segunda-feira, 9 de abril de 2012 By: Fred

{clube-do-e-livro} COMO ENSINAR O ALUNO CEGO.TXT

Nota: Este livro foi digitalizado por Suzi Belarmino em julho de 2003 e
sua distribuição gratuita e exclusiva para deficientes visuais se ancor
a
na lei brasileira de direitos autorais.

Título do Original em Alemão:
Wie erziehe ich mein blindes Kind?
Editora:
Verein zur Fijrderung der Blindenbildung e. V. Hannover - Kirchrode - 1965
2.a edição
Edição de 1.000 exemplares conforme autorização concedida pelo auto
r a Fundação para o Livro do Cego no Brasil.
WILHELM HEIMERS
COMO DEVO EDUCAR MEU FILHO CEGO?
Um guia para a educação de crianças cegas e de visão prejudicada.
Tradução e edição patrocinada pela Campanha
Nacional de Educação dos Cegos do Ministério da
Educação e Cultura (Proibida a reprodução sob
qualquer forma)
Tradutor: Huberto Schoenfeldt
Dezembro de 1970
São Paulo - Brasil
PREFÁCIO PARA A PRIMEIRA EDIÇÃO
Onde quer que haja crianças de vista prejudicada em idade escolar estas f
reqüentemente não possuem a maturidade física, espiritual e psíquic
a que sua educação exige,
devido a um preparo insuficiente desde a sua tenra infância. De duas uma,
ou essas crianças foram excessivamente mimadas e superprotegidas, ou aba
ndonadas à sua
própria sorte, num desleixo absoluto. Por mais eficiente que seja a escol
a profissional para os cegos, as omissões da infância não podem ser r
ecuperadas. Por isto
cabe-nos cuidar da educação da criança cega a partir do seu primeiro
dia de vida.
Tratamos neste livro da educação adequada no lar, dando conselhos às
mães, aos pais e irmãos, pessoas dedicadas à educação dos cegos e
a todos aqueles em fim que
lidam com os cegos em geral.
Desejamos que o nosso trabalho torne realidade a convicção de todos os
amigos das pessoas cegas; que a infância bem aproveitada leve a nossa juv
entude cega à
plenitude
da vida e antes de tudo à sua plena equiparação aos videntes.
O AUTOR
PREFÁCIO PARA A SEGUNDA EDIÇÃO
A publicação desta obra foi entusiasticamente recebida por instituiç
ões particulares e oficiais, organizações, médicos, pedagogos e pri
ncipalmente pelos pais das
crianças cegas.
Para as mães das mais variadas procedências, este livro constitui um gu
ia e um consolo. A imprensa acolheu este trabalho como um fator que preench
eu uma lacuna de
há muito existente no campo da educação dos cegos.
Experiências novas, novos métodos e ensinamentos foram incluídos nest
a segunda edição, ampliando assim o seu valor didático e educacional.
Minha gratidão se estende
ao Ministro do Interior do Governo de Boon, à Associação Alemã dos
Cegos em Bad Godesberg e tantas outras instituições que providenciaram
a distribuição gratuita
do trabalho aos pais de crianças cegas.
Esperamos, por isto, que este livrinho na sua segunda edição ampliada,
ajude todos aqueles que se dedicam à educação das crianças cegas ou
que têm visão residual,
mostrando-lhe novos caminhos e abrindo-lhes novos horizontes.
WILHELM HEIMERS.
O SENTIDO DA NOSSA VIDA
Não vejo a mutação dos tempos,
vejo em mim a eternidade,
o valor constante na inconstância.
A noite se uniu ao dia para que este,
dádiva da luz,
não se esqueça e se lembre do sol.
Não vedes em nós o sofrimento que abate,
igual à luz somos uma força viva
na luta que o destino nos impôs.
Quando vivemos o mundo se torna belo,
quando vivemos a primavera prevalece.
Perguntamos à noite: somos verdadeiros,
ricos assim que a vida nos abraça,
entoando seu canto para os cegos também?
A vida em comum é nosso consolo,
A vida nos confirma quando nós a afirmamos,
e não há humanidade sem nós.
Nascemos cegos sem culpa,
como há videntes sem culpa.
Enquanto lutamos a vida nos ama,
a luz não pergunta
a luz não rejeita,
e das trevas de uma noite infinda
surge a vida - o cego desperta.
DH. ALEXANDER REUSS (Cego de infância)
QUERIDA MÃE:
"O sagrado em ti apela ao sagrado em teu filho."
Jean Paul
Logo após o nascimento do teu filho ou talvez depois de muitos meses de
angustiosa espera o oculista que cuida da vista do teu filho descobre que
o mesmo é cego
ou que sua visão é altamente prejudicada. A alegria que inundou tua alm
a com o nascimento do filho se transforma numa angústia sem fim. Estás
triste, desanimada
sem defesa diante da cegueira do teu filho.
A vida de uma pessoa cega é árdua e espinhosa. As belezas deste mundo
, o firmamento estrelado, a abundância de cores com que a natureza se enf
eita, e que deslumbram
nossa vista não existem para ele. Seu futuro econômico parece seriament
e prejudicado.
De nada adianta perguntar "porque" querendo desvendar o mistério de um
destino cruel. Não te deixe perturbar tampouco por uma ou outra observa
ção indelicada feita
por terceiros, e que servem apenas para perturbar a quietude e a paz do teu
lar. Aceita teu filho assim como ele é, não te envergonhes da cegueira
do teu filho.
Transforme tua angústia, teu desespero em algo de positivo, aceite o de
safio que o destino te lançou. Teu filho cego precisa do teu amor, do teu
carinho, em grau
muito maior do que qualquer criança normal. Assiste-lhe o mesmo direito d
e proteção e de convívio no teu lar. Mas, se insistes ainda em pergun
tar "porque" encontrarás
a resposta na Escrita Sagrada: "Este homem não é cego por ter pecado ou
porque seus pais pecaram, mas para revelar as obras de Deus".
Desde o primeiro dia da sua vida, tu poderás aliviar a existência do te
u filho privado da visão. Cabe a ti não transformar um defeito orgâni
co numa tragédia. Lembre-te
sempre que:
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NÃO É A CEGUEIRA EM SI MAS A EDUCAÇÃO INADEQUADA, O DESLEIXO FÍSI
CO E PSÍQUICO QUE ESTABELECEM AS BARREIRAS INTRANSPONÍVEIS PARA A EDUCA
ÇÃO DOS CEGOS E SEU PROGRESSO
NA ESCOLA.
A educação inadequada no seio da família é a fonte de muitos sofrim
entos futuros. Cabe-lhe, pois, como mãe, o dever de arcar com tão pesad
a responsabilidade. Quero
ser teu guia e orientador nessa tarefa penosa.
Atente às minhas palavras, sem reticências.
Aqui fala um homem que por mais de quarenta anos se dedica à educação
e ensino dos cegos e que se sente intimamente ligado aos seus problemas. T
enha confiança em
mim, pois quero teu bem e o do teu filho.
Muitas alegrias íntimas te serão reservadas ao educar adequadamente teu
filho cego. Somente o coração sabe enxergar direito. Não desanimes f
rente à uma tarefa tão
pesada, não desista. Tenha paciência e cada vez mais paciência, morme
nte se teu filho tem ainda, outro defeito físico.
Contribue para que teu filho aceite a vida, que se torne um homem respons
ável e independente no convívio dos demais. Não te iludas com a idé
ia de que ele talvez
mais tarde recuperará a vista e que todos os esforços dispendidos são
inúteis. Peça a Deus que ele te dê a força para desincumbir-te do
dever que ele te confiou.
A experiência nos ensina que raras vezes, uma pessoa cega ou com visão
parcial recupera a vista em sua totalidade. Mas, mesmo que assim fosse, a c
riança estaria
seriamente prejudicada por uma educação errônea recebida nos seus pri
meiros anos de vida.
Ânimo e persistência é o que te deseja para a educação do teu fil
ho.
o AUTOR
Hannover, janeiro, de 1965.
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CONSELHOS BÁSICOS PARA A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA CEGA
"Mais perto ao meu coração neste mundo
são as crianças .
J. W. V. Goethe
Com exceção da vista a criança cega recém-nascida não se distingu
e em nada das outras crianças. Tudo que diz respeito aos cuidados a serem
dispensados ao bebê se
aplicam também ao nenê cego, desde o primeiro dia da sua existência.
Não se torna por isto necessário entrar em detalhes a respeito. A educa
ção não difere em nada
da educação das crianças normais.
Nos primeiros dias e semanas quando a criança que enxerga absorve inconsc
ientemente os efeitos da luz, a visão propriamente dita não entra em a
ção ainda. Não há
pois diferença entre um bebê que vê e o que não vê. Mas quando a
criança começa a tomar consciência do mundo que a rodeia através do
ouvido e da visão, a educação
especial da criança deficiente visual se inicia. Inicia-se o desafio que
se prolongará por muito tempo, exigindo coragem e paciência. A falta da
vista, através da
qual o ser humano absorve a maioria das impressões sensoriais, cria obst
áculos e inibições. A privação desse sentido e suas conseqüên
cias fazem com que outros caminhos
sejam trilhados para integrar a criança cega na comunidade e na adaptaç
ão à vivência ambiental.
A falta da vista deverá ser equilibrada por medidas planejadas, que se ba
seiam no uso adequado dos outros sentidos: ouvido, tato, paladar e olfato.
A criança cega demorará mais tempo para sentar-se, andar e correr. A ma
ioria dos bebês cegos não engatinham. A aprendizagem da fala é um pro
cesso mais lento.
De início essas diferenças na evolução se distinguem dificilmente.
A primeira manifestação se nota quando o bebê
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começa a virar a cabeça. Na idade de três a quatro semanas notamos qu
e um bebê sente-se atraído pela luz de uma vela. Quando deitado de bru
ços o bebê levanta a
cabeça para poder ver.
O bebê estica os braços para pegar o chocalho pendurado no seu berço,
e percebe que, batendo nele, produz um som. Começa a distinguir os rosto
s e a sorrir quando
olha para sua mãe, etc. O bebê cego não distingue nada disto, ou o di
stingue de um modo diferente. Não enxerga objetos que provocam movimentos
, não vê o chocalho
pendurado no berço, a cortina - impelida pela brisa - que gostaria de seg
urar. Os sons que ele ouve não são palpáveis, uma voz que se cala se
perde num vácuo. O
bebê
cego brinca menos que os outros. Cansa-se depressa e não os integra no se
u mundo restrito.
O atraso que se manifesta cresce à medida em que o espaço vital aumenta
.. A criança que vê movimenta-se involuntariamente, sua curiosidade
é despertada. Quando
vê um objeto bonito e desconhecido ele quer tê-lo e examiná-lo. Tenta
apanhar o objeto, engatinha ou corre para apanhá-lo. Aprende o que são
os objetos e como pegá-los.
Aprende a distinguir os objetos perigosos e que lhe podem causar danos. A c
riança cega carece de motivação para mover-se. Sem ajuda ela não de
scobrirá aquilo que
a criança que vê aprende brincando. Não tendo os estímulos necess
ários, seu desenvolvimento se processará mais lentamente. Às vezes se
ntirá medo do ambiente
em que vive. A falta de movimento na primeira infância resulta numa certa
rigidez de comportamento e movimento nos anos futuros. A criança torna-s
e apática, desajeitada
e dependente. Será difícil recuperar o atraso dos primeiros anos de vid
a. Junto com os demais membros da família a mãe não deve poupar esfor
ços para provocar
a reação e a atividade da sua criança cega, sempre que a oportunidade
se oferece. Na seqüência deste livro aprenderemos os meios adequados p
ara estimular essas atividades.
O fato de ser cego reduz as dimensões do mundo. De início isto signific
a nada. A criança cega tampouco saberá
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tirar pleno proveito dos seus brinquedos. Uma criança que vê, maltrata
seu urso de pelúcia, bate nele, joga-o no chão, apanha-o de novo. A cri
ança cega não sabe
nada disto, embora devesse procurar um objeto que atira para longe, falta-l
he o estímulo para fazê-lo, pois resultaria em nada. Ela desanima e des
iste, e correndo
o risco de perder seu brinquedo a criança desiste de usá-lo.
A criança que vê é mais móvel. Faz toda sorte de movimentos, bate c
om as pernas, agacha-se para olhar o mundo através das suas pernas. A cri
ança cega fica imóvel,
parece perturbada e a mãe se pergunta se ela é normal ou não. Será
que todas as crianças cegas procedem assim? A criança movimenta a cabe
ça, faz caretas, enfia os
dedos na vista, balança com a parte superior do corpo, etc. Como seu mund
o é mais reduzido do que o da criança que vê, ela possui menos recurs
os, e se
distrai menos.
Ela vive num mundo mais isolado e os contatos com pessoas e objetos são r
eduzidos. É fácil de se compreender que uma criança assim conserva se
u método de brincar
primário, brincando com seus membros sem nenhuma motivação provenient
e do mundo exterior. Isto lhe dá um sentimento de segurança. A crianç
a não se machuca, nem perde
seu brinquedo, e os movimentos rítmicos que executa lhe proporcionam uma
sensação agradável. Se a mãe não se empenha em tirar a criança
dessa atitude apática, esta
permanecerá através dos anos.
Todas as impressões sensoriais transmitidas à criança devem correspon
der à sua escala de desenvolvimento. A criança deve compreendê-los, d
eve assimilá-los, senão
elas perdem seu valor. Essas impressões sensoriais são provocadas pelas
tarefas apropriadas à idade da criança.
Essas tarefas nem sempre são fáceis de resolver, custam muito esforço
, muitas tentativas e às vezes a solução parece impossível. Não p
erca a paciência, não grite
ou repreenda a criança. Não fique furiosa, seja paciente e calma. Fale
com ternura e amor ao seu filho, que é parte do seu corpo. Como a planta
requer luz e calor,
a criança exige amor e ternura.
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O menor sucesso ou progresso deve ser louvado. Assim a criança não corr
e o risco de ter sentimentos de inferioridade. Você fortalecerá sua aut
o-confiança. Você
lhe dá coragem para tentar solucionar outras tarefas ou problemas mais di
fíceis. Sob os seus cuidados constantes a criança crescerá fisicament
e, mentalmente e psiquicamente.
No seu aspecto exterior, nos seus movimentos e atitudes ela se assemelhar
á cada vez mais à criança que vê, perdendo gestos ou atitudes acanh
ados e inibidos. O espírito
e a alma formarão a imagem do seu mundo em suas várias manifestaçõe
s. Assim seu filho se desenvolverá harmônicamente como ser humano, ness
a trindade: corpo-espírito-alma.
Quando os sentidos assim despertados levam à vivência interior, a crian
ça cega atinge a plenitude da sua capacidade de assimilar alegria e de do
minar sua vida.
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A CRIANÇA CEGA NO LAR
Assim como o sol se abriga em cada flor, o semblante de Deus se abriga em c
ada criança.
(Provérbio)
A criança no seu primeiro ano de vida
Como já o dissemos de início, a educação da criança cega começa
nos primeiros dias da sua existência. O intelecto de cada criança abri
ga dons e capacidades, que
precisam apenas de um impulso para desabrochar. Como todos os estímulos v
isuais são inexistentes, o ouvido, o tato e olfato devem ser desenvolvido
s ao máximo.
Assim as forças incipientes da inteligência se desenvolverão num solo
fértil. A sensação nos lábios é geralmente bem desenvolvida nos
recém-nascidos. Apalpa todos
os objetos que entram em contato com os lábios. Por isto os brinquedos de
vem ser rigorosamente limpos.
Estímulos sensoriais exteriores, quando desagradáveis,
são registrados com berros. Se a criança não pode perceber visualment
e o rosto amoroso da mãe, nem por isto ela deverá carecer do amor mater
no. Faça com que ela
ouça teu amor já que não pode ver suas manifestações.
O tom de sua voz acende uma luz interior que é mais forte do que aquela q
ue ela percebe com a vista.
Nem só a mãe, mas também o pai e os irmãos devem aprender a convive
r com a criança cega. Ela se acostumará a diferenciá-los pelo som da
voz. Por meio desses estímulos
os membros da família lhe oferecem a oportunidade de desenvolver-se pelo
esforço próprio e a combater o tédio.
Desde o berço as pequenas mãos que procuram tudo devem ter ao seu alcan
ce um vasto campo de ação.
