sábado, 16 de dezembro de 2017 By: Fred

{clube-do-e-livro} Dois Olhos, Duas Vidas - Jorge de Palma pdf e txt

O autor

Jorge de Palma �� filho de Carmo de Palma e

de Adelina Candian de Palma. Nasceu em

Iracem��polis-SP, em 20 de dezembro de 1952.

Trabalhou muitos anos como jornalista,

atuando nos jornais Di��rio de Limeira, Di��rio

de Pernambuco, Di��rio de Americana, O

Liberal (Americana) e Tododia (Americana),

entre outros.

Reside em Americana-SP.

O autor escreveu esta est��ria quando tinha

17 anos.. A primeira edi����o foi publicada h��

mais de 30 anos.

Contato pelo e-mail:

jorgepalma@bol.com.br

Dois olhos, duas vidas

I - Estes olhos

Ele havia chegado de manh�� e durante todo o dia

ficou sentado, chorando, �� beira de um t��mulo. Estava

em total des��nimo. N��o teria mais que quinze anos.

As pessoas que entraram no cemit��rio naquele dia

viram a mesa cena e o fato acabou chegando aos

ouvidos do p��roco da cidade. Assim, quando ia

anoitecer o menino ainda estava l�� e o padre resolveu ir

conversar com ele. Talvez a sua presen��a pudesse

consol��-lo e resolver seus problemas.

Do port��o do cemit��rio via-se o menino de costas. O

padre aproximou-se devagar e perguntou:

-Posso conversar com voc��?

No in��cio o menino pareceu surpreso, mas depois

concordou.

-Sim padre, eu quero confessar e comungar, pois nesta

noite eu morro.

-Ora, n��o diga isso - exclamou o padre, admirado -

voc�� ainda �� jovem e tem muito o que viver. Conte-me

os seus problemas.

-Eu vou contar, padre - e o menino p��s-se a falar - o

senhor est�� vendo estes olhos? Estes olhos que me

fazem ver toda poesia e beleza e toda a maldade da

terra? Estes olhos que e guiaram at�� esta sepultura, que

j�� fizeram parte de outro ser, estes olhos, eu sinto

vontade de arranc��-los. Eu n��o sei se devo odi��-los,

todavia eu tive um grande amor por uma parte destes

olhos! O bom padre n��o entendeu o que o menino

queria dizer. Contudo, abra��ou-se a ele e ajudou-o a

levantar-se. Depois, convidou-o:

-Vamos, vamos para a minha casa e l�� voc�� me contar��

toda essa hist��ria.

Um tanto contrariado, o menino que se chamava

Ricardo, aben��oou-se diante do t��mulo, murmurou

algumas palavras e seguiu junto ao padre.

II - Quando tudo era belo

Eu adorava a nossa fazenda. De manh��, bem cedo,

quando tudo era sil��ncio l�� nas goiabeiras e os pardais

ainda estavam dormindo, eu me levantava e, depois de

tomar caf��, ia para o est��bulo buscar o Veloz. Era o meu

cavalo mais estimado. Era marrom, bem clarinho e

todas as manh��s ele percorria a fazenda levando-me em

seu dorso. Assim eu passava as primeiras horas. Depois

pegava meu estilingue e ia atirar pedras nos pardais.

Gostava das andorinhas. Dos pardais, n��o.

Papais me dissera que, quando ele era jovem, milhares

de andorinhas viviam no velho engenho at�� que

chegaram os pardais. Eles multiplicaram-se rapidamente

e acabaram expulsando as andorinhas. Por isso eu n��o

gostava deles e, quando estavam fazendo festa l�� nas

goiabeiras, eu lhe atirava pedras com o meu estilingue.

Gostoso tamb��m era trepar na jabuticabeira, chupar as

frutinhas e depois mergulhar nas ��guas do ribeir��o que

passava quase embaixo da formosa ��rvore.

Todavia, n��o era s�� de divertimento que eu vivia.

Ajudava a tirar leite das vacas, tratar dos animais e, ��s

vezes at�� ia cortar cana juntamente com outras pessoas

da fazenda.

Quando a tarde caia, aprontava as li����es da escola e

meu pai me levava para o gin��sio da cidade pr��xima.

