quarta-feira, 19 de dezembro de 2012 By: Fred

{clube-do-e-livro} Carlos Pereira - Novas Utopias, Reflexões de um padre após a morte, Dom Hélder Câmara, em anexo

NOVAS UTOPIAS


CARLOS PEREIRA


Espírito


DOM HÉLDER CÂMARA


Reflexões de um padre depois da morte

Novas Utopias traz de volta a figura notável de Dom Hélder
Câmara, agora na condição espiritual. E a coletânea de 52 textos
ditados pela psicografia de Carlos Pereira. Os textos revelam as
reflexões de um religioso que mesmo depois da morte não
aposentou sua luta em defesa da causa dos mais humildes e contra
as injustiças sociais, além de avaliar as principais ansiedades
humanas, tendo sempre como referência sua profunda religiosidade
e sua coerência com os ensinamentos cristãos.

Nos textos, Dom Hélder Câmara revela-se, como era habitual, urna
alma inquieta; questionador dos paradoxos do dia-a-dia;
inconformado com o status quo; e provocante, no sentido de
suscitar no leitor uma atitude de mudança.

Novas Utopias é um livro instigante porque traz ao debate a
temática da imortalidade do ser, da dimensão transcendental e da
relação intermundos, a espiritual e a física, independentemente da
crença religiosa.

"Por acreditar firmemente numa vida nova, numa vida diferente,
achavam-me alguns um lunático. Outros, mais condescendentes,

#
um visionário. Nem uma coisa nem outra, apenas trabalhava com a
realidade divina nas nossas vidas. (...) se a isso alguns gostariam de
denominar, a minha enorme crença em Deus e num futuro diferente
do que vivia, de utopia, pode crer que sim. A utopia é a essência da
crença divina em nossas vidas. Sem a utopia, os homens já teriam
deixado de existir há muito tempo."

Dom Hélder Câmara, em Novas Utopias.

Dom Hélder Pessoa Câmara nasceu em 07 de fevereiro de 1909, em
Fortaleza, no Ceará, de uma família de treze irmãos. Ordenou-se
padre aos 22 anos de idade. Em 1936 vai para o Rio de Janeiro, onde
se torna Bispo-auxiliar em 1952, ano em que cria a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da qual é seu Secretário-
Geral por doze anos. Em 1964 é nomeado Arcebispo de Olinda e
Recife.

Durante o período do regime militar, Dom Hélder Câmara foi
perseguido e, inclusive, proibido de ter seu nome citado na
imprensa brasileira durante sete anos. Defensor dos direitos
humanos e com repercussão internacional, Dom Hélder teve seu
nome cogitado para o Prêmio Nobel d Paz em 1970.

Autor de diversos livros, a maioria ensaios e reflexões sobre a Igreja
e o Terceiro Mundo, Dom Hélder Câmara também recebeu 32
títulos de Doctor Honoris Causa de universidades de todo o
mundo, além de diversos prêmios e distinções.

Desencarnou em 27 de agosto de 1999, aos 90 anos, no Recife. Seu
corpo está enterrado na Igreja da Sé, em Olinda.

#
Novas Utopias


Reflexões de um padre após a morte.


Carlos Pereira
pelo Espírito Dom Hélder Câmara.



LUMINUS.
ILUMINANDO CORAÇÕES


#
Aos meus irmãos de todas as crenças e culturas, aos meus companheiros de lide da
Igreja que abraçamos, aos meus amigos do coração, aos meus ouvintes que
acompanharam os nossos relatos matinais, a todos que estiveram próximos de mim
e de meus pensamentos e escritos, convido a todos para se juntarem a grande
cruzada da esperança. A cruzada que é liderada pelo Cristo, mas que abraça, de
igual para igual, a todos e a todas as fés. Abracem comigo esta nova causa que, a
bem da verdade, não é tão nova assim, porque é aquela que foi levantada há mais de
dois mil anos: a cruzada pelo amor.

#
Sumário


Prefácio -Inácio Strieder

Apresentação -A luz que vem do outro -Marcelo Barros

Novas utopias, o mesmo Dom Hélder -Jordana Gonçalves
Leão

Muitas razões para escrever -Carlos Pereira

Entrevista com Dom Hélder -Realizada pelos Editores

1 . Ação de amor
Quando nos dedicamos ao outro, despojadamente, fazendo

o melhor de nós, estamos construindo o amor de Deus na
Terra
2. Diante das adversidades
Se imaginas que atirando uma bala nos miolos desaparecerão os
seus problemas, isto é um ledo engano.

3. Os construtores da Nova Era
O homem fala que está tudo errado, mas se nega a ver os
próprios erros

4. A verdadeira natureza humana
Até quando viveremos a perguntar aos homens por que ele
insiste tanto em algo que já se demonstrou, por experiência
do dia-a-dia, que não lhe levará a nada? 59

5. Confiança em Deus
#
Tudo, sem exceção, tem um encaixe perfeito no plano de
Deus. Se não há harmonia no construir das coisas então
isto não vem de Deus

6. A harmonia nas diferenças
Tenha consciência de que você não possui a fé verdadeira
unicamente

7. 0 valor do dinheiro
Um homem que crê, tão-somente, nos valores materiais, é
pobre
8. Deus é implacável?
Deus age certo, sempre age certo no seu senso de justiça e
sabedoria, mas a nossa condição de entendimento ainda é
muito limitada

9. Desesperança
Se os políticos soubessem a dimensão que alcança as suas
palavras pensariam duas vezes antes de pronunciá-las, mas
a sede de poder, de mandar, faz muita gente cometer
impropérios com a língua

10. O valor do tempo
Não adianta fugir a estas máximas divinas, meus caros,
tempo é ouro sim e dos bons

1 1 . Destino
Quando procuramos a Deus procuramos, no fundo, a nós
mesmos, porque a nossa essência, sendo divina, possibilita
um desabrochar de oportunidades nas nossas vidas.

12. A paciência
Quem está atento à vida, ao que ela ensina diariamente,
não tem pressa

13. O sonho da eternidade
#
Eu que sempre preguei a vida depois da vida, agora tenho a
possibilidade de dizê-la claramente: ela existe sim. Não é uma
fábula, é uma realidade concreta, impressionável.

14. A busca da verdade
Averdade ainda é fugaz ao domínio humano

15. A necessidade do perdão
O caminho do perdão não é tão
procurarmos entender, as razões
cometeu um crime moral
difícil se
pelas quais
entendemos, ou
alguém nos
16. O grito dos excluídos
O ser humano foi criado para a felicidade. A felicidade é

um direito de todos e não apenas de alguns. Mas hoje,
infelizmente, excluímos irmãos do seu direito sagrado de
ser feliz

17. A força do perdão
Somente o bem pode vencer o mal

18. Desarme-se, irmão!
Penso que o homem tem medo de outro homem porque
tem medo de si mesmo

19. Diante da morte
Para aquele que não teme a morte, que confia sinceramente,

o que reza as Escrituras Sagradas, a morte não deve causar
qualquer tipo de medo
20. Após a morte
Por mais que alguém esteja razoavelmente bem informado
das coisas espirituais haverá sempre de aprender algo mais.

21. O prazer de servir
#
Só vive realmente bem aquele que se deixa impressionar pela dor
do outro, como se ela fosse a sua própria dor.

22. Presença de Deus
Escrever onde escrevia. Meditar onde elucubrava
pensamentos para o amanhã e agora refazê-lo noutra
condição. Somente os mistérios dos desígnios do Pai para
isso

23. Dia negro
Diante desta realidade pós-vida física, diante da
multiplicidade de experiências que obtemos, como ainda
pensar em supremacia racial?

24. Consciência Social
Enquanto os homens não se enxergarem como uma grande rede
divina não conseguirão ser felizes na vida social.

25. Onde está Deus?
A identidade de Deus, que nos é inerente, se revela nas
pequenas como nas grandes coisas

26. A grandeza do amor
É o amor que move o mundo, não tenham a menor dúvida
disso

21. A humanização do mercado
O homem precisa urgentemente, sob pena de ver crescer
a violência e os distúrbios de toda ordem, humanizar o
mercado

28. Receita da felicidade
(...) a verdadeira felicidade não pertence a este mundo, deveríamos,
cada vez mais, nos esforçar em conquistar
aquilo que nos traga a satisfação espiritual

#
29. Bendita oração
O homem precisa calar a alma para deixar que o Pai fale
mais alto dentro de si

30. Confiança no amanhã
Não há aquele, por mais simples que pareça ser, que não
seja coberto pelo olhar de Deus

31. Outra realidade é possível
Porque acreditamos num Pai Amantíssimo não podemos
acreditar nunca que a realidade que vivemos é definitiva e
pronto

32. Solidariedade planetária
A presença do Cristo nas relações internacionais se dará
quando enxergarmos no ambiente das negociações o traço
insofismável da solidariedade

33. A conquista da paz
Não há como conseguir a paz sem o exercício do amor. 189

34. Nossa Senhora
Minha querida Mãe de Jesus, teus ombros suportam a dor
do mundo

35. Verbos divinos
Ah! Quantos homens são vítimas do verbo explorar. Aliás,
este tem sido o verbo conjugado por excelência
ultimamente

36. Menino Jesus
Sem a atenção prioritária à criança e, por tabela, ao
adolescente, será vã qualquer tentativa de transformação
da sociedade

37. O papel do Papa
#
E daquele, muitas vezes, que pouco se espera, que Deus
escolhe para fazer a sua obra redentora

38. Amor Fraternal
Não há exemplo mais claro de amor fraternal do que o amor que
Jesus, o Nosso Senhor, dedicou a toda a humanidade.

39. Confissões de Padre José
Considero que sou bem pouco do que deveria ser, mas como estou
contigo, sei que me agigantarei porque contigo amplia-me
grandemente todas as possibilidades do existir.

40. Pela paz ambiental
Não nos acostumemos com aquilo que pode ser cómodo,
mas não nos é saudável

41. Coragem
A coragem primeira é enfrentar os nossos anseios, os nossos
vícios, a nossa dissensão com o bem, os nossos males
morais

42. 0 mundo das drogas
As drogas representam, em última análise, uma ausência
de Deus

43. Conversão
Conversão é, acima de tudo, consciência e transformação.

44. Comunhão
Nos dias corridos da atualidade, se ouve mais uma televisão
do que um ser humano

45. Sensibilidade
Sem a sensibilidade aguçada passamos pelo mundo e não
vemos o mundo

46. Revolução espiritual
#
Se percebermos direito, de todas as direções, seja da nossa
Santa Igreja, seja do Budismo ou mesmo do Espiritismo,
de todos os lados, o clamor pelo espiritual é cada vez mais
crescente, e que assim seja

47. Estado de paz
Quando os homens descobrirem o sentido real da vida estarão
dando passos significativos para a conquista da paz.

48. Verdades inadiáveis
Não é fácil admitir um erro, muito difícil é, porém, sair
dele depois que se sustenta, de toda forma, uma mentira
ou engano

49. Santa Missa
Ah! Se as pessoas soubessem o que se dá numa Santa Missa
na perspectiva da espiritualidade

50. Terra da promissão
Não deixemos a oportunidade que agora o Pai nos concede
de reverter as nossas vidas em sua direção

51. Dias melhores
Acerca do regime militar que enfrentei em meus dias de
Arcebispo, digo que foram os dias mais gloriosos da minha
existência

52. Agradecimento
Agradeço, emocionado, a Nosso Senhor Jesus Cristo que
do lado de cá continua o seu trabalho incansável pela
regeneração de todos os homens e mulheres da Terra.

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Prefácio


O livro em suas mãos, caro leitor, se apresenta como tendo dois
autores: um material e outro espiritual. Gomo autor material, Carlos
Pereira mediunicamente objetivou o texto; como autor espiritual, as
mensagens brotam do espírito de Dom Hélder Câmara que, de
1964-1985, foi arcebispo de Olinda e Recife/Pernambuco.

Vejo este livro como um fenômeno, que manifesta um dos mistérios
da existência do ser humano, inserido neste maravilhoso mundo,
expressão de nosso Deus, Pai e Criador Universal. Em relação a
estes mistérios, dizia o filósofo Blaise Pascal: "Há mais mistérios no céu e
na terra do que imagina nossa vã filosofia".

Em suas meditações, Dom Hélder, não poucas vezes, reflete sobre o
sentido da morte como uma passagem para um mundo de Deus
mais amplo, mais maravilhoso, mais espiritual. Como lhe ensinara a
teologia, a vida continua após a vida terrena. Mas a teologia não
tem o poder de nos comunicar os detalhes desta nova vida que nos
aguarda após nosso estágio neste mundo. Enquanto aqui estamos,
aguardamos uma grande surpresa ao passarmos para o mundo
espiritual. Como o ser humano, por essência, é um ser curioso,
acreditando, desde tempos remotos, na existência deste mundo
espiritual, ele não se contenta em passivamente esperar por ele.
Quer, já agora, participar desta realidade que o espera. Mas, como
este mundo não lhe é acessível diretamente pelos sentidos, busca
contactá-lo através de sua dimensão espiritual, que constitui a
profundidade de seu ser. Neste esforço, o imaginário do homem
não tem limites em construir representações de como seria o mundo
espiritual, no qual habitará quando seu espírito se desligar do corpo
material.

Tanto as mitologias, como as religiões históricas falam deste mundo
do além.

#
Muitas doutrinas ensinam que do mundo espiritual se tornarão
transparentes as obscuridades do nosso mundo material. Lá não
existiriam mais injustiças, desigualdades e opressões. Lá seríamos o
que somos, sem falsidades e hipocrisias. A vida terrena seria uma
preparação para a vida no mundo espiritual; por isto, lá viveríamos
em continuidade de nossa vida, de nossas obras deste mundo
terreno. Dali surgem descrições de dimensões e níveis diferenciados
de vida espiritual.

Para descrever isto, os judeus falam na existência do sheol, os gregos
no hades, os cristãos no céu e no inferno. Mas, como estes "lugares" não
satisfazem o imaginário de todos os curiosos em relação à vida no
além, há os que insistem também na existência do purgatório, do limbo
e "n" subcompartimentos nestes lugares. Além disso, o homem
sempre manifestou a curiosidade em relação aos habitantes do
mundo espiritual, eles continuariam a se interessar por nosso
mundo material, ou, na passagem deste para o outro, aconteceria
uma ruptura total!

Nesta polêmica, há posicionamentos radicais que proíbem qualquer

tentativa de contato com o mundo dos
"mortos". Outros sugerem que nosso mundo terreno é governado
pelos "mortos", sem que isto, no entanto, possa ser identificado
claramente por nossa razão.

Já que este livro propõe como autor espiritual um representante da
Igreja Católica, interessa aqui, de modo particular, o que a Teologia
Católica propõe em relação a esta questão.

Embora a doutrina católica ensine que exista uma diferença
essencial entre a vida terrena e a vida "pós-morte", contudo
descreve a totalidade da Igreja como sendo composta pelos cristãos
militantes (os que ainda vivem na terra); pelos cristãos triunfantes
(os que partiram desta vida, e são os justos junto de Deus); e pelos
cristãos padecentes (que já partiram desta terra, mas ainda estão se

#
purificando). A relação entre estes cristãos se denomina "comunhão
dos santos". Mas como "igreja" significa comunidade, há uma
intercomunicação entre os membros da "igreja terrena" e a "igreja
celeste". Os denominados "santos" (os que viveram nesta terra e
vivem junto a Deus) se manifestam, agem "milagrosamente" neste
mundo, nos protegem e nos inspiram. Claro, há uma diferença de
compreensão entre as manifestações mediúnicas no espiritismo e as
manifestações de Deus e dos santos no catolicismo. Mas a distância
de compreensão não é abissal. Embora a presença espiritual entre
nós, daqueles que nos precederam, permaneça um mistério,
contudo, no meu entender, como cristão, de tradição católica, vejo
com muito respeito o fenômeno mediúnico. E um fenômeno real,
mas enigmático. Ele se manifesta em arte, em literatura, em gestos
humanos de vida caridosa e espiritual.

Como interpretá-lo?
Com certeza é um fenômeno edificante, não redutível a uma lógica


racionalista cartesiana. Psicologicamente seria a manifestação de
conteúdos do nosso inconsciente profundo.
Para os espíritas, as mensagens mediúnicas são manifestações de


espíritos desencarnados, que, no lado de lá, se preocupam com o
mundo de cá, e nos enviam ensinamentos, recados, advertências e
orientações.

Seja como for a interpretação, o fato é que a literatura mediúnica,
com autores espirituais e médiuns, deve ser dimensionada pela
profundidade e pureza das mensagens que nos comunica. Neste
sentido, vejo este livro do médium Carlos Pereira, que nos
comunica mensagens de Dom Hélder Câmara, que de seu plano
espiritual vem ao nosso mundo terreno, como algo muito precioso,
digno de ser lido por qualquer um que queira progredir em sua
espiritualidade.

#
Dom Hélder, com certeza, durante a sua vida terrena, cumpriu a
missão que Deus dele esperava, quando lhe concedeu a vida. Viveu
como profeta, anunciando a Boa Nova de Deus, e denunciando o
que afasta os homens do reto caminho. Preocupou-se com tudo o
que diminui o ser humano como "imagem e semelhança de Deus" e
incentivou a todos a viverem de acordo com os ensinamentos do
Evangelho de Jesus Cristo. Neste sentido, Dom Hélder demonstrou
uma força espiritual muito grande. Viajou pelo mundo inteiro,
dialogando com os homens das mais diversas filosofias. Encontrou-
se com budistas, protestantes, cristãos de diversas denominações,
ateus e agnósticos. Falou com reis e rainhas, com clérigos e leigos,
com os representantes das Nações Unidas. Foi premiado,
homenageado, mas também perseguido. No tempo da Ditadura
militar, no Brasil, a sua residência, na Igreja das Fronteiras, no
Recife, foi metralhada. Auxiliares seus foram presos; seu auxiliar,
Pe. Henrique, foi torturado, morto e jogado no Campus da
Universidade Federal de Pernambuco. Mesmo assim, Dom Hélder
persistiu em sua missão de pregar a justiça, a paz, a dignidade de
todos os seres humanos, a fraternidade universal, a tolerância
religiosa e étnica, denunciando as torturas, as explorações, os gastos
fabulosos com armamentos, a exploração dos países pobres pelos
países ricos, as desigualdades entre os homens, o absurdo das
guerras.

Finalmente, a sua grande utopia era o sonho de um mundo sem
miséria. Que nem lhe parecia tão utópico, pois a terra oferece
alimentos suficientes para todos os homens, mas a ganância dos
donos das economias não permite uma distribuição adequada
destes bens com que Deus beneficia o nosso planeta. A força desta
mensagem profética de Dom Hélder já demonstrou, mesmo durante
a sua vida terrena, que ele não era apenas um sacerdote da Igreja
Católica. Na verdade, ele sempre se demonstrou um sacerdote da
humanidade. Por isto mesmo, agora no mundo espiritual, Dom

#
Hélder não é propriedade de ninguém. Assim como o espírito de
Deus, "ele sopra onde quer". Melhor dito, ele se manifesta para além
de qualquer religião, lá onde estiverem homens de boa vontade,
com os corações abertos para acolherem sua mensagem espiritual.

Caro leitor, o livro que está em suas mãos, não me parece ter a
finalidade de lhe comunicar ensinamentos novos ou verdades
definitivas. Ele se propõe a reforçar, agora com uma linguagem
espiritualizada, a mensagem que Dom Hélder viveu e pregou no
decorrer de sua vida terrena. Muito interessante seria, para quem
quisesse conhecer melhor a vida e a obra de Dom Hélder e quisesse
testar a proximidade das mensagens deste livro com o que Dom
Hélder escreveu em suas múltiplas poesias, discursos, palestras,
meditações e livros, que entrasse em contato com o CEDoCH
(Centro de Documentação Hélder Câmara), no Recife/PE-Brasil, que
conserva todos os escritos e memória da vida terrena de Dom
Hélder Câmara. Durante a pesquisa pode-se absorver mais
profundamente a sua espiritualidade.

Conforme declaração do médium Carlos Pereira, este escrito não se
dirige especificamente a leitores espíritas, mas a todos que queiram
comungar com o mundo espiritual de Dom Hélder, um verdadeiro
profeta do século XX e um sacerdote da humanidade.

Que todos se identifiquem espiritualmente com as mensagens
espirituais deste livro.

Que Deus nos abençoe.

Inácio Strieder.
Filósofo e Teólogo.

#
Apresentação

A luz que vem do outro

Todo livro é um diálogo entre quem escreve e quem lê. Entretanto,
este que, agora, você tem nas mãos é, especialmente, um exercício
espiritual de diálogo, porque se apresenta como um livro
psicografado. Tem um autor espiritual que é Dom Hélder Câmara
que o ditou ao irmão Carlos Pereira, fiel intérprete e obediente
escrivão destas sábias páginas.

Prefaciar um livro é referendá-lo e aceitar ser para o autor como um
paraninfo que o introduz em um novo círculo de relações.
Normalmente quem faz o prefácio é sempre um autor mais famoso
e consagrado que apresenta aos leitores um outro que precisa ser
apresentado. Ao pensar que o autor deste livro é meu mestre e
pastor Dom Hélder Câmara, senti-me incapacitado de escrever um
prefácio para esta obra. Entretanto, o irmão Carlos Pereira me pediu
e ele deve saber o que está fazendo. Quando o mistério é grande
demais, o jeito é deixar-se envolver por seu encanto e buscar
espiritualmente a lição que Deus nos dá através do desconhecido. A
realidade tem sempre diversas faces e epifanias. O mesmo fato pode
ser visto e interpretado, ao menos, por dois ou mais lados. O
Judaísmo acredita que tudo na Bíblia, até a lei divina, é passível de
interpretações divergentes. Conforme a tradição judaica, um dia,
um discípulo perguntou a um santo rabino porque, no monte

Sinai, para escrever sua lei, Deus precisou de duas tábuas de pedra
e não só de uma única. O rabino respondeu: -Para que se saiba que
há, ao menos, duas interpretações válidas para cada lei.
Quem, em sua fé, aceita o fenômeno da psicografía, não procura
provas nem busca semelhanças entre este escrito e as muitas obras
que, no tempo em que estava conosco, o Dom nos deixou. Acolhe na
fé esta obra e aproveita as lições espirituais aqui contidas. Quem

#
rejeita tal interpretação, pode, assim mesmo, ler este livro como
herança espiritual de Dom Hélder, pois se situa na mesma tradição
da espiritualidade da paz, da não violência e da solidariedade que o
Dom sempre nos ensinou.
Em 1994, Dom Hélder escrevia a amigos da Itália, reunidos no
movimento Mani Tese ("Mãos estendidas"): "...Não estamos sós. Por isso, não
aceito a resignação e o desespero. A fome será vencida. No final, haverá paz para
todos. Neste universo, a última palavra nunca poderá ser a morte e sim a vida! Não
poderá ser o ódio, mas o amor! Não poderá ser o desespero, mas a esperança. Nunca
as mãos enrijecidas, fechadas no ódio. Mãos estendidas e unidas na solidariedade e
no amor para com todos".

Aqui, nestas páginas, o estilo e o conteúdo mais expresso podem
parecer diferentes, assim como os destinatários desta obra não são
mais apenas os que o escutavam em sua peregrinação terrena. Dom
Hélder sempre insistiu que a unidade não só respeita as diferenças,
mas pode delas nutrir-se. O amor pode transformar as diferenças
em complementaridade. Para ele, o Diálogo é elemento intrínseco e
essencial a toda religião e nos faz repensar nossa idéia de Deus e de
espiritualidade. Por isso, ser solidário é o modo normal da pessoa
viver no mundo e ser feliz, como já dizia o monge Thomas Merton:
"Nenhum ser humano é uma ilha". É a base mais viável para
construirmos sociedades firmadas sobre a defesa intransigente e
permanente dos Direitos Humanos. Somos felizes por viver em um
mundo, no qual estes caminhos nos são abertos.
Para mim que quero consagrar-me e doar a minha vida a esta causa
do diálogo e da unidade entre os diferentes, este livro me apaixona
porque lendo além das linhas e entrelinhas, sinto como se a
sabedoria aqui transcrita, não vem apenas de Dom Hélder e menos
ainda do amigo Carlos Pereira. São inspirações do Espírito Divino,
energia de paz, que "sopra onde quer, ouve-se a sua voz, mas não
sabe para onde vai nem para onde vem" (Jo 3, 7ss). A mim, cristão,
cada página, aqui transcrita por Carlos, sussurra um nome que me
leva ao Infinito: Jesus de Nazaré. Mas, me leva também a outros

#
nomes que são sinônimos de amor e de paz, nas mais diferentes
religiões e nas mais diversas culturas: Confúcio, Buda, Maomé,
Zumbi dos Palmares, Maíra. Que riqueza! Nenhum mortal pode
amordaçar a ventania. O mistério é nossa Paz e os caminhos
religiosos, se conseguem sê-lo, podem apenas ser nossas parábolas
de amor. Como, no século IV, escreveu Agostinho: "Apontem-me
alguém que ame e ele sente o que estou dizendo. Dêem-me alguém
que deseje, que caminhe neste deserto, alguém que tenha sede e
suspira pela fonte da vida. Mostre-me esta pessoa e ela saberá o que
quero dizer".1

Marcelo Barros2

Novas Utopias, o mesmo Helder

Quando recebi das mãos do médium Carlos Pereira esse livro,
confesso que senti um misto de surpresa e imensa felicidade. Por
alguns instantes, meu olhar foi de inquietação, de dúvidas e de
esperanças.

1 -AGOSTINHO, Tratado sobre o Evangelho de João 26,4. Cit. por Connaissance des Pères
de l'Église32-dez. 1988, capa.
2 -Marcelo Barros, natural de Câmaragibe, é monge beneditino e teólogo. Durante nove
anos (de 1966 a 1975) foi secretário de Dom Hélder para a relação ecumênica com as Igrejas
cristãs e as outras religiões. É escritor e tem 30 livros publicados.

#
Historiadora, estudei sobre a vida e a obra de Hélder Pessoa
Câmara, durante anos. Minha pesquisa teve início em 2001, quando
fui convidada pelo Instituto Dom Hélder Câmara (IDeHC)1 a
participar do Projeto Obras Completas. Naquela ocasião, foi-me
permitido trabalhar com séries documentais vindas do Rio de
Janeiro, onde Dom Hélder habitava com sua família antes de ser
nomeado a arcebispo de Olinda e Recife, em 1964. Especializei-me
em um conjunto de cartas pessoais escritas diariamente por duas
décadas. No decorrer dos anos, tive a oportunidade de ler seus
livros, seus discursos e suas cartas com bastante atenção, conhecer
seus ideais e sua trajetória de vida, conviver em sua casa e com seus
amigos mais íntimos. Mas uma psicografia mediúnica? Por essa eu
não podia esperar. Em meio aos questionamentos, lembrei-me então
da reflexão de Dom Hélder acerca do olhar: O que é um olhar?
Indaga-nos Hélder Câmara em Um Olhar Sobre a Cidade. Em seguida
elucida:

Quando, depois de 10 ou 15 dias de chuva, começa uma estiagem que passa de uma
semana, de duas, o nordestino olha o céu... Olhar de inquietação, mais ainda de
esperança e até de prece! E quando o cm está nublado, escuro, ameaçando chuva,
quem édo Sul é capaz de achar o tempo feio: o nordestino acha o tempo bonito,
porque, quem sabe, vai trazer a esperada chuva...
Quando uma mãe si vê diante do primeiro sorriso do filhinho, o oihar que lhe lança
é quase um canto de alegria, a ) felicidade e de ação de graças...
Quem levanta o lenço que cobre o rosto muito querido de uma pessoa muito sua,
rosto que só será visto de novo no céu, o olhar é de dor, de despedida dolorosa, de
quem fica de coração partido...


1-O Instituto Dom Hélder Câmara (IDHeC) é localizado no Recife -Pernambuco, ao lado
da Igreja das Fronteiras, onde Dom Hélder morou por mais de trinta anos.

#
Quando dois jovens estão sentindo o amor despertar entre eles, e se entreolham, o
olhar canta, baila, dança!
Olhar que é uma delícia ê o da criança que está descobrindo, vendo tudo como se
nunca ninguém tivesse visto e exclama a cada instante: Olha lá! Olha lá!2

O olhar pode se constituir o ponto de partida para as variáveis
construções de mundo, na busca de interpretações e, sobretudo, na
tentativa de se extrair das coisas um sentido para o nosso viver,
estando claro que não basta abrir os olhos para olhar. Através da
capacidade do olhar, Dom Hélder Câmara, em seu ensaio escrito em
1982, para o programa da Rádio Olinda de Pernambuco intitulado
"Um olhar sobre a cidade", soube conferir, ao céu nublado dos anos
da ditadura militar, a beleza da esperança. O que a repressão tentou
impor-lhe foi a ausência de palavras, mas não pôde impor a
ausência do olhar, cujo legado à humanidade fora a idéia de que é
possível fertilizar o deserto.
Foi através da inspiração nas palavras de Dom Hélder Câmara que
me propus a explorar um pouco as múltiplas capacidades do olhar,
sobretudo, no que confere a vida. Vida que, nesse contexto, reveste-
se de inúmeros significados, que permitem os mais variados
sentidos e interpretações, uma porta aberta para uma ou muitas
reflexões sobre a realidade. Quando me questionava se o arcebispo
emérito de Olinda e Recife, um homem da Igreja Católica, teria
realmente psicografado aquelas páginas, recordava a suavidade
com que Dom Hélder falava acerca do olhar e a fortaleza dos seus
atos. Todos aqueles que conviveram de perto com dom Hélder
sabem que faz parte da sua personalidade a timidez e o silêncio,
mas também a astúcia e a coragem para se pronunciar nos
momentos que julga necessário.

2 CAMARA, Hélder. Um Olhar sobre a cidade. São Paulo: Paulus, 1995.

#
Novas Utopias... Permiti-me ler esse livro ao menos umas três
vezes. A primeira, mais curiosa, queria saber com tamanha
imediaticidade o que o teria motivado a realização de tamanho
feito. Anos se passaram desde as Utopias Peregrinas3, que Novas
Utopias serão essas? Queria, de fato, saber "até onde iria esta aventura de
um padre depois da morte"4. Logo em suas primeiras palavras,
antevendo a inquietação dos seus futuros leitores, o autor discorre:

Para mim, a morte é o começo da verdadera vida. Quando começa a verdadeira
vida, a vida sem fim, a vida imortal, nós a chamamos de morte. Mas, para quem tem
a felicidade de ter fé, a morte é o começo da verdadera vida.5

A imortalidade: a "nova utopia" trazida por Hélder Câmara. Com
tamanha confiança na Providência Divina, Dom Hélder elucida-nos
acerca da realidade da vida depois da vida. No texto intitulado
0sonho da imortalidade, Hélder faz a seguinte reflexão:

Vejam vocês o que é a vida. Muito interessante, é bem verdade. Estive aqui por
diversas vezes, a dizer da minha satisfação em falar da 'morte 'com os vivos. E agora
faço uma reflexão da minha própria morte. Eu que semprepregueia vida depois da
vida, agora tenho a possibilidade de dizê-la claramente: ela existe sim. Não é uma
fábula, é uma realidade concreta, impressionável.6

0 sonho da imortalidade, Diante da morte, Após a morte e tantos outros.
Textos e textos se seguem e o autor volta ao seu ponto de partida:

³ CAMARA, Hélder. Utopias Peregrinas. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1993.
4 CAMARA, Hélder. Agradecimentos. In. Novas Utopias.

5CAMARA, Hélder. O sonho da eternidade. In. Novas Utopias.

6CAMARA, Hélder. O sonho da eternidade. In. Novas Utopias.

#
a vida. Em alguns instantes, Dom Hélder narra experiências vividas
após a morte do seu corpo físico: o velório, o cortejo que conduzia
seu antigo corpo até o momento do sepultamento, a recepção de
seus entes queridos, seus primeiros dias na nova realidade e seu
trabalho, agora, do outro lado da vida.

Dois papas vieram me ter no meu lato de recuperação: João XXIII e Paulo
VI Foram amigos carinhosos que vieram me dar seus conselhos de boa
vivência no novo plano que estava, me encorajando diante das novas
lutas que haveríamos de assumir no campo da fraternidade irrestrita junto
aos homens, porque a luta, o bom combate continua. Não haveríamos de
ficar a contemplar a vida em 'berço esplêndido \ na inércia. Se isso
acontecesse, seria uma chatice sem tamanho. Ainda bem que o trabalho
continua, cada um do seu jeito, cada um com suas atividades corriqueiras
que desempenhava antes.7

O trabalho continua. Foi pensando nisso que me propus a segunda
leitura, mais comedida. Buscava analisar, com o olhar atento dos
historiadores, o desenvolvimento de suas idéias. Tendo atuado
ativamente no Brasil e no exterior, Dom Hélder Câmara fora um
homem que ficou marcado por suas ações conscientes e corajosas
em prol de um mundo 'mais justo e mais fraterno', um homem que

fez todos os governos brasileiros, civis ou militares, democráticos
ou ditatoriais, levá-lo em consideração, um homem ouvido e
reverenciado pelo mundo por força de suas palavras e de suas
idéias. Em Novas Utopias, não poderia ser diferente.
Dom Hélder reafirma suas visões do mundo, que incomodaram
poderes estabelecidos e que chegam a nós, hoje. Revelando o quanto
certas idéias podem ser um instrumento forte para se pensar e

7CAMARA, Hélder. O sonho da eternidade. In. Novas Utopias.

#
transformar a realidade. Motivando a opinião pública para refletir
não só sobre a questão da miséria social que ainda hoje é, como já
dizia nos anos de 1980, uma guerra tão grave como a guerra nuclear e a
guerra bioquímica. Assim, de texto em texto, Dom Hélder dá
continuidade ao trabalho iniciado entre nós, abordando temas como
a miséria -a violência-mãe, a justiça social e a paz mundial -com suas
menções a Martin Luther King e Mahatma Gandhi, o amor, o
perdão, a oração e a sua confiança em Deus e na Providência
Divina. Novas Utopias é uma obra repleta de seu pensamento de
ética e sua crença na força das idéias, como base fundamental para a
construção de um mundo mais respirável.
A medida que lia o livro e conversava com seu co-autor, o médium
Carlos Pereira, surpreendia-me com tamanhas similaridades. Um
dia, questionei o médium sobre como se dera o primeiro contato
entre ele e Dom Hélder e como esse havia solicitado a psicografia do
livro. Carlos respondeu-me dizendo que se assustou no início, pois
até então não tivera nenhum contato com o arcebispo e que alegara
a ele falta de tempo para a psicografia dos textos. Não demorou
para que Dom Hélder apresentasse uma solução: todos os dias, às
quatro horas da manhã. Parti daí para minha terceira leitura com
um olhar de esperança.
Em um antigo livro de salmos utilizado ainda nos tempos do
Seminário, o jovem Hélder deixa registrada a seguinte passagem: eu
velo a invocar-vos desde o alvorecer. Minha alma está sequiosa por vós. A leitura
dos versículos, que chamaram a atenção do jovem seminarista,
surpreende pela coerência com a biografia sucessiva. Durante toda a
sua vida, Hélder dedicou, cada madrugada, cerca de três horas para
mergulhar na intimidade de Deus. Chamava este tempo de vigília.
Durante o período em que se mantinha em estado de vigília, Hélder
lia o Breviário, respondia às correspondências recebidas, reavaliava
suas atuações nos incontáveis compromissos de que participava
diariamente e escrevia. Escrevia muito, quase que incansavelmente.
Redigiu, durante esses momentos, alguns dos seus escritos mais

#
importantes suas conferências, seus projetos de vida, suas
meditações e suas correspondências. Uma coleção de mais de 10.000
cartas pessoais e 2.122 Cartas Circulares. Cartas escritas todos os
dias, ou melhor, todas as noites -como bem assinala José de
Broucker8, quase sempre às quatro horas da manhã, horário
escolhido por Hélder para seus momentos mais profundos de
orações. Esteja onde estivesse não poderia ser diferente.
Resultado de suas vigílias, os ensaios escritos por Dom Hélder
Câmara para Novas Utopias encaixam-se, em todos os aspectos,
com as formas de pensar e viver do autor. E impressionante a
maneira cuidadosa com que Dom Helder escreve seus textos:
sempre atento à forma e com uma divisão didática dos assuntos, o
autor procura estabelecer padrões, tanto na seqüência dos temas
abordados, quanto na quantidade de páginas de cada ensaio. A
linguagem dos textos é um ponto a ser observado, tanto no que se
refere à sua forma material, quanto à sua dimensão subjetiva.
Obedecendo a suas regras, assim como ocorrera nas
correspondências pessoais das décadas de 1940 e 1950 e nas Cartas
Circulares (1962-1982), ao lado dos relatos e dos acontecimentos
importantes, Helder Câmara narra o cotidiano. Algumas das vezes
os textos ganham valor de uma confissão por trazerem assuntos
muito íntimos. Para além desses instantes, os exercícios espirituais
terminam sempre com uma menção ao sagrado. Na grande maioria
das vezes, uma oração, uma referência a Jesus, o Cristo, ou ao Pai, o
Criador. Padrões de escrita estabelecidos por Helder Câmara desde
os anos 1940.

8BROUCKER, José de. Les nuits d'unprophète.Dom Helder Câmara à Vatican II. Lecture
das Circulares Conciliares de Dom Helder Câmara (¡962-19650). Paris: Les Éditions du
Cerf, 2005.

#
O que éum olhar? Um ponto de partida para novas e variáveis
construções de mundo. As Utopias podem ser novas em alguns
instantes, mas o Helder, definitivamente, é o mesmo. O mesmo
Helder Câmara em um ato de confiança, proporcionando-nos a
leitura do invisível da vida e do mundo que apenas os olhos do
coração são capazes de perceber.
Hoje, posso dizer com convicção que conhecer Helder Pessoa
Câmara foi um dos acontecimentos mais importantes da minha
vida.

Jordana Gonçalves Leão.
Historiadora e Pesquisadora.

Muitas razões para escrever

Aos leitores desta obra cabe uma pergunta inicial e pertinente: foi
realmente Dom Helder Câmara quem escreveu esse livro? Afinal,
ele morreu. A mesma pergunta eu faço com outros livros
mediúnicos que me chegam às mãos. E natural e racional. Faz parte
da análise criteriosa recomendada pelo bom senso e princípio de
investigação da Ciência Espírita. Não negar, mas também não
aceitar imediatamente. Examinar. Este é o pedido que faço aos
leitores de todas as crenças e mesmo ao incrédulo.
Leiam atentamente cada texto sob a ótica do escritor da obra. Para
os que conheceram Dom Helder Câmara no corpo físico será mais
fácil. Quem leu seus livros, ouviu seus programas de rádio matinais,

#
suas prédicas nas missas ou em conferências, ficará mais à vontade.
Sei que a tendência imediata para aquele que não admite a
comunicação dos "mortos" é a rejeição, a inadmissibilidade do
fenômeno e mesmo um pré-julgamento como se fosse uma farsa ou
um desequilíbrio psíquico daquele que se intitula médium. Mais
uma vez não lhes tiraria a razão. Do seu lugar, igualmente,
levantaria estas hipóteses antes de crer na relação interexistencial
entre a dimensão física e a espiritual. Creiam, no entanto, que a
manifestação de pensamentos e sentimentos que recebi foi sincera e
para quem as viveu, extremamente verdadeira.
Para ampliar a análise da obra, solicitei a três pessoas próximas ao
pensamento de Dom Helder Câmara que avaliassem o conteúdo.
A novidade do relato mediúnico de Dom Helder causou-me
também surpresa, até porque é minha primeira publicação
mediúnica e começar logo com Dom Helder Câmara não é simples.
Primeiro por se tratar de uma referência internacional, depois
porque é uma personalidade pertencente aos quadros de uma
religião que discorda do procedimento mediúnico e,
principalmente, dos enunciados que virão do próprio autor sobre a
vida pós-morte. Não há qualquer intenção da minha parte de
provocação, sobretudo pelo respeito que nutro por todas as
religiões como expressões legítimas da busca de Deus e da
felicidade entre os homens. Não poderia, porém, me furtar de levar
a público aquilo que espontaneamente chegou até a mim. Antes de
começar a receber os textos foi perguntado ao próprio Dom e ele
generosamente respondeu: "Quem quiser seguir a Jesus deve estar preparado
para carregar a sua cruz. Foi assim quando estava "vivo "e não será diferente agora
que estou "morto". Você, também, meu filho".

