preciso encontrar um meio de desfazer as mentiras que
espalhei sobre Angela.
Ele acariciou a cabe��a da filha:
��� V o c �� achar��. Mas n��o pense nisso agora. Daqui a pouco ��
melhor que v�� dormir. Amanh�� ser�� um dia dif��cil para todos n��s.
Marta foi embora cedo, na manh�� seguinte, sem se despedir da
filha. Pela primeira vez, agiu pensando no que seria melhor para esta.
De uma certa forma, sentia-se aliviada. Estava livre. N �� o preci-
sava mais fingir, nem controlar suas verdadeiras emo����es. Por outro
lado, o rosto molhado de l��grimas da filha adormecida, que espiara
antes de partir, pesava-lhe na consci��ncia. E sabia que esse peso a
acompanharia pelo resto da vida.
Para Ge��rgia, os dias que seguiram-se foram os mais dif��ceis de
sua vida. Por��m, depois de passar por eles, ela sentiu que tinha cres-
cido, ficado mais forte e consciente. Portanto, valera a pena.
Passaram-se duas semanas. Bruno adiou sua volta �� It��-
CAP��TULO
lia. Queria casar imediatamente, mas ngela preferiu n��o
apressar as coisas.
30
Roberto j�� n��o hostilizava-o e, aos poucos, ia aceitan-
do F��bio. Era um come��o. Mas ainda havia um longo caminho a per-
correr, e seria melhor para todos n��o for��ar a barra. A l �� m disso, mil
coisas precisavam ser discutidas e acertadas, c o m o a mudan��a para
a It��lia e as conseq����ncias para Roberto e Adriana, por exemplo. Se
aquele era dif��cil de adaptar-se a novas situa����es, quanto mais a ou-
tro pa��s, outra l��ngua, outros costumes. Quanto a Adriana, estava cur-
tindo o seu primeiro namorado, inteiramente apaixonada. Separ��-los
seria uma crueldade.
Angela via-se dividida entre seu amor por Bruno e as necessida-
des dos filhos. Sensatamente, resolveu deixar o barco correr at�� que
encontrassem uma solu����o que fosse boa para todos.
��quela noite estavam reunidos na sala, ouvindo um disco de m��-
sica cl��ssica (nessa ��rea os gostos eram semelhantes). Marco, Milena,
e Anete faziam parte do grupo. Tocaram a campainha. Adriana abriu
a porta.
Bruno entrou, escondido atr��s de um enorme ramalhete de ro-
sas numa das m��os, um embrulho tamb��m enorme na outra, e uma
garrafa de champanha debaixo de cada bra��o. Passou pela garota,
c o m o um tuf��o:
��� ngela, cara, precisamos comemorar. Temos champanha
francesa, flores e uma estupenda torta italiana, que um amigo meu
trouxe hoje de Roma. Essa m��sica �� bel��ssima, mas que tal algo mais
animado? Vamos ser a fam��lia mais feliz do mundo. Ser�� que algu��m
me ajuda com estas coisas?
Adriana prontificou-se.
��� Se voc�� parar um minuto, eu ajudo. D��-me a torta. Agora
coloque as garrafas sobre a mesa, enquanto vou buscar o balde com
gelo. Quanto ��s flores, acho que voc�� mesmo prefere entreg��-las.
Livre do "carregamento" Bruno abra��ou ngela:
��� Esta menina �� um g��nio, cara mia. As flores s��o suas. V o c ��
�� uma m��e de sorte. Eu sou um homem de sorte. Todos n��s temos
a maior sorte do mundo!
��� Concordo. Mas podemos saber a raz��o dessa explos��o de
felicidade?
Bruno olhou em volta. Estavam todos parados, esperando. Ele
adorava expectativas. Tossiu solenemente, para aumentar o efeito tea-
tral do que ia comunicar:
��� Vou ficar no Brasil por dois anos. A empresa estava preci-
sando de um diretor geral. Pedi o cargo h�� duas semanas. A resposta
chegou hoje. Podemos nos casar imediatamente. Amanh�� mesmo vou
procurar um apartamento maior. J�� avisei ao Pereira que arranje ou-
tra secret��ria pois v o c �� passa a trabalhar comigo (com um sal��rio
80 ��� Ci��mes de Amor
maior, �� claro). F��bio p o d e continuar comigo e depois morar conos-
co. E minha filha, bem, escrevi-lhe uma longa carta explicando tudo.
Se ela quiser, vir�� conosco no final de agosto, quando voltarmos da
nossa lua-de-mel. Teremos apenas 20 dias. N �� o dar�� nem para
mostrar-lhe Roma inteira, car��ssima. Mas c o m o vamos passar o resto
da vida juntos, n��o faltar�� oportunidade para voc�� conhecer bem a
It��lia. Puxa, falei um bocado!
Roberto aproximou-se dos dois. Estendeu a m��o a Bruno.
