sexta-feira, 30 de setembro de 2011 By: Fred

<> livros-loureiro <> [livro] O Silêncio do Coração - Murilo Vianna

O SILÊNCIO DO CORAÇÃO


de Murilo Vianna


Título: O Silêncio do Coração
ISBN: 978-85-64471-005-4
Editora: Catrumano


Nome do autor:
Murilo de Mello Vianna


Informações para contato:
Celular: (13) 7805-2085
E-mail: murilo_vianna@hotmail.com



PREFÁCIO

Como alguém pode dizer como se deve agir após uma
tragédia? A vida não é uma equação matemática em que
pegamos todos os elementos e formamos um resultado que
sirva de resposta para todas as pessoas que necessitam (e
muitas vezes não querem) ouvir o que os outros têm a
dizer.

Brandon Browser era uma dessas pessoas que não
queria escutar o que tinham a dizer. Ele simplesmente
preferia ficar imune de todos os pêsames e lamentações
que seus conhecidos estavam oferecendo. Era como se seu
pequeno mundo melancólico, rancoroso e depressivo fosse
suficiente para confortá-lo pelo resto de sua vida. Como se
as variações de cores entre preto, branco e cinza fossem
bastante para colorir o seu coração. Não que ele tenha sido
realmente culpado quando... bom, tudo o que aconteceu
será minuciosamente explicado em seu devido tempo, não
vamos apressar as coisas.

É claro que não foi somente Brandon Browser que
sentiu a fúria do destino, que chegou como uma onda
gigantesca arrebentando nas pedras de um píer. Todo seu
círculo de amizade e todos os familiares envolvidos
também ficaram envoltos nessa névoa que parecia não
querer ir embora. Mas apenas Brandon deixou a plenitude
da vida de lado. Largada como uma camisa velha ao pé da
cama, a vida que lhe fora proporcionada não tinha o
mesmo sentido e, muito provavelmente, nunca voltaria a
ser como antes.

Brandon sempre foi uma pessoa com um ótimo
humor. Sempre estava fazendo piadas sobre tudo o que era


possível, mesmo em horas que o ceticismo e a seriedade
tomavam conta do ambiente. Mas também era uma ótima
companhia para conversas com uma forte carga de
sentimento e conhecimento. Ele era simplesmente a
pessoa certa para todas as ocasiões possíveis. Porém agora,
ele não era mais o mesmo. Era apenas uma alma vazia, um
fantasma que vagava pelo seu quarto escuro remoendo as
profundezas de sua imaginação culpada. Seus olhos cor de
mel que regularmente eram confundidos com um tom
esverdeado, eram chamativos tanto quanto o olhar de um
falcão, mas deixaram ser cobertos pelo seu cabelo
comprido, que agora tomava conta da maior parte de seu
rosto bonito e delicado. Sua barba também estava por
fazer e raramente ele se alimentava da forma que deveria
para manter-se saudável, o que deixava seu pai Edward e
sua mãe Hilary bastante preocupados. Não era assim que
um jovem de vinte e um anos deveria levar a sua vida. Mas
quem pode dizer como se deve agir após uma tragédia?

Ele perdeu todo interesse no que antes costumava
chamar de passatempo. Brandon não tocava mais sua
guitarra, tampouco aparecia nos ensaios da sua banda com
Allan Green e David Sanders. A banda se chamava Atlanta
e, por sinal, era muito boa. Conquistava todos aqueles que
queriam ouvir um bom e velho rock'n'roll. E mesmo sendo
formada por apenas três pessoas, Atlanta tinha um som
pesado e forte, com o instrumental intenso se contrapondo
com a voz doce e melódica de Brandon nos vocais.

O trio se apresentava freqüentemente em Sant
Grove, onde moravam. Era uma pequena cidade onde a
exploração de madeira era a principal fonte de renda da
maioria dos trabalhadores. Tinha pouco mais de dez mil


habitantes, o que tornava os integrantes da banda Atlanta
meramente populares. De vez em quando se apresentavam
também em cidades próximas, mas isso só acontecia
quando havia um cachê suficiente para cobrir a gasolina
do carro de um dos integrantes.

É evidente que a banda não conseguia ser a
principal fonte de renda de Brandon e do resto dos
integrantes. Afinal, seria quase impossível pagar uma
conta de luz com a pequena quantia que restava para eles.
Por isso, ele trabalhava durante o dia na loja de seu pai
Edward. Era uma das maiores – se não a principal empresa
de automóveis que havia nos limites de Sant Grove – e era
notável que Edward estava progredindo nos negócios e
que o auxílio e ajuda do filho eram essenciais.

Tudo estava entrando nos conformes. Brandon e
Edward estavam cada vez mais unidos e tocando os
negócios adiante. O filho, que agora estava afundando em
seus piores pensamentos, outrora estava empolgadíssimo
em trabalhar na empresa do pai e continuar com os
projetos da banda Atlanta. Ele não precisava se esforçar
muito para ter uma vida que daria inveja a qualquer
pessoa. Afinal, tinha uma família incrível, ótimos amigos e
uma linda namorada.

Sim! Seu nome era Rachel Sawyer. Uma garota de
parar o transito, com olhos negros e cabelos castanhos
ondulados muito bem cuidados que cintilavam como a luz
do sol. Sua pele era branca como a neve e tinha estatura
baixa, o que fazia transparecer sua feminilidade. Como
Brandon gostava de dizer, ela era "a garota dos sonhos". E
quem o visse com Rachel por pelo menos meio minuto,
conseguiria jurar que os dois eram feitos um para o outro,


que iriam se casar e envelhecer juntos até que os dois
deixassem para sempre as meias de tricô e os programas
caseiros.

O casal se conheceu quando os dois tinham apenas
dezesseis anos de idade. Após a mãe de Rachel falecer,
James Sawyer (pai de Rachel) se mudou com as duas filhas
para Sant Grove. A irmã mais velha, Denise Sawyer, tinha
acabado de se formar na escola e ingressado em medicina
na faculdade de Brunis, por isso, apenas a filha mais nova
acabou sendo matriculada na escola onde Brandon
estudara por toda a sua vida.

A percepção afetiva aconteceu de forma mútua
assim que os dois foram colocados na mesma classe. Como
uma reação química, os dois se completaram. E por mais
que fossem diferentes como água e óleo, os dois
conseguiram misturar seus corações rapidamente.
Ninguém poderia negar que eles eram o casal mais
adorável de todos. Brandon com seu bom humor imbatível
e Rachel com sua tímida e atraente seriedade.

Mas diferente da maioria de alguns casais, eles não
se prenderam em uma relação amorosa excludente. Pelo
contrário, Brandon e Rachel eram sociais e sempre faziam
programas com seus amigos. Talvez um bar, uma discoteca
com músicas eletrônicas ou um show de rock – onde, na
maioria das vezes, a atração principal era a banda Atlanta.
De qualquer forma, a cidade de Sant Grove, apesar de
pequena, sempre apresentava alguma coisa para se fazer,
independente do dia. Brandon costumava gostar muito de
sua rotina, até mesmo quando teve de comparecer às
breves aulas na faculdade, após terminar o colégio.


Brandon e Rachel tinham os gostos profissionais
muito parecidos, apesar de serem bem diferentes. Mas
como já diz o ditado: "Os opostos se atraem", Brandon e
Rachel se atraíram mais uma vez pelo curso de Direito,
resolvendo assim, cursar a faculdade local de Brunis, já que
os dois não queriam deixar a cidade e ficar longe de seus
familiares. Sem falar que Denise poderia instruir os dois e
tornar a vida acadêmica deles muito mais fácil – como
realmente foi. Rachel foi quem se adaptou melhor em
relação às notas, mas isso não tira nenhum mérito de
Brandon, pois suas tarefas na empresa de Edward tinham
começado a crescer, até chegar um ponto em que ele não
conseguiria mais conciliar o trabalho com a faculdade.
Optou então, por ficar com seu pai nos negócios da família
Browser.

-Brandon – dizia Rachel com seus olhos negros
olhando para baixo. – eu vou entender se você não quiser
ficar comigo na faculdade.

Mas é claro que não era esse o pensamento de
Brandon e Rachel sabia disso. Nunca uma coisa dessas iria
acontecer. Rachel era a pessoa certa para Brandon e isso
também era recíproco. Mas ela costumava ter crises de
"preciso me inferiorizar para Brandon me supervalorizar" e
geralmente, esse era o motivo da maior parte das brigas
que ocorriam entre eles, que não eram muitas.

Brandon sentiria muita falta disso e de todas as
outras coisas que nunca voltariam.

Em todo o caso, o resto do mundo parecia estar se
emergindo novamente após a aquela amarga tragédia.
Apenas Brandon fazia questão de ficar ali preso, como se
não existisse saída. Talvez algumas pessoas o julguem


covarde, talvez outras acreditem em seus reais
sentimentos e creiam que não teria como ele se renovar e
continuar com sua antiga vida.


CAPÍTULO 1

O telefone toca naquela manhã com pouca
umidade na cidade de Sant Grove.

Brandon está deitado na cama de seu quarto, no
segundo andar de sua singela casa localizada na Rua
Walter Mountback. Ele abre seus olhos vagarosamente e
imagina "por que raios de motivo eu decidi vir morar
sozinho?". Se existe uma coisa que ele realmente odeia, é
que alguém interrompa seu sono, principalmente se ele
estiver sonhando com algo bom e satisfatório. Mas ele
tinha plena consciência de que o telefone não iria ser
atendido sozinho.

Levantando-se com seu pijama azul-marinho
listrado, Brandon segue dando passos pequenos e
preguiçosos até a escrivaninha anexada à parede, com
alguns livros, seu notebook e o telefone que agora parecia
o objeto mais detestável de toda sua casa. Eram
exatamente 09h02, ou seja, muito cedo para Brandon
naquele sábado que aparentava muito ser um domingo
monótono.

Na noite anterior Brandon e Rachel tinham ido à
casa de Lilian Brooke – melhor amiga de Rachel. Lilian era
alta como um goleiro de futebol, com cabelos loiros e olhos
verdes. Ela tinha estudado com Brandon e Rachel no
colégio e sempre apoiou o relacionamento dos dois (como
fazia a maioria das pessoas). Agora, Lilian trabalhava
como modelo em uma agencia local e o motivo de ter
convidado os dois para comparecer em sua casa na noite
passada, fora justamente para comemorar uma matéria
que o jornal do estado tinha feito com ela.


Incluídos na pequena festa, também estavam Allan
e David, o que ocasionou em um pequeno concerto
acústico da banda Atlanta na residência de Lilian. É óbvio
então, que tal comemoração não terminou antes do início
da madrugada, muito pelo contrário. Assim, naquela hora
da manhã, era impossível cogitar quem poderia estar
querendo falar com ele tão cedo.

-Alô – Brandon atendeu o telefone com uma voz
preguiçosa, enquanto pensava quando ele finalmente
poderia voltar para sua cama. – quem fala?

-Aqui é Johnny Dallas... – falou o indivíduo do
outro lado da linha.

Brandon continuou em silêncio, para mostrar que
ele não fazia a mínima idéia de quem era a pessoa que
estava falando, ou melhor, demonstrando seu desconforto
por tê-lo acordado de seu prazeroso sono.

-Você é Brandon Browser, certo? – perguntou o tal
Johnny. -eu estou organizando um show beneficente aqui
na cidade de Fordville e, bom... – ele tentou achar as
palavras certas em menos de um segundo – gostaria de
saber se sua banda poderia tocar – completou o indivíduo,
fazendo com que Brandon agilizasse seu raciocínio
preguiçoso.

-Cara... eu preciso falar com o pessoal da banda. –
disse Brandon.

E é lógico que ele precisava. A banda Atlanta tinha
essa regra entre os integrantes: nada será confirmado antes
de total aceitação entre todos. Brandon não poderia
simplesmente aceitar qualquer convite que chegasse,
mesmo que ele fosse um grande fã de eventos beneficentes.


-Certamente! – Johnny respondeu a Brandon,
passando seu número de contato e mais algumas
informações que poderiam ser necessárias. – Mas assim
que você tiver uma resposta, me ligue para acertarmos
todos os detalhes.

Brandon concordou.

A banda Atlanta já estava há um mês sem fazer
shows, então Brandon acreditou que David e Allan
concordariam com tal proposta, contanto que houvesse
cachê suficiente para a gasolina e estadia dos integrantes,
já que o concerto seria realizado numa cidade a pouco
menos de duas horas de distância de Sant Grove. Mas
agora não era hora de pensar em todos esses fatores. Se
desligando de todas as hipóteses de "o que será que eles
vão dizer?", Brandon voltou para sua cama e tentou dormir
novamente.

Duas horas depois ele já se levantara para um novo
dia de sua vida.

Ainda com seu pijama predileto, desceu até a
pequena cozinha que ainda estava sendo decorada por sua
mãe Hilary. Ele apenas queria um espaço simples para ter
suas refeições. Mas Hilary – como a maioria das mulheres
que não trabalham fora de casa – é viciada em todos os
utensílios para decoração e dedica a maior parte do seu dia
procurando o que poderia deixar a casa de seu filho
impecável. Hilary Browser é uma mulher de cinqüenta e
três anos de idade, tem a pele branca, cabelos castanhos,
olhos verdes e uma altura normal para uma mulher. Não é
uma mulher de meia idade que chamaria sua atenção na
rua, mas seus cuidados e sua atenção com as pessoas são
bastante notáveis. Ela simplesmente gosta de deixar tudo


em sua melhor forma possível e uma dessas coisas era a
moradia que Brandon tinha acabado de conquistar.

Brandon sabia que em poucas horas, sua mãe
chegaria à sua casa com seu pai Edward a fim de fazer um
café da tarde com algumas rosquinhas compradas na loja
de conveniência do posto de gasolina ao lado de sua casa.
Sendo assim, ele sabia que tinha de tomar seu cereal
matinal com leite e informar seus parceiros de banda sobre
a possibilidade de um show, antes que Hilary chegasse
com sua obsessão de reunião familiar que aconteciam
todos os sábados e domingos.

Brandon abriu a geladeira e procurou, como um
animal faminto, alguma fruta que pudesse estar escondida
entre a salada do dia anterior, dois refrigerantes que
tomavam conta da maior parte superior da geladeira e
mais algumas coisas essenciais na sua vida, como queijo,
presunto e mais produtos que não são recomendados caso
você esteja querendo emagrecer. Mas Brandon já era
magro o suficiente e, mesmo se quisesse, nunca
conseguiria ficar de dieta, já que ele adorava comer. Porém,
dessa vez, ele teria de conter sua gula, pois não havia
nenhuma fruta deixada ao acaso para acompanhar seu
cereal com leite – e isso realmente o deixou irritado.

Após terminar a sua modesta refeição, subiu as
escadas de corrimões largos de madeira e se dirigiu ao
banheiro. Outra mania de Brandon, ou melhor, outra parte
de sua rotina diária, era tomar banho após seu café-damanhã.
Ele simplesmente não conseguia evitar ficar se
sentindo sujo após uma boa noite de sono. Era como se seu
corpo clamasse pelo toque de água gelada. Mas ele já tinha
planejado que, assim que terminasse, iria ligar para Allan e


David e falar sobre a possibilidade de um show da banda
Atlanta.

*

Tudo já tinha entrado nos conformes e ficado do
jeito que Brandon desejara. Ele voltou ao telefone que
horas atrás o tinha impedido de dormir mais um pouco e
discou pausadamente o celular de Allan Green.

Brandon havia conhecido Allan quando era apenas
um garotinho de sete anos. Os dois eram vizinhos e
costumavam jogar baseball com outros garotos do bairro
na rua onde moravam. Quatro anos depois, Allan se
mudaria para outra rua que ficava mais de vinte minutos
de caminhada de onde os dois se conheceram. É lógico que
isso não foi capaz de separar os dois rapazes que eram fiéis
aos esportes de rua e às corridas de kart que aconteciam
todas as quintas-feiras de noite. Sem mencionar que os
dois não se desgrudavam durante toda a semana.

Allan Green parece um soldado que está prestes a
ir para a guerra. Ele tem cabelos raspados e olhos verdes, é
alto (mas não tanto quanto Lilian) e tem uma pequena
cicatriz logo abaixo de seu olho esquerdo. Allan também é
um ano mais velho do que Brandon, o que talvez tenha
criado certa influência sobre o melhor amigo.

Quando Allan comprou seu primeiro cd do rock,
mais precisamente o álbum In Utero da banda Nirvana,
Brandon chegou com o mesmo cd poucos dias depois. É
claro que ocorreu uma pequena discussão sobre quem
gostava mais de Nirvana, mas esta foi uma disputa em que
não houve vencedor ou perdedor. Os dois ficaram


admirados com a qualidade musical daquela banda,
mesmo contendo uma diferença muito pequena de acordes
e melodias nas canções que eram compostas por Kurt
Cobain. Eles sabiam que aquela banda era especial. O
desejo por música de Allan e Brandon começou a nascer a
partir daí. Eles sabiam que precisavam montar uma banda.

No mesmo natal daquele ano, Brandon ganhou uma
guitarra Fender de seu pai Edward e começou a praticar
todos os dias. Allan também já havia comprado seu
contrabaixo com o dinheiro que havia guardado da
mesada e então, em um curto espaço de tempo, os dois
começaram a tocar juntos suas músicas prediletas do
Nirvana e de outras bandas com que eles se identificavam.

Era evidente que os dois tinham uma sintonia
muito forte, tanto musicalmente quanto em questões de
amizade. Mas logicamente, era impossível formar uma
banda com apenas dois integrantes – pelo menos
impossível com apenas uma guitarra e um contrabaixo. Os
dois sabiam que era necessário pelo menos mais uma
pessoa.

-Cara – Allan falava freqüentemente. – como nós
vamos arranjar um baterista para nossa banda?

Era como se Allan perguntasse para uma parede.
Pois Brandon não fazia a mínima idéia. Nem mesmo
conhecia alguém que tinha os mesmos interesses musicais
que eles. Não bastava simplesmente eles chegarem para
qualquer ser humano e perguntar "Ei, você quer tocar
bateria em nossa banda?". Precisavam ter calma, tudo
aconteceria em seu devido tempo.

O tempo é uma coisa engraçada... uma hora
Brandon e Allan se preocupavam excessivamente em ter


um baterista para acompanhá-los, agora que o tinham,
estavam afastados dos palcos. Entretanto, Brandon sabia
que essa situação poderia se inverter – ele esperou
euforicamente o telefone tocando.

-Alô! – atendeu Allan naquele momento.

-Ainda bem que você atendeu essa porcaria. –
falou Brandon com certa impaciência. – achei que você iria
me deixar plantado aqui o dia inteiro esperando você
atender.

-Brandon, o que você quer? – perguntou ele de
uma forma mais impaciente do que Brandon perguntara
segundos antes. – eu estou almoçando com uma fã... e
parece que depois daqui vamos para o Lugar Proibido. –
sussurrou ele ao telefone, maliciosamente.

O Lugar Proibido – como apenas Allan gostava de
chamar – era um tipo de "ninho do amor" que o mesmo
usava para levar suas fãs. Não que a banda Atlanta tivesse
um número grande de groupies, mas Allan fazia questão de
se relacionar afetivamente com qualquer garota que
demonstrasse o mínimo de interesse sobre ele.

-Então fale para essa nossa fã que a banda Atlanta
vai tocar em Fordville! – falou Brandon, exagerando em
sua carga de confiança.

Sem entender direito o que Brandon havia falado,
Allan o questionou sobre tal afirmação.

-É isso aí – continuou Brandon. – um tal de Johnny
Dallas me ligou hoje falando sobre um show beneficente...
e acredito que ele vai pagar todas as despesas com
gasolina, estadia, você sabe... não vamos precisar de nos
preocupar com nada.


É lógico que ainda tinham de perguntar a David se
seria possível a banda se apresentar no dia do evento.
Allan e Brandon não precisavam de mais nada além de uns
instrumentos afinados para se divertir e, é lógico, que
Allan aceitaria a proposta assim que a ouvisse. David, por
outro lado, era o integrante que mais apresentava
problemas em termos de horários disponíveis para ensaios
e shows que a banda poderia fazer. Ele estava cursando
Medicina – assim como Denise – e sempre tinha de
estudar ou fazer alguma pesquisa para não tirar notas
baixas. Brandon e Allan não se importavam com a
austeridade de David nos estudos, aliás, nenhum dos três
tinha a verdadeira intenção de levar a banda como uma
verdadeira profissão. Então, sempre apoiavam as decisões
que qualquer integrante da banda tomava. Sem mencionar
que David era um ótimo baterista e dava um peso
descomunal nas músicas da banda Atlanta – mesmo sendo
uma pessoa pequena e magra de cabelos penteados para o
lado. Allan até tinha inventado um apelido para David que
não teve sucesso entre a turma, mas de vez em quando,
ainda fazia questão de chamá-lo de Robin, pois ele parecia
muito com o coadjuvante do Batman.

-Você sabe que nem precisava ter me perguntado –
Allan explicou. – pois eu topo... vamos arrebentar!

-Ótimo!

-E pode deixar que eu falo com o garoto prodígio.

– disse Allan com seu humor barato.
Os dois desligaram e Brandon ficou pensando que
Allan, naquela circunstância, começaria a se gabar para a
garota com quem ele estava, falando sobre seu show em
outra cidade. Não que isso significasse algo importante,


mas Allan sempre enfatizava os acontecimentos para que
as garotas pudessem pensar que ele era um músico que já
havia tocado pelos quatro cantos do país.

Minutos depois David ligou para Brandon. Os dois
tiveram uma breve conversa sobre o show e David disse
que estava tudo certo para a apresentação da banda
Atlanta, se eles não tivessem de dormir em um banco de
uma praça qualquer em Fordville, é claro.

Brandon estava empolgado, como já era de se
esperar. Ele estava sentindo saudades de ficar sob
holofotes e fumaças de palco que ofuscassem sua visão
sobre a platéia contagiante. Era uma ótima sensação para
uma pessoa que ama adrenalina – e Brandon a amava.


CAPÍTULO 2

Tudo já estava devidamente organizado para o
show. Além da banda Atlanta, aconteceria o show de mais
duas bandas – que por sinal, já tinham dividido o palco
com Brandon, Allan e David em alguns shows locais –
exposições de arte espalhadas pelo local do evento e
grupos de dança e teatro fazendo suas apresentações. O
evento beneficente que lutava pelo combate à fome nos
subúrbios aconteceria no final de semana inteiro,
começando no final de tarde de uma sexta-feira e
terminando apenas na noite do domingo. A banda Atlanta
tocaria no sábado, depois da apresentação de um grupo
teatral, tendo entrada gratuita para os integrantes da
banda e seus convidados, em todos os dias do evento.

Então, por que não convidar Rachel? – Brandon se
perguntou. Aliás, eles poderiam aproveitar um final de
semana diferente em Fordville, o que poderia ser bem
divertido e romântico.

A única viagem que Brandon havia feito com
Rachel, tinha sido há dois anos quando Edward teve de
comparecer a uma palestra em uma pequena cidade ao
lado de Nova Iorque para falar sobre empresas emergentes.
Aproveitando a oportunidade, a família Browser não
hesitou em comprar passagens de avião para Rachel, que
era considerada uma filha mais nova para Edward e Hilary.
Era uma ótima programação, já que levaria poucos
minutos de táxi do lugar da palestra até o centro da cidade
que não dorme. Era um pedido irrecusável para Rachel e
uma oportunidade incrível para Brandon. Aliás, ele
poderia aproveitar a viagem para conhecer lugares novos


ao lado da pessoa que mais importava em sua vida. E,
quem sabe, isso poderia acontecer novamente agora, na
cidade de Fordville.

É lógico que não há como fazer comparações entre
a gigantesca Nova Iorque e a pequena e humilde Fordville.
Mas, para quem está querendo aproveitar a companhia da
amada, o lugar não importa – desde que tenha um ótimo
restaurante à luz de velas para o casal fazer juras eternas
de amor.

Mas o convite à Rachel teria de esperar. Pois
Edward e Hilary tinham acabado de chegar para o chá da
tarde na casa de Brandon. Hilary estava carregando uma
sacola com pequenas luminárias e Edward segurava com
as duas mãos um enorme bolo de cenoura que sua esposa
havia feito na noite passada.

-Já preparou o café? – perguntou Edward com seu
bom humor, quando fora atendido.

-Boa tarde para vocês também. – disse Brandon.

Após beijar e cumprimentar o filho, Hilary foi logo
ajeitando as almofadas do sofá que ficava na sala, de frente
para a televisão de quarenta polegadas que Brandon
comprara duas semanas antes. A sala ainda estava um
pouco vazia. Fora a TV e o sofá, havia apenas uma pequena
mesa que comportava apenas quatro pessoas e suas
respectivas refeições.

-Quando você vai pintar essa parede? – perguntou
Hilary, perdendo seu olhar ao redor da residência.

-Começou... – Edward disse, debochando da boa
vontade de sua mulher.

A campainha tocou antes que Hilary pudesse
intervir e retrucar o humor de seu marido falastrão.


Brandon foi atender quem quer que fosse.

-Olá família! – disse Rachel ao entrar pela porta
principal com um sorriso radiante.

-Olha quem apareceu para o chá da tarde... –
Hilary disse entusiasmada, colocando os pratos e talheres
na mesa, enquanto Edward ligava a televisão no jogo de
baseball.

Rachel cumprimentou com um abraço afetivo
todos os que estavam presentes na casa de Brandon,
depois ajudou Hilary a preparar a mesa, como ela sempre
fazia.

-Eu achei que você iria ao cabeleireiro hoje de
tarde. – falou Brandon enquanto fixava seu olhar no belo
rosto de Rachel.

-Cancelei o horário – Rachel falou, dobrando os
guardanapos de pano. – Não estava com vontade de ficar
no salão durante horas... acordei mal humorada.

Brandon engoliu seco. Ele sabia que quando Rachel
não estava de bom humor, sua vida se tornava um inferno,
no bom sentido. Sua namorada simplesmente ficava sem
disposição para fazer as coisas, o que fez Brandon repensar
se seria uma boa hora de comunicá-la sobre uma possível
viagem a Fordville. Mas desobedeceu a seus pensamentos
profundos e seguiu em frente mesmo assim.

-Eu tenho uma coisa bem legal para falar... e que
talvez possa melhorar o seu ânimo – Brandon disse
pausadamente, esboçando um sorriso torto. – fomos
convidados a tocar em Fordville em um evento
beneficente.


-Então quer dizer que vocês vão voltar a fazer
shows? – Edward perguntou no mesmo momento em que

o time Seattle Mariners fez um home run.
A maioria dos empresários com certeza não ficaria
contente se um de seus empregados faltasse no trabalho.
Mas Edward era bastante temperamental e também
acreditava que o talento do filho como musico deveria ser
mostrado, principalmente se fosse por uma causa que
ajudaria os necessitados, como ocorreria no show de
Fordville. Sem mencionar que o trabalho de Brandon na
empresa de automóveis não era algo que deveria ser
resolvido com urgência, muito pelo contrário, ele poderia
ficar uma semana sem comparecer no estabelecimento
comercial, porém, teria que arcar com sua função
acumulativa quando voltasse. E para confortar mais sua
mente, o concerto seria no sábado, então, nada de
preocupações.

-Vamos! – disse Brandon.

-O que você acha de...

-Ir junto comigo? – Brandon interrompeu
enquanto Rachel ainda elaborava sua frase.

Edward e Hilary se entreolharam e sorriram. Eles
simplesmente adoravam ver seu filho cego de tanto amor.
Era como se eles conseguissem enxergar a si próprios no
tempo de adolescentes.

-Bom... eu terei que falar com James – completou
Rachel – mas acho que não terá problema, meu amor.

James Sawyer era um homem de cinqüenta e
quatro anos de idade, com cabelos curtos cacheados e um
volumoso bigode, fazendo-o parecer um homem austero e
rancoroso, na maior parte do tempo. Mas ele tinha uma


boa relação com Brandon, pois sabia que aquele garoto era

o melhor para a sua filha Rachel. Depois que sua esposa
Angelina faleceu por causa do câncer, James teve o
trabalho duplo de criar as filhas como pai e mãe,
conciliando ao mesmo tempo seu trabalho na
transportadora de madeira. Ele era muito apegado a
Denise e Rachel, pois era a única família que lhe havia
restado e as pessoas que ele mais amava. Mas de certa
forma, também era uma pessoa com pensamentos liberais
(quando sabia que Rachel estava sob os cuidados de
Brandon).
-Acho que seu pai não terá problemas com isso. –
Brandon disse exaltando sua felicidade.

-É... acho que não – Rachel continuou. – Mas de
qualquer forma, vou perguntar e te aviso. Tudo bem meu
lindo mais lindo de todos? – Rachel disse em uma voz
idiota, mas completamente normal para pessoas
apaixonadas.

Brandon abriu um enorme sorriso, assentindo com
a cabeça.

-Venham comer! – exclamou Hilary posta a mesa,
interrompendo os olhares apaixonados de Brandon e
Rachel.

Todos se levantaram, sentaram à mesa, colocaram
café na xícara e degustaram um delicioso pedaço de bolo
de cenoura com cobertura de chocolate.

Quando terminaram, Brandon levou Rachel para
sua casa em seu Jipe preto. Ele entrou para mandar
saudações a Denise e James. Depois de completar tudo o
que queria fazer, tomou um copo d'água e foi embora para


sua casa. Ele ainda tinha de decidir os detalhes do show e
treinar um pouco em sua guitarra Fender.

A alegria de Brandon era contagiante.

*

Já estava tudo agendado. Rachel iria com Brandon
para Fordville e Allan iria de carona no carro de David.
Johnny Dallas arranjou um pequeno hotel para os
integrantes da banda passarem as noites no final de
semana em que eles se apresentariam. Importunado com
tal proposta, Brandon achou melhor ficar no Hotel Del
Mare, para ter dias mais agradáveis com sua namorada
Rachel Sawyer.

É lógico que ele apenas não ligou para o local e
agendou sua estadia sem saber todas as procedências.
Brandon era um cara esperto. Checou minuciosamente
todos os detalhes do hotel pela internet. E soube então,
que seria o local perfeito para passar o fim de semana com
Rachel. Allan e David certamente não se importaram com
a decisão de Brandon. Como poderiam? Só assim, sobraria
mais espaço e conforto para os não menos importantes da
banda. Sem falar que seria o "casado da banda" – como eles
gostavam de chamá-lo – que estaria fora, então eles
poderiam muito bem fazer uma festa íntima com qualquer
garota liberal que eles pudessem encontrar no show.

-Acho que você nunca deu uma notícia tão boa
para nós durante seus vinte e um anos de vida. – disse
Allan com a felicidade esboçada em seu rosto, enquanto
conversava com Brandon.

-Eu sei que vocês irão sentir minha falta.


-Nós não vamos. – completou David firmemente.