Desta forma, estou consciente das críticas que receberei e tentarei
compreendê-las, pois as reações serão as mais diversas.
Conviver com Dom Helder, para quem não possuía qualquer
aproximação com ele quando estava entre nós fisicamente, é por
demais prazeroso. Para conhecê-lo melhor, tive que pesquisar suas

#
falas, seus escritos, seu habitat e ouvir seus amigos. Se o admirava à
distância, passei a entender melhor as suas bandeiras de luta, que
não cessaram por ter apenas perdido a roupa de carne que o vestia.
Sua inquietação e inconformismo são os mesmos, como também não
alteraram a sua ternura e afetividade com todos.
Alguns textos foram produzidos nos dias em que fatos
predominavam na manchete da mídia ou cujas datas
comemorativas ele escrevia como a repetir seus comentários no
programa de rádio que apresentava na Rádio Olinda.
Como o livro demorou em ser publicado houve, por parte do editor,
a idéia de promover uma entrevista com Dom Helder. Assim a
fizemos, e creio que o resultado foi positivo e proveitoso,
esclarecendo nuanças não escritas inicialmente.
Há um propósito maior desta obra, como invariavelmente todas as
obras mediúnicas, que é declarar firmemente a nossa imortalidade.
Não morremos. Continuamos a existir de outra forma e não
perdemos o patrimônio moral e intelectual que adquirimos. Eis o
propósito do Dom do Amor e da Paz neste livro. Eis as novas
profecias que ele vem anunciar em coerência de atitude como
sempre fez quando circulava entre seus irmãos. Anuncia as novas
utopias de um novo mundo que está por vir, utopias que
representam as verdadeiras razões para viver.

Carlos Pereira
Agosto de 2007.

#
Entrevista com Dom Helder Câmara
realizada pelos editores

Vida espiritual

1. Dom Helder, mesmo na vida espiritual, o senhor se sente
um padre?
Não poderia deixar de me sentir padre, porque minha alma, mesmo
antes de voltar, já se sentia padre. Ao deixar a existência no corpo
físico, continuo como padre porque penso e ajo como padre. Minha
convicção à Igreja Católica permanece a mesma, ampliada, é claro,
com os ensinamentos que aqui recebo, mas continuo firme junto aos
meus irmãos de Clero a contribuir, naquilo que me seja possível,
para o bem da humanidade.

2. Do outro lado da vida, o senhor tem alguma facilidade
a mais para realizar seu trabalho e exprimir seu pensamento ou
ainda encontra muitas barreiras com o preconceito religioso?
Encontramos muitas barreiras. As pessoas que estão do lado de cá
reproduzem o que existe na Terra. Os mesmos agrupamentos que se
formam aqui se reproduzem na Terra. Nós temos as mesmas
dificuldades de relacionamento, porque os pensamentos continuam
firmados, cristalizados, em determinados pontos que não levam a
nada. Mas, a grande diferença é que por estarmos com a vestimenta
do espírito, tendo uma consciência mais ampliada das coisas,
podemos dirigir os nossos pensamentos de outra maneira e assim
influenciar aqueles que estão na Terra e que vibram na mesma
sintonia.

3. Como o senhor está auxiliando nossa sociedade na
condição de desencarnado?
#
Do mesmo jeito. Nós temos as mesmas preocupações com aqueles
que passam fome, que estão nos hospitais, que são injustiçados pelo
sistema que subtrai liberdades, enrique a poucos e coloca na
pobreza e na miséria muitos; todos aqueles desvalidos pela sorte.
Nós nos juntamos a todos que pensam semelhantemente a nós, em
tarefas enobrecedoras, tentando colaborar para o melhoramento da
humanidade.

4. Como é a sua rotina de trabalho ?
A minha rotina de trabalho é, mais ou menos, a mesma. Levanto-
me, porque aqui também se descansa um pouco, e vamos
desenvolver atividades para as quais nos colocamos à disposição.
Há grupos que trabalham e que são organizados para o meio
católico, para aqueles que precisam de alguma colaboração.
Dividimo-nos em grupos e me enquadro em algumas atividades
que faço com muito prazer.

5. Qual foi a sua maior tristeza depois de desencarnado ? E qual foi a sua maior
alegria?
Eu já tinha a convicção de que estaria no seio do Senhor e que não
deixaria de existir. Poder reencontrar os amigos, os parentes,
aqueles aos quais devotamos o máximo de nosso apreço e
consideração e continuar a trabalhar, é uma grande alegria. A
alegria do trabalho para o Nosso Senhor Jesus Cristo.

6. O senhor, depois de desencarnado, tem estado com freqüência nos centros
espíritas?
Não. Os lugares mais comuns que visito no plano físico são os
hospitais, as casas de saúde, são lugares onde o sofrimento humano
se faz mais presente. Naturalmente vou à igreja, a conventos, a
seminários, reencontro com amigos, principalmente em sonhos, mas
minha permanência mais constante não é na casa espírita.

#
7. O senhor já era reencarnacionista antes de morrer?
Nunca fui reencarnacionista, diga-se de passagem.
Não tenho sobre este ponto um trabalho mais desenvolvido porque
esse é um assunto delicado, tanto é que o pontuei bem pouco no
livro. O que posso dizer é que Deus age conforme a sua sabedoria
sobre nossas vidas e que o nosso grande objetivo é buscarmos a
felicidade mediante a prática do amor. Se for preciso voltar a ter
novas experiências, isso será um processo natural.
Mediunidade

8. Qual é o seu objetivo em escrever mediunicamente?
Mudar, ou pelo menos contribuir para mudar, a visão
que as pessoas têm da vida, para que elas percebam que
continuamos a existir e que essa nova visão possa mudar
profundamente a nossa maneira de viver.

9. Qual foi a sensação com a experiência da escrita mediúnica?
Minha tentativa de adaptação a essa nova forma de escrever foi
muito interessante, porque, de início, não sabia exatamente como
me adaptar ao médium para poder escrever. E necessário que haja
uma aproximação muito grande entre o pensamento que nós temos
com o pensamento do médium. E esse o grande desafio de todos
nós porque o médium precisa expressar aquilo que estamos
intuindo a ele. No início foi difícil, mas aos poucos começamos a
criar uma mesma forma de expressão e de pensamento, aí as coisas
melhoraram. Outros (médiuns) pelos quais tento me comunicar
enfrentam problemas semelhantes.

10. Foi uma surpresa saber que poderia se comunicar pela escrita mediúnica?
#
Não. Porque eu já sabia que muitas pessoas portadoras da
mediunidade faziam isso. Eu apenas não me especializei, não
procurei mais detalhes, deixei isso para depois, quando houvesse
tempo e oportunidade.

1 1 . Imaginamos que haja outros padres que também queiram escrever
mediunicamente, relatar suas impressões da vida espiritual. Por que Dom Helder é
quem está escrevendo?
Porque eu pedi. Via-me com a necessidade de expressar aos meus
irmãos da Terra que a vida continua e que não paramos
simplesmente quando nos colocam dentro de um caixão e nos
dizem "acabou-se". Eu já pensava que continuaria a existir, sabia que
haveria algo depois da vida física. Falei isso muitas vezes. Então,
senti a necessidade de me expressar por um médium, quando
estivesse em condições e me fossem dadas as possibilidades. E isto
que eu estou fazendo.

12. Outros padres, então, querem escrever mediunicamente em nosso país?
Sim. E não são poucos. São muitos aqueles que querem usar a pena
mediúnica para poder expressar a sobrevivência após a vida física.
Não o fazem por puro preconceito de serem ridicularizados, de não
serem aceitos, e resguardam as suas sensibilidades espirituais para
não serem colocados numa situação de desconforto. Muitos padres,
cardeais até, sentem a proteção espiritual nas suas reflexões, nas
suas prédicas, que acreditam ser o Espírito Santo, que na verdade
são os irmãos que têm com eles algum tipo de apreço e colaboram
nas suas atividades.

13. Como o senhor se sentiu em interação com o médium Carlos Pereira?
Muito à vontade, pois havia afinidade, e porque ele se colocou à
disposição para o trabalho. No princípio foi difícil juntar-me a ele
por conta de seus interesses e de seu trabalho. Quando acertamos a

#
forma de atuar foi muito fácil, até porque, num outro momento, ele
começou a pesquisar mais sobre a minha última vida física. Então
ficou mais fácil transmitir-lhe as informações que fizeram o livro.

14. O senhor acredita que a Igreja Católica irá aceitar suas palavras pela
mediunidade?
Não tenho esta pretensão. Sabemos que tudo vai evoluir e que um
dia, inevitavelmente, todos aceitarão a imortalidade com
naturalidade, mas é demais imaginar que um livro possa
revolucionar o pensamento da nossa Igreja. Acho que teremos
críticas, veementes até, mas outros mais sensíveis admitirão as
comunicações. Este é o nosso propósito.

15. É verdade que o senhor já tinha alguns pensamentos
espíritas quando na vida física?
Eu não diria espíritas. Diria espiritualistas, pois a nossa Igreja, por si
só, já prega a sobrevivência após a morte. Logo, fazermos contato
com o plano físico depois da morte seria uma conseqüência natural.
Pensamentos espíritas não eram, porque não sou espírita. Sem
nenhum tipo de constrangimento em ter negado alguns pensamentos
espíritas, digo que cheguei a ter, de vez em quando, experiências
íntimas espirituais.

Igreja

16. Há as mesmas hierarquias no mundo espiritual?
Não exatamente, mas nós reconhecemos os nossos
irmãos que tiveram responsabilidades maiores e que notoriamente
tem um grau evolutivo moral muito grande. Seres do lado de cá se
reconhecem rapidamente pela sua hombridade, pela sua lucidez,
pela sua moralidade. Não quero dizer que na Terra isto não ocorra,

#
mas do lado de cá da vida isto é tudo mais transparente, nós
captamos a realidade com mais intensidade. Autoridade aqui não se
faz somente com um cargo transitório que se teve na vida terrena,
mas, sobretudo, pelo avanço moral.

17. Qual seu pensamento sobre o papado na atualidade?
Muito controverso esse assunto. Estar na cadeira de Pedro,
representando o pensamento maior de Nosso Senhor Jesus Cristo, é
uma responsabilidade enorme para qualquer ser humano. Então
fica muito fácil, para nós que estamos de fora, atribuirmos para
quem está ali sentado, algum tipo de consideração. Não é fácil.
Quem está ali tem inúmeras responsabilidades, não apenas
materiais, mas descobri que as espirituais ainda em maior grau. Eu
posso ter uma visão ideológica de como poderia ser a organização
da Igreja, defendi isto durante minha vida. Mas tenho que admitir,
embora acredite nesta visão ideal da Santa Igreja, que as
transformações pelas quais devemos passar merecem cuidado,
porque não podemos dar sobressaltos na evolução. Queira Deus
que o atual Papa Ratzinger9 possa ter a lucidez necessária para
poder conduzir a Igreja ao destino que ela merece.

18. O senhor teria alguma sugestão a fazer para que a Igreja cumpra seu papel?
Não preciso dizer mais nada. O que disse em vida física, reforço.
Quero apenas dizer que quando estamos do lado de cá da vida,
possuímos uma visão mais ampliada das coisas. Determinados
posicionamentos que tomamos, podem não estar em seu melhor
momento de implantação, principalmente por uma conjuntura de

9Papa Bento XVI, nascido Joseph.Alouis Ratzinger, eleito Papa.desde de 19 de abril
de 2005.

#
fatores que daqui percebemos. Isto não quer dizer que não devamos
ter como referência os nossos principais ideais e, sempre que
possível, colocá-los em prática.

19 . O senhor acredita que a Igreja vai admitir os princípios espíritas no
futuro?
Não tenho a menor dúvida. Não pertencem estes ensinamentos a
nossa Igreja, pertencem à natureza, pertencem a todos. Não são
propriedade dos espíritas ou de outros que professam estes
ensinamentos espirituais. Portanto, mais cedo ou mais tarde, a
nossa Igreja terá que admitir a existência espiritual, a vida depois da
morte, a comunicação entre os dois mundos e todos os outros
princípios que naturalmente decorrem da vida espiritual.

20. Quais são os nomes mais conhecidos da Igreja que estão
cooperando com o progresso do Brasil no mundo espiritual?
Enumerá-los seria uma injustiça, pois há base em todas as
localidades. Então, dizer um nome ou de outro seria uma referência
pontual porque há muitos, que são pouco conhecidos, mas que
desenvolvem do lado de cá da vida um trabalho fenomenal e nós
nos engajamos nestas iniciativas de amor ao próximo.

Amor

21. Que mensagem o senhor daria especificamente aos
católicos agora depois da morte?
Que amem, amem muito, porque somente através do amor vai ser
possível trazer um pouco mais de tranqüilidade à alma. Se nós não
tentarmos amar do fundo dos nossos corações, tudo se transformará
numa angústia profunda. O amor, conforme nos ensinou o Nosso
Senhor Jesus Cristo, é a grande mola salvadora da humanidade.

#
22. Que mensagem o senhor deixaria para nós espíritas?
Que amem também, porque não há divisão entre espíritas e
católicos ou qualquer outra crença no seio do Senhor. Não há. Essa
divisão é feita por nós não pelo Criador. São aceitáveis porque
demonstram diferenças de pontos de vista, no entanto, a
convergência é única, aqui simbolizada pela prática do amor, pois
devemos unir os nossos esforços.

23. Que mensagem o senhor deixaria para os religiosos de uma maneira geral?
Que amem. Não há outra mensagem senão a mensagem do amor.
Ela é a única e principal mensagem que se pode deixar.

Capítulo 1

Ação de amor

A proposta do Nosso Senhor Jesus Cristo nunca mudou, nem vai

mudar, nem aqui nem alhures: é a prática do amor.
As criaturas de Deus, todos nós possuímos uma incrível propensão
ao trabalho do bem. Elogiamos aqueles que se dedicam ao bem do
próximo, aqueles que deixam de se preocupar, muitas vezes, com a
própria família, consigo próprio, para se dedicarem ao mais
necessitados do que ele. Que belíssimo exemplo este!

Por que ainda não agimos assim? Por que ainda somos tão
preguiçosos para nos depreendermos das nossas tarefas individuais
e ir à busca do irmão que sofre?

#
Quando procedemos desta maneira, fazemos a vontade do Pai que
está nos Céus, porque exercitamos aquilo que há de mais precioso
dentro de nós: o amor verdadeiro.


O nosso Pai, que tudo vê e tudo sabe, espera que seus filhos ajudem
aos seus irmãos. Todo Pai deseja que a felicidade aconteça no seio
de sua família. A família de Deus, no entanto, é enorme. A família
de Deus é todo ser que povoa este universo.


O Nosso Senhor Jesus Cristo muito bem lembrou esta nossa
responsabilidade individual quando nos alertou que quando
fôssemos ver alguém doente ou encarcerado, por exemplo, era a ele
que estávamos visitando.


Quando nos dedicamos ao outro, despojadamente, fazemos o
melhor de nós, estamos construindo o amor de Deus na Terra. E
isso que Ele quer de nós, que nos despojemos de tudo aquilo que
não constrói em prol daquele irmão necessitado de ajuda, de um
abraço amigo, de um consolo fraternal, de um aperto de mãos, de
um sorriso, de um pouco de paz.


Meus irmãos, estas oportunidades nós as temos quase que
diariamente. Deus nos oferece inúmeras oportunidades de trabalho,
de redenção interior pelo trabalho de cooperação com o próximo.


Por que então ficamos de braços cruzados quando estes momentos


felizes batem à nossa porta?
Por que deixamos de lado o momento sacrossanto de fazer o bem ao
próximo?


Deus, na realidade, quer tão pouco de todos nós. Ele apenas nos


pede ação. Ação de amor. Este é o desafio que nos espera.
Concordamos que muitas vezes ficamos sem saber o que fazer
diante de uma situação não esperada, é bem verdade, mas se
possuímos fé em Deus, verdadeiramente, haveremos de encontrar
as ferramentas adequadas para ajudar o irmão que nos procura.


#
Caminhemos ao encontro de Jesus, Nosso Senhor e Amigo Maior.
Ele está a nossa espera para o trabalho diuturno de fazer o bem e
assim aprender a amar.

Entreguem a sua vida ao beneplácito de colaborar com o próximo e
você perceberá que a vida se tornará mais bela e útil, e assim
haveremos de, finalmente, construirmos o reino de Deus na Terra.

Fiquemos na paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Capítulo 2

Diante das adversidades

A palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo opera milagres na nossa
vida. Ela é uma fleuma que invade o nosso ser e transforma
radicalmente a nossa existência. Quando você pensa em suicidar-se,
em deixar a vida, em se ausentar, você está pensando inutilmente,
pois a vida é concessão de Deus Pai, Todo Poderoso, e ninguém
pode tirar aquilo que não lhe pertence. Somente Deus pode fazê-lo e
não faz. Portanto, não se engane. Pense bastante antes de fazer uma
besteira destas. Se imagina que atirando uma bala nos miolos
desaparecerão os seus problemas, isto é um ledo engano. Não é
assim que resolvemos os problemas da vida. Somos todos testados,
todos os dias, em cada coisa que fazemos. Quando as adversidades
batem à nossa porta, devemos estar preparados para enfrentá-las de
cabeça erguida. Olhando para frente e nunca nos lamentando de
que não podemos superá-las. Acredite em você e nas imensas

#
potencialidades que Deus lhe reservou, afinal, você é filho Dele.
Pense nisso! Se Ele te deixou passar por essa experiência é porque
necessita de você. Ele está lhe testando as suas fibras interiores.
Nunca se abata. Jesus, o nosso irmão maior, nunca se abateu diante
das injustiças e dos destemperos que o mundo lhe impingiu. Faça o
mesmo. Mire-se na figura do Excelso que a todo instante, mesmo
quando você lhe vira a face, benfazeja um sol radiante, todos os
dias, para dizer que acredita em você, mesmo o renegando.
Todas as criaturas são filhas de Deus. E Ele é amor, não vai
desamparar ninguém. Guarde no seu coração as palavras de Jesus,
quando disse que nada acontecerá sem o consentimento do Pai.
Acredite nestas palavras. Seus sofrimentos são frutos de seus atos.
Deus é amor e como amor não gostaria de prejudicar ninguém.
Jesus, seu filho amado, poderia se insurgir diante de tudo que
passou, mas não o fez, pelo contrário, agradeceu ao Pai
Amantíssimo pelas oportunidades de servi-lo. Por isso que dizia
que Ele e o Pai eram um só. Por que você não tenta o mesmo? Pare e
reflita sobre estas palavras. Não são conselhos tão-somente. São
reflexões que servem para falar a alma e deixá-la penitente a Deus.
Deixe que Deus fale a sua alma. Deixe-se levar pela gloriosa
vontade do Altíssimo na sua vida. Ele quer que você participe com
Ele da enorme criação que todos os dias Ele faz: recomeçar no
coração dos homens. Do seu coração, também.
Aos homens de boa fé, aqueles que acreditam no amor de Jesus, eu
vos deixo esta palavra. Não de um sacerdote que continuo sendo do
lado de cá, mas de um homem, que temente a Deus, não pelo temor,
não pelo medo, mas consciente de que suas obras são inadiáveis,
deseja que você pare e pense sobre sua razão de ser. Como irmão,
mais um irmão, que tenta cumprir humildemente a sua parte na
construção do reino de Deus na Terra.
Aos homens de boa vontade, disse o mestre de todos nós, sigam-
me. E podemos dizer, do fundo dos nossos corações, até o fim dos
dias: Meu Senhor.

#
Ficai na paz de Jesus!

Capítulo 3

Os construtores da Nova Era

Os antagonismos que existem na Terra são conseqüências diretas da
ação do homem ainda imperfeito.

Ele clama por liberdade, mas não consegue libertar-se de si mesmo.
Ele fala da insegurança dos nossos dias, mas não se permite
diminuir as agressões que comete a si próprio através das drogas,
do excesso de álcool e de outros exageros diários que lhe violentam

o ser.
O homem fala que está tudo errado, mas se nega a ver os próprios
erros.
O homem critica os governos, mas não consegue governar a sua


vida.
O homem reclama da poluição ambiental, que o impede de viver


saudavelmente, mas não consegue sequer limpar os seus próprios
pensamentos das maledicências.
O homem critica os outros por não fazer a sua parte no conjunto


social, mas ele mesmo não dá o exemplo dentro da sua própria casa.
Por que lhe falta a coerência? Por que o discurso não corresponde às
suas ações? Por que este hiato entre o que pensa e o que faz?
Há uma ordem de coisas que necessita ser alterada no planeta. Uma
delas é o comportamento humano, sem o qual deverá ocorrer

#
alguma mudança nas estruturas sociais. Como fazê-lo, então? Pelo

caminho moral, sem dúvida.
As casas de recuperação humana, sejam elas espíritas, católicas ou
de qualquer outra denominação, têm o compromisso de aproximar

o homem para mais perto de Deus. Se não o fazem é porque há algo
de errado. Claro que o esforço é válido, mas o esforço tem que ser
sincero, não apenas da boca para fora.
O homem, que verdadeiramente proclama ser como as estrelas,
precisa descobrir seu brilho próprio. Não pode, apenas, ficar se
alimentando da luz do outro. Cada qual tem a sua fonte luminosa e
deve encontrá-la no imo do seu ser, como alqueire sobre a mesa que

o Mestre Jesus nos recomendou outrora.
Há muito por fazer no plano de Deus que se constrói a cada dia no
coração dos homens. Quando o coração humano conseguir falar
mais alto do que a ética racional-materialista, o mundo começará a
se modificar, enquanto isto, deve considerar a superficialidade do
progresso que ocorre, porque as aparências não se constituem
elementos verdadeiros de avanço para a condição humana.

Do que adiantarão as belas construções erguidas
monumentalmente, se ainda se mora em casebres de taipa e pau-apique
uma enormidade de seres humanos?

Que dizer da tecnologia de ponta que impressiona pela sua rapidez
e sofisticação, se o coração do homem ainda está arraigado ao atraso
pelo egoísmo e pelo orgulho?

Por que tanta preocupação com o luxo dos shopping centers e do
mundo irreal que se mostra nas telas televisivas, se muitos não têm
ainda o que calçar e vestir?

Por que a necessidade de se demonstrar receitas de guloseimas
deliciosas, se boa parte da humanidade ainda se sucumbe por não
conseguir um prato de comida?

#
Por que tantos valores invertidos? Por que ainda não priorizamos
aquilo que de fato nos interessa verdadeiramente o coração? Por
quê? Por quê?

Porque ainda não nos descobrimos como filhos de Deus. Porque
ainda predomina a visão materialista da vida. Porque ainda
insistimos em não nos enxergarmos como realmente somos.

Tudo isso um dia passará inevitavelmente. Um choque de novos
valores que já começa a se impor na Terra haverá de predominar,
pouco a pouco, sobretudo trazido por uma nova legião de espíritos
que já renasce com o compromisso de trazer os novos paradigmas
da imortalidade do ser para os homens.

Gradualmente um mundo novo se forma. Haveremos de povoar a
Terra com os homens de boa vontade que Jesus proclamou. A Terra
será sim dos pacíficos e dos puros de coração, dos ordeiros e dos
defensores da justiça social.

Todos os aspectos da vida humana sofrerão transformações
irreversíveis. Tudo isso já está acontecendo, basta abrir os olhos da
sensibilidade para perceber esta nova realidade em construção.

Busque dentro de si a alvorada destes novos dias. Faça por merecer

o novo éden que te espera bem perto de ti. Conclame aos céus a
nova era e tome a decisão de fazer a sua parte.
Eis o novo mundo que nasce aos nossos olhos. Façamos por merecêlo
e vivê-lo finalmente na glória do Nosso Senhor Jesus Cristo.


Paz aos irmãos de boa vontade!

#
Capítulo 4

A verdadeira natureza humana

Por que os homens se entregam tanto ao dinheiro? Por que os
homens esquecem tanto da sua condição humana? E esta
materialização da existência, o limiar das coisas sobre o espírito que
espezinha o homem e sua condição maior que é a espiritual.

O homem se vê apenas pelo que enxerga, é muito pouco. Pensa que

o que está a suas vistas é o suficiente para entender a sua natureza,
não é verdade. O homem precisa se ver além do espelho, além de
sua própria vaidade. O homem procura coisas que o limitarão no
entendimento das suas próprias verdades.
Sejamos fiéis ao pensamento divino que num sopro nos fez. O sopro
divino é uma questão de imaginação, não de confusão. A
imaginação pode servir para o ser se sobressair da sua condição
imediatista e palpável para uma outra, mais voltada para a sua
transcendência. Mas, por que os homens se limitam tanto no aqui e
no agora? Por que teimam em repetir uma condição que somente o
frustra? Esta questão tem sido o objeto de estudo de muitos
pensadores durante os tempos imemoriais. A eterna confusão entre

o ser e o ter, entre o tangível e o intangível, entre o querer e o poder.
A insistente predominância das coisas terrenas sobre as espirituais
tem feito o homem sofrer e, desta forma, não evolui
verdadeiramente. Pelo contrário, vive em círculos viciosos, pois a
felicidade que imagina conseguir é temporária, é vazia, não tem
continuidade. E inócua.
Pensamos que a obtenção de coisas materiais é suficiente para nossa
felicidade, ledo engano. Procuramos na saciedade das nossas
vontades físicas, conseguir o êxito necessário das nossas satisfações,
e o que percebemos? Que ela atinge o seu clímax num momento, e

#
no momento seguinte, já se pede a satisfação de outras necessidades
que não termina nunca.

Até quando viveremos a perguntar aos homens porque ele insiste
tanto em algo que já se demonstrou, por experiência do dia-a-dia,
que não lhe levará a nada? Penso que um dia, exausto de suas
tentativas infrutíferas, o homem vai finalmente cair em si e desejar
algo mais do que está a sua frente a procura tão-somente de sua
aceitação.

Não quero dizer que isto já não exista em larga escala. Claro que
existe. Mas os homens insistem em querer ignorar aquilo que lhes é
mais real: a sua natureza espiritual. Esta teimosia ainda lhe levará a
grandes sofrimentos. O sofrimento da sua não aceitação. E é assim
que o homem aprenderá, pelo sofrimento, pela dor, pela sua
teimosia.

Queridos irmãos, o homem pensa que sabe mais que Deus. Que
blasfêmia! Imagina-se maior que o Criador. Não é possível. Ser mais
que Deus é uma pretensão sem fim. Esbarra-se em si mesmo,
porque se frustra quando não consegue realizar-se mais que Ele. E
claro que os avanços da medicina, da tecnologia, da ciência, darão
aos homens esta falsa pretensão. "Para que Deus, se estou criando a própria
vida?" Imaginarão alguns. E verdade. O homem está sendo coparticipe
na criação da vida, mas é porque Deus permite. Deus
administra tudo, inclusive os avanços do homem que precisa, ao ser
co-criador, pensar como Deus, isto é, perguntando-se: Por que Deus
criaria isso? Com que finalidade Deus faria isso? E assim proceder
igualmente. Sem esta premissa ética, o homem será um subvertido à
vontade de Deus. Como co-criador, o homem deve estar
sintonizado com a divindade, aí tudo ocorrerá em harmonia.
Harmonia celestial. Por isto, meus irmãos, devemos ver o progresso
como algo positivo ao ser humano, mas quando condicionado à
vontade de Deus Pai, Todo Poderoso, caso contrário, repito, toda
criação humana não terá valia.

#
Aqueles que teimam também em não aceitar o avanço dos homens,
peço que orem por aqueles que detêm de inteligência para criar
coisas novas. Para que Deus possa iluminá-los em direcionar as
"suas invenções" para o bem de todos os homens e não apenas para
alguns deles ou para satisfazer a ganância de um grupo que vê, no
progresso científico, uma forma de conseguir auferir mais dinheiro,
na sua sanha insaciável por poder.

Meus queridos irmãos, estejamos alertas quanto a estas novidades.
Não vamos entrar de "cabeça" em qualquer coisa que esteja
aparecendo. E preciso analisar quais são os verdadeiros benefícios
dos novos inventos humanos. E preciso questionar qual a sua
serventia, afinal, os modismos, já se tem provado por aí, são
danosos e ridículos quando não são usados com consciência.

Estejamos alertas também para o uso dos bens materiais. Eles têm
os seus limites. Eles têm a sua necessidade específica. Estejamos
alertas para aquilo que verdadeiramente importa. Para aquilo que
sobrevive a tudo e a todos: as coisas espirituais. São elas, não outras,
que devem nortear os nossos pensamentos e decisões. Pensem nisto
com carinho diante das novidades, que serão cada vez mais
freqüentes no mundo dos homens.

Que Deus, nosso Pai, nos oriente nesta infindável e comovente
história que está apenas no seu limiar. Que Ele nos proporcione
entendimento diante do inolvidável que apenas começa na história
da humanidade. Sejamos firmes nas nossas convicções de
elucidamento da verdade, confiando que Ele aparecerá nas nossas
consciências a dizer o que seja melhor para a nossa condição.

#
Tudo, sem exceção, tem um encaixe perfeito no plano de Deus. Se não há
harmonia no construir das coisas então elas não vêm de Deus.

Capítulo 5

Confiança em Deus

A perspectiva do Cristo em nossas vidas modifica completamente o
nosso existir na Terra, porque ela rejubila o nosso ser trazendo-nos
novos horizontes e resplandecendo um novo alento.

Queira o Nosso Senhor Jesus Cristo que tenhamos a lucidez
necessária para distinguir o certo do errado. Não é sem demora
separar o joio do trigo em nossas vidas. Digo isto porque muitos

#
podem parecer aquilo que não são e com muita sabedoria. A
inteligência é prodigiosa e pode conseguir produzir muitos feitos,
por isso todo cuidado é pouco, sobretudo nos dias de hoje em que o
aparecimento de falsos Cristos e falsos profetas serão mais
constantes.

Tudo que existe na vida tem uma razão de ser. Nada acontece por
acaso. Tudo tem a sua razão de existir. Sabendo disto, não podemos
nos demorar em encontrar nexo nas coisas que acontecem nas
nossas vidas. Tudo, sem exceção, tem um encaixe perfeito no plano
de Deus. Se não há harmonia no construir das coisas, então isto não
vem de Deus. Pergunte-se sempre: por que isto não está
acontecendo na minha vida? Por que estou passando por esta
situação aflitante?

Se confiamos em Deus, se colocamos, de fato, e não apenas da boca
para fora, o verbo de Deus, então confiaremos que a situação
presente tem uma explicação divina nas nossas vidas. Confiança em
Deus, portanto, é fundamental. Sem ela, perderíamos a esperança e
a vida ficaria sem sentido.

O amor de Deus é tamanho que Ele não deixa nenhum dos seus
filhos sem amparo. Ele provê a todas as nossas necessidades. Do seu
jeito, é bem verdade, mas provê, porque Ele sabe, mais do que
ninguém, o que é importante para as nossas vidas.

Confiar é fundamental, mas confiar de verdade. Deixar que a vida
nos leve para onde deve nos levar, mesmo que não entendamos de
início até onde vai dar aquela situação toda.

Permaneça sempre nos seus pensamentos confiantes que o amanhã
será um novo dia de oportunidades. Deus provê e tudo dará certo.
Basta confiar. O problema é que nossa fé ainda é diminuta, é muito
pequena. Se pelo menos tivéssemos a fé do tamanho de um grão de
mostarda já era grande coisa, mas nem isso possuímos.
Jogar a nossa vida nas mãos de Deus é atitude de sabedoria e não é

#
apenas um comportamento de fé. Ciente da onisciência e
onipresença do Altíssimo, devemos confiar que Ele saiba o que seja
melhor para nós. "Ah, homens de pouca fé, até quando estarei entre vós?" 1,
alertava o Mestre Galileu quando estava conosco. Jesus sabia da
pequenez da nossa fé, mas acreditou nos homens depositando um
desafio, o desafio de superar a nossa incredulidade.

Se tivéssemos essa fé do tamanho de um grão de mostarda, quantos
prodígios poderíamos produzir... Mas Deus confia no homem. Ele
sabe que o homem pode alcançar alturas que ele sequer imagina por
enquanto. Temos medo de nos assumir na nossa grandeza divina,
nos acanhamos diante da imensidão de possibilidades que somos
detentores.

Façamos a nossa parte enquanto estivermos a caminho, asseverava
o Nosso Senhor, e um destes compromissos maiores é o
desenvolvimento da nossa fé, desta confiança inquebrantável de
que Deus protege as nossas vidas e, por esta razão, nada nos faltará.

Carregamos em nós o gérmen do bem e do amor, o que, por si só, já
nos garante um futuro grandioso. Sendo assim, sejamos, conforme
Jesus o foi, um intermediário de Deus na Terra, fazendo das nossas
vidas um depoimento vivo de suas verdades e de sua fé.

Imaginemos o Nosso Senhor no momento mais difícil do Calvário,
fruto das maiores injustiças e da cobiça dogmática dos fariseus e,
mesmo assim, torturado, manteve-se inalterado no seu
comportamento e sereno no seu semblante, porque tinha fé, a fé
verdadeira, que vence a tudo e a todos.

Aprendamos com o Nosso Senhor e conduzamos as nossas vidas
para a luz e para a verdade.

Que Nosso Senhor nos proteja e fortaleça a nossa fé!

1 Mt 8,26

#
Capítulo 6
A harmonia nas diferenças


Um espírito conciliador não encontra guarida em todas as pessoas.
Por quê? Porque há muitos que se alimentam, infelizmente, da
raiva, do rancor, da impaciência com as idéias dos outros. Temem,
no fundo, pela sua própria verdade. Temem que o seu pensar seja
rejeitado ou que suas verdades possam ser questionadas e
ignoradas como não sendo a expressão da verdade. Há aqueles que
pensam que se sua palavra for traída pela razão dos fatos ficarão
desmoralizados. E a intransigência humana falando mais alto. O
que devemos fazer diante daqueles que não sabem escutar a palavra
do próximo?

Paciência e resignação, penso.

Paciência porque todas as pessoas têm o seu tempo certo para o
despertamento para Deus, para a verdade. Cada um possui a sua
particularidade e precisa ser respeitada. Não é porque encontramos
lógica numa assertiva que todos devem imediatamente concordar
conosco. Como estávamos até antes de descobrir aquilo que hoje
sabemos? Nós tivemos o nosso tempo de maturação para as
verdades que vamos descobrindo durante o caminho da vida, e que
ainda sabemos bem pouco daquilo que nos é reservado pelo
Criador. Agora, se você acha que já sabe de tudo, que tem a
sapiência, que não precisa aprender mais nada, você vai viver num
verdadeiro inferno, porque as outras pessoas podem discordar de
você, e aí como vai ser? E preciso ter coragem para mudar, para
asseverar que erramos, que não estávamos com a razão que
imaginávamos possuir. E muito difícil mudar de idéia, mas pior
ainda é manter-se inalterado diante dos fatos evidentes.

Peço a Deus que todos os homens possam se arrepender de seus
erros "enquanto estiver a cantinho"¹¹ E doloroso ver pessoas inteligentes

#
se firmarem em compromissos ideológicos sem fim, quando a força
da realidade mostra exatamente o contrário daquilo que se pensa. E
aí que deve reinar a resignação de todos os lados. Resignação
porque as pessoas são o que são. Não adianta imaginar que somos
aquilo que ainda não somos, ou que alguém é aquilo que
desejaríamos que ela fosse, mas que na realidade, ela ainda não é.
Resignar-se com a vida que sabiamente faz tudo acontecer no tempo
aprazado, sem demora, mas no tempo aprazado por Deus.

Tenha consciência de que você não possui a fé verdadeira
unicamente. A fé é produto da consciência de cada ser humano, do
seu estágio de evolução para Deus. Ninguém pode contrariar o
ritmo das coisas, o ritmo de Deus nas nossas vidas. Tudo haverá de
se cumprir, é certo, mas não abruptamente. Paciência para aguardar

o tempo certo, resignação diante das situações que a paciência nos
impõe no dia-a-dia.
Meus queridos irmãos, é duro, como dizia, ver um homem
inteligente, de bom raciocínio, ficar preso às suas próprias idéias,
quando as evidências apontam para outra direção. Nestes casos, fala
mais alto o orgulho, infelizmente, que está na esfera dos
sentimentos humanos.

Ah, esse orgulho ferido! O orgulho mata. Mata a convivência, a
temperança, e até o amor se não tiver cuidado, porque é irmão
gêmeo da indiferença, do ódio. E o ódio é o inverso do amor, por
isso que, se não tiver cuidado, o orgulho, pelo ódio, pode matar o
amor numa relação e até que ele se reconstrua...Haja tempo
perdido.

Meus irmãos em Cristo, o universo do Senhor é rico, é generoso de
exemplos, de sabedoria, de ensinamentos em coisas aparentemente
insignificantes. Veja, por exemplo, uma rosa.

¹¹Mt 5,25.

#
Para nascer, para se mostrar ao mundo, para aparecer bela, ela tem
que superar as intempéries: o sol causticante, o balançar de outras
rosas, a mão do homem que a arranca sem estar na hora do
desabrochar pleno; e ela está lá, soberana na sua beleza e graça. E
assim que Deus opera nas nossas vidas, como uma rosa que Ele
sabe que somos. Precisamos superar as intempéries interiores, o
balançar das nossas consciências confusas ou o arrancar de nossas
vontades no tempo incerto. Como uma rosa, precisamos superar a
tudo na vida: a indiferença, o orgulho, a palavra inimiga que
inflama contra nós, a todos que pensam diferentemente do que nós.

O homem precisa conviver em paz com sua consciência e, para isso,
aquele que ainda não percebeu que não pode prejudicar de modo
algum a vida de outrem, é preciso respeitar os espaços e as opiniões
alheias a sua. E assim que Deus procede no universo, respeita as
diferenças. E por esta razão que o universo é belo, porque sabe
manter a harmonia ante as diferenças que o constitui, que lhe é
inerente.

Haveremos de aprender com os universos dos outros. Faz parte do
nosso crescimento espiritual. Faz parte da nossa indómita vontade
de ser feliz. Ou eliminamos o outro ou vivemos em paz com ele,
entendendo-o. Das duas opções, acredito que a mais razoável seja
do entendimento do próximo, como ele é e não da forma como
desejaríamos que ele fosse. Quando fizermos isso, estaremos nos
tratando como irmãos e o mundo viverá finalmente em paz.
Construamos, portanto, sob a égide de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que, respeitando a diferença dos judeus e de outros povos, fez-se
autoritário o tempo todo, fazendo valer a sua opinião em
contraponto a aqueles que eram diferentes do que ele.

Sejamos como Jesus e deixemos que o calvário do destino nos faça
forte em superaras intolerâncias de toda sorte, as incompreensões
que teimam em reinar nos nossos relacionamentos, mesmo com
aqueles a quem amamos.

#
Façamos já a nossa parte e evoluamos a caminho do Pai, o Criador
das diferenças e da harmonia.

Capítulo 7

O valor do dinheiro

Um homem que crê, tão-somente, nos valores materiais é pobre,
porque percebe parcialmente a sua realidade. Deposita nos bens
materiais, no seu acúmulo, a fonte da sua felicidade. Que pena! Até
quando o homem continuará a se auto-enganar quanto à verdadeira
razão da riqueza?

O homem moderno, muito preocupado com a manutenção das
aparências, passa a dar valor a coisas pueris, superficiais, que não
têm consistência alguma. As coisas em si não têm valor. O valor
somos nós que damos a elas. Portanto, para uns, um objeto pode ser
absolutamente valioso enquanto para outro nada representa.

Você já se perguntou o que é que tem valor na sua vida? O que lhe
realmente faz feliz?

