Olá,
Seguimos com o audio livro, Face Negada,
LATIFA
LATIFA
~A vida não dura para sempre, Ninguém tem de se lhe submeter, Se a submissão é a condição da minha vida Não preciso dessa vida
Na escravidão
Podem chover grãos de ouro Que eu digo ao céu
Não preciso dessa chuva.
Na escravidão
Podem chover grãos de ouro Que eu digo ao céu
Não preciso dessa chuva.
1 O pano branco sobre a mesquita
Nove horas da manhã, 27 de Setembro de 1996. Alguém bate violentamente à porta. Toda a família se sobressalta, porque desde que amanheceu estamos extremamente nervosos. O meu pai levanta-se rapidamente e a minha mãe, angustiada, segue-o com os olhos, o rosto marcado pelo esgotamento, depois de uma noite sem sono. Ninguém conseguiu pregar olho. Os disparos de rockets em redor da cidade só pararam às 2h00 da manhã. A minha irmã Soraya e eu parámos de cochichar na escuridão e, mesmo depois de o silêncio ter caído, foi-nos impossível encontrar o repouso por completo. No entanto, estamos habituados, em Cabul, a ser o alvo dos rockets. Se bem que só tenha 16 anos, parece-me que os ouço desde que nasci. Há tanto tempo que a cidade está cercada, é bombardeada, que os combates mortíferos nos incendeiam e enchem de fumo e nos precipitam, por vezes, para a cave, e mais uma noite de tal tumulto faz parte do nosso quotidiano!
Até hoje!
O meu pai regressa à cozinha, seguido do nosso jovem primo Farad, esbaforido e lívido. Dir-se-ia que Farad treme interiormente e todo o seu rosto exprime o medo. Mal consegue falar, as palavras atropelam-se nos seus lábios numa sequência de estranhos soluços.
- Vim... saber notícias de vós! Está tudo bem? Não vistes nada? Não sabeis? Eles estão aqui! Tomaram Cabul! Os talibãs estão em Cabul! Não vieram a vossa casa? Não exigiram as vossas armas?
- Não, ninguém veio aqui, mas nós vimos o pano branco a flutuar na mesquita. Tememos o pior, foi Daoud que o viu esta manhã.
Esta manhã, por volta das 8h00, quando tinha descido para ir buscar água, como habitualmente, à torneira do prédio, o meu jovem irmão Daoud voltou a subir precipitadamente com a bacia vazia na mão.
- Vi um pano branco na mesquita e outro na escola!
A bandeira dos talibãs. Nunca tinha flutuado antes em Cabul, só a vira na televisão ou em fotografias nos jornais. Sabíamos que os talibãs estavam próximos, dizia-se com frequência, na cidade, que tinham posições a dez ou 15 quilómetros da capital, mas ninguém acreditava, realmente, que conseguissem chegar até nós. Então, corremos para o posto de rádio e para a televisão em busca de notícias, mas não havia nada, desesperadamente nada, nem imagem nem som, desde a véspera, às 18h00. Esta manhã, o meu pai tentou contactar com o resto da família em Cabul, mas em vão: não havia linhas de telefone.
Nove horas da manhã, 27 de Setembro de 1996. Alguém bate violentamente à porta. Toda a família se sobressalta, porque desde que amanheceu estamos extremamente nervosos. O meu pai levanta-se rapidamente e a minha mãe, angustiada, segue-o com os olhos, o rosto marcado pelo esgotamento, depois de uma noite sem sono. Ninguém conseguiu pregar olho. Os disparos de rockets em redor da cidade só pararam às 2h00 da manhã. A minha irmã Soraya e eu parámos de cochichar na escuridão e, mesmo depois de o silêncio ter caído, foi-nos impossível encontrar o repouso por completo. No entanto, estamos habituados, em Cabul, a ser o alvo dos rockets. Se bem que só tenha 16 anos, parece-me que os ouço desde que nasci. Há tanto tempo que a cidade está cercada, é bombardeada, que os combates mortíferos nos incendeiam e enchem de fumo e nos precipitam, por vezes, para a cave, e mais uma noite de tal tumulto faz parte do nosso quotidiano!
Até hoje!
O meu pai regressa à cozinha, seguido do nosso jovem primo Farad, esbaforido e lívido. Dir-se-ia que Farad treme interiormente e todo o seu rosto exprime o medo. Mal consegue falar, as palavras atropelam-se nos seus lábios numa sequência de estranhos soluços.
- Vim... saber notícias de vós! Está tudo bem? Não vistes nada? Não sabeis? Eles estão aqui! Tomaram Cabul! Os talibãs estão em Cabul! Não vieram a vossa casa? Não exigiram as vossas armas?
- Não, ninguém veio aqui, mas nós vimos o pano branco a flutuar na mesquita. Tememos o pior, foi Daoud que o viu esta manhã.
Esta manhã, por volta das 8h00, quando tinha descido para ir buscar água, como habitualmente, à torneira do prédio, o meu jovem irmão Daoud voltou a subir precipitadamente com a bacia vazia na mão.
- Vi um pano branco na mesquita e outro na escola!
A bandeira dos talibãs. Nunca tinha flutuado antes em Cabul, só a vira na televisão ou em fotografias nos jornais. Sabíamos que os talibãs estavam próximos, dizia-se com frequência, na cidade, que tinham posições a dez ou 15 quilómetros da capital, mas ninguém acreditava, realmente, que conseguissem chegar até nós. Então, corremos para o posto de rádio e para a televisão em busca de notícias, mas não havia nada, desesperadamente nada, nem imagem nem som, desde a véspera, às 18h00. Esta manhã, o meu pai tentou contactar com o resto da família em Cabul, mas em vão: não havia linhas de telefone.
Boas audições
jeloy
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