segunda-feira, 31 de outubro de 2011 0 comentários By: Fred

{clube-do-e-livro} Crônica de Hoje - Muito Romântica (humor - causo)

Bom dia!!

Hoje foi dia de Exercício Criativo.
O tema é "O Relógio do Coração".
Muito romântico, né? Claro que eu acabei optando por mais um diálogo entre dona Zuleica e Helena.
http://www.nenamedeiros.com/visualizar.php?idt=3308381
O acesso também pode ser feito por aqui:
http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3308381

Se quiser conhecer os outros textos do Exercício, acesse:
http://encantodasletras.50webs.com/queamoresse.htm

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Beijos,

Nena
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domingo, 30 de outubro de 2011 0 comentários By: Fred

{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO Livros Loureiro: Um Cidadão Do Mundo Que Ama A Paz - Reverendo Sun Myung Moon

UM CIDADÃO DO MUNDO
QUE AMA A PAZ
REVERENDO SUN MYUNG MOON


Embora a busca da paz seja histórica, nunca estivemos tão perto dela. O
Rev. Dr. Sun Myung Moon é uma dessas pessoas que mais tem
contribuído para que o ideal da paz e da convivência pacífica se torne uma
realidade. Ele tem criado muitas organizações em prol da paz e tem feito
muitos casamentos internacionais, criando pontes entre raças, culturas e
religiões, porque segundo ele, a paz deve começar na relação harmoniosa
entre marido e esposa. Parabéns pela autobiografia. E uma obra que todos
devem ler.

Nelson Marquezelli

Deputado Federal -PTB/SP

O Rev. Moon é um desbravador de novos caminhos. Uma vez que a
educação se faz pelo exemplo, sua trajetória seguramente será seguida por
milhões de pessoas. Parabéns por mais este grande trabalho da
autobiografia, um testemunho vivo de sua fé e dedicação pela causa dos
outros.

Dr. Marco Polo Del Nero

Presidente da Federação Paulista de Futebol

[Dr. Moon] tem emergido como um grande pacificador e unificador em
nível mundial. Ele tem sido uma das principais forças para o diálogo interreligioso
e entendimento entre pessoas de todos os grupos, epara a
segurança e paz global.

Alexander Haig

Ex-secretario de estado do EUA e ex-comandante das Forças Aliadas NATO.



Nós aprendemos através da autobiografia do Rev. Moon que todas as
atividades se originaram de seu coração de sacrifício e seriedade para a
redenção da humanidade e para a libertação de Deus. Este livro contém a
história do seu grande amor para a humanidade e sua mensagem poderosa
de esperança para o futuro.

H.E. Albert Moisiu
Ex-presidente da Albânia.

A Autobiografia do Dr. Moon é uma fonte de inspiração. Ele é acionado
por uma visão poderosa e tem superado obstáculos sem temor. De um
humilde começo numa pequena vila até se tornar uma influência global,
Ele implacavelmente persegue a visão calorosa de um mundo pacífico, uma
família humana.

Dr. Eva Latham

Pres. do Ensino de Direitos Humanos Internacional, Haia, Holanda.

"A vida inteira passei por todos os lugares, mesmo por aquele mais
humilde "fim de mundo". Abri matas fechadas para plantar e pesquei para
alimentar crianças famintas. Naquele tempo, sentia-me muito feliz de
pescar noites inteiras com pernilongos picando todo o meu corpo, e mesmo
afundando minhas pernas na lama, me sentia feliz de poder ver a sombra
deixar o rosto solitário do próximo.

A fim de encontrar um atalho para alcançar o mundo de paz, também me
concentrei no trabalho de transformar a politica e a ideologia. Fui ao
encontro do presidente Corbatchev da antiga URSS para tentar a
reconciliação entre o comunismo e a democracia, e também encontrei Kim
II Sung para definir a paz na península coreana. Como um bombeiro,
também fui para a América, que se encontrava na decadência moral, para
alertar sobre o espírito puritano e assim evitar o conflito mundial. Para
chegar à reconciliação entre judeus e muçulmanos, nunca temi entrar na


Palestina, onde havia muito terrorismo, e consegui um campo de
reconciliação unindo milhares de pessoas entre islâmicos, judeus e cristãos
na realização de passeatas pela Paz. Porém, ainda persistem os conflitos
naquela região.

Contudo, agora vejo a esperança da abertura de um mundo de paz a partir
da nossa pátria, a Coreia. Posso sentir com todo meu corpo e alma surgir
na península coreana, que foi submetida a tanto sofrimento e à tristeza da
separação, uma forte onda que pode guiar a cultura e a economia do
mundo.

"No mundo não há nada que tenha nascido só para si mesmo. Todas as
coisas nasceram para as outras. Eu existo para você e você existe para mim.
Não há vida mais fútil que uma vida egoísta que vive só para si. O egoísmo
parece trazer benefícios, mas no final essa será uma vida de autodestruição.
O indivíduo deve viver para a família, a família para o povo, o povo para o
mundo e o mundo para Deus."

"O casamento intercultural significa unir homem e mulher por meio do
matrimonio, transcendendo religião, nacionalidade e raça. Essa é a melhor
maneira de construir um mundo pacifico ideal. Assim, passando a segunda
e terceira geração, o ódio será completamente arrancado. Para que o mundo
da paz chegue o mais rápido possível, é preciso unir pelo casamento pessoas
de países inimigos, transcendendo as fronteiras. Através disso está
surgindo uma nova linhagem de sangue, transcendendo as raças branca,
amarela e negra, uma raça completamente nova da humanidade."

"Assim que saí do palácio do Kremlin, depois de me encontrar com o
presidente Gorbatchev, eu dei uma ordem: Antes do fim de 1991, preciso
encontrar o presidente Kim II Sung. Não temos muito tempo! A União
Soviética acabará dentro de um ou dois anos. Tenho que encontrar Kim II
Sung de qualquerjeito, para impedir uma possível guerra na península
coreana". Quando a União Soviética viesse abaixo, a Coreia do Norte se


sentiria encurralada, e era inimaginável o tipo de invasão que poderia
tentar. Naquele ano, encontrei o presidente Kim II Sung e defini a questão
da paz na Península coreana. Pouco tempo depois do nosso encontro, a
Coreia do Norte assinou o 'Pacto de Não-Proliferação Nuclear na
Península coreana', e no ano seguinte, assinou o pacto de vigilância de
armas nucleares da Agência Internacional de Energia Atômica. Assim, o
caminho para a paz na Coreia do Norte começou a se abrir."

UM CIDADÃO DO MUNDO
QUE AMA A PAZ
REVERENDO SUN MYUNG MOON


O MESSIAS JA CHEGOU.
Os Verdadeiros Pais estão construindo
uma família sob Deus.
Que Deus abençoe à todos.
familiasrio@yahoo.com.br



ÍNDICE


PREFÁCIO

CAPÍTULO 1

COMIDA É AMOR
A paz que aprendi nas costas do meu pai
A alegria de alimentar as pessoas
Tornar-se amigo de todos
Uma bússola norteando a minha vida
Se o teimoso que chora o dia inteiro se determina, ele faz
Se amas o boi, enxergarás o boi
Conversar com os insetos da floresta sobre a história do universo
"Japoneses, voltem logo para sua terra"

CAPÍTULO 2

O CORAÇÃO É UM RIO CUJAS ÁGUAS SÃO LÁGRIMAS
Uma encruzilhada entre o temor e a euforia
Não importa a dor no coração, ame completamente
Se a espada não for afiada, ela fica cega
A chave que abre a porta para um grande segredo
Uma bola de fogo ardente
O mestre do sofrimento que se tornou amigo dos trabalhadores
Um coração calmo como o mar
"Por favor, mantenha-se vivo"
Um comando impossível de desobedecer
Um grão de arroz é maior que o planeta
Com a neve caindo na prisão de Heungnam
As portas da prisão são abertas pelos soldados das Nações Unidas

CAPÍTULO 3

A PESSOA COM A MAIOR BARRIGA DO MUNDO
"Você é o grande mestre da minha vida"
O belo homem louco que morava ao lado do poço
Uma igreja sem denominação e que não é uma igreja


O escândalo da expulsão e demissão das Universidades Yeon Se e
Ewha
No galho queimado também brotam novas folhas
Oh dor, nos discipline!
O mais importante é o coração sincero

CAPÍTULO 4

A RAZÃO PELA QUAL TRABALHAMOS GLOBALMENTE
Ainda que eu morra, vou seguir o caminho
Dinheiro ganho preciosamente deve ser gasto da mesma maneira
A força e a graça da dança que impressionou o mundo
Anjos da Paz que abriram uma pequena trilha através da mata
fechada
O futuro está no mar
O último avião para a América
Reverendo Moon, a semente da revolução espiritual na América
O encontro no Monumento Washington em 1976, nem em
sonho poderei esquecer
Não chore por mim, chore pelo mundo
"Por que meu pai tem que ir para a prisão?"

CAPÍTULO 5

A FAMÍLIA VERDADEIRA APERFEIÇOA O HOMEM
VERDADEIRO
Minha esposa Hak Ja Han
Uma incomparável beleza interior
Um compromisso que o casal não pode deixar de cumprir
Amar é dar e esquecer
A família pacífica é a base do Reino dos Céus
Dez anos de lágrimas derreteram o coração do sogro
O verdadeiro significado do casamento
O amor verdadeiro só existe na família verdadeira
Deixando para trás um legado de amor

CAPÍTULO 6


O AMOR PROMOVE A UNIÃO

A força da religião desperta a bondade no ser humano

Um rio não rejeita a água de seus afluentes

"Por favor, permita a liberdade religiosa na União Soviética"

A unificação da península coreana é a unificação do mundo
O encontro com Kim II Sung

Podem dividir a terra, mas nunca o povo

Abaixando as armas com amor verdadeiro

CAPÍTULO 7

FUTURO DA COREIA, FUTURO DO MUNDO
A península coreana reescreverá a história da humanidade
Da terra do sofrimento e lágrimas para a terra da paz e do amor
O propósito final das religiões no século XXI
Fazendo história por meio das atividades culturais
Aquele que dominar o oceano dominará o mundo
Uma grande oportunidade que a Era Oceânica nos oferece
Um dente-de-leão vale mais que ouro
Uma sábia solução para o problema da pobreza e da fome
Não dê o pão, ensine como fazê-lo
Jovens! Se estabelecerem uma meta, suas vidas serão diferentes
Um líder global é aquele que abraça o mundo
Todas as coisas do mundo são emprestadas do Céu
A felicidade está em servir os outros
Sonhando com um mundo sem guerra

Prefácio

A chuva da primavera caiu a noite inteira após o fim de um seco
inverno. Fiquei tão feliz! Andei pelo jardim, para lá e para cá, por
toda a manhã. Da terra molhada de chuva saía um saboroso cheiro
que antes não podia ser sentido, as verdes águas da primavera


brotavam nos salgueiros e nas cerejeiras. Parece que ouço o som da
nova vida surgindo aqui e acolá, ploc, ploc, ploc... Logo em seguida,
minha esposa veio ao jardim e começou a colher os novos brotos de
moxa verde que nasceram em meio a grama seca. Graças a uma
noite de chuva, o mundo se tornou um perfumado jardim de
primavera.
Independente do ruído do mundo, a primavera chega sem falta em
março. Quanto mais a vida passa, mais aprecio a mudança das
estações, a passagem do inverno para a primavera, o mundo
florescendo. Sinto-me tão grato a Deus, que nos deu cada diferente
estação, o florescer, o cair da neve, para que eu sinta a alegria de
estar vivo. Do fundo do meu coração surge um enorme amor e, de
tanta emoção, a vontade de chorar fica entalada na garganta. Ao
pensar em todas as coisas que nos são dadas como uma dádiva,
meus olhos se enchem de quentes lágrimas. A minha vida toda, dei
tantas voltas ao mundo, ocupado com a paz, mas aqui, com a
chegada da primavera no jardim, sinto a verdadeira paz. Na
verdade, a paz também nos foi dada por Deus como um presente e
não consigo entender, que o ser humano procure pela paz, sofrendo
sem saber onde a deixou.
Para construir um mundo de paz, durante a minha vida inteira
passei por todos os lugares, mesmo por aquele mais humilde "fim
de mundo". Encontrei mães da Africa assistindo seus filhos morrer
de fome, sem saber o que fazer, e pais da América do Sul que não
tinham o que dar de comer a seus filhos por não saberem pescar,
apesar dos muitos peixes nos rios. Não fiz nada mais que dividir
alguns pratos de comida com eles, mas eles me retribuíram com
amor. Envolto nessa força do amor, abri matas fechadas para
plantar, cortei árvores para construir escolas, pesquei para
alimentar crianças famintas. Naquele tempo, me sentia muito feliz
de pescar noites inteiras com pernilongos picando todo o meu
corpo, e mesmo afundando minhas pernas no barro, me sentia feliz
de poder ver a sombra deixar o rosto solitário do próximo.


A fim de encontrar um atalho para alcançar o mundo de paz,
também me concentrei no trabalho de transformar a política e a
ideologia. Fui ao encontro do presidente Gorbachev da antiga URSS
para tentar a reconciliação entre o comunismo e a democracia, e
também encontrei Kim II Sung para definir a paz na península
coreana. Como um bombeiro, também fui para a América, que se
encontrava na decadência moral, para alertar sobre o espírito
puritano e assim, evitar o conflito mundial. Para chegar à
reconciliação entre judeus e muçulmanos, nunca temi entrar na
Palestina, onde havia muito terrorismo, e consegui um campo de
reconciliação unindo milhares de pessoas, entre islâmicos, judeus e
cristãos, na realização de passeatas pela Paz. Porém, ainda
persistem os conflitos naquela região.
Entretanto, agora vejo a esperança da abertura de um mundo de
paz a partir da nossa pátria, a Coreia. Posso sentir, com todo meu
corpo e alma, surgir na península coreana, que foi submetida a
tanto sofrimento e à tristeza da separação, uma forte onda que pode
guiar a cultura e a economia do mundo. Assim como ninguém pode
impedir a chegada da nova primavera, tampouco qualquer força
humana pode impedir a chegada da fortuna celeste à península
coreana. Para dar um grande salto e seguir a vinda dessa fortuna
celeste, nosso povo deve se preparar bem, de corpo e alma.
Sou conhecido como uma pessoa polêmica e só de ouvir o meu
nome, o mundo já começa a se agitar. Até agora, levei minha vida
falando somente de paz, sem desejar dinheiro nem renome algum.
Apesar disso, o mundo colocou à frente do meu nome muitos
apelidos e me rejeitou, e até me apedrejou, sem querer saber do que
estava falando ou o que estava fazendo, simplesmente se opondo a
mim.
Durante a ocupação japonesa, no regime comunista norte-coreano,
no governo de Seung Man Lee e na América, transcendendo
governos e fronteiras, por seis vezes na minha vida, inocentemente
passei pela prisão. Mesmo nos momentos de dor, tendo minha pele


arrancada e derramando sangue, dentro do meu coração não restou
uma mínima ferida. Nenhum arranhão pode permanecer perante o
amor verdadeiro. Um coração de amor verdadeiro é aquele que
quer dar e continua querendo dar, mesmo já o tendo feito por várias
vezes. O amor verdadeiro é um amor que dá incessantemente, até se
esquecendo do que já deu. Vivi toda a minha vida envolto neste
amor. Não pedi outra coisa senão amor. Dediquei toda a minha vida
ao trabalho de compartilhar amor com o próximo mais humilde.
Muitas vezes, neste árduo caminho do amor, apesar das lágrimas
derramadas e de meus joelhos terem sido dobrados, meu coração
dedicado ao amor para a humanidade se sentia feliz.
Meu interior está cheio do amor, que ainda não consegui dar. Com

o desejo de que esse amor chegue ao último lugar do mundo, como
um rio de paz para molhar a terra seca, lanço este livro para o
mundo.
Recentemente, aumentou o número de pessoas querendo saber
quem sou eu. Para ajudá-los, mesmo que pouco, neste livro contei
minha história francamente, refletindo sobre minha vida passada.
Devido ao limite do tamanho do livro, não pude contar tudo, então
ainda espero uma próxima oportunidade para poder falar.
Meu enorme amor e gratidão para aqueles que me acompanharam
por suas vidas inteiras, confiando em mim e me protegendo,
principalmente à minha esposa Hak Ja Han, que passou por todo o
tipo de dificuldades comigo. Por fim, expresso do fundo do meu
coração uma imensa gratidão à presidente Un Ju Park, que se
dedicou tanto até o lançamento do livro, e também, àqueles que
trabalham na editora Kim Yong Sa, que com muita dedicação
adaptaram a linguagem, para que os leitores entendam melhor o
complicado conteúdo que contei oralmente.
Sun Myung Moon

Ga-Pyong, Província Gyong Ki, Coreia, 1° de março de 2009.


CAPÍTULO 1

COMIDA É AMOR

A Paz que Aprendi nas Costas do Meu Pai


Eu vivi toda a minha vida pensando somente em uma coisa: um
mundo de paz. Queria fazer um mundo onde os homens
compartilhassem o amor, sem briga nem guerra. Sempre que falo
assim, alguém diz: "Oh, como você pode falar que desde criança
viveu pensando na paz?" Mas será que sonhar com um mundo
pacífico é algo tão grande?
Nasci no ano de 1920, durante a invasão do governo japonês no
meu país. Mesmo depois da independência, essa terra continuou
longe da paz, enfrentando dificuldades e tribulações como a Guerra
Civil, a crise internacional, etc. Contudo, tal dor e confusão não se
limitaram somente ao meu país. Duas guerras mundiais, a Guerra
do Vietnã, conflitos no Oriente Médio e muitos outros, pessoas
odiando umas às outras, atirando umas nas outras e explodindo
bombas. Talvez para aqueles que passaram pela terrível situação de
ter suas carnes rasgadas e seus ossos quebrados, a palavra paz
pareça uma ilusão, que só pode ser imaginada em sonho.
Entretanto, a realização da paz não é uma tarefa tão difícil. Na
verdade, é fácil encontrarmos a paz no nosso meio ambiente, no ar e
nas pessoas.

Quando criança, o campo era minha própria casa. Depois de tomar
café bem rápido, saía de casa e brincava o dia inteiro nas montanhas
e nos rios. Passeava dentro da floresta, onde viviam todos os tipos
de pássaros e animais, me alimentando de plantas e frutas, sem


sentir fome o dia inteiro. Meu jovem coração se sentia confortável
dentro da floresta.
Muitas vezes, dormia nas montanhas depois de brincar até cansar.
Então meu pai ia até a floresta me buscar. "Yong Myung! Yong
Myung!" Ouvindo sua voz tão longe, meio sonolento, eu abria o
sorriso, muito feliz. Meu nome na infância era Yong Myung.
Acordava com o chamado de meu pai, mas fingia que continuava
dormindo, e era levado em suas costas. Naquele sentimento
confortável, sem nenhuma preocupação, aquela era a paz. Assim,
aprendi sobre a paz sendo carregado nas costas de meu pai.
Amava a floresta porque dentro dela havia toda a paz do mundo.
As vidas da floresta não brigam entre si. Claro que muitas vezes um
come o outro, não por ódio, mas para sobreviver, por não haver
outro jeito de matar a fome. Entre os passarinhos, entre os animais,
entre as árvores, não há ódio. Somente eliminando o ódio
conseguiremos a paz. Apenas os seres humanos têm ódio pela
mesma espécie. Ódio por ser de nacionalidade diferente, por ter
religião diferente, pelo outro ter um pensamento diferente.
Até agora, visitei quase 200 países do mundo, mas foram poucos os
lugares, logo que desci no aeroporto, que pude sentir: "Oh, aqui é
verdadeiramente um lugar pacífico e seguro". Muitos desses locais
estavam em plena guerra civil, soldados armados vigiavam o
aeroporto, vigiavam as ruas e eu ouvia dia e noite o barulho dos
disparos. Inúmeras vezes, entrei num lugar para falar de paz e
quase perdi minha vida pelo gatilho de uma arma.
O mundo em que vivemos continua tendo guerras e conflitos, em
maior ou menor escala. Milhões de pessoas no mundo passam
fome, mas bilhões estão sendo gastos nas guerras. Se o dinheiro
gasto em armas e bombas fosse economizado, certamente toda essa
gente seria libertada do sofrimento da fome.
Dediquei toda a minha vida para construir a ponte da paz entre
nações que se odeiam e se consideram inimigas por causa de
diferenças ideológicas e religiosas. Criei um lugar de encontro para


haver a reconciliação entre islâmicos e cristãos, ajustei opiniões
diferentes entre os EUA e a antiga URSS sobre o problema do
Iraque, e ajudei a Coreia do Norte e a Coreia do Sul a se
reconciliarem, e nada do que fiz foi com o desejo de ter dinheiro ou
renome. Desde que me conheço por gente até agora, o lema da
minha vida é um só: ter um mundo unificado e pacífico. Não desejei
outra coisa. Viver dia e noite pela paz não foi fácil, mas me senti
feliz fazendo isso.
Na época da Guerra Fria, todos nós experimentamos a dor de um
mundo dividido em dois por causa de ideologias opostas. Naquele
tempo, parecia que se o comunismo desaparecesse, a paz chegaria
logo. Mas agora, depois do fim da Guerra Fria, surgiram mais
conflitos. Devido ao racismo e aos conflitos religiosos, o mundo foi

e

repartido em inúmeros pequenos pedaços, nã° bastassem as
fronteiras entre países vizinhos, até dentro do mesmo país há
divisões de raça e religião, até divisões regionais. Dessa forma,
pessoas separadas vivem como inimigas, sem querer abrir seus
corações.
Se refletirmos sobre a história humana, as guerras mais cruéis e
terríveis não são guerras entre nações, mas sim entre raças
diferentes. Quando a religião é colocada no meio, as guerras entre
raças se tornam ainda mais cruéis. Na Guerra Civil da Bósnia,
considerada o pior conflito racial do século XX, foi cometido o crime
de limpeza étnica, com a execução de sete mil muçulmanos,
incluindo crianças. Todos devem se lembrar do ato terrorista de 11
de setembro, no qual os aviões derrubaram os 110 andares do World
Trade Center, em Nova Iorque. Todos esses foram resultados
terríveis dos conflitos raciais e religiosos. E ainda na Faixa de Gaza,
na Palestina, muitas pessoas perderam suas vidas nos ataques de
mísseis israelenses e centenas de pessoas vivem enfrentando o frio,
a fome e o terror da morte.
Qual a razão de existir tanto ódio e matança? Mesmo que haja
várias razões superficiais, na verdade no fundo sempre existe um


problema religioso. O motivo da Guerra do Golfo foi o petróleo,
porém também houve um conflito entre islâmicos e israelitas para
tomar Jerusalém. Assim, quando o racismo leva a religião nas
costas, o problema fica mais complicado. Pensamos que o pesadelo
das guerras religiosas tinha terminado na Idade Média, mas ele
continua a nos assombrar no século XXI.
A razão da guerra religiosa continuar existindo é que muitos
políticos se aproveitam desse ódio entre diferentes religiões em prol
de suas ambições egoístas. Diante dos objetivos políticos, a religião
está zonza, perdendo seu rumo. Ela está perdendo seu objetivo
original. A religião existe para a paz. Todas as religiões do mundo
têm responsabilidades para com a paz mundial. Em vez disso, a
religião infelizmente se tornou a causa dos conflitos. Por trás deste
horror, está escondida uma política suja, mantida com poder e
capital. O papel original dos líderes é somente assegurar a paz, mas
em vez disso, eles estão guiando o mundo para o conflito e o
terrorismo.
Se o coração da liderança não estiver corretamente alinhado, a
nação e o povo vagarão sem rumo. Eles se aproveitam da religião e
do orgulho racial para satisfazer seus maus desejos. Na verdade, a
religião e o orgulho racial não são maus, mas somente terão valor
quando contribuírem para um mundo comum. Insistir que somente
meu próprio povo e minha religião estão certos e desmerecer outros
povos e religiões com críticas, é perder seu próprio valor. Quando
apenas insisto em minha própria religião, pisando sobre os outros, e
desprezo as demais religiões, então isso não pode mais ser
considerado do bem por causar ódio e conflito, da mesma maneira
quando insistimos somente em nosso próprio povo e nossa própria
nação.
Viver reconhecendo uns aos outros como iguais e ajudar os outros é
uma verdade universal, até os mais simples animais sabem disso.
Normalmente, cão e gato são considerados inimigos, mas quando
são criados juntos na mesma família, até eles vivem em harmonia,


protegendo os filhotes um do outro. Isso pode ser visto até no reino
vegetal. Trepadeiras que sobem nos troncos das árvores crescem
junto com seus galhos, e nem por isso a árvore reclama da
trepadeira: "Por que você sobe se enrolando em mim?" Viver juntos,
servindo uns aos outros, é o princípio do universo. Se nos
desviarmos deste princípio, certamente seremos destruídos. Se
povos e religiões diferentes permanecerem brigando entre si como
agora, não existirá futuro para a humanidade. Devido às guerras e
ao contínuo terrorismo, um dia a humanidade desaparecerá.
Entretanto, ainda resta uma esperança. Realmente, existe uma
esperança.
Segurando esse fio de esperança, eu vivi todos os meus dias
sonhando com a paz. Meu desejo é demolir todas as barreiras e
muros que cercam esse mundo e construir um mundo unido.
Demolir o muro da religião, transcender a barreira racial e eliminar
as diferenças entre ricos e pobres, para então restaurar o mundo de
paz originalmente criado por Deus. Nesse mundo não existirão
pessoas passando fome, nem pessoas derramando lágrimas. Para
consertar este mundo onde não existe esperança e falta amor, nós
precisamos voltar ao estágio de coração puro das crianças. Para
eliminar a ambição de querer ter mais que os outros e recuperar a
bela sensibilidade original do ser humano, é preciso restaurar o
princípio da paz e a respiração do amor que aprendi na infância,
nas costas do meu pai.

A Alegría de Alimentar as Pessoas



Tenho um olho bem pequenininho. Quando nasci, minha mãe abriu
meus olhos à força, se perguntando "Deixe-me ver se nosso nenê


tem olhos". Então pisquei e ela exultou: "Nossa, nosso bebê tem
olhos!", e disse que ficou muito contente. Como meus olhos eram
tão pequeninos, desde bebê me chamavam de "miniolho da família
de O-San".
Apesar dos olhos menores, ninguém me achava feio. Até um
senhor, que sabia prever o futuro da pessoa pelos seus traços, disse
que dentro dos meus pequenos olhos podia ver um grande
potencial para um líder religioso. Pode ser que funcione como um
foco de câmera, que quanto mais fechado mais longe pode gravar.
Assim como o líder religioso tem que ter a capacidade de ver mais
longe que os outros. Meu nariz também é diferente. À primeira
vista, pode-se perceber que sou muito teimoso e não ouço ninguém.
Esse vidente não falou isso sem fundamento, porque olhando para o
meu passado, posso sentir que "talvez eu tenha sido feito para levar
este estilo de vida".
Nasci na província de Pyong An, distrito de Jong Ju Gun, Dog On
Myun, Sang Sa Lee, número 2221, como segundo filho da família do
patriarca Gyong Yu Moon, da tribo de Nam Pyong Moon e de
Gyong Gye Kim, da tribo de Yeon An Kim.


Meu aniversário é no dia 6 de janeiro de 1920 do calendário lunar,
um ano depois do movimento da independência1.
Minha família mudou-se para Sang Sa Lee no tempo do meu bisavô.
Ele trabalhava numa lavoura de milhares de sacas e, pessoalmente,
ergueu sua família com árduo trabalho, sem nunca beber nem
fumar, pois com o dinheiro economizado podia servir mais pessoas
que precisavam de comida. Meu bisavô se sentia bem com esse
estilo de vida. Quando ele morreu, deixou-nos um legado: "se


1. O Movimento de Independência SAM IL, também conhecido como a marcha de
Independência SAM IL, foi um dos eventos mais marcantes ocorridos na
península, clamando pela Independência da Coréia em tempos difíceis de
dominação japonesa, foi um dos mais significativos atos na história da
humanidade, que levou a conhecimento do mundo, todo o grandioso patriotismo,
coragem e altivez do povo coreano.
O nome refere-se justamente a data inicial do evento Io de Março de 1919.

alimentares toda a nação, receberás as bênçãos de toda a nação", e
assim nossa casa estava sempre cheia. Até na vila vizinha sabiam

que "se você chegar na casa Moon daquela vila, pode comer de
graça". Era a minha mãe quem servia muito bem aquelas pessoas,
fazendo esse trabalho sem nunca reclamar.
Meu bisavô sempre foi diligente, não descansava sequer por um
momento, e até nos intervalos de trabalho ele fazia sapatos de palha
para vender na feira. Com a idade avançada, ele comprou vários
patos e os soltou, orando: "Por favor, abençoem nossos futuros
descendentes". E também convidou um professor para ensinar
caligrafia para os jovens da vila no quarto de visitas, sem cobrar
nada, de maneira que os habitantes da vila o homenagearam com o
título de "Són Ok", e chamavam a nossa casa de "casa que atrai a
fortuna".
Porém, depois da sua morte, quando eu ainda era criança, toda
aquela fortuna acabou e nossa situação financeira passou a ser de
sobrevivência. Ainda assim, a tradição da família de alimentar
primeiro os outros continuou, mesmo que nossa própria família não
tivesse o que comer. Por causa dessa tradição, logo que dei meus
primeiros passos, aprendi a dar comida aos outros.
No tempo da ocupação japonesa, os refugiados que iam em direção
à Manchúria, depois de terem perdido tudo para os japoneses, suas
casas e suas propriedades, precisavam passar pela cidade de Són
Chón, no estado de Pyong An Buk Do. Como nossa casa ficava na
beira da estrada que levava para Són Chón, todos que iam para a
Manchúria passavam na nossa frente. Minha mãe sempre dava de
comer às pessoas de toda a Coreia que passavam pela nossa porta.
Se um mendigo pedia comida e minha mãe se demorava, meu avô
levava sua própria bandeja de comida antes. Por crescer neste
ambiente familiar, também vivi toda a minha vida alimentando os
outros. Para mim não há nada mais precioso nem mais importante
que alimentar as pessoas. Na hora de comer, se eu via alguém


passando fome, meu coração doía e a garganta engasgava com as
lágrimas. No mesmo instante, abaixava a colher e parava de comer.
Quando eu tinha 11 anos de idade, a vila inteira estava ocupada
fazendo bolos porque era véspera de Ano Novo, mas alguns
vizinhos estavam passando por dificuldades e não tinham o que
comer. Os rostos daquelas pessoas não saíam da minha cabeça, e
num dilema sobre o que fazer, fiquei rodeando a casa o dia inteiro.
Por fim, saí de casa levando um saco de arroz nas costas. Como
levava esse arroz escondido da minha família, nem tive tempo de
ajeitar as cordas, e apesar de carregá-lo nos ombros, nem sentia seu
peso e até corri pela rústica trilha de 8 quilômetros de distância. Só
de pensar que poderia dar comida àqueles famintos, meu coração
palpitava forte de tanta alegria.
Havia um moinho em frente à minha casa. Dentro dele, a
temperatura era quente mesmo no inverno, porque fechávamos
bem a entrada para que o calor não saísse. Se levássemos carvão
aceso de casa para lá, ficava ainda mais quente. Por isso alguns
andarilhos que vagavam pelo país inteiro passavam o inverno no
moinho da nossa casa. Eu sempre ia lá para ouvi-los contar histórias
interessantes de fora, e minha mãe levava uma bandeja não só com
a minha comida, mas também para os andarilhos que haviam se
tornado amigos de seu filho. Não havia diferença entre nossas
colheres, comíamos juntos no mesmo prato e passava as noites do
inverno com eles dividindo a mesma coberta. Quando o inverno
terminava, eles iam e eu esperava o próximo inverno com muitas
saudades até que voltassem. Não é porque o corpo não tem roupas
suficientes que o coração está despido; tenho certeza que eles
possuíam um caloroso amor. Eu os alimentei e eles me deram amor.
E foi esse caloroso amor e a profunda amizade que me ensinaram,
que me sustentou com grande força até agora.
Nas minhas viagens pelo mundo, sempre que via crianças
miseráveis sofrendo de fome, me lembrava do meu avô, que nunca
economizou para servir comida aos outros.


Tornar-se Amigo de Todos



Sempre tenho que fazer na hora o que determino, é meu caráter. Se
não o faço logo, não consigo dormir. Quando não tinha jeito e tinha
que esperar até o amanhecer, arranhava as paredes, angustiado sem
dormir. Muitas vezes eu arranhava tanto que um monte de terra se
juntava durante a noite aos pés da parede. Se fosse injustiçado por
alguém, acordava no meio da noite e saía para chamar aquela
criança para briga. Então, imaginem quanto os meus pais sofreram
para criar um filho como eu.
Especialmente quando via uma atitude errada, não conseguia
deixar passar. Era como se eu fosse o xerife da vila, entrava no meio
das brigas das crianças e julgava quem estava certo e quem estava
errado, e chegava até a dar bronca naquela criança que estivesse
errada. Certa vez, havia um valentão que fazia maldade para todo
mundo. Então visitei seu avô e disse: "Vovô, seu neto fez isso e
aquilo de errado; por favor, tome conta dele", eu o aconselhei.
Pode ser que o meu comportamento parecesse grosseiro, mas na
verdade eu era uma criança de muito bom coração. Mesmo já
crescido, tocava o seio sem leite da minha avó e gostava de dormir
segurando seu seio seco, e ela não rejeitava essa minha atitude
dengosa. Quando ia passear na casa da minha irmã casada, pedia
para o seu sogro: "Por favor, faça um bolo para mim e mate um
frango para cozinhar". Mesmo assim, as pessoas não me odiavam.
Isso prova que elas sabiam que dentro do meu coração havia um
caloroso carinho por todos.
Destacava-me, especialmente, no lidar com os animais. Cavava
buracos para que os passarinhos que construíssem seus ninhos na
árvore, em frente à minha casa, pudessem beber água, e pegava
sementes do depósito para jogar para eles no jardim. Esses
passarinhos, que antes fugiam quando as pessoas se aproximavam,


passaram a não fugir mais ao me ver, porque com certeza, eles
perceberam que aquele que lhes dava comida estava dando amor.
Numa ocasião, quis criar peixes. Para isso, pesquei alguns e os
coloquei dentro de um buraco com água. Apesar de ter dado ração,
no outro dia, quando acordei, encontrei todos os peixes mortos.
Como a minha vontade era cuidar bem deles, quando vi aqueles
peixes boiando na superfície, fiquei tão chocado, que passei o dia
inteiro chorando.
Meu pai criava centenas de caixas de abelhas. Quando os favos, que
são a base da colmeia, eram colocados dentro das grandes caixas, as
abelhas construíam a colmeia e guardavam mel. Muito curioso, um
dia eu quis descobrir como as abelhas faziam suas casas, então
enfiei a cara na caixa das abelhas e elas me picaram o rosto inteiro,
ele ficou todo inchado.
Certa vez apanhei muito por retirar os favos das caixas de abelhas.
Quando as abelhas terminavam de construir suas casas, meu pai
guardava os favos e em vez de óleo, usava a cera como combustível.
Amassei esses favos tão caros e distribuí para as pessoas que não
tinham óleo para acender seus lampiões. Por expressar assim meu
bom coração, apanhei para valer do meu pai.
Quando tinha 12 anos, não havia nenhuma brincadeira interessante,
somente havia oyut, ojangki2 ou os jogos de cartas. Sempre queria
ficar em grupo, então jogava yut ou empinava pipa durante o dia, e
à noite eu frequentava o lugar onde jogavam cartas. Em cada jogo
apostávamos 120 won e geralmente eu ganhava com três rodadas. A
alta temporada do jogo de cartas era durante a festa da lua cheia de
janeiro, e nesses dias, mesmo que o guarda visse, ele não prendia
ninguém. Chegava até a dormir no lugar onde se jogavam cartas, e
entrava no jogo na madrugada, participando das últimas três
rodadas e ganhando tudo. Com o dinheiro ganho no jogo,
comprava um balde de doces e distribuía para todas as crianças da

2. Jogos tradicionais coreanos.

vila. Eu definitivamente não usava aquele dinheiro ganho só para
mim nem para fazer coisas erradas. Sempre que meus cunhados
visitavam a minha casa, pegava dinheiro à vontade da carteira
deles, porque já tinha autorização para isso, e com o dinheiro dos
meus cunhados, comprava balas e doces para dar às crianças carentes.


Em todo lugar existem ricos e pobres. Ao ver que meus amigos
pobres traziam painço cozido em suas marmitas, eu não conseguia
comer a minha marmita de arroz, então trocava com eles e comia a
sua comida. Eu era mais íntimo das crianças mais pobres, que não
conseguiam se alimentar bem, do que das crianças fortes de famílias
ricas, e procurava alguma forma para acabar com a fome delas. Essa
tarefa era minha brincadeira preferida, e sempre queria ser amigo
de todo mundo, ou seja, mesmo sendo jovem queria me tornar uma
pessoa com quem se pudesse compartilhar um profundo coração,
ser mais que um simples amigo.
Um dos meus tios era muito egoísta. Sua plantação de melão ficava
no meio da vila, e por causa do cheiro tão gostoso que ela exalava
no verão, as crianças que passavam na frente ficavam morrendo de
vontade de comê-los. Apesar disso, meu tio não dava nenhum
melão sequer, e vigiava na guarita à beira da estrada o tempo
inteiro. Um dia lhe perguntei: "Tio, algum dia, pelo menos por uma
única vez, posso comer o seu melão à vontade?" "Mas é claro!", ele
me respondeu.
Então chamei todas as crianças da vila e disse que aqueles que
quisessem comer melão poderiam se reunir na frente da minha casa
à meia-noite, e que cada um trouxesse uma sacola grande. E os levei
para a lavoura de melão do meu tio e mandei: "Fiquem à vontade,
não se preocupem, cada um fica com uma fileira da plantação".
Toda a molecada entrou na plantação gritando de alegria e colheu
várias fileiras completas de melão. Naquela, noite as crianças da vila
que estavam passando fome, comeram melão até suas barrigas
explodirem.


No dia seguinte, houve uma grande confusão na casa do meu tio.
Fui até a casa dele, onde o burburinho era tão grande que parecia
um enxame de abelhas agitado, e meu tio logo me chamou
espumando de raiva: "Moleque, foi você que fez aquilo? Foi você
que fez toda a minha lavoura de melão crescer em vão?". Vendo o
meu tio tão bravo, não me intimidei: "Tio, foi o senhor que me
deixou comer à vontade um dia. O meu coração era o mesmo
coração das crianças da vila, que queriam tanto comer o melão.
Então deveria dar um melão para cada uma delas, ou será que não
poderia compartilhar?", rebati. Então o meu tio, que estava pulando
de raiva, se rendeu dizendo: "Está certo, você estava certo".

Uma Bússola Norteando a Minha Vida


Minha tribo se originou na cidade de Nam Pyong, vizinha à cidade
de Na Ju, na província de Jólla. Jung Hul Moon, meu bisavô, nasceu
como caçula dos três filhos do meu tataravô Sóng Hak Moon, e por
sua vez gerou três filhos, meu avô Tchi Guk, Shin Guk e Yun Guk.
Meu avô era analfabeto, mas apesar de nunca ter frequentado a
escola, ele tinha uma grande capacidade de absoluta concentração,
tanto que memorizou de ouvido até mesmo o livro "Três Reinos".
Não somente esse livro, mas quando alguém contava uma história
interessante, ele se lembrava de tudo e repetia toda a história com
facilidade. Ele decorava qualquer coisa que ouvisse uma única vez,
e passou essa habilidade para meu pai, que foi capaz de memorizar
todo o livro de canções evangélicas e cantava de cor os mais de 400
cânticos.


Meu avô se manteve fiel ao legado deixado pelo meu bisavô: "viver
servindo os outros", mas não conseguiu manter o capital que ele
deixou. Meu tio-avô, o terceiro filho Yun Guk, penhorou todo o
patrimônio da família e o perdeu. Por causa disso, todos passaram
por muitas dificuldades. Contudo, meu avô nunca reclamou de seu
irmão, porque meu tio-avô Yun Guk não tinha perdido o dinheiro
jogando cartas, mas tinha penhorado toda a propriedade da família
como garantia para emprestar dinheiro para mandar ao governo
separatista coreano em Shangai. Naquele tempo, 70 mil won era
muito dinheiro, e meu tio-avô Yun Guk deu toda essa quantia para

o movimento da independência.
Meu tio Yun Guk era um pastor formado pela faculdade de teologia
de Pyongyang e fazia parte da elite da época. Ele falava inglês e
tinha um profundo conhecimento sobre os ensinamentos da
tradição chinesa. Ele tinha sido pastor principal de três igrejas,
incluindo a igreja Dók Heung, de Dók On Myon e, formulou, junto
com o mestre Nam Són Choi, a "Proclamação de Independência Kimi".
Entretanto, como havia três representantes da igreja Dók
Heung entre os 16 cristãos que participavam do comitê, ele saiu
voluntariamente da lista de representantes do povo. Quando o fez,
o honorável professor Nam Gang Seung Hun Lee, fundador da
escola de O-San, segurou as duas mãos de meu tio-avô Yun Guk em
lágrimas e pediu que ele desse continuidade ao trabalho, caso o
movimento fracassasse.
De volta à sua terra natal, meu tio Yun Guk imprimiu milhares de
bandeiras coreanas e distribuiu para aqueles que estavam na rua,
para gritarem mansey. E no dia 8 de março daquele ano, ele reuniu
milhares de pessoas, entre as quais quatro mil cidadãos comuns,
dois mil estudantes, três mil membros de várias religiões e
professores da escola O-San de Jong Ju Gun, incluindo o diretor, e
comandou a passeata de independência com gritos de mansey no
monte atrás do escritório do distrito de Ai Po. Ele foi preso e

recebeu pena de dois anos. No ano seguinte, enquanto cumpria sua
pena na prisão de Ui Ju, ele foi libertado pela anistia.
Porém, devido à enorme perseguição da polícia japonesa, ele não
podia permanecer no mesmo lugar, e por isso vivia como fugitivo,
sempre se mudando. O corpo do meu tio-avô tinha uma profunda
cicatriz de torturas sofridas dos militares japoneses, um buraco
resultante do corte de uma lança de bambu. Ele nunca se curvou,
apesar de ter sido apunhalado nas duas pernas e na cintura com a
lança de bambu bem afiada. Como ele não se rendia nem às terríveis
torturas, tentaram suborná-lo com a posição de representante
regional do governo japonês, com a condição de não participar mais
do movimento da independência. Quando o fizeram, meu tio deu
uma bronca neles: "Vocês acham que eu iria assumir um cargo
público em um governo de ladrões como vocês?".
Quando tinha 7 ou 8 anos de idade, ocorreu um episódio. Meu tio-
avô estava a algum tempo na minha casa, e os revolucionários do
movimento da independência o visitaram para pedir auxílio
econômico, depois de terem caminhado à noite através da espessa
neve. Meu pai, preocupado com meus irmãos que já tinham
adormecido, cobriu nossos rostos com o cobertor. Como tinha
perdido o sono, deitado de olhos bem abertos sob o cobertor, tentei
ouvir o que os adultos conversavam. Naquela noite, minha mãe
matou frangos e fez macarrão para os visitantes.
Prendendo a respiração debaixo da coberta que meu pai tinha posto
sobre nós, ouvi as palavras de meu tio-avô Yun Guk, palavras que
ainda permanecem vivas nos meus ouvidos. Ele dizia: "Morrer para
a nação é uma bênção". E também: "Agora nós estamos vendo
apenas escuridão, mas com certeza em breve chegará a alvorada".
Mesmo que ele se sentisse incomodado pela tortura recebida, sua
voz sempre era firme.
Lembro-me o quanto fiquei angustiado naquela hora, questionando:
"Por que meu tio-avô teve que ir para a prisão sendo tão admirável?
Se nós fôssemos mais fortes que o Japão, isso não aconteceria..."


Meu tio vivia longe de casa, sem poder se comunicar conosco por
estar fugindo da perseguição da polícia japonesa. Foi somente em
1965, em Seul, que eu tive notícias dele. Ele apareceu em sonho para

o meu primo mais novo e falou: "Eu fui enterrado na terra de Jung
Sun, na província Kang Won". Procuramos o local de acordo com o
endereço recebido no sonho e o descobrimos. Já havia passado nove
anos desde a sua morte, e naquele lugar restava apenas um túmulo
coberto de mato. Retirei os restos mortais de meu tio-avô Yun Guk e
o enterrei em Pa-ju, na província Gyong Ki.
O que aconteceu foi que, após a independência, os comunistas
mataram pastores e revolucionários ligados ao movimento, sem
nenhuma distinção. Para não dar problemas para a família, meu tio-
avô Yun Guk atravessou o paralelo 38 e foi para Jung Sun, fugindo
dos comunistas, mas nenhum de nós sabia disso. A cidade Jong Són
é cercada de montanhas, e lá ele vendeu pincéis orientais para
sobreviver e depois estabeleceu uma escolinha para ensinar
caligrafia chinesa. Segundo os alunos, ele gostava muito de fazer
poemas espontâneos com caracteres chineses, dos quais os
discípulos conseguiram guardar cerca de 130 poemas.
Paz de Norte e Sul

Há dez anos ao sul cheguei vindo do norte, minha terra natal. O tempo
correu como as águas e apressa meus cabelos brancos. Apesar de querer
voltar para o norte, como poderei ir para lá? Só um pouco nessa terra
estranha eu quis ficar, mas muito tempo já se passou.

Quando visto as roupas leves de minha terra natal, percebo a chegada do
verão. Balançando o leque de seda, me preocupo com o outono, que já vem.
Não está longe o dia em que a paz de norte e sul chegará. Por isso crianças,
que esperam debaixo do telhado, não se preocupem muito.


Embora longe da família, vivendo numa terra estranha, o coração
do meu tio sempre esteve preocupado com o futuro da nação. Ele
deixou um verso dizendo: "Se a vontade for estabelecida no início,
sempre espere pelas grandes coisas, e nunca se permita nem um
pouquinho de ambição particular". Os esforços que meu tio-avô
Yun Guk fez pelo movimento da independência, mais tarde foram
reconhecidos pelo governo, enos anos de 1977 e de 1990, ele recebeu
uma homenagem do Presidente e o título de Fundador da nação.
Sempre recito suas poesias, nas quais ele colocou seu coração de
patriotismo, mesmo em meio a tanta perseguição e sofrimento.
Quanto mais idade tenho, mais penso no meu tio-avô Yun Guk. O
seu coração de se preocupar com a nação continua a penetrar no
fundo do meu peito. Eu ensinei a todos os membros da Igreja a
canção Dae Han Ji Ri Ga1 , que ele mesmo compôs.
Quando entoo essa canção inteira, me alivia provar o sabor do
monte Bek Du ao monte Hal La. Por isso sempre a canto com os
membros da nossa Família.

Canção da Geografia da Coreia

A península coreana, emergida do hemisfério oriental Ocupa um ponto
estratégico nas três nações do Extremo Oriente

Os vastos campos da Manchúria estão ao Norte Ao Leste, o Mar azul
profundo

Ao Sul, o arquipélago do Mar da Coreia A Oeste, o Mar
amarelo-escuro e profundo


As águas dos três mares guardam muitas espécies A diversidade de
milhares de peixes e conchas é o nosso tesouro

1Canção da Geografia da Coreia.


A principal montanha Bek Du, está situada no extremo Norte Dois rios,

Am Nok e Du Man, são fontes de água


Eles se separam para desembocar nos dois mares do Leste e do Oeste, E
marcam a fronteira nítida com a China e a Rússia.


No centro, na província Gang Won, está a montanha brilhante Taegum
Gang, Parque mundial que é o orgulho da nação


O destino que os barcos de pesca se orientam É a montanha Hal La, de Jeju,
que desponta alta no Mar do Sul


De Dong, Han Gang, Kum Gang,Jón Ju, as quatro planícies São o celeiro
de 30 milhões de pessoas


Un San, Sun An, Gae Tchon,Jae Ryong, quatro minas, São o precioso e
brilhante tesouro da nossa Coreia


Gyong Sóng, Pyongyang, Dae Gu, Gae Sóng, as quatro cidades, São as
cidades preciosas que brilham em nossa pátria


Pusan, Won San, Mok Po, Incheon, os quatro portos Onde os navios
nacionais e estrangeiros se concentram


A linha de ferro que passa no centro da grande Gyong Song, Liga as duas
linhas Gyong Ih e Gyong Bu


As linhas Gyong Won e Ho Nam ligam de norte a sul Levando a fartura a
toda a terra da Coreia


O museu Pyongyang que fala da mudança de gerações Há dois mil anos na

história do povo de Dan Gun

Song Do Gae Song, a capital da dinastia Go Ryo fundada por Wang Gón

Gyong Sóng, por 500 anos a capital da dinastia Lee Jo

Shilla, dois milênios de uma cultura fulgurante A famosa capital Gyong Ju
é a origem de Bak Ryok Gó Se

A província Chung Chong, extraordinária beleza natural Bu Yóh, o berço
de On Jo, o primeiro rei da dinastia Bek Je

Jovens coreanos, que se tornarão os pioneiros do futuro! Os três mares se
agitam com a onda da cultura

Limparemos a mente de todo o povo de nossa Coreia E marcharemos para o
mundo do futuro.

Se o Teimoso que Chora o Dia Inteiro se
Determina, Ele Faz



Meu pai sabia emprestar dinheiro, mas chegava a perdê-lo por não
saber cobrar. Contudo, se ele fazia uma dívida, nunca falhava em
pagar, mesmo que tivesse que perder a principal propriedade da
família para manter a promessa. Meu pai sempre dizia: "Ninguém
moverá a verdade pela esperteza. A verdade não pode ser
dominada pela esperteza. Aquilo que é conseguido com má-fé não


dura muitos anos". Meu pai era bonito e tinha um corpo robusto,
era capaz de subir escadas com a maior facilidade carregando um
grande feixe de arroz. Sem dúvida, herdei essa boa condição física
do meu pai, para continuar, nos meus 90 anos, viajando pelo
mundo e realizando várias atividades.
Entre as canções evangélicas, a canção "O Alvo Supremo" era a
favorita da minha mãe. Ela era uma mulher muito corajosa. Além
de ter uma testa e uma cabeça bem formadas, sua natureza era
correta e destemida, e foi justo dela que herdei a teimosia: tal mãe,
tal filho.
Na infância meu apelido era "Há-ru Uri", o menino que chora o dia
inteiro. Ganhei o apelido porque quando eu começava a chorar, só
parava no fim do dia. Se abrisse o berro uma vez, era como se
tivesse acontecido uma grande catástrofe. Chorava tão alto, que até
as pessoas que estavam dormindo acordavam e saíam de suas casas
para ver o que se passava. Eu não chorava só sentado, fazia
escândalo pulando alto dentro do quarto, me debatendo até cortar
todo o meu corpo e manchar as paredes de sangue. Desde a
infância, minha natureza era assim terrível.
Se decidisse uma vez, nunca mudava de opinião. Mesmo que meus
ossos fossem quebrados, nunca cedia. É claro que isso tudo
aconteceu antes de ter noção da vida. Mesmo que estivesse errado,
quando a minha mãe me repreendia eu retrucava: "Não, não é assim
não!" Podia resolver tudo com um único pedido de desculpas, mas
não soltava essa palavra nem morto. A natureza da minha mãe
também era muito forte, então ela me batia muito, dizendo: "Onde
já se viu os pais pedirem para falar e não fazer?". Uma vez apanhei
tanto, que até caí desmaiado. Ainda assim, não cedi. Então minha
mãe começou a chorar alto na minha frente, e mesmo vendo ela
assim, não pedi desculpas.
Como minha índole era forte e teimosa, a minha vontade de vencer
também era muito forte. Por isso não aceitava perder em nada.
Todo mundo da vila já sabia disso, e diziam: "Aquele miniolho da


casa de O-San, se aquele moleque decidiu fazer, certamente ele vai
conseguir". Não sei quantos anos tinha, mas um menino fugiu
depois de me machucar e fazer meu nariz sangrar. Eu permaneci na
frente da casa dele por um mês, até seus pais virem me pedir
desculpa, oferecendo uma bacia cheia de bolo coreano, e deixando
todos os adultos abismados. Mas não queria vencer somente pela
teimosia sem fundamento. Tinha muita força, meu corpo era
superior ao das crianças da minha idade, e não havia ninguém na
vila que ganhasse de mim na queda-de-braço. Certa vez, perdi para
um menino três anos mais velho e não consegui aceitar a derrota.
Então, para me fortalecer, por seis meses treinei todas as noites,
subindo as montanhas e esmurrando o tronco das acácias até
descascá-las, e enfim consegui vencer aquele menino.
A minha família tem um histórico de ter muitos filhos. Quando
nasci, já tinha um irmão e seis irmãs mais velhas. Ficava muito feliz
por ter muitos irmãos, e além de irmãos tinha primos e primas de
segundo grau. Se juntássemos todos, poderíamos fazer qualquer
coisa. Mas agora, com o passar do tempo, parece que só eu sobrei
neste mundo.
Passei rapidamente pela Coreia do Norte em 1991. Já havia se
passado 48 anos desde minha saída de lá, e todos os meus irmãos e
minha mãe estavam mortos, restando vivas apenas uma irmã mais
velha e uma mais nova. Minha irmã mais velha, que cuidara de
mim como minha mãe quando era pequeno, se transformara numa
avó de mais de 70 anos. E o rosto daquela minha irmã mais nova,
que era tão bonitinho, estava cheio de rugas, com mais de 60 anos
de idade.
Quando era criança, eu a provocava: "Hyo Són, seu marido vai ser
um homem com um olho defeituoso!" Então eu fugia, e minha irmã
vinha correndo atrás de mim e com sua pequena mão batia nas
minhas costas: "O quê? Como você pode saber disso?!" Quando
tinha 18 anos, Hyo Són foi ver a possibilidade de um casamento e
tinha como mediadora uma tia da parte da minha mãe. Naquela


manhã ela acordou cedo, se penteou bem, se maquiou bem bonita e
limpou a casa inteira à espera da pessoa que poderia ser seu noivo.
Então brinquei com ela de novo, dizendo: "Hyo Són, você quer tanto
assim se casar?", e sob a maquiagem seu rosto enrubesceu e eu
percebi como ela era bonita. Já se passaram mais de 10 anos desde a
minha visita à Coreia do Norte, e agora soube que minha irmã mais
velha, que tanto chorou quando me viu, já morreu. Minha irmã
mais nova ficou sozinha, e só de pensar nelas, sinto tanta dor que é
como se o meu coração fosse sumir.
Tinha a habilidade manual de fazer meias e roupas de tricô. No
inverno, fazia gorros de tricô. Fazia-os tão bem, melhor que as
mulheres, que até ensinava tricô para as minhas irmãs mais velhas;
cheguei a fazer um lenço de lã para Hyo Són. Eu gostava de
costurar com a minha mão, grossa igual à pata de um urso, e fazia
roupas íntimas para mim mesmo. Pegava a peça de algodão,
dobrava pela metade e riscava o desenho, cortava e costurava, e
servia certinho em mim. Um dia fiz uma sapatilha para minha mãe
e ela ficou tão contente que exclamou: "Oh, pensava que meu
segundo filho estava brincando, mas serviu tão bem no meu pé!"
Depois da Hyo Són havia mais quatro irmãos mais novos. Minha
mãe teve treze filhos, mas cinco morreram antes dela. Imagine
quanto o coração da minha mãe deve ter queimado de dor. Nossa
família não tinha dinheiro suficiente, por isso minha mãe teve que
trabalhar muito para sustentar tantos filhos. Naquela época, para
realizar o casamento dos filhos era preciso tecer algodão. O algodão
tirado do pé era colocado na roca. No dialeto da região de Pyeong-
an-Do, isso era chamado de to-kem-ih. Com uma medida de vinte
fios unidos ela fazia doze ou treze peças de tecidos... Para cada
casamento, as grossas e calejadas mãos de minha mãe
confeccionavam macios e belos tecidos de algodão. Suas mãos eram
tão rápidas que, enquanto outras confeccionavam três ou quatro tokem-
ih por dia, ela fazia de 10 a 20. Para os casamentos das minhas
irmãs, ela precisava tecer tão rápido que em um dia fazia um rolo


inteiro de tecido. Ela terminava prontamente qualquer coisa que
decidisse fazer. Por ter herdado essa natureza apressada da minha
mãe, também faço tudo com uma velocidade muito rápida.
Desde pequeno eu como bem qualquer coisa. Gostava de milho,
comia bem pepinos e batata crua, até soja crua gostava de comer. A
casa de minha avó materna ficava a uns 8 quilômetros da nossa, e
quando perguntei o que era uma trepadeira que crescia no campo,
ela me disse que era ji-gua. Naquela vila as pessoas chamavam a
batata-doce de ji-gua, e eles arrancaram e me deram bastante dessa
batata cozida. Era tão gostosa! Comi uma bacia inteira de batata-
doce! Nos anos seguintes, na época da colheita da batata-doce, ia à
casa da minha avó a cada três dias. Dizia para minha mãe: "Mamãe,
vou sair, mas volto logo", e corria essa distância de oito quilômetros.
Chegava lá, comia batata-doce cozida e voltava para casa.
Na minha terra natal, o fim da safra da batata era no mês de maio.
Durante todo o inverno só comíamos batata, e com a primavera
chegava o tempo da colheita da cevada. Chamávamos esse tempo
de kam-já-kô-gae4 . Naquele tempo a cevada não era a cevada de hoje
em dia, fininha e fácil de comer, mas era a cevada natural, redonda
e grossa. Mesmo assim, eu gostava. Quando deixada no molho por
dois dias e cozida, essa cevada natural se solta como areia quando
pegamos na colher. Temperávamos a cevada cozida com molho de
pimenta e, na boca, ela escapava entre os dentes na hora de
mastigar. Lembro que para comê-la tinha que mastigar com a boca
bem fechada.
Também caçava e comia muitas rãs verdes. No passado, no interior,
quando uma criança pegava catapora ou emagrecia muito com
alguma doença, dava-se carne de rã. A rã tem uma carne muito
grossa nas coxas. Se caçar três ou quatro rãs grandes de coxas bem

gordinhas e assá-las enroladas na folha de abóbora, a carne fica

4.Morro da batata, comparando o período em que só comiam batata a um morro
que deveriam ultrapassar.


muito gostosa, macia como se tivesse sido cozida no vapor de shi-ru

5. Seu sabor não perde em nada para a carne do pardal ou do faisão.
Caçava o pássaro tum-buk-se6 que voava pelos campos cantando
"tum buk, tum buk", e também catava os ovinhos coloridos dos
pássaros da montanha e os assava. Foi andando pelas montanhas e
pelos campos que percebi a abundância de alimentos que Deus nos
deu na natureza.
Se Amas o Boi, Enxergarás o Boi



É da minha natureza saber sobre todas as coisas que vejo, não deixo
nada passar. Se me despertava a curiosidade sobre "Qual o nome
daquela montanha? O que deve existir dentro dela?", não podia
deixar de ir até lá. Apesar da pouca idade, subia nos topos de todas
as montanhas num raio de 8 quilômetros da minha casa. Não há
lugar onde não tenha ido, inclusive atrás do alto daquelas
montanhas. Só sossegava quando conseguia visualizar na minha
mente todas as coisas do ponto onde bate o sol da manhã. Se não
conheço o que está além daquilo que minhas vistas alcançam, não

fico satisfeito.
Por causa disso, quando subia as montanhas, não havia flor ou
árvore que não tocasse. Não era suficiente olhar, então tocava as
flores, as árvores, cheirava e até as colocava na boca. O cheiro, o
sabor, aquela sensação era tão boa que não me cansava passar o dia

5.Um tipo de forno coreano.

6. Pássaro nativo da Coreia.

cheirando todas as coisas da floresta. Por gostar tanto assim da
natureza, se ficasse fora de casa até me esquecia de voltar, andando
para lá e para cá nas montanhas e nos campos. Mesmo que o sol se
pusesse e o dia escurecesse, nada temia.
Quando minhas irmãs mais novas iam catar ervas comestíveis,
subia na frente e pegava as plantas antes. Por causa disso,
experimentei todo o tipo de ervas bem nutritivas. Entre elas gostava
muito de seumbagwi7 , que fica muito gostosa com tempero de
molho de pimenta. Na hora de pôr seumbagwi na boca, é preciso
parar de respirar. Esse segundo prendendo a respiração ajuda a
tirar o sabor amargo, e então se pode sentir sua doçura, por isso esse
instante deve ser bem preciso para saborear a deliciosa seumbagwi.
Como adorava subir nas árvores, sempre escalava a grande
castanheira portuguesa de 200 anos de idade que havia no nosso
quintal. Podia ver ao longe um espaço aberto, e não queria descer
quando alcançava o topo. Muitas vezes, ficava lá em cima até tarde
da noite e minha irmã, com idade logo acima de mim, ficava
acordada e fazia um escândalo dizendo que era perigoso: "Yong
Myung! Desça, por favor, já está muito tarde! Vamos entrar e
dormir!" "Se sentir sono, posso dormir aqui", e permanecia sentado
no galho da castanheira, sem ligar para o chamado dela. Então,
minha irmã mais velha, já brava por me esperar, gritava: "Moleque,
seu macaco! Desce logo daí!" O meu signo é o macaco, deve ser por
isso mesmo que gostava tanto de subir nas árvores. Na época das
castanhas amadurecerem, pulava no meio dos galhos quebrados
chacoalhando as cascas para o cacho de castanhas cair na terra, e me
divertia muito com essa brincadeira. É uma pena que as crianças
modernas que não cresceram no interior não conheçam essa
brincadeira divertida!
Até os pássaros que voavam livres no céu eram objeto do meu
interesse. Quando de repente, encontrava um pássaro bonitinho,

7. Uma erva amarga.

olhava por todos os ângulos, curioso para saber como era o macho
e a fêmea. Naquele tempo, não havia livros que informassem as
variedades das espécies de árvores, plantas e ervas silvestres, por
isso, o único jeito de conhecê-los era observando detalhadamente.
Costumava correr atrás dos pássaros migratórios nas montanhas
para lá e para cá e muitas vezes, passava o dia sem comer nada.
Certa vez, fiquei muito curioso para descobrir como a pega botava
seus ovos, e então, subi na árvore diversas vezes ao longo do dia
para ver o ninho da pega. Assim, subindo e descendo o dia inteiro,
pude ver como botavam o ovo e me tornei amigo dos passarinhos:
"piu, piu, piu". No começo, quando a pega me via ela gritava de
medo: "kákáká", mas depois de um tempo, ela se acalmava.

Até os insetos do mato eram meus amigos. Todo ano, perto do fim
do verão, eu podia ouvir os sururami8 cantando no alto do pé de
caqui bem em frente ao meu quarto. Quando acabava o choro das
cigarras, que passavam o verão inteiro cantando "mem mem mem"
até doer os ouvidos, os sururami começavam a cantar e me sentia
muito grato porque isso era um sinal de que logo o calor
insuportável iria passar e viria um fresco outono: "sru sruru
srururu...".
Quando o sururami cantava, fitava o pé de caqui e pensava: "É, sim.
Quando se quer cantar, tem que cantar assim, alto, para que todos
na vila possam ouvir e gostar. Se você cantasse dentro de um
buraco, quem ficaria sabendo?" Mas quando conheci melhor a
cigarra e o sururami, aprendi que todos cantavam para amar, "mem
mem mem... sru sru sru..." esses sons eram sinais para chamar
seuparceiro. Sabendo disso, sempre que ouvia o barulho dos
insetos, sorria. "Tudo bem, ah, está com saudades do amor? Então
pode cantar bastante e procure um bom parceiro!" Tornando-me
amigo de toda a criação, pouco a pouco aprendi a entender mais o
coração dos outros.

8. Um tipo de cigarra.

Minha casa estava quatro quilômetros distante do Mar Amarelo.
Era tão perto, que se eu subisse num ponto um pouquinho mais alto
já podia ver o mar. No caminho que levava ao mar havia um
conjunto de poças, no meio das quais corria um riacho, e mexia
naquelas poças fedidas para pegar enguias e caranguejos. Em todos
os lugares onde ia pescar, eu sabia onde encontrar cada tipo de
peixe. A enguia, por exemplo, normalmente não gosta de ficar
deitada de barriga para baixo, por isso ela se esconde num buraco.
Ela enfia sua cabeça no buraco e não consegue colocar todo o corpo
a tempo. Então, muitas vezes o rabinho fica de fora. Se você puxar
aquele rabinho, pode estar certo da captura. A enguia normalmente
se esconde na toca do caranguejo. Quando chegava visita na minha
casa e tinham vontade de comer enguia cozida, corria os seis
quilômetros de distância e as apanhava facilmente. Nas férias de
verão, conseguia pegar mais de 40 enguias por dia.
A única coisa da qual não gostava era justamente levar o boi ao
pasto. Quando meu pai me pedia para tomar conta do boi,
amarrava o animal no campo da vila vizinha e fugia. Algum tempo
depois, ficava preocupado e me virava para olhá-lo, e ele
permanecia amarrado no mesmo lugar. Passando do meio-dia e não
aparecendo quem deveria dar comida para ele, o boi chorava:
"muu...muu...muu". Ao ouvir de longe o choro do boi, meu coração
apertava: "ah, aquele boi, ai aquele..." e eu ficava assim, com o
coração na mão. Imaginem o meu estado, tentando não dar ouvidos
ao choro faminto que me procurava? Mesmo assim, quando à
tardezinha eu chegava perto do boi, ele não me chifrava com raiva,
mas ficava muito feliz em me ver. Cada vez que eu via o boi assim,
refletia que o ser humano tem que tomar uma atitude igual a do boi,
diante de uma grande vontade. Se souber esperar o tempo certo,
sem pressa, encontrará boas coisas.
Na minha casa tinha um cachorro que eu realmente amava. Ele era
tão inteligente que quando chegava a hora de voltar da escola, ele se
afastava de casa e me esperava no caminho. Quando me via, ele


ficava muito contente, e sempre o acariciava com a minha mão
direita. Então mesmo que chegasse do meu lado esquerdo, ele dava
a volta para ficar do outro lado, roçando seu focinho em mim. E
então, fazia carinho no focinho dele com a minha mão direita e
alisava suas costas. Se não fizesse isso, ele reclamava e continuava
me rodeando. "Oh, você também sabe o que é amor! Você gosta
tanto assim do amor?"
Até os animais entendem bem o que é amor. Já viu uma galinha
abraçando os ovos para chocar? Ela fica o dia inteiro sentada
batendo as pernas, muito atenta para que ninguém chegue perto.
Mesmo sabendo que a galinha não gostava, eu sempre entrava no
galinheiro. Quando me enfiava no galinheiro, a galinha ficava
brava, me olhava muito séria e erguia o pescoço bem reto. Então, eu
também olhava sério para ela e não cedia.

