Nora Roberts
escrevendo como
J. D. Robb
Eternidade Mortal
O dom fatal da beleza
BYRON
me faça Imortal com um beijo
Christopher MARLOWE
Capitulo Um
Casar-se era um horror. Eve não recordava muito bem como tinha começado tudo. Se ela era polícia, pelo amor de Deus. Nos dez anos que levava no corpo sempre tinha pensado que o estado ideal do policial era o celibato, a única maneira de concentrar-se aos cem por cem no trabalho. Era de loucos acreditar que alguém pudesse repartir o tempo, as energias e os sentimentos entre a lei, com todos seus prós e seus contrários, e a família, com tudo o que esta comportava.
Ambas as profissões (por isso ela tinha observado, o matrimônio era um emprego mais) entranhavam grandes exigências e horários infernais. Embora estivessem no ano 2058, um momento de muito importantes avanços tecnológicos, casar-se era casar-se. Para o Eve isso se traduzia em terror.
E entretanto aqui estava agora, um bonito dia do verão -em um de seus escassos e preciosos dias livres-, disposta a sair às compras. Não pôde reprimir um escalofrío.
Porque não eram umas compras normais, disse-se enquanto o estômago lhe encolhia: ia comprar um vestido de noiva.
Tinha perdido a cabeça, sem dúvida.
A culpa era do Roarke, é obvio. Tinha-a pilhado em um momento de debilidade. Os dois estavam ensangüentados e machucados e se consideravam afortunados de seguir com vida. Quando um homem é o bastante preparado e conhece o bastante bem a sua presa para escolher o momento e o lugar adequados para declarar-se, a mulher está despejada.
Ao menos uma mulher como Eve Dallas.
-diria-se que está a ponto de te enfrentar você sozinha a uma banda de narcotraficantes.
Eve recolheu um sapato e levantou a vista. É um pecado quão atrativo é este homem, pensou. Rosto forte, boca de poeta, irresistíveis olhos azuis. Uma juba negra de feiticeiro. Se se conseguia abandonar a cara e seguir corpo abaixo, a impressão era igualmente notável. Añá?dase, para completar o lote, esse deixe irlandês na voz.
-O que estou a ponto de fazer é muito mais grave. -Para ouvir-se si mesmo choramingando, Eve franziu o entrece?jo. Ela nunca choramingava. Mas o certo era que tivesse preferido brigar corpo a corpo com um drogado que falar de costuras e baixos.
Costuras!, pelo amor de Deus.
Reprimiu um juramento e lhe observou enquanto cruzava a espaçosa quarto. Roarke tinha a faculdade de fazer-la sentir estúpida nos momentos mais insospecha?dos. Como agora ao sentar-se ele a seu lado na ampla cama que compartilhavam.
Roarke tomou o queixo.
-Estou desesperadamente apaixonado por ti -disse.
Pois sim. Aquele homem de pecaminosos olhos azuis, com a forte e magnífica aparência de um anjo cansado, amava-a.
-OH, Roarke... -Eve tratou de reprimir um suspiro. enfrentou-se a um laser em mãos de um enlouquecido mercenário mutante com menos medo do que o produ?cía agora tão inquebrável emoção-. Pinjente que iria até o final, e o farei.
Ele enrugou a frente. perguntava-se como podia Eve ser tão alheia a seu próprio atrativo enquanto seguia sentada na cama, esquentando-a cabeça, seu mal talhado cabelo cor bege todo topetes e pontas, estimulado por suas mãos in?quietas, e as magras linhas de chateio e dúvida entre seus grandes olhos de cor uísque.
-Querida Eve... -beijou-a ligeiramente nos lábios aborrecidos, e logo na suave fenda do queixo-, nunca o duvidei. -Embora sim, e muito freqüentemente-. Hoje tenho vários assuntos que solucionar. Ontem à noite lle?gaste muito tarde. Não pude te perguntar que planos tinha.
-Tivemos que prolongar a vigilância do caso Bines até as três.
-Pôde lhe apanhar?
-Me jogou ele aos braços, ia cego perdido depois de uma sessão maratoniana de vídeo. -Eve esboçou o sorriso do caçador, cruel e sombria-. O bode veio para mim como se fora meu andróide pessoal.
-Parabéns. -Lhe aplaudiu as costas antes de po?nerse em pé. Baixou da plataforma até o vestidor e selec?cionó uma jaqueta de entre muitas-. E hoje? Tem que re?dactar algum relatório?
-Hoje tenho o dia livre.
-Ah, sim? -voltou-se sustentando uma chamativa ame?ricana de seda cor cinza marengo-. Se quer posso ré-programar o trabalho da tarde.
O qual, pensou Eve, seria como se um general variasse a programação das batalhas. No mundo do Roarke, os negócios eram uma complicada e lucrativa guerra.
-Já estou comprometida. —O sobrecenho voltou a franzir-se antes de que pudesse evitá-lo-. vou comprar o vestido de noiva.
Ele sorriu brevemente. Vindo dela, isso era como uma declaração de amor.
-Agora entendo por que está tão estranha. Disse-te que eu me ocuparia disso.
-O vestido que me ponha será meu. E o pagarei eu. Não me caso contigo por seu dinheiro.
Grato e elegante como a jaqueta que acabava de ficar, Roarke seguiu sorrindo:
-por que te casa comigo, tenente? —Eve franziu ainda mais o sobrecenho, mas ele era um homem com muita paciência-. Quer uma eleição múltiplo?
-Porque você nunca aceita um não por resposta. -Ela ficou em pé, afundou as mãos nos bolsos de seus nos cubra.
-Má pontuação: prova outra vez.
-Porque perdi a cabeça.
-Assim não ganhará a viagem para duas pessoas ao Tropic World.
Um sorriso reacia aflorou aos lábios dela:
-Ao melhor quero.
-Ao melhor. -Satisfeito com isso, ele se aproximou e apoiou as mãos em seus ombros-. Qual é o proble?ma? Ponha algum programa de compras no ordenador, há dúzias de vestidos bonitos, encarrega o que mais você goste.
-Essa era minha idéia. -Pôs os olhos em branco-. Mas Mavis me amassou isso.
-Mavis. -Ele empalideceu um pouco-. Não me diga que vai às compras com o Mavis.
Sua reação a animou um pouco.
-Tem um amigo desenhista de modas.
-Céu santo.
-Diz que é um gênio, que assim que o proponha se fará famoso. Tem uma pequena oficina no Soho.
-nos fujamos. Agora mesmo. Está muito bonita.
Ela alargou o sorriso:
-Tem medo?
-Pânico.
-Bem. Já estamos empatados. -Contente de estar em pé de igualdade, aproximou-se para lhe beijar-. Agora tem motivo de preocupação para umas quantas semanas, pensando no que me porei o grande dia. Bom, tenho que ir. -Aplaudiu-lhe a bochecha-. fiquei com o Mavis dentro de vinte minutos.
-Eve. -Roarke fez gesto de lhe agarrar a mão-. Não fará nenhuma tolice, verdade?
Ela escapou:
-vou casar me, não? Quer mais tolice que essa?
Esperava lhe dar motivo suficiente para refletir. A idéia do matrimônio era em si mesmo tentadora, mas umas bodas -roupa, flores, gente-, miúdo espanto.
dirigiu-se ao centro pelo Lexington, entre frenazos e imprecações contra um mascate que Inva?día o meio-fio com seu fumegante carro. Além de violar o tráfico, o aroma de salsichas de soja era um verdadeiro in?sulto para estômagos delicados como o do Eve.
O táxi Rapid que levava detrás violava o código in?terurbano de contaminação sonora com sua buzina e seus gritos obscenos pelo megafone. Um grupo de turistas carregados de mini videocámaras, compumapas e prismá?ticos olhava com boquiaberta estulticia o passado do tráfi?co rodado. Eve meneou a cabeça ao ver que um hábil rate?ro se abria passo a cotoveladas.
Quando chegassem a seu hotel, comprovariam que lhes faltavam uns quantos créditos. Se Eve tivesse tido tempo e site para estacionar, teria açoitado ao ladrão. Mas este se perdeu entre a multidão com seu skate de ar em um abrir e fechar de olhos.
Assim era Nova Iorque, pensou Eve com um sorriso. Ha?bía que tomá-lo tal como era. adorava o barulho de gente, o ruído, o frenesi constante da metrópole. Se a solidão era estranha, a intimidade era impossível. Por isso se tinha mudado aqui fazia anos. Tampouco é que fora um ser muito sociável, mas muito espaço e muito isolamento a punham nervosa.
Tinha vindo a Nova Iorque para ser polícia, por?que acreditava na ordem e o necessitava para sobreviver. Sua desventurada infância cheia de ultrajes, com seus espa?cios em branco e suas esquinas lúgubres, não se podia trocar. Mas ela sim tinha trocado. Agora controlava a situação, tinha conseguido, ser a pessoa que um anônimo assistente social tinha batizado como Eve Dallas.
Agora estava trocando outra vez. dentro de umas semanas deixaria de ser Eve Dallas, tenente de homici?dios, para converter-se na esposa do Roarke. Como ha?ría para reunir ambas as coisas era algo mais misterio?so que qualquer dos casos que tinham cansado sobre sua mesa de despacho.
Nenhum dos dois sabia o que era ser família, ter família, criar uma família. Conheciam a crueldade, os abu?sos, o abandono. perguntava-se se por isso estavam jun?tos. Ambos compreendiam o que significava não ter nada, não ser nada, conheciam o medo e o desespero; e am?bos tinham saído adiante.
Era só a mútua necessidade o que os unia? Nece?sidad de sexo, de amor, e a mescla de ambas as coisas que ela alguma vez tinha acreditado factível antes de conhecer o Roar?ke? Uma boa pergunta para a doutora Olhe, disse-se, pensando na psiquiatra a que acudia de vez em quando.
Mas decidiu que, de momento, não ia pensar no futuro nem no passado. Para complicações já estava o presente.
A três maçãs do Green Street encontrou um site onde estacionar. Depois de procurar em seus bolsos, reuniu as fi?chas dê crédito que o avejentado parquímetro lhe exigia com seu estúpido sonsonete cheio de interferências e in?trodujo o suficiente para duas horas. Se demorava mais, seria que estava lista para a sala de tranquilización, e uma multa não lhe importaria.
Respirou fundo e escrutinou a zona. Não estava acostumado a ir por tra?bajo a esta zona da cidade. Havia assassinatos em todas partes, mas Soho era um elegante bastión de gente jovem e esforçada que preferia dirimir suas diferenças ante uma taça de vinho barato ou uma taça de café puro.
Agora mesmo, Soho estava em pleno verão. As flo?risterías transbordavam de rosas, as clássicas rivalizando com as híbridas. O tráfico se arrastava lentamente pela ca?lle, zumbia no alto, soprava um pouco nos des?vencijados passados elevados. Os pedestres foram em seu ma?yoría pelas calçadas turísticas, embora os escorregadores estavam lotados. Saltavam à vista as folgadas pren?das recém chegadas da Europa, com elegantes sandálias e tocados e brilhantes cordas desligando dos 'lóbulos até os omoplatas.
Artistas do óleo, a aquarela e a cibernética prego?naban seus artigos nas esquinas e frente aos escapa?rates, competindo vendedores que prometiam fruta híbrida, iogurtes gelados ou purês de hortaliças Li?bres de conservantes.
Membros da Seita Pura, típico produto do Soho, deslizavam-se em seus larguísimas túnicas brancas com os olhos chamejantes e as cabeças barbeadas. Eve deu uns quantos discos a um suplicante muito entusiasta e foi recompensada com uma pedra reluzente.
-Amor puro -ofereceu-lhe o homem-. Pura alegria.
-Sim, vale -murmurou ela, e passou de comprimento.
Teve que voltar sobre seus passos para encontrar a casa do Leonardo'S. O próspero desenhista tinha um apar?tamento grande em um terceiro piso. A janela que dava à rua estava abarrotada de manchas de cor que lhe fizeram tragar saliva de puro nervosismo. Os gostos do Eve foram mais pelo singelo: o caipira, segundo Mavis.
Enquanto tomava o escorregador para aproximar-se, não lhe pareceu que Leonardo se inclinasse por uma coisa nem pela outra. O nó no estômago fez uma nova aparição quando Eve contemplou o desdobramento de plumas e cuen?tas e trajes unissex de borracha tingida. Por mais gosto que pudesse lhe proporcionar provocar no Roarke um respin?go, ela não pensava casar-se de borracha fluorescente. Ha?bía muitas mais costure. Dava a impressão de que Leonar?do acreditava firmemente na publicidade. Sua obra professora, um fantasmagórico manequim sem rosto, estava envolto em um sortido de lenços transparentes que rielaban com tal dramatismo que até o tecido parecia ter vida.
Eve quase pôs senti-la sobre a pele. Uf, pensou. Nem louca me poria isso. Deu meia volta pensando em es?capar, mas se topou com o Mavis.
-Seus desenhos são realmente glaciais. -Mavis passou um braço amistoso pela cintura do Eve para freá-la e contemplou a janela.
-Olhe, Mavis...
-E não sabe quão criativo é. Vi-lhe trabalhar na tela. É incrível.
-Incrível, sim. Estou pensando que...
-Leonardo compreende a alma interior -apressou-se a dizer Mavis. Ela compreendia a alma do Eve, e sabia que seu amiga estava a ponto de sair apitando.
Mavis Freestone, magra como uma fada em seu espartilho branco e dourado e suas plataformas de ar de sete centí?metros, jogou para trás a frisada juba negra com fran?jas brancas, avaliou a seu oponente e sorriu:
-Fará de ti a noiva mais excitante de todo Nova Iorque.
-Mavis. -Eve esgotou os olhos para impedir uma nue?va interrupção-. Eu sozinho quero algo que não me faça sentir como uma idiota.
Mavis a olhou radiante, e o novo coração alado que tinha tatuado no bíceps palpitou ao levar-se ela a mão ao peito.
-Dallas, confia em mim.
-Não -disse Eve enquanto ela a empurrava de volta ao escorregador-. Sério, Mavis. Prefiro pedir algo em pan?talla.
-Será sobre meu cadáver -murmurou Mavis, indo para a entrada principal enquanto atirava de seu amiga-. O menos que pode fazer é jogar uma olhada, falar com ele. lhe dê uma oportunidade. -Adiantou o lábio inferior, uma arma formidável quando o pintava de magenta-. Não seja boba, Dallas.
-Está bem. Já que vim...
Animada por esta resposta, Mavis se chegou ante a câmara de segurança:
-Mavis Freestone e Eve Dallas, para o Leonardo.
A porta exterior se abriu com um chiar metálico. Mavis saiu disparada para o vetusto elevador de ralo metálico.
-Este site é realmente retro. Acredito que Leonardo o conservará até depois de que tenha triunfado. Já sabe, a excentricidade do artista e todo isso.
-Já. -Eve fechou os olhos e rezou enquanto o elevador começava a subir dando saltos. De baixada utilizaria as escadas, isso seguro.
-Você procura ser aberta -aconselhou-lhe Mavis- e deixa que Leonardo se ocupe de ti. Carinho! -Saiu literalmente flutuando do elevador para entrar em uma sala abarrotada e cheia de colorido. Eve não pôde por menos de admirá-la.
-Mavis, minha pomba.
Então Eve ficou de pedra. O homem com nome de artista media ao menos um metro noventa e dois e tinha a compleição de um maxibús. Enormes bí?ceps se sobressaíam de uma túnica sem mangas com o colori?do arrasador de um entardecer marciano. Sua cara era an?cha como a lua e sua tez acobreada cobria como um emplastro de tambor uns maçãs do rosto mais que proeminentes. Levava junto a seu deslumbrante sorriso uma pequena pedra que piscava os olhos, e seus olhos eram como duas moedas de ouro.
Levantou o Mavis em velo e deu uma rápida e graciosa volta com ela. E logo a beijou longamente, com força, de uma forma que convenceu ao Eve de que entre ambos havia muito mais que um mero amor pela arte e a moda.
-OH, Leonardo... -Ditosa como uma parva, Mavis passou seus dedos de douradas unhas pelos compridos e escuros cachos dele.
—Boneca.
Eve conseguiu refrear as náuseas enquanto eles se arrulhavam, mas pôs os olhos em branco. Mavis havia se tornado a apaixonar.
-Seu cabelo é fantástico. -Leonardo passou uns dedos como salsichas pela pelambrera a franjas do Mavis.
-Sabia que te ia gostar. Esta é... -Houve uma pau?sa teatral, como se Mavis fora a apresentar a seu schnauzer- meu amiga Dallas.
-Ah, sim, a noiva. Encantado de conhecê-la, tenente Dallas. -Sem soltar ao Mavis, alargou o outro braço para es?trechar a mão do Eve-. Mavis me falou muito de você.
-Sim, claro. -Eve olhou de esguelha a seu amiga-. Em cam?bio, de você não me contou grande coisa.
Ele soltou uma gargalhada que vibrou nos ouvidos do Eve.
-Minha pipoca é muito reservada às vezes. Vou pelos refrescos -disse ele, e se deu a volta em uma nuvem de cor e inesperado garbo.
-É maravilhoso, verdade? -sussurrou Mavis, o olhar perdido de amor.
-Deita-te com ele?
-Não sabe quão engenhoso é. E o... -Mavis exalou o ar, aplaudiu-se o peito-. É um artista do sexo.
-Não te incomode em me contar isso Passo de saber nada. -Juntando as sobrancelhas, Eve examinou a sala.
Era um espaço grande, de teto alto, repleto de mues?tras de tecidos e materiais. Arco íris fúcsia, cascatas de éba?no, charcos cor chartreuse gotejavam do teto, pelas paredes, sobre as mesas e os braços das poltronas.
-meu deus -acertou a dizer.
Por toda parte se amontoavam fontes e bandejas com cintas e botões de todas classes. Sutiãs, cinturões, chapéus e véus se somavam a conjuntos ao meio terminar feitos de materiais brilhantes. O site cheirava como um campo de incenso dentro de uma floricultura.
Eve estava aterrada. um pouco pálida, deu-se a volta.
-Mavis, eu te quero. Talvez não lhe havia isso dito antes, mas assim é. E agora, vou.
-Dallas. -Sufocando uma gargalhada, seu amiga a retu?vo pelo braço. Para ser miúda, era assombrosamente forte-. Tranqüila. Tome uma pausa. Garanto-te que Leonardo te vai arrumar de maravilha.
-Isso é o que me temo, Mavis. E como!
-Chá com gelo e limão -anunciou Leonardo com voz cantarina ao entrar pelo cortinado de seda de imitação levando uma bandeja e copos-. Por favor, sinta-se. Pri?mero nos relaxaremos um pouco, para nos conhecer o um ao outro.
Com o olhar posto na porta, Eve se aproximou de uma cadeira.
-Olhe, Leonardo, pode que Mavis não se haja expli?cado bem. Verá, eu...
-Você é inspetora de homicídios. Tenho lido costure de você -murmurou Leonardo, hospedando-se em um sofá de lados curvos com o Mavis quase em seu regaço-. Seu último caso teve um grande eco nos média. Devo confessar que fiquei fascinado. Você trabalha com quebra-cabeças, te?niente, igual a eu.
Eve provou o chá e quase piscou ao descobrir que es?taba muito bom.
-Não me diga.
-Pois claro. Vejo uma mulher e imagino como eu gostaria que vestisse. Depois descubro quem é, a que se dedica, como vive. Suas esperanças, suas fantasias, a vi?sión que tem de si mesmo. Logo tenho que reunir todas as peças do quebra-cabeças para conseguir o look adecua?do: a imagem. Ao princípio é como um mistério que es?toy obrigado a resolver.
Mavis suspirou lascivamente:
-Verdade que é magnífico, Dallas?
Leonardo riu entre dentes e beliscou a orelha de sua amada.
-Seu amiga está preocupada, carinho. Acredita que a vou vestir de rosa elétrico e lentejoulas.
-Não estaria mau.
-Para ti sim. -Ele voltou a olhar ao Eve-. Assim vai a ca?sarse com o capitalista e escorregadio Roarke.
-Isso parece -resmungou Eve.
-Conheceu-lhe pelo caso DeBlass, correto? E con?siguió lhe intrigar com seus olhos de âmbar e seu sorriso sério.
-Eu não diria que...
-Você não -prosseguiu ele-, porque você não se vê como ele vá a você. Ou como eu. Forte, valente, preo?cupada, formal.
-Você é modista ou analista? -inquiriu Eve.
-Não se pode ser o um sem ser o outro. me diga, te?niente, como a conseguiu Roarke?
-Eu não sou um prêmio -espetou Eve, apartando o copo.
-Estupendo. -Ele juntou as mãos e quase se tornou a llo?rar-. Ardor e independência, um poquito de medo. Será uma esplêndida noiva. E agora, ao trabalho. -ficou em pé-. Venha comigo.
-Ouça -disse ela, levantando-se-, não vale a pena que percamos o tempo. Só vou A...
-me acompanhe -insistiu ele lhe agarrando da mão.
-lhe dê uma oportunidade, Eve.
Pelo Mavis, deixou que Leonardo a conduzisse entre cascatas de tecidos e materiais a uma sala de trabalho igual?mente lotada em um rincão do apartamento.
£1 ordenador a fez sentir-se mais a gosto. Essas coisas as entendia bem. Mas os desenhos que tinha gerado, e que estavam presos até no último espaço livre, desanimaram-na de repente.
O fúcsia e as lentejoulas teriam sido um consolo.
Os manequins, com seus compridos e exagerados corpos, pareciam mutantes. Alguns luziam plumas, outros pie?dras. Havia vários que levavam um pouco parecido a roupa, mas de estilos tão monstruosos -pescoços bicudos, saias do tamanho de uma manopla, trajes rodeados como uma segunda pele- que pareciam participantes de um des?file do Halloween.
-Exemplos para meu primeiro show. A alta costura é um rasgo da realidade, compreende. Ousado-o, o único, o impossível.
-eu adoro.
Eve franziu o lábio olhando ao Mavis e cruzou os braços.
-Será uma cerimônia singela, em casa.
-Hum. -Leonardo se tinha sentado a seu ordenador e utilizava o teclado com perícia-. Agora isto... -Tirou uma imagem que gelou o sangue ao Eve.
O vestido era de cor urina, com volantes de um ma?rrón lama do pescoço festoneado até os baixos como ponta de faca dos que pendiam pedras co?mo punhos de menino. As mangas eram tão apertadas que Eve estava segura de que quem as levasse perderia toda sensibilidade nos dedos. Finalmente, pôde ver na tela a parte posterior do vestido, com um corte mais abaixo da cintura e cós de plumas flutuantes.
-...isto não é para você -concluiu Leonardo, e se permitiu uma gargalhada ao ver a cara que punha Eve—. Lhe peço desculpas. Não pude evitá-lo. Para você... só um bosquejo, já me entende. Fino, comprido e singelo. Como uma coluna. E não muito frágil.
Seguiu falando enquanto trabalhava. A tela em?pezó a mostrar linhas e formas. Eve observava com as mãos afundadas nos bolsos.
Parecia tão fácil, pensou. Linhas largas, o mais sutil dos acentos no sutiã, mangas que caíssem com sua?vidad, arredondadas à altura da mão. Ainda in?quieta, esperou a que ele começasse a acrescentar todo o supérfluo.
—Primeiro jogaremos um pouco -disse ele, ausente, sa?cando na tela umas costas tão elegante e pulcra como a parte dianteira, com um corte até os joelhos-. O que fazemos com o cabelo...? -acrescentou parando-se a mi?rarla um momento.
Habituada a comentários depreciativos, Eve se mesó o cabelo.
-me posso tampar isso se fizer falta.
-OH, não, não. Bebe-lhe bem.
Ela baixou a mão, surpreendida:
-Seriamente?
-Claro. Necessitará um pouco de moldagem. Conheço um tipo que... -Desprezou a idéia-. Mas a cor, esses to?nos castanhos e dourados; e o estilo curto, não do todo do?mesticado, bebe-lhe muito bem. Um par de tesouradas bastarão. -Estudou-a com olhos entrecerrados-. Não, nem touca nem véu. Basta com sua cara. Bem, cor e material: tem que ser seda, e que apesar. -Fez uma pequena careta-. Há-me dito Mavis que Roarke não paga o vestido.
Eve se ergueu:
—O vestido é meu.
-Não há quem lhe tire essa idéia da cabeça -atravessou Mavis-. Como se ao Roarke importassem uns milhares de créditos.
-Não se trata disso...
-Claro que não. -Ele sorriu de novo-. Bem, já o arrumaremos. Cor? Branco acredito que não, muito severo para seu tom de pele.
Apertando os lábios, usou sua tecla de paleta e experi?mentó. Fascinada a seu pesar, Eve viu como o esboço pa?saba de branco neve a nata, a azul claro, a verde inten?so com um arco íris no meio. Embora Mavis não parava de exclamar «OH» e «ah», ele só meneava a cabeça.
decidiu-se pelo bronze.
-Este. OH, sim, este. Sua pele, seus olhos, seu cabelo... Es?tará radiante, majestática. Como uma deusa. Fará-lhe fal?ta um colar do menos setenta centímetros. Melhor ainda, duas réstias, de sessenta e setenta centímetros. Eu diria que de cobre, com pedras de cores. Rubis, citrinos, ônix. Sim, sim, e cornalinas, e inclusive alguma turmalina. Já falará com o Roarke sobre os acessórios.
Eve teve que reprimir um suspiro de desejo, em que pese a que a roupa nunca lhe tinha importado muito.
-É muito bonito -disse com cautela, e começou a calcu?lar sua situação econômica-. Não sei... É que a seda se sai um pouco de minhas possibilidades...
-Terá o vestido porque eu o dou de presente. Prometi?do. -Leonardo desfrutou vendo como a precaução aso?maba aos olhos dela-. Em troca de que eu possa dise?ñar o vestido do Mavis como sua dama de honra e que você utilize meus modelos para o enxoval.
-Não tinha pensado em nenhum enxoval. Já tenho roupa.
-A tenente Dallas tem roupa -corrigiu-lhe ele-. A fu?tura algema do Roarke necessitará outros objetos.
-Podemos fazer um trato. -Eve queria aquele maldito vestido. Já o notava posto sobre sua pele.
-Estupendo. Tire-a roupa.
Ela reagiu como uma mola:
-Ouça, imbecil...
-É para as medidas -explicou rapidamente ele. A forma em que lhe olhou fez que ficasse em pé e re?trocediera. Ele adorava às mulheres e sabia compreender sua ira. Em outras palavras, tinha-lhes medo-. Me considere como seu fornecedor de saúde. Não posso desenhar bem o vestido até que conheça seu corpo. Sou um artista, e um cavalheiro -disse com dignidade-. Mas se se sente incó?moda, Mavis pode ficar.
Eve inclinou a cabeça:
-Basto-me sozinha, amigo. Se se passar da raia ou lhe ocorre fazê-lo sequer, vai se inteirar.
-Não me cabe dúvida. -Cautamente, Leonardo agarrou um aparelho-. Meu exploratório —explicou-. Toma medidas com absoluta exatidão. Mas para uma verdadeira leitura tem que estar nua.
-Deixa de te burlar, Mavis, e vê por mais chá.
-Em seguida. Além disso, já te vi nua. -E so?plando beijos para o Leonardo, partiu.
-Tenho mais idéias... a respeito da roupa -particularizou Leonardo quando Eve começava a esgotar os olhos-: a combinação para o vestido, por descontado. Roupa de noite e de dia, o formal, o informal. Onde será a lua de mel?
-Não sei. Não pensamos nisso. -Resignada, Eve se tirou os sapatos e se desabotoou a calça.
—Então Roarke a surpreenderá. Ordenador: criar arquivo, Dallas, documento um, medidas, cor, estatu?ra, peso. -Depois que ela se tirou a camisa, ele se aproximou com seu exploratório-. Os pés juntos, por favor. Es?tatura, um metro setenta e três, peso, cinqüenta e cinco quilogramas.
-Quanto faz que se deita com o Mavis?
Ele seguiu com os dados:
—Umas duas semanas. Quero-a muito. Cintura, se?senta e cinco vírgula cinco.
-E quando começou tudo, antes ou depois de ente?rarse você que seu melhor amiga ia se casar com o Roarke?
Leonardo, estupefato, olhou-a com seus brilhantes olhos dourados e coléricos.
-Não estou utilizando ao Mavis para tirar uma comi?sión; insulta-a você pensando isso.
-Só queria me certificar. Eu também a quero mu?cho. Se formos seguir adiante, quero estar segura de que todas as cartas estejam sobre a mesa, nada mais. Assim...
A interrupção foi rápida e cheia de fúria. Uma mu?jer vestida de negro, muito rodeada e sem adornos, irrompeu como um bólido, despindo seus dentes perfeitos e blandiendo suas letais unhas vermelhas a modo de garras.
-Você, infiel, traidor, filho da grande puta! -Fez sua entrada quase como um morteiro em direção ao branco.
Com graça e velocidade propiciadas pelo medo, Leonardo se evadiu:
-Pandora, deixa que te explique...
-me explique isto. -Voltando sua ira contra Eve, dispa?ró um braço armado, estando em um tris de lhe arrancar os olhos de coalho.
Eve só podia fazer uma coisa: derrubar a de um golpe.
—OH, Deus... —gemeu Leonardo encurvando seus enormes ombros e retorcendo-as manazas.
Capitulo Dois
-Era necessário lhe pegar? -perguntou Leonardo.
—Sim -respondeu, Eve.
Ele deixou seu exploratório e suspirou.
—vai converter minha vida em um inferno, sei.
-Minha cara, minha cara... -Enquanto recuperava o sentido, Pandora ficou em pé cambaleando-se ao tempo que se apalpava a mandíbula—. Me saiu um arroxeado? nota-se? dentro de uma hora tenho sessão.
Eve se encolheu de ombros:
-Má sorte.
Passando de um humor a outro como uma gazela enlo?quecida, Pandora disse entre dentes:
-Lembrará-te de mim, zorra. Não trabalhará nunca em tela nem em disco, e te asseguro que não vais pisar em uma só passarela. Sabe quem sou?
Naquelas circunstâncias, estar nua não fez a não ser pôr de pior humor ao Eve:
-Acredita que me importa?
-Mas o que passa aqui. Caray, Dallas, se Leonardo só quer te fazer um vestido... OH. -Mavis, que vinha a toda pressa com os copos de chá, parou-se em seco—: Pandora.
-Você. -A Pandora ficava bastante veneno enci?ma. Saltou sobre o Mavis com a conseguinte ara de copos. Segundos depois, as duas mulheres brigavam no chão e se atiravam do cabelo.
-Pelo amor de Deus. -De ter levado em cima um porrete, Eve a teria usado contra aquele par-. Basta já. Maldita seja, Leonardo, me dê uma mão antes de que se matem. -Eve se meteu entre as duas, atirando aqui de um braço, lá de uma perna. Por pura diversão pro?pinó uma cotovelada extra às costelas da Pandora-. A me?teré em uma jaula, juro-o. -A falta de outra coisa, sentou-se em cima de Pandora e alcançou seu jeans para tirar a placa que levava no bolso-. Olhe isto. Sou polícia. De momento tem duas acusações por agressão. Quer mais?
-me tire de cima seu culo ossudo.
Não foi a ordem a não ser a relativa serenidade, com que esta foi pronunciada o que fez mover-se ao Eve. Pando?ra se levantou, alisou-se com as mãos o apertado traje negro, sorveu pelo nariz, jogou atrás sua luxuriosa juba cor chama, e finalmente lançou um frígido olhar com seus olhos esmeralda de largas pestanas.
-De maneira que agora já não tem suficiente com uma, Leo?nardo, Canalha! -Elevando seu escultural queixo, Pan?dora fulminou com o olhar ao Eve e logo ao Mavis-. Pode que sua libido vá em aumento, mas seu gosto se está deteriorando.
-Pandora. -Tremente, temendo ainda um ataque, Leonardo se umedeceu os lábios-. Hei dito que lhe explicaria isso. A tenente Dallas é minha clienta:
Ela cuspiu como uma cobra:
-Vá, é assim como as chamam agora? Crie que pode me deixar a um lado como se fora o periódico de ontem? Serei eu quem diz quando terminamos.
Coxeando ligeiramente, Mavis se aproximou do Leonardo e lhe aconteceu um braço pela cintura.
-Ele não te necessita nem te quer para nada.
-Importa-me um cominho o que ele queira, mas necessitar? -Seus grossos lábios formaram um sorriso per?versa-. Terá que te explicar as coisas da vida, pe?queña. Sem mim, o mês que vem não haverá desfile com esses farrapos de segunda. E sem desfile não poderá vender nada, e sem vendas não poderá pagar todo esse material, todo esse inventário, e tampouco o bonito empréstimo que o con?cedieron.
Pandora inspirou fundo e examinou as unhas que se partiu na briga. A fúria parecia lhe sentar tão bem como o traje superceñido.
-Isto te vai custar muito caro, Leonardo. Tenho a agenda muito apertada para amanhã e passado, mas saberei encontrar o momento para conversar com seus promotores. O que crie que vão dizer quando lhes contar que não penso me rebaixar a ir pela passarela com essa merda de teus desenhos?
-Não pode me fazer isso, Pandora. -O pânico se notava em cada palavra, um pânico que, Eve estava segu?ra, era para a ruiva como um pico para um viciado-. Me vais afundar. Investi-o tudo neste show. Tempo, dinheiro...
-Que lástima que não o pensasse antes de encapri?charte dessa mequetrefe. -Os olhos da Pandora eram apenas duas fendas-. Acredito que poderei arrumá-lo para almoçar com vários dos pagãos no fim de semana. Encanto, tem um par de dias para te decidir. Ou te libera do brinquedo novo, ou pagamentos as conseqüências. Já sabe onde me buscar.
partiu com os andar exagerados de uma mode?lo e assinalou sua saída com uma portada.
-Merda. -Leonardo se afundou em uma cadeira e ocultou a cara entre as mãos-. Sempre escolhe o momento mais oportuno.
-Não permita que te faça isso. Que nos faça isso. —Ao bordo do pranto, Mavis se acuclilló ante ele—. Não pode deixar que dirija sua vida nem que te faça chantagem.
-Inspirada, Mavis ficou em pé de um salto-. Isso é chantagem, verdade, Dallas? Corre a prendê-la.
Eve terminou de grampeá-la camisa que acabava de ficar.
-Querida, não posso prendê-la por dizer que não pensa ficar seus modelos. Posso encerrá-la por agre?sión, mas seguro que sairia quase antes de que eu fechasse a porta da cela.
-Mas é uma chantagem. Leonardo pôs tudo que tem nessa apresentação. Perderá-o tudo se não se celebrar.
-Seriamente que o sinto. Não é um assunto policial nem de segurança. -Eve se arrumou o cabelo-. Olhe, ela estava muito cheia o saco. E se tinha metido algo, a julgar por suas pupilas. Já lhe passará.
-Não. -Leonardo se apoiou no respaldo-. Quererá fazer me pagar isso, seguro. Haverá você compreendido que fomos amantes. As coisas se estavam esfriando. Pando?ra levava fora do planeta umas quantas semanas, e eu considerei que o nosso tinha terminado. Então co?nocí ao Mavis. -Sua mão procurou a dela e a apertou-. Ha?blé brevemente com a Pandora para lhe dizer que tudo tinha terminado. Ao menos o tentei.
-Já que Dallas não pode te ajudar, só bebe uma possibilidade. -Mavis estava tremendo-. Tem que voltar com ela. É a única saída. -E acrescentou antes que Leonardo pudesse protestar-: Não voltaremos a nos ver, ao menos até que tenha passado o show. Pode que então poda?mos começar de novo. Não pode permitir que Pandora fale com seus promotores e destrambelhe de seus desenhos.
-E crie que poderia fazer isso?, voltar com ela?, tocá-la depois disto, depois de haver conhecido a ti? -ficou em pé-. Quero-te, Mavis.
-OH. -Ela rompeu a chorar-. OH, Leonardo. Agora não. Quero-te muito para ver como ela te arruína. Parto-me para te salvar.
Saiu precipitadamente, deixando-o com a boca aberta.
-Estou apanhado. A muito zorra é capaz de me deixar sem nada. Sem a mulher que amo, sem trabalho, sem nada. Se?ría capaz de matá-la por colocar medo ao Mavis. -Inspi?ró fundo e se olhou as mãos-. Um homem pode de?jarse atrair pela beleza e não ver o que há debaixo.
-Importa muito o que Pandora diga a essas per?sonas? Não teriam investido seu dinheiro se não acreditassem em seu trabalho.
-Pandora é uma das Top models do planeta. Tem poder, prestígio, influências. Umas palavras dela à pessoa adequada podem significar o triunfo ou o fraca?so para um homem em minha posição. —Levantou uma mão até uma fantasia de malhas e pedras que pendia a seu lado-. Se fizer pública sua opinião de que meus desenhos são inferiores, as vendas previstas se virão abaixo'. Ela sabe exatamente como consegui-lo. Levo toda a vida trabalhando para esta apresentação, e Pandora sabe como me fazer danifico. Além disso, a coisa não acabará aí.
Deixou cair a mão e prosseguiu:
-Mavis ainda não o compreende. Pandora é capaz de ter esse raio laser pendendo sobre meu pescoço durante o resto de minha vida profissional, ou da sua. Não me li?braré da Pandora, tenente, até que ela dita que he?mos terminado.
Quando Eve chegou a sua casa, estava extenuada. Uma se?sión extra de choros e recriminações com o Mavis a tinha deixado sem forças. De momento ao menos, seu amiga se acalmou com uma libra de sorvetes e várias horas de vídeo no velho apartamento do Eve.
Desejosa de esquecer as convulsões emocionais, foi diretamente ao dormitório e se tombou de barriga para baixo na cama. O gato Galahad saltou a seu lado, ronronean?do como um louco. Já que uns quantos empurrões de cabeça não deram resultado, Galahad ficou a dormir. Quando Roarke a encontrou, Eve não havia mo?vido nem uma pálpebra.
-O que? Como foi o dia?
-Ódio ir às compras.
-É que não lhe agarraste o tranquillo.
-Para que? -Curiosa, Eve se deu a volta e lhe olhou-. Sim você gosta de comprar coisas.
-Pois claro. -Roarke se estirou a seu lado, acariciando ao gato quando este lhe subiu ao peito-. Produz-me quase tanta satisfação como possuir coisas. Ser pobre, querida tenente, é um asco.
Ela ficou pensando. Como tinha sido pobre uma vez e tinha conseguido abrir-se caminho, não podia estar em desacordo.
-Enfim, acredito que o pior já passou.
-Deste-te muita pressa -disse ele, um tanto preocu?pado-. Já sabe, Eve, que não tem por que escolher nada.
-Acredito que Leonardo e eu chegamos a um en?tendimiento. -Ao olhar o céu cor lejía pela venta?na cenital, franziu o sobrecenho-. Mavis está apaixonada por ele.
-Vá, vá. -Entrecerrados os olhos, Roarke seguiu acariciando ao gato, pensando em fazer o mesmo ao Eve.
-Não; falo a sério. -Soltou um comprido suspiro-. O dia não foi o que se diz muito bem.
Roarke tinha na cabeça as cifras de três importan?tes negócios. Desprezou a idéia e se aproximou do Eve.
-Sou todo ouvidos.
-Leonardo, um tipo imponente e estranhamente atrativo... bom, o que sei eu. De autêntico sangue ameri?cana, diria eu. Tem a estrutura óssea e a tez de norte?americano, bíceps como torpedos aeronáuticos e um deixe de magnólias na voz. Não me dá bem julgar, mas quando ficou a fazer esboços me pareceu um tipo com muito talento. Enfim, eu estava ali nua...
-Não me diga -disse Roarke, e apartando ao gato ficou em cima dela.
-Para as medidas. -Compôs um gesto zombador.
-Segue, segue.
-Bem. Mavis tinha ido procurar o chá...
-Que oportuno.
-E então apareceu ela, como quem diz babean?do. Uma tia de bandeira; quase um metro oitenta, magra como um raio laser, quase um metro de cabelo avermelhado e uma cara... bem, usarei as magnólias outra vez. ficou a gri?tarle, e o grande tipo se acovardou, assim que a mulher se lançou sobre mim. Tive que neutralizá-la.
—Pegou-lhe.
-Bom, sim, para evitar que ela me rachasse a cara com suas unhas como facas.
-Santo Deus. -Beijou-a, primeiro uma bochecha e logo a outra, depois o queixo-. por que será que faz sa?lir a besta que todos levamos dentro?
-Coisa da sorte, suponho. Bom, pois a tal Pan?dora...
-Pandora? -Roarke elevou a cabeça e esgotou os olhos-. A modelo.
-Sim, supõe-se que é o não vai mais em seu profe?sión.
Ele se pôs-se a rir, primeiro com mesura e logo a rien?da solta até que se tombou de novo de barriga para cima.
-Deu-lhe um guantazo à preciosa Pandora. Não lhe atiçaria nesse culo perfeito que tem?
-Pois sim. -Eve começou a compreender, e de repente sentiu uma repentina pontada de ciúmes-. Conhece-a.
-poderia-se dizer que sim.
-Já.
Roarke arqueou uma sobrancelha, mais divertido que pruden?te. Eve se tinha incorporado e lhe olhava carrancuda. Pela primeira vez desde que se conheciam, ele notou um toque de verde em seu olhar.
-Coincidimos um dia, uma coisa breve. -arranhou-se o queixo-. Recordo-o muito vagamente.
-Bode.
—Procurarei me esforçar. Estava dizendo?
-Há alguma mulher excepcionalmente bonita com a que não te tenha deitado?
-Farei-te uma lista. Bem, nocauteou a Pandora...
-Sim. -Eve lamentava lhe haver dado um murro-. ficou a choramingar, e então entrou Mavis e a outra lhe jogou em cima. Começaram a atirar-se dos cabelos e a ara?ñarse; enquanto, Leonardo se retorcia as mãos.
Roarke a fez pôr em cima dele.
-Leva uma vida muito interessante, sabe.
-Ao final, Pandora ameaçou ao Leonardo: ou abando?naba ao Mavis ou ela jogava por terra o desfile de modas que ele está preparando. Aparentemente Leonardo há in?vertido nisso tudo o .que tem, incluído um empréstimo substancioso. Se ela boicotar a apresentação, ele vai à quebra.
-Muito típico dela.
-Quando Pandora partiu, Mavis...
-Ainda estava nua?
-Estava-me vestindo. Mavis optou por um sacrifício supremo. Tudo foi muito dramático. Leonardo lhe declarou seu amor, ela se pôs-se a chorar e logo saiu correndo. Jo, sentia-me como um olheiro com óculos especiais. Fiz que Mavis se instalasse em meu velho apartamento, ao menos por uma noite. Não tem que ir ao clube até manhã.
Roarke sorriu.
-Ah, os velhos dramas. Sempre acabam o bordo de um precipício. O que pensa fazer seu herói?
-Miúdo herói -murmurou ela-. Merda, cai-me bem, embora seja um galinha. O que gostaria de fazer é esmagar a cabeça a Pandora, mas provavelmente ce?derá. É por isso que tinha pensado lhe dizer ao Mavis que se deva viver aqui uns dias.
-É obvio.
-Seriamente?
-Como você há dito freqüentemente, esta casa é muito grande. E me cai bem Mavis.
-Já sei. -Eve lhe dedicou uma de suas rápidas e ex?trañas sorrisos-. Obrigado. Bom, e a ti como te foi?
-comprei um pequeno planeta. É brincadeira -disse ao ver que ela ficava boquiaberta-. O que sim tenho feito é negociar a compra de uma comuna agrícola no Taurus Five.
—Agrícola, diz?
—A gente tem que comer. Reestruturando-a um pouco, a comuna poderia proporcionar grão às colo?nias manufatureiras de Marte, onde tenho um negócio importante. Assim, uma coisa vai pela outra.
-Se você o disser. E seguindo com a Pandora...
Roarke a fez rodar e lhe tirou a camisa que já lhe tinha desabotoado.
-Não cria que me despistaste -disse-lhe ela-. Quanto é «breve» para ti?
Ele fez uma espécie de encolhimento de ombros e começou a lhe mordiscar o pescoço.
—Uma noite, uma semana... —Seu corpo subiu de temperatura quando ele pôs os lábios sobre um peito-. Um mês... Ouça, agora sim me está distraindo.
-Posso fazê-lo melhor -prometeu ele. E o cumpriu.
Visitar o depósito de cadáveres era uma má forma de começar o dia. Eve percorreu os silenciosos corredores em?baldosados de branco procurando não sentir-se molesta porque a tivessem chamado para ver um cadáver às seis da manhã.
E, em cima, era um afogado.
deteve-se ante uma porta, mostrou sua placa à câmara de segurança e esperou a que lhe dessem acesso elec?trónico.
Uma vez dentro, viu um técnico frente a um muro de contêineres refrigerados. Estariam quase todos ocupa?dos, pensou. No verão morria muita gente. -Tenente Dallas? -A mesma. Tem algo para mim, acredito. -Acaba de entrar. -Com a despreocupada alegria de sua profissão, o homem se aproximou de uma gaveta e marcou o código para visionar. A fechadura e a refrigeração beberam desconectadas, e a gaveta (com seu ocupante) deslizou-se para fora entre uma neblina geada-. A agente em questão acreditou reconhecê-lo como um de seus colabo?radores.
-Já. -À defensiva, Eve tomou ar e exalou várias vezes. Contemplar a morte violenta não era novo para ela. Ignorava se teria podido explicar que resultava mais fácil, quando não menos pessoal, examinar um cuer?po ali onde tinha fenecido. No antigo e quase virgi?nal entreabro do depósito, a coisa resultava muito mais obscena.
-Johannsen, Carter. Aliás Boomer. Última direc?ción conhecida, uma pensão no Beacon. Ladrão de pouca subida, mexeriqueiro profissional, traficante ocasional de ilega?les, uma desculpa lamentável para um humanoide. -Eve suspirou enquanto examinava o que ficava do muer?to-. Caray, Boomer, mas o que lhe têm feito?
-Instrumento romo -disse o técnico, tomando-se a sério a pergunta-. Possivelmente um tubo ou um taco de beisebol del?gado. Terá que fazer mais provas. Muita resistência. Só esteve um par de horas no rio; as contusões e lacerações estão à vista.
Eve desconectou, deixando que o outro se desse impor?tancia. Não necessitava a ninguém para entender o que tinha passado.
Boomer nunca tinha sido bonito, mas lhe tinham desfigurado a cara. Tinha sido golpeado brutalmente; o nariz esmagado, a boca quase apagada a golpes e tumefac?ta. Os cardeais no pescoço indicavam estrangula-miento, assim como os copos sangüíneos quebrados que salpica?ban de lunares o resto da cara.
Seu torso estava arroxeado, e pelo modo em que des?cansaba seu corpo Eve adivinhou que lhe tinham partido o braço. O dedo que faltava na mão esquerda era uma velha ferida de guerra; recordou que ele estava acostumado a presumir de deu.
Alguém forte, furioso e decidido se carregou ao pobre e patético Boomer.
-A agente verificou os rastros parciais que a vícti?ma tinha deixado como identificação.
-Bem. me mande uma cópia da autópsia. -Eve se deu a volta para partir—. Quem é a agente que falou comigo?
O técnico tirou sua caderneta e pulsou umas teclas:
-Peabody, Delia.
-Peabody. -Pela primeira vez, Eve sorriu levemen?te-. É uma garota ativa. Se alguém perguntar pelo muer?to, quero sabê-lo em seguida.
Caminho da Central, Eve contatou com o Peabody. A cara séria e serena da agente apareceu em tela.
-Dallas.
-Sim, tenente.
-Você encontrou ao Johannsen.
-Senhor. Estou terminando meu relatório. Posso en?viarle uma cópia.
-O agradecerei. Como lhe identificou?
-Levava um leva-ident em minha equipe, senhor. Tomei os rastros. Seus dedos estavam muito machucados, assim só consegui um parcial, mas tudo apontava ao Jo?hannsen. soube que faz tempo foi um de seus in?formadores...
-Assim é. Bom trabalho, Peabody.
-Obrigado, senhor.
-Peabody, interessaria-lhe ser meu ajudante no caso?
O controle falhou um instante, o suficiente para mos?trar um brilho nos olhos da agente.
-Sim, senhor. É você o primeiro investigador?
-Boomer era meu -disse Eve sem mais-. Este caso o soluciono eu. dentro de uma hora em meu escritório, Pea?body.
-Sim, senhor. Obrigado, senhor,
-Só Dallas -murmurou Eve-. Está claro?
Mas Peabody já tinha interrompido a transmissão.
Eve olhou a hora, bufou ante a lentidão do tráfico e deu um rodeio de três maçãs até uma cafeteria para vehícu?los. O local era ligeiramente menos feio que o da Cen?tral de Polícia. Animada por isso e pelo que supuesta?mente era um pão-doce doce, deixou seu veículo e se dispôs a informar a seu chefe.
Enquanto subia no elevador, notou que as costas lhe punha rígida. Dizer-se que a coisa não tinha importância, que já era água passada, não pareceu sortir efeito. O re?sentimiento e o dano que tinha gerado um caso pre?vio não desapareceriam jamais de tudo.
Entrou no vestíbulo de administração, com seus aje?treadas consola, suas paredes escuras e seus carpetes raí?das. anunciou-se ante a recepção do comandante Whitney, e a aborrecida voz de um porteiro eletrônico lhe pediu que esperasse.
Eve preferiu ficar onde estava que ir olhar pela janela ou matar o momento com uma das vetustas máquinas de discos. A tela que tinha detrás vomitava notícias sem volume. De todos os modos, não lhe teriam interessado.
Semanas atrás tinha tido oportunidade de fartar-se dos média. Pensou que, ao menos, alguém tão baixo na escala alimentícia como Boomer não geraria muita publicidade. A morte de um mexeriqueiro não elevava o índice de audiência.
-O comandante Whitney a verá agora, Dallas, te?niente Eve.
A porta de segurança se abriu automaticamente e Eve torceu para o despacho do Whitney.
-Tenente.
-Comandante. Obrigado por me receber.
-Tome assento.
-Não, obrigado. Serei breve. Acabo de identificar a um afogado no depósito. Era Carter Johannsen, um de meus mexeriqueiros.
Whitney, homem de aspecto imponente, rasgos du?ros e olhos cansados, se retrepó em sua cadeira.
-Boomer? Preparava explosivos para ladrões ca?llejeros. ficou sem o índice da mão direita.
-A esquerda -corrigiu Eve-. Senhor.
-A esquerda. -Whitney cruzou as mãos sobre a mesa e a olhou com atenção. Tinha cometido um engano com o Eve, um engano em um caso que lhe tinha afetado a ele pessoalmente. Sabia que ainda não lhe havia perdo?nado. Contava com seu respeito e com sua obediência, mas a nebulosa amizade que pôde ter existido entre eles tinha passado à história.
-Suponho que se trata de um homicídio.
-Não tenho o resultado da autópsia, mas parece que a vítima foi golpeada e estrangulada antes de en?trar no rio. Eu gostaria de me ocupar do assunto.
-Trabalhava atualmente com ele em alguma investiga?ción?
-Não, senhor. de vez em quando proporcionava dados aos de Ilegais. Preciso averiguar com quem trabalhava nesse departamento.
Whitney assentiu com a cabeça.
-Quantos casos tem agora, tenente?
-Me as acerto bem.
-Quer dizer, não tem um minuto livre. Dallas, a gente como Johannsen sempre se busca confusões, até que os en?cuentra. Você e eu sabemos que o índice de assassinatos cresce em época de tanto calor. Não posso deixar que um de meus melhores investigadores perca o tempo em um caso como este.
Eve sei ficou boquiaberta.
-Boomer era meu. Fora o que fosse, comandante, era meu.
A lealdade, pensou o comandante, fazia da tenente Dallas um de seus melhores elementos.
-Dou-lhe vinte e quatro horas -disse-. Tenha-o aberto em seus arquivos até setenta e dois. Depois terei que transferir o caso a outro investigador.
Era o que ela esperava.
-Eu gostaria de contar com a agente Peabody.
Ele a olhou incrédulo.
-Quer que aprove um ajudante em um caso assim?
-Necessito ao Peabody -disse Eve sem pestanejar-. demonstrou ser excelente em seu trabalho. Vai para detecti?ve. Acredito que o conseguirá logo com um pouco de expe?riencia.
-A deixo três dias. Se surgir algo mais importante, as retiro às dois.
-Sim, senhor.
-Dallas -começou Whitney quando ela se dispunha a partir. tragou-se seu orgulho-. Eve... Ainda não tive ocasião de lhe desejar o melhor, pessoalmente, para suas bodas.
A surpresa apareceu nos olhos do Eve antes de que pu?diera controlar-se.
-Obrigado.
-Espero que seja feliz.
-Eu também.
um pouco inquieta, dirigiu-se pelo labirinto da Central até seu escritório. Tinha que pedir outro favor.
antes de agarrar o teleenlace fechou a porta para maior intimidade.
-Feeney, capitão Ryan. Divisão Eletrônica do De?tectives.
Sentiu alívio quando a enrugada cara apareceu em sua tela.
-Hoje chegou logo, Feeney.
-Jo, nem sequer pude tomar o café da manhã -repôs Feeney com tom quejumbroso e a boca enche-. Um dos ter?minales falha um pouco e somente eu posso arrumá-lo.
-Ser indispensável é duro. Poderia me arrumar uma busca... de forma oficiosa?
-É minha especialidade. Adiante.
-Alguém se carregou ao Boomer.
-Vá. -Deu outra dentada-. Era um merda, mas lhe saíam bem as coisas. Quando foi?
-Não estou segura; pescaram-no do East River esta manhã. Sei que às vezes informava a alguém de Ilegais. Poderia averiguá-lo?
-Relacionar a um mexeriqueiro com seu preparador é um pouco difícil, Dallas. Nessas coisas terá que extremar as medidas de segurança.
—Sim ou não, Feeney?
-Posso fazê-lo, sim -resmungou ele-. Mas não quero que meu nome saia a reluzir. A nenhum poli gosta que olhem em seus arquivos.
-diga-me isso . O agradeço. Quem o fez se empregou a fundo. Se Boomer sabia algo que justificasse tirar o de no meio, não era de meu terreno.
-Então será de outro. Já a chamarei.
Eve se separou da tela e tratou de pôr em or?den suas idéias. Evocou a cara torcida do Boomer. Um tubo ou possivelmente um taco de beisebol, pensou. Mas punhos também. Sabia o que uns nódulos fortes podiam lhe fazer a uma cara. Tinha-o experiente em carne própria. Seu defunto pa?dre tinha as mãos grandes. Era das coisas que tentava fingir que não recordava. Mas sabia do que ia: o impacto do golpe antes de que o cérebro registrasse a dor. O que tinha sido pior?, as surras ou as viola?ciones? Ambas as coisas estavam intimamente ligadas em sua mente, em seus temores.
E o braço do Boomer, curiosamente dobrado. Quebrado, disse-se, e deslocado. Tinha uma vaga lembrança do espan?toso ruído de um osso ao romper-se, nauseia-a que se su?maba à dor, o agudo gemido que substituía ao grito quando alguém te tampava a boca com uma mão.
O suor frio e o terror de saber que esses punhos vol?verían a golpear e golpear até te matar. Até que a gente rezava ao Todo-poderoso para morrer quanto antes.
A chamada à porta lhe fez dar um coice. Viu o Peabody fora, com o uniforme recém engomado e a es?palda reta.
Eve se passou uma mão pela boca para tranquilizar?se. Era hora de ficar a trabalhar.
Capitulo Três
A pensão do Boomer era melhor que outras. O edifício tinha sido em tempos um motel de aluguel baixo utilizado por prostitutas antes de que a prostituição fora aprovada e legalizada. Tinha quatro pisos e ninguém se incomodou em instalar um elevador nem um escorregador, embora sim ostenta?ba um imundo vestíbulo e a duvidosa segurança de uma andróide de aspecto áspero.
A julgar pelo aroma, o departamento de sanidade ha?bía ordenado uma recente exterminação de roedores e insetos.
A andróide tinha um tic no olho direito devido a um chip em mal estado, mas enfocou o olho bom para a placa que lhe mostrava Eve.
-Tudo como deve ser -proclamou a andróide depois do empa?ñado cristal de segurança-. Aqui não queremos confusões.
-Johannsen. -Eve se guardou a placa-. Há-lhe visita?do alguém ultimamente?
O olho saltado da andróide deu uma sacudida.
-Não estou programada para controlar as visitas, só para cobrar aluguéis e manter a ordem.
-Posso confiscar seus bancos de cor e averi?guarlo por mim mesma.
A andróide não respondeu, mas um tênue zumbido indicou que estava fazendo funcionar seu disco rígido.
-Johannsen, habitação 3C, não retornou há oito horas e vinte e oito minutos. Saiu sozinho. Ninguém veio a lhe ver nas últimas duas semanas.
-Comunicações?
-Não utiliza o sistema do edifício. Tem um próprio.
-Terei que jogar uma olhada a sua habitação.
-Terceiro piso, segunda porta à esquerda. Não alarme aos outros inquilinos. Aqui não temos pro?blemas.
-Sim, isto é o paraíso. -Eve se encaminhou à escada, reparando na madeira carcomida pelos roedores-. Gravando, Peabody.
-Sim, senhor. -Peabody se prendeu o magnetófono à camisa-. Se Boomer esteve aqui faz oito horas, não durou grande coisa. Um par de horas no máximo.
-Suficiente para liquidá-lo. -Eve escrutinou as paredes, com seus convites ilegais e suas sugestões anatómi?camente duvidosas. Um dos autores tinha problemas de ortografia. Mas as mensagens eram muito claras.
-Um site muito acolhedor, verdade?
-Recorda-me a casa de minha avó.
Ao chegar à porta da 3C, Eve olhou para trás.
-Caramba, Peabody, acredito que há dito algo gra?cioso.
Enquanto Eve ria disimuladamente e extraía seu código professor, Peabody se ruborizou. recompôs-se para quando a fechadura cedeu.
-Parece que se fechava por dentro -murmurou Eve enquanto abria o último Keligh-500-. E não com cual?quier costure. Estes ferrolhos custam cada um uma semana de meu pagamento. E não lhe serviram que nada. —Suspirou—. Dallas, tenente Eve, entrando na residência da víc?tima. -Abriu a porta-. Caray, Boomer, que porco foi.
O calor era sufocante. O controle de temperatura na pensão consistia em fechar a janela ou abri-la. Boomer tinha optado por fechar, retendo todo o bochor?no estival.
A habitação cheirava a comida má, roupa suja e uísque derramado. Deixando que Peabody fizesse um primeiro registro, Eve foi até o centro do exíguo espa?cio e meneou a cabeça.
Os lençóis do cama de armar tinham manchas de substâncias que não gostava de analisar. Caixas de comida para levar estavam empilhadas a um lado da mesma. Da pequena montanha de roupa suja que havia nos rincões, deduziu que lavar não era um dos quehaceres prioritários na vida do Boomer. O estou acostumado a estava pegajoso.
Sua única defesa foi forçar a janela até que con?siguió abri-la. Foi uma inundação de ar e ruído de trá?fico.
-Deus, miúdo site. Como mexeriqueiro ganhava bem a vida. Não tinha por que viver em um chiqueiro como este.
-Talvez gostava.
-Já. -Enrugando o nariz, Eve abriu uma porta e examinou o quarto de banho. Havia um lavabo de aço inoxidável, e uma ducha à medida dos menos aven?tajados em estatura. O fedor lhe deu náuseas.
-Pior que um frios de três dias. —Respirou pela boca e se deu a volta-. Nisto investia seu dinheiro.
Sobre um mostrador maciço havia um custoso centro de dados e comunicações. Sujeita à parede, mais acima, havia uma tela e uma prateleira repleta de discos. Eve escolheu um ao azar e leu a etiqueta.
-Boomer era um homem culto, por isso vejo: Tre?mendas tetas de tias tórridas.
-Ganhou um Oscar o ano passado.
Eve riu e devolveu o disco a seu lugar.
—Boa, Peabody, será melhor que conserve o bom humor, porque teremos que revisar tudo este lixo. Saque os discos e anote os números e etiquetas. O in?vestigaremos quando voltarmos a Central.
Eve pôs em marcha o enlace e procurou possíveis lla?madas que Boomer tivesse guardado. Repassou os pedi?dos de comida, e uma sessão com uma videoprostituta que lhe havia flanco cinco mil. Havia duas chamadas de um persumido traficante de ilegais, mas só tinham falado de esportes, sobre tudo beisebol e luta grecorromana. Eve reparou em que o número de seu escritório aparecia duas vezes nas últimas trinta horas, mas Boomer não lhe tinha deixada mensagem.
—Queria ficar em contato comigo —murmu?ró-. Desconectou sem deixar nenhuma mensagem. Esse não era seu estilo. -Tirou o disco e o entregou ao Peabody como prova.
-Nada indica que estivesse preocupado, tenente.
-Não, ele era um delator de verdade. De haver pensa?do que alguém queria lhe liquidar, teria se plantado à porta de minha casa. Bom, Peabody, espero que esteja ao dia em imunizações. Comecemos a revisar tudo isto.
Quando terminaram estavam suando, enojadas e su?cias. Peabody se tinha afrouxado o pescoço de seu uniforme e subido as mangas. Contudo, o suor lhe jorrava e lhe tinha cacheado o cabelo de má maneira.
-E eu que pensava que meus irmãos eram uns porcos.
Eve apartou com o pé umas cueca sujas.
-Quantos tem?
-Dois. E uma irmã.
-São quatro?
-É que meus pais são free-agers, senhor -explicou Peabody com um deixe de desculpa e problema-. Forofos da vida rural e a propagação.
-Não deixa você de me surpreender, Peabody. Uma urbanita pura e dura como você, descendente de free-agers. Como é que não está cultivando alfafa, tecendo esteiras ou cuidando crios?
-Eu gosto da ação, senhor.
-É um bom motivo. -Eve tinha deixado o pior para o final. Com repugnância examinou a cama do Boomer. A idéia de uns parasitas corporais brincou de correr por seu ca?beza-. Terá que olhar o colchão.
Peabody tragou saliva.
—Sim, senhor.
-Eu não sei você, Peabody, mas assim que acabemos aqui vou direta a uma câmara de descontaminação.
-E eu detrás de você, tenente.
-Muito bem. Mãos à obra.
Primeiro foram os lençóis. Só havia aromas e manchas, nada mais. Eve deixaria que trabalhassem os do gabinete de identificação, mas já tinha descartado que Boomer tivesse sido assassinado em sua própria cama.
Contudo, registrou a consciência o travesseiro e logo levantaram o colchão, que pesava como uma rocha, e lo?graron lhe dar a volta.
-Pode que Deus exista -disse Eve.
Presos à parte inferior do colchão havia dois pequenos pacotes. A gente estava cheio de um pó azul, o outro era um disco selado. Eve os arrancou. Examinou primeiro o disco. Não levava rótulo mas, a diferença dos outros, tinha sido cuidadosamente empacotamento.
Em circunstâncias normais o teria posto de in?mediato na unidade do Boomer. Podia suportar a pes?tilencia, o suor, inclusive a imundície. Mas não acreditou poder estar um minuto mais perguntando-se que parasitas mi?crocósmicos lhe estavam encarapitando à pele.
—nos larguemos daqui.
Esperou a que Peabody tivesse tirado a caixa de provas ao corredor. Com um último olhar ao estilo de vida de seu ex-informante, Eve fechou a porta, selou-a e pôs a luz vermelha de segurança da polícia.
Descontaminar-se não era doloroso, mas tampouco espe?cialmente agradável. Tinha a única virtude de ser um pro?ceso bastante curto. Eve se sentou com o Peabody, as duas nuas até a cintura, em uma sala de dois lugares com brancas paredes convexas que refletiam a branca luz.
—Ao menos é calor seco —afirmou Peabody, fazendo rir ao Eve.
—Sempre pensei que o inferno deve ser como isto. -Fechou os olhos para relaxar-se. Não acreditava ter fobias, mas os espaços fechados lhe produziam come?zón-. Sabe, Peabody, Boomer trabalhava para mim desde fazia cinco anos. Não era o que se diz um dandy, mas jamais teria acreditado que vivia dessa maneira. -Ainda nota?ba o fedor no nariz-. Era bastante limpo. me diga o que viu no banheiro.
-Sujeira, mofo, verdín, toalhas sem lavar. Dois pas?tillas de sabão, uma delas fechada, meio tubo de xampu, gel dentifrício, uma escova e afeitador de ultraso?nidos. Um pente quebrado.
—Utensílios para polir-se. Boomer se cuidava, Pea?body. Inclusive gostava de considerar um homem de sa?lón. Imagino que os do gabinete me dirão que a comi?da, a roupa e o resto têm duas ou três semanas. Você o que opina?
-Que se estava ocultando; o suficientemente preo?cupado, assustado ou envolto para deixar acontecer uns dias.
-Exato. Não o bastante desesperado para ir para mim, mas sim preocupado para ocultar um par de coisas debaixo do colchão.
-Onde a ninguém lhe ocorreria as buscar -ironizou Pea?body.
-Sim, em algumas costure não era muito preparado. O que acredita que será essa substância?
-Algo ilegal.
—Nunca vi uma ilegal dessa cor. É nova -refletiu Eve. A luz decresceu a cinza e soou um piti?do-. Acredito que já estamos podas. nos ponhamos roupa nova e vamos ver o que há nesse disco.
-Que diabos é isto? -disse Eve olhando carrancuda sua tela.
-Parece uma fórmula.
-Isso já o vejo, Peabody.
-Sim, senhor. -Retrocedeu um pouco.
-Merda. Ódio a ciência. -Confiando na sorte, Eve olhou a seu ajudante-. A você que tal lhe dá?
-Nisso nem sequer sou competente.
Eve estudou a mescla de números, cifras e símbolos e fechou os olhos.
-Minha unidade não está programada para isto.-Terei que levar a fórmula ao laboratório. -Tamborilou sobre a mesa com impaciência-. Cheiro-me que é desses pol?vos que encontramos, mas como é possível que um tipo de segunda como Boomer lhe jogasse a luva a algo assim? E quem era seu outro preparador? Você sabia que Boomer era meu, como se inteirou?
Brigando com a vergonha, Peabody olhou as cifras que havia na tela.
-Aparecia em várias listas confeccionadas por você de informe interdepartamentales sobre casos fechados.
-Tem por costume ler informe interdeparta?mentales, agente?
—Os seus sim, senhor.
-por que?
-Porque você é a melhor, senhor.
-Está-me fazendo a bola, Peabody, ou é que quer me tirar o posto?
-Haverá site para mim quando a subirem a capitão, senhor.
-O que lhe faz supor que quero uma capitania?
-Seria estúpido não desejá-lo, e você não o é, senhor.
-Está bem, deixemo-lo. Está acostumado a examinar outros infor?mes?
-de vez em quando.
-Tem idéia de quem pode ser o preparador do Boomer em Ilegais?
-Não, senhor. Nunca vi seu nome vinculado a nenhum policial. Os mexeriqueiros revistam ter um só prepa?rador.
—Ao Boomer gostava de variar. Saiamos à rua. Vi?sitaremos alguns de seus locais preferidos, a ver que sa?camos. Solo dispomos de um par de dias, Peabody. Se alguém lhe esperar em casa, lhe diga que estará muito atarefada.
—Não tenho compromissos dessa classe, senhor. Dis?pongo de todo o tempo do mundo.
-Bem. -ficou em pé-. Então em marcha. Ah, Peabody, estivemos nuas uma ao lado da outra. Deixe de «senhor», quer? me chame Dallas.
-Sim, senhor, tenente.
Eram mais das três da madrugada quando entrou pela porta, tropeçou com o gato que tinha decidido montar guarda no vestíbulo, soltou um juramento e girou a cie?gas em busca da escada.
Em sua mente havia dúzias de impressões: bares a meia luz, locais de striptease, as ruas brumosas don?de despejadas acompanhantes com licença se buscavam a vida. Todo isso e mais se cozia na pouco apetitosa existência do Boomer Johannsen.
Ninguém sabia nada, como é lógico. Ninguém havia vis?to nada. A única afirmação que tinha obtido em cla?ro de sua incursão à parte mais miserável da cidade era que ninguém tinha sabido do Boomer em mais de uma semana.
Mas evidentemente alguém tinha feito algo mais que lhe ver. Eve estava esgotando o tempo de que dispo?nía para averiguar quem- e por que.
As luzes da quarto estavam pela metade. havia-se des?pojado já da blusa quando advertiu que a cama estava vazia. Teve uma pontada de desilusão, um fraco e incó?modo puxão de medo.
Terá tido que ausentar-se, pensou. Agora se diri?gía a um ponto qualquer do universo colonizado. Po?día estar fora vários dias.
Olhando tristemente a cama, despojou-se dos za?patos e a calça. Medindo em uma gaveta, tirou uma ca?miseta e a pôs.
Que patética sou, disse-se, olhe que me queixar porque Roarke teve que sair por trabalho. Por não estar ali para que ela lhe aproximasse. Por não estar ali para espantar os pesadelos que pareciam acossá-la com maior intensi?dad e freqüência à medida que suas lembranças começavam a envenená-la.
Estava muito cansada para sonhar, disse-se. De?masiado cansada para meditar. Mas era o bastante fuer?te para recordar tudo o que não queria recordar.
de repente a porta se abriu.
-Acreditava que tinha tido que ir -disse Eve com alívio.
-Estava trabalhando. -Roarke se aproximou. Na pe?numbra da habitação sua camisa negra contrastava com o branco dela. Levantou-lhe o queixo e a olhou aos olhos—. Tenente Dallas, por que trabalha sempre até cair rendida?
-Este caso tem uma data limite. -Talvez estava ex?hausta, ou talvez o amor começava a ser mais singelo, o caso é que acariciou com suas mãos o rosto do Roarke-. Me alegro de te ter aqui. -Ao agarrá-la ele em velo e levá-la para a cama, sorriu-. Não referia a isso.
-vou agasalhar te para que durma.
Era difícil discutir quando os olhos já lhe estavam fechando.
-Recebeu minha mensagem?
-Esse tão preciso que dizia «Chegarei tarde»? Sim. —Roarke a beijou na frente—. Date a volta.
-Em seguida. -Eve lutou com o sonho-. Só hei te?nido um momento para contatar com o Mavis. Quer ficar no velho apartamento um par de dias. Diz que não pensa ir ao Blue Squirrel. Telefonou ali e averi?guó que Leonardo passou pelo local uma dúzia de vezes procurando-a.
-A maldição do amor verdadeiro.
-Mmm. Amanhã tentarei tomar uma hora de tempo pessoal para ir ver a, mas pode que não o consiga até depois de amanhã.
-Não te apure por ela. Já irei eu a vê-la, se quiser.
-Obrigado, mas não acredito que ela queira falar conti?go. Ocuparei-me disso tão logo averigúe no que estava metido Boomer. Sei muito bem que ele não podia ler esse disco.
-Claro que não -tranqüilizou-a ele, confiando em que dormisse.
-Tampouco sabia muito de números. Mas de fór?mulas científicas... -Repentinamente se incorporou, cho?cando quase com o nariz do Roarke-. Sua unidade servirá.
-Como diz?
-Os do laboratório me deram largas. Levam muito atraso e isto é de baixa prioridade. Vá. -Eve baixou da cama-. Preciso levar a dianteira. Essa tua uni?dad tem capacidade para fazer análise científicas, verdade?
-É obvio. -Ele suspirou e ficou em pé-. Su?pongo que agora...
-Podemos acessar aos dados desde minha unidade. -Agarrou-lhe da mão e o levou para o falso painel que ocultava o elevador-. Não demoraremos muito.
Eve lhe explicou o problema a grandes rasgos enquanto subiam. Para quando Roarke introduziu o código para entrar na sala privada, ela estava totalmente acordada.
A equipe era complexa, carecia de licença e era, é obvio, ilegal. Como Roarke, Eve usou o código dacti?lar para o acesso e logo se colocou detrás do console em forma de Ou.
-Você pode tirar os dados mais rápido que eu —disse a ele-. Está em Código Dois, Amarelo, Johannsen. Minha contra-senha é...
-Por favor. -Se ia ter que jogar a policiais de ma?drugada, não queria ser insultado. Roarke se sentou aos controles e manipulou alguns discos-. Já estamos na Central -disse e sorriu ao ver que ela franzia o entre?cejo.
-E para isso tanto sistema de segurança.
-Necessita algo mais antes de que comece, com sua unidade?
-Não -disse ela ficando detrás dele. Dirigindo um teclado com uma só mão, Roarke agarrou uma das dela e a levou aos lábios para lhe mordiscar os nódulos-. Não te faça o fanfarrão.
