quinta-feira, 6 de outubro de 2011 By: Fred

[livro] A Bruxa de Évora - Maria Helena Farelli

Era uma vez a poderosa Bruxa de
Évora que conquistou e aterrorizou gerações
de corações luso-brasileiros por
séculos e que possuía um caderno completamente
abarrotado de poções, feitiços,
bruxedos, encantamentos, banhos,
rezas etc. Sua fama singrou barreiras
cronológicas e físicas e aportou no Brasil
com os navegantes portugueses... Sua
magia criou raízes e ramificações se entrelaçando
com as religiões ameríndias...

Se você quiser saber mais sobre a
Bruxa de Évora, leia atentamente as páginas
deste livro e descubra como resolver
seus problemas.


Maria Helena Farelli

A BRUXA DE ÉVORA


As lendas sobre a Bruxa de Évora
vêm povoando o imaginário ibérico desde
a Idade Média, quando a Inquisição
deixou sua marca de terror e perseguições
gravada a ferro e a fogo naquela
Península, sobretudo em Portugal.

A caça às bruxas, aos feiticeiros e
às pessoas que supostamente tinham
pacto com o diabo foi tão feroz e violenta
que ficou registrada não apenas nos
livros da Igreja Católica, mas também no
inconsciente coletivo dos habitantes daquela
região. Assim, a cidade de Évora
ficou conhecida tanto por ser o local
onde a força da Inquisição se fez mais
presente como por ser uma terra consagrada
ao sobrenatural e à feitiçaria.

Tanto é que séculos após o término
da Idade Média a força dessa personagem
lendária — a Bruxa de Évora,
também conhecida como a Moura Torta

— ainda permanecia incólume no folclore
português e acabou aportando no
Brasil Colônia junto com as caravelas do

descobrimento e, posteriormente, dos
colonizadores.

Apesar de temida, as pessoas sempre
buscaram conhecer os poderes dessa
Bruxa: seus feitiços, sortilégios, banhos,
amarrações, conjuros etc, com a finalidade
de obter cura, proteção e sucesso
no amor e na vida.

Por essa razão, a autora, Maria
Helena Farelli, tentou resgatar um pouco
desse saber e trazê-lo progressivamente
para o grande público que em pleno século
XXI procura cada vez mais a ajuda
da magia e dos fenômenos sobrenaturais
e paranormais para transformar seu
cotidiano.

Filtradas as diferenças de época,
as adaptações e criações sobre o tema
etc. a autora conseguiu reunir um material
que, sem dúvida, ajudará a resolver
muitas demandas daqueles que dele
precisam.

É ler para crer e testar a força desta
Bruxa secular que tanto assombrou
seus contemporâneos. Boa Sorte e mãos
à obra!

capa: Leonardo Carvalho,
a partir de "Queen Eleanor and Fair Rosamund";
de Evelyn de Morgan (1855-1919)

_


Maria Helena Farelli



A BRUXA


DE


ÉVORA


2a

edição

RMlAb
Rio de Janeiro
Impresso no Brasil



"Pessoas que encontramos pela rua (...) se dão em segredo
à prática da Magia Negra, ligam-se ou procuram ligar-se
aos Espíritos das Trevas, para satisfazer seus desejos de
ambição, ou de amor (...)"

(]. K. Huvsmns, Prefácio a /. Bois,
Le Satanisme et la Magie, 1895.)

Eis a razão de eu ter escrito, na entrada do terceiro
milênio, a vida, a obra e a fantasia da Bruxa de
Évora. Não por ambição, talvez por amor.


SUMÁRIO

Apresentação
Prefácio
Portugal entre rei católico e crenças medievais
Peregrinos e pagadores de promessas
Mouros encantados nas vizinhanças de Évora
Maravilhas na Sé de Évora
Encantarias da Bruxa de Évora
Monstros e dragões
O livro negro das bruxas
Visões e fantasmagorias em tempos de festa
Bruxaria entre alegria e morte
Travessuras e feitiços da Bruxa de Évora no Brasil
O livro de orações da Bruxa de Évora
Feitiços da Bruxa de Évora
Bibliografia


APRESENTAÇÃO

Em um depoimento acerca das feiticeiras modernas,
a autora de "A Bruxa de Évora", Maria Helena
Farelli, diz que "é bem fácil reconhecer uma bruxa.
Ela tem o olhar claro e direto e é sempre muito simpática."
Diz ainda que é neta de uma cartomante cigana
e sobrinha de uma quiromante; diz também que descobriu
cedo que era bruxa. Mesmo assim, tentou mudar
seu destino: formou-se em jornalismo e quis seguir
uma carreira independente das tradições familiares.
Mas a sorte só batia à sua porta quando escrevia
sobre temas místicos. Por isso, resolveu assumir definitivamente
sua missão e hoje, quarenta livros publicados,
sabe que fez a opção certa.

Ela afirma ainda que "as bruxas modernas não
cruzam os céus cavalgando vassouras nem cozinham
morcegos em enormes caldeirões, tampouco correm o
risco de serem levadas às fogueiras da Inquisição." Ao
contrário, "bem-sucedidas e respeitadas, elas se apresentam
em programas de TV e de rádio, recebem clientes
de todo o mundo e na hora de viajar preferem o
conforto dos aviões."

Isso é verdade. Mas, o que acontece quando
uma feiticeira fala de outra bruxa, bem mais velha,
que viveu na Idade Média, quando se temia a chegada
do fim do mundo é do Anticristo? Voam sapos e


morcegos? Sim, e sabedoria! E assim é este livro. Quando
entra o século XXI e todos escrevem sobre Nostradamus,
Maria Helena Farelli nos fala de alguém tão
famoso em Portugal quanto este profeta; só que ela, a
Bruxa de Évora, está mais perto de nós, pois nos foi
trazida pelos nossos colonizadores em meio a santos,
lendas e coragem em desbravar o mundo.

Tendo um avô português, a autora presta uma
homenagem a Portugal e a seus navegadores que fizeram
nosso país e nos legaram a língua mais difícil do
mundo e a magia mais poderosa da Europa medieval.
E nossa personagem, de Évora, dos anos do início do
milênio, vem mesmo a calhar. Demetér, Ísis, Ishtar
voam nos ares. Abram o livro, leitores, que é tempo de
grandes feitiços!

O Editor


PREFÁCIO

Enquanto eu escrevia sobre uma personagem
que viveu em Évora, durante a Idade das Trevas, o
Brasil comemorava 500 anos e louvava Portugal pela
descoberta deste paraíso qu e deve ter sido nossa terra
virgem aos olhos lusitanos, na hora espantosa
da chegada.

Eles vinham com a Cruz de Cristo vermelha
sobre o branco das velas da s suas naus. Traziam fome,
sede e o voraz desejo de ouro. Mas traziam também
sua tradição, seus costumes, as lendas portuguesas,
nascidas dos povos que fizeram sua etnia - iberos, romanos,
fenícios e mouros; e nos legaram, junto com o
cristianismo, esse fabuloso lendário.

Em 1500, o Renascimento desencadeou um
processo de descristianização da Europa ao valorizar

o humanismo, o materialismo e o paganismo, mas Portugal
não abriu mão do amo r a Cristo, e o infiltrou em
toda terra por ele conquistada. Mas o cristão português
acreditava também em mouras tortas, almas penadas,
lobisomens, burrinhas-de-padre; e os guardou
em seus baús na viagem p elo mar tenebroso. Eles sentiam
no oceano dragões escamosos, serpentes esverdeadas,
o inferno medievo, como bem descreveu
Joãozinho Trinta, o famoso carnavalesco, no enredo
apresentado por uma escol a de samba do Rio de Ja

neiro no carnaval de 2000, que mostrava as visões de
paraíso e de inferno presentes no Brasil.

Essas histórias foram tão importantes para o
povo brasileiro, que um marco de pedra fincado em
1501 por navegantes portugueses no litoral do Rio
Grande do Norte, que possui a cruz da Ordem de Cristo
e o escudo português esculpidos em relevo, é hoje
cultuado como objeto sagrado por comunidades da
região de Pedra Grande. O culto à pedra resistiu ao
tempo: agora ela é chamada "Santo Cruzeiro" e faz
curas. Assim, o lendário de nossos colonizadores continua
vigoroso em pleno século XXI. Adaptou-se à
umbanda, trazendo para ela os santos protetores que
estão em cada altar de tendas e abaçás: São Sebastião,
Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da
Conceição, São Jerônimo, São Jorge, São Lázaro. E uniu-
se ao folclore negro iorubá e ao indígena, dando origem
ao folclore nacional. E esta tradição, esse mundo
mágico que envolve a vida da Bruxa de Évora.

Mas, por que escolhi uma personagem medieval?
Por que quis mostrar seus trabalhos e encantarias?
Porque há uma teoria entre escritores e intelectuais,
entre eles Vacca (seu criador) e Umberto Eco,
um dos mestres da literatura contemporânea, de que
poderemos entrar numa nova Idade Média após o colapso
total do sistema em que vivemos. Eu creio nessa
teoria, porque a bruxaria está de volta em todo o mundo,
porque o cristianismo está exagerado e ocorre o
crescimento das seitas muçulmanas, penetrando em
redutos cristãos, como o fizeram na Idade das Trevas. Populações
de rua surgem em todas as grandes cidades.


Isto tudo era comum nos anos do feudalismo. Como
ocorreu no primeiro milênio, a fome e o medo acompanharam
o homem do fim do segundo milênio. Teremos
uma nova Idade Média?

Todos os filmes que batem recordes de bilheteria
falam sobre magia, feitiços, armas encantadas.
Assim, vamos olhar de perto nosso personagem, a bruxa
da cidade de Évora, em Portugal, rezadeira, feiticeira,
cartomante, um dos aspectos Lilith na mulher.
Em resumo, uma mulher só, em busca de sua sobrevivência.
E em tudo isso aparece a envolvente beleza da
Grande-Mãe, Ishtar, Diana, Fortuna, Afrodite, Vénus,
a Madona.

Axé, bruxa de Évora! Evoé Baco, Momo, Pã,
Príapo, deuses chifrudos e lascivos! Saltem, faunos e
silenos! Acendam a fogueira ritual e ponham nela o
caldeirão de ferro. Ela, a bruxa de Évora, voará em seu
bode alado.

Maria Helena Farelli

(Líder do Templo de Magia Cigana.)


PORTUGAL ENTRE REI CATÓLICO E CRENÇAS MEDIEVAI

Contam lendas de além-mar que viveu em
Portugal uma poderosa bruxa. Essa bruxa foi famosa.
Centenária. Poderosa. Era a bruxa da cidade, que andava
com um mocho às costas e que tocava harpa nas
noites frias de inverno. Aliada do Tinhoso, era ao mesmo
tempo temida e adorada.

Numa casa, um simples casebre, vivia a esperança
de muitos, o pavor de outros: a Bruxa de Évora,
a Moura Torta, a guardadora dos segredos dos feitiços
do Oriente, a que voava em camelos alados nas noites
de lua cheia, a boca-suja, a praguejadora, a maga negra,
a que fazia as mulheres engravidarem (pois dizem
que até as mulheres nobres a procuravam para
terem filhos, depois de tentarem promessas, rezarem
missas e chorarem aos pés dos santos Sebastião, Jorge
e Pudenciana, a virgem)... Vivia como eremita, sempre
só em sua casa, com suas galinhas e coelhos, com
chapelão, saia e avental, com sapatos golpeados, murmurando
rezas estranhas...

Vamos contar suas histórias, seus feitiços e suas
lendas. Ponham atenção... sintam seu cheiro de cânhamo
e beladona... É tempo de almas penadas e de santos
vivos... É tempo de magia negra!


Nossa história se passa em Évora, lá pelos idos
de 1230, setenta anos depois da tomada de Lisboa aos
mouros que lá viviam e mandavam, adorando a
Mafoma e a Allah; grande feito dos guerreiros portugueses,
alcançado graças ao sacrifício de Dom Martim
Moniz, senhor do domínio de Ravasco, que deu a vida
para que os portugueses se apoderassem do castelo de
Achbuna.

A vida mantinha então as cores de um conto
de fadas. Pois as ideias dominantes eram as do Velho
Testamento, do romance de cavalaria, da balada. Narrativas
de aventuras eram comuns; e talvez esta seja
apenas mais uma delas.

A cavalaria na Idade Média criou um ideal de
homem forte, vigoroso e amante; mas a bruxaria deu o
lado encantado dessa era. Cavaleiros andantes, bruxas,
padres andarilhos, magos, alquimistas, reis, freiras,
papas e imperadores reinaram por todo esse período.
Ordens como a de São João, a dos Templários e a
dos Teutónicos levavam os homens aos reinos da fantasia.
O cavaleiro andante, fantástico e misterioso, era sem
apegos como os primeiros templários o foram, e tão
mágicos quanto as bruxas e seus sabás... só encantamento,
sonho, como uma festa de tolos ou uma saturnália.

O jovem herói libertando a virgem e a bruxa
voando numa vassoura fazem parte do mesmo mundo,
de insaciabilidade juvenil, de um primitivismo romântico,
pois qualquer ação, mesmo a mais simples,
era, nessa época, levada à categoria de um ritual. Incidentes
de menor importância como uma viagem, uma
visita, eram rodeados por mil formalidades, bênçãos,


cerimônias. Uma atmosfera de paixão e aventura envolvia
a vida dos príncipes; e uma onda de tristeza
envolvia o povo. Era como se um sentimento de calamidade
iminente ameaçasse a todos, originado de
idéias de fim de mundo, de inferno, de demônios e
duendes. Aí entrava o poder de bruxos, magos, alquimistas
em busca do ouro.

Nesses tempos, Portugal contava com uma
população de pouco mais de um milhão de almas. Era
uma mistura de gente com traços visigodos e árabes;
havia muitos espanhóis e até pessoas com traços romanos.
Desta miscigenação nasceu a gente do reino
de Portucália.

A virada do primeiro milênio ocorrera há pouco
tempo e a Europa vivia no apogeu do feudalismo.
Os camponeses mal vestidos, rasgados, mal alimentados,
produziam apenas o suficiente para o consumo;
mas o luxo havia aumentado extraordinariamente entre
a nobreza e o clero. Os homens ricos, com suas túnicas
forradas de peles, com barretes e gorras rígidas,
andavam lentamente pelas ruelas, embelezados por
chapéus de veludo, de feltro ou de pano, ponteagudos
e duros. Calçados pontudos, feitos de cordovão1, pisavam
forte, revelando a importância de seus possuidores;
as damas usavam-nos tintos de cores vivas, prateados
ou dourados. De vez em quando, um tocador de
gironda2 ou de bandolim alegrava as ruas com suas
canções engraçadas.