Mais tarde, meu pai, ou o Juca, meu irm��o, ia me buscar

na cidade.

Geralmente, retirava livros da biblioteca e levava para

ler sob a sombra de um maravilhoso p�� de ip�� amarelo.

Tudo era belo e calmo. O vento balan��ava as florzinhas

amarelas e algumas ca��am sobre o livro aberto em

minhas m��os. Mas ent��o, quando amava toda aquela

natureza, que ela amea��ou desaparecer para sempre de

minha vida. Foi ent��o que caiu sobre mim a amea��a de

ficar cego.

III - E eu conheci Estela

O p��tio do hospital tamb��m era bonito. Tinha ��rvores

e passarinhos. De certo modo compensava a manh�� que

tinha perdido de passar na fazenda. O que estava

faltando ali era o meu estilingue. Se estivesse com ele,

aqueles pardais n��o estariam fazendo aquela festa e todo

aquele barulho. Mas tamb��m at�� que era bom v��-los

cantando e voando de um lado para outro, pois o que

seria dos doentes que estavam naqueles quartos se n��o

pudessem escutar o gorjear dos p��ssaros?

Foi ent��o que me entristeci. O que poderia fazer se

ficasse cego. Como iria atirar pedra nos pardais? Como

iria cavalgar o Veloz? Era certo que os livros, o Juca

poderia ler para mim, mas de que adiantaria isso se eu

n��o pudesse mais ver e sentir a poesia da pr��pria

natureza?

Aquele temor me assaltava. Para n��o ficar em p��nico,

desviei a aten����o para as ��rvores e os pardais. Mas nem

aquilo veria mais se a minha doen��a n��o fosse curada.

Justamente quando nada mais conseguia me entreter,

surgiu no p��tio, como por encanto, aquela maravilhosa

menina de cabelos dourados e olhos azuis. Ent��o o

milagre aconteceu. Esqueci de minha doen��a e a

imagem dela tomou conta de meus pensamentos.

Ela veio devagarzinho e arriscou com delicadeza:

-Bom dia

-Bom dia! - respondi admirado. Era a primeira vez que

ia via Estela e ent��o iniciava a nossa primeira conversa.

-Voc�� mora aqui na Capital?

-N��o - respondeu ela - moro no interior, mas como

estou doente, meus pais me trouxeram para fazer uma

consulta m��dica e voc��?

-Meu caso �� o mesmo, mas espere ai, eu ainda n��o seu

o seu nome - disse ao mesmo tempo perguntando.

-Estela - respondeu a menina e com um sorriso

replicou:

- E o seu nome, eu posso saber?

Mas �� claro que ela poderia saber e a todas as

perguntas que me fez, respondi com satisfa����o. O

mesmo se deu com ela.

Estela falou-me de sua doen��a, mas eu desviei logo a

conversa para um assunto mais alegre. Falei-lhe sobre a

minha vida e sobre toda a beleza e poesia de nossa

fazenda. Notava nos lidos olhos azuis a satisfa����o que

ela sentia e percebi tamb��m que tudo o que eu lhe

contava fazia surgir nela o desejo de conhecer a fazenda

de meus pais.

Convers��vamos animadamente quando meu pai

apareceu. Notei que ele estava preocupado, contudo

for��ou um sorriso quando me viu. T��o logo ele se

aproximou, apresentei-lhe Estela.

-Ah ent��o voc�� �� a Estela - disse meu pai - eu j��

conhe��o seus pais. Eles me falaram de voc�� enquanto

est��vamos na sala de espera do hospital. �� um prazer

conhecer a filha de t��o distinto casal.

Papai continuou conversando conosco. Falamos de

diversas coisas e ent��o ele surpreendeu a mim e a Estela

dizendo:

-Estela, voc�� gostaria de passar uns dias em nossa

fazenda?

- Oh sim! - respondeu Estela surpresa e feliz - mas n��o

sei se meus pais deixar��o.

-Certamente que deixar��o - assegurou meu pai.

-Mas eu estou doente - replicou Estela.

Meu pai �� determinado. Quando punha alguma coisa

na cabe��a, insistia e insistia mesmo!

