Tradução e digitação: Ady Miranda
Revisão: Ady Miranda
Formatação: Cris Skau
Informação da série
Saga da Lua Cheia - 01 - O último conto (Rev. RS & RTS) - Distribuído
Saga da Lua Cheia - 02 – Pluma y papel – Em revisão
Saga da Lua Cheia - 03 - Velas e Selos – Distribuído (PL)
Saga da Lua Cheia - 04 - Tinta Azul – Distribuído (PL)
Saga da Lua Cheia - 05 - Borradores – Distribuído (PL)
Série em revisão com o grupo Pégasus Lançamentos
Dedicatória
Aos meus amigos de alma,
Muito obrigado por aceitar a minha loucura!
ARGUMENTAÇÃO
- Os sonhos podem se tornar realidade? Que alegria! Mas e se estes são ruins?...
O momento da batalha final está chegando e agora com Marcus em mãos do inimigo Vane tem que decidir entre sobreviver ou salvar a pessoa que mais ama. É o momento de Vane aprender o valor da amizade e o poder do amor verdadeiro.
ÍNDICE
Capitulo 1 – Mundo Escuro –.............................................. 05
Capitulo 2 – A Morte –......................................................... 07
Capitulo 3 – Mármore Branco –........................................... 11
Capitulo 4 – A arma –.......................................................... 16
Capitulo 5 – Aqueles Meninos –.......................................... 20
Capitulo 6 – E Você Volta -.................................................. 29
Capitulo 7 – Vida Terrível -.................................................. 35
Capitulo 8 – Outro Assassino -............................................ 45
Capitulo 9 – Cordas de Piano -............................................ 52
Capitulo 10 – A Resposta -................................................... 58
Capitulo 11 – Sussurros Noturnos -...................................... 68
Capitulo 12 – A Roleta -........................................................ 74
Capitulo 13 – Veneno Amargo -............................................ 77
Capitulo 14 – Recordações Tormentosas -.......................... 82
Capitulo 15 – Arrancando Sonhos -...................................... 86
Capitulo 16 – Ser Amada -.................................................... 94
Capitulo 17 – Meu Príncipe - ................................................ 105
Capitulo 18 – Covarde! Covarde! - ....................................... 109
Capitulo 19 – Agora Acordo - ............................................... 112
Capitulo 20 – Sem Medo - .................................................... 115
Capitulo 21 – Uma Oração - ................................................. 121
Capitulo 22 – Canções Tristes - ........................................... 125
Capitulo 23 – Loucura Absoluta - ......................................... 130
Capitulo 24 – O Último Sonho - ............................................ 135
Doces Sonhos -..................................................................... 146
A Autora -.............................................................................. 149
Capítulo 1 – MUNDO ESCURO
Mostra tua outra cara,
Desmente tuas verdadeiras intenções
Destrua a máscara da falsidade
E habite em meu coração.
Tudo está perdido,
Não sinto meu corpo, não sinto minha alma, eu a terei perdido?... Eu só vejo vermelho à minha volta. Vermelho sangue que cobre meu céu, que recobre as minhas feridas e as escaras como fogo. As cobras vermelhas deslizam pelo meu corpo, eu posso senti-las rastejando e segurando a minha carne, todavia, já não sinto dor, eu não sinto nada.
Olhos cor de vingança adentram-se em minha mente, tomando a minha vontade. Rompem pouco a pouco um laço que começava a se formar. Ocultam a felicidade e me cobrem de escuridão. Antes eu não entendia o porquê de minha existência, agora sei que sempre teve um propósito. E por mais que queira negar sei que é este.
Só queria que meu propósito tivesse sido você.
Na verdade tratei de proteger-lhe. Mas ao final não pude fazê-lo, foi eu quem lhe feriu. Nosso destino é odiar-nos, sempre foi esse. Quisemos negá-lo, a atração era imensa e isso é o que nos levara a terminar o que começamos.
Pouco a pouco estou começando a esquecer-lhe. Já não recordo teus lábios, nem o som de sua voz, a cor de teus cabelos se desfez como fios de fumaça no ar e teu perfume se misturou com o odor de sangue. Estou esquecendo, e me assusta pensar que logo já não lhe recordarei. Minha mente lhe expulsa e meu coração teimosamente se agarra, ou ao menos recupera os fragmentos destroçados de você. Só um constante lá... um que não pode tirar, pelo qual ainda vices em mim. Seu olhar.
Tenho frio, e não são das paredes de pedra as quais me aprisionam, o frio provem de muito dentro de mim. Minha sede aumenta e minha fome também. Já não posso reconhecer-me. Logo acabarei com tudo, tudo cairá aos meus pés e por fim ela poderá libertar-me. Ela é minha salvação.
A lua de vermelho se tingirá muito breve. E quando isso ocorra... Você será a seguinte Escritora!
Capítulo 2 – A MORTE
E felicidade com tragédia
Se fundem em um mesmo ser
Repetem os versos de fogo
E poemas sabor de fel
O frio queimava suas costas, encolhida esperando que a armadilha surtisse efeito; encontrava-se escondida entre as ruas de pedra. Sua respiração era lenta e permanente, sua determinação a havia levado ao que agora estava decidida a recuperar. O olhar azul de seu aliado lhe indicou que logo começaria.
E pronto, o correr agitado de um ser da noite rompeu o silencio. O nosferatu estava sendo perseguido por homens lobo, a angústia e o terror em seus olhos podiam ser vistam a distancia. Suas pernas longas e delgadas saltavam entre as mordidas que seus inimigos lançavam. Um grito desesperado e atemorizante chegou a seus ouvidos quando um dos licans esteve a centímetros de agarrá-lo.
- Agora!
Ao som da voz, Vane aprontou a arma e apontou o braço do nosferatu que não pode evitar a incrustação do veneno em seu corpo, ao tempo que os perseguidores o tomavam e derrubavam brutalmente contra o asfalto. Seus gritos começaram a alertar e um dos lobos lhe deu um golpe calando-o e só deixando leves gemidos de dor.
- Vane é seguro, pode sair! – lhe gritou Daniel que se encontrava acocorado ao lado do nosferatu e rodeado dos lobos que grunhiam para o prisioneiro.
- Bem – respondeu uma voz fria.
Saindo das sombras, Daniel observou o rosto de Vane. Uma enorme cicatriz marcava seu rosto devido ao ataque de Marcus, tinha um tom rosado e de aspecto tosco. Ela havia mudado, sua aura ao redor indicava morte total, e som certeza ainda seguia viva. Seu cabelo antes longo agora estava curto até as bochechas, seu olhar se havia tornado escuro e seu modo de vestir era de um negro perturbador. Levava calças ajustadas de couro negro e uma capa curta de cor mista, apenas as luvas cinza pálido diferenciavam do seu luto voluntário.
- É quem estávamos procurando? – lhe perguntou asperamente. Daniel já não reconhecia a garota terna a quem havia conhecido uma vez. Agora uma mascara de dureza havia substituído seu medo.
- Sim, é – lhe confirmou – É um dos mensageiros de Asmodeus.
Vane se abaixou a seu lado e contemplou o nosferatu que olhava com olhos angustiados para seus captores. Sem imaginá-lo ela tirou uma faca e na frente de todos cortou a palma da mão deixando jorrar um fio de sangue fresco, o que fez a garganta de Daniel ficar seca.
- Você quer um pouco? – Vane aproximou seu sangue até chegar quase roçando a boca dos nosferatu, mas este não fez nenhum movimento, era óbvio que seus olhos estavam cravados na ferida.
- Vane, eu não creio que seja prudente... – ela o olhou com ira, porém, já não insistia mais.
- Agora escuta... – falou ela enquanto deixava que o sangue seguisse caindo – Você só tem duas opções e em nenhuma delas você sobreviverá – o nosferatu arquejou ao escutá-la.
- Eu... eu... não sei nada! – A forma tão patética como ele disse, não serviu para que um dos lobos soltasse uma perna que começou a sangrar. – Ahhhhhh! Piedade! Piedade!
- Olhe-me! – a voz de Vane fez com que o nosferatu se calasse e se concentrasse em seus olhos. – Bem... escuta, necessito que me diga onde está o castelo negro – o nosferatu negava com sua cabeça antes que ela terminasse.
- Impossível! – gritou.
- Por quê?
- O castelo não pode ser encontrado... não se pode encontrar o que não existe! – Todos os presentes se perturbaram com aquela revelação.
Daniel e Vane se haviam dedicado a investigar o paradeiro de Lilith e Asmodeus. Algo que pudesse levá-los a Marcus ou Téo era bem recebido. No principio, achar pistas se havia feito quase impossível, já que por informes dos grupos aliados, parecia que Asmodeus havia feito queimar e destruir aos mais débeis de seu bando de seguidores. O que representava a maioria, aliás, os lokis não haviam seguido aparecendo mortos, e ao que parece, o desaparecimento dos lideres dos nosferatus Eva e Adam também havia acalmado os ataques.
- Não lhe aconselho que nos minta – a voz de Vane estava se enchendo de ira. Daniel se perguntou nesse momento, se a personalidade de Marcus havia influenciado nela.
- Hahahaha... estúpidos – a risada do nosferatu lhes arrepiou a pele – Que estúpidos são.
- Diga-me irmão... – Daniel se aproximou e tratou de ser razoável – O que você quer dizer?
O nosferatu ficou olhando atentamente para Vane, um sorriso curvou as suas feições. Logo dirigiu sua atenção para Daniel e seu olhar prateado começou a mudar para um branco sem vida. E uma voz suave e feminina os saudou desde o interior do nosferatu.
- Sigam procurando... – arquejou a voz – Agora me pertence – olhou de novo para Vane – Muito em breve provarás o sangue de teu monstruoso irmão Zinho. Hahahahaha.
- Maldita! – Vane levantou a adaga e justo quando ia cravá-la no nosferatu, uma mão apareceu detendo-a e surpreendendo a Daniel.
- Elias! – gritou Vane.
O irmão de nome de Marcus estava parado ao lado de ambos e uma expressão de completa desaprovação cruzou direto por Daniel. Exigindo uma resposta para o que acabava de acontecer. Por isso Daniel se compadeceu e fez com que os lobos soltassem ao já desfalecido prisioneiro.
- Você pode me explicar! Como diabos estava deixando que ela tomasse vingança? – assinalou para Vane.
- Eu... eu não pensei que...
- Daniel, não se responsabilize pelo que eu faço! – Vane se safou rudemente do agarre de Elias.
- Não pode andar cobrando a sua ira nos demais! – cuspiu Elias – É certo que nos encontramos tristes e desejosos de vingança! – logo suspirou e deixou sair o ar, tomando uma atitude mais tranqüila – Esta não é a melhor maneira, não é são.
- Não quero escutar mais este lixo – Vane caminhou sem rumo apertando os dentes.
- Daniel vem com ela e assegura-te que chegue ao Club Moon – ordenou Elias.
- Eu sinto muito – se desculpou este. Não é que me incomode seguir ordens de um lican, assim que fiz o correto.
Daniel olhou atrás de si e observou que Elias tomava entre seus braços o nosferatu. Todos haviam descoberto que por meio de sua mente Asmodeus manejava aos seus seguidores, assim que era quase que cem por cento que aquele nosferatu foi só um títere a mais.
Logrou alcançar Vane e caminhou em silencio ao seu lado. Ela ia abraçando-se, e olhando para o chão, ultimamente esse era seu lugar. Uma onda de desespero o atacou por um momento, queria tomá-la em seus braços, acariciar seu rosto e dizer-lhe que tudo estaria bem. Mas ela já não lhe pertencia, sua alma havia sido cortada pela metade desde o momento da partida de quem ela havia elegido.
- Perdoe-me – a palavra foi um sussurro, mas Daniel sorriu ao escutá-la. Ainda se encontrava algo da antiga Vane que seguia dentro e não deixava que a nova máscara ganhasse a batalha.
Tomou sua mão desfazendo seu abraço e seguiram caminhando na escuridão. Levantou a vista ao céu e contemplou a lua, recordou então o dia que era e deixou que sua voz soasse entre as ruas da cidade.
- Feliz aniversário!
Capítulo 3 - MÁRMORE BRANCO
O riso histérico ataca o coração
Agora é alma;
Desfaz-se o ato e um calafrio
Queima os sentidos
Asmodeus observou as chamas vermelhas das velas. Ele gostava do fogo, suas ondas elegantes que subiam e baixavam em uma dança de sedução, o excitavam. Só existia um outro ser que podia encantá-lo de tal forma e era a única que tinha um poder maior que o seu.
- Lilith - a chamou, fechando os olhos e imaginando seu rosto.
Em seguida, virou-se e contemplou a porta de ferro preta, que dava para o quarto onde, nesse momento se encontrava sua amada e que logo se converteria em sua peça chave. Um sentimento de ciúmes explosivos o inundou e não podia evitá-los, mas era mestre em ocultá-los na frente dela. Silenciosamente caminhou até a porta e a abriu com cuidado para não a molestar.
O cheiro forte do sangue derramado impregnava o quarto. O tapete vermelho com desenhos dourados estava manchado com sangue escuro,
os móveis foram quebrados e espalhados por todo o quarto, apenas a cama rodeada por cortinas vermelhas sobreviveu, e a lareira que ardia intensamente aquecendo o ambiente. Aproximou-se e tocou a cortinas, sentindo a textura suave e áspera, abriu-as lentamente e olhou para o seu interior.
-Lilith.
Sua voz chegou até a mulher de cabelos vermelhos que se encontrava sobre o corpo do jovem lican Marcus. Ela olhou por cima do ombro do rapaz, enquanto seguia alimentando-se dele. Estava há mais de dois meses naquele quarto, repetindo o mesmo ritual. Os braços frágeis de Lilith se enroscavam nas costas de Marcus e suas pernas haviam aprisionado sua cintura. Não deixava que ninguém tocasse em Marcus e o mantinha perto dela, alimentando-o por sua vez, com sangue que lhe era oferecido como alimento.
- Eu creio que é suficiente por hoje? - Asmodeus tocou no cabelo vermelho e deixou cair graciosamente pelo seu ombro nu como mármore.
- É meu! – ela falou com uma advertência de segurança, para em seguida, voltar ao pescoço de Marcus.
- Ninguém vai tirá-lo, meu amor - Asmodeus abaixou-se e beijou sua testa - mas ele precisa descansar.
Lilith sorriu e deixou que Marcus se deslizasse suavemente, até apoiá-lo em uma almofada que estava por perto. Então o acariciou entoando o que parecia uma velha canção. Asmodeus observava tudo aquilo com os punhos cerrados com força, ele sabia que seu autocontrole era grande, mas seu plano tinha que ser completado antes que ele mesmo pudesse arruiná-lo.
- Sangue por sangue... - murmurou enquanto voltava a fechar as cortinas.
*****
Vane sentou- se ao lado de Eliseu. Os olhos de seu amigo estavam completamente vazios, não mostravam desejos de vida e o brilho verde de antes foi substituído por um pântano nebuloso. Tomou sua mão entre as suas e apertou-a para fazer-lhe saber que estava com ele.
Eliseu tinha escolhido para deixar seu corpo nesse estado por vontade própria. Sua dor pela perda de Paula era tão grande que pouco a pouco seu espírito foi se apagando para a realidade, deixando-o em um estado catatônico. Permanecia sentado em uma cadeira olhando para o nada, era uma concha vazia, não parecia querer voltar a realidade e enfrentar o que aconteceu. Toda a vida que saia dele agora só era uma recordação rota, sua tristeza era esmagadora. Sua dor era tão grande que se expandia por todo o lugar onde se encontrava. Então Elias havia decidido que permaneceria em seu quarto e só algumas vezes o ajudava a descer para a sala. Vane sabia pelas garotas do clube que Eliseu comia sem ajuda e fazia algumas tarefas básicas, mas era, praticamente, um zumbi movendo-se por toda a casa.
- Eli... eu voltei – lhe disse Vane contendo as lágrimas. – Hoje é uma noite muito bonita.
O irmão de Elias não respondeu, seguia olhando o fogo da lareira, uma pequena chispa o fez piscar, mas depois disso sua quietude era absoluta. Vane aconchegou sua cabeça no ombro de Eliseu e fechou os olhos, com seu pensamento lhe contou tudo o que havia passado naquela noite, ela havia se
imposto isso, como um modo de comunicação com ele.
- Vane, você deve descansar – Daniel fez com que ela abrisse os olhos.
- Sim – ela assentiu – Daniel... – o nosferatu a olhou condescendente.
- Bem, só por uns momentos – respondeu, saindo do quarto. – Lhe esperarei na sala – e fechou a porta.
Vane ficou parada e pegou uma cadeira para colocar-se em frente a Eliseu. Sorriu-lhe e voltou a tomar as suas mãos. Estavam tão frias que se perguntou se não havia algo errado com elas. Era de se esperar que ele esquentasse suas mãos com seu calor corporal.
- Espero que escutes minhas palavras Eliseu – manteve seu sorriso e olhou para a lareira. – Te juro que Marcus soltará para nós... ainda que tenha que sacrificar-me a mim mesma para isso.
- Impossível! – a voz de Elias ao entrar abruptamente no quarto fez Vane se sobressaltar e soltar as mãos de Eliseu.
- Por Deus, Elias! – Tocou em seu peito, acalmando seu coração – Você me assustou!
- Lamento muito – Elias se desculpou e caminhou até seu irmão, lhe revolveu o cabelo com carinho – Você é um velhaco sem remédio, gostas de fazer com que as princesas se preocupem.
- Elias...
- Vane – calou-a levantando uma mão – Te suplico não volte a tentar fazer o que a vi fazer umas horas atrás – ela baixou a vista para que Elias não visse a sua fúria.
- Não!
- É para o seu bem! – repreendeu-a – Não só você se põe em perigo! – a olhou com temor, sacudindo o cabelo desesperado – Também pões em perigo a todos os demais!
- Se você se refere a minha aura, quero dizer-lhe que não sucedeu nada de mal!
- Malchior me disse que tinha que guiar-lhe.
- Mas não oprimir-me.
- Só estou tentando fazer com que não perca sua alma!
- Eu já perdi! – recriminou-lhe Vane.
Elias se conteve e relaxou a mandíbula, se sentou ao lado de seu irmão e deixou que as palavras da razão dominassem a sua boca, depois de tudo, tanto ele como Adolfo, eram os encarregados de levar adiante a missão que seus tutores os haviam encarregado.
- Sei que você está furiosa, mas não pode fazer o que se espera.
- Elias, eu já não tenho paz – Vane se afastou tocando sua testa na porta – eu sinto tanta falta de Marcus que meu sangue ferve só de imaginar o que pode estar acontecendo.
- É incrível como uma parte dele permanece em você – queixou-se Elias.
- Eu sei que uma parte de mim ainda vive nele!
- Não pode tentar fazê-lo sozinha. – Elias levantou-se e caminhou para ela – Também estamos aqui ao seu redor para ajudá-la.
- Sabe?... creio que compreendo Eliseu – lhe disse ela voltando-se e contemplando o lican – Eu desejaria estar assim... para não ter que acordar mais com esta dor que me consome.
- Se você quiser chorar pode fazê-lo – Elias aproximou-se e a abraçou fortemente – Pode chorar e meus braços a protegerão.
- Já não tenho mais lágrimas. – o quente aroma de Vane chegou a Elias que se compadeceu.
- Não deseje o lugar do meu irmão.
- Por quê?
- Eliseu ainda assim não pode fugir de sua dor... só... – sua voz se estrangulou – Só está incrementando.
- Paula era seu grande amor – quando ela disse aquelas palavras Elias negou rapidamente.
- Não... – então a abraçou mais fortemente – Ela não era seu grande amor.
- Como você sabe?
- Se o fosse, estaria morto nesse momento – Elias fechou os olhos e deixou que sua voz transmitisse o que sentia – Mas permaneceu aqui e isso não mudará nada.
- E se a ama tanto a ponto de morrer? – realmente, Vane não sabia por que havia perguntado aquilo, mas esperou pacientemente a resposta de Elias.
- Acaso há um amor tão poderoso?
Ela ficou calada, pensou detidamente no que Elias acabava de dizer-lhe. Certamente, ainda não compreendia o que Marcus inspirava nela, mas sabia que era tão poderoso que podia sentir o sofrimento dele. Dava medo aceitar aquela palavra, mas seu corpo ansiava ouvi-la. Como se fosse alimento, desejava estar nos braços de Marcus e imaginou por um pequeno momento egoísta, que Elias era Marcus, e que ele a estava abraçando. Sua alma o chamava aos gritos. Porque a metade dela estava incompleta sem ele.
Capítulo 4 - A ARMA
E teu coração palpitou
Pela última vez palpitou
Eu contive o fôlego gelado
E as cortinas caíram.
A caixa parecia despender uma energia espectral, uma onda de choque se concentrava na tampa e o veludo negro a guardava dos curiosos. Permanecia no centro daquele quarto escuro, embora um raio de luz prateada proveniente da lua se concentrava e oferecia uma visão de seus desenhos elaborados. Qualquer um que passasse pensaria que a caixa em si era o mais valioso, mas na verdade, o que estava no seu interior é interessava aos que estavam reunidos naquele quarto, com uma ânsia insana de abri-la.
- Posso sentir o seu chamado – falou um dos quatro representantes e líderes, os demais permaneciam em silencio levantando o braço direito.
- Isto foi o que Chac e seu avô Tonatiuh entregaram. – a voz de Adolfo fez com que os quatro representantes levantassem a vista do objeto e se concentraram nele.
- Ainda me parece estranho termos um Sol entre nós. – Lucas tinha uma língua demasiado solta e Adolfo sabia que ainda não era bem recebido, embora tivesse que ocultar seu orgulho e ajudar no que fosse.
- Lucas... não resmungue com nosso irmão. – Mateus, era mais considerado que todos os outros da Aemilia juntos, embora Adolfo não confiasse nada neles.
- Não é necessária a defesa. – falou com ênfase na ultima palavra, logo tirou uns pergaminhos e os esparramou pela mesa de madeira – Estes são alguns dados acerca do objeto em questão.
- Interessante... – João o mais culto, tomou um pergaminho e começou a ler. – Foi averiguado?
- O suficiente – respondeu Adolfo – o mais adequado para saber que essa arma pode ser letal em mãos equivocadas.
- Você pode sentir a mesma atração por ela que nós? – Peter, o usurpador, parecia muito alterado, se agarrava ao braço muito mais forte que os presentes, dado este, que não passou despercebido por Adolfo.
- Sim, também sinto – não necessitava mentir, já que em verdade o fazia. – Mas parece ser que não com tanta necessidade como os verdadeiros descendentes diretos – logo que disse isso, olhou para o rosto de Mateus, Lucas e João.
- Estás dizendo que Peter não sente o mesmo? – perguntou Mateus, olhando para seu companheiro que baixava o olhar decepcionado.
- Você me escutou, não? – Adolfo não repetiria o mesmo – Peter não leva consigo a marca que o credita como um líder da Aemilia.
- Já vejo... – Mateus sorriu tristemente – Devemos de levar isto em conta.
- Assim é – lhe respondeu Adolfo – Marcus é o legitimo herdeiro de sangue, vocês sabiam isso.
- Acaso está insinuando algo? – Lucas era tão suspeito que Adolfo sabia que era com quem mais tinha que tomar cuidado.
- Só digo o que sei – não se amedrontou e manteve o olhar – Marcus e sua família são de sangue direto, os demais selos que permanecem em vocês são só para a proteção de sua família.
- Averiguaste muito em tão pouco tempo – a voz de João estava um pouco irritada – Isso só podia dizer...
- Alguém que está plenamente consciente – terminou de completar Adolfo – não lhes mentirei ao dizer-lhes que a maioria das informações foram fornecidas por Salomé – Ao escutar o nome da mulher os licans fizeram piscar seus olhos em desacordo.
- Essa mulher não deveria meter seu nariz onde não é chamada – Adolfo pode escutar o sussurro de Lucas, mas não o levou em consideração.
-"Esta mulher" – enfatizou – Também me explicou o sacrifício de sangue que fizeram meus tutores.
- Sabe demasiado – Mateus parecia ruminar algo detidamente.
- Melchior mesmo lhe deu a permissão para ajudar-me e guiar-me.
- Merchior só era um guardião, nada mais! – rugiu Lucas.
- Então vocês como selos principais não deveriam fugir de sua responsabilidade.
- Você é um insolente! – Lucas fez brilhar seu olhar quando Adolfo o contestou – O que sabe um pobre Sol sobre o que é dever!
- Muito mais, como não abandonar a quem me necessita.
- Bem! – João acalmou as coisas metendo-se entre os dois homens – Creio que devemos acalmar nossos temperamentos.
Lucas deslizou ao lado de Mateus e Adolfo guardou distancia recordando que tudo isto o fazia para ajudar ao seu irmão. A caixa inda permanecia fechada e pelo que havia averiguado de Salomé, esta esperava que pudesse exercer para desencadear o caos.
- Teremos que cuidar desta arma – Mateus se aproximou da caixa e a contemplou – Creio que o mais adequado seria que houvesse um recipiente para selá-la em seu interior por um tempo.
- Nada se prestaria a tal coisa! Disse-lhe Peter alterado – Seria como uma bomba para nossa gente!
- Quem disse que seria nossa gente? – sorriu suspeitosamente Lucas, coisa que desagradou a Adolfo.
*****
- Susana... Susana.
Uma voz chamando rompeu o silencio e fazendo-o vibrar. O coração agitado dela se escureceu em seu escudo protetor, seu atacante ouvia seu medo. Aproximou-se precavidamente da cadeira vermelha que era iluminada por uma tênue luz da lareira. Seu irmão apoiava os dedos nos braços da cadeira tamborilando impaciente.
- O que ocorre irmão? – Nicholas não respondeu, sua fria ira podia congelar toda a sala.
- Onde está o menino? – a pergunta não tomou Susana de surpresa, no entanto, seu nervosismo era quase impossível de ocultar.
- Téo... está bem. – respondeu.
- Não pergunto por seu estado – Nicholas levantou um pouco a voz – o que lhe perguntei é, onde está ele agora?
- Não se preocupes...
- Diga-me onde está?! – os olhos prateados de Nicholas fizeram com que as coisas vibrassem rompendo-se rapidamente.
- Irmão! – Chiou Susana encolhendo-se – Pára! Eu te suplico!
O temperamento de Nicholas foi minguando pouco a pouco até que seus resplandecentes olhos azuis tomaram controle. Ao ver sua irmã no chão tremendo de medo, sua ira desapareceu e se inclinou para levantá-la.
- Susana – beijou-lhe a testa acariciando o seu cabelo – Necessito que Téo esteja aqui.
- Você disse que não era necessário.
- Você o trará – Nicholas abraçou-a fortemente – Teu pobre nosferatu Alaska agora se encontra prisioneiro.
- Alaska... ele não me interessa – Susana não deixou de tremer pois sabia que Nicholas estava planejando algo.
- Então não haverá problema em que nosso mestre se desfaça dele.
- O que dizes? – Susana tentou se separar de Nicholas, mas este a apertou mais forte.
- Asmodeus não deseja que esse nosferatu siga revelando informações.
- Não! – Susana reuniu toda sua força e se separou dos braços de Nicholas – Alaska não pode se eliminado! Você prometeu!
- Alaska já não é necessário – Susana se congelou ao ouvir o que seu irmão dizia.
- Quando eu não for mais necessária... me eliminarás? – ele a olhou desvanecendo seu sorriso e a puxou de novo para o seu lado.
- Tontinha – lhe sussurrou – Você ainda é importante.
Susana se congelou ao ouvi-lo, as mãos de Nicholas a aprisionaram, assim como sua alma na dele. Ambos estão unidos por seu próprio destino, e o laço que os unia não era só familiar, senão também o do desejo.
- Lembre-se que nosso menino é muito especial.
Capítulo 5 - AQUELES MENINOS
Que surpresa você encontrou
Segui-lhe como uma sombra
Não me vês?
Não me ouves?
- Aceito – disse ela.
- Não!
Daniel tomou a sua mão fortemente, fazendo Vane gemer, os lideres da Aemilia o olhavam com cautela e não fizeram nada para separá-los. Os olhos de Daniel a contemplaram suplicantes, Vanessa compreendia que ele só queria o seu bem-estar, mas ela necessitava encontrar Marcus antes que fosse muito tarde. A sala do Clube Moon resguardava os membros do conselho da Aaemilia e aos pupilos dos guerreiros.
- Daniel, por favor, solte-me – Vane puxou a sua mão e olhou para Mateus que parecia estar atento aos seus movimentos – O que tenho que fazer?
- Vane, não! – Daniel parecia desesperado e se interpôs para enfrentar aos quatro membros da Aemilia. – Não podem ser tão egoístas para pedir-lhe algo assim!
- Fique de lado! - Grunhiu Lucas – um asqueroso nosferatu não deveria interromper nossos assuntos.
- Não me ofenderei pelo que acabas de dizer – respondeu Daniel – Mas, não vou consentir esta loucura.
- É necessário, se quiserem que Marcus seja salvo – falou João – Não há outro modo.
- Deve haver!
- Daniel – Elias chamou o nosferatu e disse que este o olhasse – Não temos outra saída se Vane aceita, ela sabe que correrá riscos.
- Não o sabe! – gritou furioso Daniel ao tempo que se voltava e tomava o rosto de Vane – Você sabe o que significa ser um recipiente escuro?
- Eu... – Vane desviou seu olhar e seu lábio tremia, realmente Daniel tinha razão.
- Ser um recipiente escuro implica que, uma vez que o proprietário se encontre com o que está oculto, tem o direito de tirar a vida do individuo que o resguarda.
- Daniel... não importa – Vane o olhou suplicante e ele negou com sua cabeça.
- Não pode falar a sério – lhe disse separando-se bruscamente.
- O objeto chamará o dono – explicou Mateus – E quando Marcus seja atraído, então...
- Então, Marcus será detido – sentenciou Lucas.
- Mas ele voltará? – perguntou ela, e João assentiu – Bem! Isso é o que quero.
Encaminhou-se para eles e viu que Mateus segurava a caixa com nervosismo. Perguntou-se se dentro, todavia, estaria a adaga como fazia muito tempo. Suas duvidas se dissiparam quando o lican abriu a caixa e mostrou o resplandecente punhal brilhando ameaçadoramente. Logo se levantou para esperar o que seguia. Mas se surpreendeu ao ver que Mateus tremia ao estender a mão para segurar a adaga.
- Não posso fazê-lo! – disse este se separando da caixa e deixando que caísse no chão.
- Mateus! – João o sustentou e este parecia enlouquecer cobrindo o rosto – Lucas afaste-se dessa coisa! Agora!
Lucas obedeceu a ordem saltando de onde estava para um canto da sala. Vane se perguntou o que se passava, quando se deu conta e compreendeu tudo. Os licans eram totalmente sensíveis ao poder que despendia daquela arma. Tanto os lideres da Aemilia como os irmãos de Marcus observavam aquele objeto com sumo interesse e terror em seus olhos. A profecia dizia que só o indicado poderia tomá-la, e nenhum deles o era.
- Esperem – Vane se aproximou do objeto e o tomou com suas mãos fazendo com que todos contivessem a respiração – O que devo fazer?
Os presentes a olharam como se estivesse louca, mas ela sabia que não lhes surpreendia. Haviam-lhe explicado que para os humanos este objeto só era uma simples arma sem magia, mas como ela possuía um poder e depois a maldição lhe resguardava zelosamente a morte, ser um recipiente não lhe causaria dano. No momento.
- Tem que introduzir a adaga dentro de ti – explicou João – depois disso a magia fará todo resto.
Vane olhou para Daniel que se aproximou tomando a mão onde se achava a arma.
- Me ajudarás?
- Espero não me arrepender disso.
Ela se concentrou no olhar azul céu de Daniel, tocou o seu rosto e sentiu a textura suave que transmitia a seus dedos, lhe sorriu animando-o a seguir. Ele a olhou com tristeza e a abraçou, depois disso sentiu como se algo a partisse pela metade, uma dor tão profunda que entrou em seus ouvidos como um raio, algo se introduzindo em seu corpo e invadindo o seu ser. Umas lágrimas caíram por suas bochechas e toda a dor sumiu na escuridão.
O despertar foi intenso. Um golpe no coração que batia inquebrantável. Os olhos chocolate de Vane buscaram na escuridão, mas não encontraram Daniel e os outros licans.Em seu lugar uma enorme escuridão cobria cada centímetro daquele espaço. Desesperada levantou-se ainda com dor em seu peito que lhe cortava o ar, estando em pé se perguntou o que havia acontecido. Se estava morta ou era a magia que diziam ia causar a um recipiente escuro. Seus olhos trataram de enfocar algo mais adiante dela, mas não podia distinguir nada, todavia estava consciente que onde se encontrava estava levemente iluminado.
Um sopro de ar gelado a fez olhar para trás de si e se encontrava cara a cara com o primeiro amante de Lilith. Este a olhava com aqueles olhos brancos que pareciam desnudar sua alma, sua pele marmórea se amoldava as suas feições, enquanto que seu cabelo negro revolvia-se com os pequenos círculos de ar encapsulados naquela visão.
- Caim!
Quando pronunciou o nome do sujeito este assentiu com certa seriedade, sua presença era poderosa, vestia roupas simples, diferente de vários nosferatus, aos quais havia visto vestir roupas de grife. Sua compleição era atlética e de grande estatura, sem parecer um gladiador musculoso. Sua beleza não era comum, possuía um ar varonil que não era qualquer homem que poderia apresentar toa simplesmente. Com um ligeiro movimento de seu braço convidou Vane a tocar a sua mão.
Algo no seu interior a empurrou a aceitar o oferecimento, assim que com certo receio relaxou seus músculos e dirigiu sua mão para ele. Pareceram-lhe eternos os minutos antes que suas mãos se encontrassem, mas quando ambas se tocaram foi um choque. Uma luz ofuscante a fez fechar seus olhos ao movimento enlouquecedor que anunciava a descoberta do passado. E foi assim que a nuvem liquida de escuridão se borrou e deu começo ao que parecia um sonho cheio de flores de verão e insetos voando livres de uma para outra.
- Caim!
Vane olhou para onde a voz havia chamado, e se deu conta de duas coisas. A primeira que o Caim de seu presente havia desaparecido e a segunda que a pessoa que corria para ele agitando seus cabelos vermelhos era nada menos que Lilith de uma idade comparável a do Téo, seu lindo irmão.