Contudo, por frequentar tanto o galinheiro, por fim a galinha
começou a me ignorar. Ainda assim, para proteger o ovo, ela ficava
tensa, com as garras do pé arreganhadas.
Quem sabe ela quisesse voar para me atacar, mas por causa do ovo
a galinha não saía do lugar e apenas permanecia angustiada. Então,
para perturbar a galinha, me aproximava e mexia nas penas dela,
mas ela não se movia nem um centímetro. Mesmo perdendo todas
as penas da sua barriga, a galinha ficava sentada até chocar os
pintinhos. Como eles estão unidos solidamente pelo amor, diante da
autoridade da galinha, nem o galo ousa encostar. "Ninguém toca,
não importa quem seja, se alguém quiser tocar eu não vou
permitir!", é assim que ela possui o poder de imperatriz do mundo.
Da mesma maneira que quando a galinha abraça os ovos para
protegê-los há amor, quando a porca pare também há amor.
Observei bem de pertinho quando a porca dá à luz. A mamãe porca
faz força e sai um porquinho escorregando, novamente empurra e
outro porquinho aparece escorregando. O mesmo acontece com o
gato e o cachorro. Quando olho para aqueles filhotinhos que


nasceram no mundo e nem sequer abriram os olhos, meu sorriso sai
automaticamente e fico tão feliz! Por outro lado, assistir à morte de
animais é muito triste, me deixa muito angustiado. Um pouco
distante da nossa vila havia um matadouro. Quando um boi entra
no matadouro, o algoz bate nele com um martelo grosso. Aquele boi
enorme cai no chão, em seguida seu couro é retirado e suas pernas
são cortadas. A vida é tão insistente, que mesmo com as pernas
cortadas ele ainda se mexe naquele lugar. Quando via tal cena,
chorava até meus olhos secarem.
Sempre fui muito diferente dos outros. Percebia as coisas que os
outros não percebiam, como se tivesse um superpoder. Desde a
infância, quando falava que iria chover, era certeza que acontecia.
Se dissesse, sentado em casa: "aquele avô da vila de cima vai ficar
doente", aquilo realmente ocorria. Por isso, aos oito anos já era o
melhor para formar casais nas vilas. Quando me entregavam a foto
dos noivos já percebia tudo: "esse casamento não é bom". Se as
pessoas realizassem o casamento apesar do que eu dizia, não
demorava muito e eles se separavam. É assim que combino
casamentos até hoje, com 90 anos. Agora, já percebo toda a
personalidade da pessoa só de olhar a maneira de sentar e sorrir.
Quando me concentrava no que minha irmã mais velha estava
fazendo longe de mim, conseguia adivinhar. Concentrando
totalmente o meu pensamento, conseguia visualizar. Por isso,
minhas irmãs mais velhas gostavam de mim, mas por outro lado
tinham medo, já que sabia todos os seus segredos. Essa capacidade
pode parecer um superpoder, mas na verdade não é nada
extraordinário. As mais simples formigas, que nós consideramos
insignificantes, já sabem quando a chuva vem e se escondem, não é?
O ser humano também, originalmente, deveria saber por onde deve
caminhar. De fato não é tão difícil aprender isso.
Se olharmos bem para o ninho da pega, podemos perceber em qual
direção o vento está vindo. O pássaro, percebendo a direção do
vento, coloca a entrada do ninho na direção contrária. Depois de


juntar os gravetos que traz, para não juntar chuva, ele coloca barro
em cima e embaixo e aponta esses gravetos todos para uma direção,
como calhas para escorrer a água. Se até a pega possui tal sabedoria
para se proteger, como poderia o ser humano não tê-la?
Quando ia à feira de bois com meu pai eu dizia: "Pai, não é bom
comprar aquele boi. Um bom boi tem que ter um pescoço bem
formado e precisa ter as pernas dianteiras fortes, e a cintura e a
traseira também têm que ser fortes, mas aquele boi não tem". Se
dissesse isso, ninguém comprava o boi. Meu pai me perguntava:
"Como você sabe disso?" e respondia: "Já nasci sabendo. Aprendi na
barriga da minha mãe". É claro que estava brincando.
Quem ama o boi, enxerga bem o boi. No mundo, a maior força é o
amor, e a coisa mais assustadora é uma mente e corpo unidos. Se
você se acalma e concentra sua mente, há um lugar profundo onde a
mente é capaz de estabilizar-se. Você precisa deixar sua mente ir
àquele lugar. Quando você coloca sua mente naquele lugar e vai
dormir, então quando se levantar, estará extremamente sensível.
Aquele é o exato momento, quando você espanta todos os
pensamentos estranhos e concentra a sua percepção. Então, você
será capaz de se comunicar com todas as coisas. Se você não
acredita em mim, pode experimentar agora mesmo! Todas as
formas de vida neste mundo procuram se conectar com aqueles que
lhes dão mais amor. Portanto, se você tem algo que não ama
realmente, então sua posse ou domínio é falso, e você será forçado a
deixá-lo.


Conversar com os Insetos da Floresta Sobre a
História do Universo



Quando estou na floresta, meu coração se purifica. O som das
folhas, creck, o ruído do vento balançando o bambu, o coaxar do
sapo de dentro da poça etc. Não há nada além do som da natureza e
não surge nenhum pensamento fútil. Aqui, esvazie o seu coração e
abrace a natureza com todo o seu corpo, e então não há separação
entre a natureza e o "eu". A natureza se une a mim e nos tornamos
um só ser. Nesse instante, desaparece a divisão entre a natureza e
"eu", e me sinto misteriosamente alegre. A natureza se torna meu
"eu" e me torno a natureza.
Vivi toda a minha vida guardando as memórias dessas minhas
experiências. Ainda agora, se fecho os olhos, me torno um com a
natureza. Alguém chamou este estágio de "esquecer de si mesmo",
mas se me encontro no ponto do completo vazio e aí somente entra
a natureza, então esse é o estágio de transcender a "não existência".
Nesse estágio ouço o som que a natureza emite, a voz do pinheiro, a
voz dos insetos da mata..., e assim nos tornamos amigos. Posso
saber quais tipos de corações habitam aquela vila, mesmo sem
encontrá-los. Se passar a noite no campo de uma vila, os feixes de
cereais que crescem nas plantações me contam histórias. Se der
atenção a eles, naturalmente descubro as coisas. Dependendo se a
lavoura sente alegria ou se ela se lamenta, posso avaliar o caráter
das pessoas de lá.
Ainda que tenha passado pela prisão diversas vezes, na Coreia, nos
EUA e até na Coreia do Norte, não me senti solitário nem passei por
tantas dificuldades como os outros, porque dentro da prisão podia
ouvir o sussurro do vento e podia conversar com os insetos que
moravam comigo.


"Que tipo de conversa se pode ter com insetos?!" alguém pode
pensar, mas mesmo dentro de um pequeno grão de areia habita a lei
do mundo e até uma pequena poeira que voa pelo ar, contém toda a
harmonia da imensidão do universo. Todas as coisas que existem ao
nosso redor surgiram através da junção de forças integradas que
superam a nossa imaginação, forças que estão ligadas umas às
outras em uma íntima relação. Nenhuma das criaturas desse grande
universo surgiu fora do coração de Deus. Até o balanço da folha de
uma árvore contém a respiração do universo. Esta preciosa
capacidade de me comunicar com a voz da natureza, me foi dada
como um presente quando ainda era criança e corria pelos campos e
montanhas.
Na natureza, todos juntos em harmonia fazem um grandioso e lindo
som. Aí ninguém é melhor que o outro, e ninguém é desprezado, há

o auge da harmonia. A natureza me consola quando passo por
dificuldades e me reergue se caio em desespero. As crianças
modernas que vivem na cidade grande não têm a chance de se
aproximar da natureza, mas despertar a sensibilidade natural é
mais importante que passar conhecimento. Sem ter o coração que
pode sentir a natureza, e com a sensibilidade ressecada, como
podem mudar as crianças somente com o ensino superior? Se
apenas recolhem o conhecimento espalhado aqui e acolá, só podem
formar individualistas e produzir adoradores da matéria.
Devemos sentir a diferença da chuva da primavera, que cai
sussurrando, e da sonoridade da chuva do outono. Somente aquele
que consegue sentir felicidade no diálogo com a natureza poderá se
tornar um homem de bom caráter. O dente-de-leão da beira da
estrada é mais precioso que todo o ouro do mundo. É preciso
adquirir o coração de amor à natureza e à humanidade, pois aquele
que não ama nem a natureza nem o ser humano, não será capaz de
amar a Deus. A criação de Deus é a Sua manifestação simbólica e o
ser humano é a Sua semelhança substancial. Assim, somente aquele
que sabe amar a criação pode amar a Deus.

"Japoneses, Voltem Logo para Sua Terra"



Apesar de viver andando pelos campos e montanhas, nem tudo era
só brincadeira. Ajudava meu irmão mais velho na lavoura com
muito zelo. No interior, cada estação exige muitas tarefas. É preciso
arar as terras e semear, os cuidados com a terra para cultivo do
painço são muito difíceis. Depois de semear pelo menos três vezes,
é preciso manter a terra bem cuidada. Era extremamente difícil,
cada dia de trabalho me deixava com muita dor nas costas. Quando
plantamos a batata-doce no barro, ela fica sem sabor. Então para
colher a batata bem doce, um terço da terra deve ser misturada com
areia. Quando cultivamos o milho, o melhor adubo são fezes
humanas secas. Por isso esfarelávamos as fezes com as mãos.
Ajudando na lavoura, aprendi como fazer um bom plantio da soja,
do milho, em qual tipo de terra a soja e o feijão devem ser
plantados. Nesse sentido, sou o maior dos lavradores.
A província Pyong-An foi um dos primeiros lugares a receber a
tradição cristã, por isso nas décadas de 30 e 40 as terras para cultivo
já tinham sido bem alinhadas. Quando plantávamos as mudas de
arroz, dividíamos uma fileira em doze divisões e então duas
pessoas assumiam 6 partes cada uma na semeadura. Depois,
quando vim para a Coreia do Sul, vi uma maneira bem diferente de
se plantar arroz. Dezenas de pessoas amarravam uma corda e se
alinhavam semeando todos juntos para lá e para cá. Eu achei aquilo
tão desorganizado! Abria dois palmos de distância entre as pernas e
plantava a muda de arroz rapidamente. Trabalhando apenas no
tempo do plantio, me ajudava a pagar as mensalidades da escola.
Quando tinha 10 anos, meu pai me levou ao Geul Bam, o lugar de
estudo da vila. Uma das tarefas lá era ler uma folha do livro.
Concentrando por meia hora, decorava e recitava todo o conteúdo
para o professor, então acabava o meu estudo daquele dia. Na hora
do almoço, enquanto o velho mestre tirava um cochilo, eu saía do


Geul Bam e ia para a montanha e para o campo. Quanto mais eu
frequentava a montanha, mais eu sabia onde encontrar ervas
comestíveis, e assim conseguia mais coisas para comer, substituindo
uma refeição. Então por que almoçar e jantar? A partir daquele
tempo, passei a não almoçar mais em casa.
Frequentando o Geul Bam, aprendi o Han-ja, a caligrafia chinesa,
através da leitura de Non-ó e Maeng-já9. É por isso que tenho uma
boa caligrafia. Graças a ela, desde os meus 12 anos, no Geul Bam,
substituía o professor na hora de escrever as letras para as outras
crianças copiarem. Entretanto, preferia frequentar a escola moderna
que o Geul Bam, porque sentia que estávamos atrasados. Enquanto a
gente apenas estudava o ensinamento do passado de Confúcio e
Maeng-já, os outros estavam até criando aviões, e eu pensava: assim
não dá!

No mês de abril, meu pai já tinha pagado adiantado a mensaudade
do ano inteiro, e mesmo sabendo disso, decidi parar de ir ao Geul
Bam e tentei convenceir meu pai. Também convenci meu avô e até
um tio. Naquela época, para eu entrar no ensino fundamental em
uma escola moderna, eu precisava passar por uma prova de
transferência, e timha que estudar em um curso preparatório.
Cheguei a convencer meu primo mais novo, entrei no preparatório
Won Bong; e comecei a estudar para a prova que me permitiria
entrar numa escola moderna de ensino fundamental.

No ano seguinte, com 14 anos , fiz a prova de transferência e
consegui entrar na 3a série da escola de O-San. Embora eu estivesse
atrasado em comparação c om as outras crianças, como tinha boas

notas, pude pular para_ a 5a série. A escola ficava a oito
quilômetros da minha casa, mas não faltei sequer um dia, e
conseguia chegar a pé antes da a xila começar. Por cada morro que
eu passava, outras

9. Non-Ó é um livro sobre Confúcio; Maeng-já é um livro chinês sobre ensinamentos.

crianças estavam me esperando, e enquanto eu caminhava com
passos rápidos, meus colegas me seguiam correndo. Nosso caminho
era uma perigosa trilha, onde de vez em quando aparecia o
tigre de Pyong-an-Do.
A escola O-San foi fundada p>elo mestre Seung Hun Lee, que era
membro do movimento da independência. Por isso não havia aula
de japonês e era proibido falar a língua dentro da escola. Mas
discordava disso. Achava que somente conhecendo bem o inimigo,
poderíamos vencê-lo. Então fiz outra prova e me transferi para a 4a
série da Escola Pública de Jong Ju. Nas escolas públicas só se
ensinava enx. japonês, e na noite antes do primeiro dia de aula eu só
tinha decorado o alfabeto japonês

Katakana e o Hiragana. Como eu não entendia nada de japonês,
decorei em quinze dias todos os livros da primeira a quarta séries,
até começar a entender.
Agindo assim, no fim do curso eu já falava japonês fluentemente.
Na formatura, fui voluntário para ser o orador, diante de todas as
autoridades do município Jong Ju. Não o fiz para discursar em
agradecimento e congratulações, mas eu fiz um discurso crítico,
falando sobre os comportamentos de cada professor, sobre o
sistema problemático da escola e qual tipo de atitude o líder
daquele tempo deveria ter, etc. Todo esse discurso crítico foi dito
em japonês fluente.
"Japoneses, voltem logo para o Japão! Esta terra é uma herança que
nossos antepassados nos deixaram para sempre!", esse foi o tipo de
palavras ditas por mim diante de todas as autoridades, como o
delegado de polícia, o líder regional e o líder da vila, entre outros.
Proferi as palavras que ninguém tinha coragem de dizer, herdando

o espírito do meu tio-avô Yun Guk.
Imagine o espanto das pessoas. Quando eu olhava para seus rostos
de cima, todos estavam pálidos. Contudo, o problema apareceu
depois. A partir daquele dia, a polícia japonesa passou a me vigiar

como um elemento perigoso, e me perturbava muito. Depois,
quando quis estudar no Japão, o delegado não quis carimbar minha
autorização e complicou as coisas para mim. Diziam que eu era um
jovem perigoso que não podia ser mandado para o Japão e negavam
minha entrada. Finalmente, após muitas discussões com o delegado
e de tê-lo colocado contra a parede, consegui chegar ao Japão.

CAPÍTULO 2

O CORAÇÃO É UM RIO CUJAS ÁGUAS SÃO
LÁGRIMAS

Uma Encruzilhada entre o Temor e a Euforia


Quando comecei a entender sobre a vida, fiquei muito pensativo
sobre "o que vou ser quando crescer?" Como adorava estudar
profundamente a natureza, cogitei sobre me tornar um cientista,
mas vendo a situação miserável das pessoas que passavam fome
por terem sido saqueadas pelo governo japonês, mudei de ideia.
Sentia que, ainda que me tornasse um grande cientista e recebesse o
prêmio Nobel, não seria suficiente para secar as lágrimas daquelas
pessoas famintas.


Por isso quis ser aquele que pudesse enxugar as lágrimas das
pessoas e tirar toda a tristeza de seus corações. Deitado na floresta,
ouvindo a canção dos passarinhos, eu pensava: "Vou fazer este
mundo se tornar tão maravilhoso quanto essa melodia. E vou ser
aquele que vai espalhar o aroma de uma linda flor". Embora não
soubesse bem em qual profissão poderia fazer isso, em meu
coração, me determinei que traria a felicidade aos outros.
Como meu tio-avô Yun Guk era pastor, quando eu estava com cerca
de 10 anos de idade, nossa família se batizou no cristianismo e
começou a praticar uma fervorosa vida de fé. A partir de então,
passei a frequentar a igreja sem falta. Se me atrasasse, ainda que
pouco, não conseguia erguer o rosto de tanta vergonha. Por ser tão
jovem, não entendia muita coisa, mas a presença de Deus já
ocupava um grande espaço dentro do meu coração. E refletir
seriamente sobre a vida e a morte, e sobre o sofrimento e a tristeza
da vida humana, tomava cada vez mais o meu pensamento.
Com 12 anos de idade, presenciei a transferência dos restos mortais
de meu bisavô para outro túmulo. Na verdade, apenas os adultos
da família podiam participar desse rito, mas como eu queria saber
como a pessoa fica depois de morta, insisti para poder participar.
Enquanto acompanhava todo o processo de retirada do corpo do
túmulo, do nada, levei um susto e fiquei com medo. Quando os
adultos, com toda a cerimônia, abriram a cova, o que vi foi somente
ossos secos, e não a figura do meu bisavô que conheci a vida inteira
através dos meus pais. O que vi não era nada mais do que um
punhado de ossos brancos, com uma aparência horrível.
Depois de ver os ossos do meu bisavô, fiquei em choque por muito
tempo. Não saíam da minha cabeça pensamentos como: "Quando
meu bisavô era vivo ele certamente era igual à gente... então se os
meus pais morrerem, também restarão somente ossos brancos como
os do meu bisavô, e quando eu morrer também vou ficar assim?
Todo o ser humano tem que morrer? Depois de morrer não vou


poder pensar em mais nada, só vou ficar deitado? E então para onde

vai o pensamento?". Tais perguntas não me deixavam em paz.
Nessa época estava acontecendo coisas estranhas na família. Há
uma coisa da qual eu ainda me lembro claramente. Um novelo
retirado da roca tinha sido guardado em um barril para fazer
umyejang, mas numa noite, o novelo branco apareceu em cima da
velha castanheira portuguesa da vila de cima. Esse novelo seria
utilizado para confeccionar um tecido de casamento (na minha terra
natal isso é chamado ye jang). Porém lá estava ele, espalhado no
meio da noite pela castanheira portuguesa tão distante da minha
casa, sem ninguém saber quem foi. Como não era humanamente
possível fazer aquilo, todos na vila ficaram com medo.
Quando tinha aproximadamente 16 anos, minha família passou por
uma tragédia, na qual cinco dos mais novos dos meus 12 irmãos
morreram no mesmo ano. O coração dos meus pais, diante da perda
de cinco filhos, ficou em uma tristeza inexprimível. Mas tal tragédia
não se limitou à minha casa. Ela atravessou nossos muros e atingiu
meus parentes. Um boi que estava saudável de repente morreu e,
em seguida, um cavalo também, e não bastasse isso, sete porcos
morreram numa única noite.
O sofrimento da família se expandiu para o povo e tornou-se o
sofrimento do mundo. Olhando as atrocidades dos japoneses
piorarem cada vez mais, e ao mesmo tempo a miséria do nosso
povo aumentar, meu conflito também crescia. As pessoas, por não
terem o que comer, cozinhavam até mato e cascas de árvores para se
alimentarem. A guerra no mundo inteiro não tinha fim. Nessa
época, um dia li uma notícia no jornal de que um estudante de
ginásio da minha idade havia se suicidado. "Por que aquele menino
morreu? Sendo tão jovem, o que aconteceu para ele se sentir tão
sofrido?" Meu coração desmoronou como se aquela tristeza fosse
minha. Então deixei o jornal aberto e comecei a chorar


desesperadamente, soluçando por três dias e três noites. Eu não
podia controlar as lágrimas que caíam sem parar.
Eu não podia entender o porquê de tais coisas estranhas
acontecerem uma após a outra no mundo. Por que estão acontecendo
coisas tão tristes com boas pessoas? Depois que vi aqueles
ossos na mudança de túmulo do meu bisavô e as coisas
inexplicáveis que aconteceram na minha casa, passei a questionar
sobre a vida e a morte e me dedicar mais à religião. Entretanto,
somente ouvir os sermões da igreja não era suficiente para
responder as minhas perguntas sobre a vida e a morte. Como o meu
coração se angustiava muito com isso, naturalmente me dedicava
intensamente à oração.
"Quem sou eu? De onde vim? Qual o propósito da vida? O que
acontece depois da morte? Será que realmente existe o mundo do
espírito? Deus realmente existe? Deus é mesmo Todo-Poderoso? Se
Ele é Onipotente, então por que Ele está quieto assistindo
passivamente a essa tristeza do mundo? Se Deus criou este mundo,

o sofrimento dos homens também foi criado por Ele? Quando vai
acabar a miséria do nosso povo, que perdeu a nação para os
japoneses? Que significado há no sofrimento, que a nossa gente está
passando? Por que os seres humanos odeiam uns ao outros, lutam e
fazem guerra?" Todas essas e outras sérias questões fundamentais
enchiam o meu coração. Como não havia ninguém que respondesse
essas questões, não tinha alternativa senão orar. Durante a oração,
contava para Deus todas as dúvidas que me afligiam. Então o
sofrimento e a tristeza desapareciam e meu coração ficava em paz.
Minhas orações eram cada vez mais longas, e aumentavam as noites
sem dormir, orando. Assim, um dia tive uma preciosa experiência,
na qual Deus respondeu as minhas orações. Aquele dia é a
lembrança mais preciosa da minha vida, um dia que nem posso
sonhar em esquecer.
Tinha 16 anos1, era véspera de Páscoa. Subi a montanha Myodu e
tinha passado a noite inteira conversando com Deus e chorando. Eu

o questionei por que Ele tinha criado um mundo cheio de tristeza e
desespero. "Deus Todo-Poderoso, por que deixa esse mundo em
tanta dor? O que devo fazer por essa nação tão miserável?",
perguntava repetidamente, com os olhos cheios de lágrimas. Passei
a noite inteira acordado em oração, e no alvorecer de Páscoa, Jesus
apareceu para mim. Jesus apareceu de repente, como uma rajada de
vento e me disse: "Deus está muito triste por causa da humanidade
sofrida. Então receba na Terra a missão especial da obra do Céu".
Naquele dia, vi nitidamente o triste rosto de Jesus e claramente ouvi
sua voz. No momento da aparição de Jesus, meu corpo começou a
tremer como álamo. Naquela hora, parecia que ia morrer, dominado
pelo medo e ao mesmo tempo por uma explosiva euforia. Jesus me
explicou claramente o que eu devia fazer daí para a frente. Era uma
grandiosa mensagem de que, para alegrar Deus, era preciso salvar a
humanidade sofrida. "Não posso. Como posso fazer isso? Por que
está me dando uma tarefa tão grande como essa?" Realmente estava
muito receoso. Queria fugir de qualquer jeito e chorava sem parar,
segurando as barras das vestes de Jesus.
1.16 anos contados à maneira coreana, que corresponde a 15 anos na idade
ocidental, ou seja, esses acontecimentos são de 1935.

Não Importa a Dor no Coração, Ame
Completamente



Eu fiquei extremamente confuso. Não sabia o que fazer com esse
grande segredo. Não podia contar para os meus pais, mas também
não podia deixá-lo trancado no fundo do meu coração, e estava
angustiado. A única coisa clara era o fato de que eu havia recebido
do Céu uma missão especial. Era uma responsabilidade tão imensa
e importante para assumir sozinho, que me senti inseguro e temi
não ser capaz de cumpri-la. Para acalmar meu coração confuso, me
dediquei ainda mais à oração, mas foi em vão. Por mais que
tentasse, era impossível esquecer por um segundo a lembrança do
momento em que me encontrei com Jesus. Incapaz de controlar as
lágrimas que meu coração derramava, expressei esse receio no
poema:

Coroa de Glória

Quando duvido das pessoas, sinto dor. Quando as julgo, é insuportável.
Quando odeio as pessoas, na minha existência não encontro vai


Mas se acredito, sou enganado. Mesmo quando amo, sou traído. Esta noite,
sofrendo e aflito com as mãos na cabeça: estou equivocado?

Sim, estou equivocado.
Ainda que sejamos enganados, continua acreditando. Quando formos
traídos, devemos perdoar. Ama completamente, até aqueles que te odeiam.


Limpa tuas lágrimas e aceita sorrindo Aqueles que não conhecem nada
além de enganos E esses que traem sem se lamentar.



Oh, Senhor, a dor de amar. Veja meu sofrimento! Meu peito fervente cobre

com sua mão! Com tal agonia bate meu coração.

Quando amei, porém, aqueles que me traíram, Consegui a vitória. Se
fizeres o mesmo, Dar-te-ei a "Coroa de Glória".

Depois desse encontro com Jesus, minha vida mudou completamente.
Como o rosto triste de Jesus ficou gravado no fundo do
meu peito, não podia ter qualquer outro pensamento ou outro
coração. A partir daquele dia, fui atado às palavras de Deus. Às
vezes, eu ficava tão sofrido que até perdia o fôlego por causa da
infinita escuridão que me envolvia, e outras vezes meu coração se
enchia de tanta alegria que era como se olhasse diretamente o sol
nascer. Com os dias assim se alternando, eu entrava cada vez mais
profundamente no mundo da oração. Abraçando em meu coração a
nova verdade que Jesus me explicara pessoalmente, me prendendo
completamente a Deus, comecei a viver uma vida totalmente
diferente daquela que levara até então. Tinha tantas coisas para
pensar, que me transformava cada vez mais em um menino calado.
Aquele que percorre o caminho de Deus sempre deve mirar o
destino final, com toda sua devoção e alma. Tal caminho exige
muita persistência. Como eu nasci com tanta teimosia, sou uma
pessoa totalmente persistente por natureza. Com esse tipo de
índole, persistindo e superando todas as adversidades, segui a
direção que me foi dada. Cada vez que meu coração queria vacilar,

o que me segurou fortemente foi o fato de ter "recebido a mensagem
diretamente de Deus". Entretanto, não foi fácil escolher essa trilha,
dedicando a minha juventude, uma época que só passa uma vez na
vida. Às vezes, tinha vontade de me desviar desse caminho.
Enquanto uma pessoa sábia, mesmo que encontre muitas
dificuldades, trilha em silêncio segurando-se à esperança no futuro,

o tolo abandona o futuro atendo-se à felicidade momentânea.
Embora até tivesse pensamentos tolos quando jovem, optei pelo
caminho dos sábios. Para realizar a Vontade de Deus, ofertei, de
todo meu coração, a minha vida insubstituível. Mesmo que quisesse
fugir, eu não tinha outra opção. Havia um único caminho a
escolher.
Então, por que Deus me chamou? Com a aproximação dos meus 90
anos, todos os dias ainda penso sobre o motivo de Deus ter me
chamado. Entre tantas pessoas no mundo, por que Ele escolheu
justo a mim? Com certeza não foi porque era bonito, ou só porque
tinha um bom caráter, ou simplesmente pela minha determinação.
Eu era muito teimoso, um menino insensato. Mas o que podia ser
destacado de bom em mim, era a busca sincera do meu coração e
meu amor sincero por Deus. Em qualquer hora e lugar, a coisa mais
importante é o amor. Deus estava procurando alguém que vivesse
com um coração de muito amor e que, apesar de qualquer
sofrimento, pudesse romper essa dor com a espada do amor, e então
me chamou. Eu era um menino caipira, que não tinha nada para
exibir, e ainda hoje sou considerado um insensato, que tolamente
entregou sua vida ao amor de Deus.
Como sozinho não podia entender nada, perguntava todas as coisas
para Deus: "Deus, o senhor realmente existe?", e perguntando assim
percebi que Ele realmente existia. "Deus, o senhor também tem
desejos?", com essa pergunta eu compreendi que Ele também tinha
desejos. "Deus, o senhor precisa mesmo de mim?" e foi perguntando
assim que compreendi que Ele realmente precisava de mim.
No dia em que a minha oração e devoção chegavam até o Céu, Jesus
sempre aparecia e transmitia uma mensagem especial. Quando eu
realmente desejava saber, Jesus sempre dava a resposta da verdade
com um semblante suave. Suas palavras penetraram no fundo do
meu coração como uma flecha afiada no alvo. Aquela não era uma
simples palavra, mas uma revelação que abria um novo horizonte,
uma palavra que me ensinou a verdade sobre a criação do universo.

Mesmo que Jesus falasse como o sopro do vento, segurava aquela
palavra no meu coração, com uma sincera oração e um ardente
coração que parecia arrancar as raízes das árvores. Pouco a pouco
percebia a origem do universo e o princípio do mundo.
Durante as férias de verão daquele ano, parti pela nação pelo
caminho dos peregrinos, sem nenhum centavo, pedindo até comida
e, caso tivesse sorte, pegando carona com os caminhoneiros que
passavam. Assim, consegui rodar por todas as terras da Coreia.
Todo lugar da minha pátria estava cheio de lágrimas. Os suspiros
do povo faminto eram intermináveis e a sua terrível angústia
transformou-se em lágrimas e correu como um rio.
"Preciso acabar o mais rápido possível com essa história de miséria.
Não posso mais deixar meu povo ficar nessa tristeza e nesse
desespero. Tenho que ir ao Japão e até aos EUA de qualquer jeito,
para encontrar uma maneira de mostrar ao mundo a grandeza do
povo coreano."
Foi através da peregrinação pelo país, que descobri que tinha mais
essa tarefa para realizar, e me determinei firmemente a cumpri-la no
futuro.
"Com certeza vou salvar o meu povo e vou construir a paz de Deus
nesta Terra." Assim, apertando o coração com as duas mãos até ele
ficar mais forte, consegui enxergar claramente o caminho que
deveria seguir na minha vida.


Se a Espada Não for Afiada, Ela Fica Cega



Depois de terminar a escola pública, me mudei para Seul e me
matriculei na escola técnica Gyong Sóng. Passei a morar no bairro
Huk Sók Tong, vivendo por conta própria. O inverno de Seul era
muito rigoroso, era comum a temperatura cair para 20 graus
negativos. Então geralmente o rio Han congelava. A casa que
aluguei ficava no caminho do monte. Havia um poço muito fundo,
tanto que a corda para amarrar o balde precisava 10 bal2 . Com
frequência a corda se rompia, então eu remendava com arame de
ferro. Quando tirava a água do poço, a mão grudava na corda por
causa do frio e bafejava nas mãos para aquecê-las, para então, poder
tirar a água.
Com a queda de temperatura, utilizei muito a minha habilidade
manual de fazer tricô. Tricotava suéteres, meias grossas, gorros e até
luvas, tudo com as minhas próprias mãos. Fiz um gorro tão
bonitinho que quando saí na rua com ele, as pessoas até me
confundiram com uma mulher.
Mesmo no auge do inverno, nunca aqueci meu quarto. Além de não
ter condições financeiras para aquecê-lo, achava que estava numa
situação muito boa comparada a dos sem-teto que não tinham onde
dormir. Um dia, como passava muito frio, usei a lâmpada como
aquecedor segurando-a debaixo do cobertor. Dormi e me queimei
com o seu calor a ponto de arrancar a minha pele. Ainda hoje, se
alguém diz "Seul", a primeira coisa que vem à minha cabeça é

aquele frio.
Nas refeições, nunca comia mais de um acompanhamento. Sempre


ficava satisfeito com apenas uma guarnição em cada refeição. Como

2. Medida coreana.

estava acostumado a me virar bem sozinho, não precisava de muita
variedade. Por causa desse hábito adquirido quando vivia por conta
própria, posso comer uma tigela de arroz somente com um
acompanhamento bem salgado, sem a necessidade de outros. Ainda
agora, não me sinto bem quando vejo na mesa pratos demais. No
tempo que frequentava a escola em Seul, também não almoçava.
Por causa do meu costume da infância, quando passava muito
tempo nas montanhas, podia viver bem somente com duas refeições
por dia, sem sentir fome. Mantive esse estilo de vida até os meus 30
anos de idade. Assim, viver em Seul me fez sentir na pele as
dificuldades de sobrevivência.

No ano de 1980, visitei o bairro Huk Sók Tong e fiquei surpreso em
ver que aquela pensão ainda existia do mesmo jeito. Aquele
quartinho onde eu ficava e o quintal da casa, com as roupas
penduradas no varal, continuavam os mesmos há tantas décadas.
Só desapareceu o poço de onde tirava água fria, soprando as minhas
mãos, e senti muitas saudades.

Naquele tempo, meu lema de vida era "antes de querer dominar o
universo, aperfeiçoe a si mesmo". Somente disciplinando o meu
corpo, teria força para salvar a nação e o mundo. Além de controlar
meu apetite, nenhuma sensação ou desejo me abalavam, de forma
que eu podia controlar meu corpo e meu coração de acordo com a
minha vontade. Eu me disciplinei com muita oração, meditação e
exercício físico. Sendo assim, mesmo fazendo apenas uma refeição,
comia dizendo: "Oi comida, por favor, seja como um adubo para o
meu trabalho". E com esse mesmo coração eu praticava boxe, jogava
futebol e praticava artes marciais para autodefesa. Graças àquela
época, ainda tenho muita flexibilidade, apesar de o meu corpo estar
bem mais gordo que na minha juventude.


Quando frequentava a escola Gyong Sóng, assumia sozinho toda a
limpeza da minha sala de aula. Não era como um castigo, mas sim
como voluntário. Queria amar a escola mais que qualquer outra
pessoa. Esforçava-me para terminar sozinho e não ficava contente
quando alguém queria me ajudar. Às vezes, quando outros tinham
limpado, fazia de novo com as minhas próprias mãos. Então os
meus amigos me deixavam assumir sozinho a limpeza da escola:
"Faz sozinho então".
Eu era um aluno sempre calado. Não ficava batendo papo como os
meus amigos, e as vezes, passava o dia inteiro sem dizer uma
palavra. Embora não batesse em ninguém, meus colegas me temiam
e me respeitavam. Se chegasse quando eles estavam na fila para
usar o banheiro, eles me colocavam na frente, e quando eles tinham
algum conflito, primeiro me procuravam para pedir conselhos. Esse
tipo de coisa era frequente.

Alguns dos professores tinham deixado a escola porque não
podiam responder às minhas perguntas. Quando aprendia uma
fórmula nova na aula de matemática ou de física, perguntava insistentemente:
"Quem criou essa fórmula? Por favor, explique
claramente desde o início para que possa entender melhor". Assim,
levantava as questões e perguntava insistindo tanto, que os
professores erguiam os braços e as pernas e se rendiam. Não podia
aceitar qualquer teoria no mundo sem checar detalhadamente e
provar. "Aquela fórmula maravilhosa! Por que não pensei nela
primeiro?", pensava assim e ficava chateado. Aquela teimosia de
chorar a noite inteira na infância se revelou também nos estudos.
Até a hora de estudar era para mim como orar, me dedicava
completamente, com total concentração.
Todas as coisas exigem jóng sóng3, não apenas por alguns dias, mas
continuamente, investindo sempre com muita dedicação. A espada
que foi usada uma vez, se não for afiada, certamente ficará cega.

3. Sincera devoção.

Jóng sóng é a mesma coisa, há que praticar constantemente, com
um coração de todo dia amolar uma espada bem afiada. Se você
investe sua dedicação em qualquer coisa, sem perceber você entrará
em um novo estágio misterioso. Se você colocar jóng sóng quando
segurar um pincel, e se concentrar: "Nessa minha mão um famoso
pintor chegou e está me ajudando". Então nascerá uma pintura
maravilhosa que surpreenderá o mundo.
Dediquei-me inteiramente à técnica de poder falar mais rápido e
claro que os outros. Fechado num quartinho, treinei-me para falar
rápido, em voz alta, "ka-kya-kó-kyó-kal-nal-dal..."

(alfabeto coreano). E como uma rajada de vento, treinei para colocar
num segundo todas as palavras que queria dizer. Desse jeito
consegui falar tão rápido que, enquanto os outros diziam uma
palavra, conseguia dizer dez. Por isso, embora tenha uma idade
bem avançada, ainda falo rápido. Alguns diziam que por eu falar
rápido demais eles tinham dificuldade em entender, mas
simplesmente não consigo falar devagar porque tenho muita pressa.
Com um coração cheio de coisas para dizer, como posso falar
devagar?
Nesse aspecto, puxei completamente ao meu avô, que gostava de
contar histórias. Meu avô, diante de um punhado de pessoas na sala
de estar, contava histórias durante horas e horas, sem ver o tempo
passar. Eu também sou assim. Se fico com pessoas com quem tenho
um diálogo de coração, não percebo a noite correr, a madrugada
chegar, não vejo o tempo passar. Não conseguia parar porque as
palavras guardadas no meu coração fluíam naturalmente. Nem
tinha vontade de comer e adorava falar. As pessoas que ouviam as
minhas palavras várias vezes, sentiam tanta dificuldade que suas
testas até suavam. Contudo, como continuava falando, chegando a
pingar de suor, elas não tinham coragem de se despedir, e
passavam a noite inteira acordadas comigo.


A Chave que Abre a Porta para um Grande
Segredo



Do mesmo jeito que eu subia todas as montanhas da minha terra
natal, em Seul também não havia lugar onde não tivesse ido.
Naquela época, o bonde elétrico passava pelo centro da capital.
Custava somente 5 jón4, mas para não gastar caminhava até o
centro. Nos dias calorentos do verão, andava pingando de suor.
Nos dias frios do inverno, andava rápido, quase correndo e
enfrentando o vento cortante. Meus passos eram tão rápidos que,
de Huk Sók Tong passando pelo rio Han até o shopping Hwa Shin
na rua Jong Lo, levava 45 minutos. Uma pessoa normal levaria uma
hora e meia. Percorria a mesma distância na metade do tempo.
Então imagine o quão rápido eu andava. O dinheiro que
economizava com a passagem de bonde distribuía para as pessoas
que precisavam mais do que eu. Era tão pouco que até sentia
vergonha de mostrar, mas no meu coração a minha vontade era de
doar milhões e dava, desejando que aquela pouca quantia de
dinheiro se transformasse em uma pequena semente de fortuna
para eles.
Em abril, sem falta, minha família mandava as mensalidades da
escola. Mas como não conseguia ignorar as pessoas ao meu redor
que passavam por dificuldades, todo aquele dinheiro acabava antes
de maio começar. Uma vez, no caminho para a escola, encontrei
uma pessoa doente que parecia à beira da morte. Senti tanta pena
dela que não consegui seguir em frente. Então a coloquei nas costas
e a levei até o hospital, que ficava a dois quilômetros de distância.
Naquele momento, carregava o dinheiro para pagar a mensalidade
da escola. Então tirei tudo o que tinha no bolso e paguei as despesas

4. Moeda coreana da época.

do hospital. Não sobrou nem um tostão. Como não podia pagar a
mensalidade e a escola me cobrava sem parar, meus amigos
juntaram o dinheiro e me deram. Em toda a minha vida, nunca

esqueci aqueles amigos.
Dar ou receber a ajuda de alguém, também é uma coincidência


planejada por Deus. Naquele tempo não podia entender bem, mas
quando olho para trás: "Ah, foi por isso que Deus me mandou
àquele lugar", percebo. De repente aparecia alguém pedindo a
minha ajuda e procurava servir de todo o meu coração, pensando:
"Deus mandou essa pessoa para que eu possa ajudá-la". Quando
Deus manda ajudar com dez, você não pode ajudar somente com
cinco. Se Deus manda dar dez, o que é certo, você pode dar até cem.

Quando você ajuda alguém, tem que dar tudo, sem sobrar nada.
Chegando a Seul, experimentei pela primeira vez o baram tók, o

bolinho de vento. A cor e a forma eram tão lindas que coloquei na
boca, falando: "Oh, como pode haver um bolinho tão lindo!" Mas
dentro dele só tinha vento. Então percebi: "Ah, Seul é igual a esse
bolinho de vento". Entendi porque surgiu a expressão: Seulkacchen
ih5. Seul parece um mundo de ricos com moradores importantes,
mas na realidade, lá há muitas pessoas pobres. Debaixo da ponte do
rio Han havia muitos mendigos. Visitava seus barracos sob a ponte,
ajudava a cortar seus cabelos e dividia meu coração com eles. As
pessoas carentes têm muitas lágrimas, carregam muita angústia
dentro do seu coração. Por isso, mesmo que só dissesse uma
palavrinha de conforto, eles começavam a chorar em voz alta. Com
suas mãos tão sujas, que se esfregadas, delas sairia uma crosta
branca, eles me davam a comida que tinham ganhado. E naquele
momento, sem sentir nojo daquela comida, comia com eles

alegremente.
Em Seul, eu também ia à igreja com todo o fervor. Principalmente


na Igreja Presbiteriana Myung Soo De, que ficava em Huk Sók

5. Pessoa espertinha de Seul.

Tong, e na Igreja Só Bing Go, que ficava na outra margem do rio
Han. No inverno frio, quando atravessava o rio para chegar a Só
Bing Go, dava para ouvir o barulho do gelo rachando, "pom, di di
di". Servia a igreja como professor da escola dominical. Minhas
aulas eram tão interessantes que todas as crianças adoravam. Agora
que estou ficando velho, perdi a habilidade de contar piadas, mas
naquela época contava piadas muito bem. Por isso as crianças se
aproximavam de mim e gostavam muito de me ouvir. Quando eu
chorava, as crianças gritavam em prantos, e quando eu ria "rá, rá,
rá", as crianças também riam, "rá, rá, rá" e sempre me seguiam. Era
muito popular entre elas.

Atrás de Myung Soo De, havia uma montanha chamada DalMa.
Sempre subia essa montanha e orava a noite inteira nas rochas.
Independente do frio ou do calor, me dedicava à oração todos os
dias sem falta. Quando começava a orar, derramava tantas lágrimas
que o nariz escorria e até soluçava. Por horas a fio e com muita
dedicação, orava a respeito da Palavra que tinha recebido de Deus.
A Palavra é um código que para ser decifrado exige mais dedicação
durante a oração. Na verdade, agora pensando naquele tempo,
Deus já havia me concedido amavelmente a chave que podia abrir a
porta do Seu segredo. Porém, minhas orações não eram suficientes,
e por isso ainda não podia abrir aquela porta. Nesse estado, mesmo
que comesse, não distinguia o que estava comendo, e mesmo que
fechasse os olhos à noite, não conseguia dormir.

Meus colegas de pensão não sabiam que subia nas montanhas para
orar a noite inteira, mas mesmo assim eles sentiam algo diferente
em mim, que não havia nas outras pessoas, e por isso tomavam
cuidado ao lidar comigo. Mas no dia a dia, contava piadas e me
aproximava deles, vivendo em harmonia. Conseguia abrir meu
coração para qualquer pessoa. Quando aparecia uma avó, me
tornava amigo dela, e quando aparecia uma criança, brincava com


ela. Se você trata todas as pessoas com um coração de amor, tudo
fica mais fácil.
A dona da pensão onde morava em Huk Sók Tong chamava-se Sra.
Ki Wan Lee. Mantive uma amizade com ela por 50 anos, até sua
morte, com mais de 80 anos de idade. Ela estava sempre ocupada
tomando conta da pensão, mas mesmo assim me tratava com todo o
carinho. Ela dizia que se sentia bem me servindo, por isso
procurava me dar mais acompanhamentos nas refeições. Não sei
porque ela me tratou tão bem, apesar de eu ser tão calado e não ser
tão interessante. Até quando estive preso em So De Moon, ela
cuidou de mim, levando coisas para mim na prisão. Ainda agora,
quando penso na senhora Ki "Wan Lee, meu coração se aquece.
Perto da pensão morava a Sra. Song, que tinha uma pequena
mercearia. Ela também era uma das minhas benfeitoras. Ela sempre
dizia que quando alguém sai da sua terra natal geralmente passa
fome. Então, ela me dava o que sobrava na mercearia. Mesmo que a
situação dela mal desse para sobreviver com as vendas, ela sempre
cuidava de mim com muito carinho.
Houve um episódio quando eu participava do culto dominical da
praia do rio Han. Era a hora do almoço e cada um foi almoçar com
sua turma. Como não almoçava, costumava sentar um pouco
distante, em cima de um monte de pedras na praia, para não me
sentir deslocado. Naquele momento, a Sra. Song me trouxe dois
pedaços de pão e dois picolés. No total, o valor seria só quatro jon.
Mesmo assim, nunca poderei esquecer aquele coração.
Nunca esqueço um favor que recebi de alguém, mesmo que seja
pequeno. Por isso, com essa minha idade de 90 anos, ainda me
lembro de tudo, quando, o que, quem e como alguém fez algo para
mim. Nunca esqueço aquelas pessoas que, com todo o coração, me
fizeram um grande favor. Se você recebeu um favor, com certeza
tem que retribuir com muito mais. Ainda que você não encontre seu
benfeitor pessoalmente, a coisa mais importante é o seu coração se
lembrar dele. Por isso, mesmo que nunca mais encontremos aquela


pessoa, precisamos viver com um sincero coração de retribuir nossa
gratidão para os outros.

Uma Bola de Fogo Ardente



Terminando a escola Gyong Sóng em 1941, fui ao Japão estudar. Fui
com o pensamento de que precisava entender bem o Japão. Durante
a viagem de trem para Pusan, derramei muitas lágrimas, cobrindo o
rosto com o casaco. Meu rosto inchou todo com as lágrimas
incontroláveis e meu nariz escorrendo. Sentia-me tão miserável de
deixar meu país órfão sob a colonização. Depois de tanto pranto,
quando olhei pela janela, havia muito mais choro que o meu. Vi
com os olhos bem abertos lágrimas caírem das montanhas e das
árvores, de toda a criação. E prometi àquela terra em prantos:
"Pátria minha, me espere sem choro. Voltarei abraçando a sua
libertação, pode ter certeza".
Às duas horas da manhã, em primeiro de abril, tomei o navio
partindo do porto de Pusan. Mesmo que o vento da noite estivesse
forte, não saí do convés e passei a noite inteira acordado, olhando
Pusan sumir das minhas vistas. Chegando a Tóquio, entrei no curso
de Engenharia da Escola Politécnica da Universidade Waseda.
Acreditava que sem conhecer a ciência moderna, não se poderia
estabelecer uma teologia inovadora, por isso escolhi o curso de
Eletrônica.
O mundo invisível da matemática está muito ligado à religião.
Quem quiser realizar grandes obras precisa ter habilidade com os


números. Deve ser por causa da minha cabeça grande que eu
entendia muito bem os cálculos. Enquanto os outros achavam muito
difícil, eu adorava a Matemática. Minha cabeça era tão grande que
ficava difícil achar o tamanho certo de boné, e tive que ir
pessoalmente à fabrica encomendar duas vezes. Talvez fosse graças
a isso que, se me focasse em alguma coisa, aquilo que uma pessoa
normal levaria 10 anos, eu conseguia fazer em menos de três.
Assim como na Coreia, durante meus estudos no Japão, despejava
várias perguntas em sequência. Se começasse a perguntar,
continuava até o rosto dos professores ficar vermelho. Quando
perguntei: "O que o senhor acha disso?", houve um professor que
nem me olhou e até me ignorou. Mas quando eu fico em dúvida,
não posso deixar de solucionar até chegar à raiz. Não era para
colocar o professor contra a parede, mas achava que, se quisesse
estudar, teria que me aprofundar.
Na escrivaninha da pensão, sempre estavam abertas as Bíblias em
inglês, japonês e coreano. Li a Bíblia repetidamente nas três línguas.
Cada vez que lia, sublinhava e fazia tantas anotações que as Bíblias
ficaram pretas de tanta tinta.
Assim que entrei na faculdade, participei da recepção aos calouros
do grupo de estudantes coreanos. Mostrando um ardente
patriotismo, cantei com muita força as canções da minha terra.
Apesar da presença da polícia japonesa, cantei corajosamente.
Naquele ano, um aluno chamado Dók Moon Óm, estudante de
Engenharia Civil, se apaixonou por aquelas canções e se tornou meu
amigo para a vida inteira.

Em Tóquio havia uma organização clandestina formada por
estudantes que apoiavam o movimento da independência. Isso já
era de se esperar, tendo em vista que a pátria estava gemendo sob a
ocupação japonesa. Quanto pior a guerra De-Dong-A6, maior
também era a tirania dos japoneses. Enquanto o governo japonês

6.A grande guerra da Ásia Leste.

arrastava inocentes estudantes coreanos para o campo de batalha
em nome de Hak Do Byong7, o movimento clandestino da
independência também se fortalecia. Chegamos até a discutir a
questão de o que fazer com o imperador japonês Hi-rohito. Na
organização, eu ocupava a posição de do-gam, uma função secreta
de ajudar o governo temporário do mestre Kim Gu, que se
encontrava no exílio. Nesse cargo, tive que arriscar minha vida, mas
não tinha medo de morrer para estabelecer a justiça.
À direita da Universidade Waseda ficava a delegacia. A polícia
japonesa, percebendo a minha atividade, passou a me vigiar a todo
vapor. Durante as férias, quando chegou a hora de partir para
minha terra natal, a polícia já sabia, e mandou oficiais à paisana
para me vigiar no porto e na estação de trem. Frequentemente a
polícia japonesa me pegava, me torturava e me punha na prisão.
Mesmo recebendo severa tortura, não dava a informação que eles
queriam, pelo contrário, ficava mais persistente. Às vezes até
enfrentava os policiais que me seguiam, brigando com as estacas
que pegava na beira da ponte Yosukawa. Naquela época, eu era
uma bola de fogo ardente.

O Mestre do Sofrimento que se Tornou Amigo dos
Trabalhadores


Tal qual em Seul, em Tóquio andei a pé por todo canto. Não há
nenhum lugar que não tenha ido. Mesmo quando meus amigos iam
a turismo para um lugar bonito como Nikko, percorria todo o centro

7.Soldado estudantil.


de Tóquio a pé, sozinho. Embora pareça bom, o centro de Tóquio
estava cheio de miseráveis. Eu distribuía todo o dinheiro que a
minha família mandava para as pessoas carentes.
Naquele tempo, todos os estrangeiros coreanos passavam fome,
tendo que se virar sozinhos sem receber ajuda da família. Quando
recebia o vale refeição para um mês, levava tudo e distribuía para
esses estudantes: "Comam à vontade", e gastava tudo. Não me
preocupei em ganhar dinheiro. Não importava o lugar onde
trabalhasse, pelo menos eu podia ganhar para comer. Tinha prazer
em ganhar dinheiro e ajudar a pagar a mensalidade de estudantes
pobres. Depois de ajudar os outros e alimentá-los, uma forte energia
emanava por todo o meu corpo.
Depois que distribuí todo o dinheiro que ganhei, trabalhei como
entregador com uma carroça. Andava pelos 27 bairros de Tóquio
com a carroça. Até que um dia, estava levando um poste de energia
e, no cruzamento Kin Ja, um bairro muito rico e bem iluminado, o
poste virou e as pessoas saíram correndo amedrontadas. Mas por
causa desse trabalho, ainda me lembro de todos os lugares de
Tóquio como a palma da minha mão.
Eu era o operário dos operários e era amigo de todos eles. Ia ao local
onde eles trabalhavam cobertos de suor e com mau cheiro. Eles
eram meus irmãos, por isso eu não sentia nojo daquele terrível
cheiro deles e nos cobríamos com o cobertor imundo em que
andavam filas de piolhos pretos. Não hesitava em apertar suas
mãos cobertas daquela crosta de sujeira, porque por trás do suor
escorrendo e de tanta imundície, havia uma forte afeição. Sentia-me
bem e apreciava muito esse carinho que tinha um gosto especial.
Trabalhava duro na serralheria Kawasaki e no estaleiro. No
estaleiro havia um navio cargueiro chamado Paji, que transportava
carvão. Nós éramos um grupo de três pessoas, trabalhando até a
uma hora da manhã para colocar 120 toneladas de carvão nele.
Enquanto os japoneses costumavam levar três dias nesse trabalho,


nós coreanos, conseguíamos fazê-lo numa noite. Nós trabalhávamos
incondicionalmente para mostrar o caráter do povo coreano.
No lugar onde trabalhávamos arduamente, havia parasitas sugando

o suor e o sangue dos operários, e estes geralmente eram os
chamados Jô jang, responsáveis diretos pelos trabalhadores. Eles
enchiam seus bolsos tirando 30% do dinheiro que os trabalhadores
ganhavam com muito sofrimento. Mesmo assim, os operários não
tinham nenhuma força para enfrentá-los. Este Jô jang era um tipo de
pessoa que perseguia os fracos e bajulava os fortes. Eu já estava tão
enfurecido que não podia mais aguentar, então convoquei meus três
amigos. Nós fomos encontrá-lo e o enfrentamos: "Se você deu o
serviço, então pague conforme o acordo", o pus contra a parede.
Não conseguimos no primeiro, nem no segundo, nem no terceiro
dia, mas até conseguirmos, o pressionamos insistentemente. Mesmo
assim, como ele não aceitava, o chutei com o pé deste meu grande
corpo fazendo-o voar e cair longe. Eu normalmente era quieto e
amável, mas se ficasse bravo, aquele temperamento de teimosia da
minha infância reaparecia, e eu era bom de briga.
Na serralheria Kawasaki havia um tanque com produto ácido. O
cheiro do produto era tão forte que, quando os trabalhadores
entravam no tanque para limpá-lo, não podiam ficar lá por mais de
quinze minutos. Apesar das condições de trabalho serem tão
insalubres, os operários tinham que trabalhar arriscando suas vidas
para comprar comida. Para eles a comida era tão importante, para
ser trocada por suas vidas.
Eu costumava passar fome, mas ainda que estivesse morrendo de
fome, não comia só por mim, porque sempre acreditei que é preciso
uma clara razão para se alimentar. Por isso, me perguntava em cada
refeição a razão de estar com fome: "Realmente trabalhei
derramando suor e sangue? Trabalhei para mim ou para o público?"
Assim, me questionava. De maneira que toda a vez que ficava à
frente da tigelinha de arroz, dizia: "Eu vou te comer e vou me
esforçar mais no trabalho público com mais brilho que ontem".

Então o arroz se contentava e me olhava com um sorriso. Naquele
momento, a hora de comer se tornava uma hora muito alegre e
mística. Se não fosse assim, mesmo que sentisse muita fome não
comia. Por isso muitos dias não fazia nem duas refeições completas.
Não é porque comia pouco que fazia duas refeições por dia. Se
começasse a comer à vontade, não parava. Comia até onze tigelas de
sopa de macarrão e conseguia comer sete pratos de frango com ovos
fritos de uma vez. Eu tinha esse apetite enorme, mas ainda assim
me forcei a criar o hábito de fazer apenas duas refeições por dia,
sem almoçar, até depois dos meus 30 anos.
Sentir fome é sentir saudade. Entendia bem o que era sentir falta da
comida, mas pensava que tinha que sacrificar no mínimo uma
refeição pelo mundo. Eu nunca comprava roupas novas. Apesar do
intenso frio, não aquecia o quarto. Quando sentia muito frio, uma
folha de jornal me esquentava como um cobertor de seda. Foi assim
que aprendi a dar valor a uma simples folha de jornal.
Às vezes, em vez de voltar para casa, já ficava nos barracos dos
mendigos em Sinagawa. Dormia me cobrindo com trapos velhos e
nos dias de sol, caçando piolhos, comia junto com os mendigos a
comida que eles ganhavam. Na rua de Sinagawa, havia muitas
mulheres vagando. Quando ouvia a história de cada uma, mesmo
sem tomar nem um gole de bebida já me tornava o melhor amigo
delas. Por isso, é uma desculpa dizer que somente depois de ingerir
álcool a pessoa consegue soltar o que guarda no seu interior. Sem
depender da força da bebida, elas reconheciam a compaixão sincera
do meu coração. Então elas abriam todo o seu coração e falavam
abertamente sobre suas vidas.
Enquanto estudei no Japão, literalmente experimentei todo tipo de
profissão. Trabalhei como office-boy de um prédio e também escrevi
cartas para outros para ganhar alguns trocados. Fui operário,
mestre-de-obras e até vidente. Quando a situação apertava de
verdade, escrevia algumas coisas e vendia. Apesar de tudo isso,
nunca negligenciei os estudos. Considerava tudo isso um processo


para me disciplinar. Trabalhei em todas as ocupações, e também
encontrei todo tipo de pessoas, e por meio de todo esse processo,
consegui entender mais sobre o ser humano. Devido a isso, quando
olho alguém pela primeira vez posso perceber na hora: "Ah, essa
pessoa tem tal profissão." "Ah, essa é uma pessoa muito boa". Antes
que eu possa analisar se é desse ou daquele jeito, meu corpo já
pressente.
Ainda acho que, se uma pessoa quer ser alguém, antes dos 30 anos
ela tem que passar pela experiência de superar dificuldades. Nessa
idade, pelo menos uma vez é preciso ter se sentido no fim do
desespero da vida. Porque no fundo do poço, poderá achar algo
novo e exclamar: "Oh! Sem esse desespero de hoje, não teria tal
determinação". É pensando assim que se fortalece mais o espírito.
Somente saindo do desespero com o grito da descoberta, a pessoa
pode renascer como alguém que vai escrever uma nova história.
O ser humano não pode olhar somente para uma direção. Ele deve
saber olhar para cima, para baixo, para o leste, oeste, norte e sul.
Tem que saber olhar para todos os lados. As pessoas de 70 ou 80
anos não têm vidas iguais. Todo mundo só tem uma vida. Então,
durante essa vida a questão de ter sucesso ou não depende de como
você vê a vida. Se você quer ter uma boa visão sobre sua história,
tem que ter muitas experiências de vida. Mesmo que se encontre em
uma situação muito difícil, sempre é preciso ter tolerância e
flexibilidade.
Um homem de caráter deve se acostumar até a uma vida de altos e
baixos. Normalmente as pessoas quando estão no auge têm medo
de cair, então fazem qualquer coisa para manter suas posições, mas
a água quando parada apodrece. A pessoa deve entender que,
mesmo que tenha conseguido chegar ao topo, precisa saber descer e
esperar o tempo certo para alcançar um ponto mais alto que antes.
Então se tornará uma grande figura, um grande líder admirado por
multidões. Antes de chegar aos 30 anos, é necessário ter todas essas
experiências na juventude.


Por isso, ainda hoje aconselho os jovens a experimentar toda espécie
de trabalho que há no mundo. É como fazer uma leitura completa
de uma enciclopédia, da primeira à última página. Quando você
experimenta todas as coisas do mundo direta ou indiretamente,
você terá sua própria filosofia de vida. A maneira de pensar é
exatamente o caráter claro do próprio sujeito. "Mesmo que procure
em todo o lugar, não há ninguém que me derrube e me vença."
Depois de adquirir tal autoconfiança, você tem que se concentrar em
uma coisa na qual você realmente seja o melhor. Então você segue
em frente com aquilo. Se você levar sua vida inteira dessa forma,
certamente terá sucesso.

Não há outra opção senão o sucesso. Foi durante a minha vida
como mendigo em Tóquio, que cheguei a essa conclusão.
Em Tóquio, cheguei a comer e dormir ao lado de operários e
também compartilhei com os mendigos a dor da fome, tornando-me
assim, mestre em sofrimento e doutor da filosofia da dor. Entendi
bem a vontade de Deus para salvar toda a humanidade. Nesse
sentido, tornar-se o mestre do sofrimento, o doutor da filosofia da
dor, é um caminho no qual só você pode receber toda a glória do
Céu.

Um Coração Calmo como o Mar



A guerra De-Dong-A estava cada vez mais próxima do fim. Como
estava na reta final, para completar o número de soldados que
faltavam, o Japão formou antecipadamente os estudantes a fim de


mandá-los à guerra. Em meio a isso, também me formei seis meses
antes do previsto. Informado da data de formatura no dia 30 de
setembro de 1943, mandei um telegrama para minha casa: "Voltarei
no navio Gonlon Maru". Entretanto, no dia que ia tomar o navio
para voltar à minha terra natal, um fato estranho aconteceu. Meu pé
ficou grudado na terra e eu não conseguia levantá-lo. Estava
chegando a hora do navio partir, mas não conseguia mexer o meu
pé de jeito nenhum. Então acabei perdendo o Gonlon Maru.
Pensando: "Talvez seja a vontade de Deus que eu não tome esse
navio", decidi ficar mais algum tempo no Japão e subi o Monte Fuji
com meus amigos. Quando voltei a Tóquio depois de alguns dias, o
mundo estava de pernas para o ar. O navio Gonlon Maru, que iria
tomar, tinha sido atingido. Todos os mais de 500 estudantes
universitários que estavam voltando para a Coreia morreram. O
Gonlon Maru era um navio enorme, do qual o governo japonês se
orgulhava, mas tinha sido afundado atingido por torpedos atirados
pelos americanos. Ao receber a notícia de que o navio que seu filho
tinha tomado havia sido afundado, minha mãe, sem sequer calçar
os sapatos, imediatamente saiu correndo e, atravessando uma
distância de oito quilômetros para tomar o trem, chegou em Pusan.
Na Delegacia Marinha de Pusan, ela não achou o nome do filho na
lista de embarque, mas como já tinha recebido a notícia que ele
tinha partido de malas prontas da pensão em Tóquio, ela entrou em
pânico. Sem perceber que um grande espinho tinha fincado no seu
pé, ela chamou o meu nome até quase enlouquecer.
Posso imaginar, como se estivesse lá, a angústia no seu coração só
de pensar que talvez alguma coisa ruim tivesse acontecido a seu
filho. Entendia bem aquele coração da minha mãe, mas a partir do
dia em que decidi trilhar o caminho de Deus, para minha mãe me
tornei um filho mau e sem coração. Como não podia me prender a
um sentimento particular, embora soubesse o quanto o coração da
minha mãe estava angustiado, não podia me preocupar com isso.


Com o fim dos meus estudos no Japão, voltei para minha pátria,
mas nada tinha mudado. A tirania dos japoneses piorava a cada dia,
e minha terra estava encharcada de lágrimas de sangue. Arrumei de
novo um lugar em Huk Sók Tong e continuei indo à igreja de
Myung Soo De e à Igreja de Jesus. A cada dia descrevia
detalhadamente no diário tudo o que percebia da nova verdade.
Certo dia, tinha percebido tantas novidades que gastei um diário
inteiro para escrevê-las. Como uma resposta aos anos e anos de
orações em busca da verdade, conseguia as respostas que até então
não tinha. E aconteceu instantaneamente, como se uma bola de fogo
ardesse no meu interior.

No momento em que compreendi que "a relação entre Deus e nós é
a de Pai e filhos e que por isso Deus fica tão triste ao ver o
sofrimento da humanidade", todo o segredo do universo se revelou
para mim. A humanidade seguindo o caminho da Queda,
desobediente ao mandamento de Deus, e todas as coisas que
aconteceram passaram na minha frente como a projeção de um
filme. Quentes e incontroláveis lágrimas caíam dos meus olhos.
Prostrado, não conseguia levantar. Como nos dias da minha
infância em que voltava para casa carregado nas costas do meu pai,
derramava lágrimas prostrado aos joelhos de Deus. Passados nove
anos do meu encontro com Jesus, finalmente meus olhos se abriram
para o verdadeiro amor do Pai.
Depois de criar Adão e Eva, Deus os mandou para viver neste
mundo, crescer, multiplicar e construir o mundo de paz. Mas Adão
e Eva, sem esperar o momento certo e divino, cometeram o
adultério e geraram dois filhos, Caim e Abel. Aqueles filhos
concebidos pela Queda desconfiaram um do outro e um irmão
assassinou o outro, então a paz do mundo se quebrou e o pecado
cobriu a face da Terra e toda a tristeza de Deus começou. O ser
humano foi além e de novo cometeu um grande pecado ao matar
Jesus, o Messias. Assim, o sofrimento que o ser humano atualmente


experimenta é o curso inevitável de pagar pelos seus pecados, e a
tristeza de Deus perdura até agora.
A razão de Deus ter aparecido para mim quando tinha 16 anos foi
para revelar o que foi o pecado original cometido pelo ser humano e
para que eu construísse o mundo de paz, onde não existe mais o
pecado nem a Queda. A ordem que recebi de Deus foi limpar os
pecados cometidos pelo ser humano e construir o mundo de paz
planejado por Ele no início da criação. O mundo de paz que Deus
deseja não é um Reino depois da morte. Deus espera que esse
mundo onde vivemos agora se torne um mundo repleto de paz e
felicidade, como aquele lugar no tempo da Criação. Deus nunca
mandou Adão e Eva a essa Terra para sofrer. Eram essas
surpreendentes palavras que tinha que anunciar para o mundo.
No momento em que descobri o segredo da criação do universo,
meu coração ficou calmo como o mar. Andei cabisbaixo, vestido em
trapos. Meu coração parecia explodir, cheio da Palavra de Deus, e
no meu rosto a profunda alegria nunca mais desapareceu.

"Por Favor, Mantenha-se Vivo"



Dedicando-me continuamente à oração, percebi que havia chegado
a hora de me casar. No momento em que decidi trilhar o caminho
de Deus, todo o curso da minha vida passou a pertencer a Deus.
Compreendendo isso através da oração, tive que obedecer. Então
procurei minha tia materna, uma boa mediadora de casamentos, e


me encontrei com a senhorita Són Guil Choi, que vinha de uma
famosa família cristã de Jong Ju.
A senhorita com quem me encontrei era uma mulher bem
parcimoniosa, nascida em uma família muito correta. Mesmo que só
tivesse completado a escola primária, sua natureza não aceitava se
submeter aos outros e por isso ela foi presa aos 16 anos por ter
rejeitado o shinsa chambe8. Podia-se ver que era uma moça com
caráter forte e profundamente religiosa. Eu era o seu 24°
pretendente, então perceba o quão exigente ela era. Entretanto,
quando voltei a Seul, esqueci completamente que tinha tido um
encontro.
Na verdade, meu plano era ir para a China ou para a Rússia, em
uma cidade chamada de Hailar, na fronteira entre a Mongólia e a
China, depois de terminar meus estudos no Japão. Tinha essa ideia
de que, vivendo mais ou menos três anos empregado na filial da
companhia da Manchúria em Na Dong Hyun, iria aprender russo,
chinês e mongol. Assim como tinha procurado uma escola que
ensinava japonês para vencer o Japão, para me preparar melhor
para o futuro próximo, tinha decidido aprender várias línguas em
um lugar que fosse fronteira entre três nações. Mas naquele tempo,
a situação não foi favorável. Senti que não deveria ir para lá, pedi
demissão da companhia onde trabalhava e, passando pela

Manchúria, voltei à minha terra natal.
Aquela tia que foi mediadora da proposta de casamento ficou muito
brava comigo, porque a senhorita que encontrei disse que, se não
fosse comigo, não iria se casar com mais ninguém. Ela me informou
disso e me levou direto para a casa da moça.

Expliquei claramente a ela como viveria dali para frente. "Mesmo
que nós nos casemos agora, você deve se determinar a viver sozinha
pelo menos por sete anos."
"Por que tem que ser assim?"


8. Adoração para ídolos japoneses.

"Porque eu tenho uma coisa mais importante para fazer do que a
vida de casado. Na verdade, para mim o casamento também é para
cumprir a providência de Deus. Nosso casamento deve ir além da
família, temos que estender nosso amor para o povo e toda a
humanidade. Mesmo que essa seja a minha vontade, você realmente
gostaria de se casar comigo?"
Então ela respondeu bem determinada: "Não tem problema. Depois
de encontrar você, vi em sonho flores desabrocharem bem abertas,
por isso tenho certeza que você é o cônjuge que
Deus me deu. Portanto, posso superar qualquer dificuldade".
Mesmo assim, estava preocupado e várias vezes quis me assegurar
da decisão dela. Toda vez ela respondia: "Se puder me casar com
você, faço qualquer coisa. Então fique sossegado", ela falava para
me tranquilizar.
Porém, meu futuro sogro morreu de repente, uma semana antes do
casamento. A data da cerimônia foi adiada, e nos casamos no dia 4
de maio de 1944. O oficiante do nosso casamento foi o pastor Ho Bin
Lee, da Igreja de Jesus. O pastor, depois da independência, saiu da
Coreia do Norte para o Sul e era o fundador da Faculdade
Ecumênica de Teologia de Jung Ang. A nossa vida de casal
começou em Huk Sók Tong, onde vivia por conta própria no meu
tempo de estudante. Cuidei da minha esposa e a amei sinceramente,
como dizia a dona da pensão, "Oh!! Você gosta tanto de sua esposa,
cuida dela como se estivesse carregando um ovo!"
Naquele tempo, estava trabalhando na filial de Gyong Sóng da
empresa de construção civil Kashima Gumi em Yong San, e ao
mesmo tempo trabalhava para a igreja. Mas no mês de abril daquele
ano, a polícia japonesa invadiu meu lar nupcial de surpresa. "Você
conhece fulano que estudava no curso de Economia da
Universidade Waseda?", sem esperar resposta, eles me levaram para
a delegacia da província Gyong Gi. Foi porque um amigo que tinha
sido preso como comunista deixou meu nome escapar.