E com certeza não iriam mesmo, exceto é claro, se
Brandon faltasse no show da banda em Fordville. Mesmo
com o peso da batida de David e a imagem de cara barra
pesada de Allan, não há como negar que Brandon era o
mais notável e o mais querido pelas garotas (mesmo que
elas nunca fossem ter uma chance com o ele).

O evento beneficente em Fordville aconteceria na
semana seguinte. Sendo assim, os integrantes da Atlanta
resolveram adiar a gravação de sua nova canção, para que
eles pudessem ensaiar e fazer o melhor concerto possível.
Os ensaios da banda raramente demoravam mais de uma
hora. E como aconteciam nos dias de semana, os
integrantes tinham de ajustar seus respectivos horários
para poder ensaiar nos intervalos entre trabalho, faculdade
e outras funções que cada um possuia.

A família de David tinha um galpão que outrora era
usado como loja de flores. Mas a pessoa que costumava
alugar o recinto tinha se mudado para uma cidade fora do
estado. Então, enquanto os pais de David não arranjavam
mais uma pessoa para alugar o galpão, a banda Atlanta o
utilizava para seus "ensaios" – se é que pode se chamar
assim, já que geralmente tinha mais de cinco pessoas
assistindo. Rachel sempre ia com Lilian (que era alvo das
cantadas sem sucesso de Allan) e sempre havia alguns
amigos ou amigas de Allan e David. Era como um pequeno
show privado.

Em contrapartida, naquele primeiro ensaio para o
show em Fordville, somente os integrantes da banda
participaram. Eles queriam fazer uma surpresa para todos
os espectadores, pois tocariam uma música inédita, que


acreditavam ser uma das melhores que eles já haviam
criado até então. Brandon escrevera essa música e usara
Rachel Sawyer como sua musa inspiradora. Era uma
canção muito bonita de fato, que começava com acordes
lentos ao som do violão, mas que ganhava força
gradativamente até chegar no estribilho do refrão com a
voz de Brandon dando uma emoção muito verdadeira.
"Essa música vai fazer as pessoas lacrimejarem" – brincava
Brandon com seus companheiros de banda. Mas talvez
essa brincadeira tinha um fundo de verdade que Brandon
jamais poderia imaginar.

Eles repetiram aquela música dedicada a Rachel
naquele fim de tarde de segunda feira por pelo menos
umas cinco vezes. A banda queria deixar tudo
milimetricamente perfeito, para que ela saísse da melhor
forma no concerto. Aquele seria o dia em que Brandon
apresentaria essa música a todos, mas em especial, a uma
pessoa: Rachel Sawyer. Porém, além de tudo, a música não
seria entregue sozinha, junto viria algo muito mais
importante – um anel de ouro para toda a vida.

Ninguém (além de Edward e Hilary) sabia que
Brandon tinha um segundo plano para aquela noite. Pois
se soubessem, o ouvido de Brandon entraria em chamas
por causa de tantos "você vai se arrepender" que ele
escutaria. É claro que ele estava nervoso com toda essa
situação, mas Brandon estava certo – ele queria que Rachel
carregasse o sobrenome Browser junto dela. Os dois ainda
eram novos, mas já tinham uma opinião formada sobre
família e casamento. Sem mencionar que Brandon já estava
crescendo nos negócios com seu pai e já tinha até sua
própria casa. Bastava agora, uma companheira para dividir


sua vida. E ele já sabia: Rachel era a pessoa certa para ele
se casar e passar o resto da vida.


CAPÍTULO 3

A casa onde Rachel, Denise e James Sawyer
moravam era muito bonita em relação às casas vizinhas.
Do lado de fora da casa, um grande quintal vivo repleto de
flores e plantas chamava a atenção de qualquer criança
curiosa que passasse por lá. Por dentro, três andares
construídos pelo dinheiro da transportadora de James
mostravam a qualidade de vida que era possível ter
trabalhando nesse ramo em Sant Grove. O segundo e
terceiro andares davam espaço para quartos, banheiros e
um escritório que James usava para pesquisar o
andamento de seus negócios, o fluxo mercantil de madeira
e qualquer outro assunto de sua preferência. No primeiro
andar, havia uma sala que continha uma televisão, uma
mesa de mármore com alguns detalhes esculpidos e ao
lado, um enorme sofá capaz de suportar cerca de seis
pessoas, sem mencionar os quadros com paisagens de
lugares, fictícios ou não, que James adorava. A cozinha,
que ficava logo ao lado, era de certa forma exagerada para
uma família de três pessoas, que raramente eram
consumidas pela gula, exceto é claro, quando Brandon
ficava para o almoço, já que ele adorava o toque especial
que James Sawyer punha nos alimentos. O pai de Rachel
era um ótimo chefe de cozinha e sempre fazia questão de
cozinhar para os convidados.

Mas naquele dia em especial, Brandon não estava
indo à casa da família Sawyer para provar uma nova
receita de James. Era para algo muito superior a isso:
Brandon queria saber se James aprovaria que sua filha se


tornasse esposa de uma pessoa que estaria sempre ao seu
lado, nas horas boas e nas ruins.

Brandon estacionou seu Jipe ao lado da caixa de
correio da família. Seu coração estava batendo tão rápido e
tão forte que por um breve momento achou que iria sair do
seu peito e pular através de sua boca. Ele estava tremendo,
pois sabia que, por mais que James confiasse plenamente
nele, seria difícil ele abrir mão de sua filha mais nova. Mas
essa era a verdadeira vontade de Brandon. Ele já tinha
planejado tudo nos mínimos detalhes -naquela hora do
dia, Rachel e Denise tinham saído para fazer compras no
shopping que ficava no meio da estrada, a dez minutos de
Sant Grove (como elas haviam informado que fariam).
Então, só seria Brandon e James, como um duelo do Velho
Oeste.

A campainha tocou.

James abriu a porta.

-Oi Brandon – disse James ao vê-lo parado na
entrada de sua casa. – As meninas foram para o Golden
Market.

-Eu sei, mas o que eu queria mesmo era falar com o
senhor. – ele disse passando a mão em seus cabelos.

James abaixou sua sobrancelha pensando o que
aquele garoto gostaria de dizer a ele. Mas todas as
pequenas possibilidades que passaram por sua cabeça
seriam jogadas fora por completo após a grande surpresa
que estaria por vir.

-Lógico filho – respondeu James. – entre, por favor.

Brandon entrou e se sentou no sofá de frente para a
televisão que estava ligada, passando as notícias regionais
do dia.


-Você parece nervoso. – continuou James sem
notar que a preocupação de Brandon era muito maior do
que ele poderia imaginar.

Brandon assentiu com a cabeça olhando para
aquele homem que agora parecia intimidá-lo. E de fato
estava. Parecia muito mais fácil tocar guitarra e cantar da
forma mais sincera possível para milhares de pessoas do
que enfrentar um único homem de meia idade com olhos
fortes e chamativos.

-Para falar a verdade... eu estou bem nervoso. –
disse Brandon desviando seu olhar.

James não falou nada. Apenas foi até a cozinha e
trouxe uma jarra com suco de laranja que acabara de fazer
e dois copos de vidro. Parecia estar calmo, mas seus
pensamentos explodiam em pedidos e desejos para Deus.
Ele não queria escutar algo como "Rachel está grávida".

-O que houve? – perguntou a Brandon, após se
sentar no sofá e tomar um gole de seu suco.

Por alguns segundos, o homem que deveria falar
sobre a futura proposta de casamento, virou um garoto
indefeso que tremulava todas as partes de seu corpo. Mas
ele sabia que não poderia ficar ali imóvel sem fazer o que
tinha de fazer, então respirou fundo e deixou as palavras
saírem de sua boca, levando-as como o vento faz com as
folhas secas de outono.

-Senhor Sawyer – falou Brandon. – eu gostaria de
ter a permissão para pedir sua filha, Rachel Sawyer, em
casamento.

Instantaneamente, James começou a rir, como se
aquilo fosse uma piada contada por um palhaço de circo.
Porém, seu sorriso foi cessando gradativamente até ele se


tornar uma pessoa completamente séria. James agora sabia
de que Brandon tinha sido sincero em cada palavra.

-Ma... – sua voz vacilou repentinamente. – mas...
casamento? – ele perguntou num tom de voz desesperado,
sem acreditar no que seus ouvidos tinham escutado.

-Senhor... eu tenho certeza de que sua filha é a
pessoa certa para mim.

James balançou a cabeça. Esse movimento seria
repetido também por todos seus amigos e colegas caso
Brandon contasse que estava pensando em se casar. Não
que achassem que ele e Rachel não formassem um belo
casal (pois isso seria idiotice), mas por achar que a vida
ainda guardava muitas surpresas para pessoas tão jovens
como eles.

-Eu não tenho dúvidas disso Brandon – falou
James. – mas não acha que você e Rachel são muito jovens
para se casar?

-Talvez sim, talvez não... acho que o amor não tem
idade certa – Brandon respondeu. – porém, eu sei o que é
certo. É o meu amor pela sua filha... eu quero passar a
minha vida inteira ao lado dela e sei que estou fazendo a
coisa certa.

Ele agora estava confiante. Por mais que James
achasse que aquilo não era o correto a se fazer, Brandon
não desistiria mesmo que fosse proibido e James tinha
percebido essa ambição naquele garoto.

-Brandon... você acha que eu gostei disso? Não! Eu
não gostei – James falou com um olhar firme. – Mas se
você quer a minha permissão, você terá.

Brandon sorriu sutilmente. Deu um gole em seu
suco e apertou firmemente a mão de James.


-Eu não vou te desapontar, senhor.

-Eu sei que não vai. – James falou sorrindo. Ele
sabia que Brandon era uma pessoa de boa família e que
nunca decepcionaria sua filha.

Agora ele já poderia ir embora. Parte de sua missão
já estava completa. Mas o mais difícil ainda estava por vir.

O pedido.

Imagens passavam correndo como um trem bala
pela sua cabeça, pensando como seria o futuro dali pra
frente – ele vivendo junto com a pessoa que transformava
sua vida em um jardim de rosas, dormindo ao lado dela
todos os dias e quem sabe, em alguns anos, construir uma
bela família.

Edward e Hilary o esperavam na frente de sua casa
como se fossem duas crianças aguardando pelo presente
de Natal. Eles sabiam que Brandon iria falar com James e
queriam, mais do que nunca, saber se o filho deles iria se
tornar um homem por completo. Seria um passo enorme
em sua vida e na vida de sua futura esposa. Pois não seria
apenas felicidade que os dois teriam de enfrentar. Iriam ter
tempos difíceis, responsabilidades e todos os outros
fatores que o casamento traz. Mas os pais de Brandon
sabiam que seu filho estava preparado para enfrentar
qualquer coisa, desde que fosse do lado de Rachel Sawyer.

-E então... o que ele disse? – perguntou Hilary
enquanto Brandon ainda saia de seu Jipe.

-Vocês não acham que são muito ansiosos? – ele
perguntou para seus pais.

-Fale logo – Edward disse. – eu sei que James ficou
feliz com o que você pediu.


-Bom... feliz ele não ficou – disse Brandon,
fingindo uma cara entristecida, deixando seus pais aflitos.

– mas ele falou que me dá total permissão de casar com
Rachel.
Hilary e Edward fizeram um "aaaaaahhhhh" para
expressar a felicidade que eles estavam sentindo e o
abraçaram no mesmo instante. Os dois já tinham alertado
que não seria fácil abdicar de toda a sua juventude, mas
que ele teria sempre o apoio e suporte de seus pais em
qualquer hora que precisasse.

-Acho que isso pede por uma comemoração. –
Hilary falou alegremente.

-Calma mãe! – pediu Brandon – Rachel ainda nem
aceitou o meu pedido de casamento... ela nem sabe nada
sobre isso ainda.

Mas o pedido não demoraria pra acontecer. Em
poucos dias, o evento beneficente de Fordville teria no
palco muito mais do que uma banda de rock
moderadamente agressiva. Teria um compositor e músico
apaixonado que estava pronto para conceder seu coração
para sempre. Brandon não conseguia parar de pensar na
reação de Rachel quando soubesse, diante de toda aquela
multidão. Ela era uma garota tímida na maior parte do
tempo e, aceitar um pedido de casamento na frente de
muitas pessoas, não seria uma tarefa fácil.

Logo após a notícia, enquanto Brandon ainda
radiava sua felicidade, Edward e Hilary entraram em sua
casa e por ali, permaneceram por três horas. Edward ficou
assistindo seu canal de esporte predileto e Hilary limpava
e arrumava a casa obsessivamente. Os dois só saíram de lá
quando Rachel ligou avisando que passaria para os dois


assistirem um filme que ela havia alugado na locadora
perto de sua casa, enquanto ela e sua irmã voltavam do
shopping. Hilary e Edward sabiam que ele não iria pedir a
mão dela naquele momento. Eles tinham certeza de que
Brandon prepararia algo muito romântico para tal ato, mas
apenas queriam deixar os dois a sós aproveitando a
companhia dos mesmos.

-Até mais filho. – Edward disse depois de beijar as
bochechas rosadas de Brandon.

-Qualquer coisa, apareça lá em casa com Rachel
para comerem alguma coisa. – Hilary completou.

-Tudo bem – respondeu Brandon – eu ligo.

Os dois saíram com o carro conversível de Edward
e desapareceram virando na rua mais próxima que cruzava
com a Rua Walter Mountback.

Poucos minutos depois, Rachel foi entregue por
sua irmã Denise na porta da casa de Brandon. Ele atendeu
a sua namorada e olhou fixamente em seus olhos negros,
mostrando um sorriso que esboçava sua verdadeira
felicidade.

-Oi amor. – Rachel o cumprimentou depois de dar
um beijo em sua boca.

Os dois entraram e se posicionaram no sofá para
ver o filme que Rachel tinha alugado. Mas Brandon sabia
que não iria conseguir pensar, nem prestar atenção no
filme, já que existia algo muito mais importante ao seu
lado. Ele apenas iria se fissurar com a companhia de sua
amada e ficar deslumbrado pelo fato dele se apaixonar
todos os dias de sua vida pela mesma garota.

-O que foi? – perguntou Rachel. – você parece mais
feliz.


-Estou normal. – ele respondeu, tentando omitir o
que realmente estava passando em sua imaginação.

Os dois se levantaram. Enquanto Rachel colocava o
filme no aparelho de DVD, Brandon subia as escadas de
sua casa até o seu quarto para pegar seu cobertor
preferido, que tinha uma capacidade surreal de esquentar

o casal apaixonado.
Os dois começaram a assistir o filme enquanto
ainda estavam cobertos até seus pescoços. Era um filme de
suspense que tinha passado no cinema havia pouco tempo
e acabara de sair nas locadoras. Não era um filme muito
interessante, o que fez Brandon pensar que não se faziam
mais filmes de suspense como antigamente. Poucos
minutos depois, ele já estava com os olhos fechados,
deitado no colo de sua namorada pensando "esse é o
melhor filme do mundo".


CAPÍTULO 4

Após terminar todos os deveres que tinha de fazer
na loja de automóveis de Edward naquela quinta feita,
Brandon foi até a padaria mais próxima para comprar
alguma coisa que o alimentasse. Ele estava se sentindo
faminto, pois tinha comido apenas um pedaço de peixe e
um pouco de salada no seu almoço. Com seu estomago
roncando, comprou a maior baguete com recheio de
calabresa que estava à mostra. Ele foi dirigindo até sua
casa se deliciando com a casca crocante e a calabresa que
parecia derreter na sua boca, mas também estava
pensando quais as roupas que ele levaria para o show de
Fordville.

Em poucos minutos, a baguete de calabresa já não
existia mais, diferente da dúvida que ainda permanecia em
sua cabeça. De fato, ele só conseguiria extinguir aquele
ponto de interrogação que navegava em sua mente quando
abrisse seu guarda-roupa. Não que Brandon fosse apegado
em moda, mas o produtor da banda – Nick Geisel – era
bastante rigoroso com a imagem que os integrantes
transmitiam. Nick tinha cabelos lisos e compridos, olhos
azuis e uma barba grande, o que fazia parecer que ele fosse
um hippie de Woodstock, desejando ferozmente que cada
integrante da banda tivesse o seu estereótipo. Allan era o
rude e malvado da banda, David era o baterista com
influência nerd e Brandon o galã de novela com cabelo
jogado para o lado e charme imbatível.

Ao chegar em casa, Brandon afinou sua guitarra e
tocou-a por pelo menos trinta minutos. Era um ato
indispensável no meio de sua rotina. Acordes e solos


incandesciam a sua paixão pela música todos os dias.
Talvez, se seu pai não tivesse um negócio próprio,
Brandon trabalhasse como professor de guitarra e violão,
mesmo que em Sant Grove não existisse uma quantidade
considerável de pessoas interessadas em aulas musicais
para que ele pudesse fazer dinheiro com isso. De qualquer
forma, seu futuro econômico já estava garantido e, por
sorte, tal futuro não dependia de sua agilidade com
escolhas, pois havia uma ausência notável dessa habilidade
em Brandon.

Naquele dia em especial, ele se deparou com uma
gaveta repleta de camisas de bandas que ele idolatrava e
outras camisas simples com apenas um desenho pequeno
no peito ou uma estampa qualquer e, mesmo assim,
demorou muito para escolher cinco (quantidade suficiente
para passar um final de semana em Fordville). Brandon
teve de ligar para Rachel para saber qual camisa ficaria boa
para tocar naquele evento. Ela simplesmente falou que ele
deveria levar em sua mochila as cinco últimas que ela tinha
dado de presente a ele, ou seja, duas camisas de marca de
skate, uma com o desenho de uma guitarra localizada ao
lado esquerdo de sua barriga, uma camisa do The Beatles e
outra do The Doors. Ele realmente tinha adorado todos
esses presentes e não pensou duas vezes em levá-las, pois
sabia que Rachel era uma ótima estilista. Em relação às
suas calças boca de sino, a tarefa tinha sido muito mais
simples. Isso porque havia um estoque imenso, mas todas
eram muito semelhantes, o que fazia seus amigos
brincarem que seu guarda-roupa era como os que
aparecem nos filmes de cientistas malucos, onde todas as
roupas são jalecos brancos idênticos.


Ele separou uma meia dúzia de roupas íntimas,
meias e dois casacos pretos para levar consigo. E então,
sua bagagem para Fordville estava pronta.

*

Na manhã de sexta feita, Brandon e Rachel já
estavam com as malas dentro do Jipe preto de Brandon.
Allan e David iriam juntos no final da noite, quando David
terminasse todas as suas tarefas da faculdade. O baixista e

o baterista da banda Atlanta decidiram, por fim, dormir no
carro de David durante a estadia em Fordville e descartar o
hotel que Johnny Dallas tinha arranjado a eles, já que seria
cobrada a eles uma pequena taxa pelo serviço de quarto.
Por incrível que pareça, os dois estavam considerando isso
como uma das "maiores aventuras de suas vidas". Brandon
já havia feito isso duas vezes antes, quando a banda teve
alguns de seus shows marcados em cidades bem próximas
a Sant Grove. Ele sabia que, de aventura, aquilo não tinha
nada. Muito pelo contrário, era apenas um convite de
graça para uma dor nas costas e torcicolo. Mas dessa vez,
Brandon não estava preocupado, ele ficaria muito bem no
Hotel Del Mare com sua namorada.
-Está pronta para a melhor viagem de sua vida? –
Brandon perguntou animadamente a ela.

-O que? – Rachel retrucou. – então quer dizer que
nossa lua de mel não vai superar uma viagem para
Fordville?

Mal ela sabia, que a Lua de Mel seria muito em
breve, caso tudo o que Brandon planejasse se
concretizasse naquele final de semana.


-Amor, nossa Lua de Mel é uma exceção. –
Brandon retrucou enquanto olhava para a porta de sua
casa, pensando se tinha pegado tudo o que ele precisava.

Os dois entraram no carro.

Após um beijo e uma troca intensa de olhares,
Brandon ligou o carro e partiu em direção a Fordville. O
som do carro tocava uma música de hardcore de alguma
banda independente. E mesmo ele sendo um grande fã das
bandas de rock clássicas, ele também apreciava aquilo que
poucas pessoas conheciam. Afinal de contas, sua banda
estava inclusa nesse meio underground. Mas era trabalho de
Brandon, David, Allan e inclusive Nick Geisel, levar a
mensagem que a banda Atlanta passava para o maior
número de pessoas possíveis.

A estrada até Fordville era bem tranqüila e
confortante. Poucos carros passavam por ali naquela hora
do dia e a maioria dos veículos eram caminhões que faziam
transporte de madeira, de gado, ou qualquer outro
produto economicamente forte naquela região. Também
era possível avistar placas de atenção com alces, esquilos e
capivaras que poderiam, a qualquer momento, atravessar
de um lado para o outro da estrada. Mas parece que
naquele dia, a fauna daquela floresta estava da forma mais
harmônica possível, pois Brandon e Rachel não avistaram
nenhum animal, exceto é claro, belos pássaros coloridos
que voavam intensamente à procura de alimento.

Em menos de duas horas, Brandon e Rachel já
tinham chegado a Fordville. Na entrada da cidade, existia
uma grande placa "Bem vindos a Fordville" com o desenho
de um crocodilo com óculos de sol fazendo piquenique.
Motivo disso, era o fato de que havia uma família de


crocodilos em um lago a menos de um quilômetro de
distância de onde Brandon e Rachel tinham passado. Por
incrível que pareça, os locais não se amedrontavam com
isso. A maioria das pessoas ia até o local para pescar,
tomar um lanche e botar a conversa em dia nos limites do
lago. O pai de Brandon já havia falado sobre tais
crocodilos, o que fez despertar a atenção do garoto. Mas
agora, os dois tinham algo a fazer -achar o Hotel Del Mare
e instalar suas pequenas bagagens de fim de semana.

Um senhor que aparentava ter pouco mais de
sessenta anos, com cabelos brancos e um volumoso
bigode, andava tranquilamente com seu cachorro, quando
Brandon parou ao seu lado para pedir algumas
informações.

-Com licença – Brandon falou. – o senhor poderia
me informa onde é o Hotel Del Mare? – perguntou
educadamente.

Aquele senhor olhou diretamente ao jovem
desinformado com uma cara de dúvida, o que fez Brandon
pensar que ele não saberia dar tal informação. Então,
quando ele já ia agradecer e se despedir, para que assim
pudesse abordar uma outra pessoa, o senhor grisalho
falou:

-Você tem de seguir por essa rua e no quarto
cruzamento... hum... – refletiu com seus olhos fechados – é
isso aí! – estralou os dedos. – Você tem de virar no quarto
cruzamento à esquerda.

Brandon olhou para Rachel com uma cara de
"devemos confiar nesse cara?", mas ela apenas afirmou com
a cabeça.

-Obrigado senhor. – o casal agradeceu.


De qualquer forma, eles estavam lá para se divertir,
não para se preocupar com hotéis, serviços de quarto e a
que horas o café da manhã seria servido. Então o Jipe se
direcionou até onde aquele velho homem tinha avisado.

Como Rachel e Brandon já haviam imaginado, a
informação estada errada. Mas de qualquer forma, eles
estacionaram o carro e entraram em um restaurante
chamado Delicardio, que ficava na rua onde o senhor tinha
informado a suposta localização do Hotel Del Mare.

O restaurante estava cheio. Aparentemente, era
onde todas as pessoas que trabalhavam ali por perto
almoçavam. Isso só fez com que Brandon e Rachel se
alegrassem ainda mais, já que a comida (de acordo com o
cardápio) não custava caro e parecia ser deliciosa.

Os dois demoraram menos de dez minutos para
saber qual prato seria o escolhido. Então, chamaram uma
garçonete pouco acima do peso para anotar o que haviam
escolhido depois de tanto pensarem.

-Boa tarde – a garçonete gorda falou. – já
escolheram?

-Sim – Rachel disse sem hesitar. – nós vamos
querer esse filé de frango à parmegiana, por favor.

A barriga de Brandon roncou. Provavelmente ele
estava pensando naquele frango delicioso que estava vindo
ao seu caminho, já que tinha comido apenas uma maçã
naquela manhã de sexta feira.

-Alguma coisa para beber? – a garçonete
continuou.

Rachel acabou pedindo um suco de laranja e
Brandon, uma limonada com duas pedras de gelo e
bastante açúcar.


Em menos de quatro minutos os sucos já estavam
sendo colocados na mesa redonda pintada de vermelho.
Cinco minutos depois a comida era colocada no prato do
casal, fazendo com que Brandon não perdesse seu precioso
tempo para atacar seu alimento como um leão atrás de
uma zebra indefesa.

Não demorou muito tempo para os dois saírem do
restaurante, deixando alguns trocados de gorjeta para a
garçonete atenciosa.

-O que você acha de passar no lago do crocodilo? –
perguntou Rachel ao seu namorado.

-Pode ser uma boa idéia. – ele aderiu.

E realmente era uma ótima idéia. Pelo menos dessa
vez, não tinha como errarem o caminho. O lago era a maior
atração da cidade e havia placas espalhadas por todos os
cantos indicando qual direção você deveria tomar caso
fosse um turista procurando algo em especial na cidade de
Fordville.

Ao chegarem lá, Brandon sacou seu violão e Rachel
pegou uma toalha de praia para os dois se sentarem no
gramado perto da cerca que os separavam da beira do lago.
Uma ponte que cruzava o limite da moradia dos
crocodilos era habitada por velhos aposentados que
pescavam os peixes que ali passavam tranquilamente.

-Esse lugar é bem bonito. – Brandon disse.

Rachel assentiu, deitando em seu colo e sorrindo
para Brandon com um ar apaixonante.

Os dois permaneceram ali por volta de uma hora.
Tempo suficiente para Rachel adormecer sob os carinhos
de seu namorado, que a via dormir e pensava o quão bom
seria quando os dois estivessem ligados pelo matrimônio.


Quando saíram, decidiram ir ao Hotel Del Mare.
Aliás, eles pagaram a estadia pelos três dias, então, nada
mais justo do que aproveitar a mordomia do local.

Um casal de negros estava passando perto deles,
quando Rachel decidiu perguntar à mulher se ela sabia
exatamente onde ficava o lugar que eles estavam
procurando. Totalmente atenciosa e prestativa, a mulher
pegou uma página de caderno que estava guardada em sua
bolsa e escreveu o percurso que Brandon e Rachel
deveriam fazer. Após agradecer a ajuda, os dois partiram.

-Essa mulher é mais exata do que o Google Maps.–
brincou Brandon.

Rachel deu risada.

Brandon apenas olhava-a sorrir. Ele ficava
impressionado com a beleza e felicidade que sua namorada
transmitia. E para compensá-la, usaria toda sua paixão,
assim que chegassem ao Hotel Del Mare.

*

O hotel era de fato muito bonito. E por fora,
superava todos os panfletos e as fotos postadas no website
da empresa.

-Uau! – exclamou Rachel quando Brandon
estacionou o carro na entrada do hotel.

Imediatamente um chofer veio conduzir o carro até

o estacionamento e outro atendente apareceu para falar
com o casal que permanecia com os olhos brilhando.
O hotel tinha uma pequena estátua de um anjo na
entrada, com uma cachoeira desembocando em uma fonte
com peixes coloridos. O hotel era extenso como o colégio


em que Brandon estudara. Havia uma piscina no centro
onde crianças brincavam de voleibol com seus pais e
mergulhavam até onde conseguiam suportar, sem
mencionar as duas quadras para a prática de tênis, uma
para o basquete, o cassino e um enorme restaurante.

-É um hotel tão grande para uma cidade tão
pequena como Fordville. – Brandon disse impressionado.

Rachel concordou, também impressionada.

O custo da suíte que ele tinha escolhido não foi
barato, mas julgando pelos serviços que o hotel oferecia,
também não tinha sido caro. Ele simplesmente não
poderia ter feito uma escolha melhor para passar um bom
final de semana com a pessoa que ama.

-Aonde fica nosso quarto? – perguntou Rachel ao
assistente, empolgadíssima por dentro.

Imediatamente, ele os conduziu até à
recepcionista, que daria todas as informações que eles
necessitavam. Lá, uma mulher alta com cabelos castanhos
cacheados falou sobre o horário do café-da-manhã, almoço
e jantar, sem dispensar o horário e as regras do cassino.
Por fim, entregou a chave do quarto aos jovens turistas.

-O quarto de vocês é o 534. – a recepcionista disse.

Agradecidos, Brandon e Rachel pegaram suas
poucas bagagens e subiram pelo elevador principal, que
tinha um enorme espelho com detalhes em dourado na
borda, até chegar ao quinto andar, onde havia um enorme
corredor com vasos e quadros espalhados entre uma suíte
e outra.

O quarto escolhido por Brandon tinha uma cama
enorme de casal, duas camas de solteiro, um banheiro
exagerado demais para apenas um casal e um frigobar que


ficava debaixo de uma televisão de plasma. Sem mencionar
as poltronas, os utensílios distribuídos pelo quarto que era
de primeira classe e a varanda que dava uma bela visão
para as montanhas e os campos de Fordville.

-Amor – disse Rachel. – Que lugar incrível... você é
demais. – disse se jogando aos seus braços.

-Eu sei que sou. – ele se gabou.

Os dois se beijaram e se jogaram na cama, largando
todos seus pertences no chão. Era final de tarde e os dois
estavam apenas aproveitando a companhia um do outro.
Juras eternas de amor foram feitas mais uma vez naquele
momento, com algo muito concreto por trás de todas essas
promessas.


CAPÍTULO 5

Na manhã de sábado Brandon acordou uma hora
depois do nascer do sol. Ele não estava sentindo uma
faísca de sono sequer, já que na noite anterior, ele e Rachel
beberam um vinho no quarto e foram cedo para cama,
fazendo apenas uma breve visita ao cassino, onde
apostaram poucos dólares numa mesa de pôquer – lá,
jogava um senhor com pouco mais de setenta anos e sua
filha. O homem se chamava Jesse Mackenzie, era careca,
usava óculos e vestia um terno preto, que o fazia parecer
com que fosse um professor de física ou matemática. Sua
filha, em contrapartida, era bem apresentável. Ela se
chamava Megan, tinha trinta e sete anos, cabelos loiros,
olhos verdes, um corpo muito bem cuidado e era
espantosamente linda para uma pessoa que já estava quase
chegando aos quarenta anos de idade. Os dois tinham feito
aquela viagem "pai e filha", pois Megan tinha acabado de
voltar do Canadá, onde permanecera por oito anos. O jogo
com aquela pequena família tinha sido muito divertido,
mesmo com Brandon e Rachel perdendo tudo o que
tinham apostado. Mas, como o ditado diz: azar no jogo,
sorte no amor.

O cassino não era tão exuberante quanto o resto do
hotel, mas tinha os jogos mais clássicos como roleta, vinte-
e-um e diversas máquinas de caça-níquel. Naquela noite
(como em todas as noites de sexta feira) o cassino estava
aberto para qualquer pessoa, desde que tivesse idade
suficiente para entrar. Então, algumas dúzias de pessoas se
reuniram naquele local para tentar a sorte.


