04 - Tinta Azul
Tradução: Márcia de Oliveira
Revisão: Ady Miranda
Formatação: Sabrina Castilho
Informação da série
Saga da Lua Cheia - 01 - O ultimo conto (Rev. RS & RTS) - Distribuído
Saga da Lua Cheia - 02 – Pluma y papel – Em revisão
Saga da Lua Cheia - 03 - Velas e Selos - Distribuído
Saga da Lua Cheia - 04 - Tinta Azul - Distribuído
Saga da Lua Cheia - 05 - Borradores - Na lista
Série em revisão com o grupo Pégasus Lançamentos
Dedicatória
Meus avós.
Um já está no céu, e outro
Eu continuo a mostrar o guerreiro
que me inspira
ARGUMENTAÇÃO
— Os sonhos podem se tornar realidade? Que alegria! Mas e se estes são ruins?...
Vanessa descobriu a razão pela qual ela foi escolhida para transportar esses sonhos terríveis do futuro e cada vez se torna mais difícil, agora que Lilith a mãe dos neófitos quer sua cabeça. A nossa protagonista tem muitos problemas e dentre eles está decidir do lado de quem ficar com Marcus ou Daniel. A escolha de qualquer um desses caminhos poderá levá-la à morte. E ainda tem de convencer Téo de que ela não está mentindo e separá-lo de Nicholas. Trata-se de uma batalha que não pode deter. E a dor de perdas irreparáveis cobrirá o seu coração.
ÍNDICE
Capitulo 1 – Nobre Funeral – .................... 05
Capitulo 2 – Beijo Roubado –....................... 10
Capitulo 3 – Amor Maternal –............. ..........17
Capitulo 4 – Sol de Outono –........................ 23
Capitulo 5 – Príncipe Azul –.......................... 30
Capitulo 6 – Verdades, mentiras -.................. 38
Capitulo 7 – Corações enfermos -..................50
Capitulo 8 – Duas Caras -...............................56
Capitulo 9 – Jogo de Crianças -......................64
Capitulo 10 – Historias Passadas -..................74
Capitulo 11 – Para Você -...............................92
Capitulo 12 – Dois Irmãos -...........................98
Capitulo 13 – Sacrifício Branco -..................111
Capitulo 14 – Roda -.....................................115
Capitulo 15 – Sem Amor -............................120
Revelações -..................................................126
A Autora -.....................................................129
Capítulo 1 - NOBRE FUNERAL
Eu escrevo meus poemas para você
Eu separo a dor da felicidade
Espero amarrar os calcanhares
E eu libertá-lo de sua alma
O céu brilhava um intenso azul claro, enquanto o sol se ocupava de fornecer os raios quentes e suaves sobre a superfície da terra. O vento se agitava em suaves brisas frescas e mesclava o cheiro de tulipas brancas com flocos de neve fresca. Os ternos e vestidos brancos davam um adeus em silencio para a alma de um grande guerreiro e em sua honra, permaneciam impecáveis de mancha.
O caixão de madeira estava decorado com centenas de flores brancas, não era possível apreciar as inscrições de boa sorte devido ao excelente trabalho de decoração. Se alguma vez tivessem dito ao guerreiro que ele teria um funeral tão brilhante, este teria rido, por não crer que alguém assistiria, não acreditava ter tantos amigos.
Ele estaria enganado, porque nesse momento, em que o caixão descia para as profundezas escuras da terra, muitos amigos e conhecidos estavam mostrando o seu respeito. Despedindo-se de Baltazar, o líder.
A terra começou a cobrir a cova que resguardaria o corpo de quem por muito tempo havia tomado o lugar de pai de Marcus, a terra engolia as lembranças alegres de piadas e brincadeiras, em um tempo que Marcus pensou que nada de ruim poderia acontecer. Nesse dia especial ele havia se vestido formalmente, todos sabiam que ele odiava as roupas, mas desta vez fez por quem com toda a sua admiração, o havia criado. Seu cabelo se revolvia rebelde e demonstrava seu caráter forte e decidido, que nesta ocasião não existia. O túmulo de Baltazar se encontrava ao lado de outro grande homem, que também morreu defendendo o que amava, Gaspar.
A pequena mão de sua Pipoca segurava a sua. Desviou os olhos para contemplar a escritora, notou o seu simples vestido branco de alças, seu cabelo estava solto e em ondas que caiam suavemente sobre os ombros. Os olhos dela não deixaram de olhar para onde estava o corpo de Baltazar. Marcus havia cuidado dela e curado as suas feridas depois de terem retornado daquele enfrentamento.
Ela havia se bloqueado completamente ao ouvir sobre a morte de seu tutor e a culpa tinha se aferrado a ela como um laço negro que não podia romper. Mas hoje se mostrava inteira, com uma expressão calma e sem derramar lágrimas, depositou uma tulipa no caixão de Baltazar antes de baixarem seu corpo. Todo o valor que ela tinha neste momento, ele sentia que lhe faltava.
Quando, finalmente, os assistentes acabaram de enterrar, foram para um lado deixar que os conhecidos e amigos se despedissem um por um de seu mestre.
Os primeiros foram os da Aemilia, cada um abaixou a cabeça e rendeu seus rituais sagrados. Juan, um deles e, por conseguinte, quem melhor se relacionava com Baltazar e Melchior, olhou para Marcus e deixou transparecer a fúria que levava em seu interior, a qual muitos dos presentes compartilhavam. Um sentimento que corroia com uma só palavra. Vingança.
Melchior passou à frente de todos, era o mais afetado com a morte de seu companheiro de lutas. A amizade entre eles era conhecida por um longo tempo, desde que eles eram um trio de guerreiros de absoluta admiração: Gaspar o defensor, Baltazar o estrategista e Melchior o atacante. O sorriso de Melchior se fez presente quando, aparentemente, dizia algo para a tumba de seu companheiro caído, logo seus olhos brilhavam com lágrimas contidas e rapidamente colocou os óculos de sol. Fazendo uma última saudação de despedida a Baltazar com o mesmo entusiasmo com que ambos se haviam conhecido e que voltariam a se ver no mundo espiritual.
Marcus respirou fundo quando viu que era a vez de sua família passar. Por ordem de idade, foram se despedindo um a um. Primeiro Adolfo colocou a insígnia da casa Croix Noir, em seguida, Elias pegou uma garrafa de vinho e deu um banho na sepultura com total serenidade. Quando chegou a sua vez, Marcus apertou fortemente a espada de Baltazar contra seu peito, caminhou devagar e se abaixou por um momento para verificar se o nome de seu tutor estava bem escrito, talvez fosse bobagem, mas era simplesmente um impulso de agradar, que sentiu.
— Adeus lobo astuto – sussurrou e com um movimento firme enterrou a espada na frente do túmulo em forma de cruz, se afastou e apreciou o trabalho. Logo se reuniu com os demais, tomando a mão da escritora que o recebeu de volta imediatamente.
A seguir, Eliseu se aproximou, trazia uma adaga em sua mão e sem uma palavra cortou a palma de sua mão, deixando uma ferida escarlate correr através do corte. As gotas de sangue caíram sobre o túmulo e se misturaram com a terra, curvou a cabeça e proferiu algumas palavras de seus antepassados escoceses, depois que ele se retirou e ficou ao lado de seu irmão. Assim foi que todos os presentes prestaram atenção ao último membro da família que se achava ali. Paula estava segurando em seus braços um lindo buquê de tulipas brancas e cabelo amarelo-limão se agitava suavemente com o ar. Caminhou insegura e com o olhar de rejeição de parte de todos os licaons fixados em suas costas. Rumou para quem a havia criado e cuidado desde a morte de sua verdadeira família, seu rosto estava triste, contudo, a beleza deste deixava sem fala, com sua força interior. Colocou um ramo de flores e beijou a lápide, igual aos seus irmãos não deixou correr nenhuma lágrima e manteve a sua postura até quando seu olhar cruzou com o olhar de Marcus. Ela se sentia infeliz e isso ele bem podia notar.
Marcus lembrou que a Aemilia e alguns dos mais importantes guerreiros, lhe haviam pedido que não deixasse de assistir a Paula, devido à relação proibida que esta, havia declarado manter com um nosferatu. Esta situação, contudo, não o deteve de dar a Paula o lugar que lhe correspondia dentro da família.
Quando ele a viu depois daquela noite, ele alertou para a aparente rejeição e exclusão, que estariam sujeitos, ela com completa serenidade, aceitou as conseqüências de sua decisão. Ao contrário dos outros que permaneceram juntos, Paula se colocou a uma distância correta sem abaixar a cabeça a nenhum dos presentes. Abraão passou ao lado deles e voltando-se para todos os presentes olhou para ela com tristeza.
— Hoje é um dia de celebração - disse em voz rouca – hoje um guerreiro deste calibre se une aos espíritos e sua força se converte em uma conosco - todos acenaram – Vamos dar um até breve a Baltazar, o líder!
— Assim, e para a eternidade! - Todos responderam em coro com um sentimento de orgulho mútuo.
Após este adeus sereno, todos começaram a sair para retomar suas vidas. Marcus observou como Eliseu ia atrás de Paula, mas esta com evidente cortesia o rejeitava fazendo com que este ficasse vermelho de raiva, se voltasse e desse as costas como todos os demais. Elias e Adolfo estavam falando com Abraão sobre alguns assuntos com respeito ao paradeiro de Asmodeus e seus cúmplices. Melchior entabulava uma discussão com os membros da Aemilia que pareciam muito indignados ao escutar suas palavras.
— Marcus - quando ouviu o seu nome voltou-se para ela.
— Temos de ir para casa - disse para a escritora vendo a palidez em seu rosto – ainda estás ferida.
— Paula... - ambos se viraram para ver que esta não estava mais perto do cemitério.
— Irá para a mansão mais tarde – Marcus esclareceu.
— Prontos para ir – Melchior se ofereceu para levá-los para casa e eles concordaram, para passar algum tempo com seu tutor, todos queriam descansar depois de toda essa bagunça.
Todos receberam os pêsames por parte dos últimos presentes, agradecendo-lhes por terem se incomodado em assistir e esperando que suas palavras fossem sinceras. David e Beth se encaminharam para Vane e Marcus, falaram um pouco e comprovaram que Beth agora se encontrava em boas condições, depois do ataque de Susana. Esta fez Vane prometer visitá-la um dia desses para que ambas pudessem conversar sem tantos olhares sobre elas.
Vane se sentou ao seu lado e apoiou a cabeça contra seu peito enquanto o carro avançava, ele a abraçou e foram assim em toda a viagem de volta. Ele tocou seus cabelos e apreciou cada mecha com muita delicadeza, ele gostava de fazer isso, estava se tornando um hobby relaxante.
— Eu acho que estou esgotada – lhe disse só para que ele escutasse - Eu estou tão esgotada.
— O que acontece é que você está lenta - Marcus sorriu e a aconchegou mais contra ele – mas digamos que estará bem enquanto fique quieta um momento.
— Meu coração se inflama e oprime. É normal? Perguntou com ar preocupado.
— Neste momento é completamente normal – acariciou suas costas com movimentos circulares.
— Desculpe-me por interromper seu sigilo – Elias olhou para Marcus com travessura – creio que já chegamos.
— É uma lástima – lhe disse Marcus perto de seu ouvido quando ele se levantou para ajudá-la a sair. Então se chocou com o corpo rígido como uma parede de Eliseu - Ei! O que acontece?
— O que raios faz essa coisa aqui? - Disse o rapaz fazendo a volta, Marcus se voltou e compreendeu o porquê de seu tom de voz e do repentino ambiente de hostilidade por parte dos demais.
Lá, no final das escadas, parada na entrada da mansão se encontrava Paula, mas ela não estava sozinha, o nosferatu a quem havia escolhido a tomava pelo braço em sinal de total compromisso e os olhava com preocupação. Marcus se encontrou olhando surpreso para aquilo. Tudo estava se enredando cada vez mais.
Capítulo 2 - BEIJO ROUBADO
Ele desmente as minhas palavras escritas
Crucifica meus sentimentos,
Pisa todo o meu ser feito de papel;
E ainda assim você ainda ama
A ira dos presentes não surpreendeu Paula, que estava esperando alguma coisa assim de seus irmãos. Agarrada ao braço de Pablo, ela esperou que Marcus falasse o que fazer com ela. Não trairia a honra da família e isso havia deixado claro para Pablo que a tinha acompanhado com relutância. Melchior não desceu do carro e estava deixando que este assunto fosse resolvido pelo legitimo dono da casa.
— Paula – saudou Marcus com uma voz neutra.
— Marcus - ela assentiu e curvou a cabeça em sinal de respeito.
— Ele não pode entrar, então, faça o favor de entrar - Marcus afastou-se e deixou que Paula fosse a primeira a pisar na mansão onde a empregada estava muito nervosa.
— Senhor, desculpe-me – falou a garota tremendo, sem deixar de olhar para Paula - Eu tinha ordens estritas para não deixar a senhorita Paula entrar. Eu sinto tanto! - Desculpou-se ela.
— Não se preocupe Clara - Marcus despediu-a com um gesto descontraído, sabia de antemão que Adolfo impôs essa regra - Não há problema, pode voltar ao seu posto - a menina voltou a se inclinar e se foi rapidamente.
Pablo foi deixado no lado de fora da mansão e viu que Marcus veio atrás dos outros membros da família. Adolfo deu-lhe um olhar de desprezo, ao que ele respondeu do mesmo jeito, o homem congelou sua pele. Os irmãos de quem Paula falou muito, nem sequer olharam para ele. Passaram por ele tão rápido que era quase impossível ver sua expressão, ele não se importou muito já que não os conhecia. Enquanto Vane estava muito pálida e abatida, parecia uma boneca de pano que caminhava de braço dado com Marcus, foi a única a notar a sua presença e lhe sorriu. Depois disso, a porta foi fechada em sua cara e só podia esperar. Ele estava disposto a lutar contra quem quer que tentasse lhe tirar Paula. E se o seu orgulho tinha de ser testado, então assim seria.
— Vamos para a sala - Marcus sugeriu e todos obedeceram, exceto Adolfo, que foi para a biblioteca.
— Se você me desculpar, eu acho que isso não me diz respeito - e friamente passou ao lado de Paula, deixando todos com uma expressão de surpresa.
— Bem - Marcus levou Vane até uma das cadeiras e a sentou. Elias caminhou para a TV e a ligou em um canal sem muito interesse em nada em particular, Eliseu virou-se de costas para todos e ficou jogando com uma bola que encontrou no chão. Paula permanecia em pé, esperava insultos, gritos e até socos. Mas, para sua decepção, não foi assim, seus irmãos demonstraram que eles aceitaram sua decisão.
— Eu sinto muito – pronunciou estas palavras com toda a sinceridade e esperava que eles acreditassem.
— Não é problema meu o que você sente - Marcus estava na frente dela tão rápido que a deixou desconcertada – O que eu realmente lamento é que não tenha confiado em mim.
— Eu...
— Paula, nós não deteremos você - eu lhe asseguro - Você é livre desde o momento em que nasceu, eu não posso impedi-los - o seu irmão tinha crescido muito em comparação com situações anteriores, ela se perguntou se antes a deixaria ir tão facilmente.
— Eu amo Pablo - confessou - eu o amo tanto que não posso ficar longe dele! - suas lágrimas corriam pelo seu rosto e quando se voltou viu que Vane também estava chorando - Eu sinto tanto fazer isso, mas é uma força maior do que eu.
— Espero que ele cuide de você e a ame - Marcus estava serio como os outros dois de seus irmãos.
— Marcus me perdoe! - Paula soluçou, com resignação esperava que ele a despedisse e banisse – Aceitarei o exílio se você quiser assim.
— Quem te disse que eu quero isso? - Os olhos verdes dele se encontraram com os dela quando ele levantou o rosto dela com uma mão – Paula, você será sempre bem vinda em minha casa – a voz de Marcus era tão doce que doía - e se partes agora, estaremos sempre aqui para você.
— Obrigado
Marcus colocou as mãos nos bolsos da calça jeans e pigarreou.
— Se você vai embora deve pegar suas coisas.
— Isso não - Paula falou com a decisão - essas coisas foram presentes, não me atreveria a tirá-las desta mansão.
— Não seja boba! - ele repreendeu-a - essas coisas são suas por direito - ele deu de ombros – e ademais não ficariam nada bem em qualquer um de nós - então abriu a porta para deixá-la sair da sala – Pegue o que quiser, eu vou esperá-la lá embaixo.
Paula assentiu obediente, antes de sair olhou para Elias e Eliseu, mas os dois não pareciam querer despedir-se, estavam feridos e ela compreendia. Ela também não estava pronta para dizer adeus. Com passos firmes subiu as escadas e passou pelo corredor em direção ao seu quarto. Ela abriu a porta e entrou, para encontrar Merlin dormindo em sua cama, mas depois de ouvir o ruído ele se levantou para olhá-la. E, como se ele soubesse o que estava prestes a acontecer, saltou para ela e enroscou-se em suas pernas carinhosamente. Paula acariciou sua orelha e o carregou nos braços enquanto admirava pela última vez o seu quarto.
— Eu realmente sinto muito a sua falta - ela falou com o gato que miou preguiçosamente.
Baixou Merlin e começou a embalar suas coisas, enquanto fazia isso não pode evitar derramar lágrimas outra vez. Pegou fotos e coisas que para ela tinham sido importantes em seu crescimento dentro da mansão. Ela lembrou-se de sua chegada e como ela estava nervosa quando foi informada que ela iria viver com quatro homens jovens. E ao longo dos anos, estes jovens tinham ensinado a ela tudo o que agora estava orgulhosa de saber. Cada um era um tesouro inestimável em suas memórias e que estariam sempre presentes. Em uma pequena mala guardou tudo, e em cima do seu tocador deixou a fita de seu cabelo que usava neste dia, era de um branco bonito, com apliques transparentes e pérolas. Esperava que com este laço deixasse na mansão uma parte de sua essência, uma parte do seu coração.
Quando ela estava sentada olhando seu reflexo no espelho de seu quarto, o som da porta se fechando a fez virar-se. E lá, cobrindo a entrada com sua figura elegante e olhos verdes determinados, estava aquele homem que quando menina tinha admirado como nenhum de seus irmãos. Aquela pessoa que se converteu em seu primeiro amor com o passar do tempo, este homem que era seu rival nas lutas e sonhos à noite. Aquele que compartilhava esse desejo que era proibido para ambos, por ser ela muito jovem e ele muito teimoso.
Adolfo.
— Você escolheu - a ameaça na voz dele a assustou um pouco, e nervosa, para demonstrar que não a afetava se levantou e caminhou até ele.
— Eu o amo – lhe falou olhando-o nos olhos e confessou a verdade - eu o amo mais do que a ti, Adolfo.
— Você não me ama, foi apenas um capricho – ele se alterou passando as mãos por seus cabelos dourados, seu terno branco o fazia parecer um anjo guerreiro - Você não entende...
— Compreendi que você não me amava o suficiente - Paula baixou os olhos paras o chão e apertou as mãos - E eu estou cansada de te esperar.
— Ele não vai te fazer feliz! - Adolfo agarrou-a pelos ombros e a fez olhar para ele. Então Paula pode ver seu rosto bonito, que demonstrava seu desejo e culpa – ele vai te machucar.
— Ele não vai - era incrível como o amor que ela sentia por Pablo lhe dava força e isso lhe agradecia.
— Eu não podia te amar Paula – ele confessou e realmente parecia sofrer com essas palavras e isso doía em seu coração, já tinha tomado uma decisão – Não podia desejar-te por que te machucaria, como tudo ao meu redor.
— Eu não tenho que sofrer mais - Paula levantou a mão e colocou-a na bochecha dele - a partir de agora você vai pode ser feliz Adolfo.
Ela mal conseguia reagir quando ele sujeitou sua cabeça, inclinou-a e a beijou. Os lábios dos dois se chocaram fortemente tirando um gemido de dor por parte dela. O beijo era tão determinado e cheio de força que a esmagava, os lábios de Adolfo moveram-se com o desejo e devoravam os seus com uma fome total. Ele realmente sabia como beijar bem. Não esperou tampouco que lhe pegasse seu corpo e a estreitasse pela cintura, enquanto a deitava na cama. Assim, só um instante ele se desprendeu de seus lábios para falar ao ouvido com uma paixão derramada.
— Não vá Paula – lhe disse e tirou um suspiro dela ao acariciar suas pernas - não te afastes de mim – suplicou algo que para ele era inconcebível.
— Adolfo... - Paula não pôde terminar, porque ele a beijou de novo apertando seu corpo contra o colchão, fazendo-a sentir como ele a desejava.
— Eu sempre me contive - disse ele tomando-a de surpresa - mas não vou mais fazê-lo - sua voz se tornou rouca - não desta vez.
Os lábios dos dois se uniram de novo e Paula sentiu que tinha de parar, mas não desejava fazê-lo, deixou que Adolfo a acariciasse e sentisse sua pele como ela sentia a dele. Seu coração estava oprimido quando ele revelou essas emoções. Era por isso que estava sempre esperando em vão, até agora. Então ela começou a chorar, sem ver uma saída para fora do labirinto de sentimentos que se formava dentro dela. Adolfo parou um instante e se separou maldizendo.
— Eu entendo - foi tudo o que disse e depois saiu da cama.
— Sim, é tarde demais – ambos se referiram aos seus sentimentos.
Adolfo a olhou e gravou essa imagem dela em sua memória. Seu cabelo amarelo limão sobre sua face corada, os lábios inchados depois de ser beijada e os olhos sem lágrimas que brilhava tanto como esmeraldas. Desde o primeiro dia que a conheceu sabia que iria amá-la intensamente, e também que ela seria sua maior fraqueza. Suas dúvidas e temores tinham impedido de dizer-lhe que a amava e agora ela estava indo com quem não hesitou em dizer-lhe. Era irônico pensar que o que mais lhe dava ciúmes de Pablo, não era o fato de que ele a estava levando, mas sua coragem para lhe dizer o que sentia por ela. Ele não tinha tido essa coragem e este era o triste resultado.
Ele abriu a porta e se virou olhando para ela em dúvida, então ele correu na direção dela e beijou-a uma última vez, porque ele sabia que Paula nunca mais lhe permitiria tocá-la. Ele se assegurou de impregnar-se de seu aroma e saborear seus lábios guardando uma recordação em seu interior para quando já não se vissem mais. E também desejando deixar uma marca nela para que quando ela beijasse aquele nosferatu, uma pequena parte lhe recordasse dele neste momento. Era um sentimento egoísta que se permitiu ter.
E assim como começou, repentinamente, igualmente terminou. Adolfo deixou aquele quarto tão cheio dela. Paula tocou em seus lábios e sentiu a força neles, essa energia que corria através do seu ser e um arrepio lhe indicou que era o momento de partir. Pegou a sua maleta, carregou Merlin e desceu para a sala para despedir-se.
Na sala, enquanto isso, Vane não reconheceu os residentes desta. O silêncio era desconfortável e ambiente hostil estava ao redor, sentada na cadeira se perguntou se estes homens realmente deixariam Paula partir tão facilmente. Em seu interior também teve dúvidas sobre Paula ir, confiava em Pablo, mas não nas pessoas que rodeavam o casal que, por conseguinte, eram nosferatus e muitos deles não imunes ao poder de Asmodeus. Ainda pensava em Nicholas, enterrando seus dentes e rasgando cruelmente, essa imagem a fez estremecer por que esteve a ponto de converter-se em uma deles.
A presença de Paula a tirou de seus pensamentos. Sua amiga estava segurando uma mala e o gato Merlin, que ronronava e abanava o seu rabo em círculos. Ambas se olharam por um momento. E os olhos de ambas estavam cheios de lágrimas, porém, elas não derramaram nenhuma. Tinham de ser fortes e aceitar o destino que agora, para ambas, seguia em direções diferentes. Vane se levantou automaticamente, sem a ajuda de Marcus e caminhou para sua amiga que a viu avançar com um pequeno sorriso. Ambas se abraçaram quando ela chegou a Paula e se despediu.
— Se cuida - Vane sentiu que não poderia falar mais palavras do que essas. Gostaria de poder descrever com letras o quanto sentia não poder mais conviver com ela.
— Você também – ela a abraçou com força até que ouviram o chiado de Merlin que estava sendo esmagado - Eu sinto tanto querida! - desculpou-se Paula afastando-se de Vane. - Eu quero te pedir um favor.
— Qual? - Paula lhe entregou Merlin. Ele parecia entender que não poderia voltar para a sua dona e olhou Vane com reprovação animal. – Quero que...?
— Sei que você será uma boa dona - Paula acariciou as orelhas de Merlin e beijou seu nariz - seja um bom menino - o gato ronronou dando a entender que faria o que ela queria. Vane disse para si mesma que Paula conseguia esse efeito com todos os homens.
— Agora eu tenho um gato - Vane disse e Merlin a olhou de novo com esse ar superior. Era um gato estranho, sempre havia dito. Paula voltou a abraçá-la e sussurrou em seu ouvido o seu último desejo.
— Proteja-os - foram suas palavras antes de soltá-la - Bem, eu acho que já é hora - ela se voltou para Marcus que estava contemplando-as desde o início. Caminhou para ele e sorriu - Você é o melhor irmão do mundo. Você não sabe?
— Não, eu realmente não sou - ele respondeu e Paula o abraçou, derramando algumas lágrimas em sua camisa, eram quentes e cheias de amor. Depois Paula virou-se para Elias e Eliseu, queria ver seus rostos e levá-los bem gravados na sua memória.
— Eu os amo - ela disse, mas estes não se voltaram.
A porta da frente foi aberta, e deixou ver que Pablo estava preocupado, seus olhos azuis tinham uma cor intensa de alarme. Seu jeans rasgado e camiseta preta com caveiras revelavam a sua eterna juventude. Ele estendeu um braço chamando Paula em silêncio, esta se encaminhou com sua mala cheia de esperança e confiança. Tomaram-se as mãos e acenaram agradecidos para Marcus. Logo Pablo lhe sorriu e encostaram suas testas aliviados, um terno beijo uniu seus lábios e desapareceram como se um reflexo de luz os fizessem desaparecer instantaneamente, fechando a porta com um baque surdo.
— Você sentirá saudades dela - Vane não lhe perguntou, mas Marcus tinha afirmado. Este não se mexeu, mas seus olhos permaneceram fixos na entrada.
— Espero que ele a faça feliz - falou com tristeza contida - Porque se ele a fizer chorar, juro que não bastarão seus anos de nosferatu para saciar a sede de sangue que exigiremos dele.
Capítulo 3 - AMOR MATERNO
O centro do meu mundo
Escreva pensamentos terríveis
Eles abafam meus gritos de agonia;
E o rio de palavras obscuras
Melchior parou, olhou para os dois lados da rua e atravessou sem duvida. No final da passagem escura uma pessoa esperava por ele. Seu tempo estava acabando e isso ele sentiu no momento em que viu o corpo de Baltazar no chão, na noite de sua morte. Sim, tinha que ajudar Marcus. Neste momento ele corria para fazê-lo, só precisava de mais tempo, antes que o fim tocasse o solo e ocultasse o sol.
A figura de uma mulher apareceu na entrada da pequena casa de hóspedes que havia neste lugar. Ela estava vestida com um casaco vermelho e preto, nervosamente tocava o chão com a ponta do sapato e do mesmo modo que ele olhava ao redor na esperança de encontrar algo ou alguém. Quando o reconheceu, um sorriso discreto apareceu em seus lábios.
— Estou aqui como prometi - ela disse quando Melchior chegou até ela.
— Eu não esperava menos de você Salomé - Ambos ficaram em silêncio e buscando as palavras para quebrar o silêncio que crescia entre eles. Fazia muito tempo que eles não se viam sozinhos.
— Espero que tirar-me da Espanha valha à pena - Salome finalmente falou, olhando-o com os sentimentos que Melchior via crescer nela desde que eles se viram pela última vez há vinte anos atrás.
— Você é a única por quem me atreveria a arriscar um membro de minha família - Melchior estava tão perto dela que podia respirar seu perfume Chanel à distância e era realmente embriagador, lhe alterava os sentidos.
— Do que se trata? - Salomé estava pronta para falar de negócios e ele despertou instantaneamente.
— Desde a morte de Baltazar – ele confessou - Assim como aconteceu quando morreu Gaspar, um vazio cresce dentro de mim e me diz...
— Que você vai morrer em breve – completou Salomé ao ver que Melchior não queria fazê-lo. - Este é um problema, você não pode morrer! - Melchior corou e olhou para ela com surpresa e esperança.
— Você está preocupada? - sorriu divertido. Era um espertinho sem remédio, mordendo os lábios se afastou.
— Não brinque e supere esta fase – ela contestou, embora seu tom de voz não refletisse o que ela dizia.
— Eu... - Melchior se sentia seguro estando ao lado de Salomé, talvez fosse porque ela dirigisse uma as organizações humanas mais poderosas que escondiam o seu segredo, seres humanos com a capacidade de lutar com eles.
— Tem havido ataques a Lokis nestes últimos meses - ele não tinha dúvidas de quem seria o responsável, quando ela relatou as más notícias - muitos ataques e as famílias estão alteradas.
— Não se espere por Aemilia, comentou - lembrou a discussão que havia entabulado no cemitério e a advertência que estes lhe deram.
— Muitos Lokis foram seqüestrados e não deixaram vestígios - ela abraçou-se com calafrios - como era naquela ocasião.
— O pai de Marcus está morto.
— Mas a criança ainda tem o seu sangue - disse Salomé, com censura - é muito perigoso.
— Se ele fosse perigoso eu não estaria cuidando dele.
— Você tomou gosto por ele - o repreendeu.
— É mais do que isso, é minha família - Melchior também respondeu irritado.
— Os Bard estão preocupados com você e querem que volte para eles – no fundo de seu ser Salomé também queria que Melchior voltasse para a sua verdadeira família, assim talvez pudesse evitar esse destino.
— Não – ele respondeu - eu cometi um crime terrível.
— Mas foi necessário!
— Não! Jamais pude livrar-me de seu sangue e de seu olhar! - explodiu com raiva batendo na parede e fazendo-a saltar assustada.
— Melchior... você o salvou - Salomé veio até ele, tomou-lhe o braço e o fez olhá-la.
— Marcus era um grande guerreiro e nós terminamos com sua vida - ela abraçou-o – Desde esse dia ficamos marcados com seu sangue e nossos destinos ditavam morte.
- Essa regra absurda - Salomé acariciou seus ombros, havia vinte anos que não o fazia e ele recordou.
— Preciso de sua ajuda porque você é a única que pode guiá-los quando eu faltar - Melchior se separou um pouco dela, mais relaxado.
— O que faz você pensar que eu vou me intrometer – ela cruzou os braços - Ao Salomon's Club não é permitido, somos apenas mediadores.
— Eu trouxe algo que irá convencê-la - Melchior procurou no bolso de sua calça - Aqui está! - ele sorriu alegre e estendeu a mão.
— Por quê? – perguntou insegura.
— Não se irrite, por favor! - virou seus olhos vendo o absurdo da situação.
— Ok - ela estendeu a mão branca e fina e ele gentilmente entregou. Em seguida, ele mostrou o que seria o pagamento final. O anel de pérola branca que significava sua origem Licaon e sua herança Bard. – Por quê?
— Agora é seu - Melchior encolheu as mãos - Isso faz de você minha responsabilidade.
— Você é um trapaceiro!
— Desta maneira você não transgride nenhuma regra - ela olhou-o desconfiada, mas acariciou o anel e isto deu a Melchior uma razão para que Salomé não traísse o pacto.
— De acordo - Salomé se encaminhou para entrar na hospedaria - Eu vou chamar alguns amigos, eu tenho certeza que eles têm algo que necessitaremos - Melchior confiava nela totalmente.
— O que você disser preciosa - Salomé soltou um suspiro.