-Não teria nenhuma graça que me conectasse com seu código. Já estamos em sua unidade -murmurou ele, e pôs o controle automático-. Código Dois, Amarelo, Johannsen.
Uma das telas murais piscou.
Esperando
-Número de prova 34-J, ver e copiar -solicitou Eve. Quando a fórmula apareceu em tela, meneou a cabe?za-. Vê isso? Se parecer um hieróglifo...
—É uma fórmula química -disse ele.
-Como sabe?
-Eu fabrico umas quantas... mas legais. Isto é uma espécie de analgésico. Tem propriedades alucinógenas... -Estalou a língua e meneou a cabeça-. Nunca tinha visto nada igual. Não é uma coisa corrente. Ordenador: analisar e identificar.
-Diz que é uma droga? -começou Eve, e o orde?nador ficou a trabalhar.
—Quase seguro.
-Isso encaixa em minha teoria. Mas que fazia Boomer com essa fórmula e por que o mataram?
-Eu diria que isso depende do proveito que possa tirar-se da substância. Do rentável que seja. -Olhou ce?ñudo ao monitor enquanto saía a análise. A reproduc?ción molecular apareceu em tela com seus pontos e espirais de cor—. Muita bem, tem um estimulante or?gánico, um alucinógeno químico corrente, ambas as coisas em quantidades bastante baixa e quase legais. Aí estão as propriedades do THR-50.
-Nome vulgar, Zeus. Isto eu não gosto.
-Mmm. De todos os modos, não é de muito calibre. Claro que a mescla sim é interessante. Leva hortelã, para fazê-lo mais agradável ao paladar. Certamente pode fa?bricarse também em forma líquida com algumas alteracio?nes. Misturado com o Brinock, um estimulante sexual. Na dose adequada, pode utilizar-se para curar a impotência.
-Sim, sei. Tivemos um tipo que morreu de uma sobre-dosis. matou-se depois de bater o que parecia o recorde mundial de masturbação. atirou-se de uma janela de pura frustração sexual. Tinha o cipote como uma salsicha de porco, quase da mesma cor, e ainda duro como o ferro.
-Obrigado pela informação. O que é isto? -Perple?jo, Roarke voltou para teclado. O ordenador seguia parpa?deando a mesma mensagem:
Substância desconhecida. Provável regenerador celular. Identificação inacessível.
-Como é possível? -murmurou-. Esta unidade tem actualizador automático. Não há nada que não possa iden?tificar.
-Substância desconhecida. Vá, vá. Seria um bom motivo para assassinar a alguém. O que podemos fazer? -Identificar com dados conhecidos -ordenou Roarke.
FÓRMULA IGUAL A ESTIMULANTE COM PROPRIEDADES ALUCINÓGENAS. BASE ORGÂNICA. PENETRA RAPIDAMENTE NO SANGUE AFETANDO AO SISTEMA NERVOSO.
-Resultados?
DADOS INCOMPLETOS.
-Merda. Resultados prováveis com dados conhecidos.
CAUSA SENSAÇÕES DE EUFORIA, PARANÓIA, APETITE SEXUAL, ILUDA DE PODER FÍSICO E MENTAL. DOSE DE 55 MG EM UM HUMANO DE 60 QUILOGRAMAS PERSISTE DE QUATRO A SEIS HORAS. DOSE DE MAIS DE 100 MG CAUSA A MORTE EM 87,3 POR CENTO DOS USUÁRIOS. SUBSTÂNCIA SIMILAR AO THR-50, CONHECIDO COMO ZEUS, COM ADIÇÃO DE ESTIMULANTE PARA INTENSIFICAR A CAPACIDADE SEXUAL E A REGENERAÇÃO DE CÉLULAS.
-Não há tanta diferença -murmurou Eve-. Não é tão importante. Já sabemos de gente que mesclou Zeus com Erótica. É uma feia combinação, a responsável pela maioria de violações nesta cidade, mas não é um segredo nem é particularmente rentável. Menos quando cual?quier yonqui pode mesclá-lo em um laboratório portátil.
-Sem contar o elemento desconhecido. Regeneração de células. -Roarke levantou uma sobrancelha-. A legendária fonte da juventude.
-Qualquer que tenha créditos suficientes pode pagar um tratamento.
-Mas são coisas temporárias -assinalou Roarke-. Tem que voltar para intervalos regulares. O biopeeling e os in?yectables antiedad são caros, requerem tempo, e a me?nudo são incômodos. Os tratamentos correntes não têm o incentivo extra desta mescla.
-Seja qual seja a substância desconhecida, faz que tudo seja mais importante, ou mais letal. Ou, como diz, mais rentável.
-Você tem o pó —assinalou Roarke.
-Sim, e isto poderia fazer que os do laboratório mo?vieran um pouco o culo. vou necessitar mais tempo de que disponho.
-Pode me conseguir uma amostra? -Roarke girou em sua cadeira e lhe sorriu-. Não quero falar mal de seus laboratórios, tenente, mas o meu poderia ser mais sofis?ticado.
-São provas.
Ele arqueou a sobrancelha.
-Sabe até que ponto transgredi já as nor?mas te colocando nisto, Roarke? -bufou Eve, recordando a cara do Boomer, seu braço-. Ao corno. Tentarei-o.
-Está bem. Desconectar. -O ordenador se apagou si?lenciosamente-. E agora o que, vais dormir?
-Um par de horas. -Eve deixou que a fadiga recuperasse terreno e lhe rodeou o pescoço com os braços-. Me arropa?rás outra vez?
-De acordo. -Levantou-lhe os quadris de forma que rodeassem sua cintura-. Mas esta vez fica na cama.
-Sabe, Roarke, meu coração palpita quando fica autoritário.
-Espera a que te deite. Te vai palpitar de verdade.
Ela riu, embalou a cabeça em seu ombro e ficou dormida antes de que o elevador terminasse de baixar.
Capitulo Quatro
Era noite fechada quando o teleenlace que Eve tinha junto à cabeça apitou. Seu eu polícia reagiu em seguida e se incorporou de repente.
-Aqui Dallas.
-Dallas, menos mal, Dallas. Necessito ajuda.
Seu eu feminino ficou rapidamente à altura do eu polícia e contemplou a imagem do Mavis no mo?nitor.
«Luzes», ordenou, e a habitação se iluminou o bas?tante para ver com claridade. A cara pálida, um mo?retón debaixo do olho, arranhões sanguinolentos na me?jilla, o cabelo desordenado.
-Mavis. O que acontece está ?
-Tem que vir. -Respirava com dificuldade. Seus olhos estavam frágeis do susto-. Date pressa, por favor. Acredito que está morta e não sei o que fazer.
Eve não voltou a pedir coordenadas mas sim ordenou rastrear a transmissão. Ao reconhecer a direção do Leonardo quando piscou ao pé do monitor, procurou ha?blar com serenidade e firmeza.
-te fique onde está, Mavis. Não toque nada. Entende-me? Não toque nada, e não deixe entrar em ninguém. Ouve-me?
—Sim, sim. Farei o que diz. Date pressa. É horrível.
-Vou para lá. -Quando se deu a volta, Roarke se tinha levantado e estava ficando-os calças. -Acompanharei-te.
Ela não discutiu. Cinco minutos depois estavam na rua e atravessando a noite a toda velocidade. As ca?lles vazias deram aconteço primeiro ao constante ir e vir de turistas, ao cintilação das videocarteleras que ofereciam todos os prazeres havidos e por haver, logo aos animados insones do Village que vadiavam toman?do suas minúsculas taças de café condimentado e discu?tiendo de coisas sublime em cafeterias ao ar livre, e por último aos sonolentos hábitats dos artistas.
Além de perguntar aonde foram, Roarke não fez mais perguntas, e ela o agradeceu. Podia ver mental?mente a cara do Mavis, pálida e aterrorizada. E sua mão tremente, e o que a manchava era sangue. .
Um vento forte que pressagiava tormenta sacudia as ruas. Eve notou seu açoite ao saltar do carro do Roarke antes de que ele tivesse estacionado de tudo junto ao bor?dillo. Percorreu a toda pressa os trinta metros de calçada e esmurrou a câmara de segurança.
-Mavis. Sou Dallas. Mavis, Por Deus. -Era tal seu es?tado de agitação que lhe levou dez segundos frustrantes compreender que a unidade estava rota.
Roarke entrou detrás dela no elevador.
Ao abri-la porta, Eve soube que a coisa era tão feia como tinha temido. Em seu anterior visita, o apartamen?to do Leonardo era um espaço alegremente abarrotado, um barulho de cores. Agora estava cruelmente desarre?glado. Materiais quebrados, mesas derrubadas com seu conteni?do esparso pelo chão e quebrado.
Havia sangre em abundância, manchando as paredes e as sedas como se um menino irascível tivesse pintado nelas com os dedos.
-Não toque nada -espetou ao Roarke-. Mavis? -Deu dois passos à frente e logo se deteve o ver que um dos cortinados de tecido reluzente se movia. Mavis apa?reció detrás e ficou parada, tremendo.
-Dallas, Dallas. Graças a Deus.
-Bom, bom. Tranqüila. -Tão logo lhe aproximou, Eve se sentiu aliviada. O sangue não era do Mavis, embora sua roupa e suas mãos estavam salpicadas dela-. Está ferida.
-A cabeça me dá voltas. Estou enjoada.
-Faz-a sentar, Eve. -Agarrando ao Mavis do braço, Roarke a levou até uma cadeira-. Vamos, querida, siénta?te. Assim, muito bem. Tem um shock, Eve. Traz uma manta. Joga a cabeça atrás, Mavis. Bem. Fecha os olhos e res?pira um pouco.
-Faz frio.
—Sei. —Roarke agarrou uma parte de cetim quebrado e a cu?brió-. Respira fundo, Mavis. Devagar, profundamente. —Olhou ao Eve-. Precisa cuidados médicos.
-Não posso chamar uma ambulância sem saber antes qual é a situação. Faz o que possa. -Muito consciente do que certamente ia encontrar, Eve passou ao outro lado da cortina.
Tinha morrido violentamente. Foi o cabelo o que lhe confirmou quem tinha sido a mulher. Aquela gloriosa lla?marada de cabelo vermelho. Sua cara, com seu pasmosa e quase eté?rea perfeição, havia virtualmente desaparecido, aplas?tada e machucada a base de cruéis e repetidos golpes.
A arma seguia ali, esquecida. Eve supôs que era uma espécie de fortificação de fantasia, uma extravagância na moda. Baixo o sangue e as vísceras havia um pouco de prata re?luciente, como de dois centímetros de grossura, com um punho ornamentado em forma de lobo sorridente.
Eve o tinha visto metido em um rincão da oficina do Leonardo, só dois dias atrás.
Não era necessário comprovar o pulso da Pandora, mas Eve o fez. Logo retrocedeu com cautela para não poluir mais a cena do crime.
-Céu santo -exclamou Roarke detrás, apoiando suas mãos nos ombros do Eve-. O que pensa fazer?
-O que seja preciso. Mavis não seria capaz de uma coisa assim.
Roarke a voltou para ele.
-Não faz falta que me diga isso. Necessita-te, Eve. Necessita uma amiga, e necessitará um bom polícia.
—Sei.
-Não será fácil para ti ser ambas as coisas.
-Será melhor que me ponha em marcha. -Eve voltou junto ao Mavis. Sua cara parecia cera branda, e as contu?siones e arranhões ressaltavam contra o branco quebrado de sua pele. Tomou frite mãos do Mavis entre as suas-. Necessito que me conte isso tudo. Tome o tempo que queira, mas conta-me o tudo.
-Não se movia. Havia muito sangue, e sua cara mira?ba dessa forma estranha. Y... e ela não se movia.
-Mavis. -Imprimiu às mãos um rápido apre?tón—. me Olhe. me explique o que aconteceu desde que lle?gaste.
—Eu vinha A... eu queria. Pensei que devia falar com o Leonardo. -estremeceu-se, atirou do farrapo de tecido que a cobria com mãos ensangüentadas-. Zangou-se a última vez que foi ao clube para me buscar. Inclusive ameaçou ao apagabroncas, e ele não faz essas coisas. Eu não queria que arruinasse sua carreira, assim pensei falar com ele. Vim aqui, e alguém tinha quebrado o sistema de segurança. En?tonces subi. A porta não estava fechada. Às vezes lhe esquece-murmuró finalmente.
-Mavis, estava aqui Leonardo?
-Ele? -Atordoada pela comoção, escrutinou o quarto com o olhar-. Não, acredito que não. Chamei-lhe, porque vi todo o alvoroço. Ninguém me respondeu. E ali... ali havia sangue. Muito sangue. Deu-me medo, Dallas, medo de que se hu?biera matado ou feito alguma loucura, e então fui correndo à parte de atrás. Vi-a ela. Acredito... Aproximei-me. Acredito que o fiz porque ajoelhei a seu lado e inten?té gritar. Mas não pude gritar. E logo acredito que algo me golpeou. Parece-me... -tocou-se a nuca com os dedos-. Dói-me aqui. Mas tudo estava igual quando recuperei o senti?do. Ela seguia ali, e o sangue também. Depois chamei a ti.
-Muito bem. Tocou-a, Mavis? Tocou alguma coisa?
-Não o recordo. Acredito que não.
-Quem te fez isso na cara?
—Pandora.
-Carinho, acaba de me dizer que estava morta cuan?do chegou.
-Isso foi antes. Fui a sua casa.
-Foi esta noite a sua casa. A que hora?
-Não sei exatamente. Seriam as onze. Queria de?cirle que me afastaria do Leonardo e lhe fazer prometer que não danificaria seus planos para o show.
-Brigaram?
-Ela estava colocada. Havia gente, uma pequena festa ou algo assim. comportou-se muito mal, disse coisas horríveis. E eu igual. Chegamos às mãos. Ela me esbofeteou, arranhou-me. —Mavis se apartou o cabelo para mostrar as heri?das que tinha no pescoço-. Duas pessoas que ali havia nos separaram, e logo fui.
-Aonde?
-A um par de bares. -Sorriu fracamente-. A mu?chos, em realidade. Sentia lástima de mim mesma. Andei por aí. Logo me ocorreu falar com o Leonardo.
-A que hora chegou aqui? Sabe?
-Tarde, muito tarde. Às três ou as quatro.
-Sabe onde está ele?
-Não. Leonardo não estava. Eu queria lhe ver, mas dia... O que vai passar agora?
—Eu me encarrego de tudo. Tenho que informar do Oto, Mavis. Se não o fizer logo, a coisa ficará muito feia. Terei que pôr tudo isto por escrito, e vou a te?ner que te levar a Interrogatórios.
-Mas, mas... Não pensará que eu...
-Claro que não, Mavis. -Era importante manter animado o tom, dissimular seus próprios medos-. Mas o vamos esclarecer logo que possamos. Deixa que me ocupe de tudo. De acordo?
—Não me encontro muito bem...
-Você te fique aqui enquanto eu me ocupo. Quero que tente recordar detalhes. Com quem falou ontem à noite, onde esteve, o que viu. Tudo o que possa recordar. Repassaremo-lo de cima abaixo dentro de um momento.
-Dallas. -Mavis se estremeceu um pouco-. Leonardo. Ele não seria capaz de lhe fazer isso a ninguém.
-Deixa que eu me ocupe disso -repetiu Eve. Logo olhou ao Roarke, que, compreendendo o sinal, foi a sen?tarse com o Mavis.
Eve tirou seu comunicador e se afastou.
-Dallas. Tenho um homicídio.
A vida nunca tinha sido fácil para o Eve. Em sua carreira como polícia tinha visto e feito muitas coisas espe?luznantes. Mas nada lhe havia flanco tanto como levar ao Mavis a Interrogatórios.
-Encontra-te bem? Não tem por que fazê-lo agora.
-Não, na ambulância me deram um sedativo. -Mavis se tocou o galo da nuca-. Dormiu-me isso o bastante. Estiveram me fazendo algo mais, de alguma forma conseguiram me centrar um pouco.
Eve examinou os olhos do Mavis. Tudo parecia nor?mal, mas isso não a tranqüilizou.
—Escuta, não te viria mal ingressar um par de dias no centro de saúde.
-Não lhe dê mais voltas, Dallas. Prefiro acabar quanto antes. -Tragou saliva-. encontraram ao Leo?nardo?
-Ainda não. Mavis, se quer pode pedir que atira um advogado.
-Não tenho nada que ocultar. Eu não a matei, Dallas.
Eve jogou uma olhada a grabadora. Podia esperar um minuto mais:
-Mavis, tenho que fazer isto por narizes. Nem mais nem menos. Se não o fizer, tiram-me do caso. Se não ser o primeiro investigador, não poderei te servir de nenhuma ajuda.
Mavis se lambeu os lábios.
-vai ser duro, não?
-Poderia sê-lo, e muito. vais ter que suportá-lo.
Mavis provou a sorrir.
-Bom, nada é pior que entrar e encontrasse a Pan?dora.
Claro que há coisas piores, pensou Eve, mas não o disse. Pôs em marcha a grabadora, recitou seu nome e identificação e leu seus direitos ao Mavis. Logo, repa?só com ela o que tinham falado na cena do cri?men, procurando concretizar as horas.
-Quando foi a casa da vítima para falar com ela, havia outras pessoas ali.
-Sim. Parecia uma pequena festa. Estava Justin Young. Já sabe, o ator. E Jerry Fitzgerald, a mode?lo. E outro tipo ao que não reconheci. Já sabe, um ejecu?tivo.
-A vítima te atacou?
—Deu-me um murro —disse Mavis tristemente, pal?pándose o arroxeado na bochecha-. Começou ficando muito bordo. Pelo modo em que seus olhos giravam, imagi?no que se colocou algo.
-Parece-te que usava substâncias ilegais.
—E das boas. Quero dizer, tinha os olhos como rodas de cristal. Já me tinha brigado com ela, você o viu. -Mavis prosseguiu enquanto Eve dava um coice-. Antes não tinha tanta força.
-Devolveu o golpe?
-Acredito que a alcancei ao menos uma vez. Ela me arranhou com suas malditas unhas. Eu lancei a seu cabelo. Acredito que foram Justin Young e o executivo quem nos separou.
-E logo?
-Suponho que destrambelhamos um momento, e depois me parti.
-Aonde foi? Quanto momento esteve por aí?
-Fui a um par de bares. Acredito que primeiro entrei no Ziguezague, na esquina do Lexington e a Sessenta e um.
-Falou com alguém?
-Não tinha vontades de falar. Doía-me a cara e me sentia fatal. Pedi um triplo zombie e fiquei ali com a cara larga.
-Quanto pagou?
-Pois... acredito que introduzi minha conta de crédito em tela.
Bem. Haveria um registro, hora, lugar.
- Aonde foi depois ?
-Estive andando, entrei em um par de tugúrios. Esta?ba bastante colocada.
- Seguiu pedindo combinados ?
-Suponho que sim. Quando pensei em ir a casa do Leo?nardo estava como uma Cuba.
-Como chegou ao centro?
—Andando. Precisava me serenar um pouco, assim caminhei. Tomei um par de escorregadores, mas quase todo o fiz a pé.
Confiando em lhe refrescar a memória, Eve repetiu a informação que Mavis acabava de lhe dar.
-Quando saiu do Ziguezague, que direção tomou?
-Acabava de tomar dois triplo zombies. Mais que an?dar ia a tropicões. Não sei para aonde. Dallas, não sei como se chamam os outros locais onde entrei, nem que mais bebi. Tudo era muito confuso. Música, gente rendo... al?guien dançando em uma mesa.
-Homem ou mulher?
-Um tipo. Muito bem dotado. Levava uma tatuagem, acredito. Possivelmente era pintado. Seguro que era uma serpente, ou um lagarto.
-Que aspecto tinha o bailarino?
—Jo, Dallas, não olhei mais acima da cintura.
-Falou com ele?
Mavis se levou as mãos à cabeça e tratou de recordar.
-Não sei. Estava realmente mal. Lembrança que não parei de andar; que fui a casa do Leonardo, pensando que seria a última vez que lhe veria. Não queria estar bêbada quando chegasse, assim tomei um Sober Up antes de en?trar. Então a encontrei a ela, e foi muito pior que estar ébria.
-O que foi o primeiro que viu o entrar?
-Sangue. Muito sangue. Costure rotas pelo chão, mais sangre. Tinha medo de que Leonardo fizesse uma tolice e corri à zona da oficina, e vi a Pandora. -Era uma lembrança que podia evocar com claridade-. Vi-a. A re?conocí pelo cabelo, e porque levava o mesmo conjunto que na festa. Mas sua cara... de fato nem sequer tinha cara. Não pude gritar. Ajoelhei a seu lado. Não sei o que pensei então,, mas sim que tinha que fazer algo. Logo algo me golpeou e quando despertei chamei a ti.
-Viu alguém na rua enquanto entrava no edifício?
-Não. Era muito tarde.
-me fale da câmara de segurança.
-Estava rota. Há vândalos que se dedicam a estro?pearlas. Não me ocorreu outra razão.
-Como entrou no apartamento?
-O ferrolho não estava jogado. Simplesmente entrei.
-E Pandora estava morta quando você chegou? Pe?leaste com ela no apartamento do Leonardo?
-Não. Já estava morta. Dallas...
- por que brigou com ela as outras vezes ?
-Ela ameaçou arruinando a carreira do Leonardo. -A cara machucada do Mavis registrou emoções diver?sas: medo, dor, pena—. Pandora não queria lhe deixar. Nós estávamos apaixonados, mas ela não queria soltá-lo. Já viu como as gasta, Dallas.
-Leonardo e sua carreira são muito importantes para ti.
-Eu lhe amo -disse Mavis com voz bebe.
-Faria algo para lhe proteger, para evitar que alguém pudesse lhe fazer danifico, pessoal ou profissionalmente.
-Tinha decidido sair de sua vida -declarou Mavis com uma dignidade que fez racho no Eve-. Do contrário lhe teria feito mal, e eu não podia deixar que isso acontecesse.
-Não teria podido lhe fazer danifico, nem a ele nem a ti, se hu?biera estado morta.
-Eu não a matei.
-Foi a sua casa, discutiram, ela te pegou e você lhe vol?viste. Ao sair, embebedou-te. Conseguiu chegar a casa do Leonardo, encontrou-a ali. Possivelmente discutiram outra vez, possivelmente ela te agrediu de novo. Você lhe defendis?te, e a coisa passou a maiores.
Os grandes olhos cansados do Mavis refletiram pri?mero perplexidade e logo dor.
-por que diz isso? Sabe que não é verdade.
Inexpressiva, Eve se inclinou para frente:
-Pandora tinha convertido sua vida em um inferno ao ameaçar ao homem que amas. Fez-te mal, física?mente. Era mais forte que você. Quando te viu entrar em casa do Leonardo se lançou sobre ti outra vez. Tombou-te, deu-te um golpe na cabeça. Então te entrou medo e agarrou o que tinha mais à mão. Para te proteger. Ela possivelmente se equilibrou sobre ti e você lhe pegou outra vez. Para te proteger. Então perdeu o controle e seguiu lhe pegando e lhe pegando, até ver que estava morta.
Mavis soluçou e meneou a cabeça enquanto seu corpo se estremecia.
-Não é verdade. Eu não a matei. Ela já estava morta. Por Deus, Dallas, como pode pensar que eu seja capaz de uma coisa assim?
—Possivelmente não foi você. —Vamos, pressiona-a, ordenou-se Eve sangrando-se por dentro. Pressiona mais, para que fique perseverança-. Possivelmente foi Leonardo e você lhe está protegendo. Viu se ele perdia o controle, Mavis? Aca?so agarrou o fortificação e a golpeou?
—Não, não, não!
- Ou possivelmente chegou quando já a tinha matado, mien?tras ele contemplava com pânico o que tinha feito? Queria ajudá-lo e lhe disse que fugisse...
-Não. Não foi assim. -Mavis se levantou da cadeira, pálida como a cera, exagerada o olhar-. Ele nem sequer esta?ba. Não vi ninguém no apartamento. Ele não pôde fazê-lo. por que não escuta o que te digo?
-Sim te escuto, Mavis. Sente-se. Vamos, sente-se -re?pitió com mais suavidade- Já quase acabamos. Há alguma coisa que queira acrescentar a sua declaração ou alguma mudança que queira fazer a seu conteúdo?
-Não -murmurou, e ficou olhando sem expressão além do Eve.
-Isto dá por terminada a entrevista Um, Mavis Freestone, arquivo Homicídios, Pandora, Dallas, tenien?te Eve. -Anotou a data e a hora, desconectou a grabado?ra, respirou fundo-. Sinto muito, Mavis, sinto-o muito.
-Como pudeste? Como foste capaz de de?cirme essas coisas?
-Tenho que lhe dizer isso Tenho que te fazer essas pre?guntas, e você tem que as responder. -Pôs uma mão firme sobre a do Mavis-. Pode que tenha que lhe fazer isso outra vez, e você terá que responder de novo. me olhe, Mavis. -Esperou a que ela desviasse o olhar-. Ignoro o que os de Identificação vão averiguar, o que dirão os in?formes do laboratório. Mas como não tenhamos muita sorte, vais necessitar um bom advogado.
Mavis empalideceu.
-vais prender me?
-Não sei se terá que chegar a isso, mas quero que es?tés preparada. Agora vete a casa com o Roarke e dorme um pouco. Quero que faça um esforço por recordar horas, lugares e pessoas. Se te lembrar de algo, grava-me isso.
-E você o que vais fazer?
—Meu trabalho. Sou muito boa nisso, Mavis. Recuér?dalo bem, e confia em que eu o esclareça tudo.
-Esclarecer tudo? -repetiu com amargura-. Quererá dizer demonstrar minha inocência. Não dizem que alguém é inocente até que se demonstra o contrário?
-Essa é uma das grandes mentiras da vida. -Eve ficou em pé e a conduziu para o corredor-. Farei o que esteja em minha mão para fechar o caso rapidamente. É o único que posso te dizer.
-Poderia dizer que me crie.
-Isso também lhe digo isso. -Mas não podia deixar que essa idéia interferisse em sua investigação.
Sempre havia papelada. Ao cabo de uma hora tinha feito assinar ao Mavis deixando-a baixo arresto voluntário em casa do Roarke. Oficialmente, Mavis Freestone constava como testemunha. Extraoficialmente, como Eve sabia, era o primeiro suspeito. Com a intenção de pôr logo re?medio, entrou em seu escritório.
-Bom, o que é isso de que Mavis se carregou a uma modelo?
-Feeney. -Eve poderia lhe haver beijado até a última ruga. Estava sentado a sua mesa com sua eterna bolsa de amendoins sobre o regaço e o cenho bem instalado na frente-. Os rumores correm.
-foi o primeiro que ouvi o passar pelo res?taurante. Quando detêm a amiga de um de nossos melhores polis, em seguida se sabe.
-Não está detida. De momento, é testemunha de um caso.
-Medeia-os já se inteiraram. Ainda não têm o nome do Mavis, mas sim a cara da vítima desparra?mada na tela. Minha mulher me tirou da ducha para que o visse. Pandora era todo um personagem.
-Sim, viva ou morta. -Cansada, Eve se apoiou contra a esquina de sua mesa—. Quer um relatório detalhado da declaração do Mavis?
-Para que acredita que vim, se não?
Eve o deu escrito na taquigrafia policial que ambos compreendiam e lhe deixou cejijunto.
—Caramba, Dallas, seu amiga o deixa cru. Você mesma as viu brigando.
—Sim, em direto e em pessoa. Ou seja por que diabos lhe ocorreu enfrentar-se outra vez a Pandora... -passeou-se pela habitação-. Isso piora as coisas. Espero e de?seo que o laboratório consiga alguma coisa. Mas não pue?do contar com isso. Como anda de trabalho, Feeney?
-Não me pergunte isso. —Feeney desprezou a idéia—. O que necessita?
-Uma investigação de sua conta de crédito. O pri?mer site que recorda é o Ziguezague. Se pudermos locali?zarla ali, ou em algum dos outros locais à hora em que se produziu a morte, ela é inocente.
-Disso posso me encarregar, mas... Alguém esteve rondando a cena do crime e deu uma pancada ao Mavis na cabeça. É possível que não haja muito des?fase.
-Sei. Não posso deixar nenhum cabo solto. Seguirei a pista das pessoas que Mavis reconheceu na festa da vítima, conseguirei declarações. Tenho que localizar a um bailarino com uma franga enorme e uma tatuagem.
-Para que logo digam que este ofício não é divertido.
Ela quase sorriu.
-Preciso encontrar gente que possa atestar que ela estava destroçada. Inclusive com uma dose do Sober Up, Mavis não pôde serená-lo suficiente para ter eliminado a Pandora se não parou de beber caminho do cen?tro da cidade.
-Ela assegura que Pandora se colocou algo.
-Outra coisa que tenho que comprovar. Logo está Leo?nardo, o escorregadio. Onde coño estava? E onde está agora?
Capitulo Cinco
Leonardo estava estirado quão comprido era no piso do salão do Mavis, onde tinha cansado horas antes presa de um estupor etílico provocado por uma garrafa de uísque sintético e um carregamento de autocompasión.
Estava começando a despertar e temia haver perdi?do meia cara em algum momento daquela noite des?dichada. Quando levantou uma cautelosa mão para com?probarlo, sentiu alívio ao encontrá-la cara inteira em seu site de sempre, embora um pouco intumescida de ter estado contra o chão.
Não recordava muito. Essa era uma das razões de que nunca abusasse do álcool. Era propenso a amnésias e espaços-en branco sempre que levantava o cotovelo mais do devido.
Acreditava recordar que entrou trastabillando no edifício do Mavis, usando a chave de código que lhe tinha dado quando compreenderam que não só eram amantes mas também se apaixonaram.
Mas Mavis não estava. Quase podia assegurá-lo. Tinha uma vaga imagem de si mesmo dando tombos pela cidade e jogando goles da garrafa que havia com?prado: ou roubado? Merda. Tentou incorporar-se e des?pegar os olhos. Quão único sabia com certeza era que levava a maldita garrafa na mão e o uísque nas tripas.
Devia haver-se desacordado, coisa que o repugna?ba. Como podia esperar que Mavis o compreendesse se se apresentava cambaleante em seu apartamento, bêbado como uma Cuba?
Era uma sorte que ela não tivesse estado ali.
Agora, é obvio, tinha uma ressaca de revide que lhe fez ovillarse e chorar de pena. Mas Mavis podia vol?ver, e ele não queria que lhe visse em um estado tão lamenta?ble. Conseguiu ficar em pé, procurou uns analgésicos e programou o AutoChef do Mavis para fazer um café, forte e sozinho.
Então reparou no sangue.
Estava seca e lhe corria pelo braço até a mão. Tinha uma ferida no antebraço, larga e profunda que tinha formado crosta. Sangue, pensou outra vez nervoso, ao ver que lhe manchava a camisa e a calça.
Respirando com dificuldade, separou-se do mostrador e se contemplou a si mesmo. Tinha estado em uma briga?, fazia machuco a alguém?
Nauseia-as lhe subiram pela garganta enquanto sua mente saltava enormes vazios e lembranças confusas.
Deus do céu, é que tinha matado a alguém?
Eve estava olhando taciturna o relatório preliminar do forense quando ouviu um golpe à porta de seu despa?cho. antes de que se desse conta, a porta já se aberto.
-Tenente Dallas? -O homem tinha aspecto de cowboy torrado pelo sol, desde seu sorriso de gilipollas até suas botas de gastos saltos-. Caracóis, é uma sorte ver o personagem de lenda em carne e osso. Vi sua foto, mas é mais bonita ao natural.
-Aniquila-me você. -Eve se retrepó na cadeira, entrecerrando os olhos. Ele sim era realmente bonito, com seu cabelo encaracolada cor de trigo em torno de uma cara curtida que se enrugava atractivamente junto aos olhos cor verde garrafa. Um nariz reta e largo, a piscada de um ma?licioso covinha na comissura de uma boca sorridente. E um corpo que, enfim, parecia que podia montar muito bem a cavalo ou o que fizesse falta-. Quem demônios é você?
-Casto, Jake T. -Extraiu uma placa do ajustado bol?sillo dianteiro de seus Levi's descoloridos-. Ilegais. Me b informado de que me estava procurando.
Eve examinou a placa.
-Seriamente? E sabe por que poderia estar buscándo?le, tenente Casto, Jake T.?
-Por nosso mexeriqueiro mútuo. -Acabou de entrar no despacho e posou um quadril contra a mesa do Eve em atitude de colega. Ela captou o agradável aroma de sua pele-. Que má sorte o do pobre Boomer. O muito desgraçado era inofensivo.
—Se você sabia que Boomer era meu, como há tar?dado tanto em vir para ver-me?
-estive ocupado em outro assunto. E, a dizer ver?dad, não pensava que houvesse grande coisa que dizer ou fazer. Então soube que Feeney estava farejando. -Seus olhos sorriram outra vez, agora com um deixe de sarcasmo-. Feeney também é bastante dele, não?
-Feeney é do Feeney. No que tinha trabalhando ao Boomer?
—O normal. —Casto agarrou da mesa um ovo de ametista, admirou suas inclusões e o trocou de mão-. Informação sobre ilegais. Coisas de pouco calibre. Boomer queria pensar que era muito importante, mas sempre se tratava de elementos dispersos.
-A base de elementos dispersos se pode conseguir muito.
-Por isso usava eu ao Boomer, querida. Era muito confiável para praticar algum que outro arresto. Cacei a um par de traficantes de médio nível graças a seus dados. -Outra vez o sorriso-. Alguém tem que fazê-lo.
-Sim... E quem lhe fez mingau, então?
O sorriso se desvaneceu. Casto deixou o ovo na mesa e meneou a cabeça.
-Não tenho nem a menor ideia. Boomer não era um tipo encantador, mas não sei que ninguém lhe odiasse tanto como para lhe fazer essa tarefa.
Eve o estudou. Parecia sério e sua voz ao falar do Boomer tinha deixado traslucir algo que lhe recordou seu próprio e prudente afeto. Contudo, ela preferiu não sol?tar gosta muito,
—Trabalhava Boomer em algo em particular?, algo diferente?, grande?
Casto levantou uma sobrancelha cor de areia.
-Por exemplo?
-Não estou ducha em ilegais.
-Que eu soubesse não. A última vez que falei com ele, o que sei eu, umas duas semanas antes de que o jogassem ao rio, disse algo sobre um assunto inaudito. Você já sabe de que maneira falava.
-Sim, sei como falava. -Era o momento de soltar uma das cartas-. Também sei que encontrei uma sus?tancia sem identificar oculta em seu apartamento. Estão-a analisando no laboratório. até agora só hão po?dido me dizer que é uma mescla nova e mais potente que qualquer das que podem encontrar-se na rua.
-Uma mescla nova. -A frente de Casto se franziu-. por que diabos não me disse isso ?Se é que tratava de jogar a duas bandas... -Casto assobiou entre dentes-. Você crie que o carregaram por isso?
—Não tenho outra teoria melhor.
-Já. Vá merda. Certamente tentou extorquir ao fabricante ou ao distribuidor. Ouça, falarei com os do laboratório e verei se na rua há rumores sobre sus?tancias novas.
-O agradeço.
-Será um prazer trabalhar com você. -Trocou de pos?tura, deixou que seu olhar percorresse a boca dela duran?te um segundo, com uma sorte de talento que acertou no alvo da adulação—. Ao melhor gostaria de fazer uma pausa para comer e falar da estratégia. Ou do que se atravesse.
-Não, obrigado.
-Porque não tem apetite ou porque está a ponto de casar-se?
-As duas coisas.
-De acordo. -ficou em pé e ela, sendo humano, não pôde por menos de apreciar o modo em que o panta?lón se atia em torno de seus larguiruchas pernas-. Se trocar de opinião já sabe onde me encontrar. Seguiremos em contato. -rebolou para a porta e se deu a volta-. Sabe uma coisa, Eve, tem os olhos como o bom uísque antigo. Isso provoca em um homem uma sede considerável.
Ela olhou carrancuda a porta que ele tinha fechado ao sa?lir, zangada pelo fato de que seu pulso se houvesse ace?lerado. Afundou ambas as mãos no cabelo e voltou para seu relatório na tela.
Não tinha necessitado que lhe dissessem como tinha morrido Pandora, mas era interessante ver que segundo o forense os três primeiros golpes na cabeça tinham sido fatais. Toda agressão posterior por parte do assassino tinha sido gratuita.
Ela havia oposto resistência antes dos golpes na cabeça, advertiu Eve. Lacerações e abrasões varia?das em outras partes do corpo davam fé de uma resistência.
A hora da morte tinha sido fixada nas 2.50, e o conteúdo do estômago indicava que a vítima tinha desfrutado de uma última e elegante janta por volta das oito da noite: lagosta, escarola, nata bávara e champanha. Em seu sangue havia rastros de substâncias químicas, pen?dientes de analisar.
Assim Mavis provavelmente tinha razão. Parecia como se Pandora tivesse ingerido algo, possivelmente ilegal. A grandes rasgos, isso podia significar algo. Mas os rastros de pele nas unhas da vítima sim tinham um significado claro. Eve estava segura de que quando o la?boratorio terminasse sua análise ficaria demonstrado que era pele do Mavis. E que os fios de cabelo que os do gabinete tinham recolhido perto do corpo foram ser cabelo do Mavis. Mas o pior, temia-se, era que os rastros da arma homicida pudessem ser do Mavis.
Como plano, pensou Eve fechando os olhos, era perfec?to. Entra Mavis no momento e o lugar inadequados, e o assassino vê um cabrito expiatório feito à medida.
Conhecia o assassino a história entre o Mavis e Pando?ra, ou tinha sido outro golpe de sorte?
Em qualquer caso, neutraliza ao Mavis, deixa algumas prova falsas e acrescenta o golpe professor consistente em arranhar com as unhas da vítima o rosto do Mavis. O mais fácil era fechar a mão do Mavis sobre a arma ho?micida e logo escapulir-se com a satisfação de um tra?bajo bem feito.
Para isso não fazia falta ser um gênio, pensou. Mas sim se requeria uma mente fria e prática. Mas como isso concorda?ba com a raiva que empregou para agredir a Pandora?
Teria que fazer encaixar uma coisa com a outra, disse-se Eve. E teria que achar o modo de demonstrar a inocência do Mavis e encontrar ao tipo de assassino capaz de desfigurar a uma mulher e depois deixá-lo tudo em or?den.
Enquanto ficava em pé, a porta do despacho se abriu de repente e Leonardo irrompeu com olhos desorbita?dos.
-Eu a matei. Eu matei a Pandora. Que Deus me ajude.
Dito isto, seus olhos se beberam em branco e todo o peso de seu corpachón se desabou no chão, sem sentido.
-Santo Deus.
Era como ver cair um enorme sequóia. Agora esta?ba tendido no chão com os pés na soleira e a cabe?za roçando quase a parede oposta. Eve se acuclilló, apoiou as costas contra a parede e tratou de lhe dar a volta. Pro?bó a lhe dar um par de bofetões secos e logo esperou. Resmungando para seus adentros, empregou toda sua força e logo lhe golpeou as bochechas com vigor.
Leonardo gemeu e seus olhos injetados em sangue se abriram.
-O que... onde...
-Silêncio -espetou-lhe Eve ao tempo. levantou-se, foi para a porta e colocou seus pés dentro do despacho. Logo o olhou-. vou ler lhe seus direitos.
-Meus direitos? -Parecia aturdido, mas conseguiu levantar o torso até ficar sentado no chão.
-me escute bem. -Leu-lhe os direitos e logo elevou uma mão antes de que ele pudesse falar-.- compreendeu quais são suas opções?
-Sim. -Leonardo se esfregou a cara com as mãos-. Sei o que acontece.
-Deseja fazer uma declaração?
-Já lhe hei dito que...
Eve elevou de novo a mão.
-Sim ou não. Só diga sim ou não.
—Sim, sim. Quero fazer uma declaração.
-Levante se. Isto o vou gravar. -Voltou para sua mesa. Podia levá-lo abaixo, a Interrogatórios. Certamente o faria, mas isso podia esperar-. Entende que o que diga agora vai ficar registrado?
-Sim. -Ele ficou em pé e se deixou cair em uma cadeira que punho baixo seu peso-. Dallas...
Lhe interrompeu com um gesto. Depois de conectar a grabadora, Eve anotou a informação necessária e voltou a lhe ler seus direitos para que ficasse perseverança.
-Leonardo, entende você estas opções, renun?cia neste momento a um advogado e está disposto a ha?cer uma declaração?
-Só quero acabar com isto quanto antes.
-Sim ou não?
-Sim, maldita seja.
-Conhecia você a Pandora?
-Pois claro que sim.
-você tinha alguma relação com ela?
-Sim. -cobriu-se a cara outra vez, mas ainda via a ima?gen da Pandora que tinha aparecido na tela quando decidiu pôr as notícias. A larga bolsa negra sendo tirada de seu próprio apartamento-. Parece-me in?creíble o que passou.
-Que classe de relação mantinha com a vítima?
Que forma mais fria de dizê-lo, pensou ele. Deixou as mãos sobre o regaço e olhou ao Eve.
-Já sabe que fomos amantes. E sabe que eu inten?taba cortar com ela devido A...
-Mas no momento de sua morte -interrompeu-lhe Eve- já não intimavam.
-Certo, fazia semanas que não estávamos juntos. Pandora tinha estado fora do planeta. As coisas se ha?bían esfriado antes inclusive de que ela se fora. E enton?ces conheci o Mavis e tudo trocou para mim. Dallas, dón?de está Mavis?
-Não estou autorizada para informar do paradeiro da senhorita Freestone.
-Pois me diga que se encontra bem. -Seus olhos se encheram de lágrimas-. Me diga ao menos que está bem,
-Está em lugar seguro -foi tudo o que disse ela. O que podia dizer—. Leonardo, é certo que Pandora ameaçava arruinando sua carreira profissional? Que lhe exigiu que continuassem sua relação e que, se você se ne?gaba, ela se retiraria da apresentação de seus desenhos de moda? Um desfile no que você tinha investido gran?des quantidades de tempo e de dinheiro.
-Você estava ali, o ouviu dizer. Eu não o importa?ba um cominho, mas ela não podia tolerar que a deixasse plantada. Se não deixava de ver o Mavis, se não voltava a ser seu cão mulherengo, ela se ocuparia de que o show fosse um fracasso, se é que chegava a celebrar-se.
-Você não queria deixar de ver a senhorita Freestone.
-Quero ao Mavis -disse ele com dignidade-. É o mais importante de minha vida.
-E mesmo assim, se não acessava às exigências da Pandora, ia ficar cheio de dívidas e com uma mancha em sua reputação profissional de graves conseqüências. Co?rrecto?
-Sim. Investi-o tudo nesse show. Pedi emprestado muito dinheiro. É mais, pus todo meu coração nisso. Minha alma inteira.
—Ela tivesse podido danificá-lo tudo.
—Certamente. —Apertou os lábios—. E lhe haveria gus?tado fazê-lo.
-Pediu-lhe você que fora a seu apartamento ontem à noite?
-Não. Eu não desejava vê-la nunca mais.
-A que hora chegou ela ao apartamento?
-Não sei.
-Como entrou? Deu-lhe você acesso?
-Não acredito. Bem, não sei. Suponho que tinha minha chave de código. Não me ocorreu lhe pedir que me a de?volviera ou trocar a numeração.
-Discutiu você com ela?
Os olhos do Leonardo perderam toda expressão.
-Não sei. Não me lembro. Mas suponho que sim.
—Recentemente, Pandora foi a seu apartamento sem ter sido convidada, ameaçou-lhe e agrediu fisicamente a seu ac?tual companheira.
-Em efeito. -Isso sim o recordava. Era um alívio poder recordar ao menos isso.
-Qual era o estado de ânimo da Pandora quando foi esta vez a seu apartamento?
-Imagino que estava colérica. Devi lhe dizer que não ia renunciar ao Mavis. Isso a haveria posto furiosa. Dallas... —Centrou outra vez os olhos, e o desespero se refletiu neles—. A sério, não me lembro de nada. Quando despertei esta manhã, estava em casa do Mavis. Acredito que utilizei minha chave para entrar. Tinha estado be?biendo, caminhando e bebendo. Raramente bebo por?que sou propenso a ter buracos negros em minha memória. Quando despertei, vi tudo o sangue.
Alargou o braço. A ferida tinha sido mal enfaixada.
-Tinha sangue nas mãos e na roupa. Sangre seca. Suponho que briguei com ela. Suponho que a matei.
-Onde está a roupa que levava você ontem à noite?
-Deixei-a em casa do Mavis. Tomei banho e me troquei de roupa. Não queria que ela viesse a casa e me encon?trara com este aspecto. Enquanto esperava e tratava de ver o que podia fazer, pus as notícias e me inteirei de tudo.
-Diz que não recorda ter visto a Pandora ano?che. Que não recorda ter tido uma briga com ela. Que não recorda havê-la matado.
-Mas assim deveu ocorrer -insistiu-. Ela morreu em meu apartamento.
-A que hora saiu de casa ontem à noite?
-Não estou seguro. Tinha bebido muito. Estava molesto e muito zangado.
-Viu alguém, falou com alguém?
-Comprei outra garrafa. Acredito que a um vendedor am?bulante.
-Viu a senhorita Freestone ontem à noite?
-Não. Disso estou seguro. Se a tivesse visto, se hu?biera podido falar com ela, tudo teria ido bem.
—E se lhe dissesse que Mavis esteve ontem à noite em seu apar?tamento?
-Mavis veio para ver-me...? -Seu rosto se iluminou-. Mas isso não pode ser. Não poderia havê-lo esquecido.
-Estava Mavis presente quando você brigou com a Pandora?, quando você matou a Pandora?
-Não, não.
-Chegou depois de morrer Pandora, depois de que você a matasse? Você sentiu pânico, não é assim? Estava aterrorizado.
Seu olhar sim refletia pânico agora.
-Mavis não pôde estar ali.
—Mas esteve. Ela me chamou do apartamento de você quando encontrou o cadáver.
-Mavis o viu? -Baixo o bronzeado, a pele do Leo?nardo empalideceu-. OH, Deus, não.
—Alguém golpeou ao Mavis, deixando-a sem sentido. Foi você?
-Que alguém a pegou? Está ferida? -levantou-se da cadeira e se mesó os cabelos-. Onde está Mavis?
-Foi você?
Leonardo estendeu os braços.
-Antes me cortaria as mãos. Pelo amor de Deus, Dallas, me diga onde está ela. Preciso saber que está bem.
-Como matou a Pandora?
-Eu... o jornalista disse que a matei a golpes. -Se es?tremeció.
-Como a golpeou? O que utilizou para fazê-lo?
-Não sei... com as mãos? -De novo as mostrou. Eve não viu sinais de golpes, arranhões nem abrasões nos nódulos. Eram umas mãos perfeitas, como esculpidas em uma madeira nobre.
-Pandora era forte. Deveu oferecer resistência.
-O corte que tenho no braço.
-Eu gostaria que lhe examinassem esse corte, assim como os objetos que diz deixou em casa do Mavis.
-vai prender me agora?
-De momento não há acusações em seu contrário. Sem em?bargo, ficará retido até que os resultados das provas estejam completos.
Eve lhe fez repassar tudo de cima abaixo, lhe forçando a recordar horas, lugares, movimentos. Uma e outra vez, dava-se de cabeça contra o muro que obstruía a memo?ria do Leonardo. Nada satisfeita, deu por concluído o interrogatório, deixou-o a boa cobrança e dispôs o ne?cesario para as provas.
Sua próxima parada era o comandante Whitney.
Fazendo caso omisso da cadeira que lhe oferecia, Eve ficou em pé ante sua mesa. Rapidamente lhe deu os resul?tados de suas entrevistas prévias. Whitney entrelaçou os dedos e a observou. Tinha boa vista, olhos de polícia, e viu que estava nervosa.
-Tem a um homem que se confessou autor do assassinato. Alguém com um móvel e uma oportunidade.
-Sim, um homem que não recorda ter visto a víc?tima a noite em questão, e muito menos lhe haver esmagado a cara até matá-la.
-Não seria a primeira vez que um delinqüente confessa assim para passar por inocente.
-Certamente, senhor. Mas não acredito que seja o hom?bre que procuramos. Pode que as provas contradigam minha teoria, mas sua personalidade não encaixa no crime. Tive ocasião de presenciar outra briga em que a víc?tima agrediu ao Mavis. -Em vez de tentar parar a briga ou mostrar algum signo de violência, ficou a um lado e se retorceu as mãos.
-Segundo sua declaração, a noite do crime ele estava ébrio. A bebida pode produzir, e de fato produz, mudanças na personalidade.
-Sim, senhor. -Era razoável. No fundo, Eve queria desligar o morto ao Leonardo, tomar sua confissão em sentido literal e adeus muito boas. Mavis o passaria fa?tal, mas ficaria a salvo. Livre de culpa-. Ele não o fez -disse sem mais-. recomendei arresto volunta?rio durante o máximo de tempo possível a fim de inte?rrogarlo de novo e lhe refrescar a memória. Mas não podemos lhe acusar só porque cria que cometeu asesi?nato.
-Admitirei suas recomendações, Dallas. Os outros informe do laboratório não demorarão para chegar. Espere?mos que os resultados o esclareçam tudo. Faça-se acusação de que poderiam inculpar ainda mais ao Mavis Freestone.
-Sim, senhor. Faço-me acusação.
-Você e Mavis são amigas faz tempo que. Não seria uma mancha para seu histórico renunciar a ser o pri?mer investigador. Em realidade seria muito melhor para você, tenente, e certamente mais lógico.
-Não, senhor. Não vou renunciar ao caso. Se me separar dele, pedirei uma permissão e seguirei investigando a título pessoal. Se for preciso, renunciarei à acusação.
Whitney se esfregou a frente com ambas as mãos.
-Não o aceitaria. Sinta-se, tenente. Maldita seja, Dallas -explorou ao ver que ela seguia de pé- Sinta-se! É uma ordem, coño.
-Sim, minha comandante.
Whitney suspirou, reprimindo sua contrariedade.
-Não faz muito lhe fiz mal com um ataque perso?nal que não foi nem apropriado nem merecido. Por culpa disso danifiquei a relação que havia entre nós. En?riendo que não se sinta a gosto baixo minhas ordens.
-É você o melhor chefe que tive nunca. Para mim não é nenhum problema lhe ter como superior.
-Mas já não somos amigos, nem de longe. Entretanto, devido a minha conduta durante sua investigação de um caso que era para mim muito pessoal, você deveria saber que entendo muito bem o que lhe está acontecendo agora mis?mo. Sei o que significa ter um conflito de lealdades, Dallas. Embora lhe resulte impossível falar de seus senti?mientos neste caso, sugiro-lhe que o faça com alguém em quem pode confiar. Meu engano naquela investiga?ción foi não compartilhar a carga. Não você cometa o mis?mo agora.
-Mavis não matou a ninguém. Nenhuma prova po?dría me convencer do contrário. Eu farei meu trabalho, comandante. E saberei encontrar ao verdadeiro assassino.
-Não me cabe dúvida de que o fará, tenente, nem de que isso a fará sofrer. Tem você meu apoio, tanto se o quie?re como se não.
-Obrigado, senhor. Tenho que lhe pedir outra costure em rela?ción com outro caso.
-Qual?
-O assunto Johannsen.
Whitney suspirou.
-É você como um sabujo, Dallas. Nunca solta a presa.
Ela não o discutiu.
—Tem meu relatório sobre o que encontramos na pensão do Boomer, comandante. A substância ilegal não pôde ser totalmente identificada. Fiz investi?gaciones por minha conta sobre a fórmula. -Tirou um disco de sua bolsa-. É uma nova mescla, muito potente, e seus efeitos são muito a longo prazo comparados com o que se encontra atualmente na rua. Desde quatro a seis horas com uma dose medeia. Muita quantidade de uma só vez seria, em oitenta por cento, fatal.
Whitney examinou o disco.
-Investigação pessoal, Dallas?
-Tenho um enlace e o utilizei. O laboratório si?gue nisso, mas já identificaram vários ingredientes e suas proporções. Minha opinião é que a substância seria enormemente rentável, já que basta uma pequena canti?dad para conseguir resultados. Cria muito vício e produz sensações de força, iluda de poder e uma espécie de euforia; não de tranqüilidade, a não ser uma sensa?ción de controle sobre a gente mesmo e outros. calculei os resultados de um vício largo. O uso diário durante um período delinqüo anos significaria um bloqueio total e repentino do sistema nervoso. E a morte.
-Merda. É um veneno ?
-À larga, sim. Os fabricantes sabem sem dúvida, o que lhes converte em culpados não só de distribuir ile?gales mas também de assassinato.
Eve deixou que refletisse sobre isso, sabia os dolo?res de cabeça que isso podia produzir se os meios infor?mativos chegavam a ter conhecimento dos dados.
—Boomer podia não saber tudo isto, mas sim sabia o suficiente para que o matassem por isso. Quero chegar até o final e posto que há outros assuntos que me preocupam, solicito que a agente Peabody me seja asigna?da como ajudante até que o caso fique resolvido.
—Peabody não tem muita experiência em homicídios nem em ilegais, tenente.
-Compensa-o com cérebro e esforço. Queria que me ajudasse a coordenar com o tenente Casto do Ilega?les, que também usava ao Boomer corno mexeriqueiro.
-Ocuparei-me disso. Quanto ao da Pandora, uti?lice ao Feeney. -Arqueou uma sobrancelha-. Vejo que já o está ha?ciendo. Façamos como que o acabo de ordenar e que seja oficial. Terá que tratar com os média.
-Vou me acostumando a isso. Nadine Furst há vuel?to de férias. Irei dando os dados que melhor me pa?rezca. Ela e Canal 75 me devem alguns favores. —Eve ficou em pé-. Tenho que falar com algumas pessoas. Me pon?dré em contato com o Feeney e farei que venha comigo.
—A ver se podemos esclarecer coisas antes de sua lua de mel. -A cara do Eve era um verdadeiro estudo de contradições: problema, prazer e medo; Whitney se pôs-se a rir-. Sobreviverá, Dallas. Isso o garanto.
-Sim, claro, o tipo que desenhou meu traje de bodas está encerrada -murmurou-. Obrigado, comandante.
Ao vê-la sair, Whitney pensou que embora ela talvez não fora consciente de que tinha baixado a barreira que havia entre os dois, ele sim.
-A minha mulher vai encantar. —Mais que feliz de deixar que conduzisse Dallas, Feeney se retrepó no assento do acompanhante. Havia pouco tráfico enquanto foram para Park Avenue South. Feeney, nativo de Nova Iorque, ha?bía desligado fazia momento dos bramidos e ecos dos globos turísticos e os ônibus aéreos que pulula?ban pelo céu.
—Disseram-me que foram arrumar o. Que bodes. Ouça isso, Feeney? Ouça esse maldito zumbido?
Educadamente, Feeney se concentrou no ruído que saía do painel de controle.
-Parece um enxame de abelhas assassinas.
-Três dias -disse ela, zangada-, três dias em repara?ción e escute o ruído. Pior que antes.
-Dallas. -Pô-lhe uma mão no braço-. Talvez tenha que enfrentar-se à idéia de que seu veículo não é mais que um lixo. Requisite um novo.
-Eu não quero um novo. -Com o canto da mão, Eve golpeou o painel de controle-. Quero este, mas sem efeitos de som. -Teve que parar-se em um se?máforo. A julgar por como soavam os controles, não poderia confiar em automático-. Onde diabos bebe o 582 de Central Park South? —Seus controles seguiam zumbindo, assim que os propinó outro golpe-. Digo que onde diabos bebe o 582 de Central Park South.
-Pergunte-o com amabilidade -sugeriu-lhe Feeney-. Ordenador, seria tão amável de mostrar o mapa e loca?lizar Central Park South 582?
Ao ver que a tela se acendia e aparecia o mapa holográfico assinalando a rota, Eve se limitou a grunhir.
—Eu não faço tantos mímicos.
-Ao melhor por isso seus controles sempre se o es?tropean. Como lhe dizia -prosseguiu antes de que ela pu?diera lhe cortar-, a minha mulher vai encantar. Justin Young: fazia de semental no Night Falls.
-Uma telenovela, não? -Fulminou-lhe com o olhar-. O que faz você olhando telenovelas?
-Olhe, eu ponho esse canal para me relaxar um pouco, como qualquer filho de vizinho. Além disso, minha mulher está penetrada pelo Young. Agora se dedica ao cinema. Logo que passa uma semana que ela não programe alguma de seus pelícu?las. O tipo o faz bem, além disso. À parte, sai Jerry Fitzgerald -acrescentou Feeney com um sorriso sonhador.
-Guarde-se suas fantasias.
-Essa garota sim está bem feita, o digo eu. Não como essas modelos que parecem haver ficado nos hue?sos. -Fez um som como antecipando-se ao prazer de um enorme sorvete-. Sabe por que eu gosto de trabalhar com você, Dallas?
-Por meu encanto pessoal e minha incisiva inteligência?
—É obvio. -Feeney pôs os olhos em branco-. Poder ir a casa e lhe dizer a minha mulher a quem hei interroga?do hoje. Um multimilionário, um senador, aristocratas italianos, estrelas de cinema. Sério, isso me está dando muito prestígio.
—Me alegro de lhe servir de algo. —Encaixou seu maltratado veículo de polícia entre um mini Rolls e um Mercedes de época-. Mas trate de controlar seu encantamento enquanto k fazemos o terceiro grau a esse ator.
—Sou um profissional. —Mas Feeney estava sorrindo ao desembarcar do carro—. Olhe isto. Não gostaria de viver aí dentro? -Estalou a língua e apartou o olhar da lustrosa fachada de mármore de imitação-. Ah, o olvi?daba. Para você isto são os baixos recursos.
-Vá-se ao inferno, Feeney.
-Vamos, não seja tão dura. -Passou-lhe uma mão pelos ombros enquanto se dirigiam para a porta do edifício-. Apaixonar por homem mais rico do mundo não é algo do que tenha que envergonhar-se.
-Não me envergonho; é que não quero falar mais disso.
O edifício era o bastante luxuoso para ter porteiro além de sistema eletrônico de segurança. Depois de mostrar suas placas, Eve e Feeney entraram no vestíbulo de mármore que adornavam samambaias exuberan?tes e flores exóticas em enormes vasos de barro de porcelana.
—Que ostentação —murmurou Eve.
-Vê como se está voltando? -Feeney saiu de cam?po e se aproximou da tela de segurança interna-: Te?niente Dallas e capitão Feeney, para o Justin Young.
-Um momento, por favor. -A enjoativa voz ci?bernética esperou que verificassem sua identidade-. Obrigado. O senhor Young lhes está esperando. Dirijam-se ao elevador três, por favor. Que tenham um bom dia.
Capitulo Seis
-Bom, como quer que o façamos? -Feeney apertou os lábios e estudou a pequena câmara que havia em uma esquina do elevador enquanto subiam-. Os típicos poli bom e poli mau?
-É curioso quão bem funciona.
-Um civil é um branco fácil.
—Comecemos com «lamento lhe incomodar, agradeço muito sua cooperação». Se nos cheirarmos que está fingien?do, podemos trocar de tática.
-Eu quero fazer de poli mau.
-Faz-o fatal de poli mau, Feeney. Aceite-o.
Ele a olhou pesaroso.
-Sou seu superior, Dallas.
-Eu levo este caso, e faço melhor de poli mau.
-Sempre me toca fazer de poli bom -murmurou ele enquanto entravam em um bem iluminado vestíbulo com mais mármore e mais dourados.
Justin Young abriu a porta no momento justo. Ao lhe ver Eve pensou que se vestiu para o papel de testemunha acomodada mas cooperador: calça de linho cor ante, informal e caro, e uma folgada camisa de seda da mesma cor. Calçava sandálias de última moda com reveste grosa e intrincados adornos no em?peine.
—Tenente Dallas, capitão Feeney. —Seu rosto bella?mente esculpido mostrava rugas, olhos sóbrios e um dramático contraste com a juba ondulada da mesma cor que os adornos do vestíbulo. Ofereceu uma mão engalanada com um grande anel tachonado de ônix—. Pa?sen, por favor.
-Obrigado por acessar a nos receber tão logo, senhor Young. -Talvez se estivesse voltando pouco entusiasta, mas um repasse inicial à habitação fez pensar ao Eve: recarregado e supercaro.
—foi uma tragédia, um verdadeiro horror. —Assinalou-lhes com um gesto um enorme sofá abarrotado de coji?nes de cores chamativas e tecidos lustrosos. Ao fundo da sala, alguém tinha programado um entardecer tropical na tela de meditação-. É quase impossível aceitar que tenha morrido, menos ainda que morrera de forma tão re?pentina e violenta.
—Sentimos muito incomodá-lo —começou Feeney, ini?ciando seu papel de poli bom enquanto tentava não ficar boquiaberto ante o desdobramento de luxo-. Para você tem que ser um momento muito difícil.
-É-o. Pandora e eu fomos amigos. Posso ofre?cerles algo? -Tomou assento, elegante e magro, em uma poltrona de orelhas que poderia ter engolido a um menino.
-Não, obrigado. -Eve tratou de acomodar-se entre a montanha de almofadas.
—Eu tomarei algo, se não lhes importar. Tenho os ner?vios de ponta desde que soube a notícia. -Inclinando-se, Young pulsou um botão da mesa-. Café, por favor. Para um. -Tornando-se para trás, sorriu levemente-. Que?rrán saber onde estava quando morreu Pandora. Hei re?presentado um par de policiais em minha carreira. Fiz de poli, de suspeito e até de vítima quando começava como ator. Minha imagem sempre me tem feito parecer inocente.
Levantou a vista enquanto um servente andróide, ves?tido, conforme notou Eve horrorizada, com o clássico unifor?me da criada francesa, entrava com uma taça e um plati?llo sobre uma bandeja de cristal. Justin agarrou a taça e a levou aos lábios.
-Medeia-os não publicaram a que hora morreu exatamente Pandora, mas acredito que posso lhes dar uma relação de meus movimentos durante essa noite. Estive com ela em uma pequena festa celebrada em sua casa até as doze aproximadamente. Jerry e eu (Jerry Fitzgerald) partimos juntos e fomos tomar uma taça ao clube pri?vado Ennui. Está muito de moda, e aos dois vai muito bem nos deixar ver ali. Imagino que seria a uma quando saímos. Falamos de fazer uma ronda, mas confesso que tínhamos bebido bastante e que estávamos cansa?dos de fazer relações públicas. Viemos aqui e estuvi?mos juntos até as dez da manhã. Jerry tinha uma entrevista. Não foi até depois de ir-se ela, enquanto eu toma?ba meu primeiro café, que pus as notícias e me inteirei do ocorrido.
-Isso cobre toda a noite, certamente -disse Eve. Justin o tinha recitado tudo, pensou ela, como se o hu?biera ensaiado muito bem-. Teremos que falar com a senhorita Fitzgerald para verificá-lo.
-Certamente. Querem fazê-lo agora? Está na sala de relaxação. A morte da Pandora a deixou um pouco transpuesta.
-Deixe-a que se relaxe um pouco mais -sugeriu Eve-. Diz que você e Pandora eram amigos. Amantes tam?bién?
—de vez em quando, nada sério. Freqüentávamos os mesmos círculos. E para lhe ser brutalmente franco dadas as circunstâncias, Pandora preferia os homens fáceis de dominar e intimidar. -Mostrou um sorriso deslum?brante para mostrar que não era dessa classe de homens-. Preferia ter confusões com gente esforçada antes que com quem já tinha alcançado o êxito. Raramente gusta?ba de compartilhar o estrela lhe.
Feeney aproveitou a ocasião:
-A quem estava ligada emocionalmente quando morreu?
—Havia vários homens, acredito. Alguém que se não me equivoco tinha conhecido no Starlight Station, um empre?sario, dizia ela com sarcasmo; o desenhista de moda que segundo Jerry é brilhante: Michelangelo, Puccini ou Leo?nardo. E Paul Redford, o videoproductor que esteve conosco essa noite.
Tomou um sorbito de café e piscou.
—Leonardo. Esse era o nome. Houve uma espécie de escaramuça. Enquanto estávamos em casa da Pandora se apresentou uma mulher. pegaram-se por ele, uma briga de ga?tos, como nos velhos tempos. Teria sido divertido de não ser porque resultou muito embaraçoso para todos os implicados.
Estendeu seus dedos elegantes e pareceu um tanto di?vertido apesar do que havia dito. Bom trabalho, pen?só Eve. Muito ensaio, muito ritmo: um perfeito profe?sional.
-Paul e eu tivemos que as separar.
-Diz que essa mulher foi a casa da Pandora e a agrediu fisicamente? -perguntou Eve com tom neutro.
-OH não, para nada. A pobre estava destroçada. Pandora a insultou a prazer e logo a golpeou. -Justin o ilustrou fechando o punho e fendendo o ar-. Deu-lhe forte de verdade. A outra era miúda, mas aguerrida. ficou em pé em seguida e investiu. Depois começaram corpo a corpo, atirando do cabelo e arranhando-se. A mulher sangrava um pouco quando se foi. Pandora tinha umas unhas mortais.
— Pandora arranhou à outra na cara?
-Não. Mas estou seguro de que se levou um bom pro?yecto de cardeal. Acredito que no pescoço. Quatro feios arranhões em um lado do pescoço graças a Pandora. Temo-me que não recordo como se chamava a garota. Pando?ra só a chamou zorra e coisas parecidas. Tratava de não chorar quando se foi dali, e lhe disse com dramatismo a Pandora que lamentaria o que tinha feito. Logo acredito que estragou seu mutis sorvendo pelo nariz e di?ciendo que o amor todo o pode.
Muito próprio do Mavis, disse-se Eve.
-E uma vez ela se foi, como reagiu Pan?dora?
—Estava furiosa, excitadísma. Por isso Jerry e eu fomos cedo.
-E Paul Redford?
-Ele ficou; não sei quanto momento. -Com um suspiro para indicar que o sentia, Justin apartou sua taça-. Resulta feio dizer coisas negativas da Pandora agora que não pode defender-se, mas ela era muito dura, inclusive hiriente. que a fazia zangar o pagava caro.
-aconteceu com você alguma vez, senhor Young?
-Já me ocupava eu de que não. -Seu sorriso foi cauti?vadora-. eu adoro minha carreira e eu adoro meu físico, tenente. Pandora não era um perigo para o primeiro, mas eu tinha chegado a presenciar o que podia lhe fazer a um na cara quando se zangava. me crie, não se fazia a manicura como folhas de faca por um capricho da moda.
-Tinha inimigos...
-A montões, mas a maioria estava aterrorizada. Não me ocorre quem pôde ser capaz de lhe devolver fi?nalmente o golpe. E pelo que ouvi nas notícias, não acredito que nem sequer Pandora merecesse uma morte tão brutal.
-Apreciamos sua franqueza, senhor Young. Se o pare?ce bem, nós gostaríamos de falar agora com a senhorita Fitzgerald. A sós.
Justin levantou uma pulcra e elegante retrocede.
-É obvio. Para cotejar histórias.
Eve sorriu.
-tiveram tempo de sobra para isso. Mas nós gostaríamos de falar com ela a sós.
Teve o prazer de ver como sua fachada tremia um pouco ante a insistência. Contudo, ele se levantou para ir para um corredor.
-O que opina? -perguntou Feeney em voz baixa.
-Que foi uma atuação deslumbrante.
-Acredito que estamos na onda. De todos os modos, se ele e Fitzgerald estiveram derrubando-se toda a noite, isso descarta ao Young.
-Seu álibi é mútuo, descarta-os a ambos por igual. Conseguiremos os discos de segurança na ad?ministración do edifício e comprovaremos a que hora chegou cada qual. Saberemos se voltaram a sair.
-Eu não confio nisso do que aconteceu o caso DeBlass.
—Se fizeram armadilha com os discos, notaremo-lo. -Levantou a vista para ouvir como Feeney se sorvia os dien?tes. Sua cara de poucos amigos se animou um pouco. Tinha os olhos frágeis. Ao ver aparecer ao Jerry Fitzge?rald, Eve se perguntou por que Feeney não tinha a língua desligando como um cão.
Pois sim que estava bem feita, pensou Eve. Seus luju?riosos peitos apareciam apenas talheres de seda cor marfim que se abria em decote até o umbigo e logo se detinha brevemente uns milímetros por debaixo do nível do púbis. Uma larga e torneada perna estava adornada junto ao joelho com uma rosa vermelha em plena floração.
Jerry Fitzgerald era um casulo em flor, sem dúvida al?guna.
Logo estava a cara, suave e sonolenta como se aca?bara de fazer o amor. Seu cabelo cor de ébano era murcho e curvado à perfeição, emoldurando um queixo re?donda e feminina. Sua boca era generosa, úmida e vermelha, seus olhos de um azul deslumbrante e ladeados de finas pestanas com pontas douradas.
Enquanto ela se posava em uma cadeira qual pagã deusa do sexo, Eve aplaudiu a perna do Feeney a modo de apoio moral... e de contenção.
-Senhorita Fitzgerald -disse Eve.
-Sim -respondeu ela com voz de fumaça sacramental. Aqueles olhos logo que piscaram ao olhar ao Eve antes de aplicar-se como mariscos ao rosto pouco atrativo e atur?dido do Feeney-. É horrível, capitão. provei no tanque de isolamento, no elevador de ânimo, hei pro?gramado incluso o holograma com passeios campestres, pois isso sempre me relaxa. Mas nada consegue me tirar a Pandora da cabeça.
levou-se ambas as mãos a sua cara de incredulidade:
-Devo parecer uma bruxa.
-Está você muito bonita -balbuciou Feeney-. Des?pampanante. Eu...
-Jogue o freio -murmurou Eve dando uma cotovelada ao Feeney-. Fazemo-nos acusação de sua situação, senhorita Fitzgerald. Pandora era amiga dela.
Jerry abriu a boca, fechou-a e sorriu astutamente.
-Poderia lhe dizer que sim, mas você descobriria ense?guida que não nos levávamos muito bem. Nos tolerába?mos mutuamente por estar no mesmo negócio, mas para falar a verdade não nos suportávamos.
—Ela a convidou a sua casa.
-Só porque queria ter ao Justin ali, e agora ele e eu estamos muito unidos. Pandora e eu nos falávamos, isso sim, inclusive tínhamos feito algumas costure juntas.
ficou em pé, bem para luzir o corpo, bem porque preferia servir-se ela. De um armário esquinero tirou uma garrafa em forma de cisne e serviu parte de seu conteni?do azul safira em um copo.
-Primeiro me deixe lhe dizer que estou sinceramente preocupada com o modo em que morreu. É terrível pensar que alguém possa te odiar tanto. Sou da mesma profissão e estou igualmente exposta ao olhar do público. Sou uma espécie de imagem, igual a Pandora. Se ocorreu a ela... -interrompeu-se e bebeu um sorvo-. Poderia me ocorrer a mim. É uma das razões de que esteja em casa do Justin até que todo se resolveu.
-Repassemos seus movimentos na noite do crime.
Jerry aumentou os olhos.
—Estou na lista de suspeitos? Isso soa hala?gador. -Retornou à poltrona, copo em mão. depois de sentar-se, cruzou suas deliciosas pernas de um modo que fez vibrar ao Feeney—. Jamais tive arrestos suficientes para outra coisa que lhe lançar algumas sarcasmos. A metade do tempo, Pandora nem se dava conta de que a estava ata?cando. Não era precisamente um gigante da inteligen?cia, e não sabia de sutilezas.
Fechou os olhos e contou basicamente a mesma histo?ria que Justin, embora ela, ao parecer, afinava mais no respectivo à briga da Pandora com o Mavis.
-Devo admitir que a estive animando. A menu?da, não a Pandora. Essa garota tinha estilo -disse Jerry-. Era misteriosa e memorável, algo assim como um cruzamento de hospiciana e amazona. Tratou de imobilizá-la, mas Pando?ra tivesse esfregado o chão com ela de não ser porque Paul e Justin o evitaram. Pandora era realmente forte. Sempre estava no clube de saúde trabalhando a muscu?latura. Uma vez a vi lançar literalmente pelos ares a um assessor de modas porque havia posto mau as etiquetas nos acessórios da Pandora antes de um desfile.
Abriu uma gaveta da mesa metálica que tinha ao lado e procurou uma caixa esmaltada. Tirou um cigarro vermelho e lus?troso, acendeu-o e exalou uma fumaça perfumada.