O homem que reserva a sua atenção apenas para as coisas materiais,
como falamos, é pobre, muito pobre, porque as adversidades da
vida, muitas delas, não há dinheiro no mundo que as impeçam.
Então, o rico pode ser pobre, apesar de possuir uma fortuna. Esta
relatividade das coisas deve ser o ponto de conduta dos verdadeiros
cristãos na Terra. O dinheiro é bom, ninguém pode negar. Ele dá

#
condições de realizar coisas que imaginamos e precisamos, o que
nos resta definir é como vamos aplicá-lo nas nossas vidas. O
dinheiro compra tudo? Não, mas pode ajudar-e muito-a equacionar
os problemas humanos se bem utilizado.

Já imaginaram o que seria do mundo se repartíssemos mais
justamente a riqueza que existe no planeta? Já imaginaram se o
montante de riqueza concentrada numa minoria fosse distribuída
equitativamente ou proporcionalmente às necessidades da
coletividade humana?

O Nosso Senhor Jesus Cristo veio nos avisar que precisamos nos
tratar como irmãos que somos, mas parece que esquecemos esta
máxima divina. Por sermos muito egoístas, por ainda não
desenvolvermos o sentimento de compaixão, pregado por ele, ainda
ignoramos aqueles que mais necessitam de amparo, de ajuda, de
colaboração fraterna.

Ah, quando os homens se descobrirem como irmãos a vida na Terra
será bem diferente! Se a riqueza fosse melhor distribuída,
pensamos, alguns riscos graves que passam a humanidade
deixariam de existir. Não haveria mais violência na proporção que
temos hoje. Muitos casos de roubo, bem sabemos, é reforçado pela
ausência do mínimo nas famílias. E duro ver um pai de família,
trabalhador, faminto. E o pior, sem perspectiva de vida. E duro
olhar para dentro de casa e ver filhos e esposa esperando por ele e
ele se sentindo impotente. Até quando isso, meu Deus, vai existir
entre nós? Quando é que o Senhor Jesus vai entrar nos corações dos
homens? E o Nosso Senhor, diga-se bem, se assemelhou a este pai
de família como a todos os deserdados pela sorte. Disse mais.
Proclamou a todos se ajudarem mutuamente na construção do reino
de Deus na Terra. Conclamou-nos a solidariedade irrestrita.
Conclamou-nos a ser verdadeiramente humanos e não apenas da
boca para fora.

#
Quando será, meu Senhor, que o amor tocará o coração dos nossos
irmãos na Terra? A riqueza que possuímos já é mais que suficiente
para suprir as nossas necessidades e ainda sobra. E para agir contra
estas injustiças que Tu te reveste em cada um daqueles que se
indignam com esta situação atroz. E esta indignação que não pode
deixar de existir enquanto houver uma só pessoa por privações de
qualquer forma.

Ajamos firmemente em alterar este estado das coisas. O mundo
somente será outro se providenciarmos a mudança em nós.
Façamos já o que nos cabe. Façamos a repartição dos nossos bens,
não apenas das nossas sobras, mas do excesso daquilo que já
possuímos e que não nos faria qualquer falta se deixássemos de têlas.
Somente com gestos largos e humanos, haveremos de reverter
esta situação caótica social e edificarmos um mundo mais justo e
fraterno.

Que o Nosso Senhor, pelas suas palavras e ações, nos ajude a
entender este papel que nos cabe.

Capítulo 8

Deus é implacável?

Um princípio que se afirma cada vez mais no anedotário popular é

o de que "o queaquisefaz, aquisepaga." A sabedoria destas palavras é
enorme. Lembro eu que certa vez, passeando num destes interiores,
encontrei-me com um tal "Seu Manoel". Ele me perguntou:
#
-Dom, é verdade que a mão de Deus é pesada?

Surpreso, por aquela pergunta inesperada, respondi prontamente
que não, pois concebo o Nosso Pai como alguém amantíssimo e que
não iria castigar nunca um de seus filhos queridos.

Inconformado com a minha resposta seca, meu interlocutor
discordou veementemente:

-Não acho isso não, Dom. Acho que Deus é implacável com aquele
que erra. Deus não gosta de pecador. Gosta de gente boa de verdade
e pune quem sai dos trilhos.

Confesso que me encasquetei com aqueles argumentos. Havia um
fundo de verdade naquelas palavras, mas Deus não é implacável
para punir, Deus é implacável para corrigir, para educar, para
despertar em cada um de seus filhos a vontade de acertar sempre.
Contra-argumentei que Deus tem suas razões para agir de um jeito
ou de outro,

Ele aplica a lei da justiça divina que é amorosa, mas não deve ser
jamais rancorosa. Ele, o meu interlocutor, não se conteve, e
continuou "me ensinando":

-Seu Dom, me perdoe mais uma vez, mas acho que Deus responde
implacavelmente ao mal que cometemos sim. Senão, Ele perdoaria,
deixaria para lá, mas Ele não deixa. Deus cobra tim-tim por tim-tim.

-Não discuto com você, meu caro — respondi — aquilo que se faz
por aqui, aqui mesmo se paga, mas Deus não dá fardos pesados
àquele que tem ombros fracos. Ele dá de acordo com a capacidade
que cada um tem de suportar a sua carga. Portanto, Ele não é
injusto. A pessoa paga, mas paga como puder pagar.

-Ah! Então, a história é diferente. Pagar se paga, mas de acordo com
a capacidade de pagamento do devedor. Então, tá entendido, mas,
mesmo assim, continuo achando que Ele é implacável.

#
Não discuti mais o assunto com o meu bom inquiridor, mas fiquei a
pensar cá com os meus botões: Será mesmo que Deus é implacável?

Hoje, mais consciente de algumas coisas na condição que estou,
penso, ou continuo pensando, que Deus é justo sim. Uma justiça
que muitas vezes não conseguimos compreender direito. Deus age
certo, sempre age certo no seu senso de justiça e sabedoria, mas a
nossa condição de entendimento ainda é muito limitada. Não temos
condições de entender, sobretudo quando estamos vestindo um
corpo físico, a grandiosidade das obras de Deus nas nossas vidas. O
remédio, portanto, é confiar e aprender.

Confiar em Deus, porque Ele sempre sabe o que faz, e aprender, nos
mínimos detalhes, as lições que aquela situação tem a nos ensinar.

Queira Deus que um dia, mais despertos da nossa condição de
entendimento das coisas, compreendamos de imediato o que se
passa com cada um de nós, enquanto isso não acontece, meus
irmãos, deixemos as nossas vidas nas mãos de Deus. Ele sabe o que
faz. Se fizermos assim, veremos no futuro que cada peça vai se
encaixar no grande quebra-cabeças divino.

Que Ele nos abençoe sempre e ilumine o nosso entendimento em
cada situação das nossas vidas, tanto as favoráveis quanto as
adversas, pois em tudo, creiam, Deus tem um recado proveitoso a
nos mandar.

Que Deus seja louvado!

#
Se os políticos soubessem a dimensão que alcançam as suas palavras,
pensariam duas vezes antes de pronunciá-las, mas a sede de poder, de
mandar, faz muita gente cometer impropérios com a língua.

Capítulo 9

Desesperança

Um dos elementos mais importantes da existência humana é a
esperança. Sem ela, são roubados os nossos sonhos de vida. A vida
em si, sem os sonhos, fica sem sentido algum. O que devemos ter
dentro de nós, de mais precioso, é acreditar num amanhã melhor. E
isto que nos faz ficar de pé diante das intemperanças da vida. Por

#
acreditar numa vida nova, diferente daquela que temos hoje, é que
conseguimos deixar para lá aquilo que nos atrapalha o bem-viver.

A esperança é, portanto, um patrimônio preciosíssimo. E muito
delicada também. Quem nutre esperança por alguém ou por
alguma coisa transfere um pedaço de sua alma nesta conquista
vindoura. A esperança de um homem é um tesouro de grande valia.
Quantos sofrimentos humanos não foram atenuados porque se cria
que, lá na frente, tudo seria diferente? O homem permite o
sofrimento no presente na perspectiva da recompensa futura.
Quando, porém, nos vemos ultrajados nos nossos sonhos é como se

o mundo caísse sobre nossos olhos. Então, nasce um sentimento
nefasto, que é a desesperançaA desesperança é a ausência de
sonhos, é a ausência da própria vida, pois aquele que não acredita
no amanhã já morreu e não se apercebeu disso ainda.
Tem gente que não se apercebe de que, quando falam juras ao povo,
prometendo isto e aquilo, comprometem-se igualmente com os céus
que deposita nele, através do grande conjunto das vontades, a
responsabilidade de materializar as palavras que eletrizaram as
massas. E difícil ver o coração de alguém que vê frustrado os seus
sonhos. E um baque sem precedentes e é difícil se levantar.

Se os políticos soubessem a dimensão que alcança as suas palavras,
pensariam duas vezes antes de pronunciá-las, mas a sede de poder,
de mandar, faz muita gente cometer impropérios com a língua. O
amor-próprio em detrimento da coletividade é muito perigoso.
"Primeiro os meus...", conta o ditado popular, numa incrível
demonstração de egoísmo, que é igualmente danoso.

Queira Deus, na sua Excelsitude, que o homem desenvolva já a sua
responsabilidade social e de justiça, cumprindo a sua parte na
grande construção divina que é o bem de todos e não apenas de
alguns privilegiados ou apaniguados.

#
Dia virá, certamente, que o homem, envolvido no puro sentimento
de fraternidade, desenvolverá no campo público atitudes de
generosidade, sobretudo para com aqueles que mais sofrem, os
pobres de Deus, que tanto dependem da decisão sincera de seus
governantes de cuidarem deles com determinação e honestidade.

Após a desesperança, porém, virão dias melhores, porque os
homens públicos, mais conscientes de seus deveres, haverão de se
comportar com integridade e serão coerentes com seus
compromissos ideológicos. Apesar das trevas que a desilusão
provoca, graças a Deus, sabemos que o amanhecer sempre será de
muita luz, levando embora todas as causas das cegueiras humanas.

Assim caminhará inevitavelmente a humanidade, com as bênçãos
do Nosso Senhor Jesus Cristo, que tudo vê e, através dos seus
mensageiros celestiais, continua a ajudar os homens na descoberta
de seu novo amanhã.

Capítulo 10

O valor do tempo

Onde estiver o vosso tesouro, estará o vosso coração.

Jesus, Mateus, 6,21.

#
A palavra de Jesus é sempre certa. Não há como fugir dela. Em
todos os lugares, resplandece o seu verbo infinito de bondade e
amor. A compreensão destas verdades faz o homem se preocupar
com seu amanhã com outros olhos. Porque fazer isto e não aquilo
passam a ser decisões sábias no dia-a-dia. A consciência desperta
começa a dar os seus primeiros passos. Esta inquietude é positiva,
pois, ao pensar muitas vezes no que vai fazer, o homem reflete
sobre a vida e sobre si mesmo.

O depósito que Deus colocou nas nossas mãos é precioso. Não
devemos dispensar as nossas atenções com coisas fúteis. O nosso
tempo é precioso para ser aplicado de maneira estéril, portanto,
muito cuidado com o que faz. A certeza que teremos sempre um
amanhã faz-nos, muitas vezes, adiar um compromisso que poderia
ser executado hoje, adiando hoje o que deve ser feito neste
momento, estaremos adiando a nossa própria vida. E um
descarrego de nossas atenções a ser devidamente cuidado.

A perspectiva da nossa vida na Terra é muito pequena. Quando
abrirmos os olhos para perceber o que fizemos efetivamente com
ela, veremos que boa parte dela já se foi, por isso é que é muito
importante a vigilância. "Vigiar e orar", ensinava o Nosso Senhor
Jesus Cristo exaustivamente para não desperdiçar o valoroso tempo
que ele nos concedeu. Ah! Se tivéssemos consciência do valor do
tempo, teríamos certamente outro comportamento nas nossas vidas,
enquanto houver amanhã...

A responsabilidade que assumimos perante Deus antes de voltar a
Terra é enorme. Não podemos avaliar o quanto nos
comprometemos de juras para consertar isto e aquilo nas nossas
vidas e, no final, na hora da avaliação, a maioria de nós fez bem
pouco daquilo que fora prometido. E assim que passa a vida da
maioria das pessoas da Terra: muita promessa e pouca ação. Daí
vem, meus queridos irmãos, a importância do uso do tempo.
Tenham cuidado com algo que faz, porque se fizermos algo de

#
errado, teremos que usar o tempo para corrigir o desiderato
inconveniente. E um absurdo o que fazemos com o nosso tempo. A
nossa negligência é de fazer chorar. Quanto desperdício com aquilo
que não se pode guardar no guarda-roupas nem em nenhum cofre
do mundo. Se despertássemos para o real valor do tempo, o
cronometraríamos para realizações sempre melhores. Faríamos
apenas coisas importantes, para nós e para os outros, tudo medido.

E claro que reservaríamos um tempinho para a ociosidade, mas não
uma ociosidade qualquer, uma ociosidade contemplativa, uma
ociosidade que nos faria meditar sobre as coisas do mundo e sobre
as nossas vidas.

É tão bom parar um pouco e fazer uma revista na trajetória que já
percorremos e imaginar o que nos espera. Isto é fundamental para o
crescimento interior. Somente evolui aquele que reflete sobre si
mesmo. Não adianta fugir a estas máximas divinas, meus caros,
tempo é ouro sim e dos bons. Basta olhar para aqueles que o
utilizam bem e para aqueles que o desperdiçam. As vidas dos dois
são completamente diferentes. Sendo assim, o que você está
esperando para utilizar adequadamente o seu tempo?

Meus queridos irmãos, Jesus, o nosso irmão maior, soube aproveitar
muitíssimo bem o tempo que desempenhou na Terra. E bem
verdade que ele somente iniciou a sua jornada na Terra a partir dos
trinta anos, mas os três anos que utilizou valeu por uma vida
inteira. Havia lá as suas razões para isto, mas ele fez do tempo um
aliado para as suas realizações. Planejou eficazmente todos os seus
passos. Até a hora derradeira, a hora do sacrifício para os homens,
ele previu tudo, pois havia um sentido. E ele cumpriu.

Usemos o exemplo do Cristo em nossas vidas. Sejamos
disciplinados com esse bem muitíssimo precioso e demos a ele a
importância que lhe cabe. Assim a nossa vida se tornará mais
produtiva e haveremos de fazer maravilhas quando retornarmos ao

#
plano de espírito e dizer de nós para nós mesmos: Valeu a pena
viver, combater bem o bom combate.


Quando procuramos a Deus, procuramos no fundo, a nós mesmos, porque a
nossa essência sendo divina possibilita um desabrochar de oportunidades nas
nossas vidas

#
Capítulo 11
Destino


O que fazer da vida? Uma pergunta que teima em não se calar.
Fazer isto ou aquilo? O que é mais produtivo? Afinal, tempo é ouro.
Estas perguntas têm respostas, é verdade. As escolhas, afinal de
contas, determinam o direcionamento das nossas vidas. Portanto, é
fundamental fazer escolhas acertadas. O destino que damos às
nossas vidas corre dentro de nós. As escolhas dependem do grau de
compromisso que temos da vida. Se somos mais conscientes de
nossas responsabilidades, fica tudo mais fácil, mas se ainda não
despertamos para elas, fica tudo uma confusão indefinível. O que
fazer, então? Procurar a Deus, penso eu. Mas o que significa
procurar a Deus? Significa procurar a si mesmo, eis o mistério a ser
desvendado por todos os homens.

Quando procuramos a Deus procuramos, no fundo, a nós mesmos,
porque a nossa essência, sendo divina, possibilita um desabrochar
de oportunidades nas nossas vidas. A vida se revela de mil faces, eu
bem o sei, mas a face divina é uma só, não tem outra. A face divina
é nossa face real, é a face verdadeira e ela se revela desde as
Pequenas até as grandes, basta estar atento para enxergá-las. Tudo
tem o seu sentido, tudo possui uma lição a nos ensinar, se
estivermos verdadeiramente atento a elas.

O que fazer então? Está resguardado às questões interiores, refletir
sobre a vida constantemente. Santo Agostinho, o bom santo de
Deus, fazia isto como um exercício da própria vida. Auscultar-se
intimamente é remédio eficaz para transformar qualquer
dificuldade que nos atormenta. A resposta para todos os nossos
problemas não está nos outros nem em nenhum outro lugar, está
dentro de nós mesmos. A saída, portanto, para as maiores
dificuldades não será encontrada num comprimido milagroso ou

#
numa erva mágica. Muita gente acredita que para ter acesso para
um bem melhor, necessita fazer uso destes recursos, isso é uma
ilusão sem fim. E o pior é que isso prende o sujeito, deixa ele refém
de si mesmo, de sua necessidade de injetar um algo mais para se
libertar. E essa é a mentira que ele aceita e se complica a vida
inteira. Libertar-se da própria ilusão é desafio diário e para quem
faz isso, sem uso de qualquer artefato, já é um ser feliz que auto se
encontrou.

Meus caríssimos irmãos, a vida é assim, é um correr para encontrar

o nosso próprio destino. Destino traçado por nós mesmos, noutra
esfera do existir e que teimamos, muitas vezes, em não querer
aceitá-lo. E bem verdade que o esquecemos em nível consciente,
mas existe uma luzinha que não pára de piscar a nos alertar,
intuitivamente, quando não estamos pelo caminho certo. E assim
que se passa a vida, por isso a preocupação de estarmos atentos ao
nosso campo íntimo, escutar o que fala profundo o coração, o
coração de Deus em nós.
Quando descobrimos verdadeiramente ouvir o coração, quando
efetivamente descobrirmos o Deus maior que habita em nós,
deixaremos de ter as dúvidas comuns e agiremos mais conscientes
de nossos atos, e a vida será mais tranqüila, num ritmo mais
adequado. Enquanto isso não acontece, aprendamos com cada coisa

o que ela tem a nos ensinar, e a vida encontrará o seu caminho de
paz.
Sejamos com Jesus, o nosso Irmão Maior, e a vida transcorrerá em
céu de brigadeiro12, sem nuvens aterrorizantes e, atentos às tempestades
transitórias, haveremos de pilotar a vida com a segurança de
estarmos sendo guiados por Deus.
12A expressão "voar em céu de brigadeiro" é usada pelos profissionais da aeronáutica Para
dizer que a viagem transcorreu sem problemas.

#
Capítulo 12

A paciência

A paciência é um remédio de Deus. Quem está atento à vida, ao que
ela ensina diariamente, não tem pressa. Espera tudo chegar ao seu
colo direitinho. Como tudo está traçado nos Céus não tem como
remediar, porque o que tem que acontecer vai acontecer. Há a
necessidade, portanto, de fazer valer a vontade de Deus nas nossas
vidas. Estar atento é estar em sintonia com Deus. Ele sabe o que faz
das nossas vidas, basta confiar Nele e seguir adiante. E claro que
precisamos dar uma ajudinha de vez em quando. Não custa nada
ajudar, empenhando-nos mais um pouco naquilo que já sabemos
intimamente ser o nosso destino.

As pessoas têm uma pressa danada para que as coisas aconteçam
logo, parece que todo mundo, ultimamente, nasceu de oito meses.
Que vida apressada é esta que não dá tempo para ninguém respirar,
de pensar na vida, de refletir sobre os nossos atos. Até para errar
menos precisamos parar um pouco. Só vejo pessoas dizendo: "Não
tenho tempo pra isso, não tenho tempo pra aquilo". E um corre de lá e pra cá
sem fim. Resultado: não pensa na vida. Passa a ser um autômato,
um robô humano. Tudo tem uma hora certinha de acontecer, basta
ter paciência e esperar. Faça a sua parte e deixe o resto nas mãos de
Deus.

A pressa é um fenômeno novo na humanidade. Passamos a ser
escravo do relógio. A hora marcada é a nossa sentença de morte do
tempo. Não que não devamos cronometrar o que devemos fazer,
não é isto, mas é que marcamos um compromisso em cima do outro
que não dá tempo sequer de respirar. Ser um escravo do tempo é
um fenômeno moderno e pouca gente se apercebe do mal que isso

#
faz. E uma agonia sem fim. Isto certamente prejudica a saúde,
prejudica o nosso bem-estar. E um atropelo em cima do outro.
Paremos, então, como fazem os nossos irmãos budistas, para refletir
mais um pouco sobre a vida. Por que não criamos o bom hábito de
meditar diariamente? Nós, ocidentais, somos muito impacientes.
Queremos que tudo se passe numa velocidade estonteante. Que
blasfêmia com Deus! Até a Terra Ele fez em "seis dias"! Aguardemos

o tempo falar dentro de nós, o nosso tempo interior deve falar mais
alto. O tempo de Deus nas nossas vidas. Tudo tem seu ritmo certo,
meus irmãos, não adianta apressar-se.
Costumamos justificar as nossas ausências num compromisso e
noutro pela falta de tempo, na verdade, o que falta é a priorização
da vida. Quando se prioriza adequadamente o que fazer, fica tudo
mais fácil. Eis um exercício diário e salutar: planejar lucidamente
uma agenda de reavaliações. Sim, porque se tem gente que não
planeja nada, que se deixa completamente levar-se pelo vento, há
outros que preenchem exageradamente o seu caderninho de
anotações diárias. Nem oito nem oitenta, tudo a seu tempo devido e
em consonância com a voz interior.

Clamemos, meus caríssimos irmãos, pelo uso do bom tempo e
sejamos felizes com Deus o tempo todo.

#
Eu que sempre preguei a vida depois da vida, agora tenho a possibilidade de
dizê-la claramente: ela existe sim. Não é uma fábula, é uma realidade concreta,
impressionável.

#
Capítulo 13

O sonho da eternidade

Um aparato religioso se fez presente ao cortejo central. Quem
houvera morrido reclamava atenção especial, afinal era um bispo
famoso e merecia as honrarias locais. Muitas autoridades vieram de
todas as paragens reverenciar a memória daquele que deixara
saudade pela sua marca indelével de ajuda aos pobres e de exercício
ilibado de sua missão sacerdotal.

Todos que acorreram ao seu enterro despertaram finalmente para a
grande importância que aquela personagem religiosa tinha
desempenhado ao longo da sua trajetória terrena. Muitas
homenagens eram sinceras, de coração, outras não, era mais um fato
social em que se necessitava estar presente e aparecer futuramente
nas colunas de jornal como um ato solene de reverência ao padre
agora desencarnado.

Vejam vocês o que é a vida. Muito interessante, é bem verdade.
Estive aqui por diversas vezes, a dizer da minha satisfação em falar
da "morte" com os vivos. E agora faço uma reflexão da minha
própria morte. Eu que sempre preguei a vida depois da vida, agora
tenho a possibilidade de dizê-la claramente: ela existe sim. Não é
uma fábula, é uma realidade concreta, impressionável. Pois bem, o
que fazer com estas lembranças pós-morte? Esquecê-las?

É incrível o que acontece num enterro. Os comentários são diversos.
Uns choram copiosamente e com sentimentos verdadeiros, outros
disfarçam seus sentimentos inconfessáveis. Não deixa de ser uma
festa de despedida e diferente. E o que fazer com estas lembranças
senão esquecê-las? Esquecer porque se vive sempre.

Pegar este lápis e escrever me dá uma alegria enorme. Falei muito
da vida depois da morte, acreditava piamente nela, mas do lado de

#
cá é que se sabe sobre o que ela realmente representa. Ah! Se
tivéssemos a oportunidade de contarmos detalhadamente o que ela
significa aos meus fiéis. E claro que o Nosso Senhor Jesus Cristo já
nos falou sobre o morrer, mas os detalhes, as minúcias, essa só
vivendo para poder falar de verdade.

A minha "morte" foi tranqüila. O corpo já não cabia no meu espírito
inquieto. Era uma limitação sem fim. Eu já estava muito agoniado.
Pensava as coisas, mas não conseguia agir. E muito duro pensar,
querer fazer e encontrar limitações físicas, é muito frustrante.
Percebi cedo que estava indo embora. As minhas visões do mundo
começavam a ser outras bem diferentes. Os vultos passaram a ser
mais constantes diante dos meus olhos e cada vez mais ganhava
nitidez. Via minha mãe querida constantemente, meu pai de vez em
quando, e a companhia de meus amigos que já haviam partido
antes de mim. Um deles, o Padre Ibiapina1³, que tive contato com
seus escritos em vida, disse-se assim certa vez: "Hélder, relaxa para
poder entrar nos braços do Senhor. Até aqui, na hora derradeira, você já quer entrar
em atividade. Vai devagar e tudo ocorrerá dentro do planejado. Relaxa um pouco e
continua a sonhar o sonho da eternidade."

Sonhar o sonho da eternidade. E isto sim. Enquanto estamos vivos
na carne, vivemos o sonho da eternidade porque não temos certeza,
apenas uma convicção de fé, que vamos continuar existindo, mas
quando nos libertamos do corpo e nos enxergamos qual somos, aí é
diferente, tudo ganha um colorido especial. Tudo fica mais bonito e
com uma nitidez impressionante, vocês verão um dia. Confie nestas
palavras.

Morrer é partir para nossa verdadeira casa, embora a casa de Deus
seja em todo lugar, mas o nosso habitat natural é o lado de cá. Aqui

¹³Padre Antônio de Maria Ibiapina foi sem dúvida o maior missionário do interior do
Nordeste.
Ordenado somente aos 47 anos de idade, em 1853. Depois da ordenação exerceu o
ministério de missionário durante 30 anos.


#
somos iguais. Uns mais materializados porque não se libertaram
ainda do vínculo carnal, mas somos iguais em espíritos. Como
curtir este novo estado d'alma é outro aprendizado constante.
Quanta coisa a descobrir. E muito interessante. Não tem professor, a
não ser a sua própria consciência. Os instrutores do lado de cá
facilitam o aprendizado, mas é você, no final das contas, que tem
que tirar as conclusões e seguir adiante.

Encontrei amigos, muitos. Os companheiros de jornada terrena
vieram me recepcionar: "Dom Hélder chegou! Dom Hélder chegou!".
Vieram outros a me rever. Fiquei surpreso, confesso, com o cortejo
espiritual, não pensei que houvera feito tantos amigos. E uma
grande satisfação que o Nosso Senhor me proporcionou. Doispapas
vieram me ter no meu leito de recuperação: João XXIII14 e Paulo VI 15 .
Foram amigos carinhosos que vieram me dar seus conselhos de boa
vivência no novo plano que estava, me encorajando diante das
novas lutas que haveríamos de assumir no campo da fraternidade
irrestrita junto aos homens, porque a luta, o bom combate, continua.
Não haveríamos de ficar a contemplar a vida em "berço esplêndido"
de Deus, na inércia. Se isso acontecesse seria uma chatice sem
tamanho. Ainda bem que o trabalho continua, cada um do seu jeito,
cada um com suas atividades corriqueiras que desempenhavam
antes.

Quero aqui agradecer as orações. Que belas e sinceras orações
chegavam ao meu coração. E um grande alívio a oração. Os
corações se tocam numa oração. E muito benéfico para o espírito,
sobretudo para o recém-chegado ao mundo espiritual. Se
soubessem o benefício que faz orariam mais, muito mais.

Pois é, meus caros irmãos, vejam como a vida nos traz coisas
inolvidáveis. Hoje estou aqui a escrever sobre a pós-morte, para
assegurar aquilo que o Nosso Senhor já nos dissera há dois mil
anos: " quem acreditar em mim, quem segurar a minha cruz, terá vida eterna"16.E

#
cá estou eu a dizer: A vida eterna é uma realidade, creiam nisso,
inclinem as suas vidas para o encontro com ela.

Vivam intensamente as suas vidas e continuem a confiar que o
Nosso Senhor Jesus Cristo não nos desamparará jamais e que
continuaremos a viver no seu amoroso regaço para sempre.

Capítulo 14

A busca da verdade

Uma busca incessante do homem, desde priscas eras, sempre foi a
verdade. Onde encontrá-la? Tais questionamentos, até hoje,
perderam-se nas mentes dos pensadores. Cada um, ao seu modo,
teoriza esquema para demonstrá-la. Aqui e acolá, estes teoremas
confundem mais do que apontam para algum ponto seguro.
Ademais, a natureza humana, rica em criatividade, não sabe ao
certo onde vai chegar o homem, embora vagamente usufrua uma
intuição distante, avisando-o acerca de sua imortalidade.

14 O Papa João XXIII, nascido Ângelo Giuseppe Roncalli Sotto II Monte, 25 de
novembro de 1881 -Vaticano, 3 de junho de 1963 foi Papa do dia 28 de outubro de
1958 até a data da sua morte.
15 O Papa Paulo VI, nascido Giovanni Battista Enrico Antônio Maria Montini
Concesio, 26 de setembro de 1897 -Castelgandolfo, 6 de agosto de 1978, foi Papa
da Igreja Católica Romana do dia 21 de junho de 1963 até a data da sua morte, em
de agosto de 1978.

16 Mc 8,34

#
Esta condição, de imortal, faz o homem imaginar-se bem mais do
que é, porque sem o tempo para limitar-lhe a existência, põe-se a
sonhar copiosamente com os ares que podem chegar no ilimite da
sua mente.

A verdade é algo que se busca inconscientemente. Queremos estar
seguros, é inato do homem esta vontade, mas que verdade estamos
falando? A verdade pessoal, aquilo que se basta por si só, porque
acalma a mente do inquiridor dando-o a tranqüilidade necessária
para seguir adiante.

A verdade é muito relativa ao ângulo de percepção do inquiridor.
Portanto, por mais que se queira, qualquer um é limitado na
percepção da verdade suficiente.

Enquanto procuras a verdade, enquanto inquires, um dia, podes
atingir a verdade, um dia. Quando, porém, te achas suficiente, então
estarás a abandonando definitivamente.

A verdade ainda é fugaz ao domínio humano. Somos ainda muito
pequenos para sequer ter uma noção mais aproximada do todo,
sobretudo porque limitamos a compreensão à matéria física, que
nada mais é do que uma armadilha criada pela percepção dos
sentidos físicos.

Ah! E tem gente que se acha dono da verdade. Que lamentável!
Dormem tranqüilos que tudo sabem, mas se iludem tremendamente
quando seus preceitos caem por terra. Incapaz de contra-
argumentar com uma lógica mais eloqüente que a sua.

Há aqueles que bebem da verdade o tempo todo e, por mais que
saibam de algo, enxergando a imensidade dos saberes, recolhem-se
a dizer que nada sabem. Estes são os verdadeiros sábios: os que
sabem que nada sabem.

E muito importante, nos dias de hoje, dias de muitas certezas
tecnológicas, de imediatismo dos números que tudo provam,
quando termos uma postura de dúvida e de aprendiz. Ah, meus

#
irmãos! Quanto tenho aprendido do lado de cá. Tanto com aqueles
que dizem que tudo sabem -mergulhados na sua própria ilusão como
aqueles que dizem não saber de nada, porque estimula-nos a
querer sempre mais.

E assim a vida, irmãos, de buscas constantes. De termos um
comportamento de eternos aprendizes da verdade do Cristo.

Queira Nosso Senhor, caminho e verdade para o Pai, que saibamos
nos colocar em nosso lugar e um dia almejarmos as alturas que nos
é prometido como definitivo.

Sejamos, pois, instrumentos da verdade do Pai Amantíssimo, este
sim, o grande senhor da verdade.

Que Deus nos abençoe e até uma próxima oportunidade!

Capítulo 15

A necessidade de perdão

Por que guardamos o rancor contra os outros? Que ganhamos com
isso senão dissabor? E assim que se passa quando nos
resguardamos em mágoas contra aquele que nos fere a alma.
Somente traz prejuízo a nossa vida guardar no coração o mal que o
outro nos fez. O perdão, antes de ser um elemento de elevação
moral, representa um antídoto eficaz contra os males da alma que
repercutem no coração e na saúde das pessoas. Amar é, sem dúvida,

o grande caminho e remédio contra as angústias que a ausência de
#
perdão faz provocar naquele que teima em não esquecer o
desequilíbrio moral do outro.

Por que se prender a queda do ignorante do bem? Por que querer se
atracar contra aquele que te feriu a alma? Que ganhará com isso?

Isto se chama vingança e o sentimento de vingança é o inverso do
amor. "0 amor cobre a multidão de pecados"2, lembrava bem o apóstolo
Pedro. Somente o amor consegue abrasar a maior das revoltas
interiores. Sem o perdão sincero do pecado do outro faz-nos atrasar,
cada vez mais, no caminho evolutivo de nossas almas perante a
saga das nossas vidas.

Se Deus, o justo por excelencia, esquece a falta daquele que erra, por
que nós, seus filhos, haveríamos de querer adotar um procedimento
inverso? Sem querer, fazemos exatamente o contrário do que
estamos destinados. Em vez de seguirmos para frente, andamos
determinadamente para trás. Isto não pode acontecer.

O caminho do perdão não é tão difícil se entendemos, ou
procurarmos entender, as razões pelas quais alguém nos cometeu
um crime moral.

O perdão eleva as criaturas para mais próximo do Pai, que nos
encoraja para conseguirmos superar no coração a falta cometida
contra nós. Sem o perdão, nos igualamos ao nosso desertor. E qual a
vantagem de aceitar o Evangelho se permanecemos iguais ao que
éramos antes? Se aceitarmos ao Cristo, necessitamos mudar o nosso
comportamento para melhor. Você é senhor do seu destino e por
que não toma logo uma atitude de mudança?

Todos querem chegar aos céus, imaginam para si o melhor, no
entanto, quer que isso ocorra milagrosamente porque não faz
qualquer esforço determinado nesta direção. Até o Cristo enfrentou

2 IPe 4,8

#
a cruz, e por que nós, ainda tão falhos, queremos atingir a

angelitude como num passe de mágica?
Mudar causa um certo desconforto, é bem verdade, causa dor, dor
interior, dor na alma. Dor que transforma quando a aproveitamos
para refletir com ela. Quando deixamos para lá um cometido contra
nós estamos exercitando a mudança de verdade porque estamos
enfrentando a nós mesmos, afugentando os sentimentos de
vingança e agressividade. O tempo do olho por olho e dente por
dente já acabou há bastante tempo. Foi o Nosso Senhor Jesus Cristo
que nos trouxe a mensagem do amor, sobretudo o amor aos nossos
inimigos. Que mudança nos propõe o Cristo? E uma mudança
radical, mudança pra valer. E por isso que não é fácil aceitar o
Cristo sem que peguemos a nossa própria cruz. A cruz dos
destemperos, dos impulsos agressivos, dos revides automáticos.

Perdoem, irmãos, mas perdoem de verdade. E um fardo a menos
que levaremos quando "morrermos".

Olhe, eu tenho visto tanta gente perturbada do lado de cá, porque
não consegue, ou não quer, esquecer o mal que os outros lhe
impuseram. E aí se torna um fardo enorme.

Amemos, como Jesus nos amou. Verdadeiramente, sem
subterfúgios. Assim, teremos a graça de nos sentirmos mais
aliviados por estarmos mais próximos do Pai Amantíssimo.

#
Penso que o se humano foi criado para a felicidade. A felicidade é um direito de
todos e não apenas de alguns. Mas hoje, infelizmente, excluímos irmãos do seu
direito sagrado de ser feliz.

Capítulo 16
O gritos dos excluídos


Como gostaria de estar presente entre vocês num dia como o de
hoje! Gostaria, como sempre fiz, de me inserir ao coro.daqueles que
gritam, no dia dedicado a nossa independência, por aqueles que
ficam à margem do progresso humano. O paradoxal, neste dia, é
que, em pleno sete de setembro, a mídia estampa em letras garrafais

#
o nosso posicionamento como uma das nações mais desiguais do
planeta.
Até quando, meu Senhor, haveremos de conviver com estas
manchetes em nosso País? Não é sem demora que os excluídos
precisam gritar e gritar com muita força nos pulmões.


Como se pode comemorar independência com a morte de irmãos
sem comida? Um Brasil sem fome é iniciativa nobre, mas não
conseguiu, ainda, alcançar as massas urbanas ou os desvalidos dos
sertões e interiores. Ao contrário, chega até, muitas vezes, um
televisor para ver outros comendo, vivendo na fartura e no luxo,
enquanto a barriga ronca pela falta de um prato de comida.

Não consigo, meu Deus, por mais que deseje, entender esta tal
"modernidade".

A palavra do Senhor é clara quando clama a todos a ajudar os que
mais necessitam e quando estivermos fazendo isso era a ele que
estávamos fazendo, mas por que não damos a devida atenção a esta
máxima fraterna?

A verdade é que nos preocupamos demasiadamente conosco
mesmo, com as ilhas de egoísmo que construímos em torno de nós e
moramos nela. Ninguém pode acessá-la sem o nosso consentimento,
sem a nossa permissão. E aí criamos o nosso mundinho interior
isolado dos demais. Enquanto vivermos em ilhas, não poderemos
formar continentes.

Meus caríssimos irmãos, o Senhor, a todo dia, nos dá condições de
renovação das nossas vidas. Por que não partimos ao encontro do
outro que sofre mais do que nós? Por que não abandonamos
imediatamente as nossas ilhas?

Penso que o ser humano foi criado para a felicidade. A felicidade é
um direito de todos e não apenas de alguns. Mas hoje, infelizmente,

#
excluímos irmãos do seu direito sagrado de ser feliz. E o que fazer?

Repartir.
Sem repartir o pão que o Nosso Senhor bem simbolizou no
momento da Eucaristia, não haveremos de criar um mundo justo e
humano.


Neste dia de aparente independência, junto-me ao grito dos
excluídos para dizer: eu também tenho direito a ser feliz. Isto
ninguém me pode negar.

A felicidade para estes nossos irmãos passa, inicialmente, por um
bom prato de comida, por uma casa digna, por um trabalho para se
sustentar e por uma boa educação e saúde. Isto deveria ser o
mínimo que todos pudessem ter para sonhar mais alto os seus
planos de felicidade, especialmente no Brasil, um País de muitas
riquezas, mas paradoxalmente, de muitos pobres.

Qualquer índice de desenvolvimento que queira aferir o grau de
avanço da humanidade deveria conter uma pergunta, antes de
qualquer outra: "você se sente feliz pelo que tem e pelo que é?"

Interessante, meus irmãos, é que muitos, mesmo faltando o mínimo,
responderiam que são felizes, apesar da pobreza que os cerca.

No dia da "independência" brasileira, faço coro com os meus irmãos
em Cristo, irmãos de Cristo também, que pedem, tão-somente,
aquilo que lhes pertence, como direito básico na condição de
cidadão e não como um favor do Estado.

Façamos, irmãos, como o Cristo, que se dedicou nos seus dias
missionários em tentar ajudar a todos aqueles que batiam à sua
porta, às vezes, dando um sorriso amigo, mas outras vezes
multiplicando pães e peixes.

Multipliquemos, assim, aquilo que dispusermos ao nosso alcance
pelo bem de nossos irmãos que ainda necessitam de um grito para
serem escutados.

#
Capítulo 17

A força do perdão

Um dos itens mais importantes do Evangelho do Senhor aponta
para o perdão irrestrito acerca das faltas alheias. Aquele que nos
falha a atenção dispensada ou decepciona um crédito estabelecido
tem ele, e somente ele, a obrigação de restituir o equilíbrio moral.
Apontar as falhas alheias é muito feio, basta querer apontar os
nossos próprios erros -que já são muitos -e, por si só, já bastam
para a nossa preocupação diária.

Quando alguém erra contra nós, erra, na verdade, consigo mesmo,
porque o mal que faz para o outro volta, inevitavelmente, para si
mesmo. Se soubéssemos que o erro que fazemos retorna para nós
como uma bola de pingue-pongue, evitaríamos, até por
pensamento, fazer o mal a alguém.

O pensamento humano é muito poderoso. O homem não sabe ainda
a potência que tem quando pensa. O pensamento é força ativa, é
força viva, que irá se manifestar de acordo com a inclinação que
dermos a ele.

Quando pensamos o mal contra alguém, ele vai chegar ao nosso
destinatário que, se não estiver devidamente preparado contra os
petardos maléficos alheios, receberá uma forte propulsão negativa.
E uma força poderosa colocada de maneira contrária daquela que
deveria.

