quinta-feira, 30 de junho de 2011 By: Fred

audio livro Face Negada

Olá,
 Seguimos com o  audio livro, Face Negada, 
LATIFA 
 
 
 

      
    
~A vida não dura para sempre, Ninguém tem de se lhe submeter, Se a submissão é a condição da minha vida Não preciso dessa vida
Na escravidão
Podem chover grãos de ouro Que eu digo ao céu
Não preciso dessa chuva.
 
 
 
1 O pano branco sobre a mesquita
Nove horas da manhã, 27 de Setembro de 1996. Alguém bate violentamente à porta. Toda a família se sobressalta, porque desde que amanheceu estamos extremamente nervosos. O meu pai levanta-se rapidamente e a minha mãe, angustiada, segue-o com os olhos, o rosto marcado pelo esgotamento, depois de uma noite sem sono. Ninguém conseguiu pregar olho. Os disparos de rockets em redor da cidade só pararam às 2h00 da manhã. A minha irmã Soraya e eu parámos de cochichar na escuridão e, mesmo depois de o silêncio ter caído, foi-nos impossível encontrar o repouso por completo. No entanto, estamos habituados, em Cabul, a ser o alvo dos rockets. Se bem que só tenha 16 anos, parece-me que os ouço desde que nasci. Há tanto tempo que a cidade está cercada, é bombardeada, que os combates mortíferos nos incendeiam e enchem de fumo e nos precipitam, por vezes, para a cave, e mais uma noite de tal tumulto faz parte do nosso quotidiano!
Até hoje!
O meu pai regressa à cozinha, seguido do nosso jovem primo Farad, esbaforido e lívido. Dir-se-ia que Farad treme interiormente e todo o seu rosto exprime o medo. Mal consegue falar, as palavras atropelam-se nos seus lábios numa sequência de estranhos soluços.
- Vim... saber notícias de vós! Está tudo bem? Não vistes nada? Não sabeis? Eles estão aqui! Tomaram Cabul! Os talibãs estão em Cabul! Não vieram a vossa casa? Não exigiram as vossas armas?
- Não, ninguém veio aqui, mas nós vimos o pano branco a flutuar na mesquita. Tememos o pior, foi Daoud que o viu esta manhã.
Esta manhã, por volta das 8h00, quando tinha descido para ir buscar água, como habitualmente, à torneira do prédio, o meu jovem irmão Daoud voltou a subir precipitadamente com a bacia vazia na mão.
- Vi um pano branco na mesquita e outro na escola!
A bandeira dos talibãs. Nunca tinha flutuado antes em Cabul, só a vira na televisão ou em fotografias nos jornais. Sabíamos que os talibãs estavam próximos, dizia-se com frequência, na cidade, que tinham posições a dez ou 15 quilómetros da capital, mas ninguém acreditava, realmente, que conseguissem chegar até nós. Então, corremos para o posto de rádio e para a televisão em busca de notícias, mas não havia nada, desesperadamente nada, nem imagem nem som, desde a véspera, às 18h00. Esta manhã, o meu pai tentou contactar com o resto da família em Cabul, mas em vão: não havia linhas de telefone.
 
 Boas audições
 jeloy

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