—Enfim, a mulher tentou uma vez mais raciocinar com a Pandora, fez não sei que trato com ela a respeito do Leonar?do. É um modista. Eu acredito que a hospiciana e Leonardo eram casal e que Pandora não estava disposta a per?mitirlo. Leonardo está preparando um show. -Voltou a sorrir com aquele sorriso de gata-. Desaparecida Pan?dora, terei que ser eu quem lhe dê respaldo.
-Não estava você envolta nesse desfile de modas?
-Pandora era cabeça de pôster. Já hei dito que ela e eu tínhamos feito algumas costure juntas. Um par de ví?deos. Seu problema era que até tendo tipo, inclusive presencia, na hora de fazer o papel de outra ou tentar dar bem em tela, era como um pau. Nem mais nem menos. Um horror. Mas eu não. -Fez uma pausa para exalar um novo jorro de fumaça—. Eu sou muito boa e me es?toy concentrando em meu trabalho de atriz. De todos mo?dos, me colocar nesse show, com esse desenhista, será um bom empurrão para mim no concernente aos média. Sei que sonha cruel. Sinto muito. -encolheu-se de ombros-. A vida é assim.
-A morte da Pandora chega a você em um mo?mento oportuno.
-Quando vejo uma ocasião, aproveito-a. Eu não Mato por uma coisa assim. Isso quadrava mais com a Pandora.
inclinou-se para frente, e seu decote se abriu des?preocupadamente.
-Olhe, vamos falar claro. Sou inocente. Estive com o Justin toda a noite, não vi a Pandora passadas as doze. Posso ser franco e dizer que não a suportava, que ela era meu rival de profissão, e que eu sabia que o ha?bría gostado de apartar ao Justin de mim por puro despeito. E talvez o teria conseguido. Tampouco Mato por nenhum homem. —Dedicou ao Feeney um olhar untuoso—. Há muitos homens interessantes por aí. E o fato é que não teriam cabido em seu apartamento todas as pessoas que a detestavam. Eu só sou uma mais.
-Qual era seu estado de ânimo a noite em que morreu?
-Estava cheia o saco e colocada. -Com um rápido cam?bio de humor, Jerry jogou a cabeça atrás e riu com ga?nas-. Eu não sei o que se teria metido, mas está claro que suas pupilas a delatavam. Tinha posta a direta.
-Senhorita Fitzgerald -começou Feeney em tom pau?sado e como de desculpa-, diria você que Pandora ha?bía ingerido uma substância ilegal?
Ela duvidou, logo moveu seus ombros de alabastro.
-Nada que seja legal lhe faz sentir a uma tão bem. Ou tão mal. E ela se sentia bem e mau. Fora o que fosse, estava-o combinando com litros de champanha.
-Ofereceram a você e a outros convidados sus?tancias ilegais? -perguntou Eve.
-Ela não me convidou a compartilhar nada. Mas sabia que eu não consumo drogas. Meu corpo é um templo. -Sorriu ao ver que Eve olhava seu copo-. Proteínas, te?niente. Pura proteína. E isto? -Blandió seu magro ci?garrillo-. Vegetariano, com algo de sedativo perfecta?mente legal, para meus nervos. Vi cair a muita gente poderosa por culpa de uma viagem curta e rápida. vão os trajetos largos. Permito-me três ci?garrillos de ervas ao dia e alguma taça de vinho de vez em quando. Nada de estimulantes químicos nem pílulas da felicidade. Pelo contrário... -Apartou seu copo-. Pandora ingeria algo. Era capaz de tragar de tudo.
-Sabe você o nome de seu fornecedor?
-Nunca o perguntei. Não me interessava em absolu?to. Mas eu diria que isto era algo novo. Jamais a tinha visto tão lançada, e embora me dói dizê-lo, a via melhor, mais jovem. O tom de pele, a textura. Tinha, como dizê-lo, um brilho especial. Se não soubesse do que vai, haveria dito que se submeteu a um tratamento completo, mas as duas vamos ao Paradise. Sei que esse dia não esteve no salão, porque eu sim estive. Além disso, o perguntei, e ela me sorriu e disse que tinha descoberto um novo secreto de beleza e que pensava tirar muito dinheiro com isso.
—Muito interessante —comentou Feeney quando montou de novo no carro do Eve—. falamos com duas das três pessoas que trataram à vítima em seus últi?mas horas. Nenhuma podia tragá-la.
-Puderam fazê-lo juntos -murmurou Eve-. Fitzgerald conhecia o Leonardo, queria trabalhar com ele. Nada mais fácil que buscar um álibi mútuo.
Ele se apalpou o bolso aonde tinha guardado os discos de segurança do edifício.
—Examinaremos isto a ver o que descobrimos. Sigo pensando que nos falta um móvel. que se carregou a Pandora não só queria matá-la, queria apagá-la*. Enfrentamos a um tipo especial de fúria. E não parece que nenhum desses dois fora a tomar-se tantas moles?tias.
-Em um momento dado, qualquer poderia fazê-lo. Quero me passar por Ziguezague e ver se começarmos a concre?tar os movimentos do Mavis. E precisamos contatar com esse produtor, fixar uma entrevista. por que não põe a tra?baixar a um de seus parasitas nas companhias de táxis? Não vejo nossa heroína tomando o metro ou um ônibus até o apartamento do Leonardo.
-Descuide. -Feeney tirou seu comunicador-. Se utili?zó algum tipo de serviço privado de transporte, o averi?guaremos em um par de horas.
-Perfeito. E vejamos se fez o trajeto só ou se ia acompanhada.
O Ziguezague tinha pouca clientela a meio-dia. Vivia da noite. O público diurno consistia em turistas ou em pro?fesionales urbanos a quem não importava muito se a decoração era brega e o serviço anti-social. O clube parecia um parque de atrações que resplandecia de noite mas mostrava sua idade e seus defeitos à dura luz do dia. Contudo, conservava essa mística latente que atraía a multidão de noctâmbulos.
O ronrono musical de fundo alcançaria um volu?men ensurdecedor depois do pôr-do-sol. A estrutura de dois níveis estava dominada por cinco barras e dois pis?tas de baile giratórias que começavam a mover-se às nove da noite. Agora estavam quietas, e os chãos mostravam os arranhões dos pés dançarinos.
A oferta de comida consistia em emparedados e en?saladas, batizados todos com nomes de rockeros mortos. O especial do dia era de manteiga de ca?cahuete e plátano com enfeite de cebola e jalapeños. A mistura Elvis & Joplin.
Eve e Feeney se acotovelaram na primeira barra, pidie?ron café puro e estudaram à garçonete. Contra o habitual, não era andróide a não ser humana. De fato, Eve não tinha visto nenhum andróide no clube.
-Trabalha alguma vez no turno de noite? -o pre?guntó Eve.
-Não. Só de dia. -A garçonete deixou o café sobre a barra. Era do tipo alegre, quadrava mais com uma presen?tadora de uma cadeia de mantimentos de regime que sir?viendo bebidas em um clube noturno.
-Quem tem que dez a três que se fixe na gente?
-Aqui ninguém se fixa na gente, se pode evitá-lo.
Eve tirou sua placa e a deixou sobre a barra:
-Acredita que isto lhe refrescaria a memória a alguém?
-Não sei. -encolheu-se de ombros, despreocupa?da-. Olhe, este é um local limpo. Tenho um pirralho em casa, razão pela qual trabalho de dia e fui muito suscetível na hora de me buscar um emprego. Fiz muitas averigua?ciones antes de me decidir por este site. Dennis dirige um clube tranqüilo, e é por isso que os garçons têm pulso e não chips. Às vezes a coisa se desmanda, mas ele sabe como controlar a situação.
-Quem é esse Dennis e onde posso lhe encontrar?
-Seu escritório está acima à direita subindo as es?caleras, detrás da primeira barra. Ele é o dono disto.
-Ouça, Dallas. E se aproveitarmos para comer algo? -queixou-se Feeney pondo-se a andar detrás dela-. O Mick Jagger parecia bastante prometedor.
-Não seja pesado.
A barra do segundo nível não estava aberta, mas al?guien tinha avisado ao Dennis. Um painel de espelho se des?corrió e apareceu ele, magro e de rasgos parecidos com pe?rilla ruiva e o cabelo muito negro talhado ao monge.
-Bem-vindos a Ziguezague, agentes. -Sua voz era bebe como um sussurro—. Há algum problema?
-Necessitamos sua ajuda e sua cooperação, senhor...
-Dennis, a secas. Muitos nomes é um engo?rro. -Fez-lhes passar. O ambiente de parque de atraccio?nes terminava na soleira. O escritório era espartana, ae?rodinámica e silenciosa como uma igreja—. Meu santuário -disse, consciente do contraste-. Não se podem desfrutar nem apreciar os prazeres do ruído e a humanidade dan?zante a menos que a gente experimente o contrário. Sentem-se, por favor.
Eve provou uma cadeira de aspecto severo e respaldo reto enquanto Feeney se acomodava em outra.
-Estamos tratando de verificar os movimentos de uma de seus clientes.
-Motivo?
-Raciocine oficiais.
-Já. -Dennis estava detrás de uma prancha de plásti?co brilhante que lhe servia de escritório-. Dia e hora?
-Ontem à noite, entre as onze e a uma.
-Abrir tela. -Uma seção da parede deixou ver um monitor-. Reproduzir exploratório de segurança, começar às onze da noite.
O monitor, e a habitação, exploraram de som, cor e movimento. Por um momento, Eve ficou des?lumbrada. Era uma vista geral do clube em seu momento gélido. Uma vista bastante senhorial, pensou Eve, como se o espectador planejasse tranqüilamente sobre as cabeças da clientela.
Ia ao Dennis como anel ao dedo.
O dono sorriu, avaliando a reação dela.
-Apagar áudio. -fez-se o silêncio.
Agora os movimentos pareciam de outro mundo. A gente dançava sobre as pistas giratórias com a cara ilumi?nada pelos focos, que captavam expressões intensas, alegres, ferozes. Em uma esquina discutia um casal, e a julgar pelo jogo de seus corpos, estava claro que a coisa ia em aumento. Em outra esquina se produzia um ri?tual de emparelhamento com olhadas comovedoras e toquetees íntimos.
Então divisou ao Mavis. Sozinha.
-Pode ampliar? -Eve ficou em pé e cravou um dedo no centro da imagem.
-É obvio.
Ela viu como Mavis se fazia maior e se apro?ximaba. Segundo a hora que mostrava o monitor, eram as onze e quarenta e cinco. Mavis tinha já um olho arroxeado. E ao voltar a cabeça para tirar-se de cima a um preten?diente, puderam ver-se os arranhões no pescoço. Mas não na cara, advertiu Eve com apreensão. O vestido azul escuro que levava tinha um pequeno rasgão no hom?bro, mas nada mais.
Viu como Mavis afugentava a outro par de homens e logo a uma mulher. Apurando sua taça, deixou o copo junto a outros dois já vazios sobre a mesa. cambaleou-se um pouco ao levantar-se, recuperou o equilíbrio e com a exagerada dignidade de quem o está acontecendo realmente mal, abriu-se passo a cotoveladas entre a multidão.
Eram as doze e dezoito minutos.
-É isso o que estava procurando?
-Mais ou menos.
-Desconectar vídeo. -Dennis sorriu-. A mulher em questão vem de vez em quando. Normalmente é mais sociável, gosta de dançar. Às vezes, inclusive canta. Eu acredito que tem um talento especial. Necessita seu nome?
-Sei quem é.
-Bem. -ficou em pé-. Espero que a senhorita Freestone não esteja metida em uma confusão. A via triste.
-Posso conseguir uma ordem para fazer uma cópia deste disco, ou você me pode entregar isso sem mais.
Dennis levantou uma sobrancelha ruiva:
-Será um prazer lhe fazer uma cópia. Ordenador, co?piar disco e etiqueta. Alguma coisa mais?
-De momento, não. -Eve agarrou o disco e se o guar?dó em sua bolsa-. Obrigado por sua cooperação.
-A cooperação é o molho da vida -disse Dennis enquanto o painel se fechava a suas costas.
-Um tipo estranho -decidiu Feeney.
-E eficiente. Sabe uma coisa, Mavis pôde haver-se me?tido em uma bronca indo de bar em bar. Pôde haver-se arranhado a cara ou saído com o vestido quebrado.
-Sim. -Resolvido a comer, deteve-se ante uma mesa e pediu um Jagger-. Deveria introduzir algo em seu organis?mo, Dallas, além de problemas e trabalho.
-Estou bem. Não sei muito de clubes noturnos, mas se ela tinha pensado ver o Leonardo, teve que ir ha?cia o sul e o este ao sair daqui. Vejamos qual pôde ser sua seguinte parada.
-Bom. Espere um momento. -Finalmente, seu pedi?do saiu pela ranhura de serviço. Feeney separou o en?voltorio transparente e deu a primeira dentada quando já montavam ao carro-. Está muito rico. Sempre me gus?tó Mick Jagger.
Eve estava solicitando um mapa quando soou o enla?ce de seu veículo, indicando uma transmissão exterior.
-O relatório do laboratório -disse ela, concentrán?dose na tela-. OH, maldição.
-Dallas, isto se complica. -Sem mais apetite, ele se me?tió o sanduíche no bolso. Ambos guardaram si?lencio.
O relatório era muito claro. Do Mavis e solo do Mavis era a pele que havia baixo as unhas da vítima. Do Mavis e só dela os rastros na arma homicida. E seu san?gre, e a de ninguém mais, a que estava mesclada com a da Pandora na cena do crime.
O enlace apitou outra vez, e agora apareceu um rosto no monitor: «Fiscal Jonathan Heartley a tenente Da?llas».
-Informado.
-ditamos ordem de arresto contra Freestone, Mavis, acusada de homicídio em segundo grau. Man?tenga a transmissão, por favor.
-Não perderam o tempo -grunhiu Feeney.
Capitulo Sete
Queria fazê-lo sozinha. Tinha que fazê-lo sozinha. Podia contar com que Feeney averiguaria qualquer detalhe que pudesse atenuar as acusações contra Mavis. Mas o trabalho tinha que fazer-se, e ela queria fazê-lo sozinha.
Contudo, alegrou-se quando Roarke abriu a porta.
-Noto-o em sua cara. -A agarrou entre as mãos-. Sinto muito, Eve.
-Tenho uma ordem. Tenho que me levar isso para que a fi?chen. Não posso fazer nada mais.
-Sei. Vêem. -Estreitou-a entre seus braços enquanto ela afundava a cara em seu ombro-. Encontraremos a chave que demonstre sua inocência.
-Nada do que averigüei, nada, serve-me de ajuda. Tudo piora as coisas. As provas estão aí. O móvel também, a oportunidade. —separou-se do Roar?ke—. Se não a conhecesse, duvidaria dela.
-Mas a conhece.
-Assustará-se muito. -Eve olhou escada acima, onde Mavis devia estar esperando-. O escritório do fis?cal me há dito que eles não se oporão a uma fian?za, mas mesmo assim Mavis vai necessitar... Roarke, lhe detesto pedir isso -No tienes por qué. Ya me he puesto en contacto con el mejor abogado criminalista de todo el país.
-Não tem por que. Já me pus em contato com o melhor advogado criminalista de todo o país.
-Não poderei te devolver esse favor.
-Não se preocupe...
-Não me refiro ao dinheiro, Roarke. -Ela se estreme?ció e lhe agarrou as mãos-. Você não a conhece, mas crie nela porque eu acredito. Isso é o que não posso devolver?te. Tenho que ir com ela.
-Quer fazê-lo você sozinha. -Ele o compreendia, e já se convenceu de que era melhor não discutir-. Avisarei a seus advogados. Do que a acusa?
-Homicídio em segundo grau. Terei que enfren?tarme aos média. Saberá-se que Mavis e eu temos uma amizade. -Se mesó Isso cabelo poderia salpicar?te a ti.
-Crie que me preocupa?
Ela sorriu.
-Imagino que não. Pode que me atrase um pouco. Trarei-a de volta o antes que possa. . -Eve -murmurou ele ao pé da escada-, ela também acredita em ti. E tem bons motivos.
-Espero que esteja no certo. -Seguiu escada acima e percorreu devagar o corredor até o quarto do Mavis.
Bateu na porta.
-Entra, Summerset. Hei-te dito que baixaria eu pelo bolo. OH. -Surpreendida, Mavis levantou a vista do ordenador onde tinha estado tentando escrever uma nova canção. Para animar-se um pouco se pôs uma malha integral de cor safira e se tingiu o cabelo a jogo—. Pensava que era Summerset.
-E o bolo.
-Sim, chamou-me pelo interfone para dizer que o coci?nero tinha preparado um bolo de chocolate triplo. Summerset sabe que tenho esta debilidade. Já sei que não lhes levam muito bem, mas comigo é um anjo.
-Isso é porque sempre imagina nua.
—O que seja. —Mavis começou a teclar nervosamente no console com suas unhas tricolor-. Além disso se comporta muito bem. Acredito que se pensasse que jogo o olho ao Roarke seria diferente. Tem-lhe autêntica devoção. diria-se que o considera mais que um chefe, como se fora seu único filho ou algo assim. É por isso que te dá problemas, e o he?cho de que você seja polícia não ajuda muito. Eu acredito que Summerset tem um bloqueio com a poli.
Mavis calou, tremendo visivelmente.
-Sinto muito, Dallas, estou falando muito. Ten?go muito medo. encontraste ao Leonardo, verdade? Algo vai mau, muito mal. Está ferido, é isso? Está muer?to?
-Não, não lhe aconteceu nada. -Cruzou a habitação e foi sentar se aos pés da cama-. Veio à Central esta manhã. Tinha um corte no braço, nada mais. Você e ele tiveram quase a mesma idéia ontem noite. Se emborra?chó como uma Cuba e foi a seu apartamento, e acabou cor?tándose no braço com uma garrafa vazia. Logo se des?plomó.
-Bêbado, diz? —Mavis se agarrou a isso-. Se ape?nas beber. Sabe que não pode. Contou-me que se beber mu?cho faz coisas que logo não pode recordar. E diz que foi a minha casa... OH, que bom é. E depois foi verte a ti porque não podia me encontrar.
-Veio para ver-me para confessar o assassinato da Pan?dora.
Mavis se tornou atrás como se Eve a tivesse golpeado.
-Isso é impossível. Leonardo não faria mal a ninguém. É incapaz. Ele só tentava me proteger.
-Nesse momento não sabia que você estava colocada. Diz que deveu discutir com a Pandora e que brigaram e a matou.
—Mas isso não é verdade.
—As provas assim o indicam. —Eve se esfregou os olhos e os deixou apertados um momento-. O corte que tinha no braço era de uma parte de garrafa rota. Seu sangue não estava na cena do crime, nem a da Pandora estava na roupa que levava Leonardo. Ainda não pudemos fixar seus movimentos com precisão, mas não temos nada contra ele.
Ao Mavis deu um tombo no coração.
—assim você não o creíste.
-Ainda não o decidi, mas segundo as provas é inocente.
-Menos mal. -Mavis se aproximou dela-. Quando po?dré lhe ver, Dallas? Leonardo e eu temos coisas de que falar.
—Terá que esperar um pouco. —Eve se obrigou a mi?rar ao Mavis—. Tenho que te pedir um favor, o maior que ninguém te tenha pedido nunca.
-Me vai doer?
—Sim. —Eve viu como seus intentos por sorrir fracasa?ban-. Tenho que te pedir que confie em que me ocupe de ti. Que cria que sou tão boa em meu trabalho que nada absolutamente, nem o menor detalhe, passará-me desapercebido. Tenho que te pedir que recorde que é meu melhor amiga e que te quero muito.
Mavis começou a ofegar. Seus olhos se beberam secos, ardentes e secos. A saliva se evaporou de sua boca.
-vais prender me, não?
-chegaram os informe do laboratório. -Tomou suas mãos—. Não foram nenhuma surpresa, porque eu sabia que alguém o tinha organizado tudo. Me isto espera?ba, Mavis. Confiava em descobrir algo, o que fue?se, antes de que isso passasse, mas não fui capaz. Feeney também está nisso. É o melhor, Mavis, asseguro-lhe isso. E Roarke já contatou com os melhores advogados do planeta. Agora é questão de seguir o procedimento.
—vais prender me por assassinato.
-Em segundo grau. Tampouco é para tanto. Já sei que sonha horrível, mas o escritório do fiscal não tentará pôr obstáculos a uma fiança. dentro de umas horas es?tarás outra vez aqui comendo bolo de chocolate.
Mas Mavis estava repetindo em sua cabeça uma só frase. Segundo grau. Segundo grau.
—Terá que me colocar em uma cela.
Ao Eve ardiam os pulmões, e a sensação se ia expandindo para o coração.
-Não por muito tempo, asseguro-lhe isso. Feeney está trabalhando agora mesmo para que a audiência prelimi?nar seja rápida. Ele tem muitas molas para tocar. Quando tivermos terminado de te fazer a ficha, passará a audiência, o juiz fixará a fiança e poderá voltar aqui.
Com um alarme de identificação em cima para se?guirte os passos, pensou Eve. Apanhada em casa para evitar aos média. A cela seria um luxo, mas sempre seria uma cela.
-Faz que tudo pareça fácil.
-Não o será -disse Eve-, mas o será mais se recordar que tem a um par de polis de primeira que lhe apóiam. Não renuncie a nenhum de seus direitos, vale? A nin?guno. E assim que tenhamos começado, esperas que lle?guen os advogados. Não me diga nada que não tenha que dizer. Não diga nada a ninguém. Entendeste-o?
-Está bem. -Mavis ficou em pé-. Acabemos de uma vez.
Horas depois, terminado tudo, Eve voltou para casa. As luzes estavam baixam. Esperava que Mavis se houvesse to?mado o tranqüilizador e se ficou dormida. Eve já sabia que ela não poderia fazê-lo.
Sabia que Feeney lhe teria feito o favor de levar pessoalmente ao Mavis a casa do Roarke. Ela havia esta?do muito ocupada. A roda de imprensa tinha sido espe?cialmente nefasta. Como era de esperar, as perguntas sobre sua amizade com o Mavis tinham insinuado um possível conflito de juros. Devia-lhe muito à comandante Whitney por sua atuação e por sua afirmação de fé ab?soluta em seu primeiro investigador.
O tête-À-tête com o Nadine Furst tinha sido um pouco mais cômodo. Tudo o que tinha que fazer, pensou lúgu?bremente Eve enquanto subia as escadas, era salvar a vida de uma pessoa, e eles se alegravam de ficar de seu lado. Podia ser que Nadine tivesse albergado certo morbo pela história, mas estava claro que se sentia em dívida com o Eve. Mavis seria tratada com justiça pelo Ca?nal 75.
Logo tinha feito algo do que não se acreditou capaz: tinha chamado ao psiquiatra da polícia para con?certar uma entrevista com a doutora Olhe. Sempre posso can?celarla, recordou-se enquanto se esfregava os olhos cheios de areia fina. Provavelmente o farei.
-Chega tarde, tenente, e o dia foi muito movido.
Eve baixou as mãos e viu o Summerset saindo de uma habitação a sua direita. Como de costume, ia vestido severamente de negro, a cara séria sulcada de rugas reprovadoras. Odiar ao Eve parecia algo que Summerset fazia quase com tanta destreza como levar a casa.
-Não me toque os narizes, Summerset.
Ele se interpôs em seu caminho.
-Eu pensava que, em que pese a seus muitos defeitos, ao me?nos era uma investigadora competente. Agora vejo que não é assim, do mesmo modo que não é uma amiga compe?tente de alguém que depende de você.
-A sério crie que depois do que tive que passar esta noite pode me dizer algo que me afete?
-Eu não acredito que nada lhe afete, tenente. Carece us?ted de lealdade e isso é grave. É você menos que nada.
-Talvez possa me sugerir como deveria levar este caso. Possivelmente teria que lhe dizer ao Roarke que acenda um de seus JetStars e saque ao Mavis do planeta para escondê-la em algum ponto do universo. Para que possa seguir em fuga o resto de sua vida.
-Ao menos é possível que não dormisse chorando desconsolada.
A flecha deu justo no coração, aonde ia dirigi?da. A dor se somou à fadiga.
-Aparta, hijoputa, e não te cruze em meu caminho. -Eve passou por seu lado reprimindo as vontades de correr.
Ao entrar no dormitório principal, Roarke estava pondo a roda de imprensa em tela.
-Fez-o muito bem -disse ele, levantando-se-. A pressão era muito grande.
-Sim, sou uma grande profissional. -Entrou no banheiro e se olhou no espelho: uma mulher de semblante pálido, olhos escuros e sombrios, boca de gesto áspero. E mais à frente viu impotência.
-Faz tudo o que pode -disse Roarke detrás dela.
-Conseguiu-lhe bons advogados. -Ordenou água fria, inclinou-se e se refrescou a cara-. Puseram-me mais de uma rasteira no interrogatório. Fui dura com eles. Tinha que sê-lo. A próxima vez que tenha que interro?gar a um amigo, assegurarei-me de contratá-los.
Roarke viu como ocultava a cara na toalha.
-Quanto faz que não come?
Ela se limitou a menear a cabeça. A questão carecia de importância.
—Os jornalistas queriam sangue. Alguém como eu é uma presa suculenta. tive um par de casos sona?dos, saí vitoriosa. A alguns adorariam... Pensa no índice de audiência.
—Mavis não te culpa de nada.
-Eu sim -explorou ela, jogando em um lado a toalha-. Eu sim me culpo, maldita seja. Disse-lhe que confiasse em mim, disse-lhe que eu me ocuparia de tudo. E o que tenho feito, Roarke? Prendi-a, tenho-a feito fichar. Rastros, fotografias, identificação de voz, tudo está arquivado. Faço-lhe passar duas horas de interrogatório. A fechamento em uma cela até que quão advogados você contratou a tiram baixo fiança paga por ti. Odeio-me.
Eve não pôde mais e rompeu a chorar.
-Já é hora de que dê rédea solta a seus sentimien?tos. -Roarke a agarrou em braços e a levou a cama-. Sentirá-se melhor. -Seguiu embalando-a, lhe acariciando o cabelo.
Sempre que chorava, pensou ele, era como uma tor?menta, um tumulto apaixonado. Raramente eram umas quantas lágrimas silenciosas. Para o Eve raramente havia nada cômodo.
-Isto não melhora -atinou a dizer ela.
—claro que sim. Purgará uma parte dessa culpa que equivocadamente te atribui e uma parte da dor ao que tem perfeito direito. Amanhã o verá tudo mais claro.
Ela respirava entrecortadamente. Tinha uma espan?tosa enxaqueca.
-Esta noite tenho que trabalhar, quero repassar alguns nomes e lugares.
Não, pensou ele com serenidade. Não o fará.
-Descansa um pouco. Come algo. -antes de que ela pudesse protestar, ele já estava caminho do AutoChef-. Até seu admirável organismo necessita combustível. Além disso, tenho que te contar uma história.
-Não posso perder tempo.
-Ninguém diz que o vás perder.
Quinze minutos, disse-se ela enquanto o aroma de algo saboroso chegava até seu nariz.
—A comida rápida e a história curta, de acordo? -esfregou-se os olhos sem saber se era vergonha ou alívio o que sentia detrás ter destampado o frasco das lágri?mas-. Perdoa que tenha choramingado.
-Sempre terá a ponto para te ouvir choramingar.
-Lhe aproximou com uma omelete fumegante e uma taça. sentou-se e lhe olhou os olhos inchados, exaustos-. Você ado?ro, Eve.
Ela se ruborizou. Parecia que Roarke era o único que podia fazê-la ruborizar.
-Trata de me distrair. -Agarrou o prato e o garfo-. Com isto sempre o consegue, e já não me lembro do que ia dizer. -Provou os ovos-. Algo assim como que é o melhor que me aconteceu na vida.
—Com isso basta.
Eve levantou a taça, começou a sorver e franziu o en?trecejo:
-Isto não é café.
-É chá, para variar. Relaxante. Acredito que está sobre?cargada de cafeína.
-Pode. -Como os ovos estavam de fábula e ela não tinha forças para discutir, tomou um sorvo de chá-. Não está mau. Bom, qual era a história?
-Terá-te perguntado por que sigo tendo ao Summerset em que pese a que é... menos que solícito contigo.
-Quererá dizer em que pese a que me odeia com toda sua alma -bufou ela-. É tua coisa.
-Nossa -corrigiu ele.
-Como quer, mas não quero falar dele agora.
—trata-se mas bem de mim e de um incidente que se poderia pensar está relacionado com o que sente agora. —Deixou-a beber outra vez, calculando que tinha tempo para lhe contar a história-. Quando eu era muito jovem e ainda vivia no Dublín, atei-me com um homem e sua filha. A moça era, o que sei eu, um anjo. Tinha o sorriso mais doce do firmamento. Praticavam fraudes e fraudes, faziam-no muito bem. Coisas de pouca subida, em geral, para ir atirando mais ou menos bem. Nessa época, eu es?taba fazendo um pouco parecido mas eu gostava da varie?dad, e desfrutava fazendo de ladrão ou organizando trambiques. Meu pai vivia ainda quando conheci o Summerset (que então não usava esse nome) e a sua filha Marlene.
-De maneira que era um estelionatário -disse ela entre mordis?cos—. Já dizia eu que lhe via algo suspeito.
-Era bastante brilhante. Aprendi muitas coisas dele, e queria pensar que ele de mim. Em qualquer caso, des?pués de receber eu uma surra delirante por parte de meu querido pai, Summerset me encontrou casualmente sem sentido em um beco. Acolheu-me e cuidou de mim. Não ha?bía dinheiro para um doutor, e eu não tinha cartão médico. O que sim tinha era várias costelas rotas, uma comoção cerebral e um ombro fraturado.
-Sinto muito. -A imagem despertou outras imagens, se?cándole a boca—. A vida é um asco.
-Foi. Summerset era um homem de talentos va?rios; sabia um pouco de medicina. Freqüentemente utilizava essa ta?padera em seu trabalho. Não direi tanto como que me salvou a vida. Eu era jovem e forte e estava habituado às pa?lizas, mas ele fez que não sofresse mais da conta.
-Deve-lhe algo. -Ela deixou o prato vazio a um lado-. Compreendo-o. Está bem.
-Não é isso. Eu lhe devia um favor e o devolvi. Ele também me deve favores. Depois que meu pai acabasse como acabou, fizemo-nos sócios. Não direi que ele me cria?ra, pois eu cuidava de mim mesmo, mas me deu o que po?dría considerar uma família. Eu queria a Marlene.
-A filha. -Sacudiu a cabeça para fazer-se à idéia-. Tinha-o esquecido. É difícil imaginar a esse tipejo como pai de ninguém. Onde está ela?
-Morreu. Tinha quatorze anos, e eu dezesseis. Había?mos estado juntos perto de seis anos. Um de meus pro?yectos chegou para ouvidos de um pequeno e especialmente vio?lento sindicato. Acreditavam que eu estava me colocando em seu território, enquanto que eu acreditava estar me lavrando um próprio. Ameaçaram-me. Fui o bastante altivo para ha?cer caso omisso. Um par de vezes trataram de me dar uma lição, de fazer que os respeitasse, suponho. Mas a mim era difícil me apanhar. Além disso, estava começando a ter certo prestígio. Inclusive ganhava dinheiro. O suficien?te para comprar entre os dois um piso pequeno e decente. E a todo isso, Marlene se apaixonou por mim.
Fez uma pausa e se olhou as mãos, recordando, la?mentando.
-Eu lhe tinha muito afeto, mas não amor. Marlene era bonita e incrivelmente inocente, face à vida que levávamos. Eu não pensava nela romanticamente, sa?bes, mas sim como um homem (porque já era um homem) poderia pensar em uma obra de arte: platónicamente. Nada de sexo. Ela pensava de outro modo, e uma noite entrou em minha quarto e com doçura me ofereceu. Eu fiquei perplexo, furioso e aterrorizado. Porque era um homem e, portanto, sentia-me tentado.
Voltou a olhar ao Eve.
-Fui cruel com ela. Estava destroçada porque eu a rechacei. Ela era uma menina e eu a fiz sofrer. Jamais pude esquecer a forma em que me olhou. Ela confiava em mim e eu, por fazer o correto, traí-a.
-Como eu traí ao Mavis.
-Como você crie havê-la traído. Mas há mais. Ela se foi de casa aquela noite. Summerset e eu não soubemos até o dia seguinte, quando os homens que me buscavam nos avisaram de que a tinham. Nos devol?vieron a roupa que levava aquele dia, e estava manchada de sangue. Por primeira e última vez em minha vida vi o Sum?merset incapaz de atuar. Eu teria dado algo que eles me tivessem pedido, faria algo. Me teria trocado por ela sem duvidá-lo. Igual a você, se pudesse, trocaria seu site com o Mavis.
—Sim. Faria algo.
-Às vezes as coisas acontecem muito tarde. Pu-me em contato com eles, disse-lhes que negociaria, im?ploré que não lhe fizessem mal. Mas eles já o tinham feito. Tinham-na violado e torturado, a aquela encanta?dora moça de quatorze anos que tinha desfrutado da vida e que começava a sentir uma mulher. Às poucas horas daquele primeiro contato, seu corpo foi deixado à porta de minha casa. Tinham-na utilizado como médio para obter algo, para lhe pôr os pontos sobre as íes a um rival, a um arrivista. E eu já não podia fazer nada para trocar as coisas.
-Não foi tua culpa. -Alargou o braço para lhe agarrar as mãos-. Sinto muito. Seriamente, mas não foi sua culpa.
-Não; é verdade. Demorei anos em me convencer disso, em compreender e aceitar. Summerset nunca me culpou. Poderia havê-lo feito. Ela era sua vida e tinha sofrido e morto por mim. Mas ele jamais me culpou de nada.
Eve suspirou e fechou os olhos. Sabia o que Roarke lhe estava dizendo ao repetir uma história que para ele devia ser um pesadelo.
-Não pôde evitar o que aconteceu. Só podia controlar o que passou depois, igual a eu só posso fazer todo o possível para encontrar as respostas. -Cansativamente, voltou a abrir os olhos-. O que aconteceu, Roarke?
-Persegui os homens que o tinham feito e os matei, um a um, do modo mais lento e mais doloroso que pude conceber. -Sorriu-. Cada qual tem seu próprio método de encontrar soluções justas, Eve.
-Erigir-se a gente mesmo em juiz não é justiça, Roarke.
-Para ti não. Mas você encontrará a solução justa para o Mavis. Ninguém o duvida.
-Não posso deixar que se submeta a um tribunal. -A cabeça lhe pesava-. Tenho que encontrar... Preciso ir A... -Nem sequer pôde levar o braço até a cabeça-. Maldita seja, Roarke, deste-me um sedativo.
-Durma -murmurou ele e docemente o desabro?chó a pistolera e a deixou a um lado-. Agora dorme.
Isso fez, mas inclusive os sonhos não a deixaram em paz.
Capitulo Oito
Não despertou muito animada mas sim sozinha, o qual tinha sido um hábil movimento por parte dele, embora Eve não se recuperou sorrindo. O sedativo não tinha efeitos se?cundarios, o que convertia ao Roarke em um homem afortunado. Eve despertou sentindo-se alerta, fresca e en?fadada.
O aviso eletrônico que despedia uma luz vermelha sobre seu mesita de noite não melhorou as coisas. Nem tampouco o ouvir a suave voz dele quando o conectou.
-bom dia, tenente. Espero que tenha dormido bem. Se está levantada antes das oito, encontrará-me no rincão do café da manhã. Não queria te incomodar hacien?do subir as coisas. Te via muito aprazível.
-Não por muito tempo -disse ela entre dentes.
Logo conseguiu tomar banho, se vestir e ajustar a arma em só dez minutos.
O rincão do café da manhã; como ele o chamava, era um enorme e ensolarado átrio contigüo à cozinha. além do Roarke, estava também Mavis. Ambos pareciam radiantes.
-vamos deixar um par de coisas claras, Roarke -disse Eve.
-Tornou-te a cor. -Satisfeito de si mesmo, levantou-se e lhe deu um beijo na ponta do nariz-. Esse matiz cinza que tinha na cara não ficava nada bem.
-Logo grunhiu quando lhe soltou um murro ao es?tómago. esclareceu-se garganta corajosamente-. Parece que seu nível energético também se recuperou... Café?
-Que fique claro que se alguma vez tentar outro truque como o de ontem à noite, lhe... -Olhou ao Mavis entrece?rrando os olhos-. Você do que te ri?
-Diverte-me olhar. Estão tão pendentes um do outro.
-Tanto que ele acabará convexo no chão se não se andar com cuidado... Tem... bom aspecto.
—Assim é. Chorei a mares, comi- uma bolsa de bom?bones suíços e logo deixei de me compadecer. Tenho ao poli número um da cidade trabalhando de meu lado, a melhor equipe de advogados que um multimilionário possa comprar, e um homem que me ama. Vê, me fi?guro que quando tudo isto termine, e sei que sairá bem, poderei recordá-lo como uma espécie de aventura. E graças a toda a publicidade dos medeia minha carreira separará.
Agarrou a mão do Eve e a fez sentar em um banco acolchoado.
-Já não tenho medo. '
Não querendo tomar suas palavras ao pé da letra, Eve a olhou aos olhos.
-Vejo que não. Está realmente bem.
-Estou bem agora. pensei nisso uma e outra vez. No fundo, é tudo muito singelo. Eu não a matei. Sei que você descobrirá quem o fez e depois tudo haverá acaba?do. De momento posso viver em uma casa incrível e co?mer manjares incríveis. -Deu uma dentada a um crepé-. E minha cara e meu nome saem a toda hora nos média.
-Bom, é uma maneira de ver as coisas. -Intranqüila, Eve foi programar se café-. Mavis, não quero preo?cuparte, mas não cria que isto será um passeio pelo parque.
-Não sou tola, Dallas.
-Eu não...
-Pensa que não sou consciente do que poderia passar se a coisa saísse mau? Sou-o, mas não acredito que isso vá acontecer. A partir de agora sou otimista e vou fazer te esse favor que me pediu ontem.
-De acordo. Temos muito que fazer. Quero que te concentre, que tente recordar detalhes. Cual?quier costure, não importa o pequena ou insignificante que... O que é isto? —inquiriu enquanto Roarke lhe punha um bowl diante.
-Seu café da manhã.
-Flocos de aveia?
-Exatamente.
Eve franziu o sobrecenho.
-por que não posso tomar crepés?
-Sim pode, mas primeiro te coma os flocos.
Zangada, Eve tragou uma colherada:
-Você e eu vamos falar muito a sério.
-Formam um casal estupendo, meninos. Me alegro muito de ter tido ocasião de comprová-lo. Não é que pensasse que não fossem, mas me intrigava que Dallas tivesse acabado com um, ricacho. -Olhou ao Roarke radiante.
—Os amigos estão para isso.
-Sim, claro, mas é incrível como consegue lhe parar os pés. É o primeiro que o faz.
-te cale, Mavis. Pensa o que queira, mas é melhor que não me diga nada até que seus advogados o passem.
-O mesmo me aconselharam eles. Imagino que será como quando quer recordar um nome ou onde puseste alguma coisa. Deixa-o correr, põe-te a fazer algo e, zas, salta-te à cabeça. De maneira que agora estou pen?sando em outras coisas, e as mais importantes é as bodas. Leo?nardo me disse que logo teria que fazer a primeira prova do vestido.
-Leonardo? -Eve quase saltou da cadeira-. Há ha?blado com ele?
-Os advogados deram o visto bom. Eles acreditam que é bom para nós reatar nossa relação. Acrescenta um toque romântico cara à opinião pública. -Apoiou um cotovelo na mesa e ficou a brincar com os três pendentes com que tinha adornado sua orelha iz?quierda-. Sabe, desistiram que as provas de detec?ción e hipnose porque não estão seguros do que poderia recordar. Em geral me acreditam, mas não querem arries?garse. Mas disseram que ver o Leonardo me viria bem. Assim temos que organizar essa prova.
-Agora não tenho tempo para pensar nisso. Por Deus, Mavis, crie que estou para vestidos e florile?gios? Não vou casar me até que sei arrume tudo isto. Roarke o entende.
Ele agarrou um cigarro e o olhou.
-Não, ele não o entende.
-Escuta...
-Não, escuta você. -Mavis ficou em pé; seu cabelo azul brilhou à luz do dia-. Não vou deixar que isto danifique algo tão importante para mim. Pandora fez quanto pôde para joderme a vida. E morrendo piorou as coisas. Não quero que me isto joda. Os planos seguem em pé, compreende, e será melhor que te busque um oco para fazer essa prova.
Eve não podia discutir, menos ainda vendo que Mavis estava ao bordo do pranto.
-De acordo, está bem. Provarei-me esse estúpido vestido.
—De estúpido, nada. Será um vestido sensacional.
-A isso referia.
-Melhor. -Mavis sorveu pelo nariz e se sentou-. Quando posso lhe dizer que iremos?
-É muito melhor para seu caso, e seus luxuosos aboga?dos me respaldariam, se a ti e a mim não vêem juntas por aí: o primeiro investigador e a defendida. Não me parece boa idéia.
-Quer dizer que não... Está bem, não iremos juntas por aí. Leonardo pode trabalhar nesta casa. Ao Roarke não importa, verdade?
—Justamente o contrário. —Deu uma imersão a seu cigarro—. Acredito que é uma solução perfeita.
-Felizes e em família -resmungou Eve-. O primeiro in?vestigador, defendida-a e o inquilino da cena do crime, que além disso é o ex-amante da vítima e o ac?tual da defendida. Tornaste-lhes loucos?
— Quem vai ou seja? Roarke tem um excelente sistema de segurança. E se houver a menor possibilidade de que as coisas saiam mau, quero passar todo o tempo que possa com o Leonardo. -Mavis fez suas panelas-. Estou decidida.
-Farei que Summerset disponha um espaço para tra?bajar.
-Obrigado. Agradecemo-lhe isso muito.
-Enquanto vós orquestram esta loucura de festa, eu tenho um assassinato que resolver.
Roarke piscou os olhos o olho ao Mavis e gritou ao Eve, quando esta saía feita uma fera:
-E seu crepé?
-Comete-o você.
-Está louca por ti -comentou Mavis.
-Sua forma de fazer as pazes é quase violenta. Quie?res outro crepé?
Mavis se apalpou o abdômen:
-por que não?
Dar um rodeio pela Novena e a Cinqüenta e seis causa?ba estragos na circulação. Pedestres e condutores ig?noraban por igual as leis de contaminação sonora e gritavam ou faziam soar a buzina dando rédea solta a sua frustração. Eve teria subido os guichês para atalhar o estrépito, mas seus controles de temperatura es?taban de novo danificados.
Para fazê-lo mais divertido, a mãe natureza ha?bía decidido castigar a Nova Iorque com uma umidade de 110 por cento. Para passar o momento, Eve observou como se elevavam do asfalto as quebras de onda de calor. A esse passo, em poucas horas mais de um chip ia se ficar frito.
Pensou em ir por ar, embora seu painel de controle pa?recía ter desenvolvido uma mente própria. Alguns condutores tinham começado já a fazê-lo. O tráfico aéreo reptaba lánguidamente. Um par de helicópteros monoplaza tratavam de sair do entupo não fazendo a não ser aumentar o caos com o zumbido de abelha de suas pás.
Eve conteve a risada ao ver o adesivo i love new York no pára-choque de um carro.
O mais cordato, pensou, seria aproveitar o entupo para trabalhar um pouco.
-Peabody -ordenou ao enlace, e depois de uns frustrantes assobios de interferência o aparelho ficou em funciona?miento.
—Aqui Peabody. Homicídios.
-Dallas. Passarei a recolhê-la pela Central, esquina oeste. Hora aproximada de chegada, quinze minutos.
-Sim, senhor.
-Traga os arquivos referentes aos casos Johannsen e Pandora, Y... —Olhou entortando os olhos à tela—. por que há tanto silêncio aí, Peabody? Não estará no ca?labozo?
—Esta manhã só chegamos dois ou três. Há um entupo do demônio na Novena.
Eve escrutinou o mar de tráfico.
-Diz-o a sério?
-É conveniente escutar o parte do tráfico -aña?dió—. Eu tomei uma rota alternativa.
-Cale-se, Peabody -murmurou Eve, interrompendo a transmissão.
Os dois minutos seguintes os empregou em recuperar mensagens do enlace de seu escritório e consertar uma entrevista no escritório do Paul Redford. Chamou o laboratório para que se dessem pressa com o relatório da Pandora, e ao ver que lhe davam largas se despediu com uma engenhosa ameaça.
Estava pensando em chamar o Feeney e lhe dar a lata quando viu uma brecha entre a parede de carros. lançou-se para lá, torceu à esquerda, esquivou veículos, ha?ciendo caso omisso de buzinadas e dedos levantados. Re?zando para que seu veículo cooperasse, pulsou o vertical. Em vez de elevar-se, o carro começou a fazer esses, mas conseguiu subir os três metros mínimos.
Logo torceu à direita, percorreu a toda velocidade um escorregador onde pôde ver rostos miseráveis e su?dorosos, e enfiou a Sétima enquanto seu painel de controle lhe advertia de uma sobrecarga. Cinco maçãs depois, o carro estava resfolegando, mas Eve tinha evitado o pior do engarrafamento. Tocou terra com um golpe estremecedor e girou para a entrada oeste da Central de Polícia.
A cumpridora Peabody estava, esperando. Como fazia para ter aquele aspecto imperturbável em seu sofo?cante uniforme azul, era algo que Eve não pretendia sa?ber.
-Seu carro parece um pouco meio doido, tenente -comen?tó Peabody ao subir.
-Sério? Não o tinha notado.
—Você também o parece um pouco, senhor. —Quando Eve se limitou a ensinar os dentes e a cortar pela Quinta para o centro, Peabody procurou em sua equipe, tirou um ventilador portátil e o aplicou ao salpicadero. A rajada de ar fresco quase fez gemer ao Eve.
-Obrigado.
-O controle térmico deste modelo não é confiável. -O rosto do Peabody permaneceu tranqüilo e suave-. Aun?que você talvez não o tenha notado.
-Tem uma língua muito aguda, Peabody. Isso eu gosto de você. me faça um resumo do Johannsen.
-O laboratório segue tendo problemas com os elementos que compõem o pó que encontramos. Respondem com evasivas. Não sabemos se tiverem terminado de analisar a fórmula. Segundo o sopro que me deu um contato, Ilegais exigiu prioridade, ou seja que há um pouco de politico. A segunda busca não registrou nenhum rastro de substâncias químicas, ilegais ou das outras, no corpo da vítima.
-Então é que não consumia -murmurou Eve-. Boomer se dedicava a mesclar, mas tinha uma bolsa enorme de merda e não lhe ocorreu prová-la. O que opina disso, Peabody?
-Pelo estado de sua pensão e a declaração do andróide, sabemos que teve tempo e oportunidade de provar o pó. Em seu expediente consta vício crônica embora de menor grau. Eu deduzo que sa?bía ou suspeitava algo dessa substância que o disua?dió.
-Isso mesmo acredito eu. O que tirou que Casto?
-Assegura que está a duas velas. mostrou-se coo?perador, mas não comunicativo, proporcionando infor?mación e teorias várias.
Eve não pôde por menos de menear a cabeça.
-É que lhe insinuou, Peabody?
A agente seguiu olhando à frente, entrecerrados le?vemente os olhos baixo a franja curva.
—Não exibiu um comportamento impróprio.
-Esqueça esse jargão, não lhe perguntei isso.
O rubor acendeu o pescoço do uniforme azul do Pe?abody.
-mostrou certo juro pessoal.
-minha filha, parece você polícia. Esse juro pessoal, é recíproco?
-Poderia dizer-se que sim, se não fora porque suspeito que o sujeito tem um juro muito mais pessoal em meu imediato superior. -Peabody a olhou-. Tem-no você no bote.
-Pois aí vai se ficar. -Eve não conseguiu, sem em?bargo, sentir de tudo desgostada-. Meu juro pessoal está em outra parte. É um muito bonito filho da grande puta, verdade?
—Se me torcedor a língua na boca cada vez que me olhe.
-Mmmm. -Eve passou a seus por seus dentes a título experimental-. Pois lance-se.
-Não estou preparada para uma relação sentimental nestes momentos.
-Mas quem diabo há dito nada de uma relação? Fólleselo um par de vezes, mulher.
—Prefiro o afeto e a camaradagem nos encuen?tros sexuais -repôs secamente Peabody-. Senhor.
-Já. É outro sistema. -Suspirou. Custava-lhe um es?fuerzo supremo impedir que sua mente pensasse no Mavis, mas tentou concentrar-se-. Só estava tomando o cabelo, Peabody. Sei o que é estar fazendo seu trabalho e que um tio te olhe dessa maneira. Lamento que se en?cuentre a desgosto trabalhando com ele, mas a necessito.
-Não há problema. -Relaxando-se um pouco, Peabody sorriu-. E não é precisamente um sacrifício lhe olhar. -Elevou a vista enquanto Eve entrava no estacionamento subterrâneo de uma torre branca na Quinta Avenida-. Este edifício não é do Roarke?
-A maioria o são. -O porteiro eletrônico exami?nó o veículo e lhe deu acesso-. Aqui tem seu escritório principal. E é também a sede do Redford Productions em Nova Iorque. Tenho uma entrevista com ele a respeito da Pandora. -Eve entrou no lugar para personalidades que Roarke lhe tinha procurado e fechou o carro-. Oficialmente não está ligada a este caso, Peabody, mas sim a mim. Feeney está até o pescoço de dados e eu necessito outro par de oí?dos. Alguma objeção?
-Não me ocorre nenhuma, tenente.
-Dallas -recordou-lhe ao sair do carro.
A barreira de segurança se fechou em torno do veículo para proteger o de arranhões e roubos. Como se o carro, pensou amargamente Eve, não tivesse já tantos arranhões que até um ladrão se insultaria a si mesmo por olhá-lo duas vezes. Foi com passo decidido para o elevador pri?vado, introduziu seu código e tentou não parecer turvada.
—Assim economizamos tempo.
Peabody ficou boquiaberta quando entraram em um espaço generosamente enmoquetado. O elevador era de seis pessoas e exibia um luxurioso desdobramento de fra?gantes hibiscus.
-eu adoro economizar tempo -disse Peabody.
-Planta trinta e cinco -solicitou Eve-. Redford Productions, escritórios de direção.
-Planta três-e cinco -registrou o ordenador-. Este Cua?drante, nível de direção.
-Pandora celebrou uma pequena festa a noite de sua morte —começou Eve—. Redford pôde ser a última per?sona que a viu com vida. Jerry Fitzgerald e Justin Young estiveram também, mas partiram pouco depois da briga entre o Mavis Freestone e Pandora. Têm uma coar?tada mútua para o resto da noite. Redford ficou um momento na casa. Se Fitzgerald e Young não mintam, são inocentes. Eu sei que Mavis diz a verdade. -Esperou um segundo, mas Peabody não fez comentário algum-. Assim vamos ver o que tiramos do produtor.
O elevador ficou brandamente em horizontal, desli?zándose para o este. Ao abri-las portas, o ruído alagou o espaço interior.
Era evidente que aos empregados do Redford gostavam de trabalhar com música rock. Saía dos alto-falantes camuflados enchendo o ar de energia. Dois homens e uma mulher trabalhavam ante um console circular, charlan?do animadamente por enlaces e olhando seus respectivos monitores.
Na zona de espera da direita parecia haver uma espécie de festa. Várias pessoas estavam ali reunidas, bebendo de pequenos copos ou mordiscando minús?culas pasta. O som das gargalhadas e as conversa?ciones sublinhava a música animada.
—Parece uma cena de um de seus filmes -disse Peabody.
-Viva Hollywood. -Eve se aproximou do console e ex?trajo sua placa. Escolheu ao recepcionista que parecia me?nos obsessivamente absorto dos três -. Tenente Da?llas. Tenho uma entrevista com o senhor Redford.
-Sim, tenente. -O homem (embora poderia ter sido um deus de cara cinzelada) sorriu com vontades-. Direi-lhe que está aqui. Sirvam-no que gostem, por favor.
-Gosta de um bocado, Peabody?
—Essas massas têm boa pinta. Poderíamos agarrar algumas quando sairmos.
-A isso chamo eu telepatia.
-O senhor Redford estará encantado de recebê-la agora, tenente. -O moderno Apolo levantou uma parte do console e se meteu dentro-. Me permita que as acompanhe.
Cruzaram uma porta de cristais defumados depois da qual o ruído trocou a disputa verbal. A cada lado do corredor havia portas abertas, com homens e mulheres sentados, indo de um lado ao outro ou tombados em sofás, conversando.
-Quantas vezes ouvi esse argumento, JT? Soa a primeiro milênio.
—Necessitamos uma cara nova, tipo a Garbo com um pouco de candura infantil.
-A gente não quer nada profundo, carinho. lhes dê a escolher entre o oceano e um atoleiro, e se lançam ao char?co. Somos como meninos.
Chegaram a umas portas de prata cintilante. O guia as abriu com gesto dramático.
-Seus convidados, senhor Redford.
-Obrigado, César.
-César -murmurou Eve-. Não ia muito equivocada.
-Tenente Dallas. -Paul Redford se levantou de uma workstation em forma de Ou e tão chapeada como as portas. O chão, liso como o cristal, estava decorado com espirais de cor. Ao fundo havia a esperada vista espetacular da cidade. Sua mão estreitou a do Eve com fácil e ensaiada calidez-. Muito obrigado por acce?der a vir aqui. Estou todo o dia metido em reuniões e me resultava muito mais cômodo que me deslocar eu.
—Não passa nada. Meu ajudante, a agente Peabody.
O sorriso, tão serena e praticada como o apertão de mãos, abrangeu-as a ambas.
-Sentem-se, por favor. Posso lhes oferecer algo?
-Só informação. -Eve jogou uma olhada aos asien?tos e pestanejou. Tudo eram animais: cadeiras, sofás e tabu?retes, em forma de tigres, cães, girafas.
-Minha primeira esposa era decoradora -explicou Red?ford-. Depois do divórcio, decidi ficar com tudo isto. É a melhor lembrança dessa época de minha vida. -Escolheu um basset e apoiou os pés em uma almofada com forma de gato ovillado-. Quer que falemos da Pandora?
-Assim é. -Se tinham sido amantes, como se rumorea?ba, não dava a impressão de estar muito causar pena. Tampo?co parecia lhe afetar que lhe interrogasse a polícia. Redford era o perfeito anfitrião embutido em cinco mil dólares de traje de linho e uns mocasines italianos cor manteiga derretida.
Era, pensou Eve para seus adentros, tão amante da tela como qualquer dos atores que contratava.
Um rosto forte e ossudo da cor do mel fresca acentuado por um cuidado bigode lustroso; o cabelo peina?do para trás com gomina e pego em um complicada acréscimo que lhe desligava entre os omoplatas. Em resumidas contas: um produtor de êxito que gozava com seu poder e riqueza.
-Eu gostaria de gravar esta conversação, senhor Redford.
-Muito bem, tenente. -Se retrepó no abraço de seu cão triste e cruzou as mãos sobre o abdômen-. Tenho entendido que praticaram vocês uma detenção.
-Assim é. Mas a investigação continua. Você cono?cía a difunta Pandora.
-Conhecia-a bem, em efeito. Tinha entre mãos um projeto com ela, é obvio tínhamos coincidido em numerosas ocasiões ao longo dos anos e, quando se atravessava, deitávamo-nos.
-Eram vocês amantes no momento de seu muer?te?
—Nunca fomos amantes, tenente. Nos acostába?mos. Não fazíamos o amor. De fato, duvido que nenhum homem tenha feito o amor a Pandora, ou o haja in?tentado sequer. Se existir, é que é tolo. Eu não o sou.
-Não gostava?
-me gostar de? -Redford riu-. Por favor. Era sem dúvida o ser humano mais desagradável que conheci jamais. Mas talento sim tinha. Não tanto como ela pensava, e menos em determinadas áreas, mas...
Elevou suas elegantes mãos com um fulgor de anéis: pedras negras sobre ouro maciço.
-A beleza é acessível, tenente. Há quem nasce com ela e há quem a compra. Um físico atrativo é realmente fácil de conseguir hoje em dia. As caras agrada?bles nunca passam de moda, mas para ganhá-la vida com isso terá que ter talento.
-E qual era o talento da Pandora?
-Um aura, um poder, uma elementar e inclusive mini?malista capacidade para gotejar sexo. O sexo sempre vendeu e sempre venderá.
Eve inclinou a cabeça.
-Só que agora está autorizado.
Redford lhe dedicou um sorriso divertido.
-O governo necessita esses ganhos. Mas não me re?fería à venda de sexo, a não ser a sua utilização comercial. E nós o fazemos: desde refrescos até utensílios de cozinha. E moda -acrescentou-. Sempre a moda.
-Que era a especialidade da Pandora.
-Podia envolvê-la em visillos de cozinha, lançar a à passarela, e a gente mais ou menos inteligente abria a cuen?ta de crédito para comprar. Era uma verdadeira reclamação. Não havia nada que não pudesse vender. Ela queria atuar, o qual é triste. Nunca teria podido ser outra coisa que o que era: Pandora, a única.
-Mas diz você que tinha um projeto com ela.
-Sim, algo onde ela representasse basicamente seu próprio papel. Nada mais e nada menos. Poderia ter funcionado. A exploração, sem dúvida alguma, teria produzido lucros muito importantes. Até estava em fase inicial.
-Você estava em sua casa a noite do crime.
-Sim, Pandora necessitava companhia. E suponho que queria lhe passar pela cara ao Jerry que ela ia a protago?nizar um de meus filmes.
-Como tomou a senhorita Fitzgerald?
-Com surpresa e imagino que irritação. Eu também me zanguei pois ainda faltava muito para que o projeto fosse viável. Quase houve uma boa cena, mas nos inte?rrumpieron. A garota, a fascinante jovem que apareceu na porta. Essa que acabam de prender -disse com brilho nos olhos-. Segundo os média, você e ela são muito amigas.
-por que não se limita a me contar o que aconteceu lle?gar a senhorita Freestone?
-Melodrama, ação, violência. O cinema em vivo. A bonita valente deve expor seu caso. esteve llo?rando, tem a cara pálida, o olhar se desesperada. Diz que renunciará ao homem que ambas querem para si, a fim de protegê-los a ele e a sua carreira profissional.
«Primeiro plano da Pandora. Sua cara goteja cólera, desdém, louca energia. OH, que formosa é. Quase um peca?do. Não aceita o sacrifício, quer que sua adversária co?nozca a dor. Primeira a dor emocional, pelas crueldades que lhe diz, logo a dor física quando des?carga o primeiro golpe. produz-se a clássica briga. Duas mulheres brigando corpo a corpo por um homem. A mais jovem tem o amor de sua parte, mas nem sequer isso pode com o brio da vingança. Nem com as afiadas unhas da Pandora. antes de que o sangue chegue ao rio, os dois cavalheiros da fascinada audiência passam a ac?ción. Um deles recebe uma dentada por suas insônias.
Redford gemeu e se esfregou o ombro.
-Pandora me afundou as presas enquanto eu tira?ba dela. Devo confessar que estive tentado de lhe dar um murro. Seu amiga partiu, tenente. Disse algo assim como que Pandora o sentiria, mas parecia mais desdi?chada que enfurecida.
-E Pandora?
-Avivada. -Ele também o parecia, enquanto narra?ba o acontecido-. Toda a tarde tinha estado de um humor perigoso, e depois da briga a coisa piorou. Jerry e Justin se largaram com mais prontidão que elegância, e eu fiquei um momento tratando de sossegar a Pandora.
-Conseguiu-o?
-Brinca? Ela estava furiosa, proferia toda classe de absurdos. Disse que iria procurar a aquela zorra e que lhe arrancaria a pele. Que castraria ao Leonardo. Que cuan?do tivesse terminado não poderia nem vender botões na esquina. Nem os mendigos lhe foram comprar seus trapos, et?cétera. Transcorridos vinte minutos, desisti. Então ficou furiosa comigo por lhe danificar a velada e começou a me lançar impropérios. Que não me necessitava, que tinha outros contratos, contratos mais suculentos.
-Diz você que saiu dali por volta das doze e meia.
-Aproximadamente.
— Pandora ficou sozinha?
-O serviço estava composto exclusivamente por andróides. Que eu saiba, ali não havia ninguém mais.
-Aonde foi quando saiu de casa da Pandora?
—Vim aqui, a me curar o ombro. A mordida te?nía mau aspecto. Tinha pensado trabalhar um pouco, fazer umas chamadas à costa. Depois fui a meu clube e passei um par de horas na piscina e na sauna.
-A que hora chegou ao clube?
-Acredito que seriam as duas. Sei que passavam das cua?tro quando cheguei a casa.
-Viu ou falou com alguém entre as duas e as cinco da manhã?
-Não. Uma das razões de que vá ao clube fora de horas é a intimidade. Tenho instalações próprias na costa, mas aqui tenho que arrumar me sendo isso sócio de um clube.
-Que se chama...?
-Olympus, está no Madison. -Arqueou uma sobrancelha-. Vejo que meu álibi não é perfeito. Entretanto, entrei e saí com minha chave de código. Como ditam as normas.
-Não me cabe dúvida. -E Eve se asseguraria de que o tivesse feito-. Sabe de alguém que desejasse fazer mal a Pandora?
-Tenente, a lista seria interminável. -Sorriu de novo, dente perfeitos, olhos de uma vez divertidos e mata?dores-. Eu não me conto entre eles, simplesmente por?que Pandora não significava tanto para mim.
-Compartilhou você com ela seu último capricho em drogas?
Redford ficou rígido, duvidou, relaxou-se outra vez.
-Excelente estratagema, tenente. A incoerência está acostumada pilhar com o guarda baixa aos incautos. Direi, para que conste, que eu jamais provo substâncias ilegais de nenhuma classe. -Mas seu sorriso era muito fácil, e ela soube que estava mentindo-. Pandora gaguejava de vez em quando. Pensei que era problema dele, que de?bía ter encontrado algo novo, algo do que parecia estar abusando. De fato, eu entrei em seu dormitório aquela mesma tarde.
Fez uma pausa, como se recordasse uma cena.
-Ela acabava de tirar uma pílula de uma formosa cajita de madeira. China, parece-me. A caixa -acrescentou com um sorriso disposto-. lhe surpreendeu que eu chegasse tão logo, e colocou a caixa em uma gaveta do penteadeira e logo o fechou com chave. Perguntei-lhe o que estava escon?diendo e ela disse... -Fez outra pausa, diminuiu os olhos—. Como foi que o disse...? Seu tesouro, seu fortu?na. Não..., algo como sua recompensa. Sim, estou seguro de que essa foi a palavra. Logo se tragou a pílula com um pouco de champanha. Depois copulamos. Pareceu-me que ao princípio estava distraída, mas de repente se voltou frenética, insaciável. Acredito que nunca o havíamos he?cho com tanto nervo como essa vez. Vestimo-nos e ba?jamos ao salão. Jerry e Justin acabavam de chegar. Nunca voltei a lhe perguntar a respeito. Não era coisa de meu in?cumbencia.
-Impressões, Peabody?
-É muito ardiloso.
-Como a fome. -Eve afundou as mãos nos bolsos enquanto o elevador descendia, brincou com uns discos de crédito-. Desprezava-a mas se deitava com ela, e estava disposto a utilizá-la.
-Acredito que a encontrava patética, potencialmente perigosa mas rentável.
-E se essa rentabilidade tivesse minguado, ou aumen?tado o perigo, poderia Redford havê-la matado?
-Em um abrir e fechar de olhos. -Peabody se adiantou para entrar na garagem-. Não tem escrúpulos. Se esse projeto que tinham entre mãos tivesse começado a ir mau, ou se ela tivesse querido lhe pressionar, ele haveria he?cho cruz e raia. A gente tão controlada e tão paga de si mesmo tende a esconder um alto potencial de violen?cia. E seu álibi é uma horror.
-Sim, certamente. -As possibilidades fizeram sorrir ao Eve-. Comprovaremo-la, mas primeiro passaremos por casa da Pandora e procuraremos o esconderijo. Comunicado -ordenou-: assegure-se de que podemos saltar fechaduras.
-Isso não é uma trava para você -murmurou Pea?body, mas conectou o enlace.
A caixa tinha desaparecido. A decepção foi tal que Eve ficou plantada na luxuosa quarto da Pandora olhando à gaveta durante dez segundos até assimilar que estava vazio.
-Isto é um penteadeira, não?
-Assim os chamam. Olhe toda essa quantidade de frascos e de potes. Crema para isto, ungüentos para o outro. -Peabody agarrou um frasco do tamanho do meio dedo polegar-. Nata para estar sempre jovem. Sabe quanto custa esta panaquice, Dallas? Quinhentos perus no Saks. Quinhentos por meia onça de nada. Falando de vani?dad...
Peabody deixou o frasco, envergonhada de ter tido a breve tentação de meter-lhe no bolso.
-Somando tudo o que há aqui, Pandora possuía uns dez ou quinze mil dólares em cosméticos.
-Domine-se, Peabody.
-Sim, senhor. Sinto muito.
—Estamos procurando uma caixa. Os do gabinete já recolheram os discos dos enlaces da Pandora. Sabe?mos que essa noite não fez nem recebeu nenhuma chamada. Ao menos daqui. Bem, está cheia o saco. Vai cega. O que faz então?
Eve seguiu abrindo gavetas e revolvendo coisas.
-Bebe mais, talvez, vai por toda a casa pensando o que quereria fazer às pessoas que a chatearam. Porcos, porcas. Quem se acreditaram que são? Ela pode ter tudo o que deseje. Talvez entra aqui e se esconde outra pílula, para que a coisa não decaia.
Esperançada, embora era um estojo corrente, es?maltado, e não de madeira nem chinês, Eve levantou uma tampa. Dentro havia um sortido de anéis: ouro, prata, porcela?na, marfim esculpido.
-Curioso lugar para guardar jóias -comentou Peabody-. Bom, quero dizer, tem um grande cofre de cris?tal para a bijuteria, e a caixa forte para o verdadera?mente valioso.
Eve levantou a vista, viu que seu ajudante dizia muito a sério, e não dissimulou do todo a risada.
-Não são jóias precisamente, Peabody. São anéis eróticos. encaixam-se na franga e logo...
—Sim. —Peabody tratou de não olhar—. Já sei. Mas bom, curioso site para guardá-los.
-Já, certamente é parvo guardar brinquedos sexua?les em uma caixa perto da cama. Enfim, onde esta?ba? Pandora ingeriu um pouco acompanhado de champanha. Alguém vai pagar por lhe haver quebrado a vela?da. Esse merda do Leonardo vai ter que arrastar-se, que implorar. Fará-lhe pagar o haver-se atirado a uma furcia a suas costas, e por deixar que a zorra apare?ciese em sua casa (sua casa, Por Deus) para lhe tocar os narizes.
Eve fechou uma gaveta e abriu outro. -Segundo o sistema de segurança, ela saiu daqui depois das duas. A porta tem fechamento automático. Não pede um carro. Está como a sessenta maçãs de casa do Leonardo e leva saltos de agulha, mas não pede um táxi. Não há perseverança de que nenhuma companhia a fora a recolher nem a deixasse em nenhuma parte. Consta que tinha um minienlace, mas não o encontramos. Se o levava em cima e fez uma chamada, é que ela ou alguém mais dispunha de um.
-Mas se chamou o assassino, este foi o bastante preparado para desfazer do aparelho. -Peabody começou a regis?trar o armário roupeiro de dois níveis e conseguiu não asfi?xiarse com todos aqueles percheros, muitas de cujos objetos conservavam ainda a etiqueta do preço-. O que está claro é que não foi a pé até o centro. A metade destes sapatos nem sequer tem a sola arranhada. Não era das que caminham.
-De acordo. Não acredito que tomasse um sujo táxi. Bastava-lhe estalando os dedos e já tinha a me?dia dúzia de escravos ansiosos brigando por levá-la lá onde queria ir. Assim que alguém a recolhe. Vão a casa do Leonardo. por que?
Fascinada pelo modo em que Eve fazia encaixar o ponto de vista da Pandora com o seu próprio, Peabody deixou de procurar e a observou.
-Ela insiste. Exige. Ameaça.
-Possivelmente chama o Leonardo. Ou possivelmente é outra pessoa. Chegam ao apartamento, a câmara de segurança está rota. Ou a rompe ela.
-Ou a rompe o assassino. -Peabody saiu do mar de seda cor marfim-. Porque ele já planejou liquidá-la.
-Para que levá-la a casa do Leonardo se já o houver pla?neado? Ou se foi Leonardo, por que sujar sua própria casa? Ainda não estou segura de que o assassinato fora prio?ritario. Chegam ali, e se for verdade o que diz Leonardo, não há ninguém no apartamento. Ele se foi que taças e a procurar o Mavis, que também se foi de taças. Pandora quer castigar ao Leonardo. Começa a arrasar o lugar, possivelmente dá rédea solta a uma parte de sua cólera com seu companheiro. Brigam. A coisa vai a mais. Ele agarra o fortificação, talvez para defender-se, talvez para atacar. Ela está emocionada, doída, assustada. A Pandora ninguém pega. O que passa aqui? Ele não pode parar, ou não quer. Ela bebe tendida no chão e há sangue por toda parte.
Peabody não disse nada. Tinha visto as fotografias. Podia imaginar o acontecido tal como o explicava Eve.
-O assassino está de pé a seu lado, ofegando. -Semicerrados os olhos, Eve tratou de enfocar a sombria figura do homicida-. O sangue de lhe salpicou. cheira-se por toda parte. Mas não tem medo, não pode permi?tírselo. O que ata a ela? O minienlace. Agarra-o, o guarda. Se for o bastante preparado, e agora tem que sê-lo, revisa as coisas dela, assegura-se de que não haja nada que pue?da lhe inculpar. Poda o fortificação e todo o resto que crie haver meio doido.
Na mente do Eve todo acontecia como em um vídeo antigo, impreciso e cheio de sombras. A figura -homem ou mulher— apressando-se a apagar os rastros, passando por cima do atoleiro de sangue.
-Terá que dar-se pressa. Poderia vir alguém. Mas terá que ser consciencioso. Já quase está tudo limpo. Então ouça entrar em alguém. É Mavis. Ela chama o Leonardo, vê o corpo, ajoelha-se a seu lado. A situação é perfeita. O assassino a golpeia, logo lhe fecha os dedos sobre o fortificação, até pode que dê a Pandora alguns golpes mais. Agarra a mão da morta e aranha com suas unhas o rosto do Mavis, sua roupa. fica algo em cima, do Leo?nardo, para assim ocultar sua própria roupa.
endireitou-se detrás registrar uma gaveta inferior e viu que Peabody a estava olhando.
-É como se estivesse ali -murmurou esta-. Me gus?taría poder fazer isso, me colocar na cena desse modo.
-Com um pouco mais de experiência o conseguirá. Onde diabos está a caixa?
-Possivelmente a levou a sair.
-Não acredito. Onde está a chave, Peabody? Pando?ra fechou a gaveta. Onde está a chave?
Em silêncio, Peabody tirou sua unidade de campo e so?licitó uma lista dos artigos encontrados na bolsa da vítima ou em sua pessoa.
-Não consta chave alguma entre as provas.
-Então a tinha ele. E voltou para agarrar a caixa e tudo o que precisasse levar-se. Vejamos o disco de segu?ridad.
-Não o terão comprovado já os do gabinete?
-por que? Ela não morreu aqui. Só lhes pediu que verificassem a hora de partida. —Eve se aproximou do monitor, ordenou um replay da data e a hora em questão. Viu a Pandora saindo feita uma fúria da casa e perder-se rapidamente de vista-. As dois e oito minutos. De acordo, vejamos o que tiramos disso. Hora da morte, aproximadamente as três. Ordenador, avançar até as três e zero zero, ao triplo do tempo real. -Olhou o cronó?metro-. Congelar imagem. Que hijoputa. Veja isso, Pea?body.
-Vejo-o, salta das quatro e três minutos às cua?tro trinta e cinco. Alguém desconectou a câmara. Teve que fazê-lo por controle remoto. Sabia o que estava pa?sando.
-Alguém tinha muitas vontades de entrar, de ir a bus?car algo, de jogar-lhe Uma caixa com substâncias ilegais. -Seu sorriso foi tenebrosa-. Tenho um pressentimento na tripa, Peabody. vamos ver os do laboratório.
Capitulo Nove
— por que me busca as cócegas, Dallas?
Amassado em sua bata de laboratório, o técnico chefe Dickie Berenski analisava uma mecha de pêlo púbico. Era um homem muito meticuloso, além de um chumbo de cuidado. em que pese a ser famoso por sua lentidão nas análise, seu médio de êxitos ante os tribunais lhe convertia no elemento mais valioso do laboratório da polícia.