Se, porém, colocássemos os nossos pensamentos somente para
desejar o bem a alguém, nossa vida seria um sorriso só. Sabe por
quê? Porque, assim como o mal pode pegar, o bem também pega.
Pode demorar, mas pega.

#
E quando desejamos o bem, volta em nossa direção. Da mesma
forma acontece com os pensamentos negativos. E assim a vida,
meus filhos, a gente só recebe aquilo que oferecemos aos outros.
Portanto, sabendo disso, cuidemos de pensar o bem, e somente o
bem, para com o próximo.

O bem, como vemos, faz um bem enorme para quem o pratica e
promove uma alegria indefinível. Somente aquele que se preocupa
em apenas ajudar ao outro sabe das repercussões destas minhas
palavras.

O Nosso Senhor Jesus Cristo, em toda a sua trajetória na Terra, teve
unicamente uma preocupação: fazer o bem sem olhar a quem fazia.
E por que fazia isso? Porque tinha a todos como irmãos e um irmão
não deseja nunca o mal do outro irmão.

Quando será que os homens, conscientes de sua Paternidade
Divina, se tratarão verdadeiramente como irmãos uns com os
outros?

Não sabemos ao certo até que ponto tanta desventura perdurará na
Terra, mas que ela vai acabar, ah! isso vai sim, porque o nosso
destino, como já proclamou o nosso irmão maior, será uma
reprodução do reino de Deus. Isto irá acontecer, pois o reino de
Deus está no coração de todos os homens. Basta ele descobrir esta
verdade eterna e colocar em prática o que descobriu de si mesmo
que mudará de luz todo o mundo e beneficiará a todos os seus
irmãos.

Meus queridos irmãos, nós que já sabemos de nossas obrigações
maiores, envidemos nossos esforços em colocar em prática aquilo
que já entendemos como certo e que nossa consciência nos alerta
que devemos fazer.

O perdão é uma destas qualidades de que necessitamos
desenvolverem nossos corações urgentemente.

#
Quando tivermos a oportunidade de perdoar alguém que nos
prejudicou a vida, não percamos tempo. Se não conseguirmos de
imediato esquecer suas faltas contra nós, ao menos não as
desejemos contra ele. O mal vai se avantajar se dermos cabimento a
ele. Como já bem lembrou o Mestre Nazareno, quando alguém nos
fere um lado da face, expusemos a outra para que ele bata, não com

o mal, mas como o bem que iremos infligir em sua atitude
descuidada.
Somente o bem pode vencer o mal. Não há outro caminho, e esta
verdade já foi dita várias vezes. E o que estamos esperando para
não colocá-la em prática?


Sofremos quando alguém nos decepciona, pois queríamos que ele
nos tratasse exatamente como a tratamos. Se isto não ocorre,
façamos a nossa parte e deixemos que os caminhos do Senhor,
espontaneamente, possam mostrar ao nosso irmão que ele errou e
não peque mais contra nós e contra ninguém mais.

Enquanto isto não acontece, meus irmãos, cuidemos em ser
coerentes com aquilo que pensamos ser a verdade, a coisa certa.

Meus queridos irmãos, o Nosso Senhor vê todas as nossas atitudes e
pensamentos, por isso não dissimulemos jamais. Que seja a nossa
palavra "sim, sim e não, não"18, sempre. Não fujamos a este
compromisso inadiável com a nossa própria consciência.

18Mt 5,37.

#
Capítulo 18
Desarme-se, irmão!


Reconciliai-vos o mais cedo possível com

o vosso adversário, enquanto estiverdes com ele
a caminho.2

As palavras do Mestre Jesus, sempre generosas, guardam neste
ensinamento um alerta para todos nós, sem exceção: qualquer um
deve procurar a reconciliação mesmo, ou principalmente, com
aquele que o agride.

Quando somos convidados, no próximo domingo3, a votar pela
favorabilidade ou não do comércio de armas de fogo, devemos ter
em mente estas palavras sábias do Nazareno.

Por que nos armamos? Por que estarmos com uma arma guardada
pronta para sacá-la num momento aprazado? Por segurança,
afirmam uns. Mas que segurança? Acaso nossas vidas estão
confiadas aos homens? Nossas vidas estão confiadas a Deus. Nada
nos acontecerá sem a sua permissão divina. O homem, porém, que
acredita somente na realidade terrena, precisará estar armado,
porque "morre" de medo dos outros, pois não possue Deus no seu
coração.

Quando somos convidados a opinar pela proibição da
comercialização de armas de fogo, precisamos nos indagar se, de
fato, usaríamos uma arma contra alguém. Você já se imaginou

2Mt 5,25.

3Plebiscito realizado no Brasil em 23 de outubro de 2005, acerca das armas de fogo e munição.

#
atirando em alguém? E terrível! Dar um tiro num irmão é
extremamente traumático. E algo que fica gravado na memória para

o resto da vida.
O homem de bem jamais quer possuir uma arma. Sua arma, na
verdade, ele já tem: é a sua fé em Deus. Somente quem tem fé no
Altíssimo pode se sentir armado, armado de Deus.
Penso que o homem tem medo de outro homem, porque tem medo

de si mesmo. Ele sabe que é capaz de destruir uma vida então acha
que o outro também possui este impulso e daí arma-se até os
dentes.

E claro que o homem ainda está bastante distante do seu desiderato,
mas se não exercitarmos efetivamente a nossa condição divina,
então ficará mais longe qualquer esperança de nos aproximarmos
de Deus.

Devemos sim é reivindicar as autoridades constituídas por
segurança. Nós somos cidadãos, pagamos os nossos impostos, então
merecemos ser tratados com dignidade e vermos assegurados os
nossos direitos. Todo mundo tem o direito de ir e vir, garante a
nossa Constituição, mas precisa ir e vir para todo lugar com
tranqüilidade e paz.

Até quando teremos que viver sob a tutela do medo? Até quando
teremos que desconfiar de alguns policiais que não cumprem com
os seus compromissos profissionais e públicos? Até quando o
Estado usará de sofismas para fugir de suas obrigações legais?

O cidadão necessita fazer a sua parte também. Não cabe a ele
apenas reclamar pela insegurança. E necessário que ele faça a sua
parte. Quantos homens não perdem a cabeça e sacam as suas armas
contra o outro por motivos tão pueris? Quantos só se sentem
corajosos, porque guardam na cinta um revólver?

#
Neste contexto de violência generalizada, devemos nos questionar
que sociedade nós queremos construir. Será que esta sociedade já
nos basta os anseios de vida? Claro que não. E o que estamos
fazendo para mudar este estado de coisas? Pouco ou quase nada, na
verdade.

Se desejamos uma sociedade diferente desta que vivemos, devemos
nos inclinar na direção de ajudar a construí-la. Se não desejamos a
violência, devemos, então, cultivar a paz. A paz que desejamos ao
mundo deve ser edificada primeiramente no nosso próprio coração.
Não foi isto que o Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou quando
disse que o reino de Deus estava no coração dos homens? Então a
paz está dentro de nós, não está distante e tampouco pode ser
obtida empunhando uma arma de fogo.

Quem detém uma arma em punho, só o faz por que não descobriu o
reino de Deus dentro de si. Quando os homens descobrirem-se
como depositários fiéis do reino de Deus na Terra se envergonharão
de ter armas.

Num referendo como este, o foco da discussão pública deveria estar
centrado na busca de uma sociedade de paz. Alguns podem afirmar
que ela só virá se estivermos armados, mas não são as armas usadas
para a guerra e como pode se estar armado para a paz apontando-se
um revólver para outro irmão?

A afirmação que uma arma traz tranqüilidade para sua casa não
pode ser levada a sério. As armas recebem o carimbo da violência
que um dia pode acontecer, portanto, não é a garantia efetiva da
paz.

Devemos pensar a paz todos os dias. A paz deveria ser a garantia
das garantias do cidadão, porque quando nos referimos à paz
estamos falando não apenas da paz de espírito, mas de como chegar
até ela. A paz do cidadão não começa por policiais armados em
cada quarteirão, principia-se pelas garantias mínimas a cada

#
cidadão: uma casa para morar, um lugar para trabalhar, uma escola
para estudar. Sem o mínimo do mínimo não podemos nunca ter
uma sociedade pacífica.

O referendo das armas de fogo poderia ser excelente oportunidade
para um grande debate nacional pela dignidade de toda pessoa
humana, mas isto não isenta o Estado do processo de preparar
homens e mulheres para uma sociedade que tenha como valor
maior a promoção da paz. Para isso, é necessário que nossas escolas,
além de mostrar fatos que marcaram o tempo, pudessem dar
destaque igualmente a aqueles que lutaram pela paz. Há sempre
uma outra forma de enxergar a realidade e, portanto, reescrever a
história quando deliberadamente invertemos os valores que
desejamos verem enaltecidos. Se a história foi escrita em boa parte
pelas mãos de guerreiros, dos arbitradores, por que não reestudá-la
agora pelas mãos dos pacifistas?

Por que não enaltecer figuras como Martin Luther King? Mahatma

Gandhi? Frei Caneca? Einstein? João
XXIII? E tantos outros que enxergavam o mundo com os olhos da
paz, de pacificadores que eram.

Enquanto insistirmos em falar das guerras, de exaltar a violência
nos noticiários da mídia e de negarmos aquilo que aprendemos nas
nossas igrejas, dificilmente construiremos um solo fértil para o
desenvolvimento da paz entre os homens.

Queira Deus, ouvindo as palavras de sabedoria de Nosso Senhor
Jesus Cristo, que o homem se reencontre com ele mesmo e,
finalmente, perceba que as armas somente irão apressá-lo a chegar
mais perto da morte e da destruição e que a sua finalidade precípua,

o seu destino divino, é ver-se uns aos outros como irmãos, e assim
não desejará jamais usar armas de fogo, mas, contrariamente, as
armas da paz promovendo a união entre todos eles.
Que Deus nos abençoe!

#
Capítulo 19

Diante da morte

A morte é um enigma que todos procuram desvendá-la. Desde
tempos imemoriais, o homem busca respostas sobre a morte. E
como ela que se esconde para não revelar a sua verdadeira face.
Mas é preciso entrar no mundo dos espíritos para poder descobri-la,
insofismável e sorridente, a nos dizer que ela não existe, apenas
muda-se de corpo.

Quando "morri", e o cortejo funeral me levou ao túmulo, senti um
arrepio. Era difícil me identificar. Aquilo não era eu, era apenas um
corpo que refletia a minha imagem. Eu estava aqui, perfeito em
minhas faculdades, embora meio cambaleante com aquela situação
toda inusitada para mim.

Os meus primeiros passos em busca do "céu", como já descrevi,
foram de descobertas constantes. Não me via ali como um noviço, é
bem verdade, mas estava reentrando nos braços do Senhor, e a
experiência, embora nova, era reveladora de muitas surpresas.
Além dos conhecidos que ia encontrando no caminho, pude
perceber sensações novas, bem diferenciadas daquelas que o corpo
físico pode imaginar submeter-se.

O novo e o inusitado ganham naturalmente admiração dos sentidos.
Sentia-me como uma criança que começa a tatear e descobri a
maravilha de poder deslocar-se de lá para cá sem a ajuda de
ninguém: é a inolvidável sensação de liberdade que o lápis não
consegue descrever por mais que tentasse.

A morte é a entrada para a verdadeira vida. Não posso descrever as
incríveis sensações e paisagens que pude usufruir, mas dá-nos um

#
prazer incomensurável. Digo isto, nestas linhas, para tentar
desmistificar o mistério da morte e os medos naturais que a maioria
das pessoas possui pelo desconhecido.

A morte me fez bem. Meu corpo já não cabia em mim nos últimos
tempos, morrer foi um alívio e viver a vida do espírito, até agora,
tem sido um aprendizado constante. Até para escrever estas linhas,
pelas mãos de um médium, é sempre uma descoberta a mais.
Provar que a morte não existe, que é adentrar num mundo diferente
e maravilhoso tem sido um dos meus propósitos de vida desde que
assumi meus plenos "poderes" no mundo de cá.

A morte precisa ser encarada com naturalidade, porque assim que
ela é. Não tem mistério quando se chega ao mundo dos espíritos.
Instrutores bondosos e amigos que fizemos na Terra vêem ao nosso
encontro o tempo todo, para dizer como as coisas se processam e
ajudam-nos, cada vez mais, na adaptação à verdadeira vida.

Hoje estou mais acostumado. O tempo é senhor para fazer com que
vejamos as coisas do lado de cá com muita naturalidade. E claro que
dá uma certa saudade, de vez em quando, e volto, com a devida
permissão de meus instrutores, a rever os amigos e conhecidos que,
muitas vezes, chamam pelo meu nome. E isso é um fenômeno
estranho e interessante. Os apelos que fazem ao meu nome de
alguma forma eu os escuto e fico prestando atenção. Aquilo que não
posso atender, porque a minha condição aqui não é privilegiada, eu
rogo ao Pai Amantíssimo para interceder positivamente na vida
daqueles que pensam que eu posso executar coisas que só dizem
respeito a eles mesmos, na maioria das vezes.

Morrer não é traumático, pelo menos para aqueles que estão
confiantes em entrarem nos braços do Senhor. Para aquele que não
teme a morte, que confia sinceramente o que reza as Escrituras
Sagradas, a morte não deve causar qualquer tipo de medo. Agora,
para aqueles que teimam em contrariar o verdadeiro sentido da

#
vida -que é a promoção do bem entre as pessoas -então devem se
preocupar mesmo, porque o que reina por aqui é o vínculo das
afinidades.

Pelas minhas companhias na Terra, pelos meus pensamentos e atos,
por minha postura de me inclinar para o bem, tive a benevolência
do Pai em entregar-me nas mãos daqueles amigos e irmãos que
partiram antes de mim e que vieram, de braços abertos, a dar-me
boas vindas. Quando me lembro disto, choro comovido por estas
oportunidades indescritíveis que o Nosso Senhor me reservou. E
deveras muito gratificante rever os afetos e comprovar o que
pregamos por toda a nossa vida: que a morte não existe.

Meus queridos irmãos, consolai àqueles que choram com a perda de
seus entes queridos. Buscai ajuda no Alto para incentivar aos que
aqui ficaram a crença de que a vida continua e se alguém retornou é
porque foi com o consentimento de nosso Pai que só deseja o
melhor para seus filhos. Confiai na mão bendita de Nosso Senhor
Jesus Cristo que tudo vê e que zela sempre por nós. Não há
ninguém que fique no desamparo, porque a mão do Senhor é
amorosa e todos os seus filhos haverão de ser assistidos, mesmo e
principalmente, na hora final.

Queira Jesus que haja um tempo em que a morte seja encarada com
muita naturalidade e tenhamos prazer em morrer, porque teremos a
consciência tranqüila que fizemos o nosso melhor enquanto aqui
estivemos e que mais além nos espera um outro rol de
oportunidades para dar, cada vez mais, plenitude à vida, que
incessantemente pulsa em nós, pois somos imortais, em nos alertar
que os filhos da Vida não podem deixar jamais de existir.

#
Capítulo 20

Após a morte

A morte quando bate à nossa porta não há como remediá-la. Tudo
que podemos fazer é aceitá-la e aprender com ela. A morte não é
esse bicho feio que tanto se quer incutir nas nossas mentes, é um
fenômeno natural e como tal deve ser encarado por todos. O medo
do desconhecido faz com que muitos tenham verdadeiro temor da
morte, mas não é bem assim o quadro que se passa após a morte.

A morte é um reencontro com a casa do Senhor, a casa do espírito
do Senhor. Sem a consciência de que prosseguimos noutra forma de
existir pouco adiantará pensar e entendê-la.

A morte nos trará novidades sempre. Por mais que alguém esteja
razoavelmente bem informado das coisas espirituais, haverá sempre
de aprender algo mais. Eu mesmo tinha uma noção da morte bem
particular. Imaginava os anjos do Senhor a me buscar e levar-me
para reverenciá-Lo. Era um velho sonho de menino que ganhou
formas como homem feito. Não tive a desilusão quando aqui
cheguei, porque tudo me pareceu bem lógico e natural. A "tal vida,
tal morte" que tanto falamos guarda lá o seu fundo de verdade.

Não devemos encarar a morte como uma condenação divina.
Muitos pensam que o deixar de existir representa uma condenação
do Criador, um castigo. As bem-aventuranças anunciadas por Jesus
deveriam ser ampliadas como algo assim: "Bem-aventurados
aqueles que acreditam na vitória da vida depois da morte, porque
eles serão aliviados dos seus anseios e haverão de entrar no reino
dos céus".

Quando era menino, imaginava que o céu e o inferno existiam sim
e, por tabela, o purgatório também. Quando cresci, porém, e me

#
formei nas questões teológicas imaginava contornos diferenciados a
cada um destes lugares. A imaginação humana é rica de fantasias.
Quando existe o mistério é natural que o pensamento voe
indefinidamente. Acho que cada um também faça, a seu modo, uma
visão particular destes lugares. A verdade, porém, é que, de alguma
forma, tais locais existem, não como foram pintados popularmente
para nós, mas não deixa de guardar certa semelhança.

O céu e o inferno são criações dos homens, mais especificamente da
consciência deles. O homem cria, mediante as suas inclinações
interiores, o seu próprio céu e inferno. Está no coração e na mente
humana a localização exata destes lugares após a morte.

Penso que o homem, se fosse mais previdente em suas atitudes,
partiria imediatamente ao encontro de seu próprio céu. Ora, é perda
de tempo deixar de fazer o que se deve. Se teremos aquilo que nos
aprouver a partir de nossos atos, como bem nos lembrou o apóstolo
São Tiago, por que não começar agora a construção do nosso
próprio canto celestial?

A desventura de muitos que aqui chegam é imaginar que são
detentores de privilégios. Aqui não tem disso não. As posições
sociais ou o poderio econômico que detinham na Terra não tem
qualquer influência no mundo espiritual, pelo contrário, seguindo a
rogativa do mestre Jesus "Muito será pedido a quem muito for dado"1. Se o
homem teve posses ou condição de ajudar ao próximo, de alguma
forma, será cobrado pela ausência de iniciativa nesta direção.
Igualmente àqueles que possuírem as luzes do saber. Sim, porque o
patrimônio humano não se restringe ao acúmulo de riquezas
materiais e financeiras, os tesouros do coração e do intelecto devem
também ser repartidos com todos. Esta lei serve para todos.
Portanto, não vá pensando que terá distinção do lado de cá, pois

¹Lc 12,48

#
não vai ter. A lei por aqui privilegia aquele que serve mais, como
bem alertou o Nosso Senhor Jesus Cristo.

O serviço ao próximo, sem qualquer pretensão de retorno ou
recompensa, é a principal senha para se entrar verdadeiramente nos
braços do Senhor. Será exaltado no seio do Senhor aquele que
estiver mais a disposição de dar o melhor de si para o irmão, que
não mediu esforços nesta direção. O que foi servido na Terra e
imaginou com isso que continuaria com esta mordomia depois da
morte pode ir "tirando o cavalinho da chuva", pois as coisas por
aqui são bem diferentes. Quantos eu tenho encontrado que na Terra
tiveram posições sociais altíssimas e rastejam como quase mendigos
do lado de cá. E um vexame completo.Tudo alimentado pelo
orgulho que não conseguiram vencer. Por isso que o serviço aos
pobres, aos mais desprovidos, pelos que têm maior carência, do
prato de comida a um alento, é o que é fundamental para a nossa
própria salvação. O homem deve estar atento às oportunidades que
lhe chegam para servir indistintamente, das mínimas às grandes
coisas. Quem serve mais terá mais privilégios na Casa do Senhor.
Não o privilégio da distinção, mas da capacidade ampliada de
servir.

Meus caros irmãos, inclinem as suas vidas no desejo de servir.
Verifiquem os recursos que possuem para colocar a disposição
daquele de que mais precisa. Cada um de nós possui algo para
oferecer e não é preciso dinheiro. Falo daquilo que ele tem dentro
do coração. Muitas vezes um olhar amigo e um abraço caloroso têm
mais valor do que uma carteira recheada de dinheiro.

Pensem naquilo que vocês têm de melhor dentro de si e coloquem à
disposição da humanidade. Cada talento bem empregado será de
grande valia no trabalho do Senhor e que, após a morte, isto será
levado em consideração pelas leis da justiça divina que não deixará
de perceber nos nossos mínimos atos sinceros uma contribuição
efetiva para o engrandecimento do bem na Terra.²

#
Que a morte, meus irmãos, seja um reencontro com o Senhor, tendo
as nossas consciências absolutamente tranqüilas porque, conforme
adiantou-nos Paulo, combatemos o bom combate.

Que Deus nos abençoe!

Capítulo 21

O prazer de servir

A inquietude de nossos dias é algo preocupante. As pessoas já não
têm tempo para nada, nem para elas mesmas. E um corre-corre, é
um vai-lá-pra-cá sem fim. Tudo em nome do dinheiro. Mas será que
vale à pena toda esta correria, meus irmãos?

Há coisas na vida que necessitam ser devidamente ponderadas. Não
é o dinheiro, tão-somente, que faz a felicidade das pessoas. Ele tem
a sua importância, mas não é tudo, aliás, ele representa quase nada
nos planos do Senhor. O que vale mesmo, o que conta do lado de cá,
é o bem que fazemos uns aos outros. Não é a quantidade de títulos
ou patrimônio que interessa, é a consciência tranqüila que fez o
melhor que podia para o próximo. Não foi esta a recomendação
maior de Nosso Senhor Jesus Cristo quando nos disse, não como
um alerta, mas como uma ordem: amai uns aos outros?³

²II Tm 4,7

³Jo 15,12

#
Pois é, apesar desta certeza absoluta, de que o amor deve ser o
centro das nossas vidas, e isto não é novo, que o homem teima em
inverter e criar novos valores para si, sobretudo o monetário.

A importância do dinheiro é tão pequena do lado de cá, que mede
apenas a quantidade de benefícios que você aferiu a seu irmão
tendo a sua posse em abundância. Sim, porque ter dinheiro na vida
não é para qualquer um não. Até para ser rico é preciso saber ser
rico senão, se colocar na mão de quem não sabe administrá-lo bem,
ele vai estoporar sua riqueza do dia para a noite.

A imensidão da casa do Senhor faz-nos pensar naquilo que
devemos dar real importância. O dinheiro é um deles porque com
ele se vive a ilusão do paraíso, mas ele só vale mesmo na Terra, aqui
os valores são outros. O que vale aqui é o bem, mas não uma
caridade qualquer. Somente o bem que é produzido pelo fundo do
coração, sem pretensões outras. Foi assim que o Nosso Senhor bem
disse: " daí com uma mão sem que a outra perceba" .4 Mas ainda tem tanta
gente que dá com uma mão e quer que os flashes do mundo inteiro
enxerguem os seus atos de benemerência. Que ilusão tola! Caridade
pública não tem valor, caridade só tem valor quando ofertada a
Deus, como uma ajuda despretensiosa aos filhos do Senhor.

A caridade, meus irmãos, sobretudo aos pobres, é questão básica
para o bem-viver. Só vive realmente bem aquele que se deixa
impressionar pela dor do outro, como se ela fosse a sua própria dor.
E assim que a caridade nasce do fundo do coração, como sendo uma
extensão da própria necessidade pessoal.

Queria, meus queridos irmãos, que todos sentissem, em uníssono, a
dor do próximo. Não ficaríamos jamais tranqüilos em ver um irmão
sofrendo e continuar de braços cruzados. Quando enxergamos o
próximo como um verdadeiro irmão, a dor dele nos incomoda. Mas,

4 Mt 6,3

quando agiremos fraternalmente? Quando, penso eu, deixaremos

#
de lado os apegos às coisas da matéria, às coisas ilusórias da Terra, e
nos preocuparemos com aquilo que é verdadeiro e eterno, o nosso
lado espiritual.
Quando o homem tiver uma noção exata do que ele realmente é, aí
então ele vai se transformar por inteiro, enquanto isto não ocorre,
ele perambula por aí, de sofrimento em sofrimento, de ilusão em
ilusão.
Não é assim a vida irmãos, a vida é o pulsar de Deus em nós
mesmos, é ter a consciência como teve Nosso Senhor de reinventarse
a cada dia. De sair-se de si a procura do outro. De tentar se
redimir continuamente dos erros cometidos sem qualquer complexo
de culpa porque o que foi feito está feito, não volta mais, então é
página virada, devemos ter o cuidado de não errar mais e ponto
final. Nada de ficar revirando o passado, que isto não tem fim e não
leva para lugar algum.

Cuidemos de nós, é bem verdade, mas cuidemos de nós na
perspectiva do outro, porque não vivemos sozinhos, vivemos em
sociedade, todos nós dependemos um do outro. Ninguém subsiste
sem o apelo de uma conversa amiga, de um carinho, de uma
ternura, de um abraço gostoso daquele que revigora até a alma,
ninguém vive feliz, de fato, se está solitário. Para ser feliz, para se
encontrar com Deus, é preciso se encontrar com o próximo, é
preciso ser solidário.

Meus queridos irmãos, a vida se enobrece quando se permite
conhecer o outro. Vocês não sabem o quanto aprendi com os mais
humildes. Com as donas Marias e os seus Josés da vida que
passaram pelo meu caminho. Benditos as Marias e os Josés que, nas
suas simplicidades, me fizeram sentir responsável por eles, não
como um pároco, um sacerdote, mas como um irmão que
continuamos todos a ser mesmo depois da morte. Os seus
problemas, de alguma forma, passaram a ser os meus problemas.
As suas angústias passaram a ser as minhas angústias. Os seus

#
receios passaram a ser os meus receios. Creiam, irmãos, o quanto
isto me foi importante no mundo de cá.

Portanto, preocupem-se em fazer a caridade. Caridade não como
um depósito na poupança espiritual para depois da morte, mas
como um instrumento da própria alma na busca da alma do outro
irmão.

Queira Deus, na sua imensa sabedoria, que saibamos reconhecer no
irmão uma extensão das nossas necessidades e com ele poder
vivenciar na vida eterna o prazer do bem-servir.

Que Deus nos abençoe!

#
Escrever onde escrevia. Meditar onde elaborava pensamentos para o amanhã e
agora refazê-los noutra condição. Somente os mistérios dos desígnios do Pai para
isso.

#
Capítulo 22

Presença de Deus

O preço que se paga na vida é o preço do amar a Deus, ao próximo
e a si mesmo. Somos todos criaturas do Altíssimo e Ele, na sua
Misericórdia, nos acolhe no seu amoroso regaço como uma
verdadeira mãe. Dizem que Deus é Pai, mas as benesses Dele nas
nossas vidas são muito mais do que isso, somente sendo coisa de
mãe.

A eternidade que nos espera é indescritível. Todos nós, sem
exceção, temos obrigações de reverenciá-Lo diante da grandeza que
nos espera.

Morrer, neste contexto, representa tão pouco! Somos indefiníveis, a
verdade é que sequer conhecemos a nós mesmos.

Deus está em nós, na realidade, nós somos deuses, como bem
lembrou o Nosso Senhor Jesus Cristo, daí a oportunidade que Ele
nos dá, a cada dia, de penetrar nos seus mistérios.

Todos temos desafios na vida. Superá-los é imperativo comum das
nossas existências. Estar aqui, neste instante, então, é desafio grande
para mim. Voltar para onde vivi e comunicar que continuo a existir
é um desafio enorme.

Somos todos coroados pelo Pai por oportunidades ímpares, e esta é
uma delas, sem dúvida.

Escrever onde escrevia. Meditar onde elucubrava pensamentos para

o amanhã e agora refazê-lo noutra condição. Somente os mistérios
dos desígnios do Pai para isso.
#
A cada instante novos desafios como este. Encará-los com
naturalidade e submissão à vontade do Pai é dever de todos nós que
necessitamos refletir adequadamente o porquê Ele nos traz estas
oportunidades. Enquanto isto não ocorre, enquanto não
compreendemos os seus desígnios, sigamos com Ele, confiando os
nossos passos. A fé que nos move Nele deve ser o sustentáculo para
a renovação das nossas esperanças.

Desafiar o inolvidável. Desafiar a nós mesmos, nossas crenças,
nossa própria fé em entender melhor os seus desígnios é algo a ser
pensado. Não é a destruição da nossa fé, mas a sua renovação
constante.

Creiamos na Sua presença em nossas vidas e deixemos que o tempo,
senhor da razão, nos traduza tudo aquilo que, por ora, não
consigamos alcançar.

Que Deus nos abençoe!

Capítulo 23

Dia negro

Há quantos falam por aí das cores. Imaginam que o ser humano é
diferente, porque a tez de um é diferente da tez do outro. Uma raça
específica, por conta disso, se torna superior a outra. Que ledo
engano! Como poderíamos aferir a superioridade de um homem
pela cor de sua pele? Somente muita presunção e desconhecimento
da realidade espiritual para falar num despautério desses.

#
O homem, por si só, é uma individualidade, criação única de Deus,
não há dois seres iguais por mais que se pareçam. A partir daí, do
mistério da criação divina, podemos chegar rapidamente à
conclusão: somos todos, sem exceção, absolutamente iguais perante
Deus, porque cada um é filho do Altíssimo. Não há diferenças nem
privilégios. Quem faz isso, quem procede à discriminação, são os
homens, não Deus.

O princípio da igualdade se manifesta na criação divina, somos
todos iguais, no entanto, nas diversas experiências que o Ser tem na
Terra, ele se abriga em corpos diferenciados para o seu tentame
existencial. Para isso, a roupa que veste é igualmente diferenciada.
Numa existência pode vir negro, branco e assim sucessivamente.

Demorei a entender a este raciocínio, mas ele é justo na sua essência,
porque permite a todos a maravilha das experiências diversificadas
e assim sentirem um pouco do que o outro sente. E uma incrível
forma de promover a excelsitude do Pai com os seus filhos e
exercitar a solidariedade racial.

Meus queridos irmãos, para aquele que me conheceu em vida não
há que estranhar estas palavras, pode vir a dizer: "Hélder agora,
depois que morreu, deu para acreditar nesta tal de reencarnação".
Sinto decepcionar a este e cabe a mim reconhecer, mas os
renascimentos são obras de Deus.

Eu sei que isso vai ferir a meio mundo de gente, mas o que eu posso
fazer? Eu não posso mentir diante da realidade a que me deparo.
Do lado de cá, presencio pessoas que foram outras personalidades
em outras vidas e se preparam para novas existências no corpo
físico. E um fato, meus caros irmãos, não há como fugir. Deparo
com esta realidade e ponho-me a perguntar: por que Deus esconde
estas coisas a tantas criaturas? Apresso-me a responder dizendo que
Ele não procede desta maneira, nós é que não queremos enxergar

#
esta realidade tão profetizada por milhões de criaturas que pregam

tais palavras no mundo inteiro.
A Teologia Católica poderá dizer: isto é uma blasfêmia aos
ensinamentos do Cristo. Eu poderia retrucar com as palavras dele
mesmo quando afirmou que aquilo que é do corpo é do corpo e o
que é do espírito é do espírito. E o espírito que renasce, não o corpo
que morreu. O corpo é outro, bem diferente. Por que então ignorar
estas palavras? Porque é mais cômodo, confesso, imaginar que Deus
vai nos salvar diante dos casuísmos que fizemos de nossas vidas. E
onde estaria a Misericórdia Divina que viria a condenar
definitivamente os seus filhos pelo mal que cometera?

É duro afirmar, mas eu repito, a vida não apenas continua depois da
morte como ela se reveste de muitas transformações corporais em
quantas existências sejam necessárias para o aperfeiçoamento do
espírito.

Alguém, seguindo o mesmo raciocínio de antes, poderia dizer:
"Dom Hélder, depois de morto, virou espírita". Não é verdade.
Apesar de nutrir grande admiração por aqueles profitentes do
Espiritismo do lado de cá, e compartilhar com eles algumas ações,
não deixei de me juntar àqueles que, em vida, dividiram comigo as
mesmas preocupações do clero, em fazer da Igreja que abraçamos
um lugar de inclusão de todos, sem preconceitos de qualquer ordem
e aberta ao diálogo. Sou favorável ao repensar de nossas práticas em
direção a integração geral com todos os partidários do Cristo e do
bem que somos, mas contra uma realidade posta, não posso me
furtar de desconsiderá-la para manter-me fiel àquilo que
doutrinariamente defendi em vida.

Diante desta realidade pós-vida física, diante da multiplicidade de
experiências que obtemos, como ainda pensar em supremacia
racial? Isto é uma ignomínia. Não se sustenta com a razão e o bom

#
senso. E ainda reflexo do orgulho humano de querer-se mostrar
superior uns aos outros.

Neste dia de comemoração à Consciência Negra, tenho a dizer que
me congratulo com todos aqueles que lutam pelo reconhecimento
dos direitos de sua raça, sem discriminação de qualquer ordem,
porque quem discrimina é o homem, não é Deus.

Hoje é o Dia Negro, não que tudo vai dar errado, como
preconceituosamente tem sido atestado por aqueles que usam o
verbo para separar as pessoas, mas porque haveremos de
reverenciar os irmãos que vestem na presente experiência o manto
negro na carne. A todos eles, ricos na cultura e na diversidade,
quero deixar o meu abraço e o meu pedido de perdão. Perdão pela
discriminação que inadvertidamente a nossa Igreja ajudou a
sentenciar dando cores mais nítidas ao preconceito racial.

Perdoem-nos, irmãos! Quantas atrocidades, quantos abusos, e
muitas vezes usando o santo nome de Deus, não foi desferido
àqueles que voltavam na condição de escravos na Terra? Por esta
razão, neste dia feliz de comemorações, junto-me aos gritos
daqueles que lembram o herói dos Palmares:

-Viva Zumbi! Viva Zumbi!

#
Enquanto os homens não se enxergarem como uma grande rede divina não
conseguirão ser felizes na vida social

Capítulo 24

Consciência social

A busca do homem por melhores dias é absolutamente legítima,
requer dele, porém, empenho, encalço naquilo que deseja. O ato de
trabalhar em si é enobrecedor, mas invariavelmente deve ser
direcionado para uma causa justa. O trabalho enobrecedor é aquele
que vai ao encontro dos interesses da sociedade, auxiliando-a no
seu progresso material, mas também dando a devida contribuição

#
para o engrandecimento do coletivo. Em outras palavras, o trabalho
precisa ser dirigido para fins nobres e não apenas para a geração do
lucro pelo lucro, mas a devida distribuição e aplicação deste lucro.

Numa sociedade tão desigual como a nossa, onde poucos têm muito
e muitos têm pouco é necessário que se desenvolva nas nossas
organizações a consciência social. Consciência social é o ampliar das
responsabilidades da Instituição para além dos muros de sua
instalação. E verificar qual a contribuição que pode ser ofertada por
ela, não apenas na própria comunidade em que está inserida como
também em projetos sociais que venham a diminuir estas enormes
distâncias de ganho que existem no campo do trabalho.

Um dos momentos mais tristes, meus caros irmãos, é ver um pai de
família sem ter o que oferecer para os seus filhos. E de fazer chorar e
cortar o coração quando olhos famintos não vêem perspectiva
alguma de ter um prato de comida para a refeição. Muitas vezes, a
família ao lado se esbalda de alimento enquanto o vizinho se farta
de escassez.

As empresas que geram lucros, além é claro d reinvestimento para
sustentá-las, precisam enxergar na comunidade em que estão
instaladas as necessidades de -sua gente. Muitas vezes, pode se
evitar alguém entrar na marginalidade se uma iniciativa social for
engendrada por elas.

O que estamos fazendo com os nossos meninos de rua? Será que os
programas governamentais estão sendo suficientes para tirar de vez

o menor da ociosidade e lhe dar uma direção na vida ou tudo não
passa de um passatempo para iludir alguém que é desprovido de
perspectiva de vida?
É preciso responsabilidade social de todos. Quando falo na
empresa, mesmo a pequena empresa, é que se ela se alimenta da
comunidade em que está inserida por que não retribui dando
alimento de volta para a própria "comunidade?

#
A fome, meus irmãos, para aqueles que a conhecem de perto, é coisa
muito séria. O alimento é o que põe o homem de pé. Se está com
fome, o homem está vazio e "saco vazio não se põe de pé". O
homem para ter coragem para trabalhar, para agir, precisa de
comida e, às vezes, o mísero salário que recebe nem dá direito para
isso, quanto mais para satisfazer as outras necessidades da família.

É imprescindível, de uma vez por todas, que se saia da acomodação
das nossas casas e se procure as casas de nossos vizinhos. Cada um
tem as suas dificuldades, é bem verdade, mas existe aquele que as
dificuldades são maiores e que uma pequena ajuda já é substancial
para a sua sobrevivência.

Enquanto os homens não se enxergarem como uma grande rede
divina não conseguirão ser felizes na vida social. A
interdependência é uma realidade tão premente que deveríamos
reorientar as demandas sociais por conta disso, onde existiria
apenas uma palavra de ordem: solidariedade.

Sem a solidariedade social os nossos grandes problemas
continuarão crescendo mais e mais. Sem a solidariedade social o
homem ficará impotente para encontrar o seu norte financeiro
porque é impossível resolver uma equação econômico-social se
existe desequilíbrio na distribuição da renda. E necessário dividir
mais o que existe para que o todo social possa viver mais em
harmonia, mas se continua a imperar a ganância e o egoísmo entre
os homens nunca haveremos de obter a paz social que é um dos
grandes desejos humanos.

Como podemos nos declarar irmãos do Cristo se permanecemos a
alimentar a tamanha desigualdade que aí está.

É impossível ser feliz sozinho, já declarava o poeta em boa hora.
Como podemos nos dizer felizes se vemos o nosso irmão chorar,
porque lhe falta um prato de comida ou uma assistência social
adequada! Não é possível mais ao homem viver assim. Até quando

#
teremos que conviver com esta indiferença e ver crianças pedindo
esmolas nas ruas, nos cruzamentos das grandes avenidas, e fingir
que aquilo não lhes diz respeito, que aquele quadro é problema do
governo.

Sei que dar um prato de comida por si só vicia, mas é preciso dar a
comida e buscar assisti-lo nas suas necessidades básicas. E
impossível acabar a pobreza com um decreto oficial, se fosse assim
era muito fácil e não existiria mais pobreza na Terra. A pobreza só
se extinguirá do planeta por decreto interior, de cada um consigo
mesmo: "de hoje em diante a dor e a fome do meu irmão passará ser a minha dor e
a minha fome também ".

E claro que alguém isoladamente não vai resolver a dor e a fome do
mundo, mas observe no seu mundo mais próximo quais são as
possibilidades de você fazer a sua parte. Dê um prato de comida,
mas se puder, dê uma chance de um trabalho, dê um biscate. Se
puder, não dê esmola, dê trabalho, dê dignidade, dê cidadania.

Sem a solidariedade social, meus queridos irmãos, a perspectiva de
paz entre os homens é completamente nula. Deveríamos todos nós
nos juntar num grande coro: "Abaixo a pobreza!" Pobreza das
necessidades do corpo, mas igualmente as pobrezas que corroem a
alma humana que, muitas vezes, tem o que comer, mas não tem o
que sacia a alma, mas esta é uma outra história que depois
abordaremos, enquanto isso, preocupemo-nos uns com os outros.

Arregacemos as nossas mangas no intuito de extirpar a miséria da
sociedade como lema principal para a ordem social. Eliminar a
miséria e buscar dar dignidade à pobreza, tornando-a mais
consoante com o atendimento básico das necessidades humanas
representará um grande passo para a edificação do reino de Deus
na Terra.

Consciência social, meus filhos, eis o grande grito que necessitamos
dar para nós mesmos, mobilizando governos, organizações sociais,

#
instituições econômicas, enfim, toda gente que não queira apenas da
boca pra fora se dizer cristão e humano.

Avante com o Cristo que fez de cada pedinte, de cada necessitado,
uma extensão de si mesmo. Façamos a um destes pequeninos e será
ao Cristo que estaremos fazendo.

Capítulo 25

Onde está Deus?

A pergunta que não se pode calar nunca é saber onde está Deus.
Todos nós queremos encontrá-Lo. Deus é a nossa realização pessoal.
Encontrar-se com Ele é encontrar-se com a nossa própria salvação.
Deus está em nós, eis a grande verdade a ser dita. Porque nós somos
deuses. Temos em nós o encontro das vontades Dele na sua Criação,
portanto, Ele está em nós.