— Bah! Você é o pior - sorriu divertida, e antes de abrir a porta algo a fez voltar-se para ele.
Após todos estes anos Melchior aparentava uma masculinidade enérgica. Quando era uma criança sua mãe lhe havia apresentado e este tinha o mesmo aspecto desde então. Era pequena, mas entendia que aquele homem como os outros dois eram reconhecidos, algum dia mudariam o destino. Esta era justamente a razão de por que se havia enamorado deste homem. Quando se viram ele lhe deu caramelos com um sorriso sincero. Ainda esperava para retribuir o favor.
— Está frio aqui fora - ele sorriu quando ela o chamou - Por que você não entra?
— Um momento? - Melchior sabia o que aconteceria se entrasse e ela também, mas ambos já eram adultos para decidir. Salomé afastou-se e deixou-o passar, em seguida fechou a porta para levá-lo para longe, bem longe daquele lugar.
A morte havia chegado para ela, sentia em cada poro do seu corpo. O terror se albergava em seu coração, enquanto ela deslizava pelos corredores das catacumbas pela mão de seu subordinado. Angelique sabia que o iria encontrar em breve, era apenas uma questão de tempo. O cheiro pútrido dos esgotos estava chegando, lhe indicavam a saída mais próxima para a salvação.
— Por aqui minha senhora - Cristobal era seu servo mais fiel. Sua inteligência lhe havia servido em muitas ocasiões, a ela e ao clã inteiro, mas isso não queria dizer que seu poder se comparava com o dos inimigos que estavam à frente.
— Cristobal você é desnecessário, nos matarão - Ele a olhou como se acabasse de blasfemar, mas pegou a mão dela e com mais insistência a fez continuar.
— Talvez sim, minha senhora - a voz do jovem nosferatu a compadecia - Mas não podemos deixar que o sacrifício dos nossos companheiros não valha à pena.
— Aquilles e os demais foram uns idiotas - Angelique era uma mulher fria, mas nem por isso sentia menos a perda de seus subordinados - Eu disse a todos para fugir, mas ninguém prestou atenção!
— Aquilles pode não estar morto como os outros, não saberemos se nos rendermos - Angelique olhou para Cristobal, era realmente um cara bonito, talvez não só a sua inteligência a convenceu a ficar com o jovem jogador de golfe nos anos cinqüenta.
— Não tenho ilusões - Angelique sentiu uma vontade enorme de gritar e amaldiçoar - Asmodeus é um bastardo!
Cristobal olhou para sua senhora que se encontrava alterada e devastada pelo recente ataque à sua casa. Mesmo usando um vestido verde apertado e rasgado nos ombros, o sangue da luta tinha aderido a sua pele branca e seus cabelos pretos, escorrendo como um líquido vermelho escarlate. A batalha que havia sido realizada poucas horas antes deixou estragos em todos, especialmente nos nosferatus recém-convertidos de seu clã. Mas a maior surpresa foi ver Lokis cooperando docilmente com os seguidores de Asmodeus, se comportavam como cães famintos e sem alma. Se Cristobal não tivesse mantido um plano de fuga, estava certa de que sua existência agora estaria acabada.
— Você está indo para algum lugar?
Angelique deu um grito aterrador abraçando-se a Cristobal quando a figura de Asmodeus cobriu seu caminho para a liberdade, estavam tão perto. Ambos se mantiveram juntos e trêmulos, ao ver que o nosferatu não vinha sozinho. Ao seu lado se encontrava uma garota de cabelos vermelhos que havia eliminado com um só movimento a metade de seus amigos e comido seus corações, tornando-os cinza branca, ainda mantinha seu rosto e as mãos manchadas de sangue fresco, mas era tão bonita que doía. Cristobal não podia mover-se e sentia que cada parte do seu corpo se paralisava como cimento no chão, tudo o que podia permitir-se era ver o rosto daquela jovem mulher que lhe causava terror absoluto.
— É uma lástima que não tenham jantado conosco - a voz de Asmodeus era sombria, mas simpática, uma combinação tóxica para o inimigo. - Não se preocupe, minha linda amada tem reservas especiais para ambos.
O sorriso do nosferatu estava cheio de dentes pontiagudos e afiados, a ironia em seu rosto com o desejo irreprimível de sangue em seus olhos petrificava Angelique e seus subordinados. Lentamente, ela sentiu que sua mente estava sendo bloqueada e por mais de chorasse e gritasse por misericórdia em sua mente, um ninho de escuridão começou a cercá-la. Pouco a pouco seus braços foram se separando do corpo de Cristobal. Ele parecia encantado com a jovem de cabelos vermelhos, que se colocou ao lado do nosferatu e com seus tímidos braços abertos lhe indicava que se rendera a ela. Angelique não podia fazer nada, era como assistir a uma cena de filme na frente dos seus olhos que lentamente vai fazê-lo sofrer.
— Isso vai ensinar você a não relatar sem a permissão - foram as palavras ácidas que ouviu de Asmodeus, quando viu que a bela nosferatu se inclinava sobre Cristobal e esta se dispunha a devorá-lo como aos seus companheiros.
Ela fechou os olhos, lágrimas prateadas escorreram por seu rosto. Ela se manteve quieta esperando que a cena de Cristobal sendo extinto por um demônio desaparecesse como a neblina, esperou a sua vez, com o pouco valor que lhe cabia, e quando sentiu as mãos frias daquela jovem sobre os seus ombros pensou em Daniel com todo o seu ser. Ela suplicou aos espíritos que o seu sangue clamasse por vingança e o instrumento para lograr tal feito fosse só ele.
Capítulo 4 - SOL DE OUTONO
Essas palavras que estão presas
em meus lábios sabor de fel;
voltam para mim com um suspiro
e ferem a alma tinta
A noite contava aquelas histórias inconfessáveis, segredos dispersos como estrelas estavam começando a ser revelados e o sangue se derramava como água, líquida e suave. Um mar de corpos aderiam às fileiras dos mortos e o medo de encontrar o que não é desejado, atormentava as mentes daqueles que haviam liberado a um velho monstro.
Três batidas soaram naquele castelo que encontrava em silêncio total, três pancadas que romperam a harmonia aterrorizante de espera e os três golpes marcaram o início de uma guerra entre o sangue. Os habitantes daquele lugar permaneceram em silêncio, esperando e desafiando o inimigo imprudente a entrar, mas não se ouviram mais batidas. A maçaneta da porta principal se girou por dentro, uma mão masculina e jovem durante anos, dava passagem ao sinal de desafio. Os olhos azuis e os cabelos dourados brilhavam com intensidade sob a luz da lua quando, finalmente, a porta deu passagem a revelações indesejadas.
Daniel manteve sua postura, quando viu que na entrada principal do que até então considerava sua casa, estava o corpo desfalecido de Angelique. Ele rapidamente se abaixou e a tomou em seus braços, chamou a todos para se reunirem imediatamente e como se um alarme de incêndio os despertasse, todos se achavam ao seu lado escoltando a nosferatu que sangrava no chão. O olhar de preocupação em todos não foi nenhuma surpresa, estavam aterrorizados e sentiam medo.
— Meu Deus, isso é demais! - se lamentou Ester abraçando sua irmã, que a consolou.
— Daniel, coloque-a no sofá - Isaac já estava acomodando almofadas quando ele sugeriu isso e com cuidado deitaram a ferida no veludo vermelho.
— Ela está irreconhecível - observou Martha - seu rosto estava completamente desfigurado.
— Ela está viva? - Perguntou Elena tremendo tal como sua irmã gêmea.
— Está - Daniel apertou a mandíbula e tomou sua mão, ele se sentia tão impotente ao ver a alguém assim, especialmente a quem ele havia considerado uma aliada poderosa.
O corpo de Angelique foi dilacerado por completo. As feridas foram abertas na carne como se fosse papel. O seu belo rosto agora era um suspiro do que havia sido. Sem dúvida, ela estava viva por um milagre, especialmente tendo perdido muito do seu sangue antigo dessa forma. Seu vestido só cobria algumas partes de seu corpo e resto foi perdido entre o sangue e a carne. Daniel tomou delicadamente a mão de Angelique e prometeu fazer pagar os responsáveis por isso.
— Eu vou dar o meu sangue - alertou aos seus companheiros, mas não deu tempo para responder, sem hesitação cortou o pulso esquerdo e sangrou o fio vermelho por todo o corpo da ferida - processo de cicatrização é longo se não contamos com alguma ajuda dos Mausoleum – ele disse - Crow! Vá buscar Omar comunique a situação e se ele responder com uma negativa, diga que estou cobrando um favor que me deve.
O mais fiel de seus subordinados assentiu obediente e desapareceu na sombra. Ninguém falou durante o tempo que Daniel curava Angelique, a concentração que este requeria era de um elevado nível e se alguma coisa saísse errada podia ser que ele também foi ferido, já que a conexão com o ferido era mental.
— Você devia deixar que alguém mais a curasse - Martha falou a seu lado e olhou desgostosa - Você sabe perfeitamente que suas forças diminuirão e isso é exatamente o que eles querem.
— Eu sei - Daniel não se voltou para vê-la. Necessitava terminar com o ritual e não queria dizer a Martha que ele, provavelmente, era o responsável por tudo aquilo.
— Meu senhor - Isaac só punha esse tom autoritário de falar quando sentia que Daniel se descontrolava e suas emoções estavam a ganhando - você sabe perfeitamente bem que se você cair, nós todos teremos a mesma sorte.
— Você não tem que me lembrar – ele olhou-os furioso - mas eu não sou tão irresponsável para não cuidar disto.
Levantou e ficou ao lado de Angelique e com uma rapidez assombrosa suas feridas se curaram, em instantes. Enfocou o seu olhar na nova parceira que estava agora sob o seu teto e proteção. Pablo olhou para ele compreensivo e abraçou a garota pela qual, haviam tido muitos problemas. Paula, a licaon, estava observando tudo com muito interesse e reprovação, era uma garota belíssima para alguém tão jovem. Seu cabelo louro e olhos verdes não se adequavam a esse lugar, era como uma planta de campo, no meio de um pântano escuro cheio de suas primas carnívoras. Daniel tinha começado a conhecê-la, desde que Pablo lhe explicou a sua ligação com ela e seu crescente amor. Embora com dúvidas, deixou-a fazer parte de seu clã, não podia lhe ter um grande apego. Ela representava aquele que lhe havia tirado Vane e naquele momento ele a tinha ao seu lado.
— Eu recebi notícias da parte de Gabrielle - A menção de um dos Heralds na presença de Paula era algo raro e nada cômodo, mas tinham que acostumar-se. - Fui informado de que Adão e Eva se encontram bem e que os demais estão espalhados por todas as partes, procurando os líderes de cada clã para levar a cabo uma estratégia defensiva contra a ameaça.
— Isso quer dizer que temos de encontrar com um clã para nos aliarmos, certo? - Martha olhou para ele interrogativa, de todos era a mais desconfiada, mas não duvidava em absoluto de os seus líderes.
— Sim - Daniel passou a mão pelo o cabelo e seu semblante desesperado o fazia parecer mais velho no corpo jovem que ele tinha - Eu pensei muito e acho que devemos nos juntar aos Mausoleum.
— É por isso que você mandou chamar um de seus membros? - Isaac cobriu o corpo de Angelique com um cobertor macio para evitar a dor.
— Em parte - encolheu os ombros - Eu não acho conveniente ir por nossa conta. Necessitaremos de um grande apoio e com respeito a Mikael, não colocará objeções desta vez.
— Essa mulher é tão poderosa? – A pergunta de Paula os deixou perplexos, eles não esperam que ela começasse a aprender tão rapidamente seus costumes e muito menos os seus segredos.
— Ela é um ser a quem todos devemos temer - disse Daniel, chegando perto dela - Ela não é uma nosferatu qualquer - seus olhos mudaram para uma intensa prata – Ela é a mãe verdadeira e única.
— Isso significa que meus irmãos estão em perigo, não é? - Ela era uma garota forte e Daniel não ia mentir, quando ele balançou a cabeça sabia que estava fazendo a coisa certa.
— Paula você não pode ir para junto de seus irmãos agora - Daniel caminhou até Angelique e contemplou o resultado de um conflito cruel - Necessitamos estar juntos neste momento e se você se afastar de Pablo, é bem possível que ele acabe ferido, entende?
— Sim.
— Os Heralds já foram alertados por Aemilia.
— Nicholas ainda é perigoso e com isto tudo, sua força certamente aumentou - Pablo abraçou Paula e olhou severamente para Daniel - Eu não vou permitir que alguém que eu amo seja ferido.
— Só nos resta esperar Pablo – as sensações auxiliares saiam de Daniel como ondas expansivas.
O frio rompia os ossos, a pele congelada se sentia como mármore branco. Ela se encontrava em um sonho, um muito distante e pelo que notava muito solitário. Vanessa passou o olhar pelo campo cheio de neve branca, uma pequena nevasca roçou o seu rosto e a fez espirrar. Ela começou a caminhar lentamente, algo lhe dizia que se encontraria com algo e tinha que ver com seus próprios olhos.
Na distância a entrada de uma floresta anunciava o fim do seu longo caminho e acelerava o passo sem olhar para trás. Os pinheiros estavam completamente nus e cobertos por uma espessa camada de neve. A lua só podia iluminar um pequeno caminho por onde corria entre as rochas e o solo. Depois de um tempo, vozes a todo pulmão gritavam e desfaziam o ambiente silencioso. Ela podia sentir o calor de uma parte e que a guiou até um pequeno apartado onde um fogo intenso e flamejante reclamava sacrifícios como castigo.
Em torno deste estavam homens vestidos com peles de animais, eram fortes, de compleição ágil e forte, sobressaiam das mulheres que pareciam pequenos coelhos brancos com cabelos como cortinas sobre seus rostos. Todos pareciam estar concentrados em um homem e uma mulher que estavam de joelhos, com as mãos e pés atados. De suas bocas pareciam sair maldições enquanto eram jogados contra eles punhados de terra causando danos aparentes.
Um homem velho, com seu cajado chegou com grande alvoroço. Batendo com o cajado contra o chão falou com voz de comando. Vane notou como começaram a afogar o homem prisioneiro em um balde de água, seus cabelos negros e sedosos se espalharam como fios nos braços dos captores, enquanto este era torturado, o ancião olhou com ira para a mulher que ainda tinha a cabeça abaixada. Seus cabelos como chamas brilhavam mais que nunca e um sentimento de temor se apoderou de Vane quando o chefe deu a ordem, ao que parecia, de jogá-la ao fogo, que bailava alegre esperando o primeiro sacrifício.
— Meu Deus, ela é ...! - Antes de Vane reconhecer um dos homens olhou o rosto da mulher revelando Lilith a futura rainha nosferatu.
Esta não suplicava. Seu rosto estava marcado pela ira e olhava fixamente a todos. De repente, o homem que estavam afogando se livrou de seus opressores e revelou o rosto de Caim, o pai de Adão, Eva e Seth.
— Lilu! - gritou, mas antes de seus braços aprisionarem a mulher esta fez com seus cabelos crescessem de uma forma aterradora, pareciam serpentes vivas que tomaram o pescoço de cada um dos membros reunidos ali e os quebraram como se fossem qualquer coisa. Em seguida, estes aprisionaram o velho que contemplou com horror como a mulher caminhava entre as chamas até chegar a ele. Ela parecia dizer algo e depois o esquartejou vivo manchando o chão branco.
Caim estava tremendo e viu tudo com os olhos assustados, quando percebeu que Lilith estava vindo na direção dele começou a se afastar. Mas ao vê-la explodir em lágrimas, seus olhos se encheram de compaixão e se aproximou para abraçá-la. Ela era pequena, a primeira vista poderíamos dizer que também era frágil, mas dentro de ambos, eles sabiam como Vane também, que nada era o que parecia.
— Lilu – Caim chamou seu nome carinhosamente, quando ela o olhou parecia triste, em seguida, se beijaram e deixaram que o sangue caísse dos finos cabelos de Lilith.
Vane queria saber quem foi Lilith, mas neste momento tratava de entender o ódio que sentia por todos. Um ódio tão grande que inclusive havia sido capaz de apartar a quem mais amava. Algo em seu passado e seu futuro, de repente, tinha algo a ver com ela.
A cauda espessa de Merlin a acordou. Estava assustada quando percebeu que era o gato, que estava em seu quarto. Deu um suspiro profundo de relaxamento. Ela se levantou e percebeu que já eram mais de duas horas da tarde e tinha adormecido enquanto escrevia seus sonhos passados. O computador que Marcus lhe tinha dado foi suspenso e agora esperava para a escritora colocar as mãos ao trabalho. Ela o fechou e colocou sob a cama, seguindo o gato preto, que miou baixinho.
— Merlin, desculpe, eu esqueci que você tinha que comer meia hora atrás - ela se desculpou e isso lhe provocava algum embaraço, ela nunca teria imaginado pedir desculpas para um animal.
Quando ela estava passando pelo quarto de Eliseu ouviu um monte de confusão. A curiosidade a fez parar e chegar para descobrir a razão. Ela estava a ponto de colocar a orelha à porta quando esta se abriu e revelou Eliseu com uma mala esportiva de viagem no ombro e um par de óculos escuros; vestindo jeans escuro e uma camisa alaranjada que o faziam parecer muito jovem, uma jaqueta marrom em torno de sua cintura e sua expressão de surpresa tirou Vane da sua inspeção.
— Vane? O que você está fazendo? - Ela corou como um tomate ao ser pega bisbilhotando.
— Eu... bem... eu ouvi muito barulho e eu quis saber o que era - ela desviou o olhar para evitar o olhar de Eliseu - O que você está fazendo?
— Estou viajando para a Argentina - Eliseu respondeu secamente, seus óculos escondiam o rosto, mas Vane apostava que ele estava franzindo o cenho – Te falei sobre como gostaria de viajar para a América, mas com o funeral... - Um tom de tristeza invadiu sua voz. Era óbvio que para Eliseu a morte de seu mentor e o abandono de Paula, haviam feito uma ferida profunda em seu coração.
— Sim, eu me lembro - Vane olhou para Merlin, que passou entre as pernas de Eliseu e se afastou dando saltos de forma ágil. - Você realmente tem que ir? - O rapaz sorriu polidamente e tirou os óculos, revelando seus belos olhos verdes floresta.
— Sempre faço estas viagens, é um hábito - ele encolheu os ombros, enquanto desciam as escadas – se bem que nestes momentos não podemos separar-nos, mas Marcus me compreende.
— E Elias? - Referindo-se ao irmão mais velho de Eliseu.
— Elias sabe bem como é a minha forma de vida - embora ele tenha dito com despreocupação, algo advertiu Vane de que nem tudo era verdade.
— Eu sentirei muito a sua falta - ela tocou o seu braço quando eles chegaram ao fim das escadas. Ele sorriu novamente e lhe deu um tapinha para levantar os ânimos.
— Não vou demorar, são apenas alguns meses.
— Tome cuidado – ela o abraçou e este surpreendido também a abraçou deixando cair a mochila.
— Obrigado Vane - ele beijou seu rosto e sua mão - Vou te trazer algo bonito - ele piscou um olho levantando sua mochila e colocando-a em seu ombro, em seguida caminhou em direção à porta.
— Não vai se despedir de ninguém? – ela perguntou triste, ele olhou para ela sorrindo, num tom brincalhão respondeu:
— Nunca me despeço - ele riu - Por que fazer isso se eu voltarei - Assim dizendo, abriu a porta e saiu. Poucos minutos depois, o motor de uma motocicleta foi ouvido e o rugido se foi apagando conforme se afastava da mansão.
— Volte logo Eliseu.
Capítulo 5 - PRINCIPE AZUL
Cartas escritas ao vento
Versos perdidos na mente
Escuros desejos proibidos e rejeitados
E o seu fantasma de volta para mim
— Tudo vai ficar bem?
Téo andou de mãos dadas com Susana sendo escoltados para uma sala que seria o destino da criança. Ela olhou-o intensamente, o brilho em seus olhos revelava inquietação, mas uma profunda confiança de que nada iria acontecer.
— Você vai encontrar alguém muito importante querido.
— Quem é? – a inocência Téo a oprimia e suas palavras eram punhais que a atravessavam neste momento.
— Logo estaremos aí.
Ficaram em silêncio até eles chegarem frente à porta destinada. Os guardas abriram com uma vênia respeitosa e deixaram passar Susana com Téo, que começou a tremer sem motivo aparente. Quando Susana seguiu seu olhar notou que este o enfocava sobre Lilith, a mãe.
— Boa noite - a voz de Asmodeus a fez estremecer, mostrou seus respeitos e deixou que este tomasse a sua a mão e a beijasse respeitosamente.
— Boa noite, meu senhor - Ele sorriu, indicando que tinha algo em mente, escuro demais para dizer. Ele fixou a sua atenção sobre o menino ao lado dela. Ele se escondeu timidamente e nervoso atrás de Susana.
— Que prazer em conhecê-lo Téo! - Asmodeus saudou calorosamente abrindo os braços e convidando a criança a aproximar-se dele. Ele, contudo, seguia atrás de Susana, que não pensava em mover-se nem um milímetro.
— Você sabe o meu nome? - Foi a resposta tímida de Téo, que observava com seus olhos castanhos claros este ser enigmático.
— Claro que sim - Asmodeus estendeu a mão e Téo a tomou com um pouco de relutância - Isso, venha aqui - e o abraçou carinhosamente.
Susana viu como os olhos de Asmodeus mudaram de cor para um branco impenetrável quando sentiu o cheiro do sangue Téo. No entanto, mudou novamente quando a criança olhou para ele, este acariciou a cabeça de Téo e sorriu carregando-o contra seu peito e levando-o na direção de Lilith que estava sentada em uma espécie de cadeira vermelha e observava a criança com extrema curiosidade. Para Susana o pensamento de que Téo estaria perto dela aterrorizou-a e sem fixar-se tomou o braço de Asmodeus, que lhe deu um olhar reprovador.
— O que você pensa estar fazendo? – a pergunta deste, fez com que o soltasse como se seu braço fosse um carvão em brasa.
— Desculpe meu senhor! – se desculpou nervosa.
Asmodeus se destacava como um líder generoso diante de seu grupo de nosferatus, mas jamais perdoaria uma falta para sua amada Lilith, embora esta fosse responsável pelo incidente. Essa era a verdadeira razão de Susana apertar o coração quando esta chegou perto de Téo, o olhou com seu olhar furtivo e o estudou como seu próximo jantar. Desejava gritar e tentar protegê-lo, mas o mesmo medo a impedia de avançar, a criança estava agora nas mãos do destino.
— Téo - Asmodeus acariciava o cabelo do pequeno, mas este ainda estava concentrado no olhar que lhe ofereceu Lilith - Não fique nervoso, olhe-a bem Téo - Ele colocou a criança ao seu lado enquanto ele falava em seu ouvido - Observe a majestade quando a tem em sua frente.
Lilith também parecia muito interessada no que fazia Asmodeus, mas não se mexeu e procurava manter-se quieta como uma estátua de mármore vivo. Ela esperou que seu amante chegasse mais perto com o pequeno. Ele lhe causava curiosidade, de certo modo Lilith sempre havia permanecido em letargia e criando outros mundos em sua cabeça, mas desta vez, ela fez força para se concentrar exclusivamente no pequeno.
— Dá-me.
Todos prenderam a respiração, inclusive Asmodeus mostrou uma expressão contorcida quando Lilith falou claramente, mais que pedindo, era uma ordem o que saia de sua boca. Por anos se havia limitado a falar com seu amante, mas agora ele e os nosferatus de guarda ouviram a sua voz, era um acontecimento terrível e maravilhoso. Uma mistura de veneno e ambrosia juntos.
— Téo, eu te apresento Lilith - Asmodeus encaminhou o menino para ela.
— Boa noite, senhorita - a voz inocente e quente de Téo encheu a sala. Lilith mostrou-lhe um olhar irritado.
O pequeno se colocou em frente a ela, enquanto Asmodeus sorriu maliciosamente. Téo nervoso movia os pés e segurava suas mãozinhas em um nó com os pequenos dedos finos. Então sentiu como a delicada e suave mão da mulher tocava contra sua pele. Ela acariciou seu rosto e os seus cabelos castanhos pareciam hipnotizá-la.
— Seth - Lilith pronunciou esse nome com um gemido e colocou as mãos no ventre para logo em seguida, dar um grito pungente - Sethhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Téo ficou apavorado e correu para os braços de Susana, que o agarrou contra ela com firmeza, enquanto rezava aos espíritos para que suas existências não atingissem seu fim. Asmodeus tratou de chegar perto de Lilith, que não achava paz e começou a rasgar o sofá onde estava sentada. Suas unhas transpassaram a pele de Asmodeus ao esbofeteá-lo na cara e fez três enormes rasgos que o fizeram gritar de dor, mas estas imediatamente começaram a cicatrizar, sem deixar marca. Depois, ela só ficou gritando, sem qualquer penalização para ele.
— Para fora! – com a voz rouca ordenou para todos os presentes, sem dúvida fizeram o que foi ordenado - Saiam todos! - Susana saiu correndo com Téo, mas ela sentiu que suas pernas estavam congeladas como blocos de gelo - Você não querida.
— Por favor, meu senhor – suplicou, com Téo tremendo em seus braços - Não faça isso, eu lhe peço, detenha-a.
Lilith continuou gritando aquele nome e começou a quebrar tudo com a sua força incomum. Asmodeus, enquanto isso, com um lenço limpava os vestígios de sangue em seu rosto e com um ar ameaçador indicou a Susana que fora ele que fez isso. Esta o obedeceu com pesar e fazia pequenas carícias nos ombros de Téo e lhe dizia para se acalmar.
— Ouça bem, querida Susana – e a pegou por um braço - Eu sou muito paciente e benévolo, mas tudo tem um limite.
— Téo não fez nada - Susana disse nervosa com o olhar no chão - Eu peço que você não o machuque - este sorriu e pegou a criança que de tão surpreso não opôs resistência.
— Diga-me Téo - ele falou e este lhe olhou com ar interrogativo - Por que você acha que ela está assim? – acenou para Lilith, que então se virou e caiu em um estado inconsciente, segurando as pernas com os braços e tremendo, era como uma pequena lebre foi apanhada.
— N-não sei - negou o menino com os olhos tão tristes e desconsolados - Ela sente falta de Seth - Asmodeus ouvi esse nome que ele desprezava tanto e voltou a se aproximar do sua amada.
— Minha querida - ele chamou-lhe com uma voz suave, enquanto se ajoelhava ao seu lado com Téo em seus braços – Minha amada - pegou uma de suas mãos e esta o olhou com os olhos vazios que lhe encantavam - Eu te prometi sangue poderoso, não foi?
— Sangue! - Esta abriu os olhos como dois pares de estrelas e de repente era como se a vida a houvesse inundado - Sangue! Abel! Sangue! – sua voz apresentava uma nota alterada.
— Tranquila, fique tranqüila minha linda menina - Asmodeus a beijou na testa e ela observou Téo novamente - Você apenas tem que esperar para obter este sangue.
— Tanta fome! Queima! - gemeu novamente e abraçou o seu pescoço soluçando - Fome! Abel! Sangue!
— Abel já se mostrou, finalmente você voltará a vê-lo - Asmodeus baixou Téo até que os três estavam em um abraço comunal, em seguida, virando o olhar para ela e ela olhou para o menino.
— Fome... desejo... fome... - aos olhos de Téo ela parecia uma menina tão suave e gentil. Era um ser capaz de destruir castelos e gigantes, mas seu rosto não refletia mais do que uma menina.
— Ele é Téo – ele o apresentou - e ele pode acalmar o que tanto desejas neste momento – sussurrou.
— Não! Não! Pai! - Susana rasgou sua garganta com gritos frustrados – Não o Téo!
— Susana - este sorriu com tão doce indulgência que ela tremia de medo e caiu no chão soluçando - Eu acho que você entende.
— A fome... - Lilith soltou os braços do pescoço de Asmodeus e os dirigiu de novo para Téo. Ela o tomou nos braços e o acariciou, mostrando um sorriso - Fome... - Ela se aproximou de seu pescoço - Sangue... – cheirou o aroma inocente e salientou as suas presas abraçando o pequeno para que não fugisse - Sangue... Poder.
Téo saiu de seu devaneio e sentiu uma forte pressão sobre o seu pescoço e gritou assustado. A dor correu como um veneno através de sua pele, de seu sangue. Desesperado começou a chutar e gemer, era muita dor, muito sofrimento, ele sentia que estava queimando por dentro, as chamas o consumiram. Sua mente estava em branco, como se fosse um papel. Começou a criar um mundo cheio de felicidade, de amor, se imaginou rindo, se divertindo sob a lua, cantando uma canção que ele nunca ouviu e alguma coisa em sua mente o convidava a fazê-lo. A dor parou, a angústia desapareceu e o tempo se deteve. Ele se encontrava sentado ao lado de Lilith no meio de um campo cheio de flores noturnas, os dois estavam de mãos dadas e cantando essa canção. Ela chorou e sorriu, ela imaginava que depois de tudo isso se voltaria a viver.
— Solte-o! Deixe-o! - A voz entrou em sua mente e uma faísca que queimava o seu sonho se perdeu e ficou consciente da realidade.
Lilith apertou os lábios contra o pescoço de Téo e mantinha os olhos fechados. Ao seu lado, Asmodeus esperava desesperado para que deixasse a criança. Ele tinha pensado que ela iria terminar com a criança em um tempo, mas em vez disso, ela tinha tomado tempo saboreando e apreciando o que parecia ser a alma do doador e não o seu sangue como até o momento pensava. Quando ele tentou sacudi-la, ela se moveu com Téo entre seus braços, tão rápido que nem mesmo ele sabia como eles haviam chegado até a varanda. Ela dançava na grade e Téo sorria com os olhos fechados, aparentemente foi divertido. Depois do que pareceu uma eternidade, ela parou de beber e Téo abriu os olhos. Ambos se olharam intensamente como se houvesse um segredo que eles guardariam.
— Sangue... Poderoso - Ela sorriu e deixou Téo voltar para os braços de Susana que chorava aliviada.
— Amor... – lhe disse ele. Lilith se moveu de novo e depositou um beijo ardente nos lábios de Asmodeus, esse foi o sinal para que ele despedisse Susana, que não demorou a sair apressada do quarto.
— Sangue... Poderoso - ouviu-a sussurrar em seu ouvido enquanto ele desamarrou as cordas que prendiam o seu casaco de cetim - Sangue... ardente... poderoso... desejo.
— Assim que o sangue... bem, você pode pegar o que quiser - disse-lhe um pouco ressentido – se o meu sangue já não é suficiente – lhe doía recriminar-lhe, mas sabia muito bem que ela não entenderia nunca a sua mudança, era como uma flor aparada neste momento.
— Eu... Asmodeus... desejo... quero - beijou a sua orelha e lambeu seu rosto. Ele a tomou delicadamente e a guiou até o sofá destruído – Mais... sangue... fome.
— Tudo o que você quiser - disse com entusiasmo e miséria – apesar de ser o que menos quero.
— Meu... meu... ninguém... tocar - Lilith se encostou sobre as almofadas rasgadas e puxou Asmodeus, rodeando-o com suas pernas - Sangue...
— Lilith - Seus beijos eram vazios, suas carícias apaixonadas, carentes de vida e ainda o levavam ao céu quando ela decidia que não era suficiente.
Susana observou as marcas que a Mãe havia deixado em Téo, estavam vermelhas e só com o tempo se curariam. Uma raiva profunda se apoderou dela, mas enquanto o curava e tranqüilizava, tratava de não voltar e rasgar o pescoço de quem por direito merecia absolutamente tudo.
— Ai! Mamãe, isso dói! - Os olhos de Téo estavam cansados e mostrando sinais de irritação, mas um inocente sorriso emoldurou o rosto dele - Ela gosta de mim.
— Quem? - perguntou, mas sabia a resposta.