O bebê satisfaz-se de início com seus próprios dedos. Dê-lhe em seg
uida o seu lenço para segurar. Quando se trata de
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brinquedo dê-lhe algo que aguce o ouvido e fortalece as mãos. Não re
ceie que a criança se machuque.
Como brinquedo podemos recomendar:
um pedaço de pano claro pendurado sobre o berço.
um chocalho em cores vivas.
uma boneca de borracha que emite sons.
uma campainha de metal com um anel de plástico.
cubos de borracha com uma campainha no seu bojo
anéis de plástico que pode morder.
animais que nadam e pequenas campainhas.
Não dê sempre o mesmo brinquedo, tenha uma variedade deles a mão. Qua
ndo a criança cega atinge a idade de nove meses dê-lhe alguns brinquedo
s simultaneamente. Assim,
você a obriga a fazer sua escolha. Ela deve aprender a tomar uma decisã
o. Na vida de uma pessoa cega este exercício de tomar uma decisão é m
uito importante. A criança,
mesmo cega, terá seu brinquedo predileto, e não o largará ao adormece
r. Deixe-a a vontade. É melhor ter seu brinquedo do que chupar e deformar
o dedo ou prejudicar
a dentição. Embora você não se anime a sair com seu filho cego, lev
e-o freqüentemente a passeios ao ar livre e puro. As impressões auditiv
as que a criança receberá
são múltiplas e embora não as diferencie de início esses ruídos c
onstituem um estímulo. Já nessa idade é essencial tirar a criança d
o marasmo e da preguiça.
Nos últimos meses do primeiro ano a criança cega, assim como as demais
crianças, deve ser posta no chão para engatinhar. Deixe que ela faça
suas descobertas por
iniciativa própria. Anime-a. A criança começará a assimilar muitas
impressões. Assim como a criança que vê se delicia em abrir caixas e
gavetas explorando seu conteúdo,
também a criança cega deve experimentar a alegria de descobrir alguma c
oisa. Dê-lhe alguns objetos ou brinquedos reunidos numa caixa para que el
a se divirta.
Ao engatinhar a criança aguça seus sentidos. Ouve o som de um balde vaz
io ou cheio; ao bater nos móveis ela apren
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derá a distinguir a cadeira da mesa, do armário ou da poltrona.
A criança se deixará guiar pelo olfato, o cheiro da cozinha é diferen
te do cheiro do armário, cada quarto tem seu próprio cheiro e a proximi
dade dos objetos faz
com que a criança sinta-se muito mais ligada a eles, do que podemos imagi
nar.
Não permita que seu filho cego fique mofando no seu carrinho de bebê ou
na sua cama.
Ali ele ficará apático, sem vontade de fazer nada. Não aprende a usar
seus sentidos. Se esse estado continua anos a fio o prejuízo causado pod
erá ser enorme. Seria
um crime proceder deste modo. Na idade de engatinhar a criança deve apren
der a usar seus sentidos.
No amor que você dedica ao seu filho, seu coração se tornará invent
ivo e encontrará o caminho para o coração dele. O primeiro sorriso qu
e aflora aos lábios do bebê
lhe dirá que a semente de amor lhe caiu na alma e que um raio de luz pene
trou na escuridão. Aperte-o contra teu coração e faça com que ele s
inta o calor do teu
hálito, repousando no teu regaço. Pegue suas mãozinhas e acaricie com
elas o seu rosto até que ele imite o gesto, manifestando seu amor.
A EDUCAÇÃO CORPORAL DA CRIANÇA
"A geração adulta não se presta muito para assuntos corporais e menta
is; seja sábio e comece com a juventude, e verás que o sucesso virá."
J. W. V. Goethe
Sob o termo "educação corporal" queremos entender antes de tudo a gin
ástica para fortalecer o corpo. A criança cega não pode prescindir de
sse recurso para fortalecer
o corpo, como não pode deixar de cultivar a mente. Prevenir sem
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pre é melhor do que sanar um mal. Exercitar o corpo e os movimentos dos m
embros é por isto imprescindível. A criança, embora inconscientemente
constitui o melhor
e mais grato objeto para esse tipo de exercícios e deixa-se guiar facilme
nte. Como um bebê não pode participar ativamente neste processo, impõ
e-se que:
1. Os movimentos espontâneos sejam transformados em movimentos que favore
cem o fortalecimento do corpo e a digestão;
2. aos movimentos espontâneos se opõem movimentos dirigidos em sentido
contrário, estimulando a resistência.
Assim, provoca-se o movimento muscular que fortalece o organismo todo. A cr
iança com seu instinto inato perceberá logo o bem que isto lhe faz.
De acordo com a posição no ventre materno os músculos do dorso do beb
ê são esticados enquanto os músculos do abdômen são retraídos.
Os exercícios permitirão que
os músculos do dorso se encurtem enquanto os músculos do abdômen se e
stendem automaticamente. Os exercícios indicados até a idade em que a c
riança possa sentar
ereta se limitam à ação sobre a espinha dorsal e o enrijecimento dos
músculos dorsais.
Nos primeiros meses os bebês costumam assumir uma posição de recolhim
ento corporal. Por isto os exercícios devem proporcionar um esticamento d
os membros. É completamente
errônea a crença que os bebês se movimentam o suficiente para prescin
dir de qualquer ginástica e isto se aplica especialmente às crianças
cegas.
Antes de iniciar a ginástica verificar o seguinte:
- se a criança é sã e forte os exercícios podem ser iniciados na id
ade de quatro meses.
- se a criança é fraca de constituição consulte antes um médico,
a ginástica nesse caso se recomenda especialmente.
- suspender os exercícios em caso de doença.
20 O fator mais importante na vida de um bebê é a regularidade, assim o
s exercícios devem ser feitos diariamente na mesma hora e antes do banho
e das refeições.
A criança fará os exercícios despida, num quarto bem arejado e dever
á ser protegida por um cobertor durante os intervalos. Aumente o períod
o dos exercícios paulatinamente
de cinco minutos até quinze minutos ao máximo e não se descuide nunca
do bebê. No fim dos exercícios envolva a criança num cobertor evitan
do o perigo de um resfriado.
Quando a temperatura é amena, recomenda-se fazer os exercícios ao ar li
vre.
Lave bem as mãos antes de tocar no bebê e use um avental branco. Todos
os exercícios são feitos ritmicamente evitando-se movimentos bruscos.
Precisa ter-se especial cuidado com as articulações para evitar qualque
r luxação e os movimentos não devem ser mecânicos. Nunca assuste a
criança com movimentos
bruscos.
Acompanhe todos os movimentos com sons ritmados ou cantando uma canção
infantil para despertar o interesse da criança. O contato estabelecido en
tre mãe e filho é
de grande importância e ajuda.
A ginástica diária bem executada constitui momentos de satisfação p
ara mãe e filho. Os exercícios se compõem de movimentos dos braços,
pernas e pés e exercício do
torso com a criança deitada de bruços. Como exercício preliminar segu
ra-se a criança pelo dedo indicador e em seguida pelo polegar. Existem mu
itos livros especializados
sobre este tema cuja leitura se recomenda. Para uma criança cega recomend
amos antes de tudo os seguintes exercícios:
1. Para fortalecer a articulação dos braços e das mãos, dos múscu
los do abdômen e do peito deite a criança de costas e levante-a devagar
até ficar em posição sentada.
A criança segura suas mãos e você a levanta devagar.
2. Fortalecimento dos músculos dorsais e das coxas. A criança fica deit
ada de bruços com a cabeça encostada de
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lado em situação alternante. Ombros e peito devem ficar bem encostados.
3. As pernas exigem exercícios cuidadosos num ritmo cada vez mais acelera
do, dobrando e esticando-as.
4. Veja que a criança se movimenta na mesa quando deitada de costas ou de
bruços, num movimento imitando a natação a seco.
5. Para fortalecer os pés deixe a criança levantar-se na ponta dos pé
s, como as crianças cegas raramente assumem essa posição naturalmente
, procure um estímulo como
por exemplo uma maçã em cima de um móvel que a criança possa alcan
çar nessa posição.
6. Uma criança cega raras vezes fica de cócoras o que entretanto deve s
er estimulado.
7. Carregue sua criança no colo, de modo que sua cabeça fique na altura
da sua, e que as pernas da criança enlacem a cintura da mãe. Assim est
abelece-se um contato
muito íntimo, face a face.
8. Favoreça exercícios de engatinhar o que é muito importante para o
desenvolvimento corporal. É mais importante engatinhar do que sentar.
9. Movimentos naturais, raros em crianças cegas, devem ser estimulados: e
ngatinhar, deslisar, trepar, saltar, correr, etc. A criança repetirá os
exercícios enquanto
estiver com vontade. Cada criança tem seu exercício favorito que lhe
provoca o riso, e expressões de satisfação. É preferível executar
esses exercícios no começo
ou no fim para que a criança os grave bem na memória e se sinta animada
a executá-los. A criança se acostuma rapidamente à ginástica e adq
uirirá com o tempo um
corpo bem treinado. Tudo vai bem devagar - tenha paciência e não se dei
xe desanimar. Exija sempre um desempenho máximo, de acordo com a idade e
constituição da
criança. Não peque por omissões que poderão resultar em crescimento
ou desenvolvimento retardados.
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Todos esses exercícios visam preparar a criança cega para o futuro jogo
de movimentos.
A CRIANÇA E SUAS NECESSIDADES FISIOLÓGICAS
"A mãe que contempla seu bebê sente-se realizada na certeza de ter cump
rido um dever corporal e espiritual."
(Provérbio)
No primeiro ano da sua existência todas as atenções convergem sobre o
crescimento e fortalecimento do corpo, iniciando-se em seguida a fase de a
ndar, que, de acordo
com a constituição física da criança dar-se-á na mesma idade, tan
to para criança que vê como para a criança cega.
Uma vez que a criança é bastante forte para poder andar e executar outr
os exercícios trate a criança cega de modo igual às demais. A crian
ça cega sofre evidentemente
desvantagens seja por causa de uma superproteção, de uma preocupaçã
o exagerada e muitas vezes por ignorância por parte dos pais que a mant
ém numa dependência infantil.
Mas desde a tenra idade, seus membros devem ser treinados de forma a se con
seguir a independência da criança.
1. Educação para a higiene
A educação para os hábitos de higiene faz parte intrínseca dos cuid
ados corporais. O bebê não exige higiene, sente-se até bem nas suas f
ronhas úmidas. Quando a criança
começa a falar e entender o que se lhe diz, a educação higiênica se
torna eficiente. É preciso explicar à criança o que se exige dela e
a criança deve ser capaz
de manifestar seus desejos fisiológicos, primeiro ao responder uma pergun
ta pertinente, depois por iniciativa própria. A criança não possui ai
nda o controle total
sobre seus músculos e suas reações nem sempre são adequadas.
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É completamente errado deixar a criança sentada a vontade no urinol. Es
te por sua vez deve ser cômodo, e não deve machucar. Para evitar qualqu
er acidente, o urinol
deve ser firmado, adequadamente, numa cadeira com encosto e a criança ser
á segura por um cinto para não cair quando se movimenta.
Nunca castigue seu filho quando este não for "bem sucedido" o que poder
á trazer conseqüências nocivas. Se uma criança sofre uma recaída
em hábitos infantis já superados
não a censure, anime-a a retomar seus bons hábitos.
Não faça promessas de recompensas porque a evacuação deve ser consi
derada pela criança como um ato normal e corriqueiro. Na idade de três
anos manifesta-se na criança
uma repugnância contra mau cheiros, ou sujeira em geral, mormente do pr
óprio corpo e ela esforçar-se-á em manter-se limpa. Há crianças q
ue já na idade de um ano
manifestam seus desejos fisiológicos. Mas se uma criança encontra dific
uldades em manter-se asseada, não se deve admoestá-la ou ridicularizá
-la, pois o que precisa
é desvelo e encorajamento.
2. Aprender a andar
Não carregue a criança nos braços além do tempo necessário. Desde
que a criança fica em pé pelo esforço própírio acostume-a a pres
cindir da tua mão protetora. A
criança cega, como qualquer outra, deve aprender a usar as pernas e movim
entar-se com cuidado. Ela
se agarrará mais do que as outras crianças em móveis, objetos,
ou ao longo das paredes. Faça com que ela siga o tom da tua voz, num quar
to ou num lugar onde não possa cair ou ir de encontro a algum obstáculo
.. Assim, ela aprenderá
a andar sozinha e numa direção certa. Ensine a criança a levantar as
pernas, a firmar os pés, e mostre-lhe como subir e descer uma escada, seg
urando o corrimão.
Tome cuidado especial com a postura do corpo. Já que a criança não po
de ver como os outros se comportam, é importante ensinar-lhe a postura co
rreta, fazendo-a apalpar
o corpo de outra pessoa. Cur
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var-se constitui um movimento natural que a criança aprende quando brinca
no chão. Ao sentar-se numa cadeira faça-a apalpar o assento antes de u
sá-lo para que não
caia.
3. Vestir e despir
Torne a criança o quanto antes independente e comece a ensiná-la bem ce
do na prática de vestir-se e despir-se. Com isto a criança aprende a co
ntrolar seus movimentos
e tornar-se independente. Não perca a paciência ao ensiná-la a execut
ar todos os movimentos necessários, faça com que ela conheça as peç
as do seu vestuário e repita
os movimentos tantas vezes quanto for necessário. A criança precisa ser
treinada, ensinada para que consiga compreender o que está fazendo e par
a familiarizar-se
com sua roupa. Comece pelo mais simples apalpar as meias e os sapatos, faze
r com que eles se ajustem ao corpo, denomine cada peça em separado. A mai
or dificuldade
consiste no abotoar e desabotoar, na formação de um laço, porque lhe
falta o auxílio do espelho.
O lema aqui é: repetir, repetir até que a criança domine todos os mov
imentos, até que conheça peça por peça seu vestuário e saiba como
usá-lo. Isto será um grande
passo vencido no caminho da independência e auto-confiança.
4. Comer e Beber
Também isto precisa ser aprendido, pois a criança cega não pode imita
r nenhum exemplo, desconhece a forma dos talheres e não enxerga a comida
no seu prato. Não ajude
a criança a levar a comida à boca, se ela já sabe fazê-lo sozinha.
Explique-lhe antes o uso dos talheres, a posição da cabeça, os movime
ntos dos dedos e das mãos.
De início a criança usará apenas uma colher, mais tarde aprenderá a
manejar o garfo e a faca.
Para evitar que a comida transborde do prato, sujando a toalha, dê-lhe de
início um prato fundo de sopa ou uma tijela com a borda virada para dent
ro. Ensine-o
o seguinte:
25
1. Apalpar com o garfo a disposição dos alimentos no prato;
2. Juntar as diversas partes com a colher ou inclinar o prato para juntar a
comida;
3. Levar a colher à boca em posição horizontal;
4. Não vir de encontro à colher com a boca;
5. Sentir com os lábios ou a língua se a comida não é quente demais
;
6. Não encher a boca em demasia;
7. Fechar os lábios ao mastigar;
8. Seguir as normas de bom comportamento nas refeições. O manejo de cop
os, taças, pratos, talheres, deve ser leve. Ensine-a a não seguir com a
boca, a posição do
copo. Com o devido cuidado a criança aprenderá a encher um copo sem der
ramar o líquido. Ela poderá orientar-se pelo calor, pela temperatura em
geral, pelo peso
ou ruído que se ouve ao encher um copo, sabendo assim se o mesmo está c
heio ou não.
Acostume a criança desde o começo ao uso comedido da comida e da bebida
..
Muitos enganos se cometem neste terreno permitindo que a "pobre criancinha
cega" sirva-se de guloseimas até dizer chega. Em conseqüência disto a
criança não saberá
mais apreciar a comida boa e normal.
5. A ordem
Cultivar o sentimento de ordem é um mandamento principal para qualquer cr
iança e muito mais ainda para crianças cegas. Ordem e regularidade sã
o os mandamentos supremos.
Uma vez que a criança se acostumou a um certo ritmo e uma certa ordem, n
ão a perturbe com contra-ordens. Ao despir-se à noite a criança coloc
ará as peças do vestuário
sempre no mesmo lugar e na mesma seqüência para encon
26
trá-las no seu devido lugar de manhã ao vestir-se. Antes de vestir-se a
criança deverá apalpar as peças para ver se não falta nenhuma dela
s. Se faltar um botão ou
a roupa não estiver em ordem, os defeitos devem ser remediados imediatame
nte para não dar a impressão que o desleixo no vestir seja uma
questão de somenos.