Assim que fui levado à delegacia, a primeira coisa que fizeram foi me

torturar.
"Você também é comunista, não é? Na época que estudou no Japão,
você estava trabalhando com ele, não é? Não adianta negar, se
perguntarmos no departamento de polícia do Japão, tudo será
revelado. Então, para não morrer em vão como um cachorro,
confesse e dê os nomes de todos os comunistas".
Eles insistiram para que revelasse todos os nomes com quem eu
havia trabalhado no Japão, e apanhei tanto que chegaram até a
quebrar as quatro pernas da escrivaninha em mim. Mesmo assim,
não revelei nada até o fim.
Então, a polícia japonesa entrou na minha casa em Huk Sók Tong e
vasculhou tudo e conseguiu achar meu diário. Passando folha por
folha das minhas anotações, procuraram o nome dos meus amigos.
Eu insistia em negar todos, pondo minha vida em risco. Os policiais
japoneses, sem dó, esmagavam meu corpo com a sola de ferro dos
coturnos dos soldados. E depois, quando desmaiava como morto,
eles me penduravam no teto e balançavam meu corpo. Meu corpo
foi balançado para lá e para cá, como uma peça de carne no
açougue, conforme eles empurravam uma estaca de madeira. Minha
boca jorrava sangue, que molhava de vermelho o chão de cimento.
Desmaiei várias vezes e, quando isso acontecia, eles despejavam
uma bacia de água fria em cima de mim e logo que acordava a
tortura recomeçava. Tampando meu nariz, eles colocavam o bico de
uma chaleira de alumínio na minha boca e jogavam água direto na
minha garganta. Depois deitavam meu corpo no chão e pisoteavam
com o sapato de soldado a minha barriga, cheia d'água como a de
um sapo. Vomitando toda a água pelo esôfago, minhas vistas
escureciam totalmente, e não conseguia ver nada. Em tais dias, a
queimação no esôfago doía tanto, que não conseguia engolir nem
um gole de caldo e caía no chão sem forças, incapaz de me mexer.


Na reta final da guerra, a tortura da desesperada polícia japonesa
era tão terrível que não pode ser descrita. Mesmo assim, permaneci
até o fim sem revelar o nome dos meus amigos. Mesmo que meu
espírito ficasse cambaleante, pelo menos isso mantive como uma
questão de vida e morte. Cansados de me torturar, os policiais
japoneses chamaram minha mãe, que estava na minha terra natal.
Sem condições de ficar em pé devido a um machucado na perna, fui
andando segurado pelos policiais até a sala de visitas. Mesmo antes
de me encontrar, minha mãe já estava com os olhos inchados.
"Aguente um pouco mais, a mamãe vai arrumar um advogado de
qualquer jeito, até lá pelo menos se mantenha vivo, por favor."
Minha mãe, que tinha vindo para me visitar, vendo o rosto de seu
filho todo ensanguentado, sinceramente me implorou: "Mesmo que
você prefira realizar a Vontade, primeiro tem que cuidar da sua
vida. Por favor, não morra de jeito nenhum", ela disse. Olhando
minha mãe em prantos, meu coração realmente ficou em pedaços. A
minha vontade era chorar em voz alta a abraçando e chamando
"Mãe!", mas como eu sabia qual era a intenção da polícia japonesa
por trás desse nosso encontro, não podia fazê-lo. A única coisa que
podia fazer era piscar meus olhos cortados e inchados diante das
palavras da minha mãe:

"Por favor, mantenha-se vivo".
Durante os quatro meses que fiquei detido na polícia japonesa da
província Gyong ki, os irmãos da senhora Ki Wan Lee, da pensão,
se revezaram para cuidar de mim. Toda vez que ela me visitava na
prisão, ela chorava. Então a consolava, dizendo: "Se a senhora
aguentar um pouco, esse tempo logo passará. Não chore, por favor,
porque logo o Japão será derrubado". Essas palavras não eram em
vão, mas vinham da fé que Deus me deu.
No ano seguinte, em fevereiro, logo depois que fui solto da
delegacia, peguei todos os meus diários guardados na pensão e fui
para a praia do rio Han. Para não dar complicações para os meus


amigos no futuro, queimei todos aqueles diários. Se os mantivesse,
toda vez que fosse preso, poderia causar problemas. Meu corpo
torturado não conseguia se recuperar facilmente, e por muito tempo
defequei sangue. Foi muito difícil reerguer minha saúde e os irmãos
da dona da pensão cuidaram de mim com muito carinho.
Finalmente, em 15 de agosto de 1945 chegou o dia da libertação que
tanto esperávamos. Um dia de muita festa, que cobriu a península
coreana com a onda de bandeiras coreanas e de gritos de mansey9.
Entretanto, como percebi que um grande desastre se aproximava da
península, fiquei muito sério. Por isso, nem pude gritar mansey com
alegria e me dediquei completamente à oração, ficando sempre
sozinho. Seguindo esse mau pressentimento, apesar de a pátria
estar livre da opressão da colonização japonesa, logo a nação foi
repartida em duas pela linha divisória do paralelo 38. E o governo
do Partido Comunista, que negava a existência de Deus, penetrou
nas terras do norte.

Um Comando Impossível de Desobedecer



Depois da independência, nossa nação ficou muito turbulenta.
Mesmo tendo dinheiro, era difícil comprar arroz. Um dia acabou o
arroz em casa, então fui buscar o arroz que já tinha encomendado
na cidade de Bek Chón, na província Hwang He. No caminho,
porém, recebi uma revelação: "Atravesse a linha do paralelo 38 e
procure as pessoas de Deus que estão na Coreia do Norte".

9. Grito que significa dez mil anos de glória e foi o lema das manifestações
coreanas pela independência.

Atravessei imediatamente a linha do paralelo 38 e fui para
Pyongyang. Naquele tempo, tinha se passado apenas um mês desde

o nascimento do meu primeiro filho. Embora estivesse preocupado
com a minha esposa, que me esperava ansiosamente, não tinha
condições de passar em casa. A palavra de Deus é tão séria que
precisa ser obedecida imediatamente. Atravessei o paralelo 38
somente com aquela velha Bíblia que li e sublinhei dezenas de
vezes, já preta das minhas minúsculas anotações desde o Gênesis
até o Apocalipse.
Naquela época, já havia uma fila de refugiados que passavam do
norte para o sul fugindo do Partido Comunista. Especialmente por
causa da oposição do Partido à religião, muitos cristãos desciam em
direção ao sul em busca de liberdade religiosa. O Partido
Comunista condenava a religião como ópio e não permitia que
ninguém praticasse sua fé. Fui àquele lugar recebendo o chamado
de Deus. No mundo dos comunistas, onde os pastores eram
odiados, entrei por vontade própria.
Como aumentavam os refugiados, a vigilância da Coreia do Norte
tinha ficado mais rigorosa, e até atravessar o paralelo 38 era difícil.
Mesmo assim, nos 48 quilômetros para cruzar o paralelo 38 até
chegar a Pyongyang, não duvidei sequer uma vez do porquê eu
devia passar por tão difícil curso.
No dia 6 de junho cheguei em Pyongyang. A cidade fora conhecida
como a Jerusalém do Oriente, o lugar onde o Cristianismo estava
profundamente enraizado. Foi aquele mesmo lugar que enfrentou
todo tipo de perseguição no tempo da ocupação japonesa, como
shinsa tchambe10, o Donbang yobe11 etc. Fiquei na casa do senhor Choi
Sob Na, no bairro Gyong Chang, perto do portão oeste de
Pyongyang e comecei a testemunhar. Ele era meu conhecido desde
a Coreia do Sul e ocupava a função de diácono da igreja.
10.Adoração para ídolos japoneses.
11.Venerar olhando em direção ao leste, onde estava o imperador japonês.



Comecei o trabalho cuidando das crianças da vila. Quando as
crianças chegavam, eu contava histórias de faz-de-conta misturadas
com a palavra da Bíblia e brincava com elas. Mesmo que fossem
pequenas, eu usava uma linguagem de respeito e me dedicava para
cuidar bem delas. Enquanto fazia isso, esperava que alguém
chegasse para ouvir as Boas Novas. Às vezes, ansiava por alguém
olhando para fora o dia inteiro e sentia falta das pessoas. Esperando

com todo o coração, as pessoas de muita fé começaram a me visitar.
Ensinava as Novas Palavras acordado a noite inteira. Vene¬rava e
servia com o coração aqueles que me visitavam como se fossem

Deus, independentemente se fosse uma criança de três anos ou um
velho cego e corcunda. Mesmo que aqueles idosos que me

visitavam fossem avós e avôs, ficava sem dormir con¬versando com
eles a noite inteira.
"Oh! Não gosto de velhos", nunca pensei assim. Todo ser humano é
muito precioso. Para algo tão precioso não pode existir

discriminação de ser homem, mulher, velho ou jovem.
Muitas pessoas preparadas começaram a vir, procurando um jovem
de somente 26 anos de idade que explicava sobre Romanos e
Apocalipse com um conteúdo de ensino nunca visto antes. Entre
eles havia um jovem chamado Won Pil Kim, o meu primeiro
discípulo, que diariamente vinha sem falar nada, apenas ouvia com
uma postura correta e sem uma palavra. Formado no magistério da
escola Pyongyang, ele era professor. Nós dois, nos revezando para
pegar água para cozinhar o arroz, compartilhamos o coração de
mestre e discípulo.
Quando começava a ensinar a Bíblia, enquanto os membros da
igreja não se levantassem para outros compromissos, eu não parava.
De tanta emoção, gotas de suor corriam como água pelo meu corpo
inteiro. Quando saía para torcer a roupa sem os outros perceberem,
a água jorrava. Não acontecia somente no verão, mas também no
meio do frio inverno. Assim ensinava, com todo amor.


Quando ofertávamos culto, todos vestiam roupas brancas limpas,
cantando os cânticos dezenas de vezes em sequência, e assim
realizávamos o culto com todo o fervor. Envolvidos em tanta
emoção a ponto de chorar, as pessoas chamavam a nossa igreja de
"igreja que chora". Quando o culto terminava, cada um
testemunhava as graças recebidas, e durante os testemunhos todos
eram envolvidos por tanta graça, que sentíamos que nossos corpos
estavam sendo elevados ao Céu.
Na nossa igreja muitas pessoas entravam em transe, profetizando,
falando em línguas e traduzindo essas línguas. Assim, muitos
experimentavam uma conexão com o mundo espiritual. Às vezes,
quando uma pessoa aparecia e não era adequada para a nossa
igreja, um espiritualista ia de olhos fechados e batia nos ombros
dela. Então a pessoa que apanhava nos ombros começava a orar em
arrependimento, com tantas lágrimas que até escorriam pelo nariz.
Naquele momento, o sopro ardente do Espírito Santo passava. Pelas
obras do Espírito Santo, até doenças crônicas foram completamente
curadas. Especialmente quando se espalhou a história de uma
pessoa que comeu o arroz que sobrou no meu prato e se curou de
gastrite, criou-se um rumor de que "o arroz da igreja é como um
remédio milagroso" e muitas pessoas passaram a esperar pelo arroz
que sobrava do meu prato.
Conforme essas experiências com o Espírito Santo se espalharam, o
número de membros aumentou e a igreja ficava tão cheia que as
portas mal fechavam. Duas avós chamadas Ji Seung Do e Ok Se
Hyun entraram na igreja depois de receberem em sonho a
mensagem: "Um jovem mestre chegou da Coreia do Sul e está do
outro lado de Man Su De, então vá e o encontre".

Elas não tinham recebido testemunho de alguém que lhes tinha
mostrado o caminho, mas elas andaram pelas ruas com o endereço
que o Céu lhes tinha ensinado, e me encontraram com muita alegria
dizendo: "O senhor é exatamente o mestre que vi em sonho". Até


pastores formados em Teologia me procuravam e eu sabia
exatamente o que eles estavam buscando só de olhar em seus rostos.
Dava a resposta antes de perguntarem. Então eles ficavam muito
contentes e muito surpresos.
Como ensinava as palavras de Deus através das minhas próprias
experiências, muitas pessoas gostavam e afirmavam que
encontravam solução para problemas que até então elas não
entendiam. Até os membros das igrejas grandes, depois de ouvirem
meu sermão, deixavam de frequentar suas congregações e iam
somente à nossa igreja. Quando quinze dos principais membros da
igreja Jang De Je, a mais famosa da cidade, deixaram a congregação
de uma vez, os ministros daquela igreja vieram reclamar comigo.
O sogro da senhora In Ju Kim era um ministro de uma famosa igreja
de Pyongyang. A casa dela ficava ao lado da igreja de seu sogro,
mas em vez de ir lá, escondida da família do marido, ela subia nos
barris de conservas para pular os muros e vinha à nossa igreja. Essa
senhora estava grávida de uma menina, mas mesmo assim ela não
tinha medo de pular o muro da altura de dois homens adultos. Por
causa disso, ela recebia severa perseguição do sogro, que era
ministro da igreja.
Eu já sabia disso. Então, quando meu coração doía muito, mandava
um membro para a casa dela. Sem falta, naqueles dias a senhora
estava apanhando do sogro. Ele batia com tanta força que ela
derramava lágrimas de sangue, mas quando via os membros do
lado de fora do seu portão, ela não sentia nenhuma dor, e dizia:
"Mestre, como o senhor sabia que estava apanhando? Quando o
nosso irmão apareceu, não sentia mais dor, mas enquanto não sentia
nada, meu sogro sentia muita dificuldade e não sabia o que fazer.
Por que foi assim?", ela me perguntava.
Como sua nora continuava frequentando nossa igreja apesar de a
surrarem e a amarrarem na coluna da casa, a família dela chegava à
igreja e me batia sem mais nem menos. Rasgavam as minhas roupas
e meu rosto ficava inchado pelas pancadas, mas mesmo assim


nunca revidei, porque sabia que se o fizesse, a situação dela ficaria
ainda mais complicada.
Muitos membros das grandes igrejas estavam deixando de
frequentá-las. Então os pastores das igrejas convencionais, invejosos
de mim, me denunciaram à delegacia. Como o governo comunista
tinha a intenção de eliminar a religião como um cisco nos seus
olhos, aproveitou a oportunidade e me prendeu. No dia 22 de
fevereiro de 1947, condenado como espião da Coreia do Sul, fui
levado à delegacia de Pyongyang. Eles me condenaram como espião
enviado pelo presidente sul-coreano Seung Man Lee, com a
intenção de dominar a Coreia do Norte. Três dias após me levarem
algemado, cortaram meu cabelo e me colocaram em uma cela na
prisão. Ainda me lembro da figura que cortava o meu cabelo, que
tinham crescido enquanto eu cuidava da igreja, e dos fios caindo no
chão.

Na prisão, me espancavam insistindo que confessasse meus crimes.
Entretanto, mesmo que vomitasse sangue e caísse quase morto,
naquele momento me concentrava segurando a minha consciência
por um fio. A dor era tanta a ponto de dobrar minha cintura, e tinha
vontade de orar: "Pai, por favor, me salve". Mas acordava de novo e
insistia: "Pai, não se preocupe comigo. Sun Myung Moon ainda não
morreu. Ele não morre assim tão fácil". Não, ainda não tinha
chegado a minha hora. Na minha frente ainda havia uma montanha
de coisas que devia cumprir e tinha a missão de assumir todas essas
responsabilidades. Eu não era o tipo de pessoa fraca, pedindo
piedade diante de uma simples tortura.
Ainda há no meu corpo várias cicatrizes marcadas naquele tempo.
Apesar de ter recuperado a carne que foi arrancada e o sangue
derramado, todo o terrível sofrimento daqueles dias ainda está
gravado na cicatriz. Toda a vez que olho as cicatrizes causadas pelo
sofrimento daquela época, reafirmo minha determinação:

"Você tem essa marca, então tem que ser vencedor".


Até o investigador da URSS veio para me julgar, mas o que ele
poderia fazer se não cometi nenhum crime? Finalmente, depois de
três meses fui libertado como inocente. Por causa da tortura, tinha
perdido muito sangue, e cheguei a ter minha vida em risco, mas os
membros da nossa igreja cuidaram de mim. Sem esperar nenhuma
recompensa, eles me deram a vida.
Graças a eles, me reergui e recomecei o trabalho religioso. Em um
ano, a igreja tinha crescido bastante. Diante disso, as igrejas
convencionais não nos deixaram em paz. Nós cresciamos cada vez
mais com a vinda de mais membros que frequentavam as igrejas
convencionais, então aqueles que se opunham a mim de novo me
denunciaram às autoridades. Em fevereiro de 1948, fui levado de
novo aos comunistas.
Logo que me prenderam, as terríveis torturas recomeçaram. Cada
vez que eu caía pela tortura, eu persistia pensando: "Eu estou
apanhando pelo meu povo, as lágrimas que eu derramo são para
me colocar no lugar do meu povo e sentir a sua dor." Quando eu
estava a ponto de perder a consciência por tanto sofrimento, eu
sempre ouvia a voz de Deus. Deus sempre aparece no momento em
que estamos para dar nosso último suspiro.
No dia 7 de abril, quarenta dias completos desde meu encarceramento,
houve uma audiência pública. Na audiência apareceram
famosos e destacados pastores da Coreia do Norte, que me
insultaram com vários xingamentos. Até os comunistas gozavam de
mim alegando que a religião era ópio. Mas no canto da audiência,
nossos membros estavam em prantos. Eles choraram tão tristes,
como se seu filho ou seu marido tivesse morrido. Apesar de estar
nessa situação, eu não derramei uma lágrima. Trilhando o caminho
de Deus, não me sentia nem um pouco só, porque tinha membros
que choravam se debatendo por minha causa. Não me considerava
uma pessoa infeliz, então não podia chorar. Depois de receber a
condenação, saindo da audiência pública, acenei para os membros
com as minhas mãos algemadas. O tilintar das algemas parecia o


soar de um sino. Naquele dia mesmo fiquei detido na prisão de

Pyongyang.
Não temia em nada a vida na prisão porque não era a primeira ou a
segunda vez que passava por essa situação. Já tinha o know-how de
fazer amizade com o líder dos presos. Se trocasse algumas palavras
com qualquer líder de prisioneiros, eles se tornavam meus amigos.
Tinha essa capacidade de fazer amizade com todos. Se tiver um
coração de amor, todo mundo se abre para você.
Passados alguns dias, esse líder me pôs no melhor lugar dentro da
cela. Queria ficar no canto ao lado do vaso sanitário, mas ele insistia
que eu ficasse no melhor lugar. Ainda que recusasse, não tinha jeito.
Depois que fiz amizade com o líder da cela, meu próximo passo foi
observar um por um todos os que dividiam a cela comigo. O rosto
de uma pessoa diz tudo sobre ela: "Ah, seu rosto é assim, então
provavelmente você é isso; seu rosto é desse jeito, então certamente
você é aquilo", quando eu contava assim, todos ficavam surpresos.
Mesmo que no fundo não gostassem de eu ter descoberto o que se
passava dentro deles naquele primeiro encontro, eles eram
obrigados a reconhecer.
Podia compartilhar um coração de amor com todo mundo, e mesmo
dentro da prisão consegui fazer amizade até com assassinos. Mesmo
que a vida na prisão fosse injustiçada, eu via significado nela como
um período de disciplina. Não há neste mundo sofrimento sem
significado.
Dentro da prisão, até piolhos e pulgas são amigos. O frio dentro da
prisão era tão terrível, que quando eu catava os piolhos que
andavam nas costuras das roupas dos prisioneiros, eles se
Seguravam uns aos outros e formavam uma bolinha. Empurrávamos
essa bolinha como brincadeira, e eles se esforçavam para
não se desgrudarem. A natureza do piolho é penetrar, então eles
encostavam as cabeças uma na outra e ficavam com o traseiro para


fora. Todos achavam muito interessante observar essa cena dos
piolhos.
Na verdade, ninguém no mundo realmente gosta de piolhos e
pulgas. Entretanto, quando se está na prisão, até os piolhos e as
pulgas se tornam um precioso objeto de conversa. Enquanto eu
observava os percevejos ou as pulgas, às vezes surgia uma
inspiração. Isso não pode ser perdido. Ninguém sabe quando ou
através de quem Deus manda sua mensagem. Nesse sentido, é
preciso reconhecer que até os piolhos e os percevejos têm um
precioso valor.

Um Grão de Arroz é Maior que o Planeta



Depois de um mês e meio preso em Pyongyang, no dia 20 de maio
fui levado para a prisão de Heungnam. Se eu ficasse só, poderia até
fugir, mas me algemaram a um assassino. Sentado olhando pela
janela do camburão, na viagem de 17 horas de carro, senti uma
tristeza arrebatadora. Por aquele caminho onde riachos corriam e
vários vales de montanhas se seguiam um após o outro, tive que
passar como criminoso. Pensando nisso, não podia acreditar que
aquilo estava acontecendo comigo.
De fato, a prisão de Heungnam era um campo de concentração
pertencente à fábrica de adubo à base de calcário. Lá fiz trabalhos
forçados por 2 anos e 8 meses. O trabalho forçado tem origem na
Rússia. Foi castigo inventado por causa da opinião pública
internacional, que não aceitava matar de qualquer jeito a classe


capitalista anticomunista. Aqueles que fossem levados para o
trabalho forçado, tinham que trabalhar arduamente até a morte.
Copiando esse sistema da Rússia, o Partido Comunista da Coreia do
Norte mandou os prisioneiros fazerem tal tipo de trabalho por 3
anos. É fácil falar 3 anos, mas o trabalho era tão sofrido que eles
morriam naturalmente muito antes, de exaustão.

Na prisão, o dia começa a partir das quatro e meia da manhã.
Os prisioneiros são acordados, enfileirados no pátio da frente e têm
seus corpos revistados, para descobrirem se eles carregam algo
ilegal. Como tínhamos que tirar toda a roupa e cada peça era
inspecionada detalhadamente, a revista durava mais de 2 horas.
Heungnam ficava na beira do mar, então no inverno o vento
ardente batia no corpo nu e a dor era tanta, que parecia cortar
nossas carnes. Depois da revista dos corpos, tomávamos um café
muito pobre e andávamos por 4 quilômetros para chegar à fábrica
de adubo. Os prisioneiros, sem erguer direito o rosto, faziam quatro
filas juntos e andavam de mãos dadas enquanto os guardas,
armados com revólveres e pistolas, davam voltas ao redor dos
presos. Se vissem que a fila estava desalinhada e que as mãos não

estavam dadas, eles consideravam como intenção de fuga, e batiam
sem piedade.
Em Heungnam caía muita neve no inverno, até cobrir a altura de

um homem adulto. Nos dias de inverno, quando a neve chegava a
essa altura, caminhando na madrugada fria, a cabeça ficava
rodando até ficar tonto. O caminho congelado era muito
escorregadio e o frio queimava tanto que os cabelos arrepiavam.
Mesmo depois de tomar café, ainda sentíamos fraqueza, então
normalmente andávamos cambaleando; mesmo assim, tínhamos
que trabalhar com as pernas sem força. Naquele caminho, quase
perdendo a consciência pela fraqueza, me lembrava todo o tempo
do fato de que eu era uma pessoa de Deus.


Na fábrica de adubo havia uma grande quantia de amónia, do
tamanho de uma montanha, que era a matéria-prima do adubo.
Aquela amónia caía de um transportador. Na hora que acabava de
cair era tão quente, que até no meio do inverno saía fumaça, mas
conforme o tempo passava, a amónia perdia o calor e endurecia
como gelo. Nosso trabalho era pegar o produto e colocar num
grande saco. Nós chamávamos aquele monte de amónia que
ultrapassava a altura de vinte metros de "a montanha de adubo". De
800 a 900 pessoas ficavam num grande campo ensacando a amónia,
e esse cenário era como dividir uma grande montanha em duas
partes.
Cada grupo era formado por 10 pessoas e o grupo tinha que
estabelecer a meta de 1.400 sacos por dia, ou seja, a meta diária por
pessoa eram 140 sacos. Se não conseguíssemos cumprir a meta,
cortavam a quantidade de comida pela metade. Então todo mundo
dava a vida no trabalho. Para facilitar carregar os sacos pelo menos
um pouco, fazíamos agulhas de arame de ferro, que utilizávamos na
hora de amarrá-los. Colocando um grosso arame de ferro nos trilhos
por onde passava o caminhão carregador, o fio ficava bem fino e
então o utilizávamos para costurar os sacos. Para furar os buracos
no saco, quebrávamos a janela de vidro da fábrica. O capataz via os
prisioneiros quebrando o vidro, mas não podia fazer nada porque
sentia pena dos presos que estavam sofrendo pelo árduo trabalho.
Uma vez eu quis cortar aquele grosso arame de ferro com os dentes
e parti meu dente em dois. Ainda hoje, quando olho meus dentes da
frente, eles estão trincados, essa é uma lembrança inesquecível
ganhada na prisão de Heungnam.
O corpo de todo mundo estava afinando pela extrema fadiga do
trabalho excessivo, mas conseguia manter o peso de setenta quilos.
Então, todos os outros prisioneiros ficavam admirados comigo.
Mesmo conseguindo manter meu peso normalmente, uma única
vez peguei malária e passei muito mal. Fiquei doente por quase um
mês. Mesmo assim, se não trabalhasse, meus outros companheiros


prisioneiros teriam que cumprir a minha cota, e pensando nisso,
não podia parar sequer um dia. Vendo toda a minha força, eles me
chamavam de "homem de ferro". Podia aguentar qualquer trabalho
duro. Nada era problema para mim, quer fosse na prisão, ou no
trabalho forçado. Mesmo que recebesse terríveis chicotadas e a
situação fosse horrível, se dentro do meu coração houvesse uma
determinação sólida, nada me faria vacilar.
A amónia se chamava amoníaco. Quando trabalhei na serralharia
Kawasaki, no Japão, vi várias pessoas morrerem durante a limpeza
do tanque que continha amoníaco por causa do cheiro venenoso.
Mas em Heungnam era muito pior, nem dá para comparar com
aquilo. Quando derramavam ácido no corpo, todos os pelos caíam e
era tão perigoso que a pele expelia pus. Então, se trabalhasse por
seis meses na fábrica de amónia a maioria vomitava sangue e
morria. Para proteger os dedos, colocávamos dedal e mesmo assim,
quando amarrávamos os sacos e encostávamos no forte ácido, logo
os dedais furavam. Dessa maneira, quando a roupa se derretia pela
amónia, a carne se corroía e normalmente saía sangue até os ossos
aparecerem. Daquele lugar onde a carne tinha sido cortada caía
sangue e saía pus, mas mesmo assim o prisioneiro tinha que
trabalhar sem parar nem um dia.
Não obstante, pelo trabalho ganhávamos menos de duas tigelas
pequenas de arroz por dia. Não havia nenhum acompanhamento,
somente água salgada com grossas folhas de nabo. Aquele caldo era
tão salgado que até queimava a garganta, mas mesmo assim
ninguém jogava nenhuma gota fora por não poder engolir somente
aquele arroz duro como pedra. Quando recebíamos a comida, todo
mundo colocava tudo na boca em um instante. Depois de comer
toda a sua comida, olhavam com o pescoço erguido os outros que
estavam comendo e às vezes, sem perceber, colocavam sua colher
na tigela do outro, então as brigas estouravam. Um pastor que
conheci em Ham Heung chegou a propor:


"Se você me der um grão de soja, depois que sair daqui te darei dois
bois."
Naquele tempo a fome era tão terrível que para comer tiravam até
os grãos de arroz que estavam na boca dos moribundos.
Ninguém entenderá o sofrimento de passar fome sem experimentálo
pessoalmente. Quando se passa fome, um grão de arroz passa a
ter um valor incalculável. Ainda agora, quando penso em
Heungnam, meu espírito se arrepia. Talvez não dê para acreditar
que um grão de arroz podia estimular tanto assim os nervos, mas
quando se passa fome, chegando até ao ponto de chorar de tanta
falta da comida, dá mais saudade do que da própria mãe. Quando
estamos de barriga cheia, o mundo parece tão grande, mas quando
se tem fome, um grão de arroz é maior que o planeta. O valor de um
grão de arroz passa a ser assim tão grande.
Desde o primeiro dia em que entrei na prisão, separava metade da
bolinha de arroz que recebia, dava para os meus companheiros e
comia apenas metade. Depois de me disciplinar assim por três
meses, comecei a comer uma bolinha de arroz inteira. Pensando que
tinha comido o dobro das outras pessoas, foi mais fácil suportar a
fome.
Para quem nunca experimentou, a vida no campo de concentração é
tão miserável que não dá para imaginar. Em menos de um ano,
metade dos prisioneiros morria, então todo dia tive que ver caixões
saindo pelo portão traseiro da prisão. Só podia sair dali quando
tivesse trabalhado até sair toda a gordura do corpo e morrer. Apesar
de ser um governo terrivelmente impiedoso e frio, aquilo realmente
passava dos limites humanos. Assim, aqueles sacos de amónia
cheios das lágrimas de todos os prisioneiros eram enviados à Rússia
pelos portos.


Com a Neve Caindo na Prisão de Heungnam



Na prisão, depois de comida, o que eu mais sentia falta era de linha
e agulha. Mesmo que quisesse costurar as roupas desgastadas pela
dureza do trabalho, por não conseguir linha e agulha, passado um
longo tempo, minha aparência era a do mendigo dos mendigos.
Queria costurar as roupas esburacadas, principalmente para me
proteger pelo menos um pouco, do vento frio do inverno de
Heungnam. Portanto, mesmo um pequeno pedaço de tecido caído
na rua era extremamente precioso. Mesmo que aquele tecido
estivesse sujo de estrume, todo mundo queria pegá-lo e surgia
muita confusão. Às vezes conseguia achar um pedaço de tecido,
mas não era fácil encontrar uma agulha. Mas certo dia, enquanto
carregava um saco de amónia, por acaso consegui pegar uma. E
provável que aquele saco tivesse vindo do interior e por acaso a
trouxe. Dali para frente, me tornei o costureiro da prisão. De tão
feliz que fiquei por ganhá-la, todo dia eu remendava as roupas dos
prisioneiros.

O calor na fábrica de adubo era tanto que até no inverno pingávamos
de suor, então imagine durante o verão. Apesar disso, não
levantei minhas calças nem mostrei minhas canelas para os outros
sequer uma vez. Mesmo durante maio e junho, período de maior
calor, sempre trabalhava com as barras das calças amarradas com
um nó bem apertado. Enquanto os outros tiravam as calças e
trabalhavam somente com roupas íntimas, eu estava sempre
arrumado, de calças compridas. Após o trabalho na fábrica, todo o
meu corpo ficava sujo de uma mistura de suor e adubo. Por isso, a
maioria costumava tirar a roupa logo depois do fim do serviço e a


limpava com a água suja que saía da fábrica, mas nunca mostrei o
meu corpo para lavar. Em vez disso, guardava metade do copo de
água que nos era distribuído e enquanto os outros dormiam, me
levantava na madrugada e limpava meu corpo com a toalha
embebida na água para orar, concentrando toda a energia da
madrugada. Agia assim porque também considerava meu corpo
muito precioso para expô-lo de qualquer jeito.
Cada cela da prisão era ocupada por 36 prisioneiros. Num cômodo
tão apertado, o meu lugar era no canto, ao lado do vaso sanitário.
Todo mundo fugia daquele lugar, pois no verão era úmido e
transbordava, e no inverno o chão ficava congelado. Na verdade, o
sanitário era uma pequena bacia de barro sem tampa, por isso é
impossível descrever o fedor que exalava dele. Como os
prisioneiros comiam um pequeno punhado de arroz com trigo
mourisco e caldo salgado, a toda hora ficavam com diarreia.
"Ai, minha barriga!", os prisioneiros corriam até o vaso sanitário
apertando o abdome, abaixavam as calças e defecavam. Então eu, ao
lado do vaso, normalmente ficava encharcado de fezes. Mesmo que
fosse meia-noite e todos estivessem dormindo, sempre tinha alguém
com dor de barriga. Ao ouvir o grito das pessoas que eram
pisoteadas no caminho, levantava-me rápido e ficava sentado no
canto. Aquele apressado que corria para o vaso sanitário pisando
nas pessoas, muitas vezes não conseguia segurar até abaixar as
calças totalmente, e a diarreia saía. Imagine a força dos espirros
presos até o último segundo e então expelidos. Quando dormia e
não conseguia fugir dessa fatalidade, ficava inteiramente coberto de
cocô. Ainda assim, mantive-me pensando todo o tempo que aquele
canto onde sempre recebia as fezes dos outros era meu.
"Por que você sempre quer ficar justo ali?", se outro prisioneiro me
perguntasse assim, respondia: "Eu me sinto bem lá".
Não era só da boca para fora. Realmente, ao me sentar naquele
lugar, meu coração ficava mais confortável.


Não há nada de extraordinário na literatura ou na arte se o coração
não estiver presente naquilo. Se isso acontece, qualquer coisa se
torna literatura e arte. Naquela circunstância, quando ouvia aquele
barulho, achava o som bonito, me alegrava e até podia considerar
aquilo uma melodia. Portanto, dependendo da forma que a
encarasse, aquela situação podia se tornar uma maravilhosa obra de
arte.
O meu número de identificação era 596, por isso me chamavam de
oguyuk12. Nas noites em que eu perdia o sono, murmurava para mim
mesmo deitado olhando o teto: "o gu yuk, o gu yuk, o gu yuk". Se
você fala rápido, soa como o gul, o injustiçado. Realmente, eu era
um prisioneiro injustiçado.
Dentro do campo de concentração, os guardas vigiavam todos os
movimentos e o Partido Comunista criou o Dok Bo He, uma espécie
de autojulgamento. Diariamente, éramos obrigados a redigir uma
impressão de gratidão, mas nunca escrevi sequer uma folha.
"Agradeço o pai-general Kim II Sung, que nos ama e todo dia nos dá
arroz branco e sopa de carne para que possamos viver bem". Tal
tipo de impressão eu nunca poderia fazer. Mesmo que a morte
chegasse à frente do meu nariz, nunca poderia oferecer uma carta
de gratidão para os comunistas ateus. Em vez de escrever, trabalhei
muito para sobreviver na prisão, muitas vezes mais do que os
outros. A única maneira de continuar vivo sem escrever as cartas de
gratidão era ser o melhor dos operários. Por causa disso, me tornei o
prisioneiro modelo n° 1 e cheguei a receber um prêmio de um líder
do Partido.
No período em que estive na prisão, minha mãe me visitou várias
vezes. Não havia condução direta de Jong Ju até Heung-nam, por
isso ela descia até Seul para pegar o trem da linha Gyong Won e
andar mais de vinte horas, um sofrimento que não dá para
expressar. Para alimentar seu filho, que tinha sido preso com uma

12. Pronúncia em coreano de 5-9-6.

idade tão jovem, ela pedia para cada parente doar uma mão de
arroz, preparava farinha e me trazia. Quando olhava o rosto do
filho pela janela da sala de visitas, antes de qualquer coisa ela caía
em prantos. Aquela senhora de um caráter tão forte, logo que
encontrava seu filho na prisão engasgava a garganta e nem
conseguia levantar seu rosto, somente chorava sem parar.
Provavelmente, minha aparência era muito miserável, e apesar da
sua costumeira natureza bem dura, diante do sofrimento do filho,
ela era simplesmente uma mãe frágil.
Minha mãe tinha trazido para mim a calça de seda que tinha usado
no meu casamento. O uniforme da prisão que vestia já estava muito
desgastado pela absorção de amónia, então minhas carnes estavam
expostas, mas mesmo assim eu não vesti aquela calça de seda que
ela tinha trazido e a dei para outro prisioneiro. A farinha de arroz
preparada com dinheiro emprestado, eu dava e distribuía tudo para
os outros comerem na frente dela. Quando a minha mãe me via dar
para outras pessoas aquela comida e a roupa, feitas com toda a
devoção de um coração materno que queria alimentar e vestir seu
filho, ela chorava batendo no peito.
"Mãe, não sou um simples filho da família Moon, antes disso sou
filho da Coreia. Antes de ser filho da Coreia sou filho do mundo,
filho do Céu e da Terra. Apenas depois de amar tudo isso, poderei
ouvir suas palavras e amá-la, sei que isso é o correto. Como não sou
filho de qualquer um, então, por favor, a senhora tome a atitude
correta que cabe à mãe de tal filho."
Apesar de minha boca soltar palavras frias como flocos de neve, ao
ver as lágrimas da minha mãe, meu peito doía tanto que parecia que
ia rasgar. Tinha tanta saudade da minha mãe que muitas vezes eu
acordava à noite e ficava sem dormir, mesmo assim, precisava
conter meu coração para não enfraquecer. Para quem trabalha para
fazer a Vontade de Deus, é mais importante se preocupar em cuidar
de mais gente, vesti-los e alimentar mais pessoas que passam fome,
do que se apegar à relação particular de mãe e filho.


Mesmo dentro da prisão, gostava de conversar com as pessoas
durante o intervalo. Por isso sempre tinha muita gente ao meu
redor para me ouvir. Mesmo que a vida de prisioneiro me fizesse
passar frio e fome, meu coração se aquecia de poder compartilhar
profundamente com as pessoas. Desse relacionamento em
Heungnam consegui doze companheiros que se tornaram membros,
que queriam me acompanhar pelo resto da vida. Entre eles havia até
um famoso pastor, ex-presidente da Associação Cristã da Coreia do
Norte. Eles eram, sob o risco de perderem suas vidas, minha carne e
meus ossos, pessoas mais íntimas que minha própria família. Por
eles estarem lá, a minha estada na prisão não foi em vão. Todas as
madrugadas, na hora da oração, citava o nome de cada um e fazia
muitas condições de devoção. Quando eles enchiam a mão de
farinha de arroz e escondiam dentro de suas calças para me darem,
sempre pensava que precisava recompensá-los milhares de vezes.

As Portas da Prisão são Abertas pelos Soldados
das Nações Unidas


Enquanto eu ainda estava na prisão de Heungnam, a Guerra Civil
da Coreia começou. Três dias após a declaração de guerra, os
soldados da Coreia do Sul deixaram sua capital e tinham sido
encurralados no sul. Então dezesseis países-membros da ONU,
liderados pelos EUA, interferiram na Guerra da Coreia. Através de
Incheon, os soldados americanos ancoraram na Coreia do Sul e


avançaram até Heungnam, que era o pólo da indústria nortecoreana.
Naturalmente, o campo de concentração de Heungnam era alvo dos
soldados americanos. Quando o bombardeio começou, os capatazes
fugiram para o abrigo antibombas, deixando os prisioneiros, cujas
vidas pouco importavam. Então um dia vi Jesus passar por mim
derramando lágrimas, senti algo e falei para todos: "Não fiquem
mais de doze metros longe de mim". Logo em seguida caiu uma
bomba de uma tonelada, e todos aqueles prisioneiros que estavam
num raio de doze metros ao meu redor salvaram suas vidas.
O bombardeio caía cada vez mais forte, então os capatazes
começaram a executar os detentos. Eles chamavam os prisioneiros
pelo número e mandavam levar comida para três dias e uma pá.
Aqueles que eram convocados e imaginavam que iriam ser
transferidos para outra prisão, nunca mais voltaram. Eles eram
levados para o alto da montanha e ordenados a cavar suas próprias
covas. Aqueles de pena mais pesada foram os primeiros a serem
chamados. Então, calculei sem nenhum alarde, que o dia seguinte
seria a minha vez.
Contudo, exatamente naquela noite as bombas começaram a cair na
prisão de Heungnam como uma forte chuva de verão. No dia 13 de
outubro de 1950, os soldados americanos chegaram a Heungnam,
depois de entrarem na península coreana através da "Operação de
Incheon" e atravessarem Pyongyang. Liderados pelo avião de
guerra B-29, os soldados americanos executaram um ataque
completo e bombardearam a noite inteira, até toda Heungnam se
tornar um mar de fogo. Os altos muros da prisão fora derrubados
em um instante, então todos os guardas ficaram amedrontados e
fugiram. Por fim, os portões que nos cercavam em várias voltas
foram abertos. Perto das duas da madrugada, eu e outros
prisioneiros saímos tranquilamente da prisão.
Fora da prisão, onde tinha passado os últimos dois anos e oito
meses, minha aparência era deplorável. Das roupas íntimas aos


meus sapatos, nada ficou inteiro. Vestido nesses trapos, com a
aparência do mendigo dos mendigos e junto daqueles que me
seguiam desde a prisão, fui para Pyongyang, em vez de ir à minha
terra natal. Todos eles me acompanharam, também deixando suas
esposas e filhos. Mesmo que a figura da minha mãe, chorando
incontrolavelmente por mim em casa, não saísse dos meus olhos,
primeiro tive que procurar pelos membros que ainda estavam em
Pyongyang.
No caminho para Pyongyang, eu pude ver claramente que a Coreia
do Norte já estava preparada para a guerra. As grandes cidades já
eram ligadas por uma rodovia de mão única para ser utilizada como
estrada militar em emergências, e em vários lugares tinham
construído pontes reforçadas com cimento grosso para que os
tanques de guerra de trinta toneladas não tivessem problemas para
passar. O adubo que os prisioneiros de Heungnam carregaram com

o risco de suas vidas havia sido trocado por velhas armas russas,
que tinham sido colocadas no paralelo 38.
Assim que chegamos em Pyongyang, procurei cada um dos
membros que estava comigo antes de ser preso. Não suportava ficar
sem saber do paradeiro e da situação deles. Por causa da guerra,
todos estavam esparramados, mas precisava arrumar uma maneira
de procurá-los e uma saída para que eles pudessem viver. Como
não sabia onde eles moravam, o único jeito era procurá-los por
todos os cantos da cidade de Pyongyang.
Durante uma semana somente consegui achar três ou quatro
pessoas. Eu os alimentei com um ensopado feito da farinha de arroz
que economizei na prisão e um pouco de água. Mesmo que,
enquanto andava de Heungnam até Pyongyang pudesse ter
enchido minha barriga faminta com as duas batatas congeladas que
tinha, não toquei nelas e guardei essa comida. Sentia-me satisfeito
só de olhá-los comerem com tanto gosto.

Para procurar todos aqueles que tinha na lembrança, independentemente
se eram velhos ou jovens, fiquei em Pyongyang por
quarenta dias. Consegui achar a maioria deles, mas de alguns não
consegui descobrir nada. Entretanto, até hoje eles não
desapareceram do meu coração. Na noite do dia 2 de dezembro,
comecei a caminhar em direção ao sul. Nossos membros, incluindo
Won Pil Kim, seguiam o grupo de refugiados doze quilómetros à
nossa frente.
Levei pelo caminho do refúgio até aquele membro que não
conseguia andar direito, que me seguia desde a prisão de
Heungnam. Ele saiu do campo de concentração antes de mim e,
quando o visitei, toda sua família já tinha ido e ele, com as pernas
quebradas, estava só na casa vazia. Eu o coloquei na bicicleta
porque suas pernas estavam debilitadas. Como a estrada boa feita
para a guerra estava ocupada pelos soldados norte-coreanos,
andávamos em cima dos campos congelados de arroz e nos
apressávamos pelo caminho do refúgio. Os soldados chineses se
aproximavam por trás de nós e eu estava levando uma pessoa que
não podia andar pelo difícil caminho dos campos de arroz. O
sofrimento era inexprimível. A estrada era tão ruim para andar de
bicicleta que o carregava metade nas costas e descia com a bicicleta
vazia. Sob essas circunstâncias, várias vezes ele quis se suicidar para
não ser um fardo para mim. Às vezes o consolava e às vezes o
repreendia, e assim ficamos juntos até o fim.
Mesmo no caminho dos refugiados, era preciso comer. Nós
entrávamos nas casas que tinham sido deixadas apressadamente e
procurávamos o barril de arroz, "barril de arroz!". Tudo o que
achávamos, fosse arroz, cevada ou batata, cozinhávamos e mal dava
para matar a fome. O arroz descia bem, ainda que não tivéssemos
tigelas ou talheres e por isso usávamos galhos no lugar do
chotkaraku. Como diz o ditado popular "a fome é o melhor tempero".

13. Talher oriental, o hashi japonês.

Quando a fome chega ao ponto em que a barriga começa a roncar,
tudo vira comestível. Até um punhadinho de cevada era tão gostoso
que não invejávamos os banquetes dos reis. Sempre abaixava minha
colher primeiro, embora ainda sentisse fome, para que os outros
pudessem comer sem remorso, ainda que só mais uma colher.
Após andar bastante pelo caminho do refúgio, conseguimos chegar
perto do rio Im Jin, mas, sem saber o motivo, meu coração sentia
uma pressa de atravessar o mais rápido possível o rio. Tínhamos
que passar de qualquer jeito o morro à nossa frente para que se
abrisse o caminho para viver. Então, mandava Won Pil Kim andar
impiedosamente. Ele era muito jovem e caía no sono enquanto
caminhava, mesmo assim não o deixei parar. A noite inteira ele
carregou a bicicleta por trinta e dois quilômetros, até chegarmos à
beirada do rio Im Jin. Felizmente a água do rio estava congelada e
conseguimos atravessá-lo logo atrás dos refugiados que tinham
chegado primeiro. Às nossas costas, mais e mais refugiados
chegavam sem parar. Entretanto, assim que nós atravessamos o rio,
os soldados da ONU fecharam a passagem para que ninguém mais
cruzasse o rio Im Jin. Se tivéssemos atrasado só um pouquinho
certamente não conseguiríamos atravessar.
Depois de atravessar o rio, Won Pil Kim se virou para olhar o
caminho pelo qual tinha passado e me perguntou com cautela:
"Mestre, o senhor previu que iriam impedir a passagem pelo rio Im
Jin?"
"Sim, eu sabia. Tais coisas passam frequentemente diante daqueles
que percorrem o caminho do Céu. As pessoas não sabem que
depois do morro encontrarão o caminho da vida. Como sentia que a
situação se agravava a cada minuto e a cada segundo, se você se
demorasse, até pensara em atravessar puxando-o pela gola."
Won Pil Kim pareceu muito emocionado pelas minhas palavras,
mas meu coração estava muito aflito. Quando chegamos ao paralelo
38, a divisa com a Coreia do Sul, colocando um pé no Norte e outro
no Sul, eu orei: "Apesar de agora estar descendo como um fugitivo,


voltarei em breve. Com certeza, reunindo toda a força do mundo
livre, libertarei a Coreia do Norte e conseguirei a unificação do
norte e do sul".
No meio dos refugiados, passei o tempo inteiro ofertando essa
oração.

CAPÍTULO 3


A PESSOA COM A MAIOR BARRIGA DO
MUNDO


"Você É o Grande Mestre da Minha Vida"



Depois de atravessar o rio Im Jin e passar pelas cidades de Seul,
Won Ju e Gyong Ju, cheguei a Pusan no dia 27 de janeiro de 1951. A
cidade de Pusan estava lotada de refugiados. Parecia que o povo da
Coreia inteira estava lá e em qualquer lugar em que alguém pudesse
viver, até mesmo a ponta da varanda, estava ocupado, sem sobrar
nenhum canto mais para se pôr o traseiro. Como não havia opção, à
noite eu dormia dentro da floresta, em cima das árvores, e durante o
dia descia para a cidade para pedir comida.


O cabelo que tinham raspado na prisão já estava bem comprido. O
traje tradicional coreano remendado e forrado com algodão de
cobertor já estava muito desgastado e minha roupa estava tão suja
de gordura que, quando chovia as gotas até deslizavam. Do sapato
também só sobrara a parte de cima, não tinha quase nada das solas,
era como andar praticamente descalço. Vista por cima ou por baixo,
minha aparência era a do perdido dos perdidos, do mendigo dos
mendigos. Não tinha trabalho nem dinheiro no bolso e me
mantinha vivo ganhando comida.
Mesmo comendo comida doada, sempre mantinha minha postura
digna. Percebia as coisas rapidamente e sentia na hora quando a
pessoa não queria dar comida, então falava: "Oi! Oi! Ajudando as
pessoas pobres como nós, você receberá no futuro a fortuna do
Céu". E dizendo isso em voz alta, sem intimidação, conseguia
alimentos. A comida ganhada dessa forma era dividida entre
dezenas de pessoas que faziam um círculo, sentadas onde batia sol.
Sem nenhuma posse, e apesar de comermos comida doada, entre
nós existiam laços de emoções.
"Olá, quanto tempo!" Ao ouvir alguém me chamar alegremente,
olhei para trás e lá estava Dók Moon Óm, aquele que havia se
tornado meu amigo para a vida inteira, apaixonado pelas minhas
canções durante o tempo de estudo no Japão. Agora um famoso
arquiteto da Coreia, que projetara o Teatro de Cultura de Se Jong e o
hotel Lotte, ele me abraçou com muita satisfação. Sem ligar para
minha aparência pobre e sem exigir mais explicações, ele me levou
para sua casa.
"Vamos, vamos rápido para minha casa". Ele morava em apenas um
cômodo. Colocando um lençol como cortina, ele dividiu seu quarto
em duas partes e mandou a esposa e duas crianças irem para o
outro lado.
"Pronto, me conte como você passou durante esse tempo. Sempre
quis saber onde e como você estava. Nós ficamos dois amigos muito
próximos, mas para mim você sempre foi mais que um amigo.


Dentro do meu coração respeitei você, sabe? Você já sabia disso, não
é?"
Até então nunca tinha exposto meu coração francamente. No Japão,
quando lia a Bíblia, se meus amigos chegassem, prontamente
deixava de ler e não me abria muito. Na casa de Dók Moon Óm,
pela primeira vez desabafei toda a minha história.


A história não acabou em uma noite. As novas verdades que
percebi depois de encontrar com Deus, a travessia do paralelo 38,
minha ida para Pyongyang e o início do trabalho da igreja, como
sobrevivi à prisão de Heungnam, etc. Para falar tudo isso levei três
dias e três noites inteiras. Depois de ouvir tudo, Dók Moon Óm, de
repente, se levantou e fez uma grande inclinação para mim.
"Que é isso?", pedi para ele não fazer aquilo, mas não teve jeito.
"Daqui para a frente você será o grande mestre da minha vida. Essa
veneração é um cumprimento para meu mestre, por favor, aceite-a."
A partir de então, Dók Moon Óm se tornou meu discípulo, além de
meu amigo para toda a vida, e sempre me protegeu.
Depois de sair do quarto de Dók Moon Óm, consegui um trabalho
pesado no período noturno no 4o porto de Pusan. Quando recebia
meu pagamento, comia sopa de feijão na estação de trem de Cho
Ryang. Para não esfriar a sopa de feijão quentinha, a panela vinha
embrulhada em um velho cobertor. Assim que comprava, comia
imediatamente um prato de sopa de feijão e abraçava aquela panela
por mais de uma hora, para aquecer meu corpo congelado por
trabalhar a noite inteira no porto.
Naquele tempo, dormia no albergue público de Cho Ryang. O
quarto era tão pequeno que tinha que dormir na diagonal e mesmo
assim as pernas encostavam na parede. Contudo, foi naquele lugar
que escrevi, com um lápis apontado com todo o carinho, os
manuscritos originais que seriam a base do Princípio Divino. A
pobreza do dia a dia não era problema. Ainda que ficasse no meio



do aterro de lixo, nada é impossível quando se estabelece uma
vontade.
Won Pil Kim tinha passado dos 20 anos e também fazia todo tipo de
trabalho. Ele era garçom em um restaurante e trazia o arroz
queimado do fundo da panela, que fervíamos e comíamos juntos.
Com sua habilidade de desenhar bem, ele também conseguiu um
emprego como pintor na base dos soldados americanos.
Nessa época, subi o morro Bóm Net Kol, que ficava no bairro Bóm II
e construí uma casinha. Bóm Net Kol ficava perto do cemitério
público e lá não havia nada além de um vale de pedras. Como eu
não tinha meu próprio terreno, preparei um pequeno terreno na
subida do morro e fiz a base de um casebre. Como não tinha pá,
pegava uma pequena pá do vizinho e devolvia sem o dono
perceber. Junto com Won Pil Kim, rachava as pedras, cavava a terra
e levava as pedras para fazer os tijolos. Levantei as paredes com
uma mistura de terra e palha e, arrancando os quatro lados de uma
caixa de papelão ganhada da base dos soldados americanos,
cobrimos o telhado. O chão foi revestido com plástico preto.
Aquele era o barraco dos barracos. Por ser encostado em um grande
rochedo, no meio do quarto tinha uma grande pedra. Atrás da
rocha foram colocados todos os móveis que nós tínhamos, uma
escrivaninha baixa e o cavalete de pintura de Won Pil Kim. Quando
chovia, jorrava água como uma fonte dentro do quarto. Embaixo do
chão, corria um riachinho e eu ouvia o som da corrente de água. Era
um quarto muito poético. Por dormir em um dormitório tão frio
como aquele, cheio de goteiras e com água correndo por baixo, o
nariz sempre escorria. Apesar disso, mesmo com um pedaço do
quarto, ficava muito feliz por ter um lugar onde podia me deitar
com o coração tranquilo. Além disso, como estava percorrendo o
caminho para fazer a vontade de Deus, no meio daquele ambiente
miserável não tinha nada além da esperança me preenchendo.
Quando Won Pil Kim saía de casa para trabalhar na base dos
soldados americanos, ia até bem embaixo do morro para me


despedir dele, e quando ele voltava do trabalho à noite, também o
recebia lá embaixo. No resto do tempo, sem dormir, não fazia outra
coisa se não escrever o Princípio Divino original sentado na
escrivaninha baixa com o lápis bem apontado. No pote podia faltar
arroz, mas o quarto estava cheio de pontas de lápis.
Para que pudesse me concentrar em escrever, Won Pil Kim ficava ao
meu lado me ajudando tanto material como espiritualmente. Depois
de trabalhar o dia inteiro, provavelmente ele ficava muito cansado,
mas ainda assim: "Mestre, mestre!", ele me chamava e me seguia por
todo lugar. Sabendo que muitas vezes estava cochilando no
banheiro pela falta de dormir, ele me seguia até quando eu saía para

o banheiro. E muito mais que isso: "Gostaria de ajudar em algumas
coisas, mesmo que pequenas, no livro que o mestre está
escrevendo", ele dizia. E para ganhar dinheiro extra, a fim de
comprar os lápis que eu usava, ele começou a pintar retratos dos
soldados americanos. Naquele tempo era moda entre os soldados
levar o retrato da esposa ou da amante, antes de voltar para sua
pátria. Os soldados pagavam quatro dólares por cada retrato, do
tamanho de uma cartolina, que ele pintava sobre tecido engomado
na base de madeira.
Tinha tanta gratidão pelo coração de Won Pil Kim que, enquanto ele
pintava, eu o auxiliava em silêncio. Depois que ele saía para
trabalhar na base americana, engomava o tecido e cortava a madeira
para deixar as molduras prontas. Antes dele voltar do trabalho,
deixava todos os pincéis limpos, comprava as tintas necessárias e as
preparava. Ele desenhava com lápis 4B sobre o pano engomado. No
início, ele pintava um ou dois retratos, mas depois ficou famoso e
chegava a passar a noite sem dormir para fazer de vinte a trinta
pinturas.
Quando o trabalho aumentou, até eu, que antes só dava conselhos,
comecei a pegar nos pincéis. Depois de Won Pil fazer os contornos
dos rostos, eu pintava os lábios e até as roupas. Todo o dinheiro que
ganhamos juntos, tirando apenas para os gastos com lápis e

material para desenhar, gastamos para o trabalho da igreja. Era
importante deixar a Palavra de Deus escrita, mas era mais
importante avisar a Sua Vontade o mais rápido possível para o
maior número de pessoas.

O Belo Homem Louco que Morava ao Lado do
Poço



Quando nossa casinha de barro em Bóm Net Kol estava construída
e o trabalho da igreja começou, apenas três pessoas me ouviam.
Mesmo assim, não pensava
que testemunhava somente para elas, e embora não visse com os
olhos físicos, pensava que estava na frente de milhares e dezenas de
milhares de pessoas, isto é, da humanidade inteira, e por isso falava
com a voz forte e alta. Dia e noite, para o mundo inteiro, bradei a
Palavra do Princípio Divino que tinha descoberto.
Na frente da casinha havia um poço e entre as pessoas que pegavam
água lá, corria um rumor de que no casebre de barro morava um
homem louco. Até havia motivo para esses comentários, já que
minha aparência era de um homem com roupas miseráveis falando
como se estivesse gritando ordens para todo o mundo. Talvez esses
rumores chegassem até os moradores do sopé do morro, porque eu
contava histórias sobre a reviravolta do Céu e da Terra e dizia que a
Coreia unificaria o mundo todo de uma vez. Por causa desses
boatos, as pessoas começaram a me visitar, curiosas para ver o
homem louco que morava ao lado do poço. Certa vez, um grupo de
estudantes de uma faculdade de teologia veio e até os professores


da Universidade Feminina Ewha. Com os rumores sobre "o belo
homem louco" aumentando, havia senhoras que subiam o morro
para me ver como uma atração.
No dia em que recostei o lápis depois de escrever o "Princípio
Divino original", orei: "Agora chegou a hora de testemunhar. Então,
mande por favor os cristãos para quem eu possa dar testemunho", e
fui até o poço. Como era dia 10 de maio, final da primavera, eu
suava do calor por vestir calças de traje coreano forradas com
algodão e um casaco velho.
Nesse instante, vi uma jovem que subia chegando perto do poço,
limpando o suor da sua testa: "Há sete anos, Deus amou muito a
missionária", lhe disse, e ela ficou assustada porque sete anos atrás
ela tinha se determinado que iria ofertar sua vida inteira para Deus.
"Eu sou Hyun Shil Kang, a missionária da igreja Bóm Cheon da vila
debaixo. Ouvi que à beira do poço morava uma pessoa louca e vim
para dar testemunho."
Ela me cumprimentou assim. Depois de se apresentar, ela entrou na
casa e olhou feio para o quarto humilde. Observando atentamente
por cima da escrivaninha, ela me perguntou: "Por que tantas pontas
de lápis?"
"Até hoje de manhã, estava escrevendo um livro que revela o
princípio do universo. Para a missionária ouvir essa palavra, Deus a
mandou até aqui."
"Quais palavras? O Céu me mandou subir até o poço porque havia
uma pessoa para eu testemunhar."
Eu ofereci uma almofada, pedindo que ela sentasse, e também me
sentei. Embaixo de onde nos sentamos, ouvíamos a água da fonte
correndo, "chuá, chuá, chuá".
"Nossa pátria no futuro assumirá um importante papel como o
cume da montanha do mundo. E as pessoas do mundo inteiro
lamentarão não ter nascido como coreanas."


Diante dessas minhas palavras, ela ficou com uma expressão
incrédula.
"No futuro, Jesus virá à terra da Coreia com corpo físico, assim
como Elias apareceu como João Batista." Quando eu disse isso, ela
ficou tão brava que rebateu: "Jesus não tem nenhum lugar para ir,
por isso vem para essa terra tão miserável? O senhor já leu
direitinho o Apocalipse para falar isso? Eu..."
"É, você é uma pessoa que estudou muito na Faculdade de Teologia
Ko Ryo, é isso que queria dizer?"

"Oh, como o senhor sabe disso?"
"Eu iria esperar pela missionária se não soubesse de tal coisa? Como
você me falou que iria dar testemunho hoje, pode me ensinar."
Então, Hyun Shil Kang, como uma entendida de teologia, começou
a me atacar citando passagens bíblicas sem nenhum embaraço. Ela
era tão convicta em me rebater, que até eu fiquei apertado e
respondi em voz alta, como um apito de trem. Como a conversa se
alongou e fora da casa escurecia, preparei o jantar. De
acompanhamento tínhamos somente kimchi1 velho, mas mesmo
assim, sentados no quarto onde o "chuá, chuá" da água corrente
caía, nós dois comemos todo o arroz e recomeçamos a discussão. No
dia seguinte e no dia depois daquele, ela subiu e discutiu comigo.

Até que, no fim, Hyun Shil Kang saiu da igreja Bom Cheon e se
tornou membro de nossa igreja.
Em um dia de muito calor, minha esposa me visitou na humilde

casa de Bom Net Kol. Um menino de sete anos de idade se segurava
a ela. Aquele menino, nascido no ano em que subi para Pyongyang

enquanto caminhava para comprar arroz, já tinha crescido bastante.
Não tinha coragem de olhar o rosto do meu filho ou abraçá-lo,

encostando no rosto dele para expressar toda a minha saudade.

Apenas fiquei em pé como uma pedra, sem dizer nenhuma palavra.

1.Prato típico coreano, conserva de acelga apimentada.


Mesmo que ela não dissesse nada, podia imaginar o sofrimento que
mãe e filho passaram durante a guerra. Na verdade, já sabia onde
eles moravam e como estavam vivendo. Entretanto, ainda não tinha
chegado o tempo de cuidar da minha própria família. Como pedi
várias afirmações dela antes do casamento, se ela confiasse em mim
e esperasse um pouco mais, poderia buscá-los com toda alegria, mas
ainda não tinha chegado a hora. Mesmo que aquela casa humilde
fosse apertada e muito simples, já era a nossa igreja. Como eu
comia, vivia e estudava a palavra de Deus junto com vários
membros, não podia começar minha vida familiar naquele lugar.
Vendo aquela casinha, minha esposa demonstrou profundo
desgosto e foi embora descendo o morro.

Uma Igreja sem Denominação e que Não É uma
Igreja



Na Coreia há um dizer que, quanto mais alguém recebe um
xingamento dos outros, mais tempo vive. Se eu viver tanto quanto
fui insultado, talvez ultrapasse os 100 anos. Também se a barriga
ficasse cheia não de comida, mas de ofensas, a minha seria muitas
vezes maior que a dos outros, e me tornaria a pessoa com a maior
barriga do mundo. Quando comecei a igreja em Pyongyang, as
mesmas igrejas tradicionais que tanto se opuseram a mim e até me
apedrejaram, também se opuseram a mim em Pusan. Antes mesmo


de ter começado a igreja direito, já fizeram muitas críticas. Herético
e blasfemador eram nomes que colocavam na frente do meu. Quase
nunca chamavam o meu nome sem precedê-lo dessas palavras.
Por não aguentar mais essas severas perseguições, em 1954 fechei
aquele humilde casebre em Pusan e passei por Taegu para chegar a
Seul. Aluguei uma casa de madeira em Buk Hak Tong, onde ficava

o parque Jang Chung Dan, e coloquei a placa da "Associação do
Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial". A razão
de colocar esse nome é porque eu não queria pertencer à
ramificação de nenhuma igreja, e tampouco queria criar outra nova
ramificação.
"Cristianismo Mundial" significava todas as igrejas cristãs do
Oriente e do Ocidente, do passado e do presente e "Unificação" era o
objetivo para o futuro. A palavra "Espírito Santo" também
expressava que por trás havia a harmonia do mundo espiritual e do
mundo físico, centralizada no amor entre Pai e filho. Ou seja, "está
ligado ao fundamento do divino mundo espiritual". Especialmente
a palavra Unificação era o meu ideal para construir o mundo
concebido por Deus.
Unificação não é coligação. Coligação significa que dois se
reuniram, mas a unificação significa que dois se tornaram um.
Depois fomos chamados de "Igreja da Unificação", mas na verdade
foram os outros que nos chamaram assim. Naquele tempo, éramos
chamados entre os universitários de "Igreja de Seul".
Entretanto, não gostava muito da palavra "igreja". Igreja significa
"reunião que ensina". Religião significa "ensinamento central". Em
outras palavras, a igreja é a reunião que ensina as lições principais.
Não via motivo para me separar dos outros com a palavra "igreja",
mesmo assim as pessoas usavam o termo "igreja" como se fosse algo
especial. Não queria que pertencêssemos a esse tipo de grupo
especial. O que queria era a igreja sem divisão. A verdadeira
religião é aquela que apesar de sacrificar sua própria denominação,


quer salvar a nação e mesmo sacrificando sua própria nação, quer
salvar o mundo e, além disso, mesmo que sacrifique o mundo, quer
salvar toda a humanidade. Em qualquer situação, jamais a
denominação Igreja poderá se tornar prioridade.