— A menina ruiva – anunciou Téo voltando-se para ver o reflexo da lua - Ela me contou um segredo.
— Por mim você não voltará a vê-la - a sua sinceridade o assustava, mas ela não poderia mentir para seu filho.
— Ela sofre – Téo abraçou Suzana e esta acariciou a sua cabeça - Papai disse que ela calaria os gritos - Nicholas ainda significava uma forte ligação com Téo e Susana por que suas almas nunca tiveram que fundir-se.
— Se eu pudesse te afastaria de tudo isso, meu menino - Susana olhou para o espelho em seu quarto, era tão antigo quanto ela, refletia o seu nascimento e também a despedida - Ninguém pode voltar.
Ela realmente queria voltar.
Asmodeus beijou o ombro nu de Lilith e a cobriu com seu manto, acariciou seus cabelos e os cheirou. Retirou-se com cautela e caminhou rumo à janela. Arrumou a gravata vermelha e alisou o cabelo, seu terno negro cercava a sua figura e lhe dava uma atração misteriosa, em tempos anteriores a sua beleza havia sido das mais destacadas e deslumbrava ao passar de braço dado com sua amada, mas sempre teve tempo para prestar atenção a qualquer outra mulher que o atraísse. Sua vida se enchia com o que Lilith respeitava e sem ela seu desejo jamais se cumpriria. Só tinha que encontrar quem atormentava os pensamentos de Lilith.
— Olá, querido Pai - Nicholas o chamou zombeteiro e isso o fez virar-se e encarar aqueles olhos azuis como o fogo.
— Por que você demorou tanto tempo? - ele respondeu sereno.
— Porque eu gosto de ser o centro das expectativas, hahaha - Ambos eram semelhantes e Asmodeus sentia que talvez por isso, havia necessitado de converter Nicholas e ele não estava errado.
— O que você achou?
— O que nós esperávamos, pai - Nicholas caminhou com esse andar despreocupado que a muitos alterava, mas não a Asmodeus - Eles estão nos procurando com desespero.
— Onde estão eles? – os olhos de Asmodeus se iluminaram para um branco ameaçador.
— Os Heralds se dispersaram e se te referes a Eva - encolheu os ombros - ela e seu irmão se esconderam tão bem que não parece que sua existência perturbe.
— Temos de encontrá-los - Asmodeus mordeu os seus lábios, cheio de raiva - Precisamos encontrar o terceiro.
— Então... nós ainda precisamos dos lokis? – ele sorriu com malicia.
— Sim - Asmodeus se relaxou e caminhou até ficar ao lado de uma Lilith adormecida - Eu também quero que você averigue algo mais.
— Bem - Nicholas sentou-se no chão como uma criança que estava prestes a receber ordens.
— O sangue de Abel vibrou nesta terra - pronunciou Asmodeus - Eu necessito daquele que possui este sangue agora.
— Abraão! - Nicholas anunciou.
— Não! - Rugiu Asmodeus - Eu quero aquele que se atreveu a desafiar-nos.
— Isso não me agrada nada - o jovem nosferatu lhe arremeteu um olhar cheio de ódio – você não vai trazer para este lugar, esse estúpido.
— Esse ser será aquele que inclinará a balança a nosso favor.
— Nós podemos usar a escritora - disse ele esperançoso - Ela possui o mesmo sangue.
— Eu sei - Asmodeus segurou o cabelo de sua amada e o manteve como se fosse o mais belo e delicado do mundo - Seu irmão também tem o mesmo sangue - Nicholas sorriu satisfeito.
— Você viu o Téo? – ele perguntou.
— A criança tem sangue poderoso - anunciou Asmodeus, acomodando de novo a mecha de cabelo vermelho no lugar - no entanto, o sangue desses irmãos não é que buscamos neste momento.
— Eu amo a escritora - A fúria na voz de Nicholas era forte - uma vez você me negou.
— Mas eu a devolvi de novo - Asmodeus refutou – Você mesmo a perdeu.
— Então, me dê outra vez.
— Então você deve conseguir o que tanto quer o meu amor – ele assinalou para Lilith - e esta será a sua recompensa.
— Então, neste caso, lhes darei o que tanto desejam.
A presença de Nicholas desapareceu na noite gelada. Asmodeus sentiu um súbito amargor na boca, se livrou de todos os sentimentos gratificantes e voltou para a janela. Ele fechou as cortinas com cuidado e verificou se a luz das velas não incomodaria Lilith. Ele se acercou dela e sentou-se ao seu lado. Ele prometeu conseguir o que durante séculos tinha esperado. Paciência foi uma de suas maiores virtudes e a estratégia era a sua melhor carta no jogo.
Capítulo 6 - VERDADE, MENTIRAS
Minha musa sussurrou essas palavras,
minha musa tocou minha mão,
E escrever cartas em papel
declarar minha insanidade
O cigarro tocou seus lábios novamente. A fumaça subiu no ar gelado e deixou o rastro de onde ele estava. Seu braço estava apoiado na parte de trás da porta de seu carro, enquanto observava a entrada da mansão onde se encontrava a Aemilia. Esperava as duas pessoas que estavam dentro e que haviam decidido pedir ajuda aos grandes chefes.
Adolfo permaneceu sério sobre o assento de couro de seu carro, seu terno marrom se agarrava ao seu corpo em uma sintonia harmoniosa com sua pele branca, carregava um isqueiro que abria e fechava enquanto esperava que a reunião solicitada terminasse. Foi então que ele viu a porta se abrir e dar passagem a uma bela mulher de olhos verdes e cabelos castanhos. O vestido vermelho queimado e seus lábios tentadores lhe avisaram que ela vinha para ele. Esta olhou para os dois lados antes de atravessar a rua com um salto agulha e chegar sorrindo à sua janela. Ela era uma mulher em todos os sentidos, suas curvas delineavam o seu busto e quadris, ela despendia o cheiro adocicado dos feromônios que havia herdado da casa dos Croix Noir.
— Por que tão sozinho irmão Sol? - Juliette o paquerou movendo seus cílios para cima e para baixo rapidamente.
— Não é surpresa te dizer que me negam a entrada na Aemília - Adolfo sorriu cinicamente e isso era o mais encantava especialmente a Juliette.
— Dá para notar que você passou uma noite ruim – ela se acercou dele e pegando no seu queixo, inspecionou o seu rosto.
— Solta - Adolfo se esquivou e continuou fumando.
— Não me convida para entrar? - Juliette colocou a mão na cintura dela e alisou o vestido em um perfeito convite.
— Não te renegarão? – lhe respondeu ele.
— No momento estão tão focados nos ataques lokis - sorriu divertida – que nem sequer o meu caso de amor com um Sol pode danificar a minha reputação.
Adolfo tinha estado muitas vezes com Juliette. Não se arrependia de nada em absoluto, mas ele sabia muito bem que o relacionamento que teve com ela era simplesmente para dissipar seus temores verdadeiros e enquanto para ela havia sido um capricho, uma de suas maiores motivações. Com elegância abriu a porta e disse-lhe para entrar. Juliette sentou-se em suas pernas e logo o beijou apaixonadamente, seus lábios se encontraram e ela saboreou o gosto da vitória. Fechou o carro e se aconchegou junto a ele, apertou as pernas dele com as suas e ele a tomou pela cintura, para mantê-la quieta se necessário. Quando separaram suas bocas Juliette sorriu com fingida inocência.
— Eu sempre gostei de você - disse e tomou-o pela gravata, brincando um pouco - desde aquela vez que eu vi você na Itália saindo do castelo de sua família.
— Isso foi há muito tempo - ele franziu a testa e parecia irritado - eu prefiro não lembrar nada sobre isso.
— Mas, você era tão inocente! – Exclamou divertida Juliette beijando seu pescoço e mordiscando sua orelha – Apesar de você só ter treze anos... - umedeceu os lábios, saboreando a textura de Adolfo - senti por você uma paixão enlouquecedora.
— Perversa - Adolfo sorriu - Eu tinha acabado de completar treze anos.
— Mas você era tão bonito!
— Era? - Ele levantou uma sobrancelha divertido e ela acariciou o seu rosto e sorriu.
— Você continua sendo - declarou - mas aquela era a primeira vez que eu conhecia a um Sol que descendia do clã italiano dos Croix Noir.
— Fui o primeiro.
— Baltazar sabia - Juliette enrugou a boca - mas quando eu era pequena ele já tinha séculos de emancipação! - ela levantou os seus olhos para o céu - por isso foi difícil encontrar-lhe.
— Por este motivo eu era o novo fenômeno - Adolfo declarou com ódio total, no entanto Juliette não pareceu surpresa com suas reações.
— Sim... você era o novo brinquedo - tomou sua boca e a beijou - Mas você era um brinquedo novo muito bonito.
— Seu primeiro brinquedo novo - Adolfo disse isso com despreocupação e recordando uma Juliette de quinze anos escapulindo com ele para os jardins da mansão da Aemilia.
— Ninguém sabe sobre isso - ela colocou suas mãos sobre os seus ombros e inspirou o aroma que despendia dele - Quando é que podemos estar juntos? - perguntou cansada.
— Não é o momento e nem o lugar - Adolfo a separou e com um movimento rápido a colocou ao seu lado no banco do passageiro.
— Pois eu acredito que é sim – os olhos de Juliette mudaram para um dourado perigoso quando se jogou para derrubá-lo sobre seu assento – Adolfo... Adolfo... - gemeu desabotoando seu casaco - Se eu pudesse ter você ao meu lado.
— Isso seria muito chato - ele riu e ela deu-lhe um tapa.
— Maldito Sol! - sua fúria transmitia a frustração da rejeição - Ainda pensas nessa...! Lembre-se bem disso Adolfo! - pegou seu pescoço e apertou forte - Ela nunca voltará a fazer parte da nossa família! Traição com traição se paga!
Ele a olhou em seus olhos e viu o que os homens colocam de bom humor ao contemplar os ciúmes puros de uma mulher para com ele. Talvez fosse uma vaidade mórbida, mas nunca se pode negar que ser reconhecido como pertencente a outro eleva a alma, embora esta seja cheia de morte. Mas uma sombra o alertou imediatamente tomando os pulsos de Juliette e girando-a para protegê-la do iminente ataque exterior.
— Abaixa! – gritou e Juliette surpreendida se deixou cobrir por seu corpo para amortecer a queda dos vidros quebrados da janela pelos sucessivos golpes que deram no carro.
— Q-que acontece?! - alterada Juliette levantou a cabeça, mas Adolfo a abaixou quando sentiu que vinham novos golpes.
— Maldição! - grunhiu este - Nós temos que ir antes que eles acabem com essa coisa!
— Adolfo! – gritou Juliette quando sentiu que este a alçava da cadeira e dava um forte golpe na capota do carro libertando-os de seus agressores.
Ambos se mostraram tensos ao ver que não havia nada que parecia atacá-los por toda a rua deserta de tráfego e das pessoas. Adolfo pegou a mão de Juliette e indicou que tinha de correr para a Aemilia, já que aparentemente não haviam notado os intrusos. Esta concordou e com certo tremor começou a soltar-se para sair correndo. No entanto, um enorme Loki apareceu diante dela e estava prestes a arrancar-lhe a cabeça de um golpe, o que forçou uma retirada de Adolfo, que a abraçou contra ele.
— Por Deus! É um Loki! - soluçou aterrorizada Juliette.
Adolfo certamente pensou que os Lokis eram seus irmãos de espécie, mas tão diferentes na vida que ninguém poderia dizer que tinham a mesma classificação de concentração e aparência. Porque enquanto os Licaons são seres racionais de uma transformação total de antepassado lobo, os Lokis não respeitam isso, seu corpo em total transformação era um híbrido, um cruzamento entre um humano e um lobo, além de não ter o controle de suas ações. Sua força, entretanto, poderia ser mortal para os inexperientes. Levando tudo isso em conta Adolfo se concentrou em dar o primeiro golpe, mas para sua surpresa, outro Loki apareceu entre os destroços do carro.
— Adolfo! - Juliette se agarrou a ele, mas também estava disposta a lutar sempre que necessário.
— Juliette - ele sussurrou em seu ouvido para alertá-la - Há mais, posso senti-los.
— Devemos nos livrar deles – ela respondeu, olhando por cima dos ombros – atrás de você há, sem dúvida, outras três presenças que estão se escondendo.
— Aparentemente é uma caça.
— Eu não gosto disso - Juliette se descolou dele e se colocou ao seu lado, ainda segurando a sua mão.
— Me desculpem rapazes, mas eu acho que não podemos ficar.
Neste momento bateu no primeiro deles, mas em seguida o segundo o atacou direto pela retaguarda. Juliette o defendeu, batendo no Loki com todo o seu corpo e fazendo-o bater contra um poste de luz. Adolfo deixou inconsciente a outro, após ver que ele estava muito quieto. Virou-se e observou que os Lokis seguintes apareciam correndo para atacá-los, o maior e que aparentemente liderava a esse grupo, atacou Adolfo, enquanto os outros dois não duvidaram em tomar proveito da situação de Juliette que, no entanto, poderia esquivar-se deles com facilidade.
Só um segundo foi suficiente para Adolfo percebesse que aquele que ele pensava estar derrotado, se levantava e pretendia lançar-se sobre a sua parceira. Adolfo reagiu imediatamente e recebeu grande parte do impacto, que o fez gemer, quando suas costelas quebraram. Juliette percebeu isso e o ajudou, abraçou-o e levando-o a uma distância segura, mas, no entanto, os outros logo os alcançariam.
— Ju... Não seja boba - disse vomitando sangue - me solte, eu estou bem.
— Nem pensar – ela olhou-o irritada – você está com as costelas quebradas e eu não vou deixar que te quebrem mais nada.
— Não brinque - você zombou - Eu não morrerei por um golpezinho à toa – se retirou - Eu sei o que fazer, em qualquer caso.
— Adolfo volta! - Ela gritou quando este se lançou para a luta.
O Alfa tomou Adolfo pelo pescoço e o derrubou no concreto, e com a perna ele começou a asfixiá-lo. Juliette correu para eles, mas os outros três Lokis a impediram, atacando-a de uma vez. Adolfo sentia o sangue passar por sua boca e os músculos de seu pescoço se contrair contra a pressão exercida, até que ele tomou a perna do Loki e o jogou para longe fazendo rugir de fúria o seu atacante. Ele se levantou e batendo o punho no rosto do próximo Loki libertou Juliette mais uma vez, quando se voltou para bater, um enorme lobo negro que estava diante deles, tomou os invasores de surpresa, quebrando o braço de um e jogando-o no ar, enquanto partia as pernas de outro que uivava de dor e desmaiou. O alfa ao ver os seus membros derrotados, pulou sobre o lobo negro, mas esse lhe deu um soco bem na cara fazendo-o sangrar e, portanto, nocauteou o Loki, que caiu pesadamente sobre o concreto.
Adolfo olhou como cada um dos Lokis voltava a tomar sua forma humana e ficou surpreso e revoltado quando ele viu quatro jovens que não tinham mais de quinze anos e o último, quando muito tinha uns dezoito anos. Juliette se aproximou do lobo negro e inclinou-se para tocá-lo, este lambeu as suas mãos e olhou com tom reprovador para Adolfo que devolveu o olhar ao ver Baptiste, o líder dos Croix Noir que os havia ajudado.
— Irmão! – Apenas ouviu a voz de Marcus se virou e viu que ele vinha correndo de mãos dadas com a escritora, ambos estavam com uma cara preocupada que não os favorecia.
— Eu estou bem – declarou quando ele também viu os membros da Aemília - Não é nada demais.
— Ele está ferido - Juliette recebeu por isto um olhar de reprovação por parte de Adolfo.
— Obrigado - Marcus a olhou desconcertado e procurou com sua mente verificar se realmente era verdade.
— Vou me curar no clube Moon - Adolfo pigarreou e com sua mão pressionou onde os ossos que sobressaiam, fazendo-os voltar para o lugar.
— Oh! – a escritora cobriu seus olhos ao ver isso, mas não ouviu reclamações da parte do afetado, apenas uma respiração ofegante.
— Está tudo certo menino – Pedro, o usurpador, se inclinou em direção a ele. Adolfo olhou para ele por um breve momento, a presença dos membros da Aemilia sempre lhe havia perturbado.
— Sim - ele respondeu enfaticamente e se dirigiu para Marcus que estava falando com Abraão e nunca perdia de vista os seus movimentos - depois de ir ao clube, volte logo para a Mansão - ele disse e este acenou com a cabeça para confirmar - Você quer alguma coisa?
— Mmmmm... bem - Marcus parecia tão jovem, ao contrário dele. Era um digno membro da sociedade Licaon - Quero que leve a minha Pipoca contigo – os olhos de Adolfo se abriram tanto quanto os de Vane ao ouvir Marcus - Ahhh... Eu tenho que tratar algo mais com Abraão e vou demorar.
— Certo - respondeu sério. Nunca se havia apresentado uma oportunidade de enfrentar-se com a garota depois do incidente na Bélgica, depois de entregá-la ao bando inimigo.
— Leve o meu carro - Abraão jogou as suas chaves com um sorriso.
Adolfo se virou lentamente, sem perder de vista como Marcus se inclinava e acariciava o rosto da escritora, antes dela segui-lo nervosa pela rua. Eles chegaram ao estacionamento onde eram guardados os carros da Aemília, os seguranças os detiveram na entrada pedindo identificação, todos eles eram em sua maioria Adelphos, filhos de Licaóns. Relutantemente vendo as chaves de Abraão ficaram de lado e assinalaram um carro esporte preto que esperava por eles. Rapidamente desligou o alarme, abriu a porta e entrou no carro. A escritora fez a mesma coisa, sentou-se no banco de passageiro e com um certo tremor em suas mãos, colocou o cinto de segurança.
Dez minutos depois, ambos perceberam que havia muita tensão no ar. Vane olhou para o motorista se perguntando o que estaria sentindo sobre o ataque surpresa. Ela ficou intrigada ao perceber que Adolfo não era tão invencível como sempre representava em sua mente, aquela vez a entregou sem piedade e ainda era tão protetor com sua família. À primeira vista, poderia passar por um jovem empreendedor, tão elegante e tão refinado em suas feições perfeitas, quase um Deus aos olhos de muitas mulheres. Então, ela corou quando ele a olhou desconfiado, levantando o queixo.
— Eu sei que você não confia em mim - disse Adolfo surpreendendo-a com o seu comentário.
— O que você quer dizer? - ela respondeu olhando para a janela.
— Não estou arrependido de haver te entregado daquela forma naquela ocasião- ele declarou sem culpa alguma.
— Eu não quero suas desculpas, Adolfo - ela se sentia estúpida, mas na verdade, esperar algo assim de um homem tão orgulhoso como aquele não faria nenhum bem.
— Você não conhece os meus motivos.
— Eu entendo - Vane se virou para olhar e deixá-lo estudar suas reações e, em seguida, fixar novamente os olhos na estrada.
— Não, você não pode entender.
— Agora eu sei por que Paula disse que você é muito teimoso - quase que ela mesma dá-se contra a janela por sua falta de tato, ficou tensa e o olhou, ele tinha a mesma expressão, mas um pequeno brilho em seus olhos fez a diferença - eu sou estúpida.
— Eu era um Croix Noir - Vane se engasgou ao ouvir aquela afirmação. Sentiu que era ela que mudava de cores em vez de Adolfo - Surpreendida? - Ela quase jurou que o viu sorrir, mas fechou os olhos para concentrar-se antes de olhá-lo de novo.
— Eu não posso acreditar nisso - Adolfo pegou alguns chicletes no casaco ensangüentado e os comeu.
— Eu sou o único Croix Noir declarado Sol - encolheu os ombros, relaxou o aperto do volante e continuou a conversa - Nascido em uma família de sangue puro e respeitável, da dinastia italiana.
— Você tem família? - Era uma curiosa, mas pensou que se Adolfo estava abrindo o assunto, porque não falar a respeito?
— Claro que tenho - afirmou - mas ao contrário de meus companheiros... - uma expressão sombria obscureceu as feições do mais velho da família de Marcus - Ao contrário deles, eu não fui querido e nem amado.
— Isso é triste - Vane realmente não sabia o que era não ser amada por sua família, ela sempre teve muito amor e era isso o que ela mais sentia falta.
— Não lamente – ele a olhou sarcástico - ainda falta o melhor – isto por estranho que fosse lhe causou um calafrio - eu fui trancado desde a infância em uma torre para esconder a vergonha que causava a família. O que você acha?
— Eu... - Ela estava muito triste e não entendia por que, de repente, ele lhe contava tudo aquilo.
— Então...- Adolfo parecia se lembrar de algo bom, mas doloroso – apareceram por mim Baltazar, Gaspar e Melchior.
— Sua família não devia ter feito isso Adolfo.
— Mas eles fizeram - um sorriso desta vez apareceu em seus lábios, mas ele estava cheio de raiva - quando eles vieram para me resgatar, eles se recusaram a deixar-me ir. Hahahaha.
— Adolfo, isso te dói, certo? – ele não compreendia as palavras de Vane, então ela foi mais clara - Dói ver que sua família não lutou por você - o que ela disse afundou em sua alma.
— Ao contrário dos outros eu não era especial - ela escutou atentamente - Elias e Eliseu sempre foram protegidos por sua mãe - Vane se tocou o peito, onde se encontrava o colar, era parte dos irmãos, que lhe haviam dado - sua mãe os protegeu e ela os ama, mas não pode vê-los.
— Eles não a podem ver?
— A família da qual eles descendem provem dos Heiligtum - ele parou em um semáforo e tocou a ferida assegurando-se de que tudo estava no lugar - Sua mãe sofreu graves acidentes e a família tomou uma decisão – seu sorriso se expandiu novamente – afastar os filhos com a maldição do Sol.
— Eles não a viram novamente? - Vane perguntou aquilo porque entendia o que era poder amar a alguém e não estar perto dessa pessoa, a dor que aquilo causava feria o coração.
— Eles não a verão pelo resto de suas vidas - confirmou Adolfo - Paula, por outro lado... - algo parecia deter o comentário.
— O que aconteceu com ela?
— Só ela sabe o que realmente aconteceu - Adolfo arrancou quando o semáforo ficou verde.
— Contas segredos dos outros e não os dela.
— Eu sou um cavalheiro - parece dizer mais para ele do que para ela - Marcus era amado e querido - Vane ficou tensa ao ouvir o nome dele.
— Eu não preciso ouvi-lo - Adolfo ficou olhando por um momento e depois seu rosto parecia cair em conta de algo.
— Eu entendo - fundamentou - alguém já disse a você - abriu a janela e deixou o ar entrar, respirando lentamente - Marcus havia sido aclamado por todos - disse ele - mas, infelizmente, sua família foi marcada.
— Adolfo - ela voltou a olhá-lo - você ainda me odeia?
— Sim - a sinceridade de suas palavras a aliviaram, realmente não esperava ficar bem com ele, mas sabia o que esperar - Você voltará a trair Marcus?
Ela sentiu que o carro parou abruptamente na entrada do Club Moon, as luzes do anuncio brilhava para eles, os homens elegantes passaram rindo e animados ao lado do carro sem parar para olhar. Vane sentiu que tudo parava como uma pequena ampulheta, cada segundo era eterno, enquanto esperava a resposta de Adolfo.
— Nunca - ele finalmente falou - Se eu fiz isso naquela vez, agora direi algo que seguramente não esperas - Vane ficou quieta esperando aquilo – Não estou arrependido, mas te peço perdão.
Então eles se sentaram no carro um bom tempo apenas ouvindo o silêncio, as palavras ditas se gravariam no tempo e na mente de ambos. Aquelas ações esquecidas e que jamais poderiam ser modificadas. Tudo acontece por uma razão, e Vane estava prestes a dizer a Adolfo que ela sentia por não poder ajudá-lo em seu sofrimento. Porque a sua vida era triste e cinza, a chama se consumia com as pequenas gotas de chuva que começaram a cair sobre o carro nesse momento.
Paula teve frio nas costas, de repente, e ela se aconchegou mais sobre Pablo. Ambos estavam comendo pipoca e bebendo coca-cola enquanto assistiam a um filme de vampiros. Eles haviam estado muito aborrecidos nos últimos dias e quando se apresentou a oportunidade para fugir e desfrutar um pouco, eles não hesitaram em ir ao cinema. Ele dissimuladamente passou o braço ao redor de seus ombros e ela deitou a cabeça sobre o peito. De certa forma o filme era chato, Paula já conhecia mais do que suficiente daquele mundo, mas de vez em quando gostava de ver a grande imaginação que possuíam os humanos.
— Eu quero te beijar - Pablo murmurou tão baixinho que ninguém, a não ser um mosquito teria ouvido.
— Por acaso eu sou contra? - Paula virou-se sorrindo e deixou que colocasse os seus lábios nos dela.
A desvantagem desta situação é que depois não conseguia parar, eles começaram a beijar, era um vício tocarem-se e sentir a pele um do outro. Pablo baixou seus lábios ao seu pescoço e orelha, passou seus dentes com cuidado e lhe fez cócegas com a sua língua, Paula prendeu firmemente as pipocas entre as pernas e se deixou levar pelo momento. Mas quando sentiu a mordida de Pablo em seu pescoço, a sensação de ser arrastada a encheu por completo.
Pablo sentiu como ela ficava com o corpo tenso e para acalmá-la acariciou suas costas com contornos circulares, havia muitas formas de fazê-la sua, e cada vez sentia como Paula formava pouco a pouco parte de sua alma, sua essência era pura, intensa e cheia de calor, esta encheu seu corpo com energia. O som de pipocas caindo e espalhando-se os fez voltar a realidade, sem graça se retirou e beijou o pescoço de sua amada e se abaixou para recolher a caixa de pipocas. Quando ele voltou a levantar-se Paula o estava observando com seus grandes olhos verdes, ele se endireitou surpreendido e ela pegando-o pela mão o levou para fora do cinema.
— O que acontece? - ele disse temeroso de havê-la machucado - não era minha intenção...
Ela fez uma pausa e olhou-o fixamente com esses olhos feiticeiros.
— Eu desejo você.
Ele nunca esperou que fosse ela quem se lançasse em sua boca e o beijasse. Pablo apesar de ser um nosferatu forte teve que colocar uma resistência em seus pés para não cair pelo ataque repentino. Ele a recebeu de bom grado e deixou que ela brincasse com seus lábios. Ela gostava de saborear seus lábios como morangos e lhe enlouquecia sentir sua respiração jovem e viva. E sem saber como, ele viu que tinham chegado aos banheiros que estavam fora das salas e Paula o tomou pelo casaco para introduzi-los em um deles.
- Você sabe o quanto eu te amo? - Paula disse que abriu um banheiro e empurrou-o.
-P Paula... O quê? - Mas ela beijou-o outra vez, fechando a porta atrás deles.
Quando eles saíram do banheiro, Pablo sorria de forma travessa e Paula não deixava de rir. Algumas pessoas que passavam por ali se perguntavam com olhares estranhos sobre o seu comportamento, mas eles deram-se as mãos e correram rumo à motocicleta de Pablo. Beijando-se de vez em quando e por fim puseram os seus capacetes.
— Você gira a minha vida em cento e oitenta graus - Pablo foi totalmente sincero e a abraçou - Eu nunca vou deixar de te amar.
— Eu também não.
Paul montou na sua motocicleta e ajudou a Paula a subir atrás dele. Eles correram pelas ruas de Paris até chegar a um pequeno e atraente parque, desceram e caminharam de mãos dadas entre as árvores. As estrelas brilharam no alto da suas cabeças e a lua iluminava o caminho. Sentaram-se debaixo de uma árvore e se abraçaram sentindo suas presenças e as batidas dos seus corações.
— Sente falta deles? – a pergunta de Pablo não a surpreendia. Sempre lhe fazia. Quase sempre na mesma hora, mas parecia que ele não se dava conta disso.
— Eu mentiria se eu disse que não - Paula acariciou seus cabelos e suspirou – Penso neles sempre.
— Lamento que você não possa vê-los – agarrou a sua mão e apertou-a contra o peito.
— Não se preocupe – ela disse um pouco aturdida - De todas as formas, os da Aemilia nunca desejaram que me aproximasse mais do que o devido.
— Eles estão fazendo você sofrer - a voz de Pablo estava cheia de ressentimento, mas a Paula o acalmou acariciando-lhe o nariz e fazendo-o rir.
— Nem todos foram ruins para mim - você sabia - Marcus foi o meu principal apoiador.
— Isso me deixa com ciúmes - ele riu.
— Bobão! - Paula lhe deu um tapinha na cabeça - Marcus era como meu irmão, quero dizer, que eles eram todos meus irmãos.
— Como você acabou com eles? - Pablo tinha uma expressão de incógnita e compreendeu as suas dúvidas de Paula.
— Eu nasci no meio de uma poderosa família - sua história sempre havia fugido de seus pensamentos, mas ela queria que Pablo soubesse de tudo - Meu nascimento trouxe o prenúncio da morte que recai sobre os Sol.
— Como um bebê indefeso pode ser uma ameaça?
— As leis são absolutas e os presságios estúpidos - Paula respondeu cautelosamente - Mas minha família ignorou a advertência.
— Não é óbvio? – Pablo a beijou no queixo - Claro que você era encantadora.
— Só recordo que eles me amavam muitíssimo - Paula abraçou Pablo e começou a recordar - me amavam tanto que deram sua vida por mim.
Paula se encontrou na memória daquela noite cheia de dor, ela tinha apenas cinco anos quando começaram a enviar mensagens angustiantes para a sua família, um ano depois, foram todos massacrados por um grupo de nosferatus, que não a encontrou por um milagroso momento em que seu pai e sua mãe tinham atacado para defendê-la. A memória de ver um nosferatu sobre sua mãe e arrancando o seu coração era doloroso demais para querer reviver esses momentos, para ver como drenaram a força vital de seu pai e não saber quem eram, porque se escondiam atrás de suas capas escuras e nas sombras da noite.
— Todos eles morreram - ela deixou cair lágrimas sobre a camisa de Pablo e ele tomando seus braços a estreitou firmemente contra si - não quero ver todo aquele sangue de novo.
— O sangue não significa apenas a morte - Pablo queria crer no que há muito tempo Daniel lhe havia falado palavras que lhe reconfortaram - O sangue também é vida.
— Se o meu coração pára um dia... - Pablo ficou branco como porcelana quando ouviu estas palavras, ele jamais havia imaginado que ela fosse faltar em sua vida - lembre-se que, minha essência e transcendência seguirá batendo por ti.
O beijo que ambos desejavam não tardou a chegar, acompanhado pela mão para o céu e vibração entre as estrelas, banhado pela luz da lua e caiu inundando seus corações daquela palavra que jamais esqueceriam. Amor.
Capítulo. 7 - CORAÇÕES ENFERMOS
A cor dos olhos manchados de tinta
Abrange a luz de sua existência,
Pensei que escrever poemas para você;
E isso só soa como um réquiem
Susana estava dormindo em sua cama. Seus os olhos fechados deixavam observar seus longos e grossos cílios, um ar de sensualidade embalou sua face e o seu corpo agarrado ao cobertor preto em torno dela. Seu cabelo castanho era como fios asfixiantes e caíam em cascata por seu ombro direito. Um toque suave de uma mão e a despertou e a fez voltar-se para encontrar-se com os olhos azuis de quem levava o seu mesmo sangue correndo em suas veias.
Deixou que aquele intruso noturno se acomodasse ao seu lado e lhe abraçasse contra seu peito. Não era a primeira e nem a última vez que ele fazia isso. Aquilo se havia convertido em um simples sonho da qual queria despertar o mais rápido possível. As mãos dele passaram por seus ombros como comprovando sua presença e sua boca beijava seu colo cheirando o aroma e a morte. Ambos estavam unidos pelas desgraças, suas estrelas haviam brilhado resplandecentes em uma época de alegria e as mesmas haviam se apagado com explosões poderosas.