A aparência da criança não deve ser descuidada porque os cegos facilm
ente se acostumam à desordem e desleixo causando repugnância a terceiro
s. Uma expressão de louvor
e reconhecimento pela boa aparência é sempre recebida de bom grado e co
nstitui um estímulo. Assim sendo, a criança esforçar-se-á por se ap
resentar bem arrumada e
limpa.
Se os pais não insistem na execução dessas tarefas, a própria crian
ça sofrerá as conseqüências mais tarde. A criança, quando não e
nsinada a proceder sozinha, insistirá
na ajuda de outros tornando-se um pequeno tirano. Os excessos neste sentido
são inúmeros.
Com calma, firmeza e flexibilidade os pais saberão evitar graves falhas d
e caráter. Se uma criança se excede, leve-a, a um outro quarto e deixe-
a entregue aos
seus ressentimentos ou acessos de raiva. Em breve ela se acalmará. Mas,
a mãe inteligente não permitirá que as coisas cheguem a tal ponto, p
ois ela sabe muito
bem que um certo grau de severidade é necessário para educar bem os fil
hos. O esforço dispendido valerá a pena. O melhor serviço que se
pode prestar a uma
criança cega é educá-la para a independência.
Como a criança ignora o que a falta da vista representa, ela se sente fel
iz nessa ignorância. A falta que ela desconhece é inexistente para ela.
Por isto a satisfação
íntima e a boa disposição não são perturbados.
Evite a todo custo lamentar em voz alta o destino cruel, em sua presença,
e nem permita que outros o façam. Seria uma falta grave comentar seu def
eito, chorar ou
suspirar, demonstrando assim quão infeliz a pobre da criança é, e que
pesada carga a família toda deve suportar.
27
A FALA E ÓRGÃOS SENSORIAIS
"Crianças são enigmas de Deus de solução mais difícil do que qual
quer outro, mas o amor o consegue vencendo-se a si
mesmo.'
Fr. Hebbel
A Fala
A linguagem é um meio importante de expressão criado pelo gênio human
o. Isto se aplica também à criança. Você é seu primeiro mestre ao
ensinar-lhe a língua materna.
Através da língua o mundo se desvenda e o diálogo espiritual se estab
elece entre os homens.
O desejo e a ânsia de falar existe também em sua criança. A alegria d
e falar e o instinto de imitação ajudam a aprendizagem da língua. A c
riança cega vive pelo ouvido,
sua imitação se restringe ao uso da fala.
Não podendo ver os órgãos da fala, convém sempre falar com clareza
e corretamente com uma pessoa cega. A criança cega instintivamente imitar
á o modo de falar daquelas
pessoas que mais ouve. Ao contrário existirá o perigo de um defeito de
linguagem, não inerente à criança cega, mas causado pelo descuido das
pessoas que com ela
convivem. Ao iniciar-se a época da freqüência escolar não deverá
haver grande diferença entre uma criança vidente e uma cega no uso da l
íngua ou no seu vocabulário.
A criança cega "vê" com o ouvido, por isto torna-se necessário conver
sar e falar com ela. A criança torna-se atenta ao som da voz, à entona
ção que lhe transmite
mensagens de amor e de carinho. É através da voz que atingimos a alma d
a criança.
Enquanto a criança que vê chega a conhecer objetos novos e aprende simu
ltaneamente seu nome, a criança cega ouve os nomes de muitos objetos sem
poder identificá-los
ou fazer uma idéia da sua consistência. Por isto, é preciso conjugar
a fala e o conceito do objeto. A criança cega deve antes de
28
tudo apalpar o objeto com as mãos. Quando se trata de objeto maior do que
a mão, ela deve tomá-lo nos braços, apalpá-lo e dizer: "Isto é a
cadeira do papai, a cesta
da mãe, minha mesa" etc., enquanto que sons e ruídos perceptíveis ao
ouvido, cheiros que a criança percebe pelo olfato permitem despertar seu
interesse quando acompanhado
por uma explicação. Diremos então "o sino toca, a água ferve, a por
ta bate" levando a criança a repetir essas palavras. Precisamos enriquece
r o vocabulário da criança
e levá-la a identificar os objetos que a rodeiam pela sua forma, fenôme
nos exteriores, pelo som e outros ainda pelo olfato, integrando-os na sua v
ida diária.
O ouvido
O ouvido pode, em muitos casos substituir a vista que falta. Por isto, deve
mos explorar as fontes acústicas o mais possível. Precisamos que a cria
nça fique atenta
a essas fontes acústicas, procurando-as, movimentando-se, levantando-se e
esticando-se para captar-lhes o sentido. O ouvido torna-se assim o colabor
ador precioso
para integrar a criança cega no meio em que vive. O tic-tac de um relóg
io, o som de uma campainha, os ruídos na cozinha despertam seu interesse
e a levam a identificar
objetos e coisas pelo som. Fora de casa, na rua, ao ar livre inúmeros son
s e ruídos assaltam a criança e cabe-nos então explicar-lhe o que se
passa em seu redor:
é um automóvel que passa, um cão que ladra, pássaros que cantam. Se
mpre acompanhado pela explicação verbal, freqüentemente repetida, a c
riança aumentará seus conhecimentos
e sua imaginação será mantida viva.
Observamos freqüentemente que o cego bate de leve nos objetos tirando-lhe
s um som, inclina a cabeça e fica de boca levemente aberta, concentrado n
o som que o objeto
tocado emite.
A recepção instintiva para todos os sons e ruídos faz com que se poss
a explorar essa curiosidade ao máximo, ensinando a criança a memorizar
esses sons, ligando-os
aos objetos ou fenômenos que os causam.
29
Precisamos ensinar a criança a medir a distância através do som. Um c
orredor será o local escolhido. Afastamo-nos de três passos da crianç
a e falamos com ela. Deixamo-la
dar mais três passos em nossa direção fazendo com que ela calcule a d
istância pelo som da nossa voz, enquanto que a criança conta os passos
em voz alta na medida
que ela caminha em nossa direção.
Os cegos adquirem grande habilidade em medir distâncias, sabem até indi
car a idade da pessoa que fala pelo som da voz, conhecem as dimensões de
um quarto, a localização
de móveis e distinguem os vários tecidos de cortinas nas janelas. É u
m fato notório que uma pessoa cega sabe reconhecer pela voz uma pessoa qu
e viu faz muito tempo.
O som que um objeto metálico emite, o ruído que um objeto que cai produ
z, faz com que a criança identifique e diferencie os materiais. A crian
ça deverá apalpá-los
e repetir seu nome em voz alta. Dê-lhe uma moeda, uma bola, um prato de m
adeira fazendo que ela procure pelo som o lugar onde o objeto se encontra.
A criança deverá
aprender a distinguir os ruídos produzidos por materiais diversos, vidro,
madeira, lã, papel, pedra, metais, sentindo-os pelo tato, reconhecendo-o
s pelo som. A criança
aprenderá, assim, a distinguir as moedas ajuizando seu valor pelo som que
emitem. Para preparar a criança para a vida futura devemos insistir semp
re na sua atenção
em tudo que produz ruídos, o latir de um cão, os ruídos diários, em
casa, na oficina, na rua. Para este fim devemos dirigir-lhe muitas pergunt
as: "O que é que eu
faço agora, o que ouves lá fora, que barulho é este, de quem era essa
voz, qual foi o animal que emitiu um som?" Devemos explicar-lhe a origem d
os diversos ruídos,
quem os provoca, de onde vêm. Devemos ensiná-la a calcular pelo ruído
a distância de um veículo, sua velocidade, a direção em que ele va
i. Tudo isto requer muita
paciência, exige um contato constante com a criança cega, mas com o tem
po o mundo da criança cega se amplia, os ruídos aguçam seu ouvido e a
capacidade de observação.
Os pais e educadores devem sempre ter em mente que o mundo da criança ceg
a é um universo diferente e que tudo que ela possa aprender deve ser apro
veitado para tornar
sua vida normal e segura.
30
O OUVIDO MUSICAL
Os cegos devem ouvir música tanto quanto possível. Desde a primeira inf
ância a criança cega mostra-se sensível à melodia e sente um certo
bem-estar ao ouvi-las.
Isto dará um certo calor à sua vida e despertará nela, quem sabe um t
alento musical cuja evolução poderá desempenhar um fator importante n
a sua vida futura. Não
confundir, entretanto, um ouvido aguçado com um ouvido musical, erro este
que se comete muitas vezes.
Possuir bom ouvido, não é o mesmo que ouvido musical. Se a criança ce
ga mostra interesse e talento pela música, ou deseja aprender tocar um in
strumento, devemos
cultivar essa tendência. De início a criança aprenderá a cantar mel
odias simples, assimilará as notas e desenvolverá uma memória musical
, adquirirá ritmo e harmonia.
Cabe à mãe um papel preponderante neste terreno. Ela ensinará ao filh
o as canções infantis, melodias simples por meio das quais ele consegui
rá decorar até trinta
músicas até a idade de seis anos. Os programas musicais infantis pelo r
ádio representam subsídio precioso neste sentido.
Não é recomendável ensinar a tocar um instrumento antes da idade de d
ez anos. Os instrumentos mais indicados são: o órgão, o violino, acor
deão, flauta e guitarra.
Nos institutos para cegos cultiva-se muito o canto coral.
O TATO
"A mão é o olho do cego" e por isto o tato deve ser desenvolvido o mais
possível. A habilidade em tatear e apalpar os objetos deve ser desenvolv
ida desde a mais
tenra idade. De início trata-se dos brinquedos que o bebê reúne no se
u berço, que ele apalpa, põe na boca e com os quais se diverte. Devemos
incentivar o desejo
de se movimentar que se manifesta desde cedo, sem receio que a criança po
ssa
machucar-se.
31
O uso do gradeado recomenda-se para as crianças cegas. Ela deverá famil
iarizar-se com o espaço limitado. Ponha um tapete, uma cadeirinha, almofa
das e brinquedos
para que a criança possa manter-se entretida, aprendendo ao mesmo tempo a
tatear os objetos ficando atenta aos ruídos que eles produzem. Quando o
gradeado se tornar
estreito demais, arrume para a criança um canto onde ela possa brincar e
explorar o mundo, passo a passo. Mais tarde a criança começará por es
pontânea vontade a
alargar seu círculo de exploração até que ele abranja a casa toda.
O ambiente caseiro não terá mais segredo nenhum para a criança. A cri
ança que enxerga movimenta-se
num ambiente já conhecido, a cega porém deve tomar uma iniciativa. Por
isto, devemos mostrar-lhe a casa em que vive, acompanhando seus passos. Dei
xe-a apalpar os
móveis e as paredes e não esqueça que uma explicação verbal não
é suficiente. As coisas mais primitivas exigem uma explicação que se
rá completada por meio do tato.
Como é que alguém que nunca viu uma casa, uma cama, uma janela poderá
fazer uma idéia do que ela seja na realidade?
Precisamos então despertar o interesse e a curiosidade da criança. Cada
objeto tem sua função e vive em função da mesma. A criança grava
tudo na memória e aprende
a usar os objetos, conhecer seus contornos, sua forma e sua utilidade. Nã
o sabemos qual a imagem que o cego associa com um dado objeto, digamos por
exemplo "cadeira";
há cadeiras grandes, estofadas, de madeira, com estofamento e sem ele, a
criança cega saberá antes de tudo que ela serve para sentar-se, mas n
ão sabe se é alta ou
baixa. O conceito de em cima, em baixo, em frente, atrás, à direita ou
à esquerda, é extremamente difícil de entender para uma criança ceg
a. Finalmente ela criará
sua própria imagem e saberá diferenciar uma cadeira baixa de outra alta
.. É por isto que precisamos deixar a criança explorar seu ambiente, sem
receio que ela se
machuque, devemos acompanhá-la às vezes, dando explicações, chamand
o sua atenção sobre pequenos pormenores e a criança, ajudada pelo tat
o irá aos poucos criar seu
mundo que nos parece restrito, mas que para ela é enorme.
32
O PALADAR E O OLFATO
Esses dois sentidos enriquecem as impressões que a criança obtém do s
eu ambiente. São sentidos reveladores e anunciadores também de possív
eis perigos. Também estes
sentidos devem ser cultivados e explicados. Os alimentos e as bebidas culti
vam o paladar desde cedo. Mas é preciso que a criança conheça os dive
rsos paladares. Diga-lhe
por exemplo: o mel é doce, o limão é azedo, explique-lhe o sentido de
amargo, ameno, forte, salgado, etc. Há inúmeras
espécies de comidas, sobremesas, frutas e doces de cujo paladar
a criança aprenderá também o sentido da sua
substância.
Ao mesmo tempo que a criança aprende a distinguir a comida, frutas e ingr
edientes pelo olfato, você deve explicarlhe sua origem, seu uso e preparo
, enriquecendo
sua imaginação e seus conhecimentos.
Bem mais fraco do que o paladar é o olfato. Nele aplicamos os termos de "
agradável" ou "desagradável'. Mas a criança deve cultivar seu olfato.
O melhor terreno a
ser explorado é a natureza, o jardim, deixe a criança cheirar as flores
, o próprio ar, as plantas e ensine-a a diferenciar pelo olfato os ingred
ientes usados na
cozinha. O cheiro de gás, por exemplo, é extremamente desagradável e
pode sinalizar um perigo, explique à criança de que se trata; o lixo ch
eira mal, explique o
uso da lata de lixo e a criança saberá onde procurá-la e como usá-l
a. Com o tempo a criança cega adquire através do paladar e do olfato in
úmeros novos conhecimentos
e saberá diferenciar muitas coisas graças a esses dois sentidos.
"VEJO O MUNDO"
A posição estática e rígida de muitos cegos, sua insensibilidade, d
erivam da atrofia dos seus sentidos. Exercitando entretanto com muita insis
tência todos os sentidos,
tirando todas as conclusões possíveis, transformando-os em meios de rec
onhecimento você ampliará gradativamente os conhe
33
cimentos e a compreensão do cego, fazendo com que o mundo fique interessa
nte, excitante e misterioso também. Todos nós conhecemos a figura e a v
ida de Helen Keller,
que era surda e cega, mas que transformou sua vida em um milagre vivo. Ou
çamos o que ela disse:
"Durante o dia, o trabalho intenso no escritório e a solução dos prob
lemas diários me ocupam plenamente. Adoro passear no jardim ao cair da no
ite respirando o cheiro
úmido da terra, deliciando-me com o orvalho que cobre as flores e que sin
to com a ponta dos dedos. Adoro os passeios e sou daquelas pessoas que enco
ntram na natureza
os melhores pensamentos. Problemas que entre as quatro paredes pareciam ins
olúveis, resolvem-se com facilidade.
Meu cérebro e meus três sentidos assimilam todos os detalhes durante o
passeio. Percebo se o caminho é íngreme, se é pedregoso ou coberto de
areia. As sombras que
me caem no rosto indicam se eu me aproximo de uma floresta ou de um grupo d
e árvores. O ar suave me revela se atravesso uma clareira.
Enquanto isto, eu observo o tempo, pelo meu jeito. Minha epiderme está su
ficientemente acostumada às intempéries e
apesar da minha idade avançada ainda agüento bem
a vida ao ar livre. Luto contra o vento que varre as ruas e ameaça me lev
ar consigo.
Diferencio facilmente a chuva de pedra e o vento cortante da neve que cai s
uavemente e que traz consigo um sopro de pureza, uma dádiva do céu. Qua
ndo surge uma tempestade,
os cheiros do jardim, do campo e da floresta me envolvem e se dispersam nas
primeiras gotas de chuva. O ar das montanhas é diferente da brisa que ve
m do mar, e ambos
se distinguem nitidamente do cheiro que emana da terra coberta de girassó
is e prenhe de colheitas vindouras. É um lindo passatempo para mim difere
nciar os múltiplos
odores que me envolvem.
Períodos inteiros da minha vida distinguem-se para mim pelos seus cheiros
particulares. Sentindo o cheiro de margaridas volto aos tempos da minha in
fância percorrendo
os
34
prados respingados de orvalho. Um sopro de ar que me traz o cheiro do fên
o ainda fresco faz-me lembrar a infância quando para mim e minhas amigas
um velho alpendre
parecia o paraíso.