Quando imaginamos encontrá-Lo em outro lugar, estamos fugindo
de nós mesmos, da nossa essência divina. Somos deuses, porque Ele
concentrou em cada ser a manifestação da sua criação. Quando nos
fez, internalizou o gérmen da divindade. Quando nos criou,
proporcionou na sua criação uma auto-identidade, isto é, ao
olharmos para nós estaríamos olhando para o próprio Deus.
Acontece que Ele deixou que cada um pudesse se auto-reconhecer
como deus. Deixar que cada um de nós pudesse descobrir, pelos
seus próprios esforços, esta identidade divina. Mas não, o que
fazemos, muitas vezes, é nos distanciarmos Dele, de nós mesmos,

#
procurando naquilo que é ilusório, o que nos possa dar satisfação
ou uma falsa felicidade.

Quando Deus nos criou proporcionou que tivéssemos em nós todas
as ferramentas para o bem-viver. Deixou-nos o legado, inclusive, de
sermos co-criadores de sua natureza, partícipe da grande obra
divina. E como Ele pode se manifestar em nós? Pelas nossas ações
de cada dia é que podemos mostrar aos outros que Deus habita em
nós.

Como podemos demonstrar a existência de Deus em nós pelas
obras? Através do exercício da caridade irrestrita, pela cessão do
perdão ao próximo sem condicionalidade ou subterfúgios, pelo
soerguimento de criaturas que ainda não se reconheceram como
deus; por uma palavra amiga ou um consolo àquele que sofre; pela
nossa compaixão com a dor do irmão; pela nossa fé. Talvez a fé seja
um dos elementos primordiais para a manifestação de Deus em nós
depois das obras. Porque é preciso acreditar, ter a convicção
absoluta que também somos deus. Sem a fé, sem a convicção de
nossa natureza, pouco poderemos fazer por nós e pelo nosso
próximo.

A identidade de Deus que nos é inerente se revela nas pequenas
como nas grandes coisas. Não é necessário apenas uma
demonstração grandiosa para destacarmos a presença de Deus em
nós. Substancial é vermos Deus em cada gesto simples do dia-a-dia,
que nos valorizamos pelas pequenas oportunidades que nos são
ofertadas e que muitas vezes desperdiçamos de fazer a nossa parte.

E claro que Deus também se revela na natureza imensa, porque
cada obra Dele é o próprio Deus manifestado de alguma forma, daí
a importância de percebermos Deus nos outros e na natureza que
nos extasia os sentidos. Deus é tão majestoso, é tão maravilhoso,
que poderíamos dizer, repetindo as palavras de Paulo, que, na
verdade, estamos mergulhados Nele.

#
O que acontece é que nos esquecemos desta verdade maior, que
Deus está em tudo. Basta desenvolvermos a sensibilidade divina
que possuímos para enxergá-Lo em tudo e em todos. Neste dia,
creiam meus irmãos, será uma felicidade só. Que maravilha é
absorver Deus nas mínimas coisas do dia-a-dia. Muitos já
conseguem fazê-lo e vivem num estado de êxtase permanente.

Do lado de cá, no mundo espiritual, esta sensibilidade é mais
aguçada, até porque os sentidos ficam mais à flor da pele.
Conseguimos perceber coisas que nunca imaginaríamos antes pois
estávamos limitados aos sentidos da carne que nos impede, de certa
forma, de viver na plenitude a presença de Deus de maneira mais
evidente.

"Somos deuses"4, assim falava o Nosso Senhor Jesus Cristo, mas
parece que estas palavras de nosso irmão maior não foram levadas
muito a sério, porque não nos comportamos como deuses que.
Somos muito acanhados, para falar mais francamente, somos muito
covardes, porque desprovidos ainda da fé que remove montanhas,
não acreditamos que somos capazes de realizar as proezas que o
Nosso Senhor nos garantira que, se quisermos, poderíamos realizar.

Queira Deus, que um dia, e que este dia não esteja muito distante,
possamos nos reconhecer como verdadeiramente somos, como em
espelho, pelas palavras de Paulo, e aí nos comportaríamos na
plenitude das nossas forças fazendo do mundo, através de nós
mesmos, o pulsar da própria Criação em manifestação do amor em
tudo e a todos.

Que Deus nos abençoe!

4 Jo 10,34

#
É o amor que move o mundo, não tenham a menor dúvida disso.

Capítulo 26

Grandeza do amor

A grande razão de ser das nossas vidas é a vivência do amor. Sem o
amor não somos nada. De que vale na vida ter bens, posses, títulos,
se não tivermos junto a nós alguém a quem amamos e que nos ame
também? Sem o amor o homem é vazio, sem utilidade alguma. E o

#
amor que move o mundo e os homens, sem o qual toda existência

será inócua.
Penso que o amor se revela de várias formas. Além de se revelar no
homem, se revela também na natureza. Como são pródigas as
manifestações do amor nas coisas de Deus. Cada criação sua, em
essência, é motivada pelo seu imenso amor, daí a preocupação que
devemos ter de amar a tudo e a todos. Sem amarmos em
abundância é bem provável que estejamos cometendo o pecado de
deixar de amar a Deus. Ele está presente em tudo, portanto,
devemos amar a cada uma das Suas criaturas como se todos nós
fôssemos irmãos, porque, na prática, assim todos nós somos.

Imagino a figura magnânima de Francisco de Assis, que sabia amar
a todos igualmente ao Cristo, que reconheceu em cada criatura de
Deus, seja uma árvore, um animal, o mínimo que fosse, um irmão
em potencial e, por isso, deveria amá-lo.

E o amor que move o mundo, meus irmãos, não tenham a menor
dúvida disso. Seja acreditava nisso quando estava na vida do corpo
físico, do lado de cá, na experiência do espírito pleno, vejo com mais
nitidez a grandiosidade do amor do Senhor para com todos nós. E
incrível como Ele se manifesta nas mínimas coisas, dando lógica e
sentido a tudo que acontece.

E pelo amor de Deus que estamos aqui, por exemplo, dando este
depoimento de que a vida continua depois da morte. Apesar de
sempre acreditar nisso, a experiência de continuar existindo, como
já disse certa vez, é indescritível. Indescritível mesmo é poder
lucidamente continuar trabalhando pela execução da Sua obra entre
os homens e isso, meus irmãos, é mais um gesto de amor do
Altíssimo. Queremos crer, sem dúvida alguma, que o amor que o
Cristo nos ensinou deriva diretamente do Criador, pois eleja sabia
perfeitamente estabelecer esta conexão com o Senhor das nossas

#
vidas. E nós somos todos convidados por Ele a vivenciá-Lo pelo

amor.
Uma certa vez, perguntado por um destes que me procuravam na
Arquidiocese sobre a origem de Deus, disse que o Criador sempre
existiu, por isso era Deus. Não satisfeito, o meu interlocutor insistiu
em saber quem teria vindo antes de Deus. Confessava que não sabia
porque cria na sua eternidade, mas ele retrucou dizendo que esta
grandeza infinita de Deus é o que o fazia ficar embasbacado. Então
disse a ele para finalizar a nossa conversa: é por isso que se diz que
Deus é amor, porque somente o amor nunca teve princípio e
também nunca terá fim.

Vivemos, na verdade, embebecidos pelo amor divino. E ele que nos
cobre a existência, que nos protege, que nos dá segurança de que
nada de mal efetivamente nos acontecerá, porque Deus vela por
todos nós. E por esta razão que devemos sempre confiar Nele,
sobretudo no seu amor incomensurável por todos os seus filhos,
sem exceção, mesmo aquele que, temporariamente, esteja passando
por dificuldades indescritíveis a pessoa humana.

Por estarmos em Deus e por Deus ser essencialmente amor -e mais
ainda por sermos seus filhos -somos igualmente amor. Somos amor
sim e é esta descoberta maravilhosa que nos fará aproximar cada
vez mais a Ele, garantindo-nos de vez a nossa salvação eterna. E por
este caminho, não outro, o caminho do amor que obteremos a
salvação que tanto desejamos alcançar.

Creiam, irmãos, na excelsitude do amor, que vencerá todas as
iniquidades; que abolirá todas as guerras; que pacificará a alma do
mais bruto dos seres; que acalentará o coração do maior do
revoltados.

Somente o amor nos garantirá a vida eterna plena de êxitos e
realizações. Somente o amor nos fará, verdadeiramente, ser

#
reconhecidos como filhos do Altíssimo e continuadores da sua obra
interminável.

Que Deus nos abençoe!

Capítulo 27

A humanização do mercado

A globalização posta como está é desumana. Os homens que
constroem arranha-céus, que descobrem valores novos no campo da
tecnologia surpreendendo-nos com inventos cada vez mais
espetaculares; que impõem a criatividade poderes inimagináveis,
não conseguem reinventar-se quando diz respeito à condição
humana. Por mais que acordos internacionais sejam assinados nas
diversas esferas de atuação, o homem tem sido incapaz de criar
formas interessantes de gerenciar as incríveis distorções que ainda
grassam na humanidade provocadoras da fome, da miséria, da
desigualdade, da infelicidade do próprio homem. Digo infelicidade
porque o mundo é um só, não há como separá-lo em partes como
muitos o fazem. Tudo interage entre si mesmo aquilo que não
conseguimos perceber com os nossos olhos físicos.

A Terra sempre possuiu movimentos de integração. Parece que faz
parte da natureza humana a integração entre os povos e isto é muito
salutar. E um encontro de irmãos. Na verdade, o ser humano é ser
humano em todo lugar. Não há rejeição, por mais conservadora que

#
seja uma comunidade, de realizar trocas a fim que cada um, pelo
seu lado, saia ganhando. Pois bem, com o fenômeno da chamada
globalização não é diferente, é a oportunidade de integração da
humanidade em escalas jamais imaginadas pelo homem. Ocorre,
porém, como antigamente, que o homem não consegue sequer fazer
as trocas de maneira igual, ou melhor, de maneira justa, pois no
mercado de trocas há aquele que tem menos e precisa de mais,
portanto, não pode ser tratado como aquele que tem mais poder de
barganha. Entra em cena, no mercado mundial, um elemento
importantíssimo do qual a globalização necessita urgentemente
verter a sua atenção: a humanização dos mercados.

Por uma razão muito simples, não foi o homem que foi feito para o
mercado, foi o mercado que foi feito para o homem. E para o
homem, para o interesse dele como coletivo, que o mercado tem que
dirigir a sua atenção. Se o lucro, finalidade maior das relações de
mercado, for obtido de maneira concentrada, se uns poucos
lucrarem às custas de outros, geralmente da maioria, então ele será
perverso e excludente, passando a causar prejuízo, não financeiro,
mas social. Esta é a variante mais importante das relações de
mercado, ou seja, o lucro social. Porque o lucro na mão de poucos, já
se tem provado pelos números da economia, é um lucro que
fomenta a exclusão.

Que mudança então teria a globalização de hoje em relação à
globalização do passado senão a escala dos lucros obtidos por uma
minoria das nações; enquanto outras, a grande maioria, ficaria,
quando muito, com as migalhas financeiras? Isto é desigual, é
injusto, é desumano.

O homem precisa urgentemente, sob pena de ver crescer a violência
e os distúrbios de toda ordem, humanizar o mercado. Não que o
lucro deixará de ser gerado, isso não, mas o lucro precisa ser melhor
repartido, melhor distribuído com toda gente. Vai ter País,
inclusive, que não vai dar nada nesta troca, vai somente receber,

#
mas, mesmo assim, o todo, o conjunto das nações, sairá ganhando.
Isso sim é a humanização da geração e destinação do lucro, o lucro
social-

Quando falo sobre o social é porque vejo, por trás do social, gente
de carne e osso, que pensa, que age, que tem necessidade, que é
muito mais importante que o dinheiro, que não pensa, que não age
por si só, que não possui necessidades. Quem existe, de fato, é o
homem e não o dinheiro, logo, novamente chegamos à mesma
conclusão de antes: o homem não foi feito para o dinheiro, o
dinheiro -criação humana -é que foi feito para o homem, para
todos os homens. Enquanto estivermos subtraindo de muitos a
possibilidade de ter dinheiro para o suprimento de suas
necessidades básicas, o mundo continuará nesta desarmonia, nesta
bagunça sem fim.

Queria ver os nossos irmãos da índia, da América Latina, da nossa
mãe Africa, dos apartados da Ásia, terem os mesmos direitos que
têm os ricos, e não era preciso muito luxo não, ter comida, ter onde
morar, ter onde trabalhar. E que os governos garantissem o
atendimento aos seus serviços básicos de manutenção social.
Quando isto acontecerá?

Teimo em dizer que não será muito distante. As pessoas do mundo
inteiro já estão percebendo que situações como o desemprego, a
poluição, a concentração de renda, estão cada vez mais
insustentáveis.

Como falar em desenvolvimento sustentável, palavra tão em voga
nos dias de hoje, com tanta gente sem poder consumir os bens
produzidos por este desenvolvimento? Se é desenvolvimento, pela
própria natureza do conceito, deve ser algo em que todos saiam
ganhando permanentemente, daí ser sustentável.

Meus queridos irmãos, esta prédica, infelizmente, não vou parar de
fazê-la, mesmo do lado de cá. Essa ladainha não é só minha, pelo

#
contrário, há um grande movimento planetário para a redução
drástica destas desigualdades. Já chegou o tempo de se dar um
basta nesta situação toda. O homem precisa urgentemente despertar
para o seu sentimento de coletividade, mais do que isso, para o seu
sentimento de fraternidade. Lembrar, de uma vez por todas, que
somos irmãos, porque, independentemente das raças, provemos de
uma mesma fonte: Deus.

Queira Deus que possamos apressar estes dias. As cenas dantescas
que vemos do lado de cá, da realidade do planeta, é
incomparavelmente mais cruel do que as coberturas televisivas.
Vemos no todo e vemos o pior, vemos as sombras agirem em
comunhão com aqueles que querem ver implantar na Terra o
desamor, a crença no anti-Deus, na predominância do mal. Como o
amor cobrirá a multidão de pecados? Na boa lembrança do apóstolo
Pedro5, será o amor que humanizará a Terra, não o amor de
palavras, mas o amor de gestos, gestos largos, de ações efetivas, em
que o homem enxergará finalmente a felicidade como razão direta
da felicidade de seu irmão, isto é humanização, o querer efetivo da
paz e da felicidade entre os homens. Este dia há de chegar, e se
Deus quiser, não tardará.

Que Deus nos abençoe!

5 IPe 4,8

#
Capítulo 28

Receita da felicidade

O que mais queremos na vida é ser feliz. Este é um desejo universal.
De todas as partes, o homem busca incessantemente a satisfação das
suas necessidades, busca não sofrer, busca a alegria, busca, enfim,
aplacar seus sentimentos. E um desejo natural dos seres humanos.
Para conseguir este tentame, porém, há que trabalhar nesta direção,
caso contrário, em vez de felicidade nutrirá no seu caminho
existencial somente desventuras.
Como conseguir a felicidade? Eis a pergunta que não se consegue
calar. De todos os lados, receitas e mais receitas prontas são
oferecidas a toda gente. Claro que a maioria delas contém os
germens para se atingir a felicidade tão desejada. Há, porém, um
caminho que se revela infalível e que foi ensinado pelo Nosso
Senhor Jesus Cristo: a prática do amor.
O amor é a síntese dos sentimentos humanos. Toda a razão de ser
do homem concentra-se na experiência maravilhosa do amar. Não o
amor piegas, o amor meloso, que tem lá as suas vantagens, mas o
amor pleno, o amor universal a toda criação de Deus. Quando
amamos nos realizamos interiormente. Quando amamos de
verdade começamos a externalizar sentimentos nobres para com
todos que cruzarem o nosso caminho. Somente quem ama é capaz
de vislumbrar verdades novas a cada dia e desperta a consciência
para o dever a ser cumprido na grande obra de Deus.
Somente quem ama, meus irmãos, tem a possibilidade de estar mais
perto com o Criador, porque se há um sentimento que permite a
conexão automática com o nosso Pai é o amor.

#
Quando Jesus esteve entre nós, há dois mil anos, pregou o amor
como o único caminho possível para o homem se realizar. Na
realidade, as bem-aventuranças ditas por ele clareiam-se de maneira
estupenda quando inserimos, permeando a todas elas, a mensagem
gratificante do amor.
Deus é amor. Quem quer ver a Deus terá antes que amar. Somente
quem ama consegue vislumbrar a verdadeira face do Senhor das
nossas vidas. E como podemos amar a Deus senão amando a sua
criação maravilhosa? Há um ditado na Terra que diz o seguinte:
"quem beija o meu filho, adocica a minha boca". Pois bem, quem
serve aos meus filhos, diria o Senhor, beneficia a mim mesmo. Não
foi isso que afirmou o Nosso Senhor Jesus Cristo quando lembrou-
nos oportunamente de que quem ajudasse a um dos seus
pequeninos a ele estaria ajudando? Esta é a verdade que não se
pode calar nunca. O amor a Deus somente é possível quando
amamos primeiro os nossos irmãos que encontrarmos perante a
vida, mas amar de verdade e não apenas da boca para fora, que isto
é relativamente muito fácil.
O amor de verdade requer renúncia de si mesmo. O Nosso Senhor
Jesus Cristo disse que quem quisesse segui-Lo devia renunciar a si
próprio e, de certa forma, carregar também a sua cruz, pois quem
imagina que a felicidade será conseguida instantaneamente, como
num passe de mágica, está enganado. A felicidade é construção
diária, permanente, que exige muita perseverança, sobretudo em
saber renunciar-se a si mesmo, o que significa deixar pra lá questões
bastantes arraigadas ao nosso eu como o orgulho e o egoísmo.
Ninguém pode sequer pensar em ser feliz se ainda traz consigo os
germens da supremacia do eu diante das outras criaturas. Ser feliz é
libertar-se das amarras do eu que escraviza e que deseja tudo para
si: as coisas do mundo, a atenção dos outros, o privilégio sobre tudo
e sobre todos. Não é assim que se consegue ser feliz. Vejam Jesus.
Ele dedicou a sua vida inteira para servir ao próximo. Sua felicidade
dependia diretamente da felicidade que podia proporcionar ao seu

#
semelhante. A felicidade, portanto, meus irmãos, é algo que se
adquire renunciando-se a nós na busca incessante pela felicidade do
próximo. Quem pensa diferente terá a ilusão de ser feliz.
A felicidade nos dias de hoje, nos tempos da sociedade de consumo,
está resumida na posse de bens. Somente se é feliz se satisfizermos
aquilo que os nossos sentidos materiais classificarem como o que
está na moda, o que impressiona os outros. Alguma mulher diria:
"que seria de mim se eu não tivesse aquela bolsa que vi na vitrine?
Minha felicidade está naquela bolsa." O homem, mais senhor de si,
justificaria no carro do ano a completude para a sua satisfação
pessoal. Não quero dizer aqui que os bens produzidos pelos
homens não devam ser objeto dos nossos desejos, afinal, a todo dia

o homem consegue se superar mais e mais, o que não podemos é
nos escravizar diante das coisas que são absolutamente temporais,
fugazes, e, portanto, fugidias. Precisamos concentrar as nossas
atenções naquilo que nunca se perde, naquilo que é eterno, nas
coisas do espírito. Por isso Nosso Senhor fez a advertência,
pertinente advertência, que a felicidade verdadeira, a felicidade do
espírito que somos, não era deste mundo. Com esta advertência
sublime, se a levarmos em conta, haveremos de dar às coisas da
Terra a importância de fato que elas merecem, nem mais nem
menos.
Meus caríssimos irmãos, ao saber que a verdadeira felicidade não
pertence a este mundo, deveríamos, cada vez mais, nos esforçar em
conquistar aquilo que nos traga a satisfação espiritual. Em vez de
possuir coisas, devemos buscar é possuir a nós mesmos.
Disciplinando os desejos, enobrecendo os sentimentos, corrigindo,
pouco a pouco, as nossas falhas morais. Somente assim haveremos
de conseguir, e já vibrar com cada vitória, a tão decantada felicidade
que buscamos, porque veremos em cada detalhe, nas coisas mais
simples, um motivo grandioso para se sentir feliz.
#
Busquemos, enfim, irmãos, naquilo que é invisível aos olhos, mas
que é essencial às nossas almas o alimento para o alcance da
verdadeira felicidade.
Que Deus nos abençoe!


Capítulo 29

Bendita a oração

Quando o homem quer se comunicar com Deus, com o nosso
Criador, deve, tão-somente, deixar falar a voz que vem do coração.
Deus não quer palavras empoladas, cheias de brilho na retórica ou
de eufemismos que ninguém entende, nem Ele mesmo, quer
palavras abertas, quer sentimentos nobres desabrochando do mais
íntimo de nosso ser.

Tem gente que conversa com Deus como se estivesse negociando
com um comerciante na feira, já notaram? "Deus, tu me dás isto e
eu, em compensação, te darei aquilo. Agora, vê lá se faz a tua parte
bem feita, porque eu vou fazer a minha". Como será que o Pai
escuta estas palavras, hein? Deve dar um sorriso enorme diante da
imaturidade desse seu filho. Mas Deus responde às nossas preces,
do jeito Dele, mas responde.

O homem precisa calar a alma para deixar que o Pai fale mais alto
dentro de si. Muitas vezes não escutamos a Deus, porque fazemos
um tremendo barulho na nossa consciência, colocando sempre o
nosso eu acima da vontade de Deus. Assim, Ele não consegue nos

#
dizer nada. Espera o bom momento para falar fundo a nossa alma.
Bendito o homem que está atento às palavras de Deus, que se deixa
calar para que Deus fale mais alto no seu coração.

Deus fala aos nossos corações, porque fala primeiro aos nossos
sentimentos. Ele precisa ser, acima de tudo, sentido e não
intelectualizado, porque esta tentativa inócua de racionalizar-Lo
não serve. E claro que Ele chega à nossa inteligência, mas antes está
presente no nosso coração.

Às vezes, queremos que Ele nos responda logo aos nossos pedidos.
Somos muito impacientes. Precisamos entender o tempo de Deus
nas nossas vidas, Ele tem a hora certa de atender aos nossos apelos,
porque sabe o momento exato das coisas acontecerem. Portanto,
meu irmão, peça ajuda divina, mas antes, deixe no tempo do Pai o
melhor momento para Ele dar a resposta.

Há pessoas que pedem muito quando estão conversando com o Pai.
E um rosário de pedidos que não tem mais fim. E muito "eu quero
isto, eu quero aquilo" e esquecem o fundamental: agradecer ao Pai.
E maravilhoso agradecer ao Criador por tudo que temos. Na
verdade, se percebêssemos melhor as benesses do nosso Pai nas
nossas vidas, o nosso rosário seria só de agradecimentos, de
gratidão. Agradecer pela vida, primeiramente, pela grande dádiva
do existir. Como é maravilhoso existir. Já imaginou se você não
existisse? Você seria um nada. Deixaria de estar usufruindo de tudo
de bom que você já teve até o presente momento. Portanto,
aproveite as suas orações para agradecer a vida. Agradecer o que
você tem e também o que não tem. Se não tem algo que desejaria
muito é porque ou você não merece ainda ou o que deseja lhe faria
mal. Deixe tudo, portanto, nas mãos de Deus. Faça a sua parte e
contente-se com o que Ele lhe ofertar. Confie, Ele sabe sempre o que
faz, mesmo que, por enquanto, não entendamos os seus desígnios
nas nossas vidas. Agradeça e siga adiante.

#
Deus só quer o nosso bem, ponha isto na sua cabeça, não se deixe
levar por pensamentos fortuitos. Deixe que Deus diga,
naturalmente, o que seja melhor para você. Lembre-se das palavras
do nosso amigo Jesus na prece dominical: "seja feita a vossa vontade"1, a
vontade Dele não a nossa.

Meus queridos irmãos, aproveite o momento da prece diária, em
que momento for, para entregar-se a Deus. Seja transparente e
sincero com Deus, você não tem nada o que esconder Dele. Ele sabe
de tudo que passa nas nossas vidas, então por que se guardar em
subterfúgios? E certo que Ele sabe o que nós queremos e
precisamos, antes que peçamos, mas Ele deixa que nós possamos
refletir sobre o que de melhor nós precisamos, porque senão não
teria mérito nenhum a prece.

Meus irmãos, sejamos pacientes nos nossos pedidos, mas
previdentes nas nossas ações. Tem gente que pede, mas não faz
mais nada. Espera que Deus lhe dê tudo na palma da mão, sem
esforço algum. Não pode ser assim. Tem que agir, tem que lutar
pelo que se quer, deixando sempre para o Pai o resultado pelos seus
esforços. Lembre-se sempre: Ele sabe o que é melhor para nós.

Ávida é cheia de lutas. Corre-se pra lá e pra cá, é um torvelinho de
fatos. Requer de todos nós a circunspeção necessária para fazermos

o bom discernimento sobre o que seja melhor, é aí que a prece
sentida, sincera, ganha ainda mais valia nas nossas vidas. E o
momento sagrado da reflexão, da meditação divina. Quando o
homem souber da verdadeira importância da prece, ficaria sempre
conversando com Deus. Por isso que o Nosso Senhor nos
aconselhou oportunamente "'orai e vigiai para não caíres em tentação"²
1'Mt 6,10.
² Le 22,40.

#
Orar sempre. Orar agora, orar amanhã. Orar na alegria, mas orar na
tristeza também, porque ela tem algo a nos ensinar. Orar na
turbulência, mas orar na calmaria. Orar na bagunça, orar também
na organização.


Orar no trabalho, em casa, na rua, no ônibus, orar em todo lugar,


porque todo lugar é a casa de Deus.
Haverá um dia que os homens orarão permanentemente. O dia que
estarão perfeitamente sintonizados com o Criador, fazendo de sua
vontade a vontade bendita de Deus.


Oremos, irmãos, pela nossa redenção.Oremos, irmãos, pelos outros
irmãos. Não deixai nunca de pedir pelos outros, seja ele quem for.
Que você conheça ou não, mas peça, agradeça, louve a presença de
todos que passarem pelas nossas vidas, pois todos eles, todos os
nossos irmãos, fazem parte do plano de Deus e, como você, também
necessitam de oração.


Oremos ao Senhor!


Capítulo 30
Confiança no amanhã


Quem caminha na estrada da vida é movido de esperança de dias
melhores. Não há aquele que não deseje para si a renovação de seus
dias. Se está doente quer a cura. Se está triste quer ficar alegre. Se a
vida não estiver dando certo, porque lhe falta o pão de cada dia,

#
deseja o emprego. Somos movidos por algo que não possuímos
ainda. E o desejo permanente de ser feliz através da satisfação dos
sentidos e das vontades. E por esta razão que o homem se move de
um ponto para outro. Busca a felicidade e nutre na sua alma a
esperança de obtê-la. Como, porém, conquistá-la?

Penso, humildemente, que é necessário confiar no amanhã mediante
a intercessão divina nas nossas vidas. Não há aquele, por mais
simples que pareça ser, que não seja coberto pelo olhar de Deus. Há
gente que imagina ser esquecido por Deus, porque tudo em sua
volta é miséria, é sofrimento, é desventura. Não é verdade. Por mais
tenebrosa que pareça ser a noite saiba que o dia, o sol, radiante em
luz, é inevitável. Acontece que a noite, às vezes, e prolongada,
parece não ter mais fim. É um Deus nos acuda. Impaciente, sem
confiar suficiente no Pai que está nos céus -que tudo vê e que tudo
sabe -passa a blasfemá-lo, a revoltar-se, a piorar ainda mais a
situação. Não é assim quese faz, este procedimento não leva a nada
a não ser piorar as coisas.

É preciso, portanto, ter fé.

Fé em Deus, nosso Pai Amantíssimo. Ele não haveria de abandonar
nenhum de seus filhos e tampouco você. Há sempre, por mais que
ignoremos, uma razão na Criação. Precisamos, muitas vezes, nos
desdobrar para conhecê-la, basta, se não a entendermos de
imediato, confiar. Confiar e seguir adiante.

É duro um pai de família, ao amanhecer o dia, olhar para os lados e
não ter o que fazer, e o pior, não ter nada o que comer. Como dói o
coração dessa gente. Infelizmente, os programas sociais ainda são
insuficientes para minorar, como deveria, o problema da fome,
apesar dos enormes esforços neste sentido. O que se pede, nesta
concentração injusta de renda que vivemos, é a melhor distribuição
das riquezas, a partilha do pão, como bem exemplificou o Nosso
Senhor Jesus Cristo na Santa Ceia.

#
Teremos que confiar que o amanhã será melhor, porque, por mais
fundo que seja um buraco, um dia ele chega ao seu final, e aí
começa o caminho de volta para a superfície, com esforço
redobrado para sair-se dele, mas se consegue.

Meus queridos irmãos, penso que o Pai "não colocaria fardos pesados em
ombros fracos1'', portanto, por mais que seja difícil a caminhada com
enorme peso que carregue, você tem condições de fazê-lo. Alguém
poderia dizer "não é você então é fácil falar". E verdade, mas o peso é seu,
tem lá as suas razões que Deus há de explicar na sua grandiosidade.
Injustiça não há, porque a soberana justiça e misericórdia existem no
Criador. O que fazer já o dissemos, confiar.

Penso que os fardos, depois da caminhada penosa, quando nos são
retirados das nossas costas, revelam-se não serem tão pesados
assim. Olhando-se para trás, depois do acontecido, é que se avalia
com mais tranqüilidade que não foi tão pesado assim. E que a
impressão do momento, o desejo natural de não querer sofrer, de
não querer passar por aquilo, reforça inconscientemente o volume
do peso que carregamos.

Confie no amanhã, meus irmãos! A esperança de dias melhores não
deve nunca ser esquecida. Pode demorar, mas chega. E aí os
momentos de felicidade, a alegria que nos domina, olhando para
trás e ver o que passamos, é incontavelmente mais gratificante.
Sempre vale à pena. Depois da tempestade, o dia de sol radiante
não apenas nos conforta, como nos enche de novas energias para
tocar a vida, com mais ânimo e determinação.

Confiemos no Pai que tudo sabe a nosso respeito, pois o amanhã
será proporcional ao que fazemos no nosso presente, como o nosso
hoje derivou do que fizemos ou deixamos de fazer no nosso ontem.

¹MT 11,30

#
Daí, meus irmãos, a enorme responsabilidade do que fazemos
agora das nossas vidas. Concentre todas as suas energias para fazer
bem feito o que você está fazendo agora que é o momento mais
importante da sua vida, seja o que for. Se entregue a Ele com todas
as suas forças e raciocínio para não se arrepender mais tarde pelo
que deveria ter feito e não fez.

Meus irmãos, uma coisa é certa: o amanhã sempre virá. Confiemos e
com a ajuda do Pai que nunca nos falta, haveremos de chegar até
Ele de cabeça erguida, de fé renovada e de coração aberto às novas
experiências que nos esperam.

Que Deus nos abençoe!

Capítulo 31

Outra realidade é possível

O homem não pode viver sem acreditar que o seu amanhã não seja
diferente de seu hoje. O sonho dos homens é a matéria prima
necessária para ele transcender do aqui e do agora. Sem a esperança
de dias melhores, o homem se perde em suas confusões mentais e
tudo se deteriora diante de si. Sem esperança, o homem morre sem
saber que morreu. Para viver, sobretudo para viver bem, o homem
deve acreditar que amanhã tudo será diferente. Muitas vezes, no
entanto, a realidade cruel que vive faz ele achar que tudo não tem
mais jeito, que tudo vai continuar como está. Isto é terrível! Subtrair

#
a esperança de alguém é lamentável. Neste instante, não há outro
remédio senão sonhar. Sonhar que dias melhores virão.

Passei toda a minha vida física a sonhar. Era o meu ofício número
um sonhar. As adversidades, os infortúnios, as caras de fome que
me chegavam à sacristia, os sem-esperança de todos os dias, os
problemas infindáveis de toda gente, eram tantos que só me restava
sonhar, porque se não sonhasse sucumbiria também com eles.

Sonhar é preciso. Sonhar não para se alienar da realidade, mas para
acreditar -e acreditar de verdade -que outra realidade é possível. E
é mesmo. Deus é amor e, sendo assim não haverá de renegar os seus
filhos, portanto os momentos difíceis que passamos servem apenas
para testar as nossas fibras morais, a nossa verve divina. Porque
acreditamos num Pai Amantíssimo, não podemos acreditar nunca
que a realidade que vivemos é definitiva. Deus, na sua misericórdia
e em seus próprios caminhos, haverá de nos mostrar uma saída,
porque creio em Deus, tenho direito de ter esperança, tenho o
direito de sonhar.

Deus, sendo amor em abundância, nos proporciona o direito de
sonhar e com isso esperar e crer que amanhã, pois sempre haverá
amanhã, passada a noite escura, teremos inevitavelmente o raiar do
sol. Não há como contestar esta verdade. Nunca teremos uma noite
infindável. Por esta razão, por acreditar firmemente nesta máxima,
nunca desanimei. Meu ofício, como sacerdote, foi lembrar estas
verdades para meus irmãos e com eles tentar encontrar as saídas
prometidas por Deus.

Por acreditar firmemente numa vida nova, numa vida diferente,
achavam-me alguns um lunático. Outros, mais condescendentes,
um visionário. Nem uma coisa nem outra, apenas trabalhava com a
realidade divina nas nossas vidas. Sei que é difícil tratar os assuntos
desta maneira, principalmente para quem sofria e gostaria de uma
solução imediata para seus problemas. Alguns achavam que eu

#
possuía, inclusive, este poder. Por ser padre, representante de Deus
na Terra, iria facilmente encontrar uma saída para atender a seus
interesses. Hoje compreendo melhor as intuições que recebia do
Alto e que saíam em forma de conselhos que tanto confortavam
meus irmãos. Aqui, aprendemos que no grande trabalho do Senhor
ninguém está sozinho.

Meus queridos irmãos, se a isso alguns gostariam ¿c denominar
como uma utopia a minha enorme crença em Deus e num futuro
diferente do que vivia pode crer que sim. A utopia é a essência da
crença divina em nossas vidas. Sem ela os homens já teriam deixado
de existir há muito tempo. Quantas turbulências, meu Pai, quantos
desgostos passei, quantas injustiças fui vítima por confiar em Ti. Sei
hoje o quanto tudo aquilo foi necessário para mim e que havia
motivo grandioso da Criação em experienciar o que passei.

Assim se passa com todos. Até o Cristo, o irmão magnânimo sem
máculas, carregou a sua cruz e por que nós, seres ainda endividados
pelo tempo, haveríamos de imaginar que a vida seria um paraíso
sem fim? Não, a realidade nos mostra, porém, que no sofrimento há
lições profundas a serem enxergadas e compreendidas. Portanto,
paciência, e tudo a seu tempo correrá bem. Mesmo o mal mais
aparentemente cruel um dia cairá por Terra, porque, no final,
somente o amor de Deus prevalecerá.

Confie no seu amanhã e nunca desanime. Deus tudo vê e na hora
certa -na hora certa de Deus -haverá de dar a resposta que
precisamos ouvir nas nossas vidas. Confiemos e sigamos adiante,
mesmo que o peso da cruz pareça insuportável.

Meus queridos irmãos, creiam que o amanhã será feliz para todos
nós. Mesmo que nesta vida seja de muitas agruras, confie no Pai e
depois das atribulações da vida física, aqui, na casa permanente do
Senhor, verás sentido em tudo. Pode ser que o amanhã seja

#
reservado de paz, mas somente no lado espiritual, o que mais ainda


nos solicitará a fé inquebrantável no Senhor.
Confie e seja com Deus dentro de ti. O amanhã será sempre outro
dia e o Senhor te esperará de braços abertos, com um sorriso na
face, porque soubeste combater o bom combate.


Que Deus nos abençoe!



A presença do Cristo nas relações internacionais se dará quando enxergarmos, no
ambiente das negociações, o traço insofismável da solidariedade.

#
Capítulo 32

Solidariedade planetária

Em todo mundo vê-se aumentar a preocupação com a situação em
que se encontram os pobres. Estamos chegando a um ponto que a
distância entre ricos e excluídos é tamanha que não dá mais para
tapar o sol com a peneira: temos urgentemente que priorizar as
nossas ações, individuais e coletivas, para minorar o quadro de
miséria que assola o País e o mundo. Só assim poderemos afirmar
que somos uma humanidade civilizada.

As barbáries de ontem, infelizmente, ainda não cessaram. Quando
vemos irmãos nossos da Africa ou mesmo na índia em situações de
penúria é de cortar o coração. O fato é que as estruturas sociais e
econômicas existentes são bastante perversas e não representam
sequer um sopro de cristandade na Terra. E impossível pensar em
Cristo, visualizar a presença do Cristo em nós e vermos
contingentes imensos de seres humanos sem a devida atenção social
e em desamparo quanto a sua inserção no uso dos bens econômicos
a quem têm direito.

Quando meu Pai, que despertaremos em saber que da satisfação
coletiva depende a satisfação individual? Penso que a América
Latina, tão pródiga de bons homens, Poderia imediatamente
reverter as condições de miserabilidade, malgrado tenhamos ainda
a convivência de estruturas arcaicas e modernas que sustentam um
patamar de desigualdade inaceitável. Penso, também, que um
pouco esforço efetivo da Organização das Nações Unidas poderia
em pouco tempo, reverter situações adversas de convívio social, a
depender de um pouco mais de generosidade das nações ricas que
precisam perceber, de uma vez por todas que é impossível manter o
quadro atual de privilégios que sempre caracterizou esta enorme

#
dependência das nações mais fracas, a custa do sofrimento da sua
gente, em ter que reter bem pouco da sua riqueza produzida em
detrimento das transferências cada vez mais crescentes das suas
riquezas internas.

Os esforços bilaterais entre países emergentes e ricos ainda são
bastante tímidos para assegurar condições de sustentabilidade,
criando condições efetivas de avanços sociais e econômicos. Deriva,
quase sempre, para a esmola e não para ganhos permanentes de
produtividade econômica e desenvolvimento social.

A presença do Cristo nas relações internacionais se dará quando
enxergarmos no ambiente das negociações o traço insofismável da
solidariedade. O grau que vemos hoje é bastante tímido, pois os
homens, não em sua maioria felizmente, acreditam que as
desventuras das outras nações não lhes pertencem, até porque
acreditam já possuírem problemas demais nos seus países de
origem. Não é assim. As tais estruturas de competitividade
econômica internacional destroem qualquer possibilidade de ganho
coletivo uma vez que privilegiam como resultado o lucro econômico
e, em nenhum momento, o lucro social. Sob estas perspectivas,
haveríamos de mudar radicalmente a forma como conduziríamos os
negócios internacionais.

Por que não criamos, por exemplo, um fundo de solidariedade
internacional? Um fundo que tivesse a preocupação básica de
subtrair continuamente as parcelas de excluídos do mundo. O fato
de já nos juntarmos em oito compromissos para a construção de
uma humanidade melhor representa grande progresso, mas não
vemos, no conjunto das nações, uma preocupação focalizada nos
pontos eleitos. E um compromisso ainda sem comprometimento.

O dinheiro, pensam muitos, ainda anda muito escasso para se ter a
rojos de solidariedade. Não é verdade. Dinheiro se tem e muito, mas
está bastante concentrado nas mãos das nações ricas que se vê
assolar, cada vez mais, as discórdias internacionais em notícias

#
crescentes de terrorismo, alimentado, entre outras razões, pela
condição excludente de como desenvolvem os seus negócios.
Deveríamos repensar estas condições adversas sob a perspectiva
global e desenvolver no seio das nações mais ricas a noção real que
a globalização deveria nos impor: a solidariedade planetária. Isto
sim é o significado mais adequado para a globalização.

As perdas pela falta de solidariedade nas relações internacionais
aprofundam entre os homens distâncias enormes. Não nos
aproximamos, pelo contrário, criamos barreiras muitas vezes
intransponíveis de se passar. O Brasil exerce um papel importante
no conjunto das nações, o de partilhar com outros países
experiências de trocas efetivas, possibilitando o repasse de
tecnologias, sobretudo de cunhos sociais, para alavancar da miséria
nações irmãs -que nos vêem com bons olhos, diferentemente de
outros países que, infelizmente, já se marcaram como fonte de
exploração constante ao longo dos séculos.