— Susana... - ele sussurrou seu nome e apertou-a mais contra ele - T-tenho... Eu tenho medo irmãzinha - suas palavras a comoviam, mas não queria ouvir mais.
— Nicholas acorda - lhe chamou. Ela levantou a mão e acariciou seus cabelos, fechando os olhos golpeou o rosto de seu irmão descobrindo que já não era aquele menino doentio e inocente, com o tempo o homem surgiu e com ele aquele monstro.
Sentiu quando um tremor se apoderou do corpo de seu irmão e logo seus braços lhe soltaram como se fosse um carvão em brasa. Ele se sentou na cama e olhou para ela. Nicholas continuou a se comportar como uma criança pequena, e nesse momento se abraçava as pernas com força e acomodava o seu rosto entre os joelhos, balançando-se de um lado para o outro. Ele ainda sonhava com a vingança e jamais iria esquecer.
— Nico... - Susana aproximou a mão para acariciar a sua cabeça, mas de repente de um golpe Nicholas tomou seu pulso e a aprisionou fortemente - Você está me machucando! Nicholas!
— Eu conheço seus maiores medos - a voz que saiu da boca de seu irmão não era a mesma.
— V-você não é meu irmão! - Ela olhou horrorizada ao ver o impostor - Asmodeus!
— Até você perceber minha filha - o sorriso de seu irmão parecia maior, e maior e mais mortal, seus olhos azuis se descoloriram até passar a um branco puro que lhe gelava o coração.
— Por favor, não faça isso! – suplicou Susana – volte a sua forma, meu senhor.
— Tanto medo causa este aspecto? - Asmodeus pouco a pouco começou a tomar sua forma, o rosto jovem e atraente de Nicholas se mudou a um esculpido e delicadamente forte.
— Qu-quando eu a vejo... é como pensar que ele não voltará.
— Lembre-se disso filha - Asmodeus a abraçou e acariciou seus cabelos, sentindo como Susana tremia por completo - Eu sei todos os seus medos... absolutamente todos - beijo sua bochecha e sorriu sombriamente.
— Sinto muito, o que aconteceu - Susana estava se referindo a quando impediu que Lilith visse Téo.
— Seu irmão está muito decepcionado - Asmodeus ergueu o rosto e a obrigou a olhá-lo - tão decepcionado que eu lhe pedi para ser o guardião de seu amado filho.
Susana não sabia como reagir a essas palavras. Ela sentiu que suas pernas e braços se congelavam, seu coração estava ferido e dividido em dois ao mesmo tempo, uma raiva interior se apoderava dela. Ela não queria pensar sobre isso, mas estava descobrindo que ela nunca poderia se livrar de seu mestre, senhor e pai. Ela estava enjaulada como um pássaro e esvoaçava constantemente morrendo lentamente.
— Eu vejo que está surpreendida - Asmodeus se levantou deixando-a sentada e patética sobre a colcha.
— Por quê? - Era tudo que ela queria saber, não se importava com nada mais, só precisava saber por que a iriam afastar de quem mais amava e seu maior tesouro.
— Esse menino é poderoso - Asmodeus tomou uma mecha de seus cabelos e começou a brincar com ele - é tão poderoso que ele será útil no futuro, você entende isso? - Ela assentiu com a cabeça baixa.
— Onde está meu irmão?
— Ele foi para a Inglaterra - Asmodeus soltou seu cabelo e se dirigiu para a entrada do quarto – eu o enviei para buscar algo muito valioso.
— Algum dia você nos matará - as palavras de Susana o detiveram na porta, fazendo-o voltar-se com ar ofendido.
— Querida! – exclamou tocando seu peito zombeteiramente - Vocês já sabiam isso naquela noite de neve, certo? Hahaha.
Seu senhor saiu rindo e seu eco retumbou em seus ouvidos, Susana se encostou sobre o colchão fechando os olhos, recordando aquela noite maldita, aquela em que eles haviam feito um pacto com aquele demônio. Necessitava evitar que Téo estivesse com Asmodeus, iria fazer o impossível para que seu filho jamais provasse a maldade verdadeira.
Seu corpo estava pesado.
Suas pernas geladas se chocavam contra as cobertas e suas pálpebras fechadas sentiam o bafo quente de alguém. O perfume daquela pessoa era de um embriagador campo de flores, uns cabelos sedosos acariciavam o seu queixo e um corpo pequeno e suave se acomodou sobre ele.
— Desperta Abel - se perguntou se era com ele que aquela voz suave falava – Meu amor, levanta-te.
Uma mão de mulher acariciou seu rosto e sabia que era ele a quem chamava, o mais estranho de tudo é que ele não era Abel, ele o sabia por duas razões. A primeira por que jamais havia ouvido aquela voz e a segunda porque o seu nome, ele estava seguro disso, era Marcus.
— Hoje é uma noite mágica Abel - ela se aproximou, sentiu sua respiração contra os lábios e, de repente, esta os tomou com paixão, unindo-os em um beijo.
— Não! - Marcus abriu os olhos, surpreendido e assustado separou seu corpo da garota.
— O que acontece Abel?
Marcus quase congelou ao vê-la. Em frente a ele se encontrava uma mulher muito bonita, e exatamente como sua Pipoca, a escritora. Mas ao contrário dela, os olhos da mulher eram de um verde misterioso, que penetrou nas profundezas da sua alma e fez-lhe respirar rapidamente. Sua temperatura aumentou ao ver que ela só usava um vestido bem leve e quase transparente, enquanto seus cabelos caíam sobre os ombros.
— Abel - ela se aproximou dele sem medo e tomou sua mão com carinho, um gesto que tocou o seu coração - Está tudo bem - a preocupação em seu rosto era verdadeira – Você não quer acordar – sorriu e o olhou para ele desconfiada.
— Eu... minha cabeça dói - Marcus devia afastar-se deste lugar, seja lá onde ele estivesse, que não era o seu lugar.
— Eu vou trazer algo de fora – ela olhou-o pensativa - A tribo espera seu retorno com ansiedade.
— Tribo? – Ela se levantou e colocou um casaco de peles de animais, então Marcus percebeu que era uma tenda antiga. Havia algumas coisas acomodadas por toda ela, mas o que chamou sua atenção foi um punhal prateado que brilhava sobre o que parecia ser a roupa desse tal Abel.
— Não demore - ela seguia olhando com esse olhar penetrante e sentia que o queimava por dentro.
— Não - Marcus se levantou e isso a fez chegar perto dele.
— O que desejas meu amor - Ela falava tão bem. Eram palavras carinhosas. Vindas de uma pessoa tão parecida com aquela a quem protegia, sentia que estava a ponto de explodir.
— Eu não sei o que eu quero - Marcus agarrou sua cabeça que latejava cada vez mais - não quero sentir dor - ela se sentou ao seu lado, se inclinou e agarrou seus braços e abaixou-os.
— Eu vou aliviar a dor do meu amor - A mulher se aproximou até que seus seios apertaram contra ele e seu corpo se acoplou a ele - Deixe-me curar a sua alma.
Marcus deu um grunhido e deixou que ela o beijasse, não podia tirar a imagem de Vane de sua mente, mas essa mulher era tão parecida, sua alma era tão intensa como a dela que sentiu que deveria fazê-la sua. Ele então correspondeu e beijou os lábios dela com urgência, ela gemeu e se deixou levar pelo que ele fazia. Marcus fechou os olhos e acariciou aquele corpo, estranho e tão familiar, era como se essa mulher o conhecesse como nenhuma outra.
— Abel - Marcus ouviu seu nome novamente, mas desta vez as suas mãos se congelaram.
Ele não sabia como, mas sabia que a que agora estava com ele não era aquela mulher, mas algo mais. Algo escuro e malvado que o aprisionou com seus braços, desesperado lutou, mas os braços eram muito fortes. Ele abriu os olhos e foi quando observou bem à dona daquele cabelo vermelho, seus olhos se encontraram. Ele viu seu reflexo no branco brilhante dela e descobriu que seu cabelo não era preto e que um dourado profundo cobria sua cabeça.
— Abel, em breve você vai ser meu - ele a ouviu dizer.
— Nunca!
Marcus se levantou suando da cadeira onde ele estava dormindo. Ele olhou para a cama onde estava a escritora e respirou agitado. Ele se levantou e caminhou até ela. Ele se sentou ao seu lado dela e para acalmar-se lhe tomou a mão, e nesse momento ela acordou e sorriu. Ele sabia que, naquele momento, que tudo ficaria bem.
— Por favor, me diga que você sonhou a mesma coisa - ela acordou surpresa com o seu comportamento.
— Marcus? -Ele ainda entrou em colapso segurando as suas mãos nas dele.
— Diga-me que não estou enlouquecendo.
— Marcus, vem, senta-te ao meu lado - ela queria, mas ele estava tão duro como uma rocha que só poderia se mover alguns centímetros - Por favor!
— Pipoca... todas as noites eu sonho com isso - o silêncio deu nenhum sinal de que ela sabia que ele estava falando - Ela quer algo de mim.
— Ela.
— Você sabe o que é pior? – ele a olhou com vergonha - Eu acho que você não pode ajudar.
— Marcus, você tem que ser forte - Vane desceu da cama e abraçou seus ombros - Você não pode deixar que entre em sua mente, esses sonhos não te farão bem.
— Eu não posso, é como se, por mais que eu evite, se apega mais a mim.
— Isto tem de parar – Vane o fez olhá-la - Ouça, não podemos deixar que essa pessoa entre mais em você.
— Ela não deixa de mencionar Abel.
— O primeiro - Vane o olhou surpresa - O que ela disse?
— Ela pensa que eu sou ele.
— Isso é impossível, você não tem... - Vane mordeu o lábio, não queria estragar tudo confessando que o primeiro licaon foi um Sol.
— Eu o vi – a voz de Marcus era amarga.
— Quem? - sentiu que tremia esperando a reação de Marcus, porque isso era tão delicado que pode afetar a Aemília durante séculos.
— Agora eu sei por que os Sol existem - Marcus olhou para a janela que estava coberta por cortinas e deixava passar apenas um pequeno rastro da lua - Abel era um Sol ... portanto, não poderia trazer má sorte.
— Marcus.
— Todo esse tempo as famílias têm depreciado aos Sol - a raiva em sua voz era clara – O fizeram sofrer e humilhado!
— Eles eram apenas ignorantes Marcus.
— Não os perdôo! - ela teve medo de como Marcus estava acordando, um lado nunca tinha visto.
— Lembre-se que nem todo mundo era mau para eles - Vane inclinou-se e tomou o seu rosto – Marcus, o ódio jamais curará as feridas, só as fará maiores, as envenenará e nunca cicatrizarão.
Algo nisso fez os olhos dourados de Marcus voltarem ao seu encantador verde esmeralda, isso o acalmou e tomando a sua cabeça a abraçou com força, deixando a noite passar.
Capítulo. 8 - DUAS CARAS
Meus olhos cansados olhando para você
Coloque a sua alma
Descida para mim
E escrever palavras
Vane se colocou atrás da porta da sala para ouvir melhor o que acabava de acontecer. Poucos dias atrás teria jurado que a aliança com os Heralds era bastante concreta, mas, aparentemente, pelo tom grave de Melchior esta não estava se realizando. Uma pontada de preocupação se instalou em seu ventre, pensando naqueles com quem havia convivido e em uma amiga que não se encontrava por perto.
— Tem certeza disso Melchior? - Marcus não parecia surpreso e Vane ainda podia sentir uma nota de alteração em sua voz - É impossível o que você está me dizendo.
— Lamento que assim seja Marcus - Melchior apagou um gemido frustrado e parecia estar cansado de tudo - A Aemília não quer correr riscos e com o desaparecimento súbito dos líderes dos Heralds só nos resta agir por conta própria.
— O que Abraão disse sobre isso?
— Você não pode desobedecer então eu decidi ficar aqui e ajudar no que puder para proteger as famílias mais vulneráveis.
— Tampouco se sabe sobre estes Lokis, isso foi comprovado por Adolfo.
— Parece como se a terra os quisesse engolir... isto não me agrada.
— Nem a mim, mas temos de encontrar outra maneira de protegê-la.
— Você acha que ela descobre?
— Ela já sabe - Marcus abriu a porta completamente e revelou uma Vane morta de vergonha. Tomou o seu braço e a dirigiu para Melchior que sorriu e curvou-se respeitosamente para cumprimentá-la.
— Nunca há segredo para o ouvido feminino - sorriu e Vane queria desaparecer, ela sentiu que seus ouvidos iam explodir.
— Desculpe, mas eu não queria incomodá-los... eu não tenho nenhuma desculpa - ela levantou os meus ombros dando-se por vencida.
— Você falava com Marcus sobre a aliança com os Heralds.
— Sim você ouviu tudo - Vane olhou para Marcus e este lhe devolveu o olhar com mais intensidade a convidando-a para perguntar novamente.
— Ah... Existe alguma chance de você conversar com Daniel? - A pergunta a fez sentir que estava traindo Marcus, mas só assim poderia deixar de preocupar-se com o nosferatu.
— Sim há - respondeu Melchior sentando-se em uma cadeira e convidando-os a sentar também - Mas pelo que está acontecendo não sei se a mensagem pode chegar até ele.
— Como estão as famílias dos Lokis? - Tanto Marcus como Melchior ficaram com uma expressão sombria.
— Eles estão destruídos - Melchior apertou as mãos dela e prendeu a respiração – A cada dia desaparecem mais e são encontrados os corpos de outros sem o coração.
— Isso é horrível! - Vane sabia por Marcus que o mais importante para um Nosferatu e um Licaon era o coração, se este fosse consumido era como capturar a alma daquela pessoa dentro de outra.
— Eles estão protegendo aos demais, mas é difícil entrar em contato com aqueles que não estão por perto e eles viajam grandes distâncias.
— Normalmente, eles são as vítimas perfeitas.
— Eles são tratados, certo?
— Sim - Vane olhou para Marcus virando o rosto para a enorme janela onde brilhava o pátio cheio de rosas frescas – O ataque a Adolfo não foi um acidente, eles entraram com a intenção de matá-lo.
— Como eles estão? - perguntou preocupada com o destino dessas pessoas.
— Sua mente está atrofiada, eles estão sendo tratados, mas duvidam que não tenham seqüelas posteriores - Melchior parecia não se sentir bem, foi para o bar e tomou um copo de gin.
— Quer ver? - Ela virou-se e Marcus apertou a mão dela - Pipoca não impedirei que o veja, jamais te faria dano.
— Eu sei - a sua conversa agora era íntima e Melchior se distraía a olhar para os quadros da sala que já tinha visto centenas de vezes.
— Promete que vai estar de guarda.
— Eu sempre estou – ela declarou um pouco irritada por sua desconfiança. Marcus se aproximou do seu ouvido, deixando um rastro de sua respiração acariciar o seu rosto, era tão quente e suave que a estremeceu.
— Se eu pudesse te beijar agora, eu faria - ele murmurou e afastou-se rapidamente.
— Quando você pensa que estar pronta para ver o nosferatu? – lhe perguntou Melchior.
— O quanto mais rápido, seria a coisa certa.
— Deixe em minhas mãos - disse este, tomando o último gole de gin.
Martha caminhou impaciente para o quarto de Daniel, queria vê-lo. Ela estava muito irritada com a decisão que os Heralds haviam tomado com respeito a Angelique – "Cuidar dela até a sua completa recuperação". Se não fosse porque os respeitava, teria gritado que eles eram loucos! Mas Daniel tinha aceitado e agora se dedicava a ferida em todos os momentos, apesar de que ele estava desgastado após doar-lhe seu sangue e alimentá-la.
Ela estava preocupada, sempre estaria pela pessoa a quem pertencia o seu coração. Mas ela se sentia incapaz de pedir a Daniel que deixasse a compaixão, quando essa mesma havia feito os dois se reunissem. Martha era uma bela mulher quando ela foi convertida por um nosferatu poderoso. Ela era uma pintora da época do Romantismo, e acreditava que apesar de não receber o louvor merecido por ser uma mulher, os poderes que lhe confiaram ao transformar-se, lhe abriu caminho em uma sociedade regida pelo jugo do sexo masculino. Seu mestre ensinou-lhe a beleza que havia por trás das pinturas grotescas, a vaidade dos perfumes mais bizarros e paixão para receber o sangue e lama de um mortal. Ela seguiu esse caminho sozinha quando seu mestre um dia a abandonou, como jamais havia sentido amor não foi difícil tirá-lo da sua mente e vida, seguiu sendo prodigiosa, admirada e aclamada. Mas um dia um grupo de jovens religiosos a atacou em um beco, eram quase uns bebês, mas estavam convencidos de que a salvariam se a destruíssem. Um pensamento muito estúpido. Ela terminou por matá-los, não que isso houvesse mudado a sua vida, pelo contrário, a repulsa pelos seres humanos começou a crescer. Dias depois ela encontrou um homem assistindo a mesma ópera que ela, ambos perceberam a presença do outro, mas dissimularam seu interesse. Martha observava-o atentamente, e descobriu um halo de energia positiva, a fortuna lhe sorria e os seres humanos que estavam ao seu redor pareciam amá-lo, e nesse momento supôs que havia se apaixonado por este ser.
Esse breve encontro a motivou a investigar mais sobre seus costumes, onde vivia e o que fazia na França, um lugar de amor e beleza. Foi assim que ela aprendeu seu nome, Daniel. Ela também se inteirou que viajava sozinho e tinha aos seus cuidados um grupo de nosferatus. Isso lhe atraiu ainda mais. Um dia se apresentou na porta de sua casa e foi recebida amavelmente por ele. A conversa que os dois tiveram foi dinâmica e divertida, seu coração se sentia mais aferrado a esse nosferatu e ela acreditava que não poderia estar mais feliz porque finalmente tinha encontrado um parceiro. Depois de tantos anos só conseguiu a sua amizade, mas não o seu coração.
— Martha? - Seu nome era pronunciado por ele e imediatamente se virou para vê-lo.
— Daniel... eu vim para dizer-lhe para descansar - o seu sorriso encolheu seu coração.
— Obrigado – se aproximou e em um segundo depositou um beijo na bochecha dela – vou descansar depois de terminar a revisão dos relatórios.
— Não está bem, necessitas dormir e se alimentar - Daniel negou com sua cabeça e se sentou ao lado dela.
— Eu não posso fazer isso que você pede.
— Nós todos queremos ajudar.
— Eu sou o único que tem de fazer isso - Daniel recostou-se e encolheu as pernas.
— Oh, Daniel! - Martha abraçou-o tão de repente que ele ficou surpreso.
— É alguma coisa! O que aconteceu? - Ela se aconchegou mais para o lado dele e ela o queria em seus braços, mas que nunca iria acontecer - Calma... eu prometo te proteger - Daniel acariciou seu cabelo e Martha sentiu que o seu coração se oprimia.
— Asmodeus é perigoso – ela o olhou suplicante - Deixe de querer reunir-se com a escritora, ela não tem te tratado bem!
— Ela me fez amá-la, eu não posso evitar - Martha queria dizer-lhe que ele a havia feito amá-lo da mesma maneira.
Naquele momento, um leve chamado advertiu Daniel e este se levantou alarmado. Martha pegou sua mão e quis detê-lo, mas ele sempre sorrindo a tirou do agarre e correu para os aposentos de Angelique. Martha chorou e agarrou a sua mão, onde ele havia tocado, deu um beijo frio nessa parte e fechou seu coração novamente.
Daniel encontrou uma Angelique inquieta, quando o viu esta lhe estendeu os braços e ele caminhou para ela. Esta quando estava segura de sujeitá-lo bem, o arrastou contra si e encaixou suas presas no seu pescoço. A agitação de Daniel se fez presente, deixou que ela o chupasse como se fosse uma laranja. Seus ossos foram quase foram quebrados pela força que esta exercia sobre ele. Depois que isso aconteceu, ela o soltou e reclinou-se sobre a almofada cansada.
— Você está melhor? – Ele perguntou, mas ela simplesmente se calou como vinha fazendo, só se comunicava por meio de suas emoções – Suas feridas se curaram, você não deve se desesperar.
Ela olhou para ele com irritação. Ambos sabiam que as feridas gerariam cicatrizes que nem mesmo os Heralds poderiam curar, só pelo motivo de que foram feitas pela mãe. Angelique apontou para um pequeno espelho de propriedade de uma das gêmeas e Daniel o entregou com resignação. Esta contemplou seu rosto cheio de falhas e cortes profundos, onde antes havia um rosto luxuriante agora era só uma lembrança. Transmitiu seu sofrimento a Daniel e depois entregou o espelho que foi colocado ao lado dele. Sua raiva crescia a cada segundo de impotência. Daniel se sentou ao seu lado e deixou que ela o tocasse. Angelique aproximou seu rosto desfigurado ao intacto dele e juntou as suas bochechas. Era um alívio para ela e ele sabia disso muito bem. Em seguida, depositou um beijo nos seus lábios e exigiu de Daniel a mesma coisa. Porque essa era a única maneira de lavar-se de sua frustração.
Nicholas olhou para o lado da mesa onde estava uma jovem garçonete que lhe sorriu coquete e continuou a servir cerveja para um par de tipos de aspecto grosso e mandíbulas fortes, que rugiam com cada partida de pôker que era ganha pela televisão. Eles haviam pedido um vampirito para acompanhar alguns amendoins que estavam no bar, mas tanto este como os outros não haviam sido tocados.
— Deseja alguma coisa, amigo - a garota que tinha flertado há pouco apareceu ao lado balançando levemente seus quadris, mostrando que ela estava à sua disposição.
— Eu acho que por enquanto não - ele sorriu e ela pareceu derreter-se. Nicholas pensou que mais tarde lhe agarraria para começar a sua ceia como um pequeno aperitivo, só tinha que encontrar-se com alguém e certificar-se de onde encontrar a quem Asmodeus queria.
— Muito bem, fique à vontade para me chamar – piscou para ele e foi embora.
— Eu não tenho nenhuma dúvida, preciosa.
Inclinou-se sobre os braços e inspecionou o local, não havia muitas pessoas; a maioria estava até a borda com cerveja e ter que provar seu sangue que era repugnante. Nicholas desejou que a pessoa que tinha citado para confirmar a informação teria sido mais elegante em seus gostos.
— Eu fiz você esperar?
A mão o fez girar-se para encontrar os olhos verdes brilhantes. Não era de estranhar que esta pessoa estava traindo a Aemília, depois de tudo, a mesma o havia traído há muito tempo. O Licaon se sentou ao seu lado e pediu uma cerveja, tirou um papel vermelho e entregou-o a Nicholas para um olhar sério. Este o tomou assobiando e verificou que ele era autêntico, passando uma faísca de fogo azul pelas letras.
— Me agrada saber que eu não sou o único que gosta de surpresas - o Licaon lhe dedicou um olhar assassino a qual este não deu importância.
— Deixe-me ser claro, que se eu faço isso é para o bem daqueles que eu estou protegendo.
— Sim, eu concordo - Nicholas colocou a informação em seu bolso - Esta será mais do que suficiente.
— Asmodeus desejava isso, não é?
— Por que negá-lo - Nicholas cheirou sua bebida, mas apenas franziu o nariz para tornar a deixar de lado.
— Vocês me deram a palavra de não prejudicar os outros.
— Eu não fiz o trato, foi meu pai – esclareceu Nicholas, mas vendo que o Licaon começava a ficar irritado, levantou a mão em sinal de paz - mas o que disse a você meu mestre e pai, é o que será feito.
— Se assim for - O licaon tomou rapidamente a cerveja e deixou o dinheiro para pagar, em seguida, se afastou do lugar sem se despedir, como se Nicholas tivesse lepra.
— Adeus! - Nicholas levantou de seu assento mostrando uns jeans pretos apertados, sua camisa azul escuro definia seus músculos, enquanto se dirigia ao banheiro dos homens colocando sua jaqueta preta.
— Não deseja mais nada? - A mesma garçonete loira veio e deixou que seu perfume inundasse as narinas de Nicholas que a tomou discretamente pelo braço e levou-a para o banheiro.
A menina sorriu para ele, sem imaginar que na mesma noite, um dos homens que viram o jogo de pôker, entraria no banheiro para urinar e encontraria o seu corpo pendurado em uma viga do feixe de lâmpadas, sem uma gota de sangue. Enquanto que Nicholas se afastava rindo histericamente pelo beco, limpando os restos de sangue, cuspindo cobre no asfalto.
Não bastavam as horas para que isso acabasse, seu sangue lhe dizia que tudo isso iria terminar em breve. Uma rajada de vento o fez tremer e olhar para onde se encontrava o castelo negro, sem hesitação caminhou entre os galhos das árvores que farpavam as solas de seus pés. Mas eu tinha que chegar lá. Porque se não, nada valia a pena.
— Marcus! - Vane correu por entre as árvores deixando o cemitério, até que seus pulmões começaram a reclamar por oxigênio.
— Pipoca? – a voz de Marcus lhe chamou e quando levantou o olhar encontrou o licaon.
— Marcus você tem que escapar! - Não sabia por que lhe dizia isso, mas seu desespero era tão grande.
— Eu não posso - ele respondeu e uns fios vermelhos começaram a rodeá-lo como serpentes dançantes.
— Não! - Vane se aproximou e começou a arrancar as cordas com as mãos, mas estas feriam suas mãos que sangravam – Marcus, não!
— Eu não posso - a voz dele se foi apagando e ela estava desesperada para livrá-lo – Não tem jeito.
— Marcus! - Vane sentiu que uma força empurrava o corpo com uma pancada seca contra o tronco de uma árvore.
— De jeito nenhum - ela começou a desaparecer e com seu último suspiro viu como os braços de Lilith aprisionavam Marcus tomando posse de seu corpo.
— Não! - Vane abriu os olhos e para seu horror, não estava em seu quarto, mas na beira da escada para cair - Por todos...!
Seu coração começou a bater desesperado. Vane não sabia como ela havia chegado lá, a noite chuvosa a rodeava completamente e ela percebeu que tinha caminhado dormindo, havia estado a um passo de morrer, respirou fundo e levantou-se trêmula. Tentou lembrar-se de todo o sonho e por fim, ela finalmente, conseguiu deixar seus medos se acalmou. A fraqueza que estava alimentando iria destruir seus nervos, se não conseguisse controlar-se, não salvaria aqueles a quem amava. A força de sua decisão afetaria o caminho que tomasse, se os seus sonhos estavam indicando um caminho, ela devia de lutar para iniciar outro e até mesmo com o mundo contra.
Ela se virou e começou a caminhar para seu quarto, apenas havia dado alguns passos quando ouviu uma batida na porta de entrada. Isso lhe pareceu um pouco estranho, desceu as escadas ouvindo cada um dos golpes, que cada vez aumentavam mais. Ela duvidou por um momento, mas tomando com decisão a maçaneta, a girou e se encontrou diante de três formas encapuzadas e ensopadas pela chuva que atacou com uma força tremenda a entrada. Será que era a morte?
Capítulo 9 - JOGO DAS CRIANÇAS
Almas gritando, surpresa!
Letras vagando sozinhas no esquecimento
Uma força irreprimível
Se quebra e destrói aquele que foi
— Vai nos deixar entrar?
Essa foi a pergunta que Vane ouviu antes de voltar a olhar para aqueles personagens e perceber que um deles era nada mais do que um Eliseu com uma capa preta que não parecia agradar-lhe, que eles estavam esperando por sua permissão. Então, ela olhou para seus companheiros e quase dá um grito ao ver que eles eram o velho Tonatiuh e seu neto Chac.
— Desculpe! Por favor, entrem! - Ela afastou-se e deixou-os entrar.
— Bem, eu pensei que você estava dormindo! - Exclamou o divertimento Eliseu e virou-se para o velho e o ajudou a tirar o abrigo - Não se preocupem, iremos amanhã de manhã até a Aemilia para relatar o que descobriram.
— Não se preocupe Sr. Eliseu, meu avô e eu somos gratos por que nos trouxe com você - lhe respondeu Chac, com uma voz mais clara que quando Vane o havia conhecido, também havia crescido um pouco e seu cabelo loiro começou a tornar-se castanho.
— Estão todos bem? - Vane se aproximou do velho Tonatiuh e pegou a sua mão, dando-lhe uns breves tapinhas carinhosos.
— Não se preocupe com esse esqueleto velho - o velho sorriu para ela - eu ainda tenho força suficiente.
— É bom vê-la novamente senhorita Vanessa - saudou Chac apertando as suas mãos.
— Igualmente, já faz muito que não nos vemos.
— Creio que haveria sido melhor não nos encontrarmos, minha querida – ela achou estranho o que o velho disse, mas ficou em silêncio.
— Meu neto, você tem consigo o que te entreguei? - O velho virou-se para ele, Chac sorriu e mostrou-lhe uma caixa longa de veludo preto que tirou de sua mochila.
— Está aqui, avô.
— PODEMOS SABER O QUE SE PASSA AQUI? - essas palavras duras atraíram a atenção de todos, que viram Adolfo nervoso, nas escadas.
- Calma. - Marcus parecia sonolento e desceu rapidamente para cumprimentar o ancião – O que traz vocês para estes lugares?
— Marcus, o Leão - chamou-lhe o velho com um sorriso – eu sei bem que em você podemos confiar.
— Se estiver em minhas mãos ajudá-los, contem comigo.
— Meu avô veio lhe pedir um favor Marcus - Chac mostrou a caixa, mas para Vane e para os outros que o objeto não significava nada.
— O que é isso? – perguntou.
— A Aemília deve conhecer a arma da morte eterna - todos ficaram em silêncio quando o velho veio e tomou a caixa, acariciando a textura - é um objeto perigoso, Marcus.
— Sério? - ainda que parecesse um pouco cético, Marcus não ofendeu o velho Tonatiuh, garantiu.
— Sim - concordou este – só aquele que é forte de coração, mente e alma pode abri-la sem que esta tome posse de sua mente.
— Você quer dizer que é uma arma? - Adolfo perguntou, aproximando-se e o ancião voltou a acenar com a cabeça mais uma vez.
— Foi entregue ao meu tio pelas mãos de Nicholas, o nosferatu - por um momento Vane deu um passo para atrás, já que algo que vinha de parte desse monstro não poderia ser bom.
— Não tema, pequena - disse Tonatiuh – nos foi explicado que não devemos abrir esta caixa, a não ser pela necessidade de eliminar o inimigo.
— Mas como...
— Meu tio confessou - Chac estava ruborizado e ele parecia falar daquele que a havia seqüestrado anteriormente e não gostou - disse que tinha medo de abrir a caixa e por isso nos disse a sua localização.
— Assim tão facilmente? – a pergunta irônica de Adolfo fez Eliseu olhá-lo com pouca paciência.
— Conseguiram deixar, para retornar ao seu povo - disse o idoso - não poderíamos deixar esse dispositivo caísse em mãos erradas.
— Estás... seguro - Marcus não havia deixado de ver que a caixa tinha dentro algo que havia perdido, que lhe faltava, mas não sabia como explicar.
— É por isso que decidimos trazê-la para Aemília – respondeu Tonatiuh um pouco cansado.
— A mim parece bem - interveio Eliseu - Eles nos trouxeram isso, para que possamos esconder dentro da fonte até que se encontre a verdade ou não.
— Não diga mais nada então - Marcus despertou e como um bom anfitrião mandou chamar os empregados para atender ao ancião e seu neto.
— Obrigado - sorriu o homem cego, Tonatiuh.
— Onde está Elias? - Eliseu perguntou um pouco desorientado por não ver o irmão.
— Firuláis saiu em uma viagem de reconhecimento com Melchior - disse divertido Adolfo.
— Vai cachorro! - Eliseu sorriu malicioso - aparentemente o seu senso de humor não pára de mudar nem um pouco.
— Assim parece Lassie - Adolfo lhe respondeu mordaz.
— Bem, eu também estou feliz de ver que ambos são os mesmos - Marcus ficou entre eles, antes de se tocarem e fez sinal apartarem-se.