-Não vê que estou aqui encerrado? -Com seus ata?reados dedos de aranha ajustou o enfoque de seus microgafas-. Temos seis homicídios, dez violações, um montão de suspeitos e mortos desatendidos, e muitas coisas em que pensar. Não sou um robô, joder.
-Pouco te falta -resmungou Eve.
Não gostava do laboratório, com sua atmosfera anti?séptica e suas paredes brancas. Era como um hospital, ou pior ainda, a sala de Provas. Todo policial que empregasse a força até o ponto de provocar uma morte se via obrigado a passar por Provas. Suas experiências com essa rotina especialmente insidiosa não tinham sido nada agra?dables.
-Olhe, Dickie, tiveste tempo de sobra para ana?lizar essa substância.
-Tempo de sobra... -O técnico se separou da mesa. Seus olhos, depois dos óculos especiais, eram grandes e ousados como os de um mocho-. Você e todos os polis da cidade lhes criem que o seu é prioritário. Como se pudiése?mos deixar todo o resto. Sabe o que ocorre quando sobe a temperatura, Dallas? Que a gente fica irasci?ble, isso ocorre. Você só tem que acalmá-los, mas noso?tros, minha equipe e eu, temos que examinar cada cabe?llo e cada fibra. Isso leva tempo.
Seu tom quejumbroso exasperou ao Eve.
-Homicídios me está dando a surra, e Ilegais me envenena por não sei que merda de pó —acrescentou ele—. Já tem o resultado preliminar.
-Necessito o final.
-Bom, pois não está preparado. -Os lábios do Dickie es?bozaron uma panela ao dá-la volta e pôr em panta?lla a imagem ampliada do cabelo-. Tenho que terminar um DNA.
Eve sabia como lhe dirigir. Não gostava de fazê-lo, mas sabia como.
-Tenho duas poltronas de tribuna para a partida dos Yankees contra os Rede Sox.
Os dedos do técnico voaram sobre os controles.
-De tribuna?
-Frente à terceira base.
Dickie se tirou os óculos para examinar a habitação. Havia outros técnicos trabalhando em seus ordenadores.
-Ao melhor chá consigo algo. -Impulsionou sua cadeira para a direita até ficar ante outro monitor. Conectou o teclado e abriu o arquivo manualmente. Teclou despa?cio, olhando a tela-. O problema está aí, vê-o? É este elemento.
Para o Eve só eram cores e símbolos desconhecidos, mas grunhiu enquanto saíam os dados. O elemento desco?nocido que nem sequer a unidade do Roarke havia podi?do identificar.
-É essa coisa vermelha?
-Não, não, isso é uma anfetamina corrente. Há-a no Zeus, no Buzz, no Smiley. Vá, pode-se conseguir um derivado em qualquer site onde pague à vista. Quero dizer isto. -Assinalou com o dedo a um gancho de ferro verde.
-Já, o que é?
-Isso nos perguntamos todos, Dallas. Nunca o ha?bía visto. O ordenador não pode identificá-lo. Eu me cheiro que procede de outro planeta.
-Isso sobe as apostas, verdade? Por trazer uma sus?tancia desconhecida de fora do planeta lhe podem cair vinte anos em cárcere de máxima segurança. conhecem-se os efeitos?
-Estou trabalhando nisso. Parece que tem algumas das propriedades das drogas analgésicas. carrega-se os radicais livres. Mas há certos efeitos secundários ne?fastos quando se mescla com as outras substâncias encon?tradas no pó. Tem-no quase tudo no relatório. In?tensifica o desejo sexual, o que não é má coisa, mas a isso seguem violentas mudanças de humor. Aumenta a fortaleza física mas propícia a falta de controle. Deixa o sistema nervoso feito pó. Sente-se de puta mãe um momento, virtualmente invulnerável, te dá vontade de joder como um coelho, mas não te importa grande coisa se a seu casal interessa ou não. Quando chega a baixada, se produ?ce de repente e rapidamente e a única coisa que põe a tom é uma nova dose. Se seguir com isso, subindo e baixando todo o momento, o sistema nervoso acaba dizendo basta. E morre.
—Basicamente é o que já me havia dito.
-Porque estou entupido com o elemento X. É um vegetal, disso estou seguro. Similar a uma espécie de va?leriana que se dá no sudoeste. Os índios utilizavam as folhas para curar. Mas a valeriana não é tóxica e isto sim.
-É um veneno?
-Tomado sozinho e em dose suficiente, seria-o, em efec?to. Também o são muitas ervas e novelo empregadas em medicina.
-É uma erva medicinal.
-Eu não hei dito isso. -Dickie inchou as bochechas-. Certamente é um híbrido de outro planeta. Não posso te dizer mais, de momento. Você e os de Ilegais não ides conseguir que encontre a resposta me colocando pressas.
-Este caso não é de Ilegais a não ser meu.
-Diga-lhe a eles.
-Farei-o. Bom, Dickie. Agora necessito a análise toxicológico da Pandora.
-Não o levo eu, Dallas. O passamos ao Suzie-Q, e tem todo o dia livre.
-Você é o chefe disto, e eu necessito o informei. -Esperou um segundo-. Com as poltronas de tribuna vão dois passes para vestuários...
-Já. Bem, não estará de mais fazer alguma averigua?ción. -Marcou seu código e logo o arquivo-. Suzie-Q o guardou, bravo por ela. Chefe Berenski, invalidar seguri?dad em Arquivo Pandora, Identificação 563922-H.
PROVA DE VOZ VERIFICADA.
-Mostrar lexicologia.
PROVAS DE TOXICOLOGIA PENDENTES. RESULTADOS PRELIMINARES EM TELA.
-Esteve bebendo muito -murmurou Dickie-. Cham?pán francês, do melhor. Certamente morreu feliz. Pelo visto era Dom do 55. Bom trabalho, o do Suzie-Q. Aña?dió uns quantos pós da felicidade. A difunta gostava das festas. Diria que é Zeus... Não. -Inclinou os ombros para frente, como fazia sempre que estava intrigado ou incômodo-. Que diabos é isto?
Quando o ordenador começava a detalhar os ele?mentos, Dickie cortou de um peteleco raivoso e empe?zó a examinar o relatório manualmente.
-Aqui havia alguma mescla -murmurou.
Seus dedos jogaram com os controles como os de um pianista em seu primeiro recital: pausados, precavidos, precisos. Dallas viu como os símbolos foram formando-se, disper?sándose e alinhando-se outra vez. E então viu também a pauta.
—É a mesma. —Eve olhou à silenciosa Peabody com olhos de aço-. É a mesma substância.
-Eu não hei dito isso -interrompeu Dickie-. Te cale e deixa que termine de ver a análise.
-É a mesma -repetiu Eve-, com o mesmo garaba?to verde do elemento X. Pergunta, Peabody: que tie?nen em comum uma Top model e um mexeriqueiro de segunda classe?
—Os dois estão mortos.
-respondeu a primeira parte corretamente. Quer tentar a segunda e dobrar seu prêmio? Como morreram os dois?
Peabody esboçou a mais liviana dos sorrisos:
—A pauladas.
-E agora o grande prêmio: terceira parte da pregun?ta. Que relação há entre estes dois assassinatos aparen?temente sem conexão?
Peabody olhou ao monitor:
-O elemento X.
-Prêmio. Transmite esse relatório a meu escritório, Dic?kie. À minha -repetiu quando ele a olhou inquisitivamen?te-. Se chamarem de Ilegais, você não sabe nada novo.
-Ouça, não posso esconder dados...
-Muito bem. -Eve deu meia volta-. Farei que lhe tragam essas localidades às cinco.
-Você sabia -disse Peabody enquanto tomavam o des?lizador aéreo para ir ao setor de Homicídios-. Quando estávamos no apartamento da Pandora. Não encontrou a caixa, mas sabia o que havia dentro.
-Suspeitava -disse Eve- que era uma mescla nova, que intensificava a potência sexual e a força física. -Consultou seu relógio-. tive a sorte de trabalhar nos dois casos de uma vez, de estar pendente dos dois. Lhe?minha estar complicando as coisas, mas então comecei a me fazer perguntas. Vi os dois corpos, Peabody. Era o mesmo tipo de excesso, a mesma crueldade.
-Eu não acredito que fora questão de sorte. Também estive nas duas cenas, e estive a duas velas todo o momento.
-Mas aprende muito rápido. -Eve saltou do desliza?dor para tomar o elevador até seu nível-. Não lhe dê mu?chas voltas, Peabody. Eu levo nesta profissão o do?ble de tempo que você.
Peabody entrou no tubo de cristal e olhou desintere?sadamente a cidade a seus pés.
-por que me tem feito intervir no caso?
-Você tem cérebro e sangue-frio. É o mesmo que me disse Feeney quando pôs a suas ordens. No Homi?cidios. Dois adolescentes esfaqueados e lançados a ram?pa da Segunda com a Vinte e cinco. Eu também estive uns dias a duas velas. Mas encontrei uma fresta de luz.
-Como soube que queria servir em Homicídios?
Eve saiu do tubo e torceu pelo corredor em direção a seu escritório.
-Porque a morte é insultante. E quando em cima lhe colocam pressas, é o pior insulto de todos. vamos tomar um par de cafés. Quero pôr tudo isto por escrito an?tes de levar-lhe à comandante.
-Suponho que não poderíamos comer nada.
Eve lhe sorriu voltando a cabeça.
-Não sei o que haverá em meu AutoChef, mas... -Calou ao entrar no despacho e encontrar-se a Casto sentado com suas largas pernas embutidas nos sabidos nos cubra em cima da mesa e cruzadas pelos tornozelos-. Vá, Casto, Jake T., como em casa, né?
-Estava-a esperando, boneca. -Piscou os olhos um olho ao Eve e sorriu arrebatadoramente ao Peabody-. Tudo bem, DeeDee.
-DeeDee? -murmurou Eve, e se dispôs a encarregar café.
—Tenente. —A voz do Peabody soou dura como o ferro, mas suas bochechas se haviam rosado.
-Ao que lhe toca trabalhar com um par de polis que ade?más de listas estão de bom ver é um tio com sorte. Posso tomar eu uma taça, Eve? Carregado, só e doce.
-Pode tomar café, Casto, mas não tenho tempo para consultas. Tenho que revisar papelada, e tenho uma entrevista dentro de um par de horas.
-Serei breve. -Mas não se moveu de site quando lhe aconteceu o café-. estive tentando colocar pressa ao Dickie. Esse tio é mais lento que uma tartaruga agarre. Como você é primeiro investigador, pensava que poderia requi?sar uma amostra para mim. Tenho um laboratório privado para estas ocasiões. São muito rápidos.
-Acredito que não será boa idéia tirar este caso do de?partamento, Casto.
-Esse laboratório está aprovado por Ilegais.
-Refiro a Homicídios. Vamos lhe dar um pouco mais de tempo ao Dickie. Boomer já não pode mover-se.
-Vale, você está ao mando. É que eu gostaria de ter?minar logo este caso. Deixa muito mau sabor de boca. Não como este café. -Fechou os olhos e suspirou-. Santo Deus, de onde o tira? É verdadeiro ouro.
-Relações que tem uma.
-Ah, esse noivo rico, claro. -Saboreou outro sorvo-. Qualquer homem se sentiria tentado de seduzi-la com uma cerveja fria e uma apimentada.
-O meu é o café, Casto.
-Não lhe culpo. -Desviou o olhar para o Peabody-. O que diz você, DeeDee? Gosta de uma cerveja he?lada?
-A agente Peabody está de serviço -disse Eve vien?do que Peabody só gaguejava-. Temos trabalho, Casto.
-Deixo-lhes trabalhar, então. -Descruzó as pernas e ficou em pé-. por que não me telefona quando estiver livre, DeeDee? Sei um site onde fazem a melhor cozinha mexicana a este lado de rio Grande. Eve, se trocar de opinião sobre essa mostra, faça-me saber.
-Fechamento a porta, Peabody -ordenou Eve ao sair Cas?to-. E seque-a baba do queixo, mulher.
Desconcertada, Peabody levantou uma mão e ao no?tar que tinha o queixo seca, seu humor não melhorou um ápice.
-Isso não tem graça. Senhor.
-Basta já de «senhor». Qualquer que responda no nome do DeeDee perde cinco pontos na escala de dignidade. -Eve se deixou cair na poltrona recém abando?nada como Casto-. Que demônios queria?
-Acreditava que o havia dito claro.
-Não, a razão de que estivesse aqui não era só essa. -inclinou-se para conectar a máquina. Uma rápida olhada a segurança não mostrou fresta algum-. Se tiver estado pinçando, não se nota.
-Para que ia abrir seus arquivos?
-É muito ambicioso. Se pudesse fechar o caso antes que eu, ficaria muito contente. Além disso, Ilegais nunca quer compartilhar um triunfo.
-E Homicídios sim? -disse secamente Peabody.
-O que vai. -Eve sorriu-. Terá que revisar este infor?me. Teremos que solicitar um perito em toxicologia planetária. Será melhor que vamos enchendo o buraco que vamos fazer lhe ao pressuposto.
Meia hora mais tarde, eram convocadas ao despacho do chefe de polícia e segurança.
Ao Eve gostava do chefe Tibble. Era um sujeito grande, com uma mentalidade ousada e um coração mais polícia que político. Depois do vapor que o anterior chefe havia de?jado a seu passo, a cidade e o departamento haviam sen?tido a necessidade desse ar fresco que Tibble trazia con?sigo.
Mas Eve não sabia para que diabos as haviam llama?do. Até que entrou no despacho e viu casto e ao ca?pitán de este.
-Tenente, agente. -Tibble lhes indicou as cadeiras.
Estrategicamente, Eve ocupou a que estava junto à comandante Whitney.
-Temos uma pequena confusão que solucionar -começou Tibble—. E o vamos fazer agora e para sempre. Te?niente Dallas, você é primeiro investigador nos homi?cidios do Johannsen e Pandora.
-Assim é, senhor. Chamaram-me para confirmar a iden?tificación do cadáver do Johannsen pois era um de meus informadores. No caso Pandora, fui requerida na es?cena do crime pelo Mavis Freestone, que foi incul?pada nesse caso. Ambos os expedientes seguem abertos e em processo de investigação.
-A agente Peabody é seu ajudante.
-Solicitei-a como ajudante e fui autorizada a asig?narla a meu caso pelo comandante Whitney.
-Muito bem. Tenente Casto, Johannsen também era informador dele.
—Em efeito. Eu trabalhava em outro caso quando en?contraron seu corpo. Não me notificou até mais tarde.
—E nesse momento os departamentos de Ilegais e Homicídios acordaram cooperar na investigação.
—Assim é. Entretanto, certa informação de última hora põe ambos os casos baixo a jurisdição de Ilegais.
-Mas são homicídios -protestou Eve.
-Com o vínculo de substâncias ilegais. -Casto luziu seu melhor sorriso-. O último relatório do laboratório mostra que a substância achada no quarto do Johannsen foi encontrada também no organismo da Pandora. Esta substância contém um elemento desconhecido que não foi ainda classificado, e segundo o artigo seis, sec?ción nove, código B, todo caso relacionado com isso deve atribuir-se ao chefe de investigação de Ilegais.
-Exceção feita dos casos que já estejam sendo investigados por outro departamento. —Eve se obrigou a respirar fundo-. Meu relatório sobre o particular estará preparado em uma hora.
-As exceções não são automáticas, tenente. -O capitão de Ilegais juntou as gemas dos dedos-. Uma coisa está clara, Homicídios não tem gente, experiência nem infra-estrutura para investigar um desconhecido. Ilega?les sim. E nos parece que escamotear dados a nosso de?partamento não é cooperar.
-Seu departamento e o tenente Casto receberão sen?das copia quando o relatório esteja terminado. Estes ca?sos são meus...
Whitney levantou uma mão a tempo.
-A tenente Dallas é primeiro investigador. Embora estes casos tenham que ver com substâncias ilegais, não deixam de ser homicídios, que é o que ela está investi?gando.
-Com todos os respeitos, comandante. -Casto ate?nuó o sorriso-, todo mundo sabe que você apóia à tenente, e razão não lhe falta, dado seu histórico. Se esta pe?dimos entrevistar com o chefe Tibble foi para esta?blecer um julgamento justo sobre prioridades. Eu tenho mais contatos na rua, e estou relacionado com comer?ciantes e distribuidores de substâncias. Trabalhando extraoficialmente, consegui acesso a fábricas, destilarias e laboratórios, coisa que a tenente não. Acrescente-se a isso que há um suspeito acusado do assassinato da Pandora.
-Que não tinha a menor conexão com o Johannsen -atravessou Eve-. Foram assassinados pela mesma pessoa, chefe.
Tibble permaneceu impassível, sem delatar sua possível decisão.
-É isso uma opinião dela, tenente?
-Meu juízo profissional, senhor, que tento de?mostrar em meu relatório.
-Chefe, não é nenhum secreto que a tenente Dallas tie?ne um juro pessoal no suspeito. -O capitão falou pausadamente-. Seria lógico que ela tratasse de enmasca?rar o caso. Como pode opinar com objetividade quando o suspeito é uma de seus melhores amigas?
Tibble levantou um dedo para refrear o furor do Eve.
-Sua opinião, comandante Whitney?
-Confio por inteiro no juízo da tenente Dallas. Saberá fazer seu trabalho.
-Estou de acordo. Capitão, eu não gosto de muito a deslealdade. -A regañina era suave, mas a pontaria le?tal-. Bem, ambos os departamentos têm razão quanto à prioridade. As exceções não são automáticas, e enfrentamos a um elemento desconhecido que ao pa?recer está envolto ao menos em duas mortes. Ambos os tenentes, Dallas e Casto, têm um histórico exemplar, e tenho entendido que os dois são mais que competentes em seu trabalho. Está de acordo, comandante?
—Sim, senhor, os dois são grandes policiais.
—Então, sugiro que cooperem em lugar de jogar gato e ao camundongo. A tenente Dallas conserva seu condi?ción de primeiro investigador e, portanto, terá ao co?rriente de qualquer avance à tenente Casto e seu depar?tamento. É tudo, ou tenho que cortar a um menino em dois como Salomón?
-Termine esse relatório quanto antes, Dallas -resmungou Whitney enquanto saíam-. E a próxima vez que sobor?ne ao Dickie, faça-o melhor.
-Sim, comandante. -Eve olhou a mão que lhe tocava o braço e viu casto a seu lado.
-Tinha que tentá-lo. Ao capitão adora os partidos emocionantes.
Ao Eve não lhe escapou a alusão ao beisebol.
-Não importa, já que sou eu a que está bateando. Passarei-lhe meu relatório, Casto.
—Obrigado. Eu irei farejar pela rua. De momen?to, ninguém sabe nada de uma nova mescla. Mas este asun?to extraplanetario poderia dar pé a algo. Conheço um par de tipos em Alfândegas que me devem favores.
Eve duvidou, mas finalmente decidiu que era a hora de tomar-se a sério a cooperação.
-Prove com o Stellar Five. Pandora retornou dali um par de dias antes de morrer. Ainda tenho que compro?bar se fez algum alto no caminho.
-Bem. me tenha à corrente. -Casto sorriu e a mão que seguia no braço dela baixou até seu cintu?ra-. Tenho a sensação, agora que ventilamos nossas diferenças, que formaremos uma equipe agarro-nudo. Esclarecer este caso vai vir muito bem a nossos respectivos históricos.
-Interessa-me mais encontrar ao assassino que o efeito que isso possa ter em meu status profissional.
-Né, a justiça o primeiro, que fique claro. -Seu ho?yuelo tremeu—. Mas não porei-se a chorar se meus esfuer?zos aproximassem meu salário ao de um capitão. Guarda-me rancor?
-Não. Eu teria feito o mesmo.
-Bem. Pode que me passe um dia destes a tomar um pouco desse café. -Deu-lhe um apertão à boneca-. Ah, Eve, espero que seu amiga seja inocente. Digo-o a sério.
-Demonstrarei-o. —Ele se tinha afastado já um par de pernadas quando ela viu que não podia agüentar-se-. Casto?
-Sim, boneca?
-O que lhe ofereceu?
-Ao parvo do Dickie? -Seu sorriso foi tão grande como todo Oklahoma-. Uma caixa de escocês puro. lançou-se sobre ela como uma rã a uma mosca. -Casto tirou sua língua para ilustrá-lo e piscou os olhos de novo-. Ninguém suborna melhor que um poli de Ilegais, tenente.
-Terei-o em conta. -Eve se meteu as mãos nos bolsos mas não pôde evitar sorrir-. Tem estilo, isso não há quem o tire.
-E um traseiro fenomenal -disse Peabody antes de que pudesse calar-lhe Só era um comentário.
-Com o qual estou de acordo. Bom, Peabody, esta vez ganhamos a batalha. Vejamos que tal nos dá a guerra.
Quando terminou de redigir o relatório, Eve estava quase vesga. Deixou livre ao Peabody tão logo as cópias foram transmitidas a todos os interessados. Logo pensou em cancelar sua sessão com a psiquiatra, considerando todas as razões possíveis para adiá-la.
Mas chegou ao despacho da doutora Olhe à hora prevista e, uma vez dentro, aspirou os conhecidos aromas de chá de ervas e perfume vaporoso.
-Me alegro de que tenha vindo. -Olhe cruzou suas pernas embainhadas em meias de seda. havia-se cambia?do o penteado, advertiu Eve. Levava-o curto em vez de recolhido em um coque. Os olhos sim eram os mesmos, cla?ros, serenos e azuis e repletos de entendimento-. Tie?ne bom aspecto.
-Estou bem.
-Não entendo como pode está-lo, com as coisas que estão passando em sua vida. Profissional e pessoalmente. Deve ser tremendamente difícil para você que uma amiga íntima seja acusada de um assassinato que você está investigando. Como o leva?
-Eu faço meu trabalho. Fazendo-o, demonstrarei a ino?cencia do Mavis e descobrirei quem lhe tendeu a armadilha.
-sente-se cindida em sua lealdade?
-Não, agora que refleti sobre isso. -Eve se esfregou as mãos nas pernas das calças da calça. As Palmas úmidas eram um efeito secundário habitual de seus en?trevistas com Olhe-. Se tivesse alguma dúvida, a mais míni?ma duvida de que Mavis é inocente, não sei muito bem o que faria. Mas como não é assim, a resposta está clara.
-Isso é um consolo para você.
-Poderíamos dizer que sim. Sentirei-me mais cômoda quando tiver fechado o caso e ela fique livre. Suponho que estava preocupada quando consertei esta cita com us?ted. Mas agora me sinto melhor.
-Isso é importante: controlar a situação.
-Não posso fazer meu trabalho se não ter a sensação de que a domino.
-E quanto a sua vida pessoal?
-Bom, ao Roarke não há quem lhe domine.
-Então é ele quem leva as rédeas?
-Se uma lhe deixar sim. -Eve riu-. Certamente ele diria o mesmo de mim. Imagino que os dois tratamos de levar as rédeas, mas ao final vamos na mesma direção. Ele me quer.
—Parece que isso lhe surpreende.
-Ninguém me quis nunca. Ao menos deste modo. Para alguma gente é muito fácil dizê-lo. As pala?bras. Mas com o Roarke não são só palavras. Ele me cono?ce por dentro, e não me importa.
-Deveria importar?
-Não sei. Não sempre eu gosto do que vejo, mas a ele sim. Ou ao menos o compreende. -E Eve compreendeu nesse momento que era disso do que precisava falar. Daqueles pontos negros-. Possivelmente seja porque os dois tuvi?mos um começo difícil. Soubemos, quando fomos muito jovens para sabê-lo, que a gente pode ser muito cruel. Que o poder não somente corrompe, mas sim mutila. Ele... eu nunca tinha feito o amor antes. Tinha-me deitado com gente, sim, mas nunca senti nada mais lá de uma certa liberação. Alguma vez pude ter intimi?dad -acabou dizendo-. Essa é a palavra?
-Sim, acredito que justamente essa. por que lhe parece que com ele conseguiu intimidade?
-Roarke não o teria aceito de outra forma. Por?que ele... -Sentiu vontades de chorar e piscou-. Porque ele abriu algo que havia dentro de mim e que eu havia cerra?do a cal e canto. De algum jeito, tomou o controle dessa parte de meu ser, ou eu lhe deixei que tomasse. Essa parte de mim morreu sendo eu pequena quando...
-Sentirá-se melhor se o disser, Eve.
-Quando meu pai me violou. —Suspirou e as lágrimas já não tiveram importância-. Violou-me, forçou-me e me fez mal. Utilizava-me como se fora uma prostituta quando eu era muito pequena e débil para impedír?selo. Sujeitava-me ou me atava. Pegava-me até que eu logo que podia ver, ou me tampava a boca para que não pu?diera gritar. E me penetrava à força, e se metia até que a dor era quase tão obscena como o ato em si. E ninguém podia me ajudar, eu não podia fazer outra coisa que esperar a próxima vez.
— Compreende você que não devia culpar-se por isso? -perguntou docemente Olhe. Quando finalmente se abria um acesso, pensou, a gente tinha que extrair todo o ve?neno com cuidado, lentamente, a consciência-. Nem en?tonces nem agora nem alguma vez?
Eve se enxugou as bochechas.
-Eu queria ser polícia porque os policiais têm o controle, detêm os criminosos. Parecia-me muito senci?llo. Depois, uma vez no corpo, comecei a ver que há gente que sempre espreita aos fracos e os inocentes. Não, não foi minha culpa. A culpa foi dele e da gente que fingia não ver nem ouvir nada. Mas ainda tenho que agüentar com isso, e era mais fácil fazê-lo quando não recordava.
—Mas faz muito tempo que o recorda, verdade?
-A partes. Tudo o que aconteceu que me encon?traran no beco quando tinha oito anos não eram mais que retalhos.
-E agora?
-Mais retalhos, muitos. E tudo está mais claro, mais próximo. -passou-se a mão pela boca e delibera?damente a baixou de novo a seu regaço—. Posso ver sua cara. Antes não era capaz de fazê-lo. Durante o caso DeBlass, o passado inverno, acredito que se produziram sufi?cientes coincidências como para que isso ocorresse. Lue?go chegou Roarke, e tudo começou a surgir de forma mais clara e mais rápida. Já não posso pará-lo.
-É isso o que quer?
-Se pudesse, varreria desses colchão oito anos. —Disse-o cruelmente, pois o sentia assim—. Já não têm que ver comigo. Não quero que tenham nada que ver comigo nunca mais.
-Eve, por mais horríveis e obscenos que fossem esses oito anos, são parte de sua vida. Ajudaram-lhe a forjar sua fortaleza, sua compaixão para os inocentes, seu comple?jidad, sua resistência. Recordar e enfrentar-se a esses re?cuerdos não trocará o que você é agora. Freqüentemente lhe recomendei que acesse a autohipnosis. Já não o vou fazer. Acredito que seu subconsciente está deixando aflorar essas lembranças a seu próprio ritmo.
Se era assim, Eve queria que o ritmo fosse lento, que a deixasse respirar.
-Possivelmente há coisas que não estou preparada para re?cordar. Há um sonho que não deixa de repetir-se última?mente. Uma habitação, um quarto nauseabundo com uma luz vermelha que pisca na janela. acende-se e se apaga. Uma cama. Está vazia, mas manchada. Sei que é sangue. Muito sangue. Vejo-me mesma acurrucada em um rincão do chão. Ali há mais sangue. Estou coberta de sangue. Estou olhando à parede e não me vejo a cara. Não posso ver com claridade, mas seguro que sou eu.
-Está sozinha?
-Isso acredito. Não sei. Só vejo a cama, o rincão e a luz que se acende e se apaga. A meu lado no estou acostumado a há uma faca.
-Você não tinha feridas de faca quando a en?contraron.
Eve olhou à doutora com olhos afundados e obsesio?nados.
-Já sei.
Capitulo Dez
Eve esperava encontrar a fria desaprovação do Summerset ao entrar na casa. Estava habituada a isso. Não pôde explicar a que perversa rajada de sorte se de?bió sua decepção ante o fato de que ele não a recebesse com algum comentário depreciativo.
Entrou no salão contigüo ao vestíbulo e conectou o sensor mural.
-Onde está Roarke?
ROARKE ESTÁ NO GINÁSIO, TENENTE. DESEJA FICAR EM CONTATO COM ELE?
-Não. Desconectar. -iria ver o por si mesmo. Suar um momento nos aparelhos talvez lhe ajudaria a limpar a mente.
Subiu a escada que ficava oculta pelo painel do corredor, descendeu um nível e atalhou pela zona da pisci?na com sua lacuna de fundo negro e sua vegetação tro?pical.
Aqui embaixo há outro dos mundos do Roarke, pen?só. A luxuosa piscina com uma tela cenital que podia simular o claro de lua, os raios do sol ou uma noite es?trellada com apenas tocar um controle; a sala de hologramas onde centenas de jogos permitiam acontecer uma noite tranqüila, o banho turco, o tanque de isolamento, a área para práticas de tiro, um pequeno teatro, e uma sala de atenção médica superior a muitos ostentosos centros de saúde.
Brinquedos para ricos, disse-se. Ou possivelmente Roarke os lla?maría ferramentas de sobrevivência; um meio necesa?rio para relaxar-se em um mundo que se movia cada vez mais depressa. Ele sabia equilibrar o trabalho e a relaxação melhor que ela, Eve o reconhecia. De algum modo tinha encontrado a chave para desfrutar do que tinha mien?tras fazia planos para acumular mais coisas.
Eve tinha aprendido bastante do Roarke nos últi?mos meses. Uma das lições mais importantes era que às vezes era melhor deixar a um lado as preocupações, as responsabilidades, inclusive a sede de respostas, e ser sim?plemente a gente mesmo.
Isso foi o que pensou Eve ao entrar no ginásio e marcar o código para fechar a porta depois.
Roarke não era homem que regulasse em sua equipe e tampouco era dos que tomam o caminho fácil e pagam para que lhe esculpam o corpo, tonifiquem-lhe os múscu?los e lhe reanimem os órgãos. O suor e o esforço eram para ele tão importantes como o banco de gravidade, a pista aquática ou o centro de resistência. tinha-se por um homem que valorava a tradição, e seu ginásio perso?nal estava também repleto de antiquados pesos, bancos inclinados e um sistema de realidade virtual.
Agora estava utilizando os pesos, fazendo compridos e lentos exercícios enquanto contemplava um monitor aceso e falava com alguém por um enlace por?tátil.
-Nisto a segurança é prioritária, Teasdale. Se houver uma sentença, encontre-o. E arrume-o. -Olhou carrancudo a pan?talla e passou a fazer flexões-. Terá que espabilar um pouco. Se for haver excesso de custos, terá que justifi?carlos. Não, Teasdale, não hei dito defender a não ser justificar. Transmita um relatório a meu escritório para as nue?ve em ponto, hora planetária. Desconectar.
-Que duro é, Roarke.
Ele desviou a vista enquanto se apagava o monitor e sorriu ao Eve.
-O negócio é como a guerra, tenente.
-Tal como você joga, é letal. Se eu fosse Teasdale, me teria posto a tremer em minhas botas de gravidade.
-Essa era a idéia. -Deixou os pesos no chão para qui?tarse os cascos. Eve viu como ia ao centro de resisten?cia, punha um programa e começava com pesos de pier?nas. Distraídamente, Eve agarrou um peso e trabalhou o tricípite sem deixar de lhe olhar.
A cinta da cabeça lhe dava aspecto de guerreiro, pensou Eve. E a camiseta sem mangas e o calção escuros deixavam ver uma atrativa musculatura e uma pele perlada de honrado suor. Vendo aqueles músculos e aquele suor, Eve lhe quis.
-Parece satisfeita de ti mesma, tenente.
-De fato, quem me satisfaz é você. -Inclinou a ca?beza e passeou o olhar pelo corpo do Roarke-. Tem um corpo fabuloso.
Enrugou a frente quando Eve lhe subiu escarranchado e lhe tocou os bíceps:
-Está maciço.
Ele sorriu. Via que Eve estava de um humor especial, mas não sabia qual.
-Quer me pôr a prova?
-Não pensará que me dá medo. -Sem apartar os olhos dele, Eve se despojou da pistolera e k desligou de uma barra-. Vamos. -Foi até um colchonete e flexionou os dedos com ire desafiador-. A ver se puder tum?barme.
Sem mover-se de site, Roarke estudou ao Eve. Havia em seus olhos algo mais que desafio. Se não se equivocava, o que havia ali era desejo.
-Eve, estou empapado em suor.
-Covarde -replicou ela.
Ele deu um coice.
-Deixa que tome banho e logo...
—Galinha. Sabe, há homens que seguem empeña?dos em acreditar que uma mulher não pode equiparar-se a eles no plano físico. Como sei que você isto o tem supera?do, será que tem medo de que te dê uma surra.
Isso lhe convenceu.
-Terminar programa. -Roarke se incorporou lenta?mente e alcançou uma toalha. secou-se a cara-. Quer briga? Deixo-te que quentes um pouco.
O sangue do Eve já estava a cem.
-Já estou quente. Luta livre.
-Nada de punhos -disse ele ao pisar no colchonete. Ao ver que ela bufava despectivamente, Roarke esgotou os olhos-. Não penso te pegar.
—Vale. Como se pudesse...
Ele foi mais rápido, pilhou-a despreparada e a fez cair de culo.
-Trapaceiro -murmurou ela ficando em pé de um salto.
-Vá, agora resulta que há regras.
esconderam-se, dando voltas em círculo. Ele esquiva?ba, ela atacava. Estiveram agarrados durante dez se?gundos; as mãos dela escorregavam na pele suarenta dele. Um rápido gancho do Roarke tivesse funcionado de não ser porque ela se antecipou furtando o corpo. Com um rápido movimento, Eve lhe fez rodar.
-Estamos empatados. -escondeu-se outra vez enquanto ele se levantava e se aparava o cabelo.
-Muito bem, tenente. vou deixar de me defender.
-te defender? E uma merda. Estava...
Roarke esteve a ponto de apanhá-la outra vez, e a teria convexo se ela não tivesse compreendido a tiem?po que sua tática era distrai-la com insultos. Esquivou a chave e então, quando suas caras estiveram muito cer?ca, os corpos em pleno esforço, ela tirou sua melhor arma.
Deslizou uma mão entre as pernas dele e lhe acariciou os testículo. Ele a olhou entre surpreso e contente. «Vá», murmurou aproximando os lábios aos dela antes de que Eve trocasse de presa.
Roarke nem sequer teve tempo de amaldiçoar mien?tras saía voando pelos ares. Aterrissou com um golpe surdo e ela lhe jogou em cima, lhe pressionando a entre?pierna com um joelho e lhe imobilizando os ombros com as mãos.
-perdeste, amigo.
-Olhe quem falava de armadilhas.
-Não seja mau perdedor.
—É difícil discutir com uma mulher que tem o joelho em cima de meu ego.
-Bem. Agora você e eu vamos falar.
-Seriamente?
-O que ouve. Ganhei-te. -Eve inclinou a cabeça e alargou a mão para lhe tirar a camiseta-. Coopera e não terei que te fazer danifico. Assim. -Quando ele alargou o braço, Eve lhe agarrou as mãos e as pôs sobre a col?choneta-. Aqui mando eu. Não me faça tirar as es?posas.
-Mmm. Interessante ameaça. por que não...
Lhe fez calar com um beijo ardoroso. Instintiva?mente, ele flexionou as mãos baixo as dela, queria to?carla, tomá-la. Mas compreendeu que ela queria outra coisa, algo mais.
—vou possuir te. —Eve lhe mordeu o lábio, lhe fazendo desejá-la ainda mais-. vou fazer contigo o que queira.
Ele começou a ofegar.
-Sei doce comigo... -conseguiu dizer, e sentiu que a risada dela tinha paixão.
-Segue sonhando.
Eve foi arruda: rápidas e exigentes mãos, impacien?tes e inquietos lábios. Roarke quase podia sentir como vi?braba nela a necessidade selvagem, como penetrava nele com uma implacável energia que parecia alimentar-se de si mesmo. Se Eve queria dominar, ele o permitiria. Ou isso pensava. Mas em algum momento de sua própria eferves?cencia, perdeu a oportunidade de fazê-lo.
Eve lhe arranhou com os dentes, os cravou com força até que os músculos que ele tinha tonificado empeza?ron a tremer. Sua visão falhou quando tomou a boca, trabalhou-lhe a fundo, rápido, lhe obrigando a lutar contra seu instinto ou a explorar.
-Não lhe resista. -Eve lhe mordiscou a coxa e voltou a subir por seu torso enquanto a mão substituía à boca-. Quero fazer que te corra. -Atraiu a língua dele para sua boca, mordeu, soltou-. Vamos.
Viu como seus olhos ficavam opacos segundos antes de que notasse seu orgasmo. A risada dela tremeu de po?der quando lhe disse:
-ganhei outra vez.
-Deus. -Roarke acertou apenas a rodeá-la com seus braços. sentia-se fraco como um menino, e misturado com o desconcerto por sua total perda de controle havia um vertiginoso gozo-. Não sei se me desculpar ou te dar as gra?cias.
-te economize ambas as coisas. Ainda não terminei con?tigo.
Ele quase riu, mas já lhe estava mordiscando a mandíbula e mandando novos sinais a seu maltratado organismo.
-Carinho, terá que me dar uma pausa.
-Eu não tenho que fazer nada. -Estava ébria de vo?luptuosidad, saturada da energia que lhe dava seu po?der-. Só tem que aceitar.
Ficando escarranchado, Eve se tirou a camiseta pela cabeça. Sem deixar de lhe olhar, passou-se as mãos pelo torso e os peitos, acima e abaixo, a boca cheia de sali?va. Logo lhe agarrou as mãos e as aproximou. Com um sus?piro, fechou os olhos.
Seu tato lhe resultava familiar, mas sempre novo. E sempre excitante. Roarke brincou com os mamilos até notá-los quentes e ao bordo da dor, atirando depois deles até que notou nela uma resposta inequívoca.
Ela se arqueou para trás enquanto ele se erguia para cobri-la com sua boca. Lhe sujeitou a cabeça e se deixou lle?var pelas sensações: o roce dos dentes sobre a carne sensível passando de tenro a brutal, o contato dos dedos dele em seus quadris, o escorregadio deslizar de carne sobre carne e o tórrido e penetrante aroma de su?dor e sexo. E quando lhe requereu com a boca, o sa?bor explosivo da luxúria.
Ele emitiu um som entre grunhido e juramento quando ela se apartou. Eve ficou rapidamente em pé, contente de notar que lhe tremiam as pernas de desejo. Não precisava lhe dizer que jamais tinha sido assim com na?die mais que com ele. Ele já sabia. Igual a ela tinha acabado sabendo que Roarke encontrava mais com ela, em certo modo, que com nenhuma outra.
ficou em pé, sem querer compassar por mais tiem?po a respiração, sem que a surpreendessem já os escalo?fríos que a sacudiam. tirou-se os sapatos, se desabro?chó a calça e o lançou a um lado.
O suor a cobria de pés a cabeça enquanto ele a exa?minaba de cima abaixo. Nunca tinha acreditado ter um corpo bonito. Era um corpo de poli, e tinha que ser forte, resistente, flexível. Com o Roarke havia descubier?to quão maravilhosos podiam ser estes aspectos para uma mulher. Tremendo um pouco, pôs um joelho a cada lado do Roarke e se inclinou para perder-se no vertigi?noso agradar do boca sobre boca.
-Ainda mando eu -sussurrou ao incorporar-se.
Lhe sorriu com um olhar ardente:
-te empregue a fundo.
Ela descendeu e se empalou lenta, atormentado?ramente. E quando ele esteve ao fundo, quando ela ficou rígida, arqueada para trás, deixou escapar um so?llozo dilacerador ao sentir um primeiro e glorioso orgas?mo percorrendo todo seu corpo. lançou-se ambiciosa so?bre ele uma vez mais, agarrou-lhe as mãos e começou a cavalgar.
Sua cabeça, seu sangue, eram um amontoado de explosio?nes. Depois dos olhos fechados dançavam cores buliçosas e dentro dela não havia mais que Roarke e a desespera?da necessidade de mais Roarke, ainda mais. Um clímax acontecia a outro, fazendo-a saltar de agradar antes de que pudesse posar-se de novo. A horrível dor que sentia dentro ia e vinha até que, ao fim, seu corpo se arrella?nó nacidamente sobre o dele. Eve pegou a cara ao pescoço do Roarke e esperou que voltasse a prudência.
-Eve.
-Hummm?
-Toca-me .
Lhe olhou com olhos entrecerrados e ele a fez vol?ver de costas. Eve demorou um segundo em sentir que a penetrava.
-Pensava que você, que os dois...
-Você fui-murmuró ele, vendo como um rebrote de pla?cer aparecia na cara enquanto ele se movia dentro-. Agora é você a que tem que aceitar.
Ela riu, mas sua gargalhada se converteu em gemido.
-Acabaremos nos matando se seguirmos assim.
-Arriscarei-me. Não, não fechamentos os olhos. me olhe. -Roarke viu como os olhos ficavam frágeis quando ele acelerou o ritmo, ouviu seu grito afogado ao penetrá-la ele mais e mais.
E logo ambos ficaram a investir-se, ávidas as mãos dela, impaciente os quadris dele. Estavam travados, como dois boxeadores esperando a conta e boqueando. Ele tinha escorregado um pouco para baixo, e via que embora seus peitos estavam ao alcance de seus lábios, já não tinha vigor para aproveitar-se disso.
-Não me noto os pés -disse ela-. Nem os dedos da mão. Acredito que me tenho quebrado algo.
Roarke temeu estar lhe cortando o ar e a circula?ción. Fazendo um esforço, investiu sua posição e pre?guntó:
-Melhor agora?
Ela aspirou uma larga baforada de ar.
—Acredito que sim.
-Tenho-te feito mal?
-O que?
Roarke lhe inclinou a cabeça e escrutinou aquele sorriso inexpressivo.
—Deixa-o. terminaste comigo?
-De momento.
-Menos mal. -Ele se tornou para trás e se concentrou em respirar.
-Deus, miúdo desastre.
-Não há nada como o sexo viscoso e molhado para lhe recordar a um que é humano. Vamos.
-Aonde?
-Carinho -plantou-lhe um beijo no ombro úmido-, tem que tomar banho.
—Penso dormir aqui um par de dias. -Ela se ovilló e bocejou-. Vê você primeiro.
Ele meneou a cabeça e fazendo provisão de forças apartou ao Eve e ficou em pé. Depois de inspirar profunda?mente, alargou o braço e a jogou à costas.
-Sim, claro, te aproveite de uma morta.
-De um peso morto -resmungou ele e cruzou o gimna?sio em direção aos vestuários. Ajustando o peso do Eve sobre seus ombros, entrou na zona ladrilhada. Com um sorriso perverso, deu-se a volta de forma que a cara dela recebesse toda a força de uma das du?chas.
-Sessenta e três graus. Máxima potência.
-Sessenta Y... -foi tudo o que Eve pôde dizer. O res?to se perdeu em meio de gritos e exclamações que re?sonaron nos reluzentes azulejos.
Já não era um peso morto a não ser uma mulher molhada, e desesperada. Ele riu enquanto ela balbuciava e insultava a prazer.
—Noventa! —gritou ela—. Noventa jodidos graus!
Quando o jorro saiu quase fervendo, Eve consi?guió agüentar a respiração.
-Matarei-te, Roarke!
-É bom para ti, carinho. -Roarke a deixou no sue?lo e lhe ofereceu o sabão-. Te lave, tenente. Me" morro de fome.
Ela também.
-Matarei-te depois -decidiu-. Assim que haja co?mido.
Uma hora depois, Eve estava poda, satisfeita, vestida e atacando um grosso filete.
-Só me caso contigo pelo sexo e o dinheiro, sabe.
Ele bebeu um pouco de vinho tinjo e a observou comer a duas bochechas.
-Pois claro.
Eve mordeu uma batata frita.
-E porque é bonito de cara.
Roarke se limitou a sorrir.
-Isso dizem todas.
Não eram essas as razões, mas um bom pó, um bom filete e uma cara bonita podiam aplacar qualquer mau humor. Eve lhe sorriu.
-Como está Mavis?
Ele tinha estado esperando que o perguntasse, mas sabia que ela tinha tido que tirar-se algo antes do or?ganismo.
-Bem. Está em sua suíte celebrando uma espécie de reunião com o Leonardo. Pode falar com eles manhã pela manhã.
Eve olhou seu prato enquanto seguia cortando a carne.
-O que opina dele?
-Acredito que está desesperadamente, quase patéticamen?te apaixonado pelo Mavis. E como tenho certa experiência nesse tipo de emoções, solidarizo-me com sua situação.
-Não pudemos verificar seus movimentos a no?che do crime. -Ela agarrou sua taça de vinho-. Tinha o móvel, tinha médios, e muito provavelmente a oportuni?dad. Não há nenhuma prova física que o vincule ao cri?men, mas este teve lugar em seu apartamento e a arma homicida lhe pertencia.
-Lhe imagina matando a Pandora e logo organi?zando a cena para inculpar ao Mavis?
-Não. Embora seria mais fácil dizer que sim. -Eve tam?borileó com os dedos na mesa e voltou a agarrar a taça que tinha deixado-. Conhece o Jerry Fitzgerald?
-Sim, conheço-a. -Esperou um segundo-. Não, não me deitei com ela.
-Quem lhe pergunta isso.
-É para abreviar.
Ela se encolheu de ombros e bebeu um pouco mais.
-me parece ardilosa, ambiciosa, inteligente e dura.
—Revista dar no alvo.
-Não sei muito de modelos, mas investiguei um pouco a profissão. Ao nível do Fitzgerald, os prêmios são muito importantes. Dinheiro, prestígio, publicidade. Ser cabeça de anúncio em um show tão anunciado como o do Leonardo merece créditos grandes e uma cobertura total. Isso lhe permitiria ocupar o posto da Pandora.
-Se seus desenhos tiverem garra, valeria a pena gastar uma soma importante em ser o primeiro patrocinador -con?cedió Roarke-. Mas isso não deixa de ser uma conjetura.
—Jerry têm uma confusão com o Justin Young, e reconheceu que Pandora estava tratando de apartar o dela.
Roarke refletiu:
-Não imagino ao Jerry Fitzgerald convertida em assassina por amor a um homem.
-Já, certamente por um estilista o faria -admitiu Eve-, mas há mais.
Falou-lhe da conexão entre a morte do Boomer e a nova mescla achada no organismo da Pandora.
-Não demos com o esconderijo. Alguém mais foi buscá-lo, e sabia onde olhar.
-Jerry criticou publicamente as ilegais. Claro que isso é de portas fora -acrescentou Roarke-. E aqui se trata de benefícios, não de reuniões sociais.
-Essa é minha hipótese. Uma mescla assim, muito aditiva, potente, etcétera, poderia gerar grandes benefícios. O fato de que seja letal em última instância não freará sua distribuição nem seu consumo.
Apartou o filete ao meio terminar, com um gesto que fez arquear uma sobrancelha ao Roarke. Quando não comia, é que estava preocupada.
-Eu acredito, Eve, que está a ponto de lhe fincar o dente a uma pista. Uma pista que se aparta totalmente do Mavis.
-Sim. -levantou-se, inquieta-. Uma pista que não aponta para ninguém. Fitzgerald e Young se cobrem mutuamente. Os discos de segurança confirmam seu paradeiro no momento da morte. Paul Redford não tem álibi, ou a que tem lhe sobram buracos, mas não posso echar?le a luva. por agora.
Que queria isso pareceu muito claro ao Roarke:
-Que impressão tirou?
-Insensível, desumano, interessado.
-Não te caiu bem.
-Pois não. É enjoativo, presumido, acredita que pue?de me dirigir sem forçar sua matéria cinza. E me ofereceu informação, como fizeram Young e Fitzgerald. Eu não gosto dos voluntários, sabe.
Roarke pensou que a mente de um policial era uma caixa de surpresas.
-Teria-te fiado mais se tivesse tido que lhe tirar a informação à força.
-Claro. -Para ela era uma regra básica-. Estava an?sioso por me dedurar que Pandora consumia drogas. Igual a Fitzgerald. E os três se alegraram quase de me dizer que a vítima lhes caía fatal.
-Suponho que não te ocorreu que pudessem ser sin?ceros.
-Quando a gente é tão franco, e mais com um policial, normalmente é que debaixo há algo. vou ter que lhes surrupiar um pouco. -Deu uma volta e se sentou de nue?vo-. Logo está o homem de Ilegais com o que não deixo de me tropeçar.
-Casto.
-O mesmo. Quer os casos, e aceitou muito bem que o tiro lhe saísse pela culatra, mas com ele não será como par?ticipar a partes iguais. Casto quer subir a capitão.
-Tuno?
Lhe olhou friamente.
-Quando me tiver ganho isso.
-E, é obvio, enquanto isso participará a par?tes iguais com Casto.
-Fecha o pico, Roarke. O caso é que tenho que relacio?nar ambas as mortes de uma forma sólida. Tenho que encontrar a pessoa ou pessoas que os puseram em contato, que conheciam o Boomer e a Pandora. Até então, Mavis tem pendente um julgamento por assassinato.
-Tal como o vejo, tem dois caminhos que explorar.
-Que são?
-que conduz à alta costura e o que conduz às ruas, um reluzente e outro arenoso. -Acendeu um cigarro-. Onde diz que esteve Pandora antes de retornar ao planeta?
-No Starlight Station.
-Tenho alguns juros ali.
-Vá surpresa -disse ela secamente.
-Posso fazer algumas pergunta. O tipo de gente que Pandora freqüentava não reage muito bem ante uma placa de polícia.
-Se não obter as respostas adequadas, talvez ten?ga que ir eu pessoalmente.
Algo em seu tom pôs ao Roarke em alerta.
-Problemas?
-Não, nenhum.
-Eve...
Ela se separou da mesa.
—Nunca saí que planeta.
Ele a olhou divertido.
-Alguma vez?
-Crie que a gente fica em órbita simplesmente pelo prurito de fazê-lo? Aqui embaixo há trabalho de so?bra para todos.
-Não tem nada que temer -disse ele, sabendo de que pé calçava-. Uma viagem espacial é mais seguro que condu?cir por Nova Iorque.
-Panaquices -disse ela pelo baixo-. Eu não hei dito que tenha medo. Se tiver que fazê-lo, farei-o. Preferia não fazê-lo, isso é tudo. Quanto menos me escape este caso, mais rápido demonstrarei a inocência do Mavis.
-Hummm. -Muito interessante, pensou ele. Sua valorosa tenente tinha uma fobia-. E se virmos o que posso averi?guar eu?
-Você é um civil.
-Extraoficialmente, claro.
Ela o olhou e viu que havia um entendimento mu?tuo. Suspirou.
-Bom. Suponho que não terá um perito em flo?ra extraplanetaria para me emprestar enquanto isso. Ele voltou a agarrar sua taça de vinho e sorriu. -Pois já que o diz...
Capitulo Onze
O caso estava indo em muitas direções de uma vez, pensou Eve. O melhor trajeto era o mais familiar. Optou pela rua.
Tinha deixado ao Peabody com um montão de dados por comprovar e chamado ao Feeney para que lhe pusesse à corrente, mas saiu em solitário. Não queria conversar com ninguém de coisas corriqueiras, nem que ninguém colocasse os narizes. Tinha passado uma má noite e era muito consciente de que lhe notava.
Este pesadelo tinha sido uma das piores. Tinha-a acossado até fazê-la despertar empapada em suor, he?cha uma pena. Seu único consolo tinha sido que o alvorada tinha feito ato de presença no clímax da pesadi?lla. E se tinha encontrado sozinha na cama enquanto Roarke estava já na ducha.
Se ele a tivesse visto ou ouvido, ela não haveria consegui?do sair de casa. Talvez era orgulho equivocado, mas Eve tinha utilizado todas suas táticas para lhe evitar e an?tes de sair às escondidas da casa lhe tinha deixado uma breve nota.
Também tinha esquivado ao Mavis e Leonardo, e só se tropeçou com o Summerset o suficiente para receber uma de seus paralizantes olhadas.
Ao deixar atrás a casa do Roarke, tinha tido a preocupam-se sensação de que se afastava de muitas coisas mais. A resposta, ou assim o esperava, estava no trabalho. Disso sim entendia. deteve-se em frente do clube Down & Dirty no East End e desembarcou do carro.
-Né, rosto pálido.
-Como vai tudo, Crack?
-OH, reina a calma. -O gigantesco negro com a cara travada de tatuagens lhe sorriu. Seu peito, que parecia um lança-foguetes, estava parcialmente talher por um cha?leco que lhe desligava até os joelhos e acrescentava estilo ao ta?parrabos rosa fluorescente que luzia-. Parece que hoje também vai fazer calor.
-Tem tempo para me oferecer algo?
-Possivelmente. Por ti sim, culona. seguiste meu conselho e há devolvido a placa para te menear como sabe no Down & Dirty?
-Nem o sonhe.
Ele riu, aplaudindo-a tripa.
-Não sei por que me cai tão bem. Vamos, entra, te encharque o gogó e o conte ao Crack o que se coze por aí.
Eve tinha estado em piores bares, e dava as obrigado por ter estado em melhores. Os rançosos aromas noctur?nos impregnavam o ar: incenso, perfume baratos, li?cor, fumaça de procedência duvidosa, corpos sem lavar e sexo casual.
Era muito cedo inclusive para os mais adic?tos. As cadeiras estavam de barriga para baixo sobre as mesas e pôde ver onde um andróide tinha esfregado descuidadamente o pegajoso chão. Atrás ficavam substâncias que ela preferia não identificar. Contudo, as garrafas reluziam depois da barra à luz de cores. No cenário da de?recha, uma bailarina envolta em umas malhas rosa practi?caba uns passes.
Com um gesto de cabeça, Crack despediu do andróide e à bailarina.
-O que gosta, rosto pálido?
-Café puro.
Crack foi depois do mostrador, sorrindo.
-Vale. Acrescento-te um par de gotas de minha reserva espe?cial?
Eve levantou um ombro.
—Claro.
Crack programou o café e logo abriu um pequeno ar?mario de onde tirou uma garrafa ideal para um gênio. In?clinada sobre a empanada barra, sentindo os aromas, Eve se relaxou um pouco. Sabia por que gostava de Crack, um noctâmbulo ao que logo que conhecia mas que compreendia bem. Formava parte de um mundo que ela havia fre?cuentado durante boa parte de sua vida.
-Bom, o que faz você em um tugúrio como este? Assuntos de trabalho?
—Isso me temo. —Provou o café e conteve o fôlego—. Miúda reserva, Deus.
-Só para meus melhores amigos. Raia o limite do legal. —Piscou os olhos um olho—. Por muito pouco. O que quer do Crack?
-Conhecia o Boomer? Carter Johannsen. Um bus?cador de dados.
-Conhecia o Boomer. Há-a palmado.
—Sim, é verdade. Alguém se empregou a consciência. Al?guna vez fez negócios com ele, Crack?
—Vinha aqui de vez em quando. —Ele preferia seu licor de reserva sem mesclar. Bebeu um gole e estalou os lábios satisfeito—. Às vezes tinha massa e às vezes não. Gostava de ver o espetáculo, falar de coisas. Era bas?tante inofensivo. Soube que lhe tinham desgraçado a cara.
-Em efeito. Quem pôde lhe fazer isso?
—Suponho que alguém se encheu o saco com ele. Boomer te?nía as orelhas grandes. E se ia um pouco cego, também tinha a boca grande.
-Quando lhe viu por última vez?
-Uf, não me lembro. Fará umas semanas, acredito. Parece-me que entrou uma noite com o bolso cheio de cré?ditos. Comprou uma garrafa, umas quantas pastilhas e um quarto privado. Lucille entrou com ele. Não, que coño, não era Lucille. Foi Hetta. Todas as brancas parecem iguais -disse com uma piscada.
-Contou a alguém como se encheu os bol?sillos?
-Pode que a Hetta, ia cego como para isso e mais. Parece que Boomer não queria deixar de ser feliz. Hetta disse que ele pensava converter-se em empresário ou eu o que sei. Nos rimos e logo ele saiu do quarto e subiu nu ao cenário. A que se armou. O tipo tinha a franga mais patética que tenha visto nunca.
—Ou seja que estava celebrando um negócio.
-Isso diria eu. Tivemos bastante trabalho. Tocou-me partir umas quantas cabeças e jogar a um par de tipos. Lembrança que quando estava fora na rua, ele saiu co?rriendo do local. Sujeitei-lhe, em plano de brincadeira. Já não pa?recía contente, mas sim mas bem cagado de medo.
-Disse algo?
-Só escapou e pôs-se a correr. É a última vez que lhe vi, se mal não recordar.
-Quem lhe assustou? Com quem tinha falado?
-Isso não sei, macacada.
-Viu alguma destas pessoas aqui essa noite? -Tirou umas fotos de sua bolsa: Pandora, Jerry, Justin, Redford e, pois era necessário fazê-lo, Mavis e Leo?nardo.
—Né, a essas dois as conheço. São modelos. —Seus grossos dedos acariciaram ao Jerry e Pandora-. A peli?rroja vinha de vez em quando, a procurar casal e merda. É possível que estivesse aqui essa noite, não lhe sei dizer. Os outros não estão em nossa lista de convidados, por assim dizer. Ao menos não os reconheço.
-Alguma vez viu a ruiva com o Boomer?
-Ele não era seu tipo. lhe gostavam de grandes, estúpi?dos e jovens. Boomer só era estúpido.
-O que sabe de uma nova mescla que corre por aí, Crack?
Sua enorme cara ficou de repente sem expressão:
-Não ouvi nada.
Ela sabia que havia algo mais. Tirou uns créditos e os deixou sobre a barra:
-Melhora isto o ouvido?
Crack olhou os créditos e logo a olhou a ela. Vien?do que se emprestava a negociar, Eve acrescentou uns poucos mais. Os créditos desapareceram.
-Bom, houve certos rumores sobre um novo produto. Muito potente, de efeitos prolongados e caro. ouvi que o chamam Immortality. por aqui, de mo?mento não o vimos. Nossos clientes não podem pagar drogas de desenho. Terão que esperar às reba?jas, e isso pode levar meses.
-Falou Boomer dessa substância?
-De maneira que, trata-se disso. -Crack estava fazendo conjeturas-. Nunca me soltou nada. Como te hei di?cho, somente ouvi alguns rumores de passada. Lhe está dando muitíssimo espantado, mas não conheço na?die que o tenha provado. O negócio é bom -acrescentou com um sorriso-. Consegue um produto novo, faz que a clientela fique nervosa, que deseje conocer?lo. E quando sai à rua, a gente compra. E paga o que seja.
—Sim, muito bom negócio. —Eve se inclinou para a ba?rra-. Você nem o prove, Crack. É letal. -Ao ver que ele desdenhava o conselho, pô-lhe uma mão em seu braço de boi-. Digo-o a sério. É puro veneno, veneno lento. Se alguém que te importe o consome, lhe avise de que o deixe ou muito em breve deixará de lhe ver.
Ele a olhou atentamente.
-Não me está tirando o sarro, né, rosto pálido? Não será uma mutreta de poli...
-Nenhuma das duas coisas. Em cinco anos de consu?mo regular pode te carregar o sistema nervoso e acabar com sua vida. Não é coña, Crack. E quem o esteja fabrican?do sabe muito bem que é assim.
-Vá maneira de fazer dinheiro.
-É o que digo. Bem, onde posso encontrar a Hetta?
Crack lançou um Resmungo e meneou a cabeça.
—De todos os modos, ninguém o vai acreditar quando o contar. Os que o estão esperando não, certamente. -Voltou a olhar ao Eve-. Hetta? Jo, não sei. Não a vi há semanas. Estas garotas vêm e vão, tra?bajan em um local e logo em outro.
-Seu sobrenome?
-Moppett. Quão último sei é que tinha um quarto na Novena, sobre o número cento e vinte. Se alguma vez quer ocupar seu posto, riqueza, não tem mais que dizê-lo.
Hetta Moppett não pagava o aluguel desde fazia três se?manas, nem tinha passeado por ali seu magro traseiro. Tudo isto segundo ele superintendente do edifício, quem tam?bién informou ao Eve que a senhorita Moppett dispunha de quarenta e oito horas para ficar ao dia nos atrasos ou lhe confiscariam seus pertences.
Eve escutou suas iradas queixam enquanto subia os três miseráveis pisos sem elevador. Levava na mão o código professor que o homem lhe tinha dado, e não lhe coube dúvida de que já o tinha utilizado quando abriu o quarto da Hetta Moppett.
Era uma habitação individual de cama estreita e sujo ventanuco, com tímidos intentos de ambiente ho?gareño a base de uma cortina rosa com volantes e umas almofadas baratas da mesma cor. Eve fez um registro rápido, descobriu uma agenda de direções, um livro de crédito com mais de três mil em depósito, umas quantas fotografias emolduradas e uma carteira de motorista cadu?cado onde constava a última direção da Hetta em Pulôver.
O roupeiro estava meio vazio e a julgar pela de?rrengada mala que havia na prateleira superiora, Eve deduziu que Hetta não tinha nada mais. Examinou o enlace, fez uma cópia de todas as chamadas registradas no disco e copiou o número da licença.
Se tinha saído de viagem, só se tinha levado uns poucos créditos, a roupa posta e sua permissão de acompa?ñante para trabalhar em clubes.
Eve não o via claro.
Chamou o depósito desde seu carro.
«Listrado de mortas anônimas -ordenou-. Loira, branca, vinte e oito anos, uns cinqüenta e oito quilogramas, metro sessenta. Transmitindo holograma da carteira de motorista.»
Estava a umas três maçãs da Central de Polícia quando lhe chegou a resposta.
-Tenente, temos algo. Mas necessitamos prova dental, dNA ou rastros para a verificação. A candidata não pode ser identificada via holograma.
-por que? -perguntou Eve, embora já sabia.
-Não lhe bebe cara suficiente.
Os rastros encaixavam. O investigador atribuído ao caso entregou a Hetta sem pensar-lhe duas vezes. Já em seu des?pacho, Eve examinou as três pastas.
-Que desastre -murmurou-. Os rastros do Moppett estavam arquivadas desde que tirou sua licença de acom?pañante. Carmichael poderia havê-la identificado faz semanas.
-Eu acredito que ao Carmichael não interessava dema?siado uma morta anônima -comentou Peabody.
Eve refreou sua ira, lançou um olhar ao Peabody e disse:
-Então Carmichael se equivocou de profe?sión, não? Aqui estão os enlaces. Da Hetta ao Boomer. Do Boomer a Pandora. Que percentagem de probabili?dad obteve quando perguntou se foram assassinados pela mesma pessoa?
-Um noventa e seis vírgula um.
—Bem. —Eve suspirou de alívio—. vou levar tudo isto ao escritório do fiscal. Pode ser que lhes convença para que retirem as acusações contra Mavis. Ao menos has?ta que reunamos mais provas. E se não acessarem... —Olhou ao Peabody-. Então o filtrarei para que Nadine Furst o emita. É uma violação do código, e o digo por?que enquanto esteja atribuída a mim neste caso, a res?ponsabilidad recai também em você. expõe-se a uma possível reprimenda se se ficar comigo. Posso ha?cer que atribuam a outra seção antes de que isto se saiba.
-Consideraria-o uma reprimenda, tenente. E inme?recida.
Eve guardou silêncio por um momento.
-Obrigado, DeeDee.
Peabody deu um coice.
-Não me chame DeeDee, por favor.
—Bem. Leve tudo o que temos ao departamento eletrônico, entregue-lhe pessoalmente e a emano ao ca?pitán Feehey. Não quero que estes dados sejam transmiti?dos pelos canais habituais, ao menos enquanto eu não fale com o fiscal e tente uma pequena investigação em solitário.
Viu que a luz se acendia nos olhos do Peabody e sorriu. Sabia o que significava ser nova e ter a prime?ra oportunidade.
-Vá ao Down & Dirty, onde trabalhava Hetta, e conte-lhe ao Crack, é o grandalhão. Não pode equivo?carse. lhe diga que trabalha para mim, que Hetta já é um ca?dáver. Veja o que lhe pode tirar, a ele ou a quem é. Com quem saía, o que pôde haver dito a respeito do Boomer essa noite, o que outras companhias teve. Já sabe.
—Sim, senhor.
-Ah, Peabody -Eve colocou as pastas em sua bolsa e se levantou-, procure não ir de uniforme. Assustaria aos nativos.
O advogado acusador jogou por terra suas esperanças em só dez minutos. Ela seguiu discutindo durante outros vinte, mas foi em vão. Jonathan Heartley lhe concedeu que havia uma possível conexão entre os três homici?deus. Era um homem agradável. Admirava o trabalho do Eve, seu poder de dedução e a ordenada apresentação de suas conclusões. Admirava a qualquer policial que fizesse seu trabalho de um modo exemplar e lhe ajudasse a manter alto o índice de condenações.
Mas nem ele nem o escritório do fiscal estavam dispostos a retirar as acusações contra Mavis Freestone. As provas físicas eram muito consistentes e o caso, no ponto em que se encontrava, muito sólido como para vol?verse atrás.
Entretanto, Heartley deixava a porta aberta. Quando Eve tivesse outro suspeito, se isso chegava a ocorrer, ele estaria mais que disposto a escutá-la.
—Calzonazos —murmurou ela ao entrar no Blue Squirrel. Imediatamente viu o Nadine, que já estava sentada estudando o menu.
-por que diabos tem que ser sempre aqui, Da?llas? -inquiriu Nadine.
-Sou pessoa de hábitos. -Mas o clube já não era o mesmo, pensou, não estando Mavis no cenário largando suas embrulhadas letras embelezada com seu último e des?pampanante vestido-. Café, sozinho -pediu Eve.
-Para mim o mesmo. É mau?
-Espere e verá. Ainda fuma?
Nadine olhou ao redor, intranqüila.
-Nesta mesa não se pode fumar.
-Como se em um tugúrio assim nos fossem dizer algo. me dê um, quer?
-Você não fuma.
-Gosta de desenvolver hábitos nocivos.
Sem deixar de vigiar, se por acaso havia alguém conhecido no local, Nadine tirou dois cigarros.
-Possivelmente lhe viria bem um pouco mais forte.
-Isto vale. -inclinou-se para que Nadine Furst o en?cendiese e desse uma imersão. Tossiu-. Caray. Deixe que o prove outra vez. Tragou fumaça, notou que se enjoava, que os pulmões começavam a queixar-se. Zangada, esmagou o cigarro-. É repugnante. por que fuma?
-Alguém se acostuma a tudo.
—A comer merda também. E falando de merda. -Eve agarrou seu café pela abertura de serviço e sorveu com valentia-. Bom, como lhe foi?
-Francamente bem. estive fazendo coisas para as que não acreditava ter tempo. É curioso como uma morte próxima faz a uma dar-se conta de que não lle?gar a tempo é perder o tempo. soube que Morse será submetido a julgamento.
-Não está louco. Só é um assassino.
—Só um assassino. —Nadine se passou o dedo pela garganta ali onde uma faca tinha feito emanar o sangue—. Você não acredita que ser o um lhe impeça de ser o outro.
-Não; há gente a que gosta de matar. Não lhe dê mais voltas, Nadine, isso não ajuda.
-procurei não fazê-lo. Tomei umas semanas livres, estive com minha família. Isso foi bem. E me sir viu para recordar que eu gosto de meu trabalho. E sou boa, apesar de tudo...
-Você não fez nada mau -interrompeu-a Eve im?paciente-; drogaram-na, puseram-lhe uma faca na gar?ganta e se assustou. Esqueça-se de tudo.
—Já. Está bem. —Nadine exalou a fumaça-. Alguma novidade de seu amiga? Não tive ocasião de lhe dizer o mu?cho que sinto que tenha problemas.
-Sairá desta.
-Inclino-me a pensar que você se ocupará disso.
-Exato, Nadine, e você me vai ajudar. Trago uns dados de uma fonte policial não identificada. Não, nada de grabadoras, anote-o -ordenou ao ver que ela abria a bolsa.
-O que você diga. -Procurou no fundo, tirou um bo?lígrafo e uma caderneta-. Dispare.
-Temos três homicídios, e as provas apontam a um solo assassino para os três. Primeiro, Hetta Moppett, bailarina a tempo parcial e acompanhante com licencia para trabalhar em clubes, morta a golpes em 28 de maio, aproximadamente às duas da manhã. A maioria dos golpes na cara e a cabeça, de tal forma que suas facções beberam apagadas.
—Ah —disse Nadine sem acrescentar mais.
-Seu corpo foi descoberto, sem identificação, às seis da manhã seguinte e arquivado como morta anônima. No momento do crime, Mavis Freestone estava nesse cenário que tem você detrás, vomitando como uma louca diante de umas cento e cinqüenta testemunhas.
As sobrancelhas do Nadine se arquearam.
-Caramba, caramba. Siga, tenente.
E isso fez Eve.
De momento não podia fazer nada melhor. Quando a no?ticia visse a luz, era duvidoso que alguém do converse memorou pudesse adivinhar quem tinha sido a fonte. Mas em qualquer caso, ninguém poderia prová-lo. E Eve, tanto pelo Mavis como por si mesmo, mentiria sem alterar-se quando lhe perguntassem a respeito.
Investiu umas horas mais na Central, teve que passar o mau gole de contatar com o irmão da Hetta -úni?co parente próximo que se pôde localizar— e comuni?carle a morte de sua irmã.
Depois daquele alegre interlúdio voltou a repassar a con?ciencia todas as provas forenses que os do gabinete de identificação tinham obtido no caso Moppett.
Tinham-na matado ali mesmo, sem dúvida. O assassinato tinha sido limpo, provavelmente rápido. Um cotovelo mal?trecho como única ferida defensiva. Ainda não haviam en?contrado nenhuma arma homicida.
Tampouco no caso do Boomer, refletiu Eve. uns quantos dedos fraturados, a astúcia de um braço quebrado, os joelhos esmagados: todo isso antes da morte. Não podia chamar-se outra coisa que tortura. Boomer deveu ter algo mais que informação: uma amostra, a fórmu?la, e o assassino tinha ido pelas duas coisas.
Mas Boomer se resistiu. O assassino, ou seja por que razão, não tinha tido tempo ou vontades de arries?garse a ir a casa do Boomer e registrá-la.
por que tinham arrojado ao Boomer ao rio? Para ga?nar tempo, especulou Eve. Mas o truque não havia funcio?nado e o corpo tinha sido achado e identificado rápi?damente. Ela e Peabody tinham estado na pensão pouco depois do achado e tinham etiquetado as prue?bas.
Bom, agora Pandora. Ela sabia muito, queria muito, resultou ser um sócio instável, ameaçou falando com pessoas pouco recomendáveis. Uma destas co?sas, refletiu Eve esfregando-a cara com as mãos.
Na morte da Pandora tinha havido mais sanha, mais briga, mais destroços. Claro que ela ia cega do Immortality. Não era uma pobre bailarina de clube apanhada em um beco, nem um patético mexeriqueiro que sabia mais da cuen?ta. Pandora era uma mulher poderosa, inteligente e ambi?ciosa. Além de ter uns bíceps bem desenvolvidos.
Três cadáveres, um assassino e um vínculo entre eles. Esse vínculo era o dinheiro.
Passou todos os suspeitos pelo ordenador para verificar os transações normais. O único que tinha problemas era Leonardo. Estava endividado até as sobrancelhas, e algo mais.
Claro que a cobiça carecia de saldo. Era propriedade de ricos como de pobres. Pinçou um pouco mais e descu?brió que Redford tinha estado escamoteando recursos. Reintegrações, depósitos, mais reintegrações. Transferências eletrônicas que tinham saltado de costa a costa e aos satélites vizinhos.
Muito interessante, pensou Eve, e mais quando descu?brió uma transferência desde sua conta em Nova Iorque a do Jerry Fitzgerald. Cento e vinte e cinco mil dólares.
-Faz três meses -murmurou, voltando a comprovar a data-. Muito dinheiro para ser dois amigos. Ordena?dor, revisar todas e cada uma das transferências desde esta conta a todas e cada uma das contas em nome do Jerry Fitzgerald ou Justin Young nos últimos doze meses.
COMPROVANDO. NÃO SE REGISTRAM TRANSFERÊNCIAS.
-Comprovar transferências desde todas e cada uma das contas em nome do Redford às contas previa?mente solicitadas.
COMPROVANDO. NÃO SE REGISTRAM TRANSFERÊNCIAS.
-Vale, está bem, a ver isto: comprovar transferen?cias desde todas e cada uma das contas em nome do Redford a todas e cada uma das contas em nome da Pandora.