Há que mudarmos urgentemente as estruturas atuais de relações e
repasses financeiros, se quisermos alterar as condições de
miserabilidade existentes. É desumano, inadmissível, continuar a
levar as coisas como se nada estivesse acontecendo, como se nada
existisse. Infelizmente seria necessário colocar, mais e mais, nas telas
de TV internacionais, as cenas dantescas de meninos e meninas
esquálidos que vivem em cenários subumanos para ver se chocando
a atenção despertasse a sensibilidade fraterna que o Nosso Senhor
Jesus Cristo ensinou como base essencial para a felicidade dos
povos.

Não podemos viver mais assim. Agrande bomba que se arma hoje
não é mais a atômica, que tanto me aterrorizou quando estava vivo
fisicamente na Terra, mas é a bomba social. Esta bomba é terrível,
porque está alimentada diariamente na revolta popular pelas
injustiças, as quais são vítimas, como também pela situação de
exclusão e consciência dela que são mais crescentes. Ora, as

#
manifestações recentes na França1, por exemplo, são retrato fiel que
isto tudo não pode continuar.
Onde está a doutrina amorosa e fraterna do Cristo? Guardada
apenas nos templos de devoção e nas páginas amareladas dos livros
sagrados? Ou apenas nas lembranças esporádicas de compromissos
religiosos de praxe?
Não mais o Cristo do crucifixo distante, mas o Cristo atuante como
ele foi, defensor das bandeiras sociais e humanas que promovessem
a paz e a justiça entre os homens. Um Cristo reacionário diante da
hipocrisia farisaica. Um Cristo inconformado com as estruturas
perversas, hoje de um capitalismo excludente e selvagem. Um
Cristo libertador das ignorâncias de toda sorte. Um Cristo fraterno
em aproximar todos como irmãos.

"Onde há duas ou mais pessoas reunidas em meu nome eu atestarei"2', adiantava

o Senhor das nossas vidas. E onde ele está nas reuniões das cúpulas
internacionais? Por que não o chamam? Certamente porque não
acreditam verdadeiramente em suas palavras proféticas.
Irmãos, juntemos os nossos esforços para doravante lutarmos ainda
mais pela justiça entre os povos, pela partilha justa do pão do
Senhor, para que nenhum dos seus filhos se sinta subtraído daquilo
que lhes pertence.

Creiamos na sua presença em nossas vidas e com todas as nossas
forças comecemos, ao menos, a mudar a realidade de nosso entorno
e que o nosso exemplo, de amigo do Cristo e amigo do nosso irmão,
se irradie e pouco a pouco ganhe a escala planetária que desejamos.
Que Deus nos abençoe!

¹As chamadas mesas girantes, protagonistas da chamada dança das mesas, foram
fenômenos aos quais alegava-se natureza mediúnica, amplamente difundido na
Europa e nos Estados Unidos, a partir de meados do século XIX. Fonte:
Wikipédia, a enciclopédia livre.

²Mt 18,20

#
Capítulo 33

A conquista da paz

Aquele que ininterruptamente procura a paz deve fazê-lo não como
um sacerdócio, mas como um candidato a vencer a si próprio. A paz
no mundo depende exclusivamente da paz interior de cada homem.
Sem a construção da paz no coração do homem, ela será letra morta
e deveras encontraremos alguma sorte em alcançá-la.

Todos nós desejamos alcançar a paz que é um tesouro precioso,
sobretudo nos tempos de guerra que vivemos hoje, onde nações
impõem às outras as suas vontades ou no momento que cresce o
terrorismo, a paz representa um anseio mundial. Conseguir viver
em paz é, pois, um desafio de todos os homens.

Viver em paz requer, antes de tudo, um desapego de si e um
encontro com o irmão. A raiz da violência, da não paz, está,
sobretudo, no egoísmo humano. Por querer demais alguma coisa,
por achar-se conhecedor, exclusivo da verdade, por querer impor a
sua vontade, por não admitir outra opinião que não seja a sua, o
homem tende a sobrepor-se de todo jeito aquilo que deseja mesmo
contra a vontade do outro e aí se instala o conflito inevitável.

Para se ter paz é necessário um desprender de si na busca da
verdade do irmão, porque o outro é um irmão e se, de cara,
enxergarmos no outro um irmão começaremos imediatamente a
tentar evitar o conflito. Quando tivermos o impulso de discutir com
alguém, por exemplo, haveremos de frear os nossos impulsos de
agressividade, se enxergarmos no outro um prolongamento de nós
mesmos.Veja que estamos, de certa forma, aproveitando o próprio
egoísmo, o apego exagerado para si mesmo, para subtrair impulsos
de violência.

#
A violência não nos leva a lugar nenhum, a não ser para a
destruição total. Ela carcomina as estruturas da sociedade mediante

o conflito, o desrespeito ao direito do outro, pela falta de
fraternidade que, no fundo, é o que une os povos e toda a gente. Sei
que a violência cresce em todo o País e fora dele, mas creiam
irmãos, representa, tão-somente, o princípio do fim. As ondas de
selvageria que assistimos na televisão, ouvimos nos rádios ou lemos
nos jornais, representam bem pouco do que realmente acontece. As
notícias dão apenas uma versão dos fatos, a versão violenta, o que
de mal acontece, mas onde ficam as boas notícias?
As boas notícias, no mesmo caminho das más notícias, deveriam
ganhar espaço semelhante, ou até maior, espaço reservado para
divulgar as maldades humanas, aliás, maldade, violência, agressão
não são humanos, são uma ab-rogação da condição humana que
somos, um desvio.

O homem não foi feito para a sua autodestruição, foi feito pelo Pai
Criador para viver em paz, esta é a sua real natureza, a natureza de
amor e, conseqüentemente, de viver em paz. O amor é o centro de
tudo no universo de Deus e, principalmente, para se conseguir a
paz tão desejada. Desta forma, precisamos primeiro, para ter paz,
aprender a amar.

A aprendizagem do amor requer esforço próprio, diario,
permanente. Em cada gesto, cada palavra, cada pensamento,
necessitamos exercitar o amor. Somente o amor consegue acabar
com as rixas, o desentendimento, os sentimentos de maldade para
com o outro, as malevolencias de toda sorte. Porque quem ama, ao
pensar em si, não pensa em exclusividade, pensa, por amor, em
incluir o próximo naquilo que deseja para si. Ora, se deseja o bem
para si, deseja também o bem para o próximo.

Não há como conseguir a paz sem o exercício do amor. Por isso é
que o Nosso Senhor escolheu o amor para proclamar em alto e bom

#
som que nele resumia toda a lei de Deus, portanto, precisamos
desenvolver todos os nossos esforços em criar uma sociedade
amorosa. Já imaginou as escolas do mundo ensinando nos seus
currículos como disciplina-mãe o amor? Que maravilha não seria! O
amor teria que permear o conteúdo de todas as demais matérias do
aprendizado também. Tudo deveria ser compreendido, desde
criança, pela perspectiva do amor.

Meu Deus, fico só imaginando... A história dos povos seria contada
não pela ótica das guerras, mas pela demonstração que este
caminho, o da imposição da vontade de um sobre o outro, do
predomínio de um povo sobre outro, da ocupação indevida de um
território, só traz a discórdia e a morte, portanto, não leva ao amor.
Estudar os incríveis fenômenos da química, da física e da biologia
como resultantes do formidável movimento de Deus na natureza,
como expressão do amor de Deus. Mesmo a matemática e suas
complicadas operações seriam igualmente para demonstrar que a
lógica perfeita, sem erro, é uma forma de mostrar que o amor é
perfeito, sem espaço para as divagações estéreis, que não nos leva a
nada. A geografia, os fenômenos estudados pela geografia, guarda
uma beleza enorme, beleza somente explicada pela vontade do
amor.

Quando falamos no amor, falamos na expressão do amor divino,
sobretudo em cada parte mínima das coisas porque somente o amor
de Deus para justificar a excelência da harmonia, da convivência
pacífica ou da resultante pacífica mesmo no aparente ambiente de
caos.

Somente o amor traz a paz, isto é inquestionável. Por esta razão, a
decisão de amarmos uns aos outros e ao Pai Criador deve ser
prioridade para todos os povos. Foi esta mensagem magnânima que
Nosso Senhor trouxe, direto do Pai, e ninguém quer dar ouvidos.
Por isso, continuam a se digladiar um com o outro, em aprofundar

#
os abismos sociais e econômicos, a se mutilarem diariamente numa
escala que parece mais interminável.

Meus queridos irmãos, a paz, como vimos, não vai chegar de páraquedas
e se instalar entre os homens. A paz precisa ser edificada
primeiro no coração dos homens, como o amor deve se manifestar
inicialmente no coração do ser humano. O ensino da paz nas escolas
-e não apenas nos templos de crença religiosa e espiritual -requer
que o homem pense na construção de sua paz interior que é
construída mediante o esforço constante de autodomínio.
Precisamos nos controlar mais para não nos encolerizarmos, não
perdermos a paciência com qualquer coisa, em refrear Impulsos
malévolos que todos ainda possuímos, em se vigiar para não querer
invadir o espaço do outro. Se respeitamos o outro imediatamente
evitaremos a possibilidade do conflito. A paz se constrói num
ambiente de disciplina e na busca da reciprocidade dos sentimentos,
porque quando desejamos o bem a alguém, a tendência natural é o
outro responder na mesma moeda e aí já criamos, espontaneamente,
uma ambiência pacífica.

Meus caros irmãos em Cristo, Ele, o Nosso Senhor, foi uma
demonstração clara para todos nós que podemos ser seres pacíficos,
aliás, Ele nos prometeu que serão aos pacificadores que estaria
reservada a posse de nosso planeta. Portanto, se quisermos ser
herdeiros da Terra no futuro, precisaremos urgentemente nos
transformamos em agentes da paz, em fomentadores da harmonia
entre as pessoas, de construtores de conciliação.

Seja você também, meu irmão, um pacificador, para juntos fazermos
desta maravilhosa Casa de Deus um paraíso constante onde reine a
harmonia e o amor entre os homens.

#
Capítulo 34

Nossa Senhora

De todas as mães do mundo, uma é especial: falo de Nossa Senhora,
Maria, mãe de Jesus. Maria é mãe de todos nós, porque consola e
zela por todos os filhos das outras mães, seria mãe,
conseqüentemente, de todas as mães. Por que esta reverência em
especial por Maria de Nazaré? Porque ela representa, no
simbolismo de Seus atos e gestos, o sofrimento e o amor de uma
mãe pelos seus filhos. Foi assim com Jesus, nosso irmão maior, e é
assim com todos aqueles que recorrem a Ela nos seus instantes de
sofrimento e dor.
O Maria, minha Mãe querida, neste dia em que consagramos a Ti,
no Recife1, venho aos Teus pés para agradecer pela proteção que nos
dás. És, ó Mãe, aquela que zela por todos nós, que sabe das nossas
dores e corre até nós para aliviá-las. Es ó Mãe querida, quem nos
abraça em Teu amoroso regaço, que nos faz sentir seguros quando a
sorte se faz ausente, que nos dás a sensação de nunca estarmos
perdidos, que há sempre alguém que velará as nossas necessidades,
que nunca nos desamparará.
És a mãe-símbolo de todas as outras, porque o que fizeste pelo
Nosso Senhor Jesus somente uma santa corno és, para suportar e
estar, lado a lado, diante da dor atroz do Teu filho, injustiçado pelos
homens, preso, açoitado ironizado e cruelmente assassinado.

¹ Texto recebido em 8 de dezembro de 2005, data em que é comemorado em Recife 0 dia da
sua padroeira -Nossa Senhora da Conceição.

#
Quando Te vejo, ó Mãe de todos nós, quando me lembro do que
passaste, lembro-me de todas as mães, sobretudo das mães
nordestinas. Mães que labutam todos os dias, que socorrem seus
filhos, que se multiplicam em mil diante dos afazeres, e quando
trabalham fora do lar então são super mulheres a se desdobrarem
mais ainda. Mas Te vejo, ó Mãe, por exemplo, nas faces doloridas
das mães sertanejas ou nas mães residentes nos morros do Recife ou
nas palafitas de Olinda.
Ó querida Mãe, como sofres quando teus filhos não têm nada o que
comer. Se pudesses, quando pequeninos, darias o Teu seio para
alimentar todos eles diante da ausência completa de um pão ao
menos. E quando um de Teus filhos chora por estar doente, ó Mãe
de Jesus, como te cortas por dentro, é como se o mundo inteiro
estivesse nas tuas costas e, impotente, tens que segurá-lo nos
ombros magros. Mas consegues, apesar de tudo, trazer a dor do
mundo em Teus ombros.
Minha querida Mãe de Jesus, Teus ombros suportam a dor do
mundo. Esta incrível capacidade que possuem as mães de absorver
a dor do filho é o atributo divino por excelência que mostras aos
homens demonstrando inexoravelmente o que representa a
verdadeira face de Deus.
E o coração de uma mãe? Como é largo e grande o coração de uma
mãe. Minha mãezinha querida -que aprendeste também com a Mãe
de Jesus -que me acompanhou na hora derradeira, na hora de
reencontro com a eternidade, que segurança me destes quando
viestes me buscar na minha partida final. Estava literalmente nos
braços do Senhor, ó mãe, porque estava em teus braços.
Nossa Senhora é mãe de todas as mães também, porque nos
momentos de maior dificuldade as mães da Terra suplicam a ajuda
da Mãe de Jesus. Somente outra mãe para saber o que se passa
verdadeiramente no coração de uma mãe.
Mãe poderosa, neste Teu dia, nós, agradecidos, te rendemos graças
por tudo que tens feito por nós. Somos todos, sem exceção,

#
interminavelmente, devedores do carinho e da presença que nos dás
em nossas vidas, porque não deixas de repetir os mesmos gestos
com que acompanhaste o Teu filho querido, Jesus.
O Mãe de todas as mães, temos muito a aprender contigo,
sobretudo os homens, porque no Teu coração bondoso de mãe nos
ensinas o que seja a compaixão. Queríamos nós, homens, também
nutrirmos em nossos corações a chama eterna da ternura e do
compartilhamento da dor alheia. Ah, neste dia, Mãe querida! Os
homens se transformariam em outros, porque aprenderiam contigo,

o valor que possui outro homem e cada um dos homens.
Neste dia, minha Mãe querida, venho aos Teus pés novamente para
dizer da nossa gratidão e do nosso desejo de que não nos deixes
jamais. Sabemos dos Teus múltiplos afazeres, mas, mesmo assim,
não deixas de ouvir e atender a nenhum deles.
Obrigado, ó Mãe, pela Tua manifestação em todos os povos. Por
quantas faces se apresenta? Es da Conceição, das Dores, de
Aparecida, de Meldjgore, do Rosário, de Fátima, e de tantas outras
faces para mostrar, de alguma forma, que pertences a todos os
filhos.
Neste dia memorável, ó Mãe, continuo a Te pedi pelos Teus filhos
que estão na lama, pelos que residem em casebres subumanos, pelos
que não têm o que comer e onde trabalhar, pelos que erram nos
presídios e que sofrem nos hospitais.
Minha querida Mãe, também sofro quando Teus filhos se sentem
sós e acreditam que não têm ninguém por eles. Minha Mãe querida,
estende, neste momento, os Teus braços amorosos sobre eles, dás o
teu ósculo consolador na face de cada um dos que estão em dor,
minha Mãe. Acho que neste instante, aprendemos o quão doce e
necessário é um simples afago, um aperto de mão, ou um abraço de
irmão.
Minha mãe, neste dia, levantamos os nossos braços aos céus para Te
louvar e pedir por todos nós. Semelhante a Jesus no Calvário,
sabemos que podemos confiar na Tua presença em nossas vidas
#
como a nos dizer: "meufilho, não desistasjamais, pois estarei também contigo
até o final dos dias".

Muito obrigado, minha e nossa Mãe.

Capítulo 35

Verbos divinos

O homem não pode viver só. E de sua natureza viver em sociedade,
criar em sociedade, compartilhar em sociedade. Tudo se faz através
do convívio salutar de vontades. Repartir, portanto, passa a ser um
verbo essencial para o convívio social. Repartir o que tem, aquilo
que excede a sua necessidade para dar a aquele que nada tem.
Repartir é verbo divino. Compartilhar é outro verbo da mesma
família de repartir, porque quem compartilha, de certa maneira,
também reparte. Compartilhar é colocar à disposição aquilo que lhe
pertence para que outros possam também usufruir.

Há verbos humanos e verbos divinos. Os verbos humanos são
aqueles criados pelos homens, que nada têm a ver com Deus. Os
verbos divinos são aqueles que engrandecem os homens no seu
convívio com os outros, com a natureza e com Deus. Os verbos
humanos foram criados para disciplinar relações às vezes nem tanto
promissoras. Repartir e compartilhar são verbos divinos porque
representam a própria continuidade da ação do Criador. Ele, ao nos
criar, repartiu os bens da Terra de modo que ninguém pudesse
passar por privações, o homem é que subtraiu e concentrou do
outro faltando àquele que tinha direito por concessão divina.

#
Subtrair e concentrar são verbos humanos e não divinos, porque são
excludentes. Excluir é outro verbo extremamente humano,
principalmente, nos dias de hoje, em que parcelas significativas da
humanidade e da nossa gente nada tem para comer ou usufruir da
riqueza gerada. Excluir é verbo que deveria definitivamente estar
fora de qualquer dicionário. E um verbo que incomoda, que
provoca dissensões, que atrapalha a aproximação das pessoas. Eis aí
um verbo divino: aproximar. Quem dera pudéssemos, o tempo
inteiro, conjugar o verbo aproximar. O mundo de hoje, cheio de
tecnologia, deveria servir para aproximar as pessoas, mas,
contrariamente, serve para distanciarmo-nos uns dos outros. A
aproximação se faz urgente e necessária para que não percamos o
contato humano, a troca afetiva e grandiosa que pode acontecer
entre dois seres que estão em conjunção de sentimentos.

Há verbos prediletos como citamos anteriormente. Verbos
prediletos são verbos divinos. Verbos que promovem a alegria dos
homens, de todos os homens, e não apenas de alguns deles. Outro
exemplo é o verbo cooperar. Já notaram como ele é maravilhoso?
Vejam só a etimologia do verbo cooperar: vem do verbo operar,
fazer, construir, edificar, materializar. Operar é executar, tornar
alguma coisa real pelo esforço físico ou mental, mas vejam o que
acontece quando se junta a partícula "co". Significa fazer
conjuntamente. Realizar parceiramente. Ninguém coopera sozinho.
Cooperação é mais interessante ainda. E ação de construir
conjuntamente. Eis um desafio fundamental para os dias que
vivemos.

Na atual conjuntura mundial, o verbo cooperar é de uma
pertinência sem tamanho. Cooperar significa trazer para junto,
porque sozinho é impossível fazer. Quando nações e empresas
pensam unicamente em seus interesses nada constroem
coletivamente. E preciso sair-se de si, ir ao encontro das demandas
da sociedade que serve, que deposita seus produtos ou serviços.

#
Uma empresa que não conjuga o verbo cooperar tem literalmente os
seus dias contados.

As nações, por seu lado, são forçadas a conjugar o verbo cooperar,
porque nenhuma, por mais rica e provida de recursos naturais que
seja, pode construir progresso isoladamente, até porque dependem
de outros mercados para escoarem a sua produção. Cooperar é item
fundamental nas relações comerciais, porque se alguém observar
apenas os seus próprios interesses em detrimento dos outros não
caminhará muito. As distâncias só se tornaram menores, porque
homens tomaram a decisão de manterem acordos de cooperação.

Um sinônimo de cooperação, nos dias atuais, é estabelecer parceria.
Parceria e cooperação possuem o mesmíssimo significado. Parceria
é também palavra grandiosa. Dá logo a impressão de se fazer em
par, em conjunto. Mas por que então ser parceiro, cooperar, é tão
importante? Porque afugenta, pela ação de aproximação e
percepção da interdependência, o egoísmo entre os homens. O
egoísmo afasta os seres humanos. E por conta do disso que vivemos
este atual estágio de desenvolvimento pois muitos querem apenas
para si, se sentem auto-suficientes, acreditam que não dependem de
ninguém ou atribuem importância relativa aos outros.

Para varrer de uma vez por todas o egoísmo entre os homens,
necessitamos conjugar verbos divinos como repartir, compartilhar,
aproximar e cooperar, sem os quais os destinos da humanidade
serão, inevitavelmente, de barbárie. São verbos fundamentais para
os dias em que vivemos, porque apesar do capitalismo suscitar a
liberdade, a iniciativa, o empreendedorismo, quando desprovido
dos valores humanos, da conjugação destes verbos divinos, é fonte
de separação, de exclusão, de afastamento entre os povos.
Capitalismo sem as rédeas dos valores humanos, da concepção
divina da criação, possibilita a conjugação de um verbo
extremamente perverso: explorar.

#
Quantos homens são vítimas do verbo explorar! Aliás, este tem sido

o verbo conjugado por excelência ultimamente. Os homens de
dinheiro, os apologistas do capital, adoram conjugar o verbo
explorar. Só associam a idéia de capitalismo se vier junto com ele,
naturalmente, a exploração do outro. Por isso, é que exploração é o
antagonismo de cooperação. Ação de explorar quem quer que seja é
abominável e desumano. Outro verbo que deveria ser varrido de
nossos dicionários.
Meus queridos irmãos, chegará um dia, não tenho qualquer dúvida
sobre isso, que os seres humanos somente haverão de conjugar os
verbos divinos e transformarão o significado de alguns verbos hoje
que têm um caráter humano. O dia em que o humano e o divino
tiverem o mesmo significado. Quando a vontade do Pai for a
mesma vontade de seus filhos. Enquanto isto não ocorre, façamos a
nossa parte em somente conjugar os verbos divinos, porque o
somatório de todos os verbos divinos se encontram presentes em
conjugação diária do verbo amar. Amar é a grande síntese do verbo
divino em nossas vidas. Amarmos uns aos outros. Foi por esta
razão, para nos ensinar a conjugação do verbo amar, que o Nosso
Senhor veio a Terra. Conjuguemos nós também, com muito esforço,
todos os dias, o excelso verbo amar, o maior dos verbos.

#
Sem a atenção prioritária à criança e, por tabela, ao adolescente, será vã qualquer
tentativa de transformação da sociedade

#
Capítulo 36
Menino Jesus


Sem a atenção prioritária à criança e, por tabela, ao
adolescente, será vã qualquer tentativa de transformação da
sociedade.

Que pensar de crianças nas ruas, ao relento, nas grandes cidades?
Que pensar das crianças do sertão sem o que comer e sem o que
beber? Que pensar das crianças do mundo inteiro sem esperança?

E muito duro observar, no quadro mundial, o desespero de
milhares de crianças, para não dizer milhões, que vivem sem
qualquer perspectiva na vida. Se ao menos tivessem uma assistência
digna básica, mas nem isto têm. Que pensar, então, do futuro delas?
Quando vemos nos morros, nos casebres, crianças soltas sem
amparo social, sem atenção governamental, sem educação essencial,

o que esperar delas?
Quando quisermos criar uma sociedade mais justa, próspera e em
paz, devemos começar pela atenção às crianças, que representam o
amanhã que desejamos. Se esquecemos a criança negligenciaremos

o futuro. Por isso, afirmo: Sem a atenção prioritária à criança e, por
tabela, ao adolescente, será vã qualquer tentativa de transformação
da sociedade.
Quando vejo programas governamentais brasileiros Preocupados
em erradicar o trabalho infantil fico muito feliz. Há foco, pelo
menos. No entanto, cadê as condições fundamentais para se evitar
isto? Pensam que com minguados recursos consegue-se promover a
revolução do bem. E alguma coisa, mas ainda guarda enorme
distância diante das necessidades reais que defrontamos no dia-adia.
Erradicar o trabalho infantil requer um envolvimento maior da

#
sociedade, porque é necessário antes erradicar as necessidades
básicas da família. Por que uma criança pede esmola na rua ou fica
a lavar carros nos sinais? Ou mesmo está envolvida no corte da cana
ou em trabalhos similares? Por necessidade, por pobreza absoluta.
Não podemos imaginar, por mais interessante que seja a iniciativa,
que os programas sociais federais, postos como estão, resolverão o
problema na essência, quando muito representarão, o que já é bom,
um alívio, um alento, mas não uma solução.

Quando os governos assinarem efetivamente um pacto pela não
violência à criança e ao adolescente estarão, de fato, combatendo a
dominação da violência no futuro. Não parece óbvio? Pois, então, e
por que não se faz?

A criança e o adolescente representam a base de uma sociedade
feliz. E impossível imaginar uma solução diferente hoje, se governos
e instituições promotoras do bem e preocupadas com a criança não
se juntarem numa grande cruzada de erradicação da pobreza. Não
se quer aqui dar apenas um destaque especial, quer-se uma
prioridade absoluta, uma conjunção de esforços, uma radicalização
contra a pobreza e priorizando-se a formação integral de crianças,
jovens e adolescentes. E assim que se muda uma sociedade.
Enquanto esta decisão não for tomada, haveremos de ter resultados
pontuais e esporádicos.

Os programas de transferência de renda são salutares, sobretudo
quando associados à educação e assistência integral, mas quando
significa apenas uma obrigação na rotina governamental de nada
tem valor. As crianças pobres merecem atenção diferenciada,
porque as suas realidades são outras. O menino rico, que tem posses
herdadas, sequer imagina, preocupado com seus jogos eletrônicos e
seus cursos de idiomas, o que falta na mesa e no dia-a-dia de um
outro menino que mora numa favela.

E revoltante ver tamanho disparate entre as duas realidades. Chega-
se ao cúmulo da indignação. Não podemos aceitar, no começo do

#
terceiro milênio, tamanha distância na realidade de crianças que
são, em essência, as mesmas. Não queremos aqui igualar as
condições, mas temos a obrigação de proporcionar as mesmíssimas
oportunidades a ambas e isto não se constitui qualquer favor.

Por que os governantes, de maneira geral, não se indignam com tal
situação? Certamente porque não saem dos seus confortáveis
gabinetes para ver de perto a realidade social que é muito cruel. E
impossível ficar indiferente, a menos que se tenha um coração de
gelo, ver crianças nas calçadas, barrigas enormes, trocando
figurinhas na miséria. E extremamente revoltante.

Meus queridos irmãos, Jesus nos ensinou que deveríamos cuidar de
cada um dos nossos pequeninos como se a ele estivéssemos
cuidando. Quando vejo crianças abandonadas, violentadas,
maltratadas pela sorte, vejo, na verdade, é descuidarmos do Cristo,
vejo é o esquecimento em cada um deles do menino Jesus.

Quem dera que víssemos na face dos meninos deserdados pela sorte
a face do menino Jesus. E como se fosse dia de Natal, quem dera
cada um de nós pudesse adotar como filho de verdade um menino
Jesus que está sem pai; um menino Jesus que está abandonado na
rua; um menino Jesus que está sem roupa e pede ajuda nos seus
pensamentos de criança a Papai Noel.

Assumamos, meus queridos irmãos, a paternidade de Jesus. O
menino Jesus está nas ruas e você, muitas vezes, passa por ele
indiferente como a concordar que o seu destino é este mesmo. Não
é. Ou pelo menos não deveria ser. E por demais doloroso saber que
dizemos ter uma humanidade já civilizada, quando crianças do
mundo inteiro ainda são ignoradas porque sequer, em muitos casos,
são percebidas. São invisíveis aos olhos e aos sentimentos da
sociedade.

Queira um dia que o menino Jesus, acompanhado das suas mães
Marias e seus pais Josés, possam crescer todos felizes, porque

#
possuem o mínimo para a sua sobrevivência que lhes dão dignidade
para viver. Neste dia, certamente, o menino Jesus, crescendo
amparado, haverá de tomar um outro rumo na sua vida, que não é
aquele de carregar uma cruz interminável, e o que é pior, ser
subtraído precocemente a esperança da vida, porque se não morre
de fome, morre da violência que é induzido a praticar nos
corredores dos tráficos de toda influência. Mais do que estradas de
concreto, precisamos de escolas formadoras de homens e mulheres
de bem. Mais do que arranha-céus gigantes, precisamos garantir um
prato de comida e uma vida decente às nossas crianças e
adolescentes, sem o qual estaremos condenando o nosso menino
Jesus a ser erradicado pela força da miséria e da desatenção social.

Acolha, meu irmão, o menino Jesus em sua vida para que a
sociedade possa esperar dias melhores, dias de amor e felicidade
reais.

Que Deus nos abençoe!

#
É daquele, muitas vezes, que pouco se espera, que Deus escolhe para fazer a sua
obra redentora.

#
Capítulo 37

O papel do Papa

Quando me tornei padre busquei, de todo modo, me guiar pelas
orientações recebidas pelo signatário da Igreja Romana, o vigário
por excelência da Igreja, o Papa. Ele é a autoridade máxima na Terra
para dirimir as relações, todas elas, da nossa Igreja Católica. E um
papel realmente desafiante, o de representar o Cristo na Terra e
guiar com a sua palavra, com a sua orientação, um rebanho que
passa de um bilhão de pessoas. E muita responsabilidade. Estar no
alto da cadeira do Vaticano é responsabilidade de poucos que o
Nosso Senhor Jesus concede a um homem.

O poderio que investe um Papa é tamanho que somente alguém
com estirpe moral comprovada tem a legitimidade de exercer o
lugar de mandatário número um dos católicos e chefiar um Estado
que abrange, de modo amplo, todo o planeta. E incrível, na prática,
como isto ocorre. Cada paróquia, cada arquidiocese, recebe
continuamente, oriunda do comando central, instruções de
encaminhamento das coisas da Igreja. E um sistema de informações
rigorosíssimo e que todos, sem exceção, devem cumprir. Já
imaginaram se cada uma das paróquias fizesse o que bem
entendesse? Que confusão seria! E claro Que há liberdade para
estabelecer as relações e orientações locais, mas o fundamental é não
divergir do comando único da Igreja. Tal princípio, o da hierarquia
das ordens, tentei ser o mais fiel possível na condição de sacerdote
católico que fui. E não fiz mais do que a minha obrigação. Muitas
vezes as ordens de Roma poderiam não ser aquelas qUe imaginava,
mas foram aquelas que meus superiores e, em última instância, o
Santo Padre, encaminhava, e, por isso deveriam ser religiosamente
obedecidas.

#
Eu acreditava que os concílios, os encontros ecumênicos, os
seminários e outros fóruns de discussões, fossem os meios de
influenciar nestas decisões, de tornara ação da Igreja a mais próxima
das realidades locais e do pensamento da coletividade católica. Por
esta razão, me empenhei como pude naquelas ocasiões que
participei, dando o melhor de mim para a formação de uma Igreja
de todos, literalmente de todos, e não apenas de alguns ou olhando
e privilegiando a alguns, porque este não foi o procedimento de
Nosso Senhor, pelo contrário, como Ele falou, Ele veio, sobretudo,
para os doentes, para os necessitados de toda sorte e este também
teria que ser, em todos os tempos, o caminho que a Igreja deveria
percorrer.

Sei dos inúmeros problemas e erros cometidos pela Igreja ao longo
dos séculos. E lamentável um monte de fatos e posições tomadas
exatamente na contra-mão da história, mas acredito firmemente que
este tempo passou, principalmente porque os novos tempos
demonstraram o papel relevante da Igreja em colaborar pela paz
mundial e pela harmonia entre os povos, independentemente de
sua religião adotada. A Igreja, embora se note apenas os seus
desvios, é responsável, no conjunto e em sua particularidade, por
uma enormidade de benefícios à humanidade, mesmo que taxem,
muitas vezes, de conservadora e retrógrada. Na marcha do
progresso, há os avanços inevitáveis e necessários, mas há
igualmente valores que nunca serão ultrapassados e que a Santa
Igreja deve funcionar como defensora intransigente e não entrar em
ondas modernistas simplesmente porque uma maioria desavisada
acredita que se deva estabelecer uma nova ordem de coisas sem
analisar a fundo as repercussões de tais atitudes.

Há, neste contexto decisorio, a figura magnânima do Papa. Seja ele
quem for, é a pessoa escolhida por Deus para conduzir a Igreja. Não
pode ser qualquer um. Observem atentamente os últimos homens
que sentaram na cadeira de Pedro e verão, cada um ao seu

#
temperamento e formação, homens extremamente comprometidos
com a causa do Cristo e que continuaram, independentemente das
correntes internas, a obra grandiosa da Igreja de regeneração moral
de todas as gentes.

Lembro da figura reformista, por exemplo, de um Leão XIII¹. Que
maravilhosa visão para o seu tempo em promover, sob a orientação
da Igreja, reformas sociais que dessem ao homem a direção segura
para enfrentar o modernismo industrial da época e a onda marxista
em evolução. A Igreja foi sábia quando elegeu o Cardeal Pecci para
conduzi-la a contento. As gestões seguintes, nas mãos de homens
leais aos princípios católicos, foram firmes na condução segura
frente às transformações que ocorriam eas turbulencias da primeira
e da segunda guerras mundiais A mão segura do Papa Pio XII²,
apesar de muitas incompreensões, fez com que no momento
aprazado por Deus, a guerra tivesse fim. Não que a guerra seja algo
abençoado por Deus, de modo algum, mas dos conflitos extremos
saem lições para a humanidade não repetir mais como tivemos o
nazismo e o fascismo, por exemplo.

Quero aqui lembrar a figura religiosa mais expressiva do século
passado, o nosso querido, o bom Papa João XXIII³. Que figura
admirável! Reunia ao mesmo tempo sabedoria e simplicidade. Foi
ele, num gesto largo e necessário, que convocou o Concílio
Ecumênico Vaticano II6. Que revolução, meu Pai! Que ambiente
fecundo para a discussão dos destinos da nossa Igreja. Mudamos
muito e mudamos para melhor, sem dúvida alguma. Uma obra
admirável de alguém que pouco se esperava a não ser preparar a
cadeira para o seu sucessor em função de sua elevada idade quando
foi entronado. E daquele, muitas vezes, que pouco se espera, que
Deus escolhe para fazer a sua obra redentora. Quanto aprendi com
o Papa bom, o Cardeal Roncalli. Sua façanha, de provocar o

"O Concílio Vaticano II (CVII), Concílio Ecumênico da Igreja católica, foi aberto sob o papado de João
XXIII no dia 11 de outubro de 1962 e terminado sob o papado de Paulo VI em 8 de dezembro de 1965.

#
repensar dos rumos e práticas da nossa Santa Igreja, jamais será
esquecida.
Logo após, para dar continuidade à obra iniciada pelo papa da
bondade e do sorriso largo, é eleito o Monsenhor Montini4. Que
maravilha! Era como se o trono do Papa João estivesse sendo
seguido sem interrupção. E a Igreja cresceu inserindo-se ao debate
dos temas atuais e pertinentes. Sua inteligência, sua envergadura
política, sua palavra sábia foram decisivas para a consolidação das
deliberações do Concílio Vaticano II. Penso que outro fosse eleito,
todas aquelas decisões poderiam ter sido grandemente
comprometidas.

Nesta linha de avanço da Igreja, tivemos o legado do Papa viajante,

o Cardeal Wojtyla37. Que homem de energia! A Igreja deve muito a
este homem. Sua presença entre os diferentes povos das diversas
nações fez estabelecer um divisor de águas para a projeção
internacional da Igreja. Sua atitude de reconhecer equívocos do
passado e pedir perdão publicamente representa gesto nobre de um
verdadeiro cristão. A gestão do Papa do povo nunca deixará de
estar na mente de milhões de pessoas do mundo inteiro e
especialmente no Brasil. O bom cordeiro de Deus fez a sua parte no
soerguimento da nossa Igreja no concerto das nações.
¹Papa Pio XII, nascido Eugênio Giuseppe Maria Giovanni Pacelli, foi papa no momento
histórico mais difícil do século XX. Seu pontificado, longo de 19 anos (1939-1058)


² O Papa João XXIII, nascido Ângelo Giuseppe Roncalli (Sotto II Monte, 25 de novembro
de 1881 -Vaticano, 3 de junho de 1963 foi Papa do dia 28 de outubro de 1958 até a data da
sua morte.
³O Concílio Vaticano II (CVII), Concílio Ecumênico da Igreja católica, foi aberto sob o
papado de João XXIII no dia 11 de outubro de 1962 e terminado sob o papado de Paulo VI
em 8 de dezembro de 1965.


4Giovanni Battista Enrico Antônio Maria Montini nasceu em 26 de setembro de 1897 em
Concesio (Lombardia) no seio de uma família de classe alta. Foi eleito Papa em 21 de junho
de 1963. Teve o fim do pontificado no dia 6 de agosto de 1978.
Karol Wojtyla (pronuncie caróu voitila) nasceu em Wadowice (Cracóvia), na Polônia.
Período de 1978 a 2005 (ano de sua morte).


#
Os Papas, embora homens guiados por Deus, ainda são homens e,
portanto, como todos nós, sujeitos a equívocos. Daí o grande peso
que coloca em suas costas as decisões. Ali, no trono de Pedro, a
última palavra é a sua porém, ver todos os ângulos possíveis de
uma decisão, em muitos casos, pode não ser percebido, apesar de
toda uma assessoria neste sentido de seus auxiliares próximos e
distantes. A este respeito, necessitamos todos nós exercer nossa
condição de compreensíveis da vontade de Deus naquele momento,
diante das possibilidades do Papa, que não é infalível -e Ele sabe
disto -mas alguém que sinceramente deseja acertar e pede
diariamente a inspiração divina para este desígnio.
Não é fácil ser Papa. Já imaginaram passar um dia, um dia sequer,
na investidura de Chefe de Roma? E algo inimaginável. E por esta
razão que muitos Papas, vendo a aproximação de seu sufrágio no
colégio cardinalício, literalmente tremiam, não apenas pela emoção
que se avizinhava, mas, sobretudo, pela enorme responsabilidade
que recairia sobre os seus ombros.

A perspectiva da Igreja ao escolher um Papa é observar, no
momento que se vive o conclave, qual é o melhor homem para
representar os interesses da Igreja e trazer a palavra de Jesus entre
os homens naquela época. Não é fácil, pois muitos num conclave
possuem um perfil interessante e escolher um em detrimento de
outros não é tarefa agradável. E por isso que se afirma que no
instante da eleição desce o Espírito Santo para esclarecer aquelas
mentes reunidas e tocar-lhes os corações.

O Papa é figura nobre não por causa da suntuosidade de Roma e
sua extensão de influência, simplesmente; mas porque, da atitude
vigorosa do vigário de Roma, podem ser nutridas grandes
esperanças para todo o planeta. Quantas pessoas não tiveram as
suas vidas modificadas pelo exemplo do Papa da bondade e do
Papa do povo? Quanta coragem não foi criada pelo trabalho destes

#
homens de Deus? Quanto bem não foi feito e quanto mal não foi

evitado pela palavra reconfortante è inspiradora destes Papas?
E assim, meus caros irmãos, que avança a Igreja. Sei dos atropelos
internos, sou bastante consciente disto e do lado de cá esta visão se
amplia ainda mais. Sei também, do outro lado, dos enormes
esforços de mudança e de contribuição para o bem da humanidade
e não unicamente para os católicos.

Eis o desafio que não se espera demora. Avançar com o Cristo pela
Igreja. Convocar os homens de boa vontade, independentemente de
suas religiões oficiais, e juntos, num esforço coletivo, promovermos
a paz na Terra. Eis o desafio de todos nós, irmãos no Cristo e filhos
do mesmo Pai.

Que Deus nos abençoe!

Capítulo 38

Amor fraternal

Ainda que eu falasse a língua dos

homens e dos anjos, se não tivesse amor eu

nada teria?1'

¹ICor 13,1.

#
As palavras de Paulo, o Apóstolo do Cristo, são atualíssimas. O
amor representa a síntese de tudo que desejamos na vida. Sem
amor, tudo mais será em vão. Quero mostrar, porém, a importância
prática desta assertiva em nossas vidas.