A primeira noite em Fordville já tinha sido
bastante agradável para Brandon e Rachel e isso só fazia
com que a vontade do jovem garoto em pedir sua amada
em casamento aumentasse. Mas ele não teria de esperar
mais. Seria naquela noite, ao final do show de sua banda
Atlanta.

Por falar na banda, David e Allan já deveriam estar
dormindo no carro em alguma rua pelas bandas de
Fordville, ou então, haviam cedido às tentações e ido para

o pequeno hotel ao lado de onde seria o evento beneficente
que Dallas tinha arranjado.
Brandon saiu do Hotel Del Mare para tentar
encontrá-los.
Rachel decidira ficar dormindo na suíte em que
estavam, já que depois de seu namorado, o travesseiro era
seu segundo grande amor. Ela raramente entendia o por
que Brandon gostava tanto de sair para caminhar àquela
hora da manhã. Simplesmente não fazia sentido alguém
trocar um bom descanso na cama por uma caminhada
junto à natureza.

Ao sair do hotel, Brandon percebeu que não estava
carregando seu celular. Ele não queria voltar ao quarto
pois não queria atrapalhar o sono de Rachel. E, mesmo se
voltasse e ligasse para seus companheiros de banda, não
seria novidade se Allan e David tornassem Brandon alvo de
palavrões pesados. Pois os dois odiavam ser acordados,
principalmente antes do meio-dia num sábado.

Apenas com sua carteira, decidiu passar em uma
loja de conveniência que ficava perto do lago onde os
crocodilos moravam para comer alguma coisa.


O dia estava bonito e o sol mostrava seus raios de
calor, fazendo com que as pessoas daquela cidade fria
andassem com blusas regatas e bermudas – algo não tão
freqüente até para os moradores de Sant Grove.

Brandon Browser estava se sentindo bem, mas para
melhorar o seu humor, apenas um suco de laranja
acompanhado de uma barra de chocolate ao leite. E ele já
tinha escolhido o que iria consumir na loja quando alguém

o chamou:
-Olá perdedor!
Brandon se virou para saber se estavam mesmo
falando com ele.

Era Jesse Mackenzie, o senhor simpático que na
noite anterior, ganhara todo o dinheiro apostado por
Brandon e sua namorada na mesa de pôquer.

-Olá senhor – ele o cumprimentou. – tudo bem?

-Comigo está tudo certo – ele respondeu. – mas
acredito que você está numa péssima situação.

Brandon fez uma cara de que não tinha entendido
aquele comentário que Jesse acabara de fazer.

-Ora... você está comendo fora, sendo que servem o
melhor café-da-manhã da cidade naquele hotel.

-Bom – Brandon continuou. – então o senhor
também deve estar em uma péssima situação, já que
também trocou o "melhor café-da-manhã da cidade". – ele
disse apontando para a pizza que Jesse estava segurando
em sua mão direita.

Naquele instante, a porta da loja de conveniência
se abriu. Era Megan Mackenzie. Ela carregava uma garrafa
de refrigerante sabor citrus e uma bolsa enorme que


poderia ser capaz de suportar todas as coisas que tinham à
venda naquela loja.

-Olha só – ela falou olhando Brandon de cima a
baixo. – se não é o garoto que perdeu para nós no pôquer.

-Muito prazer em vê-la também. – Brandon
respondeu sarcasticamente.

Os três riram sutilmente.

-Mas como eu iria dizer – Jesse continuou. – eu e
minha filha não estamos no hotel. Nós somos de Sant
Grove, mas temos uma pequena chácara perto das
montanhas. E você sabe como é... mulheres que acabam de
se divorciar precisam ocupar seu tempo fazendo apostas
ou gastando dinheiro. – ele disse com seu olhar fixado na
filha.

-Pai! – ela o recriminou.

-Já que vocês são de Sant Grove – Brandon
continuou, ignorando a vergonha que Megan estava
sentindo – que tal ir ao show da banda Atlanta hoje? Eles
são lá de Sant Grove também e vão tocar num evento
beneficente hoje à noite, aqui em Fordville.

É lógico que Brandon sabia que Jesse era muito
velho para um concerto de rock. De certa forma, Megan
também poderia ser o tipo de mulher que quer apenas
relaxar e que já teve o seu tempo de shows de rock, mas
nada impediria Brandon de tentar.

-Eu estou fora. – disse Jesse, engasgando sua
risada.

-Espera aí... – Megan falou. – você não é...?

-Sim – Brandon afirmou. – sou eu que vou tocar
hoje à noite.


Todos ficaram conversando por mais alguns
minutos sobre a coincidência de morar na mesma cidade,
mesmo que não fosse tanta, já que Sant Grove era
relativamente perto de Fordville. Conversaram também
sobre a banda de Brandon e sobre a programação noturna
de Fordville, que não era muito vasta. E por fim, a
concordância de Megan em comparecer no show da banda
no evento beneficente.

-Acho que pode ser uma boa idéia... afinal, todos os
jogos de cartas foram jogados por pelo menos... umas cem
vezes no dia de ontem. – ela falou encarando seu pai.

-Você diz como se fosse uma coisa ruim. – Jesse
respondeu com sarcasmo.

-Sem ressentimentos – pediu Brandon. – eu
gostaria muito de ficar mais conversando com vocês, mas
eu realmente tenho que voltar para o hotel, se não a minha
namorada fica louca. Mas nós nos vemos hoje? –
perguntou a Megan.

-Com certeza – afirmou. – estarei lá.

Brandon se despediu dos dois e seguiu de volta
para o hotel, não antes de comprar mais um copo de suco
de laranja e derramar um pouco em sua camisa branca.

Quando Brandon chegou novamente à suíte onde
estava hospedado, imaginou que Rachel ainda estivesse
dormindo, pois estava muito silencioso dentro do quarto.
Mas quando ele abriu a porta...

-Toma isso! – gritou Allan, acertando-o com o
travesseiro que ele tinha dormido na noite anterior.

Todos deram gargalhadas ao verem o susto que
Brandon levou. Ele realmente não esperava que fosse


atacado por um travesseiro ou qualquer outra coisa
parecida.

-Você demorou – Rachel falou a seu namorado. –
aonde você foi?

-Eu passei em uma loja de conveniência – disse –
eu realmente estava precisando de um suco de laranja e
uma barra de chocolate. Também encontrei com aquele
senhor e sua filha que jogaram cartas com a gente ontem...
lembra?

-Ah, então quer dizer que você ficou de
conversinha com a coroa "tudo de bom"? – Rachel
perguntou enciumada.

-Ela não é tão coroa assim... não tem nem quarenta
anos. – Brandon retrucou. Mas depois de pensar melhor,
achou que teria sido uma ótima idéia se não tivesse
entrado nesse assunto. Ele sabia como Rachel era
adoravelmente ciumenta.

Ela fez uma cara de "não acredito que você disse
isso" e ligou a televisão, ignorando os pedidos de desculpa
de Brandon, mesmo que ele não tivesse nada de que se
desculpar.

David e Allan se entreolharam e acharam melhor
sair da suíte do casal. Eles não queriam influenciar em
nada naquela discussão. Apenas pegaram alguns biscoitos
que estavam ao lado da televisão e foram dar uma volta
pelo hotel.

-Ei Robin – falou Allan. – vamos ver se nós
achamos algumas gatas por aí.

-Quem sabe uma gata de meia idade. – continuou
Rachel irritada, olhando diretamente para os olhos de
cachorro sem dono de Brandon.


David e Allan saíram. Mas poucos minutos depois
Brandon e Rachel já estavam de bem um com outro.
Rachel tinha certeza de que não existia mais ninguém no
mundo de Brandon, além dela. Mas nunca era demais fazer
uma pequena cena de ciúme.

*

Naquela tarde ensolarada, a banda Atlanta já tinha
compromisso marcado com Johnny Dallas.
Aparentemente, ele queria que a banda passasse o som,
para que tudo ocorresse dentro dos conformes na hora do
show. Não bastava apenas a banda tocar corretamente, era
necessário ajeitar o jogo de luz do palco, a entrada dos
integrantes, os amplificadores, enfim, tudo o que faz parte
de um evento grande que envolva música e arte.

Todos os integrantes tinham acabado de almoçar –
Brandon no Hotel Del Mare com sua namorada; Allan e
David numa barraca de cachorro-quente no meio da rua –
e já estavam indo para o Fordville Convention, local onde já
estava sendo realizado o tal evento beneficente.
Não era um local tão grande quanto os rapazes estavam
imaginando, mas ainda assim, tinha seus méritos por estar
prestando uma boa causa social. Havia um estacionamento
que comportava cerca de uns cem carros de frente para a
entrada principal, que era regulada por dois seguranças
brutamontes e uma mulher que prestava informações
sobre o evento ao público.

Quando chegaram à porta, todos da banda foram
recebidos pessoalmente por Johnny Dallas. Ele tinha a
mesma altura de Allan, era negro, tinha seu cabelo raspado


na máquina nº2 e trajava um terno impecável, o que o fazia
parecer um homem de negócios muito bem sucedido.

-Muito prazer em conhecê-los – disse Dallas se
referindo aos meninos da banda e Rachel. – Estou muito
ansioso para ver a banda de vocês. Tenho certeza de que
será um ótimo show.

-Pode ter certeza de que será. – afirmou David
enquanto apertava a mão de Johnny Dallas.

Todos se encaminharam para dentro do evento que
não estava cheio naquela hora do dia. A decoração era bem
bonita -com quadros e pinturas feitas por artistas locais
colocados nas paredes. Um vídeo passava um
documentário sobre como ajudar os necessitados é
fundamental em nossas vidas, em um telão que ficava logo
atrás do palco.

Fordville Convention agregava dois andares que eram
divididos por uma escada em forma de espiral. O primeiro
andar era onde ficava o palco, as obras de arte e o local
onde seriam feitas as apresentações de teatro. O segundo
continha os banheiros e alguns lugares onde eram
vendidas pizzas, hambúrgueres, refrigerantes, sucos, entre
outros alimentos.

-Tenho que admitir que esse evento está de
primeira classe – Allan disse para Dallas.

-Muito obrigado, Senhor Green. – agradeceu
Dallas.

Todos da banda deram risadas. Era engraçado
alguém tratar Allan com tanta benevolência a ponto de
chamá-lo pelo sobrenome. Brandon, David, Rachel e
qualquer outra pessoa que realmente o conhecia, achavam


ele mais parecido com um caminhoneiro rude e mal-
educado.

Vinte minutos depois, a banda estava testando os
microfones e amplificadores e afinando seus instrumentos.
Eles tocaram metade de uma de suas melhores músicas,
que começava de forma pesada, onde parece que os três
integrantes estão colocando o maior peso possível junto
com a voz melancólica de Brandon. A letra da música
falava sobre um homem que sempre foi deixado para trás e
ridicularizado pela sociedade, mas então ele consegue dar
a volta por cima e mudar a sua vida radicalmente, fazendo
com que aqueles que antes o criticavam, passassem a
admirá-lo. Aquela canção já tinha tocado inúmeras vezes
nas rádios regionais e até mesmo, entrado no ranking das
dez mais tocadas no mês de sua estréia. Porém, a música
em que a banda e, principalmente Brandon, estava
apostando nesse show, era a que Brandon havia feito para
Rachel, titulada com o nome de "O Silêncio do Coração".

Todos os integrantes estavam muito ansiosos para

o início do concerto. No final de tarde daquele sábado –
onde já ia começar a apresentação de um grupo teatral –
pessoas foram chegando e se aglomerando para apreciar
um pouco de entretenimento. Allan e David foram tomar
um banho e se aprontar. O mesmo foi feito por Brandon e
Rachel, já que em algumas horas a banda estaria tocando
para centenas de pessoas que chegavam aos poucos no
evento organizado por Dallas.
No caminho até o Hotel Del Mare, Brandon não
conseguia parar de falar a Rachel o quanto estava feliz por
finalmente voltar aos palcos com sua banda Atlanta. E ela
ficava feliz por ver que seu namorado estava totalmente


maravilhado pela ocasião. Mas ela não sabia que ele
guardava um nervosismo crescente, já que aquela noite, em
especial, seria uma das maiores noites de sua vida, se não a
maior.

Seu coração batia rápido, mas silenciosamente.


CAPÍTULO 6

Guitarra afinada, palhetas separadas, a roupa certa
para o show e Brandon já estava pronto para subir aos
palcos após tomar um demorado banho. Mas mesmo com
a água gelada tocando seu corpo, ele não conseguiu
acalmar a eletricidade que faiscava suas emoções.

-Vamos amor! – ele gritou do outro lado da porta,
enquanto Rachel estava no chuveiro. – Eu preciso chegar
um tempo antes do show começar.

-Calma! – respondeu ela.

O celular tocou. Era Allan.

-E aí meu camarada! Já está saindo?

Brandon olhou no relógio, preocupado. Ele tinha de
ir logo para acertar mais alguns detalhes com Johnny
Dallas e Rachel nem sequer tinha saído do banho. Brandon
sabia que sua namorada seguia rigorosamente a ditadura
da vaidade e, sendo assim, tomaria mais uma grande
quantidade de tempo se arrumando, passando maquiagem
e fazendo todo o tipo de coisa que uma garota "deve" fazer
antes de sair de casa.

-Cara...

-Vá com eles – Rachel o interrompeu enquanto
saia de toalha do banheiro. – eu ainda tenho que passar
maquiagem, escolher a roupa. Não quero atrasar você com
seus compromissos. Fale para eles passarem aqui e pegálo,
mas deixe seu carro comigo.

Brandon sorriu, enquanto Allan ainda esperava
uma resposta no celular.

Rachel Sawyer era tão compreensiva, benevolente,
sem mencionar sua beleza capaz de fazer qualquer garota


sentir inveja. Até mesmo suas breves crises de ciúme
chegavam a ser encaradas como algo positivo para
Brandon. Ela era simplesmente perfeita.

-Allan – ele respondeu. – tem como vocês me
pegarem aqui no hotel? – Brandon perguntou. – Rachel
ainda não está pronta.

Allan concordou.

Em menos de vinte minutos seus companheiros de
banda já o esperavam na porta do Hotel Del Mare.

Brandon Browser olhou nos olhos negros de Rachel
Sawyer, beijou-a e saiu apressadamente, sem que deixasse
sua namorada completar um sincero "eu te amo". Ele
deixou o hotel pensando que a próxima vez que a visse,
seria num momento muito importante de sua vida.

Ele não fazia idéia de como seria esse momento.

*

Allan, David e Brandon ficaram impressionados com a
quantidade absurda de carros presentes no
estacionamento do local onde se apresentariam. Fordville
Convention estava repleto de pessoas de todas as idade.
Idosos, pais, mães, pessoas jovens e crianças tinham se
reunido naquele evento para prestigiar e apreciar a
diversidade da arte regional.

Os integrantes da banda tremiam.

-Caras – falou David. – eu não fico tão nervoso
assim desde a minha última prova de Anatomia Patológica.

Brandon e Allan se entreolharam e caíram na
risada, sucedendo em um leve tapa na cabeça do baterista
da banda.


-Ei Robin – chamou Allan. -será que você não
consegue deixar de ser nerd por pelo menos um dia de sua
vida?

Não houve resposta.

A banda Atlanta estacionou seu automóvel e os
integrantes se direcionaram para a entrada das bandas e
artistas que ficava na parte dos fundos do
estabelecimento. Os três puxaram suas carteiras e
seguraram firmemente seus documentos, já que um
segurança enorme (que com certeza usava anabolizantes)
fiscalizava a entrada e saída das "Atrações Principais –
Fordville Convention", como estava nomeado em sua lista.

Eles passaram pelo segurança sem problemas.

Na parte de dentro da Fordville Convention, uma
mulher que parecia ter saído de um filme sobre gueixas
prestava informações para todos os artistas – onde ficavam
os camarins e banheiros, lugar onde poderiam se
alimentar, etc. – e checava em sua lista a que horas tais
pessoas iriam se apresentar.

O show da banda Atlanta começaria a pouco
menos de duas horas. Para relaxar, Brandon, David e Allan
foram até o camarim e pegaram uma cerveja.

-Se eu não estivesse tão nervoso – comentou
Brandon. – com certeza iria fazer uma piada com aquele
segurança e a japonesa.

-Para ser contratado aqui, você deve ter algumas
"aptidões". – Allan falou, fazendo o sinal de aspas com
seus dedos.

Os três riram sentados na poltrona do camarim,
que por sinal, era bem espaçosa. Havia uma mesa com
algumas maçãs e bananas, uma geladeira com uma garrafa


de água e dez cervejas (incluindo as três que tinham
acabado de tomar). Um quadro de Jimi Hendrix tocando
em Woodstock estava fielmente colocado acima da mesa
de frutas, o que fez os integrantes lembrarem do produtor
da banda – Nick Geisel.

-Aquele hippie iria gostar de estar aqui. –
comentou Brandon.

-Com certeza – concordou David. – mas é bom
mesmo que ele fique em Sant Grove. Afinal de contas, ele
ainda tem de trabalhar muito nas músicas que nós estamos
gravando.

Allan assentiu.

-Acho que vou dar uma caminhada pelo evento –
Brandon falou. – ver como está a multidão.

Aquele não era o lugar onde a banda Atlanta iria se
apresentar para o maior número de pessoas. Mas era
normal que ficassem nervosos. Os integrantes já estavam
afastados do palco havia algum tempo. Nada mais normal
do que sentir um frio na barriga, uma sensação de nervoso.

-Se eu fosse você, eu não faria isso – comentou
Allan. – só vai fazer com que você fique mais nervoso. Eu
pelo menos não vou largar dessa geladeira cheia de
cervejas até nosso show começar.

Talvez o que Allan tinha dito fosse verdade. Mas
nenhuma cerveja conseguiria acalmar o coração
apaixonado de Brandon. Nada conseguiria deixar a aliança
de noivado que estava guardada no bolso do vocalista da
banda Atlanta, longe do dedo de Rachel Sawyer. Brandon
estava determinado. Ele imaginara essa cena muitas vezes
em sua cabeça antes de dormir. Imaginava como seria o
momento mais importante de sua vida.


-Eu vou mesmo assim – Brandon afirmou. – Se
Rachel chegar aqui, fale para ela ver o nosso show de
frente ao palco.

Ele saiu e foi se juntar à multidão.

Fordville Convention estava lotado naquele momento
em que um grupo de teatro apresentava a peça "Romeo e
Julieta". O trabalho daqueles atores era realmente muito
bom. Mesmo Brandon já conhecendo aquela história, ele
ficou maravilhado com a peça escrita por William
Shakespeare séculos atrás. Era um amor tão puro, tão
bonito. Muito parecido com os sentimentos que Brandon e
Rachel sentiam um pelo outro.

Muito mais parecido do que Brandon pudesse
imaginar.

*

Brandon, Allan e David já estavam preparados.
Com seus instrumentos minuciosamente afinados em suas
mãos, estavam prontos para entrar no palco, plugar os
cabos nos amplificadores e mostrar ao povo de Fordville e
do resto da região o som forte da banda Atlanta. Johnny
Dallas estava em cima do palco naquele momento,
anunciando a banda que vinha diretamente de Sant Grove.
Centenas de pessoas estavam borbulhando por dentro,
com os olhos ferozes esperando pela atração principal da
noite.

-E agora com vocês – gritava Johnny Dallas no
microfone. – dêem as boas vindas para banda – tomou a
maior quantidade de fôlego possível – Atlantaaaaa!


Os integrantes entraram no palco e a multidão se
incendiou de uma forma ainda mais intensa.

A banda estava sentindo falta dessa reciprocidade
de energia. Era um sentimento inexplicável que existia ao
ver todo aquele mar de gente ansiosa para escutar o som
que a banda estava prestes a proporcionar.

-Boa noite Fordville – falou Brandon. – nós somos
a banda Atlanta de Sant Grove. Espero que vocês
aproveitem o show.

-E se alguma garota estiver disponível – Allan
falou, tomando o microfone de Brandon. – pode me ligar.

Gritos histéricos da platéia vieram em direção à
banda, enquanto eles abriam com sua música
instrumental. O sangue de Brandon fervia ao tocar as
cordas de sua guitarra, Allan balançava sua cabeça como
se estivesse possuído e David destruía a integridade dos
pratos de sua bateria com a mesma força de um raio.

A platéia pulava.

Brandon rodeava Fordville Convention com seu olhar
a procura de sua namorada, mas estava muito difícil de
encontrá-la. Ele sabia que a essa hora ela já deveria estar lá
observando a banda tocar, pois o tempo que tivera para se
arrumar, era mais que o suficiente para fazer tudo o que
devia. Mas também, seria meramente impossível Brandon
encontrar uma pessoa em especial naquele lugar onde
todos pulavam e se movimentavam em um fluxo intenso.

Ao término da primeira música, as pessoas
entraram em chamas. As músicas da banda costumavam
surtir um efeito emocional muito grande na platéia. Até
mesmo as pessoas que não gostavam daquele estilo
musical ficavam impressionadas com a qualidade do trio.


A segunda, terceira e quarta música, continuaram
no mesmo ritmo enlouquecedor. Jovens que tinham por
volta de quinze a vinte anos entravam no palco e pulavam
de volta para a platéia descontrolada.

-Não sabia que era permitido moshs em eventos
beneficentes. – Brandon brincou com a platéia, enquanto
Allan fazia uma linha sonora muito contagiante em seu
contrabaixo e David o acompanhava na bateria.

As pessoas pulavam e gritavam, mas Rachel não
estava inclusa nesse meio sob os olhares de seu namorado.

A quinta música escolhida pela banda foi uma
canção que Brandon tinha feito para seu pai, onde a letra
da música fora escrita em forma de carta, dizendo o amor e
admiração que Brandon sentia por Edward. A música
permanecia durante três minutos somente com a voz de
Brandon acompanhado com acordes melancólicos no
violão, porém, em seu refrão final, Allan e David entravam
em sintonia com Brandon. Havia algo muito sincero nesta
canção, que fazia uma grande parte das pessoas se
identificarem com a letra, não poupando suas lágrimas.

-Tudo bem – disse Brandon ao término da música.

– mas agora vamos voltar às origens. Afinal, isso daqui não
é um show emo.
Adolescentes de cabelos compridos que estavam de
frente à banda gritaram desesperadamente e fizeram o
símbolo do rock'n'roll com suas mãos. Por dentro,
Brandon também estava gritando, mas em um desespero
muito maior. O show teria apenas mais algumas canções e
a cada música que passava seu coração batia mais
intensamente.


Eles continuaram tocando no mesmo ritmo elétrico
e quando tocaram sua música principal, muitas pessoas da
platéia acompanharam a letra junto a Brandon. Os
integrantes da banda Atlanta ficaram realmente
impressionados com a popularidade que tinham atingido
nas cidades perto de Sant Grove no espaço de tempo que
ficaram sem fazer concertos. Pessoas acompanhavam
ferozmente os movimentos da banda em sua penúltima
música.

Brandon tremulava.

Os companheiros da banda estavam tão extasiados
com o show, que não perceberam o nervosismo crescente
de Brandon antes de começar a última música.

-Infelizmente – disse Brandon. – esta será nossa
última canção.

A platéia entristeceu.

-Mas esta é uma música inédita – ele continuou. –
e muito especial. E seja lá onde você esteja no meio dessa
multidão, essa canção é para você, Rachel Sawyer. O nome
dela é "O Silêncio do Coração" – ele falou enquanto tirava a
aliança de seu bolso, apontando posteriormente o anel de
ouro para a multidão. – por favor, escute essa música e
depois do show me responda: você quer se casar comigo?

Brandon se voltou para seu violão e começou a
tocar como se não houvesse nada além dele e seu violão.

A platéia estava chocada e ao mesmo tempo,
maravilhada com o romantismo de Brandon. Aquela
música era tocada apenas no violão e mesmo se não fosse,
David e Allan não iriam conseguir acompanhá-lo, pois
também estavam com os olhos bem abertos, mas não


acreditando no que o amigo e companheiro de banda
acabara de fazer.

Brandon Browser apenas fechou os olhos e
continuou tocando e cantando a música destinada a sua
namorada e quem sabe, sua futura esposa. Ele apenas
continuou sem pensar no que poderia acontecer. Como se
estivesse sendo levado pelo vento para um lugar onde
nunca imaginara estar.

Ao terminar a música, ele apenas guardou seu
violão, apanhou sua guitarra que estava encostada no
amplificador e seguiu para o camarim. Allan e David o
abraçaram, mas não conseguiam pronunciar nenhuma
palavra – nada de "nós fizemos um ótimo show esta noite"
ou "aonde você acha que está com a cabeça para fazer uma
merda dessas?".

Mas as surpresas daquela noite ainda não tinham
acabado.

No camarim, um policial negro com pouco mais de
cinqüenta anos, alto e com a barba por fazer, esperava
pouco paciente a chegada dos integrantes.

Quando a banda Atlanta entrou, ficaram
imediatamente surpresos, fazendo com que David logo
perguntasse:

-Algo de errado, senhor?

-Quem de vocês é Brandon Browser? – ele
perguntou.

O vocalista da banda Atlanta olhou para seus
amigos, não entendendo o que estava acontecendo. Por
que um policial iria querer falar com ele? A não ser é claro,
que ele quisesse parabenizar Brandon pela sua atitude


memorável em pedir sua namorada em casamento na
frente de várias pessoas.

-Sou eu. – respondeu Brandon, levantando sua
mão direita.

-Gostaria de conversar com você – o policial falou
olhando fixamente em seus olhos que agora, pareciam
mais verdes do que nunca. – a sós.

Imediatamente, Allan e David se entreolharam e
saíram do camarim. Os dois estavam mais confusos do que
nunca, imaginando o que se passava pela cabeça de
Brandon e por que a presença de um policial no camarim
da banda.

-Algum problema? – Brandon perguntou ao
policial.

-Meu filho, eu não sei como posso te dizer isto,
então vou tentar ser bem direto...

Se Brandon já estava nervoso para saber a resposta
de Rachel, agora ele estava mais ainda com a pressão que
aquele policial estava fazendo sobre ele. Cada segundo
parecia passar como horas e, mesmo assim, o relógio ainda
estava quebrado. Ele ansiava rapidamente por uma
resposta. Mas com certeza, se arrependeria de seu desejo.

O policial olhou tristemente nos olhos de Brandon
e, depois de conter suas palavras por alguns segundos,
desabafou:

-Meu filho... Rachel Sawyer está morta.


CAPÍTULO 7

Rachel Sawyer tinha acabado de sair do chuveiro.
Ela se olhou no espelho imaginando como estava feliz em
estar ali junto a seu namorado. A noite anterior tinha sido
muito agradável e, se sua vida continuasse nessa
freqüência de amor com Brandon, ela seria a mulher mais
feliz do mundo – como ela gostava de se imaginar. Seu
namorado era simplesmente muito atencioso e, sempre
estava satisfazendo sua vontade. Mas naquele momento
em especial, ele parecia estar preocupado e muito mais
nervoso do que o comum antes de um concerto de sua
banda Atlanta. Brandon a apressava para se aprontar
enquanto o telefone tocava.

Ela sabia que seu namorado tinha de cumprir com
seus compromissos, então caridosamente, o deixou ir com
Allan e David. Sendo assim, Rachel pegaria o Jipe preto de
Brandon e em alguns minutos, estaria no evento
beneficente de Fordville. Logo, já estava tudo combinado.
O casal havia se beijado e se despedido até se
reencontrarem novamente no local do show.

-Eu te... – Rachel tentou, sem sucesso, dizer as
palavras que não poderiam faltar para seu namorado. Mas
ele saiu correndo pela porta apressadamente, sem
conseguir ouvir o que sua namorada tinha a dizer.

Sucessivamente, ela enxugou seu cabelo com a
toalha que antes cobria o seu belo corpo. Voltou até o
banheiro, recolheu suas roupas, escovou os dentes e
colocou perfume em seu pescoço e no punho esquerdo,
onde havia uma pequena tatuagem de coração com o nome
de Brandon escrito.


Ela estava quase pronta, mas ainda não sabia o que
iria vestir. Entretanto, depois de analisar com cuidado
todas suas peças de roupa, escolheu um vestido cinza com
uma pequena manga que Brandon tivera dado a ela no
último Natal. Brandon adorava quando ela usava aquele
vestido e, sempre falava que combinava com seus lindos
olhos negros.

Minutos depois, Rachel Sawyer já estava pronta
para ir à Fordville Convention. Ela observou por alguns
segundos a chave do carro de Brandon que estava colocada
em cima da cama onde o casal havia dormido na noite
anterior. Rachel sentiu um calafrio estranho, como se
tivesse de pensar duas vezes antes de dirigir até o evento.
Ela pegou o celular, pensou em ligar para Brandon, mas
desistiu.

Sem pensar muito, pegou a chave do Jipe, trancou o
quarto onde ela e Brandon estavam hospedados e foi
embora.

Rachel desceu no elevador imaginando o que
Brandon estaria fazendo naquele momento. Ela sabia que
ele, Allan e David estavam ansiosos para voltar aos palcos
e tocar da mesma forma como costumavam fazer
antigamente e isso só aumentava a vontade de ver a pessoa
que ela amava reluzindo felicidade.

Ao entrar no Jipe de Brandon, Rachel ajeitou o
banco, acertou o retrovisor e partiu para encontrar seu
namorado.

Para chegar ao local do show, era necessário pegar
uma pequena pista sem movimento coberta por árvores
grandes e robustas. Rachel só tinha dirigido o carro de
Brandon apenas uma vez em toda sua vida, então era


normal que ela se sentisse um pouco desconfortável, mas
nada que a deixasse inapta de dirigir.

Ela continuou calmamente seu caminho até
Fordville Convention.

Rachel ligou o rádio do Jipe que estava sintonizado
em uma estação local, onde o locutor anunciava o evento
beneficente que estava acontecendo na cidade. O locutor
também mencionou sobre a banda que tocara no dia
anterior, os grupos teatrais que tinham se apresentado, os
artistas que ainda tinham suas programações agendadas
para o domingo e a banda Atlanta, que entraria no palco
em poucos instantes.

Rachel acelerou o veículo. Ela não queria
desperdiçar um minuto do show sequer. Ela sabia que
Brandon ficaria chateado se ela perdesse o começo do
concerto porque demorou a se aprontar.

Pouco mais à frente, o semáforo acendeu sua cor
amarela.

Rachel pisou fundo. Ela sabia que poderia passar
facilmente pelo cruzamento. Mas ao passar pela faixa de
pedestres, a situação se inverteu. Uma caminhonete
vermelha vinha numa velocidade moderada e, ao ver que o
sinal da outra pista se fechara, não hesitou em continuar,
já que sabia que aquela pista não tinha muito movimento.
A luz do farol da caminhonete brilhou no olhar de Rachel,
ofuscando toda a sua visão. Ela não conseguiu pensar em
absolutamente nada naquele momento, apenas se
deslumbrou com uma claridade desconhecida quando os
dois automóveis colidiram.