1 Cordovão = couro de cabra produzido em Córdova.
2 Gironda = instrumento musical da Idade Média.


As mulheres passeavam pelas praças, olhando
para os telhados. Trajavam túnicas de cores variadas,
feitas com fios cruzados, e cobriam-se com mantos
de tecidos grosseiros ou de peles. Usavam forques3,
braceletes e ajorcas4. Muitas usavam polainas5 ou
calcetas6 para melhor serem vistas. As viúvas passavam
de cabelo curto, pois assim mandava a moda, e
uma touca branca. As casadas traziam os cabelos atados,
presos, e as solteiras, soltos ao vento. Eram belas,
com olhos mouros e cabelos negros. Todas adoravam
a falecida rainha Mafalda, que fora enterrada com
toucado em rolo, coroa real aberta, manto preso por
um firmai7, esmoleira8 pendente da cinta. E adoravam
os trajes das visigodas, mulheres dos bárbaros do norte
que invadiram a região no princípio do século V e
que modificaram a vida na Espanha e em Portugal. Elas
usavam umas calças que desciam até o joelho ou até o
tornozelo; e um saiote com uma correia amarrada à
cintura. Usavam a blusa com gola de cabeção9 e mangas
curtas. Muitas lusitanas nobres usaram então esse
traje.

O povo, ignorante dessas modas, usava sempre
as roupas que sobravam dos outros, remendadas,
grossas e sujas. Comprimida em casas juntas umas das
outras, aquela gente pobre de Portugal somente conhe


' Torque = cordão de ouro ou prata, curto, usado como gargantilha.
4 Ajorca = o mesmo que axorca; argola usada na perna ou no braço.
5 Polaina = cobertura para a perna e a parte superior do sapato.
6 Calceta = meia com babados.
7 Firmai = broche com medalha.
8 Esmoleira = bolsinha ou sacola para dinheiro miúdo.
9 Cabeção = gola larga.


cia de perto a sujeira decorrente da falta de água e de
esgoto, e o mau cheiro em face do ar confinado nas
ruas estreitas e tortuosas das cidades da Idade Média.
Esse povo, em sua maioria, exercia as chamadas artes
mecânicas, em número de sete: eram camponeses, caçadores,
soldados, marinheiros, cirurgiões, tecelões e
ferreiros.

Dessa relação estavam excluídos os comerciantes,
cujo prestígio era tão baixo, que ocupavam o
último lugar na escala das profissões, apesar de terem
sido eles os que navegaram pelo antigo "mare nostrum"
dos romanos (o Mediterrâneo) para vender especiarias,
tecidos, tapetes e jóias. O preconceito contra

o comerciante estava arraigado. A nobreza e o povo o
detestavam: a nobreza, porque o comerciante tinha
dinheiro; e o povo, porque achava que ele não trabalhava
duro.
Sem dúvida, era a Igreja a responsável por essa
idéia: os padres diziam que quem realizava empréstimos
incorria em falta grave perante Deus; os comerciantes
emprestavam dinheiro a juros, por isso a Igreja
acompanhava vigilantemente suas atividades... e muitos
foram parar nas fogueiras da Inquisição, acusados
de usura e avareza, pecados contra Deus, agravados
pelo fato de a maioria dos banqueiros e comerciantes
da época serem judeus. Para evitar isso, os ricos deixavam
parte de sua fortuna para algumas pessoas a quem
haviam defraudado, e outra parte ficava com a Igreja,
que a aceitava em sinal de arrependimento... assim, o
comerciante pecador poderia vislumbrar alguma esperança
de vida eterna... e a Igreja prosperava.


Já os servos da gleba, só tinham de trabalhar...
a relação senhor-servo era o cumprimento da vontade
de Deus (diziam os padres). Assim o mundo estava
organizado. Os bruxos que se rebelavam iam direto
para a fogueira. E uma mulher que ganhava sua vida
com sortes e feitiços, e nada devia ao senhor da terra e
à Igreja, deveria por certo ser morta... assim pensavam
alguns, como os eremitas, que abandonavam as cidades
e iam viver em cavernas. Esses eremitas odiavam
os bruxos; e a cristandade os perseguia sempre. As
execuções eram muitas, e para o povo, esse era um espetáculo
muito interessante. Mas a Bruxa de Évora não
morreu na fogueira. Virou assombração... dizem que
sumiu, transformando-se em fantasma...


PEREGRINOS E
PAGADORES DE PROMESSAS

A Bruxa de Évora viveu no tempo do rei Afonso
Henriques, o primeiro rei de Portugal, quando o
reino usufruía em parte dos conhecimentos misteriosos
dos Cruzados que chegavam da Terra Santa cheios
de relíquias que vendiam a preços altíssimos, enriquecendo
então.

Em Portugal, como em toda a Europa medieval,
apesar das condições de trabalho que prendiam
os homens às suas próprias localidades, estes tornavam-
se muitas vezes viajantes. Os soberanos, em especial,
viajavam constantemente, indo várias vezes à
Terra Santa.

Peregrinos cristãos de todas as camadas sociais
viajavam em busca de lugares santos e de relíquias
dos santos. Muitos partiam para Jerusalém, enfrentando
infiéis mouros, turcos e árabes, enfrentando a fome
e as epidemias, em busca de coisas divinas, que eram
vendidas na Europa por grandes somas: bentinhos,
escapulários, pedaços da Cruz de Cristo10, panos que

'" Segundo as lendas, quem descobriu a Cruz de Cristo foi Santa Helena.
Ela dizia que nos pedaços de madeira havia propriedades curativas. Cirilo
de Alexandria, escrevendo em meados do século IV, disse que porções
da cruz já se tinham espalhado por todo o mundo. São Paulino recebeu
um fragmento da cruz de sua parenta, Santa Melânia, quando esta regressou
da Terra Santa. Ele, por sua vez, enviou-a a seu amigo Sulpício
Severo, o historiador, no ano 404.


enrolaram múmias usados como remédios, pedaços de
sandálias de santos martirizados e panos que haviam
envolvido objetos santos. Eles também podiam contemplar
o lugar exato onde o compasso de Deus se
deteve e girou ao descrever o círculo do mundo.

Outros peregrinos, de Portugal principalmente,
iam a Santiago de Compostela; e outros, ainda, a
Roma. Todos levavam armas, pois os muçulmanos atacavam-
nos nos caminhos. E levavam cruzes e amuletos,
conchas (símbolo do peregrino) e comida. Iam a pé ou
a cavalo. Atravessavam pontes (e era necessário pagar
para passar por elas). Músicos mascarados, com carroções
e roupas espalhafatosas, também viajavam. Eles
divertiam os seus companheiros de viagens: usavam
máscaras de animais e tocavam violas. E como não
existiam estalagens, muitas vezes eles todos - peregrinos,
músicos, vendilhões, espertos comerciantes - dormiam
no mato, acesas as fogueiras e abertas as garrafas
de vinho.

Nessas viagens, todos enfrentavam pestes, frio,
roubos, e muitos contavam que enfrentavam bruxos
que tudo faziam para que eles não fossem às terras
santificadas. Numa peregrinação, um homem de Braga
contou que estava preparando-se para dormir quando
viu uns bruxos voando em vassouras, feios, bicudos,
com mantos negros, e que pretendiam atacar o grupo
de peregrinos.

- Valham-me Santo Ambrósio, São Jerônimo,
Santo Agostinho e o Papa. "

Ele gritou. Chispas voaram da fogueira. Um
uivo se fez ouvir: Satã por certo estava lá; e a Bruxa de
Évora foi vista voando num bode preto... A bruxa voava
alto, acompanhada por um veado e por um javali
alados. Lebres e raposas saíam das tocas e saudavam a
velha feiticeira dando guinchos... Esta mesma história
é contada em Ruão, junto à catedral, e em Reims, pelos
membros do baixo clero. E eles juram por Abraão e
Melquisedeque, pelos vitrais sagrados de todas as catedrais...


Na época, os padres mandavam em toda parte.
Os mosteiros, no início locais de retiro e introspecção,
agora eram centros de cultura. Cabia à Igreja o papel
de guardar o patrimônio cultural acumulado da Grécia,
da Babilônia, de Alexandria, enfim, o saber reunido
durante muitos séculos. Sob a luz de grossas velas,
monges liam e copiavam. Difundiam entre si o acervo
da Antiguidade.

Os dízimos, os donativos, as dádivas, as esmolas,
os tributos e os emolumentos dos serviços espirituais
faziam a Igreja cada vez mais forte e rica; e o
grande movimento das Cruzadas para a Terra Santa
muito contribuiu para isso.

Portugal, com sua forte vocação para o mar,
participou ativamente desse movimento. Quando o
reino se preparava para uma grande expedição, tudo
deveria seguir conforme o combinado, pois tratava-se
de uma Cruzada, onde a pontualidade era imprescindível.
O primeiro passo era o recrutamento dos homens;
mas como o rei iria convencer aquele povo ignorante e
medroso a deslocar-se para terras longínquas, desço



nhecidas, encarar sem medo os sacrifícios e colocar em
risco a própria vida? Onde achar tantos guerreiros que
soubessem manejar bem as armas? Eles teriam de perfurar
túneis sob as fortificações de Jerusalém, construir
catapultas que atirassem pedras no interior das muralhas,
subir pelas escadas para se lançarem no interior
das praças, agüentar a luta contra as espadas infiéis.

O rei teria de acenar-lhes com vantagens para
que os portugueses matassem mouros, como ocorrera
na batalha de Alcácer-do-Sal, anos antes. O rei teria de
lhes dar privilégios, e o Papa deveria perdoar-lhes os
pecados, dando às esposas e aos filhos o manto seguro
da Igreja... Foi por esse motivo que, durante as Cruzadas,
a Igreja começou a conceder indulgências, as chamadas
"Bulas da Santa Cruzada", compradas por aqueles
que se iam arriscar nas guerras na Terra Santa.

Mas não foi esta a única fonte de riquezas para
a Igreja. Todos os reis cristãos, ao vencerem uma batalha,
davam parte das terras tomadas à Igreja. E também
havia a riqueza que vinha dos infiéis que, ao serem
derrubados pelos cristãos, tinham parte de suas
terras doadas ao clero.

A Igreja tornou-se assim proprietária de um
terço de todas as terras da Europa. Ao lado das grandes
catedrais pululavam as pequenas igrejas, sobretudo
no norte de Portugal, onde o desenvolvimento das
ordens religiosas provocou a construção de muitos
edifícios convencionais. O ouro chegava fácil a Roma,
como antes a Constantinopla. A Igreja aproveitava o
fervor religioso da época, crescia cada vez mais e se
tornava mais poderosa.


MOUROS ENCANTADOS NAS
VIZINHANÇAS DE ÉVORA

Apesar de toda a força da Igreja, o português
sempre acendeu uma vela para Deus e uma para o "outro".
Até nas igrejas ele fazia mirongas. Na pedra d'ara1 1
ele fazia preparos mágicos; atrás do altar também. E
até os padres eram acusados desses feitos. Mas os considerados
grandes bruxos eram os mouros e os judeus
(apesar de estes não o serem, e sim cabalistas). Na concepção
da época, todo mouro era infiel, todo judeu era
avaro...

A civilização árabe veio a florescer no norte
da África e no Oriente Médio quando duas grandes
civilizações, a dos bizantinos e a dos persas, projetavam
seus últimos resplendores. Foi quando os árabes
começaram suas guerras de invasão. O mundo novo
onde entravam os discípulos de Maomé surpreendeu
vivamente sua imaginação inflamada, e eles não tardaram
a dedicar-se aos estudos das artes, letras e ciências
ocidentais com tanto entusiasmo quanto o que
dedicaram às conquistas. Assim que os califas consideraram
garantido o seu império, fundaram em todas
as cidades importantes diversos centros de ensino, e
seus sábios traduziram do grego as grandes obras do
conhecimento antigo. Bagdá, Cairo, Toledo, Córdova

" Pedra d'ara = a pedra benta que forma a superfície do altar.


tiveram dessas escolas. O califa Alhakan II tinha, só
na Espanha, 600.000 livros, enquanto Carlos, o Sábio,
da França, não tinha mais do que 900 volumes na biblioteca
do reino. Assim, eles não eram incultos ou
ignorantes.

Muitos árabes viviam em Portugal nos tempos
dos reinos mouros da Península Ibérica; mas os
cristãos sempre tentavam expulsá-los. O povo reclamava
apenas a expulsão dos árabes, mas o clero, mais
radical, pedia algo mais forte: queria que eles fossem
todos degolados, sem perdoar as mulheres e as crianças.
Pois todos os árabes, ou mouros, como eram chamados,
embora os nomes não sejam sinônimos12, eram
para eles infiéis e adoradores do mal; mas, na verdade,
eram um povo culto e civilizado.

Lisboa foi uma das principais cidades dominadas
pelos árabes no território português; mas não
mostra apenas a sua influência. Ela foi ocupada pelos
romanos no ano 205 a.C, sendo uma das cidades mais
antigas da Europa. A lenda lhe atribui uma origem
fantástica: teria sido fundada pelo herói grego Ulisses,
justificando assim a etimologia de seu nome - Olissibona
ou Lissibona. Mas, de todos os antigos conquistadores,
foram os árabes que deixaram a influência mais
profunda, com oito séculos de permanência na Península
Ibérica.

12

Os árabes são povos de religião islâmica, originários da Arábia, na Ásia
Menor, que formaram um império abrangendo, por conquista, o norte da
Africa e a Península Ibérica; os mouros eram, na Idade Média, um povo
de religião islâmica, originário da Mauritânia, no norte da África.


Na época de que falamos, o oriente muçulmano
era sentido com toda sua força em Lisboa, como
pode ser visto ainda hoje, principalmente em Alfama;

o próprio nome desse bairro é árabe e sua sé foi construída
sobre uma antiga mesquita. Mas todas as cidades
da região sofreram a influência desse povo. Em
todas elas, muitos árabes andavam pelas ruas vendendo
pão; outros tinham suas lojas de ouro e pedras preciosas.
Com seus tamboretes de madeira à porta da loja,
outros ainda vendiam doces, sedas, escudos de couro,
berloques, almofadas, elixires de cura e outras magias,
colares de ouro com granadas e punhais maravilhosos.
Mas que têm a ver os árabes com a nossa história?
E que, segundo a lenda, a Bruxa de Évora era
moura; sim, diziam que era árabe ou mourisca. Era
morena, não branca como a maioria das portuguesas.
Tinha vindo de terras quentes e tinha amigos árabes,
mas fora criada na Ibéria; por isso, ela falava bem o
árabe e o português, além do latim13.