Quando normalmente se fala em amor, fala-se jocosamente,
impondo-lhe um sentido hoje de caráter mais erótico, reduzindo
bastante o seu verdadeiro significado. Outros atribuem ao amor a
conotação romântica, que é uma de suas variantes, mas o que quero
relatar aqui, neste momento, é o amor fraterno, o amor entre irmãos.

O amor de irmãos é nobre, mas de difícil aceitação, porque amor
fraterno é amor desinteressado para todos os homens
indistintamente. E o amor sem precedentes, sem limitações, sem
subterfúgios, sem contra-argumentos. O amor fraterno abrange a
todos, independentemente da cor, da classe social, da localidade
geográfica e, digo mais, sem as limitações temporais e dimensionais.
E um amor abrangente e inclusivo.

O amor é assunto atualíssimo, porque resume um conjunto de
expressões de virtudes sem o qual o homem não terá algum futuro.
O desajuste atual da humanidade ocorre exatamente pela ausência
de amor. Permitam-me insistir nesta tecla, porque, se quando estava
entre o "vivos" acreditava na excelsitude do amor, do lado de cá
constato -e com cores bem vivas -que é o amor, de fato que move o
universo.

Quando me refiro ao amor fraterno imagino que seja aquele em que
todos se predisponham a aceitar uns aos outros como eles são, sem
qualquer intenção de mudá-los de querer subvertê-los às nossas
exigências de comportamento. Muitos de nós queremos amar
conquanto que o outro se converta às nossas expectativas pessoais
de bom relacionamento, não é assim. Amor, se é amor, necessita ser
incondicional. Amor fraterno é a aceitação do outro como ele é, mas
não significa a conivência com a postura do outro.

#
Quando amamos alguém, queremos ele bem perto de nós, é natural,
sentimo-nos bem com a sua presença, no entanto, isto não deve
representar uma exclusividade de relacionamento e atenção. E
preciso ter em mente que o amor, sendo fraterno, é para ser
desenvolvido para todos de parte a parte, isto é, você deve a todo
irmão e o seu irmão deve também procurar amar a todos, senão vira
amor dependente de marido e mulher que, embora nobre, tem um
outro propósito.

Amor fraternal é, antes de tudo, um amor solidário, de
compartilhamento. Amor parceiro. Amor amigo. Como é
maravilhoso ter amigos! Quantos amigos você tem? Amigos de
verdade, não amigos da boca para fora. Amigos para se contar a
todo o momento e em qualquer circunstância. Amigo que está a
nossa disposição para o que der e vier. Amigo está presente mesmo
quando está ausente. E uma coisa formidável ter um amigo, pois
amor fraternal é exatamente isso, simbolizado na presença do amigo
e no cultivo da amizade.

Amar fraternalmente exige alguns pré-requisitos, além daqueles já
enunciados. Exige disposição de se manter uma amizade, porque
tem a conveniência de um e de outro que devem ser concatenadas.
Na maioria dos casos, um cede à vontade do outro já que
dificilmente ambos estão com as mesmas expectativas. Amar
fraternalmente, semelhante ao exemplo de Jesus, é também -e
principalmente -renunciar muitas vezes a si em benefício do outro.
E sacrificar-se, e num ponto mais alto, estar disposto até a doar a
sua vida para o outro.

Quantas pessoas dedicam-se a outras sem pedir nada em troca, mas
entrega-se, de corpo e alma, ao dever de colaborar com a vida do
outro? Renúncia de si para o benefício total do outro. E difícil, eu
bem sei, mas amor fraternal é esta condição absoluta de doação.
Doação sem reclamar nada, porque se cobrada do outro não tem
valor algum e não representa amor fraternal.

#
Não há exemplo mais claro de amor fraternal do que o amor que
Jesus, o Nosso Senhor, dedicou a toda a humanidade. Que exemplo
Ele deixou para todos nós do que seja amor fraternal. Ele dedicou a
sua vida inteira para o próximo, renunciou à Sua pelo bem da
humanidade e nada reclamou. Jesus representa a doação total que
devemos desenvolver em nossos espíritos. Mesmo para aqueles que
O rejeitassem, Jesus foi compassivo, pois compreendia a ignorância
do irmão. Que dizer de Pôncio Pilatos que poderia ter lhe livrado do
sofrimento e não o fez? Que dizer de Judas Iscariotes que O traiu
por 30 moedas e Ele nada censurou? E de Pedro, então, que negou
conhecer-Lhe diante do povo e dos guardas romanos? Apesar de
tudo, Jesus continuou amando a todos eles, a Seu modo, sem
repreender-lhes os sentimentos turvos das quais ainda eram
proprietários.

Por que nutrirmos uns pelos outros o amor fraterno? Porque é a
única saída, a única, para a paz entre as pessoas e os povos.
Deveríamos ter, como já citei outrora, escolas que ensinassem os
homens a amarem uns aos outros. Seriam escolas verdadeiramente
imbuídas da promoção da paz, pois somente há solo fértil para a
paz quando os homens enxergarem-se uns aos outros como irmãos.
Que dizer agora dos nossos irmãos iraquianos? Será que haveria
tanta violência, apesar de reconhecer no ditador que os governou1 a
origem de todo aquele mal, se os Estados Unidos e a Inglaterra, para
nos fixarmos apenas neles, vissem nos habitantes do Iraque irmãos?
E claro que não. Quantas mortes, de todos os lados, por não se
reconhecerem como irmãos. O assassinato no mundo cessará um
dia quando homens enxergarem noutros homens a figura amiga de
um irmão, enquanto isso, os esforços de apaziguamento das

relações sociais serão inconsistentes, sem substância, sem
sustentabilidade. Esforços inócuos.

¹Saddam Hussein foi presidente do Iraque no período 1979-2003, acumulando o cargo de
primeiro-ministro nos períodos 1979-1991 e 1994 -2003.

#
Quero crer, meu Deus, que um dia os homens acordarão para esta
verdade evidente e insofismável. Acordarão do seu sonho letárgico
de poderio de uns contra os outros. Acordarão da ineficácia dos
apegos de toda ordem. Acordarão para uma realidade mais
fraterna, de doação completa. Este dia, meu Pai, está porvir, porque
anunciaste pela boca do Nosso Senhor Jesus Cristo que "felizes
seriam aqueles que fossem os pacificadores, porque eles herdariam
a Terra."²

Que Deus nos abençoe!

Capítulo 39

Confissões de Padre José

Neste dia, Senhor, consagrado à Paz Mundial1, venho me confessar
aos Teus pés. Tenho muito a dizer, pelo que fiz e pelo que deixei de
fazer, mas, neste dia, peço desculpas pelas minhas faltas. Volto para
me colocar à Tua disposição para que Teus feitos entre os homens

²Mt 5,9.

¹0 Dia da Confraternização Universal é comemorado em quase todo o mundo em 1° de
janeiro. Nesse dia, as pessoas trocam votos de alegria, de paz e de felicidade Para o ano
que se inicia.

#
sejam eternos. Não tenho nada a não ser o Senhor, portanto, usa-me
como quiseres. Que os Teus desejos sejam manifestados na minha
presença onde quer que eu esteja. Considero que sou bem pouco do
que deveria ser, mas como estou Contigo sei que me agigantarei,
pois se ampliarão grandemente todas as possibilidades do existir.
Quero dizer, Senhor, que gostaria de mostrar a minha face, bem
mais do que a face enrugada que me destes quando morava

fisicamente na Terra. Julgo-me impotente, porém, de ainda mostrar
a minha face verdadeira, aquela que me deste ao me criar, a face do
bem irrestrito, a face do perdão sem precedentes, a face da caridade
ao menor dos Teus filhos.
Congratulo-me com o Senhor, para que me uses, me disponhas em
Teu serviço, que eu cumpra a tua vontade na Terra como nos Céus
de peito aberto, sem pré-condições ou arrependimentos. Que eu seja

o condutor da Tua vontade entre os homens não negando jamais
sua existência.
Meu Pai Amantíssimo, guardamos ainda demasiado rancores com
aqueles que nos ferem a alma. Não sabemos esquecer, ó Pai, ou
mesmo relevar a falta alheia, porque o nosso coração ainda é
pequeno para enxergar o tamanho temporário do nosso irmão e, ao
ser ferido, cortejá-lo como mais um convidado para a festa de
bodas.

Senhor das nossas vidas, neste dia consagrado à paz, sinto muito
em Te dizer que não O ouvimos direito nos nossos corações, apesar
de Teu apelo constante à paz, ainda esquartejamos irmãos em praça
pública por motivos míseros. Oh Pai! Somos ainda bem pequenos
para o perdão das ofensas e nos ferimos com bem pouco. Guarda,
porém, Senhor da vida, no Teu coração que é todo amor, a confiança
de que nós nos modificaremos, que nós nos arrependeremos de
todo mal cometido a outrem. Que veremos um dia, enfim, os outros
como irmãos bem queridos e, neste dia, mal algum sairá de nós.
Enquanto isto não ocorre, conduza a cada um dos Teus filhos que já

#
despertaram para Ti para que sejamos os Teus instrumentos na
Terra para a promoção da paz, como tão bem pediu o nosso Irmão
Francisco de Assis.

Pai, para que os Teus esforços de regeneração da humanidade, de
cada um dos teus filhos, não seja apenas um sonho em vão e
distante, mas uma realidade concreta, com dias contados, hoje
operamos nesta direção.

Oh Pai! Desejo, do fundo da minha alma, que não n0s deixes sós
jamais, como assim Te pediu o nosso Irmão Jesus, pois sem Ti a nos
conduzir as vidas, demoraremos demasiadamente a encontrar
dentro de nós mesmos, pois a Tua semente, sabemos, reina no
coração de todos os homens.

Neste dia consagrado à paz mundial, ajoelhamo-nos a Teus pés, Pai,
para desejar, enfim, que Sejas o fio a nos guiar o caminho para
chegarmos ao Teu reino de amor.

Seja Tu conosco hoje e sempre.

Capítulo 40

Pela paz ambiental

Teimo em vos falar sobre a paz. Perdoem-me em bater sempre nesta
tecla, mas meus ouvidos, mesmo aqui na espiritualidade, não
ficaram surdos diante do clamor, cada vez maior, que ouço
daqueles que são vitimados pela violência de toda sorte. Nos
conturbados dias que vivemos, torna-se premente desviarmos a

#
nossa atenção e verificar os destroços que a humanidade vem
causando a seu próprio habitat, ao meio-ambiente em que vive,
outro tipo feroz de violência, muitas vezes desprezado das
discussões maiores sobre a própria violência.

Quando falo em meio-ambiente, não me restrinjo apenas à violência
que desaba árvores imensas na Amazônia, ou em qualquer outro
lugar, nem em dizimar matas inteiras de maneira cruel e fria. Falo
também das questões ligadas ao dia-a-dia que passam
despercebidas e que são voltadas basicamente para o desperdício de
recursos. Não é possível mais vivermos com tanto desperdício. O
mundo, embora seja absolutamente capaz de renovar-se e prover as
nossas necessidades, não pode mais continuar a ser violentado da
maneira como há anos vem sendo agredido pela força
inescrupulosa do homem que, em nome do progresso econômico,
colide de frente com a preservação dos bens mínimos de
sobrevivência.

A sociedade do consumo, que é a mesma do desperdício, necessita
urgentemente abrir os olhos sob pena de, em poucos anos, não
conseguir mais usufruir dos bens que lhes dá tanto prazer porque a
maneira como são extraídos tais bens, sem o cuidado da renovação,
fará aparecer outro tipo de extinção, além dos animais selvagens
caçados, a extinção dos bens naturais não renováveis. E aí a
indústria do consumo, que sabiamente manipula os seus interesses,
haverá de substituir uma necessidade por outra, utilizando
sutilmente os recursos da propaganda aviltant. Assim, sem
conhecimento da estratégia que apenas visa lucros e mais lucros,
iremos destruindo gradativamente a nossa natureza.

Ainda bem, meu Deus, que grupos ambientalistas se reúnem para
denunciar este novo tipo de escravidão que nos impõe esta ótica
capitalista de ver o mundo. Mudaremos os nossos hábitos de
consumo quando observarmos, de uma vez por todas, que
necessitamos garantir para as populações vindouras, no mínimo, as

#
mesmas condições de recursos que recebemos hoje que-diga-se de
passagem -já é diminuta, comparada com aquela que tínhamos há
um século, por exemplo.

Quando será que o homem irá despertar para este outro tipo de
violência e estampar nas manchetes da mídia, com o mesmo espaço,
as mesmas notícias dos crimes comuns e as dos crimes ambientais?
Crimes gigantescos têm sido cometidos diariamente e a grande
massa ignora totalmente estes fatos. Quando ela saberá que as
mudanças climáticas desfavoráveis, os terremotos, os desequilíbrios
ambientais, são pelos próprios homens? Não podemos ficar mais de
braços cruzados vendo a destruição paulatina do nosso planeta.

Quando agredimos o nosso planeta, o meio-ambiente, agredimos a
nós mesmos, pessoas humanas, e agredimos a Deus, porque
descuidamos da casa que Ele nos confiou para vivermos bem. A
preocupação ambiental, sobretudo nos dias de hoje, deveria estar
presente em todas as escolas, das primárias às superiores. Será que
teremos que ser prejudicados mais proximamente para
despertarmos sobre esta necessidade premente? Não, claro que não.
Os sinais de desperdício e agressão ao meio-ambiente já são
terríveis a ponto de decretarmos alerta geral a humanidade.

Lembro, por esta razão, o comportamento sempre pertinente do
nosso irmão queridíssimo de Assis, Francisco, que, mais uma vez,
vem nos dar lições sábias de cuidado da natureza e veja que ele
fazia isto há cerca de sete séculos atrás, quando o homem não era
tão destruidor assim como é hoje. O Santo de Assis nos lembrava
algo extremamente importante em prol da conscientização dos
problemas ligados ao meio-ambiente: que todos nós somos irmãos e
não apenas dos homens. Era engraçado vê-lo chamar a todos de
irmãos. Irmão Sol, Irmã Lua, Irmã Mata, Irmão Leão, Irmã Agua. A
todos tratava como irmãos, porque sem o sentimento de irmandade,
oriundo da concepção de que todo princípio de vida vem de Deus,
como nós, não haveríamos de cuidar com zelo e distinção. Eram

#
sábias e continuam oportuníssimas as palavras do Santo de Assis
que nos despertava para um relacionamento de paz já naquela
época,com a nossa mãe Natureza, mais do que irmã.

A todos nós, sem distinção, nos dias atuais, somos chamados a esta
responsabilidade. Não há mais como adiar, sob pena de sermos
radicalmente prejudicados pela própria natureza que reage às
agressões que sofre com muita veemência, pois não acham que os
tsunamis¹ e os furacões recentes, que dizimaram cidades e milhares
de vidas, não são respostas imediatas à violência cometida à
natureza?

Necessitamos, urgentemente, despertar para esta realidade cruel
que, desavisadamente, os apologistas do capital vêm impondo a
todos nós sob a falsa justificativa de um bem-estar que, no fundo,
representa um engodo, pois se vende o prazer de hoje às custas da
destruição do amanhã. Abaixo às armas, a corrupção de menores e
venda de drogas, mas igualmente pedimos paz contra a agressão
ambiental que também ceifa vidas de uma maneira surpreendente.
Contra esta realidade, mais que violenta, também não podemos nos
calar.

Caríssimos irmãos em Cristo, não nos acostumemos com aquilo que
pode ser cômodo, mas não nos é saudável. Modifiquemos logo a
nossa maneira de vestir, de se alimentar, se isso se constituir num
ato de violência à natureza. Não deixemos de contestar, pelo não
consumo, daquilo que se caracteriza como a violência das
violências, que é aquela que existe para nos servir e indefesamente
agredimos brutalmente, a nossa santa mãe Natureza.

¹ Vaga (onda) marinha volumosa, provocada por movimento da terra, submarino ou
erupção vulcânica.

Fonte: Dicionário eletrônico da língua portuguesa

#
Continuemos atentos, vigilantes, diante das falsas justificativas a
nós impostas a pretexto do cômodo bem-estar que representa, em
última análise, uma sentença de morte anunciada. Cuidemos da
natureza, cuidemos, essencialmente, de nós mesmos, filhos dela,
filhos, na verdade, do Altíssimo, que nos cobra, tão-somente, o
cuidado de irmãos que somos.

Avantes, irmãos, com o Cristo!

Capítulo 41

Coragem

A prova da existência de Deus é inexorável. Ele está em todos os
lugares, em cada manifestação da natureza. Ele se faz presente,
imponente em Suas perfeições que nos embelezam as vistas
corando-nos toda a face em júbilo eterno para com Ele. O que
necessitamos, porém, é reconhecer que Tal presença, embora firme,
não se reflete em nossos atos diários que poderiam ser outros se
aceitássemos, de fato, Tal imponência como garantia das mudanças
que deveríamos efetivar nas nossas vidas.

Por que falta-nos a coragem da mudança interior? Por que ainda
negamos a nossa estirpe divina? Por que ainda menosprezamos as
nossas imensas capacidades espirituais?

O homem vive atordoado porque quer, pois o que já foi anunciado
por Deus através dos seus diversos missionários, daria enorme

#
tranqüilidade a todos nós. Se acreditássemos de verdade
despertaríamos quais leões que dominam nosso espaço impondo a
nossa vontade soberana.

Quando vejo alguém se diminuir, se maltratar, dizendo não ser
possível fazer isto ou aquilo, fico demasiadamente triste, porque é
ver o próprio filho de Deus renunciar a Sua paternidade divina.
Não acreditamos no que somos e nas imensas possibilidades que
temos nas mãos. A afirmativa do Cristo de que somos deuses não
poderia nunca ser ignorada e sua promessa das bem-aventuranças a
todos aqueles que O seguissem era motivo de sobra para
entregarmos a nossa vida totalmente a Ele, que é intermediário
direto da vontade de Deus na Terra.

Quando vejo irmãos decidirem taxativamente a impossibilidade de
fazer algo por falta de recursos, seja financeiro ou de qualquer outra
ordem, pela ausência completa de fé, verifico qual lamentável é não
se ter esperança, porque fé e esperança andam juntas. Não se pode
conjugar uma sem a outra. E inevitável. Daí, ao se negar a execução
dos planos de Deus na Terra, damos por finalizada qualquer
iniciativa nobre em direção ao bem simplesmente por não acreditar
antecipadamente na vitória do bem. Abortamos, de véspera,
qualquer possibilidade de sucesso, porque a achamos remota diante
das dificuldades que vislumbramos. Fico pensando no Pai que
depositou em nós o grande projeto de construção do reino Dele na
Terra. Será que Ele não ficaria triste em ver tamanho desânimo de
Suas criaturas ao colocarem por terra, imediatamente o processo de
regeneração coletiva? E lamentável observar como existe gente
pessimista, que bota gosto ruim em tudo que faz, e o pior, põe
também no dos outros, agourando o fracasso alheio por
antecipação. Certamente não são estes os eleitos pelo Senhor para
dominar a Terra. Necessitamos para este intuito dos desbravadores,
dos ousados, dos que não têm vergonha de errar, dos destemidos,
dos cheios de coragem, qual Paulo, o apóstolo da coragem, que

#
enfrentou a si mesmo para levar o Cristo a todas as pessoas. Jesus,
sabendo do destemor de Paulo, foi buscá-lo na Estrada de Damasco,
foi convocá-lo para dar prosseguimento à sua grande obra, porque
sabia que poderia contar com a bravura de Paulo em levar o
Evangelho aos gentios.

Onde está a nossa coragem? Onde está o nosso destemor? Sabemos
que os desbravadores, aqueles que abrem os caminhos, levam nas
costas o peso da incompreensão, da crítica, da apreensão por
estarem sendo mal compreendidos pela maioria, mas faz parte do
processo de crescimento individual e como forma de demonstrar
para toda a gente a sua convicção, o seu comprometimento com a
verdade que prega, a sua coerência com aquilo que diz.

O Cristo necessita de todos nós. Como ontem com Paulo, o Cristo
de Deus pede-nos a presença dos novos apóstolos do bem. Pede a
presença de homens e mulheres comprometidos com a divulgação e
exemplificação da Boa Nova para a humanidade. Por isso é que a
mudança é tão difícil, porque exige um enfrentamento diante das
incompreensões daqueles que se acomodam com a situação atual e
não querem ouvir nem falar que tudo pode -e deve -ser diferente
do que é. Se não é para sofrer como o Cristo, então não serve. Não
que servir ao Cristo seja um ato de masoquismo, claro que não, mas
servi-Lo de verdade requer passar por cima de tudo por sacrifício a
Ele e a verdade que Ele pregou.

Não é fácil, sobretudo nos dias de hoje, aceitar plenamente ao
Cristo. Fico com uma inveja do desafio aceito pelo Santo de Assis de
tentar ser à semelhança do Cristo Jesus, a ponto de ser chamado do
espelho do Cristo. Que coragem formidável, a loucura divina,
daquele homem que renunciou a tudo, a riqueza que possuía, e até
a família, para abraçar ao Cristo. São atitudes admiráveis que
devemservir de exemplo para todos os candidatos verdadeiros a
seguidores fiéis do Mestre de Nazaré.

#
Meus queridos irmãos, a verdade é que ainda somos bastante
covardes para sermos destemidos. Somos ainda muito medrosos e
acomodados. Quem, como Francisco, ousaria deixar o conforto de
seu lar, em plena juventude, e sair por aí querendo encontrar a
Jesus? A coragem é virtude de Deus. E claro que não é fácil, eu já o
disse, mas é possível. Se ele, Francisco, conseguiu, e tantos outros
anonimamente, por que nós não podemos igualmente aceitar e
vencer este desafio? Podemos sim e haveremos de fazê-lo senão não
poderemos ser chamados de filhos de Deus que somos. E tudo uma
questão de tempo, mas vamos conseguir.

Coragem, irmãos, a vitória nos espera. Precisamos, inicialmente,
como condição sine quanon¹, vencermos nós mesmos, porque sem isso
não obteremos qualque vitória exterior. A coragem primeira é
enfrentar os nossos anseios, os nossos vícios, a nossa dissensão com

o bem, os nossos males morais. Depois disso, você vai ver que tud
ficará mais fácil. Vencer a si primeiro para depois vencer ao mundo,
eis o desafio dos verdadeiros corajosos.
Peço a Deus que nos fortaleça, que nos ilumine o caminho, para
reconhecermos a nossa grandeza interior, porque assim a coragem
brotará naturalmente como um impulso espontâneo da nossa alma.

Que Deus nos abençoe!

¹ Sine qua non ou condição sine qua non originou-se do termo legal em latim para "sem o qual
não pode ser"
Fonte: Wikipédia, enciclopédia livre

#
Capítulo 42

O mundo das drogas

À medida que o mundo evolui a passos largos, aumenta, ainda
mais, uma preocupação que não devemos jamais baixar a guarda.
Falo-vos da questão delicada das drogas. E o ambiente natural à
proliferação do uso de drogas não é outro senão aquele onde as
pessoas estão desavisadas sobre a vida, onde reina a perturbação,
onde grassa a desesperança.

Nunca é demais imaginar que um viciado em drogas é um
dependente de si mesmo. Não sabendo o que fazer, desorientado na
vida ou em busca de prazeres cada vez mais intensos, o dependente
procura refúgio numa grama de cocaína ou em outro produto
químico que lhe dará temporariamente euforia, mas que, com o fim
da fase inicial, cairá irremediavelmente em depressão e necessitará
de mais drogas para evitar o estado de abandono em que se
encontra. Passa, então, a viver uma realidade inexistente, ou
melhor, "uma realidade ilusória", criando enorme necessidade de
vivê-la sem a qual provocará grandes estragos de relacionamento e
confundirá definitivamente, enquanto dependente, os seus valores.

As drogas representam, em última análise, uma ausência de Deus e
também, do deus interior. Não reconhecendo aquilo que é
verdadeiro, buscará em algo impalpável e fantasiante um motivo
para ancorar o seu desequilíbrio. Fora isso, o dependente como
outro qualquer é dependente, sobretudo, de afetividade. Como
imaginar alguém realizado emocionalmente, de bem com a vida,
motivado profissionalmente, de cabeça boa, procurar fugir de si
mesmo e de todos por conta de uma "viagem" interior provocada
superficialmente?

#
A droga mais poderosa que existe, a droga do bem, é a paz interior,
e esta só se consegue com sentimentos nobres no coração. Sei, é
claro, que muitas vezes alguém envereda no cruel mundo das
drogas porque um "amigo" ofereceu-lhe um trago, um experimento,
e aí, de um em um, entra na onda da qual depois não consegue mais
fugir. São mais dependentes químicos que psíquicos. Há outros,
porém, que criam a dependência nas duas frentes, tornando-se mais
difícil o desprendimento, e isto é terrível. Malgrado tai
dependências, há uma outra, que percebo do mundo de cá, que são
as influências perniciosas que presencio daqueles que, mesmo
mortos, continuam desejando um cheiro a mais uma falsa sensação
de bem-estar temporário que a drog oferece, e aí induz pelo
pensamento a sua vítima para junto viajarem alucinadamente.

Meus queridos amigos, o que vejo do lado de cá, nestes casos, é
degradante. O que faz alguém para cria dependência química, e
depois espiritual, é um quadro interessante se não fosse
desesperador. E terrível ver até crianças enveredarem no mundo
das drogas e observar, atrás delas, outros viciados que lhes sugam
as energias e as fazem delirar em encontros denunciantes, como
falei, d completa ausência de Deus, pois se fossem alimentado pelo
verbo divino, não encontrariam necessidade alguma de entrarem
num mundo que cobra bastante caro para sair-se dele.

A ausência de Deus é a ausência da vida. Ficar no mundo das
drogas é negar ao próprio Deus e, conseqüentemente, à própria
vida, mas o dependente sequer percebe isto. Há, por esta razão,
todo um esforço a se fazer para que ele se reencontre novamente,
que volte ao seu eixo de equilíbrio. Isto é difícil e exige esforço
redobrado para novamente se ater à vida em harmonia. Precisamos
encarar a dependência química como a ausência de Deus, porque,
neste instante, além dos procedimentos normais de desintoxicação,
é fundamental agarrar-se a algo superior, que dê forças

#
"sobrenaturais" para que a pessoa possa se apoiar e abandonar,

gradualmente, a sua dependência.
Há infelizmente, meus caros irmãos, uma grandiosa indústria da
dependência química. Anualmente, bilhões de dólares sustentam a
indústria do vício e, com ela, a indústria da bandidagem, criando,
em paralelo, um exército do mal nas duas esferas do existir. As duas
se unem numa incrível simbiose de organizações, proliferando
mundo afora a custa de mais e novos desavisados para atraírem
para a rede dos vícios. Um exército do mal se forma e com
tentáculos inimagináveis em todas as camadas sociais e em todos os
países do mundo. Se os homens tivessem uma noção, mesmo que
palidamente, do universo que está por trás das drogas, correriam
em disparada de qualquer tentação que lhe assaltasse.

E terrível ver os quadros de dependência, de subjugação, que se
criam diante das drogas qUe impiedosamente se alimentam de mais
viciados que, sem escrúpulos, chegam até a matar ou morrer, para
conseguir a falsa sensação de libertação. E o pior é que, em
determinados meios, isto é considerado normal e taxam como careta
aquele que não sente interesse em entregar a sua alma ao diabo do
vício, diabo sim, porque não há figura mais próxima para descrever
tais situações e relacionamentos do que a lendária figura do diabo.

Meus queridos amigos, nos casos já inevitáveis de dependência
instalada, penso que o instrumento da oração, da confiança em
Deus, da compreensão e, sobretudo, do carinho irrestrito, é
fundamental para tirar da lama o irmão que não consegue se auto-
reencontrar. Peçamos a Deus nesta hora as devidas forças para nos
sustentar na ajuda ao irmão que se auto-motila, que destrói a sua
própria vida, e, mesmo querendo, se sente impotente de livrar-se
das várias formas de dependência de que é vítima.

Façamos da oração constante, da busca incessante de Deus, o
refúgio de nossas almas para colaborar na transição do desespero

#
para o equilíbrio total, porque somente no Pai Amantíssimo
poderemos aurir as forças necessárias para separar adequadamente
tais soluções.

Confiemos na possibilidade de vitória sempre, aliados ao nosso Pai
Criador, e não haverá força alguma que consiga nos converter, até
porque, quem assim procede, e porque temporariamente
desconhece a luz divina que o habita e, por esta razão, transita na
faixa da loucura.

Confiemos, Deus é a única saída.

Capítulo 43

Conversão

Tudo o que se pede ao seguidor do Cristo é que ele se dedique, de
corpo e alma, ao desiderato a que se propõe. Ninguém é obrigado a
ser aquilo que não deseja porque, na prática, a transformação será
aparente e não efetiva. Quando se possui a consciência do que se
quer, deve-se enveredar todos os esforços nesta direção. O
problema que observamos é que muitos candidatos a seguidores do
Senhor fazem a sua conversão da boca para fora e não por dentro
como deveria ser.

A conversão real é algo que vem bem de dentro da alma. Não é pela
aparência. Há um ditado que diz que o hábito faz o monge, mas não
é verdade. As aparências têm o fito apenas de externar uma vontade

#
ou, quando muito, um compromisso, mas não se traduz
necessariamente numa prática diária e espontânea. O mundo que
vivemos, requer, acima de tudo, coerência. Que sua palavra seja
igual aos seus atos, ensinava o Mestre de Nazaré. Percebo que, em
toda a Sua trajetória, Jesus condenou veementemente os hipócritas.
Foi com eles, o tempo todo, terrivelmente implacável. Não baixou a
bandeira um minuto sequer e por quê? Devemos lembrar aqui o
ensinamento evangélico quando o Nosso Senhor observou que "o
reino de Deus não se obtém pelas aparências''¹ Queria dizer que a conversão
tem de ser feita pelo coração e não simplesmente pela razão Meus
hábitos, por exemplo, não eram, ou não deveriam ser, apenas uma
demonstração exterior da minha conversão à vontade de Deus, mas
um alerta permanente para mim mesmo dos votos que consagrei e
que tinha a responsabilidade de cumpri-los. Poderia alguém dizer
quando me visse de batina: "vai ali um padre", é verdade que
parecia um padre, mas o fundamental é que estaria atrás da batina
um padre na consciência. E é esta consciência que sempre devemos
procurar ser, para que não sejamos acusados, no tribunal da nossa
própria consciência, de hipócritas.

Jesus, o Nosso Senhor, bem lembrou também: "Se me amais, guardai os
meus mandamentos".² Ora, como podemos nos dizer seguidores do
Filho de Deus se não executamos ou não nos esforçamos a fazer o
que Ele nos ensinou? Então não teria nenhuma valia a Sua vinda
entre nós, pois seria para mostrar a Sua história, admirando e
elogiando a Sua postura sem nada nos tocar. Que proveito teria?

¹ Le 17,20
² Jo 14,15

#
Conversão é, acima de tudo, consciência e transformação.
Consciência porque se internaliza o que se deve fazer.
Transformação porque se executa o que a consciência manda. Mas,
conversão, meus queridos amigos, é também uma ação prazerosa
da alma, porque, uma vez passada pela consciência, se faz o que se
deve fazer espontaneamente e não como uma obrigação.

Há muitos candidatos a seguidores do Cristo que põem o seu hábito
e acreditam que já fizeram a sua conversão. Que nada, na prática, o
coração continua "durinho da Silva" -com todo respeito a todos os
participantes desta imensa família no Brasil.

Conversão é ato contínuo, uma vontade do coração. Por já pensar
dessa maneira, as ações passam a ser um gesto natural de quem faz
e, por isso, faz com extremo prazer. Agradece até a oportunidade
que Deus lhe dá de servir.

Meus queridos irmãos, diariamente, Deus nos convida para a nossa
conversão particular. Quer Ele que nos tornemos os Seus
continuadores na Terra. Quer que nós espontaneamente assumamos

o compromisso de segui-Lo nas suas realizações, dando-nos a
oportunidade de sermos os Seus co-criadores.
E o que fazemos? Ignoramos a Sua imensa obra, Seu projeto
particular em nossas vidas. Creia, meu irmão, todos nós temos uma
grande importância no plano de Deus, senão Ele não teria nos
criado. Portanto, mãos à obra. Não deixemos fugir a oportunidade
preciosa do trabalho e do bem-servir. Os minutos na Terra são
instantes preciosos para o recomeço. Mesmo que não tenhamos feito

o que deveríamos fazer até agora, não importa mais. Importa o que
você vai fazer de agora em diante. Executemos aquilo que nos cabe
sem demora e façamos tudo com muito prazer, muita alegria, com
muito amor no coração.
Jesus pede a nossa conversão nos dias de hoje como demonstrou no
Seu tempo, pela disposição irrestrita de ajudar ao próximo. Não

#
podemos perder oportunidade alguma de tentar ajudar um irmão
que passa por um sofrimento. Já imaginou que poderia estar
acontecendo com você e o que você gostaria de como os outros lhe
tratassem? Por isso, a Sua recomendação sempre sábia para que
façamos aos outros aquilo que gostaríamos que os outros nos
fizessem, e sem demora.

Meus queridos irmãos, a conversão exige mudança. Veja o exemplo
de Paulo de Tarso, quando se converteu ao Cristo, passou a dedicar
toda a sua vida sem precondição, para servi-Lo, servindo ao
próximo. Foi uma conversão radical, é bem verdade, mas nos
mostrou que era possível. E o Irmão Francisco de Assis, que outro
belo exemplo de conversão radical ao Nosso Senhor! Quem nos
dera que pudéssemos ser também um destes radicais do Cristo. Não
envolvidos em fanatismo que não é esta a conversão que Ele nos
pede, mas uma conversão verdadeira, uma conversão completa da
alma, eis a conversão inadiável, sobretudo nos dias de hoje, tão
cheio de necessidades e que é tão presente à ilusão das aparências.

Façamos hoje o dia da nossa conversão verdadeira ao Cristo,
tornando os nossos atos um reflexo dos nossos pensamentos e do
nosso coração.

Que assim seja!

#
Nos dias corridos da atualidade, se ouve mais uma televisão do que um ser
humano.

Capítulo 44
Comunhão


Comungar é ato divino. Não é apenas comunicar alguma coisa a
alguém, é transferir-se de si para o outro integralmente. E repartir
um pouco de si, compartilhar parte de seu eu entregando-se ao

#
outro em confiança total. Comungar é ato nobre e reverenciado por
todos quando o outro o faz com a entrega de seu coração também.

O ato de comungar, tão em voga na Santa Missa, é obrigação
daquele que tem o coração pesado e necessita de outro para
carregar consigo o fardo. Ao comungar divide-se a carga, mas
divide-se também a responsabilidade, porque o outro passa a
compartilhar com as mesmas necessidades daqueles que
descarregaram suas lamentações, sofrimentos e dúvidas. Portanto,
comungar não é ato solitário. E ato de duas mãos. Não há a
comunhão se o outro não se insere inteiramente com aquele que lhe
entrega a alma. Para o ato de comungar, uma virtude é essencial: a
arte de ouvir.

Nos dias de hoje quão é difícil ouvir. Escuta-se demais, quando se
escuta, mas ouvir, isto é qualidade de poucos. Nesta pressa do dia-
a-dia, nesta correria sem fim, as pessoas não ouvem mais a
ninguém. E raríssimo, cada vez mais difícil, ver alguém emprestar o
ouvido e com ele o coração e alma, muito difícil. Nos dias corridos
da atualidade se ouve mais uma televisão do que um ser humano. É
incrível!

Queria compartilhar desta minha angústia do lado de cá e este livro
que escrevo é uma espécie de comunhão. Comunico as minhas
impressões, o que vejo e o que sinto. Como a suplicar que
compreendam a minha angústia em querer gritar bem alto que não
morri, que continuo existindo. Mas muitos, rejeitarão este meu
apelo, sequer me darão ouvidos para escutar estas linhas e mais
ainda ouvir o que de profundo escrevi. Não acreditarão na vida
pós-morte, embora estejam pregando aos quatro cantos que ela
existe. Pois bem, estou aqui, estou comungando da minha existência
na eternidade que Deus me reservou. Cheio de novidades, é bem
verdade, mas que compartilho do fundo da minha alma para
aqueles que verdadeiramente querem ouvir.

#
O Nosso Senhor Jesus Cristo, sempre sábio, como que profetizasse e
de fato o fazia -, falou que aqueles que tenham ouvidos para ouvir
que ouçam. E eu peço emprestadas as suas mesmíssimas palavras
para gritar nesta comunhão de que necessitamos ouvir
urgentemente as vozes dos céus que clamam por dizer o que está
por detrás do véu da morte. Como a dizer que a vida palpita e a faz
mais intensamente porque não se sente mais presa aos costumes ou
ao corpo físico, porque vivem em espírito e verdade.


Por que não reconhecer, de uma vez por todas, as vozes do céu?
Jesus as trouxe por intermédio dos Seus discípulos que falavam na
Casa do Caminho.


Por que negar que continuamos vivos, íntegros, com o pulsar da


vida de maneira ainda mais bela?
Por que não afirmar que encontramos aqueles que nos deixaram
antes?


Por que sufocar as vozes que gritam nas suas sacristias?
Por que não reconhecer a incrível inspiração que recebemos no
momento sublime da Santa Missa, quando emprestamos a nossa
voz para outros realizarem em nosso lugar, quando estamos
totalmente entregues a comunhão com Deus?


Por que deixar para depois o que intramuros já sabemos há bastante


tempo?
Precisamos nos reciclar, deixar para trás o que negamos e admitir a
verdade cristalina que pula da nossa alma naturalmente. Foi o
Senhor Jesus que domesticou demônios expulsando-os do convívio
dos sãos, em espírito.


Não foi Nosso Senhor que delegou aos Seus fiéis seguidores a
possibilidade de realizar os Seus feitos e muitos mais? Pois bem, é
chegada a hora de, com equilíbrio, manifestarmos a vontade do
Altíssimo.


#
Quantos Papas e Cardeais vejo, do lado de cá, querendo se
comunicar, comungar a eternidade que tanto pregamos nos nossos
altares e se vêem impedidos de fazê-lo nas nossas igrejas e
conventos? Peço que atentem que outros irmãos, como este
médium, são levados a serem os nossos intermediários unicamente
pelo preconceito de não o fazermos em nossas hostes. Ainda bem,
que o seu vínculo atávico nos liga no mesmo ideal e nos permite
esta conferência intermundos.

Meus caríssimos irmãos, perdoem-me esta comunicação efusiva e
cheia de energia, mas não posso mais calar-me diante do que
presencio. Abramos as nossas consciências de maneira equilibrada,
voltemos a exercitar as práticas dos primeiros seguidores do
Nazareno e deixemos que o Espírito Santo de Deus, por intermédio
dos seus humildes seguidores, possam expressar os seus
pensamentos e vontades, e consigam narrar, qual Dom Bosco em
vida, as incríveis experiências do lado de cá tão conhecidas por
alguns e tão escondidas para a maioria.

Sei que estas minhas palavras podem ser consideradas duras, mas
peço ao meu bom Deus que se digne a todos que as lerem, a se
comportarem qual aqueles que se entregam ao pensamento de
quem está comungando, sem o desejo de censura, mas de
compreensão verdadeira do que passa dentro do coração do outro.
Foi assim que o Nosso Senhor fez para com todos que O
procuravam em busca de um lenitivo para as suas almas e é isto que
peço a vocês ao lerem esta comunhão que faço.

Que o Nosso Senhor nos digne da sua compaixão no nosso oratório
interior e ilumine os nossos corações diante do perdão que devemos
a todos quando erramos.

Que Deus seja louvado!

#
Capítulo 45

Sensibilidade

Uma rosa irradia para toda a gente que a vê, beleza insofismável, no
entanto, perceber a sua beleza é qualidade de poucos. Não que ela
deixe de ser bela, mas, muitas vezes, depende fundamentalmente
dos olhos de quem a vê. E assim com tudo no mundo, a beleza,
como de resto qualquer característica específica, depende,
sobretudo, do bom observador. O que deduzimos com isso é que a
natureza nos provê de tudo que é necessário e belo, no entanto, cabe
a cada um de nós desenvolver a faculdade de percepção das coisas.