COMPROVANDO. SEGUEM TRANSFERÊNCIAS: DEZ MIL DE NEW YORK CENTRAL ACCOUNT A NEW YORK CENTRAL ACCOUNT, PANDORA, 6-2-58. SEIS MIL DE Los Angeles ACCOUNT A NEW Los Angeles SECURTTY, PANDORA, 19-3-58. DEZ MIL DE NEW YORK CENTRAL ACCOUNT A NEW Los Angeles SECURITY, PANDORA, 4-5-58. DOZE MIL DO STARLIGHT STATION BONDED Ao STARLIGHT STATION BONDED, PANDORA, 12-6-58. NÃO SE ENCONTRAM MAS TRANSFERÊNCIAS.
-Tem que ser isso. Estava-te chupando o sangue, ami?go, ou traficava para ti? -Eve desejou ter a emano ao Feeney e logo deu o seguinte passo-. Ordenador, compro?bar ano anterior, mesmas datas.
Enquanto o ordenador trabalhava, programou-se café e sopesou distintas tramas.
Duas horas depois tinha os olhos inchados e o do?lía o pescoço, mas tinha conseguido mais que suficiente para justificar outra entrevista com o Redford. Teve que dialogar com o correio eletrônico do Redford, mas ao menos teve o prazer de solicitar sua presença na Cen?tral o dia seguinte às dez da manhã.
Depois de deixar caminhos nota para o Peabody e Feeney, de?cidió dar por finalizada a jornada.
Seu estado de ânimo não melhorou ao encontrar uma nota do Roarke no enlace de seu carro.
«Não há forma de dar contigo, tenente. surgiu algo que requer minha presença. Suponho que já estarei em Chicago quando te chegar isto. Possivelmente tenha que que?darme ali a dormir, a não ser que arrume isto rápido. Po?demos nos ver no River Palace se o necessitar, do contrário, veremo-nos amanhã. Não fique trabajan?do toda a noite. Inteiraria-me.»
Molesta, Eve desconectou o aparelho.
-E que diabos vou fazer se não? -inquiriu em voz alta-. Não posso dormir se você não está.
Cruzou a porta giratória e viu com certa esperança que havia luzes por toda parte. Roarke havia cancela?do a reunião, solucionado o problema ou perdido o transporte. O que fora, disse-se, mas estava em casa. Entrou pela porta com um sorriso de bem-vinda e si?guió o som da risada do Mavis.
Havia quatro pessoas tomando taças e canapés no salão, mas Roarke não estava entre elas. Agudo poder de observação, tenente, pensou Eve sombria, e registrou com a vista a habitação antes de que ninguém a visse.
Mavis seguia rendo, vestida com o que só ela consideraria roupa de andar por casa. Sua malha integral vermelha estava tachonada de estrelas chapeadas e coberta por um blusão esmeralda, folgado e aberto. Se colum?piaba sobre saltos de agulha de quinze centímetros enquanto o fazia carinhos ao Leonardo, quem a rodea?ba com um braço enquanto a outra mão sustentava um copo cheio de algo transparente e efervescente.
Uma mulher se abarrotava a canapés com a precisão e a velocidade de um andróide cortando chips em uma fábrica. Levava o cabelo em escuros saca-rolhas, cada extremo adornado com um tom de jóia diferente. Seu lóbulo esquerdo estava encravado de brincos de prata que sustentavam uma cadeia retorcida passando pelo bicudo queixo até a outra orelha, a que queda?ba fixada mediante um botão grande como um dedo pul?gar. Um flanco do fino nariz afiado luzia uma tatuagem em forma de casulo de rosa. por cima de seus olhos azul elétrico, suas sobrancelhas eram caminhos vs de cor púr?pura.
O qual fazia jogo, viu Eve não sem assombro, com o minúsculo macaco que terminava em volta justo ao sul de seu entrepierna. Levava uns elásticos estrategicamente colocados sobre os grandes peitos nus a fim de cobrir os mamilos.
A seu lado, um homem com o que parecia um mapa ta?tuado na calva observava a ação desde seus óculos de lentes rosadas, sorvendo do que Eve deduziu devia ser um dos vinhos brancos de reserva da adega do Roarke. Seu traje consistia em uma folgado calça curta que lhe chegava até uns joelhos ossudos e um patrióti?co peitilho vermelho, branco e azul.
Eve pensou por um momento em subir às escondidas ao piso de acima e encerrar-se em seu escritório.
—Seus convidados -disse Summerset a suas costas em um tom de desdém— a estavam esperando.
-Olhe, amigo, esses não são meus...
-Dallas! -chiou Mavis, aproximando-se peligrosa?mente sobre seus saltos de última moda. Deu ao Eve um abraço de urso bêbado que quase deu com as duas no estou acostumado a—. Chega muito tarde. Roarke teve que ir-se a não sei onde, disse que não lhe importava se vinham Biff e Tri?na. morrem de vontades de te conhecer. Leonardo lhe pre?parará uma taça. OH, Summerset, os canapés são fabu?losos. É um encanto.
-Me alegro de que os estejam desfrutando -disse Sum?merset, contente. Não de outra maneira podia expressá-la luminoso olhar sonhador que lançou seu rosto sepulcral antes de que se perdesse pelo corredor.
—Vamos, Dallas, te una à festa.
-Tenho muito trabalho, sério. -Mas Eve já esta?ba quase no salão, arrastada pelo Mavis.
—Sirvo-lhe uma taça, Dallas? -ofereceu Leonardo com um sorriso de cão espancado. Eve se desmoronou.
—Claro. Estupendo. um pouco de vinho.
-Um vinho absolutamente extraordinário. Meu nome é Biff. —O homem do mapa tatuado na cabeça o ofre?ció uma mão enxuta e delicada-. É uma honra conhecer a defensora do Mavis, tenente Dallas. Tinha toda a razão, Leonardo -acrescentou com olhar intenso depois dos óculos rosados-. A seda cor bronze vai perfeita.
-Biff é um perito em tecidos -explicou Mavis com voz que seguia espumeando-. Trabalha com o Leonardo de toda a vida. estiveram preparando juntos seu enxoval.
-Mi...
-E esta é Gorjeia. Encarregará-se do penteado.
-Não me diga. -Eve sentiu que o sangue ia aos pés-. Vá, eu não... -Até a mulher menos vanido?sa pode sentir pânico quando se enfrenta a uma estilista com um arco íris de saca-rolhas-. Não acredito que...
-Grátis -anunciou Gorjeia com o equivalente vocal do ferro oxidado-. Se demonstrar a inocência do Mavis, tem a porta aberta de meu salão para o resto de sua vida. -Agarrou uma mecha de cabelo do Eve e apertou-. Bue?na textura, bom peso, mau corte.
-O vinho, Dallas.
-Obrigado. -Necessitava-o-. Me alegro de lhes conhecer, mas tenho um trabalho pendente que não pode esperar.
-OH, não seja má. -Mavis se desligou de seu braço como uma sanguessuga-. vieram para fazer o teu.
Agora o sangue escapou ao Eve pelos dedos dos pés:
-O meu?
-Temo-lo tudo organizado acima. A oficina do Leonardo, o do Biff, o de Gorjeia. O resto de abelhas tra?bajadoras começará a zumbir amanhã pela manhã.
—Abelhas? —balbuciou Eve-. Zumbir...?
-Para o show. -Totalmente sóbrio e menos dis?puesto a acreditar que era bem-vindo, Leonardo tocou ao Ma?vis no braço para conter seu entusiasmo—. Pipoca, é possível que Dallas não queira que lhe encha a casa de gente. Quero dizer... -Escorreu o vulto-. Estando tão perto as bodas.
-É a única forma de trabalhar juntos e terminar os desenhos para o desfile. -Com olhar suplicante, Mavis se voltou para o Eve-. Não te importa, verdade? Não estorba?remos nada. Leonardo tem muito que fazer. Terá que modificar alguns modelos porque... porque Jerry Fitzgerald será cabeça de pôster.
-Outro tom -atravessou Biff-. Outro tipo de pele. Diferen?te do da Pandora -terminou, pronunciando o nome que todos tinham evitado.
-Sim. -Mavis tinha o sorriso a ponto-. Total, que há um montão de trabalho extra. Roarke disse que não havia problema. Como a casa é tão grande... Nem sequer se inteirará de que estão aqui.
Gente entrando e saindo, pensou Eve. Uma pesadi?lla para o sistema de segurança.
-Não se preocupe -disse. Já se preocuparia ela.
-Disse-te que tudo iria bem -Mavis beijou ao Leonardo no queixo-. Dallas, prometi ao Roarke que esta no?che não deixaria que te encerrasse em seu quarto. Terá que deixar que te mime. Temos pizza.
-Que bem. Ouça, Mavis...
—Tudo vai sobre rodas —prosseguiu ela, apertando com dedos se desesperados o braço do Eve-. Em Canal 75 falaram que essa nova pista, dos outros assassinatos, de uma conexão com as drogas. Eu nem sequer conhecia os outros mortos, Dallas, de modo que ninguém duvidará de que o fez outro. E terminará o pesadelo.
-Acredito que ainda falta um pouco para isso. -Eve calou, sentindo-se mal ao ver um espiono de pânico em seus olhos. Sorriu forçadamente-. Sim, logo terminará tudo. Con?que pizza, né? Tomarei um pouco.
-Magnífico. Bem. vou procurar ao Summerset e de?cirle que estamos preparados. Leva-a acima e enséñaselo, vale? —Saiu disparada.
-Veio-lhe muito bem -disse Leonardo em voz baixa- esse telejornal. Mavis necessitava ânimos. O Blue Squirrel a despediu.
-Como?
-Bodes -resmungou Gorjeia com a boca enche.
-A direção decidiu que não lhe convinha ter uma acusada de assassinato como cabeça de pôster. Há-lhe senta?do fatal. A idéia de tudo isto foi minha, para distrai-la. Deveria havê-lo consultado antes com você, sinto muito.
-Não passa nada. —Eve bebeu um pouco mais de vinho e se decidiu-. Bom, vamos pelo meu.
Capitulo Doze
Não havia para tanto, disse-se Eve. Ao menos compa?rado com os distúrbios das Guerras Urbanas, as cá?maras de tortura da Santa Inquisição ou uma viagem de prova no reator lunar XR-85. E ela era um policial veterano, dez anos já no corpo, e sabia o que era o perigo.
Estava segura de que os olhos lhe rodaram como os de um cavalo assustado quando Trila provou suas tesouras de cortar.
-Ouça, talvez poderíamos...
—Confia nos peritos -disse Gorjeia. Eve quase gemeu de alívio quando ela deixou as tesouras outra vez-. vamos ver.
aproximou-se do Eve, mas esta não baixou o guarda.
-Tenho um programa de barbearia. -Leonardo le?vantó a vista da larga mesa coberta de tecidos onde ele e Biff resmungavam ao uníssono-. Capacidade morfoló?gica total.
—Eu não necessito programas. —Para demonstrá-lo, Tri?na agarrou a cara do Eve entre suas firmes e largas mãos. Esgotando os olhos, começou a lhe apalpar a cabeça, a mandíbula, os maçãs do rosto-. Boa estrutura óssea -con?cluyó-. Eu gosto de seu poli, Mavis.
-É a melhor -disse esta, subindo a um tamborete e estudando-se no espelho triplo-. Ouça, por que não me arre?glas também. Os advogados sugeriram que procurasse um look mais cometido. Em plano moréia ou algo assim.
-Nem pensar. -Gorjeia levantou a mandíbula do Eve-. Tenho uma coisa que fará saltar a qualquer juiz de sua toga, encanto. Rosa bordel com as pontas chapeadas. Acaba de sair ao mercado.
—Que maravilha. -Mavis jogou para trás seus cachos cor safira e tratou de imaginar-lhe Eve se quedó helada.
—O que eu poderia fazer com um pouco de reflexos.
Eve ficou geada.
-Só o corte, de acordo? -disse-. Só cortaremos um pouco.
-Vale, vale. -Gorjeia lhe inclinou a cabeça para ade?lante-. Esta cor é presente de Deus, não? -Riu entre dentes, atirou outra vez da cabeça para trás e o apar?tó o cabelo da cara-. Os olhos não estão mau. As sobrancelhas se poderiam trabalhar um pouco, mas isso já o arregla?remos.
-me dê um pouco mais de vinho, Mavis. -Eve fechou os olhos e se disse que, passasse o que acontecesse, já lhe voltaria a crescer.
-Muito bem. A encharcar. -Gorjeia fez girar a poltrona e a seu resistente ocupante até um lavabo portátil, inclinán?dolo até que o pescoço do Eve ficou apoiado no es?pacio acolchoado-. Fecha os olhos e desfruta, encanto. Eu ofereço o melhor xampu e massagem capilar de toda a profissão.
Nisso havia algo de verdade. O vinho ou os inteligen?tes dedos de Gorjeia conseguiram adoçar o humor do Eve até lhe proporcionar um crepúsculo de relaxação. Confusamente ouvia o Leonardo e ao Biff discutindo sobre suas preferências em matéria de pijamas: raso carmesim ou seda escarlate. A música programada pelo Leonardo era algo clássico com lloriqueantes arpejos de piano. O ar estava impregnado de aroma a flores imprensadas.
por que lhe tinha falado Paul Redford da caixa a China e as ilegais? Se ele mesmo tinha ido as buscar depois, se obravam em seu poder, por que tinha querido lhe informar de sua existência?
Dobro farol? Estratagema? Ao melhor nem existia tal caixa. Ou possivelmente ele sabia que já tinha desaparecido Y...
Eve não se moveu até que algo frio e pegajoso lhe esbofeteou a cara.
-Que demônios...
-Máscara Saturnia. -Gorjeia a melou ainda mais-. Poda os poros como uma aspiradora. É fatal descuidar a pele. Mavis, saca o Sheena, quer?
-O que é o Sheena...? Dá igual. -Com um calafrio, Eve fechou os olhos outra vez e se rendeu-. Não o quero nem saber.
-Poderíamos lhe fazer o tratamento completo.--Gorjeia aplicou mais argila baixo a mandíbula do Eve, sem deixar de trabalhar com os dedos—. Está tensa, céu. Quer que ponha um bonito programa de vídeo?
—Não, não. Com isto já cheguei ao batente do fantás?tico, muito obrigado.
-Vale. por que não falas de seu homem? -Rápida?mente, Gorjeia abriu de um puxão a túnica que lhe havia he?cho pôr ao Eve e plantou suas mãos cobertas de argila em seus peitos. Quando esta abriu os olhos, furiosa, Gorjeia riu-. Tranqüila, não vão as tias. A seu homem o en?cantarán suas tetas quando acabar com elas.
-Já gosta como são agora.
-Sim, mas o suavizante Saturnia para seios é do me?jor. Parecerão pétalas de rosa, já o verá. Gosta de mor?der ou chupar?
Eve voltou a fechar os olhos, resignada.
-Eu, como se não estivesse.
-Lá vamos.
Eve ouviu correr água e logo Gorjeia voltou e lhe esfregou algo no cabelo que cheirava muito a baunilha. E a gente pagava por isso, recordou Eve. Grandes somas que abriam enormes brechas na conta de crédito.
A gente estava louca, sem dúvida alguma. Manteve os olhos teimosamente fechados enquanto uma coisa morna e molhada lhe era colocada sobre os peitos e a cara, man?chados já de lodo. Ouvia conversações animadas alrede?dor. Mavis e Gorjeia falavam de produtos de beleza, Leonardo e Biff consultavam linhas e cores.
Muito louca, pensou Eve, e logo soltou um gemido ao no?tar que lhe massageavam os pés. Os inundavam em algo quente e estranhamente agradável. Ouviu um chisporro?teo, sentiu que lhe levantavam os pés, os cobriam. As mãos receberam idêntico tratamento.
Tolerou isto e inclusive o zumbido de algo em torno de suas sobrancelhas. E se sentiu uma heroína quando ouviu rir ao Ma?vis paquerando com o Leonardo.
Tinha que procurar que Mavis estivesse animada. Era tão vital como cada passo que dava em seu investiga?ción. Não bastava fazendo-a morta.
Apertou os olhos ainda mais quando ouviu o ruído das tesouras, notou os ligeiros puxões, o pente. disse-se que o cabelo só era cabelo. Que as aparências não impor?taban.
meu deus, não deixe que me corte ao zero.
Fez um esforço por concentrar-se em seu trabalho, re?pasó mentalmente as perguntas que pensava fazer ao Redford, considerou as possíveis respostas. Era proba?ble que o comandante Whitney a chamasse para falar da filtração à imprensa. Isso podia dirigi-lo.
Teria que reunir-se com o Peabody e Feeney. Terei que ver se algum dado dos que tinham conseguido en?tre os três encaixava de algum jeito. Voltaria para clube e faria que Crack apresentasse a algum dos habitua?les. Alguém podia ter visto quem falou com o Boomer aquela noite. E se essa pessoa tinha falado com a Hetta...
Deu um coice quando Trila ajustou a poltrona em postura reclinada e começou a lhe tirar o lodo.
-Terá-a lista em cinco minutos -disse a um im?paciente Leonardo—. Um gênio não pode ir com pressas. -Sorriu ao Eve-. Tem uma pele bastante decente. Você de?jaré umas amostras para que a mantenha assim.
Mavis jogou uma olhada e Eve começou a sentir-se como um paciente na mesa de operações.
-Fez um magnífico trabalho nas sobrancelhas, Gorjeia. vêem-se muito naturais. Quão único tem que fazer é tingi-las pestanas. Não fará falta que as alargue. Não crie que essa covinha lhe bebe de fábula?
-Mavis -disse Eve-. Não me obrigue a te pegar.
Mavis se limitou a sorrir.
-Aqui está a pizza. Toma um pouco. -Colocou-lhe uma parte na boca-. Espera a verte a pele, Dallas. É in?creíble.
Eve grunhiu. O queijo quente lhe tinha escaldado o véu do paladar. arriscou-se a tossir e agarrou o resto da fatia enquanto Trila lhe recolhia o cabelo em um turbante prateado.
—É um produto termal -disse-lhe Gorjeia enquanto en?derezaba a poltrona-. Pu-lhe um revitalizador de raízes.
Sua pele tinha um tato muito fino e ao apalpar-se cautelo?samente com os dedos lhe pareceu realmente tersa. Mas não pôde ver nem uma mecha de cabelo.
-Aqui debaixo há cabelos, não?
—OH, pois claro. Bom, Leonardo. Você a sotaque vinte minutos.
-Por fim -exclamou ele-. Tire-a roupa.
-Né, ouça...
-Somos profissionais, Dallas. Tem que prová-la combinação para o traje de bodas. Terá que fazer uns quantos ajustes.
Já a tinha manuseado uma estilista, pensou. por que não a despiam em um quarto cheio de gente? Se despo?jó da túnica.
Leonardo lhe aproximou com uma coisa branca e muito elegante. antes de que pudesse gritar sequer, o en?volvió o torso e atou o objeto à costas. Seus gran?des mãos procuraram baixo o material, ajustaram-lhe os peitos. Inclinando-se, procedeu a lhe colocar entre as pier?nas uma parte de tecido, ajustou-o e logo retrocedeu uns passos.
-Ah.
-Por Deus, Dallas. Roarke ficará a babar cuan?do te veja.
-Que diabos é?
-Uma variante da velha Viúva Alegre. -Com rápi?dos gestos, Leonardo completou a equipe-. Chamo-o Curvilíneo. acrescentei um pouco de cheio baixo os pe?chos. Deixa-os bastante bonitos, mas isso lhe acrescenta mais contorno. Bastará um toque de encaixe, umas quantas per?las. Não muitos adornos. -Deu-lhe a volta para que se olhasse ao espelho.
Tinha um aspecto sexy. Em seu ponto, pensou Eve não sem surpresa. O material tinha um certo brilho, como se estivesse úmido. Beliscava-lhe o talhe, moldava seus quadris e, teve que admiti-lo, elevava seus seios a novas e fascinantes alturas.
—Bom... suponho que... sim, para a noite de casamento.
-Para qualquer noite -disse Mavis extasiada-. OH, Leonardo. Fará-me um para mim?
-Já o tenho feito, em raso de cor vermelha. Bem, Dallas, aperta-lhe em algum site?
-Não. -Não sabia como acabar. Teria sido uma tor?tura, mas se sentia tão cômoda como em um vestido da primavera. inclinou-se a modo de ensaio-. Acredito que está bem assim.
-Excelente. Biff encontrou o material em uma peque?ña loja do Richer Five. E agora o vestido. Só está alinhavado, assim vamos com olho. Levante os braços, por favor.
O pôs pela cabeça e o deixou cair. O material era surpreendente. Eve se dava conta, mesmo que tuvie?ra as marcas do modista. Parecia perfeito para ela; a elegante coluna, as mangas rodeadas, a linha singela. Mas Leonardo enrugou a frente e deu uns puxões aqui, uns apertões lá.
-O decote funciona, sim. Onde está o colar?
-O que?
-O colar de cobre e pedra. Não lhe disse que o pi?diera?
—Não posso lhe dizer ao Roarke que quero um, de qualquer jeito.
Leonardo fez girar ao Eve com um suspiro e inter?cambió olhadas com o Mavis. Assentiu com a cabeça e comprovou a linha dos quadris.
—emagreceu-se —acusou.
-Não.
-Sim, mais ou menos um quilograma. -Leonardo estalou a língua-. Bem, esperarei a que o recupere antes de fazer nada mais.
Biff se aproximou com um cilindro de material que sustentou à altura da cara do Eve. Logo, aparentemente satisfe?cho, afastou-se outra vez murmurando umas palavras a seu grabadora.
-Biff, quer lhe ensinar os outros desenhos enquanto eu anoto os ajustes que terá que fazer ao vestido?
Com um floreio, Biff conectou uma tela mural.
-Como pode ver, Leonardo teve em conta tanto seu estilo de vida como a linha de seu corpo para os desenhos. Este singelo traje de dia é perfeito para um almoço de empresa, uma roda de imprensa, libere mas très, très, chique. O material empregado é basicamente linho com um leve toque de seda. A cor é amarela esverdeada com adornos granada.
-Estraga. -Ao Eve pareceu um traje bonito e singelo, mas foi uma surpresa ver como a imagem de si mesmo gerada por ordenador ia modelando-. Biff?
-Sim, tenente?
-por que leva um mapa tatuado na cabeça?
Biff sorriu.
-Tenho um pobre sentido da orientação. Bem, o seguinte modelo continua o tema.
Eve viu uma dúzia de desenhos. Tinha a cabeça he?cha uma confusão: rayspan em amarelo limão, encaixe bretão com veludo negro. Cada vez que Mavis lançava uma ex?clamación, Eve encarregava temerariamente. O que era en?deudarse de por vida comparado com o bem-estar de seu melhor amiga?
Assim que Leonardo lhe teve tirado o vestido, Tri?na envolveu ao Eve na túnica.
—Joguemos uma olhada à glória da coroação. -Depois de lhe tirar o turbante, tirou um grande pente em forma de forca de entre seus saca-rolhas e começou a moldar.
A sensação inicial de alivio ao ver que seguia te?niendo corto se desvaneceu rapidamente ao contemplar uma lhe serpenteiem fonte de cor rosa.
-Já pode olhar -disse Gorjeia.
Preparada para o pior, Eve se deu a volta. A mu?jer do espelho não era outra que ela mesma. Ao princípio pensou que tinha sido uma brincadeira, que não lhe haviam toca?do nem um cabelo. Logo se fixou bem, aproximando-se do espe?jo. Tinham desaparecido as mechas e as pontas. Seu cabelo seguia talhado de maneira informal, sem estruturar, mas tinha certa forma. E, certamente, antes não tinha esse bonito brilho. acomodava-se perfeitamente às lí?neas de sua cara, o contorno da frente, a curva das bochechas. E quando sacudiu a cabeça, o cabelo voltou obe?dientemente a seu site. Entreabridos os olhos, se mesó o cabelo e viu como recuperava sua forma.
-Puseste-lhe algo de loiro?
-Não. São reflexos naturais. Toda graças a Sheena. Tem um cabelo de cervo.
-Qué?
-Alguma vez viu uma pele de cervo? Tem esses to?nos vermelhos, castanhos, dourados, inclusive toques de ne?gro. Isso é o que há agora. Deus foi bom con?tigo. O que passa é que seu antigo cabeleireiro deve ter usado umas tesouras de podar, além de não saber o que são os reflexos, claro.
-vê-se bonito.
-Claro. Sou genial.
-Está muito bonito. -De repente, Mavis se levou as mãos à cara e rompeu a chorar-. E te vais casar.
-Por Deus, Mavis. Vamos. -Eve lhe deu uns tapinhas nas costas.
-Estou tão bêbada, tão contente... E tenho tanto medo, Dallas. Fiquei-me sem emprego.
-Sei, pequena. Sinto-o muito. Já encontrará outro. Um melhor.
-Dá-me igual, não quero me preocupar. Teremos umas bodas magnífica, verdade, Dallas?
-Asseguro-lhe isso.
-Leonardo me está fazendo um vestido com muito vôo. vamos acostumar se o Leonardo.
-Amanhã. -Ele se aproximo para abraçá-la-. Dallas está cansada.
-Certamente. Precisa repousar. -Mavis apoiou a cabeça no ombro do Leonardo-. Trabalha demasia?do. Está preocupada comigo. Eu não quero o que o esteja, Leonardo. Tudo sairá bem, verdade que sim? Tudo irá bem.
-É obvio -disse ele lançando ao Eve um olhar inquieto antes de levar-se ao Mavis.
Eve os viu partir e suspirou.
-Joder.
-Como se essa pobre pudesse fazer mal a ninguém.-Gorjeia franziu o sobrecenho enquanto recolhia seus utensi?lios-. Espero que Pandora esteja ardendo no inferno.
-Conhecia-a?
-Nesta profissão todos a conhecíamos. E a odiá?bamos a morte. Verdade, Biff?
-Nasceu má puta e morreu como tal.
—Só consumia ou também traficava?
Biff olhou de soslaio a Gorjeia e encolheu os hom?bros.
-Nunca traficava abertamente, mas corriam rumo?res de que sempre estava bem provida. Dizem que era viciada em Erótica. Gostava do sexo, e pode que tra?ficara com seu casal do momento.
-Foi você alguma vez?
Biff sorriu.
-No romântico, prefiro os homens: São menos complicados.
-E você?
-Eu também prefiro aos homens; pela mesma razão. Igual a ela. -Gorjeia agarrou sua maleta-. A últi?ma passarela que fiz, ouvi que Pandora mesclava os nego?cios e o prazer. Sempre luzia pedras de clarão. Gostava de decorar seu corpo com pedras autênticas, mas não gostava das pagar. A gente opinava que havia he?cho algum negócio sujo.
-Sabe o nome do fornecedor?
-Não, mas ela sempre andava com o minienlace acima e abaixo. Disso fará uns três meses. Não sei com quem estava falando, mas ao menos uma das llama?das foi intergaláctica, porque se encheu o saco muito com a demora.
—Levava sempre em cima um minienlace?
-Neste ofício todo mundo tem um. Somos como os médicos.
Era perto de meia-noite quando Eve se sentou a sua mesa. Como não se atrevia a usar o dormitório, preferiu a suíte que utilizava para trabalhar. Programou café e logo olvi?dó tomar-lhe Sem o Feeney, não ficava mais alternativa que procurar uma rota indireta para seguir a pista de uma chamada intergaláctica de fazia três meses feita de um minienlace que não tinha.
Ao cabo de uma hora o deixou estar e se tombou na poltrona de dormir. Jogaria um sueñecito, disse-se. Poria seu despertador mental às cinco.
Ilegais, assassinato e dinheiro, pensou. Tudo ia junto. Encontrar ao fornecedor, pensou meio dormida. Identifi?car a substância ilegal.
De quem te escondia, Boomer? Como chegou a conseguir uma amostra, e a fórmula? Quem te partiu os ossos para as recuperar?
A imagem do corpo destroçado iluminou sua mente e foi cruelmente apagada. Não queria dormir com isso na cabeça.
Teria sido melhor eleição que o que acabou sonhando.
A obscena luz vermelha piscava uma e outra vez através da janela: sexo! em VIVO! sexo! em VIVO!
Ela só tinha oito anos mas era muito chicoteada. perguntou-se se a gente pagaria por ver sexo em morto. Tendida na cama, viu como a luz se acendia e apaga?ba. Ela sabia o que era o sexo. Algo feio, doloroso, aterra?dor. Algo ineludible.
Possivelmente não viria para casa esta noite. Ela tinha deixado de rezar para que caísse na primeira sarjeta. Mas ele sempre vinha.
Às vezes, com muita sorte, estava muito borra?cho e aturdido para fazer outra coisa que tombar-se na cama e ficar a roncar. Essas noites, ela tiritava de ali?vio e se acurrucaba no rincão a dormir.
Ainda pensava em escapar, em encontrar o modo de abrir a porta ou de baixar os cinco pisos. Se a noite era das más, imaginava simplesmente saltando da ven?tana. A queda seria rápida e logo tudo teria acabado.
Ele já não poderia lhe fazer nenhum dano. Mas era dema?siado covarde para saltar.
Ao fim e ao cabo era só uma menina, e esta noite tinha fome. E tinha frio porque em um de seus arrebatamentos ele tinha quebrado o controle de temperatura.
Foi para o rincão do quarto, a desculpa para uma pe?queña cozinha. Esmurrou a gaveta para afugentar às po?sibles baratas. Dentro encontrou uma barra de chocolate. A última. Certamente lhe pegaria por comê-la última. Claro que de todos os modos lhe pegaria, de maneira que o melhor era desfrutar da barra de chocolate.
Devorou-a como um animal e se limpou h boca com o dorso da mão. Seguia tendo fome. Um registro a fundo deu como fruto um pedaço de queijo enmoheci?do. Não queria nem pensar no que poderia ter estado mordiscando-o. Agarrou uma faca e começou a reba?nar os borde danificados.
Então lhe ouviu chegar. O pânico lhe fez soltar o cu?chillo, que caiu com estrépito ao chão quando ele entrava.
-O que está fazendo, pequena?
-Nada. Despertei-me. Ia por um pouco de água.
—Claro. —Tinha os olhos frágeis mas não de tudo, viu ela com esperança-. Sentia falta da papai. Vêem me dar um beijo.
Ela logo que podia respirar. Já não podia respirar, e o site entre as pernas onde lhe faria mal começou a lhe palpitar de dor.
-Dói-me a tripa.
-Pobre. Curarei-lhe isso a beijos. -Sorria-lhe enquanto se aproximava. Mas então ficou sério-. estiveste co?miendo outra vez sem pedir permissão, verdade?
-Não, eu... —Mas a mentira, e a esperança de salvar-se, morreram quando sua mão a esbofeteou com força. O lábio se abriu, os olhos se povoaram de lágrimas, mas ela logo que gemeu-. ia preparar um pouco de queijo para quando você...
Lhe pegou outra vez, fazendo explorar estrelas em sua cabeça. Esta vez caiu ao chão e antes de que pudesse po?nerse em pé, ele lhe jogou em cima.
Ela gritou, porque seus punhos eram implacáveis. Uma dor a cegou e intumesceu, mas não era nada ao lado do medo. Por mais horríveis que fossem os golpes, havia coisas muito piores.
-Papai, por favor. Por favor...
-Terei que te castigar. Nunca faz conta, joder. Depois te darei gosto, já verá, e será uma boa garota.
Notou o fôlego quente em sua cara, fôlego que cheirava a caramelo. As mãos lhe rasgaram o já esfarrapado vestido, beliscando, apertando, sovando. Seu respira?ción trocou, algo que ela conhecia e temia. voltou-se mais funda, mais ambiciosa.
-Não, não; faz-me mal!
Seu corpo jovem resistia. Lutava sem deixar de gritar, e inclusive se atreveu a lhe cravar as unhas. O grito dele foi um bramido de ira. Logo a imobilizou. Ela pôde ouvir o seco e espantoso ruído do braço ao partir-se detrás das costas.
-Tenente, tenente Dallas.
O grito saiu do fundo sua garganta e Eve voltou em si. incorporou-se presa do pânico e suas pernas, feitas uma confusão, deixaram-na como um farrapo no chão.
-Tenente...
separou-se da mão que lhe tocava o ombro e se acurrucó de novo enquanto os soluços lhe entupiam na garganta.
-Estava sonhando. -Summerset falou com tato, inexpressiva a cara—. Estava sonhando —repetiu, acercán?dose a ela como quem se aproxima de um lobo apanhado-. teve um pesadelo.
-Não me aproxime. Comprido! Vá-se daqui!
-Tenente, sabe onde está você?
-Sei. -Conseguiu extrair as palavras entre ofegos. Não podia parar os tremores-. Vá-se. -Conseguiu ficar de joelhos, cobriu-se a boca e se balançou de um lado ao outro-. Que se vá daqui, joder.
-Deixe que a ajude a sentar-se. -Suas mãos foram solícitas mas o bastante firmes para não soltá-la quando ela tratou de apartá-lo.
-Não necessito ajuda.
-Ajudarei-a a sentar-se na cadeira. -A seu modo de ver, Eve era como uma menina que necessitava ajuda. Como o ha?bía sido sua Marlene. Tentou não especular sobre se sua filha teria implorado como Eve. depois de deixá-la na cadeira, aproximou-se de uma cômoda e tirou uma manta. o castañe?teaban os dentes, tinha os olhos exagerados de medo.
-Esteja-se quieta. -A ordem foi cortante enquanto ela começava a lutar—. Fique onde está e não se mova.
Summerset deu meia volta para ir à cozinha e ao AutoChef. secou-se a frente suarenta com um lenço enquanto pedia um sedativo. A mão lhe tremia. Isso não lhe surpreendeu. Os gritos de lhe tinham deixado gelado enquanto corria para sua suíte.
Eram os gritos de uma menina.
Procurando acalmar-se, levou- o copo ao Eve.
—Tome isto.
-Não quero...
-Tome-lhe ou o faço beber à força. Será um prazer.
Ela pensou em atirar o copo, mas ao final se acurrucó e começou a choramingar. Summerset se rendeu e deixou o copo, agasalhou-a melhor na manta e saiu a fim de ficar em contato com o médico pessoal do Roarke.
Mas foi ao Roarke em pessoa a quem viu no re?llano.
-É que alguma vez dorme, Summerset?
-É a tenente Dallas...
Roarke deixou sua maleta e agarrou ao Summerset das lapelas.
—O que lhe passa? Onde está?
-Um pesadelo. Estava gritando. -Summerset per?dió sua compostura habitual e se mesó o cabelo-. Não quie?re cooperar. Agora ia chamar ao médico. Deixei-a em sua suíte privada.
Quando Roarke fez a um lado, Summerset o aga?rró do braço.
-Roarke, deveria me haver dito o que lhe fizeram de pequena.
Ele meneou a cabeça e seguiu adiante.
-Eu me ocuparei dela.
Encontrou-a encolhida e tremendo. Roarke sentiu raiva, alívio, pena e culpa de uma vez. Desprezou seus emocio?nes e a levantou brandamente.
-Bom, bom, já está, Eve.
-Roarke... -estremeceu-se uma vez e logo se abraçou a ele e se sentou em seu regaço-. Os sonhos.
-Já sei. -Deu-lhe um beijo na têmpora-. Sinto muito.
-Agora os tenho constantemente. Nada pode pa?rarlos.
-por que não me disse isso? -Inclinou-lhe a cara para olhá-la aos olhos-. Não tem por que sofrer você sozinha.
-É impossível pará-los -repetiu ela-. Não podia de?jar de recordar por mais tempo. E agora o recordo tudo. -esfregou-se a cara-. Eu lhe matei, Roarke. Eu matei a meu pai.
Capitulo Treze
Enquanto a olhava, Roarke notou os tremores que a seguiam sacudindo.
-tiveste um pesadelo, carinho.
—foi como reviver o passado.
Tinha que acalmar-se, do contrário não poderia sa?carlo todo. Tinha que pensar com lógica, como um po?licía, não como uma mulher. Não como uma menina aterro?rizada.
-Tudo era tão claro, Roarke, que ainda o estou sin?tiendo. Noto a ele em cima de mim. A habitação onde me tinha encerrada, em Dallas. Sempre .me encerrava para me possuir. Uma vez tentei fugir, escapar, e ele me pilhou. depois disso, sempre procurava habitações al?tas e fechava a porta por fora. Para que eu não pudesse sair. Não acredito que ninguém soubesse que eu estava dentro. -Tratou de esclarecê-la garganta em carne viva-. Necessito um pouco de água.
-Toma. Bebe isto. -Roarke agarrou o copo que Summerset tinha deixado junto à cadeira.
-Não; é um tranqüilizador. Não quero tomar isso. -Fez um esforço por respirar-. Não quero tranquili?zantes.
-Está bem. Irei por água. -levantou-se e viu que lhe olhava com receio-. Só água. Prometo-lhe isso.
Aceitando sua palavra, ela agarrou o copo que lhe trouxe e bebeu agradecida. Quando ele se sentou no braço da poltrona, ela olhou à frente e continuou.
-Lembrança a habitação. tive partes deste sonho durante as últimas duas semanas. Os detalhes em?pezaban a encaixar. Inclusive fui ver a doutora Olhe. Sim, já sei que não lhe disse isso. Não podia.
-Está bem. Mas me vais contar isso agora.
-Tenho que fazê-lo, Roarke. -Respirou fundo e tratou de recordar como se fora a cena de um crime-. Eu estava acordada, desejando que ele retornasse muito bo?rracho para me tocar. Era tarde.
Não teve que fechar os olhos para vê-lo: a suja habi?tación, a piscada da luz vermelha entrando pela mu?grienta janela.
-Frio -murmurou-. Meu pai tinha quebrado o controle térmico e nascia muito frio. Podia lombriga o fôlego. -Tiri?tó ao recordá-lo-. Mas além disso estava faminta. Bus?qué algo que comer. Ele nunca deixava grande coisa no cuar?to. Sempre tinha fome. Estava tirando o mofo a um pedaço de queijo quando ele entrou.
A porta ao abrir-se, o medo, o ruído da faca ao cair. Queria levantar-se, acalmar seus nervos, mas não es?taba segura de que as pernas pudessem agüentá-la.
-Em seguida vi que não estava o bastante ébrio. Re?cuerdo seu aspecto. Seu cabelo era castanho escuro e sua cara se abrandou pela bebida. Possivelmente tinha sido gua?po em tempos, mas já não. Tinha capilares quebrados na cara e nos olhos. Suas mãos eram grandes. Possivelmente é que eu era pequena, mas me pareciam espantosamente grandes.
Roarke começou a lhe massagear os ombros para cal?mar a tensão.
-Já não podem te fazer danifico. Agora não podem to?carte.
-Não. -Salvo em sonhos, pensou ela. Os sonhos eram dolorosos-. ficou como uma fera porque havia comi?do. Eu não podia tocar nada sem lhe pedir permissão.
—Santo Deus. —Agasalhou-a na manta porque não deixava de tiritar. E sentiu que queria lhe dar algo, cual?quier costure, para que ela não pensasse nunca mais em passar fome.
-Então começou a me pegar. -Fez um-esforço para prosseguir. Agora é como um relatório, disse-se. Nada mais-. Tombou-me e me seguiu pegando. Na cara, no corpo. Eu não parava de chorar e de gritar, de im?plorarle. Arrancou-me a roupa e me colocou os dedos. Me fazia um dano horrível, porque me tinha violado a no?che anterior e ainda me doía. Logo me violou outra vez. Ofegando em cima meu, me dizendo que fora boa. Foi como se me rasgasse as vísceras. A dor era tão intensa que não pude suportá-lo mais. Cravei-lhe as unhas. Suponho que lhe fiz sangue. Então foi quando me rompeu o braço.
Roarke se levantou bruscamente e pulsou o mecanis?mo para abrir as janelas. Necessitava ar.
-Não sei se perdi o conhecimento, possivelmente um par de mi?nutos. Mas não pude superar a dor. Às vezes se pode.
-Sim -disse ele-. Sei.
-A dor me chegava em negras e imensas quebras de onda. E ele não parava nunca. Eu tinha a faca na mão. Tinha-o ali, a ponto. E então o cravei. -Teve um estremecimento enquanto Roarke se voltava-. Apunhalei-lhe várias vezes seguidas. Tudo estava cheio de sangue. Aquele aroma acre e forte. Escorri-me de debaixo dele. Talvez já estava morto, mas segui lhe apunhalando. É como se fora agora, Roarke. Vejo-me ali de joelhos empuñan?do a faca, o sangue me jorrando pelas bonecas, me salpicando a cara. E a dor, a raiva que pulsava dentro de mim. Não pude parar.
Quem teria parado?, perguntou-se ele. Quem?
—Então fui ao rincão para estar longe dele, porque quando se levantasse me mataria. Deprimi-me, acredito, porque não recordo nada mais até que já tinha saído o sol. Doía-me tudo, tudo. Senti náuseas, vomitei. E quando terminei, vi-o. Vi-o tudo.
Lhe agarrou a mão: um pedaço de gelo, quebradiço.
-Já é suficiente, carinho.
-Não, deixa que termine. -forçou-se a falar como se as palavras fossem rochas que saíam de seu coração-. Soube que lhe tinha matado e que viriam por mim para me?terme no cárcere. Em uma cela escura. É o que siem?pre me dizia ele que acontecia com os que não eram bons. Fui ao banho e me limpei tudo o sangue. O braço me doía horrores, mas eu não queria ir ao cárcere. Pu-me o pri?mero que encontrei e guardei o resto de minhas coisas em uma bolsa. Eu seguia pensando que se levantaria e viria por mim, mas não ocorreu nada. Deixei-lhe ali morto. Pus-se a andar. Era muito cedo. Logo que havia gente na rua. Arrojei a bolsa, ou a perdi. Já não me lembro. Ca?miné um comprido trecho e logo me acurruqué em um calle?jón até a noite.
passou-se uma mão pela boca. Também se lembrava disso: a escuridão, o fedor, o medo que superava a dor física.
-Segui andando e andando até que já não pude mais. Procurei outro beco. Não sei quanto tempo estive ali, mas aí foi onde me encontraram. Para então já não recordava nada; o que tinha passado, onde me en?contraba. Nem quem era eu. Ainda não recordo meu nome. Ele nunca me chamava por meu nome.
-Você te chama Eve Dallas. -Cavou as mãos sobre a cara dela-. E essa parte de sua vida ficou atrás. Você sobreviveu, superou esse momento. Agora que o recordaste, te esqueça disso.
-Roarke. -Ao lhe olhar, ela soube que nunca tinha querido a ninguém mais-. Não posso esquecê-lo. Tenho que en?frentarme ao que fiz. Às conseqüências. Não posso me casar contigo agora. Amanhã devolverei minha placa.
-Que loucuras está dizendo?
-Eu matei a meu pai, é que não o entende? É preciso investigar. Embora eu saia inocente, isso não nega o fato de que minha solicitude para ingressar na academia, meu expediente, são fraudulentos. Enquanto a investigação esteja em marcha, não posso ser polícia e não posso me casar contigo. -Mais acalmada, ficou em pé-. Tenho que fazer as malas.
-Tenta-o.
Sua voz soou grave, perigosa, e isso a deteve.
-Roarke, tenho que seguir o procedimento.
-Não, o que tem que fazer é te sossegar. -Foi até a porta e a fechou-. Crie que vais afastar te de minha vida só porque te defendeu de um monstro?
-Matei a meu pai, Roarke.
-Matou a um monstro, joder. Foi uma menina. vais ficar te aí, me olhar à cara e me dizer que se pode culpar a uma menina?
-Não se trata do que eu pense. A justiça...
-Deveria te haver protegido! -espetou-lhe ele, a mente povoada de visões. Quase podia ouvir como se rompia o tenso cabo do controle-. Ao corno a justiça. Do que serve a ti ou a mim quando mais a necessitávamos? Se quer atirar sua placa porque a lei é muito débil para cuidar dos inocentes, dos meninos, adiante. Estraga sua carreira. Mas de mim não te vais liberar.
Fez gesto de agarrar a dos ombros mas deixou cair as mãos.
-Não posso te tocar. -Sacudido pela violência inte?rior que sentia, Roarke retrocedeu-. Tenho medo de te pôr as mãos em cima. Não poderia suportar que estar comigo te recordasse o que ele te fez.
-Não. -Afligida, foi ela quem alargou a mão-. Não. Você é distinto. Quando me toca só estamos você e eu. Mas tenho que solucionar isto.
-Você sozinha? -Foram as palavras mais amargas-. Igual a queria enfrentar reveste a seus pesadelos? Eu não posso voltar para passado e matá-lo, Eve. Daria cual?quier costure por poder fazê-lo. Mas não posso. Não deixarei que você sofra sozinha. Nenhum dos dois pode tomar essa opção. Sente-se.
-Roarke.
-Por favor, Eve. -Viu que não lhe escutaria se lhe dominava a cólera. Tampouco ia escutar lhe com bue?nas raciocine-. Confia na doutora Olhe?
-Sim, bom eu...
-Como em qualquer outra pessoa -acabou ele-. Com isso basta. —Foi para o escritório.
-O que vais fazer?
-Telefoná-la.
-Mas se for de noite.
-Já sei. -Conectou o enlace-. Estou disposto a aceitar seu conselho.
Ela começou a protestar mas não encontrou como. Fa?tigada, deixou cair a cabeça em suas mãos.
-Está bem.
ficou ali, escutando apenas a voz do Roarke, as respostas murmuradas. Quando teve terminado de falar, lhe tendeu a mão. Ela a olhou.
-Agora vem. Quer baixar?
-Não quero te fazer danifico nem que te zangue.
-conseguiste ambas as coisas, mas isso não é o que mais importa agora. —Tomou a mão e a fez levan?tar-. Não te deixarei partir, Eve. Se não me quisesse ou não me necessitasse, faria-o. Mas você me quer. E embora tenha problemas para aceitá-lo, também me necessita.
Não quero abusar de ti, pensou ela enquanto baixavam a escada.
Olhe não demorou muito. Como era seu costume, lle?gó pontual e perfeitamente arrumada. Saudou o Roarke com serenidade, olhou ao Eve e se sentou.
-Eu gostaria de tomar um brandy, se não te importar. E acredito que a tenente deveria fazer igual. -Enquanto ele se ocupava das taças, Olhe jogou uma olhada a habi?tación-. Que casa mais acolhedora. -Sorriu e inclinou a ca?beza—. Vá, Eve, trocou-se o penteado. O favore?ce muitíssimo.
Perplexo, Roarke se deteve e olhou.
-O que te tem feito no cabelo?
Ela levantou um ombro.
-OH, nada, bom, só...
-Homens. -Olhe fez girar o brandy dentro de sua taça-. por que nos incomodamos? Quando meu marido não nota alguma mudança, sempre diz que me adora pelo que sou, não por meu penteado. Eu, pelo general, sotaque que o cria. Enfim. -apoiou-se no respaldo-. Me vai contar isso?
-Sim. -Eve repetiu tudo que havia dito ao Roarke, mas agora com a voz do policial: serena, fria e distante.
-foi uma noite difícil. -Olhe desviou o olhar para o Roarke—. Para vocês dois. Talvez não seja fácil acreditar que a partir de agora tudo vá melhorar. Pode acep?tar que sua mente estava lista para confrontá-lo?
-Imagino que sim. As lembranças começaram a fluir mais claros depois disso... -Eve fechou os olhos-. Faz uns meses me chamaram por um problema doméstico. Cheguei muito tarde. O pai ia do Zeus. Tinha esfaqueado à moça antes de minha chegada. Eu acabei com ele.
-Sim, recordo-o. A menina poderia ter sido você. Mas você sobreviveu.
-Meu pai não.
-E o que lhe faz sentir isso?
-Alegria. E inquietação, sabendo que posso engen?drar tanto ódio.
—Lhe pegou. Violou-a. Era seu pai, e você deveria haver-se sentido a salvo com ele. Como acredita que debe?ría ajuizar todo isso?
-Foi faz muitos anos.
-Não; foi ontem -corrigiu-lhe Olhe-. Faz uma hora.
-Sim. -Eve olhou seu brandy e conteve as lágrimas.
-Esteve mal defender-se?
-Não, defender-se não. Mas eu lhe matei. Inclusive cuan?do já estava morto, segui matando-o. O ódio me cega?ba, a ira era incontrolável. Fui como um animal.
-Ele a tinha tratado como um animal. Converteu-a em animal. Sim -disse ao ver que ela se estremecia-, além de lhe roubar a infância e a inocência, despojou-a de seu humani?dad. Existem palavras técnicas para designar uma perso?nalidad capaz de fazer o que ele fez, mas em linguagem plana -acrescentou com sua frieza habitual- seu pai era um monstro.
Olhe viu como Eve olhava ao Roarke e logo baixava a vista.
-Privou-lhe de sua liberdade -continuou-, marcou-a, desonrou-a. Para ele você não era humano, e se a situação não tivesse trocado, você talvez não teria sido mais que um animal se é que sobrevivia. E em que pese a tudo, des?pués da fuga, você se abriu caminho. O que é agora, Eve?
-Um policial.
Olhe sorriu. Tinha esperado justamente essa res?puesta.
-E que mais?
-Uma pessoa.
—Uma pessoa responsável?
-Claro.
-Capaz de amizade, lealdade, compaixão, humor. Amor?
Eve olhou outra vez ao Roarke.
-Sim, mas...
-Essa menina era capaz?
-Não, ela... eu tinha muito medo. De acordo, troquei. -Eve se apertou a têmpora, surpreendida e aliviada de que a dor de cabeça estivesse remetendo-. Converti-me em algo decente, mas isso não tira que ma?tara. É preciso que haja uma investigação.
Olhe arqueou uma sobrancelha.
-Ninguém lhe porá reparos se o fato de descobrir a identidade de seu pai é importante para você. É-o?
-Não. Isso me importa um cominho. Mas...
-Desculpe. -Olhe levantou uma mão-. Quer pro?mover uma investigação pela morte deste homem à mãos da menina de oito anos que era você então?
-É o procedimento habitual -disse Eve, teimosa-. E isso exige minha imediata suspensão até que a equipe investigadora se dê por satisfeito. Também será conve?niente que meus planos pessoais fiquem postergados has?ta que todo se esclareça.
Percebendo a ira do Roarke, Olhe lhe lançou uma mi?rada de advertência e viu que ele conseguia dominar-se.
-esclareça-se, como? -perguntou razoavelmente-. Não pretendo lhe dizer qual é seu trabalho, tenente, mas esta?mos falando de algo que aconteceu faz uns vinte e dois anos.
-Foi ontem. -Eve encontrou certo gosto em lhe devolver suas palavras a Olhe-. Foi faz uma hora.
—Emocionalmente sim -concedeu Olhe impertérrita—. Mas na prática, e em términos legais, foi faz mais de duas décadas. Não haverá cadáver nem provas físicas que examinar. Estão, isso sim, as fichas onde consta o estado em que a encontraram, os abusos, a malnutrición, o trauma. O que há agora é sua memória: acredita que sua história trocaria ao longo de um interrogatório?
-Não, claro que não, mas... É o procedimento.
-É você uma excelente polícia -disse Olhe-. Se este assunto caísse sobre sua mesa, tal como está, qual seria sua opinião profissional e objetiva? antes de que me respon?da, seja honesta. Não tem por que castigar-se a si mesmo nem a essa menina inocente. O que faria você como polícia?
-Eu... -Vencida, deixou a copita sobre a mesa e fechou os olhos-. Eu o fecharia.
-Pois faça-o.
-Não depende de mim.
-Será um prazer levar este assunto ante seu comandan?te, em privado, lhe expor os fatos e meu recomenda?ción pessoal. Acredito que você já sabe qual será seu deci?sión. Necessitamos gente como você para que nos protejam, Eve. E aqui há um homem que necessita que confie nele.
-Confio nele. -Eve cobrou arrestos para olhar ao Roarke-. Mas tenho medo de estar utilizando-o. Não impor?ta o que outras pessoas pensem do dinheiro, do poder. Não quero lhe dar o menor motivo para pensar que alguma vez poderia abusar dele.
-Acaso ele o pensa?
Eve fechou a mão em torno do diamante que desligava entre seus peitos.
-Está muito apaixonado por mim para pensar.
-Vá, eu diria que isso é estupendo. E acredito que não demorará você em ver a diferença entre depender de al?guien a quem ama e explorar seus recursos. -Olhe ficou em pé-. Recomendaria-lhe que se tome um sedativo e o dia livre, mas sei que não fará o um nem o outro.
-Assim é. Sinto havê-la tirado de casa em plena no?che, doutora.
-Policiais e médicos: estamos acostumados. Vol?veremos a falar?
Eve quis negar-se, tal como se tinha negado durante anos e anos. Mas agora era distinto, isso o via claro.
-Sim, está bem.
Impulsivamente, Olhe lhe acariciou a bochecha e a beijou.
-Sairá adiante, Eve. -Logo olhou ao Roarke e lhe tendeu a mão-. Me alegro de que me chamasse. Tenho um juro pessoal na tenente.
-Eu também. Obrigado.
-Espero que me convidem à bodas. Não me acompa?ñen. Conheço o caminho.
Roarke foi sentar se ao lado do Eve.
-Não seria melhor para ti que me desprendesse do di?nero, das propriedades, que acontecesse minhas empresas e começasse de zero?
Se ela esperava algo, não foi isto. Olhou-lhe boquia?bierta.
-Seria capaz?
Ele se inclinou e lhe deu um beijo superficial.
-Não.
Ela se surpreendeu a si mesmo rendo.
-Sinto-me como uma parva.
-Faz bem. -Entrelaçou seus dedos com os dela-. Deixa que te ajude a esquecer a dor.
-estiveste fazendo-o desde que entrou pela porta. —Suspirou-. Trata de me agüentar, Roarke. Sou um bom polícia. Sei o que me faço quando levo a pla?ca. É quando me a Quito que não estou segura de mim mesma.
-Sou tolerante. Posso aceitar seus pontos fracos como você aceita meus. Vêem, vamos à cama. Tem que dormir. -Ajudou-a a ficar em pé-. E se tiver pe?sadillas, não me esconda isso.
-Nunca mais. O que acontece?
Roarke lhe aconteceu os dedos pelo cabelo.
—Trocaste-lhe isso. De forma sutil mas encanta?dora. E há algo mais... -Esfregou-lhe a mandíbula com o polegar.
Ela meneou as sobrancelhas esperando que ele notasse seu nue?va forma, mas Roarke continuou olhando-a.
-O que?
-Está muito bonita. De verdade, muito.
-Está cansado.
-Não é verdade. -inclinou-se e lhe deu um beijo comprido e pausado na boca-. Absolutamente.
Peabody a olhava, mas Eve fez como que não se dava conta. Estava tomando café e, antecipando-se a llega?da do Feeney, tinha subido inclusive um pacote de muffins. As persianas abertas lhe permitiam saborear uma es?pléndida vista de Nova Iorque com sua dentada linha do céu depois do exuberante verde do parque.
Decidiu que não podia culpar ao Peabody por quedar?se boquiaberta.
-Agradeço-lhe muito que tenha vindo aqui em vez de à Central -começou Eve. Sabia que ainda não estava em plena forma, como sabia que Mavis não podia permitir o luxo de que lhe falhasse-. Quero solucionar umas quantas coisas antes de fichar. Assim que o tenha feito, imagino que Whitney me chamará. Necessito munições.
-Descuide. -Peabody sabia que algumas pessoas vi?vían assim. Sabia de ouvidas, de lê-lo ou de vê-lo na pan?talla. E os aposentos da tenente não tinham nada de fa?buloso. Eram bonitos, isso sim, cheios de espaço, bom mobiliário, excelente equipamento.
Mas a casa, Deus, que casa. Isso já não era uma man?sión a não ser uma fortaleza, possivelmente um castelo. A grama ver?de e extenso, as árvores floridos, as fontes. Todas aquelas torres, o cintilação da pedra. Isso era antes de que um zelador te fizesse entrar e ficasse pasmado ao ver todo o mármore, o cristal e a madeira. E o espaço. Imenso.
-Peabody.
-O que? Perdão.
-Tranqüila. Este site intimida a qualquer.
—É incrível. —Voltou a olhá-la—. Você se vê distin?ta aqui -decidiu esgotando os olhos-. Eu a vejo distinta, ao menos. Ah, cortou-se o cabelo. E as sobrancelhas. -Intriga?da, aproximou-se um pouco-. Tratamento epidérmico.
-Só facial. -Eve se conteve a tempo-. Nos pone?mos a trabalhar agora ou quer o nome de meu estilista?
-Não poderia pagá-la -disse alegremente Peabody-.
Mas lhe sinta bem. Quer ficar a tom porque se casa dentro de um par de semanas.
-Não serão duas semanas, a não ser o mês que vem.
-Acredito que não sabe que já é o mês que vem. Vejo-a nervosa. -Peabody deixou ver um sorriso divertido-. Você nunca fica nervosa.
-Cale-se, Peabody. Temos um homicídio.
-Sim, senhor. -Ligeiramente envergonhada, Peabody se tragou a careta-. Pensava que estávamos matando o tempo até que chegasse o capitão Feeney.
—Tenho uma entrevista às dez com o Redford. Não me bebe tempo que matar. me dê um resumo do que averiguou no clube.
-trouxe meu relatório. -Peabody tirou um disco de sua bolsa-. Cheguei às dezessete e trinta e cinco, aproximei-me do indivíduo que chamam Crack e me identifiquei como ajudante dela.
-O que lhe pareceu?
-Um personagem -disse secamente Peabody-. Disse-me que eu serviria para fazer mesas, posto que parecia te?ner as pernas fortes. Eu lhe disse que dançar não estava em minha agenda.
-Muito boa.
-mostrou-se cooperador. No meu entender, não gostou quando lhe comuniquei a morte da Hetta. A garota não levava muito tempo trabalhando ali, mas ele disse que tinha bom caráter, que era eficiente e gostava aos homens.
—Com estas palavras...
-Em linguagem vulgar. Em sua linguagem vulgar, Dallas, tal como consta em meu relatório. Não se fixou com quem habla?ba Hetta depois do incidente com o Boomer pois nesse momento o clube estava a batente e ele tinha muito trabalho.
-Partindo cabeças.
—Isso mesmo. Entretanto, sim me indicou alguns em?pleados e clientes que podiam havê-la visto em companhia de alguém. Tenho os nomes e as declarações. Na?die notou nada fora do normal. Um só cliente acreditou havê-la visto entrar em uma das cabines privadas com outro homem, mas não recordava a hora e a descrição é vaga: «Um tipo alto.»
—Sensacional.
-Hetta saiu às duas e quinze, quer dizer, uma hora mais cedo do habitual. Disse a outra acompañan?te que já tinha cheio a quota e que dava por termina?da a noite. Ensinou um punhado de créditos e dinheiro em metálico. gabou-se de ter um novo cliente que sabia apreciar a qualidade. Foi a última vez que alguém a viu no clube.
-Encontraram seu cadáver três dias depois. -Frus?trada, Eve se separou da mesa-. Se me houvessem encar?gado o caso antes, ou se Carmichael se tomou a moléstia de investigar... Enfim, já é tarde.
-Hetta tinha muitos amigos.
-Casal?
-Nada sério nem permanente. Esses clubes procuram que suas empregadas não se citem com os clientes fora do local, e parece ser que Hetta era uma autêntica profesio?nal. Visitava também outros locais, mas até agora não pude descobrir nada. Se trabalhou em algum site a no?che de seu assassinato, não há perseverança disso.
-Consumia?
—Em reuniões, de vez em quando. Nada forte, se?gún as pessoas com as que falei. Comprovei seu expe?diente, e além de um par de acusações antigas por posse, estava poda.
-Como de antigas?
—Cinco anos.
-Bem, siga com isso. Hetta é toda dela. -Levantou a vista ao ver entrar no Feeney—. Me alegro de lhe ter aqui.
-Uf, a circulação é um inferno. Muffins! -Feeney se lançou sobre eles-. Tudo bem, Peabody?
-bom dia, capitão.
-Blusa nova, Dallas?
-Não.
-Vejo-a diferente. -serve-se café enquanto ela punha os olhos em branco-. dei com nosso tatuado. Mavis entrou no Ground Zero por volta das duas, pediu um Screamer e um bailarino de mesa. Eu mesmo falei com ele ano?che. lembra-se dela. Diz que a garota estava em órbita e que tentava tomar terra. O tipo lhe ofereceu uma lista de serviços aceitos, mas Mavis se foi cambaleando-se.
Feeney suspirou e tomou assento.
-Se foi a algum outro clube noturno, não utilizou crédi?tos. Não soube mais dela desde que saiu do Ground Zero às três menos quarto.
-Onde está esse clube?
-A umas seis maçãs da cena do crime. Ma?vis tinha ido baixando para o centro do momento em que deixou a Pandora e entrou no Ziguezague. Entre me?dias esteve em outros cinco locais, tomando Screamers todo o tempo, quase sempre triplos. Não sei como pôde sustentar-se em pé.
-Seis maçãs -murmurou Dallas-. Trinta minutos antes do assassinato.
—Sinto muito. Parece que isso não melhora as coisas. Bue?no, passemos aos discos de segurança. O exploratório do Leo?nardo foi arrebentado às dez da noite de erras. Há muitas queixa na zona sobre vândalos juveni?les que se carregam as câmaras exteriores, assim que essa po?dría ser a causa. O sistema de segurança da Pandora foi desligado utilizando o código. Não houve sabotagem. Quem quer que entrasse sabia como fazê-lo sem deixar rastro.
-Conhecia-a ela, conhecia a situação.
-Por força -disse-Feeney-. Não há irregularidades nos discos de segurança do edifício onde vive Justin Young. Entraram sobre a uma e meia, e ela partiu outra vez às dez ou as doze do dia seguinte. Entreme?dias nada, mas... -Fez uma pausa teatral-. Há uma porta de serviço.
-O que?
-entra-se pela cozinha até um elevador de carga. Que não tem sistema de segurança. Vai a outros seis pisos e à garagem. A garagem sim tem segurança, e os pisos também. Mas... -Outra pausa-. Também se pode ir até a plan?ta baixa, à área de manutenção. Ali o sistema de se?guridad é incompetente.
-Acredita que puderam sair sem ser vistos?
-Talvez. -Feeney sorveu um pouco de café-. Cono?ciendo bem o edifício, o sistema de segurança e procu?rando calcular o momento da saída.
-Isso poderia arrojar uma nova luz a seu álibi. Felicito-lhe, Feeney.
-Sim, bom. me mande o dinheiro. Ou me dê de presente os muffins.
-São deles. Acredito que terá que ir falar outra vez com a parejita. Temos a dois bons atores. Justin Young se deitava com a Pandora e agora mantém uma rela?ción íntima com o Jerry Fitzgerald que é a principal adver?saria da Pandora como reina da passarela. Tanto Fitzge?rald como Pandora querem triunfar na tela. Entra Redford, produtor. Interessa-lhe trabalhar com o Fitzgerald, trabalhou com o Young e se deita com a Pandora. Os cua?tro participam da festa que se celebra em casa da Pandora, convidados por esta a noite de seu assassinato. Para que que?ría os ter ali; a seu rival, a seu ex-amante e ao produtor?
-Gostava do melodrama -atravessou Peabody-. Dis?frutaba com a controvérsia.
-Sim, é verdade. E também gostava de causar proble?mas. Pergunto-me se tinha algo que lhes jogar em cara. Na entrevista todos estiveram muito acalmados -recordou Eve-. Muito serenos, muito a gosto. A ver se pudermos sa?cudirlos um pouco.
Eve viu pela extremidade do olho que o painel entre seu escritório e o do Roarke se abria lateralmente.
-Não estava fechado -disse ele ao deter-se no um?bral-. Interrompo, não?
-Já quase acabamos.
-Né, Roarke. -Feeney brindou com um muffin-. Pre?parado para podar a meia laranja? Bom, era uma brincadeira -murmurou ao ver que Eve lhe fulminava com a mi?rada.
-Acredito que será melhor que volte para a rua. -Feeney olhou ao Peabody e levantou uma sobrancelha.
-Perdão. Agente Peabody, apresento ao Roarke.
Joga a apresentação, Roarke sorriu e se aproximou deles.
-A eficiente agente Peabody. É um prazer.
Fazendo esforços por não engasgar-se, ela aceitou a mão que lhe tendia.
-Me alegro de lhe conhecer.
-Se me permitirem que lhes roube à tenente um mo?mento, deixarei-os a sós em seguida. -Pôs uma mão so?bre o ombro do Eve, o apertou. Ao levantar-se ela, Feeney soltou um Resmungo.
-vai se tragar a língua, Peabody. por que será que quando um homem tem cara de diabo e corpo de deus as mulheres se embevecem desta maneira?
-São os hormônios -murmurou Peabody, sem deixar de olhar ao Roarke e Eve. Ultimamente se interessava pelas relações humanas.
-Como está? -disse Roarke.
-Bem.
Acariciou o queixo do Eve, afundando ligeiramente o polegar em sua covinha.
-Já vejo que está trabalhando. Tenho algumas reu?niones esta manhã, mas pensei que quereria isto. -Entregou-lhe um cartão das seu com um nome e uma di?rección rabiscados ao dorso-. É o perito extraplanetario que me pedia. Estará encantada de te ajudar no que necessite. Já tem a amostra que você me deu, mas gostaria de ter outra. Para uma comprovação adi?cional, acredito que me disse.
-Obrigado. -guardou-se o cartão-. Seriamente.
-Informe-os do Starlight Station...
-Starlight Station? -Eve demorou um pouco em reaccio?nar-. Deus, esquecia que lhe tinha pedido isso. Não tenho a mente clara.
-Tem muitas coisas na cabeça. Em todo caso, minhas fontes me dizem que Pandora fez muitas re?laciones públicas em sua última viagem, o qual é normal. Não parece que estivesse interessada em ninguém em concre?to. Ao menos por mais de uma noite.
-Merda, é que só pensava nisso?
-Nela era uma prioridade. -Sorriu ao ver que Eve esgotava os olhos e fazia conjetura—. Como te disse, nossa breve relação ocorreu faz muito tempo. Bem, o que sim fez foi muitos chamadas, todas com seu próprio minienlace.
-Não há registro das chamadas.
-Eu diria que não. Fez o trabalho com seu talento ha?bitual. fala-se do modo em que se gabou de um novo produto que pensava patrocinar, e de um vídeo.
Eve grunhiu:
-Agradeço-te as moléstias.
-É um prazer colaborar com a polícia local. Tene?mos uma entrevista com o florista às três. Poderá ir?
Eve baralhou mentalmente seus compromissos.
-Se você procuraste um oco, eu também.
Como não queria arriscar-se, Roarke lhe agarrou a agenda de trabalho e programou ele mesmo a entrevista.
-Veremo-nos ali. -Baixou a cabeça e viu que ela mi?raba para a mesa do outro lado da habitação-. Duvido que isto diminua sua autoridade -disse, e logo posou seus lábios nos dela-. Quero-te.
-Sim, bom. -Pigarreou-. De acordo.
-Muito poético. -Divertido, lhe aconteceu uma mão pelo cabelo e a beijou outra vez-. Agente Peabody, Feeney. -Com uma inclinação de cabeça, voltou para seu escritório. O painel se fechou a suas costas.
-Apague esse sorriso estúpido de sua cara, Feeney. Ten?go um trabalho para você. -Eve tirou o cartão que se ha?bía metido no bolso-. Necessito que leve uma mues?tra do pó que encontramos ao Boomer a esta perita em flora. Roarke já lhe pôs à corrente. Não é polícia nem está vinculada a segurança, assim seja dis?creto.
-Tentarei-o.
-Procurarei falar com ela mais tarde para ver o que averiguou. Peabody, você vem comigo.
-Sim, senhor.
Peabody esperou a estar no carro para falar.
—Imagino que para um policial é difícil fazer malabarismos com as relações pessoais.
-diga-me isso . -Interrogar sem piedade a um sospe?choso, mentir à comandante em chefe, acossar ao técnico do laboratório. Encarregar o ramo de noiva. Deus!
-Mas se for com cuidado, isso não tem por que jogar por terra sua carreira.
-O que quer que lhe diga, ser .polícia é uma má aposta. -Eve tamborilou sobre o volante-. Feeney tem casado da noite dos tempos. O comandante tem um lar feliz. Outros o conseguem. —Exalou com força-. Eu estou nisso. -Lhe ocorreu quando saíam pela porta-: É que tem algo em marcha, Peabody?
-Pode. Estou-o pensando. -Peabody se esfregou as mãos na calça, juntou-as, separou-as.
-Alguém que eu conheço?
-Pois sim. -Trocou os pés de site-. É Casto.
—Casto? —Eve enfiou a Novena, esquivando um au?tobús-. Não me diga. E quando foi?
-Bem, é que ontem noite me topei com ele. Quer dizer, pilhei-lhe me espiando Y...
-Estava-a espiando? -Eve pôs o piloto automá?tico. O carro gemeu e soprou-. De que diabos está falando, Peabody?
-Casto tem bom olfato. cheirou-se que estávamos si?guiendo uma pista. Pu-me como uma fera quando lhe descobri, mas logo tive que admiti-lo, eu teria feito o mesmo.
Eve seguiu tamborilando o volante, enquanto pen?saba nisso.
-Sim, e eu também. Tentou algo?
Peabody se ruborizou.
-Por Deus, Peabody, não queria dizer... -balbuciou.
-Seja seja sei. É que não estou acostumada, Dallas. Bom, os homens eu gosto, claro. -esfregou-se o fle?quillo e comprovou o pescoço da camisa de reglamen?to-. conheci a alguns, mas homens como Casto, já sabe, como Roarke...
—Torram os circuitos, já.
-Sim. -Foi um alívio poder dizer-lhe a alguém que o entendesse-. Casto tentou me tirar alguns dados com añagazas, mas tomou muito bem quando me neguei. Conhece a rota. O chefe ordena cooperação interdepar?tamental e nós fazemos casou omisso.
-Acredita que ele tem algo?
—Poderia ser. Foi ao clube igual a eu. Foi ali onde lhe pesquei. Logo, ao sair eu, ele me seguiu. Deixei que se di?virtiera um momento, para ver que fazia. —Seu sorriso se ensan?chó—. E logo segui eu a ele. Deveria ter visto sua cara quando fui por detrás e se deu conta de que o ha?bía descoberto.
-Bom trabalho, Peabody.
-Discutimos um pouco. Pelo território e essas coisas. Depois, bom, tomamos uma taça e acordamos deixar de lado a rotina policial. Esteve bem. Além da profissão, temos muitos coisas em comum. Música, cinema, enfim. Que coño. Deitei-me com ele.
-OH.
-Sei que foi uma estupidez. Mas o fizemos.
Eve esperou um momento.
-Bem. E tudo bem?
-Uau!
-De maneira que sim, né?
-E esta manhã me há dito se podíamos ir jantar ou algo.
—Bom, me parece normal.
Peabody meneou a cabeça.
-Eu não estou acostumado a atrair a esta classe de homens. Sei que busca algo de você...
Eve a fez calar.
-Né, um momento.
-Vamos, Dallas, você sabe que sim. sente-se atraído por você. Admira-a por sua inteligência... e por suas pernas.
—Não me diga que você e Casto falaram que minhas pernas.
-Não, mas de sua inteligência sim. De todos os modos, não sei se devo seguir adiante com isto. Tenho que me concentrar em meu trabalho, e ele está concentrado no seu. Quando este caso resolva, deixaremos de nos ver.
Não tinha pensado Eve o mesmo quando Roarke se fixou nela? Normalmente ocorria assim.
-Você gosta, Peabody, não há dúvida, e você lhe encontra interessante.
—Claro.
-E a cama funcionou.
-De que maneira.
-Então, como superior dela que sou, aconselho-lhe que se lance.
Peabody sorriu e logo olhou pelo guichê.
-Pensarei-o.
Capitulo Quatorze
Eve tinha calculado bem. Fichou na Central às 9.55 e foi diretamente a Interrogatórios. Evitou ir a seu escritório, evitou qualquer possível mensagem do coman?dante requerendo sua presença. Esperava que para cuan?do tivesse que enfrentar-se a ele, teria já nova infor?mación que lhe dar.
Redford chegou pontual, isso tinha que admiti-lo. E tão elegante e engomado como a primeira vez que Eve o ha?bía visto.
-Tenente, confio em que não demoremos muito. É uma hora muito inoportuna.
-Então comecemos quanto antes. Sinta-se. -Eve fechou a porta com chave.