A lenda diz ainda que seu pai e sua mãe morreram
quando ela tinha sete anos; que uma velha tia a
criou e ensinou-lhe as artes mágicas, dando-lhe como
talismãs sete moedas de ouro do califa Omar, uma
pedra ágata com inscrições em árabe e uma chapa de
prata com o nome do Profeta. E a ensinou a trabalhar
em olaria: a bruxa fazia suas panelas de barro e seus

1 3 Todos os habitantes da Europa falavam um pouco de latim, pois era a
língua oficial do Império Romano; mas, com a chegada dos bárbaros na
Europa ocidental, entre os anos 500 e 1000, cada região e cada povo começou
a evoluir em sentidos diferentes e a procurar meios de falar mais
simples.


vasos. Dizem alguns que ela era louca por tapetes e,
todo dinheiro que ganhava, gastava neles.
A bruxa árabe era chamada de Moura Torta,
nome que fazia os portugueses se arrepiarem, fazendo

o sinal da cruz; e como moura e bruxa passou à história.
Ela usava trapos, mas em seu peito brilhava um
amuleto de âmbar, principal artigo do comércio dos
árabes na Europa, matéria muito procurada no oriente.
Talvez presente de um amor, em sua juventude.
Mas, se ela teve amor, ocultou-o bem. Cavaleiro e sua
dama não faziam parte de seus sonhos, nem o jovem
herói libertando a virgem. Era uma mulher cheia de
idéias de quedas e subidas... eterna bruxa encolhida
ao lado de sua lareira.
Diz a lenda que ela lia o Corão e escrevia; tinha
entre seus pertences um rico tinteiro de cobre cinzelado.
Sabia matemática e, olhando o céu, reconhecia
as estrelas; sabia ler a sorte nas areias, nas estrelas, e
fazer feitiços e curas. Ela conhecia as magias de seus
ancestrais muçulmanos; mas, vivendo no século XIII,
também sabia a dos celtas, que por muito tempo ocuparam
o sul de Portugal.

Infiel, portanto. Adoradora do Cão... Inimiga
da Igreja.

Mas a velha bruxa já tinha feito a peregrinação
a Santiago de Compostela, onde havia relíquias
preciosas. Já tinha ido à Sé de Braga muitas vezes pagar
promessas, e vivia bem. Era livre. Colhia flores e
ervas, ganhava seu rico dinheirinho, era temida e respeitada.
Só tinha medo de ser presa e torturada como
adoradora do diabo. Assim, sumia. Diziam que voava
na sua vassoura, com seu mocho às costas... coisas do
tempo dos reis...


MARAVILHAS NA SÉ DE ÉVORA

O grande centro cultural de Portugal na época
era Coimbra, uma encantadora cidade, com um modo
de ser ao mesmo tempo romano, bárbaro e mourisco.
Encastelada devido ao entornar das águas do rio
Mondego, que costumava levar na correnteza tudo que
havia nas suas margens, Coimbra tinha paisagens
belíssimas. Nas margens do rio, lavadeiras lavavam a
roupa, batendo-as umas contra as outras, estendendo-
as a secar, espalhando um cheiro bom, de roupas limpas,
por toda a cidade.

Nesta época, o rei se apresentava cheio de
jóias, com coroa e gorgeira1 4 de pedras citrinas15, anéis
nos dedos, garçota1 6 no chapéu e roupas de tecidos suntuosos
do Oriente. O povo o via, ao rei de Portucália,
como a um deus, e em sua vida monótona aceitava
tudo, desejando um dia ir para o céu, para o Paraíso,
como afirmavam os padres andarilhos que iam de
burgo em burgo para louvar a Deus. O povo se alegrava
com estes padres do baixo clero, como na época dos
torneios, das saturnálias1 7 ou das festas da Igreja.

1 4 Gorgeira = gargantilha.
1 5 Citrina = amarela.
1 6 Garçota = penacho feito com plumas.
1 7 Saturnalia = antiga festa romana, precursora do carnaval.


Nas imediações de Coimbra o rei caçava porcos
selvagens, com seus súditos mais chegados, todos
armados com arcos e flechas. O rei ia com suas vestes
de sarja e panos de Avila18, protegidas por uma jaqueta
de couro, e com uma fita de couro amarrada em seus
cabelos compridos. Fogosos ginetes de origem árabe
corriam como o vento pelas terras de Coimbra, levando
os cavaleiros de nobre estirpe.

Sim, Coimbra era uma bela terra. Mas Évora
não... A cidade era um local sagrado desde antes dos
tempos em que os romanos dominaram a região. Lá
falava-se em visões de outro mundo, sonhava-se em
encontrar o Graal, e o espírito da Cruzada, cara tradição
do imaginário medieval, era o que mais desejavam
os filhos da terra. Procissões de penitentes eram
comuns.

A região de Évora tem vestígios de culturas
antigas, cheias de magia. Lá existe uma gruta, a Gruta
do Escoural, com pinturas, como a de um belo cavalo,
que parecem remontar ao paleolítico. Na época megalítica,
que os arqueólogos datam de 2300 e 1500 a.C,
surgiram em Portugal os primeiros grandes monumentos
dessas terras - dólmenes19, menires2 0 e túmulos feitos
com grandes pedras.

Junto a Évora há as pedras dos Almendres,
famosas e fatídicas. Aí também se conservam os restos
de um templo monumental dedicado à deusa Diana

18

Pano de Ávila = tecido produzido na província espanhola de Avila.
1 9 Dolmen = monumento formado por uma pedra colocada horizontalmente
sobre outras verticais.
2 0 Menir = monumento formado por uma pedra vertical isolada.


dos romanos, que tinha catorze colunas de granito com
soberbos capitéis de mármore rosado, e de cujo friso
de granito alguns fragmentos, guardados no Museu
Regional de Évora, mostram a rara beleza. A capela de
Évora, transformada em Sé em 1186, era bela em seu
estilo românico.

De noite (os lusitanos juravam) aparecia um
"grillo", parte homem, parte animal, parte vegetal, de
duas faces, com a boca nas costas ou sem o tronco...
amigo das feiticeiras, por certo, mandado pela Bruxa
de Évora, a mais famosa daquelas terrinhas...

Os restos de outras eras eram temidos pelo
povo da região: ninguém gostava de ir lá, principalmente
à noite; mas a bruxa lá ia, ficava junto à gruta,
acendia fogueiras e cantava em língua estranha, enquanto
o povo, assustado, se escondia em suas casas,
fazendo sinais-da-cruz. Assim contavam os guerreiros,
como o valente Rodrigo Sanches, cujo corpo está no
mosteiro de Grijó, com seu elmo cilíndrico à cabeça,
capelina de malha modelando o crânio e cota de cores
vivas, com caneleiras e joelheiras de ferro; como Dom
Brites de Gusmão, que está em seu sarcófago em
Alcobaça; como tantos outros guerreiros, cujas estátuas,
hoje no Museu de Évora, atestam suas roupas e suas
valentias. Esfolas, faixas de rameados, flores-de-lis, signos-
saimões2 1 aí estão para quem quiser ver. E a casa
da Bruxa, lá em Évora, ainda está também...

A velha bruxa via tudo com seu mocho às
costas. Freqüentava procissões que caminhavam por

Signo-saimão = o mesmo que signo de Salomão: estrela de seis pontas.


Portugal dias seguidos. Ia descalça, em meio à lama;
muitas vezes foi expulsa. Ao soar dos sinos, ela surgia
à porta da igreja; aí ela rezava e cuidava de santos e
relíquias. Escondida junto aos muros do mosteiro, enquanto
os pássaros noturnos a espiavam, a bruxa ouvia
os sons da biblioteca, escutava os monges falarem
em latim e a tudo recolhia com seu mocho no ombro...

A bruxa ia à capela e rezava junto às estátuas
do portal. Quando ela lá estava, somente os mendigos
e os leprosos permaneciam; eles soavam seus guizos,
saudando a bruxa com dignidade; e ela lhes oferecia
unguentos para seus males, dava-lhes a bênção e recitava
fórmulas de cura. A bruxa era respeitada pois,
apesar de ser feia, tinha uma dignidade que se impunha;
mas quando um grande senhor chegava à Sé de
Évora, com um pregoeiro à frente gritando sua chegada,
ela corria, pois os poderosos vinham com escolta e
exibição de armas, excitando temor e criando inveja.
Por isso a bruxa sumia. Doentes diziam que ela voava
numa vassoura... outros, que ela apenas corria para
longe!


ENCANTARIAS DA BRUXA DE ÉVORA

A bruxaria e os ritos da deusa-mãe estiveram
presentes em todas as civilizações, desde sempre. Os
babilônios, por exemplo, cultuavam Ishtar, deusa da
lua; a ela ofereciam sacrifícios e imploravam a fertilidade.
Os egípcios adoravam Isis e Hathor para que
houvesse fertilidade nas margens do Nilo. Demetér foi
adorada pelos gregos, e Vénus, pelos romanos. Todas
essas deusas tinham um filho, muitas vezes com chifres,
meio animal e meio homem, protetor das florestas.
Esse deus chifrudo foi a base para a criação da
imagem do demônio que surgiu na Idade Média.

No decorrer de quase dois mil anos de migrações,
as tribos celtas levaram essa deusa e seu filho para
a Europa. Assim, na Idade Média (476 a 1453), as bruxas
continuaram essa tradição. Possuíam conhecimento
de ervas, talismãs, vidência, curas, e faziam oito festas
durante o ano. A mais importante delas era a de
Samhain, também conhecida como Halloween, a 31 de
outubro, que celebrava as colheitas; havia também a
festa da primavera, a primeiro de maio; a da deusa-
bruxa das adivinhações, em agosto; e a dos deuses dos
bosques, por exemplo.

Essas solenidades eram vistas pelos cristãos
como festas diabólicas; mas a Bruxa de Évora não era
uma herética. Era uma mulher que conhecia as rezas,


os deuses, a grande-mãe e seu filho chifrudo, a adivinhação,
as pragas, as invocações, e o modo de fazer
uso delas. Apesar de tudo, ela continuava ligada à deusa-
mãe e aos ritos que fizeram de suas ancestrais as
guardiãs de um conhecimento mágico, propiciador de
proveitosa harmonia com os deuses que se manifestam
nas forças da natureza.

Certa vez, ela estava junto à Sé quando chegou
um príncipe, ataviado com todos os recursos da
arte e do luxo próprios da época: túnica comprida e
pregueada, ajustada por cinto; gorra na cabeça, espada
de guardões curvos para o punho e lâmina larga;
arco e flechas. Vinha acompanhado por uma dama
belamente vestida e adornada. Seu cinto era de pedrarias;
suas roupas eram de seda, com cota e sobrecota
pregueadas e um rico manto de pelaria; os cabelos estavam
repartidos ao meio e as tranças caíam à frente;
usava sapatos de couro dourado e ponta fina, chamados
"osas".

O príncipe vinha mancando. Estava ferido; tinha
lutado contra os turcos com valentia e valor. A
bruxa acercou-se dele e passou uma pomada de bela-
dona em sua ferida. Então o príncipe, muito respeitoso,
pediu-lhe que lhe fizesse o favor de fazer com que
uma dama o amasse; e ela o satisfez, ensinando-lhe um
poderoso feitiço. Mas, quando ela acabava de falar, veio
um pregador itinerante e a expulsou... chamou-a de
bruxa comerciante, vendedora de artes diabólicas... e
por isso ela sumiu.

Os pregadores que iam de cidade em cidade,
quando chegavam a Évora, pregavam sempre pela


destruição dessa mulher. Falavam do dia do Juízo, do
Inferno, da Paixão, e choravam junto com o povo, que
os adorava. Um dia, quando um desses pregadores
falava contra a bruxa, passaram dois condenados à
morte. O pregador disse que, em vez deles, quem deveria
ir ali era a bruxa. Continuou seu sermão; mas a
feiticeira o ouvira. Quando ele tentou jogar o povo contra
ela, no lugar onde ela estivera, só foram encontrados
alguns ossos. O povo ficou convencido de que a
bruxaria da velha fizera a transformação; muitos subiram
nas casas para procurar a bruxa e, não a achando,
danificaram tanto os telhados, que o pedreiro que os
consertou apresentou uma conta de mais de 60 dias de
trabalho; assim contam nas aldeias portuguesas ainda
hoje. E falavam que diabinhos pulavam pelos telhados
a mando da feiticeira. Emoções, lágrimas e arrebatamento
de espírito enchiam o povo: tensa e violenta
era a vida na Idade Média... Contam ainda que alguns
ouvintes se atiraram ao chão gemendo e chorando. Mas
a velha feiticeira sumiu...

Os homens de gorra, pelote22, saiote e colete
andavam por ali e espalharam a multidão. Todos procuraram
a bruxa... enquanto isso, ela girava na roda
da fortuna, de onde os reis caem com suas coroas e
seus cetros, e ouvia a voz de fantasmas de reis coroados.
Via o passado, o presente e o futuro nas suas magias...
Via beatos imbecis e padrecos lascivos; via anjos
negros e pregadores em êxtase.

2 2 Pelote = camisa larga, usada por baixo da capa ou por cima da armadura.



A Bruxa dançava em cima dos muros das igrejinhas.
Foi à rotunda de Tomar e retornou para fazer
a volta na fonte das Figueiras, de Santarém, e no chafariz
dos Canos, em Torres Vedras. E caiu do céu como
um cometa, junto à basílica de São Gião. Também foi
vista no Douro, no Minho, em Lamego, em Felgueiras,
em Castro de Avelãs, em Cerzedelo, em Coimbra, em
Lisboa, em Alcobaça e no Algarve. Foi vista sobrevoando
menires e cromeleques2 3 do antigo Portugal.