— Eles devem estar muito cansados - Vane se dirigiu ao velho e o tomou em seu braço, neste momento apareceu uma jovem empregada e o mordomo, juntamente com outros dois homens que começaram a subir os pertences dos visitantes.
— Onde está a senhorita Paula? - Chac não compreendia o dano da sua pergunta, então Marcus sorriu e tratou de explicar.
— Ela não vive mais entre nós – o menino baixou seu rosto e Marcus encorajou-o - ela está muito feliz em outro lugar, talvez você possa vê-la novamente em breve.
— Eu gostava dela – lhe confessou Chac, de forma inocente subindo as escadas junto com Marcus.
— Assim como todos nós – foi o murmúrio de Eliseu que só Adolfo pode escutar.
Não demorou muito, no dia seguinte para decidir como chegar a Aemília. Marcus colocou as opções sobre a mesa e Adolfo argumentou que Chac e seu avô tinham prioridade sobre qualquer coisa, especialmente tratando-se de um objeto dado por Nicholas e que provavelmente, era muito perigoso. Foi assim que Adolfo lhe disse que ele ficaria com Vane na mansão até que Melchior e Elias retornassem. Enquanto isso Marcus levaria os hóspedes e Eliseu ia ao Club Moon para receber mais informações sobre os novos contatos.
— Quando Melchior vai levá-la para encontrar-se com aquele... - Marcus tomou a mão de Vane e a estreitou, ela também aplicou a sua força para sentisse a sua ansiedade.
— Eu vou lhe enviar uma mensagem de texto no iPhone - ele assentiu com a cabeça ao ouvi-la.
— Bem, nos veremos novamente em breve - Adolfo cortou o olhar e despachou para a porta Marcus, Tonatiuh e Chac que se despediram de Vane com um movimento de cabeça.
Quando eles foram embora, Adolfo foi para o estúdio, deixando-a sozinha no corredor. Vane realmente não esperava que ele a acompanhasse, mas sentia que Adolfo jamais entenderia como era, realmente, se preocupar de verdade com alguém. Pelo menos era isso que ela pensava naquela ocasião. Um corpo pequeno e peludo passou entre suas pernas e a surpreendeu, antão se deu conta que Merlin esperava o seu almoço, que ela inda não tinha preparado. Ela sorriu desculpando-se e foi direto para a cozinha, com um certo aperto em seu estômago.
Daniel se encontrava no aeroporto, descendo do avião privado que tinha alugado. Junto com ele estava Martha e seu fiel companheiro Isaac. Eles haviam se oferecido para viajar desde o momento em que este anunciou que ele tinha que ver Vane. A mensagem de Melchior havia chegado sem atraso por meio de um contato de Salomé, assim ele não pensou muito para confirmar a reunião, ele precisava ver Vane com impaciência, com necessidade pura de sobreviver. As gêmeas Starr se ofereceram para cuidar de Angelique e Pablo lhe advertiu para ter cuidado com os parentes de sua namorada, pois não sabiam o poderiam fazer com todos esses ataques, de lokis e nosferatus andando por aí fora de controle.
— Eu odeio este tempo! - Martha cobriu o cabelo preto bonito com um lenço, irritada com a chuva que caia sobre eles. A Inglaterra sempre os surpreendia com seu clima cinzento.
— Esta é uma das razões pelas quais eu prefiro Paris - Isaac parecia estar se divertindo e descendo rapidamente, foram levados pela tripulação para uma sala de recepção, onde esperariam por sua bagagem.
— Eu avisei disso - Daniel se sentou em uma cadeira de couro negro que se expandia para os demais passageiros, mas como eram só eles três se encontrou sozinho sentindo a qualidade que transmitia.
— Eu não posso acreditar que depois de que te deixou dessa forma ainda queira vê-la! - A amargura no tom de sua amiga não passou despercebida, mas Daniel preferiu ignorar.
— Deixe-o em paz cheri - Isaac sorriu - O amor é assim...
— Amor! - Ela gritou ainda mais irritada e sacudindo o lenço azul marinho – Essa garota não sente nada é apenas uma menina um pouco assustada!
— Isso é o suficiente – a advertência na voz de Daniel acalmou os comentários e receberam o comandante, junto com suas malas antes de partir.
— Espero que o tempo melhore jovem senhor - Daniel sorriu para o comandante e este se despediu alegremente, sua aura era de um amarelo quente e brilhante - Estaremos aqui à sua disposição para o seu regresso!
— Obrigado – disseram os três e se encaminharam para o carro que haviam adquirido.
— Onde marcaram para se encontrarem? - perguntou Isaac, que estava dirigindo o carro na chuva – pergunto para calcular o tempo para me esquivar deste tráfego.
— Na London Eye - Daniel respondeu distraidamente e um assovio veio da boca de Isaac ao ver a expressão de surpresa de Martha.
— Um lugar privado para pombinhos – zombou, irritando mais a sua companheira.
— Não é tão privado se não chegarmos na hora marcada.
— Bem, bem, eu tenho pressa.
Tráfego diminuiu progressivamente até ao seu endereço de destino, e o céu limpou o suficiente para tranqüilizar Daniel, pois a hora de chegada estava fixada para que ele e Vane fossem os únicos a subir a uma cabine. Se ele se atrasasse não conseguiria subir e não lhe veria de novo.
Quando ele viu a roda-gigante London Eye, seus olhos começaram a procurar entre as pessoas. Isaac deixou que Daniel e Martha descessem enquanto ia estacionar o carro. Daniel caminhou entre as pessoas com uma forte sensação de euforia que cercou sua aura toda. Martha tratava de seguir-lhe o passo para não perder-lhe, mas era óbvio que, ele já não se dava conta de sua presença. Quando Daniel viu Vane era como se um raio de luz a iluminasse somente para seus olhos. Ela estava conversando com Melchior, um dos guerreiros lendários e sorria maravilhosamente olhando de lado para o outro. Ele tinha certeza que ela o estava procurado, assim como ele fazia um momento atrás. Caminhou através da multidão e, em seguida, o olhar dos dois se encontraram. Ela sorriu e ambos correram para encontrarem-se. Quando os dois se abraçaram, por que não havia nada para dizer, suas almas se reconheceram como se um mundo velho os chamasse por um longo tempo.
— Desculpe Daniel - Vane pediu desculpas e se afastou de seu abraço. O que Daniel realmente queria era ficar assim, abraçado com ela para sempre.
— Você está pronta? - Ela assentiu com a cabeça e ele lhe tomou a mão.
— Boa tarde, jovem Daniel - a saudação de Melchior não passou despercebida. Daniel virou-se e o saudou respeitosamente estendendo a mão, mas ainda segurando firmemente Vane - Você não tem que apertá-la assim. Hahaha. Eu não vou tirá-la de você.
— Eu não...
— Daniel! - A voz de Martha o chamou e então ele se lembrou de ter deixado a sua companheira, ela estava furiosa e olhava como se os seus olhos fossem queimar Vane.
— Martha, eu sinto muito! – ele se desculpou - Eu estava muito... distraído. - ela sussurrou algo, mas ele não conseguia entender o que ela dizia.
— Daniel, você não deveria ir...
— Já é hora de ambos subirem, Daniel! - A voz de Isaac interrompeu a queixa de Martha e isto serviu para que Daniel e Vane decidissem continuar.
A roda passou justo agora e o casal subiu na cabine correspondente só para eles dois. Enquanto que na superfície Martha sentia que perdia a sua paciência.
— Algum lugar que queiram visitar? – lhes perguntou Melchior com um sorriso para qual só Isaac correspondeu.
— Eu gostaria de algo quente para tomar.
— Eu esperarei aqui - Isaac revirou os olhos e encolheu os ombros quando se dirigiu para Melchior para dizer-lhe que iria ficar com Martha.
— Bem, a dama decidiu então - Melchior começou a assobiar e se distraía observando as pessoas.
— Eu conheci Baltazar, o guerreiro - Isaac falou calmamente, observando lateralmente a reação de Melchior, mas este estava distraído - Eu lutei com ele, era um grande homem.
— Obrigado – a sinceridade do rapaz comoveu Melchior que sentia que seu amigo até na morte seria lembrado por todos.
— O que aconteceu foi muito injusto para todos - Isaac não era uma pessoa introvertida, há muitos anos que havia deixado de lado essa separação de raças entre nosferatus e licaons, por isso conversar com Melchior não era nada estranho.
— Às vezes a injustiça está junto com um dos lados – o raciocínio de Melchior era correto e Isaac estava de acordo, afinal quem eram eles para dizer o que era certo ou não.
— Não me agrada que estejam tanto tempo lá em cima - Martha bateu com seus sapatos Gucci e tinha a testa enrugada.
— Talvez agora eles estejam se beijando - Isaac brincou.
— O quê? - O rosto contorcido da nosferatu quase fez Melchior esboçar um sorriso, mas realmente não queria ofendê-la.
Se Isaac fosse um mago, sua previsão estaria muito próxima ao que Daniel desejava naquele momento com Vane ao seu lado e sozinhos. A visão da cidade e era impressionante e a escritora caminhava de um lado para outro observando cada parte, sorria e assinalava o que não conhecia ou o que lhe parecia curioso. Ele se deu conta que em certo ponto, nas alturas, que ela não tinha medo. Ela gostava de rir dos provérbios que citava. Aludindo ao que seu pai cantava a canção mais conhecida sobre a London Bridge. Daniel escutou atentamente cada parte de sua vida antes de tudo isso começar, seus gostos, a sua escola, seus amigos, em especial notou certo nervosismo quando ela mencionou a um a quem havia feito uma promessa, que não lhe disse por ser particular. Ele admirava a maturidade com que ela havia aprendido a decidir entre seguir levando essa vida ou desafiar aquilo que desconhecia. Isso o fez amá-la mais.
— Daniel, eu me sinto um pouco idiota - ela virou-se, fixando o seu olhar sobre ele.
— Por que você se sente assim?
— Bom, é que eu sou a única que fala e então... - ele entendia a sua necessidade de preencher essa curiosidade humana.
— Eu tinha 17 anos quando fui convertido em nosferatu - Vane levantou mais os olhos e se aproximou mais atenta.
— Se você não quer... - mas ele levantou a mão e respirou como indicando que continuaria.
— Eu nasci no ano de 1598 de uma mãe nobre e um pobre camponês, filho de um caçador de lobos da região - Vane notou que a Daniel custava contar aquilo já que haviam passado muitos anos desde então - pode-se dizer que o meu pai era quase uma criança quando foi tomado por minha mãe.
— Você o conheceu? - Daniel negou a pergunta dela.
— A Transilvânia era um lugar muito selvagem nos campos.
— Você nasceu na Transilvânia? - Daniel deu um sorriso um pouco envergonhado ao ver os olhos surpresos de Vane - Você me deixou sem palavras, não se nota o seu sotaque.
— É porque eu aperfeiçoei a minha linguagem.
— Perdão, segue, por favor – pediu.
— Minha mãe era uma mulher poderosa e temida - Daniel se apoiou no vidro observando o horizonte como querendo recordar-se daquela época – ela estava casada com um conde e soube imediatamente que ela devia se livrar de mim.
— Isso é muito triste, eu sinto muito!
— Eu era um bebê e talvez por isso... ela não teve coragem de me matar - os olhos fechados faziam com que Daniel se recordasse da sua infância e tudo o que viu por anos ao lado de sua mãe. Uma mulher deslumbrante e bela que visitava a sua casa a cada inverno dando-lhe só um sorriso antes de sair e voltar para seu castelo - Eu nunca soube que era seu filho, me entregou a uma empregada que me criou e educou conforme o que ela indicava.
— Talvez ela amasse você.
— Eu não sei - suspirou cansado - eu cresci como um filho bastardo, sem saber o meu passado, meu irmão que nasceu um ano depois de mim e minhas irmãs eram legítimos e não sabiam de mim também. Minha mãe cuidava para que seu segredo nunca fosse revelado.
— Às vezes os adultos tomam decisões dolorosas que nos pareceriam ruins, mas que, no entanto, nos salvariam.
— A condessa pousava seus olhos em mim todos os dias. Quando cresci um pouco, eu tinha uns dez anos e me dei conta que algo nela não era normal. Eu ia ao castelo para entregar o que a minha mãe adotiva me dava, mas algo não me agradava.
— Tinha curiosidade?
— Sim, eu tinha, além disso, algo no castelo mudou - gritos e sangue eram as imagens e sons que descrevem essas memórias escuras - Ela tinha um amante estranho.
— Amante? Você não disse que ela estava casada?
— Seu marido morreu - Daniel respondeu amargamente - ainda assim não lhe impediu de ter amantes.
— Certo - Vane sabia que nem sempre o amor predominava na união de duas pessoas, mas ouvi-lo dizer que nasceu de uma união assim foi muito diferente.
— Esse homem não gostava de ninguém, minha mãe era mulher odiada, mas com a chegada desse ser, seu lado humano morreu ou assim parecia – os gritos das jovens retumbavam e rasgavam a alma e não havia sido capaz de detê-los - Minha mãe cometeu assassinatos - Vane exclamou surpreendida, mas Daniel não parecia estar ouvindo - Matou mulheres jovens e meninas. Por Deus, eram apenas meninas! - Daniel se tocou no peito e não deixou que Vane chegasse mais perto - Não hesitava em prejudicá-las e as massacrava. Eu ouvia os seus gritos.
— Você era muito jovem - Daniel sabia que ela o disse para tirá-lo de sua pena, mas há muito tempo decidiu enterrar a culpa.
— Ela foi descoberta – a voz amortecida e escura era irreconhecível em Daniel, parecia que o passado o absorvia – eles a emparedaram como castigo e seu amante desapareceu sem deixar rastro.
— E como é que você...?
— Ainda não terminou – lhe disse Daniel agarrado a um tubo de metal - Ela não envelheceu entre essas paredes, seus dias e noites não pareciam afetá-la, mas no entanto, ela sofria muito.
— Não pode ser sua mãe!
— Ela havia se convertido em uma nosferatu - respondeu rapidamente - eu tive compaixão, assim que todos os dias lhe levava de comer, mas a única coisa que ela me pedia era sangue.
— Ela estava morrendo.
— Sim - os dedos quase ficaram brancos de controlar a sua força - e minha pena me levou a dar-lhe o que ela queria - Vane empalideceu adivinhando o que Daniel tinha feito - eu dei o meu sangue.
— Oh, Daniel!
— Ela tinha uma força impressionante - Sua mãe era uma recordação tão viva, tão distante, um pesadelo que lhe deixava claro seu lugar neste mundo - ela matou todo aquele que ela encontrasse, logo me sujeitou e revelou quem era, até este momento tomou meu sangue e uniu sua alma com a minha convertendo-me no que sou agora.
— Daniel... não é culpa sua.
— Eu nunca me perdoarei.
— Onde está sua mãe agora? - perguntou, mas o sorriso amargo de Daniel não indicava um bom sinal.
— Você a conheceu – confessou com um nó na garganta.
— Quem? - Vane começou a tremer e desejou que a pessoa que ela imaginava e a qual não havia gostado, não fosse a mãe deste ser cheio de bondade.
— É Esbet- Ele falou sem deixar dúvidas - Minha mãe é a Condessa Elizabeth Bathory.
Como descrever o medo que tomou conta da Vane nesse momento. Sua mente jamais teria imaginado uma coisa dessas. Mas agora que sabia, comparava as semelhanças entre eles, não deixando nenhuma dúvida de que Daniel era o filho de Esbet. O olhar condescendente dele, o respeito que Daniel tinha por ela e o poder, que sem dúvida a havia ferido em Paris, só poderia pertencer a mãe de Daniel.
Capítulo. 10 - HISTÓRIAS DO PASSADO
Adeus minha amante,
Adeus meu amigo
Eu estou escrevendo músicas para o amor
E morrer no final da última letra
A roda seguia em curso conforme o tempo. Nada a deteria em levar o céu a seus passageiros, sua bela estrutura se alçava como uma coroa de cristais que pedia ovação. A roda não mudaria o curso e como o relógio seguiria avançando para o destino.
Os olhos de Vanessa ainda olharam para Daniel, ele não parecia mais interessado na paisagem, depois de tudo, ele achava que conhecia todos os cantos do mundo que se formou em torno dele. Concentrou-se na assimilação de cada uma das revelações que ele havia feito. Não esperava algo assim, mas não era tão imatura para saber que todos nós podemos ser diferentes dos nossos pais.
— Estou à espera - a sua concentração se perdeu quando este a chamou. Em seus olhos havia medo, talvez uma rejeição à sua própria rejeição!
— Não tenho palavras para dizer-lhe - Vane riu nesse momento, parecia engraçado, uma escritora ficar sem palavras - É irônico.
— Eu sei que isso não é algo que você possa aceitar facilmente.
— Não. Você está errado - Ela caminhou lentamente e segurou a sua mão, em seguida a estreitou delicadamente transmitindo-lhe toda a segurança que podia dar - Eu entendo e acredite quando eu digo que meu sentimento por você jamais mudará.
— O que você sente por mim? - Daniel curvou-se até que seus rostos estavam face a face, o cheiro de neve e hortelã a fez encolher seu nariz, seus olhos eram tão azuis e puros que ela queria tomar um gole de apenas um deles, e saber se lhe daria uma vida nova.
— Você sabe o que eu sinto Daniel – lhe doía ver seu rosto decepcionado, mas ela jamais brincaria com os sentimentos de ninguém - A amizade é grande e o carinho transcende as distâncias, é mais fiel que o amor.
— Você acha? Arre! – talvez ele brincasse, mas ela não ficou chateada, afinal, depois de tudo imaginava que ela se sentiria assim se a pessoa que você amasse o rejeitasse.
— Isso me disse um bom amigo - Vanessa deixou cair suas mãos quando viu o rosto de Esteban em sua mente. - Seu amigo vai continuar esperando? - Eu creio que suas palavras fazem a realidade.
— Eram muito próximos? - perguntou e ela balançou a cabeça com os olhos cheios de lágrimas, sentia muita falta de seus amigos, todos eles, ela não havia se despedido deles.
— Eu não posso retroceder - secou as lágrimas e sorriu - Eu tenho que encontrar Téo e só então... só então ser capaz de viver.
— Os Heralds me falaram do pacto quebrado.
— Sim, os da Aemilia nos advertiram também.
— Adão e Eva são seres desconfiados, com tudo isso é difícil para ela principalmente, decidir matar aos seus filhos.
— Mas eles estão matando pessoas inocentes! – se alterou, mas ela sabia que Daniel não tinha culpa disso.
— Eles são manipulados por Asmodeus.
— Também está destruindo as famílias dos Lokis - Daniel a abraçou repentinamente e a fez dar um gritinho de surpresa - Daniel!
— Eu sentia falta de fazer isso - ela sentiu como ele acariciou o seu cabelo e cheirou o perfume dela - eu não quero deixar você ir e ainda assim vou deixar.
— Daniel eu sei que não sou a pessoa certa para você - eu revelo.
— Você seria se quisesse.
— Mas eu não quero - o abraço se tornou doloroso, mas não reclamou, deixou que a tivesse assim junto a ele.
— Nicholas está na Rússia - Daniel a fez olhá-lo - ainda não sei onde se localiza este castelo, mas acredito que não levará muito tempo para descobrir.
— Você acredita que pode fazê-lo sem correr riscos?
— Claro.
Daniel beijou-a sem esperar uma reação de sua parte. Simplesmente tomou seus lábios e os conduziu em uma sintonia harmoniosa que revelava em Vane emoções fortes. Seus lábios faziam cócegas em seu estomago e desfrutou daquele momento sem se importar com nada mais. Só que nesse momento em que Daniel e ela conectavam um vinculo outro passageiro subiu na cabine da roda quando esta passou perto da superfície e de um puxão separou o casal. Vane ainda confusa tratou de separar-se do agarre do desconhecido, mas em seu lugar encontrou Marcus com aqueles olhos verdes que ardiam perigosamente em busca do pescoço de Daniel.
— O que você está fazendo aqui? – lhe perguntou Vane, este lhe deu um olhar reprovador e se dirigiu tanto a Daniel como ela.
— Que diabos você está propondo? - E ninguém sabia como responder. Porque ambos eram culpados.
Susana foi ao encontro de seu irmão. Os guardas haviam indicado que ele se encontrava na parte inferior do castelo, onde se achavam as masmorras. Ela odiava aquele lugar, mas tinha que falar o mais rápido possível com ele sobre Téo. Ela não via o menino há um mês exato, desde que Asmodeus o havia reclamado sob sua proteção. Ela havia tentado falar com Nicholas, mas este nunca se encontrava em só lugar, sempre, desde seu nascimento havia dedicado sua vida a fazer o que quisesse e a cumprir as ordens de quem considerava como um pai. Não podia permitir que Téo também fosse parte daquele emaranhado de ódio. Se o fizesse seria repetir a mesma história em seu passado.
Sob a sombria escada de caracol e cheia de umidade, pequenas luzes iluminavam o lugar. De todo o castelo, as masmorras eram o único lugar que havia permanecido intacto desde a sua criação. Assim, eles haviam decidido manter em uma escuridão completa os petiscos antes de ingeri-los, assim mesmo, mantendo o seu inimigo perdido nas sombras das quais, só aqueles como eles poderiam encontrar a saída, já que seus olhos viam melhor à noite do que na luz do dia. Quando ela chegou ao primeiro quarto, que mais parecia uma caverna do que uma prisão. O cheiro era nauseabundo, uma mistura de suor e sangue impregnava o lugar.
— Olá irmãzinha! - Susana buscou com seus olhos o lugar de onde Nicholas chamava, encontrando-o encostado na porta de um quarto.
— Nicholas, preciso falar contigo seriamente – ela viu que o rosto dele não mostrou nenhuma mudança, seu sorriso branco seguia mostrando esses dentes poderosos e assustadores.
— Se você me fala nesse tom, devo supor que houve algo errado, certo? - Ela não respondeu - Se é sobre Téo não vou entrar no tema – sentenciou.
— Como você pôde?! - explodiu Susana aproximando-se, mas mantendo uma distância segura - Asmodeus não pode tê-lo! Não!
— Eu sou aquele que lhe deu seu filho - Nicholas ergueu os olhos azuis iluminados - E também sou uma pessoa que pode tirá-lo - estes mudaram para prateados revelando sua enorme sede.
— Você já tomou alguma coisa? - Susana se afastou um pouco, mas ele estava tão calmo como um leão esperando para dar o primeiro golpe.
— Que mais? - mostrou seus dentes, agora nítidos como facas e um arrepio inoportuno a invadiu.
— Nicholas, eu não quero lutar - ela moderou a forma como se dirigia a ele – Somente devolva-me o meu filho. É só o que peço.
- Téo vai ficar com ele - ela ia protestar, mas Nicholas a fulminou com seu olhar e começou a abrir a porta de ferro sólido que separava o quarto do corredor da masmorra – É minha última palavra.
— Não... não podes fazer isso...
— Não fique triste irmãzinha - Nicholas lhe fez sinal para eu entrasse no quarto de pedra. Algo que a fez suspeitar ao vê-lo tão alegre.
— O que está acontece? - Ela se aproximou lentamente e ele ofereceu sua mão, esta a tomou e se deixou ser guiada ao interior.
No inicio Susana pensou que Nicholas estava brincando e enfocou os seus olhos por toda a escuridão. Para ela não havia diferença alguma, mas um leve movimento chamou sua atenção. Uma respiração entrecortada e dolorosa chegou aos seus ouvidos, pressentindo o que ali se encontrava. E então ela o viu.
Um jovem de cabelos castanhos e pele branca. Ele estava acorrentado à parede. Ele estava inconsciente, seus machucados e lágrimas podiam ser vistos através das roupas esfarrapadas que ele usava. Seu sangue tinha um toque cítrico, como laranjas recém cortadas. Susana teve que controlar o seu impulso de jogar-se sobre ele e beber o sangue daquele garoto, que não reconhecia. Não parecia ter mais de 19 anos e seu rosto espancado era quase irreconhecível.
— Quem é? - perguntou a Nicholas que se aproximou do garoto e tomou o seu rosto nas mãos.
— Esta pessoa me ajudará a ter a escritora em meu poder - Nicholas sorriu e deixou cair a cabeça do menino de novo sobre si.
— Ainda não respondeu à minha pergunta.
— Ele é o seu primeiro amor.
Daniel e Marcus não disseram nada durante todo o percurso de carro, enquanto se dirigiam ao restaurante "Olhos Verdes" que Melchior relatou a Vane e se achava na Piazza de Covent Garden. Depois de Marcus os surpreender se beijando, Vane queria evitar um confronto. Ela se afastou de Daniel no momento que Marcus tinha entrado na roda exigindo respostas e tratou de que Marcus entenderia o que tinha acontecido. Ele não lhe repreendeu nada, só a tomou nos braços e a baixou toscamente saltando da cabine que estava elevando-se com Daniel seguindo-lhe os passos.
Já a salvo em terra, Melchior teve que os separar. Martha deu um olhar de puro ódio para Vane, enquanto Isaac e Eliseu seguravam o riso.
— Eu acho que nós deveremos conversar melhor com o estômago cheio - foram as palavras do tutor de Marcus, que decidiu que Daniel, Vane e seu pupilo iriam viajar com ele.
Quando eles chegaram, Melchior ordenou uma mesa privada e designou a reserva. Todos foram atrás dele e uma garçonete mostrou-lhes um lugar no terraço, separados dos demais turistas. Marcus estava em completo silêncio, não parecia feliz e Vane admirou o seu autocontrole. Por outro lado, Daniel parecia calmo e sentou-se onde Melchior mandou. Quando todos se achavam em seus respectivos lugares, Vane ao lado de Marcus, Daniel junto com Martha, Isaac com Eliseu e na cabeceira da mesa Melchior, a discussão foi desencadeada.
— Você gosta do seu beijo? - a pergunta de Marcus não intimidou Daniel.
— Sim! Eu realmente gosto - olhou para Vane e esta se ruborizou, ela gostaria que a terra a engolisse - e se eu pudesse, voltaria a fazê-lo.
— Sobre meus malditos ossos! - Marcus ia se levantar, mas o olhar severo de Melchior o levou ao seu lugar novamente.
— Eu creio que isto não se trata de uma garota, cavalheiros - a voz de Melchior era grave e não parecia estar de bom humor para suportar uma cena - em qualquer caso, ela não é sua, Marcus.
— Eu sei! – grunhiu este, mas Melchior deixou passar.
— Então você deve tentar controlar esses impulsos se você não quiser vê-la ferida.
Todos ficaram em silêncio. Vane notou que apenas Martha escondeu um pequeno sorriso, ao contrário dos outros que estavam pálidos.
— Aqui está a informação solicitada sobre Nicholas e também do avistamento de Lokis - Daniel fez Isaac passar um envelope negro selado com cera vermelha e o entregou a Melchior.
— Obrigado por sua cooperação - Melchior sorriu e abriu o envelope, revisou alguns papéis que pareciam ser bem antigos, vídeos e fotos, os colocou a seu lado.
— Os Lokis que nós identificamos foram vistos na companhia de Nicholas ou com algum dos seus mais próximos.
— Daniel, você acredita que Nicholas está procurando por algo em particular? – a pergunta de Melchior fez Marcus o olhar surpreso.
— Além de buscar uma maneira de entrar na mansão branca de Marcus – refletiu por um momento o nosferatu - Eu notei que ele ronda alguns lugares em especial.
— Esses lugares estão neste envelope?
— Sim - e então houve um silêncio.
— O que você quer dizer com ele estar procurando algo mais? – a pergunta de Marcus fazia ia direto ao seu mentor, mas este não respondeu.
— Como estão Adão e Eva? – falou Melchior ignorando Marcus.
— Os Heralds foram distribuídos e Adão me pediu pessoalmente para ajudar você.
— Como está o novo membro? - Agora era Vane quem olhou para Daniel em busca de respostas para a pergunta de Melchior, não sabia a que pessoa se referia.
— O novo membro é tal como eu pensava, é digno de confiança.
— Isso me relaxa um pouco.
— Eva não quer expor o novo a um possível ataque – as palavras de Daniel eram como um emaranhado de fios que não poderiam unir-se - Assim, que me pediu para não revelar o seu paradeiro.
— Ela não poderá proteger-lhe sempre.
— Nunca imaginei que o amava tanto - a voz do nosferatu era melancólica, como querendo ter aquele sentimento - Adão igualmente o protege, não deixarão que se aproximem.
— Quem é o novo membro?
Melchior olhou para Vanessa e ela prendeu a respiração, realmente não esperava que ele lhe respondesse, pois a Marcus havia ignorado. Mas este se ergueu e com um sorriso de compaixão a observou por uns momentos intermináveis, que lhe deram uma sensação de vergonha.
— Logo você voltará a vê-lo - foi sua resposta.
Ela queria perguntar novamente, mas Melchior acabou por não dizer nada. Eles foram servidos, e todos ficaram em silêncio. Uma ou outra conversa entre Melchior e os nosferatus para quebrar o gelo, mas Eliseu e Marcus se concentraram em seus pratos, Vane vendo que Marcus estava muito irritado até mesmo para olhar para ela, seguia ouvindo a conversa dos demais para entreter-se, fazendo figuras com o guardanapo.
Quando chegou a hora de se despedir, Daniel se aproximou dela e lhe deu um abraço pedindo permissão. Ele lhe sussurrou que voltariam a se reunir novamente e ela lhe deu um sorriso reconfortante. Isaac dirigia o carro e Martha pegou o braço de Daniel, colocando-o quase a velocidade de um relâmpago para dentro, batendo a porta.
— Bem, eu acho que é hora de ir para casa - Melchior deu um tapinha no ombro de Eliseu e Marcus, quando os levava rumo ao estacionamento.
Nicholas olhou para o jovem prisioneiro, que ele havia metido em seus planos. Este permanecia em um estado inconsciente e só voltava à consciência quando Marina ou Laura tomavam sua alma e sangue como alimento. Sua força vital estava acabando e com ela a sua vontade de viver. Ele sorriu por um momento imaginando a cara da escritora. Assim que a câmera de vídeo foi ligada e focalizou o rosto do menino que já estava menos desfigurada, ele fez parar e então a abaixou para mostrar todas as partes do seu corpo. Então ele reviu a fita e ficou satisfeito pelo bom trabalho que tinha feito. Era só uma questão de horas para ela receber a sua carta.
— Marcus isto já é suficiente! - Vanessa chutando o chão da sala e fez com que ele a olhasse, a havia ignorado por dois dias seguidos, e a evitou se encerrando em seu próprio mundo, quando ela estava perto.
— Eu não sei do que você está falando - Marcus caminhou em direção à cozinha, onde se achavam os serviçais que foram surpreendidos como ambos entravam bufando pela porta - Cassy me sirva um copo de leite - a cozinheira rapidamente abriu a geladeira e serviu o que seu mestre exigia.
— Marcus! - Vane se colocou diante dele, mas este se esquivou, tomando o copo - Daniel você não está ajudando, não pode se comportar como uma criança!
— Eu não estou agindo assim - ele levantou os ombros – é você que não deixa de me perseguir.
— Para que te persigo? - ela estava tão ofendida que não media suas palavras, ela queria fazê-lo sofrer - Eu acho que teria sido mil vezes melhor que eu me fosse com Daniel – disse entre os dentes.
— Então vá! - Marcus lançou o copo que se chocou contra a porta e o líquido branco escorreu, deixando um silêncio ensurdecedor.
— Eu vou - Vane queria gritar, chorar e dizer-lhe que era um idiota, mas seu orgulho a fez sair da cozinha sem olhar para atrás.
— Maldita seja! - Marcus continuou em um ritmo rápido alcançado-a nas escadas - Eu não terminei ainda!
— Eu sim!
— Não, você não gostou?! - Ela se deteve em seco, mas continuou a subir - Mentirosa! Traidora! Eu te odeio! Mentirosa!