O Jipe de Brandon capotou, até atingir uma árvore.
Lá ele permaneceu – de cabeça para baixo – com Rachel


Sawyer ensangüentada. A motorista que dirigia a
caminhonete vermelha estava sozinha e inconsciente
dentro de seu carro, sendo assim, incapaz de prestar ajuda.

Poucos instantes depois, um caminhoneiro que
estava em Fordville apenas de passagem, notou que um
grave acidente tinha ocorrido naquela pequena pista. Ele
não hesitou em ligar para a ambulância no primeiro
telefone público que encontrou, já que não carregava
telefone celular consigo.

Em menos de dez minutos, o local estava cercado e
interditado por duas viaturas da polícia local e duas
ambulâncias.

A mulher que dirigia a caminhonete foi levada
instantaneamente para o hospital. Ela ainda estava
inconsciente, mas não apresentava nenhum ferimento
muito grave – apenas um pequeno corte na cabeça e nos
braços. Posta na maca pelo pessoal do resgate, a condutora
do outro veículo foi colocada na ambulância para receber
seus cuidados – um procedimento obrigatório, que não
dependia da gravidade do acidente. Sem mencionar que ela
ainda precisaria responder algumas perguntas que seriam
feitas pelas autoridades de Fordville, mesmo que os
peritos que estavam na pista do acidente já tivessem quase
certeza de que a culpada pela tragédia tivera sido Rachel
Sawyer.

Ao averiguar alguns panfletos e documentos que
estavam guardados no porta-luvas do carro de Brandon, o
policial não demorou ao conectar Rachel a ele. No banco
do carona, havia um ingresso especial para a entrada no
evento beneficente em Fordville Convention, sem mencionar
uma foto do casal dentro da carteira de Rachel.


-Esta garota era namorada do vocalista da banda
que tocará hoje no festival. – disse o policial para seu
colega. – Walter, você pode comunicar o pessoal da
banda?

-Mas por que eu...

O outro policial o encarou com olhares frios,
interrompendo toda a argumentação que Walter tinha a
fazer.

-Eu odeio esse trabalho. – respondeu Walter, se
encaminhando para o evento onde daria a pior notícia da
vida de Brandon.

*

Brandon Browser não conseguiu digerir a notícia
dada pelo policial Walter após o show de sua banda e
principalmente, após o seu pedido de casamento. Nada
passava pela sua cabeça quando o policial estava
explicando sobre o acidente que Rachel sofrera. Sua boca
estava levemente aberta e seus olhos petrificados
enquanto Walter falava sobre a colisão dos carros. O
policial até chegou a dar um papel a Brandon com alguns
dados do veículo que havia colidido com seu Jipe, caso ele
quisesse entrar em contato com a motorista que havia
provocado a morte de Rachel – era uma caminhonete
vermelha, com a placa de Sant Grove "RCX 554" – mas após
ler as informações que estavam ali escritas, Brandon
imediatamente amassou o papel e jogou no lixo. Aquilo
não traria Rachel Sawyer de volta.

Allan e David chegaram alguns minutos depois,
ambos chorando excessivamente. E quando abraçaram seu


companheiro de banda, sem mencionar nenhuma palavra
sequer, Brandon começou a enxergar a realidade.

Ele estava em completo estado de choque,
pensando que alguém estava fazendo uma brincadeira de
muito mal gosto com ele. Mas quem dera se aquilo
realmente fosse uma brincadeira...

Brandon se ausentou, ignorando o calor afetivo que
David e Allan estavam proporcionando. Ele simplesmente
saiu andando para fora do evento sem escutar todas os
pedidos de autógrafo da platéia que havia explodido com a
força da banda Atlanta. Porém, essa força que Brandon
proporcionava em seus shows, era muito menor do que a
força esmagadora que pressionava seu coração e se
intensificava a cada segundo.

Ele saiu de Fordville Convention, andou durante
alguns minutos e depois de encontrar um lugar calmo e
tranqüilo, se sentou em um banco que tinha sido alvo de
pichadores e grafiteiros. Ele observava a lua e as estrela
que brilhavam veementemente naquela noite de sábado,
tentando obter alguma resposta que fizesse sentido. Mas
ninguém o respondeu.

Nenhuma lágrima tinha saído ainda pelo rosto de
Brandon Browser, mas mal ele sabia que secaria por
dentro de tanta autopunição. Quanto mais ele fosse
aceitando a verdade que o destino lhe trouxera, mais ele
sentiria o peso do mundo em suas costas.

Brandon adormeceu ali mesmo, no banco de uma
rua qualquer sobre o luar, rezando para acordar no dia
seguinte ao lado de Rachel e pensando que tudo aquilo
não tinha passado de um terrível pesadelo.

Com certeza não era.


Ele acordou na manhã daquele domingo com
alguns pingos de chuva caindo do céu, como se fossem
necessários para lavarem sua alma, que no momento,
parecia estar amaldiçoada. Brandon não se importou com a
chuva e naquele momento, a água que caia do céu se
misturava com aquela que seus olhos entristecidos
derramavam pela primeira vez.

Brandon Browser vagou por algumas ruas de
Fordville como se estivesse sendo arrastado. E em uma
dessas ruas, seus parceiros de banda o encontraram.

-Ei Brandon – gritou David dentro de seu carro,
enquanto o mundo caia do lado de fora. – o que você está
fazendo? Entre aqui no carro e vamos voltar para Sant
Grove.

Brandon pareceu não escutar e continuou andando
olhando fixamente para o chão. Então, Allan saiu do carro
imediatamente, despreocupado com a chuva que o
encharcava.

-Meu irmão – falou Allan abraçando Brandon, sem
ser retribuído. – eu sei que você está péssimo. Acredite,
todos nós estamos... mas você precisa vir conosco. Não
podemos ficar mais aqui.

Brandon olhou diretamente nos olhos de Allan e
mostrou um pequeno sorriso sarcástico. Sem mencionar
nenhuma palavra, se virou e saiu andando, ignorando a
presença de seus amigos. David saltou para fora do carro e
foi em direção a Brandon juntamente com Allan. Eles
precisavam levar um soldado ferido de volta para casa, mas
para que isso acontecesse, era necessário mexer nas
feridas.


-Você é um covarde de merda – gritou David
enraivecido, o que fez com que Allan se surpreendesse.
Afinal de contas, David sempre fora o mais calmo dos três
e nunca tinha agido daquela forma anteriormente.

Brandon voltou seu olhar enfurecido para David,
como se o baterista da banda Atlanta tivesse dito as
palavras proibidas. Ele acelerou os passos de volta em
direção a David e sem pensar, deu um soco no lado
esquerdo do rosto de seu amigo.

Allan correu para apartar.

Era horrível sentir a perda de uma pessoa querida;
ver seus amigos entrando em conflito por causa disso, era
insuportável. Mas talvez essa fosse a real intenção do
agredido.

-Muito bem – falou David. – agora você está
começando a encarar os problemas de frente, como um
verdadeiro homem.

Brandon cedeu e abraçou seus amigos. Naquele
instante, ele desabou, jorrando lágrimas e soluçando sua
dor enquanto a chuva caia fortemente.

Posteriormente, os três entraram no carro de David
e foram em direção a Sant Grove. Mas Brandon ainda não
estava preparado para encarar a realidade de sua vida.


CAPÍTULO 8

Rachel Sawyer seria enterrada no Cemitério Van
der Sant naquela manhã fria de segunda feira. Com uma
área total de cento e quarenta mil metros quadrados, um
amplo estacionamento, capela, floricultura e lanchonete, o
cemitério agregava um número incontável de túmulos. E
naquele dia, mais uma pessoa descansaria para sempre
naquelas redondezas.

Amigos, colegas da faculdade Brunis, os poucos
familiares de Rachel, inclusive Edward e Hilary, chegavam
aos poucos para prestar ajuda e afeto a Edward, Denise e
sua melhor amiga Lilian. Pois dentre todos, estes eram os
mais abalados naquele lugar.

James Sawyer chegou de táxi junto com Denise,
que agora era sua única filha. Aparentemente, desde que
soubera do acidente de carro de Rachel, ele não tivera mais
coragem de pegar no volante e dirigir normalmente, como
antes fazia. Notava-se que ele estava incapaz de levar a
vida da maneira que costumava. James usava um terno
preto, uma camisa de botão cor salmão por dentro e, um
óculos de sol Ray-Ban para esconder suas fortes olheiras
provenientes de sua falta de sono. Denise Sawyer usava
um vestido preto longo e uma flor branca que arrastava
seus cabelos com mechas loiras para trás de sua orelha. Ela
carregava uma pequena caixa de lenço de papel para secar
as lágrimas ininterruptas. Em poucos instantes, todos os
lenços já tinham sido usados.

Allan e David também compareceram. Os dois
deram um forte abraço em Lilian que, assim como Denise,
não conseguia conter suas emoções. Era difícil saber que


sua melhor amiga não estava mais viva, mas mais difícil
ainda, era saber que uma pessoa tão jovem e que ainda
tinha muito para viver, se fora para sempre.

-Como isso foi acontecer? – Lilian perguntou a
eles, como se não tivesse escutado inúmeras vezes, de
forma detalhada, como Rachel havia morrido.

-Me desculpe. – Allan respondeu olhando para o
chão.

O sepultamento iria acontecer em poucos minutos.
E quando todos estavam entrando na sala onde o caixão de
Rachel se encontrava, James não conseguiu entrar. Ele
simplesmente não conseguiu encarar a realidade de que
nunca mais receberia um abraço caloroso de sua filha,
nunca mais veria aquele sorriso lindo que lembrava sua
falecida esposa e que nunca mais teria Rachel Sawyer ao
seu lado. A pior dor de um pai é ver o próprio filho partir...
James agora havia experimentado tal sensação.

O caixão estava completamente fechado, já que o
acidente tinha deformado fisicamente Rachel Sawyer. Mas
as deformidades eram ainda maiores no interior daqueles
que a conheciam, principalmente em algumas pessoa. Mas
um único coração estava de fato, mergulhado em uma
profunda depressão e quebrado em milhares de pedaços,
de tal forma que não era mais possível enxergar o "lado
bom da vida".

Após Rachel ser enterrada, a maioria das pessoas
compareceu a capela para fazer suas orações. A capela era
ampla e clara, com uma pequena estátua de Jesus Cristo
pregado na cruz, ao centro. Havia também, doze quadros
espalhados com imagens de momentos marcantes na vida
de Jesus. Denise e seu pai estavam na primeira fileira,


ajoelhados e com as mãos fortemente dadas. Eles não
soltariam até sair daquele cemitério.

-Eu sinto muito James. – falou Edward Browser,
interrompendo a conversa que o pai da falecida estava
tendo com Deus.

Repentinamente, James olhou nos olhos de
Edward, como se fosse possível enxergar sua alma. Os dois
tinham criado um laço de amizade forte desde que
Brandon e Rachel começaram a namorar e isso era ótimo
para aquele casal que vivia a plenitude da vida e para
James, que desde que se mudara para Sant Grove, não
tinha mais contato com a maioria de seus velhos amigos.
Edward e James saiam para tomar cerveja, assistir a jogos
de baseball e praticar futebol todos os domingos. Mas
naquele momento, James não estava com vontade de falar
com seu amigo, muito menos comentar sobre o acidente de
sua filha. James então fechou os olhos e continuou a rezar
por sua filha.

Edward não conteve suas lágrimas. A tensão
tomava conta de todo aquele ambiente e em sua volta, só
havia lágrimas e desespero contido no coração de todos.

-Senhor Browser? – sussurrou uma voz atrás dele.

Era Lilian Brooke.

Edward sabia que Lilian era amiga de seu filho, já
que o mesmo sempre comentara com ele sobre a forte
amizade que Rachel tinha com Lilian, sobre as festas
freqüentes que aconteciam na casa dela e como Allan se
insinuava para cima dela, sem sucesso.

-Sou eu mesmo. – respondeu Edward. – como vai?

– ele perguntou só para manter sua educação, mesmo
sabendo qual seria a resposta.

-Péssima! – ela replicou, enquanto os dois
caminhavam para fora da capela.

-Eu também.

A poucos metros da capela, havia um jardim com
vários tipos de flores – rosas, tulipas, lírios, violetas e
orquídeas – Uma mescla de cores dava um ânimo sucinto
ao cemitério, mas suficiente para Lilian se sentir pouco
melhor. Ela parou e observou enquanto James a
acompanhava.

-Por que Brandon não apareceu? – ela perguntou,
continuando a conversa.

Edward respirou fundo, como se fosse doloroso
demais ter de responder a tal pergunta.

-Para falar a verdade... eu não sei. Nós não falamos
com ele depois que... – Edward travou, enquanto uma
lágrima escorria pelo seu rosto.

-Eu imagino – Lilian continuou. – deve estar sendo
muito difícil para ele. Mas Rachel iria adorar que ele
estivesse aqui. Ele não pode simplesmente abandoná-la,
como se nada tivesse acontecido. – ela olhou nos olhos de
Edward. – Ele não pode.

Edward tomou fôlego mais uma vez, mas antes que
pudesse continuar a conversa com Lilian, David e Allan
apareceram ao seu lado e fizeram a mesma pergunta sobre
Brandon. Os dois sabiam que ele não teria a resposta, já
que muito provavelmente Brandon estaria incomunicável.

Edward balançou sua cabeça enquanto derramava
lágrimas anunciando que não sabia absolutamente nada
sobre o filho. Na verdade, ele estava muito preocupado
com Brandon, já que ninguém sabia o que estava se


passando pela cabeça de um garoto que outrora estava

presenciando o momento mais feliz de sua vida.

Allan e David o abraçaram.

Pouco a pouco, as pessoas foram se despedindo de
Rachel e dos que ali estavam presentes com muito carinho.
Era hora de seguir em frente com a vida, que a qualquer
momento, poderia mudar de direção. Mas antes de ir
embora, Hilary deu as mãos para seu marido Edward e
colocou uma carta no túmulo de Rachel. Ela tinha escrito
um enorme agradecimento a sua nora assim que soube que
Brandon a pediria em casamento, já que Rachel fazia de
Brandon, o homem mais feliz do mundo. Mas essa
felicidade agora tinha sido tirada dele e ninguém sabia se
iria voltar. Hilary e James se despediram mais uma vez de
Rachel e foram embora para casa. Eles sabiam que teriam
de ter uma sincera conversa com o filho.

James e Denise Sawyer foram os últimos a sair do
Cemitério Van der Sant. Talvez porque queriam ficar mais
um pouco com Rachel, ou talvez porque seria muito difícil
voltar para casa e ver que o quarto dela estaria vazio. Mas
uma hora, todos teriam de se reerguer ou sucumbir para
sempre.


CAPÍTULO 9

Já havia se passado um mês desde a morte de
Rachel Sawyer e Brandon ainda não tinha apresentado
nenhum sinal de superação. Seu mundo estava tão frio,
depressivo... tão morto. Brandon não se alimentava direito,
não dormia direito, tampouco exercia as atividades que
antes melhoravam seu astral. Os instrumentos musicais
foram deixados de lado juntamente com o trabalho na loja
de seu pai Edward.

Os pais de Brandon e seus amigos Allan e David o
visitavam com freqüência, mas invés de encontrar Brandon
Browser, se deparavam com um fantasma que aparentava
ter muito mais do que sua idade verdadeira. Sua barba
estava grande e os olhos que outrora eram chamativos,
pareciam cinzas que restaram de uma fogueira.

Naquela sexta feira em especial, Edward Browser,
sem nenhuma companhia, foi visitar seu filho. Todas as
vezes que o pai de Brandon passara em sua casa para vê-lo,
ele aparecia com Hilary. Desde o trágico acidente não
houve mais uma conversa, de coração para coração, entre
pai e filho.

Edward dirigiu até onde Brandon morava
imaginando o que poderia dizer a seu filho, pensando em
alguma coisa que, de alguma forma, trouxesse um pouco
de esperança, um pouco de amor ao seu coração.

Edward estava vestindo um casaco cinza do time
de futebol que ele e James jogavam – e isso foi feito
propositalmente. Ele sabia que aquilo faria Brandon se
lembrar de Rachel Sawyer – já que o casal apaixonado
sempre ia às partidas em que o time de seus pais jogavam –


e assim, James poderia mostrar de que ele não precisava
viver afundado em suas mágoas e tampouco esquecer da
garota que amava, mas sim, aceitar o que aconteceu e
seguir sua vida como todos pareciam estar fazendo.

Ao chegar à casa de seu filho, Edward bateu com
força na porta, já que a campainha estava quebrada e
Brandon desistira de concertá-la. Em poucos segundos,
Brandon o atendeu. Ele estava vestindo uma blusa preta
amarrotada, uma calça de moletom cinza e meias grossas.
Estava sujo e parecia não tomar banho havia alguns dias.
Sem mencionar sua notável perda de peso, seu cabelo
oleoso bagunçado e sua aparência derrubada.

-Olha só quem apareceu. – ele falou ao seu pai
quando atendeu a porta com pouco entusiasmo.

Edward o analisou com seus olhos. Era horrível ver

o filho naquele estado.
-Filho – Edward respondeu com sua voz trêmula
enquanto o abraçava.
O abraço não foi retribuído. Não havia mais
carinho, amor, afeto ou qualquer outra coisa boa no
mundo em que Brandon estava vivendo. Antes, esses
sentimentos vinham com uma carga emocional intensa,
mas anteriormente, Brandon tinha a presença Rachel ao
seu lado.

-Será que posso entrar? – Edward perguntou.

Brandon abriu espaço e Edward entrou.

A casa não estava suja, por incrível que pareça. Mas

Brandon também não tinha trabalho de fazer qualquer
atividade que provocasse uma desordem. Havia apenas
lençóis e travesseiros jogados pelos cantos da casa, já que
ele simplesmente vivia deitado ou vendo programas de


televisão. Mas o que não era visível, era que quando seu
coração apertava e a saudade batia, ele lia obsessivamente
todas as cartas que Rachel lhe escrevera durante todo o
tempo em que eles namoraram. Brandon também se
pegava olhando todas as fotos que ele tinha de sua falecida
namorada, observando todos os mínimos detalhes,
derramando lágrimas frias de ódio e culpa.

-Filho – chamou Edward, já sentado no sofá da
sala de Brandon. – será que nós podemos conversar?

Brandon olhou torto.

-De novo? Nós já não fizemos isso umas mil vezes
nesse último mês? – Brandon perguntou impaciente.

-Meu filho, você está péssimo.

-Pai – continuou Brandon. – se você veio aqui para
me falar isso, sinceramente... você já pode ir embora. – ele
disse exaltando sua voz, despercebido de que feria
gravemente os sentimentos de seu pai. – Eu não preciso da
sua ajuda, da ajuda da mamãe, de ninguém. Só quero ficar
sozinho. – Brandon respirou um pouco, voltando a lucidez
e abaixando a voz. -Isso é difícil de entender?

Para Edward, era complicado ouvir tais palavras
saindo da boca do filho. Mas se ele quisesse surtir algum
efeito em Brandon, teria de ser mais austero. Afinal de
contas, todo o apoio que seus familiares estavam dando,
não estava trazendo o bom e velho Brandon de volta para a
realidade.

-Garoto – falou Edward em um tom de voz alto. –
você acha que isso é só problema seu? Você acha que sua
mãe não está sofrendo ao ver você desse jeito? Eu posso
não saber como é perder a pessoa que você mais ama no
mundo, mas se você continuar assim, tenho certeza de que


vou saber. Porque eu sinto que estou perdendo sua mãe e
sinto que estou perdendo você. – ele disse lacrimejando.

Brandon olhou para o chão como se não tivesse
gostado de ter escutado tais palavras. Ele sabia que aquilo
era verdade, porém, era muito mais fácil continuar sua
depressão inacabável do que voltar para a vida e encarar as
trovoadas que o destino estava trazendo toda vez que ele
recorria às suas lembranças.

-Eu sei que Rachel era o amor da sua vida, que
você iria pedir a mão dela em casamento – Edward
continuou ignorando o desânimo do filho. – mas ela se foi
e isso não quer dizer que você precisa ir junto. Pense no
que ela iria querer que você fizesse. Com certeza não seria
ficar deitado o dia inteiro parecendo um homem que não
tem onde morar, não tem o que comer. Você está um lixo,
Brandon.

Edward encarava seu filho nos olhos. Suas palavras
sinceras mostravam o egoísmo de Brandon, ele não poderia
continuar daquele jeito.

-Pai – Brandon começou a falar enquanto tirava
seu cabelo dos olhos. – eu sei que você está certo. Eu só
não vejo como posso ser eu mesmo outra vez... é
simplesmente impossível.

-Talvez você não precise ser o que era antes. Basta
apenas você renovar quem você é e continuar vivendo.

Brandon estava entendo o que seu pai queria dizer.
Em algum lugar, no fundo de seu coração, os pedaços
estilhaçados pareciam querer ter coragem para lutar
contra o peso que a morte de Rachel Sawyer trouxera.
Aquilo levaria muito tempo, mas era necessário.


-Eu prometo que vou tentar mudar – disse
Brandon, com um pequeno brilho em seu olhar. – e já sei o
que eu tenho de fazer para começar a ser uma pessoa
melhor.

*

O tempo estava nublado e com fortes rajadas de
vento naquela tarde de domingo. Um ótimo dia para ficar
em casa e tomar um chocolate quente, mas não para
Brandon Browser. Ele poderia muito bem continuar com a
sua rotina deprimente e degradante, mas resolveu sair de
casa e lidar com assuntos que ainda estavam pendentes.

Depois de tomar um café da manhã vitaminado,
Brandon subiu até seu banheiro, fez a barba e tomou um
longo banho gelado, como não fazia já havia um tempo.
Não que ele tivesse largado a tristeza autodestrutiva de
lado, mas que ele tinha se sentido um pouco melhor em
cuidar de sua saúde e aparência, ninguém poderia negar.

Ele vestiu uma camisa branca da banda The Who,
uma calça jeans clara, calçou seus tênis e saiu de casa não
se importando com o temporal que estava se formando.

Brandon caminhou firmemente até a casa onde
Rachel Sawyer morava. Ele precisava, de alguma forma,
sentir que era capaz de agüentar – para sempre -a
ausência de Rachel.

A cidade estava calma – não havia pessoas
passeando nas ruas com seus animais de estimação,
brincando com seus filhos nos parques e tampouco
apreciando o sabor da natureza – todos estavam no
conforto da casa onde moravam. Mas Brandon já estava


cansado de ficar em sua morada. Ele sabia que mais cedo
ou mais tarde, precisaria inverter a situação de sua vida, ou
acabaria machucando o coração das pessoas que mais se
importavam com ele.

Ao chegar à casa da família Sawyer, Brandon
estagnou. Parecia estar petrificado e que os movimentos
de seu corpo não obedeceriam mais os seus comandos. Era
horrível ver -pela primeira vez depois do acidente -a casa
onde Rachel Sawyer passou a maior parte de sua vida.
Como ele poderia bater na porta, entrar lá dentro e ver o
quarto de Rachel vazio?

Um rápido filme passou pela sua cabeça, como se
tivesse assistido todos os momentos em que ele passara
com Rachel naquele lugar. Todas as noites de amor que
pareciam mágicas, agora estavam tão distantes e
congeladas no passado. Se pelo menos ele pudesse entrar
em uma máquina do tempo e voltar. Se pelo menos ele
tivesse mais um dia ao lado de Rachel...

Brandon não tinha.

Pouco a pouco, ele foi dando passos para trás,
retornando o caminho que tinha feito. Mas parou...
respirou fundo e foi até a casa que amedrontava sua
imaginação.

Brandon bateu na porta, enquanto sua mão tremia
fortemente.

-Brandon? – Denise perguntou ao vê-lo. Ela não
conseguia acreditar que ele finalmente tinha aparecido.

-Oi Denise. – Ele respondeu, ainda parado em
frente a porta da casa.


A cabeça de Denise parecia girar. Ela estava tão
confusa e tinha tantas coisas para perguntar para Brandon
que não sabia por onde começar.

-Por que...

-Posso entrar? – Brandon perguntou,
interrompendo-a.

Denise assentiu com a cabeça e os dois se puseram
para dentro da casa.

Por um longo momento, nenhum dos dois
pronunciou uma palavra. Denise apenas ficou observando
Brandon olhar minuciosamente a casa e tocar os porta-
retratos com fotos de Rachel. Brandon estava maravilhado
e pela primeira vez depois da perda do seu amor
verdadeiro, ele abriu um sorriso sincero enquanto seus
olhos se enchiam de lágrimas.

-Me desculpe. – Brandon falou soluçando,
enquanto chorava.

-Por que você não apareceu no velório? – Denise
perguntou, enquanto acalmava Brandon com um forte
abraço.

Brandon parou e olhou nos olhos de Denise. Mas
de repente, ele hesitou. Como se garras afiadas rasgassem
seu coração que tentava se reerguer. Brandon não
conseguia ficar ali, ele tinha de ir embora.

-Me desculpe Denise – disse ele. – eu preciso ir
embora... me desculpe.

Mas ao virar em direção a porta para ir embora.
Brandon se deparou com James, que acabara de chegar em
casa e o observava com sacolas do supermercado ainda em
suas mãos.

Brandon suou frio.


James largou as sacolas no chão e veio andando
lentamente até Brandon. Seu olhar continha raiva, ódio e
sentimentos normais de um pai que acabara de perder a
filha. James não se conteve e em um piscar de olhos, deu
um soco no rosto de Brandon.

-Você matou minha filha! – gritou James enquanto
Brandon permanecia caído no chão da sala. – Eu confiei
em você, achei que cuidaria dela. Mas você a deixou
morrer.

Denise imediatamente apareceu para apartar. Mas
era evidente de que James era mais forte do que sua filha.
Obviamente, a ajuda de Denise era ineficaz.

Do ponto de vista de Brandon, James estava mais
do que correto em acertá-lo, como tinha acabado de fazer.
Todas as pessoas que conversaram com Brandon até então,
alegaram de que ele não fora responsável pela morte de
Rachel Sawyer, mas isso contradizia fortemente com o que
ele mesmo achava e sentia. Brandon precisava de alguém
que não sentisse pena dele, alguém que não sentisse
piedade.

-Levante – James falou, sem conter sua raiva. –
você não tem coragem de olhar nos meus olhos depois do
que fez? Olhe nos meus olhos e diga que você matou
minha filha! – ele berrava enquanto levantava Brandon
pega camisa.

-Pare com isso, pai! – Denise gritava. – Nada disso
vai trazer Rachel de volta.

James acalmou seus nervos e então, não demorou
em derramar suas lágrimas.

Brandon estava jogado ao chão, transparecendo um
sofrimento enorme. Se ele ao menos tivesse esperado


Rachel se arrumar para ir com ela ao show em Fordville,
com certeza toda essa situação teria tomado outro
caminho.

-Brandon. – falou James, agachando ao lado do
namorado de sua falecida filha. – me desculpe. Eu não sei o
que deu na minha cabeça. Você não... Brandon... – ele
tentou dizer, enquanto soluçava.

Denise abraçou seu pai.

-Vai ficar tudo bem pai – ela falou. – eu juro. Vai
ficar tudo bem.

-Eu preciso ir para casa. – disse Brandon enquanto
olhava fixamente para o nada.

O coração de James apertou ainda mais ao ver a
imagem de Brandon – um garoto que antes era tão alegre,
tão feliz e que agora estava desabando num precipício sem
fim. Ele não poderia simplesmente deixar o garoto que fez
sua filha feliz por vários anos ir embora. James sabia, no
fundo de seu coração, que Rachel foi culpada por sua
própria morte, a única responsável pelo acidente. Mas isso
não era algo fácil de aceitar, nem para Brandon, nem para
James.

-Por favor, Brandon – ele disse. – não vá embora.

*

Naquela noite, Brandon permaneceu na casa da
família Sawyer para o jantar e James preparou uma
lasanha com molho vermelho. Todos comeram e se
deliciaram com a comida de James, inclusive Brandon, que
não estava com muita fome, mas optou por ser educado e
evitar dizer "não".


-Então me conte – Denise começou a falar,
enquanto ainda mastigava sua comida. – quer dizer que
você iria se casar com a minha irmã?

-Denise – interrompeu James. – eu não sei se essa é
uma boa hora para...

-Tudo bem, James – continuou Brandon. – eu até
gosto de falar sobre isso. Me sinto bem.

Por um breve momento, Brandon sorriu e imaginou
como seria estar casado agora com Rachel, então ele
começou a falar:

-Eu tenho certeza que ela iria aceitar. Foi um
momento mágico quando fiz o pedido de casamento.

Brandon contou detalhadamente a viagem que os
dois amantes fizeram até Fordville -o hotel onde ficaram, o
divertido jogo de cartas no cassino, o show beneficente –
eram ótimas memórias que ficariam guardadas na mente
de Brandon para sempre. Boas lembranças que nunca se
apagariam. Uma bela fotografia de certa pessoa que, um
dia, fez sua respiração parar.

-Eu também tenho certeza de que ela aceitaria –
James falou, enquanto apertava a mão de Brandon. – você
sempre foi a pessoa certa... sempre foi você. Me desculpe
pelo modo que agi hoje.

Brandon sorriu.

-Obrigado James – agradeceu Brandon. – é muito
bom escutar isso.

Todos continuaram comendo.

Quando terminaram. Brandon se prestou a ajudar
James e Denise com a louça. Ele enxugou os pratos que
eram atenciosamente lavados por Denise, enquanto James
arrumava a mesa. Com certeza, momentos como este


aconteceriam com menos freqüência a partir de agora, mas
era impossível Brandon deixar seu passado totalmente
para trás. Ele ainda queria voltar à casa da família Sawyer
muitas outras vezes, fosse para ter lembranças do tempo
maravilhoso que tinha com Rachel, fosse para conversar
com James e Denise sobre assuntos cotidianos.

Caminhando de volta para casa naquela noite fria,
Brandon estava se sentindo muito mais leve. Era possível
fechar os olhos e sentir o forte vento acalmando
vagarosamente suas tensões. De alguma forma
inexplicável, Brandon sabia que Rachel estava feliz por
sua disposição crescente no interior de seu coração
abalado. Sua moradia parecia estar mais aconchegante. A
vontade de superação começava a dar sinais de vida.

*

Quando chegou em casa, Brandon se deitou no sofá
de sua sala e, sem perceber, fechou os olhos.

Repentinamente, ele estava de volta a Fordville
com Allan, David e Rachel. Um objeto redondo fazia um
pequeno volume no bolso de sua calça... um objeto de
extrema importância que seria declarado como a maior
prova de amor de toda a sua vida.

O show da banda Atlanta estava prestes a começar.
Seu coração batia forte enquanto o relógio não
demonstrava que o tempo estava passando. Ele queria que
aquele momento logo chegasse. Brandon queria saber a
resposta que mudaria sua vida para sempre.