Como não tinha escolha, coloquei a placa da igreja, mas no meu
coração, estava pronto para retirá-la a qualquer momento. No
instante que alguém coloca uma placa que diz "igreja", ele está
fazendo a distinção de igreja e não igreja. Pegar algo que está unido
e dividir em duas partes, não está certo. Esse não era meu sonho,
nem o caminho que desejei percorrer. Se for preciso retirar a placa
para salvar a nação e o mundo, agora mesmo posso fazer isso.
Porém, no mundo atual não existe opção, por isso coloquei a placa
da igreja no portão de entrada. Se a colocasse um pouquinho mais
alto, até ficaria melhor para olhar, mas como o telhado da casa era
baixo, não tinha um lugar adequado para pôr a placa. No final,
coloquei na altura de uma criança, então a meninada pegava a placa
e brincava, às vezes quebrando-a em duas. Como aquela era a placa
histórica da nossa igreja, não podia jogá-la fora. Então, eu a amarrei
com arame farpado e a preguei no portão de entrada. Tal qual
aquela placa, também fomos muito mal tratados sem nenhum
motivo.
O telhado era tão baixo que precisávamos abaixar a cabeça para
entrar em casa. Se seis pessoas se reunissem na sala para orar,
tínhamos até que encostar a testa uns nos outros. Os moradores do
bairro zombavam ao verem nossa placa, e tiravam sarro
questionando como poderíamos falar do mundo e sonhar com a
unificação dentro de uma casa tão baixa, onde precisávamos entrar
agachados. Sem querer saber o porquê de colocarmos aquele nome,
simplesmente nos tratavam como loucos. Mesmo assim, isso não era
problema para nós, que já tínhamos vivido até pedindo comida em
Pusan. Ali pelo menos possuíamos uma casa onde realizar os cultos.
Então, não tínhamos nada a temer. Mesmo que me vestisse com


roupas de trabalho que tinham pertencido aos soldados americanos
tingidas de preto e calçasse sapatilhas pretas de borracha, o meu
coração era muito mais digno que qualquer outro.
As pessoas que frequentam a nossa igreja chamam umas às outras
de membros da família, Sik-ku. Naquele tempo o amor contagiou
todos os membros. Com a igreja dentro dos seus corações, se eles
pensassem "quero ir", independente do lugar onde estivessem,
podiam ver e ouvir tudo o que eu fazia naquele momento. Todos
estavam ligados como um só, pelo fio elétrico do amor interno com

o qual podíamos nos comunicar diretamente com Deus. Uma
pessoa colocava arroz na panela para cozinhar, e de repente
esquecia aquilo e ia para a igreja, uma outra pensava em colocar
uma saia nova para ir à igreja, mas ia com a mesma saia velha e
furada. Para impedir uma mulher de frequentar a igreja, a família
raspava seus cabelos, mas ela ia mesmo careca.
Quando o número de membros cresceu, nós começamos a
testemunhar nos campus das universidades. Na década de 50, os
universitários eram as pessoas mais intelectuais. Primeiro
começamos a dar testemunho em frente à Universidade Feminina
Ewha e da Universidade Yeonse. Em pouco tempo, muitos
estudantes quiseram se juntar a nós.
A professora Yun Yong Yang, do curso de música da Universidade
Feminina Ewha e o professor Chung Hwa Han, inspetor dos
dormitórios dos estudantes, também frequentavam a nossa igreja.
Além dos professores, o número de estudantes universitários
crescia cada vez mais, não apenas em um ou dois, de uma vez
vinham dezenas de pessoas, numa progressão geométrica. Não
somente as igrejas tradicionais, mas nós mesmos ficamos surpresos.
Depois de dois meses do início do testemunho nos campus das
universidades, centralizados nos estudantes da Ewha e da Yeonse, a
quantidade de membros aumentou explosivamente. A velocidade
era muito rápida. Assim como uma veloz rajada de vento da
primavera, o coração dos estudantes se transformava em um

segundo. Num mesmo dia, dezenas de alunas da Universidade
Feminina Ewha entraram na igreja de malas prontas. Quando
alguém tentava impedi-las de sair do dormitório da universidade,
elas diziam: "Por quê? Por que está me impedindo? Se quer me
proibir pode me matar. Por favor, me mate!" Era comum elas
pularem os muros dos dormitórios. Mesmo que eu pedisse para elas
não fazerem isso, nada as segurava. Elas afirmavam que gostavam
mais da nossa igreja cheirando a chulé do que da sua limpa escola e
não obedeciam ninguém.
Por fim, a reitora da Universidade Feminina Ewha, Hwar Lan Kim,
rapidamente mandou para visitar a nossa igreja a professora Yong
Oon Kim, do curso de Serviço Social da Religião. A professora Kim
tinha estudado no Canadá e era, na Universidade Ewha, uma
destacada conhecedora de Teologia. Enviaram justamente a
professora Kim, especializada em Teologia, para descobrir o ponto
fraco da doutrina da Igreja da Unificação a fim de impedir a entrada
das estudantes na nossa igreja. A professora Kim chegou como
enviada especial, mas uma semana depois de me encontrar, ela se
tornou membro fervoroso da nossa igreja. Quando até a professora
Kim reconheceu a nossa igreja, então outros professores e alunos da
Universidade Feminina Ewha passaram a confiar mais em nós.
Então, como era de se esperar, o número de adeptos aumentou
como uma bola de neve.
Como as coisas estavam fora de controle, as igrejas tradicionais
começaram a me atacar de novo, alegando que eu estava roubando
seus membros. Sentia que aquilo era injusto. Nunca insisti que
escutassem somente meu sermão e frequentassem apenas nossa
igreja. Se os mandasse embora pela porta da frente, eles entravam
pela porta de trás. Se eu fechasse os portões, eles pulavam os muros.
Com minha própria força, era impossível impedi-los. Então, as
Universidades Ewha e Yeonse ficaram assustadas. Por serem
escolas fundadas pelas entidades cristãs, jamais poderiam se calar
diante da entrada de seus estudantes e professores em outra igreja.


O Escândalo da Expulsão e Demissão das
Universidades Yeonse e Ewha



As duas universidades se sentiram ameaçadas e optaram por uma
decisão radical, nunca vista na história de ambas as escolas. Na
Universidade Ewha, cinco professores foram demitidos, incluindo a
professora Young Oon Kim, e expulsaram quatorze alunas, entre as
quais cinco estavam no último ano de curso. Na Universidade
Yeonse um professor foi demitido e dois alunos expulsos.
Na época, a pastora orientadora da Universidade Yeonse
aconselhou os alunos: "Para não dar problemas para a escola, vocês
poderiam frequentar aquela igreja depois de formados?"
Mas eles não aceitaram. Os estudantes ainda contestaram: "A
Universidade está cheia de ateus, até filhos de feiticeiros, então por
que nós devemos ser expulsos?" Mas a orientadora repetiu: "Nossa
escola é particular e também cristã, por isso podemos expulsá-los
sem nenhum problema", e mandaram os alunos embora.
Quando os jornais foram informados disso, as manchetes saíram
assim: "Numa nação de liberdade religiosa, expulsar alunos é
inconcebível", e houve uma grande repercussão na sociedade.

A Universidade Feminina Ewha recebia fundos da Fundação Cristã
do Canadá, por isso se muitas alunas frequentassem uma igreja de
hereges, a instituição poderia ter problemas em receber apoio
econômico. Naquele tempo a Universidade Ewha checava
rigorosamente a presença das alunas na aula de ensino religioso,
três vezes por semana, e relatava à sede mundial.
Depois que expulsaram os alunos e demitiram os professores, a
simpatia da opinião pública por nós aumentou. Então, para reverter
esse cenário, começaram a espalhar boatos tão horríveis que é difícil


dizê-los para não sujar minha boca. Quanto mais rumores sem
fundamento surgiam, maior a curiosidade das pessoas. Os rumores
aumentaram e o escândalo das Universidades Yeonse e Ewha
tornou-se um episódio absurdo que fez nossa igreja sofrer por mais
de um ano.
Não queria que tal história tivesse uma repercussão tão grande
porque não queria causar problemas. Eles poderiam seguir com a
vida de fé sem alarde, e tentava convencer os professores e alunos
disso, que não havia necessidade de tanto barulho no mundo a
ponto de fugirem do dormitório da universidade. Mas o efeito era
contrário: "Por que não posso? Eu queria receber mais graças", eles
tentavam me convencer. No final, todos foram expulsos de suas
faculdades, e meu coração também não ficou confortável com isso.
Para consolar seus corações, os alunos expulsos subiram nos
oratórios dentro da montanha Sam Gak. Eles não tinham outro
lugar para ir, pois por terem sido expulsos, também recebiam
críticas de suas famílias e nem seus amigos queriam encontralos.
Eles subiram a montanha Sam Gak e se concentraram em jejum e
em orações com tantas lágrimas que até escorriam pelo nariz. Então,
muitos começaram a falar "línguas". Normalmente Deus aparece no
momento em que estamos no cúmulo do desespero. Depois de
serem expulsos das faculdades e abandonados por suas próprias
famílias e pela sociedade, os alunos encontraram Deus no oratório
de Sam Gak.
Fui encontrá-los na montanha e os consolei alimentando os
estudantes que estavam exaustos das orações e do jejum.
"Já é muito triste e injusta a expulsão de vocês, não precisam piorar
as coisas jejuando. Apesar de recebermos tais terríveis insultos, se
vocês não têm motivo para ficar com a consciência pesada, vocês
não foram desonrados e não se tornaram pecadores, então não se
desesperem e vamos esperar o tempo certo."


Posteriormente, aquelas cinco alunas que estavam no último ano da
faculdade se transferiram para a Universidade Feminina Suk
Myung e ao menos se formaram. Mas, por causa desse escândalo
meu nome ficou desmoralizado, se tornou o pior de todos. Como
manchetes a respeito do escândalo das Universidades Yeonse e
Ewha foram publicadas nos jornais, quaisquer maus rumores sobre
novas religiões que surgissem na época, eram recebidos como se
fôssemos nós. Começou com um "talvez seja verdade", e logo
aqueles rumores sem fundamento se tornaram "E realmente
verdade", e eles passaram a nos atacar.
Realmente sentia dor, apanhando injustamente. Apesar de querer
contestar, gritar com o sentimento de injustiça e raiva, eu me
mantive em silêncio e não briguei revidando com eles.

Nosso caminho era muito longo e exigia muita pressa, então não
tínhamos tempo para parar e discutir. Aquele mal-entendido do
mundo seria resolvido com o passar do tempo; não preciso me
afligir. Pensando assim, não me preocupava. Ignorei tudo em
silêncio, a gente que gritava em público: "Que um raio parta Sun
Myung Moon" e também os pastores cristãos que convocavam as
pessoas para orarem pela minha morte.
Os boatos, porém, em vez de se acalmarem, a cada dia que passava
se expandiam mais distorcidos. O mundo inteiro se levantou e
apontou para mim. Até sob o calor da fábrica de adubo em
Heungnam, eu nunca tinha mostrado minhas canelas, todavia
espalharam rumores de que eu dançava nu. A partir de então,
quando as pessoas visitavam a nossa igreja elas me fitavam com um
olhar de dúvida: "Ah, é ele quem realmente dança nu?" Sabia muito
bem que precisaria de tempo para esclarecer esse mal-entendido,
por isso nunca dei sequer uma palavra justificando: "Não sou esse
tipo de pessoa". Para saber de alguém, geralmente tem que se
conhecer bem aquela pessoa, mas sem nunca terem me encontrado
pessoalmente ou mesmo me visto, muitos falavam isso e aquilo de
mim, sem medo de usar palavras terríveis. Ponderei que não podia


fazer nada com aquelas pessoas que sequer me conheciam, e assim
aguentei tudo pacientemente.
Com o sofrimento desse período do escândalo de Yeonse e Ewha,
nossa igreja ficou a um passo de ser totalmente derrubada. Além de
marcarem firmemente na minha testa a imagem do grupo da
religião falsa, as igrejas tradicionais se levantaram unidas e pediram
em gritos que me fizessem desaparecer.
Por fim, no dia 4 de julho de 1955, os policiais invadiram nossa
igreja e pegaram todos, Won Pil Kim, Hyo Yong Yoo, Hyo Min Yoo
e Hyo Won Yoo. Era uma conspiração dos pastores e ministros
cristãos tradicionais para acabar com a nossa igreja, e juntamente
com políticos, eles nos denunciaram ao Poder Público. Por causa
disso, aqueles quatro membros que me seguiam desde o início
passaram pela prisão sem motivo. Mas não parou por aí. A polícia
investigou meu passado e alegou que eu havia cometido o crime de
deserção militar. Na verdade, depois de ser preso na Coreia do
Norte, já tinha passado da idade de servir o Exército. Baseados
nisso, eles armaram uma cilada e me acusaram de ter infringido a
lei do serviço militar.

No Galho Queimado Também Brotam Novas
Folhas



Fui levado à delegacia So De Moon e apesar de ser levado
injustamente, não resisti. Então, alguns me chamaram de mu gol


chung, a pessoa sem caráter. Mas aceitei tudo com o pensamento de
que tinha que enfrentar o que me fosse dado no caminho que
escolhi, e suportei pacientemente e em silêncio. Não podia fazer
nada contra. Se tudo o que me acontecia era algo pelo qual tinha
que passar, mesmo que as dificuldades fossem muitas, teria que
percorrer aquele caminho. Porque aquela era minha razão de viver,
nunca pude desanimar, pelo contrário, eu sempre agi com
dignidade diante de qualquer pessoa.
Com essa decisão, os policiais não achavam um jeito de me vencer.
Quando eles redigiam os relatórios, eu dizia antes como eles
deveriam escrever.
"Por que você não usa tal palavra? Aí tem que escrever assim...",
quando falava assim, todo mundo ficava espantado. Se eles
escreviam o relatório de acordo com as minhas orientações, cada
frase ficava certa separadamente, mas no final saía o contrário do
que eles tinham planejado. Então, os policiais ficavam bravos e
rasgavam tudo o que tinham escrito.

No dia 13 de julho de 1955, entrei de novo na prisão So De Moon.
Apesar de estar algemado, não tinha vergonha nem estava
pesaroso. A vida na prisão não impedia em nada o caminho que
deveria percorrer. Nunca se tornou uma armadilha que me fizesse
desanimar, ao invés disso, até passou a ser uma motivação segura
que estimulava o fervor no meu coração. Era como se tivesse
ganhado um bônus em minha vida. "Nunca vou desaparecer na
prisão. Não posso morrer. Isso servirá somente como uma base para

o grande salto que darei para o mundo da libertação." Foi pensando
assim que suportei a vida de prisioneiro.
É uma regra neste mundo e também uma lei celeste que o mal será
destruído e o bem prosperará. Mesmo que tenha que entrar num
monte de estrume, nada irá me destruir se mantiver um coração
puro e verdadeiro. Quando estava andando algemado, as mulheres
que passavam me olhavam com cara de desaprovação. Elas

demostravam a sensação de que eu era grotesco mesmo para olhar,
porque acreditavam que era um líder religioso adúltero. Porém, não
tinha medo nem sentia vergonha. Mesmo que palavrões foram
usados para zombar de mim e da nossa igreja, não fiquei abalado.
Entretanto, como poderia não sentir dor? Aparentemente, fingia que
estava tudo bem, mas por diversas vezes me sentia tão angustiado e
triste que dava um nó na garganta. Cada vez que o meu coração
queria fraquejar, engolia o choro: "Não sou um homem que pode
desaparecer na prisão. Com certeza, vou me reerguer.
Definitivamente, vou me levantar". E pensando assim, me
determinava firmemente: "Vou guardar toda essa tristeza no meu
interior, vou carregar toda a cruz da igreja".
Achavam que, se ficasse preso, a igreja acabaria e todos os membros
se dispersariam, mas isso não aconteceu. Enquanto estava na prisão,
os membros da nossa igreja me visitavam todo dia. Até brigavam
para ver quem iria me visitar primeiro. O horário de visitas
começava a partir das oito horas da manhã, mas nossos membros
esperavam desde a madrugada em fila no muro da prisão e quanto
mais eu era insultado e deixado na solidão, apareciam mais pessoas
que me consolavam e choravam por minha causa.
Não recebia muito bem os membros da igreja que me visitavam
com tanto carinho, até os repreendia: "Por que se deram ao trabalho
de vir?" Mesmo assim, eles me seguiam derramando muitas
lágrimas. Isso é fé e amor. Eles gostavam de mim não porque falava
muito bem. Eles gostavam de mim porque sabiam que no fundo do
meu coração havia amor. Meus membros percebiam a sinceridade
do meu coração. Ainda que eu morra, eu nunca poderei esquecer
aqueles membros todos juntos me procurando para lá e para cá
quando eu estava indo para a audiência algemado. Aqueles rostos
cobertos de lágrimas ao me verem sentado no lugar do réu sempre
ficarão na minha memória.
"Como ele pode fazer as pessoas enlouquecerem assim?", os
guardas da prisão falavam, olhando nossos membros chegarem.


"Aquele homem não é o marido dela, nem a esposa dele, nem é seu
filho, como é que pode ter tanta devoção?", ficavam boquiabertos.
"Oh, diziam que o mestre Moon era um ditador e explorador, mas
então tudo isso era mentira". A opinião anterior deles mudava e eles
até se tornavam membros da nossa igreja.
Finalmente, depois de ficar três meses na prisão, fui libertado como
inocente. No dia em que fui solto, o chefe da prisão e os diretores se
despediram de mim com todo o respeito. Todos eles, nesses três
meses, haviam se tornado membros da nossa família. A razão de
seus corações se voltarem para mim era simples. De perto, eles
perceberam que eu era completamente diferente do que diziam os
boatos. Aqueles barulhentos e infundados rumores até ajudaram
para dar testemunho.
Quando fui levado pela polícia, toda a mídia e a sociedade fizeram
muito alarde. Mas quando fui declarado inocente e solto, o mundo
se manteve em silêncio. Só saiu uma pequena nota no jornal, escrita:
"O Reverendo Moon foi solto como inocente", de apenas três linhas.
Aqueles terríveis falsos rumores sobre mim ficaram conhecidos com
destaque por toda a Coreia, mas o fato de que aqueles boatos eram
uma completa mentira foi enterrado silenciosamente. Os nossos
membros me olhavam, choravam e diziam: "Mestre, não
aguentamos ficar assim com tanta raiva!", mas eu só os consolava e
ficava calado.
Nunca esqueci a dor que senti quando me apontaram e zombaram
de mim por causa daquelas falsas acusações. Mesmo quando tantas
pessoas se puseram contra mim, que sentia como se não houvesse
nenhum lugar para ficar em toda a Coreia, suportei tudo. A
angústia que senti naquele tempo permanece comigo num canto do
meu coração até hoje. Contudo, mesmo que sofresse com a chuva e

o vento, e mesmo que me ateassem fogo, jamais poderia me tornar
uma árvore morta. Até nos galhos queimados, quando a primavera
chega, brotam folhas novas. Essa é a lei. Segurando-me à forte
determinação no fundo do meu peito, e caminhando firmemente

com toda a dignidade, tenho certeza de que um dia o mundo me
reconhecerá.

Oh Dor, nos Discipline!



Embora as pessoas chamassem de herege a nova verdade que eu
estava transmitindo, embora jogassem pedras, Jesus, que nasceu na
terra do Judaísmo, também foi acusado de heresia e foi crucificado.
Comparado a isso, a perseguição que recebi não era tão dolorosa
nem tão lamentável. Podia aguentar qualquer dor no meu corpo,
porém me machucava muito que tratassem nossa igreja como
herege. Desde o início, a maioria dos teólogos que estudavam a
nossa igreja, a aceitava alegremente, dizendo que era uma nova
teologia lógica e original. Contudo, a balbúrdia de que éramos
hereges ficou ainda mais barulhenta e não era por uma questão
teológica, mas por causa do envolvimento com circunstâncias
práticas.
A maioria dos membros eram pessoas que aderiram a nosso
movimento depois de saírem das igrejas tradicionais que frequentavam.
Essa era a principal causa das igrejas tradicionais nos
terem como inimigos. Enquanto a professora Yoon Yong Yang da
Universidade Feminina Ewha era levada presa e investigada,
oitenta pastores cristãos, incluindo a reitora Hwar Lan Kim,
mandaram para a polícia cartas de denúncia com conteúdos de
severa crítica à nossa igreja. Não era porque nós tínhamos feito
alguma coisa errada, mas sim uma clara perseguição das


autoridades da época, que pelo seu extremo elitismo, estavam se
sentindo ameaçadas.
Na nossa igreja se reuniam pessoas de várias ramificações para
aprender sobre a Nova Verdade. Mesmo que eu falasse: "Por que
vocês vieram de novo? Voltem imediatamente para suas igrejas, por
favor", com uma voz ameaçadora e os mandasse embora, logo eles
voltavam.
Aqueles que me procuravam não ouviam mais ninguém. Não
ouviam seus professores, nem seus próprios pais. Porém, a mim eles
davam ouvidos. Eu não lhes dava dinheiro nem comida, mesmo
assim eles me seguiam, e simplesmente acreditavam nas minhas
palavras porque eu conseguia abrir um caminho no coração
apertado deles.
Antes de conhecer a verdade, também olhava o céu angustiado e até
ao observar as pessoas ao lado, podia entender bem o coração delas.
Todas as questões da vida me angustiavam e eu não encontrava as
respostas, mas depois de entender bem as palavras de Deus, as
dúvidas sumiram completamente. Aqueles jovens me seguiam
porque dentro das palavras que transmitia, finalmente tinham
recebido as respostas para as questões que sempre estiveram
guardadas nos seus corações. Assim, mesmo que o caminho
percorrido comigo fosse sofrido e difícil, eles vinham para nossa
igreja.
Sou uma pessoa que abre o caminho e o mostra. Um guia para
recuperar a família destruída e recuperar a tribo, a nação e o
mundo, e no final mostrar o caminho de volta para Deus. Todas as
pessoas que me procuraram sabiam desse fato. Comigo, eles
queriam encontrar Deus. Eu não podia entender realmente o que
tinha de errado naquilo. Apenas porque quis encontrar Deus, tive
que receber toda a perseguição e toda a crítica do mundo.
No meio de tantos problemas relacionados à discussão da heresia, o
mais difícil para mim era a minha esposa. Depois que me


reencontrou em Pusan, ela e sua família pediram a separação. Ela
queria que escolhesse entre me divorciar e deixar imediatamente o
trabalho da igreja, apenas para nós três vivermos juntos e felizes.
Até durante as visitas quando eu estava na prisão de So De Moon,
eles esfregavam na minha cara os papéis do divórcio e me
ameaçavam para que assinasse. Porém, como estava bem ciente da
importância do casamento para a construção do mundo de paz de
Deus, silenciosamente suportei com paciência, sem me importar
com os insultos que despejavam em mim.
Ela cometeu atrocidades inexprimíveis para a nossa igreja e para os
membros. Eu podia aguentar tudo quando ela me xingava e me
maltratava, mas eu não suportava quando ela atormentava a igreja e
os nossos membros. Ela frequentemente invadia nossa igreja,
ofendia os membros, destruía os móveis, pegava as coisas da igreja
à vontade e até jogava fezes sobre a casa. Quando ela aparecia, não
havia condições de realizar o culto. Finalmente, logo que saí da
prisão de So De Moon, não tive escolha senão assinar os papéis do
divórcio que eles me estendiam. Contrariando os meus princípios,
me divorciei.
Quando penso na minha ex-esposa, até agora me sinto angustiado.
O ponto a que ela chegou foi devido à influência das igrejas
tradicionais e de sua família, que era de cristãos. Aquela mulher tão
firme antes de se casar comigo, se transformara. Quando penso
nisso, mais uma vez fica claro como o preconceito e o
fundamentalismo são terríveis.
Mesmo experimentando a dor do divórcio e a tristeza de ser
apontado como herege, eu não cedi nem um pouco. Eu precisava
suportar tudo isso, para limpar o pecado original cometido por
Adão e Eva e ir em direção à nação de Deus. Dizem que o tempo
mais escuro é justo antes de amanhecer. Superei essa escuridão
orando fervorosamente a Deus. Separando apenas um instante para
cochilar, dediquei todo o tempo do dia à oração.


O Mais Importante E o Coração Sincero



Depois de três meses, fui libertado como inocente e percebi mais
uma vez que estava em dívida com Deus pelo amor e pela vida que
Ele havia me dado. Para quitar a dívida, saí procurando um lugar
onde pudesse recomeçar a igreja do zero. Entretanto, não pedia nas
orações "Por favor, Deus! Construa nossa igreja." Mesmo que só
tivesse uma pequena e humilde igreja, nunca me senti
desconfortável ou envergonhado. Eu somente agradecia por ao
menos ter um lugar para orar e nem desejava um local maior ou
mais confortável.
Como precisávamos de uma casa para reunir os membros no culto,
fiz um empréstimo de dois milhões de won e comprei uma velha
casa que caía aos pedaços no morro de Chong Pa Dong. Era uma
casa pequena, nem chegava a vinte pyong2 e para entrar
precisávamos passar por um caminho que parecia um túnel escuro.

2. Um pyong corresponde a aproximadamente 3,3 metros quadrados.
No fim da trilha ficava a casa. Além disso, não sabíamos o porquê,
as colunas e as paredes estavam todas cobertas por uma sujeira
preta. Depois de três dias em que eu e os jovens da igreja
esfregamos com um produto de limpeza, aquele pretume saiu um
pouco.
Depois que mudamos a igreja para Chong Pa Dong, quase não
dormi. Ajoelhado no quarto principal, orava até as três, quatro
horas da manhã, depois cochilava um pouco para me levantar de
novo às cinco. Levei essa rotina por sete anos seguidos. Dormia uma
ou duas horas por dia, mas nunca sentia sono nem cansaço e meus
olhos brilhavam como a estrela Dalva.
Estava muito concentrado em tudo que precisava fazer, então eu
sentia que precisava economizar tempo até nas refeições. Não fazia
as refeições em uma mesa separada, mas ajoelhava no chão com a


tigelinha de arroz. "Derrame devoção, derrame até quando estiver
cochilando! Derrame até cansar! Derrame mesmo que sinta fome",
repetia. Em meio a toda a perseguição e aos falsos rumores, orei
com um coração de semear, com a confiança de algum dia colher

aquela semente. Se não fosse na Coreia, tinha certeza que em algum
lugar do mundo ela seria colhida.
Passado um ano, o número de membros também ultrapassou os

400. Quando orava, chamava um por um o nome dos 400 membros
e antes de chamar pelos seus nomes, cada rosto passava
rapidamente pela minha cabeça. Alguns choravam, outros riam, e
na oração eu percebia como aquele membro estava, e se tinha
alguma doença ou não.
Enquanto citava o nome de cada um, "Hoje ele virá à igreja", aí
então sem falta a pessoa chegava à igreja. Eu procurava o membro
cujo rosto aparecia doente para mim e perguntava: "Você está
doente assim, assim e assim, não é?" Então ele respondia: "Sim".
"Mestre, como o senhor sabia que estava doente? Isso é realmente
interessante." Os membros ficavam surpresos e eu somente sorria.
Era tempo de realizar a Bênção do Casamento. Antes de dar a
bênção do matrimônio, sempre averiguava se os noivos e as noivas
eram puros ou não. Um dia, quando perguntei para um noivo:
"Puro?", ele respondeu em voz alta: "Sim, senhor!" Então perguntei
de novo "Você é puro?" e novamente ele respondeu "Sim, Senhor!"
Na terceira vez ele me deu a mesma resposta. Então, olhei bem nos
olhos dele e disse com uma voz ameaçadora: "Você serviu o
Exército na cidade de Hwacheon, na província Kangwon, não é?" Aí
então o noivo respondeu "Sim", com a voz cheia de medo.
"Naquele tempo, quando você estava voltando para Seul de férias,
você passou por um hotelzinho no caminho, não é? Naquele dia
você caiu com uma mulher de saia vermelha, não foi? Já sei de tudo,
como você pode mentir assim?", de tão bravo, o mandei embora. Se
abro os olhos da mente, dá para saber tudo, até o que a pessoa
esconde.

Entre aqueles que frequentavam nossa igreja, havia os que se
interessavam mais por essa força paranormal do que pela própria
Palavra de Deus. Muitas vezes as pessoas ficam muito seguras
achando que as coisas sobrenaturais são as mais importantes, mas
normalmente aquilo que as pessoas chamam de milagre causa um
deslumbramento. Focalizar a vida religiosa em querer ver
fenômenos paranormais e milagres não é levar uma vida de fé
correta. Todos os pecados precisam passar pelo processo de
arrependimento para serem eliminados, não podemos nos basear
somente no poder espiritual. Conforme a igreja foi se estabelecendo,
não falei mais para os membros sobre tudo o que via com os olhos
espirituais.
Mesmo que o número de membros aumentasse cada vez mais,
sempre os tratei individualmente, independentemente se fosse uma
avó ou um jovem, eu ouvia a história de cada um, com toda
devoção. Todos os membros diziam que, "em toda Coreia, o melhor
ouvinte da minha história foi o mestre Moon". As avós falavam
tudo, desde como elas se casaram às doenças de seus maridos, elas
me contavam todo tipo de histórias.
Realmente gosto de ouvir a história dos outros. Por isso, ouvia a
história de qualquer pessoa sem perceber o tempo passar. Não
rejeitava ouvir, quer passasse dez ou vinte horas. Quando a pessoa
quer falar, é porque o coração dela está muito apertado. E todo
mundo quer procurar uma corda que possa se salvar. Assim, é
preciso ouvir o outro com toda a dedicação. Então, eu podia amar a
vida daquela pessoa e pagar a dívida da vida que tinha recebido. O
mais importante é tratar a vida como a coisa mais preciosa. Ouvia as
histórias dos outros com todo o meu coração, e com a mesma
medida, falava e transmitia fervorosamente o meu verdadeiro
coração e também orava derramando lágrimas.
Como orava em lágrimas a noite inteira, o chão de madeira nunca
secava. As tábuas ficaram encharcadas do meu sangue e suor.
Depois, quando eu estava na América, chegou a mim a notícia de


que os membros iriam derrubar a igreja Chong Pa Dong para
reformá-la. Então, enviei um telegrama mandando parar a reforma
imediatamente. A igreja Chong Pa Dong não é só um lugar histórico
da minha vida particular, mas aquele lugar testemunhou toda a
história de nosso movimento. Mesmo que a reformassem para
tornar o lugar muito bonito, se deixassem a história sumir, que
adiantaria? O importante não é a aparência bonita, mas o valor do
significado daquilo. Em um lugar humilde, também existe tradição,
brilho e valor. O povo que não valoriza as suas tradições será
destruído.
A coluna da igreja Chong Pa Dong tem gravada na íntegra a história
do "por que ele segurou aquela coluna e derramou lágrimas".
Quando olho aquela coluna que segurava em prantos, até hoje não
posso conter as lágrimas e só de olhar aquela portinha torta, me
lembro do passado. Entretanto, agora todo aquele velho chão de
madeira sumiu, e as manchas de lágrimas desapareceram junto com

o chão de madeira onde eu orava noites inteiras ajoelhado e
derramando lágrimas de sangue. O que mais precisava eram
aquelas lembranças sofridas. Não tem problema que a figura
externa e a aparência sejam velhas. Depois de muito tempo, agora
nós também possuímos muitas igrejas bem construídas, mas em vez
desses lugares, me sinto mais confortável quando visito e oro
naquela casa velha e apertada no morro de Chong Pa Dong.
Mesmo que tenha vivido toda a minha vida em oração e sermões,
falar em público ainda me dá medo, porque é uma questão de
salvar as vidas de muitos ou matá-los todos. Guiar as pessoas que
ouvem as minhas palavras para o caminho da vida é um assunto
realmente importante. É como riscar uma linha decisiva na fronteira
entre a vida e a morte.
Ainda hoje não decido antecipadamente o conteúdo do sermão. Se
eu preparar antes, talvez meu objetivo particular possa entrar no
sermão. Eu poderia mostrar com orgulho o conhecimento contido


na minha cabeça, mas jamais conseguiria derramar meu sincero
coração. Antes de aparecer em público, realmente oferto jóng sóng,
em oração por mais de dez horas. É assim que se pode fincar a raiz
bem profunda. Mesmo que as folhas sejam mordidas pelos insetos,
não há danos quando a raiz está profunda. Apesar de não ser
eloquente, se o coração for sincero, não tem problema.
Na época do início da igreja, subia no púlpito vestido no uniforme
de operário tingido de preto, que anteriormente tinha sido o casaco
usado pelos soldados americanos e dava sermões coberto de uma
mistura de suor e lágrimas. Não havia sequer um dia que não
derramasse muitas lágrimas. As lágrimas enchiam o meu coração e
ele transbordava; meu espírito ficava longe e eram dias em que até
parecia que eu tinha chegado ao meu último suspiro. Minhas
roupas ficavam encharcadas de suor, e minha cabeça pingava.
No tempo da igreja em Chong Pa Dong, todo mundo trabalhou
arduamente, mas particularmente Hyo Won Yoo sofreu mais.
Mesmo que ele estivesse com muita dor no pulmão, ele deu dezoito
horas seguidas de conferência por dia, durante três anos e oito
meses sem parar. Como não tínhamos comida suficiente, somente
fazíamos duas refeições de um prato de cevada por dia. A única
guarnição era a conserva de kimchi que preparávamos no dia
anterior.

Hyo Won Yoo gostava de comer conserva de gon jen ih3 salgado.
Todos os dias ele deixava um pote de conserva de gon jen ih no
canto do quarto e, de vez em quando, pegava um punhado com o
chotkarak para suportar aqueles dias tão duros. Ao ver Hyo Won
Yoo deitado sem forças no chão de madeira, exausto e faminto, meu
coração doía muito. No meu coração a vontade era dar uma
conserva de sora4. Meu coração ainda dói lembrando dele, com o
corpo doente, transcrevendo de maneira adequada as palavras que

3. Espécie de camarão.
4. Molusco.

despejava como uma cachoeira.
Graças ao sacrifício de muitos membros, nossa igreja cresceu
rapidamente. Os estudantes do grupo Sóng Hwa, formado de
estudantes de ginásio e segundo grau, levavam para os missionários
pioneiros as marmitas que suas mães preparavam. Os estudantes se
revezavam de vontade própria para levar suas marmitas. Os
missionários que tinham que comer a comida dos estudantes,
pensando em como os alunos estariam passando fome, só podiam
derramar lágrimas ao colocarem a comida na boca. A devoção
sincera tinha mais valor que a comida, então todo mundo
aguentava, com o coração fortemente apertado, "Vamos realizar a
vontade de Deus ainda que morramos".
Mesmo que fosse extremamente difícil, todos saíam pela nação
inteira para testemunhar. Por causa de existirem tantos rumores
terríveis, não podiam falar abertamente da Igreja da Unificação, por
isso nós lamentávamos muito, enquanto fazíamos a limpeza das
vilas e o trabalho doméstico na casa em que faltavam mãos, e à
noite abríamos a escolinha para alfabetizar e transmitir as palavras.
Demorava meses e meses até as pessoas abrirem seus corações, e
servindo dessa maneira, nossa igreja cresceu mais e mais. Naquele
tempo, apesar deles desejarem muito ir para a faculdade, os
membros desistiam para ficar comigo e se dedicavam
completamente à igreja. Até hoje não esqueço desses primeiros
membros.

CAPÍTULO 4


A RAZÃO PELA QUAL TRABALHAMOS
GLOBALMENTE



Ainda que Eu Morra,
Vou Seguir o Caminho



Depois dos três meses preso em So De Moon, fui solto como
inocente. Assim que fui libertado, segui para Gapsa, na província
Chung Chong1. Era então 1955, logo após o fim da guerra civil, um

tempo no qual se manter vivo era muito difícil. Apesar das
dificuldades de sobreviver daquele momento, precisava pensar no
futuro. Não tinha nenhuma igreja para reunir os membros e realizar
culto, mas primeiro, precisava pôr em ação os planos de longo
prazo.
Observando a situação do mundo, pensei que não devia rejeitar o
Japão, tratando-o simplesmente como inimigo. Assim, acabada a
preparação para a atividade missionária no Japão, chamei Bong
Chun Choi à montanha atrás de Gapsa. "Você precisa atravessar já o
Hyun Hae Tan. Você só pode voltar se estiver morto."
Imagine o quão assustado ele ficou ao ouvir isso de repente?
Entretanto, sem hesitar ele respondeu: "Sim!" e desceu a montanha
animado, cantando a música: "A voz do meu Senhor chamou, onde
quer que eu vá irei..." Ele nem perguntou como iria viver no Japão
ou como deveria começar o trabalho missionário. Bong Chun Choi
era assim, um homem muito corajoso.
Por não haver relações diplomáticas com o Japão naquela época, era
preciso entrar clandestinamente no país. Isso era ilegal, mas quando
não há outra escolha senão ir por aquele caminho, há que se superar
todas as coisas.
Bong Chun Choi subiu num navio clandestino, colocando sua vida
em risco. Até ele mandar notícias dizendo que tinha chegado em

1. O caminho do mar entre Coreia e Japão.

segurança, me fechei dentro do quarto e não fiz nada além de
ofertar toda a devoção em orações. Não comi nada nem dormi. As
despesas de mandá-lo para o Japão foram de 1.500.000 won, que
paguei com um empréstimo. Apesar dos muitos membros passando
fome, essa grande quantia do empréstimo era destinada à urgente
necessidade de testemunho no Japão.
Porém, assim que Bong Chun Choi pisou em solo japonês, foi pego
e deportado para a Coreia. Então o mandei de novo para o Japão.
Desta vez também ele foi pego pela polícia japonesa e deportado.
Ao ver seus olhos cheios de lágrimas e até amedrontados, podia
imaginar o quanto ele devia ter sofrido durante aquele tempo. Ele
ainda tinha hematomas e o lado direito da sua testa estava inchado
por causa da tortura. Passei a mão pela sua cabeça em silêncio, e
dava para ver a carne onde o couro cabeludo tinha sido arrancado.
Seu rosto tremia no esforço para segurar o choro.
"Você passou pelo vale da morte e sobreviveu, por isso não precisa
falar muito, coma logo", eu disse e coloquei na frente dele um prato
fumegante de sopa. Durante aquele tempo ele não devia ter comido
direito e certamente tinha passado fome, mas Bong Chun Choi não
pôde erguer a colher imediatamente Então eu peguei a colher,
coloquei arroz na sopa e misturei. "Coma logo, é tudo o que posso
fazer por você, e isso realmente me aperta o coração." Enchi a colher
de arroz e coloquei em sua boca.
Fiquei sentado à sua frente até ele terminar toda a comida do prato.
O meu coração tinha vontade de abraçá-lo e chorar aos berros, mas
não podia fazer isso. Enquanto o via engolir a comida com tanta
dificuldade, depois de ter voltado com o corpo judiado por ter
apanhado da polícia japonesa, meu coração passou pelo inferno.
Aquele podia ser o último prato quente de comida que ele
experimentaria na vida, porque eu precisava mandá-lo mais uma
vez ao Japão.


Depois que ele terminou de comer, o levei de novo atrás de Gapsa.
Quando chegamos à floresta de pinheiros, vendo que minha
expressão estava muito séria, Bong Chun Choi sentiu medo.
"Não tenho palavras para dizer o quanto sinto por você, mas hoje à
noite você vai até Yosu e tomará o navio. Mesmo que os policiais
japoneses te peguem dez vezes, não posso fazer nada. Ainda que a
morte fique na frente do seu nariz, você deve percorrer o caminho
que lhe foi dado. Nenhum dia pode ser desperdiçado, então hoje à
noite tome o trem e vá."
"Mestre, como o senhor pode me mandar assim? Não posso ir. Não
posso ir de novo, eu tenho muito medo."

Na hora, Bong Chun Choi sentou e começou a chorar. Seu pranto
cheio de medo se espalhou com o eco e penetrou no fundo do meu
coração.
"Não chore, por favor. O choro apenas o enfraquece. Você era um
homem corajoso, que nada temia, não era? Não tenha medo. Você
pode até subir no navio clandestino sozinho, mas você nunca estará
sozinho. Sempre estarei a seu lado e Deus também sempre estará
com você. Nunca se esqueça disso."
Sentado no chão, ele não conseguia mais se levantar. Quando eu o
pus de pé, suas pernas estavam bambas e tremiam ameaçando cair.
"Moleque! Por que você está agindo como um tolo? Acorde!", eu o
chacoalhei pelos ombros e então uma pequena luz voltou aos ,seus
olhos. "Vai rápido! Isso é uma ordem do Céu, você não pode fugir."

"Mestre, de verdade, eu não posso."

"Você tem que ir. Vá já."
"Mestre, mesmo que eu morra, dessa vez eu não vou mais. Se a
polícia japonesa me pega de novo, eles me matam na hora. Por
favor, não me mande de novo."
Entendia o coração dele. Ele podia morrer, mas não queria ir uma
terceira vez. Apesar disso, o empurrei sem dó. Assim como ir sob


risco de vida era sua responsabilidade, mandá-lo de qualquer jeito,
mesmo tremendo de medo, era responsabilidade minha. Então
comecei a esbofeteá-lo sem parar e ele me implorava para não
enviá-lo.
"Moleque, uma vez que um homem jura, ele tem que cumprir. Se
for para você morrer, então morra no Japão", eu gritava. Por forçá-lo
com tanta severidade, meu coração doía mais do que o dele, mas
não tinha outra opção.
Tampouco era minha vontade mandá-lo dessa forma. Na verdade,
meu coração estava quase morrendo por ter que mandá-lo
atravessar a forte onda de Hyun Hae Tan três vezes, em um navio
clandestino pela noite escura. Contudo, aquela era a época em que o
trabalho de testemunho no Japão tinha que começar
irremediavelmente. Não dá para mudar o tempo de Deus,
atrasando ou adiantando de acordo com a vontade humana. Eu
estava ciente desse fato tão grave, e ele também o sabia.
Bong Chun Choi tomou o navio clandestino em Yosu e retornou ao
Japão. Contudo, a terceira tentativa de entrar ilegalmente também
foi um fracasso. Ele ficou na prisão Omura, à espera para ser
deportado para a Coreia. De acordo com a lei japonesa da época, os
clandestinos deveriam ser devolvidos em uma semana. Para tomar

o navio de volta para a Coreia, ele teve que ir a Shimonoseki de
trem. No trem que o levava para Shimonoseki para então regressar
à Coreia, Bong Chun Choi decidiu que seria melhor morrer a voltar.
Com esse coração, ele começou a jejuar. Quando começou o jejum,
ele teve febre alta, e por isso a polícia japonesa adiou a data da
deportação e o internou num hospital para se tratar. Nesse
intervalo, ele fugiu do hospital.
Depois de três anos em sofrimento e arriscando sua vida, finalmente
em 1958 Bong Chun Choi se estabeleceu no Japão. Naquele tempo,
além da Coreia não ter relações diplomáticas com o Japão, por causa
da dolorosa lembrança da política de colonização, todo mundo
antipatizava com o Japão. Mandei um missionário ilegalmente para

uma nação de inimigos justamente para abrir o futuro da Coreia.
Em vez de rejeitar e cortar o relacionamento com os japoneses,
precisava tomar a posição de sujeito, abraçá-los e convencê-los.
Nosso país, que não tinha nada, devia estabelecer um
relacionamento com as autoridades japonesas e suportar o Japão.
Também precisava de qualquer maneira estabelecer relações com os
Estados Unidos. Previ que o caminho para a sobrevivência da
Coreia precisava ser aberto. Graças ao sacrifício de Bong Chun Choi,
tivemos sucesso em mandar missionários para o Japão.
Posteriormente, com o admirável jovem líder Kuboki Osami e seus
jovens seguidores, a igreja do Japão se^ estabeleceu solidamente.
No ano seguinte, enviei um missionário para os EUA. Dessa vez
não foi ilegalmente, o mandei com passaporte e visto. Depois que
saí da prisão de So De Moon, fiz contatos com os ministros do
partido do governo que tinham contribuído para me prender e
consegui o passaporte. Reverti a situação e aproveitei os meus
opositores do partido do governo.
Naquele tempo, os Estados Unidos era um país extremamente
distante. Quando falei que iria mandar um missionário para os tão
longínquos EUA, todos se opuseram a mim, alegando que ainda
haveria muito tempo depois de fortalecer o fundamento na Coreia.
Porém, convenci os membros, dizendo que se não acabássemos com
a crise da América, uma nação tão grande, a Coreia seria destruída.
Então, em janeiro de 1959, mandei como primeira missionária da
América a mesma professora Young Oon Kim que tinha sido
expulsa da Universidade

Feminina Ewha, e logo em setembro daquele ano, o missionário
Sang Chól Kim chegou aos Estados Unidos e demos o histórico
primeiro passo do testemunho, tendo o mundo inteiro como
objetivo.


Dinheiro Ganho Preciosamente Deve Ser Gasto


da Mesma Maneira



O dinheiro ganho nos negócios é um dinheiro sagrado. Porém, para
que o dinheiro se torne sagrado, não se pode mentir nem ter lucro
exagerado. Para ter sucesso nos empreendimentos, é preciso ser
honesto e o lucro não pode nunca passar dos 30%. Como o dinheiro
foi ganho com sacrifício, é natural que ele seja gasto em um trabalho
que valha a pena, ou seja, esse dinheiro deve ser gasto em uma
atividade que tenha um objetivo claro e que seja para fazer a
vontade de Deus. Foi com esse tipo de coração que eu negociei a
vida inteira. O objetivo dos meus empreendimentos não é
simplesmente ganhar dinheiro, mas dar suporte para a atividade de
testemunho, que é a vontade de Deus.
Uma das razões pela qual eu queria ganhar dinheiro através do
comércio é que não queria tirar dinheiro do bolso dos membros
para manter a atividade de testemunho em outros países. Apesar de
haver um grande entusiasmo em mandar missionários
internacionais para o exterior, não bastava ter apenas vontade. Era
preciso cobrir os gastos do testemunho. Além disso, não há dúvidas
que as despesas do testemunho internacional têm que ser cobertas
com o dinheiro ganho em nome da igreja.

Para cobrir os gastos dos missionários, há que se usar o dinheiro
proveniente de negócios feitos com dignidade, pois somente assim
se pode fazer qualquer atividade com a cabeça erguida.
Pensando em alguma coisa que pudesse dar dinheiro, me surgiu a
idéia do negócio de selos. Naquele tempo eu mandava os membros
escreverem uns para os outros pelo menos três vezes por mês. Para
mandar uma carta, eles tinham que colar selos no valor de 40 won.
Então disse-lhes que não colocassem um selo de 40 won, mas 40
selos no valor de 1 won. Assim, os membros trocavam cartas entre si


e vendíamos os selos, e em um ano ganhamos um milhão de won
com selos usados. Os membros experimentaram como uma coisa
insignificante podia dar bastante dinheiro, e seguiram com esse
trabalho por sete anos. Além disso, venderam fotos de pontos
turísticos e fotos em preto e branco de artistas de cinema coloridas
com tinta. Isso também ajudou bastante na manutenção da igreja.
Porém, conforme a igreja crescia, a coleção de selos e as vendas das
fotos não eram mais suficientes para cobrir as despesas da igreja e
do testemunho internacional. Para mandar missionários para o
mundo inteiro, era preciso criar um negócio maior. Então, em 1962,
comprei por 720 mil won um torno mecânico usado pelos japoneses
e que havia sido deixado quando eles foram embora. Depois da
correção da moeda, esse valor passaria a 72 mil won. Coloquei a
máquina no canto do depósito de carvão mineral da casa que tinha
sido nossa antiga igreja e preguei a placa "Indústrias Tong 11".

"Diante dos olhos de vocês, essa máquina pode não parecer nada.
Talvez vocês estejam questionando como posso colocar uma
máquina velha e falar em um empreendimento grande. Contudo,
essa máquina que está diante de vocês logo se transformará em sete
mil, depois em setenta mil máquinas e fará um papel importante no
desenvolvimento da indústria de armas de porte na Coreia e até da
indústria automobilística. Essa máquina que compramos hoje se
tornará a pedra fundamental que guiará a indústria de automóveis
do nosso país. Então tenham confiança. Tenham convicção de que
isso acontecerá, sem dúvida."
Falei aquilo orgulhosamente perante os membros reunidos em
frente ao depósito de carvão mineral. Mesmo que o começo fosse
simples, a meta era alta e grande. Os membros, seguindo a minha
vontade, ajudaram trabalhando com muita dedicação. Graças a isso,
em 1963 pudemos começar o negócio com um porte um pouco
maior. Fabricamos um navio de nome "Chón Seung Ho", "Vitória do
Céu", e fizemos sua inauguração no porto de Man Sók Dong, na


cidade de Incheon. Com a presença de todos os nossos 200
membros, colocamos o navio no mar.
A água é algo muito especial para nós, algo que dá vida. Todos nós
fomos gerados na barriga de nossas mães. O que há dentro da
barriga da mãe é justamente água, ou seja, todos nós nascemos da
água. Como ganhamos nossa vida da água, depois de vencer todo
sofrimento no meio aquático podemos sobreviver bem na terra, e foi
com esse desejo que colocamos o navio no mar.

O navio que fizemos, o Chón Seung Ho, era muito bom. Navegando
por todo o Mar Amarelo da Coreia, ele nos trouxe muitos peixes.
Mesmo assim, nossos membros ainda não tinham uma reação
totalmente positiva, questionando por que precisávamos ir até o
mar para pescar quando havia tantas coisas para se fazer na terra.
Eu, porém, tinha percebido que logo a Era Oceânica chegaria.
Colocar Chón Seung Ho no mar significou um primeiro passo
precioso, ainda que pequeno, para essa Era Oceânica. Naquele
tempo já tinha imaginado em minha mente o maior oceano e o
maior e mais rápido navio.

A Força e a Graça da Dança que Impressionou o
Mundo


Nossa igreja não era uma igreja rica. Éramos uma igreja pobre que
começou como uma reunião de pessoas que estavam passando
fome. Não tínhamos uma igreja grande e bonita como as outras, e
ainda assim economizávamos dinheiro juntando centavo por


centavo, comendo pratos de cevada enquanto os outros comiam
pratos de arroz. O dinheiro economizado compartilhávamos com os
vizinhos mais pobres que nós. Nossos missionários viviam em um
quarto rebocado só com cimento, sem qualquer aquecimento que
não fossem seus próprios cobertores. No horário das refeições, eles
comiam apenas algumas batatas assadas e passavam o dia com essa
única refeição, apesar da fome. Sob qualquer circunstância, não
queríamos gastar o dinheiro para nós mesmos.
Com o montante de dinheiro economizado, em 1963, selecionamos
dezessete crianças e inauguramos a companhia de dança infantil
Sun Hwa, chamada "Little Angels". Na época, a Coreia não tinha
terreno fértil para um ambiente cultural. Não havia nada para se
assistir e entreter, e muito menos para mostrar para os outros.
Nossa dança, nossa cultura existente há cinco mil anos, tudo havia
sido esquecido e as pessoas somente procuravam sobreviver um dia
depois do outro.
Meu projeto era ensinar nossa dança para aquelas dezessete
crianças e enviá-las para o mundo. Meu desejo era mostrar através
da bela dança coreana, àqueles estrangeiros que só se lembravam de
guerra e pobreza quando pensavam na Coreia, que nosso povo era
um povo culto. Mesmo que nós falássemos que somos um povo de
uma cultura de cinco mil anos, sem nada para mostrar, eles não
poderiam acreditar em nós.
Rodopiando graciosamente, cobertos de belos trajes coreanos, nossa
dança é uma maravilhosa herança cultural que poderia dar novo
ânimo para os ocidentais, acostumados com danças em que pulam
alto expondo as pernas nuas. Em nossa dança está concentrada toda
a triste história do povo coreano. Com a cabeça suavemente
abaixada, expressando o sentimento de opressão, e com
movimentos silenciosos que passam quase despercebidos pelos
outros, a dança coreana é composta de gestos que somente o nosso
povo, que passou por cinco mil anos de tanto sofrimento, pode
demonstrar.


Com um passo, a bó-sun2 é erguida, o rosto virado um pouco para o
lado oposto, acompanhado pela alva mão sendo levantada. Ao
olhar esses gestos, o coração se derrete. Não é através de muitas
palavras ditas em voz alta que se impressiona o outro, mas o
coração das pessoas é comovido pelos gestos daquela dança, que
parecem ir e vir. É exatamente essa a força da arte. Na arte se
encontra a força que consegue se comunicar sem falar, e que mesmo
sem conhecer bem toda a história de vida da pessoa, permite
naturalmente entender seu coração.

Em especial, a expressão pura e o sorriso brilhante das crianças
limpavam de uma vez a imagem sombria de uma nação que passou
pela guerra. Criei a companhia de dança pensando em mostrar
nossa dança de cinco mil anos de história até para os EUA, a nação
mais desenvolvida do século XX. Apesar disso, o mundo
novamente despejou inúmeras críticas sobre nós. Antes mesmo de
ver que tipo de dança os Little Angels executavam, já começaram a
nos insultar:
"Ah, por dançarem dia e noite, as mulheres da Igreja da Unificação
finalmente geraram filhos dançarinos", absurdos e xin-gamentos
foram lançados sobre nós. Contudo, não me abati diante de
quaisquer rumores, porque eu tinha a convicção de mostrar a nossa
dança através dos Little Angels. Para aquelas pessoas do mundo
que nos criticavam dizendo que dançávamos nus, eu queria mostrar
a linda coreografia nos passos delicados da sapatilha coreana. Não
era a suposta dança que rebola todo o corpo, mas a verdadeira
dança, suave e delicada, com o corpo todo coberto com vestido
tradicional.

2. Sapatilha coreana tradicional

Anjos da Paz que Abriram uma Pequena Trilha


Através da Mata Fechada



Antes de morrer, é certeza que duas coisas devemos deixar: uma é a
tradição e a outra é a educação. Um povo sem tradição será
destruído. A tradição é a alma que mantém o povo e sem alma tal
povo não pode sobreviver. Outro aspecto importante é a educação.
Se não educar corretamente seus descendentes, aquele povo
também será destruído. A educação é obter dos novos
conhecimentos, a força com a qual podemos viver no mundo. As
pessoas aprendem através da educação a sabedoria de viver.
Enquanto analfabeto, qualquer um pode se tornar um tolo, mas
quando recebe educação, a pessoa aprende a utilizar a sabedoria do
mundo.
A educação dá a capacidade de entender as leis do mundo. Fazer
com que nossos descendentes herdem de nós a tradição acumulada
em milhares de anos e também educá-los com novos conhecimentos
é justamente construir o futuro do nosso povo. A tradição herdada e
os novos conhecimentos se misturam adequadamente na vida diária
e recriam uma cultura específica. Entre a tradição e a educação não
se pode dizer que uma é mais importante que a outra. A sabedoria
de misturar proporcionalmente as duas coisas também surge
através da educação.

Junto com a companhia de dança, fundei a escola de artes Little
Angels, que posteriormente mudou o nome para Escola de Artes
Sun Hwa. A razão de ter fundado a escola foi precisamente para
expandir nosso ideal para o mundo por meio da arte. Pensar se
tínhamos ou não capacidade para administrar uma escola era uma
questão secundária, primeiro agi. Se a vontade é clara e é por uma
boa causa, então não deveria realizá-la sem pestanejar? Meu desejo


era educar através do conteúdo de amar a Deus, amar a nação e
amar a humanidade.
Quando fundei a Escola de Artes Sun Hwa, escrevi bem grande o
lema: "Amar a Deus, amar a humanidade, amar a nação". Então
alguém me perguntou: "Como o senhor pode alegar que irá
propagar a cultura original da Coreia para o mundo e escrever que
amar a nação está em último?" "Se alguém amou Deus e já amou
toda a humanidade, então essa pessoa já amou sua nação. O amor à
nação se concretizou automaticamente", respondi.
A pessoa que é elogiada por todos já divulgou a Coreia para o
mundo inteiro. Os Little Angels foram a várias nações do mundo e
mostraram a excelência da nossa cultura, mas nunca gritaram
"Coreia" em palavras. Entretanto, certamente os que viram a dança
dos Little Angels e a aplaudiram, guardam no fundo de seus
corações a clara imagem de "uma nação de cultura e tradição, a
Coreia". Neste contexto, os Little Angels, mais que quaisquer
outros, propagaram a Coreia para o mundo e amaram a nação.
Olhando Su Mi Cho e Young Ok Shin, formados na Escola de Artes
Sun Hwa e que se tornaram cantores de ópera mundialmente
famosos, e Hun Suk Moon e Su Jin Kang, que se tornaram as
melhores bailarinas do mundo, meu coração fica muito satisfeito.
Desde a apresentação nos Estados Unidos, em 1965, até agora, os
Little Angels têm demonstrado a bonita tradição da Coreia em
viagens pelo mundo inteiro. Eles foram convidados a se apresentar
no palácio inglês diante da rainha Elizabeth, e também na
comemoração dos 200 anos da Independência Americana. Nessa
ocasião, eles se apresentaram no Kennedy Center, em Washington, e
fizeram um espetáculo especial diante do presidente americano
Nixon, e também participaram do Festival de Cultura e Arte das
Olimpíadas de Seul. Os Little Angels já adquiriram o papel de
famosos embaixadores mundiais da cultura da paz.
Em 1990, ocorreu um episódio durante minha visita à Rússia.
Depois do encontro com o presidente Gorbatchev, os Little Angels


se apresentaram na noite antes de partirmos. Aquelas jovens
coreanas entraram em plena Moscou, a linha de fronteira do
comunismo. Depois de terminada a apresentação da nossa dança, os
anjos vestidos de traje coreano, com sua linda voz cantaram músicas
populares da Rússia. Na plateia surgiram muitos "bis", e elas não
puderam descer do palco. Por fim, tiveram que cantar de novo
todas as músicas preparadas e então puderam descer.
Na plateia estava sentada a esposa do presidente Gorbatchev, a
senhora Raisa. Naquele tempo, a Coreia e a Rússia ainda não
tinham relações diplomáticas oficiais, então a presença da primeira-
dama numa apresentação de cultura coreana era algo inesperado.
Não bastasse isso, a senhora Raisa, sentada na primeira fila,
aplaudiu muito durante toda a apresentação. Quando o espetáculo
terminou, ela visitou os camarins e pessoalmente entregou flores
para o grupo dos Little Angels e não se cansou de elogiar a
excelência da cultura coreana: "Os Little Angels realmente são anjos
da paz. Eu não sabia que na Coreia havia uma cultura tradicional
tão linda assim. Durante a apresentação, parecia que eu estava em
um sonho, voltando à minha infância". Ela abraçou um por um os
membros do grupo, e beijou cada rosto dizendo: "Meus pequenos
anjos!"
Em 1998, pelaprimeira vez um grupo de arte totalmente particular
visitou Pyongyang e fez três apresentações. Dançaram a delicada
coreografia de sbilang gakshi, a dança do noivinho e da noivinha, e
também a magnífica butchechum, a dança dos leques. Durante a
apresentação, os olhos dos norte-coreanos se encheram de lágrimas,
e um repórter de jornal chegou a capturar com sua câmera uma
mulher que não conseguia conter as lágrimas que cornam sem
parar. Após assistir a apresentação dos Little Angels, o presidente
do comitê de Paz da Ásia e do Oceano Pacífico na Coreia do Norte,
Yong Soon Kim, elogiou dizendo que eles "abriram uma pequena
trilha na mata fechada".


O trabalho dos Little Angels era exatamente esse. Pela primeira vez
foi provado o fato de que a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, que
até então estavam de costas uma para a outra, podiam assistir lado a
lado uma apresentação do vizinho. Normalmente as pessoas acham
que a política muda o mundo, mas isso não é verdade. O que muda

o mundo é a cultura e a arte. O que toca mais fundo no coração da
pessoa não é a razão, mas sim a emoção. Quando o coração se
transforma e passa a aceitar, então a ideologia muda e também
muda o sistema. Os Little Angels, além de assumirem a
responsabilidade de divulgar nossa cultura tradicional para o
mundo, tiveram um papel importantíssimo em construir uma ponte
entre mundos diferentes.
Cada vez que encontro os Little Angels, digo: "Se o coração é bonito,
a dança fica bonita. Quem tem o coração bonito canta bonito.
Quando o interior é bonito, o rosto se torna bonito". A verdadeira
beleza surge do nosso interior. A razão de os Little Angels poderem
passar tanta emoção para o coração de pessoas do mundo inteiro é
porque a cultura espiritual coreana por trás da nossa dança é bonita.
Por isso, os aplausos que os Little Angels recebem são, na verdade,
um aplauso para nossa cultura tradicional.
O Futuro Está no Mar


Desde a infância, meu coração esteve voltado ao horizonte. Na
minha terra natal, eu subia a montanha para admirar o mar, e em
Seul meu desejo sempre era atravessar para o Japão. A vida inteira
sonhei com um mundo maior do que onde me encontrava.


Em 1965, parti pela primeira vez em turnê mundial, com a mala
cheia de terra e pedras da nossa nação. Eu queria enterrar em cada
lugar do mundo, durante a turnê, o solo e as pedras da Coreia. Por
dez meses viajei pelo Japão, pelos Estados Unidos e por mais 40
países da Europa. No dia de minha partida de Seul, dezenas de
nossos membros chegaram de ônibus e encheram o aeroporto
Kimpo. Naquele tempo, viajar para o exterior era uma coisa
grandiosa. Sob o vento frio de janeiro vindo do noroeste, o
aeroporto mais parecia um formigueiro de gente. Como os
membros quiseram ir de boa vontade, embora ninguém os tivesse
mandado lá, aceitei com muita gratidão o coração deles.
Apesar de termos, até então, pouco mais de dez missões no exterior,
meu plano era expandi-las para 40 nações em dois anos. A visita a
esses 40 países era com o propósito de preparar o fundamento. No
primeiro destino, o mesmo Japão onde nossa missão tinha
começado com uma entrada clandestina, eu tive uma grande
recepção. Embora o início tivesse sido perigoso, arriscando uma
vida e até infringindo a lei, naquele momento reconheci que nossa
escolha tinha sido muito acertada.
Eu perguntei aos membros japoneses: "Vocês são japoneses ou
foram além de ser japoneses?" E continuei: "O que Deus quer não é
apenas o estilo de vida japonês. Deus não precisa do estilo de vida
japonês. Deus necessita das coisas que transcendem o estilo japonês,
das pessoas que vão além do estilo do Japão. Deus poderá utilizálos
quando superarem o limite de serem japoneses, e se tornarem
japoneses voltados para o mundo". O discurso podia parecer frio, e
eles se lamentavam, mas falei com muita convicção.
O segundo lugar onde desembarquei foi nos EUA, no aeroporto de
San Francisco. Com o missionário americano, passei dois meses
rodando o país inteiro. Durante a visita, eu senti na pele que "os
EUA são o quartel general que controla o mundo. E para
construirmos a nova cultura do futuro, temos que sobrepujar a
cultura norte-americana". Então, projetei a construção de um


seminário com capacidade para 500 pessoas. Minha motivação não
era restringi-lo ao nosso povo, mas construir um seminário
internacional que pudesse receber pessoas vindas de mais de 100
nações.
Felizmente, não demorou muito para esse desejo se concretizar. E
em todos os anos que se seguiram, quatro pessoas de cada uma
daquelas 100 nações se reuniram no seminário para estudar e
discutir sobre Paz Mundial por seis meses. O seminário continua até
hoje, transcendendo raça, nacionalidade e religião. Acredito que a
reunião de pessoas de diferentes pensamentos, independente de
raça, nacionalidade ou religião, com o fim de discutir livremente a
questão da paz mundial, fará a humanidade crescer e o mundo se
tornar uma sociedade mais desenvolvida.
Ao longo da minha visita aos Estados Unidos, passei por todos os
outros 48 estados da América, com exceção do Havaí e do Alasca.
Rodamos dia e noite em uma perua alugada, que comportava toda a
nossa bagagem no porta-malas. Às vezes o motorista cochilava,
então o acordava dizendo: "Ei, entendo que você está muito
cansado, mas não estou fazendo turismo pelos Estados Unidos,
estou cumprindo uma grande missão, por isso ande rápido, por
favor".
Em nenhum lugar eu comi confortavelmente sentado. Duas fatias
de sanduíche com recheio de linguiça e picles servidas dentro do
carro era uma refeição maravilhosa. Café da manhã, almoço e jantar
era a mesma coisa. Dormia dentro do carro. Ele era nosso
dormitório, nossa cama e nosso refeitório. Dentro daquele carro
apertado eu comia, dormia e orava. Nada é impossível. Eu tinha
uma meta clara para cumprir naquele período, por isso podia
suportar tranquilamente os incômodos.
Passando pelos EUA e pelo Canadá, visitei a América do Sul e
América Central, e em seguida fui para a Europa. A Europa que
meus olhos viram estava completamente sob o domínio cultural do
Vaticano. Parecia que sem sobrepujar o Vaticano não poderia


superar a Europa. Diante da autoridade do Vaticano, os altos

montes dos Alpes não significam nada.
No Vaticano onde os europeus se reuniam para orar, também orei
pingando suor. Orei para que todas as religiões divididas e com
ramificações definitivamente se unificassem o mais rápido possível.
Porque o mundo criado por Deus tinha sido dividido por pessoas
com interesse próprio, minha decisão de realmente querer uni-las
ficou mais firme. Depois de passar pelo Egito e pelo Oriente Médio,
visitei várias nações da Ásia e assim terminei a turnê mundial de
dez meses.
Minha mala voltou para Seul cheia de terra e pedras recolhidas de
120 lugares dos 40 países diferentes. A terra e as pedras levadas da
nossa pátria eu enterrei em terra nova, e a terra e pedras daqueles
lugares eu trouxe para a Coreia. Ligar a Coreia a esses 40 países do
mundo através da terra e das pedras era uma preparação para a
concretização de um futuro de paz centralizado na península
coreana. Então comecei a preparação para enviar missionários
internacionais para todas essas 40 nações.
Observando todo o grande planeta, sem que ninguém soubesse,
comecei a planejar o trabalho em que o mundo seria nosso palco.
Quanto mais a igreja crescia e aumentavam os locais de missões
internacionais, maiores também eram as despesas das missões no
exterior, por isso precisávamos de um negócio maior para ganhar
dinheiro. Enquanto eu viajava pelos 48 estados da América, fiquei
pensando qual tipo de empreendimento seria realmente bom para
dar suporte financeiro à nossa igreja.
Assim, descobri que os americanos comem carne todo dia. Então
pesquisei quanto custaria uma cabeça de gado. Uma cabeça que
custava 25 dólares em Miami custava 450 dólares em

Isfova Iorque. Também pesquisei o preço do atum e surpreendentemente
um atum valia mais de quatro mil dólares. Além disso,

o atum bota de uma vez mais de 150 ovos, enquanto uma vaca gera

um bezerrinho de cada vez. Então temos que criar gado ou pescar
atum? A resposta é clara.
A questão era que os americanos não comem peixes de água
salgada, mas em compensação os japoneses se derretem quando se
fala em atum. Muitos japoneses moravam na América, e os
restaurantes chiques administrados pelos japoneses estavam
vendendo sashimi de atum por um preço muito caro. Até os
americanos, uma vez acostumados com o sabor do sashimi, comiam
atum com gosto.
No nosso planeta, a parte marinha é maior que a parte de terra. Os
Estados Urfidos, rodeados pelo mar por todos os lados, tinham
bastantes peixes. E como depois de 200 milhas marítimas não existe
mais fronteira sobre o mar, qualquer um pode pescar à vontade.
Para cultivar uma lavoura e criar gado é preciso comprar terras. No
mar isso não é necessário. Quem tiver um navio pode pescar até
onde puder chegar. No fundo do mar há diversos alimentos. O
empreendimento de ligar o mundo inteiro pelos oceanos já está bem
desenvolvido na superfície. Todas as coisas fabricadas no planeta
são transportadas por navios de carga pelo mar. O mar é o depósito
de tesouros infinitos que pode garantir nosso futuro.
Comprei vários navios nos EUA. Não eram aqueles grandes navios
que encontramos só nos álbuns de fotografias, mas barcos de 34 e 38
pés. Navios pesqueiros que podiam procurar atum com o motor
desligado e que também não causariam muitos acidentes por serem
do tamanho de iates. Deslanchamos nossos barcos em Washington,
San Francisco, Tempa e no Alasca, e até construímos um estaleiro.
Também estudei bastante e montei um banco de dados colocando
um barco em cada ponto do mar para medir a temperatura da água
e calculando diariamente a quantidade de atum pescado. Nós não
usávamos o banco de dados já existente, montado por profissionais,
mas o banco que nossos próprios membros mergulharam no mar
para fazer. O resultado da pesquisa de famosos professores
universitários daquela região, usávamos apenas como referência,


mas vivi naquele lugar e pude confirmar pessoalmente todas as
coisas, de forma que não havia banco de dados mais exato que o
nosso.
Dedicamo-nos bastante para obter esses dados, mas não os
guardamos apenas para nós. Ao invés disso, publicamos todos os
dados que coletamos para toda a indústria de pesca, e partimos
para outros mares como pioneiros. Quando há muita pesca em um
único lugar do mar, ocorre a extinção, por isso é preciso mudar
rapidamente para outro ponto do oceano. Pouco tempo depois de
termos entrado no negócio da pesca, fizemos uma revolução na
indústria pesqueira dos Estados Unidos da América.
Depois disso, de novo partimos para outros empreendimentos, e
começamos justamente a indústria de grandes barcos pesqueiros
que pudessem ir mais distante da costa. O barco fica no mar
durante pelo menos seis meses, apenas pescando, e então, quando o
barco fica cheio, outro navio carregado de comida e combustível vai
para trocar sua carga e trazer os peixes. Cada barco tinha um
grande freezer para preservar o pescado por bastante tempo.
Nosso barco, cujo nome era "New Hope", ficou famoso por pescar
muitos atuns. Eu mesmo pesquei alguns, pilotando o New Hope. As
pessoas costumam ter medo de andar de barco. Quando mandei os
jovens entrarem na embarcação, no início todos fugiram. "Mestre,
tenho náuseas, por isso não posso. Toda vez que entro em um barco
parece que eu vou morrer de enjoo." Eles imploravam para não
entrar. Então embarquei primeiro. A partir daí, sem faltar nenhum
dia andei de navio por sete anos e mesmo agora, sempre que tenho
tempo eu embarco. Agora apareceram muitos jovens dizendo:
"Mestre, também quero ser um capitão como o senhor, me deixe
entrar no barco, por favor". Surgiram até muitas mulheres querendo
subir no barco. Qualquer coisa que o líder faz primeiro os outros
seguem naturalmente. Graças a isso, me tornei um famoso pescador
de atum.