-Uns dias na fazenda v��o lhe fazer bem. O ar do

campo �� bom para a sa��de. Pode ficar sossegada que eu

falarei com seus pais.

E falou mesmo!



IV - Quando tudo era mais belo

Tr��s dias depois eu me encontrava embaixo do ip��

amarelo. Agora j�� n��o lia mais poesia e sim passava o

tempo compondo versos. Para todos a fazenda

continuava bela, como sempre. Mas para mim estava

meio apagada. Parecia que estava faltando algo...

Faltava algu��m cuja beleza excedia a toda a beleza da

fazenda.

Durante os tr��s dias que passaram depois que voltei de

S��o Paulo, todas as manh��s eu montava o Veloz e

galopava com ele um bom trecho da estrada que

conduzia �� cidade. Ia sempre com a esperan��a de

encontrar um carro, vindo para a fazenda, por��m voltava

desanimado.

Esses dias passaram-se tristes para mim. J�� n��o me

importava com os pardais. Meu estilingue jazia

esquecido em um canto.

�� estranho, como uma simples conversa com algu��m

pode mudar tanto a vida da gente! Assim, quando entrei

em casa naquela tarde, estava mais desanimado como

nunca.

Encontrei papai sorridente. Uma leve esperan��a

apossou-se de mim. Ent��o eu n��o sei se ele deu a not��cia

t��o rapidamente ou se eu a ouvi antes dele dizer:

-Estela telefonou dizendo que vir�� amanh��,

-Eu, que j�� esperava alguma coisa assim, quase n��o

acreditei. Aquilo era ��timo, era bom demais. E tudo

transformou-se de repente. Eu estava novamente feliz.

No dia seguinte, horas antes dos pardais cantarem nas

goiabeiras, eu j�� estava acordado. Para dizer a verdade,

pouco dormira durante a noite e ainda assim sonhara

com ela.

Por fim, o sol sorriu para tudo e quando isso se deu eu

j�� estava junto ao Veloz. Pouco depois ��amos pela

estrada.

Tudo parecia mais belo e os pensamentos me saiam

pela boca como se n��o coubessem dentro de mim:

Vai, Veloz, vai galopando

Vai, Veloz , cortando os campos

Vai no seu dorso levando

Uma alma cheia e encantos

Vai, Veloz, vai galopando

Que tem fim a primavera

Mas o ip�� ainda espera

Conservando as suas flores

Para ofertar para Estela

Vai, Veloz, vai galopando

Que a tristeza j�� tem fim

E os campos est��o belos

E conservam-se assim

Esperando por Estela

Esperando por Estela".

Todos n��s est��vamos esperando. Parecia que at�� o

Veloz estava feliz. Certamente a minha alegria o estava

contagiando, ou n��o sei se era impress��o minha, mas

tudo era mais belo.

Ent��o, ao longe, divisei uma poeira. Era a poeira

levantada pelos pneus de um autom��vel.

V - Dias Felizes

Estela chegou! Estela chegou! Eu via tudo gritando

estas palavras. O vento, as ��rvores, as flores, os

passarinhos. Tudo para mim gritava: Estela chegou!

Como ela estava linda! E como eu estava feliz! Mais

ainda fiquei ao saber que ela ia ficar tr��s dias na

fazenda. Aqueles foram os dias mais felizes de minha

vida. Meu programas di��rio mudou completamente. J��

n��o tinha hora para fazer nada e sim fazia tudo o que

Estela queria. E ela nem era exigente.

Eu lhe mostrei o rio onde eu nadava, os versos que fiz

enquanto esperava por sua vinda, o p�� de ip�� e tudo de

belo que havia na fazenda.

-Ricardo - Voc�� gosta mesmo de mim, ou voc�� ��

po��tico assim com todo mundo! - Ela me fez esta

pergunta depois que lhe entreguei uma rosa vermelha.

Segurei as m��os dela e respondi:

-Estela, voc�� leu os versos que fiz depois de conhec��-

la. Voc�� n��o viu como eles demonstram a tristeza e

ansiedade que passei depois que a conheci no hospital?

-Sim, Ricardo, eu tamb��m ansiei o momento de

conhecer a sua fazenda, eu tamb��m estou feliz... eu

tamb��m gosto de voc��...