��� Fa��a mam��e sempre feliz e p o d e contar comigo. Olhe, no
c o m e �� o n��o vai ser f��cil para mim ver outro homem junto dela. Mas
para fazer o que v o c �� fez, mudar toda a sua vida dessa maneira, dei-
xar seus amigos, sua fam��lia, seu trabalho l�� em Roma por nossa causa,
para n��o pressionar mam��e, �� preciso muito amor. O m��nimo que
eu posso fazer �� ser menos ego��sta e ajud��-lo a faz��-la feliz.
Os tr��s se abra��aram, com as rosas pelo meio, comovidos e em
l��grimas.
��� E eu fiquei de fora ��� brincou Adriana, para acabar com a
choradeira.
Roberto puxou-a para o abra��o coletivo. Marco veio do seu can-
to. Pegou o ramalhete da m��o de Bruno.
��� �� melhor eu cuidar disto aqui. A menos que espetadelas de
espinhos fa��am parte das comemora����es italianas. N �� o vejo a hora
de abrir essa torta.
A n e t e sacudiu a cabe��a:
��� E ainda se queixa por ser gordo. S�� pensa em comer!
��� Engano seu. De amanh�� em diante, estarei fazendo regime
para valer, c o m acompanhamento m��dico e tudo.
Milena foi direta:
��� Queria em centavos as vezes que ouvimos isso. Regime de
"amanh��" n��o come��a nunca!
��� Desta vez �� diferente. Quero ficar esbelto at�� julho. Lu��sa vem
para as f��rias!
Anete duvidou:
��� N �� o acredito que voc�� tenha ra��a para tentar namor��-la.
��� Pois voc��s v �� o ver!
��� Tomara que ele crie coragem. Paix��o recolhida, ou mata ou
engorda! ��� disse Adriana soltando-se do abra��o.
Roberto fez o mesmo.
��� F��bio, vamos buscar os pratos, na cozinha? Tamb��m estou
louco para comer essa torta ��� convidou.
Estavam dividindo a torta, quando o interfone tocou. Angela
atendeu.
��� Est��o aqui o Capit��o J��lio, mais Dr. Jorge ��� anunciou o por-
teiro, com seu sotaque nordestino.
Ci��mes de Amor ��� 81
A surpresa fez com que ngela demorasse um pouco a res-
ponder:
��� Fa��a-os subirem.
Ela pousou o fone no gancho, cuidadosamente, dando tempo
para controlar-se, antes de voltar �� sala, onde a turma ria de uma das
tiradas de Bruno.
Este perguntou:
��� Quem era, cara?
��� Os pais de F��bio e Jorge est��o subindo.
E diante do s��bito sil��ncio, justificou:
��� Se vieram procurar-nos, �� porque devem ter algo a dizer. N �� o
creio que venham at�� aqui para ofender-nos. Temos que ouvi-los.
Milena levantou:
��� Anete, Marco e eu vamos l�� para dentro. Assim voc��s ficam
mais �� vontade.
ngela deteve-os com um gesto:
��� N��o �� preciso. Voc��s s��o parte da fam��lia.
Nesse instante, a campainha tocou.
Roberto adiantou-se e abriu a porta. J��lio, Rosa e Jorge entra-
ram, acompanhados por L��cia e Ge��rgia. Cumprimentaram a todos,
evidentemente constrangidos. ngela convidou-os a sentar.
Rosa n��o parecia a mesma. Desde a postura, a express��o do ros-
to, as unhas feitas, ao cabelo arrumado num novo corte, tudo muda-
ra. Foi ela quem come��ou a falar.
��� Vim aqui desculpar-me. Sei que n��o basta um pedido de des-
culpas para p��r tudo no lugar e desfazer erros graves. Mas �� um co-
me��o. Sei tamb��m que foi injusto e horr��vel para voc��, ngela. Mas
se n��o tivesse acontecido, se voc�� n��o tivesse me sacudido, dizendo
tudo o que eu merecia e precisava ouvir, talvez as vidas de n��s cinco
n��o tivesse tomado outro rumo, e o final fosse bem pior. N �� o preten-
do que voc�� esque��a tudo e seja minha amiga, a partir de hoje. Gos-
taria apenas que deixasse essa possibilidade aberta. Tampouco �� uma
encena����o para convencer o meu filho a voltar para casa. Entrando
aqui, vendo a leveza, o amor, a descontra����o que existe ao seu re-
dor, compreendo ainda melhor o que ele vinha buscar.
Ela olhou para F��bio, com os olhos cheios de l��grimas:
��� Meu filho, n��o posso prometer um milagre. Estou tentando
mudar. Procurei ajuda com um psicoterapeuta. Mas o processo �� lon-
go. H�� reca��das. Fiz tudo errado com seu pai, com voc��s. Quero acertar
daqui para a frente. Preciso muito de voc�� por perto, menos para me
apoiar, do que... porque eu o amo. Tenho sido uma p��ssima m��e.
Mas eu o amo. Se voc�� n��o quiser voltar, eu compreenderei. N �� o
vou chantage��-lo, nem pression��-lo. Isso eu posso prometer que nunca
mais farei. Seu pai �� um marido maravilhoso. Ele acreditou em mim.
82 ��� Ci��mes de Amor
Foi peciso ngela me chamar de burra para que eu acordasse. Ali��s,
temos para com ela uma d��vida enorme.