A Bruxa voava montada em cães, lobos, camelos,
carneiros, e em vassouras... que me valham a senhora
de Ourada, Santo Tirso, São Pedro do Castelo,
Santa Meria de Júnias, e os santos da Ordem de São
Tiago... Dizem também que ela voava montada num
bode, percorrendo Évora - capelas, mosteiros, igrejas
e adegas onde o vinho soltava as amarras do sonho.
Nas festas onde todos dançavam, ela passeava pelos
vilarejos, montada em um bode.

2 1 Cromeleque = círculo feito com grandes pedras verticais, dispostas em
torno de uma pedra central.


MONSTROS E DRAGÕES

O bode sempre foi um animal de feiticeiros,
talvez por ser muito sensual. Tem um nome fascinante
e alucinante. Sugere pacto com demos, feiticeiras desdentadas,
íncubos belos, seres parte homens e parte
animais, força de grande magia. A figura do bode pertence
a velhas crenças pagãs24; aparece nos cultos
etruscos, celtas, gregos, romanos. O carro de Thor, o
deus do trovão, era puxado por bodes.

O bode da era pagã emprestou sua forma para

o diabo que surgiu na Idade Média. Mas afinal, o que é
o diabo medieval? Mistura do deus Pã da fertilidade,
de faunos e silenos, de Baco e Dionísio, de Príapo, todos
cultuados juntos em uma Bizâncio esquizofrênica,
onde havia Vitórias aladas e cópias de águias sassânidas.
O culto pagão que teimava em existir em Constantinopla
espalhou-se pelo mundo através dos comerciantes.
Esses deuses antigos tornaram-se inimigos da
Igreja e quem os adorasse ia para a fogueira da Inquisição.
Dizem que existe há séculos uma seita secreta
de homens que voam velozmente pelos ares, montados
em grandes bodes pretos; eles voam durante as

24 Ver Rituais Secretos da Magia Negra e do Candomblé, da mesma autora.



noites para matar e roubar. Pelo menos era isso que
ocorria na imaginação da gente da Idade Média em
Portugal, na Alemanha, na França. Os processos da
Inqui-sição atestam esses vôos: heresia, bruxaria, sabás.
O fenômeno dos montadores de bodes possui dois aspectos,
o criminal e o esotérico: os inquisidores diziam
que os montadores chamavam-se entre si de companheiros,
o que indica que faziam parte de uma seita
secreta.

Os portugueses trouxeram essas histórias para

o Brasil no tempo da colonização. Ainda hoje esses
contos atraem o povo: dizem que os montadores de
bodes aparecem em bandos, rindo às gargalhadas, praticando
diabruras e descendo para dançar no sabá das
feiticeiras. Com o tempo essas lendas adquiriram cores
bem folclóricas mas, no tempo em que a Bruxa de
Évora viveu, isso era tido seriamente como verdade.
Era no tempo de cavaleiros e armaduras, de
diabos soltos nas noites onde o lobisomem uivava e a
mula-sem-cabeça roubava padrecos. Era um tempo de
espanto. Era um tempo de encantamentos e visagens...
tempos rudes... de signos e sinais cabalísticos, como um
quadro de Jeronimus Bosch, de códigos alquímicos, de
íncubos e súcubos dançando nos quartos de donzelas.

Os bruxos também eram companheiros dos
dragões. Mas, que dragões? Diz a lenda que Marduk
vivia na Babilônia com um dragão. Na Irlanda contava-
se que Conchobar, que tinha um pai divino e outro
humano, nasceu durante o solstício de inverno, agarrando
com suas mãos dragões recém-nascidos.

Raabe, o grande dragão do mar, governava
todos os mares, batia com sua cauda nos navios, engo



lia gente; por sua causa, navegantes não se punham ao
Atlântico e o comércio era feito pelo Mediterrâneo,
passando por Veneza, enriquecendo o doge e os odiados
comerciantes. Coisas da Idade Média!

Deram ao dragão muitos nomes: o terrível, o
magnífico, o senhor do mundo, o guardião de tesouros.
Segundo as lendas vindas de autores gregos e latinos
clássicos como Plínio, os dragões eram os guardiões
de tesouros ocultos. Leviatã guardava gemas preciosas
e ouro.

Os árabes adoravam o dragão com o nome de
al Hayyah. E os mouros levaram essas crenças para
Espanha e Portugal. Em Portugal, todos sabiam que
Santa Margarida foi devorada por um dragão malvado.
Ela arrebentou o bichão que a engolira fazendo o
sinal da cruz, e por isso é a padroeira dos deslumbramentos25.


Para afastar dragões, geralmente seres do mal,
havia a reza de Santo Columba. Santo Columba vivia
na província de Pictos, perto da fortaleza do rei Bridei.
Ele viu o monstro do mar rosnando pelas fauces escancaradas.
O santo fez o sinal da cruz e ordenou ao
dragão que se retirasse; e ele o fez rapidamente, como
que puxado por cordas. Esse notável feito se espalhou;
era contado em Portugal, na Nortúmbria e no mosteiro
Columbano de Lindisfarme.

Beowulf, grande matador de dragões, liquidou
nove monstros; e no mar de Grendel matou mais um.

Deslumbramento = visão maravilhosa, milagrosa.


Mas contava-se em Évora que a Bruxa possuía

o dom de atrair e amansar dragões. Ela podia ver serpentes
fantásticas com cornos andando na planura por
ali afora. Lamias2 6 e drakoi2 7 voavam ao seu redor. Eles
eram de todos os tamanhos e de várias e surpreendentes
formas. Alguns tinham quatro olhos. Fafnir, o mais
famoso deles na Idade Média, vinha conversar com
ela... e ela própria metamorfoseava-se em um dragão
esverdeado.
A Bruxa de Évora dizia que, quando os dragões
gritam, suas vozes são como o barulho que fazem
as bacias de cobre quando são golpeadas. Com a
saliva que eles expelem pode-se fazer todo tipo de perfume.
Seu alento, ela contava, transforma-se em nuvem
e eles utilizam essa nuvem para cobrir seus corpos.
Quando chovia violentamente, a Bruxa uivava
chamando o dragão; assim contavam em Évora, no
tempo do rei. Ela via dragões de perto e tocava em
seus chifres... eterna bruxa, rainha das noites sem lua,
senhora da escuridão do cosmos, a mulher em seu estado
mais sensitivo, unida à grande-mãe do passado
esquecido.

Mas não só de bodes e dragões era feito o
bestiario da Idade Média. Havia os cinocéfalos, raça
de homens com cabeça de cachorro; homens com orelhas
como enormes cogumelos; e os pigmeus. E havia
os grifos, com garras enormes. Nos tesouros de São
Denis, do século XIII, há garras desse animal mitológi-

Lâmia = demônio feminino da mitologia grega.
Drakoi = plural de draken, termo nórdico para dragão.



co, que se acreditava oriundo da Ásia. Conta a lenda
que a Bruxa de Évora, guerreira destemida, golpeou
um grifo e que o matou com uma reza de Santa Tecla,
santa feiticeira, assim como São Cipriano e São Martinho
Veroux.

Nas festas de aldeia, contava o povo que aparecia
o lobisomem, o homem-lobo. Ele era pouco diferente
de um lobo normal, a não ser pelo tamanho, um
pouco maior que o da espécie selvagem.

Era peludo e feroz, andava ereto sobre duas
pernas, rosnava e espumava, e tinha dentes lupinos.
Seu aspecto era sujo. De homem só tinha a voz e os
olhos. Tinha o corpo coberto de pêlos e as garras de
um lobo selvagem. Diziam alguns que a transformação
em lobisomem era hereditária: sua doença era
transferida de geração a geração. Mas outros diziam
que a depravação mental de certos homens fazia com
que se transformassem em lobisomens. Neste caso, o
efeito era produzido pela magia negra, em rituais terríveis.
Eles se untavam com óleos, usavam cintas e peles
de animais, bebiam poções diabólicas e prestavam culto
ao diabo. Muitos contavam que, quando eles eram
homens, seus pêlos cresciam para dentro e, quando se
transformavam em lobo, eles apenas viravam do avesso.
Um outro método de virar lobisomem era conseguir
uma cinta feita de pele de um homem enforcado.
Tal cinta era fixada com uma fivela com cinco lingüetas.
Quando a fivela se abria, o encanto era cortado.

O lobisomem que aparecia na Sé de Braga e
fazia companhia à Bruxa de Évora tinha sobrancelhas
que se encontravam na curva do nariz e longas unhas


com o formato de amêndoas, ambas de tom vermelho-
sangue, e seu terceiro dedo era muito longo. As orelhas
eram muito baixas e apontadas para a parte de
trás da cabeça. Suas mãos e seus pés eram peludos.
Corria pelos cemitérios, pelos adros das igrejas, pelas
florestas e uivava.

Figura comum na Idade Média, esse ser fantástico
acompanhava bruxas e feiticeiras, que não lhe
faziam mal. Além dele, havia uma mulher-pássaro que
voava com asas negras tão imensas, que todos chegavam
a ouvir o seu bater. Palhaços, lobisomens, mulher-
pássaro, moura torta dançavam juntos no sabá...


O LIVRO NEGRO DAS BRUXAS

Nas cortes de Évora, onde as pessoas se enfeitavam
com toucas, lobas2 8 e capuzes de panos finos,
que escondiam muito o rosto, havia muita gente que
praticava a bruxaria; por isso, anos mais tarde essas
toucas foram proibidas. Entre as mulheres mundanas,
vestidas com panos de varas e mantos de burato24, a
feitiçaria imperava. Mesmo entre os guerreiros com
suas couraças de lâminas de ferro postas sob cotas de
malha até a coxa a feitiçaria era praticada antes das
batalhas. Iam se benzer na igreja e na bruxa... entre as
vendedeiras de frutas nas praças das cidades, as rezas
eram passadas umas às outras.

A tradição nos conta que toda bruxa possuía
um livro que ela guardava com muito cuidado e que
continha seus ritos, suas rezas, suas obrigações, seus
poderes e o que tinha sido revelado a ela pelo próprio
demônio. Dizem que a Bruxa de Évora deixou o livro
preto que, segundo a lenda, está agora oculto junto ao
Tejo, perto de Alfama, numa casa turca. Cópias se fizeram
dele e uma foi achada em um mosteiro português.

Muitos autores chamam a esse livro "O livro
negro do satanismo". Nele vemos que os apetrechos

2" Loba = beca semelhante à batma.
2 9 Burato = pano inglês escarlate.


das bruxas eram: o altar, o giz, o círculo mágico, os
frascos, as vasilhas, a bacia, a colher, o cutelo, o punhal,
a espada, o azorrague, a vara de cedro, o cálice, o
fogareiro, o braseiro, o perfumador, a lanterna, o bastão,
os instrumentos musicais, a concha, o espelho, a
bengala, a pedra, os chifres, o pentagrama e o crânio.

O caldeirão mágico era o instrumento mais
importante de todos. Desde os tempos mais remotos,
as misturas e composições da bruxaria são feitas em
caldeirões de ferro semi-esféricos, que se põem sobre

o fogo com plantas e ervas mágicas, entre as quais a
Bruxa de Évora usava a verbena.
Ela usava também o emplastro de celidonia,
que colocava sobre a cabeça de um enfermo para evitar
sua morte. Quando chovia e a fogueira se apagava,
a Bruxa praticava a ceraunoscopia, que é a adivinhação
por meio dos raios e dos trovões; outras vezes praticava
a cleromancia, adivinhação com dados. Ela também
cruzava seus adeptos com calundrônio, pedra
mágica que, segundo a tradição, defende as pessoas
do mau-olhado.

Havia muitos demónios catalogados no livro
das bruxas. Os principais eram Abalan, príncipe dos
infernos; Abigor, demónio de hierarquia superior;
Abrahel, súcubo; Asmodeu, um dos chefes; Adramelech,
grande chanceler do inferno; Alastor, muito severo;
Alocer, grão-duque; Amon, poderoso; Bel, muito
usado nas bruxarias; Behemot, importante; Bifrous,
da matemática; Bune, dragão de três cabeças; Caym,
de categoria superior; Eurinome, de categoria elevada;
Fúrfur, conde; Gusoyn, de grande poder; Hécate,


deusa infernal; Lúcifer, o maioral; Marbas, presidente
infernal; Rowe, conde infernal; Satã, rei dos infernos;
Thamur, do fogo; Uphir, muito competente; Vepar,
duque infernal; Verdelet, o das reuniões das bruxas;
Volac, presidente; Zaebos, conde infernal; Zepar, guerreiro
imponente.

Entre os muitos demônios que tentam os homens,
os do sexo sempre foram os mais temidos. Eles
eram chamados de íncubos, os que tentavam as mulheres,
e súcubos, os que faziam o mesmo com os homens.
Na época medieval, era comum a crença de que

o diabo tomava a forma de uma bela mulher para tentar
um santo, como ocorreu com Santo Antão. Até em
sonhos os íncubos apareciam, e os transformavam em
erotismo maravilhoso.
Na Idade Média européia, os demonólogos
cristãos concordavam que uma sexualidade desenfreada
constituía um dos mais certeiros caminhos para o
inferno. Acreditavam que íncubos e súcubos assumiam
a forma humana para lograr seus intentos perversos.
E transformavam-se em belos jovens, nus e lascivos,
que iam à noite na cama das donzelas; ou se disfarçavam
na esposa ou no namorado de alguém e faziam
amor a noite inteira. Durante o dia sumiam, pois
não gostam do sol. Freiras medievais eram as mais atacadas
por esses belos diabinhos.

Na época das grandes perseguições às bruxas,
os sacerdotes acreditavam que elas tinham relação com
Satã: ele é que iniciava as feiticeiras num rito chamado
sabá. Em Évora, o povo acreditava que a moura encantada
tinha controle sobre esses demônios. Ela pos



suía um receituário para livrar as pessoas das tentações
do erotismo; mas, se esse método falhasse, a Igreja
tinha um mais eficaz: a tortura.

Os gatos também eram acusados de demônios.
O gato era considerado um animal mágico, parente da
lua, pois o gato surge para a vida à noite, perambulando
pelos telhados, com seus olhos brilhantes na escuridão.
Da magia de seus olhos é que surgiram as crenças
nos seus poderes sobrenaturais. No Oriente acreditava-
se que os gatos transportavam as almas dos mortos;
ou que um humano podia tornar-se um gato, através
do feitiço de uma bruxa. Encarnação do diabo, o
gato era um grande amigo das bruxas.