E assim dizendo, ela deu um beijo na rosa e colocou-

se sobre o peito, enfiando-a no bolso de sua blusa

branca.



Era um contrate maravilhoso. Dai ent��o

convers��vamos mais frequentemente. Fal��vamos de

tudo e de todos.

No segundo dia em que estava na fazenda, fui esper��-

la junto ao rio e fiquei atirando pedras nos pardais. Dali

a poucos instantes ela chegou. Usava uma bluza azul e

cal��as compridas. Estava linda, maravilhosa.

Ela aproximou-se de mim e tomou o meu estilingue,

dizendo:

-Ora, Ricardo, ontem voc�� estava t��o po��tico! Por que

hoje voc�� est�� atirando pedra nos passarinhos?

-N��o s��o em todos os passarinhos, que eu atiro pedras.

Eu s�� n��o gosto dos pardais.

-Mas por que? - replicou ela - Eles tamb��m n��o t��m

uma vida como os outros? Eles tamb��m n��o tem

filhotinhos para tratar?

Acabei concordando com ela. Como n��o iria

concordar? Est�� bem, Estela, vou aposentar o meu

estilingue.

Mas a alegria durou pouco. Os tr��s dias passaram

r��pidos demais. Como foi triste aquela partida!

Foi ent��o que comecei a pensar: Como os ��ltimos

acontecimentos havia modificado a minha vida! Todavia

tudo fora t��o f��cil, t��o espont��neo! Bastou uma

conversa de meu pais com os pais dela para que eles

deixassem ela vir passar uns dias numa fazenda de

estranhos. Tudo bem que agora n��o ��ramos mais

estranhos, mas e antes? Por fim, deixei de pensar nisso.

Contudo n��o sabia da estranha e triste verdade...

VI - Dias Negros

Nos primeiros dias depois que Estela partiu, caiu

sobre a fazenda um v�� de tristeza. N��o me sentia bem

em lugar algum. Nem as poesias me interessavam mais.

N��o tinha mais inspira����o. Como se n��o bastasse a

tristeza pela aus��ncia de Estela, veio o que eu mais

temia! Vieram os dias mais negros de minha vida!

Algum tempo depois que Estela foi embora, quando

caminhava pr��ximo do rio, tropecei e cai. Quando tentei

me levantar, tive a maior surpresa de minha vida. Tudo

estava escuro, negro como a mais negra das noites.

Sentia dor nos olhos e na cabe��a.

-Estou cego! Estou cego! - Eram as ��nicas palavras

que conseguia articular.

Tentei andar, mas para onde?:

-Pai, m��e, me acudam. Estou cego...

Gritava desesperado, por��m o tempo passou e, s��

depois de uma hora �� que fui encontrado. Levaram-me

imediatamente para S��o Paulo, no mesmo hospital onde

eu havia visto Estela pela primeira vez.

No outro dia, bem cedo, estava ainda mais triste.

Ouvia apenas o cantar dos p��ssaros l�� fora e, de vez ou

outras, a conversa de algu��m que passava pelo corredor

do hospital.

Que solid��o. Ah se ao menos pudesse ouvir a voz de

Estela...

S��bito algu��m entrou no quarto. Devia ser a

enfermeira e ela anunciou:

-Visita para voc��, Ricardo.

Instantes depois, mais algu��m entrou no quarto e,

minha m��e, que estava junto de mim, falou:

-Advinha quem ��, Ricardo.

-N��o sei, n��o sei n��o - resmunguei baixo, como se a

falta de vis��o tirasse tamb��m a minha voz.

Ent��o ouvi aquela voz maravilhosa:

-Oi Ricardo.

Meu cora����o saltou no peito e antes de tomar

conhecimento j�� estava sentado na cama. Era Estela!

Era Estela! S�� podia ser ela. Aquela voz meiga e calma

eu a reconheceria no meio de mil.

Ah! Que falta me fazia a vis��o naquela hora! Eu n��o

podia ver aqueles lindos olhos azuis e o seu sorriso

maravilhoso.

-A sua visita me deixa muito feliz. Estou muito

agradecido - falei.