Nunca esquecerei, entretanto, as memórias de olfato duma pequena aldeia d
e pescadores no golfo de Gênova. Banhava-me nos raios de sol e no aroma d
a Riviera. O
gosto
salgado do mar, o aroma das laranjeiras e limoeiros eram para mim de um pur
o encanto. Para onde eu ia, nas casas e nas ruas os odores variados e indes
critíveis da
terra italiana me deixavam tonta. Devo à minha estada nessa terra e às
lembranças que nela colhi o apurado olfato que me ajuda sempre.
Devo aos cuidados da minha professora Anne Sullivan, que vigiava os meus pe
nsamentos e orientava minha vontade de observação, a riqueza das minhas
experiências que
meus três sentidos me deram no correr do tempo."
Devemos pois lembrar pais e educadores que a criança desde pequena deve s
er treinada no uso do seu olfato. O ideal da educação consiste em propo
rcionar através dos
sentidos a alegria de vida e o espírito de aventura nos seres humanos. Po
r isto, aprovo plenamente o desenvolvimento de todas as capacidades sensori
ais daqueles
que o destino privou de tantos benefícios.
A ORIENTAÇÃO
A possibilidade da criança cega poder orientar-se em lugares restritos ba
seia-se no uso adequado da audição e do tato. Algumas vezes também o
olfato pode auxiliar
na orientação. As ondas sonoras, porém, tem maior importância, elas
penetram no ouvido e outras partes do corpo onde a pele esteja exposta;
é na parte superior do
rosto que o cego percebe em primeiro lugar a proximidade dos obstáculos.
Bem cedo, já, a criança cega percebe os limites da sua liberdade de mov
imentação. Embora
ela nunca possa libertar-se to
35
talmente dessa restrição, ela nunca desiste de querer libertar-se do au
xílio de terceiros, tornando-se cada vez mais independente.
Devemos orientar a criança nessa tentativa libertadora que sem dúvida t
raz consigo certos perigos, que entretanto devemos aceitar. No seu canto de
brinquedos a criança
reconhece os objetos em seu redor, brinca com eles, apalpa-os e se distrai.
Devemos ensinar a criança a voltar seguramente ao seu lugar, quando dele
se afastou.
É a primeira tentativa de orientação. Deixe à criança o uso livre
dos pés e das mãos, coloque-a no meio do quarto e faça com que ela e
ncontre pelo esforço próprio
a porta, a janela, ou algum móvel. Assim ela começa a orientar-se segur
amente e a conhecer pelos próprios recursos seu ambiente vital.
Quando a criança já conhece seu quarto, leve-a à outro recinto. Comec
e de novo e com paciência a orientá-la a mostrar-lhe onde os objetos se
encontram e ensine-a
a descobrir a relação entre um quarto e outro. Aproveite essas andanç
as pela casa para chamar sua atenção sobre novos obstáculos e sobre c
ertos objetos pelos quais
ela poderá orientar-se em suas idas e voltas. Esses marcos ficam gravados
na memória da criança. Mostre-lhe a escada, o corrimão e ensine-a a
subir e descer as escadas.
Ela o fará de um modo hesitante, no início, mas mais tarde ela aprender
á a dominar os movimentos das pernas e descerá as escadas normalmente.
Faça com que a criança
conte o número de degraus ao subir e descer. Mais tarde ela contará men
talmente e saberá orientar-se automaticamente. Isto lhe incutirá a conf
iança em si mesma.
A criança cega não percebe os obstáculos planos no terreno, buracos,
poços, aberturas devem ser tapados ou protegidos por uma grade.
Uma vez familiarizada com a casa a criança será levada ao quintal ou ao
jardim onde um novo mundo se abre para ela. Indique-lhe e explique todos o
s detalhes topográficos,
mostre-lhes os caminhos cobertos de areia, pedregulho ou de cimento e faç
a-a sentir as diferenças. Chame sua atenção sobre a grama, as árvor
es e ensine-lhe os nomes.
Volte sem
36
pre aos mesmos caminhos e somente quando estes se gravaram firmemente em su
a memória, ensine-lhe caminhos novos.
Desde que a criança mostra-se suficientemente hábil ela poderá penetr
ar no mundo externo. Mostre-lhe as ruas e a direção em que deve caminha
r, indicando todas as
referências no trajeto, calçada, postes de luz, cruzamentos, pelos quai
s ela se orientará. Indique certos marcos que lhe sirvam de orientaçã
o no caminho de volta.
Com boa orientação técnica a criança poderá usar uma bengala para
sentir os obstáculos e poderá evitá-los em tempo ou poderá
deixar-se guiar pelo canto da calçada.
Nunca segure a criança com força inibindo, assim, seus movimentos, guie
-a de leve, deixe-a andar sozinha acompanhando de perto seus passos. Faça
com que ela siga
atrás de si seu caminho.
Quando a criança caminha sozinha num terreno que lhe é conhecido não
permita que a compaixão falsa de terceiros ou o sentimento de ser observa
do a atrapalhe. Ao
atravessar uma ponte estreita vá a frente como um guia segurando a mão
da criança, esta, por sua vez verificará com sua bengala a largura da p
assagem e a consistência
do chão não levantando demasiadamente os pés do chão para não per
der o contato com o solo. Assim ela atravessará com segurança lugares m
uito estreitos. Meninas cegas
são mais tímidas do que meninos. A criança cega nunca deve ostentar s
ua cegueira ou deixar-se impressionar pela sensação de ser observada. D
eve-se fazer exercícios
para aprender como manejar a bengala e andar com ela. Tudo isto parece muit
o natural e simples, mas na realidade, isto exige paciência, muito exerc
ício, muita repetição
até que a criança sinta firmeza, segurança e aprenda a seguir seu cam
inho e a descobrir caminhos novos por iniciativa própria.
Para demonstrar como as crianças podem orientar-se vamos deixar que o men
ino de quatorze anos nos descreva suas experiências, quando desde cedo tr
einou seus sentidos
restantes e soube aproveitá-los.
37
FAÇO COMPRAS PARA A MAMÃE
"Aquele que não educa seu filho para ser seu amigo, o perderá quando es
te for adulto".
Jean Paul
"Moramos na periferia de uma grande cidade. O nosso casebre modesto fica be
m afastado do tráfego e uma caminhada de meia-hora nos separa da venda ma
is próxima, onde
costumo fazer as compras para minha mãe. Durante alguns anos acompanhei m
inha mãe nessas compras e hoje posso sozinho fazer as compras para ela, o
que me dá muita
alegria.
Antes de sair cuido da minha roupa. Levo uma sacola a tiracolo onde guardo
os objetos comprados. Um cego que caminha sozinho deve ter as mãos livres
.. Uso uma braçadeira
própria para cegos, evitando assim explicações embaraçosas. Para me
lhor orientar-me tenho sempre minha bengala na mão. Minha mãe dá o
último retoque na minha roupa
e despedimo-nos com um beijo. Desço as escadas que dão para a calçada
..
Agora é preciso prestar muita atenção. Dobro a próxima esquina à
esquerda. Com a ponta da bengala vou tateando a beira da calçada. Muita g
ente já me disse que meu
andar é tão seguro que não trai o cego. Do lado direito da rua fica a
estrada de ferro, do lado esquerdo fica um muro que eu já conheço bem.
Noto um automóvel
parado
perto da calçada. Um trem, cujos ruídos eu percebo muito bem, está pa
ssando, e pelo ritmo das rodas eu deduzo que se trata de um trem de carga.
O muro do lado esquerdo acaba e a calçada segue numa pequena descida. Ago
ra preciso cruzar e tateando com minha bengala alcanço sem demora a cal
çada visinha. Continuo
a caminhar. À esquerda surgem algumas casas com jardins na frente. O cami
nhar se torna mais difícil por falta de
38
qualquer ponto de referência. A calçada é de pedra e meus passos ress
oam com firmeza. Meus sapatos têm solas de couro e pregos nos saltos. N
ão uso sapatos com solas
de borracha porque estes não produzem o barulho que nós cegos precisamo
s para nossa orientação. Sinto que um trem vazio está passando agora.
Os vagões fazem um ruído
diferente dos de carga. Um arbusto pelo qual eu passo e o barulho crescente
do tráfego indicam que me estou aproximando da estrada. Agora preciso cr
uzar a rua novamente.
Tateio a guia da calçada oposta. Do lado direito noto a coluna onde costu
mam grudar cartazes. Quando atinjo o viaduto ouço o ruído de um trem qu
e passa. Do lado
direito, fica agora um campo aberto e à esquerda a estrada com seu tráf
ego pesado;
distinguo nitidamente automóveis dos caminhões e dos bondes. É precis
o prestar
muita atenção agora, no meio da calçada há árvores distanciadas d
ez metros uma da outra. São tílias. Percebo seu cheiro delicioso e doce
e para não ir de encontro
a uma árvore, eu continuo meu caminho pelo lado esquerdo indo com mais va
gar. Pela entonação da voz noto que uma mulher está se
aproximando. Ela pergunta "Aonde vais?
Sabes encontrar teu caminho ou queres que te ajude?" Agradeço sua atenç
ão e peço que não continue a conversar comigo. Sua voz me
distrai e não consigo assim manter
a direção certa. Passo por umas tílias de tronco grosso cuja presen
ça eu noto a três metros de distância, enquanto que percebo os postes
de iluminação que são mais
finos a uma distância de três quartos de metros apenas.
Numa estação de bondes os carros se chocam uns contra os outros. Agora
o caminho melhorou, é bom andar num dia bonito e com o sol brilhando. O v
ento e a chuva dificultam
minha orientação, e quando o vento bater forte eu perco qualquer sentid
o de direção. Quando não sinto as ondas sonoras não posso caminhar
sozinho. Ao entardecer
e à noite tudo se torna mais fácil, não há ruídos que me perturba
m e as ondas me atingem sem interferências.
Daqui a pouco vou atravessar uma rua lateral. De repente, uma barreira que
sinto com a ponta da minha bengala fecha o caminho.
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O que será isto? Um transeunte me explica que há homens trabalhando aqu
i. Ele me conduz para o caminho certo. Dois minutos mais tarde atravesso a
rua sem nenhuma
dificuldade.
Do lado direito há casas e o calçamento é diferente. Sinto com a pont
a da bengala que o caminho é asfaltado. Quase vou de encontro à uma lon
a que eu não pude perceber,
porque estava esticada na altura do meu peito apenas. Aqui há um poço n
o qual um homem está trabalhando. Ele pergunta se não me machuquei e me
explica que está colocando
uns cabos telefônicos no subsolo. Continuo a andar e alcanço a primeira
venda. É a padaria. A ressonância oca me diz que estou entrando num v
ão de porta e com alguns
passos alcanço os degraus que levam à porta de entrada. São cinco deg
raus. Um aroma de pão saído do forno me envolve. O padeiro me cumprimen
ta amàvelmente e me atende
no balcão.
De lá mantenho-me à direita e passo pela oficina de um ferreiro. De
longe, ouço o martelo batendo contra a bigorna. Agora piso em cima de te
rra e quase me choquei
com uma pessoa que vinha em sentido contrário. Obstáculos móveis se d
escobrem sempre com maior dificuldade do que obstáculos fixos. Ouço uma
campainha tilintar e
sei que cheguei na loja do verdureiro. Isto foi uma sorte. Tento descobrir
as várias verduras e hortaliças pelo seu cheiro. Também gosto de ouvi
r as conversas e
saber o que os outros compram. Terminadas minhas compras aqui, ataco o úl
timo e mais difícil trecho da minha caminhada. Preciso ir à farmácia
que fica do outro lado
da estrada pela qual passam muitos veículos. Um guarda nota minha braça
deira, vem ao meu encontro e me leva para o outro lado. Agradeço o gesto
amável que me deu
muito alívio. Há muitos cheiros diferentes na farmácia. Feita minha c
ompra
dirijo-me à oficina do sapateiro ao qual levo um par de sapatos do meu pa
i para consertar.
O cheiro do couro me indica o caminho. Uns poucos degraus me indicam onde f
ica a porta de entrada. Aqui encontro meu amigo e colega de brinquedos, Jo
ão, que faz
compras como eu. Já que seus pais moram perto dos meus, fazemos o caminho
de volta juntos. Ele
40
segura levemente meu braço. Como não preciso prestar tanta atenção
ao caminho, conversamos. De vez em quando ele chama minha atenção sobre
um veículo que passa.
Conto ao João como é a vida no Instituto para Cegos onde seu pai e ele
me visitaram no ano passado. Nós dois, gostamos de jogar xadrez e combina
mos uma partida para
hoje a noite.
O tempo passa voando, quando chego em casa minha mãe me elogia pelas comp
ras feitas e eu me sinto feliz por lhe ter prestado um pequeno serviço".
ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA AO AMBIENTE
A Linguagem dos Gestos
Uma característica nas pessoas cegas é a expressão facial sem vida e
a ausência absoluta de mímica. São fatos imutáveis. Mas pela educa
ção bem orientada essas falhas
eliminam-se um pouco. Por isto, é necessário que a criança aprenda a
mímica e os gestos. A criança deve saber que em certos casos os pensame
ntos se exprimem também
por gestos. O corpo todo se movimenta, a cabeça, os braços e os ombros.
As vezes um gesto é mais significativo do que uma palavra. Mas prestem be
m atenção, a criança cega não deve nunca fingir que está vendo, m
as deve adaptar-se na medida
do possível às outras crianças. Por isto, ela deve dominar as formas
mais simples de linguagem pelos gestos. Toda criança deve e pode aprender
essa habilidade. A
pessoa se torna mais simpática e atraente e os outros a acharão mais ac
essível. Dando
vazão aos seus pensamentos ou idéias por meio de gestos o indivíduo r
elaxa
mais. Para isto é que os gestos servem.
Trata-se de fato de um talento inato que precisa ser despertado e praticado
.. Para conseguir isto, recomendam-se os seguintes exercícios.
1 - Tirar o chapéu para saudar alguém, fazer uma reverência, aperta
r a mão de modo natural sem constrangimento.
41
2 - Ensinar a virar o rosto na direção da pessoa com quem
se fala.
3 - Inclinar a cabeça em caso de afirmação, e virá-la em
caso de negação.
4 - Aprender a indicar direções ou objetos com o dedo.
5 - Aprender a bater numa porta, numa mesa, etc.
6 - Levantar a mão fechada em sinal de ameaça.
7 - Sacudir de ombros acompanhando o gesto com a mão
e o braço.
8 - Bater palmas e usar as mãos em forma de concha para
gritar.
9 - Abanar com a mão, com o lenço.
10 - Acompanhar estes gestos com movimentos adequados
do corpo e por palavras.
11 - Não exagerar nunca, manter a naturalidade, antes es
boçar um gesto do que exagerá-lo.
A gesticulação e a linguagem pelos gestos constituirão para o cego um
meio de expressão muito importante para suas relações na vida.
O BRINQUEDO
"A alma se alimenta daquilo que lhe dá alegria."
Augustinus
É completamente errôneo pressupor que a criança por ser cega não se
alegre com um brinquedo. A alegria e o divertimento não lhe são vedado
s.
Para manter as forças psíquicas e físicas a criança deve sentir dis
posição e ânimo para ocupar-se com os objetos. Ao escolher um brinque
do devemos pensar se o mesmo
é adequado, se serve para seu desenvolvimento mental ou corporal, se ofer
ece divertimento ou ensinamento. Toda criança começa a brincar com as m
ãos, os dedos dos
pés e as per
42
nas. Esses exercícios são muito importantes porque ajudam no desenvolvi
mento.
Em seguida, procuraremos brinquedos que agem sobre o ouvido ou que são ag
radáveis para tocar.
A partir do 2.o ano de vida a escolha se torna mais ampla. Antes de tudo a
criança cega tateia tudo que lhe cai nas mãos. O brinquedo deve ser sim
ples, para que
a criança o compreenda e possa manipulá-lo bem. Um dado de madeira ou u
ma bola de pano já servem para a criança aprender a distinguir o materi
al. O material deve
ser o mais variado possível, ora liso, ora áspero, duro ou mole, quadra
do ou redondo. Isto significa tanto para a criança cega como as cores par
a a criança que vê.
O "brinquedo" toma assim a feição de uma pedrinha, um botão, um peda
ção de papel, um cubo de madeira, um arame, pregos, couro, pano tudo lh
e serve para distração
e às vezes ela inventará passatempos próprios.
A experiência nos ensina que as crianças que possuem os brinquedos mais
aperfeiçoados não são as mais astutas, mas sim, aquelas que brincam
com coisas primitivas.