Em Interrogatórios não havia absolutamente uma atmós?fera muito agradável. Nem falta que fazia. A mesa era de?masiado pequena, as cadeiras muito duras, as paredes sem adornos de nenhum tipo. O espelho era, é obvio, de duas caras e estava pensado para intimidar todo o posi?ble ao entrevistado. Eve conectou a grabadora e recitou os dados necessários.
—Senhor Redford, tem você direito a um assessor ou um representante legal.
-Está-me lendo os direitos, tenente?
-Se me pedir isso, farei-o encantada. Não lhe acusa de nada, mas tem direito a um assessor se submete a uma entrevista formal. Deseja um assessor?
-De momento não. -tirou-se uma bolinha de pó da manga. Sua boneca brilhou em forma de bracelete de ouro-. Estou disposto a cooperar no que faça falta, como demonstrei vindo hoje aqui.
-Eu gostaria de lhe passar sua declaração prévia para que tenha a oportunidade de acrescentar, suprimir ou trocar qualquer fragmento da mesma. -Introduziu o disco em questão. Com muita impaciência, Redford escutou sua voz.
—Deseja reafirmar-se em sua declaração?
-Sim, é tão exata como posso recordar.
-Muito bem. -Eve recuperou o disco e cruzou as ma?nos-. Você e a vítima mantinham relações sexuais.
-Em efeito.
-Não era com exclusividade, entretanto.
-Absolutamente. Nenhum dos dois o desejava.
-Consumiu você droga ilegais com a vítima a noite do crime?
-Não.
-Em algum outro momento compartilhou com a vítima o consumo de ilegais?
Redford sorriu e inclinou a cabeça. Eve viu mais oro infiltrado no acréscimo que chegava aos omoplatas.
-Não, eu não compartilhava o gosto da Pandora pelos estupefacientes.
-você tinha o código de segurança que abria a casa da vítima em Nova Iorque?
-O código de segurança. -Franziu o sobrecenho-. Su?pongo que sim. -Pela primeira vez pareceu intranqüilo. Eve quase pôde ver como sua mente sopesava a resposta e as possíveis conseqüências-. Suponho que Pandora me deu isso algum dia para simplificar as coisas quando ia a visi?tarla. -Sereno outra vez, tirou seu portátil e teclou uns da?tos-. Sim, aqui o tenho.
-Utilizou o código para acessar a sua casa a noite em que foi assassinada?
—Um servente me deixou entrar. Não fez falta usar o código.
—Não, claro. Antes do assassinato. É você conscien?te de que o sistema de segurança também conecta e des?conecta o sistema de vídeo?
A cautela voltou a aparecer nos olhos do Redford.
-Não sei se a entendo, tenente.
-Com o código, que conforme declara obra em seu poder, a câmara exterior de segurança pode ser desativada. Essa câmara esteve desativada durante um período aproximado de uma hora depois de cometido o asesi?nato. Nesse momento, senhor Redford, você declara que estu?vo em seu clube. A sós. Nesse momento, alguém que conhecia a vítima, que estava em posse de seu código e que co?nocía o funcionamento do sistema de segurança de sua casa, desativou o sistema, entrou na casa e ao parecer se levou algo dali.
-Eu não tinha nenhum motivo para fazer nenhuma dessas coisas. Estava em meu clube, tenente. Entrei e saí com minha chave de código.
-Qualquer sócio pode fazer ver que entrou e saiu sem havê-lo feito. -Eve notou que ele ficava sério-. Us?ted viu uma caixa, possivelmente a China, de antiquário, da qual declarou que a vítima tirou uma substância e a ingeriu. Também declara que logo fechou a caixa no to?cador de seu dormitório. A caixa não foi encontrada. Está seguro de que existe tal caixa?
Agora havia gelo em seu olhar, mas debaixo do mesmo, aparecendo, Eve acreditou ver algo mais. Pânico não, ainda. Mas sim cautela e preocupação.
—Está seguro de que a caixa que descreveu existe, se?ñor Redford?
-Eu a vi.
-E a chave?
-A chave? -Agarrou um copo de água. A mão seguia firme, mas Eve pôde ter jurado que a mente pensava a toda velocidade—. A tinha desligada ao pescoço, de uma cadeia de ouro.
-Nem no cadáver nem na cena do crime se en?contró nenhuma chave. Tampouco uma cadeia.
-Então suponho que a levou o assassino, ver?dad, tenente?
-Levava a chave à vista?
-Não. Pandora... -Sua mandíbula estava tensa-. Muito boa, tenente. Que eu saiba, levava-a baixo a roupa. Mas como já declarei, não sou o único que via a Pandora sem roupa.
-por que lhe pagava você?
-Como diz?
-Nos últimos dezoito meses você fez transfe?rencias por valor de mais de trezentos mil dólares às contas de crédito da vítima. por que?
Redford a olhou sem expressão, mas ela viu em seus olhos, pela primeira vez, o medo.
-O que eu faça com meu dinheiro é meu assunto.
-equivoca-se. Quando há um assassinato a coisa cam?bia. Pandora lhe estava chantageando?
-Isso é ridículo.
-Não cria. Lhe ameaçou com algo perigoso, emba?razoso para você, algo com o que ela desfrutava. Pan?dora ia exigindo pequenos pagamentos de vez em quando, e alguns não tão pequenos. Imagino que era o tipo de pessoa que alardeava de ter esse poder. Um homem poderia cansar-se dessa situação. Um homem podia ha?ber começado a ver que só ficava uma solução. Não era o dinheiro o mais importante, verdade senhor Redford? Era o poder, o domínio, e essa satisfação pessoal que ela não deixava de lhe passar pela cara.
Redford começou a respirar irregularmente, mas sem alterar as facções.
-Pandora podia chegar a esses extremos, suponho. Mas não tinha nada contra mim, tenente, e eu não tivesse tolerado ameaças.
-O que teria feito você?
—Um homem em minha posição pode permitir o luxo de fazer caso omisso. Em minha profissão, o êxito importa muito mais que a fofoca.
-Então por que lhe pagava? Pelo sexo?
-Isso é um insulto.
-Não, imagino que um homem de sua posição não teria pago por deitar-se. Mas isso podia fazê-lo to?davía mais excitante. Freqüenta você o Down & Dirty, no East End?
-Não freqüento o East End, nem tampouco um clube de segunda como esse.
-Mas sabe o que é. Esteve alguma vez ali com a Pandora?
-Não.
-E sozinho?
-Hei dito que não.
-Onde esteve em dez de junho, aproximadamente às duas da madrugada?
-por que?
-Pode verificar seu paradeiro nessa data e hora?
-Não sei onde estive. Não tenho resposta.
-Seus pagamentos a Pandora eram pagamentos de negócios, rega?los talvez?
-Sim e não. -Golpeou a mesa-. Acredito que agora sim qui?siera consultar a um advogado.
-De acordo. Você manda. Interrompemos a en?trevista para deixar que um indivíduo exerça seu direito a assessoria jurídica. Desconectar. -Eve sorriu-. É melhor que o conte tudo. Que o conte a alguém. E se não estar sozinho neste assunto, aconselho-lhe que comece a pen?sar seriamente em fazer algo. -arrumou-se da mesa-. Fora há um teleenlace público.
-Tenho o meu -disse ele muito rígido-. Se for tão amável de me dizer onde posso falar em privado. -Como não. Venha comigo.
Eve conseguiu evitar ao Whitney transmitindo um infor?me de posta ao dia e não aparecendo por seu escritório. Logo agarrou ao Peabody e se dirigiu à saída.
-desconcertou ao Redford. Seriamente que sim.
-Essa era a idéia.
—Foi pela maneira de lhe atacar desde diferentes ángu?los. Primeiro tudo muito correto e logo, zas, põe-lhe a rasteira.
-Saberá levantar-se. Ainda me bebe o pagamento que fez ao Fitzgerald para lhe cravar, mas agora estará sobre aviso.
-Sim, e já não lhe vai subestimar. Acredita que o fez ele?
-Pôde fazê-lo. Odiava a Pandora. Se pudermos rela?cionarlo com a droga... já veremos. -Tantas coisas que explorar, pensou ela, e o tempo se estava esgotando, ca?mino da audiência prévia ao processo contra Mavis. Devia descobrir algo decisivo antes de um par de dias-. Quero identificar esse elemento X. Preciso saber quem é a fonte. É a chave de tudo.
-Aí é onde pensa fazer intervir a Casto? É uma pergunta profissional.
-Pode que ele tenha melhores contatos. Assim que tenhamos esclarecido o da substância desconhecida, habla?ré com ele. -Seu enlace apitou. Eve deu um coice-. Merda, merda e merda. É Whitney, seguro. -ficou séria e respondeu-. Aqui Dallas.
-Que diabos está fazendo?
-Verificando uma pista, senhor. Vou caminho do labo?ratorio.
-Deixei ordem de que estivesse em meu escritório às nove em ponto.
-Sinto muito, comandante. Não recebi essa transmissão. Não passei por meu escritório. Se tiver meu in?forme, verá que esta manhã estive atada no Interro?gatorios. O homem está agora mesmo consultando a seus advogados. Acredito que...
-Pare o carro, tenente. falei com a doutora Olhe faz uns minutos.
Eve notou que a pele lhe punha rígida, fria como o gelo.
-Senhor.
-Decepciona-me você, tenente. -Falou devagar, com dureza-. É uma lástima que tenha feito perder tempo ao departamento por este assunto. Não temos a menor intenção de investigar formalmente nem de fazer nenhum tipo de pesquisa sobre o incidente. O assunto está fechado, e assim vai se ficar. Compreendeu-o, tenente?
Alívio, culpa, gratidão: tudo revolto.
—Senhor, eu... Sim. Compreendido.
-Muito bem. A filtração a Canal 75 originou muitos problemas na Central.
-Sim, senhor. -Devolve o golpe, pensou. Pensa no Mavis-. Não me cabe dúvida.
-Você conhece de sobra a política do departamento sobre filtrações não autorizadas.
-Perfeitamente.
-Como está a senhorita Furst?
—Em tela a via bastante bem, comandante.
Whitney franziu o sobrecenho, mas em seu olhar apareceu um brilho inequívoco.
-Ande-se com olho, Dallas. E presente se em meu despa?cho às seis em ponto. Temos uma condenada roda de imprensa.
-Bom te regue -felicitou-a Peabody-. E tudo é ver?dad menos o de que íamos caminho do laboratório.
-Mas não hei dito de qual.
-E o outro assunto? O comandante parecia chateado. Tem alguma coisa mais entre mãos? Algo relacio?nado com este caso?
-Não; é água passada. -Contente de ter superado o mau gole, Eve foi para a porta do Futures Labora?tories & Research, subsidiária de Indústrias Roarke-. Tenente Dallas, polícia de Nova Iorque -anunciou pelo exploratório.
-Estão-a esperando, tenente. Dirija-se à zona de estacionamento azul. Deixe ali seu veículo e tome o trans?porte C até este complexo, setor seis, nível um.
Ali os recebeu uma andróide do laboratório, uma moréia atrativa de pele branca como o leite, olhos azul claro e uma placa que a identificava como Anna-6. Sua voz era tão melodiosa como uns sinos de igreja.
-Boa tarde, tenente. Espero que não tenha tido problema para nos encontrar.
-Não, nenhum.
-Muito bem. A doutora Engrave lhes receberá no solárium. É um site muito agradável. Se quiserem se?guirme...
-É um andróide -murmurou Peabody pelo baixo, e Anna-6 se voltou sorrindo com toda simpatia.
-Sou um modelo novo, experimental. Só há outros nove como eu, e todos trabalhamos aqui, neste complexo. Esperamos estar no mercado dentro de seis meses. investigou-se muito para nos fabricar e, por desgraça, o preço ainda é proibitivo. Confiamos em que as grandes indústrias julgarão esse útil gasto has?ta que possamos ser produzidos em massa a um preço com?petitivo.
Eve inclinou a cabeça.
— Viu-lhe Roarke ?
-É obvio. Ele dá o visto bom a todos os pro?ductos. Participou ativamente neste desenho.
-Não faz falta que o jure.
-por aqui, por favor. -Anna-6 enfiou um comprido corredor abovedado, branco como um hospital. A docto?ra Engrave opina que sua espécime é muito interessante. Estou segura de que lhes será de grande ajuda. -deteve-se ante uma mini tela e marcou uma seqüência-. Anna-6 -anunciou-. Acompanhada do tenente Dallas e seu ayu?dante.
A parede se abriu a uma sala grande cheia de novelo e uma bonita luz solar artificial. ouvia-se correr água e o zumbido preguiçoso de umas abelhas satisfeitas.
-Aqui os sotaque. Voltarei quando tiverem que sair. Pi?dan o que goste. A doutora Engrave está acostumado a olvi?darse de oferecer nada.
—Vete a sorrir a outro site, Anna. —A mal-humorada voz pareceu sair de um arbusto de samambaias. Anna-6 se li?mitó a sorrir, retrocedeu, e a parede voltou a fechar-se-. Já sei que os andróides têm seus direitos, mas é que me põe frenética. por aqui, nas espireas.
Eve foi para as samambaias e se meteu cautelosamen?te entre eles. Ajoelhada sobre terra negra abonada, havia uma mulher. Seu cabelo grisalho estava recolhido em um coque apressado, e tinha as mãos avermelhadas e sujas de terra. O macaco que possivelmente foi branco alguma vez esta?ba tão manchado que era impossível de identificar. A doutora elevou a vista e sua cara estreita e vulgar resultou estar tão asquerosa como sua roupa.
—Estou olhando meus vermes. É uma nova raça. -Levantou uma parte de terra com coisas que se moviam.
—Muito bonito -disse Eve, sentindo certo alívio cuan?do Engrave sepultou o ocupado torrão.
-De maneira que você é a polícia do Roarke. Eu me figu?raba que teria escolhido a um desse puro sangue com o cangote descascado e as tetas gordas. -Franziu os lábios e olhou de cima abaixo ao Eve-. Vejo que não, e me alegro. O problema com os puro sangue é que sempre estão pi?diendo mímicos. A mim que me dêem um híbrido.
Engrave se limpou as mãos em sua suja roupa. Uma vez em pé, Eve viu que media perto de um metro cin?cuenta.
-Isto dos vermes é uma magnífica terapia. Eu a recomendaria a muita gente, assim não necessitariam dro?gas para ir atirando.
-Falando de drogas...
-Sim, sim, por aqui. -Pôs-se a andar a passo de marcha mas logo foi reduzindo a velocidade-. Terá que podar um pouco. Faz falta mais nitrogênio. E rega subterrânea, para as raízes. -deteve-se entre folhas de um insultante verde, larguísimas trepadeiras, casulos explosivos-. A coisa chegou ao ponto de que me pagam por cuidar o jardim. Bonito trabalho para o que o safada. Sabe o que é isto?
Eve olhou uma flor de cor púrpura e forma de trompetista. Estava quase segura mas temia uma armadilha.
-Uma flor -disse.
-Petunia. Ora, a gente esqueceu o encanto do tradicional. -deteve-se junto a um lavabo, tirou-se parte da terra que levava nas mãos, deixando restos entre suas unhas danificadas-. Hoje em dia todos querem o exóti?co. O grande, o diferente. Um bom te arrie de petunias proporciona muito prazer em troca de poucos cuidados. plantam-se, sem esperar que sejam o que não são, e a disfru?tarlas. São singelas, e não lhe murcham por uma nadería. Umas petunias sões significam algo. Enfim.
subiu a um tamborete diante de um banco de traba?jo abarrotado de ferramentas, vasos, papéis, um Auto-Chef com a luz de vazio acesa, e um sofisticado sis?tema informático.
—O que me enviou você com esse irlandês foi uma autêntica bolsa dos trovões. A propósito, ele sim conhecia as petunias.
-Feeney é um homem de talentos surpreendentes.
-Dava-lhe uns pensamentos para sua mulher. –Engrave conectou o ordenador-. Já tenho feita algumas análise da amostra que me trouxe Roarke. Disse-me muito amável que lhe corria pressa. Outro irlandês. Deus os conserve. A nova amostra de pó me deu mais trabalho.
-Então tem os resultados...
-Não me coloque pressa, mulher. Isso só vale se me diz isso um irlandês bonito. E eu não gosto de trabalhar para a poli. -Engrave sorriu a prazer-. Não apreciam a ciência. Arrumado a que nem sequer se sabe a tabela periódica.
-Ouça, doutora... -Para consolo do Eve, a fórmula apareceu no monitor—. Está controlada esta unidade?
-Não se preocupe, tem contra-senha. Roarke me disse que isto era super secreto. Tranqüila, estou no alho a muito tempo mais que você. -Com uma mão de?sechó ao Eve e com a outra assinalou à tela-. Bem, não entrarei nos elementos básicos. Até um menino po?dría vê-los, de maneira que imagino que já os haverá identifi?cado.
-É o desconhecido o que...
-Seja tenente, seja. O problema está aqui. -Assinalou uma série de fatores-. A fórmula não serviu para identi?ficarlo, porque está codificado. Veja. -Alargou o braço para agarrar uma pequena platina coberta de pó-. Has?ta os melhores laboratórios as veriam e as desejariam para analisar isto. Parece uma coisa, cheira a outra. E cuan?do está tudo misturado, como nesta fórmula, é a reac?ción o que altera a mescla. Sabe um pouco de química?
-É necessário?
-Se mais gente soubesse de química...
-Doutora Engrave, preciso esclarecer um assassinato. me diga o que é e eu trabalharei a partir daí.
-Outro problema da gente é a impaciência -o es?petó Engrave, tirando um prato pequeno. Dentou do mesmo havia umas gotas de um líquido leitoso-. Como a você não importa uma figa, não lhe direi o que tenho feito. Deixemo-lo em que realizei umas provas, uns quantos truques de química básica e que consegui isolar seu elemento desconhecido.
-É isso daí?
-Sim, em seu estado líquido. Seguro que seu laboratório lhe disse que era uma forma de valeriana; uma espécie oriunda do sudoeste.
Eve a olhou.
-E?
—aproxima-se, mas não de tudo. É uma planta, por su?puesto, e utilizaram valeriana para cortar o espécime. Isto é néctar, a substância que seduz a aves e abelhas e que faz girar o mundo. Um néctar que não procede de nenhuma espécie nativa.
-Nativa dos Estados Unidos, quer dizer.
—Não, nativa de nenhuma parte. -Engrave alcançou um vaso de barro e a deixou na mesa a contra gosto-. Aqui tem a seu bebê.
-Que bonito -disse Peabody, inclinando-se para as exuberantes floresça que foram de um branco cremoso a uma granada subida. Olisqueó, fechou os olhos e repetiu a ope?ración-. É maravilhoso. É... -A cabeça lhe dava vuel?tas-. Que forte.
—E que o diga. Basta, ou não saberá o que faz durante uma hora. -Engrave apartou a planta.
-Peabody? -Eve a sacudiu pelo braço-. Desperte.
-É como tomar uma taça de champanha de um só gole. -levou-se uma mão à têmpora—. Incrível.
-Um híbrido experimental -explicou Engrave-. Nom?bre em chave: Casulo Imortal. Este tem quatorze me?ses, e não deixou que jogar flores. Procede da colo?nia Éden.
-Sinta-se, Peabody. O néctar desta coisa é o que estamos procurando?
—De por si, o néctar é forte e provoca nas abelhas uma reação semelhante à embriaguez. Ocorre-lhes o mis?mo com a fruta muito amadurecida, como os pêssegos cansados, por exemplo, cujo suco está muito concen?trado. A não ser que a ingestão seja mesurada, há-se des?cubierto que as abelhas morrem de overdose de néctar. Nunca têm o bastante.
-Abelhas viciadas?
—Como lhes quero chamar. De fato, não se follan às outras flores porque esta as tem seduzidas. Seu laborato?rio não descobriu nada porque este híbrido está na lis?ta restringida das colônias horticulturas e bebe baixo jurisdição da Alfândega Galáctica. A colônia está trabalhando para mitigar o problema com o néctar, já que ocasiona um montão de prejuízos na hora de seu expor?tación.
-Assim Casulo Imortal é um espécime contro?lado.
-No momento sim. Tem certa utilidade em medici?na e especialmente em cosmética. A ingestão do néctar pode produzir uma luminescencia da cútis, uma nova elasticidade e uma aparência de juventude.
-Mas é um veneno. Seu consumo a longo prazo danifica o sistema nervoso. Nosso laboratório o confirmou.
-O arsênico também, mas as senhoras finas o toma?ban em pequenas dose para ter a pele mais branca e mais clara. Para alguns, a beleza e a juventude são pro?blemas desesperadores. -Engrave se encolheu de ombros em sinal de rechaço-. Em combinação com os outros ele?mentos da fórmula, este néctar atua como ativador. O resultado é uma substância altamente aditiva que au?menta a energia e a força física, potência o desejo se?xual e a sensação de renovada juventude. E como, ao não estar controlados, estes híbridos podem propagar-se como coelhos, nosso Casulo Imortal pode seguir produzindo-se a baixo preço e grande escala.
—propagariam-se igual nas condições na Terra ?
-Certamente. A colônia Éden produz novelo e flora em geral para as condições planetárias.
-Bem, você tem umas novelo -refletiu Eve-. E um laboratório, as outras substâncias químicas.
-E você tem uma ilegal muito atrativa para as ma?sas. Pague -disse Engrave com um sorriso amargo—, seja forte, seja bonito, seja jovem e sexy. que conseguiu esta fórmula sabia de química e se conhecia si mesmo; e ade?más compreende a beleza do lucro.
-Beleza letal.
—Sim, é obvio. Desde quatro a seis anos de consumo regular podem acabar com qualquer. O sistema ner?vioso diria basta. Mas quatro ou seis anos é muitíssimo tempo e alguém vai obter, como está acostumado a dizer-se, pin?gües benefícios.
-Como sabe você tanto desta coisa, como se lla?me, se seu cultivo está limitado a Éden?
-Porque sou a melhor em meu campo, porque faço meus deveres e porque resulta que minha filha é apicultora chefe em Éden. Um laboratório autorizado como este, ou um exper?to em horticultura podem, com certas restrições, im?levar um espécime.
-Significa isso que você já tinha algumas novelo dessas?
-Quase todo réplicas, simulações inofensivas, mas algumas genuínas. Reguladas para consumo controlado, de portas dentro. Bom, tenho trabalho com umas ro?sas. Leve o relatório e as duas amostras a seus meninos lis?tos da Central. A ver se forem capazes de tirar algo em claro.
-encontra-se bem, Peabody? -Eve agarrou o braço de seu ajudante com mão firme ao abrir a porta do carro.
-Sim, só que muito relaxada.
—Muito para conduzir —disse Eve—. Pensava de?cirle que me deixasse na floricultura. Plano B: passamos de comprimento e come você alguma costure para rebater o efeito da esnifada floral e logo leva você as mues?tras e o relatório do Engrave ao laboratório.
-Dallas. -Peabody apoiou a cabeça no respaldo-. De verdade que me sinto de maravilha.
Eve a olhou com cautela.
-Não irá você a me beijar ou algo assim?
Peabody a olhou de esguelha.
-Não é meu tipo. Além disso, não é que esteja brincalhona. Só bem. Se tomar isso é parecido a cheirar essa flor, a gen?te se voltará louca por prová-lo.
-Sim. Acredito que alguém se tornou já o bastante louco para matar a três pessoas.
Eve entrou a toda pressa na floricultura. Ficavam vinte minutos se pensava seguir aos outros sospecho?sos, acossá-los, voltar para a Central para arquivar seu infor?me e assistir à roda de imprensa.
Divisou ao Roarke perto de umas árvores pequenas e floridos.
-Nossa assessora floral nos está esperando.
-Sinto muito. -perguntou-se para que quereria ninguém umas árvores anãs. Faziam-na sentir como um mons?truo de feira-. Atrasei-me.
-Eu acabo de chegar. Serviu-te que ajuda a doc?tora Engrave?
-Certamente. Miúdo caráter tem. -Seguiu-lhe baixo um fragrante emparrado-. conheci a Anna-6.
-Ah, já. Acredito que esses andróides serão um êxito.
—Sobre tudo com os adolescentes.
Roarke riu e lhe colocou pressa.
-Mark, apresento a minha noiva, Eve Dallas.
-Ah, sim. -Tinha cara de simpático, e seu apertão de mãos foi como o de um lutador-. A ver o que podemos fazer. As casamento são um tema complicado, e não me deixaram muito tempo.
-Ele tampouco me deixou muito tempo .
Mark riu e se tocou o cabelo prateado.
-Sentem-se e relaxem-se. Tomem um pouco de chá. Tenho muitas coisas que lhes ensinar.
Não lhe importava. Gostava das flores. Só que não sabia que pudesse haver tantas. Passados cinco minutos, sua cabeça começou a dar voltas de tanta orquí?dea e lírio e rosa e gardênia.
-Singelo -decidiu Roarke-. Tradicional. Nada de imitações.
—É obvio. Tenho uns hologramas que possivelmente lhes dêem alguma idéia. Como as bodas será ao ar livre, sugiro-lhes uma pérgola, glicinas. É muito tradicional, e tie?nen uma fragrância encantadora, muito ao velho estilo.
Eve estudou os hologramas e tratou de imaginar-se baixo uma pérgola com o Roarke, intercambiando prome?sas. O estômago lhe deu uma sacudida.
-E petunias?
Mark piscou:
—Petunias?
-Eu gosto das petunias. São singelas e não preten?den ser mais que o que são.
-Sim, claro. Ficaria bem. Possivelmente terei que acrescentar umas açucenas. Quanto à cor...
-Tem Casulo Imortal? -perguntou a bocajarro.
-Imortal... -Mark abriu os olhos de par em par-. Isso sim que é uma especialidade. Difíceis de importar, cla?ro, mas ficam muito espetaculares. Tenho várias imi?taciones.
—Não queremos imitações —lhe recordou Eve.
—Temo-me que só se importam em pequenas canti?dades, e só a floristas e horticultores com autorização. E para interior. Mas como a cerimônia é ao ar livre...
-Vende muitos?
-Não, e só a outros peritos com licença. Mas ten?go algo que gostará ainda mais...
-Guarda um registro dessas vendas? Pode me dar uma lista de nomes? Suponho que está conectado à rede de distribuição mundial.
-Naturalmente, mas...
-Preciso saber quem encarregou essa planta durante os dois últimos anos.
Mark olhou ao Roarke com cara de perplexidade, e este se passou a língua pelos dentes.
-Minha noiva é uma jardineira insaciável.
-Já vejo. Demorarei um pouco em me conectar. Diz que quer todos os nomes.
-De quem encarregou Casulo Imortal a colo?nia Éden nos últimos dois anos. Pode começar pelos Estados Unidos.
-Se tiverem a bondade de esperar, verei o que posso fazer.
-Eu gosto da idéia da pérgola -proclamou Eve, le?vantándose de repente quando Mark se foi-. A ti não?
Roarke ficou em pé e a agarrou dos ombros.
-por que não deixa que me eu encarregue das flores? Quero te surpreender.
-Deverei-te uma.
-claro que sim. Pode começar a me pagar recordan?do que temos que assistir ao desfile do Leonardo este vier?nes.
-Já sabia.
-E recordando também que tem que pedir três sema?nas de licença para a lua de mel.
-Acreditei que havíamos dito dois.
-Sim. Agora me deve uma. Quer me dizer por que de repente te fascina tanto uma flor da colônia Éden? Ou devo supor que encontraste ao desconhecido?
—É o néctar. Isso poderia relacionar os três homici?dios. Se consigo um momento de pausa.
-Espero que seja isto o que está procurando. –Mark voltou com uma folha de papel-. Não foi tão difícil como eu me temia. Não houve muitos pedidos de Imortal. A maioria de importadores se contente com imitações. Há certos problemas com o espécime.
-Obrigado. -Eve agarrou o papel e revisou a lista-. Já está -murmurou, e logo se voltou para o Roarke-. Tenho que ir. Compra muitas flores, montões de flores. E não esqueça as petunias. -Saiu de correria enquanto tirava seu comunicador—. Peabody.
-Mas... o ramo. O ramo de noiva. -Mark olhou ao Roarke, desconcertado-. Não escolheu nada.
Roarke viu como partia.
-Eu sei o que gosta -disse-. Mais que ela mesma.
Capitulo Quinze
-Me alegro de lhe ter outra vez por aqui, senhor Red?ford.
-Isto começa a ser um costume desafortuna?da, tenente. -Redford tomou assento ante a mesa de in?terrogatorio-. Esperam-me em Los Anjos dentro de umas horas. Espero que não me você retenha muito tempo.
-Sou das que gostam de ter as coisas bem atadas para que nada nem ninguém penetre pelas gretas.
Olhou para o rincão onde estava Peabody de pé, com o uniforme ao completo. Ao outro lado do espelho, Eve sabia que Whitney e o fiscal observavam atentos. Ou apanhava ao Redford agora ou o mais provável era que fosse ela a apanhada.
sentou-se e assinalou com a cabeça ao holograma do ase?sor escolhido pelo Redford. Evidentemente, nem Redford nem seu advogado acreditavam nem por um momento que a situa?ción fosse o bastante grave para justificar uma represen?tación em pessoa.
-Assessor, tem a trascripción das declarações de seu cliente?
-Assim é. -A imagem (traje a raias, olhar duro) cru?zó suas pulcras e cuidadas mãos-. Meu cliente há coope?rado muito com você e seu departamento, tenente. Se acessarmos a esta entrevista é só para pôr ponto fi?nal ao assunto.
Acessam porque não lhes bebe outra alternativa, pensou Eve.
-Consta-me que cooperou, senhor Redford. De?claró você que conhecia a Pandora e que mantinha com ela uma relação casual e íntima.
-Correto.
-Participou também em algum negocio com ela?
—Produzi dois vídeos directo-a-casa nos que Pan?dora tinha um papel. Estávamos discutindo outro.
-Tiveram êxito esses projetos?
—Só moderado.
-E além desses projetos, você teve alguma outra relação de negócios com a difunta?
-Nenhuma. -Redford esboçou um sorriso-. Sem con?tar um pequeno investimento a título especulativo.
-Explique-se, por favor.
—Ela afirmava ter sentado as bases para sua própria linha de cosméticos e moda. Naturalmente, necessitava pa?trocinadores e me intrigou o suficiente para investir.
-Deu-lhe você dinheiro?
-Sim, durante o último ano e meio investi algo mais de trezentos mil dólares.
procuraste o modo de escorrer o vulto, pensou Eve, e se retrepó em sua poltrona.
-Qual é a categoria desta linha de moda e cos?méticos que conforme diz a vítima estava levando a cabo?
—Não tem nenhuma categoria, tenente. —Redford le?vantó as mãos, baixou-as outra vez—. Me enganou. Até depois de sua morte não descobri que não existia tal lí?nea, nem outros patrocinadores, nem produto algum.
-Já. Você é um homem endinheirado, um produtor de êxito. Deveu lhe pedir cifras, gastos, ganhos previstos. Possivelmente até uma amostra dos produtos.
-Não. -Sua boca se esticou ao olhá-las mãos-. Não o pedi.
-Espera que cria que lhe entregou o dinheiro para uma linha de produtos da que não dispunha de informa?ción?
-Isto é chato. -Levantou os olhos de novo-. Tenho boa reputação, e se esta informação sai à luz, veria-me seriamente prejudicado.
-Tenente —interrompeu o advogado-. A reputação de meu cliente é um ativo muito valioso. Se estes dados esca?pan aos parâmetros da investigação, este ativo que?dará prejudicado. Posso e vou conseguir uma ordem para que esta parte da declaração fique anulada a fim de prote?ger os juros de meu cliente.
-Faça-o. Miúda história, senhor Redford. Quer me dizer por que um homem com sua reputação nos negócios, com todos seu ativos, dedicaria trezentos mil dólares a um investimento inexistente?
-Pandora era muito persuasiva, e muito bonita. Ade?más era inteligente. Evitou minha solicitude de planos e ci?fras. Eu justificava os pagamentos continuados porque me parecia que ela era uma perita em seu campo.
-E não se inteirou do engano até que ela esteve morta.
-Fiz algumas averiguações, contatei com seu re?presentante. -Inchou as bochechas e quase conseguiu parecer inocente-. Ninguém sabia nada do projeto.
-Quando fez você essas averiguações?
Redford duvidou apenas um segundo.
-Esta tarde.
—depois de nossa entrevista?, de que eu o pre?guntara sobre os pagamentos?
-Em efeito. Queria me assegurar de que não houvesse nenhum enredo antes de responder a suas perguntas. Por conselho de meus advogados, pu-me em contato com a gente da Pandora e descobri que me tinha fraudado.
-É você um artista da oportunidade. Tem algum hobby, senhor Redford?
-Hobby?
-Um homem com um trabalho estressante como o seu, com seus... ativos, deve necessitar alguma distrac?ción. Colecionar selos, jogar com o ordenador, horti?cultura...
—Tenente —disse o advogado com cansaço-. A que vem isso?
-Interessam-me os momentos de ócio de seu cliente. Já sa?bemos a que dedica seu tempo profissional. Possivelmente espe?cula você com investimentos a modo de válvula de escapamento.
-Não, Pandora foi meu primeiro engano e será o último. Não tenho tempo para hobbies, nem vontades.
-Compreendo-lhe. Alguém me há dito hoje que a gente deveria plantar petunias. Eu não poderia perder o tempo me sujando de terra e plantando flores. E não porque eu não goste. lhe gostam das flores?
-Cada costure a seu tempo. Por isso tenho pessoal de?dicado a isso.
-Mas você tem licença de horticultor.
-Eu...
-Solicitou uma licença que foi concedida faz uns meses. Mais ou menos quando efetuou um pagamento ao Jerry Fitzgerald pela soma de cento e vinte e cinco mil. E dois dias antes, fez você um pedido de Casulo Imortal à colônia Éden.
—O juro de meu cliente pela flora não tem a me?nor relevância neste assunto.
-equivoca-se -disse Eve ao ponto- e isto é uma en?trevista não um processo judicial. Não necessito que seja rele?vante. Para que queria esse Imortal?
—Pois... era um presente. Para a Pandora.
-Empregou você tempo, insônias e gastos para con?seguir uma licença, e logo comprou uma espécie contro?lada como presente para uma pessoa com a que se deitava de vez em quando. Uma mulher que no último ano e meio conseguiu lhe tirar mais de trezentos mil dólares.
-Isso foi um investimento. O outro um presente.
-Bobagens. Economize-a protesto, advogado, bebe de?bidamente cotada. Onde está agora a flor?
-Em New Los Angeles.
-Agente Peabody, disponha que a confisquem.
-Né, ouça, espere um momento. -Redford arrastou sua cadeira-. É minha propriedade. Eu paguei por ela.
-falsificou dados para obter essa licença. comprou ilegalmente uma espécie controlada. Será confiscada e você será devidamente acusado. Pea?body?
—Sim, senhor. —Sufocando uma risada, Peabody tirou seu comunicador e estabeleceu contato.
-Isto é perseguição. -O advogado parecia uma fera-. E as acusações são ridículas.
-Vá... Você conhecia essa planta, sabia que era um elemento necessário para elaborar a droga. Pandora ia tirar muito dinheiro dessa substância. Acaso tentava ela lhe excluir?
-Não sei do que me está falando.
-Acaso tentou lhe enrolar, deu-lhe a provar o suficien?te para lhe fazer viciado? Possivelmente lhe escondeu a droga até que você lhe implorou. Até que quis matá-la.
-Eu jamais toquei essa droga -explorou Redford.
—Mas sabia de sua existência. Sabia que ela a tinha. E havia maneira de conseguir mais. Acaso foi você quem tratou de lhe excluir do negócio e fazer-lhe com o Jerry? Você comprou a planta. Averiguaremos se fez analisar a substância. Tendo a planta, você podia fa?bricar a droga. Já não necessitava a Pandora. Mas tam?poco podia controlá-la. Ela queria mais dinheiro, mais droga. Você descobriu que era letal, mas para que es?perar cinco anos? Tirando a Pandora de no meio, tivesse tido todo o campo livre.
-Eu não a matei. Tinha terminado com ela, não tinha motivos para matá-la.
-Você foi a sua casa essa noite. deitou-se com ela. Ela tinha a droga. Utilizou-a para lhe tentar a você? Us?ted já tinha matado duas vezes para proteger seu inver?sión, mas ela seguia lhe obstruindo o passo.
-Eu não matei a ninguém.
Eve lhe deixou gritar, deixou que o advogado exclamasse suas objeções e suas ameaças.
-Seguiu-a a casa do Leonardo ou a levou ali você mesmo?
-Eu não estive ali. Jamais a toquei. Se houvesse queri?do matá-la, o teria feito em sua própria casa, quando me ameaçou.
-Paul...
-Cale-a boca -espetou-lhe Redford a seu advogado-. Está tratando de me carregar um assassinato, maldita seja. Discuti com a Pandora. Ela queria mais dinheiro, muito di?nero. assegurou-se de que eu visse suas provisões de dro?ga, o muito que tinha ao seu dispor. Era uma fortuna. Mas eu já a tinha feito analisar. Não necessitava a Pan?dora, e assim o disse a ela. Tinha ao Jerry para respaldar o projeto quando estivesse preparado. Pandora ficou furio?sa, ameaçou-me me arruinando, me matando. Para mim foi um prazer deixá-la plantada.
-Planejava você fabricar e distribuir a droga?
-Como tópico -disse, secando-a boca com o dor?so da mão-. E quando estivesse preparada. O dinheiro era irresistível. Suas ameaças não significavam nada para mim, entende? Não podia me arruinar sem arruinar-se a si mesmo. E isso não o teria feito nunca. Eu havia termi?nado com ela. E quando soube que tinha morrido, abri uma garrafa de champanha e brindei por seu assassino.
-Muito bonito. Bem, comecemos outra vez.
depois de deixar ao Redford para que o fichassem, Eve entrou no despacho do comandante.
-Excelente trabalho, tenente.
—Obrigado, senhor. Embora preferiria fichá-lo por ase?sinato que por drogas.
-Tudo chegará.
-Conto com isso. Olá fiscal.
-Tenente. -O fiscal se levantou o vê-la en?trar, e seguia em pé. Suas maneiras eram bem conhecidos dentro e fora dos tribunais. Sua atuação estava sempre cheia de brio, fossem quais fossem as circuns?tancias—. Admiro suas técnicas. eu adoraria tê-la como testemunha neste assunto, mas não acredito que isto lle?gue a julgamento. O advogado do senhor Redford já se pôs em contato com meu escritório. vamos negociar.
-E o assassinato?
—Não temos suficientes prova físicas. —E acrescentou antes de que ela pudesse protestar—: E o móvel... você demonstrou que teve maneira de conseguir seus fins antes da morte da Pandora. É muito provável que seja culpado, mas teremos muito trabalho para justificar as acusações.
-Não o teve para acusar ao Mavis Freestone.
-Por provas entristecedoras -recordou-lhe ele.
-Você sabe que ela não o fez, fiscal. Sabe que as três vítimas deste assunto estão relacionadas. -Olhou para Casto, que estava arrellanado em uma cadeira-. Ilega?les sabe.
-Nisto, estou com a tenente -disse Casto-. investigamos a possível implicação do Freestone com a substância conhecida como Immortality sem encontrar co?nexión alguma entre ela e a droga ou nenhuma das outras vítimas. Tinha certas manchas em seu expediente, mas costure antigas e sem importância. Em minha opinião, a garota estava no site equivocado à hora equivocada. -Son?rió ao Eve-. Devo apoiar a Dallas e recomendar que lhe sejam retirados as acusações ao Mavis Freestone pendente do resultado da investigação.
-Anoto sua recomendação, tenente -disse o fiscal-. O escritório do fiscal o terá em conta quando revise?mos todos os dados. Agora mesmo, a crença de que estes três homicídios estão relacionados segue estando necessitada de provas sólidas. Entretanto, nossa ofi?cina está disposta a acessar a recente solicitude do re?presentante do Mavis Freestone no sentido de umas provas de detecção de mentiras, autohipnosis e recrea?ción por vídeo. Os resultados pesarão muito em nues?tra decisão.
Eve soltou um suspiro. Era uma concessão importante.
-Obrigado -disse.
-Estamos do mesmo lado, tenente. E acredito que to?dos deveríamos o ter presente e coordenar nossa postura antes da roda de imprensa.
Enquanto faziam os preparativos, Eve se aproximou de Casto.
-Agradeço-lhe o que tem feito.
Lhe tirou importância.
-Era uma opinião profissional. Espero que isso ajude a seu amiga. Eu acredito que Redford é culpado. Tanto se os carregou ele como se pagou para que o fizesse outro.
Eve queria somar-se a essa opinião mas, em troca, meneou a cabeça.
-Muito incompetente para tratar-se de profesiona?les, muito pessoal. De todos os modos, obrigado por aproximar o ombro.
-Considere-o, se quiser, como pagamento por proporcio?narme um dos melhores casos de ilegais de toda a dé?cada. Assim que o tenhamos esclarecido e saia à luz o assunto dessa nova droga, vou comprar me uns galo?nes de capitão.
-Bem, parabéns antecipado.
-Eu acredito que isso vai pelos dois. Você resolverá esses homicídios, Dallas, e logo os dois poderemos des?cansar um pouco.
-É verdade, os vou resolver. -Eve levantou uma sobrancelha quando lhe aconteceu a mão pelo cabelo.
-Eu gosto. -Com um sorriso, Casto se meteu as ma?nos nos bolsos—. Está segura de que quer casar-se?
Inclinando a cabeça, lhe devolveu o sorriso.
-Hão-me dito que sai para jantar com o Peabody.
—OH, é uma jóia. Tenho debilidade pelas mulheres fortes, Eve, e terá que me perdoar se estiver um pouco decepcionado por minha falta de oportunidade.
—Não poderia me sentir adulada? —Viu o sinal do Whitney e suspirou-. Está bem, já vamos.
-sente-se um como um osso suculento, verdade? -murmurou Casto enquanto a porta se abria a uma horda de jornalistas.
Saíram graciosos, e Eve teria considerado que o dia ha?bía ido muito bem se Nadine não a tivesse esperado no estacionamento subterrâneo.
-Esta zona está restringida a pessoal autorizado.
—Espere um pouco, Dallas. —Sentada no capô do co?che do Eve, sorriu-. Acompanha-me?
—Canal 75 bebe longe de meu caminho. -Como Nadi?ne continuava sorrindo, ela amaldiçoou e abriu a porta-. Subida.
-Está bonita -disse Nadine-. Quem é seu estilista?
-A amiga de uma amiga. Estou farta de falar de meu cabelo, Nadine.
—Vale, então falemos de assassinatos, drogas e di?nero.
-Acabo de estar quarenta e cinco minutos falando disso. -Eve mostrou a placa à câmara de segurança e saiu disparada à rua-. Você estava ali, não?
—O que vi é muito te regue. O que é esse ruído?
-Meu carro.
-Já. Outra vez com recortes de pressuposto, ver?dad? É uma vergonha. Enfim, o que é todo isso de umas novas pesquisas?
-Não posso falar desse aspecto da investigação.
-Estraga. E os rumores sobre o Paul Redford?
—Como se há dito na conferência de imprensa, Redford foi acusado de fraude, posse de espéci?men controlado e intento de fabricação e distribuição de substância ilegal.
-E como se relaciona isto com o assassinato da Pan?dora?
-Não estou em liberdade de...
-Bom, bom. -Nadine se apoiou no respaldo e olhou carrancuda o tráfico que lotava o meio-fio—. E se ha?cemos uma troca?
-Vejamos. Você primeira.
-Quero uma entrevista em exclusiva com o Mavis Freestone.
Eve não se incomodou em responder. Só bufou.
-Vamos, Dallas, deixe que a gente saiba o que ela pensa.
-A merda a gente.
-Posso citar isso? Você e Roarke a têm asedia?da. Ninguém pode acessar a ela. Você sabe que serei justa.
-Sim, temo-la assediada. Não, ninguém pode acessar a ela. E você certamente será justa, mas Mavis não ha?blará com os média.
-De quem é a decisão?
-Olho, Nadine, ou a mando ao transporte público.
-lhe transmita minha petição. É o único que lhe peço, Dallas. lhe diga somente que me interessa fazer pública sua versão dos fatos.
-Vale, agora troque de onda.
-De acordo. Esta tarde me chegou uma notícia da emissora de fofocas.
-E você sabe que deseja muito conhecer detalhes das vidas dos ricos e ridículos.
-Dallas, admita que logo se converterá em um deles. -Ao ver o furioso olhar do Eve, Nadine riu-. OH, eu adoro cravá-la. É tão fácil. Enfim, se rumorea que o casal mais espantoso dos últimos dois me?ses há partido da cidade.
-Estou intrigadísima.
-Estará-o quando lhe disser que o casal está formado pelo Jerry Fitzgerald e Justin Young.
O juro do Eve subiu o suficiente para lhe fazer re?considerar a idéia de estacionar junto a uma parada de auto?bús e soltar a seu passageiro.
-Fale.
-Esta manhã se produziu uma verdadeira cena no ensaio para o show do Leonardo. Parece ser que nues?tros apaixonados chegaram às mãos. Houve partilha de golpes.
-pegaram-se o um ao outro?
-Mais que tapinhas carinhosos, segundo minha fonte. Jerry se retirou a seu vestidor. Agora tem o da estrela, por certo, e Justin partiu mal-humorado e com um olho inchado. Umas horas depois estava já no Maui, festejando-o com outra loira. Também modelo. Uma mo?delo mais jovem.
-Do que discutiam?
—Ninguém sabe. acredita-se que o sexo está detrás de tudo. Lhe acusou de enganá-la e ele fez outro tanto. Ela não pensava tolerá-lo. Ele tampouco. Já não o necesita?ba, pois ele tampouco a ela.
-Muito interessante, Nadine, mas não significa nada. —Não, mas que oportuno, pensou, que oportuno.
—Talvez sim, talvez não. Mas é curioso que dois cele?bridades se dediquem a atirá-los trastes à cabeça em público. Eu diria que ou estavam muito colocados ou esta?ban fazendo um magnífico número.
-Já lhe digo que é interessante. -Eve parou frente à grade de segurança de Canal 75-. chegamos.
-Poderia me levar até a porta.
-Agarre o bonde, Nadine.
-Escute, sabe muito bem que vai investigar o que acabo de lhe dizer. por que não comparamos alguns da?tos, Dallas, você e eu temos aqui uma boa história.
Isso era bastante certo.
-Olhe, Nadine, as coisas estão agora mesmo pen?dientes de um fio. Não queria me arriscar a cortá-lo.
—Não direi nada em antena até que você me dê o visto bom.
Eve duvidou, meneou a cabeça.
-Não posso. Mavis me importa muito. Até que não tenha demonstrado sua inocência, não posso arries?garme.
-Vamos, Dallas. Vai Mavis caminho disso?
-Extraoficialmente: o escritório do fiscal está reconsi?derando as acusações. Mas ainda não os vão retirar.
-você tem outro suspeito? É Redford?
-Não me pressione, Nadine. Quase somos amigas.
-Joder. Façamos uma coisa. Se algo do que lhe hei di?cho ou posso lhe dizer mais adiante influi no caso, us?ted me deve uma.
-Informarei-lhe tão logo tenha esclarecido o assunto, Nadine.
-Quero um tête-À-tête com você, dez minutos an?tes de que qualquer notícia saia à luz.
Eve se inclinou para lhe abrir a porta.
-Até logo.
-Cinco minutos. Maldita seja, Dallas. Cinco asque?rosos minutos.
O que significava centenares de pontos no nível de audiência. E milhares de dólares.
—Que sejam cinco, se é que há lugar. Não posso pro?meterle mais.
-De acordo. -Satisfeita, Nadine desembarcou do carro e logo se inclinou para o Eve-. Sabe uma coisa, Dallas, us?ted nunca falha. Seguro que o consegue. Tem um talento especial para os mortos e os inocentes.
Mortos e inocentes, pensou Eve com um calafrio enquanto se afastava. Sabia que muitos dos mortos eram os culpados.
Garoava pela janela cenital quando Roarke se se?paró do Eve na cama. Era uma nova experiência para ele o fato de ter nervos antes, durante e depois de fazer o amor. Havia dúzias de razões, ou assim o disse a si mesmo enquanto ela se acurrucaba contra ele como era seu costume. A casa estava cheia de gente. O vario?pinto equipe do Leonardo tinha tomado posse de uma asa inteira. Roarke tinha vários projetos em diversas fa?ses de desenvolvimento, negócios que estava resolvido a fechar antes das bodas.
Logo estava as bodas em si. Supunha que qualquer homem estava um pouco distraído em semelhantes ocasio?nes.
Mas Roarke era, ao menos consigo mesmo, um hom?bre brutalmente sincero. Os nervos só podiam vir de uma coisa. Da imagem que continuamente o asalta?ba, a imagem do Eve espancada, ensangüentada e deshe?cha. E do terror de que ao tocá-la pudesse fazê-la reviver todo aquilo, converter algo formoso em algo brutal.
Eve se moveu um pouco e se incorporou para lhe olhar. Tinha a cara acesa, os olhos apagados.
-Não sei o que tenho que te dizer.
Lhe aconteceu um dedo pela mandíbula.
-Sobre o que.
-Eu não sou frágil. Não há razão para que me trate como se estivesse ferida.
Ele juntou as sobrancelhas, zangado consigo mesmo. Não se tinha dado conta de que era tão transparente, inclusive com ela. E a sensação não gostou.
-Não sei a que te refere.
Começou a se levantar para servir uma taça que não queria, mas lhe agarrou firmemente do braço.
-Roarke, você não revista escorrer o vulto. -Estava preo?cupada-. Se seus sentimentos trocaram pelo que fiz, por isso recordei...
-Isto é insultante -espetou-lhe ele, e o mau humor que brilhou em seus olhos foi para ela um alívio.
—O que quer que pense, se não? É a primeira vez que me toca desde aquela noite. Parecia mais uma ni?ñera que outra coisa...
-É que tem algo contra a ternura?
Que inteligente é, pensou Eve. Sereno ou acalorado, sabia como varrer para dentro. Eve não apartou a mão, seguiu lhe olhando aos olhos.
-Crie que não vejo que te contém? Não quero que te contenha, Roarke. Encontro-me bem.
-Pois eu não. -separou-se dela-. Algumas pessoas somos mais humanas, necessitamos mais tempo. Não ha?blemos mais disso.
Suas palavras foram como um bofetão na bochecha. Eve assentiu, voltou a deitar-se e se deu a volta.
—Está bem. Mas o que me passou de menina não foi ir-se à cama. Foi uma obscenidade.
Fechou fortemente os olhos com a intenção de dormir.
Capitulo Dezesseis
Quando seu enlace soou, o dia logo que despontava. Fechados ainda os olhos, Eve alargou a mão.
-Bloquear imagem. Aqui Dallas.
-Dallas, tenente Eve. Comunicado. Provável homicídio, varão, atrás do 19 da rua Cento E oito. Pro?ceda imediatamente.
Notou nervos no estômago. Eve não estava em lista de rotação, não tinham por que chamá-la.
-Causa da morte?
-Aparentemente uma surra. A vítima não há podi?do ser identificada devido às feridas faciais.
-Informado. Maldita seja. -Tirou as pernas da cama e piscou ao ver que Roarke já se levantou e es?taba vestindo-se-. O que está fazendo?
-Levo-te a cena do crime.
—É um civil. Não te perdeu nada em um cri?men.
Ele a olhou enquanto Eve ficava nos cubra.
-Tem o carro na oficina, tenente. -Roarke se sentiu satisfeito para ouvi-la proferir juramentos—. Te levo, deixo-te ali e logo parto ao escritório.
-Como quer. -ajustou-se a correia da arma.
Era um bairro miserável. Vários edifícios exibiam depra?vados graffiti, cristais quebrados e esses rótulos desvencija?dos que a cidade empregava para condená-los. Ali vivia gente, é obvio, apinhada em quartos nauseabundos, fugindo as patrulhas, colocando-se com a substância que oferecesse o máximo subidón.
Havia bairros assim em todas partes do mundo, pensou Roarke de pé a débil luz do sol depois da barricada poli?cial. criou-se em um parecido, embora a cinco mil quilômetros, ao outro lado do Atlântico.
Compreendia esta classe de vida, o desespero, o tráfico, igual a compreendia a violência que tinha conduzido a quão resultados Eve estava examinando agora.
Enquanto a observava a ela, às pessoas tiragem, as pu?tas da rua e os curiosos, deu-se conta de que tam?bién compreendia ao Eve.
Seus movimentos eram tão velozes como impertur?bable seu rosto. Mas seu olhar traslucía piedade mien?tras examinava o que tinha sido um homem. Roarke pensou que Eve era capaz, forte e flexível. face às he?ridas, saberia sair adiante. Não necessitava que ele a cura?ra, mas sim a aceitasse.
-É estranho lhe ver aqui, Roarke.
Baixou os olhos para ver o Feeney a seu lado.
-estive em sites piores.
-Quem não -suspirou Feeney, tirando um donut do bolso-. Gosta?
—Passo. você coma.
Feeney deglutiu a massa de três ávidas dentadas.
—Será melhor que vá ver o que ocorre. -Cruzou a barricada, destacando o peito ali onde tinha a placa para apaziguar aos nervosos agentes de uniforme que vigiavam a cena do crime.
-Que sorte que não tenham chegado os média -co?mentó.
Eve levantou os olhos.
-Não lhes interessa este bairro, enquanto não se saiba como se carregaram ao morto. -Suas mãos enluvadas esta?ban já manchadas de sangue-. Tem as fotos? -A um sinal do técnico de vídeo, Eve passou as mãos por debaixo do corpo-. Me ajude a lhe dar a volta, Feeney.
Tinha cansado, ou o tinham deixado, de barriga para baixo e tinha perdido grande quantidade de sangue e miolos pelo buraco grande como um punho que tinha na nuca. O outro lado estava igual ou pior.
-Não leva identificação -informou Eve-. Peabody está no edifício perguntando porta por porta, a ver se alguém lhe conhecia ou viu alguma coisa.
Feeney desviou o olhar para a parte de atrás do edifício. Havia um par de janelas, cristais imundos e reja grosas. Escrutinou o pátio de cimento onde esta?ban acuclillados: um reciclador -quebrado-, um sortido de ba?sura, cacharros, metal oxidado.
-Que panorama -comentou-. Etiquetamo-lo já?
-tomei rastros. Um agente as está verificando. A arma já está em sua bolsa. Tubo de ferro, escondido debaixo do reciclador. -Eve estudou o cadáver-. O assassino não deixou arma no caso do Boomer nem no da Hetta. É óbvio por que a deixou em casa do Leonardo. Está ju?gando conosco, Feeney, deixa-a onde até um sapo cego poderia encontrá-la. Você o que opina do morto? -Colocou um dedo baixo um tirante largo, cor fúcsia.
Feeney grunhiu. O cadáver ia vestido à última moda: calça curta pelo joelho a franjas arco íris, camiseta com estampado lunar, sapatilhas caras com ador?aos de contas.
-Tinha dinheiro para gastar em roupa de mau gosto. -Feeney voltou a olhar ao edifício-. Se vivia aqui, é que não in?vertía em imobiliárias.
—Um camelo -decidiu Eve—. De médio nível. Vi?vía aqui porque aqui tinha o negócio. -limpou-se as mãos de sangue nos nos cubra enquanto se aproximava um agente.
-Os rastros encaixam, tenente. A vítima consta como Lamont Ro, aliás Barata. Tem um comprido his?torial, sobre tudo em Ilegais. Posse, fabricação, e um par de ataques.
-Controlava-lhe alguém? Era mexeriqueiro?
-Esse dado não sai.
Eve olhou ao Feeney, quem aceitou a petição de silen?cio com um grunhido. Teria que averiguá-lo ele.
—Muito bem. vamos embarcar o. Quero um infor?me toxicológico. Que entrem os do gabinete.
Repassou uma vez mais a cena do crime e seus olhos se posaram no Roarke.
-Necessito que me leve, Feeney.
-De acordo.
—Será só um minuto. —Foi para a barricada-. Acreditava que foi ao escritório -disse ao Roarke.
-E assim é. terminaste aqui?
—Ainda não. Feeney pode me levar.
-Está procurando ao mesmo assassino, verdade?
Eve ia dizer lhe que isso era coisa da polícia, mas logo se encolheu de ombros. Medeia-os fincariam o dente à notícia em questão de uma hora.
-Em vista de como lhe destroçaram a cara, acredito que é o mais provável. Tenho que...
Os gritos lhe fizeram voltar-se. Largos alaridos que poderiam ter furado um painel de aço. Viu a mulher, corpulenta, nua à exceção de umas calcinhas vermelhas, saindo do edifício. lançou-se sobre dois policiais de uniforme que estavam tomando café, derrubou-os como se fossem boliches de madeira e correu para os restos de Barata.
-Vá, cojonudo —resmungou Eve, correndo para in?terceptarla.
A menos de um metro do cadáver, arremeteu contra a mulher e a tombou lhe fazendo um placaje que acabou com as duas caindo dolorosamente ao piso de cimento.
-Esse é meu homem! -A mulher agitou os braços como um peixe de noventa quilogramas, sacudindo ao Eve com suas mãos gordinhas-. É meu homem, poli de merda.
Em juro da ordem, da custódia da cena do crime e do instinto de conservação, Eve descarregou seu punho contra a papada da mulher.
—Tenente! encontra-se bem, tenente? —Os agentes uniformizados se prepararam a levantar o Eve. A mulher estava sem sentido-. Pilhou-nos despreveni?dos. Sentimo-lo muito...
-Que o sentem? -Eve se desembaraçou deles e os olhou com cenho-. Mas como se pode ser tão gilipollas, pelo amor de Deus? Um par de segundos mais e essa tia teria poluído a cena. A próxima vez que lhes encarreguem algo mais importante que um entupo de tráfico, tirem-na mão da franga. Bom, a ver se forem capazes de chamar um médico e que joguem uma olhada a essa louca. Logo lhe buscam um pouco de roupa e a levam a delegacia de polícia. Acredita que poderão?
Não se incomodou em esperar resposta. Pôs-se a andar mancando com os nos cubra quebrados e seu sangue mesclado com a do morto. Seus olhos jogavam faíscas ainda quando encontraram os do Roarke.
-De que diabos te está rendo?
—Sempre é um prazer verte trabalhar, tenente. —de repente, agarrou-lhe a cara entre as mãos e plantou sua boca sobre a dela com um beijo que a fez trastabillar-. Já vê, não me contenho —lhe disse ao ver que ela entortava os olhos—. Que o médico te jogue uma olhada a ti também.
Tinham transcorrido várias horas do incidente quando Eve recebeu aviso de ir ao despacho do Whitney. Flanqueada pelo Peabody, tomou o passeio aéreo.
-Sinto muito, Dallas. Devi lhe haver talhado o passo.
-Por Deus, Peabody, deixe-o já. Você estava em outra parte do edifício quando ela pôs-se a correr.
-Devi compreender que algum inquilino se o expli?caría.
-Sim, a todos faz falta engordurar o cérebro. Olhe, em resumidas contas, essa mulher não me fez mais que um par de amolgaduras. Sabe algo de Casto?
-Ainda está medindo.
-A você também?
Peabody notou uma crispação na boca.
-Ontem à noite estivemos juntos. Pensávamos ir só a ce?nar, mas uma coisa levou a outra. Juro-lhe que não dormia assim desde que era uma cria. Não sabia que o sexo fosse tão bom tranqüilizador.
-Eu podia haver-lhe dito.
-Enfim, Casto recebeu uma chamada justo depois de que me avisassem . Eu acredito que como ele saberá quem é a vítima, possivelmente possa nos ajudar.
Eve grunhiu. Não tiveram que esperar no escritório ex?terior do comandante, mas sim as fizeram acontecer ense?guida. Whitney lhes assinalou as cadeiras.
-Tenente, suponho que seu relatório sobre este últi?mo homicídio está em caminho, mas prefiro que me faça um resumo oral.
-Sim, senhor. -Eve começou dando os gestos e descrip?ción da cena do crime, o nome e a descrição da vítima, e detalhe sobre a arma encontrada, as he?ridas e a hora da morte fixada pelo forense-. As pesquisas do Peabody não deram" fruto, mas faremos uma segunda ronda porta por porta. A mulher que vi?vía com a vítima pôde nos ajudar um pouco.
Whitney levantou as sobrancelhas. Eve ainda levava a ca?misa manchada e os nos cubra quebrados.
—Hão-me dito que teve você algum problema.
-Nada importante. -Eve se tinha dado por satisfeita com a surra verbal. Não havia nenhuma necessidade de ampliar o castigo a reprimendas oficiais-. A mulher trabalhava de acompanhante, mas não tinha créditos para renovar a licença. Além disso, é viciada. Depois de pressionar um pouco nesse sentido, pudemos fazer que nos contasse algo sobre os movimentos da vítima a noite anterior. Segundo sua declaração, estiveram juntos no aparta?mento até mais ou menos as doze. Tinham tomado vinho e um pouco de Exótica. Ele disse que partia porque tinha que fechar um negócio. Ela se tomou um Download, e ficou frita. Como o forense fixa a hora da muer?te por volta das duas da madrugada, a coisa encaixa. As provas indicam que a vítima morreu onde foi encon?trada a primeira hora da manhã. E também que foi assassinada pela mesma pessoa que matou ao Moppett, Boomer e Pandora.
Tomou ar e prosseguiu em tom oficial:
-O primeiro investigador poderá verificar os movi?mientos da senhorita Freestone no momento de pro?ducirse esse assassinato.
Whitney calou um momento, mas não deixou de olhar ao Eve.
-Aqui ninguém acredita que Mavis Freestone esteja em modo algum relacionada com este assassinato, e tampouco a ofi?cina do fiscal. Tenho aqui a análise preliminar da doutora Olhe sobre as provas da senhorita Freestone.
-Provas? -Esquecida a formalidade, Eve ficou em pé de um salto-, O que quer dizer com provas? Isso não era até na segunda-feira.
-Trocaram o dia, tenente -disse tranquilamen?te Whitney-. As provas concluíram às treze em ponto.
-por que não me informou? -o estômago protesta?ba ante as lembranças desagradáveis de sua própria expe?riencia em Provas-. Eu deveria ter estado presente.
-Que não o estivesse obrava em benefício de todas as partes implicadas. -Whitney levantou uma mão-. antes de que perca os nervos e se arrisque a uma in?subordinación, me deixe lhe dizer que a doutora deixa claro em seu relatório que a senhorita Freestone superou todas as provas. O detector de mentiras indica a veracidade de suas declarações. Quanto ao resto, a doutora Olhe opina que o sujeito muito dificilmente poderia exibir a extremada violência com que foi assassinada Pandora. A doutora Olhe recomenda que lhe sejam retirados os car?gos à senhorita Freestone.
-Retirados... -Ao Eve ardiam os olhos quando se sentou outra vez-. Quando?
-O escritório do fiscal está submetendo a deliberação o relatório de Olhe. De maneira não oficial, posso lhe dizer que se não surgir novos dados que anulem essa análise, as acusações serão retiradas na segunda-feira. -Viu como Eve repri?mía um calafrio, e aprovou seu autodomínio-. As prue?bas físicas são contundentes, mas o relatório de Olhe e as provas acumuladas na investigação dos casos supostamente conectados pesam ainda mais.
-Obrigado.
-Eu não provei sua inocência, Dallas, nem você tampouco, mas quase o consegue. Apanhe a esse hijoputa, e logo.
-Essa é minha intenção. -Seu comunicador zumbiu. Es?peró o consentimento do Whitney antes de responder-. Aqui Dallas.
-recebi seu maldito encargo -disse Dickie com cara de poucos amigos-. Como se não tivesse nada mais que fazer.
-Os protestos depois. O que é o que tem?
-Seu último cadáver se colocou uma boa dose do Immortality, justo antes de palmar, segundo meu opi?nión. Acredito que não teve tempo de desfrutá-lo.
-Transmite o relatório a meu escritório -disse ela e cortou antes de que pudesse queixar-se. Esta vez sorriu ao levantar-se-. Tenho um assunto pendente esta noite. Acredito que poderei atar uns quantos cabos.
O caos, o pânico e os nervos refugos pareciam formar parte de um desfile de alta costura tanto como as mode?los muito magros e os tecidos ostentosos. Era intrigante e divertido de uma vez ver como cada qual assumia seu papel no espetáculo. O manequim de lábios zangados que encontrava defeitos a qualquer acessório, a ajudante de ocupados andarem que levava agulhas e imperdíveis no coque, a estilista que se equilibrava sobre as mo?delos como um soldado impulsionado à batalha, e o des?venturado desenhista de todo aquilo que ia e vinha retorcendo-as enormes mãos.
-Nos faz tarde. Nos faz tarde. Necessito a Lissa aqui antes de dois minutos. A música está bem, mas nos faz tarde.
-Já virá, Leonardo. te acalme, Por Deus.
Eve demorou um momento em reconhecer a estilista. O cabelo de Gorjeia era um amontoado de pontas de cor ébano capazes de lhe tirar o olho a quem lhe aproximasse de menos de três passos. Mas a voz a delatava, e Eve ficou olhando enquanto outro frenético ajudante a apartava a co?dazos.
-O que está fazendo aqui? —Um homem com olhos de mocho e uma capa pelos joelhos se aproximou do Eve com cara de cão mordedor-. Te tire essa roupa, pelo amor de Deus. Não sabe que Hugo está aí em frente?
-Quem é Hugo?
O homem produziu um ruído como de escapamento de gás e alargou a mão para atirar da camiseta do Eve.
-Ouça, amigo, quer conservar os dedos? -escapou e lhe fulminou com o olhar.
-te dispa, vamos. Nos acaba o tempo.
A ameaça não sortiu efeito e o homem a agarrou pelos nos cubra. Ela pensou em lhe nocautear, mas optou por tirar sua placa.
-me tire as mãos de cima ou lhe meto na canta fúnebre por agredir a um policial.
-Você que pinta aqui? Temos os papéis em re?gla. Pagamos os impostos. Leonardo, aqui há uma po?licía. Não pretenderá que em cima fale com a poli.
-Dallas. -Mavis chegou a toda pressa, carregada de tecidos multicoloridos-. Aqui sobra. por que não está onde o público? Deus, ainda vai vestida assim?
-Não tive tempo de me trocar. -Eve o mos?tró a camisa manchada-. Encontra-te bem? Não sabia que tinham trocado o dia de suas provas, tivesse ido verte.
-Não te apure. A doutora Olhe se comportou de maravi?lla, sabe, mas te direi que me alegro de que tudo tenha passado. Prefiro não falar disso -disse rapidamente, jogando uma olhada à desordem que a rodeava-. Ao me?nos agora.
-Está bem. Quero ver o Jerry Fitzgerald.
-Agora? O show já começou. Temo-lo tudo calculado ao microsegundo. —Com a destreza de um perito, Mavis se separou do caminho de dois modelos piernilargas-. Tem que concentrar-se, Dallas. -Ladean?do a cabeça, cantarolou ao uníssono com a música—. Seu pró?ximo passe é dentro de quatro minutos escassos.
-Então não a entreterei. Onde está?
-Dallas, Leonardo lhe...
-Onde, Mavis?
-Aí detrás. -Assinalando com a mão, passou-lhe um ro?llo de tecido a um ajudante-. No camarim da estrela.
Eve conseguiu esquivar às pessoas e penetrar até uma porta com o nome do Jerry em letras de relum?brón. Não se incomodou em chamar mas sim empurrou a puer?ta e viu como a modelo era embutida em um tubo de lambe dourado.
-Não vou poder respirar com isto. Aqui dentro não respira nem um esqueleto.
-Se não tivesse comido tanto patê, querida -disse-lhe implacável o ajudante-. Vamos, agüenta a respiração.
-Bonito espetáculo -comentou Eve do um?bral-. Parece uma varinha mágica.
-É um dos desenhos retro. Típico glamour do si?glo passado. Cone, não posso nem me mover.
Eve lhe aproximou e entrecerró os olhos.
-O cosmetólogo tem feito um bom trabalho. Não se vê nenhum arroxeado. -E perguntaria a Gorjeia se realmente ha?bía algum arroxeado que dissimular-. ouvi que Justin lhe deu um par de bofetões.
—O muito porco. Olhe que me pegar na cara antes de um desfile.
—Eu diria que não se empregou a fundo. por que pelea?ron, Jerry?
-Pensou que podia me enganar com uma corista. Isso será sobre meu cadáver.
-Uma observação interessante, não? Quando empe?zó todo?
-Escute, tenente. Agora tenho um pouco depressa, e sair à passarela com a cara carrancuda poderia arruinar minha apresentação. você fale com o Justin.
Jerry cruzou a porta com pasmosa agilidade, face às queixa anteriores. Eve ficou onde estava, escu?chando a ovação que assinalava a entrada do Jerry. Seis minutos depois, a modelo era tirada de sua couraça de lambe.
-Como se inteirou você?
-Gorjeia. O cabelo, Por Deus! Caray, é você insisten?te. Chegou-me o rumor, isso é tudo. E quando se o co?menté ao Justin, negou-o. Mas eu me dava conta de que mentia.
-Estraga. -Eve pensou nos embusteiros enquanto Jerry permanecia com os braços estendidos. Gorjeia transformou seu arbusto de cabelo negro em uma confusão de cachos va?liéndose de um secador manual. Jerry se ajustou um ves?tido de seda branca com cós arco íris-. Não se há que?dado muito tempo no Maui.
-Importa-me uma merda onde esteja.
-Retornou ontem à noite a Nova Iorque. verifiquei a ponte aérea. Sabe, Jerry, isto é curioso. Outra vez todo tão oportuno. A última vez que os vi os dois, pare?cían irmãos siameses. Você foi com o Justin a casa da Pandora e logo a casa dele essa noite. E seguia ali pela manhã. Tenho entendido que ele a acompanhava a seus ensaios para o desfile. Não parece que ficasse muito tempo para atirar-se a uma corista.
-Terá-os que são muito rápidos. -Jerry ofereceu uma mão para que o ajudante pudesse lhe pôr meia doce?na de braceletes tintineantes.
—Uma briga em público com muitas testemunhas e até uma pontual cobertura informativa. Sabe, à vista de como foram as coisas, diria que seu mútuo álibi faz águas. Se eu fosse a classe de polícia que acredita nas aparências.
Jerry comprovou no espelho a queda de seu vestido.
-Que busca, Dallas? Estou trabalhando.
-Eu também. me deixe lhe dizer como o vejo, Jerry. Você e seu amigo tinham um pequeno negócio com a Pan?dora. Mas ela era ambiciosa. Dava a impressão de que queria joderlos aos dois. Então ocorre algo inespera?do. Aparece Mavis, há uma briga. A uma mulher lista como você pôde ocorrer-se o uma idéia luminosa.
Ela agarrou um copo e apurou seu brilhante contido.
-Já tem dois suspeitos, Dallas. Não falava us?ted de cobiça?
-Falaram-no entre os três? Você, Justin e Redford? Você e Justin se largaram e acordaram uma coarta?da. Redford não. Ele possivelmente não é tão preparado. Possivelmente se supunha que você ia respaldar lhe, mas não o fez.
Então a leva a casa dê Leonardo. Vocês estão es?perando. desmandaram-se as coisas? Qual de vocês agarrou o fortificação?
-Isto é ridículo. Justin e eu fomos a casa dele. O sistema de segurança pode verificá-lo. Se quiser acusar?me de algo, traga uma ordem. E agora, me deixe em paz.
-Foram você e Justin o bastante preparados como para não manter contato da briga? Eu não acredito que ele tenha tanto autodomínio com você. De fato, jogo-me algo. Amanhã teremos os registros de transmissão.
-E o que se me chamou? E o que? -Jerry correu para a porta enquanto Eve começava a sair-. Isso não prova nada. Você não tem nada.
—Sim, outro cadáver. -Fez uma pausa e olhou para trás-. Suponho que nenhum de vocês dois terá um álibi para o outro neste caso, equivoco-me?
-Zorra. -Acesa, Jerry lançou o copo, dando a um dos ajudantes no ombro-. Não pode culpar?me de nada. Não pode provar nada.
Enquanto o ruído e a confusão cresciam na parte de atrás do cenário, Mavis fechou os olhos.
-OH, Dallas, como pudeste? Leonardo a nece?sita para outros dez passes.
-Jerry fará seu trabalho. Gosta de muito os fo?cos para não fazê-lo. vou procurar ao Roarke.
-Está aí em frente -disse Mavis enquanto Leonardo corria a acalmar a sua estrela-. Não saia com essa pinta. Ponha este vestido. Já o passaram. Sem os adornos e os lenços, ninguém o reconhecerá.
-Se só for A...
-Por favor. Significará muito para ele se sair com um de seus desenhos, Dallas. A linha é singela. Você busca?ré uns sapatos que vão bem.