Estela conversou comigo mais algum tempo, mas eu

notei que a voz dela tinha um tom de fraqueza. Mas

mudei logo de pensamento, pois devia ser impress��o

minha.

-Logo que ficamos sabendo, papai me trouxe para c��,

para v��-lo - comentou.

Contudo parecia que estava sendo for��ada a dizer

aquelas palavras. Ser�� que era porque ela estava triste e

surpreendida com aquele acontecimento? Sim, deveria

ser isso.

-Voc�� vai ficar bom, Ricardo, vai voltar a ver as

maravilhas de sua fazenda, vai voltar a ver...

A�� ela parou. Tive a impress��o que desviou a aten����o

para outra coisa

Voltei a ouvir novamente sua voz:

-Bem, Ricardo, eu tenho que ir - segurou minha m��o e

continuou: Tchau e felicidades...

E saiu, devagarinho do quarto.

-Tchau! - murmurei e minha m��o ficou estendida na

cama como que querendo alcan����-la.

Ouvi um solu��o atr��s de mim. Ser�� que minha m��e

estava chorando? Eu n��o compreendia aquilo... O que

ser�� que Estela n��o terminara de falar? Ser�� que ela ia

dizer que eu voltaria a v��-la novamente?

Que eu voltaria a enxergar parecia ser certo, porque os

m��dicos iriam fazer em mim um transplante de c��rneas,

mas e Estela, ser�� que voltaria a v��-la novamente?

Continuei por muito tempo na escurid��o. At�� que um

dia soube que os m��dicos havia encontrado as c��rneas

que seriam transplantadas em mim e a cirurgia foi

marcada imediatamente.

VII - A verdade

Passaram-se dez meses. J�� me encontrava novamente

na fazenda. Via tudo novamente, mas me faltava algo.

Faltava o essencial, faltava Estela.

Os dias transcorriam sem novidade. Quando me atrevia

a perguntar sobre Estela, meu pai respondeu:

-Naquele dia em que o visitou, ela ia mudar-se para

Minas Gerais.

-Criei coragem e insisti:

-Mas por que a fam��lia dela ia mudar para t��o longe?

-Por que o pai dela �� gerente de banco e ele foio

transferido para Belo Horizonte.

Aquilo tinha l��gica, mas eu n��o me conformava. Por

que �� que Estela n��o havia me falado nada?

Como que adivinhando meus pensamentos, meu pai

continuou:

-Estela n��o lhe falou nada porque voc�� deveria passar

pela cirurgia ela queria que voc�� estivesse feliz e

esperan��oso.

Meu pai estava com um tom estranho na voz. Contudo

eu concordei com ele. Estela me fizera um favor.

Deixara-me preparado para vencer a batalha que eu teria

que travar at�� deixar o mundo das trevas. E tudo teria

acabado assim, se ningu��m tivesse falado mais nada.

Todavia a verdade era completamente outra. Estela me

deixaram muito mais que saudades e lembran��as.

Passava horas no meu quarto, escrevendo versos,

exprimindo a minha dor. Foi quando a verdade veio ��

tona.

Um dia, sai para dar uma volta na fazenda, mas j�� n��o

sentia o prazer de outrora. Faltando Estela, faltava tudo.

Regressei triste para casa, pensando. Quando tiver mais

idade, vou procur��-la.

Quando entrei no meu quarto, vi minha m��e chorando

com uns papeis nas m��os. Naqueles pap��is estavam os

meus versos mais tristes. Ent��o, eu n��o me contive e

falei sem parar:

-M��e, porque voc�� est�� chorando? Por que voc��

chorou tamb��m naquele dia em que Estela foi me visitar

no hospital? Por que Estela parou de falar e foi embora?

Eu preciso saber a verdade.

Dei-me conta que estava gritando. Mam��e dava

profundos solu��os.

-Perdoe-me m��e, perdoe-me, eu n��o queria gritar com

a senhora, mas eu sinto que alguma coisa est�� errada...

Eu preciso saber a verdade.

-Ricardo - era meu pai e ele falou-me brandamente:

-Esta bem Ricardo, voc�� j�� n��o �� mais crian��a, voc�� j��

�� um mo��o. Eu vou lhe contar tudo o que aconteceu.