A Bruxa de Évora tinha um gato preto, chamado
Lusbel. Era belíssimo, dengoso e lascivo. Não
corria atrás do mocho que sempre a acompanhava.
Certa feita, quase mandaram queimar viva a Bruxa, sob
a acusação de que ela penetrara na casa do Reverendo
em forma de gato preto. Ela sumiu voando em uma
vassoura e levou seu gato, pois queriam assá-lo vivo
para afastar os maus espíritos. Na noite seguinte, ele
foi visto num telhado tocando rabeca e espirrando: era
sinal de chuva. E choveu toda a noite em Évora. Os
homens com suas túnicas talares, seus mantos presos
ao ombro, suas gorras à cabeça, testemunharam esse
fato. Os monges beneditinos de hábito com cogula,
mantos e luvas, juraram que o gato tocava rabeca e
gargalhava. Um homem com um barrete comprido e
flácido, cinturão de couro e jóias visigóticas, disse ter
visto o gato na Sé de Évora, junto ao campanário...

A ação maligna do demônio contra os justos
não cessa, diziam os portugueses, enquanto viravam


canecas de vinho de barril. As damas, com largos mantos
de brocado presos por firmais de pedras preciosas
e com grandes rosários de contas à cintura, diziam: "O
diabo tem muitos nomes, Satã ou Lúcifer, e aqui em
Évora ele tem uma amiga, a bruxa que voa montada
nos bodes e nas vassouras. Para ele, ela canta e dança e
faz orgias. Faz feitiços e até seu gato é seu amante, é
um diabinho do sexo."


VISÕES E FANTASMAGORIAS
EM TEMPOS DE FESTA

No livro negro da bruxa há passagens em que
ela conta sobre o ritual das festas mágicas e populares.
Muitas coisas desse livro foram retiradas, e outras foram
acrescentadas; por isso, não sabemos se suas informações
estão corretas. Amon, por exemplo, era o
nome de um deus egípcio e aparece aqui como demônio;
Baalzebul, famoso deus da Suméria, virou Belzebu.
Assim, muita coisa está ainda oculta nesta área. Mas
as descrições de algumas cerimônias são exatas, como
a do sabá, a reunião de feiticeiros e adeptos.

Era costume em Portugal as feiticeiras, seus
descendentes e amigos reunirem-se nas vésperas dos
dias de São Jorge, Natal e São Cipriano, nas encruzilhadas
dos prados. Iam cozinhar poções mágicas. Esses
encontros tiveram sua origem nas festas realizadas
pelos pré-cristãos. O cristianismo declarou esses atos
como coisa diabólica, mas os ritos continuaram. As
mulheres sábias carregavam ramos e adornavam os
animais com grinaldas em honra do deus com chifres,
rei da natureza. Os chifres do gado eram adornados
com guirlandas de flores para que os animais dessem
cria. Muitas vezes faziam um bolo gostoso, para todos
comerem juntos. Na massa do bolo se colocava uma
moeda; quem a encontrasse, ficaria rico rapidamente.


Nas noites de lua, a fumaça das fogueiras enchia
o ar de fantasmagorias e todos dançavam. A mandragora,
planta mágica, era usada em pomadas que
untavam o corpo dos adeptos, junto com outras ervas
como alecrim e azevinho. Todos tomavam do vinho
de ervas que era distribuído em abundância. A bruxa
vestia uma pele de carneiro sobre a imagem de madeira
do deus Pã; depois ela o saudava como deus da vida
e da fertilidade. Nesta hora comia-se o bolo de nozes
das feiticeiras e as mulheres-sábias eram louvadas. Os
camponeses se esqueciam de seus trabalhos e se alegravam;
e muitas vezes eles se amavam na relva em
meio ao canto fantástico, enquanto as feiticeiras realizavam
seus encantamentos.

A festa era alegre e aquele povo, em geral melancólico,
se divertia. A tristeza constante se consumia
e a gente de lá se esquecia do sofrimento e da miséria.
A bruxa era assim, muitas vezes, um bem para o povo,
um sacerdote pobre igual ao povo, popular entre as
mães e os servos, entre os que conduziam o gado do
senhor da terra; para ela a gente pobre cantava baladas
com seus instrumentos simples. Junto ao padre,
muitas vezes eles receavam a felicidade, pois poderia
levá-los ao inferno; com as bruxas não, a alegria era
um dom dos deuses antigos, e bolo e vinho eram bons
e traziam felicidade.

Uma grande festa popular era o entrudo, o
nosso carnaval. No seu tempo, o povo se empanturrava
de galinha e de carneiro, de filhos com açúcar e de
sonhos com creme. E saía à rua dando umbigadas pelas
esquinas e jogando água uns nos outros com serin



gas de clisteres, e colocando rabos com alfinetes nas
costas dos distraídos. Outros, fantasiados de Morte ou
de Rei, andavam com résteas de cebolas, dando com
elas em quem passava. Uns tocavam gaitas, batucavam
em panelas, riam muito. Era o tempo de entrudo
e o diabo andava solto pelas ruas de Portugal. A cidade
de Évora ficava imunda, cheia de lixo, de lama, de
gente dormindo pelas ladeiras.

É bom esse tempo, quando todos são iguais,
reis, príncipes, servos da gleba, padres, bruxos; todos
são iguais no tempo de Momo, soberano da farra. Nesses
dias a Bruxa saía às ruas com seu mocho às costas,
a cantar e louvar o entrudo. Caras pintadas, gente coberta
de peles de bichos, máscaras, vestidos de rei dos
tolos, de esqueleto, de mendigos, eles se acabavam de
cantar e pregar peças uns nos outros. A Bruxa gostava
do entrudo. E dançava pelas ruelas.

Depois vinha a Quaresma e o povo tinha de
pagar pelos excessos cometidos. Todos mortificavam
a carne, faziam jejum, fustigavam-se com açoites e choravam
na procissão de penitência. As mulheres, nas
janelas, viam passar a procissão e choravam pelos penitentes
que iam à frente, jogando-lhes fitinhas de cores,
que eles punham nos seus gorros.

Os padres, logo depois dos penitentes, levavam
os pendões com as imagens da Virgem e de seu
Filho. A seguir vinha o bispo embaixo de um pálio; e
depois as imagens nos seus andores dourados, e o regimento
interminável de padres e irmãos das confrarias.
Todos pensavam na salvação da alma. Só uma
mulher torcia a cara e não caminhava com eles: a Bru



xa de Évora. Ela a tudo via sem dar um pio, e devagar
caminhava para os cantos escuros de Évora, onde fazia
os ritos usados pelas feiticeiras no tempo de Quaresma,
para tirar mazelas, mau-olhado e inveja.


BRUXARIA ENTRE ALEGRIA E MORTE

Um festejo popular de grande agrado de todos,
bruxos, magos, cortesãos, pescadores, pastores,
comerciantes, prostitutas, mulheres santas, crianças e
velhos, cavaleiros das armas e pintores, era a comédia.
Ela nasceu nos vilarejos dos camponeses. Quando a
noite de inverno rugia tempestuosa e a chuva sussurrava
nas árvores, os aldeões tremiam de medo, junto
com todo Portugal. Aí os pobres, fracos e humilhados
se seguravam na fé dos deuses antigos e riam, riam
como os bobos da corte.

Sim, como os bobos, os truões, bufões e tolos,
alegria das cortes e do populacho, com seus guizos,
seus chapéus de bicos coloridos, seu cantar imperava,
debochava. O truão foi uma entidade misteriosa da
Idade Média (guardado ainda na carta zero do taro),
amigo de príncipes, reis e damas da corte, e também
amigo de bruxos e feiticeiros que os protegiam às ocultas.
Em muitas festas de feiticeiras, quando enxofre,
salitre e incenso se elevavam no ar, lá estava o rei dos
tolos, torrente de riso, gargalhadas soltas como a das
bruxas e seus amantes sarracenos.

A comédia era uma celebração jocosa após uma
comilança, festa ou casamento. Nela não havia mortes,
como na tragédia grega; ela não falava de homens
famosos, santos ou heróis; atingia o efeito do ridículo


mostrando homens comuns, como os camponeses. Seus
personagens eram seres vis e ridículos, tolos, imperfeitos,
feios, sensuais, mas nunca malvados.

A comédia era uma festa, feita em palcos mambembes
de panos coloridos, onde o camponês ria seu
folguedo. Ficava sempre na feira. E, muitas vezes, nessas
feiras com comediantes, elegia-se o "rei dos tolos",
um camponês bem feio e ridículo que era coroado e
acompanhado em cortejo pelo povo.

Os cântaros de vinho desciam pelas bocas. E a
liturgia do asno e do porco era representada pelos comediantes.
Caras pintadas, trapos coloridos, eles representavam
a comédia popular. A Igreja suportava
essas festas, pois acalmavam o povo. O riso era geral.
E nessa hora o aldeão perdia o medo do diabo e das
bruxas. O diabo era muitas vezes personagem das comédias.
Pobre diabo bobo! Não era o diabo apresentado
nas igrejas: era um folgazão, um palhaço de carnaval.
Sonhava-se então com abundância, com o país da
Cocanha, onde tudo era ouro.

Os simples farreavam, bebiam e cantavam; e
lá estava a Bruxa, festiva, com seu mocho às costas. A
velha Bruxa ria, desdentada, riso solto como o vento
nas pedras de Lisboa, e bebia vinho e comia pão doce.
O mesmo pão doce e o vinho com que os camponeses
faziam magias nesses dias de muito riso.

O folguedo dos camponeses era grande. A feira
era uma gritaria alegre e colorida que descarregava
os humores. Jovens monges passavam rindo, dizendo
juntos poemas jocosos, sentindo-se livres também. Era
tempo de alegria. As trevas se dissipavam...


Mas as trevas voltavam nos dias de execução.
A sombra dos conventos vivia o povo; e, na hora da
execução, o povo sentia mais e mais o terror da época
em que vivia. A vida era então tão violenta e tão estranha
que misturava o cheiro de sangue com o das rosas.
Os homens de então oscilavam sempre entre o
medo do inferno e o do céu, e eram cruéis e temiam as
delícias do mundo. Entre o ódio e a bondade, indo sempre
de um extremo a outro, assim era a Idade Média.

Nesses dias, o povo gritava furioso nomes aos
condenados. Guinchavam as mulheres. Jogavam coisas
debruçadas dos peitoris. As piedosas senhoras faziam
bordados enquanto esperavam as execuções. El
Rei as ordenava; os padres também. Os ladrões que se
cuidassem, e os bruxos também...

Benzia-se a cruz no primeiro dia, enorme pau
com quatro metros de altura, que daria para um gigante.
E diante dela se prosternavam todos os presentes.
Derramavam-se lágrimas. E ao lado se armava o
local da forca. Alta, traiçoeira.

Vinham na frente os padres, com uma procissão
atrás. E o acusado, ladrão, feiticeiro, judeu, herege,
ou caído na má fama de ser homossexual ou sádico,
ia com chapéu de bruxo, humilhado, em meio à
confusão. Ia açoitado, com garrote, sufocado em meio
às gentes. O povaréu gritava. Vinha o encapuzado
matador. O povo urrava e o algoz executava o condenado.


Muito se matou em Portugal, no Pelourinho
Velho, em São Miguel, na rua dos Mercadores, no


mosteiro da cotovia. E o povo muito chorou e muito
riu. A Bruxa de Évora nunca era vista claramente nessas
horas, só sua sombra suspeita era vista por alguns
videntes, curadores, e diziam que muitas vezes era vista
comendo sardinha e arroz atrás de uma muralha,
vendo de longe o que acontecia.

Havia diversos bruxedos que se faziam nos
dias de enforcamento ou de castigo de condenados.
Nessas horas, a Bruxa corria para sua casa. Sentava-se
no mocho, acendia o lume na lareira, punha a trempe
e uma panela sobre ela, fazia sopa. E quando ela fervia,
deitava uma parte no chão, para os espíritos, e uma
para ela. Depois de comer fazia uma segurança, para
não ser pega e levada ao calabouço. Fazia uma pasta
com gordura de galinha, aranhas, lesmas, e passava
no corpo, dizendo: "- O tordo e a garriça são o galo e a
galinha de Nosso Senhor."

Poções e unguentos como esse não são usados
na moderna feitiçaria; são relíquias da feitiçaria primitiva,
fundada na dor, no terror e no repulsivo. A caveira
de um cavalo colocada à porta da entrada afastava
os fantasmas... galinhas pretas a serviço dos feiticeiros...
antiga feitiçaria. Faz parte de nosso inconsciente
coletivo, e surge em todas as eras, mesmo na nossa...

A hora de todas as bruxarias era a noite. Mas a
noite de então começava muito mais cedo que a nossa.
A gente e os frades acordavam entre duas e meia e três
horas da madrugada; para o monges, eram as Matinas,
quando começavam a trabalhar. Entre cinco e seis horas
da manhã eles comiam; eram as Laudes para os
mosteiros. Pouco antes da aurora, às sete e meia, eles


paravam para rezar; nos conventos tocava-se a Primeira.
A Terceira era às nove horas da manhã; e iam dormir
em torno de seis ou sete horas: eram as Completas.
Era a hora de bicho solto, das burrinhas-de-padre,
dos assombrados, dos súcubos e íncubos, das damas
brancas, alminhas e capetas. O povo tremia de frio e
de medo. Uns viam macacos de chifres, seres com cabeça
e pés de pato, sereias voadoras, corcundas, humanos
com cabeça eqüina.

Com a noite vinham os seres maléficos. Ferreiros,
seleiros, pedintes, vendedores de ervas, todos
enfim se escondiam em casa à noite, pois a noite não
era para a gente, e sim para as mulas-sem-cabeça (amantes
de padres), os lobisomens e as almas penadas. Ou
então para o conciliábulo dos feiticeiros, gente que tinha
a marca no corpo e o diabo na pele, gente do Cão,
que precisava ficar dependurada em uma boa forca,
esperando os luzeiros do sol da manhã nessa posição
inferior, à espera de que a levasse e muitas vezes lhe
cortasse a mão... Na claridade do amanhecer muitos
assim estavam. Mas a Bruxa de Évora nunca assim esteve...
Os que a viam, ao deitar rezavam:

"Com Deus me deito

Com Deus me levanto

Na graça de Deus,

De el-Rei

E do Espírito Santo."

Era nessa hora que a Bruxa fazia suas poções
de cura. Por isso era procurada, médica dos pobres. E
com suas artes mágicas lia a sorte e previa novidades.
Mentiras, diziam uns; verdades, afirmavam outros.