A banda entrou no palco e a multidão pulava
extasiada, mas apenas uma presença era notada. Como se


uma luz do céu descesse e a fizesse brilhar, deixando todo

o resto da platéia na escuridão – lá estava ela, Rachel
Sawyer. Despercebido anteriormente, Brandon notou que
toda a agitação daquela multidão não produzia nenhum
som sequer.
Brandon só conseguia escutar uma única coisa... o
som do coração de Rachel Sawyer.

Sem pensar duas vezes, ele largou sua guitarra e
ignorando aquele mar de gente, andou até Rachel e
perguntou:

-Você quer casar comigo?

Rachel sorriu.

É lógico que um pedido desses seria impossível de
negar. Rachel sonhava acordada todos os dias de sua vida,
quando e como seria o casamento dela com Brandon
Browser.

-É claro que eu aceito – ela respondeu.

E quando os dois finalmente foram se beijar,
Rachel começou a se distanciar cada vez mais de Brandon,
como se ela fosse levada pelo vento e não tivesse mais
permissão de voltar aos braços de seu amor.

Brandon não conseguiu escutar mais nada. Estava
tudo silencioso novamente.

Ele acordou no meio daquela noite suando frio.
Aquele sonho tinha sido tão real e atormentador. Mas fora
bom poder estar com Rachel mais uma vez, sentir a sua
pele por pelo menos um segundo.

Brandon se levantou e pegou seu violão. E no meio
da madrugada, tocou a canção que ele escrevera para sua
namorada.


CAPÍTULO 10

Havia muito trabalho a ser feito na loja de
automóveis de Edward Browser. Pelo que parecia, o
destino tinha escolhido justamente a época que Brandon
estava indisponível para atarefar Edward, de modo que ele
ficasse sufocado. Mas nenhum sufoco era equivalente aos
olhos de um pai ao ver o filho no fundo do poço.
Felizmente, essa situação logo se transformaria e a vida da
família Browser – que antes parecia ser moldada
perfeitamente – iria seguir um rumo diferente e andar por
novos trilhos.

Ao acordar no meio da madrugada após aquele
sonho que não saia de sua mente, Brandon decidiu que
deveria voltar a respirar, mesmo que esse processo
acontecesse lenta e progressivamente. Ele não conseguiu
voltar para a cama, como já esperava. Então, lavou seu
rosto e saiu de casa enquanto ainda era noite, sem trocar
as roupas que tinha dormido.

Ele correu desesperadamente sem nenhuma
explicação até a Colina Grove, que ficava pouco mais de
um quilômetro de onde Brandon morava. De lá, era
possível ter uma bela vista da cidade de Sant Grove –
todas as casas, pequenos prédios que há pouco tinham
sido construídos, caminhões passando no meio da
madrugada – mas essa vista só era excessivamente
emocionante se você apreciasse o nascer do sol e Brandon
estava lá para isso.

Assim como o lago de Fordville, a Colina Grove era
um ponto famoso da cidade Sant Grove, onde muitas
pessoas se encontravam nos finais de semana para fazer


um piquenique, deitar na grama esverdeada, observar as
estrelas que chegavam com a noite, brincar com as
crianças. Mas naquele exato momento, Brandon estava
sozinho.

As chamas de um sol que antes parecera se
esconder na vida de Brandon, começara a aparecer. Uma
bola de fogo imensa nascendo através das montanhas que
limitavam a cidade de Sant Grove. Era realmente uma
imagem muito bonita e Brandon nunca tinha dado o real
valor para aquilo. Algo tão especial que acontece
diariamente e estabelece uma alegria triunfante para os
observadores atentos e que não é apreciado da maneira
que realmente deveria.

Brandon sorria como uma criança.

Ele estava enxergando a verdadeira beleza que o
mundo podia proporcionar. Os animais acordavam
lentamente com o nascer do sol – pássaros alçavam seus
vôos, pequenos esquilos corriam de um lado para o outro –
e então ele soube: ainda havia muita vida dentro de seu
coração.

Depois de permanecer ali por duas horas. Ele
decidiu que era hora de voltar para casa, voltar para sua
vida. Mas não a vida cheia de rancor e mágoa, mas sim
aquela que antes ele conhecia muito bem. Ele olhou para a
aliança de ouro (que agora permanecia em seu dedo) e
agradeceu olhando para o céu pelos ótimos e memoráveis
momentos que tivera com Rachel Sawyer.

Pessoas com o semblante revigorado começavam a
sair de suas casas para começar a semana novamente.
Brandon também estava se revigorando. Em um curto
espaço de tempo, Brandon já estava trajando sua camisa


social branca com listras finas em azul-marinho e a calça
jeans que ele usava para trabalhar – uniforme básico dos
empregados de Edward. Ele pegou sua bicicleta e pedalou
até a loja do seu pai, sentindo a harmonia do vento em sua
face.

A loja de automóveis de Edward se chamava
Browser Cars -nome totalmente sem originalidade, do
ponto de vista de Brandon. Na entrada do estabelecimento
havia uma estátua do bisavô de Brandon, Nathan Browser,
segurando um capacete e usando roupas especializadas
para corrida. Nathan era um ícone na cidade de Sant
Grove. Quando tinha trinta anos de idade, disputou na
Europa, as competições de Grande Prêmio.
Posteriormente, quando se aposentou, passou a fazer parte
da Federação Internacional de Automobilismo,
influenciando diretamente para o início da Formula 1.

Era evidente que a paixão por carros corria no
sangue de família Browser. E Brandon estava decidido que
não deixaria sua grande tristeza atrapalhar esse lance de
família.

-Acho que o vovô sentiu saudades. – Brandon disse
a Edward, se referindo ao seu bisavô, enquanto Edward
estava de costas analisando o capô de um carro que
acabara de chegar.

Edward se virou.

-Brandon? – disse, esboçando um sorriso de orelha
a orelha.

-Eu pensei no que você disse – Brandon respondeu
confiante – e acho que estou começando a querer viver
novamente.


Os dois entraram na loja. Seu pai havia feito uma
pequena reforma na Browser Cars. Antigamente, havia uma
pequena cozinha que ficava isolada no canto da loja.
Agora, ela fora demolida e uma sala gerencial fora
implantada. Sem mencionar a mesa com a máquina de café
que se encontrava ao lado dos banheiros (imediatamente
se tornou a parte predileta de Brandon em toda a loja).
Alguns novos carros tinham chegado também e com eles...
Brandon Browser.

-Estou muito feliz em saber que você vai voltar a
trabalhar – Edward disse, enquanto tentava tirar seu
sorriso da cara. – Não estou dizendo que vai ser fácil e que
você não vai sofrer com a falta de Rachel. Mas estou
dizendo que você é uma pessoa forte e vai saber lidar com
tudo isso.

Brandon o abraçou.

-Então – o filho continuou – você vai ficar me
bajulando, ou vai me dar alguma coisa para fazer?

-Você não deveria ter perguntado – Edward disse,
enquanto foi andando até seu mais novo escritório.

Brandon entrou juntamente com seu pai. A reforma
tinha valido a pena. Lá, um enorme quadro de Hilary
segurando Brandon quando ainda bebê tomava conta do
ambiente, instalado logo à frente da mesa de Edward, que
agora continha dois retratos do filho com a falecida
namorada.

Brandon lacrimejou.

-Nossa, pai... – sua voz vacilou.

-Está lindo, não está?

Mas antes que Brandon pudesse responder a
pergunta de seu pai, alguém bateu do outro lado da porta.


Era Hilary.

-Minha nossa! – ela falou ao ver Brandon tão
diferente do que estava naquele último mês.

Hilary usava um vestido esverdeado, que fez
Brandon se lembrar da grama da Colina Grove. Sua mãe
também carregava uma sacola com alguns papéis dentro,
mas deixou cair no chão ao ver seu filho ali, tão restaurado
de seu esmorecimento. Ela lhe deu um abraço de mãe. O
típico abraço que a fazia não querer largá-lo.

-Eu senti tanto a sua falta – sussurrou no ouvido
de seu filho.

Hilary sabia que aquilo era recíproco.

Brandon poderia muito bem viver na sua fonte de
depressão contínua, mas nunca poderia deixar de lado a
preocupação que seus familiares e amigos estavam
sentindo com sua pessoa.

-Filho – continuou Hilary – seu amigo Allan não
parou de ligar lá em casa. Seus amigos estão preocupados
com você... o jeito que você estava agindo – explicou –
acho que seria uma ótima idéia entrar em contato com
eles... você sabe, dizer o que está acontecendo.

Brandon assentiu.

-Brandon – Edward falou – sua mãe estava vindo
aqui justamente para conversarmos sobre você. Mas você
sabe... você chegou assim, tão mudado. Meus pensamentos
voaram longe e esqueci de avisá-lo sobre a vinda de Hilary.

-E o que exatamente vocês iriam conversar sobre
mim? – ele indagou.

Não era um assunto fácil. Principalmente agora que
Brandon, com suas próprias pernas, estava seguindo um
novo caminho.


-Você estava tão depressivo – disse sua mãe,
refletindo se deveria mesmo tocar naquele assunto com o
filho. – bom... eu conversei com seu pai. Lembra daquela
minha amiga, Isabella?

-Aonde você quer chegar? – questionou Brandon.

-Bom, quando Isabella perdeu seu marido, ela
começou a comparecer naquelas terapias em grupo. Achei
que seria bom para você.

Para a surpresa de Hilary e Edward, Brandon não
se irritou com a proposta que tinha sido feita por sua mãe.
Ele falou serenamente com seus pais que terapia em grupo
não era o que ele realmente precisava. Brandon achou que
iria conseguir se virar sozinho e dar conta do recado. Seria
difícil, com certeza. Mas em sua imaginação, terapia em
grupo não melhoraria o seu humor de alguma forma.

-Em todo o caso, fique com isso – Edward
continuou, dando a Brandon o panfleto com todas as
informações do local, o telefone e os métodos adotados em
cada reunião.

Brandon não recusou. Guardou o papel em seu
bolso como se fosse tão importante quanto um cartão de
"refeição grátis" de um restaurante de comida japonesa.
Brandon odiava comida japonesa.

-Brandon – Hilary o chamou – você sabe que nós
queremos o seu bem. Não vamos falar para você ir a essas
terapias. Mas se um dia você precisar botar para fora seus
sentimentos mais profundos, seria uma boa idéia dar uma
passada. Só por curiosidade.

-Quem sabe... só por curiosidade. – Brandon
respondeu enquanto inspecionava alguns documentos
necessários para começar o seu trabalho novamente.


Hilary sorriu sutilmente.

Em seguida, Brandon começou a ajeitar as
papeladas da loja, uma de muitas de suas funções na loja
de Edward.

Ele despediu-se de sua mãe, tomou um café com
leite e trabalhou o dia inteiro para encher sua cabeça que
rodeava em pensamentos sobre Rachel Sawyer.


CAPÍTULO 11

Chegando em casa depois de trabalhar
excessivamente naquela renovada segunda feira, Brandon
ligou para Allan. Os dois ainda tinham muito a conversar
já que, desde o evento em Fordville, poucas palavras foram
trocadas entre esses dois amigos e companheiros de
banda.

-Aqui é Allan Green – atendeu apressadamente o
telefone, depois de Brandon esperar pelos toques irritantes
da linha – quem fala?

-Oi Allan – seu amigo respondeu – sou eu...
Brandon.

Allan esperou cauteloso até criar coragem e
responder para seu companheiro. Ele sabia que não
poderia simplesmente bombardear Brandon de perguntas.
Isso o assustaria. Ninguém queria Brandon mais assustado
do que ele já estava naquele último mês. Então, ele
simplesmente continuou levando a conversa de uma forma
simples.

-Oi Brandon. Como vai você?

-Allan – Brandon respondeu. – vamos parar com
esse papo.

O valente baixista da banda Atlanta intimidou-se.
Ele sabia que delicadeza nunca fora seu forte. Não
adiantaria mudar da água para o vinho tão subitamente.

-Cara, não estou agüentando essa pressão – falou
Allan desesperado. – estou indo até sua casa agora. E por
favor, atenda a porta dessa vez. Está muito frio lá fora – ele
disse, mesmo com o tempo ameno.


Brandon ainda estava no meio de sua refeição
quando bateram na sua porta. Ele interrompeu o momento
mais calmo do seu dia e foi atender. Junto a Allan, estava
David, como um garoto prodígio prestador de ajuda ao seu
mestre.

Os dois não conseguiam acreditar no que seus
olhos estavam enxergando. Era Brandon Browser, novo em
folha. Sem a barba de morador de rua e sem os cabelos
bagunçados.

-É bom ver você assim, meu chapa – David falou.

-Mas vamos ser sinceros – continuou Allan – nota-
se que você ainda precisa encher sua cabeça. Ainda bem
que você ligou... pois temos um programa que vai fazer
você se sentir bem melhor.

Brandon ergueu suas sobrancelhas.

-Festa na casa de Nick Geisel! – falou David
entusiasmado.

-Caras – começou Brandon – eu não...

Mas antes que ele pudesse inventar qualquer
desculpa para escapar das garras afiadas de seus amigos,
ele foi puxado para dentro do carro de David à força. Era
noite de segunda feira e a banda Atlanta estava indo para
uma festa. Vida longa às estrelas do rock.

*

A casa de Nick Geisel ficava a menos de três
quadras da casa de David Sanders, numa rua escura e com
pouco movimento. Porém, naquela noite em especial,
pessoas envolvidas no meio musical, vagabundos


desempregados e garotas sem nenhuma perspectiva na
vida, tornavam o local movimentado e estrondoso.

Brandon ainda trajava a roupa que havia usado
durante o dia inteiro na loja de seu pai. Ele sabia que
precisava de um pouco de diversão mas, naquele
momento, ele só precisava tomar um banho e descansar,
diferente de Allan e, principalmente, de David, que trocara
sua noite de estudos por uma noite rebelde na casa do
produtor da banda Atlanta.

Do lado de fora da casa de Nick Geisel, pessoas
conversavam tranquilamente com latas de cerveja em uma
mão e cigarros noutra. Do lado de dentro, pessoas já
estavam caídas de tanta bebida ou qualquer produto
ilícito. Aquele não era o lugar certo para uma pessoa como
Brandon Browser, nunca tinha sido. Mas Allan se divertia
em ambientes semelhantes aquele e, de vez em quando,
David se sentia atraído em trocar seus estudos por
algumas garotas.

-Acho melhor eu voltar para casa. – disse Brandon,
enquanto David já estacionava seu carro atrás de um Fusca
velho e enlameado.

-É lógico que é melhor voltar para casa – Allan
disse, surpreendendo seus amigos – como é melhor Robin
ir ajudar seu companheiro Batman contra o crime – falou
olhando para David – Mas essa noite todos nós vamos
relaxar um pouco e curtir – ele completou.

Brandon sabia que não seria possível sair daquela
situação tão facilmente. E no momento que os integrantes
da banda Atlanta deixaram o carro e partiram em direção à
casa de Nick Geisel, duas garotas – uma negra e uma
morena de olhos verdes – vieram azarar os garotos.


-Garotas, tenho de ir lá dentro encontrar Nick. -
Brandon desviou educadamente.

Ele não seria grosseiro ao ponto de repudiar a
atenção de uma garota, principalmente em uma festa onde
conversar com pessoas que você não conhece é algo
normal. Mas Brandon realmente não estava a fim de se
relacionar com alguém, simplesmente não parecia certo
naquele momento.

-Tudo bem garotas – continuou Allan. – nós somos
bem mais interessantes do que ele – brincou.

As garotas riram, enquanto Brandon se direcionava
para dentro da moradia de Nick Geisel. Era uma casa
pequena, com apenas um andar. Mas Nick era um exímio
decorador, assim como Hilary Browser. Quando ele não
estava produzindo bandas regionais, ocupava seu tempo
pintando quadros excêntricos e comprando móveis e
utensílios, para espalhar pelos cômodos de sua casa.

"Minha casa é a mais moderna dessa cidade. Por
isso, é a melhor para dar festas", Nick sempre dizia. Mas
naquele momento, esse modernismo estava sendo
confundido com bagunça e desordem. Pessoas jogavam
beer-pong desvairadamente na sala, cozinha, nos quartos, o
banheiro estava em estado lamentável e o mais
surpreendente... Nick não estava ligando para nada disso.

-Eu não acreditooo! – Nick berrou do outro lado a
sala, fazendo com que as pessoas imaginassem que algo
terrível tivesse acontecido.

Brandon olhou assustado.

-Meu querido – o produtor de sua banda
continuou. – que bom que você está aqui. Eu... bom... eu


estava muito triste sabe? – murmurou Nick
completamente bêbado.

-Por que estão acabando com a sua casa? –
Brandon perguntou no mesmo momento em que uma
garota vomitava no canto da sala.

Talvez Nick acordasse no dia seguinte com uma
baita dor de cabeça e se arrependesse de ter dado aquela
festa em sua casa, como sempre acontecia. Mas sua
tristeza, como ele mesmo disse, não estava ligada a sua
moradia arruaçada – pelo menos não naquele momento.

-Eu estava triste por você, meu amigo – Nick disse
remoendo as palavras enquanto abraçava Brandon. – Você
sabe... ninguém estava conseguindo falar com você direito.
Achei que nunca mais poderia ver a Atlanta tocando
novamente.

-Por falar na banda, eu não acho que...

-Não fale nada – interrompeu Nick – apenas veja
isso e aprecie.

Nick apressou seus passos até o som – que no
momento tocava a música "Money" do Pink Floyd – eo
desligou. As poucas pessoas conscientes o bastante para se
importarem com a trilha sonora da festa emitiram um
"aaaaah" entristecido.

-Liga logo esse som, porra! – gritou um cara alto de
cabelo rastafári.

-Eu vou ligar – falou Nick cambaleando para o
lado esquerdo – mas agora vocês vão escutar uma banda
em que eu acredito com todas as minhas forças. Uma
banda que, se me permitirem dizer, poderia conquistar o
mundo – ele falou enquanto ligava sua televisão enorme.


Allan e David entraram na sala com as garotas com
quem estavam conversando na parte de fora da casa.

-Ah – falou Allan para todos – se preparem. Essa é
a melhor parte da festa.

Nick imediatamente colocou um DVD. Em seguida,
comentou que contratara uma pessoa para gravar o show
da banda na noite de Fordville. Ninguém sabia disso –
exceto Allan, que acelerou para pegar o controle e colocar
na última música do show. Lá, na tela da televisão de Nick,
estava Brandon. Declarando seu amor absoluto por uma
pessoa que não mais existia. A música "O Silêncio do
Coração" começou a tocar.

Estancado ali, Brandon não sabia o que estava
sentindo naquele momento.

-Você é tão romântico -disse uma loira tingida
para ele – eu adoraria ter um namorado assim.

Brandon ignorou.

Ele não conseguia escutar nada além da música que

tocava para sua namorada na Fordville Convention. Um
sentimento ruim começou a reaparecer em seu coração.
Por que estavam fazendo aquilo? Queriam lembrá-lo de
como aquele dia tinha sido o pior de sua vida? Aquelas
memórias já tinham sido suportadas e cultivadas durante
um mês inteiro. Ele simplesmente queria abrir sua mente
para o novo mundo. Mas o destino parecia trazê-lo de
volta, como se Brandon estivesse amarrado para sempre.

Ele não agüentou e saiu andando em direção à
porta.

Allan o barrou.

-O que você está pensando? – perguntou Brandon.

-Cara, eu só achei que...


-Você não achou nada – Brandon continuou,
falando exaltadamente – Nada disso está sendo fácil para
mim. Me deixe ir embora.

Allan o olhou assustado sem se mover. Ele não
sabia que aquilo poderia surtir um efeito tão devastador
em seu amigo.

-Saia da minha frente! -Brandon gritou,
empurrando-o.

Ele atravessou a porta e saiu andando rapidamente
para voltar para o conforto de sua casa. Imagens daquele
dia corriam por sua cabeça numa velocidade espantosa.
Era difícil retornar àquele fatídico dia em sua memória,
justamente quando sinais de superação começava a
parecer possíveis. Mas bem que Edward o disse, nada
disso seria fácil de enfrentar.

Enquanto andava solitariamente pela rua, David
apareceu do nada dirigindo seu carro.

-Vamos Brandon! Eu te levo para casa.

Brandon olhou para o baterista de sua banda. Eram
olhos diferentes, que não guardavam mais tristeza e sim
ódio – que imaginavam que uma força superior conspirava
para ele retornar todas as vezes para aquela sensação
apavorante.

-Entre logo Brandon – continuou David sem
hesitar. – Aquela morena era muito chata mesmo. Sem
falar que eu preciso estudar.

Brandon aceitou a proposta de seu amigo. Mas não
declarou nenhuma sentença no caminho inteiro. Ele se
despediu de David, agradecendo-lhe secamente, ignorando
a boa vontade de seu amigo. Aquilo não tinha dado certo.


Ele sabia que teria de fazer alguma coisa para não viver no
fundo de um poço sem ter uma corda para voltar.


CAPÍTULO 12

Sentimentos perversos batiam na porta de seu
coração todos os dias, mas era opção de Brandon deixá-los
entrar ou não. Ele se sentia num navio prestes a afundar e
não sabia se alguém iria retirá-lo daquela situação, ou se
ele precisaria tomar as atitudes corretas, sem a ajuda de
ninguém. De qualquer forma, ele teria de encarar seu
destino.

Ele saiu do trabalho naquele final de tarde de terça
feira e foi para o Clube Mayers – lugar onde se divertia
com seu amigos jogando basquete, nadando na piscina
olímpica e brincando no parque de esconde-esconde,
quando era criança. O clube não ficava tão distante de sua
casa. Então, ele apenas guardou sua bicicleta quando
voltou do trabalho, tomou um banho, jantou e foi fazer o
que considerava certo.

Chegando à entrada do clube, Brandon ficou
parado, olhando para dentro do estabelecimento pensando
se aquilo seria mesmo uma boa idéia. Praticantes de tênis
que já estavam de saída, olharam para aquele garoto
misterioso parado em frente ao clube e resolveram prestar
ajuda.

-Está perdido garoto? – perguntou o homem mais
gordo e também, o mais exausto.

Brandon levou um susto. Ele estava tão
concentrado nos seus pensamentos mais interiores que
fugiu da realidade, despercebendo a presença daquele
grupo de tenistas.


-Ah... hum... – falou Brandon, tentando achar as
palavras certas para não parecer um verdadeiro maluco. –
eu queria saber onde fica... bom, deixa pra lá.

Todos aqueles homens se entreolharam achando
que Brandon fosse um completo endoidecido,
contrariando a vontade dele.

-Tudo bem – respondeu o gordo. – Mas, se
precisar de ajuda, é só falar com ela – ele disse apontando

o dedo para a recepcionista, que parecia estar entediada
com o seu trabalho rotineiro.
Brandon agradeceu, mas não foi pedir informações
para ninguém. Invés disso, ele apresentou sua carteirinha
de sócio e passou pela catraca (mesmo estando com a
mensalidade atrasada). Assim, como a loja de seu pai
Edward, a parte interna do Clube Mayers tinha sido
reformada. Agora, uma grande passarela recebia os sócios
na entrada com alguns coqueiros em volta. Ao lado direito,
quadras de vôlei, basquete, futebol e tênis eram ocupadas
por pessoas saudáveis que não conseguiam ficar sem se
exercitar. No lado esquerdo do clube, havia um
restaurante, um parque para as crianças, uma sala de jogos
e uma sala de reuniões para sócio.

Brandon deu passos lentos e virou para o lado
esquerdo.

Sua cabeça rodopiava entre o sim e o não. Suas
mãos começavam a tremular, então ele tomou confiança e
decidiu: não sairia do clube sem ao menos tentar uma vez.

Brandon bateu na porta da sala de reuniões
timidamente. E então, para a surpresa de ambos... Megan
Mackenzie atendeu.


Sim, a mulher da noite de pôquer, a mulher que
Brandon encontrou na tarde do dia do show em Fordville.

-Brandon? – perguntou Megan, não entendendo o
que ele estava fazendo ali.

-Megan? – ele também questionou.

Os dois estavam carregando um enorme ponto de
interrogação em suas cabeças. Até onde Brandon sabia, ele
estava indo à terapia em grupo que sua mãe Hilary o
aconselhara no dia anterior. E Megan não fazia a mínima
idéia do que Brandon pretendia.

-O que você... – a voz de Brandon vacilou.

-Eu sou psicóloga – Megan respondeu, enquanto
prendia seus longos cabelos loiros. – E trabalho aqui
coordenando as terapias em grupo. Você está aqui por...
você veio... – ela tentou perguntar.

Brandon assentiu com a cabeça, concordando que
estava lá por causa da terapia em grupo.

Seu nervosismo começou a acender. Já era demais
ter de se abrir para um grupo de pessoas com problemas
internos; se apresentar para uma mulher que ele conhecera
a pouco mais de um mês, era impossível.

-Bom – Megan continuou – entre então.

Brandon hesitou, deixando seus pés fixos ao chão.

-Eu não acho que seja uma boa idéia. – Brandon
falou.

-Todas essas pessoas não achavam uma boa idéia
quando chegaram – Megan afirmou, olhando para as cinco
pessoas que estavam ali presentes, depois retornando seu
olhar fixamente para Brandon. – Mas eles estão aqui e,
agora, pergunte para eles se eles acharam uma má idéia vir
até aqui.


Ela não achou que Brandon iria realmente
perguntar, mas ele fez.

-Vocês acham que ter vindo aqui foi uma boa
idéia? – ele perguntou, olhando para todos.

Havia três mulheres – uma senhora de cabelos
tingidos na cor violeta, outra mulher com pouco mais de
cinqüenta anos, alta como um poste e a última tinha a
cabeça raspada e devia ter a mesma idade de Brandon. Os
homens pareciam mais tristes. Um era gordo como o
jogador de tênis que Brandon encontrara na entrada do
clube, outro era loiro de olhos verdes e parecia um modelo
modesto demais para falar sobre suas dificuldades. Todos
olharam para Brandon afirmando com a cabeça que
realmente, tinha sido uma ótima idéia comparecer nas
reuniões em grupo de Megan.

-Brandon! – Megan chamou sua atenção, tentando
manter seu profissionalismo superior ao sarcasmo daquele
garoto.

Ele olhou ao seu redor, fazendo uma cara de
insatisfação.

-Vamos! – Megan o incentivou a entrar.

Tremulando, ele cedeu à boa vontade da mulher
que conhecera na pior viagem de sua vida. Brandon
pensava que naquele momento, entrando naquela sala de
reuniões do Clube Mayers, estaria fazendo a pior escolha
de sua vida e que aquilo poderia expô-lo ao ridículo de
uma forma incondicional. Ele não sabia como aquilo o
ajudaria, em um curto espaço de tempo.

-Bom – Megan iniciou sua sessão. – já que temos
uma pessoa nova no grupo, acho que devemos nos
apresentar.


-Eu já a conheço. – Brandon respondeu
teimosamente a Megan.

-Não, você não me conhece – Megan continuou. –
A Megan que você conheceu em Fordville não vai vir aqui
para jogar pôquer ou irá falar sobre a sua banda de rock.
Essa Megan – ela disse apontando para si própria – vai
fazer com que essas pessoas possam superar seus
problemas.

Brandon ficou indignado com o que aquela mulher
estava falando. Em sua cabeça, ninguém além dele mesmo
poderia entender sua dor. Como poderiam? Falar sobre
seus próprios problemas não iria fazer com que seu
coração se sentisse mais aliviado. Pois se fizesse, nenhuma
daquelas pessoas estaria ali. Como Megan poderia ter
tanta certeza de que melhoraria a vida dele? Brandon não
parava de se questionar. Mas enfim, para não parecer rude
demais, cedeu.

Ele entrou na pequena sala – que continha apenas
mais algumas cadeiras estofadas livres, duas jarras (uma
com água, outra com suco de laranja) e um pote com
biscoitos de chocolate – e se sentou ao lado da senhora de
cabelos violeta e de Megan.

-Como eu havia dizendo – Megan reiniciou. –
Acho uma boa idéia nós nos apresentarmos a Brandon.

Com iniciativa e coragem, o homem gordo iniciou
sua apresentação. Seus cabelos crépidos cobriam boa parte
de seu volumoso rosto, mas não a sua enorme força de
vontade. Ele calçava tênis Converse, uma calça jeans e uma
camisa de guerrilha.

-Meu nome é Patrick – ele disse olhando
fixadamente nos olhos de Brandon. – Tenho trinta e


quatro anos. Estou aqui porque depois da morte do meu
irmão, comecei a comer feito um maluco... – sua voz
vacilou, mas posteriormente ele voltou a se colocar firme,
falando dos seus problemas seguintes. – Sabe, essa gula
estava me matando. Eu perdi meu emprego, minha mulher
e até hoje... estou tentando superar a morte do meu irmão.

Brandon se sentiu. A morte de Rachel Sawyer tinha
feito com que ele desabasse. Mas havia pessoas ao seu
redor que poderiam estar partilhando dessa mesma dor,
desse mesmo sentimento maligno que o corroia
diariamente. Mas se Patrick não conseguira superar a
morte do seu irmão, como ele poderia?

Após Brandon, foi a vez da senhora de cabelos
violeta falar sobre sua história. Seu nome era Elizabeth. Do
ponto de vista de Brandon, ela não tinha muitos
problemas, já que estava apenas abatida por estar ficando
velha, mas sentia um grande amor pela vida e não queria
que sua hora chegasse. Mas afinal, quem era Brandon para
julgar Elizabeth? Ele apenas ouviu.

-Megan – Brandon interrompeu, enquanto a
senhora ainda terminava seu discurso de como é bom viver
a vida plenamente. – Sinceramente, eu não acho que esse
seja o lugar certo para mim. Eu tenho certeza de que todas
essas pessoas têm problemas enormes. Mas eu
simplesmente não posso compartilhar o meu...

-Cara – disse a garota com a cabeça raspada. – Eu
era exatamente igual a você quando cheguei aqui.

Todos da sala assentiram.

-É verdade – Megan emendou. – Christina
relampejava sua raiva toda vez que alguém falava para
ficar. Acredito que ela esteja bem melhor agora.


Christina abriu seu sorriso sutilmente. Ela contou
sua história e a força de vontade que teve de ter para
superar a Leucemia. Pelo que dizia, ela já estava curada,
mas ainda tinha pesadelos horríveis da época que teve de
passar pela quimioterapia e abandonar a ginástica
olímpica.

Quando a outra mulher foi falar de sua vida,
Brandon barrou. Ouvir o problema dos outros não estava
ajudando em nada, muito pelo contrário, só o deixava cada
vez mais deprimido, pois as lembranças de Rachel vinham
à tona. Ele se levantou, pegou um cookie da bandeja que
estava colocada acima da mesa e foi embora da pequena
sala de reuniões do Clube Mayers.