A menina sorridente atravessou como se fosse um galgo cinzento em direção a um monte onde subiam rochas empinadas. Quando chegou aos seus pés a pequena começou a escalar perigosamente, mas não pareceu acovardar-se por esse feito. Pelo contrário, quando quase estava chegando la em cima, uns braços longos e ágeis a suspenderam.
- Lilu, por que você veio aqui? – a voz do jovem Caim era um canto ao vento, e ainda não aparentava mais de quinze anos, mas seu rosto era reconhecível.
- O Grande Mago disse para voltarmos – lhe disse a menina com um sorriso esperançoso – Falou com todos e decidiram que vamos para o sul.
- Ao sul? – NE voz do menino não parecia haver muito entusiasmo diante daquela revelação.
- O Grande Mago disse que é o melhor – a menina ficou nervosa e brincou com os tecidos de sua vestimenta simples. – O Grande Mago me ensinou vários ritos.
Bem Lilu, vamos! – Caim saltou e esperou com os braços abertos para receber a menina que sem temor saltou para ele abraçando-se ao seu pescoço e rindo divertida.
- Te amo Caim – lhe disse a pequena Lilith quando este a baixou para a terra e lhe deu a mão.
- Hahaha, que coisas você diz pequenina – revolveu seu cabelo e ela olhou-o desgostosa – Oh, vamos! Por que essas caretas?
- Você não crê em mim – falou-lhe ela com lágrimas nos olhos.
- Lilu – ele se abaixou para estar na sua altura – Faltam dez luas, para que sejas uma formosa flor como estas – assinalou para as referidas – Eu serei isto – Tomou um punhado de poeira e o deixou cair ao vento.
- Não! – Negou com sua cabecinha a menina e logo tomou o rosto desprevenido de Caim fazendo-lhe olhá-la – Você será meu! – Sua afirmação tirou um sorriso da parte do jovem – Será minha propriedade!
- Bem! Rendo-me mariposa revoltosa – Caim levantou a mão e a colocou na terra – Juro por nossa mãe terra que se ainda estiver vivo, você Lilu será minha mulher e nada neste mundo, nem sequer os espíritos nos separarão!
Ambas as formas desapareceram e o vento borrou aquela visão para dar lugar à outra. Nesta ocasião uma chuva suave e fresca caia no bosque. As plantas se nutriam desta e a musica natural surgia de cada canto.
- Caim!
Uma linda jovem de cabelos vermelhos como chamas, sorria de cima de uma arvore, com sua mão convidava a alguém a seguir-lhe. Vanessa observou como isto era respondido por um homem jovem de cabelos longos e uma barba incipiente, que escalava sorrindo com a mesma habilidade com que a garota saltava de galho em galho. A idade era correspondente a idade de Vane no presente.
- Desce Lilu! – lhe chamou este – O Grande Mago nos quer a todos para ir.
- Este velho me aborrece! – Respondeu esta com uma gargalhada em sua voz que se ouvia musicalmente – Meus ritos são mais poderosos que os seus!
- Anda, não quererá chegar tarde a sua união? – lhe disse este quando chegou a tomar-lhe o ritmo.
Mas ela não deu tempo de averiguar se alguma vez a poderia alcançar, já que se deslizou até seus braços e o beijou ternamente nos lábios. Ambos sorriram e desceram de mãos dadas.
Um calafrio percorreu Vane e foi então que a chuva se foi e consigo aquela cena. E um plano cheio de folhas murchas lhe rodeou, assim como a um Caim solitário caminhando com uma presa sobre os ombros. Este se desviou até chegar a um pequeno arroio e soltando o que havia caçado aconchegou-se para beber e limpar-se o rosto.
- Logo nos veremos Lilu – afirmou com um sorriso. Vane sentiu pena por algum motivo e nisso um ruído os alertou tanto a ela como a Caim.
Este ao levantar a vista se encontrou com um ser estranho e ameaçador. Seu focinho desfigurado mostrava presas enormes e afiadas, suas garras se crisparam como sua pele escura, enquanto despedia um cheiro putrefato insuportável. Caim ficou quieto e tomou sua faca a qual estava uns centímetros dele. Todavia a besta se lançou para ele tomando-o de surpresa, para logo encaixar suas presas em sua pele nua e dilacerar sem piedade.
Vane ficou horrorizada pelo que estava observando, o monstro continuou dilacerando cada membro enquanto os gritos de luta de parte de Caim eram apagados até chegar a suaves gemidos. Quando o silencio chegou Vane soube que Caim havia sido morto naquele instante.
Deteve-se para observar o assassino e foi quando tapou a boca para reprimir o grito de terror que ameaçava explodir em seu peito. O monstro era o mesmo que uma vez sonhou atacando a Caim e seus filhos, para logo ser salvos pelos lobos de Abel. Este ser quase humanizado tinha a mesma pele escura e seus olhos vermelhos brilhavam intensamente quando a noite começou a cair. Sem lugar para duvidas era o mesmo, mas a pergunta era: Quem era realmente?
- Caim!
O grito aterrador de Lilith atravessou a visão fazendo com que outra tomasse o seu lugar. Nela se encontrava Lilu coberta de cinzas e chorando sobre o corpo de seu amado esposo. Fora da caverna se podia ouvir os tambores e cânticos tribais que Vane aceitou como sendo ritos para o morto. Todavia Lilith se aferrava ao corpo e soluçava sem remédio. Suas lágrimas caiam fazendo que seu rosto se visse desesperado.
- Você prometeu que não nos separaríamos – lhe disse em sussurros – Caim não me abandones!
Ela afundou o rosto nas roupas de seu esposo e tirou a adaga que este havia empunhado anteriormente. Observou-a como se aquela fosse sua salvadora e sorriu histericamente com desespero. Deu um beijo um beijo no rosto envolto de Caim e levantou a arma com o firme propósito de afundá-la nela. Todavia, justo quando descia aquela, algo lhe impediu de fazê-lo, seu olhar se voltou para seu marido e logo voltou para onde sua tribo estava dançando. Limpou o rosto e baixou a arma, começou a recitar algum tipo de oração que Vane interpretou como uma canção estranha, seus pés começaram a mover-se de um lado para outro, seu corpo seguia o ritmo de seu entoar, enquanto que fazia ao redor de seu corpo morto um circulo perfeito. Quando seu canto acabou voltou a tomar a adaga, mas desta vez a deslizou entre sua mão, fazendo um fio de sangue que começou a derramar ao redor do circulo. Aquele rito recordou a Vane quando esteve na presença dos Heralds.
- Espíritos de minha terra! – sussurrou Lilith sentando-se ao lado de seu esposo – lhes ofereço meus presentes – sua concentração era absoluta, uma chama começou a surgir da pele dela – Eu serei sua representante na terra humana – Os olhos azuis de Lilu começaram a mudar de cores, misturadas.
Vane sentia a força tão imponente que ela estava exercendo. A atmosfera ainda nesta visão era muito próxima a que naquele passado viveu a mesma Lilith. Esta levantou os braços e os ofereceu ao céu como símbolo de completa submissão.
- Só devolva-me meu esposo! – gritou – E eu serei seu recipiente escuro!
E pelo que Vane observou, os espíritos aceitaram. Um tremor rugiu e gritos dos membros da tribo se dispersaram como aterradoras advertências. Lilith sorriu e com êxtase quando viu como o corpo e alma de Caim eram devolvidos a sua forma. Quando este se levantou confuso, ela o recebeu com um forte abraço.
- Maldita! – Lilith se alarmou assim como Caim, ao ver na entrada da caverna, aos sobreviventes de sua tribo, entre eles o Grande Mago, e este os assinalava com desprezo. – Seres impuros!
- Não Grande Mago! – Lilith correu para ele e tratou de explicar, mas esta a tomou pelos cabelos e lhe deu um golpe no rosto que a fez sangrar.
- Lilu! – Caim levantou-se e quis ajudar a sua mulher, mas os guerreiros se lançaram para ele e o aprisionaram.
A visão desapareceu em uma nuvem de fumaça. Quando Vane pode ver algo de novo o corpo sem vida do Grande Mago e do resto da tribo se achavam dispersos ao redor de Lilith e Caim que se beijavam banhados em sangue. O fogo azul consumiu essa terrível imagem e logo a voz de Caim se ouviu no ouvido de Vane.
Cometemos um crime imperdoável – lhe disse – Nos amávamos demais e por isso fomos castigados – uma nova visão começou a tomar forma – Acreditamos que se podia fugir... mas nos equivocamos.
Uma Lilith sorria para seus ter filhos e seu amado esposo que a saudavam do outro lado do prado. Uma sombra escura fez com que tanto Vane como Lilu se voltassem e se encontraram com a figura de Asmodeus sorridente. Logo os lábios deste se colaram com os de Lilith.
- Eles ainda vivem – lhe disse ao ouvido Asmodeus quando estavam brincando atrás de uma cascata e eles foram trazidos por Caim – Tua tribo ainda vive.
- Eu os odeio – as palavras foram ditas por Lilith com intensidade enquanto seus belos olhos brancos resplandeciam perigosamente – Vingança... eles devem morrer.
- Eu te ajudarei – Asmodeus voltou o seu rosto e lhe beijou de novo inclinando-a ao chão, justo no momento que Caim entrava e os encontrava com uma expressão de completa desolação.
-Não!
Vane se surpreendeu quando de um golpe a escuridão voltou a enchê-la e um Caim abatido largava a sua mão. Começou a entender então o que a Herald Guadalupe havia dito antes de morrer, também supôs o verdadeiro motivo por que Lilith odiava aos licans. E quem havia plantado a semente da dúvida e da dor dentro daquela jovem que uma vez sorriu sinceramente para os Céus.
- Asmodeus... foi ele que lhe atacou – disse para Caim e este assentiu – Por que não lhe disse isso?
- Ela jamais me teria acreditado – quando por fim falou de novo Caim se ouvia como um pequeno indefeso diante dela – Eu a amo, mas ela não a mim.
- Asmodeus a está enganando, e estou segura que, não se da conta que ele utiliza seu dom.
- Nossa tribo era receptora dos espíritos – confessou Caim – Os licans têm sangue de nossa antiga tribo correndo em suas veias.
- Isso não é possível! – negou Vane – Eles eram lobos! – mas Caim negou de novo.
- Não me refiro a Abel – quando Caim disse aquilo Vane se deu conta que havia herdado a maldição da raça de Abel.
- A menina daquela vez... a esposa de Abel! Luna! – ela pertencia a tribo de Caim e Lilith. Era descendente daquelas pessoas, o que queria dizer que houve sobreviventes tal e como Asmodeus disse.
- Essa menina é a mãe dos licans e também seu verdugo.
- Agora tudo se encaixa!
- Quando conheci a mulher que Abel amava, senti o sangue de minha antiga tribo correndo intensamente e exigindo vingança.
- È por isso que Lilith detesta tanto os licans... Asmodeus sempre soube.
- Asmodeus é quem se encarrega de terminar o que os espíritos começaram.
- O que você quer dizer? – a pergunta de Vane não encontrou resposta.
Capítulo 6 – E VOCÊ VOLTA?
De novo estou frente a você
Aconchegado e pedindo amor
Com um assobio indica-me
O seu verdadeiro amor
Os dedos tamborilavam na mesa de vidro com um ritmo musical. Os olhares de ambos os inimigos se concentravam fixamente um no outro, esperando que algum deles cometesse um erro. Todavia, havia certa vantagem, já que enquanto um falava sentado comodamente em uma cadeira de couro negro, o outro falava do cárcere mais conhecido por clãs nosferatus.
- Alaska creio que deverias render-se – falou Daniel ao nosferatu que estava ferido e débil por causa da crescente falta de energia – Só deve fazer o correto.
- O correto seria que me deixasse ir – Alaska falava tombado na cama e sua palidez doentia estava assustando a todos, era como se alguém o consumisse por dentro.
- Você é parte de minha gente, e eu o considero um – Daniel se abaixou e o olhou com pena.
- Minha lealdade é com minha senhora – engoliu a saliva arquejando – já a traí demasiado.
- Alaska, todos podemos mudar – tratou de animar o seu inimigo – Pode libertar-se.
- Eu não quero fazê-lo – contestou – Se já não necessitas de mim, por favor, te peço que me elimine – suplicou.
- Não posso fazê-lo – Daniel se afastou bruscamente enrugando as sobrancelhas.
- Então morrerei de forma lenta – fechou os olhos e bloqueou por completo todos os sentidos.
Daniel compreendia porque Alaska tendo um poder mental tão forte, não podia liberar-se das ataduras de Asmodeus, no entanto suspeitava que seu coração mais que sua mente era o que permanecia atado. E contra esses laços ninguém de seu clã poderia lutar. Assim, decidiu deixá-lo a sós no quarto que Vane antes havia ocupado, ao sair se encontrou com dois pares de olhos enormes que o olhavam com preocupação.
As gêmeas Starr lhe sorriram tristemente, e assentindo lhes deixou entrar para alimentar Alaska. Desceu e na biblioteca ligou o computador para revisar se Vane havia deixado alguma mensagem, o que encontrou foi uma pequena nota de reporte de Adolfo, e ainda isto era decepcionante, sabia perfeitamente que nada mais que Marcus ocupava a mente dela.
- Triste?
Rapidamente se voltou para ver a pessoa que havia interrompido seus pensamentos. Quando viu a quem se converteria em sua parceira na chegada da próxima lua cheia, uma agulha se cravou em seu estomago e tratou de sorrir. A bela mulher tinha seus olhos concentrados fixamente nele, seu cabelo ondulado e curto se colocava como plumas esparsas cor de café, enquanto sua pele leitosa e lábios vermelhos, próprios das damas da época vitoriana, lhe sorriam com singular desejo.
- Angelique... – suspirou levantando-se cavalheiramente.
- É bom ver que ainda sofrendo segues sendo tão precavido mon amour – o rancor em suas palavras alertaram a Daniel de bloquear bem seus pensamentos a respeito de Vane.
- Você se encontra melhor Cheri? – era uma pergunta estúpida, por que ao vê-la era óbvio que não, sua pele ainda seguia curando-se, as feridas não fechariam até se passarem séculos.
- Olhe-me bem... – lhe sussurrou ela arquejando por que seu pescoço ainda estava doído, desceu ao nível de seus lábios – Não lhe pareço?
- Perdoe-me – Daniel quis afastar-se, mas Angelique o impediu – Eu... tenho que trabalhar.
- E eu tenho fome mon chevalier – chiou ela com uma voz tão infantil e caprichosa que teve que perguntar-se se este laço que os uniria poderia fazê-los algum bem algum dia.
- Você pode esperar?... só um momento – mas ela não lhe escutou. Sem dar-lhe tempo, se aproximou da mesa e se sentou sobre ele.
- Não se comporte mal mon amour – Angelique se abaixou e beijou seus lábios – Quando digo que tenho fome, você simplesmente deve obedecer – A língua dela saboreou o pescoço dele.
- Ainda posso desfazer o laço – ameaçou com reserva Daniel, no entanto só obteve que os olhos dela brilhassem intensamente e ela cravasse suas presas em seu pescoço – Auch!
- Pardonnez-moi, querido – lhe falou beijando-lhe a bochecha – Daniel, Daniel, Daniel quando aprenderás a não resistir-me.
Seus olhares se cruzaram por um momento. A fúria dela e a indiferença dele, duas emoções que suas almas lamentavam, eles unicamente lutavam por sua existência. Angelique o apertava fortemente contra o chão, reclamando direitos sobre ele; estava assustada de que ele não cumprisse a sua palavra e a abandonasse, e perdê-lo seria algo inconcebível. Sua expressão se relaxou e surpreendendo-o lhe abraçou como uma menina com seu ursinho. Aconchegou-se junto a ele e tomou sua mão apertando-a contra o peito.
- Jê t'aime.
- Jur pe sufletul meu va fi mereu cu tine¹ - a olhou e disse-lhe calmamente e ela lhe agradeceu.
Angelique ofereceu o único que Vane jamais poderia dar a Daniel. Arrumou-se e descobriu seu pescoço branco para ele. Daniel fechou os olhos e respirou o aroma adocicado e abraçando-a cravou suas presas profundamente fazendo-a gemer. Ela tirou seu cabelo e beijou seu rosto amavelmente. Quando tudo terminou, ele se separou com gentileza, porém, fria.
- Estou cansado.
- Vem comigo – Angelique o levantou e juntos caminharam para fora da sala, fechando a porta atrás deles em completo silencio.
*****
Téo observou com olhos tristes, aquele rapaz que uma vez viu ao lado de sua irmã, antes de suas vidas se virem alteradas, por histórias passadas e sonhos rotos. O jovem de cabelo avermelhado estava amarrado nos braços e pernas, cortes profundos estavam cicatrizando em sua pele lentamente, enquanto seu peito subia e baixava lentamente, tão lento que parecia estar a ponto de parar. A morte dava medo a Téo, sabia como era e o que ocorriam as pessoas que morriam. Mas pensar que essa pessoa morreria logo lhe deu um calafrio, apertou suas mãos e com passo decidido caminhou silenciosamente para o moribundo. Colocou-se ao seu lado e procurou não fazer ruído, olhou seu rosto e suplicou aos espíritos, de quem lhe haviam falado, que este jovem sobrevivesse. Sua pequena mão tocou a bochecha do amigo de sua querida irmã, e sentiu pena.
- Téo? – A voz de Susana lhe chamou angustiada – Creio que é hora de você ir descansar não é bom estejas aqui.
- Ele está sofrendo – lhe disse com os olhos nublados – Quer morrer.
- Oh, meu pequeno! – Susana lhe abraçou acomodando sua cabecinha em seu peito e lhe confortou – É preferível que morra a que siga sendo atormentado.
- Pai... perdão! Nicholas lhe matará? – Ela olhou com detalhe ao jovem que se encontrava amarrado, o sangue que despedia tinha um aroma doce, como um campo cheio de girassóis. Logo olhou para Téo e supôs qual seria a sua resposta.
- Nicholas fará com esta pessoa o lhe que pareça – e fechou os olhos para não ver a desilusão e o horror apoderar-se do olhar de seu Téo.
- Estou muito triste – lhe disse o menino e ela acariciou sua cabecinha querendo protegê-lo.
- Isto sim é uma surpresa! – Téo se separou de Susana quando ouviu a voz de quem uma vez considerou seu pai.
Na entrada da cela se encontrava Nicholas apoiado na parede com a cabeça ligeiramente inclinada, sorrindo despreocupado. Quando viu que Téo não se aproximava para saudar-lhe um estranho desaprumo se apoderou de suas feições.
- O que está acontecendo? – disse na defensiva – Não tem abraço para mim?
Téo apertou a mão de Susana, mas no minuto deixou-a para correr e abraçar Nicholas. Este lhe sorriu e logo o carregou delicadamente. Olhou para sua irmã e logo para o preso. Acariciou o cabelo de Téo e deu passos curtos até chegar ao jovem.
- Sabe meu filho – lhe sussurrou – Hoje vou precisar de sua ajuda.
- Minha ajuda?
- Sim... verás – explicou como um professor para um aprendiz ingênuo – Este rapaz aqui necessita de remédios.
- Muito... ele está tão triste – o olhar do menino se dirigiu para o jovem.
- Mas... seu remédio não está aqui – o sorriso de segurança de seu irmão deu um terrível pressentimento a Susana – Seu remédio se encontra muito longe... em um lugar muito cinza.
- Você tem que trazê-lo.
- Não. Você vai levar-lhe – Nicholas baixou Téo e tomou suas mãozinhas – Você me ajudará a encontrar o seu remédio, verdade?
- O remédio salvará o menino? – Nicholas sorriu assentindo quando viu que Téo se mostrava disposto – Sim! Te ajudo!
- Bem, então, por favor, coloque suas mãos na cabeça desse menino – sugeriu amavelmente Nicholas.
- Mas... tenho medo! – soluçou Téo.
- Você prometeu.
Téo colocou suas mãos uma a cada lado da cabeça do amigo de sua irmã, e fechou os olhos fortemente quando sentiu a textura do sangue seco. Seu estomago começou a se revolver, e quando ia afastar-se Nicholas colocou as suas mãos ao redor das suas e apertou fortemente causando-lhe dor. Reprimiu seu grito e pensou que teria que ajudar ao rapaz.
- Agora diga isto – ordenou seu pai com gélida gentileza – "Salve-lhe".
- "Salva-lhe" – E quando disse essas palavras uma corrente passou por suas mãos e chegou a sua cabeça causando um enjôo.
- Bom garoto – Nicholas afastou suas mãos e beijou a testa de Téo – Bom garoto – repetiu de novo.
- Quero vomitar! – gritou entre lágrimas.
- Téo! – Susana o abraçou e olhou ressentida para Nicholas – Deixe-o já!
- Irmãzinha... apronte-se e deixe tudo pronto, hoje mesmo partiremos para Paris.
- Não está falando sério?!
- Te asseguro que jamais falei mais sério – Logo com a ponta de seu sapato levantou o rosto de Esteban – Está muito mal, mas sobreviverá ao translado.
- Mamãe, eu quero vomitar! – chorou mais forte Téo e Susana o carregou.
- Espero que esteja fazendo o que é certo – dirigiu-se para seu irmão e saiu da cela furiosa.
- Sempre faço o certo – disse ele com um sorriso depois dela levar algum tempo para ir-se – É por isso que ainda segues viva.
Capítulo 7 - VIDA TERRÍVEL
Você é a melhor atriz da história
Faz-me acreditar então que não,
Demonstra que sigo vivo,
E mata-me de ciúmes.
- Daniel, sei que...? – perguntou desorientada.
- Se casa – respondeu Elena.
Vane não pensou que tal revelação lhe perturbaria, mas um profundo vazio encheu seu estomago. Não precisava perguntar quem era a pessoa, já imaginava. Ainda assim seu olhar caiu para separar-se das recordações de Daniel. Logo sorriu e olhou a gêmea Starr, que parecia muito envergonhada.
- É algo muito bonito – sabia que suas palavras soavam hipócritas, mas não podia remediar-las. – Felicito-lhe.
- Vane... – ela negou levantando a mão.
- Não me deve explicação – desculpou-se – É melhor assim.
- Se queres saber... ele não está feliz – confessou Elena.
Ambas estavam esperando as malas no aeroporto. Vane havia sido chamada por Daniel para que assistisse a reunião que haveria entre Croix Noir e os Da Vinci's, apesar de que ele se havia aliado aos Mausoleum. Um dos membros das clãs parisienses lhe havia pedido que atuasse como intermediário agora que sua líder Gabrielle se encontrava em outro lugar protegendo a rainha Eva. Como era de se esperar Daniel aceitou. Assim, ele mandou chamar um membro da Aemilia para que a aliança que se formaria entre licans e nosferatus fosse real. Estes aceitaram e como representante foi Abraham o eleito, este por sua vez chamou Adolfo e David. Era um assunto sumamente delicado já que se houvesse um enfrentamento era seguro que tudo viria a baixo. Não era momento para isso.
- Parece que também chove em Paris – sorriu no carro que as levava.
- Sim, não tem parado de chover já tem uma semana – Elena observou as gotas caírem contra o vidro – Espero que pare para a cerimônia de união, senão será bastante desagradável.
- Então parará – afirmou Vane.
- Será algo muito privado – lhe contou a garota de cabelos escuros e olhos francos – Eu gostaria que ele se unisse a quem ama de verdade – olhou para Vane com tristeza.
- Daniel será feliz.
- Isso não se sabe – talvez Vane estivesse mal, mas o tom depreciativo de Elena lhe deu a entender que não lhe agradava muito.
- Eu lamento.
- Sim, deve sentir... e muito – foram as únicas palavras que saíram da nosferatu para logo ficar calada.
Os carros foram chagando um a um ao hotel onde se hospedariam. Quando desceu, Adolfo lhe esperava com um guarda-chuva e lhe deu seu braço para que se apoiasse. Ia vestida com uma calça jeans e botas pretas, sua blusa cinza com botões se escondia embaixo da capa de gabardine e cachecol. Viu como Elena saiu do carro sem esperar que o jovem do estacionamento a ajudasse, para logo se reunir com um homem a quem antes não havia visto. Era muito elegante, suas feições eram longas e perfiladas, seu cabelo negro era penteado com uma repartição ao lado e parecia inclinar-se suavemente sobre uma orelha, seus olhos cinza a observaram e quase esteve segura que uma careta distorceu seu rosto. Ao seu lado tinha de braços dados uma mulher bonita, um belo chapéu encobria seu adorável rosto, a pele delicada e sedosa brilhava, tinha o cabelo negro curto até a nuca, usava luvas pretas e um abrigo branco que harmonizava com o bege de seu companheiro. Seus olhos eram azuis, não tão interessantes como os outros, estes careciam de brilho. Um casal interessante e pelo que se via eram os nosferatus mais raros que tinha visto até esse momento.
- Deixe-me apresentar-lhe aos meus companheiros! – Elena se aproximou do grupo de licans com aquele casal atrás dela. – Este é Dimas, um detetive particular e ela é su...
-Je m'appelle Verônica Callivieri, salut! – se apresentou a nosferatu com um sorriso encantador, todos se calaram por momento incomodo.
- Daniel não se apresentou ainda por que tem assuntos importantes no momento que requerem sua e atenção exclusiva. – anunciou Dimas friamente com um sotaque em um inglês terrível.
- Mas chegará mais tarde para falar com vocês! – Animou Verônica – D'accord?
- Oui, não há problemas – Abraham assentiu amavelmente em francês e eles o olharam estranho.
- É um alivio, A plus tard Chavalier! – exclamou Dimas para logo despedir-se com um assentimento de cabeça e ir-se com as duas mulheres em um carro verde escuro.
- Creio que devemos entrar – anunciou David pigarreando irritadamente.
- Não são tão maus irmão – lhe sorriu Abraham, mas este franziu o cenho.
- O tal Dimas não parecia pensar o mesmo.
Certamente Vane pensava o mesmo que David, mas preferiu distrair-se com os enormes candelabros do hotel onde se hospedavam agora. Abraham preencheu as fichas e se pôs a falar com o encarregado, que parecia conhecer de alguns anos. Ela estava ao lado de Adolfo e a conversa não era tão fluída e se apresentava com o mesmo problema que havia tido com Estela.
- Se você está com fome, podemos ir comer algo, pequena – lhe ofereceu cavalheiramente David.
- Não, obrigado. – negou – Estou mais é cansada.
- Neste caso... – Abraham se aproximou com uma chave e lhe entregou – esta suíte é para você, espero que você se instale comodamente.
- Obrigado.
-Não há de que querida, agora deves reunir muitas energias para amanhã, será um dia realmente longo para todos.
- Preciso fazer uma ligação – anunciou Adolfo e se foi em outra direção.
- Eu também – David sacudiu a cabeça – Minha Beth estará esperando minha chamada.
- De minhas saudações para ela! – lhe disse Vane ansiosa.
- Farei isso – assentiu o lição afastando-se na mesma direção que Adolfo.
- Então, eu serei a sua escolta senhorita.
Ela sorriu-lhe e juntos entraram no elevador. Havia muitos botões e Vane supôs que este lugar era maior do que parecia, o garoto que levava as malas engenhosamente em um carrinho dourado quando chegaram ao que seria o seu quarto e Abraham entregou uma gorjeta para o menino e lhe disse onde era o seu próprio quarto, o menino sorriu e foi para o seguinte destino.
- Obrigado de novo.
- Nos veremos mais tarde, não se esqueça de chamar se precisar de algo – lhe disse Abraham despedindo-se.
Ela fechou a porta e caminhou para o quarto que seria sua casa por três dias. Todos os móveis eram brancos e sentou-se cansada, a chuva já não se ouvia, estava fora de seu alcance. Quando estava ao ponto de descansar sua cabeça no travesseiro a campainha do quarto tocou, um pouco alarmada se dirigiu para a porta, pensando que era Abraham que havia esquecido de lhe dizer alguma coisa. Mas o que encontrou foi um par de olhos conhecidos e que não fazia muito acabava de ir-se.
- Estela? – Mas a garota fez um biquinho com os lábios e eu supus que tinha errado – Deus, Esther!
- Por que você tem que me confundir com minha irmã? – me perguntou a garota entrando no quarto.
Vane se fez a mesma pergunta, mas só em sua mente. Certamente lhe pareceu absurdo haver confundido Esther, a diferença de sua irmã gêmea ela tinha certo estilo ao vestir, que bem que dava para diferenciá-las. Trazia consigo um bonito lenço vermelho e um vestido reto com uma saia sumamente coquete, um colar de perolas caia de seu pescoço e seus sapatos vermelhos se inclinavam em um ângulo perigoso. Sem duvida, não havia como confundi-las.
- O que você faz aqui Esther? – a pergunta não era grosseira, mas a gêmea a olhou com suspeita.
- Primeiro para fazer isto – lhe deu um forte abraço que a deixou sem ar por uma fração de segundo – E também para dizer-te que... Você tem que estar louca para permitir que Daniel se uma àquela bruxa!
- Oh, por favor! – Vane caminhou pelo quarto, mas a nosferatu a seguiu.
- Nada! – lhe recriminou a garota – Essa mulher o deixará completamente louco!
- Talvez não lhe tenha dado uma oportunidade.
- Não necessita! Eu a conheço desde que Daniel nos uniu a sua clã, e me perdoe, mas ela tem se comportado como uma pessoa insuportável. – Vane não pode deter um sorriso.
- Esther eu não posso intervir nesses assuntos – lhe disse claramente – Ademais, e Daniel não me comentou nada é por algum motivo. A garota olhou-a com decepção.
- Bah! Bobagem – exclamou Esther jogando-se sobre a cama – Esse nem sequer sabe onde pisa.
- Estamos falando do mesmo Daniel?
- Creia-me, querida, quando lhe digo que esse não sabe com quem brinca.
- Explica-me.
- O que? – a nosferatu se levantou com um sorriso.
- Em que consiste esta união? – Esther olhou-a pensativa e parecia duvidar em explicar-lhe, mas, sem mais, indicou-lhe para sentar-se ao seu lado.
- É mais do que uma simples união de bodas... é, digamos, que se complementam – completou – Seus laços ficam unidos.
- Já vi.
- Não, olhe – a fez calar – Daniel é livre para amar no momento... pode fazer o que seu coração mandar – explicou – mas, quando seus laços sejam unidos a Angelique... ele não deverá mais pensar em você.
- E isso é...
- Porque se a fizer sua companheira, infringirá involuntariamente muita dor ao seu ser, se ela sofre, ele sofre, se ele sofre, ela sofre... um contrato recíproco de emoções.
- Nossa! O que você diz?
- É por isso que os nosferatus pensam muito antes de ter uma companheira – Esther parecia entreter-se com o tema e segurava o seu colar. O passava entre os dedos habilmente – Nossa união deve ser sincera e adquirir o compromisso de amar, proteger e pensar só na pessoa a quem elegemos.
- Deus... é mais perigoso que o que os humanos fazem.
- Não acredite nisso, que eu saiba nenhuma união foi um fracasso – Esther se olhou no espelho lançando um beijo – Os casais que fazem este ritual estão francamente enamorados e isso os ajuda a incrementar mais seu amor.
- Eu nem imagino.
- Você já conheceu vários casais – lhe recordou a garota – Eva e Adam foram os primeiros a realizar este rito.
- Mas eles são irmãos! – talvez seu alarme não fosse necessário pela forma que Esther a olhou.
- Isso não tem nada a ver – lhe disse esta ofendida – Falo de um amor sincero, o amor entre família é um dos mais puros e sinceros que pode haver... ademais, eles fizeram esse rito para protegerem-se.
- Estou vendo.
- Também tem o Mahoma e a Yaiza... Assim também como a grande maioria dos líderes.
- Compreendo.
- Não compreendes – lhe disse a garota olhando-a através de seus olhos semicerrados – Se compreendesse, não estaria aqui esperando que Daniel se casasse dessa maneira.
- Não posso fazer nada.
- Muito bem, só rindo! – cruzou os braços.
- Você está com raiva, assim como Elena?
- Pois na verdade sim... mas não contigo – Ela olhou triste – E sim com Daniel, ele tem sido um bom irmão e um grande líder, merece a felicidade.
Vane sabia que Esther tinha toda a razão, mas, todavia, seu coração já não tinha duvidas com respeito a Daniel. Ele significava segurança e amizade, mas nada mais. Era triste ver que não podia, por mais que quisesse algo diferente em seu coração. A cor verde de uns olhos vinham em sua mente e uma pontada dolorosa e fez baixar suas defesas. Esther notou isso rapidamente.
- Perdoe-me Vane – lhe disse angustiada – Ao que parece você sacrificou o que sobrava de segurança para estar com quem você elegeu.
- Eu sinto muito, mas não posso ajudar Daniel!
- Bem... tampouco é tão ruim – Esther se resignou encolhendo os ombros – Seguramente ele saberá manejá-lo.
- Quando será?
- Bem... na próxima lua cheia.
- Mas isso é amanhã! – a voz de Vane soou como um grito e isso era o que mais a assustava.
*****
Marcus abriu os olhos depois de haver tido muitos pesadelos, ou sonhos?, se encontrava recostado sobre um montão de cobertores vermelhos e brancos. Ele levantou seu corpo e entendeu, que estava longe do que antes havia sido, quando viu a garota que estava ao seu lado, uma pontada em seu coração, lhe indicou que ela não era o ele que estava esperando. Deslizou-se pela cama e avançou tremulo até onde estavam pedaços de vidros quebrados, o chão estava gelado quando se abaixou e ajoelhou para ver seu reflexo. Não se reconheceu.
Simplesmente não era ele. Seus olhos eram de um azul intenso, assombroso, que lhe deu certo temor, ademais seu cabelo havia passado de um negro a um brilhante dourado que contrastava suavemente com sua pele. Imaginou já haver visto este reflexo em algum lugar, mas suas recordações encontravam-se borradas, diferentes.
Levantou-se e começou a inspecionar curiosamente o quarto. Procurando não acordar a garota, algo lhe dizia que se ela abrisse os olhos tudo acabaria.
A lareira iluminava o lugar, coisas quebradas estavam espalhadas pelo chão; enquanto que umas ainda permaneciam de pé. Viu algumas folhas de papel espalhadas e um tinteiro derramado no chão, isso lhe pareceu familiar. Aproximou-se e pegou os objetos.
Primeiro observou o tinteiro, inspecionou-o cuidadosamente. O liquido vermelho que derramava era viscoso com uma consistência quase gelatinosa, pegajosa e muito interessante. Seus dedos se mancharam e levantou a mão para olhar melhor aquela tinta tão estranha. Logo, limpou-se nas folhas de papel, quando viu como os materiais se fundiam, algo que pareceu recordar. Escreveu uma palavra. Pipoca. Não sabia o significado daquilo. Amassou a folha e jogou fora, sentiu-se muito irritado. Seu corpo começou a pesar, e suas pálpebras se fecharam, era tempo de dormir. Era momento de esquecer também seu nome.