— Você... nunca me entenderá - suas palavras a decepcionaram, não é que não estivesse irritado, a verdade é que o ciúme o corroia, mas se negava a aceitá-lo, nunca permitiria que seu coração encontrasse o que mais temia.
Ele a deixou ir para o seu quarto. Ambos sabiam que ela não partiria, ainda não. Vane conteve as lágrimas de raiva, pegou um travesseiro para ir para a cama e mordeu a repetir uma e outra vez que, o que Marcus fazia era típico de sua classe. Mas lhe doía, esse sentimento de dor a rasgava. Bem, ela errou ao se deixar beijar por alguém que não amava. Um erro que agora a atormentava.
A noite caiu sobre a mansão, deixando um ambiente desconfortável para os seus habitantes. Vane não desceu para jantar, calada preferiu terminar de escrever o seu último sonho. Merlin aninhado em uma almofada aos seus pés lhe fazia companhia no escuro e quando sentiu que suas pálpebras voltavam a se sentir cansadas desligou o computador. Ela vestiu o pijama e sentou-se sobre os travesseiros. Uma brisa suave acariciava seu rosto, que entrou por debaixo da porta que dava para as janelas. Seus olhos começaram a fechar lentamente vendo que as cortinas estavam se movendo lentamente de um lado para outro. Ela não sabia em que momento a figura de um desconhecido apareceu em sua frente, o surpreendente foi que não se assustou nem um pouco, esperou recostada na cama, seu corpo se sentia tão cansado que lhe custava manter os olhos abertos.
— Oi, Vane - saudou o desconhecido.
Ela notou que ele se aproximou devagar, seus movimentos eram discretos como os de um pequeno coelho que se dirige para sua caverna vigilante. A primeira coisa que se concentrou foi seu sorriso, era branco, amável e mostrou-lhe simpatia. Um laço dentro de sua alma lhe disse que essa pessoa era muito especial para ela.
— É o momento de você saber toda a verdade - declarou este, sentando-se ao seu lado - Desculpe incomodá-la nos últimos 18 anos.
Sua desculpa oprimiu seu coração. Ela não sabia como, mas seus olhos começaram a chorar, sentia tanta dor por aquelas palavras. Os olhos do desconhecido se fizeram maiores e mais impressionantes quando ele se aproximou do rosto dela. Pode apreciar um belo azul brilhante como o Mar Ártico, eram tão claros e sinceros, um grande sentimento de ter se encontrado com um familiar a enchia por completo. Um velho amigo a quem tinha deixado de lembrar. A cor dos olhos começou a mudar, um branco puro rodeou o azul até fazê-lo desaparecer lentamente. Gradualmente, os olhos se fizeram conhecidos, sua mente se congelou ao recordar a Adão e Eva, também Asmodeus possuía esses olhos. Seu corpo começou a tremer.
— Você me reconheceu? – ele perguntou, Vane fechou os olhos e como se as imagens fossem uma fita de vídeo que passava na sua frente. Cenas dolorosas, felizes e uma família dilacerada pela vingança.
— Seth - não sabia como, mas sua voz saiu sem poder deter o nome.
— Boa garota - O rosto do desconhecido brilhou quando o luar o tocou, era branco e seu cabelo negro caia sobre a testa, as bochechas estavam rosadas e os lábios jovens, quase infantis, lhe proporcionavam uma beleza exótica. Era uma combinação de Eva e Adão, a união poderosa.
Parou de tremer, já não sentia medo. Seth em seus sonhos, ou melhor, como agora eles foram chamados de – "suas visões" - havia sido um ser inocente. Ao contrário de seus irmãos, ele parecia amar sua mãe e não querer atacá-la. Tais sentimentos atingiram Lilith, que tampouco parecia interessada em destruí-lo, muito pelo contrário. Seth era diferente de seus irmãos, ele era o terceiro filho.
— Eu vejo que você conectou tudo - ele sorriu, ao observá-lo melhor, ela percebeu que sua aparência não passava de um menino de doze anos, sua aparência era infantil.
— O que você quer aqui? – perguntou insegura.
— Para lhe pedir perdão, em primeiro lugar - a força estranha de Seth a fez levantar-se com a ajuda da mão e ficar cara a cara - e também revelar algo importante
— Importante?
— Assim é - Seth estava usando jeans e um casaco preto, que luziam incrivelmente sobre seu corpo pequeno - Eu vou te mostrar as minhas memórias.
Tal como Guadalupe havia feito naquela noite antes de morrer, Seth tomou seu rosto e fechou os olhos. A eletricidade golpeou o seu coração fortemente. Ela queria gritar, mas sua garganta se fechou e deixou que a dor se espalhasse. Quando ela abriu os olhos estava em outro lugar, um lugar cheio de neve.
— Estas são as minhas memórias, querida - com estas palavras ela ficou ciente da presença de Seth e que ele pegou sua mão - Por favor, tudo que você verá a partir de agora são as minhas memórias do passado, assim me perdoe por cada erro.
Ela não entendia o seu pedido de desculpas, mas quando viu que algumas pessoas se aproximavam caminhando pela noite daquele sonho não respondeu mais. Eram duas figuras, alguém jovem e alto tomava a mão do que se via como um pequeno. Não tardou a reconhecer Abel, o primeiro Licaon e Seth era o mais jovem. Ambos estavam em uma conversa animada, não pareciam se importar muito com o frio que congelava seus pés descalços ou suas roupas brancas que se manchavam com a lama solta. Olhou para Seth do presente e este lhe indicou para escutar tudo e não falar. Foi assim que a conversa começou a fazer sentido.
— Abel, porque você acha que mamãe nos abandonou? - Um pequeno Seth perguntou com uma testa enrugada ao jovem Abel de cabelos dourados.
— Sua mãe seguramente te ama - responder este - Eu acho que se os odiasse como disse Eva, os teria eliminado há muito tempo.
— Papai sofre toda vez que ele pensa nela - a tristeza da criança comovia ao licaon — Mamãe não alterou a sua decisão.
— Ela provavelmente pensa que está certa - acariciou a cabeça da criança - Você deve ser bom Seth, por me ter revelado que possui um dom especial, não é?
— Você prometeu que não ia dizer aos meus irmãos ou para papai.
— E não o direi - o jovem tocou o coração e levantou uma mão - eu juro que o seu dom permanecerá em segredo.
— Este dom eles não o possuem, nem mesmo mamãe – lhe disse a criança olhando para o céu estrelado - Eu sei que ela sabe o meu segredo.
— Você sabe Seth - Abel deu-lhe uma olhada - Sua mãe não pode ser tão ruim - os olhos da criança se encheram de tristeza.
— Ela te odeia Abel - disse cerrando os punhos e as lágrimas escorriam pelo seu rosto - Ela quer matá-lo.
— E o fará? – lhe perguntou seu amigo, este baixou a cabeça.
— Eu não posso dizer-lhe Abel - respondeu angustiado - Eu odeio esse dom! Eu o odeio! - Gemeu e abraçou Abel - Eu não quero ver o futuro. Eu não quero!
— Calma - Abel acariciou sua cabeça - Na verdade queria poder fazer algo para reduzir a dor do seu amigo.
Vane viu como ambos se congelaram e as imagens se dissolviam e começavam a caminhada em curso. Seth, ao seu lado, seguia sorrindo amavelmente, mas ela notou certo pesar em seu olhar. Agora ela sabia que ele também tinha o dom que ela possuía, ambos compartilhavam isso. As imagens pararam e agora já não havia neve, mas um campo enorme. A lua estava brilhando e o ar um pouco mais quente era um abrigo para o frio de seu corpo. O movimento de algo nos arbustos chamou sua atenção. Quando se concentrou mais, a figura de Seth ainda tinha a mesma aparência, apareceu saltando e rindo.
— Vamos Abel! O último será um caracol velho! - A velocidade do menino era impressionante, chegou a uma distância inimaginável.
Um enorme lobo branco saiu dos arbustos farejando o ar. Ele parecia encontrar o rasto do menino, e quando se dispunha a ir ao seu encontro algo lhe chamou a atenção. Vanessa pensou que a tinha visto, mas o lobo passou através dela, rosnando para outros arbustos. Ela se perguntou o que ele havia encontrado e caminhou ao seu lado para ver melhor. O lobo grunhiu e começou a latir alterado. Até que a figura de uma menina morena saiu do mato, cabelo preto caiu em torno de sua cintura e seus olhos verdes paralisaram Abel.
— Eu não te farei nada irmão lobo – ela falou, mas Abel começou a se distanciar - Espere, não vá!
Abel levantou as orelhas e olhando ao redor parecia buscar uma saída. Ela por sua vez, saiu de seu esconderijo e aproximou-se sem medo. Em seus olhos refletia-se um sentimento que Vane sabia que também existia quando olhava para Marcus.
— Vem – chamou a Abel e os sinos em sua voz soavam como uma carícia - Meu nome é Luna – ela sorriu para o lobo - Você é tão bonito!
— Deixe meu amigo em paz! - A pequena voz de Seth soou chamando a garota que gritou ao vê-lo.
— Desculpe! Bem... Eu não pretendia machucá-lo! - se desculpou.
— Abel venha aqui! – lhe chamou Seth, o lobo se aproximou, mas sem deixar de concentrar seu olhar sobre a garota.
— Seu nome é Abel? - perguntou com um sorriso - é muito lindo.
— Eu suponho - Seth acariciou a orelha de Abel e este lhe lambeu a mão - o que você está fazendo aqui?
— Minha tribo acampou aqui perto - apontou o caminho - Decidimos nos estabelecer por um tempo.
— Será por muito tempo? - ela sorriu gentilmente. Vane pensou que para Luna, Seth era um belo ser que parecia tão inofensivo como um cervo da floresta.
— Você quer conhecê-los?
— Não! - exclamou o pequeno e mostrando seu rosto assustado - Vamos Abel!
Assim eles deixaram aquele lugar, Abel caminhou ao lado de seu amigo, mas Vane notou quando suas emoções lhe traíram e se virou para olhar para Luna, que também parecia fascinada. As imagens correram. Agora, Abel parecia ter crescido e ao seu lado estava sentada Luna, com uma criança com cabelo preto e olhos verdes. A tenda estava atrás deles, e alguns membros da tribo os saudavam ao passar ao seu lado.
— Hoje você vai vê-los? - Abel olhou para sua esposa e sorriu - Eu tenho medo por você.
— Não se preocupe tudo vai ficar bem – ela o acalmou.
— Eu não duvido deles... somente dessa mulher - ele abraçou o seu filho, que com trabalho se equilibrava sobre suas duas perninhas pequenas - Ela é perigosa.
— Nunca deixarei que nada lhe aconteça - a promessa aliviava o coração da mulher de Abel, mas Vane notou que tratava de esconder os seus próprios medos.
— Cuide-se.
— Vou voltar em breve - Abel levantou-se com algumas coisas e colocou o seu casaco de peles branco, se despediu de sua esposa e filhos.
— Abel não voltou para eles - Seth do presente havia falado e Vane supôs que lhe mostraria a morte do primeiro licaon.
O céu escureceu, a noite voltou a rodeá-los. Eva já muito mais jovem sangrava em sua cabeça e se sustentava com dificuldade sobre suas duas pernas, Adão estava de joelhos e respirando com dificuldade; além de Caim que segurava seu filho mais novo Seth, que estava inconsciente. Abel com sua forma de lobo grunhia, seu formoso pêlo branco estava manchado de sangue fresco, e as feridas não deixavam de sangrar. Vane começou a tremer, quando olhou para o outro lado a beleza mortal de Lilith parecia queimar. Era como já tinha visto anteriormente, o ódio em seus olhos não conhecia limites.
— Dá-me o meu filho - exigiu suavemente, mas Caim estreitou mais contra si o pequeno Seth - Dá-me o meu filho!
— Não! – se recusou seu primeiro marido.
— Não seja tolo Caim - Asmodeus apareceu atrás de Lilith e Vane pensou que sua aparência era a mesma a como o havia conhecido - Cedo ou tarde lhe será arrebatado.
— Basta tentar chegar perto - disse o pai, disposto a destruir a quem se aproximasse a mais de um metro.
— Meu estúpido marido - voz de Lilith era bonita. Vane disse para si mesma, em pensamentos, que se não estivesse consumida pelo rancor seria como uma melodia primaveral - Meus desprezíveis filhos.
— Mãe - Eva olhou-a desafiadora. Ambas eram tão semelhantes e diferentes. Ambas tinham um ódio profundo e o dirigia uma para a outra.
As imagens se moveram e Vane imaginou que Seth mostraria o que tinha acontecido. Quando o movimento parou, ela contemplou o resultado da batalha. Adão e Eva estavam inconscientes no chão. Caim os protegia colocando-se em frente a eles e seus olhos brilhavam ameaçadores. Um choro profundo chamou a atenção de Vane e viu que Seth estava chorando sobre o corpo de seu amigo. Abel havia adquirido a forma humana e um punhal tinha sido mergulhado em seu peito, seus olhos azuis se desvaneciam em um cinza escuro, enquanto Lillith lambia o sangue de suas mãos e no rosto tinha espalhado como pequenas faíscas.
— Abel não pode morrer! - Seth agarrava seu amigo e em seu desespero para levantá-lo não se deu conta que o tempo corria sem se importar.
— See-eth - o chamou com dificuldade, ainda sorriu e não parecia sofrer - Por favor, cuide da minha família - Seth balançava a cabeça e suas lágrimas prateadas molhavam o peito de Abel.
— Por quê? Por quê? – seu pranto entristecia a todos ao seu redor, era como se as árvores e os animais sofressem a dor de Seth. Nenhum ruído perturbava.
— Tome isto - Abel fez um esforço e tentou remover o punhal, mas suas forças não permitiram.
— Não! - Seth agarrou as suas mãos impedindo que seguisse - Se você fizer isso...
— É necessário Seth - O licaon olhou para Lilith e esta fez brilhar os olhos em triunfo - ainda não ganhou.
— É uma pena que tão forte criatura tenha um final tão patético - Asmodeus sorriu para Caim e depois para a adaga que Abel tinha presa no corpo - Só um pouco de seu sangue...
— Maldito! - Caim atacou Asmodeus e um choque de forças retumbou no solo.
— É incrível até onde podem chegar por ciúmes! Hahaha - Asmodeus tomou o braço de Caim e jogou-o sobre o gelo que se formava em um lago - Você já não é necessário.
— Papai! - Seth correu para Asmodeus, mas sua mãe o deteve sujeitando-o pela força - Não! Me solte mamãe!
— Meu filho - Liltih acariciou seus cabelos.
— Eu ganhei - Asmodeus agarrou Caim pelo pescoço e o mergulhou no lago congelado.
— Papai! - Seth saiu dos braços de sua mãe e com um movimento de seus braços fez com que o ar ao seu redor Asmodeus lhe golpeasse, liberando seu pai.
Liltih observou como seu filho tirava Caim do lago congelado, depois viu seu amante Asmodeus dirigir a sua atenção para Abel, que só assistia impotente. Ela caminhou lentamente para ele, seu cabelo se espalhou rapidamente pelo solo seguindo os rastros de sangue do licaon. Abel tentou fugir, mas seus braços e as pernas não respondiam, sentia como a própria morte o imobilizasse.
— Abel - chamou a dona do sangue que o havia criado – sangue impuro... vou eliminar-te.
— Mãe! - Seth com uma velocidade espantosa se colocou na frente dela suplicante - Não, mãe! Não o faça!
— Ahhhhhh!
O grito de dor congelou Seth quando se deu conta que Asmodeus tinha em suas mãos a adaga ensanguentada e Abel se achava sem vida sobre a terra. Vane viu como Seth caiu de joelhos com os olhos fixos no corpo de seu amigo. Asmodeus sorria de uma maneira malévola, enquanto ele se aproximava de seus irmãos que ainda estavam inconscientes. O Seth do presente deixou cair lágrimas diante daquela cena. Enquanto isso iria desaparecer como fumaça.
— Ele o matou - Vane se dirigiu para Seth, este seguia chorando.
— Asmodeus queria o sangue de Abel – respondeu este de mãos dadas.
— Por quê? – ela o olhou e seus olhos brancos brilhavam intensamente.
— O sangue de Abel é um veneno para o nosso – confessou.
— Mas... Marcus disse que não os mata - lembrou da conversa com Marcus onde ele lhe explicou a origem dos poderes e a relação que o coração tinha em tais circunstâncias.
— Só o sangue de Abel e seus descendentes diretos.
— Isso significa que... - Mas antes que ela pudesse completar a frase, Seth a terminou.
— A adaga é uma arma mortal para nós, puro veneno.
Outra imagem de Seth entregando o corpo para uma Luna destroçada se iluminou diante dos olhos de ambos. Eva chorava no ombro de Adão e Caim confortava a viúva. O bebê de Abel caminhou com passinhos pequenos até Seth e este marcou seu braço com quatro cortes. A criança gritou e começou a chorar. Seth o carregou e colocou um cobertor sobre o corpo de Abel.
— Por que você fez isso? - Vane recordava de ter visto essas mesmas marcas em Marcus.
— Assim reconhecemos a descendência direta - disse o nosferatu - para proteger aqueles que carregam consigo a maldição que minha mãe colocou.
— Maldição?
— "Tua raça perecerá pelos próprios" - ele citou - Minha mãe a lançou sobre Abel quando ela o conheceu, sem imaginar que também se referia ao nosso fim.
Tudo mudou rapidamente, agora estavam em um palácio. Vane não sabia onde ele estava, mas tinha certeza de que os presentes eram uma família unida pela dor. Eva tinha a mesma aparência que apresentava quando ela a conheceu na fortaleza de gelo. Ela abraçava ao seu irmão Adão e pareciam discutir com seu irmão menor e seu pai.
— O que, não vai nos ajudar?! - Eva gritou com raiva soltando-se de Adão e caminhando para seu irmão caçula - Explique!
— O ódio, cega você irmã - lhe respondeu Seth - Nós não podemos agir com ódio, caso contrário, faríamos o que Asmodeus deseja.
— Ela me amaldiçoou! - Eva quebrou um vaso de flores perto de Seth e os pequenos pedaços de cristal cortaram o rosto do menino que e curou imediatamente.
— Eu lamento - fechou os olhos - Mas é minha mãe... eu não posso fazê-lo - as roupas de todos eram tão elegantes como antigas de acordo com a época.
— Não vai mudar de idéia? - Adão perguntou sério e Seth negou.
— Pai! - Eva tomou as mãos de Caim, que estava sentado em uma poltrona grande - Você não pode permitir isso!
— Respeito a decisão de Seth - ordenou este – eu lamento minha filha, mas não posso prejudicar a mulher que eu amo.
— Ela nos eliminará! - Eva rasgou a sua alma chorando, seu pai acariciou a sua cabeça e deu-lhe um beijo na testa, se despedindo.
— Hoje nossos caminhos se separam filhos - Adão e Eva viram como Caim se levantou e caminhou para Seth - Um dia vamos nos encontrar novamente.
Tudo ficou escuro e Vane pensou que tinha acabado, mas Seth pegou sua mão.
— Agora é hora de conhecer a fonte de seu poder – ela o ouviu dizer em sua mente.
Seth tal como é agora, apareceu em uma imagem borrada. Caim parecia preocupado com seu filho, que segurava a cabeça e gritava de dor. Ela não entendia o que tinha a ver isso com o poder dos sonhos.
— Pai, pare com isso! - soluçava Seth, Vane notou que Caim se sentia impotente ao ver seu filho descontrolado.
— Só há uma maneira - ele disse a seu filho tomando suas mãos e puxando-as de sua cabeça - Mas isso significa que, a partir de agora um outro ser sofrerá suas visões.
— O que você quer dizer?
— A tribo de onde veio a sua mãe e eu, adorávamos o mundo espiritual – ele se ajoelhou no capim para ficar no mesmo nível de seu filho - Eles sonharão coisas.
— Mãe... Ela os enfureceu - Caim negou, mas não disse mais nada.
— Você tem que encontrar um ser capaz de sincronizar com você.
— Formação de laços?
— É isso mesmo - Caim fazia desenhos no chão de terra - um laço de mente tão indestrutível que nem seu irmão Adão poderia desfazer, um laço de força que atemorizaria a sua irmã Eva - Seth escutava atentamente o que seu pai explicava - E, finalmente, um laço de coração, que mesclaria o seu destino com o destino dela.
— E me livrarei? - Seu pai concordou - O que acontecerá com essa pessoa?
— Provavelmente enlouqueça e morra - as duras palavras de Caim não surpreenderam Vane, afinal, ela quase caiu em desespero.
Eles se olharam em silêncio. Vane observou que a imagem desaparecia de novo, e agora ela estava no quarto onde ela dormia sentada na cama, Seth estava lá, pensou ela, talvez esperando por sua rejeição. Certamente este foi seu primeiro pensamento, mas agora este havia desaparecido, era mais como uma sensação de consolo.
— Você me encontrou - disse ao nosferatu.
— Perdoe-me - Seth se ajoelhou e se abaixou seu corpo - não sabes como eu lamento tudo o que aconteceu, porque todos os sonhos que você tem pertencem a mim, o destino era meu e prejudicou você.
— Naquela noite... - Vane engoliu a saliva antes de revelar o que apareceu em sua mente - Na noite em que Nicholas atacou minha casa... foi você que disse para Marcus me proteger.
— Sim - respondeu Seth, e para Vane tudo fazia mais sentido.
— Nesse caso... isso significa que você estava muito perto.
— Eu sempre cuido da descendência de Abel - Vane começou a recordar quem tinha estado lá em cada momento, um observador silencioso. Um observador que Marcus nem suspeitava era a causa dos sonhos.
— Você é Merlin - Ele não podia obter a sua resposta, mas a segurança desta era definitiva – O gato.
— Eu jurei cuidar da descendência sem importar nada - Vane sentiu que seu corpo se rendia ao cansaço e seus olhos se fechavam.
Ela não percebeu que os braços de Seth a detiveram antes de cair ao chão, logo a colocou sobre a cama e tomando o casaco preto, ficou ao seu lado cuidando de seus sonhos. Como um bom guardião.
Capítulo. 11 - PARA VOCÊ
A ponta do lápis quebrou
Assim como meu coração
Excluindo todas as partes do presente
Banindo a sua memória
— Alguém viu onde se meteu esse gato preguiçoso?
Vane parou de mover o seu cereal, quando ouviu essa pergunta de Adolfo. Todos estavam tomando café da manhã, Marcus ainda estava sem falar uma palavra e ela não sabia como se aproximar para revelar tudo o que Merlin, ou melhor, Seth lhe tinha dito na noite passada. Um sentimento de abandono a rodeou quando ela acordou nesta manhã e viu que Merlin não estava mais ao seu lado, ela olhou em todos os lugares, na esperança de que o que aconteceu fosse apenas outro sonho sem sentido. Mas ela não o encontrou.
— Ele deve ter ido caçar alguns ratos lá fora - disse Eliseu.
— Hahahaha, boa piada irmão - Elias deu uma mordida enorme na sua torrada -mas como todos nós sabemos, esse gato foi tão mimado por Paula que jamais faria isso.
— Você acha... que está perdido? - pergunto Adolfo.
— Acho que já terminei - Vane se levantou nervosa, se essa conversa continuasse, ele lhe perguntaria o paradeiro do gato e eu não podia dizer-lhes tudo o que este lhe havia revelado.
— Senhorita Marcel! – lhe chamou Melchior antes que ela se retirasse - Preciso falar com você.
— Claro - respondeu, simulando um sorriso, ela estava tão nervosa que quase quebra o prato de cereal - Espero você na sala de estar.
Quando ela chegou na cozinha, por um momento, ficou observando a tudo. Parecia incrível que entre eles sempre tinha havido um nosferatu e nunca ninguém tenha notado. Ela pensou sobre o destino que marcou a família de Marcus. Agora ela entendia por que seu pai tinha acabado dessa maneira, a razão para as mortes de tantas pessoas e do desprezo que tinha sido implementado contra os Sol. Tornou-se cada vez mais claro que isto não tinha sido feito pelo ódio simples, mas para a segurança das pessoas que têm uma aura semelhante ao primeiro licaon. Protegê-los, separando-os daqueles que poderiam prejudicá-los. Em algum ponto no tempo, essa proteção foi esquecida e os licaons começaram a realmente desprezar os Sol.
— Senhorita Marcel? - a voz Melchior a chamou e viu que encontrava sentado ao seu lado – Gostaria de acompanhar-me? - ofereceu-lhe o braço.
— É muito amável.
Quando chegaram à sala, este a aproximou de uma cadeira para que sentasse. Então ele foi para outra e ficou em frente a ela e a observou. Ele sorriu e ela também. Certamente os tutores de Marcus o encheram de segurança, algo sobre eles era tão forte que impedia de sentir-se desamparado, sozinho.
— Do que quer que falemos - ela lhe perguntou e Melchior entregou-lhe um envelope.
Marcus estava a caminho para a biblioteca, quando viu a sombra de Vane começar a subir as escadas. Seu rosto estava banhado em lágrimas, respirando com dificuldade e tocava no peito gemendo. Então, logo atrás dela seu guardião com cara de preocupação começou a chamar.
— Senhorita Marcel! Espere! - Mas ela continuou subindo - Você não pode fazer o que ele diz!
— Eu não quero siga matando mais pessoas! - ela se voltou, seus olhos castanhos estavam cercados por uma sombra pálida e dolorosa.
— Se você fizer isso pode acabar com sua vida!
— Que assim seja! - Vane estava ciente da presença de Marcus e ele dela - não vou mudar a minha decisão - ela terminou de subir e correu para seu quarto.
— O quê acontece? - Marcus tomou o braço de Melchior e este surpreendido respondeu.
— Nicholas lhe enviou uma mensagem.
— O quê? - Marcus o soltou e começou a segui-la.
— Marcus, você não entende! Espera-me! - Mas seu pupilo não estava ouvindo - Não vá piorar as coisas!
Melchior pigarreou ao ver que nenhum dos dois lhe deu atenção. Ele permaneceu em silêncio e tratou de perguntar-se, o que seu amigo Baltazar teria feito nesse caso. Sua resposta foi o silêncio total.
Quando Marcus entrou no quarto, encontrou Vane com notas espalhadas por toda parte. Ela estava destruindo cada folha desesperadamente. Parecia ser outra, como se algo a tivesse possuído. Ele correu e tentou agarrá-la, mas ela soltou-se, isso o deixou furioso, não era a primeira vez que Nicholas tentava manipulá-la, não entendia como uma simples ameaça podia colocá-la em um estado de completa fúria. Era a primeira vez que ele a via gritar e chorar de raiva.
— Ouça! - ele chamou-lhe, pegando-a pela cintura e segurando-a contra ele - Ouça! Não te soltarei!
— Fique longe de mim! - Vane se virou e o arranhou com toda sua força no rosto, puxando um uivo de Marcus, que a soltou – Se afaste!
— Não! - Ele voltou a pegá-la pelos braços, foi uma surpresa ver que ela não se rendeu como no passado, seu corpo se contorcia em desespero - O que diabos você vai fazer?! Isso não ajuda em nada.
— Você não entende! – ela chiou deixando-se cair no tapete, cansada - Nicholas vai matá-lo!
— Ao Téo? - Marcus se abaixou e com cuidado para não alterá-la se aproximou o mais que pode.
— Não! - Ela olhou para ele com um ar derrotado – Ele capturou Esteban! - Marcus reconheceu a quem ela estava se referindo, aquele menino humano. O único que sabia que Vane ainda estava viva e que a estava esperando.
— Impossível! como?
— Ele me mostrou um vídeo – sem saber como, Vane parou de lutar - Esteban está prestes a morrer.
— Lamento - Marcus queria dizer algo mais, mas seus sentimentos traiam suas palavras, se insultou a si mesmo por não fazer algo mais.
— Marcus... - ela tocou seu rosto. Ele não sabia se ele tinha tomado o primeiro passo, mas seus lábios se beijaram - Eu quero acabar com isto, Marcus.
— Deixe-me ser teu remédio - ele a abraçou e ela retribuiu - Deixe-me ser o único a proteger você... porque só eu daria minha vida por você.
Em seguida, seus corpos se encontraram. Já não importava nada, nem dor, nem morte, nem a solidão. O abrigo em seus corações estava pegando fogo a cada toque de suas mãos. Seus lábios viajaram formando mapas precisos de cada parte do seu corpo, suas mãos traçavam o que seria o caminho da paixão. Tudo era força contra a fraqueza, a suavidade contra a dureza, um mar de suspiros misturado entre si.
Ele tomou-a pela cintura e levantou-a nos braços para mostrar sua força imperiosa, ela era como uma pena que ele poderia destruir a qualquer momento, se ele quisesse poderia matá-la. Ela se aferrou em seus lábios assim como suas mãos em seus cabelos e beijou-o tentando comunicar alguma coisa que nesse momento não poderia dizer.
Caíram suavemente sobre a cama, e com uma pressa desajeitada se livraram de suas roupas. Ele beijou seu pescoço e lábios enquanto desabotoava a saia, ela nervosamente desabotoava o jeans dele que se agarrava à sua cintura. A camisa e a blusa voaram pelo ar e caíram em silêncio ao lado da cama. Seus olhos se encontraram por um breve momento, ambos respiravam com dificuldade e seus corações tamborilavam no peito. Ambos sabiam que isso significaria uma grande mudança.
— Eu não quero machucar você – ele disse quando apoiou a sua cabeça em seu ombro - mas eu desejo tanto isto que me queima e me enlouquece.
— Por favor, não me solte - ela abraçou-o e acariciou suavemente suas costas, então notou as cicatrizes que ele possuía, resultado de confrontos anteriores e teve um pequeno estremecimento - Não me deixe.
Beijaram-se, sem mais uniram suas mentes e romperam as barreiras do que não é permitido. O rasgar de roupa íntima foi ouvido como um eco sutil no quarto iluminado apenas pela luz da manhã, e revelou a bela nudez do corpo de ambos, prontos para experimentar o sentimento de união que o universo criou.
Ela arriscou corajosamente e tocou seu peito varonil, fechou os olhos e apreciou a sensação da textura de sua pele, seus lábios sabor de canela e sonhou em poder dar-lhe todo o prazer que ele lhe oferecia. As mãos duras e firmes dele traçavam círculos sobre os seios, era impressionante como algo que poderia rasgar em segundos a acariciava com delicadeza e paixão. Sua língua passou atrás da sua orelha e entre as pernas, fazendo-os vibrar. Ele ouviu seu gemido quando ela beijou seu pescoço e começou a ver a cor dourada em seus olhos que penetravam como uma flecha no peito, derretendo o seu escudo e liberando lágrimas. Ele tomou seu rosto e se perguntou o porquê de sua reação, mas ao ver o sorriso que ela lhe deu, soube que ele sempre a queria ver feliz. Ele iria dar-lhe a felicidade, por que só ele poderia dar sua alma por ela, sem esperar nada em troca.
Os sentimentos podem ferir, matar, cortar em pedaços o coração de alguém. Mas também lhe dará a cura para eles, a cura de um amor que te faz respirar e gritar de alegria. Que lhe ensina a saltar para o vazio sem olhar e esperar nada. Aqueles que lhe impulsionam a ser melhor para si mesmo e para alguém que você aprecia. Aqueles que realmente não precisam de palavras para dizer: Eu te amo.
Marcus baixou seu corpo acomodando-se entre o dela. Ele a olhou o tempo todo, não queria deixar de vê-la, queria saber se sua falta de controle lhe faria mal, ele a queria muito, ele também pretendia protegê-la da dor. Ela sentiu um fogo abrasador queimar seu ventre quando o sentiu dentro de si, uma expansão de bolhas correram por todo o seu corpo, fazendo-a gritar. A natureza lhe deu o instinto para colocar suas pernas na posição e apertá-lo contra ela, fazendo-o gemer. Um bloqueio de eletricidade passou através de seus corpos fazendo-os experimentar uma união que eles sabiam não voltariam a ter com mais ninguém. Ele se levantou em seus braços enquanto inclinava sua cintura para ela, Vane gemeu abraçando-o fortemente e seu corpo começou a dar-lhe uma sensação hipnótica que a satisfazia com tremenda urgência.