Montada numa mula ela ia pelas ruas escuras.
Porcos dormiam pelas ruas. Boas noites, mula-semcabeça,
boas noites, bodes pretos... e lá ia a bruxa velha
passeando à noite nas ruas da cidade.

À luz do lume, a Bruxa fazia sua rezas. E se
persignava. Lá fora o vento uivava. O lume estalava:
era a casa da Bruxa emitindo seus ruídos. Velha casa
assombrada...


TRAVESSURAS E FEITIÇOS DA
BRUXA DE ÉVORA NO BRASIL

O MUNDO É VASTO, E O DIABO VAI NA PROA DO NAVIO

Certamente, a Bruxa de Évora é uma figura
lendária; mas seu mito é tão forte no inconsciente do
povo português, que, quando os navegadores lusitanos
começaram a abrir caminho pelo oceano, a trouxeram
junto com o medo dos monstros marinhos e a crença
no lobisomem, na moura torta e em São Barandão
(que diziam ter descoberto novas terras a ocidente). E
ela, a Bruxa, passou à História.

Quando veio para o Brasil, a Bruxa de Évora
não surgiu montada num dragão, nem numa tosca
vassoura. Ela veio, como alma penada, vista pelos
marujos da armada portuguesa, nas noites de tempestade.
Veio nos baús de madeira, nas conversas, no jogo
de dados da marujada, nas histórias do capelão. E por
aqui ficou...

Quando as últimas naus saíram de Portugal,
alguns juraram ver a velha em seu bode alado, toda
branca, pois agora era uma alminha, dançando no ar...
era no tempo do rei D. Manuel, o Venturoso. Era no
tempo das encantarias. Almas sem rumo vagavam
pelos céus. O diabo tinha vindo na proa do navio, mesmo
com a bandeira da cruz...


Quando os portugueses chegaram ao Brasil,
envolveram-se com os índios e com eles aprenderam
sua magia e suas lendas. Conheceram a história do pio
da Matinta-pereira, ave agourenta dos nossos índios,
que trazia notícias ruins. Para os portugueses, esses
pios e esses vôos em volta das cabanas lembravam o
vôo das bruxas de suas terras. E a ave Matinta-pereira
tornou-se a bruxa da noite, que andava rondando os
casebres.

Assim os mitos foram-se fundindo. No dia da
Páscoa de 1503, quando alguns dos marinheiros da
expedição de Afonso de Albuquerque rezavam, os pios
da Matinta-pereira acordaram os que estavam dormindo.
Todos tremeram de medo e juraram que era a alma
penada da Bruxa de Évora que os andava assustando
em Lisboa, que tinha vindo para o Brasil assustá-los
novamente.

Roiz, marinheiro e contramestre de uma nau
portuguesa dos tempos do descobrimento, assim contou:
"Quando parti da cidade de Lisboa para o Brasil
era noite negra. Vi presságios. Digo ao senhor! Vi serpentes
no mar tenebroso, mas vinha em busca do paubrasil
e fiquei firme. No Brasil me deitei com uma índia
mui bela, mas a mãe dela aparecia de Matinta e
assobiava à noite. Era a Bruxa de Évora que, não contente
em nos atacar lá nas nossas santas terras, vinha
aqui que é terra de Caipora."

Pedrim, criado do capitão desse navio, assim
repetiu: "A Matinta e a Évora andam juntas voando
nos ares, nas noites, querendo a nossa morte."


A Matinta-pereira, agora bruxa medieval, vinha
à noite e assobiava. Só parava quando lhe ofereciam
café ou fumo. E de manhã a velha feiticeira vinha
buscar o que lhe haviam prometido, o café ou o fumo
de rolo. Quando ela morria, sua filha herdava o dom
de matinta ou bruxa. Assim, a feiticeira de Évora foi
surgir séculos depois de morta, nas aldeias da costa
brasileira, envolta nas lendas da matinta, ave de bruxos,
amiga de pajés escondidos nos matos, uma entidade
maléfica que, invocada, vinha fazer estrepolias
no negrume da mata virgem.

A BRUXA DE ÉVORA NO CATIMBÓ

Da mistura das crenças e dos ritos de índios e
colonos nasceu o catimbó, primeiro culto sincrético do
nosso país. O catimbó é feitiço, bruxedo, coisa-feita,
com seu receituário, seu espiritismo, seus conselhos de
bem-viver, seus amuletos e dietas para afastar fantasmas
e mulas-sem-cabeça. Segundo Câmara Cascudo,
está cada vez mais próximo do baixo espiritismo, embora
inicialmente fosse centrado na medicina herbácea
e na feitiçaria de São Cipriano e da Bruxa de Évora.
No catimbó não há filhas-de-santo, nem roupas especiais,
nem comidas votivas, nem decoração. O chefe, o
curandeiro é quem comanda tudo. A liturgia é simples;
o mestre defuma o ambiente e os assistentes, e
recebe seu guia.

Nesse culto começaram a "baixar" mestre
Xaramundi, Pinavuçu, Anabar, mestra Faustina, indígenas,
feiticeiros de Portugal; até turcos "acostam"...


lembrança do medo dos nossos colonizadores dos infiéis
maometanos... coisas da terrinha.

Pajelança e missa, bruxaria européia e remédio
de pajé, este era logicamente um bom lugar para
Cipriano de Antioquia e a mestra de Évora. E quem
aparece lá? A nossa bruxinha de Évora, enrolada em
seus panos velhos, alminha acostando nos médiuns. Não
trazia canto (linho), mas sim uma reza forte. Sim, lá baixou
(ou "acostou", como dizem) a bruxa de Portugal. E
deu receitas, remédios, fórmulas ancestrais de magia,
fez casórios e aparou meninos. Parteira, boa cartomante,
ela continuou seu trabalho - assim o crêem...

E por que não viria, se vêm Zé de Lacerda, Rei
Turco, Carlos Magno, Dom Luís Rei de França, Padre
Cícero, junto com Exu Malunguinho, Xapanã, Dona
Janaina, Cabocla Jurema e Caboclo Laje Grande? E todos
dançam e cantam em grande harmonia...

Quando chegou pela primeira vez, a mestra
cantou um linho estranho, falando de terras distantes,
de brigas entre mouros e cristãos, de panelas de barro
e cheiro de rosmaninho... O catimbó nesse dia ficou
silencioso e muitos juraram que uma visagem passou
por suas cabeças. Não era santo, nem pajé sábio, era
uma velhinha branca, com seu mocho às costas...

Ressoam os chocalhos, o fumo de tauari enche
a sala pobre, mestres rezam suas rezas antigas, cantam
linhos, São Cipriano acosta e bota mesa para a esquerda.
Tem por companheira de outro mundo a Bruxa,
com seu canto, seu mocho, seu bode voador, seu
dragão formoso. É noite enluarada, luar do sertão do
Brasil...


Muitos catimbozeiros juram que a Bruxa de
Évora passa a noite montada nesse cavalo fantasma...
É, ela fez muita coisa no Brasil colônia... No catimbó, o
povo acredita no cavalo fantasma, animal assombroso
que apavora as estradas. Ninguém o vê, mas o sente
passar, ouvindo as passadas firmes. Uma luz clara dele
emana, que desenha na rua o seu vulto.

A BRUXA DE ÉVORA NA UMBANDA

Como não poderia deixar de acontecer, a Bruxa
de Évora também entrou na umbanda. Feiticeira,
mandingueira, curadora, foi incorporada à legião das
Pombas-giras. Mas ela não é uma entidade jovem e
sensual; ao contrário, é velha e sábia como todas as
antigas bruxas, que atingiram a idade da sabedoria e
do desprendimento das necessidades do corpo.

Sua pele é morena e marcada pelas rugas da
idade. O cabelo, ainda negro, é preso em um coque
simples e sem vaidade. Seu vestido vermelho é quase
um farrapo, com a blusa pendendo de um dos ombros
e a saia curta mal ajustada em torno das pernas. Descalça
e sem adornos, a bruxa segura a vassoura na qual
voa pelas encruzilhadas.

Seu rosto sério mas benevolente mostra que
ela prefere fazer feitiços para curar, proteger e promover
a felicidade das pessoas que a procuram; mas os
olhos brilham com a luz maliciosa de quem vê além
das aparências. Sugerem que ela poderá promover
surpresas indesejadas a quem a tratar mal ou fizer pedidos
mal-intencionados, mas que também poderá


proporcionar soluções inesperadas para os problemas
de seus consulentes.

A BRUXA DE ÉVORA NA VOZ DOS CANTADORES

O que é visto e sentido nos catimbós do Nordeste
surge muitas vezes na voz dos repentistas e corre
as feiras e acampamentos. O cantor popular dos estados
do Nordeste é um representante legítimo de todos
os bardos e menestréis medievais, dizendo pelo
canto, improvisado ou memorizado, a história dos
homens famosos da região e as aventuras de caçadas,
de brigas, de assombrações e de caiporas. E eles cantaram
a vida da Bruxa de Évora, acostada nos mestres
do catimbó ou alma penada solta, Matinta-pereira assobiando
pelos telhados, a bruxa mais famosa de Portugal.
Quando eles cantam, cem olhos se abrem, contentes
com as estripulias da velhota valente. Assim
como os doze Pares de França e D. Sebastião de Portugal,
a Bruxa e São Cipriano são gigantes do povaréu,
de cá e de lá combatendo em desafio, com suas forças
mágicas em riste. Na ingenuidade dos cantadores,
menestréis da caatinga, ela viveu novamente e entrou
nas rezas das rezadeiras populares.

"Lá vai a Bruxa de Évora
Com seu gato feiticeiro.
De dia trabalha no mato,
De noite com seu candeeiro."



O LIVRO DE ORAÇÕES DA
BRUXA DE ÉVORA

Circulava entre os penitentes que sempre visitavam
a Sé de Évora, um manuscrito que é chamado
hoje em dia de "Livro de Orações da Bruxa".

Orações estranhas, meio endiabradas, mas
muito poderosas eram lidas sempre e repetidas até
mais não poder. Elas agora não nos parecem muito
orações, lembram mais histórias de encantamentos; aí
vão elas.

REZA DA BRUXA BRIMUNDA

Essa reza é feita para pedir prosperidade no lar.

"Quando acordo sinto a vida nos campos. E
sou como o pássaro que voa, sou como a planta que
cresce, pois sem eles não haveria o homem. Deus fez
os bichos para serem cuidados. Devo cuidar deles. Sem
eles morrem os homens. A vida é um conjunto, nada
vive sozinho. O mundo gira e o Sol gira em volta dele.
As estrelas são para o bem do homem e os filhos para
as mulheres. Que eu tenha filhos, casa, meus animais,
minha lareira, meu pão, meu terço."


REZA DO BRUXO BALTAZAR

Essa reza serve para pedir saúde.

"Por Nossa Senhora das Necessidades, por São

José, por São Jorge e pelos santos limpos de pecado, eu

peço saúde. Irei sempre à igreja e terei meus ossos fortes
para o trabalho que a vida me mandar."

REZA DO MOCHO

Essa reza serve para pedir proteção contra inimigos.


"Eu sou ferro, tu és aço,
eu te prendo e embaraço.
Tu és fraco, eu sou forte,
eu te venço e te amasso.
Tu és de espírito pobre,
eu sou de espírito rico,


nada e ninguém comigo pode

pelas armas de São Jorge.
Se o mocho vier não me leva,


pois ando com as armas de São Jorge."

REZA DA BRUXA NALISSE DE BRAGA

Essa reza é usada para abrir o jogo de cartas.

"Coloco cinco dedos na parede,
Conjuro cinco demônios,
Cinco monges e cinco frades.
Que eles possam entrar no corpo e no sangue
de (falar o nome do cliente)
Eque eu veja o passado, o presente e o futuro


REZA DA BRUXA PIPERONA DE ALFAMA

Essa reza, que serve para atrair amor, é feita
com cartas de baralho e muita fé.

'Aqui estão vinte e cinco cartas.
Tomem-se vinte e cinco demônios.
Entrem no corpo, no sangue e na alma de (dizer
o nome da pessoa amada),
Nas sensações do corpo,
Dizendo ao(à) meu(minha) amado(a)
Pois ele(a) não pode existir ou comer ou beber
E nem conversar com outros homens ou mulheres.
Pelas vinte e cinco cartas, ele(a) vem bater à
minha porta."

REZA DAS REZADEIRAS DE GOA

Para rezar essa reza contra cobreiros, pega-se
um carvão, acende-se no fogo e com ele se cruza o
cobreiro, sem encostar na pele. E vai-se dizendo assim:

"Cobreiro de bicho rasteiro,
de bicho peçonhento,
que há de ficar preto
como este carvão."


Faz-se essa reza por sete dias, mesmo que o
cobreiro já tenha secado, untando o local diariamente
com violeta de genciana.

REZA DO BRUXO DE LEIRIA


"Com sete luas e sete sóis eu me defendo.
Sete nós não me atam.
Sete louvores dou ao santo.
Sete pregos não me prendem.
Sou forte.
Sou dos astros bons.
Dia virá em que serei totalmente feliz."


REZA DO FILHO DO SAPATEIRO

Essa é uma reza de domínio público em Portugal,
usada para proteção geral.

"Meu sapato tem asas como o vento de Lisboa.
Como todo dia a minha broa.
Bendito seja Deus que nada me pode pegar,
Nem amarrar, nem machucar.
Sou livre de mazelas."

REZA DO BRUXO UBERTINO

Reza usada para prevenir-se contra mordedura
de serpentes.

"Serpente de quatro ventas,
Serpenteão,
Serpente do mar das Tormentas,
Serpente que atacou Melquior,
Mas com a luz da estrela ele se safou.
Com essa luz dos três Magos do Oriente
Eu me defendo.



REZA DO BRUXO BONIFÁCIO DE VIANA

Essa é a reza protetora do escudo de luz.

"Tenho um escudo que me protege
E sempre me protegerá.
Nada me pega.

Venho do convento dos dominicanos

Com reza santa.
Eles mandaram trancara chave
Meu corpo.

Venho do trono dos cardeais,
Não serei prisioneiro.

Venho do topo do monte,

Do cume da colina.

Comerei meu pão em santa paz."