Arrastando os pés tombou no leito ao lado da garota, respirou lentamente e deixou que seus olhos se fechassem, sem mais perdeu todo sentido e a escuridão o rodeou. O sono o recuperaria, o encheria de vida.
Depois de uns minutos sua respiração se uniu a da garota e juntos seguiram sonhando. Involuntariamente tomou a mão desta e ela apertou fortemente para que não se separassem. Assim se protegeram de seu observador que esperava que seu plano se completasse. As mudanças seguiam acontecendo.
*****
Dimas estava observando fixamente a Narciso, o espelho do clã de Daniel. Era tão antigo como seu amo e feito exclusivamente para seu uso. Sem lugar para duvidas Daniel possuía um poder imenso, a boa fortuna o havia rodeado de bênçãos desde que seus olhos se abriram para o mundo. Perguntou-se se o que fazia neste momento também resultaria em seu beneficio.
- O que pensas? – perguntou ao seu próprio reflexo, mas este só contestou com o mesmo olhar.
- Narciso prefere não responder – a voz de seu líder chocou em suas costas. Quando Dimas se virou, ao seu lado se encontrava Daniel observando também seu reflexo.
- É igual a você.
- Por algo que me foi dado de presente – Daniel tocou a superfície plana do espelho, os dedos tanto de seu reflexo como de seu eu se encontraram mandando uma pequena vibração imperceptível para um humano.
- Este artefato é realmente assombroso! – Dimas não tentou tocar no espelho, desde sua chegada há dez anos havia procurado manter-se distante deste – No entanto, há algo que me impede de confiar nele.
- Deverias desconfiar – a mão de Daniel se afastou lentamente, quase como se uma caricia se deslizasse pelo vidro.
- Amanhã a noite será tua união de laços – a conversa mudou precipitadamente, mas Daniel não parecia perturbado.
- Sim – respondeu neutro e se virou para descer as escadas – Tenho tudo pronto.
- Os clãs tem razões para reunirem-se – Dimas seguiu seu passo e se perfilou ao seu lado.
- Minha união não é tão importante como o acontecimento que dará lugar.
- Ao contrario, sua união é pelo que a grande maioria aceitou vir e permanecer neutros.
- Espero que não.
- Ambos entraram no escritório de Daniel, e ai Crow esperava estendendo um documento para seu líder que assentiu e indicou que desejava ficar só. Tanto Dimas como Crow se olharam intensamente, antes que o ultimo abandonasse a sala. Se bem que seguissem tendo diferenças, tratavam de relevar, porque enquanto Dimas defendia em tempos antigos a máfia de sua cidade, Crow fazia o inverso criando caos com seu grupo de yakuzas, um passado que ambos compartilhavam e do qual na falavam muito.
- Queres que seja tua testemunha? – perguntou a Daniel, este levantou a vista depois de haver sentado e o olhou pensativo.
- Não obrigado – rejeitou amavelmente – Issac fará esse papel, enquanto a Angelique...
- Falarei com Verônica – Dimas pegou um cigarro de carteira negra, colocou-o entre seus dedos habilmente e o acendeu.
- Me desagrada este cheiro – queixou-se Daniel.
- Bem, só será por uns momentos – e seguiu fumando – Diga-me, o que pensas fazer com a garota?
- Se você se refere a Vane, deixe-me dizer-lhe que não lhe interessa em nada – a voz foi autoritária e não parecia estar de humor para falar disso.
- Como queiras – Dimas olhou os documentos que Daniel tinha espalhado por toda a sala, parecia-lhe engenhoso que ainda estivesse procurando a localização daquele castelo.
Na verdade amava tanto a escritora que se negava a desiludi-la.
- Me disseram que ela é um recipiente escuro no momento.
- Assim é – o olhar do nosferatu em frente a Dimas se escureceu – Não compreende o perigo que está sobre ela.
- É melhor assim, do contrario não haveria tido nenhum valor.
Dimas tomou o cigarro e o apagou sobre o cinzeiro prateado do escritório, logo deixou que Daniel seguisse concentrado procurando a sua próxima missão. Este estava colocando em pontos estratégicos para chegar saber algo mais de Asmodeus e do clã de Nicholas. Um trabalho nada fácil já que para isso teria que enfrentar-se com sua própria espécie. Tirar uma informação de um nosferatu era tão difícil como querer abrir uma ostra com as mãos, o bom é que só se necessitava um golpezinho para poder tirar a perola.
Pensou em Alaska e como sua obstinação o estava matando, no entanto também admirou sua força. Essa era uma das razões por que Asmodeus o havia escolhido e sem duvida, cumpriria sua palavra e fidelidade para com seus lideres de Clã a custa de sua existência. Estava tão ensimesmado nesses pensamentos que não notou quando Daniel levantou a vista e começou a observá-lo, senão depois de ouvir sua pergunta, pela qual se surpreendeu sobremaneira.
- Como você se sentiu com aquilo?
Não necessitava ler a mente de Daniel para saber que se referia a união de laços. Era razoável que agora tivesse dúvidas, ele as havia tido quando decidiu estar com Verônica. Não é que Dimas fosse indiferente aos sentimentos, mas sua razão lhe havia impedido muitas coisas no passado pelo qual quando Verônica apareceu em sua vida decidiu que ela era a indicada.
- Senti que minha alma se liberou – foi franco, mas sabia que Daniel necessitava mais que franqueza – No principio me senti mal, doía muito como se amarras espinhosas se pegassem ao meu corpo – explicou tomando seus braços e levantando-os aos lados – Mas logo – sua expressão se relaxou – Logo... só ela existia em meu ser. Um relaxamento quase divino me encheu e fui capaz de... voar.
- Voar? – Daniel levantou uma sobrancelha incrédulo.
- Sim, pelo que sei cada um experimenta isto de forma diferente, assim que não lhe serve de nada minha explicação – concluiu para pesar de seu ouvinte.
- Fantástico!
- Serás um bom companheiro – o alentou Dimas – Tens a boa sorte ao seu lado.
- Não me estás ajudando muito – disse Daniel – Toma, esta é tua missão agora – estendeu um pequeno papel vermelho – Leva-o a essa pessoa e não volte sem uma resposta.
- Pode esperar até depois de seu... – mas Daniel o interrompeu friamente, assim, ele entendeu a mensagem.
Capítulo 8 – OUTRO ASSASSINO
Que nosso amor sobreviva
As mascaras impostas por você;
Que nosso ódio se converta
E seja o último ato.
Sonhar era o que a havia trazido a um mundo desconhecido, sonhar era o que o impedia de ficar louca.
Quando abriu seus olhos depois de repetir varias vezes aquelas palavras, deixou que a escuridão lhe mostrasse o que se passaria. O que não podia parar igual a um relógio de areia no deserto.
Seu corpo estranhou não sentir o ar frio, seus pés desta vez tampouco estavam machucados. A paisagem era neutra, um campo de flores silvestres se estendia até onde alcançava a sua visão, enquanto que as nuvens carregadas deixavam cair a chuva suave. Caminhou entre esse campo e se perguntou a razão daquilo.
De repente, num momento, que ficou consciente de ver Esteban, seu melhor amigo, sabia que este não era um sonho qualquer, senão um aviso. Que alguém lhe enviava de algum lugar.
- Esteban.
Seus lábios pronunciaram o nome do rapaz familiarmente. Este Não parecia ouvi-la no principio, mas logo a olhou e se avivou como se um golpe de vida tivesse roçado nele, seu cabelo avermelhado estava pego a sua cabeça por algum estranho liquido vermelho, fazendo que se emplastasse de forma pegajosa, pela chuva que caia sobre ele. Sua pele branca estava cortada e cheia de cicatrizes graves, enquanto sua roupa esfarrapada mostrou sinais de luta em vão. No entanto, apesar de mostrar um aspecto lamentável, seu olhar e sorriso se focaram nela, só em Vane. Estendendo a mão para o alto parecia querer falar, chamar-lhe e advertir-lhe algo, mas só pode escutar dele outra voz que não pertencia a aquele corpo. Uma voz muito mais doce e que alarmou seu coração fazendo-o saltar.
-Salve-o!
Abriu os olhos para a realidade.
Esta lhe mostrou o quarto do hotel, iluminado pela pequena luz quente de uma lâmpada ao seu lado, levantou-se lentamente apoiando seus pés no chão atapetado, perguntando-se o que era aquilo que tinha acontecido, pôs sua mão direita sobre a cabeça e numa tentativa de afastar o sonho. Estava tão claro em seu interior, mas agora se desfazia na frente dela como um pequeno rumor. As folhas de seus últimos escritos se espalhavam quando jogou para trás dela a colcha e descobriu-se.
- Está vivo! – se alentou.
Ma apesar de saber daquilo, não estava segura de que a visão pudesse revelar toda a verdade. Se esta havia sido provocada ou manipulada ela não podia sabê-lo. Tampouco fechando os olhos de novo, colocando sua cabeça no travesseiro e apertando a caneta fortemente contra ela, foi incentivada a sonhar. Seus sonhos agora lhe revelavam aquilo, por mais real ou falso que fosse a verdade estava ai. E ela a descobriria.
*****
A garota de cabelo amarelo limão lhe sorriu alegremente. Seu olhar embriagador junto com suas pestanas longas a cativou em piscar lento. E encontrava sentada elegantemente sobre um banco do parque, segurando um sorvete entre suas mãos e finos dedos. Seu abrigo rodado era alegre e lha dava um ar de mulher. Da classe de mulher que você queria encontrar para fazê-la tua melhor amiga, tua irmã. Para ter uma conversa divertida e contar-lhe segredos.
Ela não parecia temer-lhe, seus lábios se despregaram e mostraram uns dentes perfeitamente brancos e alinhados. Com sua mão lhe assinalou para que se sentasse ao seu lado, um convite aberto. Mas que a enchia de uma estranha alegria, era como encontrar-se de novo com o mundo.
Duvidando, avançou pouco a pouco, com muito cuidado sentou-se para que a madeira não rangesse ou quebrasse debaixo delas. Mas isto não parecia importar em absoluto para ela. Ela levou o sorvete à boca e o comeu com muita energia, logo a olhou de lado e sorrindo lhe ofereceu amavelmente. Sentiu-se como uma menina que esperava, pedindo a sua companheira um pouco do seu doce. Mas a confiança que esta garota havia ganhado desde o momento que a convidou a sentar-se ao seu lado, assim não rejeitou.
Levantou a mão e tomou o sorvete, os olhos dela brilhavam e supôs que estava correto. Ao saboreá-lo, o doce dos morangos se espalhou através de seu paladar. Refrescaram-lhe a boca e as lâminas de gelo diminutas se desfizeram em instantes. A garota começou a rir. Ela era encantadora, o som de sua voz era como ouvir uma musa, simplesmente divino.
- Você não vê? – lhe disse ela com um tom alegre – Não é errado desfrutar do que amas.
Surpreendeu-lhe ver que seu corpo reagia a suas palavras. Ela estava dizendo o que mais desejava escutar. Seu mais intimo segredo, o que jamais devia permitir-se e, no entanto, lutava para encontrar.
Quando sentiu uns lábios suaves contra suas bochechas deixou de pensar e viu que ela se levantava despedindo-se. Coisa que a alterou e deixou-a nervosa. Não queria que se fosse, queria tê-la ao seu lado. Não devia perdê-la de novo.
- Devo voltar – lhe disse quando ela fechou sua mão em torno de seu pulso – Você ainda têm que continuar .
Ela negou teimosamente, olhando-a suplicante.
- Ela está lhe esperando – acariciou seu cabelo delicadamente, como o toque de uma pluma – E eu estarei aqui sempre, assim não se esqueça de mim! – Assinalou seu coração, mas este já começava a doer.
Soltou-lhe com uma profunda dor, era como abandonar seu maior tesouro. Umas lágrimas se assomaram em seus olhos, mas se negou a chorar na frente desta bela garota. Tinha que demonstrar-lhe que podia sobreviver, que ainda permanecia algo dele.
Ela começou a caminhar, afastando-se pelo caminho onde se ouviam pequenas vozes e risos. Pareceu-lhe ver um garoto de cabelos negros esperando-a, este a olhou e também lhe sorriu amistosamente. Com a mão lhe saudou e logo sua atenção se enfocou em sua amada, a tomou por um braço com muito cuidado e a abraçou. Ambos seguiram afastando-se e na distância caminhando dessa maneira, deixando que as vozes e sons os conduzissem de novo ao lugar que agora era seu lugar.
Seu descanso.
E ela só pode olhar.
*****
Asmodeus estava sentado em um trono de cristal negro com figuras de crânios talhadas, olhando fixamente para seus subordinados dos pés a cabeça; revisando seus pensamentos e mais profundos temores. Seu sorriso se abria com afiados dentes, enquanto que o ar da morte rodeava a cada um de seus neófitos, marcados com sua essência. Ao longo dos anos havia escolhido só os melhores, com o poder suficiente para entrar em um enfrentamento diante de Eva e seus filhos. Havia jogado habilmente e agora esses mesmos filhos se virariam contra a falsa mãe, ela mesma havia cavado sua tumba, os havia guiado para sua destruição.
Os rostos de seus observadores, estavam pintados de um negro intenso ao redor dos olhos. Dando-lhes uma aparência de caveira, fazendo-os mais atemorizantes quando seus olhos brilhavam por sangue. O preto era a cor da vestimenta de cada um, lhes dava um ar pálido e amortecido, o toque do funeral para a batalha que viria depois. Estavam preparados para começar com sua jogada seguinte. Estavam perdidos, mas sempre se tem que sacrificar um peão para salvar a rainha no xadrez.
- Está tudo pronto meu senhor – Esbeth, a mais fiel seguidora de Nicholas estava ao seu lado. Era uma dos três seres a quem havia concedido sangue, e seria peça de seu plano no futuro. A havia escondido por razões primordiais, uma delas já havia sido levada a cabo. A segunda esperaria só um pouco mais.
Levantou-se de seu assento, e caminhou para o seu clã, abriu os braços em forma de boas-vindas. Ninguém havia duvidado da capacidade de Asmodeus, todos sem exceção formavam parte total de seu plano, todos estavam dispostos a dar suas almas para cumprir seu objetivo.
- Hoje! Nos encontraremos cara a cara com seus irmãos! – Vociferou Asmodeus triunfante – Lhes faremos saber a todos de seus falsos clãs! Que não há nenhuma escapatória!
Um meio sorriso se assomou da comissura daqueles lábios mortos. Todos começaram a fechar os olhos e mover-se de um lado para outro, balançando-se em conjunto. De forma sincronizada.
- Não estamos sós, por que os espíritos estão do nosso lado!
Asmodeus olhou para onde se encontravam Nicholas e seu Clã. Um olhar de terror da parte de Téo lhe provocou graça, aquele menino estava selado com seu poder insuperável e agora se encontrava sob sua tutela. Susana abraçou-o contra si adivinhando o que viria a seguir. Asmodeus fez brilhar seus olhos e em um instante estava em frente a ele. Todos os neófitos se voltaram a tempo de contemplar o que tanto chamava a atenção de seu líder.
- Hoje é dia de alegria – Asmodeus tomou Téo em seus braços e o levantou para que todos o vissem – Esta é a raça a quem devemos nossa liberdade!
Todos guincharam furiosos e Téo tapou os ouvidos. Olhou angustiado para Susana e esta tratava de não se atirar contra o seu pai de sangue. Mas não tirava o olhar dos movimentos deste.
- E é por isso... que devolveremos esse favor aos impuros licans – Abraçou Téo e lhe disse no ouvido sutilmente – Você ainda não pode ir embora.
Sem mais o devolveu aos braços de Susana e deu umas palmadinhas em suas costas. Logo voltou a fazer um sinal para Nicholas, e este e suas guarda-costas Laura e Marina, imediatamente, trouxeram o jovem prisioneiro; arrastando-o pelo pés e deixando que seus pulsos feridos manchassem o chão com seu sangue, deixando uma marca de dor.
Rapidamente colocaram Esteban em frente aos neófitos, que aspiraram sua essência e fizeram seus olhos brilharem. E garoto tinha um olhar perdido, parecia não estar consciente do que se passava ao seu redor. Asmodeus despediu as garotas com um movimento de mão e elas obedeceram docilmente. Aproximou-se do jovem e verificou seu estado, logo seus olhos brilharam para seus seguidores.
- Vejam? Esta raça nos fez débeis... por que sem seu valioso sangue e força vital não seriamos nada.
Susana perguntou-se o que aconteceria se algum dos que escutavam, respondesse o contrario para Asmodeus. Sua mente não seguiu fazendo estas questões, simplesmente, concentrou-se no Téo, que para ela protegê-lo era o principal. A custa de tudo e todos.
- Foi por isso que os reuni aqui meus filhos.
A atmosfera era densa, aparentemente tranqüila, mas sem sê-lo. Cada poro da pele dos neófitos se concentrava no sangue que escorria dos pulsos do prisioneiro. Os lábios de cada um brilhavam e suas línguas estavam secas, desesperadas. Tinham fome. Asmodeus se dava conta disso.
- Hahaha, não desejem comê-lo meus pequenos – lhes falou carinhosamente – Tenho pronto um banquete mil vezes mais satisfatório exótico que este.
Finalmente se aproximou da cadeira de cristal negro, mas em vez de sentar-se; ficou ao lado elegantemente. Apenas havia feito isso quando um grito da parte de trás dos seguidores alterou o grupo e os fez separarem-se em dois grupos para ver quem havia sido atacado. Quando os corpos se moveram, deixaram ver a duas pessoas.
A primeira era Lilith, a mãe. Que estava sentada no chão abraçando ao neófito que gritara, seus lábios sugavam o seu pescoço. A sombra da morte começou a refletir-se neste, que se agitou em um débil intento de escapar dela, mas ao final seu corpo caiu estático até que sua pele adquiriu um tom de pedra de mármore. A força que ela aplicava sobre o corpo foi tanta que terminou por partir em dois o neófito e jogar seus restos branco pedra pelo chão. Um sorriso tímido os saudou debaixo de seus cabelos vermelhos. Ajudada por uns braços fortes se levantou em movimento suave.
Todos estavam atônitos diante daquela cena, logo seus olhos demonstravam temor e surpresa ao ver que o segundo sujeito não era outro senão Marcus, o Leão, filho dos licans. E que ia de braço dado com a mãe com muita naturalidade. Sua aparência havia mudado, e isso todos notaram. À medida que caminhava junto a Lilith rumo ao trono negro, todos viram suas novas características.
Seu cabelo, antes negro como a noite, se tornou dourado brilhante, contrastando com os reflexos de luzes na sala. Seus olhos, desprovidos de realidade e inundados de rancor, antes verdes, agora era de um azul frio que gelava o sangue dos presentes. Seu físico era ele mesmo, mas sua aura de morte havia sido substituída por um similar completo do fogo azul, que despedia poder e superioridade. Vestia uma calça de couro negro em perfeitas condições, um casaco com fecho de prata e uma camisa da mesma cor vermelha que provinha de uma essência perigosa. Sua expressão era neutra, sem emoções e Lilith alegremente se balançava com seu vestido branco de um lado para outro, fazendo-o avançar para frente.
Quando ambos chegaram, se voltaram para seu primeiro encontro. Lilith tomou a mão que Asmodeus lhe oferecia e se sentou no trono, quando suas mãos tocaram os braços do trono, seus dedos se rasgaram com os dentes afiados dos crânios debaixo deste e começaram a sangrar rapidamente por todo o assento. Tornando o escuro cristal em um vermelho intenso, e os fios de sangue correram ao redor. Todos os neófitos ao sentir o sangue no ar, gemeram de necessidade.
- Lhes faço um presente – lhes disse Asmodeus acariciando o cabelo de Lilith, enquanto em um extremo das caveiras enchia um copo prateado. – Este presente será para intensificar seu dom e espero que não o desperdicem. – Se voltou para Marcus e este levantou seu braço, com sua unha lhe cortou e o sangue que brotava se misturava com o de Lilith – Um gole para cada um.
Nicholas tomou o copo entre suas mãos quando seu pai o ofereceu. Depois de beber, o entregou a Susana e ela fez o mesmo com o seguinte, Rapidamente todos se encontravam brigando por um pequeno gole daquela bebida dos Deuses. Quando terminou, todos pareciam mais vivos, seu tom pálido mudou para um brilho renovado. Asmodeus contemplou-os satisfeito.
- Vocês gostaram? – perguntou e todos olharam para ele agradecidos, como se fosse um profeta da verdade- Então sejam bons meninos e cumpram meus desejos.
Todos desapareceram em um instante, desaparecendo como fumaça no ar, só ficando na sala os mais próximos de Asmodeus e um débil Esteban. Nicholas tomou o garoto por um braço e o levou consigo, seguido de seus fiéis. Asmodeus contemplou sua obra perfeita ao ver Marcus e lhe disse divertido o que aconteceria quando, por fim, Abel despertasse completamente nele.
Capítulo 9 – CORDAS DE PIANO
Uma musa sussurrou ao meu ouvido
Eu lhe respondi da minha maneira
Ela negou o fato de seus sentimentos
E eu a realidade daqueles.
Ela reconhecia vários rostos quando chegou ao ponto de reunião em que seria realizada a cerimônia que se daria entre os licans e os nosferatus. Vane se manteve perto de Abraham conservando distância dos que ainda se consideravam inimigos deles. O lugar que haviam escolhido para a reunião era nada menos que a Catedral de Notre Dame. Um sentimento de inferioridade encheu seu corpo ao estar na presença daquela criação tão impressionante, a primeira coisa que seus olhos captaram na entrada era nada menos que a imagem talhada em pedra de Adam e Eva sendo tentados pela serpente, quando as portas se abriram o ar quente roçou suas bochechas, acariciando-as em uma saudação até chegar a sala que estava iluminada por velas soltando um aroma místico, certamente sentiu a conexão que este lugar tinha para com os nosferatus. Os que estavam se reunindo desta vez, sem duvidas, eram os principais chefes dos Clãs, seres exóticos e ambíguos passeavam como sombras de fumaça, ou seja, contemplando o vitral de roseta e as imagens dos santos e anjos que olhavam com serenidade. Nenhum parecia preocupado, outros lhes observavam com receio esperando averiguar o motivo de sua presença naquele lugar.
- Namaste Vane – Ao ouvir seu nome se voltou imediatamente encontrando-se com Yaiza vestida elegantemente com seu sári vermelho, de braço dado com Mahoma com seu turbante branco sorrindo amavelmente.
- Yaiza! – fez uma reverencia juntando as duas mãos e eles corresponderam de igual forma.
- Salam aleikum, tanto tempo se passou desde que nos vimos, senhorita Marcel – falou o esposo de Yaiza com um sotaque marcado – É uma pena que você não seja a habibi de Daniel.
- Mahoma! – Yaiza deu um leve golpezinho no ombro de seu marido, mas seus olhos demonstraram suas verdadeiras intenções – Desculpe a sinceridade de meu marido, mas não lhe disse com a intenção de ofender-lhe.
- Eu sei... – Vane estava ruborizada e tratando de aliviar a tensão, decidiu apresentar a seus acompanhantes – Eu vim com os licans – assinalou para Adolfo, David e Abraham que os saudaram respeitosos como sempre.
É óbvio que tanto Yaiza como Mahoma fizeram brilhar seus olhos, logo assentindo se afastaram dela. Foi então que se deu conta que não só eles se afastavam, mas também os demais nosferatus que havia conhecido lhes advertiam o perigo que corriam. Abraham tentou acalmar seus nervos apertando seu ombro e sorrindo, mas ela já se sentia incomoda.
- Eles, como nós, podemos ver a sua marca da morte – lhe confirmou Adolfo sob a reprovação de Abraham – Para eles é um sinal perigoso e estar rodeada de três licans tampouco lhe da uma boa imagem a sua essência.
- Basta! Não necessitas colocá-la mais nervosa – lhe calou David – Escuta Vane, agora é a hora em que deves demonstrar a força que Marcus deixou em ti, se existe algo dele vivo, então é o momento de usar essa força.
- Eu... – estava confusa com o que Adolfo lhe acabava de dizer e ao saber que Marcus havia deixado parte de si mesmo nela, não era novidade, ela sabia desde o instante em que despertou junto a ele.
- Vane.
Quando levantou a vista viu Daniel com seus olhos azuis lhe dando as boas vindas oficial. Usava um terno branco, isso a surpreendeu, pois jamais o havia vestido assim, no entanto, lhe dava certa elegância e refinamento que as roupas escuras não proporcionavam. Ele a olhou de uma forma que a fez se voltar e ficar vermelha, ela encheu seu estomago de ar e mostrou-lhe um sorriso, ele, é obvio, não correspondeu. Aproximou-se dela e tomou as suas mãos levando-as aos lábios, colocando um beijo suave que lhe recordava o roçar de uma pluma.
- Daniel... não – imediatamente retirou suas mãos, já que havia visto a reação de reprovação por parte dos presentes, era obvio que nesse momento ela era considerada uma intrusa.
- Entendo – as palavras foram pronunciadas com um tom ferido, mas suas palavras não concordavam com suas ações, lhe tomou pelo braço e quando se propunha a levantá-la a mão de Adolfo se pôs firme no outro braço de Vane.
- Deixe-a nosferatu – os brilhantes olhos dourados de Adolfo ameaçaram sutilmente, mas foi detido por Abraham.
- Deixe que se despeçam – Vane sentiu como resvalava a mão de Adolfo e se afastava pouco a pouco do sufocante ambiente que se havia criado em só uns instantes.
Daniel a conduziu para uma sala que parecia ser o recinto dos clérigos, ele fechou a porta e lhe convidou a sentar. Permaneceu imóvel observando-a, Vane quase podia sentir como seu olhar acariciava cada parte de seu ser, a força que Daniel despendia em comparação com a dela era muito quente, ambos agora eram pólos opostos. Enquanto ele representava a fortuna, ela era a desgraça.
- Hoje tudo vai terminar – lhe olhou ao dizer-lhe – Quero pedir-lhe perdão – Daniel caminhou até ela e delicadamente ficou de pé em frente a Vane, sem o menor indicio de querer tocar-lhe – Perdão por querer abrigá-la a aceitar o que eu sinto.
- Não, você não estava... – Daniel levantou a mão em um gesto para fazer-lhe calar.
- Estou feliz de haver-lhe conhecido Vanessa Marcel – quando ela levantou a vista seu coração se rompeu ao ver a imensa tristeza nos olhos de Daniel e o sorriso pintado em seu rosto.
- Eu... também... estou feliz de haver conhecido você – Vane não sabia como, mas umas lagrimas doces resvalaram por suas bochechas e um som parecido com um soluço inundou o seu peito.
- Talvez não possamos ver-nos de novo, mas quero que saibas que se minha vida mudar hoje é por você.
- Oh, Daniel!
- Você deu a minha existência uma razão – em sua voz demonstrava o amor que não podia dar-lhe – Eu renasci para conhecer-lhe... mas ao que parece – um silencio encheu seu discurso – Ao que parece você nasceu para alguém mais.
Ela tentava não chorar e não sentir que uma parte de sua vida se afastava dela com aquele rapaz de olhos azuis, mas não podia evitá-lo. Certamente, havia chegado a querê-lo, mas não da forma que houvessem querido ambos. O sentimento de correspondência não cabia em suas vidas. Agora ele tomaria um caminho que ela não podia e não devia interferir.
- Ele é muito afortunado em ter seus laços e isso é o que mais me dá felicidade.
- Não tens por que fazê-lo...
- Eu havia decidido – Daniel ajoelhou-se em uma perna e com medo tomou entre suas mãos as dela, contemplou-a por um tempo e deixou que seus rostos se juntassem.
Daniel aproximou-se e a beijou suavemente, uniu sua mente a dela e lhe transmitiu seus melhores desejos. Imaginou que tomava entre os seus braços e a levava para longe, que fugiam de tudo e de todos. Mas, na realidade abriu os olhos e com tristeza separou-se dela. Acariciou seu rosto e desejou que se Marcus era seu eleito, este poderia voltar para ela. Soltou suas mãos e se ergueu e logo saiu com solene orgulho para enfrentar seu destino.
Lá fora se encontrava seu Clã e amigos que presenciariam sua união. Esther aproximou-se e o convidou a acompanhá-lo até o altar. Naquele lugar, vestida de vermelho brilhante e incrustados de rubis, estava Angelique, seu véu branco cobria seu rosto e uma rosa da mesma cor da pureza se encontrava em suas mãos. Daniel fechou os olhos e imaginou que caminhava rumo a sua felicidade. Quando chegou a frente a que seria a sua companheira deixou que esta colocasse a rosa em seu terno e logo ambos tomaram as mãos. Um grupo de nosferatus entre os que estavam os lideres os rodearam, fazendo um circulo, cortaram seus pulsos e os fios de sangue se foram unindo ao centro onde os eleitos para o ritual se olhavam fixamente.
Vane saiu da sala, havia secado as lagrimas e seu rosto se mostrava sereno. Ela devia ser forte, por Marcus e também por Daniel, tinha que demonstrar que em seu interior existia aquela força que lhe havia deixado viver, de que ambos se haviam impressionado. Viu com assombro como os fios vermelhos rodeavam Daniel e Angelique, se metiam entre suas mão, braços e corpos, brilhavam como se de um momento para outro a lua lhes havia conferido vida própria. Tomou-lhe um momento dar-se conta de que Daniel a estava olhando, lhe sorriu e levantou o polegar em aprovação, ele deixou de olhá-la e o iminente brilho de seus olhos se concentrou na nosferatu a qual se uniria.
- Estive só e lhe encontrei... meu sangue agora chama o seu sangue – as palavras de Daniel se ouviram por entre os presentes, Vane deixava que seu coração se oprimisse contra as paredes de seu peito.
- Estive só e lhe encontrei... eu aceito seu sangue unindo-nos em um – Angelique parecia estar rígida, seu corpo se arqueava para Daniel e seus delineados dedos aprisionavam os pulsos deste como chamando-o a não abandoná-la.
- Que os laços unidos entre ambos se selem no tempo – pronunciou Mahoma o líder dos Hilal.
Que os laços os convertam em um só coração com o mundo – Yaiza olhou para seu esposo e sorriu para o casal do centro.
- Que os laços mostrem a força dos pensamentos – Alan líder dos Da Vinci's continuou falando, ao seu lado se encontrava sua companheira uma bela garota de cabelos negros a qual Vane havia conhecido em sua primeira visita a Paris, a formosa Aline sorria mostrando seus dentes brancos.
- Que os laços unam as suas almas e as unam os espíritos de seus irmãos – disse ela continuando.
- Que os laços ofereçam paz ao seu interior – uma bela garota de cabelos alaranjados e vestida com um elegante vestuário de época cor verde seguiu com o ritual. Vane compreendeu que essa jovenzinha devia pertencer aos Mausoleuns, os únicos dos nosferatus que não havia podido vir esta noite.
- Que seus laços não se rompam jamais – um jovem de cabelos negros e pele branca, ele pronunciou o que seria a ultima frase.
Os fios de sangue começaram a brilhar mais e mais, com tal intensidade, que Vane teve que levar a mão ao rosto para cobrir seus olhos. Cores formosas surgiram dentre os fios e dançaram ao redor de Daniel e Angelique. Pareciam ser os laços das quais todos falavam, no entanto, manteriam cores brilhantes, que se misturavam uma e outra vez com cada choque que davam e levantando-se em sintonia se enlaçando para baixar sobre os corpos dos eleitos. Pouco a pouco, a luz foi desvanecendo e deixou que Daniel e Angelique, já com o véu levantado, se voltassem para a audiência de nosferatus e mostraram um sorriso de aprovação. Um imenso aplauso de parte de todos soou na catedral. Daniel tomava fortemente a mão da que agora era sua outra metade, para Vane não passou despercebido que Angelique a olhava com um sorriso brincalhão, ela passou por alto o momento e se uniu aos aplausos.
As felicitações não se fizeram esperar, Verônica se aproximou da amada de Daniel e lhe entregou uma caixinha verde, esta a abriu no instante e tirando dois anéis prateados os levantou e mostrou a seu protetor, rapidamente lhe colocou um e ela se colocou o outro. Mahoma e o grupo de lideres felicitavam o casal assim mesmo cada membro que havia presenciado o acontecimento.
- Você crê que ele será feliz? – perguntou Esther para Vane e esta sorriu.
- Ele será – afirmou esta – Porque ele merece.
A gêmea Starr se afastou e com um forte abraço felicitou Daniel, sua irmã Elena também fez o mesmo, quando chegou a vez de Isaac junto com Martha parecia haver certa tensão, mas ambos mostravam estar contentes com a decisão de seu líder, ainda que para Martha, só Vane sabia disto, seria um pesadelo pelo qual passaria. Quando Crow passou, ele tirou o chapéu negro e fez uma respeitosa saudação para Angelique, logo fez o mesmo com Daniel, não parecia dizer nada e afastou rapidamente para deixar passar os demais presentes.
Abraham incentivou ao grupo a acercar-se. Juntos caminharam entre os olhares prateados e chegaram em frente do recém casal. Daniel os olhou por um momento, sem centrar em nenhum a sua vista como antes já havia feito, quando aceitou a felicitação deixou que lhe tomassem a mão e ao chegar a vez de Vane, fez o que devia e de acordo a promessa que acabava de fazer, assim que simplesmente tomou um breve instante sua mão e a soltou como se fossem chamas azuis, não lhe olhou e fez que também saudassem a Angelique.
Capítulo 10 – A RESPOSTA
Você não apresentou seu coração
Não me disse até logo
Então eu só chorei...
Angelique aceitou a saudação de cada licaon com resignação, mas quando chegou a vez de Vane, seus olhos despenderam um enorme fogo,
seu rosto se tornou escuro e seu sorriso parecia indicar que esperava esse momento. Vane entendeu perfeitamente aquilo, no entanto, não daria o gosto para armar um alvoroço e causar um acidente, com determinação e coração retumbando em seu peito levantou a mão e foi como se o mundo se detivesse, suas mãos estavam avançando pouco a pouco.
CRACK!
O som de vidros quebrados na catedral interrompeu a saudação, uns estranhos uivos e rugidos se originaram no exterior e como se as velas soubessem o que estava prestes a acontecer, se apagaram completamente. A escuridão reinou e os sons também desapareceram, a absoluta calma era dona da situação. De repente, um som parecido a um aplauso se ouviu atrás da enorme porta, enquanto esta era empurrada por dois nosferatus e revelou um convidado não desejado.