Quinze minutos depois, com sua roupa metida em uma bolsa, Eve divisou ao Roarke na primeira fila. Aplaudia ade?cuadamente enquanto um terceto de modelos pechugonas se meneava ostensiblemente em seus macacos transparentes.
-Fantástico. É o que nós gostamos de ver levar às mu?jeres quando passeiam pela Quinta Avenida.
Roarke levantou um ombro.
-Em realidade muitos desenhos são atrativos. E não me importaria verte como essa da direita.
-Nem o sonhe. -Eve cruzou as pernas e o vôo do cetim negro sussurrou em resposta-. Quanto momento temos que ficar ?
-Até que termine. Quando te compraste isto? -Passou um dedo pelas estreitas correias que lhe rodeavam os bíceps.
-Mavis me obrigou a me pôr isso É do Leonar?do, mas sem adornos.
-fique-lhe isso Sinta-te bem.
Ela se limitou a grunhir algo. Preferia de comprimento seus té?janos.
-OH, aí vem a diva.
Jerry saiu rebolando, e a passarela era uma ex?plosión de cor a cada passo de seus sapatos de cristal. Eve emprestou pouca atenção à saia ondulante e o corpi?ño transparente que estavam provocando um furor gene?ral de aprovação. Observava única e exclusivamente a cara do Jerry, enquanto os críticos de moda falavam com seus grabadoras e dúzias de compradores faziam frené?ticos pedidos com seus enlaces portáteis.
Ao Jerry a via serena enquanto apartava dúzias de jovens musculosos prostrados diante dela. Vendeu o conjunto entre elegantes giros e uma boa coreogra?fía que a fez subir agilmente a uma pirâmide de duros corpos varonis.
A multidão aplaudiu. Jerry fez uma pose e olhou ao Eve com gélidos olhos azuis.
-Uff -murmurou Roarke-. Isso foi um direto. Há algo que eu deva saber?
-Que gostaria de me arranhar a cara -disse mansamente Eve-. Minha missão foi um êxito. -Satisfeita, se prepa?ró para desfrutar do resto do desfile.
-Viu, Dallas? Viu-o? -Depois de uma rápida pi?rueta, Mavis a abraçou-. Ao final se levantaram todos. Inclusive Hugo.
-Quem diabos é Hugo?
-O homem mais importante deste negócio. Foi um dos primeiros patrocinadores do show, mas isso em vida da Pandora. Se Hugo se retirou... Bue?no, mas não o fez, obrigado a que estava Jerry. Leonardo triunfou. Agora poderá pagar suas dívidas. Não param de chegar pedidos. Logo terá seu próprio showroom, e dentro de uns meses, haverá desenhos Leonardo por to?das parte.
-Que grande noticia.
—Tudo saiu bem. —Mavis se arrumou a cara no espelho do salão de senhoras-. Tenho que me buscar outro trabalho, para poder vestir seus desenhos em exclusiva. As coisas vol?verán a ser como tinham que ser. Verdade que sim, Dallas?
-Isso parece. Mavis, foi Leonardo o que acudiu ao Jerry, ou ao reverso?
-Para o show? Em princípio foi Leonardo. Pando?ra o sugeriu.
Um momento, pensou Eve, como passei isto por alto?
-Pandora quis que pedisse ao Jerry que atuasse no show?
-Assim era ela. -Obedecendo a um impulso, Mavis tirou um tubo e se tirou a pintura de lábios. Estudou sua boca nua um momento e logo escolheu um Berry Crush-. Pandora sabia que Jerry não ia querer ser a segunda, em que pese a que se falava muito bem dos desenhos. Assim por sua parte foi como lhe dar uma cotovelada. Ela po?día dizer que sim, e ser a segundona, ou dizer que não e perder a oportunidade de estar em um dos desfiles mais apasionantes da temporada.
-E disse que não.
-Simulou que tinha compromissos prévios. Salvou as aparências. Mas assim que Pandora ficou fora de jue?go, chamou o Leonardo e se ofereceu para cobrir a vacante.
-Quanto tirará?
-Do show? Um milhão, mais ou menos, mas isso não é nada. A cabeça de pôster pode escolher seus modelos com muito desconto. E à parte está a cláusula referente aos média.
-Que é...?
-Verá, as grandes modelos saem nos canais de moda, os programas de entrevistas e todo isso. E enci?ma cobram por cada aparição em público. Um montão de massa durante os próximos seis meses, com opção a renovar contrato. Deste show Jerry poderia obter cinco ou seis milhões, desenhos à parte.
—Quem o pilhasse. Jerry tira mais de seis milhões pela morte da Pandora.
-Poderia olhar-se assim. Tampouco é que antes estivesse doída, Dallas.
-Possivelmente não. Mas seguro que agora não lhe dói em ab?soluto. Fará alguma aparição na festa do show?
-com certeza que sim. Ela e Leonardo são as estrelas. Será melhor que nos demos pressa se queremos pilhar algum canapé. Estes críticos são como hienas. Nem sequer de?jan os ossos.
-Você que leva tempo com o Jerry e outros... -em?pezó Eve enquanto retornavam ao salão-. Alguém con?sume?
-Por Deus, Dallas. -Incômoda, Mavis se encolheu de ombros-. Não sou um mexeriqueiro.
-Mavis, vêem. -Eve a levou a um rincão cheio de samambaias em vaso de barro-. Não me venha com isso. Alguém consome ou não?
-Pois claro. Sobre tudo cápsulas e muito Zero Appetite. O trabalho é duro, Dallas, e não todas as modelos de segunda fila podem pagar um esculpido. Há algumas ilegais, mas quase todo compra sem receita.
-E Jerry?
-Vai o cilindro da saúde. Essa coisa que bebe. Fuma um pouco de erva, mas é uma mescla para acalmar os nervos. Nunca a vi consumir nada duvidoso. Mas...
-Mas?
-Verá, é muito ciumenta de suas coisas, sabe. Faz um par de dias uma das garotas não se sentia bem. A resa?ca, suponho. Provou um pouco desse suco azul do Jerry, e esta ficou corno uma fera. Queria que a despi?dieran.
-Interessante. Ou seja o que haverá nesse líquido.
-Um extrato vegetal, suponho. Jerry assegura que é para seu metabolismo. Fez um pouco de propaganda di?ciendo que ia investir nisso.
-Necessito uma amostra. Não tenho suficiente para pedir uma ordem de confisco. -Fez uma pausa para pensar e sorriu-. Mas acredito que sei como solucioná-lo. Vamos à festa.
—O que pensa fazer? Dallas! —Dobrou o passo e ficou à altura das pernadas do Eve-. Eu não gosto da cara que põe. Por favor, não cause problemas. Vamos, é a grande noite do Leonardo.
-Seguro que um pouco mais de cobertura informativa incrementará suas vendas.
Entrou no salão onde a multidão girava já na pista de baile ou se apinhava ante as mesas com comida. Ao ver o Jerry, Eve foi para ela. Roarke viu como a mira?ba e lhe cruzou.
-De repente tem aspecto de poli.
—Obrigado.
—Não sei se era um completo. É que vais fazer uma cena?
-Farei-o o melhor que saiba. Não poderia manter as distâncias?
-Nem pensar. -Roarke lhe agarrou da mão.
-Parabéns pelo êxito do show -disse Eve, apartando a um crítico lisonjeiro para plantar-se frente a Jerry.
-Obrigado -disse esta levantando uma taça de cham?pán-. Mas pelo que vi, você não é que entenda muito de moda. —Enviou ao Roarke um olhar para de?rretirlo-. Embora sim parece ter um gosto excelente para os homens.
-Melhor que o seu. Sabe que ao Justin Young o vie?ron no clube Privacy ontem à noite com uma ruiva? Uma ruiva que guardava um grande parecido com a Pandora.
—Furcia embusteira. Ele não... —Jerry se conteve e assobiou entre dentes-. Já lhe hei dito que me dá igual com quem saia.
-por que não ia lhe dar igual? Entretanto é verdade que depois de certo número de sessões, nem o esculpido corporal nem os realces faciais podem vencer a realidade. Suponho que Justin tinha vontades de provar algo mais jovem. Os homens são assim de porcos. -Eve aceitou uma taça de champanha de um garçom que passava e sorveu um pouco-. Não é que você não esteja estupenda. Para sua idade. Esses fo?cos de cenário fazem que uma mulher se veja... amadurecida.
-Má puta. -Jerry arrojou seu champanha à cara do Eve.
-Sabia que bastaria com isso -murmurou ela enquanto pestanejava disso ardência é agressão a um agente da autoridade. Bebe você presa.
—Não me ponha as mãos em cima. —Exasperada, Jerry lhe deu um empurrão.
-E além disso, resistência ao arresto. Será que é meu no?che de sorte. -Desde dois rápidos movimentos, agarrou-lhe um braço e o torceu à costas-. Chamaremos um agente para que a leve. Não acredito que lhe custe sair baixo fiança. Agora comporte-se bem e lhe lerei os direitos enquanto saem. -Lançou ao Roarke uma luminosa sonri?sa-. Não demorarei.
-Tome o tempo que queira, tenente. -O arre?bató a taça ao Eve e bebeu o champanha. Esperou dez mi?nutos e logo saiu do salão.
Eve estava na entrada do hotel, vendo como me?tían ao Jerry em um carro patrulha.
-por que o tem feito?
-Precisava ganhar tempo e uma causa provável. O suspeito mostrou tendências violentas e maneiras nervosos, indicativos de consumo de drogas.
Polis, pensou Roarke.
-Tirou-a de gonzo, Eve -disse.
—Isso também. Sairá antes de que a possam ence?rrar. Tenho que me dar pressa.
—Aonde vai? -inquiriu ele enquanto se apressavam para a parte posterior do cenário.
-Necessito uma amostra dessa coisa que bebe Jerry. Fazendo um pouco de armadilha, tenho as mãos livres para registrar. Quero que o analisem.
-Seriamente crie que consome ilegais à vista de todos?
-Acredito que as pessoas como ela (e como Pandora, Young e Redford) são incrivelmente arrogantes. Ade?más de bonitos e ricos, têm certo poder e prestígio. sentem-se por cima das leis. -Olhou-lhe significativa?mente enquanto se metia no vestidor do Jerry-. Você tie?nes as mesmas tendências.
—OH, obrigado.
—Teve sorte de que chegasse eu para te levar pelo bom caminho. Vigia a porta, quer? Se Jerry tiver um advogado veloz, não vai dar tempo a terminar isto.
—Já, o bom caminho, claro —comentou Roarke apos?tándose à porta enquanto ela efetuava o registro.
-Jo, aqui há uma fortuna em cosméticos.
-É seu meio de vida, tenente.
-Em produtos de penteadeira, eu acredito que gasta várias centenas de quilogramas ao ano, só em tópicos. Ou seja o que gasta em ingestivos e esculpido. Oxalá pudesse encontrar um pouco de pó mágico.
-Está procurando Immortality? -Roarke riu-. Jerry poderá ser altiva, mas não me parece estúpida.
-Possivelmente tenha razão. -Eve abriu a porta de uma pequena geladeira e sorriu-. Mas aqui dentro há um en?vase com essa beberagem que toma. Uma vasilha fechada. -Franzindo os lábios, Eve olhou para onde estava Roarke-. Suponho que você não poderia...
-me apartar do bom caminho, verdade? -Suspirou, foi para onde estava ela e examinou o fechamento da bo?tella-. Muito sofisticado. Jerry não quer arriscar-se. Esta garrafa parece inquebrável. -Enquanto falava, seus dedos examinaram o mecanismo de fechamento-. Busca me uma lima de unhas, um clipe, algo assim.
Eve olhou nas gavetas.
-Serve-te isto?
Roarke pôs cenho ao ver as diminutas tesouras de ma?nicura.
-O que lhe vamos fazer. -Forçou o fechamento com as pun?tas e logo retrocedeu-. Já está.
-Caray, te dá muito bem.
-Ora, uma pequena habilidade sem importância, te?niente.
-Sim. -Eve pinçou em sua bolsa e tirou uma bolsa de provas. Verteu nela algo mais de cinqüenta mililitros-. Acredito que será mais que suficiente.
-Quer que a volte a fechar? Só será um mo?mento.
-Não faz falta. Passaremos pelo laboratório. Vai de caminho.
-De caminho aonde?
-Tenho ao Peabody de plantão na porta de serviço do Justin Young. -Eve pôs-se a andar com uma sonri?sa-. Sabe, Roarke, Jerry tinha razão em uma coisa. Tenho muito bom gosto para os homens. -Seu gosto é impecável, carinho.
Capitulo Dezessete
Estar enrolada com um homem rico tinha a julgamento do Eve muitos desvantagens, mas também um fator abru?madoramente positivo: a comida. No caminho de vuel?ta através da cidade, Eve pôde ficá-las botas de frango Kiev do AutoChef bem sortido que Roarke levava em seu carro.
—Ninguém leva frango Kiev em seu veículo -disse com a boca enche.
-Para sair contigo, sim. Do contrário, vive-se de sal?chichas de soja e ovos irradiados.
-Ódio os ovos irradiados.
-Isso pensava. -Agradava-lhe ouvi-la rir-. Está de um humor muito estranho, tenente.
-A coisa parte, Roarke. na segunda-feira pela manhã o re?tiran as acusações ao Mavis, e para então já terei a esses ca?brones. Tudo foi por dinheiro -disse, limpando-se com os de?dos uns grãos de arroz da Índia-. Maldito dinheiro. Pandora era o contato para obter Immortality, e esses três pássaros queriam sua fatia.
-Convenceram-na para ir a casa do Leonardo e logo a mataram.
-o do Leonardo deveu ser idéia dela. Pandora morria de vontades de briga. Deu-lhes uma magnífica oportu?nidad e o cenário adequado. Que de repente aparecesse Mavis foi a cereja perfeita. Do contrário teriam deixado ao Leonardo desligando das Pelotas.
-Não é que queira questionar seu sutil, ágil e perspi?caz inteligência, mas por que não a carregaram no primeiro beco? Se estiver no certo, não era a primeira ocasião.
-Esta vez queriam lhe jogar um pouco de teatro. -Eve moveu os ombros-. Hetta Moppett era um cabo solto em potência. Um deles foi ver a, possivelmente a in?terrogó e logo se livrou dela. Era melhor não arriscar-se ou seja o que Boomer podia ter contado enquanto se a follaba.
—E o seguinte foi Boomer.
-Sabia muito. Não é provável que soubesse o da máfia a três. Mas tinha impregnado a um deles, e quando lhe viu no clube, se escabulló. Conseguiram lhe tirar de seu es?condite, torturaram-no e o mataram. Mas não puderam voltar para agarrar a droga.
-Tudo por dinheiro?
-Por dinheiro e, se essa análise der o que eu me penso, pelo Immortality. Pandora ia disso, não há nenhuma dúvida. Entendo que se Pandora tinha ou queria algo, Jerry Fitzgerald queria mais. Falamos de uma droga que te faz parecer mais jovem, mais sexy. Para ela, profesional-mente, podia significar uma fortuna. Sem mencionar seu enorme ego.
-Mas é letal, não?
-É o que se diz do tabaco, mas eu te vi en?cender algum que outro cigarro. -Arqueou uma sobrancelha-. Du?rante a segunda metade do século vinte o sexo sem protec?ción era letal; isso não impediu que a gente jodiera com desconhecidos. As armas são letais, mas levamos dé?cadas comprando na rua. E logo...
-Entendido. A maioria de nós pensa que vai viver eternamente. Fez- provas ao Redford?
-Sim. É inocente. Isso não quer dizer que suas mãos estejam menos engorduradas de sangue. Penso encerrá-los aos três para os próximos cinqüenta anos.
Roarke deteve o carro ante um semáforo e se voltou a olhá-la.
-Eve, me diga, persegue-os por assassinato ou por ha?berle vexado a vida a seu amiga Mavis?
-O resultado é o mesmo.
-Seus sentimentos não.
-Têm-lhe feito mal -disse ela, tensa-. O hão he?cho passar fatal. Mavis perdeu seu emprego e grande parte da confiança que tinha em si mesmo. Isso têm que pagá-lo.
-De acordo. Só te direi uma coisa.
-Não necessito críticas ao procedimento por parte de alguém que salta fechaduras como você.
Roarke tirou um lenço e lhe tocou o queixo.
-A próxima vez que comece com que não tem fa?milia -disse brandamente-, pensa-o duas vezes. Mavis é tua família.
Ela foi protestar, mas em troca disse:
-Eu faço meu trabalho. Se de passada obtenho certa sa?tisfacción pessoal, o que tem que mau nisso?
-Nada absolutamente. -Beijou-a e logo torceu a iz?quierda.
-Quero dar a volta pela parte de atrás do edifi?cio. Gira à direita na próxima esquina e logo...
-Já sei como ir pela parte de atrás.
—Não me diga que também é o proprietário disto.
-Está bem, não lhe direi isso. A propósito, se me tivesse perguntado sobre o sistema de segurança em casa do Young, eu poderia te haver economizado (ou ao Feeney) tempo e moléstias. -Ao ver que ela bufava, ele sorriu-. Se me der cier?ta satisfação pessoal o ser dono de grande parte do Man?hattan, o que tem que mau nisso?
Eve se voltou para o guichê para que não o vie?ra sorrir.
Ao parecer, Roarke sempre tinha mesa nos mais exclusivos restaurantes, poltronas de primeira fila na peça de teatro de maior êxito, e uma praça livre para estacionar na rua. Roarke colocou o carro e apagou o motor.
-Não pensará que vou esperar te aqui, suponho.
-O que eu penso não está acostumado a te convencer nunca. Vamos, mas procura recordar que você é um civil e eu não.
-Isso é algo que não esquecimento nunca. -Fechou o carro com o código. Era um bairro tranqüilo, mas o veículo valia o aluguel do meio ano na mais elegante unidade do edifício-. Carinho, antes de que ponha em modo oficial, o que leva debaixo desse vestido?
-Um artefato para voltar loucos aos homens.
-Pois funciona. Parece-me que nunca te tinha visto mover o traseiro dessa maneira.
—Agora é um culo de poli, assim cuidado.
-Isso é o que faço. -Ele sorriu e propinó à zona em questão um palmetazo-. Sério. boa noite, Peabody.
-Roarke. -A cara inexpressiva, como se não tivesse ouvido uma só palavra, do Peabody se destacou de entre uns arbustos-. Dallas.
-Alguma sinal de... —Eve se escondeu à defensiva quando o arbusto emitiu um som, mas logo amaldiçoou ao ver sair a Casto sorridente-. Maldita seja, Peabody.
—Né, não a culpe a ela. Eu estava com o DeeDee cuan?do recebeu sua chamada. Não deixei que se desembara?zara de mim. Cooperação interdepartamental, né, Eve? -Sem deixar de sorrir, estendeu a mão-. É um prazer lhe conhecer, Roarke. Jake Casto, de Ilegais.
-Me imaginava. -Roarke arqueou uma sobrancelha ao dar-se conta de que Casto se fixava no cetim negro que envol?vía ao Eve. À maneira dos homens ou dos cães irascíveis, Roarke ensinou os dentes.
-Bonito vestido, Eve. Dizia você algo de levar uma amostra ao laboratório.
-Sempre escuta todas as transmissões de seus colegas?
-Bom, eu... -Casto se acariciou o queixo-. A lla?mada chegou em um momento crítico, entende. Deveria ter estado surdo para não ouvi-lo. Acredita que pilhou ao Jerry Fitzgerald com uma dose do Immortality?
—Terá que esperar o resultado da análise. —Eve olhou ao Peabody-. Young está dentro?
—Confirmado. verifiquei segurança, e entrou por volta das dezenove. Após segue aí.
-A menos que tenha saído por detrás.
-Não, senhor. -Peabody se deu o luxo de sorrir-. Lla?mé a seu enlace quando cheguei aqui, e me respondeu ele. Pedi desculpas por um mau contato.
-Então Young lhe viu.
Peabody negou com a cabeça.
-Essa classe de homens não recorda a um ajudante. Nem se fixou em mim, e desde que eu cheguei às vinte e três trinta e oito não houve movimento nesta zona. -Assinalou para cima-. Tem as luzes acesas.
-Então esperaremos. Casto, por que não ajuda um pouco e vai vigiar a entrada principal.
Ele ensinou seu sorriso de dentifrício.
-Quer livrar-se de mim?
Ela levantou os olhos.
-Pois sim. Explico-me: sou primeiro investigador dos casos Moppett, Johannsen, Pandora e Ro. Tenho plena autoridade para coordenar as investigações. portanto...
-É dura de cortar, Eve. -Casto suspirou, encolheu os ombros e piscada o olho ao Peabody-. Me espere, DeeDee.
-Sinto muito, tenente -começou a dizer Peabody assim que Casto se afastou-. Ele escutou a transmissão. Como não havia forma de impedir que viesse aqui por sua conta, pareceu-me mais lógico me assegurar sua ajuda.
-Não acredito que haja problemas. -O comunicador zumbiu. Eve se foi a um à parte—. Aqui Dallas. -Escutou um momento, franziu os lábios, assentiu-. Obrigado. -foi guardar se o aparelho no bolso mas caiu na cuen?ta de que não tinha, e o meteu em sua bolsa-. Fitzgerald saiu, pagando ela mesma. Não sentiria saudades que conseguisse uma investigação operacional por essa rixa de nada.
-Se chegarem os resultados do laboratório -disse Peabody.
-É o que esperamos. -Jogou uma olhada ao Roarke-. A noite poderia ser larga. Não tem por que ficar. Peabody e Casto podem me deixar em casa quando haya?mos terminado.
-Eu gosto das noites largas. me permita um mo?mento, tenente. -Roarke a levou à parte-. Não me ha?bías dito que tinha um admirador em Ilegais.
Ela se mesó o cabelo.
-Não?
-Essa classe de admirador que morre de vontades por te mordiscar as extremidades.
-Curiosa maneira de dizê-lo. Olhe, ele e Peabody são casal agora mesmo.
-Isso não lhe impede de te olhar a lametones.
Eve soltou uma gargalhada, mas ao ver o olhar do Ro?arke, acalmou-se e pigarreou antes de dizer:
-É inofensivo.
-Não me parece isso.
-Venha, Roarke, quão único faz é representar seu papel, como todos os que têm testosterona. -Os olhos dele brilhavam ainda, e algo fez que Eve notasse uma vertigem de nervos no estômago, embora não desagradável-. Não estará ciumento, verdade?
-Pois sim. -Era degradante admiti-lo, mas ele era dos que faziam o que terei que fazer.
-Seriamente? -A sensação no estômago foi agora claramente prazenteira-. Pois obrigado.
Não merecia a pena suspirar. Nem tampouco lhe dar um meneio. Roarke afundou as mãos nos bolsos e incli?nó a cabeça.
-De nada. Casamo-nos dentro de uns dias, Eve.
Outra vez os nervos.
-Sim.
—Como sigo te olhando assim, vou ter que lhe pegar.
Ela sorriu e lhe aplaudiu a bochecha.
-Tranqüilo, homem.
antes de que Eve pudesse reprimir do todo a risada, lhe agarrou da boneca.
-Pertence-me, Eve. -Seus olhos jogaram faíscas, seus dentes brilharam—. A coisa é mútua, carinho, mas se por acaso não o tinha notado, parece-me justo te dizer que sou muito consciente de meu território. -Beijou-a na boca-. Eu te quero. Por absurdo que pareça.
-Realmente é absurdo. -Para acalmar-se, Eve provou a respirar fundo-. Olhe, não acredito que mereça nenhuma explicação, mas Casto não significa nada para mim, nem na?die mais. Em realidade, Peabody está penetrada por ele. Assim não fique nervoso.
-Vale. Quer que volte para carro e te traga café?
Ela inclinou a cabeça.
—É uma mutreta troca para pôr fim à discussão?
-Recordo-te que meu café não é do barato.
-Peabody toma frouxo. Ten em conta. -Eve o aga?rró do braço, o levou de novo aos arbustos—. Espera um momento -murmurou Eve enquanto passava um carro pela rua a toda velocidade. O carro freou chiando e se meteu rapidamente em uma praça elevada do aparca?miento. Roçou impaciente vários pára-choque. Uma mulher vestida de prata baixou a grandes limiares pela rampa.
-Aí está -disse Eve em voz baixa-. Não perdeu o tempo.
-O que você pensava, tenente -comentou Peabody.
—Sim. por que uma mulher que acaba de passar por uma situação incômoda e potencialmente chata vem correndo a ver um homem com o que acaba de rom?per, ao que acusa de havê-la enganado e que lhe deu um par de guantazos? E todo isso em público.
-Tendências sadomasoquistas? -sugeriu Roarke.
-Não acredito -disse Eve-. Eu mas bem diria que se trata de sexo e dinheiro. E fixe-se, Peabody. Nossa heroí?na conhece a entrada de serviço.
Com um olhar despreocupado para trás, Jerry foi diretamente para a entrada de manutenção, intro?dujo o código e desapareceu no interior do edifício.
-Parece como se o tivesse feito freqüentemente. -Roar?ke pôs uma mão no ombro do Eve-. Bastará isso para refutar seu álibi?
-É um bom princípio, certamente. -Tirou da bolsa uns óculos de reconhecimento, as ajustou e enfocou ha?cia as janelas do Justin Young-. Não lhe vejo -murmu?ró-. Não há ninguém na zona de estar. -Inclinou a cabe?za-. O dormitório está vazio, mas em cima da cama há uma bolsa de viagem. Muitas portas fechadas. Não há for?ma de ver a cozinha nem a entrada posterior. Maldita seja.
Pôs as mãos em jarras e seguiu observando.
—Há um copo na mesinha de noite, e se vê uma luz. Acredito que o monitor do dormitório está aceso. Aí chega ela.
Os lábios do Eve seguiram curvados enquanto ob?servaba ao Jerry irrompendo no dormitório. Os óculos especiais eram o bastante potentes para lhe permitir ver um primeiro plano de fúria desbocada. A boca do Jerry se estava movendo. Agora se tirava os sapatos e os lan?zaba longe.
-Miúdo mau humor -murmurou Eve-. Está-lhe lla?mando, não pára de atirar coisas. Entra o jovem herói pela esquerda. Caramba, está muito bem dotado.
Peabody, com seus óculos ajustados, emitiu um murmu?llo de assentimento.
Justin estava totalmente nu, a pele e o cabelo molhados. Aparentemente, Jerry não se impressionou. lançou-se sobre ele, lhe empurrando enquanto Justin levantava as mãos e negava com a cabeça. A discussão crescia em intensidade e dramatismo, com muitos gestos e sacu?didas de cabeça. de repente o tom trocou. Justin estava rasgando o muito caro vestido de noite do Jerry mien?tras ambos caíam sobre a cama.
-Que bonito, Peabody. Estão fazendo as pazes.
Roarke lhe tocou o ombro.
-Não terá outro par de óculos?
-Pervertido. -Mas como lhe parecia justo, Eve o en?tregó as suas-. Ao melhor chamam como testemunha.
-O que? Eu nem sequer estou aqui. -Roarke se ajustou os óculos. Logo comentou—: Não têm muita imagina?ción, verdade? me diga, tenente, dedica muito tempo a presenciar coitos alheios quando vigia?
-Nesse terreno há poucas coisas que não tenha visto.
Reconhecendo o tom, Roarke se tirou os óculos e as devolveu.
-O que trabalho o teu. Agora entendo que os sospe?chosos de assassinato não desfrutem de muita intimidade.
Ela se encolheu de ombros e ficou os óculos. Era importante recuperar a idéia inicial. Sabia que alguns colegas seus se esquentavam olhando as quartos da gente, e o mau uso dos óculos de vigilância estava à ordem do dia. Ela as considerava uma ferramenta, im?portante, sim, por mais que sua utilização fora frecuente?mente recusada nos tribunais.
-aproxima-se o grande final -disse Eve sem mais-. Terá que reconhecer que são rápidos.
Apoiado nos cotovelos, Justin a penetrou. Com os pés no colchão, Jerry elevou os quadris para recebê-lo. Seus rostos brilhavam de suor, e os olhos muito fechados acrescentavam expressões geme as de tortura e prazer. Cuan?do ele se derrubou sobre ela, Eve começou a falar.
Mas optou por calar-se ao ver que Jerry lhe abraçava. Justin lhe acariciou o pescoço, bochecha contra bochecha.
-Vá -resmungou Eve-. Não é só sexo. querem-se.
O afeto humano resultava mais difícil de observar que a lascívia animal. separaram-se brevemente e se in?corporaron ao uníssono com as pernas entrelaçadas. Lhe acariciou o cabelo emaranhado. Ela apoiou a cara na pal?ma de sua mão. Começaram a falar. A julgar por suas expressões, o tom era sério, intenso. Em um momento dado, Jerry baixou a cabeça e chorou.
Justin lhe beijou o cabelo, a frente, ficou em pé e cruzou a habitação. De uma mininevera, tirou uma esbelta bote?lla de cristal e serve um copo de um líquido azul escuro.
Lhe via sério quando lhe arrebatou o copo e o apurou de um só gole.
-Bebidas de saúde, e uma merda. Jerry consome.
-Só ela -atravessou Peabody-. Ele não toma nada.
Justin tirou o Jerry da cama e rodeando-a pela cintura a levou do dormitório, fora da vista.
-Siga olhando, Peabody -ordenou Eve. tirou-se os óculos as deixando desligadas do pescoço-. Está a ponto de dizer algo. E não acredito que tenha que ver com nossa pe?queña escaramuça. A pressão tem feito trinca no Jerry. Há pessoas que não nasceram para matar.
-Se estão tentando distanciar-se um do outro para dar mais força a seu álibi, foi arriscado por sua parte vir esta noite aqui.
Eve assentiu e olhou ao Roarke.
-Lhe necessitava. Há muitas classes de vício. —Como seu comunicador fazia assinale, Eve colocou a mão na bolsa-. Aqui Dallas.
-Pressas, pressas. Sempre igual.
-me dê boas notícias, Dickie.
-Uma interessante mescla, tenente. Além dos aditivos para convertê-la em líquido, uma bonita cor e um sabor ligeiramente afrutado, tem o que estava procurando. Todos os elementos do pó previamente analisado estão aí, incluído o néctar de Casulo In?mortal. Não obstante, trata-se de uma mescla menos po?tente, e se se ingere por via oral...
-Com isso basta. Transmite um relatório completo à unidade de meu escritório, com cópias para o Whitney, Casto e o fiscal.
-Ponho-lhe também um bonito laço vermelho ao redor? -disse ele de mau humor.
-Não seja plasta, Dickie. Terá suas poltronas da lí?nea de cinqüenta jardas. -Eve cortou a transmissão, son?riente-. Peça uma ordem de registro e confisco, Peabody. Vamos por eles.
-Sim, senhor. Né... e Casto?
-lhe diga que iremos pela parte de diante. Ilegais terá sua fatia.
Eram as cinco da manhã quando terminaram o pape?leo oficial e o primeiro turno de interrogatórios. Os advogados do Fitzgerald tinham insistido em ter uma pausa de seis horas como mínimo. Sem outra alternativa que lhes dar esse gosto, Eve ordenou ao Peabody que se toma?ra o tempo livre até as oito e passou por seu escritório.
-Não te havia dito que te fosses dormir? -pre?guntó quando viu o Roarke sentado a sua mesa.
-Tinha trabalho.
Eve olhou com maus olhos a tela acesa de seu ordenador. Intrincada-las cianocopias a fizeram assobiar.
-Isto é propriedade da polícia. Pode-te custar até dezoito meses de arresto domiciliário.
-Pode demorá-lo um pouco? Quase terminei. Vista esta asa, todos os níveis.
-Não brinco, Roarke. Não pode usar meu enlace para assuntos pessoais.
-Mmm. Ajustar centro recreativo C. Superfície in?suficiente. Transmitir as dimensões emendadas, CFD Arquitetura e Desenho, escritório FreeStar Um. Guardar em disco e desconectar. —Roarke recuperou o disco e o meteu no bolso-. Dizia?
-Esta unidade está programada só para minha voz. Como conseguiste acessar?
Ele só sorriu.
-Vamos, Eve!
-Está bem. Não me diga isso. Tampouco quero saber?lo. Não podia ter feito isto em casa?
-Claro. Mas então não teria tido o prazer de te acompanhar e fazer que durma umas horas. -ficou em pé-. Que é o que vou fazer agora.
-Pensava dormir um pouco no sofá.
-Não, pensava ficar aqui repassando os dados e fazendo cálculos de probabilidades até que se lhe ca?yeran os olhos.
Ela poderia havê-lo negado. Em geral, não era muito difícil dizer mentiras.
-Só há um par de coisas que quero pôr em or?den.
Ele inclinou a cabeça.
-Onde está Peabody?
—Mandei-a a casa.
—E o inestimável Casto?
Vendo a armadilha mas não a via de escapamento, Eve se en?cogió de ombros.
-Acredito que se foi com ela.
-Seus suspeitos?
-Deram-lhes um descanso.
-Bem -disse ele, agarrando-a do braço-. Pois você também vais descansar. -Ela lutou mas Roarke seguiu empurrando-a para o corredor-. Estou seguro de que a todo mundo gosta de seu novo look, mas acredito que o mejora?rás se dormir um momento, toma banho e te troca de roupa.
Ela se olhou o vestido de cetim negro. Tinha esquecido totalmente que o levava.
-Acredito que tenho uns nos cubra no armário. -Cuan?do ele conseguiu colocá-la no elevador sem muito es?fuerzo, ela viu que fraquejava-. Vale, está bem. Irei a casa, tomarei banho e pode que tome o café da manhã algo.
E, pensou ele, dormirá ao menos cinco horas.
-Que tal te foi aí dentro?
-Mmm? —Ela piscou, ficando alerta—. Não avançamos muito. Tampouco esperava grande coisa no primeiro turno. Seguem atendo-se a seu álibi e assegurando que alguém deixou ali a droga. Acredito que po?dremos fazer um test ao Fitzgerald. Seus advogados protestaram muito a respeito, mas nos sairemos com a nossa. —Bocejou.
-Utilizaremos o resultado para polir os dados, se não ser que lhe tiramos toda uma confissão. No próximo in?terrogatorio triplicaremos os efetivos.
Ele a conduziu para a passagem aberta que dava ao estacionamento das visitas onde tinha deixado o carro. Notou que ela caminhava com o extremo cuidado de uma mulher bêbada.
-Não ficam possibilidades -disse ele ao aproximar?se ao carro-. Roarke, desconectar fechamento centralizado.
Abriu a porta e depositou ao Eve no assento do acompanhante.
-Trocaremo-nos. Casto é um bom interrogador. -Descansou a cabeça no respaldo-. Isso tenho que recono?cerlo. E Peabody tem madeira. É muito tenaz. Os ten?dremos aos três em quartos separados, lhes trocando de interrogador. Arrumado a que o primeiro em cair será Young.
Roarke deixou atrás o estacionamento e pôs rumo a sua casa.
-por que? -perguntou.
-Esse bode a quer. O amor o danifica tudo. Co?metes enganos porque está preocupado. Porque é es?túpido.
O sorriu ligeiramente e lhe apartou o cabelo da cara. Eve ficou profundamente dormida.
-diga-me isso .
Capitulo Dezoito
Se a conduta recente era um exemplo do que re?presentaba ter marido, disse-se Eve, a coisa não estava tão mal. Tinham-na embalado na cama, o qual devia re?conocer tinha sido boa idéia, e cinco horas depois a tinha despertado o aroma do café quente e uns gofres recém feitos.
Roarke já estava em pé e enfrascado em transmitir alguma informação vital.
Chateava-lhe de vez em quando que ele pudesse pasar?se sem dormir mais que qualquer humano normal, mas não o havia dito. Essa classe de comentário só teria provocado nele um sorriso presunçoso.
Falava em seu favor o fato de que ele não pusesse de manifesto que estava cuidando dela. Sabê-lo era de por si o bastante estranho como para que em cima se vanaglo?riara disso.
assim, dirigiu-se para a Central, descansada, bem alimentada e com o veículo recém reparado, embora não tinha percorrido mais de cinco maçãs quando o carro a surpreendeu com uma nova sentença. O indicador de velocidade assinalava zona vermelha, em que pese a que Eve estava absolutamente parada no meio do entupo.
AVISO. MOTOR SOBRECARREGADO EM CINCO MINUTOS A ESTA VELOCIDADE. REDUZA POR FAVOR Ou TROQUE Ao SUPERDIRECTA AUTOMÁTICA.
-Ao corno -disse ela, e conduziu o resto do caminho com a constante advertência de que ou reduzia a veloci?dad ou explorava.
Não pensava deixar que isso lhe trocasse o humor. Os negros nubarrones que faziam amontoá-los gases de escapamento da circulação não a incomodavam. O fato de que fora sábado, uma semana antes de suas bodas, e que previsse um dia comprido, duro e potencialmente brutal de trabalho não minguou seu prazer.
Entrou na Central com passo muito decidido e sorriso turvo.
-Parece a ponto de comer carne crua -comentou Feeney ao vê-la.
-É como mais eu gosto. Alguma novidade?
-Vamos pelo caminho mais largo. Porei-lhe ao co?rriente.
Feeney foi para um escorregador aéreo, quase vazio a meio-dia. O mecanismo gaguejou um poquito, mas os levou para cima. Manhattan ficou a seus pés como uma preciosa cidade em miniatura de avenidas que se cruzavam e veículos de vivas cores.
Os relâmpagos gretaram o céu com um acompa?ñamiento de trovões que sacudiu o recinto de cristal. A chuva caiu muito pela greta.
Feeney olhou para baixo e viu como os pedestres se amontoavam como formigas enlouquecidas. Um airbús fez soar sua buzina e passou roçando quase o escorregador.
-Maldita seja! -Feeney se levou uma mão ao cora?zón-. Onde diabos tiram sua licença estes porcos?
-Qualquer que tenha bom pulso pode conduzir um desses cacharros. Eu não me subiria nem com uma pis?tola no peito.
-O transporte público é a desonra desta cidade. -Feeney tirou uma bolsa de amendoins doces para sose?garse-. Enfim, sua intuição sobre as chamadas desde o Maui teve êxito. Young chamou duas vezes a casa do Fitzgerald antes de voltar na ponte aérea. Pediu o show em tela, além disso. As duas horas inteiras.
-Algum dado de segurança sobre sua casa a noite em que mataram a Barata?
-Young entrou com sua bolsa de viagem por volta das seis da manhã. O avião chegava a meia-noite. Não há dados do que fez o resto do tempo.
-Não há álibi. Teve tempo de sobra para ir do terminal à cena do crime. Podemos localizar ao Fitzgerald?
-Esteve no salão de baile até pouco mais das vinte e dois trinta. Ensaios para o de ontem à noite. Não apareceu em sua casa até as oito. Fez muitas chamadas: seu estilista, seu massagista, seu esculpidor. Ontem passou cua?tro horas no Paradise, fazendo que a deixassem gua?pa. Quanto ao Young, esteve todo o dia falando com seu agente, seu administrador Y... -Feeney sorriu um pouco-. Com um agente de viagens. Nosso homem que?ría informação sobre uma viagem para duas à colônia Éden.
-Quero-lhe, Feeney.
—Bom, me quer muita gente. De caminho recolhi o relatório dos do gabinete. Nem em casa do Young nem na do Fitzgerald há nada que nos sirva. O único rastro de ilegais estava no suco azul. Se tiverem mais, guardam-no em outro site. Não há perseverança de nin?gún tipo de transação nem sinais de fórmulas. Ainda ficam por examinar os discos rígidos, se por acaso escondie?ron algo ali. De todos os modos, não acredito que sejam uns ge?nios da tecnologia.
-Não, que poderia saber mais disto é Redford. Eu acredito que aqui há algo mais que tráfico e assassinato, Feeney. Se obtivermos que a substância passe como veneno e lhes desligamos conhecimento prévio de suas qualidades le?tales, teremos fraude organizada a grande escala e cons?piración para assassinar.
-Ninguém usou conspiração para assassinar das Guerras Urbanas.
O escorregador grunhiu ao parar-se.
-Pois eu acredito que sonha muito bem.
Encontrou ao Peabody esperando frente à área de in?terrogatorios.
—Onde estão outros?
-Os suspeitos estão falando com seus advogados. Casto foi a procurar café.
-Bem, contate com as salas de reunião. Lhes terminou o tempo. sabe-se algo do comandante?
—Vem para aqui. Diz que quer observar. A ofi?cina do fiscal participará via enlace.
-Muito bem. Feeney se encarregará de examinar as gravações dos três. Não quero nenhuma metedura de pata quando isto vá aos tribunais. Você se ocupa do Fitzgerald, Casto do Redford. Eu agarro ao Young.
Viu vir a Casto com uma bandeja e café para todos.
-Feeney, lhes informe dos dados adicionais. Úsen?los com cuidado -acrescentou, agarrando uma taça-. Cambia?remos de equipe dentro de meia hora.
Eve entrou em sua zona. O primeiro sorvo de café abyec?to lhe fez sorrir. O dia ia ser bom.
-Acredito que pode fazê-lo melhor, Justin. -Eve estava esquentando motores. Levava três horas de interroga?torio.
-Pergunta-me o que é o que ocorreu. Os outros me perguntam o que é o que ocorreu. —Young bebeu um pouco de água. Ele sim estava perdendo o passo-. Já o hei dito.
-Você é ator -assinalou ela, todos sorrisos amáveis-. E dos bons. Assim o dizem as críticas. Em uma que li o outro dia afirmavam que é capaz de fazer que uma frase má soe a música. Eu não ouço nada, Justin.
-Quantas vezes quer que lhe repita o mesmo? -Olhou para seu advogado—. Quanto tempo vai durar isto?
-Podemos interromper o interrogatório quando quisermos -recordou-lhe a advogada. Era uma loira feno?menal de olhar penetrante—. Não tem nenhuma obliga?ción de seguir falando.
—Em efeito —interveio Eve—. Podemos parar. Pode voltar para custódia. Não poderá sair baixo fiança havendo ilegais de por meio, Justin. -inclinou-se para frente, assegurando-se de que ele a olhasse aos olhos-. E menos lhe?niendo sobre sua cabeça quatro acusações por assassinato.
-Meu cliente não foi acusado de outro delito que uma suspeita de posse. -A advogada a olhou desde seu nariz estreito como uma agulha-. Não têm provas, te?niente. Isso sabemos todos.
-Seu cliente está ao bordo de um precipício. Isso o sa?bemos todos. Quer cair você sozinho, Justin? Não me parece justo. Seus amigos estão respondendo agora mesmo a outras perguntas. -Levantou as mãos, separou os dedos-. O que pensa fazer se lhe delatam?
-Eu não matei a ninguém. -Justin desviou o olhar para a porta e o espelho. Sabia que tinha público, e por pri?mera vez não sabia como atuar-. Nem sequer conhecia essas pessoas.
-Mas a Pandora sim.
-Naturalmente que conhecia a Pandora. É evidente.
-Você esteve em casa dela a noite em que foi ase?sinada.
-Já o hei dito antes, não? Escute, Jerry e eu fui?mos a sua casa porque ela nos havia .convidado. Tomamos umas taças, chegou a outra mulher. Pandora ficou muito pesada e nos partimos.
-Revistam usar você e a senhorita Fitzgerald a en?trada de serviço do edifício onde vivem?
-É pela intimidade -insistiu ele-. Se tivesse você aos jornalistas acossando-a cada vez que quer fazer pipi, compreenderia-o.
Eve sabia o que era isso e sorriu ensinando os dien?tes.
-É curioso, mas nenhum dos dois parecia muito receoso dos média. Se eu fosse cínica, diria que uste?des mas bem os utilizavam. Quanto faz que Jerry toma Immortality?
-Não sei. -Voltou a olhar ao espelho, como se espera?ra que um diretor gritasse «cortem!» e terminasse a esce?na-. Já lhe hei dito que eu ignorava o que havia nessa be?bida.
-Tinha uma garrafa em seu dormitório, mas não sabia o que havia dentro. Nem sequer o provou?
-Jamais.
-Isso também é curioso. Sabe, Justin, se eu tivesse algo na geladeira, teria tentações de prová-lo. A me?nos, claro está, que soubesse que era veneno. Você sabe que Immortality é um veneno lento, não é assim?
-O que quer que lhe diga. -calou-se, respirou fundo pelo nariz-. Eu não sei nada a respeito.
-Uma sobrecarga do sistema nervoso, de ação lenta mas igualmente letal. Você serve uma taça ao Jerry, a deu. Isso é assassinato.
-Tenente...
-Eu não tenho feito nada ao Jerry -explorou ele-. Estou apaixonado por ela. Nunca poderia lhe fazer danifico.
-Seriamente? Várias testemunhas afirmam que você lhe fez mal faz uns dias. Pegou ou não pegou você a se?ñorita Fitzgerald no salão Waldorf nos dia dois de julho?
-Não, eu... Perdemos os estribos. -Começava a não recordar bem seu papel—. Foi um mal-entendido.
-Você a pegou na cara.
-Sim, bom, não. Sim. Estávamos discutindo.
-E como discutiam, dá-lhe você um murro a mu?jer que ama e a deixa deitada. Ainda estava você tão zangado quando ela se apresentou ontem à noite em seu aparta?mento?, quando você lhe serve um copo de veneno?
—Já o hei dito, não é como você diz. Eu sou in?capaz de lhe fazer danifico. Jamais me zanguei com ela.
-Nunca se zangou com ela. Nunca lhe tem feito mal. Acredito-lhe, Justin. -Eve serenou seu tom de voz, se in?clinó novamente para ele, pôs uma mão amável sobre a do Justin, que tremia-. Nem tampouco a pegou. Você o fingiu tudo, não é assim? Você não é dos que pegam à mulher amada. Você representou um papel, como em um de seus filmes.
—Não, eu... —Levantou impotente os olhos para o Eve, e ela soube que já lhe tinha.
-Você tem feito muitos vídeos de ação. Sabe como dar um murro, como fingir um. E isso fez aquele dia, não é verdade, Justin? Você e Jerry fingiram uma rixa. Você não lhe tocou nem um cabelo. -Sua voz era suave, cheia de compreensão-. Você não é um indivíduo vio?lento, verdade, Justin?
Destroçado, ele apertou os lábios e olhou a seu aboga?da. Ela levantou a mão para atalhar mais pergunta e lhe disse algo ao ouvido.
Sem alterar-se, Eve esperou: sabia a confusão em que estavam colocados. Admitia Justin ter fingido, convertendo-se em mentiroso, ou declarava ter pego a seu amante, de?mostrando seu caráter violento? Era uma pirueta difícil de passar.
A advogada se incorporou e cruzou os dedos.
-Meu cliente e a senhorita Fitzgerald representaram uma inofensiva tragédia. Foi uma tolice, certamente, mas tampouco é delito fingir uma briga.
-Não, não é delito. -Eve advertiu a primeira greta que debilitava seu álibi-. E tampouco o é fugir ao Maui e fingir que um se encama com outra mulher. Tudo era inventado, não é certo, Justin?
-Bem, nós... Suponho que não tivemos tempo de refletir. Estávamos preocupados, nada mais. Des?pués que você pilhasse ao Paul, tememos que viesse a por nós. Os três estávamos ali aquela noite, assim que nos parecia lógico.
-Isso mesmo pensei eu, Justin. -Eve o olhou radian?te-. É um passo muito lógico.
—Ambos tínhamos importantes projetos em pers?pectiva. Não podíamos nos enfrentar ao que está pasan?do agora mesmo. Acreditávamos que se fingíamos uma ruptu?ra, isso daria mais peso a nosso álibi.
-Porque sabiam que o álibi era débil. Se figu?raban que nos daríamos conta de que um dos dois, ou ambos, podiam ter saído sem ser vistos do apartamen?to a noite em que morreu Pandora. Podiam ter ido a casa do Leonardo, matá-la e retornar a casa sem que o si-tema de segurança detectasse nada.
-Não fomos a nenhuma parte. Não pode demonstrar o contrário. -Endireitou as costas-. Você não pode provar nada.
-Não esteja tão seguro. Seu amante é viciada no Immortality. Você tinha essa droga em sua casa. Como a conseguiu?
-Pois... alguém a deu a ela. Não sei.
-Foi Redford? Foi ele quem a enganchou, Justin? Se o fez, deve você de odiá-lo. A mulher a quem ama começou a morrer a primeira vez que provou um sorvo do Immortality.
—Não é um veneno, equivoca-se. Ela me disse que assim era como Pandora pretendia apropriar-se de tudo. Pando?ra não queria que Jerry se beneficiasse dessa bebida. A muito cerda sabia que ao Jerry podia ir muito bem, mas ela queria... —interrompeu-se, fazendo caso da adver?tencia de sua advogada muito tarde.
-O que queria ela, Justin? Dinheiro? Muito dinheiro? A você? burlou-se do Jerry? Ameaçou a você? É por isso que você a matou?
-Eu não o fiz. Já lhe hei dito que não lhe pus as ma?nos em cima. Discutimos, vale? Tivemos uma cena depois que se fora a garota do Leonardo aquela noite. Jerry estava muito molesta. Tinha razão para está-lo, des?pués do que disse Pandora. Por isso me levei isso, fomos tomar umas taças e a acalmei um pouco. Disse-lhe que não se preocupasse, que havia outras maneiras de conseguir um fornecimento.
-Quais?
Respirando com dificuldade, Young escapou com fúria da mão de sua advogada.
—Cale-se já —lhe espetou—. Do que me está servindo tê-la aqui? Me vão meter em uma cela de um momen?to a outro. Quero fazer um trato. -passou-se o dorso da mão pela boca-. Quero fazer um trato.
-Disso já falaremos -disse Eve com calma-, o que me pode oferecer?
-Paul -disse ele, estremecendo-se-. Dou ao Paul Redford. Ele a matou. E provavelmente os matou a todos.
Vinte minutos depois, Eve se passeava pela sala.
-Quero que Redford fique nervoso, que se pre?gunte até onde falaram os outros.
-Da senhorita não tiramos grande coisa. -Casto apoiou os pés na mesa e cruzou os tornozelos-. É muito dura. mostrou signos de rendição (a boca seca, tremores, etcétera), mas se aferra a seu álibi.
-Não provou isso em dez horas ao menos. Cuán?to tempo acredita que poderá agüentar?
-Não saberia dizer. -Casto abriu as mãos-. Poderia sair-se pela tangente, ou pode que dentro de dez mi?nutos pareça mingau.
—Muito bem, então não contemos com ela.
-Redford titubeou o bastante -atravessou Peabody-. Acredito que está cagado de medo. Seu advogado é um osso duro de roer. Se conseguíssemos lhe ter solo uns minu?tos, cantaria de plano.
-Não temos essa opção. -Whitney examinou a co?pia impressa dos últimos interrogatórios—. A declara?ción do Young servirá para lhe pressionar.
-É muito débil -murmurou Eve.
—Faça que não o pareça. Ele diz que Redford foi quem introduziu ao Fitzgerald na droga fará uns três meses e lhe propôs que fossem sócios.
-E segundo nosso bonito ator, tudo ia ser legal e sem disfarces. -Eve grunhiu com ironia-. Ninguém é tão cândido.
-Não sei -disse Peabody-. Está coado pelo Fitzgerald. Acredito que ela pôde lhe convencer de que o negócio era honesto: uma nova linha de produtos de beleza com o nome do Fitzgerald.
-E tudo o que tinham que fazer era desbancar a Pandora. -Casto sorriu-. O dinheiro viria sozinho.
-Tudo se reduz a benefícios. Pandora lhes estorvava. -Eve se deixou cair em uma cadeira-. Os outros lhes estorvavam. Pode que Young só seja um parvo muito inocente, ou pode que não. acusou ao Redford, mas do que não se deu conta ainda é de que podia estar acusando ao Fitz?gerald ao mesmo tempo. Lhe disse o suficiente para que planejasse uma viagem à colônia Éden, esperando que entre os dois pudessem conseguir um espécime para eles sozinhos.
-Se Young solta o resto -assinalou Whitney-, hare?mos o trato que ele quer. Ainda lhe bebe muito para esclarecer o assassinato, Eve. Tal como estão as coisas, o tes?timonio do Young não tem muito peso. Ele acredita que Redford eliminou a Pandora. Deu-nos o móvel. Po?demos estabelecer a oportunidade. Mas não há provas físicas, não há testemunhas.
Whitney ficou em pé.
-me consiga uma confissão, Dallas -disse-. O fiscal me está pressionando. Retirarão as acusações contra Mavis Freestone na próxima segunda-feira. Se não terem nada mais que dar aos média, vamos parecer todos um rebanho de idiotas.
Casto tirou uma navalha e começou a limpá-las unhas enquanto Whitney saía.
-Está bem claro que não interessa que o fiscal parez?ca um idiota. Caray, querem que o demos tudo em bandeja, não? -Olhou ao Eve-. Redford não vai a confe?sar um assassinato, Eve. Só aceitará o da droga. Que diabos, se quase ficar bem. Mas não aceitará quatro homicídios. Só nos bebe uma espe?ranza.
-Qual? -quis saber Peabody.
-Que ele não o fizesse sozinho. Se afundarmos a um dos outros, afundamos a ele. Eu arrumado pelo Fitzgerald.
-Então você dela encarregue-se, -resmungou Eve-. Eu vou com o Redford. Peabody, agarre a foto do Redford. Volte para clube, a casa do Boomer, de Barata, do Moppett. Acostume-lhe a todo mundo. Necessito que al?guien lhe identifique.
Olhou franzindo o sobrecenho o enlace que estava pi?tando e o conectou.
-Aqui Dallas. Não me incomodem.
-Sempre eu adoro ouvir sua voz -disse Roarke impla?cable.
-Estou reunida.
-E eu. Parto para o FreeStar dentro de meia hora.
-Vai do planeta? Mas se... bom, que tenha boa viagem.
-É inevitável. Estarei de volta dentro de três dias. Já sabe como te pôr em contato.
-Sim, é obvio. -Ela queria dizer tolices, inti?midades-. Eu também vou estar bastante ocupada. Verei-te quando retornar.
-Deveria passar por seu escritório, tenente. Mavis tentou ficar em contato contigo várias vezes. Pa?rece ser que não foste à última prova. Leonardo está... desenquadrado.
Eve fez o que pôde para ignorar a risita de Casto.
-Tenho outras coisas na cabeça.
-E quem não. Busca um momento para ir ver lhe, cari?ño. Faz-o por mim. A ver se assim tiramos toda essa gente de casa.
-Havê-lo dito antes. Pensava que você gostava de te?ner companhia.
—E eu pensava que era teu irmão —murmurou Roarke.
-O que?
-Nada, uma velha piada. Eu não gosto de ter tanta gente em casa. Estão todos pirados. Acabo de encontrar ao Galahad escondido debaixo da cama. Alguém lhe há talher de contas e lacitos vermelhos. É uma tortura, para os dois.
Ela se mordeu a língua para conter uma carcaja?da. Roarke não parecia divertido.
-Agora que sei que lhe estão voltando louco, me sien?to muito melhor. Tiraremo-los de casa.
—Faz-o. Ah, e me temo que alguns detalhe sobre o do próximo sábado terá que solucioná-los você sozinha. Summerset tem as notas. Estão-me esperando. -Eve lhe viu fazer gestos a alguém fora de tela-. Até dentro de uns dias, tenente.
-Sim. -O monitor se apagou enquanto ela refunfuña?ba-. Não te vás perder pelo espaço.
-Caray, Eve. Se precisa ir ao modista ou levar o gato ao terapeuta, Peabody e eu podemos nos ocupar desta minúcia de assassinato.
Eve estirou os lábios esboçando um sorriso per?versa:
-Cuidado, Casto.
em que pese a suas muitas e irritantes qualidades, Casto tinha verdadeiro instinto. Redford não ia se derrubar de qualquer jeito. Eve o trabalhou a fundo e teve a doce satis?facción de lhe desligar o assunto das drogas ilegais, mas uma confissão de assassinato múltiplo não era tão singela de conseguir.
-A ver se o entendi bem. -ficou em pé. Ne?cesitaba estirar as pernas. foi servir se café-. Pandora foi quem lhe falou do Immortality. Quanto faz disso?
—Como lhe dito, fará coisa de um ano e meio, possivelmente um pouco mais. —Agora estava absolutamente frio, con?trolando a situação. Sabia que podia sair gracioso, sobre tudo do ângulo em que tinha enfocado o assunto-. Veio-me com uma proposta de negócios. Assim o chamou Pandora, ao menos. Assegurou que tinha acesso a uma fór?mula que revolucionaria a indústria dos cosméticos.
—Um produto de beleza. E não aludiu a que era ile?gal nem que tinha efeitos perigosos.
-Então não. Necessitava um patrocinador para po?ner em marcha o negócio. Pretendia lançar uma linha de produtos baixo seu nome.
-Ensinou-lhe a fórmula?
-Não. Já lhe hei dito antes que me enganou, fez-me promessas. De acordo, por minha parte foi uma sentença. Eu te?nía um vício sexual para ela, e ela explorou essa de?bilidad. Ao mesmo tempo, o negócio em si parecia bue?no. Ela estava consumindo o produto em forma de tabletes. Os resultados pareciam impressionantes. A via mais jovem, mais em forma. Sua energia física e sexual ia em aumento. Bem introduzido no mercado, um produto assim podia gerar enormes benefícios. Eu que?ría dinheiro para certos projetos comercialmente arries?gados.
-E como queria o dinheiro, seguia-lhe pagando a Pan?dora em pequenas dose sem estar de tudo informado so?bre o negócio.
-Durante um tempo. Mas me impacientei. Ela me prometeu mais coisas. Comecei a suspeitar que Pandora tentava fazê-lo só ou que trabalhava com alguém mais. Assim agarrei uma amostra para mim.
-Agarrou uma amostra?
Redford demorou um pouco em responder, como se estu?viera procurando as palavras adequadas.
-Agarrei-lhe a chave enquanto estava dormida e abri a caixa onde guardava os tabletes. Pensando em proteger meu investimento, agarrei umas quantas para as fazer analisar.
-E quando roubou a droga, pensando em proteger seu investimento?
-O roubo não está demonstrado -interveio a aboga?da-. Meu cliente tinha pago de boa fé pelo produto.
-Está bem, direi-o de outra maneira. Quando decidiu interessar-se mais ativamente em seu investimento?
—Faz como seis meses. Levei as amostras a um con?tacto que tenho em um laboratório químico e lhe paguei para que me fizesse um relatório privado.
-E o que foi o que soube?
Redford se olhou os dedos.
-Que o produto tinha, em efeito, as propriedades que Pandora tinha afirmado. Entretanto, criava adição, o qual lhe dava automaticamente a categoria de ile?gal. Também soube que era potencialmente letal se se to?maba regularmente.
—E como é um homem honrado, valorou os contra e se retirou do negócio.
-Ser honrado não é um requisito legal -disse Red?ford-. E eu tinha um investimento que proteger. Decidi in?vestigar por minha conta para ver se os efeitos secundários podiam diminuir-se ou erradicar-se. Acredito que o consegui?mos, ou quase.
—Utilizou ao Fitzgerald como coelhinho de índias.
—Isso foi um engano. Possivelmente me pus nervoso porque Pandora não deixava de me pedir dinheiro e de insistir em que ia lançar o produto. Eu queria lhe agarrar a delan?tera, e sabia que Jerry seria a pessoa ideal. Em troca de dinheiro, acessou a provar o produto que minha equipe ha?bía refeito. Em forma líquida. Mas a ciência come?te enganos, tenente. A droga seguia sendo, como supi?mos muito tarde, altamente aditiva.
-E fatal?
-Isso parece. O processo foi ralentizado, mas sim, acredito que ainda existe o risco de prejuízo físico a comprido pla?zo. Um possível efeito secundário do qual eu informei ao Jerry faz semanas.
-Antes ou depois de que Pandora descobrisse que você queria enganá-la?
—Acredito que foi depois, justo depois. Por desgra?cia, Jerry e Pandora brigaram por um posto. Pando?ra fez certos comentários sobre sua antiga relação com o Justin. Por isso eu sei, e isto é de segunda mão, Jerry lhe lançou à cara o trato que tínhamos feito.
—E Pandora tomou muito mal.
-Como é lógico, ficou furiosa. Nesse momento nossa relação era, por dizer pouco, tormentosa. Eu já tinha conseguido um espécime de Casulo Imortal, resolvido a eliminar os efeitos secundários da fórmula. Não tinha a menor intenção, tenente, de introduzir no mercado uma substância perigosa. Isso pode respal?darlo meu histórico como produtor.
-Deixaremos que Ilegais se ocupe disso. O ame?nazó Pandora?
-Pandora vivia de ameaças. Alguém se acostumava a elas. Eu acreditava estar em boa posição para as ignorar. —Redford sorriu, mais crédulo agora—. Se ela tivesse ido mais longe, sabendo que propriedades continha essa fórmula eu podia havê-la arruinado. Não tinha motivos para lhe fazer danifico.
-Sua relação era tormentosa e entretanto você foi a sua casa aquela noite.
-Com a esperança de chegar a algum acordo. Por isso insisti em que Justin e Jerry estivessem pressentem.
-deitou-se com ela.
-Pandora era formosa e desejável. Sim, deitei-me com ela.
-Ela tinha tabletes dessa droga.
-Em efeito. Como lhe hei dito, guardava-as em uma caixa, em seu penteadeira. -Voltou a sorrir-. Contei-lhe o da caixa e os tabletes porque supus, corretamente, que a autópsia revelaria rastros da substância. Me pare?ció bem ser amável. Não fiz outra coisa que cooperar.
-Coisa fácil, se sabia que eu não ia encontrar as ta?bletas. Uma vez morta Pandora, você voltou para pela caixa. Para proteger seu investimento. Não havendo mais pro?ducto que o que você tinha, e tampouco competidor, as lucros foram ser muito majores.
-Eu não voltei para sua casa depois. Não tinha motivo para fazê-lo. Meu produto era superior.
-Nenhum desses produtos podia irromper no mercado, e você sabia. Mas na rua, o da Pandora tivesse tido muito êxito, mais que sua versão refina?da, aguada, e certamente muito cara.
-Com mais prova, mais investigação...
-Dinheiro...? Você já lhe tinha dado mais de trescien?tos mil dólares. Tinha deslocado com muitos gastos para procurar um espécime, tinha pago ao laboratório, tinha pago ao Fitzgerald. Suponho que estaria impa?ciente por ver algum benefício. Quanto cobrou ao Jerry por provar o produto?
-Jerry e eu chegamos a um acordo comercial.
-Dez mil por cada entrega -interrompeu Eve, vien?do que dava no branco-. É a quantidade que ela trans?firió três vezes em dois meses à conta que você tem no Starlight Station.
-Era um investimento -começou ele.
-Primeiro lhe cria o vício, logo se aproveita dela. Você é um traficante, senhor Redford.
A advogada fez o que tinha que fazer, converter um assunto de narcotráfico em um acordo entre sócios.
-Você necessitava contatos na rua. Boomer siem?pre sucumbia aos encantos do dinheiro em mão. Mas se entusiasmou, quis provar o produto. Como conseguiu ele a fórmula? Isso foi uma metedura de pata, senhor Redford.
-Não conheço ninguém que se chame Boomer.
-Você lhe viu ir-se da língua no clube, gabar-se de que tinha feito o grande negócio. Quando Boomer se meteu em um quarto com a Hetta Moppett, você ficou nervoso. Mas logo lhe viu, pôs-se a correr e você deci?dió que terei que atuar.
-equivoca-se de médio ao meio, tenente. Eu não co?nozco a essas pessoas.
-Pode que matasse a Hetta por medo. Não queria fazê-lo, mas quando viu que estava morta, teve que dissimular. E daí o exagero no crime. Possivelmente lhe disse algo antes de morrer ou possivelmente não, mas o si?guiente passo era Boomer. Eu diria que a você começava a lhe gostar da coisa, a julgar pelo modo em que lhe torturou antes de acabar com ele. Mas se confiou muito, e não lhe ocorreu ir procurar a fórmula a seu piso antes de que eu o fizesse.
Eve se separou da mesa e deu uma volta pela habi?tación.
-Está metido em uma confusão: a polícia tem uma amostra, tem a fórmula, e Pandora se está desmandando. Que eleição lhe bebe? -Pôs as mãos em cima da mesa, aproximou-se dele-. O que pode fazer um quando vê que seu in?versão e todas as futuras lucros se vão ao garete?
-Meu negócio com a Pandora tinha concluído.
-Sim, você o concluiu. Levá-la a casa do Leonardo foi um bom truque. Você é inteligente. Ela já estava mosca pelo do Mavis. Se você a liquidava em casa dele, parece?ría que Leonardo se fartou. Teria que matá-lo a ele também, se é que estava ali, mas você lhe tinha tomado gosto a isso. Leonardo não estava, melhor. E melhor ainda cuan?do apareceu Mavis e você pôde lhe desligar o morto.
A respiração era um pouco forçada, mas Redford resistia.
-A última vez que vi a Pandora, ela estava viva, drogada e ansiosa de castigar a alguém. Se não a matou Mavis Freestone, acredito que o fez Jerry Fitzgerald.
Intrigada, Eve voltou para sua cadeira.
—Seriamente? por que?
-desprezavam-se mutuamente, agora mais que nunca eram rivais. por cima de tudo, Pandora tinha vontades de recuperar ao Justin. Isso era algo que Jerry não ia a tole?rar. Além disso... -Sorriu-. Foi Jerry quem deu a idéia de ir a casa do Leonardo para ajustar as contas a Pandora.
Vá, isto é novo, pensou Eve arqueando uma sobrancelha.
-Não me diga.
-Quando partiu Mavis Freestone, Pandora esta?ba muito nervosa, zangada. Jerry pareceu desfrutar de pre?senciando a briga. Jerry incitou a Pandora. Disse algo no sentido de que ela em seu lugar não teria tolerado que a humilhassem daquela maneira, que por que não ia a casa do Leonardo e lhe ensinava quem levava os panta?lones. Então acrescentou algo sobre que Pandora não era capaz de conservar a um homem, e logo Justin se levou ao Jerry a toda pressa.
Seu sorriso se alargou.
—Desprezavam a Pandora, compreende. Ela por ra?zones óbvias, e Justin porque eu lhe havia dito que a droga era assunto da Pandora. Justin faria algo por proteger ao Jerry, algo. Eu, pelo contra?rio, não tinha nenhum vínculo emocional com outros. Além de me deitar com a Pandora, tenente. me deitar e fazer negócios.
Eve bateu na porta do quarto onde Casto estava in?terrogando ao Jerry. Ao tirar ele a cabeça, ela desviou o olhar para a mulher sentada ante a mesa.
-Tenho que falar com ela.
—Está esgotada. Não acredito que lhe tiremos muito agora. O advogado já está dando a lata com um descanso.
-Tenho que falar com ela -repetiu Eve-. Como há en?focado o interrogatório esta vez?
-Linha dura, em plano agressivo.
-Muito bem, serei um pouco mais suave. -Eve entrou na habitação.
Até podia sentir compaixão por outros. Jerry te?nía o olhar tenebroso e inquieto, a cara afundada e as mãos trementes. Sua beleza era agora frágil, pertur?bada.
-Quer comer algo? -perguntou Eve em voz baixa.
-Não. -Jerry olhou ao redor-. Quero ir a casa. Quero ver o Justin.
—Tentarei arrumar uma visita, mas terá que ser su?pervisada. -Serve água-. por que não bebe um pouco disto e descansa um momento? -Tomou as mãos do Jerry e as fechou sobre o copo, levando-lhe aos lábios-. Sei o que está passando. Sinto muito. Não podemos lhe dar nada para rebater o síndrome. Ainda não sabemos sufi?ciente, e o remédio poderia ser pior que a enfermidade.
-Estou bem. Não é nada.
—Que putada. —Eve se sentou—. Redford a meteu nisto. Confessou-o.
-Não é nada —repetiu ela-. Só estou muito cansada. Necessito um gole de meu preparado. -Olhou desesperada ao Eve-. por que não me dá um pouco para me recuperar?
-Você sabe que é perigoso, Jerry. Sabe o que lhe está fazendo. Advogado, Paul Redford declarou que ele introduziu à senhorita Fitzgerald na droga baixo o pretexto de uma aventura comercial. Supomos que ela desconhecia as propriedades aditivas da substância. De momento, não temos intenção de acusar a de consu?mo de ilegais.
Como Eve tinha esperado, o advogado se relaxou visi?blemente.
—Então, tenente, queria dispor a liberação de meu cliente e seu ingresso em um centro de reabilitação. Ingresso voluntário.
-Isso pode arrumar-se. Se seu cliente cooperar uns minutos mais, ajudaria-me a fechar as acusações contra Redford.
-Se ela cooperar, tenente, retirará tudas as acusações?
-Sabe que isso não o posso prometer. Sem embar?go, recomendarei indulgência nas acusações por posse e intento de distribuição.
-Deixará ir ao Justin?
Eve voltou a olhar ao Jerry. O amor era uma estranha carga, pensou.
-Esteve comprometido no transação?
-Não. Ele queria que eu o deixasse. Quando descobriu que eu era... drogodependiente, insistiu a rehabilitar?me, a que deixasse de beber. Mas eu o necessitava. Queria parar, mas precisava tomar mais.
-A noite em que morreu Pandora houve uma discu?sión.
-Sempre havia discussões com a Pandora. Era odio?sa. Acreditava que podia recuperar ao Justin. A muito zorra não lhe queria nada, só pretendia me fazer danifico. E a ele tam?bién.
—Justin não houvesse tornado com a Pandora, verdade, Jerry?
—Odiava-a tanto como eu. —levou-se as cuidadas unhas à boca e começou a mordiscar-lhe É um ali?vio que esteja morta.
-Jerry...
-Dá no mesmo para mim -explorou, lançando um olhar fu?riosa a seu cauteloso advogado-. Merecia morrer. Ela o queria tudo sem lhe importar como o conseguia. Justin era meu. Eu teria sido cabeça de pôster no show do Leo?nardo se ela não tivesse sabido que me interessava. Fez quanto pôde para lhe seduzir, para me pôr a zan?cadilla e ficar ela com o trabalho. E aquele trabalho teria que ter sido meu desde o começo. Como o era Justin. Como o era a droga. fica bonita, sexy, jovem. E cada vez que alguém tome, pensará em mim. Não nela, em mim.
-Justin foi com você a casa do Leonardo aquela noite?
-O que é isto, tenente?
-Uma pergunta, advogado. Responda, Jerry.
-Claro que não. Não fomos a casa do Leonardo. Sali?mos a tomar taças e logo a casa.
-Você se burlou dela, verdade? Sabia como mane?jarla. Você tinha que assegurar-se de que ela fora em busca do Leonardo. Falou com o Redford, disse-lhe ele quando saiu Pandora dali?
-Não, não sei. Está-me confundindo. Posso tomar algo? Necessito minha bebida.
-Você tinha consumido essa noite. sentia-se forte. O bastante para matá-la. Você queria sua cabeça. Pan?dora sempre se metia em seu caminho. E seus tabletes eram mais potentes e efetivos que seu preparado potável. Queria-as você, Jerry?
-Sim, queria-as. estava-se voltando mais jovem diante de meus narizes. Mais magra. Eu tenho que vigiar cada maldi?to bocado que tomo, mas ela... Paul disse que possivelmente po?dría tirar-lhe Justin procurou lhe fazer desistir, lhe apartar de mim. Mas é que Justin não entende o que se sente: é imortal -disse Jerry com um horrível sorriso-. Sente-se imortal. Só um gole, pelo amor de Deus.
-Você saiu essa noite pela porta de atrás e foi a casa do Leonardo. O que passou ali?
-Não posso, estou confusa. Necessito algo.
-Agarrou você o fortificação e a golpeou? Pegou-a repe?tidas vezes?
-Queria vê-la morta. -Soluçando, Jerry apoiou a cabeça na mesa—. me Ajude por favor. Direi-lhe tudo o que queira se me ajuda.
—Tenente, algo que meu cliente diga baixo coação física ou mental será inadmissível.
Eve contemplou à mulher que chorava e alcançou o enlace.
-Avise a um médico -ordenou-. E disponha uma am?bulancia para a senhorita Fitzgerald. Baixo custódia.
Capitulo Dezenove
-Como que não a vai acusar de nada? -A surpresa e o mau humor obscureceram o olhar de Casto—. Se tie?ne uma confissão, coño.
-Não foi uma confissão -corrigiu ela. Estava cansada, exausta e enojada de si mesmo—. Houvesse di?cho algo.
—Céu santo, Eve. —Tratando de aplacar sua fúria, Casto ficou a caminhar de um lado a outro do asséptico corredor ladrilhado do centro de saúde-. Você consi?guió dobrá-la.