Enquanto ele ainda passava pelo restaurante em
seu caminho de volta – que no momento estava
praticamente vazio – alguém gritou por seu nome. Era
Megan que vinha correndo lentamente atrás dele.

-Brandon – ela falou. – por que você está fazendo
isso? Nós podemos te ajudar.

Brandon deu uma breve risada sarcástica, como se
aquilo que ela acabara de falar fosse uma piada ou algo
impossível de acontecer.

-Isso não vai funcionar – Brandon repetiu. – Pode
dar certo para todo o resto do mundo. Mas não para mim.
Eu entendo que você só está querendo ajudar. Mas eu não
preciso de sua ajuda.

Megan entristeceu. Ela sabia que Brandon estava
sendo rigoroso demais, porém, se ele pudesse dar o
primeiro passo...

-Tudo pode melhorar, eu tenho certeza – ela
afirmou. – Mas me diga, o que aconteceu com você?


Brandon abaixou a cabeça. Era óbvio que ele não
queria tocar naquele assunto tão delicado. Como se
Brandon estivesse sendo protegido por um escudo gigante,
seria difícil ele deixar alguém entrar nas profundezas de
sua alma e reestruturar sua psique e seu coração.

-Você parecia uma outra pessoa em Fordville. –
Megan lamentou.

-Nós conversamos por cinco minutos... – exagerou
Brandon, tentando se livrar rapidamente de Megan.

Sem pensar duas vezes, Megan pegou um bloco de
notas que estava no bolso de sua calça social, rasgou uma
folha e anotou alguns números com sua caneta de cor
vermelha.

-Em caso de você precisar conversar com alguém...

Brandon pegou com pouca vontade e colocou no
bolso de trás de sua calça. Ele não tinha intenção nenhuma
de ligar para ela e só não rejeitou aquele pequeno pedaço
de papel porque já tinha sido muito mal educado para um
único dia. Então, ele se colocou em seu caminho de volta
para casa, pensando que realmente tinha sido uma
péssima idéia aparecer na terapia em grupo que sua mãe
Hilary lhe aconselhara.

-Nos vemos por aí? – Megan perguntou, quando
Brandon já estava a uns dez metros de distância de onde
eles estavam conversando.

-Eu acho que não. – Brandon falou quando olhou
para trás novamente.

Então, ele desapareceu da vista de Megan.


CAPÍTULO 13

Diariamente, Brandon continuava sua rotina dando
um passo de cada vez. Acordava, ia para a loja de
automóveis de Edward onde trabalhava até o final da tarde
e voltava para sua casa para descansar. Carregava seu
corpo de um lado para o outro, fazendo o que devia fazer,
mas nada disso parecia melhorar seu astral. O seu passado
prazeroso parecia ter escapado de suas mãos e voado para
um lugar muito, muito distante.

A sua banda Atlanta, estava mais separada do que
nunca. Depois do episódio na casa de Nick Geisel,
Brandon se afastou drasticamente de David e Allan. Não
que os dois tivessem culpa pelos piores sentimentos que
Brandon estava sentindo, mas era mais fácil deixar de lado
tudo o que ele relacionava ao fatídico dia da morte de
Rachel Sawyer, mesmo que uma dessas coisas fosse sua
adorada banda.

Passados alguns dias daquele que Brandon fora à
terapia em grupo, houve uma nova visita. Mas dessa vez,
era Allan Green quem estava indo até a casa de Brandon,
conversar com um de seus melhores amigos.

Era uma quinta feira chuvosa e não havia
absolutamente nada para fazer na cidade de Sant Grove.
Nenhuma festa na casa de Nick, Lilian ou qualquer outra
pessoa, nenhum barzinho para botar a conversa em dia,
nenhuma discoteca. Apenas Allan e Brandon tendo uma
conversa.

Quando chegou, Brandon já estava vestindo seu
pijama predileto e assistindo a um filme antigo com


Johnny Deep. O que denotava que ele não estava de bom
humor.

-Antes de falar qualquer coisa – Allan disse a
Brandon ao abrir a porta – quero pedir desculpas por
qualquer acontecimento que você não tenha gostado. Eu
me arrependi... não deveria tê-lo levado à festa de Nick
naquele dia. Foi uma idéia idiota.

Brandon pareceu não se importar muito, por um
breve momento. Mas disse para seu amigo entrar e se
sentar um pouco.

-Que filme é esse? – Allan perguntou, mesmo não
estando muito interessado em saber.

-Pra falar a verdade – Brandon respondeu. – eu
nem sei. Liguei a televisão faz uns quinze minutos.

Os dois amigos ficaram sem mencionar uma
palavra durante algum tempo. Eles ficaram apenas
absorvendo as imagens daquele filme, mas na verdade,
estavam muito intrigados em seus pensamentos, se
perguntando o que cada um deles poderia dizer para
tornar aquela situação mais agradável.

-Brandon – falou Allan quebrando o silêncio – isso
pode parecer papo de garota. Mas eu realmente não
consigo mais ficar nesse clima com você. Eu só... bom, eu
não sei o que posso dizer para melhorar sua vida.

Brandon o encarou por alguns segundos com seus
olhos fortes, mas por fim falou o que estava engasgado em
sua garganta:

-Eu sei que essa situação está sendo difícil para
todos nós. Eu não quero, de jeito algum, acabar com a
nossa amizade. Mas eu sinto que no momento não há
como ninguém consertar o que eu estou sentindo.


Allan abaixou a cabeça e pesquisou em sua mente
algo que ele pudesse falar. Ele não encontrou
absolutamente nada.

-Sabe – continuou Brandon. – eu agradeço a sua
atenção, a de David. Mas sinceramente... eu não preciso de
vocês. Não por enquanto.

Todas as palavras que saiam da boca de Brandon
pareciam não ser digeridas por nenhum dos dois. Aquelas
frases sinceras machucavam demais, tanto para quem as
estava proferindo, como para quem estava escutando.

Allan repentinamente levantou do sofá e correu até

o quarto de Brandon. Ele tropeçou duas vezes na subida da
escada de tão afobado que estava. Brandon não estava
entendendo a reação eufórica de seu amigo. Mas alguns
segundos mais tarde, Brandon gelou rapidamente. Allan
segurava seu violão predileto – aquele em que Brandon
tocara sua última música no show em Fordville.
-O que você está fazendo? – Brandon perguntou.

-Você precisa disso – disse Allan, erguendo o
violão para seu amigo.

Brandon não movimentou seus braços para pegar.
Ele olhou para o instrumento como se estivesse infectado.
Depois do show, a única vez que tocou fora aquela em que
ele acordou no meio da noite depois daquele sonho
perturbador. Mas agora, seria muito difícil tocar os
mesmos acordes de antes, as mesmas músicas, as mesmas
histórias.

-Guarde isso – falou Brandon, enquanto se voltava
novamente para a televisão.
-Eu não vou guardar – Allan desobedeceu. – Você
não entende? Isso aqui – ele disse chacoalhando o violão


com seus braços – não tem nada relacionado à Rachel.
Tem relacionado a você voltar a viver. Você precisa disso...
é o que te faz bem.

Brandon olhou fixamente para seu amigo, depois
para seu instrumento. No fundo de seu coração
desnorteado, ele sabia que aquelas eram palavras
verdadeiras e que uma hora ou outra, ele teria de se
entregar a sua musica. Como uma fonte de vida, suas
canções faziam a esperança crescer, como de muitas outras
pessoas que escutavam fielmente as músicas da banda
Atlanta.

Ele agarrou o violão.

-Eu sabia que você não resistiria – falou Allan
esboçando um enorme sorriso em seu rosto.

-Eu também – disse Brandon enquanto acariciava
vagarosamente seu violão, como se estivesse tocando em
algum objeto muito precioso.

Algumas notas foram tocadas lentamente, fazendo
seu coração bater mais forte.

Ele ainda tinha de se acostumar com o bom e velho
som de seu instrumento magnífico. Brandon afinou
rapidamente todas as cordas – que ainda estavam inteiras
desde a última noite – e tocou alguns acordes, enquanto
Allan o observava comovido por fora, mas agitado em um
turbilhão enorme por dentro.

-Você vai ficar aí parado? – Brandon perguntou
sorridente ao seu amigo.

Allan estremeceu.

-O ... o que?


-Vá pegar meu outro violão – mandou Brandon
enquanto tocava alguns acordes mais pesados. – Vamos
fazer um som.

Em menos de trinta segundos, Allan já estava de
volta à sala, sentado ao lado de seu amigo com um violão
em suas mãos. Como a moda antiga, os dois estavam ali
sentados tocando para ninguém mais que eles mesmos. E
isso fazia tão bem!

-Que musica você quer tocar? – perguntou Allan.

Brandon não respondeu. Apenas começou a tocar
as músicas da banda Atlanta de forma aleatória. Allan o
acompanhou entusiasmado e com um sorriso gigantesco
em seu rosto. Os dois ficaram ali sentados, tocando por
pelo menos uma hora, sem que pronunciassem uma
palavra sequer. Eles não precisavam, a música falava por
eles. E nesse único momento, Brandon se sentiu bem,
como não se sentia desde o último momento que ficara
com Rachel Sawyer.

*

No final de semana, a banda já tinha se organizado
para voltar aos ensaios no galpão da família de David.
Todos estavam borbulhando ansiedade por dentro, já que
não tocavam juntos desde o último show, em Fordville.
Nick Geisel também havia comparecido ao ensaio da
banda Atlanta e após pedir sinceras desculpas para
Brandon sobre o que ocorreu em sua casa, todos ficaram
bem.

Os cabos dos instrumentos de Brandon e Allan já
estavam ligados corretamente aos amplificadores. David já
estava sentado no banco de sua bateria, com as mãos


suando para mostrar sua verdadeira força. Todos olhavam
para Brandon, como se ele tivesse de dar o primeiro passo.
Aliás, a iniciativa de voltar com a banda tinha sido idéia
dele.

-Vamos tocar "O Silêncio do Coração". – Brandon
falou em seu microfone.

Todos respeitaram a decisão de Brandon, mas ele
não precisava ter se referido no plural – imaginaram Allan
e David -já que sabiam que a música era tocada apenas no
violão e que eles não teriam participação alguma.

-Mas dessa vez – Brandon continuou firmemente –
vamos tocá-la de forma mais pesada... com contrabaixo,
guitarra e bateria.

Todos sorriram. Aquilo era apenas um ensaio,
então não havia problema de tentar fazer algumas
colocações novas nas músicas da banda. Por que não
tentar?

Eles começaram, todos juntos. Brandon tocava com
tanta emoção que era possível lacrimejar, como ele mesmo

o fez. A colocação dos outros instrumentos na música
tinha sido perfeitamente harmônica, mesclando todos os
sentimentos mais sinceros que o trio passava através de
seus instrumentos. Era pesado, forte, lindo.
-Eu não estou acreditando nisso – Nick Geisel
disse ao terminarem a música. – Vocês... vocês são a
melhor banda que eu já escutei nessa região. Estou
impressionado.

-Fale uma coisa que eu ainda não sei. – brincou
Allan.
Tomando um tempo do ensaio dos garotos, Nick
pronunciou algumas palavras, falando que a banda


precisava voltar aos palcos quando todos estivessem
preparados e que aquele som era muito bom para se deixar
esquecer. Realmente era, seria um pecado uma banda
como Atlanta deixar os palcos e tocar somente por
diversão. Mas todos sabiam que precisavam dar um tempo
para Brandon cogitar tal possibilidade. Agora, nada mais
era tão simples como antigamente.

Por três semanas a banda continuou ensaiando em
tempos disponíveis. O som já estava ficando redondo
como outrora e os integrantes até estavam compondo uma
nova música. Todo ensaio havia a mesma intensidade
furiosa, comovente e bela. Olhares de fora não enxergavam
a ligação que os integrantes da banda tinham entre si. Era
algo muito mais forte do que os olhos podem ver, muito
mais forte do que os ouvidos podem escutar... era algo que
tocava a alma.

A banda Atlanta estava preparada. Era hora de
voltar para os palcos.

*

Ao saber que todos da banda estavam dispostos a
tocar para sua fiel platéia tradicionalista, Nick Geisel
abriu sua agenda de contatos e ligou para as poucas casas
de shows e eventos que havia em Sant Grove. A princípio,
Nick não conseguiu o retorno esperado, já que todas as
casas de shows alegaram estar com eventos marcados por
pelo menos três meses. Ele já estava quase desistindo da
possibilidade de ocorrer um show em sua cidade, quando
seu celular tocou. Era o organizador de eventos da
BeatDown – uma das mais conhecidas casas de shows da


cidade onde a banda Atlanta já se apresentara inúmeras
vezes.

-Nick – falou o organizador. – acho que temos um
espaço para a Atlanta daqui a duas semanas. O que me
diz?

Sem delongas, Nick aceitou imediatamente. Ele
sabia que Brandon, Allan e especialmente David, tinham
seus compromissos de vez em quando. Mas ele estava com
seu sangue fervendo para ver a banda tocando num show
novamente. Era sua paixão, seu trabalho, sem mencionar
que essa era uma ótima oportunidade. Nick não hesitou
em ligar para todos e confirmar sobre o show na BeatDown.
Felizmente, ninguém se manifestou contra.

Exatamente três dias depois, panfletos sobre o
show já estavam sendo espalhados pelas redondezas de
Sant Grove, com o nome da banda Atlanta estampado no
centro. Os integrantes da banda estavam ensaiando quase
todos os dias por pelo menos meia hora, o que deixava
Brandon cada vez mais confiante, mas não menos nervoso.
Toda vez que ele passava por um poste com o panfleto do
evento que aconteceria na BeatDown, sua mão tremulava.
Ele sabia que precisava acontecer tudo minuciosamente
perfeito nesse dia, para libertar sua mente do show em que
pedira Rachel Sawyer em casamento.


CAPÍTULO 14

O último ensaio antes do show havia acabado
naquela quinta feira. Brandon sabia que depois de lá, só
tocaria as cordas de sua guitarra à frente de um
aglomerado relativamente grande de pessoas. Mas antes
que chegasse o dia do show, Brandon sabia que precisava
fazer uma coisa importante.

Abrindo a primeira gaveta da escrivaninha de seu
quarto, ele pegou seis ingressos do show, colocou em seu
bolso e saiu com o novo carro que seu pai lhe dera poucos
dias antes. Agora, Brandon dirigia um Honda Civic
prateado, carro pelo qual Rachel exaltava seu amor. Ele
jurou para Edward que adorava aquele carro e que era o
certo para uma pessoa como ele, mas no fundo de seu
coração, Edward sabia que a escolha de seu filho ia muito
mais além do que seu gosto para carros e que estava sendo
totalmente influenciado por sua falecida namorada.

Brandon dirigiu até o local que há poucos dias
atrás ele estivera. O caminho dessa vez havia sido
tranqüilo, já que Brandon não estava indo falar sobre seus
problemas. Chegando lá, ele repetiu mais uma vez o
caminho, bateu na porta como havia feito antes e foi
atendido com o mesmo carinho.

-Olha quem está por aqui – Megan falou enquanto
olhava para Brandon – se não é o senhor "esse lugar não é
para mim".

Brandon riu suavemente.

-Eu ainda continuo com a mesma opinião – ele
falou mantendo sua postura. – É que eu queria entregar


isso para vocês – mostrando os ingressos do show que
aconteceria na BeatDown.

Todos os indivíduos que compareciam
rotineiramente nas terapias em grupo de Megan se
levantaram e agradeceram a boa vontade de Brandon,
incluindo Megan, que parecia estar surpresa com sua
atitude.

-Então você gosta mesmo dessa sua banda... – ela
disse.

-Eu gosto – Brandon continuou. – mas
aparentemente, você não. Aliás, nem apareceu no show
que nós fizemos em Fordville.

Megan abaixou a cabeça timidamente.

-Não pude ir – ela continuou – mas quem sabe
nesse... de qualquer forma, preciso continuar com a
reunião do grupo. Você tem certeza de que veio aqui
apenas para nos dar os ingressos? – perguntou Megan.

Brandon assentiu com a cabeça e saiu sem se
despedir. Ele sabia que se continuasse ali, aquela pressão
para ele ficar e falar sobre seus problemas iria reaparecer.

Era hora de ir para sua casa e descansar um pouco.
Brandon teria um longo trabalho de recuperação
emocional para ter a coragem de subir aos palcos
novamente.

*

A BeatDown ficava no centro de Sant Grove e era
impossível passar por lá e não notar aquele local com
decorações exageradas. Na parte de fora, luzes roxas
brilhavam destacando o nome da boate, enquanto dois
seguranças gigantescos fiscalizavam a entrada das pessoas


que estavam ali para apreciar a Atlanta ou qualquer outra
banda que tocaria no mesmo dia. Ao passar pela porta
principal, havia uma "sala de identificação" onde era
necessário apresentar os documentos e pagar pela sua
entrada. Finalmente, passando por essas duas etapas,
chegava-se ao local principal, onde era possível acolher
pouco mais de cento e trinta pessoas – contando com a
área vip e a área normal. O palco para as bandas e o DJ era
relativamente grande, o que deixava Brandon, Allan e
David muito mais confortáveis para tocarem suas músicas.

Nick e os três integrantes da banda chegaram a
BeatDown duas horas antes da casa abrir para o público.
Seguindo a lei natural das bandas, eles verificaram
detalhadamente seus instrumentos, microfones e
amplificadores, como sempre faziam. Era uma questão de
deixar tudo correto para o show. Afinal, não queriam que
as pessoas tivessem uma impressão errada da banda.

-E aí garotos – falou Nick Geisel. – acham que
estão prontos para o show de hoje? – ele perguntou
olhando para todos os integrantes, mas a banda sabia que
ele estava se referindo diretamente a Brandon.

-Eu não sei – respondeu Brandon, deixando todos
seus amigos alarmados. – acho que está faltando alguma
coisa...

Allan, David e Nick transmitiam insegurança.
Brandon era a pessoa que dava vida às canções da Atlanta.
Se ele não estivesse confiante, quem estaria?

-O que você quer dizer com "está faltando alguma
coisa"? – David perguntou.

Com seus olhos ferozes que mesclavam duas cores
naquele breve momento, Brandon fixou seu olhar em seus


parceiros de banda. Ele agarrou a mochila que estava em
suas costas e a abriu, respondendo a pergunta que corria
na mente de seus amigos.

-É isso que está faltando – ele falou. – algumas
doses de uísque. – mostrando sua garrafa de Jack Daniel's.

Nick Geisel olhou apreensivo para Brandon, já que
ele não costumava fazer esse tipo de coisa antes dos shows
de sua banda. Brandon Browser preferia se concentrar em
suas músicas a se embebedar para fazer um show.

-Não se preocupe – Allan falou a Nick. – nós não
vamos ficar vomitando no palco ou fazer qualquer
maluquice... é só para dar uma esquentada. Não é mesmo,
Robin? – ele perguntou.

-Eu ainda prefiro meu refrigerante. – David falou,
enquanto segurava com sua mão direita uma pequena
garrafa de Coca-Cola.

Sem fazer mais nenhum comentário, Allan
acompanhou Brandon até o bar principal, onde uma garota
com cabelos longos pintados de rosa esperava
pacientemente para a abertura da casa.

-Ei baby -disse Allan para a garçonete. – você é
nova aqui?

-Você é ridículo, Allan. – ela respondeu sem
escrúpulos.

Visivelmente, a garçonete de cabelo estranho já
havia passado uma noite no Lugar Proibido de Allan e ele
nem ao menos se deu o trabalho de lembrar-se do rosto da
pobre e esquecida garota. Era muito habitual ver esse tipo
de situação se estivesse na companhia de Allan em algum
bar ou balada. Mas, por sorte, agora Brandon estava apto a
prestar sua gentileza e educação.


-Meu amigo é um idiota – ele disse à moça. – mas
será que poderíamos pegar dois copos aqui do bar por um
instante?

Irritada com a situação constrangedora, a
garçonete pegou dois copos e colocou-os agressivamente
em cima da mesa e, se estivesse um pouco mais irritada,
com certeza a integridade dos copos não seria conservada.

-Muito obrigado. – Brandon agradeceu com seu
sorriso encantador, enquanto já colocava uma recheada
dose de uísque para ele e seu amigo.

Os dois beberam pouco mais de dois copos daquela
bebida que queimava seus corpos por dentro. Nick Geisel
observava os dois rapazes do outro lado da pista,
lamentando o comportamento de Brandon naquela noite.
Mas quem pode julgar os atos de uma pessoa que perdeu o
grande amor da sua vida?

A BeatDown abriu suas portas e aos poucos, mais e
mais pessoas chegavam para curtir a noite. Alguns que já
conheciam Brandon, Allan ou David, vinham
cumprimentá-los, pedir para a banda tocar uma música
cover ou simplesmente parecer legal ao lado da atração
mais conhecida da noite. Mas nenhuma dessas pessoas era
Megan ou qualquer outro da terapia em grupo que
Brandon convidara.

A casa estava ficando cheia e a Atlanta seria a
terceira banda a se apresentar. Brandon, por incrível que
pareça, era o mais calmo dos integrantes. Não que essa
tranqüilidade tenha sido ocasionada pelo uísque ou pelo
fato de Brandon já ter se apresentado na BeatDown
inúmeras vezes, ele sempre ficaria nervoso independente
de tais fatores. Mas agora, Brandon não tinha para quem


provar o seu enorme amor através de suas músicas, a não
ser que ele cantasse para as estrelas do céu.

O tempo dentro da casa de shows parecia não
passar para a banda Atlanta que estava descarregando
uma carga emocional eletrizante em suas canções. A
segunda banda já estava prestes a entrar no palco mas,
antes que Brandon pudesse reparar e absorver o som
daquele quinteto...

-Então, você achou que eu não vinha? – perguntou
alguém que cutucava seus ombros.

Era Megan Mackenzie, que estava radiando sua
beleza já amadurecida. Seus cabelos loiros estavam presos
e seus olhos verdes brilhavam de forma intensa, deixando
seu vestido preto sem destaque.

-Para falar a verdade – respondeu Brandon. – eu
tinha certeza de que você não iria vir. Mas... e o resto do
pessoal da terapia?

-Só Christina veio comigo – ela respondeu,
apontando para sua amiga que no momento, estava
escutando impacientemente as promessas românticas de
Allan. – você sabe... ela adora esses shows de rock.

-Você também vai gostar, depois que minha banda
entrar no palco – Brandon disse sorrindo sutilmente.

-Para alguém que estava transtornado no dia da
terapia – ela o alfinetou – parece que você está muito bem
agora. Mas deixe me perguntar, onde está sua...

Christina interrompeu.

Ela vestia uma camisa totalmente preta, uma calça
jeans rasgada no joelho direito e um tênis Converse
totalmente acabado. Uma imagem típica de uma
adolescente que é fã das bandas de rock de Sant Grove,


exceto é claro, pelo cabelo raspado que fora cultivado
desde a época da quimioterapia.

-Então quer dizer que aquele imbecil que estava se
jogando para cima de mim é da sua banda? – Christina
perguntou a Brandon com um toque de decepção.

-Cuidado que você pode acabar se rendendo pelos
encantos do Allan – brincou Brandon.

Os três ficaram conversando sobre os assuntos
mais diversificados durante todo o concerto da segunda
banda. Era ótimo para Brandon dialogar com pessoas
diferentes, já que só assim ele conseguia dar uma rápida
fuga do círculo de amigos que o fazia lembrar dos ótimos
momentos que ele tivera com Rachel Sawyer. É lógico que
Megan e Christina também tinham seus problemas
pessoais, mas Brandon já tinha conhecimento sobre o
divórcio da terapeuta e da Leucemia de Christina. O único
problema, é que elas não sabiam nada sobre Brandon... mas
não demorariam para questioná-lo sobre seu passado.

-Ei Brandon – David o chamou, depois de
interromper a conversa que seu amigo estava tendo. – está
na hora de nós entrarmos no palco. Vamos!

Brandon não percebera que o show da segunda
banda havia acabado. Ele falava com Megan e Christina
sem perceber o que estava acontecendo a sua volta.

-Parece que tenho que ir – Brandon disse,
enquanto já se apressava para agarrar sua guitarra e subir
no palco.

Quando todos os integrantes da banda já estavam
devidamente posicionados e prontos para começar a tocar
suas músicas... Brandon paralisou. Ele olhava para todos os
que ali estavam presentes e não conseguia escutar um


único som, uma única voz. Todo seu corpo parecia estar
inapto de exercer qualquer tipo de movimento, as pessoas
eram estranhas e seu instrumento parecia ser totalmente
indecifrável – o mesmo sentimento que ele tivera logo
depois de seu último concerto em Fordville. Sem meditar
no que estava acontecendo, Brandon colocou sua guitarra
deitada ao chão do palco, desceu a pequena escada e saiu
em direção à porta sem apresentar nenhuma explicação ao
público e seus companheiros de banda. Mas diferente do
que acontecera antes, dessa vez ele não havia deixado o
evento sozinho.

-Onde você está indo? – perguntou Megan para
Brandon, enquanto ele atravessava a rua pouco
movimentada.

Como antes, as lembranças do passado faziam
questão de não ir embora dos pensamentos de Brandon.
Era sua decisão viver em um mundo isolado, frio e triste. E
quando isso acabaria? Ninguém poderia responder.
Brandon não respondeu.

Megan insistiu. Ela apressou seus passos até
alcançar aquele garoto de coração estilhaçado.

-Ei – ela continuou. – eu não estou aqui como
psicóloga, estou aqui como uma amiga. Diga-me o que está
acontecendo? Sua namorada deixou você?

Megan tinha fortes motivos para achar que aquilo
havia acontecido por causa de Rachel. Aliás, aquele casal
parecia tão unido na noite do cassino. Seria uma pena se
ela decidisse terminar tudo e partir o coração de uma
pessoa tão adorável. Mas ela não sabia o quão intensa era
essa dor.


Brandon não conseguia olhar diretamente nos
olhos de Megan, ele estava muito ocupado vendo flashs em
sua mente da época em que sua banda tocava e Rachel
Sawyer era a primeira pessoa de frente ao palco. Era um
sentimento ótimo, mas um que ele nunca teria de volta.

-Brandon? Brandon? – ela o chamava, enquanto
seus olhos cor de mel ainda permaneciam distantes.

Por um breve momento, nada aconteceu. Mas no
interior de seu corpo, uma faísca começara a incomodar.
Talvez pela implicância de Megan, talvez pela situação
constrangedora que ele passara na frente de várias pessoas
com sua banda. Brandon finalmente estava voltando para
seu consciente.

-Eu só quero ir embora – ele suplicou entristecido.

– eu não consigo... eu preciso ir para casa.
-Isso é sobre sua namorada? – Megan continuou
insistindo, tentando solucionar aquele drama adolescente.
Brandon assentiu contra sua vontade, derramando
algumas lágrimas.
Sem mencionar mais palavras, Megan percebeu que
aquela situação era muito mais profunda do que um
simples rompimento com a namorada. O sofrimento de
Brandon ia além de toda uma vida. Então, em um impulso
exuberante, aquela mulher de trinta e sete anos com muita
experiência de vida, agiu como uma adolescente
irresponsável. Megan acariciou o rosto depressivo de
Brandon, sentiu seu perfume encantador e beijou sua boca
na noite sob o céu estrelado


CAPÍTULO 15

Se Megan Mackenzie tivesse dado aquele beijo em
Brandon para fazê-lo se sentir melhor, ela tinha errado
completamente. Na manhã seguinte, Brandon acordou
péssimo. Ele apenas conseguia pensar que o fato de ter
retribuído o beijo de Megan, era um sinal de que ele não
merecia o amor que sua falecida namorada uma vez lhe
tinha dado. Mas é lógico que aquilo não tinha sido
totalmente em vão.

Após se trocar e tomar seu café da manhã rotineiro,
Brandon pegou seu carro e dirigiu cautelosamente por
todos os limites da cidade de Sant Grove, pensando se
aquilo que estava passando em sua mente iria ser bom e
servir para ele.

O céu estava claro, o sol brilhava sem interferência
das nuvens e os pássaros voavam livremente. Brandon era

o único ser que estava se sentindo totalmente preso e
limitado. Mas ele não se rendeu às suas algemas mentais.
Após dirigir por quinze minutos, ele estava naquele
lugar onde se recusou pisar desde que Rachel falecera. Por
um bloqueio emocional, Brandon não se imaginava ali,
colocando todos seus sentimentos para fora, sem
intermédio de mais ninguém.

Ele caminhou para dentro do Cemitério Van der
Sant.

Em um piscar de olhos, toda a tristeza que estava
alojada em seu coração veio à tona ao se deparar com o
túmulo de Rachel Sawyer. Ainda era muito difícil de
acreditar que a pessoa com quem ele provavelmente iria se
casar estava morta. Ele não conteve o choro e, ajoelhado,


beijou o nome de Rachel que estava escrito em letras
douradas.

-Me desculpe – Brandon lamentou de frente ao
túmulo. – Eu queria voltar no tempo e consertar tudo...
queria você ao meu lado. Desculpe-me por ter beijado
Megan.

Para Brandon, ainda era impossível ter um
relacionamento com outra pessoa. Pois na sua opinião,
seguir em frente, significava esquecer a garota que ele mais
amou em toda a sua vida. Ele nunca teria coragem de
reabastecer seu coração com o amor de outra pessoa,
mesmo que essa pessoa fosse Megan – uma mulher mais
velha, que ainda conseguia ser muito encantadora –
Brandon simplesmente não poderia.

Mas antes de continuar seu arrependimento
perante o túmulo de Rachel, Brandon foi interrompido.

-Meu filho – alguém com a voz familiar o chamou,
tocando em seu ombro. – você... você apareceu.

Era James Sawyer, acompanhado de sua filha
Denise. Os dois carregavam enormes buquês de flores que
seriam dados à honra de Rachel.

Sem mencionar mais palavras, Brandon abraçou
Denise e James, respectivamente. Era tão bom para ele
sentir o calor que corria na pele da família Sawyer. As
lembranças passavam como um filme colorido, fazendo
com que ele mostrasse um sorriso repleto das melhores
emoções.

-Aposto que Rachel está muito feliz em saber que
você veio visitá-la – falou Denise com seus olhos vivos.

-Não sei se ela estaria – lamentou novamente
Brandon, não conseguindo olhar diretamente para as duas


pessoas que lhe prestavam companhia naquele momento
solitário de sua vida.

Indignado ao ver o estado calamitoso de Brandon,
James não manteve guardado seus pensamentos.

-Brandon – ele continuou. – você sabe que Rachel
iria querer o seu bem. Mas você... você precisava vir aqui e
conversar com ela. Não sei como pode passar pela sua
cabeça a hipótese de que ela não estaria feliz... os olhos da
minha filha brilhavam sempre que você aparecia.

Denise concordou com seu pai, tentando diminuir
a culpa de Brandon. Não era novidade para ninguém o
amor extraordinário que Rachel sentia por Brandon, e este
era recíproco.