- Nicholas.
Daniel olhou para seu irmão de clã e este parou de aplaudir observando a todos os presentes, os quais pareciam tão irritados como o anfitrião de ter aquele indivíduo na frente deles. Mas, este não lhes mostrava importância, com um sorriso cínico olhou o lugar onde se encontrava Vane que foi empurrada por Adolfo para trás de si.
- Você me ofende irmão! – Se voltou alegre para Daniel que já tinha agarrado Angelique contra ele - Não me convidou para sua união de laços, é uma pena para nós, por isso não pude trazer um presente de casamento.
- Sai agora - Daniel olhou para ele com fúria, mas este só sorriu mais enquanto seus olhos brilhavam profundamente.
- Oh vamos lá! Não seja rude irmão - Este caminhou três passos e todos nesse momento se colocaram ao redor de Daniel – Era só uma brincadeira, claro que tenho uma surpresa para você!
- O QUE VOCE NÃO ENTENDE! Vá embora! Vá embora imediatamente, você profana este lugar com a sua presença - Mahoma estava tão irritado que Yaiza teve que deter-lhe para que não avançasse sobre Nicholas.
- Mas que são corruptores em verdade - Nicholas estava tão divertido que Vane pensou que ficaria doente nesse momento, e ouvia novamente sua voz de alegria.
- Vai, você não tem direito de interromper! - Agora era Alan, o líder dos Da Vinci's que exigia que Nicholas se fosse - Talvez para você esse ato não seja sagrado, mas para nós é importante e se não tem nada de bom para fazer, você pode ir agora! Já!
- Quem lhe perguntou? - Foi a resposta de Nicholas, que agora não parecia nada divertido e muito irritado - Você não passa de escória!, não sabe o que eu sei e são tão velhos que podem tornar-se petrificados como pedras enormes e eu ainda seria jovem.
-Se você não for, eu mesmo vou ter que tirá-lo...
Mas Vane não pode mais ouvir o que Daniel tinha a dizer por que no momento em que ameaçou Nicholas, apareceram seis enormes Lokis com um aspecto feroz, igual a um grupo de nosferatus com o que parecia ser muita fome de sangue. Laura e Susana, as cúmplices de Nicholas se acomodaram ao seu lado para protegê-lo do que seria um confronto cruel.
Todos os outros começaram a murmurar e uns até a maldizer aquela situação, os tinham rodeados e com uma única saída para poder enfrentá-los. Rapidamente Abraham olhou para Adolfo e lhe deu a indicação de que levasse Vane, mas no momento em que este a tomou por um braço, a expressão de surpresa no rosto por parte dos nosferatus disse para Vane que algo mais havia acontecido.ela se voltou e viu Steban sendo arrastado por um loki até colocá-lo a disposição de Nicholas que olhou com grande satisfação por que entendia o que significava essa pessoa para ela.
- Não! Ele não! - Vane parou e se soltou de Adolfo - Você é um monstro! – seu grito ressoou em catedral fazendo eco e destruindo a atmosfera de calma.
- Você não sabe o quão monstro eu posso ser - Imediatamente agarrou a cabeça de Esteban, e colocou-a em uma posição que Vane teve que fechar seus olhos, pensando que lhe arrancaria a cabeça – Hahaha, é tão legal ver como você se preocupa por outro.
- Deixa o menino em paz – Lhe ordenou Abraham, que parecia tão irritado com a forma que via as coisas se desenrolarem, que Vane não duvidava que fosse enfrentar Nicholas se este seguisse atormentando o rapaz.
- Mas que coisa horrível Daniel - Nicholas soltou na cabeça e Esteban e ele caiu como uma bola no chão antes de ficar imóvel – Ter em sua cerimônia a estes tipos de cães sarnentos, que nojo!
- Maldito! - David estava prestes a explodir, mas Abraham deteve-o com um olhar.
- Você não pode insultar meus convidados, este não é seu problema – a resposta de Daniel parecia irritar extremamente Nicholas que franziu a testa.
- É óbvio, que os laços que o ligam a Angelique, fez uma mudança em você. - então ele olhou para ela e esta lhe respondeu com um olhar desafiador - É uma pena querida, que o seu coração jamais poderá lhe pertencer... porque ambos sabemos que ele ama outra – a face de Angelique ficou pálida e ela olhou para Vane que sentiu que todos cravavam seus olhos nela.
- Não lhe permito que insulte a minha companheira! - Daniel ergueu a voz que até então havia permanecido calma, seus olhos azuis se tornaram prata como os de Nicholas que esperava esta provocação.
- Porque você se enfurece imbecil! Se você sabe tão bem quanto eu que aquela lhe carcomerá a alma e você nunca poderá arrancá-la de sua pele - ele olhou para Vane com uma demência que a assustou – Você vai ficar louco até não saber por que você lhe deseja tanto.
- Basta! Não continue com isso! - Angelique tapou os ouvidos e se abraçou a Daniel que acariciou sua cabeça e olhou para Nicholas com uma ânsia nos olhos de querer eliminá-lo.
- Querida, eu só sou a verdade, e esta por si, se não o sabias dói mais.
- Nicholas eu não entendo a sua doente maneira de ver o que fazes, mas se você está em seus cinco sentidos, vai embora! E não nos obrigue a caçar você como nos está ordenado pelos Heralds. - Mahoma tinha
falou com franqueza, seu rosto não mostrava dar opções para Nicholas, mas este, no entender de Vane, sabia perfeitamente o que estava fazendo.
Vane não podia acreditar que este continuasse parado e tão livre naquela situação, observou aos que vieram com ele, e estes também pareciam esperar algo que ela não conseguia entender. Seus olhos brilhavam com um prateado intenso, permaneciam tão estóicos como as gárgulas desta catedral, e isso lhe assustava.
- Eu tenho uma surpresa para vocês - sua voz mudou para um tom tão cínico - Tenho certeza que estarão muito alegres em vê-lo novamente, ao contrário desse ser humano – ele deu um golpe tão forte em Esteban, no seu tronco, que Vane disse para si mesma, que no mínimo, lhe havia partido todas as costelas.
Nicholas ficou de um lado e uma figura escura começou a se aproximar de entre as sombras, com passos lentos. Caminhou até que a luz da lua iluminou seu rosto, suas feições se haviam alterado revelando alguém completamente novo, seu olhar não se concentrou em ninguém e parecia custar-lhe trabalho avançar entre os olhares dos nosferatus. Vane ficou chocada quando reconheceu a pessoa que estava procurando desesperadamente. Marcus estava em sua frente.
- Marcus! - Adolfo correu para ele, mas parou antes de avançar mais - O que você está fazendo?
- Você não é meu irmão - Adolfo olhava com o mesmo assombro para Marcus, mas, ao contrário de Vane sabia perfeitamente o perigo que se desencadeou tê-lo dessa forma. – Olha-o bem e saberás que não é Marcus.
Nas palavras de Adolfo conseguiu encontrar a voz da razão, mas apesar de Marcus se apresentar com um aspecto diferente, ainda era ele. Seu coração ainda estava reagindo, como na primeira vez que o viu, mudado e irrefreável, com uma euforia alarmante que lhe indicava quanto lhe importava aquele personagem. Seu estúpido coração sentia que devia estar ao seu lado, que ela era a sua outra metade e que ambos não deviam permanecer separados pelos caprichos cruéis do destino, que agora os enfrentava. Porque o sentimento que crescia dentro dela devastava a sua alma não poder tocar-lhe.
- É o poder da adaga - Adolfo disse aproximando-a dele - Você é um recipiente neste momento e é lógico que sinta o desejo de aproximar-se, é uma conseqüência de se ter a arma em você.
- Não! Isto não é isso - Vane queria soltar-se de Adolfo, mas este ainda a mantinha com mais força.
- Se você não puder raciocinar então eu vou ter que levá-la para a Aemília e trancá-la se necessário.
- Por que tentar parar o destino? - Nicholas fez a pergunta para Adolfo e este o contemplou com raiva - Ah! Mas olha só, sim é um Sol... que coincidência você me lembra de uma menina... seu sangue era tão doce!
Adolfo intensificou o aperto no braço de Vane e esta viu como seu rosto se descompunha revelando a dor da perda de Paula. Eles sabiam perfeitamente a forma tão horrível que Nicholas havia matado Paula e como tiveram que aceitar que ela jamais voltaria a estar ao seu lado e sorrindo. De certa forma ela se havia culpado pela morte de sua amiga, mas neste momento entendia perfeitamente, que se Paula lhe houvesse visto em um estado depressivo, lhe teria repreendido por não se concentrar no que era uma prioridade. Então, não haveria tempo para derramar lágrimas.
Ela olhou para Marcus e este parecia enfocar o chão, mas ao sentir seu olhar, olhou para cima e encontrou com os seus olhos. No entanto, não fez por avançar mais e lhe olhava como se soubesse quem era exatamente. Este momento não passou despercebido por Nicholas, que percebeu a grande atração entre Marcus e Vane, esse desejo o enlouquecia. Ele cerrou os punhos e deu a ordem que todos os seus servos estavam esperando.
- Ataquem!
Como se a ordem houvesse desencadeado um enxame de abelhas, os nosferatus e olhos pintados e os lokis se lançaram ao ataque. Os líderes dos clãs se puseram em guarda esperando o ataque, que veio diretamente sobre eles. Vane apenas pode reagir quando Adolfo a tomou pelo braço e lhe puxou afastando-a do lugar da luta. E por trás deles eram Abraham e David preparativos para o ataque.
- Leve-a para um lugar seguro e não deixe que eles a peguem! – Ouviu Abraham falar para Adolfo que parecia procurar algo entre a multidão.
Os uivos e rugidos de luta entraram em seus ouvidos e pode ver como Daniel ordenava a todos manterem-se juntos e formar o ataque estratégico contra o inimigo. Adolfo lhe estava arrastando por todo o lugar, quando pareceu encontrar um confessionário enorme de madeira e viu a oportunidade perfeita, sem preâmbulos empurrou Vane para aquele lugar e fechou a porta.
- Você não pode fazer isso! - Exigiu com raiva - Eu também pode ajudar!
- Não digas bobagens e trate de que lhe machuquem – Sem mais, a deixou e correu para ajudar aos seus companheiros que já estavam dentro da batalha.
Os ataques foram letais, sangue e membros começaram a aparecer ao redor da sala. Vane viu como os nosferatus de Nicholas eram protegidos pelos lokis que não hesitam em atacar aos demais com uma força impressionante. Mahoma foi atingido por um deles, que rasgou suas roupas, fazendo uma enorme piscina de sangue, Yaiza veio em seu auxílio e rapidamente jogou para longe de seu companheiro o loki, ambos se tomaram pela mão e continuaram a defenderem-se. Daniel e seu clã atacaram estrategicamente, as gêmeas Starr se moviam com tal sincronia que os mantinha distraídos os lokis fazendo-os chocarem-se entre eles, enquanto Isaac e Martha detinham
o ataque dos nosfetatus com o que parecia ser um campo de força
criado entre ambos, então Crow saia das sombras e os atacava diretamente, fazendo-os cair em instantes, Daniel e Angelique agora que estavam unidos, pareciam ter ganhado uma força impressionante pelos dois, ambos destruíam em segundos a quem se atravessasse em seu caminho, um tomava de um lado o nosferatu e o outro se encarregava da imobilização e atravessar seu coração diretamente. Ele começou procurar os licans que vieram com ela, se encontrou com Abraham e David que tinham adquirido sua forma de ataque, mas Adolfo ainda não se transformara por alguma razão. Em meio a toda essa confusão se encontrava Marcus, no centro, estava imóvel e com os olhos fechados, era como se os ataques não fossem de sua conta, havia algo que o estava mergulhando em uma concentração absoluta, a sua maneira de respirar era lenta e pausada de forma que era o único naquele lugar que destoava.
- Veja o que eu encontrei! - Os olhos de Nicholas lhe tiraram da sua contemplação e teve seu arrepio do corpo – Que licans tolos, isto não pode me deter - como se a porta sólida de madeira não fosse mais que uma pluma, ele a arrancou de forma estrepitosa – Vem aqui... não vou lhe machucar.
- Não! - Vane se agarrou ao outro lado do confessionário - Deixe-me em paz! - Exigiu.
- Você e eu temos muitas coisas pendentes - Nicholas sorriu mostrando os dentes e estendendo a mão para pegá-la.
Uma batida forte foi ouvida quando Abraham chocou contra o corpo de Nicholas afastando-o de Vane e fazendo o confessionário ser arrancado do piso caindo de lado com ela dentro. Vane se arrastou para fora do lugar, se levantou e Abraham estava ao seu lado olhando na direção de Nicholas que tinha caído, este ria com humor e se levantou com o que parecia ser enfado em seu rosto.
- Você vai se arrepender disto lobo idiota - cuspiu sangue pela boca com desdém, no entanto Abraham rosnou respondendo o seu comentário.
Nicholas se moveu tão rápido que ela mal pode contemplar quando agarrou uma pata de um lobo e jogou-o contra uma parede destruindo parte do lugar, entretanto Abraham levantou-se em segundos e correspondeu com outro ataque. Enquanto observava aquilo e tentava entender como estava acontecendo, sentiu os olhos de alguém sobre ela, girando lentamente se voltou e quando viu Marcus olhando para ela, todo o resto desapareceu, só havia ele e ela. Com decisão começou a mover-se entre os ataques, mas a sua vontade de chegar a ele foi ainda mais forte do que antes. Necessitava dizer-lhe que não estava sozinho, que ela entendia e que acontecesse o que acontecesse sempre haveria outra chance.
Quando chegou na frente dele, ambos se contemplaram. Depois de todo esse tempo eles voltavam a encontrar-se, o coração de Vane batia alarmante e pareceu querer sair de seu peito. Seus poros tornavam a pele mais sensível e quase podia jurar que estava no lugar certo. Marcus seguia sendo ele no seu interior e ela tinha que encontrar uma maneira de trazê-lo de volta. Ainda tinham um trato entre eles e este não se cumpriu.
- Marcus? - Ele olhou para ela, quando ela chamou o seu nome, mas seus olhos azuis pela mudança, agora brilharam com um dourado intenso que lhe avisou o que viria a seguir, ele levantou o braço e revelou umas afiadas unhas que se haviam estirado, como cinco punhais prontos a cair sobre ela. Ela não poderia fazer mal a Marcus, por isso esperou pelo ataque fechando os olhos quando viu descer este ataque sobre ela.
- Vane! – O grito de Daniel foi ouvido e em seguida, apenas um silêncio sepulcral se apossou daquele momento.
Alarmada olhou para ver o que tinha ocorrido, em frente a ela estava Adolfo que segurava o punho de Marcus e detinha o ataque, com um movimento rápido agarrou seu irmão e atirou-o contra uma estátua que estava perto de um confessionário, esparramando o corpo enorme de Marcus naquele lugar. Então ele virou-se para Vane e notou que ela estava confusa com o que tinha passado.
- DANIEL NÃO! - A voz de Angelique fez Vane olhar para onde estava a mulher e o que encontrou foi Daniel jogado a alguns metros de distância dela e com feridas abertas que o fizeram sangrar.
- Daniel! - Vane quis se aproximar dele, mas Adolfo a deteve novamente, mas desta vez ela bateu nele com vigor, estava desesperada para ver o que tinha acontecido – Solte-me! Eu tenho que ver.
- Você não percebe que a culpa é sua! - Ele sacudiu-a e a fez voltar para onde se encontrava Daniel, que era atendido por Martha, que ao notar o estado deste, parecia não estar nada contente e se dirigiu a Vane com raiva.
- É melhor você se vá! Ou eu mesma vou arrancar sua cabeça - rugiu furiosamente - e você não chegue perto dele!
- Mas...
- Saiam! – Ela ordenou, segurando a cabeça de Daniel em seus braços - Se Angelique lhe segue vendo ele sofrerá mais, estúpida!
Vane olhou para Angelique e esta estava chorando com um olhar de horror pelo que havia acontecido com ele, se sacudia freneticamente ao lado de Isaac que a controlava e lançava um olhar de desaprovação para Vane. Foi assim que entendeu que Daniel só queria protegê-la, mas esse pensamento chegou à mente de Angelique e inadvertidamente causou este colapso antes que ele pudesse fazer algo por Vane. A união de laços fez Daniel pagar caro por um só pensamento para ela. Envergonhada se afastou com uma enorme vontade de chorar, já que o que aconteceu com Daniel foi o resultado do que ele ainda sentia por ela.
- Vamos embora – a voz de Adolfo parecia tão distante, este se transformou e se abaixou para ela montar em cima. Vane olhou pela última vez para Daniel e com o coração partido tinha que fazer o que era correto.
Adolfo começou a correr quando sentiu que ela estava montada sobre ele, passou entre o que parecia uma derrota para os servos de Nicholas. Antes de sair, ela assinalou para Esteban e ao passar ao seu lado Adolfo o recolheu com seu focinho e o fez cair sobre seu lombo, desta forma Vane e Esteban iam juntos. Quando olhou sobre seu ombro viu que se distanciavam rapidamente do lugar e também que Marcus na entrada tinha um semblante tranqüilo pois deduzia que ela não voltaria a enfrentá-lo esta noite.
- Adeus Marcus.
Capítulo 11 – SUSSURROS NOTURNOS
Ela representa meu coração
Toma posse de minha alma
Explora os meus desejos e
Adora respirar
Os olhos fechados de seu amigo se removiam inquietos, talvez estivesse sonhando ou recordando e isso inquietava a sua alma. Seu emaciado aspecto revelava o dano físico que lhe haviam proporcionado, entretanto, seguia conservando aquelas características que uma vez lhe foram gratas. Seu cabelo avermelhado e as sardas espalhadas como minúsculos insetos que se haviam apagado, o seu rosto demonstrava o tanto que estava machucado. Ainda permanecia dormindo desde a noite anterior e não mostrava sinal de querer levantar-se, no entanto, ela rezava para que voltasse desse mundo de sombras que agora se misturava com sua realidade.
- Eu sinto tanto Esteban. – Tocou em sua bochecha e colocou outro pano molhado para baixar sua febre, havia cuidado dele a noite toda em seu quarto de hotel, e apesar de sentir cansaço extremo não queria sair do seu lado.
- Ele ainda não acordará – Adolfo apareceu na entrada do quarto apoiado na porta, apesar de haver lutado na noite anterior, esta manhã seu porte era igual, impecável.
- Então ficarei aqui até que abra os olhos – lhe respondeu secamente – Talvez para você a vida de meu amigo não valha nada, mas para mim é importante.
- Eu lamento, mas não posso deixar que você caia de exaustão. – O licaon era tão teimoso como sempre, algo nele fazia perguntar-se se algum dia eles poderiam ficar bem. - Amanhã partiremos para a Inglaterra e se teu amigo não responde, então terá que ficar aqui.
- Mas o que você está dizendo? – Vane ficou enjoada ao lado de Esteban, estava cansada e tensa, e era bom que agora Adolfo quisesse decidir por ela. – Escute-me bem, não me importa se você acredita que sou a causa de tudo o que tem acontecido! Mas não vou deixar meu amigo! Não vou permitir que alguém a quem quero permaneça só, e se você não pode aceitar isso, então, temos um problema!
Ele parecia estudar cada uma de suas palavras, Vane estava farta de lhe dizerem o era melhor, algo nela havia despertado quando viu o perigo que significava deixar Esteban, não permitiria que alguém mais saísse ferido. Adolfo lhe contemplava com um brilho particular em seus olhos, era como se recordasse certa expressão nela que antes havia visto em alguém a quem amava. Nesse momento, se deu conta que a escritora havia crescido mais do que se imaginava, aprendendo em cada batalha e erro, fazendo-a mais sabia e aguerrida. Abriu a porta e lhe olhou antes de sair, Vane tremia as pernas, mas não permitiria que nada mais lhe arrebatasse suas opiniões, estava pronta para ajudar aos que amava.
- Algo em você me recordou a ela...
Não era necessário perguntar a quem se referia, ambos sabiam que uma garota havia feito o mesmo que Vane antes de deixar a um amigo só. O rosto do licaon se encheu de melancolia e olhou para a janela, como buscando respostas a tudo aquilo que lhe importava, sem encontrá-las. Logo se voltou para Vane, mas antes de poder dizer-lhe o que estava pensando, sua expressão mudou completamente olhando atrás dela algo que seus olhos não podiam dar explicação.
- O rapaz está... – Vane se virou para a cama ao ver Adolfo enfocar para esse lugar e se encontrou com um Esteban desperto, erguido e com uma expressão de medo em seu rosto.
*****
- Rápido tragam mais sangue! Movam-se todos!
Martha estava dirigindo os serventes de Daniel, este estava muito mal e a noite não havia bastado para salvá-lo, a hemorragia não se detinha e as feridas pareciam não querer fechar-se. Haviam levado Angelique para outro quarto e tinham a inquietude do que poderia suceder ao seu líder. Isaac e Crow não se encontravam nesse momento, e só as gêmeas Starr tratavam de fechar as feridas colocando fios de seu sangue ao redor, sem conseguir grandes resultados. Quando Daniel voltou a cuspir sangue por sua boca o desespero se podia ler no rosto de todos os presentes.
- Está muito mal, não sei se poderemos seguir neste ritmo! – Chiou Esther que não continha as lágrimas de desilusão.
- Acalme-se e volte a fechar essa ferida! – Dimas segurava as pernas de Daniel para que este não se agitasse tanto - Elena fecha a ferida que está na garganta e limpe a sua boca.
- Martha! Onde está esse sangue? – Verônica tinha um recipiente cheio de panos ensangüentados.
- Já mandei buscar, você não escutou? – lhe respondeu esta lhe fulminando com o olhar – Eu também estou muito preocupada com ele, isso não é normal.
- Por que não trazem Angelique? Ela pode dar-lhe o seu sangue e fechar as feridas, é a sua companheira e é capaz de curá-lo. – Elena seguia limpando as feridas, mas estas se abriam com um simples toque.
- Se trouxermos Angelique, a única coisa que conseguiremos é que Daniel sofra mais – Lhe advertiu Dimas que limpava as mãos ensangüentadas. – Nossa única opção é seguir dando-lhe transfusões.
- Mas não podemos deixá-lo morrer! – Lhe contestou Esther com desespero.
- Eu acho que isto só aconteceu por permitirem que essa escritora assistisse a cerimônia. – Dimas dizia aquelas palavras com grande censura. – Devia abandonar o sentia por ela em vez de tratar de protegê-la.
- Daniel não é culpado de nada! – Esther defendeu ao seu líder com determinação – Você não é ninguém para julgar o que sente ou não por alguém.
- Depois de todos estes anos ainda segue sendo tão imatura como sua irmã. – As gêmeas Starr o olharam com suspeita ao ouvir aquelas palavras.
- Desculpe-se agora mesmo com elas Dimas. – Martha estava ao lado dele e obrigou a olhá-la no rosto – Se Daniel ouvisse o que acabas de dizer lhe daria o que merece, mas como ele não está em condições, se você não se desculpar eu o farei com gosto.
- Como se atreve a falar assim? – gritou Verônica jogando o recipiente e deixando que o sangue se espalhasse por todo o chão.
- Calma cherí – Dimas sorriu para Martha e em seu rosto se podia refletir o que pensava nesse momento, com muito cuidado deixou Daniel e ficou na frente dela. – É patético que trate de ocupar o lugar que corresponde a outra, mas eu lhe compreendo e por isso trato de que entendas isto... você jamais chegará a ser importante em sua vida e seguirá sendo só uma mancha em sua história. – Martha conteve a respiração e apertou os punhos ao sentir-se ofendida, Dimas lhe sorriu e convidou Verônica a sair do quarto. – Creio que este assunto já não nos corresponde, assim que pode se encarregar disto sozinha.
As gêmeas Starr e Martha necessitaram de todas as suas forças para não responder-lhe como ele merecia, mas tomaram em conta Daniel e sua situação. Dimas era parte importante de seu clã apesar de ser tão desagradável, e tinham que suportá-lo pelo bem da missão que lhe haviam encomendado, era o único rastreador que conheciam, e se não estava com eles bem podia estar contra eles eventualmente. Dimas tomou a mão de sua companheira e quando se dispunha a sair a porta se abriu deixando-o congelado na entrada, por que a pessoa menos esperada o olhava com reprovação total.
- Você ia a alguma parte Dimas? – a voz de Gabrielle era suave e aveludada, como as pétalas de uma rosa, seus olhos azuis reconheciam o quarto e viram os resultados fracassados delas para tratar de salvar Daniel.
- Ga...Gabrielle! Não lhe esperávamos. – Este se fez de lado e deixou passar a Herald que vinha acompanhado de Isaac e Crow, que pareciam estar muito aborrecidos com Dimas quando passaram ao seu lado. – Sinto que tenhas ouvido nossa discussão eu...
- Dimas na realidade não me interessa suas desculpas – Gabrielle o olhou com aqueles olhos gelados que indicavam que um nosferatu deveria ficar calado. – Se estou aqui é porque Daniel necessita de minha ajuda.
- Obrigado por vir minha senhora – Martha fez uma reverencia e tomou a mão da Herald que assentiu sorrindo.
- Não se preocupe querida, Isaac fez um grande trabalho ao contatar-me, era o melhor, antes que seguissem tentando coisas inválidas com Daniel.
- Eu sei, mas não sabíamos como deter a hemorragia, o sangue novo não pode entrar no seu sistema e o rejeita, temo pelo bem estar de meu líder.
- A resposta é simples Martha, teu líder não necessita qualquer sangue. – Gabrielle fez com que as gêmeas se retirassem e ficassem ao lado de Daniel que respirava com dificuldade, movendo seu corpo com intermináveis tremores. – Que bom que cheguei a tempo amigo.
Sem perder tempo, a Herald fez um corte em seu pulso com uma de suas longas unhas brancas, o sangue vermelho surgiu pouco a pouco até converter-se em um fio de vida que brilhava até tornar-se prateado, Martha levantou Daniel, para que ele pudesse receber o sangue de Gabrielle em seus lábios diretamente. Quando o doente sentiu o calor da vida de Gabrielle entrar por sua boca, abriu os olhos de maneira surpreendida, seus brilhavam reconhecendo o liquido que lhe estavam dando, para acalmá-lo Gabrielle lhe sorriu assentindo e este começou a sugar o sangue que lhe era dado. Ao cabo de algum tempo soltou seus lábios e suas extremidades começaram a agitar-se mais, Daniel agarrou o braço de Gabrielle e o apertava com força enquanto sua dor ia aumentando, as feridas se fecharam pouco a pouco e seus olhos voltaram a ser tão azuis como o céu, em um instante ficou imóvel e caiu em um profundo sono.
- Meu sangue lhe ajudará a curar, amanhã estará melhor – Gabrielle se levantou fechando a ferida no pulso. – É uma lástima que não possa receber o sangue de seu criador, mas sou o mais perto que tem, assim vocês devem evitar que Daniel volte a cair em um estado semelhante.
- Por que o sangue humano não o estava ajudando? – lhe perguntou Martha confusa.
- Daniel não necessitava alimentar-se, ele precisava curar-se e para isso é necessário um tipo de sangue diferente, mais poderoso, que possa ajudá-lo a regenerar esses ferimentos internos.
- Muito obrigado Gabrielle – Isaac se despediu dela e esta assentiu relaxando. – Sem sua ajuda não sei o que teria acontecido, a força dos laços unidos é demasiado poderosa.
- Certamente que é – Gabrielle deixou que Crow lhe abrisse a porta antes de despedir-se – Ainda assim é um milagre que ele esteja vivo, de qualquer forma creio que é tempo de chamar aos meus irmãos para terminar esta situação.
- Mas e se forem atacados de novo? – perguntou Dimas.
- Não podemos fugir toda a vida e se é nosso destino perecer, então o faremos lutando.
- Então nós estaremos aí para qualquer coisa que se apresente, contem conosco.
- Sei bem que vocês fariam o mesmo, agora tenho que regressar. Descansem e se preparem por que a batalha será muito dura.
Estela e Esther se acercaram de Daniel com alivio refletindo em seus rostos, ambas terminaram de limpar o sangue que havia ficado em sua pele branca. Martha e Isaac se olharam entendendo qual havia sido o perigo de perder Daniel, pois não simplesmente cairia só, cairiam todos eles, pois dependiam da sua proteção, se algo acontecesse com seu líder seria refletido neles. O importante agora era evitar que voltasse a ocorrer o mesmo ainda que tivessem que infringir certas normas contra uma humana que estava destruindo seu clã.
Capítulo 12 – A ROLETA
Não temo de novo ao que dirão,
Não me ofendo por pensar em ti
Se meus pensamentos fossem beijos
Estaria enfastiado deles
O céu estrelado da noite era presente naquela paragem longínqua, a neve caia com pequenos flocos como na ultima vez que haviam sido atacados por um ser desconhecido, contemplou o modo que as arvores se estremeciam com cada caricia do vento e como este lhe sussurrava ao ouvido o que passava em sua ausência. Tudo havia começado por sua covardia, implicando as pessoas que agora não podiam retornar no tempo e mudá-las, a dor que se desataria seria terrível e ele não pode entender a emoção que estava arrebatando o seu ser o frustrava e lhe carcomia como um animal faminto de justiça. Era vergonha o que não lhe deixava tranqüilo. E o pior de tudo é que sabia o que era que devia fazer para mudá-lo. Ainda lhe doía afastar-se de seus seres queridos e fazer cumprir com seu destino era o que o levaria a salvá-los, antes que fosse tarde.
- Irmão? – Eva chegou nesse instante, tão bonita e perigosa como a mãe de ambos, inclusive uma vez havia chegado a perguntar se ambas não seriam a réplica uma da outra.
- Eva... O que você faz aqui? – Seth a olhou consternado, pois quando ela centrou seus formosos olhos azuis em cheio nele, o que pensava fazer.
- Seth, não pode salvá-los a todos – Ela se aproximou um pouco, mas ele se afastou obstinadamente.
- Não entende o que eu estou passando agora – lhe recriminou – Todos estão sofrendo, inclusive, a natureza está chorando, não posso evitar de escutar os sussurros dos seres vivos, são como canções fúnebres que me atormentam no tempo.
- Esta escritora agora tomou o seu lugar, deixe que morra, mas não saia do nosso lado! – Talvez Eva fosse egoísta com seus desejos, mas Seth sabia que o amava tanto que preferia ver morrer a todos os seus filhos antes que machucassem a sua família.
- Não posso fazer o que você está me pedindo.
- Não é seu destino ser eliminado como pensa, pode mudá-lo se assim o desejar.
- Não é bom brincar com o que você não pode controlar, irmã.
- Mas...
- Quero ficar só um momento – Seth lhe deu as costas e ela resignada baixou a cabeça e se foi, quando sentiu que não estava perto olhou em direção ao seu destino, pediu aos espíritos que planejasse fazer servisse de algo ou tudo estaria perdido. – Eu na verdade não quero morrer.
E com a seguinte brisa desapareceu daquele lugar, dirigindo-se para onde começaria a diferença de todo este enfrentamento. Asmodeus aprenderia que ele também podia jogar o seu jogo e com maior probabilidade de ganhar, pois podia ver o que viria depois de tomada a sua decisão.
*****
O templo dos Heralds tremeu diante da presença de Asmodeus. Seus dois acompanhantes olharam o lugar que antes havia resguardado Adam e Eva, os filhos indesejados de sua amada. Ainda agora eles não encontravam o símbolo de poder e proteção, seguia sendo impressionante. A essência do mesmo lugar podia adoecer de euforia a quem admirasse os quatro espelhos restantes e os tronos de gelo que se levantavam imponentes para eles. Marcus se adiantou e se colocou no centro do circulo que refletia diretamente a lua sobre sua cabeça, o chamado de seu sangue era o que lhe atraia nesse lugar, como mariposa para a lua.
- Creio que é hora de fazer uma remodelação, não é mesmo, meu amor? – Lilith ouviu suas palavras e fazendo brilhar o seu olhar destruiu em segundos os quatro espelhos deixando-os imprestáveis como se seu duro material só fosse um pré-aquecimento. – Muito bem feito, e eu gostaria que você também destruísse os de lá – assinalou os tronos partidos pela metade – Mas agora necessitamos outro pequeno movimento.
Pegou o braço de Lilith e se encontraram com Marcus que não reparava em sua presença. Logo Asmodeus fez que este lhe deixasse pegar seu braço esquerdo, fez um corte fino neste e logo em Lilith quando o sangue de ambos se misturou começou a cair por todo o gelo e neve do chão, tão bonito como um mar de rosas expandindo-se por um campo de nuvens. O sangue correu por todo o circulo sagrado até banhá-lo por completo, quando tinha terminado, deu a indicação a Marcus que se retirasse com Lilith. Asmodeus saiu do circulo e com um sorriso de satisfação diante do que fez, começou a rezar uma oração, quando terminou o reflexo da lua brilhou tremendo de forma espontânea, as rachaduras romperam o grosso gelo e destruíram o circulo de proteção, deixando ruínas em seu lugar.
- É hora de irmos, quando eles chegarem, receberão uma grata surpresa.
Marcus seguiu obediente carregando em seus braços Lilith que olhou aquele lugar e com seu poder fez que este começasse a ruir coluna por coluna, quando saíram da destruição se abraçou mais a Marcus e caiu em profundo sono, ele por sua parte deu uma ultima olhada nessa construção sagrada e sem dar-lhe maior importância se afastou junto com Asmodeus.
Capítulo 13 – VENENO AMARGO
Que tragédia a minha!
Se minha alma se apropria de você
Minha razão se perde naquele labirinto
E o sol oculta meus pesares.
Esteban não parecia reconhecê-la, havia reagido violentamente quando Vane tentou aproximar-se dele, logo, como se todas as recordações se esmagavam em sua cabeça, gemeu lastimosamente e se deixou cair na cama, seus olhos permaneceram fechados e apertados, querendo parar cada instante de dor que recordava haver passado. Seu rosto mostrava desespero por abandonar-se e não querer enfrentar a realidade, no momento em que ficou tranqüilo Vane caminhou até chegar ao seu lado, apesar da advertência de Adolfo.
- Esteban, você pode me ouvir? – Ele abriu os olhos e quando a viu se afastou dela tremendo e negando uma e outra vez dom a cabeça – Sou Vane, tua amiga, lembra?
- Vane... Não! Não! Não! – gritou e jogou a luminária contra ela que conseguiu esquivar-se.