FEITIÇOS DA BRUXA DE ÉVORA

FEITIÇO PARA ABRIR OS CAMINHOS

MATERIAL:

Um copo de vidro virgem

Uma garrafa de vinho tinto

Três pedaços de pão

Uma pitada de sal

Uma fita de gorgurão azul-escuro

Um pedaço de papel

Lápis ou caneta

Escreva no papel o nome da pessoa em cuja
intenção se faz o feitiço. Junte os três pedaços de pão,
com o papel entre eles, e prenda tudo junto com a fita.
Salpique o sal por cima. Leve esse amarrado, o copo e
a garrafa de vinho para uma estrada, uma praça ou um
lugar com mato. Encha o copo com vinho e coloque-o
no chão, com o amarrado ao lado, oferecendo à Moura
Torta.

TRABALHO DO GATO PRETO PARA O AMOR

Esse trabalho foi encontrado em um pergami



MATERIAL:

Um copo de vidro virgem
Uma garrafa de vinho tinto
Sete pêlos de gato preto
Um ovo choco
Uma vela preta
Fósforos


Para conseguir os pêlos de gato, procure algum
conhecido que tenha um animal na cor certa; peça-
lhe que guarde um punhado de pêlos para você. Para
conseguir o ovo choco, procure um criador de galinhas.

Leve todo o material para uma praça ou um
lugar com mato. Acenda a vela preta. Encha o copo
com vinho. Coloque os pêlos dentro do vinho e, por
fim, coloque o ovo dentro do copo. Ofereça a São
Columba, fazendo seu pedido.

MAGIA MEDIEVAL PARA PROLONGAR UM CASAMENTO

MATERIAL:

Um punhado de pedras catadas na rua
Sete velas
Fósforos
Antes de sair de casa, tendo todo o material

com você, recite a seguinte invocação:

"Na força do signo-saimão, nas sete estrelas
do céu, eu invoco Diana, a guerreira, senhora da caça e


da fartura, e uno o casal (dizer os nomes dos membros
do casal) para que não se separem."

Vá para um lugar ao ar livre, levando todo o
material. Faça no chão um círculo com as pedras cata-.
das na rua e acenda as velas em volta delas, repetindo
seu pedido.

É um trabalho antigo; tem força e tradição...

FEITIÇO DE AMOR DA BRUXA DE ÉVORA

MATERIAL:

Sete punhados de pó de estrada
Sete rosas vermelhas
Sete cravos-da-índia
Sete nozes-moscadas
Um pedaço de papel virgem
Lápis ou caneta
Um saquinho de pano vermelho

Escreva sete vezes no papel o nome da pessoa
amada. Coloque esse papel, junto com o pó, as rosas,
os cravos-da-índia e as nozes-moscadas, dentro do saquinho,
que deve ser guardado por quem mais ama...

Bruxaria ou sonho?

TRABALHO PARA ALÍVIO DE OPRESSÕES ESPIRITUAIS

Este trabalho serve para descarregar aqueles
que se sentem mal, oprimidos ou com fortes cargas
espirituais.


MATERIAL:

Uma pequena porção de trigo em grão

Uma pequena porção de centeio em grão

Água

Duas panelas pequenas

Dois pedaços de pano branco

Cozinhe separadamente o trigo e o centeio em
água pura. Deixe esfriar. Passe os dois cereais no corpo
da pessoa e depois embrulhe cada um em um dos
panos. Entregue no mato ou em uma estrada.

FEITIÇO DO BODE PRETO PARA AFASTAR INIMIGOS

Assim a Bruxa de Évora trabalhou para uma
mulher anã, que era motivo de divertimento para todos
e que vivia em infinita tristeza. Essa anã tinha sido
tirada da casa dos pais por uma mulher nobre. Os pais
foram visitá-la e saíram contentes em ver que ela era
bem tratada; não viram a corrente que era usada para
atar o pescoço da anã, junto com outra corrente que
era atada no pescoço do macaco de Sua Graça a Dama
Real...

MATERIAL:

Dezesseis pêlos de bode preto

Um papel branco virgem

Lápis ou caneta

Uma pedra de enxofre

Um saquinho de pano


Um pilão

Uma panela pequena

Para conseguir os pêlos de bode, procure um
criador de cabras na área rural próxima do lugar onde
mora, ou um estabelecimento que venda animais para
criação ou abate.

Escreva no papel o nome da pessoa que deseja
afastar. Torre os pêlos de bode junto com o papel e, a
seguir, soque os dois junto com a pedra de enxofre no
pilão, até ficar tudo bem moído. Coloque o pó dentro
do saquinho e jogue dentro de um rio, fazendo seu pedido
à Bruxa de Évora.

FEITIÇO PARA OBTER RIQUEZA E FARTURA

Dizem que a Bruxa de Évora possuía um
amuleto feito com a mão de um enforcado. Ela o recebeu
numa cerimônia secreta, sob a luz de velas, entre
uma caveira e um círio negro; fez juramento e saiu dali
montada em um bode. Hoje em dia, o mesmo feitiço
pode ser feito com mãos de cera, adquiridas em lojas
de artigos religiosos.

MATERIAL:

Um par de mãos de cera

Um papel

Lápis ou caneta

Um pouco de trigo em grão cozido

Um prato de louça branco virgem


Escreva no papel o nome da pessoa que quer
ganhar dinheiro. Coloque esse papel sobre as mãos de
cera, postas lado a lado, com as palmas para cima, sobre
o prato. Ponha o trigo por cima. Entregue em um
local aberto (praça, praia, mato ou areal) ou coloque
ao pé do altar de umbanda (se freqüentar uma casa de
culto ou tiver seu altar em casa), guardando como
amuleto.

ESCONJURO CONTRA ESPÍRITOS MAUS

"Eu sou ferro, tu és aço, eu te prendo e embaraço.


Eu sou luz e tenho comigo a fé de Santa Pudenciana,
de São Jorge e de El-Rei, deveras nada me pode
maltratar."

FEITIÇO PARA ENCONTRAR TESOUROS

Conta uma lenda que, certa vez, ia pelas ruas
de Évora uma família burguesa, o homem à frente, com
capote, peruca e chapéu tricórnio, a senhora com um
rosário e véu, a criada com uma larga capa agaloada; e
viram junto à Sé uma caixa de ferro. Abriram-na e viram
que dentro dela havia jóias e berloques de ouro. A
Bruxa de Évora, que passava pelo lugar, falou: "-É
um tesouro de dragão", e ensinou um feitiço para atrair
tesouros e ganhar prêmios.

MATERIAL:

Uma pedra recolhida de uma sepultura.
Uma cruz de madeira


Leve a pedra e a cruz a uma igreja, na hora em
que houver missa. Ao final da missa, exponha os dois
objetos, para que eles recebam a bênção do padre.
Quando quiser ter sorte em um jogo, encontrar um tesouro
ou ter sucesso em alguma situação que lhe vá
trazer riquezas, leve consigo os dois amuletos.

REZA DE SANTA TECLA CONTRA FEITIÇARIA

"Santa Tecla, protetora das feiticeiras, salva-
me de maldades e feitiços. Fecha meu corpo contra a
inveja e o olho-grande, abre-me a porta do céu, não
deixa que Grendel, o dragão, me pegue, nem os ogros,
nem os elfos, nem os monstros da terra e do ar. Veste-
me com o manto de São Marçal e que meus inimigos
tenham olhos e não me vejam, tenham pés e não me
alcancem, tenham mãos e não me peguem. Assim seja."

MODO DE CURAR FEITIÇOS FORTES

Essa reza foi ensinada pela Bruxa de Évora ao
mercenário Fernão Lima, desertor de guerras e cruzadas
que, fatigado, ameaçado pela igreja, vagabundeava
por Évora. Ao vê-lo no meio dos pomares da cidade, a
Bruxa olhou-o e disse:

- Você sobreviveu aos vândalos, mas está enfeitiçado.
Imediatamente cruzou-o com sal grosso, dizendo
essas palavras:

Sai, miasma, sai, pó de espírito imundo.
Cura estas chagas, Brunilda, velha bruxa da Sé de
Braga."


FEITIÇO DE AMOR DA PANELA DE BARRO

Do século VIII vem esse feitiço, engraçado, mas
que dizem ser muito forte, e que ainda hoje é feito em
Lisboa.

MATERIAL:

Uma panela de barro

Um pedaço de papel branco virgem

Lápis ou caneta

Um bife de carne de porco

Uma colher de pau virgem

Escreva no papel os nomes das duas pessoas
que deseja unir. Coloque a carne na panela, junto com

o papel, e leve ao fogo para assar. Quando a carne estiver
ficando bem dourada, bata nela com a colher, dizendo:
"Me ame sempre, me queira, me deseje, me
sustente, só a mim, como única e só sua."

Depois, entregue tudo no mato, à Bruxa de
Évora.

BÊNÇÃO CONTRA os LADRÕES

A pessoa vai à meia-noite até uma encruzilhada,
deixa cair no local uma moeda de seu dinheiro e
diz:

Este roubo será evitado; aqui eu te dou este
presente, Bruxa de Évora."


AMULETO DE PROTEÇÃO CONTRA RAIOS

Toda Quinta-feira Santa reuniam-se grandes
grupos de peregrinos na porta da casa da Bruxa de
Évora. E o feitiço mais comum desse dia era o dos ovos
que, segundo ela, protegiam a casa de raios, trovões e
todas as coisas malvadas.

MATERIAL:

Um ovo cru, que tenha sido posto na Quaresma
Um saquinho de pano
Uma fita ou barbante resistente

Coloque o ovo dentro do saquinho e feche-o
com a fita. Pendure-o no teto ou telhado da casa. No
Oriente usam-se ovos de avestruz e, no Ocidente, de
galinha.

ADIVINHAÇÃO PARA CONHECER O FUTURO MARIDO

A Bruxa de Évora fazia adivinhações com claras
de ovos para ver em sonhos o rosto do homem com
quem a consulente ia casar. Essa adivinhação é feita
na Quinta-feira Santa.

MATERIAL:

Um copo

Dois ovos que tenham sido postos na Quaresma

Quebre os ovos, tendo o cuidado de só deixar
as claras caírem dentro do copo, e diga o seguinte


"Doce Santa Inês, mandai depressa um homem
para eu me casar, pela força deste dia e destes ovos
postos no dia santo. Espero vê-lo ainda esta noite."

À noite, quando for dormir, você verá o seu
amado nos seus sonhos.
Jogue as gemas fora ou aproveite para fazer
com elas algum quitute.
No dia seguinte, despache as claras em água
corrente.

FEITIÇO COM Ovos TARA CASAR

MATERIAL:

Dois ovos cozidos (sem descascar)
Sal

Reze os ovos em louvor a Santa Inês:

"Doce Santa Inês, trabalhai depressa que eu
quero me casar com um bom homem. Espero vê-lo em
sonho ainda esta noite."

Em seguida, coma os ovos com sal, guardando
as cascas até ter seu desejo realizado.

REMÉDIO CONTRA VERMES

MATERIAL:

Uma xícara de leite de cabra
Uma colher (sopa) de farinha de trigo
Três dentes de alho
Sal
Uma panelinha, uma colher
Misture a farinha, o leite e uma pitada de sal

na panela. Leve ao fogo para fazer um mingau. Deixe


esfriar um pouco e junte o alho. Dê para o doente comer.
Enquanto ele come, recite a seguinte reza:

"Vermespassem para o leite,
Do leite para o alho,
do alho para a água,
da água para o vampiro
que eu amarrei com uma corda
de seis palmos de comprimento.'"

TRABALHO PARA TIRAR ENCOSTO

Um poderoso trabalho da Bruxa de Évora era
para retirar o mau das pessoas.

MATERIAL:

Sete dentes de alho
Socador de alho
Um pedaço de fio vermelho


Soque o alho, fazendo um suco. Passe-o na pessoa
doente de malefício. Em seguida, com um fio vermelho,
amarrare seus pulsos juntos, enquanto canta:

"Que todo o mal saia para o fio,
que fique neste vermelho fio
que jogarei no riacho mais próximo.
Que a sua água
salte sobre o vampiro
e que ele morra rapidamente."

Em seguida, desate o fio e despache como foi
dito na reza.


BANHO DE ROSAS PARA ENCONTROS DE AMOR

Este feitiço deve ser feito no dia 31 de outubro,
dia do Halloween (dia das Bruxas).

MATERIAL:

Sete rosas vermelhas
Uma panela com água
Açúcar
Um papel branco virgem
Lápis ou caneta


Coloque as rosas vermelhas na panela com
água e leve ao fogo. Assim que começar a ferver, retire
a panela do fogo. Tampe-a e deixe em infusão durante
cinco minutos. Em seguida, coe o chá, pensando na
pessoa amada. Se o chá borbulhar só um pouquinho,
você não é amado(a). Se borbulhar bastante, você é
amado(a) profundamente. Use então o chá para tomar
um banho.

Se nenhuma bolha se formar, jogue o chá fora.
Escreva no papel o seu nome e o da pessoa amada.
Cubra com açúcar e guarde até o próximo Halloween,
para atrair a pessoa amada.

TRABALHO PARA AMORES, COM SÁLVIA E TÍLIA

MATERIAL:

Uma folha de sálvia
Um vidrinho de essência de tília
Um papel branco virgem


Lápis ou caneta
Um cadarço de sapato de um dos dois amantes

Escreva no papel os nomes das duas pessoas.
Coloque por cima a folha de sálvia. Borrife o perfume.
Amarre tudo com o cadarço. Depois fale assim:

"Assim como as abelhas são atraídas pelo aroma
da sálvia e da tília, seu coração é atraído pelo meu. "

Guarde esse amuleto em lugar seguro.

TRABALHO PARA ENCONTRAR UM AMOR

MATERIAL:

Um novelo de lã azul
Um par de agulhas de tricô
Um pedaço de papel branco virgem
Lápis ou caneta

Tricote uma tira estreita e comprida com a lã.
Escreva no papel o nome da pessoa que sonha encontrar
ou o tipo de quem deseja ter como marido e amarre
com essa tira, dizendo assim:

"Este nó eu amarro, este nó eu tricoto,
Por aquele amor sereno que ainda não conheço.
Assim fez a Bruxa de Évora, assim farei eu. "
Guardar o feitiço em lugar seguro.

REZA PARA FECHAR o CORPO

As bruxas antigas fechavam o corpo de seus
amigos e adeptos, usando uma reza como a seguinte,
encontrada em um pergaminho antigo:


"Gire, gire, gire, seja, seja muito presente. O
mal não virá a você. Seja lindo, brincalhão e bom, proteja
os animais. Seu patrão não o poderá ferir.