Ela voltou-se para Adriana:
��� N��o sei c o m o pedir que me perdoe. De tudo que fiz de erra-
do com os outros na minha vida, o pior foi o que fiz com voc��. E
s�� posso dizer que lamento. De cora����o, Adriana, eu lamento.
Seu J��lio acrescentou:
��� Tamb��m devo desculpas. Se eu tivesse tomado um atitude,
quando soube dessa hist��ria absurda, as coisas n��o teriam ido t��o
longe.
Foi a vez de Ge��rgia. Hesitando, trope��ando nas palavras, ela
dirigiu-se a ngela:
��� Quem come��ou tudo fui eu, de inveja, despeito, sei l�� mais
quantas coisas mesquinhas. Ter apenas 17 anos n��o �� desculpa. N �� o
sou t��o crian��a que n��o soubesse o que estava fazendo. Depois, vir
aqui e pedir desculpas, n��o era suficiente. Ent��o eu pensei no que
podia fazer para diminuir as conseq����ncias da minha maldade. Achei
que falando com as pessoas l�� no col��gio, contando a verdade a elas,
tanto sobre voc��, quanto sobre as minhas raz��es para ter inventado
aquilo tudo eu estaria diminuindo as conseq����ncias dos meus erros.
Papai me deu a maior for��a. Fui de grupo em grupo, de colega em
colega. Terminei esta manh��. Estou morta de vergonha, Angela. Mas
agora j�� posso me sentir bem o bastante para vir na sua casa pedir
a voc�� e a seus filhos que me perdoem.
ngela abra��ou a mo��a, que tinha levantado enquanto falava.
Alisou-lhe os cabelos e beijou-a:
��� V o c �� �� uma garota valente. �� preciso muita ra��a para fazer
o que fez. Vamos esquecer tudo isso. Sei que Adriana e Roberto tam-
b��m compreendem e pensam c o m o eu.
E sempre abra��ada com Ge��rgia, ela respondeu �� Rosa:
��� V o c �� mudou tanto que eu n��o a reconheceria, se a encon-
trasse na rua. Nossos filhos est��o apaixonados. E ficar��o mais felizes
se as suas fam��lias forem amigas. Vamos deixar que as coisas corram
naturalmente. Quanto a F��bio, acho que ele tamb��m a ama muito.
Mas quem deve decidir se volta ou n��o �� ele.
F��bio olhou o rosto daquela nova m��e, quase desconhecida:
��� Quero mais um tempo, mam��e, para me refazer e pensar.
Estou no hotel com Bruno. A t �� esta noite, eu n��o sentia falta de ca-
sa, apesar de, c o m o disse Angela, amar a todos voc��s. A g o r a n��o
sei. Prometo pensar.
Bruno p��s um fim naquela seriedade toda.
��� Est��vamos aqui comemorando minha vinda para o Brasil e
o meu casamento com ngela. ��amos justamente abrir a champanha.
A g o r a temos mais raz��o para brindar. Roberto, ajude aqui. Morro de
m e d o do estouro da rolha e sempre derramo no ch��o. C o m esse ta-
Ci��mes de Amor ��� 83
manho todo, vejam que vergonha!
E derramou mesmo em cima dele e de ngela. Se Adriana n��o
acudisse com uma das ta��as, o desastre seria ainda maior.
A risada foi geral. Bruno ergueu a ta��a.
��� Buona fortuna a tutti! Dizem que banho de champagne traz
boa sorte! Ent��o, sa��de, felicidade e amor, para todos n��s! Sa��de!
A festa (sim, porque a comemora����o virou festa) terminou tar-
de. Bruno foi o ��ltimo a ir embora. F��bio havia descido minutos an-
tes para esquentar o carro. Angela levou Bruno at�� o elevador. Beijou-
o, dizendo:
��� Gra��as a Deus que tudo acabou bem. Ainda acho que devia
estar furiosa. S�� depois de me picharem bastante, �� que cada um
achou seu rumo.
��� Quem manda voc�� ter cara de anjo? Esse �� o papel deles.
S��o os intermedi��rios entre Deus e os homens, protegendo e ajudando
estes. A ajuda, ��s vezes, �� uma cutucada salutar em algumas pes-
soas. N �� o se queixe. Todos sa��ram ganhando. A t �� n��s dois, que va-
mos poder nos casar mais depressa. Boa noite, querida.
Ele a beijou de novo e desceu pelo elevador, assobiando uma
can����o italiana.
De: Bons Amigos lançamentos
Trecho do livro:
Ângela estacionou o carro cuidadosamente na sua vaga de garagem, guardou a chave na bolsa e andou até o elevador, suspirando. "Sete horas. Saí antes das seis da cidade.
Que trânsito infernal! Tomara que Adriana e Roberto
tenham feito o jantar. Estou morta de cansaço", pensou, enquanto
subia até a portaria.
Narrativa terceira pessoa onisciente
1 )https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses
Blog:
Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos e Só livros com sinopses para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros.
Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras.
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Abraços fraternos!
Bezerra
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