Porém, fazer o que com um monte de atuns pescados? Aquele
sofrimento seria em vão se o peixe não fosse vendido no tempo
certo e por um preço justo. Então criei uma fábrica de derivados de
atum e também trabalhei pessoalmente no comércio. Os atuns eram
colocados em um grande caminhão com freezer e fui vendedor
ambulante. Quando o mercado não era mais suficiente, abri até um
restaurante de frutos do mar para consumir diretamente o atum.
Com essas atitudes, ninguém mais nos desprezava.
Os EUA é uma nação que tem três das quatro grandes bacias de
peixes existentes no mundo. Isso quer dizer que, três quartos de
todo o peixe do mundo estão nos mares ao redor do país. Mesmo
assim, os Estados Unidos não tinham pescadores. Então a indústria
pesqueira estava muito atrasada. O governo fazia de tudo para
desenvolver a pesca industrial, mas não obtinha bom resultado.
Qualquer um podia comprar um barco por apenas 10% do valor
desde que se comprometesse a andar nele por dois anos e meio.
Porém, nem assim havia candidatos. Como tal absurdo podia
acontecer? Depois que começamos desenvolver a indústria de
pesca, todas as cidades portuárias ferviam, porque toda cidade onde
nós entrávamos prosperava. Tudo o que fizemos, no fim, foi um
trabalho pioneiro para abrir um mundo novo. Não era uma simples
pescaria, mas sim andar por um caminho que ninguém ainda havia
trilhado. Não é extremamente interessante ser pioneiro no caminho
que ninguém nunca percorreu?
O mar sempre muda. Dizem que o coração da pessoa muda da
manhã para a tarde, mas o mar muda toda hora. Por isso, o mar é
mais misterioso e mais bonito. O mar vive abraçando o mundo.
Quando se torna nuvem, para em um lugar no ar e se transforma
em chuva, caindo de novo. Eu gosto da natureza porque a criação
não tem falsidade. Quando está em cima, sabe descer, e quando está
embaixo sabe subir. Em qualquer circunstância, ela ajusta a altura
para se nivelar.


Quando seguro a vara de pescar, me sinto tão tranquilo. Sobre o
mar, o que pode nos impedir? Alguém pode nos forçar a fazer
alguma coisa? Assim, há naturalmente muito tempo tranquilo.
Podemos conversar com o mar só de olhar para ele. Então, quanto
maior o tempo ao mar, maior a capacidade de ver o mundo
espiritual. Contudo, o mar também muda rapidamente; de uma face
tranquila passa a todas aquelas ondas terríveis. As ondas altas como
vários homens adultos, batem na beirada do barco como se fossem
engoli-lo na hora. O vento bravo rasga a vela e chora com um som
amedrontador.
Entretanto, é interessante. No meio daquela forte onda e do vento
amedrontador, os peixes dormem tranquilos no fundo da água;
deixam seus corpos serem levados pelas ondas e dormem. Assim eu
também aprendi com os peixes. Decidi que não iria temer nada,
mesmo que aquela onda forte viesse em cima de mim, deixaria a
onda do mar me levar, tornando-me um só ser com o barco que
anda sobre a corrente. O mar foi um excelente mestre na minha
vida.

O Último Avião para a América



No final de 1971, parti para os Estados Unidos. Como eu tinha um
trabalho a cumprir na América, o caminho para chegar lá não foi
fácil. Apesar de não ser a primeira vez que tentava o visto para os
EUA, a liberação demorava. Alguns dos membros sugeriram que
adiasse a data da partida, mas não podia fazê-lo. Era difícil explicar
para os membros, mas tinha que viajar na data marcada. Então,


decidi ir primeiro para o Japão e resolver o problema do visto
americano lá, e me preparei para partir.
O dia da minha partida era um dia muito frio. Mesmo assim, os
membros queriam se despedir de mim e até se reuniram fora do
aeroporto. Contudo, na hora de embarcar, descobriram que faltava
no meu passaporte a assinatura do responsável pelo departamento
de passaportes do Ministério de Relações Exteriores, autorizando a
minha saída. Por fim, não pude tomar o avião que tinha reservado.
"Desculpe-me, mestre, se o senhor voltar para casa e esperar, pego a
assinatura", disse o membro encarregado da preparação da viagem
para o exterior, que estava atordoado.
"Não, vou esperar aqui no aeroporto. Vá e traga rapidamente a
assinatura."

Meu coração tinha muita pressa. Era domingo, com certeza o
responsável pelo departamento de passaportes não iria trabalhar,
mas não podia considerar essa possibilidade. Nossos membros
chegaram até a casa dele e pegaram sua assinatura. Graças a isso,
pude embarcar no último avião e sair da Coreia. Exatamente
naquela noite foi promulgada a nova constituição, que proibia a ida
para o exterior a partir do dia seguinte. Eu consegui pegar justo o
último avião para a América.
Mas quando cheguei ao Japão e pedi novamente o visto americano,
ele me foi negado. Depois soube que, na verdade, era por causa de
um registro, antes da independência da Coreia, de que fui levado
pela polícia japonesa acusado de ser comunista. Naquele tempo o
comunismo estava muito forte. Nós enviamos missionários
internacionais para 127 nações, e quatro países comunistas
expulsaram nossos pastores. Naquele tempo, testemunhar no
regime comunista era arriscar a vida, mesmo assim eu não desisti
até o fim e continuei enviando missionários para as nações
comunistas, incluindo a ex-URSS.


Chamamos a atividade missionária que estávamos realizando nos
países comunistas do Leste Europeu de "Operação Borboleta".
Colocamos esse nome porque a atividade missionária clandestina,
que enfrentava todas as dificuldades sob o regime comunista, se
parecia com a situação da lagarta que espera por tanto tempo em
sofrimento para se tornar uma borboleta. Apesar do processo de
sair do casulo ser solitário e difícil, quando a borboleta ganha asas
ela pode voar livremente por qualquer lugar. Assim, quando o
comunismo fosse derrubado, a missão de testemunho escondido
poderia abrir as asas e voar longe.
No início de 1959, a missionária Young Oon Kim foi para os EUA e
visitou todas as faculdades americanas para transmitir a palavra de
Deus. Nessa época, um estudante alemão da universidade de
Berkeley, Peter Koch, ficou comovido pela Nova Verdade e parou
de estudar para começar o testemunho na Europa, em Roterdã, na
Holanda.
O Japão também começou a mandar missionários internacionais
para as nações comunistas da Ásia, incluindo a China. Eles
mandaram os missionários para a terra da morte sem nem
conseguirem se despedir direito com um culto, o que fez o meu
coração ficar no mesmo estado de quando tive que insistir para
Bong Chum Choi tomar o navio clandestino para o Japão, na
floresta de pinheiros atrás de Gapsa. É mais doloroso olhar um filho
espancado por alguém do que eu mesmo apanhar. Seria melhor eu
mesmo sair como missionário, mas fui obrigado a mandar os
membros para a terra onde havia vigilância e execução. Por causa
disso, meu coração chorava dia e noite. Após enviar os missionários
internacionais, dediquei quase o tempo todo à oração. Só podia orar
sinceramente para proteger a vida deles. A missão dos missionários
no regime comunista era muito perigosa e a qualquer momento,
eles podiam ser pegos.
Os missionários que iam para o regime comunista partiam sem
avisar os próprios pais do seu destino, porque os pais sabiam bem


como o comunismo era temível e nunca permitiriam que seus filhos
entrassem na terra da morte. O missionário Gunter Bortch, enviado
para a ex-União Soviética, foi descoberto pela KGB e expulso. Na
Romênia, que se encontrava no auge da ditadura de Cheaucesco,
nosso missionário era vigiado pela polícia secreta e até teve seu
telefone grampeado.
Em resumo, aquela vida era como entrar na cova dos leões, e apesar
disso, cada vez aumentava o número de missões nos países
comunistas. Nesse período, ocorreu uma trágica fatalidade em 1973,
na Tchecoslováquia. Trinta membros nossos, incluindo a
missionária internacional, foram capturados de uma só vez. A
senhorita Mari Jibna, de 24 anos, foi assassinada dentro da fria
prisão. Tão jovem, ela se tornou a primeira mártir que pregava em
uma nação comunista.
No ano seguinte, novamente outro membro foi assassinado na
prisão. Todo o meu corpo paralisou ao ouvir a notícia de que os
membros da igreja estavam morrendo na prisão. Eu não conseguia
falar, comer e nem mesmo orar; só fiquei sentado como uma pedra.
Se eles não tivessem me encontrado, se eles não conhecessem as
palavras que eu tinha transmitido, eles jamais teriam ido para
aquelas geladas e solitárias prisões e não teriam morrido lá... Eles
sofreram e morreram no meu lugar.
"Será que a minha vida vale tanto assim para eles trocarem por suas
próprias vidas? Como posso compensar a cruz que eles levaram no
meu lugar ao testemunharem no regime comunista?" Por pensar
assim, ficava cada vez mais sem palavras. Como se estivesse no fim
da linha, caí numa tristeza incalculável. Nesse momento, a senhorita
Mari Jibna apareceu na minha frente como uma borboleta amarela.
Fora da fria prisão da Tchecoslováquia, a borboleta amarela chegou
para mim, sentado sem forças, e batendo suas asas me disse para ser
forte e me levantar. Ela arriscou sua vida no testemunho, e através
disso realmente tinha se tornado uma borboleta fora do casulo.


Aqueles que estavam testemunhando em tal situação miserável
recebiam muitas revelações em sonhos e visões. Por estarem
fechados por todos os lados, sem poder se comunicar com ninguém,

o próprio Deus orientava o caminho que deviam seguir através de
revelações. Era comum cochilarem e de repente: "Levante-se, saia
daí"; com esse sonho, imediatamente escondiam seu corpo e
salvavam suas vidas, no instante em que a polícia secreta invadia.
Uma vez, um membro que nunca tinha me visto, também me
encontrou em sonho, para guiá-lo sobre a maneira certa de dar
testemunho. Então, quando me encontrou pessoalmente, ele ficou
muito contente: "Ah, foi o senhor que eu vi em sonho naquela
época".
Dessa forma, lutei arriscando a minha vida para derrubar o
comunismo e construir a nação de Deus, mas negaram meu visto
para a América por desconfiarem que eu fosse comunista. Então
apresentei o trabalho anticomunista que estávamos fazendo no
Canadá naquela época, e só depois disso, finalmente, recebi o visto.
Passando por esse curso tão complicado, por que fui para os EUA?
Justamente para combater esse sombrio poder e levá-lo à ruína. Fui
para lá, pondo minha vida em perigo, para guerrear contra o poder
do mal. Na época, os Estados Unidos estavam caóticos com todos os
problemas que havia no mundo, como o comunismo, as drogas, a
corrupção e a imoralidade sexual etc.
Eu gritava: "Eu cheguei aqui na América como bombeiro e ao
mesmo tempo como médico". Quando uma casa pega fogo, os
bombeiros vêm correndo, e quando alguém adoece, chamam um
médico. Assim, fui o bombeiro que precisava apagar o fogo da
"Queda" que envolvia a América, e fui o médico que precisava curar
a doença dos EUA, que se afundava na lama da corrupção,
perdendo Deus.
No início dos anos 70, a sociedade americana estava seriamente
dividida por causa dos conflitos relacionados à Guerra do Vietnã e


pela desilusão com a cultura materialista. Os jovens, cuja vida não
tinha significado, vagavam pelas ruas desperdiçando suas vidas no
álcool, nas drogas e no sexo livre, e deixavam de lado seu precioso
espírito. A religião, que devia guiá-los para pararem de perambular
e voltarem a uma vida direita, tinha perdido sua própria função.
Nas ruas, revistas pornográficas eram vendidas abertamente e as
pessoas estavam caindo na fantasia do uso de drogas. Crianças de
famílias divorciadas estavam vagando nas ruas com seus corações
perdidos. Nesse tempo, Deus me enviou para sacudir e alertar a
sociedade americana, onde todo tipo de crimes estavam sendo
cometidos.
Logo que cheguei à América, fiz uma turnê dando as conferências
"O novo futuro do Cristianismo" e "A vontade de Deus e a América".
Em público, toquei no ponto fraco da América, fazendo-os sentir
dor no que até então ninguém tinha apontado.
"Os Estados Unidos da América foram estabelecidos sobre o espírito
puritano. O país se desenvolveu brilhantemente em apenas
duzentos anos, até se tornar a nação mais poderosa do mundo,
porque recebeu a bênção do infinito amor de Deus. A liberdade da
América se originou em Deus, entretanto, nesse tempo o país virou
as costas para Ele. Hoje, os americanos perderam totalmente o amor
que tinham recebido de Deus. Se não recuperarem de qualquer
maneira esse espírito sagrado, não haverá futuro para a América.
Vim aqui exatamente para salvar os Estados Unidos, que estão
sendo destruídos, despertando o espírito sagrado de vocês. Por
favor, arrependam-se! Vocês devem se voltar para Deus em
profundo arrependimento."


Reverendo Moon, a Semente da Revolução
Espiritual na América


No início, a reação dos americanos a mim foi muito fria. Como
poderia eu, um líder religioso vindo da simplória Coreia, que
recentemente tinha saído da miséria da guerra, ousar dizer para os
americanos se arrependerem? Eles falavam isso para zombar de
mim.
Não só os americanos ficaram contra mim. A oposição dos
esquerdistas japoneses ligados à Internacional Comunista foi ainda
mais ferrenha. Eles chegaram a invadir o seminário onde eu
geralmente ficava, em Boston, e foram pegos em flagrante pelo FBI.
Tantas foram as tentativas de me matar, que chegou num ponto tão
difícil que nem mesmo meus filhos podiam ir para a escola sem
segurança. Sob contínuo risco de vida, por um tempo eu até tive que
discursar em público protegido por um vidro blindado.
Apesar deles me perturbarem tanto, os discursos da turnê do
homem de olhos pequeninos vindo do Oriente chamavam cada vez
mais a atenção do público. As pessoas queriam ouvir sobre os novos
ensinamentos, completamente diferentes de tudo o que já tinham
visto. Além dos princípios essenciais sobre o universo e a vida do
ser humano, o conteúdo das conferências que despertavam o
espírito dos fundadores dos EUA levantou uma brisa fresca para os
americanos, que se afundavam na corrupção e na lama da
ociosidade.
Com as minhas conferências, os americanos realizaram a revolução
da consciência. Os jovens que me seguiam cortaram os cabelos
crescidos até os ombros, rasparam as barbas cheias e me chamaram
de "Pai Moon" e "Reverendo Moon". Se a aparência mudou, é
porque o interior também mudou. Então, dentro do coração


daqueles jovens que estavam viciados em bebidas alcoólicas e
drogas, o amor de Deus começou a penetrar.
Todos os tipos de jovens, de diferentes religiões, se reuniam nas
conferências. Durante os sermões, se eu perguntasse "Há
presbiterianos aqui?", muitos jovens levantavam as mãos "Aqui,
senhor!" Também, se perguntasse: "Aqui há católicos?", muitos
erguiam as mãos. "E os batistas?", então muitos diziam: "Eu! Eu
sou!" Quando eu falava: "Por que vocês deixaram suas próprias
religiões e vieram assistir meu sermão? Por favor, voltem para suas
igrejas! Vão assistir o sermão nas suas igrejas!", todo mundo
exclamava: "Uooh, uooh!" Assim, mais e mais pessoas entravam, e
além dos jovens, os próprios líderes da Igreja Presbiteriana e da
Igreja Batista passaram a trazer seus jovens. Depois de algum
tempo, a palavra "Reverendo Moon" se tornou um ícone da
revolução espiritual da sociedade americana.
Ensinei os jovens americanos a ter paciência e perseverança. Com
toda a sinceridade proclamei a verdade que somente quem cuida de
si mesmo pode cuidar do universo.

"Vocês gostariam de carregar a cruz do sofrimento? Ninguém
gostaria de percorrer o caminho da cruz. Mesmo que tenham
vontade de carregá-la, o corpo vai e diz: "Não!" Nem sempre o que
agrada os olhos agrada o coração. Às vezes aquilo que tem boa
aparência, tem muitas coisas feias e más quando visto por dentro.
Ainda assim, o olho só quer agradar a si mesmo, então se o seu
corpo quer seguir aquele olho, vocês têm que falar rapidamente: 'O,
moleque, não!' Do mesmo jeito, quando a boca só quiser comer
coisas gostosas, repreendam: 'O meu, não!' Os jovens sempre se
apaixonam pelo sexo oposto, não é? Nessa hora também tem que se
conter e dizer: 'Ô moleque, não!' Se não controlo a mim mesmo, não
posso fazer nada pelo mundo. Se eu for destruído, o universo será
destruído."


Proclamei para eles o lema da minha juventude: "Antes de querer
dominar o universo, primeiro trate de aperfeiçoar o domínio sobre
si mesmo". A sociedade americana é uma sociedade materialista. No
meio dessa cultura materialista, tratei de falar sobre o espírito. Os
olhos não podem ver a mente, nem a mão pode segurá-la, mas não
há dúvidas que nós somos governados pela mente. Sem o coração,
você não é nada. Falava sobre o coração acrescentando o amor, o
amor verdadeiro. Disse-lhes, com a clara consciência baseada no
amor verdadeiro, que eles deveriam ter autocontrole para encontrar
a verdadeira liberdade.
Também os alertei para a preciosidade do trabalho. O trabalho não
é sofrimento, mas sim criação. Porque o trabalho está ligado ao
mundo de Deus, ainda que você trabalhe a vida inteira, você se
sente feliz. Na verdade, o trabalho do homem não passa de fazer
aqui, modificar ali... as coisas que Deus criou. Na verdade, o
trabalho não é um peso se você pensar nele como um hobby com o
qual está criando uma lembrança para Deus. Ensinei os jovens
americanos, que tinham perdido a satisfação de trabalhar por
estarem tão acostumados à vida de abundância trazida pela cultura
materialista, a "trabalhar com alegria".
Além disso, despertei-os para mais uma coisa: a alegria em amar a
natureza. Ensinei os jovens que viviam cercados pela cultura
corrupta da urbanização, e que haviam se tornado escravos da vida
egoísta, o quanto a natureza é valiosa. Foi Deus quem nos deu a
natureza. Deus fala conosco através da natureza. É um pecado
destruir o ambiente para ganhar alguns trocados e prazer
momentâneo. A natureza que nós destruímos, no final, se tornará
um veneno contra nós e fará nossos filhos sofrer. Devemos nos
voltar para a natureza e ouvir o que ela nos diz, abrir as portas do
coração e, quando escutarmos o som da natureza, poderemos ouvir
as palavras de Deus transmitidas por ela. Era isso que eu dizia aos
jovens americanos.


O Encontro no Monumento Washington em 1976,


Nem em Sonho Poderei Esquecer



Em dezembro de 1975, inauguramos a Faculdade de Teologia da
Unificação, em Barrytown, ao norte de Manhattan, Nova Iorque, e
convidamos judeus, evangélicos, católicos e budistas para
lecionarem, transcendendo as religiões.
Quando eles ensinavam suas próprias religiões dentro da sala de
aula, nossos alunos faziam perguntas pertinentes. A sala de aula
sempre se tornava palco de exaltadas discussões. Quando todas as
religiões, como uma só, discutem umas às outras, começam a se
entender e quebram preconceitos errados. Os jovens inteligentes,
depois de terminar o mestrado na nossa faculdade, conseguiam
entrar no curso de doutorado nas Universidades de Harvard ou
Yale. Atualmente, eles são gênios que lideram as religiões do
mundo.
Fui convidado a ir ao Congresso Americano em 1974 e 1975.
Discursei, diante dos deputados federais, sobre o tema: "Uma nação
sob Deus".
"A América surgiu com a Bênção de Deus, mas essa bênção não é
somente para os americanos. Essa é a bênção que desceu para o
mundo através da América. Portanto, os EUA devem entender bem
os preceitos da "Bênção" e devem se sacrificar para salvar toda a
humanidade. Para isso, os Estados Unidos têm que começar um
movimento de alerta radical, para voltar ao espírito de quando
foram fundados. A América deve unir todos os cristãos que se
dividiram em dezenas, reunir todas as outras religiões e deve
escrever a nova história da cultura mundial", bradei diante dos
congressistas americanos exatamente aquilo que tinha falado para
os jovens na rua. Até então, eu era o único líder religioso estrangeiro
a receber um convite para discursar no Congresso. Como esse


convite me foi feito duas vezes seguidas, muita gente queria saber
quem realmente era esse Reverendo Moon que tinha vindo da
Coreia.
No ano seguinte, no dia primeiro de junho, nós comemoramos os
duzentos anos de independência dos Estados Unidos no Estádio
Yankee, em Nova Iorque. Naquele tempo o país não estava bem
para comemorar por si mesmo. Ele sofria com a ameaça comunista,
e a juventude americana estava vivendo longe do desejo de Deus,
com o uso de drogas e o aborto. Percebi que os EUA, e
principalmente Nova Iorque, estavam doentes. Por isso entrei na
festa e, diante da comemoração, me posicionei com o espírito de
operar o coração da América com um bisturi.
No dia da comemoração caiu muita chuva, mas ninguém queria
fugir do meio do temporal. Quando a banda começou a tocar "You
are my sunshine", todos no Estádio Yankee começaram a cantar em
uníssono. Cantando a canção do sol debaixo daquela chuva, embora
a boca cantasse, dos olhos caíam lágrimas. Por um momento, chuva
e lágrimas se misturaram.
Pratiquei boxe na época de estudante. No boxe, ainda que receba
muito jab, o bom atleta não se move nem um centímetro. Contudo,
se leva um upper, mesmo o mais forte atleta cambaleia. Era
exatamente esse baque que eu iria dar na nação americana. Para
isso, senti a necessidade de ter um encontro de maior dimensão que

o sucesso colhido até ali, para gravar firmemente meu nome, Sun
Myung Moon, na sociedade americana.
Washington é a capital dos Estados Unidos, onde há um monumento,
uma torre que traça uma linha reta com o Congresso
Nacional. Ela parece um lápis bem apontado de pé. Abaixo do
monumento, há um gramado bem extenso, ligado ao Memorial
Lincoln. Haviam me dito que aquele lugar era o coração da
América, então planejei um evento gigantesco ali.

Para realizar esse evento no Monumento Washington, precisávamos
da autorização do governo e também da autorização da Polícia dos
Parques da América. O governo americano não gostava muito de
mim. Não poderia esperar o contrário, sendo eu a pessoa que tinha
ido aos jornais falar que o presidente Nixon, que estava em risco por
causa do escândalo de Watergate, deveria ser perdoado, e que
também se opôs fortemente à política liberal do presidente Cárter.
Devido às várias negativas do governo norte-americano,
conseguimos a autorização apenas 40 dias antes da data marcada.
Todos os nossos membros pediram para não fazermos o evento,
porque a aventura era muito maior. O Monumento Washington
estava localizado no centro da cidade, em um parque aberto nas
quatro direções. Além disso, não havia árvores cercando, só um
vasto e verde gramado. Caso poucas pessoas se reunissem, ficaria
muito feio. Para encher aquele gramado enorme, precisaríamos que
centenas de milhares de pessoas viessem, e isso seria quase
impossível. Até então, apenas duas pessoas tinham feito grandes
encontros no Monumento Washington. Martin Luther King, com a
passeata pelos direitos humanos, e o Reverendo Billy Graham.
Assim, era um lugar simbólico. E lá lancei um desafio.
Faltando uma semana para o dia marcado, meu coração ainda
estava muito confutado, sem saber o que iria falar. Finalmente, três
dias antes do evento terminei de escrever o discurso. Revisei o
discurso quatro vezes e orei sem parar por esse encontro.
Normalmente, não escrevo os sermões antes, mas eu estava muito
preocupado com esse encontro. Mesmo sem saber exatamente o que
seria, uma coisa era certa: seria um evento muito importante.
Finalmente, no dia 18 de setembro de 1976, aconteceu uma coisa
que nem em sonho poderei esquecer. Desde cedo pela manhã, as
pessoas não paravam de chegar ao Monumento Washington. Havia
tanta gente, que no total vieram trezentos mil pessoas. Ninguém
sabia de onde havia surgido tanta gente. Havia muita diversidade
de cabelos e de cor de pele. Parecia que todas as raças que Deus


criou na terra estavam ali. Não preciso dizer mais, realmente foi um
encontro mundial.
Diante de trezentos mil pessoas, proclamei bravamente: "Vim para a
América salvar do perigo os corrompidos jovens americanos, para
que sejam jovens de esperança". A cada palavra que dizia surgiam
aclamações. Os ensinamentos do Reverendo Moon, que veio do
Oriente, era um choque para os jovens americanos da época, que
viviam numa era de caos. Eles aplaudiram a mensagem de pureza
sexual e família verdadeira que eu estava transmitindo, e por causa
da reação eufórica das pessoas, por dentro também comecei a
pingar de suor.
No fim daquele ano, a revista Newsweek me elegeu a figura do ano
de 1976. Por outro lado, também aumentou o número de pessoas
que queria distância de mim e que me temiam. Para eles eu era
simplesmente um estranho mágico do Oriente, não um branco
confiável para se seguir. Eles também se sentiam muito inseguros
porque minhas palavras eram um pouco diferentes dos
ensinamentos que ouviam nas igrejas tradicionais. E acima de tudo,
eles jamais aceitariam que os jovens brancos seguissem e
respeitassem um "asiático de olhos puxados como os olhos de um
peixe". Eles espalharam maus boatos de que eu estava fazendo
lavagem cerebral nos inocentes jovens brancos. E pelas costas dos
grupos que me aplaudiam, organizaram um grupo contra mim.
Então, senti outro perigo se aproximar. Apesar disso, não temi,
porque tinha certeza que estava fazendo a coisa certa.
A questão do racismo e do preconceito religioso é muito forte nos
EUA. As pessoas pensam que a América é uma nação de igualdade
e liberdade, na qual todas as raças do mundo chegam em busca do
sonho americano. Na verdade, existe muito conflito devido ao forte
racismo e ao preconceito religioso.

Eles estavam gravados na história americana mais que uma doença
crônica, e mais que os problemas sociais surgidos na abundância


material dos anos 70 como a corrupção, a imoralidade sexual e o
materialismo.
Naquele período, frequentava a igreja de negros para conduzir as
diferentes religiões à reconciliação. Havia muitos líderes negros,
como o reverendo Martin Luther King, tentando eliminar o racismo
para construir o mundo de paz de Deus.
No subsolo da igreja eles montavam exposições de fotos dos
mercados de escravos negros, que aconteceram por centenas de
anos até a criminalização do racismo. A imagem de um negro sendo
queimado vivo, pendurado em uma árvore, a cena de negros de
boca aberta para serem vendidos como galinhas, fotos da seleção de
escravos, onde homens e mulheres negros nus eram postos juntos, a
imagem de um filho sendo tirado dos braços da mãe em prantos,
etc. Todas essas cenas eram crimes que o ser humano jamais poderia
ter cometido.
"Podem aguardar. Daqui a menos de 30 anos uma criança nascida
em uma família inter-racial de negros e brancos se tornará o
presidente dos Estados Unidos."
Disse isso no dia 24 de outubro de 1975, no encontro em Chicago, e
a profecia daquele dia agora se tornou realidade na América.
Obama, natural de Chicago, se tornou o presidente. Contudo,
aquela minha profecia não se cumpriu automaticamente. Para
eliminar os conflitos entre religiões e ramificações diferentes, muitas
pessoas derramaram suor e sangue. Finalmente, o sangue e o suor
derramados na terra agora se transformaram em uma flor aberta.


Não Chore por Mim, Chore pelo Mundo



Surpreendentemente, muitos pastores das igrejas americanas
tradicionais participaram do encontro no Monumento Washington,
levando um grande número de seguidores. Certamente eles
perceberam que a minha mensagem estava comovendo os jovens de
todas as religiões e ramificações. Aquele foi um momento em que o
trabalho inter-religioso e interdeno-minacional que eu tanto tinha
proclamado, até minha garganta estourar, se concretizou. O
encontro do Monumento Washington foi um milagre. Até hoje,
ninguém quebrou o recorde de reunir trezentos mil pessoas lá.
Porém, sempre que algo bom acontece, vem acompanhado de coisas
ruins. Os judeus americanos pintaram um bigode no meu rosto e
fizeram cartazes me comparando a Hitler. Eles me chamaram de
antissemita, que significa contra o judaísmo, e me condenaram
como um indivíduo que perseguia os judeus. E não apenas os
ju*deus, mas quando o número de jovens que me seguia cresceu
rapidamente e cada vez mais pastores das igrejas tradicionais
queriam aprender o Princípio Divino, outras igrejas convencionais
dos EUA começaram a me perseguir. As principais igrejas
tradicionais da América se opuseram fortemente a mim, e também
os políticos liberais esquerdistas, que eram contra a minha tese de
que impedir a expansão do comunismo era responsabilidade dos
EUA.

Quanto mais famoso ficava, várias suspeitas foram colocadas à
minha volta. Aquilo que nunca tinha considerado problema, de
repente se tornou um sério empecilho que começou a me
pressionar. A sociedade tradicional me achou muito liberal, e
alegou que a doutrina que ensinava estava destruindo os valores
tradicionais. Uma das coisas que eles não gostavam em mim era a
nova interpretação sobre a cruz.


Não era a vontade predestinada de Deus que Jesus, vindo como o
Messias, fosse morto na cruz. Porém, devido à crucifixão de Jesus, o
plano de Deus para a humanidade viver em um mundo de Paz
sofreu um desvio. Se os israelitas daquele tempo tivessem recebido
Jesus como o Messias, o mundo da paz seria construído, no qual a
cultura e a religião do Oriente e do Ocidente se tornariam uma.
Entretanto, Jesus morreu na cruz e a providência da salvação de
Deus foi adiada para a Segunda Vinda.
Essa minha nova interpretação sobre a cruz chamou muita
oposição. Além das igrejas tradicionais, todos os judeus me
consideraram inimigo, e fizeram de tudo para me expulsar da
América.
Por fim, tive que ir novamente para a prisão. A única coisa que fiz
foi recuperar a nação para que fizesse a vontade de Deus,
estabelecendo a ética e a moral numa América que já estava
afundada. Apesar disso, eles me condenaram injustamente por
sonegação fiscal. Isso aconteceu quando eu já estava com mais de 60
anos de idade.

No meu primeiro ano nos Estados Unidos, eu depositei no
Banco de Nova Iorque, o dinheiro de contribuições vindas do
mundo inteiro. Nos EUA, era costume os fundos para atividades
religiosas serem depositados no banco em nome do líder religioso.
Isso era um costume tradicional. Esse dinheiro rendeu juros por três
anos. Como não declarei a renda dos juros nos impostos, me
condenaram como sonegador fiscal, acusado pela promotoria de

Nova Iorque. Por fim, no dia 20 de julho de 1984, fui detido na
Penitenciária Federal de Danbury, estado de Connecticut.
Antes de ir para a prisão de Danbury, eu tive um último encontro

com os membros em Belvedere. Todos os membros encheram
Belvedere e oraram por mim com lágrimas. Milhares dos meus
discípulos se reuniram em Belvedere. E para eles eu bradei: "Sou
inocente. Mesmo sem ter cometido nenhum crime, eu vou com os


olhos postos na brilhante luz da esperança que está se levantando
atrás de Danbury. Então, por favor, não chorem por mim, mas
chorem pela América. Por favor, amem a América e orem por ela".
Para os jovens comovidos pela tristeza, levantei os punhos fechados
da esperança.
A declaração que deixei antes de entrar na prisão levantou um
grande movimento entre os religiosos. O "Innocent Movi-ment"
começou e, como uma onda, as orações por mim começaram a
subir.
Não tinha medo de ir para a prisão. Já estava acostumado com a
vida de prisioneiro. O coração das pessoas ao meu redor, porém,
não estava assim. Sabendo que os judeus poderiam fazer qualquer
coisa para me eliminar, eles ficaram com medo. Eu, porém, fui para
a prisão de cabeça erguida.

"Por que Meu Pai Tem que Ir para a Prisão?"



Até na prisão de Danbury mantive o meu princípio de viver pelo
bem dos outros. Levantava cedo pela manhã e limpava bem onde
estivesse sujo. Até no refeitório, enquanto os outros cochilavam com

o nariz enfiado na mesa ou batiam papo, eu esperava minha vez na
fila, com postura reta. Fazia mais que os outros do trabalho que me
davam, e ainda ajudava as pessoas ao meu redor. Quando sobrava
tempo, lia a Bíblia. Eu lia a Bíblia dia e noite, e uma vez um
prisioneiro me disse: "Ei, essa é a sua Bíblia? Essa é a minha, quer

ver?", ele me jogou uma revista. Era uma revista pornográfica

Hustler.

Em Danbury, as pessoas me chamavam de "aquele que trabalha
calado", "aquele que lê", "aquele que medita". Assim, em três meses
consegui fazer amizade com os prisioneiros e até com os carcereiros.
Fiz amizade com usuários de drogas e com o prisioneiro que me
disse que a revista pornográfica era sua Bíblia. Passando mais dois
meses, os prisioneiros que estavam em Danbury começaram a
dividir comigo as coisas que recebiam. Quando comecei a
compartilhar carinho com as pessoas, parecia que a primavera tinha
chegado à prisão.
Na verdade, a América não queria realmente me mandar para a
prisão. Eles decidiram me intimar enquanto estava na Alemanha.
Então, se não quisesse entrar nos EUA, nada aconteceria, porque a
intenção deles não era me prender, mas sim me expulsar. Porque
estava famoso como "Reverendo Moon" e meus seguidores
aumentavam sem controle, eles impediriam o meu caminho. Como
na Coreia, era o cisco no olho das igrejas tradicionais. Contudo,
como já sabia da intenção deles, voltei para a América e fui para a
prisão por vontade própria, porque ainda tinha trabalho por fazer
na América.
Não acho tão ruim ir para a prisão. Para fazer as pessoas que
passam pelo vale de lágrimas se arrependerem, primeiro tenho que
derramar lágrimas. Se meu coração não for tão miserável, não posso
subjugar o outro. Mas a providência de Deus é realmente
misteriosa. Surpreendentemente, quando fui preso, sete mil líderes
religiosos ficaram indignados pela infração do governo americano
contra a liberdade religiosa, e promoveram um movimento para me
libertar. Entre eles destacam-se o Reverendo Jerry Falwell, da Igreja
Batista, que representava o grupo de cristãos tradicionais da
América, e o pastor Joseph E. Lowery, que fez a oração da bênção
na posse do presidente Obama. Eles ficaram na linha de frente da
passeata pela minha libertação. Minha filha In Jin também


participou da passeata de braços dados com eles. Ela até leu uma
carta escrita com lágrimas diante_dos sete mil líderes religiosos.
"Saudações, senhoras e senhores. Sou In Jin Moon, segunda filha do
Reverendo Sun Myung Moon. O dia 20 de julho de 1984 pareceu o
fim do mundo para a nossa família. Foi justamente nesse dia que
meu pai entrou na prisão. Nem em sonho imaginei que tal coisa
poderia acontecer para o meu pai. Ainda por cima aqui na América,
a terra da liberdade abençoada por Deus e que meu pai tem amado
tanto e que realmente tem servido. Meu pai trabalhou muito depois
de chegar aos EUA. Quase não o via dormir. Ele sempre levantava
na madrugada, orava e ia trabalhar. Jamais vi alguém como o meu
pai, com tanta dedicação para o futuro da América e para Deus.
Entretanto, os EUA levaram meu pai para a prisão de Dan-bury. Por
que meu pai tem que ir para Danburv? Ele é uma pessoa que não se
importa com o próprio sofrimento. A vida do meu pai, durante a
qual ele praticou a vontade de Deus, está gravada a lágrimas e
sofrimento. Agora ele tem 64 anos de idade. O único crime que meu
pai cometeu foi amar os EUA. Porém, nesse momento, no refeitório
da prisão, ele deve estar lavando pratos ou limpando o chão.
Na semana passada, eu o vi pela primeira vez, vestindo o uniforme
de prisioneiro. Eu chorei sem parar. Meu pai me disse: "Não chore
por mim, mas ore pela América". Meu pai transmitiu para mim a
mesma mensagem que ele deixou para todos os milhões de
membros do nosso movimento no mundo inteiro. "Redirecionem
sua raiva e sua tristeza, e as transformem em forte vigor para fazer
dessa nação uma nação de liberdade". Meu pai me disse que fará
qualquer trabalho duro na prisão, aguentará qualquer injustiça,
carregará tranquilamente qualquer cruz. A liberdade religiosa é a
pedra fundamental para todas as liberdades. Sinceramente agradeço
a todos que apoiaram esse movimento pela liberdade religiosa."

Reconhecido como prisioneiro exemplar, tive minha pena
diminuída em seis meses por boa conduta e então fui libertado após


treze meses preso. Na noite do dia em que saí da prisão, houve um
banquete de comemoração da minha libertação em Washington.
Juntos, rabinos judeus e pastores cristãos me esperavam entre os

1.700 líderes. Naquele momento, mais uma vez insisti e bradei para
o mundo a "inter-religiosidade e a interdenominação", sem me
preocupar com ninguém.
"Deus não pertence a uma religião ou a uma denominação. Deus
não é um ser amarrado a uma doutrina em especial. Dentro do
coração de Deus, como um coração de pai e de amor, não existe
divisão de povo e raça. Não existem muros entre as nações e entre
as tradições e culturas diferentes. Ainda hoje, Deus está tentando
abraçar toda a humanidade por igual, como seus filhos. Agora os
Estados Unidos estão seriamente doentes com o problema racial, a
confusão de valores, a corrupção social, ética e moral, a falta de
espiritualidade e com o problema da decadência da vida de fé
cristã, o problema do comunismo baseado no ateísmo, etc. A razão
pela qual cheguei a essa nação chamado por Deus foi exatamente
essa. Todos os cristãos têm que acordar e se unir como um só, e até
os sacerdotes têm que reanalisar o papel que assumiram até agora
para se arrependerem. A cena"do tempo em que Jesus veio e
conclamou a todos que se arrependessem, depois de dois mil anos,
está se repetindo na terra. Nós devemos cumprir a missão
importante que foi dada por Deus para a América. Se continuar
como está, não haverá saída. É preciso uma nova Reforma
Religiosa."
Depois de cumprir pena na prisão, não havia mais nada que
pudesse me segurar. Com a voz mais forte que antes, transmiti a
mensagem alertando a América decadente. Avisei fortemente e
insisti no alerta de que apenas a restauração do amor a Deus e da
moralidade poderia ser a força para reerguer a América.
Embora tivesse cumprido a pena na prisão inocentemente, a
vontade de Deus também estava lá. Depois que saí da prisão,


aqueles que estavam no movimento pela minha libertação se revezaram
para visitar Pusan e Seul. A razão deles virem era para
saber porque o espírito do Reverendo Moon tinha comovido os
jovens americanos daquela maneira. Dentro do pouco tempo de sua
visita, eles de vontade própria arrumaram um intervalo para
aprender nossa doutrina e então voltaram. Centralizado neles,
organizei a Conferência de Liderança dos Clérigos Americanos ACLC3,
que trabalha até hoje organizando o movimento da paz e o
movimento da vida de fé em nível inter-religioso e entre as

diferentes denominações.

CAPÍTULO 5

A FAMILIA VERDADEIRA
APERFEIÇOA O HOMEM VERDADEIRO


Minha Esposa Hak Ja Han


A primeira vez que eu encontrei minha esposa, ela era uma menina
de 14 anos e tinha acabado de se formar no Ensino Fundamental.
Quando ia à igreja, ela andava sempre pela mesma rua e nunca
levantava a voz, era uma menina que passava despercebida. Um
dia, nosso membro, a senhora Soon Ae Hong, me apresentou

3. American Clergy Leadership Conference.

filha. "Qual o seu nome?", perguntei.
"Meu nome é Hak Ja Han, senhor", ela respondeu sem embaraço.
Naquele momento, sem eu mesmo perceber, repeti três vezes "Oh,
Hak Ja Han nasceu na Coreia!" e orei, dizendo "Oh, Deus, muito
obrigado porque o senhor mandou uma mulher tão admirável como
Hak Ja Han para a Coreia". Então lhe disse: "Hak Ja Han, daqui para
a frente você precisará se sacrificar muito".
No instante que a vi, todas essas palavras automaticamente saíram
da minha boca. Algum tempo depois, a senhora Soon Ae Hong me
disse que tinha achado muito estranho eu ter dito três vezes a
mesma palavra enquanto olhava sua filha. E minha esposa também
se lembrou bem daquele breve encontro. Ela guardou aquele dia e
até as palavras que murmurei para mim mesmo no fundo de seu
coração. Ela me disse que não pôde esquecer porque sentiu que
estava recebendo uma grande revelação sobre seu futuro.
A mãe de minha esposa, a senhora Soon Ae Hong, nasceu em uma
fervorosa família presbiteriana e cresceu em um ambiente de fé
cristã. Ela veio da mesma terra natal que eu, Jong Ju, mas viveu
mais tempo na cidade de Anju e desceu para o sul durante a Guerra
da Coreia. Quando entrou na nossa igreja, na cidade de Chun Chón,
ela já tinha uma vida de fé muito rigorosa e sua filha foi educada de
maneira bem rígida.
Minha esposa estudou na Escola Técnica de Enfermagem mantida
pela Igreja Católica, e como o regulamento da escola era muito
severo, diziam que parecia uma vida no convento. A personalidade
da minha esposa era calma; ela só saía de casa para a escola, sob as
ordens da mãe, que dedicava sincera devoção na vida de fé. Além
de ir para escola e frequentar nossa igreja, era a única forma dela
sair de casa.
Eu tinha quase 40 anos na época e senti que tinha chegado a hora de
me casar. Quando Deus falou: "Chegou a hora. Case-se", tive que
obedecer. Em outubro de 1959, a preparação para o meu noivado


começou sem uma noiva definida, conduzida por uma anciã, a avó
Seung Do Ji. Um membro que por sete anos tinha orado pela minha
futura esposa, sem saber quem seria, me falou assim: "Mestre, em
um sonho, vi que a senhorita Hak Ja Han havia se tornado noiva do
senhor". A avó Seung Do Ji também'me contou um sonho que teve:
"Oh, que sonho foi aquele? Vi dezenas de garças que vinham
voando. Tentei espantá-las com as mãos, mas elas voltaram e
cobriram nosso Mestre. O que isso significa?"

No mesmo período, também apareci em sonho para minha esposa,
dizendo: "O dia está se aproximando. Se prepare". No sonho, minha
esposa respondeu: "Até agora tenho vivido de acordo com a
vontade do Céu. Daqui para a frente não será diferente. Seguirei
como serva de Deus e farei qualquer coisa que seja a vontade Dele".
Alguns dias depois do sonho que minha esposa teve comigo, falei
para a senhora Soon Ae Hong trazer sua filha até mim. Aquele era
oficialmente nosso primeiro encontro desde o dia em que havia me
cumprimentado, com 14 anos de idade.
Pedi que ela fizesse um desenho. Então, sem hesitar ela traçou com

o lápis e me entregou. Achei que ela desenhava bem, e quando olhei
seu rosto, percebi o quanto aquele rosto corado era bonito; e pelo
que ela havia desenhado, vi também como seu coração era
admirável. Naquele dia fiz muitas perguntas para ela, e a todas, ela
respondeu claramente, sem demonstrar qualquer embaraço.
Passados alguns dias, a chamei de novo. Sem saber o porquê do
chamado, ela ficou na minha frente e eu lhe disse: "Amanhã de
manhã vai acontecer a cerimônia de casamento". Quando lhe falei
isso, ela respondeu: "Ah, é?", e não perguntou mais nada, nem se
mostrou contra. Parecia que ela era uma pessoa que não sabia dizer
não. Embora ela fosse tão obediente e calma, para fazer a vontade
de Deus ela era uma pessoa bem determinada.
Nós ficamos noivos em 27 de março de 1960 e, em 11 de abril,
menos de quinze dias depois, realizamos a cerimônia de

matrimônio. Usei o samo-guande 1 e minha esposa usou o jokturi2. A
jovem noiva, 23 anos mais nova que eu, tinha uma postura bem
ajeitada com a boca bem fechada e o semblante calmo.
"Com certeza você deve saber que se casar comigo é diferente de
um casamento comum. Nossa união como casal é para cumprir a
missão que recebemos de Deus de nos tornarmos Verdadeiros Pais,
não só para buscar a felicidade entre homem e mulher como os
outros. Através da Família Verdadeira, Deus deseja estender o
Reino dos Céus para esse mundo. Por isso, de agora em diante, nós
devemos trilhar o duro caminho para nos tornarmos Verdadeiros
Pais, os quais abrirão o portão do Reino dos Céus. Como até hoje
ninguém na história humana passou por esse curso, nem sei como
será o caminho a nossa frente. Então, nos próximos sete anos
acontecerão muitas coisas difíceis para você suportar. Não se
esqueça nem por um segundo de que nossa vida é completamente
diferente da vida dos outros, e só aja depois de conversar comigo,
até nas pequenas coisas. Você deve obedecer e seguir tudo que eu
disser."


"Já me determinei, então, por favor, não se preocupe comigo."
Podia ver a grande convicção no rosto de minha esposa. A partir do
dia seguinte, ela teve que passar por dias difíceis de suportar. A
primeira dificuldade que ela enfrentou foi não poder ver Sua mãe.
A família de minha esposa era composta de três gerações de filhas
únicas, então o relacionamento entre mãe e filha era muito próximo,


mas ainda assim implorei para minha sogra: "Por favor, não veja
sua filha com muita frequência e não apareça na minha frente nos
próximos três anos". Disse à minha esposa que ela tinha que cortar o
relacionamento não só com a mãe, mas até com os parentes, por
achar que se uma pessoa que ocupa a posição de mãe da igreja
fizesse muita fofoca com os membros de sua família, ou


1.Chapéu tradicional que o noivo usa no casamento.
2.Coroa que a noiva usa na cerimônia de casamento tradicional.


mergulhasse em sentimentos particulares, nunca poderia cumprir

sua responsabilidade. Dentro do coração da esposa só deve existir o
esposo.
Por três anos, mandei minha esposa morar em um quartinho na
casa de um membro e, além disso, ela podia vir à igreja apenas uma
vez por dia. Nessa única vez, ela só podia vir à noite. Ela poderia
entrar pelo portão da frente, mas para ir embora teria que usar o
portão de trás e sair sem fazer barulho. Eu estava constantemente
envolvido no culto ou em oração à noite, e estava raramente em
casa, mas a separação não era por razões práticas. A separação era
para estabelecer uma condição espiritual de devoção incondicional
para sua missão. Como os ultrajantes rumores sobre mim
continuavam a circular, a separação dos seus parentes e de mim
tornou-se ainda mais difícil para minha jovem esposa suportar.

Quando nos casamos, a Igreja da Unificação já atuava em cento e
vinte lugares por toda a Coreia e já estava bastante famosa. Por isso,
mesmo dentro da igreja havia muitos comentários sobre o meu
casamento. Muitas invejavam e odiavam minha esposa, e
começaram a espalhar todo o tipo de boatos.

Porém, por causa do jeito como eu a tratava, além de ela morar na
casa dos outros, e por eu ficar mais com as senhoras idosas, as
fofocas sobre minha esposa começaram a sumir. Ainda mais
quando ela ganhou nossa primeira filha. Por estar em um quarto
frio, sem nenhum aquecimento, ela ficou doente pela falta dos
devidos cuidados pós parto, e mesmo assim, o marido nem deu as
caras. Aí então começaram a aparecer pessoas preocupadas com a
minha esposa, que ficaram ao lado dela questionando como seu
marido podia fazer aquilo.
"Nosso Mestre é terrível. Se ele se casou, tem que viver com a
esposa. Como uma mulher pode ficar assim, sem ao menos ver o
esposo?"
As pessoas que antes falavam mal de minha esposa começaram a
simpatizar com ela e, uma por uma, passaram para o lado dela.


Minha esposa, apesar da pouca idade, realmente passou por muitos
testes. Durante toda nossa vida juntos, em nenhum momento ela
pôde ficar livre, esteve todo o tempo muito tensa, como se estivesse
andando sobre uma fina camada de gelo. "Será que hoje terei
tranquilidade? Ou amanhã?" Ela teve que viver assim, com o
coração apertado. Se ela falasse errado mesmo que uma palavrinha,
a repreendia. Se ela expressasse apreciação, a repreendia, e às vezes
ela me seguia e eu a repreendia. Talvez ela tenha suportado esse
caminho de se tornar uma mãe, mas sem dúvida a tristeza no
coração dela era muito grande. Mesmo que dissesse algo sem dar
muita importância, ela teve que viver acompanhando cada uma das
minhas palavras. Assim, o sofrimento que ela passou deve ter sido
inexprimível. Foram necessários sete anos para nos adaptarmos um
ao outro. Naquele tempo, comprovei de novo o fato de que na vida
do casal o mais importante é haver união pela fé.

Uma Incomparável Beleza Interior



Depois que nos casamos, fiz um compromisso com minha esposa:
"Ainda que algo seja muito angustiante ou revoltante, não vamos
deixar os membros da igreja pensarem: 'Oh, nosso Mestre está
tendo brigas conjugais'. Vamos gerar muitos filhos, mas não
poderemos demonstrar que o papai e a mamãe brigaram, porque as
crianças são nosso Deus. Os filhos são o amor de Deus compactado.
Então, quando os filhos chamarem 'Mamãe', não importam as
circunstâncias, você terá que responder 'Sim', com um sorriso".
Após sete anos em tão rigoroso treinamento, minha esposa
finalmente adquiriu a postura madura de mãe. Dentro da igreja, as


fofocas sobre ela também já não existiam mais, e o lar se encheu do
aconchego da felicidade. Minha esposa gerou quatorze filhos, e
quando precisava sair de casa para me acompanhar nas turnês de
discurso pelo mundo inteiro, ela escrevia cartas e cartões para os
nossos filhos, sem faltar um dia. Dessa forma, ela abraçou nossos
filhos com muito amor.
Para criar os nossos quatorze filhos durante vinte anos, minha
esposa deve ter passado por muitas dificuldades, mas nunca
demonstrou isso. Não foi uma ou duas vezes que a deixei perto do
parto para viajar para o exterior. Os membros da igreja me
escreviam, dizendo que a vida dela era extremamente difícil e que
estavam preocupados com sua alimentação. Embora eu lesse as
cartas, não podia fazer nada. Apesar disso, minha esposa nunca
reclamou ou expressou que as coisas estavam difíceis demais.
Ainda me dói muito ela ter que passar a vida inteira dormindo duas
ou três horas por dia para se adaptar ao marido.
Minha esposa tem um tão tremendo coração de amor e cuidados, a
ponto dela dar sua aliança de casamento para alguém em
necessidade. Quando ela vê alguém maltrapilho, compra roupas
para aquela pessoa. Quando ela vê alguém passando fome, ela
compra comida. Muitas vezes ela recebia presentes, e antes mesmo
de abri-los dava-os para outra pessoa. Isso era frequente. Certa vez,
durante uma viagem à Holanda, tivemos a oportunidade de passar
por uma fábrica de lapidação de diamantes. Querendo expressar
meu coração de gratidão à minha esposa, por todos os seus
sacrifícios, comprei-lhe um anel de diamantes. Não tinha muito
dinheiro, então não pude comprar um grande. Comprei um que
gostei e o presenteei a ela. Mais tarde, ela o deu para outra pessoa.
Quando eu vi que o anel não estava no seu dedo lhe perguntei:
"Para onde foi o seu anel?" Ela respondeu: "Você não sabe?"
Um dia a vi tirando um embrulho grande de pano, e ela estava
trabalhando silenciosamente para pegar algumas roupas. Então lhe


perguntei: "O que você vai fazer com isso?" "Ah, eu tenho utilidades
para elas".
Sem me contar o que pretendia fazer, ela fez várias trouxas de
roupas. Depois que terminou, disse-me que estava pronto para
enviar para nossas missionárias que trabalhavam no exterior. "Essa
aqui é para a Mongólia. Essa para a África. Essa para o Paraguai",
ela dizia. Ela tinha um leve sorriso autoconfiante que fez seu olhar
tão doce quando me disse aquilo. Ainda hoje ela se responsabiliza
por cuidar dos missionários que estão no exterior.
Minha esposa fundou o International Relief and Friendship Foundation
(IRFF)3, em 1979, que até hoje se dedica ao serviço social em várias
nações da África como o Zaire, Senegal e Costa do Marfim,
distribuindo comida para crianças pobres, entregando remédios
para os doentes e levando roupas doadas para os maltrapilhos. Na
Coreia, em 1994 ela criou o Fundo Social Ae Won, cujas atividades
são ajudar os adolescentes que se tornam prematuramente
responsáveis por suas famílias, administrar o restaurante popular
gratuito e ajudar nossos irmãos da Coreia do Norte. Além disso, há
muito tempo minha esposa trabalha em entidades femininas. A
Federação das Mulheres para a Paz Mundial, cuja responsável
principal é minha esposa, já está presente em aproximadamente
oitenta países do mundo e é uma ONG registrada até na ONU.
Na história humana, as mulheres sempre ocuparam uma posição

submissa aos homens. Contudo, de agora em diante, o mundo que
se aproxima é um mundo de reconciliação e paz baseado no coração
materno, no amor e na força conciliadora "das mulheres. Chegou o

tempo da força das mulheres salvar o mundo.
Porém, atualmente as entidades feministas se opõem aos homens

como se estivessem medindo forças, sempre querendo enfrentá-los.
As entidades femininas que minha esposa administra são baseadas

3. No Brasil conhecida como AMASA -Associação Mundial de Assistência e
Amizade.

na religião e no amor para expandir o movimento pela construção
de um mundo de paz. Não se trata da revolução feminista que saiu
destruindo os lares, mas sim de um movimento feminino que cuida
de sua família verdadeira através da prática do amor. O sonho de
minha esposa é guiar as mulheres para crescerem como verdadeiras
filhas de piedade filial, tornarem-se esposas que auxiliem os
maridos com fidelidade e devoção e para se tornarem líderes que
sirvam a sociedade educando seus filhos corretamente. Afinal, o
movimento feminino no qual minha esposa trabalha existe para

construir a família verdadeira.

Minha agenda sempre foi muito ocupada por causa do serviço
público, e por isso nossos filhos viveram metade do ano sem os pais
por perto. Nossos filhos ficavam com os membros da igreja, na casa
onde seus pais não estavam. A casa se encontrava sempre cheia de
membros. Em nossa casa, os visitantes sempre tinham prioridade
para sentar-se à mesa conosco, não nossos filhos. Nesse ambiente,
meus filhos conviviam com uma solidão que as crianças de outras

famílias normalmente não sentiam.

Contudo, por causa de seu pai, tiveram que passar por uma
dificuldade maior que essa. Em qualquer lugar que fossem, eles
eram apontados como os filhos do Sun Myung Moon, o fundador
da seita. Por isso, cada um teve sua fase de crise de identidade.
Mesmo assim, todos eles voltaram e tomaram o caminho certo. Não
posso fazer nada além de agradecê-los, pois apesar dos pais não
poderem cuidar bem deles, cinco dos meus filhos se formaram em
Harvard. Meus filhos já estão crescidos e até ajudam no meu
trabalho. Ainda assim, continuo um pai muito rígido. Ainda hoje,
educo-os para se tornarem pessoas que amem a Deus e que sirvam a
humanidade mais do que eu.
Minha esposa tem um caráter muito forte, não vacila diante de
nada, mas a morte de nosso segundo filho Heung Jin foi muito


difícil para ela. Foi no mês de dezembro de 1983. Eu e minha esposa
estávamos participando do rally de manifestações para vencer o
comunismo, na cidade de Kwang Ju, província Jón Nam.
Recebemos a ligação internacional com a notícia de que Heung Jin
tinha sofrido um acidente de carro e que tinha sido levado ao
hospital. No dia seguinte, fomos direto para Nova Iorque, mas ele já
estava em estado de coma.
Um caminhão descia a ladeira na maior velocidade e, de repente,
freou e entrou na outra pista, causando o acidente. Dois amigos
íntimos de Heung Jin estavam no carro com ele. Diante daquela
situação urgente e arriscada para sua própria vida, Heung Jin virou

o volante para a direita, para que o lado do motorista onde ele
estava, se chocasse com o caminhão. Assim ele conseguiu salvar os
dois amigos que estavam com ele. Quando fui olhar a ladeira onde
ocorreu o acidente, que ficava perto de casa, a mancha preta da
virada brusca do pneu para a direita ainda estava na estrada.
Por fim, Heung Jin foi para o Céu na madrugada do dia 2 de janeiro.
Exatamente um mês antes ele tinha completado 17 anos. A tristeza
de minha esposa era inexprimível, por perder um filho já crescido,
mas ela não podia derramar as lágrimas. Nós somos pessoas que
entendemos o mundo espiritual. Mesmo que a pessoa perca sua
vida física, o espírito não desaparece como pó, mas vai para o
mundo espiritual. Porém, é um sofrimento insuportável para os pais
não poderem ver nem tocar seus amados filhos nessa terra. Minha
esposa nem podia chorar como queria, enquanto acariciava sem
parar o carro fúnebre que levava Heung Jin.
Antes do acidente acontecer, Heung Jin já havia se comprometido
com Hoon Sook, que estava estudando balé. Eu a chamei e disse:
"Não é fácil para uma mulher viver sozinha a vida inteira.
Tampouco posso exigir isso dos seus pais. Então, vamos desfazer
esse compromisso". Mas a decisão de Hoon Sook estava inabalável:
"Como já sei da existência do mundo espiritual, me deixe passar
toda a minha vida com Heung Jin, por favor".

Assim, cinquenta dias depois da partida de Heung Jin, Hoon Sook
se tornou minha nora. Nós nunca esqueceremos o semblante dela
durante a cerimônia com o espírito, com o sorriso brilhante de
ponta a ponta e carregando a foto de seu noivo.
O coração de minha esposa podia desanimar cada vez que as
dificuldades apareciam, mas ela nunca vacilou. Mesmo que a
situação fosse muito complicada, minha esposa passou bem por
cada degrau de sua vida, sem perder o sorriso sereno. Quando os
membros da igreja pediam conselhos em relação a seus filhos, ela
dizia sorrindo:

"Por favor, espere. Esse desvio das crianças é uma fase. Tudo vai
passar no final. Por isso, qualquer coisa que os seus filhos façam,
continue dando amor com um coração de infinito apoio, e espere.
Os filhos com certeza voltarão para dentro do amor dos pais."
Nunca, em toda a minha vida, gritei com minha esposa. Não que
minha natureza seja assim, mas porque ela nunca me deu motivos.
Minha esposa cuidou do meu cabelo a vida inteira. Sua habilidade
de cortar cabelo é a melhor do mundo. Agora, como estou com a
idade avançada demais, os pedidos que faço para ela também
aumentaram. "Por favor, corte as unhas do meu pé", aí ela
imediatamente vem para cortar minhas unhas. É interessante, pois
embora a unha do pé seja minha, os olhos dela enxergam melhor
que os meus. Quanto mais velho fico, sinto que o jeito da minha
esposa é cada vez mais precioso para mim.


Um Compromisso que o Casal Não Pode Deixar


de Cumprir



Sempre exijo que os noivos jurem as coisas que não podem deixar
de cumprir depois do casamento. Primeiro, entre o casal deve existir
confiança mútua, e um deve amar o outro. Segundo, não machuque

o coração do outro. Terceiro, eduquem seus filhos de segunda ou
terceira gerações para manterem a pureza sexual. Quarto, para
formar a família ideal verdadeira, todos os membros da família
devem estimular e apoiar um ao outro. Manter a pureza sexual
antes do casamento e a fidelidade depois é uma coisa muito
importante. Ensino-lhes tais coisas para que vivam corretamente
como seres humanos e para que mantenham uma família sadia.
O casamento não é simplesmente um encontro entre um homem e
uma mulher, mas uma cerimônia preciosa que continua a obra da
criação de Deus. O casamento é o caminho de gerar vida e de buscar
o amor verdadeiro, com o homem e a mulher unidos como um só
ser. Uma nova história surge através do casamento. No casamento
surge a família, centrada na qual a sociedade se forma, a nação é
construída e o mundo de paz de Deus é realizado. A família é
exatamente o lugar no qual o Reino de Deus se realiza neste mundo.
Por isso, o casal tem que se tornar o centro da harmonia e da paz.
Além do relacionamento do casal ter que ser cheio de amor, até os
sogros e os parentes têm que alcançar harmonia e paz através
daquele casal. Não basta ter amor somente entre duas pessoas e
viver bem, mas todos os membros da família devem viver amando
uns aos outros.
Exijo, sem discussão, que os recém-casados gerem muitos filhos.
Gerar e cuidar de muitos filhos é uma bênção de Deus. As vidas que


Deus deu não podem ser abortadas ao bel-prazer pelo padrão do ser
humano. Deus tem um plano para todas as vidas que nascem nesse
mundo. Todas as vidas são muito preciosas, portanto devem ser
protegidas e bem cuidadas.
Espera-se que o casal mantenha a confiança e construa o amor
juntos. O mais importante entre o que peço para todos os casais é
que jurem o terceiro compromisso: "Ensinar para seus filhos
manterem a pureza sexual antes do casamento".
Na realidade, em tempos atuais, esse compromisso tão óbvio de fato
se tornou algo muito difícil. Entretanto, quanto pior o mundo fica,
mais a pureza sexual antes do casamento deve ser mantida.
A perfeição do homem e a paz mundial, no final, também são
alcançadas através da família. A finalidade da religião é construir
um mundo ideal de paz no qual todas as pessoas sejam boas. A paz
não vem através de políticos batendo de frente uns com os outros.
Tampouco virá pela imponente força militar. O ponto inicial para a
paz no mundo é justamente a família.

Contudo, o mais difícil na vida familiar é educar corretamente os
filhos. Mesmo que sejam gerados com amor e que sejam bem
cuidados, nem sempre os filhos crescem de acordo com a vontade
dos pais. Além do mais, a cultura materialista do mundo moderno
está destruindo o espírito inocente da juventude. Os jovens que
deveriam crescer com toda beleza, estão vivendo no meio da
alucinação causada pelo vício das drogas. Ficar alucinado é perder
sua própria consciência. As crianças que perdem sua consciência no
final mergulham no crime e na imoralidade sexual.
Em 1971, a sociedade americana estava numa confusão inimaginável
por causa da onda do sexo livre. Hippies drogados de
cabelo comprido lotavam as ruas. Aqueles jovens comuns, mesmo
que tivessem recebido boa educação, estavam sendo destruídos um
a um. A corrupção sexual era tanta, que em um único ano, oito


milhões de pessoas foram contaminadas por doenças sexualmente
transmissíveis.
Na verdade, a questão mais séria era que todos, políticos e
acadêmicos, até os pastores, apesar de saberem desse fato, tentavam
escondê-lo e ignorá-lo. Eles ignoraram a realidade justamente
porque eles próprios não eram puros. Quem não é puro não
consegue insistir na pureza sexual de seus filhos.
O adultério e a imoralidade sexual dos adultos destroem a família e

o futuro dos filhos. O modo de vida adúltero e imoral é
precisamente o que acaba com a vida dos filhos. A razão da
sociedade moderna não obter felicidade na mesma medida que a
riqueza material, é porque todas as famílias estão destruídas. Para
salvá-las, primeiramente é preciso que os adultos tenham uma vida
correta. Educar os filhos sobre pureza sexual vem depois.
A mãe é a coluna que sustenta a família. Apesar de tantas mudanças
no mundo, enquanto houver o sacrifício e o serviço da mãe,
podemos estabelecer a família sadia, a família da paz. E dentro de
tal família crescem filhos lindos. O caranguejo que anda de lado se
mandar seus filhos andarem reto é um absurdo. A coisa mais
importante na educação dos filhos é que eles aprendam observando
a família. Os pais têm que mostrar o exemplo correto. Dentro da
família verdadeira surgem filhos verdadeiros. A verdade é sempre a
mais simples.
Durante a criação dos filhos, a fase mais difícil é a adolescência. Na
puberdade, os filhos acham que são todos príncipes e princesas. A
adolescência é a época em que tudo o que pensam é centralizado em
si mesmos. Então, normalmente eles contestam gratuitamente as
palavras dos pais. Nesse período, se os pais não procuram entendêlos,
facilmente eles caem no mau caminho. Por outro lado, mesmo
que seja uma coisa simples, se eles se identificam com aquilo, ficam
extremamente entusiasmados. No outono, eles acham engraçado até
olhar um caqui cair do pé sem folhas, e riem muito. Mesmo sem
saber o porquê, se algo toca seus corações, eles se sentem felizes.

Aqui está a característica original da criação de Deus. Por isso, se há
um envolvimento com o sentimento de amor na adolescência, eles
olham o mundo embaçado, e facilmente poderão perder a
capacidade de discernir. Quando um rapaz e uma moça
adolescentes se encontram, conversam, e os corações batem forte,
então vem a mudança no sentimento. Durante esse tempo, se esse
coração não está alinhado com o padrão de Deus obviamente será
envolvido no mundo do mal, porque perderá um meio de controlar
seu corpo com a união dos olhos do coração e dos olhos físicos.
Quem tem o nariz do amor começa a gostar até do cheiro que
normalmente não suportava. Quem tem a boca do amor passa a
gostar do sabor que detestava. Até perdem o sono querendo ouvir
histórias de amor e com o desejo de tocar infinitamente a pessoa
amada. Quando a adolescência chega e se envolvem no sentimento
do amor, os olhos começam a ficar estranhos e a capacidade de
distinguir as coisas enfraquece.
Na puberdade, todas as células do espírito e do corpo ficam de
portas abertas para receber amor. Quem ama se sente feliz, então se
envolve cegamente e os problemas aparecem. Na verdade, a porta
do amor se abre no tempo certo, por isso é preciso saber esperar o
tempo certo para ela se abrir. Os pais devem ensinar claramente
essas coisas para seus filhos na adolescência. O amor não é como o
mundo geralmente fala, para ter prazer a qualquer custo, mas é o
processo para assemelhar-se a Deus.