E dos l��bios de meu pais, de um r��stico fazendeiro,

sa��ram as palavras que jamais poderia imaginar:

-Ricardo, Estela �� um anjo, Estela �� um s��mbolo da

pureza de cora����o, �� um s��mbolo da bondade e do amor.

Estela �� a luz de sua vida. As c��rneas transplantadas nos

seus olhos, s��o dos olhos de Estela. �� triste, mas Estela

est�� morta.

N��o era poss��vel! N��o era poss��vel que meu pai

estivesse falando aquilo. E minhas m��os dirigiram-se

para meu olhos. Eu iria arranc��-los se meu pai,

adivinhando minhas inten����es n��o me segurasse.

Derramando l��grimas, ele continuou:

-Deixe seus olhos em paz, Estela queria assim. Ela

queria assim...

Aos poucos fui me acalmando e em meu c��rebro

surgiram as perguntas: Por que? Como?

Papais olhou para minha m��e e deu-lhe um sinal.

-A carta? - peguntou ela.

-Sim, a carta - afirmou ele. Instantes depois minha

m��es voltava com um envelope que me entregou.

Angustiado eu o abri e comecei a ler.

"Ricardo,

Minha doen��a �� fatal. Era por isso que ultimamente

meus pais faziam tudo o que eu pedia. Foi por isso que

eles me deixaram ir passear na fazenda. Logo depois

que voltei, a doen��a piorou e fui internada no mesmo

hospital em que nos conhecemos. No dia em que voc��

chegou, duas pessoas entraram no meu quarto e,

pensando que eu estivesse dormindo, comentaram:

pobre menina, t��o jovem e condenada a morrer assim.

Foi naquele momento que fiquei sabendo a verdade

sobre a minha doen��a. Desesperada pedi a meus pais

para cham��-lo. Assim eles foram obrigados a me contar

que voc�� estava no hospital. Disseram-me que voc��

estava cego e esperando para fazer um transplante de

c��rneas, mas estavam faltando o doador.

Insisti e consegui que eles me deixassem ir visit��-lo.

Quando entrei no seu quarto, a fraqueza estava me

dominando. Conversei s�� um pouco com voc�� porque a

enfermeira me chamou e tive que ir-me. Ao voltar ao

meu quarto, j�� havia me decidido. Iria me suicidar.

Escrevi esta carta para voc�� e outra aos m��dicos do

hospital para que, quando eu estivesse morta, meus

olhos fossem transplantados em voc��. Compreenda

Ricardo, que de todo modo eu iria morrer mesmo. N��o

queria ver meu corpo se deteriorando. Fazendo isso, eu

deixaria mais do que uma lembran��a para voc��. Algo de

meu pr��prio corpo, algo meu, viveria sempre em voc��.

E continuaria vendo o mundo da forma maravilhosa que

voc�� v��. Seja feliz, Ricardo. Adeus".

Terminei de ler a carta. Papai olhou para mim e

concluiu:

-Sim Ricardo, Estela suicidou-se

-Onde ela est�� enterrada, pai?

-No cemit��rio de sua cidade.

-O senhor tem raz��o, pai, Estela �� um anjo!



VIII - Eu vou dormir

Ricardo terminou sua narrativa e acrescentou:

-Ent��o padre, hoje bem cedinho eu fugi e vim para este

cemit��rio, para ficar junto ao t��mulo de Estela. Meu

desejo �� morrer para ficar com ela.

O padre esfor��ou-se para ficar sereno.

-Ora, Ricardo, voc�� n��o vai morrer n��o. O tempo

apaga tudo, durma ali naquela cama e amanh��, quando

voc�� estiver bem, eu o levarei para a fazenda de seus

pais.

Ricardo quase n��o ouvia a voz do padres. Sua aten����o

estava voltada para o passado.

- Na sua casa tem telefone? - A pergunta do padre fez

com que ele voltasse �� realidade.

-Tem sim, padre, por que?

-Vou ligar para seus pais, para tranquiliz��-los.

-Est�� bem padre, eu vou dormir. E foi dormir o jovem

e tristonho poeta, pensando que um dia l�� no c��u,

cantaria seus versos para um anjo.

















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