-Você precisa continuar sua vida – Denise
completou. – Isso não quer dizer que precisa deixar suas
memórias de Rachel de lado. Mas apenas siga em frente.
Viver no passado vai amargar e destruir seu coração.

Brandon sabia que James e Denise estavam sendo
sinceros. Mas nem sempre aceitar a verdade é uma tarefa
fácil a se fazer e aquele garoto que perdera a namorada
sabia muito bem disso. Ele levantou e se despediu.
Brandon sabia que seria muito difícil continuar aquela
conversa.

*

Antes que Brandon pudesse abrir a porta de sua
casa, foi interrompido mais uma vez. Uma buzina
estridente soou enquanto ele colocava sua chave na
fechadura da porta de entrada. Era David, que estava
acompanhado de Allan e Lilian Brooke. Todos desceram


do carro e vieram em direção a Brandon, mas antes que
eles pudessem dizer qualquer palavra...

-Me desculpem. – Brandon falou com sua voz
arranhada.

Allan olhou para David preocupado. Eles sabiam
que Brandon era uma pessoa orgulhosa demais e não
pediria desculpas assim tão facilmente, a não ser que ele
soubesse com toda certeza que agiu errado.

-Desculpas? – David questionou.

-É – ele continuou – vocês sabem... pelo show, por
tudo.

Mas antes que ele pudesse continuar a desabafar,
Lilian interrompeu a conversa dos rapazes. Por ser a
melhor amiga da falecida namorada de Brandon, ela sabia
que Rachel ficaria entristecida se o visse naquele estado.

-Você é uma pessoa maravilhosa – ela disse a
Brandon. – Não pode se deixar levar.

-Eu sei – ele alegou – mas agi tão errado
ultimamente...

-Irmão – Allan cortou Brandon, antes que ele
pudesse continuar seu processo de autodestruição – nós te
entendemos. E você tem que saber que nós vamos estar
sempre aqui para te apoiar.

Brandon sorriu. Mas ele sabia que sua felicidade,
pelo menos por agora, era momentânea. Por causa disso,
ele não poderia continuar tocando com sua banda Atlanta.
Ele não queria proporcionar aquele constrangimento outra
vez para seus amigos, mas ao mesmo tempo, sabia que
seria muito difícil falar todas essas coisas para Allan e
David. Afinal, a banda era o passatempo predileto
daqueles três garotos e acabar com esse sonho que eles


estavam vivendo seria uma injustiça. Mas nem sempre as
águas do rio da vida desembocam onde nós esperamos.

Todos entraram na casa de Brandon para tomar
uma xícara de café – exceto Lilian, que bebeu apenas um
copo de água. Eles conversaram durante horas sobre tudo

o que Brandon estava passando e, quando tocaram no
assunto da banda, Allan e David compreenderam o que
Brandon lutou para explicar.
A banda Atlanta estava extinta.

*

A noite estava aconchegante e casais saiam de
mãos dadas pelas ruas para aproveitar o que o amor pode
proporcionar – jantar a luz de velas, um filme romântico,
um beijo ofegante – mas para Brandon, essa ainda era uma
realidade distante.

Ele estava sentado no capô de seu carro no meio de
uma rua qualquer a espera de um brilho vital sob a luz das
estrelas. Obviamente, quem o visse naquela situação,
imaginaria que ele estava esperando alguma
acompanhante para seu encontro amoroso. Mas ele não
estava. A única coisa que Brandon poderia estar
procurando naquele momento, era alguma resposta para
as milhares de perguntas que ainda chacoalhavam sua
imaginação.

Ela saia de lá com seu charme arrebatador,
vestindo uma calça preta e uma camisa social pouco
aberta. Seus cabelos presos e o óculos que estava usando
não deixavam sua aparência menos atraente, muito pelo
contrário, continuava excessivamente bela.


-Creio que não veio aqui para dar um convite do
show da sua banda – Megan disse ao ver Brandon na porta
do Clube Mayers – estou certa?

-Está – ele respondeu sem alterar seu humor. –
Bom... a minha banda não existe mais – sua cabeça
abaixou.

Megan não precisava ter um raciocínio super
desenvolvido para saber que a tensão que Brandon
apresentara no dia do show era capaz de deixá-lo
transtornado ao ponto de abandonar sua banda. Mas o que
ela não sabia, era o que tinha acontecido, de forma
detalhada.

-Isso tudo aconteceu por causa da morte de sua
namorada? – Megan perguntou tentando arrancar
qualquer informação, olhando fixamente nos olhos de
Brandon.

-Sinceramente – Brandon continuou. – eu não vim
aqui para fazer nenhuma terapia... muito menos falar sobre
Rachel. Eu quero saber por que você me beijou na noite do
show. Aquilo era para me fazer melhor? – ele a questionou.

– Porque se fosse...
-Não era. – Megan o cortou, desviando o olhar.
Um silêncio prevaleceu entre os dois, mas foi
quebrado por um cachorro de rua que apareceu ao lado de
Brandon e começou a latir. Ele era preto e tinha pequenas
manchas em marrom espalhadas pelo seu corpo e de
alguma forma sem coerência, parecia muito familiar à
Brandon.

-Parece que ele não gostou muito de você – Megan
disse, enquanto o cachorro ainda o encarava.


Mas antes que Brandon pudesse abrir a boca para
responder, o cachorro saiu correndo da entrada do clube e
cortou seu caminho na primeira esquina. Era como se
estivesse ali apenas para dar um chamado, um alerta de
"não se meta com essa mulher... de qualquer modo, ela é
muito velha para você".

Brandon ignorou como ele havia fazendo
ultimamente com todos os avisos que lhe prestavam.

-Parece que eu não te perguntei sobre o cachorro –
ele disse grosseiramente – só quero saber o que foi aquele
beijo?

-Bom... – a voz de Megan vacilou. – você estava
parecendo tão... deprimido. Eu achei que talvez...

Megan não conseguiu completar. Pois antes que
pudesse, Brandon desceu do capô de seu carro e ignorando
olhares superiores, calou-a com um beijo caloroso e
harmonioso. O tipo de beijo que, durante muito tempo,
pensou que só daria em Rachel Sawyer pelo resto de sua
vida. Se ele fosse se sentir culpado ou não posteriormente,
já era outra história. Agora, sua boca pertencia àquela bela
mulher de trinta e sete anos.

Os dois foram até a casa de Brandon continuar o
que tinham começado. Sem arrependimentos, sem
amargura. Eles tomaram poucas taças de vinho tinto
enquanto trocavam olhares sedutores em cima dos lençóis.
E pela primeira vez após a morte de Rachel, Brandon
dormiu com alguém. E esse alguém se chamava Megan
Mackenzie.


CAPÍTULO 16

Raios solares passavam pelas frestas da persiana do
quarto, fazendo assim com que Brandon acordasse e
abrisse seus olhos lentamente. A primeira imagem que ele
tivera naquele dia, fora de Megan, totalmente nua, coberta
pelos finos lençóis de sua cama. Obviamente, qualquer
garoto da idade de Brandon se sentiria realizado após ter
uma noite de amor com Megan Mackenzie – uma mulher
mais experiente e que radiava charme e beleza – mas ele
não estava. Ao certo, Brandon não sabia o que estava
sentindo. Não era culpa, nem mesmo satisfação, apenas
um sentimento rebelde e indecifrável.

Ele se levantou, colocou a primeira calça jeans que
encontrou pendurada no seu guarda roupa e saiu do
quarto suavemente para não despertar Megan. Ele sabia
que mais cedo ou mais tarde, ela acordaria e, de alguma
forma, teria que conversar sobre o que acontecera na noite
anterior. Mas Brandon ainda não estava preparado. Ele
desceu até sua cozinha para beber um copo d'água e esfriar
sua mente que ainda estava um pouco adormecida.

Quando Brandon voltou ao seu quarto, Megan já
estava de pé. Ela estava vestindo uma camisa social azul
clara que achara jogada no guarda-roupa e analisando as
fotos que estavam espalhadas pelo quarto, em alguns
porta-retratos.

-Espero que você não se importe – ela disse a
Brandon se referindo à camisa, quando percebeu a
presença dele.

-Tudo bem – ele respondeu. – Eu nem uso essa
camisa. Pode ficar com ela, se você quiser...


Megan sorriu timidamente, notando a gentileza de
Brandon.

Os dois foram até a cozinha tomar o café da manhã.
Megan fez panquecas enquanto Brandon arrumava a mesa.
Não era um momento usual para ambas as pessoas que
dividiam aquele espaço, já que pela primeira vez, depois da
morte de Rachel, Brandon tinha se relacionado
afetivamente com outra pessoa. E isso também valia para
Megan, que estava começando a deixar seu coração voar
livre novamente, já que o alojava trancado depois de seu
divórcio no Canadá.

-Você está precisando de ajuda aí? – brincou
Megan, enquanto Brandon colocava a toalha de mesa sem
cuidado.

-Muito engraçado – ele respondeu. – Aposto que
suas panquecas vão estar com gosto de carvão. – retrucou.

Os dois riram. Mas eles sabiam que por trás desse
bom humor, uma grande tragédia estava escondida.
Tamanha esta, que ocasionou numa aproximação afetiva
de uma mulher com pouco menos do dobro da idade de
Brandon Browser.

-Mas então – ele continuou – você gosta de sair
com caras mais novos?

Megan olhou torto, como se ela tivesse sido
insultada pelo comentário irresponsável.

-Eu não estou com você porque você é mais novo –
ela respondeu com um olhar austero. – Estou com você
pela pessoa que você é. E além de parecer muito teimoso,
sei que é um ótimo homem.

Brandon sentiu-se lisonjeado. Mas antes que ele
pudesse agradecer, Megan pôs três panquecas – que


realmente aparentavam estar deliciosas – no prato dele.
Sem mencionar mais palavras, ele devorou
apressadamente, como se não comesse algo tão gostoso há
mais de um ano.

-E então – Megan continuou. – minhas panquecas
estão com gosto de carvão? Pode admitir que eu sou uma
ótima cozinheira.

Brandon deixou seu orgulho de lado e admitiu – as
panquecas de Megan estavam realmente deliciosas.

Porém, antes que ele pudesse relaxar e degustar
seu café da manhã, Megan propôs um convite que caiu
como uma bomba na mesa de refeições e, se Brandon
estivesse com um pouco de comida na boca, com certeza
engasgaria.

-Brandon – Megan falou cautelosamente,
pensando se estava se precipitando demais – eu... bom...
você quer ir a um casamento no próximo final de semana?
Quero dizer... uma amiga minha vai se casar e eu não
conheço quase ninguém.

Em seus pensamentos, Brandon repugnou aquela
idéia. Primeiro porque ele ainda achava cedo demais
aceitar qualquer tipo de compromisso com alguém.
Segundo que seria um casamento e isso não faria nada bem
para seu ego, já que sua mente não escaparia do fato de
que ele poderia estar casado naquele momento com Rachel
Sawyer, se não fosse pelo...

-Eu topo! – ele aceitou, botando sua educação a
frente de seus princípios.

Brandon sabia de que aquilo poderia não ser uma
boa idéia. Ele também não descartou a possibilidade de
um possível transtorno emocional – idêntico aquele que


aconteceu no show da BeatDown – mas no final das contas,
estufou seu peito e encorajou-se a tentar mais uma vez.

Então, que comece o matrimônio!

*

Antes de se encontrar com Megan Mackenzie na
porta de casa, Brandon foi até a casa de seus pais para
pegar seu único terno e uma gravata de cor azul marinho.
Já havia um bom tempo que Brandon estava morando em
sua própria casa, mas ainda possuía muitas vestimentas e
utensílios deixados na casa de Edward e Hilary. Talvez
isso ainda significasse uma possível dependência perante
seus pais. Afinal de contas, nunca é fácil deixar seus laços
familiares por completo.

-Então quer dizer que meu filho vai a um
casamento acompanhado de uma garota? – Hilary
perguntou, assim que abriu a porta e avistou seu filho.

É claro que Brandon não iria contar a sua mãe que
estava saindo com uma mulher de trinta e sete anos. Ela
ficaria espantada se soubesse que o tradicionalismo de sua
família não estava sendo mantido da forma que ela
gostaria. E do outro ponto de vista, ela estava adorando o
fato de Brandon seguir sua vida.

-Acho que não posso ficar vivendo sempre no
passado – Brandon respondeu – não é mesmo mãe?

Hilary sorriu sinceramente para seu filho. A alegria
contagiava seu coração ao ver que as coisas estavam
finalmente se encaixando.

Os dois subiram até o antigo quarto de Brandon,
que agora se transformara em um novo escritório para


Edward resolver assuntos da Browser Cars quando ele não
estava presente em sua loja. Mas o antigo armário do
Brandon ainda estava lá – ainda com um pôster da banda
Nirvana se apresentando no Reading Festival e com algumas
roupas espalhadas.

-É estranho como você nunca jogou tudo isso fora

– Brandon disse, se referindo a algumas camisas velhas que
estavam amarrotadas dentro da segunda gaveta. – Você
poderia doar para alguma pessoa carente, ou
simplesmente levar tudo isso lá em casa.
-Eu deixo tudo isso aqui – Hilary continuou –
porque é um jeito de manter viva uma pequena parte da
sua história nessa casa.

-Faz sentido – ele respondeu – mas preciso me
trocar logo, mãe. E se eu continuar essa conversa, a
senhora irá começar a chorar e então, vou ter que ficar
para consolá-la – brincou.

Ele apanhou tudo o que estava precisando e, depois
de tomar um banho rápido, se vestiu e se perfumou para
encontrar Megan Mackenzie. Brandon se despediu de
Hilary, comeu um pedaço de bolo que ela acabara de fazer
e partiu de volta para sua casa.

Ao chegar, Brandon se deparou com Megan, que já

o esperava pacientemente. Ela estava demasiadamente
bonita e trajava um vestido longo de cor roxa sem muitos
detalhes, com apenas uma alça.
-Fico feliz de que tenha aparecido – Megan disse
ao se aproximar de seu par. – Achei que iria ficar
esperando você aqui na porta de sua casa para sempre.

-Eu não faria isso – ele galanteou. – Talvez com
outra garota, mas não com você – disse rindo.


Os dois entraram no carro de Brandon e partiram
em direção ao casamento, que aconteceria em uma
pequena cidade comercial, chamada Parmontana. A cidade
era próxima de Sant Grove, o que levava pouco menos de
quinze minutos para chegar.

-Você já foi até Parmontana? – perguntou
Brandon, enquanto dirigia seu carro e botava seu CD
gravado com suas músicas de rock preferidas.

-Você acha que só pelo motivo de eu ter morado
no Canadá por vários anos, eu nunca visitei a cidade mais
próxima de Sant Grove? – Megan o questionou indignada.

Brandon assentiu com a cabeça, querendo dizer
que realmente achara que Megan havia trocado sua vida
pelo tempo que passou no Canadá. Mas ele também não
poderia acusá-la de alguma coisa, já que nos últimos anos,
suas viagens só tinham ocorrido por causa dos shows que
a banda Atlanta fazia pelos arredores.

-Posso não parecer – Megan continuou – mas eu
sou uma pessoa muito consumista. E nada melhor do que
ir até as lojas de roupa que ficam no centro de
Parmontana... são as melhores!

Se aquelas eram as melhores lojas para comprar
roupas, Brandon não sabia. Mas ele tinha uma forte
intuição de que toda mulher adorava Parmontana por
causa delas. Rachel, Denise e Lilian sempre iam juntas até
lá para fazer umas "comprinhas básicas" – como elas
gostavam de chamar – e sempre voltavam com enormes
sacolas com roupas, sapatos e um cartão de crédito com o
limite extrapolado. Mas pessoalmente, Brandon achava
que toda mulher seguia esse estereótipo diferente do dele,


já que qualquer roupa estava boa para ele, desde que fosse
básica e sem muitos detalhes.

Quando chegaram naquela pequena cidade,
pegaram uma pequena estrada, com um enorme campo ao
lado, que dava o caminho direto para a igreja, fazendo com
que Megan ficasse um pouco decepcionada por eles não
passarem no centro comercial de Parmontana.

-Nós podemos passar em algumas lojas depois do
casamento – prometeu Brandon. – Mas o casamento já vai
começar e, se você atrasar e acabar chegando depois da
noiva, não é a minha pessoa que vai estar em uma situação
embaraçosa – ele disse rindo, enquanto sua acompanhante
mantinha sua expressão entristecida.

Porém, Megan concordou com a posição de
Brandon. Ela sabia que tudo o que ele havia dito era
verdade. E mesmo se ela discordasse de sua opinião, não
haveria mais tempo para voltar atrás, já que agora a
imagem daquela enorme igreja começara a aparecer atrás
de uma pequena colina. Os dois tiveram de estacionar o
carro e atravessar uma larga ponte que cortava um riacho
para chegar até a igreja – como todos os outros convidados
também haviam feito.

-Nunca tinha visto essa igreja antes – Megan falou.

– É muito bonita, por sinal – disse, enquanto apreciava sua
arquitetura romântica, com construções austeras e
robustas.
-Lógico que você não tinha visto – acrescentou
Brandon. – Para você, Parmontana é só aquele centro
comercial – ele fez piada com Megan, que não demorou em
dar um leve tapa em seu braço direito.


O que ela não sabia, era que Brandon também não
fazia a mínima idéia da existência daquela igreja. E
indiferente dela, Brandon também estava fascinado com a
imagem que seus olhos estavam vendo. Ele não conseguiu
parar de pensar na imagem dele e Rachel Sawyer fazendo
juras eternas à frente de todos seus conhecidos.

-Você não pensa em se casar? – Megan perguntou
a Brandon, sem perceber a gravidade de sua pergunta.

Brandon não se importou. Ele apenas balançou a
cabeça, segurou as mãos frias de Megan e entrou na igreja.

Na parte interior, compridas fileiras eram
separadas pela passarela onde a noiva entraria. Brandon e
Megan se sentaram na quinta, ao lado de um casal de meia
idade e três garotos de trezes anos que deveriam estar
achando aquele matrimônio uma tortura. Mas eles não
eram os únicos. Pouco a pouco, faíscas começavam a
acender no coração de Brandon, deixando-o tremular.

-Você está bem? – Megan perguntou ao perceber
seu receio.

Mas antes que Brandon pudesse pronunciar
quaisquer palavras, a música de início a união de duas
pessoas começou a tocar. O padre era um senhor de
cabelos brancos, baixo e gordo – provavelmente um
verdadeiro fã de macarronada, como pensou Brandon. – O
noivo tinha cabelos loiros e olhos pretos, sem mencionar
sua altura intimidadora. A noiva andava em direção ao
altar acompanhada de seu pai. Ela era negra e tinha uma
altura mediana, mas que se tornava pequena ao lado de seu
futuro marido.

Quando os noivos já estavam um de frente ao
outro, o padre estreou sua fala:


-Noivos caríssimos, viestes à casa da Igreja para
que o vosso propósito de contrair Matrimônio seja
firmado com o sagrado selo de Deus...

-Preferia estar em casa jogando videogame – bufou

o garoto ao lado de Brandon, fazendo com que Megan
começasse a gargalhar.
Brandon deu uma leve cotovelada na barriga de
Megan.
-O que eu disse sobre você ficar em uma situação
embaraçosa ainda pode estar valendo. – Brandon
sussurrou no ouvido de Megan, que se esforçava para
manter o controle de seu humor.

O casamento continuou na mesma intensidade e,
como o esperado, os noivos se casaram imaginando o quão
incrível a vida deles seria dali para a frente. Em
contrapartida a todo aquele clima, Brandon continuava
desiludido com tudo o que envolvesse paixão e amor. Para
ele, eram sentimentos que haviam se tornados extintos
após o trágico acidente que aconteceu em Fordville. Mas
esses sentimentos ainda estavam vivos para Megan
Mackenzie.

-O que você acha de dormir na minha casa hoje? –
ela perguntou a Brandon.

Ele aceitou o pedido sem hesitar, mas no fundo, ele
sabia de que poderia estar cometendo um grande erro. Não
iria ser fácil para Brandon continuar aquele ritmo de
descaso amoroso e, ainda por cima, ignorando seu passado
com Rachel.


CAPÍTULO 17

A volta para Sant Grove depois da festa de
casamento foi tranqüila. Brandon não colocou uma única
gota de bebida alcoólica em sua boca, então estava
plenamente capaz de encarar o curto caminho de volta.

Dirigindo sob o céu escuro, Megan estava com a
cabeça encostada no vidro do carro, adormecida. Muito
provavelmente, ela estava tendo sonhos confortáveis, já
que aquele dia tinha sido muito agradável. Por mais que
Brandon tivesse vinte e um anos – e esta era a primeira vez
que ela saia com alguém mais novo – Megan tinha achado
incrível sua companhia. Ele era doce, meigo e mesmo
sabendo que ele passava por uma situação delicada por
causa da morte de Rachel Sawyer, ainda conseguia manter
seu carisma.

Ao parar no primeiro sinaleiro, Brandon observou
Megan minuciosamente. Ele também gostava de sua nova
companheira, sem mencionar que ela era muito atraente.
Mas não era a mesma coisa, jamais seria. Ele sabia que
nunca encontraria alguém que pudesse substituir sua
antiga namorada. E enquanto ele ainda refletia sobre tudo

o que tinha passado, Megan abriu os olhos vagarosamente.
-Nossa – ela disse com uma voz preguiçosa. – eu
caí no sono sem perceber. Me desculpe.
-Quando vi que você estava dormindo – continuou
Brandon. – pensei seriamente em parar o carro e botá-la
para fora. Onde já se viu não fazer companhia a quem está
te dando uma carona? – ele brincou.

Megan segurou sua mão e apoiou a cabeça em seu
ombro. Ela estava satisfeita com aquele momento e queria


passar outra noite sentindo o calor de Brandon. Mas antes
que ela pudesse criar mais expectativas...

-Acho que eu vou para minha casa hoje. – falou
Brandon.

O olhar de Megan entristeceu, porém preferiu não
tocar no assunto. Ela sabia de que Brandon tinha seus
motivos para querer ficar sozinho um pouco. Além do
mais, Megan era uma psicóloga muito profissional.
Entretanto, Brandon fez questão de explicar a situação,
enquanto continuava acelerando seu Honda Civic.

-Você sabe... desde que minha namorada morreu, é
difícil para mim começar uma relação. Eu não quero que
você pense mal de mim, pois gosto muito de sair com você.
Mas acho que ainda tenho que botar muitas coisas no
lugar.

-Eu entendo. – Megan respondeu cabisbaixa.

-Mas nós vamos continuar mantendo contato... é
só um tempo que eu preciso pra organizar meus
pensamentos.

Megan assentiu com a cabeça enquanto eles
cruzavam a entrada de Sant Grove e então os dois
seguiram rumo a seus respectivos lares. Mas antes de cair
no sono em sua cama, Brandon não podia negar que
Megan abalava – mesmo que de uma forma singela – seu
pequeno coração.

Ele acordou no dia seguinte com um barulho
estranho do lado de fora de sua casa. Brandon não fazia
idéia do que estava acontecendo, então se descobriu,
colocou seus pés descalços no chão de seu quarto gelado e
foi observar pela janela.


Era Christina – a garota que teve Leucemia e que
participava da terapia em grupo – tacando pequenas
pedras na janela do quarto de Brandon.

-Desça aqui! – ela gritou quando Brandon apareceu
curioso em sua janela.

Ainda confuso pelo fato de Christina estar na porta
de sua casa, ele vestiu uma bermuda xadrez e um moletom
preto para atendê-la. Desceu as escadas de sua casa
apressadamente, lavou o rosto na torneira da cozinha e
abriu a porta.

-Achei que esse tipo de coisa só acontecia em
filmes e vídeo clipes – Brandon falou – você sabe... garotas
apaixonadas tacando pedras nas janelas de seus
pretendentes.

Eu não estou apaixonada por você, seu idiota! –
Christina falou, sem tentar parecer educada.

Brandon riu. Ele sabia que Christina não estava lá
para declarar seu amor, então teve que exaltar seu bom
humor, já que também não sabia o motivo da aparição
daquela garota naquele horário tão cedo. Brandon não
respondeu até Christina perceber que deveria começar a se
explicar.

-Cara – ela continuou. – você quer sair para tomar
um café?

Ainda duvidoso sobre o que estava acontecendo,
resolveu aceitar o convite de Christina, já que todo o
cereal, biscoitos e leite de sua casa tinha acabado.

-Tudo bem – ele respondeu. – mas você espera um
minuto para eu botar uma roupa de verdade?

Imediatamente, Brandon subiu até seu quarto,
pegou uma calça jeans preta e uma camisa cinza sem


estampa, foi até seu banheiro, lavou seu rosto de uma
forma convincente e desceu para saber o que Christina
realmente queria. Os dois caminharam até a cafeteria mais
próxima de onde Brandon morava. Era um lugar popular
para os amantes de cafeína que viviam na cidade de Sant
Grove. Inclusive, a família Browser sempre tomava seu
café da manhã naquele lugar que se chamava Street Coffee.

Ao chegarem lá, os dois sentaram na primeira mesa
livre que avistaram. Eles analisaram o cardápio e
rapidamente fizeram seus pedidos para a garçonete de
cara espinhenta – Brandon quis um cappuccino, Christina

o copiou.
-Então – Brandon iniciou a conversa, enquanto
brincava com a caixa de palitos de dente colocada sobre a
mesa – o que você tem pra falar?

Sem hesitar, Christina logo respondeu:

-É sobre Megan. Vocês estão saindo juntos?

Se Brandon já estava confuso, agora estava mais
ainda. Como Christina sabia do relacionamento dele com
Megan? E mesmo assim, por que ela iria querer se
intrometer nesse assunto pelo qual não tinha
participação?

Brandon a questionou.

-Bom... Megan me ligou ontem quando chegou do
casamento – confessou Christina. – você sabe... ela pode
ser minha terapeuta, mas nós somos amigas de verdade.
Ela conta tudo para mim e eu conto tudo para ela.

Ainda confuso, Brandon continuou ouvindo o que
Christina tinha para dizer, pensando se aquelas palavras
estavam realmente valendo a troca de seu sono.


-Ela me disse que está gostando de sair com você –
continuou, desviando o olhar da janela com o slogan da
cafeteria para os olhos chamativos de Brandon – e mesmo
Megan sendo uma ótima psicóloga, ela ainda tem
problemas com seu antigo marido no Canadá, você sabe...

Brandon não sabia, mas ainda escutava
pacientemente as palavras de uma amiga atenciosa.

-Você faz Megan se sentir melhor. Eu sei que você
tem seus próprios problemas, mas não deixe aquela
mulher incrível de lado. Afinal de contas, se você se
permitir, aposto que Megan pode te fazer muito feliz.

Interrompendo a conversa de Brandon e Christina,
a garçonete espinhenta entregou o pedido dos dois e
perguntou se eles não queriam algo mais. Eles queriam –
Brandon gostaria de ter sua falecida namorada de volta e
Christina adoraria nunca ter passado pela tortura que é
uma quimioterapia – mas eles não tinham a possibilidade
de mudar o passado, muito menos pedir isso à garçonete.
Os dois agradeceram gentilmente a atenção da garçonete e
tomaram um pequeno gole do cappuccino.

-Hummm – Brandon se deliciou. – isso aqui é
perfeito.

-Não mude de assunto – Christina insistiu. – Nós
viemos aqui para falar de Megan, não o quanto você adora
tomar café.

-Cappuccino! – Brandon a corrigiu, não investindo
na vontade de sua colega em continuar no mesmo tema.

-Bom – continuou Christina. – você sabe que
Megan é uma mulher incrível. E se você não valorizá-la,
poderá estar perdendo uma ótima oportunidade.


Brandon permaneceu quieto, como se estivesse
digerindo cada palavra dita por Christina. Ele não se
esforçou em respondê-la e isso fez com que ela deixasse
alguns trocados em cima da mesa, partindo sem se
despedir, deixando a função de pagar pelos cappuccinos
para Brandon.

-Você é o vocalista da banda Atlanta? – perguntou
timidamente a garçonete espinhenta, logo após Christina
sair da cafeteria.

-Bom... sou eu sim... quer dizer, era... é sou eu. – ele
respondeu gaguejando.

A garçonete prestou alguns elogios, dizendo que
também era uma grande fã da banda e que esperava
ansiosamente pelo próximo show. Brandon continuou
entusiasmando os sonhos daquela garota, mesmo sabendo
que não haveria mais nenhum show da banda – pelo
menos por enquanto. Ele pagou a conta e retornou para
sua casa, pensando em cada palavra que Christina havia
dito.

Será que ele realmente deveria apostar seu coração
em Megan Mackenzie?


CAPÍTULO 18

Um buquê de rosas e uma caixa de bombons de
chocolate no banco do carona – o pedido de desculpas
mais eficaz que Brandon já havia conhecido até então.
Afinal de contas, seu namoro de anos com Rachel tinha-o
feito praticar. Mas dirigindo seu carro naquele momento,
Brandon não estava indo em direção a casa da família
Sawyer e sim, à casa de uma bela mulher com os olhos da
cor do mar – Megan Mackenzie. Não que ele devesse seus
pedidos de perdão a ela, mas Brandon realmente queria
inverter sua imagem de "garoto que parte o coração de
mulheres no meio".

Em sua noite anterior, Brandon não conseguiu
fechar os olhos até o meio da madrugada. Sua cabeça
rodeava em torno de tudo o que Christina havia dito – sem
trazer à baila os conselhos diários que seus pais e amigos
davam de como ele deveria levar a vida. Mas na verdade,
tudo o que ele precisava era uma permissão para ser feliz
novamente e a única pessoa que poderia dar isso, era ele
mesmo.

Brandon estacionou seu carro na rua onde Megan
morava, ajeitou o cabelo cuidadosamente vendo sua
imagem pelo retrovisor, pegou as flores e os chocolates e
saiu em direção à casa dela.

Por fora, o domicílio onde Megan residia parecia
ser igual a todas as outras casas de classe média – pintada
a cores sutis, contendo uma garagem que abrigava um
carro e do lado de fora, um pequeno jardim que mostrava a
vida de flores bem cuidadas. Porém, antes que Brandon
pudesse observar com mais atenção todos os detalhes,


tocou a campainha impulsivamente e esperou a chegada
de Megan.

Vestindo uma calça jeans, botas e uma camisa
preta chique demais para ficar em casa, Megan atendeu a
porta sem conseguir disfarçar suas emoções.

-Brandon? – perguntou ela, surpresa.

-Isso é para você – ele disse, entregando seu "quite
de desculpas" a ela. – Eu precisava vir até aqui para você
me perdoar. Você é uma pessoa sensacional e eu adoraria
ter a oportunidade de lhe conhecer melhor.

Megan segurou firmemente os presentes que havia
ganhado e cheirou profundamente as flores, sem conseguir
conter um enorme sorriso.