Amar E Dar e Esquecer



A família é a única instituição que Deus criou. É também a escola do
amor, na qual a humanidade aprende a viver em paz, amando uns
aos outros, e um lugar de treinamento para estabelecer o palácio da
paz no mundo. Um lugar onde o marido e a esposa aprendem a ter
responsabilidade um sobre o outro, servindo-se como um casal que
deve eternamente percorrer juntos o caminho do amor. A família é a
base para a paz mundial, e para tanto, é preciso conseguir até que os
filhos falem: "Nós nunca vimos nossos pais brigarem".
Na vida, encontra-se todo tipo de coisas. Ainda que um casal tenha
muito amor entre si, na vida diária há cobranças sobre o parceiro.
Às vezes se zangam e até gritam um com o outro, mas quando as
crianças entrarem na sala, devem parar na hora. Mesmo que haja
motivos para se enfurecerem, quando encontram os filhos, os pais
devem ter um comportamento pacífico e carinhoso. Assim, as
crianças crescem pensando: "Na minha casa há muito amor e meus
pais têm muito amor um pelo outro".
Os pais são o segundo Deus para seus filhos. "Você gosta mais de
Deus ou de seus pais?" se alguém perguntar assim e as crianças
responderem que gostam mais dos pais, significa que também estão
gostando de Deus. A melhor educação de todas está na família. Não
existe felicidade e paz separadamente da família, pois ela é o Reino
dos Céus. Mesmo que alguém tenha muito dinheiro e renome, de
forma que tenha conquistado o mundo, se não tiver uma família
correta, se sentirá infeliz. A família é o ponto inicial do Reino dos
Céus. O casal é formado com amor verdadeiro e a construção da
família ideal está ligada ao universo.
Quando estava preso em Danbury, na América, presenciei uma
cena muito interessante. Todos os dias trabalhávamos aterrando a
ladeira com a máquina bulldozer para fazer uma quadra de tênis. Se


chovesse, interrompíamos o trabalho e recomeçávamos quando o
sol saía. Assim trabalhamos por vários meses. Por causa da estação
de chuvas, não pudemos continuar e só depois de vinte dias
recomeçamos o trabalho. Em meio às poças de água, onde o mato
estava alto, um pássaro que vivia na água fez seu ninho, poucos
metros distante do trajeto onde os prisioneiros faziam caminhada.
A princípio, ninguém notou que os pássaros estavam ali. A
camuflagem era tão perfeita que a asa do pássaro parecia uma
planta na água. Mas quando os ovos foram botados, ficou visível
que eles estavam lá. O pássaro ficava sentado, protegendo seus
ovos, pretos como pedrinhas. Depois que os filhotinhos romperam a
casca e saíram, a mamãe pássaro trazia comida e dava na boca
deles. Contudo, quando a mamãe pássaro trazia o alimento, ela
nunca voava diretamente até o ninho onde estavam seus
passarinhos. Ela fechava as asas longe do ninho e andava até chegar
aos filhotes. Além disso, toda vez ela vinha de direções diferentes. A
mamãe pássaro agia sabiamente, para que ninguém soubesse o local
exato do ninho onde estavam seus filhotinhos.
Os passarinhos cresciam dia após dia com a comida que a mamãe
trazia. Quando os prisioneiros caminhavam e se aproximavam do
ninho, a mamãe pássaro imediatamente chegava e começava a bicar
os presos com seu bico pontiagudo. Ela estava de guarda caso
alguém machucasse seus filhotes.
Até o pássaro conhece o verdadeiro amor paternal. O amor
verdadeiro é a qualidade de poder dar sua própria vida sem medir.
Aquele coração de querer proteger seus filhotes arriscando a
própria vida é exatamente o amor verdadeiro. Os pais sempre
trilham o caminho do amor, sem se importar com as dificuldades
que possam enfrentar. O coração dos pais não é outro senão o que,
diante do amor, até ignora sua própria vida e segue o verdadeiro
amor.
A característica original do amor é justamente deixar de lado o
coração que quer receber, e em vez disso querer dar para o outro e


para todos primeiro. Ele chega a se esquecer completamente do que
já fez e continua dando. Isso é amor. Aquele amor é se doar com
alegria. É justamente esse coração alegre que uma mãe experimenta
quando segura seu filho no colo e o amamenta.
Os pais não acham difícil sofrer por seus amados filhos a ponto de
seus ossos enfraquecerem. O amor pelos filhos é assim. O amor
verdadeiro começa em Deus e é distribuído pelos pais. Portanto,
quando os pais dizem para os filhos: "A razão de você e seu cônjuge
se gostarem é justamente graças aos pais", esses devem responder:
"Minha vida seria um desastre se os senhores não tivessem me
criado, nem arranjado meu cônjuge".
A família é o embrulho do amor. Se esse embrulho for aberto
quando chegar ao Reino dos Céus, dali sairão um bom pai e uma
boa mãe; saem lindos filhos e também avôs e avós carinhosos. Esse
é o pacote do amor. A família é o espaço em que o ideal de Deus se
realiza e um lugar onde a obra divina pode ser aperfeiçoada. A
vontade de Deus é fazer um mundo que promove o amor. A família
é um lugar onde o amor de Deus transborda.
Família é uma palavra que só em pronunciar já faz surgir na boca
um sorriso imediato. Porque aí é onde o amor verdadeiro, que
realmente me apreende, transborda. O amor verdadeiro é amar e
até esquecer que já deu, como o amor dos pais que servem seus
filhos e dos avós que servem seus netos. Dar a vida pela nação
também é amor verdadeiro.


A Família Pacífica E a Base do Reino Dos Céus



Os ocidentais realmente vivem na solidão. Quando os filhos
completam 18 anos, saem de casa e somente aparecem no Natal. A
maioria nem visita os pais para saber como eles estão. Quando os
filhos se casam, moram separados dos pais, que quando ficam
velhos e não podem mais tomar conta de si mesmos, vão para o
asilo. Por isso, os idosos ocidentais invejam a cultura oriental. "Os
orientais vivem servindo os avós como o centro da família. Isso é
realmente muito bom. Os filhos cuidam dos pais idosos... aí sim dá
gosto viver. Que sentido há em viver deitado no asilo, sem ver os
filhos nem ver o tempo passar, só se mantendo vivo?", muitos
idosos se lamentam.
Mas o valor da família oriental que os idosos ocidentais tanto
invejam está sendo destruído pouco a pouco. Devido à influência
ocidental, nossa tradição milenar está sendo jogada fora. Estão
jogando fora nossas roupas, nossa comida e também nossa família.
Nas campanhas solidárias promovidas pela mídia todo fim de ano,
é publicado que o número de idosos que vivem sozinhos aumenta
anualmente. Quando ouço essas notícias, meu coração fica
apertado. A família é um lugar onde os membros se reúnem. Se
cada membro da família vive separado e fica sozinho, então não se
pode mais chamar isso de família A tradição de família grande é
uma cultura muito bonita de nossa nação.
Aconselho que três gerações vivam juntas no mesmo lar Isso não é
apenas para manter a tradição coreana. Depois que o casal se une e
gera filhos preciosos, os pais dão tudo para as crianças. Contudo, há
limite para o que os pais podem dar para seus filhos. Enquanto os
pais representam o presente, os filhos simbolizam o futuro e os avós
representam toda a história passada. Por isso, quando avós, pais e


filhos vivem juntos, os filhos podem herdar toda a fortuna do
passado e do presente. Amando e respeitando o avô, eles podem
herdar a história passada e aprender sobre o mundo do passado. Os
filhos adquirem a preciosa sabedoria de como viver o presente
através dos pais, e ao mesmo tempo quando os pais amam seus
filhos, eles estão preparando o futuro.
O avô ocupa a posição de representante de Deus. Mesmo que um
jovem seja muito inteligente, ele ainda não conhece todos os
segredos do mundo. Os jovens desconhecem todos os segredos da
vida, que o passar do tempo nos faz perceber naturalmente. É
justamente aí que se encontra a razão do avô ser o centro da família.
O avô é um precioso mestre que transmite para seus netos a
sabedoria que adquiriu por si mesmo ao longo de sua vida.
Na verdade, o avô mais velho do mundo não é outro senão Deus.
Por isso, receber o amor do avô e servi-lo é exatamente descobrir o
amor de Deus e servi-Lo. Enquanto essa tradição for mantida, o
cofre do tesouro nacional do amor do Reino dos Céus pode ser
aberto. Ignorar os idosos é perder a identidade da nação e, ao
mesmo tempo, desprezar a raiz do próprio povo.
Quando o outono chega, a castanheira se resseca cada vez mais e as
folhas caem. As cascas das castanhas se abrem e até a película
interna que cobre a castanha se resseca. Tudo isso é parte do ciclo
da vida. Com o ser humano é o mesmo: ele nasce como bebê
recebendo o amor dos pais, cresce e depois encontra um bom
cônjuge e se casa. Tudo isso é a corrente da vida formada pelo amor.
Assim, conforme a idade avança, nossa vida passa a ser igual à
casca da castanha seca. O idoso não é uma categoria de pessoas à
parte.Todos nós envelhecemos e nos tornamos idosos. Portanto,
ainda que o idoso fique senil, jamais pode ser maltratado.

Devemos lembrar do ditado kahwa mansa song4. A paz na família é a

base para o Reino dos Céus. A energia que move a família é o amor.

4. Quando a família fica em paz, todas as coisas ficam bem.

Se você amar o universo como ama sua família, tudo se abrirá para
você. Deus está no centro do amor na posição de pais de todo o
universo, portanto, o amor da família está diretamente ligado a
Deus. Quando a família for aperfeiçoada no amor, o universo
também o será.

Dez Anos de Lágrimas Derreteram o Coração do
Sogro



"Japonesa se torna nora exemplar da cidade de Miryang". Na
mesma época, vários periódicos publicaram esse artigo. Na matéria,
uma nora, contra a vontade de sua família, chegou à casa de seu
sogro na Coreia por meio de uma entidade religiosa. Ela serviu com
toda a devoção sua sogra doente e seu sogro bem idoso, e recebeu o
prêmio de byobu5, por indicação de seus vizinhos. Desde o primeiro
dia de casada, ela cuidou de sua sogra paraplégica, carregando-a
nas costas nas idas e vindas do hospital. Para servir o sogro e a
sogra ela até deixava de visitar sua terra natal tranquilamente.
Mesmo assim, quando ela recebeu o prêmio, disse que não era
merecedora e que não tinha feito nada mais que sua obrigação.
Essa nora japonesa é Yashima Kasuko, que veio para a Coreia
através do casamento intercultural da nossa igreja. O casamento
intercultural representa a união do homem e da mulher por meio do
matrimônio, transcendendo religião, nacionalidade e raça. No
interior, muitos rapazes não conseguem se casar. Através do nosso
casamento intercultural, aquelas noivas se casam com os jovens
solteirões do interior da Coreia, e sem nenhuma exigência, vêm para

5. Nora exemplar.

nosso país para viver bem com seus esposos e formar família.
Também ajudam seus sogros doentes, dão ânimo para os esposos,
geram filhos e cuidam bem deles. Elas cuidam e salvam o interior
que nosso povo deixou por causa das precárias condições de
sobrevivência. Quanta gratidão nós devemos ter? Há mais de trinta

anos esse trabalho tão digno está sendo feito.
Até hoje, devido ao casamento intercultural, milhares de mulheres


estrangeiras estão vivendo em nossa nação. Como os jovens
estavam indo embora, os idosos da vila, que não ouviam mais o
choro de crianças, agora se alegram dando boas vindas às crianças
recém-nascidas das estrangeiras, como se tivessem ganhado seus
próprios netos. Na escola primária da região da província Chung
Chong, mais da metade dos oitenta alunos são filhos de casais
interculturais da nossa igreja. O diretor da escola confessou que se
os alunos diminuíssem, ele teria que fechar a escola, e que por isso
ora diariamente para que os membros de nossa igreja não mudem
para outro lugar. Atualmente, na Coreia, há cerca de vinte mil
crianças, nascidas de casamentos interculturais, cursando o Ensino
Fundamental.
Ainda agora, na comemoração do Dia da Independência, a televisão
mostra a figura de japonesas especiais, que dizem com suas cabeças
abaixadas: "Por favor, perdoem os pecados cometidos pelos
japoneses". Embora elas mesmas não tenham cometido nenhum
crime, elas pedem perdão pelos crimes cometidos por seus
antepassados. É quase certo que elas são membros nossos, que
derrubaram as fronteiras através do casamento intercultural. Graças
a elas, as barreiras no coração de nosso povo, que considerava os
japoneses como inimigos, foram derrubadas.
Um dos meus seguidores, um jovem muito inteligente, estava à
procura de uma noiva para se casar em 1998, e uma mulher
japonesa se tornou sua noiva. O pai do jovem reclamou: "Eu tive
que receber uma nora japonesa, não havia outra, não?..." e não
conseguiu terminar de falar. Na época em que a ocupação japonesa


estava no auge, ele foi levado ao Japão e teve que trabalhar
forçadamente nas minas de carvão Iwate. Como o trabalho era muito
penoso, ele fugiu da mina arriscando sua vida e seguiu a pé, por
dezenas de dias, até Shimonoseki, para pegar o navio para Pusan e
finalmente conseguiu voltar para sua terra. Por isso, seu ódio pelo
Japão era tão imenso que alcançava até o céu.
"Ó, filho ingrato! Vou te deserdar. Nossa casa nunca poderá admitir
uma mulher da terra inimiga. Então imediatamente leve-a e suma
daqui. Essa mulher não serve para você, então escolha: você sai de
casa ou morre."
A decisão do pai era inabalável. Contudo, o rapaz ficou firme em
sua vontade. Casou-se com a noiva japonesa e a levou para a casa
de seus pais em Nagan. Seu pai nem abriu a porta. Mais tarde, o pai
reconheceu o casamento dos dois, mas continuou a tratar mal sua
nora. Toda vez que ela sentia muita dificuldade, ele dizia:
"Comparado ao que vocês me fizeram, isso não é nada. Você não
sabia disso quando entrou na minha casa?", e continuava
maltratando-a.

Não bastasse isso, toda vez que a família inteira se reunia em dias
festivos, o sogro repetia seguidamente diante da nora japonesa as
histórias do tempo das minas de carvão Iwate. Assim, em todas
essas ocasiões, ela pedia em lágrimas: "Pai, peço perdão no lugar do
Japão, por favor, me perdoe". Enquanto o sogro repetia a história
até cansar, a nora japonesa ouvia tudo seguidas vezes, sempre
pedindo perdão.
Assim se passaram dez anos, e finalmente, o sogro parou de
maltratá-la. A atitude fria, como se estivesse tratando seu inimigo,
amoleceu; ele começou a tratar bem sua nora. O resto da família
ficou surpreso e perguntou: "Por que o senhor está tão carinhoso
com ela agora? O senhor não odeia mais sua nora japonesa?"
"Agora não odeio mais, porque todo o ressentimento que estava
dentro do meu coração já foi libertado. Na verdade, todo esse tempo


não era minha nora, propriamente dita, que odiava, mas era sobre
ela que despejava todo o ressentimento guardado daquele tempo
por ter trabalhado como escravo. Graças a ela, meu ressentimento
foi libertado. Então, daqui para frente, vou amá-la, porque ela é
minha nora". Aquela nora expiou o crime cometido por seus
antepassados japoneses. Esse é justamente o caminho da redenção
para a humanidade chegar ao mundo da paz.

O Verdadeiro Significado do Casamento



Não há caminho mais curto para construir o mundo pacífico ideal
que o casamento intercultural. De outras maneiras, não se sabe
quanto tempo iria demorar, mas através do casamento intercultural
a paz pode ser realizada logo na segunda ou na terceira geração.
Assim, para que o mundo de paz chegue o mais rápido possível, é
preciso casar pessoas de países inimigos, ultrapassando fronteiras.
Antes de se casar com alguém nascido na terra inimiga, a pessoa
pensa: "Ah! Não quero nem ver alguém daquele país", mas quando
se torna esposo ou esposa de uma pessoa daquela nação, metade de
si passa a pertencer àquele país. Então o ódio some como neve se
derretendo. Consequentemente, na segunda ou na terceira geração

o ódio será completamente arrancado pela raiz.
O casamento intercultural não é somente um casamento que
transcende nações. O casamento inter-religioso também é tão
importante quanto derrubar fronteiras nacionais. Na verdade, ele é
até mais difícil. Se houver casamentos entre credos que brigam entre
si, então a reconciliação que transcende as religiões ocorrerá. Para

quem participou do casamento intercultural, é inconcebível fechar
as portas para alguém de uma cultura diferente. Houve uniões entre
brancos e negros, japoneses e coreanos, e as pessoas não veem
problema em se casar com africanos. Já passam de milhões os
casamentos interculturais. Através deles, a nova linhagem de
sangue está surgindo, transcendendo as raças branca, amarela e
negra, e está nascendo uma raça completamente nova da
humanidade.
Ensinar para os jovens o significado e o valor divino do casamento é

o mais importante. Agora a Coreia se tornou uma das nações com
menor taxa de natalidade no mundo. Não gerar filhos é uma coisa
muito perigosa. A nação que corta sua descendência não tem futuro.
Ensino os jovens a passar pela juventude com pureza sexual,
receber o casamento abençoado e gerar no mínimo três filhos. Os
filhos são uma bênção de Deus. Gerar e educar filhos é o mesmo
que criar os cidadãos do Reino dos Céus. Portanto, viver uma
juventude corrompida e abortar impensadamente é um grande
crime.
O casamento não é só para si mesmo, mas para o outro. É errado
pensar em escolher como pretendente apenas aquele de aparência
bonita ou alguém da elite. O ser humano deve viver pelo próximo, e
no casamento, esse princípio também deve ser lembrado. É preciso
casar-se com o coração de que mesmo que a pessoa seja
externamente feia, será mais amada que a pessoa de aparência
bonita. A fortuna mais preciosa de todas é o amor de Deus, e o
casamento é justamente receber essa fortuna e utilizá-la. Ciente
desse significado precioso, o casal deve levar a vida conjugal dentro
do amor verdadeiro, e aí então deve formar uma família verdadeira.
Na verdade, a paz mundial não é uma coisa tão distante. Quando as
famílias ficam em paz, a sociedade fica em paz e o conflito entre as
nações desaparece. Em consequência, a paz mundial chegará.
Portanto, uma família sadia é extremamente importante e também

carrega grande responsabilidade. No meu vocabulário não existe:
"Tudo bem se só eu e minha família estivermos vivendo bem".
O casamento entre duas pessoas, na verdade é um relacionamento
entre duas famílias, e ainda mais, é a reconciliação entre duas tribos,
duas nações. Quando se aceita a cultura diferente do outro e se
superam todos os ressentimentos criados na história humana, a
humanidade se torna uma. Um coreano casar-se com uma japonesa
é o mesmo que a reconciliação entre a Coreia e o Japão. Da mesma
forma, o casamento entre brancos e negros é uma reconciliação
entre a raça branca e a raça negra. Não apenas isso, mas as crianças
nascidas deles são seres humanos de reconciliação, que herdam ao
mesmo tempo a linhagem de sangue dos dois povos, e que serão a
origem da nova raça, transcendendo brancos e negros. De maneira
que, passadas algumas gerações, o conflito e o ódio entre nações e
entre raças desaparecerão e poderemos construir um mundo de paz,
fazendo com que toda a humanidade seja uma família.
Recentemente, os casamentos com estrangeiros aumentaram, e na
nossa Coreia também cresceu o número de famílias formadas do
encontro de diferentes nações e religiões. Então, inventaram um
novo termo para dizer que surgiram as damun hwa gajóng6. Para um
homem e uma mulher criados em ambientes distintos, formarem
uma família e viverem em harmonia, não é tão fácil. Ainda mais
quando se trata de nós coreanos, que temos uma cultura única. Para
que um casal formado através do casamento internacional e
intercultural viva feliz, é preciso muito esforço em compreender e,
têm relações bem-sucedidas, retribuindo amor ao outro, porque se
encontraram centralizados em Deus. cuidar um do outro. Nossos
membros, casados através do casamento internacional.

Para promover o bem-estar das famílias damun hwa gajóng na
organização da sociedade local, estabeleceram o ensino da língua
coreana e também programas para apresentar nossa cultura.

6. Família multicultural, família globalizada.

Entretanto, se a mentalidade sobre o casamento não mudar, todos
esses esforços serão em vão. "Por que me casei com esse homem? Se
não tivesse me casado com ele, minha vida seria bem melhor..." Tal
tipo de pensamento torna a vida conjugal um inferno. E mais
importante e prioritário fazê-los entender bem sobre o casamento
do que simplesmente ensinar a língua e a cultura coreana.
O casamento não é simplesmente o encontro de um homem e uma
mulher que chegaram à idade e juntaram seus bens. O casamento
será firme se for baseado no sacrifício. O homem deve viver para a
mulher e a mulher deve viver para o homem. Até desaparecer todo

o meu egoísmo, tenho que viver pelos outros a cada segundo. Amar
é ter tal coração de sacrifício. O amor não é simplesmente o
encontro de um homem e uma mulher ^que se sentem felizes e se
atraem, mas o verdadeiro amor é dar a vida. Depois que estabelecer
tal determinação, alguém pode se casar.
O Amor Verdadeiro Só Existe na Família
Verdadeira



Ainda que um homem e uma mulher se amem, para que uma
família feliz seja formada, deve haver pais que sejam a fortaleza da
família e filhos que sejam amados. Quando a fortaleza da família é
forte, aquele lugar se torna feliz de verdade. Ainda que o indivíduo
obtenha grande sucesso social, se a proteção familiar desmorona, ele
fica infeliz.
A base do amor é o coração de sacrifício que oferece tudo pelos
outros. O amor dos pais é verdadeiro porque é o tipo de amor que


quer dar tudo o que tem e continua querendo dar. Os pais que
amam seus filhos não se lembram do que deram. Não existem pais
no mundo que escrevam numa caderneta: "Tal dia te comprei
aquele sapato e aquela roupa. Derramei suor e sangue por você,
então a conta é tanto". Em vez disso, mesmo que os pais dêem tudo

o que têm, eles dizem: "Desculpe-me por só poder dar isso, por não
poder dar mais".
Quando era criança andava atrás do meu pai quando ele ia cuidar
das abelhas. Muitas vezes, as vi brincando, pulando numa flor aqui,
noutra lá. Se uma abelha sente o aroma do néctar, gruda suas patas
nas flores e deixa seu traseiro para trás, para pôr a boca no miolo e
sugar o néctar. Se nessa hora você se aproximar da abelha e puxar o
traseiro dela, ela não se desgrudará do néctar, mas vai segurá-lo
arriscando sua vida.
O amor dos pais que protege a família não é diferente da abelha.
Mesmo que percam suas vidas, eles não soltarão o cordão do amor
que os une a seus filhos. Eles dão a vida por seus filhos e ainda
esquecem que o fizeram. Esse é o verdadeiro amor dos pais. Mesmo
que o caminho seja longo e árduo, os pais o percorrem com alegria.
O amor paternal é o maior dos maiores amores do mundo.
Ainda que alguém tenha uma boa casa e coma boa comida, sem os
pais o coração da pessoa fica vazio. Dentro do coração daquela
pessoa que cresceu sem receber o amor dos pais, sempre terá uma
solidão e um vazio em seu coração que nada mais poderá
preencher. A família é onde se pode receber o amor verdadeiro dos
pais e aprender sobre o amor. A criança que não recebeu amor
suficiente durante a infância, passa toda a sua vida em sofrimento
emocional, sedenta de amor, e também perde a oportunidade de
aprender o alto padrão de dever moral que se espera de uma pessoa
em relação a sua família e sociedade. O amor verdadeiro tem um
valor que nunca poderá ser aprendido em outro lugar que não seja
na família.

A verdadeira família é onde o marido e a esposa se servem e se
amam como pai e mãe um do outro ou como irmãos. Mais ainda,
um lugar onde a esposa é amada como Deus e o esposo respeitado
como Deus. Ainda que alguém passe por todo tipo de adversidades,
não abandona seus irmãos nem sua mãe. Por isso, a palavra
separação não pode existir entre o casal. O marido representa o pai
e o irmão mais velho para a esposa. Da mesma maneira que ela não
pode abandonar seu pai ou irmão, não pode abandonar seu marido.
Da mesma maneira, um marido nunca pode abandonar sua esposa.
A verdadeira família é um lugar onde cada cônjuge vive com o
reconhecimento do valor absoluto do seu parceiro.
Mesmo que um casal tenha heranças culturais e raças diferentes,
quando recebem o amor de Deus e formam família, entre seus filhos
não existirá conflito cultural. Esses filhos seguramente amarão e
cuidarão bem da cultura e da tradição do país de sua mãe e do país
de seu pai, com o coração de amor que têm por seus próprios pais.
Por isso, a solução dos conflitos das famílias damun hwa gajóng não
vem do ensinamento de nenhuma teoria, mas depende se os pais
criam seus filhos com verdadeiro amor. O amor dos pais penetra na
carne e nos ossos das crianças como orvalho, fazendo-as aceitarem
da mesma forma o país da mãe e o país do pai, e se torna o adubo
para que elas cresçam como admiráveis cidadãs do mundo.
A família é uma escola na qual se aprende e se ensina o amor pela
humanidade. A criança que cresce recebendo o caloroso amor dos
pais, fora de casa cuidará com amor das pessoas que passam por
dificuldades, conforme aprendeu na família. Quem cresce
compartilhando o amor carinhoso entre irmãos, quando estiver em
sociedade, também dividirá seu carinho com o próximo. Quem foi
criado pelo amor, trata qualquer outra pessoa do mundo como
membro de sua família. O coração de amor de dividir com o outro
aquilo que tem, de tratar os outros como sua própria família,
começa na própria casa.


Outra razão da importância da família é a sua ligação com o
mundo. A família verdadeira é o começo da verdadeira sociedade,
da verdadeira nação e do verdadeiro mundo, e também o ponto
inicial do mundo da paz, o Reino de Deus. Os pais trabalham por
seus filhos até seus ossos esfarelarem. Entretanto, não devem fazê-lo
somente para alimentar seus filhos. A pessoa que consegue
transbordar amor também consegue trabalhar pelos outros e para
Deus.
A família é o lugar de amar e amar continuamente, até transbordar.
A família é a fortaleza que protege os membros da família, mas não
um lugar onde se prende o amor. Em vez disso, o amor da família
deve transbordar e fluir. Mesmo que transborde, o amor da família
nunca seca porque foi recebido de Deus. O amor que Deus deu é
aquele que não importa o quanto se tire, ele não tem fim, ou seja,
quanto mais se tira mais surge da fonte. Toda pessoa que cresce se
alimentando desse amor pode ter uma vida verdadeira.

Deixando para Trás um Legado de Amor


A verdadeira vida é abandonar a ambição egoísta e viver para o
bem maior. Isso é uma verdade universal que todos os líderes
religiosos do mundo, como Confúcio, Jesus, Buda e Maomé
pregaram. Infelizmente, como todo mundo sabe disso, e talvez seja
até óbvio, essa verdade não recebe o devido valor. Mas apesar do
muito tempo passado e das mudanças do planeta, essa verdade
nunca se alterou, porque o princípio básico que o homem deve


seguir nunca muda, mesmo que o mundo se transforme na maior
velocidade.
O mestre e maior conhecedor de si mesmo é a própria consciência.
A consciência é mais preciosa que o amigo mais íntimo e é mais
preciosa que os pais. Por isso, por toda a vida é preciso consultar
esse mais íntimo mestre: "Será que estou vivendo bem?" Ciente da
verdade que a consciência é a dona de cada um, se alguém
aperfeiçoa sua consciência e sempre a consulta com a maior
franqueza, pode escutá-la. Se alguém ouvir a consciência chorar,
imediatamente deve parar o que está fazendo. Quem faz sua
própria consciência sofrer não é outro senão o que vai se
autodestruir. No final, entristecendo sua consciência, estará
entristecendo a si mesmo.
É indiscutível que, para nossa consciência ficar limpa, é necessário
um período de distanciamento do mundo e um encontro somente
entre minha consciência e eu. Essa é uma hora em que realmente
nos sentimos sós. No entanto, é em um momento de oração e
meditação que eu mesmo me torno dono de minha mente. Afaste-se
do barulho ao seu redor e acalme seu pensamento, então no mais
profundo do seu interior você se enxergará. Para descer àquele
lugar profundo onde está sua consciência, é preciso dedicar um
grande esforço por muitas horas. Não se consegue isso de um dia
para o outro.
Assim como o amor, a felicidade e a paz também não são para si
mesmo. Como não existe amor sem a presença do outro, sem o
outro não existe ideal, felicidade e paz. Tudo isso surge somente na
relação com os outros. Não existe ninguém que possa amar a si
mesmo e não existe ninguém que possa concretizar um ideal
maravilhoso sonhando sozinho. Sozinho, é impossível se sentir feliz
ou falar sobre a paz. Não há dúvida que deve existir o outro, o que
significa que ele é mais importante do que eu.
Certa vez, presenciei uma cena de uma mãe agachada na entrada do
metrô onde as pessoas transitavam, vendendo kimpab7 com uma


criança nas costas. Para vender de manhã, na hora que as pessoas
saíam para trabalhar, aquela mãe tinha preparado o kimpab,
trabalhado sem dormir e para estar lá até tinha carregado seu bebê.
As pessoas que passavam naquele momento diziam sem pensar:
"Oh! Oh! Se não tivesse aquele bebê, ela viveria melhor..." Na
verdade, aquela mãe conseguia viver por causa do bebê. A criança
que chorava nas costas dela era justamente o fio de vida daquela
mãe.
Costumam falar em "viver até os 80". Parece que é um longo tempo
80 anos de vida, de alegrias, raiva, tristeza e todos os sentimentos
do ser humano misturados, mas durante esse tempo, se tirássemos
os intervalos de dormir, trabalhar, comer, rir e bater papo com os
outros, ir para casamentos ou funerais, ou o tempo doente na cama,
dizem que só nos sobrariam 7 anos. Depois que nascemos, nós
vivemos por 80 anos, mas o tempo que nós mesmos realmente
vivemos é de apenas 7.
A vida é igual a um elástico. Os 7 anos que são dados para todo
mundo, alguns utilizam como sete dias, outros como 70 anos. Por
natureza, o tempo é um vazio que nós preenchemos. Na vida é o
mesmo. Não há quem não gostaria de ter na vida um lugar
confortável para dormir ou uma mesa cheia de comida, mas comer e
dormir na verdade não é nada mais que passar o tempo. Quando a
pessoa chega ao final da vida, no momento de enterrar o corpo, a
riqueza e a mordomia que levou durante sua vida se transformam
em bolhas de água e somem de uma vez. A maneira como os 7 anos
que teve para si foram vividos é o que faz com que as futuras
gerações se lembrem daquela pessoa. O período de 7 anos vividos
em 80 é exatamente o que podemos deixar gravado nesta terra.
O momento de nascer e morrer não depende da vontade da pessoa.
O ser humano nada pode escolher em seu destino. Ele nasce não
porque decidiu, vive não porque decidiu viver e não morre porque

7. Arroz embrulhado em folha de alga marinha seca, sushi em japonês.

decidiu morrer. Assim, se na vida nós não temos nenhum poder de
escolha, será que o indivíduo pode tomar a atitude arrogante do
orgulho exagerado? Não foi porque o ser humano quis nascer que
ele pôde vir ao mundo. Nada pode ser mantido só para si, nem se
pode fugir do caminho da morte. Assim é a vida. Por isso, ser
arrogante é algo triste.
Mesmo que a pessoa esteja em uma posição mais alta que os outros,
na verdade tudo não passa de um instante de glória. Também,
embora tenha acumulado muito mais fortuna que outros, diante da
porta da morte, é preciso deixar tudo para trás. Dinheiro, renome e
conhecimento, tudo isso desaparece com o passar do tempo. Mesmo
que o indivíduo seja considerado ilustre ou grande, no instante de
soltar o fio da vida, tudo acaba. Essa é a nossa vida física. O ser
humano reflete muito sobre quem sou eu, por que tenho que viver,
e ainda assim não entende. Portanto, ele deve perceber que o
motivo e a finalidade de ter nascido não são para si mesmo. Da
mesma forma, a finalidade de minha vida tampouco é para mim.
Então, a resposta para como se deve viver a vida é simples. Como a
pessoa nasce pelo amor, ela deve viver procurando o caminho do
amor. Por ter começado recebendo o infinito amor dos pais, a vida
deve ser inteiramente vivida para retribuir aquele amor. Este é o
único valor que podemos escolher por nossa própria vontade em
nossa vida. O quanto enchemos de amor os 7 anos que nos foram
dados é o que define o sucesso ou o fracasso da vida.
Todo mundo, um dia, se despe de suas vestes carnais e morre. Em
coreano, o verbo morrer é expresso pela palavra "voltar". Voltar
significa ir novamente para o lugar de onde veio, ou seja, retornar a
sua origem. Todas as coisas do universo circulam. A neve branca
acumulada nas montanhas se derrete, escorre pelos vales e forma
riachos que se tornam as águas dos rios e vão até o mar. Aquela
neve branca que entrou no mar, recebe os quentes raios do sol e se
transforma em vapor, de novo sobe aos céus e se prepara para
transformar-se em flocos de neve ou gotas de chuva. Da mesma


maneira, a morte é voltar para o lugar onde estava. Assim, depois
de morrer, para onde o ser humano volta? A vida do homem é
formada de corpo e espírito. Então, se o corpo se separa e ocorre a
morte, o espírito volta para onde originalmente estava.
Não dá para falar sobre a vida sem falar da morte. Para que
cheguemos a entender sobre o significado da vida, precisamos
entender claramente sobre o que é a morte. Só se pode sentir
realmente o valor da vida, quando a pessoa está implorando ao Céu
por mais um dia num beco sem saída, parecendo que vai morrer na
hora. Assim, como devemos viver cada dia tão precioso? Antes de
passarmos pela fronteira da morte que todos vamos atravessar, o
que devemos fazer com certeza?
O mais importante é levar uma vida sem sombra, sem cometer
nenhum pecado. Muitas discussões foram levantadas pela religião e
pela filosofia sobre a questão do que é pecado, mas é claro o fato de
que não podemos fazer nada daquilo que nossa consciência hesita.
Se agimos fazendo nossa consciência ficar pesada, com certeza uma
sombra aparecerá no espírito.
Em seguida, o mais importante é trabalhar mais do que os outros. A
vida dada às pessoas é de 60 ou 70 anos, no final todos têm um
limite. Dependendo de como você utiliza o seu tempo, você poderá
viver uma vida abundante tendo duas ou três vezes o tempo das
pessoas normais. É preciso dividir bem detalhadamente o tempo
conforme a necessidade, não desperdiçar nenhum segundo e
trabalhar bem para tornar a vida uma vida preciosa. Assim, por
favor, leve sua vida de forma que, enquanto os outros plantam uma
árvore, você plante duas ou três árvores com uma atitude diligente
e sincera. Não é viver para si próprio. Não é para mim, mas para os
outros; não só para a minha família, mas para o próximo; não
somente para minha nação, mas para o mundo em que nós
devemos viver. Na verdade, todos os pecados do mundo acontecem
quando se coloca "o particular" na frente. O egoísmo e a ganância
fazem mal para o próximo e destroem a sociedade.


Todas as coisas do mundo são passageiras, até os amados pais, o
cônjuge amado, e até os filhos, todo mundo está de passagem na
nossa frente. No final, o que resta da nossa vida é somente a morte.
Quando a pessoa morre, sobra apenas o túmulo. Por favor, pense no
que você deve colocar dentro daquele túmulo para dizer que viveu
uma vida de valor. Todas as riquezas acumuladas e a posição social
que você ocupou durante sua vida inteira já se foram. Depois de
atravessar o rio da morte, todas essas coisas não terão nenhum
significado. Vivendo em amor e nascido dentro do amor, o que
sobra no túmulo quando a vida termina também não é nada mais
do que o amor. Nossa vida é uma vida ganhada no amor, de dividir

o amor e voltar para dentro do amor. Portanto, todos nós devemos
viver uma vida da qual possamos partir deixando para trás um
legado de amor.
CAPÍTULO 6
O AMOR PROMOVE A UNIÃO



A Força da Religião Desperta a Bondade no Ser


Humano



No dia 2 de agosto de 1990, Saddam Hussein, do Iraque, invadiu o
Kuait, estourando uma guerra no Golfo Pérsico, local conhecido
como o barril de pólvora do planeta. Quando o mundo inteiro
mergulhou na turbulência da guerra, pensei: "Tenho que impedir
esse conflito encontrando os líderes cristãos e islâmicos", e mandei
um recado para os dois lados. Aquelas terras não tinham nenhuma
relação com o meu país, mesmo assim, tinha que impedir com todos
os meus esforços a guerra que tiraria a vida de pessoas inocentes.
Imediatamente depois da invasão iraquiana, mandei membros de
nossa igreja para o Oriente Médio e sugeri um fórum naquela região
que reunisse líderes de todas as religiões. Apesar de não ter muita
relação com o Oriente Médio, como um religioso, a missão de estar
a serviço da paz mundial está dentro de mim, e por essa razão, fiz
essa proposta.
O conflito entre o comunismo e a democracia não se compara em
nada à briga entre cristãos e islâmicos; não há nada mais temível
que a guerra religiosa. Implorei para o presidente Bush nunca
guerrear na região árabe. Talvez ele pensasse que estava lutando
contra o Iraque, mas para os árabes* a religião está acima do Estado.
Por isso, quando o Iraque foi atacado, toda a região árabe se uniu.
Diante disso, imediatamente convoquei uma reunião emergencial
com os principais líderes religiosos da Síria e do Iêmen e os
aconselhei a nunca entrar numa guerra contra Bush. Quer vencesse
os EUA ou o Iraque, qual seria a vantagem se casas, campos e
montanhas fossem destruídos em bombardeios, se preciosas vidas
acabassem e se sangue fosse derramado?


A cada nova crise no Oriente Médio, nossos membros arriscavam
suas vidas e visitavam Israel e a Palestina junto com famosas ONGs
internacionais. Ao mandar nossos membros para aqueles lugares
onde a qualquer momento poderiam morrer, meu coração ficava
apreensivo. Arando a terra sob o sol esturricante do Brasil, e mesmo
nas visitas aos campos de refugiados da África, meu coração estava
com os membros que tinham ido para o barril de pólvora do
Oriente Médio. Neste momento, oro para que a paz seja estabelecida
no mundo o mais rápido possível, para que eu não precise mais
enviar nossos membros para a terra da morte.
Em 2001, uma catástrofe aconteceu. O World Trade Center, em Nova
Iorque, foi derrubado. O mundo alegou que era inevitável o conflito
cultural entre o Islamismo e o Cristianismo, contudo, essas não são
religiões hostis. As duas, na verdade, são religiões interessadas na
mesma paz. É preconceituoso dizer que o poder islâmico é muito
bruto e pensar que o Islamismo e o Cristianismo são diferentes. Os
princípios das duas religiões são os mesmos.

Em 1994, nós publicamos as "Escrituras Mundiais"1, reunindo
quarenta doutores em religiões do mundo inteiro. As "Escrituras
Mundiais" são resultado de pesquisas comparativas entre as
palavras de todos os livros sagrados das principais religiões do
mundo, incluindo Cristianismo, Islamismo e Budismo.
Surpreendentemente, quando o projeto se concluiu, 70% dos
ensinamentos de tantas religiões diferentes utilizavam as mesmas

palavras. Apenas 27% evidenciavam características específicas de
cada religião, o que significa que 73% do que todas as religiões do
mundo têm ensinado é o mesmo. Embora a aparência seja diferente
-alguns cobrem a cabeça com um véu, outros carregam no pescoço

o terço budista, e outros levam a cruz na frente -a busca pela
origem do universo e pela vontade do Criador é a mesma.
As pessoas se tornam boas amigas só por compartilharem o mesmo
1.World Scriptures, ainda sem tradução para o português.


hobby. Ao saberem que são conterrâneas, conseguem se dar bem
como se tivessem um relacionamento de décadas. Entretanto, é
realmente angustiante que as religiões, das quais 73% dos
ensinamentos são os mesmos, não consigam se relacionar bem. Elas
poderiam se dar as mãos e conversarem apenas sobre aquilo que
têm em comum, em vez de discutirem focando no que têm de
diferente. Todas as religiões do mundo falam de paz e amor, mas é
justamente em nome dessa paz e desse amor que elas brigam. Israel
fala da paz enquanto despeja bombas nos assentamentos palestinos.
Não obstante o derramamento de sangue das crianças palestinas,
eles alegam que essa é uma guerra pela paz.
O Judaísmo em que os israelitas crêem é uma religião da paz, assim
como o Islamismo. Com as "Escrituras Mundiais", nós chegamos à
conclusão de que não são as religiões do mundo que estão erradas,
mas sim a maneira de ensinar a crença. Uma fé mal-direcionada
leva ao preconceito e o preconceito leva ao confronto.
Depois dos acontecimentos de 11 de setembro, os muçulmanos
foram condenados como terroristas, mas assim como nós, eles
também desejam a paz. Arafat, que foi por muito tempo o
presidente da Palestina, também era um líder que buscava a paz.
Em 1969, depois de se tornar presidente da Organização para a
Libertação da Palestina, ele declarou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia
como territórios palestinos independentes. Nas eleições de 1996,
tornou-se o presidente palestino e trabalhou arduamente no
combate aos grupos radicais como o Hamas e para manter a paz no
Oriente Médio. Nossos membros se encontraram pessoalmente com
ele doze vezes, sempre que a situação na região se agravava.
O caminho para chegar até o escritório de Arafat era muito
complicado. Era preciso passar pelos guardas fortemente armados
com pistolas automáticas e, para entrar no escritório ainda era
obrigatório ser revistado mais de três vezes. Quando Arafat
encontrava nossos membros envolto por um turbante, ele os recebia
todo sorridente: "Bem-vindos!" Mas tal relacionamento não foi


construído de um dia para o outro. A dedicação que nós tivemos
por tanto tempo para a paz no Oriente Médio é incalculável. Para
entrar na região de conflito, arriscando a vida, e até nos
encontrarmos com os líderes religiosos, tivemos um árduo trabalho,
gastamos muito dinheiro e passamos por dificuldades. Por fim,
conquistamos a confiança de todos, tanto árabes quanto israelenses,
e conseguimos nos manter como mediadores todas as vezes que um
conflito surgia no Oriente Médio.
A primeira vez que pisei em Jerusalém foi em 1965. A Guerra dos
Seis Dias ainda não tinha ocorrido e Jerusalém pertencia à Jordânia.
Subi o Monte das Oliveiras, onde Jesus orou com lágrimas e
transpirou sangue antes de ser levado à corte de Pilatos. A Igreja da
Oliveira já havia sido construída naquele lugar. Acariciei aquela
árvore de dois mil anos de idade, que devia ter assistido Jesus orar.
Naquela árvore preguei três pregos que simbolizavam o Judaísmo,

o Cristianismo e o Islamismo e orei para que um dia eles se unissem
como um. Se a união entre os três não acontecer, jamais haverá um
mundo de paz. Os três pregos encravados na oliveira ainda
permanecem lá, e o mundo pacífico continua distante.
Ainda que o mundo esteja dividido e que Judaísmo, Cristianismo e
Islamismo se oponham uns aos outros, a raiz é uma só. A questão
crucial é a interpretação sobre Jesus. No dia 19 de maio de 2003, nós
tiramos Jesus da cruz e, na terra que Judas Iscariotes comprou com
as trinta moedas do dinheiro da traição, nós enterramos a cruz em
que Jesus estava pregado. Em 23 de dezembro daquele mesmo ano,
transcendendo religiões e denominações, três mil Embaixadores da
Paz vindos do mundo inteiro, com dezessete mil israelitas e
palestinos, se reuniram no Parque da Independência de Jerusalém e
nós retiramos a coroa de espinhos da cabeça de Jesus e colocamos a
coroa de Rei da Paz. Aproximadamente vinte mil pessoas reunidas
naquele lugar foram além de sua religião e denominação e juntos,
nós fizemos uma passeata pela paz para a humanidade. Naquele
dia, conforme o combinado, às oito horas da noite Arafat mandou

que todos os palestinos acendessem as luzes da frente de suas casas
para participar da manifestação pela paz. Através da passeata
daquele dia, transmitida para o mundo inteiro via internet, Jesus foi
restaurado à posição de Rei da Paz e ao mesmo tempo conseguimos
um momento de reconciliação entre o judaísmo, o cristianismo e o
islamismo, que até então estavam em lados opostos.
Em Jerusalém está a mesquita de Al-Aqsa, o templo islâmico que é a
segunda maior mesquita depois de Medina, a Meca Islâmica, na
Arábia Saudita. Dizem que aquele é o lugar onde Maomé ascendeu
para o Céu, onde nenhum não muçulmano pode pôr os pés. Apesar
disso, aquelas portas foram abertas somente para nós. Eles nos
levaram junto com cristãos e líderes judaicos a uma grande passeata
pela paz até o final do templo. O islamismo também é uma religião
que ama a paz. Nós conseguimos abrir uma porta fortemente
trancada pelo preconceito e pela intolerância e conduzimos os
muçulmanos a um diálogo com o mundo.
Embora de um lado, o ser humano aprecie a paz, por outro ele
também gosta de brigar. Ele promove brigas entre os mais gentis
animais. Ele sente alegria em ver galos brigando com as cristas
levantadas e se perfurando com o bico pontiagudo até arrancarem
pedaços de carne. Contudo, as pessoas dizem para seus filhos: "Não
briguem com seus amigos!" No final, a principal causa da guerra
não é nem a religião nem a raça, mas sim o coração das pessoas.
Todos os problemas têm relação com o ser humano. Os homens
modernos gostam de responsabilizar a ciência ou a economia por
todos os conflitos, quando na verdade, o problema fundamental
está no próprio ser humano.
A missão da religião não é outra senão despertar a bondade no ser
humano, eliminar a natureza má que incita a briga. Olhe todas as
religiões do mundo. Todas idealizam sobre o mundo pacífico. Todo
mundo deseja o Reino do Céu, todos sonham com uma utopia e
oram pelo paraíso. Apesar dos nomes de um e de outro serem
diferentes, o mundo que o ser humano sonha e deseja é o mesmo.


Embora existam muitas religiões no mundo, e ainda mais
denominações, o desejo de todas é um só. O destino final que todas
desejam é o Reino do Céu, o mundo de paz. O mundo de caloroso
amor será onde os corações despedaçados pelas diferenças de raça e
de religião serão completamente curados.

Um Rio Não Rejeita a Agua de Seus Afluentes



O egoísmo que cobre o mundo, além de destruir o indivíduo,
impede o desenvolvimento do outro e até de seu próprio povo. A
ganância dentro do coração do ser humano é o maior obstáculo no
caminho para um mundo de paz. A ganância individual cresce e
torna-se a ganância do povo e esse coração manchado cria divisão e
conflito entre as pessoas e entre os povos. Na história, muito sangue
foi derramado nas guerras surgidas pela ganância.
Para eliminar esses conflitos, é preciso haver uma revolução radical
que mude o padrão errado de valores e ideologias espalhados pelo
mundo. A complicada meada de questões sociais só poderá ser
desemaranhada, quando acontecer a revolução do pensamento. Se
existir cooperação entre os seres humanos e entre os povos, com
amor e consideração pelos outros primeiro, os problemas da
sociedade moderna serão completamente resolvidos.
Dediquei toda a minha vida ao trabalho pela paz. Quando penso na
palavra "Paz", minha garganta fica engasgada, os olhos marejam e
mal consigo engolir a comida. Só de imaginar o dia em que o


mundo se tornará um e desfrutará da paz, fico exultante. A paz é
assim. É uma coisa que une as pessoas de diferentes pensamentos,
raças e línguas. E um coração que almeja tal mundo. A paz é uma
ação para se pôr em prática, não só um sonho distante.
Não foi fácil, durante todo esse tempo, me dedicar ao movimento
pela paz. Houve muito sofrimento e também muitos gastos.
Contudo, nada do que fiz foi para obter renome. Tampouco para
ganhar dinheiro. Só me dediquei completamente para construir um
mundo sólido de verdadeira paz em todo o planeta. Nessa tarefa,
não estive sozinho, porque todas as pessoas do mundo, na verdade,
desejam a paz. Entretanto, é estranho, que a paz que todo mundo
tanto deseja ainda não tenha chegado.
É fácil encher a boca para falar de paz, mas não é fácil construí-la,
porque há pessoas que desprezam a verdade mais valiosa para se
construir um mundo pacífico. Antes de falar sobre a paz entre as
pessoas e entre os povos, devemos primeiramente falar sobre a paz
entre o ser humano e Deus.
Nos últimos tempos, as religiões têm considerado sua denominação
melhor que as outras, ignorando e até rejeitando as outras religiões.
Construir muros entre as religiões ou denominações é errado. A
religião é como um vasto rio que busca o mundo ideal de paz. Um
rio que até chegar ao imenso mundo de paz, percorre um largo
caminho, encontrando no meio vários afluentes. Os pequenos
afluentes, quando se unem ao rio principal, deixam de ser afluentes
para se tornar parte desse grande rio. Assim, eles se tornam um só
ser.
Um rio não rejeita as águas dos afluentes que desembocam nele,
pelo contrário, aceita todos. Abraçando os afluentes e se tornando a
mesma corrente de água, juntos seguem para o mar. As pessoas do
mundo não entendem um princípio tão simples. Os afluentes que
entram no vasto rio são exatamente as diversas religiões e
denominações do mundo. Ainda que a nascente seja diferente, o


destino final é igual para todos, caminhar em busca do mundo ideal
onde a paz transborda.
Enquanto os muros criados entre as diferentes religiões não forem
derrubados, esse mundo jamais alcançará a paz. Da mesma forma
que uma religião juntou milhares no mundo inteiro e cresceu
através dos milênios, o muro cultural também é muito alto e difícil
de derrubar. Cada religião continuou por milhares de anos, do seu
lado da barreira, insistindo estar certa. Por vezes, até se opôs e
confrontou outra religião para aumentar seu poder e usou o nome
de Deus naquilo que não é a vontade Dele.
A vontade de Deus é a paz. Este mundo recortado pelas diferenças
entre nações, raças e religiões, que critica e luta a ponto de derramar
sangue, não é aquilo que Deus deseja ter. Todos aqueles que brigam
e derramam sangue em nome de Deus só estão fazendo com que Ele
sofra. Um mundo despedaçado é o mundo que as pessoas criaram
apenas para o próprio benefício e bem-estar, não a vontade divina.
Deus foi claro sobre isso e prático nesse mundo o que Ele me falou.

Foi árduo o caminho para construir um mundo pacífico, onde todas
as religiões e raças estejam juntas em harmonia. Muitas vezes
apanhei das pessoas e outras, apanhei por causa da incompetência,
mas apesar de tudo não podia abandonar a missão. Quando os
membros e colegas que me acompanhavam gritavam por socorro
em meio a tanta dificuldade, falava-lhes até invejando-os: "Quando
vocês não aguentarem mais, vocês podem voltar para trás, e até
podem morrer sem conseguir. Mas, sou uma pessoa tão miserável
que nem isso posso fazer".
Há cerca de duzentos países no planeta. Para que todas essas nações
possam desfrutar da paz, sem dúvidas é necessário o verdadeiro
poder da religião, que sempre esteve no abundante amor. Por ser
um religioso que transmite amor, esperam que eu trabalhe para a
paz mundial. Na construção do mundo de paz, não existe diferença
entre o Islamismo e o Cristianismo. Instituí o movimento da paz na


América reunindo cerca de vinte mil pastores, transcendendo suas
denominações. Por meio disso, cristãos, muçulmanos, judeus e até
budistas estão reunidos para discutir o melhor caminho para um
mundo de paz, transformando o coração endurecido das pessoas.
Minha meta final é construir um mundo único centralizando em
Deus: ontem, hoje e sempre. Nesse mundo existirá somente a
soberania de Deus. O mundo todo se unirá em uma só terra, num só
povo e numa só cultura. Nesse mundo, não haverá conflitos e nem
lutas. Então, o mundo da paz verdadeira finalmente chegará.

"Por Favor, Permita a Liberdade Religiosa na
União Soviética"


A teoria de Darwin não é uma verdade comprovada. Sua ideia de
que o espírito nasce da matéria é completamente errada. O homem
é um ser criado por Deus e cada ser é uma entidade integrada de
dois lados, espírito e matéria. Em resumo, a teoria comunista e sua
filosofia estão erradas. Apesar disso, no tempo em que estudei no
Japão, trabalhei ao lado de comunistas no movimento da
independência. Eles eram bons amigos que também arriscavam
suas vidas pela libertação da pátria, mas meu pensamento era
completamente diferente do deles. Portanto, depois de nossa nação
ser libertada, foi inevitável que cada um seguisse seu caminho.
Sou contra a visão materialista do comunismo. Criei o movimento
mundial para vencer o comunismo e falei diretamente para vários
presidentes americanos que eles deviam proteger o Mundo Livre da
estratégia dos comunistas soviéticos, que ameaçava avermelhar o


mundo. Os países comunistas não ficaram contentes com minha
campanha e até tentaram atos terroristas para me matar, mas nem
por isso os odeio, nem os considero meus inimigos. Apenas me
coloquei contra a filosofia e a ideologia comunista, não eram as
pessoas que eu odiava. Deus também quer abraçar os comunistas.
Nesse contexto, em abril de 1990, no fim da Guerra Fria, entrei em
Moscou, na União Soviética, para encontrar Gorba-tchev e, em
novembro do ano seguinte, estive em Pyongyang para encontrar
Kim II Sung. Tudo isso não era uma simples aventura com o risco
de minha vida. Esse era meu destino que devia cumprir para
transmitir a vontade de Deus. "Moscow", em inglês, soa como a
pronúncia "must go", um lugar para o qual deveria ir.
Eu tinha uma opinião inabalável sobre o comunismo. Previa que os
sinais da destruição começariam a aparecer depois dos 60 anos da
Revolução Bolchevique e que, ao completar 70 anos, em 1987, ele
chegaria à exaustão e cairia. Então, quando o famoso doutor em
política Morton Kaplan veio me visitar na prisão de Danbury, em
1985, disse-lhe para proclamar antes do dia 15 de agosto daquele
ano, "o fim do comunismo na URSS".
Naquela ocasião, ele não ficou muito entusiasmado e me disse: "Oh,
declarar o fim do comunismo, senhor? Como posso fazer uma coisa
tão perigosa?..." Era natural que ele tivesse medo, porque assim
como a última faísca é a mais brilhante, naquele tempo a força do
comunismo estava no auge e não havia sequer uma previsão de que
ele pudesse acabar. Se acaso essa declaração tivesse um mínimo de
chance de se tornar um absurdo, sua reputação como doutor seria
destruída da noite para o dia.
"Reverendo Moon, acredito na sua história de que o comunismo vai
acabar. Porém, acho que ainda não chegou a hora de dizê-lo. Então,
em vez de falar "o fim do comunismo", não seria melhor "a
decadência do comunismo"?


Fiquei queimando de indignação com as palavras dele. Acredito
que, mesmo que a pessoa tenha medo, quando há uma convicção é
preciso criar coragem e lutar até morrer.
"Doutor Kaplan, como pode falar assim? É muito importante
declarar o 'fim do comunismo'. No dia em que o senhor proclamar o
fim do comunismo, a força desta declaração fará o comunismo
perder. Então como pode hesitar?"
Enfim, o doutor Kaplan declarou o "fim do comunismo" na
Assembleia Geral da Academia de Professores para a Paz Mundial,
realizada em Genebra. Ninguém podia imaginar tal ousadia.
Naquela época, Genebra, na Suíça, que é um país neutro, era o
principal campo da KGB, e milhares de membros da KGB
circulavam pelo mundo recolhendo informações e praticando
atentados terroristas. Além do mais, o Hotel Intercontinental, onde
se realizou a Assembleia, ficava na frente da Embaixada da União
Soviética. Imagine quanto medo o doutor Kaplan sentiu. Alguns
anos depois, porém, ele ficou muito famoso como o primeiro
acadêmico a profetizar o fim do comunismo.
Fui a Moscou em abril de 1990 para participar da Conferência de
Mídia Mundial. Surpreendentemente, o governo da União Soviética
me tratou como um chefe de Estado desde a chegada ao aeroporto.
Entrei no centro de Moscou escoltado pela polícia. O carro em que
me colocaram andou por estrada dourada, pela qual normalmente
ninguém passava, com exceção dos presidentes e de visitantes
muito distintos. Até então a Guerra Fria ainda continuava, isso foi
antes da URSS se desmanchar. Entretanto, eles me recepcionaram
com toda atenção e cuidaram de mim, um anticomunista.
Na Conferência de Mídia Mundial, elogiei a Perestroika soviética,
discursei sobre como aquela reforma deveria ser uma revolução
sem derramamento de sangue e uma reforma do coração e do
espírito. Fui a Moscou para participar da Conferência de Mídia
Mundial, mas meu coração estava focado em encontrar o presidente
Gorbatchev.


Na época, devido ao sucesso da política da Perestroika, o índice de
popularidade de Gorbatchev era muito alto dentro da União
Soviética. Portanto, mesmo que eu tivesse muita facilidade de
encontrar o presidente dos EUA, até dez vezes se quisesse,
encontrar Gorbatchev seria muito difícil. Contudo, queria vê-lo sem
falta, porque tinha algo para lhe dizer. Embora ele tivesse
reformado a URSS e conseguido um sopro de liberdade, conforme o
tempo passava, a espada da revolução estava apontando para suas
próprias costas. Se continuasse assim, logo ele encararia um grande
perigo.
"Se ele não me encontrar, não poderá acompanhar a vinda da
fortuna celeste e se não o fizer, não durará muito."
Talvez essas palavras tenham chegado aos ouvidos do presidente
Gorbatchev, pois no dia seguinte ele me convidou ao palácio do
Kremlin, em Moscou. Entrei no palácio do Kremlin em uma
limusine mandada pelo governo da União Soviética. Minha esposa
e eu ficamos sentados na sala de audiência com o presidente, e ao
nosso redor as ex-autoridades da União Soviética sentaram-se em
círculo. Todo sorridente, o presidente Gorbatchev explicou
entusiasmado como sua Perestroika estava tendo sucesso. Depois,
nós dois tivemos uma audiência particular especial em gabinete
fechado. Sem perder a chance, falei para o presidente Gorbatchev:
"O senhor, presidente, já foi bem-sucedido com a Perestroika, mas só
com ela a reforma não será suficiente. Por isso, permita agora
mesmo a liberdade religiosa na União Soviética. Sem Deus, a
Perestroika certamente será um fracasso se quiser apenas reformar o
mundo materialista. O comunismo logo chegará a um fim. Permitir
a liberdade religiosa é a única salvação para essa nação. Agora
chegou o tempo em que, com a coragem que teve para realizar a
abertura da Rússia, o senhor deve se tornar um presidente do
mundo, que trabalha para a paz mundial."
Liberdade religiosa, um termo nunca esperado. O presidente
Gorbatchev ficou desconcertado e suas feições enrijeceram. Porém,


como a pessoa que permitiu a unificação da Alemanha, ele logo se
recompôs e aceitou minhas palavras com toda sinceridade. Em
seguida, disse-lhe: "É necessário que sejam estabelecidas relações
diplomáticas entre a Coreia do Sul e a União Soviética. Para tanto,
por favor, convide o presidente sul-coreano Roh Tae Woo", e
também lhe expliquei detalhadamente qual a vantagem de
estabelecer relações com a Coreia do Sul. Depois de ouvir todas as
minhas palavras, o presidente Gorbatchev mudou sua atitude e
prometeu com toda a convicção:
"Tenho certeza que as relações diplomáticas entre a Coreia do Sul e
a URSS se desenvolverão sem nenhum problema. Também acredito
que, acima de tudo, a estabilidade política e o apaziguamento dos
conflitos na península coreana são essenciais. É uma questão de
tempo para criarmos laços diplomáticos com a Coreia do Sul. Não
haverá nenhum obstáculo. Reverendo Moon, como o senhor
sugeriu, encontrarei o presidente Roh Tae Woo o mais rápido
possível."
Naquele dia, na hora de me despedir de Gorbatchev, tirei o relógio
do meu pulso e coloquei no pulso dele. Diante da minha
espontaneidade, como se estivesse tratando um amigo de longa
data, Gorbatchev ficou sem jeito:
"Toda vez que o senhor presidente, encontrar dificuldades nesse
plano de reforma que está fazendo, olhe esse relógio e pense no
compromisso que fez comigo, e certamente Deus lhe mostrará o
caminho certo", eu disse com toda a convicção.
Conforme se comprometeu comigo, num encontro oficial entre os
chefes de Estado da Coreia do Sul e da URSS, o presidente
Gorbatchev se reuniu com o presidente Roh Tae Woo em julho
daquele ano, em São Francisco. E finalmente, no dia 30 de setembro
de 1990, depois de 86 anos, a Coreia do Sul e a URSS estabeleceram
relações diplomáticas num evento histórico. Não há dúvidas que os
políticos devem fazer política, e que cabe aos diplomatas tratar das
relações internacionais; mesmo assim, às vezes é mais efetivo


quando um religioso, que não tem nenhum interesse nessas
questões, abre um caminho que esteve fechado por muito tempo.
Quatro anos depois, o presidente Gorbatchev visitou Seul e me
encontrou na minha casa em Han Nam Dong. Naquele tempo, ele
era um civil, pois fora deposto no golpe de Estado. Após o golpe
dos antirreformistas, que eram contra a Perestroika, em agosto de
1991 ele desestruturou o Partido Comunista, deixando o cargo de
chefe do Partido. Ele, um comunista, eliminou o Partido com suas
próprias mãos.
O ex-presidente Gorbatchev comeu com muito prazer, utilizando o
chotkarak, o bulgogui e ojapche2, pratos típicos da Coreia que nós
tínhamos preparado com todo o coração. Quando ele experimentou

o sujong-gua como sobremesa, elogiou bastante e repetiu diversas
vezes: "A comida coreana é muito boa". Fora do poder, Gorbatchev e
a senhora Raisa tinham mudado muito. A senhora Raisa, que era
uma comunista ferrenha, professora de marxismo e leninismo na
Universidade de Moscou, trazia no pescoço um crucifixo brilhante.
"O senhor, presidente, fez uma grande obra. Embora tenha deixado
de ser o presidente do Partido Comunista Soviético, agora o senhor
se tornou um presidente da paz. Graças à sua sabedoria e à sua
coragem, podemos construir a paz mundial sem guerra. Para o
mundo, o senhor fez a maior de todas as obras, a mais bonita e
eterna. O senhor, que realizou esse trabalho no lugar de Deus,
tornou-se o herói da paz. Um nome deverá ficar para sempre na
história da Rússia, e não é o de Marx, nem o de Lênin, tampouco o
de Stalin, mas somente o de Mikail Gorbatchev."
Elogiei bastante a determinação do ex-presidente Gorbatchev, que
conseguiu desmanchar a União Soviética, a nação matriz do
comunismo, sem guerra e sem derramamento de sangue. Então, ele
segurou minhas mãos fortemente e disse: "Reverendo Moon, hoje
tive um grande consolo. Ouvindo suas palavras, me sinto mais
2. Espécie de churrasco e macarrão coreanos.

forte. Por isso, pelo resto da minha vida, me dedicarei às obras pela
paz mundial".

A Unificação da Península Coreana É a
Unificação do Mundo



Assim que saí do palácio do Kremlin, depois de me encontrar com o
presidente Gorbatchev, dei uma orientação especial para Bo Hi Pak,
que estava me acompanhando: "Antes do fim de 1991, preciso
encontrar o presidente Kim II Sung. Não temos muito tempo! A
União Soviética acabará dentro de um ou dois anos. O maior
problema está no nosso país. Tenho que encontrar Kim 11 Sung de
qualquer jeito, para impedir uma possível guerra na península
coreana".
Quando a União Soviética viesse abaixo, todos os países comunistas
do mundo cairiam juntos. Por isso eu tinha pressa. Quando isso
acontecesse, a Coreia do Norte se sentiria encurralada, e era
inimaginável o tipo de invasão que poderia tentar. Além disso, a
Coreia do Norte estava se apoiando fortemente nas armas
nucleares, o que me preocupava ainda mais. Para impedir a guerra,
era preciso um canal de diálogo com a Coreia do Norte, o que não
tínhamos na época. Precisava encontrar o presidente Kim II Sung de
qualquer maneira, para obter a promessa de que ele abandonaria a
ambição das armas nucleares e que nunca tomaria a iniciativa de
atacar a Coreia do Sul.


A península coreana é uma projeção da política mundial. Se sangue
for derramado na península coreana, o mundo derrama sangue. Se
houver reconciliação na península coreana, haverá reconciliação no
mundo, e se as Coreias se unificarem, o mundo se unificará.
Entretanto, no fim da década de 80, a Coreia do Norte estava
tentando possuir armas nucleares. Diante disso, as nações
ocidentais ameaçaram atacar a Coreia do Norte primeiro, se fosse
necessário. Se a situação continuasse extrema, ninguém sabia qual
direção a Coreia do Norte iria tomar. Então percebi que um canal de
comunicação com a Coreia do Norte precisava ser aberto de
qualquer forma.
Contudo, essa não era uma tarefa fácil. Bo Hi Pak entrou em contato
com a Coreia do Norte e ouviu do vice-presidente Kim Dal Hyon:
"O povo norte-coreano considerou o Reverendo Moon o seu maior
inimigo até agora, por promover o movimento internacional para
vencer o comunismo. De que maneira poderíamos dar boas-vindas
a um obstinado líder anticomunista? A entrada do Reverendo Moon
na Coreia do Norte nunca poderá ser permitida", ele declarou com
firmeza.
Porém, Bo Hi Pak não desistiu. "Nixon, o presidente americano,
também é um inflamado anticomunista, e mesmo assim ele visitou a
China e se encontrou com o presidente Mao Tse Tung, e as relações
diplomáticas entre os Estados Unidos e a China se normalizaram.
Dessa maneira, a maior beneficiada foi a China. Antes condenada
como invasora, de repente ela está surgindo como centro no cenário
mundial. Se a Coreia do Norte quiser credibilidade internacional,
terá que fazer amizade com anticomunistas fervorosos como o
Reverendo Moon", assim ele convenceu a Coreia do Norte.
Finalmente, no dia 30 de novembro de 1991, minha esposa e eu
recebemos o convite do presidente Kim II Sung. Nós estávamos no
Havaí, e rapidamente viajamos para Beijing. Ficamos esperando um
bom tempo na sala VIP oferecida no aeroporto pelo governo chinês,
até que o representante da Coreia do Norte apareceu e entregou a


carta oficial de convite. O carimbo com o selo de Pyongyang era
nítido:
"A República Democrática Popular da Coreia convida o Reverendo
Sun Myung Moon, da igreja da Unificação, sua esposa e sua equipe.
A República Democrática Popular da Coreia garantirá sua
segurança durante a estada no país. 30 de novembro de 1991, Kim
Dal Hyon, vice-presidente da República Democrática Popular da
Coreia."
Nossa equipe foi para Pyongyang usando o avião presidencial JS
215, enviado pelo próprio presidente Kim II Sung. Até então, ele
nunca tinha mandado seu avião particular para nenhum presidente
de outro país. Esse era um tratamento inédito e especial. O avião
atravessou o Mar Amarelo e subiu para Shin Ui Ju, passando por
cima de minha terra natal, a cidade de Jong Ju; e chegamos a
Pyongyang. O percurso do avião foi uma gentileza, para que eu
pudesse olhar minha terra natal. Vendo-a abaixo, avermelhada pelo
cair do sol, meu coração palpitou de emoção e até meu peito doía.
Tinha vontade de pular ali mesmo, pensando que aquela realmente
podia ser minha terra natal, onde eu gostaria de correr nas
montanhas e nos campos.