Ninguém o matará, nem com pau, nem com
ferro, nem com erva venenosa. Seu corpo está protegido
contra mordida de cobra e olhos invejosos. Sempre,
sempre, você estará protegido. Estrume de cabra,
leve embora o mal. Dos pés, dos olhos, das orelhas, e
que não tenha fome jamais. A deusa da terra o tomará
por protegido. Que seus cães não morram. E que o

ventre de sua mulher se encha de filhos. Por três ca


deias e três fadas melusinas."

RITO PARA TIRAR O MAU-OLHADO

Esse encanto foi ensinado pela Bruxa de Évora
para quando alguém anda com mau-olhado, com calafrios
no corpo, que são sinais de feitiço.

MATERIAL:

Dois ovos de galinha

Pegue um ovo em cada mão e passe-o pelo corpo.
Depois jogue os ovos no chão, um de cada vez e,
ao quebrá-los, quebramos o encanto do olho mau.

REZA CONTRA PERIGOS

"Eu corto linha, eu corto feitiço, eu corto língua
de falador. Eu corto inveja, ou coisa arriada, ou
coisa feita. Sou filha da natureza, a mãe de toda criatura,
e tenho a sabedoria dessa grande mãe."


TRABALHO PARA OBTER RIQUEZA

MATERIAL:

Um vaso de barro para plantas, de bom tamanho
Terra preta para jardinagem
Uma porção de sal grosso
Sete moedas
Um pedaço de papel branco virgem
Lápis ou caneta

Faça o trabalho em um dia de lua cheia. Escreva
no papel o seu nome (de quem deseja enriquecer
pela magia). Arrume dentro do vaso a terra, o sal, as
moedas e o papel; enterre-o. Desenterre no dia seguinte,
limpe bem o vaso pelo lado de fora (sem mexer no
conteúdo) e guarde-o entre seus pertences. E o vaso
da fortuna.

BRUXEDO SULTANITH

MATERIAL:

Sete maçãs

Um vidrinho de mel

Sete moedas de cobre

Um prato de louça branco

Uma faca comum

Corte as maçãs em pedaços. Arrume no prato,
cubra com o mel e enfeite com as moedas. Ofereça à


Sultana dona das sete luas, entregando em um jardim
ou em uma praça bem bonita, com bastante vegetação.


PINGENTE PARA O AMOR

MATERIAL:

Uma pedra vermelha (de qualquer tipo)
Fio de cobre
Alicates de artesanato (de corte e de ponta)
Um pedaço de papel vermelho virgem
Lápis ou caneta

Escreva no papel o nome do seu amor.

Corte dois pedaços do fio de cobre que possam
envolver a pedra, com uma boa folga. Disponha
os dois fios em cruz e torça-os na junção, de modo a
prendê-los um no outro.

Coloque sobre o cruzamento dos fios o papel
com a pedra por cima. Envergue os quatro segmentos
de fio sobre a pedra, ajustando-os bem. Torça as pontas
no alto, de modo a prender a pedra entre os fios.
Com a sobra dos fios, faça uma alça firme. Pendure no
batente da porta da sua casa.

MAGIA DE LIBERTAÇÃO

MATERIAL:

Um pão doce bem bonito

Um copo com vinho tinto doce


Pegue o pão doce e o copo de vinho. Reze sete
vezes a reza da libertação do medo:

"Não temo nada, pois sou uma boa pessoa, não
temo meu senhor que domina o castelo pois ele precisa
de mim para que eu plante, e não temo o diabo porque
ele vem fraco e alegre na Festa dos Tolos."

Entregue o pão doce e o vinho para os bons espíritos,
em um jardim ou em uma praça com árvores.

POÇÕES DE CURA DOS FEITICEIROS

A Bruxa de Évora conhecia muitas plantas
medicinais. Com elas, preparava remédios para os
doentes que a procuravam.

Com as raízes da azedinha ela curava catarros.

Com uma tisana de raízes de alteia fazia com


pressas para doenças da pele.
Com a lípia fazia digestivos.
Com a farfara curava a tosse teimosa.
Usava genciana para as mulheres e seus males.
Com o sabugueiro curava o fígado.
Com a valeriana acalmava os nervos e fazia os

homens mais ativos.
Com a mandrágora, raiz com forma humana,

ela fazia feitiços de casório, de amor e perdição.
Com a romã curava a garganta.
Com vinho e ervas levantava o moral dos ve


lhos.


INVOCAÇÃO ÀS ALMAS SANTAS BENDITAS

O português sempre acreditou em almas, penadas
ou santas. E a invocação das almas era feita nas
igrejas, quando estavam vazias; acreditava-se muito
no efeito dessas magias.

"O almas, venham nos ajudar

Na fé de São Valentim

Venham nos ajudar

Na fé de São Tirso

E de São Senhor de Ravena

Venham nos ajudar."

Era no tempo de el-Rei, de mouros enfeitiçados,
odaliscas, padres encapuzados, mouras tortas, o
tempo da nossa bruxa...

VELHOS FEITIÇOS MEDIEVAIS

A Bruxa de Évora procurava se proteger dos
males e perigos do seu tempo, usando todos os recursos
em que o povo da época acreditava. Peregrinos lhe
traziam relíquias de santos que ela escondia em seu
armário de madeira fechado a sete chaves. Em agradecimento,
ela fechava seus corpos, cruzando-os com
sangue de morcego. Outras vezes, misturava sangue
de morcego com farinha e sal, assando como massa de
pão. Com esse pão, ela fechava o corpo das pessoas
contra a peste, que era muito comum na Europa medieval;
a peste negra, por exemplo, matou metade dos
moradores da Europa. Assim os diabinhos, as bruxas,
os duendes, eram muito invocados contra a peste, além
das orações a São Sebastião.


O morcego não servia apenas contra embruxamentos,
mas também para outras magias. Uma muito
usada pela Bruxa de Évora era o amuleto. Dizia ela
que, quem quisesse ficar invisível, deveria carregar
consigo um olho de morcego; quem quisesse ficar rico,
deveria carregar o coração de um morcego.

Crenças medievais guardadas em manuscritos
velhos... parte de nosso passado mágico e encantado...

AMULETOS PARA AFASTAR AVES E BRUXAS

A codorna era conhecida na Idade Média como
ave do diabo. A ela eram atribuídas propriedades diabólicas.
Acreditava-se que as bruxas apareciam durante

o dia como codornas e, à noite, comiam todo o milho.
Para mantê-las afastadas das suas plantações e de suas
caminhadas aos locais santos, os camponeses e os peregrinos
colocavam na bolsa de viagem penas de uma
galinha preta que nunca tivesse posto ovos. Esta superstição
existia em Évora e as pessoas escondiam em
casa penas de galinha preta que nunca houvesse posto
ovos, para afastar a bruxa.
REZA PARA OS PORCOS CRESCEREM

Um feitiço muito usado em Portugal e ensinado
pela Bruxa de Évora era certeiro para garantir o crescimento
dos porcos. Basta misturar um pouco de carvão
em pó em sua ração e dizer as seguintes palavras:

"Não deixes que os espíritos maus
comam a tua comida


olhos maus te vêem
e aqui perecerão
e tu os comerás."


PROTEÇÃO DO GADO CONTRA DOENÇAS

Quando o gado adoecia, vinham peregrinos de
longe a Évora. A bruxa lhes ensinava assim: pegue duas
codornas; mate uma e deixe voar a outra. Mas, antes
de soltar esta, respingue-a com o sangue da outra. Com

o sangue que sobrou, molhe um pouco da forragem,
que é dada para o gado comer. Diga estas palavras:
"O que houver no lugar mal em ti gado desapareça.
Aqui não é o lugar do malvado.
Que a doença desapareça.
Gado branco, gado preto, ou malhado
fique forte comigo
e o mal desapareça."

PARA VER FEITICEIROS

O povo de Évora dizia que, se um homem entrasse
numa igreja com um ovo nas mãos no dia de Páscoa,
reconheceria todos os feiticeiros que estivessem ali.
Por isso diziam que a bruxa nunca ia lá nesse dia.

PARA VER UMA BRUXA

É uma crença antiga que, se alguém quiser ver
uma mulher voando em uma vassoura, pegue um ovo


posto na Quinta-feira Santa e vá a uma encruzilhada.
Tem de ser de quatro ruas (aberta). Fique na encruzilhada
à meia-noite e verá a feiticeira numa vassoura
rodando, rodando...

TRABALHO NO CATIMBÓ PARA UM

BOM RELACIONAMENTO FAMILIAR

Da Bruxa de Évora vem uma receita certeira
para conseguir um bom relacionamento familiar, quando
a família anda brigando, sem bom entendimento.

MATERIAL:

Um aipim
Palitos de palmeira
Azeite-doce
Um prato de papel ou de louça branco

CozinhE o aipim. Coloque no prato, espete
com os galhos de palmeira e regue com azeite. Ofereça
no mato ao dono das estradas. No catimbó usa-se a
palmeira catolé, mas pode-se usar qualquer palito.

TRABALHOS PARA CASAMENTO NO CATIMBÓ

As superstições e os trabalhos para casamento
são o que existe em maior porcentagem no mundo. São
incontáveis, universais e delicados. Os santos casamenteiros,
São João, Santo Antônio, Nossa Senhora de
Lourdes, São Cipriano, São Benedito, São Pedro (protetor
das viúvas), têm milhares de fórmulas para que

o devoto se sinta amado.

A Bruxa de Portugal, acostada num mestre de
catimbó, contou o seguinte: quem quiser casar, deve
prender um alfinete num vestido de noiva e invocar
as forças do amor.

Outro trabalho de catimbó é pôr em sua cabeça
a grinalda de flores de uma noiva; isto fará com que
você se case logo.

Também é bom escrever o nome da namorada
num papel e prender por dentro do sapato do rapaz,
dizem os mestres com seus cachimbos de barro e fumo
de tauari.

Para que o casamento dê certo, o noivo não
deve tocar objeto algum que a noiva vá usar na festa
das núpcias.

Outra crença catimbozeira é que, se um dos
noivos tropeçar na porta da igreja, morrerá antes do
outro.

EMBRUXAMENTO DO CHAPÉU NO CATIMBÓ

Em magia, o chapéu representa a criatura humana;
é a cabeça, a sede da razão. No tempo da Colônia,
andar sem chapéu era andar sem cabeça. Contam
que a Bruxa de Évora, acostada num mestre de fumaça,
ensinou este embruxamento:

"Quem quiser dominar a mente de um homem
e que ele a ame, pegue seu chapéu e molhe com água
com açúcar numa noite de sexta-feira de lua cheia."


TRABALHO NO CATIMBÓ PARA AMANSAR MARIDO

A bruxa assim ensina, acostada numa mestra
de fumaça para a direita (para o bem):

"Faça uma bebida desmanchando e deixando
estufar um pouco de farinha de mandioca em água limpa.
É bebida refrescante e gostosa e, ao se mexer com
os dedos chamando o nome do marido mandão por
três vezes, três vezes mais manso ele ficará."

COMO A BRUXA CURA GAGUEIRA NO CATIMBÓ

Bata com uma colher de pau, por três vezes,
na cabeça do gago e diga:

"Salve a bruxa milagrosa!"

As REZADEIRAS DO SERTÃO E AS

PODEROSAS REZAS DA BRUXA

Uma rezadeira é uma mulher santa, aparadora
de meninos, raizeira, curadora, que todos no sertão têm
como amiga permanente. Ela tem o dom, é uma predestinada.
Não lembra em nada uma mãe-de-santo,
pois não usa roupas especiais, nem tem filhos-de-santo.
Ela é um livro de fábulas vivo, sabe coisas que nem

o diabo sabe... E doutora sem cartola, sem anel nem
diploma. Cura com raízes, cascas de pau, ervas e melaço;
faz secar cobreiros ou asma; repreende espíritos
maus. Muitas vezes é catimbozeira, recebe seu mestre,
caboclo ou índio, dentre eles: Mestre Carlos, Rei

Herom, Zé Pelintra, Xaramundi. É de Maria do Ó, uma
das mestras, que vem esta receita e reza para afastar
mau-olhado bravo.

"Com três te botaram o olho mau,

Três espinhos te enfiaram, inveja, tremura e
amarelão,
Com três eu te tiro dessa aflição,
Na força da Bruxa de Évora
Eu abro o portão onde mora Arcangel e São

Cipriano
E fecho a porta do Cão.
Xispa, Tinhoso!"



BIBLIOGRAFIA

BROOKESMITH, PETER. Seres fantásticos e misteriosos. Círculo
do Livro, 1984.
JONES, EVAN; VALIENTE, DOREEN. Feitiçaria, a tradição renovada.
Bertrand Brasil, 1998.
EVÊQUE. Costume of Portugal. London, 1814.
FARELLI, MARIA HELENA. Rituais secretos de magia negra e
do candomblé, 6a ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1999.
HUIZINGA. O declínio da idade Média. Universidade de São
Paulo, 1987.
LE BON, GUSTAVE. A civilização árabe. Paraná Cultural.
CASCUDO, LUÍS DA CÂMARA. Dicionário de folclore brasileiro.
Rio de Janeiro, Edições de Ouro, s/d.
ARAÚJO, ALCEU MAYNARD. Folclore nacional.
FARELLI, ANA LÚCIA. Iemanjá e o complexo mundo da Grande
Mãe. Rio de Janeiro, Eco, s/d.




A Bruxa de Évora - Maria Helena Farelli


 
(links no final da pág.)


 



Sinopse:

Era uma vez a poderosa Bruxa de Évora que conquistou e aterrorizou gerações de corações luso-brasileiros por séculos e que possuía um caderno completamente abarrotado de poções, feitiços, bruxedos, encantamentos, banhos, rezas etc. Sua fama singrou barreiras cronológicas e físicas e aportou no Brasil com os navegantes portugueses... Sua magia criou raízes e ramificações se entrelaçando com as religiões ameríndias...

Se você quiser saber mais sobre a Bruxa de Évora, leia atentamente as páginas deste livro e descubra como resolver seus problemas.

 


Links:

Boa leitura
Abraços.

M. Loureiro

http://www.manuloureiro.blogspot.com/
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http://www.romancesdeepoca-loureiro.blogspot.com/ 
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"Tudo aquilo que não podemos incluir dentro da moldura estreita de nossa compreensão, nós rejeitamos."

Henry Miller





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