- Não lhe machucaremos Esteban, nunca deixarei que voltem a lhe machucar. – Vane deixou que visse suas lágrimas e quando ele reparou nelas seu desespero parecia diminuir e tratar de entender o que ocorria.
- Vane? Esteban viu que se encontrava em outro lugar, seus pensamentos começaram a se reorganizar dentro de sua cabeça e ainda dolorosos fizeram que reparasse na garota que tinha em frente a si, a qual havia estado esperando. – Vane! É você, graças que estás bem! – Ele parecia estar muito alegre de poder tocar-lhe e ver-lhe. – Quando você se foi, todos, por alguma razão, começaram a esquecer e só eu lhe recordava vivamente, eu não queria lhe perder, porque sabia que algum dia nos encontraríamos de novo.
- Esteban! – Se abraçaram sem se importar que Adolfo estivesse observando. – Quanto sinto que você tenha que ter passado por tudo isso.
- Eles diziam que estavas morta! – Seu amigo a apertou mais contra si – Mas algo me dizia que você não podia morrer até cumprir sua palavra de regressar.
- Não posso imaginar o que você viveu nesse lugar.
- Era terrível, o sangue e todas as pessoas mortas, ai! – Esteban tocou a testa pela dor que lhe custava recordar – não sei o que me acontece.
- A tortura fez que suas recordações se fechassem em sua mente, se poderia dizer que se serviram da debilidade que há em você como ser humano para manipular suas memórias. – Adolfo falou de tal forma que Vane e Esteban assentiram surpreendidos, - No entanto, o que recordas poderia servir de ajuda.
- Recordas de algo mais? – lhe perguntou Vane.
- A verdade é que agora tudo está muito confuso, sinto que se tento me lembrar, minha cabeça explodirá.
- Então deve descansar por agora – levantou-se, mas ele tomou sua mão desesperado.
- Fique por favor... – Esteban a olhou com suplica e ela não pode negar-se, havia muitas coisas para responder.
- Adolfo, podia?
- Bem, estarei com Abraham falando sobre isto. – O licaon saiu daquele lugar deixando-os sozinhos.
- Você mudou muito. – Lhe disse seu melhor amigo e Vane tocou instintivamente o cabelo curto, mas este lhe sorriu. – Não me referia ao seu aspecto, senão ao seu modo de ser, eras mais considerada.
- Não sei. – Ela tratou de recordar as vezes em que havia feito Esteban se irritar por sua obstinação e não podia mais que suspirar ao reconhecer que era certo. – Tudo saiu do controle.
- Onde está Marcus? – a pergunta de Esteban fez que em seu estomago sentisse um enorme vazio.
- Agora é ele quem necessita de mim.
- A que você se refere?
- Eu compreendi que a vingança não é tão simples como uma vez pensei. – Vane conteve umas lagrimas e a enorme vontade de contar para Esteban tudo o que havia acontecido nesse tempo, mas seu orgulho a impedia, seu amigo não devia seguir sofrendo por ela.
- Na verdade sempre me preocupei muito com você – Ele tocou seu rosto e ambos sorriram recordando sua grande amizade. – Por você eu faria qualquer coisa, até escalar montanhas e navegar mares mais perigosos, só para lhe encontrar.
- Eu também o faria.
- Creio que seria bobo de minha parte se lhe pedisse que voltasse comigo e esquecesse tudo isto.
- Tenho que ajudar Marcus. – A determinação no olhar de Vane foi a aprovação por parte de Esteban que logo compreendeu os sentimentos de sua amiga.
- Espero que possa falar... sabe algo, eu sabia que não voltaria.
- Por que você diz isso? – Ainda que ela já tivesse a resposta não pode evitar perguntar.
- Algo em seu olhar me disse que para você é muito duro voltar.
- Eu lamento.
- Não! Por favor, não me interprete mal, estou feliz de saber que está bem. – Seus olhos enfocaram a cicatriz no rosto de Vane, resultado do ataque anterior de Marcus. – Mas sempre me preocuparei por você, me preocupava de que ninguém, exceto eu, recordasse de você e sua família, até Betty se esqueceu de você.
- Obrigado Esteban. – Vane tomou suas mãos e o olhou com os olhos a ponto de chorar. – A força do pensamento de voltar para casa, porque você me esperava, me salvou muitas vezes e tudo isso foi porque você não saiu de meu pensamento, eu sou muito agradecida a você.
- Espero que possa ser feliz. – Esteban beijou suas mãos – Eu também serei feliz, agora entendo que, na verdade, o que sentia por você se tornou um sentimento maior cada dia e se converteu em amor fraternal.
- Eu sempre lhe quis dessa mesma forma.
- Então, agora poderia dizer-me que não está só, espero poder ajudar-te.
- Creio que teu amigo poderia ter algo de razão com respeito à ajuda. – Abraham se apresentou nesse momento, junto com Adolfo olharam de maneira penetrante para Esteban que se sentindo intimidado sorriu. Vane se voltou para eles e parecia estar tratando de encarar as palavras de Esteban com as de Abraham.
- A que se refere?
*****
O espelho mostrava seu lado escuro e a vista da noite, ocultava seus segredos e revelava outros, sempre quieto e esperando ordens, refletia a verdade e a transformava em mentira, havia sido feito para o uso de um ser afortunado e, por conseguinte, era tão poderoso como seu dono. Entretanto, também era fiel ao seu criador. Este atravessou sua superfície com muita facilidade, os pés daquele individuo pousaram na superfície do castelo, o espelho se agitou antes de voltar ao seu estado normal e permaneceu silencioso, esse era o caminho entre os corredores daquele lugar, sua presença parecia fantasmagórica, sua essência não se fazia notar e caminhava com a mesma sincronia que seu coração palpitava. Quando chegou ao quarto especial sorriu e sem esforço rompeu a fechadura que impedia a passagem de estranhos, o escudo se dissolveu como areia entre suas mãos deixando plena liberdade para que este passasse.
Alaska estava sentado sobre a cama, quando viu entrar essa pessoa, seus olhos não refletiam surpresa, mas sim, resignação. Aquele ser representava sua liberação e também o seu fim, viu como a capa que este usava se agitava lentamente com seus passos, como se flutuasse no ar, esta pessoa era tão perturbadora como nunca conheceria outra. Tão estratégico e misterioso, que nunca poderia entender o que passava por sua mente. Era perigoso e estava aí para terminar sua existência. Levantou-se e deixou que se aproximasse para vê-lo melhor, era como se a morte inspecionasse a sua presa antes de apoderar-se dela. Um calafrio percorreu-o ao sentir seu toque em seu rosto e revelou o muito que lhe temia, e agora era demasiado tarde.
- Demorou muito. – Lhe disse sem parecer recriminar, era simplesmente como recordar-lhe o tempo que significou estar aí encerrado.
- Mas eu vim, não é verdade? – lhe sussurrou este com um sorriso.
- Sim, você chegou por fim. – Alaska sentiu como se algo atravessava seu peito, logo na mão de seu verdugo, seu coração palpitante deixou de bater e ele sumiu em uma escuridão perpétua e libertadora, entretanto, desejava que seu sacrifício ajudasse a sua pessoa amada.
Asmodeus viu cair o corpo de Alaska sobre a almofada e como este se convertia em poeira branca, seu coração também foi destruído e deixou o rastro do que caia deste ser atrás de si, quando saiu daquele quarto. Quando cruzou os corredores notou que Daniel estava curando-se rapidamente e seu poder se incrementava, um sorriso cruzou por seu rosto de novo e quando chegou em frente a Narciso escapou para a segurança das sombras.
Capítulo 14 – RECORDAÇÕES TORMENTOSAS
Eu não te desejo mal meu coração
Mas meus pensamentos lhe destroem e
Aferram-lhe a mim.
Aquele quarto encerrava suas recordações, as juntava como um filme antigo e os mostrava para deixá-lo vulnerável, o filme não deixava de passar, tão antigo como seu dono, os rostos de seres amados em outro tempo só podiam irritar no presente. Sorrisos e saudações, beijos e abraços que essa gente mandava para seu espectador, eram como pequenos presentes que deixaram na sua memória. Ninguém imaginou que essa época de felicidade acabaria e que a tortuosa morte chegaria para acabar com todos, e com ele a maldizer-lhe a ela. O filme em preto e branco terminou de forma cortante e o rolo deixou de dar voltas até que eu uma mão feminina o parou, tirou e deixou na mesa ao lado.
- Faz muito tempo que não via seus rostos. – Lhe disse seu irmão quando sentiu sua presença – Agora já quase não lhes recordo, são como um sonho do qual não desperto.
- Eles nos amavam. – contestou sua irmã aproximando-se do respaldo da cadeira, colocou suas mãos nesta e olhou para a tela em branco. – Essa imagem me recorda esse dia.
- Odeio a neve. – A voz lhe parecia irritada, cansada e furiosa. – Se nos houvessem amado, estariam vivos como você e eu.
- Eu prefiro que estejam mortos agora. – Sua irmã acariciou seu cabelo. – O sobreviver só nos trouxe mais dor desnecessária, Alexis.
- E você que pode saber? – Ele a olhou com aqueles olhos azuis que lhe recordavam tanto sua mãe, ambos haviam perdido mais que suas almas nessa noite. Se ele não houvesse insistido ela não estaria viva tão pouco.
- Papai não haveria desejado isto para você e para mim. – O olhou com indulgência apesar de saber que seu pai havia tratado de salvar-lhes. – Por isso nos amava tanto que pôs seu nome em nós dois.
- Agora isso já não importa Anni, os cinco estão mortos.
- Essa garota lhe recorda nossa mãe, verdade? – Alexis ficou tenso no sofá e não contestou a pergunta. – Mas ela não pode ser nossa mãe.
- Entendo e não é por isso que a quero perto de mim. – A amargura em sua voz mostrava o doloroso que era recordar para ele. – Nossas irmãs eram boas, por que nos fizeram tanto dano?
- A crueldade dos homens não pode medir-se com palavras Alexis. – Ambos se tomaram as mãos como naquela vez, o som das balas atravessando seus corpos era tão vivo que a medida que recordavam, ambos guardariam esses segredos.
*****
- Pai!
O grito de sua filha fez Caim sair da caverna alarmado. Ela corria para ele com lágrimas nos olhos e seu rosto angustiado. Temia o que seus lábios iriam revelar. Adam alcançou a sua irmã a abraçou. Juntos chegaram a presença de seu pai e esta, ainda consternada tratou de explicar o que havia acontecido, ainda que Caim já soubesse.
- Seth foi embora! Temos que fazê-lo voltar! – lhe disse desesperada – Ela o matará se o encontrar!
- Filha, nós não podemos fazer nada, seu irmão já tomou uma decisão.
- Não pode estar falando sério, é seu filho!
- Você é que não entende o doloroso que tem sido para seu irmão afastar-se de nós.
- Pai, minha irmã tem razão, se a mãe encontrar Seth, jamais voltaremos a vê-lo. – Adam apesar de ser o segundo filho era todo ao contrário de Eva, era a voz da razão, os laços de mente nele eram mais fortes que os laços de força que sua irmã revelava.
- Se Seth decidiu lutar então não há como impedi-lo. – Caim endureceu sua expressão ao ver seus dois filhos maiores temerem por sua mãe. – Se permanecerem aqui, tratando de esconder-se dela, então, deixe-me dizer-lhes que vão sentir-se muito infelizes ao ver como seu irmão luta por seus desejos e vocês afundam no desespero.
- Eu sinto tanto. – Eva abraçou seu pai e este acariciou seu belo cabelo louro platinado, tão fino e belo como a lua.
- Sei que você tem que ser forte. – lhes disse – Eu tenho que partir também, talvez algum dia nós possamos encontrar-nos de novo, talvez decida morrer em algum momento, mas lhes juro que a vocês não acontecerá nada, eu lhes prometo.
Dizendo isto beijou a sua filha na bochecha e ao seu filho também, os três se abraçaram e logo ele desapareceu na noite, sem deixar rastro de haver existido nesse lugar. Adam tomou a mão de Eva e esta com pesar na alma, ela guardou suas lágrimas, ambos começaram a caminhar lentamente para onde estava marcado seu destino, se ambos perecessem, estariam juntos.
- Se houvesse conhecido a alguém a quem amar, eu creio que seria exatamente como você, irmã. – Adam lhe sorriu diante da perspectiva de perdê-la, isso lhe dava medo, a possibilidade de não vê-la nunca mais.
- Se houvesse encontrado alguém que me fizesse sentir o que mamãe e papai tiveram, estou segura que seria igual a você. – Eva tomou seu braço e abraçados tomaram a decisão correta.
*****
As cinzas do nosferatu espalhadas pelo quarto cobriam de cinza branca a formosa almofada vermelha que estava opaca em conseqüência disso, mostravam o mais horroroso dos fins para um nosferatu. Elena tremeu diante daquela cena, seus membros congelaram um a um e deixou que seu grito retumbasse por todo o castelo. E como se este fosse um alarme de aviso os habitantes deste que tinham que ver com seus olhos já não queriam contemplar. A primeira a chegar foi sua irmã Esther que se aproximou dela e a abraçou, ambas olhavam para onde caíra Alaska com miséria.
- Isto não pode ser maldição! Alor! – Isaac chegou e atrás dele Crow.
- Quem pode fazer algo assim? – Esther olhou para Isaac e este cuspiu enojado.
- Isto não me agrada nada, se pode se livrar do feitiço e entrar neste quarto, quer dizer que estamos indefesos. Narciso nem sequer se mostrou alterado!
- Devemos avisar Martha e Dimas disto. – Esther sentiu náuseas ao imaginar a morte de Alaska.
- Sem dúvida o faremos, mas antes teremos que identificar quem foi. – Isaac olhou para Elena e esta negou com a cabeça.
- Não o farei.
- Espero que não esteja negando a utilizar seu poder Elena. – Isaac a olhou com irritação – Lembre que é a única que pode dizer quem fez isso só em tocar as cinzas.
- Me nego! – Pode me obrigar, mas lhe juro que não o direi!
- Você é uma...
- Isaac! Deixe-me tentar. Eu posso dizer-lhe algo, talvez uma pista. – Esther saiu em defesa de sua irmã que choramingava nos braços de Crow, este olhou para Isaac com indulgência.
- Comme vous voudrez, ma chere! – Exclamou ao final Isaac – Mas faça rápido.
- Esther se aproximou lentamente do pequeno monte de cinzas que ainda continuava de pé, se abaixou sem poder evitar que seu vestido se enchesse daquele pó branco, estendeu sua mão e tocou as cinzas. Diante de seus olhos as últimas imagens de Alaska apareceram, mas estas eram borradas, a exceção de sua irmã, ela só percebia os sentimentos e desejos que o morto deixava, quando falou o que buscava Isaac retirou a mão.
- Foi um dos membros do Castelo Negro – declarou.
- Bon fille, agora temos que averiguar o modo como ele entrou, isto se está convertendo em um interminável caminho de mortes – Logo olhou para Elena e Crow – Escuta bem Elena, não me agrada a forma que você se recusou a cooperar, mas tenha em conta que Daniel não estaria feliz ao ver sua negativa.
- Daniel não me haveria obrigado em primeiro lugar – lhe desafiou Elena.
- Muito bem, creio que estamos exaltados! – Esther se meteu entre os dois – Será melhor que nos ponhamos a investigar e avisar disto também aos Heralds.
- Já nem sequer sei se podemos confiar neles.
Capítulo 15 – ARRANCANDO SONHOS
Eu fujo dos meus desejos
Eu mantenho a minha palavra de não ver-lhe
Mas é impossível não amar.
O avião particular desceu no aeroporto, em meio a uma chuva torrencial, quando Vane e Esteban desceram deste as gotas pareciam cair ao seu redor como pequenos projéteis que buscavam encontrar um final. Correram juntos com os demais para onde era a saída de aeronaves. Sacudindo-se um pouco da chuva, entraram na área de espera, onde os estava esperando Elias com seu sorriso brilhante o que aliviou o coração de Vane.
- Vocês demoraram muito, houve complicações? – lhes perguntou enquanto beijava Vane.
- Abraham havia decidido ficar em Paris e quer que nós avisemos a Aemilia de uma visita de por parte dos Heralds. – declarou David.
- Os Heralds visitando a Aemilia? Nossa! Isso sim é que é uma noticia! – ele piscou um olhou para Vane.
- Elias lhe apresento a Esteban, é o meu melhor amigo.
- Muito prazer, cara – Elias era um ser tão impressionante e cheio de alegria que Esteban só pode corresponder com um sorriso a tão agradável boas-vindas.
- Onde está Isabel? – perguntou Adolfo com o cenho franzido e um tom de poucos amigos.
- Está com Beth. – Elias se mostrou um tanto nervoso ao dizer isso.
- Com minha mulher? – David apesar de perguntar aquilo não pode evitar de sorrir. – Lamento rapazes, creio que devo despedir-me aqui, tenho que visitar Beth e avisar os membros da Aemilia com respeito aos avisos que este rapaz quer dar. – assinalou para Esteban – Boa sorte, então. – Se foi dali tão rápido que Vane apenas teve tempo de entender a que ele se referia.
- Como é isso que Isabel agora está com Beth? – Adolfo não parecia nada contente com o que feito Elias, mas este não se mostrava intimidado.
- Adolfo, você não se deu conta que Isabel é uma menina pequena e nós não podemos cuidar dela neste momento. Adolfo parecia a ponte de refutar aquilo, mas Elias se adiantou. – Beth ainda está muito frágil por sua perda e ter Isabel junto a ela lhe tem feito mais feliz, de minha parte, a menina pode ficar com David e Beth, que lhe darão o amor familiar que necessita.
- Você não podia decidir sozinho.
- Mas agora já está feito. – ao terminar tomou a mala de Vane e lhes indicou por onde deviam sair. – Nos estão esperando no Clube Moon, eu arrumei as coisas e tem um quarto para cada um.
- É incrível o grau de responsabilidade que você tomou. – O sarcasmo na voz de Adolfo não pareceu importar a Elias.
- Se David foi avisar o que planejamos a Aemilia, acredita que eles apareçam lá no Clube? – Vane perguntou a Adolfo, que tirando as luvas, abriu a porta para ela e os outros dois entrarem.
- Estarão lá sem duvida – lhe respondeu e logo se encaminhou para o lado do condutor. – Esperemos que aceitem essa loucura que pleiteou Abraham, de qualquer forma temos que encontrar a maneira de chegar lá, se conseguirmos localizar o lugar desse castelo.
*****
Daniel estava furioso, parado no meio do quarto onde haviam matado Alaska, sentia claramente quem havia sido o culpado, seu despertar essa manhã foi doloroso, mas agora se encontrava fortalecido, suas energias pareciam irradiar luz. Mas sua indignação ao saber quem invadiu seu castelo, quase o fez ir atrás de quem era culpado de tão desastrosa ação. Se ajoelhou para tocar o chão de onde já haviam tirado as cinzas, estas agora só eram uma recordação, mas para Daniel marcariam este quarto por mil anos antes de desaparecer.
- É muito triste o que aconteceu. – Quando Daniel ouviu aquela voz em sua mente, se levantou de um pulo para encontrar-se com um gato negro de olhos azuis que podiam apagar o fogo da alma.
- Você? – O gato mudou de forma e se converteu em Seth, o terceiro filho de Lilith, parecia tão jovem como uma vez foi Pablo.
- Necessito um favor e só posso recorrer a você – Seth se sentou na cama e deixou que Daniel decidisse.
- É sobre Narciso, não é? – Este assentiu e Daniel passou a mão pelo cabelo em símbolo de desespero. – Esse espelho é muito particular, pode inclusive, trair você se assim decidir.
- Eu sei, mas é a única forma que posso chegar ao meu destino.
- Às vezes não compreendo por que o mesmo destino nos enreda mais as coisas.
- Daniel, você tem que confiar nele, caso contrario, não podemos seguir nosso verdadeiro caminho.
- Meu caminho agora está unido a outra pessoa. Eu não me arrependo de minha decisão, mas...
- Ela saberá o muito que a quer sempre e lhe direi algo – Seth olhou pela janela e logo para Daniel – Você será feliz.
*****
- Não creio que seja muito bom neste momento ler a mente de seu amigo.
Mateus e os membros da Aemilia haviam chegado ao Clube Moon pela tarde, mas não se mostravam muito convencidos de fazer o que Vane sugeria. João havia explicado as consciências que podia ter ao entrar na mente de um ser humano, quem era mais receptivo a alguém de sua espécie, mas tanto Esteban com ela estavam convencidos que não seria assim, ambos confiavam em que ele poderia revelar o caminho correto.
- Eu me sinto em boas condições. – Esteban se levantou de seu assento. – Quero ajudá-los e seu que dentro de mim poderão descobrir o caminho e eu lhes devo isto por vocês me resgatarem.
- Um humano como você pode cair morto em questão de segundos. – Lucas o olhava com desprezo ao dizer aquelas palavras. – Está disposto a arriscar-se só para encontrar a um dos nossos?
- Sim, e o faço com boas intenções – lhe enfrentou Esteban.
- O que pode você saber de boas intenções.
- Esteban não me diria mentiras se pensasse que não pudesse fazê-lo. – Vane se pôs diante de Lucas – E se somos humanos e que para ti podemos ser os mais inferiores, mas temos algo que se chama bondade que você e os seus parecem ter esquecido.
- Senhorita Vanessa, por favor, não se altere – João pediu que ela sentasse de novo – Sabemos que Marcus é tão importante para você como para nós, mas, diga-me algo, se isso significasse arriscar a vida de seu amigo, ainda assim o faria?
- Não – ela se deixou cair na cadeira e Esteban se aproximou dela para reconfortá-la.
- Só estamos perdendo tempo. Será melhor que tomemos caminho. – Lucas com seu ar autoritário se desfez daquela situação e isto detonou o caráter de Adolfo.
- Parece que não podem fazer nada como sempre. – as palavras de Adolfo surpreenderam a todos na sala. – Marcus está em perigo e a única coisa que você pode dizer é que perdeu tempo! Ainda não entendo como um ser tão egoísta como você pode ser um dos membros principais!
- Um sujo Sol não vai dizer na minha cara meus erros! – Lucas se jogou para Adolfo, mas foi contido por Peter e Mateus.
- Por tudo o que é sagrado, acalme-se os dois! – Com um gesto de mão João fez que ambos os homens só se lançassem olhares envenenados. – Não estamos aqui para este tipo de discussão e...
- Você tem toda razão, querido João.
A entrada na sala de Salomé com dois acompanhantes, uma garota de traços orientais tão pequena, que mais parecia uma bonequinha de ballet e um homem alto de cor escura, a qual lhe brilhavam olhos cor de mel. Esta, diante o olhar atônito de todos, entrou brilhando a sua bela roupa vermelha, saúdo-os sem muitos preâmbulos e sentou-se cruzando as pernas, em uma cadeira que estava por perto.
- Quem convidou esta mulher? – Lucas olhava para Salomé como se ela fosse a pior escória sobre a face da terra, mas esta só lhe sorriu, irritando-o mais.
- Eu mesma me convidei. – Alegou ela de forma alegre. – Depois de tudo, tenho que assessorar meu novo negócio.
- O que você está dizendo? – João olhou para Elias e Adolfo que se mostravam igualmente surpreendidos por aquela revelação.
- Oh, eles não tem nada a ver com isto! – Salomé mostrava muito bom humor e começou a tirar as luvas. – Quem foi cúmplice de tudo isto foi Melchior. – Lhes mostrou o anel de pérola que este lhe havia dado. – Com este Clube não só ganho um negócio, senão também a responsabilidade de ser a nova tutora destes garotos.
- Você está brincando conosco. – João se aproximou para comprovar se aquele era o anel certo, mas ao ver o anel, não teve dúvidas. – Maldição, é o anel certo!
- Fique tranqüilo querido, eu não penso alterar mais do que devido. – Salomé fez um sinal com seu dedo para Vane se aproximar. – Vem querida, deixe-me saudar-lhe.
- Olá Salomé, tem muito tempo que não nos vemos. – Ambas se abraçaram e a mulher lhe sorriu suavemente.
- Tem sido muito forte, senhorita Marcel e é tão valente como Melchior me falou.
- Eles foram uns homens muito bons.
- Os melhores, querida e por isso estou aqui.
- O que você está dizendo? – João estava muito perto delas, mas mantinha uma certa distância, Vane deduziu que estudava aos acompanhantes de Salomé, a qual, da sua cadeira, indicou aos seus guardas que deixassem o líder da Aemilia se aproximar.
- Me parece que o que fizeram convertendo esta garota em um recipiente escuro foi o mais estúpido, mas meu dever é ajeitar as coisas. – Salomé se voltou e colocou as luvas com destreza. – E começo por dizer a favor dela que seu amigo estará em melhores mãos se algo de mal chegar a acontecer. – Assinalou para a garota asiática. – Kaoru é uma médica mental reconhecida e Morris é um escudo de proteção, juntos podem proteger o rapaz se as coisas saírem do controle.
- Não pode assegurar isso Salomé.
- Não estou assegurando, estou afirmando, João.
- Obrigado Salomé. – Vane a abraçou e ela riu feliz. Ela era muito bela. Por alguma razão, teve a sensação de que esta mulher havia mudado faz muito tempo, o curso da história.
- Bom, sendo assim... estou de acordo em ser ele que leia a mente de seu amigo, senhorita Vanessa.
- Mateus. – Peter parecia nervoso, mas este assentiu seguro.
- Jovem Esteban, pode se aproximar. – Com um pouco de nervosismo Esteban deixou que o membro da Aemilia colocasse as mãos em sua cabeça. – Fique tranqüilo e concentre-se em dizer a sua mente o que queremos saber.
- S-Sim... – Esteban fechou os olhos e também Mateus, depois de um momento Mateus abriu os olhos e os pôs em branco, tremeu e Esteban também, uma energia passava das mãos deste para a cabeça do rapaz e quando esta parecia estar a ponto de arder, Mateus tirou as mãos.
- Irmão! – Mateus foi sustentado por Lucas e Peter, enquanto que Esteban pela garota asiática, que imediatamente colocou a mão sobre sua testa.
- Estou bem... – Mateus levantou-se sacudindo a cabeça. – Foi muito perigoso, mas eu consegui ver o lugar do castelo.
- Como está o rapaz? – perguntou João.
- Ele estará bem. – Lhe respondeu a garota asiática, depois que Vane se abaixou para sustentar a Esteban em seus braços. – Necessita repouso e em uma hora estará como novo.
- Obrigado.
- Só cuidar dele. – A garota se levantou e foi para Salomé que lhe sorriu satisfeita.
- Foi horrível, esse lugar é um inferno. – Assegurou Mateus. – Salomé como você está segura que o que eu vi não foi um engano.
- Não o é, querido. – Esta acendeu um cigarro que lhe deu a sua guardiã. – Por isso lhes darei o selo que ajudará a devolver Marcus.
- Nunca nos haviam falado de um selo. – Elias olhou para os membros da Aemilia e estes ficaram tensos.
- Faz muito tempo, eu fui a que acreditou que o selo deteria o pai de Marcus, lamentavelmente, este não quis viver e o selo falhou. – Tomou o cigarro inalou suavemente deixando sair a fumaça. – As consequências repercutiram não só nele senão nos guardiões que se ofereceram como sacrifício, isto você já sabia Adolfo.
- Assim é. – Assentiu este e Elias o olhou com incredulidade.
- Como é possível que não me tenha revelado isso?
- Salomé me prometeu não dizê-lo até que fosse o momento.
- O momento chegou. – Esta se levantou e caminhou para João. – Necessito de três voluntários para realizar o selo.
- Não pode sacrificar aos meus homens por algo tão perigoso.
- Quem disse que necessitava de seus homens? Eu me refiro a outro tipo de sujeitos. – Ela olhou para Adolfo e este assentiu.
- Eu me ofereço. – este se adiantou surpreendendo a todos com a sua decisão.
- Nesse caso, eu também. – afirmou Elias.
- É gratificante saber que dariam suas vidas por esta causa, mas ainda assim falta um terceiro guardião e tem que ter o sangue licaon em suas veias.
- Meu irmão não está em condições. – Elias mostrou uma grande tristeza ao dizer aquilo. Vane olhou para ele e assentiu confortando-o.
- Não se preocupe querido, eu sempre venho preparada. – Salomé estalou os dedos e uma figura pequena caminhou para eles. – Garotos, apresento-lhes o terceiro guardião, Chac da família de licans herdeiros de Tonatiuh, o Antigo.
- Chac! O que você faz aqui? – O menino se aproximou de Vane e a abraçou.
- Vim pagar a minha divida, meu avô decidiu que o melhor lugar para treinar-me é aqui ao lado das pessoas que podem entender minha posição. – explicou o pequeno que parecia haver crescido em estatura nos últimos anos. – Tenho que ajudar Marcus por que ele me fez voltar com minha família.
- Exato. – Salomé tomou os ombros de Chac e o voltou para os presentes. – Chac conta com algo que no momento tanto você como Adolfo carecem Elias.
- A que se refere com carecer? – lhe perguntou Vane.
- Não temos a benção por parte de nossas famílias, nossas marcas de nascimento foram retiradas. – lhe contestou Elias com amargura.
- Sim, e é aqui que necessitarei de ajuda destas pessoas. – Salomé se voltou para João. – Se você puder conseguir que estes meninos obtenham suas marcas por direito, então eu realizarei o feitiço de selo, evitará mortes e ganhará um grande poder.
- Então, mãos à obra. – disse este, e Vane viu rapidamente, que Salomé mudou tudo. O poder de persuasão estava nela, era a forma mais pura em que se podia encontrar e também a mais perigosa.
Capitulo 16 – SER AMADA
Ela está dentro de mim,
Sua voz atravessa meu peito
Seu amor desfaz minhas armas;
E posso voltar a amá-la em segundos
Quando o avião chegou à Glasgow, Escócia, Vane abriu os olhos e olhou o sol radiante que entrava por aquela janela. Só haviam tido um dia para preparar tudo. Esteban havia partido para seu lugar, não sem antes, recomendar-lhe muito que se cuidasse e lhe ligasse de vez em quando. Ambos se despediram com um grande abraço e por mais que tentasse evitar, não pode evitar de chorar. Sendo amável como sempre, Esteban secou seu rosto e lhe deu um beijo na testa antes de partir. Agora, aterrisando naquele aeroporto, se perguntou como Mateus conseguiria convencer o pai de Elias que ele lhes aceitasse dentro da família dos Heiligtum.
- Eu gostaria que você conhecesse meu lugar de origem em outras circunstâncias. – Lhe disse Elias descendo junto com ela e Mateus do avião.
- Sei que voltaremos algum dia e então poderá mostrar-me tudo.
- a senhorita Vanessa tem razão, agora temos uma prioridade. – Mateus lhes indicou que o seguissem até o automóvel que entrava na pista. Era negro e de formas alongadas, um Ferrari negro. – Foi mandado para nós.
- Melhor dizer que mandaram para você, Mateus. – lhe corrigiu Elias.
- Elias, eu estou tentando ajudar-lhe, mas essa atitude não melhorará as decisões que teu pai possa tomar.
- Como diga. – A atitude de Elias havia mudado desde que lhe informaram que tinha que vir na viagem, Vane deduziu que era por ele ter que encontrar-se com sua família é que o deixava com este humor.
O motorista lhes abriu a porta e quando os três estavam dentro, ele começou a movimentar o carro. Toda a cidade era muito bonita, seus edifícios e ruas tinham certa luz que a fazia simples, passaram por uma avenida cheia de pessoas que pareciam não ver por aonde iam, o tráfego os fez avançar lentamente, mas quando se afastavam, vislumbrou o que parecia uma torre. Elias por instinto, tomou a sua mão, a ela pareceu um gesto terno e para dar-lhe ânimo apertou esta entre suas mãos.
- A Universidade de Glasgow, senhor. – indicou o motorista, quando entravam no campus desta universidade os estudantes iam e vinham sorridentes, todos se mostravam tão despreocupados de seu redor que por um momento, ela sentiu inveja de vê-los assim, quando o carro parou em frente a um edifício, se disse, que por fim, conheceria a família de Elias. – A senhorita Ashlin lhes espera na entrada. – falou o motorista ao abrir a porta.
Como se a garota houvesse ouvido o seu nome, apareceu diante das escadas, era alta e atlética, seu cabelo castanho brilhava na luz do dia, seus olhos eram de um verde seco e sua pele acetinada revelava uma beleza perigosa. Quando eles se aproximaram ela fez uma reverencia para Mateus e este lhe correspondeu com educação, mas não olhou para Vane e Elias.
- Por favor, venham comigo. Eu os levarei a presença do diretor. – Todos subiram as escadas rapidamente e Vane notou que Elias não desejava ver a garota, como se ambos se conhecessem de longa data.
Quando passaram pelos corredores, alguns estudantes se detiveram para saudar a garota e foi quando ouviu que era mestra. Esta os despedia com elegância e se desculpava para levá-los mais depressa, até que uma estudante com uma serie de livros correu para ela com suas duas tranças douradas agitadas pelo ar e olhos cor de café, lhe sorriu e lhe disse que levaria dos livros, Ashlim lhe indicou que iria rápido e que lhe esperasse com seus companheiros; a garota se despediu, mas quando Elias lhe piscou um olho fez com que esta se distraísse e deixasse cair todos os livros, tão vermelha como um tomate.
- Eu lhe peço, Elias guarde seu encanto para outra ocasião. – lhe recriminou esta – Estes estudantes são facilmente atraídos por nós.
- Até que se digne a falar-me, priminha. – Agora Vane entendia toda essa atmosfera de tensão ao redor deles.
- Não vou discutir com você, eu só obedeço ordens. – Esta os fez passar para uma enorme recepção onde se encontrava um jovem secretário e dois enormes guardas vestidos com um kilt – Arthur, anuncie os visitantes.
- Em seguida preciosa. – Este garoto agradou a Vane, ele sorriu para todos e apertou o botão de conexão para anunciá-los. – Hei, velho! Já chegaram, seu filho, o líder Mateus e uma preciosidade que estou seguro você vai querer comer de sobremesa.
- Arthur! Não fale assim com o diretor. – lhe recriminou Ashlim.
- Você é tão maçante. – Arthur sorriu para Vane.
- Entrem agora. – a voz que se ouviu pelo intercomunicador era aguda e varonil, Vane se perguntou que classe de homem seria o pai de Elias e Eliseu.
- Já ouviram o chefe, é todo seu. – Apertou um botão e as portas de madeira se abriram diante deles.