No aeroporto Soon An, em Pyongyang, lá estava minha família, que
tinha sido dividida há 48 anos. Aquela minha irmã mais nova,
bonita como uma flor, tinha se tornado uma avó no começo da
terceira idade, que segurava minha mão chorando aos berros até
seu rosto se contorcer. Mas nem mesmo diante de minha irmã mais
velha, que estava com mais de 70 anos de idade e derramava muitas
lágrimas segurando meus ombros, chorei.
"Não façam isso aqui, por favor. É importante encontrar a família,
mas vim para fazer o trabalho de Deus. Então, por favor, não façam
isso, sejam fortes."
Não podia chorar abraçado às minhas irmãs, que não via há mais de
40 anos, mas dentro do meu coração as lágrimas caíam como uma


cachoeira. Porém, consegui controlar meu coração e fui para onde
estávamos hospedados.
No dia seguinte, como fiz a minha vida inteira, acordei cedo e orei.
Se havia equipamento de segurança no quarto, certamente devem
ter gravado toda a minha lamentosa oração, em prantos, para que a
península coreana fosse unificada. Naquele dia, nós fizemos um
tour pela cidade de Pyongyang. A capital estava completamente
armada com as letras vermelhas do lema da ideologia ju-tche3. No
terceiro dia, fomos de avião visitar a montanha Kum Gang. As
águas da cachoeira Gu Ryong Yon, apesar de estarmos no meio do
inverno, caíam com força.
Após visitar toda a parte da montanha Kum Gang, no sexto dia
fomos para minha terra natal de helicóptero. Aquela casa da qual
tinha tantas saudades e para onde até em sonho queria correr,
estava bem na minha frente. Não sabia se era sonho ou realidade, e
fiquei parado por um bom tempo na frente da minha casa até
entrar.
Originalmente, havia vários cômodos quadrangulares, como os
cômodos principais, a sala de estar, o quarto de visitas, o depósito e

o curral, mas tudo desaparecera, só sobravam vários cômodos
principais. Entrei no quarto onde nasci e sentei de pernas cruzadas
no chão com as lembranças da infância passando pela minha mente,
claras como se fossem do dia anterior. Ao abrir uma pequena
portinha que ligava o quarto principal à cozinha, vi o quintal de
trás, sem encontrar aquela castanheira portuguesa na qual subia e
brincava, que tinha sido cortada. "Oh, nosso miniolho não está com
3. "A ideologia do sujeito" do Kim II Sung.
fome?", podia ouvir minha mãe me chamando carinhosamente. Por
um segundo, pareceu que sua saia de algodão passava na minha
frente.
Na minha terra natal, visitei os túmulos dos meus pais e lhes ofereci
flores. Aquela cena de minha mãe me visitando na prisão de

Heungnam e derramando lágrimas de sangue foi nosso último
encontro. A superfície do túmulo de minha mãe estava coberta da
neve da noite anterior. Retirei com a palma das mãos aquela neve e
acariciei por um bom tempo a grama que cobria o túmulo dela. A
grama seca do inverno sobre o túmulo era grossa como as mãos da
minha mãe.

O Encontro com Kim Il Sung



A razão principal de querer ir para a Coreia do Norte não era visitar
minha terra natal ou passear pela montanha Kum Gang. Fui à
Coreia do Norte justamente para encontrar o presidente Kim II
Sung e decidir o futuro de nossa pátria. Contudo, passados seis
dias, ainda não havia nenhum sinal de que nosso encontro
ocorreria. Porém, quando chegávamos de helicóptero ao aeroporto
Soon An, depois da visita à minha terra natal, não esperávamos
encontrar o vice-presidente Kim Dal Hyon nos aguardando.
"Amanhã o nosso excelentíssimo presidente Kim II Sung quer
receber o senhor, Reverendo Moon. O lugar de encontro será em
Majon, a casa do presidente em Heungnam, por isso temos que ir
para lá agora mesmo no avião presidencial", ele disse.
"Dizem que o presidente tem casas em vários lugares, por que justo
em Heungnam?"
No caminho, olhando a enorme placa com os dizeres "Fábrica de
fertilizante de nitrogênio", me senti estranho, lembrando do tempo
no campo de concentração. Passamos uma noite no Yong Bin Guan4

4. Casa para receber visitantes oficiais.

e depois fomos encontrar o presidente.
Quando cheguei a Majon, a casa do presidente Kim II Sung, ele já


estava me esperando na entrada. Sem saber quem deu o primeiro
passo, nós nos abraçamos. Eu era um inflamado anticomunista e ele,

o líder do Partido Comunista, mas o nosso encontro não foi de
caráter ideológico ou religioso. Nós nos encontramos como irmãos
separados por muito tempo. Não havia outra coisa senão a força da
raça, diretamente ligada ao sangue.
Falei para o presidente Kim II Sung, sem mais delongas: "Graças à
calorosa consideração do senhor, presidente, pude encontrar minha
família. Entretanto, ainda há dentro de nossa pátria dez milhões de
famílias que vivem separadas e morrem sem ter notícias de seus
parentes. Por favor, senhor presidente, dê a essas famílias separadas
a graça de poderem se encontrar".
Contando da viagem à minha terra natal, apelei para seu amor pelo
povo. Senti-me mais confortável depois de conversar à vontade
sobre minha terra. Então, como a neve que se derrete na primavera,
o presidente Kim respondeu:
"Concordo. A partir do ano que vem, vamos começar uma
campanha de reencontro do nosso povo que está vivendo separadamente
no Norte e no Sul."
Abri a conversa contando sobre minha terra natal, e fui direto à
discussão sobre armas nucleares. Sugeri cordialmente que ele
concordasse com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e que
assinasse o contrato de fiscalização da International Atomic Energy
Agency -IAEA.
Então o presidente Kim disse: "Reverendo Moon, pense bem. Eu iria
fabricar a bomba nuclear para matar quem? Para matar meu povo?
O senhor acha que sou tal tipo de pessoa? Concordo que a energia
nuclear deve ser utilizada somente para propósitos de paz. Prestei
atenção no que me disse, Reverendo Moon, tudo vai dar certo", ele
respondeu bem naturalmente.


Naquele tempo, devido à questão da fiscalização nuclear, o
relacionamento entre o Norte e Sul não estava bem, por isso eu
sugeri com todo o cuidado, mas perante a tranquilidade de sua
resposta, todas as pessoas que estavam no local ficaram surpresas.
Como nossa comunicação estava indo muito bem, nós nos
mudamos para o refeitório e almoçamos um pouco mais cedo.
"Reverendo Moon, o senhor conhece o macarrão de batata
congelada? No tempo em que estava na Operação Partisan, na
montanha Bek Du, comi muito esse prato. Por favor, sirva-se."
"Claro, conheço bem. É a comida preferida da minha terra natal", eu
respondi com muita alegria.
"Rã, rá, rá! Na terra do senhor certamente era um prato especial,
mas comi para sobreviver. Como a polícia japonesa perseguia
qualquer um até no topo da montanha Bek Du, eu não tinha sossego
nem para colocar uma colher de comida na boca. No topo da
montanha, o que há para comer além de batata? Quando ia
cozinhar, a polícia japonesa chegava e eu tinha que enterrar a batata
na terra e fugir. Depois de algum tempo, voltava àquele mesmo
lugar, e o frio era tanto que a batata que estava enterrada na terra
tinha se congelado. Como não havia outro jeito, eu arrancava a
batata, descongelava e fazia farinha, com a qual preparava
macarrão para comer."
"O senhor, presidente, é expert em macarrão de batata congelada."
"Com certeza. E gostoso com molho de soja, mas no molho de
gergelim fica muito melhor. É bom para a digestão, e também
porque a batata tem aquela goma, satisfaz rapidamente. Ah,
Reverendo Moon, o macarrão de batata congelada fica muito
gostoso com o kat kimchi da província Ham Gyóng. Experimente,
por favor."
Conforme o presidente Kim tinha sugerido, comi o macarrão de
batata congelada com kat kimchi. O macarrão saboroso junto com o


kimchi apimentado era uma ótima combinação e quando comi era
como se meu interior se refrescasse.
"No mundo há tantas comidas boas, tanta variedade, mas não
preciso de nada disso. Não há nada mais gostoso que a comida da
minha terra natal, como bolinho de batata, milho e batata-doce."
"Até no paladar, o senhor e eu somos rever sua terra natal?"
"Fiquei muito emocionado. Como a casa onde morei ainda está de
pé, sentei no quarto principal pensando no passado por um
instante. Parecia que de repente minha mãe chamava meu nome,
meu coração se sentiu muito emocionado."
"E sua mãe...?"
"Disseram que ela morreu ano passado."
"Oh, sinto muito. É por isso que a unificação tem que acontecer o
mais rápido possível. Ouvi parecidos. Realmente, é muito bom
encontrar um conterrâneo." "Como foi comentários de que o senhor,
Reverendo Moon, era um menino muito sapeca. De volta à sua casa,


o senhor conseguiu brincar um pouco, correndo pela terra natal?"
Com as palavras do presidente Kim, todas as pessoas que estavam
na mesa caíram na gargalhada.
"Queria subir a montanha, queria pescar, mas disseram que o
senhor estava me esperando, então vim correndo. Por isso o senhor
tem que me chamar outra vez."
"Claro, claro que sim. Mas, venha cá Reverendo Moon, o senhor
caça? Gosto muito de caçar. O senhor certamente ficará fã se caçar
ursos na montanha Bek Du. O urso é grande, por isso ele pode
parecer lento, mas na verdade ele é muito esperto. Uma vez, fiquei
cara a cara com um urso. Ele ficou parado sem se mover, me
observando. O senhor sabe bem o que acontece se corremos para
fugir de um urso, não é? Então imagine o que eu fiz? Também olhei
bem para o urso e persisti. Uma, duas, três horas, mesmo depois de
tanto tempo, o urso ainda me espreitava. É famoso o frio da

montanha Bek Du, não é? Parecia que, antes de ser comido pelo


urso, ia morrer congelado."
"Nossa, o que aconteceu?"
"Rá, rá! Eu, que estou na sua frente, Reverendo Moon, sou o urso ou
a pessoa? Essa é a resposta."
Quando dei uma gargalhada/ o presidente Kim falou de repente:
"Reverendo Moon, da próxima vez que o senhor vier, vamos juntos
caçar na montanha Bek Du".
Então respondi prontamente: "O senhor presidente gosta de pescar?
Em Kodiak, no Alasca, existe um peixe halibut que é tão grande
quanto um urso. Vamos juntos pescá-lo?"


"Existe um peixe grande igual a um urso? Claro que preciso ir!
Caçar e pescar, todos os nossos hobbies eram semelhantes. E de
repente surgiram tantos assuntos para falarmos que, como amigos
de longa data, nós conversamos muito. Nossas gargalhadas
enchiam todo o refeitório.


Também falei sobre a montanha Kum Gang.
"Visitar a montanha Kum Gang é realmente um lindo passeio.
Precisamos explorar esse orgulho do nosso povo como um ponto
turístico."
"Kum Gang é o patrimônio da nossa pátria unificada. Por isso, não
deixei ninguém tocar nela até agora, porque se a linda montanha for
explorada erroneamente, poderá ser prejudicada. Mas poderemos
confiar a exploração a uma pessoa de visão internacional como o
Reverendo Moon."
Imediatamente, o presidente Kim me pediu para desenvolver o
turismo na montanha Kum Gang: "Senhor presidente, o senhor tem
mais idade que eu, então o senhor é meu irmão mais velho", eu
disse, e logo o presidente Kim segurou minhas mãos: "Reverendo
Moon, vamos fazer o que é certo, vivendo daqui para a frente como
irmão mais velho e irmão mais novo".



De mãos dadas com o presidente, caminhamos pelo corredor,
tiramos memoráveis fotos juntos e nos despedimos. Dizem que,
depois da despedida, o presidente Kim falou para seu filho Kim
Jong II: "Oh, o Reverendo Moon é uma pessoa magnífica. Durante a
minha vida eu encontrei muitas pessoas, mas nenhuma igual ao
Reverendo Moon. Ele é muito corajoso, mas também tem muito
bom coração. Senti muito bem e tinha vontade de ficar mais tempo
com ele. Realmente quero encontrá-lo outra vez, então quando eu
morrer, se você precisar discutir algum assunto entre o Norte e o
Sul, não hesite em procurar o Reverendo Moon". Com isso, tenho
certeza que nos entendemos bem.
Quando saí de Pyongyang, após uma semana de percurso, o comitê
da Coreia do Norte, centralizado no primeiro-ministro Yón Hyóng
Mook, chegou a Seul. O primeiro-ministro Yón assinou o Pacto de
Não-Proliferação Nuclear na península coreana e, em 30 de janeiro
do ano seguinte, a Coreia do Norte assinou pacto com a Agência
Internacional de Energia Atômica. Assim, eles cumpriram todos os
compromissos feitos comigo. Entrei em Pyongyang colocando
minha vida em risco, e pelos resultados conseguidos, realmente
valeu a pena.

Podem Dividir a Terra, mas Nunca o Povo



A península coreana é a única nação dividida no mundo. Nós,
coreanos, temos a responsabilidade de unificar a península. Não
podemos deixar para nossos descendentes uma pátria dividida em
duas como está agora. É uma grande tristeza que não deveria
existir, um povo dividido em dois, sem poder encontrar seus pais


ou irmãos. O paralelo 38, a linha divisória entre o Norte e o Sul da
Coreia, foi criado pelos homens. Embora a terra tenha sido dividida
desse jeito, não se pode dividir o povo. Apesar de estarmos
separados há mais de meio século, nós não nos esquecemos uns do
outros e continuamos a ter saudade porque pertencemos a um
mesmo povo.
Nós somos chamados o "povo de vestes brancas". O branco
simboliza a cor da paz. Portanto, somos o povo da paz. No auge da
repressão japonesa, nosso povo foi viver na Manchúria e na Sibéria,
junto de chineses, japoneses, e de ambos os lados muitas matanças
aconteciam. Mesmo nesse tempo, os coreanos não levavam punhais
junto ao corpo. Todos, japoneses e chineses, carregavam punhais,
enquanto nosso povo carregava o buship-tol5. Acender uma fogueira
nas terras congeladas da Manchúria e da Sibéria também é proteger
sua vida. Nosso povo é esse tipo de gente. Gente que ama a paz,

serve Deus e valoriza a ética e a moral.
No auge da força japonesa e da Guerra Civil da Coreia, nosso povo


derramou muito sangue. Apesar disso, nossa nação ainda não se
unificou nem foi estabelecida a soberania de paz. A terra foi
dividida pela cintura em duas partes, e além disso, uma metade se
transformou no mundo sombrio do comunismo.
Para restaurar a soberania do nosso povo, é imprescindível que
aconteça a unificação. Com Norte e Sul divididos como agora, não
pode haver paz enquanto nós não restaurarmos a soberania total.
Somente quando nós conseguirmos a unificação total e pacífica,
poderemos construir a paz mundial. Como os coreanos se chamam

o "povo de Bedal", somos aqueles que surgiram para entregar a paz
ao mundo, como um bedalbu6. Todas as coisas têm nome e todo
nome tem um significado particular. A roupa branca se destaca
tanto no dia como na noite. No escuro da noite, a cor que mais se
5. Pedra para fazer fogo.
6. Entregador.

destaca é a branca. Assim, nosso povo nasceu com o destino de
entregar a paz mundial noite e dia.
Entre Norte e Sul existe a linha divisória do paralelo 38. Entretanto,
esse não é o maior problema. Se eliminarmos essa linha divisória,
encontraremos a divisa maior, que se chama Rússia e China. Para
que nosso povo tenha paz completa, devemos ultrapassar até a
barreira da Rússia e da China. Isso pode ser difícil, mas não é
impossível. O mais importante é a determinação em nossos
corações.

Penso que, quando se aplica suor e sangue, é bom entregar tudo,
não sobrar nada. É preciso entregar tudo, até aquilo guardado no
fundo do seu coração, tirar tudo sem nenhum apego e limpá-lo
completamente. Com o sofrimento não é diferente. É preciso vencer
e limpar todo o sofrimento, para que ele tenha um fim. Nada pode
ser restaurado onde ainda há resquícios do passado, essa é a lei. Se
ainda houver esse sofrimento tão miserável, a soberania completa
do nosso povo não será restaurada.
Atualmente, todos falam sobre uma unificação pacífica. Contudo,
comecei a proclamar a unificação pacífica em um tempo
extremamente amedrontador, quando ninguém podia pronunciar
essas duas palavras por medo da lei anticomunista e da lei de
segurança nacional. Venho proclamando a unificação pacífica desde
aquela época. Ainda hoje, se alguém me pergunta: "O que devemos
fazer para a unificação da península coreana?", minha resposta é
sempre a mesma:
"Se os sul-coreanos amassem a Coreia do Norte mais que o Sul, e os
norte-coreanos amassem a Coreia do Sul mais que o Norte, hoje
mesmo a unificação da península coreana aconteceria."
Fui capaz de arriscar a minha vida em 1991 e encontrar o presidente
Kim II Sung, porque tenho um fundamento desse tipo de amor.
Naquele tempo, estabeleci vários acordos com o presidente Kim II
Sung, como o encontro entre familiares separados do Norte e do


Sul, cooperação econômica entre as duas partes, exploração turística
da montanha Kum Gang, a não-proliferação nuclear na península
coreana e o avanço nos encontros dos chefes de Estado dos dois
países. Ninguém imaginava que a entrada de um anticomunista em
um país vermelho iria abrir o caminho para a unificação do Norte e
do Sul, mas surpreendi o mundo.
Antes de encontrar pessoalmente o presidente Kim II Sung,
discursei por duas horas no Congresso Nacional de Man Su De, em
Pyongyang, sobre o tema "O sangue é mais forte do que a água".
Naquele dia, falei com firmeza diante das autoridades nortecoreanas
sobre o plano de unificação do Norte e do Sul através do
amor. Falei com esse meu jeito para as autoridades da Coreia do
Norte, que estavam armadas com o Kim-Il-Sungismo:
"O Norte e o Sul certamente têm que se unificar, mas não pelas
armas. A unificação do Norte e do Sul não acontecerá pela força
militar. A Guerra da Coreia foi um fracasso, por isso é uma ideia
estúpida querer repetir a tentativa com o uso das Forças Armadas.
A unificação do Norte e do Sul não acontecerá através da ideologia
de ju-tche que vocês tanto apregoam. Então, com o que poderemos
ter unificação?
Este mundo não é movimentado somente pelas forças do ser
humano. Deus existe, e por isso o ser humano jamais pode
conseguir algo somente por sua própria força. Deus trabalha até em
um fato tão ruim como a guerra. A ideologia ju-tche, de que o ser
humano ser tornou o sujeito, jamais conseguirá a unificação de
Norte e Sul. A pátria unificada só poderá ser construída com base
no Deusismo. Está se aproximando o tempo da unificação de nosso
povo, que Deus tem protegido.

A unificação é o nosso destino e, ao mesmo tempo, um dever que
não podemos deixar para depois. Se não realizarmos essa obra
sagrada de unificação da pátria agora, passaremos a eternidade sem


poder erguer a cabeça e encarar nossos descendentes e nossos
antepassados.
O que é o Deusismo? É praticar o amor perfeito de Deus. A
unificação do Norte e do Sul não acontecerá somente pela esquerda
ou pela direita. Para harmonizar essas duas ideologias é preciso a
ideologia da cabeça. O caminho do amor será aberto quando vocês
pedirem desculpas para o mundo inteiro por terem invadido a
Coreia do Sul! Sei que há aproximadamente vinte mil espiões que a
Coreia do Norte implantou na Coreia do Sul. Por isso, dêem a
orientação para que eles se entreguem imediatamente. Então os
educarei para corrigir seus pensamentos e os transformarei em
patriotas, que contribuirão para a unificação pacífica entre o Norte e

o Sul".
Esbravejei, batendo o punho no púlpito do Congresso. Yoon Ki Bok,
Presidente do Comitê, e o vice-presidente norte-coreano, Kim Dal
Hyon, estavam ouvindo meu discurso e ficaram muito sérios.
Mesmo sabendo que aquelas palavras significavam um perigo para
minha vida, eu tinha que falar o que era preciso. Não queria
simplesmente chocá-los, mas tinha consciência que meu discurso
certamente seria transmitido imediatamente para o presidente Kim
II Sung e para Kim Jung II. Falei daquela forma com a intenção de
transmitir nosso desejo.
Quando terminei o discurso, nossa equipe ficou apavorada. Alguns
norte-coreanos até se expressaram contestando como eu poderia ter
dito aquelas palavras. Então, nossos membros ficaram preocupados:
"O conteúdo do discurso foi muito forte, por isso o clima aqui não
está muito bom". Porém, falei veemente:
"Por que vim aqui? Não vim para passear pela Coreia do Norte. Se
chegasse aqui e fosse embora sem dizer o que preciso, seria punido
pelo Céu. Mesmo que sejamos expulsos por causa do discurso de
hoje e não encontremos Kim II Sung, tenho que falar o que precisa
ser dito."

Posteriormente, no dia 8 de julho de 1994, o presidente Kim II Sung
subitamente faleceu. Naquele tempo, a relação entre o Norte e o Sul
tinha piorado. Uma bateria de missil patriot foi implantada na
Coreia do Sul e um grupo radical americano começou a pedir que a
"ogiva nuclear" de Yong Byon fosse destruída. Parecia que desse
impasse logo surgiria uma guerra. A Coreia do Norte declarou que
não iria receber nenhuma visita do exterior. Mesmo assim, achei
que devia prestar minhas condolências à morte do presidente Kim II
Sung, com quem fiz uma irmandade.
Então, chamei Bo Hi Pak: "Vá agora mesmo para a Coreia do Norte,
como meu representante, para prestar homenagens a Kim II Sung".
"Mas agora a situação está tão difícil que ninguém pode entrar na
Coreia do Norte."
"Eu sei, é difícil; mesmo assim você tem que achar um jeito de
entrar. Pode até atravessar o rio Ani Nok a nado, mas você tem que
entrar e prestar condolências."

Bo Hi Pak foi para Beijing e, arriscando sua vida, entrou em contato
com a Coreia do Norte. Contudo, o presidente Kim Jung II deu a
seguinte ordem: "Abriremos uma exceção para o representante do
Reverendo Moon vir prestar suas condolencias, podem trazê-lo para
Pyongyang". Depois de prestar as homenagens em Pyongyang, Bo
Hi Pak encontrou-se com Kim Jung II.
"Meu pai sempre falou que o Reverendo Moon tem trabalhado
arduamente para a unificação da pátria, então seja bem-vindo", ele o
cumprimentou cordialmente. Em 1994, a península coreana se
encontrava em uma situação de risco e a qualquer momento uma
guerra poderia estourar. Justamente naquele momento, graças à
relação que estabeleci com o presidente Kim II Sung, o perigo
nuclear pôde passar pela península coreana. Com essa intenção,
aqueles pêsames não foram simples cordialidades.
Conto em detalhes esse meu encontro com Kim II Sung para falar
sobre a confiança entre as pessoas. Eu o encontrei pela unificação


pacífica de nossa pátria. E graças ao que minha fé no destino do
nosso povo alcançou, mesmo depois de sua morte, seu filho Kim
Jung II recebeu um representante nosso para prestar homenagens a
seu pai. Não há muro que não possa ser derrubado com um coração
sincero de amor e nenhum sonho que não possa ser alcançado.
Visitei a Coreia do Norte como minha terra natal, a casa de meus
irmãos. Não fui lá para ganhar nada, mas sim para dar o meu
coração de amor. E essa força do amor foi além do presidente Kim II
Sung e chegou até o presidente Kim Jung II. Desde aquele dia, entre
nós e a Coreia do Norte continua a existir uma relação especial e
cada vez que a relação entre o Norte e o Sul se complicou,
assumimos o papel de abrir um caminho entre eles, com todos os
nossos esforços. A raiz que sustenta tudo isso é a confiança de
coração sincero que estabelecemos no encontro com o presidente
Kim II Sung. A confiança tem essa grande importância.
Depois do encontro com o presidente Kim II Sung, estabelecemos na
Coreia do Norte o Potongang Hotel, o Centro da Paz Mundial e
inclusive a Fábrica Automobilística da Paz. Há oito outdoors dos
Automóveis da Paz no centro de Pyon-gyang. Quando o presidente
da Coreia do Sul visitou a Coreia do Norte, os norte-coreanos lhe
mostraram a Fábrica Automobilística da Paz, e a equipe que o
acompanhava se hospedou no nosso Potongang Hotel. Nossos
membros que trabalham na Coreia do Norte realizam os cultos
todos os domingos, reunidos no Centro da Paz Mundial. Todas
essas atividades são para estabelecer a unificação e as relações
pacíficas entre Norte e Sul, não para obter lucro. Cada uma das
atividades representa o nosso esforço para contribuir com a
unificação do Norte e do Sul através do orgulho nacional.


Abaixando as Armas com Amor Verdadeiro



Nosso povo não está dividido somente pelo paralelo 38. Existe uma
linha invisível entre Yong Nam e Ho Nam, e também entre os
coreanos que moram no Japão, divididos entre mindan e jô-chongyón7.
O motivo dessa separação está nas diferenças da terra natal de
seus pais. A segunda e a terceira geração nunca foram para a terra
de seus pais e estão vivendo dentro do limite que eles traçaram. As
pessoas mindan e jô-chong-yón não conversam, não frequentam as
mesmas escolas e muito menos se casam.
Em 2005, pus em ação o plano para unir Yong Nam e Ho Nam e os
coreanos que moravam no Japão. Convoquei para Seul mil mindan e
mil jô-chong-yón para fazerem irmandade com mil pessoas de Yong
Nam e mil pessoas de Ho Nam. No Japão, é quase impossível reunir
jô-chong-yón e mindan em um mesmo lugar para discutir a unificação
pacífica entre Norte e Sul. O trabalho foi árduo, mas foi uma cena
muito emocionante -Yong Nam e Ho Nam, mindan e jô-chong-yón se
reunirem no mesmo lugar e abraçarem uns aos outros. Nessa
ocasião, um líder jô-chong-yón que estava visitando Seul pela
primeira vez, chorou angustiado, dizendo que tinha vivido todo
aquele tempo na Guerra Fria, sem saber onde era a terra natal de
seu falecido pai, e que também sentia vergonha de ter traçado uma
linha divisória tão inútil em seu coração.
Para entender a divisão e o conflito na península coreana, deve-se
ter uma visão geral do passado, do presente e do futuro. Todos os
acontecimentos sempre têm uma razão. A divisão da península
coreana aconteceu por causa da história de conflito entre o bem e o
mal. Quando a Guerra da Coreia começou, todos os países

7. Descendentes de sul e norte-coreanos, respectivamente, que vivem no Japão.

comunistas, comandados pela ex-URSS e pela China, se
mobilizaram para apoiar a Coreia do Norte. O mesmo aconteceu
com a Coreia do Sul. Dezesseis nações, centralizadas nos EUA,
enviaram seus soldados, cinco países mandaram equipes de resgate
médico e vinte nações mandaram material bélico. Não há na história
humana um registro de tantas nações participando da guerra de um
país tão pequeno como a Coreia.
Quase toda a humanidade tomou parte na Guerra da Coreia,
porque ela era uma representação do confronto entre o poder do
comunismo e da democracia. Pode-se dizer que nossa nação, como
representante do mundo, fez uma guerra cruel entre o bem e o mal.
Em 1992, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Alexander
Haig, participou da comemoração do décimo aniversário de
inauguração do Washington Times, e durante o discurso de
celebração, contou uma história surpreendente:
"Fui soldado e servi na Guerra da Coreia. Como tenente, promovi
um forte ataque à região c\e Heungnam, arriscando minha vida.
Quando soube que naquela época o Reverendo

Moon tinha sido preso pelo Partido Comunista na prisão de
Heungnam, e que o ataque daquele dia o libertou, fiquei muito
emocionado. Talvez tenha ido lá para salvar o Reverendo Moon.
Agora, pelo contrário, é o Reverendo Moon que está aqui para
salvar a América. Em Washington, onde a opinião pública é influenciada
por um jornal esquerdista, o Washington Times é um
jornal que salva a vida dos americanos, informando a direção do
futuro com uma visão equilibrada da História. Essa é mais uma
confirmação de que na História também não existem acasos".
Certa vez, surgiu na nossa sociedade uma declaração que a estátua
do general McArthur, comandante-geral dos EUA na Guerra da
Coreia, deveria ser eliminada sob a alegação que, se não houvesse a
interferência dos Estados Unidos, nossa nação não estaria dividida
em Norte e Sul. Fiquei muito assustado com essa história. Essas


afirmações somente poderiam ter surgido do Partido Comunista da
Coreia do Norte.
Apesar de todo o sacrifício do mundo, a unificação da Coreia ainda
não chegou. Embora não saiba quando esse dia chegará, uma coisa é
certa: nós já demos os primeiros passos firmes em direção à
unificação. Existem muitos obstáculos no corredor que leva à
unificação. Devemos continuar marchando, derrubando esta
sequência de obstáculos um por um. Mesmo que demore e que seja
difícil, dispostos a atravessar nadando no Yalu River, com
perseverança e paciência, a unificação certamente virá.
A última das nações do Leste Europeu onde o poder comunista
resistiu foi a Romênia, que no final de 1989 foi destruída por uma
sangrenta revolução popular. Quando foi destituído do poder,
Nicolae Ceausescu, que governou a Romênia por 24 anos, foi
executado junto com sua esposa. Ele foi um tirano, executou
impiedosamente os opositores de sua política. Em qualquer nação,
uma das razões dos ditadores ficarem cada vez mais severos é o
medo de que, se perderem o poder, perderão suas vidas. Se
tivessem segurança que se manteriam vivos, eles nunca chegariam a
tal extremo.
Nossa nação também, em um futuro próximo, de uma maneira ou
de outra, terá a unificação. Portanto, seja político, seja economista,
cada um deve se preparar para a época da unificação da Coreia. Eu
também, como religioso, não estou displicente na preparação para
receber a Coreia unificada, onde poderemos compartilhar da paz,
abraçando com amor as pessoas da Coreia do Norte.
Venho pesquisando há muito tempo sobre a unificação da
Alemanha. Nenhum tiro, nenhuma gota de sangue foi derramada
para que ela ocorresse. Sobre isso, estou ouvindo as experiências
das pessoas que comandaram a unificação naquele tempo, em busca
de uma maneira adequada para nós. Em conclusão, descobri que
para a unificação pacífica da Alemanha, eles incutiram no coração
das autoridades da Alemanha Oriental a fé de que mesmo depois


da unificação eles não correriam riscos. Se não tivessem segurança
de vida, as autoridades da Alemanha Oriental não abririam as
portas para a unificação tão facilmente.

Assim sendo, acredito que é preciso passar esse tipo de confiança
para as autoridades da Coreia do Norte. Há pouco tempo, foi
publicado no Japão um romance baseado na historia da Coreia do
Norte. No romance, as autoridades norte-coreanas aparecem
assistindo a cena da execução de Ceausescu, repetindo
desesperadas: "Se nós perdermos o poder, ficaremos assim.
Portanto, nunca podemos perder o poder", dezenas de vezes. É
claro que isso foi imaginado pelo escritor do romance japonês, mas
a unificação será mais rápida quando ouvirem o conflito atual deles
e o resolverem.
É até simples estabelecer o mundo pacífico na península coreana.
Quando os sul-coreanos servirem completamente a Coreia do
Norte, não haverá guerra, e a península coreana automaticamente
terá paz. Não se comove o filho pródigo com os punhos cerrados
nem com o poder, mas com a força do amor que surge no coração.
Alimentar e dar adubo para a Coreia do Norte é importante, mas o
mais importante é dar amor. Não podemos esquecer o fato que os
norte-coreanos abrirão seus corações quando, com um coração de
amor verdadeiro, a Coreia do Sul pensar na Coreia do Norte e servila
de todo o coração.

CAPÍTULO 7


FUTURO DA COREIA, FUTURO DO MUNDO



A Península Coreana Reescreverá a Historia da
Humanidade



Sinto tanta saudade da minha terra natal que até em sonho a busco.
Minha terra fica distante de Seul, é a cidade de Jong Ju, Coreia do
Norte, de onde se pode ver ao longe as montanhas e o mar. Em
qualquer momento e em qualquer situação, meu coração está
sempre naquele lugar onde o meu amor e minha vida surgiram.
Todos nós nascemos da linhagem de sangue dos pais e crescemos
recebendo amor dos pais. Por isso, não nos esquecemos de nossa
terra natal, onde aquele amor ainda permanece. Assim, quanto mais
velho fico, mais sinto saudades da minha terra. A vida deve voltar
para onde começou. O ser humano não pode se separar de sua
origem. Em 2004, depois de 34 anos de atividade nos Estados
Unidos, voltei para a península coreana, onde se encontra a fortuna
celeste.
Não percebemos o momento exato da passagem da madrugada
para a manhã, e tampouco sabemos o tempo preciso de quando a
tarde vira noite. O mesmo acontece em nossas vidas, o ser humano
não sabe bem o momento em que as obras de Deus estão passando.
Os momentos de sucesso e de fracasso, tudo passa pela nossa frente
sem percebermos. Tampouco sabemos quando chegarão coisas boas
ou ruins para uma nação. Dessa forma, o ser humano não conhece
sobre o momento da chegada da fortuna celeste. A fortuna celeste é
a força que move o mundo e, ao mesmo tempo, um princípio que
rege o universo. Mesmo que não percebamos, a fortuna celeste, com
a qual o Criador rege o universo, existe com certeza.
O universo age exatamente dentro de uma ordem própria. Todas as
criaturas deste mundo seguem um princípio antes de nascer. O
bebê, quando nasce neste mundo, mesmo sem ninguém ensinar,


abre os olhos e começa a respirar. Ninguém o força a fazer aquilo,
mas é algo que acontece naturalmente. "Naturalmente acontece",
essa é a principal chave para decodificar o segredo do universo.
Há muitas coisas na criação que acontecem naturalmente. Na
verdade, "naturalmente" não é a palavra correta. Até nos fenômenos
naturais que parecem acontecer espontaneamente existe uma
direção inerente do universo, que nós não entendemos. A fortuna
do universo, a fortuna celeste, é assim. Apesar de não percebermos,
no processo cíclico do universo existe claramente o momento da
aproximação de uma grande fortuna. Passando pelo frio inverno, a
primavera chega. Passada a primavera, vem o verão. Se
entendermos este princípio do universo, poderemos prever o futuro
da nossa nação.
Uma pessoa sábia acompanha o princípio e o ritmo do universo.
Aqueles que marcaram suas vidas na história da humanidade,
todos sabiam acompanhar o ritmo e o princípio do universo.

Quando eu estava nos Estados Unidos, pesquei bastante no rio
Hudson, que passava na frente da minha casa. Embora, fosse desde
pequeno um bom pescador, havia dias em que eu voltava sem
pescar nada. Nós não conhecemos, mas existe o tempo e o caminho
certo para os peixes passarem. Não é porque um lugar tem água
que os peixes sempre passarão por lá. Quem coloca sua vara de
pescar sem saber disso, pode passar um mês lá e não terá nenhum
resultado. A fortuna celeste é a mesma coisa. Se não houver visão de
futuro, mesmo que a fortuna celeste esteja na nossa frente, não a
veremos. Portanto, é preciso ter uma visão sábia para perceber a
chegada da fortuna celeste.
A corrente da cultura mundial sempre caminhou progressivamente
na direção oeste, ou seja, a cultura continental do Egito passou para
a cultura peninsular greco-romana, se desenvolveu na cultura das
ilhas britânicas e passou para a cultura continental dos Estados
Unidos. A cultura continuou caminhando na direção oeste, e


atravessando o Oceano Pacífico chegou ao Japão. Entretanto, a
corrente da cultura humana não parou aí. Aquela força que fez o
Japão crescer está mudando para a península coreana. A cultura da
humanidade está se preparando para colher os frutos na península
coreana.
Para a cultura insular centralizada no Japão se conectar com o
continente, inevitavelmente ela tem que passar pela península. É
claro que na Ásia existem muitas penínsulas, como a Indochina e a
Malásia. Entretanto, esses países não têm fundamento para herdar a
cultura moderna. Somente a península coreana, o nosso país,
poderá assumir esse papel. A península coreana ocupa uma posição
geográfica bem interessante. De um lado ela está ligada ao Japão e à
América pelo Oceano Pacífico, e ao mesmo tempo está ligada aos
continentes asiático e europeu, divididos pela fronteira entre China
e Rússia. Por causa dessa situação, desde o passado distante, ela
experimentou muito sofrimento por ser um ponto estratégico na
luta pelo poder entre as nações dominantes.
Na Guerra Fria, a península coreana experimentou a guerra
arriscando-se contra o comunismo, e continua dividida até hoje,
devido aos interesses políticos dos países dominantes do mundo.
Por esse motivo, a paz não foi totalmente concretizada. A península
coreana é o lugar onde há conflitos entre os interesses dos quatro
países mais fortes do mundo. Agora chegou uma importante era em
que os conflitos entre esses países poderosos serão eliminados e
poderá nascer a cooperação para a paz e a prosperidade do mundo.
A fortuna celeste sempre vem acompanhada de grande responsabilidade.
Portanto, nesse tempo, a península coreana, guardiã
da fortuna celeste, deve cumprir o papel de rolamento para que
esses países colaborem sem conflito e trabalhem juntos pela paz e
prosperidade do mundo. Um rolamento tem a função de fixar no
lugar certo o eixo central da máquina que roda e, ao mesmo tempo,
fazer esse eixo rodar livremente. Agora chegou o tempo da
península coreana se tornar um rolamento que manterá uma boa


relação com os países poderosos e ao mesmo tempo contribuirá

para o desenvolvimento da paz mundial.
Com esse fim, há muito tempo venho me preparando rigorosamente.
Apoiei o plano de abertura política do presidente
Gorbatchev e apressei o melhoramento das relações diplomáticas
com a ex-URSS; e desde o fim dos anos 80, ajudei ativamente no
plano chinês de abertura e reforma de Deng Xiaoping. Nossa
entrada nas terras chinesas foi por meio do apoio para a
inauguração da Faculdade de Engenharia na Universidade Yen Ben,
mas enquanto os investidores estrangeiros estavam deixando a
China por causa dos "Protestos da Praça Tiananmen", nós
permanecemos e investimos centenas de milhões de dólares em
Huizhou, Gwang-dung e temos trabalhado bastante para a abertura
da China.
Não fiz tudo isso simplesmente por motivos econômicos. Não sou
empresário ou um religioso qualquer. O verdadeiro religioso é
aquele que prevê o futuro e se prepara. Rússia, China, Japão e até os
EUA devem colaborar entre si e se desenvolverem através da
península coreana. A Coreia deve se tornar o eixo principal da paz
mundial.
Contudo, quando comecei o trabalho para melhorar o relacionamento
com a Rússia e com a China, descobri que não havia
sequer um dicionário básico para aprender russo nem chinês. Sem
entender a palavra do outro, como poderemos trabalhar juntos?
Naquele tempo, soube que alguns professores universitários, que
tinham visão de futuro, estavam tentando publicar um dicionário
chinês-coreano e russo-coreano. O projeto do grande dicionário
estava sendo dirigido pelo professor Hong II Seok, do Instituto de
Cultura Popular da Universidade Go Ryó, e a publicação do
dicionário russo-coreano estava sendo preparada pelos professores
do curso de língua russa. Apoiei a publicação de ambos os
dicionários. Até hoje, esses dicionários ocupam uma importante


função nas relações diplomáticas entre a Coreia e a China, e entre a
Coreia e a Rússia.
Mesmo uma pedra que está no topo mais alto da montanha, quando
cai, atinge o fundo do vale. O fim da cultura ocidental será
exatamente assim. Apesar de ter se desenvolvido através da força
da ciência, ela já está a caminho do fundo do vale devido à
decadência espiritual. Esse vale não é outro senão o oriente, que
sedimentou a cultura espiritual durante milhares de anos.
Entre os países orientais, a península coreana é o lugar de encontro
da cultura oriental e ocidental, ponto de encontro da cultura
continental e oceânica. O historiador e filósofo Oswald Spengler
afirmou que, como as quatro estações do ano -primavera, verão,
outono e inverno, as culturas também repetem um ciclo de auge e
decadência. Ele está correto. Agora é o momento crucial em que o
auge da era cultural do Atlântico está passando e a nova era da
cultura da orla do Pacífico está se abrindo.
O centro da esfera cultural da orla do Pacífico é a Ásia.
Centralizando-se na Coreia, a Ásia se tornará a protagonista da
nova história. Dois terços da população mundial vivem no
continente asiático. A Ásia também é o berço de todas as religiões
mundiais. Ao longo da História, ela foi a fonte espiritual da
humanidade.
A cultura ocidental e a cultura oriental, em um futuro próximo, se
unirão na península coreana. O mundo continua a mudar
rapidamente. Da mesma maneira, a fortuna celeste está se
aproximando de nós cada vez mais rápido. No momento de uma
mudança radical no mundo, a península coreana deve se preparar
completamente para cumprir essa tão importante missão de guiar o
mundo. Devemos jogar fora o passado manchado pelos
preconceitos e pelo egoísmo e dar boas vindas à era que está
chegando, com uma visão pura e um novo coração.


Da Terra do Sofrimento e Lágrimas para a Terra


da Paz e do Amor



Há um profundo significado na história miserável que nosso povo
enfrentou durante todo o tempo. Como nossa nação tem o destino
de ser o quartel general da paz mundial, ela teve que passar por
muitas adversidades. A península coreana pode ser o centro do
mundo, porque perseverou através de muito tempo de sofrimento e
de dificuldades. Mesmo que tenhamos passado por tantas
atribulações, não nos tornamos um povo que odeia os outros como
inimigos. Muitas nações vizinhas nos fizeram sofrer, mas não as
consideramos inimigas mortais.
No peito de nosso povo existe um coração que ama até os inimigos.
Para amar o inimigo e aceitá-lo, é preciso constantemente
disciplinar a si mesmo. Apenas depois de aguentar e guardar tudo é
que se pode amar até um inimigo, esse é o coração que nosso povo
teve. A pessoa mais perseguida é aquela que está mais próxima de
Deus. É importante ter um coração que derrama lágrimas. Até
alguém que não costuma chorar, quando perde sua pátria, derrama
lágrimas e se lamenta segurando a mão de Deus. Mesmo sob
sofrimento e dificuldades, é bom ter um coração de pelo menos
poder chorar. Deus chega ao coração encharcado de lágrimas. Há
muitas lágrimas no coração do povo coreano, por isso essa
península se tornou a terra que pode receber a fortuna celeste.
Nosso povo louva seus antepassados. Mesmo que estejam em
dificuldades econômicas a ponto de passarem fome, eles não
vendem o terreno do túmulo de seus antepassados em troca de
comida. Há muito tempo vivemos louvando a Deus e somos um
povo de cultura, que valoriza mais o coração do que a comida. Com
a aceitação do Budismo e do Confucionismo, a brilhante cultura da
religião floresceu e, em pouco tempo, depois de aderir ao


Cristianismo, estabelecemos uma tradição cristã que é um exemplo
para o mundo. Entretanto, o mais importante é o fato de que essas
religiões vivem harmoniosamente, sem conflitos entre si. O que nos
faz um povo tão diferente?
Nosso coração é religioso por natureza, por isso ele estava pronto
para receber a palavra de Deus a qualquer momento. Além disso,
nosso povo tinha a inteligência excepcional que poderia cumprir a
providência divina. Essa excelência é demonstrada na língua
coreana hangul, um tesouro dado por Deus.
Na nossa língua há uma abundância de variações de adjetivos e
advérbios que podem exprimir o coração das pessoas. Nenhuma
outra língua no mundo consegue expressar com tanta sensibilidade

o coração das pessoas. A língua é um reflexo da própria pessoa.
Uma língua sensível expressa a sensibilidade no coração da pessoa.
Como hangul, a. nossa língua é magnífica, não é? Gosto muito das
palavras hunmin jung-um, que significam "a sonoridade correta que
educa o povo". Um significado tão bonito assim, só existe na nossa
língua. Na era digital, a excelência do hangul se destaca ainda mais.
Com uma simples combinação de consoantes e vogais, o ser
humano pode escrever qualquer tipo de som do mundo, o que é
realmente magnífico.
Há trinta anos, pedi para que nossos membros do mundo
aprendessem a língua coreana para se prepararem para o mundo
futuro que viria. Entretanto, recentemente apareceu uma onda de
muita gente querendo aprender a nossa língua. Japão, Mongólia,
Vietnã, até na África, em muitos lugares do mundo surgiram
diversas pessoas que sabem falar coreano. Isso não acontece por
acaso.
A língua contém o espírito. Durante a colonização japonesa, o
império japonês queria muito eliminar nosso idioma porque seu
desejo era acabar com nosso espírito. O aumento do número de
falantes do nosso idioma no mundo, significa que nosso espírito

está se expandindo pelo mundo, ou seja, o quanto a influência da
nossa cultura está se fortalecendo.
Nossa gente possui um caráter especial de nunca querer ficar em
dívidas com ninguém. Na América, realmente podia sentir o
orgulho dos coreanos. Os EUA ofereciam um bom serviço de bem-
estar social, mas nosso povo não quis depender disso. Não
quiseram viver dependendo do apoio do governo, em vez disso
queriam uma maneira de ganhar dinheiro com suas próprias mãos,
para cuidar de seus filhos e servir seus pais. Essa é a índole
independente de nosso povo. Quando os enviei para missões
internacionais, pude ver esse tipo de caráter. Ainda que fossem
mandados para uma nação estranha, eles nunca tinham medo. Não
somente missionários, mas até um simples dirigente, quando recebe
uma missão em qualquer lugar do mundo, deixa tudo para trás.
Não hesita nem um segundo.
Não há povo mais diligente que o nosso. O coreano não gosta de
ficar parado em um lugar e anda por todo lado. É muito ativo e
corajoso, tanto que não existe lugar no mundo onde não haja um
coreano. Também não se prende somente em uma coisa, mas
demonstra capacidade em várias atividades. Além disso, tem uma
excelente habilidade de adaptação que, em frente a um obstáculo,
em vez de desanimar, o coreano procura outro desafio que é ainda
maior.
Normalmente, quando há uma festa, todo mundo quer sentar no
melhor lugar. Nessa ocasião, se um indivíduo procura sentar-se
num lugar humilde no canto, esse tipo de pessoa pode ser um líder
desse tempo. Aqueles que procuram primeiro satisfazer sua própria
boca estão todos reprovados. Para comer até uma colher de comida,
deve pensar primeiro no outro. Se nós quisermos receber a fortuna
celeste que está chegando à península coreana, nunca poderemos
nos esquecer, do fundo de nossos corações, que "existe outro mais
precioso do que eu".


Durante todo esse tempo, perdemos tudo que amávamos. Na
colonização japonesa, perdemos nossa preciosa pátria e nossa terra
ficou dividida em duas, e depois nos separamos dos nossos amados
pais e irmãos. A península coreana se transformou em uma terra de
lágrimas. Contudo, agora chegou o tempo em que, daqui para
frente, devemos derramar lágrimas pelo mundo mais sincera e
desesperadamente do que derramamos por nós mesmos. Essa é a
missão da península coreana, que recebeu a fortuna celeste. Quando
nós o fizermos, a fortuna celeste da península coreana se expandirá
para o mundo e abrirá uma era histórica centralizada no povo
coreano.

O Propósito Final das Religiões no Século XXI


O século XX foi um século turbulento. Aconteceram mais coisas
nesses cem anos do que nos dois mil anos anteriores. O século XX
teve duas guerras mundiais, a ascensão e o desaparecimento do
comunismo. Foi um século em que o ser humano se afundou no
materialismo, deixando Deus de lado.
E como será o século XXI? Conforme a ciência se desenvolve, muitas
pessoas dizem que a religião não é mais necessária, mas enquanto
existir o mundo da mente humana, a função da religião não se
extinguirá.
Qual é a finalidade da religião? Construir o mundo ideal de Deus. O
motivo das tentativas de conduzir mais pessoas para o mundo da
religião é para que mais pessoas passem para o povo de Deus. Se
toda a humanidade se tornar o povo de Deus, não haverá mais


guerra e o mundo de paz, sem conflitos, chegará. Por fim, o destino
da religião é o mundo de paz.
Deus criou este mundo para ser um mundo de paz e de amor. Criar
conflitos, insistindo que somente sua própria religião tem a
salvação, não é o que Deus deseja. Deus deseja que todas as pessoas
do mundo trabalhem bastante para a paz, reconciliação e
convivência. Se acontecer conflito na família por causa da igreja,
nesse caso oriento, sem hesitar, manter a família primeiro. Porque a
religião é um meio para entrar no Reino de Deus e não o destino
final. A humanidade achará um ponto de união entre as culturas
opostas unindo as opiniões divididas. A ideologia do futuro, pela
qual a humanidade será dirigida, deve ser uma ideologia que pode
abraçar todas as religiões e todas as ideologias existentes. Uma era
como a passada, na qual na linha de frente somente uma nação
levava toda a humanidade, já acabou. A era de xenofobia também
terminou.
Se essa era de agora continuar, em que somente há união entre
membros da mesma raça e da mesma religião, a humanidade
continuará em guerra após guerra. Se não transcenderem tradições
e costumes particulares, a era da paz nunca chegará. Qualquer
"ismo" ou ideologia, e mesmo a religião, que controlou o ser
humano até agora, não nos farão construir um futuro de paz e
unificação. Por isso, deve surgir uma nova ideologia e um novo
"ismo" que vão além do Budismo, do Cristianismo e do Islamismo.
Foi justamente por essa razão, que bradei por décadas, até minha
garganta estourar, que era necessário transcender religiões e nações.
No mundo existem mais de duzentas nações, e cada uma tem suas
fronteiras internas. Existem limites para distinguir países diferentes.
As fronteiras que dividem as nações não podem permanecer para
sempre. Somente por meio da religião é possível superá-las.
Entretanto, mesmo a religião, que deveria ser a esperança das
pessoas, está dividida em várias denominações que não param de
brigar entre si. A exaltação de suas próprias religiões e


denominações os impede de perceber a abertura da nova era e a
mudança do mundo.
Não é fácil demolir os muros construídos por milhares de anos
entre as religiões. Entretanto, para chegar a um mundo pacífico, é
inevitável que esses muros sejam demolidos. É preciso parar com as
brigas frívolas entre as religiões e denominações, e ajustar a opinião
de cada um, para procurarmos juntos um meio para um mundo
unido. Para cumprir o papel da religião na realização de um mundo
pacífico, devemos seguir o caminho da prática rigorosa. Um futuro
feliz não será alcançado somente por meio da prosperidade
material. O mais urgente é superar os conflitos entre ideologias,
culturas e raças, através do entendimento inter-religioso e harmonia
espiritual.
Tenho três pedidos para os religiosos das diferentes crenças do
mundo inteiro. Primeiro, respeitem a tradição das outras religiões e
se esforcem para impedir os conflitos e as guerras religiosas.
Segundo, as entidades religiosas devem colaborar umas com as
outras e devem servir o mundo. Terceiro, para cumprir
completamente a missão da paz mundial, deve se estabelecer uma
organização na qual os líderes de todas as religiões possam
participar.
O olho direito existe para o olho esquerdo. O olho esquerdo existe
para o direito e os dois olhos existem para o ser humano inteiro.
Todos os órgãos do nosso corpo funcionam assim. Nada existe para
si mesmo. A religião não existe para a própria religião, mas existe
para o amor e a paz. Quando a paz mundial for realizada, não
haverá mais necessidade de religião. O propósito final da religião
no mundo de hoje é transformá-lo completamente em um mundo
cheio de amor e paz. Essa é a vontade de Deus.
Não é fácil fazer o coração das pessoas se encher do desejo de paz.
Para que isso aconteça, é preciso educar e continuar educando. Por
isso, tenho me dedicado ao ensino. Antes mesmo da nossa igreja se
tornar autossuficiente, construí a Escola de Artes Sun Hwa e


construí várias outras instituições de ensino como: a Escola
Internacional Cheong Shim, de Ensino Médio e a Sun Moon
University, entre outras. Além delas, fora do meu país, estabeleci
muitas escolas, incluindo a Universidade de Bridgeport, nos
Estados Unidos. Minha teoria da educação é a de quando estabeleci
a Escola de Artes Sun Hwa: criar líderes do futuro que amem a
Deus, amem o próximo e amem a nação.
A escola é um lugar sagrado onde se ensina a verdade. Qual é a
verdade mais importante que a escola deve ensinar? Primeiro,
conhecer Deus e praticar a presença Dele na vida real. Segundo,
entender a origem da vida do ser humano, assumir sua
responsabilidade e liderar o destino do mundo. Terceiro, perceber a
finalidade da existência humana, que é construir o mundo ideal.
Todos esses ensinamentos somente trarão resultados se ensinados
por um longo tempo e com muita dedicação.
A educação moderna está focada na construção de uma sociedade
em que aquele que vence a competição sozinho desfruta da
felicidade de forma egoísta. Essa não é a educação correta.

A educação deve ser um meio para construir o mundo de paz onde
toda a humanidade vive bem. Devemos transformar a teoria e o
modo de educar que têm nos dominado até agora, em um objetivo
comum da humanidade. Se os Estados Unidos restringem a
educação para os americanos e se a Inglaterra educa somente de
acordo com seus próprios interesses, o futuro da humanidade será
obscuro.
Os educadores não devem ensinar como viver egoisticamente e sim,
a sabedoria pela qual pode resolver todos os problemas sociais de
nossa época. Os doutores em religião ocupam o papel mais
importante. O que eles devem ensinar não é a complicada teologia
de sua própria religião ou a sua superioridade, mas sim ensinar a
amar a humanidade e a ter a sabedoria de um mundo de paz. Se
eles, na linha de frente, não ensinarem para seus descendentes o


princípio de paz, de que a humanidade é composta de irmãos e de
que o mundo é uma família, eles nunca poderão esperar um futuro
feliz para a humanidade.
A maior das sabedorias é conhecer o coração e o ideal de Deus. Por
isso o papel da religião continua muito importante até no século
XXI, no auge da tecnologia e da ciência. Todas as religiões do
mundo devem conhecer claramente o caminho à frente da
humanidade e parar imediatamente com as brigas, grandes ou
pequenas, por quererem pôr o prestígio na frente de tudo. Todas as
sabedorias reunidas, todas as forças juntas, devem trabalhar sem
descanso na construção do mundo ideal. É preciso esquecer já o
conflito e o ódio e construir a paz. Ainda que já se tenha feito
bastante, os esforços pela paz mundial não podem parar. Os
religiosos, que conduzem a humanidade para o mundo ideal, nunca
podem se esquecer por um segundo sequer que cada um ocupa a
posição de mensageiro da paz.

Fazendo História por Meio das Atividades
Culturais



Em 1988, pressenti que as Olimpíadas de Seul poderiam se tornar
uma consagração da paz que mudaria definitivamente o ciclo da
Guerra Fria mundial. Por isso, chamei todos os nossos membros
espalhados pelo mundo para Seul e lhes pedi que torcessem e
fossem voluntários para servir as delegações de seus próprios


países, entregando lembranças da Coreia e servindo comida típica
coreana. Como imaginava, os Jogos Olímpicos de Seul, com a
participação da China e da ex-URSS, se tornaram o festival da paz
com o qual houve a reconciliação entre o bloco democrático e o
bloco comunista. Na cerimônia de abertura, me sentei na
arquibancada do Estádio Jamsil e assisti a festa da paz e da
reconciliação com o coração muito alegre.
Logo que as Olimpíadas terminaram, aproveitando o clima quente,
criei o time de futebol profissional Ilhwa Chunma. O Ilhwa Chunma
continua ganhando vários títulos e conquistou a reputação de um
excelente time profissional. Alguns anos depois, também criei os
times de futebol profissional CENE e Atlético Sorocaba, no Brasil, a
terra do futebol e do samba, que estão em atividade até hoje.

A razão de ter escolhido especialmente o futebol entre as diversas
modalidades esportivas, é porque sou aficionado por esse esporte.
Desde a infância gosto muito de esportes. Pratiquei boxe e também
a arte marcial tradicional coreana, mas o esporte que mais gosto até
hoje, mesmo com uma idade avançada, é justamente o futebol.
Quando eu estava na escola, corria pelo campo e chutava a bola,
mas agora prefiro assistir. Durante a Copa do Mundo de Seul,
assisti a todos os jogos que foram transmitidos, ligando três
televisões ao mesmo tempo. Especialmente os jogos da Coreia, não
perdi nenhum.
O futebol é a representação da vida. Ainda que eu jogue bem e
tenha a posse da bola, se o adversário for mais rápido, tecnicamente
melhor e em um instante pegar a minha bola, no final de nada
adiantou. Se chutar a bola, mesmo que seja um bom chute, se bater
na trave e voltar, também não adianta nada. Conduzir a bola é
minha responsabilidade, mas marcar o gol não depende apenas de
mim. É preciso ter ajuda, no momento certo, de colegas como o
jogador Pak Ji Sun e também é indispensável ter um jogador como
Lee Yong Pyo, que marque o adversário.


Mas a pessoa mais importante é o técnico, que tem uma visão geral
do time de fora do campo. Ele próprio não corre nem chuta a gol,
mas a força do técnico é mais importante que a de todos os
jogadores juntos. Assim como Deus olha o mundo que nós não
percebemos e nos manda um sinal, o técnico enxerga o que os
jogadores não conseguem ver. Se os jogadores obedecerem bem às
ordens do técnico, certamente ganharão o jogo. Entretanto, mesmo
que o técnico mande um sinal, se o tolo jogador não entender e for
displicente, o jogo estará perdido.
Apesar de ser um jogo competitivo, o futebol tem grande influência
no desenvolvimento da cooperação e da paz entre as nações. Dizem
que a audiência da transmissão dos jogos da Copa do Mundo é
duas vezes maior que a das Olimpíadas, a festa dos esportistas do
mundo inteiro. Assim, é visível o quanto o mundo gosta de futebol.
O futebol possui uma força que promove a união harmoniosa por
meio de uma bola rolando, transcendendo nação, raça, religião e
cultura. O futebol e a paz para a humanidade podem ser
comparados a um casal harmonioso.
Um dia, o Rei do futebol, Pele, que foi ministro dos Esportes no
Brasil, visitou minha casa em Hannam-dong. Normalmente as
pessoas se lembram do Pele como o maior jogador de futebol do
mundo, mas o Pele que encontrei naquele dia, era um admirável
pacificador. Entendi que o que ele queria de coração, através do
futebol, não era nada mais que a paz mundial. O Pele que encontrei
naquele dia, me contou com o maior dos sorrisos: "No passado,
participei de um jogo no Gabão, na África. Naquela época, o lugar
estava em plena guerra. Como eu poderia jogar no meio das
bombas que estavam caindo? Felizmente, eles interromperam a
guerra durante o jogo. Naquele momento percebi que o futebol não
é um simples esporte que se joga com uma bola. O futebol é um
meio maravilhoso, pelo qual os seres humanos, como iguais, podem
realizar a paz mundial. A partir daquele dia, me determinei a
promover um movimento pela paz mundial através do futebol".


Naquele momento, senti a beleza e a grandeza do Pele e
imediatamente segurei suas mãos. Vivendo neste mundo cheio de
disputa, uma pessoa sente muito estresse. O estresse causa uma
tensão no dia a dia e rouba a paz interior, criando brigas fúteis e
muito nervosismo. Praticar um hobby, um esporte ou uma atividade
artística é justamente eliminar essas tensões. O esporte e a arte são
instrumentos que podem unir toda a humanidade, além de libertar

o ser humano oprimido. A razão de ter criado os times de futebol e
a companhia de balé foi porque essas atividades são o melhor meio
para se alcançar a paz. Pele já entendia meu coração.
Naquela ocasião, com ideias semelhantes, lançamos juntos a Copa
da Paz, "Peace Cup" e desde 2003 ela é realizada a cada dois anos.
Organizamos os jogos, chamando times mundialmente famosos
para a Coreia. Contudo, é nosso plano que a sede mude para o
exterior a partir da quarta edição, que será realizada em 2009. Em
2009, a sede está prevista para a Andaluzia, na Espanha, que se diz
o berço do futebol. Com a participação de famosos times da
Inglaterra, incluindo o melhor time da Espanha, o Real Madrid, o
Sevilha e o Olympic de Lyon, da França, realizaremos o melhor
campeonato de futebol do mundo. A renda da Peace Cup está sendo
utilizada para apoiar projetos de futebol amador em países com
dificuldades econômicas. Especialmente, estamos investindo em
programas com crianças com deficiência física, para que através do
futebol elas possam viver sem perder seus sonhos.
Com o mesmo fim, realizamos um campeonato de futebol juvenil na
Libéria, na África, em parceria com a agência da ONU para
refugiados. A Libéria é um país onde as pessoas têm uma vida
muito sofrida por causa das intermináveis guerras entre tribos, que
já duram mais de quinze anos. Devido à diminuição drástica da
população por causa das frequentes guerras, o lugar está sob a
proteção especial da ONU. As crianças e os jovens se uniram para
jogar futebol e cantaram juntos um hino de paz. Enquanto chuta a


bola, o corpo se acostumará automaticamente com a reconciliação
entre as tribos.
Recentemente, há mais uma coisa que nós estamos preparando com
toda a dedicação: construir um estádio maravilhoso na Faixa de
Gaza, entre Israel e a Palestina. Temos planos de abrir uma
escolinha de futebol para as crianças dos dois países, convidando
um famoso treinador europeu. Com esse projeto, queremos
estimular as crianças a jogarem bola juntas, mesmo que seus pais
estejam lutando empunhando armas um contra o outro.
Todo mundo diz que isso é impossível concretizar, mas não temos
dúvidas que poderemos fazê-lo. O ministro de Israel afirmou que o
estádio teria que ser construído do lado israelense e o ministro
palestino também insistiu que o estádio fosse construído do seu
lado, mas com certeza construirei no meio, onde os dois lados se
encontram. Não sou alguém que desiste dos seus sonhos pela
pressão ao redor, mas sim, realizo meus sonhos com toda a vontade
e obstinação.

Uma das coisas que todo mundo dizia ser impossível, era criar uma
companhia de balé. Atualmente, na Coreia, existem muitas pessoas
que gostam de balé e até surgiram estrelas da dança, mas no tempo
em que criei a companhia, era uma terra virgem.
Quando assisto a um espetáculo de balé, penso que a arte do Reino
dos Céus deve ser assim. A bailarina fica reta na ponta do pé, com a
cabeça erguida olhando para cima. Essa postura já é uma posição
perfeita para louvar a Deus. E uma postura que expressa a
sinceridade do rogo. O balé é uma arte suprema, a expressão do
amor a Deus utilizando a beleza do corpo dado por Ele.
Criado em 1984, o Universal Ballet Company cresceu a um nível
internacional, começando com os espetáculos "O Lago dos Cisnes" e
"O Quebra-nozes" e apresentou ao longo do tempo "Dom Quixote",
"Giselle" e a coreografia puramente criativa do balé "Shim Chong" e
"Chun Hyang Jon". As dançarinas do Universal Ballet recebem


convite de famosos palcos do mundo. Às renomadas coreografias
do dinâmico balé ocidental, acrescenta-se a especial beleza interna
dos coreanos, por isso as apresentações são consideradas a
harmoniosa união do oriente e ocidente. O Universal Ballet
Company possui uma escola de balé em Washington, nos EUA.
Também são fundações minhas o "New Iorque City Simphony
Orchestra" e o coral internacional "New Hope Singers".
A arte se assemelha à obra criativa de Deus. Assim como os artistas
se dedicam completamente às suas obras, com certeza Deus deve ter
se dedicado totalmente na criação do ser humano e do mundo.
"Haja água! E houve água", quando lemos a Bíblia temos a
impressão que a água surgiu automaticamente, mas não foi assim.
Deus colocou toda sua força na criação da água, da terra; assim
como cada gesto da bailarina em cima do palco é fruto de uma
criação na qual ela investiu seu esforço, disposta até a morrer.
O futebol é a mesma coisa. O jogador, durante noventa minutos, se
esforça o máximo. Ele corre sem saber de qual direção a bola virá e
concentra toda sua vida em um chute a gol, investindo toda a
energia, assim como Deus, quando criou todo o universo. Entregar
tudo, 100% do que tenho, me ofertar totalmente para aquele
momento, não há atitude mais magnífica que essa.

Aquele que Dominar o Oceano Dominará o
Mundo



A história já comprovou que a nação que domina o mar se torna a
dirigente do mundo. Pense, por favor, na Inglaterra do século XVI.


Logo que a rainha Elizabeth I subiu ao trono, ela tratou de fortalecer

o plano estratégico sobre o oceano. Investindo todo o capital e a
tecnologia, ela construiu navios fortes e mobilizou as pessoas
corajosas para mandá-las ao mar. Essas pessoas, sem saber o que
havia no fundo do mar, saíram para o oceano arriscando suas vidas.
Os ingleses nunca foram um povo apto para o mar, inclusive foram
um dos povos dominados pelos vikings da Noruega e da Suécia.
Mesmo assim, percebendo que se perdessem o mar poderiam
perder tudo, a rainha Elizabeth I estabeleceu o domínio sobre os
oceanos com muito esforço e a Inglaterra se tornou um império
marítimo, sobrepondo-se aos vikings e à Espanha. Devido a tal
esforço, essa pequena Ilha no Atlântico Norte conquistou muitas
colônias nos cinco oceanos e nos seis continentes e se tornou o
"império onde o sol nunca se põe".
Centralizada na Inglaterra, a cultura ocidental desenvolveu a
tecnologia e a ciência. Indo a todo o canto do mundo carregando a
bússola, os ingleses fincaram sua bandeira e implantaram sua
colonização. Quanto mais a tecnologia e o conhecimento
melhoravam, mais tomavam posse do mundo inteiro.
Porém, no oriente, incluindo o nosso país, não foi assim.
Valorizando a alma, o mundo oriental não abandonou o espírito
pela matéria. Quando houve conflito entre a matéria e o espírito,
nós preferimos abandonar a matéria. Por causa disso, durante todo
esse tempo, o oriente passou por mais dificuldades que o ocidente.
Contudo, o espírito não será dominado pela matéria para sempre. A
cultura materialista do ocidente está percorrendo o caminho da
decadência e a chance do oriente está próxima.
Começando no Egito, a cultura se desenvolveu na Grécia e em
Roma e, passando pela Inglaterra e pela América, agora ela está
mudando para o Oceano Pacífico, especialmente para a península
coreana. Finalmente, a era da cultura da orla do Pacífico está se
abrindo. A liderança dessa era da nova cultura caberá à Ásia. O fato
da Coreia e o Japão terem se tornado nações de primeiro mundo em

pouco tempo é prova de que a era da Ásia está chegando. Isso não
está acontecendo por acaso, mas é o destino da história.
Entretanto, a Rússia e os EUA não assistirão quietos a Coreia surgir
como líder do mundo. Pode ser que aconteça uma guerra
envolvendo EUA, Japão, Rússia e China, por causa da Coreia.
Primeiramente, para nos protegermos é preciso tecer uma grande
corda que ligue o Japão aos EUA, e a Rússia à China. Com o que
poderemos amarrá-los? Com uma ideologia que os conecte e, ao
mesmo tempo, com um coração que una todos. Apenas uma
ideologia que ensine que toda a humanidade é uma só,
transcendendo raça e nacionalidade, pode abrir o caminho para o
mundo pacífico e impedir a guerra entre as nações. E até para
proteger nós mesmos do risco da guerra, devemos plantar no
mundo a ideologia da paz que unirá todos.
Além disso, mais uma coisa na qual devemos nos qualificar é a
capacidade de viver no oceano. O oceano Pacífico é um mar. Se não
soubermos dominar o mar, não poderemos liderar a era da cultura
da orla do Pacífico. Mesmo que a fortuna celeste chegue, quem não
pôde se preparar não poderá aproveitar essa oportunidade. Ciente
do fato de que a Era Oceânica se abrirá com a Coreia no centro, é
claro que nossa nação deve se qualificar como líder da Era
Oceânica.
No mar, não há somente peixes. O maior tesouro do mar está
justamente na fonte de energia. Com a diminuição das reservas de
petróleo, a cada dia a ameaça às fontes de energia aumenta. Se o
petróleo acabar agora, a escuridão tomará o mundo da cultura
humana. Quiseram utilizar o milho para inventar uma energia
substituta, mas se faltam alimentos para a humanidade, como
podem utilizar comida como fonte de energia? A energia que vai
substituir o petróleo está no mar. No hidrogênio marinho está o
futuro da humanidade.