O brinquedo estimula a fantasia e o dom de imaginação. No momento em qu
e a criança pega um brinquedo ela já começa a aprender, sem sabê-lo
..
A criança cega não tem o estímulo visual para brincar, não tem nada
que a incentive, que desperte seu instinto de imitação. Ela não sabe
como agir com aquilo que
tem na mão. Ignora o que seja um cavalo, como este puxa uma carroça, n
ão vê o cachorrinho brincar com o gato, não observa o esquilo trepado
numa árvore ou como o
pássaro alça vôo. O ouvido não substitui, aqui, a vista senão em
forma muito incompleta. Um trem, um automóvel, uma casa de bonecas, anima
is de pelúcia ou outro
material são brinquedos com os quais a criança cega aprende muita coisa
.. Se você lhe explica o que é um trem, um caminhão, etc., ponha o bri
nquedo correspondente
em sua mão, faça com que ela o apalpe, conte-lhe como as coisas se pass
am, para que servem, de que são feitas. Preste sempre atenção que os
brinquedos sejam
43
#cópias fiéis dos originais. Depois temos os jogos de armar, de paciê
ncia, de contrução, que convidam para muitos movimentos e aumentam a ha
bilidade manual.
No quintal temos o monte de areia, a pá, as fôrmas para encher, tudo qu
e serve para ser manipulado, amassado, deformado, que transmite uma sensa
ção física serve
para as crianças, sejam elas cegas ou não.
A educação visa uma só coisa: despertar a curiosidade, incentivar a c
riatividade, enriquecer a imaginação e abrir o caminho para novas desco
bertas. A criança não
brinca apenas para tornar as mãos mais ágeis, para fortalecer seus mú
sculos, ela brinca devido ao seu instinto inato de criação, para dar va
zão à sua imaginação
cada vez renovada.
JOGOS DE MOVIMENTO
"No paraíso da infância e da juventude as vozes dos anjos soam melhor d
o que as dos demônios."
(Provérbio}
Os brinquedos e jogos não se limitam às atividades em quartos fechados
onde as crianças não podem mexer-se muito, onde ficam sentadas absortas
em suas ocupações.
Temos os jogos e exercícios ao ar livre que fortalecem o corpo e permitem
uma expansão maior. Também a criança cega não quer ficar fechada n
um quarto, quer correr,
pular e gritar. Não tranquem seu filho cego num quarto por mais bem areja
do que seja. A planta precisa de luz e sol, a criança também. As folhas
das árvores, as
flores, os raios de sol trazem mensagens que muitos de nós deixam passar
despercebidas. Deixe que a criança cega brinque com as outras. A alegria
e o barulho são
contagiantes. O cansaço agradável que a criança sente depois de ter b
rincado ao ar livre por certo tempo, permite-lhe concentrar-se mais tarde n
uma atividade mais
contemplativa. A alegria de brincar constitui uma força inesgotável e s
audável. Quem puder
44
deve mandar seu filho ao Jardim de Infância que se encontra em todo lugar
, na cidade como na aldeia. Sob a orientação competente da educadora
o tempo voa, muitos
trabalhos alegres e úteis são executados, o convívio com as outras cr
ianças é uma fonte de alegria, e o Jardim de Infância se transforma n
uma escola para vida.
Também a criança cega participa dessas atividades, levada pelo entusias
mo geral. O teatrinho infantil do qual as crianças tanto gostam é um
ótimo campo de ação para
aprender movimentos rítmicos e naturais, executar gestos, e no calor da a
ção a criança perde qualquer inibição. Ela compartilha da alegria
das outras colegas,
não fica confinada a um canto num quarto, esperando que alguém encontre
tempo para se dedicar a ela. Existem jardins de infância para cegos tamb
ém. A criança
deve
ter sempre um companheiro de jogo e brinquedos, crianças se comunicam ent
re si, sem dar importância exagerada a um defeito físico e sem manifest
ar uma falsa compaixão.
Toda criança sente-se fascinada por objetos, coleciona-os e os guarda com
ciúmes. Uma simples coleção de pedras encerra muitos ensinamentos pa
ra uma criança cega;
é sua textura, a forma, o peso, a superfície ora lisa ora áspera. O m
esmo se dá com plantas, árvores, folhas. Uma criança cega que trepa n
uma pequena árvore recebe
uma lição prática da vida. Ela saberá o que é a casca da árvore
, o fruto, poderá até estabelecer uma relação mental de tamanho e a
prende que muitas árvores juntas
formam uma floresta. Tudo serve para enriquecer a vida íntima dessas cria
nças. Além da flora temos a fauna. Faça com que a criança cega br
inque com um gatinho,
um coelho, um cachorro. Vamos então tratar de ensiná-la como cuidar d
os bichos, dar-lhes comida, despertando nela o sentimento de responsabilida
de. Via de regra
as crianças não têm medo dos animais, assustam-se talvez de início,
mas perdem facilmente o medo. As atividades caseiras fazem também parte
do brinquedo da criança.
Adoram ficar na cozinha, acompanhando a mãe prestando pequenos serviços
.. Descem para adega para buscar uma garrafa, ajudam facilmente na limpeza
da casa, varrem
o chão, etc. As atividades na casa são inúmeras, desde o cultivo da
s plantas, o arranjo das flores, ao cuidado
45
dos animais domésticos. Quantos objetos uma criança cega não aprende
a conhecer e a manipular, conhecendo assim a finalidade de cada um, sua for
ma, tamanho, o local
onde são guardados etc. Isto se aplica tanto a meninos como a meninas. A
criança aprende brincando e tem ao mesmo tempo a satisfação de presta
r um serviço.
A CRIANÇA E SEUS COLEGUINHAS
Brincar em companhia de outras crianças constitui ao mesmo tempo uma apre
ndizagem no comportamento social. A criança sente-se em companhia das out
ras como parte
de um todo. Ela aprenderá a subordinar-se e a cooperar. Não convém li
mitar a convivência aos irmãos e irmãs, ela precisa procurar colegas,
fazer amizades e entrar
em concorrência franca com outras crianças. Às vezes, evidentemente,
a criança cega poderá sentir-se prejudicada, relegada a um segundo luga
r e tomará consciência
do seu defeito. Esses obstáculos devem ser vencidos, as decepções dev
em ser superadas. Precisamos, sempre e sempre, incentivar a vida na comunid
ade; o começo será
difícil, mas vencida a primeira barreira, a primeira timidez, a criança
cega verá o lado positivo desse convívio e o procurará.
HÁBITOS PRÓPRIOS À CEGUEIRA E COMO EVITÁ-LOS
Acontece que crianças com cegueira congênita adquirem muitas vezes desd
e a mais tenra infância anormalidades de movimentos que, quando não com
batidos, se alastram
pela vida toda.
Os movimentos dos cegos são geralmente hesitantes e tímidos, limitando-
se ao estritamente necessário. Os músculos e os membros não relaxam,
mantém uma certa rigidez,
a respiração é como que ofuscada. A parte superior do corpo não aco
mpanha os movimentos ao andar, a cabeça é inclinada para frente ou dobr
ada na nuca, as pernas
levantam-
46
se alto demais e os pés pisam com cuidado exagerado. Chama-se a isto "Pas
so de cegonha". Os braços caem ao longo do corpo. Não existe mímica.
Mas
os movimentos em redor da boca são acentuados.
Enquanto o bebê normal se anima com aquilo que se passa ao seu redor, a c
riança cega recorre somente ao tato, ouvido e olfato. A criança cega se
distancia do mundo
ao seu redor. Isto cria o medo, medo do vácuo, de ficar num vácuo, de v
iver num mundo sem rosto.
Esse medo constante exprime-se por movimentos diferentes daqueles de outras
crianças cegas, os movimentos se tornam anormais. A criança começa a
fazer caretas, mexe
com os olhos, afundando-os com o dedo, começa a balançar o dorso incess
antemente, começa a pular sem sair do lugar, e a correr em círculo, em
redor de uma mesa,
por exemplo. Tudo isto não leva a nada. Não existe contato com o mundo
ambiente. O desejo de movimentar-se não é satisfeito. Vestígios dessa
anormalidade de comportamento
existem em todos os cegos, mas perdem-se ao correr do tempo com uma educa
ção adequada. Os pais não devem tolerar estes excessos. Esses hábit
os devem ser evitados
de início. Não adianta proibir, é necessário erradicar o mal. Neste
comportamento reside freqüentemente o riso e
mofa de outras crianças, que podem causar um mal
irreparável à criança. A criança cega deve diferenciar num mínimo
somente da criança normal.
Precisamos ter paciência, precisamos orientar os movimentos e as ocupaç
ões, tirá-la do estupor em que vive. Devemos insistir para que pouco a
pouco a criança perca
esses hábitos, incentivando-a, despertando sua vontade adormecida, dar vi
da ao vácuo em que vive. Com o tempo a criança torna-se mais equilibrad
a, supera certos
vícios e ganha maior firmeza. Aí então, ela estará apta. Mas se os
pais pecam por omissão deixando a criança entregue a si própria, os m
aus hábitos perdurarão. Todo
esforço já feito será feito em vão. Por isto precisamos perseverar,
combater com ânimo firme os hábitos viciosos.
47
Quais são então os hábitos típicos de uma criatura cega?
1. Exercer pressão sobre o globo ocular com um dedo. Com isto, o cego que
r provocar um estímulo nervoso substituindo o estímulo causado pela luz
..
2. Descansar a vista sobre os braços deitados em cima da mesa.
3. Movimentos rápidos com objetos perante os olhos que ainda preservam um
resíduo visual. O cego vê uma sombra em movimento de um modo muito dif
uso, o que lhe
causa alegria, constituindo este fenômeno um substituto para a vista.
4. Fazer caretas, movimentando a testa, esticando os músculos da face, b
oca, olhos e do rosto em geral.
5. Brincar e fazer tremular braços e mãos.
6. Mexer com a boca e o nariz.
7. Mexer no rosto.
8. Jogar os braços.
9. Balançar as pernas.
10. Balançar o corpo quando em pé ou sentado, curvando-se para frente.
11. Girar em torno de si próprio sem deixar o lugar.
12. Gesticulações exageradas ao falar, com as mãos e as pernas.
13. Dar pulos de um modo inseguro.
14. Inclinar o corpo na direção das ondas sonoras.
15. Esticar a cabeça, inclinando-a de um lado.
16. Menear a cabeça.
17. Deixar a cabeça inclinada de um modo frouxo.
18. Andar aos pulos.
19. Inclinar a cabeça para trás e estender os braços exageradamente a
o andar.
20. Ficar em pé ou sentado em posição curva e com o peito encolhido.
21. Assumir uma posição relaxada com os joelhos frouxos.
48
22. Esfregar as mãos ou bater nos joelhos movendo a cabeça e o torso si
multaneamente em caso de excitação íntima.
São estes em geral os hábitos que não podem ser erradicados, mas amen
izados até um certo ponto. Cabe educar o cego de tal forma que ele nem ch
egue a adquirir tais
hábitos, que uma vez adquiridos serão dificilmente eliminados. Tratando
-se de um impulso de nada adianta querer proibi-lo ou talvez castigar a cri
ança.
AS BOAS MANEIRAS
A pessoa cega deve viver num mundo de videntes e ocupar o lugar que lhe cab
e pelo destino. Cada cego deve empenhar-se para que lhe seja tributado o re
speito e a
compreensão humana que todos eles merecem. Integrado no meio em que vive,
sem fazer alarde do seu defeito, assumindo normalmente os deveres que lhe
cabem, a pessoa
cega contribui para que o mundo o aceite com a naturalidade que ele espera
receber.
Assim sendo, devemos ensinar a criança:
1. Quando deve tirar o chapéu.
2. Como deve cumprimentar uma pessoa.
3. Que deve bater na porta antes de entrar num quarto.
4. Que vire o rosto na direção da pessoa com que fala.
5. Que deve cobrir o rosto com a mão ou com o lenço quando tosse, espir
ra ou boceja.
6. Como assoar o nariz com o lenço.
Boas maneiras não são apenas hábitos adquiridos.
As boas maneiras e o comportamento correto revelam também o caráter das
pessoas.
Devemos facilitar o convívio da pessoa cega no ambiente dos videntes, e p
ara conseguir isto devemos ensinar-lhes por assim dizer as regras do jogo f
azendo-a cultivar
seu autocontrôle, amor à verdade, pontualidade, independência, ser
49
ordeiro, higiene, polidez e respeito. Se lhe ensinamos, em tempo, a seguir
essas regras, facilitaremos imensamente sua integração na vida comunit
ária, poupando-lhe
muitos desgostos e removendo obstáculos na sua existência. A cegueira j
á constitui um encargo muito grande que não devemos aumentar por uma fa
lta de preparo e
educação. A pessoa cega deve viver e não vegetar. É absurdo querer
supor que a pessoa cega vive numa eterna escuridão. Cultivando seus senti
dos restantes, que
devem ser mais ativos do que numa criança comum, damos-lhe a possibilidad
e de levar uma vida feliz, ativa e normal. Não devemos deixá-la sossobr
ar na sua cegueira,
mantendo-a afastada do nosso convívio, ao contrário, devemos fazer com
que ela viva e sinta conosco, que se torne parte atuante em nossa sociedade
..
A vida íntima de uma pessoa cega pode ser muito rica e intensa, através
de uma ocupação útil, da leitura, da música, ouvida ou executada.
Todos os seus sentidos
estão em alerta quando bem treinados; ela capta tudo recebe mensagens que
nos passam despercebidas e no mundo em que se sente parte integrante de um
todo, ela se
sentirá feliz e estimulada em progredir cada vez mais. A vida e obra de H
elen Keller, da qual já falamos, continua sendo o exemplo mais belo, mais
confortador
e soberbo para aqueles que querem vencer na vida, dominando o infortúnio
e tirando o melhor proveito dos dotes da natureza embora estejam privadas d
e um e até mais
sentidos.
VISÃO GERAL DA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA CEGA
"A alma infantil é como um barril, mantém sempre o cheiro do seu primei
ro conteúdo."
Martim Luther Aspecto Geral
Orgânicamente uma criança cega congênita não se diferencia em nada
das outras crianças. Possui todos os mem
50
bros e órgãos necessários ao seu desenvolvimento. Pensamentos, racioc
ínio, consciência e imaginação são igualmente inexistentes ainda.
A criança cega não possui
entretanto a percepção visual, mas os outros sentidos intactos deverã
o ser mais aguçados para lhe poder transmitir as sensações do mundo e
xterno.
Para podermos obter uma visão global da educação durante os primeiros
anos de vida, devemos subdividir esse período em duas partes: até a id
ade de três anos e até
a escolaridade.
No primeiro período observamos o fortalecimento orgânico, a atividade i
nconsciente torna-se consciente. Cada progresso trás em si o germe de out
ro progresso. Surgem
então incentivos novos e novas experiências devem ser assimiladas. Atra
vés do ouvido e da mão atingimos a mente infantil, também a voz torna
-se instrumento para
manifestar desejos, dando nome ao objeto que a mãe quer alcançar. O int
electo desenvolve-se simultaneamente com o corpo. Na medida em que os outro
s sentidos evoluem,
forma-se o intelecto da criança, e sua força de imaginação.
No início do quarto ano de vida a criança chegará ao seu auto-conheci
mento. É nessa fase que se inicia aquilo que denominamos "o ato de pensar
". Tudo contribui para
que a criança comece a aprender. Devemos encontrar meios e caminhos para
que aprenda de fato e não fique estagnada. A criança precisa então de
incentivos nesse seu
pensamento incipiente.
Devemos levar a criança a pensar. Para sermos bem sucedidos nessa tarefa
importante devemos cuidar que o corpo e mente cresçam em medidas iguais,
que ambos sejam
estimulados simultaneamente, desenvolvendo-se numa harmonia perfeita. Delin
eamos assim o nosso dever e a nossa responsabilidade para com a criança,
qualquer criança.
As palavras que a criança aprende devem ser traduzidas num sentido prát
ico, de aplicação imediata, para que elas não caiam num vácuo. A cr
iança precisa assimilar
a palavra no seu sentido útil, assim por exemplo "lápis" traz a asso
51
ciação de "escrever", "cadeira", a de "sentar", etc. Cada expressão p
recisa ser captada por meio dos outros sentidos.