- Meu filho! – Uma mulher pequena lançou sobre Elias e começou a beijá-lo por todo o rosto, cheia de felicidade, tinha o cabelo preso em uma trança muito simples e seu vestido revelava um status econômico alto.
- Mãe! – Elias a levantou e lhe deu uma volta. Esta gargalhou e lhe pediu para baixá-la. – Vane, eu lhe apresento minha mãe. – Um pouco nervosa estendeu a mão e a mulher lhe sorriu com ternura, lhe recordou tanto a sua própria mãe que Vane teve que conter as lágrimas.
- Noemi! Volte aqui, imediatamente! – Um homem parado atrás de uma escrivaninha, interrompeu o momento, era muito alto, inclusive mais que Elias. Usava umas costeletas grossas e negras muito marcadas, seu cabelo escuro diferia muito dos outros licans que havia visto, no entanto, seus olhos verdes poderiam ser dois belos limões.
- É um prazer ver-te Goliat. – Mateus saudou o pai dos irmãos Baabham, este, no entanto, se limitou a sentar-se.
- Eu me sinto um pouco decepcionado com o que você me pediu. – Goliat era muito elegante, seu terno cinza e gravata vermelha mostravam um homem de força e caráter. – Sentem-se. Não quero que pareça que sou um mau anfitrião.
Os três visitantes tomaram seus lugares, a porta atrás deles se fechou deixando só as cinco pessoas envolvidas. Noemi se separou de Elias com reticência e voltou ao lado de seu marido, este não olhava em absoluto na direção de Elias, aos olhos de Vane era como se tratasse de evitar a existência de seu filho.
- Goliat serei sincero desde o inicio. – Mateus se inclinou para seu ouvinte de modo que ambos ficaram no mesmo nível. – Teus filhos necessitam que lhes proporcione sua marca de nascimento, necessitamos criar um selo para conter Marcus e o tempo está contra nós.
- Foram muito descuidados por terem deixado com vida este rapaz. – foi a contestação deste. – Não só era um perigo para si mesmo, também para nós.
- Marcus não tem culpa! – Elias havia se levantado de pronto golpeando a mesa, seu pai, agora se dignou em lançar-lhe um olhar, mas esta ia cheia de desaprovação. – É minha família e como tal tenho que ajudá-lo. Eu não abandono os meus por que tenha medo do destino!
- Eu nunca tive medo de você! – Goliat lhe respondeu sem se aproximar, mas o olhar de ambos estava tão concentrado um no outro que pareciam no querer perceber nada mais.
- Pois não é o que parece! Nos abandonou de uma forma covarde e separando-nos de nossa mãe e tudo pelo temor de ser castigado.
- Você não pode imaginar o que eu e sua mãe passamos!
- Filho, por favor, basta! Goliat, controle-se! – Noemi se meteu na discussão para tratar de acalmar as coisas. – Goliat escute o que disse Mateus, se com a marca nossos filhos tem a oportunidade de fazer um bem a nossa gente, então, não podemos dizer não.
- Você sabe o acarretaria aceitar aos seus filhos? – As palavras de Goliat fizeram que a mãe de Elias baixar os olhos e Vane entendeu que Goliat não havia dito "nossos" e sim "seus".
- No entanto, eles levam seu sangue Goliat. – Mateus se levantou sério e parecia ofendido com a insinuação que Goliat havia feito contra sua mulher. – Mas não lhe rogaremos, se aceitar poderá salvar nosso futuro, mas se permanecer na ignorância a tendência é desaparecer.
- Isso é uma ameaça?
- Não. É um fato. – O licaon pareceu meditar sobre as palavras que Mateus havia dito, seu rosto se enfocou em Vane por alguma razão, ela não desviou o olhar, pelo contrário, sustentou seu exame.
- Esta garota é um recipiente, e ademais por ela corre essa marca de morte. – Goliat não esperou respostas, era melhor que recapitulasse isso. – Diga-me menina, por que se empenha em salvar-nos?
- Por que não vou deixar que meu destino ganhe. – foi a resposta dela.
- De acordo, o farei. – Mateus se relaxou enquanto ouvia estas palavras, mas Goliat parecia ter outra intenção. – A mudança tem uma condição.
- Qual?
- Que minha mulher não volte a ver aos meus filhos.
- Não! – Elias voou sobre seu pai e o empurrou na parede, este lhe sustentou e ambos grunhiram com ferocidade. – Não sabe o quanto eu lhe odeio. Não vou deixar que nossa mãe cumpra isso! Você não é nosso dono!
- Tome-o ou deixe-o. – lhe respondeu este.
- Aceito! – A mãe de Elias foi para seu filho e o separou de seu pai. – Você sabe o quanto o amo Elias, mas se meu sacrifício serve para que, por fim, sejam reconhecidos, não me importarei, sempre estará em meus pensamentos e...
- "Lhe cuidarei onde esteja". – Vane se levantou nesse instante, a mãe de Elias olhou-a surpreendida. Eu creio que tenho algo que lhe pertence. – Buscou em seu peito e tirou a corrente de prata que os irmãos lhe haviam presenteado há muito tempo. – Tome. – Colocou a corrente na mão de Noemi e esta a beijou.
- Você é uma garota maravilhosa. – A mulher estendeu a corrente e a sacudiu para seu marido. – eles sempre terão minha proteção Goliat, e se você não houvesse aceitado, igualmente, eu o haveria feito.
- Essa é a corrente...
- Que você me deu no dia de nossa união. – Noemi a colocou de novo no pescoço de Vane. – Mas, agora está em melhores mãos.
- Mas ela é sua. – lhe disse Vane consternada.
- Sim, meus filhos deram este presente para uma garota, então ela significa muito para eles. – Elias assentiu com um sorriso. – E se você é tão digna para usá-la, quero que se assegure de devolvê-la algum dia, quando esta luta acabar.
- Eu o farei.
- Goliat, creio que deve fazer o correto. – Mateus olhou o líder licaon e este para seu filho, ambos não disseram nada, mas se aproximaram até estar a uma certa distancia que permitia se verem nos olhos diretamente.
- Estende seu braço esquerdo. – ordenou o pai e por sua vez o filho obedeceu, quando tomou o braço de Elias pronunciou umas palavras em uma estranha língua. – "Agora és parte de meu sangue, como eu de seus antepassados, que em você as proteções se estendam e os espíritos lhe protejam".
- Raios! – Elias mostrou os dentes pelo ardor que sentia em seu braço quando ele o retirou, logo sua mãe lhe abraçou para despedir-se.
- Eliseu também terá a mesma marca, ambos foram aceitos filho. – Noemi tinha lágrimas nos olhos e parecia querer dizer adeus. – Eu os amo muito Elias, foram a melhor coisa que já me aconteceu.
- Gostaria de ver você mais uma vez. – Elias a apertou fortemente, a cena era muito melancólica, mãe e filho jamais teriam por que ver-se de novo, assim o ditava o destino.
- Nos veremos em outra ocasião. – Mateus se despediu de Goliat e Noemi. – Será muito duro este enfrentamento, necessitarei de todo seu poder neste lado.
- Estaremos preparados. – O pai de Elias olhou para seu filho, mas não pronunciou mais palavras ou despedidas, quando iam saindo olhou para Vane e perguntou se essa garota poderia desafiar o destino como uma vez ele tentou fazer em vão.
Logo ao sair da universidade, o silencio se tornava um pouco incomodo, a tristeza nos olhos de Elias era tão palpável que Vane tratou de animar-lhe, sem conseguir. Mateus lhes propôs convidá-los para comer em um conhecido lugar de uma rua chamada Lothian Road. Quando chegaram ao Pub um grupo de gaiteiros estavam entretendo ao público, se sentaram em uma das mesas ao fundo, ao fazer o pedido a mulher que os atendeu flertou um pouco com Mateus e logo lhes disse que voltaria logo com seus pratos. O ambiente era quente, alguns turistas estavam tirando fotos e outros comprando umas bijuterias na loja de souvenir. Os pratos chegaram logo e eram tão estranhos que Vane não sabia o que estava comendo, viu como Mateus e Elias ingeriam tudo aquilo, inclusive, uma enorme tripa da qual o segundo lhe havia dito que se chamava haggins.
- Vamos Vane! Toma um pouco mais de seu Scotch broth. – lhe convidou Elias com um humor mais alegre.
- Creio que já tive suficiente de oat cakes e Scotch broth por um tempo. – ela respondeu divertida.
- E isso que não provou a Scotch pie. – lhe sorriu Mateus – Em um momento já volto, tenho que fazer uma ligação.
- Este lugar é fantástico. – disse Vane a Elias quando os gaiteiros terminavam de tocar e entre aplausos voltavam a tocar outra canção.
- Sempre sinto falta deste lugar. – A saudade nos olhos dele era muito viva. – Recordo que para Eliseu e para mim tinham que nos repreender muitas vezes por escapar de casa e vir para a cidade.
- Vocês devem ter sido impossíveis.
- Sim, nós éramos. – Elias tomou um gole de sua cerveja e deixou o copo vazio. – Quando nos enviaram ao campo nos irritamos muito, mas como mamãe nos acompanhava não demos muita importância.
- Seu pai sempre foi assim? – lhe perguntou curiosa.
- Desde que me lembro ele se comporta dessa maneira. – Algo fez que o licaon franzisse a testa ao recordar. – A exceção da vez que pensaram que Eliseu nasceria sendo normal.
- Mas se vocês são completamente normais! – Mas Elias lhe mostrou seu cabelo loiro como o trigo.
- Quando eu nasci fui uma grande decepção familiar. – encolheu os ombros – Mas minha mãe não tomou em conta os deboches e me defendeu e cuidou ameaçando a meu pai de não dar-lhe mais filhos.
- Sua mãe foi muito valente, em certa forma teu pai dá um pouco de medo, é tão grande.
- Hahahaha. Quando pequeno me perguntava se era isso o que a encantou. – Elias sorriu para a garçonete e esta trouxe outro copo de cerveja. – Tudo mudou quando minha mãe engravidou de novo, foi então que vi um sorriso no rosto de meu pai, todos lhe felicitavam e diziam que o segundo herdeiro levaria ao alto o nome dos Baabham.
- Era Eliseu, certo? – este assentiu tomando um gole um pouco mais moderado da cerveja.
- Eliseu nasceu um Sol. – certa tristeza se refletiu na voz de Elias – Papai ficou furioso e se negou a ver seu filho, minha mãe chorou muito e mais quando meu pai insinuou que poderíamos não ser seus filhos.
- Isso é horrível.
- Nos deixou por cinco anos no campo, se envergonhava tanto de nós que chegaram rumores a minha mãe de que meu pai tinha uma amante com a qual planejava ter herdeiros. – o copo parecia tremer na mão de Elias quando disse aquilo. – Ela nos disse que jamais permitiria que papai nos fizesse qualquer dano, que para defender-nos, ela daria sua vida, mas, Vane nós não queríamos vê-la sofrer. Nós a amávamos tanto, que preferíamos ser os não desejados, mas que ela pudesse sorrir.
- Não duvido que sua mãe teria se sacrificado como o fez hoje. – Vane tomou sua outra mão e lhe deu pequenas palmadinhas.
- Um dia meu pai nos visitou, eu estava brincando de esconder com Eliseu e quando me dei conta meu pai estava na frente de meu irmão. – Vane guardou silencio apesar do ruído, intuía que o rancor que Elias tinha por seu pai era por essa ocasião. – Como Eliseu nunca o havia visto lhe pareceu curioso sorrir-lhe, ele se inclinou para contemplar o meu irmão e sua mão se estendeu para querer tocá-lo, no entanto, quando me dei conta, na outra tinha um punhal.
- Não posso crer! Quis matá-lo!
- Nunca chegarei a saber se o haveria feito Vane. – Elias olhou para os gaiteiros que terminavam de tocar e se despediam por um momento. – Saltei de meu esconderijo e golpeei meu pai com todas as minhas forças, levei correndo meu irmão para minha mãe e quando lhe contei, ela se desatou o pior, foi quando meu pai decidiu separar-nos dela.
- Elias, você ainda ama seu pai, certo?
- Não posso odiá-lo, no entanto, lhe estou agradecido por que graças a ele conheci as pessoas especiais como você e também os meus tutores, isso não tem preço.
- Eu creio que você só está um pouco assustado, mas lhe prometo que tudo mudará quando Marcus regressar. – Ela viu que Mateus se aproximava de braços dados com a garçonete para a mesa deles.
- Eu estou certo disso, Vane. - lhe sorriu Elias terminando a cerveja.
*****
Tudo estava destruído, desde os espelhos sagrados até os tronos de cristal. Eva caminhou entre os destroços do templo e seu medo não era mais forte que sua fúria. Os Heralds acudiram para ver se podiam restituir seus espelhos, mas estes estavam completamente destroçados, os cristais espalhados por todo o lugar faziam impossíveis uma recuperação. Quando Adam olhou o circulo lunar destroçado, supôs que Asmodeus não se deteria diante de nada para chagar ao seu objetivo, tocou um pouco do sangue seco que se achava ali e o deu para sua irmã sentir, ela estremeceu ao ver o que havia ocorrido, agora teriam que atuar com mais pressa.
- Isto é uma armadilha. – disse Eva e todos se puseram em guarda, o barulho de dez enormes lokis e dez nosferatus, apareceram prontos para atacar. – Não deixem que o sangue toque-os! – avisou gritando para cada um dos Heralds.
- Eva! – Adam se interpôs entre ela e um loki que soltava espuma pela boca – Eles foram envenenados, com certeza provaram esta mistura de sangue.
- Asmodeus é um monstro, está fazendo experimentos com eles. – Eva ficou enjoada e seu irmão a alcançou para sustentá-la com seus braços. – A maldição que pôs está no sangue.
- Eu sei. – Adam começou a ver em dobro e três nosferatus se lançaram para eles.
- Fique de lado escória! – Mikael fez cair com seus poderes os três atacantes. – O que está acontecendo Adam?
- Cuide de minha irmã, tenho que chegar aos tronos. – Mikael segurou Eva que começava a perder forças.
- Meu senhor, deixe que eu o acompanhe.
- Não! Fique onde está, eu estarei bem. – Adam mudou seus olhos azuis para branco puro, avançou rapidamente entre os inimigos e quando estava a ponto de chegar suas pernas deixaram de responder, derrubando-o no chão gelado – Maldição!
- Adam! – o grito de Eva o fez se voltar e ver que o um loki estava a ponto de atacá-lo, no instante que este quis lhe machucar um redemoinho de neve lançou o animal longe dele.
- O que? – Olhou para o teto descoberto e viu Daniel junto com sua clã, quem havia provocado aquele redemoinho foi Martha, todos desceram sem duvidar e começaram a atacar, Daniel se aproximou dele e lhe ajudou a levantar-se. – Você chegou a tempo.
- Todavia não me agradeça.
- Me leve até a frente dos tronos, tenho que fazer algo.
- De acordo. – Ambos conseguiram chegar, Adam se sentou em seu trono e tirou dos pulsos sangue prateado e espalhou por este assento que se regenerava, enquanto os inimigos eram contidos, Adam fez que o chão começasse a tremer, conseguindo que o sangue maldito desaparecesse pelo seu, quando terminou parecia estar a ponto de desfalecer. – O que foi que você fiz?
- Asmodeus colocou uma maldição, consistia em um sonho. – lhe disse Adam com um fio de voz. – Lamentavelmente Eva e eu não podemos evitá-la, mas com meu sangue este lugar se curou.
- Meu senhor! Nossa mãe! – Mikael chegou até eles com Eva em seus braços, esta tinha os olhos fechados e dormia profundamente.
- Não se desespere Mikael, ela só dormirá um longo tempo, como eu. – lhe sorriu Adam – Daniel este lugar demorará muito para voltar a ser o que era antes, meu sangue só poderá mantê-lo em pé uns anos, mas necessito que você me traga um ser capaz de limpar por completo este desastre.
- Mas você me disse que estava curado.
- Só por fora... confio em que você encontre a esse ser... pressinto que está mais perto do que acreditamos. Por favor, não deixe que Asmodeus o corrompa!
- Lhe prometo isso. – quando Daniel terminou de dizer aquilo Adam caiu no sono.
- O que faremos? – lhe perguntou Mikael.
- Temos que colocar a salvo Adam e Eva. – respondeu Daniel, quando ele se voltou, a batalha havia acabado. Ele chamou a todos os envolvidos e explicou o que pensava fazer. – Asmodeus buscava eliminar os filhos de Lilith, se o permitirmos, ele haverá ganhado uma batalha. Mas nisto consiste meu plano, os irmãos serão separados, um vai para o norte e outro para o sul.
- Eu cuidarei de Adam – Mary se adiantou e carregou o nosferatu – Iremos para o sul, boa sorte. – Ambos desapareceram.
- Necessitamos que você, Gabrielle, e Mikael possam falar com os licans. – Anunciou Raphael – Eu tomarei conta de nossa mãe. – tomou Eva nos braços – Me dirigirei para o norte, espero que tudo saia bem.
- Tentaremos que isso acabe o mais rápido possível. – lhe assegurou Daniel.
- Tenho uma conta pendente com esse desgraçado do Asmodeus. - Raphael fez brilhar seu olhar de forma ameaçadora. – assim que, se eu não puder enfrentá-lo, espero que vocês o façam pagar pelo que fez a Guadalupe.
- Ela terá paz, eu lhe prometo. – lhe respondeu Daniel e sem mais Raphael desapareceu.
- Martha quero que traga Dimas ao castelo. – ordenou Daniel.
- Isaac e Crow, necessitamos que os clãs principais fiquem inteirados do que aconteceu.
- Sim, Daniel. – Isaac e seu companheiro se foram entre as sombras.
- Meninas – Daniel olhou para as gêmeas Starr – eu quero que averigúem algo que recentemente tenho estado pensando. – Se aproximou e lhes revelou ao ouvido, estas arregalaram os olhos e logo assentindo, desapareceram rapidamente.
- Meus amigos buscaram o necessário, agora creio que devemos nos preparar para falar diretamente com os membros da Aemilia.
- Você crê que este ataque também seja dirigido a eles? – a pergunta de Gabrielle fez com que Daniel rezasse para que não fosse assim, porque se Asmodeus estava pronto, isso mesmo é que estaria planejando fazer.
Capitulo 17 – MEU PRINCIPE
Não é minha intenção machucar seu coração,
Mas a vida está cheia de espinhos
E eu sou uma rosa de desespero.
Chegar a Milão, Itália, foi toda uma proeza, contando o pouco tempo que lhes restava depois da visita à Escócia, no entanto, quando ia sentada em um automóvel entre Lucas e Adolfo, sentiu que nem todo o bom humor que havia tido na primeira viagem, seria suficiente para alegrar a estes dois personagens. O carro que os recebeu era de um vermelho intenso com um escudo de armas muito elegante. Na entrada da mansão preciosa de cor branca, as estátuas de uns anjos lhe deram as boas-vindas, rosas vermelhas se espalhavam por todo o lugar dotando-o de uma fragrância esquisita. Recordou quando chegou à mansão de Marcus, um odor similar entrou em seu nariz, assim, deduziu que as rosas provinham deste lugar especifico.
- Permita-me, seu casaco senhorita. – Uma jovem servente vestida de vermelho e meias pretas, junto com outros serventes, os atenderam ao descer do carro.
- Vocês demoram muito. – Juliette se encontrava no corredor, saudou Lucas com respeito e logo deu um beijo fugaz nos lábios de Adolfo, este mal pareceu notar.
Fizeram-lhes passar para onde uns guardas com um traje muito particular, como nos tempos vitorianos, guardavam a entrada. Todos eles olhavam para a frente e estavam tão quietos que bem poderiam passar por estátuas. Lucas caminhou com segurança e antes de entrar, disse ao guarda que lhes anunciasse. Este sem mais, entrou no que parecia uma sala, logo saiu e com elegância abriu a porta.
- É uma honra ter conosco Lucas, o Anjo. – Vane viu um ancião que acabava de falar, ele estava recostado em uma enorme cadeira vermelha e atrás dele dez membros do deveria ser a família. Nove homens e uma mulher, todos eram tão parecidos que poderiam ser irmãos. Seus olhos tinham esse jeito gelado que às vezes se percebia em Adolfo.
- Você tem muita consideração Isaias. – Lucas entrou na sala e atrás dele, Adolfo junto com Vane. Ao olhar viu que a sala era uma biblioteca, onde cada livro ocupava de tapar as paredes. Ficou atônita. Todos com um capa vermelha e delicada, estavam acomodados em tal posição que era impossível não notá-los.
- Sou velho e meus dias passam lentamente. – o velho tossiu para logo beber um pouco de vinho que estava ao seu lado. – Estive meditando sobre a petição que me fizeram.
- E se pode saber a resposta? – a voz de Lucas era seca, no entanto, parecia muito interessado em saber a opinião do ancião.
- Eu aceitei. Claro que nossa petição é razoável também. – Um sorriso malicioso cruzou o rosto de todos os membros daquela família. – Se permitirem que um de nossos filhos ocupe um posto importante dentro do conselho, não creio que seja um grande problema.
- Vejo que não joga para perder. – Lucas sorriu – Mas eu não posso decidir isso, meus irmãos me disseram que aceite e isso o farei, não há outro remédio.
- Queremos sua assinatura. – Um homem de traços finos se adiantou, lábios bem delineados e sobrancelhas estilizadas, Vane reconheceu o pai de Adolfo num instante, a mulher ao seu lado era tão parecida com ele, mas, todavia, tomavam-se as mãos como se entre eles houvesse um grande segredo.
- Minha palavra vale mais que um papel. – Lucas, ofendido olhou reprovando o neto mais velho de Isaias.
- Lamento esta descortesia por parte de Ismael, mas você sabe que não queremos ofender-lhe excelência. – se desculpou o ancião.
- Bem, se não há outra maneira, aceito! – um outro membro pegou um pergaminho branco e lhe entregou uma caneta vermelha com a qual Lucas assinou seu consentimento.
- Esperamos que esta aliança seja de ajuda para nossa gente. – O ancião se inclinou e revisou o pergaminho. – Ismael aproxime-se de meu bisneto.
Adolfo fez exatamente o mesmo que Elias, levantou a manga da camisa e deixou que seu pai tomasse o seu punho, este entoou um canto estranho e logo um brilho vermelho perfurou a pele de seu filho, ambos se separaram sem olharem-se. Lucas revisou se Adolfo tinha a marca indicada e logo se levantou.
- Foi um prazer fazer negócios com vocês Família Benefici.
- O prazer é nosso Lucas – respondeu o ancião levantando-se com dificuldade.
- Querido bisneto e família – Adolfo se adiantou até ficar em frente deles enquanto se abotoava a manga e sorria com sarcasmo, Vane não esperou que fizesse isso, muito menos Lucas que o fulminava com o olhar. – Como vêm nem toda sua estúpida tradição e normas me impediram de obter o que por direito merecia. – lhes disse colocando o casaco – Sou melhor do que jamais vocês chegarão a ser, tenho por amigo o herdeiro legitimo dos licans e sabem quem é?, ele me ensinou a não sentir-me infeliz porque vocês são os indesejados, não eu.
- Você gosta de brincar conosco filho. – Ismael parecia a ponto de atacar a Adolfo, suas palavras queriam ser punhais para atravessar seu filho. – Mas seguirás sendo um asqueroso Sol, e ainda que leve a honra para nós, não é mais que uma vergonha, eu dou graças aos espíritos que contigo morrerá nossa maldição.
- Isso é irônico pai – Adolfo começou a sair e quando passou ao lado de Juliette, esta lhe piscou um olho em aprovação. – creio que merecem saber, depois de tudo – ele parou na entrada e estudou cada um desses rostos que por muito tempo lhe fizeram crer ser um ser impuro. Agora eles teriam que engolir suas palavras – logo eu serei pai, e adivinhem quem é a mãe?
O olhar de Juliette confirmou o dito por Adolfo, este se despediu com uma gargalhada e tanto Vane como Lucas saíram com ele, ouvindo que se desatava um grande alvoroço na biblioteca e Juliette se despedia deles com um sinal de mão muito relaxado. Quando entraram no carro, os surpreendidos não deixaram de ver Adolfo, que sorria feliz pela primeira vez desde que Vane tinha memória. Logo ao notar seus olhares, os olhou com simplicidade, sem desaparecer o sorriso de seus lábios.
- Por favor! Não pensava que eu só brincasse de casinha com Juliette, ou sim? – disse divertido – Esse ancião deve ter desmaiado. Hahaha.
- Você se meteu em um grave apuro, menino estúpido! – Para Lucas aquilo não era motivo de brincadeira. – Você engravidou a prometida de Baptiste! Líder dos Croix Noir!
- Isso é problema meu.
- Quando este souber disso, então sim que será seu problema. – lhe objetou o licaon mais velho.
- Adolfo... – Vane falou e este a olhou com determinação. – Não pensas abandonar ao seu bebê, verdade?
- É claro que não! – Este parecia horrorizado com esse pensamento – Pode ser que Juliette e eu não possamos ficar juntos, mas meu filho crescerá como parte de minha nova família, longe de toda esta porcaria Benefici.
- Isso me alegra. – Ela sorriu sincera e depois de muito tempo, Adolfo falou com ela como uma igual.
- Só o que faltava, um bebê! – bufou Lucas.
Capitulo 18 – COVARDE! COVARDE!
Tic-tac, tic-tac,tic-tac
Tic-tac, tic-tac,tic-tac
Tic-tac, tic-tac,tic-tac
O tempo segue e eu com ele
O ataque foi certeiro e letal, Elias apenas acabava de compreender como era possível que um dos seus tenha entrado na assembléia da Aemilia com um espelho, depois que os gritos e o fogo começaram a se estender por todo o lugar. Os líderes estavam sendo emboscados por dez nosferatus por cabeça, havia entendido que o que buscavam era chegar a fonte, quando David ordenou a Elias ir até Isabel e Beth no andar se encontrava o mais sagrado para os licans, nunca passou por sua mente que teria que enfrentar sua própria gente, os lokis buscavam como sabemos o manancial que a fonte despedia, ele conseguiu esquivar-se e passar despercebido.
- Eli! Eli! – a vozinha de Isabel chamou a sua atenção, a menina correu para ele e este a abraçou. – Tenho medo!
- Fique tranqüila preciosa, tudo vai ficar bem. – caminhou rumo à fonte e procurou por Beth, mas esta não estava em nenhum lugar, ele entrou na sala onde os membros da Aemilia se reuniam, passou para o quarto onde jamais havia entrado e só por relatos sabia onde se encontrava a fonte.
- Ahi! – Isabel assinalou para Beth que estava pendurada pelos braços no teto, ela balançava como um pêndulo de um lado para outro.
- Espere-me aqui Isabel, seja boazinha e esconda-se. – Ela assentiu e se meteu dentro de um móvel, quando viu que a menina estava a salvo, ele procurou uma maneira de baixar Beth, viu que era quase impossível chegar até ela. – Creio que terei que improvisar. – Viu uma cadeira e sem mais a quebrou, fez algo parecido com uma lança e mediu a distância, só teria uma tentativa, se falhasse Beth poderia sair seriamente machucada. – Espíritos, me ajudem! - A lança voou e cortou a corda deixando cair Beth, ela foi aparada por ele e colocada no chão.
- Elias... não. – Beth parecia estar confusa, ele tratou de soltá-la. Elias não entendia o motivo, sem mais ele fez um sinal para Isabel para que se aproximasse e a menina correu para eles e se colocou ao lado de Beth.
- Tudo vai ficar bem. – Se levantou e foi para a fonte que brilhava com intensidade, de uma cor dourada que era hipnotizadora, se perguntou se aquele líquido poderia servir em algo para a causa.
- ELIAS! – O grito de Beth alertou muito tarde, quando se voltou uma mão atravessou seu peito e ficou a mercê de seu inimigo.
- Eu estava lhe esperando. – Asmodeus lhe sorriu com aqueles dentes afiados, enquanto metia mais a mão em seu interior buscando seu coração. – Acreditaram que eu deixaria que fizessem este estúpido selo? Quando vocês pensaram isso eu já sabia a resposta.
- Você... – Elias já quase não podia respirar, sentia como sua vida estava escapando por essa ferida. Uma onda de indignação de não haver feito nada o envolveu de tristeza. – Não sairás... com... ah!
- Isto me recorda algo... ah! Agora me lembro. – Asmodeus tomou seu coração e começou a apertar lentamente. – Dê minhas lembranças a cada um de seus tutores.
Elias fechou os olhos quando seu coração parou de foi arrancado, com um grito sua alma se liberou e correu quilômetros até chegar a consciência de seu irmão que ainda permanecia dormindo no Clube Moon, enquanto Asmodeus o sustentava, o levantou nos braços e sorrindo para a fonte deixou Elias cair nela, repetindo o mesmo feitiço que havia lançado no templo dos Heralds. Esta ao sentir o sangue de um licaon tornou suas águas vermelhas e começou a quebrar, até que o chão do jato foi convertido em água. Asmodeus olhou para Beth e Isabel e caminhou para elas, mas nesse momento a porta se abriu.
*****
Marcus dormia tranqüilo naquela cama, estava só e o fogo da lareira esquentava seu corpo que pouco a pouco estava esfriando com o ir e vir do vento gelado. Um olhar de fogo azul o contemplava. O ódio e o rancor transmitiam-se através de seu corpo. Aproximou-se sigilosamente até estar em frente a Marcus, quando este sentiu uma presença estranha abriu os olhos, estava certo que já o conhecia, mas por mais que quisesse lembrar, uma barreira o impedia. Aquela estranha cor de seu olhar o fez sentir que devia evitar a qualquer custo um toque de sua parte.
- É engraçado pensar que nem sequer pode se lembrar de mim. – lhe disse o sujeito que permanecia parado em frente a ele sem nenhuma vontade se ir-se. – Enquanto eu o tenho em minha mente todos os dias.
Ambos se estudaram e ainda para Marcus não significava uma ameaça, seu corpo recordava a antipatia por esse ser. Por sua parte, Nicholas que havia querido ver o progresso na transformação de Marcus, se deu conta de que este parecia entender os sentimentos que ambos professavam desde antes de sua mudança.
- Parece que você é de poucas palavras. – Nicholas fez brilhar seu olhar e uma cor prateada resplandeceu em seus olhos. – Vejamos que tão bem você pode se defender.
Mas antes que pudesse sequer enviar um ataque, Marcus se deslocou agarrando-o pelo pescoço e o jogou contra a parede fazendo um enorme buraco. Nicholas se levantou com uma chama de irritação fervendo em suas veias, mostrou seus dentes com um rugido parecido com uma pantera. Sem nenhum esforço Marcus esquivou-se e voltou a lançá-lo contra a parede.
- Hahaha, quando ela ver você, com certeza, você lhe causará uma grande impressão. – As palavras de Nicholas passaram através do cérebro de Marcus que sentiu como se sua cabeça começasse a doer.
- Ah! Ah! – Caiu de joelhos sustentando a cabeça. Nicholas se levantou e caminhou para ele, o olhou com desdém e quando ia deixar cair um golpe fatal em seu oponente, sentiu como uma força invisível o oprimia levando-o contra uma parede.
- Como se atreve! – a voz do amante de Asmodeus chegou aos seus ouvidos enquanto sua carne era rasgada, provocando uns gritos afogados se sua parte. – Nunca! – esta abriu a porta e o lançou fora do quarto.
- Desgraçada! – Nicholas a olhou, tão frágil e inocente, era a morte em si. Esta se inclinou sobre Marcus e o atraiu para acalmar-lhe como se fosse um menino, logo olhou com desdém para Nicholas e fechou a porta em seu nariz.
Capitulo 19 – AGORA, ACORDO
As malvadas musas me negam
E caio na desolação de seus braços
- IRMÃO!
Sua garganta queimou quando pronunciou a primeira palavra de seu despertar. Eliseu se levantou da cama e com lágrimas nos olhos supôs que seu irmão nunca mais estaria ao seu lado, sentir a morte de Elias havia sido dez vezes pior que a de Paula, custava conter o ar nos seus pulmões e sua respiração agitada buscava não desmoronar-se pela cruel verdade que significava abrir os olhos de novo. A alma de seu irmão havia passado junto a ele para despedir-se e o sentimento de perdê-lo o levou a tratar de deter o curso do tempo, mas sendo impossível, este o devolveu a onde pertencia.
- Eliseu despertou! – Salomé entrou e o abraçou contra si, tratando de acalmar seu estado.
- Meu irmão, Salomé! Está morto! – Não pode evitar de chorar como um menino, mas ela o beijou no cabelo, embalou e cantou murmurando como se com isso pudesse confortá-lo. – Por que Elias?
- Não podemos deter o destino com nossos desejos. – lhe disse ela – A noite me avisaram da morte de seu irmão, e me foi dada uma carta a mais para jogar na qual você tem que participar.
- Que queres dizer? – Ele o olhou com seus grandes olhos verdes cheios de culpa.
- Aquele que matou Elias nunca pensou que você e seu irmão estavam mais unidos que qualquer outro ser. – Ela chamou sua atenção quando disse isto. – Agora é o único dos guardiões Eliseu e tem que fazer Marcus voltar ao que era antes que seja muito tarde.
- Mas Elias...
- Elias morreu, mas lhe asseguro que não queria perder o resto de sua família, me entende?
- Minha família.
- Assim é, querido, agora você é parte de um legado e pelo tanto de poder que há em seu sangue purificará ao de Marcus, está disposto a arriscar-se? – Eliseu olhou seu braço esquerdo e quando reconheceu a marca familiar sua decisão estava tomada.
- Faça isso!
*****
Narciso se mostrou diante de seu dono impenetrável e misterioso, seu poder corria por cada um de seus traços de prata, a lua não refletia nada em sua superfície de cristal e deixava presa a luz do exterior. Sentimentos, emoções, sonhos, rancores e ações podiam alimentar seu poder, era a luz e a escuridão, atuava sob suas próprias condições, dentro dele batia uma consciência. Os personagens que falavam em frente a ele, o viam com temor e respeito, pois era um objeto perigosamente volúvel, algo nele convidava a tocar-lhe e ao mesmo tempo, repelir. Um canto sedutor para um curioso, um laço com outro mundo.
- Parece-me o objeto mais poderoso que já pude ver. – Disse Mikael para Daniel. – Sua superfície é estranha e também atraente.
- Narciso me foi presenteado por Asmodeus e não duvido que haja sido por algo em particular.
- Quer dizer que espera que você o use? – Daniel assentiu para a pergunta de Gabrielle. – Então como você pode se assegurar que lhe levará para onde deseja.