— Espere, por favor - a voz aguda e quase se quebrando por parte dele a tirou de seu devaneio.
— Sempre – lhe respondeu com todas as suas forças em meio a uma ofensiva que a satisfazia por completo.
Assim foi como os movimentos de Marcus começaram a ser suaves e delicados, como as ondas na praia da areia do mar a acariciar os pés descalços, ele forneceu a segurança e encheu o coração, rachando seu solo. De repente, sem aviso prévio, essa maré tornou-se uma tempestade ameaçando dividi-la em duas, as ondas batiam forte e a faziam gritar, não de dor, mas de paixão misturada com prazer, e com esse mesmo sentimento pronunciava seu nome ao ouvido e suplicava-lhe que não parasse. O mar em que ambos navegavam os arremessava de um lado para o outro, agarrados aos seus corpos, unindo suas bocas doces, tentando sobreviver a essa sensação que lutava para afogá-los. A água escorria de seus corpos e deslizava os movimentos os consumido entre o calor e o frio.
Como explicar o que ambos experimentaram quando viram que a tempestade começou a ceder. Algo bateu em seus olhos e era apenas a luz, era só esperança. Eles ficaram surdos aos ruídos da terra, mas a melodia da vida ainda tocava insistentemente em seus ouvidos. E só o universo poderia explicar aquilo que lhes fez entender que haviam vindo a este mundo cheio de vida. Porque os atos humanos não são tão diferentes dos atos selvagens, e que a fragilidade do homem reside principalmente no seu coração.
Vane abraçou Marcus quando este desabou esgotado sobre si. Ela sorriu quando viu que tinha fechado os olhos e seu rosto refletia a mesma felicidade que sentia. Ele afastou-se e deixou que ela se colocasse ao seu lado como sua igual, ele abriu os olhos que lentamente tornaram-se verde e o misticismo neles fizeram-na se perder por um momento. Eles não disseram nada, não falaram sobre o que sentiram como explicar se não havia descrição. Tomaram-se a mão e ele a abraçou contra si e lentamente fechou seus olhos para sonhar.
Téo estava brincando com Isabel, quando sentiu algo em seu olho. Ele coçou insistente e conseguiu tirar. Sua amiga sorriu carinhosamente. De repente, umas figuras que lhe eram familiares e ainda desconhecidas apareceram atrás de Isabel. Era um homem e uma mulher. Ambos sorriram e depois desapareceram.
— Você pode colocar uma pedra? - Ela perguntou.
— Sim! - E continuaram a jogar.
Asmodeus sorriu para o que ele acabava de ver. Apenas alguns momentos tinham percebido que a maldição havia caído sobre uma pessoa. Uma União perdida na má sorte, condenada a um só portador. Enquanto a criança em seu poder desenvolvia totalmente a sua aura de boa sorte. Tudo era tão simples que considerou uma brincadeira de criança, que seu plano estava indo como ele desejava. Apenas duas peças estavam faltando. Apenas dois para que sua partida foi perfeita.
Capítulo.12 - DOIS IRMÃOS
Levante a minha mão e você a cortou,
Eu pedi ajuda e você me ignorou,
Mas o amor que tenho por você ainda está lá;
Minhas palavras doentes envenenam minha alma
Marcus acordou, abriu os olhos e encontrou-se com a noite. Seu braço se moveu sobre uma pele lisa e os momentos da tarde chegaram até ele. Um sorriso que jamais imaginou ter de novo lhe acalmou, ela estava ao seu lado. Silenciosamente deixou que os seus olhos contemplassem o rosto de Vane. Ela ainda estava dormindo e seu cabelo se esparramava como um manto de seda sobre os ombros. Antes de conhecê-la jamais imaginou que a união de dois seres pudesse ser tão poderosa, tão cheia de magia. Perguntava-se se sempre haviam estado destinados a encontrar-se. Ela piscou e começou a despertar. Marcus subitamente ficou tenso, sem saber que reação ela teria ao vê-lo ao seu lado.
— Olá – saudou-a.
Ela olhou para ele com aqueles olhos inocentes. Então lhe sorriu, ele exalou o ar que prendia nos pulmões e pegou sua mão. Vane não disse nada e ele se sentia demasiado estúpido para estragar o momento. O que ela estava pensando?
— Você está bem?
— Sim - respondeu finalmente.
— Espere um minuto.
Marcus se levantou da cama nu, sem se importar com a reação dela. Olhando no armário encontrou alguns lençóis limpos. Os trouxe consigo e quando olhou para Vane ela parecia tão tranquila que o fez corar. Nunca! Ele nunca tinha corado diante de nada. Essa situação o afetava e não sabia o que dizer para aliviar o golpe que o seu coração dava.
— Deixe-me mudar os lençóis -, ela não protestou e Marcus tirou os anteriores – Assim está melhor, certo?
— Sim - Vane deixou que o abraço envolvesse ambos.
— Eu... eu não te machuquei - Marcus estava terrivelmente nervoso, ela estava tão serena que aumentava o seu desespero.
— Marcus - ela chamou-lhe.
— Hã? - Vane se inclinou e beijou-o.
— Obrigado - ele a olhou e a estreitou mais contra si.
— Não preciosa, a honra é toda minha.
Na manhã seguinte se vestiram sem dizer nada, mas, ocasionalmente, se olhavam sorrindo. Marcus tomou sua mão antes de beijá-la e abraçá-la apertado. Algo os tinha unido, os misturado de uma forma surpreendente. Desceram um pouco atordoados com a luz da manhã. Eles ficaram surpresos ao ver ninguém na sala e nem na sala de jantar.
— O Sr. Adolfo deixou isto para vocês - disse a empregada ao entregar uma mensagem finamente recortada.
Vane e Marcus se olharam se perguntando o que tinha acontecido. Eles estavam com medo de serem julgados por aquilo que eles tinham acabado de fazer, mas nunca se arrependeriam de ter compartilhado uma experiência tão maravilhosa. Vane apertou a mão Marcus e começou a se desenrolar a nota. Ele leu e, em seguida, mostrou para Vane. Nela, ele dizia:
Melchior descobriu o paradeiro do castelo.
Todos nós decidimos encontrar Isabel com a ajuda dos Heiligtum.
Nos reuniremos no Club Moon
Adolfo
A nota não dizia mais nada, se apressaram para comer alguma coisa e depois partiram. Quando eles chegaram ao clube, este estava fechado. Eles foram para a porta de trás e bateram. Uma das meninas se abriu e deixou-os entrar. Ela lhes indicou que eles estavam na sala de espera e, aparentemente, discutindo sobre algo importante. Marcus agradeceu e entrou com Vane.
Quando ambos entraram esperavam ouvir uma discussão acalorada, mas eles estavam todos em silêncio, como se algo ruim houvesse acontecido. Marcus pegou a mão de Vane com mais força e se voltou para o seu tutor, que parecia decepcionado com alguma coisa. Adolfo olhou para Vane com sarcasmo e os irmãos escolheram evitar o contato visual.
— Tem alguma coisa errada? - Marcus perguntou. Ninguém parecia querer responder - O quê acontece? Ouçam rapazes...
— Você é um idiota! - Adolfo se levantou e tentou se aproximar de Marcus, mas foi impedido por Melchior.
— Não – ele ordenou – Sente-se.
— Melchior? - Marcus não entendia nada, mas ele não gostou da maneira como os irmãos olhavam para ele e tratavam de evitá-lo.
— Marcus... O que você fez? - Melchior se dirigiu para ele e então para Vane - Como você se sente?
— Eu... - Vane que se apoiava em Marcus desmaiou e este alarmado a segurou.
— O que está acontecendo?! - Marcus olhou em volta e seus irmãos pareciam tristes ao vê-lo agir assim - O que está errado?!
— Marcus afaste-se e deixe-me levá-la a um quarto - Marcus empalideceu.
— Melchior... O quê está acontecendo? - este veio e deu um tapinha de leve no ombro de seu pupilo.
— Deixe que Eliseu a leve para um quarto - Marcus assentiu. Seu irmão rapidamente tomou Vane e a carregou em seus braços. Marcus então a olhou detidamente, e quase cai quando viu que Vane estava empalidecendo rapidamente. Como se algo absorvesse a sua vida.
— O que eu fiz? - Levou a mão à cabeça e se abaixou - O QUE FOI QUE EU FIZ?! - Gritou desesperado.
— Calma filho - Melchior olhou-o - Você não sabia que isso aconteceria.
— EU A MATEI! - Marcus se levantou e quis ir atrás de Eliseu que já não estava mais ali.
— Não! - Melchior o deteve - Se você está ao seu lado pode ser que a energia negativa se transfira para você.
— Energia? - Este o olhou preocupado e Marcus começou a negar - Não! Não!
— Marcus acalme-se.
— Eu fiz isso! – se culpou e quis arrancar-se a felicidade que havia sentido, quis matar-se pelo que havia feito - Ela absorveu minha má sorte!
O silêncio confirmou o que ele dizia. Marcus tentou lembrar em que momento, tinha acontecido, não queria aceitar que a felicidade que havia tocado era a culpa dela se encontrar assim. Ela estava morrendo por causa dele, era muito infortúnio para um único corpo, para uma alma.
— Irmão, você nunca acreditou nisso! - Elias, seu irmão mais velho, estava ao seu lado - Marcus você não queria machucá-la! Vocês não sabiam!
— Eu a estou matando.
— Não! - Melchior o fez parar – Ouça, ela não vai morrer rapidamente.
— O quê? Olhe para ela!
— Eu sei que é impressionante, mas este estado eu acho que é só efeito.
— Você não tem certeza!
— Marcus não vai conseguir nada, colocando-se assim - a voz de Adolfo fez com que Marcus voltasse à razão.
— Como eu posso ajudá-la? – perguntou.
— Eu consultei a Aemilia - Melchior se colocou ao seu lado - Eles disseram que nós só temos que esperar.
— Esperar.
— Agora devemos encontrar Isabel e sem sua ajuda nunca a acharemos - lhe falou seu guardião.
Marcus relaxou, deixou que seu ouvido voasse e ouviu o bater do coração de Vane. Era lento, mas forte, ela estava lutando. Olhou para seu tutor e assentiu decidido a tirar isso de Vane e para isso tinha que encontrar os Heralds. E eles ajudariam com o encontro com Asmodeus, algo lhe dizia que não podia recusar-se, essa segurança lhe indicava que devia caminhar conforme suas decisões.
Todos partiram e deixaram Vane aos cuidados de uns guardas que a Aemilia proporcionou. Marcus não pôde dizer adeus a sua Pipoca. Atrás da porta ele desejou que ela pudesse ouvir seu coração. A razão por que a deixava e esperava que com isso ela pudesse ser salva.
Vane havia sentido o peso da má sorte em seu corpo, no momento que despertou nos braços de Marcus. Mas não se arrependia. Doía-lhe não poder defender Marcus quando Melchior disse-lhe o que tinha acontecido. Ela estava tão cansada, não sentia nada, seus olhos se fecharam pela necessidade. Algo absorvia sua energia como uma sanguessuga, e a enchia de escuridão.
Umas mãos estranhas a tomaram da cama, a levantaram e a levaram descendo as escadas. Ouviu quando os guardas grunhiam e foram derrotados. As meninas gritaram e em seguida, houve só silêncio. Um medo tomou conta de seu corpo e quis abrir seus olhos, mas não conseguiu. Sua ansiedade crescia, ela se perguntava quem era essa pessoa, suplicou para que isto parasse, pois não sabia o que estava acontecendo. Em seguida, uma voz feminina falou com um tom gelado.
— Se ele ama você - disse – virá buscá-la.
A viagem para a casa dos Heiligtum foi feita por um Marcus inquieto. Por um momento pensou em mandar tudo para o inferno e voltar para a sua Pipoca. Mas a necessidade de ajudar os seus irmãos e também ela, segurou esse impulso. Quando Nixie, a líder dos Heiligtum, os recebeu, Marcus estava consciente de que seus demais irmãos licaons estavam sofrendo. Nixie parecia cansada e abatida, se saudaram com pequeno entusiasmo.
— É gratificante saber que vamos ter a sua ajuda - Melchior cumprimentou Frederick um dos irmãos de Nixie.
— Nós esperamos poder - este respondeu.
— Frederick, por favor - Nixie o colocou de lado e saudou Melchior - perdoe o meu irmão, é que ele está muito preocupado com Kay.
— Onde está Kay? - perguntou Marcus.
— Ele foi com o meu marido para procurar um licaon desaparecido recentemente.
— Você se casou?
— É isso mesmo - ela concordou - Derek é um dos principais líderes do Heiligtum na Europa.
— Espero que seja digno de você - Marcus lembrou que Nixie era uma líder maravilhosa e que todos de seu grupo de licaons a admiravam.
— Ele é – esta sorriu - Por favor, sigam-me, temos uns planos perfeitos e...
— MARCUS!
Todos ouviram perfeitamente quando a voz feminina de uma irmã desterrada os chamou.
— MARCUS!
— Paula! - Marcus correu para ela que se encontrava detida por dois guardas Heiligtum que a impediam de ter acesso ao local – Soltem-na!
— Marcus, eu necessito falar com você! - Paula se safou de um agarre, mas os guardas a derrubaram no chão - Oh!
— Seus idiotas! - Eliseu gritou correndo para ajudar Paula. Por seu turno Adolfo ficou ao lado de Melchior e Elias seguia lentamente seus irmãos.
— Desculpe-me senhor, mas esta menina foi identificada como uma desertora...! - Marcus não deu tempo para o guarda reagir e deu-lhe um golpe direto no queixo, Eliseu derrubou outro enquanto Elias detinha a menina bonita.
— Paula o que está fazendo aqui? - Marcus e o guarda estavam lutando perante o olhar atônito dos espectadores.
— Vane está em perigo!
— Muito bem, todos se separando agora mesmo! - Nixie parecia desconfortável e todos fizeram o que ela ordenou – Bem senhores, acredito que Paula deve uma boa explicação.
— Marcus tem que vir comigo, senão...!
— Paula tem de sair agora! - Melchior a agarrou e começou a dirigi-la para a entrada.
— Não entendes Melchior! - ela lutava – É de vida ou morte!
— Vane está em perfeito estado!
— Não! Nós capturamos um membro do clã de Nicholas! - Paula fez com que todo mundo congelasse - Por favor, acredite em mim!
— Paula, você deve ir agora - Melchior a agarrou e levou à entrada - não pode dizer alguma coisa, se não houver provar.
— O nosferatu que capturamos se chama Alaska e é assistente de Susana, a irmã Nicholas!
— O que você diz não é cem por cento seguro - Melchior a levou para fora do prédio – Vai.
Paula sentiu-se muito magoada com a reação de seu ex-tutor, olhando para trás viu que Marcus e os seus outros irmãos olharam para ela com vontade de segui-la, mas as ordens de Melchior, tinha-os freado. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela lutou com todas as suas forças para não chorar na frente de Melchior.
— Você se arrependerá por não ter acreditado em mim.
Foi a última coisa que ela disse a Melchior antes de descer as escadas. Quando atravessou a rua, Pablo a esperava e abriu os braços para confortá-la.
— Não me acreditaram.
— Você sabia que seria assim - disse ele acariciando suas costas.
— Eu tenho que ajudar Vane - sua voz se encheu de coragem - ela faria o mesmo por mim.
— Temos de avisar a Daniel.
— Não há tempo, se o que Alaska disse é verdade... Ela está prestes a encontrar-se com ele.
Pablo tomou a sua mão e balançou a cabeça, afastando-se rapidamente e com firme determinação para ajudar a Vane, no final das contas, ela o ajudou a entender o quanto ele amava Paula. Uma amiga estava em perigo e não pouparia nenhum perigo para resgatá-la. Não era o nosferatu mais rápido, no entanto, se esforçaria para levar Paula com ele, a uma distância apropriada. Tinha apenas horas antes do pôr do sol neste lugar.
A neve congelada queimou seu rosto enterrado, Vane levantou-se com a pouca energia que tinha acumulado durante o sono. Notou que já não estava na Inglaterra, as montanhas de neve ao redor e uma floresta seca servia de marco para enquadrar o cenário que em breve desataria uma terrível desgraça. Sua roupa estava congelando com ela dentro. Perguntou-se se ela iria sobreviver ao final. Caminhou insegura sem ter idéia de onde ela se encontrava, a noite caía e o céu estava pintado de vermelho. O ar gelado passou cortando sua respiração por um instante, seus tremores eram mais intensos, seus ossos doíam e ela acreditava que este pesadelo a estava castigando. E, sem esperar, o riso infantil de alguém soou na solidão daquela floresta.
— Um, dois, três,... - a voz era quente e familiar. Vane sentiu seu coração esbravejar - 6, 7, 8...
Seus pés estavam mais frios do que um iceberg, mas avançavam seguros na direção da voz dessa pessoa, algo lhe dizia que estava para encontrar o que esteve procurando por muito tempo. Só tinha de caminhar mais um pouco.
— Eu vou procurar, ok? - ouviu a voz novamente e passos apressados de alguém se aproximando.
Ela queria chamar essa pessoa, dizer-lhe que eles estavam tão perto. Que só tomaria uns segundos. Vane escorregou e caiu em um buraco na neve, as suas energias estavam prestes a terminar, se ela fechasse os olhos tudo terminaria em nada.
— Quem é você?
Vane olhou para cima e encontrou seu irmão. Téo já não era mais um bebê, agora estava maior e mais forte, seus quatro anos não tinham mudado muito de suas características, mas seus olhos tinham um brilho estranho, como se não fossem os mesmos olhos daquele irmãozinho de quem cuidava e contava histórias. O que deveria fazer?
— Téo? E você? - lhe perguntou, levantando-se e caindo sentada – Vem Téo, quero saber se é você mesmo.
— Como você sabe meu nome? - A criança começou a se afastar.
— Téo, sou eu! - Ela tocou seu peito desesperadamente tentando transmitir suas emoções - A tua irmã! Eu sou Vane!
— Eu não sei quem... ai! - Téo tocou a cabeça, uma pontada o fez tropeçar.
— Téo! - Vane o levantou e acariciou sua cabeça. Seu irmão parecia um completo estranho para ela e recordou que para ele as memórias não eram as mesmas – Você tem que se lembrar Téo.
— Por favor, deixe-me ir – ele começou a querer soltar-se – Me solte! Eu tenho medo!
— Téo eu nunca iria machucá-lo – ela disse, mas ele começou a chutar e a gritar aterrorizado.
— Marina! Laura!
— Téo não chore, eu não vou lhe machucar! – seu irmão a olhou com desespero. E começou a chorar mais forte
Apenas sentiu um golpe forte contra seu corpo, que a enviou direto para a neve como se tratasse de um foguete. Seu rosto bateu duro contra a neve, estava ciente de que seu irmão e ela não estavam sozinhos. Ela passou a mão sobre a cabeça e viu que o sangue começou a subir rapidamente manchando sua vista. Quando ela olhou para onde se achava Téo, as figuras de suas guarda-costas a olharam ferozmente. Elas estavam iguais a como se recordava delas, Marina com uma elegância perpetua e Laura com seu olhar assassino revelava a sua capacidade de ataque.
— Marina! - Téo levantou os seus braços e a nosferatu, rapidamente, o pegou nos braços.
— Téo! Não vá com elas - Vane se levantou e começou a se mover, ela sabia perfeitamente que se elas quisessem poderiam destruí-la, mas o amor por seu irmão a impediu.
— Não! - gritou o pequeno, cobrindo os ouvidos. - Mentirosa! Eu não conheço você!
— Lembre-se - Vane fechou os olhos e deixou que as imagens de seus pais viessem a ela - nossos pais Téo - Marina agarrou mais a criança - Mamãe e papai, sua verdadeira família.
— Cale-se!
Uma delas se lançou contra Vane e tomando-a pelo cabelo, voltou a bater contra a neve. Vane sentiu como se seu cérebro a traísse, seus membros não podiam se mover muito, mas a vontade de retornar para pegar seu irmão a levantaram. Laura a segunda de Nicholas foi quem a atacou, se encontrou ao seu lado novamente e com um chute no tronco lhe quebrou as costelas. Abraçou-se a esta e pôs as pernas firmemente apoiando o seu peso. Seu nariz, cabeça e ouvidos estavam sangrando, mas a dor havia sido bloqueada. Sua respiração estava prejudicando sua garganta e vomitou sangue pela boca.
— Téo... eu.... - Seu irmão a olhava com medo - Eu te amo.
Téo olhou para a menina na frente dele. Lá dentro, no seu íntimo, se dizia que ela estava dizendo a verdade, seu corpo também, mas as memórias são voltavam. Imagens de morte e sorrisos se misturavam, doía ver a essa garota assim, ele não queria que Laura a atacasse dessa maneira, mas tampouco podia, ou melhor, não queria lembrar.
— Eu sou a tua irmã - ele a ouviu falar – Sou Vanessa Marcel, sua irmã!
— Nãooooooo! – o grito de Téo rasgou o frio e ele caiu inconsciente nos braços de Marina. Esta o colocou ao lado de uma árvore seca em silêncio e logo acariciou suas bochechas rosadas e infantis.
— Você não pode dizer isso ao amo - Laura olhou para Vane e esta se perguntou o que aconteceria se continuassem.
— Você cometeu um grande erro em vir - Marina apareceu na sua frente numa velocidade impressionante e tomando a sua cabeça a enterrou na neve.
— Morra.
As palavras da nosferatu chegaram aos seus ouvidos como alfinetes picando seu coração, estes monstros tinham seu irmão e o estavam mudando. A neve entrou em seu nariz e boca, apesar dos esforços e luta, a força desta garota era sem igual. Não parecia exercer uma grande pressão e ainda assim ela sentia que estava explodindo a cabeça, enquanto o ar ficava difícil de passar para seus pulmões. ESTAVA SE AFOGANDO!
O som de uma barra de metal batendo contra a parede foi o que alcançou distinguir quando a pressão afrouxou e pode respirar o ar com desespero. Seus olhos congelados olhavam para a nosferatu que a tinha querido eliminar, esta se encontrava de pé com o cenho franzido olhando em uma direção.
— Vane! - A voz de Paula foi como um bálsamo para a sua alma, a sua amiga se aproximou e a abraçou fortemente.
— Paula! Graças a Deus! – Ela se deu conta que Paula estava chorando.
— Pensei que não chegaria a tempo! - Ela disse, Vane observou que sua amiga não tinha vindo sozinha. Pablo estava em pé e mostrando seus dentes afiados para as suas irmãs de nascimento.
— Vamos, temos que resguardar-te! - Paula ajudou-a a levantar, mas seu corpo estava dormente.
— Paula! Eu não posso levantar-me! - O alarme em sua voz parecia alterar a sua amiga que a levantou sem esforço e a carregou como uma tora de suporte.
— Tudo vai ficar bem Vane - Paula sorriu e ela quis chorar.
— Téo...
— Não se preocupe, vamos ajudar - Paula se levantou e caminhou até o lado de Pablo que enfrentava as neófitas – Muito bem aranhas venenosas, vão sentir o que fizeram a minha amiga. Como eu sou uma licaon!
Paula e Pablo começaram a batalha contra aquelas nosferatus que os viam com desprezo total. Pablo enfrentou Marina, esta o tomou pelo braço em um descuido e o golpeou contra o chão fazendo-o ser quebrado, mas Pablo utilizou o impulso para lançá-la ao ar e deixá-la cair sobre uma árvore. Por outra parte Vane apenas viu que Paula se esquivava dos golpes de uma Laura muito mais rápida, que parecia usar as mãos como lâminas, esta cortou o rosto de sua amiga que gritou. Paula tocou na ferida e os seus olhos mudaram para um ouro perigoso, a nosferatu também mudou o seu para um prata assassino, sem duvidar, seus corpos colidiram. Paula era menor do que a sua adversária, mas a fez cair no chão e acertou-lhe um grande golpe na cabeça.
— Téo... - Vane aproveitou esse momento chegar mais perto de seu irmão - Vamos... Téo, lembre-se de mim.
Marina percebeu suas intenções e se esquivou de um ataque Pablo para detê-la, este se deu conta e a sujeitou por suas pernas. A nosferatu rugiu e chutou fortemente libertando-se.
— Não tão rápido, garota estúpida! - agarrou uma pedra e a lançou contra Vane.
— Cuidado! – o grito de Pablo alertou Vanessa que se abaixou sentindo como a pedra voava sobre si incrustando-se em uma arvora.
Ela não perdeu tempo e seguiu avançando em direção a seu irmão. O sangue escorria pelo seu rosto e mal podia ver, então ela o viu. Seu corpo ficou paralisado de medo.
— Oi, Vane – a saudou Nicholas que estava sentado ao lado de seu irmão.
Um sentimento de derrota a inundou, a atmosfera se encheu de tensão quando este se levantou e avançou para ela. Vane olhou-o aterrorizada e como se fosse uma garotinha assustada começou a recuar desesperadamente, por sua parte, ele parecia encantado em vê-la. Seu sorriso era de uma satisfação completa. Todos os seus sentidos se concentraram em Nicholas, não havia ninguém mais, apenas eles dois.
— Fique longe de mim! - ela gritou, mas ele avançava cada vez mais - Não me toque!
Ele parecia perceber o seu medo, no entanto, ignorou seus gritos. Chegou até ela e se abaixou para contemplá-la, os olhos azuis dele se introduziram nos de cor chocolate dela. Vane por um momento aterrador não soube o que estava vendo, imagens do passado chegaram a sua mente. Como um furacão entrou e mostrou passado de alguém. Uma família vestida conforme o protocolo real sorria para uma câmera na hora de retratar. A foto era um total de sete membros, cinco mulheres e dois homens, esta começou a manchar-se de sangue e cobrir um a um a cada membro, no final, só dois rostos permaneceram intactos. Um menino e uma menina. Armas de fogo foram levantadas contra os corpos dessas pessoas, disparos estrepitosos romperam como raios a sala onde estavam encerrados. Lágrimas, gritos e um soldado de vermelho disparando em um por um a cada sobrevivente. O rosto do menino com olhos azuis voltou-se para ela e lhe sorriu, apesar de estar ferido Vane sentia que dentro dele não havia nenhuma alma.
— Não acredita que é má educação ver o que não deve.
Nicholas a despertou com sua voz, daquelas visões. Enquanto ele estava em pé ao lado dela, o seu elegante terno preto realçava sua cor e feições misteriosas. De certa forma, se ela o tivesse conhecido sendo um estudante era possível que ela houvesse gostado. As visões ainda estavam vivas e optou por desviar o olhar para onde estava o seu irmão. Mas, para sua decepção, quem estava com Téo em seus braços era Susana.
— Eu acho que você ganhou o direito de irmã do Téo - Vane ouviu as palavras de Nicholas e compreendeu que quem havia feito tudo isso foi Susana.
— Eu estou indo – anunciou esta, levantando-se e afastando-se rapidamente com Téo.
— Não!
Apenas notou que era ela quem tinha gritado, mas ignorando, Susana sem fazer caso, seguiu em frente sem parar até perder-se nas sombras das árvores.
— Você e eu temos algo pendente - Nicholas a ia agarrar quando uma adaga passou tão perto que o teria acertado se fosse a sua velocidade - Basta olhar!
Este se virou sorrindo para onde havia vindo o ataque. Paula estava de pé com mais adagas em suas mãos, Laura aparentemente havia caído e estava começando a se levantar.
— Não pensas que algo assim me deterá, certo?
— Não se preocupe eu tenho o suficiente – ela assinalou e Vane viu como em sua perna trazia um cinto com mais destas armas mortíferas.
— Eu não gosto de enfrentar os plebeus - Nicholas declarou entre risos - mas, dada a sua excitação, não pode ser de outra maneira.
— Antes de tocá-la, você morre maldito! - As palavras de Pablo fizeram Nicholas sorrir ainda mais e seus olhos mudaram para uma de prata perigosa.
— Pablo! Paula! Vão!
— Não Vane! Vamos dar uma lição este idiota! - disse Paula com a decisão.
O ataque foi rápido, Pablo se lançou pela frente e Paula atacou pela retaguarda. Marina e Laura permaneceram imóveis para o espanto de Vane, e isso não dava um bom pressentimento. Nicholas se esquivou dos ataques sem muito esforço, tomou com suas mãos o braço de cada um dos seus atacantes e os lançou longe. Sem demora e para estremecimento de Vane agarrou Paula pelo pescoço e começou a estrangulá-la.
— Como estas bonita assim, querida - disse ele, em seguida, se aproximou do seu ouvido e sussurrou algo que ninguém ouviu causando a fúria de Paula.
Pablo levantando-se quis evitar, mas Marina e Laura o tomaram pelas pernas e o lançaram contra Vane, chocando-se fortemente contra o solo. Vane queria continuar assistindo a batalha, mas seus olhos eram traiçoeiros e, finalmente, desmaiou. Levando a imagem de Nicholas asfixiando Paula.
Capítulo. 13 – SACRIFÍCIO BRANCO
Uma lágrima se cristaliza
Manchando suas próprias palavras
O papel em que você enviou
Agora tudo é cinza
Um mudo silêncio corta a alma. O ar acaricia aquele que está desfeito, não há maneira de escapar dos medos interiores, você não pode lutar contra aquilo que você não vê. Você se sentir forte não serve para nada, e a fraqueza só aumenta a dor. Ser capaz de rejeitar a solidão é a maior prova que os seres humanos podem impor.
Sentia as pálpebras pesadas, mas ela reuniu todo o seu ser para entreabri-las. O que esperava não era uma imagem bonita. Mas por outro lado, suas lágrimas agora secas, voltaram a umedecer. Em meio à neve estava Paula.
Sua amiga estava deitada na neve. Seu sangue fazia uma poça ao redor e brilhava sob a lua, notou que ela estava viva pela fraca respiração que subia e baixava em seu peito. Vane queria olhar para outro lugar, mas sua garganta estava doendo muito, estava colocada em uma posição que só podia olhar para Paula.
— Paula ... Paula ...
A voz de Pablo a fez consciente de que ele também ainda estava vivo. Então ela viu como este se aproximava de sua amiga se arrastando, ambos estavam gravemente feridos. Pablo se colocou sobre a sua amada apoiando-se nos braços para não apertá-la. Vane se perguntou o que tinha acontecido e por que não ouvia Nicholas e suas servas.
— Paula... perdoe-me! – Pablo chorava amargamente e Vane sentia dor de suas palavras.
— Vamos querido filho! - Nicholas se aproximou, sua figura como uma sombra maligna cobriu os amantes.
— Maldito! – lhe disse seu ex-súdito sem olhá-lo.
— Vocês que insistiram em lutar – lhe contestou Nicholas e Vane ficou consciente de que este tinha uma mancha de um arranhão nele – Faz muito tempo que quero eliminar-te, se lembra?
— Você será detido Nicholas - declarou Pablo.
— Pa-pablo - Paula abriu os olhos que eram verdes escuros, e levantou a mão para acariciar o rosto machucado - Como lamento isso! - este negou beijando-lhe os dedos.
— Isto sim é uma cena de amor! - Nicholas zombou - Mas você sabe o quê? - Vane viu como este sacava de atrás de suas costas uma adaga de Paula – Já me aborreci.
— NÃOOOOO!
O grito de Vane foi ouvido apenas pelas árvores e ao som de carne sendo dilacerada se impregnou com o cheiro da morte. Nicholas tinha perfurado o peito de Pablo com seu braço e empunhando a adaga até chegar a Paula, a qual abriu muito seus olhos sentindo como se enterrava nela sua própria arma. Pablo sem crer no que via, deixou que Nicholas o abraçasse.