O Raciocínio
Simultaneamente com a linguagem desenvolve-se o raciocínio. A criança d
eve aprender de uma forma que ela relacione as palavras com os objetos para
que ela adquira
uma percepção quase "visual". Toda criança vive perguntando; querendo
saber e nenhuma pergunta deve ficar sem resposta. Os estímulos que nos v
êm de fora constituem
um fator importante na vida dos videntes, e os cegos os desconhecem. Por is
to, devemos manter sempre alerta esses estímulos, devemos despertar o int
eresse da criança
cega para que ela não caia no marasmo. Com o tempo, a criança aprender
á que muitos objetos são feitos do mesmo material, a mesa, a cadeira, o
armário são feitos
de madeira, existem cachorros pequenos e grandes, pela voz ela
distinguirá as pessoas. Na medida que ela se familiariza com os objetos e
la compreenderá também os
conceitos de: à direita e à esquerda; em cima e em baixo, na frente ou
atrás, conceitos quase abstratos para uma criança cega. A criança f
ará grandes progressos
quando se lhe ensina a executar ordens como por exemplo: buscar os sapatos
dentro do armário, tirar um livro de cima de uma estante, agachar-se para
apanhar uma
bola ou um brinquedo. Executando essas funções a criança aprende. O m
ovimento ao ar livre, na natureza,
traz consigo um mundo de ensinamentos e experiências.
Ao caminhar com ela, explique-lhe tudo, converse com ela. Um passeio se
passará então como segue:
"Estamos passando pela chácara de flores. Há muitas flores, rosas, crav
os, dálias, cada uma tem cor diferente. Aqui ao lado fica a loja do reloj
oeiro, ele vende
relógios e pequenas jóias, anéis e colares. Você ouve as crianças
brincando? Elas estão no jardim da infância. Aqui há uma cerca de ar
ame, lá está uma árvore
(deixe a criança apalpar a árvore, sentir a superfície áspera da su
a casca, explique-lhe do que é feita a cerca e para que serve. Chame sua
atenção sobre o caminho
de terra, areia, asfalto. Explique-lhe
52
de que a grmínea é feita, como são os canteiros com as flores. Passea
ndo pela rua a criança conhecerá os diversos estabelecimentos, a padari
a, o açougue, a quitanda
e saberá o que se vende neles. Na padaria ela comprará pão preto ou b
ranco, no açougue ela pedirá carne, salsichas, e reconhecerá pela voz
da pessoa que a atende,
onde se encontra. Em casa, a mãe brincará de "fazer compras". Um pacote
de manteiga por favor; sr. João me dê uma broa; quero vinte centavos d
e balas. Agora vamos
visitar o Joaquim, o que é que ele vende?
Os números
De início aprende-se o conceito de "muito" e "pouco'. No começo, quando
receber algumas balas, a criança exclamará "um monte de balas" ou 'gan
hei balas em quantidade'.
Ela não conta mais bala por bala, mas estabelece o conceito de "muito". S
e nós damos apenas duas ou três balas ela observará que são poucas,
o que lhe causa desgosto.
Antes de atingir a idade de escolaridade a criança já adquire a noç
ão de números. Ela diz uma boneca, um brinquedo, mas essa designaçã
o ainda não tem nada que ver
com números.
A criança começa a contar com dois e três na medida em que brinca por
exemplo com duas ou três bolas de gude. De início a criança conta me
canicamente, 3, 4, 5 etc.
Ensinamo-la a contar seus passos, a contar cantando e quase que inconscient
emente ela aplicará os números aos objetos com os quais se ocupa.
Ela tem uma bola e mais uma e dirá dois, uma boneca e mais uma e contar
á dois, assim, ela aprende que um mais um fazem dois. Essa experiência
deve ser repetida com
os mais variados objetos, repetindo-a sempre. Assim a criança não relac
ionará o número a um só objeto mas a uma quantidade deles, aprendendo
que a contagem se aplica
a tudo. Pensa-se erroneamente que, desde que a criança sabe o que seja "2
" ela aplique esse conceito a todos os objetos iguais. .Isto não acontece
, o conceio exato
de números forma-se quando a criança dissocia o número do objeto.
53
Se a criança aprende a contar até dez, quando atinge a escolaridade, de
vemos nos dar por satisfeitos. Dê-lhe umas moedas para contar, explicando
os valores diferentes,
associe as moedas ao ato da compra e explique-lhe quanto custa um pão, me
io quilo de manteiga e faça-a contar as moedas que correspondem ao preç
o da mercadoria.
Assim a criança começará a raciocinar, a pensar, a refletir.
A Memória
Possuir uma boa memória não é somente uma grande vantagem para o cego
, mas também uma necessidade. A memória é boa quando grava com rapide
z e retém durante muito
tempo. Nunca deixe uma criança decorar uma coisa que não compreendeu ou
assimilou. Tudo que foi assimilado deve ser enunciado com clareza; a palav
ra dita com nitidez
se grava na memória. Pequenas canções e poesias são exercícios mu
ito recomendáveis, o mesmo se aplica às estórias.
Essas memorizações não devem ser feitas de um modo mecânico, sem pe
nsar, repetindo-se somente aquilo que se ouve, a criança não deve decor
ar. Não devemos confundir
o lar com a escola, não devemos querer ensinar brincando. A mente da cria
nça deve ficar livre e sem preocupação para não sobrecarregar sua m
emória sua faculdade
de pensar. Do contrário prejudicamos a criança que perderá sua ingenu
idade e sua imaginação, ficando sistematizada.
A Fantasia
Também as pessoas cegas precisam de estímulos para ativar sua fantasia.
Seu sentido mais importante é o ouvido. Seu melhor treino consiste nas
brincadeiras e no
trato com coisas reais que formam o seu ambiente. A ciência distingue a f
antasia criativa e a abstrata. A fantasia abstrata ocupa imaginações e
percepções vagas,
que deixam lacunas que a fantasia criativa não saberá preencher. Isto p
erturba a criança e deforma sua fantasia. Uma criança entregue a si pr
ópria criará seu
mundo próprio, abstrato e alheio à realidade. Devemos então canalizar
a fantasia para a cria
54
tividade. Devemos, por conseguinte, ativar sua fantasia por meio de brinque
dos. O despertar da alma se faz através dos objetos pelos quais a crian
ça demonstra um
interesse real. Nada têm que ver com aprovação e censura, elogio ou c
astigo. O interesse deve ser despertado ou brotar da alma da criança para
se tornar criativo.
Assim a criança saberá também tomar suas decisões. O brinquedo come
çado hoje, terá sua seqüência amanhã, o que permitirá à crian
ça planejar e levar a bom termo um
projeto já iniciado. Não podemos nem devemos bancar o anjo de guarda, q
uerendo proteger a criança cega a cada instante, sem que ela sinta o que
seja resistência
ou obstáculos a vencer.
As emoções psíquicas agem sobre as capacidades espirituais, Um estado
de permanente equilíbrio psíquico e de contentamento é perigoso. Em
brinquedos e ocupação contínua,
o corpo amolece e as mãos perdem o estímulo de descobrir coisas novas.
É evidente que os pais se preocupam com a segurança do seu filho cego,
mas essa preocupação
não deve transformar-se em super-proteção.
A Educação Estética-Moral
A "estética" é o ensinamento daquilo que é belo. Todas as impressõe
s que agem sobre nossa alma, deixando-nos eufóricos ou comovidos, são c
onsideradas "estéticas".
Ao contemplarmos o firmamento estrelado, um pôr de sol, o esplendor da na
tureza, uma obra de arte, sentimos que uma grande emoção toma posse de
nós; essa sensação
não é compartilhada por uma pessoa cega.
Mas, mesmo assim, podemos despertar desde cedo o sentimento do belo e do ha
rmonioso numa pessoa privada da vista, enriquecendo sua vida interior. A ex
istência ou
a ausência desses fatores moldarão o futuro da criança cega nela deix
ando vestígios indeléveis.
O que penetra na alma, cria raízes e desabrocha em flor na vida da pessoa
cega, é-lhe transmitido pelo ouvido. Temos então como auxiliares preci
osos, a poesia e
a música. A literatura e a música exercidas, inicialmente com dilentan
55
#tismo e algumas vezes como profissão. A criança pequena gosta de ouvir
a leitura em voz alta, pega facilmente uma melodia infantil e a guarda e n
ão demorará em
reproduzi-la. Esses exercícios já podem ser iniciados na idade de trê
s anos. A criança não se cansa tão facilmente de ouvir e pede "bis".
Ao contar uma história
a uma criança notaremos, freqüentemente, que a criança corrige a quem
lhe faz a leitura, faz questão que a seqüência seja observada, que a
s palavras sejam sempre
as mesmas. Nos seus livros de contos de fadas e estórias, a criança fin
ge que sabe ler e repete em voz alta aquilo que memorizou.
Quando a criança pede leitura, satisfaça-lhe o desejo e não raras vez
es observaremos que o tema da leitura se transforma na vida ativa da crian
ça, em pequenas representações
teatrais. A criança vive aquilo que adquiriu e assimilou em suas leituras
ouvidas. Esse sentido de fato é o mais gratificador na existência da
s pessoas cegas.
Se seu filho gosta de música, tanto melhor, essa arte como poucas toca a
alma da criança, sem necessitar de tradução, ela representa a arte un
iversal que todos entendem
sob cuja magia todos sabem viver e se deliciam.
Começamos com as rimas cantadas, as pequenas melodias infantis. À for
ça de ouvir, a criança mais tarde manifestará provavelmente o desejo
de executar a música
e aprenderá a tocar um instrumento. Abre-se assim o caminho para a cria
tividade. Chegar até lá é um longo e penoso caminho. Não devemos es
quecer que a criança
cega vive pelo ouvido e pelo tato em primeiro lugar. No tato ela já revel
a suas preferências e desprazeres. Prefere um objeto de superfície lisa
a outro de superfície
áspera, dará maior valor a um objeto redondo do que a um com cantos ang
ulosos. O contacto com o corpo de um animal, sua pele ou penugem lhe poder
á ser desagradável
de início, mas associando essa impressão com o animal, a ave, o cachorr
inho, um gatinho, o desprazer cederá lugar a uma sensação agradável
..
Nunca podemos insistir demais na importância de obedecer e praticar os di
tames da higiene de cultivar a boa educação
56
ou saber como comportar-se perante os mais velhos. A isto podemos chamar de
valores estéticos, que ajudam muito a criança, porque ela conquista si
mpatia, amizade
e amor através desses hábitos. E aos poucos a mente do seu filho vai cr
escendo, formando-lhe o caráter.
A Educação Religiosa
A sua criança não verá nunca o céu estrelado, não admirará os p
lanetas na sua majestade, as obras grandiosas do Criador não lhe serão
nunca reveladas pela visão.
Mas ela não viverá sem Deus, porque pai nenhum deixará de transmitir
ao filho cego a mensagem de paz e de amor.
Uma verdadeira educação religiosa, será a dádiva mais preciosa que
a criança cega possuirá na vida. Precisamos transmitir-lhe a noção
que sua limitação não representa
nenhum castigo, mas levá-lo à meditação e a arcar com o encargo que
a Divina Providência lhe reservou, segundo a palavra de Cristo: "Esta cr
iatura não é cega porque
pecou, mas para revelar a obra de Deus". Faça com que a criança assista
o serviço religioso, que ouça os salmos e cantos religiosos, de modo q
ue sua existência fique
livre de amargura. O apoio moral e religioso lhe serão um grande alívio
..
O Comportamento Social
O destino privou a criança cega da visão do sorriso materno, ela descon
hece a diferença entre um rosto alegre, triste ou furioso. Os gestos que
acompanham a palavra,
que exprimem aceitação ou repulsa lhe são desconhecidos. Tudo isto fa
z com que ela possa parecer indiferente e leva até à equívocos e inte
rpretações falsas. Numa
família onde existem crianças videntes, além de uma cega, não demon
strem nunca alguma preferência; a criança cega que também é dotada
de sensibilidade ficará ressentida
embora não o manifeste abertamente. A cegueira provoca pena e compaixão
.. Esses sentimentos são prejudiciais e humilhantes.
Querendo ajudar o cego as pessoas dão-lhe esmola, isto o torna dependente
, e este sentimento é muito doloroso. Fal
57
tará à pessoa cega, por exemplo, o estímulo para ajudar, ela não pe
rcebe quando alguém quer abrir uma porta e não tem as mãos livres, el
a não sabe a quem devolver
um objeto caído no chão, e assim não se pode tornar útil como desej
aria. Por isto precisamos educar a criança cega para que ela aprenda a ex
ecutar esses pequenos
gestos que provocam a reação natural do vidente.
É difícil despertar essas atitudes sociáveis, porque a criança igno
ra tudo a respeito. Daí a grande importância em arranjar companheiros d
e jogos para ela, às vezes
ela se queixará que um outro colega tenha sido rude com ela. Isto não
é motivo para afastar seu filho da convivência de outras crianças. Tr
ate de relacioná-la com
colegas mais prestativos e atenciosos e explique-lhe que o menino ou a meni
na por ser cega, precisa da sua ajuda. Criança nenhuma recusará sua col
aboração. Com o
correr do tempo a criança se tornará mais sociável, perderá sua ini
bição, e chegará a comportar-se como qualquer outra. A criança cega
deve adaptar-se ao convívio
com as videntes, e poderá transpor a barreira invisível que a separa da
s demais. O mesmo se aplica à vida em família onde a pessoa cega pode s
e tornar útil e prestar
serviços a começar pela sua própria pessoa, pela higiene, ato de vest
ir ou arrumar seu quarto, buscar objetos em lugares que lhe são familiare
s, etc. Assim, ela
se integrará na comunidade social o que facilitará a vida para todos. N
ão esqueçam que o fato de ser privada da vista não autoriza atos volu
ntários e veemências.
Uma criança assim fortalecida moral e psiquicamente saberá enfrentar a
vida de forma mil vezes melhor do que outra cujos dotes naturais não fora
m cultivados e que
por conseguinte ficaram atrofiadas.
58
O CEGO NO MEIO DOS VIDENTES
"Não podemos formar as crianças segundo a nossa vontade, assim como Deu
s as deu devemos aceitá-las e amá-las, educálas deixando-lhes sua von
tade. Cada uma tem seu
dom peculiar e cada uma dele precisa e se sente feliz."
Johann Wolfgang von Goethe
A Escola para Cegos
Ao completar seis anos de idade a criança cega deve matricular-se numa es
cola. Isto representa um problema grave por que os Institutos de Ensino par
a Cegos não se
encontram em qualquer cidade. Isto implica numa separação dolorosa dos
filhos. Tratem da matrícula em tempo hábil. Um só ano perdido na educ
ação de um cego representa
um prejuízo enorme para a formação do mesmo. Os pais, por mais difí
cil que isto lhes possa parecer, por maior que seja o sacrifício também
sob o ponto de vista econômico,
não devem hesitar um só instante em escolher a escola conveniente. Conv
ém visitar a escola antes de internar a criança para conhecer o ambient
e e o sistema de ensino.
A escola em si, pelas matérias que ensina, não se diferencia das demais
.. Crianças e jovens atendem as aulas, ocupam-se com trabalhos manuais e t
écnicos. Os alunos
são preparados para sua vida futura e o exercício de alguma profissão
.. Os estudos são interrompidos pelo recreio e o ambiente, por estranho qu
e isto possa parecer
a muitos, é alegre. As crianças brincam, gritam, agitam-se e se sentem
sempre a vontade. O sacrifício que os pais fazem ao se separar do filho c
ego, internando-o
numa escola apropriada, reverte num enorme benefício, para ambos, pais e
filho. A escola constitui um marco na existência dessas crianças. A cri
ança sente-se em
casa, igual às outras, seu ensino é enormemente facilitado graças aos
recursos e métodos dos quais a escola dispõe.
59
Ao entrar no Instituto ou na escola a criança cega se integra numa comuni
dade bem diferente da do lar. Ela aprende a conviver, a adaptar-se, a obede
cer e a conhecer
os limites que lhe são postos na vida em comum. Enfim, a criança vive a
qui num ambiente normal, sem super-proteção sem mimos inúteis e ganha
em auto-confiança. Ela
se aproxima da vida no seu caminho da integração.
O Instituto constitui o segundo lar mau grado certos rigores que nela preva
lecem. Ela aprende a saber o que é disciplina.
Um dos meus antigos alunos, um homem simples, e que trabalha numa indústr
ia me veio visitar em companhia da esposa, uns vinte anos após sua saíd
a do Instituto.