- Sei o que fará se o pedimos dois seres completamente diferentes.
- Diferentes? – Mikael parecia intrigado pelas palavras de Daniel.
- Eu sou a vida e necessito da morte para que tenha equilíbrio no desejo. – Os Heralds se olharam confusos. – Necessito que ela venha comigo.
- Daniel, você se refere a escritora? – Dimas se aproximou preocupado. – Mas se lhe vê...
- Sim, se não o faço, todos vamos perecer. – respondeu decidido – Eu farei minha parte e ela também. Eu estou seguro que se lhe pedirmos, ela aceitará.
- Ainda assim você necessita que Angelique aceite. – lhe recordou Mikael.
- Se voltar a perder tanto sangue, não estou certo que voltem a funcionar meus métodos.
- Não fiquem preocupados, seu o que fazer e quanto a Angelique, eu falarei com ela. – Tocou o espelho e este vibrou suavemente. – Atrás deste objeto se encontra a nossa liberdade.
Capitulo 20 – SEM MEDO
Não me obrigue a amar-lhe,
Se você está dentro de mim desde antes
Só o amar-lhe responde aos meus medos
E com eles construirei nuvens de sonhos
Se a dor pode ser descrita com palavras, é que você ainda não a experimentou de verdade. Não pode dizer que sofreu se você consegue dizê-lo, não pode crer que lhe machucaram se não guardas as feridas, a dor é relativa à pessoa que a experimenta, mas todos coincidem com algo. É o detonante da loucura e a saída a um novo começo. Algo dentro dela se feriu quando a noticia da morte de Elias chegou aos seus ouvidos, ele havia sido como um irmão mais velho para ela. Ela recordou o momento em que eles se conheceram, o belo sorriso que lhe preenchia a alma cada vez que ele flertava com ela. Sua responsabilidade para com sua família e o muito que sentiria falta de suas palavras de conforto. Vane levou as mãos ao rosto e chorou amargamente sendo consolada por Adolfo que não parecia crer naquilo, suas lágrimas salgadas e quentes tocaram as suas mãos e não queriam parar de sair. O céu se encheu de nuvens negras e a chuva descendo sobre o asfalto parecia haver lhes avisado com antecedência. Quando chegaram ao Clube Moon, Salomé os esperava junto com Eliseu, vestidos de branco.
Sem dizer uma palavra, a alegria de ver um irmão Baabham era ofuscada pela perda do outro. Haviam poucos assistentes no funeral, só eles e alguns conhecidos por parte da Aemilia que se encontravam presentes. Beth, Isabel e David também estavam ali, lhes haviam contado que elas estiveram a ponto de serem eliminadas por Asmodeus, mas a chegada de David o impediu. Que se Elias tivesse demorado para descer Beth, Asmodeus haveria acabado com os três. O féretro branco cheio de rosas brancas era colocado para ouvirem as despedidas antes de baixar. Os familiares se aproximaram para o ultimo adeus. Vane chegou junto do caixão e tocou as rosas brancas, e prometeu a Elias que cuidaria bem de Eliseu e que poderia descansar em paz. Adolfo foi o seguinte, sua serenidade se rompeu ao chegar junto a Elias, suas lágrimas correram sinceras, removendo o bloqueio que as havia contido por muito tempo.
- Você é um estúpido, não tinhas que morrer ainda Firulais. – Adolfo pegou suas mãos depois de dizer adeus, e ficou de lado para que Eliseu se aproximasse. O irmão de Elias estava tão desfeito que caminhava com dificuldade, seu semblante era de absoluta miséria quando viu que seu irmão seria enterrado naquele lugar a que agora pertencia.
- Obrigado por ter cuidado de mim. – lhe disse com lágrimas tocando o caixão com uma caricia. – Agora poderás ver sua princesa, diga a ela que a amo muito e que quando nos encontrarmos, vocês sentirão orgulho de mim. Eu juro!
Ambos se retiraram e olharam baixar o féretro, Salomé estava junto a eles, enquanto a terra era removida e com sumo cuidado cobria a Elias. Vane reconheceu o panteão, era quase impossível esquecer o lugar onde estavam parados, aqui haviam sido enterrados Shin Tokugawa, o primeiro loki que conheceu e teve uma curta, mas grande amizade; Paula Maine, sua amiga mais que especial e os tutores daqueles rapazes que haviam dado suas vidas para que eles fossem felizes, suas tumbas pareciam alinhar-se para serem vistas unidas e silenciosas. Reconheceu a tumba de sua amiga e se separou dos demais, caminhou até ela e separou as folhas que cobriam a fotografia de Paula, se surpreendeu ao ver que não só estava o nome de sua amiga, senão também o de Pablo, junto com suas fotografias, havia levado muito tempo para vir visitá-los. Era demasiado triste saber que o fazia agora, por que se via na necessidade de voltar.
- ASSIM E PELA ETERNIDADE! – O grito de guerra com que eram enterrados os grandes guerreiros se ouviu por entre as lápides, logo a chuva foi o único som que interrompia a quietude do lugar.
- Pensei que a dor de perdê-la era terrível. – Eliseu estava ao seu lado contemplando a tumba de Paula. – Mas agora a dor de haver perdido ao meu irmão é superior a qualquer coisa, as duas pessoas a quem mais amava me abandonaram.
- Não diga isso Eliseu. – Vane tomou seu braço e deixou que sua cabeça repousasse em seu ombro. - Eles não queriam deixar-nos, e estou segura que se nos estiverem vendo, estão muito tristes ao ver a dor que deixaram atrás em sua partida.
- Como posso calar este grito em meu peito! Não posso!
- Então grita e deixe que eles vejam que podemos lutar para sermos felizes. – Eliseu a olhou e assentiu.
- Elias me disse uma vez, que estar longe de uma pessoa não significava o esquecimento. – Suas palavras eram tão cheias de fé que Vane estava segura delas. – Senão, a lembrança de saber que ela existiu em sua vida.
- Eu também acredito. Quero crer que seja assim!
*****
- Hei! Levante solta! Desperte Bingo!
Quando abriu os olhos, uma luz brilhante o cegou por um breve momento, logo enfocou pouco a pouco o rosto de um jovem. Ele tinha cabelo dourado e olhos verdes, seu queixo era peculiar e seu sorriso lhe dizia que ambos se haviam conhecido. O desconhecido lhe ofereceu sua mão e ele a aceitou um pouco confuso, quando o ajudou a pôr-se em pé na paisagem branca mudou o que parecia ser um pub, a musica se podia ouvir ao fundo deste, velhas gaitas tocavam chiando como gatos espremidos, no entanto, o lugar era confortável. Uma garota trouxe uma bandeja com copos de cerveja e os colocou na frente deles. Aquele jovem começou a beber e terminou-a em um só gole. Logo ambos permaneceram em silencio, o rapaz parecia esperar por alguém.
- Só vim para despedir-me. – lhe disse sorrindo. – Você vai se irritar muito, mas sei que compreenderás. Confio que o farás!
A garota trouxe uns pastéis e este começou a comer rapidamente, logo ordenou outra cerveja, quando parecia estar satisfeito, a porta do lugar se abriu deixando entrar uma luz impressionante. A figura de uma garota apareceu, ele a havia visto antes, mas agora seu nome era difícil de recordar, todavia ela o saudou e também a outro jovem. Este limpou as mãos em um guardanapo e deixou a conta paga.
- Tudo sairá bem. – foi o ultimo que lhe disse, caminhou para a entrada e tomou a mão da garota, logo lhe deu um beijo na testa e ela lhe sorriu, ambos caminharam rumo a essa luz, desaparecendo de suas lembranças.
*****
- Vai com Eliseu ao Clube Moon que eu os encontrarei logo. – Adolfo estava se despedindo, necessitava trocar de roupa e as suas estavam na Mansão Branca.
- Posso lhe pedir algo? – Vane o tomou pelo braço e ele ao principio um pouco surpreso assentiu. – Quero que me traga meu Laptop, necessito escrever.
- Você ainda segue escrevendo?
- Sim, senão jamais saberei quando foi o principio e o final.
- Ok.
O carro de Adolfo atravessou a cidade, sua mente ia ocupada uma centena de coisas. As lembranças dolorosas lhe perfuravam a alma como machados, não compreendia por que sua família estava morrendo pouco a pouco, não queria perder Eliseu e Marcus, e já sendo sincero, tampouco queria que a escritora desaparecesse se sua vida. Quando ele entrou na mansão os guardas lhe indicaram que a atividade era quase nula ultimamente, quando entrou e viu a enorme casa solitária, um sentimento de solidão o envolveu. Ele tirou a capa de chuva e correu escada acima, foi ao quarto que anteriormente ocupava a escritora e olhou a mesa encontrando o laptop, o meteu dentro da mochila e quando se dispunha a sair, o gato negro de Paula apareceu na entrada.
- Merlin? Mas... pensei que você havia ido embora. – Uma alegria estranha de ver o animal encheu-o, se abaixou e acariciou a orelha do gato que miou, o tomou nos braços e desceu para a cozinha. – Você deve estar com fome, verdade? Sinto muito que se veja tão solitário, mas prescindimos de alguns serventes, pois já quase não estamos aqui. – abriu uma caixa de leite e o colocou em um prato, o gato se aproximou cheirando e bebeu avidamente. Tinhas fome.
Quando o gato terminou, lambeu as patas e logo deu voltas até parar quietinho vendo como Adolfo preparava um café, este se perguntou o que havia estado fazendo aquele animal no quarto de Vane, mas se disse que se recordava bem de que Paula também havia vivido ali, isso dizia que Merlin buscava a sua dona. Estava se virando de costas quando começou a esquentar a água e sentiu uma estranha energia surgir, quando se voltou encontrou com um nosferatu. Era muito diferente de qualquer outro, em seus olhos mostrava todas as emoções possíveis, sua aparência lhe dava certo ar juvenil que encantava, certamente era como ver a um menino sentado sobre a mesa.
- Se o assustei quero desculpar-me. – o menino desceu da mesa e o olhou envergonhado. – Creio que você necessita saber de algumas coisas.
- Você não era Merlin. – Adolfo havia notado que a água na chaleira começava a chiar.
- Eu sou Merlin, sem duvida. – o menino esta tão seguro daquilo que Adolfo começou a duvidar.
- Não entendo... Como você pode cruzar a barreira?
- Fui eu quem a construiu faz muito tempo – lhe contestou – Mas agora quero que se intere de algo importante Adolfo.
- Como sabe meu nome?
- Já lhe disse que sou Merlin e lhe conheço desde que vieste para este lugar.
- Quando cheguei você não estava aqui.
- Eu sempre tenho estado aqui.
- Não sei por que estou lhe escutando dizer bobagens em vez de jogar-lhe para fora daqui a pontapés.
- Por que em seu coração sabe que não minto.
- Não é possível. – Adolfo tomou assento antes de deixar cair a xícara. – O que você quer?
- Ajudá-los.
- E se pode saber como?
- Meu verdadeiro nome é Seth, sou filho de Lilith. – quando ele terminou de pronunciar aquele nome, Adolfo se levantou e o olhou desafiante.
- Que porra!
- Eu lhe peço que me escute antes! – Adolfo pensou muito antes de voltar a tomar assento, o menino começou a relatar-lhe sua vida e como havia chegado a ser o guardião da família de Marcus, ao final, confessou a relação que tinham os sonhos de Vane com ele e também que tinham uma chave para que pudessem chegar até Marcus e não enganar-se.
- Tudo isso parece mentira. – Adolfo imaginava o que Marcus e aquela garota haviam passado, era estarrecedor o destino que este ser lhes havia imposto.
- Há um espelho muito poderoso que poderá transportá-los. – Seth parecia desesperado por que lhe escutara um pouco mais. – Se chama Narciso e seu dono é Daniel, tem que levar Vane junto a ele para que possam cruzar.
- Estás louco! Se eu chego a aproximar a escritora um pouco desses tipos lhe farão algum dano.
- Ela lhe preocupa?
- Claro que me preocupa! – Seth viu que havia feito o correto vindo até Adolfo, o licaon havia amadurecido em grande medida, se ele podia chegar a levar Vane para junto de Daniel, tudo sairia bem.
- Então você fará o correto. – logo desapareceu em uma piscada de olho.
Adolfo se disse que isto era uma alucinação, ele tinha que começar a repensar as coisas que estava fazendo.
Capitulo 21 – UMA ORAÇÃO
A água refletia o que sinto
E sua voz o que tento
Os Heralds chegaram a Aemilia junto com Abraham, estes os receberam e explicaram o recente ataque de Asmodeus a sua fonte, Mikael e Gabrielle também falaram sobre seu templo e o muito que custaria para levantá-lo. Adolfo olhou para a escritora e recordou as palavras de Seth, se como este dizia ela devia ver-se com Daniel, estavam perdendo tempo.
- Salomé fará o feitiço que selará a transformação de Marcus. – explicava Mateus para os visitantes na sala do Clube Moon. – Só devemos esperar para saber onde encontrá-lo.
- É certo que Daniel tem a solução para isso? – Mikael e Gabrielle se voltaram para Adolfo, este não deixou que seus imponentes olhares o fizessem duvidar, assim, enfrentou a resposta.
- Por isso estamos aqui. – respondeu Gabrielle e olhou para Vane que não entendia ao que se referiam.
- Então poderíamos dizer que é tempo de realizar o feitiço. – Salomé apareceu com Chac pela mão, este foi para Adolfo que o carregou. – Necessito ver suas marcas rapazes.
- Bem. – Adolfo levantou a manga e descobriu uma rosa escarlate com toques dourados nos espinhos, Eliseu tirou a jaqueta e sua insígnia era uma flecha dourada a qual apontava para seu coração, Chac mostrou sua marca, revelando a cara de um jaguar.
- Necessito que permaneçam juntos enquanto realizo o ritual. – Salomé tirou as luvas e as entregou para seu ajudante, fez sinal para os demais para que retrocedessem. – Não devo ter distrações, é necessário que o feitiço se realize rapidamente.
- Confiamos que assim seja. – João assentiu.
Salomé rodeou com sal aos três voluntários, estes um pouco nervosos com suas orações se entretinham olhando para os presentes, ela colocou três espadas de diferentes tamanhos em cada parte até formar um triangulo. Uma espécie de fogo se incendiou e fazendo que os que estavam dentro do circulo gritassem de dor, entretanto, quando Salomé deixou cair uma gota de seu sangue o fogo se apagou e o selo se deu por finalizado. Adolfo, Eliseu e Chac, eles eram agora, os novos guardiões.
- É hora de viajar, meus queridos meninos.
*****
Asmodeus estava muito feliz, sabia que logo viriam atrás dele. Havia esperado séculos para que sua vingança fosse completa, não ia permitir que nada atrapalhasse sua missão. Cada passo que deu ao longo de séculos foi exatamente para que ocorresse isto. A morte daquela mulher e mãe de Marcus, o assassinato da família daquela garota Sol que tinha força suficiente para conseguir fazer um selo, e também em suas mãos agora estava o ser mais poderoso que a terra e os espíritos haviam assinalado como o indicado para perpetuar sua vingança. Ilogicamente era o herdeiro dessa tribo maldita, e no sangue desse menino e de sua irmã, se encontravam adormecidos os poderes de seus ancestrais, mas com eles pereceriam para sempre.
- Recorda a promessa que lhe fiz, Nicholas. – Seu servo mais próximo assentiu. – Poderás ter sua alma e o retorno de sua família em troca de seu sacrifício, só necessitas que ela se renda e morra de medo.
- Não há problema. – Nicholas mostrou uns dentes sobressalentes.
- Minha querida Susana, eu vejo que você segue aferrada a idéia de que lhe quero tirar o menino. – Ela o olhou com desprezo e Asmodeus sabia que jamais havia confiado nele. – Você decide se afastar dele ou defender este lugar.
- Eu farei o melhor possível.
- Quantos permanecem? – a pergunta era feita por Esbet, sua primeira serva.
- Somos cinqüenta, meu senhor.
- Vocês tiveram a oportunidade de conhecer a verdadeira força da vida e agora requeiro que me devolvam esse favor, sua existência está escrita no livro do destino e este é meu melhor aliado, não me traiam ou conseguirão o seu fim.
- Igual ao que deste como fim para Alaska. – Susana lhe confirmou os feitos e ele não fez por negar.
- Alaska era mais útil morto, querida. – Asmodeus se aproximou dela e acariciou seu rosto. – Seu único talento era que quando morresse poderia dar-me absolutamente toda a informação que seu corpo, sentidos e mente, tinham para mim, um logro para um ser patético como ele!
- Quando chegarão?
- Paciência Nicholas, eles estão tão perto...
*****
Ele a esperava. Daniel estava parado nas escadas, a seu lado sua companheira Angelique apoiava seu corpo junto a ele, como uma intima caricia, ao chegar Vane esperou para ver os membros do Clã de Marcus, estes se achavam aos pares atrás dela. Todos concentravam seu olhar nela e nos licans que vinham atrás dela. Com escrutínio e censura da maioria, ela subiu às escadas, acompanhada de Adolfo, Eliseu e Chac. Os três pareciam sincronizar-se tanto, como se o selo os houvesse transformado em um só. Ao chegar, seus olhos se encontraram com os de Daniel e ele assentiu a modo de saudação.
- Narciso está esperando por nós. – lhe disse, com elegância e deixou que Angelique que se pôs ao lado de Dimas e Verônica, para oferecer a sua mão. – Tudo estará bem.
- Eu sei. – Ambos sentiram a conexão da qual falavam, antes ele ao sentir-se tão perto, havia sido exaustivo, perigoso e obsessivo, mas nesta ocasião a energia que fluía através deles era uma completa fusão de mentes, corpo e coração.
- Teremos quinze minutos para cruzar. – advertiu Daniel – Narciso se fechará e se não tiverem cruzado pode ser que ele leve-os para outro lugar, completamente distinto, o que é perigoso.
- Como pode estar seguro de que nos levará? – lhe perguntou um dos membros da Aemilia.
- Por que Narciso se agrada de Vane e eu. – Ambos se viram nos olhos e eles entenderam qual era a conexão desse espelho, se Narciso era Vida e Morte, eles representavam exatamente isso. – Preparados? – Todos assentiram, Esther que estava tomada de mão com Elena se soltou e segurou o braço de Eliseu, ela a recordou perfeitamente, ambos haviam lutado anteriormente e ela seguia sendo tão enigmática como aquela noite em que seu irmão flertou com ela.
- Só quero dizer-lhe que sinto sua perda. – Esther o olhou de uma forma que Eliseu compreendia que ambos eram iguais. – Se Elena me faltasse, uma parte de mim morreria com ela, por isso entendo sua dor e lamento muito.
- Obrigado. – Eliseu não entendeu por que um sorriso surgiu em seu rosto nesse momento, ela o soltou e se dirigiu para junto de sua irmã, logo de imediato, ele compreendeu que Esther seria a única que compreenderia esta dor.
A mão de Daniel tocou a superfície do espelho, este vibrou e refletiu tanto a Vane como a ele, os reflexos eram exatamente iguais a ele, mas quando ela se fixou, viu como seu outro eu lhe sorria de forma assustadora e a convidava a entrar. Daniel apertou sua mão e com um sorriso lhe disse que tudo estaria bem. Logo cruzaram.
Capitulo 22 – CANÇÕES TRISTES
Não pensei escrever-lhe aquelas palavras
Nem por minha mente passou esquecê-las
Espero que você me entenda
E você sabe que me ama
- Olá garotos.
Vane abriu os olhos ao ouvir aquela voz e descobriu que Asmodeus os estava esperando no outro lado do espelho, uma mão longa tomou o seu pulso com tanta força que a fez gemer, Daniel tratou de fazer que lhe soltasse, mas umas mãos também se apoderaram dele, suas mãos se separaram e o ciclo se rompeu. Um redemoinho a levou em uma onda de recordações do presente, passado e futuro. Logo tudo escureceu, os sonhos chegaram à sua mente.
- Como está? – uma voz amável lhe fez levantar-se, uma mulher acariciava a sua cabeça e quando olhou ao seu redor só um marco branco era dono daquele sonho ou premonição.
- Quem é você? – A mulher o olhou com suavidade, havia algo nela que lhe era familiar, mas não entendia o que era. – Eu a conheço?
- Não o creio jovenzinha. – sorriu com graça – Se fosse assim, recordaria um rosto tão particular.
- É que me faz pensar que já a vi em algum lugar. – Vane entrecerrou os olhos, mas por mais que tentasse, não pode recordar.
- Meu marido disse que quando alguém recebe um forte golpe, pode ficar um pouso desorientado.
- Talvez seu marido tenha razão. – Vane não sabia a onde a havia levado Narciso – Tenho que regressar, meus amigos precisam de mim.
- O meu filho precisa de você. – ela disse estas palavras como se soubesse de quem falava.
- Seu filho? – Vane a olhou sorrir de novo e entendeu quem era seu filho, esse sorriso era, absolutamente, dela. – Era a sua mãe!
- Asmodeus conseguiu afastar-lhe de Daniel, mas não se preocupe, tudo sairá bem.
- Por que você está me dizendo isto tudo?
- Por que, neste momento, está em grave perigo e deve despertar. – Ela a olhou triste – Não tenha medo querida, nós os ajudaremos.
Uma força fez com que Vane começasse a tremer, logo tudo lhe cegou por completo.
Quando abriu os olhos estava atirada sobre umas lápides, sua roupa havia mudado para uma bata branca, olhou o lugar onde se encontrava e reconheceu, jamais esqueceria aquele cenário, o levaria em seu coração por muito tempo ainda depois de morta. O cemitério se erguia na frente dela.
Daniel abriu os olhos um pouco dolorido pelo impacto, quando recordou onde estava se levantou imediatamente. Buscou os seus amigos, mas deduziu que Narciso os levaria para outro lugar perto, agora ele se encontrava no interior do castelo. Vane havia sido arrebatada dele e tinha que encontrá-la, caminhou pelos corredores e a suspeita de ser seguido por alguém o faziam voltar-se a cada momento, quando se deu conta que parecia não haver guardas, ele achou ainda mais suspeito. Asmodeus estava planejando algo.
- Filho meu, o que o trouxe por aqui? – sua mãe estava na frente dele. Sua pele resplandecente e seus cabelos loiros caiam em suas formosas curvas. Ambos vinham do mesmo lugar e ainda assim, ele se sentia tão separado dela, que não entendia por quê.
- Não quero lhe machucar mãe. – Daniel mudou seus olhos para um dourado intenso. – Mas se não sair do caminho, não me deixará outra opção.
- Desta maneira que paga a mulher que o salvou, pequeno miserável.
- Eu não pedi para ser regatado por você. – a olhou com força – Eu terei que lhe machucar.
- Hahahah, diz me machucar? – ela o olhou com aqueles olhos cheios de ódio – Você se engana se pensa que esta vida não me agrada filho, eu mesma supliquei a Asmodeus pela transformação e graças ao seu magnífico pode, agora eu estou aqui, jovem, bela e cheia de poder.
- Este é o seu problema mãe. – Daniel recordou os gritos e lamentos de cada menina que era assassinada por sua mãe. – Sempre tiveste isso.
Ele não esperou para ser atacado. Todavia Esbet contra-atacou, fez com que se suspendesse o ar e o lançou vários metros distante dela, este se levantou e voltou a intentar, mas com uma tática diferente, esta se desviou de lado e o fez estrelar-se contra uma coluna. Daniel não queria usar seu poder, mas ela o estava deixando sem opção, se quisesse romper seu poder e evitar o que viria, teria que fazê-lo. Ambos se lançaram ao ataque, mas Daniel duvidou e ela o pegou pela cabeça batendo-a repetidamente contra o chão, fazendo-o sangrar, caminhou ao seu redor divertida, ao ver os resultados do ataque.
- Filho nunca subestime o amor de uma mãe. – Esbet afiou as unhas, mas no justo momento que decidiu enterrá-las no rosto de seu filho uma lança atravessou-a. – Q-que...?
- Você tem razão Esbet. – Susana saiu agarrada de mão com Téo. – Nunca subestime o poder de uma mãe.
- Tr-traição! – chiou a nosferatu antes de cair e converter-se em uma estátua de pó de mármore.
Daniel começou a regenerar enquanto via a Susana tirar a lança do corpo de sua mãe. Téo se deu conta que os olhava e lhe sorriu, Daniel não se explicava o que estava acontecendo. Susana se levantou e se voltou para ele, alçou as sobrancelhas em sinal de surpresa ao notar que se havia regenerado por completo.
- Você não perde tempo, hein?
- Não entendo o que você acaba de fazer.
- Eu salvei a sua vida, eu sabia que de todos, a ela você não poderia fazer-lhe qualquer dano, por isso eu o fiz mais fácil para você.
- Você está do nosso lado?
- Se a vida de Téo depender de que vocês ganhem, então vocês tem todo meu apoio.
- Sendo assim, lhe peço que me diga onde está Asmodeus e Vane.
- Você o poderá encontrar no lado do castelo, pensa em atacar os garotos que são o selo para Marcus, quanto a garota – olhou para Téo e este lhe sorriu – Ela está no cemitério.
- Muito obrigado. – e saiu correndo rumo a onde ela lhe havia dito.
*****
Vane tratou de imaginar como havia chegado a esse lugar e vestida dessa forma, se Narciso lhe estava fazendo passar um momento difícil, ele o conseguiria sem duvidas.
- Por fim você despertou. – a voz de Nicholas lhe respondeu claramente as suas dúvidas – Por que a cara de maus amigos? Não sentiu falta de mim?
- Não mesmo. – Vane começou a buscar uma arma, qualquer coisa com que defender-se, este pareceu adivinhar suas intenções.
- Mas não lhe parece que se me matar, não poderá encontrar a tempo o Marcus?
- Eu vou encontrá-lo sem sua ajuda.
- É uma pena, o tempo dele já está correndo. – Assinalou a lua cheia que brilhava forte e esplendorosa sobre eles – Só faltam uns poucos minutos para que a sua transformação seja total.
- Não creio em você – Ainda que por dentro sabia que Nicholas não lhe estava mentindo, não podia permitir que lhe visse assustada.
- Lilith tomara seu sangue e quando isso ocorra, poderá manipular as duas espécies à sua vontade.
- E que ganharia você com isso?
- A você. – Nicholas se aproximou tão rápido que apenas pode pensar, a aprisionou contra ele e lhe levantou o cabelo acariciando seu pescoço – Quando você for minha, tudo terminará e pode cumprir meu desejo.
- Me solte! – Vane tomou a corrente da mãe de Elias e a incrustou no rosto de Nicholas, esta por um estranho sucesso perfurou queimando a pele deste, o rosário caiu no pescoço e ele o reconheceu antes de sair correndo.
As folhas murchas, juntamente com a neve, queimaram seus pés. Ela podia sentir o furioso que estava seu perseguidor, ele acabaria com ela. Ele o faria se deixasse que a alcançasse, tinha que conseguir encontrar a Marcus e resgatá-lo. As imagens de seus sonhos tomaram sentido, acabava de viver o que seu pesadelo mostrava, quando Nicholas a tomou pelo pescoço com tal força, sentiu que seus pulmões rebentariam.
- Eu não gostei nada disso – começou a levantá-la e a apertá-la com tal força que Vane não pode conter umas lágrimas que escaparam inconscientes de seus olhos. – Nada me voltará a machucar! – Vane tocou a mão de Nicholas e pela primeira vez viu as imagens de seu passado, uma família de sete membros, Nicholas brincando com uns soldadinhos, sua irmã Susana empurrando um trenó na neve, três jovens saudando-os na encosta, sua mãe beijando-o e seu pai rezando para que se curasse daquela horrível enfermidade; logo vieram a fome, a dor e os disparos, a neve branca se manchou de vermelho.
- SE DETENHA ALEXIS!
Capitulo 23 – LOUCURA ABSOLUTA
Toma minha alma e voe junto de mim
Registra cada canto de meu ser
Revela os segredos que lhe guardo
Descubra por que lhe amo
Adolfo enfrentou ao ultimo loki, enquanto Eliseu se encarregava dos três nosferatus que haviam chegado para detê-los, o pequeno Chac era muito ágil e forte, tão forte que com um simples toque atirava seus inimigos para muito longe, mas tinha cuidado de não ser agarrado ou estaria indefeso frente a eles. A lua cheia brilhava e haviam se transformado em lobos esperando detectar mais rápido o cheiro de Marcus, mas este parecia haver desaparecido, se perguntou onde estariam Daniel e Vane.
- Adolfo cuidado com esse! – lhe advertiu Eliseu, se voltou nesse momento e terminou com o nosferatu que se havia lançado em ataque. – Eu lhe juro, que esse tipo há de ver posto em cada canto grupos iguais.
- Então teremos que pensar como ele e nos livrarmos deles. – refutou.
- A senhorita Vane estará bem? – perguntou Chac, seu pequeno focinho era branco e ele lambeu suas patas doloridas.
- Ela não é uma menina indefesa. – lhes disse Adolfo enquanto cheirava o ar – Mas agora que você o disse, senão podemos seguir o cheiro de Marcus, seguiremos o dela.
- Muito bem pensado. – a voz desse homem foi reconhecida por Eliseu e Adolfo quem se voltaram no instante, Asmodeus estava em frente a eles.
*****
O barulho de coisas quebrando se ouviu quando Nicholas saiu despedindo uma árvore que aparou o impacto quebrando-se. Vane foi sustentada por Daniel que a ajudou a levantar e impedir de haver estado a ponto de ser asfixiada, esta o olhou aliviada, mas olhou para onde havia vindo a voz feminina. Quando se encontrou com Susana e sua irmã não podia crer que ela estivesse de seu lado. Mas não pode pensar mais por que Téo se soltou de Susana e correu para ela.
- Vane! – seu pequeno irmão a abraço e ela a ele.
- Oh Téo! Meu Téo! – o beijou e ele também a ela, ambos estavam felizes por haverem se encontrado – Você se lembra de mim!
- Perdoe-me irmã. – Téo chorou em seus braços, mas ela não pode mais que beijá-lo de novo, sentir seu corpinho ao seu lado são e salvo era mais que suficiente.
- TRAIDORA! – Nicholas se havia levantado e olhava para Susana com ódio puro – EU TE ODEIO! VOU FAZER VOCE PAGAR POR ISSO!
- Eles não quereriam isto! Você tem que entender! – Susana estava chorando e se defendia, mas seu irmão não pareceu compreender as suas palavras.
- EU MESMO VOU LHE MATAR!
- ALEXIS!
- CALE-SE ANIA!
- Será melhor que se apresse – Daniel estava abraçando em cada lado de seu corpo Vane e Téo – Marcus se encontra ao norte, aí poderás encontrá-lo, vá!
- Mas não lhe posso deixar aqui!
- Estarei bem, você só tem que salvá-lo, confio em que o fará – Daniel a olhou fixamente e a apertou contra si, beijando-a nos lábios. Ambos se separaram com pesar – Agora pode fazê-lo só! Vá!
- Sim! – Vane tomou a mão de Téo e começou a correr, mas o menino a deteve – O que sucede?
- Eu tenho que ficar irmãzinha.
- Não! Você vem comigo. – mas o menino se soltou – TEO!
- Seu destino é resgatar Marcus, o meu é ficar aqui. – o olhar de seu irmão era determinado, forte e valente.
- Não me peça isto.
- Eu estarei bem, eu prometo. – Vane beijou seu irmão na testa e correu em direção ao seu destino, que pouco a pouco a estava alcançando.
*****
- Não se separem e estejam alerta! – lhe advertiu Adolfo.
- Mas olha nada mais, vocês conseguiram atravessar o espelho e também completaram o Selo. – Asmodeus olhou para Eliseu e este grunhiu desgostoso. – Creio que essa bruxa já viu mais do que deve.
- Maldito assassino! – Eliseu se lançou sem pensar e Adolfo atrás dele, Asmodeus tomou Eliseu e o jogou contra um penhasco, este pode sustentar-se a duras penas e Chac foi em sua ajuda.
- É por isto que não gosto de lutar com licans. – ele zombou – São tão sentimentais, tudo o fazem por instinto.
- Onde está Marcus? – exigiu Adolfo grunhindo e procurando proteger as costas de Chac que ajudava Eliseu.
- Você acredita que sou tão estúpido para dizer-lhe?
- Mas você foi suficientemente estúpido para vir por nós.
- A única coisa que tenho que fazer é eliminar a um de vocês e tudo será como previ.
- Tente! – Adolfo atacou e Asmodeus deteve seu ataque parando o tempo, tudo parecia tão lento para Adolfo que apenas pode dar-se conta que Asmodeus, ia na direção de Chac e Eliseu, uma força sobre-humana veio de seu interior bestial e se liberou do poder do nosferatu – Nós não terminamos ainda!
- Não é possível! – Asmodeus apenas pode ver o golpe que cruzou seu rosto e começou a sangrar.
- Não volte a por a mão em cima de minha família! – rugiu o licaon – Por que sou capaz de tudo para defendê-los! – Asmodeus incendiou o seu olhar branco e com uma velocidade inimaginável arrancou o braço direito de Adolfo, jogando-o para longe.
- Espero que aprendas algo com isto estúpido bastardo! – lhe disse ao ouvido – Ninguém me toca.
- Adolfo! – Eliseu se lançou em sua ajuda e Chac atrás dele. Asmodeus sorriu e esperou o impacto final.
*****
Susana foi atacada por seu próprio irmão, lhe rompeu o braço e a lançou contra as rochas, ele estava furioso e descarregaria toda a sua fúria nela. Quando quis atacá-la de novo Daniel se interpôs e o jogou longe, carregou Susana e colocou ao lado de Téo que tomou sua mão. Nicholas recompôs os ossos do tórax e com um sorriso deu a indicação a Daniel de que podia dar o primeiro golpe. Ambos haviam sido treinados pelo mesmo mestre, ambos tinham o sangue dele em suas veias, a única diferença era sua determinação. Daniel era limpo atacando, mas Nicholas se valia de todas as situações, quando viu que seu oponente se ligava nas rochas e sacou uma adaga com o veneno daquela fonte, mas no ultimo momento Daniel lhe mandou fora de sua mão caindo perto de Susana e Téo. O menino viu a adaga e correu para alcançá-la apesar dos gritos de Susana, quando Daniel se deu conta Nicholas avançou rumo a Téo. Quando o menino se voltou Nicholas o atacou com a mesma arma tirando-a de suas mãos e fazendo um corte em seu estomago.