—E um corno. —Cansativamente, Eve se esfregou a têmpora esquerda, que lhe doía-. Escute bem, Casto, tal como estava essa mulher, haveria-me dito que ela em pessoa lhe cravou os pregos a Cristo se lhe tivesse prometido um tra?go dessa beberagem. Se a acusamos nos apoiando nisso, seus advogados o jogarão por terra na vista preliminar.
-A você não preocupa a vista, Dallas. -Casto passou junto ao Peabody, que tinha os lábios apertados-. Foi di?recta ao jugular, como se supõe que todo policial faz em um caso de homicídio. E agora se abranda. Joder, não me diga que lhe tem lástima.
-Isso é meu assunto, tenente -disse Eve-. E não me diga como tenho que levar esta investigação. Sou o primeiro investigador, ou seja que não me toque os narizes.
Casto a olhou de cima abaixo.
-Não quererá que vá informar a seu chefe desta de?cisión.
-Ameaça-me? -Eve dispôs o corpo como um boxeador preparando-se a fazer baile-. Adiante, faça o que lhe pareça. Eu me mantenho firme. Assim que ter?mine o tratamento, embora só Deus sabe que conse?cuencias pode isso ter a curto prazo, voltaremos para in?terrogarla. Até que eu não esteja satisfeita de que fala com coerência e sentido comum, não a penso acusar de nada.
Eve viu que ele fazia um esforço por tornar-se atrás, e que lhe estava custando o seu. Não lhe importou.
-Eve, tem você o móvel, a oportunidade e as provas de personalidade. Fitzgerald é capaz de cometer os crímenes em questão. Ela mesma admitiu que estava drogada e predisposta a odiar a Pandora até a morte. Que mais quer?
-Quero que ela olhe aos olhos e me diga que ela os matou. Quero que me diga como o fez. Enquanto isso, esperarei. Porque lhe direi uma coisa, tio preparado. Ela não atuou sozinha, disso nada. É impossível que os carregasse aos três com essas bonitas mãos que tem.
-por que? Porque é uma mulher?
-Não por isso, mas sim porque o dinheiro não é sua máxima prioridade. A paixão, o amor, a inveja, todo isso sim. Pode que matasse a Pandora em um ataquei de ciúmes, mas não acredito que se carregasse aos outros. Ao menos, não sem que lhe dessem uma mão. Assim que a interrogaremos de nue?vo e esperaremos a que notificação ao Young e/ou ao Redford. Então saberemos tudo.
-Acredito que se equivoca.
-Tomo nota -repôs ela-. Bem, vá arquivar sua queixa interdepartamental, dê um passeio ou vá-se a ca?gar, mas afaste-se de minha vista.
Casto pestanejou, a ponto de explorar. Mas se conteve.
-vou refrescar me um pouco.
Saiu feito uma fera sem olhar apenas à silenciosa Peabody.
-Seu amigo não está muito simpático esta tarde -comen?tó Eve.
Peabody poderia haver dito que seu imediato supe?rior pecava do mesmo, mas refreou a língua.
-A pressão é muito grande para todos, Dallas. Us?ted sabe o que este caso significa para ele.
—Sabe uma coisa? A justiça é para mim algo mais que uma bonita estrela de ouro em meu expediente ou que os puñeteros galões de capitão. E se quer correr a bus?car a seu amado e lhe acariciar o ego, ninguém o está impi?diendo.
Peabody torceu o gesto, mas sem alterar o tom de voz.
—Eu não me movo daqui, tenente.
-Estupendo, pois fique aí com cara de mártir, porque eu... -Eve calou e aspirou pela boca-. Sinto muito. Agora mesmo é você um branco perfeito.
-Está isso incluído em minha descrição..., senhor?
-Sempre tem uma boa réplica a ponto. Poderia acabar odiando-a por isso. -Mais acalmada, Eve pôs uma mão no ombro de seu ajudante—. Perdão, e perdão por pô-la em um apuro. O dever e os sentimentos pessoais combinam mau.
-Posso suportá-lo, Dallas. Casto não deveria havê-la acossado assim. Entendo como se sente, mas isso não lhe dá a razão.
-Talvez não. -Eve se apoiou na parede e fechou os olhos—. Mas em uma coisa sim tinha razão, e isso me está ro?yendo por dentro. Eu não tinha vontades de lhe fazer ao Jerry o que lhe fiz no interrogatório. Não tinha vontades enquanto o estava fazendo, enquanto me ouvia mesma amassando-a a perguntas, lhe apertando as porcas ali onde mais doía. Mas o fiz, porque é meu trabalho, e se supõe que devo me lançar ao jugular quando a presa está heri?da. -Eve abriu os olhos e olhou carrancuda para a porta de?trás da qual Jerry Fitzgerald descansava graças a um suave sedativo-. E às vezes, Peabody, este trabalho é uma puta merda.
-Sim, senhor. -Pela primeira vez, ela tocou com sua mão o braço do Eve-. Por isso é você tão bom polícia.
Eve abriu a boca, surpreendida da gargalhada que lhe saiu de dentro.
-Caramba, cai-me você muito bem.
—E você a mim, tenente. —Esperou um segundo-. Mas o que nos passa?
um pouco mais animada, Eve passou o braço pelos ro?bustos ombros do Peabody.
-vamos comer algo. Esta noite Fitzgerald não se move daqui.
Mas nisto, o instinto do Eve se equivocava.
A chamada despertou pouco antes da quatro da ma?ñana, em meio de um sonho profundo e sem pesadelos. Ardiam-lhe os olhos e tinha a língua espessa do vinho que tinha ingerido com prodigalidade para estar mínima?mente sociável com o Mavis e Leonardo. Conseguiu graz?nar quando respondeu ao enlace.
—Aqui Dallas. Jo, é que nesta cidade não pode uma nem dormir?
-Eu estou acostumado a me fazer a mesma pergunta.
A cara e a voz lhe eram vagamente familiares. Eve in?tentó enfocar a vista, repassar os discos de sua memória.
-Doutora... Ambrose? -Tudo foi voltando, pouco a pouco. Ambrose: larguirucha, de raça mesclada, chefa de reabilitação química no Centro de Reabilitação para Drogados —. Segue você aí? tornou em si Fitzgerald?
-Não exatamente. Tenente Dallas, temos um pro?blema. Fitzgerald morreu.
-Morto? Como que morto?
-Pois isso, falecido -disse Ambrose com um esboço de sorriso-. Suponho que como tenente do Homici?dios, a palavra tem que lhe soar.
-Merda. Como foi? Falhou-lhe o sistema ner?vioso?, lançou-se por uma janela?
-Que saibamos, foi uma overdose. A paciente conseguiu fazer-se com uma amostra do Immortality que estávamos usando para determinar qual era o melhor tra?tamiento para ela. Tomou inteira, mesclada com algu?nas das guloseimas que temos aqui armazenadas. Sinto muito, tenente. Já não podemos fazer nada por ela. Informarei-lhe detalladamente assim que você chegue.
-E como! -espetou-lhe Eve, fechando a transmissão.
Eve examinou primeiro o cadáver, para certificar-se de que não tivesse havido um horrível engano. Jerry tinha sido tendida na cama, com a bata de hospital até me?dio coxa. Segundo o código de cores, tocava-lhe o azul de viciada em primeira fase de tratamento.
Já nunca chegaria à segunda fase.
O rosto branco tinha recuperado sua estranha e mis?teriosa beleza. Já não tinha sombras baixo os olhos, nem rugas de tensão na boca. Ao fim e ao cabo, o melhor sedativo era a morte. Tinha pequenas queimaduras no peito ali onde a equipe de reanimación havia inten?tado fazer algo, e um arroxeado no dorso da mão de?bido à injeção intravenosa. Baixo o olhar da doutora, Eve examinou o corpo concienzudamente sem encontrar sinal alguma de violência.
Supôs que tinha morrido mais feliz que nunca.
-Como? -inquiriu lacónicamente.
—Uma combinação do Immortality, morfina e Zeus sintético, conforme deduzimos pelo que falta. A autópsia o confirmará.
-Têm Zeus em um centro de reabilitação? -A idéia fez que Eve se esfregasse a cara com as mãos—. É incrível.
-Para investigação -explicou escuetamente Ambrose—. Os viciados necessitam um período lento e supervisa?do para desenganchar-se.
-E onde diabos estava a supervisão, doutora?
-Ao Fitzgerald lhe administrou um sedativo. Não espe?rábamos que voltasse em si até as oito da manhã. Minha hipótese é que como não conhecemos a fundo as propriedades do Immortality, o que ficava disso em seu organismo rebateu o narcótico.
-Ou seja que se levantou, foi por seu próprio pé ao alma?cén e se serve uma mistura.
-Um pouco parecido, sim. -Eve quase pôde ouvir como o re?chinaban os dentes à doutora.
—E as enfermeiras, e o sistema de segurança? Aca?so se voltou invisível?
-Isto poderá você verificá-lo com seu própria agente de serviço, tenente.
-Descuide, farei-o.
Ambrose de novo voltou a chiar os dentes e lue?go suspirou.
—Ouça, não quero lhe carregar o morto a seu agente. Faz umas horas tivemos problemas. Um dos pacientes de tendências violentas agrediu a seu enferme?ra de sala. Estivemos muito ocupados durante uns mi?nutos, e seu agente deveu jogar uma mão. Desde não ser por ela, a enfermeira de sala estaria agora mesmo às portas do céu ao lado da senhorita Fitzgerald, em vez de ter a morna rota e umas quantas costelas fora de site.
-Vejo que a noite foi movimento, doutora.
—Oxalá não se repita freqüentemente. —passou-se os dedos por seu encaracolado cabelo avermelhado -. Escute, tenente, este cen?tro tem muito boa reputação. Ajudamos às pessoas. O que aconteceu me faz sentir tão mal como a você. Maldita seja, a paciente tinha que ter estado durmien?do. E essa agente não esteve fora de seu posto mais que um quarto de hora.
-Outra vez o sentido da oportunidade. -Eve olhou para o Jerry e tentou tirar-se de cima o peso da cul?pa-. E as câmaras de segurança?
—Não temos, tenente. imagina quantas filtra?ciones aos medeia haveria se gravássemos aos pacientes, alguns dos quais são cidadãos destacados? Esta?mos atados pelas leis de privacidade.
-Fantástico. Ou seja que ninguém a viu em seu último pa?seo. Onde está o armazém de drogas onde Jerry tomou a overdose?
-Nesta asa, um nível mais abaixo.
—E ela como sabia?
-Ignoro-o, tenente. Como tampouco posso expli?car como conseguiu abrir a fechadura, não só da porta mas também das próprias adegas. O caso é que o fez. O vigilante noturno a encontrou quando fazia sua ronda. A porta estava aberta.
-Aberta ou não fechada com chave?
-Aberta -confirmou Ambrose-. E dois armazéns também. Ela estava no chão, morta. tentaram-se os métodos habituais de reanimación, tenente, mas mais por hábito que porque houvesse esperança.
—Precisarei falar com todo o pessoal desta asa; e com os pacientes também.
-Tenente...
-Ao corno a privacidade, doutora. Me a passo pelo culo. Quero ver o vigilante noturno. -de repente, a compaixão se impôs aos nervos-. Entrou alguém a vê-la? Veio alguém interessando-se por seu estado?
-A enfermeira de sala o tem que saber.
-Então comecemos por ela. Você reúna a outros. Há alguma habitação onde possa entrevistar às pessoas?
-Utilize meu escritório. -Ambrose se voltou para mi?rar o cadáver, assobiou entre dentes-. Era muito bonita. Jo?ven, famosa e rica: as drogas curam, tenente. Alargam a vida e a qualidade da mesma. Erradicam a dor, acalmam a mente afligida. Eu me esforço em recordar todo isso quando vejo o que outros efeitos podem ter. Se quer saber minha opinião, e já sei que não, ela estava destinada a acabar assim desde dia em que provou esse líquido por pri?mera vez.
-Já, mas foi muito mais rápido do que se su?ponía.
Eve saiu da habitação e divisou ao Peabody no corredor.
-E Casto?
-falei com ele. Vem para aqui.
-Isto se complicou, Peabody. Terá que fazer algo para esclarecer coisas. Procure que este quarto... Né, você. -Viu a agente que tinha estado de guarda ao fundo do corredor. Seu dedo a assinalou como uma flecha. Comprovou que tinha feito alvo quando a agente de uniforme deu um coice antes de empalidecer e avançar para seu superior.
A agente não tinha por que saber que Eve não ia pedir ações disciplinadoras contra ela. Que suasse um pouco.
Eve examinou o feio arranhão que a agente, agora pá?lida e suarenta, tinha na clavícula.
-Isso o fez o violento?
-Senhor, antes de que pudesse sujeitá-lo.
-Faça que o olhem. Está você em um centro de saúde. E quero esta porta bem fechada. Há-o entendi?do bem? Que ninguém entre nem saia.
-Sim, senhor. -A agente ficou firmes. Para o Eve tinha o patético aspecto de um cachorrinho espancado. Logo que tinha idade de que lhe deixassem pedir cerveja em um bar, pensou meneando a cabeça.
-Siga vigiando, agente, até que eu não ordene que lhe relevem.
Deu meia volta e fez gestos ao Peabody de que a seguisse.
-Se alguma vez se zangar muito comigo -disse Pea?body com sua mansa voz-, prefiro um murro na cara que uma reprimenda como essa.
-Tomo nota. Casto, me alegro de que esteja com noso?tros.
Casto levava a camisa enrugada, como se se tivesse posto o primeiro que tinha à mão. Eve conhecia essa ru?tina. Sua própria camisa parecia ter estado metida em um bolso durante uma semana.
-Que demônios aconteceu aqui?
-Isso é o que vamos averiguar. Nosso quartel geral é o despacho da doutora Ambrose. Interro?garemos ao pessoal de um em um. Quanto aos pa?cientes, é provável que nos peçam que o façamos ha?bitación por habitação. Quero-o todo gravura, Peabody, desde já.
Peabody tirou seu grabadora e a prendeu da so?lapa.
—Gravando, senhor.
Eve fez um sinal ao Ambrose e a seguiu além das portas de vidro reforçado por um pequeno corredor até um despacho pequeno.
-Dallas, tenente Eve. Interrogatório de possíveis tes?tigos da morte do Fitzgerald, Jerry. -Consultou o relógio para anotar data e hora-. Pressente também: Casto, te?niente Jake T. Divisão de Ilegais, e Peabody, agente Delia, ajudante temporal de Dallas. Interrogatórios no despacho da doutora Ambrose, Centro do Rehabili?tación para Drogados. Doutora Ambrose, faça passar à enfermeira de sala, por favor. E fique, doutora.
-Como demônios morreu? -inquiriu Casto-. O organismo disse basta, ou o que?
-Em certo modo, sim. Informarei-lhe sobre a marcha.
Casto começou a dizer algo mas se controlou.
-Não poderíamos pedir que nos tragam café, Eve? Falta-me uma dose.
-Prove isto. -Esmurrou com o polegar um maltratado AutoChef e logo ocupou seu site detrás da mesa.
A coisa não foi muito bem. A meio-dia, Eve tinha interrogado a todo o pessoal de serviço na asa, quase com os mesmos resultados uma e outra vez. O violento da habitação 6027 se livrou de suas correias, agre?dido à enfermeira de sala e armado um grande alvoroço. Por isso pôde deduzir, a agente se lançou pa?sillo abaixo, deixando o quarto do Jerry sem atender duran?te doze e dezoito minutos.
Tempo mais que suficiente, supunha Eve, para que uma mulher se desesperada pusesse-se a correr. Mas como sa?bía Jerry onde encontrar a droga que necessitava, e como conseguiu acessar a ela?
-Possivelmente alguém do pessoal estava falando disso em sua habitação. -Casto tragou um grande bocado de massa vegetariana durante a pausa que se tomaram para almoçar no comilão do centro-. Uma mescla nova sempre origina muitos rumores. Não faz falta ser um lince para imaginar que a enfermeira chefe ou alguém estu?viera comentando a jogada. Fitzgerald não devia estar tão sedada como todos pensavam. Ouviu-os e, quando viu a oportunidade, lançou-se a por ela.
Eve meditou a teoria enquanto mastigava seu frango à churrasqueira.
—Poderia ser. Jerry teve que ouvi-lo em alguma parte. E além de estar se desesperada, era muito lista. Posso acreditar que lhe ocorreu a maneira de chegar à droga sem ser vista. Mas como diabos fez saltar as fechaduras? De onde tinha tirado o código?
Casto olhou sua comida com cenho. Um homem necesi?taba carne, que demônios. Boa carne vermelha. E nesses centros de saúde a consideravam um veneno.
-Talvez conseguiu um código professor em alguma parte -aventurou Peabody. Tinha optado por uma ensala?da verde, sem enfeitar, com a idéia de reduzir uns cuan?tos gramas-. Ou um descodificador.
-E onde está? -saltou Eve-. Jerry estava morta quando a encontraram. Na habitação não havia nin?gún código professor.
-Pode que a maldita porta estivesse aberta cuan?do chegou ela. -Enojado, Casto apartou o prato,
-me parece muita soe. De acordo, ela ouça comentários sobre o Immortality, de que guardam a droga no armazém para investigar. Tem síndrome de abstinência, apesar de que lhe deram algo para tran?quilizarla. Mas ela necessita sua droga. Então, como queda do céu, produz-se uma comoção no corredor. Eu não acredito nessas coisas, mas suponhamos que foi assim, de momento. levanta-se da cama, o vigilante não está, e ela sai da habitação. Baixa ao armazém, embora não imagino a dois enfermeiros falando de como se chega ali. Contudo, Jerry encontra o site, isso ficou demonstrado. Mas entrar...
-O que está pensando, Eve?
Ela olhou a Casto.
-Que alguém a ajudou. Alguém queria que ela lle?gase à droga.
-Acredita que alguém do pessoal a acompanhou até ali para que pudesse tomar sua dose?
—É uma possibilidade. —Eve desprezou a dúvida que aso?maba à voz de Casto-. Suborno, promessas, algum admirador. Quando tivermos revisado os expedien?tes, pode que achemos algum indício de conexão. Enquanto isso... -Ouviu apitar seu comunicador-. Aqui Dallas.
-Lobar, gabinete de identificação. Havemos encon?trado algo interessante aqui embaixo, tenente, no sistema de eliminação de lixo. Um código professor, e tem os rastros do Fitzgerald.
-Meta o em uma bolsa, Lobar. Em seguida estou aí.
-Isso explica muitas coisas -começou a dizer Casto. A transmissão lhe fez recuperar suficiente apetite para insistir na massa-. Alguém a ajudou, como você dizia. Ou ela o agarrou de algum posto de enferme?ras durante o alvoroço.
-Uma garota muito lista -murmurou Eve-. Planeja-o tudo ao segundo, baixa ao armazém, abre o que lhe dá a vontade e logo se toma tempo para arrojar o código. me parece um prodígio de inteligência.
Peabody tamborilou na mesa.
-Se primeiro tomou uma dose do Immortality, como assim parece, provavelmente se recuperou de repente. Ela de?bió dar-se conta de que podiam pilhá-la ali, com o código professor. Se o atirou a alguma parte, podia dizer que se ha?bía perdido, que estava desorientada.
-Sim. -Casto lhe dedicou um sorriso-. Eu arrumado por isso.
-Então por que ficou? -inquiriu Eve-. Já tinha tomado sua dose, por que não se foi correndo?
-Eve. -A voz de Casto era serena, igual a seus olhos-. Há uma coisa que ainda não tivemos em conta. Possivelmente o que queria era morrer.
—Uma overdose deliberada? —Tinha pensado nessa possibilidade, mas não gostou da sensação que tinha provocado em seu estômago. A culpa descendeu qual nie?bla pegajosa-. Porquê?
Compreendendo sua reação, Casto lhe agarrou uma mão.
-Estava encurralada. Devia saber que ia passar se o resto de sua vida encerrada em uma cela, em uma cela -acrescentou- sem acesso à droga. Teria envelhecido, perdido sua beleza e tudo o que para ela era importan?te. Era uma escapatória, a maneira de morrer jovem e bonita.
-Um suicídio. —Peabody agarrou os fios e os tren?zó-. A combinação que tomou era letal. Se pôde pensar com claridade suficiente para entrar no armazém, tam?bién pôde pensar nisso. Para que enfrentar-se ao escán?dalo e ao cárcere se podia sair do apuro de maneira rápi?da e poda?
-Não é a primeira vez -disse ele-. Em meu trabalho, é bastante normal. A gente não pode viver com a droga e tampouco sem ela. Utilizam-na para tirar-se de no meio.
-Nenhuma nota -disse Eve com tozudez-. Nenhuma mensagem.
-Estava desanimada. E como você há dito antes, desesperada-se. -Casto brincou com seu café-. Se foi um im?pulso, algo que ela acreditou que devia fazer e rápido, qui?zá não quis refletir o momento suficiente para deixar uma mensagem de despedida. Ninguém a obrigou, Eve. Não há se?ñales de violência nem de luto no cadáver. Pôde ha?ber sido um acidente ou pôde ser deliberado. Não é pro?bable que se possa determinar qual.
-Isso não resolve os homicídios. Ela não atuou sozinha.
Casto intercambiou um olhar com o Peabody.
-Talvez não. Mas o fato é que a influência da droga pode explicar por que o fez assim. Você poderá seguir amassando ao Redford e ao Young. Nenhum dos dois deveria sair impune disto, claro está. Mas vai ter que fechar este caso cedo ou tarde. -Deixou a taça sobre a mesa-. Dê uma pausa, Dallas.
-Vá, que bonito. -Justin Young se aproximou da mesa. Seus olhos, afundados e com um cerco vermelho, se clava?ron no Eve-. Nada lhe tira o apetite, maldita zorra?
Casto começou a levantar-se da cadeira mas Eve levantou um dedo lhe indicando que se sentasse. Decidiu deixar a um lado a compaixão.
-Seus advogados conseguiram lhe tirar, né, Justin?
-Exato, só tem feito falta que muriese Jerry para lhes empurrar a conceder a fiança. Meu advogado me há di?cho que com os últimos acontecimentos (assim o expressou o muito hijoputa) o caso está virtualmente fechado. Jerry é uma assassina múltiplo, uma drogada, uma muer?ta, e eu fico como inocente. Que fácil, verdade?
-Parece-lhe? -disse Eve sem alterar-se.
-Você a matou. -Justin se inclinou sobre a mesa, ha?ciendo saltar os talheres-. por que não lhe rachou o pescoço com uma faca? Jerry necessitava ajuda, compreensão, um pouco de compaixão. Mas você seguiu cravando-a até que ela se veio abaixo. E agora está morta. dá-se você conta? —Seus olhos se encheram de lágrimas—.Ela morreu e você conseguiu uma bonita estrela por apanhar ao assassino. Mas tenho notícias para você, te?niente. Jerry não matou a ninguém. Você, em troca, sim. Isto não se terminou. —Varreu a mesa com um braço, lan?zando pratos ao chão com a conseguinte ara de louça-. Isto não terminará aqui, não senhor.
Eve suspirou enquanto .Young se afastava.
-Não, suponho que não -disse.
Capitulo Vinte
Nunca tinha vivido uma semana tão rápida. E se sentia brutalmente sozinha. Todo mundo considerava ce?rrado o caso, incluídos o escritório do fiscal e seu próprio chefe, o comandante Whitney. O cadáver do Jerry Fitzgerald foi incinerado, e arquivado seu último interroga?torio.
Os média, como era de esperar, ficaram as bo?tas. A vida secreta de uma Top model. A assassina da cara perfeita. A busca da imortalidade deixa uma esteira de mortos.
Eve tinha outros casos, também outras obrigações que cumprir, mas passava todos os momentos livres revisan?do o caso, repassando as provas e tratando de arranjar novas teorias até que inclusive Peabody lhe disse que o deixasse.
Tentou solucionar os pequenos detalhes das bodas que Roarke lhe tinha pedido que arrumasse. Mas o que sabia ela de menus, sortido de vinhos e disposição de assentos? Finalmente, tragou-se o orgulho e lhe agüentou a tarefa a um re?funfuñante Summerset.
E teve que ouvir, em tom didático, que a esposa de um homem da posição do Roarke teria que apren?der as bases da vida social.
Lhe disse que a deixasse em paz, e ambos ficaram a fazer o que melhor sabiam. No fundo, o que mais te?mía Eve era que estivessem começando a cair bem.
Roarke foi ao despacho do Eve e meneou a cabeça. foram casar se ao dia seguinte. dentro de menos de vinte ho?ras. Estava a noiva provando o traje de bodas, bañán?dose em fragrantes perfumes ou fantasiando sobre sua vida futura?
Absolutamente, estava encurvada sobre o ordenador, falando sozinha, com o cabelo alvoroçado de tanto arranhar-se com os dedos. Tinha uma mancha de café na camisa. Um prato com o que tinha sido um sanduíche tinha ficado no chão. Até o gato o evitava.
Ele se aproximou por detrás e viu, como já esperava, o arquivo do Fitzgerald em tela.
Sua tenacidade lhe fascinava e lhe seduzia de uma vez. Se pre?guntó se Eve teria deixado que alguém mais visse que su?fría pela morte do Fitzgerald. Até a ele mesmo o teria oculto, de ter podido fazê-lo.
Roarke sabia que sentia culpa, e compaixão. E senti?do do dever. Todo isso mantinha ao Eve atada ao caso. Era uma das razões pelas que ele a queria; essa enorme capacidade para a emoção dentro de uma mente lógica e inquieta.
Começou a inclinar-se para lhe beijar a cabeça justo quando ela a levantou. Ambos amaldiçoaram quando seu ca?beza se chocou com a mandíbula dele.
-Santo Deus. -Entre divertido e doído, Roarke se secou o sangue do lábio—. Contigo, até o amor é peli?groso.
-Não deveria me espiar dessa maneira. -Eve se esfregou a cabeça. Outro site mais que lhe doía-. Acreditava que Feeney e você e alguns de seus amigos hedonistas estavam dedica?dos à pilhagem.
-Uma despedida de solteiro não é uma invasão vikinga. Ainda me bebe tempo antes de que comece a barba?rie. -sentou-se na esquina da mesa e a olhou detenida?mente-. Eve, precisa descansar.
-vou tomar me três semanas de licença, não? -disse entre dentes enquanto ele levantava as sobrancelhas—. Per?dona, sou insuportável. Não posso passar disto, Roarke. Deixei-o uma dúzia de vezes durante a semana passada, mas não pára de me vir à cabeça.
-Diga-o em voz alta. Às vezes ajuda.
-Está bem. -Eve se separou da mesa, a ponto de pi?sar ao gato-. Jerry pôde ir ao clube. Há gente elegante que vai a essa classe de sites.
—Pandora, por exemplo.
-Exato. E se mesclavam com o mesmo tipo de per?sonal. Assim que ela pôde ir ao clube, pôde ver o Boomer ali. Inclusive pode que algum contato lhe dissesse que ele estava no clube. Caso, claro é, que o cono?ciera, o qual não está provado. E que trabalhava com ele, ou através dele. Jerry lhe vê ali, comprova que se está indo da língua. Boomer é um cabo solto, alguém que deixou que ser útil para converter-se em uma contin?gencia.
-Até aqui tem lógica.
Ela assentiu, mas sem deixar de passear-se.
-Bem, Boomer a vê quando sai do quarto privado com a Hetta Moppett. Jerry está preocupada com o que Boomer tenha podido dizer. Pode que ele haja fanfarro?neado, inchado inclusive sua relação com o negócio para impressionar a Hetta. Boomer é o bastante preparado para sa?ber que está em um apuro, se larga, esconde-se. Hetta é a primeira vítima porque poderia saber algo. É asesina?da rápida e brutalmente, para que pareça uma coisa for?tuita, produto de um arrebatamento. Hetta tem ficha. Isso significa que se demoraria mais em relacionar ao Jerry com o clube e com o Boomer. Se é que a alguém lhe ocorria rela?cionarla, coisa improvável.
—Só que não contavam contigo.
-Exato. Boomer tem uma amostra, tem a fórmu?la. Era rápido quando lhe dava a vontade, e tinha talento para roubar. A inteligência não era seu forte. Talvez exigiu mais dinheiro, uma fatia maior. Mas em seu especiali?dad era muito bom. Ninguém sabia que era um mexeriqueiro apar?te de algumas pessoas relacionadas com o departamento de polícia e segurança de Nova Iorque.
-E essas pessoas não podiam saber até que ponto um se toma a sério uma associação comercial. -Roarke inclinou a cabeça-. Em outras circunstâncias, suponho que sua morte teria sido atribuída a um conflito entre tra?ficantes, um ato de vingança por parte de um dos so?cios, e já está.
-Certo, mas Jerry não atuou com suficiente rapidez. Encontramos a droga em casa do Boomer e começamos a trabalhar daí. Ao mesmo tempo, pude ver perso?nalmente a Pandora em ação. Já sabe o que aconteceu, e ouviste o resumo sobre as circunstâncias que se die?ron na noite de sua morte. Desligar o crime ao Mavis foi um golpe de sorte, boa e má. Isso dava tiem?po ao Jerry, e de passagem lhe proporcionava um cabrito expiatório.
-Um cabrito expiatório que casualmente era muito que?rido do primeiro investigador.
-Por isso hei dito má sorte. Quantas vezes vou ter um caso cujo primeiro suspeito sei que é absolu?tamente inocente? face às provas, em que pese a tudo. Não acredito que isso volte a ocorrer.
-Quem sabe. me passou faz uns meses.
-Eu não sabia, só o pressentia. Mas depois tive a certeza. —Eve colocou as mãos nos bolsos e voltou às tirar-. Com o Mavis soube do primeiro momen?to. De modo que enfoquei o problema desde outro án?gulo. Agora vejo três possíveis suspeitos, todos eles, para falar a verdade, com móvel, oportunidade e médios. Começo a acreditar que um destes suspeitos é viciado nessa mesma droga que pôs-se a rodar tudo. E quando pensa que já pode começar a fazer as caiba, um camelo do East End é assassinado. O mesmo modus operandi. por que? Algo não encaixa, Roarke, e não consigo esclarecê-lo. Não necessitavam a Barata. As desvantagens de que Boomer lhe confiasse algum dado são tantas que chegam a es?tratosfera. Mas a ele o carregam, e em seu organismo ha?bía rastros da droga.
-Uma estratagema. -Roarke tirou um cigarro e o acendeu—. Uma manobra de distração.
Ela sorriu pela primeira vez em horas.
-É o que eu gosto de ti. Sua mente criminal. Pôr uma pista falsa para nos confundir. Que a poli as veja e as deseje para procurar uma conexão lógica com esse Barata. Enquanto, Redford está fabricando uma va?riedad própria do Immortality, e a dá a provar ao Jerry. junto com uns suculentos honorários. Mas ele recuperou o dinheiro, depenando-a por todas e cada uma das garrafas. É um negociante despachado; tomou a moles?tia e o risco de procurar um espécime da colônia Éden.
-Dois -disse Roarke e teve o prazer de ver que aque?lla cara se voltava branca.
-Dois o que?
-Encarregou dois especímenes. Passei por Éden de regre?so ao planeta e conversei com a filha do Engrave. Pedi-lhe se podia procurar um oco para fazer uma verificação. Red?ford encarregou sua primeiro espécime faz nove meses, baixo outro nome e com uma licença falsificada. Mas os números de identificação são os mesmos. Fez-o en?viar a uma floricultura de Vegas II que tem uma reputação duvidosa por contrabando de flora. -Fez uma pausa para jogar a cinza em um bol de mármore-. Acredito que dali a mandaram a um laboratório a fim de destilar o néctar.
-por que diabos não me há isso dito antes?
-Lhe estou dizendo isso agora. Me confirmaram faz isso cinco minutos. Provavelmente poderá contatar com segurança em Vegas II e fazer que interroguem a florista.
Eve estava suando quando esmurrou seu enlace e deu ordens a respeito.
-Embora consigam prender o Redford, levará sema?nas fazer os trâmites burocráticos para que o mandem ao planeta e eu possa falar com ele. -Mas se esfregou as mãos, antecipando o prazer que isso lhe reportaria-. Po?drías me haver dito que estava nisto.
-Se não tirava nada te tivesse decepcionado. Em troca, me deveria agradecer isso Olhe, Eve, isto não troca muito as coisas.
—Mas significa que Redford trabalhou por sua conta mais do que nos insinuou. E significa... -deixou-se cair em uma cadeira-. Sei que ela pôde fazê-lo, Roarke. Ela sozinha. Pôde sair do apartamento do Young sem ser detectada. Pôde deixar dormindo, voltar depois. Quando lhe desse a vontade. Ou pode que ele soubesse. Ele se haveria sa?crificado, e além disso é ator. Teria arrojado ao Redford às feras, mas não se com isso envolvia ao Jerry.
Apoiou um momento a cabeça nas mãos, frotán?dose a frente.
-Sei que ela pôde fazê-lo. Pôde ver a ocasião e pôde entrar no armazém. Pôde ter decidido acabar sua maneira, isso encaixa com seu caráter. Mas eu não gosto da idéia.
-Não pode te culpar de sua morte -disse Roarke com voz bebe-. Pela singela razão de que você não tem a culpa, e por outra razão que tem que aceitar: a culpa em?paña a lógica.
-Sim, sei. -levantou-se outra vez, intranqüila—. Não estive à altura das circunstâncias. Primeiro Mavis, me recordando o de meu pai. Me escaparam deta?lles. E logo todo o resto.
-Incluída as bodas? -sugeriu ele.
Ela esboçou um débil sorriso.
-tratei que não pensar muito nisso. Não lhe leve a mal.
-Considera-o uma formalidade. Um contrato, se o preferir, com uns quantos acessórios.
-pensaste que faz apenas um ano nem sequer nos conhecíamos? Que vivemos na mesma casa, mas que a maior parte do tempo estamos separados? Que tudo isto que sentimos o um pelo outro poderia não ser realmente algo que dure muito tempo?
Ele a olhou longamente.
-vais fazer que me zangue a noite antes de que nos casemos?
-Não tento fazer que te zangue. Você tiraste o tema e posto que essa foi uma das coisas que me distraíram estes dias, eu gostaria de deixá-lo claro. São perguntas razoáveis e merecem respostas razoáveis.
O olhar do Roarke se escureceu. Ela o advir?tió e se preparou para a tormenta. Mas ele ficou em pé e falou com uma calma tão glacial que ela quase se estre?meció.
-Está-te jogando atrás, tenente?
-Não. Pinjente que me casaria. Eu só acredito que debería?mos... pensá-lo -disse ela, odiando-se a si mesmo.
—Pois pensa você, procura suas respostas razoáveis. -Consultou seu relógio-. Me faz tarde. Mavis te está es?perando abaixo.
-Para que?
-lhe pergunte a isso-dijo ele enquanto se dispunha a sair.
-Maldita seja. -Eve deu uma patada à mesa hacien?do que Galahad a olhasse malévolamente. Deu outra pa?tada, porque a dor às vezes tinha suas recompensas, e logo baixou mancando a encontrar-se com o Mavis.
Uma hora depois, estavam-na arrastando ao Down & Dirty. Tinha suportado as ordens do Mavis para que se trocasse de roupa, para que se arrumasse o cabelo, a cara. Inclusive a atitude. Mas quando a música e o ruído a impactaram como um gancho comprido, Eve se plantou.
-Caray, Mavis, por que aqui precisamente?
-Porque é feio, por isso. As despedidas de solteiro se supõe que são feias. Né, olhe a esse do cenário. Com essa franga tão grande até poderia cravar pregos. Menos mal que disse ao Crack que nos reservasse uma mesa bue?na. Isto está até os batentes, e logo que são as doze da noite.
-Amanhã tenho que me casar —disse Eve, encontrando pela primeira vez que era uma desculpa boa.
-Exatamente. Por Deus, Dallas, te tranqüilize. Olhe, aí chegam.
Eve estava acostumada aos sustos. Mas aquilo era o não vai mais. Não podia acreditar que estivesse sentada a uma mesa justo debaixo de um meneapollas com o Nadine Furst, Peabody, uma mulher que devia ser Gorjeia e, San?to Deus, a doutora Olhe.
antes de poder fechar a boca, Crack apareceu por detrás e a fez levantar-se.
-Tudo bem, rosto pálido. Esta noite há festa. Trarei-te uma garrafa de champanha da casa.
-Se neste tugúrio há champanha, me como o plugue.
-Né, e com borbulhas e tudo. O que te tinha acreditado? -Crack a fez girar provocando exclamações de aprovação entre o público, caçou-a ao vôo e a deposi?tó de novo na cadeira-. Senhoras, a divertir-se ou vão se inteirar.
-Que amigos mais interessantes tem, Dallas -disse Nadine entre a fumaça de seu cigarro. Ali ninguém ia preocupar se com a proibição de fumar-. Tome-se algo. -Levantou uma garrafa de uma coisa desconhecida e serve um pouco no que parecia um copo bastante limpo-. No?sotras levamos vantagem.
-tive que obrigá-la a trocar-se. -Mavis se acomodou em uma cadeira-. E não parou que protestar. -Lhe fez um nó na garganta-. Mas o tem feito por mim. -Tomou a taça do Eve e a apurou-. Queríamos sor?prenderos.
-Conseguiu-o. Doutora Olhe. Você é a doc?tora Olhe, verdade?
Olhe sorriu alegremente.
-Era-o quando entrei. Temo-me que agora mis?mo estou um pouco confusa.
-Temos que brindar. -Peabody, instável, sobre seus saltos, utilizou a mesa como ponto de apoio. Consi?guió levantar sua taça sem derramar mais da metade na cabeça do Eve-. Pela poli mais cojonuda desta fedorento cidade, que vai casar se com o tio mais sexy que conheci, e que, como é mais lista que o ham?bre, fez que me atribuam de forma permanente a Homicídios. Que é onde devo estar, como poderia lhes dizer qualquer gilipollas. Saúde. -Apurou o resto e caiu de novo sobre sua cadeira, sorrindo como uma parva.
-Peabody -disse Eve e agitou um dedo diante de seu nariz-. Nunca me tinha emocionado tanto.
-Estou bêbada, Dallas.
-As provas assim o indicam. Podemos pedir algo de comer que não tenha ptomaína? Morro de fome.
-A futura noiva quer comer. -Ainda sóbria como uma monja, Mavis ficou em pé de um salto-. Eu me encarrego disso. Não lhes levantem.
-Ah, Mavis. -Fez-a sentar e lhe murmurou ao ouvido-: Me traga algo de beber que não seja letal.
-Dallas, isto é uma festa.
-E penso desfrutá-la, seriamente. Mas amanhã quero ter a mente clara. É importante para mim.
-OH, que romântico. -Soluçando de novo, Mavis apoiou a cara no ombro do Eve.
-Sim, usam-me como adoçante artificial. -Fez girar ao Mavis e a beijou diretamente na boca-. Obrigado. A ninguém mais lhe teria ocorrido isto.
-Ao Roarke sim. -Mavis se secou os olhos com os volan?tes que lhe desligavam da manga-. Preparamo-lo juntos.
—Claro. -Sorrindo um pouco, Eve jogou uma nova olhada prudente aos corpos nus que evoluciona?ban no cenário-. Né, Nadine. -Encheu o copo da jornalista-. Esse das plumas vermelhas no rabo não o qui?ta olho de cima.
— Ah, sim? —Nadine se voltou para olhar com olhos tur?bios.
-A que não.
-A que não o que? Que não subo aí? Ora, isso é pão comido.
-Pois faça-o. —Eve lhe sorriu—. um pouco de ação não nos virá mau.
-Acredita que não o farei. -Nadine se levantou duras pe?nas, endireitou-se como pôde—. Ouça, tio bom —lhe gritou ao que tinha mais perto-. Me ajude a subir.
Às pessoas adorou. Sobre tudo quando Nadine ficou a sua altura e ficou em calcinhas cor arroxeado. Eve suspirou ante a água mineral. Sabia como escolher a seus amigos, sim senhor.
-Como vai isso, Gorjeia?
-Estou em plena experiência ultracorpórea. Agora mesmo acredito estar no Tibet.
-Já. -Eve olhou de esguelha à doutora Olhe. Pela forma em que estava aclamando, dava a impressão de que podia saltar ao cenário de um momento a outro. Eve não acreditava que nenhuma das duas queria guardar essa ima?gen nos arquivos de sua memória—. Peabody. -Teve que lhe cravar o braço com os dedos para obter uma vaga reação-. vamos procurar mais comida.
-Isso também posso fazê-lo eu -grunhiu Peabody.
Seguindo a direção de seu olhar, Eve viu o Nadine meneando os quadris frente a um negro de mais de dois metros com o corpo pintado.
-com certeza que sim. Seguro que jogaria a casa abaixo.
-O que passa é que tenho um pouco de tripa. -cambaleou-se, mas Eve a sustentou pelo braço-. Jake o lla?ma gelatina. Estou economizando para que me suguem isso.
-Está segura? Faça mais abdominais.
-É hereditária.
-Hereditária?
-Sim. -Peabody ia dando tombos enquanto Eve a guiava entre a gente-. Em minha família todos têm tripa. Ao Jake gosta de fracas, como você.
-Porque o jodan.
-Já o tenho feito. -Peabody riu como uma parva e logo se apoiou pesadamente em uma barra auxiliar-. Fo?llamos até nos matar. Mas você sabe que isso não basta, Evie.
Eve suspirou.
-Peabody, eu não gosto de pegar a um agente quando está em inferioridade de condições. Assim não me chame Evie.
-Vale. Sabe como se consegue isso?
-Comida -encarregou Eve ao andróide que servia-. O que seja e em quantidade. Mesa três. Como se consegue o que, Peabody?
-Pois isso. O que você e Roarke têm, isso. Cone?xión. Relações internas. O sexo só é um aplique.
-Claro. Tem problemas com Casto?
-Não. Só que agora que o caso está fechado não te?nemos muita conexão. -Peabody meneou a cabeça e antes seus olhos exploraram mil e uma luzes-. Jo, estou tromba. Tenho que ir ao lavabo.
—Acompanho-lhe.
-Posso fazê-lo sozinha. -Com certa dignidade, Peabody escapou da mão do Eve-. Eu não gosto de vomitar delan?te de um oficial superior, se a você não importa.
-Como quero.
Mas Eve a vigiou todo o tempo que Peabody invir?tió em cruzar a pista. Levavam quase três horas no clube. E embora um dia era um dia, Eve ia ter que colocar algo no estômago de seus amigas e ver que todas llega?ran sões e salvas a suas casas.
acotovelou-se na barra, sorrindo, e viu o Nadine to?davía em calcinhas, sentada à mesa conversando animada?mente com a doutora Olhe. Gorjeia tinha apoiado a cabe?za na mesa e certamente estava conversando com o Dalai Lamba.
Mavis, brilhantes os olhos, estava subindo ao cenário e vociferava uma melodia improvisada que fazia mover?se a toda a pista.
Maldita seja, pensou ao sentir que lhe queimava a gar?ganta. Quanto queria a aquele rebanho de bêbadas. Pea?body incluída, pensou, e então decidiu ir jogar uma olhada ao serviço para assegurar-se de que seu ajudante não se deprimiu ou outra coisa.
Tinha cruzado quase meio clube quando notou que al?guien a agarrava. Como tinha estado fazendo ao lar?go da velada à medida que os paroquianos se dedica?ban a procurar casal, ela começou a escapar.
-Chama a outra porta, tio. Não me interessa. Né! -O breve beliscão no braço lhe causou menos danifico que en?fado.
Mas sua vista começou a nublar-se enquanto a condu?cían à força por entre a multidão até colocá-la em um quarto privado.
—Hei dito que não me interessa, caray. —Fez gesto de ensinar sua placa, mas não chegou a encontrar o bol?sillo.
Alguém lhe deu um pequeno empurrão e Eve caiu de costas sobre uma cama estreita.
-Tome-lhe com calma. Temos que falar. -Casto se tombou a seu lado e cruzou os pés.
Roarke não estava de humor para festas, mas como Feeney se tomou a moléstia de criar uma atmosfera marcadamente hedonista, decidiu representar seu papel. Era uma espécie de salão repleto de homens, a muitos dos quais lhes surpreendia ver-se metidos naquele ritual pagão. Mas Feeney, com sua perícia eletrônica, tinha conseguido dar com alguns dos sócios mais próximos ao Roarke, nenhum dos quais tinha querido ofender a alguém de seu prestígio negando-se a assistir.
De maneira que ali estavam os ricos, os famosos e os de?más, embutidos em uma sala mau iluminada com telas tamanho natural nas que apareciam corpos nus em diversos e imaginativos atos de frenesi sexual, um terceto de bailarinas de striptease já nuas, e cerveja e uísque suficientes para afundar a Sétima Frota.
Roarke teve que admitir que tinha sido um gesto simpático e fazia o possível por estar à altura das expectativas do Feeney como solteiro em sua última no?che de liberdade.
-Tenha, moço, outro uísque para você. -Depois de ter tomado várias taças de irlandês, Feeney tinha adotado comodamente o acento de um país que jamais nem sequer seus tatarabuelos tinham pisado nunca—. Vivam os rebeldes.
Roarke arqueou uma sobrancelha. Ele sim tinha nascido no Dublín e passado quase toda sua juventude vagando por seus callejue?las. Entretanto não tinha o apego sentimental do Feeney para aquela terra e suas sublevações.
—Slainte -brindou em gaélico para agradar a seu amigo.
—Assim eu gosto. Bom, Roarke, deixe que lhe diga, as senhoras que há aqui são só para olhar. Nada de lhe toque isso -Está como un tren, ¿eh? Nuestra Dallas...
-Conterei-me.
Feeney sorriu e deu ao Roarke um tapa nas costas que quase lhe fez trastabillar.
-Está como um trem, né? Nosso Dallas...
-Bom... -Roarke olhou carrancudo seu copo de uísque-. Sim.
-Essa Dallas nos faz estar a todos sempre alerta. Sabe mais que Merlín, a muito jodida. É das que não para quando lhe coloca uma coisa entre sobrancelha e sobrancelha. Direi-lhe uma coisa, este último caso a deixou feita pó.
-Ainda está nisso -murmurou Roarke, e sorriu friamente quando uma loira nua lhe acariciou o pe?cho-. Prova soe com esse -disse-lhe, assinalando a um hom?bre de olhar vidriosa e traje cinza de raias finas-. É o dono do Stoner Dynamics.
Ao ver que ela não entendia, Roarke se desembaraçou das mãos que começavam baixar alegremente para seu entrepierna.
-Está forrado -disse.
A garota se afastou bamboleando-se, enquanto Feeney a olhava com mais desejo que esperança.
-Sou casado e feliz, Roarke.
-Isso me hão dito.
-É degradante confessar que estou um pouco tentado de me dar um queda em um quarto às escuras com uma coisa bonita como essa.
-Você merece algo melhor, Feeney.
-Isso é verdade. -Suspirou longamente e logo reto?mó o anterior tema de conversação-. Dallas se vai umas semanas. Acredito que deixará o caso e se meterá no si?guiente.
—Não gosta de perder, e tem essa sensação. —Roarke tratou de lhe subtrair importância. Maldita a graça que o fazia passar a véspera de suas bodas falando de ho?micidios. Amaldiçoando pelo baixo, levou ao Feeney até um rincão tranqüilo-. O que sabe você desse camelo ao que mataram no East End?
-Barata. Não há muito que dizer. Traficante, bastante hábil, bastante estúpido. É curioso que tantos traficantes sejam as duas coisas de uma vez. Não saía de seu te?rritorio. Gostava do dinheiro fácil e rápido.
-Também era um mexeriqueiro? Como Boomer?
-Tinha-o sido. Seu preparador se retirou o ano pa?sado.
-E o que passa quando um preparador se retira?
-Que se encarrega outro do mexeriqueiro ou lhe deixa solto. Não encontraram a ninguém que queria encarregar-se da Cu?caracha.
Roarke ia encolher se de ombros, mas algo o se?guía intrigando.
-O policial que se retirou, trabalhava com alguém?
-O que se acreditou? Que tenho memória de orde?nador?
-Sim.
A adulação fez que Feeney se pavoneasse.
-Bom, para falar a verdade, lembrança que estava asocia?do com um velho meu amigo, Danny Riley. Isso foi em, a ver, no quarenta e um. Acredito que patrulhou com o Mari Dirscolli até o quarenta e oito, mais ou menos.
-Não importa -murmurou Roarke.
-Depois fez equipe com Casto um par de anos.
Roarke avivou seus cinco sentidos.
-Casto? Patrulhava com Casto enquanto era prepa?rador de Barata?
-Assim é, mas só um dos dois trabalha como pre?parador. É obvio —resmungou Feeney enquanto arru?gaba a frente-. O procedimento normal é tomar pose?sión dos contatos de seu casal. Não há perseverança de que Casto o fizesse. Ele tinha seus próprios mexeriqueiros.
Roarke se disse que eram prejuízos, que eram seus ce?los ridículos e reflexos.
-Não tudo consta nos arquivos. Não lhe parece uma coincidência que dois mexeriqueiros que trabalhavam com Casto fossem assassinados, ambos relacionados com o Immortality?
-Não hei dito que Casto usasse a Barata como mexeriqueiro. E não é tanta coincidência. Já se sabe que no mundo das ilegais, tudo está conectado de um modo ou outro.
—Que mais descobriram que pudesse relacionar a Barata com os outros assassinatos, além de Casto?
-Céus, Roarke. -Feeney se passou a mão pela cara-. É pior que Dallas. Olhe, há muitos policiais de Ilegais que acabam com problemas de toxicomanía. Cas?to está limpo de tudo. Jamais deu positivo em ningu?na prova. Tem boa reputação, pode que o ascien?dan a capitão, e não é nenhum secreto que ele o busca. Seria parvo se agora o danificasse tudo metendo-se em confusões.
-Há vezes que um homem não pode resistir a ten?tación, Feeney, e acaba cedendo. Pretende me dizer que seria a primeira vez que um policial de Ilegais tira algum dinheiro baixo, mão?
-Não. -Feeney suspirou de novo. Aquela conversa?ción lhe estava pondo sóbrio. E isso não gostava-. A Casto não lhe pode imputar nada. Dallas estava tra?bajando com ele. Se fosse um mau polícia o teria cheirado. Ela é assim.
-Dallas esteve desfocada -murmurou Roarke recordando as palavras do Eve-. Pense-o, Feeney, por mais rápido que ela se movia sempre parecia ir um passo por detrás dos acontecimentos. Se alguém houvesse co?nocido seus movimentos lhe teria sido fácil antecipar-se. Especialmente se era alguém com mentalidade de polícia.
-Cai-lhe mal porque é quase tão arrumado como você -disse Feeney de mau humor.
Roarke o passou por cima.
-O que poderia você averiguar dele esta noite?
-Esta noite? Joder, quer que lhe busque as cos?quillas a um colega, que investigue os expedientes per?sonales só porque dois de seus mexeriqueiros resultaram mortos? E ainda por cima esta noite?
Roarke lhe apoiou uma mão no ombro.
-Podemos usar minha unidade.
-Farão bom casal -resmungou Feeney enquanto Roarke lhe empurrava para a multidão-. Miúdo par de estelionatários.
Eve via casto impreciso e podia cheirar o tênue aroma a sabão e suor que despedia sua pele. Mas não obtinha en?tender que fazia ele ali.
-O que ocorre, Casto? Temos uma chamada? -Olhou ao redor procurando o Peabody e viu os gritões cortinados vermelhos que se supunha acrescentavam sensualidade a um quarto destinado ao sexo rápido e barato-. Espere um momento.
-Relaxe-se, Dallas. -Não queria lhe dar outra dose,-me?nos tendo em conta o que já teria estado bebendo em sua festa de solteira-. A porta está fechada, ou seja que não pode ir a nenhuma parte. -ficou à costas um co?jín com borde de cetim—. Teria sido muito mais fácil se o tivesse deixado correr. Mas não. Você r que r. Não me cabe na cabeça que tenha estado amassando ao Lilligas.
—Quem... o que?
-A florista de Vegas II. Isso é ir muito longe. Eu mesmo utilizei a essa zorra.
Eve notou uma sensação desagradável no estômago. Quando notou o sabor da bílis na garganta, inclinou-se para frente, colocou a cabeça entre os joelhos e procurou respirar fundo.
—Há picos que podem produzir náuseas. A próxi?ma vez provaremos outra coisa.
-Equivoquei-me com você. -Eve tratou de concentrar?se em não vomitar a pesada e gordurenta comida que tinha ingerido em lugar de álcool-. Maldita seja, como não me dava conta.
-Você não estava procurando a outro policial. Bom, por que ia fazer o? E tinha outras coisas que a preo?cupaban. quebrantou as normas, Eve. Você sabe muito bem que o primeiro investigador jamais deve impli?carse pessoalmente. Estava muito preocupada com seu amiga. É algo que admiro em você, mesmo que seja uma estupidez.
Agarrou-a do cabelo e lhe jogou a cabeça para trás. Depois de uma rápida olhada a suas pupilas, decidiu que a dose ini?cial a teria um momento mais a raia. Não queria arriscar-se a uma overdose. Ao menos até que tivesse terminado.
-Seriamente que a admiro, Eve.
-Filho de puta. -A língua quase lhe impedia de falar-. Você os matou.
-Sim. A todos. -Sereno, Casto cruzou os pés pelos tornozelos-. foi difícil mantê-lo oculto, admito-o. É duro para o ego não poder demonstrar a uma mulher como você o que um homem inteligente pode chegar a fazer. Sabe, preocupei-me um pouco quando soube que se encarregava do Boomer. -Acariciou-lhe com um dedo do queixo até os peitos-. Acreditei que podia cativá-la. Confesse que se sentiu atraída.
-me tire as mãos de cima. -Tentou abofetear?le mas falhou por uns centímetros.
-Sua percepção de fundo falha. -Riu entre dentes-. A droga é má, Eve. O digo eu, que o vejo cada puñetero dia nas ruas. Farto-me de vê-lo. Assim começou tudo. Esses tipos extravagantes tirando dinheiro a cestas sem jamais sujá-las pulcras unhas. por que não eu?
-Fez-o por dinheiro...
-O que, se não? Faz um par de anos dava com o enlace do Immortality. Foi coisa do fado. Tomei as coisas com calma, fiz meus deveres, utilizei uma fonte que tinha na colônia Éden para que me conseguisse uma amostra. O pobre Boomer o descobriu... meu contato na Éden.
-Boomer o disse.
-Claro. Quando averiguava algo no mercado de ilegais, devia dizer me o Ele então não sabia que eu estava metido nisso. Ignorava que Boomer tinha uma cópia da jodida fórmula. Ignorava que ele estava agüentando para ver se tirava uma boa fatia.
—Você lhe matou. Fez-lhe pedaços.
-Só quando foi necessário. Nunca faço nada a me?nos que seja imprescindível. Foi culpa da formosa Pandora, compreende?
Eve escutava, pugnando por recuperar o controle de seu cérebro, enquanto lhe relatava uma história de sexo, poder e benefícios.
Pandora lhe tinha visto no clube. Ou se tinham visto mutuamente. lhe gostou da idéia de que ele fora poli?cía, e a classe de poli que era. Ele podia colocar mão a um montão de guloseimas, não? E o teria feito com gosto. Estava obcecado, enfeitiçado por ela. Era um viciado na Pandora. Admiti-lo já não podia lhe fazer nenhum dano. Seu engano tinha sido compartilhar a informação a respeito do Immortality, emprestar ouvidos as idéias dela sobre como ganhar dinheiro. Uns benefícios enormes, havia-lhe prome?tido ela. Mais dinheiro de que podiam gastar em três vistas. E além juventude, beleza e sexo muito bem. Ela se tinha convertido rapidamente em viciada, sempre queria mais droga, e lhe tinha utilizado a ele para consegui-la.
Mas Pandora também tinha sido útil. Sua carreira, sua fama, permitiam-lhe viajar, trazer mais daquilo que en?tonces se fabricava exclusivamente em um pequeno labo?ratorio privado do Starlight Station.
Então descobriu que tinha metido ao Redford no negócio. Ele se havia posto furioso, mas ela tinha conseguido aplacá-lo com sexo e promessas. E dinheiro, é obvio.
Mas as coisas tinham começado a torcer-se. Boomer lhe tinha exigido dinheiro, apropriou-se de uma bolsa de droga em forma de pó.
-Eu deveria ter podido dirigir a esse mequetrefe. Segui-lhe até aqui. Estava esbanjando à mãos lle?nas os créditos que eu lhe tinha dado para que calasse a boca. Eu não podia saber o que lhe havia dito a aquela puta. -Casto se encolheu de ombros-. Você o imagi?nó. Acertou em uma coisa, Eve, mas se equivocou de perso?na. Tive que me carregar à garota. Estava muito me?tido para cometer enganos. E ela só era uma furcia.
Eve recostou a cabeça na parede. A cabeça quase não lhe dava voltas. Deu obrigado de que a dose tivesse sido tão pequena. Casto estava arrojado. O melhor era lhe fazer falar. Se não conseguia sair dali por si mesmo, alguém viria a procurá-la cedo ou tarde.
—E então foi pelo Boomer.
—Não podia tirar o de sua pensão. Nessa zona minha cara é muito conhecida. Dava-lhe um pouco de tempo e logo me pus em contato com ele. Disse-lhe que podíamos fazer um trato. Queríamo-lo de nosso lado. E ele foi o bastante parvo para me acreditar. Então o liquidei.
-Primeiro lhe fez uma boa tarefa. Não se deu pressa em lhe matar.
-Tinha que averiguar até que ponto havia habla?do, e com quem. Boomer não suportava bem a dor, po?bre. Tirou até o primeiro mingau. Descobri o da fór?mula. Isso me encheu o saco muito. Eu não pensava lhe danificar a cara como a furcia, mas perdi os estribos. Assim de singelo. Estava emocionalmente comprometido, como se di?jéramos.
-É um bode de merda -resmungou Eve, fingindo uma voz débil e velada.
-Isso não é verdade, Eve. lhe pergunte ao Peabody. -Casto sorriu e ato seguido lhe beliscou um peito ha?ciendo que a raiva a embargasse de novo-. Atirei- os discos ao DeeDee assim que vi que você não ia morder o anzol. Estava muito embevecida com esse porco de irlandês para fixar-se em um homem de verdade. E DeeDee, pobrecilla, estava a ponto de caramelo. De todos os modos, não cheguei a lhe tirar grande coisa sobre o que você se trazia entre mãos. DeeDee tem madeira de bom polícia. Mas com um pequeno aditamento no copo de vinho se mostra mais cooperadora.
-Drogou você ao Peabody?
—Umas quantas vezes, só para lhe surrupiar algum de?talle que você tivesse podido deixar fora de seus infor?mes oficiais. E para deixá-la bem dormida quando eu te?nía que sair de noite. Era um álibi perfeito. Enfim, já sabe o da Pandora. Isso também foi quase como você tinha imaginado. Solo que eu estava espreitando sua casa essa noite. Agarrei-a tão logo saiu pela porta feita uma fúria. Queria ir a casa esse desenhista. Para enton?ces já tínhamos terminado nossa relação erótica. Só nos unia o negócio. E pensei: por que não eliminar?la? Eu sabia que ela tentava me deixar fora do nego?cio. Queria ficar contudo. Parecia-lhe que já não ne?cesitaba a um poli, nem sequer tendo em conta que eu era quem lhe tinha proporcionado a droga. Sabia o do Boomer. Mas isso não lhe tirou o sonho. Que mais dava um sujo personajillo dos baixos recursos? E em nenhum momento lhe ocorreu pensar que eu lhe faria mal.
-Mas o fez.
-Levei-a aonde queria. Não estou seguro de se pen?sé fazê-lo então, mas quando vi a câmara de seguri?dad rota me pareceu um bom presságio. O apartamento estava vazio. Ela e eu, sozinhos. O carregariam ao modista, ou à garota com a que ela se brigou. Assim que a li?quidé. Ao primeiro golpe caiu ao chão, mas logo se le?vantó. Essa droga lhe dava força. Tive que seguir pegán?dole e lhe pegando. Joder, a de sangue que saiu. Ao final caiu de tudo. Logo entrou essa amiga dela, e o resto já o conhece.
-Sim. Você voltou para casa da Pandora e agarrou a caixa dos tabletes. por que se levou também o minienlace?
-Ela o usava para me chamar. Podia ter gravado os números.
-E Barata?
-Um aplique à mescla. Fiz-o para confundir. Barata sempre estava disposto a provar produtos novos. Você estava dando paus de cego, e eu queria fazer algo onde meu álibi fora perfeito, se por acaso aca?so. Desde aí o do DeeDee.
-Também fez o do Jerry, não é certo?
-Foi tão fácil como um passeio pela praia. Incitei a um dos pacientes violentos com um colocón rápido e esperei a que se armasse. Tinha algo para o Jerry, fiz-a sair dali antes de que soubesse o que estava passando. Prometi-lhe uma dose e ela chorou como um bebê. Primeiro morfina para que não lhe ocorresse negar-se a cooperar; logo Immortality, e depois um pouco do Zeus. Morreu feliz, Eve. me dando as obrigado.
-Que humanitário.
-Não, Eve. Sou um tipo egoísta que busca ser o núme?ro um. E não me envergonho. Levo doze anos pateándo?me a rua, nadando em sangue, vômitos e corridas. Eu já cumpri. Esta droga vai dar tudo o que sempre desejei. Serei capitão, e graças aos contatos que isso suporá, irei ingressando benefícios em uma bonita conta durante quatro ou cinco anos e logo retirarei a uma ilha tropical para me dedicar a tomar daiquiris.
Casto começava a refrear-se, Eve o via por seu tom de voz. A excitação e a arrogância tinham dado passo ao praticamente.
—Primeiro terá que me matar a mim.
-Já sei. É uma pena. Quase entreguei ao Fitzgerald, mas você não quis contentar-se com isso. -Com algo pa?recido ao afeto, lhe aconteceu uma mão pelo cabelo-. A você o vou fazer mais fácil. Aqui tenho algo que fará o trabalho brandamente. Não sentirá nada.
-É muito considerado, Casto.
-O devo, encanto. De poli a poli. Se houvesse deja?do as coisas como estavam depois que seu amiga ficou livre, mas não lhe deu a vontade. Oxalá tudo tivesse sido dis?tinto, Eve. Caía-me você realmente bem. -aproximou-se um pouco mais, tanto que ela notou seu fôlego nos lábios como se ele queria lhe demonstrar o bem que lhe caía.
Eve levantou lentamente as pestanas, lhe olhando à cara.
-Casto -murmurou.
-Sim, agora relaxe-se. Em seguida acabaremos. -Colocou a mão no bolso.
-Bode. -Eve lançou o joelho com força. Seu per?cepción de fundo ainda estava um pouco deteriorada. Em vez de lhe dar na virilha lhe incrustou o joelho no men?tón. Casto caiu da cama e a seringa Á pressão que te?nía na mão foi parar ao chão.
Ambos se lançaram por ela.
-Onde se terá metido? Não é capaz de largar-se de sua própria festa. -Mavis sapateou impaciente enquanto seguia esquadrinhando o clube-. E é quão única ainda está sóbria.
-No serviço de senhoras? -sugeriu Nadine, ponién?dose sem entusiasmo a blusa sobre o sustento de encaixe.
-Peabody olhou duas vezes. Doutora Olhe, não terá tentado fugir-se, verdade? Sei que está nervosa, mas...
-Não, não é seu estilo. -Embora a cabeça lhe dava voltas, Olhe procurou falar com serenidade-. Volvere?mos a olhar. Tem que estar em alguma parte. Mas há tanta gente...
-Seguem procurando à noiva? -Crack lhes aproximou sorrindo de orelha a orelha-. Acredito que gostava de um pol?vo de despedida. Esse daí a viu entrar em um quarto privado com um tipo com pinta de cowboy.
-Dallas? -Mavis explorou de risada -. Nem pensar.
-Estará-o celebrando, -Crack se encolheu de hom?bros-. Há mais habitações, se a alguma entram as ga?nas.
-No que quarto? —inquiriu Peabody, agora sóbria depois de ter tirado tudo o que tinha no estômago.
-O número cinco. Né, se preferirem uma cama redon?da, posso lhes buscar uns quantos meninos bonitos. Varie?dad de tamanhos, formas e cores. -Crack meneou a ca?beza enquanto elas se afastavam, e decidiu que o melhor seria ir-se manter a ordem.
Os dedos do Eve escorregaram sobre a seringa, e o coda?zo que sentiu no maçã do rosto repercutiu em toda sua cara. A vantagem inicial e o fato de haver-se mostrado disposta a brigar tinham desconcertado a Casto.
—Teria que me haver dado uma dose maior. -Eve acompanhou suas palavras com um murro ao esófa?go-. Imbecil, esta noite não bebi nada. -Pontuou a frase lhe esmagando o nariz-. Isto vai pelo Peabody, filho-puta.
Casto a golpeou nas costelas, deixando-a sem respi?ración. A seringa passou a um centímetro de seu braço e lhe lançou uma patada. Nunca chegaria ou seja se foi a sorte, a falta de percepção de fundo ou o próprio engano de Casto, mas este fez uma finta para esquivar a patada ao estômago, e os pés dela, como sendos pistões, acertaram totalmente em sua cara.
Casto pôs os olhos em branco e sua cabeça golpeou o chão com um sinistro e satisfatório golpe.
Contudo, tinha conseguido lhe colocar um pouco mais de droga. Eve se arrastou pelo chão com a sensação de estar nadando em um espesso xarope dourado. Chegou à porta, mas a fechadura e o código pareciam estar três ou quatro metros mais acima de sua mão.
Então a porta se abriu.
Eve notou que a içavam e lhe davam tapinhas. Al?guien estava ordenando que lhe dessem ar. Teve vontades de rir mas não lhe saía a risada. Estava voando, não podia pensar em outra coisa.
-Esse bode os matou -repetia-. Matou-os a todos. Equivoquei-me com ele. Onde está Roarke?
Levantaram-lhe as pálpebras, e pôde ter jurado que os globos oculares rodavam como gudes enloque?cidas. Ouviu as palavras «centro de saúde» e começou a lu?char como uma tigresa.
Roarke baixou a escada com um sorriso. Sabia que Feeney se ficou acima, soprando de mau humor, mas ele estava convencido. Para um negócio da enver?gadura do Immortality fazia falta um perito e contac?tos confidenciais. Casto cumpria ambos os requisitos.
Eve tampouco quereria saber nada, de modo que não o diria. Mas Feeney teria três semanas para bisbilhotar enquanto eles estavam de lua de mel. Se é que ia a ha?ber lua de mel.
Ouviu abri-la porta e inclinou a cabeça. Isto o foram esclarecer de uma vez por todas, decidiu. Aqui e agora. Baixou dois degraus mais, e logo o resto à carreira.
-Que diabos passou ao Eve? Está sangrando. -Também ele tinha os olhos injetados quando arrebatou ao Eve de braços de um negro corpulento embelezado com um tanga prateado.
Enquanto todos começavam a falar de uma vez, Olhe deu um par de palmadas como uma professora em um sala-de-aula ruidosa.
—Eve necessita um site tranqüilo. Deram-lhe algo para rebater a droga, mas haverá efeitos secunda?rios. E não deixou que lhe curassem os cortes e as magu?lladuras.
Roarke ficou de pedra.
-Que droga? -Olhou ao Mavis-. Aonde coño a levaste?
-Não é culpa dela. -Frágeis os olhos, Eve rodeou o pescoço do Roarke com seus braços-. Foi Casto, Roarke. Casto. Sabia?
-Agora que o diz...
-Que estúpida; como não me dava conta. Poderia acos?tarme?
-Leve-a acima, Roarke -disse Olhe com calma-. Eu me ocuparei dela. ficará bem, me crie.
-Sim, poderei-me bem -disse Eve escada acima-. Contarei-lhe isso tudo. lhe posso contar isso tudo, verdade? Porque você me quer, bobo.
Roarke só queria saber uma coisa nesse momento. Deixou ao Eve na cama, jogou uma olhada à bochecha con?tusa e a boca torcida.
-Está morto?
-Não. Só lhe dava uma surra. -Eve sorriu, viu como a olhava ele e meneou a cabeça—. Disso nada. Nem o pense sequer. Casamo-nos dentro de um par de horas.
Roarke lhe apartou uma mecha da cara.
-Seriamente?
-Pensei-o bem. —Era difícil concentrar-se, mas tinha que fazê-lo. Agarrou a cara dele com suas mãos para não perder o de vista-. Não é uma formalidade. E tampouco um contrato.
-O que é, então?
-Uma promessa. Além disso, não é tão duro prometer algo que realmente quer fazer. E se resultar que sou uma má esposa, terá que te agüentar. Eu sempre cumpro minhas promessas. E ainda há outra coisa.
Roarke viu que se estava dormindo, e se apartou um pouco para que Olhe lhe curasse a bochecha.
-Que coisa, Eve?
-Quero-te. Às vezes isso me dá dor de estômago, mas acredito que eu gosto. Estou cansada. Vêem a cama. Você quie...
Roarke deixou o campo livre a Olhe e lhe perguntou:
-Não há problema em que durma?
-É o melhor. Quando despertar encontrará bem. Pode que com um pouco de ressaca, coisa que é injusta já que não provou o álcool. Disse que queria ter a cabeça limpa para amanhã.
-Isso disse? —Roarke recordou que ela alguma vez parecia serena quando dormia-. Recordará tudo isto?, o que me estava dizendo agora?
—Talvez não —disse Olhe—. Mas você sim, e isso será su?ficiente.
Roarke assentiu. Eve estava a salvo. a salvo uma vez mais. voltou-se para o Peabody.
-Agente, conto com você para que me dê os detalhes?
Eve tinha ressaca, efetivamente, e isso não gostou. No?taba como nós de graxa no estômago, e lhe doía muito a mandíbula. Mas entre Olhe e os sortilégios de Gorjeia tinham feito que apenas se notassem as contu?siones. Como noiva, disse-se olhando-se ao espelho, podia passar.
-Está de fábula, Dallas. -Mavis suspirou emociona?da e deu lentamente a volta para contemplar a obra professora do Leonardo. O vestido lhe sentava muito bem, o tom bronzeado acrescentava calidez a sua pele e as linhas real?zaban seu tipo comprido e magro. A simplicidade do desenho fazia boa a frase de que o que importava era a mulher que havia dentro-. O jardim está repleto de gente -si?guió muito animada enquanto Eve lutava com seu estóma?go-. olhaste pela janela?
-Não é a primeira vez que vejo gente.
—Faz um momento havia jornalistas em vôo de inspeção. Não sei que botão terá pulsado Roarke, mas desapareceram.
-Menos mal.
-Encontra-te bem, verdade? A doutora disse que não teria nenhum efeito secundário perigoso, mas...
-Estou bem. -Só era mentira pela metade-. Fechado o caso e conhecidos todos os fatos, a verdade sim?plifica as coisas. -Pensou no Jerry e sofreu. Ao olhar ao Mavis com sua cara radiante e seu cabelo com pontas pla?teadas, sorriu-. Você e Leonardo ainda pensam em coha?bitar?
-De momento sim, em minha casa. Estamos procurando algo maior, onde haja espaço para que ele possa tra?bajar. E eu vou fazer clubes outra vez. -Tirou uma caixa do escritório e a entregou—. Roarke te manda isto.
-Ah, sim? -Ao abri-la, sentiu prazer e alarme de uma vez. O colar era perfeito, por descontado. Duas gargantilhas de cobre tachonadas de pedras de cores.
-Ao final o disse.
-Já o vejo. -Com um suspiro, Eve o pôs e logo se ajustou nas orelhas as duas lágrimas a jogo. Seu aspec?to, pensou, era o de um guerreiro pagão.
-Outra coisa.
-Mavis, não estou para mais costure. Roarke tem que compreender que... -Calou enquanto Mavis ia até a caixa larga que havia sobre a mesa e tirava um bonito buquê de flores brancas: petunias. Singelas petunias de pátio traseiro.
-Sempre dá no prego -murmurou. Os músculos de seu estômago se relaxaram, os nervos desapareceram de repente-. Não sei como o faz.
-Imagino que quando alguém te compreende tão bem, tão, bom, tão intimamente, é uma grande sorte.
-Sim. -Eve agarrou as flores e as levou a peito. Ao olhar-se ao espelho já não viu uma desconhecida: era, pensou, Eve Dallas no dia de suas bodas-. Roarke vai se cair de costas quando me vir.
Rendo a gargalhadas, Eve agarrou a seu amiga do braço e correu a cumprir suas promessas.
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M. Loureiro
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