-Você é um garoto muito fofo – ela falou com seus
olhos brilhantes – e até te convidaria para entrar, mas
estou de saída... eu vou almoçar com meu pai no
Restaurante Vanguard.

Brandon amenizou sua alegria. Sendo uma pessoa
impaciente, ele não queria esperar para sair com a mulher
que estava posta à sua frente. Impulsivo, ele queria tudo
naquele exato momento.

-Por que você não vai comigo? – ela perguntou
festivamente. – Jesse adorou jogar pôquer com você e...
bem, meu pai vai adorar ter uma companhia nova.

Por um momento, Brandon hesitou. Afinal de
contas, o que o pai de Megan pensaria ao ver sua filha
saindo com um garoto dezesseis anos mais novo que ela? E
se ele fosse o tipo de pai que odeia ver a filha acompanhada
de um homem? De qualquer forma, era melhor jogar todos
os pensamentos infelizes fora. Brandon já havia se
preocupado demais ultimamente.


-Tudo bem – ele respondeu. – mas eu não estou... –
tentou dizer, apontando para seus tênis Converse e sua
roupa pouco amarrotada.

-Você está ótimo – Megan respondeu, já o
empurrando para o carro. – e você é ou não uma estrela do
rock? Os rockstars não ligam para o que os outros pensam.

Por fim, ainda receoso, Brandon aceitou o convite
de Megan. Era óbvio que ele estaria mais satisfeito se os
dois fossem assistir a um filme, dar uma volta no parque,
ou então, um piquenique na Colina Grove. Mas Brandon
sabia que criar muitas expectativas nunca fora uma boa
idéia.

O Restaurante Vanguard era grande e luxuoso.
Toda sua estrutura era baseada na mitologia grega – na
parte de fora, uma estátua de Zeus segurando um raio
instigava as crianças (e até mesmo alguns adultos) a
tirarem uma foto; na parte de dentro, quadros do Monte
Olímpo e alguns pilares aconchegavam as pessoas que
degustavam suas refeições saborosas – claramente, um
lugar não tão apropriado para calçar um tênis Converse,
usar uma calça jeans amarrotada e uma blusa qualquer. E
Brandon sabia de tudo isso, já que tivera inúmeras vezes
com seu pai Edward e sua mãe Hilary naquele restaurante.

Ao chegarem ao estacionamento, o manobrista
pegou as chaves do carro de Brandon e estacionou seu
carro com imensa facilidade em uma pequena vaga entre
duas BMWs.

-Acho que nunca vou conseguir dirigir tão bem
assim – Megan disse, enquanto caminhava junto a
Brandon em direção à entrada do restaurante. –


principalmente depois... – sua voz vacilou, não a deixando
completar a frase.

Brandon não insistiu na conversa com Megan. Ele
estava nervoso demais para prestar atenção nas palavras
dela. Mas antes que pudesse desistir do almoço com a
família Mackenzie, um recepcionista japonês muito
parecido com Jet Lee deu, entusiasmadamente, suas boas
vindas ao casal, perguntando-lhes onde gostariam de se
sentar.

-Nós já temos um lugar – Megan respondeu
educadamente. – meu pai reservou. Acho que ele já deve
estar aqui.

-Ah, claro! -falou o recepcionista, levando
Brandon e Megan até onde o pai dela estava.

Jesse Mackenzie estava sentado em uma mesa para
duas pessoas, vestindo uma bela camisa social de cor
salmão e apreciando uma garrafa de vinho tinto. Ele
esperava ansiosamente pela chegada de sua filha, mas não
esperava por mais companhia.

-Olá pai – ela o cumprimentou, beijando-o no
rosto. – trouxe Brandon comigo. Você se lembra dele?

-Não acredito que você trouxe esse garoto aqui. –
Jesse disse, incendiando seu olhar imediatamente.

Brandon engoliu seco, já que não estava esperando
ser tratado de forma rude pelo pai de Megan. Ele entendia

o fato de um pai querer almoçar somente com sua filha,
mas não o fato de tamanha grosseria. Com as bochechas
coradas de vergonha, Brandon estava quase se despedindo
de Megan e partindo para sua casa novamente, mas foi
interrompido antes que fizesse.

-É brincadeira rapaz – falou Jesse rindo. – É lógico
que você pode almoçar conosco... seria um prazer. Mas
espero que você não tenha intenção de jogar pôquer, senão
vou ter que pegar toda a sua grana novamente.

Brandon e Megan suavizaram. Os dois haviam
passado por muitas tensões ultimamente, era lógico então,
de que iriam se desacostumar com as piadas e brincadeiras
de Jesse e de outras pessoas.

-Mas vamos ter que ir para uma mesa maior –
completou Megan. – já que você fez o favor de reservar
uma mesa para duas pessoas. Você sabe que eu não gosto
de comer apertada. – ela culpou seu pai, não faltando com
seu bom humor.

-Tome cuidado com ela – Jesse alertou Brandon,
enquanto enchia mais uma taça com vinho. – Megan é uma
mulher muito insatisfeita.

-Eu já estou me acostumando. – respondeu
Brandon, olhando para Megan, que ia andando em direção
ao recepcionista para tentar conseguir uma mesa maior.

Após uma mesa ser liberada por uma família de
agricultores bem-sucedidos, os três sentaram e analisaram

o cardápio. Jesse ainda bebia seu vinho com prazer, mas
foi o primeiro a abrir a boca para falar sobre a comida.
-Me diga jovem – ele falou a Brandon. – onde está
aquela sua bela namorada que conhecemos em Fordville?
-Pai! – Megan o chamou atenção, com um olhar de
"você não deve tocar nesse assunto aqui".
Jesse se calou. Depois de toda tensão que se
estabeleceu entre os três, o pai de Megan percebeu que
aquele não era um assunto no qual o convidado se sentiria
confortável em falar. Ninguém se sentiria.


-Que tal pedirmos a comida? – insistiu Megan.

Imediatamente, todos concordaram. Seria muito
mais fácil falar sobre o quanto a comida do Restaurante
Vanguard estaria deliciosa a continuar naquele clima
tenso e constrangedor.

-Particularmente – falou Jesse apetitosamente. –
acho que seria uma ótima idéia pedirmos um peixe
grelhado.

Como na maioria das vezes, Megan discordou com
a proposta que seu velho pai havia feito. Ela sugeriu que
pedissem uma macarronada ao molho vermelho, ou então
uma lasanha. Porém, suas expectativas afundaram em um
oceano profundo quando Brandon optou pela escolha de
Jesse.

-O garoto tem bom gosto. – comentou Jesse, dando
leves tapas no ombro de Brandon.

Comentários e críticas a parte. Quando o almoço
chegou, o silêncio pairou na mesa onde o trio faminto se
encontrava. Até mesmo Megan não conseguiu negar que o
peixe grelhado estava de dar água na boca. Fazia tempo
que todos ali – especialmente Brandon – não comiam algo
tão saboroso.

Sem deixar as brincadeiras de lado, Jesse
continuou com seus comentários fora de hora:

-Então filha, sentindo saudades das refeições do
hospital? Até parece que seu ex-marido te amaldiçoou por
você ter deixado o Canadá.

Imediatamente, Megan enraiveceu e lançou o olhar
mais furioso que ela conseguiu fazer a seu pai, o mesmo
olhar que ela tinha feito momentos antes quando Jesse
perguntou sobre Rachel.


Não ficando para trás, Brandon percebeu que o
anfitrião daquele almoço havia tocado em um assunto
delicado outra vez, porém, agora não havia nada
relacionado a ele. Sendo assim, preferiu ficar calado ao
invés de apertar as feridas de Megan Mackenzie, que até
então ele desconhecia. Mas era impossível não perceber
que toda vez que Jesse tocava no assunto do casamento
infeliz de Megan, a ira dela transparecia de forma radical.

Quando acabaram de comer, Jesse Mackenzie
pagou a conta e saiu do restaurante na velocidade de um
cometa. Aparentemente, ele encontraria com alguns
amigos para ver a partida de basquete do time local que
passaria na televisão em poucos minutos.

-Agora que estamos a sós – Megan disse a
Brandon, enquanto seu pai saia do restaurante. – o que
você acha de passar a noite na minha casa? Podemos
assistir a um filme, tomar um vinho...

-Agora que estamos a sós – continuou Brandon,
não controlando sua crescente curiosidade. – você não
gostaria de falar um pouco mais sobre a sua história? Você
sabe... seu casamento falido.

Megan fechou seus olhos pouco entristecidos. Era
evidente de que ela não gostaria de falar sobre seja lá o que
tivesse acontecido. Mas teimosamente, Brandon insistiu.

-Você pode me falar... eu vou entender.

-Brandon – Megan o chamou atenção. – eu não
quero tocar nesse assunto.

-Não consigo entender – continuou Brandon,
achando que conseguiria arrancar quaisquer informações
de Megan. – você é psicóloga, coordena as terapias em


grupo e adora ouvir os problemas de outras pessoas, mas
quando são seus próprios demônios...

-Olha quem fala... – Megan o interrompeu,
lembrando a vez em que Brandon apareceu no Clube
Mayers.

As duas pessoas que antes estavam apreciando a
companhia alheia, agora estavam em um campo de guerra.
Atirando com suas munições escassas, para saber qual dos
dois aparentava ser mais covarde.

-Bom – Megan continuou. – eu te fiz o convite. Se
você quiser aparecer em casa, pode ir... mas não pense que
vou ficar me lamentando para você.

Então, Megan levantou e se retirou do Restaurante
Vanguard, deixando Brandon sozinho, sentado junto com

o que havia sobrado de sua comida e sua esperança de ser
uma pessoa melhor.

CAPÍTULO 19

Indo de volta para sua casa, Brandon revirou seus
pensamentos para saber o que deveria dizer à Megan
Mackenzie. Achar as palavras certas nunca tinha sido seu
ponto forte. Muito pelo contrário, se ele não tivesse
pronunciado certas palavras no Restaurante Vanguard,
sua situação estaria bem melhor e assim, ele não teria de
lutar contra si mesmo para saber qual seria a coisa certa a
fazer.

Após esfriar sua cabeça, Brandon foi até a cozinha
vestindo sua melhor camisa xadrez. Ele abriu o armário
que ficava acima de seu fogão e pegou a única garrafa de
vinho que tinha. Até onde ele sabia, a família Mackenzie
era uma grande apreciadora de vinhos e aquilo só
aumentava sua qualificação no conceito de Megan.

Mas antes de sair de casa, Brandon se olhou no
espelho e pensou fielmente em aproveitar sua vida de
forma mais dinâmica, excluindo a possibilidade de ficar
preso na metódica da culpa por ter perdido sua amada
Rachel Sawyer.

Já dentro do carro, Brandon dirigia ao som do CD
demo de sua banda Atlanta e por um breve momento,
mentalizou as tantas outras coisas que deveria fazer na sua
vida – talvez tentar novamente fazer algumas músicas com
seus amigos Allan e David, terminar a faculdade, viajar
para fora do país – milhões de pensamentos
entusiasmavam sua vontade borbulhante. E antes que ele
pudesse planejar seu futuro, Brandon se pegou parado na
frente da casa de Megan com sua garrafa de vinho em
mãos.


Despreocupado, ele tocou a campainha estridente.

Ao atender a porta, Megan não disse uma única
palavra. Seus olhos verdes e maduros já conseguiam
mostrar sua felicidade intensa ao ver Brandon disposto a
abraçar sua vida e esquecer o acontecimento passado.

-Fico feliz que tenha vindo. – ela disse olhando no
fundo de seus olhos, que também brilhavam intensamente.

-Eu sei que você só está sendo carinhosa porque eu
te trouxe essa garrafa de vinho. – Brandon disse, mantendo

o seu bom humor dentro de cena.
-Droga – Megan exclamou. – você descobriu o meu
segredo.

Mas não, Brandon ainda não havia descoberto.

Os dois riram e entraram para dentro da casa,
deixando todos os ressentimentos para o lado de fora.
Naquela noite, em especial, nenhum deles pretendia falar
sobre suas fraquezas. Brandon e Megan queriam apenas
aproveitar o calor que um tinha a oferecer ao outro sem
que nada pudesse atrapalhar.

-Vamos para o meu quarto. – propôs Megan,
apontando a direção que ele deveria seguir.

Enquanto Brandon andava até seu quarto, Megan
correu até sua cozinha bagunçada e pegou duas taças de
vidro para que eles pudessem apreciar o vinho.

Já sentado na cama, Brandon esperou-a observando
meticulosamente aquele quarto – a televisão que ficava
anexada à parede estava ligada, passando um filme velho
de romance; os bombons de chocolate que ele havia dado
já estavam acabados, deixando apenas a embalagem jogada
na escrivaninha; roupas estavam jogadas por todo o quarto

– nada daquilo era um bom sinal. É lógico que tudo aquilo

poderia não significar nada. Mas no fundo, Brandon sabia
que Megan estava passando por uma situação delicada. O
que ele não sabia, era por que a Megan atual estava tão
mudada daquela Megan que ele conhecera em Fordville.
Lógico que o seu humor contagiante ainda era evidente e
seu jeito maduro ainda era impressionante, mas alguma
coisa permanecia desajustada.

-Nossa – Megan disse ao chegar em seu quarto,
segurando as duas taças. – me desculpe pela bagunça...
deixe-me arrumar isso.

Apressadamente, ela começou a retirar algumas
roupas que estavam em cima de sua cama. Porém, todo o
seu trabalho de organização foi interrompido quando
Brandon começou a beijar seu pescoço e acariciar seus
braços.

Como já era de se esperar, Megan retribuiu ao
galanteio de Brandon e o beijou.

-O que você acha de abrirmos a garrafa agora? – ela
perguntou.

Brandon concordou, já enchendo as duas taças. Os
dois brindaram e deram seus primeiros goles com seus
olhares entrelaçados.

Juntos naquele quarto, ninguém poderia negar a
paixão crescente no coração da mulher e do garoto.
Quebrando os paradigmas da sociedade, Brandon e Megan
não estavam dando a mínima importância para o que
poderia acontecer depois.

Quando terminaram de beber a garrafa de vinho, os
dois adormeceram na noite, incendiando amor, deixando
os instintos mais apaixonantes explodirem em seus
corações agatanhados.


*


Ao acordar naquela manhã gélida, Megan não viu Brandon
deitado ao seu lado. Um sentimento estranho provocou
calafrios por todo o seu corpo, como se a ausência dele não
significasse algo bom. Porém, Megan preferiu pensar que
Brandon tinha ido tomar um café, ou que ele havia saído
para dar as caras na loja de seu pai Edward.

Vagarosamente, ela colocou os pés no chão, se
levantou e vestiu uma blusa longa e felpuda para se
esquentar. Abrindo a janela de seu quarto, ela percebeu
que o carro de Brandon ainda estava estacionado no
mesmo lugar que ele parara na noite anterior. Ele ainda
estava na casa dela e isso a confortou levemente.

Depois de pentear seus cabelos e lavar o rosto, ela
seguiu em direção até a sala. Brandon estava sentado no
sofá segurando firmemente um retrato de moldura
marrom. Ele não parecia estar bem, muito pelo contrário,
parecia estar atormentado e com todo o peso do mundo
jogado novamente em suas costas.

-Brandon – Megan disse, mantendo sua
preocupação. – está tudo bem?

Ele não abriu a boca. O silêncio tomou conta de
toda a sala e os olhos de Brandon ainda não haviam sido
retirados daquele retrato. Uma tormenta começou a
chacoalhar dentro de Megan, que agora pensava: "Será que
ele descobriu?".

Cautelosamente, ela andou até Brandon e segurou
suas mãos, tentando fazer com que ele desviasse seu olhar
e visse a sinceridade em seu olhar. Mas ele não conseguia.


Brandon estava petrificado por fora e por dentro, um
furacão destruía toda a sua auto-estima que outrora lutava
para se recuperar.

Megan começou a beijá-lo na testa, mas não houve
retribuição. E sem que Megan esperasse, Brandon enfim,
falou:

-Você a matou.

O coração de Megan gelou e seus pelos arrepiaram.
Ela finalmente tinha escutado as palavras que ela lutava
para irem embora de sua memória todos os dias.

Brandon, ainda olhando para o retrato, sabia que
não poderia levantar seu olhar e encarar Megan. Se fizesse,
coisas que antes eram inimagináveis, poderiam acontecer
naquela pequena moradia.

-A culpa não foi minha – Megan tentou explicar,
enquanto derramava suas lágrimas. – foi... foi um acidente.

Agora tremulando, Brandon havia deixado o
retrato de Megan cair no chão. Nele, uma foto de Megan
com seu pai Jesse – ambos encostados numa caminhonete
vermelha, com a placa "RCX 554".

Lutando para não acreditar, Brandon agora sabia
da verdade: fora Megan que havia batido no carro que
Rachel dirigia em Fordville. Por causa disso, nenhuma das
duas aparecera no concerto da banda Atlanta. E também
por causa disso, Brandon tinha perdido o amor de sua
vida.

-Era Rachel... – Brandon falou olhando para o
nada. – era Rachel que estava no carro naquela noite em
Fordville.


Megan tentou falar, mas suas palavras não saiam. E
pela primeira vez, olhando diretamente nos olhos dela,
Brandon gritou:

-Você matou a minha namorada!

Suas lágrimas cederam à pressão do momento e
cobrindo seu rosto com suas mãos calejadas, Brandon
chorou sem nenhuma vergonha.

Ao mesmo tempo, Megan estava sentada ao chão,
totalmente desiludida, descobrindo os reais sentimentos
que Brandon carregava em seu peito.

Megan realmente não fazia idéia de quem era a
garota que dirigia o Jipe naquela noite em Fordville. Afinal
de contas, ela não fora culpada pelo acidente – já que
Rachel havia cruzado o sinal vermelho. Mas todos os dias,
uma culpa não tão diferente da que Brandon sentia, corria
em seu coração ao saber que tinha provocado a morte de
uma pessoa. Não foram dados nomes a ela, especificações
do carro que colidira com sua caminhonete, entre outros
fatores. Mas Megan sabia desde o início que uma pessoa
tinha morrido. E agora, ela descobrira que essa pessoa era
Rachel Sawyer – a pessoa que se casaria com o garoto com
quem ela estava saindo.


CAPÍTULO 20

Um mês havia se passado desde que Brandon
descobrira que Megan tinha colidido o carro e causado a
morte de Rachel Sawyer. Para ele, aquela informação ainda
não tinha sido digerida e muito provavelmente, nunca
seria. A culpa que ele estava afastando de si
gradativamente, tinha voltado com força total para rasgar
suas cicatrizes recentes. Seus pensamentos voltaram a
girar em torno da possibilidade de Rachel ter morrido
porque ele a deixou ir sozinha até Fordville Convention. Sem
mencionar, que ele tinha se relacionado com a mulher que
interferiu diretamente no destino de sua vida. E isso só
fazia com que Brandon mergulhasse ainda mais no caos de
suas perturbações.

Todos seus amigos e familiares ainda não sabiam o
que tinha ocasionado aquela transformação de humor
repentina nele. Ele não se comunicava com seus pais, com
Allan, David e principalmente, com Megan. O telefone e a
campainha de sua casa tocavam todos os dias por alguém
que quisesse uma explicação, mas Brandon não dava.
Dessa vez, ele realmente tinha se isolado por completo do
mundo em que vivia.

As palavras "fé" e "esperança" não existiam mais em
seu dicionário. Sua perspectiva de vida estava reduzida a
cinzas. Seus objetivos, ideais e sonhos haviam sido
reciclados, tornando-se uma depressão sem fim. Porém,
Brandon ainda tinha algo a fazer.

Naquele dia nublado, Brandon acordou indisposto
e sem vontade. Tomou apenas um suco de laranja que
estava guardado em sua geladeira e saiu com seu carro em


direção ao Cemitério Van der Sant, vestindo uma calça
jeans velha e uma camisa preta desbotada.

O túmulo de Rachel estava coberto com flores e
cartazes que eram semanalmente entregues por James,
Denise ou Lilian. E dessa vez, seria acrescentado algo que
Brandon havia preparado – uma imensa carta relatando
todos os momentos e as emoções mais reais guardadas em
seu coração.

Diferente do habitual, dessa vez Brandon não
deixou suas lágrimas escorrerem. Seu rosto estava pálido e
seu olhar distante – como se tivesse perdido sua alma e
dilacerado seu coração.

-Tenho certeza de que ela está em um lugar melhor

– um senhor tentou confortar Brandon, aparecendo
inusitadamente.
Brandon olhou para trás irritado. Ele queria apenas
um momento a sós com Rachel, mas essa oportunidade
havia sido interrompida pelo idoso de cabelos brancos.
Aquele homem devia ter pouco mais de sessenta anos,
usava um óculos com aros grossos, vestia uma roupa social
bege e estava completamente sozinho naquele cemitério –
e mesmo percebendo esses detalhes rapidamente, Brandon
não foi capaz de prestar sua benevolência para com ele.
Mas sem se deixar intimidar, o envelhecido homem
continuou a conversar.

-Meu nome é Jim – ele se apresentou a Brandon,
que ainda não estava dando atenção. – quando minha
mulher faleceu, eu perdi meu rumo. Consigo ver que você
também perdeu o seu.

Por fim, Brandon se virou e encarou Jim com seus
olhos sem vida.


-Quem é você para vir aqui e falar isso? Você não
me conhece... eu não me conheço. – ele disse com raiva em
suas palavras.

E antes que Jim pudesse começar a aconselhá-lo,
Brandon se levantou e correu euforicamente para fora do
cemitério. Todo aquele ambiente era pesado demais para
ele. Suportar o clima de perda já não fazia mais parte de
seu universo.

Entrando no seu carro, Brandon dirigiu até
Fordville apressadamente. Porém, ele foi obrigado a parar
na estrada por alguns policiais que fiscalizavam
motoristas suspeitos de ter ingerido bebida alcoólica.
Brandon não havia bebido nada, além de um suco de
laranja com a validade vencida, então foi liberado
imediatamente. Porém, antes que ele pudesse voltar ao seu
carro e seguir seu caminho, ele parou no meio da estrada
sem movimento e observou todos os detalhes – todas as
árvores com troncos robustos, os pássaros que viajavam
pelos ventos e a pista que carregava a alma ensangüentada
de Rachel Sawyer.

-Algum problema garoto? – gritou o policial
careca, ao avistar Brandon desnorteado no meio da
estrada.

Não houve resposta.

-Nós sabemos que você não está bêbado – disse
outro policial. – mas você está agindo feito um cara muito
doido, meu camarada. Saia já daí. – gritou ele, empurrando
Brandon em direção ao seu carro, que permanecia parado
no acostamento.

Ainda com sua mente fora daquele contexto,
Brandon entrou em seu carro e continuou seu caminho até


chegar na cidade de Fordville. Ele passou pela placa de
boas vindas da cidade mostrando seu dedo do meio para o
desenho do crocodilo de óculos de sol fazendo piquenique.

Brandon dirigiu até o restaurante onde ele e Rachel
tiveram sua primeira refeição em Fordville e fez questão de
pedir a mesma de sua última vez – um delicioso filé de
frango à parmegiana acompanhado de uma limonada com
duas pedras de gelo e bastante açúcar. Ele olhou para a
cadeira a sua frente – que agora estava vazia – e lembrou
da garota com o sorriso mais bonito que ele já havia visto,
misturando seus melhores e piores sentimentos.

Após pagar a conta, Brandon dirigiu até o lago mais
famoso da cidade. Ele andou vagarosamente, observando
com cuidado para achar algum crocodilo. Infelizmente,
não obteve sucesso. Enfim, Brandon se deitou na grama,
abaixo de uma árvore que havia sido colonizada por uma
família de esquilos. Era uma imagem confortante para
quem olhasse de longe, mas chegando mais perto, era
possível observar o terror nos sinceros olhos de Brandon
Browser.

Pouco mais de vinte minutos se passaram, quando
uma nuvem negra jorrou suas águas para fora. A chuva
espantou todas as famílias e animais que ali estavam, mas
Brandon permaneceu despreocupado, recebendo a
purificação que caia do céu. Seja lá qual fosse o sinal que
Deus queria mandar para aquele triste garoto, Brandon
pareceu não se interessar. E depois de enjoar da chuva
caindo em seu rosto, ele se levantou e foi em direção a
Fordville Convention.

O lugar estava exatamente igual da última vez que
a banda Atlanta compareceu, mas na visão de Brandon,


tudo parecia mais sombrio e aterrorizante. Logicamente,
era aceitável essa concepção de Brandon, já que o pior
momento de sua vida acontecera no camarim daquele
estabelecimento.

A lua aparecia vagarosamente por trás das enormes
montanhas de Fordville quando Brandon resolveu entrar
lá. Um segurança negro fumava seu cigarro rotineiro
quando Brandon resolveu pedir-lhe a permissão para
entrar naquela casa de shows, que raramente abria suas
portas num horário tão cedo quanto aquele.

-Boa tarde... ou boa noite – Brandon disse,
tentando ser o mais educado possível. – será que eu
poderia entrar aí por um minuto? – perguntou ele,
apontando para a porta principal.

O segurança conseguiu escutar tudo o que Brandon
havia falado, mas ele pareceu não se importar com a
curiosidade daquele garoto.

Ignorado, Brandon continuou firme, tentando fazer
com que o segurança mal humorado aceitasse sua entrada.
Mas todas suas palavras pareciam não interferir em nada.
Até que uma luz brilhou em sua mente.

-Você pode ficar com isso -Brandon ofereceu seu
relógio ao segurança. – só basta me deixar entrar por
alguns minutos.

Sem pensar duas vezes, o segurança pegou as
chaves que estavam guardadas em seu bolso e trocou pelo
relógio, permitindo a entrada de Brandon. Tudo lá dentro
estava apagado e ele não conseguiu enxergar os detalhes
que observou no dia do show. Porém, o peso do ambiente
em seus ombros enfraquecidos ainda estava presente – o
pedido de casamento na frente de tantas pessoas, a música


inédita que ele tinha feito para Rachel, a informação mais
infernal que ele havia recebido. Sem suportar, ele saiu
eufórico.

-Não vou precisar mais disso. – Brandon disse
enquanto passava pelo segurança, dando as chaves que
estavam consigo.

O segurança murmurou algumas palavras
insatisfeitas, mas não recebeu a atenção de Brandon, que
corria até seu carro. Tremulando, ele saiu daquela rua
cantando pneu e fugindo dos fantasmas que estavam
guardados em seu passado sombrio. Contudo, a breve
viagem até Fordville ainda não havia acabado. Brandon
precisava ir até mais um local – o Hotel Del Mare.

Chegando lá, Brandon passou pela mesma estátua
do anjo que ficava na entrada sem mostrar veemência.
Muitas coisas corriam pela sua cabeça naquele momento e
seu tempo era precioso demais para gastar apreciando
uma escultura bonita.

-Posso lhe ajudar? – perguntou a mesma
recepcionista da última vez, ao ver Brandon estagnado em
sua frente.

-Eu quero ficar no quarto 534. – ele disse
confiantemente, segurando a única mochila que carregava.

A recepcionista verificou em seu computador se o
quarto que Brandon pedira estava disponível -por sorte,
estava. Ela entregou-lhe as chaves e indicou como fazia
para chegar ao quarto, não se lembrando que já havia
atendido e prestado as mesmas informações a Brandon
alguns meses atrás.

Ele subiu pelo mesmo elevador e entrou no mesmo
quarto. Quando acendeu as luzes, ele pode observar tudo o


que tinha visto da última vez – o frigobar, a televisão de
plasma, os móveis, o banheiro, a cama em que ele e Rachel
fizeram amor pela última vez – uma nostalgia forte e
avassaladora.

Naquele momento, Brandon teve certeza do que
tinha de fazer. Talvez aquela não fosse a melhor opção,
mas com certeza era a melhor saída para acabar com sua
culpa e depressão. Então, Brandon abriu sua mochila e
pegou um revólver calibre 38 que levava como sua única
bagagem. Ele o apontou para sua cabeça e sem pensar duas
vezes, apertou o gatilho.


PÓSFACIO

Ansiedade, medo, felicidade, insegurança – estes e
muitos outros eram os sentimentos que faziam parte da vida
de Brandon Browser. Entretanto, uma vez que a falta de amor
tomou conta de seu coração, ele sabia que suas emoções mais
diversas não teriam mais importância. Tão óbvio, depois da
perda da essência de seu viver.

Mas como alguém pode dizer como se deve agir após
uma tragédia? A vida não é uma equação matemática em que
pegamos todos os elementos e formamos um resultado que
sirva de resposta para todas as pessoas que necessitam (e
muitas vezes não querem) ouvir o que os outros têm a dizer.

Brandon escolheu o seu caminho. E mesmo que tenha
sido um ato covarde e um tanto quanto irracional, sua
consciência estava confortada para sempre – longe da culpa
amarga que corroia seu coração dolorosamente – assim como
ele queria que estivesse. Porém, aquele gesto de
inconformidade não amenizaria a dor das pessoas que se
importavam com ele – seus amigos, sua família, todos os que
um dia cruzaram seus caminhos com aquela pessoa cativante
que era. Mas isso não importava mais para Brandon, nada
mais importava.

Muitos ainda se perguntavam no que ele estava
pensando quando fez aquilo. Mas ninguém, além dele
mesmo, poderia responder essa pergunta. Talvez sua vontade
de ficar mais próximo de Rachel Sawyer, talvez fugir da
rotina torturante de lembranças que ele presenciava todos os
dias em Sant Grove, ou simplesmente por achar que sua
existência não tinha mais sentido algum.

Independente dos motivos, aquele coração eufórico
que circulava sangue quente finalmente estava em paz. E


Brandon, finalmente havia encontrado a liberdade que tanto
almejava – pena que para isso, tivera de silenciar seu coração,
que trovejava sons bonitos demais para serem deixados
apenas na memória.


O Silêncio do Coração - Murilo Vianna

Link:http://www.ziddu.com/download/16564883/OSilnciodoCorao-MuriloVianna.rar.html





Esta obra conta a história de Brandon Browser, um jovem de 21 anos de idade que divide seu tempo entre sua banda de rock, seu trabalho e sua bela namorada Rachel. Dando um passo de cada vez em sua vida, ele já tem planos de se casar, mostrar sua música para o maior número de pessoas e viver a vida que sempre sonhou. Entretanto, quando é convidado para tocar com seu grupo em uma cidade vizinha, um acidente ocorre exatamente no dia do evento, fazendo com que sua vida vire na contramão. Agora, será a decisão de Brandon afundar em suas mágoas ou encarar o que o destino lhe guarda.

Primeiro livro de Murilo Vianna, publicado pela Editora Catrumano, "O Silêncio do Coração" é um romance que mantém a balança equilibrada entre diálogos bem humorados e uma série de acontecimentos intensos e dramáticos.




Boa leitura
Abraços.

M. Loureiro

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"Tudo aquilo que não podemos incluir dentro da moldura estreita de nossa compreensão, nós rejeitamos."

Henry Miller





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