Ele me contou: "Vou bem, ganho o suficiente. Vim procurá-lo porque sinto
saudades da nossa escola onde passei os dias mais felizes da minha vida. Qu
ando estou com
insônia, meus pensamentos vagueiam pelo passado, lembro-me da escola, dos
colegas, dos mestres e das horas felizes que vivemos juntos. Então eu me
sinto feliz."
Lágrimas de gratidão lhe enchiam os olhos ao se despedir de mim. Por is
to devemos ver que a escola para cegos deve ser a escola para a vida.
LAR E ESCOLA
"Venham, vamos viver para os nossos filhos."
Friedrich W. Froebel
O currículo escolar é de doze anos, mas nem por isto o internado vive i
solado da família ou alheio à mesma. Há férias e feriados de sobra
quando os alunos voltam
para casa. Nunca se subestima o valor da convivência familiar. A escola e
os pais devem esforçar-se em conjunto para tornar feliz a vida do intern
ado. Deve existir
uma colaboração firme e íntima. Neste mundo feito para os videntes o
cego deve sentir-se em casa, eis a meta do Instituto. Os pais de-
60
vem continuar a manter um contato íntimo com o filho. Mantenham uma corre
spondência regular, mostrem-se abertos aos seus desejos e suas aspiraç
ões. Não deixem nunca
de responder uma carta recebida. Elogiem seus filhos quando fazem progresso
s e animem-os a prosseguir em seus estudos e educação. Os pais devem se
r educadores firmes
e amigos leais ao mesmo tempo. A comunicação com o filho cego é enorm
emente facilitada quando alguém na família sabe ler "Braille" o que par
a um vidente não oferece
dificuldade nenhuma, derivando-se daí as seguintes vantagens:
1. Estabelece-se um contacto por escrito e ninguém precisa fazer a leitur
a de uma carta.
2. Mantém-se assim o sigilo da correspondência e assuntos discretos pod
em ser tratados na correspondência.
3. A criança poderá ler a carta recebida quantas vezes ela queira e sab
erá respondê-la sem se esquecer dos detalhes.
4. A remessa de correspondência de cegos é isenta de selos.
Fixe para o filho cego uma mesada, combine um modo de pagamento para servi
ços prestados (regar o jardim, varrer o quintal, etc.) para que ele possa
dispor de
dinheiro
próprio e aprenda a manejá-lo.
Não esqueça de remeter às vezes um pacote com doces, frutas ou bolo e
ensine seu filho a compartilhar com os outros. Não esqueça as visitas
regulares ao Instituto,
entrem em contacto com o diretor para conhecer os progressos feitos, os pro
blemas que surgiram e, antes de tudo, para manter um contacto vivo e perman
ente com ele.
Leia sempre com atenção os boletins que a escola distribui, tome nota d
e datas festivas, programas recreativos e reuniões e participem delas.
Em caso de surgir algum problema não dê razão ao seu filho de antem
ão ouça ambas as partes antes de se formar uma opinião. Os pais devem
assistir a festividades
escolares, como encerramento do ano letivo, onde há competições espor
tivas, representações teatrais, execução de peças musicais ou can
to, certificando-se assim do
bem-estar real da criança.
61
Teu filho e sua futura profissão
Depois de uma freqüência de seis anos na escola para cegos o aluno pode
rá ser orientado, conforme suas preferências e tendências para a esco
lha de sua profissão
futura. A escolha é grande, as profissões variadas, dependendo tudo do
aproveitamento do ensino recebido. Uma vida sem trabalho não tem valor
útil. Existem cursos
em escolas profissionais que preparam para atividade futura. A indústria
oferece um vasto campo para o emprego de pessoas cegas. Se além da ceguei
ra o aluno sofre
de mais uma limitação física que lhe impede exercer uma atividade na
indústria, existem inúmeros outros trabalhos, especialmente os manuais
(tecelagem, fabricação
de escovas, empalhamento, etc.) aos quais os cegos podem dedicar-se, havend
o ainda nas instiuições as oficinas protegidas de trabalhos para cegos.
Telefonistas, estenógrafos, massagistas, atividades industriais e comerci
ais e também, o campo de estudo acadêmico está aberto às pessoas ce
gas que sejam estudantes
aplicados.
Um dos fatores principais na orientação profissional do cego é a incl
inação que o próprio candidato manifesta para uma ou outra atividade.
Uma vez bem encaminhado
o profissional ou estudante sentir-se-á à vontade e fará o progresso
que sua limitação lhe permite. Em muitas das profissões apontadas, os
cegos são mais capacitados,
mais eficientes e motivados do que os videntes, muitos dos maiores obstác
ulos já foram vencidos neste terreno, como o preconceito dos empregadores
e a limitação
da ocupação dos cegos a tarefas meramente manuais e restritas.
A legislação sobre o emprego de cegos entre nós, merece ainda melhore
s estudos por parte das autoridades competentes.
Vejamos por exemplo a legislação alemã referente aos cegos: § 67 da
Lei de Assistência Social, alineas
1 a 3:
(1) O cego que completa seis anos de idade faz jús a um auxílio desde q
ue não receba subvenções de outra parte. Isto não se aplica a cegos
que usufruem de assistên
62
cia e apoio por parte de instituições no sentido mais amplo.
(2) Ao completar dezoito anos o cego receberá 200 marcos mensais e os que
ainda não atingiram essa idade perceberão 100 marcos.
(3) O cego que se recusa a trabalhar ou freqüentar uma escola que lhe gar
ante o preparo para uma futura profissão ou emprego, não fará jus à
contribuição-auxílio
acima mencionada.
Além disto o governo orienta as pessoas cegas na procura de um emprego e
os encaminha. Pessoas não cegas, mas com grave deficiência visual gozam
dos mesmos direitos.
Segundo o § 40 desta lei cabe ainda aos poderes públicos fornecer aos c
egos os recursos práticos para a existência dos cegos.
O RELACIONAMENTO ENTRE PESSOAS CEGAS E VIDENTES
Na relação entre pessoas cegas e videntes deverá existir a máxima n
aturalidade, e a pessoa cega deverá esforçar-se para integrar-se nesse
convívio. Somente assim
ela deixará de ser "cega", recusando-se a desempenhar o papel de uma pess
oa que apela para a misericórdia alheia. Na vida comunitária a pessoa c
ega se equipara às
demais. Muitas vezes a pessoa cega procurará o convívio com outros cego
s, porque esse contato a liberta de qualquer inibição. Mas, ela não p
ode prescindir do contato
com os videntes. E nunca deverá abusar das vantagens que o vidente lhe po
de oferecer sob pena de perder sua própria independência e tornar-se in
oportuna.
Muitas deficiências físicas podem ser aliviadas por meio do uso de pr
óteses que tornam o defeito mais aceitável para outras pessoas. No caso
da pessoa cega o olho
se apresenta deformado, como morto e provoca repulsa, especialmente quando
a pessoa esboça com o olho movimentos próprios dos videntes. Um olho ar
tificial não ajuda
a pessoa cega, mas
63
permite-lhe disfarçar o defeito e elimina o aspecto desagradável da ó
rbita ocular. Se por uma coincidência qualquer a aplicação de uma pr
ótese se torna impossível,
recomendase o uso de óculos escuros. A pessoa cega que se adapta ao ambie
nte e se comporta de um modo normal sem chamar a atenção sobre sua defi
ciência, facilita
enormemente o relacionamento com os outros e prestigia sua imagem no mundo
dos videntes. É obvio que ela depende muitas vezes da ajuda de terceiros,
seja na vida
familiar ou profissional. Ela precisa de um guia quando não conhece o amb
iente, precisa de ajuda para achar ou procurar objetos, para a percepçã
o de fenômenos que
somente nos são transmitidos pela vista.
Ouve-se freqüentemente a crítica que as pessoas cegas são ingratas, m
as de outro lado poderíamos dizer que os videntes nem sempre são atenci
osos. Quando uma pessoa
cega não tem sempre seu "obrigado" a flor dos lábios, tendemos a censur
á-la, sem pensar que ela depende de nós e que é nossa obrigação a
judá-la sem cobrar sempre
um agradecimento. A pessoa cega é por natureza uma pessoa sensível que
interpreta as coisas sob o seu prisma. Às vezes o vidente não nota que
uma pessoa a quem se
dirige é cega, tratando-a como um vidente. Em tais casos cabe a pessoa ce
ga tomar a iniciativa, explicando sua situação. Muitas vezes uma pessoa
vidente desconhece
o problema da pessoa cega. Esta, por sua vez, deve ser dotada de uma boa do
se de humor para enfrentar todas as situações que surgem. Existem pesso
as cegas que exigem
um tratameno privilegiado, não sem razão, mas não convém exagerar e
ssa atitude. Na vida do dia a dia esses problemas devem ser contornados.
A pessoa cega, para viver bem no seu ambiente, deve comportar-se como "home
m" e nunca como cego. Não deve transformar sua deficiência num motivo d
e desculpa para
seu mau comportamento.
A pessoa cega não deve exigir maior atenção do que ela realmente prec
isa. Seu comportamento normal, sua equiparação aos demais tornarão su
a vida bem mais fácil.
A chave do segredo reside na naturalidade. Todos nós temos nossos recurso
s na vida, e a pessoa cega tem os seus.
A pessoa cega não precisa disfarçar sua deficiência, mas deve usar ab
ertamente seus recursos. Assim, como nós abrimos um livro numa sala de es
pera ou lemos uma revista
num ônibus, assim a pessoa cega deve também usar seus meios de leitura
ou fazer anotações na sua
reglete, sem incomodar-se com os outros, que aliás em geral nem
o perceberão. O melhor que pode acontecer a uma pessoa cega é não ser
tomada como tal, e poder esquecer durante algumas horas o seu estado. No d
ia em que a pessoa
cega se sente realizada na vida, ela terá ganho a maior e mais brilhante
vitória da sua existência.
O MATRIMÔNIO DA PESSOA CEGA
Este é um problema que preocupa tanto a pessoa cega quanto a vidente. Qua
ndo a pessoa cega tem que enfrentar este problema ela procurará provavelm
ente o conselho
daqueles que lhe são mais chegados e o discutirá com eles. Nenhum pai,
nenhuma mãe ficará alheia ao apelo que lhes é dirigido neste sentido.
A base de toda discussão
será a confiança mútua.
Esse problema do matrimônio das pessoas cegas foi discutido em muitas dis
sertações e artigos, em revistas para cegos e sob os seus mais diversos
ângulos. Em vez
de complicar o assunto, vamos tratar dele aqui da maneira mais simples, e a
ssim o esperamos, objetivamente também. Como para os demais seres humanos
o matrimônio
é a fundação de um lar, são assuntos de importância transcendenta
l. Uma solução feliz neste caso, é bem mais difícil do que possa pa
recer.
Os entendidos e aqueles que estudaram o problema a fundo, dada sua conviv
ência com as pessoas cegas opinam que o homem deve preferencialmente casa
r com uma mulher
que enxerga, baseando-se evidentemente numa simpatia, afinidade e respeito
mútuos. O mesmo se aplica às mulheres cegas, embora a experiência nos
mostre que os casos
de casamentos entre homens videntes e mulheres cegas são mais raros.
64
65
O convívio constante que uma pessoa cega tem com outras pessoas videntes
facilita naturalmente a aproximação e o relacionamento, dando-lhe oport
unidade de encontrar
o futuro companheiro. Muitas pessoas cegas que exercem uma profissão inte
lectual confessaram que sem a assistência e o apoio constante da sua esp
ôsa-companheira,
seriam incapazes de exercer sua profissão.
Um dos fatores mais importantes ao querer fundar uma família é saber a
causa da cegueira. Trata-se de um mal hereditário ou de nascença ou pro
veniente de algum
acidente. Um exame com um oculista é recomendável e se impõe. No caso
de um mal hereditário, o casamento deve ser
excluído de antemão. Mesmo que a pessoa cega case
com uma mulher perfeitamente sã, a cegueira hereditária poderá manife
star-se num dos filhos oriundo de tal casamento. É praticamente impossí
vel prever como a doença
pode ser transmitida.
As pessoas cuja visão é parcial encontram-se em situação mais favor
ecida. Uma mulher, por exemplo, com 1/10 até
1/25 da visão pode ainda exercer suas atividades domésticas com facilid
ade. Os casamentos devem preferencialmente ser celebrados entre pessoas ceg
as e videntes ou
pessoas com visão reduzida e videntes, o que facilitará enormemente a v
ida em comum sob os aspectos práticos e sociais. Em caso de cegueira here
ditária um casamento
poderá ainda ser admitido, desde que o casal concorde em não ter filhos
.. Aqui também convém consultar, não só o oculista, mas também os
outros especialistas.
66
O CEGO E SUA ORGANIZAÇÃO O conceito da Cegueira
Quem é cego?
Cego é aquele que não distingue nada com a vista, nem claro ou escuro.
Neste caso falamos de cegueira total. Estes casos raras vezes se aplicam a
crianças. A maior
parte das crianças portadoras de cegueira distinguem entre claro e escuro
e percebem os contornos dos objetos quando próximos.
Na vida prática uma criança afetada de uma vista seriamente é conside
rada como cega, embora ela possa se locomover sem auxílio.
Cegueira escolar
Designamos com este termo a criança que possui uma vista tão prejudicad
a que precisa recorrer ao uso dos demais sentidos para poder seguir um curs
o escolar, via
de regra ela é tratada como se fosse cega.
A definição dada por um diretor de um Instituto para Cegos é a seguin
te:
"Devemos considerar como "cegueira escolar' o estado de uma criança que n
ão consegue captar conhecimentos visuais baseados em dados ópticos, o q
ue as impede de seguir
com o proveito desejado um curso escolar ou mesmo uma classe especial para
alunos com defeitos visuais'.
A cegueira é congênita ou adquirida. Uma pessoa vidente poderá ficar
cega devido a:
1. Lesões sofridas durante alguma atividade lúdica, na profissão, por
acidente de tráfego ou explosões, etc.
2. Por meio de doenças que afetam a vista.
Segundo o grau e características, as pessoas cegas se dividem em portador
es de: cegueira congênita, cegueira adquirida que pode ser precoce tardia
e senil.
A cegueira precoce inclui todos aqueles que são atacados de cegueira na i
dade escolar. Os cegos congênitos e os pre
67
coces constituem os casos típicos daqueles que freqüentando em tempo h
ábil um instituto ou escola para cegos, poderão ser treinados eficiente
mente para exercer
mais tarde uma profissão. Dentro do seu campo restrito de atividades, e u
sando todos os recursos ao seu alcance eles se tornarão membros úteis d
a sociedade e vida
profissional, e não correm o perigo de sossobrar numa apatia e indiferen
ça absolutas.
Cegueira tardia
Comparados com os portadores de cegueira total, esses têm a vantagem de t
er conhecido o mundo como ele é, com todas as implicações de uma pess
oa dotada de uma visão
normal. Estas pessoas podem ainda ser treinadas e readaptadas para nova vid
a. Seu tato e olfato não são entretanto, evoluídos num grau de agudez
como nos cegos congênitos.
O uso desses sentidos exige um esforço maior do sistema nervoso. A aprend
izagem de "Braille' e a orientação espacial pelo ouvido lhe causam gran
des dificuldades.
Esse grupo de cegos sofre muito mais sua deficiência e se adapta com muit
o maior dificuldade. Tudo, senão muito, depende da disposição, da for
taleza de ânimo, e
do esforço dispendido para que o portador de cegueira tardia se adapte
à sua nova condição. Quando a cegueira se manifesta na idade avança
da, falamos de cegos por
velhice. Estes não se prestam mais à uma readaptação ou a um treina
mento especial. Suas forças físicas e mentais e sua própria constitui
ção não lhes permitem reagir
convenientemente.
As pessoas com a visão reduzida devem ser treinadas de uma forma diferent
e. Elas poderão usar o resíduo visual, seu campo visual é restrito e
prejudicado, mas não
ao ponto de torná-los seres incapazes de assumir deveres e tarefas que ex
ijam o uso de pouca visão.
As causas mais freqüentes da cegueira e como evitá-las.
Antigamente a cegueira entre crianças era mais incidente do que hoje em d
ia. Graças aos grandes progressos feitos
na oftalmologia e as atividades do Bem Estar Social em muitos países, sua
freqüência é hoje bem menor. Não falamos aqui, evidentemente, da c
egueira de guerra que
durante a segunda guerra mundial atingiu infelizmente cifras astrológicas
..