- NÃOOOO! – Susana se levantou e se jogou contra Nicholas – Por quê? – Ela começou a golpeá-lo e este não entendia de onde havia tirado forças para atacá-lo assim, Daniel auxiliou Téo, mas o menino estava muito grave e seus olhos piscavam e gemia de dor – AI!
Nicholas enterrou a adaga em sua irmã e caiu ao seu lado, a empurrou com força, mas ela sacou o instrumento e o cravou no coração dele, ganhando a batalha.
- O que você fez? – Nicholas a olhou com horror – Não quero morrer Ania... tenho medo.
- Eu sinto tanto Alexis – Susana o beijou e chorou junto a ele – Mas eles o estão esperando, não se preocupe, ficaremos todos juntos.
- Ania... eu só queria que eles voltassem.
- Eu sei, querido. Agora descansa – Nicholas fechou os olhos e seu corpo se converteu em uma estátua de mármore.
- Téo está morrendo Susana! – Daniel a olhou desesperado.
- Trag... a Téo... aqui – Susana sentia a morte abraçando-a pouco a pouco, mas antes de partir faria o correto.
- O que você pensa em fazer? – Daniel lhe entregou Téo e ela beijou a bochecha do menino.
- O correto Daniel – Susana cortou o pulso e deu para Téo provar o seu sangue.
- NÂO! Isso seria horrível – Tratou de afastar Téo, mas ela o empurrou para longe.
- Não se meta Daniel. – olhou o corpo sem vida de seu irmão e logo o pequeno corpo de Téo a ponto de sucumbir – Meu menino... desperte. – Téo abriu os olhos e a olhou – Lembra qual é meu outro dom. – ele assentiu – Eu sei que não deve morrer meu menino... mas... eu... estou morrendo. – Téo tomou sua mão e ela chorou – Pegue a mão de Alexis. – Daniel se levantou e viu como Téo obedecia o que Susana lhe dizia – Agora feche seus olhos e concentre-se muito forte.
- SUSANA NÃO! – Daniel só pode cobrir-se da imensa luz que despregou-se por todo o bosque, todos os que se encontravam nela sentiram o toque de uma nova vida e a partida de outra.
Quando a luz desapareceu, Daniel se levantou e correu para Téo. Susana estava imóvel e completamente de mármore, entre seus braços Téo se achava igual e suas mãos estavam juntas. Daniel deixou-se cair na neve, profundamente triste. Como ele diria a Vane o que havia acontecido?
- Aju...da – uma voz irreconhecível o fez voltar e concentrar-se. O corpo de Nicholas estava vivo e ferido, mas não convertido em mármore – Aju...da – gemeu a voz e Daniel sem dar credito ao que escutava se aproximou.
Como se o chamado fosse um grito, duas sombras saíram do nada para auxiliar ao ferido. Daniel reconheceu a garotas, eram as amantes de Nicholas, Marina e Laura. Ambas se inclinaram para o corpo dele e uma o levantou, enquanto a outra cortava a veia de um pulso para alimentá-lo. O que quer que estivesse dentro do corpo de Nicholas não era ele, era alguém diferente. O rapaz bebeu de Laura com força e logo limpou a boca que havia deixado um rastro de sangue, Marina acariciou seu cabelo e o beijou no rosto. Quando o rapaz abriu os olhos, Daniel acreditou que estava ficando louco. Pois em frente a ele estava um morto.
Capitulo 24 – O ULTIMO SONHO
"E dou fim a minha comédia que se converteu-se em tragédia".
Quando sentiu a força dessa luz branca estender-se diante dela, pensou que ficaria cega, cobriu os olhos e quando ela passou, o bosque voltou a sumir nessa escuridão penetrante e silenciosa. Sem perder tempo e com os pés feridos pelo frio correu para onde Daniel havia assinalado, se o tempo não estava do seu lado, devia mudá-lo imediatamente. Quando saiu numa clareira se surpreendeu de não encontrar nada, desiludida pensou se Daniel havia se enganado e quis retroceder, mas um ruído a deteve. Ela adentrou na clareira e notou que a neve estava derretida no centro, como se algo acabasse de acontecer, algo especial que havia feito crescer o pasto suave e verde.
- Marcus? – o chamou por seu nome, mas ninguém respondeu, ainda assim sentia o olhar de alguém cravado nela, logo pensou no que estaria ocorrendo, se a transformação se havia dado agora já não era Marcus, senão... – Abel!
Um lobo de impressionante estatura saiu dentre as arvores, sua pelagem dourada brilhava intensamente, os olhos azuis do animal lhe olhavam diretamente. E sobre o seu lombo estava muito quieta Lilith. Vane tomou ar e tratou de ordenar seus pensamentos e sonhos, cada um era a chave, só tinha que descobrir o que salvaria Marcus. O animal ficou a alguns metros dela, se abaixou e deixou Lilith no chão, esta caminhou para um par de rochas e se sentou comodamente sorrindo.
- Eu vim por você. – lhe disse, mas o lobo parecia não entender-lhe, aos seus olhos ela era uma completa estranha e isso lhe feria profundamente – Já podemos voltar para casa.
O animal rugiu irritado e começou a rosnar ferozmente, Vane não se assustou ou correu como na primeira vez que o havia visto transformar-se, desta vez se sentou no chão esperando que ele a reconhecesse. O animal começou a rodeá-la cheirando o seu perfume. Mas algo parecia alterá-lo, porque sem explicação seus grunhidos se tornaram mais perigosos e sua respiração quase a tocava, seu corpo estava tremendo, mas ela não, ela queria estar com ele. Por isso suas pernas não se levantaram e correram, tinha que voltar com ele ao seu lugar. Juntos.
- Marcus eu senti tanto a sua falta. – o lobo rugiu furioso e se lançou sobre ela.
- Vane! Apenas ficou consciente de que o corpo que havia sido destroçado não era o dela.
- Seth! – gemeu incrédula quando este caiu em seus braços – Seth! Por que fizeste isso? POR QUE!
- Eu cumpri meu destino – lhe disse enquanto seu sangue era espargido por todo o lugar – Este era meu destino e não o seu.
- Seth! Espera, não morras! – Vane o abraçou contra ela – Você não deve morrer, me ouve!
- Fique tranqüila... tudo estará bem – Seth lhe sorriu antes de sua vida se extinguir, seu corpo sem vida se converteu rapidamente em cinza branca.
- Oh não! Seth! Seth! – Vane não entendia o que estava acontecendo, esse não era o plano, ninguém devia morrer, ninguém mais – Marcus! – O lobo a olhou e começou a convulsionar sem preâmbulos lhe arrojou uma patada lançando-a contra a neve fria.
Ela ficou quieta nesse momento, e viu como Marcus começava a se transformar em algo escuro e perverso, seus olhos se injetavam de sangue e se erguia até converter-se em uma besta humanóide. Sua pelagem dourada se tingiu de branco e o sangue de Seth manchava as suas garras afiadas e grossas. Quando a transformação terminou o monstro ficou quieto.
- Bravo! Bravo! – A voz de Asmodeus chegou de alguma parte. Logo ele se apresentou diante deles, estava gravemente ferido no rosto e no corpo, mas não deixou de avançar ao ver o que acabava de ocorrer.
- Marcus... Marcus... Marcus... – repetiu esse nome em sua mente e foi quando Asmodeus a viu, seu sorriso caiu e olhou para ela de onde se achava Marcus, quando divisou as cinzas, seu rosto se parecia com uma fera.
- Não! Era ela!- gritou – Animal estúpido! Ela!
- ASMODEUS! – Daniel chegou e este o olhou com surpresa, mas no instante começou a rir.
- Então você matou os meus servos, hahaha, só poderia esperar isso de você – Daniel olhou para Asmodeus com desprezo, mas logo ao sentir o cheiro de sangue de Vane foi para ela.
- Olhe o que você fez! – Daniel a tomou em seus braços e a ajudou a levantar-se – O que aconteceu?
- Seth... ele morreu – lhe disse com dificuldade.
- O filho de... – Daniel olhou para onde estava a verdadeira mãe, esta havia presenciado a morte de seu próprio filho e olhava fixamente para onde as cinzas eram levadas pelo vento.
- Daniel deixe-me chegar perto de Marcus – ele olhou para Vane como se ela estivesse louca – Eu lhe peço, deixe-me ir.
- Mas...
- Anda Daniel! Deixe a garota dizer adeus para seu príncipe, hahaha – Daniel quis arrancar a cabeça de Asmodeus nesse momento.
- Vane se Marcus lhe atacar, não posso chegar a tempo, estou ferido e minhas forças se esgotam.
- Confia em mim – e não deu mais razões. Vane se soltou dele e caminhou rumo ao seu destino.
Ela se aproximou lentamente de Marcus, seu Marcus. Não importava que suas costelas se estilhaçassem contra seu corpo ferindo sua carne, que sua vista estivesse embaçada pelo sangue coagulado, que seu coração trabalhava o dobro tratando de mantê-la em pé. A única coisa que sua mente se aferrava, era poder dizer-lhe o tanto que tinha demorado para entender e que agora se mostrava diante dela como luz viva, que iluminava suas entranhas e revivia sua alma.
O homem lobo se levantava diante dela ameaçador, sua pelagem branco prata estava manchada com o sangue da luta, seu rosto bestial mostrava seus dentes afiados e brancos que se haviam manchado com o sangue de Seth, enquanto seus olhos injetados penetravam dentro de seus pensamentos. Ele parecia adivinhar o que Vane pensava, assim que esperou quieta em seu lugar, seu silencio era mortal e lhe advertia o que resultaria daquilo. Mas para ela era necessário, se quisesse estar ao seu lado.
Lentamente e com dor, conseguiu ficar em frente a ele, quando levantou seu rosto para olhá-lo se sentiu muito pequena, era impressionante tê-lo perto dessa forma. Ele percebeu a sua presença e os olhos de ambos se encontraram nesse momento eterno. Vane reconheceu a Marcus, no olhar daquela besta, ainda se encontrava a pessoa que lhe havia conquistado irremediavelmente, o homem que havia enchido seus sonhos, a fonte de inspiração para seus contos e o constante em seus pesadelos.
- Veja... – lhe disse sorrindo com dificuldade, tratando de que seus joelhos não sucumbissem ao seu peso.
Podia sentir como seu corpo reconhecia o dele, como seu espírito exigia aos gritos estar junto dele e através de seus poros. Um chamado desesperado lhe falava ao ouvido e lhe seduzia a levantar a mão e tocá-lo, senti-lo ainda mais perto. Obedecendo a esse impulso, deixou que sua mão se estendesse suavemente e viajasse até pousá-la sobre seu rosto perturbador. Não podia evitar de sorrir, e tampouco media as conseqüências de seus atos, talvez estivesse louca; mas sua loucura estava justificada pelos seus sentimentos.
- Eu lhe amo.
Ouviu a sua própria voz no silencio daquela noite, pode distinguir a verdade naquelas palavras; entendia que dizê-las a atava para sempre a esta pessoa e a aprisionavam como uma teia de aranha de emoções. Mas isso já não importava, porque agora havia dito essas palavras de liberação.
No entanto, de repente sentiu como sua carne era atravessada a uma velocidade impressionante, gemeu lentamente e conteve a respiração. Lhe deu pavor olhar o lugar onde Marcus lhe estava ferindo, mas não pode evitar, com serenidade baixou a vista e contemplou a mão de afiadas garras dentro da carne de seu estomago, destroçando suas entranhas. Logo voltou para o rosto de seu amado homem lobo e não pressentiu sentimento algum. Sua mão seguiu acariciando lentamente som seus finos dedos a mandíbula do licaon, e tratava de negar a dor mortífera da morte. Havia visto seu fim tantas vezes que se perguntou se isto era outro de seus sonhos, já não lhe surpreenderia como estavam se desencadeando as coisas, mas poder morrer nas mãos de seu amado e com isso salvá-lo era uma sorte que nem a marca do infortúnio lhe arrebataria.
*****
A adaga que se encontrava no interior de Vane, saiu segura pela garra de Marcus, manchada com o sangue fresco e perfume de rosas. Esta brilhou ao contato com a pele de seu legitimo dono e se alçou triunfante sobre o corpo sem vida de Vane, que havia caído secamente sobre a neve branca, enquanto que seu sangue começava a tingir de vermelho todos os cantos do chão frio. A marca do infortúnio desapareceu do corpo dela e os laços também.
Daniel havia observado toda aquela cena com uma paralisia ilógica, um princípio de impulso de afastá-la de Marcus foi tão forte que acreditava que mataria o licaon. Havia esperado pacientemente que Vane fizesse algo para escapar, mas esta só se aproximou mais; o desespero o envolveu e quis rugir de fúria ao ver como o corpo frágil dela caia lentamente e sem vida. Nesse momento ele quis morrer junto com ela e caiu de joelhos sem vontade de nada, observando o vazio isolado daquela cena.
- Perfeito! – Se ouviu a voz de Asmodeus que estava ferido e se inclinava sobre uma perna; aplaudiu sarcasticamente – Por fim, tudo tem que ser reposto!
Daniel fechou os olhos e deixou que sua dor o levasse para longe, já não queria ouvir, nem sentir, pensou nas mil maneiras que havia tido de poder salvar-lhe, mas a sua debilidade o haviam feito duvidar e agora a havia perdido, não só a ela senão também havia condenado a sua gente. O riso histérico de Asmodeus enchia os recônditos de sua mente e os alteravam sobremaneira. Só a fome de vingança o despertou de seu estupor, e enfocou toda a sua energia naquele ser manipulador de destinos.
- Não... Daniel, por favor! Não ponhas essa cara de poucos amigos – lhe disse caminhando para Marcus, que sustentava na mão a adaga do destino. – Ela cumpriu com seu dever e por tanto ele também o fará.
Daniel apenas se deu conta que Asmodeus se colocava atrás de Marcus como uma sombra. Seu desejo de vingança desapareceu ao dar-se conta de que o que Vane havia tentado proteger podia ser exterminado facilmente. Tragou a saliva e esperou, já não tinha energia e seus poderes estavam tão confusos pela presença de Lilith que lhe resultava impossível assimilar o que se apresentava diante dele como uma ameaça latente.
- Abel... é hora de sua vingança... de que reclame o sangue – sussurrou Asmodeus em uma língua antiga que só Daniel e uns quantos haviam aprendido – Destrua os causadores de sua desgraça... destrua a ela.
Tanto Lilith como Daniel reagiram com surpresa, ainda que com justificações diferentes. Pois Daniel supunha que Asmodeus esperaria um pouco mais para terminar o que os espíritos lhe haviam encomendado ao nascer Lilith, mas pelo ódio que transmitia o olhar daquele, supôs que sua loucura e obsessão pela mãe haviam alcançado um nível doentio de ira. Por outro lado a mãe não parecia alterar-se demasiado, estava finalmente, sentada na rocha, parecia perdida em seus pensamentos de novo, mas o brilho perigoso de seus olhos aumentou quando ouviu as palavras de Asmodeus, que lhe sorriu com maldade pura, mostrando-lhe a sua verdadeira cara.
- Tão bela e tão perigosa para aqueles – lhe confessou por fim Asmodeus detrás de Marcus a quem punha como um escudo diante de Lilith – os espíritos me mandaram especialmente para destruir o seu pecado, mas qual seria a minha surpresa... eras mãe de três e estava enamorada!
- Caim... – Se Daniel não houvesse posto atenção ao sussurro daquele nome, ele haveria passado despercebido.
- Sim, verá que eu o matei – Asmodeus parecia tão divertido – Eu fui o que começou tudo, aquela besta, o ódio de sua tribo, o desprezo de seus filhos e também o suicídio de Seth.
- Você é um desgraçado! – lhe acusou Daniel com as poucas forças que lhe sobravam.
- Ela era perigosa, demasiado para que os espíritos não ficassem tranqüilos, por tanto eu tinha que equilibrar a balança.
- Não pode haver uma pessoa com incrível fortuna, nem tampouco com desesperante infortúnio – lembrou Daniel.
- Assim é! – este olhou para Daniel com alegria – Sempre foi o meu favorito ainda que, também me perguntava o porquê de seu dom... supus que só era uma prova mal feita, assim como o que foi aquela garota. – assinalou para Vane.
Asmodeus fez brilhar seus olhos de uma maneira lúgubre, de uma cor tão negra que encerrava suas contas em perigosa confissão. Tocou Marcus e este reagiu imediatamente, lançando-se contra Lilith que esperou pelo ataque de forma imediata. O choque de ambos os corpos fez tremer a superfície, o licaon parecia querer esmagar a diminuta forma daquela fada branca e esta enterrava seus braços e pernas sobre ele de forma potente.
A luta entre ambos os seres era quase perfeita, onde faltava força havia rapidez, onde carecia de agilidade havia estratégia. Marcus manejava a arma como se esta fosse a extensão de seu braço e tratava de enterrá-la no coração da mãe. Por sua parte Lilith olhava cada movimento e se esquivava no ultimo momento, com um golpe duro jogou Marcus sobre a neve enterrando-o muito fundo, mas este se livrando da terra ele se aventurou de novo ao ataque, arriscando tudo.
Em um descuido, Marcus alcançou o pescoço dela e jogou-a contra a pedra onde segundos antes havia estado sentada tranquilamente. Ele a imobilizou entre suas pernas e apesar dos gritos furiosos e dos ossos quebrados, a mantinha fixa na posição perfeita para terminar com ela. Para satisfação de Asmodeus e horror de Daniel, levantou o punho junto com a adaga, disposto a assassinar.
- ACABE COM ELA! DRESTRUA-A! – gritava Asmodeus com o brilho de triunfo em seu rosto.
*****
"Te amo"
Ainda podia ouvir estas palavras em sua mente. As sentia correr como vida ao redor de suas veias. Onde estava ela? Onde se encontrava nesse momento? Marcus despertou de seu sonho, aquelas palavras o arrastaram para a realidade, só essas simples palavras, haviam aberto sua mente, seus pesadelos haviam desaparecido e só o rosto sorridente dela se imprimia em cada célula de seu corpo.
Mas assim como se liberou daquelas correntes, a realidade se encarregou de golpeá-lo na cara com crueldade. Sentia que seu corpo não era seu corpo, que seu ser não pertencia a ele de todo. Na frente dele se achava Lilith que o olhava com desespero, um braço bestial a tinha aprisionada pela garganta e impedia seus gritos, a tensão corria pelo corpo de Marcus e foi quando se deu conta que era seu próprio braço, e que no outro empunhava o que lhe parecia ser a adaga do destino. Sua impressão o desconcertou por um momento, mas no instante sentiu outras duas presenças naquele lugar. A primeira era de Daniel que o via com temor e a segunda, era de Asmodeus que franzia o cenho e seus olhos escuros absorviam todo o sentimento de piedade. Mas, não estava ali o motivo de seu despertar, a luz de sua alma, aquela por quem daria a sua vida para vê-la sorrir. Onde estava a sua Pipoca?
- O QUE VOCE ESTÁ FAZENDO? – A voz furiosa de Asmodeus lhe chamou com desespero – TERMINE O QUE VOCE COMEÇOU!
Marcus não entendia nada, ou melhor, apenas conseguia recordar de coisas. Gritos, sangue e morte se misturavam em sua cabeça como filmes antigos. Olhou para Daniel e comprovou que este também parecia estranhar as suas reações, desesperado tratou de acalmar-se e serenar a sua cabeça. Foi nesse instante fulminante que sentiu o aroma de sangue, mas não de qualquer pessoa, senão o dela. Com desespero se voltou para o nosferatu de olhos azuis e este com uma profunda tristeza respondendo a sua suplica, olhou para atrás dele.
Com o coração batendo aceleradamente, virou a cabeça para poder ver atrás de si e em um ângulo difícil sobre seu ombro direito, e quando ele conseguiu vê-la, a escuridão da morte lhe encheu de dor. Naquele lugar frio, se encontrava o corpo sem vida de sua Pipoca. Seus belos olhos cor de chocolate estavam fechados e seu maltratado corpo, cheio de cicatrizes e feridas, se expunha ao frio invernal. Sentiu que o ar lhe faltava, que seus pulmões já não podiam trabalhar que sua temperatura descia vertiginosamente para um final aterrador. Sua vista se nublou de lágrimas e gritou lastimosamente rompendo as palavras de Asmodeus.
- MATE-A! Se você a destruir terminará a sua dor! Terminará tudo! – o que dizia Asmodeus nesse momento pareceu atrativo, o enfeitiçava de tal maneira que chegou por um momento a crer que assim seria. – Só um golpe!
Assim foi como empunhou a adaga fortemente até fazer sangrar suas garras contra o fio da arma. Lilith o olhou com os olhos muito abertos esperando sua decisão, e ele com o desejo de fazer o correto, por todos. Lutando contra o desejo de repetir a vingança que seu pai não concluiu. Nesse momento se deu conta de quanto compreendia ao seu progenitor e pediu os bons conselhos de seus tutores, agora mortos, que lhe iluminassem para terminar com aquela maldição para sempre.
Aproximou seu rosto lentamente de Lilith e fez com que ambos cruzassem os olhares. Entendeu que ela também estava sofrendo, muito dentro de sua alma, estava aprisionada a verdadeira Lilith, assim como ele, nesse momento, ambos necessitavam uma liberação. E sem temor lhe falou em particular, um segredo que só os dois conheceriam antes de tudo terminasse.
- Isto não é para ti. – lhe disse Marcus e ela se relaxou sob o seu agarre. – Agora você é livre.
Sem deter-se para pensar duas vezes, desceu a adaga e a cravou em seu peito. O sangue começou a sair para fora, manchando o corpo da vítima.
- O... o que? O que fizeste? – Asmodeus não podia crer no que Marcus acabava de realizar, se agarrou o cabelo com desespero e negava estrepitosamente. – O que você FEZ?
Marcus se voltou e deixou que Daniel visse bem como a arma em seu peito havia sido enterrada para evitar mais sofrimento. Sem mais pegou o cabo da arma e quebrou a lâmina afiada e portadora do veneno caísse em seu ser e som mais jogou o que quebrara desta sobre a neve. Levantou a vista para o céu e uma energia poderosa o começou a mudar, a dor da transformação irrompeu em seu ser. Seu rosto se contorceu acomodando cada osso disforme, suas extremidades também voltaram ao tamanho normal, enquanto seu cabelo se tornava escuro. Sua respiração pesada o ajudou a dar-se conta que já faltava pouco tempo, engatinhando chegou até onde estava ela, a sua Pipoca, a escritora de sua vida. Abraçou-lhe contra ele e morreu feliz.
*****
- NÃO! ISTO NÃO PODE ACABAR ASSIM! - Asmodeus não conseguia compreender o poder do amor, se apressou para o que restou da adaga e a empunhou em suas mãos, recordou o que os espíritos haviam falado e apressou sobre Lilith. – MORRE BRUXA!
Daniel apareceu diante dela e com todo o seu poder quebrou o braço de Asmodeus em tal posição que enterrou o que sobrava de veneno dentro dele. Este ao ver sua derrota se riu do irônico de sua morte, se deixou ir, convertendo-se em cinzas e foi levado pelo vento. Daniel olhou para a mãe e esta deixou cair uma lágrima dourada, seus olhos arco-íris se converteram em vivos cristais azuis, algo nela havia mudado, ela se levantou de onde estava sentada e viu tudo ao seu redor, confusa, temerosa, despertando para a vida.
- Você voltou. – Caim estava diante dela.
- Eu tive um sonho. – lhe sorriu e o abraçou – Um sonho onde você me deixava e eu me sentia muito triste.
- Era só um sonho. – Caim olhou para Daniel – Eu terminarei com isto.
Não supôs ao que se referia Caim até que ambos desaparecessem, convertidos em cinzas, depois de presenciar aquilo, olhou seu corpo e notou que não havia acontecido nada, algo mudou, a morte de Lilith não foi o fim. Alguém havia absorvido o legado de sangue de Lilith, e essa pessoa era quem reconstruiria o Templo de novo, tal e como Adam disse.
- DANIEL! DANIEL! – a voz de Eliseu o tirou de seus pensamentos.
Quando se voltou, viu Eliseu, Chac transformado em lobo e sobre ele Adolfo com uma ferida coberta e vinham correndo ao seu encontro. Atrás deles seu clã de amigos e também os membros da Aemilia que conseguiram atravessar o espelho e corriam em sua direção. Daniel recordou então que nem tudo era alegria, sem pensar foi para onde estavam os corpos de Vane e Marcus. Ainda estavam quentes, era como se só estivessem dormindo, um junto ao outro. Nesse momento, ele compreendeu o que era amar de verdade, isso que muda a sua vida e faz com que o simples fato de estar perto de seu amado possa lhe dar calor.
- Marcus! – Eliseu se abaixou e tocou o seu irmão de família e logo viu Vane. – Chegamos tarde...
- NÃO! – Adolfo se abaixou com a ferida sangrando, se ajoelhou junto aos amantes e tocou seus peitos.
- Eu sinto tanto, não pude deter isto! – Daniel se lamentava e notou o toque de Angelique atrás de si, ela havia cruzado para poder ajudá-lo, senti-la perto o reconfortou e esta o abraçou. – Não pude fazer nada!
Adolfo e Eliseu observavam a seus amigos, não podiam aceitar haverem falhado, seus rostos estavam sorrindo, como se ainda estivessem vivos e somente sonhavam. Um soluço começou da parte de uma das gêmeas Starr, a outra lhe acompanhou, logo todos pareciam compor uma canção de lamentos. Daniel tomou a mão de Vane e a beijou com ternura, queria explicar-lhe que agora entendia o que ela sentia, mas agora era demasiado tarde, se havia ido. A única coisa que os confortava era que ambos estavam juntos, como devia ser.
- Irmã?
A voz de uma pessoa os fez voltarem-se e ver Nicholas para na frente deles, no entanto, algo nele havia mudado, sua alma não estava cheia de escuridão, mas uma impressionante suavidade despendia dele. Quando se aproximou, todos se retiraram, com exceção de Daniel, Adolfo e Eliseu, que estavam tão concentrados naquele encontro que não podiam permitir-se separar-se. O jovem os olhou detidamente, logo tocou o rosto de Vane, acariciando com ternura.
- Eles ainda estão aqui – lhes disse, seus olhos cor de café pareciam sinceros – Vocês tem que realizar o selo.
- Você...não é Nicholas – Adolfo supôs como poderia, mas aquele garoto apesar de estar no corpo de quem fora seu inimigo, não parecia ele ao mesmo tempo.
- Sim, façam agora, seus espíritos desejam este mundo – o garoto lhe indicou Chac que se aproximava – Daniel necessitarei que faças um sacrifício – Quando disse isto o clã de Daniel não sabia o que pensar.
- O que tenho que fazer? – Daniel assentiu convencido que esta pessoa os ajudaria.
- Sua marca da fortuna é vida Daniel – sorriu – Só tome a mão de Vane e os guardiões podem rodeá-los, a lua cheia está a ponto de começar a apagar-se.
Ao fazer o que lhes dizia, Daniel tomou a mão de Vane fortemente, olhando seu rosto e pensou na primeira vez que a viu, quando discutiu com ele e quando a beijou. Adolfo, Eliseu e Chac se concentraram em Marcus cada um na forma que o havia conhecido, como irmão, amigo e companheiro. Um círculo lunar se formou em torno dos amantes que se viram rodeados, de luz branca, seus corpos começaram a brilhar e a luz se expandiu por todas as partes. Daniel soltou a mão de Vane e afastou-se, Eliseu, Adolfo e Chac fizeram o mesmo. E então dois pares de olhos começaram a abrir-se piscando lentamente, como se estivessem pela primeira vez no mundo, ambos ainda de mãos dadas se levantaram e olharam para os presentes.
E então eles sorriram.
DOCES SONHOS
Te amo assim de simples é:
O amor da vida
O amor te acalma
O amor sabe ser paciente
O amor te espera
O amor é uma benção
O amor é o nosso futuro
"Quando as almas de dois seres se encontram, podem fazer milagres com a galáxia, tecem teias de aranha prateadas ao redor dos corações e os devolvem aos donos. Assim é fulminante e rápido o amor. Ela olhou a besta na frente dela e sorriu ao saber quanto o amava. Não havia duvida de que eles foram feitos um para o outro. E com a verdade do universo ambos se beijaram pela primeira vez com o sentimento de amor batendo em seus corações."
- Vovó não continue! Que nojo, eu jamais vou beijar um garoto! – a menina de cabelos negros e olhos verdes esmeralda a olhou ofendida – Prefiro brincar com sapos.
- Eu na sua idade preferia isso – lhe respondeu sua avó, a menina a olhou detidamente, os cabelos prateados apenas eram perceptíveis, seguia sendo uma mulher misteriosa, como uma fada madrinha que cumpria desejos de papel – Quer que eu leia outra coisa Aime?
- Este livro me agrada – lhe disse emocionada a pequena correndo até a estante de livros, subiu as escadas com grande agilidade para os seus cinco anos e retirou um livro velho e gasto, que sua avó acreditava ter esquecido fazia muito tempo – Este vovó! – a menina o entregou com um sorriso radiante.
- Mmmmm, vejamos, este me disse sua mãe que era seu favorito.
- Sim! Por que tem mistério, lutas e muitas aventuras – a mulher ouvindo a sua neta tocou a capa dura do livro onde ainda se podiam ler as velhas iniciais de V&M, com um sorriso abriu a primeira página e respirou a história de letras.
- De acordo – lhe disse levantando-se – Mas creio que tenho uma visita mágica minha menina – Sua neta lhe olhou com confusão – Vá para seu quarto e eu já vou em seguida.
- Sim, vovó! – esta saiu agitando seus cachos negros e o vestido cor de rosa de algodão. Para sua avó, vê-la crescer, seria a magia mesmo.
- Agora estamos sós – ela disse ao seu visitante, este saiu das sombras e a olhou com um sorriso.
- Senti saudades irmãzinha – lhe disse o jovem de cabelo negro, e ainda fisicamente no era o irmãozinho que recordava, por dentro sua essência era a mesma, desta forma o havia reconhecido naquela noite ao abrir os olhos e ver os seus olhos cor de mel.
- Eu também. – Ambos se abraçaram recordando o laço de sangue que os uniria sempre – Ainda não entendo o porquê lhe dá pena que os outros o vejam, ele lhe apreciam tanto como eu.
- Não é o momento. – lhe disse com um sorriso – Ainda tenho muitas coisas por fazer.
- Você é exatamente como há cinquenta anos – o rapaz a beijou no rosto.
- E você também.
- Você é um encanto – sorriu divertida – o que o trouxe aqui?
- Queria fazer-lhe uma pergunta irmã – ela assentiu e se relaxou ao ver que responderia – Diga-me...ainda tem sonhos – ela o olhou detidamente, logo contemplou a biblioteca por um longo tempo e com um sorriso respondeu.
- Não irmãozinho, os sonhos pararam faz muito tempo.
- Já vejo...
- Lhe interessa algo especifico – ele encolheu os ombros e logo sorriu.
- Em verdade não, mas gostaria que você me dissesse se a equipe da casa ganharia – Sua irmã lhe deu uma palmada na cabeça rindo as gargalhadas.
- É melhor você ir embora, tenho uma princesa para atender.
- Nos veremos logo – e com suas palavras desapareceu assim como veio, caminhou para a janela e a fechou lentamente, a porta do quarto se abriu e alguém entrou.
- Tem uma pequena gatinha queixando-se que sua avó não vai ler para ela. – A voz soava divertida, masculina e suave.
- Então? – Ela se voltou para ver o seu marido, este lhe sorriu. – E por que o avô não lê para ela, que eu me lembre é sobre ele este livro.
- Eu não me dou bem. – Ele a alcançou e a envolveu entre seus braços suavemente, com o tempo havia aprendido a moderar suas caricias e ainda que ambos estivessem seguros que dentro dele seguia vivo o seu outro eu, agora não havia o que temer. – No final, você ainda é a escritora.
FIM
A AUTORA
Briseira ou Brizz como é conhecida por seus amigos e companheiros, é uma estudante de Desenho Gráfico no México, sua paixão pela leitura e ilustração a impulsionaram a criar este grande projeto com o apoio de sua família e conhecidos.
Adora escrever desde que sua mãe lhe deu de presente seu primeiro diário, aos sete anos e daí não parou de imaginar e de contar a sua irmã pequena os contos que entre ambas realizavam, sua imaginação também a explorou com a pintura e o desenho que são suas outras duas paixões e não deixou que praticá-los.
Os livros foram uma grande influencia para ela, em especial os de terror e suspense; é assim que seu gênero favorito de filmes também se centra neste tema adicionando efeitos especiais e animação de todo tipo; com o tempo se deu conta da forma de expressão na ilustração, música e cinema que lhe pode brindar a suas obras.
Sua música favorita é o gênero Rock, mas adora também a Clássica contrapondo muitos gostos dos jovens de sua idade, adora os grupos como Coldplay, Linkin Park, Maroon 5, Korn, Sem Bandeira, Zoé e Nirvana. Seus cantores favoritos são Andrea Bocelli e Dido.
SAGA DA LUA CHEIA 01
BORRADORES
Brizz Briseira
Tradução e Digitação: Ady Miranda
Revisão: Ady Miranda
Formatação: Cris Skau
Informação da série
Saga da Lua Cheia - 01 - O ultimo conto (Rev. RS & RTS) - Distribuído
http://www.4shared. com/document/ E8_YWxg3/ Brizz_Briseira_ -_Saga_da_ Lua_C.html
Saga da Lua Cheia - 02 – Pluma y papel – Revisão Final e Formatação
Saga da Lua Cheia - 03 - Velas e Selos - Distribuído
http://www.4shared. com/document/ JGsn5_C5/ Brizz_Briseira_ -_Saga_da_ Lua_C.html
Saga da Lua Cheia - 04 - Tinta Azul - Distribuído
http://www.4shared.com/document/Fcjaa_cR/Brizz_Briseira_-_Saga_da_Lua_C.html
Saga da Lua Cheia - 05 - Borradores - Distribuído
http://www.4shared.com/document/ayqXS8Mf/Saga_da_Lua_Cheia_-_05_-_Borra.html
Série em revisão com o grupo Pégasus Lançamentos
http://br.groups. yahoo.com/ group/Amo_ Romances_ HOT
Link do Blog Pegasus Lançamentos
http://pegasuslanca mentos.blogspot. com
Link da Lista de Revisão
https://spreadsheet s.google. com/ccc?key= 0AgtwrWSDY_ IedGhMVC 05ZHQybUNpSWo5dUpNU XpZX0 E&hl=pt_BR
http://br.group. yahoo.com/ group/Pegasus_ Lancamentos
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