Dois terços do planeta são compostos pelos mares. Em outras
palavras, dois terços da matéria-prima que pode alimentar a
humanidade se encontram no mar. Por isso, se o mar não for bem
administrado, não haverá futuro. Os países de Primeiro

Mundo já tiram petróleo e gás natural submarino, e estão vendendo
a alto preço a água retirada do fundo do mar. Tirar a matéria-prima
do fundo do mar é só o começo. Logo chegará o tempo em que o
alimento da humanidade dependerá dos mares.
Contudo, a Era Oceânica não acontecerá automaticamente.
Primeiro, cada um deve se determinar querendo ir para o mar. Ir ao
mar, tomar um navio e lutar contra as ondas; sem esse tipo de
coragem nunca estaremos bem preparados para a Era Oceânica. A
nação que dominar o mar dirigirá o mundo. Logo chegará o tempo
em que a cultura e a língua dessa nação dominante se tornarão a
cultura e a língua do mundo. Portanto, de acordo com a vontade do
Criador, devemos proteger e aproveitar bem as matérias-primas do
mar.
O oceano se tornará o ponto central que unirá o mundo. Quem
quiser se tornar dono dos mares, deve se treinar para viver lá sem
problemas. Quando eu treinava as pessoas para a pesca com o barco
grande, mandava junto dez barcos pequenos. Na saída do porto,
eles seguiam o barco grande, mas assim que chegávamos em alto-
mar, os tripulantes dos barcos pequenos deviam ficar responsáveis
por si mesmos. Cada um tinha que entender e resolver as situações
por si mesmo, aprendendo qual direção o vento vem e vai, como
está a situação debaixo do mar, qual é a rota dos peixes.


Uma Grande Oportunidade que a Era Oceânica


nos Oferece



Gosto de usar o termo "espírito do Alasca". O espírito do Alasca é
aquele que levanta às cinco horas da manhã e vai para o mar, passa
da meia-noite e só volta na madrugada do dia seguinte. Ele só volta
quando consegue pescar a meta de peixes do dia. Somente assim,
treinando sua perseverança com severidade, ele pode se tornar um
pescador do mar.
Pescar não é passeio. Mesmo que dentro do mar haja muitos peixes,
ninguém consegue pegá-los automaticamente, é preciso ter
conhecimento profissional e muita experiência. É preciso saber
costurar a rede e dar o nó na vela. Aquele que recebeu esse tipo de
treinamento severo não será apenas um bom pescador, mas se
tornará um grande líder que guia os outros, superando
circunstâncias inesperadas em qualquer lugar no mundo. O treinamento
de pesca é justamente para criar tal tipo de líderes.
Para dominar o mar, necessita-se de equipamentos adequados,
como submarinos e navios que possam ir a todo canto do mundo. A
Coreia fabrica os melhores barcos do mundo. Como já há condições
suficientes para ela se tornar uma grande nação sobre o oceano,
agora precisamos de mão de obra que vá para o mar. Nós somos
descendentes do rei do mar Jang Bo Go, já herdamos essa tradição
de navegar pelo mar e vencer a batalha contra a onda, por isso nada
é impossível.
Normalmente as pessoas temem as ondas do mar. A onda, junto
com o vento, faz a maré encher e aí produz oxigênio do fundo do
mar. Se não ventar e se o mar não se agitar, ele morre. Quando a
pessoa sabe o precioso valor da onda, não sente mais medo dela.
Mesmo que vente forte e as ondas fiquem altas, quem entende que


por causa disso os peixes do mar sobrevivem, aceita a onda como
algo atrativo.
A trinta metros de profundidade, não existem mais ondas. Se você
for com um submarino para o fundo do mar, verá que é muito
fresco, sem a necessidade de ar-condicionado. No mar calmo, com a
temperatura adequada, cardumes de todo o tipo de peixes dançam
nadando juntos. Como os Little Angels, vestindo lindas roupas
coloridas, os peixes balançam suas caudas graciosamente. Esse tipo
de mundo tão calmo e pacífico já está por vir. A vinda da Era
Oceânica significa que chegou a oportunidade para a nossa nação
mudar o mundo.
O mar, que cria e abraça todo o tipo de vida, simboliza a mulher.
Em oposição, a terra simboliza o homem. Os países insulares, que
ficam no mar, representam a mulher, enquanto os países da
península, no fim do continente, representam o homem. O povo
peninsular sempre enfrentou a invasão de inimigos vindos do mar e
do continente, por causa disso, é um povo muito corajoso que se
destaca bem na bravura e no forte patriotismo. Não foi à toa que o
surgimento da cultura humana aconteceu em países peninsulares
como a Grécia e a Itália. Foi por terem um espírito forte e
aventureiro que eles se expandiram para o continente e para o mar e
que sua brilhante cultura pôde florescer.
Vocês já ouviram sobre hukcho1. Se hukcbo não existisse, o mar não se
movimentaria e todos morreriam. Mesmo um rio longo e grande, no
final, se junta ao mar. Assim, até um mar gigantesco e profundo se
movimenta através da corrente hukcho. Nosso povo deve se tornar a
hukcho que movimenta o mundo. Deve ser a fonte de energia que
pode concentrar em um lugar a vitalidade do mundo.

1. Corrente marítima que percorre quatro mil milhas por ano pelo Oceano
Pacífico, influenciada pela lua. Não há palavras para expressar a grandeza dessa
força tão gigantesca que movimenta todo o Pacífico. Através da força dessa
corrente, os cinco oceanos se movimentam.

Para achar o lugar que pudesse ser o centro da orla do Pacífico,
visitei o litoral sul e finalmente escolhi as cidades de Yosu e Sun
Chón. A costa do mar de Yosu, onde a água é calma e clara como
um espelho, foi o lugar em que o general Lee Sun Shin obteve uma
grande vitória contra os japoneses e morreu. A cidade de Yosu está
acostada em tal mar histórico e é onde Yong Nam e Ho Nam se
encontram. Portanto, é a terra que guardou a dor do nosso povo
depois que, se encontrando no final da montanha Jiri, no final da
Guerra Civil da Coreia, a esquerda e a direita se enfrentaram.
No vale marítimo de Sun Chón, cidade famosa pela plantação de
junco, há um belo litoral com a mundialmente famosa costa Ria.
Nas águas claras e movimentadas do mar, pode-se pescar todo tipo

de peixe, enquanto no calmo vale crescem algas marinhas e ostras.
No grande mangue há todo tipo de conchas e o polvo de três
pernas. Ir para o mar em um barco, subir as montanhas, o lugar é
tão bonito que nada faltará para que se torne uma base preparatória

para a Era Oceânica que vai chegar.
Agora eu estou explorando a costa sul, centralizado em Yosu. Como


preparação, vivi naqueles lugares rodeado por várias ilhas,
incluindo a ilha Gumun. Pesquei diligentemente, comendo e
dormindo numa pousada simples, e respeitando os nativos como
meus mestres, que lá viviam há dezenas de anos, trabalhando na
lavoura e pescando. Não pesquisei somente por palavras, mas
averiguei com meus próprios olhos e dei cada passo com meus
próprios pés. Assim, pude entender em detalhes "qual tipo de peixe
vive em tal mar, qual rede deve ser utilizada nesse tipo de mar, que
tipo de árvore vive em tal lugar", e até que "naquela casa o velho
paralítico vive sozinho". Consegui conhecer tudo isso.
No dia em que terminei a pesquisa sobre o litoral sul, fui para o
Alasca de avião, junto com o líder daquela vila, que tinha me
ajudado até então. Como ele tinha me ensinado tudo o que sabia,
também queria ensiná-lo tudo o que eu sabia. Pescando junto com


ele, informei-lhe sobre que tipo de peixes vivem no Alasca e como
pegá-los. Mesmo que fosse um pequeno conhecimento, por poder
compartilhá-lo um pouco, meu coração se sentiu tranquilo.
Logo que comecei o projeto Yosu, a cidade foi nomeada para sediar
a Expo Oceano em 2012. A Expo, junto com as Olimpíadas e a Copa
do Mundo, são os três maiores festivais do mundo. Na cidade sede
da Expo, 154 países associados do mundo inteiro organizam todo o
tipo de exposições. Quando isso acontecer, certamente o mundo
focará seu olhar em Yosu, e todo tipo de tecnologia e cultura do
primeiro mundo se reunirá em Yosu de uma vez. Vocês já viram as
nuvens de verão se juntarem com a maior velocidade? Uma vez que
as nuvens começam a se juntar com o vento, de repente elas
atravessam as montanhas e o mar. Elas não hesitam em nada. Assim
como as nuvens se reúnem de repente, o mundo se reunirá em
Yosu, na nossa península coreana.
Estou planejando ligar todas as ilhas da costa sul com uma rodovia
e construir condomínios que dêem infraestrutura para que as
pessoas que vierem do mundo inteiro de navio, possam comer e
dormir lá. Não será um condomínio somente para comer e brincar,
mas um lugar onde, ainda que no mar os americanos, alemães,
japoneses e africanos pesquem em barcos diferentes, eles possam
ficar na mesma casa para comer e dormir. Dessa forma, gostaria que
as pessoas considerassem que toda a humanidade é uma família.
A Era Oceânica é a era espacial, então está próximo o tempo em que
a tecnologia aeronáutica será absolutamente necessária. Será tarde
se quiserem preparar a indústria espacial lá. Por isso, estou
preparando com minhas próprias mãos o desenvolvimento da
industria aeronáutica em Gimpo, em parceria com os internacionalmente
famosos helicópteros Sikorsky. Num futuro
próximo, nós teremos dias em que o helicóptero com a marca
Taeguk voará em todos os cantos do mundo, acima dos mares e dos
céus.


Um Dente-De-Leão Vale Mais que Ouro



Os três maiores problemas da sociedade moderna são relativos à
poluição, ao meio ambiente e à alimentação. Se qualquer um desses
três for deixado de lado, a humanidade será devastada. O planeta
Terra já está prestes a ser destruído. A ambição desmedida pelo
material causou a séria poluição que ameaça a natureza,
contaminando a água e o ar, e até destruindo a camada de ozônio
que protege o ser humano. Se isso continuar, a humanidade se
autodestruirá, caindo na armadilha da cultura do materialismo que
ela mesma construiu.
Venho trabalhando por quase vinte anos em atividades para
proteger e manter a região do Pantanal, no Brasil. O Pantanal está
entre o Brasil, a Bolívia e o Paraguai, e é o maior pântano do
mundo, registrado como Patrimônio Natural da Humanidade na
UNESCO. Estou trabalhando para manter as espécies de seres vivos
do Pantanal do jeito que Deus as criou e protegê-las num
movimento ecológico mundial. O Pantanal, onde o mar convive
com a terra, onde animais e plantações vivem juntos, é um lugar
realmente misterioso. Simples palavras como "bonito" ou
"magnífico" não são suficientes para expressar seu valor. Um dos
livros mais vendidos no mundo por causa de sua beleza é uma
coletânea de fotos aéreas do Pantanal. Essa região é um depósito do
tesouro da humanidade, onde animais preciosos e interessantes
habitam, como o macaco de pescoço branco e rabo enrolado, o
macaco que late, o papagaio, a onça pintada, a sucuri e o caimão.
Os seres vivos do Pantanal e do rio Amazonas têm se mantido vivos
exatamente no estado original do tempo da Criação. O Pantanal é o
ponto de origem da criação de todas as coisas. O ser humano tem
destruído as coisas que Deus criou, e por causa de sua ganância
muitos tipos de animais e plantas estão em extinção. Entretanto, o


Pantanal ainda permanece como a criação original de Deus. Tenho
trabalhado pela restauração da forma original da criação e das
espécies em extinção, criando no Pantanal novas reservas, como por
exemplo, uma reserva de insetos.
Além de ser o habitat de muitos animais e plantas, a região do
Pantanal tem o papel importante de ser a fonte de oxigênio para
todo o planeta. O Pantanal, como "pulmão do planeta", produz a
maior quantidade de oxigênio do mundo, e também é "a esponja da
natureza" e a "reserva de gás estufa". Entretanto, a cada ano esse
ecossistema está sendo destruído pela industrialização desenfreada.
Se a região da Amazônia, que é a maior fonte de oxigênio do
planeta for destruída, a humanidade enfrentará um futuro sombrio.
Os lagos do Pantanal ocupam um território duas vezes maior que o
Japão. No Pantanal há 3.600 espécies de peixes, e entre elas há um
peixe chamado "dourado", que tem a cor do brilho do ouro e alguns
chegam a pesar até vinte quilos. Quando minha vara pegava um
dourado, parecia que meu corpo ia ser puxado para dentro do rio, e
se eu puxasse a vara com toda minha força, o peixe saltava no ar,
com suas escamas cor de ouro cintilando. Ele pode pular assim
várias vezes e ainda lhe sobra força. Sua força é tão grande que não
parece a de um peixe, mas sim a força de um urso ou de um tigre.
Os lagos do Pantanal estão sempre limpos. Mesmo que alguma
coisa seja jogada na água, imediatamente ela volta a ficar limpa. A
razão do rio sempre estar limpo, ainda que caia alguma coisa suja, é
porque ali vive uma variedade de peixes e cada espécie come coisas
diferentes. Os diferentes peixes vivem misturados e comem
qualquer coisa, até o que poderia sujar a água. O ato de se alimentar
tem exatamente a função de limpeza, o que faz com que a água
esteja sempre limpa. Nesse ponto, eles são diferentes do nosso ser
humano. A finalidade da vida dos peixes não é para si. Eles vivem
para os outros, limpando o ambiente e criando melhores condições
de vida.


Se você olhar por baixo da folha de aguapé dos lagos do Pantanal,
pode ver um punhado de bichinhos grudados. Se só existissem
aqueles bichinhos, certamente o aguapé não iria sobreviver, mas
porque há peixes que comem esses insetos, os bichinhos, a aguapé e
os peixes podem viver juntos. Essa é a Criação. Ninguém vive para
si, mas uns vivem para os outros. A natureza ensina essas lições tão
magníficas.
Mesmo que no Pantanal haja inúmeros peixes, se não fizermos nada
além de pescar, a quantidade de peixes certamente diminuirá. Para
proteger as espécies, temos que criá-las. Quanto maior a
preciosidade dos peixes do Pantanal, mais criadouros têm que ser
feitos. Não se trata somente de criar peixes, mas também criar
insetos, pássaros e até animais. A criação de insetos é para que mais
pássaros possam viver neste mundo. Porque o Pantanal é o lugar
onde se pode criar todas essas coisas, ele é muito precioso.
Não há só peixes no Pantanal. Na beira do rio há muitos pés de
abacaxi, banana e manga. Nas plantações de arroz na terra, e não na
água, o grão cresce bem e pode ser colhido três vezes por ano. A
terra é assim, fértil, e se jogamos a semente da soja e do milho, elas
crescem bem sem precisar de muita mão de obra. As emas andam a
passos largos nos vastos campos. A ema tem tanta força que é capaz
de carregar até um ser humano nas costas.
Um dia, eu estava descendo o rio Paraguai de barco e entramos em
uma casa ribeirinha. O lavrador que morava naquela casa percebeu
que tínhamos fome e então arrancou uma grande batata-doce, do
tamanho de uma melancia. Dizem que, se for arrancada uma vez e o
pé for mantido, a batata-doce continua a produzir por vários anos.
Mesmo que você não replante, todo ano pode comer batata-doce, e
por isso minha vontade era expandir essa batata-doce para os países
onde falta comida.
As pessoas querem explorar o pântano com visão econômica;
entretanto, preservando o próprio pântano, o Pantanal já tem
suficiente valor econômico. Lá existem matas fechadas de um


pinheiro escuro, cujo cerne é tão compacto que mesmo que
finquemos um prego nele, ele pode se manter vivo por mais de cem
anos. Essa árvore se chama aroeira, uma madeira nobre que não
apodrece facilmente. Dizem que ela é mais duradoura que o ferro.
Imagine a cena de uma floresta formada por essas grandes e
preciosas árvores. No Pantanal, plantei árvores em um terreno de
400 hectares. Com as árvores plantadas por nossos membros,
certamente o lugar ficou mais bonito, e o oxigênio abundante
daquelas árvores sem dúvida enriquecerá nossas vidas.
Destruir a natureza é egoísmo do ser humano. Atualmente, o meio
ambiente está tão destruído que é até difícil respirar, tudo por causa
da ganância do ser humano, querendo ter um sucesso mais rápido e
maior que os outros. Daqui para a frente, porém, não podemos mais
permitir que o planeta continue a ser destruído. Os religiosos têm
que tomar a dianteira para salvar a natureza. A natureza é a criação
de Deus e um presente dado para a humanidade. Não podemos
mais adiar o despertar das pessoas para que sintam o valor da
natureza, e restaurarmos o ambiente a seu estado livre e abundante
como no tempo da Criação.
Revelado o fato de que o Pantanal é a reserva do tesouro natural,
começaram as brigas com relação à posse daquelas terras. Um lugar
que deveria ser protegido e cuidado está começando a dar sinais de
que pode virar o campo de batalha dos seres humanos gananciosos.
Há dez anos, chamei os líderes do mundo inteiro para o Pantanal
para discutir sobre as leis de proteção do meio ambiente e sobre o
cuidado com o planeta. Reunindo doutores e especialistas em meio
ambiente de todo o mundo, venho pedindo a eles que tenham
interesse e amor pelo Pantanal. Tenho me mantido como um vigia
para que o Pantanal não seja destruído pela ganância e pelo desejo
impiedoso do ser humano.
Com o agravamento da questão ambiental, surgiram muitas
entidades defensoras do meio ambiente. Entretanto, o melhor
movimento de proteção ao meio ambiente é a proteção espiritual


que transmite amor. O ser humano gosta e protege qualquer coisa
que pertence a quem ele ama. Entretanto, ele não sabe amar e
proteger a natureza que Deus criou. Deus criou a natureza para o
ser humano. Através da natureza obtém-se comida e uma vida de
bem-estar, tudo isso é a vontade de Deus. A natureza não é
descartável, depois que eu a uso não posso jogar fora. A natureza é
um suporte do qual nossos descendentes, geração após geração,
continuarão a tirar comida e da qual sempre serão dependentes.
O caminho mais curto para cuidar e proteger a natureza é fazer a
humanidade ter amor por ela. O ser humano tem que ser sensível a
ponto de derramar lágrimas só de olhar uma plantinha na rua. Tem
que ter a sensibilidade para chorar abraçado a uma árvore. Em uma
pedra, até dentro de uma rajada de vento, existe o amor de Deus.
Portanto, amar e cuidar da natureza é o mesmo que amar a Deus.
Devemos sentir todas as coisas que Deus criou como nossos objetos
de amor. Mesmo uma obra de arte muito magnífica em um museu
não tem mais valor que as obras vivas de Deus. Um dente-de-leão
pisoteado na terra tem mais valor que a coroa de ouro da Dinastia
Shilla.

Uma Sábia Solução para o Problema da Pobreza e
da Fome


Quem nunca passou fome não conhece bem Deus. Quando sentir
muita fome, essa é uma chance para se aproximar de Deus.
Enquanto alguém está passando tome, sente que qualquer pessoa
que passa na sua frente pode ser sua mãe ou sua irmã mais velha. E


espera que qualquer um possa ajudar. Diante dessa situação, todo
mundo tem que ter um coração de piedade.
A fome não é um problema só dos países subdesenvolvidos, como

os africanos. Quando cheguei à América, a primeira coisa que fiz foi
arrumar um caminhão que pudesse distribuir alimentos para os
pobres. Até nos EUA, a nação mais rica do mundo, há pessoas
morrendo de fome, então imagine quão miserável é a situação dos
que se encontram nas nações pobres. Em minhas viagens pelo
mundo inteiro, vi que a maior ameaça é a questão do alimento. O
problema da alimentação é um que não pode ser adiado nem mais
um segundo. Ainda hoje, no mundo onde nós vivemos, vinte mil
pessoas morrem de fome por dia. Não podemos ignorar essa
questão simplesmente porque não acontece comigo ou com meus
filhos.

Não é a simples distribuição de alimentos que pode resolver o
problema da fome. É preciso se aproximar da questão mais
fundamental. Penso que há duas maneiras fundamentais e praticáveis.
Uma é fornecer alimentos o suficiente e a preços baixos.
Outra é distribuir a tecnologia que possa superar a pobreza.
No futuro, o problema dos alimentos trará uma séria crise, porque o
que é produzido na terra não é suficiente para alimentar toda a
humanidade. Por isso, temos que buscar a solução no mar. O mar
tem a chave que vai solucionar o problema da alimentação no
futuro. Aqui está a razão por que há dezenas de anos venho
trabalhando incessantemente no mar. Se não solucionarmos o
problema da alimentação, não poderemos construir o mundo
pacífico ideal.
No Alasca, todos os pescados com menos de quinze polegadas são
utilizados para fazer adubo. É um alimento muito rico, mas como
não sabem prepará-lo, simplesmente fazem adubo desses peixes.
Até 20 ou 30 anos atrás, quando pedíamos rabo de boi, os ocidentais
nos davam de graça. Eles não conheciam o que nosso povo gosta de


comer, como osso e fressura do boi. A mesma coisa acontece com os
peixes. Mais de 20% dos peixes pescados no mundo são
desperdiçados. Toda vez que ouço isso, meu coração dói pensando
nas pessoas que estão morrendo de fome na África. O peixe tem boa
proteína, mais que a carne bovina. Como seria bom fazer gelatina
ou linguiça de peixe para distribuirmos na África!
Pensando nisso, comecei ativamente a conservar peixes e produzir
derivados. Você pode pescar bastante peixe, mas se não tomar os
devidos cuidados depois, tudo será em vão. Ainda que um bom
peixe se mantenha fresco, sua validade não é maior que oito meses.
Mesmo que o congele no freezer, penetra ar entre o gelo e a umidade
da carne é perdida. Recolocar o peixe na água e pôr para gelar, faz
ele perder seu sabor original, e na verdade passa a ser uma coisa
que não presta. Nós tivemos sucesso em fazer farinha com os peixes
que eram desperdiçados. Nós fizemos o que nem os países de
primeiro mundo, como a Alemanha e a França, conseguiram.
Nós chamamos isso de farinha de peixe, ou seja, fish-powder.
Transformando o peixe em farinha, ele pode ser facilmente conservado
e transportado até sob o calor da África. Fish-powder tem
90% de proteína de alta qualidade. Com isso, poderemos salvar a
humanidade que está morrendo de fome.
Com fish-powder, até podemos fazer pão. Os peixes que estavam
pulando se transformam em farinha dentro de dez minutos. Assim,
fish-powder fresco está sendo fornecido para Ruanda, Croácia,
Albânia, Afeganistão, Sudão, Somália etc. e está matando a fome
das pessoas. Com o aumento das encomendas de fish-powder,
queremos construir mais fábricas de produtos derivados de peixe.
No fundo do mar há muitos alimentos, mas a chave para salvar a
humanidade do problema dos alimentos é criar peixe. No futuro
haverá prédios de criação de peixes, como os edifícios das grandes
cidades. Com a utilização de canos, será possível criar peixes até em
prédios altos em cima das montanhas. Com a piscicultura,


poderemos produzir para alimentar todas as pessoas do mundo e

ainda vai sobrar.
O mar é uma fortuna dada por Deus. Quando vou para o mar, me
concentro completamente na pescaria e meu rosto fica todo preto de
tão queimado. Pesquei até o tubarão, esturjão e peixe espada. A
razão de eu mesmo pescar é exatamente para ensinar minha
maneira de pescar para as pessoas que não sabem. Levei os sul-
americanos que não sabiam pescar, indo juntos ao rio em um barco
durante meses e os ensinei como pegar os peixes. Para mostrar e
ensiná-los, eu mesmo desembaraçava as linhas, o que me tomava
três, quatro horas para arrumar.
Para produzir alimentos suficientes a um baixo preço, é necessário
explorar o mar e os grandes campos que ainda estão abandonados
como matas fechadas, que são a reserva do último tesouro da
humanidade. Entretanto, falar é mais fácil que fazer. Somente
poderá fazê-lo quem ficar naquele lugar úmido e tão quente onde é
até difícil mexer o corpo, e será imprescindível um dedicado esforço
e doação. Explorar os vastos campos da região tropical não é
possível sem ter o comprometimento e o entusiasmo dos que amam
a humanidade.
Jardim, no Brasil, é um lugar muito incômodo para se viver. O clima
é muito quente e inúmeros insetos de nome desconhecido picam
seu corpo sem dó. Naquele lugar, me tornei amigo dos pássaros e
vivi fazendo amizade com as cobras, e nem calçava os sapatos.
Descalço, com os pés na terra vermelha de Jardim, minha aparência
era a de um perfeito lavrador. Eu, que pescava os peixes do rio, era
exatamente um pescador. Somente depois de ouvir as palavras:
"Oh, ele é o verdadeiro lavrador, o verdadeiro pescador!", aí você
poderá explorar as terras virgens. Esse trabalho não será possível
para quem quer dormir oito horas por dia em um lugar limpo e
confortável, comer três refeições sem falta e descansar deitado na
fresca sombra de uma árvore.


Foi na época do começo do trabalho no Paraguai. Nós compramos
uma casinha tão pequena que mais parecia uma casca de siri, e lá
vários membros viviam juntos conosco. Só havia um banheiro para
todos, então de manhã todos tinham que fazer filas.
Nessas situações, também levantava às três horas da madrugada,
me exercitava sem falta e ia pescar. Assim, os membros que estavam
comigo realmente sofreram demais. Na madrugada, eles
preparavam as iscas sem conseguir abrir os olhos direito. Às vezes,
para pegarmos o barco, precisávamos passar por várias fazendas de
gado de outras pessoas. No escuro, eles tinham que abrir a porteira
trancada, e como não conseguiam abrir rápido, eu esbravejava: "O
que você está fazendo?"
Até me assustava com um grito tão forte e amedrontador.
Realmente, nossos membros devem ter passado por muita dificuldade,
mas eu tinha tanta pressa que não podia perder nem um
minuto, nem um segundo. Não havia nem um milésimo de segundo
que pudesse ser desperdiçado. Até a chegada do mundo pacífico,
minha cabeça estava cheia de coisas para fazer; era como os recibos
saindo numa caixa registradora, meu coração tinha muita pressa.
Ao pescar no rio na madrugada ainda escura, um monte de
pernilongos se aproximavam. O ferrão do pernilongo era tão forte
que atravessava a calça jeans e me picava sem dó. Como era antes
do amanhecer, não enxergava a boia e para pescar amarrava a vara
com um plástico branco. Apesar disso, meu coração estava tão
apressado que eu não podia esperar até o amanhecer.
Ainda tenho muita saudade de Jardim. Quando fecho os olhos, é
como se aquele calor de Jardim grudasse no meu rosto. Tenho
saudade de todas as coisas de lá. A dificuldade que o corpo
experimenta não é nada. O sofrimento que o corpo experimenta
pode desaparecer rapidamente, o mais importante é a felicidade no
coração. Jardim me fez feliz.


Não Dê o Pão, Ensine Como Fazê-Lo



Para solucionar o problema da fome no mundo, primeiro temos que
ter o coração de semear. A semente enraíza dentro da terra. Ela tem
que esperar pacientemente embaixo da terra, sem aparecer, o tempo
necessário para brotar. A solução para a fome não é diferente. Para
a pessoa que está morrendo de fome, melhor é ensinar como semear

o trigo, colher e fazer o pão, do que só dar o pão, mesmo que na
hora isso seja difícil. Dessa forma, a fome pode ser solucionada na
raiz e de maneira mais duradoura. A partir de agora, nós
precisamos pesquisar todos juntos o clima, a terra e o perfil das
regiões que sofrem com a fome.
Na África existe o pé de manchuka. O povo do Congo engorda os
bois para a venda com a nutritiva folha da manchuka. Até as pessoas
comem essa folha, amassando no pilão com óleo e fritando a massa.
Poderíamos plantar muitos pés de manchuka, retirando a raiz
venenosa e o pé inteiro se transformaria em farinha para fazer pão.
Também há o tucam-já2, que brota muito rápido e pode ser colhido
três vezes mais que outros tubérculos. Assim o problema da fome

poderá ser resolvido.

As terras em Jardim são muito férteis porque são fertilizadas pelo
minhocaçu. Esse minhocaçu é bastante criado na região de
Campinas, São Paulo, então ele poderia ser bem analisado para
pesquisar suas características e ser criado em outros lugares, na
lavoura. Existem coreanos vivendo até na região do Mato Grosso,
criando o bicho da seda. Da criação do bicho da seda, obtém-se o

2. Forma parecida à da batata-doce.

caro tecido e vitaminas que podem ser vendidas para comprar

outros alimentos.
Não existe uma maneira radical para solucionar de uma vez o


problema da fome no mundo, porque cada nação tem diferentes
hábitos e preferências alimentares, e a fauna e a flora também são
diferentes. O mais importante é o interesse pelos outros. Na hora de
encher minha barriga, tenho que olhar primeiro se alguém está
passando fome. Se a humanidade não solucionar o problema da
fome, não haverá a verdadeira paz neste mundo. Falar de paz
enquanto o próximo morre de fome não passa de uma vaidade.

Oferecer a técnica para autossuficiência de alimentos é tão
importante quanto a distribuição de alimentos em si. Para ensinar a
técnica, é preciso construir escolas nos lugares subdesenvolvidos e
passar esse ensinamento junto com a alfabetização, e assim
imediatamente o trabalho para autossuficiência vai surgir. Os
ocidentais que dominaram o continente Africano e a América do Sul
não ensinaram a tecnologia para os nativos. Eles levaram a matéria-
prima da terra local e os nativos foram utilizados como escravos.
Não os ensinaram como plantar, como manufaturar, isso foi errado.
Há muito tempo que nós criamos escolas para ensinar a técnica da
lavoura e da indústria em lugares como Zaire, Congo, Guiana,
Paraguai e Brasil etc.
Outro problema das pessoas famintas é contrair doenças e, por
causa da pobreza, não ter tratamento médico adequado. Do outro
lado do planeta, no primeiro mundo, as pessoas ficam doentes por
excesso de remédios, enquanto os esfomeados morrem sem ter um
simples remédio para diarreia ou gripe. Portanto, ao mesmo tempo
que se promovem campanhas pelo fim da fome, deve haver o apoio
de atendimento médico. É necessário criar postos de atendimento
médico gratuito, para cuidar das pessoas que estão sofrendo com
problemas de saúde crônica.


Como modelo de convivência pacífica para toda a humanidade,
criei a Fazenda Nova Esperança, na região de Jardim. É uma
fazenda de grandes plantações e no alto há pastos para criação de
gado. A Fazenda Nova Esperança fica no Brasil, mas não é somente
para os brasileiros. Qualquer pessoa que sentir fome pode chegar à
Fazendo Nova Esperança para trabalhar e terá alimento. Há
acomodação para duas mil pessoas das cinco raças do mundo
comerem e dormirem. O Instituto Educacional será estabelecido do
ensino fundamental até a faculdade, para ensinar como plantar e
criar gado. Ensinaremos como plantar árvores, como pescar e
produzir derivados e até a vender. Não se trata apenas de fazer
lavouras, mas também de criar peixes utilizando os lagos próximos
e pescá-los.
A região do Chaco, no Paraguai, ocupa 60% do território nacional.
Essa região esteve abandonada por muito tempo. O

Chaco é uma terra emersa do mar, por isso, se você cavar ainda sai
água salgada. Entrei no Paraguai com mais de 70 anos de idade. Os
nativos que há muito tempo moravam naquela terra abandonada
levavam vidas muito miseráveis. Olhando a situação deles, meu
coração sentia tanta dor que não dá para explicar com palavras.
Sinceramente tinha vontade de ajudá-los, mas eles não queriam me
aceitar porque minha língua e a cor da minha pele eram diferentes.
Porém, não desisti. Durante três meses navegando pelo rio
Paraguai, comi e dormi junto com as pessoas da região. O que todo
mundo disse que era impossível comecei a fazer com setenta anos.
Nenhum deles sabia usar uma vara de pescar. Ao me verem pegar
os peixes com a vara, eles ficaram espantados e se aproximaram de
mim. Então lhes ensinei como usar a vara e eles me ensinaram sua
língua. Assim, durante três meses no barco, nós ficamos amigos.
Quando eles abriram seus corações, expliquei-lhes repetidamente a
razão pela qual o mundo tinha que se tornar um. No início, a reação
deles foi de dúvida, entretanto, ano após ano, a situação do povo de


Chaco começou a mudar. Agora, passados dez anos, mudou tanto
que eles até realizaram o Festival Global da Paz com um caloroso
coração.
O rio Paraguai é muito fundo e largo, igual a um mar. Lá, pesquei
dentro de um grande barco. O povo de Chaco, que passava fome e
não sabia o que fazer, agora sabe pescar e consegue sobreviver. Eu
pescava tantos peixes que eles podiam até perder a validade se não
fossem bem cuidados, por isso construí um freezer na beira do rio.
Também construí uma fábrica de fish-powder. Aqueles que têm
medo de navegar trabalham no congelamento e ajudam na venda.
Eles não precisam mais ficar em desespero ou sofrer pela falta de
alimento.
Porém, solucionar apenas o problema do alimento não trará a paz
imediatamente. Depois de solucionar a questão da fome, não há
dúvidas que é preciso ensinar sobre a paz e o amor. Construí
escolas em vários lugares, como em Jardim e em Chaco. No início, o
povo local não mandava seus filhos para a nossa escola, em vez
disso os mandava cuidar do gado. Agora, porém, o número de
alunos aumentou bastante porque continuamente procuramos
convencê-los, com a justificativa de que mesmo que fosse bom
brincar e se tornar amigo do gado, se as crianças não tivessem
nenhuma escolaridade, não poderiam se desenvolver. Quando o
resultado na criação de gado foi bom, criamos as fábricas de
indústria leve, que produzem com tecnologia mais simples, e então
os estudantes se esforçam para frequentar a escola, pois querem
trabalhar nessas fábricas.
As pessoas que estão morrendo de fome ao redor do mundo são
responsabilidade de todos nós. Devemos ficar na linha de frente
para salvar as pessoas que estão morrendo de fome. Com nosso
dever bem claro, devemos alimentá-los. As pessoas que vivem bem,
precisam olhar para baixo para que as pessoas pobres possam viver
melhor, e assim temos que criar um mundo em que todos possam
viver bem.


Jovens! Se Estabelecerem uma Meta, Suas Vidas


Serão Diferentes



Quando encontramos uma pessoa pela primeira vez, perguntamos:
"Quem é você?" Deus também nos pergunta assim. Ele fica muito
contente quando ouve uma resposta: "Eu sou um jovem!" Por que
será? Porque a época mais bonita e importante na vida é a
juventude. A juventude deve se tornar uma base para o
estabelecimento seguro do futuro, a pedra fundamental para a nova
era.
Entretanto, é cada vez mais difícil achar esse entusiasmo entre os
jovens modernos. Cada vez mais aumenta o número de jovens
dignos de pena, que vagam sem rumo para lá e para cá, sem
descobrir qual a finalidade da vida. Todos os grandes líderes da
história definiram claramente, desde pequenos, seu objetivo de
vida. Pela vida inteira eles guardaram aquele objetivo estabelecido
em seus corações quando eram pequenos, e viveram lutando para
conquistá-lo. Dormir, acordar, encontrar os amigos, todas as
atividades eram uma preparação para o futuro. É esse tipo de vida
que vocês realmente estão vivendo?
Nós todos fomos criados para sermos pessoas magníficas. Nenhum
de vocês nasceu neste mundo sem um significado. Deus nos criou
colocando todo o Seu amor, então quão magníficos nós somos?
Como Deus existe, podemos fazer qualquer coisa.
Amando Deus, me transformei em uma pessoa completamente
diferente. Tornei-me uma pessoa que ama mais a humanidade que a
si próprio, e que primeiro pensa no sofrimento da humanidade do
que no meu sofrimento ou no da minha família. Também procurei
amar todas as coisas que Deus criou. Amei as árvores da montanha,
e olhei com o coração do amor até os peixes na água. Fiquei bem
atento para sentir a mão de Deus em todas as coisas do mundo.


Por um lado, com meu coração focado no amor de Deus, tentei
fortalecer meu corpo e me preparar para cumprir completamente
minha responsabilidade. Preparei-me para que, a qualquer
momento que Deus me chamasse, estivesse pronto para atender na
hora. Praticando futebol, boxe, arte marcial coreana e até o Won Hwa
Do que eu mesmo criei, preparei meu corpo. A arte marcial Won
Hwa Do movimenta o corpo suavemente e de forma circular, como
se estivesse dançando; utilizando esse princípio, o movimento
circular gera mais força que o movimento em linha reta.
Ainda começo o dia com um alongamento que relaxa todos os
músculos e articulações e com a respiração que eu mesmo inventei.
Às vezes, quando estava em turnê mundial e não tinha tempo para
me exercitar, fazia os exercícios utilizando até o tempo de ficar no
banheiro. Quando eu era jovem, trinta minutos por dia eram
suficientes, mas conforme fui ficando mais velho, o tempo de
exercício aumentou para uma hora por dia.

No ano passado, sofri um acidente, o helicóptero em que estava
caiu. O helicóptero de repente entrou no meio de uma negra
tempestade e caiu em cima de uma montanha. A aeronave estava
virada de cabeça para baixo, então meu corpo, preso pelo cinto de
segurança, também ficou de ponta-cabeça. Naquele momento,
segurei bem os dois lados da poltrona. Se eu relaxasse no exercício
diário, naquela hora, pendurado de cabeça para baixo, certamente
minha coluna teria se quebrado. O corpo é como um recipiente em
que o espírito sadio é colocado, por isso você nunca pode deixar de
treinar seu corpo.
A maioria dos estudantes vai à escola não é porque gostam de
estudar. Eles vão à escola porque os pais mandam, não porque
desejam estudar. No início, todas as coisas são assim; entretanto,
conforme passam o tempo frequentando a escola, sem perceber eles
começam a sentir gosto pelo estudo. A partir daí, começam a
estudar por conta própria e a procurar o caminho que devem
seguir. Assim, começam a entender sobre a vida.


Porém, os pais não sabem esperar seus filhos amadurecerem e
implicam com eles: "Estude! Por favor, estude com mais ânimo!" Por
que eles fazem isso? Porque entendem bem que para se preparar
para o futuro tem que estudar. Os pais se preocupam que talvez
seus filhos percam o tempo de estudo e encarem o futuro
despreparados.
Entretanto, para se preparar para o futuro, mais importante que
estudar é estabelecer um objetivo de vida. Em vez de ser empurrado
de qualquer jeito para os estudos, o jovem tem que primeiro definir

o que gostaria de fazer no futuro e perceber por si mesmo como
pode se tornar alguém útil. A maioria dos jovens de hoje está
amarrada aos estudos, sem estabelecer um objetivo de vida.
Certo dia, perguntei para um estudante que estava se dedicando
bastante ao inglês: "Para que você tanto estuda inglês?" Então ele
me respondeu: "Para entrar na faculdade".
Que resposta imbecil! A faculdade não é o objetivo final. A
faculdade é um lugar onde se pode obter estudo para realizar um
objetivo de vida; ela mesma não pode ser o objetivo da vida. A sua
meta tampouco pode ser quanto dinheiro você quer ganhar. Até
agora, eu nunca recebi nenhum centavo de salário, mesmo assim
estou bem e nunca me faltou comida. O dinheiro é um meio para
fazer alguma coisa, jamais pode ser uma meta. Quando você ganha
dinheiro, precisa de alguma coisa com que gastar. Sem um objetivo,
apenas com o dinheiro em mãos, rapidamente ele desaparece em
vão. A profissão tem que ser definida completamente de acordo
com sua habilidade e gosto. Seu coração tem que definir, quer seja
ser um bombeiro, um agricultor, um jogador de futebol ou até um
político. O que gostaria de pedir para vocês é uma história que vá
além da profissão. O que questiono é que tipo de vida você gostaria
de levar depois de se tornar jogador de futebol, e como você quer
viver se tornando um agricultor.
Estabelecer um objetivo de vida é definir o significado da vida que
cada um quer ter. Se você quer ser um agricultor, tem que

estabelecer como objetivo de vida, testar novas maneiras de cultivo
para obter melhores produtos e resolver o problema da fome da
humanidade. Se quiser se tornar um jogador de futebol, tem que
estabelecer como objetivo de vida, elevar o nome da sua nação para

o mundo e desejar ajudar as crianças sem condição econômica para
serem jogadores, criando uma escolinha de futebol para estimular o
sonho delas. Para se tornar um jogador mundialmente famoso, terá
que passar por um severo treinamento, até derramar lágrimas de
sangue. Entretanto, se dentro de seu coração não estiver
estabelecido um claro objetivo de vida, você não aguentará o árduo
treinamento para chegar ao topo do mundo. Somente depois de
estabelecer um objetivo de vida, surgirá em você a força para se
manter e você terá uma vida diferente dos outros.
Um Líder Global É Aquele que Abraça o Mundo


Estabelecer um objetivo de vida é igual plantar uma árvore. Se você
plantar uma anáfega no quintal de sua casa, terá um fruto de
anáfega. Se plantar uma macieira atrás da sua casa, você terá maçãs.
Dependendo de qual objetivo você estabeleceu e onde o plantou,
pode ser um pé de anáfega em Seul ou uma macieira na África. É
claro que também pode se tornar um coqueiro no sul do Oceano
Pacífico. Como a árvore frutífera que você plantou, seu objetivo de
vida dará frutos no futuro. Então por favor, sempre estabeleça um
objetivo pensando em qual lugar aquele fruto seria melhor colhido.


Quando estabelecer um objetivo de vida, sempre deixe seu coração
aberto e não deixe de olhar para o mundo inteiro. Olhar a África, de
sofrimento permanente por causa da pobreza e da doença, olhar
Israel e a Palestina, que vivem apontando armas um para o outro
por questões religiosas, e também olhar o Afeganistão, que
sobrevive com dificuldades plantando papoula, matéria-prima de
droga. Veja também os EUA, que colocaram a economia do mundo
no fundo do poço, com ganância e egoísmo extremos, e também
olhe para a Indonésia, que continua sob catástrofes naturais como
terremotos e ondas gigantes.

Coloque-se no meio daqueles países e pense, por favor, em qual
nação, em qual situação eu poderei ser útil. Talvez na índia, onde há
novos conflitos religiosos. Talvez seja em Ruanda, que sofre com o
clima seco e a fome.
Para estabelecer o objetivo de suas vidas, espero que vocês não
cometam o erro de reclamar tolamente do pequeno território da
Coreia. Dependendo do que vocês fizerem, a Coreia pode expandir
seu território para onde quiser, talvez até as fronteiras possam
desaparecer. Se nós ajudarmos a África, lá será a nossa nação.
Considere o mundo quando for procurar o que você precisa fazer.
Talvez vocês possam descobrir muito mais coisas do que sonharam
até agora. Por favor, coloque sua única vida em uma função que o
mundo precisa. Quem não se aventura não chega à ilha do tesouro.
Então, por favor, espero que vocês estabeleçam o objetivo de suas
vidas com o pensamento no mundo, transcendendo nossa nação.
Na década de 80, mandei os universitários da Coreia para o Japão e
para os EUA. Queria lhes mostrar um mundo maior e diferente, que
eles saíssem um pouco da sua pátria, onde bombas de gás
lacrimogêneo eram soltas todos os dias. Um sapo dentro do poço
não percebe que existe um mundo bem maior fora dali.
Eu sonhava com o mundo globalizado antes mesmo de conhecer a
palavra globalização. A finalidade de ter estudado no Japão era


exatamente para conhecer um mundo maior. Depois da
Independência, eu quis ser empregado na Companhia Elétrica da
Manchúria, em Hailar, e estudar a língua mongol, o mandarim e o
russo, justamente para viver como cidadão do mundo. Eu continuo
viajando pelo mundo de avião. Mesmo ficando cada dia em um
país, seria preciso gastar mais de meio ano para visitar o mundo
inteiro.
Há pessoas vivendo em todo lugar do mundo, mas cada pessoa vive
uma situação diferente. Há países que não têm água nem para
cozinhar, e há outros que têm água demais. Existem lugares que não
tem energia elétrica, mas há lugares que não conseguem gastar toda
a energia produzida. É comum no mundo sobrar em um lugar e
faltar no outro. A questão é que faltam pessoas que ocupem a
função de distribuir de maneira justa o que sobra e o que falta.
Até com a matéria-prima é o mesmo. Há países com muitas reservas
de carvão e ferro. Nem é preciso cavar a terra para pegar o minério,
basta pegar o carvão, que forma morros, com uma pá. Contudo, a
Coreia não tem carvão nem ferro. Para que a Coreia obtenha um
pouquinho de antracito, é preciso cavar dezenas de metros em
minas subterrâneas, colocando vidas em risco.
Não é diferente com a tecnologia. Na África, onde a bananeira nasce
naturalmente, as pessoas não passariam fome se pudessem comer
banana à vontade, mas mesmo assim, sofrem com a fome por não
ter a tecnologia para cultivar a fruta e para colher uma grande
quantidade de bananas. Na Coreia, cujo clima não é adequado para
a banana, cultivamos essa fruta maravilhosamente. Nossa
tecnologia poderá ajudar bastante na solução da falta de alimentos
na África. Será o mesmo de quando nós resolvemos o problema da
fome na Coreia do Norte, com a técnica para o cultivo do milho.
Recentemente, o termo "líder global" virou moda. Muitos dizem
querer ser líderes globais e aprendem a falar inglês fluentemente.
Na verdade, o caminho para se tornar um líder global não depende
de saber inglês. O inglês é simplesmente uma ferramenta de


comunicação, pois o verdadeiro líder global é aquele que abraça o
mundo. Sem nenhum interesse na questão do mundo, apenas com a
capacidade de se comunicar em inglês, ninguém se tornará um líder
global.
Um líder global tem que possuir o espírito pioneiro, aquele que
pensa no problema do planeta como se fosse seu problema e que
deseja resolvê-lo. Não será um verdadeiro líder global quem desejar
uma vida tranquila, dependendo de salário fixo ou de
aposentadoria ou uma vida confortável no lar. Somente se tornará
um líder global aquele que, sem saber o que vem no seu futuro,
sentir o mundo como seu próprio país, e toda a humanidade como
se fossem seus próprios irmãos.
O que são irmãos? Por que Deus nos deu irmãos? Os irmãos
simbolizam toda a humanidade. Dentro do nosso lar, através da
experiência do amor fraternal, nós aprendemos a amar a humanidade
e amar nosso próprio povo. Dessa forma, o coração de
amor pelos irmãos e pelas irmãs se expande. A cena de uma família
que se ama é a mesma cena de toda a humanidade se unindo em
harmonia e amor. O amor fraternal é justamente aquele em que,
ainda que eu sinta fome, deixo a comida para meu irmão. Um líder
global não é outro, senão quem pratica o amor fraternal por toda a
humanidade.

A expressão "aldeia global" já se tornou um termo ultrapassado. O
planeta já se tornou uma esfera de vivência única. Alguns
estabelecem como meta de vida se formar, depois entrar em uma
empresa com um alto salário e viver tranquilamente. Se sua meta de
vida é assim, você poderá ter o sucesso do tamanho de um
cachorrinho. Entretanto, ao arriscar sua vida na linha de frente para
ajudar os refugiados de guerras na África, você terá um sucesso do
tamanho de um tigre. A escolha depende de cada coração.
Eu ainda viajo pelo mundo. Nem um dia posso descansar. No
mundo, assim como os seres vivos, surgem problemas que mudam


a toda hora. Procurei por todos os cantos do mundo, lugares
sombrios onde tais problemas existem. O lugar que procuro não é
onde há beleza ou conforto, mas me sinto feliz quando fico nos
lugares solitários, escuros e difíceis.
Desejo que em nossa nação apareçam muitos líderes globais de
verdadeiro significado. Espero pelo surgimento de um líder político
que possa conduzir a ONU e também que surja um líder
diplomático que impeça os confrontos nas regiões de conflito.
Desejo que surja uma líder como Madre Teresa, que salve as
pessoas pobres que vagam pelas ruas e morrem. E também que
surjam líderes da paz como eu, que desenvolvam um mundo novo e
desbravem a terra e o mar que as pessoas abandonaram. Esse
trabalho começa justamente em sonhar e estabelecer um objetivo de
vida. Então, sinceramente lhes peço que, com o espírito de aventura
e pioneirismo, vocês se tornem os líderes globais da humanidade e
que estabeleçam um objetivo de vida significativo, com um sonho
que os outros não sonharam.

Todas as Coisas do Mundo São Emprestadas do
Céu


As pessoas do mundo dizem que sou rico e milionário, mas elas não
sabem o que falam. Apesar de ter trabalhado arduamente em toda a
minha vida, não tenho nenhuma casa no meu nome. Nem tenho
patrimônios no nome da minha esposa ou dos meus filhos. Os
adultos normalmente têm um carimbo de assinatura, nem isso eu
tenho.


Alguém pode me perguntar qual recompensa tive por ficar sem
dormir quando todos dormiam, sem comer enquanto todos estavam
comendo e sem descansar enquanto os outros descansavam. Porém,
não trabalhei para ficar rico. O dinheiro para mim não significa
nada. Aquele dinheiro, se não for utilizado para a humanidade e
para o próximo que está morrendo de fome, para mim não passa de
um pedaço de papel. O dinheiro ganho no trabalho árduo,
obviamente deve ser utilizado para amar a humanidade e para
atividades em benefício do mundo.
Mesmo quando enviava missionários para o exterior, não lhes dava
muita coisa. Ainda assim, nossos missionários ficavam bem em
qualquer lugar do mundo. Para comer e beber só são necessários
utensílios básicos. Eles conseguiam viver ainda que só carregassem
um saco de dormir. O importante não é com o que se vive, mas
como se vive. A abundância material não é pré-requisito para uma
vida feliz. É uma pena que a expressão "viver bem" tenha se
transformado em abundância material. Viver bem significa viver a
vida.
A não ser nos dias de culto ou em alguma cerimônia especial, não
gosto de usar gravata. Não me visto com toda a pompa usando traje
social com frequência. Quando fico em casa, normalmente visto um
suéter. Às vezes, penso em quanto dinheiro o mundo ocidental
gasta com gravatas. Além disso, quão caro é o prendedor de
gravata, a camisa e os botões dos punhos? Se todas as pessoas que
usam gravatas deixassem de gastar dinheiro com isso e utilizassem
esse montante para ajudar o próximo que está passando fome,
certamente o mundo seria um lugar melhor para se viver. Não é
somente uma questão do preço das coisas. Pense bem, se agora
estiver pegando fogo lá fora, quem poderá correr primeiro para
ajudar, as pessoas que vestem suéter ou as que usam traje social e
gravata? Sempre estou pronto para correr.
Eu também não concordo em tomar banho diariamente. Tomar
banho a cada três dias é suficiente. Tampouco troco as meias todos


os dias. À noite, tiro as meias e coloco no bolso detrás da calça, para
reutilizá-las no dia seguinte. Quando fico em hotéis, entre as toalhas
no banheiro, só uso a de rosto.
Só dou descarga depois de fazer xixi três vezes. O papel higiênico,
uso uma folha dobrada em três. Não vejo problema se me
chamarem troglodita e não civilizado por causa disso. Tenho a
mesma atitude até com a comida. Em toda a minha vida, nunca
comi mais de três acompanhamentos diferentes em uma refeição.
Mesmo que minha mesa esteja cheia de pratos e muitas sobremesas,
não gosto de tocar tudo. Eu também não gosto de comer uma tigela
de arroz cheia, para mim três quintos são suficientes.
O sapato que gosto de usar todos os dias, comprei por 49 mil won,
em uma promoção na Coreia, ele já está com mais de cinco anos. A
comida que normalmente como na América é a do McDonalds.
Normalmente os ricos não comem isso, dizendo que é junkfood,
porém gosto de comer no McDonalds por duas razões: é barato e
também é rápido. Quando como fora de casa junto com as crianças,
sempre procuro um McDonalds. Não sei quem avisou que eu
frequentava o McDonalds, mas todo fim de ano o presidente da
companhia me manda saudações.
"Economize dinheiro e não desperdice". Essas são as palavras que
repito todo ano para os membros da nossa família. Mando que eles
tomem água em vez de comprar sorvete ou refrigerante. Não
economizo assim por avareza, mas isso significa que devemos
economizar para salvar a nação, salvar a humanidade. No final,
nada poderemos levar quando partirmos deste mundo. Todos nós
conhecemos essa verdade. Mesmo assim, não sei por que as pessoas
querem segurar as coisas para si. Quando partir deste mundo,
quero deixar todas as coisas que ganhei em vida e ir livremente.
Quando chegarmos ao Reino do Céu, encontraremos tantos
tesouros, por que querer levar algo daqui? Se pensarmos que
estamos indo para um mundo melhor que este, não haverá razão
para nos agarrarmos às coisas terrenas.


Tem uma canção que cantei toda a minha vida. Todo mundo
conhece essa música popular do passado, mesmo assim a cada vez
que a canto, caem lágrimas, porque me sinto confortável, como se
estivesse deitado no campo de minha terra natal:

Ainda que me dêem uma coroa de ouro branco e pedras preciosas A camisa
molhada de suor com o cheiro da terra é melhor
A fonte do amor puro jorra em meu jovem coração A madeira do salgueiro
faz a flauta que sopro com vontade E o pardal acompanha o ritmo da minha
canção


Ainda que me dêem ouro para comprar o mundo Um boi malhado para arar
a plantação de cevada é melhor A esperança brota em meu jovem coração
Proseio com os coelhos E o tempo passa no ritmo da minha canção.


A felicidade sempre está à nossa espera. Ainda assim, a razão pela
qual nós não achamos a felicidade é porque a ganância impede o
nosso caminho. Não se pode enxergar bem com os olhos embaçados
pela ganância. Querendo tirar uma lasca de ouro que cai no chão em
um segundo, os seres humanos não conseguem ver que à sua frente
está a montanha de ouro, e preocupados somente em encher o
próprio bolso, não percebem que o bolso está furado. Nunca
esqueço da vida que levei no campo de concentração de Heungnam.
Qualquer lugar miserável é mais confortável e rico para mim que a
prisão de Heungnam. Todas as coisas são públicas e pertencem a
Deus, nós somente as administramos.


A Felicidade Está em Servir os Outros



Os filhos nascem recebendo o sangue e a carne de seus pais. Sem os
pais, não existiriam os filhos. Mesmo assim, as pessoas proclamam o
individualismo como se tivessem nascido neste mundo sozinhos.
Somente pode insistir no indivíduo e no individualismo aquele que
nunca recebeu ajuda de ninguém. No mundo não há nada que
tenha nascido só para si mesmo. Todas as coisas nasceram para as
outras. Eu existo para você e você existe para mim.
Não há vida mais fútil que uma vida egoísta que vive só para si. O
egoísmo parece trazer benefícios, mas no final essa será uma vida
de autodestruição. O indivíduo deve viver para a família, a família
para o povo, o povo para o mundo e o mundo para Deus.
Todas as escolas que criei têm três lemas. Primeiro, "Viver uma vida
sem sombra, como o sol do meio-dia". Uma vida sem sombra
significa uma vida com a consciência limpa. Quando você entrar no
mundo espiritual, depois do fim dessa vida terrena, toda a sua
história na terra aparecerá como se estivesse gravada em vídeo. Ir
para o Reino do Céu ou para o inferno é definido de acordo com a
vida de cada um. Portanto, devemos ter uma vida limpa, sem
nenhuma sombra.

Segundo, "Viva com suor pela terra, lágrimas pela humanidade e
sangue pelo Céu". No sangue, no suor e nas lágrimas derramadas
pelo ser humano não existe falsidade. Tudo é verdadeiro.
Entretanto, sangue, suor e lágrimas para si não têm significado, eles
devem ser derramados para servir os outros.
O último é "One Family Under God"2. Deus é um só e os seres
humanos são irmãos. As diferenças de língua, raça e cultura não

2Uma família sob Deus.


passam de 0,1%, os outros 99,9% são iguais entre toda a
humanidade.
No sul do Pacífico há quatorze ilhas, entre as quais as Ilhas
Marshall. Quando encontrei o presidente do país, lhe perguntei:
"Essa terra é tão bonita, mas você deve ter muita dificuldade para
dirigir essa nação".
O presidente falou, suspirando: "A população total não passa de
sessenta mil habitantes. O ponto mais alto da ilha está a duzentos
metros acima do mar, por isso, mesmo que chegue uma onda de um
metro, o país fica coberto pela água. Entretanto, o problema mais
sério é a questão da educação. Os filhos de famílias ricas vão
estudar nos Estados Unidos ou na Europa, e não voltam para sua
terra natal. As crianças das famílias pobres não encontram escolas
que possam oferecer uma boa educação, então mesmo que uma
delas seja inteligente, não pode se preparar da melhor forma para
ser um líder. Enfim, a maior dificuldade dos países insulares como o
nosso é não conseguir criar uma liderança competente que possa
dirigir o futuro da nação".
Depois de ouvir o lamento do presidente das Ilhas Marshall,
imediatamente construí a High School of Pacific, Escola de Ensino
Médio do Pacífico, em Kona, Havaí, para as crianças dos países
insulares. Além do curso de Ensino Médio para crianças
selecionadas de cada país, nós as ajudamos até a entrar nas faculdades,
se for necessário. A passagem de avião está incluída, junto
com a mensalidade e a estada, damos computadores e também a
melhor qualidade de ensino, e para dar essa educação para os
alunos dos países insulares, há uma única condição: que ao terminar

o estudo, eles devem voltar para seus países de origem e servir sua
nação e seu povo.
Viver servindo os outros inclui, muitas vezes, a premissa do
sacrifício individual. Alguns anos atrás, um missionário da nossa
igreja estava em turnê pela América do Sul, quando encontrou um
grande terremoto. Então a esposa do missionário veio a mim com o

rosto pálido: "Oh, mestre, estou tão preocupada, não sei o que vou
fazer!" ela disse com os olhos cheios de lágrimas. Como você acha
que respondi?
Em vez de consolá-la, lhe dei uma bronca: "Agora você está
preocupada somente com seu marido? Ou está preocupada com
quantas vidas seu marido pode salvar nessa situação difícil?"
Era natural que ela se preocupasse com a segurança do esposo,
porém, quem ocupa a posição de esposa de um missionário, tem
que se preocupar mais do que com isso. Em vez de orar pedindo
pela proteção do marido, ela deveria orar para que seu esposo
pudesse salvar ainda mais vidas.
Não existe nada neste mundo que seja só para si. Deus não criou o
mundo de tal forma. O homem existe para a mulher e a mulher
existe para o homem; a natureza existe para servir o ser humano e o
ser humano existe em benefício da natureza. Todas as criaturas
deste mundo existem e funcionam em prol de servir o outro. Por
isso, viver pelo bem do próximo é a lei celestial.
A felicidade, sem dúvida, existe somente em uma relação recíproca.
Uma pessoa que viveu sua vida inteira como cantora não se sentirá
feliz de cantar tão alto, até arrebentar a garganta em uma ilha
deserta, sem ninguém para ouvir. Perceber o fato que existo para o
benefício de um outro alguém é uma coisa magnífica, que pode
mudar a conduta de vida. Se minha vida não é só para mim, mas
para o benefício dos outros, então devo mudar a direção da vida
que levei até agora.
A felicidade está na vida pelo bem do próximo. Assim como cantar
só para si não traz nenhuma felicidade, trabalhar apenas para si não
traz alegria. Mesmo que seja uma coisa pequena e simples, quando
aquilo é feito para o benefício dos outros, então nos sentimos felizes.
A felicidade somente será descoberta na vida de servir os outros.


Sonhando com um Mundo Sem Guerra



Há muito tempo, venho insistindo no mundo em que as religiões, as
raças e as nações se unirão. O mundo continuou dividido através
dos milhões de anos da História. As religiões mudaram, os poderes
foram substituídos e fronteiras foram divididas, dando origem a
novas nações. Apesar disso, agora chegou o tempo da globalização.
Daqui para a frente, o mundo tem que se tornar completamente um
através da Rodovia Internacional da Paz.
A Rodovia Internacional da Paz é uma grande obra que unirá todo

o planeta como um só, unindo a Coreia ao Japão através de uma
ponte sobre o mar e a Rússia ao continente norte-americano pelo
estreito de Bering. Assim sendo, será possível dirigir do Cabo da
Boa Esperança, na África, até Santiago no Chile e também de
Londres, Inglaterra, a Nova Iorque, nos Estados Unidos. Qualquer
lugar do mundo inteiro será ligado como uma fina veia.
Quando transformarmos o mundo em um roteiro de um dia,
qualquer pessoa poderá atravessar as fronteiras facilmente, indo e
voltando. E quando isso acontecer, as fronteiras não terão mais o
sentido de divisão. Com a religião ocorrerá o mesmo. Se as
diferentes religiões cooperarem, conhecendo melhor umas às
outras, não haverá mais conflitos e os muros estabeleeidos entre elas
serão demolidos automaticamente. Da mesma forma, se toda a
humanidade viver dentro de um mundo de roteiro de um dia, as
barreiras entre as diversas raças também serão demolidas. Haverá
comunicação entre as raças, de diferentes línguas e cores, e a
revolução cultural poderá ser completada, com a união harmoniosa
de todas as culturas do mundo em um mesmo lugar.
A Rota da Seda não era só uma rota de negócios para se vender
seda e essências. Era um encontro das raças do oriente e do
ocidente, um encontro entre Budismo, Islamismo, Judaísmo e

Cristianismo, e também o lugar em que a mistura das diferenças
deu origem a uma nova cultura. Agora, no século XXI, a Rodovia
Internacional da Paz cumprirá esse papel.
O que fez Roma prosperar foi justamente que todas as estradas do
mundo levavam àquela cidade. As estradas têm essa importância.
Se houver uma estrada, pessoas passarão por lá, culturas e
ideologias passarão por lá, e assim, uma nova estrada mudará a
História. Com a Rodovia Internacional da Paz concretizada, o
mundo poderá se tornar um, fisicamente. A estrada tornará isso
possível. Nunca será demais enfatizar e insistir na importância de
unir o mundo em um só. Alguns podem achar que estou pensando
longe demais, porém é natural que os religiosos pensem à frente,
pois são eles que prevêem o futuro e preparam os outros. Por causa
dessa missão, ainda que sofram e não sejam compreendidos pelo
mundo, os religiosos devem tomar a dianteira da preparação para o
futuro.

Entretanto, é preciso a colaboração de muitas nações para construir
a Rodovia Internacional da Paz. A China, que já experimentou a
ocupação japonesa, talvez não concorde em ser ligada ao Japão pela
rodovia. Mas sem a China, não poderemos ligar o mundo, por isso
precisamos convencer o coração dos chineses. Quem deve fazer
isso? Nós, coreanos, devemos ser os responsáveis pela Rodovia
Internacional da Paz do século XXI, nós temos que estar na linha de
frente. Além do mais, como será o trabalho para construirmos a
Ponte no Estreito de Bering? Gastaremos muito dinheiro, mas isso
também não será problema. Se tivéssemos a quantia de dinheiro
que os EUA gastaram na guerra do Iraque, poderíamos construí-la
tranquilamente. Daqui para a frente, ninguém poderá cometer nada
que cause o sofrimento da humanidade fazendo guerra. É um
grande crime desperdiçar bilhões de dólares guerreando. Agora
chegou o tempo em que devemos transformar armas em foices e
arados.


A Rodovia Internacional da Paz é um projeto global de integração,
que liga o mundo em um só. Tornar o mundo um, vai além de
simplesmente ligar externamente os continentes separados, através
de túneis submarinos e pontes, mas significa nivelar o mundo.
Quando se quer a tecnologia e o lucro somente para si, de forma
egoísta, o equilíbrio do mundo é quebrado. A Rodovia Internacional
da Paz conseguirá o equilíbrio das riquezas, distribuindo a matéria-
prima e os recursos humanos do mundo. Nivelar é abaixar um
pouco o que está alto e aumentar um pouco o que está baixo, é
equilibrar a altura de todos. Para isso, é necessário um pouco mais
de sacrifício das pessoas que possuem mais que os outros. A obra
de construção do mundo da paz não será cumprida somente através
de demonstrações de bondade ou de uma única doação, mas através
do amor sincero, de se sacrificar continuamente e dar tudo o que
possui pelo benefício dos outros.
Construir a Rodovia Internacional da Paz, porém, não passa de
fazer a comunicação física do mundo. O ser humano é uma criatura
de mente e corpo unidos. Assim, no mundo em que vivemos,
quando houver comunicação física e sentimental, haverá união
perfeita.
A ONU, criada depois do fim da Segunda Guerra Mundial, até
agora tem feito muito pela paz mundial. Porém, passados sessenta
anos desde sua fundação, ela perdeu seu objetivo inicial e se tornou
um lugar que trabalha somente em benefício das nações poderosas.
A Organização das Nações Unidas, fundada para solucionar os
conflitos do mundo, tem que se tornar uma organização que dá
prioridade para o bem do mundo inteiro, em vez de privilegiar
apenas um lado. Quando as nações poderosas colocam o benefício
próprio na frente e oprimem as outras pela força, um conflito chama
outro conflito. Apesar disso, a ONU atual não consegue encontrar
uma solução.
Para cobrir esta falha, daqui para a frente, a ONU tem que mudar
sua estrutura para duas câmaras. Um grupo que discuta as questões


do mundo, composto por representantes políticos e diplomatas de
cada país, como tem sido até agora, e outro grupo de representantes
inter-religiosos, que discutirão unidos a questão da paz.

Os representantes inter-religiosos indubitavelmente devem ser
líderes de mente aberta, que tenham estudado bastante as outras
religiões. Diferente dos políticos, eles não têm uma visão estreita e
nem pensam somente no interesse de uma nação específica. Com o
amor que abraça toda a humanidade, os líderes religiosos que
trabalham arduamente para a felicidade de toda a humanidade e
pela paz mundial, devem juntar forças com os embaixadores e
diplomatas enviados por cada nação, e devem construir um mundo
sem mais guerras, um mundo unido pelo amor.
Até poderemos encontrar oposição que dirá: "Por que religiosos
interferem nas questões mundiais?" Entretanto, o mundo atual
realmente necessita da participação de religiosos que alcançaram
um bom nível de espiritualidade através da fé. Os religiosos são
justamente as pessoas que se opõem à abundante injustiça e ao
pecado do mundo, praticando o amor verdadeiro. Quando o
conhecimento e a experiência dos estadistas, que sabem analisar a
situação política do mundo, unir-se à sabedoria dos inter-religiosos
que têm um ponto de vista espiritual, o mundo finalmente poderá
achar um caminho para a verdadeira paz. Hoje, oro e oro
novamente para que todas as pessoas do planeta, transcendendo
religião, ideologia e a divisão de raças, renasçam como cidadãs do
mundo que amam a paz.


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Lançamento Livros Loureiro

 Um Cidadão Do Mundo Que Ama A Paz - Reverendo Sun Myung Moon
 
(links no final da pág.)



   Digitalização:  M. Loureiro


Sinopse:

"A Autobiografia do Dr. Moon é uma fonte de inspiração. Ele é acionado

por uma visão poderosa e tem superado obstáculos sem temor. De um

humilde começo numa pequena vila até se tornar uma influência global,

Ele implacavelmente persegue a visão calorosa de um mundo pacífico, uma

família humana."


Dr. Eva Latham

Pres. do Ensino de Direitos Humanos Internacional, Haia, Holanda.



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Boa leitura


Abraços.

M. Loureiro

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