Como, então, observar o que há por trás de cada objeto, de cada
situação, de cada expressão da natureza? Penso, meus queridos
irmãos, que é através do desenvolvimento da sensibilidade. Sem a
sensibilidade aguçada passamos pelo mundo sem vê-lo. E incrível!
Quanta gente passa pelo mundo e não consegue ver as maravilhas
que ele nos oferece. Tudo está aí para o nosso deleite e prazer. Usar
com parcimônia e equilíbrio vai nos possibilitar usufruir sempre,
mas, antes, será preciso ver o que se passa à nossa frente, detectar a
realidade diante de nossos olhos, às vezes, cegos apesar das
evidências.

A sensibilidade é algo que se desenvolve não de fora para dentro,
não é o que olhamos que vai nos suscitar a nossa sensibilidade,
somos nós que, percebendo a grandiosidade interior, iremos
enxergar a grandiosidade que guarda tudo aquilo que está fora de
nós. E assim que acontece quando descobrimos o belo da criação
dentro de nós, percebemos, naturalmente, o belo nos outros e em
todas as coisas de Deus. E de maneira tão evidente e gritante

#
veremos pular aos nossos olhos detalhes que nunca havíamos antes
percebido.

Meus queridos irmãos, neste mundo corrido de hoje, onde ninguém
vê direito a ninguém nem a nada -e tampouco a si mesmo -vai ser
muito difícil desenvolver a sensibilidade. Como observar a beleza
das coisas e do outro às pressas? E impossível! A observação
sistemática de si mesmo, o autoquestionamento do nosso
comportamento, da nossa origem e destino farão enxergar por
dedução e síntese, as verdades que precisamos para viver melhor.
Por isso, digo que é importantíssimo nos dias atuais a prática da
meditação. Para muitos, meditar pode ser classificado como perda
de tempo, mas, ao contrário, é um valiosíssimo instrumento que
deveríamos dedicar parte de nosso tempo diariamente, pois a
meditação vai nos permitir a descobertas inimagináveis.
Perceberemos, por nos permitirmos entrar no nosso mundo íntimo,
as incríveis conexões que existem entre tudo e todos, e haveremos
de verificar o quão grandioso é a criação divina da qual fazemos
parte.

A percepção dilatada da realidade nos permitirá entrever coisas
diversas nas nossas vidas, possibilitando alterar diretamente os
nossos pensamentos e comportamentos diante de tudo. Alguém que
medita, ao fazer descobertas, tende a fazer do produto de suas
descobertas o fermento necessário para a condução das suas vidas.
Geralmente, torna-se alguém mais leve, mais alegre e de bem com a
vida. Verá tudo e dará a importância real a cada coisa, não se
preocupando com o dia de amanhã que, por si só, se subsistirá, mas
cuidará de viver o momento presente, o tempo presente de Deus. E
que maravilha é viver o agora, estar totalmente entregue e
integrado naquilo que está acontecendo neste momento, que não
deixa a sua mente fugir diante do que lhe passa neste instante
diante dos olhos. Por estar perfeitamente sintonizado com o aqui e o
agora não sofrerá os tormentos daquilo que está por vir e

#
aproveitará, compreenderá, os detalhes que cada coisa nos oferece,
descobrindo e aprendendo com as sutilezas de Deus nas nossas
vidas. Já se disse uma vez que a criação divina se descobre nos
detalhes, e como isso é verdade! Uma verdade que ao percebermos
nos dará uma satisfação enorme de viver e, conseqüentemente, de
adorar e louvar ao Criador.

Meus queridos amigos, a eternidade que nos espera também é
formada destes detalhes. A cada dia aprendo coisas maravilhosas
do lado de cá, onde estes detalhes, esta calma interior, este estado
meditativo permanente, é bálsamo de descobertas constantes que
nos faz prosseguir com mais esperança e disposição à vida que se
segue. Queria poder traduzir as infinitas descobertas que meus
olhos conseguem perceber todos os dias no lado de cá da vida. E
matéria para muitos livros, mas não sei se seria bem compreendido,
porque se falo superficialmente o que percebo, poderei chocar a
muita gente. Imagine se descrevesse os lugares que já tive a
oportunidade de ir, as situações que passei, as coisas que descobri.
Certamentediriam que escrevia uma obra de ficção. Por isso, me
contenho a repassar as minhas reflexões que serão por muitos
contestadas; já outros sequer acreditarão serem verdadeiros os
textos que escrevo por intermédio de um médium. Coisa de louco
dirão outros, mas a realidade é esta e para aqueles que se dedicarem
à meditação do que escrevo, de não se furtarem à reflexão sem ser
preconceituosa, poderá beber algo substancial para as suas vidas, já
que a vida é uma só e depois do momento físico que você está
vivendo também irá usufruir daquilo que descrevo.

Fico a lembrar de Lázaro quando dialogava com um senhor, que
jogava as migalhas, enquanto estava vivo; e depois da morte, ao se
reencontrarem, afastados pelo abismo consciencial, pedia o senhor a
Lázaro e ao Pai Abraão a nova oportunidade de regressar a Terra
para narrar as impressões que tinha do "céu" para que outros
amados seus não sofressem as mesmas desventuras que sofria. E Pai

#
Abraão respondia, no alto de sua sabedoria, "elesnão tema Moisés e aos
profetas que tudo já anteciparam?"¹ Digo, igualmente, temos ao Evangelho
de Jesus que nos antecipa sutilmente o que vamos encontrar, mas
não prestamos a devida atenção. Por isso, meus irmãos, cuidai de
orar e pedir a Deus que já possa agora despertar a sensibilidade
para a sua realidade divina e espiritual que lhe é inerente e, com
isso, apressar-se em fazer o que ainda não foi feito para, ao regressar
à Terra de Abraão, estar ao lado de Lázaro e não do senhor
imprevidente.

Que Deus nos abençoe!

¹ Lc 17,29

#
Se percebermos direito, de todas as direções, seja da nossa Santa Igreja, seja do
Budismo ou mesmo do Espiritismo, de todos os lados, o clamor pelo espiritual é
cada vez mais crescente, e que assim seja.

#
Capítulo 46

Revolução espiritual

Há quem diga que o passado seja bem melhor que o presente, que
as coisas, a vida que tínhamos lá trás, nos tempos idos, eram mais
interessantes do que aquelas que estão disponíveis para a geração
atual. Quero crer, no alto da minha tradição, que cada época guarda
lá os seus prazeres. Se no meu tempo de jovem na Terra tudo era
mais calmo, se a vida possuía um ritmo mais devagar do que a
pressa atual, por outro lado não tínhamos os apetrechos
tecnológicos que tornam a vida mais fácil e, por isso mesmo, mais
rápida. São aparentes contradições, mas são características próprias
de cada momento, com suas vantagens e desvantagens. Penso,
porém, que deveríamos manter alguns valores na vida como
insubstituíveis, seja qual fosse a época que vivêssemos, porque
representam, no fundo, um anseio da própria alma.

O que pensar do homem atual sem a família? A família é o esteio de
qualquer pessoa. Um homem sem família é um homem só, sem
destino, sem ter para onde voltar, sem ter o carinho necessário, sem
ter com quem conversar as suas amenidades cotidianas, sem um
porto seguro. A família não pode ser desprezada jamais. E o que
vemos hoje? Vemos o esfacelamento da família. Pai e mãe não se
entendem mais. Os fihos ganharam uma liberdade excessiva que
não sabem sequer o que fazer com ela. O respeito, então, foi para as
"cucuias". Cada vez mais ninguém respeita ninguém, tamanha a
liberalidade em nome de uma falsa igualdade e democratização no
lar. Respeito é outra coisa e está inserido naturalmente naquilo que
se relaciona ao espaço do outro. A família não pode deixar de ser o
eixo central dos relacionamentos humanos em qualquer época da
humanidade.

#
Outro valor fundamental, nunca a ser desprezado, é o amor fraterno
entre as pessoas. A filosofia consumista que domina o mundo faz,
cada vez mais, as pessoas pensarem unicamente nelas mesmas. O
sentimento de fraternidade torna-se vazio. Sem limite diante do que
deseja para si, o homem subtrai o que é do outro, provocando um
desequilíbrio sem fim. Até hoje, por imperar o egoísmo nos
relacionamentos, a desigualdade ainda é uma marca indelével que
tem que ser abolida imediatamente. Falo da desigualdade abismal
que se sustenta a séculos e séculos.

Outro bem precioso que não podemos abrir mão jamais é a luta
incansável pela paz. Não pode ser possível acreditar-se que a
violência é algo natural. A violência é um sinal claro de
desequilíbrio, pois se houvesse bom senso, ninguém agrediria
ninguém ou invadiria indevidamente o espaço do outro. A violência
urbana, nas escalas atuais, é mal moderno, pois não existia nos
meus tempos de garoto, mesmo nas grandes cidades.

Outra característica dos tempos atuais com a qual não viveremos
bem é este apego em demasiado ao dinheiro. Tem gente, como falei
antes, que é doente pelo dinheiro.

para essas pessoas o dinheiro é tudo e tudo se faz para tê-lo. O
dinheiro tem a sua importância, mas a importância que devemos
dar a ele é o valor que ele realmente tem. O dinheiro atropela tudo.
Desorganiza a família, sobretudo na sua ausência; provoca a
violência e suscita a desigualdade. Nunca estará "démodé" falar que
a vida em simplicidade é bem valoroso, isso porque, quando vier a
morte inevitável, o que nos restará será aquilo com o que vestirmos
a nossa alma e não os bens exteriores. Por isso, viver em
simplicidade, com aquilo que seja indispensável, deveria ser uma
preocupação de todos. Não há exemplo mais formidável de
simplicidade do que Jesus. "0filho do homem não tem sequer um lugar para
encostar a sua cabeça"¹ no final do dia. Ou " olhai os lírios do campo. Eles não

#
fiam nem tecem, mas jamais Salomão, em toda a sua glória, vestiu-se como um
deles".,²Eis um valor imprescindível: a simplicidade.
Meus queridos irmãos, há muitos outros valores, sobretudo de
caráter humano, que nunca ficarão fora de moda, seja qual for a
época que vivamos. Mas há um, neste instante, que quero ressaltar:
a espiritualidade de que é inerente a cada ser. O homem é um ser
espiritual por excelência, aliás, na verdade, somos espíritos. Viver
na condição de espíritos imortais que somos, deveria ser a
prioridade das prioridades. Se nos enxergássemos na condição de
espírito imortal, não faríamos tantas besteiras como fazemos.
Viveríamos mais tranqüilos com o dia de amanhã, porque
saberíamos que sempre haveria um amanhã para nos confortar, a
nos dar mais outra oportunidade. A condição espiritual iria nos dar
tranqüilidade também em relação ao nosso sustento. Se
soubéssemos antecipadamente que poderia, num caso extremo,
faltar a subsistência física, que não faltasse nunca o sustento do
espírito, porque o que é do espírito é do espírito e o que é da carne é
da carne.
Nossos valores certamente, com a nossa vivência espiritualizante,
seriam outros e radicalmente diferentes dos atuais. O homem daria
importância a outro homem e viveria na dependência exclusiva da
felicidade do outro, ou seja, a fraternidade seria uma conseqüência
natural das relações. Proponho, portanto, algo que não é novo para
ninguém, mas por esquecermos dele, venho oportunamente
lembrar: vamos redescobrir o espírito nos homens. O que
propomos, e isto vem de todos os lados, é uma revolução espiritual.
Nos novos dias, se queremos ver um mundo novo, bem diferente
do que aí está, precisamos, urgentemente, promover a revolução
pelo espírito. A redescoberta espiritual é a base do novo mundo que

¹ Mt 8,20.
² Mt 6,28

#
o Nosso Senhor Jesus Cristo nos prometeu com as bemaventuranças.
Por esta razão é que Ele lembrou que Seu reino
(ainda) não era deste mundo. Se percebermos direito, de todas as
direções, seja da nossa Santa Igreja, seja do Budismo ou mesmo do
Espiritismo, de todos os lados, o clamor pelo espiritual é cada vez
mais crescente, e que assim seja.
Guardemo-nos para este novo tempo que já é chegado. Façamos a
nossa parte em acelerar o nosso lado espiritual, contribuindo, de
uma vez por todas, com a implantação, o quanto antes, do reino de
Deus entre os homens.

Que Deus nos abençoe!

#
Quando os homens descobrirem o sentido real da vida, estarão dando passos
significativos para a conquista da paz.

#
Capítulo 47
Estado de paz


Quando me falam que as coisas não têm mais jeito, que o mal
predomina sobre a Terra, fico a imaginar se isto é verdade, pois os
noticiários, as manchetes dos jornais só estapam as notícias
negativas. Quero crer de onde estou que tudo isso é temporário e
que vivemos à beira de dias melhores. Não é verdade que tudo está
um caos só porque vemos na televisão ou escutamos no rádio as
atrocidades que um bandido promoveu a uma pessoa comum. Sei
que isto é extremamente revoltante e que faz parte daquilo que
poderíamos denominar de barbárie humana, mas não é,
definitivamente, aquilo que predomina no planeta, pelo contrário,
nunca vi tanto bem sobre a Terra como agora. Os espaços
jornalísticos necessitam dividir melhor os fatos da vida real, pois
pouca ênfase se dá ao lado bom das criaturas e o bem que se
propaga para todos os lados.

O que penso é que a vida na Terra está em transformação e nessa
fase em que vivemos a agonia do mal, os filhos de Deus que por sua
ignorância ainda deslizam nas atrocidades dos seus atos, revelam
uma face que, embora não predomine na Terra, demonstram um
lado que queremos ver abolido definitivamente de nosso cotidiano.
Para mudar este estado de coisas é necessário que cada um, por si
só, desenvolva um estado de paz interior.

Estar em paz, buscar a serenidade de espírito é desafio de todos e
conquista de muitos, mas ainda é pouco diante do quadro de
desorganização familiar e social em que vivemos. Sem a paz de
espírito a ser adquirida, o homem não vai para lugar algum, e a
sociedade pouco avançará na aquisição da paz definitiva. E claro
que sem uma melhor distribuição das riquezas, sem a busca de uma
certa equanimidade social, não criaremos condições favoráveis para

#
a paz social, mas se não mexermos com as estruturas internas do ser
humano deveras poderemos imaginar uma sociedade pacífica.

Quando falo da conquista da paz interior, falo da necessidade do
homem entender quem ele realmente é e passar a levar a vida em
consonância com a sua descoberta. Se o homem imagina que é
apenas o que vê no espelho, que pode tocar com as suas mãos, se
tornará extremamente pequeno e limitado para se compreender e,
conseqüentemente, dará enorme importância a tudo aquilo que lhe
satisfizer os sentidos físicos. E contra esta apologia materialista que
luto e sempre lutarei, sobretudo quando vejo tudo pela lente do
espírito. E impossível pensar em paz interior; portanto, aquela que
vem de dentro, dando importância às coisas que satisfazem o
exterior.

A paz é bem nobre, se conquista pela descoberta da nossa condição
imortal e divina. Sem a percepção clara do que somos haveremos de
inclinar as nossas mentes para coisas de pouco ou nenhum valor e
aí nos tornaremos dependentes do nada que, cedo ou mais tarde,
provocará um grande vazio e frustração. E por isso que mais e mais
pessoas abastadas pela dinheirama, tornam-se cada vez mais
infelizes, depressivas, a ponto de cometerem suicídios. Por que isso
acontece? Porque o dinheiro pode encher o seu guarda-roupa, mas
não conseguirá encher a sua alma de paz. Quantas pessoas
presencio ter o mínimo na sua geladeira -quando o tem -, mas
possuem o coração transbordando de paz para dar a quem quiser?
A paz é bem nobre porque uma vez descoberta de verdade
dificilmente alguém a perderá.

Quando os homens descobrirem o sentido real da vida estarão
dando passos significativos para a conquista da paz, enquanto isto,
continuarão rodando em círculos, porque imaginarão que a
abastança, a satisfação plena das necessidades físicas, será o
suficiente para decretar o estado de ordem na sociedade. Sem o
mínimo não há paz, mas a abundância geralmente é

#
desencadeadora do desequilíbrio e da falta da paz, porque, no

estágio atual que vivemos, subtrai-se de alguém que precisa.
A paz interior é sustentáculo da paz coletiva, eis a noção que
devemos trabalhar para não nos deixarmos envolver pelo egoísmo
que nutre a desunião e, por tabela, cria o ânimo para a violência.

Queira Deus que o ambiente de paz que imaginamos não tarde a se
estabelecer entre nós e que todos possam descobrir, o quanto antes,

o que verdadeiramente são.
Que Deus nos abençoe!

Capítulo 48

Verdades inadiáveis

Os que dizem que não se arrependem do que fizeram, têm mais que
pensarem sobre as suas vidas. Não é fácil admitir um erro, muito
difícil, porém, é sair dele depois que se sustenta, de toda forma,
uma mentira ou engano. Todos nós estamos sujeitos a deslizes na
vida, isto é muito natural. Errar faz parte do contexto humano da
procura do acerto, mas quando imaginamos deter toda a razão ou
mesmo quando nos sentimos no alto do nosso orgulho e este não
nos permite voltar atrás, então as conseqüências são muito sérias.

Queira Deus, no alto de Sua bondade infinita, que todos nós, sem
exceção, tenhamos sempre a oportunidade de retornar ao ponto de
origem quando deixarmos voluntariamente o caminho certo.
Apesar de sabermos, muitas vezes, que algo não é certo, teimamos

#
em seguir neste caminho e aí provocamos, invariavelmente,
destroços significativos em nossas vidas.

Feio não é errar, feio é teimar no erro, mesmo quando todos a nossa
volta enxergam as besteiras que cometemos. Que coisa feia!
Vergonhosa! Fazer algo deprimente aos olhos de todos, quando
poderíamos retornar e não fazer mais.

Estas palavras, meus irmãos em Cristo, vão ao encontro de todos
aqueles que mesmo sabendo das verdades insistem
equivocadamente no erro. Não é admissível que alguém com
razoável inteligência teime deliberadamente em continuar num
caminho que não vai dar a lugar algum, a não ser para a vergonha
de ter que admitir que estava errado, simplesmente pela força dos
fatos que agem inquestionavelmente, independentemente da nossa
vontade.

Tais palavras vão ao encontro, também, das ordens religiosas que
insistem em levar seus seguidores para caminhos indesejados,
mesmo tendo a consciência de que seus conselhos levarão seus
adeptos ao abismo. O que falamos, nesta ocasião, são as palavras
que saem da boca de representantes religiosos que já possuem a
noção do que seja a vida após a morte, mas insistem em propagar
uma versão bastante diferente daquela que já crêem.

O comportamento de qualquer pastor de ovelhas que o Senhor nos
creditou é ter com elas o compromisso de bem orientá-las, mesmo
que, muitas vezes, o credo oficial negue aquilo que ele já saiba. O
que ocorre é que as mudanças institucionais demoram a se
estabelecer e só vêem depois de muito tempo. E aí, o que fazer?
Contrariar a vontade oficial ou estar em paz com a sua consciência?
Esta pergunta sempre existiu no seio da nossa Santa Igreja e é muito
natural este embate ao longo da sua história, tanto que muitos
Papas, e mais recentemente o nosso João Paulo II, tiveram que pedir
desculpas públicas por não haver seguido o bom senso no tempo

#
aprazado por Deus. Se algo é verdade, se imporá inexoravelmente a
todas as pessoas que terão que se dobrar diante de uma realidade
arrebatadora.

O que pedimos, do lado de cá, irmãos em Cristo, não é outra coisa
senão o uso do bom senso e da tolerância sem os quais haveremos
de repetir os mesmos equívocos do passado. Não há como negar -e
alguns campos da ciência já estão aí para demonstrar -que a
realidade do espírito é inevitável. Não há como fugir ao
pensamento universal de que sobrevivemos a tudo e a todos,
porque o Pai, o Amor em excelência, não haveria de nos criar com a
destinação dafínitude.

Nossa Santa Igreja, mais uma vez pelas mãos do Papa viajante,
afirmou que o nosso destino pós-morte é derivado diretamente do
produto das nossas consciências e que não há, como muitos de nós
pregamos, céu e inferno, ou mesmo purgatório, da maneira como
descrevemos às nossas ovelhas. E preciso termos a hombridade de
reconhecermos as nossas falhas e não mais perdermos o horizonte
da história que se aproxima para compartilharmos dos mesmos
conhecimentos que, no íntimo, já concordamos, mas não podemos,
por obediência hierárquica e teológica, exprimir o nosso
consentimento e aprovação a tais idéias.

Como não tenho mais o que temer, pois não poderei do lado de cá
ser penitenciado pelo que digo, peço, apenas, que solicitem ao Pai
Amantíssimo a sabedoria necessária para instalar gradativamente,
no seio da nossa Igreja, as verdades espirituais que vivenciamos, até
porque elas não pertencem individualmente a qualquer credo, uma
vez que fazem parte das leis do nosso bom Deus.

Queira Jesus que as Tuas palavras, ditas há dois mil anos,
continuem a ser redescobertas pelos homens e mulheres que,
despojados de preconceitos e sectarismos mas entregues
verdadeiramente a tarefa de Te servir, possam exprimir a Tua
vontade para todos nós.

#
Que Deus nos abençoe!

Capítulo 49

Santa missa

A partir do nosso encontro particular com Jesus, mudanças
significativas hão de acontecer nas nossas vidas. O encontro com
Jesus requer entrega total, libertadora do nosso eu, para que Ele
possa espontaneamente agir sobre nossos pensamentos e ações. Sem
esta entrega verdadeira, Jesus não poderá Se manifestar em nosso
existir. E assim que ocorre -ou deveria ocorrer com todos nós -por
ocasião da realização da Santa Missa.

A Santa Missa é um local e um momento sagrados. Representa um
encontro particular e ao mesmo tempo coletivo com Deus e com o
Nosso Senhor Jesus Cristo. Cada passo, cada ritual, cada palavra
devem representar algo de novo nas nossas vidas, porque significa

o próprio Cristo agindo sobre nós neste momento ímpar da
Eucaristia.
É demasiado importante para mim afirmar que era na Santa Missa
que eu mais me realizava como padre. Era sempre uma situação
inusitada e feliz para mim celebrar uma missa. Cada missa era
diferente. Cada missa possuía o seu "quê" de profundidade, de
reflexão, de encontro com o Pai. Uma missa não é uma repetição de
gestos e palavras de ordem, não é isso não, é momento de entrega
plena a Deus numa lembrança oportuna das palavras e da vida de
Nosso Senhor Jesus. Quanta alegria invadia meu coração, quando

#
ali, representando ao Cristo, podia conduzir aquele espetáculo de fé
e esperança que se renova em cada nova celebração.

Ah, se as pessoas soubessem o que se dá numa Santa Missa na
perspectiva da espiritualidade! Neste momento santo, forças
invisíveis convergem-se obedecendo aos nossos pensamentos e
sentimentos a nos encorajar para a vida, para aliviar as nossas faltas,
para nos socorrer diante dos nossos sofrimentos. E o próprio Cristo
que desce, na figura de Seus amigos celestiais, para juntos
promoverem a união de corações famintos de Deus. E um momento
sublime e de muita emoção. Repetir os gestos do Cristo é ter o
próprio Cristo em espírito e verdade entre nós. Cada palavra possui

o seu significado especial, e a convocação do padre para a
comunhão verdadeira com Deus faz espargir dos corações dos
adeptos fervorosos uma intensa luz que brilha e irradia para todos,
construindo um ambiente de muita paz.
Minha função na Santa Missa era, a meu ver, representar o próprio
Cristo. E que alegria invadia o meu coração naquele instante. Poder
ser o Cristo, em pouco mais de uma hora, era o momento diário de
consagração da minha vida. Pensava eu, cá com os meus botões, o
que faria o Cristo se estivesse no meu lugar? Faria, certamente, tudo
se tornar mais belo e natural. Faria cada momento se tornar único.
Faria com que cada um pudesse refletir sobre a sua própria vida e
sair dali renovado para construir uma vida nova.

A Santa Missa, meus caríssimos irmãos, é oportunidade única de
nos reencontrarmos com Deus, não que isso não seja feito todos os
dias quando nos incorporamos como continuadores de Sua obra na
Terra, mas na homilia tudo se transforma porque se reúne um
conjunto de forças divinas para conspirar para o bem. E momento
especial, porque o ser humano se entrega de corpo e alma a Deus
para que Ele possa conduzir a sua vida. A Santa Missa é o momento
maior da nossa percepção concreta como filhos de Deus que somos,
despidos de qualquer vaidade, de qualquer subterfúgio, de

#
qualquer malquerença com o nosso irmão. Na ocasião da Santa
Missa somos rigorosamente iguais. Não há ricos ou pobres, não há
santos ou pecadores, não há justos ou injustos, há ali filhos de Deus,
tão-somente, absolutamente iguais perante o Criador, sob a
condução majestosa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Há, porém, na Santa Missa, os desavisados. Digo desavisados
porque se soubessem o que representa uma missa não iriam fazer lá

o que não deviam. Vão para a missa para olhar a roupa do outro.
Alguns aproveitam para falar da vida da vizinha e de quem quer
que seja. Os moços e as moças, então, escolheram a missa para
flertar um ao outro. Desviam todos com isso a oportunidade nobre
de reencontro com Jesus e com si mesmos.
Deveria a Santa Missa ser um momento de ouro e bem aguardado
por todos que professem a fé católica. Momento de esperança por
dias melhores, momento de renovação e cura, momento de
reencontro do povo de Deus.

Queira o Nosso Senhor Jesus Cristo que transformemos a Santa
Missa num prenúncio de Seu retorno à Terra, na perspectiva de
transformação de todo ser humano, baseado firmemente nas
orientações recebidas pelo Evangelho divino.

Que seja a Santa Missa a ocasião em que a boa notícia trazida por
Jesus seja recebida de braços e corações abertos e lá se reflita a
própria imagem do Nazareno em nossas vidas.

#
Capítulo 50

Terra da Promissão

Representa uma dor para mim quando vejo que homens e mulheres
disputam o mercado de trabalho, as coisas da Terra, os bens, tudo
mais, e não possuem no coração a esperança de dias melhores e a
crença no Salvador do Mundo, o Nosso Senhor Jesus Cristo. Correm
todos, de lá pra cá, a procura da sobrevivência do dia-a-dia, mas
esquecem aquilo que é fundamental: a esperança em Deus. Somente
Deus, porque é a Vida em excelência, pode nos dar a esperança que
precisamos. Toda ela.

Por que buscamos o impalpável nas nossas vidas? Por que
almejamos conseguir aquilo que não enxergamos com os nossos
olhos físicos? Porque, no fundo, sabemos da nossa herança
espiritual e divina, e não admitimos nos afastar dela. Quando assim
fazemos, estamos nos afastando de nós mesmos, da nossa essência
maior. Peço a Deus, nosso Pai, todos os dias, que nunca deixe de
colocar no coração dos homens a esperança.

Hoje estou aqui, do lado espiritual da vida, e vejo com muita nitidez

o que deixamos de admitir por pura vaidade intelectual. E o que
isto nos servirá? Para nada, irmãos, para nada. Portanto, não
deixemos a oportunidade que agora o Pai nos concede de reverter
as nossas vidas em
Sua direção, de colocarmos os nossos pés e as nossas mãos todas as
nossas forças, em servi-Lo, grata e imediatamente Meus queridos
irmãos em Cristo Jesus, o homem do lado de cá se não for calcado
de muita fé no coração pouco fará por si e pelos outros. Somente a
fé, aquela que o Nazareno nos informou que move montanhas, é
que será o nosso sustentáculo perante a eternidade que nos espera.
Portanto, não percamos tempo. Seja qual for a nossa religião,

#
católica, protestante, espírita, umbandista, o que seja, permita já,
agora, que o Pai Amantíssimo possa dirigir a sua vida daqui por
diante. Não há, deste lado da vida, qualquer discriminação ou
privilégio religioso. Não há eleitos pelo Pai, porque somos todos os
Seus filhos, e por Ele ser todo amor, Ele ama irrestritamente a todos
por igual.

Meus irmãos em Cristo, por que perdermos o nosso tempo em
contendas sem fim para demonstrarmos que a verdade, que a
preferência do Pai, está conosco ou com nossa religião? Isto não tem
fundamento algum. O Pai olha para todos nós indistintamente.
Olha, igualmente, a todos que cruzarem o caminho com o mesmo
amor que Ele. E assim, copiando o Pai, que nos pareceremos a Sua
imagem e semelhança.

Aquilo que encontramos nas escrituras sagradas não passa apenas
de recados, utilíssimos, de que a verdade das verdades ainda está
bastante distante do nosso conhecimento, embora, inevitavelmente,
seremos um dia agraciados em possuí-la.

Tenhamos fé que o mundo melhorará. Não há como isto não
acontecer. Todo o planejamento celestial, pelo que vejo, é que esta
condição abraçará toda a Terra, mesmo que os nossos irmãos que
transitam no mal não desejem e façam tudo para impedi-lo. Eles
também, um dia, serão arrebatados para nosso lado, porque Jesus já
nos adiantou que nenhuma das ovelhas do Pai seria perdida. A
Terra da Promissão, tão desejada no passado, chegará a ser a nossa
moradia. Começamos agora a viver um novo tempo. Tempo de
transição, é bem verdade, mas tempos gloriosos de redenção no
Cristo Jesus. Não percamos a fé que este dia chegará apesar de
notícias quererem avisar o contrário. Há, do nosso lado, uma
conjunção de esforços para que a Terra seja o reinado do bem. E o
bem sempre triunfa.

#
Meus queridos irmãos, minhas palavras chegam ao final. Em breve,
uma última carta deste livro será escrita, porque na prática o que
fiz, pelo médium, como sempre gostei de fazer em vida, foi escrever
cartas. As minhas epístolas, agora, na vida eterna. Aos meus
amigos, leiam atentamente. Há, em cada uma delas, um pouco do
meu coração e não apenas aquilo que penso. As minhas queridas
amigas que confabulei em vida, enviando notícias frescas do
Concílio Vaticano II; aos meus queridos companheiros paroquianos
da nossa Igreja das Fronteiras, de Olinda e Recife, de todo
Pernambuco; aos meus humildes servidores do Cristo, na batina,
que junto comigo compartilharam dos mesmos sonhos de redenção
do nosso povo; aos meus amigos de todas as partes, os quais muitos
revejo aqui; peço que entendam aquilo que sempre falei e agora tive
a oportunidade, dada por Deus, Nosso Pai Amantíssimo, de poder
escrever estas utópicas linhas para alguns, mas absolutamente
verdadeiras. Quero pedir, pelo menos, que reflitam, mesmo que a fé
lhes imponha, de alguma forma, negar o que escrevi.

Meus amigos, sou todo de vocês. Acalentarei minha presença
naquilo que vocês chamarem de sonho. Estarei sempre convosco,
porque onde há a união pelo coração é impossível desatar-se
mesmo aqui na eternidade de Deus.

Estamos cumprindo uma etapa. Breve, muito breve, outras notícias
minhas chegarão por este ou outro instrumento de Deus, porque
minha presença, como de qualquer outro, se fará efetivamente
quando almejarmos de coração ter com Ele. Assim, dormirei o
sonho da eternidade não no descanso, que de cá não existe (ainda
bem), mas na ação e na possibilidade de todos os dias poder servir
ao Pai.

Que assim seja, irmãos!

#
Acerca do regime militar que enfrentei em meus dias de Arcebispo, digo que
foram os dias mais gloriosos da minha existência.

#
Capítulo 51

Dias melhores

Um pensamento corrige uma ação? Penso que não, mas é um bom
começo para se livrar de algo errado que fizemos no passado. Ações
cobrem outras ações e com elas levamos a vida no desiderato que
objetivamos. A vida em si é palco de controvérsias, mas também
oportunidade ímpar de grandes feitos. Digo, sem medo de errar,
que todos os momentos da vida são absolutamente preciosos para o
nosso aprendizado espiritual e o nosso crescimento interior.

Minha existência na Terra foi feita de altos e baixos. Acertei muitas
vezes e errei outras tantas. Umas vezes os erros que cometi tinham
dentro de mim uma forte convicção que estava certo e quando
descobri a face da verdade envergonhava-me grandemente, mas
ficava a lição para não errar mais. Às vezes, acredita-se piamente
em algo, entrega-se a própria alma e com o tempo vamos
enxergando que a nossa lente intelectual estava distorcendo a
realidade. Tarde demais. Então o que fazer senão reconhecer o
nosso engano e tocar pra frente?

Nos meus dias de sacerdócio na Terra passei por poucas e boas,
como normalmente falamos. Foram situações inusitadas que graças
à fé em Nosso Senhor Jesus Cristo e em Deus pude superar. Se até o
Nosso Senhor foi incompreendido e injustiçado porque eu, um reles
pecador, não deveria passar por situações de atribulações e provas
da minha fé?

Acerca do regime militar que enfrentei em meus dias de Arcebispo,
digo que foram os dias mais gloriosos da minha existência.
Conviver com o arbítrio, conviver com a desilusão, conviver com a
mentira e a hipocrisia, e manter-se fiel aos credos da nossa Santa

#
Igreja foi desafio dos maiores. Tantas mentiras a meu nome, tantos
absurdos inventados, com certeza havia uma razão de ser.

Deus não criou o mundo para viver em trevas, se elas existem é
porque prenunciam uma manhã radiosa, é assim que funciona a
natureza. Então, não poderia ser diferente comigo e com milhares
de pessoas que queriam, tão-somente, verem um Brasil melhor,
mais justo, mais igual e mais livre. Os que nos denunciavam ou nos
perseguiam, movidos por uma ânsia de servir bem aos seus
senhores, muitos deles encontrei do lado de cá da vida. Muitos
envergonhados pelo que fizeram pedem-nos desculpas e
precisamos entendê-los como irmãos que transitoriamente
incorreram de andar nas trevas pensando que serviam a luz. Nada
como o tempo para mostrar limpidamente a razão de ser das coisas.
O importante, depois de tudo que passamos, é não guardar mágoas
e continuar a desejar o bem dos outros sem interferência na
intensidade da nossa fé.

Quando olho para trás, naqueles dias de muita tortura psicológica,
penso como é grande o Criador para nos manter em pé contra as
injustiças das quais fomos vítimas, mas não foi em vão, serviu-nos
para testificar as palavras nobres e sábias de Nosso Senhor
clamando as bem-aventuranças àqueles que possuem sede e fome
de justiça.

Não me desespero em saber que muitas das injustiças que
combatemos continuam ainda presentes no dia-a-dia da nossa
gente, porque vejo sempre com muito otimismo o depoimento de
uma parte delas que começa a perceber, mesmo que tardia e
lentamente, que melhores dias começam a acontecer em suas vidas.

Não me desespero em ver que a classe política ainda possui seus
vícios, mas que há igualmente outros homens e mulheres
combativos que vêm na frente e buscam o melhor para o nosso
povo.

#
Não me desespero em saber que muitos ainda roubam, seqüestram,
abortam e matam cruelmente, porém não deixo de elucidar a tantos
quantos promovem a cada dia novas e promissoras jornadas na
prática do bem.

Muito se tem feito no mundo afora pelo bem da humanidade. O
mundo está cada vez melhor e, do lado de cá da vida, posso
perceber isto muito claramente e não somente eu, mas diversos
irmãos e irmãs que aqui chegam. A par das misérias e
desentendimentos, cresce enormemente a rede do bem e os
promotores da paz.

Não me desespero, enfim, com o amanhã. Ele será, conforme
prometido pelo Nosso Senhor Jesus Cristo, dos justos, dos
pacificadores, daqueles que estão comprometidos com a instalação
do reino de Deus na Terra.

Somente o amor será capaz de redimir os homens dos seus pecados,
porque é o amor que sustenta a vida, os astros, o universo, porque é

o amor o próprio Deus que se revela a cada instante na existência
das coisas. Que seja o amor, somente o amor, que conduza as nossas
vidas.
Capítulo 52
Agradecimentos


Num dia como este, há algum tempo atrás, reentrei na Terra. Não
era pretensão minha ter a investidura que tive, mas os fatos me

#
levaram a assumir responsabilidades gradativamente e hoje eis-me

aqui a depositar memórias nesta folha de papel.
Minha posição sacerdotal permitiu-me adentrar por campos do
saber e enveredar por caminhos que consolidaram ainda mais a
minha fé e a minha disposição para servir ao Cristo. Não foi fácil a
caminhada, mas juntando-se a uma diversidade de amigos que
encontrei na jornada, tornou-se a minha trajetória existencial mais
tranqüila e prazerosa, apesar de todos os atropelos naturais de
qualquer experiência terrena. Valeu à pena. Noutros tempos diria
que foi "supimpa" -sempre achei interessante esta expressão. Tudo
que fiz, claro que faria de novo, e faria melhor, olhando agora
depois de tudo feito. As lágrimas que derramei, as lutas nas quais
me inseri, os entreveros que fui forçado a me meter, deram-me uma
condição de amadurecimento que, até hoje, ganho sempre um
pouco mais.

Minha condição de sacerdote, profissão de fé que imediatamente
me identifiquei como minha vocação, foi essencial para afirmar que
fui deverasmente feliz. Quantas e tantas oportunidades tive na vida
porque abracei sinceramente a condição de padre. Não me veria em
outra ocupação alguma a não ser a de vigário. Como foi bom
encontrar tanta gente, fazer amigos que devoto até hoje mesmo do
lado de cá da vida. Amigos que não me esquecem, amigos que eu
não esqueço. Também, com aquela cara que tive, somente sendo
padre para muitos me aturarem.

Brincadeiras à parte -e menos formal que nos escritos anteriores despeço-
me, de todos que acolheram as nossas reflexões, com um
grande abraço e a certeza de que dias melhores virão. Saibam que a
saudade é imensa. O campo de luta é outro, mas a causa é a mesma,
nunca mudou nem vai mudar. Despeço-me com um agradecimento

Texto recebido em 7 de fevereiro de 2006, data de aniversário do autor espiritual.

#
por terem tido a paciência de ler as reflexões de um velho padre
agora do lado de cá da vida.
Congratulo-me com todos aqueles que, mesmo discordando ou
desacreditando a princípio da originalidade deste livro, concederam
um crédito de confiança como a querer saber até onde iria esta
aventura de um padre depois da morte.

Fico agradecido a todos que, desde o primeiro momento, confiaram
nas palavras aqui escritas como as minhas, e a cada texto foram
reforçando as suas convicções.

Agradeço, também, aos críticos, que pressuponho não serão poucos.
Pouco importa. Importa que os textos foram lidos, e sei que um dia
que escrevi vai lhes fazer algum sentido.

Agradeço, sobretudo, a Deus, o Pai Amantíssimo, que me concedeu
a esta ventura de traduzir os meus pensamentos e sentimentos pelas
mãos amigas de um médium.

Agradeço, emocionado, a Nosso Senhor Jesus Cristo que do lado de
cá continua o Seu trabalho incansável pela regeneração de todos os
homens e mulheres da Terra. Sabemos que há muito por fazer, e
estas linhas, deste despretensioso livro, possam servir de alguma
forma para colaborar neste intento. Foi esta a minha disposição,
desde o início, poder servir a causa de Nosso Senhor.

Que a vida continue a nos conduzir para a nossa autodescoberta de
espíritos imortais e comprometidos com a nossa renovação íntima a
caminho da própria luz.

Que as palavras aqui escritas sejam um alento a todos,
independentemente de suas crenças, de que continuamos a existir e
com a vontade do Pai possamos juntos transformar a face do nosso
planeta, melhorando a vida dos nossos irmãos de caminho.

Que Deus nos abençoe!

#
"O dialogo com os mortos não deve ser interrompido, pois, na realidade, a vidanão está limitada pelos
horizontes do mundo "

Pregação de João Paulo II na basílica de São Pedro, em novembro de 1983. Revista
Veja n.° 1899 ano 38 n.° 14 de 6/04/2005 pág 93.



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