Como causas
da cegueira infantil queremos citar as seguintes:
Inflamação da vista nos recém-nascidos (Blenorragia)
Esta doença tem sua base na doença dos órgãos sexuais e se faz nota
r nos primeiros dias após o nascimento. Forma-se uma inflamação do te
cido conjuntivo com forte
secreção de pus. O pus é um veículo perigoso de contágio para os
outros. Logo depois do primeiro banho aplica-se uma solução por meio de
gotas na vista do bebê.
Não se exige nenhum outro tratamento adicional.
A Escrofulose leva em muitos casos à afecções mais ou menos graves da
córnea. Um regime sadio, o fortalecimento físico em geral, ar puro s
ão os fatores importantes
para vencer o mal. A escrofulose da vista raras vezes leva à cegueira, ma
s a vista ficará prejudicada até certo ponto.
O Tracoma (conjuntivite granulosa) é uma doença contagiosa que assenta
de preferência na conjuntiva palpebral superior e no fundo do saco onde f
orma pequenas granulações.
Ela é vulgarmente chamada de doença egípcia, e mais de quatrocentos m
ilhões de pessoas são atacadas pela mesma. Na Europa o tracoma é pouc
o difundido.
Depois de certas doenças contagiosas (tifo, escarlatina, varíola) surge
m às vezes as inflamações da vista que podem levar à cegueira. Em c
onseqüência da cegueira,
o olho se recolhe por completo e a córnea transparente se cobre de cicatr
izes que não deixam mais penetrar a luz.
A Sífilis traz em suas seqüelas lesões cerebrais e da medula que se m
anifestam anos mais tarde e que podem também levar à cegueira. A inflam
ação da íris e da coróide
são conseqüências da sífilis.
69
Doenças orgânicas do sistema nervoso, ao qual a vista é intimamente l
igada, podem levar a defeitos da vista (inflamação do nervo ocular, ou
degeneração do pigmento).
Não cabe aqui enumerar todas as possíveis eventualidades, que pertencem
ao campo da medicina e neurologia.
O Glaucoma (catarata) - caracteriza-se pela dureza do olho, por tensão in
tra-ocular acarretando perturbações visuais transitórias ou definitiv
as. O olho sofre uma
deformação.
A Catarata - caracteriza-se pela opacidade do cristalino, impedindo a chega
da dos raios solares à retina. Ela pode ser nata mas em vias de regra apa
rece na idade
avançada.
A Inflamação Simpática é a causadora de muitos defeitos visuais, e
quando um olho é atacado, o mal passa para o outro olho. Nestes casos imp
õe-se a visita imediata
ao oculista para salvar o que pode ainda ser salvo.
O Estrabismo - é um mal muito difundido. O recém-nascido move os olhos
sem coordenação e a vista das crianças em distâncias reduzidas é
mais aguda do que a dos adultos.
Não devemos confundir isto com estrabismo. A posição falsa dos olhos
permanece mesmo quando se olha ao longe, ou um dos olhos não se move em s
entido nenhum. O estrabismo
deve ser tratado de modo diferente desde a sua origem, também nas crian
ças pequenas. Caso contrário haverá lesões incuráveis da vista. O
estrabismo, além de ser
um defeito estético, é uma doença que afeta a vista para o resto da v
ida.
Defeitos da vista como miopia, astigmatismo e outros nada têm que ver com
o estrabismo, embora estejam às vezes ligados à mesma. O único trata
mento razoável é o
uso de óculos. Sem o tratamento devido o desenvolvimento intelectual da c
riança será retardado, pois, ela enxerga menos do que outras crianças
e pode acontecer que
o cérebro fique atacado devido à diminuição da capacidade visual.
A Vista inflamada é sempre motivo de suspeita, quando falta a margem bran
ca entre a parte vermelha e colorida do
70
olho. Devemos, porém, notar que na parte branca do globo ocular sempre se
notam pequenas veias.
Lesões externas são freqüentemente desprezadas e não são tomadas
a sério. Inúmeras crianças sofrem cada ano uma ou outra lesão da vi
sta, ocorrendo a cegueira total
em outros casos. Entre nós devemos citar os acidentes que ocorrem durante
as festas juninas ao soltar fogos, bombinhas e ao manipular balões. As a
rmas de fogo, arco
e flechaa, armas de ar comprimido são outros fatores que ameaçam a vist
a.
Explosões ocorrem pelos motivos acima expostos, ou quando as crianças r
ecolhem em terrenos baldios objetos cuja periculosidade elas desconhecem co
mo cartuchos, objetos
metálicos, tubos, espoletas, etc. Também entre nós a lei proíbe a v
enda de fogos a menores, mas mesmo assim, eles vêm parar nas mãos das c
rianças incautas.
Ferimentos agudos são causados por facas, tesouras e garfos que inadverti
damente vêm /parar nas mãos das crianças. Existe um velho refrão in
fantil que diz: "Faca,
tesouras, garfos e fósforos não servem para crianças brincar".
Muitas crianças cegas ou com visão reduzida usam prótese de vidro. Qu
ando estas quebram devem ser substiuídas o quanto antes senão, a cavida
de ocular se retrai e
uma operação demorada e difícil se impõe para poder novamente inser
ir um olho artificial. A cavidade se transforma também na época de cres
cimento da criança e por
isto a vista defeituosa deve ser examinada periodicamente e no mínimo uma
vez cada ano. Devemos também cuidar da limpeza das próteses e dos olho
s de vidro, para
o que, o uso de água borricada é o mais indicado. Recomenda-se igualmen
te remover o olho artificial durante a noite.
Operações plásticas, quando recomendadas pelo oculista eliminam o asp
ecto desagradável que uma vista machucada pode oferecer e facilitam a con
vivência da criança
com os seus colegas. A criança se sentirá mais segura e evitará obser
vações indelicadas por parte de pessoas menos avisadas.
71
Os óculos devem ser mantidos limpos, sem arranhões e seu uso deve ser r
egulado por exames periódicos feitos por oculistas.
Um aviso aos pais: Consultem imediatamente um oculista quando surgem motivo
s de suspeita de alguma lesão ou irregularidade na vista. Não mudem sem
pre de oculista
em busca de um milagre, tenham confiança nele. Não existem nem curas, n
em remédios milagrosos e não vos deixai iludir por anúncios espalhafa
tosos que falam em curas
inéditas, etc. Não podemos nunca deixar de insistir num ponto:
SIGAM AS PRESCRIÇÕES DO OCULISTA A RISCA.
Pessoas com visão reduzida
Existem crianças com vista seriamente prejudicada, que entretanto tem lev
e resíduo de percepção visual. No fundo trata-se de crianças com gr
ave prejuízo da visão.
A Lei Social define o grau elevado de prejuízo da vista como segue: "Pess
oas que podem orientar-se num ambiente que lhes é familiar, sem auxílio
de terceiros, cuja
vista entretanto as impede de exercer atividades que lhes garantem a subsis
tência. Isto ocorre quando a capacidade visual de um olho atinge uma acui
dade visual inferior
a 1/20 ou quando existem deformações de idêntica gravidade".
Nestes casos devem ser consideradas pessoas portadoras de uma visão altam
ente prejudicada. De mais a mais, devemos considerar toda e qualquer pessoa
portadora de
um defeito visual como gravemente prejudicada, desde que ela não possa ex
ercer uma profissão a contento ou não possa executar uma tarefa de um m
odo satisfatório.
Uma grande parte das crianças com visão reduzida podem receber uma orie
ntação segura em classes especiais destinadas a essas deficiências. S
ão poucas as escolas
que mantém tais classes. Na Alemanha p. ex. elas existem nas cidades de B
erlim, Bremen, Dortmund, Duesseldorf, Duisburg, Essen Frankfort s.M., Hambu
rgo, Hannover,
Colônia e Nuremburgo. Algumas dessas escolas são internatos, e outras n
ão.
72
Umas têm classes ginasiais, de comércio, e para outras matérias.
Às vezes torna-se difícil distinguir que escola é mais indicada para
um determinado caso, de cegueira total ou visão residual. Sempre convém
fazer a primeira experiência.
Algumas instituições como a de Hannover p. ex. mantém classes seriada
s para criança com visão reduzida e são geralmente internatos. Sempre
devemos dar preferência
à escola comum em casos de deficiência visual.
Nesse tipo de escolas formam-se pequenos grupos congênitos, cuja finalida
de consiste em adaptar as crianças ao seu ambiente e aumentar sua capacid
ade visual pelos
meios disponíveis. Treina-se a memória pela impressão que a vista ain
da é capaz de captar. Técnicas especiais de ensino são aplicadas. O f
ato de uma criança poder
ler e escrever não são os únicos indícios para a aplicação da c
apacidade visual que sobrou. A memória óptica é um auxílio precioso
na educação dos "quase-cegos",
e facilitará enormemente a formação futura da criança, já condena
da à futura cegueira.
Numa escola comum a criança com visão reduzida não pode seguir o ensi
no, o que não devemos confundir com uma falta de receptividade, a vista d
eficiente simplesmente
não permite à criança seguir uma classe normal e insistir neste ponto
, seria prejudicar a criança.
Exames minuciosos se impõem para conhecer a capacidade mental da crianç
a e o grau de deficiência visual para encaminhar a criança à institui
ção ou escola que mais
lhe convém.
O Cego e seu Cão
Nos casos de cegueira tardia especialmente nos casos de cegos de guerra, a
capacidade de treinar o ouvido e o tato para ajudar na orientação é m
uitas vezes inexistente.
Um cão devidamente treinado para servir de guia, substituirá em parte o
órgão visual da pessoa. Ele saberá contornar os obstáculos, mas a
própria pessoa cega deve
indicar o caminho que deseja seguir.
73
Pessoas que ficam cegas na juventude e se acostumaram a utilizar o seu cã
o, perdem a capacidade de orientação, mais cedo ou mais tarde. Por isto
, a pessoa cega
jovem deve acostumar-se a caminhar sozinha com freqüência, usando sua b
engala, para treinar seu sentido de orientação e não depender do seu
cão. Esses animais servem
para o trabalho e devem ser tratados apropriadamente. Não se deve brincar
com eles, se não eles distraem-se facilmente. O cão deve concentrar-se
na sua tarefa e
sua atenção não deve ser desviada, do contrário ele prejudicará a
pessoa cega, em vez de ajudá-la. Um cão para cegos, uma vez educado, n
ão pode ser re-educado mais
tarde.
AS ORGANIZAÇÕES
Quanto aos cuidados e assistência que lhes são dispensados as pessoas c
egas dividem-se em dois grupos: os civis, e os de guerra.
1. Os civis
Pertencem a este grupo os cegos congênitos, os que ficaram cegos na juven
tude e todos aqueles que por um ou outro motivo perderam a vista seja por d
oença, seja por
velhice.
Em conseqüência da educação e treinamento dos cegos, que tiveram se
u início nas primeiras décadas do século passado, o número de pesso
as cegas que participa da vida
ativa diária aumentou sensivelmente. Irmanados pelo mesmo destino, unidos
pelas mesmas instituições, pelas quais passaram, os cegos se reuniram
em grupos, em sociedades
para a defesa dos seus interesses e para pleitear com maior possibilidade d
e êxito, uma legislação adequada e a defesa dos seus legítimos dire
itos perante o governo
e o estado.
A finalidade da organização de cúpula é o seguinte:
Colaboração na legislação para as pessoas cegas e sua equiparaç
ão social. Revisão das leis trabalhistas em relação aos cegos e abe
rtura de novos campos de atividade.
74
Apoio a campanhas culturais e colaboração com fontes promocionais, e fo
rmação da opinião pública face ao problema do cego.
Manutenção e criação de campos de férias e instituições para
cegos.
Todos os pais de crianças cegas deveriam afiliar-se a um movimento ou ent
idade que luta em prol das pessoas cegas.
2. Cegos de guerra
Se o problema da pessoa cega civil se baseia nos cuidados e na educação
, o problema do cego de guerra tem caráter de amparo e sustento.
Os cegos de guerra tem na Alemanha a "União dos Cegos de Guerra" com sede
em Bonn cuja finalidade consiste em primeiro lugar no fomento dos interess
es sociais, econômicos
e culturais dos cegos e as atividades de amparo social previstos nos estatu
tos da União dos Cegos de Guerra.
Fazem parte dessa entidade todos os cegos que foram combatentes na 1.^ e 2.
? guerra mundial; todos os civis que ficaram cegos em conseqüência de q
ualquer ação bélica;
todos aqueles que perderam a vista devido a acidentes de trabalho e outros
sinistros.
75
FINAL
"Ninguém, e por mais caminhos que trilhe, define os limites da alma, por
ser ela por demais profunda."
Heráclito
O que foi que visamos com a publicação deste livrinho?
Fornecer conselhos e orientação segura para as crianças acometidas de
cegueira ou com grave deficiência visual. Não existem regras rígidas
, tampouco há "receitas"
pois devemos respeitar a individualidade de cada criança.
Antes de qualquer conselho, orientação e ensinamento vem, entretanto, o
amor, a paciência, a dedicação sem o que os melhores conselhos de na
da valerão.
Precisamos compreender a criança, para conhecer suas motivações, seus
atos, seu procedimento. A educação da criança cega exige abnegaç
ão e energia. Não podemos deixar
passar tudo, fechar os olhos pois uma orientação baseada na frouxidão
não leva a nada e a criança em vez de ser ajudada será prejudicada.
Não devemos esquecer que
a criança precisa ser educada para a vida, para poder enfrentá-la, apes
ar das suas deficiências.
Não é apenas o círculo restrito da família no qual a criança prec
isa aprender a viver, é o mundo. Ela deverá conhecer os obstáculos qu
e terá que enfrentar, a incompreensão
de terceiros a adversidade que fará parte da sua existência num mundo d
e videntes. A criança deve aprender que todo mundo tem seus problemas, qu
e a vida exige de
nós uma atitude corajosa e uma boa dose de otimismo para se existir nela.
Existem limites, mas existe também a possibilidade de despertar na alma d
a criança tudo que existe de bom, de cultivar seus talentos e de formar s
eu caráter. "O
pensamento de Deus, que brota na alma de cada criança tomará forma dess
a maneira".
76
"SENHOR, dai às nossas crianças cegas as mães que sabem construir as
pontes de um amor que não se pedem."
Heimers
"Ninguém poderá usufruir do amor do próximo, daquele amor que constit
ui o último recurso de cada um de nós, sem cultivar esse amor em si mes
mo."
Kolbenhaeger
ÍNDICE
PREFÁCIO PARA A PRIMEIRA EDIÇÃO 5
PREFÁCIO PARA A SEGUNDA EDIÇÃO 7
O SENTIDO DA NOSSA VIDA 9
"QUERIDA MÃE" 11
CONSELHOS BÁSICOS PARA A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA CEGA 13
A CRIANÇA CEGA NO LAR 17
A criança no seu 1º ano de vida 17
Educação corporal da criança 19
A criança e suas necessidades fisiológicas 23
A Fala e os órgãos Sensoriais 28
A Fala 28
O Ouvido 29
O Ouvido Musical 31
O Tato 31
O Paladar e o Olfato 33
"Vejo o Mundo" 33
A Orientação 35
Faço compras para mamãe 38
Adaptação da Criança ao Ambiente 41
A linguagem dos gestos 41
O brinquedo 42
Jogos de Movimento 44
A criança e seus coleguinhas 46
Hábitos próprios à cegueira e como evitá-los 46
As boas maneiras 49
Visão Global da Educação da Criança Cega 50
Aspecto Geral 50
O raciocínio 52
Os números 53
A memória 54
A fantasia 54
Educação estética-moral 55
Educação religiosa 57
O Comportamento Social 57
78
O CEGO NO MEIO DOS VIDENTES 59
A escola para cegos 59
Lar e Escola 62
Teu filho e sua futura profissão 62
A Legislação 62
O relacionamento entre pessoas cegas e videntes 63
O matrimônio da pessoa cega 65
O CEGO E SUA ORGANIZAÇÃO 67
O conceito da cegueira 67
As causas mais freqüentes da cegueira e como evitá-las 68
Pessoas com vista reduzida 72
O cego e seu cão 73
As Organizações 74
FINAL 76
79
Composto e Impresso nas Oficinas da Editora Obelisco Ltda. Rua Anhanguera,
56/66 Caixa Postal, 1821
Telefone: 51-3095 São Paulo - Brasil




1 arquivo anexado:

Como Ensinar o Aluno Cego - Patricia Martins Andrade.txt

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