— Não, não, não, não! - Pablo agarrou a mão de Paula que deslizou como uma folha de papel - PAULA! - Ela sorriu.
— Eu te amo - foram as últimas palavras que Vane ouviu de sua amiga diante dos seus olhos obscurecidos.
— NÃO! - Chorou Pablo.
— Quanta dor! - lhe disse Nicholas ao seu ouvido – Hahaha. Mas não se preocupe meu filho – Vane viu como soltava a adaga, deixando-a no peito de Paula - Eu vou conceder-lhe o seu desejo também.
E sem mais retirou o braço do peito de Pablo e cruelmente Vane viu que segurava um coração batendo em suas mãos. Que imediatamente se tornou um pó branco caindo por entre os dedos. O corpo de Pablo, em seguida, fixou os olhos sem vida sobre Paula, começou a embranquecer junto com suas roupas, para formar uma figura perfeita, como o mármore esculpido.
— Agora você está feliz, certo? - foi a pergunta cruel de Nicholas para o corpo de ambos os amantes.
A dor que Vane sentiu diante de tal cena a destroçou por completo. O seu choro tornou-se forte e seus gritos de agonia revelava a impotência de ver seus amigos sem vida por causa dela. A voz de alguém no seu ouvido a alentou para levantar-se enfrentar Nicholas – "O laço de força"- repetia a voz. Seus braços estavam apoiados na neve e as pernas dobradas para ganhar impulso. Ela não sabia como, mas se achou de pé sobre a neve, enquanto Nicholas a olhava com aquele sorriso que a perseguia em seus pesadelos.
— Assassino! – gritou furiosa – Assassino cruel!
— Você está zangada amor? - Nicholas se aproximou dela e acariciou o seu rosto - Você não sabe que eu estou com raiva.
— Por que você fez isso? - perguntou – Era a mim que você queria! – reclamou.
— E eu ainda te amo! - ele confirmou isto traçando uma linha com o dedo em sua bochecha – Apesar de você já ser de outro - a voz amarga de Nicholas a surpreendeu - Eu posso sentir seu cheiro, vejo em sua aura ao redor e o sinto em sua alma.
— Eu matarei você Nicholas - disse ela. Antes ela duvidava de que fosse capaz, mas com o que havia acontecido, os sentimentos de ódio apareceram, reclamando a vingança mais do que nunca. E ela se concederia.
— Você tem certeza? - Nicholas levantou a mão e estalou os dedos mostrando uma chama azul dançando perigosamente.
— Não! - Vane se imaginava planejando e se não o fizesse o espírito de seus amigos nunca teriam descanso.
— Pois venha me matar! - Nicholas disse com um tom escuro em sua voz que a fez estremecer - Você é só uma humana.
As lágrimas de Vane caíram na neve pela humilhação. Nicholas tinha razão, ela era só uma humana. O que eu poderia fazer?
Um uivo os surpreendeu, e sem mais Nicholas a tomou pela da cintura e começou a correr por entre as árvores. Vane olhou para cima, mas apenas sombras corriam pelos cantos tentando alcançá-los. Um deles se chocou com o nosferatu que se esparramou contra uma pedra enorme, mas sem desistir, tomou impulso saltando e escapando da emboscada. Outro uivo mais, os surpreendeu e quando se encontraram em frente a um penhasco Nicholas maldizendo, voltou-se esperando por seus atacantes. E, como se seus pensamentos tivessem chamado por ajuda, Vane viu que dentre as árvores vieram Marcus, Daniel e um pequeno grupo de nosferatus. Também entre os lobos reconheceu Elias e seu irmão.
Marcus rosnou mostrando suas feições ferozes e Daniel fez brilhar seus olhos de prata. Nicholas sorriu, levantando uma sobrancelha, e sem que ninguém tivesse pensado, se lançou no vazio com Vane em seus braços. Um lampejo de luz a deixou ver o lobo negro que era Marcus jogando-se com eles. O animal ergueu a mandíbula e golpeou Nicholas. Na luta este soltou Vane e Marcus a pegou, e com suas patas de impulsionou sobre Nicholas para atingir a parede de pedra e começar a subir escalando com suas garras, deixando Nicholas cair no vazio, no entanto, Vane notou que um sorriso permanecia nos seus lábios desaparecendo nas sombras.
Capítulo. 14 - RODA
Um desejo que escrevo em versos
Letras escuras em minha mente
O amor é escrito com ódio
E eu odeio com amor
— Paula!
Eliseu estava ajoelhado em sua forma humana ao lado do corpo de Paula, com sua mão acariciava seus cabelos enquanto com a outra tocava os lábios. Vane estava nos braços de Marcos e este escondeu o rosto em seu cabelo. Daniel e sua família também estavam do lado do corpo de Pablo, que tinha sido separado de Paula. O pranto e a impotência, era uma dor coletiva. Duas pessoas inocentes foram mortas por um inimigo comum e não puderam fazer nada. Eles não tinham escutado.
— Você não pode ir sem mim pequena! - Eliseu parecia estar completamente fora de si e Elias com lágrimas nos olhos, teve que retirá-lo à força - Não!
— Eliseu! Deixe ir o seu espírito! - lhe implorou seu irmão - É o melhor!
— Você nunca entendeu! Ninguém entendeu! - Eliseu abraçou Paula e a aconchegou contra o peito - Eu a teria protegido e amado sempre.
— Vamos filho, não faça isso mais difícil para seus irmãos - Melchior que parecia a ponto de soluçar e com os olhos vermelhos retirou Paula.
Eliseu cobriu o rosto e berrou com pura fúria, Melchior carregou Paula e se aproximou de Pablo colocando-a ao seu lado. Daniel olhou para esse gesto e com dor igual se aproximou do seu amigo caído. Logo acendendo um fogo vermelho fez este ser consumido e as cinzas brilharam ao lado de Paula.
— Por favor - pediu Melchior - Não os separem.
— Não - foi a resposta do licaon – seríamos desalmados se os separássemos.
— Obrigado.
Os nosferatus que tinham conhecido Pablo ficaram feridos. Seus rostos tristes contemplavam a seu amigo virando cinza e a garota que havia desafiado a todos. As gêmeas Starr cantaram uma bela canção que Vane reconheceu. Mas ela preferiu aconchegar-se mais contra Marcus e reconfortá-lo. Quando elas terminaram Daniel disse adeus a todos e vendo Vane nos braços de Marcus, se foi com o coração partido ao ver que ela tinha acabado de escolher.
— É hora de ir embora - Nixie que também estava chorando e falou serenamente e se aproximou de Marcus - Vamos levar Vane para um hospital aqui perto.
— Sim - Marcus pegou o seu rosto que estava sério e caminhou ao lado de Nixie. Vane viu que os Heiligtum pegavam as cinzas de Pablo e o corpo de Paula, os colocaram no que parecia uma caixa de cristal e avançaram com eles.
A tinta se derramou sobre o papel quando Adolfo se inteirou por telefone de que Paula estava morta. O que sentiu depois foi um total desespero e uma dor intensa que lhe partia o coração. Ele se levantou de seu assento, e com fúria atirou a tinta que sobrava no papel de parede. Ele caiu no chão de joelhos e chorou com lágrimas inconsoláveis, nunca mais voltar a vê-la. Uma escuridão da qual sabia que jamais quereria despertar, porque a luz se havia apagado, ela a havia levado toda. Junto com seus beijos e seu sorriso.
— Eu sempre vou te amar - disse para a imagem de Paula, formada em sua mente.
Levantou-se e se dirigiu para o jardim onde estavam as suas rosas brancas, as cortou uma por uma com suas próprias mãos, sangrando e combinando as cores. Estas rosas estariam no túmulo da mulher que havia entregado o seu coração e brilhariam iluminando o seu dia. Adornariam o caminho para os espíritos, enquanto que ele em sua solidão só poderia desejar morrer com ela.
— Assim, e para a eternidade!
Seriam as últimas palavras que dirigiria para ela.
A dura pedra de gelo que mantinha os seus segredos, a escura paisagem que impedia a entrada da luz do dia. Só eles sabiam a verdade, e isso mudaria o curso que estava tomando a roda do destino. Não saber o que fazer para mudar o seu processo e não querer impedi-lo de novo. Os frios olhos azuis de Eva olhavam para os seus dois irmãos e seu pai, que lhes havia protegido quando crianças. Eles haviam tomado a decisão de esconder-se até que fosse o momento, mas Seth havia aparecido e com ele revelado sua localização. Os segredos não podem ser guardados para sempre.
— Hoje eu senti uma mudança radical - Eva se aproximou de Adão que a abraçou - Eu pude sentir a dor de vários nosferatus.
— Nossa mãe nos procurará em breve - Adão olhou para o seu irmão menor que agarrava suas pernas com força sobre o chão.
— Eu posso sentir que ela está buscando também ao descendente - Seus irmãos pareciam muito pouco convencidos de suas palavras, mas Seth nunca mentiu.
— Se a mãe recebe o sangue desse ser... - Eva segurava as suas mãos - o sacrifício de Abel nunca terá valido a pena.
— É preciso o mesmo sangue para ativar o veneno - o pai tinha falado e eles o escutaram atentamente - Sem o sangue do descendente a arma jamais funcionará.
— Ela vai tentar eliminar esse descendente – contestou muito seguro Adão, enquanto tratava de encontrar uma falha na maldição.
— No momento, a arma está nas mãos da Aemília - seu pai os fez recordarem a forma em que aquela arma havia obtido o veneno.
— Temos a certeza de que esta é a arma? – perguntou a garota.
— É a arma - confirmou Seth - Eu mesmo a vi nas mãos dos mensageiros do México.
— Isso é muito suspeito - Adão levantou-se e se dirigiu para seu pai, que esperava as suas suspeitas, afinal, ambos eram similares nisso - espero que a minha mãe receba o que merece.
O sonho assombrava sua alma, sempre ouvia os gritos, os lamentos, mas nunca via o fim. Marcus caminhou com essa ânsia de sangue em sua boca. A sede queimava como fogo e derretia o controle. Era só ele e a besta, nada mais. Seus instintos já não eram humanos, e o ódio contra o que uma vez acreditou ser verdade, agora era tão intenso como a vingança.
Definitivamente não era o mesmo, jamais seria o mesmo novamente. Ela olhou para ele com medo, a pessoa em quem ela acreditava confiar agora a rejeitava, seu maior temor era esse. Sentiu como se lançava a ela e rasgava sua carne. O sangue brotando das feridas frescas, salgado e doce ao mesmo tempo. Vida. Morte.
Então se pudesse, já não sofreria mais.
— Marcus?
Sua voz o acordou, a luz ainda iluminava o rosto de sua Pipoca. Um dia diferente, uma manhã que não queria acordar. Ela estava em uma maca, seus ferimentos eram graves, ele sabia que esses momentos eram cruciais para sua recuperação. E apesar de saber que sua presença a feria, não podia ficar longe dela e já não podia deixar sua outra metade. Se o fizesse se perderia nas trevas.
— Eu caí no sono - ele sorriu, pegando a sua mão.
— Pois é! Você estava roncando como um urso enorme - ela sorriu e apesar disso Marcus sabia que por dentro ela estava destruída, cada centímetro de seu ser.
Ver ela enfaixada e acamada num hospital era a última coisa que gostaria para ela novamente. Não entendia o que os espíritos tinham planejado para eles. Ele queria entender, mas sua condição não permitia, sentiu-se irritado e impotente ao vê-la assim. Apenas seu rosto pálido se mantinha com a esperança.
— Lamento não ter assistido ao funeral - Sua Pipoca cobriu os olhos para não o ver chorar.
— Não é sua culpa - Marcus acariciou seus cabelos - ela entende e lhe asseguro que agora nos guiará por esse caminho.
— Eu tenho tanto medo - as suas palavras o deixaram gelado - a morte me persegue a aonde quer que eu vá, agora nem meu irmão se lembra de mim. Então qual é o meu propósito?
— Eu quero você do meu lado - ambos ficaram chocados ao ouvir as palavras dele.
— Marcus... eu quero te proteger - ela quis se levantar, mas as lesões a impediram - mas agora eu sou tão perigosa para você como são os teus inimigos.
— Eu não vou deixar você!
— Eu não quero que você faça - Vane suspirou - Mas e se te afeta de novo a má sorte?
— Então, eu a receberia de bom grado, se com isso você fosse feliz.
Ela fechou os olhos, o coração batia de uma forma impressionante. Podia ouvi-lo e estava quase certa que ele também. Foi quando sentiu seus dedos percorrer os seus lábios e quando abriu os olhos, contemplou seu rosto sobre ela. Seus olhos verdes a enfeitiçavam, só seus olhos a faziam delirar, aqueles olhos que lhe permitiam sonhar. Marcus começou a descer lentamente e tomou seus lábios, ela deixou passar a língua entre os dentes sentindo sua textura, ele tinha sabor de canela e chá de frutas. Jamais imaginou que ele pudesse beijá-la tão delicadamente, como duas pétalas de rosa juntas com a brisa no ar, roçando-se enquanto seu perfume os rodeava. Quando o beijo terminou seus olhos estavam fechados de novo e ele a contemplava, sentado ao seu lado.
— E Adolfo? – perguntou.
— Ele não quis ir ao funeral, só enviou-lhe as rosas - no tom de voz de Marcus havia amargura – Aparentemente, tinha coisas mais importantes para fazer.
— Não... - Vane refletiu e tirou a mão de Marcus - ele a amava com todo o seu coração.
— É uma pena que ele nunca demonstrou.
O arrependimento não foi feito para seres humanos. Sempre pensam quando é tarde demais. Quando decidem ser cegos ao que é mostrado na frente de seus olhos como algo valioso, por algum motivo nunca esperam que este seja pequeno. Se os sentimentos estavam presentes, duvido que qualquer ser humano possa ser altruísta e presenteá-los. Você, por acaso, daria seu coração?
Capítulo. 15 - SEM AMOR
E eu disse: - "Não amo você"
E você respondeu: - "Mentirosa!"
Quem de nó dois estava mentindo?
Marcus estava caminhando pela neve daquele lugar sem imaginar o risco que corria. Vane seguia atentamente, há mais de uma semana se havia recuperado, mas apesar de terem sugerido repouso, ela preferiu acompanhar os seus amigos. Alaska, o prisioneiro de Daniel havia dado a localização exata do Castelo Negro, tendo essa informação e com o apoio dos Heiligtum, conceberam um plano para o resgate de Isabel, a protegida de Melchior. Daniel havia perguntado a Vane se ele preferia isto a seguir a pista de Nicholas e ela ainda com a memória de seu irmão rejeitando-a, acreditava que para salvar uma criança que não tenha sido danificada pelos servos de Asmodeus era melhor ir atrás seu irmão, sem saber ao certo se ele ainda era seu.
— Estamos muito perto do castelo - Melchior os deteve e os fez formarem uma só equipe – Nos dividiremos atacando em lugares diferentes.
— Eu não acho que seja uma boa idéia - disse Daniel - Lilith é muito poderosa e se Asmodeus se encontra aí é bem possível que a use para nos exterminar.
— Eu não tenho medo dessa velha nosferatu – declarou o irmão mais velho de Nixie, que se ofereceu para acompanhá-los com seus guardas.
— Você não sabe a quem enfrenta - Daniel lhe observou para logo mostrar-lhe imagens de licaons sendo devorados por ela.
— É nojento! – este se queixou.
— O que lhe mostrei se poderia dizer que é a sua melhor parte.
— Daniel, onde você acha que escondem a menina? - perguntou Vane.
— Possivelmente, perto da torre norte – lhe assinalou no mapa improvisado - Quando eu vivi ali, sempre era usado para os hóspedes.
— Não temos certeza de que seja assim - Melchior pensou na melhor maneira de entrar em um ataque de surpresa - Eu acredito que não há outra solução para entrar em silêncio e sair da mesma forma.
— Como ratos? – perguntou Elias, que então Vane notou que já não estava de cavanhaque e sua forma tão elegante de vestir. Suas roupas eram umas calças de moletom e uma camisa azul marinho.
— Isso é tudo que me ocorre para que ninguém saia mais ferido que o necessário - O guardião de Marcus era um lutador, Vane soube imediatamente que ele tinha planejado isso há muito tempo.
— Para mim não há problema - Eliseu tinha dois braços para trás, uma espada de dois gumes e uma metralhadora de prata lustrosa - Será um prazer acabar com uma boa parte deles de surpresa.
— Bem, eu ainda preciso de grupo de apoio no exterior - O Heiligtum se ofereceram e também os companheiros de Daniel - Vane acho que seria melhor que você...
— Eu vou com Marcus - ela respondeu rapidamente, tomando a mão deste.
— Eu não vou me separar dela - Marcus olhou para o seu tutor desafiando-lhe a corrigi-lo, mas este só inclinou os ombros.
— Fiquem longe de problemas.
— Vamos tentar.
Quando tudo estava no lugar, começou a infiltração. Vane deixou que Marcus se transformasse e subiu em seu lombo.
— Eu vou com vocês - Daniel estava ao seu lado e ela sorriu.
Todos começaram a escalar as muralhas do castelo. Vane pensou que a última coisa que ela esperava fazer era entrar naquele lugar, recordando precariamente que foi encerrada em um daqueles quartos. Quando chegaram ao salão superior, tudo era silêncio, como medida de precaução Daniel os guiou para a sala que era suspeita de abrigar a menina, enquanto Melchior guiava os seus outros dois pupilos na sala como o segundo ponto.
Um cheiro pútrido começou a entrar pelas narinas de Vane. Seu estômago se revolveu e o ar tornou-se denso a cada passo que davam. Daniel e Marcus também estavam inquietos, pois reconheciam aquele cheiro como a própria morte. Eles tinham encontrado nenhum guarda, por isso estava se tornando perigoso.
— Isso não é normal - Marcus disse telepaticamente a Daniel.
— Eu sei... houve um massacre - este tocou na parede - Este lugar foi limpo recentemente.
Uma gota caiu sobre a cabeça de Vane, quando se virou para ver de onde veio, sua impressão foi de que quase gritar. Se Daniel não houvesse tapado a sua boca, tudo estaria arruinado. No teto centenas de corpos estavam pregados com estacas, eram seres humanos de todas as idades, com os corpos cortados e decapitados. Era uma imagem aterradora.
— De jeito nenhum! - gemeu Vane.
— É a refeição da meia-noite – anunciou Daniel - Parece que todos estarão repousando, por isso não tem guardas.
— Isso é desumano - disse ela, abraçando-se a Marcus, que rosnou.
— Lembre-se que ninguém aqui, exceto que você, é humano.
— Isso é uma verdade inegável, querido.
Os três ficaram alertas imediatamente, ao ver Esbet, a mãe de Daniel. Seu bonito vestido de cetim vermelho caia para cobrir todo o corpo, deixando apenas nus os braços e o peito acima da clavícula. Duas meninas a estavam seguindo, ambas olharam com alguma desconfiança para Daniel.
— Mãe - respondeu este.
— Filho - Esbet iluminou os olhos até que ficou completamente prata - Acho que já não pensas seguir-me.
— Mova-se! – ele exigiu.
— Não, Daniel... você é que me faz deixar de lado.
— Eu te paraliso... - As palavras proferidas por Daniel deixaram Esbet paralisada e suas servas desesperadas começaram a gritar - Eu te amarro... com o fio da minha existência.
— Isso não será suficiente - disse Esbet - não lhe ensinei todo o feitiço.
— Só será uns momentos mãe - ele sorriu - Eu não esperava mais de você.
Os três passaram ao lado de Esbet que sorriu ao vê-los irem-se. Sem perder tempo quebrou o feitiço de seu filho. Os outros, sem saber, continuaram avançando rapidamente. A porta se abriu, sem resposta.
— Você acha que ela está aqui?
— Vane nós trataremos de sair antes, o tempo está chegando... AH!
Uma mão tomou o pescoço de Daniel ao passar por uma parede, enquanto que a sombra de alguém derrubava Marcus ao chão deixando Vane cair.
— Daniel! Marcus!
Marcus começou a lutar desesperadamente contra milhares de sombras que o aprisionavam. Daniel, por seu lado, comprovou que a mão que o segurava era muito menor do que ele esperava, mas ainda assim não parou de lutar até que ela cedeu. Tossindo levantou-se e observou o que lhe havia atacado.
— DANIEL! - Vane alertou sobre os cabelos vermelhos como fogo que começavam a cercar o nosferatu.
Daniel saltou para o outro lado evitando as linhas vermelhas, Marcus se livrou desses seres escuros e se colocou ao lado de Vane assim como o nosferatu. Ambos a rodearam observando como a pequena figura de uma jovem mulher aparecia de dentro da parede. Seus olhos eram de um branco absoluto, quando seu rosto se mostrou, esta lhes dedicou um sorriso inocente.
Lilith.
Vane se abaixou para Marcus e o abraçou, Daniel ficou completamente paralisado, sem entender o motivo de seu temor. Esta caminhou lentamente em direção a eles. Marcus estava tão quieto que Vane desejou que fosse capaz de fugir antes que ela os alcançasse.
— Eu te encontrei Abel - a voz dela era tão angelical que soava como uma nota musical de flautas.
— Não! - gritou Vane - Ele não é quem você está procurando!
Esta olhou para Vane e sem se mexer jogou-a ao chão só com o olhar. Marcus rosnou e quando ele foi ajudá-la, uma força superior à sua vontade o jogou no chão.
— Abel – ela o chamou - Abel... venha para mim.
Vane estava dolorida, mas quando Lilith se aproximou de Marcus se lançou contra ela. Mas sua inimiga era muito mais forte, o cabelo de Lilith cresceu até converter-se em perigosas serpentes ou assim se pareciam, que se enrolaram em volta do pescoço de Vane apertando forte.
— Esperei por você por muito tempo - disse Lilith para Marcus.
O lobo tomou rapidamente a forma de ser humano e Marcus caiu totalmente a mercê de seu inimigo. Para horror de Vane os olhos de Marcus estavam se tornando azuis, substituindo a cor verde bonita e o cabelo adquiriu um dourado brilhante que naquela noite parecia iluminar o corredor. Um sorriso de Lilith indicava que ele estava realizando a sua missão.
— Marcus não me deixe!
Ao ouvir isso, Marcus começou a mudar novamente seus olhos. Lilith não gostou nada disso e apertou mais forte o cabelo em torno do pescoço de Vane. Daniel, por seu lado, observava tudo sem poder fazer nada, a impotência que sentia era enorme. Marcus segurou a cabeça quando esta começou a doer por causa da mudança. No entanto, a nosferatu o olhou fazendo com que se concentrasse em seus olhos.
— Saia Abel - disse ela - Eu esperei tanto tempo.
Marcus tremia, dentro de seu corpo, milhares de imagens vinham como memórias do passado. Ele sentiu que alguns braços finos o abraçaram fortemente, o rosto de Vane era tudo o que podia ver. Ela olhou para ele com olhos brancos como lampejos do arco-íris, sua Pipoca acariciava o seu rosto. Depois ele sentiu uma grande dor quando ela pôs a boca contra seu pescoço. E uma terrível escuridão o envolveu completamente. O pior era que ele gostava desse desespero.
Vane lutou com todas as suas forças, quando viu Lilith cravar seus dentes em Marcus, ficou horrorizada ao ver como alguém ia morrer na frente dela. Não poderia ser Marcus!
A cabeça de Marcus latejava rapidamente, seu cérebro se esmagava em seu crânio e milhares de cores brilhavam diante de seus olhos. Como se uma nuvem passasse na frente deles a imagem de Vane parada a uma certa distância o intrigava, então, sem explicação Daniel falou com ela. Seu coração começou a bater rapidamente. Daniel pegou o pescoço de sua Pipoca e afundou as presas, fazendo-a gritar de dor. Marcus rugiu dentro dessa visão, o seu cérebro lhe disse que não era real, mas ele estava vendo de forma tão vívida. Daniel sugar completamente o sangue da escritora, sua Pipoca até que ela parou de se mover. Então a tomou nos braços e sorrindo a jogou fora no vazio pela janela.
— NÃOOOOOO!
Marcus se lançou contra Daniel, este o olhou aterrorizado. Sem permitir-lhe escapar, acertou um golpe em no rosto com tanta força que sua carne foi rasgada. Um grito distante de dor foi ouvido e o sangue de alguém foi derramado fora de seu sonho.
— O que você FEZ?!
A voz de Daniel o trouxe de volta à realidade. Quando Marcus viu o erro que tinha cometido, uma onda de histeria o atacou. Em frente dele não estava Daniel, mas Vane e era ela que estava sangrando com o rosto no chão. Enquanto Daniel se liberava e corria para ajudá-la. Marcus olhou para suas mãos e viu que elas estavam agora mais como as garras de Lokis, e seu corpo não era mais o mesmo. Ambos salpicados de sangue fresco.
— Eu... eu... eu não quis – ele gemeu ao ver que Daniel se voltava para Vane e esta ainda estava consciente, olhava para Marcus com um pânico completo, com o rosto marcado pelas garras que ele tinha afundado em sua pele macia.
— Fique longe! - Daniel avisou mudando a cor de seus olhos.
— Pipoca! - Marcus deu um passo em frente, mas Vane reagindo saltou e se agarrou a Daniel. Ela estava com medo dele.
— Ela nunca poderá amar - A voz de Lilith veio para os seus ouvidos, então esta acariciou o seu pescoço - Ela é apenas um ser humano.
Lilith o olhou e foi então que se conscientizou que estava começando a mudar para o monstro que o seu pai tinha sido. Então aquele rosto de maldade tomava de novo sua normalidade.
— Abel, você agora só tem uma coisa - Lilith passou a mão pelos seus cabelos e olhos, devolvendo-lhes o dourado e o azul.
— Só tenho você - Marcus voltando-se para Vane, mas suas palavras soaram ocas.
Como se a sua voz batesse em sua cabeça, Vane acordou com dor e viu como Lilith começava enrolar Marcus com seu cabelo. Seu sonho estava se cumprido. Não lhe importavam as feridas de seu rosto, se levantou e correu com toda sua força para alcançar Marcus. Mas esse só tinha um olhar vazio.
— Marcus! NÃO!
Mas era tarde demais.
REVELAÇÕES
Só os ingênuos acreditam em você
E eu sou muito inteligente
Enganar o coração é a sua tática
E a minha é enganar você
Melchor corria com Eliseu e Elias atrás dele. Eles caminharam pelos corredores sem ver um inimigo para atacar, apesar de lhe parecer estranho não se detiveram para pensar. Seguiam as indicações de Daniel e chegaram a um quarto destrancado. Tomou a maçaneta da porta e abriu-a lentamente.
— Melchior! - Isabel saltou ao seu lado e começou a beijar todo o meu rosto - Eu senti tanto a sua falta!
— Isabel! Minha menina preciosa! – acariciou seu rosto e acreditou que a tinha encontrado.
— Ele disse que você estava chegando.
Elias e Eliseu rosnaram em sua forma de lobo ao ver Asmodeus sentado na cama no quarto. Este lhes saudou amigável, convidando-os a entrar.
— Não se preocupe - ele disse – vocês me trouxeram um presente e por isso - olhou para Isabel - Eu lhes entrego o seu.
— O que quer dizer bastardo? - O veneno na voz de Melchior fez Asmodeus sorrir de forma cômica.
— Você e eu tratamos algo, você não se lembra?
Seus pupilos se viraram para Melchior, com olhar interrogativo. Este colocou Isabel sobre o lombo de Eliseu.
— É hora de ir - ambos os lobos rosnaram em negação – Vocês tem que salvar Vane e Daniel.
— É isso mesmo - disse Asmodeus - Seu tutor me deu uma ajuda preciosa e por isso eu os deixarei viver desta vez.
— Cale-se! - Melchior olhou com um ódio profundo para Asmodeus - Ouçam, pode ser que não entendam o que fiz, mas era necessário - Falou-lhes mentalmente - Suas perguntas serão respondidas depois.
— Bem, eu acho que os convido a partir agora – Asmodeus se levantou - Minha paciência só permite que permaneçam neste castelo um momento mais.
Elias olhou para seu irmão, com preocupação, ambos olharam para o seu tutor e suspeitaram que jamais o voltariam a ver. Sem mais, lhe ordenou que ele e seu irmão fossem embora e eles obedeceram, levando Isabel com eles. Em seguida, eles exigiram uma resposta de Melchior.
— Elias... não deixe que Vane caia na solidão - foram as únicas palavras que ele recebeu de seu mestre.
Com dúvidas e um terrível pressentimento, se afastaram correndo. Começaram a sentir o cheiro de sangue que impregnava cada parte do castelo.
Melchior se voltou para Asmodeus que sorriu novamente.
— Nosso negócio foi realizado - disse ironicamente.
— Obrigado - Asmodeus apagou todas as velas ao redor, revelando uns olhos vermelhos, que Melchior suspeitava que viessem de sua verdadeira identidade. - Com a sua morte o terceiro selo será quebrado.
— Agora você pode manipular o seu corpo e a sua mente - Melchior sorriu - mas jamais o seu coração.
— E para que eu quereria isso. Hahaha.
O tutor de Marcus disse para si mesmo que Asmodeus ainda não conhecia o alcance dos sentimentos e que gostaria de ver a sua cara quando isso acontecesse. Mas agora iria descansar junto com seus companheiros mortos pela mesma causa. Sendo espíritos cuidariam de seus protegidos. E derrotariam o verdadeiro propósito de Asmodeus.
— Téo... - Susana o chamou e seu filho a olhou com medo - eu tenho que fazer uma coisa.
Ele assentiu e deixou que ela o sentasse em suas pernas. A dor de cabeça era terrível, mas não havia se atrevido a chorar por um momento. Ele se perguntou se sua mãe o curaria. Ela colocou as mãos nos lados de sua cabeça e fez brilhar os olhos.
— Téo recorda a verdade – ela disse.
A dor aumentou fazendo-o gritar e então começar a ver as imagens. Recordou cada parte de sua vida, seus verdadeiros pais, sua irmã e também recordou o momento da morte dos dois primeiros. A dor por parte de ambos e como o protegeram. O rosto de Nicholas desfigurado de pelo sangue, o monstro que parecia na época. Lembrou-se de tudo e sabia que ele estava em perigo.
— Hoje você vai mudar de vida, meu filho - Susana lhe falou - Você tem que ser forte e sobreviver.
— Eu sabia que você não era minha mãe - Téo lhe confessou - Não importa o quanto eu te amo.
— Eu também te amo - ela o abraçou - e lhe protegerei de todos.
— Eles me matarão – afirmou.
— Ainda não - Susana o fez olhá-la - Você pode mudar as coisas.
— Minha irmã está em perigo.
— Ela também pode mudá-las.
— Morrerá?
— Não... ela irá ajudá-lo.
Téo abraçou a quem havia cuidado dele durante todo esse tempo. Ele sabia que era sua mãe, ela tinha ganhado esse lugar em seu coração lá. Nicholas era o assassino, mas ele não lhe tinha um rancor. Agora, se concentraria em ajudar e cumprir seu destino.
SAGA DA LUA 04 - TINTA AZUL
BRIZZ BRISEIRA
Tradução: Márcia de Oliveira
Revisão: Ady Miranda
Formatação: Sabrina Castilho
SINOPSE
Informação da série
Saga da Lua Cheia - 01 - O ultimo conto (Rev. RS & RTS) - Distribuído
Saga da Lua Cheia - 02 – Pluma y papel – Em revisão
Saga da Lua Cheia - 03 - Velas e Selos - Distribuído
Saga da Lua Cheia - 04 - Tinta Azul - Distribuído
Saga da Lua Cheia - 05 - Borradores - Na lista
Série em revisão com o grupo Pégasus Lançamentos
Link do e-book em doc.
http://www.4shared.com/document/Fcjaa_cR/Brizz_Briseira_-_Saga_da_Lua_C.html
Link do e-book em PDF
http://www.4shared.com/document/uxIjwvLq/Brizz_Briseira_-_Saga_da_Lua_C.html
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